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E D U C A Ç Ã O , P E S Q U I S A E C U LT U R A
Albert Alan de Sousa Cordeiro
Adalberto Carvalho Ribeiro
Alexandre Adalberto Pereira
(organizadores)
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Albert Alan de Sousa Cordeiro
Adalberto Carvalho Ribeiro
Alexandre Adalberto Pereira
(Organizadores)
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
AMAZONIZAR:
Educação, Pesquisa e Cultura
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2023
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Revisão: Os Autores
A479
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-5758-0
ISBN Físico 978-65-251-5757-3
DOI 10.24824/978652515757.3
2023
Foi feito o depósito legal conf. Lei nº 10.994 de 14/12/2004
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Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Altair Alberto Fávero (UPF)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Ana Chrystina Venancio Mignot (UERJ)
Anselmo Alencar Colares (UFOPA) Andréia N. Militão (UEMS)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Anna Augusta Sampaio de Oliveira (UNESP)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Barbara Coelho Neves (UFBA)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Cesar Gerónimo Tello (Universidad Nacional
Carmen Tereza Velanga (UNIR) de Três de Febrero – Argentina)
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Três de Febrero – Argentina) Eliane Rose Maio (UEM)
Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG) Elizeu Clementino de Souza (UNEB)
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Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
AMAZONIZAR A EDUCAÇÃO A PARTIR DO “MEIO DO MUNDO” ........... 11
Albert Alan de Sousa Cordeiro
Adalberto Carvalho Ribeiro
Alexandre Adalberto Pereira
A RELEVÂNCIA DO MULTICULTURALISMO
NO ÂMBITO EDUCACIONAL ....................................................................... 81
Alan Farias Sales
Raimundo Erundino dos Santos Diniz
PARTE II – EDUCAÇÃO DOS GRUPOS, POVOS
E POPULAÇÕES AMAZÔNICAS
AS PERCEPÇÕES DE JOVENS
ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA:
um estudo sobre formação escolar e expectativas profissionais .................. 217
Carina dos Santos Reis
Adalberto Carvalho Ribeiro
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[...] isto é, como uma extraordinária síntese dos pressupostos e dos valores
básicos da sociedade liberal moderna no que diz respeito ao ser humano,
riqueza, natureza, história, ao progresso, ao conhecimento e boa vida. As
alternativas às propostas neoliberais e ao modelo de vida que representam
não podem ser buscados em outros modelos ou teorias no campo da eco-
nomia, visto que a própria economia como disciplina científica assume,
em sua essência, a visão de mundo liberal (Lander, 2005, p. 21).
REFERÊNCIAS
CORRÊA, Sérgio; HAGE, Salomão. Amazônia: a urgência e necessidade da
construçãode políticas e práticas educacionais inter/multiculturais. Revista
Nera, ano 14, n. 18, jan/jun, 2011.
PARTE I – EDUCAÇÃO
INTERCULTURAL NA AMAZÔNIA
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INTERCULTURALIDADE E EDUCAÇÃO
EM CONTRAPOSIÇÃO ÀS PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS MONOCULTURAIS
Cirlene Damasceno Picanço
Arthane Menezes Figueirêdo
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Introdução
Cultura e educação ao longo dos últimos três séculos, não tiveram seus
2 Vandana Shiva (2002) diz que a monocultura inicia-se na mente para só depois chegar ao solo. Isso ocorre
quando um grupo ou um sistema se autodetermina superior, sobretudo em termos de conhecimento e
cultura, e crie mecanismos para imprimir em outras sociedades as formas de pensar e de estar no mundo.
A principal ameaça à vida em meio à diversidade deriva do habito de pensar em termos monoculturas, o
que chamei de ‘monocultura das mentes’. As monoculturas da mente fazem a diversidade desaparecer da
percepção, e consequentemente do mundo.
3 Consiste num sistema de distinções visíveis e invisíveis, sendo que estas últimas fundamentam as primeiras.
As distinções invisíveis são estabelecidas por meio de linhas radicais que dividem a realidade social em dois
universos distintos: o “deste lado da linha” e o “do outro lado da linha”. A divisão é tal que “o outro lado da
linha” desaparece como realidade, torna-se inexistente e é mesmo produzido como inexistente. A caracte-
rística fundamental do pensamento abissal é a impossibilidade da co-presença dos dois lados da linha. O
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 23
O termo hegemonia, ressaltado por Gramsci (apud Silva 2016, p. 4), refe-
re-se à “capacidade de direção, não apenas à capacidades da classe dominante
de subordinarem as classes inimigas por meio da violência jurídico-estatal,
mas também à sua capacidade simultânea de direção com a primazia do con-
senso sobre o uso da força direta”, ou seja, ela é usada de forma a equilibrar
força e direção.
Atualmente, existe uma desconexão entre cultura escolar e cultura social
de referência dos alunos e alunas, que segundo Candau (2019) refere-se em
geral ao fato de que a cultura escolar apresenta um caráter monocultural, que
contribui para o engessamento em uma cultura homogeneizada, pouco per-
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meável ao contexto em que está inserida, aos universos culturais das crianças
e jovens a que se destina e desqualifica a multiculturalidade presente nas
diversas sociedades.
Apple (1989) afirma que as escolas ajudam a manter o caráter mono-
cultural pois,
universo “deste lado da linha” só prevalece na medida em que esgota o campo da realidade relevante: para
além da linha há apenas inexistência, invisibilidade e ausência não-dialética.
24
Considerações finais
ensino, na qual a escola tem função relevante de reconhecer, dar valor e poder
a todos os sujeitos socioculturais, no sentido de reconhecer a diferença cultural
como expressão positiva.
Para tanto, a escola deve realizar um trabalho que vise o desenvolvimento
de ações que dialoguem com diversos conhecimentos e saberes, diferentes
linguagens, distintas estratégias e recursos pedagógicos, percebendo e esti-
mulando o reconhecimento das diferenças sociais, em defesa dos direitos de
todos/as/es, evitando preconceitos e discriminações, oportunizando a cons-
trução de uma sociedade melhor, com respeito à diversidade sociocultural.
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REFERÊNCIAS
CAMARGO, Leila M.; HAGE, Salomão A. M.; GOMES, Raimunda K. S.;
FIGUEIRÊDO, Arthane M. Diversidade sociocultural e currículo nas Ama-
zônias: desafios no enfrentamento à monocultura das mentes. Revista e-Cur-
rículo, São Paulo, v 20, n. 1, p. 238-261, jan/mar. 2022.
COSTA, Maria V.; ROSA, Hessel S.; SOMMER, Luis H. Estudos Culturais,
Educação e Pedagogia. Revista Brasileira de Educação, n. 23, maio/jun./
jul./ago. 2003.
MINAYO, Maria C.S. O desafio do conhecimento. 14. ed. São Paulo: Huci-
tec, 2015.
Introdução
foram negados.
Mais ainda, a interculturalidade crítica aparece como projetos intercultu-
rais para articular políticas educativas e práticas pedagógicas comprometidas
com o princípio da não discriminação e voltadas à desconstrução de subalter-
nidades, à emancipação e à liberdade, e também está à frente de discussões
que foram historicamente excluídas e colonizadas. De modo que abordar sobre
o corpo, sexualidade, violações sexuais e até mesmo sobre a infância foi-nos
negado o acesso ao conhecimento por muitos períodos históricos, por isso a
prática intercultural se apresenta como uma crítica à “construção de e a partir
das gentes que têm sofrido um histórico de submissão e subalternização”
(Walsh, 2009, p. 9).
Haja vista que a Educação Sexual é um processo que visa promover o
desenvolvimento de recursos e conhecimentos educacionais relacionados
à sexualidade, a qual envolve um conjunto de estratégias que auxiliam na
prevenção e enfrentamento da violência sexual. Através da educação sexual,
são abordados aspectos individuais e coletivos relacionados ao corpo, aos
sentimentos e comportamentos individuais e coletivos. Essa abordagem busca
fornecer ferramentas e informações que contribuam para a promoção de rela-
ções saudáveis, respeitosas e consensuais, além de fortalecer e capacitar as
crianças a protegerem-se contra a violência sexual.
Para Figueiró (2010), a Educação Sexual define-se:
Considerações finais
A interculturalidade foi explorada nesta pesquisa como uma concepção
capaz de possibilitar conhecimentos e apropriações de debates que persistem
em ser excluídos do currículo escolar, para tanto, a presente pesquisa dedi-
cou-se em apresentar investigações cujas ações abordassem práticas de ensino
intencionais, interativas e respeitosas para desenvolvimento de habilidades
para lidar com a diversidade cultural de forma construtiva.
Vale destacar que a interculturalidade é um processo contínuo de apren-
dizado e transformação, na busca de promover espaços de troca e colaboração
entre diferentes culturas, que capacita as pessoas a reconhecerem e valorizarem
suas vivências individuais e coletivas, mesmo naquelas temáticas e vivên-
cias que ainda carregam estereótipos, preconceitos e discriminação, como na
inclusão da Educação Sexual na perspectiva da Violência Sexual na infância.
Além disso, sabe-se que a escola deve ter consciência de que seu papel
é abranger, na educação, debates que abordem questões da sexualidade rela-
cionada à vida, à saúde e ao bem-estar, à prevenção de quaisquer violações
contra dignidade humana, afinal, é necessário que implementem ações que
não ignorem os riscos possíveis que a criança poderá vivenciar, mas sim
ensiná-las e empoderá-las para lidar com tais questões.
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REFERÊNCIAS
ABREU, Laís Oliveira. Pedagogia feminista no território escolar: devires
cartográficos no enfrentamento da violência sexual infantil. 2020. 270 f.
Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós Graduação em Educação e Diver-
sidade – PPED, da Universidade do Estado da Bahia. Disponível em: https://
sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/
viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=10197737. Acesso
em: 15 jul. 2023.
Introdução
4 Para Fleuri (2018), o monoculturalismo entende que todos os povos e grupos compartilham, em condições
equivalentes, de uma cultura universal.
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5 O esforço indireto que o autor se refere é a “contribuição a partir do trabalho escravo garantindo a possibilidade
de expansão econômica e sua consequência para o desenvolvimento cultural” ocorrida no século XVI.
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 47
Queiroz (2017), por sua vez, propõe uma perspectiva de formação musi-
cal intercultural com base na interculturalidade crítica e assim a caracteriza:
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ARAUJO, E; ALMEIDA, J. A (in)visibilidade da interculturalidade em um
Curso de Licenciatura em Música. Revista Digital Do LAV, v. 15, e11,
p. 1-21, 2022. DOI: https://doi.org/10.5902/1983734866845.
Introdução
6 O GTT Corpo e Cultura está assim descrito: “Estudos que visam destacar o corpo, a corporalidade/cor-
poreidade, as práticas corporais com redes de culturas (tradicionais e/ou contemporâneas) enfatizando
discussões teórico metodológicas que dissertem acerca de questões que enfoquem a indissociabilidade
corpo/cultura a partir de diversas possibilidades nos campos das ciências humanas, sociais e das artes”.
Disponível em: https://www.cbce.org.br/gtt/gtt03-corpoecultura
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 55
Educar é criar cenários, cenas e situações em que entre elas e eles, pessoas,
comunidades aprendam de pessoas, símbolos sociais e significados da vida
e do destino possam ser criados, recriados, negociados e transformados.
Aprender é participar de vivencias culturais em que, ao participar de tais
eventos fundadores, cada um de nós se reinventa as si mesmo (Brandão,
2002, p. 26).
elemento da cultura corporal7, faz parte da identidade social e sua prática sofre
influências interculturais. Todavia, o ensino da dança na escola, conforme
ensina Gama et al. (2017), é secundarizada como conteúdo da educação física
em detrimento das práticas esportivas.
Quanto a produção do conhecimento em dança, Jordan, Marani e Sbor-
quia (2022) relatam que foi a partir de 2015 que a produção cientifica em
dança na educação física brasileira começou a crescer, tendo neste ano o seu
maior crescimento, por meio da produção de 17 artigos científicos. Porém,
logo após esse ano, percebeu-se uma queda de mais da metade da produção
em 2016, com retorno de publicações nos anos de 2017, 2018, 2019 e 2020.
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7 [...] acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer de sua história,
exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo,
contorcionismo, mímica e outros, que podem ser identificados como formas de representação simbólica
de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas (Soares et al.,
1992, p. 38).
8 Aldeia Garimpo, localizada na Margem Esquerda do Rio Arapiuns, no Território Cobra Grande, na Aldeia
Garimpo Etnia Tapajó – Município de Santarém-Pará (Silva; Soares, 2017).
60
como conteúdo nas aulas de educação física, ao perceberem que os jogos mais
evidenciados nas aulas eram os dos “não indígenas”, os quais desconsideravam
as diferenças culturais.
De acordo com Rodrigues, Ferreira e Ramos (2012), os jogos tradicionais
nas aulas de educação física proporcionam uma vivência motora saudável,
além de ser uma forma de cultivar a cultura popular na escola. Considerando
que a escola é um espaço de encontro de diferentes culturas e que, na maioria
das vezes, esses jogos e brincadeiras estão presentes no cotidiano dos alunos
fora da escola.
Segundo Santos, Tabayara e Silva (2019) as brincadeiras e os jogos
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ABIB, P. R. J. Culturas Populares, Educação e Descolonização. Revista Edu-
cação em Questão, Natal, v. 57, n. 54, p. 1-20, out./dez. 2019
DUARTE, C.P; SILVA, M.C.M. Cultura Popular aas aulas de Educação Física.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 20., Goiâ-
nia, 12-17 set. 2021. Anais [...]. CBCE, 2021.
Introdução
Não é por outra razão que as mais altas chefias do executivo nacional, o
presidente e o vice-presidente da República, Jair Bolsonaro e Hamilton
Mourão, respectivamente, negaram a existência do racismo no Brasil ao se
referirem à morte brutal de João Alberto, cidadão negro que foi executado
por seguranças do supermercado Carrefour na cidade de Porto Alegre/RS
(FOLHA DE SÃO PAULO, 2020). Os discursos de Bolsonaro e Mourão
não se tratam de descuido ou equívoco de quem desconhece a história
brasileira, mas estão inscritos em uma ordem tradicional que secularmente
vem operando para a negação dos intensos e extensivos processos de
produção das muitas mortes às quais estão sujeitas as populações negras
do país. Trata-se, portanto, de políticas do esquecimento engendradas pela
colonialidade estrutural, que força, ao longo da história desta nação, ao
sucumbimento dos afrodescendentes brasileiros.
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Considerações finais
Este artigo teve como objetivo propor uma reflexão acerca da educação
escolar quilombola e os benefícios do uso da interculturalidade crítica em
favor da valorização e visibilização das práticas culturais dos povos subal-
ternizados. Destacando que no âmbito dos povos sulbalternizados, estão as
comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhos e outros povos tradicionais
que sempre apresentaram resistências ao colonialismo imposto.
Desse modo, acreditamos que a interculturalidade crítica na educação
escolar quilombola pode ser utilizada como ferramenta para afirmação da
identidade quilombola, que aliada ao diálogo constante com a comunidade,
e uma educação que esteja em consonância com o universo do aluno, muito
poderá contribuir.
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 79
REFERÊNCIAS
ALEXANDRE, Kátya Carvalho; ROCHA, Vanderley Almeida. Educação
na Comunidade Quilombola do Imbé-PE: Por uma Educação Decolonizada
e Intercultural. Saberes, Resistência e Identidades, 2020. p. 95.
Introdução
9 Podemos citar: CANEN, Ana. Universos culturais e representações docentes: Subsídios para a formação
docente e diversidade cultural. Educação & Sociedade, ano XXII, n. 77, dez. 2001; CANEN, Ana; CANEN,
Gilberto G. Rompendo fronteiras curriculares: O multiculturalismo na educação e outros campos do saber.
Currículo sem Fronteiras, v. 5, n. 2, p. 40-49, jul./dez. 2005; MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa. A recente
produção científica sobre currículo e multiculturalismo no Brasil (1995-2000): avanços, desafios e tensões.
Revista Brasileira de Educação, n. 18, set./out./nov./dez. 2001.
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 85
no Brasil, ainda existem muitos entraves a serem superados no que diz respeito
a questão de sua formação inicial.
O que se observa na realidade educacional brasileira é um enorme dis-
tanciamento entre a formação teórica dos licenciados e a realidade objetiva
das escolas de ensino básico. Os currículos das instituições de ensino superior
ainda são fortemente influenciados por modelos eurocentrados, que valorizam
o conhecimento acadêmico cartesiano em detrimento dos aspectos culturais
relativos aos estabelecimentos de ensino e o público por eles atendidos. Neste
contesto, para Lamego e Santos (2022):
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Multiculturalismo e Educação
10 O termo faz referência ao conceito de culturas hibridas extraído de CANCLINI, Nestor García. Culturas
híbridas: Estratégias para entrar e sair da Modernidade. São Paulo: Edusp, 2003.
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 87
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ALVES, Jhenifer Westercamp. Diversidade cultural no contexto escolar.
2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Educação: Méto-
dos e Técnicas de Ensino) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
Medianeira-PR, 2020.
SILVA, Evanda Roza da. O papel social da literatura: Diálogo para a des-
construção da fronteira do racismo na escola. 2019. 267 f. Dissertação. (Mes-
trado Profissional em Ciência, Tecnologia e Educação) – Centro Universitário
Vale do Cricaré, São Mateus, ES, 2019.
Introdução
Este artigo tem como objetivo discutir sobre a interseção dos preconceitos
e adversidades que surdos LGBTQIA+ sentem em suas vivências e no seu
processo educacional, frente a dois processos opressivos: a condição de pessoa
com “deficiência” – termo atribuído pela cultura ouvinte – e a sua sexualidade.
O “fracasso escolar” da cultura surda possui um encadeamento com o
fato de as próprias instituições escolares, denominadas como “inclusivas”,
terem sido concebidas por meio de perspectivas “não surdas”, que são espaços
que historicamente negaram e patologizaram a surdez. Para que se entenda a
surdez e homossexualidade como algo não patológico, defendido e pautado
ainda como doenças perante crenças e falácias discorridas dentro da sociedade
ouvinte, especificamente de próprios profissionais que ainda não estão aptos
para atuarem com esse público, deste modo, se faz importante compreender
a interseccionalidade desses dois processos opressivos e a forma como se
articulam. Uma vez que a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é usada pela
maioria dos surdos brasileiros diariamente, é através dela que a comunidade
surda se expressa
Um dos motivos que levam aos surdos a deterem uma escolarização de
má qualidade é em razão de uma “inclusão excludente”, termos atribuídos por
Kuenzer (2002), representa as estratégias de “inclusão” dos níveis e moda-
lidades da educação brasileira que não reflete nos padrões de qualidade que
deveriam formar identidades autônomas intelectualmente capazes de superar
demandas do capitalismo.
Na escola, o indivíduo surdo pode vir a sentir exclusão e indiferença, uma
vez que nesse ambiente, o professor titular, por não saber trabalhar com esse
aluno surdo em sala de aula, por falta de preparação, acaba desenvolvendo
a exclusão do mesmo, pois a incompatibilidade linguística com os ouvintes
resulta em contextos de desprovimento na formação de surdos, sendo assim,
se faz necessário nos currículos a inclusão da Língua Brasileira de Sinais
(Libras), pois são raros os profissionais que sabem sinalizar nessa modalidade.
96
11 Oralismo é um método de ensino para surdos, defendido por Alexandre Graham Bell (1874 – 1922). Este
método considera que a maneira mais eficaz de ensinar o surdo é através da língua oral ou falada, utilizando
o treino da fala, da leitura labial (oralização) e treino auditivo.
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 99
feminista, que nos anos 2000, o modelo social de pessoas com deficiência
passava por uma nova revisão. Sendo assim, autoras feministas, pela primeira
vez na história no campo da diversidade, mencionaram a importância do
corpo que possui uma especificidade e o seu devido cuidado, dando visibili-
dade para dor e repressão daqueles que são considerados “inválidos” perante
a sociedade. “Foram as feministas que introduziram a questão das crianças
deficientes, das restrições intelectuais e, o mais revolucionário e estrategica-
mente esquecido pelos teóricos do modelo social, o papel das cuidadoras dos
deficientes” (Mello; Nuernberg, 2012, p. 639).
Neste sentido, estes estudos deram suporte ao não preconceito, pois
Isso significa que mulheres com deficiência passam por dupla desigual-
dade, devido a densa combinação de processos opressivos assentada em defi-
ciência e gênero. O que ocorre nas trajetórias de surdos/as/es LGBTQIA+
que são abrangentemente vulneráveis, em decorrência de sua sexualidade,
barreira linguística, etnia e seu quadro socioeconômico.
“[...] nota-se a existência da subalternidade de categorias de diferen-
ciação, síntese da junção de vários eixos de exclusão e exploração social”
(Abreu et al. 2015, p. 609). Um contexto que se agrava quando combinado as
ideologias de classes hetenormativas e sem deficiência, em razão da surdez ser
tomada como o único marcador identitário desses indivíduos, há uma nega-
ção de que surdos/as/es gays possam ter desejos afetivo-sexuais destoantes
do padrão heterormativo, são contextos que resultam na invisibilidade da
sexualidade dos mesmos.
Partindo dos conceitos de Kimberlé Crenshaw, que conceituou a inter-
seccionalidade, a ideia de mulher e raça unificadamente, para compreender
os impasses da mulher preta, a autora incentivou para a compreensão das
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 101
Strobel (2006) explica que qualquer pessoa que tenha um contato com
a comunidade surda sabe que a definição da palavra surdez, pelos indivíduos
surdos, tem grande influência por sua identidade grupal, é uma comunidade
102
com força política que está ativamente lutando pelos seus direitos, assim
como grupo LGBTQIA+.
O aparecimento da surdez, por vezes, é visto com maus olhos, como se
fosse um contágio, oriundos das más condições sanitárias de uma classe menos
favorecida, pensamentos este que algumas pessoas têm de pessoas homosse-
xuais, vistos como doentes que ainda podem ter uma “cura”, e quando esta
pessoa possui estas duas subjetividades recriminadas pelo padrão hegemônico,
são repreendidas em casa e na escola.
Missiatto (2021) explicita que o branco, hétero, colonizador criou os
entraves das desigualdades, indiferenças, que levou a segregação de milhões
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ABREU, Santos Dias et.al. Surdos homossexuais: A (Des)coberta de Trajetó-
rias Silenciadas. Temas em Psicologia, Sociedade Brasileira de Psicologia,
Ribeirão Preto, v. 23, n. 3, 2015, p. 607-620.
BRASIL teve 135 mortes de pessoas LGBTQI em 2022. Poder 360, 2022.
Disponível em: https://www.poder360.com.br/brasil/brasil-teve-135-mortes-
-de-pessoas-lgbti-em-2022-diz-pesquisa/. Acesso em: 13 maio 2023.
LGBTFOBIA é uma das fortes causas do abandono escolar. EBC Brasil, 2017.
Disponível em: https://tvbrasil.ebc.com.br/estacao-plural/2017/07/lgbtfobia-e-
-uma-das-fortes-causas-do-abandono-escolar#:~:text=A%20pesquisa%2C%20
da%20Associa%C3%A7%C3%A3o%20Brasileira,informou%20%C3%A0%20
institui%C3%A7%C3%A3o%20alguma%20vez. Acesso em: 13 maio 2023.
SÁ, Nídia Regina Limeira. Cultura, poder e educação de surdos. 2. ed. São
Paulo: Paulinas, 2010. (Coleção pedagogia e educação).
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CULTURA ESCOLAR E AS
DISCUSSÕES DE NORMA, GÊNERO
E SEXUALIDADE NA ESCOLA
Marina de Almeida Cavalcante
Alexandre Adalberto Pereira
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Introdução
Este artigo tem por objetivo apresentar reflexões sobre a cultura escolar
e a sua influência para o debate de gênero e sexualidade dentro da escola, a
qual será tema de uma pesquisa de mestrado em desenvolvimento, no período
entre setembro de 2022 a agosto de 2024, cujo foco é relacionar a LGBT-
QIA+fobia e o estresse de minorias, em adolescentes, do Instituto Federal do
Amapá, campus Macapá. Sendo assim, traçaremos uma breve conceituação de
cultura; em seguida, relacionar-se-á cultura e educação para então chegarmos
à cultura escolar propriamente dita e analisar de que forma ela pode interferir
– seja positiva ou negativamente – no ambiente escolar e de que maneira pode
contribuir proporcionando o debate sobre as questões de gênero nas escolas.
Para Elías (2015), os estudos que envolvem as questões escolares como
as relações entre os diferentes atores, os rituais, os procedimentos, os valores,
as normas, geralmente consideradas partes da cultura escolar, tem uma consi-
derável relevância tanto do ponto de vista acadêmico como desde a definição
de políticas educativas.
Precisamos entender ainda que a norma de gênero12 traz à tona também
que o gênero como herança colonial não serve apenas para punir os sujeitos
destoantes, mas também dirigir a conduta cisheterossexual13 de seus mem-
bros. É um processo pedagógico que atua desde muito cedo na limitação
das liberdades por também organizar previamente a identidade dos sujeitos
cisheterossexuais, e por agir pela dessensibilização dos afetos para que as
pessoas heterossexuais sejam capazes de impor às vidas desviantes a disciplina
adequada. Desta maneira, a norma de gênero trata-se de uma tecnologia de
poder utilizada para legitimar pequenos grupos em campos de privilégios e
12 Missiato (2021) afirma que a norma de gênero acontece em função da produção de sentidos ao redor da
figura do homem branco, burguês e cisheterossexual, sendo esse o sujeito-norma.
13 Cisgênero refere-se ao indivíduo que se identifica totalmente com o seu gênero de nascença. O heterossexual
é aquela pessoa que se relaciona com pessoas do sexo oposto.
108
contemporâneo, pelo que títulos como Cultura e Colonialismo são, uma vez
mais, sutilmente tautológicos. Porém, colere também originaria, através da
expressão latina cultus, o termo religioso culto, precisamente quando, na era
moderna, a própria ideia de cultura é substituída por um efêmero conceito de
divindade e transcendência (Eagleton, 2011).
Para Eagleton (2011), cultura descreve tanto uma transição histórica
como codifica questões filosóficas fundamentais; há em torno dela liberdade
e determinismo, atividade e resistência, mudança e identidade, aquilo que é
dado e aquilo que é criado, todos emergindo de forma difusa. Etimologica-
mente, cultura sugere uma dialética entre o artificial e o natural, aquilo que
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Com o passar do tempo, os estudos sobre a escola estão cada vez mais
presentes nas pesquisas, com os mais diversos enfoques de análise. No entanto,
um elemento sempre presente nesses estudos é o reconhecimento da existência
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de uma cultura própria da instituição chamada escola, uma cultura cuja prática
social é própria e única (Silva, 2006). Para Elías (2015) os estudos sobre a
cultura escolar atingiram um considerado desenvolvimento na última parte
do século XX, ao passo em que permitiram voltar os olhares para o interior
dos processos escolares para descrever além de compreender os problemas
que tais processos representavam.
Elías (2015) afirma que as escolas possuem uma cultura própria e que
existem complexos rituais de relações pessoais, tradições, costumes, normas
que acabam por constituir um código moral. Assim, considerando a escola
como uma instituição com cultura própria extraem-se dela alguns elementos
ditos como principais: os atores, sendo eles as famílias, os professores, gesto-
res e alunos; os discursos e as linguagens, que seriam as formas de comunica-
ção; as instituições (organização escolar e o sistema educativo); e as práticas,
consideradas como pautas de comportamento, as quais se consolidam durante
um tempo (Silva, 2006).
Além disso, os programas oficiais e os resultados efetivos da ação da
escola são as partes de uma cultura que a escola proporciona para a sociedade.
Isso significa que a cultura escolar é a cultura adquirida no âmbito da escola,
encontrando nela a sua forma de difusão e a sua gênese. Dessa maneira, a
escola tem uma função social básica, a qual ultrapassa a prestação de serviços
educativos e justamente por isso, não pode ser apenas entendida como uma
organização social (Silva, 2006).
Elías (2015) conceitua cultura escolar como sendo padrões de signifi-
cados transmitidos historicamente, os quais abrangem as normas, os valores,
as crenças, as cerimônias, os rituais, as tradições e os mitos compreendidos
pelas pessoas que compõem a comunidade escolar. Em geral, tal sistema
de significados forma aquilo o que as pessoas pensam e a maneira como
agem. Assim, dentro de uma cultura em geral, em especial na cultura escolar,
existem características que são tanto estáticas quanto dinâmicas: o caráter
estático põe-se evidente porque – por um lado a cultura cria um caráter único
112
uma hierarquização entre os seres humanos cuja finalidade foi colocar em des-
níveis mais acentuados aqueles que divergem do sujeito-norma, a hierarquia é
uma estrutura que em si mesma pune e privilegia os sujeitos em decorrência
de seus ajustes ou desajustes à norma. Com isso, quanto mais feminina e
mais negra for a pessoa, mais indigna será sua existência. O exemplo mais
categórico são as mulheres transexuais e negras, as quais têm as vidas mais
ameaçadas pelas forças da morte. Pessoas trans golpeiam as estruturas nor-
mativas pelo duplo rompimento que promovem com os valores dos gêneros
hegemônicos, primeiro, porque transgredem a cisgeneridade, e, por seguinte,
a noção social de heterossexualidade. O autor ainda enfatiza que a violência
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BORTOLINI, A. Diversidade sexual e de gênero na escola. Revista Espaço
Acadêmico, n. 123, agosto 2011.
Introdução
e identidade são conceitos intrinsecamente ligados, uma vez que é por meio
da língua que a cultura se constitui e é difundida e é também por meio dela
que ocorrem os processos de identificação” (Coelho; Mesquita, p. 25, 2013).
Portanto, torna-se fundamental a preservação, incentivo e permanência
das línguas originárias de cada povo, pois, entendemos que quando se perde
a língua também se perde a identidade, a memória e, consequentemente, uma
parte da cultura, de forma que não há mais como resgatar ou recuperar o
que foi perdido de patrimônio linguístico de determinado território. Por isso,
a reflexão sobre as perdas que ocorrem a partir do apagamento de línguas
indígenas é fundamental para compreendermos o volume de características
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Portanto, pode-se concluir que nessa fase tinha-se como objetivo “civi-
lizar” para dominar, pois havia a ideia de que existia uma cultura melhor e
mais avançada, a europeia. Para Eagleton (2011), o eurocentrismo não passava
de uma cultura ilusoriamente superior. Para o autor: “cultura não significa
uma narrativa grandiosa e unilinear da humanidade em seu todo, mas uma
diversidade de formas de vida específicas, cada uma com suas leis evolutivas
próprias e peculiares” (Eagleton, p. 24, 2011).
Na segunda fase da educação escolar indígena, em meados do século XX,
entre as décadas de 50 e 60, pela primeira vez outras línguas, além da oficial,
iriam integrar o espaço escolar. Foi nessa fase que surgiram as primeiras esco-
las estatais bilíngues que atenderiam os povos indígenas. Entretanto, nesse
primeiro momento, essas escolas viam o bilinguismo apenas como uma etapa
de transição necessária para alfabetizar e “civilizar” de maneira mais rápida
os povos indígenas. Nessa perspectiva, a escola tinha como principal objetivo
usar a língua materna para que as crianças indígenas pudessem transmitir aos
pais mais facilmente os conceitos e valores da cultura nacional, de certa forma
ainda continuava o processo de assimilação aos povos indígenas, mas de uma
forma camuflada na educação escolar desses povos (Bastos; Neto, 2016).
A partir desse momento a concepção do bilinguismo começou a influen-
ciar as políticas educativas voltadas para os povos indígenas em toda a Amé-
rica Latina, nas palavras de Candau e Russo:
língua materna ou caso não fosse possível, na língua mais usada pelo grupo
que pertencia (Bastos; Neto, 2016).
Nessa segunda fase da educação escolar indígena, fica evidente que a
cultura e consequentemente as línguas dos povos indígenas do Brasil também
não foram consideradas importantes pelos colonizadores, pois ainda que o
Estado tenha criado decretos e leis para a valorização das línguas indígenas
no contexto escolar, o principal objetivo era a integração e submissão social,
econômica e cultural desses povos à comunidade nacional, carregada ainda
pelo etnocentrismo arraigado do colonialismo, justamente por não reconhe-
cer a diversidade cultural presente no Brasil, o foco era a homogeneidade
da população que habitava o país. Assim, para nos ajudar a compreender os
significados do etnocentrismo, Lévi-Strauss entende:
Parece que a diversidade das culturas raramente surgiu aos homens tal
como é: um fenômeno natural, resultante das relações diretas ou indiretas
entre as sociedades; sempre se viu nela pelo contrário, uma espécie de
monstruosidade ou de escândalo; nestas matérias, o progresso do conhe-
cimento não consistiu tanto em dissipar esta ilusão em proveito de uma
visão mais exata como em aceitá-la ou em encontrar o meio de a ela se
resignar (Lévi-Strauss, p. 3, 1993).
por essas relações (Castro, 2016). Nesse contexto, tem-se como inferir que a
utilização das línguas indígenas na educação escolar servia apenas para faci-
litar a tradução e a aprendizagem sobre a cultura nacional e para afirmação
da nacionalidade brasileira dos povos indígenas.
Após esse período, nas décadas de 60 a 80, inicia a terceira fase, o
cenário começou a mudar, foi quando instituições governamentais e
não-governamentais que lutavam pelas causas indígenas começaram a apa-
recer no âmbito nacional e internacional. Iniciou-se a produção de material
didático e programas de educação bilíngue começaram a reconhecer os direitos
dos povos indígenas para fortalecer e manter a cultura local. Nesta fase, o
Logo, com essa breve trajetória das línguas indígenas na educação escolar
indígena, podemos afirmar que mesmo em passos lentos, a valorização das
línguas indígenas vem avançando, porém, vale considerar que muitas políticas
ainda precisam ser implementadas para garantir o uso das línguas indígenas
no processo educacional dos povos indígenas do Brasil e muitos desafios
precisam ser superados nos contextos escolares indígenas, que vão desde a
educação infantil a Educação Superior, e porque não falar em pós-graduação,
já que os povos indígenas têm direito garantido em todos os níveis de ensino.
Então, vale dizer que esse movimento vem se fortalecendo e ganhando novos
rumos e novas concepções com o intuito de resgatar, revitalizar e manter vivas
as línguas dentro da escola e das comunidades indígenas, visto ser fundamental
para a cultura e identidade dos povos originários do Brasil.
124
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BANIWA, Gersem. Educação escolar indígena no século XXI: encantos e
desencantos. Rio de Janeiro: Mórula, Laced, 2019.
Introdução
como não reconhecer que o povo negro foi subalternizado é um passo para
normalizar injustiças culturais e sociais. Apesar das dificuldades, como afirma
Galindo (2015), as juventudes negras do campo vêm se movimentando através
da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas. Nesse sentido, sabe-se que o desafio é fazer o movimento polí-
tico de conscientização chegar nas comunidades mais distantes.
Os jovens do campo devem ser pensados enquanto categoria social, uma
vez que vem se organizando e mostrando suas especificidades e, com isso,
propondo novas formas de configuração do campo. Assim, destaca-se a fala
de Silva (2006), quando discute a questão dos saberes e práticas dos estudan-
tes que formam a cultura escolar, desse modo, é fundamental que a cultura
do jovem do campo seja relevante quando o currículo da escola é elaborado.
A escolarização desse jovem se não considera as práticas de lidar com a terra,
o tempo que levam para o plantio, a colheita, não garante o direito à educa-
ção. Leão e Antunes-Rocha (2015), mostram que o ProJovem Campo tentou
mediar essa ação trazendo nos seus objetivos o estudo de qual escolarização
é possível para o jovem do campo.
Percebe-se que os movimentos sociais têm defendido a bandeira dos
valores culturais, do direito à diferença, da diversidade e dos direitos humanos,
como afirma Galindo (2015), o movimento dos jovens do campo por meio
das suas práticas como extrativistas, agricultores, pescadores, ribeirinhos,
exigem o direito de articular as políticas públicas do campo, visto que, se tra-
tam de suas experiências. Os jovens estão dentro dos sindicatos, associações,
cooperativas, desenvolvendo atividades que fortalecem a cultura, organizam-se
como grupo social em movimento.
A organização sindical da juventude do campo vem se materializando
a partir das experiências dos grupos nas comunidades, como as comissões e
reuniões de jovens. Leão e Antunes-Rocha (2015) citam a Pastoral da Juven-
tude Rural (PJR) como um espaço de participação social que organiza os
jovens enquanto movimento e permite que revigore aspectos de identidade,
136
de resistência, de luta pelo direito à terra. Os autores relatam que desde 1990,
os jovens vêm se destacando como lideranças dentro do Movimento Sindi-
cal dos Trabalhadores(as) Rurais – MSTTR, na medida que foram sendo
considerados categoria social. Dessa forma, as conferências realizadas pelo
MSTTR passaram a garantir que os jovens do campo tivessem suas deman-
das discutidas.
As organizações dos jovens do campo se configuram a partir da realidade
local. Leão e Antunes-Rocha (2015) apontam algumas vivências pelo país,
como a constituição da Comissão Estadual de Jovens Trabalhadores e Tra-
balhadoras Rurais do Rio Grande do Sul, em 1992, que nasceram das ações
Fonte: https://www.instagram.com/p/CpxayMmO3hs/?img_index=2
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ARROYO, G. Miguel. Outros Sujeitos, Outras Pedagogias. Petrópolis:
Ed. Vozes, 2012.
Introdução
14 Ponto de cultura da Banda Placa, aprovado em 29/10/2008, edital nº 001. Devido ao grande trabalho que
a banda vinha executando desde 1997, recebeu o nome de “Emplacando”.
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 149
autores abordados, tais como: Terry Eagleton (2011), Denys Cuche (2002),
Milanesi (1997), Ramos (2007), Videira (2014), Hall (2006), Fleuri (2018),
entre outros.
A fim de alcançar o objetivo suscitado acima, estruturamos este artigo
em duas seções. Na primeira traçaremos uma discussão sobre o contexto
histórico dos Centros de Cultura no Brasil e a importância que esses espaços
representam para manter viva a história, os saberes e os fazeres culturais
relativos à população negra. Na segunda seção teceremos considerações a
respeito do nosso projeto de dissertação que tem como objetivo analisar o
protagonismo do Centro Cultural Raízes do Marabaixo em Mazagão Velho-AP,
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nas ruas na vila de Mazagão Velho no dia 24 de agosto para louvar o Divino
Espírito Santo, contendo comitivas das foliãs do Divino Espírito Santo, inte-
grantes do grupo raízes do Marabaixo, adulto e infantil, demais grupos de
outras localidades e apreciadores.
A dança do marabaixo é uma das manifestações presente nas ativida-
des que o centro de cultura realiza com as crianças que, durante as aulas de
percussão e musicalidade, aprendem a tocar as caixas e cantar os versos de
marabaixo. Os ensaios são realizados a cada apresentação que o grupo é
convidado a participar. Desse modo, o Centro Cultural se esforça para manter
viva as tradições locais e sua ancestralidade negra. Portanto, “o Marabaixo
Considerações finais
as culturas populares.
Atualmente os centros de cultura trabalham com culturas diversas, em
especial a cultura de matriz negra, como forma de resistência e preservação
da identidade cultural negra, valorizando os saberes culturais locais. Portanto,
esses centros revelam-se importantes enquanto espaços educativos, para o
desenvolvimento e preservação da história e memória coletiva de uma nação
e da vida humana.
154
REFERÊNCIAS
CORDEIRO, A. A. de S. Interculturalidade e Cultura Popular: debatendo a
folclorização dentro da educação escolar. Revista da FAEEBA – Educação
e Contemporaneidade, Salvador, v. 31, n. 67, p. 308-324, 16 ago. 2022.
Introdução
população que não possuem internet, biblioteca, laboratórios, além de ser uma
instituição para o convívio multidisciplinar rico em saberes, e socialização
de conquistas educacionais de professores e alunos (Silva; Fonseca, 2010).
Diniz e Marte (2022) afirmam que o ensino de História deve reaprender
a motivar os sujeitos enquanto partícipes de sua própria história na ressigni-
ficação do papel atribuído a disciplina História na busca de novos elementos
teórico-metodológicos afrocentrados. A partir de práticas pedagógicas fomen-
tadas pelas estratégias metodológicas inerentes ao Ensino de História (fontes
e eixos temáticos) e outras dinâmicas a luz da pedagogia griô por exemplo,
permite-se aos sujeitos em processos formativos dialogarem com outros cam-
comunidade, valoriza outros sujeitos entre quais os idosos são incluídos pela
importância da memória viva para a preservação da cultura.
Já o Projeto intitulado: “Curiaú Mostra Tua Cara”, desenvolvido na escola
localizada na Comunidade quilombola do Cria-ú, tem um grande destaque
como referência pedagógica, para toda a sociedade amapaense, na busca
de uma educação escolar quilombola e antirracista (Videira; Santo, 2017).
É justamente nessa conjuntura que se enquadra o projeto Curiaú Mostra Tua
Cara, como estratégia pedagógica, que propicia uma nova proposta de escola,
através da construção de um indivíduo completo, que respeite as diferenças,
reconhecendo-as como produto de sua realidade.
Este projeto começou a ser realizado no ano de 2000, a partir da neces-
sidade que algumas professoras perceberam de se trabalhar dentro da escola a
temática referente a educação étnico-racial, quando em uma atividade a pro-
fessora pediu que os alunos pintassem a imagem da família, de sua cor. Visto
que nenhum dos alunos pintou a imagem da cor preta e nem marrom. Assim,
o projeto tem como objetivo afirmar positivamente a identidade quilombola
de seus estudantes, em que a criança valorizasse a sua cor e desconstruísse
estereótipos negativos sobre sua história. Dentre as diversas atividades do
projeto ocorrem encontro de moradores para uma oficina de construção de
instrumentos percussivos para em seguida realizar os encontros festivos de
danças, com os ritmos locais, em que cantores e dançarinos do bairro são
convidados para uma intervenção com os alunos, há apresentações artísticas
dos alunos, sendo danças, poesias, apresentações de ladrões de marabaixo
com autorias dos discentes. Exposições de obras artesanais tradicionais como
bancos, mesas, lustres, brinquedos diversos e musicais.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Marcilea Freitas; REIS, Mauricio de Novaes. O Pensamento
Decolonial: Análise, Desafios e Perspectivas. Revista Espaço Acadêmico,
n. 202, mar. 2022.
Introdução
15 A inovação é no sentido do arranjo institucional, do desenho jurídico, porque reúne corporação militar com
sua filosofia institucional, mas no âmbito de uma escola civil vinculada à Secretaria de Estado da Educação.
Do ponto de vista pedagógico é a tentativa de implementar a conhecida Pedagogia Tradicional, calcada no
Positivismo, para, especialmente, por meio da disciplina coercitiva buscar resultados escolares considerados
importantes.
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 173
o ambiente da unidade.
O presente estudo está estruturado em duas seções, além dos aspectos
introdutórios e conclusivos. A segunda seção trata de aspectos conceituais
que se referem centralmente à categoria Cultura. A segunda aborda sobre a
relação entre educação, cultura e formação de sujeitos com foco de análise
no caso ora investigado.
17 Segundo Gramsci (1988), a aliança entre Estado e classe dominante é com a intenção de se articularem
para se manter cada vez mais no poder.
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 177
[...] a escola é uma instituição da sociedade, que possui suas próprias for-
mas de ação e de razão, construídas no decorrer da sua história, tomando
por base os confrontos e conflitos oriundos do choque entre as deter-
minações externas a ela e as suas tradições, as quais se refletem na sua
organização e gestão, nas suas práticas mais elementares e cotidianas,
nas salas de aula e nos pátios e corredores, em todo e qualquer tempo,
segmentado, fracionado ou não (SILVA, 2006, p. 206).
Noutro giro, Paulo Freire (1996) traz a ideia sobre concepção de edu-
cação bancária, uma prática de ensino que reproduz claramente a sociedade
opressora, onde o professor é o detentor do conhecimento e se coloca em uma
posição superior ao aluno, este visto como objeto, receptor da aprendizagem,
em uma relação “aluno-professor” onde um é visto como o que “sabe de tudo”
e o outro que “não sabe nada”.
Porém, cultura se manifesta e se configura em lugares, e nesse sentido,
vale a pena trazer Silva (2006) que destaca a categoria “espaço escolar” des-
veladora de processos de reconstrução histórica da cultura escolar, quer seja
pelos aspectos da microfísica, ou pela função simbólica que a escola representa
178
Tais eventos estão sendo constatados na escola-lócus por meio das aná-
lises documentais do Regimento Interno da escola, do Termo de Cooperação
nº 004/17, das técnicas utilizadas como as observações, escutas, conversas
informais e as anotações registradas no caderno de campo referente às múl-
tiplas relações sociais que ocorrem através dos processos socializadores que
se dão no ambiente escolar.
No cotidiano escolar, nota-se que a rotina se baseia em vários em pro-
cessos socializadores disciplinares coercitivos, os quais desvelam a natureza
sociocultural que a escola passou a assumir após o processo de militarização,
ocorrido em 2017.
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18 O critério de escolha da turma é feito com base na hierarquia de maior tempo de estudos de cada “Com-
panhia” na escola: anos superiores seguindo para os anos inferiores (nesse caso, especialmente no turno
matutino, do 8º ao 6º ano). A companhia representa a divisão hierárquica existente entre os anos, ou seja,
Companhia 5: 8º ano; Companhia 6: 7º ano; Companhia 7: 6º ano.
180
Considerações finais
REFERÊNCIAS
AMAPÁ. Acordo de cooperação n°004/2017-SEED, de 17 de março de
2017b. Acordo que entre si celebram, de um lado, a Secretaria de Estado
da Educação – SEED/AP, e de outro lado, o Corpo de Bombeiros Militar
do Estado do Amapá – CBMAP, para os fins abaixo declarados. Diário Ofi-
cial do Amapá, Macapá, n. 6412, p. 37-38, 2017b. Disponível em: https://
sead.amapa.gov.br/diario/DOEn6412.pdf?ts=1621021943. Acesso em: 17
abr. 2021.
Introdução
[...] os ribeirinhos são sujeitos rurais que possuem modos próprios de vida
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por determinados saberes que não estão adequados aos “padrões” oficiais de
produção de conhecimento. Por esta razão, mediante suas culturas e diferentes
saberes, não fazem parte das práticas culturais e educativas institucionalizadas.
“Ao invés de conferir à educação ribeirinha um tratamento diferenciado, que
atente para suas especificidades e sua monumentalidade, a União e mesmo o
País, que dela tanto se orgulham, não encaram, nem assumem programas com-
patíveis com sua grandeza e suas peculiaridades” (LOUREIRO, 2007, p. 44).
Ao refletir sobre as abordagens desses autores acerca dos saberes cul-
turais amazônicos e a relação com a escola, o que percebemos é a evidente
desigualdade no tratamento com os sujeitos ribeirinhos da Amazônia. Estes são
vítimas de um modelo histórico e perverso de desenvolvimento que beneficia
somente os detentores do poder, empresas nacionais e multinacionais, que se
apropriam de suas riquezas culturais, florestais e minerais, sob o discurso de
que suas ações se desdobram “em benefício do crescimento econômico do
país”, porém, o que se percebe é que pouco se tem feito por essas comunidades
que vivem à margem da sociedade.
A educação ribeirinha deve ser vista a partir da concepção de uma edu-
cação contextualizada, que considere a diversidade dos povos que nela vivem,
respeitando suas diferenças e contemplando sua igualdade. Ou seja, uma
educação para além do que é perpetuado pelo sistema, tendo como princípio
a inclusão dos diversos atores que vivem nas regiões ribeirinhas, de maneira
que sejam reconhecidos como sujeitos de direitos, e depois como protagonistas
de seus processos educacionais (CARMO; PRAZERES, 2013).
Segundo Albarado e Vasconcelos (2015, p. 60):
Porém, o autor reforça que a cultura tem peculiaridades, por isso não
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Nós somos aquilo que nos fizemos e fazemos ser. Somos o que criamos
para efemeramente nos perpetuarmos e transformarmos a cada instante.
Tudo aquilo que criamos a partir do que nos é dado, quando tomamos as
coisas da natureza e as recriamos como os objetos e os utensílios da vida
social, representa uma das múltiplas dimensões daquilo que, em outra,
chamamos de: cultura.
Esses autores mostram que pensar e viver no mundo atual passa pelo
reconhecimento da pluralidade e diversidade de sujeitos e de culturas com
base no respeito e tolerância recíproca, concebendo as diferenças culturais não
como sinônimo de inferioridade ou desigualdade, mas equivalente a plural
e diverso.
Dessa forma, considerando que as pessoas têm suas culturas e suas identi-
dades próprias as escolas devem repensar suas práticas pedagógicas no sentido
de criar estratégias, como trabalhar com o Multiculturalismo, para aproximar
seus alunos da realidade e do contexto em que estão inseridos, transformando
essa educação em um momento significativo e prazeroso, de maneira que
venha a contribuir com uma sociedade mais heterogênea e menos padronizada.
sustento para a subsistência de suas famílias. Além disso, os rios servem, por
vezes, como o único meio de transporte para se locomoverem.
No entanto, explicam Moreira e Silva (2013), que os saberes do currículo
“oficial” são os que prevalecem na construção do conhecimento dentro da
escola, ignorando os saberes construídos historicamente pelas populações
ribeirinhas. A esse respeito, Torres Santomé (1995, p. 165) afirma que:
aproximar o currículo oficial escolar aos saberes sociais e culturais dos povos
ribeirinhos, ou seja, incorporar na matriz curricular conteúdos relativos aos
saberes tradicionais desses povos, contemplando o fortalecimento da identi-
dade cultural desses povos.
Assim, por meio dessa relação entre saberes socioculturais e saberes
educacionais, a escola deve trabalhar seu currículo baseado nessas refle-
xões, principalmente quando adentra aos espaços da comunidade. A escola
não pode se ausentar de tal responsabilidade e agir como se estivesse em
um espaço urbano, pois a educação ribeirinha tem as suas especificidades
e particularidades.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ABREU, W. F. et al. (org.) Educação ribeirinha: saberes, vivências e for-
mação no campo. 2. ed. Belém: GEPEIF-UFPA, 2013.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 50. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2011.
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 201
SILVA, Maria José Albuquerque da; BRANDIM, Maria Rejane Lima. Multi-
culturalismo e educação: em defesa da diversidade cultural. Diversa, [s. l.],
Ano I, n. 1, p. 51-66: jan./jun. 2008.
Introdução
Metodologia
Resultados e discussão
da vida como base de uma democracia plural e uma equidade social aberta à
diversidade cultural. Nesse sentido a cultura está “lavrando caminhos rumo
à sustentabilidade, fundados numa racionalidade ambiental que vem impul-
sionando e legitimando monos direitos ambientais culturais e coletivos”
(LEFF, 2001, p. 347). Como resposta ao capitalismo, forjado na ideologia
das liberdades individuais, que privilegia os interesses privados, a cultura
tem convulsionado o mundo atual e ganha força com o enfraquecimento da
lógica unificadora que guiou os destinos de uma sociedade homogeneizante,
não equitativa e insustentável, porém, ainda é um processo lento.
De acordo com Sauvé (2005), a educação ambiental ajuda a estreitar a
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Considerações finais
REFERÊNCIAS
ASANO, Juliete Gomes Póss; DE SOUZA POLETTO, Rodrigo. Educação
ambiental: em busca de uma sociedade sustentável, e os desafios enfrentados
nas escolas. Revista Caderno Pedagógico, v. 14, n. 1, 2017.
Introdução
A juventude é uma fase da vida humana que não possui uma definição
exata, isso porque muitas pessoas percebem essa fase apenas como uma pas-
sagem para a vida adulta, um período de experimentação e liberdade, basean-
do-se nos estereótipos de que a juventude é um “problema social”, ignorando
assim as formas que os jovens constroem suas experiências, a partir de seus
questionamentos e propostas para resolução de problemas experienciados em
seus cotidianos (Santos, 2015).
A percepção é um fenômeno psicológico complexo que influencia como
os indivíduos interpretam e compreendem os estímulos do meio externo. Essas
percepções são influenciadas pelas experiências individuais, construídas a
partir de “suas vivências anteriores e suas necessidades presentes, constituindo
um ato de perceber” (Oliveira, 2014, p. 78). Nesta seção, exploraremos como
os jovens costumam ver o mundo, investigando as percepções que eles desen-
volvem em relação a diversos aspectos, como sociedade, cultura, política,
ambiente, tecnologia, entre outros.
As percepções dos jovens são formadas por influências sociais que ocor-
rem em diferentes níveis, desde o ambiente familiar até o contexto social
mais amplo. As interações com familiares, amigos, professores e colegas
desempenham um papel significativo na construção das percepções dos jovens.
De acordo com Erikson (1968), durante a adolescência, os jovens estão em
busca de uma identidade e tendem a ser mais suscetíveis às influências do
grupo social ao qual pertencem.
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 219
pais. No entanto, nesse contexto, pode surgir uma pressão vocacional intensa,
caracterizada por uma aceleração no processo de escolha e construção da
carreira do jovem, o que pode desencadear traumas (Farias, 2013).
No contexto dos jovens brasileiros, o planejamento do próprio futuro
parece estar fortemente ligado a questões econômicas, frequentemente men-
cionadas como independência financeira e complementação de renda. Isso
leva muitas vezes à busca pelo primeiro emprego ocorrer já na adolescência, o
que pode comprometer o desenvolvimento acadêmico do indivíduo, conforme
destacado por Frenzel e Bardagi (2014) em seu estudo. As autoras argumentam
que entrar no mercado de trabalho mais tardiamente permite ao indivíduo uma
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Considerações finais
REFERÊNCIAS
AMAZONAS, M. C.; et al. Arranjos familiares de crianças de camadas popula-
res. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 8, num. esp., p. 11-20, 2003. Disponível
em: https://www.scielo.br/j/pe/a/Hbwz3Q5XJLVQrwRhs4H3hnk/?format=p-
df&lang=pt. Acesso em: 12 jun. 2023.
handle/123456789/236098/2013-art-periodicos-04.pdf?sequence=1. Acesso
em: 21 jun. de 2023.
Introdução
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e Cultura. São Paulo: Editora Cortez,
1997. 144 p.
DEWEY, John. Experiência e Educação. 34. ed. São Paulo: Editora Nacio-
nal, 2019. 128 p.
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 26. ed. São Paulo: Cor-
tez, 2016. 152 p.
Introdução
Os pais devem ser os únicos mestres dos filhos até que eles
cheguem à idade de oito ou dez anos (White, 2021).
19 Édison Prado de Andrade é bacharel em Direito, Mestre e Doutor em Educação, advogado, consultor
e procurador judicial de famílias praticantes de educação domiciliar. Idealizador, fundador e gestor da
Associação Brasileira de Defesa e Promoção da Educação Familiar (ABDPEF) (Vasconcelos, 2021, p. 394).
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 247
nesse contexto. Segundo Vasconcelos (2021, p. 197) a ED, nessa nova fase,
[re]começa a ser praticada no Brasil no início dos anos 2000, e os projetos
que buscam sua regulamentação, como já informado, começaram a tramitar
no Congresso Nacional a partir de 2001.
No entanto, os desfechos de ambas as questões ocorrem exatamente no
momento da repentina guinada do Brasil na direção do ultradireitismo. Não há,
portanto, como não associar os dois acontecimentos à meteórica ascensão do
presidente Jair Bolsonaro (um ultradireitista e antiprogressista assumido), à
composição, em 2018, do Congresso mais conservador dos últimos 40 anos
(DIAP, 2021) e a clara intenção, por parte de religiosos neoconservadores,
de teocratizar o Estado brasileiro, como explicitado na fala (que epigrafa
a presente seção) da pastora evangélica neopentecostal e, hoje, senadora
Damares Alves.
Por analogia, considerando o atual surto de crise respiratória aguda grave
em crianças e recém-nascidos, que, nesse momento (fim de junho/2023),
atinge vários estados do Brasil, nos permite afirmar que, embora sob controle,
por meio de seus drásticos efeitos (diretos e indiretos), a covid-19 continua
entre nós. E a ED que, como a pandemia, parecia se temporária, no que depen-
der dos seus defensores – que só aumentam a cada dia –, também ressurgiu,
indiscutivelmente, para ficar. Aliás, muitos dos denominados pais educadores
defenderam pública e abertamente que dever-se-ia aproveitar o momento da
pandemia para que se aprovasse, de uma vez por todas, o PL que tornaria
legal a prática da ED no Brasil. Por alguma razão, entre elas, certamente a
resistência dos movimentos sociais e, inclusive, dos empresários educacionais,
a ED prossegue como prática ilegal no País.
Conclusão
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Gabriela Freitas de. A Escolarização do Lar e a Desescolarização
da Escola. In: VASCONCELOS, Maria Celi Chaves. Educação Domiciliar
no Brasil: mo(vi)mento em debate. Curitiba: Editora CRV, 2021.
Introdução
crítica e reflexiva tem se tornado cada vez mais importante. O que torna o seu
ensino de suma importância, pois busca desenvolver nos alunos habilidades
para pensar criticamente, refletir sobre suas próprias ações e tomar decisões
conscientes sobre questões sociais, políticas e culturais. Além de incentivar
o diálogo e a colaboração entre os alunos, estimulando-os a serem criativos
e a buscar soluções para os problemas que enfrentam, e a pensar de forma
independente (FREIRE, 2013).
Os processos de ensinar e aprender são fundamentais para o desenvol-
vimento do processo de aprendizagem, e para a aquisição de conhecimento.
“Quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender tanto mais
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Considerações finais
REFERÊNCIAS
COSTA, César A.; LOUREIRO, Carlos F., Perspectivas Interdisciplinares
à Luz de Paulo Freire: Contribuições Político-Pedagógicas para a Educa-
ção Ambiental Crítica. In: BATTESTIN, Cláudia; DICKMANN, Ivo (orgs.).
Educação ambiental na América Latina. Chapecó: Plataforma Acadêmica,
2018. p. 77-103.
B
Benefícios da ludicidade 232, 235, 241
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C
Centro de cultura 149, 150, 151, 152, 153, 154
Ciências do esporte 54, 59, 62, 63, 64, 275
Ciências sociais 12, 15, 19, 20, 108, 116, 148, 154, 166, 167, 213, 278
Colonialidade 15, 45, 46, 74, 75, 77, 102, 105, 112, 113, 116, 129, 157, 158,
159, 166, 167
Construção de identidades culturais 231, 232, 236, 237, 238, 239, 240, 241
Crise socioambiental 209, 212
Cuidados com o meio ambiente 205, 206, 207
Cultura popular 20, 24, 28, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 65, 75,
79, 90, 150, 152, 153, 154, 175, 176
D
Desenvolvimento da linguagem escrita 235, 236, 241
Diretrizes curriculares nacionais para a educação escolar quilombola 72, 73,
161, 166
Diversidade cultural 26, 31, 37, 42, 43, 44, 47, 48, 49, 50, 53, 57, 65, 76, 81,
83, 84, 87, 88, 90, 91, 121, 125, 140, 142, 148, 152, 195, 202, 209, 211, 212,
220, 225, 231, 232, 237, 238, 240, 241
E
Educação ambiental 140, 141, 203, 204, 205, 206, 207, 208, 209, 210, 211,
213, 214, 215, 257, 258, 259, 260, 261, 262, 263, 264, 265, 266, 276
Educação domiciliar 245, 246, 247, 248, 250, 251, 253, 254, 255
Educação escolar 28, 38, 50, 62, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 78,
79, 80, 90, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 128, 129, 130,
268
131, 132, 154, 155, 160, 161, 163, 166, 187, 188, 189, 192, 198, 201, 207,
208, 247, 250, 261, 277, 278
Educação física 53, 54, 55, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 179, 217, 218,
223, 224, 225, 226, 227, 228, 229, 272, 275, 276
Educação intercultural 17, 19, 24, 25, 26, 28, 29, 31, 32, 38, 41, 42, 44, 50,
51, 58, 62, 63, 64, 79, 90, 118, 152, 154, 271
Educação musical 41, 44, 45, 48, 49, 277
Educação ribeirinha 188, 189, 191, 197, 198, 200, 201
Ensino de história e cultura afro-brasileira 68, 161, 165, 213
F
Festival nacional da juventude 133, 137, 138, 139, 143, 144
Folclorização 28, 62, 90, 150, 154
Formação de professores 44, 48, 49, 84, 85, 90, 214, 272, 276
G
Gênero e sexualidade na escola 107, 108, 111
I
Instituições de ensino superior 49, 85, 223, 224
Interculturalidade 19, 20, 21, 22, 24, 25, 28, 31, 32, 33, 36, 37, 41, 42, 43,
44, 45, 47, 48, 49, 50, 51, 53, 54, 55, 57, 60, 61, 62, 67, 74, 75, 76, 78, 79,
90, 117, 122, 124, 125, 131, 132, 154, 159, 166, 274, 278
Interculturalidade crítica 25, 31, 32, 33, 43, 47, 51, 67, 74, 75, 76, 78, 159
J
Jogos e atividades lúdicas 231, 233, 234, 236, 237, 238, 239, 240
Juventudes 133, 134, 135, 137, 138, 143, 144, 221, 222
Juventudes do campo 133, 134, 137, 138, 143, 144
L
Lei de diretrizes e bases da educação 68, 69, 118, 123, 124, 131, 189, 199
AMAZONIZAR: Educação, Pesquisa e Cultura 269
M
Meio ambiente 12, 13, 156, 203, 204, 205, 206, 207, 208, 209, 210, 211,
213, 257, 258, 260, 263, 264
Movimentos sociais 33, 42, 43, 71, 74, 133, 134, 135, 137, 140, 141, 142,
143, 144, 196, 210, 249, 259, 278
Mudanças de valores, comportamentos e atitudes 203, 204, 211
Multilinguismo 118, 123, 125, 127, 129, 130, 131
P
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Q
Questão socioambiental 209, 210, 212
Quilombo do mel da pedreira 162
R
Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas 118, 124, 125, 131
Relação homem e natureza 209, 212
Relações culturais 44, 180, 209, 210, 212
Relações de poder 14, 55, 56, 87, 138, 173, 175, 231, 237, 238, 240, 261
S
Senso de pertencimento 221, 224, 226, 231, 239
V
Valorização das línguas indígenas 118, 121, 123, 125, 126, 127, 128, 130
Violência sexual 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 273
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SOBRE OS/AS AUTORES/AS
SOBRE O LIVRO
Tiragem não comercializada
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 10,5 | 11,5 | 13 | 16 | 18
Arial 8 | 8,5
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal | Supremo com brilho 250 g (capa)