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TERRITÓRIOS, IDENTIDADES
E TRABALHO NA AMAZÔNIA
SUL-OCIDENTAL
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2022
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Imagens da Capa: Wirestock/Freepik.com
Revisão: Os Autores
T327
Bibliografia.
ISBN Digital 978-65-251-3316-4
ISBN Físico 978-65-251-3315-7
DOI 10.24824/978652513315.7
1. Geografia 2. Amazônia 3. Território – identidade 4. Trabalho I. Ponte, Karina Furini da, org.
II. Morais, Maria de Jesus, org. III. Título IV. Série
2022
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
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Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO�������������������������������������������������������������������������������������������� 9
Karina Furini da Ponte
Maria de Jesus Morais
Introdução
Sem dúvida, o homem é o seu corpo, a sua consciência, a sua sociabilidade,
o que inclui a sua cidadania. Mas a conquista, por cada uma vírgula da
consciência não suprime a realidade social de seu corpo nem lembre a
efetividade da cidadania. Talvez seja essa uma das razões pelas quais, no
Brasil, o debate sobre os negros é prisioneiro de uma ética enviesada. E
esta seria mais uma manifestação para ambiguidade a que nos referimos,
cuja primeira consequência é esvaziar o debate de sua gravidade e de seu
conteúdo nacional. (SANTOS, 2002, p. 160).
negros e negras se veem, ou como são vistos pela sociedade, e uma outra
mais ampla, que considera o contexto em que a população negra foi inserida,
a nível nacional. Desta forma, o entendimento das questões sobre racismo,
preconceito e discriminação, devem partir de uma compreensão ampliada,
quer dizer, do geral para o particular. No caso do Acre, por exemplo, deve-se
levar em conta a formação socioespacial nacional, em busca de compreender
as questões locais.
Nessa perspectiva, a formação social, e a produção do espaço, são cate-
gorias e processos interdependentes e interligados, formados historicamente e
trabalha como Secretária para se sustentar e pelo menos três vezes por semana
atua como escriturária no Coletivo de Mulheres Negras na cidade de Rio
Branco, no Acre. Sua avó chamava-se Dona Isaura nasceu em 1928 no Acre,
e, teve 11 filhos(as) com mais de quatro pais diferentes, o que resultou em
variadas cores, Ela também trabalhou no corte da seringa, no Seringal Nazaré
e, posteriormente, mudou-se para a cidade de Brasileia. Dona Isaura era dona
das terras, onde residia por tê-las herdadas de um dos seus tios que decidiu
morar na cidade de Rio Branco. O local desse antigo seringal foi transformado
no atual bairro Samaúma II, na cidade de Brasiléia, onde ainda residem três
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para lhe auxiliar no corte na Seringa. Com o tempo, dois retornaram ao Piauí
enquanto os outros dois permaneceram com a família em Xapuri.
Na ocasião da morte de seu pai, em 1 de novembro de 1974, Dercy tinha
20 anos de idade e a família residia no Seringal Boa Vista, onde Ela reside até
o dia em que concedeu essa entrevista. Os descendentes de seu pai, residem
nesse mesmo local até a atualidade. Somente seu irmão caçula, nasceu neste
seringal, todos os outros irmãos nasceram no Seringal Humaitá e chegaram
criança no seringal Boa Vista.
A sexta pessoa entrevistada foi um senhor negro de nome Franco Men-
6 A pessoa entrevistada mais idosa foi o senhor João de Divino que nasceu em 1933.
24
Eu estudei lá pelo interior, mas era meu pai [que] pagava aquelas pro-
fessorinhas7 do interior do Maranhão, que estudava até o 4ª ano, aí ele
pagava para me ensinar [para eu] aprender, porque quando eu fui pra
escola, eu já tinha quatorze anos de idade. Infelizmente eu nunca tive o
direito de sentar no banco de escola, estudava assim mesmo, passava 2
meses ai bora trabalhar no roçado. Aí, com um ano voltava na escola de
novo passava 2 meses ou 3 meses aí [ele me] tirava de novo, era assim,
meu estudo foi sempre assim. (Entrevista com Senhor Edson Darlindo
em 3 de setembro de 2020).
Em outra entrevista com o senhor Isac Melo, também foi possível identi-
ficar uma atenuação do racismo ao mencionar que sua mãe não era uma pessoa
negra de cor fechada, era mais clara do que seu pai, além de comentar que as
gerações estão sujeitas a miscigenação. “Já fui muito chamado de nego do
cabelo duro, mas quando a gente é criança isso fica por lá mesmo, a gente às
26
vezes achava até carinhoso, ser chamado de neguinho, era neguinho pra lá, era
neguinho pra cá”, em suas palavras não vale a pena ir para o enfrentamento
com pessoas racistas. Ao tentar explicar as uniões entre homens negros e
mulheres brancas e entre homens brancos com mulheres negras, senhor Isac
Melo compreende que “isso é parte da seleção natural em que cada pessoa
quer o melhor pra si”, justifica, entretanto, que isso não tem nada a ver com
as teorias darwinistas em que supostamente haveria uma evolução das raças
pela dominação dos grupos étnicos considerados inferiores, pelos conside-
rados superiores.
Matter’ não são uma oposição ou a negação de que “vidas brancas impor-
tam”. Todas as vidas importam. O que nos cabe lembrar é que a população
vulnerável necessita de condições que permitam igualar-se ao restante da
sociedade, sem expor-se a violência que por vezes determina aqueles que
podem ou não sobreviver em função de sua cor de pele. (DOMINGUES;
ASINELLI-LUZ, 2021, p. 163, 164).
cidas. Em que pese os efeitos danosos que o mito da democracia racial trouxe
para comunidade negra brasileira, não há espaços para divisões na luta contra
o racismo, pessoas de todas as cores e origens devem se posicionar contra
esse mal, não apenas ao lado de negras e negros, mas, também contra todas
as formas de preconceitos e discriminações, independentemente da cor/raça
ou origem das pessoas.
A entrevista com a família do senhor Flávio Oliveira foi concluída com
a fala da esposa, mencionando que,
O próprio IBGE te põe numa situação difícil, quando impõe aquela coisa:
você é preto, branco ou pardo? Existe essa cor parda? Não existe essa cor
parda. Quando eles vêm me perguntar eu ponho lá que eu sou negra porque
parda não existe. Na verdade é uma aceitação da sua origem […]. Nem
concordo com essa questão do indígena porque indígena não é cor […].
(Entrevista com Flávio Oliveira e família, no dia 11 de agosto de 2021).
mas, “os mais discriminados eram negros que tinham cabelo, que chamavam
de pixaim, cabelo que não molha, que a água bate, e desce, e, o cabelo fica
seco” (Entrevista com Dercy Teles em 13 de agosto de 2021).
Sobre suas lembranças das festas de São Sebastião, padroeiro da cidade
de Xapuri, que é comemorada no dia 20 de janeiro, Dercy Teles menciona o
que fora descrito por Milton Santos quando identificou na USP, “os olhares
enviesados”8 quando a pessoa negra alcança os níveis mais elevados na pro-
fissão. Esse tipo de “olhares enviesados”9 eram sentidos por Dercy, quando as
crianças e adolescentes da cidade de Xapuri davam cotoco de dedo, xingavam
8 Esses registros estão no contexto de sua palestra quando disse: “Ser negro no Brasil é, pois, com frequ-
ência, ser objeto de um olhar enviesado. A Chamada boa sociedade parece considerar que há um lugar
pré-determinado, lá embaixo, para os negros e assim tranquilamente se comporta. Logo, tanto é incômodo
haver permanecido na base da pirâmide social quanto haver subido na vida”. (SANTOS, 2002, p. 160).
9 Idem.
10 Nome fictício.
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 29
Logo que aconteceu a eleição do sindicato em 2006, que nós éramos opo-
sição e eu era presidente. Ai um cidadão que se chama [Willian Souza]
encontrou uma colega minha na rua e perguntou:
— É verdade que aquela negra ganhou a eleição do sindicato? Tem que
tomar cuidado porque aquela negra é muito perigosa, quando ela foi Pre-
sidente do Sindicato pela primeira vez, nos anos [19]80, ela enricou o
ex-marido dela, aquela negra é perigosa, a gente tem que tomar muito
cuidado com ela.
Depois minha amiga me contou e eu perguntei-lhe:
— Você confirmaria o que você está [me] dizendo na presença dele? Ela
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citadinos na cidade de Xapuri discriminavam sua família por causa das suas
aparências, em função das sandálias e das indumentárias que portavam, mas
em suas análises entendia essas questões associadas em um único problema
envolvendo o racismo, o preconceito e a discriminação.
Ainda outra constatação foi as negras e negros no Acre, que deram con-
tinuidades nas lutas empreendidas por negros e negras no século XX, em
outros estados brasileiros, principalmente, pela efetiva participação feminina
nas lutas por direitos e justiça social. A exemplo de Silmara Brasil que faz
parte do coletivo de mulheres negras na cidade de Rio Branco, além dos seus
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11 O MNU, luta por políticas de ações afirmativas, representatividade negra na política, apoio à população
negra em condições de vulnerabilidade, entre outras pugnas contemporâneas.
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Considerações finais
Ao encerrar essas breves considerações sobre a correlação entre racismo,
preconceito e discriminação nas trajetórias de negros e negras no Acre. Vale
lembrar das palavras de Milton Santos (2002, p. 160) na epígrafe de abertura
deste capítulo ao registrar que “o homem é o seu corpo, a sua consciência,
a sua sociabilidade, o que inclui a sua cidadania”. Desses registros e todos
os outros extraídos das obras de Milton Santos podemos garantir que esse
grande intelectual negro expressava relevante preocupação com as questões
étnico-raciais negra em seu tempo.
Suas teorias contribuíram significativamente para sustentar as discussões
apresentadas na presente pesquisa sobre as metamorfoses socioespaciais de
negros e negras no estado do acre, quando analisamos a educação escolar e
trabalho na correlação entre o racismo, preconceito e discriminação. Ficou
evidente que as tentativas de integração de negros e negras na sociedade de
classe nos idos da primeira metade do século XX, foi incompleta, inacabada,
ao ponto de negros e negras no Acre, enfrentarem as mesmas condições pau-
perizadas identificadas nas grandes cidades brasileiras.
O diferencial no Acre ficou por conta das diferenças socioespaciais onde
essas condições foram enfrentadas nas áreas de floresta da Amazônia acreana.
Ainda que as condições de precarizações escolares e trabalhistas continuem,
em relação ao século passado, os descendentes de negros e negras daquele
período encontram melhores oportunidades escolares pelas políticas de ações
afirmativas implementadas como leis de cotas raciais na universidade.
Esses avanços não impediram a continuidade das práticas racistas, pre-
conceituosas e discriminatórias sobre negros e negros nos espaços escolares
nem em seus lugares de trabalhos. Fato que impõe a necessidade de conti-
nuidade de pesquisas que lançam luz sobre essa realidade presente, herdada
de mais de três séculos de escravização.
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 35
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Ângela Maria Bastos de. Trajetórias de negros e negras
no Estado do Acre: das metamorfoses socioespaciais às lutas contemporâ-
neas. Dissertação (Mestrado em Geografia) — Pós- Graduação em Geografia,
Universidade Federal do Acre — UFAC, Rio Branco, 2022.
SANTOS, Milton. Ser negro no Brasil hoje. In: SANTOS, Milton. O país
distorcido: o Brasil, a globalização e a cidadania. São Paulo: Publifolha,
2002. p. 157–161.
Introdução
15 Disponível em: ALEGRETTI, Laís. Reforma trabalhista: ‘Foi um equívoco alguém um dia dizer que lei ia criar
empregos’, diz presidente do TST. BBC News Brasil, Londres, 3 jul. 2019. Disponível em: https://www.bbc.
com/portuguese/brasil-48839718. Acesso em: 3 mar. 2021.
16 Disponível em: SILVEIRA, Daniel. Em dois anos, dobra o número de contratos de trabalho intermitente no
Brasil. G1, Rio de Janeiro, 12 nov. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/
noticia/2020/11/12/em-dois-anos-dobra-o-numero-de-contratos-de-trabalho-intermitente-no-brasil.ghtml.
Acesso em: 3 mar. 2021.
40
17 ALVARENGA, Darlan; SILVEIRA, Daniel. Desemprego cai para 12,6% no 3º trimestre, mas ainda atinge 13,5
milhões, aponta IBGE. G1, 30 nov. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/11/30/
desemprego-fica-em-126percent-no-3o-trimestre-aponta-ibge.ghtml. Acesso em: 14 dez. 2021.
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 41
Apesar de ser uma nova onda de negócios, é errôneo pensar que seu
surgimento é recente, de acordo com Capozzi, Hayashi e Chizzola (2018), a
Economia Compartilhada teve origem na década de 1990, nos Estados Unidos,
constituída por práticas que possibilitavam o acesso a bens e serviços. Entre-
tanto, o termo se popularizou por volta dos anos 2000, em razão do desen-
volvimento das tecnologias de informação e o crescimento das redes sociais.
Desta forma, como explicado por Slee (2017), a Economia Comparti-
lhada surgiu com a ideia de trocas informais, como caronas entre colegas de
trabalho, empréstimo de utensílios de usos esporádicos como furadeiras a
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vizinhos, vendas por um preço mais barato de algo que não tem mais utili-
dade para um amigo que precisa, criando um sentimento de que as pessoas
pudessem contar mais umas com as outras. Se utilizando da Internet para dar
escala a essas trocas.
Nesse contexto, surgem as empresas Uber, e seu ramo Uber Eats que
é central para a discussão feita aqui, e a Ifood. Destacarei brevemente as
duas empresas.
De acordo com o site da própria empresa18, a Uber é uma plataforma que
conecta usuários a motoristas parceiros, uma opção de mobilidade a preços
acessíveis que funciona através de uma plataforma digital.
Como discutido por Slee (2017), a Uber começou como um serviço de
carros de luxo, os clientes solicitavam por aplicativo e motoristas de empresas
de serviço de limusine respondiam, o serviço decolou de modo significativo,
levando a um rápido crescimento da empresa, de 2009 até 2013, expandindo
a Uber por várias cidades.
Após seu sucesso, a Uber ampliou os seus serviços, e aqui ocorreu
a chegada do Uber Eats, um aplicativo de delivery que conecta usuários
com restaurantes.
O site da Uber relata ainda que com o Uber Eats se ganha para entregar
quando quiser, gerenciando seu próprio horário, podendo acompanhar seus
ganhos nas ferramentas do respectivo aplicativo, desta forma, expondo uma
gama de “vantagens” para adesão desse novo modelo de trabalho, que também
começou a ser rapidamente aceito e efetivado nos locais por onde passou,
garantindo mais um êxito à Uber.
Em Rio Branco, o Uber Eats chegou em fevereiro de 2019, como mos-
trado no jornal O Rio Branco19. De modo a garantir que as pessoas conhe-
cessem o aplicativo, o Uber Eats ofereceu entrega grátis nos primeiros dias,
de modo a atrair os clientes.
22 Disponível em: SABINO, Orlando. A força do trabalho do Acre: desemprego, desalento e informalidade. AC
24 horas, Acre, 19 mar. 2020. Disponível em: https://ac24horas.com/2020/03/19/a-forca-do-trabalho-do-
-acre-desemprego-desalento-e-informalidade/. Acesso em: 24 out. 2021.
46
49
48,2
48
46
2016 2017 2018 2019 2020
Informalidade no Acre
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Org.: Raquel Brandão.
23 Disponível em: FERREIRA, Edmilson. Informalidade já ocupa 50,2 da força de trabalho no Acre. AC 24
horas, Acre, 14 fev. 2020. Disponível em: https://ac24horas.com/2020/02/14/informalidade-ja-ocupa-502-
-da-forca-de-trabalho-no-acre/. Acesso em: 24 out. 2021.
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 47
24 Disponível em: BASILIO, Ana Luiza. “As classes baixas movimentam o País, continuaremos expostos”.
Carta Capital, 23 mar. 2020. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/as-classes-baixas-
-movimentam-o-pais-continuaremos-expostos/. Acesso em: 3 ago. 2020.
50
Considerações finais
25 Disponível em: VEROTTI, Angelo. Muito mais que entregar comida. Isto É Dinheiro, 30 abr. 2021. Disponível
em: https://www.istoedinheiro.com.br/muito-mais-que-entregar-comida/. Acesso em: 21 jul. 2021.
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 51
REFERÊNCIAS
ALVES, Giovanni. Dimensões da reestruturação produtiva: ensaios de
sociologia do trabalho. Londrina, Praxis; Bauru: Canal 6, 2007.
CANT, Callum. Delivery Fight!: a luta contra os patrões sem rosto. São
Paulo: Veneta, 2021.
José Alves27
Introdução
26 Este texto refere-se ao primeiro capítulo inédito da tese de doutorado intitulada “As revoltas dos trabalha-
dores em Jirau (RO): degradação do trabalho represada na produção de energia elétrica na Amazônia”,
orientada pelo Prof. Dr. Antonio Thomaz Júnior, no PPG em Geografia da FCT/Unesp, Pres. Prudente,
defendida em 2014.
27 Professor dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Geografia da Ufac; Doutor em Geografia junto
ao Programa de Pós-Graduação em Geografia/FCT/Unesp/Presidente Prudente (SP). Membro dos Grupos
de Pesquisa “Centro de Estudos de Geografia do Trabalho” (Ceget) e Grupo de Estudo em Produção do
Espaço na Amazônia (Gepea). Tutor do Grupo PET Geografia / Ufac. jose.alves@ufac.br
28 Afirmação de Tolmasquim no Seminário “Diálogos Capitais – Hidrelétricas: as necessidades do País e o
respeito à sustentabilidade”, em São Paulo, em agosto de 2011.
56
nessa região.
Se a sociedade brasileira acreditou, a partir dos discursos ideológicos
oficiais (como o nacionalista) da necessidade de integração regional para a
defesa da natureza amazônica e de seus recursos naturais (minérios, madeira,
água etc.) frente a um processo de internacionalização regional, o resultado
disso foi a exclusão desencadeada pelo “fracasso da modernização e do desen-
volvimento conservador e autoritário”.
Com a ditadura militar (1964-1985) os governos (im)põem em prática um
amplo programa de ocupação econômica e geopolítico da Amazônia brasileira,
considerados oficialmente em bases modernas, haja vista a não orientação
com as oligarquias regionais, como ocorrida com o extrativismo da borracha,
conforme indicado por Porto-Gonçalves (2001). Em termos ideológicos, os
programas e ações inicialmente estavam impregnados de um discurso ideo-
lógico nacionalista, embora o fosse na aparência (OLIVEIRA, 1991), de que
a integração regional tivesse uma base de ocupação econômica, ou seja, de
“integrar” a Amazônia ao Brasil para que a mesma e sua natureza (recursos
naturais) não fossem entregues para os estrangeiros, o que fechava o lema
“para não entregar”, ou seja, “integrar para não entregar”.
A região deveria ser integrada, e assim já estava sendo antes dos militares,
pois com o governo do Presidente Juscelino Kubitschek (1955-1960) houve
a construção de Brasília e os seus Planos de Metas, propiciando a expansão
da fronteira para o Centro-Oeste brasileiro, o que deu base para as primeiras
grandes rodovias adentrarem na região como a Belém-Brasília (1961), e poste-
riormente a Brasília-Cuiabá-Santarém (ligando Mato Grosso à Transamazônica)
e a Brasília-Cuiabá-Porto Velho-Rio Branco, além da faraônica Transamazô-
nica (1972), no sentido Leste-Oeste (ligando o Nordeste e a Belém-Brasília
à Amazônia ocidental — Porto Velho e Rio Branco). Assim, alguns motivos
potencializaram, pós 1960, essa integração amazônica ao contexto nacional,
com destaque para: necessidade de novos mercados consumidores para o capi-
tal industrial — produtos industrializados do Centro-Sul; expandir o mercado
de trabalho para empregar o excedente de trabalhadores (urbanos e rurais) do
Nordeste e os já expropriados e expulsos pela modernização da agricultura na
58
outros, que Paula e Morais (2013, p. 356) analisam que “a Geopolítica do con-
trole dos bens naturais passa a orientar a reterritorialização do capital ancorada
nos novos e velhos interesses, valendo-se, sobretudo, da instrumentalização
do discurso ambientalista”.
Aqui já vamos chamando a atenção do leitor ao fato do bem natural água
estar cada vez mais na mira deste processo de mercantilização, em especial
tendo a ação do Estado em transformar a região cada vez mais na nova “fron-
teira hidroenergética”. Isso nos levaria à hipótese de que como “fronteira de
commodities”, a ação do Governo Federal e do Estado em prol de uma Ama-
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O setor elétrico brasileiro não fugiu a essa regra e também passou por
reestruturações com o Programa Nacional de Desestatização (PND) con-
solidando um novo modelo baseado na desverticalização do sistema elé-
trico, fundada em princípios comerciais e de concorrência via modelo de
desverticalização (GONÇALVES JÚNIOR, 2007), desmembrando as fases
que envolvem o sistema (geração, transmissão, distribuição, somando-se à
comercialização), além das privatizações de distribuidoras e geradoras de
energia, a implantação da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL),
implementando-se o novo modelo energético brasileiro.
33 Estados que compõem a Amazônia Legal: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima,
Tocantins e parte do Maranhão (oeste do meridiano de 44º). Informação disponível em: http://www.sudam.
gov.br/amazonia-legal Acesso em: 20 mar. 2013.
34 Conforme Gomes (2012), as UHEs a fio d’água permitem a geração de energia elétrica a partir do fluxo
de água dos rios, podendo ter pouca ou nenhuma capacidade de regularização, já que UHEs desse tipo,
com represamento, possuem capacidade de regular a vazão de curto prazo, em base diária ou semanal. O
contrário ocorre com as UHEs com reservatório de acumulação, que atuam na geração de energia elétrica
a partir da água acumulada. Em outras palavras, há um estoque de água nos grandes reservatórios que
podem compensar os momentos de estiagem prolongada.
76
(c) é a forma truculenta como o Governo Federal, via EPE, MME, a Casa
Civil, Secretaria Geral da Presidência, e o próprio Executivo, atropelaram a
tudo e a todos que resistiram à construção de grandes projetos hidrelétricos
na Amazônia brasileira. O Complexo Hidrelétrico Madeira foi o laboratório
governamental para isso, entretanto Belo Monte pode ser considerada o
exemplo nefasto de como populações tradicionais e povos indígenas foram
desconsiderados para que o empreendimento pudesse sair do papel em prol
do crescimento nacional, do atendimento dos interesses do capital, e da sua
exigência por energia elétrica.
Marabá (2.160 MW), UHE Salto Augusto Baixo (1.461 MW), UHE São Simão
Alto (3.509 MW), UHE Escondido (1.248 MW), UHE Hidrelétrica Binacional
Bolívia-Brasil (3.000 MW). Como observa-se todos esses empreendimentos
são acima de 1.000 MW, mas há outros projetos de menor potência (< 1.000
MW) importantes, como: UHE Santo Antonio do Jari (370 MW), UHE Colíder
(300 MW) Sinop (400 MW) e UHE São Manoel (700 MW).
As bacias hidrográficas prioritárias de UHEs em operação e para a expan-
são no PDE 2021, territorializadas por tais projetos hidrelétricos na Amazônia
brasileira (Quadro 2), são as dos seguintes rios: Branco, uma usina; Araguari,
duas usinas; Jari, um empreendimento; Xingu, com um empreendimento;
Tapajós, com dois empreendimentos; Madeira, dois empreendimentos (sendo
uma UHE planejada binacional que não consta no PDE); Arapuanã, com uma
usina; Teles Pires, com quatro empreendimentos; Juruena, com dois empreen-
dimentos; e, Tocantins, com quatro usinas.
Assim, sem levar em conta os atrasos das obras das UHEs em construção,
a expectativa do Governo Federal era de que a partir de 2012 o Complexo
Hidrelétrico Madeira já fosse inserido no SIN e, a partir de 2015, ocorresse
a integração de outras UHEs da região Amazônica, permitindo a ampliação
das interligações regionais35. Por exemplo, as instalações associadas à UHE
de Belo Monte e às UHEs do Complexo Teles Pires, e a partir de 2017 a
integração das UHEs do rio Tapajós. Já a UHE de Belo Monte constitui-se
um subsistema por si, conectado ao subsistema Norte. As UHEs da Bacia
Teles Pires, a perspectiva do PDE-2020 é de um novo subsistema interligado
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à região Sudeste/Centro-Oeste.
Vale registrar também a ação do Estado brasileiro e da burguesia em
relação à Amazônia quanto aos interesses no que se refere à integração ener-
gética de países latino-americanos, como Peru, Bolívia e Guiana. O Peru,
com potencial de 180 GW, aproximadamente, é um “alvo” para a constru-
ção de UHEs por empresas brasileiras (a exemplo de grandes construtoras e
empreiteiras), inclusive com seis UHEs com capacidade de 7 mil MW, sendo
a UHE de Inambari (2 mil MW), o estágio mais avançado (mas sem previsão
de início da construção) por meio do Acordo Energético Bilateral Peru-Brasil.
A Bolívia, com potencial estimado em 20,3 GW, tem perspectiva já plane-
jada do projeto binacional de Cachoeira Esperança, com 800 MW; projeto
binacional Brasil-Bolívia, com localização ao montante das UHEs de Jirau e
Santo Antônio, no rio Madeira, “com potencial de exportação de excedentes
de geração para o Brasil”.
Assim, tanto no caso do Peru como da Bolívia, o PDE 2021 previa que
os estudos de inventários de empreendimentos hidroelétricos, além de priori-
zarem o atendimento à demanda local, visam “a possibilidade de exportação
de energia excedente para o Brasil com a interligação dos sistemas elétricos
se dando no estado de Rondônia” (BRASIL — PDE 2021, 2011, p. 67).
Considerações finais
35 A interligação dos estados do Acre e Rondônia ao subsistema da região SE/CO entrou em operação em 2009.
Também no PDE 2020 foi planejada a entrada das UHEs de Santo Antônio e Jirau, a partir de 2012 (sem
considerar os atrasos), com conexão na subestação coleto de Porto Velho, para atender prioritariamente o
mercado local. A ligação se dará por corrente contínua de 700 kV entre Porto Velho (RO) e Araraquara (SP).
82
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. (org.). Conflitos sociais no Com-
plexo Madeira. Manaus: Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia /
UEA Edições, 2009.
BARROS, Eliane. Apagões: mais que energética, uma crise política. Caros
Amigos, São Paulo, Ano XV, n. 174, p. 26–29, set. 2011.
PAULA, Elder Andrade de; MORAIS, Maria de Jesus. O conflito está no ar:
povos da floresta e espoliação sob o capitalismo verde. Estudos de Socio-
logia: Dossiê Conflitos Ambientais e Territoriais. Araraquara, v. 18, n. 35,
p. 347–365, jul./dez. 2013.
Introdução
36 Mestre em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em geografia, da Universidade Federal do Acre. Pro-
fessor de Geografia da Educação Básica, na rede estadual de Ensino do Acre. E-mail: iago.ufac@gmail.com.
37 Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia e dos Cursos de Licenciatura e Bacharelado em Geogra-
fia do Centro Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal do Acre. E-mail: lucilene.almeida@ufac.br.
88
destaque, pois “O mundial que existe no local, redefine seu conteúdo, sem,
todavia, anularem-se as particularidades” (CARLOS, 2007, p. 14). Portanto,
a categoria lugar precisa sempre ser encarada sob diversas perspectivas,
inclusive a global, pois esta última influencia e é influenciada pelas rela-
ções cotidianas.
Fazer com que os alunos compreendam as categorias geográficas (bem
como outros conteúdos) relacionando-as com seus espaços de vivências, fará
com que os mesmos criem relações que lhes permitirão compreender como
eventos e fenômenos que ocorrem do outro lado do mundo, por exemplo,
38 A ampliação do Ensino Fundamental de 8 para 9 anos começou a ser discutida em 2004, sendo implemen-
tada paulatinamente em algumas regiões em 2005. Os estados brasileiros teriam até 2010 para aderir a tal
mudança. De acordo com o Ministério da Educação (MEC) essa alteração visa assegurar que as crianças
permaneçam por um tempo mais longo no ambiente escolar, de modo que aos 6 anos de idade elas já
estejam no 1º ano do Ensino Fundamental e concluam tal etapa aos 14 anos. (BRASIL, 2007).
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 91
mundo; II) o estudo da natureza e sua importância para o homem; III) o campo
e a cidade como formações socioespaciais; IV) cartografia como instrumento
na aproximação dos lugares e do mundo. Dentro de cada eixo estão dispostos
vários conteúdos que possuem alguma relação com a temática. Gostaríamos
de destacar os eixos I e IV.
I) a geografia como uma possibilidade de leitura e compreensão do
mundo: neste eixo, o foco principal é auxiliar os alunos na compreensão de
terminologias e nas categorias basilares da Geografia. Para tanto, sugere-se
que o professor valorize ao máximo a realidade local dos estudantes. O espaço,
13 disciplinas.
39 Essa teoria dos três espaços (percebido, concebido e vivido) foi proposta por Henri Lefbvre, em seu livro La
production de l’espace (2013). De acordo com o autor, esses três espaços não existem sozinhos, de modo
que há uma mútua relação e dependência entre eles.
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 99
Nessa direção, a BNCC está organizada com base nas principais categorias
da Geografia contemporânea, diferenciados por níveis de complexidade.
Embora o espaço seja a categoria mais ampla e complexa da Geografia, é
necessário que os alunos dominem outras categorias mais operacionais e
que expressam aspectos diferentes do espaço geográfico: território, lugar,
região, natureza e paisagem. (BRASIL, 2018, p. 361, grifo nosso).
100
Notemos que apenas aqui a categoria natureza aparece ao lado das cate-
gorias clássicas da Geografia, o que é uma novidade trazida pela BNCC. O
documento explica ainda que o espaço e tempo precisam caminhar juntos,
pois possibilitam a análise da construção social bem como as memórias e as
identidades dos sujeitos.
Falando agora especificamente sobre os anos finais do Ensino Fundamen-
tal, a Base chama a atenção para a necessidade de ampliação dos conhecimentos
dos alunos sobre o uso do espaço em diferentes situações geográficas e enfati-
zando a transformação desses espaços em territórios usados, que de acordo
40 O atual governador do Acre, Gladson Cameli (Partido Progressista), ganhou as eleições estaduais em
2018 e assumiu o governo em janeiro de 2019, colocando fim a uma sucessão de governos do Partido dos
Trabalhadores (PT) de quase 20 anos.
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 105
Todavia, as autoras explicam que tal tarefa é árdua, visto que o Brasil é
um país de dimensões continentais com inúmeras realidades sociais, cultu-
rais e econômicas diferentes, de modo que os livros didáticos não consigam
abarcar. “Daí advém a necessidade de um professor bem formado, que saiba
relacionar os conteúdos e as imagens do livro com as diferentes linguagens
disponíveis e com o cotidiano dos seus alunos” (PONTUSCHKA; PAGA-
NELLI; CACETE, 2009, p. 343).
106
com os espaços de vivências dos alunos. É nítido que os livros apresentam tex-
tos, imagens e elementos gráficos que condizem com a realidade dos alunos.
Vale ressaltar que, por se tratar de uma coleção de distribuição nacional,
não é possível realizar detalhamentos mais específicos sobre nossa cidade
ou nosso estado. No entanto, os exemplos, imagens, mapas e outros recursos
apresentados nos livros possibilitam que o professor, juntamente aos seus
alunos, realize facilmente essa adaptação.
Vimos também que o grau de complexidade dos livros aumenta gra-
dativamente com o passar dos anos aos quais se destinam. Por esse motivo,
docentes, abordem tais questões (ou objetos) a fim de levar os alunos a com-
preenderem a maneira como cada um integra e modifica, de forma individual
e social, o espaço geográfico em suas práticas cotidianas.
Nesta parte do texto serão apresentados alguns resultados da pesquisa
realizada com professores de Geografia, com objetivo de compreender se e
como os espaços de vivências dos alunos são levados em consideração em
suas práticas docentes, ao abordarem as categorias geográficas. Para isso,
elaboramos um questionário de 34 questões no Google Formulários, o qual
foi enviado a diversos professores de Geografia, que lecionam no Ensino
Fundamental (anos finais) e no Ensino Médio em escolas de Rio Branco, Acre.
Ao todo, 39 professores de Geografia, atuantes em sala de aula, respon-
deram ao questionário, instrumento desta pesquisa. Entendemos, portanto,
que os dados aqui apresentados representam parte da realidade da maioria dos
professores de Geografia atuantes em sala de aula, pois esses 39 professores
representam um universo muito maior de profissionais.
No que diz respeito ao tempo em que os profissionais trabalham como
professores de Geografia, temos os seguintes resultados: 43,6% dos entre-
vistados exercem a docência entre 01 e 05 anos; 25,6% estão em sala de aula
entre 05 e 10 anos; e 28,2% são professores a mais de 10 anos. Apenas 2,6%
dos entrevistados afirmou ser professor de Geografia a menos de 01 ano.
A quase totalidade dos professores entrevistados, portanto, possui expe-
riência em sala de aula, o que pode revelar dois fatores: a) são profissionais
familiarizados com a rotina docente e com os espaços de vivências dos alunos
das escolas onde lecionam (visto que alguns deles afirmaram durante a entre-
vista que lecionam na mesma escola a muito tempo); e b) o muito tempo de
trabalho pode provocar um certo “comodismo” e uma falta de atualização em
relação a documentos recentes, além de que, os com menos tempo de trabalho,
podem ser aqueles mais recém formados, o que os possibilita estarem mais
atualizados com esses documentos.
Quase 90% desses professores leciona apenas na rede pública de ensino,
ou seja, estão em contato direto com a realidade da maioria dos estudantes do
110
nosso país e do nosso estado, bem como com o ambiente escolar do ensino
público, conhecendo de perto as dificuldades e limitações desse sistema de
ensino e as abordagens que podem dar certo ou não com seus alunos. São
professores que conhecem os espaços de vivências dos alunos da rede pública.
Outro dado que gostaríamos de destacar é que, nesta pesquisa, 38,5%
dos professores entrevistados lecionam apenas no Ensino Fundamental —
anos finais; 38,5% lecionam apenas no Ensino Médio; e 23% lecionam em
ambas as modalidades de Ensino. Isso nos possibilita compreender melhor a
forma como os espaços de vivências são levados em consideração durante o
Algumas conclusões
REFERÊNCIAS
ACRE. Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte. Currículo de
Referência Único do Acre: Ensino Fundamental. Rio Branco: [s. n.], 2019.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo: Labur
Edições, 2007.
43 Há no Brasil, a possibilidade que tiveram alguns municípios de serem proprietários de área de terra ao
redor dos centros urbanos, o que dá a estes municípios o direito de lavrar escrituras, mas, mesmo assim,
devem estes municípios ter documentos que transferem a jurisdição destas terras do Estado ou da União
para os municípios.
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 123
Civil). Dessa forma, pode-se chegar aos imóveis que tem documentação em
ordem e corretamente obtido.
É muito bom lembrar que os documentos necessários para se obter o
registro do imóvel é um contrato de venda e compra devidamente registrado
no Cartório de Notas, a escritura de compra e venda registrada no Cartório
de Notas, registro da Escritura de compra e venda no Cartório de Registro
de Imóveis, matrícula (Lei 6015/1973) Registro no Livro 2 do Cartório de
Registros de Imóveis. Antes do Código Civil de 1919, os cartórios faziam o
registro dos imóveis no Livro 3 através das transcrições.
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depois mil e quinhentos no nome de outra filha, e, assim legaliza-se dez mil,
vinte mil hectares. Há que se defender que há um princípio que está baseado
na ilegalidade e outro baseado na justiça social, pois, quem já tem terra não
tem que ter mais terra.
Mas, quis a história que se desse um golpe que levou a presidenta Dilma
Rousseff, a ter o seu segundo mandato de apenas, um ano e quatro meses.
E coube a seu vice-presidente, concluir o mandato como presidente durante
o período de dois anos e quase oito meses. O mandato de Michel Temer foi
curto, porém, nele os grileiros ficaram à vontade, para continuar a grilagem
Gráfico 1
2000
1500
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Gráfico 2
Gráfico 3
BRASIL - No CONFLITOS POR TERRA - 1985/2021
1800
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1242
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1033
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828
820
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828
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777
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752
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659
638
636
634
615
582
550
528
495
600
459
420
366
351
306
294
400
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277
272
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Gráfico 4
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Fonte: CPT. Org.: OLIVEIRA A.U.
Gráfico 5
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200
150
150
100 90
65 64 67
50 48 40
36 35 32 30 25
15 15 22 13 20 5 3 3
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1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021
Os assassinatos no campo
Ainda, nesse mesmo período de 1984 a 1987, que foi o primeiro período
do I Plano Nacional de Reforma Agrária, e, ano da fundação da UDR, a região
Norte passou a liderar as regiões no país, chegando a alcançar o número de
200 mortes e uma média anual de 50 mortes; a região Nordeste atingiu 175
mortes, e uma média anual de 43,7 mortes; a região Centro-Oeste alcançou
98 pessoas assassinadas e uma média anual de 24,5; a região Sudeste atingiu
80 mortos e uma média de 20 mortes por ano; e, a região Sul alcançou sete
pessoas mortas e uma média anual de 2,3 mortes.
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Gráfico 6
Gráfico 7
Gráfico 8
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sentido à luta pela terra. Pois, passou em 2020 para 1.576 conflitos por terra,
e, em 2021, para 1.242.
Entretanto, quando analisamos o Gráfico 11 que traz as três curvas dos
dados apresentados anteriormente, conflitos por terra, ocupações/retomadas
e novos acampamentos, verifica-se que quando se toma as curvas dos dados
desagregados, ocorre a inflexão na curva do número de conflitos por terra a
partir de 2009, pois, continua sinalizando para um resultado cada vez mais
alto. Os números na curva indicam 1.242 para 2.021, 1.576 para 2020, 1.260
para 2019, e, 964 para 2018, ou seja, um aumento de 28,8% para a relação
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Gráfico 10
BRASIL - No DE CONFLITOS NO CAMPO - 1985/2021
1800
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CONFLITOS POR TERRA OCUPAÇÕES/RETOMADAS NOVOS ACAMPAMENTOS
Gráfico 11
BRASIL - N o DE CONFLITOS POR TERRA - 1985/2021
1600 1576
1400
1260
1242
1200 1112
1000 1000
1033
828 820
777 818
800 828
761 802
636 752
634 659 638
600 582 550 599 593 615
495 496 528
463 390 437 459
400 420 398 391
351 306 280 272 366 384 364
260 294 255 277 194
285 252
290 255 245223 234
224193
200 211
184 150 180 157
119 1461… 152 168 65 90 67 48 40
71 80 50 77 81 89 64 36 35 32 15 15 22 30 25 13 20 46 29 50
0 5 3 3
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1988
Mapa 1
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 135
Mapa 2
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
as regiões brasileiras. Mas cabe destacar o Estado do Pará como aquele que
possui a maioria dos conflitos por terra, ou seja, 248. Depois vem o Estado do
Maranhão com 203 conflitos; em seguida, vem o Estado do Mato Grosso com
169 conflitos; a seguir vem o Estado de Rondônia com 133 conflitos; depois
vem a Bahia com 129 conflitos; depois vem o Estado do Mato Grosso do Sul
com 96 conflitos; em seguida vem o Estado de Pernambuco com 75 conflitos,
e outros estados da federada. Cabe notar que todos as unidades apresentaram
conflitos por terra, e, no total ocorreram 1.608 conflitos por terra.
Com relação a distribuição da população rebelde no ano de 2021, o país
45 CHAVES, P. R. “Fala Parente!” Fala Comadre! “Fala Vizinho!” “Fala Irmão!” – Resistência Camponesa,
Indígena e Quilombola em tempos de pandemia da COVID-19, in Cadernos no Campo Brasil 2020, Centro
de Documentação Dom Tomás Balduíno, Goiânia/GO, 2021, p. 24/38.
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 137
Mapa 3
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Mapa 4
A observação dos dados dos sujeitos sociais e sua distribuição pelo país,
apontou o envolvimento de 144.537 famílias em conflitos por terra no ano de
2019. Desse total teve-se a presença, em primeiro lugar, dos camponeses com
79.154 famílias, com destaque para as famílias de camponeses posseiros que
somaram 29.734 famílias; depois, os 25.614 dos camponeses proprietários;
depois, os 24.283 dos camponeses sem terra; e por fim, a presença dos indí-
genas com 51.219 famílias individualmente, e, os quilombolas com 13.687
famílias. Assim, os povos indígenas ganharam destaque nas lutas dos sujeitos
sociais por terra no ano de 2019, quando, alcançaram, individualmente, o
primeiro lugar nos números de famílias.
O Gráfico 12 traz o número de conflitos por terra no período de
2008/2019. Neste período pode-se dividi-lo em dois, sendo um de 2008/2010
e outro de 2011/2019.
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 139
em primeiro lugar. No total este ano foi de 144.537 famílias, sendo que o
número de famílias em conflitos por terra, individualmente, foi, então, maior
nos povos indígenas 51.219 famílias, seguidos pelos camponeses posseiros
29.734 famílias, camponeses proprietários 25.614 famílias, e, camponeses
sem terra 24.283 famílias. Ficaram em último lugar, os quilombolas com
13.687 famílias.
A análise do Gráfico 14, que representa os números de conflitos por
terra entre os camponeses posseiros, atingiu o total de 560 casos em 2011,
e, chegou a 412 casos em 2019. Este período apresentado teve as seguintes
características: uma queda entre 2008 e 2009, de 153 casos para 87; o inter-
valo de 2010 e 2011 trouxe um aumento dos casos, que foi de 253 para 560;
enquanto isso, o próximo intervalo que foi de quatro anos, 2012 a 2015,
conheceu uma relativa estabilidade de 249 em 2012 para 253 em 2015, com
um acréscimo para 287 em 2013 e decréscimo para 252 em 2014. Enquanto
isso, o intervalo de 2016 e 2019 foi outro período de um ligeiro acréscimo
de 373 em 2016, para 412 em 2019. Ficando os anos de 2017 e 2018 com os
dados de 352 casos e 332 casos.
Os dados dos camponeses sem terra têm expressividade apenas nos dois
primeiros anos da série, que representou o final do período de supremacia
do MST entre os movimentos socioterritoriais no país. Depois, de 2010 em
diante, a supremacia foi dos camponeses posseiros, e, nos dados de 2019, o
destaque foi para os indígenas.
Já os dados de número de famílias envolvidas com os camponeses pos-
seiros também, apresentou uma curva de tendência de alta de 16 mil famílias
para quase 400 mil famílias. Quanto aos dados reais do número de famílias
dos camponeses posseiros envolvidas em conflitos de terra, ele foi de 10.743
famílias em 2008 e 29.734 famílias em 2019. Mas, o intervalo foi intermitente,
pois, apresentou 27.785 famílias em 2011, e, 37.129 famílias em 2016, como
exemplo de altas, e, os anos de 21.116 famílias em 2012, e, 26.286 famílias em
2018. No conjunto, os dados apresentaram um progresso de altas entremeados
por anos de baixas, mas, sempre em com a tendência de alta.
140
Gráfico 12
117
1100
93
102 281
74 82
900
175 293
138 230
84 293
700 86 109
237 158 219 412
Gráfico 13
140000
25614
120000
14837 24283
100000 23634
6578
80000 28106
25336 23991 29734
10750 10678
60000 8681 8838 13687
5356 10871 11491 37129 26286
13235 14597 6492 34495
40000 4262 10002 14573 8113
21365 21902
16760 21116 11863
17497 27785 25367 11438 51219
20000 25037 7021 10895
10743 6122
14165 6942 26849
1879 2499 6274 6915 6586 19488 16880 20966 18196
9506 3556 3507 6038 12156 6205
0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Gráfico 14
500
412
400 373
352
332
300 249 287
253 252 253
200
153
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
100 87
0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Gráfico 15
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Gráfico 17
Gráfico 18
200 173
138 153
150 133
118
100 106
100 78
52 44
50 33
0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 145
46 CHAVES, P. R. “Fala Parente!” Fala Comadre! “Fala Vizinho!” “Fala Irmão!” – Resistência Camponesa,
Indígena e Quilombola em tempos de pandemia da COVID-19, in Cadernos no Campo Brasil 2020, Centro
de Documentação Dom Tomás Balduíno, Goiânia/GO, 2021, p. 24/38.
146
Mapa 5
Mapa 6
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
148
REFERÊNCIAS
CHAVES, P. R. “Fala Parente!” Fala Comadre! “Fala Vizinho!” “Fala Irmão!”
— Resistência Camponesa, Indígena e Quilombola em tempos de pandemia
da covid-19. Cadernos no Campo Brasil 2020, Centro de Documentação
Dom Tomás Balduíno, Goiânia/GO, p. 24/38, 2021.
Introdução
Referencial teórico
Metodologia
Etapa 3
Mapeamento e Interpretação dos dados coletados
Análise dos componentes do saneamento básico
A junção das bacias pode ser estabelecida pela criação de um ponto exutó-
rio onde ocorre todo o agrupamento de toda área de escoamento que contribui
para a formação da bacia, ou mesmo ser delimitada pelo próprio pesquisador,
verificando o curso dos tributários e as suas respectivas áreas de captação.
No caso dessa pesquisa, optou-se por delimitar manualmente, selecionando
os polígonos das microbacias e agrupando-os em bacias de maior dimensão.
Como a rede de drenagem no perímetro urbano de Rio Branco é bastante
densa, permitindo a segmentação em diversas bacias, foram selecionados os
principais cursos fluviais que percorrem essa cidade, tendo como resultado a
divisão em nove bacias (Figura 6).
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 159
Resultados e discussão
das formas pontuais de abastecimento. São pessoas vivendo tanto nos bairros
mais afastados do centro, quanto em localizações de ocupação mais antiga
utilizando cacimbas e chafarizes para o seu consumo. No caso dessas formas,
existem aspectos negativos relacionados ao manuseio hídrico e a possibilidade
de contaminação (FASE, 2009).
Outro fator a ser observado é que a utilização de formas pontuais pode
estar relacionada aos costumes da população. A cidade se expande horizon-
talmente e as infraestruturas de serviços urbanos vão sendo implantadas,
entretanto, alguns habitantes continuam a desenvolver as práticas tradicionais
Redenção; conjunto Oscar Passos, Tucumã e Rui Lino, na bacia do São Fran-
cisco; conjunto Universitário, na bacia do Dias Martins; Bela Vista e Castelo
Branco, na área da captação da margem esquerda do Rio Acre, representam
este panorama em Rio Branco.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BARRELLA, W. et al. As relações entre as matas ciliares os rios e os pei-
xes. In: RODRIGUES, R. R.; LEITÃO FILHO; H. F. (ed.). Matas ciliares:
conservação e recuperação. 2.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 2001.
2015/07/06/arcgis-10-2-delimitacao-de-bacias-hidrograficas-com-taumdem/.
Acesso em: 10 jun. 2017.
Introdução
O Brasil já foi uma das dez maiores economias globais e possui uma
indústria diversificada. Apesar disso, seu percentual de exportações em relação
ao PIB ainda é baixo, principalmente se comparado a outros países. De acordo
com dados do Banco Mundial, em 2014, as exportações brasileiras de bens
e serviços representavam apenas 12% do Produto Interno Bruto, ao passo
que a média mundial é 30% — valor que não se altera muito em economias
emergentes ou menos desenvolvidas. Nos últimos anos, essa situação vem
se mantendo semelhante. Ademais, o Brasil contribui com apenas 1,2% do
volume mundial de exportações de bens, valor que cai para 0,7% se apenas
os manufaturados forem considerados.
Esse cenário pode ser, em grande parte, explicado pela falta de competi-
tividade das empresas exportadoras brasileiras, que precisam superar diversos
desafios para vender seus produtos no mercado internacional. Burocracia,
excesso de leis e tarifas, demora na liberação de mercadorias e dificuldade
de escoamento tornam o processo de exportação caro e lento, o que provoca
aumentos dos preços das mercadorias e reduz a competitividade dos produtos
brasileiros no comércio internacional.
No estado do Acre, apesar da existência de um mercado potencial com
cerca de 30 milhões de consumidores em um raio de 750 km da capital Rio
Branco, as trocas internacionais ainda são consideradas tímidas. São diversas
as questões e/ou gargalos que dificultam a inserção de empresas acreanas no
comércio internacional, notadamente com os vizinhos andinos. Os indicadores
evidenciam que, até o momento, não se verificaram aumentos consideráveis
e sustentáveis do comércio internacional (do Acre e pelo Acre), mesmo com
inauguração da “Estrada do Pacífico”, pavimentada desde 2011, e o alfande-
gamento de uma Zona de Processamento de Exportações — ZPE.
49 Professor da Universidade Federal do Acre, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Professor do Programa
de Pós-Graduação em Geografia da UFAC, Rio Branco, Acre, Brasil. Email: carlos.castelo@ufac.br
50 Geógrafa. Mestre em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia – UFAC. E-mail: ravela-
gaspar@hotmail.com
180
surgiu dessa análise, pois caso o estado diminua a dependência das transfe-
rências federais e as pessoas residentes dependam menos da oferta de vagas
em concursos públicos ou cargos comissionados, poderíamos minimizar a
dificuldade de parte considerável da população na obtenção de renda. A rele-
vância do estudo de caso da Zona de Processamento de Exportação — ZPE/
AC, portanto, aparece no centro dessa problemática, ou seja, espera-se buscar
encontrar alternativas para a geração de renda e emprego no estado do Acre.
Certamente o que informaram não foi exatamente fiel ao que se passou, sobre
como se deram as coisas, mas momentos narrativos. Para Benjamin (1985),
por exemplo, uma narrativa não está interessada em transmitir o “puro em si”
da coisa narrada, como uma informação ou um relatório.
Coletou-se a voz do atual presidente da Federação das Indústrias do
Estado do Acre — FIEAC, José Adriano da Silva, no dia 13 de julho de 2021
(entrevista presencial, com duração de aproximadamente 16 minutos); entre-
vistou-se o técnico Mário Humberto Acuna, professor doutor da Universidade
Federal do Acre, que participou como consultor da construção de um relatório
[...] a busca por altas rendas imprimida pelas classes capitalistas através
da financeirização e da globalização, aliada a mecanismos de geração
de ganhos fictícios, a partir de fraudes contábeis, de pagamentos de ren-
das reais altíssimas por resultados falseados e de desregulação, criaram
uma estrutura financeira frágil e inadequada capaz de reduzir o poten-
cial estabilizador das macropolíticas dos Estados. Essas tendências, ao
se combinarem, foram determinantes para deflagrar a crise financeira em
agosto de 2007 nos EUA, mas a faísca necessária para a explosão fora a
expansão extraordinária do mercado hipotecário norte-americano e em
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 187
ZPE
Promover o
desenvolvimento Promover a difusão
econômico e social do tecnológico.
País.
• Exceções:
Administra�vos (i) Controles de interesse de segurança nacional, de ordem sanitária,
e de proteção ao meio-ambiente; e
(ii) exportações de produtos des�nados a países que o Brasil
mantenha convênio de pagamentos; sujeitos ao regime de cotas
de exportação; e de produtos sujeitos ao IE.
China e Brasil
A ZPE do Acre
onde o estado é o sócio majoritário, mas a gestão é feita com outros sócios
(proprietários de empresas âncoras). Além disso, no Pecém, a ZPE está ao
lado do porto, o que facilita muito o processo, segundo o entrevistado.
As fontes consultadas indicaram que a ZPE/AC, apesar de ter empresas/
projetos/empresários dispostos a realizarem investimentos no local, eles se
depararam com problemas para viabilizar financiamentos nas instituições
de crédito. Isso parece ter sido decisivo para a não implantação dos projetos
inicialmente aprovados pela AZPE/AC, taxativamente destacado por Marcos
Moraes. A julgar pelo período que nos encontrávamos na época (2010/2011),
son Cameli).
A busca de informações realizadas e as respostas dos entrevistados suge-
rem que algumas limitações existentes no Acre puderam, de alguma maneira,
ter provocado desestímulos em empresários a investirem na ZPE/AC. Uma
das limitações relaciona-se com a baixa capacidade de investimentos em
P&D no estado. Outro aspecto possui relação com a inexistência de mão
de obra qualificada e de recursos humanos especializados (os entrevistados
empresários ressaltaram esse ponto).
Os entraves burocráticos existentes no período de alfandegamento para
efetivação do comércio Brasil/Peru/Bolívia/Chile são outra questão que pode
e deve ser considerada. Principalmente a baixa quantidade e qualidade de
serviços e recursos humanos em postos fronteiriços de controle. Deve-se
salientar que esses gargalos existem até hoje.
No setor florestal, que no momento do alfandegamento da ZPE era
considerado base forte do desenvolvimento acreano, existiam entraves para
a expansão da produção, ou seja, baixa profissionalização dos produtores;
limitações tecnológicas; dependência de recursos públicos; baixa capacidade
de investimentos; insuficiência de mão de obra qualificada e de incentivos e
dificuldade de acesso à terra. Além dessas limitações estruturais e conjunturais,
faltava ao produtor acreano uma visão empresarial sobre o negócio agrícola
e florestal, principalmente da parte de pequenos e médios produtores, o que
pode ser inferido das fontes.
O entrevistado José Adriano da Silva informou que existia uma espécie
de euforia entre o empresariado do Acre quando a proposta de ZPE apareceu.
“Muitos estavam empolgados e animados com a esperança de transformar o
Acre em um corredor de exportações para o Pacífico”. Isso se dava, na visão
do entrevistado, devido à construção da “Estrada do Pacífico”54, das hidrelé-
tricas do Rio Madeira e do apoio do governo federal (Lula), que pensava
estrategicamente na região. Para Adriano, os empresários locais “enxergavam
na ZPE uma grande oportunidade para alavancar negócios”.
55 Quando falou isso, atribuiu ao governo Lula, e não ao governo do estado do Acre.
204
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ACRE, Governo do Estado do. Acre em números. Rio Branco: Secretaria de
Estado de Planejamento, 2017. Disponível em: http://acre.gov.br/wp-content/
uploads/2019/02/acre-em- numeros-2017. pdf. Acesso em: 8 fev. 2021.
GOVERNO do Acre vai mesmo vender ZPE aos chineses; negócio avançou
nesta quarta. AcreNews.com.br, Rio Branco, 28jan. 2021. Disponível
em: https://acrenews.com.br/2021/01/governo-do-acre-vai-mesmo-vender-
-zpe-aos-chineses- negocio-avancou-nesta-quarta/. Acesso em: 28 jan. 2021.
Sítios da internet
Normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&i-
dAto=36460. Acesso em: jan. 2022.
https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/zpe.
Acesso em: 8 fev. 2022.
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ÍNDICE REMISSIVO
A
Abastecimento de água 12, 152, 154, 162, 163, 165, 166, 172
Alunos 9, 11, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 98, 99, 100, 101, 103, 104,
105, 107, 108, 109, 110, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118
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C
Capital nacional 56, 57, 58, 62, 64, 81
Categorias geográficas 7, 11, 87, 88, 89, 90, 91, 93, 94, 95, 97, 98, 99, 100,
102, 103, 104, 105, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118
Ciências humanas 11, 87, 88, 95, 97, 100, 101, 102, 119, 148, 176
Conflitos no campo 11, 124, 125, 128, 145, 149
Conflitos por terra 124, 125, 126, 127, 132, 133, 134, 136, 137, 138, 139,
141, 142, 143, 144, 145
D
Discriminação 7, 10, 13, 14, 18, 19, 23, 25, 26, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35
E
Energia elétrica 55, 64, 65, 69, 72, 73, 75, 76, 81, 82, 83
Ensino de geografia 7, 11, 88, 91, 111, 119, 120
Ensino fundamental 88, 89, 90, 94, 95, 97, 98, 100, 101, 103, 104, 107, 109,
110, 116, 117, 118, 119
Ensino médio 32, 88, 89, 94, 95, 96, 97, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 107,
109, 110, 117, 118, 119, 120
Entregador 46, 47, 48, 49, 50
Entrevista 21, 22, 24, 25, 27, 28, 29, 30, 32, 47, 48, 49, 50, 109, 184, 190, 204
Espaços de vivências 7, 11, 87, 88, 89, 90, 98, 100, 103, 104, 105, 108, 109,
110, 114, 115, 116, 117, 118
Exportação 7, 58, 69, 71, 81, 179, 180, 181, 182, 183, 187, 188, 189, 191,
193, 194, 195, 196, 197, 198, 199, 204, 206, 207
210
F
Famílias 16, 31, 32, 34, 39, 67, 136, 137, 138, 139, 141, 142, 143, 144, 145,
174, 206
G
Geração de energia 61, 62, 63, 64, 67, 69, 71, 75, 82
Governo federal 58, 60, 61, 63, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 81, 121, 180, 181,
193, 194, 199, 201
M
Mercado de trabalho 15, 16, 18, 23, 36, 45, 57, 84
Mortes 77, 129, 130, 131
Mundo do trabalho 10, 37, 38, 41, 44, 50, 51, 96, 185
N
Negros e negras 7, 10, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 23, 26, 28, 31, 33, 34, 35
P
Pessoas assassinadas 128, 129, 130
Preconceito 7, 10, 13, 14, 17, 18, 23, 26, 30, 31, 32, 33, 34, 35
Professores de geografia 11, 89, 91, 93, 109, 112, 116, 117
Professores entrevistados 106, 107, 109, 110, 111, 113, 114, 115, 117, 118
R
Racismo 7, 10, 13, 14, 18, 23, 25, 26, 27, 28, 30, 32, 33, 34, 35
Região 9, 11, 24, 25, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 63, 64, 65, 69, 70, 72, 74, 76, 80,
81, 82, 87, 93, 94, 95, 99, 100, 102, 108, 112, 113, 123, 128, 129, 130, 131,
135, 136, 137, 138, 165, 180, 182, 188, 190, 191, 192, 193, 195, 201, 202
S
Sala de aula 89, 90, 91, 93, 98, 99, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 116
Século XX 14, 17, 18, 20, 23, 31, 33, 34, 42, 56, 64, 73, 151, 152
Setor elétrico 40, 61, 63, 64, 65, 68, 70, 71, 72, 73, 75, 85
TERRITÓRIOS, IDENTIDADES E TRABALHO NA AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL 211
U
UFPA 5, 83, 84, 85, 86
Universidades amazônicas 83, 84, 85, 87
V
Vivências dos alunos 11, 88, 98, 100, 103, 104, 108, 109, 110, 114, 115,
116, 117
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Z
Zona de processamento de exportação 7, 179, 180, 181, 182, 189, 191, 193,
194, 197, 198, 199, 204
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
SOBRE O LIVRO
Tiragem não comercializada
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 10,5/11,5/13/16/18
Arial 8/8,5
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)