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INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS
ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O
OLHAR DA PLURALIDADE
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2021
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação: Designers da Editora CRV
Capa: Os autores
Imagens da Capa: Freepik
Revisão: Analista de Escrita e Artes
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-0700-4
ISBN Físico 978-65-251-0702-8
DOI 10.24824/978652510702.8
2021
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 - E-mail: sac@editoracrv.com.br
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Conselho Editorial: Comitê Científico:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Adelino Candido Pimenta (IFG)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Américo Junior Nunes da Silva (UNEB)
Anselmo Alencar Colares (UFOPA) Antonio Iván Ruíz Chaveco (UEA)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Celso Ferreira da Cruz Victoriano (UMSA)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Claus Haetinge (UNIVATES)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Clélia Maria Ignatius Nogueira (UEM)
Carmen Tereza Velanga (UNIR) Dulce Maria Strieder (Unioeste)
Celso Conti (UFSCar) Gionara Tauchen (UFRG)
Cesar Gerónimo Tello (Univer .Nacional Idemar Vizolli (UFT)
Três de Febrero – Argentina) Ivete Cevallos (UNEMAT)
Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG) Joao Alberto da Silva (UFRG)
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO�������������������������������������������������������������������������������������������� 9
CAPÍTULO 1
PESQUISAS CIENTÍFICAS EM HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA E SUAS RELAÇÕES COM
O ENSINO DE MATEMÁTICA NOS ANAIS DO SCHM���������������������������������� 11
Ana Carolina Costa Pereira
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CAPÍTULO 2
SOBRE TEXTOS HISTÓRICOS E O
ENSINO DE CONTEÚDOS MATEMÁTICOS�������������������������������������������������� 23
João Cláudio Brandemberg
CAPÍTULO 3
O ENTRELAÇAMENTO ENTRE A HISTÓRIA DA
MATEMÁTICA E A TEORIA DA OBJETIVAÇÃO:
contribuições para a formação do cidadão do século XXI������������������������������ 35
Valdenize Lopes do Nascimento
CAPÍTULO 4
ALIANÇA ENTRE HISTÓRIA, TECNOLOGIAS E
INVESTIGAÇÃO: uma tendência em Educação Matemática������������������������� 47
Giselle Costa de Sousa
CAPÍTULO 5
SOBRE PROCESSOS CRIATIVOS NAS
HISTÓRIAS DA CRIAÇÃO MATEMÁTICA������������������������������������������������������ 63
Iran Abreu Mendes
CAPÍTULO 6
O PROBLEMA DOS INCOMENSURÁVEIS NA MATEMÁTICA
GREGA E A SOLUÇÃO DE EUDÓXIO DE CNIDO���������������������������������������� 75
Luis Saraiva
CAPÍTULO 7
ALGUMAS POSSIBILIDADES DE TRABALHO
COM A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA EM SALA
DE AULA DE FORMA INTERDISCIPLINAR��������������������������������������������������� 93
Ana Rebeca Miranda Castillo
CAPÍTULO 8
A PROBLEMATIZAÇÃO MATEMÁTICA
DE TEXTOS HISTÓRICOS: o exemplo das
cartas de Euler à Princesa Sophie Charlotte������������������������������������������������ 105
Daniele Esteves Pereira Smith
CAPÍTULO 9
DA TÁBUA DE PLIMPTON ÀS
PRIMEIRAS DEFINIÇÕES DE FUNÇÃO������������������������������������������������������ 113
Miguel Chaquiam
Apontamentos Iniciais
7 Sobre as histórias que ensinam: duas décadas de experiências Capítulo de livro Mendes (2015)
Vale frisar que, no ano de publicação desse capítulo de livro, é criada a SBHMat,
em abril de 1999, no III Seminário Nacional de História da Matemática, em Rio
Claro, São Paulo.
Em Baroni, Teixeira e Nobre (2004), esse movimento ampliou-se, dando lugar
a discussões envolvendo o livro History in Mathematics Education, organizado por
Fauvel e Van Maanen (2000), considerado um marco nessa temática entre a História
da Matemática e a Educação Matemática. Isso culminou em vários argumentos favorá-
veis e desfavoráveis4 para o uso da história no ensino de Matemática, visto que, nesse
momento, a inclusão da História da Matemática, em livros didáticos e em currículos
de cursos de formação de matemáticos (bacharelado) e professores de Matemática
(licenciatura), visava seu uso em “datas e dados biográficos, ou abordando aspectos
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4 Para visualizar os argumentos favoráveis e desfavoráveis sobre o uso da História da Matemática no ensino,
vide: Baroni, Teixeira e Nobre (2004, p. 166-168).
5 Banoni, Teixeira e Nobre (2004, p. 169-175) trazem um detalhamento dessas pesquisas, que são apresen-
tadas em Fauvel e Van Maanen (2000), sendo categorizadas a partir da leitura.
6 As onze categorias podem ser vistas em Sad (2005, p. I). São elas: 1. Investigação sobre a vida de mate-
máticos ou educadores; 2. Investigação sobre a evolução de algum conceito ou teoria; 3. Investigação sobre
uma área de conhecimento; 4. Investigação sobre instituições; 5. Investigação sobre o contexto cultural de
uma criação; 6. Investigação sobre uma época determinada; 7. Investigação sobre um grupo específico; 8.
Investigação sobre as relações da Matemática com outras áreas do conhecimento; 9. Investigação sobre
as aplicações da história da Matemática; 10. Investigação sobre livros didáticos; 11. Investigação sobre o
desenvolvimento de produções sobre história da Matemática.
Mendes (2012) também fez uma categorização de trabalhos voltados para a História da Educação
Matemática, mas não é o objeto de discussão deste capítulo.
14
Entretanto, em uma análise mais aprofundada, Souto (2010) refaz esses grupos
e reconhece que 1, 3, 4, 5 e 6 fazem parte de um grupo maior, que apresenta reflexões
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 15
Nessas tendências apontadas por Mendes (2015), duas delas estão diretamente
ligadas a temáticas da História da Matemática: 1 e 3, em que, dos 281 trabalhos
estudados, 22% (62 trabalhos) incluem-se na primeira categoria e 13% (36 trabalhos)
na segunda categoria.
Nessa visão geral, percebe-se que esse movimento da inserção da História da
Matemática em trabalhos acadêmicos, sejam eles dissertações e teses ou estudos
publicados em anais de eventos especializados na área, oscila à medida que os inte-
resses dos pesquisadores mudam. Isso está diretamente relacionado com a publicação
de documentos oficiais governamentais, publicação de pesquisas internacionais que
impactam no Brasil, entre outras.
Embora, no Ceará, essas pesquisas já tenham chegado, ainda não foi realizada
essa “cartografia” de estudos envolvendo a História da Matemática. Portanto, é apre-
sentado, a seguir, um estudo de categorização dos trabalhos publicados nos quatro
últimos Seminários Cearenses de História da Matemática – SCHM, de 2014 a 2020.
Esses números possibilitam uma análise descritiva, que mostrará uma cartografia
do cenário das pesquisas apresentadas no SCHM. Da mesma forma que foi realizada
por Sad (2005), Mendes (2008, 2012, 2015) e Souto (2010), uma categorização é
necessária. Assim, utilizaram-se os cinco eixos apresentados pelos coordenadores
científicos do SCHM, citados anteriormente. Entretanto, o eixo cinco foi fundido com
o eixo dois, visto que estes possuem relações intrínsecas voltadas para a inserção da
história no ensino de Matemática.
Como maneira de detalhar esses eixos, far-se-á uma melhor discussão para cada
um: (1) História da Matemática e a formação do professor de Matemática: apresenta
estudos envolvendo a história como forma de contribuir na formação de professores
que ensinam Matemática; (2) História da Matemática e sua incorporação em sala
de aula: apresenta estudos e pesquisa que têm características de fins pedagógicos,
tais como a elaboração de atividades e materiais didáticos para ensinar Matemática,
incorporando alguns fragmentos da História da Matemática; (3) História da Educação
Matemática no Brasil: são trabalhos e estudos que têm características direcionadas
“à história das instituições, biografias de matemáticos e professores de matemática
(antigos e atuais) e suas contribuições para a formação de professores” (BARROS;
7 Os números nos parênteses, nessa tabela, estão relacionados aos trabalhos apresentados e publicados
por cearenses nos quatro SCHM.
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 17
MENDES, 2017, p. 140); (4) História de conteúdos matemáticos8: são aqueles que
tratam das produções científicas “relacionadas à vida e à obra de matemáticos e
ao desenvolvimento de suas ideias matemáticas, bem como o desenvolvimento da
área em pauta enquanto conteúdo científico” (BARROS; MENDES, 2017, p. 140).
Na Tabela 2, apresenta-se um esboço da classificação dos trabalhos do SCHM em
relação aos eixos.
40
30 32
27
20 20 21
17
10 12
9 11
0
I SCHM II SCHM III SCHM IV SCHM
Ceará Fora do Ceará
8 Ressalta-se que Barros e Mendes (2017) relacionam essa característica a estudos que envolvem História
e Epistemologia da Matemática. Entretanto, considera-se essa descrição pertinente ao eixo “História de
conteúdos matemáticos”.
18
22% 14%
56%
Nos estudos apresentados por cearenses nos SCHM, essa estatística é diferente.
Muitos desses trabalhos trazem diversas possibilidades de incorporação da história
no ensino de Matemática, sendo voltados para a educação básica, para os professores
que ensinam Matemática e para os licenciandos em Matemática.
Consideram-se diversos motivos para que isso ocorra. Um deles é a ampliação
de universidades que ofertam o curso de licenciatura em Matemática, que são, aproxi-
madamente, 15 cursos em todo o Ceará. Como as Diretrizes Curriculares para o Curso
de Licenciatura em Matemática (BRASIL, 2001) indicam a inclusão de conteúdos da
Ciência da Educação, da História e Filosofia das Ciências e da Matemática, muitas
matrizes incluem a História da Matemática como uma disciplina e/ou como recurso
didático para ser utilizado em sala de aula. Isso acarreta a escrita de Trabalhos de
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REFERÊNCIAS
BARONI, R. L. S., TEIXEIRA, M. V., NOBRE, S. A investigação científica em
história da matemática e suas relações com o programa de pós-graduação em
educação matemática. In M. A. V. Bicudo, & M. d. C. Borba (Eds.), Educação
matemática: pesquisa em movimento. São Paulo: Cortez, 2004, p. 164-185.
MENDES, I. A. “Uma radiografia dos textos publicados nos Anais dos SNHM”,
Anais. 11º Seminário Nacional de História da Ciência e Tecnologia, Niterói,
SBHC, 2008, p. 1-11.
Apresentação
Os nossos “textos históricos”, que são nossas fontes de material para a elabo-
ração de atividades em nossa abordagem de ensino de conteúdos matemáticos, se
constituem essenciais ao processo. Nos cabendo uma maior discussão dos mesmos,
elucidando suas características como elementos (material) didáticos e de pesquisa
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Como discutido {com Nobre 2020}, ponderamos que para ser considerado
um “texto histórico” o texto deve reportar-se a ao menos um ramo da matemática,
ser relevante e prover algum progresso para a ciência. Um tal texto auxilia na com-
preensão sobre o desenvolvimento do conteúdo referido. Além disso, deve ter tido
destaque e influência sobre outras gerações.
Da discussão {com Gonçalves, 2020}, inferimos que o texto deve apresentar
maior interesse ou relevância para a pesquisa em história.
Acordamos {com Hoyrup, 2020} que, um texto de/com conteúdos matemáticos
pode ser investigado como um “texto histórico” quando submetido a perguntas que
caracterizam a historiografia da matemática em uma vinculação com textos anteriores
e/ou posteriores, considerando aspectos sociais e intelectuais como condições para
sua produção.
Assim, temos elementos para efetivar e conseguimos conformar uma definição
(conceito) de “texto histórico” de/com conteúdo matemático. Consideramos então,
como texto histórico “um documento que, composto (impressão, pictografia, escrita)
de formatos e materiais (argila, papiro, pergaminho, bambu, papel) variados em
algum momento da história, nos permite acessar de maneira implícita e expli-
cita elementos do contexto de sua composição e da relevância de seu conteúdo
com vistas ao entendimento do conhecimento matemático, de sua produção,
desenvolvimento e divulgação”.
Para uma primeira classificação (caracterizar e/ou categorizar) dos textos histó-
ricos, como definimos, levamos em consideração, fortemente, as especificações trata-
das a partir de nossas leituras e dos diálogos com os pesquisadores que contatamos.
9 A notação {...} caracteriza que cada pesquisador com os quais dialogamos se constituem em elementos impor-
tantes na produção de nossas assertivas. Em função disso, optamos por uma notação de (trabalho) conjunto.
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 29
[...] do estudo de textos clássicos como: o “Traité des Substitutions et des Équa-
tions Algébriques” de JORDAN (1957), o “Reflexions sur la Résolution Algé-
brique des Équations” de LAGRANGE (1771), o “Disquisitiones Arithmeticae”
de GAUSS (1801), o “Volständige Anleitung zur Algebra” de EULER (1770), o
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Texto de matemática;
Quanto ao conteúdo Texto de história da matemática;
Texto de divulgação matemática.
Textos Clássicos;
Quanto ao distanciamento
Textos modernos.
Livro Texto;
Quanto ao uso
Livro Fonte (consulta/estudo)
Fonte Principal;
Quanto a investigação
Fonte Complementar.
Buscamos uma classificação que considere o contexto da escrita do texto e o
Quanto ao contexto
contexto na escrita do texto...???
principal nessa “abordagem” e trazendo todo esse contexto em suas referências expli-
citas ou as implícitas, as quais são de mais difícil vislumbre.
Para finalizar, neste momento, vislumbramos que alguns elementos considerados
em nossa classificação são corroborados nos diálogos com vários de nossos interlo-
cutores, como instamos: o conteúdo {com D´Ambrosio, Nobre e Hoyrup, 2020}13,
o contexto {com Saito, 2020}, o distanciamento {com Morey. Gonçalves, Nobre
e Saito,2020}, o livro texto {com Fossa e Nobre 2020} e a investigação {com
Hoyrup, 2020}. Portanto, em nossa classificação inicial se fez mister considerar
tais elementos. Dessa forma, nossa definição e nossa classificação inicial apresen-
tam características bem gerais, uma vez que não foi possível maior simplificação
ou abstração.
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Mesmo assim, inferimos que tal classificação se faz/fez importante por eviden-
ciar ou possibilitar maior simplicidade quando da implementação do uso de textos his-
tóricos no ensino de matemática que muitas vezes não se fazem tão claras na prática.
Buscamos, então, uma possível clarificação com o que argumentamos sobre textos
históricos em uma vinculação com uma historiografia da matemática que considera
as relações socioculturais e intelectuais na pesquisa cientifica (HOYRUP, 2000).
Considerações
13 Reiteramos que qualquer erro na redação ou interpretação dos argumentos dialogados com os pesquisadores
e apresentados no texto são de minha exclusiva responsabilidade.
32
Agradecimentos
REFERÊNCIAS
BRANDEMBERG, J. C. Una propuesta para el uso de historia en la enseñanza
de las matemáticas: sobre la potencialidad didáctica de los textos históricos y el
desarrollo de conceptos. Revista PARADIGMA, v. XLI, Nº Extra 1; abril de 2020
/ 266-284.
Introdução
14 O termo alienação é aqui utilizado em um sentido marxista, significando que o estudante não se reconhece
nos produtos de sua própria aprendizagem.
36
vemos, ouvimos e lemos. Além disso, precisamos também ter consciência de nosso
papel na sociedade, principalmente na escolha de nossos representantes. As últimas
eleições têm nos mostrado que o povo tem necessidade de mudança e pode efetivar
as mudanças que desejar, porém, uma mudança não deve ocorrer sem a devida refle-
xão, sob pena de piorar a situação. Não adianta mudar só por mudar, precisamos ter
clareza sobre o que e por que queremos e precisamos mudar.
Além disso, as consequências do regime capitalista ao qual estamos submetidos
têm se agravado cada vez mais, uma vez que o estabelecimento de um mercado de
trabalho cada vez mais competitivo e exigente, acaba por determinar um modelo
educacional cuja principal finalidade é a formação profissional. Estudamos para ter
um trabalho, um emprego, uma profissão. Estudamos para ter sucesso financeiro e
15 Para estudos que abordam argumentos favoráveis ao uso da HM para fins educacionais ver: Miguel (1993,
1997, 2011), Radford (2008) e o capítulo 3 de Radford (2011).
38
Outro fator que contribuiu para ampliar esse debate foi o Movimento da Mate-
mática Moderna entre as décadas de 1960 e 1980. Enquanto os idealizadores desse
movimento eram contrários ao uso da HM como recurso ao ensino, os opositores do
movimento consideravam a HM como um remédio contra o dogmatismo presente
na chamada Matemática Moderna. Neste mesmo período, destaca-se ainda como
fator importante, a dedicação do 31º Anuário do National Council of Teacher of
Mathematics (NCTM) nos EUA à HM como uma ferramenta de ensino e, na década
de 1970, começou a tomar forma um movimento internacional generalizado, muito
estimulado e apoiado pela criação de um grupo de estudos internacional sobre as
relações entre a história e a pedagogia da matemática, o HPM Group, vinculado
à International Commission on Mathematical Instruction (ICMI), por ocasião do
A Teoria da Objetivação
A posição antropológica assumida pela TO faz com ela não se limite à dimen-
são do saber, mas considere igualmente importante a dimensão do ser, do tornar-se
(tornar-se alguém com outros). Neste sentido, podemos dizer que, na TO, qualquer
processo em direção ao saber é também um processo de constituição do ‘eu’. Em
outras palavras, nesta teoria, não se privilegia apenas a aprendizagem dos conteúdos
curriculares, mas também as transformações subjetivas que as atividades educativas
propiciam, tanto para os estudantes quanto para os professores.
Na TO, a aprendizagem é teorizada como o resultado dos processos simultâ-
neos e entrelaçados de objetivação e subjetivação. Os processos de objetivação são
processos graduais de tomada de consciência dos saberes (científicos, matemáticos,
jurídicos etc.) que são produzidos historicamente e culturalmente pela humanidade e
que, no caso da escola, ocorrem por meio da atividade de sala de aula, que nesta teo-
ria, é denominada Labor Conjunto. Na TO a atividade ou labor conjunto é entendida
“como uma forma de vida estética produzida historicamente, aonde a matéria, corpo,
movimento, ação, ritmo, paixão, e sensação vêm à tona” (RADFORD, 2017, p. 251).
a sala de aula aparece como um espaço público de debates no qual os alunos são
encorajados a mostrar abertura para com os outros, responsabilidade, solidarie-
dade, cuidado e consciência crítica. A sala de aula, na verdade aparece como um
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 41
20 Para exemplos que mostram a matemática como produtora de sensibilidades e subjetividades, ver o capítulo
8 de Radford (2011).
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 43
A realidade não pode ser compreendida pela simples observação, nem pela sim-
ples aplicação de conceitos, não importa o quão sutis sejam suas ferramentas
conceituais. As configurações da realidade a cada momento estão ligadas numa
espécie de sistema orgânico contínuo àquelas camadas histórico-conceituais que
tornaram a realidade o que ela é. A realidade não é uma coisa, mas é um processo
que mesmo sem ser percebido, retrocede discretamente a todo momento aos pen-
samentos e ideias das gerações anteriores. A história está embutida na realidade
(RADFORD, 2008, p. 164, tradução nossa, grifo nosso).
Considerações Finais
Neste capítulo discutimos sobre as contribuições que o entrelaçamento entre
a História da Matemática e a Teoria da Objetivação pode trazer para a formação do
cidadão do século XXI. Iniciamos colocando a problemática da educação atual não
estar proporcionado efetivamente uma formação para a cidadania. A educação atual,
atendendo ao modelo econômico capitalista, tem tido como foco principal preparar os
estudantes para o mercado de trabalho. Consequentemente, a dimensão humanística
da educação tem sido negligenciada. A educação matemática por sua vez, tem se
limitado a transformar os estudantes em bons resolvedores de exercícios e problemas
matemáticos. Além disso, a atual educação, também não tem dado conta de preparar
os estudantes para lidar com o volume de informações que estão à sua disposição.
Diante disto, nós educadores, precisamos repensar a educação em geral e a
educação matemática em particular. Precisamos encontrar novos caminhos e novas
práticas para formar pessoas que sejam capazes de refletir sobre os ambientes em
que vivem e assumir conscientemente e criticamente um papel nestes ambientes.
Do ponto de vista da educação matemática, acreditamos que um modelo de
ensino que recorra à História da Matemática e à Teoria da Objetivação conjuntamente,
conforme discutido neste capítulo, pode contribuir para a formação do cidadão do
século XXI, promovendo: uma (re)conexão entre ser e conhecer, uma educação
matemática não alienante e crítica e a construção de valores não individualistas
na educação.
21 Para um maior aprofundamento sobre o labor conjunto e a ética comunitária propostos pela TO, ver Radford
(2020b, 2020c) e Radford e Herrera (2020).
44
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasí-
lia, 2018.
RADFORD, Luis. Beyond Anecdote and Curiosity. The Relevance of the Historical
Dimension in the 21st Century Citizen’s Mathematics Education. In: Barbin,
Evelyne; STEHLÍKOVÁ, Nad’a; TZANAKIS, Constantinos. (Eds.). Proceedings
of the 5th European Summer University. Prague: Vydavatelský servis, Plzeň, 2008,
p. 163-167.
Introdução
expressiva. Em Sousa (2020a) encontramos uma hipótese para tal fato que inclusive
alude a possibilidade de fomento a partir dos parâmetros obtidos que podem servir
como norte ou referência para suscitar aparecimento de mais trabalhos na linha.
Como resultados chegamos, nessa edição, que trabalhos voltados para a aliança ado-
tam frequentemente a metodologia qualitativa, a partir de investigação de diversos
temas históricos, sendo o mais recorrente os ligados à Geometria, com apoio mais
frequente do software Geogebra, tendo o cunho educacional ancorado em sequências
didáticas ou sequências de atividades ou tarefas, na maioria das vezes. (COSTA;
SOUSA, 2018). Desse modo, surgem como proposta didática da tendência aliança,
as atividades-históricas-com-tecnologia e a investigação-histórica-com-tecnologia.
Ainda nessa direção, a quarta edição tem se configurado a partir do projeto
22 TO ou Teoria da Objetivação consiste numa teoria sociocultural de ensino e aprendizagem idealizada por
Luis Radford. Nessa teoria tanto aluno quanto professor são seres sociais em constante transformação,
inacabados. A aprendizagem ocorre pelos movimentos de Objetivação e Subjetivação propiciados pelo
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 49
isso também é inerente. Assim, para as diversas facetas dos processos de ensino e
aprendizagem têm sido pensadas propostas pedagógicas por diferentes pesquisadores.
No que concerne à matemática os frutos dessas pesquisas surgem como tendências
em educação matemática que assinalam diversos argumentos favoráveis ao uso peda-
gógico, mas considerando suas potencialidades e limitações nos diversos contextos,
isto é, sem considerar panaceia aos processos de ensino e aprendizagem. Em meio
a tais tendências estão a História da Matemática (HM), as Tecnologias Digitais de
Informação e Comunicação (TDIC) e a Investigação Matemática (IM).
Nessa ótica, autores como Miguel e Miorim (2008, 2011, 2019), Miguel
(1993, 1997), Fauvel e Maanen (2002), Mendes, Fossa e Valdés (2006), Fossa (2001),
Mendes (2001, 2006, 2009a e 2009b), Roque (2012, 2014), Saito (2014), Chaquiam
(2017), Morey (2013), Gutierre (2008) e Sousa (2012), entre outros, abordam dire-
cionamentos em suas produções para tratar do uso pedagógico da HM.
Por exemplo, Miguel e Miorim (2019) colocam argumentos favoráveis e ques-
tionadores ao uso da HM exemplificando obras e autores que trazem ressalvas ao
uso pedagógico da HM e alertando para possíveis erros que possam cometer quando
não é tomado um uso apropriado da História da Matemática. Similarmente, algumas
dificuldades são exibidas por Fauvel e Maanen (2002), a exemplo da compreensão
de línguas arcaicas e termos técnicos em seu contexto. Considerando as ressalvas
que se deve ter frente aos argumentos questionadores, o uso da HM é recomendado
pois, de acordo com Mendes (2009b, p. 5) “[...] é necessário conhecer e entender
a matemática como uma criação humana [...]”. Assim, a HM seria encarregada de
revelar como os problemas surgem, tornando notórias as condições e motivações
do contexto sociocultural em que emergem e quais influências estes trazem para o
conhecimento científico da matemática, o que poderia ser obtido por uma historio-
grafia atualizada como defendem Roque (2012, 2014) e Saito (2014).
Para Mendes (2006) e Gutierre (2011), uma maneira de proceder no espaço
da sala de aula é utilizando problemas e/ou episódios da HM em atividades histó-
ricas ou estruturadas de modo a imprimir maior significação à matemática esco-
lar. Também, segundo Chaquiam (2017) isso pode ocorrer via Unidades Básicas
de Problematização.
Labor Conjunto (atividades) ancorado pela Ética Comunitária (RADFORD, 2020). Nesse processo vários
elementos são mobilizados e relevantes como signos, gestos, artefatos, entre outros.
23 Mais detalhes na seção 2 desse capítulo.
50
Miguel (1993, p. 76), alerta para o fato de que a história não é a salvadora da
Educação Matemática, contudo, possui funções didático pedagógicas as quais for-
mam uma história pedagogicamente vetorizada que está de acordo com o conjunto de
argumentos apontados por Fauvel e Maanen (2002), na obra History in Mathematics
Education incluindo os relacionados a formação de professores de matemática
Entre prós e contras quanto à inclusão como recurso pedagógico no ensino,
Fossa (2001) coloca que há tipos de uso da HM que incluem o uso ornamental,
ponderativo, episódico, novelesco e manipulativo.
Diante desses diferentes usos e apoiando-se em uma base que ampara a percep-
ção de história como tendência em educação matemática, Mendes (2001, p. 11-12,
grifo nosso) “concebe o uso da História no ensino da matemática numa perspectiva de
No que se refere a contribuição das TDIC, Lévy (1996; 1999) coloca que as
tecnologias ganham espaço, uma vez que:
grifo nosso) de modo que a informação e a utilização das TDIC em sala de aula
parecem inevitáveis.
Borba (2002, p. 135) coloca em suas pesquisas que “há aqueles que defendem
que o sujeito epistêmico seria o ser humano isolado e os que defendem que a unidade
básica de produção de conhecimento seria o ser social, composto por mais do que uma
pessoa” num coletivo pensante. Assim, ele, apoiado em Lévy (1993) e Thikomirov
(1981), defende os “coletivos pensantes formados por humanos e não-humanos”,
indivíduo e máquinas (coletivo). Logo, Tikhomirov (1981) coloca que a informática
tem a capacidade de reorganizar o pensamento e não complementá-lo/substituí-lo.
Lévy (1993) pondera ainda que as tecnologias podem ser vistas como extensão da
memória e corrobora com Tikhomirov (1981) no que diz respeito a ideia de que não
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deve haver dicotomia entre técnica e ser humano. Para Borba (2002, p. 138-139),
Lévy (1993) relaciona técnica, conhecimento e história de modo a considerar que
“a história da humanidade está sempre impregnada de mídias” e ainda que seres
humanos são “constituídos por técnica que estendem e modificam seu raciocínio”
de modo que que “o conhecimento é produzido por um coletivo formado por seres-
-humanos-com-mídias”. Confirmando, esta ideia Valente (1999b, p. 89) assegura
que “por intermédio da análise dos softwares, é possível entender que o aprender
(memorização ou construção de conhecimento) não deve estar restrito ao software,
mas à interação do aluno-software”.
Segundo Brasil (2000), é consensual a ideia de que não existe um caminho que
possa ser identificado como único e melhor para o ensino de qualquer disciplina, em
particular, da matemática.
ou ouvindo suas orientações, ela dificilmente conseguirá aprender. Para obter êxito,
é preciso andar na bicicleta, errar e aprender com os erros.
De acordo com Mendes (2006, p. 10) a inserção de uma prática de ensino que
“valorize a investigação e a busca de informações como princípio de aprendizagem
e socialização coletiva de informação” é indispensável de modo que o processo de
produção do conhecimento ocorre pela sistemática organização de “nossas expe-
riências, observações, interações sociais e investigações realizadas no contexto da
sociedade e da cultura, ao longo do desenvolvimento histórico das civilizações”
(MENDES, 2006, p. 83) numa “reinvenção da realidade investigativa” que pode,
inclusive, estar apoiado pelas tecnologias, já que sua história está atrelada a própria
história da humanidade.
Outras direções para o delineio da proposta de aliança estão nos (3) parâmetros
já apontados no início desse texto e obtidos por Costa e Sousa (2017) com referência a
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proposição de caminhos ao fomento de trabalhos na área. Estes por sua vez concluem
que: a metodologia de pesquisa mais usada é a qualitativa, o tema histórico mais
usado é relativo à Geometria, o recurso tecnológico mais recorrente como apoio as
investigações dos temas é o Geogebra e o cunho educacional mais frequente é o uso
de sequências didáticas, de atividades ou tarefas.
Considerando ainda a composição da aliança chegamos à necessidade de elabo-
ração e/ou uso de produtos educacionais que, de acordo com Gomes e Sousa (2020),
são compostos em geral dos seguintes (4) elementos: elementos pré-textuais (capa,
sumário e apresentação) informações básicas (individual ou em grupo, objetivo,
conhecimentos prévios, cronograma, recursos necessários, recomendações ao pro-
fessor/estudante e procedimentos), desenvolvimento da atividade (textos explorató-
rios, perguntas reflexivas e recortes históricos) e avaliação (produções de relatórios,
dinâmicas e debates reflexivos).
(1) atividades-históricas-com-tecnologias
Definição
ou investigação-histórica-com-tecnologia.
metodologia qualitativa
tema Geometria
(3) parâmetros recurso Geogebra
Cunho educacional sequência de atividades
elementos pré-textuais
Para tanto, trazemos uma apresentação geral das propostas e indicação de referência
onde podem ser obtidos na íntegra.
Práticas
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ALVES, Juliana Maria Schivani. Dos Mínimos Quadrados À Regressão Linear:
Atividades Históricas Sobre Função Afim e Estatística Usando Planilhas Eletrônicas.
2015. 301f. Dissertação (Pós-Graduação em Ensino de Ciências Naturais e Exatas)
– Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015.
SBEM-PA, 2017.
LIMA, Telma Cristiane Sasso de; MIOTO, Regina Célia Tamaso. Procedimentos
metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica.
Revista Katál, Florianópolis, v. 10, n. esp. p. 37-45, 2007.
60
OLIVEIRA, José Damião Souza de; SOUSA, Giselle Costa de. Construções da Geo-
metria do Compasso de Lorenzo Mascheroni (1750-1800) em atividades com soft-
ware de matemática dinâmica. 1. ed. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2017.
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 61
SOUSA, Giselle Costa de. Reflexões Sobre o uso da História da Matemática na Sala
de Aula: O Jogo dos Sinais. In: GUTIERRE, Liliane dos Santos; MENDONÇA,
Silvia Regina de. (Org.). O olhar de 8 professores sobre o ensino e pesquisa em
matemática. João Pessoa: Ideia, 2012. cap. 4.
SOUSA, Giselle Costa de. Aliança entre HM, TDIC e IM: fundamentos e aplica-
ções. In: REMATEC: Revista de Matemática, Ensino e Cultura, Ano 15, Fluxo
Contínuo, 2020a, p. 117-136. Disponível em: <http://www.rematec.net.br/index.php/
rematec/article/view/239>. Acesso em: 27 ago. 2020.
62
SOUSA, Giselle Costa de; ALVES, Juliana Maria Schivani. A regressão linear de
Francis Galton (1822-1911) sendo reconstruída por meio das TIC para estu-
dar função afim e padrões de medidas. 1. ed. São Paulo: Editora Livraria da
Física, 2017.
Introdução
por elas, fazendo emergir diversos modos de representação dos pensamentos e prá-
ticas matemáticas.
Este ensaio originou-se da palestra proferida na abertura do IV Seminário Cea-
rense de História da Matemática (IV SCHM) ocorrido na modalidade virtual, no
período de 12 a 15 de julho de 2020. Por meio dele, convido os leitores a pensar sobre
os múltiplos processos operacionalizados pelo pensamento e pelas práticas matemá-
ticas em busca de explicação para o modo de ser e de estar dos objetos matemáticos
em suas correlações com o contexto sociocultural ao longo da nossa história humana.
Como esses modos de ser e de estar foram e são captados pela mente, em processos
de criação matemática em todas as suas dimensões?
Interrogações Iniciais
Para adentrar no campo das reflexões sobre o tema a ser tratado é necessário
apresentar e discutir algumas indagações iniciais, conforme mencionarei a seguir: O
que é criação? O que é criação matemática? O que são processos criativos? O que são
processos criativos em Matemática? Como se compreende um processo criativo na
História da Matemática? Como se compreende as histórias da criação matemática?
Que possibilidades podem ser apontadas para o trabalho docente?
Para entender do que se trata, tomo o conceito de criação a fim de compreendê-lo
e, por extensão conceitual, estabelecer o conceito de criação matemática para, então,
partir dos conhecimentos matemáticos que investigo em seus processos históricos
estabelecidos no tempo e no espaço. Com base nesses conceitos é possível buscar
explicações para o que pode ser considerado um processo criativo em Matemática e
como tal processo se desenvolve para que as matemáticas sejam criadas conforme
o interesse de cada criador.
66
Contexto Sociocultural
Problematização e imaginação
do conhecimento
Codificação: formulação e
Questões Resolvidas: representação do conhecimento Questões em aberto:
geração do conhecimento Novas indagações
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Nesse sentido, o ciclo explicativo mostra como a matemática pode ter sido
construída historicamente entre questões (indagações) e respostas de diferentes ori-
gens e contextos, motivados por problemas derivados da vida cotidiana ou de outras
ciências (Física, Astronomia etc.), assim como de problemas relacionados às inves-
tigações internas na própria matemática (cf. MENDES, 2015). Nesse ciclo explica-
tivo, a codificação matemática das respostas às questões que surgem nos problemas
cotidianos faz emergir novas questões sobre o problema resolvido, mas que muitas
vezes necessitam uma melhor explicação. Assim, de cada questão respondida pode
surgir uma ou mais soluções a serem codificadas. Delas, geralmente surgem novas
questões, denominadas por Mendes como questões abertas, constituindo assim fon-
tes provocativas para novos estudos, transformando então o processo de geração de
conhecimento em um ato cíclico.
Dessa maneira, convertem-se em instrumentos ou ferramentas matemáticas que
se configuram como representações das estratégias cognitivas para serem utilizadas na
busca de soluções de novas dúvidas e questões que tenham surgido e/ou às perguntas
matemáticas já existentes. Essas questões são utilizadas amiúde para resolver alguns
problemas pendentes. Na medida em que são respondidas, essas questões abertas
convertem-se em conhecimentos acadêmicos que, por meio de uma organização
didática, passam a configurar os conhecimentos a serem ensinados e aprendidos pelos
estudantes, na escola, em qualquer nível educativo.
Uma quinta questão também inicial, que surge em consequência das quatro
anteriores refere-se aos modos como se compreende, instala-se, estabelece-se ou
68
É com esse movimento que precisamos ter bastante cuidado, pois é essa dinâ-
mica que dará singularidade a cada história que escreveremos, a partir de uma pes-
quisa realizada. Talvez seja por esse motivo que as escritas originadas das histórias da
matemática, produzidas em pesquisas, precisem de uma singularidade, uma vez que
são histórias criadas com base nos métodos utilizados pelo historiador para pesquisar
e para relatar a história pesquisada. Logo, a história escrita reflete um pensamento,
um processo e um princípio sobre o que é história e historiar, a partir de questões de
pesquisa e dos objetivos de cada pesquisador. Essa é uma parte do movimento que
compõe a explicação dos processos de criação matemática na história.
Assim, considero que esses tipos de verdades podem ser também interpretados
para a matemática, no decorrer dos tempos e em diferentes espaços, de modo a ser
considerada uma ciência do percebido, ou admitida como uma ciência do provável,
assim como uma ciência do provável que pode ser reconhecida como uma ciência do
certo, ou não. Todo esse movimento de validação e reconfiguração epistemológica a
respeito desse estatuto de ciência dependerá dos processos criativos estabelecidos pelo
espírito científico no tempo e no espaço e sua validação pela comunidade científica
(no caso a matemática também).
É com essa compreensão que Moles (1998; 2007) admite não haver diferença
entre ciência pura e ciência aplicada, mas sim uma dinâmica que se move no pen-
samento humano à procura de ecos, ou seja, de sujeitos, contextos, conteúdos e
valores que possam ser tomados como pilares e parâmetros para que o conhecimento
produzido possa estabelecer-se como criação científica (ou matemática). Significa,
portanto, que nem sempre os espaços e os tempos são favoráveis para que determina-
dos objetos que estamos querendo trazer à vida, possam se estabelecer como criação.
Então, às vezes, os embargos que a sociedade, o sistema econômico, o sistema teórico,
dentre outros microssistemas que fazem parte do nosso macrossistema social podem
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 71
d 1 √2 1
1 1
continua...
72
continuação
1
1
√4 √3
√5 √2 1
√6 √1
√7 √17
√8 √16
√15
√9
√14
√10 √11 √13
√12
0 1 √2 √3 2 √5 √6 √7
Considerações Finais
Tal abordagem pode tomar como base alguns indicativos como: 1) A suspeita,
que leva o pesquisador em História da Matemática a buscar indícios que lhe fazem
elaborar ideias primeiras ou conceitos primários (primitivos) a respeito dos objetos; 2)
As proposições primeiras, conhecidas como axiomas ou postulados e as proposições
formalizadas ou teoremas; 3) As proposições formalizadas amplamente (para um
domínio qualquer do saber matemático) que estruturam as teorias e, por fim, o movi-
mento que sai das origens e opera transformações conceituais com vistas a estabelecer
as continuidades desse processo em movimentos históricos e trajetórias conceituais.
Com relação ao uso dos textos de (re)criação histórica da matemática para a
sala de aula, o professor precisa apostar na exploração dos movimentos expostos em
(re)criação lógica e sequencial histórica conforme interesses pessoais, profissionais
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REFERÊNCIAS
BOIREL, René. Théorie générale de l’invention. Paris: Presses universitaires de
France, 1961.
MENDES, Iran Abreu (a). Mendes, I. A. (2021). Historical Creativities for the Tea-
ching of Functions and Infinitesimal Calculus. International Electronic Journal of
Mathematics Education, v. 16, n. 2, em0629. https://doi.org/10.29333/iejme/10876
MENDES, Iran Abreu. History for the teaching of mathematics transformation and
mobilization of mathematical knowledge for school. Pedagogical Research, v. 5,
n. 3, em0072, p. 1-10, 2020. Disponível em: https://www.pedagogicalresearch.com.
Introdução
26 Há muitos exemplos claros. Burkert (1972; p. 408) refere a questão do momento em que a geometria
pitagórica passou a ser escrita. Paul Tannery e W. Burkert dominavam ambos o grego, mas leram de forma
diferente um texto de Iamblichus, e dessas diferentes leituras sairam conclusões opostas. A que tinha feito
Tannery levou a que se pensasse que havia um tratado de geometria antes de Hipócrates de Chios, quando
de facto a passagem traduzida analizava a utilização de palavras e não se referia a livro algum.
76
que leu de especialistas sobre essa matéria, mas não por conclusões suas de leitura
dos textos originais.
O objetivo deste texto não é apresentar investigação em história da Matemática
Grega, mas sim chamar a atenção para dois factos importantes nessa história: como
é possível, a partir de uma teoria simples, chegar à descoberta dos incomensuráveis,
descoberta que modificou o curso da Matemática Grega; e evidenciar o modo brilhante
como o problema causado por esta descoberta foi resolvido por Eudóxio de Cnido.
Apresentaremos um olhar nosso, do início do século XXI, sobre aqueles dois factos.
Para além das referências das histórias gerais como (EVES, 1990) e
(KLINE, 1972), valiosas, mas generalistas, e nem sempre precisas, indicaremos no
texto outras referências.
Euclides (315 a.C-255 a.C) escreve os Elementos no início do século III a.C.
A obra teve um imenso impacto, não só na sua época, mas ao longo dos séculos, até
aos nossos dias. Consta que, a seguir à Bíblia, é a obra que mais divulgação, análise
e edições teve. Desde o começo da imprensa em 1482 já houve mais de 1000 edições.
É uma obra de síntese, da maior parte da matemática que era conhecida então
e que obedecia aos critérios de rigor formulados e consensualmente aceites pelos
gregos: todas as demonstrações geométricas tinham de ser feitas com uma régua não
graduada e um compasso, que não é o compasso dos nossos dias, era um compasso
que apenas permitia traçar circunferências, mas que não transpunha distâncias.
Mas nem todo o conhecimento que se podia demonstrar de modo rigoroso está
nos Elementos: por exemplo não inclui a demonstração que as alturas de um triângulo
traçadas dos seus vértices se intersectam num ponto. Por outro lado, nos Elementos
faltam áreas significativas então estudadas, como as cónicas, e igualmente os cha-
mados problemas clássicos da matemática grega: a duplicação do cubo, a trissecção
do ângulo e a quadratura do círculo, pois nem as cónicas nem os problemas clássicos
eram então estudados segundo os critérios de rigor atrás apontados. Nem sempre o
rigor nas demonstrações das proposições dos Elementos era o mesmo, estão neles
incluídas algumas demonstrações por sobreposição.
No essencial o que Euclides faz é compilar e reordenar grande parte do
conhecimento matemático do seu tempo, simplificando e tornando mais rigorosas
as demonstrações.
Os Elementos constam de 13 livros ou capítulos - (EUCLIDES, 2009),
(EUCLID, 1956). Euclides explicita um conjunto de definições, axiomas e postu-
lados, e as demonstrações são feitas por raciocínio dedutivo a partir deste conjunto
primeiro de noções.
O impacto da obra de Euclides foi tal que muitas das obras anteriores foram de
alguma maneira consideradas antiquadas e supérfluas e não houve o cuidado devido
para as conservar. A matemática pré-euclidiana teve de ser reconstruída a partir de
fragmentos e fontes indirectas. Hoje muito do que conhecemos da matemática grega
antes de Euclides se deve aos comentadores, pessoas cultas que tiveram acesso a
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 77
obras hoje perdidas, em parte ou na totalidade, e que escreveram sobre elas. Entre os
comentadores é de salientar Proclus (século V d.C). A sua obra Comentário ao Livro
I dos Elementos de Euclides inclui um resumo em linhas gerais do desenvolvimento
da matemática grega antes de Euclides que é conhecida por Síntese Eudemiana,
nome que é devido ao matemático Eudemus de Rodes (século IV a. C), um aluno de
Aristóteles, que escreveu uma história da geometria grega27 e que é uma das fontes de
Proclus. Outras fontes disponíveis para se conhecer a matemática grega, são devidas
a comentadores como Papus, Theon e outros. As passagens matemáticas em Platão
e Aristóteles são igualmente importantes.
Já no século XX foram compilados fragmentos que se foram encontrando da
época pré-socrática. Publicados pela primeira vez em 1903, foi aumentando a lista
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dos textos descobertos, chegando-se a uma sexta edição em 1952. São referenciados
por numeração Diels-Kranz.
27 Escreveu também histórias da astronomia e da aritmética (ZHMUD, 2006; p. 147-152, 166-218, 228-238).
78
Mesopotâmia pelo clima social que se vivia na Grécia entre a classe mais elevada:
num ambiente de igualdade, havia intensa competividade entre os membros desta
comunidade. Para resolver problemas que não tinham nem medição nem observação
imediatas, as soluções apresentadas teriam de ser acompanhadas de argumentos
inatacáveis que fossem aceites por todos, que garantissem a consensualidade sobre
a correcção de quem os fazia. Aqui se pode entrever a razão do aparecimento da
demonstração dedutiva (PANCHENKO, 2005; p. 57)
Tales de Mileto é a figura central da Escola da Jónia. Continua a haver polémica
hoje sobre o que se lhe pode atribuir. O problema tem maiores proporções porque
Tales não deixou nada escrito, ao contrário de outras figuras eminentes da Jónia, como
Anaximandro e Anaximenes. O que estes últimos escreveram perdeu-se, mas temos
28 Hipias de Elis, um dos sofistas do século V a.C., é uma das fontes de informação sobre Tales e outros, e
foi uma das referências de Eudemus para a sua História da Geometria (ZHMUD, 2006; p. 50).
29 Há historiadores modernos que não atribuem esta primazia a Tales, a maioria mencionando Anaxágoras
como o primeiro a dar a interpretação correcta dos eclipses solares. (PANCHENKO, 2005; pp. 28-30) discute
e rebate essa ideia.
30 Ver (LEBEDEV, 1990).
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 79
[...] geometry was first discovered among the Egyptians [...]. Thales, who had
travelled to Egypt, was the first to introduce this science into Greece. He made
many discoveries himself and taught the principles for many others to his suc-
cessors, attacking some problems in a general way and others more empirically
(idem, p. 52)32
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The famous Thales is said to have been the first to demonstrate that the circle
is bisected by the diameter. The cause of this bisection is the undeviating course
of the straight line through the center; for since it moves through the middle and
throughout all parts of its identical movement refrains from swerving to either
side, it cuts off equal lengths of the circumference on both sides (idem, p. 124).
Ou seja, temos um argumento que, não sendo uma dedução, pretende articular o
que se entende por círculo e por diâmetro, e, portanto, quer manter-se num plano geral,
não particularizado, não recorre à demonstração por rotação e sobreposição de figuras33:
Sobre a igualdade dos ângulos da base de um triângulo isósceles:
“We are indebted to old Thales for the discovery of this and many other theo-
rems. For he, it is said, was the first to notice and assert that in every isosceles
[triangle] the angles at the base are equal” (idem, p. 195).
“If two straight lines cut one another, they make the vertical angles equal to one
another. [...] It was first discovered by Thales, Eudemus says, but was thought wor-
thy of a scientific demonstration only with the author of the Elements” (idem, p. 233).
Em relação à proposição que estabelece que dois triângulos com dois ângulos
iguais e um lado igual têm os restantes lados e ângulo iguais, é afirmado:
A Escola Pitagórica
Figura 1
1 3 6 etc.
Figura 2
1 4 9 etc.
Figura 3
…
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Para a subtração (para os gregos só tinha sentido a operação a-b quando b <a):
Proposição 24. Par menos par é par.
Proposição 25. Par menos ímpar é ímpar.
Proposição 26. Ímpar menos ímpar é par.
Proposição 27. Ímpar menos par é ímpar.
Para a multiplicação:
Proposição 28. Ímpar vezes par é par
Proposição 29. Ímpar vezes ímpar é ímpar.
34 Arquitas de Tarento (ca 428 – ca. 365-347 a.C.) é considerado o pitagórico iniciador do caminho que levou
à teoria dos números, tal como ela se encontra explicada nos Elementos de Euclides.
82
Figura 4 A Figura 4 B
b a a b
a c U a b a
W
c
b V b a b
b a b a
35 Para outra demonstração do Teorema de Pitágoras, utilizando a teoria das proporções, bem como para mais
informação sobre a teoria dos pares e dos ímpares, ver (ZHMUD, 2012; p. 270-273).
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 83
A = mv C = mw
B = nv D = nw
36 Pensa-se que o termo “razão”, ou “proporção” derivou da teoria musical dos pitagóricos.
84
Figura 5
A D
B C
A teoria das proporções cai num impasse que só é quebrado por Eudóxio (tam-
bém chamado Eudoxo37) de Cnido (ca 390 - ca 337 a. C.)38. É uma concepção que
37 Utilizamos Eudóxio como termo português, seguindo o adoptado por (VASCONCELLOS, 1925).
38 Sobre Eudóxio, ver (ZHMUD, 2006; p. 96-100).
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 85
Grandezas dizem-se terem uma razão, uma em relação à outra, quando é possível,
por multiplicação, cada uma exceder a outra. (definição 4 do Livro V).
ma a
Para todo o número m tem-se = (Proposição 15)
mb b
a c a b
Se
= = , então (Proposição 16)
b d c d
Se a = c , então a + b = c + d (Proposição 18)
b d b d
O Livro VI dos Elementos de Euclides (2009; p. 231-267) é relativo à aplicação
da teoria das proporções, conforme tinha sido estudada no Livro V, à Geometria.
Como exemplo, vejamos como é aí demonstrado um resultado geométrico por
aplicação da nova definição de igualdade de proporções.
Figura 6
ou seja,
se m BC = n CD, então m [ABC] = n [ACD].
Analogamente se mostra que, se
m BC > n CD, então m [ABC] > n [ACD],
e que
se m BC < n CD, então m [ABC] < n [ACD].
Ou seja, utilizando a nova definição de igualdade de razões, ficou demons-
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trado que
BC:CD = [ABC]:[ACD].
Considerações finais
Apêndice
“[…] how wise a decision it is for a professional to start writing the history of his
discipline, when his only calling lies in professional senility which bars him from
encroaching on more friendly, familiar and hospitable territory!” (idem, 1975; p. 88).
Este artigo, não só pelo conteúdo, mas, parece-me, igualmente pelo modo como
está escrito, suscitou respostas e foi o início de um debate que se tem prolongado até
hoje. Algumas dessas respostas, em consequência do modo como Unguru escreveu
o seu artigo, foram igualmente frontais. Transcrevo parte da resposta de André Weil,
saída em 1978:
Uma das questões levantadas por Unguru diz respeito à Álgebra Geométrica.
Uma boa síntese e reflexão sobre a história da polémica sobre este tema pode ser
encontrado em (HOYRUP, 2017)39. O que transparece é que ela tem as características
que muitas vezes se vêm nos debates literários: um dos participantes, para estabelecer
que é aquele que tem a razão do seu lado, argumenta contra um ponto de vista que
não é o do oponente, mas que objetivamente lhe convém que se acredite que seja
para mais facilmente impor os seus argumentos. É fácil encontrarmos exemplos
deste tipo de polémicas, basta pensarmos o que foi o debate presidencial nas eleições
americanas de 2020.
Uma das afirmações de Unguru, e que tem sido repetida pelos seguidores da sua
linha, tem sido que a criação do termo álgebra geométrica se deve a Paul Tannery
e a H. G. Zeuthen. Hoyrup, mostra que este termo não foi criado por Paul Tannery
(que, afirma, só o utilizou uma única vez e com alguma restrição no seu significado)
39 Um outro artigo interessante sobre esta questão, noutra perspectiva, e introduzindo a noção de álgebra
pre-moderna, é o de (SIALAROS, CHRISTIANIDIS, 2016).
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 89
mas sim por Zeuthen, mas, mais importante, este utiliza-o num sentido que não é o
que lhe atribuiu Unguru, e que portanto não é susceptível da crítica deste:
“Symbolic álgebra and geometry are thus seen as parallel in this aspect, none
of them expresses the other. If anything, Zeuthen claims that we make use of an
“algebraic arithmetic of proportions” and the Ancients of a “geometric arithmetic
of proportions” […]. In this way a geometrical algebra developed; one may call
it thus, since, on one hand, like algebra, it dealt with general magnitudes […] on
the other because it used other tools than common language in order to visualize
its procedures and impress them in memory […]. That is, Zeuthen uses the term
not because ancient Greek geometrical theory (or a part of it) “translated” alge-
braic propositions or procedures but because it fulfilled analogous functions.40”
(HOYRUP, 2017; p. 135).
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Vejamos o que Unguru aponta aos seus oponentes (UNGURU, 1975; p. 68-69):
“As to the goal of these so-called “historical” studies, it can easily be stated in
one sentence: to show how past mathematicians hid their modern ideas and pro-
cedures under the ungainly, gauche, and embarrassing cloak of antiquated and
out-of fashion ways of expression; in other words, the purpose of the historian of
mathematics is to unravel and disentangle past mathematical texts and transcribe
them into the modern language of mathematics, making them thus easily available
to all those interested.”
“Neither Tannery nor Zeuthen have evidently said or done anything like this; I
doubt Unguru would be able to find anybody who has. At least, however, he has
read the writings of Tannery and Zeuthen, which nobody else since Heath appears
to have done – unfortunately without seriously trying to understand them.”
“We [ZEUTHEN e os seus seguidores] feel that the Greeks started with algebraic
problems and translated them into geometric language. UNGURU thinks that
we argued like this: we found that the theorems of EUCLID II can be translated
into modern algebraic formalism, and that they are easier to understand if thus
translated, and this we took as “the proof that this is what the ancient mathema-
tician had in mind”. Of course, this is nonsense. We are not so weak in logical
thinking! The fact that a theorem can be translated into another notion does not
prove a thing about what the author of the theorem had in mind. No, our line of
thought was quite different”.
“[Zeuthen e van der Waerden] knew from their experience as creative mathemati-
cians that “mathematical entities” do not reside ready-made and immutable “in the
world of Platonic ideas, where they wait patiently to be discovered by the genius
of the working mathematician” […]. Unguru instead, trained as a philosopher and
a classical philologist, is an essentialist, convinced that, incorruptibly, algebra is
algebra is algebra”.
“The new historiographic approach that was so hotly debated in the 1970s has
become mainstream. There are now almost no serious scholars of the subject trying
to determine how Greek mathematics must have originated based on what seems
likely from some mathematical or logical perspective, or trying to understand the
motivation for methods found in Apollonius or Diophantus using mathematical
theories and concepts developed many centuries after these mathematicians lived.”
Hoyrup comenta negativamente o texto de Sidoli, afirmando que este não faz um
trabalho de verdadeiro profissional, concluindo que continua perpetuada a descrição
errónea de Unguru sobre a prática dos historiadores por ele contestada:
Agradecimentos
Quero agradecer à Professora Ana Carolina Costa Pereira o convite que me fez
para participar no IVº Seminário Cearense de História da Matemática, onde expus
este tema.
Agradeço igualmente ao CIUHCT, que subsidiou a investigação que produziu
este artigo, ao abrigo da rúbrica UIDB/00286/2020, e ao Departamento de Matemática
da FCUL, que também me apoiou nesta investigação.
42 Sublinhado nosso.
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 91
REFERÊNCIAS
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Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
the “Elements” (3 vols). New York: Dover Publ. Inc, 1956. 432+436+546 p.
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for the History of Exact Sciences, v. 15, p. 67-114, 1975.
92
WEIL, André. Who betrayed Euclid. Archive for the History of Exact Sciences,
v. 19, p. 91-93, 1978.
Introdução
Na Educação Matemática é interessante destacar a presença do discurso his-
tórico em publicações da área destinadas à Matemática escolar. Há várias propostas
que articulam a História da Matemática e a Educação Matemática, dentre as quais
se destacam os livros didáticos e paradidáticos e propostas elaboradas por órgãos
governamentais responsáveis pela elaboração de diretrizes para a educação básica.
Dificilmente um professor não se deparou em obras didáticas com o famoso
“Osso de Ishango” produzido entre 20 mil e 18 mil a.C. e pinturas rupestres da Serra
da Capivara no Piauí. Para alguns esses achados sugerem uma forma rudimentar
de contagem. Na Geometria figuras encontradas no sítio arqueológico Pollurua na
Amazônia peruana sugerem a representação de figuras geométricas e as pirâmides
egípcias são um recurso exaustivamente utilizado em livros didáticos para exempli-
ficar diversos conteúdos nessa área. Também aparecem nessas obras a história do
Papiro de Rhind e seus 87 problemas matemáticos, o sistema de numeração Maia e
a escrita cuneiforme dos sumérios.
Em geral ideias da História da Matemática aparecem nessas obras como curio-
sidades, anedotas e pequenas biografias que introduzem os conceitos e servem como
uma forma de contextualizar o conhecimento matemático. Muitos autores já escreve-
ram a respeito da História da Matemática tendo como preocupação a contextualização
do conhecimento, mas é necessário ressaltar que essas narrativas se relacionam à
forma como é entendida a escrita da história.
A área do conhecimento denominada Matemática como a conhecemos hoje
não se originou na pré-história e nem evoluiu da antiguidade para chegar até o que
conhecemos hoje. Podemos sim reconhecer a existência de conhecimentos mate-
máticos na antiguidade, na pré-história, no período babilônico e egípcio antigo, na
antiguidade clássica e na Idade Média, mas o que hoje entendemos como Matemática
teve o início de sua construção no século XVI.
A História da Matemática é um campo de conhecimento autônomo que possui
seu objeto de investigação e metodologias de abordagem próprios e é impossível
reduzi-la a uma mera narrativa que entrelaça cada descoberta matemática do passado
ao que conhecemos como a matemática moderna. Ao entendermos isso temos uma
94
possibilidade de trabalho com essa área acompanhando de certa forma seu percurso
de desenvolvimento que ocorreu de forma dinâmica, dentro do contexto histórico de
diversas épocas em que ocorreram escolhas e decisões muitas vezes feitas por per-
sonagens nem sempre destacados na historiografia tradicional e ainda considerando
conhecimentos que por vezes não se relacionavam diretamente com a área e sim
faziam parte dos cenários e demandas de cada época, como guerras, disputas terri-
toriais e religiosas, necessidades sociais entre outros. São justamente esses cenários
que podem ser revisitados a partir de documentos da época, como tratados antigos
por exemplo, que oferecem as diversas possibilidades de trabalho com a História da
Matemática em sala de aula de forma interdisciplinar.
Interdisciplinaridade e projetos
[...] num trabalho em comum tendo em vista a interação das disciplinas científicas,
de seus conceitos e diretrizes, de suas metodologias, de seus procedimentos, de
seus dados e da organização de seu ensino. (FAZENDA, 2011, p. 34)
Freire em sua obra apresenta os Temas Geradores, não faz uma relação direta
com a interdisciplinaridade, mas explica que as esferas disciplinares se relacionam,
não devendo ficar restritas a apenas uma área de conhecimento, segundo o autor,
[...] a delimitação temática feita por cada especialista dentro do seu campo possibilita
a integração e a discussão entre as diferentes áreas do conhecimento de modo a con-
tribuir com a interpretação da realidade socioeducativa, [...] (FREIRE, 1987, p, 115).
como pode ser feita essa integração ou articulação. Há diversos autores que tratam do
assunto. A partir de suas considerações é possível vislumbrar algumas possibilidades
que articulam a História da Matemática no ensino.
Hernández e Ventura (1998) trabalharam como uma intervenção psicopedagógica
na Escola Pompeu Fabra em Barcelona que durou quase uma década. Segundo os autores,
Araujo (2014), trata sobre o trabalho com projetos ligados aos seis temas trans-
versais citados nos PCN’s43, que embora não seja o documento oficial mais atual, a
BNCC também os considera dentro de seis macro áreas temáticas com quinze temas
contemporâneos transversais44, para o autor,
43 Os seis temas transversais são Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde, Trabalho e Consumo e
Orientação Sexual.
44 Meio ambiente: Educação Ambiental e Educação para o consumo; Economia: Trabalho, Educação Financeira e
Educação Fiscal; Saúde: Saúde e Educação Alimentar e Nutricional; Cidadania e civismo: Vida familiar e social,
Educação para o trânsito, Educação em Direitos Humanos, Direitos da criança e do adolescente e Processo
de envelhecimento e respeito e valorização do idoso; Multiculturalismo: Diversidade Cultural, Educação para
valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras; Ciência e Tecnologia.
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 99
A época em que Leonard Digges viveu foi bastante tumultuada e passou pelo
reinado de três monarcas ingleses entre os anos de 1509 e 1603. Entre os diferentes
eventos que marcaram este período, podemos destacar as iniciativas da coroa inglesa
para projetos ligados a demarcação, preservação e defesa das fronteiras inglesas a
partir do século XV. Podem ser colocadas as questões:
Pode ser proposto aos estudantes que construam o instrumento e a partir das instruções
de uso dadas no tratado, traduzidas e adaptadas para a devida compreensão textual,
façam medições e as comparem com as medições feitas com instrumentos atuais.
Figura 1 – Theodolitus
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Outro tratado que pode ser explorado para trabalhos com projetos interdisci-
plinares é o Trigonall Sector escrito por John Chatfeilde publicado em 1650. Nele é
descrito o instrumento Setor Trigonal (ver figura 2) e seus usos que indicam se tratar
possivelmente de um instrumento de cálculo como pode ser deduzido por dois de
seus usos mostrados nas figuras 3 e 4.
16
16
8
8
Cubo 8
Quadrado 4
Quadrado 4
Raíz 2
4
8
2
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, U. F. Temas transversais, de projetos e mudanças na educação: Práticas
e reflexões. São Paulo: Summus Editorial, 2014.
CHATSFEILD, John. The trigonall sector. Lately invented and now exposed to the
publique view by John Chatsfeild. London: Robert Leybourn. 1650.
Introdução
Os argumentos favoráveis sobre o uso e adaptação de textos históricos com a
finalidade de identificar o potencial pedagógico para a produção de atividades no
ensino de matemática, a ser utilizado na Educação Básica e nos Cursos de Formação
de Professores de Matemática, se avolumam em número e grau de complexidade nos
diversos espaços de discussão e produção de conhecimento em Educação Matemática,
mais especificamente no âmbito da História da Matemática
Neste sentido, trazemos a possibilidade de utilização da obra Lettres à une
princesse d’allemagne sur divers sujets de physique et de philosophie, (Cartas a uma
princesa da Alemanha sobre diversos temas de física e de filosofia), de Leonhard
Euler (1707-1783), publicada no século XVIII.
O potencial pedagógico da obra foi abordado a partir da elaboração de Unidades
Básicas de Problematização - UBPs (MIGUEL, MENDES, 2010) para o ensino de
matemática, fundamentadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN de mate-
mática (BRASIL, 1998), na pedagogia da correspondência de Paulo Freire (2000).
Estas cartas foram publicadas em São Petersburgo entre 1768 e 1772 e, compila-
das em três volumes. Tornaram-se um “best-seller” imediato: Foram traduzidas
rapidamente em todos os principais idiomas e por muito tempo permaneceram
45 Sophie Charlotte Friedericke Leopoldina von Brandenburg-Schwedt (1745-1808) teve seus nomes transmitidos
de forma diferente ao longo da História. Foi filha de Margrave Friedrich Heinrich von Brandenburg-Schwedt,
primo de segundo grau do rei Frederico II. Desde 1765, ela foi agraciada com o título de Abadessa do
Convento de Herford, cidade onde se conserva um retrato da abadessa no museu local (FELMANN, 2007).
106
Fonte: www.openlibrary.org
Euler, le professeur
Euler arriscou-se ao escrever uma obra distante de todos os seus outros inte-
resses literários até o momento em que escreveras as Lettres por abordar conteúdos
elementares, usando cartas pedagógicas como metodologia de ensino que traduziam
estes conteúdos de forma interessante, esclarecedora e minuciosa em riqueza de
detalhes. Euler se propôs a introduzir o leitor leigo no universo das ciências naturais,
teologia, filosofia, história, lógica, ética e música por meio de um trabalho compacto
que englobava os principais ensinamentos que eram elementares para uma formação
geral básica do período em que a obra foi escrita (PEREIRA, 2014).
Na leitura direcionada das Lettres com fins didáticos, optamos em agrupar as
cartas por aproximação e afinidades temáticas, com o intuito de favorecer a identi-
ficação de intersecções entre os tópicos e subdivisões da matemática, evitar a repe-
tição desnecessária de informações e, destacar o potencial pedagógico das cartas
apresentadas no Tomo I do livro, o qual foi objeto de investigação desta pesquisa.
O primeiro grupo de correspondências direcionadas à princesa Anhalt-Dessau
são as cartas I e II que trazem como tema central a mecânica. Trazem para discussão
temáticas como distância percorrida, movimento e velocidade. Essas duas cartas
foram a base para as problematizações propostas neste trabalho.
De acordo com a versão comentada do texto histórico em questão preparada
por Pérez (1990),
46 Em 1898, A tradução das Lettres em castelhano divulgou todas as unidades de medida utilizadas até o
período que antecedeu ao sistema métrico decimal. O sistema métrico foi instituído na França pela lei de 7
de abril de 1795. Na Espanha eram usadas as léguas espanholas equivalentes a 8000 varas castelhanas
ou 24000 pés. Passou a ser obrigatório neste país em de 19 de julho de 1849 (PÉREZ, 1990).
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 109
Fonte: books.google.com.
110
Bloco de atividades 1
No Brasil prevalece o sistema métrico universal. Entretanto, medidas regio-
nais permanecem em uso até hoje porque são aplicadas em situações peculiares de
práticas culturais de grupos sociais específicos, como é o caso do alqueire, utilizado
por fazendeiros e 260 agricultores. Uma unidade da medida equivale a área de terra
necessária para o plantio de todas as sementes contidas numa cesta também denomi-
nada de alqueire. Há ainda outras variações da medida, como o alqueire mineiro, o
paulista e o baiano, todos implantados na época do Brasil colônia. • Em um noticiá-
rio foi divulgado que os plantadores de feijão estavam lastimando a perda de mais
de 800 alqueires do cultivo do grão. Essa perda é muito grande? Pesquise os valores
Bloco de atividades 2
De acordo com um trecho da Carta II “A velocidade do vento é muito variável;
uma brisa percorre 10 pés em um segundo, ou 600 pés em um minuto, como resul-
tado caminha duas vezes mais rápido que eu. Um vento que corre 20 pés em um
segundo, ou 1.200 em um minuto já é bastante forte”. Reescreva este trecho da carta
utilizando unidades usuais do sistema métrico para mensurar as grandezas expressas.
♣ Segundo a Carta II “A terra se move ao redor do sol no espaço de um ano e com
esta velocidade percorre 128.250 milhas em 24 horas, logo esta velocidade é dezoito
vezes mais rápida que a de uma bala de canhão.” Qual a distância em Km pela terra
em 24 horas? ♣ Qual a velocidade do canhão em km/h e em m/s?
Considerações finais
projetos e práticas escolares que permitam o uso destes recursos para a escrita de
cartas que não usem apenas caneta e papel, a favor da primária necessidade natural
do homem em se comunicar.
112
REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacio-
nais: matemática. Brasília, DF, 1998.
Introdução
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A escolha dessa temática foi influenciada por diversos fatores, para além do
trabalho Constituição do conceito de função e generalidades por Leonhard Euler em
Introductio In Analysis Infinitorum e da palestra O conceito de função na constituição
da análise matemática moderna, proferida durante o I Ciclo de Formação do Grupo
de Estudos e Pesquisas em História e Ensino de Matemática, vinculado a Universi-
dade Federal do Pará, há também o trabalho de Lira e Chaquiam (2017), intitulado O
conceito de função e alguns obstáculos históricos epistemológicos, apresentado no
XI Encontro Paraense de Educação Matemática (XI EPAEM), e os trabalhos de La
Penha sobre Euler, em particular, Éloge de Euler e A evolução do conceito de função.
Por outro lado, foi considerado o fato de que o conceito de função é um impor-
tante conceito na Matemática e a possibilidade de aplicação nas mais diversas áreas do
conhecimento científico, dentre elas, química, física, engenharia, medicina, biologia,
economia e computação. Associado a sua importância e a aplicabilidade, temos os
problemas relacionados ao seu ensino em vários níveis, decorrentes de dificuldades
na interpretação, análise e gráfico de função pela ausência de elementos basilares para
apreensão desse conceito, dentre estes, variabilidade, dependência e representações.
Essa importância é ressaltada nos documentos oficiais que orientam o ensino de
matemática na Educação Básica, enfatizada nas competências gerais e específicas na
Base Nacional Comum Curricular (BNCC), na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), no
Plano Nacional de Educação (PNE) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais para
o Ensino Médio (PCNEM).
Com foco na Educação Matemática identifica-se pesquisas que apontam as difi-
culdades relacionadas ao ensino do conceito de função e também as que sugerem que
o ensino desse desse conceito pode ser associado aos recursos didáticos, dentre eles,
o uso da história da matemática no ensino de conteúdos matemáticos, que segundo
Lopes & Ferreira (2013) pode tornar as aulas mais ativas e atraentes, que é possível
mostrar o porquê de estudar certos conteúdos e que o professor pode construir um
olhar crítico sobre o tema em pauta.
É notório que a História da Matemática vem se consolidando como área de
conhecimento e investigação em Educação Matemática, fato que pode ser observado
em Miguel (1997) quando discute as potencialidades pedagógicas da história da
matemática e em Vianna (1998) quando apresenta os argumentos favoráveis ao uso
didático da história da matemática defendidos por André Weil (1906-1998) e Dirk Jan
114
Struik (1894-2000), além destes, D’Ambrosio (1999) aponta que o uso da história da
matemática em sala de aula contribui para o reconhecimento da Matemática como
uma criação humana e conectar a Matemática as atividades humanas.
Para além dos elementos expostos acima, tomei por base outros historiadores,
matemáticos e educadores que apontam vantagens na inserção de conteúdos históricos
no ensino tendo em vista a melhoria do aprendizado de conceitos e ideias, além de
contribuir para a formação geral do indivíduo.
Essa tábua de argila foi analisada e interpretada por Otto Eduard Neugebauer
(1899-1990), que a partir da hipótese de que se trata de uma tábua com ternos pita-
góricos, foi possível reconstruir partes ilegíveis e corrigir os erros cometidos pelo
escriba. (ESTRADA et all, 2000, p. 92-99). Em 2017, essa tabela foi interpretada por
INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS ENVOLVENDO A HISTÓRIA
DA MATEMÁTICA SOB O OLHAR DA PLURALIDADE 115
SEMICORDA
θ (ac = cb) ARCO
O
(
θ c (ab)
Fonte: https://es.wikipedia.org/wiki/Tabla_de_senos_de_%C4%80ryabha%E1%B9%ADa
F E G
Quantidade da Qualidade
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A D B
Extensão da Qualidade
B
Q0 Q1 Q2 Q3 Q
A criação da álgebra literal em 1591 por François Viète (1540-1603) nos eleva
ao patamar das representações simbólicas de uma variável, ou seja, a representação
por meio de uma fórmula. Os aperfeiçoamentos ocorridos contribuem para o desen-
volvimento dos estudos dos movimentos e da cinemática e ressaltam as expressões
analíticas. Com o surgimento da geometria analítica, esta passa a permitir o estudo
das curvas pelos métodos de cálculo, ou seja, por meio da álgebra, e o estudo sobre
figuras por meio das suas propriedades geométricas é substituído por estudos que
envolvem elementos analíticos, mais precisamente, agregam uma visão dinâmica e
contínua da relação funcional em contraposição a visão estática e discreta dos antigos.
Neste contexto abrolham René Descartes (1596-1650) e Pierre de Fermat (1601-
1665) que passam a representar um objeto geométrico por meio de uma fórmula ana-
infinitesimal de Leibniz.
A palavra “função” emerge de um artigo Johann Bernoulli (1667-1748) em 1718
quando afirma que “Chamamos a função de uma quantidade variável de uma quan-
tidade composta de qualquer maneira, dessa quantidade variável e de constantes”
Nesse artigo ele também propõe o uso da letra ϑ para denotar uma função ϑx sem
o parêntesis. Por outro lado, a notação proposta por Leonhard Euler (1707-1783),
em 1740, encontra-se no formato f(x/a + c), equivalente a f(x). (LA PENHA, 1986).
Os trabalhos de Euler podem ser considerados separatriz do que podemos
denominar de Análise Matemática Clássica e Análise Matemática Moderna e a sua
definição de função é publicada Introductio in Analysis Infinitorum (1748) – tradu-
zido para o francês sob o título de Intoduction à L’Analyse Infinitésimale, também
em dois volumes – “Uma função de quantidade variável é uma expressão analítica
composta de qualquer modo, pela mesma quantidade e números, ou com quantida-
des constantes”.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BARONI, Rosa Lúcia Sverzut; OTERO-GARCIA, Sílvio Cézar. Aspectos da história
da análise matemática de Cauchy a Lebesgue. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014.
ESTRADA, Maria Fernanda; DE SÀ, Carlos Correia; QUEIRÓ, João Felipe; SILVA,
Maria do Céu; COSTA, Maria José. História da Matemática. Lisboa: Universidade
Aberta, 2000.
LA PENHA, Guilherme Maurício Souza Marcos de. Éloge de Euler. Rio de Janeiro:
Laboratório Computação Científica, 1983.
A
Aprendizagem 13, 24, 25, 26, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 44, 45, 47, 48,
49, 50, 52, 54, 58, 60, 61, 63, 65, 69, 72, 95, 97, 98, 103, 104, 120
C
Conhecimento 13, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 30, 31, 32, 35, 36, 41, 47, 49, 51,
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
52, 53, 55, 58, 59, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 76, 79, 87, 93, 94,
95, 96, 97, 99, 103, 104, 105, 107, 108, 109, 110, 113
Conhecimento Matemático 23, 25, 26, 27, 28, 30, 32, 35, 41, 58, 65, 66, 68,
76, 93, 94, 95
Conteúdos 7, 9, 15, 17, 19, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 30, 31, 32, 33, 36, 39, 42,
55, 70, 93, 94, 95, 98, 106, 107, 108, 109, 110, 113, 114, 116, 119
E
Educação 7, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 24, 31, 33, 34,
35, 36, 37, 38, 39, 41, 43, 44, 47, 48, 49, 50, 52, 54, 57, 58, 59, 60, 61, 62,
93, 95, 96, 98, 99, 104, 105, 106, 109, 111, 112, 113, 119, 120, 121, 123, 124
Educação Matemática 7, 9, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 19, 20, 21, 33, 36,
37, 39, 41, 43, 44, 47, 48, 49, 50, 52, 54, 57, 58, 59, 60, 93, 105, 113, 121,
123, 124
Ensino 7, 9, 10, 11, 13, 14, 15, 16, 18, 19, 20, 21, 23, 24, 25, 26, 27, 30, 31,
32, 33, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 54,
55, 57, 58, 59, 60, 61, 65, 74, 94, 95, 96, 97, 98, 103, 104, 105, 106, 107,
109, 110, 111, 112, 113, 114, 119, 120, 121, 122, 123, 124
Ensino de Matemática 7, 9, 10, 11, 13, 15, 16, 19, 23, 24, 25, 26, 31, 32, 33,
35, 37, 59, 60, 105, 106, 110, 112, 113, 123, 124
H
História 3, 7, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 23, 24, 25, 26,
27, 28, 29, 30, 31, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 47, 48,
49, 50, 51, 52, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 68, 69, 70,
71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 84, 88, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 98, 99, 103,
104, 105, 106, 107, 109, 112, 113, 114, 121, 122, 123, 124
História da Matemática 3, 7, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21,
124
23, 24, 25, 26, 27, 29, 30, 31, 33, 34, 35, 36, 37, 41, 42, 43, 44, 47, 48, 49,
51, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 64, 65, 66, 68, 69, 71, 72, 73, 74, 75,
76, 84, 88, 90, 91, 93, 94, 95, 96, 98, 99, 103, 105, 109, 112, 113, 114, 121,
122, 123, 124
M
Matemática 3, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 23, 24,
25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44,
45, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65,
66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 83, 84, 87, 88, 89, 90, 91,
P
Processo 23, 24, 25, 27, 31, 32, 36, 37, 39, 43, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 63, 64,
65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 94, 98, 99, 100, 103, 107
T
Teoria da Objetivação 7, 9, 12, 35, 36, 38, 41, 43, 44, 45, 48, 57, 61
Textos Históricos 7, 8, 9, 10, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 31, 32, 33, 38, 73,
105, 110
SOBRE OS AUTORES
Luis Saraiva
Doutor em Matemática e licenciado em Filologia Românica. Tem trabalhado princi-
palmente sobre a história da Matemática Portuguesa dos séculos XIX e XX, coorga-
Miguel Chaquiam
Licenciado em Matemática (CESEP), Mestre em Matemática (UFPA) e Doutor em
Educação (UFRN). Professor da Universidade do Estado do Pará (UEPA), vinculado
ao PPGEM/UEPA e Coordenador do Grupo de Pesquisa GHEMAZ.
SOBRE O LIVRO
Tiragem não comercializado
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 X 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 11,5/12/16/18
Arial 7,5/8/9
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)