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QUASE UM LIVRO:
narrativas didáticas para o ensino de história
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2022
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Ilustrações: Gustavo P. Lima
Revisão: Os Autores
Q1
Bibliografia.
ISBN Digital 978-65-251-2335-6
ISBN Físico 978-65-251-2334-9
DOI 10.24824/978652512334.9
2022
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
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Conselho Editorial: Comitê Científico:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Adriane Piovezan (Faculdades Integradas Espírita)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Alexandre Pierezan (UFMS)
Anselmo Alencar Colares (UFOPA) Andre Eduardo Ribeiro da Silva (IFSP)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Antonio Jose Teixeira Guerra (UFRJ)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Antonio Nivaldo Hespanhol (UNESP)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Carlos de Castro Neves Neto (UNESP)
Carmen Tereza Velanga (UNIR) Carlos Federico Dominguez Avila (UNIEURO)
Celso Conti (UFSCar) Edilson Soares de Souza (FABAPAR)
Cesar Gerónimo Tello (Univer .Nacional Eduardo Pimentel Menezes (UERJ)
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
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SUMÁRIO
BATE-PAPO COM OS PROFESSORES ....................................................... 9
Os autores
APRESENTAÇÃO
UM ENCONTRO PRA LÁ DE DIDÁTICO .................................................... 11
Alexandre Martins de Araújo
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PARTE I
AS BASES PARA UMA HISTÓRIA AMBIENTAL
NO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................................... 17
Alexandre Martins de Araújo
PARTE II
A HISTÓRIA COMO OFÍCIO E O ENSINO
DA HISTÓRIA INDÍGENA NA ESCOLA ....................................................... 67
Aurélio Inácio Faria
PARTE III
ADOTANDO A TEMÁTICA GÊNERO E
SEXUALIDADE NO ENSINO DE HISTÓRIA............................................. 113
Renilson Pereira de Freitas Júnior
PARTE IV
PARA ENSINAR HISTÓRIA DAS
DOENÇAS NO ENSINO FUNDAMENTAL................................................. 145
Leandro Garcia Costa
REFERÊNCIAS E ANEXOS
ANEXO A
QUESTIONÁRIO PARA ALUNOS DO 8º E 9° ANO .................................. 185
ANEXO B
BATE-PAPO COM OS ALUNOS E
ALUNAS ENVOLVIDOS NO PROJETO..................................................... 187
ANEXO C
MINI CAUSOS ............................................................................................. 191
ANEXO D
MAPA ETNOBOTÂNICO ............................................................................. 197
Por coincidência, só depois que iniciamos nosso trabalho, foi que nos
demos conta de que as quatro temáticas que nos propomos a ensinar, e que
compõem esta nossa trama, sofrem de um mesmo infortúnio, qual seja, sem-
pre estiveram às margens nos livros didáticos. Tais temáticas são as seguintes:
ensino de história ambiental; história indígena; gênero e sexualidade; e his-
tória das doenças.
Desnecessário comentar aqui as formas como, atualmente, as questões
intrínsecas a esses quatro eixos temáticos têm ganhado as várias agendas
em nossa sociedade. Por isso, a urgência em incorporá-los, com a devida
importância que merecem, nas práticas do ensino de história no âmbito da
educação fundamental.
Os quatro autores deste ensaio, ou melhor, as quatro personagens, se
acham ligadas ao PROFHISTÓRIA – Mestrado Profissional em Ensino de
História, por meio dos seguintes vínculos: Alexandre, na condição de professor
do programa; Renilson, Aurélio e Leandro, os mestrandos.
Por fim, esperamos que a leitura das experiências que aqui deixamos
registradas possa contribuir tanto com a valorização dessas temáticas na
prática do ensino de História, como na construção de novas e renovadas
inventividades didáticas.
Os autores
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APRESENTAÇÃO
UM ENCONTRO PRA LÁ DE DIDÁTICO
Alexandre Martins de Araújo
Nos detivemos em torno dessa ideia, mas, por fim, concluímos que o seu
produto não se afastaria muito daquele padrão de livro organizado em torno de
algum tema contextual. No máximo, produziríamos um tipo de inventário crítico
ancorado em alguns estudos dedicados ao enfrentamento de algumas questões
ligadas a um ou outro daqueles quatro objetivos. Assim, voltamos à estaca zero.
Naquela altura da reunião, nos vimos diante de uma encruzilhada desa-
fiadora: optar pelo modelo acadêmico convencional de “livro organizado”, ou
apostar as nossas fichas na criação de um livro que, não apenas transgredisse
tal modelo, mas, e principalmente, pudesse converter tal transgressão numa
ferramenta apropriada à provocação de inventividades didáticas.
Aquela situação me fez lembrar das primeiras visitas que fiz, no iní-
cio de 2013, a algumas escolas municipais de Aparecida de Goiânia, por
ocasião do início das atividades de um projeto de extensão que coordenei
(e ainda coordeno) denominado Reativar: agroecologias e interculturali-
dades. Trata-se de um projeto de extensão em educação e História Ambien-
tal, voltado para a reativação de memórias bioculturais entre populações
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 13
desinteressados que ainda insiste em ver o ensino da história como uma mera
formalidade para conclusão de seus estudos.
Refletiu também sobre os níveis de interesse demonstrado pelos estudan-
tes em relação a determinados conteúdos de história e as possíveis relações
que isso teria tanto com questões de ordem pedagógica, quanto com questões
ligadas à formação continuada do próprio professor.
Ao final, Renilson recordou das muitas estratégias e recursos que pre-
cisou adotar em sala de aula, como forma de ampliar o interesse e desem-
penho de seus alunos.
Pesquisa-ação. Um livro que não pode ter começo e nem fim, uma vez que
transforma o seu leitor numa personagem a mais de sua trama desafiando-o
a continuá-lo dentro do espaço escolar onde atua.
É um projeto de
extensão?
Como assim?
É que, por meio do núcleo, nos foi possível ministrar disciplinas espe-
cíficas, tanto na graduação como na pós, cujos eixos temáticos giravam em
torno de fenômenos interculturais e ambientais, a maioria deles, fruto de nos-
sas próprias experiências de campo. E um dos resultados mais satisfatório,
18
foi ver, a cada ano, mais e mais alunos e alunas desenvolvendo suas disser-
tações e teses, com base nas discussões e abordagens instrumentalizadas
em nossas disciplinas.
Então, foi exatamente durante o tempo que passei junto àquelas comunida-
des, que tive o insight. Nos grupos mais afetados, muitas pessoas, principalmente
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as idosas e as mães de filhos ainda pequenos, nos contavam histórias sobre seus
maridos e parentes que precisaram migrar para outras regiões do País em busca de
melhores condições de vida. Numa certa manhã, entrei em uma casa para entre-
vistar uma senhora, e ela me narrou a história de seus dois filhos mais velhos, que
migraram para Goiás, precisamente para o Município de Aparecida de Goiânia.
Entrevista realizada por Alexandre, com uma moradora local, em Piauí, 2010
Bem, porque Aparecida tinha tudo o que precisávamos: Ela tem suas
origens ainda no último quartel do século XIX, e compõe a chamada “grande
Goiânia”. Atualmente, irrompem, no interior de seus limites municipais,
centenas de novos núcleos de habitação, comércios e indústrias que foram,
literalmente, empurrados para fora da capital, devido a esta última já ter
esgotado suas reservas de áreas não edificadas, restando somente algumas
porções de terras pertencentes, na sua maior parte, a especuladores imobi-
liários. Tal processo de conurbação revela-nos realidades multifacetadas e
complexas, principalmente porque naquele município, outrora rural, eviden-
ciam-se intricados campos de tensão marcados pela coexistência assimétrica
entre, pelo menos, três diferentes grupos que formam seus, aproximadamente,
1 Segundo dados do IBGE (2015), a Rede Municipal de Aparecida de Goiânia é composta por 56 unidades
escolares de ensino fundamental, registrando, em 2012, um total de 30.127 matrículas.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 21
Em que sentido, a
percepção sobre essas
tensões ajudou na
concepção do projeto?
2 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas habilidades e competências que devem
ser alcançadas pelos alunos de história do ensino fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o
de garantir que o aluno seja capaz de “Identificar e discutir as diversidades identitárias e seus significados
históricos no início do século XXI, combatendo qualquer forma de preconceito e violência” BRASIL. Ministério
da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. p. 435.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 23
tanto entre a sua população, como entre seus gestores, duas perigosas e sim-
plificadoras ideias: A primeira é a de tomar suas periféricas como sendo meros
espaços destinados ao assentamento de pessoas deslocadas e malogradas em
seus lugares de origem, ou seja, pobres e suscetíveis a toda sorte de descami-
nhos; a segunda, consiste em acreditar que as possíveis respostas e soluções
para os impactos socioambientais decorrentes de tal fluxo migratório, devem
ser buscadas somente no âmbito das questões ligadas a infraestrutura, como
por exemplo, sistemas de distribuição de energia, transporte, saneamento
básico, educação, segurança pública, saúde, entre outros.
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Daí por diante, fizemos dessas duas percepções, o motor das ações do
nosso projeto.
Tudo estava pronto: O programa havia sido aprovado pelo nosso Conce-
lho e estava devidamente cadastrado no SIEC da UFG. Os passos seguintes,
seriam preparar uma convincente apresentação e marcar uma reunião com a
equipe pedagógica da SME de Aparecida.
Assim que chegamos na SME, fomos prontamente atendidos e conduzi-
dos a uma sala, onde cinco professoras da equipe de coordenação pedagógica
já nos aguardavam. Estávamos muito entusiasmados, afinal haviam sido meses
de preparação.
Naquela manhã, demos o nosso melhor. Todo o escopo do projeto foi
apresentado à luz de nossas percepções obtidas durante nossas incursões a
alguns setores daquele Município. Em seguida, discutimos sobre as abor-
dagens e enfoques utilizados e suas relações com algumas das importantes
experiências de pesquisa desenvolvidas no âmbito do NUHAI. As professoras
se mostraram bastantes interessadas.
Ao final da apresentação, uma das professoras fez a pergunta: “Qual é
o custo disso?” Informando-nos que aquela Secretaria já não dispunha de
mais nenhum centavo para o custeio de projetos durante aquele ano letivo. A
tranquilizamos, dizendo a ela que todos os custos correriam por nossa conta.
No correr dos dias, o projeto foi apresentado à equipe de projetos da SME e
ao Secretário de Educação do Município.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 25
Bem, durante a reunião, nada nos foi dito a esse respeito; e não quisemos
perguntar para não parecermos indelicados. Só depois é que fomos informados
de que eram nas turmas do oitavo, onde residiam os maiores desafios para os
professores, quanto aos problemas de comportamento.
Ao final de nossa exposição, fomos muito elogiados por todos. Con-
tudo, alguns professores se mostraram confusos e até incomodados com
algumas questões inerentes ao projeto, o que para nós era algo perfeitamente
natural, principalmente por se tratar de um programa com pretensões tão
amplas como aquele nosso.
Tava na cara! Da mesma forma que as conversas que tivemos com todas
aquelas famílias nos propiciaram construir a problemática do projeto, um
mergulho na realidade dos alunos nos ajudaria a elaborar atividades capazes
de provocar um bom diálogo entre alunos, professores e comunidade. Além do
mais, concluímos que tal mergulho nos revelaria, também, até em que medida
as ideias equivocadas sobre as periferias de Aparecida estariam influenciando,
ou não, na construção da visão de mundo daqueles alunos.
Assim, elaboramos um questionário e o apresentamos à coordenação da
escola como sendo a nossa primeira atividade.
Tal questionário, continha 11 perguntas semiestruturadas, elaboradas de
maneira tal, que suas respostas só poderiam ser consideradas válidas, caso
fossem respondidas na parceria entre pais e filhos. Com isso, mataríamos dois
coelhos com uma cajadada só, ou seja, além de captar as percepções das duas
gerações, também seria uma forma de mostrar aos pais alguns importantes
aspectos do escopo do nosso projeto, principalmente aqueles inerentes às
interconexões entre escola, família e comunidade.
Não vou mentir para você. Foi pedreira! Em algumas turmas, tivemos
que entrar, pelo menos, umas três vezes, tanto para explicar como deveriam
responder às questões, como para falar sobre a importância que tinha aquele
questionário para a definição das atividades futuras do projeto.
28
Então,
conseguiram a
adesão dos
alunos?
3 Veja: Anexo A.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 29
E o que conseguiram
captar?
Como coordenaram
essa ação?
E a disciplina de
Português?
Ela foi crucial, pois foi durante as suas aulas que construímos os docu-
mentos. A professora adaptou a atividade ao ensino do conteúdo sobre pro-
dução de textos com utilização dos tipos expositivo e argumentativo.
As atividades
fluíram bem?
Não é uma coisa tão simples de explicar. Deixe-me ver por onde começo.
Bem, se lembram do desabafo daquele professor?
Então, tinha um pouco disso também. Embora as atividades propostas
ajudassem a acelerar o ensino desse ou daquele conteúdo programático, o sim-
ples fato da nossa presença na sala de aula acendia uma “luz de advertência”,
sinalizando para aqueles professores o risco de que a nossa presença atendia
meramente a satisfação de projetos específicos da UFG e, por extensão, de
algumas pessoas ligadas à Superintendência da SME.
Havia, também, uma questão de fundo não menos complicada, ou seja, o
fato de que as atividades propostas, devido às reflexões que suscitavam, acaba-
vam sendo vistas menos como uma estratégia didática inovadora para a condu-
ção do ensino, e mais como um fator de complicação e geração de sobrecarga.
Não tínhamos uma estratégia para isso, apenas não desistimos. Me lembro,
inclusive, de muitas situações embaraçosas que enfrentamos naquela escola.
4 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas habilidades e competências que devem
ser alcançadas pelos alunos de história do ensino fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o
de garantir que o aluno seja capaz de “Descrever modificações da natureza e da paisagem realizadas por
diferentes tipos de sociedade [...] e discutir a natureza e a lógica das transformações ocorridas”. BRASIL.
Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. p. 420.
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Mesmo sem termos tido acesso aos relatórios, produzidos pelos alunos a
respeito de suas experiências na Serra, podemos dizer que os efeitos foram bastante
E quanto à segunda
ação proposta para
aquele ano?
A segunda ação foi uma espécie de complemento das visitas que fizemos
à Serra das Areias. Consistia em caminhar pelo setor conhecendo algumas
residências, seus proprietários e seus quintais.
Como organizaram
essa atividade?
Olha, isso nos deu bastante trabalho. Foi preciso fazer um amplo reconhe-
cimento do setor e convencer alguns de seus moradores a abrirem os portões
de suas casas, para que os alunos pudessem conhecer as muitas maneiras com
5 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas habilidades e competências que devem
ser alcançadas pelos alunos de história do ensino fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o de
garantir que o aluno seja capaz de “identificar os processos de urbanização e modernização da sociedade
brasileira, e avaliar suas contradições e impactos na região em que vive” BRASIL. Ministério da Educação.
Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. p. 429.
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E o que faltava?
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 39
Até aquele momento, ainda não estava tão evidente. Foi, então, que,
durante uma reunião para o planejamento da semana cultural, veio a ideia.
Estávamos em uma sala de aula onde professora e alunos preparavam mate-
riais para o evento. E um detalhe nos chamou muito a atenção: Um grupo
de alunos havia escolhido o tema “cultura nordestina”, e outro “sustentabili-
dade”. O primeiro preparou vários cartazes, alguns deles esboçando imagens
de homens paramentados com as vestes do cangaço, sob o título “resgate da
cultura tradicional nordestina”. A segunda equipe caprichava nas colagens,
oferecendo lindas paisagens de montanhas, florestas, rios e praias.
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Como assim?
E essa ação não parou por aí. Depois, tomei parte na atividade e reproduzi
para os alunos, em plano imaginário, uma situação de colapso envolvendo toda
a região circunvizinha à escola. Tratava-se de um cenário dentro do qual os
moradores enfrentariam enormes dificuldades, tanto de se manterem alimenta-
dos, quanto seguros. Em seguida, pedi aos grupos que expusessem suas listas
contendo os princípios listados. Fizemos um rápido inventário e percebemos
que a maioria das equipes havia registrado, de diferentes maneiras, os mesmos
princípios, como por exemplo: “não jogar lixo na rua”, “não matar os animais”,
“não desperdiçar a água, “não matar as baleias” e “não destruir a Amazônia”.
A partir daí, lancei o seguinte desafio: perceber, tanto nas lembranças
narradas pela mãe da aluna como nas listas apresentadas pelos grupos, os
elementos que poderiam se converter em ações mitigadoras dos impactos oca-
sionados por aquela situação imaginária de colapso. A conclusão a que todos
chegaram, foi a de que, apesar de as listas elaboradas pelos alunos conterem
elementos significativos, em termos de uma perspectiva ambiental global,
era nas experiências narradas por aquela senhora migrante nordestina, que
estavam os componentes que poderiam ser postos em prática como estratégia
de enfrentamento de tal situação de colapso.
6 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas habilidades e competências que devem
ser alcançadas pelos alunos de história do ensino fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o de
garantir que o aluno seja capaz de “Identificar interpretações que expressem visões de diferentes sujeitos,
culturas e povos com relação a um mesmo contexto histórico, e posicionar-se, criticamente, com base em
princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários” BRASIL. Ministério da Educação. Base
Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. p. 402.
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aquele que é ensinado dentro da escola, era apenas uma forma de entendimento
entre tantos outros não científicos.
Imediatamente, uma colega, que estava ao seu lado, ergueu o braço e
disparou: “Professor? Mas não é o conhecimento científico o mais importante
de todos?” Devolvi a sua pergunta para a turma: “O que vocês acham?” A
questão causou inquietação; uns diziam que sim, outros que não. Então, para
aumentar a provocação, perguntei a eles sobre como definiriam os conhe-
cimentos presentes na narrativa da mãe da aluna, como científicos ou não
científicos? A interrogação os deixou ainda mais alvoroçados.
Naquela hora, percebi que havia conseguido atrair a atenção da turma.
7 Com base nos resultados obtidos por meio desta atividade foi gerado um documento informativo padrão
para ser distribuído a alunos das outras escolas envolvidas. Veja: Anexo B.
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8 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas habilidades e competências que devem
ser alcançadas pelos alunos de história do ensino fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o
de garantir que o aluno seja capaz de “Explicar o significado de ‘modernidade’ e suas lógicas de inclusão e
exclusão, com base em uma concepção europeia” BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum
Curricular. Brasília, 2018. p. 423.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 45
E quanto a impossibilidade
de atuarem nas quatro
escolas?
Com isso, mataríamos não apenas dois, mas três coelhos de uma só vez:
Inundaríamos as disciplinas envolvidas com causos reais sobre o cotidiano das
famílias; criaríamos um cenário intercultural, intergeracional e interepistémico
de trocas de conhecimentos e sensibilidades; e, de quebra, aglutinaríamos,
por meio de uma única atividade, várias ações orientadas à mitigação dos
impactos socioambientais apontados no diagnóstico.
E os alunos poderiam
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E quais foram?
Ora, aqui é não é o País do futebol? Então, nada mais familiar do que a
palavra campeonato, não é mesmo? Além do mais, a competição seria inte-
rescolar. Todos os alunos participantes receberiam brindes e um certificado
emitido pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFG; e os 30 melhores
causos selecionados, comporiam um livro de causos, que seria organizado pela
SME, para ser utilizado pelos professores nas suas atividades em sala de aula.
Assim, colocamos tudo isso no papel e apresentamos o projeto para
equipe da SME.
9 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas habilidades e competências que devem
ser alcançadas pelos alunos de história do ensino fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o de
garantir que o aluno seja capaz de “Compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos
e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao
longo do tempo e em diferentes espaços para analisar, posicionar-se e intervir no mundo contemporâneo”
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. p. 402.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 49
E o grupo aprovou?
ções das escolas e acertar com elas um calendário para a realização das atividades.
Felizmente, as quatro escolas concordaram em participar, contudo, foram
necessárias várias e várias semanas de idas e vindas àqueles colégios, até
podermos dar início ao campeonato. Foi preciso entrar em cada uma das turmas
envolvidas para explicar aos alunos os detalhes da atividade, e reunir com cada
coordenador e suas equipes de professores para discutir, tanto sobre os temas
contextuais e suas interfaces com o diagnóstico socioambiental, como também
sobre as possibilidades inter e transdisciplinares que tal atividade oferecia.
E como foi o
campeonato?
profundo pesar por terem, durante tantos anos, se rendido às ideologias que
os obrigavam a silenciar suas histórias.10
Que tipo de
dificuldades?
10 Anexo C. Os minicausos aqui arrolados foram retirados da dissertação de mestrado de um dos membros do
projeto Reativar. Veja: NEVES, Marco Aurélio F. Da Colonialidade à Decolonialidade: a prática pedagógica
dos professores da rede municipal de Aparecida de Goiânia na implementação do projeto Reativar/
UFG. 2017. Mestrando em Educação, Linguagem e Tecnologias – Universidade Estadual de Goiás.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 51
E o que fizeram?
para tornar isso possível, seria apenas liberar um espaço para a realização dos
encontros, facilitar um escalonamento para que os professores inscritos pudes-
sem se ausentar de suas salas de aula durante os eventos, e providenciar um
ônibus para transportá-los até a Escola de Agronomia para o último encontro.
Bomba?!
E o que aconteceu?
A profa. Katia e sua equipe nos receberam com muita presteza, e a reu-
nião demorou, aproximadamente, cinco horas.
Cinco horas?!
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E as ações envolvendo
a comunidade?
11 Veja Anexo D.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 65
Cara, isso é
muito bom!
66
E agora, de quem é
a vez?
seriam levadas também para a escola pública, na qual ingressaria como contrato
temporário e depois como concursado pela rede estadual de ensino.
Meu primeiro contato com a escola pública, enquanto contrato tempo-
rário, seria numa turma de alfabetização (o antigo pré-alfabetização), onde,
confesso não ter tido muito sucesso, pois além de ter uma turma com quase
30 alunos para alfabetizar, não me identificava em trabalhar com aquela faixa
etária. Foi quando, após quatro meses trabalhando nessa turma, recebi um
convite para substituir uma professora que acabava de entrar de licença no
Colégio Estadual Padre Nestor Maranhão Arzola. De início, não eram aulas
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restringiu em um campo de saber, mas que buscou nessas interações novas pos-
sibilidades metodológicas para atuar na sala de aula e que, percebe tal fato não
como uma simples diversificação, mas como contribuições que me permitem
tanto lançar outros olhares para a prática do ensino de história, como lançar mão
de abordagens renovadas e plurais, capazes de romper com certas perspectivas
tradicionais que me eram oferecidas no tempo da minha formação em História.
Este breve relato inicial com um pouquinho da minha história de profes-
sor de História, e outras disciplinas, mostra angústias vividas em um passado
não muito distante. O mais surpreendente é que, depois de quase 25 anos,
12 Para saber sobre os processos históricos de surgimento e consolidação do ensino de história no Brasil veja:
(BITTENCOURT, 2003; CAIMI, 2008; FONSECA, 2003; GUIMARÃES, 1998; KALLÁS, 2017; MONTEIRO,
2007; NADAI, 1993; PEREIRA, 2008).
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 71
Brasil, fica claro que essas concepções do que seja ensinar história, desde o
século XIX até a última década do século atual, serviram a interesses diversos,
construindo e afirmando ideologias. Nossas aulas de história não podem ser
desvinculadas desse contexto de disputas. Quando deixamos de refletir sobre
aquilo que estamos levando para nossos alunos, corremos o risco de reforçar
práticas tradicionais construídas historicamente. Ao voltarmos ao final do
século XIX, e analisarmos a fundação do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro (IHGB) e sua ligação com um projeto de uma história nacional,
podemos perceber que muitas das características inerentes àquele período,
ainda, podem ser vistas no ensino de História na atualidade. É perceptível, em
várias questões, que a História não fugiu muito ao modelo tradicional criado
no século XIX. Vê-se muito dessa história sendo reproduzida em sala de aula.
Boa pergunta! O IHGB e suas “propostas” foi, até o ano de 1931, o único
centro de referência, baseando-se em histórias biográficas. Tinha como modelo
o Instituto Histórico de Paris, trazendo a influência da civilização francesa para
o Brasil. Percebe-se como ideário, voltado à formação da nação brasileira,
um projeto geográfico e historiográfico que buscava conhecer e divulgar a
natureza brasileira, além de definir limites e territórios. À história, caberia o
papel de escrever sobre a mescla das três raças e a diminuição das diferenças
regionais (buscando-se uma ideia de nação – unidade nacional).
Destaca-se uma concepção de história linear em que se fixa a ideia de
progresso fundamentada nas concepções iluministas, articulando futuro,
presente e passado. Além disso, é creditado ao IHGB o papel de “única e
72
Essas mudanças
chegaram rapidamente
na escola de vocês?
outra pessoa, têm acesso a vários assuntos. E, confesso, cá entre nós, eles
nos dão aula quando o assunto é tecnologia (nossos nativos digitais). Mas
a informação por si só, não assegura uma reflexão crítica. E é aí, que nós
damos o xeque-mate. É a hora certa de levantarmos, junto com os alunos,
todas essas informações e representações disponíveis sobre o passado.
Não só na internet, mas também no cinema, rádio, televisão, publicidade e
outros tantos veículos, e mostrar como essas representações são historica-
mente construídas. É nessa parte da “receita do bolo”, que entra a função
social do ensino de história em nosso presente, refletindo sobre os docu-
13 Para mais informações sobre a ideia de monumento/documento, sugiro a leitura de: LE GOFF, Jacques.
“Documento/ Monumento”. In: História e memória. Campinas: Unicamp, 1996.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 79
execução dos projetos. Confesso, no entanto, que correr atrás dessas inovações
não é nada fácil. Não é mesmo! Principalmente, na realidade escolar em que
vivemos, na qual os afazeres burocráticos, além da exacerbada carga horária
que temos que desenvolver na escola, acabam tomando um tempo precioso
que poderia ser dedicado ao desenvolvimento de aulas mais “encantadoras”.
de dramaticidade, no dia planejado para a visita, caía uma chuva fina e o tempo
estava bastante fechado e sombrio, mas isso não nos intimidou, e lá fomos nós.
Com olhares atentos, os alunos fizeram observações para além da proposta ini-
cial: identificaram, por exemplo, que na parte mais antiga do cemitério, havia
uma divisão em dois ambientes distintos, sendo que em um deles concentravam-
-se túmulos mais luxuosos e em outro, os mais simples, fato que consideraram
como reflexos da desigualdade social presentes, também, no ato de sepultar os
mortos. Tivemos, inclusive, uma situação que, no início, pareceu constrange-
dora, mas que depois foi contornada: entre os túmulos visitados, estavam os
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de bisavós e avós de alguns alunos, sendo que um era bastante luxuoso e com
aspecto mais rico, e o outro mais simples. E um dos alunos comentou, em tom
irônico: “olha gente, até aqui no cemitério os parentes da fulana são mais ricos
do que nós. Será que até depois de morto eu vou continuar sendo pobre?”. O
comentário, logicamente, despertou risos, mas serviu para refletirmos sobre a
questão da desigualdade refletida socialmente, inclusive após a morte. Naquele
momento, outro aluno se lembrou de que em outro cemitério que conhecia, na
cidade de Goiânia, não havia esse tipo de distinção. Já que lá, não se construíam
túmulos parecidos com os do cemitério de nossa cidade. Em tal cemitério, todos
os locais de sepultamento eram identificados apenas com uma pequena placa.
uma coloração diferente, um pouco mais escura, como se fosse mais recente.
Diante do fato, e para surpresa de todos, o guia que nos acompanhava nos
contou que havia acontecido um acidente em que um dos trabalhadores do
parque, “na maior das boas intenções”, completou com uma tinta, que ele
mesmo prepara usando cascas de madeira e outros elementos retirados do
cerrado local, algumas representações que, já tão desgastadas pelo tempo,
lhes faltavam alguma parte, como por exemplo, uma patinha em um réptil,
ou partes da asa de uma arara. Aquilo causou aos alunos grande inquietação,
pois tal atitude havia sido julgada como algo “imperdoável”. Aproveitei
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aquela situação e chamei os alunos para a seguinte reflexão: Que nos seria
possível olhar a atitude daquela pessoa por outro ângulo, ou seja, perceber
em seu ato, não apenas a bom intensão que teve em restaurar aqueles animais
retratados, mas, também, uma espécie de continuidade viva das potenciali-
dades artísticas e adaptativas desenvolvidas por aqueles nossos ancestrais
caçadores e coletores. Naquele momento, nos foi possível pensar as pontes
entre o nosso presente e um passado longínquo.
Cá entre nós: vocês também já deram aquela mexidinha nos quadris ou,
pelo menos, nos ombros quando ouvem um batuque? Tá aí o potencial da
dança! É algo meio que instintivo entre nós, desde as sociedades mais antigas.
Por que não utilizar esse mecanismo na sala de aula? Pensando nisso, e a partir
de minha formação na área de Educação Física, sempre utilizo as danças nas
aulas de história, trabalhando a questão cultural. Com certeza, vocês também
vivenciam isso nas instituições em que trabalham, principalmente com as
mais comumente usadas danças étnicas. Seja nos festivais culturais da escola,
ou mesmo para retratar as contribuições dos povos indígenas, africanos e
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 93
torcemos o nariz para projetos que são implantados na escola. Mas também,
podemos nos surpreender com os resultados que eles podem nos oferecer.
Não sei se nas escolas de vocês esse projeto, denominado “Rádio Escola”,
também aconteceu. Ele foi implantado em várias instituições da rede estadual
de ensino de Goiás, inclusive com remuneração específica para os professores
que os desenvolviam. Na unidade escolar em que trabalho, fui “agraciado”
como responsável pela execução do projeto, que teve grande aceitação. Cria-
mos um formato com um programa musical, diário, apresentado durante os
recreios. O programa trazia, além das músicas, notícias relacionadas ao coti-
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Projeto Rádio Escola & História (alunos locutores, tema dos anos 60 e 70)
Obrigado! Pois bem, vou começar por uma atividade sobre História
Antiga. Queria algo que tornasse o conteúdo sobre Grécia antiga mais atra-
tivo. Tanto para os alunos de 6º Ano do Ensino Fundamental, quanto para os
da 1ª Série do Ensino Médio. Veio a ideia de desenvolver um trabalho inter-
disciplinar entre História e Educação Física. O foco principal era trabalhar as
contribuições do povo grego para a humanidade. Destacamos, em particular,
os Jogos Olímpicos, pois, desde o seu advento aos dias atuais, trazem questões
que vão para além do esporte: de ordem política, cultural, gênero e etnia. Além
de discutir sobre a temática, foram realizados os “jogos olímpicos da escola”.
100
Estávamos, mais uma vez, diante de uma dinâmica que envolve competição. Já
que os alunos disputaram modalidades presentes nas olimpíadas, tanto coleti-
vas, quanto individuais. Trouxemos também o lado artístico, pois, realizou-se
também uma abertura dos jogos com apresentações que narravam, através da
dança e do teatro, a história dos jogos e sua relação com os deuses do Olimpo.
A seguinte atividade foi sobre história Local e memória. Bem, não sei
se vocês já enfrentaram a mesma dificuldade que eu quando o assunto é
História Local. Talvez, não seja o caso para aquele que precisa falar sobre a
História de Goiânia, mas, no meu caso, aqui em Buriti, encontramos muitas
dificuldades relacionadas, principalmente, à falta de materiais, visto que a
produção historiográfica sobre temáticas locais ainda está em seu germinar.
Assim, precisamos criar estratégias de ensino buscando fontes históricas alter-
nativas. Assim é que construímos alguns projetos de história local em nossa
caminhada, considerando, principalmente, a importância de se preservar o
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Para aqueles que moram em pequenas cidades, como eu, fica fácil
entender o quanto nossa missão de professores de história é importante para
preservar o passado dessas localidades. Nesse processo de valorização da
memória para compreender a história local, foi desenvolvido um trabalho
com o uso de fontes orais. Pois, ao tratarmos da importância da história local
e da falta de materiais existentes para trabalhá-la, os alunos questionaram
como poderíamos, então, criar um material relacionado à História Local. Foi
daí, que surgiu a ideia de realizarmos um trabalho com fontes orais entre-
vistando os moradores mais antigos da cidade. A partir destas entrevistas,
foi produzido um livro com os alunos do 9º Ano, intitulado “Nossas raízes,
nossa história. Nosso povo, nossa memória”. No lançamento da obra, foram
realizadas apresentações artísticas relacionadas à cultural local e depoimentos
dos alunos que realizaram o trabalho.
É impossível não lembrar de uma das reuniões que fizemos para discutir
o material das entrevistas, em que um aluno comentou que achava que uma de
suas entrevistas não serviria pra muita coisa, já que o seu entrevistado havia
“inventado umas histórias meio absurdas”. Imediatamente, os outros concorda-
ram que aquela entrevista não teria validade, porque não seria uma fonte oral de
valor. Foi um momento ímpar para que eu entrasse com eles na discussão sobre
memória e que os faria entender que, em história oral, o que está em jogo não é
104
Projeto memória e história local (capa do livro escrito a partir das fontes orais)
Acho que já está bom. Quero, agora, falar um pouco sobre nossas expe-
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Bem, como todos aqui sabem, na nossa profissão, não podemos ficar para-
dos no tempo, pois corremos o risco de ficar alheios às inovações e debates
mais atuais. Por isso, e por questões pessoais e profissionais, resolvi tentar o
ingresso no mestrado profissional de história pela Universidade Federal de
Goiás, no Profhistória. Estava eu de volta ao mundo acadêmico, após um longo
período afastado das novidades e discussões do campo de debates relacionado ao
conhecimento histórico. Seria mais um grande desafio a ser enfrentado, porém,
trazendo na bagagem a rica experiência da sala de aula, construída ao longo de
minha carreira de 23 anos enquanto professor. Experiência essa que poderia,
através do diálogo com a teoria, fundamentar uma proposta de trabalho que
servisse tanto para minha prática, quanto para outros professores de história.
Nossa prática é realmente fundamental, mas seria um devaneio pensar
nosso ofício sem as contribuições teóricas. A produção do conhecimento his-
tórico, seja na academia ou na sala de aula é um exercício que não se dissocia
das reflexões teóricas. Estas, estão presentes em nosso fazer. Visões tradicio-
nalistas são pouco a pouco superadas e, cada vez mais, precisamos tornar o
conhecimento histórico “mais prático” para o entendimento de nossos alunos.
Provavelmente, vocês já devem ter ouvido na sala de aula aquela inquietante
pergunta: Por que estudamos isso professor? Serve pra quê? Eu, por exemplo,
perdi a conta de quantas vezes ouvi, e lá no meu íntimo, repetia a pergunta para
mim mesmo. Essas simples perguntas me fazem refletir sobre meu trabalho,
não apenas enquanto acadêmico, mas, e principalmente, como alguém que
no seu dia a dia de sala de aula, faz uso da história pública.
106
Não consigo imaginar minha prática na sala de aula sem dominar essas
discussões que nos incomodam enquanto historiadores. Para que eu reflita em
cada aula com meus alunos tenho que, no mínimo, perceber questões funda-
mentais em relação ao conhecimento histórico. Desde assuntos como a história
enquanto ciência, a objetividade e subjetividade em história, o particular e o geral,
a verdade e as fontes, a questão da memória, a narrativa, o método, a retórica, a
construção da narrativa historiográfica, o lugar social da história, dentre outros.
Entrar para sala de aula e trabalhar os conteúdos de história tem se tor-
nado, cada vez, mais complicado no contexto atual da sociedade brasileira. Me
indígena para nossas salas de aulas, mais rápido serão os reflexos no cotidiano
dos alunos. A maioria deles desconhecem, por exemplo, a diversidade de cul-
turas indígenas que temos em nosso País. Historicamente, a educação nunca
se preocupou em aprofundar nessa temática, era como se fosse importante
manter os mecanismos de distanciamento social.
A tarefa é árdua, porém, necessária. Muitas estradas ainda precisam ser
abertas. Estradas que levem a um maior conhecimento e valorização da his-
tória indígena. Para isso, as cercas do preconceito e da ignorância precisam
ser derrubadas, sensibilizando os alunos sobre a importância de se conhe-
Isso mesmo, Renilson. E tenho certeza de que vocês devem estar com
vontade de me perguntar, inclusive, eu mesmo me fiz essa pergunta: qual a
novidade em se utilizar a música para o ensino de história?
Respondo: em usar a música em sala de aula, nenhuma. Mas, e como eu
mesmo apontei agora pouco, a novidade está em fazermos dela tanto um docu-
mento histórico, como um recurso didático. A música tem inúmeras potencialida-
des didáticas para o historiador/professor que, às vezes, passam despercebidas. Ela
serve para abordar temas nem sempre lembrados e relativos a sujeitos históricos
ligados a “setores subalternos e populares”, além de dialogar com movimentos
históricos e culturais. Traz em sua complexidade muito mais do que a letra e a
melodia, assim o todo que envolve a música, deve ser compreendido como criador
de sentidos para os ouvintes. As percepções em relação à canção não estão só
na letra, mas também no ritmo, no jeito de cantar, no timbre, nas características
dos instrumentos utilizados, na sua sonoridade, no contexto em que se insere
sua produção e veiculação. Daí, sua importância enquanto instrumento didático.
nunca tinha ouvido falar. Foi quase igual a história do Chartier, que contei lá
bem no início da nossa proza. Mas, quando o professor Alexandre me contou
sobre os grupos indígenas que faziam rap, fiquei empolgado com os caras e
comecei a pensar se eu não seria capaz de inseri-los na minha proposta didá-
tica. Vi ali, a questão da interculturalidade. O rap indígena é um exemplo muito
bom para a gente pensar sobre trocas de saberes e práticas culturais entre as
pessoas. Porque neles é possível identificar a atribuição de novos sentidos a
partir das diferenças. Onde não se ocultam, mas se discutem, se confrontam
e se reconhecem os conflitos sociais de ordem política, social e econômica.
E através do rap indígena, a gente identifica uma fonte para se compreender
como esses povos se posicionam e se articulam.
Agora é a vez do
Renilson
15 A sexualidade, apesar de ser produzida de forma prolixa por meio de nossos discursos, como nos lembra Michel
Foucault (1988), ainda é um tabu moral para professores e estudantes. Existe uma grande pressão de parte
dos pais de estudantes, e mesmo da equipe diretora das instituições de ensino, para que o assunto não seja
abordado na educação. Além disso, a formação inicial e a formação continuada de docentes em nosso País,
são particularmente deficientes neste assunto, e o currículo de História é rígido demais, pois dificilmente abre
espaço para se debater estas questões, o que ajuda a explicar o estranhamento, e até mesmo a negação de
nossos alunos quando abordamos sexualidade, assim como gênero, de forma aberta na escola.
16 “Ideologia de gênero” é um termo não reconhecido pela academia, pois surgiu entre reacionários como meio de
polemizar os estudos de gênero. De acordo com setores sociais que utilizam o termo, a “ideologia de gênero” tem
como objetivo destruir a família nuclear, formada por pai, mãe e filho. Como estratégia, a “ideologia de gênero”
faria apologia à homossexualidade e ataques ao gênero masculino e ao feminino. Segundo Miskolci & Campana
(2017), a “ideologia de gênero” começou a ser alardeada com mais força por grupos conservadores depois de 2008,
inicialmente na Europa, e depois na América Latina e nos Estados Unidos, mas suas origens são anteriores ao século
XXI, dando-se em 1997, na igreja católica, mais especificamente por meio do papa emérito Bento XVI, que, à época,
ainda era o cardeal Joseph Aloisius Ratzinger (1927). Para o cardeal, a teoria de gênero representaria uma insurreição
da humanidade contra os seus limites biológicos. O objetivo desta ideologia, segundo esta autoridade católica, seria
tornar o ser humano seu próprio criador, sem intervenção divina, motivo pelo qual ele se posicionou contrariamente
ao feminismo e à existência de direitos sexuais e reprodutivos. O cardeal reagia, então, à Conferência Mundial de
Beijing sobre a Mulher, organizada pelas Nações Unidas, em 1995. A partir desta, o termo “gênero” substituiu o de
“mulher” para justificar uma perspectiva integral de gênero, em que a desigualdade entre homens e mulheres deveria,
a partir daquele momento, ser abordada, não tratando o assunto puramente como uma questão feminina.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 115
Pois é, mas confesso que não fiquei tão surpreso com aquela situação.
No fundo, eu até esperava que em algum momento aquilo pudesse acontecer,
afinal, pouquíssimas vezes falamos abertamente sobre relações de gênero e
diversidade sexual no ambiente escolar. Além disso, em nossa sociedade, o
ambiente político está recheado por grossas camadas de moralismos e pole-
mizações17 envolvendo questões comportamentais. E como sabemos, essas
coisas sempre acabam respingando na educação.
E já prevendo reações adversas, tratei de me antecipar, pensando sobre
quais seriam as minhas posições e as minhas respostas para situações como
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aquela, pois, apesar de ser um assunto que, há muito, já deveria estar sendo
tratado no ambiente escolar, ainda hoje se mostra espinhoso. Por isso mesmo,
para me precaver, eu sabia onde estava pisando.
19 *Constituição Federal, 1988. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I – Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III – Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas
de ensino; [...]
VI – Gestão democrática do ensino público, na forma da lei (BRASIL, 1988)
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 117
E, depois disso,
finalmente a direção
se mostrou sensível à
sua demanda?
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Sim e não.
Como assim?!
*Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, 1996. Art. 3º O ensino será ministrado com base
nos seguintes princípios:
I – Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III – Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV – Respeito à liberdade e apreço à tolerância; [...]
VIII – Gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
(BRASIL, 1996).
*Já os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (1997-1998), documentos do Ministério da Educação
voltado para o ensino básico, trazem um volume específico para professores tratarem o tema transversal
de Orientação Sexual sob três eixos: corpo humano, prevenção às doenças sexualmente transmissíveis/
AIDS e relações de gênero. Diz este documento que: “as manifestações da sexualidade afloram em todas
as faixas etárias. Ignorar, ocultar ou reprimir, são respostas habituais dadas por profissionais da escola,
baseados na ideia de que a sexualidade é assunto para ser lidado apenas pela família [...] O fato de a família
ter valores conservadores, liberais ou progressistas, professar alguma crença religiosa ou não, e a forma
como o faz, determina em grande parte a educação das crianças e jovens. Pode-se afirmar que no espaço
privado, portanto, que a criança recebe com maior intensidade as noções a partir das quais vai construindo
e expressando a sua sexualidade. [...] A sexualidade no espaço escolar não se inscreve apenas em portas
de banheiros, muros e paredes. Ela “invade” a escola por meio das atitudes dos alunos em sala de aula e
da convivência social entre eles. Por vezes, a escola realiza o pedido, impossível de ser atendido, de que os
alunos deixem sua sexualidade fora dela [...] todas essas questões são expressas pelos alunos na escola.
Cabe a ela, desenvolver ação crítica, reflexiva e educativa” (BRASIL, 1997, 1998, p. 292, 293).
*O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em agosto de 2020, que é inconstitucional a Lei Escola Livre
(LEI 7.800/2016), de Alagoas, baseada no projeto de lei do programa Escola Sem Partido (PL 867/15)
(AMORIM; OLIVEIRA, 2020). A lei alagoana, enquanto durou, proibiu a prática de “doutrinação” política e
ideológica em sala de aula, o que incluiu a abordagem das questões sobre gênero e sexualidade, como
meio para garantir a hegemonia da ideologia conservadora na escola.
118
E você conseguiu
atingir esse objetivo?
20 Segundo setores sociais reacionários, “marxismo cultural” seria uma forma de dominação comunista, a partir
de transformações culturais nas sociedades ocidentais. “Ideologia de gênero”, então, faria parte deste plano
de dominação cultural para subverter os conceitos de gênero e sexualidade tradicionais. Para grande parte
do mundo acadêmico e da mídia profissional, “marxismo cultural” não passa de uma teoria de conspiração
utilizada para fins políticos conservadores.
21 Conceito de poder desenvolvido por Michel Foucault (1979).
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 121
22 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas competências e habilidades que devem
ser alcançadas pelos alunos de História do Ensino Fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o de
garantir que o aluno seja capaz de “compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos
e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao
longo do tempo e em diferentes espaços para analisar, posicionar-se e intervir no mundo contemporâneo”.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. p. 402.
23 Discussão baseada em Foucault (1979).
122
diferente daquelas em que viviam, por exemplo, sua mãe e sua avó quando
tinham a sua idade. Disse ainda, que precisamos transformar muitas coisas
nas relações entre mulheres e homens. Se acreditarmos que nada mudou a
respeito dessas questões, daremos as costas a todas as lutas que o feminismo
promoveu e a todas as suas conquistas ao longo do tempo.
Também aproveitei a oportunidade para dizer a eles que é um tremendo
erro acreditar que mulheres e homens sejam opostos entre si, e que, portanto,
todas as relações de gênero sejam, necessariamente, marcadas por conflito e
guerra. Caso fosse assim, a luta feminista, que reivindica igualdade entre os
gêneros, e não superioridade feminina, tornar-se-ia, então, desnecessária.26
Naquele momento, o aluno Pedro entrou na conversa e concordou comigo,
dizendo que a natureza masculina não é oposta à feminina, pois ambas se com-
pletariam, já que homens e mulheres teriam sido feitos “um para o outro”.
Prontamente, corrigi Pedro, dizendo a ele que não existe algo como “natureza
masculina” e “natureza feminina”. Para explanar a questão, perguntei a ele se
conhecia a famosa frase “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”27, da francesa
Simone de Beauvoir.28 Ele respondeu que sim, pois havia a lido na prova do
Enem29 do seu irmão, mas disse que não sabia o que significava.
Expliquei a ele que Beauvoir percebeu, entre outras coisas, que o que
tradicionalmente chamamos por “natureza feminina” é, na verdade, para
além de diferenças biológicas, uma força opressora construída histórica e
socialmente contra as mulheres, que são ensinadas e treinadas desde o nas-
cimento em casa, na escola e nas relações sociais, em geral, por meio de
comportamentos, posturas, ideias e sentimentos para cumprir seu papel social
como mães cuidadosas, esposas obedientes e pessoas de segundo escalão ou
de um “segundo sexo”30.
E os alunos compreenderam o
papel das relações de gênero em
suas experiências pessoais?
Bem, o aluno Manoel se opôs a essa visão de mundo porque, num docu-
mentário que havia assistido, era explicado que a natureza moldava a história,
a cultura, o pensamento e as sociedades humanas. Chamei Manoel à reflexão,
lembrando a ele que também os nazistas acreditavam que a biologia dividia a
humanidade em raças “puras”, como a ariana, e raças “degeneradas”, como
os judeus. Argumentei que os nazistas confiavam na ideia de que existia uma
biologia, uma “natureza” própria em cada raça que determinava a forma de
um povo pensar, agir e existir no mundo. Para Hitler e sua ideologia, judeus
e homossexuais, pessoas com deficiência, ciganos e poloneses deveriam ser
eliminados devido a suas “naturezas” inferiores.41
39 Discussão baseada em Butler (2003).
40 Discussão baseada em notícia veiculada pelo Conselho Federal de Psicologia (2019).
41 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas competências e habilidades que devem
ser alcançadas pelos alunos de História do Ensino Fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o
de garantir que o aluno seja capaz de “descrever e contextualizar os processos da emergência do fascismo
e do nazismo, a consolidação dos estados totalitários e as práticas de extermínio (como o holocausto)”.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. p. 433.
130
mou que, como o Brasil nunca havia tido um ou uma presidente declarada-
mente gay, certamente votaria num candidato ou numa candidata homossexual
“fora do armário”, caso ele pudesse votar. Concordei com o aluno, dizendo que
eu também gostaria de ver maior diversidade de gênero e sexualidade entre
nossos representantes políticos, mas adverti que a identidade de gênero ou
a orientação sexual de uma pessoa não a torna qualificada ou desqualificada
para realizar qualquer tipo de atividade.
Falei também sobre a existência de políticos LGBTQIA+ que apoiam ou
já apoiaram pessoas abertamente homofóbicas e transfóbicas, mas que depois
se assumiram LGBTQIA+ como forma de transformar essa identidade em
votos para si. Alguns desses políticos LGBTQIA+ podem promover políticas
extremamente prejudiciais.44
Em seguida, o aluno Jonathan questionou sobre o papel da identidade,
julgando ser algo de menor importância. Respondi que se tratava de algo muito
importante, pois tem a ver com as maneiras com as quais damos sentido a
nossas próprias existências e ao mundo em que vivemos. Contudo, completei,
algumas identidades, a exemplo daquelas que tratamos a pouco, tem sido,
historicamente, alvos de repulsa social e de repressão, de modo que, ainda
hoje, precisam lutar por seus devidos reconhecimentos.
Aproveitei o momento para explicar sobre políticas centradas na ideia de
identidades. Falei que essas políticas são importantes e positivas, porque leva-
ram (e levam) reconhecimento social para grupos com identidades marginaliza-
das como negros, mulheres, imigrantes e pessoas LGBTQIA+. Contudo, alertei
para o fato de que, como vivemos coletivamente entre pessoas com diferentes
44 Como exemplo disso, temos o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que, apesar de se
declarar publicamente gay pela primeira vez em julho de 2021, havia sido apoiador igualmente declarado
do Presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, mesmo durante a gestão negacionista do governo federal
frente à pandemia de COVID-19 que assola o País. A declaração de Leite sobre sua orientação sexual foi
vista, por boa parte da mídia, como forma de catapultar sua candidatura para Presidente da República
na eleição de 2022. Apesar disso, Leite nunca trabalhou ativamente por direitos de pessoas LBTQIA+ e
governa seu estado, o Rio Grande do Sul, por meio de políticas neoliberais que prejudicam o interesse
público (DOREA, 2021).
134
Sem dúvida! Tanto é que, logo depois que discutimos sobre a homosse-
xualidade, eu disse aos alunos que a própria heterossexualidade também deve
ser desnaturalizada. Imediatamente, muitos deles ficaram revoltados quando
fiz essa afirmação. O aluno Gabriel, por exemplo, esbravejou, dizendo que ele
era heterossexual desde que se entendia por gente. Novamente, assim como eu
50 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas competências e habilidades que devem
ser alcançadas pelos alunos de História do Ensino Fundamental, especificamente aquela cujo objetivo
é o de garantir que o aluno seja capaz de “discutir e analisar as causas da violência contra populações
marginalizadas (negros, indígenas, mulheres, homossexuais, camponeses, pobres etc.) com vistas à tomada
de consciência e à construção de uma cultura de paz, empatia e respeito às pessoas”. BRASIL. Ministério
da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. p. 431.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 137
havia feito em relação à identidade de gênero, expliquei aos alunos que o desejo
sexual, apesar de ser historicamente construído, como demonstrou Foucault,
certamente não se dá de forma voluntarista, como se pudéssemos escolher
conscientemente por quais pessoas ou gêneros devemos sentir atração sexual.
Depois da minha tentativa de desnaturalizar a heterossexualidade, os alunos
pareceram ter se convencido de que, eles mesmos, nunca haviam optado por sua
própria sexualidade. Isso foi bom, pois me deu a oportunidade de prosseguir
com a discussão. Então, disse eu a eles que as pesquisas de Jonathan Ned Kats
desvelaram que, nos Estados Unidos do século XIX, mesma época em que surgiu
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tipo de ideia, sob o ideal da reprodução da espécie, era levada a sério nas
ciências médicas para condenar a homossexualidade e a bissexualidade
como formas de perversão sexual e anormalidade, e que até hoje, grupos
religiosos fundamentalistas e setores reacionários, na política e na socie-
dade, a utiliza como justificativa para barrar a conquista de direitos sexuais
e reprodutivos de mulheres e pessoas LGBTQIA+. Então, os sorrisos dos
estudantes foram se desvanecendo.
Por fim, refleti com os alunos sobre o fato de que, conhecer melhor a
historicidade da própria sexualidade não torna ninguém homo, hetero ou
Sim. Aquele dia, realizei uma sequência didática simples. Mas, para
criá-la, precisei primeiro refletir, cuidadosamente, sobre todos os diálogos
que tivemos durante a aula expositiva: era importante saber o quanto conse-
guiram compreender do conteúdo, e quais as posições que tiveram a respeito.
Eu tinha bem claro o objetivo da atividade: ajudar os alunos a se tornarem
mais conscientes da historicidade das relações de gênero e das sexualidades
por meio da desnaturalização de noções preconcebidas. Para isso, escolhi
trabalhar com o conteúdo da ditadura civil-militar brasileira.55 Os alunos
54 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas competências e habilidades que devem
ser alcançadas pelos alunos de História do Ensino Fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o
de garantir que o aluno seja capaz de “compreender a historicidade no tempo e no espaço, relacionando
acontecimentos e processos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas
e culturais, bem como problematizar os significados das lógicas de organização cronológica.”. BRASIL.
Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018, p. 402.
55 Referente ao objeto de conhecimento “a ditadura civil-militar e os processos de resistência” da unidade
temática “modernização, ditadura civil-militar e redemocratização: o Brasil após 1946”, do currículo de
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 139
Bem, esclareci aos alunos o contexto político e social que envolvia aquela
situação57 e pedi a eles que se dividissem em grupos, tomassem dez minutos para
História 9º Ano do Ensino Fundamental. Entre as habilidades desenvolvidas na sequência didática, estão:
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. p. 430.
56 PODER 360. General Newton Cruz agride repórter ao vivo. Youtube. 2020. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=taEmBwCLXxc Acesso em: 20 ago. 2021.
57 Como forma de frear a defesa pela redemocratização do País, em 24 de outubro de 1983 o regime militar
submeteu o Distrito Federal a uma série de restrições às liberdades, como a proibição de reuniões políticas,
tendo o general Newton Cruz como executor dessas medidas. No dia anterior, a OAB-DF promoveu o I
140
Encontro de Advogados do Distrito Federal, encarado pela ditadura como ameaça política. Como resposta
ao evento, militares invadiram a sede da OAB-DF e o regime decretou as medidas de emergência.
58 Masculinidades hegemônicas.
59 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas competências e habilidades que devem
ser alcançadas pelos alunos de História do Ensino Fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o
de garantir que o aluno seja capaz de “elaborar questionamentos, hipóteses, argumentos e proposições em
relação a documentos, interpretações e contextos históricos específicos, recorrendo a diferentes linguagens
e mídias, exercitando a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos, a cooperação e o respeito”. BRASIL.
Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018, p. 402.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 141
por “garoto”. Paulo, então, nos contou que ele tinha 14 anos de idade e que,
comumente, em casa, seus pais o chamam pelo nome, mas, nos momentos
em que se acham zangados com ele, o chamam de “garoto”, como forma de
demonstrar autoridade e superioridade. Paulo emendou, dizendo que o gene-
ral rebaixava, propositadamente, o repórter ao tratá-lo como um moleque.
Encerrou seu pensamento, fazendo um paralelo entre a atitude do general
Cruz com o que já havia estudado sobre a ditadura civil-militar, concluindo
que o regime militar, ao negar direitos à sociedade, acaba, da mesma forma,
tratando-a como se fosse uma criança.60
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A aluna Andreia representou o terceiro e último grupo. Ela disse que lhe
chamou à atenção a diferença entre o comportamento do repórter Honório
Dantas e o comportamento do general Newton Cruz. Explicou-nos que, por
mais que o repórter se mostrasse visivelmente contrariado com o general
e com o que ele representava, mostrou-se calmo e moderado, enquanto o
general, com sua masculinidade “forte”, sustentada física e moralmente por
outros homens fardados, mostrava-se completamente histérico e violento, o
que ficava claro pela observação de seu comportamento afetado pelo orgulho,
pelos berros e pela violência.61
Então, logo após meus comentários finais a respeito da apresentação dos
alunos, e com a sensação de termos dado um passo importante naquele dia,
finalizamos a aula.
60 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas competências e habilidades que
devem ser alcançadas pelos alunos de História do Ensino Fundamental, especificamente aquela cujo
objetivo é o de garantir que o aluno seja capaz de “produzir, avaliar e utilizar tecnologias digitais de
informação e comunicação de modo crítico, ético e responsável, compreendendo seus significados para
os diferentes grupos ou estratos sociais”. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum
Curricular. Brasília, 2018. p. 402.
61 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas competências e habilidades que devem
ser alcançadas pelos alunos de História do Ensino Fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o
de garantir que o aluno seja capaz de “discutir os processos de resistência e as propostas de reorganização
da sociedade brasileira durante a ditadura civil-militar”. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional
Comum Curricular. Brasília, 2018. p. 431.
142
62 Resolução CEE/CP N. 15/2020 – Autoriza o REANP até o final do ano letivo e estabelece normas para
realização das avaliações.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 147
63
Como Assim?
64 (BARATA, 1988).
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 149
“Mas, professor, se já houve uma epidemia desse jeito no Brasil, que durou
tanto tempo, por que só estamos ouvindo falar dela, agora?”.
Essa inquietação relevou a problemática central da minha dissertação
de mestrado. No caso, a ausência da história das doenças nos livros didáti-
cos de história. Voltei-me ao aluno que me fizera o questionamento e disse
que o conteúdo, em si, não é bem abordado nos livros didáticos, cabendo ao
professor incluir isso, ou não, nas aulas, por meio de outros mecanismos de
acesso, mediante a necessidade de uma abordagem mais aprofundada, visto
que ali, no livro didático, o tema é trabalhado de forma rudimentar. Não é
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66
65 Para saber mais a respeito, veja a chave de conteúdo EF07HI09, do BNCC (2021, p. 423).
66 SILVEIRA, Evanildo. Por que uma nova pandemia nos próximos anos é praticamente inevitável. BBC,
2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-53758807. Acesso em: 30 ago. 2021.
67 A bibliografia referente as coleções didáticas constam nas Referências.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 151
doença entre os alunos. Existia muita propaganda, mas não tinha material
suficiente na escola. Uma das exigências para frequentarem as aulas, era o
uso de máscaras. Entretendo, por falta de conhecimento da importância do
material, muitos pais ignoravam esse protocolo e enviavam os alunos para as
escolas sem os materiais básicos de higiene. Fornecíamos o material, porém,
era insuficiente, e os próprios alunos descartavam, ignorando quaisquer pro-
tocolos. Felizmente, as aulas foram suspensas, iniciando-se o REANP.
Esse período de pandemia e de aulas remotas serviram para exibir as
carências do sistema educacional e do negacionismo estrutural que existe no
Quanto ao apoio, Aurélio, foi algo bem “meia boca”, entende? Existia
um determinado apoio pedagógico, mas, todos nós estávamos com muito
medo e possuíamos poucos conhecimentos sobre como lidar com toda aquela
situação. Resolvi fazer a minha parte, convidando as professoras de ciências
e língua portuguesa para colaborarem comigo na construção de um diário de
relatos sobre a pandemia. Expliquei a metodologia do esquema de trabalho
68 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas habilidades e competências que devem
ser alcançadas pelos alunos de História do Ensino Fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o de
garantir que o aluno seja capaz de “identificar interpretações que expressem visões de diferentes sujeitos,
culturas e povos com relação a um mesmo contexto histórico, e posicionar-se criticamente com base em
princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários”. BRASIL. Ministério da Educação. Base
Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. p. 402.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 155
69 Para saber mais, veja a habilidade EF07CI10: “Argumentar sobre a importância da vacinação para a saúde pública,
com base em informações sobre a maneira como a vacina atua no organismo e o papel histórico da vacinação
para a manutenção da saúde individual e coletiva e para a erradicação de doenças” (BRASIL, 2018, p. 347).
156
70 Veja anexo 1.
71 Veja anexo 2.
72 Veja anexos 3 e 4.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 157
Sim, Aurélio, a Revolta da Vacina. Mas, esse conteúdo não trabalha unica-
mente a história das doenças. O enfoque maior é em relação à disputa de poder,
negacionismo, movimento vacinofóbico, respostas governamentais e movimentos
sociais. Logo, assim como dito antes, a tendência é que a história das doenças
fique em segundo plano. Pois, os capítulos analisados não fazem um histórico
da doença no Brasil, muito menos abordam as questões voltadas ao desenvol-
vimento da vacina. Apenas, tratam que o procedimento era doloroso e invasivo.
Provocando, assim, toda a comoção social exercida durante a revolta, gerando
a negação à vacina, com o pretexto de que ocorria uma invasão de privacidade.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 159
E como o conteúdo é
apresentado durante
esses períodos?
73 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas habilidades e competências que devem
ser alcançadas pelos alunos de História do Ensino Fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o
de garantir que o aluno seja capaz de “elaborar questionamentos, hipóteses, argumentos e proposições em
160
74 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas habilidades e competências que devem
ser alcançadas pelos alunos de História do Ensino Fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é
o de garantir que o aluno seja capaz de “produzir, avaliar e utilizar tecnologias digitais de informação e
comunicação de modo crítico, ético e responsável, compreendendo seus significados para os diferentes
grupos ou estratos sociais”. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília,
2018. p. 402
162
75 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas habilidades e competências
que devem ser alcançadas pelos alunos de História do Ensino Fundamental, especificamente aquela
cujo objetivo é o de garantir que o aluno seja capaz de “compreender e problematizar os conceitos
e procedimentos norteadores da produção historiográfica.”. BRASIL. Ministério da Educação. Base
Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. p. 402.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 163
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E por uma infeliz coincidência, mais uma vez, temos hoje militares
envolvidos nas decisões de governo sobre questões de pandemia.
Não que eu desconsidere a importância dos militares para o País,
mas, o fato é que tem havido um grande equívoco, por parte de
alguns setores da sociedade, que insistem na ideia de que militares
são mais capacitados que a população civil para o enfrentamento
de questões como essa na qual estamos vivendo. Militares
deveriam se limitar a serviços militares, pois a história vem nos
mostrando, repe�damente, o estrago que são capazes de fazer
quando interferem na vida política, na Educação e na Saúde do País
76 STRUCK, Jean-Philip. Caos, omissão e explosão de mortes: o legado de Pazuello na Saúde. Deutsche
Welle, 2021. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/caos-omiss%C3%A3o-e-explos%C3%A3o-de-mortes-
o-legado-de-pazuello-na-sa%C3%BAde/a-56890646. Acesso em: 30 ago. 2021.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 165
Com toda certeza, o primeiro passo já havia ocorrido, que era justamente
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alunos gostam muito do Egito, principalmente dos deuses, trabalhei com eles,
de maneira textual, as questões relacionadas à história das doenças e desenvolvi
atividades voltadas às pinturas, em que os alunos poderiam desenvolver em
casa, com material cedido pela escola (papel pardo, lápis de cor e tinta guache).
Esse tipo de atividade era usada, antes do período da pandemia, para
decoração da sala de história, com todas as pinturas desenvolvidas e, geral-
mente, mudávamos de tema conforme o bimestre se alternava. As melhores
produções eram expostas na mostra cultural de meio de ano, sendo os alunos
premiados pelo desenvolvimento histórico/artístico.
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e discutindo as relações entre o povo egípcio e hebreu, por meio das pragas
cristãs, que eram creditadas ao Deus do povo Hebreu. Trabalhando de forma
interpretativa algumas passagens contidas no livro Êxodo, que versavam sobre
punição, transmitindo a ideia de penalidade às más condutas e desobediência
aos desígnios divinos. Tal atividade, motivou os alunos a refletirem sobre as
relações entre o desconhecimento das causas de uma dada doença e a busca
por explicações mágico-religiosas.
Olha que interessante essa proposta: hoje em dia é muito comum vermos
como uma parcela significativa de nossa sociedade ainda busca explicações
para fenômenos de toda ordem nas religiões a qual pertencem. E vejam,
podemos enfrentar tais simplificações em nossas aulas de história, fazendo
com que nossos alunos reflitam sobre, por exemplo, a influência exercida pelo
catolicismo sobre as culturas e sobre os modos de organização social, durante
e após o período medieval por toda a Europa. 77
Sim, foi o que eu pensei, imediatamente. Visto que a escola está inserida
em uma comunidade inteiramente cristã (evangélicos e católicos), achei muito
interessante os alunos começarem a fazer ligações entre a interpretação do
pensamento religioso por meio da visão histórica. E devido a esse aspecto
mostrado por eles, encontrei um fôlego maior para oferecer mais conteúdos
voltados ao meu estudo. 78
77 Identificar a gênese da produção do saber histórico e analisar o significado das fontes que originaram
determinadas formas de registro em sociedades e épocas distintas (BRASIL, 2018, p. 421).
78 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas habilidades e competências que devem
ser alcançadas pelos alunos de História do Ensino Fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o de
garantir que o aluno seja capaz de “analisar o papel da religião cristã na cultura e nos modos de organização
170
social no período medieval”. Veja a habilidade EF06HI02 da BNCC de História em: BRASIL. Ministério da
Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. p. 421.
79 Veja anexos 5, 6 e 7.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 171
caminho pela frente, visto que o meu foco eram as doenças e epidemias no
Brasil, e o meu texto caminhava na parte inicial da pesquisa. Os alunos desen-
volveram relatórios sobre as visitas virtuais e atividades escritas sobre os pen-
sadores e figuras que têm representações na história da saúde e das doenças.
Resolvi compartilhar o momento com os alunos por meio de uma roda de con-
versa virtual, na qual debatemos os pontos principais estudados no fascículo.
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Alguns, sim. Mas eu não cobrava que fizessem isso, pois nem todos pos-
suíam wi-fi em suas residências. A maioria fazia acesso por 3g, e o áudio das aulas
gastavam menos o seu pacote de dados. Fiquei sabendo, por parte da coordenação
da escola, que alguns alunos colocavam R$ 20 de crédito para passar o mês, e essa
falta de recurso era o que ocasionava sua grande quantidade de faltas às aulas.
Por isso, grande parte das atividades ficavam dispostas na unidade escolar, onde
eles poderiam buscá-las a qualquer momento, especialmente aqueles alunos que
não tinham aparelhos celulares. Essa atividade, em que passei a minha proposta
de produto, foi bem complicada, pois necessitava que as cópias fossem coloridas,
e a escola não possuía tinta para esse fim. Então, imprimi em casa, com o papel
cedido pela escola e deixei na coordenação para serem distribuídas.
80 Nesta parte é possível entrever importantes interfaces com algumas habilidades e competências que devem
ser alcançadas pelos alunos de História do Ensino Fundamental, especificamente aquela cujo objetivo é o
de garantir que o aluno seja capaz de “analisar os diferentes impactos da conquista europeia da América
para as populações ameríndias e identificar as formas de resistência”. BRASIL. Ministério da Educação.
Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. p. 423.
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 173
o meu projeto e sobre como eu tenho lidado com essa temática no meu espaço
de trabalho.
Bora!
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REFERÊNCIAS E ANEXOS
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REFERÊNCIAS PARTE I
AQUINO, Fabiana de Gois; PINTO, José Roberto Rodrigues; RIBEIRO,
José Felipe. Evolução histórica do conceito de savana e a sua relação com o
Cerrado brasileiro. ComCiência, Campinas, n. 105, 2009.
ARAÚJO, Alexandre Martins de. Uma História com Fim: comunidades rurais
às margens dos eucaliptais. In: CABRERA, Olga (org.). Interdisciplinaridade
e Ambiente. São Luís: EDUFMA, 2014. p. 229-246.
2) Qual a maior diferença que a(o) senhor(a) sentiu entre o lugar de onde
veio e o Bairro [...]? Quais coisas boas e as coisas ruins?
4) Se você fosse mudar do Bairro [...], para qual outro Bairro você gos-
taria de ir? Por quê?
1) Você tem criação ou horta em casa? Já teve algum dia? Se não teve pre-
tende? Por quê você não tem? Se tivesse o que você criaria ou plantaria?
186
Olá pessoal! Querem saber por que o projeto REATIVAR é tão importante
para você e sua comunidade?
Vamos começar fazendo a vocês sete perguntas, porém, há somente uma única
resposta para todas elas.
Então, vamos lá.
1) Onde se localiza a escola onde estudo?
2) Onde se localiza a minha casa?
3) Onde se localizam os lugares onde passo a maior parte da minha vida?
4) Onde estão os lugares, além da minha casa, que são para mim mais
familiares?
5) Onde posso encontrar os lugares em que há o maior número de pessoas
que me conhecem?
6) Quando eu estiver com a idade dos meus avós e quiser me lembrar da
época em que comecei conhecer o mundo, onde minha memória vai buscar
tais lembranças?
7) Entende-se que “qualidade de vida” se refere a certos benefícios aos quais
as pessoas precisam ter acesso, como por exemplo, boa qualidade de água;
segurança; transportes eficazes; escolas com ambiente humanizado; boa
iluminação pública; ruas e calçadas limpas; árvores para amenizar o calor
etc. Agora, se tivesse que escolher para qual lugar todos esses benefícios
deveria chegar primeiro onde você escolheria?
Já sabe qual é a resposta? Você ainda não descobriu?! Então, confira abaixo.
Questão 1) Resposta: No meu bairro; Questão 2) Resposta: No meu bairro;
Questão 3) Resposta: No meu bairro; Questão 4) Resposta: No meu bairro;
188
Viram só! Agora fica fácil para vocês responderem a esta pergunta
seguinte: Qual é o lugar mais importante para o projeto REATIVAR?
Estava “na cara”, não estava? É claro! A resposta só pode ser O
MEU BAIRRO!
Pois bem, agora que você já sabe que o seu bairro é o espaço mais
importante para o nosso projeto, tentaremos explicar a razão do seu bairro
Barbatimão que tiramos a casa Infecções Ferver a casca dela. curar animais machucados banhando a ferida com
- GO fechado .
dela e fervemos. o chá de Barbatimão
Dor de estômago,
Uma planta um
São João do Lugares altos e dor de barriga para Pega as folhas e faz o chá e Toda vez que a comida me faz mal faço o chá de
Boldo pouco alta e dificil
Paraíso- MA secos. comida que faz mal, bebe e logo sara. boldo, e logo logo fico boa
de encontrar
e várias coisas.
Para melhora dor
Uma planta Encontra ela em
no estõmago e Coloque as folhas em um copo Me lemnro quando minha mãe preparava o boldo
Campos pequena, com a vários lugares
Boldo quando a comida com água quente e abafe quando pra gente tomar, é muito amargo mas é muito bom
Belos- GO folhas camuda e principalente
não faz bem e dor esfriar é só tomar melhora rápido.
amarga quintais
de barriga
199
continua...
continuação
Local onde
200
Local de Descrição da Recomendação
Planta a Planta é Jeito de Preparo Memória relacionada a Planta
Origem Planta Medicinal Popular
encontrada
A Quina é amarga
Uma vez passavamos no local onde se encontra a
e por isso é usada Coloca um porção em um copo
Uma planta ou Quina e perto lá existem muitos pés de Cajueiros,
Tasso para muitas com a casca e água e dexa por
Quina seja uma árvore de Na mata aquele bem pequeno. Então quando era época de
Fragoso- MA doenças e dentre um tempo, até que tenha gerado
porte médio cajú costumávamos colher aqueles bem docinhos,
delas a gastrite, pelo uma cor meio amarelada.
“Heim”tempo bom.
fato de ser amarga
Um tronco de uma Meu pai quando bebia umas e outras ou algum de nós
Em um copo com água pelava-se
arvorezinha que pequenos comia ultrapassdo minha avó corria para
Rabo de Meio que deserto Combater males o tronco como se estivesse
Goiás continha raíz, e fazer o Rabo de Tatú. Eita que era amargo de mais
Tatú tipo sertão dos estômago. amassando olho até espumar,
tinha ser arrancada então ela mandava “nois” fechar os olhos e beber de
deixar de molho e é tomado. uma só vez. Credo era horrível mais resolvia o problema
e esperar secar
Pegava a casca, quebrava em
Na casa das Me lembrava da minha mãezinha não podia ver
Meio amarela e ia Infecção de pedalos e colocava no vinho
Jaraguá - GO Romãzeira pessoas mais alguém falar que estava doente da garganta que
ficando rosada garganta branco para curtir e depois fazia
velhas. logo ia ensinando esse remédio.
gargarejo
Uma vez me “alembro” que um rapaz que morava no
Nos lugares interior, teve um ferida na perna causada por picada
Uma árvore alta Dor de estômago, Pegar um punhado de folhas e
Fortaleza dos úmidos e de inseto, tomou un sremédios da farmácia e nada
Boldo das folhas grandes gastrite e quando o põe abafado para cozinhar em
Nogueiras- MA aquecidos com adiantou, daí a mãe dele tirou umas “foia” de boldo e
e amargas. “dicumer” fazia mal “tiquinho” de água e esperar esfria fez uma espuma bem grossa e passava sobre a ferida
calor do sol
e deixava secar, “por” num é que sarou.
Orlando Uma plantinha Pegava as chá calmante era Colocava numa panela com água Minha vozinha estava com muita dor no corpo e
de Morais / Capim Santo pequena tamanho mudas com meus muito bom para e açúcar e deixar ferver uns 10 cansada e fazia esse chá para mim e para ela pois
Goiânia - GO médio. vizinhos. relaxar. minutos. é muito gostoso
Quando estava
Uma folha verde com o pé da
Onde tem mato Ranca com a raíz lavar bem e Toda mulher que usa é smepre limpinha nem mau
Imperatriz-MA Chanana meio cabeludinha e barriga doendo até
capim. por para ferver com raíz e tudo. cheiro tem...
uma flor amarela hoje “fasso” o uso
dela é muito boa.
continua...
De muita grtama
Uns raminhos finos Fervia a água e colocava ela Quando eu era pequena eu tinha muita dor de
no mato baixo e Dor de barriga,
Capanema e longo com folhas dentro e abaforava com tampa e barriga e minha mãezinha fazia para eu minhas
Macela existia uma época dor de estômago,
- PA pequenas e umas logo estava pronta e tomavamos irmãs.. Fazia até para os vermes, lombrigas minha
que colhia em vermes.
florzinha amarelas. frio. mãe falava (kkk).
jejum.
201
continua...
continuação
Local onde
202
Local de Descrição da Recomendação
Planta a Planta é Jeito de Preparo Memória relacionada a Planta
Origem Planta Medicinal Popular
encontrada
Uma “pranta” bem
Quando eu sentir dor de cabeça eu ia lá no pé e
pequena mais De “prantas” Dor de cabeça e Pega um punhado ponha pra
Paraná Manjericão pegava uns galhos e cheirava a dor de cabeça
pequena do que as naturais. febre. ferver e faz o chá e toma.
passava.
“pranta”.
Uma plantinha Lá ela se De uma tia que caiu e quebrou a perna e ela
Juntavam bastante e batia no
Imperatriz - MA Mastruz rasteira e fina, um encontra em Para infecções. sempre tomava dizia que era muito bom pra sarar
liquidificador e se tomava o suco.
cheiro bem forte. todos os lugares. logo.
Amaçar bem e tirar o “insumo”,
Uma árvore por sobre o inchaço e amarrar
Brasília -DF Mastruz Quintais de casa. Dor e inchaço. Eu via muito minha mãe fazer.
pequena. com um pano até a dor passar e
acabar o inchaço.
Inflamação de
Dava uns Terrenos baldios, “muié”, quando
Pé de Bater no liquidificador com água
Tocantins cachinhos de dava em qualquer ganha nenêm, -
Algodão e coar, tomar três vezes ao dia.
algodão. lugar. quando fazia qual
tipo de cirurgia.
Minha mãe juntava as sementes,
Pé de Uma planta Lugar onde a Gripe, tosse e
Lucinópolis as flores do mamão macho e Meus filhos quando adoeciam lenbro desse remédio
Mamão qualquer, nasce em terra era mais também xarope no
- TO colocava no mel de abelha e que minha mãe fazia para mim e meus irmãos.
Macho qualquer lugar. adubada. resfriado
deixava curtir pra dar para “nois”.
Uma árvore Coloque 3 pepinos no pote de
Comer e retirar Minha irmã se queimou com água quente quando
Pé de pequena e sua Nos fundos do vidro e os enterre durante alguns
Goiânia - GO manchas de ela era mais nova, e meu pai curou as manchas
Pepino base feita de nosso quintal. dias, logo após passe no local da
queimadura. dela com pepino “prode”.
arames. queimadura.
MONTEIRO, Ana Maria. Os saberes que ensinam: o saber escolar. In: MON-
TEIRO, Ana Maria. Professores de História: entre saberes e práticas. Rio de
Janeiro: Mauad X, 2007. p. 81-111.
MORAES, José Geraldo Vinci de; REGO, José Marcio. Conversas com
historiadores brasileiros. São Paulo: Editora 34, 2002.
ROIZ, Diogo da Silva; BENFICA, Tiago Alinor Hoissa. Elza Nadai: A forma-
ção da papisa do ensino de história. História: Questões & Debates, Curitiba,
v. 68, n. 1, p. 337-367, jan./jun. 2020.
WHITE, Hayden. O texto histórico como artefato literário [1974]. In: WHITE,
Hayden. Trópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura. Tradução:
Alíio C. de Franca. São Paulo: EDUSP, 2001.
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REFERÊNCIAS PARTE III
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azul e meninas vestem rosa’. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/
politica/noticia/2019/01/03/em-video-damares-alves-diz-que-nova-era-
-comecou-no-brasil-meninos-vestem-azul-e-meninas-vestem-rosa.ghtml.
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sociais. G1, 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/educacao/enem/2015/
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-redes-sociais.html. Acesso em: 2 ago. 2021.
RODRIGUES, Cris. Neste 1º de abril, relembre nove fake news que mar-
caram o cenário político do Brasil. 2019. Disponível em: https://www.bra-
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-que-marcaram-o-cenario-politico-do-brasil. Acesso em: 27 jul. 2021.
SODRÉ, Raquel. Intersexuais são 167 mil, mas ainda estão invisíveis. O Tem-
po, 2016. Disponível em: https://www.otempo.com.br/interessa/intersexuais-
-sao-167-mil-mas-ainda-estao-invisiveis-1.1244669. Acesso em: 7 ago. 2021.
210
ROSEN, George. Uma história da saúde pública. São Paulo: Ed. HUCI-
TEC, 1994.
BOULOS JR, Alfredo. História, sociedade & cidadania. São Paulo: EFII,
FTD, 2018.
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VICENTINO, Cláudio. Teláris EF, anos Finais. São Paulo: Ática, 2018.
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ANEXOS PARTE IV
1.
Mediante ao surto pandêmico que estamos vivendo, venho com uma nova proposta de atividade para os alunos de história do CEPI
Joaquim Edson de Camargo. Essa atividade visa compor um diário de relatos do que estamos vivendo, logo todos os alunos podem
participar e enriquecer esse trabalho. Para participar, o aluno deve seguir os seguintes passos.
1. O relato deve conter características obrigatórias, como Nome, turma, data e título.
2. O relato pode ser por período (diário, semanal ou período).
3. O relato deve ser narrativo (no caso, você contando os fatos).
4. O relato deve ser de no máximo 1 folha, podendo ser mais de um, desde que respeite os critérios anteriores.
Irei a partir desse ponto, fazer algumas perguntas que vocês podem utilizar para compor seu relato.
a) Quais são as lembranças mais recentes sobre o tempo vivido na escola a partir do surto pandêmico?:
b) Como passou a ser sua relação com seus colegas, professores e funcionários?
c) Quais as lembranças que mais marcaram esse período? Essas lembranças podem ser boas ou ruins, conforme o seu critério.
d) Qual foi a reação da sua família em relação a pandemia e quais os cuidados que seus pais pediram para que vocês tivessem ao ir
para a Escola?
e) Seus professores, enquanto ainda havia aula, qual foi sua postura tomada mediante a Pandemia? Eles alertaram, falaram sobre,
pediram para que vocês se cuidassem? Qual foi a postura desses profissionais? (não precisa citar nomes)
f) Agora, já em casa, após a suspensão das aulas, como é seu comportamento como Estudante?
g) Você considera positiva a postura do governo em suspender as aulas para proteger alunos, professores e funcionários da escola
da SARS-COVID19?
h) Qual é seu entendimento geral dessa doença? (Como contrair, sintomas, tratamentos)
i) Como sua família está convivendo com essa pandemia? Seus pais estão trabalhando? Estão se cuidando quando saem as ruas?
Vocês estão usando máscaras?
j) Aquilo que você vê na tv, jornais e internet, contempla e explica bem o que vem acontecendo?
k) Como está sua relação com a escola durante essa pandemia? Você está fazendo suas atividades? Como é o papel do professor
nesse período?
l) Quais são suas expectativas para o futuro pós-pandemia? Você acredita que tudo voltará ao normal? Tudo será como antes?
3.
2.
216
4.
LIVRO CITAÇÃO PÁGINA
5.
BANCO DE DADOS PARA CITAÇÕES
REFERÊNCIA
CITAÇÃO PÁGINA OBS INFO LEGENDA
BIBLIOGRÁFICA
A palavra de origem latina salute – salvação,
conser vação da vida – vem assumindo
significados muito diversos, pois a concepção
de saúde permeia as relações humanas não
pode ser compreendidas de maneira abstrata
IMPORTANTE
ou isolada. Os valores, recursos e estilos de
ESSENCIAL
BRASIL
Organização Mundial de Saúde: “Saúde é o
Secretaria
estado de completo bem-estar físico, mental e
de Educação
social e não apnas a ausência de doença”.
Fundamental.
Parâmetros O fato é que saúde e doença não são valores
Curricular5es abstratos ou situações absolutas, entre os quais
Nacionais: se possa interpor uma clara linha divisória, da
terceiro e mesma maneira, não são condições estáticas,
quarto ciclos: já que a mudança, e não a estabilidade, é
apresentação predominante na vida, tanto do ponto de vista
dos temas individual quanto do ponto de vista social. O que
transversais/ se entende por saúde depende da visão que se
Secretaria tenha do ser humano e de sua relação com o
NOTAS PESSOAIS
6.
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7.
220
8.
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ÍNDICE REMISSIVO
A
Alunos 7, 14, 18, 22, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 34, 35, 36, 37, 38, 39,
40, 41, 42, 43, 44, 46, 47, 48, 49, 51, 53, 56, 60, 61, 62, 68, 69, 71, 74, 76,
77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 89, 90, 91, 93, 94, 95, 96, 97, 98,
99, 100, 101, 103, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 114, 116, 117, 118, 119,
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120, 121, 122, 125, 127, 129, 130, 132, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141,
142, 145, 146, 147, 148, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 159, 160, 161,
162, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 185, 187, 189
Aulas de história 13, 68, 69, 70, 71, 80, 88, 89, 92, 95, 116, 169
B
Buriti Alegre 13, 67, 80, 82, 83, 89, 95, 97, 101, 104
C
Conhecimento 11, 13, 42, 43, 68, 69, 75, 77, 78, 79, 105, 106, 108, 138, 149,
154, 155, 162, 165, 166, 168, 174, 180, 188, 189, 203, 212
D
Didática 14, 32, 46, 53, 79, 107, 111, 119, 138, 139, 143, 156, 163, 180
Ditadura 74, 81, 90, 138, 140, 141
Diversidade 72, 108, 115, 118, 133, 134, 218
E
Educação básica 11, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76
Ensino de história 3, 4, 7, 9, 11, 13, 14, 56, 68, 70, 71, 72, 75, 76, 78, 79,
84, 93, 96, 109, 111, 113, 114, 115, 116, 149, 150, 151, 152, 156, 159, 161,
170, 177, 203, 204, 205
Ensino fundamental 4, 7, 13, 17, 20, 22, 25, 35, 37, 41, 44, 48, 67, 70, 74,
81, 84, 88, 90, 95, 99, 119, 121, 122, 127, 129, 136, 138, 139, 140, 141, 145,
151, 154, 159, 161, 162, 165, 169, 172, 178, 211, 213
Experiências 9, 14, 17, 18, 21, 24, 36, 41, 45, 46, 50, 53, 56, 59, 61, 68, 76,
79, 105, 106, 108, 111, 132, 159, 188
224
F
Feminismo 114, 123, 126, 208, 209
G
Gênero 7, 9, 76, 99, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 122, 123, 124,
125, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 134, 136, 137, 138, 143, 208, 209
I
Identidade 74, 131, 133, 134, 135, 137, 174, 207, 208
Indígenas 17, 70, 71, 73, 92, 95, 96, 107, 108, 110, 111, 136, 172, 173,
178, 217
Interculturalidade 110, 111, 177, 181, 203, 205
L
Linguagens 13, 69, 75, 76, 79, 85, 88, 89, 109, 140, 160
Livros didáticos 9, 72, 73, 78, 149, 157, 158, 159, 160, 161, 163, 165,
170, 173
M
Minicausos 46, 49, 50
P
Pandemia 76, 133, 145, 148, 150, 153, 154, 155, 156, 162, 167, 168
Parâmetros Curriculares Nacionais 117, 150, 178, 208, 211
Patrimônio 82, 84, 86, 101, 102, 103
Preconceito 22, 85, 108, 127, 130, 131, 136, 153, 174
QUASE UM LIVRO: narrativas didáticas para o ensino de história 225
Professores 4, 7, 9, 11, 17, 25, 26, 27, 30, 32, 33, 34, 36, 38, 45, 46, 48, 49,
50, 51, 52, 53, 56, 61, 70, 72, 73, 74, 75, 77, 78, 80, 86, 88, 97, 103, 105,
106, 107, 108, 110, 114, 117, 118, 143, 145, 146, 147, 148, 151, 153, 155,
156, 162, 204
Projeto Reativar 13, 14, 17, 18, 19, 31, 50, 51, 63, 65, 187, 188, 189
R
Revolta da vacina 157, 158, 159, 160, 173
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S
Sala de aula 11, 14, 18, 25, 32, 34, 36, 39, 48, 49, 51, 68, 69, 70, 71, 73, 76,
77, 78, 79, 82, 84, 88, 92, 93, 94, 95, 105, 106, 107, 108, 109, 111, 117, 149,
150, 151, 164, 173, 174, 203, 204
Serra das Areias 33, 34, 35, 36, 37, 38, 45
Sexualidade 7, 9, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 122, 127, 132, 133,
134, 137, 138, 143, 208
Sociedade 9, 35, 37, 68, 70, 72, 73, 82, 85, 93, 106, 107, 115, 116, 120, 121,
122, 123, 125, 126, 127, 129, 130, 134, 135, 136, 138, 141, 143, 161, 164,
169, 179, 213
Sustentabilidade 39, 40, 42, 55, 179
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SOBRE O LIVRO
Tiragem: Não comercializada
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 10,5/11,5/13/16/18
Arial 8/8,5
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)