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VOLUME
Coleção 1 da História Ensinada
Diálogos
Coleção Diálogos da História Ensinada
Saberes
Saberes
Docentes
Docentes ee
Ensino
Ens inode de
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
HHistór
istóriiaa
ANA ISABEL
ANA RPRP
ISABEL CORTEZ
CORTEZREIS
REIS
MARCELO DE SOUZA MAGALHÃES
MARCELO DE SOUZA MAGALHÃES
MARIA LUCELIA
MARIA LUCELIADEDE
ANDRADE
ANDRADE
ORGANIZADORES
ORGANIZADORES
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Ana Isabel RP Cortez Reis
Marcelo de Souza Magalhães
Maria Lucelia de Andrade
(Organizadores)
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SABERES DOCENTES E
ENSINO DE HISTÓRIA
Volume 1
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2023
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Imagem da capa: @jcomp | Freepik (modificado) |
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Revisão: Os autores
S113
Saberes docentes e ensino de História / Ana Isabel RP Cortez Reis, Marcelo de Souza Magalhães,
Maria Lucelia de Andrade (organizadores) – Curitiba : CRV: 2023.
320 p. (Coleção Diálogos da História Ensinada, v. 1).
Bibliografia
ISBN Coleção Digital 978-65-251-5262-2
ISBN Coleção Físico 978-65-251-5264-6
ISBN Volume Digital 978-65-251-4929-5
ISBN Volume Físico 978-65-251-4932-5
DOI 10.24824/978652514932.5
2023
Foi feito o depósito legal conf. Lei nº 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3029-6416 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
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Conselho Editorial: Comitê Científico:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Adriane Piovezan (Faculdades Integradas Espírita)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Alexandre Pierezan (UFMS)
Anselmo Alencar Colares (UFOPA) Andre Eduardo Ribeiro da Silva (IFSP)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Antonio Jose Teixeira Guerra (UFRJ)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Antonio Nivaldo Hespanhol (UNESP)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Carlos de Castro Neves Neto (UNESP)
Carmen Tereza Velanga (UNIR) Carlos Federico Dominguez Avila (UNIEURO)
Celso Conti (UFSCar) Edilson Soares de Souza (FABAPAR)
Cesar Gerónimo Tello (Univer. Nacional Eduardo Pimentel Menezes (UERJ)
Três de Febrero – Argentina) Euripedes Falcao Vieira (IHGRRGS)
Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG) Fabio Eduardo Cressoni (UNILAB)
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Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
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Sumário
Apresentando a série���������������������������������������������������������������������������������������������������9
Apresentação ������������������������������������������������������������������������������������������������������������11
Ana Isabel RP Cortez Reis
Marcelo de Souza Magalhães
Prefácio���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������21
João Paulo Peixoto Costa
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Seção I
Saberes docentes: uma discussão teórica
Seção II
Saberes produzidos quando o docente dá aula
Seção III
Materiais produzidos para dar aula
Índice remissivo������������������������������������������������������������������������������������������������������309
1 SILVA, Marcos A. da (org.). Repensando a história. Rio de Janeiro: Editora Marco Zero, s/d.
2 BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de
ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.
3 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. 7. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998.
4 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis, RJ: Vozes, 1977.
12 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
A reflexão de Marcos Silva e Heloísa Cruz está marcada por uma tentativa de
pensar a escola não só como um espaço de reprodução, mas também como de cria-
ção, um espaço de constituição de brechas para a construção de uma escola cidadã.
Os dois autores lembram, a todo o momento, de que havia, à época, uma hierarquia
significativa entre os saberes construídos na universidade e o suposto papel de trans-
missor desses saberes no espaço escolar desempenhado pelos professores e professoras
do então primeiro e segundo graus. No livro defende-se a necessidade de romper essa
hierarquia. Era preciso compreender todos como professores, sem distinção entre
universitários e da Educação Básica, que devem interagir, no sentido de efetuar trocas
de conhecimentos. Aqui tem uma clara perspectiva de que os professores e professoras
interage com outros tipos de cultura, como, por exemplo, a religiosa e a política,
mas que ajuda sobretudo a lançar luz sobre a especificidade das práticas escolares.
Os estudos que utilizam essa categoria estão comprometidos com uma perspectiva
antropológica da instituição escolar, buscando dar conta de suas peculiaridades,
sem desconsiderar a interação da escola com outras instituições e atores sociais.
A segunda categoria é a de disciplinas escolares. Na verdade, as disciplinas
escolares se constituem em objeto de investigação. Objeto que, na mesma linha
da agenda que envolve a categoria de cultura escolar, contribui para pensar a
especificidade da escola. Sobre as disciplinas escolares, existem outros pesquisa-
dores que estão preocupados com analisar o que é ensinado, como é ensinado e
quais os objetivos do que é ensinado na escola, mas faremos referência a apenas
um autor, André Chervel, no artigo “História das disciplinas escolares: reflexão
sobre um campo de pesquisa”, publicado em na revista Histoire de l’éducation em
1988 e na revista Teoria e Educação em 1990.6
Cultura escolar e disciplinas escolares são úteis para pensar a reconfiguração
da escola de um ponto de vista mais antropológico, com seus atores interagindo
com outras instituições e grupos sociais em um determinado contexto. As refle-
xões de Chervel parecem importantes para reafirmar questões pontuais levantadas
por Marcos Silva e Heloísa Cruz no início dos anos 1980 no Brasil, como, por
exemplo, a da não hierarquização entre o saber universitário e o saber da Educação
Básica. Chervel mostra claramente que uma disciplina escolar é portadora de um
conhecimento próprio que interage com o possível saber de referência, constituído
na universidade ou nos institutos de pesquisa, mas que apresenta um fim em si.
Logo, as disciplinas escolares possuem um público específico e formulam saber.
O espaço escolar, na perspectiva do estudo de suas disciplinas, constitui-se em
um local de construção, e não apenas de reprodução ou divulgação, de saberes.
5 DOMINIQUE, Julia. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História da Educação, n.
1, p. 9-43, 2001.
6 CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexão sobre um campo de pesquisa, teoria e
educação. 1990. n. 2. p. 177-229.
14 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
trabalho foi sempre orientada para o repensar e para a transformação das nossas
práticas, bem como da impossibilidade de alienar a teoria da prática histórica.
A primeira parte do livro foi denominada Saberes docentes: uma discussão teó-
rica. A reunião de textos nela estabelecida privilegiou o diálogo entre professores
cuja produção está circunscrita nos campos da Teoria da História e do Ensino de
História. Os autores partem de lugares diversos de observação sobre a constituição
de saberes e dos próprios campos da História e do Ensino de História: professores
da academia, alunos de pós-graduação e professores do Ensino Básico.
O texto História e “ensino” de “história”, ainda?, de Francisco Régis Lopes
Ramos, institui um desafio, ou uma instigante proposta, de retorno ao diálogo
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como sujeito que produz, domina e mobiliza saberes plurais e heterogêneos para
ensinar o que ensina. A partir de uma pesquisa nos trabalhos apresentados e
publicados por bolsistas do PIBID, no GD de Ensino de História, da ANPUH-
-BA, em 2019, além da análise de dissertações defendidas no ProfHistória, Bereta
e Boudoux identificaram uma pluralidade de saberes e práticas em construção,
no exercício da iniciação à docência, que permitiram identificar muitas das
questões enfrentadas no dia a dia da sala de aula por diversos docentes e os
caminhos diversos por eles trilhados. É um texto que pondera os resultados de
importantes política públicas da Educação Brasileira e reafirma a necessidade
da permanência, ampliação e incorporação à estrutura curricular dos cursos de
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O ensino de História poucas vezes foi tão importante no Brasil. A frase pode
soar pretensiosa e certamente já foi dita em outros momentos. Mas hoje se
revela crucial conhecer a trajetória do nosso país para que a própria democracia
não desmorone e não nos rendamos a ilusões, como ocorreu no passado. Se o
fascismo retorna ao cenário mundial como um risco real e efetivamente mata
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9 IFPI/UESPI.
22 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Seção I
Saberes docentes:
uma discussão teórica
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História e “ensino”
de “história”, ainda?
Francisco Régis Lopes Ramos
Isso, sem dúvida, trata-se de uma constatação. Por outro lado, compreendo a
constatação, talvez óbvia demais, como parte das idas e vindas do texto a seguir,
deliberadamente na forma de ensaio.
O tema do ensaio? Não um tema propriamente dito, mas sugestões quase
intempestivas. Em torno de propostas de pesquisa sobre as maneiras pelas quais
os saberes ora se juntam ora se dividem.
O “ensaio”, escreve Adorno, não agrada ao “pensamento tradicional”, na
medida em que “é mais aberto e mais fechado”. Mais aberto porque “nega qual-
quer sistemática, satisfazendo a si mesmo quanto mais rigorosamente sustenta
essa negação”. E, ao dar muita ênfase à “forma da exposição”, o ensaio torna-se,
assim, mais fechado.
Daí a recorrência de citações mais extensas, cujas costuras não são canoni-
camente filiadas a uma só matriz disciplinar, nem a um contexto preestabelecido.
Algo que se inspira em Walter Benjamin.
Portanto, algo como um ensaio de citações. Algo que desemboca numa crítica
às fronteiras internas e externas dessa área ou dessa disciplina que se convencionou
chamar de História, com destaque para o que ela pode ou deve “ensinar”; ou, mais
especificamente, para a invenção de um campo que estaria (auto)legitimado por
certas especificidades da História entendida como “prática de ensino”.
Sem esquecer que é do ensaio certa vocação para a descontinuidade: “Nessa
experiência, os conceitos não formam um continuum de operações, o pensamento
não avança em um sentido único; em vez disso, os vários momentos se entrelaçam
como um tapete” (ADORNO, 2003, p. 29-30). Não sem compartilhar o lugar de
todas e todos, ou no lugar do comum, onde temos e desejamos pouso e trânsito,
O individualismo
fazer essa luta numa História que isola o entendimento da historicidade da “luta
de classe” separada de outras lutas como “gênero” e “raça”?
O pleonasmo silenciado
A consciência histórica
O risco do saber
nostra?”. Outro, trepado numa pedra, bradava o que tinha na cabeça “Urbi
et orbi”. Diante dele, alguém repetia sempre: “Ad hoc”. E outro esbravejava:
“Da zadravstvujetruskijjazyk” (KADARÉ, 2007, p. 42).10
10 Na edição brasileira do texto, vem a seguinte nota do tradutor: “Em latim, no original: Salve, César, os que
vão morrer te saúdam; Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Para a cidade (de Roma) e o
universo; Para este caso. Em russo, no original: Viva a língua russa” (KADARÉ, 2007, p. 42).
32 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
O triunfo da disciplina
“Fazemos”, escreve Michel Serres, “história das ciências, história das religiões,
história das literaturas etc.” Mas isto, é preciso ressaltar, não se trata apenas do
Uma hora é Esparta, que a detém, outra hora é Atenas, em seguida Tebas.
Ou a economia, ou a história, ou a língua, e por aí vai, o quanto se queira.
É o conflito das faculdades. Ou o poder é tomado pela faculdade de teo-
logia, ou então pela de filosofia, ou ainda pela de história. Não é pelo fato
hoje em dia, de a presidência ser mantida pela história, que se passou a ter
melhor conhecimento da cultura. Ela é simplesmente atravessada, em sentido
unívoco, e é preciso pagar a cada vez que se passar por uma alfândega. De
acordo com quem triunfa nesse conflito, o uniforme dos alfandegários muda,
ou então muda a divisa sob a qual apresentamos nossa moeda (SERRES,
1990, p. 155-156).
Mas, ainda há algo mais específico, que não diz respeito aos domínios
de zonas de saber, como sociologia e história, história e filosofia. Refiro-me ao
saber histórico que se divide ao sabor da circunstância corporativa, na medida
em que o campo vai crescendo e novas demandas são postas. Em outros termos:
História e “ensino” de “história”, ainda? – 33
Antes de tudo, penso eu, será preciso discutir como cada sistema de cooperativa
do saber nasce com algo que poderia ser chamado, não sem ironia, de “síndrome
do enjeitado”; como se a História, a suposta grande HISTÓRIA (assim com todas
as letras em maiúsculo) fosse um poder único que não valoriza, como deveria
valorizar, determinado recorte de problemas.
Daí, imagino, será possível pensar como a HISTÓRIA (a grande área ou a
área grande idealizada como um todo homogêneo) já tem, em si, o pressuposto
de se juntar em determinados círculos para se valorizar, para mostrar para essa
mesma HISTÓRIA o seguinte: determinado tema possui tão inestimável valor
que precisa de fóruns específicos de debate, que precisa, por isso mesmo, ser uma
“área”, como se tivesse acontecido a revelação da verdade ancestral ou a descoberta
de um segredo alarmante.
Outra questão, não menos importante, que será possível observar: dos
fóruns, vão se (re)afirmando redes de epistemologia evolutiva, com autores
canonizados e avaliações historiográficas específicas no sentido de mostrar que
a especificidade temática tem, afinal, a sua própria história, com precursores
nacionais e, o mais importante, internacionais.
E quando se observa o grupo já formado? O que vem depois? Como ele
vai constituindo as suas lutas internas? Como essas lutas o tornam ainda mais
vigoroso? Como essas lutas podem, também, flertar com a possibilidade de mais
uma divisão? Divisão também atiçada pelo “vírus do rejeitado”? Também gerando
sistemas reativos que se articulam em nome da liberdade do saber?
Pode-se argumentar que é isso mesmo... Que todos os saberes ocorrem nas
tensões... Sem dúvida! Mas, quais tensões? Não existiriam outras maneiras de
tensionar o saber? O saber estaria destinado a se submeter à construção de cer-
camentos autolegitimados? Não haveria outro horizonte para além do desejo de
aumentar a quantidade de muros? Não haveria outra experiência de saber? Não
haveria outra maneira de cultivar a diferença?
34 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
O condomínio fechado
Sabendo das implicações indicadas por Michel Serres para o exame do modo
pelo qual as áreas do conhecimento vão se reagrupando, convém observar em
que sentido o cercamento “ensino” de “história” acaba reafirmando ou reciclando
a narrativa que, de acordo com Michel de Certeau, é um dos grandes mitos da
modernidade, juntamente com “Totem e tabu”: a vida operosa de Robinson
Crusoé na sua ilha cercada (DE CERTEAU, 2011, p. 186).
O grau zero
principalmente porque o poder colonial, que nunca deixou de existir, está exis-
tindo em maior quantidade, em cargos de maior poder político, por exemplo.
Forças ancestrais voltam ou se revoltam num lastro que, além de atualizar esse
poder colonial, desembocam em nada, no vácuo transbordante de estátuas que
falam de seus lugares privados e babados. Aí, nessa proliferação de falas com seus
lugares marcados na fila dos pedestais, a pergunta sobre a História chega a nada
significar, ou pior, chega a ser imprópria.
Um romance de Coetzee toca nessa questão espinhosa e pouco abordada
pela historiografia. Ele se pergunta sobre a “noção de História” que pode haver,
especificamente, em um massacre do século XX, não dos maiores em número
de mortos, mas desses que pontuam o cotidiano, passam pelos jornais e são
esquecidos pelo acúmulo das notícias de cada dia. Um personagem avalia que,
muitas vezes, as pessoas cometem erros ou crimes em nome da História, ou por
avaliar mal a História.
Esses “homens que mandaram o esquadrão de chacina a Francistown”,
escreve Coetzee, não tinham uma “visão errônea da história”. “Na verdade, é
muito provável que, por baixo do pano, riam das pessoas tolas a ponto de ter
qualquer tipo de visão” (COETZEE, 2010, p. 12). Será possível enfrentar, com
alguma História, esse grau zero de História?
A costura
Como é que as coisas acontecem do jeito que acontecem? O que está por trás
da anarquia da sequência de eventos, as incertezas, os infortúnios, a incoerên-
cia, as irregularidades chocantes que definem os assuntos humanos? Ninguém
sabe, professora Roux. “Todo mundo sabe” é a invocação do clichê, é o que
é mais insuportável. O que sabemos é que, ao contrário do que diz o clichê,
ninguém sabe nada. Não se pode saber nada. As coisas que você sabe, você
não sabe. Intenção? Motivo? Consequência? Significado? É surpreendente,
quantas coisas desconhecemos. Mais surpreendente ainda é o que passa por
conhecimento (ROTH, 2002, p. 266).
A criação
censura tem pelo menos dois lados. A censura da língua cortada, por um lado.
E, por outro, a língua que obriga a dizer.
Por exemplo: Sade. De acordo com Barthes, Sade aparenta ser censurado
duas vezes: “quando se proíbe, de uma ou da ou da outra forma, a venda dos seus
livros, quando se declara que ele é aborrecido, ilegível”. Como era de se esperar,
Barthes não gasta seu tempo com essa aparência, com essa definição de censura que
primeiro aparece e que, por isso mesmo, pouco alcança. Ele apenas a utiliza para
chegar ao que interessa: “a censura profunda não consiste em proibir (em cortar,
suprimir, difamar)”. A “censura profunda”, vale destacar, não é, nem poderia ser,
o aprofundamento da proibição. Trata-se, na verdade, da ação de “alimentar abu-
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Note-se: depois dessa longa citação, e até para justificá-la, ou pelo menos
explicar a necessidade do seu tamanho desproporcional, cabe repor, em dimensão
menos autorreferida, a pergunta que encerrou o tópico anterior, que, por sua
História e “ensino” de “história”, ainda? – 39
vez, já é uma reposição, em outro tom, do início do texto. Se não aprende nem
ensina algo desse ato criador da resistência na arte, o que faz a História?
Note-se, também: o texto de Deleuze é de 1987, quando não havia o que
hoje há, e em abundância: informações e contrainformações pelas “redes”. A
atualidade do texto, nesse sentido, parece-me mais do que impressionante. É
que Deleuze conseguiu fazer desse texto um ato de resistência.
Note-se, ainda: o professor protagonista do romance de Coetzee é obrigado
a participar de uma “racionalização” que diminui, para não dizer destrói, o ensino
de Literatura em nome da nova disciplina, “Capacitação em Comunicação”,
como foi visto aqui em um parágrafo citado. Agora, depois de vislumbrar o que
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Deleuze pensa sobre o ato de criação em contraste com a comunicação, cito mais
um parágrafo que dá conta da tal “racionalização”:
A História
Referências
ADORNO, Theodor W. Notas de Literatura I. São Paulo: Duas Cidades; Edi-
tora 34, 2003.
BARTHES, Roland. Roland Barthes, por Roland Barthes. São Paulo: Estação
Liberdade, 2003.
DAVIS, Angela. “As mulheres negras na construção de uma nova utopia”. Portal
Geledés – Instituto da Mulher Negra, 12 jul. 2011. Disponível em: https://www.
geledes.org.br/as-mulheres-negras-na-construcao-de-uma-nova-utopia-angela-
-davis/. Acesso em: 18 jan. 2021.
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 9. ed. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 28. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1987 [1ª edição, 1970].
FREIRE, Paulo. Política e educação. 4. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2000.
FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. 24. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013 [1ª edição, 1993].
ROTH, Philip. A marca humana. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
SERRES, Michel. Hermes: uma filosofia das ciências. Rio de Janeiro: Graal, 1990.
Autoria em aulas de História?
“Lugar/espaço de docência”
em tempos pandêmicos
Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro
Adriana Soares Ralejo
Thays Merolla Piubel
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
ensinada: saber escolar e saberes docentes em narrativas da história escolar (2005-2010), Tempo Presente
no ensino de História: historiografia, cultura e didática em diferentes contextos curriculares (2011-2016),
Currículo, docência e formação de professores de História: entre tradições e inovações (1985-2015) (2017-
2019) e Currículo e docência: sujeitos, saberes, práticas entre tradições e inovações (2020-atual).
46 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
cadernos e livros foram aos poucos sendo substituídos por telas de computa-
dor, celular ou tablets, ou por apostilas para aqueles que não tinham acesso aos
equipamentos e recursos tecnológicos. Novas palavras (nem tão novas assim)
entram com força em nosso vocabulário como aulas síncronas15, assíncronas16,
ensino remoto17 e híbrido18. Em meio a tantas mudanças, nos questionamos:
O que se tornou a “aula” nesse contexto? O que mudou? O que permanece?
Como os professores estão enfrentando esse novo desafio?
Pensar a “aula” nos conduz a repensar o “lugar de docência”, no qual esses
desafios gerados pelo contexto de pandemia são enfrentados. Qual a melhor
estratégia? Como planejar as aulas nesse novo formato que tem sido chamado
15 Aulas síncronas são aquelas em que professores e alunos estão presentes ao mesmo tempo na atividade.
16 Aulas assíncronas são aquelas em que as atividades educativas são desenvolvidas em diferentes momentos
sem a presença do professor.
17 Ensino remoto é aquele no qual as atividades educativas são desenvolvidas de forma não presencial.
18 Ensino híbrido é aquele no qual as atividades educativas são desenvolvidas paralelamente a partir de
atividades remotas e presenciais.
Autoria em aulas de História? “Lugar/espaço
– 47
de docência” em tempos pandêmicos
De repente, nos deparamos com diferentes modelos para o ensino remoto como
aulas síncronas e assíncronas e o ensino híbrido. Novos desafios se apresentam
como problemas de conexão, um uso maior de apresentações de slides, vídeos e
estratégias com base em ferramentas digitais, corpos enquadrados em pequenas
divisões da tela do computador, câmeras fechadas – por timidez ou como forma
de burlar a atenção esperada?
As aulas19, como produção docente, precisam ser compreendidas em novas
bases de concepção e desenvolvimento. A todo momento, esse movimento de
planejamento e redefinição das metodologias educacionais é realizado. Professoras
e professores precisam traçar estratégias e modificar suas práticas a partir das con-
dições e cenário em que estão inseridos: projeto pedagógico da escola, materiais
didáticos disponíveis, número e características dos estudantes, disponibilidade
de acesso aos meios digitais. São diversas as variantes que constituem esse “lugar
de docência”, com seus constrangimentos característicos da cultura escolar, mas,
também, se constituindo como espaço de múltiplas possibilidades de criação em
meio a diferentes contingências.
19 Sabemos que este cenário descrito não se restringe somente ao componente curricular de História, mas
mobilizamos neste texto experiências vivenciadas por nós enquanto professoras de História e por meio de
pesquisa por nós realizadas no GEHPROF/UFRJ.
48 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
20 Na pesquisa iniciada em 2017, intitulada Currículo, docência e formação de professores de História: entre
tradições e inovações (1985-2015), aprofundamos estudos sobre a teorização foucaultiana acerca da
arqueologia do saber.
Autoria em aulas de História? “Lugar/espaço
– 49
de docência” em tempos pandêmicos
21 Essa perspectiva nos levou a aprofundar a reflexão sobre a categoria “professores marcantes” (MONTEIRO,
2015) que temos utilizado para identificar sujeitos professores que possam participar de nossas pesquisas. O
adjetivo marcante não indica uma qualidade individual, própria de um sujeito, do indivíduo em si na perspectiva
da modernidade. O ser “marcante” é resultado de uma compreensão de alunos que reconhecem que sua
atuação como professor os marcou, os afetou, possibilitando de algum modo a atribuição de sentidos ao
objeto de estudo. Pode ser marcante para uns e não para outros. Ao olharmos para essas práticas, não
queremos categorizar os tipos de práticas docentes, mas compreender como elas se formam e constituem
naquilo que chamamos de aula, acontecimentos que constituem sentidos e sujeitos.
22 Para maior aprofundamento sobre a questão do sujeito a partir da concepção foucaultiana, ver Monteiro e
Ralejo (2018).
23 A discussão sobre a autoria no campo da Educação foi desenvolvida em pesquisa de doutorado com ênfase
na produção de livros didáticos intitulada “Lugar de autoria: contingências, desafios e possibilidades na
produção de livros didáticos de História”. Ver Ralejo (2018).
50 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
24 Sobre o papel e importância de Ilmar Mattos como formador de professores e instituidor de um código
disciplinar no ensino de História ver Correa (2021), que analisa sua atuação na tese de doutoramento
defendida no PPGE/UFRJ.
Autoria em aulas de História? “Lugar/espaço
– 51
de docência” em tempos pandêmicos
25 Chevallard desenvolveu a teoria da transposição didática focalizando questões do ensino das matemáticas.
Sobre sua contribuição e a relação com o ensino de História, ver Monteiro, 2019a.
52 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
26 O livro didático de História adotado pela rede municipal através do Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD), “História, Sociedade & Cidadania”, de Alfredo Boulos Jr (Editora FTD) está disponível online de
forma integral e gratuita.
Autoria em aulas de História? “Lugar/espaço
– 55
de docência” em tempos pandêmicos
Fechamentos provisórios
Na História escolar percebe-se assim que, a estrutura narrativa pode ser reco-
nhecida numa dupla dimensão: como estrutura discursiva de expressão do
conhecimento histórico e como estrutura de sustentação da construção didá-
tica que tem uma finalidade própria (MONTEIRO, 2007, p. 226).
novo, mais de uma vez, cria mais possibilidades para a atribuição de sentidos.
Em meio a tantas interdições, essa ferramenta, ao se mostrar viável enquanto
recurso pedagógico, demonstra que as potencialidades criativas que dialogam
com e respeitam as características culturais dos estudantes se fazem presentes.
Lugar/espaço de docência, autoria docente em aulas de História que ao serem
renovadas, propiciam aos alunos o direito à história.
58 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília:
MEC, 2018.
MATTOS, I. R. “Mas não somente assim!” Leitores, autores, aulas como texto e
o ensino-aprendizagem de História. Revista Tempo, v. 11, n. 21, p. 5-16, jun./
dez. 2006.
Introdução
Ao iniciar a pesquisa de que trata este capítulo, ainda em 2004, meu foco
era a dificuldade de compreensão dos alunos nas aulas de História do Ensino
Fundamental, apontada de forma reiterada pelos professores desta disciplina.
27 Versão anterior do artigo foi apresentada na 30ª Reunião da ANPED, sob o título A economia do trabalho
docente no Ensino Fundamental, sendo esta uma versão modificada e atualizada.
28 Todos os relatos transcritos neste artigo fazem parte de anotações do diário de campo de pesquisas
realizadas nas escolas CEIM e EMEI no ano de 2004.
62 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
É regra tácita na escola que os alunos devem ter aula. Entretanto, há falta de
professores quase todos os dias, inclusive por conta da concessão de abonos.
Para que os alunos não fiquem sem aula, já há alguns anos instalou-se a prá-
tica de “adiantamento de aulas”, em que o professor da aula que ocorreria
depois, dá aula em duas ou mais turmas ao mesmo tempo. Com isso, a turma
é dispensada após a aula adiantada, a escola não fica com o problema de ter
alunos dispersos pela escola, sem aula, e o professor, mesmo que relativamente
mais cansado, também é liberado mais cedo do trabalho.
Em reunião de conselho de classe, a diretora do CEIM cobra dos professores
que mantenham os alunos em sala até o fim do horário escolar. Há professores
liberando os alunos a partir de 15 minutos de iniciado o último tempo de
aula. Alguns professores se queixam, dizendo que estão adotando a prática
porque veem os alunos de outras salas saindo. Efetivamente, essa é uma prática
de redução do horário estabelecido pela escola.
Em tempos idos, na escola pública havia horário de coordenação para os
professores. Hoje, esses mesmos professores, sentindo-se mal remunerados
desejam ser liberados de qualquer horário de reunião. Na mesma linha de
busca de reconstituição de valor do tempo de trabalho do professor estão as
faltas informais (abonadas pela direção ou coordenação) e as paralisações,
que acabam não sendo repostas em calendário letivo.
68 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Avaliação diferenciada
30 Esta é uma prática escolar corriqueira na rede estadual do Rio de Janeiro, porém pouco comentada. Wagner
Teixeira registra processo semelhante na rede municipal de Niterói (2007).
Que problemas professores conseguem resolver na aula de História?
– 69
Estudo exploratório sobre uma economia do trabalho docente
o expediente de passar trabalhos para “ajudar na nota” dos alunos com mais
dificuldades. Assim, resolvem os problemas de ter mais trabalho pelas con-
sequências do mau desempenho dos alunos e ficar antipatizados pelos que
acham que deveriam aprovar os alunos.
A porta da sala de aula, sem maçaneta nem trinco, não fechava. A professora
colocava um livro didático como peso da porta. As salas de aula possuíam tijo-
los vazados na parede dos fundos. Ali, alunos de outras turmas vinham entregar
bilhetes para seus colegas. Os professores “ignoravam” essa correspondência,
pois teriam que movimentar-se ou alterar a voz com alunos dos fundos da sala.
Não havia livros para todos os alunos, no terceiro ano de uso dos livros do
PNLD. Assim, em uma das turmas, a professora decidiu passar um resumo no
quadro com a matéria. Este foi o seu trabalho nessa turma por três semanas.
A reprografia da escola era precária. Havia pouco papel, destinado apenas
para provas e um mimeógrafo a álcool. Assim, exercícios e textos adicionais
não eram passados ou eram reduzidos ao que se poderia copiar do quadro.
Na escola particular poucos eram os problemas de ordem material, como
em uma sala com problema de iluminação excessiva. Além de possuir
70 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
31 A pesquisa mencionada foi realizada no ano de 2004, quando estava em funcionamento a denominação de
série e não de ano escolar. No caso, quinta série equivalia ao sexto ano escolar de hoje.
Que problemas professores conseguem resolver na aula de História?
– 71
Estudo exploratório sobre uma economia do trabalho docente
Conclusão
Assim, eles levaram dois anos escolares para entender que a História era uma
disciplina sem sentido.
Em consequência dos processos anteriores, alunos em diferentes condições
de aprendizagem e de interação com os professores se distanciam da relação com
o conhecimento histórico escolar. Sua aprendizagem e sua interação discursiva
podem permanecer em um nível que é o do silêncio, na relação com o professor,
com a disciplina e com a escola.
Na pesquisa em questão, os professores das escolas pesquisadas continuaram
a jogar o jogo. Porém, alguns deles, investindo cada vez menos. Seus alunos, pos-
sivelmente em reação a esse desinvestimento e por outras tantas razões, também.
Referências
ARROYO, Miguel G. Mestre e ofício. Petrópolis: Vozes, 2000.
TURA, Maria L. R. O olhar que não quer ver: histórias da escola. Petrópolis:
Vozes, 2000.
33 Este aspecto fica bastante claro no Art. 7º que coloca que “A organização curricular dos cursos destinados à
Formação Inicial de Professores para a Educação Básica, em consonância com as aprendizagens prescritas
na BNCC da Educação Básica [...]”. Brasil, Ministério da Educação. Base Nacional Curricular da Formação.
Brasília, 2019.
Ensino de História e formação de professores:
– 81
histórias cruzadas?
O contexto do final dos anos 1980, foi marcado por reformas na formação
inicial de professores nos Estados Unidos, Canadá, se espalhando também para a
Europa e América Latina. De uma maneira geral, o objetivo dessas reformas era
dar melhores contornos e significados a ideia de uma profissionalização docente.
Em outras palavras, existia uma preocupação com o status profissional da docên-
cia, com os aspectos ou saberes que caracterizariam esta profissão.
Muitas pesquisas têm buscado analisar os aspetos que envolvem a docência
desde seu o processo de formação até a atuação profissional dos professores nas
escolas. Se destacam os trabalhos de autores como Gauthier (1998), Tardif (2002),
Shulman (1986, 2002, 2004), Nóvoa (2009). Estes estudos levantaram algumas
premissas que estiveram presentes nos processos de reforma. Entre elas a existência
de uma “base de conhecimentos” (Knowladge base) para o ensino, saberes que
especificariam e também trariam mais legitimidade a profissão docente (SHUL-
MAN, 1986). Outra premissa seria a concepção de que o ensino é uma atividade
profissional que se apoia em um repertório de conhecimentos bastante sólidos. Esta
perspectiva é uma crítica a ideia equivocada que trata a docência como um ofício
onde os saberes não são revelados, uma espécie de ofício sem saberes (GAUTHIER,
1998). E ainda a de que ensinar consiste em transmitir conhecimentos elaborados
por outros, bastando apenas conhecer estes conteúdos que serão objeto de ensino.
Estas perspectivas, por muito tempo, se impuseram ao ensino, de uma forma geral.
Na contramão dessas ideias, muitas pesquisas estão se dedicando a analisar
a epistemologia da prática profissional, ou seja, o conjunto de saberes envolvidos
no cotidiano da docência. Saberes aqui entendidos em sentido amplo englobando
“os conhecimentos, as competências, as habilidades (ou aptidões) e as atitudes,
de uma forma ampla” (TARDIF, 2000, p, 10-11). A finalidade desses estudos é
compreender as características desses saberes, sua natureza, suas formas de inte-
ração, e também a forma como estes saberes se integram as atividades cotidianas
da docência, e também como são produzidos, transformados, utilizados, levando
em conta o contexto de trabalho, os aspectos culturais e temporais. Contribuindo
dessa forma, para superar a ideia da docência como vocação.
82 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Estas são duas das questões de uma proposta de trabalho que teve por objetivo
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Sendo assim, não haveria uma hierarquização entre eles, por exemplo, o saber
acadêmico não estaria em uma posição superior em relação ao saber histórico
escolar e nem seria a única referência, mas estaria ajudando neste processo de
construção de inteligibilidade sobre o mundo.
Tais abordagens vão de encontro aos modelos baseados na racionalidade
técnica e científica que organizaram a maior parte dos cursos de formação de
professores. Entre eles estaria o modelo de transmissão, em que os conteúdos
científicos e/ou pedagógicos seriam passados aos professores sem uma maior
preocupação com as habilidades necessárias para a prática ou ensino dos mesmos.
Outro seria o modelo acadêmico tradicional, que entende o conhecimento dis-
que envolvem a vida de professor, seus desafios são demasiados. Logo, como
transformar em texto articulado todas as sensações e reflexões experimentadas
durante o decorrer do estágio? (SILVA; ROSSATO, 2013, p. 69).
No Brasil, a partir dos anos 2000, este modelo ainda foi norteador na orga-
nização dos cursos que formam professores de História. Várias críticas vêm sendo
feitas por pesquisadores e associações a este modelo, que apresentaria lacunas,
limitações e problemas. Para alguns pesquisadores, seria preciso buscar em novas
pesquisas o estudo de modelos alternativos, inspirados em uma racionalidade
prática. As críticas chamam também atenção para o fato de que este tipo de
formação não seria capaz de preparar os professores para lidar com as questões
do cotidiano escolar, próprias do processo de ensino-aprendizagem. E apontam
também para o que seria um paradoxo que persiste nos meios acadêmicos, um
entendimento de que “para ensinar História, basta a apropriação, nos cursos de
Nos cursos de História, esta questão está muito presente. O ponto de partida
ou mesmo a ênfase seria compreender o conteúdo específico da disciplina que irá
ensinar, “reconhecer como os conhecimentos se estruturam e se relacionam do
ponto de vista teórico, historiográfico e metodológico” (CAIMI, 2006, p. 40).
Em outras palavras, estes cursos estariam centrados em torno da construção do
saber histórico, ligada as questões do ofício do historiador e da própria escrita
da história ou mesmo do reconhecimento dos debates nos diversos campos da
pesquisa historiográfica.
A autora nos convoca a pensar em que medida estes cursos estariam favore-
cendo a construção de “posicionamentos epistemológicos” aí também ligados ao
ensino de história. Estes elementos seriam necessários à aprendizagem profissional
da docência. Tais elementos deveriam ser construídos nos cursos de História.
Nas últimas décadas as reflexões sobre os saberes docentes estiveram muito
próximas das pesquisas no campo do ensino de história. O crescimento deste
Ensino de História e formação de professores:
– 87
histórias cruzadas?
docente, por que os discursos dos professores sobre suas práticas ainda estariam
tão distantes desse entendimento?
A ideia corrente é de que os professores são guiados por saberes – silen-
ciosos, implícitos – que advém da experiência profissional cotidiana, confere a
estes saberes um valor limitado, reproduzindo práticas introjetadas, quase de
forma inconsciente. Os professores muitas vezes não conseguem perceber tipos
de saberes que mobilizam, afetando diretamente sua identidade e profissio-
nalização. A constatação de que isso ocorre com grande parte dos professores
estaria apontando os problemas que existiriam ainda na formação de professores
(MONTEIRO, 2007, p. 188-189).
Uma série de estudos sobre o ensino tem se aproximado das ideias de Mau-
rice Tardif a respeito da pluralidade dos saberes docentes, que seriam formados
por um amálgama de saberes. Eles incorporam-se à experiência individual e
coletiva, “sob forma de hábitus e habilidades, de saber-fazer e de saber-ser”
(TARDIF, 2002, p. 39).
A formação de professores na graduação seria uma primeira parte desse pro-
cesso. Um estranhamento interessante marcaria esta etapa inicial, os professores,
na sua prática profissional cotidiana, manteriam, com os saberes oriundos da
formação inicial, uma relação de exterioridade, tendo como tarefa se apropriarem
deles ao longo de sua formação. Sua competência profissional estaria fortemente
ligada a esta apropriação.
Essa afirmação nos coloca questões que poderiam até contrariar algumas
perspectivas mais recentes sobre os saberes docentes. O incômodo poderia ser
gerado pela afirmação que aponta para a “relação de alienação entre docentes e os
saberes”. E também pela ideia de que existiria uma grande incompreensão sobre
a relação que os professores estabelecem com os conhecimentos universitários
e suas práticas profissionais, exemplificados com a imagem de um “muro” em
direção ao qual “se vêm jogar e morrer conhecimentos universitários considerados
inúteis” (TARDIF, 2002, p. 238-257).
Tal afirmação não deve ser colocada em oposição aos estudos que apontam
para o professor como um construtor de narrativas e de aulas entendidas como
textos, ou seja, produtos que precisariam de uma articulação intelectual não
menos valiosa que os textos acadêmicos. Talvez pudéssemos ver esta afirmação
como sinal da necessidade de entendermos melhor as relações que os professores
estabelecem (ou podem estabelecer) com os conhecimentos científicos e os da
formação profissional inicial.
90 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Referências
ARAÚJO, Thiago Oliva Lima de. In: SILVA, Cristiani Bereta; ROSSATO,
Luciana. A didática da história e o desafio de ensinar e aprender na formação
docente inicial. Revista História Hoje, v. 2, n. 3, 2013.
CAIMI, Flávia Eloisa. Por que os alunos (não) aprendem História? Reflexões
sobre ensino, aprendizagem e formação de professores de História. Tempo, v.
11, n. 21, 2006.
Saberes produzidos
quando o docente dá aula
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Saberes produzidos na docência:
variações, interrupções e aberturas
Carmem Zeli de Vargas Gil
Variações
Um professor é alguém que usa o conhecimento, a experiência, a formação e a
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bagagem cultural que ele ou ela tem para mexer com os corações e mentes de
pessoas jovens pelas quais é responsável
(SHULMAN, 2019, p. 5)
34 Entre esses está a obra de Lawrence Stenhouse que, em 1975, propôs pesquisas em conjunto reunindo
professores e pesquisadores externos à escola, ou Donald Schön, que, em 1983, falava do professor reflexivo
inspirando-se em John Dewey.
102 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Interrupções
[...] o que preciso saber sobre os estudantes para compreender
como ajudá-los a entenderem Hamlet.
(SHULMAN, 2019, p. 10)
35 Algumas das perguntas formuladas a partir desse acervo são: que temáticas escolhem abordar nas ações
educativas discutidas nos artigos? Que autores mais citam? Como operam com o conceito de patrimônio e
educação patrimonial? Que diálogos estabelecem entre escola e lugares de memória? Como discutem a cidade
no ensino de História? Consideram a crítica à colonialidade como fundamento de suas reflexões? Consideram
os patrimônios subalternizados como foco de suas ações? Evidenciam biografias de homens, mulheres e crian-
ças com nome, idade, cor, gênero, histórias, abordando lutas e resistências? Propõem e efetivam mediações
dialogadas e participativas? Algumas dessas perguntas geram os artigos relacionados abaixo: Gil, Pereira,
Seffner e Pacievitch (2020); GIL e Pacievitch (2017); Gil e Pacievitch (2015); Gil e Chepp (2018); Gil (2014).
106 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Estudante 1:
Dizem que a razão de ser dos artigos está nas perguntas que os animam. E
igualmente, quando possível, na solução destes problemas que as perguntas
conformam; uma resposta, um feixe de luz numa determinada direção. A
primeira indagação que me faço é talvez a mais simples e, para mim, absolu-
tamente necessária. O que aprendi, o que levo comigo, como bagagem, da
disciplina de Estágio em Docência de Educação Patrimonial? Disciplina útil,
na medida em que deu espaço a reflexões acerca do que vem a ser patrimônio,
seja material ou imaterial. Útil, pois permitiu aos estudantes enriquecerem os
debates e discussões com suas vivências, suas opiniões e dúvidas. Útil tam-
Estudante 2:
Aberturas
É a partir dessa literatura que será possível avançar para dimensões teóricas
mais fecundas em torno da prática docente, justamente num momento em
que parece que tudo o que sabíamos ou fazíamos começa a perder sentido.
(ZAVALA, 2016, p. 124)
docência. Inspirada por ela, inventariei aqui os saberes mobilizados a partir dos
autores e autoras que têm me ajudado a aprender a ensinar.
Um dos principais conceitos da disciplina é o de memória. Recorro a Roger
Chartier (2009, p. 21), que propõe aproximações e distanciamentos entre a
História e a memória. Primeiramente, declara que a memória é inseparável
da testemunha – aquele que viu, lembrou, vivenciou, ouviu – e supõe que as
declarações remetem a fatos ocorridos. Já a História fala de “acontecimentos
que se consideram históricos e que nunca foram recordação de alguém”. Depois,
recorre ao imediatismo da lembrança, que une passado e presente como uma
coisa homogênea, e, por isso, se opõe à construção da explicação histórica, um
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Cabe destacar, então, que o conceito de patrimônio com o qual me sinto insti-
gada a operar é aquele que rompe com a perspectiva de “alfabetizar culturalmente”,
ou transmitir valores assentados na valorização de memórias36. Prefiro seguir os
passos de Merillas (2013, p. 18), que indica a centralidade da relação na aborda-
gem do patrimônio. Para ela, o patrimônio se constitui na relação com as pessoas,
de modo que esses “Os bens podem ter componentes tangíveis e intangíveis, até
mesmo uma mistura de ambos. Portanto, quando os bens são pessoas, o patrimônio
é a relação entre pessoas e pessoas, a relação mais imaterial e espiritual que existe”.
Ao compreender o patrimônio como relação, emerge a compreensão do
ensino de História como uma das possibilidades de se aprender a partir da cul-
36 O conceito de memória é citado aqui a partir dos estudos de Elizabete Jelin (2014), que indicam a neces-
sidade de o estudo de História implicar-se na trama entre o que passou e o que continua do que passou.
Saberes produzidos na docência:
– 111
variações, interrupções e aberturas
Necessito estar vigilante para lembrar que as construções de sentido dos esta-
giários vão muito além do que posso oferecer a eles, em termos de vivências na
cidade, leituras e atuação nas instituições de memória.
Nesse movimento reflexivo, cada vez mais compreendo que, no ensino de
História, a educação patrimonial pode ser feita com fontes documentais, para
que um conjunto de saberes, fazeres, formas de expressão, lugares e monumen-
tos sejam problematizados em sua historicidade. Além de ensinar História com
“novas fontes”, a educação patrimonial possibilita associar o currículo às dife-
rentes leituras das cidades, mobilizando cultura e educação para construir aulas
impregnadas de afetividade e atribuições de sentido que correlacionam pautas
com o patrimônio como eu operava? Por que me inquieta tanto que alguns abor-
dem o patrimônio de forma tão conservadora? Não seria relevante provocá-los a
fundamentar suas escolhas? Ou solicitar que explicitem os percursos indicando
por que elegeram trabalhar dessa forma e não de outra? Que conhecimentos do
ensino de História poderiam ajudá-los a justificar o desenho metodológico de
sua proposta de atuação docente? Nesse movimento, consigo desfocar minha
inquietação inicial: dos estudantes para minha atuação na docência. E, quem
sabe, refazer a rota. Sem imposição, de forma generosa, acompanhar suas escolhas
e instigá-los a fundamentá-las com os conhecimentos da História, do campo do
ensino, da Museologia e da Educação.
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37 Em palestra-performance, Grada Kilomba desfaz a ideia de conhecimento “universal”. 2016. Disponível em:
https://mitsp.org/2016/em-palestra-performance-grada-kilomba-desfaz-a-ideia-de-conhecimento-universal/
114 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Uma mulher Negra diz que ela é uma mulher Negra, uma mulher branca
diz que ela é uma mulher, um homem branco diz que é uma pessoa. Bran-
quitude, como outras identidades no poder, permanecem sem nome. É um
centro ausente, uma identidade que se coloca no centro de tudo, mas tal
centralidade não é reconhecida como relevante, porque é apresentada como
sinônimo de humano. Em geral, pessoas brancas não se veem como brancas,
mas sim como pessoas. A branquitude é sentida como a condição humana.
Essas autoras me fazem refletir sobre meu lugar como professora branca em
uma universidade pública, percebendo que as dores humanas são suavizadas para
alguns e, portanto, a humanidade não é sinônimo de homem branco. Conse-
Então...
38 Essa forma de nomear tem inspiração em Shulman (2019, p. 6) quando ele escreve que uma pessoa para desem-
penhar sua profissão com inteligência e com habilidade necessita desenvolver hábitos. Um deles é o do coração.
Saberes produzidos na docência:
– 115
variações, interrupções e aberturas
Se alguém diz: “ensinar não é algo que todo mundo pode fazer?” Minha res-
posta é: “claro que sim!” Mas ao mesmo tempo, há certos tipos de ensino que
quase ninguém pode fazer. São aqueles que requerem enorme conhecimento
tanto do conteúdo a ser ensinado quanto sobre uma variedade de formas pelas
quais outras pessoas podem aprendê-lo (SHULMAN, 2019, p. 8).
pação para como estou aprendendo a ensinar. Certamente, não faço isso sozinha.
Quanto mais coletivo é meu trabalho, mais eu aprendo sobre como ensinar bem
um(a) professor(a) que escolhe para sua vida profissional ensinar História. Estudar,
planejar, escrever e viver momentos culturais e descontraídos com meus colegas
de área na UFRGS, estar com os estudantes nas instituições de memória ou com
os professores da Educação Básica nas atividades de ensino no ProfHistória têm
sido espaços de aprender a ensinar. É com os outros que fazemos nossa vida, ou
ao pertencer a uma “comunidade investigativa” (COCHRAN-SMITH, 2016)
passo a ter as condições necessárias para compreender os pressupostos com os
quais estou operando na docência, tornando-a sempre reflexiva.
116 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Referências
BORN, B. B.; PRADO, A. P. do; FELIPPE, J. M. F. G. “Profissionalismo docente
e estratégias para o seu fortalecimento: Entrevista com Lee Shulman”. Educ.
Pesqui., São Paulo, v. 45, 2019.
JELIN, E. “La memoria, una bisagra entre pasado y presente”. Clepsidra: Revista
Interdisciplinaria de Estudios sobre Memória, n. 2, p. 146-157, octubre 2014.
PIZA, E. “Porta de vidro: Entrada para a branquitude”. In: PIZA et al. (org.). Psi-
cologia social do racismo. Petrópolis: Vozes, 2002.
Introdução
C
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39 Apenas para ilustrar e sem intenção de hierarquizar, citamos a seguinte literatura de referência que divulgou
parte dessas pesquisas: sobre o saber e a ação docentes nos âmbitos da formação inicial ou no exercício da
profissão (TARDIF, 2002; 2013; MONTEIRO, 2007; CAIMI, 2006; SILVA, 2010); a história do currículo, dos
saberes e das disciplinas escolares (GOODSON, 1995; CHERVEL, 1990; FORQUIN, 1992; BITTENCOURT,
2003); aos processos cognitivos relacionados a ensinar e aprender história ou a construção do pensamento
histórico (RÜSEN, 2001; 2012; CARRETERO et al. 2013; LEE, 2012; CAIMI, 2009; SILVA; ROSSATO, 2013).
120 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
41 A primeira edição aconteceu no ano de 2002 e a segunda foi realizada dez anos depois, no ano de
2013. Desde então o encontro acorre a cada dois anos, por meio de rodízios entre as universidades
baianas. Ver: http://ensinodehistoria2015.bahia.anpuh.org/conteudo/view?ID_CONTEUDO=1832.
Acesso em: 21 mar. 2021.
126 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
a Revolução Francesa (D), mas também recentes, como a história e cultura das
populações afrodescendentes (B, E, G), incorporadas a partir das leis 10.639/2003
e 11.645/2008; de saberes pedagógicos como a produção de jogos e brincadeiras
(C) e o uso de fontes e linguagens diversificadas como a oralidade e a produção
de audiovisual respectivamente (B).
Em todos é possível observar o entrecruzamento entre ensino e pesquisa,
seja para conhecimento das peculiaridades dos espaços e turmas em que vão atuar
(A, D, F, H), seja como metodologia de ensino e aprendizagem (B, C, D, E,
G). Nota-se uma grande preocupação em relacionar presente e passado, ensino
de História e o cotidiano dos/as estudantes, sobretudo acionando os chamados
42 Essa relação está sendo investigada de modo mais aprofundado pela doutoranda Adriana Silva Teles
Boudoux em pesquisa sobre o PIBID nas licenciaturas em História da UNEB, desenvolvida no Programa
de Pós-Graduação em História da UDESC, sob orientação da professora Cristiani Bereta da Silva.
Com quais saberes se faz
– 129
uma aula de História?
“temas sensíveis” no dia a dia da sala de aula. Essa inserção vem sendo cada vez
mais compreendida como crucial ao caráter ético do ensino de História, cujos
conteúdos não podem ser tratados como frios, desinteressados e apartados da vida
social. Pelo contrário, como complementam Nilton Pereira e Fernando Seffner
(2018), devem ser abordados de modo a provocar um posicionamento político
diante do passado, do presente e do futuro. E isso é visível nas produções do
PIBID acima analisadas, nas quais predominam questões voltadas para as relações
étnico-raciais e de gênero. Os saberes construídos pelos/as bolsistas articulam
passado e presente, bem como as histórias das localidades em que as escolas
estão inseridas, protagonizadas, principalmente, por homens e mulheres e negras.
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43 O primeiro mestrado profissional foi em ensino da Matemática (ProfMat), de 2011, sob a coordenação da
Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), com apoio do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada
(IMPA). Para saber o histórico desse e dos demais cursos, ver: https://uab.capes.gov.br/educacao-a-distancia/
proeb. Acesso em: 24 fev. 2021.
44 A proposta foi apresentada pela professora doutora Marieta de Moraes Ferreira (UFRJ), a primeira
coordenadora nacional do ProfHistória, e desenvolvida pelos seguintes docentes: Alexandre Fortes (UFRRJ),
130 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Ana Maria Monteiro (UFRJ), Carmen Teresa Gabriel (UFRJ), Felipe Magalhães (UFRRJ), Giselle Martins
Venâncio (UFF), Helenice Bastos Rocha (UERJ), Keila Grinberg (UNIRIO), LuisReznik (PUC-Rio), Marcelo
de Souza Magalhães (UNIRIO), Márcia Chuva (UNIRIO), Márcia de Almeida Gonçalves (UERJ), Mariana
Ferreira Muaze (UNIRIO), Rebeca Gontijo (UFRRJ) e Regina Bustamante (UFRJ).
45 O total matriculado nas 12 IES em 2014 foi de 145. Em 2016, já com 27 IES, foi de 413, em 2018, 453 e
em 2019, 469. Em 2020 ofertou 711 vagas para serem distribuídas em 38 IES.
Com quais saberes se faz
– 131
uma aula de História?
47 A Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino
a obrigatoriedade da temática da história e cultura afro-brasileira e africana. A Lei nº 11.645/2008 altera
novamente a Lei nº 9.394/1996 (já modificada pela Lei nº 10.639/2003) para incluir também a obrigatoriedade
da temática indígena.
138 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Referências
ALBERTI, Verena. Dois temas sensíveis no ensino de História e as possibilidades
da História Oral: a questão racial e a ditadura no Brasil. In: RODEGHERO,
Carla Simone; GRINBERG, Lúcia; FROTSCHER, Meri (org.). História Oral
e práticas educacionais. Porto Alegre: editora da UFRGRS, 2016. p. 35-59.
ALVES, Juliesse Silva; XAVIER, Laila Ferreira. Conhecimento Prévio como refe-
rência para as aulas de História. In: ENCONTRO ESTADUAL DE ENSINO
DE HISTÓRIA DA ANPUH-BA, 5., 2019, Eunápolis, BA. Anais [...]. Eunápo-
lis-BA: UNEB, 2019. Disponível em: https://www.ensinodehistoria2019.bahia.
anpuh.org/site/anais2?AREA=17. Acesso em: 1º mar. 2021.
CAIMI, Flávia Eloisa História escolar e memória coletiva: como se ensina? Como
se aprende? In: ROCHA, Helenice Aparecida Bastos et al. (org.). A escrita da his-
tória escolar: memória e historiografia. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2009. p. 65-79.
em: https://www.ensinodehistoria2019.bahia.anpuh.org/site/anais2?AREA=17.
Acesso em: 1º mar. 2021.
SANTOS, André Luís Rodrigues; SOUZA, Érick Borges de; SPÓSITO, Glenda
de Castro. As rezadeiras de São Félix-BA: histórias e memórias. In: ENCON-
TRO ESTADUAL DE ENSINO DE HISTÓRIA DA ANPUH-BA, 5., 2019,
Eunápolis-BA. Anais [...]. Eunápolis, BA: UNEB, 2019. Disponível em: https://
www.ensinodehistoria2019.bahia.anpuh.org/site/anais2?AREA=13. Acesso em:
1º mar. 2021.
144 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
V isita a museu é parte da cultura escolar.48 Esta prática requer que professores
mobilizem saberes, criando diferentes usos dos museus em suas aulas. Assim,
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48 Na dissertação Ensino de História e museu: os usos docentes do Museu Republicano Convenção de Itu,
entre as várias conclusões, chama atenção o fato de que, embora ainda pequeno, há um conjunto de
pesquisas historiográficas sobre as relações das aulas de história com os museus, que revelam diferentes
usos docentes de espaços museológicos e, portanto, sinalizam para o fato da prática de visitar museus ser
um elemento da cultura escolar. Os resultados das pesquisas têm apontado não ser normativo, por exemplo,
que professores, quando visitam museus, acionem os programas educativos, seja pela não existência deste
setor ou mesmo como opção. Portanto, esse deslocamento de alunos para outros espaços de produção
de conhecimento – o museu – é um rico campo de investigação para o historiador, pois envolve discussões
acerca do ensino de História, da memória e do museu.
49 No Fundo do Museu Republicano, no Arquivo do Centro de Estudos do Museu Republicano Convenção de
Itu, há uma variedade de correspondências recebidas: convites para eventos, circulares da Universidade
de São Paulo, cartas para a direção do museu, documentos referentes as reformas e modificações na
estrutura interna do Museu Paulista, documentos enviados pela prefeitura de Itu, materiais de divulgação
de congressos e reuniões sobre museus
50 Chegou-se a esses cinco docentes por dois meios: o livro de visitas do MRCI e a citação deles em entrevistas
com funcionários do museu.
146 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
51 O Museu Paulista foi inaugurado em 7 de setembro de 1895 como museu de História Natural, na cidade de
São Paulo. Sobre esse museu, ver mais em: Brefe, A. F. O Museu Paulista: Affonso de Taunay e a memória
nacional. São Paulo: Editora UNESP/ Museu Paulista, 2005
52 Ver mais em: Souza, J. Painéis de azulejos do Museu Republicano. II Encontro de História da Arte, IFCH-
Unicamp, 27 a 29 de Março de 2006, Campinas.
Ensinar História por meio de museus:
– 147
os saberes docentes e as visitas ao Museu Republicano “Convenção de Itu” (Itu/SP)
contestados por uma série de conflitos emanados de diversas classes sociais e dife-
rentes grupos políticos, como por exemplo, as greves operárias e organizações de
oposição política ao PRP. Washington Luís, presidente do Brasil de 1926 a 1930,
foi presidente do estado de São Paulo no período de criação do MRCI. Erguer
um museu para celebrar o cinquentenário da Convenção de Itu e a fundação do
PRP significava, também, a tentativa de se reerguer no cenário político.
Cabe aqui ressaltar que na segunda década do século XX, além do MRCI,
havia outros projetos para construir uma narrativa nacional em museus, como é
o caso do Museu Mariano Procópio (1921), localizado em Juiz de Fora (MG) e
do Museu Histórico Nacional (1922), no Rio de Janeiro (RJ). Esses museus estão
inseridos no debate intelectual. Logo, as instituições museais não escaparam do
debate dos anos 1920, muito pelo contrário.
Mario Chagas, ao traçar um perfil desse debate nos museus brasileiros, o apre-
senta como: pensando o nacional do ponto de vista regional, permanência do espírito
celebrativo, narrativas voltadas a atender interesses de oligarquias, localizações fora do
Distrito Federal e suas formulações intelectuais diretamente conectadas a Institutos
Históricos e Geográficos. Chagas cita as referências intelectuais como vindas dos
seguintes espaços: Instituto Histórico Geográfico Brasil (IHGB), Academia de Belas
Artes e o Museu Nacional. O Museu Paulista aparece como referência intelectual,
em menor escala se comparado aos anteriormente citados. O caso do MRCI não
escapa a esse contexto, criado por uma oligarquia, o PRP, em comemoração aos 50
anos da Convenção de Itu e sua referência intelectual, em especial Taunay, dialoga
com as ideias circulantes no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Museus como o MRCI são tomados como estudos por Ulpiano Meneses,
Francisco Régis Ramos, Junia Pereira e Lana Siman. Os autores e autoras fazem
parte de um referencial para as pesquisas que tomam o museu como objeto
de pesquisa para o ensino de história.53 Para eles, o museu de História é ine-
53 Ver mais em: Leite, M. H. Ensino de História e museu: Os usos docentes do Museu Republicano Convenção
de Itu. Dissertação (Mestrado em História Social) - Rio de Janeiro: UNIRIO, 2018
148 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Tomando por base essas concepções, não é difícil compreender por que as
escolas buscam nos museus apenas uma ilustração para seus cursos e, em
contrapartida, não é difícil entender que propostas museológicas, mesmo
bem-intencionadas quanto a sua contribuição para a melhoria do ensino,
confundam seu campo de atuação, reduzindo-o do vasto âmbito da cultura
para o complemento à escola, segundo os padrões e normas que regem a
prática escolar (LOPES, 1991, p. 446).
A crítica de Lopes não está na atuação dos professores, mas sim nos
museus, pois, muitas vezes, ao buscar estatísticas no final do ano não amplia-
vam o caráter cultural para públicos além da escola. Isso possibilitou criar
um imaginário entre os professores acerca do museu com esta característica:
a da ilustração, no sentido de entender o museu como apenas um exemplo
dos conteúdos de sala de aula.
A visão do museu como questionamento ou vivência crítica se aproxima do
ponto de vista de Ulpiano Menezes, apresentando a potencialidade e necessidade
de o ensino de História e o museu dialogarem. Meneses parte do pressuposto que
a cultura material exposta no museu o torna um espaço de conhecimento histórico
Ensinar História por meio de museus:
– 151
os saberes docentes e as visitas ao Museu Republicano “Convenção de Itu” (Itu/SP)
sobre nossa realidade, devendo ter como seu compromisso a perspectiva crítica e
não atender às demandas da indústria cultural. Nesse caminho, entende o museu
como um lugar privilegiado para ser um laboratório da História, ou seja, perceber
o museu como objeto de conhecimento, promovendo visitas com possibilidades
de pesquisa, discutir as narrativas presentes, analisar exposições e objetos.
55 O programa de perguntas e respostas apresentado por Cassiano Ricardo e Cornélia Herr foi exibido ao
vivo e com plateia entre 1987 e 1989. Já na abertura da apresentação um faraó aparecia impondo respeito:
“Eu sou Tutancâmon, faraó de todo o Egito. Vocês perturbaram o meu descanso de 34 séculos. Por essa
ousadia, deverão pagar com perícia, coragem e conhecimento. Eu os desafio a descobrirem o meu Enigma!”
Os candidatos testavam o seu conhecimento e quem acertasse a charada final, era o grande vencedor. Os
prêmios eram objeto de desejo para a época: de computadores a videocassete estéreo.
152 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Paulo, sempre nos finais de semana. O professor relata não ter havido visitas e
discussões sobre museu durante a sua formação inicial. Houve uma iniciativa do
professor de Geografia para levá-los a uma visita a Paranapiacaba.
Percorrendo suas trajetórias de formação, estes professores nos relevam em
suas narrativas uma questão importante: a graduação de História não continha
um espaço oficial para se discutir o museu, tão pouco as imbricações entre
o museu e o ensino de História. Pelos estudos de Maurice Tardif, os saberes
docentes são formados, também, por saberes da formação profissional. Estes
são advindos da formação científica e erudita do professor, assim como das
concepções provenientes de reflexão sobre práticas educativas que representam
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Por quê? Porque o assunto casa com o período da República, né? Então
antes de a gente entrar na questão da Proclamação da República, o que
eu tava trabalhando era a importância do manifesto republicano e aí
puxando a importância de Itu, valorizando a questão de Itu, nesse con-
texto de berço da República (Edilene Viana, entrevista concedida em 27
de março de 2017).
Na época tava abrindo ali na praça da Matriz, que ainda hoje tem, um negó-
cio de milk-shake [...] E aí depois eles foram pra praça tomar milk-shake,
então muitos relataram isso na apresentação. Sozinhos eles não entravam
no museu, mas como eles estão em grupo, entravam. Quantas vezes vocês
acham que já passou na frente do museu? Ah, inúmeras vezes. Por que você
nunca entrou? Ah porque eu vou entrar sozinho no museu, que que eu vou
fazer lá? (Edilene Viana, entrevista concedida a Marcelo Henrique Leite,
em 27 de março de 2017).
A visita proposta por Edilene pode ser identificada com um dos tipos apre-
sentados por Paulo Knauss sobre as visitas escolares ocorridas no Museu História
Nacional nos anos 1950:
Por sua vez, as visitas escolares livres eram as que se realizadas por grupos de
estudantes indicados, fora do horário de aula e sem serem necessariamente acom-
panhados, propondo-se um tema para estudo ou inquérito. As visitas escolares
combinadas, porém, compunham-se de uma parte dirigida e outra parte livre,
combinado assim os outros dois tipos (KNAUSS, 2011, p. 586, grifo nosso).
Muitas vezes eu não vim para o museu para fazer aquela visita formal, ou
seja, entro, visito o acervo, e saio com os alunos. Eu vinha dar aula de campa-
nha republicana no museu. Eles traziam caderno, livro, estojo. Eu tinha um
material próprio pra eles, uma espécie de avaliação, e a gente sentava naquela
sala do meio, que não tinha cadeira, não tinha nada, a gente sentava no chão,
e a gente conversava a aula inteira ali, que seria o tempo de duas aulas de
cinquenta minutos. Isso com o 3º ano, que era exatamente esse período aí de
História do Brasil (Luiz Roberto, entrevista concedida a Marcelo Henrique
Leite, em 27 de março de 2017).
[...] Eu gostava de trabalhar isso, até mesmo, com alguns alunos ali do Ensino
Médio, era um texto que eu achei uma vez, que eu até guardei pra trabalhar,
que era sobre uma exposição que estava no Rio de Janeiro, não vou lembrar
agora se era o Monet ou Manet, acho que era Monet. A imprensa falou que era
um grande artista, bem, muitos iam pelo senso comum e me marcou muito
essa reportagem que as pessoas ficavam horas na fila. Um repórter chega e fala
com uma senhora, e o que atraiu ele também foi porque ela estava com uma
vestimenta simples, né, diferente, daquele, daquela visão de quem vai no museu
aqui no Brasil – a elite, classe média – e chamou atenção: “Ah, o que te trouxe
aqui pra exposição?” Aí ela fala, nem sabia pronunciar direito o nome do artista e
tal, e ela fala: “Eu acho que é importante pro meu filho, porque foi falado, falou que
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é um grande artista, tal”. E ela estava levando por conta disso (Rodolfo Hussel,
entrevista concedida a Marcelo Henrique Leite, em 19 de janeiro de 2018).
O museu não possui mais o espaço expositivo citado por João, visto por ele
como algo negativo, pois inviabiliza os alunos compreenderem traumas vividos
pela população negra nos primeiros anos da República. A visita ao museu planejada
160 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Próximas visitas
Referências
ANDRADE, C. A paixão medida [1981]. São Paulo: Companhia das
Letras, 2014
Fontes
Entrevistas
SILVA, João Alvino da. [Entrevista cedida a] Marcelo Henrique Leite. [S.l.], 8
jun. 2018. 32 (trinta e dois) minutos gravados.
SILVA, José Augusto Alves da. [Entrevista cedida a] Marcelo Henrique Leite.
[S.l.], 25 maio 2017. 57 (cinquenta e sete) minutos gravados.
Propostas curriculares
A avaliação não é uma tortura medieval. É uma invenção mais tardia, nascida
com os colégios por volta do século XVII e tornada indissociável do ensino de
massa que conhecemos desde o século XIX, com a escolaridade obrigatória
(PERRENOUD, 1999, p. 9)
espaço escolar, seja desafiando a Liturgia da Escola (BOTO, 2014, p. 102), seja
contestando a Pedagogia da Avaliação em Larga Escala (GATTI, 2009, p. 10). Nas
salas de aula, conselhos de classe e reuniões de pais e mestres, muitos dos esforços
se direcionam para a superação da avaliação exclusivamente examinatória e classi-
ficatória. Essa tentativa de mudar a forma de acompanhar os percursos formativos
de crianças e adolescentes levou pesquisadores e especialistas a acreditarem que as
escolas efetivamente aderiram a uma nova perspectiva teórico-metodológica de
avaliar. Hoje, sabe-se que o processo de avaliação das aprendizagens é múltiplo,
mas que carrega histórias e memórias de um tempo em que era tomada apenas
como instrumento para classificar, excluir e punir. Dessa forma, dada a comple-
xidade da realidade escolar, é necessário conhecer a multiplicidade de matrizes
teórico-metodológicas exibidas na literatura, para explicar: o que se avalia, para
que se avalia, como se avalia e quando se avalia nas escolas brasileiras.
Tendo em conta que todo processo de avaliação está articulado a uma abor-
dagem teórico-metodológica capaz de gerar práticas avaliativas, que tanto podem
ser inclusivas quanto podem ser excludentes, defende-se que o ato de avaliar
precisa ser orientado por “princípios que lhe confiram rigor, utilidade, signifi-
cado e relevância social” (FERNANDES, 2010, p. 17). Avaliar é uma prática
pedagógica, política, cultural e social. Para Domingos Fernandes, as avaliações
das aprendizagens na contemporaneidade devem ser observadas a partir de uma
abordagem multirreferenciada, que permita elucidar um conjunto de elementos
que, supostamente, uma “boa” avaliação deva conter (FERNANDES, 2010).
Na perspectiva deste pesquisador, toda avaliação precisa apresentar os seguintes
elementos: a) os principais propósitos da avaliação; b) a perspectiva metodológica
adotada e os procedimentos e técnicas que devem ser privilegiados; c) o papel
do avaliador e dos avaliados; d) o papel e o grau de participação dos envolvidos
no processo avaliativo; e) a definição das audiências; f ) o tipo de estratégia de
divulgação dos resultados da avaliação (FERNANDES, 2010).
Nesse sentido, reiterando que a avaliação da aprendizagem deve ser reconhe-
cida como uma prática historicamente construída e que “pode contribuir para
168 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
p. 11), por sua vez, defende que a concepção de avaliação presente no espaço
escolar precisa ser alargada, de tal maneira que não seja associada à criação de hie-
rarquias, onde “os alunos [fossem] comparados e depois classificados em virtude
de uma norma de excelência, definida em absoluto ou encarnada pelo professor
e pelos melhores alunos”. Para Perrenoud, a função tradicional da avaliação e o
seu novo papel mostram que as práticas avaliativas vigentes no cotidiano escolar
estão estruturadas a partir de duas lógicas: a formativa, que se preocupa com o
processo de construção do conhecimento dos estudantes, e a somativa, centrada
no resultado das provas, testes e produtos quantificáveis.
Em diálogo com essas novas perspectivas, encontra-se no Brasil, sobretudo
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a partir dos anos 1990, os estudos realizados por Cipriano Luckesi, Jussara
Hoffmann, Celso dos Santos Vasconcelos, Ana Maria Saul e Maria Teresa Este-
ban. Esses trabalhos passaram a exercer influência nos modos de observar as
práticas avaliativas no cotidiano escolar no país. Os pressupostos defendidos
pelos autores e autoras exibem convergências entre si, indicando a existência
de um amplo consenso na área. Embora se situem em bases epistemológicas
distintas, os autores
Avaliação Celso dos Avaliar para ajudar a escola Propiciar aos educandos a Atividades de rees-
Dialético- Santos a cumprir a sua função social elaboração de sínteses do crita e reflexão das
Libertadora Vasconcelos transformadora, ou seja, favo- conhecimento construído no ações desenvol-
recer que os alunos possam espaço escolar. Esse exercício vidas na sala de
aprender e se desenvolver, deve ser realizado tanto pelos aula (atividades de
levando-se em conta o com- estudantes, quanto pelos pro- metacognição).
promisso com a construção fessores. Organizar atividades
de uma sociedade mais justa de produção textual ou oral que
e solidária. Avaliar é ser capaz permitam localizar as suas ne-
de acompanhar (VASCONCE- cessidades e, juntos, possam
LOS, 1998, p. 83). trabalhar para superá-las.
Avaliação Ana Maria Caracteriza-se como um pro- Descrição da realidade dos Roda de saberes,
Democrática e Saul cesso de descrição, análise estudantes, buscando um diá- produção de textos
Emancipadora e crítica de uma dada rea- logo entre os conhecimentos e narrativas orais
lidade, com vistas a trans- dos estudantes. Enfatizar a colaborativas.
formá-la. O compromisso criação coletiva.
principal deste processo é
que, na ação educativa, os
estudantes aprendam a es-
crevam sua própria história
(SAUL, 2000, p. 61).
continua...
Saberes e (dis)sabores da avaliação na aula de História: – 173
o que pode o professor aprender quando avalia?
continuação
Tipo Autor/A Definição Metodologia Instrumentos
Avaliação Philippe Avaliação que auxilia o estu- O professor constrói seu pró- Múltiplos
Formativa Perrenoud dante a aprender e a se de- prio sistema de observação, instrumentos.
senvolver, em que o próprio interpretação e intervenção.
estudante participa da regula-
ção das aprendizagens (PER-
RENOUD, 1999, p. 103).
Avaliação Maria Avaliação como campo de Observar o que sabe quem Múltiplos
Democrática e Teresa negociação, onde o estudante erra. Instrumentos.
Inclusiva Esteban tenha seu conhecimento inte-
grado ao conhecimento escolar
(ESTEBAN, 2010, p. 53)
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Avaliação ------------ Avaliação tem como foco o Organizar atividades práticas Produção textual
Qualitativa processo de construção do co- e experiências significativas com impressões dos
nhecimento pelos estudantes planejadas conjuntamente estudantes.
(AFONSO, 2005, p. 34)
Avaliação -------------- Avaliação voltada para quan- Organizar atividades de es- Provas, testes e
Quantitativa tificar os acer tos e erros crita que possibilitem ao pro- exames.
(AFONSO, 2005, p. 34). fessor mensurar a retenção
de informações, conceitos,
conhecimentos.
Avaliação ------------- Avaliação para verificar se os Organizar atividades escritas Provas, testes e
Somativa objetivos preestabelecidos ou orais para verificar se os exames.
foram alcançados (AFONSO, objetivos preestabelecidos
2005, p. 35). foram atingidos.
Avaliação ------------- Avaliação que tem como obje- Elaboração de atividades que Provas, testes e
Normativa tivo estabelecer comparações permitam quantificar e classifi- exames.
dos rendimentos dos estudan- car os estudantes, sobretudo
tes (AFONSO, 2005, p. 35). nas dimensões cognitiva e
instrucional.
Avaliação ------------- Avaliação para verificar se os Organiza atividade de escrita Provas, testes e
Criterial objetivos preestabelecidos ou oral para ver se os obje- exames.
foram alcançados (AFONSO, tivos preestabelecidos foram
2005, p. 35). atingidos
Avaliação José Avaliação que tem como foco os Organizar atividades em que Autoavaliação
Dialógica Eustáquio exercícios metacognitivos, a fim os alunos possam expressar
Romão de que tanto o estudante quanto impressões do processo de
o professor possam ter cons- aprendizagem.
ciência do que se aprendeu, do
que se ensinou e do que precisa
melhorar (ROMÃO, 2003, p. 47).
Fonte: Sistematização elaborada pelas Autoras.
aprendemos nada nos sucedeu ou nos aconteceu” (p. 19). Portanto, admitindo a
sala de aula como um lugar de experiência, entendemos que é potencialmente o
território em que os professores desenvolvem reflexões sobre o que lhes passa, o
que lhes toca. Ali, a despeito de agir na urgência e decidir na incerteza, como alerta
Perrenoud (2001) em obra homônima, os professores encontram elementos para
operar análises e diagnósticos do que sucede consigo, com os estudantes, com os
materiais didáticos, com as estratégias pedagógicas e com os cenários mais amplos,
como a escola, as juventudes, a sociedade, a cultura, a política.
Para tematizar as concepções de professores de História sobre a avaliação
da aprendizagem, valemo-nos de alguns autores cujos estudos são produzidos no
Brasil, na Espanha, no Reino Unido, dentre os quais Hidalgo e Murillo (2017, p.
108), para quem “concepções se definem como um sistema organizado de crenças,
originadas nas experiências do indivíduo e desenvolvidas através das interações
das quais participa”. Ainda segundo os autores, as concepções têm um caráter
eminentemente social, porquanto são erigidas em práticas culturais coletivas,
e determinam, em larga medida, nossos modos de agir e a intencionalidade de
nossos atos. As concepções docentes, dessa forma, são entendidas como “um
marco ou estrutura de ideias implícitas pessoais através das quais os docentes
interpretam sua prática profissional” (HIDALGO; MURILLO, 2017, p. 109).
A avaliação, como já dito, constitui uma parte fundamental do processo de
ensino-aprendizagem e está essencialmente associada aos propósitos e finalidades
que se atribui à História escolar. O provocativo título apresentado por Carrasco e
Martínez (2015) nos coloca diante de duas possibilidades extremas de conduzir
as práticas de ensinar e aprender História na escola: pensar historicamente ou
memorizar o passado. Na segunda concepção – memorizar o passado – temos
circulando a tradição de uma História escolar como um saber revelado, obje-
tivado, acontecimental. Na primeira possibilidade – pensar historicamente – a
História é reconhecida como uma das formas possíveis de produzir relatos sobre
58 A segunda parte deste subtítulo “pensar historicamente ou memorizar o passado” vem de Carrasco e
Martínez (2015), em estudo que será oportunamente abordado aqui.
176 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
A epígrafe que abre essa última seção integra o “livro falado” entre Paulo
Freire e o chileno Antonio Faundez, intitulado Por uma pedagogia da pergunta.
O livro falado, assim denominado pelos autores, registra a palavra de ambos
Saberes e (dis)sabores da avaliação na aula de História: – 183
o que pode o professor aprender quando avalia?
favorece que o estudante tenha uma maior participação nas atividades escolares
e possa refletir sobre suas próprias formas de pensar e aprender, no horizonte
metacognitivo.
O professor de História, ao avaliar, não pode esquecer que o conhecimento
é produto construído culturalmente, socialmente, politicamente, cognitivamente.
O conhecimento não é mobilizado “espontaneamente, imediatamente e da mesma
forma por todas as pessoas que se encontram em situação de aprendizagem”
(CAIMI, 2015, p. 119), por isso é fundamental “problematizar em que consiste
a tarefa de aprender, do ponto de vista do aluno, compreendendo a estrutura da
cognição e os recursos cognitivos mobilizados nas diversas situações de aprendi-
zagem” (CAIMI, 2015, p. 119). Dessa forma, os processos avaliativos não podem
voltar as costas aos fundamentos epistemológicos, pedagógicos e cognitivos do
campo do Ensino de História.
Em diversos trabalhos, os pesquisadores defendem que aprender a pensar histo-
ricamente envolve operações cognitivas como: análise, argumentação, comparação,
interpretação, reflexão, inferência e formulação de hipóteses. Segundo Carrasco
e Martínez (2015), aprender a pensar historicamente não significa acumular na
memória conceitos, datas, fatos e acontecimentos. Entender e compreender o sig-
nificado do conhecimento histórico na vida prática implica outros elementos que
estão relacionados ao pensamento histórico. Este tipo de pensamento se desenvolve
em crianças, adolescentes e adultos, na medida em que se incorpore no cotidiano
práticas de problematização e investigação próprias dos historiadores, ou seja,
quando colocamos em prática a operação historiográfica. Conforme o estudo dos
pesquisadores espanhóis, para desenvolver o pensamento histórico nos estudantes
convém que os professores de História sejam dotados de “uma teoria sólida sobre o
pensamento e a compreensão históricos, a aprendizagem da disciplina e a busca de
marcadores de progressão cognitiva” (CARRASCO; MARTÍNEZ, 2015, p. 60).
O tema da progressão do conhecimento histórico mencionado pelos autores
é um dos mais controversos nos debates sobre aprendizagem e avaliação. Isso por-
que, muitas vezes foi entendido e tratado como um construto linear e acabado,
186 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Referências
ACOSTA, J. M. O currículo interpretado: o que as escolas, os professores e as
professoras ensinam? In: SACRISTÁN, J. G (org.). Saberes e incertezas sobre
o currículo. Porto Alegre: Penso, 2013. p. 188-208.
Ática, 1988.
Seção III
59 Rodrigo Patto Sá Motta no livro As universidades e o regime militar chama a atenção para o quanto as
movimentações estudantis dos anos 1960 do século XX influíram diretamente na reforma universitária que
foi consolidada pela Lei nº 5.540/68. Nos dois sentidos da pressão: pela mudança e no recuo, em alguns
momentos, dos governos militares com receio da repercussão nos meios universitários e resultar em novas
mobilizações dos estudantes. Para aprofundar estas questões ver Motta (2014).
60 O que estamos denominando conhecimentos teóricos – os quais serão desenvolvidos ao longo do texto – são
os saberes mobilizados pelo que, convencionalmente, se trata nos componentes curriculares que ganham
diversos títulos, mas que em geral, estão em Teoria da História; Historiografia, Metodologia da Pesquisa;
Metodologia do Ensino de História; Memória e Patrimônio Cultural; Didática da História etc., como definidos
em Oliveira e Freitas (2014).
194 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
61 A live, por exemplo, fenômeno social de sociabilidade no mundo em pandemia teve repercussões singulares
nos meios dos professores de História. Individualmente como professores de História, ou representando
museus, laboratórios de pesquisa, programa de pós-graduação etc., ingressaram nas lives a partir das
plataformas especializadas ou redes sociais, conferindo outra dimensão pública da atuação do professor
de História.
Formação profissional e inovação no
– 195
ensino de História em tempos de pandemia
Daí nossa defesa de que estes conhecimentos teóricos não sejam tratados
simplesmente como componentes curriculares com fins em si mesmos – no sen-
tido de uma “disciplina” como Teoria da História ou Ensino de História. Essa
condição acaba por separar o que deveria estar na base do fazer historiográfico:
a transversalidade desses saberes. As universidades já possuem parte da estrutura
necessária para essa transversalização. A outra parte exige nova organização dos
lugares físicos como salas de aulas, laboratórios ou utilização da infraestrutura
das universidades públicas que, em geral, contam com museus, rádios, emissoras
de televisão, entre outros, com fins de criação de novas vivências, elaboração de
estudos e, sobretudo, a determinação das condições de ensino-aprendizagem dos
62 A tecnologia de comunicação é o recurso midiático usado por um grupo social ou sociedade para exercer
a cultura e preservar recursos materiais e simbólicos, bem como a si próprio. As técnicas corporais e as
oralidades são as tecnologias comunicacionais mais antigas disponíveis, as quais se acoplaram as diversas
escritas e tecnologias visuais. Cada uma delas implica em tipos de cognição socialmente compartilhados
e historicamente dados, distribuindo e hierarquizando os saberes em geral, bem como os saberes sobre o
passado particulares. Ver Goody (2012).
63 A preservação de bens culturais é uma prática cultural diversificada que no Ocidente adquiriu formatos
disciplinares dos quais os mais conhecidos é a instituição patrimonial. Ver. Meneses, 2016. Isso significa que
a preservação do saber sobre o passado socialmente compartilhado é distribuído socialmente e vinculado
à manipulação de recursos sociais que se organizam ao redor dos dispositivos de sua produção, dos quais,
além do patrimônio, a historiografia é um dos mais refinados exemplares metódicos. As diversas culturas
de passado que existem, dos quais a historiografia é apenas um componente, demonstram que o passado
é um capital cultural disputado; ou seja, ele é compartilhado, diferenciadamente distribuído e quase sempre
hierarquizado. Ver Nicolazzi (2019).
198 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Sem dúvida, os projetos pedagógicos dos cursos têm esses princípios como nor-
teadores, contudo, o que as pesquisas acadêmicas e de gestões demonstram são
as dificuldades para que estes princípios se transformem em práticas.
Para formar esses profissionais, os cursos de História devem produzir conhe-
cimento histórico na dimensão da pesquisa e do ensino, promover novas práti-
cas de ensino-aprendizagem adequadas às situações que serão enfrentadas pelos
graduandos em sua futura atuação profissional.
Estas ideias são consolidadas no princípio de que o método histórico fun-
damenta o ensino de História, e foram explicitadas em pesquisas e por meio
experiências como relata Neves (1980; 2011). A Associação Nacional de História
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64 Uma história do ensino de História via os departamentos de História das universidades, que considerasse a
reformulação constante dos modelos de formação de professores, bem como a elaboração da citada tríade
se mostra mais urgente do que nunca para compreender este ponto.
200 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
própria vivera, como no ato e ocasião na qual conta, depois, o que fora vivido.
A pandemia permite um deslocamento nesta fórmula: ao posicionar os alunos
(e o professor) a partir de seu próprio cotidiano, buscando e gerando narrativas, e,
identificando vestígios das suas próprias ações e das de outras pessoas, no processo
de aprendizagem, discentes se tornam testemunhas do próprio presente, na mesma
medida em que passam a entender seu tempo como histórico.
Muitas universidades públicas retomaram as aulas de forma remota e, nossa
proposta, é contribuir para que os colegas possam elaborar suas estratégias de ensi-
no-aprendizagem, considerando o novo formato de aulas, as condições dos alunos,
sem abrirmos mão da possibilidade de construir aprendizagens significativas.
Deste modo, tratar do momento vivido da pandemia causada pela covid-
19 é uma oportunidade de entender o fenômeno, mas também procurar com-
preendê-lo dentro de uma conjuntura e de uma estrutura. No que diz respeito
à estrutura, esse é o momento que nos permite refletir sobre as razões que nos
levaram a tal estado de coisas: um modelo degradante de exploração dos recur-
sos naturais e do trabalho e um modelo econômico que tem a crise como o seu
normal– o neoliberalismo.
Trabalhar com a experiência do aluno a partir de sua trajetória de vida
no momento atual, a construção de autonarrativas ou narrativas biográficas de
outras pessoas, a partir critérios de grupo imediatamente acessíveis no cotidiano
do aluno, como a família, os amigos, grupos de trabalho como professores,
comerciantes, artistas, profissionais de saúde podem ter um resultado revelador.
Os profissionais da saúde (psiquiatras, psicólogos, terapeutas holísticos) se dispu-
seram a atender/orientar pessoas nesse momento, criaram grupos, comunidades
nas redes sociais digitais.
Sistematizando: se as experiências com a pandemia (e todas as demais) são
adquiridas-acumulada-modificada pelo aluno (e pelo próprio professor), para
cada uma dessas condições emerge uma possibilidade de narrativa e de desen-
volvimento metódico. A aquisição da experiência na novidade sanitária e social
202 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
65 Acácio Simões produziu um produto didático que denominou de “Fontímetro” que tem grande potencial de
utilização nesse caso. Sua produção foi voltada para os alunos da educação básica. Ver Simões (2019).
66 Frequentemente não sabemos quem criou um meme, mas pode-se vinculá-lo a datações como, por exemplo:
1) identificar por meio de qual entidade (enviado por uma pessoa ou instituição) ou rede social se teve
acesso (jornal, whatsapp etc.); 2) se fora um lançamento com criador identificado ou não; 3) a datação
de sua chegada no cotidiano do aluno (quando teve acesso, por meio de quem); 4) catalogar reações nos
meios sociais de compartilhamento (seja digital ou não).
Formação profissional e inovação no
– 205
ensino de História em tempos de pandemia
67 A experiência de Danilo Alves é anterior à pandemia, mas ao produzir uma experiência de ensino híbrido
utilizando a plataforma moodle propôs uma interessante proposta em que os alunos da educação básica
mobilizaram depoimentos, outros vestígios e produção de narrativas. Ver Silva (2019).
206 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Referências
CAINELLI, M.; SCHMIDT, M. “Desafios teóricos e epistemológicos na pes-
quisa em educação histórica”. Antíteses, Londrina, v. 5, n. 10, p. 509-518, jul./
dez. 2012.
68 O uso da linguagem inclusiva na produção acadêmica se faz urgente e necessário. Ainda estamos aprendendo
a fazer isso nos textos e demais produtos técnicos-científicos. Ao mesmo tempo, entendemos que a
linguagem binária não é o suficiente para representar todos, todas e todes, no entanto, neste momento, por
uma questão de aprendizagem, optamos por usar, de modo alternado, os gêneros masculino e feminino,
dando ênfase maior para este último, por representar o lugar social de onde falamos.
210 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
[...]a aproximação entre ambas durante o período viu-se afetada pela dificul-
dade dos sujeitos para trabalhar em conjunto, seja pela falta de hábito de fazer
isso, seja por disporem de condições materiais muito diferentes, ou, final-
mente, por viverem culturas institucionais muito diversas. Nesse sentido, por
vezes os professores das escolas se viam como meros objetos de investigação.
Por outro lado, quando chamados para uma aproximação maior em relação
ao mundo acadêmico, muitos se sentiam inseguros e/ou não dispunham de
tempo para fazê-lo (CASTRO; AMORIN, 2015, p. 52).
Algumas inquietações foram se fazendo presentes no meu dia a dia, a tal ponto
que, posso afirmar, minha formação acadêmica também foi se refinando e
assumindo um caráter formativo-implicado com a formação do outro e com
a minha própria formação (GONÇALVES, 2017, p. 75).
Produtos educacionais e metaformação no ProfHistória:
– 217
ao produzir ensino, o que aprende o/a professor/a de História?
METAFORMAÇÃO
PESQUISA ENSINAGEM
PRODUÇÃO DE
RELAÇÃO
MATERIAIS
ATIVIDADE FORMATIVA ENSINO E
DIDÁTICOS APRENDIZAGEM
PROCESSO AUTOFORMATIVO
experiências, por isso, sua construção não pode ser vista a partir de uma perspec-
tiva binária teoria-prática. O produto é a materialização do ser e estar na profissão.
A confecção dos produtos educacionais possui um conjunto de desafios que
a CAPES, chamou atenção ao organizar essa classificação que precisa ser observada
pelos mestrandos e seus respectivos orientadores. Os produtos precisam se preocupar
com a Linguagem, a Capacidade de replicação, a Internacionalização, a Disponi-
bilidade e Acessibilidade, ou seja, a capacidade de expressar o conteúdo de forma
clara, correta e adequada; bem como a possibilidade de replicação e/ou utilização do
produto por público alvo de outros países cujo idioma é diferente daquele adotado
pelo país de origem e tornar o produto disponível divulgação e popularização não
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
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Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
E mais,
Além dos professores de História, o conteúdo deste site poderá servir aos
demais docentes e ao público em geral. A intenção em abordar os diversos
olhares sobre o patrimônio local, na perspectiva da educação patrimonial,
228 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
propósito das abordagens sobre patrimônio realizadas pelo Pibid naquele ano
de 2015 ademais, abre possibilidades para o diálogo constante entre as pessoas
que acessarem o dispositivo, visto que há espaço para interação, que é funda-
mental para redimensionar nossas práticas, seja como professores, pesquisa-
dores ou um simples admirador da história local (MARTINS, 2020, p. 141).
Este guia é aqui entendido como um instrumento que pode e deve colocar à
disposição do docente um conjunto de textos, atividades e reflexões sobre a
possibilidade de trabalho com histórias de vida como recurso didático, com
Considerações finais
Referências
BALATSOUKAS, P.; MORRIS, A.; O’BRIEN, E. A. Learning objects update:
review and critical approach to content aggregation. Educational Technology
& Society, v. 11, n. 2, 2008. Disponível em: http://ifets.info/journals/11_2/11.
pdf. Acesso em: junho 2021.
revistas.udesc.br/index.php/percursos/article/view/198472461838201703. Acesso
em: maio 2021.
LUDKE, Menga. O professor, seu saber e sua pesquisa. Educ. Soc. [on-line],
v. 22, n. 74, p. 77-96, 2001. ISSN 1678-4626. Disponível em: https://doi.
org/10.1590/S0101-73302001000100006. Acesso em: maio 2021.
OLIVEIRA, Itamar Freitas de; OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. Desafios
do mestrado profissional na reinvenção do campo do ensino de história: uma
avaliação preliminar dos programas de ensino de teoria da história e de história
do ensino de história. CLIO: Revista de Pesquisa Histórica – CLIO (Recife.
234 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
A escola é espaço de produção de saber e não pode ser entendida como mera
reprodutora ou transmissora de conhecimentos externos (CHERVEL, 1990).
Nada obstante, a instituição escolar foi encarada pelo governo ditatorial brasileiro
70 Publicado pelas Edições Michalany, essa coleção de quatro volumes foi inicialmente denominada de Enciclopédia
do Meu Brasil. Aqui é analisado um exemplar da 23° edição, publicada em 1982, e que foi anunciada pelo seu
editor como “Edição Revista, Aumentada e Atualizada com o censo brasileiro de 1980”. Ela é da Gráfica-Editora
Michalany S/A, mas foi impressa, inclusive a 23° edição, na São Paulo Indústria e Editora S/A, com os filmes
produzidos pelo editor. Trata-se de uma coleção de quatro volumes, que somam 659 páginas, divididos de forma
mais ou menos equitativa. Com capa dura, os livros têm páginas com dimensões de folha de papel A4 (29,7 x
21,0 cm) e são organizados em oito unidades, que são compostas por textos-base (impressos em preto) e textos
paralelos “integrados no assunto respectivo” (impressos em azul), intercalados com muitas imagens e fotografias,
a maioria colorida. Não há atividades ou box com sugestões para pesquisas, ou de outros livros e filmes. Não há
glossário. A coleção pertence a meu acervo (na verdade, os três primeiros tomos, o quarto não foi localizado): foi
achada na estante de livros de meu avô, já falecido, e dados a mim por uma tia, que conhecia meu apreço por
ela, junto a máquina de escrever Olivetti Letrera35t e a coleção de moedas antigas, também do meu avô.
71 Nasceu em São Paulo, em 27 de agosto de 1921. Foi bacharel em Direito e em Ciências Sociais e Políticas;
Oficial R2 do Exército Nacional. Professor, Escritor, Historiador, Geógrafo e Advogado (OAB 8987 – SP). Na
sua formação esportiva foi Campeão Paulista e Brasileiro de Natação e Polo Aquático. Nadador de provas
de longa distância, Campeão Brasileiro de Natação Master. Também teve mais de 40 obras publicadas, em
mais de 70 volumes, como autor e coautor. Por fim, foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de São
Paulo, Academia Cristã de Letras, Academia Paulista de História (presidente por nove anos). Disponível
em: http://www.agemcamp.sp.gov.br/cultura/index.
72 Ciro Ramos Pacheco, a partir da década de 1990, foi professor de História do Colégio e Curso Objetivo, em
São Paulo. José de Nicola Neto atuava como professor de português desde 1968 e é autor da Gramática
Contemporânea da Língua Portuguesa (Ed. Scipione, 1999). Clovis Pacheco Filho tornou-se mestre em
Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de
São Paulo, defendendo, em 1994, a dissertação Diálogo de Surdos: as dificuldades para a construção da
sociologia e seu ensino no Brasil, tendo sido orientado pela Profa. Dra. Elza Nadai.
73 José Nicola Neto e Clovis Pacheco Filho provavelmente auxiliaram a adaptação da obra Enciclopédia do
Meu Brasil em Curso de Estudos Sociais Integrado, pois, no certificado da licença dada pela Comissão
Nacional de Moral e Civismo, apenas foram registrados os nomes de Douglas Michalany e Ciro Ramos
Pacheco como autores da obra.
238 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
74 Entre elas, destacam-se: “São Paulo no Limiar do seu Quinto Século”, “A Grande Enciclopédia da Vida (9
tomos), “ Curso de Estudos Sociais” (3 tomos), “Universo e Humanidade” (3 tomos), “História das Américas”
(5 tomos), “História das Guerras Mundiais” (6 tomos — parceria com José Eduardo Marques Mauro e Ciro
de Moura Ramos), “Novo Atlas Geográfico Mundial”, “Atlas Histórico, Geográfico e Cívico do Brasil”, “Meu
Livro de Natal”, “Sermão da Montanha”, “Tradições Cristãs”, “Mural Governantes do Brasil Independente”,
“Atlas Enciclopédico Internacional”, “Atlas Enciclopédico Brasileiro”, “Dicionário de Recursos Naturais e Meio
Ambiente”, “A Figura de Cristo através dos Séculos”. Disponível em: http://www.agemcamp.sp.gov.br/cultura/
index. Acesso em: 25 fev. 2020.
240 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
É sabido que nenhuma compreensão para “manual escolar” pode ser enten-
dida como final e definitiva, mesmo porque não há um consenso sobre esse
conceito, dada a multiplicidade de contextos em que ele existe (CIGALES; OLI-
VEIRA, 2020, p. 2). E que instituir uma definição para manual escolar, mesmo
que efêmera, levaria necessariamente à formação de várias fronteiras dentro do
campo da literatura escolar. Aqui, portanto, importa traçar em linhas gerais o
manual como uma produção intelectual e histórica, que sofre alterações conforme
mudanças nas políticas de educação e concepções de ensino. Constituído pela
O livro didático é constituído por uma síntese: uma narrativa que encadeia
de alguma forma os conteúdos ou as principais discussões de uma disciplina. O
O ensino para a integração:
– 241
estado e material didático na ditadura civil-militar brasileira
seu auge, denunciava o caráter desse manual didático. Assim como a frequência
no texto de conceitos como vultos da pátria, doutrina, deveres, coletividade e
outras expressões de estilo pragmático, típicas do vocabulário do governo bra-
sileiro. E que também são indicadores da comunhão com o sentido de moral e
civismo assumido pelos defensores do regime autoritário, “com forte conotação
religiosa e disseminando em suas propostas educacionais a ideologia da ESG e
os princípios da Doutrina de Segurança Nacional”76.
Além disso, o texto do manual didático continuava articulado aos mecanis-
mos de controle preconizados na legislação educacional promulgado na década de
1970, como as disposições do Decreto nº68.065, de 14 de janeiro de 1971. Ainda
76 A primeira formação da Comissão Nacional de Moral e Civismo foi marcada pela presença de “militares,
professores de direita e quadros religiosos da Igreja Católica, características que influenciaram o
conservadorismo nas concepções de moral e civismo defendidas pelo grupo. Esse grupo, ainda conforme
o autor, ‘buscava na obrigava curricular da Educação Moral e Cívica a solução para a ‘omissão ideológica’
da escola nos assuntos políticos do país, pois acreditava que a neutralidade do ensino conferido à juventude
aumentava o poder dos ‘subversivos’”. O presidente dessa primeira CNMC, General Moacir Araújo Lopes, foi
o principal articulador do sentido de Moral e Civismo assumido pelo grupo. Araújo Lopes estudou na ESB,
quando teve contato com a disciplina de Moral e trabalhou no projeto intitulado “Problema Ético e Moral”,
cujas sugestões do relatório final passaram a ser princípios do decreto-lei 869/69 e da CNMC. Ele também
publicou artigos sobre o Moral e Civismo na Revista Defesa Nacional, participou de debates no campo militar
sobre ‘os problemas educacionais do país’ e fez inúmeras palestras em colégios militares, unidades das
forças armadas e instituições de ensino básico e superior “sobre a importância da disciplina no combate à
chamada ‘subversão’ comunista”. As palestras que considerou mais relevantes, Araújo Lopes publicou em
formato de livro no ano de 1971 (LEMOS, 2011, p. 103-107).
O ensino para a integração:
– 245
estado e material didático na ditadura civil-militar brasileira
77 Nos capítulos do manual, a forma da escrita também é de uma conversa entre duas pessoas — o autor
e “você”. O pronome de tratamento é repetido ao longo dos quatro tomos do Curso de Estudos Sociais
Integrado, numa linguagem que “aproxima” os interlocutores e que parece aproveitar noções de certos
assuntos que o estudante tem para inferir credibilidade ao que é ensinado. O início do primeiro capítulo é
sugestivo dessa relação: “Quando você estuda história antiga, uma das primeiras observações que faz é a
de que os egípcios adoravam alguns corpos celestes, como o Sol e a Lua; que os gregos se preocupavam
com as explicações dos fenômenos celestes e que com os chineses acontecia a mesma coisa. Se passar
pelos nativos americanos (incas, maias e astecas), você notará as mesmas preocupações. Isto porque um
dos maiores mistérios encontrados pelo homem, até os dias de hoje, foi o espaço Celeste, ou Universo”
(MICHALANY et al., 1982, p. 35).
248 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
78 A Comissão Nacional de Moral e Civismo foi extinta pelo Decreto 93.619, de 21 de novembro de 1986.
Em 04 de abril desse ano, o então ministro da educação, Jorge Bornausen, apresentou ao presidente da
República, José Sarney, uma exposição de motivos (N° 78) para a extinção da CNMC, entre os quais, o
corte de gastos. Mesmo porque as funções da CNMC de “assessorar o ministro de Estado na aprovação
dos livros didáticos, sob o ponto de vista de moral e civismo” havia sido anulada pelo Decreto nº 91.542, de
19 de agosto de 1985, que instituiu o Programa Nacional do Livro Didático. Contraditoriamente, o projeto
de Lei n° 7.445-A/1986, que propunha a extinção da CNMC, continuou em tramitação até o ano de 1993,
o que permitiu uma sobrevida às disciplinas de Educação Moral e Cívica (EMC), Organização Social e
Política do Brasil (OSPB) e Estudo de Problemas Brasileiros (EPB). A obrigatoriedade dessas disciplinas
nos currículos escolares somente foi revogada pela lei ordinária 8.663, de 14 de julho de 1993, sancionada
por Itamar Franco, então presidente da República.
250 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
[...] esse tipo de aprendizagem deverá ser feito mais através da ação do que das
explanações. Muitos programas de educação da saúde, por isto, se integram
com medidas de promoção da saúde, e, assim, muito do que se pretende
ensinar deve antes ser praticado pela escola e pelos professores (MICHALANY
et al.,1982, p. 104).
A lógica da integração era, mais uma vez, acionada no Curso de Estudos Sociais
Integrado das edições Michalany. A todo instante eram sugeridos os raios de abran-
gência do ensino escolar, extrapolando os limites da escola, como salvaguarda da
educação da sociedade. Tal perspectiva destacava um papel preponderante para o
professor – não como agente da emancipação do povo, mas como uma peça da engre-
nagem, alguém a quem se atribuía apenas tarefas e nenhuma autonomia. Conforme:
[...] aos professores, dos quais cada dia se exige melhor qualificação, transfere-se
a tarefa de fazer com que seus alunos vivenciem métodos e técnicas que con-
tribuam para a melhoria do nível de bem-estar físico, mental e social, seus e da
252 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
O magistério poderia ser exercido por professores que não haviam frequen-
tado as aulas de um curso superior voltado ao ensino básico, pelo menos até a 6ª
série – se considerado o parágrafo 1º. Uma determinação que deve ser entendida
no contexto de uma tradição de formação de professores para a escola primária
nas Escolas Normais, que vigorava desde o Império e ganhou força e volume
no período republicano, como também no contexto de uma universidade ainda
incipiente no Brasil, com acesso muito restrito para a maior parte da população
– o vestibular foi instituído em 1969, como condição para o ingresso no Ensino
Superior. Não por acaso, conforme Plazza e Priori, o governo autoritário, “para
agilizar o processo de formação de professores que atendessem as novas exigên-
Em todo caso, a ideia que perpassa todo o material aqui trabalhado é uma
postura com traços elitistas e que partia do seguinte pressuposto: o povo, e
não apenas os professores, era despreparado. Elaine Lourenço (2010), inclusive,
pontuou essa compreensão. Segundo a autora, para os militares, o povo era “des-
preparado”, cabendo a eles a sua “educação”. “[Assim] os bons hábitos, como
os ligados à higiene, a valorização da família como baluarte da sociedade, os
bons exemplos dos heróis cívicos, tudo contribuiria para a criação de uma nova
sociedade” (LOURENÇO, 2010, p. 100-101). A educação no regime militar,
para a população a que se destinava o ensino público, parecia seguir um círculo
vicioso: professores preparados de forma aligeirada em cursos de curta duração,
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preparando seus alunos para uma profissionalização que, na maioria das vezes, não
ultrapassaria o 2º grau. Educação estava destinada a alimentar um mercado de
trabalho marcado por uma política de industrialização do país, atrelada ao capital
estrangeiro. Essa era a Educação para a Integração do Curso de Estudos Sociais
Integrado das Edições Michalany: a educação para o conformismo ao regime.
Referências
ALMEIDA, D. L. Educação Moral e Cívica na Ditadura Militar: um estudo
de manuais didáticos. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas) – UFSCar,
São Carlos, 2009.
Introdução
79 Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Bolsista: Raimundo Itamar. Período: julho
de 2019 a setembro de 2020.
80 Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Bolsista: Antonia Maryanne.
Período: agosto de 2019 a julho de 2020.
262 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
81 Esse tipo específico de coronavírus (Sars-Cov-2) é um vírus cuja origem remonta, até a escrita desse artigo,
da Ásia, cujas primeiras notificações de infecção datam de dezembro de 2019, especificamente na província
de Wuhan, na China. O vírus se espalhou pelo mundo em uma velocidade sem precedentes, fazendo a
Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar estado de pandemia, em um episódio não visto há 100 anos,
como a chamada Gripe Espanhola, que durou dois anos (1918 a 1920). A rapidez com que a covid-19, nome
da doença provocada pelo novo coronavírus, se espalhou deve-se aos avançados meios globalizados de
transporte intercontinentais, tais como aviões e navios, bem como à facilidade de transmissão, por gotículas
suspensas de saliva, em ambientes fechados, mal higienizados e superfícies contaminadas.
82 Entre as primeiras medidas lançadas em decreto pelo estado: Instauração de um Comitê de enfrentamento
a Pandemia, com mais de 25 representações da sociedade civil, saúde, militar e setor privado; Canais de
emergência para casos suspeitos; Suspensão de aulas e eventos com público superior a 100 pessoas, a
partir de 19 de março de 2020; Fechamento do comércio, templos religiosos, espaços públicos, bem como
a interrupção dos serviços de transporte intermunicipais, e alocação de barreiras nas rodovias estaduais
e divisas do Estado, a partir de 19 de março até final de maio daquele ano, com abertura gradual dos
estabelecimentos não essenciais.
As apropriações do livro didático de História:
– 263
transição das aulas presenciais para remotas em plena pandemia do novo coronavírus (sars-cov-2)
Nem vilão, nem herói, o livro didático tem presença constante na educação
escolar brasileira, uma presença que persiste ao longo de muitas décadas e que
se configura como resultado de uma longa trajetória, confundindo-se com a
própria história da escola e do ensino. No caso da História como disciplina
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Esse Programa se constitui hoje como uma das maiores políticas públicas bra-
sileiras, tanto em investimento de verbas para a educação quanto na acessibilidade
aos livros didáticos em todas as partes do país. É uma política governamental de
controle no processo de produção, avaliação e distribuição do livro didático, com
regras claras expostas em editais para que as editoras possam atender aos parâmetros
oficiais legais. Inclusive, de acordo com alguns pesquisadores, o PNLD funciona
como um regulador do mercado editorial de livros didáticos.
Com relação ao processo de escolha na escola, um dos professores entre-
vistados destacou que tem a liberdade de, dentro das opções disponíveis no guia
do PNLD, escolher aquele material que mais se adéqua à sua realidade escolar
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está em sua 2ª edição, publicada em 2016 pela editora FTD. O terceiro volume
dessa coleção tem 280 páginas na versão para alunos e 384 páginas no Manual do
Professor, e conta com quatro unidades, que retratam, em seus 13 capítulos, movi-
mentos de resistência, política, movimentos sociais e temáticas de globalização e
meio ambiente. O Manual do Professor favorece o processo de formação continuada
docente, traz atividades, resoluções e propostas de debates para a sala de aula, com
temáticas carregadas da História Social, assim como os livros dos alunos trazem
uma série de ferramentas para que eles possam se aprofundar no conteúdo, desde
as imagéticas até as indicações de leituras, filmes, conteúdos extras a serem pesqui-
sados externamente e QR-Codes, mostrando a interação com as novas tecnologias.
83 Neste tópico do artigo, as observações em sala de aula e os relatos dos alunos se referem apenas às
escolas E.E.M. Gonzaga Mota e E.E.M. Abrão Baquit.
As apropriações do livro didático de História:
– 273
transição das aulas presenciais para remotas em plena pandemia do novo coronavírus (sars-cov-2)
continuação
Total de páginas Páginas de Total de
Data Atividade
no livro atividades imagens
Observação aula – unidade 9: “A
18/11/2019 19 04 27
democracia no Brasil pós‑guerra”
Observação aula – unidade 9: “O
25/11/2019 24 04 32
Brasil durante a ditadura militar”
Fonte: Dados obtidos na pesquisa (2019).
Em uma outra escola que eu trabalhava, a gente fazia um estudo coletivo, que
a gente gostava de se reunir e estudar o manual. Mas isso acabou se perdendo.
Logo quando começou a vir pra gente os livros didáticos e manual eu usava
26%
Páginas trabalhadas
74%
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10%
Imagens trabalhadas
90%
Dito isto, podemos perceber a influência que o livro didático tem nessa
turma. O gráfico abaixo enumera os usos do livro didático, sendo feito com os
dados somatórios das três semanas observadas:
10%
Páginas Trabalhadas
90%
6%
94%
Nesta escola, nesta turma, a partir da postura docente assumida pela pro-
fessora, podemos perceber que o livro didático é um material fundamental no
processo de ensino e, consequentemente, de aprendizagem por parte dos alunos,
pois foi colocado diversas vezes pelos mesmos que participaram da pesquisa que
ele é um dos poucos recursos que estão sempre presentes.
Coadunamos com Certeau (1994) que não existe consumo passivo, pois
há inúmeras maneiras de fazer uso do material. Nessa perspectiva, acreditamos
que o livro didático é consumido de variadas formas pelos discentes e docentes
no cotidiano escolar, de acordo com sua formação teórica e metodológica, com
vista à formação da consciência história.
Nas palavras de Rusen (1991), a consciência histórica:
[...] pode ser descrita como a atividade mental da memória histórica, que tem
sua representação em uma interpretação da experiência do passado encaminhada
de maneira a compreender as atuais condições de vida e a desenvolver perspec-
tivas de futuro na vida prática conforme a experiência (RUSEN, 1991, p. 112).
Uma semana antes da data que estipulamos para iniciar a pesquisa de campo
na terceira escola, E.E.M.T.I. César Cals de Oliveira Filho, o estado do Ceará
começou a enfrentar a pandemia do novo coronavírus, que causa uma séria
doença respiratória (covid-19), sendo decretado o isolamento social, de modo
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que comércios e escolas foram fechados e, por isso, nossa metodologia de pesquisa
precisou ser adaptada para a realidade online. Até o momento em que este artigo
estava sendo escrito, em fevereiro de 2021, ainda não houve o retorno ao estado
normal das atividades, pelo contrário, estamos vivendo uma segunda onda do
novo coronavírus, com variantes mais contagiosas, ao ponto de um quase esgota-
mento dos sistemas de saúde, público e privado, da maioria dos estados brasileiros,
contabilizando a triste marca de mais de 255 (duzentas e cinquenta e cinco) mil
mortes, até agora (fevereiro de 2021), no Brasil, por conta desta pandemia.
A solução comum encontrada trilhava dois caminhos: o acompanhamento
das aulas a distância, feito por plataformas digitais como Google Meet; e uma
entrevista, feita por meio de amostragem, com grupos de alunos a respeito de
sua nova realidade, o uso do livro didático durante a quarentena e a relação que
já tinham com ele.
Os conteúdos e cronograma de ensino tiveram de passar por adequações,
afinal, as próprias escolas, por meio de seus colegiados e de intervenções da
Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (CREDE) 12, que
abrange a região de Quixadá, passaram por um período de discussão e adaptação,
e seus professores passaram por encontros digitais de formação – grande parte das
vezes por iniciativa própria – para o ensino remoto. Formação em curso e acerto
de volta por meios online, a nova disposição dos conteúdos do livro fora iniciada.
A professora da E.E.M.T.I. Gov. César Cals de Oliveira Filho graduou-se em
2012 pela Universidade Estadual do Ceará, no Campus de Quixadá, e é mestra
desde 2015. Leciona na escola desde 2017. Em sua entrevista, em janeiro de
2021, destacou o livro didático como “extremamente importante”, pois:
[...] É uma forma de os alunos entrar em contato com realidades que eles
não vivenciaram e penso que o programa do livro didático, é extremamente
revolucionário, porque muitas pessoas não têm acesso à leitura a não ser
pelo livro didático.
280 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
[...] É um grande desafio utilizar o livro em sala de aula, tendo em vista que
a gente tem um grupo bastante jovial que consome esses livros, e eu costumo
dizer que é a geração do touch, do toque, né?! Eles têm tudo muito rápido;
num clique, eles têm o mundo nas mãos, e é um grande desafio fazer com
que o livro possa ser bem utilizado, mas sim, o livro, ele é um documento, e
aí, como a gente costuma salientar, um documento que aporta outros tantos
documentos, a partir da leitura, da imagem, gráficos, sites, então tem um
mundo ali dentro também.
[...] eu nunca vou para a sala de aula sem ter lido o capítulo, e aí, quando eu
Serve para acompanhar, junto com professor, o conteúdo da aula [...] São
importantes, pois serve para complementar a fala do professor sobre certo
conteúdo, e são livros cheio de conteúdo, bem organizado e, ao mesmo
tempo, interessante de se ler. [...] Utilizei pouco, [...] mas as poucas vezes
que peguei foi interessante.
certas vezes, não consegue dele usufruir, pois não o entende. Mas destaca a impor-
tância do livro em dar continuidade aos conteúdos e explicações dos professores.
Cita um aspecto do livro que nos chama a atenção: ser “bem organizado”, o que
pode ser simbolizado pela distribuição dos capítulos e assuntos, que se conectam
para que o aluno – e também o professor, durante sua aula – possa criar, mental-
mente, um mapeamento do que está sendo abordado, fazendo ligações, usando
o que Conzensa (2011) chama de “plasticidade neural”84 entre os fatos narrados
pelos textos, as imagens, os quadros, os gráficos e outros elementos do livro
didático para compreender melhor tudo aquilo que está sendo ensinado e visto.
Outro ponto que abordamos na entrevista com os alunos foi a memória
afetiva com relação aos seus livros didáticos, afinal, estavam se despedindo do
ensino básico e, por consequência, também do livro didático no formato que
conheceram por toda a vida escolar. As respostas foram as mais variadas. Uma
aluna da E.E.M.T.I. destacou:
84 Conceito abordado por Ramon M. Cosenza (2011) em “Neurociência e Educação - como o cérebro aprende”.
284 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Podemos afirmar que os alunos, não obstante suas próprias realidades e difi-
culdades, no geral, se viram perdidos no ano singular de 2020, tal e qual os profes-
sores se mostravam estar. Fatores físicos somados aos psicológicos desencadeados
pela pandemia nos fizeram refletir sobre a educação escolar e os inúmeros desafios
de quem precisa ter acesso à formação escolar e depende de recursos tecnológicos
que não tem no seu lar e nos que têm condições, muitas vezes, mínimas. Nós
percebemos esse tom de desalento, o olhar perdido de alguns através das gélidas
webcam’s. E assim, percebemos a importância do livro didático, como ferramenta
educacional, que pode interferir de forma positiva na realidade de muitos alunos,
no processo de construção do conhecimento histórico.
sar o livro didático como um objeto cultural complexo, que sofre apropriações
tanto em seu processo de produção e distribuição quanto nos seus usos. Nas
páginas desta literatura escolar existem diversas possibilidades para favorecer
uma educação crítica, que, mais que conteúdos, oferecem caminhos para formar
cidadãos que não sejam indiferentes aos problemas da sociedade e respeitem as
diferenças existentes.
Conhecer as potencialidades do livro didático! Uma ideia que parece ser tão
simples, intrínseca, mas que, na maioria das vezes, passa despercebida no processo
de formação docente, inicial e continuada, de inúmeros professores.
Esta pesquisa foi além do que se propunha em julho de 2019. Ela é um
documento de seu tempo, um registro de uma época diferente, ímpar em sua
realidade, em que a humanidade mudou e que, talvez, deverá se acostumar a
um “novo normal”. Um tempo pandêmico que, provavelmente, será retratado
já nos próximos livros didáticos, das próximas coleções, dos próximos autores,
nas próximas pesquisas.
Entendemos que o livro didático precisa estar a todo o momento sendo
estudado e repensado por professores pesquisadores de diferentes componentes
curriculares, pois suas produções, significações e usos mudam de acordo com as
exigências de cada sociedade em seu tempo histórico. E esse debate, análise e
crítica precisam acontecer, sobretudo na universidade, em projetos de pesquisa,
em cursos de formação docente, e não na busca do manual didático utópico, mas
compreendendo que é uma fonte produzida por diferentes profissionais, com
visões e funções distintas, e que seu consumo não é e nem deve ser passivo pelo
seu público‑alvo, como os estudantes e professores.
Tendo isso em vista, reafirmamos o papel do livro didático como um dos
principais difusores do conhecimento escolar e acadêmico, assim como seu papel
de fonte de abordagens pedagógicas, o que faz de seu estudo na prática do coti-
diano escolar pertinente. Assim, defendemos uma utilização problematizadora
do livro didático, com usos que contemplem o melhor de suas potencialidades
para uma educação libertadora!
286 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Referências
AZEVEDO, Gislane; Se#riacopi, Reinaldo. História – passado e presente:
Ensino Médio. São Paulo: Editora Ática, 2016.
CHOPPIN, Alain. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado
da arte. São Paulo: Educação e Pesquisa, 2004.
LUCA, T. Regina de. O debate em torno dos livros didáticos. São Paulo.
UNESP, 2003.
PIAGET, J. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: Livraria José Olympo
Editora/Unesco, 1973.
SILVA, Isaíde Bandeira da. O livro didático de história: escolhas, usos e percep-
ções de professores e alunos no cotidiano escolar. Revista Educação e Filosofia,
Universidade Federal de Uberlândia, v. 26 no. 52 jul./dez. 2012.
85 Núcleo que desenvolve projetos de iniciação científica na área de história e também interdisciplinares que
organiza-se a partir de dois objetivos: o de ampliar as oportunidades de aprendizagem dos estudantes da
educação básica por meio de sua iniciação no mundo da pesquisa, sobretudo do conhecimento histórico;
e o de criar um espaço de reflexão no qual os estudantes a partir de suas vivências na iniciação científica
produzam, sob orientação dos docentes, materiais didático-pedagógicos para serem usados na sala de aula
da própria escola.
86 Núcleo que busca aproximar o ensino escolar das atividades de pesquisa por meio de reflexões sobre as
metodologias de ensino em Geografia nas linhas de pesquisas: “Construções de jogos como estratégia de
ensino” e “Prática e extensão do conhecimento e do cotidiano escolar”.
290 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
meta-analítica de reflexão sobre esta prática. Para Roldão tal postura caracteri-
za-se pelo “questionamento intelectual [por parte do docente] da sua acção, de
interpretação permanente e realimentação contínua” (p. 102).
A concepção e condução desta ação pedagógica de elaboração do jogo de
tabuleiro nas aulas de História pode ser entendida também a partir da proposição
da “aula como texto” formulada por Ilmar Rohloff de Mattos (2006), entendida
como uma aula em que o professor (a) elabora uma narrativa própria tempe-
rada com o “molho de sua fábrica” para contar e ensinar uma história. Segundo
o autor, dentre as razões pelas quais contamos uma história por meio de uma
aula, ganha destaque a do lugar ocupado pelo aluno(a) na própria aula. Numa
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“aula como texto” o(a) professor(a) enquanto autor de uma narrativa, mobiliza
o seu conhecimento historiográfico articulando-o às suas concepções didático-
-pedagógicas. Para tanto torna-se necessário fazer escolhas e realizar a tradução
do conhecimento acadêmico e erudito – conhecimento historiográfico – para o
universo dos estudantes das salas de aula do ensino básico (p. 11-3).
Seguindo esta perspectiva entendemos que o saber escolar se configura por
uma lógica própria, caracterizada pela utilização de estratégias didáticas que atuam
na sua construção. O professor(a) que produz uma “aula como texto” é antes de
tudo um leitor e o texto da sua aula não será uma mera repetição ou transcrição
dos textos historiográficos. Ao fazermos uso de estratégias didáticas na concepção
de uma “aula como texto” estamos produzindo conhecimento e não simplesmente
criando estratégias para transmitir algo produzido no meio acadêmico. Uma vez
que, em concordância com Ilmar Mattos, a “aula como texto” só se realiza ple-
namente na própria aula, ou seja, na relação professor(a)-aluno(a), estes últimos
também inscrevem sua autoria na produção do conhecimento escolar.
A sala de aula possui uma dinâmica que se favorece claramente das estraté-
gias lúdicas. Afinal, “a disciplina do trabalho escolar tem seu modelo na disciplina
lúdica” (CHATEAU, 1987, p. 132). A lógica do jogo é comumente utilizada por
professores para gerir situações corriqueiras, e isto pode acontecer, muitas vezes, sem
que esta seja exatamente uma ação deliberada: criamos recompensas, estimulamos
a competição, trabalhamos com situações-problema para se chegar a uma solução.
Para Miranda (2002), o jogo é como um recurso já integrado ao arsenal pedagógico
de professores, assim como o diário de classe, giz, apagador e livro didático.
A estratégia lúdica no ensino é comumente defendida como uma possibili-
dade muito eficaz no sentido de se produzir o que Ausubel (1982) define como
aprendizagem significativa. Isto porque os jogos produzem nexo e estimulam
funções cognitivas importantes, além de trabalharem com a definição de regras,
292 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
um material único.
Como se joga?
87 A confecção do tabuleiro usou como base o Mapa das Sociabilidades da cidade do Rio de Janeiro (1808-
1850) elaborado pela pesquisa Sociabilidades, Urbanismo e Patrimônio, financiada pela Faperj, coordenada
pela professora Maria Fernanda Baptista Bicalho (Departamento de História e Programa de Pós-Graduação
em História da UFF).
296 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
2. Entrei na história da cidade como um local 2. Era no período colonial uma atividade exercida por
de horrores. mulheres africanas e afro-descendentes.
3. Me tornei um instituto de pesquisa e ponto de
3. Volte para o início.
cultura com palestras, atividades, etc.
4. Fique 1 rodada sem jogar. 4. Uso turbantes e túnicas.
6. Em 2009 recebi o prêmio máximo do IPHAN 6. O lugar em que ficava era geralmente em mercados
concedido pela minha preservação. e praças.
7. A partir de 1830 a minha localização foi perdida, pois 7. Nossos locais de venda eram pontos de encontro,
o lugar onde me encontro foi tomado por casas que sociabilidade e solidariedade.
foram sendo construídas.
8. Fui descrito por um viajante alemão como "um 8. Éramos, na maior parte das vezes, libertas.
monte de terra do qual, aqui e acolá, saíam restos de
cadáveres descobertos pela chuva"
9. Fazíamos e vendiamos comida para africanos (as)
9. Em mim foi encontrado um esqueleto de grande escravizados, libertos (as) e pessoas pobres das cidades.
importância científica de uma jovem africana
escravizada batizado de Bakhita (que em dialeto Nubio 10. Fazíamos comida da nossa terra natal.
significa Bem aventurada)
Navegações;
Carta Carta
performance/Mímica performance/Mímica
sobre o conteúdo em estudo aos alunos e alunas, e, por outro, como o recurso
a partir do qual o jogo propriamente terá o seu início. Um exemplo de situa-
ção-problema está descrito a seguir:
Paulo Fernandes Vianna (Intendente de Polícia): Foi solicitado para resolver o roubo
do colar de Rosa Fiorini. Naquele dia ele foi → 1 - A Capela Real para assistir a missa
pela manhã. 2 - ao Palácio Real tratar de assuntos das "desordens" na cidade com o go-
verno. 3 ao Valongo investigar um caso de suicídio. 4 Ao Passeio Público passear com
os seus filhos. 5 - ao Real Teatro investigar o furto do colar da atriz Rosa.
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José Coelho (senhor de terras): apareceu como um dos principais suspeitos do roubo
do colar de Rosa Fiorini. Naquele dia ele foi → 1 - no Valongo comprar mais um afri-
cano como seu escravo. 2 - no Palácio Real ter uma conversa particular com funcioná-
rios da Corte e comer pastéis de belém em uma doceria ao lado. 3 - Andou até a praia
de D. Manuel para encontrar com alguns amigos. 4 - De lá seguiu para o Passeio Pú-
blico para tomar um ar . 5 - Depois foi com sua mulher e escravo ao Real Teatro São
João assistir a uma ópera.
João Crioulo (escravizado): Escravo de José Coelho que também foi apontado como
suspeito do crime. Sua missão será → 1 - Buscar água no Chafariz do Terreiro do
Paço. 2 Comprar legumes e verduras na Praça das Quitandeiras. 3 - Pegar uma carga,
a mando do seu senhor, na Praia de D. Manuel. 4 - Aproveitou o tempo que tinha para
passar na Igreja de Nossa Senhora do Rosário acender umas velas. 5 - Foi correndo
para o Real Teatro onde encontrou com o seu senhor.
88 Aqui um especial agradecimento à estudante Christiane Leal Bazoli, do Curso de Graduação de História da
UFRJ, que acompanhou o processo de elaboração da atividade, tendo também contribuído para a realização
da mesma.
302 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
dicas que compõem o conteúdo destas cartas mesclam-se informações sobre esses
locais nos séculos XVIII e XIX e sobre o significado adquiridos por tais espaços na
atualidade. A seleção dos temas de pesquisa para compor as cartas de conteúdo do
jogo também fizeram referência ao tráfico transatlântico de pessoas escravizadas da
África, à diáspora africana e como se dava a presença destes indivíduos (africanos
e seus descendentes) na condição de escravizados(as) ou forros(as) na cidade do
Rio de Janeiro no início do século XIX, bem como a circulação dos seus saberes,
práticas culturais, símbolos, línguas, ritmos, dentre outros.
Finalmente, apesar de uma certa complexidade na concepção desta ação
pedagógica o encaminhamento da mesma para os discentes foi feito de forma
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Palavras finais
Referências
AUSIBEL, D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São
Paulo: Moraes, 1982.
MATTOS, I. R. de. “‘Mas não somente assim!’ Leitores, autores, aulas como
texto e o ensino-aprendizagem de História”. Tempo, v. 11, n. 21, p. 5-16, 2006.
A
Alunos 13, 14, 15, 17, 18, 19, 21, 43, 45, 46, 47, 49, 50, 51, 52, 53, 57, 61,
62, 63, 64, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 82, 83, 84, 86, 92, 93,
94, 96, 106, 111, 125, 145, 149, 152, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 171,
172, 173, 178, 181, 194, 200, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 209, 212, 218,
229, 235, 236, 243, 244, 250, 251, 252, 255, 256, 257, 261, 262, 263, 264,
266, 271, 272, 273, 274, 275, 276, 277, 278, 279, 280, 281, 282, 283, 284,
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B
Base Nacional Comum Curricular 43, 58, 79, 80, 93, 96, 113, 166, 266
BNCC 17, 43, 44, 79, 80, 93, 94, 113, 166, 190, 225, 266
C
Cidadania 44, 54, 177, 236, 246, 252, 261, 265, 266, 268, 271, 286
Civismo 236, 237, 242, 243, 244, 245, 246, 249
Competências 44, 52, 58, 65, 81, 158, 190, 281
Comunicação 38, 39, 42, 106, 107, 108, 196, 197, 198, 209, 220, 226
Comunidade 103, 115, 121, 132, 133, 134, 169, 200, 205, 206, 212, 214, 219,
241, 242, 247, 249, 250, 251, 252, 254, 256, 269, 304
Conceitos 16, 25, 26, 34, 38, 86, 87, 108, 109, 126, 170, 171, 173, 176, 182,
184, 185, 189, 193, 200, 212, 213, 244, 272, 293, 294
310 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Conhecimento histórico 15, 16, 21, 22, 25, 28, 34, 53, 54, 56, 57, 62, 76, 80,
93, 94, 95, 109, 120, 131, 133, 134, 135, 150, 163, 177, 178, 185, 196, 198,
199, 200, 206, 207, 279, 284, 289
Construção do conhecimento 21, 22, 80, 85, 93, 95, 120, 133, 171, 173, 174,
200, 210, 284, 303, 306, 307
Convenção de Itu 17, 145, 146, 147, 154, 161, 162, 163, 164
Coronavírus 19, 53, 101, 261, 262, 279
Cotidiano escolar 10, 19, 22, 86, 124, 149, 169, 171, 174, 183, 235, 257,
268, 278, 285, 288, 289
D
Desigualdades 11, 13, 54, 132, 138
Dimensão propositiva 220, 225, 226, 227, 228, 229
Discentes 10, 56, 85, 94, 120, 121, 126, 130, 138, 200, 201, 206, 227, 264,
268, 278, 282, 290, 297, 303
Disciplina de estágio 84, 104, 106, 107, 109, 110, 111
Disciplinas 13, 14, 18, 27, 31, 62, 70, 80, 84, 89, 92, 93, 95, 106, 119, 133,
140, 141, 151, 161, 180, 193, 207, 222, 228, 249, 252, 259, 266, 290, 292
Ditadura Civil-Militar 18, 235, 241, 244, 246, 248, 258, 260, 276
Diversidade 30, 49, 73, 122, 127, 137, 166, 171, 174, 193, 220, 222, 224, 269
E
Economia do trabalho 15, 61, 62, 63, 65, 66, 68, 74, 75, 78, 209, 234
Educação Básica 12, 13, 16, 19, 51, 52, 79, 80, 84, 87, 90, 95, 104, 115, 120,
121, 122, 124, 125, 129, 130, 131, 132, 135, 141, 144, 149, 151, 152, 158,
166, 169, 181, 187, 188, 194, 204, 205, 213, 214, 215, 216, 217, 219, 220,
227, 228, 229, 230, 231, 252, 253, 265, 266, 286, 289, 292, 305
Educação Moral e Cívica 242, 244, 245, 247, 248, 249, 251, 259, 260
Índice Remissivo – 311
Educação patrimonial 104, 105, 106, 107, 109, 110, 111, 112, 113, 116, 196,
222, 227, 229
Ensino 3, 4, 9, 10, 11, 12, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 25, 26, 28, 29, 33, 34,
35, 36, 39, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 55, 56, 58, 59, 61, 62,
63, 64, 65, 66, 68, 69, 71, 73, 74, 75, 76, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86,
87, 88, 89, 90, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108,
110, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 127,
128, 129, 130, 131, 132, 133, 135, 136, 137, 140, 141, 142, 143, 144, 145,
146, 147, 148, 149, 150, 151, 153, 154, 156, 160, 162, 163, 164, 165, 166,
169, 170, 171, 174, 175, 177, 184, 185, 187, 188, 189, 190, 193, 194, 195,
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
196, 197, 198, 199, 200, 201, 203, 205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 213,
214, 215, 216, 217, 218, 219, 220, 221, 222, 224, 226, 227, 228, 229, 230,
231, 232, 233, 234, 235, 236, 237, 238, 240, 242, 244, 245, 246, 247, 248,
249, 250, 251, 252, 253, 254, 255, 256, 257, 258, 259, 260, 261, 262, 265,
266, 272, 273, 276, 277, 278, 279, 281, 282, 283, 285, 286, 287, 289, 290,
291, 292, 293, 294, 297, 303, 304, 305, 306, 307
Ensino-aprendizagem 14, 43, 47, 48, 51, 53, 56, 58, 86, 94, 124, 165, 175,
189, 196, 198, 199, 200, 201, 210, 251, 257, 281, 292, 293, 294, 304, 306
Ensino Básico 15, 18, 21, 66, 85, 129, 190, 214, 235, 237, 244, 247, 254,
255, 257, 265, 283, 291
Ensino Fundamental 17, 19, 43, 61, 63, 73, 78, 94, 96, 133, 145, 156, 160,
203, 222, 226, 227, 233, 234, 289, 290, 297, 306, 307
Ensino Médio 19, 43, 123, 131, 141, 143, 154, 156, 169, 261, 262, 265, 266,
282, 286, 287
Epistemologia 15, 33, 81, 91, 92, 94, 104, 166, 187
Escola Pública 53, 62, 63, 66, 67, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 152, 156
Escolarização 79, 150, 176, 180, 181, 186, 188, 238, 244
Espaço escolar 10, 12, 13, 126, 128, 136, 167, 168, 171, 172, 174, 206, 210,
214, 223, 230, 266, 289, 293
Estudos sociais 18, 19, 236, 237, 239, 241, 242, 243, 244, 246, 247, 248,
249, 250, 251, 255, 257
F
Formação continuada 18, 79, 122, 130, 146, 210, 211, 212, 213, 214, 215,
219, 271
Formação de professores 14, 16, 22, 45, 48, 50, 79, 80, 81, 82, 84, 85, 88,
90, 91, 92, 93, 96, 97, 105, 114, 116, 117, 122, 124, 163, 194, 195, 199, 203,
214, 230, 232, 253, 254, 255, 305
312 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
Formação inicial 14, 19, 43, 52, 79, 80, 81, 85, 88, 93, 95, 96, 119, 121, 122,
124, 152, 153, 208, 212, 214, 231
G
Geografia 10, 43, 113, 119, 153, 236, 244, 247, 248, 255, 289, 290, 294,
305, 306, 307
H
Historicidade 28, 30, 112, 136, 204, 272
I
Individualismo 26, 27, 34
Interdisciplinaridade 26, 27, 34, 266
Investigação 13, 27, 45, 51, 52, 102, 103, 108, 119, 127, 145, 179, 184, 185,
210, 214, 217, 218, 219, 229, 230, 232, 233, 261
Isolamento 68, 262, 279
L
Literatura 27, 31, 37, 39, 41, 58, 66, 108, 119, 136, 160, 167, 168, 175, 176,
195, 197, 213, 219, 238, 239, 240, 241, 244, 249, 264, 285
Livros didático(s) 14, 17, 18, 19, 49, 54, 55, 59, 69, 72, 94, 119, 132, 133,
136, 152, 166, 181, 235, 236, 237, 238, 239, 240, 243, 245, 246, 249, 261,
262, 263, 264, 265, 266, 267, 268, 269, 270, 271, 272, 273, 274, 275, 276,
277, 278, 279, 280, 282, 283, 284, 285, 286, 287, 288, 291, 293, 297
M
Metaformação 18, 209, 212, 216, 217, 230, 232
Metodologia 18, 45, 106, 110, 112, 128, 166, 172, 193, 202, 223, 232, 261,
267, 276, 279, 284, 288, 290, 292, 294, 304, 307
P
Pandemia 15, 16, 18, 19, 45, 46, 47, 50, 52, 53, 61, 76, 101, 107, 193, 194,
200, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 249, 258, 261, 262, 279, 280, 282, 284
Patrimonialização 195
Performance/mímica 295, 296, 298, 299
Índice Remissivo – 313
Pesquisa 13, 17, 18, 19, 21, 25, 28, 29, 33, 34, 44, 45, 47, 48, 49, 51, 58, 61,
62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 70, 71, 73, 74, 76, 78, 83, 84, 85, 86, 87, 89, 91,
92, 95, 101, 102, 103, 109, 116, 125, 126, 128, 130, 131, 133, 139, 140, 141,
146, 147, 151, 152, 153, 155, 181, 193, 194, 196, 198, 199, 206, 207, 211,
212, 214, 215, 216, 217, 218, 219, 220, 221, 222, 223, 225, 226, 227, 228,
229, 231, 232, 233, 234, 259, 260, 261, 262, 263, 268, 272, 273, 274, 275,
276, 278, 279, 280, 284, 285, 287, 289, 290, 295, 297, 302, 303, 304, 307
Pesquisadores 9, 13, 14, 16, 59, 86, 87, 93, 101, 102, 108, 125, 135, 167, 168,
170, 179, 180, 185, 213, 226, 227, 228, 229, 230, 264, 267, 285
Planejamento 14, 47, 50, 104, 105, 107, 110, 111, 112, 113, 154, 209, 224,
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R
Racismo 21, 26, 34, 36, 110, 113, 116, 117, 127, 128, 138
314 – Saberes Docentes e ensino de História – Volume 1
S
Saberes 3, 4, 9, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 22, 23, 25, 26, 33, 42, 44,
45, 46, 48, 49, 51, 52, 53, 56, 58, 59, 65, 78, 80, 81, 82, 83, 85, 86, 87, 88,
89, 90, 92, 97, 99, 101, 102, 103, 104, 105, 108, 109, 112, 113, 114, 115, 116,
117, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 127, 128, 129, 130, 132, 134, 135,
136, 138, 140, 141, 142, 144, 145, 146, 148, 149, 153, 157, 158, 159, 160,
161, 163, 165, 166, 168, 171, 172, 174, 176, 184, 187, 190, 193, 196, 197,
198, 200, 202, 209, 210, 211, 226, 227, 228, 229, 230, 232, 233, 235, 236,
237, 257, 287, 290, 303
Saberes docentes 3, 4, 9, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 22, 23, 45, 51, 53, 59,
T
Temporalidade 107, 136, 138, 271
Teoria da História 15, 18, 28, 42, 84, 104, 120, 143, 193, 195, 196, 233
Trabalho docente 9, 15, 16, 17, 28, 56, 61, 62, 63, 65, 66, 68, 74, 75, 76, 77,
78, 87, 89, 90, 96, 124, 166, 181, 182, 209, 210, 233, 234, 257, 292, 294, 303
Sobre os organizadores e autores
Organizadores
Autores
Helenice Rocha
Pró-cientista da UERJ e Pesquisadora CNPq, com projetos da Faperj e do CNPq
que apoiam a pesquisa e a produção do artigo.
Margarida Dias
Professora Titular do Departamento de História da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – UFRN. Graduada em História (1988). Mestra em Socio-
logia (1994) pela Universidade Federal da Paraíba e Doutora em História pela
Universidade Federal de Pernambuco (2003) e Estágio Pós-Doutoral no PPGH/
UFRJ (2020). Pesquisa sobre ensino de História, História do ensino de História
e História dos cursos universitários de História, livros didáticos de História, for-
mação de professores, sempre na interligação com a teoria da História e os temas
historiografia, memória e patrimônio cultural (histórico). Diretora da Editora da
UFRN de 2011 e 2015. Assessora do Ministério da Educação entre 2004 a 2015
como representante de História na Comissão Técnica do Programa Nacional do
Livro Didático – PNLD.
Renata Augusta
Doutora em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(UNIRIO – 2019). Mestra em História pela universidade Federal Fluminense
(UFF – 1998), tendo também o diploma de graduação em Licenciatura e bacha-
relado em História pela mesma Universidade (Universidade Federal Fluminense),
curso concluído em 1994. Atualmente é professora efetiva do Departamento de
História do Instituto Federal Colégio Pedro II.
SOBRE O LIVRO
Tiragem: Não comercializada
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Adobe Garamond Pro 10,5/11,5/13/16/18
Arial 8/8,5
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)