Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DISCURSO E GRAMÁTICA:
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
entrelaces e perspectivas
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2022
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Ilustração da Capa: Lesyaskripak/Freepik
Revisão: Os Autores
D611
Bibliografia
ISBN Coleção Digital 978-65-251-2350-9
ISBN Volume Digital 978-65-251-2353-0
2022
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
Conheça os nossos lançamentos: www.editoracrv.com.br
Conselho Editorial: Comitê Científico:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Afonso Cláudio Figueiredo (UFRJ)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Andre Acastro Egg (UNESPAR)
Anselmo Alencar Colares (UFOPA) Andrea Aparecida Cavinato (USP)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Atilio Butturi (UFSC)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Carlos Antônio Magalhães Guedelha (UFAM)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Daniel de Mello Ferraz (UFES)
Carmen Tereza Velanga (UNIR) Deneval Siqueira de Azevedo Filho (Fairfield
Celso Conti (UFSCar) University, FU, Estados Unidos)
Cesar Gerónimo Tello (Univer .Nacional Jane Borges (UFSCAR)
Três de Febrero – Argentina) Janina Moquillaza Sanchez (UNICHRISTUS)
Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG) João Carlos de Souza Ribeiro (UFAC)
Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL) Joezer de Souza Mendonça (PUC-PR)
Elizeu Clementino de Souza (UNEB) José Davison (IFPE)
Élsio José Corá (UFFS) José Nunes Fernandes (UNIRIO)
Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB) Luís Rodolfo Cabral (IFMA)
Francisco Carlos Duarte (PUC-PR) Patrícia Araújo Vieira (UFC)
Gloria Fariñas León (Universidade Rafael Mario Iorio Filho (ESTÁCIO/RJ)
de La Havana – Cuba) Renata Fonseca Lima da Fonte (UNICAP)
Guillermo Arias Beatón (Universidade Sebastião Marques Cardoso (UERN)
de La Havana – Cuba) Simone Tiemi Hashiguti (UFU)
Helmuth Krüger (UCP) Valdecy de Oliveira Pontes (UFC)
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Lista de pareceristas do comitê
científico/editorial da obra:
Alexandre José Pinto Cadilhe de Assis Jácome
Ana Larissa Adorno Marciotto Oliveira
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
NOSSA ENTREVISTADA������������������������������������������������������������������������������ 21
SOBRE AS ORGANIZADORAS���������������������������������������������������������������277Z
comunicativas – nas salas de aula, nas redes sociais, entre outros contextos
de uso. Assim, a relação entre discurso e gramática, tema central desta cole-
tânea, pode ser tomada em sua diversidade de perspectivas, tanto em termos
teóricos quanto metodológicos.
Uma das questões comuns a todos os capítulos é a consideração do ensino
de língua, seja em termos da Educação Básica, em sua maioria, seja do ensino
superior. Nesse sentido, ainda que os textos partam de vertentes teóricas mais
ou menos distintas e se voltem para objetos de pesquisa diversos, está em pauta
a consideração do contexto da sala de aula, de como e por que lidar com esse
conhecimento e de que forma os resultados apresentados podem subsidiar a
tarefa de ensino nos níveis Fundamental, Médio e mesmo superior.
Introduz-se este volume da coletânea com nossa entrevista à profa.
Rosalice Botelho Wakim Souza Pinto, cujas pesquisas em áreas multidisci-
plinares/interdisciplinares, seja no Brasil, seja em Portugal, convergem para
a compreensão da língua na acepção discursiva, sob forma contextualizada,
contemplando diversas situações comunicativas, “comprometidas com uma
intervenção social”. A professora tece relevantes considerações sobre as pro-
postas de ensino no Brasil e em Portugal, discorrendo acerca de aspectos
suporte, como toma e dar, em expressões do tipo tomar juízo e dar cabimento.
Conforme Bybee (2016 [2010]), Bispo e Furtado da Cunha consideram tais
expressões como chunks, ou seja, como pareamentos altamente convencio-
nalizados de forma e sentido, o que enseja seu tratamento holístico na sala
de aula de língua portuguesa, como um todo semântico-sintático. Com base
nos quatro eixos referidos pela BNCC (2018) em que se devem desenvolver
as práticas de linguagem na Educação Básica, os autores apontam a análise
linguística-semiótica como o mais propício para a proposta apresentada no
capítulo. Por fim, Bispo e Furtado da Cunha destacam que o chunk, como
processo cognitivo geral que impacta a configuração e a funcionalidade dos
constituintes da língua, deve ser levado em conta na análise e na reflexão não
só do uso de verbos leves, mas também das demais categorias da gramática
do português.
Na sequência, Violeta Virgínia Rodrigues aborda as estruturas comparati-
vas do português em perspectiva funcional, apresentando sugestão de exercí-
cios para estudantes dos cursos de Letras, no capítulo Relação de comparação:
uma proposta de ensino. A autora enfatiza que a articulação comparativa vai
muito além do que preconiza a tradição gramatical e mesmo do que consta em
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
As organizadoras
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
NOSSA ENTREVISTADA
Rosalice Botelho Wakim Souza Pinto possui graduação em Línguas e
Literaturas Modernas, variante Estudos Portugueses e Franceses, pela Uni-
versidade Nova de Lisboa (2002), graduação em Engenharia Química pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1981) e em Direito pela Uni-
versidade Autónoma de Lisboa (2020), Mestrado em Letras Neolatinas pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996), Doutorado em Linguística
pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/NOVA (2006), Pós-Doutorado
em Ciências da Comunicação pela Universidade de Genebra e Universidade
Nova de Lisboa (2013).
Atualmente, nossa entrevistada é pesquisadora do Laboratório de Argu-
mentação (ArgLab) do Instituto de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa
(IFILNOVA), do Centro de Investigação e Desenvolvimento sobre Direito e
Sociedade da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa (CEDIS)
e do Grupo de Pesquisa em Linguística da Universidade Federal do Ceará
(PROTEXTO). É, ainda, membro de dois projetos de pesquisas europeus:
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Entrevista
Nos primeiros dois ciclos (1º ciclo até a 4ª série e o 2º ciclo correspon-
dente à 5ª e 6ª série), continuava a existir no âmbito da leitura e da escrita
a preocupação na identificação e produção de tipos de texto, planificação e
produção dos mesmos em relação ao objetivo, destinatário e suporte. Era pre-
conizada a diversidade literária em contexto lusófono (não apenas escritores
portugueses já estudados em sala de aula), mas também textos do cotidiano
como embalagens de produtos. Novas linguagens e suportes mostravam-se
fundamentais também no âmbito da atualização do contexto escolar. No 2º
ciclo em especial, a produção escrita era dividida em: expressar para construir
e expressar conhecimento (produção de notícia, relato, exposição, descrição,
comentário, texto de opinião, dentre outros), escrever em termos pessoais
e criativos (texto poético, narrativo, dramático). Vale ressaltar a existência
no descritivo do programa para o ensino básico de um referencial de textos
literários, paraliterários e não literários, preconizando nestes a multiliteracia,
combinando o verbal, o visual, o musical, com associação a som e movimento.
No 3º ciclo (7ª, 8ª e 9º séries), época em que os alunos têm de 12 a 15
anos, existia uma preocupação de inserção da produção e leitura de textos em
práticas sociais da linguagem, proporcionando situações didáticas que visavam
a formação do indivíduo. Dessa forma, textos de diferentes tipos (pessoais,
escolares, dos media, literários) eram trabalhados, seguindo funções sociais
próprias de cada um deles. Na verdade, todos os descritores seguiam uma
progressão em relação aos apresentados nos ciclos anteriores.
26
O que deve aqui ser ressaltada é a ênfase dada ao uso das tecnologias
de informação e comunicação nos planos de produção, revisão e edição
de textos. O Programa também disponibilizava uma lista de autores e de
textos que constituia a base sobre a qual o professor podia vir a organizar
e selecionar o corpus textual adequado a cada contexto de trabalho. Neste
corpus, eram incluídos textos de autores de país de língua oficial portuguesa
e também estrangeira.
O texto argumentativo (debates, entrevistas, publicidade, dentre outros)
era aprofundado a partir da 8ª série. Ainda, eram estimuladas a compreensão
e expressão orais, privilegiando dentre os gêneros discursivos orais aqueles
mais formais.
Em jeito de síntese, já se observa, no programa de 2009, nomes de vários
gêneros para exemplificar as atividades. Contudo, a palavra “gênero” não é
quase ainda utilizada e, quando o é, não é explicitada. Para essa mudança
lenta de paradigma, vale ressaltar o esforço realizado por diversos acadêmi-
cos, estudiosos do Interacionismo Sociodiscursivo em Portugal, que vieram
a influenciar, lentamente, a atualização desses programas. Refiro-me aqui
aos trabalhos perpetrados por grupos de pesquisa liderados pelas professoras
3 Tal observação havia sido feita sobre os PCNs por Brait (2000, p. 26).
28
REFERÊNCIAS
ADAM, J.-M. Eléments de linguistique textuelle. Bruxelles; Liège: Mar-
daga, 1990.
Introdução
4 Doutorado em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora Adjunta da Universidade
Federal de Juiz de Fora.
5 Doutorado em Letras pela Universidade Federal Fluminense. Professora Associada da Universidade Federal
de Juiz de Fora.
36
Concepção de língua como sistema, estrutura inflexível e Concepção de língua como ação interlocutiva situada,
invariável. sujeita às interferências dos falantes.
Metodologia transmissiva, baseada na exposição dedutiva Metodologia reflexiva, baseada na indução (observação
(do geral para o particular, isto é, das regras para o exemplo) dos casos particulares para a conclusão das regularidades/
+ treinamento. regras).
Preferência pelos exercícios estruturais, de identificação Preferência por questões abertas e atividades de pesquisa,
e classificação de unidades/funções morfossintáticas e que exigem comparação e reflexão sobre adequação e
correção. efeitos de sentido.
de produção, seja no que se refere aos estilos adotados nos textos, com
forte impacto nos efeitos de sentido (BRASIL, 2017, p. 80-81).
Aspectos metodológicos
1. aquilo que regula, dirige, rege; 2. norma, fórmula que indica o modo
apropriado de falar, pensar e agir em determinados casos; 3. Aquilo que
foi determinado ou se tem como obrigatório, pela força da lei dos costu-
mes etc.; lei princípio, norma [...] (HOUAISS; SALES, 2009, p. 1635).
Não responderam
“A gramática colabora com diversos campos, como na escrita, na compreensão de textos, comunicação, entre outros”;
“[...] de extrema importância para a escrita e principalmente para entender e compreender o conteúdo”; “[...] conjunto de
regras que auxiliam na escrita e na melhor compreensão”.
“[...] é uma das áreas do português que estuda a grafia das palavras, textos e as regras de determinada gramática”; “[...]
estudo da escrita e aprofundamento desta escrita”; “[...] estudo da estrutura sintática escrita da língua”; “[...] estudo
aprofundado de uma língua na sua forma escrita”; “[...] estudo da composição da escrita”; “[...]conjunto de regras
colocadas para uma escrita mais formal”; “[...] conjunto de regras que auxiliam na escrita e na melhor compreensão”.
“[...] é a base para redigir um texto, iniciar uma conversa formal”; “acho que é o primeiro passo para uma boa escrita”; “a
gramática colabora com diversos campos, como na escrita, na compreensão de textos, comunicação, entre outros”; “[...] é
necessário escrever bem no mercado de trabalho”; “a gramática auxilia o aluno na aprendizagem do processo de escrita”;
“[...] se comunicar de forma mais compreensível tanto na fala como na escrita”; “[...] de extrema importância para a escrita
e principalmente para entender e compreender o conteúdo”; “ela contribui para proporcionar uma melhor escrita”.
Vemos, pelas palavras em destaque, uma relação que indica que a apren-
dizagem da gramática está “a serviço” da escrita: se somarmos as respostas
desses 15 alunos às respostas das questões 2, 5 e 7, em que 9 (nove) alunos
também relacionam gramática à escrita, teremos um total de 24 (vinte e quatro)
discentes que atrelam esses dois eixos diretamente em suas respostas, o que
envolve a maior parte da turma (58,5%).
Essa relação clara que percebemos entre esses dois eixos vai ao encon-
tro dos dados da questão anterior: os alunos concebem a gramática como
regras na perspectiva do “certo x errado”, bem como “disciplina de estudo”,
convergente com a concepção de gramática para “escrita formal”, “para
escrever bem para o mercado de trabalho”, para “escrever melhor”. Além
disso, vemos aqui um reflexo da organização escolar tradicional: as aulas
de gramática, redação e literatura podem ocorrer separadamente, o que
fragmenta ainda mais o conhecimento sobre a língua; essa divisão dificulta
um trabalho articulado entre eixos, em que as práticas de leitura, escrita e
oralidade são calcadas em reflexões linguísticas, nos aspectos normativos,
textuais e discursivos.
Esses dados também deixam transparecer uma visão de escrita como
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
3) Variação linguística
LÍNGUA – “a língua é ampla, dinâmica, flexível, diversa, vasta, está em constante mudança, tem alterações, tem dialetos,
gírias e informalidades, é um fenômeno natural a partir das relações dos indivíduos”; “ [...] é algo abstrato, ela passa por
muitas mudanças ao longo dos anos”; “[...] é flexível de acordo com seu contexto”; “[...] abrange mudanças linguísticas e
culturais”; “[...] é um organismo vivo”; “[...] é um rio em constante mudança e evolução de acordo com contextos temporais”;
“[...] está em constante”; “[...] transformação e possui variações de acordo com o público alvo”; “[...] um acordo acerca
das regras fixas e mutáveis da língua que está em constante transformação”.
VARIAÇÃO – “a fala vive em constante variação e a escrita também”; “não existe forma ‘certa’ ou ‘errada’ de se escrever
ou dizer algo, o que é levado em consideração é o ambiente em que o falante está inserido”; “é necessário considerar as
inúmeras variações e adaptações linguísticas presentes na fala e na escrita”; “as variações são tantas que ultrapassam
o conhecimento gramatical”; “[...] hoje existem novas variações na língua portuguesa falada diariamente”.
Fonte: As autoras.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. P. Dos pressupostos teóricos à proposta didática: caminhos
trilhados e a trilhar para a análise linguística. Comunicação oral. SIELP – SIM-
PÓSIO INTERNACIONAL DE ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA, 8.,
6 a 8 nov. 2019, Uberlândia, MG. Anais [...]. Uberlândia, MG: UFU, 2019.
MILLER, C. Gênero como ação social. In: DIONÍSIO, Angela Paiva; HOF-
FNAGEL, Judith C. (org.). Estudos sobre gênero textual, agência e tecno-
logia. Recife: EDUFPE, 2009.
RINCK, F.; BOCH. F.; ASSIS, J. A. Apresentação. In: BOCH, F.; RINCK,
F.; ASSIS, J. (org.). Letramento e formação universitária: formar para a
escrita e pela escrita. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2015.
ANEXO 1
QUESTIONÁRIO DIAGNÓSTICO
DA DISCIPLINA GRAMÁTICA:
estudos tradicionais e normativos
1. Por que você escolheu estudar Letras?
2. Cursar uma disciplina de Gramática Tradicional o motiva ou o
assusta? Explique a sua resposta.
3. O que significa GRAMÁTICA?
4. Onde você estudou a maior parte do Ensino Médio e/ou Fundamental?
5. Você estudou Gramática Tradicional em sua escola? Se sim, você
julga que aprendeu? Por quê?
6. Você acha que a Gramática, em seu viés tradicional, deva ser ensi-
nada na escola?
Se1 você é uma daquelas pessoas que odeia estudar gramática2, talvez se
sinta mais confortável em saber que você já “nasceu sabendo”. É o que sugere um
estudo de Marie Coppola e Elissa Newport, especialistas em ciências cognitivas
da Universidade de Rochester3, em Nova York. Um experimento4 com um
grupo de surdos da Nicarágua indica que a língua de sinais que utilizam – apren-
dida em casa5, sem uma educação formal – incorpora o conceito gramatical de
sujeito da oração6, presente em todas as línguas humanas conhecidas. Tal fato
parece confirmar uma tese que7 o linguista americano Noam Chomsky defende8
desde os anos 50: a de9 que a gramática é inata ao homem, em vez de adquirida
pelo aprendizado. Para Chomsky, a rapidez com que uma10 criança aprende uma
língua se deve a uma disposição inata11 para o domínio da gramática.
Disponível em: http://super.abril.com.br/cotidiano/linguagem-i-
nata-446299.shtml_. Acesso em: jan. 2020.
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
LÍNGUA PORTUGUESA NA BNCC:
interseções em um debate sobre educação
Denise Brasil Alvarenga Aguiar6
A Base é currículo?
6 Doutorado em Letras pela Universidade Federal Fluminense. Professora Adjunta da Universidade Fede-
ral Fluminense.
62
A síntese feita pelos autores não constitui um olhar isolado. É uma posi-
ção frequente em círculos de pesquisa sobre educação e suas entidades repre-
sentativas, dentre tais aqueles que estudam currículos, conforme atesta nota
divulgada pela Associação Brasileira de Currículo (ABdC), em 2017, por
ocasião das audiências públicas realizadas antes da homologação da versão
final da BNCC. É indispensável considerar este acúmulo:
7 Tomaz Tadeu da Silva, fazendo um histórico das teorias de currículo no século XX, identifica na obra de
Bobbitt, de 1918, o marco no estabelecimento deste campo especializado de estudos e aponta seu limite
tecnicista: “Na perspectiva de Bobbitt, a questão do currículo se transforma em uma questão de organiza-
ção. O currículo é simplesmente uma mecânica. A atividade supostamente científica do especialista em
currículo não passa de uma visão burocrática. [...] Numa perspectiva que considera que as finalidades da
educação estão dadas pelas exigências profissionais da vida adulta, o currículo se resume a uma questão
de desenvolvimento, a uma questão técnica” (SILVA, 2019, p. 24).
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 63
alerta para essa inegável face da BNCC, em sua nota intitulada “A proposta
de BNCC do ensino médio: alguns pontos para o debate”:
10 O aparato empresarial avança para a área da educação pública (e privada, com os sistemas e franquias
devorando as pequenas escolas de bairro e seus currículos) e segue a “base da proposta política neoliberal:
igualdade de oportunidades e não de resultados. Para ela, dadas as oportunidades, o que faz diferença entre
as pessoas é o esforço pessoal, o mérito de cada um (FREITAS, 2012, p. 383) exatamente como advogam
os radicais do Tea Party (PRICE, 2014; SÜSSEKIND, 2014). Com base nesta política, houve um desmonte
do sistema educacional público americano com demissões em massa, perda de credibilidade das escolas e
privatização de setores do sistema como resultados da unificação curricular, das testagens em larga escala
e da responsabilização de professorxs e diretores” (PRESTES; SUSSEKIND, 2017, p. 499).
68
11 Nesse aspecto, é preciso ter atenção aos cenários previstos por estudiosos da área: “Esta tendência tecni-
cista está hoje embalada e ampliada no interior da reforma empresarial da educação. Portanto, que tenha
eclodido agora a questão da EAD, não significa que suas bases sejam, de fato, uma surpresa. Este modelo
educacional vem sendo desenhado desde as discussões sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
e antes delas no delineamento do Sistema de Avaliação do Educação Básica – SAEB. O que se pretende e
dar ênfase ao ‘alinhamento’ entre BNCC – Materiais de ensino – Avaliação Nacional. A BNCC está pronta,
o SAEB também, falta a ‘modernização’ dos materiais didáticos que, até agora, são apenas impressos. Toda
esta ‘onda’ visa construir este tripé: BNCC – EAD e similares – Avaliação, seja ou não para a educação a
distância. A terceirização da educação para ONGs e empresas vai acelerar a introdução das plataformas,
para gerar rentabilidade na operação. As empresas e ONGs operarão tanto a modalidade presencial como
a virtual” (FREITAS, 2020).
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 69
De saída, seria preciso considerar, para além das meras menções de vitrine,
os obstáculos reais ao alcance dos inúmeros saberes que, expostos pela Base, são
ligados à produção de textos multimidáticos. Trata-se, afinal, de um país que,
de acordo com dados do censo escolar de 2020, realizado pelo INEP, apresenta
enormes desigualdades nas condições de acesso à rede entre as escolas distri-
buídas pelo território nacional12. Sem nenhuma política efetivamente voltada
para superar tais condições – aliás, ao contrário, justamente em um contexto
de congelamento de investimentos em educação13 -, torna-se quase inviável
contemplar habilidades de produzir “reportagens multimidiáticas”, “podcasts
noticiosos”, “vlogs”, “gameplay”, “detonado”, “infográfico animado” e outros.
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
12 Veja-se, como exemplo, um dos diagnósticos a partir de dados coletados em escolas do nível fundamental de
ensino, até o 9º ano: “Quando observados os recursos tecnológicos por região, fica evidente a disparidade
entre o Norte e o restante do País. Em todos os dez quesitos analisados, a região apresentou percentuais
abaixo de 50%. Destaca-se que apenas 31,4% das escolas de ensino fundamental da região Norte possuem
acesso à internet banda larga. No Nordeste, os percentuais de internet (66,6%) e de internet banda larga
(54,7%) também são menores que no Sul, Sudeste e CentroOeste. A região Sul é a que apresenta maior
percentual (48,8%) de computador portátil para os alunos (Gráfico 52)”. Disponível em https://www.gov.br/
inep/pt-br/areas-de-atuacao/pesquisas-estatisticas-e-indicadores/censo-escolar/resultados.
13 Ver aprovação, pelo Senado Federal, da PEC55/2016.
70
15 Qualquer breve consulta na Internet que busque termos relativos a objetos de conhecimento próprios dos
gêneros textuais do universo digital, vai retornar, em primeiro lugar, muitas páginas de empresas e institutos
de produtos educacionais, com um sem-número de propostas de “como fazer” essa educação, que celebra
a si mesma como aquela voltada para o presente e para o futuro.
16 É claro que não se toma aqui o terreno da investigação na área de currículos com algo homogêneo, acima
de disputas de concepções e redes de trocas e múltiplas influências. Mesmo no âmbito das entidades, é
natural que existam divergências. Mas é fundamental reforçar o entendimento de que esse debate pertence
primordialmente do campo da educação e é com essa perspectiva que se devem sopesar inclusive elementos
das teorias de cada área do conhecimento, quando o que está em discussão é uma proposta curricular de
abrangência nacional.
72
maior articulador, o Movimento Todos pela Base, grupo que teve sua menção
ocultada na versão final. Uma breve visita à página desse movimento revela
alguns dos principais agentes e interesses empresariais que se mobilizaram
na trajetória do texto da Base, o que, definitivamente, não é um dado que
se possa ignorar. De todo modo, os elementos aqui levantados já permitem
sinalizar o contexto geral em que a Base se insere e poderão ser postos em
diálogo na compreensão algumas das questões que perpassam as propostas
específicas para Língua Portuguesa como componente curricular, conforme
se buscará analisar a seguir.
Começando, então, pelo que aponta como anterior no que diz respeito
ao trabalho com a Língua Portuguesa, o texto da Base não só busca afirmar
seu espaço em uma tradição de políticas educacionais brasileiras no período
pós-ditadura, como também explicita alinhamento com um campo teórico ao
qual deve dar consequência pedagógica. Mesmo que não se faça aqui uma
análise exaustiva dos encontros e desencontros dessa perspectiva com as
proposições concretas da Base, algumas questões devem ser levantadas em
um ensaio de leitura crítica.
Ao assumir a perspectiva enunciativo-discursiva da linguagem como
fundamento de suas propostas, a BNCC estabelece uma definição que, identi-
ficada com os Parâmetros Curriculares Nacionais, caminha em uma direção já
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 73
inscreve é uma via importante para o trabalho na escola, porque, dentre outras
razões, permite superar o artificialismo de dadas práticas pedagógicas, calcadas
no esvaziamento do trabalho com textos e na primazia dos fragmentos de usos,
sobretudo escritos e associados à variedade de prestígio da língua, tomados
apenas como corpus de análises e classificações, muitas vezes imprecisas,
como já amplamente apontado nos estudos de linguagem e ensino, há décadas.
Na composição de tais reafirmações da BNCC, sempre se declarando
referenciada em documentos anteriores, é digna de nota a construção do sen-
tido de atualização que ela imprime à sua própria apresentação, buscando
demarcar o que seria sua singularidade:
17 Como exemplos, vejam-se: 1) o currículo da SEEDUC do Rio de Janeiro, que, em 2012, já incluía “gêneros
e tipos textuais atuais, vinculados mais diretamente às novas tecnologias da comunicação”. Disponível
em: https://seeduconline.educa.rj.gov.br/currículo-básico. Acesso em: 2 jun. 2021; 2) o edital do PNLD de
2017, igualmente anterior à BNCC, em que se expõem claramente, como critérios para aprovação de obras
didáticas: “1.1 Apresenta diversidade de esferas e gêneros discursivos? [...] 1.3 Inclui textos multimodais
(quadrinhos, propagandas, vídeos, animações etc.?) 1.4 Contempla a produção cultural dirigida a adolescen-
tes e jovens (incluindo a produção escrita e imagética)?”. Disponível em: http://www.fnde.gov.br/component/
k2/item/8813-guia-pnld-2017. Acesso em: 2 jun. 2021.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 75
18 Vejam-se, como exemplo, as análises de livros de Língua Portuguesa de 6º a 9º ano que estão consolidadas
no Guia do PNLD 2020, disponível no sítio do MEC, e apontam a ausência de habilidades previstas na
BNCC, mesmo que tenham sido contempladas todas as outras, como um problema das obras avaliadas.
Assim, o Guia, com as resenhas críticas das coleções didáticas, traça um entendimento a ser assumido
pelas obras que poderão ser compradas pelo governo, no âmbito do PNLD, com impacto presumido sobre
práticas educativas na escola.
19 São exemplos claros desse alinhamento as definições presentes nos editais recentes do PNLD, na Residência
Pedagógica da CAPES e principalmente na Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores
da Educação Básica (BNC-Formação).
76
fixo, a partir de um olhar também fixo” (BRAIT apud ROJO, 2000, p. 22). É
um alerta que ecoa nas necessárias críticas que se têm feito à tendência mode-
lizadora do trabalho com gêneros textuais na escola. E talvez a decorrência
mais desafiadora resida mesmo, após todos esses anos, na transformação dos
variados gêneros em conteúdos escolares e na construção de práticas pedagó-
gicas harmonizadas com as concepções implicadas nisso. Desde desencontros
teóricos até a excessiva modelização, passando pelo uso do texto como pre-
texto para tratar de assuntos de descrição linguística, conforme se apontou em
outro estudo (AGUIAR, 2013), são muitas as descontinuidades que se podem
verificar, consubstanciadas em formulações curriculares e materiais didáticos
problemáticos, sobretudo aqueles que exercitam o ímpeto classificatório,
com mera identificação de características quase como atividade com fim em
si mesma, tônica de algumas formas tradicionais de lidar com a língua e a
literatura na educação básica22.
Problemas dessa natureza seriam um desafio real a ser enfrentado por
uma nova proposta curricular, que se declara continuidade e avanço em rela-
ção à anterior. Mas a BNCC não trata disso. Em direção diversa, elenca uma
infinidade de gêneros sugeridos para o atendimento às habilidades previstas e
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
delineia o que virá a ser considerado como caminho para os chamados direitos
de aprendizagem. Se é previsível que frequentemente faltarão, a professores
e a redes de ensino por todo o país, condições objetivas para atender a tais
demandas, é igualmente plausível a projeção de que estará aberto o campo
para o consumo em escala ainda maior de produtos voltados para a apren-
dizagem, potencialmente atravessados por problemas semelhantes aos que
expusemos. E, mais grave, estão dadas as condições para uma situação na qual
o professor pode ser pressionado a desempenhar o reduzido papel de aplicador
de materiais didáticos, produzidos para um mercado de massa, e se tornar
propagandista involuntário de grandes plataformas e corporações digitais.
É com esse contexto em vista que podemos discutir, de maneira conse-
quente, aquilo que se encontra normatizado pela BNCC. Em se tratando de
uma política pública nacional, variados fatores da educação escolar preci-
sam ser considerados. Assim, embora sempre se possa alegar, por exemplo,
que a grande quantidade de gêneros textuais na Base constitui apenas de
22 Recentemente, em 2019, em material destinado à Educação de Jovens e Adultos, distribuído pela SEEDUC-
-RJ, com base no hoje denominado Currículo Básico da rede estadual de ensino, apresentam-se textos
em versão fragmentada, reduzida, apenas para se submeterem à classificação em gêneros previamente
apresentados, chegando ao cúmulo de trazer uma receita de pudim que não conduziria à produção efetiva
do doce (pela extrema redução do “modo de fazer”), tamanho seu descolamento da realidade. Cf. em CEJA:
Centro de educação de jovens e adultos. Ensino fundamental II. Língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Fundação Cecierj, 2019. Fasc. 12, unid. 27–28. Disponível em: https://seeduconline.educa.rj.gov.br/materiais-
-ceja. Acesso em: 21 mar. 2021.
80
24 A coletânea O texto na sala de aula, livro organizado por João Wanderley Geraldi, publicado originalmente
em 1984, trazia um conjunto de artigos que disseminaram importantes reflexões acerca desse e de outros
desacertos no ensino-aprendizagem de língua e literatura na educação básica. Não por acaso, tornou-se
uma obra de referência nas licenciaturas em Letras.
82
Não é difícil supor que todo professor consegue, no miúdo das relações
em sala de aula, reconhecer níveis de envolvimento dos estudantes. Contudo,
em um processo tão complexo como o de ensino-aprendizagem, que envolve
diferentes sujeitos, indicar em um currículo a necessidade de “mostrar-se” é
compreender muito pouco do cotidiano escolar. Na esteira das generalidades,
a necessidade de “mostrar-se receptivo a textos que rompam sua expectativa”
parece desconsiderar que todos os textos participam das práticas sociais e,
desse modo, não estão imunes, em sua totalidade, às manifestações de ódio, de
preconceito e de negacionismo que hoje circulam em diferentes meios – casos
nos quais o “receptivo” é insuficiente e a dimensão crítica é indispensável.
Para encerrar esta parte, no certo hibridismo da composição do texto da
Base relativo à Língua Portuguesa como componente curricular, encontramos
alguns momentos que parecem dirigidos aos professores, mas, ao mesmo
tempo, expressam uma subestimação profissional, com exemplificações
A discussão que aqui nos propusemos a fazer não se opõe, de modo sim-
plificador, aos muitos trabalhos que buscam ensaiar alternativas pedagógicas, a
partir da realidade de imposição da BNCC, com a qual, ao que parece, teremos
de conviver por algum tempo. Nem se invalidam, é claro, vários dos objetos
de conhecimento para a área de Linguagens, fruto de acúmulos anteriores,
que poderemos manejar de maneira mais reflexiva e crítica em sala de aula.
Mas inscreve a Base, como política de educação, em um contexto que não
se pode perder de vista.
De fato, se a BNCC possui esse inequívoco caráter de política educacio-
nal, uma análise consequente acerca dela não pode se ater, em nosso caso, a
este ou aquele escopo teórico dos estudos da linguagem, embora, conforme
se exemplificou, também nesse terreno a Base encontre suas dificuldades,
seja nos sinais contraditórios que emite em relação à variação linguística,
seja em algumas incongruências conceituais e descritivas na formulação das
habilidades, seja na efetivação da abordagem enunciativo-discursiva assumida
26 Há vários momentos que repetem essa prática (ver, por exemplo, no texto da BNCC disponível no sítio do
MEC, p. 155, 181,185 e 189).
84
REFERÊNCIAS
ABdC. Documento produzido pela Associação Brasileira de Currículo
(ABdC) encaminhado ao CNE no contexto das Audiências públicas sobre
a BNCC /2017. Disponível em: https://www.abdcurriculo.com.br/documentos.
Acesso em: 10 abr. 2021.
27 Doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo. Professora Titular da Universidade Federal
Fluminense. Professora convidada do Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da UERJ/FFP.
28 Doutorado em Letras pela Universidade Federal Fluminense. Professora Associada II da Universidade
Federal Fluminense.
29 Total considerado na busca das palavras-chave semiótica (40 vezes), multissemiótica(s) (7 vezes), multis-
semióticos (18 vezes), multissemiose(s) (8 vezes).
90
a morte. Afinal, nos 40 contos da coletânea, é disso que se trata, dos impactos
da pandemia de covid-19 na vida cotidiana, sobretudo na vida das crianças.
A articulação de um modelo de previsibilidade baseado em esquemas
e categorias opositivas a uma proposta de sensibilização do percurso, por
meio da percepção de instabilidades, gradações e intensidades, desestabiliza
a aparente dureza estruturalista da concepção fundadora da semiótica para
dar lugar às sinuosidades e ao ritmo variado dos textos e das práticas, feitos
não só de previsibilidade mas de surpresa e devir.
Num texto há sempre um jogo de forças discursivas, que pode ser com-
preendido como um embate entre intensidades (o descontínuo, o novo, o
inesperado) e extensidades (o contínuo, o já conhecido). Cabe à enunciação
regular os aumentos e diminuições de impacto do novo ou de manutenção do
já conhecido. Essa regulação pretende ser explicada pela chamada semiótica
tensiva, que reconhece a subordinação do inteligível ao sensível.
Os anúncios publicitários regulam sua força persuasiva num equilíbrio
bem dosado entre o novo e o esperado. As cenas clássicas de anúncios de
carros repetem ambientes de liberdade, aventura e ação. A novidade estará na
potência do motor de última geração, numa lanterna em formato exclusivo,
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Da gramática ao discurso
Não são as palavras, a frase, enfim, as formas, que devemos ter unicamente
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
O ato de linguagem aparece, assim, por um lado, como uma fenda criadora
do sujeito, do lugar e do tempo da enunciação e, por outro, da representa-
ção actancial, espacial e temporal do enunciado (GREIMAS; COURTÉS,
2008, p. 111).
[...] quando se utiliza uma pessoa no lugar de outra, um tempo com valor
de outro, um marcador de espaço com o sentido de outro, nota-se cla-
30 Latino vira ator de cinema e fala de si mesmo em terceira pessoa. Veja, 22 ago. 2017. Disponível em: https://
veja.abril.com.br/cultura/latino-vira-ator-de-cinema-e-fala-de-si-mesmo-em-terceira-pessoa/. Acesso em: 5
jul. 2021.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 103
na relva, muito curta e macia, e dormi como não me lembro ter alguma
vez dormido em minha vida, durante umas nove horas, segundo calculei;
pois quando acordei, amanhecia. Tentei levantar-me, porém não pude;
pois, estando eu deitado de costas, percebi que os meus braços e pernas
haviam sido fortemente amarrados ao solo, de ambos os lados; e que
os meus cabelos, longos e bastos, se achavam presos da mesma forma
(SWIFT, 2018, p. 109).
[...] ser considerada como uma faceta da conversão em discurso das estru-
turas modais invariantes mais abstratas que explicam a lógica dos percur-
sos narrativos e passionais dos textos, sem se restringir à observação das
marcas gramaticais e lexicais pontuais dos enunciados para sua apreensão
(GOMES, 2012, p. 12).
Considerações finais
A ênfase que se deu aqui aos textos verbais na exemplificação das cate-
gorias de análise da teoria semiótica não foi aleatória. Como dissemos na
introdução, o termo semiótica é empregado de maneira pouco consistente na
BNCC, quase sempre associado a manifestações multimodais e processos
de significação em que estão envolvidas linguagens visuais e performáticas.
No Brasil, existe uma tradição de estudos semióticos, com filiação ao pensa-
mento desenvolvido em torno de Greimas na chamada Escola de Paris, que
vem oferecendo, há pelo menos 5 décadas, contribuições importantes tanto
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 107
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC/CON-
SED/UNDIME, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/
images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 1º jul 2021.
Considerações iniciais
AZEREDO, 2000).
A produtividade do léxico é facilmente observável nas línguas naturais.
Afinal, para conseguirmos fazer referência aos elementos do mundo biofísi-
co-social ou, até mesmo, do mundo discursivo, precisamos de um extensivo
e crescente conjunto de palavras. À medida que a sociedade evolui, preci-
samos de novos rótulos para tecnologias, conceitos e processos que surgem
no mundo. Por isso, o léxico conta com processos de formação altamente
produtivos, que funcionam como regras analógicas para a criação de novos
elementos. A derivação e a composição, assim como outros processos menos
frequentes – como o empréstimo, a siglagem, a abreviação etc. –, permitem
aos usuários da língua a criação contínua de novos vocábulos para atender a
novas demandas linguísticas e sociais.
O mesmo fenômeno já não se repete quando tratamos das palavras de
classe fechada. Sob uma perspectiva onomasiológica, enquanto os referentes
do mundo biofísico-social ou discursivo estão em constante emergência e
mudança, as relações procedurais são mais estáveis: o ser humano continua
utilizando determinantes para expressar relações de definição e indefinição de
referentes, conectores para expressar as mesmas relações lógico-semânticas
31 Doutorado em Letras pela Universidade Federal Fluminense. Professor Associado da Universidade Fede-
ral Fluminense.
32 Doutorado em Letras pela Universidade Federal Fluminense. Professor Adjunto da Universidade Fede-
ral Fluminense.
112
33 Além de palavras de função lexical, palavras de função menos gramatical também podem ser recrutadas
para desempenhar funções de natureza mais gramatical. Sob esse ponto de vista, a gramática é vista como
um contínuo, que parte de estruturas menos para outras mais dependentes, de paradigmas mais abertos
para outros mais fechados. Como exemplo, podemos citar a classe das conjunções em comparação aos
artigos, sendo esta última mais gramatical que aquela.
34 Em linhas gerais, definimos o conector complexo como uma construção preenchida, formada por dois ou
mais elementos, com função de articular segmentos, orações ou porções textuais ainda mais complexas.
Na próxima seção, desenvolvemos melhor esse conceito.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 113
Visão teórica
1. Adib Jatene: [...] O que nós gastamos com atendimento médico hos-
pitalar é menos da metade do orçamento, acontece que o que mais
35 Consideramos a LFCU mais adequada para a descrição de elementos de natureza complexa porque eles
estão previstos nas categorias analíticas da teoria, em comparação com a perspectiva clássica do Funcio-
nalismo Norte-Americano, mais centrada na descrição de itens.
36 Os colchetes empregados para identificação de construções é uma notação que empregamos na abordagem
construcional da gramática que tem como objetivo representar um elemento ou um conjunto de elementos
como uma unidade cognitiva, mais especificamente, como um nó pareado de forma e significado na repre-
sentação linguística na mente humana.
114
4. E: Inda conhece pobre? Que beleza... Diz que tem dois meninos pro-
curando o pai ali na esquina... (GA-LD).
Polissemia
37 Tradução nossa: Com suas mãos, ele sabia como tocar a harpa.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 119
can truly say to me38 (BYBEE, p. 128). Por fim, can passou a fazer referência
a sujeitos não humanos, o que possibilitou a emergência de seu uso como
modalizador epistêmico, como em: it can be true39. Em síntese, a perda de
propriedades semânticas, fato que motivou a expansão dos usos de can, pode
ser representada da seguinte maneira, de acordo com Bybee (2015):
5. Querido diário, a tarde hoje está bem chata, pouco mais de um ano
passou, o Outono começou, o dia está novamente nublado, os minutos
não passam, o dia está escuro demais, este blog está a tempo demais
com o mesmo layout, este texto não sai da minha mente, enfim, e
nada nem ninguém me agradam. Como se não bastasse, aquela velha
música insiste em tocar, do nada, sem mais nem menos, como aquele
colega de classe xereta que eu sempre fui, insistindo em me meter nos
pensamentos alheios, sempre com um “que?!” (Corpus Now – Corpus
do Português – 20/07/18).
6. Se a sua reclamação em relação a TVs 4K é a ausência de conteúdos
compatíveis, as fabricantes desenvolvem há anos uma tecnologia cha-
mada upscalling. Ela faz uma melhoria automática da imagem, que
a torna superior ao padrão FULL HD. Com isso, a experiência de
ver até mesmo TV aberta em um modelo 4K é melhor do que em um
Full HD e isso pode ser notado com facilidade pelos consumidores
(Corpus Now – Corpus do Português – 10/10/20).
7. A primeira prova do fim de semana foi disputada no fim da tarde de
sábado. Sérgio, após uma largada, pulou para o sexto lugar, mas,
ainda, na primeira curva, voltou ao sétimo posto, ao evitar um toque
no concorrente à sua frente. Em uma prova muito bem planejada, o
piloto foi rápido nos primeiros giros e, com isso, não demorou a atacar
seus adversários (Corpus Now – Corpus do Português – 10/10/20).
40 https://www.corpusdoportugues.org/.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 121
Polifuncionalidade
ocorrem por meio de relações gradientes (não abruptas), é comum que haja
áreas de sobreposição formal ou funcional entre uma construção A e uma
construção B.
O estado natural das línguas humanas é, por natureza, bastante complexo,
sem fronteiras rígidas. Ao contrário, o mais comum é que haja fluidez cate-
gorial em diferentes continua. Essa natureza fluida e plástica da gramática
aponta para uma grande heterogeneidade de usos, que chocam frontalmente
com perspectivas tradicionais que apresentam as categorias como entidades
estanques e com limites bem definidos.
Feitas essas observações iniciais, vamos ilustrar o fenômeno da polifun-
cionalidade com o uso da microconstrução conectora [perto de], associan-
do-a a usos aparentados. Vejamos os dados a seguir, extraídos do Corpus
do Português:
41 Essa plausibilidade, contudo, a nosso ver, precisa ser evidenciada por meio de dados de pesquisa histórica.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 125
“perto” do alvo, mais ainda fora dele. Por outro lado, ao mesmo tempo, é possível
postular que estar “perto de ser um bom empreendedor” é um momento temporal
a que se chegará em um futuro próximo, caso o interessado se matricule e conheça
a metodologia de ensino praticada na instituição citada. Ambas as interpretações
são possíveis, e isso ocorre justamente por conta dos deslizamentos e da fluidez
categorial que caracterizam as construções em geral nas línguas humanas.
Como o tempo tende a ser conceptualizado a partir da noção mais con-
creta de espaço, o F/E não costuma apresentar dificuldades cognitivas para
processar esses usos no ato comunicativo. Ao contrário, o processamento é
natural. A frequência de uso, por sua vez, faz com que esses novos sentidos
alcancem progressivos graus de fixação [entrenchment] na memória, tornan-
do-os comuns e corriqueiros em toda comunidade linguística.
Em (11), o uso de perto de já indica um valor de conector. Podemos
advogar que os dois elementos componentes sofrem diminuição de composi-
cionalidade (apesar de ainda ser possível recuperar o sentido das partes). Nesse
dado, perto de comporta-se como um conector responsável por indicar uma
hipotaxe temporal. Apesar de sua semântica básica de espaço, o elemento perto
ganha um novo significado de tempo por meio de abstratização metafórica. O
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
usos conectores, contudo (12) é mais central na categoria, tendo em vista que
prescinde de marcas contextuais de temporalidade. De outra perspectiva, os usos
atestados em (09) e (10) de um lado e (11) e (12) de outro exibem gradiência
intersectiva, já que os primeiros são [+ prepositivos] e os dois últimos são [+ con-
juntivos], o que denota categorias distintas, mas, ainda assim, marcadas por fron-
teiras difusas. A convivência desses usos na língua, atestados por meio de dados
flagrados em corpora de uso real, comprovam o fenômeno da polifuncionalidade.
Os dados (09) a (12) permitem a observação de deslizamentos metafó-
ricos e de recategorizações. Ademais, é possível distinguir funções [+ pre-
positivas] de funções [+ conjuntivas], que se dispõem em um continuum que
expressa gradiência construcional (cf. TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013;
HILPERT, 2014). De fato, não há propriamente oposição entre esses usos,
visto que os mais concretos servem como base para os mais abstratos. Assim,
a polifuncionalidade é definitivamente uma questão de gradiência, uma vez
que diferentes usos não implicam a ideia de oposição ou de antagonismo.
Vale destacar que essa noção de gradiência também está presente na
própria acepção de uso conector conferida a [perto de]. Como vimos em (11)
e (12), esse conector complexo introduz somente orações não finitas de infi-
nitivo. É por esse motivo que esses elementos comumente não são arrolados
Prototipicidade
Os elementos linguísticos pertencentes a uma mesma categoria são mar-
cados por diferentes traços, o que se espelha em distintos graus de pertença.
Em outras palavras, em todas as categorias gramaticais há elementos mais
centrais e há elementos mais periféricos. Esses diferentes graus apontam para
níveis distintos de prototipicidade.
Assim Taylor (1992, p. 38) explica a questão da prototipicidade:
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 127
que) faz com que [perto de] recrute elementos de natureza não oracional plena,
como é o caso das orações não finitas. De fato, as chamadas orações redu-
zidas (tal como conhecidas na Tradição) podem ser consideradas um “meio
termo” entre as orações canônicas finitas (ou desenvolvidas) e os sintagmas
nominais. Todos esses traços deslocam o [perto de] do centro prototípico das
conjunções do português.
O fenômeno da prototipicidade não é exclusivo do plano da linguagem
verbal. Ao contrário, no mundo biofísico também é possível comprovar a
existência de elementos com diferentes traços e distintos graus de pertença.
Por exemplo, na categoria dos mamíferos, certamente a baleia e o morcego são
elementos mais marginais. Afinal, a baleia nada (o que é um traço marcante
dos peixes) e o mamífero voa (o que comumente aponta para um comporta-
mento das aves). Logo, esses dois animais citados não exibem traços comuns
(ou prototípicos) da categoria dos mamíferos.
No campo da morfologia, também é possível atestar que há elementos
que exibem diferentes graus de pertença a uma mesma categoria. Por exem-
plo, quando falamos em cadeira, estamos diante de um elemento central da
categoria dos substantivos, já que designa um objeto tangível e concreto. Já
não podemos dizer o mesmo quando nos referimos a saci, que só existe na
imaginação. Os substantivos abstratos (como amor, ódio, vingança), por sua
vez, são ainda menos prototípicos, tendo em vista que não têm materialidade.
Em um extremo, podemos pensar na palavra corrida, que designa uma ação,
o que é típico dos verbos.
128
além de ao redor de
antes de em vez de
depois de em prol de
fora de ao invés de
longe de a respeito de
perto de em face de
próximo de em razão de
... ...
Fonte: Rosário (2020, p. 6).
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 129
e conector hipotático).
Antes de concluirmos esta seção do trabalho, precisamos frisar que esse
caráter híbrido, diverso e maleável dos usos aqui apresentados expressa a
real natureza das línguas humanas. Os diferentes graus de prototipicidade
dos elementos linguísticos são reflexos das polissemias e das relações poli-
funcionais, já ilustradas neste capítulo. Uma visão de língua pautada nessa
perspectiva de gradiência, sem dúvida, ajuda-nos a compreender melhor o
caráter emergente da gramática.
Deve-se ter em mente que tal ampliação (do repertório linguístico) não
pode ficar reduzida apenas ao trabalho sistemático com a matéria gra-
matical. Aprender a pensar e a falar sobre a própria linguagem, realizar
uma atividade de natureza reflexiva, uma atividade de análise linguística
supõe o planejamento de situações didáticas que possibilitem a reflexão
não apenas sobre os diferentes recursos expressivos utilizados pelo autor
do texto, mas também sobre a forma pela qual a seleção de tais recursos
reflete as condições de produção do discurso e as restrições impostas pelo
gênero e pelo suporte (BRASIL, 1998, p. 27).
Considerações finais
isso, o estado sincrônico das línguas pode ser visto como “o produto conge-
lado de processos cognitivos e comunicativos ocorridos no passado”. Assim,
os diferentes níveis de composicionalidade dos conectores destacados neste
capítulo comprovam a ideia de que as recategorizações procedurais tendem
a ser contextualmente dependentes, direcionais e graduais, e não automáticas
ou abruptas.
A Linguística Funcional Centrada no Uso pode oferecer importantes
instrumentos e ferramentas para a descrição da gramática na perspectiva de
sua emergência, tanto no campo sincrônico como diacrônico. Ao partir da
premissa da gradiência e da fluidez categorial, essa perspectiva teórica per-
mite um exame mais apurado e real da dinamicidade do sistema linguístico.
Ademais, o trabalho executado sempre primará pela observação mais holística
dos fenômenos, em seus aspectos tanto formais quanto funcionais.
Por meio dos dados aqui apresentados, procuramos demonstrar como
mecanismos sociocognitivos impactam a língua em uso. Por meio do exame
dos contextos, em análises qualitativas, é possível captar como inferências
pragmáticas colaboram para a semantização de significados. A aferição da
frequência de uso, por sua vez, em um viés mais quantitativo, leva à fixação
[entrenchment] e automatização de novos usos no sistema linguístico.
Como resultado desses mecanismos, atestamos diminuição de composi-
cionalidade e surgimento de polissemias. Afinal, efeitos de ordem sintático-
-semântica moldam as construções, conferindo-lhes novas funções, podendo
132
REFERÊNCIAS
AARTS, Bas. Syntactic gradience. The nature of grammatical indeterminacy.
Oxford: Oxford University Press, 2007.
Introdução
do modo como as pessoas utilizam essas unidades e esses padrões em suas inte-
rações comunicativas, e de como esses padrões surgem, se mantêm e mudam
ao longo do tempo, no espaço e em grupos sociais distintos, entre outras coisas.
Neste capítulo, refletimos sobre a articulação entre teoria linguística e
ensino de língua, de modo a examinar possibilidades e alternativas para o tra-
tamento de fenômenos linguísticos em sala de aula, com foco nas atividades de
análise desenvolvidas na educação básica. O enquadre teórico que nos orienta
é a Linguística Funcional Centrada no Uso, conforme Furtado da Cunha,
Bispo e Silva (2013), Furtado da Cunha, Silva e Bispo (2016), entre outros.
Dado que a LFCU tem como interesse básico a constituição da gra-
mática da língua, sua emergência, regularização e mudança, as pesquisas
fundamentadas nessa vertente podem fornecer subsídios para o processo de
ensino-aprendizagem. Assim, uma prática pedagógica calcada nessa perspec-
tiva contribui para a ampliação das habilidades linguísticas dos alunos para a
produção e recepção reflexiva e crítica de textos orais, escritos e multimodais
de gêneros e níveis de formalidade variados, conforme as situações sociais.
Para ilustrar os pontos que aqui levantamos, elegemos o chunk
como objeto de análise. Em linhas gerais, um chunk é um agrupamento
42 Doutorado em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professor Asso-
ciado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
43 Doutorado em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor Titular da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte.
138
Enquadre teórico
44 O termo verbo leve (light verb, conforme JESPERSEN, 1965) designa um verbo distanciado do seu significado
básico, que funciona como portador de categorias verbais (tempo, modo, número, pessoa). Nesse sentido,
o núcleo do predicado está no nome que acompanha o verbo leve.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 139
Chunks
Os chunks formados pelos verbos leves tomar, dar e fazer são um tipo
de construção de estrutura argumental transitiva, que pode ser representada
como SN1+VLEVE+SN2, conforme se vê nas expressões sublinhadas nas amos-
tras a seguir47:
47 SN = sintagma nominal.
142
Por um ano seguiu assim até ser presa. Foi parar na Fundação Casa (Funda-
ção Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente) e ali permane-
ceu por um mês. “Quando saí, não tomei juízo, continuei vendendo drogas,
mas muitas pessoas estavam sendo presas e isso foi me dando medo”.
(Disponível em: https://www.agenciamural.org.br/especiais/pretas-e-
-pobres-prostitutas-se-arriscam-em-meio-a-pandemia/. Acesso em: 13
jul. 2021)
48 Alguns objetos dos verbos que instanciam a construção transitiva são criados pela ação do verbo. Hopper
(1987) chama esse caso de objeto efetuado, para distingui-lo de objeto afetado.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 143
49 Para uma discussão sobre o grau de fusão e de composicionalidade entre os elementos constituintes de
uma construção, ver Furtado da Cunha e Bispo (2019).
144
O bloco tomar partido significa defender uma ideia, assumir uma posi-
ção. O emprego desse chunk é motivado por questões de ordem discursivo-tex-
tual. Note-se que o autor da notícia empregou o verbo pleno50 posicionar no
período imediatamente anterior ao da ocorrência do verbo leve + SNNU. Assim,
tomar partido recupera o sentido desse verbo pleno, evitando que ele seja repe-
tido e mantendo a coesão e a coerência semântico-textuais. Nesse sentido, o
uso do agrupamento tomar partido resulta em maior adequação comunicativa.
Como podemos atestar, esses diferentes chunks compartilham o mesmo
padrão estrutural: a sequência VLEVE (tomar, fazer, dar) e SNNU (juízo, besteira,
cabimento). Trata-se de uma configuração esquemática que reúne o que há
52 Verbos plenos são aqueles que têm um significado próprio, básico, que pode indicar uma ação, um processo,
uma ação-processo ou um estado. Atuam como núcleo de um predicado verbal ou verbo-nominal.
146
(11) Craque da Copa América, Messi celebra ‘tirar um peso das cos-
tas’ com a Argentina
Lionel Messi foi eleito o craque da Copa América. Artilheiro, com quatro
gols, o astro argentino não escondeu toda sua alegria pela primeira con-
quista com a seleção. Foi atirado para o alto pelos companheiros ainda no
Neutro é detergente
gostaria de ser isento como um cream cracker, mas eu não consigo. Eu tenho
muita opinião. Tanto quanto uma pimenta malagueta.” Assino embaixo.
(Disponível em: https://www.jb.com.br/cadernob/caio-bucker/2021/06/
1030734-neutro-e-o-detergente.html. Acesso em: 8 jul. 2021)
Esclarecemos, inicialmente, que a escolha por esse gênero textual54 se
deve à previsão na BNCC (BRASIL, 2018) para a série na qual sugerimos
o desenvolvimento de atividades aqui delineadas, no caso 8º ano do Ensino
Fundamental. Está relacionado ao campo jornalístico-midiático.
Trabalhar com textos autênticos numa perspectiva sociointeracionista,
em que se assentam as orientações da BNCC, implica considerar uma gama
de aspectos que circunstanciam a produção e a recepção desses textos. Elen-
camos alguns:
55 Destacamos que a metalinguagem aqui utilizada não corresponde àquela que o docente empregará em
suas aulas na educação básica. No processo de transposição didática, o professor fará as adaptações
necessárias à realidade da etapa de escolaridade e de cada turma em particular.
152
acrescentar que, nesses casos, os verbos tomar e fazer não apresentam sua
significação lexical básica (ingerir e criar/produzir algo, respectivamente).
Da mesma forma, os substantivos que seguem esses verbos (partido, palanque
e parte) também não são empregados em sua acepção comum, mais básica
(denotativa), mas com um sentido abstratizado (conotativo), decorrente da
atuação de processos metafóricos e metonímicos.
É preciso registrar que, pedagogicamente, essa explicitação deve ser feita
por meio de atividades que induzam os alunos à reflexão sobre tais expressões,
o que implica, por exemplo, indagá-los sobre o sentido de cada parte integrante
dos chunks e compará-lo ao sentido global da expressão.
Nessas atividades, é importante que o professor possibilite aos alunos o
cotejo entre o comportamento dos verbos tomar e fazer nesses chunks e em
outras situações, como as ilustradas a seguir:
Considerações finais
REFERÊNCIAS
AMURIM, M. E. L. da C. Pronome relativo: articulação oracional e produção
escrita. 2018. Dissertação (Mestrado Profissional em Letras) – Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, 2018.
Introdução
57 Doutorado em Letras (Letras Vernáculas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora Titular
da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
58 Quero manifestar aqui meus mais sinceros agradecimentos aos Professores Felippe Tota (IFSC), Heloise
Thompson (IFRJ) e Luiz Herculano (IFSC) pelas contribuições e parceria nos trabalhos sobre a relação de
comparação em Português.
160
Restrições sobre S (satélite): apresenta uma característica de algo ou de alguém comparável com o que é
apresentado no N (núcleo).
Efeito: o leitor reconhece que S (satélite) é comparado a N (núcleo) em relação a certas características.
59 Pardo (2005) adota o termo “marcadores” para se referir ao que, em trabalhos descritivos da Língua Portu-
guesa, comumente se denomina conjunção, conectivo, conector, articulador etc. Neste trabalho, optamos
por empregar a nomenclatura “conector”, conforme Rodrigues (2018).
162
desta forma, a definição de um esquema conceitual do que aquela obtida pela inspeção do seu código, ou
NS ajuda a oferecer uma visão mais abstrata do domínio pela tentativa de extrair uma semântica das estruturas
da aplicação dos nós e dos elos [...]
60 Segundo Kato (1981, p. 94, 100), na elipse interna ou lacunamento, é eliminado um elemento interno da
cláusula como se observa em Mônica quer tomar sorvete de morango e Magali Ø sorvete de chocolate.
Já na elipse externa ou periférica, são eliminados os elementos que se encontram nas extremidades das
cláusulas, conforme podemos ver em João sabe matemática mais do que Pedro Ø.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 163
não foram contemplados pelo autor. Segundo Rodrigues (2001, 2010), além
da comparação de igualdade e desigualdade, há também a distintiva e a
metafórica, conforme apresentaremos a seguir.
3. [...] Ele não tem, não tem, quer dizer, o que está acontecendo é
que, eh, São Paulo, Minas Gerais, pra dizer só dois estados que
são vizinhos, eles expandem muito mais rapidamente [que o Rio
de Janeiro] (RODRIGUES, 2001, p. 95).
5. (Fala de Miguel) Esse regaço do puro amor não era mais que o
resultado efêmero da lua de mel. Quer tua sogra batesse-te às portas,
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 165
quer não, a mimosa diva de Irajá devia apresentar-se mais tarde [tal
qual era] (RODRIGUES, 2001, p. 97).
6. (Fala de Cristina) Não enche a sua. A minha poderia encher se nós
saíssemos dessa dieta (PAUSA) nada alimenta [tanto quanto o
amor, Armando] (RODRIGUES, 2001, p. 96).
7. [...] Foi um dia até muito quente, [assim como o dia de hoje,] quero
dizer, estávamos no inverno mas estava um dia quente, um dia
bonito [...] (RODRIGUES, 2001, p. 96).
9. [...] é esse alertamento à mulher... ajudar ela que acorde pra esse...
pra esse estado de coisas... que ela pode... ela é um ser humano
[igual ao homem...] (RODRIGUES, 2001, p. 96).
10. A. CARLOS
Não tenho nada para contar pra Luisa, apenas que trabalhei [feito
um cão], trabalhei demais, trabalhei muito, de dia e de noite e juntei
uma boa grana. Só isso.
(Olhos Azuis, roteiro de Jorge Duran e Melanie Dimantas – 2010).
11. JORGINHO – Cala a boca, Júnior. Hippie [é igual gente]. Faz tudo
que gente faz, só não toma muito banho.
(Carro de paulista, peça teatral de Mário Viana e Alessandra Mas-
son; roteiro de Dagomir Marquezi e Ricardo Pinto e Silva – 2010).
13. ERNESTO
(sádico): Vai fazer de conta ou não ouviu mesmo? – dá uma risada
sem pudor – Eu li numa revista que com a idade os ossos ficam [que
nem madeira com cupim].
(Chega de Saudade, roteiro de Luiz Bolognesi – 2008).
quantificador, que pode ser considerado seu antecedente, visto que, para ele,
não há comparação sem esta intensificação do primeiro segmento. No exemplo
(15) a seguir, do que está ligado a um adjetivo – pior, que é um intensificador
e, portanto, faz parte de um complemento do adjetivo.
15. (Fala de Irene) Ninguém vai fazer PIOR [do que o teu marido]
(RODRIGUES, 2001, p. 98).
16. (Fala de Alberto) [...] É esta a minha casa, mas estes móveis não
conheço... Mais ricos e suntuosos são [do que aqueles que deixei]
(RODRIGUES, 2001, p. 100).
(18) e (19).
18. X: todos a, a pé, a cantar, com os adufes à frente, aquela coisa toda
e a senhora do almortão tem um alpendre [como muitas capelas
têm], como devem conhecer, [...]
(RODRIGUES, 2001, p. 101).
61 Para maiores detalhes sobre as construções comparativas de igualdade, consultar Thompson (2019),
que as insere no grupo das construções comparativas assimilativas. Em sua tese intitulada Cons-
truções comparativas assimilativas com ‘tipo’ e ‘igual’: uma abordagem baseada no uso, a autora evi-
denciou que o processo de comparação, no PB, pode se materializar linguisticamente no nível do
sintagma nominal, no nível sentencial e no nível intersentencial, sendo os dois primeiros os contextos
mais produtivos.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 169
20. (Fala de Violeta) [...] [Como seu pai,] também fala erradamente com
forte acentuação inglesar... (RODRIGUES, 2001, p. 101).
21. (Fala de Jeremias) [...] Os diabos destes ingleses bebem [como uma
esponja!] Ah, porque deixastes a mesa na melhor ocasião, quando
se ia abrir a champanha? (RODRIGUES, 2001, p. 101).
serve para estabelecer a semelhança. Por isso, para ele, a comparação com
sentido metafórico faz parte da comparação de igualdade, embora possam
ser distinguidas pela estrutura formal. Ayora (1991) destaca que a estrutura
formal da comparação de igualdade é COMO + V e a da comparação de
similitude é V + COMO, afirmando que, nestas, “as realidades compara-
das se assimilam totalmente, porque a realidade ou objeto A é apresentado
como idêntica à realidade ou objeto B” (AYORA, 1991, p. 33). Além disso,
ressalta que, nessas estruturas, o verbo empregado é sempre o copulativo
ser; a forma como pode ser suprimida ou substituída pelas expressões igual,
igual que ou o mesmo que. Com a utilização do termo similitude, o autor
pretende realçar a ideia de que este tipo de estrutura serve para formular
um juízo qualitativo.
Com base nos exemplos antes mostrados, percebemos que (do) que e
como servem para distinguir dois tipos de comparação em Língua Portuguesa
– a comparação de desigualdade e a de igualdade. Na comparativa de distin-
tividade, o falante parece disfarçar o juízo sobre o seu discurso, conforme o
exemplo (22) mostra:
22. [...] tem que começa(r) [...], para(r) já, hoje em dia já é bastante dife-
rente [do que era há uns anos atrás] (RODRIGUES, 2001, p. 102).
170
(núcleo – N), isto é, serve de subsídio para a oração que funciona como núcleo.
Nos dados mostrados, os conectores como, feito, igual, tipo, tanto quanto,
assim como, tal qual e que nem encabeçam construções não correlatas e os
conectores do que, que, quanto introduzem construções correlatas.
No que tange à elipse, a maioria dos autores concorda e assinala a exis-
tência de elipse do segundo segmento da comparação. A elipse comparativa
é, portanto, uma regra opcional, pela qual se apaga o material que está fora
do constituinte comparado.
tamanho de, da mesma forma, perto de, uma espécie de; construções como
como ele só, como ninguém, como quê, como nunca, mais que nunca, que só
ele servem para exprimir comparação em Língua Portuguesa.
Exemplificaremos apenas algumas dessas possibilidades, que podem
ser atestadas com riqueza de detalhes em Martins (1967). Em (23) e (24),
a comparação é expressa por meio do uso dos verbos parecer e comparar.
25. Narrador
Agora acabou. Se você não gostou, da próxima vez fica em casa
lendo um livro. Aliás, literatura é bem melhor que cinema. É uma
26. SUELY
(fala devagar) Queria ir morar contigo, mulher... [Que nem quando
a gente era pequena].
(O Céu de Suely, roteiro de Karim Aïnouz, Felipe Bragança e Mau-
rício Zacharias – 2008).
28. ROSA
Você quer entregar todo mundo? Desconcertado, Thiago reage.
[Como um moleque depois de uma travessura.] Rosa volta para
os fundos do apartamento. Thiago se senta na poltrona, sem von-
tade própria.
(Cabra Cega, roteiro de Di Moretti – 2004).
30. CORONEL
É diferente do boi da Paraíba. O boi da Paraíba tem chifre assim,
agressivo, pra frente. [Feito o Brasil.]
(O Homem Que Virou Suco, roteiro de João Batista de Andrade
– 1979/2005).
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
31. FANTASMA
(Off) Eu ficava meditando pelas ruas horas a fio. Enquanto esperava
a grande hora do encontro diário com Virgília, era como se o tempo
não passasse. [Como se ficasse empacado]. [Feito um jumento].
(Memórias póstumas, roteiro de André Klotzel, diálogos de José
Roberto Torero, baseado no livro de Machado de Assis – 2001).
uma das funções básicas dos critérios é fornecer uma base para compa-
rações. Quando se faz uma comparação isolada, fora de um contexto,
e não se estabelece nenhuma base ou critério (como no caso, digamos,
“Tóquio é melhor que Nova Iorque”). O resultado é a confusão. Ou vários
critérios podem ser aplicáveis (se alguém diz por exemplo: “Tóquio é
maior que Nova Iorque”, e não sabemos se a pessoa quer dizer maior em
área ou maior em população), a situação pode ser igualmente confusa.
Assim como as opiniões devem ser geralmente sustentadas por razões,
174
Proposta de exercício
A proposta de aplicação didática a seguir, com base no texto O quero-
-quero, de Manoel de Barros, visa a retomar/sistematizar algumas das refle-
xões/questões teóricas discutidas ao longo do capítulo.
O texto a seguir integra uma coletânea intitulada Meu quintal é maior
do que o mundo, do poeta Manoel de Barros, conhecido por fazer poesia a
partir das coisas mais simples. Leia-o com bastante atenção.
176
O QUERO-QUERO
Natureza será que preparou o quero-quero para o mister de avisar? No meio-dia, se você estiver fazendo sesta completa,
ele interrompe. Se está o vaqueiro armando laço por perto, em lugar despróprio, ele bronca. Se está o menino caçando
inseto no brejo, ele grita naquele som arranhado que tem parte com arara. Defende-se como touro. E faz denúncias
como um senador romano.
Quero-quero tem uma vida obedecida, contudo. Ele cumpre Jesus. Cada dia com sua tarefa. Tempo de comer é tempo
de comer. Tempo de criar, de criar.
É pássaro mais de amar que de trabalhar.
De forma que não sobra ócio ao quero-quero para arrumar o ninho. Que faz em beira de estrada, em parcas depressões
de terreno, e mesmo aproveitando sulcos deixados por cascos de animal.
Gosta de aproveitar os sulcos da natureza e da vida. Assim, nesses recalques, se estabelece o quero-quero, já de oveira
plena, depois de amar pelos brejos perdida e avoadoramente.
E porque muito amou e se ganhou de amar desperdiçadamente, seu lar não construiu. E vai conceber no chão limpo. No
limpo das campinas. Num pedaço de trampa enluaçada. Ou num aguaçal de estrelas.
Em tempo de namoro quero-quero é boêmio. Não aprecia galho de árvore para o idílio. Só conversa no chão. No chão
e no largo. Qualquer depressãozinha é cama. Nem varre o lugar para o amor. Faz que nem boliviana. Que se jogue a
cama na rua na hora do prazer, para que todos vejam e todos participem. Pra que todos escutem.
Não usa o silêncio como arte.
Quero-quero no amor é desbocado. Passarinho de intimidades descobertas. Tem uma filosofia nua, de vida muito
desabotoada e livre.
Depois de achado o ninho e posto o ovo porém, vira um guerreiro o quero-quero. Se escuta passo de gente se espeta
em guarda. Tem parenteza com sentinela. Investe de esporão sobre os passantes. E avisa os semoventes de redores.
Disse que pula bala. Sei que ninguém o desfolha. Tem misca de carrapato em sua carne exígua. Debaixo da asa guarda
esse ocarino redoleiro pra de-comer dos filhotes.
Questões
TELMA
Tô namorando. Mas pode deixar que eu não esqueço os amigos [feito certas pessoas.] (Coloca o buquê de girassóis
de plástico no túmulo simples) Trouxe pra você.
178
Conclusão
REFERÊNCIAS
ALVES, Ieda Maria. Neologismo – criação lexical. São Paulo: Ática, 1990.
BARROS, Manoel de. Meu quintal é maior do que o mundo [recurso ele-
trônico]. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. p. 53. ISBN 978-85-7962-365-3.
Introdução
gem no sentido de que a língua é produto de práticas sociais que são temporal
e espacialmente contextualizadas nas práticas comunicativas e engajadas dos
sujeitos. Se, por um lado, a abordagem teórica das práticas linguísticas nos
possibilita construir uma vinculação com uma perspectiva social e integracio-
nista, por outro lado, a noção de gramáticas emergentes nos direciona para um
olhar funcionalista sobre a dinâmica de como a língua-gramática se molda e
se atualiza. Uma aproximação teórica entre essas dimensões – social e cogni-
tivo-comunicativa – é central para se compreender a complexidade do modo
como a língua e a gramática se (re)configuram a partir dos usos linguísticos.
Assim, neste capítulo, ao tecer uma articulação entre a língua como prá-
tica e a gramática como realidade dinâmica e emergente, atentamos para os
seguintes elementos: (i) relação entre a dinâmica social e o conceito de prática;
(ii) papel dos sujeitos tanto na reiteração de práticas comunicativas, como
na inovação; (iii) língua e gramática entendidas como constituídas na prática
social; (iv) relação entre significados sociais, identitários, estilísticos e fun-
cionais e as formas linguísticas; (v) concepção de gramática em diálogo com
noções de diversidade e de dinamismo, o que implica considerar que sentidos
de pluralidade perpassam todos os níveis/camadas envolvidos na gramática.
64 No original: “of the deeply social and cultural activities in which people engage”. Traduções de
nossa responsabilidade.
65 No original: “language use is part of a multifaceted interplay between humans and the world”.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 189
68 No original: “The term ‘integrational’ is intended to allude to the fact that in real life, as we all know, experience
is not neatly compartmentalized into the linguistic and the non-linguistic. The two are integrated. Words are not
separate from situations: they are part of the situations, both socially and psychologically. Futhermore, without
that essential integration, we could neither learn a language, nor function efficiently as language-users”.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 191
sociolinguística) pode ser interpretado por alguns atores sociais como tendo uma
relação essencial, natural, ‘dada’ com, por exemplo, um tipo social, e por outros
como indexando identidades sociais de uma forma menos determinística” (JAFFE,
2016, p. 87)70. Isso significa que a perspectiva dos sujeitos – falantes, leigos,
agentes, envolvidos, implicados – importa no processo comunicativo.
Uma concepção de língua que seja sensível ao modo como os sujeitos se
engajam em suas práticas de linguagem é fundamental para a concepção de
comunicação que adotamos aqui, uma vez que a “[a] comunicação começa
a partir da noção do agente criador de signos ativo. É um processo ativo,
independentemente de quem está desempenhando o papel de falante, ouvinte,
leitor ou escritor” (PABLÉ, 2021, p. 8-9)71. Em outras palavras, a língua não
é um sistema abstrato e autônomo, mas algo que construímos/fazemos nas
nossas práticas situadas: “A língua é algo que fazemos” (DUNCKER, 2017,
p. 148)72. Reiteramos que não se trata de sujeitos individualizados, mas de
práticas comunicativas que ocorrem na relação dialógica com outros sujeitos,
69 No original:“[...] the only a priori determinacy a sign has is contextual determinacy, and contexts are
open-ended”.
70 No original: “a given sign (a sociolinguistic variable) may be interpreted by some social actors as having
an essential, natural, “given” relationship with, for example, a social type, and by others as indexing social
identities in a less deterministic way”.
71 No original: “Communication starts from the notion of the active sign-making agent. It is an active process,
irrespective of who is playing the role of speaker, listener, reader or writer”.
72 No original: “Language is something that we do”.
192
não são modelos fixos, mas emergem da interação face a face de modo a
refletirem a experiência anterior dos falantes com tais formas e sua ava-
liação do contexto corrente, incluindo especialmente seus interlocutores,
cujas experiências e avaliações podem ser bastante diferentes77 (HOPPER,
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
1998, p. 156).
76 No original: “Grammar encompasses phonology, morphosyntax, and truth-functional semantics, and is rich
enough to license interaction with the general cognitive abilities such as are involved in the speaker-ad-
dressee negotiation that gives rise to grammaticalization. These include information processing, discourse
management, and other abilities central to the linguistic pragmatics of focusing, topicalization, deixis, and
discourse coherence”.
77 No original: “are not fixed templates but emerge out of face-to-face interaction in ways that reflect the individual
speakers’ past experience of these forms, and their assessment of the present context, including especially
their interlocutors, whose experiences and assessments may be quite diferente”.
194
78 No original: “the change whereby lexical items and constructions come in certain linguistic contexts to serve
grammatical functions and, once grammaticalized, continue to develop new grammatical functions”.
79 No original: “the frequency with which the new structure is used increases gradually across linguistic types,
styles and genres, and speakers”.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 195
Palavras finais
80 Numa abordagem de interface sociofuncionalista, uma discussão sobre a dinâmica do significado social
na gramaticalização é proposta por Görski e Valle (inédito), considerando a noção de domínio social (em
analogia a domínio funcional), segundo a qual os significados sociais, intimamente associados à noção de
identidade e continuamente (re)construídos nas práticas discursivas, são vistos como dinâmicos, fluidos
e multicamadas.
196
81 No original: “The productive realm of communication, finally, makes it abundantly dear that innovation always
necessarily takes place in common. [...]. We produce and innovate together only in networks. If there is an
act of genius, it is the genius of the multitude”.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 197
REFERÊNCIAS
BYBEE, J. L. From usage to grammar: the mind’s response to repetition.
Language, v. 82, n. 4, p. 711-733, 2006.
HARDT, M.; NEGRI, A. Multitude: war and democracy in the Age of Empire.
New York: Penguin Press, 2004.
Introdução
82 Doutorado em Letras (Letras Vernáculas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora Titular
da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
83 Doutorado em Letras (Letras Vernáculas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Membro de Grupo de
Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor Adjunto Professor Adjunto da Universidade
Federal Fluminense.
84 Agradecemos às Professoras Doutoras Ângela Cristina Rodrigues de Castro e Thalita Cristina Souza Cruz,
pela ajuda inestimável na elaboração deste artigo.
202
Por isso, o estudo dos gêneros não pode ser feito de forma sistemática,
se forem trabalhados textos de diferentes gêneros, sem considerar suas carac-
terísticas e sua efetiva análise aprofundada. Ou seja, trabalhar na perspectiva
dos gêneros não é apenas utilizar vários textos de distintas categorias, mas
analisá-los, de fato, em sala. Essa abordagem deve integrar leitura e produção
de textos representativos de gêneros variados à prática de análise linguística/
semiótica (cf. BRASIL, 2018), que pode ser caracterizada pelo estudo dos
elementos gramaticais sob um viés discursivo. Isso significa que, nessa visão,
a língua é relacionada a questões sociais e pragmáticas e, por isso, esses fato-
res devem ser integrados ao ensino de português. Trabalhar nessa perspectiva
envolve considerar que as adaptações contextuais e as mudanças linguísticas
são constantes e, de alguma forma, devem ser consideradas.
Diferentes investigações tratando do ensino de língua portuguesa nessa
perspectiva têm sido publicadas, principalmente a partir da primeira década
Referenciação e ensino
continuação
Que tipo de post as pessoas nem sonham que pode ser pago e, no
entanto, é?
Outro dia chegou uma proposta para noticiar que o ex-jogador Ronaldo
estava com uma camisa da seleção da Argentina. Depois seria revelado que
era, na verdade, uma campanha de uma marca de chocolate. Recusei. Faço
questão de sinalizar sempre o que é anúncio.
continuação
Seu visual mudou muito depois que ficou conhecido. Perder peso
foi exigência do mercado?
Emagreci por mim, não pelos outros.
continua...
212
continuação
Como emagreceu?
Coloquei um balão no estômago durante um ano, mas também cortei
açúcar e carboidratos, que são meu maior ponto fraco e válvula de escape
da ansiedade. Durante um tempo, fiquei sem beber. Perdi 50 quilos. Eu
me lembro de ir ao endocrinologista desde pequeno, já tomei todo tipo de
remédio: sibutramina, anfepramona. Acho que minha luta com a balança
será eterna, mas hoje entendi que não existe alternativa além de exercícios
físicos e alimentação regrada.
continuação
ganho. Pago aluguel até hoje, porque fiz as contas e vi que era melhor investir
do que adquirir imóvel. Comprei uma casa para minha mãe em Brasília, que
continua sendo minha raiz. Meus avós saíram da Paraíba e da Bahia em pau
de arara para trabalhar na construção de Brasília.
Você sempre fala muito de sua mãe e nunca de seu pai. Por quê?
Conviver com ele não foi uma experiência positiva. Eu me lembro de,
aos 5 anos, ver meu pai apontar uma arma para a cabeça da minha mãe. Eraa
clássica história de dependência alcoólica, violência doméstica, delegacias e
boletins de ocorrência. Não sofri tanto com ele por ser gay porque meu irmão
também é. Meu irmão, sim, sofreu, apanhou, foi expulso de casa.Minha mãe
um dia fugiu com a gente. Dormíamos nós três e minha irmã numa quitinete
com colchões no chão. Meu pai morreu em 2007, mas, mais que isso, é uma
pessoa que na memória deixou de existir. Daria um bom vilão de novela.
Talvez um dia eu o coloque em uma, quando virar roteirista.
Você tem planos de ser autor de novelas?
Não sei novelas, mas tenho vontade de escrever dramaturgia. Cinco
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
anos antes de eu pisar no Oscar, fiz uma entrevista de emprego e disse que
meu sonho era estar em Hollywood. Quando penso no futuro, quero ainda
estar lá, mas talvez com uma série ou programa de entrevistas na Netflix.
E com filhos.
Você tem namorado?
Namoro há dois anos. Ele é advogado e quase ninguém o conhece,
porque não o exponho em minhas redes. Precisei encontrar alguém que anda
comigo quando pode e entende quando não pode. Realmente, não posso
reclamar de como vivo hoje. Mas ainda quero muito mais.
(LEME, Álvaro. Internet é uma ilusão. Revista Veja, p. 27-31, 10
ago. 2018).
Fonte: Os autores.
Fonte: Os autores.
– Mostrar aos alunos que a entrevista costuma se constituir de apresentação e perguntas/respostas, marcadas pelos
turnos do entrevistador (em negrito) e do entrevistado. Com base nessa estrutura, discutir: (1) se a parte inicial resume
a entrevista; (2) se há marcas de interação nos turnos do entrevistador e do entrevistado.
– Debater a respeito da possibilidade de publicação do texto em outros veículos e suportes (por exemplo, site, rede
social ou blogue).
– Identificar o tema da entrevista como um todo e, posteriormente, de cada sequência formada pelo turno do entrevistador
e do entrevistado.
– Ao final da leitura, analisar a relação entre o título e o tema da entrevista, comparando com as hipóteses iniciais.
– Sintetizar de que maneira funciona a confecção de perfis falsos na internet.
– Comentar a posição do entrevistado sobre o que acontece nos perfis de celebridades na internet.
– Identificar e explicar a mudança de comportamento profissional de Hugo Gloss ao longo do tempo: profissão inicial,
ocupação atual, rumos que o entrevistado pretende dar na carreira.
Fonte: Os autores.
(1) Há agências que contratam posts para eu inserir no Stories e exigem aprovação prévia. Isso significa que, ao contrário
do que parece, os vídeos não são necessariamente do momento.
(2) Não me sinto na obrigação de ser simpático a todo momento, apesar de as pessoas cobrarem isso.
(3) Tem gente que não olhava na minha cara e agora me aborda com um sorriso de orelha a orelha. Não me incomodo.
Conquistei esse respeito com meu trabalho, e eu trabalho muito.
(4) Além de gay, sou negro e sempre fui gordo. O combo do bullying. Na escola, era mais combativo, comprava briga
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
e me impunha.
(5) Tem todo tipo de proposta: gente que quer se promover, sex shop, saco de lixo.
Fonte: Os autores.
Tais atividades permitem que o professor mostre aos alunos que pro-
nomes demonstrativos (isso) e sintagmas nominais com núcleo composto
por substantivo abstrato (proposta, respeito) ou por substantivo que pode ser
considerado abstrato metaforicamente (combo) funcionam como encapsula-
dores quando sumarizam uma porção textual precedente (os três primeiros
exemplos) ou subsequente (o quarto exemplo). O professor pode mostrar como
o uso de um pronome demonstrativo atua de maneira diferente, discursiva-
mente, se compararmos principalmente com sintagmas nominais como “esse
respeito” e “O combo do bullying” – que implicam uma avaliação axiológica
do segmento anterior, incluindo certo sarcasmo no segundo exemplo.
Além disso, os exemplos (1), (2), (4) e (5) podem ser utilizados para
pedir que os alunos observem o posicionamento discursivo ou classifiquem
sintaticamente os SNs analisados, que, nesses casos, exercem função de sujeito
ou objeto direto. Já no caso do exemplo (4), pode-se também destacar a ênfase
desse encapsulamento devido ao fato de estar sozinho compondo uma frase
nominal; dessa forma, o professor pode inserir reflexões acerca do uso de
sinais de pontuação, comparando os exemplos (4), (1) e (5). Percebemos,
218
[...] Há agências que contratam posts para eu inserir no Stories e exigem aprovação prévia. Isso significa que, ao
contrário do que parece, os vídeos não são necessariamente do momento. É preciso entender que existe um abismo
entre conquistar muitos seguidores e conseguir viver apenas do seu trabalho nas redes. Desde 2008, quando comecei
no Twitter, eu tinha números altos, mas só pude sair do emprego na Globo e me dedicar exclusivamente a ser Hugo
Gloss oito anos depois. Vale ainda dizer que muita gente compra seguidores e curtidas das tais fazendas de perfis falsos.
Fonte: Os autores.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BARBALHO, C. G. da S. Processos referenciais nominais no gênero carta
do leitor: análise e propostas de atividade. 2016. 111 f. Dissertação (Disser-
tação em Língua Portuguesa) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 2016.
Vozes, 1973.
86 Mestrado em andamento em Educação pela UFF. Especialista em Língua Portuguesa pela UERJ. Professora
do Colégio D. Pedro II.
87 Doutorado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Professora Titular da Univer-
sidade Federal Fluminense
226
não é algo exterior, mas é constitutiva, motivada pela relação que o sujeito
que escreve mantém com a linguagem nos seus modos de enunciação.
Com esse entendimento e concebendo a alfabetização na perspectiva de
um processo que se constrói nas interações discursivas no contexto da classe
e da sociedade, a pesquisa que realizamos evidenciou a natureza das relações
entre fala e escrita estabelecidas pelas crianças, os movimentos que realizaram
para utilizar recursos gráficos na escrita e a forma como transitaram entre os
dois modos de enunciação – o oral e o escrito – para escrever e para aprender
sobre a escrita.
E como concebemos o processo de alfabetização? O que entendemos
como relevante na história da alfabetização no Brasil?
A concepção de alfabetização
88 Mortatti (2008) se refere, especialmente, à proposta apresentada por Alessandra e Fernando Capovilla, no
livro Alfabetização: método fônico.
228
formais de ensino fez com que ela marcasse um processo de apropriação social
de certas camadas da população, que foram imprimindo nela sua forma de ver
o mundo e passaram a rejeitar o que destoasse dessa visão.
Assim, a escrita, construída inicialmente para registrar a fala se transfor-
mou em instrumento regulador dela. Nas palavras de Geraldi,
89 Para facilitar a autorização para a realização da pesquisa, optamos por preservar a identidade dos sujeitos
da pesquisa. Assim, a professora e as 23 crianças escolheram o nome com o qual gostariam de ser iden-
tificadas na pesquisa.
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 233
Texto 1
Sugestão de leitura:
No texto escrito por Maia sobressai primeiramente seu esforço para dar
conta da escrita da lenda da vitória-régia, uma forma de comunicação que Maia
está em processo de aprender. Maia escreve um relato cheio de vida em que
aspectos tanto do modo de compor o texto em si como do modo de elaborar a
escrita parecem disputar sua atenção no processo de elaboração/aprendizagem
da criança. Nesse rico espaço, entramos nós, pesquisadoras interessadas em
saber mais sobre o processo de aprender, observando muitos conhecimentos,
mas também lacunas e sinais que indiciam dificuldades – tudo isso se põe à
linha 14) e AFOCOU (afogou, linha 12). Essas trocas são consideradas comuns
na escrita das crianças, uma vez que tanto /f/ e /v/ como /k/ e /g/ são fonemas
homorgânicos, ou seja, se realizam na mesma zona de articulação, diferen-
ciando-se, apenas, pela vibração ou não das cordas vocais.
A troca observada em TARA (para, linha 9, e parar, linha 10), entretanto,
é curiosa. Embora os fonemas /p/ e /t/ não tenham a mesma classificação
quanto à zona onde se formam, ambos são produzidos do mesmo modo. Ape-
sar de /p/ ser bilabial e /t/ ser dental (CAGLIARI, 1992), ambos apresentam o
traço oclusivo, ou seja, resultam de um processo assemelhado a uma explosão
(SIMÕES, 2006), em que o bloqueio (dos lábios em /p/ e do encontro da língua
com os dentes em /t/) é rompido de maneira abrupta.
Apesar da explicação para essas trocas estar na camada sonora da língua,
não podemos considerar que retrate a presença da fala da menina em sua
escrita. Observando outros textos de Maia, percebemos que, com o tempo, a
menina foi ampliando seus conhecimentos sobre o sistema de escrita e parou
de representar esses sons de maneira equivocada.
Além dessas trocas expostas anteriormente, encontramos no texto de
Maia outros dois tipos: as causadas por questões ortográficas e as motivadas
por análises da fala. As primeiras, encontradas em ocorrências como VOU-
TAREN (voltaram, linha 9) e AUCANSAR (alcançar, linha 8), tratam dos
casos em que o sistema de escrita prevê mais de uma forma para representar
um mesmo som e a criança – que ainda não conhece todas as formas ortográ-
ficas – precisa decidir que forma utilizar, enquanto escreve.
236
Nas trocas causadas por análises da fala, temos as grafias [i] e [u] para
contextos convencionalmente escritos com [e] e [o]. Conhecido como alça-
mento vocálico, esse fenômeno é muito comum na fala dos brasileiros e
amplamente percebido – e registrado – pelos sujeitos da pesquisa.
Temos, na língua portuguesa, sete vogais: /a/ considerada baixa; /é/,
/ê/, /ó/ e /ô/ consideradas médias; e /i/ e /u/ consideradas altas (CAMARA
JÚNIOR., 2008). Quando as vogais médias aparecem no fim das palavras,
em posição postônica, há a tendência de serem pronunciadas de maneira
mais fraca, soando como /i/ e /u/ (BAGNO, 2012). Essa tendência da língua
explica escritas como PODI (pode), PIQUI (pique) e JOGUS (jogos), além
dos monossílabos átonos I (e, linhas 3, 4, 11, 12 e 14), IN (em, linha 5), SI
(se, linha 12) que aparecem no texto de Maia.
Inúmeras pesquisas (FRANCHI, 1988; GARCIA, 2017) mostram como
crianças registram esse fenômeno em suas escritas e percebem que é por meio
do texto escrito e dos avanços na aprendizagem da escrita que aprendem a
forma ortográfica (GARCIA, 2017). Nesse processo, surgem tentativas de
buscar regularidades na língua, que podem gerar escritas hipercorrigidas como
VIO (viu, linha 11).
Crianças: – Espaço!
Professora Elisa: – Espaço. Tá grudado?
Crianças: – Não!
Professora Elisa: – NO (lendo). Oh, aqui tem um número e aqui?
Gabrieli: – Outra.
Professora Elisa: – Outra palavra. Aqui nós temos um espaço que tá ocu-
pado por essa vírgula, é um sinal de pontuação, pra separar também. Outro
espaço, outra palavra. Outro espaço, outra palavra... (continua mostrando
todos os espaços e todas as palavras) e um sinal de pontuação, que é o
ponto de interrogação. Então, quantas palavras tem aqui?
As crianças contam: – 10!
Texto 2
Sugestão de leitura:
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
A LENDA DA VITORIA-RÉGIA
ERA UMA VEZ UMA INDIA QUE / SE CHAMAVA NAIÁ E QUE ELA / QUERIA CHEGAR NA LUA E ELA / VIU O
REFLEXO DA LUA ELA / NADOU E SE AFOGOU E / MORREU A FOGADA E / A LUA SE TRANSFORMOU NA /
VITORIA-RÉGIA. E FIM
Texto 3
Sugestão de leitura:
A LENDA DA VITÓRIA-RÉGIA
UMA MENINA INDÍGENA E O NOME / DELA É NAIÁ O SONHO / É SER ESCOLHIDA E ELAS TIVERAM / UMA
IDEIA E AS OUTRAS INDÍGENAS / TIVERAM A MESMA IDEIA ELAS CORRERAM / PARA ÁRVORE E NAIÁ JOGOU
/ VÁRIAS PEDRAS NAS OUTRAS / E ELA NÃO ALCANÇOU A LUA E / ELAS VOUTARAM PARA ALDEIA / E NO DIA
SEGUINTE NAIÁ / VIU O REFLEXO / DA LUA NA ÁGUA E SE JOGOU / NA ÁGUA E SE AFOGOU E O / DEUS LUA
SENTIU PENA DE NAIÁ E / O (a) TRANSFORMOU EM VITÓRIA-RÉGIA
Para concluir
guem muito mais do que letras, procurando conhecer o valor dos sinais de
pontuação, dos acentos e dos espaços em branco, entre outras normatizações.
A opção de trabalho alfabetizador com método fônico e com metodolo-
gias que se fixam na relação entre a camada sonora da oralidade e a camada
gráfica da escrita apaga a heterogeneidade da escrita, histórica e culturalmente
constituída. Mais do que isso, desconhece as diferentes subjetividades que
habitam a sala de aula e sonega informações que caracterizam a escrita e lhe
dão sentido social e político.
No processo de criação de textos, as crianças fazem muitas escolhas,
tomam muitas decisões e precisam obrigatoriamente articular muitos conheci-
mentos. Nossas análises têm apontado que as crianças enfrentam esse desafio
com condições de trabalho pedagógico humanizadoras, afetuosas e proble-
matizadoras que as façam avançar e crescer como pessoas, como cidadãs do
mundo letrado.
246
REFERÊNCIAS
ABAURRE, M. B. M. Horizontes e limites de um programa de investigação
em aquisição da escrita. In: LAMPRECHT, R. R. (org.). Aquisição da Lin-
guagem: questões e análises. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999. p. 167-186.
90 Doutorado em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor Titular da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro.
91 Entrevista disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/08/quem-vai-investir-nas-universi-
dades-apos-tanto-ataque-questiona-reitor-da-unicamp.shtml. Acesso em: 26 mar. 2021.
250
alunos mas a ela também. Lecionando em uma escola particular com alunos
de classe média alta, Sophia, ao mesmo tempo que se considerava uma pri-
vilegiada, pois sabia que podia contar com um certo suporte da escola e da
situação social dos alunos para realizar deveres de casa, além de ter conexão
o suficiente para aulas síncronas como a que estava por começar, também não
deixava de pensar como o sistema de aulas remotas, para quem as tinha!, era
injusto e desigual.
Seus pensamentos foram interrompidos pela chegada dos primeiros
alunos à plataforma virtual. Aquela aula marcava o início de um tópico que
deveria durar, no máximo uma semana de encontros, segundo determinação
do programa da escola para o nono ano do ensino fundamental: variação lin-
guística. Ainda que, sim, como bons profissionais formados em Letras, Sophia
acreditasse que esse tópico devesse permear todos os demais, deveria seguir
as regras escolares. Após iniciar com algumas músicas e trechos de falas que
fugiam aos já ultrapassados e desinteressantes exemplos retirados de tirinhas
do personagem “Chico Bento” e de músicas de Adoniran Barbosa, adotando
músicas dos Racionais MCs e de participantes do programa Big Brother Bra-
sil, Sophia percebeu certa inquietação em alguns alunos. Perto do final da
dora acedeu, com a ressalva que tudo fosse registrado e que ela recebesse
o material com antecedência. Prontamente, Sophia virou-se para o marido,
declarou “estado de emergência” (o código que eles possuíam para que um
dos dois pudesse utilizar o horário de trabalho do outro, com compensação
a ser decidida posteriormente), e conseguiu uma parte da tarde para preparar
a apresentação de slides, juntar materiais, imagens coletadas da internet e, o
mais importante, a maneira como o assunto seria abordado. Ao final do dia,
já tinha pronta a estrutura das aulas e enviou-a para a coordenadora, que res-
pondeu friamente: “A estrutura parece adequada; no entanto, atente-se para
a condução dos conteúdos e das discussões, sendo você a inteira responsável
por isso. Pergunto: está mesmo decidida a dar sequência a essa ideia?”. Sophia
não conseguiu deixar de escapar um sorriso ao responder à mensagem, pois se
lembrou de uma frase de um livro que a marcou profundamente: “Sim” (pois
afinal “Tudo começou com um sim”). E antes de ir dormir, mostrou a estrutura
das aulas a seu marido, que disse, ele não se lembrava quantas vezes já havia
dito (e quantas haveria de dizer), “Você tem certeza?”. Sophia agradeceu pela
preocupação, sorriu e respondeu que iria dormir um pouco mais tarde. Afinal,
estava uma vez mais elaborando “seu plano santo”...
barulho da obra, o carro de som, tudo agora era periférico para seu foco na
próxima hora e meia. Ao ver os alunos chegarem aos poucos e após algumas
saudações costumeiras no chat, Sophia, sem avisar e sem falar nada para os
alunos, colocou em tela cheia uma imagem, que ficou compartilhada por pelo
menos um minuto sem que ela se pronunciasse a respeito:
– Então, ‘b’ deu mais match com ‘r’ do que com ‘l’, confere? – E a turma
assentiu. – Partiu fazer com ‘c’?
‘Creme, escrever, crise, lucro...’ foi a lista que se comparou com a outra,
formada por ‘claro, reclamar, clima, Cláudia...’ e um empate foi decretado. O
mesmo não acontece com a letra ‘d’:
‘Frio, frente, afro, frase’, essa lista foi bem rápido de fazer; ‘flor, floresta,
Flamengo, flanela’ também não demorou muito para ser montada. Depois
de alguma discussão, mais um empate para aplacar os ânimos. Chegou o
momento do ‘g’: ‘grande, grave, regra, agricultura’ competiu com ‘glória,
globo, iglu, glamour’. Antes que a turma começasse a discussão sobre qual
lista tinha mais matches, Sophia lançou um critério de desempate:
– Quais dessas listas vocês acham que têm palavras que as crianças
pequenas conhecem e usam? Vamos usar isso como critério para desempatar?
E foi assim que o encontro de ‘g’ com ‘r’ “ganhou” do encontro de ‘g’
com ‘l’. O próximo par foi ‘pr’ x ‘pl’: ‘prato, praça, preto, comprar’ x ‘planta,
planeta, amplo, plausível’. Com o critério estabelecido por Sophia, ‘pr’ foi
declarado vencedor. A essa altura, a turma já se dividia, uns torcendo pelo
‘r’, que já estava ganhando, e outros pelo ‘l’, para quem achavam que pode-
ria haver uma reação. A comparação dessas consoantes no encontro com ‘t’
foi um balde de água fria para esse último grupo: ‘três, trás, trazer, contra’
travou uma disputa desigual com ‘atleta, atlântico, atlético, atlas’. Chegava o
– Temos, portanto, todos os encontros com ‘r’ possíveis: ‘br, cr, dr, fr, gr,
pr, tr, vr’; já para ‘l’, só temos ‘bl, cl, fl, gl, pl, tl’ e mesmo assim ‘tl’ só aparece
em poucas palavras e no meio delas. É um sistema simétrico? – Sophia sabia
que podia fazer essa pergunta pois eles estavam estudando algo semelhante
em Matemática.
– Nãoooo – foi a resposta unânime.
– Vocês concordariam comigo se eu dissesse que a nossa mente busca
padrões simétricos? Que para tudo que vemos, sentimos, experimentamos,
estamos sempre procurando um par ou assumindo que se existe de um jeito,
deve existir de outro?
– Certeza, professora! Aqui o que não falta é gente com TOC – disse
uma aluna mais espontânea, com a qual muitos concordaram.
– E se você pudesse estar dentro da mente de uma criança que está
ouvindo esses encontros e está começando a perceber que esse sistema não
é simétrico, o que vocês, lá dentro da mente dela, fariam para resolver isso?
– Eu inventava palavras novas para cobrir as lacunas – disse a primeira
aluna que respondeu no começo da aula, ao que foi prontamente refutada por
alguns colegas: ‘não dá para sair inventando palavras’, ‘cadê essas palavras,
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 257
então, gênia’ foram apartes que apareceram. De repente, não mais do que de
repente, uma voz masculina e baixinha, quase inaudível, disse:
– Eliminava uma das partes do sistema, a que tem lacunas... Trocando
o ‘l’ pelo ‘r’ nessas palavras...
O breve silêncio que seguiu a essa fala permitiu a Sophia refletir sobre
seu autor: sim, o mesmo que havia escrito a frase no chat que tanto a trans-
tornara. Mais do que depressa, Sophia complementou:
– Brilhante, meu caro Watson... E não foi isso que a Tradicional Família
Portuguesa fez?
– Que família é essa, professora? – foi a pergunta mais repetida no chat.
– Ué, se é tradicional, vem do passado, das raízes, e se é portuguesa, só
pode vir de Portugal. Com vocês, um livro que a rainha Dona Leonor mandou
imprimir em 1515...
Não demorou muito para a turma se acostumar com aquela grafia dife-
rente e fonte até então desconhecida para muitos. Depois de escanearem
as palavras com grafia diferente, os olhares estavam concentrados naquela
palavra... Que não podia estar lá!... Mas estava!... Não era possível!... Sophia
tomou a palavra e disse baixinho e pausadamente:
– Ninguém não vai entrar mais, professora – Ato contínuo, outro aluno
respondeu em voz alta, enfatizando cada palavra:
– Ninguém... vai... entrar.. não tem esse ‘não’ aí. – Ato (re)contínuo,
Sophia questionou:
– Por quê?
– Essa situação veio bem a calhar para nossa aula de hoje. O conceito de
sujeito vocês conhecem, mas será que já pararam para pensar em como ele
se confunde com outras situações? Por causa da ordem de palavras do portu-
guês, parece, eu disse parece, que tudo que vem antes do verbo é sujeito, e o
que vem depois é objeto. Assim, claro que não vamos dizer que “ninguém”
é o objeto de “vir” em “Não veio ninguém”. Vamos retomar um pouco esses
conceitos em alguns slides que vou mostrar para vocês e também passar pelo
chat. Sophia então escreveu antes do arquivo anexado:
– Segue os slides.
já tivessem declarado que surpresa seria se ela nada fizesse fora do roteiro,
inserindo um minijogo com o nome “Detetives da Escola Azul” (a cor do
uniforme dos alunos era predominantemente azul, o que facilitou a paródia
com a série infantojuvenil que eles conheciam), com o objetivo de encontrar
“erros” de português. Não sem antes se desculpar com “São Saussure” e com
“Dom Labov”, por fazer uma atividade assim, ainda que a utilizasse com
finalidades de integrar os alunos à aula e, afinal de contas, de esclarecê-los
sobre o que seriam “erros”, Sophia começou com as já conhecidas dos alunos
placas de informação. A primeira imagem foi de um fenômeno que a turma já
tinha visto e que levaria a muitos “acertos” por parte dos grupos:
Figura 3 – Placa94
O caso clássico de sujeito da voz passiva não sendo reconhecido como tal
teve, após a apresentação da situação de “Não veio ninguém”, uma repercussão
diferente do que costumava causar: a imensa maioria dos alunos reconhecia a
ausência da marca de concordância no verbo. Outras imagens foram seguindo,
mostrando recortes de jornais, sites, entrevistas, entre outras fontes. Com três
grupos empatados na última rodada, todos com pontuação máxima (Sophia
tinha orgulho de sua turma 904 ser tão participativa e atenta), chegava o
momento em que o primeiro grupo que avistasse o “erro” e o explicasse ganha-
ria. Após a contagem regressiva, apareceu na tela compartilhada a seguinte
imagem, que Sophia teve que cortar para não aparecer o nome da autora:
– Ninguém não capturou esse erro? – Sophia disse essa frase como se
levantasse um troféu. Mas o “champanhe” ainda estava por vir. Era certo que
ela faria isso, e quando o fez, pediu aos alunos um momento de reflexão e de
relação ao verbo, que passou de antes para depois. Para os portugueses, falar
“Dá-me uma tristeza” é absolutamente natural, pois é isso o que a língua
“pede”. Já para nós, brasileiros...
– Então, professora, essa regra aí foi importada de Portugal por gente
que não queria que as pessoas conseguissem falar o certo? Tô cho-ca-da!
– Talvez seja uma simplificação, mas é por aí... Veja que na época eles
tinham como inspiração toda uma literatura e uma cultura portuguesas e, sem
saber de todos esses conceitos que nós sabemos hoje sobre variação, norma,
eles escolheram aquilo que lhes parecia “exemplar”, no sentido de ser um
exemplo a ser seguido... “Escreva como Eça de Queiroz” pode ter um funda-
mento positivo e um objetivo igualmente nesse sentido.
– Mas, professora, – a voz era do aluno que escrevera a frase do “Vaza
chat” – se é para ter um modelo, um padrão a ser seguido, como é que ia ser
dos ex-escravos? Porque eles tinham um modelo? Ou tinha, como a senhora
diz, muita variação?
– Sim, tinha, como eu e os estudiosos dizemos, muita variação. A escolha
de construções linguísticas para fazerem parte do modelo nunca é aleatória
nem imotivada. Aliás, devemos o fato de o Brasil inteiro falar a mesma língua
a esses modelos durante sua história.
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Sophia já esperava por essa pergunta e até havia ensaiado várias res-
postas, com diferentes graus de radicalismo e distanciamento da abordagem
266
– Gente, jogo surpresa! Corre todo mundo pra um lugar que tenha
um espelho ou então melhor: traz um espelho pra perto, pode ser esses
de maquiagem.
– Professora, não serve o celular?
como você vai mudar sobre muitas coisas como política, projetos de vida, vai
poder mudar sobre isso também!
REFERÊNCIAS
BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 16. ed. São Paulo:
Contexto, 2010 [1997].
A
Análise linguística 12, 13, 14, 15, 33, 34, 35, 36, 37, 43, 44, 47, 49, 50, 51,
52, 54, 55, 79, 87, 88, 89, 100, 101, 127, 128, 132, 139, 145, 148, 172, 200,
201, 202, 204, 219, 222
Aulas de língua portuguesa 17, 33, 104, 201
B
Base Nacional Comum Curricular 12, 13, 21, 30, 37, 52, 59, 63, 66, 83, 85,
87, 106, 131, 138, 154, 219
Bom empreendedor 121, 122, 123
C
Combo do bullying 209, 215, 216
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
D
Diferentes graus de pertença 116, 125, 126
Discurso 3, 11, 12, 17, 19, 20, 22, 27, 28, 34, 71, 81, 87, 90, 91, 95, 97, 98,
99, 100, 103, 105, 106, 111, 128, 137, 138, 167, 175, 177, 180, 191, 199, 203,
220, 221, 236, 245, 265
Discurso e gramática 3, 11, 12, 19, 27, 199
E
Efeitos de sentido 36, 37, 38, 42, 74, 89, 90, 99, 100, 102, 204
274
F
Formação de professores 11, 13, 25, 26, 33, 34, 46, 51, 53, 54, 59, 71, 73, 130
Frase com pronome átono 262, 263
I
Internet 23, 62, 67, 69, 72, 78, 206, 207, 208, 211, 213, 214, 217, 249,
251, 265
L
Leitura, escrita e oralidade 11, 12, 17, 22, 23, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 43, 44,
45, 49, 70, 71, 73, 74, 75, 76, 80, 82, 83, 88, 89, 90, 96, 113, 115, 145, 148,
160, 173, 176, 200, 201, 202, 204, 211, 212, 214, 215, 221, 224, 225, 230,
231, 232, 237, 239, 241, 242, 244, 249, 267
Leitura, escrita, oralidade 11, 12, 17, 22, 23, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 43, 44,
45, 49, 70, 71, 73, 74, 75, 76, 80, 82, 83, 88, 89, 90, 96, 113, 115, 145, 148,
160, 173, 176, 200, 201, 202, 204, 211, 212, 214, 215, 221, 224, 225, 230,
231, 232, 237, 239, 241, 242, 244, 249, 267
Língua como prática social 15, 185, 186, 193
Língua e gramática 15, 185, 186, 194
DISCURSO E GRAMÁTICA: entrelaces e perspectivas 275
Linguística Funcional Centrada no Uso 14, 109, 110, 111, 127, 129, 131,
135, 136, 153, 154, 155
O
Orais, escritos e multissemióticos 24, 37, 43, 52, 89, 135, 154, 158, 222,
223, 228, 230, 245, 266
P
Parâmetros Curriculares Nacionais 21, 30, 36, 52, 62, 70, 71, 76, 83, 87, 88,
106, 128, 131, 138, 154, 199, 201, 219
Perspectiva enunciativo-discursiva 13, 70, 71, 88
Pessoa, tempo e espaço 90, 91, 92, 94, 97, 98, 99, 100, 102, 103, 105, 106,
136, 171, 207, 208, 209, 211, 216, 252, 256, 264, 265
Plano da forma 110, 115, 120, 123
Plano do significado 116, 117, 120, 123
Ponto de vista teórico 67, 158, 199, 225
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
R
Reflexão sobre a língua 12, 14, 38, 128
Relação de comparação 15, 157, 158, 159, 160, 161, 168, 169, 172, 173,
177, 181, 182
S
Sala de aula 12, 14, 15, 16, 17, 20, 23, 24, 27, 30, 36, 39, 50, 52, 53, 79, 80,
81, 84, 135, 138, 139, 145, 148, 152, 153, 199, 203, 213, 220, 223, 230, 243,
248, 250, 256, 268
276
T
Terceiro e quarto ciclos 52, 83, 106, 154, 219
Trabalho com gêneros 20, 21, 76, 77, 80, 202
Trabalho com os gêneros 12, 25, 36, 38, 76
Tradicional de ensino de gramática 35, 39
Victoria Wilson
Professora associada de Linguística do Departa-
mento de Letras da Faculdade de Formação de
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
SOBRE O LIVRO
Tiragem não comercializada
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 10,5/11,5/13/16/18
Arial 8/8,5
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)