Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Portuguesa:
Sintaxe –
da Frase ao Texto
Indaial – 2022
2a Edição
Elaboração:
Prof . Letícia Emília Krieck
a
209 p.
ISBN 978-85-515-0584-7
ISBN Digital 978-85-515-0585-4
“Graduação - EaD”.
1. Língua Portuguesa 2. Sintaxe 3. Brasil
CDD 469.5
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Acadêmico, desejamos as boas-vindas ao Livro Didático de c. Este livro foi
elaborado com muita dedicação para que você aproveite esta disciplina ao máximo!
Durante o seu decurso, estudaremos o fascinante mundo da sintaxe do português
brasileiro (PB), aprimorando a sua consciência sintática e buscando torná-lo apto a
aplicar essa área em seu contexto de atuação profissional dentro da área de Letras.
Bons estudos!
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS.........................................................................................................71
UNIDADE 2 — ELEMENTOS SINTÁTICOS.............................................................. 73
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 147
UNIDADE 3 — RELAÇÕES SINTÁTICAS............................................................... 149
TÓPICO 1 — ENCAIXAMENTO...............................................................................151
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................151
2 ORAÇÕES COORDENADAS E SUBORDINADAS............................................... 152
3 SENTENÇAS COMPLEXAS E RELATIVAS........................................................ 165
4 ENCAIXAMENTO NA ESCOLA........................................................................... 169
RESUMO DO TÓPICO 1..........................................................................................171
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 172
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 209
UNIDADE 1 —
PRIMEIROS PASSOS NO
ESTUDO DA SINTAXE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• aprofundar-se nas noções de sintagma, frase, oração e período, que são fundamentais
para o estudo da Sintaxe;
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 —
O ESTUDO DA SINTAXE
1 INTRODUÇÃO
Se você parar para pensar nos seus tempos de escola, muito provavelmente
vai lembrar das aulas de Língua Portuguesa. Pelo fato de você estar em um curso de
Letras hoje, imaginamos que sejam lembranças boas, que provavelmente influenciaram
você em suas escolhas profissionais. O ensino de Língua Portuguesa engloba leitura,
interpretação e produção de textos. Além disso, é nessas aulas que aprendemos algumas
regras que fazem parte da nossa gramática. Como você já deve desconfiar, essa última
parte será mais presente neste material, uma vez que vamos falar de Sintaxe, ou seja,
da estrutura linguística do PB.
Contudo, é claro que a sua graduação em Letras não é um espelho das aulas da
escola, tampouco uma revisão de conteúdo. Pelo contrário, aqui, nós iremos estudar a
Sintaxe de forma mais aprofundada do que se vê nas escolas. A relação com a escola
existe, é claro, uma vez que, na sua turma, estão sendo formados docentes que irão
trabalhar no chão da sala de aula. Ademais, a visão que adotamos está centrada, ainda,
nas seguintes reflexões: de que forma a Sintaxe é útil ao profissional de Letras, de modo
geral? Como a Sintaxe deve ser estudada por alguém que dará aulas? Mais do que isso,
como será possível relacionar o aprendizado do curso com a profissão docente?
2 A LINGUÍSTICA
Se você esbarrasse em algum colega no corredor e ele percebesse que você está
segurando um livro de Sintaxe e lhe perguntasse o que você estuda nessa disciplina,
em uma resposta rápida, você poderia dizer que a Sintaxe é o estudo das estruturas de
uma língua. Entretanto, para o estudo dessa disciplina no curso de Letras, essa resposta
deve ser mais aprofundada. É preciso, inclusive, pensar em perguntas que antecedem
a essa. Precisamos, enquanto estudiosos da linguagem, entender como a Sintaxe está
presente nos estudos linguísticos, como trabalha um sintaticista, em que a análise
sintática pode ajudar no dia a dia do profissional de Letras, entre outras coisas. Visto
isso, neste tópico inicial, trataremos de apresentar considerações sobre a Linguística, a
ciência na qual os estudos da linguagem se enquadram.
3
2.1 O FAZER CIENTÍFICO
É bastante comum as pessoas associarem a palavra ciência às ciências
naturais, como Física, Biologia e Química, por exemplo. Do mesmo modo, é comum que
o primeiro pensamento sobre um cientista seja uma pessoa de jaleco trabalhando em
um laboratório, misturando elementos ou observando alguma coisa no microscópio.
Se irmos um pouco além, talvez algumas pessoas pensem em artefatos tecnológicos
ou Astronomia. Também é comum pensar em ciência relacionando-a com a saúde e,
desse modo, cientistas seriam aqueles que descobrem vacinas ou cura para doenças.
Não é nosso objetivo dissertar sobre isso aqui e muito menos conflitar com a opinião
de que essas áreas são ciências e que essas pessoas são cientistas. É claro que são!
O ponto em que queremos chegar é: raramente as pessoas pensam na Linguística
com seu status científico. Para muitos, os linguistas são aqueles que dominam várias
línguas ou que sabem tudo sobre a gramática normativa. Sabemos que a Linguística é
uma ciência muito mais complexa que isso, afinal, segue uma metodologia tão rigorosa
quanto as ciências que não geram dúvidas sobre o seu caráter científico. Antes de nos
aprofundarmos nos estudos sintáticos, vamos entender como os estudos linguísticos –
ou, pelo menos, parte deles – são desenvolvidos.
NOTA
A seguir, mostraremos um pouco das reflexões que os
professores Carlos Mioto, Maria Cristina Figueiredo
Silva e Ruth Lopes fazem logo nas primeiras páginas
do livro “Novo Manual de Sintaxe”. Este é um material
complementar bastante interessante para acompanhar
seus estudos nesta disciplina!
Mioto, Figueiredo Silva e Lopes (2018) aproveitam que a Física não apresenta
dúvidas sobre o seu caráter científico e partem dela para mostrar que a Linguística
também é uma ciência. Para isso, comparam um físico com um linguista, mostrando
processos metodológicos semelhantes nessas duas ciências. Aqui, vamos nos basear
(não só, mas em partes) no texto dos autores para explicar esse processo.
4
De forma parecida, um linguista não pode se ocupar de estudar todos os
fenômenos da linguagem humana e, a depender da sua vertente teórica, poderá descartar
algumas coisas que estão relacionadas ao seu objeto de estudo. Para exemplificar,
vamos aproveitar que estamos na disciplina de Sintaxe e pensar em um sintaticista. Se
a preocupação dele é estudar a estrutura da sentença “por que estamos ouvindo esse
rapaz falar?”, pouco vai importar se a pergunta foi feita em um contexto em que alguém
realmente gostaria de saber o motivo de estarem ouvindo a fala de um homem, ou se a
pergunta foi feita em tom de deboche, como se a fala de um homem fosse ruim. Dessa
forma, podemos considerar que o primeiro passo do cientista é delimitar seu objeto
de estudo.
ESTUDOS FUTUROS
Isso não quer dizer que a sintaxe nunca vai se importar com
sentenças que podem ser interpretadas de forma diferente. Pelo
contrário: quando a ambiguidade é causada por alguma questão
estrutural, então, sim, veremos que é uma preocupação dos
estudos sintáticos. Estudaremos a ambiguidade estrutural
ainda nesta primeira unidade.
5
se perguntar de onde vêm os raios, por que ocorrem de tal forma e não de outra, por
que são como são, entre outras questões. O linguista também não pode se basear
somente em observações. É preciso se indagar com questões que o façam refletir sobre
o funcionamento do sistema linguístico, através de comparações entre sentenças que
podem ou não existir, para que essas mostrem a origem dos dados, princípios comuns
entre eles e outras coisas que sejam interessantes para o estudo.
ESTUDOS FUTUROS
No Tópico 2 desta unidade, nós discutiremos alguns testes comuns
que podem ser feitos por sintaticistas, como julgamentos de
aceitabilidade, no qual o pesquisador busca identificar quais
estruturas são produzidas e compreendidas por falantes a partir
da intuição destes sobre as sentenças.
6
acordo com Bizzocchi (2021), a Linguística foi a primeira, entre as humanidades, a adotar
essa metodologia científica em seus estudos, no século XVIII. Depois, as humanidades
“pegaram emprestada” essa prática e concretizaram seus status de ciências.
É possível que você veja esse tipo de abordagem não somente no nosso material,
mas também no decorrer do seu curso (principalmente nas disciplinas voltadas ao currículo,
à didática e à educação). Entretanto, consideramos pertinente fazer um alerta para este
primeiro momento em nosso material: é muito importante estabelecer relações com a sala
de aula, mas, como você trabalhará com turmas bastante diferentes no decorrer da sua
vida, práticas que podem dar muito certo em algumas turmas podem não funcionar em
outras. Toda sugestão é posta aqui como ponto de reflexão, mas ao colocar em prática,
é importante que você, enquanto profissional, conheça seus alunos, seu ambiente de
trabalho, suas condições de tempo e organização e tudo o que envolve a sua aula (muito
mais que o conteúdo). Isso fará com que você consiga adaptar as sugestões que receber
neste e em outros materiais para a sua realidade e de seus alunos.
7
DICA
Se você se interessar mais pelas possibilidades de
trabalhar a metodologia científica em sala de aula,
recomendamos o livro “Gramáticas na escola”, de
Roberta Pires de Oliveira e Sandra Quarezemin,
que sugerem que os professores trabalhem com a
gramática a partir da construção de conhecimento
e descobertas linguísticas.
INTERESSANTE
Para além dessas dicas, você também pode procurar por
páginas de divulgação científica no Instagram. Algumas delas
são: @vitorlinguistica, @linguaciencia, @planetadalinguistica,
@gramatimemes, @profe.luana, e outras.
8
3 SINTAXE
Como descrevemos no subtópico anterior, a Linguística é uma área bastante
grande e não é recomendado (e diríamos: nem possível) que uma pessoa se ocupe de
estudar toda a linguagem. Por conta disso, o estudo da Linguística é dividido em áreas e
subáreas. Há, claro, momentos em que ela conversa com outras grandes áreas, como é
o caso de estudos que envolvem Sociolinguística, Psicolinguística, Linguística Aplicada,
Análise do Discurso, entre outras. Contudo, há o chamado “núcleo duro” da Linguística,
que diz respeito às disciplinas preocupadas com a descrição e análise das línguas
naturais, sobretudo em termos gramaticais, como Fonética e Fonologia, Morfologia,
Sintaxe e Semântica.
Quando nós fazemos o uso da língua, seja de forma oral ou escrita, utilizamos
as palavras para organizar o que temos a dizer. As sequências são estruturadas e
organizadas de acordo com regras básicas.
Por exemplo: não é comum você falar com uma amiga e ela comentar:
9
O que se espera de um falante nativo de PB é que se produza a ideia da sentença
anterior da seguinte forma:
A sentença em (1) não é produzida e nem compreendida no PB. Isso significa que,
em nenhum contexto iríamos proferi-la e, ao entrar em contato com ela, provavelmente
estranharíamos. Talvez até pudéssemos acompanhar o sentido dela por conta do campo
semântico das palavras, mas estruturalmente falando não é uma sentença aceitável na
nossa língua.
O processo para que a sentença em (1) se torne gramatical como em (2) pode
ser explicado pela Sintaxe. Primeiro, é preciso entender que nas línguas, os elementos
sempre se organizam de forma relativamente rígida. Por exemplo, no PB, nós aceitamos
ordens como: determinante/artigo antecedendo nome/substantivo, como [a minha
mãe] e [um bolo de cenoura], mas não aceitamos sequências como *[minha mãe a] ou
*[bolo de cenoura um]. Além disso, os elementos devem se combinar entre si, para que
a ideia seja colocada através de uma sentença aceitável. É por isso que uma sentença
como *“A minha mãe um bolo de cenoura preparou” continua agramatical. Perceba que
a organização das sentenças nunca é dada de forma aleatória, pois precisamos seguir
algumas regras.
10
DICA
Além do “Novo Manual de Sintaxe” (MIOTO; FIGUEIREDO
SILVA; LOPES, 2018), uma boa leitura complementar é o
livro “Para conhecer Sintaxe”, de Eduardo Kenedy e
Gabriel de Ávila Othero. Muito do que falamos aqui é
baseado nessa obra também!
É bastante provável que a perspectiva de análise que você mais tenha tido
contato até então seja a abordagem tradicional ou normativa. Afinal, ela é a mais
trabalhada em ambientes escolares, inclusive nos materiais didáticos. Contudo, ela não
é a única. A seguir, veremos outras perspectivas de análise sintática.
DICA
Um bom material para entender mais sobre as
diversas perspectivas de análise sintática é o livro
“Sintaxe, sintaxes: uma introdução”, de Eduardo
Kenedy e Gabriel de Ávila Othero, publicado pela
Editora Contexto.
11
A ideia mais comum – essa de muitas escolas – que se diz a respeito de
gramática, é que ela é um conjunto de regras que precisamos seguir ao usar a língua
portuguesa para fazer o uso de forma “correta”. Essa visão é denominada gramática
normativa ou gramática tradicional e, como falamos, a preocupação desse tipo de
gramática é prescrever – ou seja: “legislar” sobre – o uso da língua.
NOTA
Por se tratar de um material de Sintaxe,
não é o nosso foco abordar essas questões
aqui. Contudo, caso queira saber mais, re-
comendamos a leitura de materiais de So-
ciolinguística. Bons livros são “Para conhe-
cer Sociolinguística” (de Izete Lehmkuhl
Coelho, Edair Maria Görski, Christiane
Maria de Souza e Guilherme Henrique
May) e “Para conhecer Norma Linguística”
(de Carlos Alberto Faraco e Ana Maria
Zilles), da Editora Contexto.
12
A gramática internalizada, outra concepção, também faz jus ao próprio nome
quando pensamos que ela é uma concepção voltada aos aspectos internos do ser
humano. Para Ilari e Possenti (1985, p. 1), esse tipo de gramática compõe o “conjunto de
regras que o falante domina”. Esse domínio é tácito, ou seja, o falante não sabe que o
tem. Pense, por exemplo, em uma criança em fase de aquisição de linguagem: é muito
difícil que os pais reservem um dia para ensiná-la formalmente a como conjugar os
verbos, mas é algo que ela acaba fazendo sem precisar de instrução. Você mesmo que
já adquiriu a língua, se é falante nativo de PB, não precisou aprender como conjugar os
verbos para falar. Você nem pensa nessas questões gramaticais. É automático!
NOTA
Optamos para usar termos como “correto(a)”, “certo(a)”, “errado(a)”,
“erro” etc. entre aspas, porque entendemos língua de uma forma
científica e, como dito logo no início deste tópico, não é prática da
ciência fazer juízo de valor sobre os dados.
13
Outra perspectiva de análise é a abordagem funcionalista. Como o próprio nome
já indica, é uma abordagem que se preocupa com a função das estruturas linguísticas. O
funcionalismo é uma abordagem baseada no uso, então, sua preocupação, ao contrário
da visão normativa-tradicional, não é prescrever o que é “certo” ou “errado” nas línguas
naturais.
NOTA
Como falamos, nosso objetivo aqui não é detalhar profundamente
cada abordagem, mas, sim, direcionar seus olhos para uma perspectiva
plural. Porém, se você se interessar pela abordagem experimental,
recomendamos que procure por estudos que relacionem a Sintaxe com
a Psicolinguística. Um grande pesquisador no Brasil que é referência
para essa área é o Prof. Dr. Marcus Maia.
14
Por fim, dedicaremos nossas próximas reflexões aos pressupostos teóricos
da abordagem formalista. É a partir dos estudos da escola gerativa – logo, ela será
apresentada – que guiaremos os estudos sintáticos nesta disciplina. Para um breve
resumo, podemos entender que a abordagem formalista procura entender e descrever
o lado formal da linguagem. É importante ter em mente que, ao dizer “formal”, não
nos referimos ao contrário de “informal”, assumindo que a abordagem se alinha aos
pressupostos normativos. O gerativismo e a abordagem formalista também procuram
entender o que, de fato, ocorre na língua, sem pensar em certo e errado. A abordagem
leva esse nome por conta da maneira como descreve suas análises: por meio de fórmulas
e demais técnicas de formalização, visando à descrição mais objetiva possível.
15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• A Sintaxe estuda a estrutura das línguas naturais e está inserida em uma área maior
chamada Linguística, a ciência que se propõe a descrever, analisar, compreender e
estudar a linguagem humana e as línguas do mundo.
• Embora a Sintaxe Tradicional seja bastante conhecida, ela não é a única maneira de
estudar as estruturas das línguas naturais.
16
AUTOATIVIDADE
1 No início do Tópico 1, ilustramos a Linguística como uma ciência tão rígida quanto as
outras, problematizando, assim, a desvalorização desta ciência por parte do senso
comum. Uma das características da Linguística que colabora com o seu caráter
científico é o trabalho com a metodologia científica. Sobre esse tema, assinale a
alternativa CORRETA:
17
3 A Sintaxe é uma área de estudo dentro da Linguística que estuda as estruturas e
construções das sentenças. Assim como a Linguística por si, a Sintaxe também
apresenta subdivisões. Há várias perspectivas de análise. No material, mencionamos
algumas delas. De acordo com a leitura do material, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
4 O estudo de gramática pode ser feito de várias formas. Nesta unidade, algumas
concepções foram abordadas: a normativa, a descritiva e a internalizada. Disserte
sobre essas concepções, relacionando-as com as perspectivas de análise sintática.
18
UNIDADE 1 TÓPICO 2 —
A SINTAXE GERATIVA
1 INTRODUÇÃO
Talvez, em sua caminhada no curso até este momento, você já tenha ouvido falar
do Gerativismo. Essa é uma abordagem que, merecidamente, vem recebendo destaque
nas últimas décadas dentro da Linguística e que guia grande parte das pesquisas que
vêm se dedicando a entender como se dá o funcionamento das línguas naturais. Assim,
independentemente de qual é ou será a sua linha de atuação dentro da área de Letras,
é fundamental que você esteja familiarizado com essa influente linha de análise, pela
imensa contribuição que trouxe e traz para a ciência linguística, de modo geral.
É possível que você esteja se perguntando por que um tópico inteiro está
sendo dedicado para tratar do Gerativismo, frente às outras perspectivas apresentadas
anteriormente. Essa exclusividade é dada em função do fato de que, embora a gramática
gerativa se constitua um terreno fértil em todos os níveis de análise formal das línguas,
é na Sintaxe que ela se aplica primordialmente. Dito de outro modo, o seu “coração”
está no objetivo de entender de que modo as sentenças das línguas naturais são
estruturadas e quais são as implicações dessa estruturação para a maneira como nos
comunicamos e nos expressamos. Pela sua notável relevância aos estudos em Sintaxe
em âmbito mundial, nesta disciplina, essa abordagem será tomada como central às
discussões que faremos adiante.
19
2 CONTEXTUALIZAÇÃO E PRESSUPOSTOS
Até os anos 1950, década em que as primeiras ideias gerativistas foram
lançadas, os estudos linguísticos eram guiados, sobretudo, pela base epistemológica
do Estruturalismo, de fundação póstuma de Ferdinand de Saussure. De modo muito
básico, essa corrente teórica, que se deteve principalmente nos sons e no significado das
palavras, defendia que o estudo da língua deveria ser aproximado de ciências humanas
como a Sociologia, a Antropologia e a Psicologia. Era defesa dos estruturalistas que
as línguas naturais não deveriam ser comparáveis, devendo cada uma ser estudada
isoladamente; ainda, que cada língua era constituída por um conjunto finito de
construções, como uma espécie de lista de sentenças prontas para serem usadas
quando da necessidade de cada uma.
ATENÇÃO
Neste livro, estamos abordando o termo “língua natural” no sentido de
Kenedy (2013, p. 12):
20
No entanto, o Behaviorismo se mostrava insuficiente para explicar algumas
situações de uso da língua que apareciam muito comumente no dia a dia. Uma dessas
situações é o caso muito corriqueiro de produzirmos e interpretarmos sentenças
inéditas, isto é, que nunca ouvimos anteriormente. Se a língua fosse, de fato, um mero
sistema de repetição de estímulos prévios, nós deveríamos elaborar e interpretar apenas
exatamente o que já escutamos alguma vez. Mas será que isso se verifica na prática?
Pense se você já leu ou escutou alguma sentença como (4), a seguir:
Imaginamos que você provavelmente nunca tenha ouvido algo igual a (4), não
é mesmo? Contudo, mesmo sem tê-lo feito, você consegue interpretar e compreender
perfeitamente o que essa sentença significa. Assim, podemos entender que essa
hipótese estruturalista, definitivamente, não parece se verificar na prática. Outra
questão não contemplada pelos estudos linguísticos, até então, se refere ao fato de que
sujeitos acometidos por lesões cerebrais graves em áreas específicas do cérebro – em
decorrência de derrames, acidentes ou outras questões patológicas – podem perder
a capacidade plena de se comunicarem utilizando a língua ou, até mesmo, quando,
ainda em fase de aquisição da linguagem, serem impossibilitados de desenvolver essa
capacidade plena. O Behaviorismo, por si só, não podia explicar tal fenômeno.
21
inicial, independentemente de qual é o meio em que ela está crescendo. À medida
que essa criança é exposta aos estímulos linguísticos do ambiente (ou seja, à língua
materna), esse componente vai sendo modificado, adaptando-se ao meio ao qual está
sendo exposta.
Para entendermos melhor como funciona essa teoria, pensemos em dois bebês
que nasceram no mesmo dia e crescerão no país de nascimento: um, no Brasil, e o
outro, na China. A teoria chomskyana prediz que, antes de iniciar a fase de aquisição
da linguagem (em torno dos 18 meses de idade), o componente genético cerebral
responsável por portar a língua é idêntico nos dois bebês, por mais que já estejam
expostos a ambientes socioculturais e linguísticos bastante distintos. Porém, ao término
do período de aquisição (mais ou menos, aos seis anos de idade), esse componente será
completamente diferente nas duas crianças, já que cada um foi moldado conforme os
estímulos linguísticos específicos da região em que essas crianças cresceram.
O conceito de “regra” pode estar abstrato para você neste momento. Essa
confusão é natural, porque é comum que, quando estamos falando de gramática,
associemos “regra” ao sentido normativo do termo. A gramática normativa normalmente
aceitará perfeitamente sentenças como (5a) e (5b), mas dificilmente terá esse julgamento
para uma sentença como (5c):
22
5) a. Nós tomamos refrigerante somente aos fins de semana.
b. A gente toma refrigerante somente aos fins de semana.
c. Nós toma refrigerante somente aos fins de semana.
Por último, o Gerativismo entende que essas regras internalizadas são aplicadas
sucessivamente, isto é, continuamente. Isso porque, para formularmos uma sentença que
faça sentido para o receptor e para compreendermos uma sentença emitida por alguém,
devemos ter domínio internalizado das regras da língua em que esses enunciados estão
sendo produzidos. Esse domínio permitirá com que apliquemos essas regras quantas
vezes forem necessárias. E é, justamente, por isto que a gramática gerativa possui esse
nome: pois, a partir da compreensão (ainda que inconsciente) de um número limitado de
regras, somos capazes de gerar um número ilimitado de sentenças. Percebemos, neste
momento, mais um contraste dessa perspectiva em comparação ao Estruturalismo,
pois, como abordamos anteriormente, para essa vertente, a língua seria formada por
um número determinado de sentenças, como se dispuséssemos de modelos prontos
para serem utilizados – o que não se verifica para a perspectiva gerativa.
23
Vejamos de modo mais prático como essa aplicação dessas regras internalizadas
acontece em nossa mente. Para começarmos, leia as sentenças em (6), a seguir:
Agora, repare em como, no PB, a não aplicação dessa regra fará com que a
sentença em (7) não seja interpretada com a mesma naturalidade, se em comparação
a (6a):
24
A esta altura, já podemos desconfiar do fato de que o Gerativismo possui
critérios de avaliação de enunciados diferentes de outras perspectivas teóricas. De fato,
essa vertente não julga as sentenças por meio de rótulos tais quais “certo” vs. “errado”,
“correto” vs. “incorreto”, “bonito” vs. “feio”. De outro modo, o julgamento perpassa questões
como: eu, falante da língua X, compreendo o que está sendo dito nessa mesma língua?
Esse enunciado é natural para mim? Por exemplo, a sentença em (7), para nós, falantes
de PB, não possui a mesma naturalidade do que aquela em (6a).
? ?? *
Enunciado um pouco Enunciado muito Enunciado agramatical:
estranho: tenho estranho: tenho muitas eu não produzo, não
dúvidas sobre a sua dúvidas sobre a sua entendo e considero esse
gramaticalidade. gramaticalidade. enunciado malformado.
25
Acreditamos que todo falante de PB concordará conosco se dissermos que não
há problema algum quanto à gramaticalidade de (8a) e (8b) – ambas são sentenças bem
formadas! Por outro lado, nossa gramática internalizada não aceita formações como (8c)
e (8d); parece haver um parâmetro em nossa mente que esteja determinando que, numa
situação natural, não devamos colocar o artigo (“as”) após o substantivo (“praias”) ou o
adjetivo (“belas”). Portanto, qualquer formação que não respeite essa regra produzirá
agramaticalidade. Podemos adaptar as sentenças em (8) inserindo nosso julgamento
de gramaticalidade:
NOTA
Além do conceito de gramaticalidade, o Gerativismo trabalha com a noção de aceitabili-
dade. Essa noção está presente em menor medida neste livro, mas pode ser importante
para você, caso queira ir além nos estudos gerativistas. A aceitabilidade envolve conceitos
extrassintáticos, ou seja, envolve áreas da gramática além da Sintaxe. Para compreender-
mos como se dá a sua aplicação, observamos a sentença a seguir, enunciada por Chomsky
(1957) e muito popular entre os sintaticistas gerativistas:
Essa sentença pode soar um tanto estranha aos nossos ouvidos. Porém, podemos notar
que, sintaticamente falando, ela é bem formada. Ou seja, ela é gramatical, pois todas as
relações sintáticas demandadas estão sendo cumpridas satisfatoriamente (mais além,
entenderemos melhor a noção de relações sintáticas). Então, por que ela nos soa estranha?
O nosso problema com ela pode perpassar questões como: ideias não podem dormir;
nada que é incolor pode ser, ao mesmo tempo, verde, nem vice-versa; ideias não podem
atuar de maneira furiosa; e é difícil imaginarmos que alguém possa dormir furiosamente.
Percebemos que tais problemas são restrições de ordem semântica, ou seja, que
concernem ao sentido das expressões envolvidas. Quando a sentença mostra esse tipo
de problema, não envolveremos mais o julgamento quanto à sua gramaticalidade, mas,
sim, quanto à sua aceitabilidade; diremos, então, que uma sentença como (1) é inaceitável.
Assim, a aceitabilidade é um índice que mostra problemas não sintáticos dos enunciados,
mas que envolvem outras questões gramaticais ou de outras ordens linguísticas.
É importante, ainda, levarmos em consideração que, para avaliar uma sentença como
aceitável ou inaceitável, devemos nos deter apenas na linguagem denotativa, isto é,
dicionarizada. Afirmar isso implica defendermos que nosso julgamento de aceitabilidade
excluirá contextos de linguagem figurada, poética, conotativa. Para exemplificarmos, leia o
excerto a seguir, extraído do conto Missa do Galo, de Machado de Assis:
“Sentei-me à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um candeeiro de querosene,
enquanto a casa dormia, trepei ainda uma vez ao cavalo magro de D’Artagnan e fui-me
às aventuras”.
26
Atente-se à oração destacada em negrito. Se levarmos em conta
a linguagem figurada e o contexto em que esse fragmento está
inserido, saberemos que “a casa dormia” tem o sentido de que
todas as pessoas da casa estavam dormindo; possivelmente,
ainda, que o ambiente estava silencioso, sem movimentações. No
entanto, deixando o sentido conotativo de lado e considerando
apenas o conteúdo dicionarizado da oração, perceberemos que
não faz sentido que uma casa durma. Isso porque uma casa,
sendo um ser não animado, não tem a necessidade de dormir e
nem pode fazê-lo. Ou seja, existem restrições de ordem semântica
(isto é, que levam em conta o sentido dessa expressão) para a
aceitabilidade dessa oração. Por isso, diremos que, sob o ponto de
vista gerativista, essa oração será gramatical, porém, inaceitável.
27
3 O GERATIVISMO NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
É um tanto quanto comum ouvirmos os brasileiros dizerem coisas como estas,
sobre as aulas de Língua Portuguesa da escola: “português é muito difícil!”, “eu não
sei nada de português!”, “estudar gramática é muito chato, né?!” e “eu nunca entendi
aquelas regrinhas de português!”. Existem várias hipóteses sobre os motivos pelos
quais as pessoas possuem essa espécie de senso comum sobre as aulas da disciplina;
aqui, defenderemos que ele se deve, em grande parte, ao fato de o ensino de Língua
Portuguesa ser dado, muitas vezes, de uma maneira que desconsidera a necessidade
de uma conexão palpável com a vida real do estudante. Ao longo deste livro, daremos
indicações de como o professor pode abordar as noções sintáticas em sala de aula.
Por ora, nesta etapa, sugeriremos de que modo o enfoque de noções gerativistas pode
auxiliar o trabalho do professor e o aprendizado dos alunos, tornando as aulas de Língua
Portuguesa mais atraentes e coerentes com as realidades linguísticas da turma.
28
Também é importante esclarecermos que os nomes dados às várias funções
sintáticas e aos outros conceitos que permeiam a área da Sintaxe são, basicamente,
rótulos, utilizados para organizar o conhecimento que os linguistas adquirem sobre as
línguas. Notemos que o mesmo procedimento é utilizado em todas as áreas da ciência;
por exemplo, na Meteorologia, os cientistas que se dedicaram a estudar as nuvens
dividiram-nas em vários tipos, todos com características específicas. Cada um desses
vários tipos recebeu um nome exclusivo que diferenciasse uma categoria de nuvem
de outra: cirrus, cirrocumulus, nimbostratus, cumulonimbus etc. Na Sintaxe, veremos
que as palavras ou agrupamentos de palavras também são classificadas pela função
que desempenham nos enunciados das línguas, bem como os verbos, de acordo com a
seleção de seus termos. Embora, na sala de aula, a Sintaxe do PB seja o foco, você pode
deixar claro aos estudantes que as classificações a serem estudadas podem valer para
todas as línguas naturais do mundo.
A Sintaxe é uma das áreas da gramática que melhor permite que sejam feitas
relações com o conhecimento internalizado do aluno, o que permite que as aulas
favoreçam uma abordagem mais dinâmica, em detrimento de concepções meramente
prescritivistas. Isso significa que, no lugar de os alunos simplesmente memorizarem os
conceitos, eles podem pensar sobre tais termos e como se aplicam na língua que falam
no cotidiano. Para explorar o saber subjacente dos estudantes, você pode, inclusive,
apresentar-lhes os conceitos de gramaticalidade e agramaticalidade, solicitando que
julguem enunciados apresentados por você. O professor também pode relacionar os
resultados alcançados pelos alunos aos conceitos a serem ensinados, quando isso for
possível.
29
É este, justamente, o ponto de partida ao trabalho do professor de Língua
Portuguesa que trabalha sob a perspectiva gerativa: ter em mente que o aluno falante
(materno ou não) de português sabe muito sobre essa língua. Esse profissional deve
deixar claro aos alunos que eles possuem um conhecimento gramatical complexo a
respeito dessa língua, mesmo que não necessariamente dominem as noções sintáticas
formais. É papel do professor, ainda, enfatizar que jamais se deve confundir essas regras
internalizadas com prescrições normativistas, que foram definidas por gramáticos e
não necessariamente refletem a língua que falamos cotidianamente, nos mais variados
contextos de fala. Sabendo disso, é muito mais provável que esses estudantes vejam
mais sentido em aprender e discutir, durante as aulas, a Sintaxe de sua língua, já
que enxergarão a relação da disciplina com a sua vida e com o conhecimento que já
possuem. Dessa forma, aumenta, também, a chance de os alunos se envolverem nas
aulas, não mais considerando-as chatas, entediantes ou difíceis – o que, por sua vez,
facilita o trabalho do professor e, sobretudo, o aprendizado desses estudantes.
30
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
31
AUTOATIVIDADE
1 Fundada por Noam Chomsky a partir da publicação de Estruturas Sintáticas, em
1957, a teoria gerativa é perspectiva que guia grande parte das pesquisas em Sintaxe
atualmente. O Gerativismo pode se mostrar muito produtivo, ainda, para o trabalho
do professor na disciplina de Língua Portuguesa. Sobre as contribuições dessa
perspectiva ao domínio da sala de aula na educação básica, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:
I- Estruturalismo.
II- Gerativismo.
( ) Concebe que a língua seja produto de um número limitado de regras, que podem
ser aplicadas para formulação de um número ilimitado de sentenças.
( ) Concebe que a língua seja formada por um número limitado de sentenças, prontas
para serem utilizadas quando da necessidade de cada uma.
32
( ) Prediz que os aspectos que caracterizam uma língua não podem ser comparados com
aqueles que definem outra língua, devendo cada uma ser analisada separadamente.
( ) Prediz que as línguas devem ser comparadas, já que podem se comportar de ma-
neira semelhante em certos aspectos, bem como de modo divergente em outros.
I- Os princípios das línguas são constituídos por regras que são comuns a todas as
línguas e que estão presentes uniformemente na mente de qualquer ser humano
no estágio anterior ao início da aquisição da linguagem.
II- Os parâmetros das línguas são formados por regras que caracterizam cada língua,
especificamente, e podem ou não divergir entre uma e outra. São definidos pelo
ambiente linguístico em que a criança nasceu e formam o componente linguístico
mental a partir do primeiro mês de idade.
III- A Gramática Universal é formada por um conjunto de regras que definem pormeno-
rizadamente a organização gramatical de todas as línguas do mundo, restringindo-
-se, portanto, à definição dos parâmetros das línguas.
33
5 Vimos que há várias formas de analisar a língua. Entre elas, a perspectiva tradicional e
a perspectiva gerativa. Antes de responder à questão, leia atentamente os dois pares
de sentenças a seguir:
A partir de cada uma das quatro sentenças, faça uma reflexão sobre os critérios de
avaliação em acordo com a gramática normativa e a gramática gerativa, procurando
contrastar ambas as perspectivas teóricas.
34
UNIDADE 1 TÓPICO 3 —
NOÇÕES BÁSICAS
1 INTRODUÇÃO
Até este ponto, pelo estudo atento deste livro didático, já colecionamos
alguns conhecimentos acerca do vasto campo de estudo da Sintaxe, que permitem
que avancemos em nossos estudos. Entre as informações mais importantes que
compreendemos, está o fato de que essa área se ocupa de estudar de que maneira
palavras se combinam para formar sentenças na língua. Essa é uma noção fundamental
sobre o campo que estamos estudando e que, pela relevância que possui, demanda
especialização. Neste tópico, trataremos de aprofundar esse conceito, abordando
definições primordiais para o estudo da Sintaxe e que nos acompanharão ao longo de
toda a disciplina.
2 AS UNIDADES SINTÁTICAS
Você já deve ter percebido que alguns termos são utilizados com bastante
frequência nesta disciplina: enunciado, frase, sentença, oração. De fato, todos estes
são conceitos muito comuns na área que estamos estudando. Isso se deve ao fato de
que, ao se debruçar sobre o processo de estruturação das sentenças, a Sintaxe lida
com unidades mentais abstratas, no sentido gerativista do termo. Como já estudamos,
considerar tais unidades desse modo implica admitirmos que (i) nossa mente organiza
as palavras seguindo regras estabelecidas por Princípios e Parâmetros; e (ii) esse
ordenamento acontece de uma maneira impalpável, sem que nos demos conta de tal
processo.
35
Contudo, podemos nos dar conta de que o uso de qualquer língua natural, em
suas diversas finalidades – comunicação, expressão, interação etc., – acontece por meio
de unidades que tenham nexo e sentido completo. Isso implica afirmar devidamente que
nada do que proferirmos em uma situação discursiva natural será ausente de sentido:
um contexto comunicativo ou expressivo no qual utilizamos a língua nunca é arbitrário,
destituído de significação. A partir dessa lógica, assumiremos que utilizamos a língua por
meio de enunciados. Vamos definir esse termo precisamente: um enunciado é a menor
unidade do discurso, de estrutura e dimensão variável, que expressa e/ou transmite
uma proposição de sentido completo, inserida em determinado contexto discursivo.
Vamos analisar esses conceitos por meio do pequeno diálogo em (10), entre a
secretária de um consultório médico e um paciente:
36
10) Secretária: — Boa tarde! Posso confirmar sua consulta para amanhã às 10 horas?
Paciente: — Não, vou ter que cancelar! Tive uma emergência de última hora. Você
tem horários para o fim da tarde?
Secretária: — Sim, tenho alguns horários: às 17h e às 18h.
Imaginemos, agora, que você não leu, mas escutou o diálogo em (10). Muito
provavelmente, você acompanharia o desenrolar da conversa sem pensar em como
ela seria pontuada se fosse escrita. Contudo, prestando uma atenção um pouco maior,
seria possível identificar que o diálogo certamente foi proferido utilizando de recursos
prosódicos de pausa e ritmo, que servem também como estratégias inconscientes
dos sujeitos envolvidos no discurso para demarcar as unidades da fala compostas de
sentido, ou seja, os enunciados. Vamos analisar como isso acontece no diálogo em (10),
conforme (11):
11) Secretária: — [E1] Boa tarde! [E2] Posso confirmar sua consulta para amanhã às 10
horas?
Paciente: — [E3] Não, [E4] vou ter que cancelar! [E5] Tive uma emergência de última
hora. [E6] Você tem horários para o fim da tarde?
Secretária: — [E7] Sim, [E8] tenho alguns horários: [E9] às 17h e às 18h.
A análise que fizemos em (10-11) pode sugerir que os enunciados são facilmente
identificáveis se considerarmos os sinais de pontuação que se fazem presentes em uma
situação escrita. De fato, esses sinais podem fornecer indicações sobre os enunciados.
Porém, essa não é uma necessidade: primeiramente, porque a pontuação utilizada em
um texto oral transcrito nem sempre é fixa; e, sobretudo, porque a adição de alguns
sinais de pontuação não necessariamente isola o sentido de uma palavra ou de um
grupo delas. Observe as sentenças em (12):
37
12) a. “Contudo, ainda fazia sol.”
b. “O Natal é, sem a menor sombra de dúvidas, o dia mais feliz do ano.”
Muito comuns no PB são sentenças que possuem mais de uma oração, por
disporem de mais de um verbo não auxiliar em sua formação. É importante lembrar
que esses casos não incorporam a situação de locuções verbais: nessas situações,
especificamente, há um verbo exercendo uma função de auxiliar, compondo uma
espécie de “unidade” com o verbo principal; assim, ambas as formas fazem parte de
somente uma oração. Exemplares desses casos são apresentados em (16-17).
38
18) Acordar todos os dias às 6 horas da manhã faz a Bruna feliz.
Exemplos:
Exemplos:
39
3 O SINTAGMA
A palavra “sintagma” já apareceu algumas poucas vezes até este ponto. Por
mais que não tivéssemos nos concentrado, de fato, em sua definição, a menção a esse
termo ocorreu por um motivo muito simples: não há como falar de Sintaxe sem falar
de sintagma. De súbito, é possível que essa afirmação tenha lhe causado espanto, não
é?! Isso acontece porque, infelizmente, o sintagma não possui, nas escolas, materiais
didáticos e internet, o prestígio do qual é digno. Nesta seção, abordaremos esse termo
básico e fundamental para os estudos de Sintaxe, entendendo como podemos identificar
um sintagma e por que esse termo deve se fazer presente no trabalho do professor em
sala de aula.
Cada nível de análise linguística formal possui um objeto como centro, em torno
do qual as análises orbitam: o fone é objeto da Fonética; o fonema, da Fonologia; o
morfema, da Morfologia; o sema, de algumas vertentes da Semântica. Acompanhando
essa lógica, o sintagma – que também é chamado de “constituinte” – é o objeto central
da Sintaxe. Os estudos dos sintaticistas envolvem, também, compreender como
palavras se combinam para formar sintagmas e como sintagmas se combinam para
formar orações.
30) [O homem grisalho que é primo daquela mulher] saiu para correr.
31) [O homem grisalho que é primo daquela mulher que trabalha na escola] saiu
para correr.
40
natural tendem a não preferir sintagmas muito grandes, pois a nossa mente possui
uma limitação relacionada à memória: quanto maior o sintagma, maior, também, será a
chance de perdermos o foco central da mensagem a ser emitida, o que pode atrapalhar
o processo de comunicação. Isto é: há uma limitação extralinguística (ou seja, que não
compete mais à Sintaxe, mas a outro domínio) para que eles ocorram em situações
naturais de uso da língua. Na prática, esse critério acarreta no fato de que sintagmas
gigantescos podem existir sem que sejam agramaticais, apesar de restritos na língua
pela limitação da memória dos seres humanos. Observe:
32) [O homem grisalho que é primo daquela mulher que trabalha na escola que
fica na cidade que apareceu no jornal que passa depois da novela que tem um
ator espanhol que é famoso por gravar vídeos que são bastante polêmicos]
tem um paletó bonito.
Apesar de a sentença em (32) ser gramatical, ela jamais seria produzida em uma
situação natural de fala, pois, ao final do sintagma, o ouvinte já teria perdido de vista
o seu início, não conseguindo relacioná-lo a “saiu para correr”. De qualquer forma, os
exemplos de (27) a (32) permitem que alcancemos uma inferência importante sobre os
sintagmas:
• Os sintagmas não são definidos pela sua extensão: podem ser compostos por
uma ou muitas palavras.
Agora, vamos supor que, à sentença em (33), foi agregado outro sintagma à
esquerda:
41
subordinados ao núcleo “homem”. Sabendo disso, é possível refinarmos a observação
feita quanto à limitação de memória, que torna uma formação como essa impraticável
na língua: essa restrição acontece porque as últimas expressões do sintagma seriam
pronunciadas muito posteriormente ao seu núcleo, fazendo com que o receptor da
mensagem perca de vista esse item central.
Por ser o item que domina o sintagma, o núcleo definirá a qual categoria o
sintagma pertence. Dentro dos estudos de Sintaxe, existem dois grandes grupos de
categorias: núcleos lexicais e núcleos funcionais. Os núcleos lexicais, primeiramente,
são aqueles que envolvem palavras, itens concretos e que podem ser verbalizados. Já
os núcleos funcionais incorporam itens cuja função é tão somente gramatical, abstrata,
e nem sempre envolve algum componente verbalizado, ou seja, uma ou mais palavras.
Exemplos:
Exemplos:
42
Sintagma preposicional (SP): possui uma preposição como núcleo do sintagma.
Normalmente, essa preposição é, linearmente, o primeiro termo do sintagma.
Exemplos:
Exemplos:
Exemplos:
NOTA
Sobre a classificação dos sintagmas, cabem duas ressalvas. A primeira é relacionada
aos SAdvs. A literatura de base gerativa comumente considera esse grupo de
sintagmas como sintagmas funcionais, e não lexicais. Existe uma série de motivos que
sustentam esse fato, os quais competem a uma abordagem mais profunda da Sintaxe,
que não nos interessa neste Livro. Como este é um guia introdutório sobre a Sintaxe,
que visa a construir uma base ao raciocínio sintático no futuro profissional de Letras,
essa categoria é tratada como lexical.
A segunda ressalva concerne à nomenclatura utilizada. A literatura
de base gerativa opta, como convenção mundialmente adotada, por
utilizar os rótulos dos sintagmas em acordo com a língua inglesa e
de forma abreviada. Por isso, é muito comum que sejam utilizadas as
siglas NP (noun phrase), VP (verbal phrase), PP (prepositional phrase), AP
(adjectival phrase) e AdvP (adverbial phrase), respectivamente, para SN,
SV, SP, SA e SAdv. De qualquer forma, a correspondência dessas siglas
é a mesma em relação à abordada neste Livro.
43
3.1 COMO IDENTIFICAR UM SINTAGMA?
Apesar de já sabermos o que é um sintagma, a importância dessa noção para a
Sintaxe e quais os grandes grupos dentro dos quais podemos classificar os constituintes
lexicais, pode remanescer, ainda, uma dúvida: como é possível identificar os sintagmas
dentro de uma oração qualquer? Este subtópico indica alguns direcionamentos para
essa questão, abordando, neste momento, dois métodos para o reconhecimento dos
constituintes, com base em Tescari Neto (2017). Neste momento, vale a nota para o
fato de que o Tópico 4 desta unidade, que abordará a ambiguidade sintática, trará mais
métodos além dos apresentados nesta etapa, que também podem ser utilizados para
apontar quais são os constituintes de uma oração.
Da mesma forma que se aplica aos SNs, esse método se estende a outras
categorias de constituintes. Vamos analisar como o recurso se aplica a outros exemplos
que trouxemos nesta seção:
48) [Tomar chá de goiabeira] e [repousar] são os melhores remédios para dor de
barriga.
49) As atas foram entregues assinadas [para a prefeita] e [para seus assessores].
44
Utilizando o método da coordenação, é muito possível que cheguemos à
conclusão de que podemos coordenar elementos dentro de um mesmo sintagma.
Como exemplo, retomemos o SN inicial da sentença em (52) para analisar quais as
possibilidades de coordenação internamente a ele:
52) a. [Tomar [[chá de goiabeira] e [muita água]]] é o melhor remédio para a dor de
barriga.
b. [Tomar chá [[de goiabeira] e [de camomila]]] é o melhor remédio para a dor de
barriga.
45
53) * As atas foram entregues assinadas [para devidamente a prefeita].
Por que (53-54) são inusuais na língua? Porque um advérbio como [devidamente]
não pode quebrar o sintagma [para a prefeita]; já que não pode se referir ao termo
“prefeita” – tal qual a maior parte dos advérbios, que não modificam substantivos
(BECHARA, 2015). Vejamos, por outro lado, o resultado dessa mesma sentença com
esse advérbio em posições que não rompem os sintagmas:
Há uma ressalva a ser feita em relação a esse teste: ele pode não se adequar
satisfatoriamente para a identificação de SVs. Analisemos, novamente, (52), agora com
a intervenção de [devidamente]:
57) [Tomar devidamente chá de goiabeira] é o melhor remédio para dor de barriga.
58) * [Tomar chá devidamente de goiabeira] é o melhor remédio para dor de barriga.
59) * [Tomar chá de devidamente goiabeira] é o melhor remédio para dor de barriga.
46
60) As atas foram entregues assinadas [para a então prefeita].
47
na sentença. Quando os sujeitos conseguem isolar os constituintes, a classificação
de tais quanto às funções que desempenham é significativamente otimizada, o que
acarreta em aproveitamento melhor desses sujeitos nas aulas de Sintaxe.
• O trabalho do professor também se torna mais otimizado. Já que o aprendizado
da turma é facilitado e os estudantes adquirem mais autonomia, o professor pode
explorar mais a fundo as noções de Sintaxe e/ou fazer relações com outros conteúdos.
• A noção de sintagma é um conhecimento internalizado de todas as pessoas
que utilizam alguma língua natural. Algumas pesquisas, como a de Silva (2009),
reportam para o fato de que, com muita frequência, a fronteira de um sintagma com
outro, na fala, é representada por pausas, o que indica que este é um conhecimento
que nossa gramática internalizada, no sentido gerativo do termo, possui. A mesma
situação se aplica às categorias lexicais: embora não tenhamos noção clara disso,
nossa mente é capaz de reconhecer e saber quando utilizar o sintagma de cada
categoria. Conforme estudamos no Tópico 2, existem muitas vantagens de os
estudantes “descobrirem” como a língua funciona internamente às suas mentes.
• O entendimento do conceito de sintagma facilita o aprendizado de outros
conteúdos. Como abordaremos na Unidade 3 deste livro didático, a compreensão
de o que é um constituinte muito nos auxilia na colocação de pontuação quando da
escrita de textos diversos. Caso os estudantes se apropriem da noção de sintagma,
é muito provável que, após aprenderem a aplicá-la à pontuação, eles façam boas
escolhas na hora de pontuar os seus textos.
48
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• Uma frase ou sentença consiste em uma palavra ou um conjunto delas que transmite
sentido completo, podendo ser delimitadas na língua escrita por ponto final, ponto de
interrogação ou ponto de exclamação.
• Uma oração é toda sequência formada por tão somente um verbo ou locução verbal.
49
AUTOATIVIDADE
1 A noção de sintagma é muito importante para a análise sintática. No tópico acima,
vimos que os sintagmas se categorizam de acordo com o núcleo. Sendo assim,
considere as sentenças a seguir e responda às questões abaixo:
I- Sentença.
II- Oração.
III- Período.
IV- Enunciado.
50
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) I – III – II – IV.
b) ( ) II – I – IV – III.
c) ( ) III – IV – I – II.
d) ( ) IV – II – III – I.
“A maior presença de mulheres nas áreas ligadas ao STEM [sigla em inglês para ciências,
tecnologia, engenharia e matemática] começou a ganhar força nos anos 1990, pela
constatação de que havia necessidade de maior diversidade na força de trabalho nas
áreas associadas à ciência, engenharias e tecnologia. Em paralelo, faltava mão de obra
qualificada nessas áreas, independentemente do gênero, e assim surgiram programas e
treinamentos específicos para jovens, expõe Claudia Bauzer”.
FONTE: <https://porvir.org/lugar-de-mulheres-e-na-
educacao-cientifica-e-onde-mais-elas- quiserem/>.
Acesso em: 8 mar. 2022.
51
5 Considere estas sentenças:
52
UNIDADE 1 TÓPICO 4 —
AMBIGUIDADE ESTRUTURAL
1 INTRODUÇÃO
Você certamente já ouviu ou até produziu enunciados que tenham mais de um
sentido, isto é, sejam ambíguos. Às vezes, a ambiguidade está no campo da palavra:
“banco” pode ser o lugar que se senta em uma praça ou o lugar em que você deposita
ou saca dinheiro; a ambiguidade pode ser sonora: “uma mão na cabeça” e “um mamão
na cabeça” são bem semelhantes; a ambiguidade pode ser estrutural: “Maria viu o
assalto da loja” pode implicar em duas interpretações. Aqui neste tópico, interessa-nos
o terceiro tipo de ambiguidade, que tudo tem a ver com Sintaxe.
Para isso, você vai perceber que a noção de sintagma, trabalhada no tópico
anterior, é de extrema importância. Embora, muitas vezes, o contexto tire a ambiguidade
de sentenças, é preciso saber como lidar com elas, principalmente quando aparecem
escritas. Um profissional de Letras, independentemente da área que escolher seguir
(docência, revisão textual, tradução, entre outras), precisa dominar esses recursos.
GIO
Veja essas sentenças:
53
2 UMA SENTENÇA, MAIS DE UM SENTIDO
Anteriormente, vimos que a Sintaxe não se organiza de forma linear, mas, sim, de
forma hierárquica. Isso quer dizer que os elementos dentro das sentenças se combinam
em sintagmas para se juntarem com outros sintagmas e, assim, formar as sentenças.
Um bom exemplo dessa organização hierárquica pode ser visto em sentenças que,
devido à sua estrutura, podem ter mais de uma interpretação possível. Quando isso
acontece, é por conta de diferentes possibilidades para combinação de sintagmas.
Essa sentença pode ter dois sentidos: podemos interpretar que um prédio
pegou fogo e Letícia observou essa cena (de qualquer lugar), ou que houve um incêndio
na cidade que foi observado por Letícia enquanto ela estava em um prédio.
54
Letícia viu o incêndio do prédio. Essa foi a maneira que combinamos os elementos da
frase. Além disso, um ponto muito importante de ser observado na ilustração acima é
o indicador de constituinte em [o incêndio do prédio], que indica que essa sequência é
tida como um único sintagma e, por isso, deve ser interpretada de maneira conjunta,
sendo o prédio o local do incêndio em questão.
NOTA
É mais fácil identificar a ambiguidade em textos escritos, porque,
na fala, há todo um contexto que auxilia na interpretação desejada
da sentença, além de questões prosódicas, como ritmo, pausas,
entoação etc.
55
3 TESTES DE CONSTITUÊNCIA
A ambiguidade é um recurso muito interessante de análise. Veremos, adiante,
que há contextos em que ela deve ser evitada e contextos que ela é, inclusive,
recomendada. Por conta disso, não é bacana assumir o discurso de que a ambiguidade
é algo proibido. Porém, pelo menos por algumas páginas, vamos assumir a roupagem da
ambiguidade como algo negativo. Imagine que você está redigindo um texto que deve
ser bastante objetivo e claro, isto é, não deve dar margem para duplas interpretações.
Saber analisar as sentenças é fundamental!
3.1 TOPICALIZAÇÃO
A topicalização consiste na movimentação de um sintagma para o início da
sentença. Precisamos ter uma noção importante: um sintagma não pode ser quebrado
na hora do movimento, então entender como o sintagma foi combinado é de extrema
importância para realização dos testes.
56
Repare que, nessas construções topicalizadas, não há espaço para dupla
interpretação. Uma vez que os sintagmas são movidos de acordo com sua combinação,
a ambiguidade é desfeita. Uma prática parecida de movimentação é feita no teste de
clivagem.
3.2 CLIVAGEM
Sentenças clivadas possuem uma fórmula típica, sendo formadas a partir da
construção verbo ser + [sintagma] + que + [resto da sentença]. Da mesma forma
que a topicalização, também movimentamos um sintagma e, ao movimentá-lo, não
podemos quebrá-lo. Sendo assim, as versões parafraseadas em (73a) e (73b) ficariam
da seguinte forma:
NOTA
Ainda, poderíamos formar, para a segunda interpretação,
outra possibilidade:
Entretanto, ela ainda pode passar, embora de forma mais restrita, a sensação
de ambiguidade. É importante nos depararmos com esse tipo de situação para enfatizar
que nem toda sentença vai passar em qualquer teste. Às vezes, é preciso recorrer a dois
ou mais testes para tirar a ambiguidade da sentença.
3.3 PRONOMINALIZAÇÃO
Outro teste muito utilizado para desfazer a ambiguidade e/ou identificar
sintagmas é a pronominalização, que consiste, basicamente, em substituir um sintagma
por um pronome. Nessa questão, podemos problematizar a maneira que muitos livros
57
didáticos escolares e gramáticas tradicionais definem os pronomes pessoais, porque
muitas atribuem a eles a função de substituir um substantivo. Bom, se isso fosse verdade,
a transformação da frase (79) em (79’) seria gramatical, mas não é o que acontece.
Um pronome pode, sim, ser caracterizado como uma palavra que substitui
outra(s), contudo, é importante que essa(s) palavra(s) seja(m) um sintagma inteiro.
Portanto, no exemplo acima, o pronome pessoal de caso reto de terceira pessoa, ela,
deve substituir o sintagma [a irmã do Pedro] por completo, não apenas o substantivo
que é o núcleo do sintagma.
Dito isso, podemos pensar em uma das sentenças ambíguas vistas acima,
repetida em (80):
58
porque esse, antes, se junta ao verbo, formando [bateu na velha]. Então, [de bengala]
entra como instrumento do verbo “bater”. Temos [[bateu na velha] [de bengala]], que
se junta ao sujeito, formando a sentença inicial O bêbado bateu na velha de bengala.
Vale ressaltar: se a estrutura fosse linear e não hierárquica, não identificaríamos a
ambiguidade.
A noção de sintagma, portanto, mais uma vez se faz importante, inclusive, para
que o professor, em sala de aula, desmistifique certas definições tradicionais.
3.4 INTERROGAÇÃO
A noção de sintagma também é levada em conta em outro teste de constituência,
a interrogação. Como o próprio nome sugere, o teste consiste em fazer perguntas que
devem ser respondidas com o sintagma correspondente. Voltamos à primeira sentença
que analisamos nesta seção de ambiguidade estrutural, Letícia viu o incêndio do prédio,
para aplicar o teste.
59
4 AMBIGUIDADE NA ESCOLA
A ambiguidade é um recurso muito importante para ser trabalhado na escola.
Como você verá na leitura complementar desta unidade, o reconhecimento de sintagmas
e domínio sobre eles pode ser muito útil para desfazer a ambiguidade de textos. Logo, é
algo a ser trabalhado ao desenvolver habilidades de produção textual dos alunos.
Contudo, em certos gêneros textuais, o recurso da ambiguidade não deve
ser evitado, mas, sim, utilizado a fim de produzir efeitos de humor ou até despertar
curiosidade. Pense, por exemplo, na seguinte piada:
FONTE: <https://infoenem.com.br/ambiguidade-o-que-voce-quis-dizer-isto-ou-aquilo/>.
Acesso em: 22 mar. 2022.
60
Para produzir ou mesmo entender um meme como esse, é preciso que o aluno
tenha noções a respeito de ambiguidade. Essa noção não é necessariamente estudada.
O falante, por si só, já sabe identificar. Se não fosse a sentença ambígua, o cachorro não
daria uma resposta como a que deu. Então, vale a reflexão: será que, em casos como
esse, vale a pena olhar para a ambiguidade apenas com o desejo de desfazê-la? Ou será
que podemos pensar nela como um fenômeno linguístico e aproveitar as noções que o
aluno/falante já tem para uma análise mais rica?
Ainda no campo do humor, podemos pensar no contexto de um aluno
comentando sobre alguma notícia ambígua na intenção de ser engraçado. Imagine a
seguinte manchete: “Funcionário deixa empresa após 30 anos”. Para causar uma quebra
de expectativa, o aluno poderia comentar: “caramba! Mas ele tinha sido sequestrado?”
ou “nossa, mas não saía nem para comer?”. Para isso, o aluno precisa entender o que é
uma sentença ambígua, precisa identificar qual elemento está causando a ambiguidade
e, ainda, precisa comentar com base na interpretação que não é desejada para soar
engraçado.
DICA
Para ver mais sobre análise sintática crítica, assista à palestra
dos professores Aquiles Tescari Neto (UNICAMP) e Marina Garcia
Martins no canal do Laboratório Linguística na Escola (Lalesc –
UFSC): https://www.youtube.com/watch?v=zFqYBWmfyYg.
61
LEITURA
COMPLEMENTAR
DA IMPORTÂNCIA DOS TESTES DE CONSTITUÊNCIA NA FORMAÇÃO DOCENTE E
NA EDUCAÇÃO BÁSICA
62
o repórter teria conversado com um homem, casado com a vítima do acidente, a melhor
opção seria o teste apresentado em 4.5 (ver texto original), através da inserção de um
adjunto adverbial de assunto: a julgar pelo princípio do “Um traço um núcleo”, combinado
com algum outro princípio gramatical como o da “distribuição complementar”, uma frase
parece poder ter apenas um constituinte com a função sintática de adjunto adverbial de
assunto. Nesse caso, recorrendo ao teste 4.5 (a (proibição da) inserção), bastaria inserir
um adjunto adverbial de assunto que a ambiguidade de (4) estaria eliminada:
(16) O repórter Netto Maravilha conversou com o esposo da vítima sobre o acidente.
Para a leitura menos óbvia, mas plausivelmente possível – a julgar pela estrutura
–, haveria mais opções aqui. Se se quisesse dizer que o repórter teria conversado com
seu próprio marido a respeito da vítima, várias seriam as opções:
63
Cumpre observar que, relativamente a (17a,b), (18) é praticamente “neutra”, uma
vez que reflete a ordem não-marcada, bem próxima à ordem canônica do português,
tão somente com o acréscimo do adjunto adverbial de tempo, ontem. Repare que a
manipulação da estrutura das frases serve a propósitos comunicativos. É tarefa do
bom professor chamar a atenção de seus alunos para essas propriedades da sintaxe
da frase que estão a servir também no nível macrotextual. Reitera-se novamente o
compromisso de uma didática “engajada” e inteligente: jamais (tal programa) poderá
excluir de sua agenda uma análise das propriedades estruturais da frase, uma vez que
tais propriedades são responsáveis por efeitos de sentido detectáveis já no nível da
frase e com reflexos óbvios no texto como um todo.
Os testes apresentados nessas duas últimas seções têm, então, para muito além
de sua função no interior da teoria sintática – auxiliando o estudioso a identificar o que
a sintaxe reconhecerá como constituinte em dada sentença, estando, aquele grupo
de palavras, disponível a determinadas operações –, uma função muito importante na
organização dos nossos textos, ajudando-nos não só a reconhecer excertos ambíguos
como também a desfazer as ambiguidades (estruturais) (ver nota 7 no texto original). Um
ótimo exemplo de frase estruturalmente ambígua – bem conhecido de qualquer estudante
de Letras que foi introduzido a alguma teoria sintática – é o apresentado em (19):
Repare que, em (19c), com o cassetete não poderia formar constituinte com no
estudante. A única leitura possível em (19c) seria aquela em que com o cassetete seria
adjunto adverbial de instrumento: foi com o cassetete que o policial bateu no estudante.
64
Assim, pelo menos três testes (clivagem, movimento e inserção de adjuntos) nos
ajudariam a isolar a leitura em que com o cassetete seria apenas adjunto adverbial de
instrumento em (19). Naturalmente, se tais frases devem aparecer em um texto escrito,
haverá diferenças sensíveis no tocante aos efeitos discursivos que cada uma delas
deverá carrear. (19c), não obstante a inserção do adjunto ontem à noite, apresenta uma
ordem mais neutra, possivelmente pela ausência de movimentos sintáticos à periferia
esquerda. O uso de (19c), contudo, já pela inserção do adjunto, faz a sentença ganhar
em termos de estatuto informacional: há um adjunto temporal, não presente nas outras
duas sentenças. (19a) pode ser utilizada se o produtor do texto quiser, de alguma forma,
enfatizar o instrumento utilizado pelo policial. O mesmo efeito é percebido em (19b).
A diferença entre essas duas estratégias, contudo, tem a ver com o fato de a clivada
(ilustrada em (19b)) ser uma estratégia muito marcada em português. Não é à toa que
vemos com muita frequência os revisores de texto sugerirem: Deixem a clivada apenas
para os momentos em que se quer uma atenção redobrada do leitor. As clivadas, qual
“holofotes”, chamam muito a atenção para o excerto que introduzem. Novamente, esses
efeitos de sentido no texto são decorrência de escolhas operadas no nível da frase.
Discordo, portanto, frontalmente de discursos que propõem – muitas das vezes por uma
desconsideração do pluralismo teórico constitutivo do “objeto” língua – uma eliminação
por completo, ou mesmo uma redução a um papel subsidiário, de uma análise sintática
do nível da frase na educação básica, atitude com a qual muitas vezes, infelizmente, nos
deparamos nos discursos dos educadores. 60 anos de sucesso da Gramática Gerativa –
sucesso esse devido, sobretudo, às escolhas metodológicas feitas por Noam Chomsky,
com o desenvolvimento do método negativo, baseado no julgamento de frases (PIRES
DE OLIVEIRA, 2010) – deveriam servir pelo menos para sugerir uma reflexão da parte dos
educadores, dos linguistas, dos linguistas aplicados, dos estudiosos envolvidos com os
programas de avaliação do ensino, dos envolvidos com os programas educacionais do
Ministério da Educação: a démarche própria de teorias formais não teria a acrescentar
no ensino de língua e na formação dos docentes? É justamente um convite a essa
reflexão que fazemos neste artigo, trazendo à discussão a questão da constituência
sintática e sua importância na construção não só das frases, como também dos textos.
65
Os outros testes poderiam ser utilizados, desde que manipulássemos a estrutura
um pouquinho, necessariamente inserindo elementos que permitiriam uma leitura
contrastiva e isolariam, assim, a interpretação que queremos. Um exemplo seria o teste
do movimento (19e) ou o da clivagem (19f), combinados com focalização contrastiva:
Chegando ao fim dessa seção, o leitor – seja ele professor de português, revisor
de texto, estudante de Letras ou mesmo o produtor de textos escritos reais (isto é,
“qualquer um que queira escrever com clareza”) – vai muito provavelmente concordar
comigo em que os testes de constituência, para além de sua função no interior da teoria
sintática, são recursos úteis na elaboração dos nossos textos: são úteis não apenas
para desambiguarmos frases como também para obtermos determinados efeitos
discursivos: utilizar uma clivagem no momento certo do texto, i.e., não com recorrência,
pode chamar a atenção para aquele excerto do texto em particular que se quer destacar,
uma vez que a clivagem é uma estratégia muito marcada de focalização.
A reflexão feita até aqui tem importância significativa não apenas para o
professor como também para o licenciado (ou bacharel) em Letras que trabalhará como
revisor de textos. Na verdade, tem importância para todos aqueles que se dedicam às
atividades da escrita: a não ser que se queira (por exemplo, na poesia e em determinados
gêneros de propaganda), a ambiguidade é um ruído na comunicação. Sendo assim, em
gêneros tipologicamente mais alinhados ao que Azeredo (2007) chama de “caminhos
de mão única” (ver início da seção), a ambiguidade não é bem-vinda. Os testes de
constituência são muito úteis nesse sentido aos professores de língua materna, aos
revisores de texto e a todo aquele que quer “escrever bem”, não só por potencialmente
desfazerem ambiguidades como também pelo fato de a escolha de uma determinada
estrutura (típica de um dado teste de constituência) servir a propósitos comunicativos
bem específicos (compare, a esse propósito, (2a) e (2b), repetidos a seguir, com (2c),
abaixo: (2a) é percebida como sendo uma forma menos marcada (comparada a (2b) e
(2c)). Entre essas duas últimas, há também uma certa hierarquização, no sentido de
que (2c) é muito mais marcada do que (2b). Obviamente, isso tem consequência na
construção dos nossos textos. Os testes de constituência, portanto, não só podem como
também devem ser trabalhados e sistematizados em nossas aulas de prática de análise
linguística, como também nas aulas de produção de textos. Trabalhar harmoniosamente
a prática de análise linguística com a leitura e a produção de textos (orais e escritos) é,
aliás, a orientação dos documentos oficiais relativamente a essas práticas trabalhadas
na escola (SANTOS et al., 2013).
66
(2) a. João beijou Maria na bochecha na lagoa do Taquaral no dia 1 de abril.
b. No dia 1 de abril, João beijou Maria na bochecha na lagoa do Taquaral.
c. Foi no dia 1 de abril que João beijou Maria na bochecha na lagoa do Taquaral.
FONTE: TESCARI NETO, A. Constituência sintática, ambiguidade estrutural e aula de português: o lugar da
teoria gramatical no ensino e na formação do professor. Working Papers em Linguística, v. 18, n. 2, p.
129-152, 2017.
67
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu:
• Às vezes, a estrutura de uma sentença pode causar efeito ambíguo, fazendo com
que ela tenha mais de uma possível interpretação.
• Para efeitos de humor, por exemplo, a ambiguidade pode ser melhor do que a ausência
desse fenômeno.
68
AUTOATIVIDADE
1 No Tópico 4, estudamos a ambiguidade estrutural. Em resumo, esse fenômeno ocorre
quando, devido à estrutura, uma sentença tem mais de um significado. Com base
na leitura do Tópico 4, que trata sobre ambiguidade estrutural, assinale a alternativa
CORRETA a respeito da sentença “Pedro foi na loja de tênis”.
3 Como falantes, nós temos noções de ambiguidade sem mesmo precisar estudá-
la. Contudo, identificar uma ambiguidade nem sempre é uma tarefa simples. Sobre
sentenças possivelmente ambíguas, associe os itens, utilizando o código a seguir:
I- Ambígua.
II- Não ambígua.
69
( ) João viu a menina de óculos escuros.
( ) Flávio gosta de suco de maçã.
( ) O policial acompanhou o assalto da viatura.
70
REFERÊNCIAS
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 38. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2015.
FARACO, C. A.; ZILLES, A. M. Para conhecer norma linguística. São Paulo: Contexto,
2017.
ILARI, R.; POSSENTI, S. Português e ensino de gramática. Projeto Ipê. São Paulo:
UNICAMP, 1985.
KENEDY, E. Sintaxe gerativa. In: OTHERO, G.; KENEDY, E. (Orgs.). Sintaxe, sintaxes:
uma introdução. São Paulo: Contexto, 2015.
KENEDY, E.; OTHERO, G. A. Para conhecer sintaxe. São Paulo: Contexto, 2018.
71
72
UNIDADE 2 —
ELEMENTOS SINTÁTICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
73
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
74
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
ARGUMENTOS E ADJUNTOS
1 INTRODUÇÃO
De acordo com nosso percurso de estudos desde a Unidade 1, a Sintaxe é uma
área complexa, que busca compreender, de um modo muito geral, como as palavras
constituem os sintagmas e de que forma os sintagmas formam orações e sentenças.
É justamente este o motivo pelo qual a noção de sintagma (ou constituinte) é tão cara
a esta disciplina! Seguindo nosso aprendizado, esta é a etapa destinada a entender
que, embora todos os sintagmas partilhem de uma série de características comuns –
conforme estudamos anteriormente –, não podemos sempre colocá-los “na mesma
caixinha”, já que eles desempenham papéis distintos internamente à oração.
Para seguir essa finalidade, este tópico é dividido em quatro partes. Primeira-
mente, entenderemos os conceitos e as diferenças entre argumentos e adjuntos. Em
seguida, estudaremos de que forma os verbos são divididos quanto aos argumentos
que selecionam. Relacionaremos, então, o tema deste tópico à ambiguidade estrutural,
que abordamos na Unidade 1. Por fim, trataremos dos argumentos e adjuntos no con-
texto da educação básica, entendendo quais as vantagens de abordar esses conceitos
e como o professor de Língua Portuguesa pode fazê-lo. Vamos lá?!
75
Acreditamos que, para você, as sentenças sejam ambas gramaticais, correto?
Inclusive, é muito provável que você já tenha ouvido frases iguais ou muito parecidas ao
longo da sua vida, já que estas são informações corriqueiras. Agora, vamos considerar
ambas as sentenças e retirar o sintagma final de cada uma. A partir dessa remoção,
avalie a gramaticalidade novamente, considerando o mesmo contexto:
Como não estamos considerando tais contextos inerentes, (4) não pode ser
uma formação bem-formada. Neste momento, vamos fazer outro teste: a adição de
sintagmas às posições finais da sentença. Faremos esse teste nas sentenças em (1-4):
Pela leitura atenta de (6-9), é possível notarmos que (6-8) são formações que
não manifestam qualquer problema quanto à gramaticalidade. No entanto, a mesma
situação não se aplica a (9): seguindo o mesmo resultado de (4), essa sentença continua
sendo estranha a nós, desconsiderado qualquer contexto prévio. Assim, podemos
concluir devidamente que a adição dos sintagmas em (6-9) não causa qualquer
interferência na gramaticalidade dessas frases, uma vez que o nosso julgamento se
mantém para tais sentenças, se em comparação a (1-4). Esse fato pode nos conduzir a
um questionamento em especial: por que a retirada do constituinte final em (1) não altera
a boa-formação dessa sentença, ao passo que, em (2), a omissão do sintagma torna a
frase agramatical? O que, afinal, entra em jogo para diferenciar ambas as ocorrências?
76
O ponto a ser considerado, nesse caso, é que os sintagmas nunca são inseridos
nas construções linguísticas por um mero acaso: nas línguas naturais, ou os constituintes
são obrigatórios, ou são aceitáveis nas formações. Naturalmente, a violação dessa
regra sempre causará algum tipo de má-formação sentencial. Esta é, basicamente, a
diferenciação entre argumentos e adjuntos, noções essas importantíssimas para o
estudo da Sintaxe, nas quais nos deteremos neste momento.
IMPORTANTE
Tradicionalmente, é comum associar o termo complemento/
complementação aos objetos diretos e indiretos (que veremos
mais adiante). Contudo, é importante que, aqui, não façamos
essa restrição. Complementos podem assumir funções sintáticas
diferentes, como sujeito e objeto. Essa noção será abordada,
gradativamente, ao longo da Unidade 2.
77
Assim como os verbos, existem outras classes morfológicas que podem atuar
como elementos predicadores, demandando argumentos. É o caso, por exemplo,
de alguns substantivos abstratos, como “atraso”, que solicita um complemento
preposicionado. Reparemos que, caso esse complemento seja suprimido, a sentença
nos é estranha (por isso, marcamos ‘??’) ou, até mesmo, agramatical (que, como vimos, é
sinalizado com *). Assim, por meio de (15), podemos compreender que esse substantivo
seleciona um complemento, como representa (16).
ESTUDOS FUTUROS
Adiante, na Unidade 3, estudaremos que essa impossibilidade
também pode ser observada à luz da Teoria do Caso.
78
Mas, então, por que o sintagma [demais] pode estar presente em uma formação
como (1)? Esse fato pode ser explicado se considerarmos que alguns elementos não são
obrigatórios, mas tão somente aceitáveis nas formações linguísticas. Esses elementos
são os adjuntos. Não podemos dizer que os adjuntos são informações irrelevantes ou
desnecessárias. Diferentemente, esses itens trazem alguma informação que, embora
sintaticamente facultativa – já que sua ausência não implica agramaticalidade –,
desempenha algum papel importante no conteúdo informacional do enunciado.
Tal qual acontece com os predicadores verbais, que aceitam adjuntos – nesse
caso, sintagmas adjuntos –, outras classes também o fazem. É a situação, primeiramente,
dos substantivos. Por exemplo, um substantivo como “livro” é autossuficiente, podendo
ocorrer sozinho dentro do sintagma nominal, mas aceita adjuntos satisfatoriamente:
79
Em síntese, argumentos ou complementos são itens selecionados por
elementos predicadores e obrigatórios para a boa-formação da sentença. Por outro
lado, adjuntos são entidades acessórias, sendo passíveis de aceitação pelos elementos
predicadores e opcionais na formação do enunciado. Considerando, especialmente, a
noção de complementação, o subtópico a seguir versará mais profundamente a respeito
da classificação dos verbos quanto à seleção de argumentos.
Em primeiro lugar, chamamos a atenção para o fato de que alguns verbos não
selecionam qualquer argumento. É o caso de verbos que se referem a fenômenos da
natureza. Observe que esses verbos aceitam, mas não dependem de sintagmas para
que existam; assim, esses sintagmas não fazem o papel de argumentos desse verbo,
mas de adjuntos:
(22) Chove.
80
e diferenciação entre esses dois tipos, que serão abordadas adiante, ainda nesta unidade.
De qualquer forma, as sentenças a seguir são exemplos da ocorrência de tais verbos e
do comportamento de seus complementos:
81
O estudo da classificação dos verbos quanto aos argumentos que selecionam
nos conduz a uma lição importante, válida para a análise de qualquer predicador e de
seus complementos. Quando queremos diagnosticar se determinado termo seleciona
argumentos e, se sim, quantos são eles, devemos levar em conta que a nossa intuição
linguística é o melhor instrumento do qual podemos fazer uso! Portanto, é sempre válido
fazermos testes, inserindo e removendo sintagmas ou outros elementos e observando
como o (possível) predicador se comporta. Caso a remoção de uma expressão provo-
que má-formação, é muito provável que esse elemento esteja sendo selecionado pelo
predicador, como seu argumento; diferentemente, se essa ausência não influenciar a
gramaticalidade da sentença, o elemento em questão pode funcionar como um adjun-
to. Essa é uma boa maneira, inclusive, de abordar gramática na escola a partir de uma
atividade científica de testagem e análise sintática.
Até agora, essa matéria não é uma novidade para nós. Contudo, o avançar de
nossos estudos já permite que aprofundemos nossa compreensão sobre a ambiguidade
sintática, alcançando novas reflexões, relacionadas especialmente à noção de adjunção.
82
Primeiramente, é importante salientar que a ambiguidade de (38) é somente
possível porque o predicador verbal “chamar” aceita que ela se efetue. Em segundo lugar,
podemos notar que, nesse caso, ambas as divisões de sintagmas a partir da sequência
“o tio de Pedro” possuem expressões adjuntas. Contudo, os elementos aos quais essas
expressões estão ligadas são diferentes – e este é o “coração” da ambiguidade neste
caso! Em (39), a sequência em questão compõe somente um sintagma, de modo que
a expressão “de Pedro” esteja adjunta a “o tio”. Juntas, ambas as expressões formam o
sintagma nominal [o tio de Pedro], que é um dos dois complementos do verbo “chamar”.
Repare que “de Pedro” é, necessariamente, um adjunto, já que “o tio” não depende da
sua existência para que ocorra na sentença:
Assim, pode-se dizer que a ambiguidade de uma sentença como (38) acontece
porque há expressões adjuntas a distintos elementos: em (39), a “o tio”; e, em (40), a
“chamou”. Esse fato refina o motivo pelo qual esse fenômeno, nesse caso, deve ser
entendido como sintático, já que, apesar de termos uma mesma sequência de palavras,
as relações entre elas são construídas diferentemente, a depender do sentido do
verbo: relacionado a “denominar” ou a “contatar". Nesse caso, especificamente, é essa
polissemia que permite que a ambiguidade seja realizada.
NOTA
Indicamos que, como um exercício, você retome as sentenças
ambíguas apresentadas no Tópico 4 da Unidade 1 e analise-as,
seguindo o procedimento que realizamos neste tópico. Procure
separar os constituintes das sequências ambíguas em relação
a todas as suas interpretações possíveis e entender quais
são as relações entre adjuntos ou argumentos que revelam a
ambiguidade da sentença.
83
5 ARGUMENTOS E ADJUNTOS NA ESCOLA
Como pudemos perceber ao longo do estudo deste tópico, a noção de adjunção
e argumentação é extremamente corriqueira no uso da língua em nosso dia a dia.
Além disso, aprendemos que nossa consciência linguística é capaz de reconhecer
os complementos e adjuntos a partir de predicadores, embora dificilmente tenhamos
consciência sobre este fato. Prova disso é que, para testar se determinado termo é uma
expressão predicadora que exige argumentos ou somente aceita adjuntos, podemos
utilizar tão somente nossa intuição linguística como instrumento, sem depender de
nenhum outro recurso.
Nas aulas de Língua Portuguesa na escola, pode ser muito vantajoso deixar
claro aos estudantes que eles são dotados de tal consciência em função da capacidade
inata para a linguagem, exclusiva dos seres humanos. O professor pode mostrar que
as noções de argumentação e adjunção fazem parte de nossa competência linguística
sem que isso alguma vez nos fosse ensinado em nossas casas ou na escola.
INTERESSANTE
Para realizar esse trabalho, o professor pode expor, aos estudantes,
frases que contenham predicadores que solicitem argumentos, mas
não incluir os argumentos – exatamente como fizemos no início
deste tópico. Por exemplo, em vez de apresentar uma frase como
“O carro bateu no poste”, você pode apresentar “O carro bateu” e,
em seguida, questionar os alunos sobre a gramaticalidade dessa
frase frente à primeira. Em seguida, aplique o mesmo processo
com adjuntos. Dessa forma, eles poderão ficar entusiasmados com
os questionamentos e os desafios propostos, envolvendo-se mais
facilmente com esse conteúdo.
84
Um exemplo a essa situação pode ser mencionado neste momento, embora
fique mais claro a partir dos próximos tópicos, que se debruçarão sobre tais temas. Um
problema muito comum dos estudantes que aprendem sobre a Sintaxe de sua língua
é a diferença entre complementos nominais e adjuntos adnominais. Por ora, nesta
etapa, não nos cabe a diferenciação de ambos os termos, mas é significativo mencionar
que essa distinção é baseada tão somente em um deles estar sendo selecionado
pelo substantivo, como um argumento (ou seja, que é decisivo para a boa-formação
do enunciado), e outro somente ser aceito por ele, como um adjunto (isto é, que é
sintaticamente facultativo).
85
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
86
AUTOATIVIDADE
1 As noções de argumentação e adjunção correspondem, basicamente, a uma
descrição de uma habilidade mental inerente, da qual todos os falantes de alguma
língua natural dispõem. No caso dos predicadores verbais, especificamente, pode-se
compreender que há um grupo específico que é capaz de selecionar três argumentos,
os verbos triargumentais. Uma cautela a ser tomada quanto a esse grupo é a facilidade
de confundi-lo com estruturas compostas por um verbo biargumental e um sintagma
preposicionado que se encontra em adjunção, e não em complementação ao verbo.
Nesse sentido, sobre a única sentença que apresenta um constituinte preposicionado
que funciona como argumento do predicador verbal, assinale a alternativa CORRETA:
(1) Centros de educação infantil de Barrinhos liberam crianças mais cedo por causa de
alagamento.
(2) Após negociações com Mariana Campos, autoridades da educação encerram greve
em instituições escolares.
(3) Inscrições de processo seletivo para profissionais da Educação iniciam hoje.
I- As frases (1) e (3) possuem, cada uma, exatamente dois sintagmas que funcionam
como argumentos do predicado verbal.
II- As frases (1) e (2) possuem, cada uma, exatamente dois sintagmas que funcionam
como adjuntos do predicado verbal.
III- A frase (3) possui exatamente um sintagma que funciona como complemento do
predicado verbal.
87
3 Uma constatação importante sobre argumentos e adjuntos diz respeito ao fato de que
a sua compreensão torna as sentenças com ambiguidade sintática mais facilmente
explicáveis. A partir dessa asserção, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:
88
UNIDADE 2 TÓPICO 2 —
FUNÇÕES SINTÁTICAS
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, antes de abordarmos o assunto deste tópico, as funções sintáticas,
vamos fazer um exercício de relembrar as aulas de educação física na escola. É bastante
provável que, em determinado momento, seu(sua) professor(a) sugerira uma divisão da
turma para formação de times. Suponhamos que o esporte da vez seja o basquete.
É preciso que cada time tenha cinco jogadores e que cada um assuma uma posição:
dois pivôs, dois alas e um amador. Geralmente, alguém é selecionado para fazer essas
escolhas. A analogia que queremos apresentar é: numa sentença, assim como num jogo
de basquete escolar, um elemento seleciona os outros e cada um recebe uma função. É
sobre isso que falaremos neste Tópico 2.
2 SUJEITO E PREDICADO
Em termos gerais, sujeito e predicado são elementos bastante discutidos. Para
início de conversa, podemos pensar nas definições tradicionais, que dizem que sujeito é
quem concorda com o verbo da sentença e que é o elemento sobre o qual o predicado
atua. O predicado, por sua vez, pode ser entendido, por enquanto, como a declaração
que se faz sobre o sujeito, geralmente guiada por um verbo. Por exemplo, em (39), te-
mos uma frase em que [João] é o sujeito e [faz exercícios físicos] é o predicado.
89
IMPORTANTE
E também não é este o objetivo das gramáticas tradicionais ou
livros didáticos escolares! Quem descreve e investiga a língua
são os linguistas. Esses materiais mais normativos adotam outro
olhar sobre a língua. Como profissionais de Letras, nosso dever
é entender que há diversas visões sobre língua e linguagem, que
variam em seus objetivos, perspectivas, entre outros aspectos.
Neste material, contudo, queremos ir além do que é discutido em
materiais tradicionais, a fim de fazer jus à sua formação acadêmica.
Em (40), [O Igor] assume a função de sujeito. É sobre essa função sintática que
nos deteremos neste primeiro momento. Inicialmente, vamos problematizar algumas
noções tradicionais, mas, ao longo do texto, traremos conceitos já conhecidos desde
a sua fase escolar, como sujeito simples, sujeito composto, sujeito desinencial e uma
breve discussão sobre a posição desse elemento na oração.
90
(41) a. Eu comprei arroz no mercado.
b. Meu cachorro rasgou a caixa de papelão.
c. João Vitor escreveu uma carta de amor.
Nesses casos, [eu], [meu cachorro] e [João Vitor] assumem função de sujeito
ao concordarem com o verbo e serem agentes das ações verbais. Contudo, alguns
exemplos tornam essas definições um tanto rasas. Pensemos, por exemplo, em frases
em que a concordância não é acionada, fenômeno muito comum no PB:
Nesses casos, temos, em (43a), a interpretação que João não foi o responsável
por cortar os próprios cabelos. É claro que isso pode acontecer, mas o sintagma [no
barbeiro] deixa essa interpretação em segundo plano. Em (43b), o verbo [cheirar] não
seleciona um argumento como [o bolo] para ser agente. No mínimo, o agente dessa
ação deve ser um ser que tenha capacidade de cheirar coisas. Contudo, não há dúvidas:
[João] e [O bolo] são, respectivamente, os sujeitos das sentenças (43a) e (43b).
(44) a. O João, eu não vejo desde que ele foi pra capital.
b. Repolho, eu até como, mas prefiro beterraba.
91
O sujeito dessas sentenças, aplicando definições de concordância e agentividade,
são [eu] nas duas sentenças. Contudo, não podemos dizer que [eu] é o ser de quem
se fala algo, porque essas são sentenças em que um elemento aparece topicalizado e,
consequentemente, é o assunto da frase. Nos casos acima, [o João] e [repolho] são os
seres sobre os quais se fala algo, mas não são os sujeitos das sentenças. Outro mito que
essas frases quebram é aquele que diz que o sujeito é sempre o elemento "em posição
inicial" na frase.
Então quer dizer que é errado definir o sujeito como: (i) quem concorda com
o verbo; (ii) o agente da oração; e (iii) o ser sobre o qual se faz uma afirmação? Não
consideramos que “errado” seja a palavra mais adequada, porque são definições que
muitas vezes são felizes cumprindo seu papel. Todavia, como vimos, são definições
bastante passíveis de problematizações e questionamentos. Em vez de “erradas”,
preferimos, então, usar “simplistas”.
92
O que determina se um sujeito é simples ou composto é a quantidade de núcleos
que ele apresenta. Se apresenta apenas um núcleo, é um sujeito simples. Se apresenta
mais de um núcleo, é um sujeito composto. Veja os exemplos abaixo.
Por outro lado, perceba que (45c) apresenta dois núcleos: prefeito e vereadores.
Agora, sim, portanto, temos um sujeito composto, porque é uma sentença em que o
sujeito é formado por dois núcleos. Essa noção pode ajudar a problematizar muitas
noções assumidas por materiais didáticos tradicionais. Então, é importante que o
professor de língua portuguesa entenda como se posicionar e como questioná-las.
A conjugação verbal típica de primeira pessoa do plural em (46) nos faz entender
que o sujeito é “nós”, isto é, um grupo de pessoas que necessariamente inclui a pessoa
que falou a frase (por exemplo: a diretora de uma escola falando em nome da equipe
administrativa). De mesmo modo, em (47), a conjugação do verbo “entender” na primeira
pessoa do singular não deixa dúvidas de que o sujeito da frase é a pessoa que a produz.
93
QUADRO 1 – CONJUGAÇÃO DO VERBO GOSTAR
Pessoa GT PB falado
Primeira pessoa singular Eu gosto Eu gosto
Segunda pessoa singular Tu gostas Tu gosta(s) | Você gosta
Terceira pessoa singular Ele/ela gosta Ele/ela gosta
Primeira pessoa plural Nós gostamos Nós gosta(mos) | A gente gosta
Segunda pessoa plural Vós gostais Vocês gosta(m)
Terceira pessoa plural Eles/elas gostam Eles/elas gosta(m)
NOTA
Em momento algum, sugerimos que o profissional de Letras
entre em sala de aula, ignore o paradigma normativo e passe
a exigir que o aluno produza textos com o paradigma atual. Já
mencionamos aqui que reconhecemos a importância da GT, mas
nossa sugestão é que ela não seja a única gramática trabalhada
em sala de aula.
94
O sujeito oculto muito se confunde, nos estudos de Língua Portuguesa, com
o sujeito indeterminado. São categorizações diferentes para este elemento. Vamos
analisar as duas sentenças a seguir:
Sentenças como essas também nos fazem refletir sobre a análise sintática.
Entender o sujeito indeterminado é muito mais do que identificar uma fórmula (o verbo
está ‘assim’ ou ‘assado’). Mais do que isso, é preciso entender em qual contexto a frase
se insere para que ela se caracterize como determinada ou não.
95
As orações sem sujeito são aquelas em que os verbos são impessoais, como
os verbos que indicam fenômenos da natureza, vistos no tópico anterior, os verbos que
indicam tempo decorrido e, também, os verbos existenciais.
Repetimos: não queremos propor uma briga contra a GT. Nossa ideia não é bélica.
Reconhecemos sua importância, mas acreditamos que a pluralidade de abordagens
possa ser muito útil, pensando que os objetivos do ensino de língua portuguesa nas
escolas ultrapassam o ensino de produções textuais.
INTERESSANTE
Você reparou que há uma tendência de preenchimento da posição de
sujeito? Sentenças com o sujeito oculto passam a apresentar dificuldades
devido ao paradigma flexional reduzido, sentenças indeterminadas
apresentam sujeitos sem referência, e orações sem sujeitos, mesmo
com verbos impessoais, podem apresentar elementos na posição pré-
verbal. Pensar sobre esses aspectos é muito intrigante!
96
A posição pré-verbal, contudo, não é a única a ser assumida pelo sujeito.
No subtópico a seguir, ampliaremos nossa discussão e falaremos sobre as possíveis
posições que um sujeito pode assumir.
Aqui, faz-se muito importante ter conhecimento sobre análise sintática, porque
temos de reconhecer a ambiguidade da sentença acima. O termo em destaque [os
alunos de Letras], embora identificado como sujeito nessa nossa abordagem, poderia
estar ocupando o papel de objeto do verbo estudar (falaremos de objetos mais
adiante). É claro que o contexto em que essa frase for colada provavelmente tiraria
sua ambiguidade, mas, isoladamente, ela pode ser interpretada como uma sentença de
sujeito oculto, a ser ocupado, por exemplo, por [as pesquisadoras]. Em sala de aula, o
profissional de Letras pode apontar para essas questões. No campo da revisão textual,
o profissional de Letras deve identificar se a escolha dessa ordem inversa pode afetar o
discurso. A análise sintática se faz presente nas mais variadas possibilidades do nosso
mercado profissional.
Para manter nosso foco, consideramos a interpretação de (66), em que o
sintagma [Os alunos de Letras] é o sujeito. A conjugação do verbo na terceira pessoa do
plural se mantém para continuar concordando com o sujeito em si.
97
ESTUDOS FUTUROS
No Tópico 3, veremos que o caráter do verbo também pode influenciar
na posição do sujeito e, inclusive, flexibilizar sua concordância. Aqui, não
vamos nos aprofundar nesse tema justamente para poder tratar dele
com mais detalhes adiante.
Perceba, nessas últimas frases, que o que é caracterizado como sujeito é todo
o sintagma, não apenas o seu núcleo. Ou seja, se fôssemos perguntados sobre qual é
o elemento que exerce a função sintática de sujeito na sentença acima, só estaríamos
certos se a resposta fosse “os alunos de Letras”. Responder algo como “alunos” ou “os
alunos” não é adequado. Lembre-se, de acordo com o que estudamos na Unidade 1,
de que, já que um sujeito se trata de um sintagma inteiro, podemos ter sujeitos com
apenas uma palavra ou sujeitos muito longos, com uma infinidade delas! Veja mais
exemplos dessa ocasião a seguir, em que os sujeitos (sintagmas que exercem essa
função) aparecem em destaque:
98
perguntar: o que deveria ser crime? A resposta nos dá a informação de que o sintagma
[cortar macarrão no meio] é o sujeito. Esse tipo de macete pode ser bem produtivo, mas
é importante tomar cuidado, principalmente quando tratamos de sentenças que não
seguem normas de concordância ou que o sujeito não atua como agente. Ele é um bom
princípio de análise, mas não o único. Um bom profissional de Letras reconhece esta e
outras técnicas de análise sintática para usá-las a seu favor, seja no ambiente escolar
ou em outros locais de trabalho.
INTERESSANTE
Muitos estudos acadêmicos sobre o sujeito argumentam que o PB é
uma língua bem interessante para estudar essa função sintática e até
a posição. Você pode procurar por estudos de Sandra Quarezemin,
Juanito Avelar, Charlotte Galves, Mary Kato, Maria Eugênia Duarte e
outros pesquisadores. Não abordaremos com muita profundidade
aqui, tendo em vista que este é um material didático.
O predicado verbal, como o nome sugere, é aquele que tem como núcleo um
verbo de ação. Nas sentenças acima, encaixa-se melhor a sentença (73), em que o
verbo levantar (de ação) é o núcleo do sintagma [levantou a taça da Copa do Mundo].
99
O predicado nominal tem como núcleo um nome (um predicativo do sujeito,
como veremos ainda neste tópico). A sentença (74), por exemplo, é um desses casos,
porque [alegre] está fazendo papel de núcleo do predicado, sendo conectado ao sujeito
por meio de um verbo de ligação.
3 OBJETOS
No Tópico 1 desta unidade, vimos a diferença entre complementos/argumentos e
adjuntos. Também entendemos a importância que a noção de sintagma assume nessas
ocasiões. Acima, vimos o sujeito da oração, agora, veremos outra função sintática: o
objeto, que também gira em torno do verbo, o que enaltece mais uma vez a importância
dessas noções na análise sintática. Veja as sentenças a seguir:
É por conta dessa “obrigatoriedade” (as aspas serão logo entendidas) que
eles são argumentos e não adjuntos. Se ouvíssemos ou lêssemos, isoladamente, as
sentenças acima, nos perguntaríamos: analisou o quê? Gostam de quê? Entregou o
que e para quem? Os verbos precisam de seus complementos, quando os demandam!
A essa altura, portanto, já está bem clara a forte relação entre os verbos e os objetos.
Detalharemos mais os verbos no Tópico 3, mas consideramos justo antecipar um pouco
do conteúdo para continuarmos a discutir os objetos.
100
Os objetos que não exigem preposição e são ligados diretamente ao verbo são
os objetos diretos. Os que exigem uma preposição e são ligados indiretamente ao verbo
são os objetos indiretos. Então, voltando aos nossos exemplos, temos:
(82) Pedro [analisou um clássico literário] por diversão. (um clássico literário = objeto
direto)
(83) As filhas do Cleber [gostam de futebol]. (de futebol = objeto indireto)
(84) Joana [entregou um presente ao Lucas]. (um presente = objeto direto; ao Lucas
= objeto indireto).
Nem sempre os objetos são termos obrigatórios. Há verbos que não exigem
nenhum tipo de objeto, como, por exemplo, engordar, nascer, crescer, telefonar e
outros. Como dissemos, os verbos serão mais abordados no Tópico 3. Por ora, vamos
nos deter aos verbos transitivos, ou seja, os que exigem objeto, e nos debruçar sobre
esses elementos exigidos.
Um tipo de objeto direto que podemos acrescentar - agora com olhar mais
descritivo e não normativo - são os pronomes pessoais de caso reto (eu, tu, você, ele,
ela, nós, a gente, vocês, eles, elas). Ainda que a GT recomende que não sejam usados
em contextos formais (i.e., substituídos por pronomes oblíquos átonos), não podemos
ignorar que, no PB cotidiano, é muito comum ouvir sentenças como (89-91), que são
quase improdutivas na versão padronizada:
101
(92) Na igreja, o lema é amar (a) Deus sobre todas as coisas.
(93) Minha mãe não odeia (a) ninguém.
A norma padrão reconhece que a posição de objeto indireto pode ser preenchida
por um substantivo, pelas formas pronominais oblíquas e por orações subordinadas
substantivas objetivas indiretas. A seguir, compartilhamos exemplos que seguem essas
representações e, portanto, não teriam problemas de serem usados em contextos mais
formais:
INTERESSANTE
Um fenômeno que gera bastante debate (e polêmica), quando a pauta é a língua, está
relacionado a uma característica do objeto indireto. Como mencionamos, esse elemento
pode ser preenchido por um pronome de forma oblíqua. Um desses casos é o pronome
de primeira pessoa, “mim”, ou o pronome de segunda pessoa, “ti”. Veja as seguintes frases:
102
4 PREDICATIVOS
Outro elemento importante para a análise sintática foi apresentado no item
“Tipos de predicado”: o predicativo. Na ocasião, falamos apenas do predicativo do
sujeito, mas há dois tipos de predicativo a serem analisados: o predicativo do sujeito e
o predicativo do objeto. Os próprios nomes são bastante sugestivos, mas é importante
entender que identificar um predicativo é de extrema importância para compreender de
qual tipo de predicado estamos falando.
IMPORTANTE
Para o andamento deste subtópico, faz-se necessária a noção
de verbos de ligação. Diferentemente dos verbos transitivos e
intransitivos (que veremos mais adiante), os verbos de ligação não
expressam uma ação que é feita ou sofrida. Eles são copulativos
e ligam o sujeito ao seu predicativo, como veremos. Os principais
verbos de ligação são: ser, estar, permanecer, ficar, tornar-se,
andar, parecer, virar, continuar, viver.
103
(98) Eu fiquei emocionado com o discurso do professor.
(99) Os meninos da rua de baixo estavam barulhentos.
DICA
A relação que se faz com os verbos de ligação, contudo, é importante em
casos em que a frase gere algum tipo de confusão. Ela pode ser útil para
um teste de substituição para identificar os predicativos. Poderíamos
tranquilamente dizer: a mãe ESTAVA convicta; os professores ESTAVAM
furiosos. Isso pode ajudar a categorizar os elementos das sentenças.
DICA
O predicativo do objeto não faz parte do objeto em si. Perceba
que é possível substituir o objeto por um pronome e, assim, o
predicativo fica separado.
104
NOTA
Além disso, muitas são sentenças com potencial ambíguo, como
vimos na Unidade 1. Por conta disso, faz-se importantíssimo ter a
noção de predicativo separada da noção de adjunto adnominal, o
que veremos a seguir.
NOTA
Perceba que os estudos gramaticais, por mais que tenham suas
singularidades, conversam bastante entre si. Anteriormente,
vimos que a Morfologia também implica nas questões sintáticas.
IMPORTANTE
Sobre os adjuntos, é interessante que retomemos: todas essas palavras
são importantes, mas não essenciais para constituência do sintagma. Daí a
diferença com os "complementos" nominais, que, por serem "complementos"
(argumentos), são essenciais, sintaticamente falando.
105
Em sentenças como a sequência em (104), os termos destacados assumem
função de adjunto adnominal, uma vez que se referem ao núcleo do sintagma.
IMPORTANTE
Tão importante quanto olhar para a diferença de adjunto adnominal e complemento
nominal é diferenciar adjunto adnominal do já mencionado predicativo, pensando, nesse
caso, em adjetivos. Podemos fazer isso através da análise de sentenças ambíguas:
106
“Culpada” é o adjetivo que é a essência da ambiguidade, porque ele pode
ser tanto um predicativo quanto um adjunto adnominal. A diferença é que
o adjunto adnominal pertence ao sintagma, então, quando assume essa
função, o sentido é: havia uma ré culpada e o juiz a julgou. O predicativo
não pertence ao sintagma, como discutimos anteriormente. Então, se
assumida a função de predicativo, o sentido da sentença seria: havia uma
ré e o juiz a julgou como culpada.
107
• Adjunto adverbial de intensidade: fornecem ideia de lugar/espaço
Exemplos: Minha filha gosta muito de arroz e feijão
A aula foi boa demais!
108
• Adjunto adverbial de meio: fornecem ideia de meio utilizado
Exemplos: Acho que dá de ir ao terminal a pé, né?
Meu computador veio pelo correio.
ESTUDOS FUTUROS
Além dos adjuntos, há, também, outros termos acessórios na oração,
como ‘vocativos’ e ‘apostos’. Todavia, daremos mais atenção para
eles na Unidade 3, quando falaremos de pontuação, pois estão bem
relacionados com essa temática.
Noções como essa podem – e muito – contribuir para a fase escolar. Dito isso, o
próximo subtópico procura reunir as ideias discutidas aqui, pensando na Educação Básica.
109
Além disso, compreender essas funções pode ser importante para produção e
interpretação textual. Um aluno que tem noção a respeito das funções sintáticas pode
ser mais feliz ao produzir um texto, uma vez que compreendê-las e entender como elas
funcionam pode ser bastante útil para evitar ambiguidades, compreender a organização
da frase e, com base nisso, pontuar seu texto, entre outras implicações. As funções
sintáticas contribuem também para uma leitura qualificada, uma vez que entender e saber
analisar as sentenças pode direcionar melhor a interpretação desejada pelos autores.
Por último, resta-nos dizer que o trabalho com funções sintáticas pode ser fun-
damental na avaliação de consciência sintática dos estudantes. A consciência sintática
é o conhecimento explícito que as pessoas têm a respeito de elementos que se rela-
cionam com a estrutura de uma língua. É fundamental que o professor saiba nivelar a
consciência sintática de seus alunos para compreender como trabalhar. Esses testes
podem ser observados em textos como o de Capovilla, Capovilla e Toledo Soares (2004),
que consta como leitura complementar desta unidade.
110
LEITURA
COMPLEMENTAR
CONSCIÊNCIA SINTÁTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL: CORRELAÇÕES COM
CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA, VOCABULÁRIO, LEITURA E ESCRITA
[...]
Conforme sumariado em Gombert (2003), enquanto a relação entre metafo-
nologia e linguagem escrita está bem documentada, estudos sobre a relação entre
metassintaxe e linguagem escrita ainda são incipientes. Metassintaxe pode ser defi-
111
nida como a habilidade de refletir sobre a estrutura sintática (i.e., morfológica e gra-
matical) da linguagem (Guimarães, 2002; Tunmer, 1990) e estudos como o de Tsang e
Stokes (2001) têm sugerido que as dificuldades metassintáticas podem estar envolvidas
em problemas de aquisição da leitura.
[...]
A consciência sintática é importante para a aquisição da linguagem escrita por
diversas razões, como o fato de que a consciência sintática permite ao leitor ler palavras
que ele não consegue decodificar, em razão da dificuldade pessoal em decodificar ou
de dificuldades na própria palavra (irregularidades grafofonêmicas). Quando o leitor se
depara com textos contendo palavras que não podem ser decodificadas facilmente,
sua consciência sintática lhe permite recorrer às pistas sintáticas do texto para
conseguir apreender o seu significado. Corroborando tal hipótese, Rego e Bryant (1993)
demonstraram correlação positiva entre o desempenho em consciência sintática e o
posterior desempenho na leitura de palavras com dificuldades ortográficas, ou seja, que
não podem ser lidas corretamente com o uso exclusivo da decodificação.
112
sua independência do conteúdo semântico, ou seja, avaliar se a criança é capaz de
corrigir gramaticalmente a frase, mesmo que seu conteúdo permaneça inadequado. O
desempenho nesta tarefa foi um preditor eficaz da leitura, sendo as correlações obtidas
fortemente positivas (Demont, 1997).
Método
Participantes
Participaram 204 crianças, sendo 57 da 1a série, 47 da 2a, 50 da 3a e 50 da 4a
série do ensino fundamental de escola particular do bairro de Capão Redondo, em São
Paulo, SP. Havia 104 meninos e 100 meninas, com idades variando de 6 anos e 4 meses
a 10 anos e 6 meses
Instrumentos
Prova de Consciência Fonológica por Figuras (PCFF). A Prova de Consciência
Fonológica por Figuras PCFF (Capovilla & Capovilla, 2004) avalia a habilidade da criança
de manipular os sons da fala. Baseia-se na Prova de Consciência Fonológica Oral
(Capovilla & Capovilla, 2003) e é composta por nove subtestes, cada qual com dois itens
de treino e cinco de teste. Cada item tem cinco desenhos, dentre os quais a criança deve
escolher o que corresponde à palavra falada pelo aplicador. O subtestes são: 1) Rima:
assinalar a figura cujo nome termina do mesmo modo como a palavra falada pelo aplicador;
2) Aliteração: assinalar a figura cujo nome começa como a palavra falada; 3) Adição Silábica:
assinalar a figura cujo nome corresponde ao acréscimo de uma sílaba a uma palavra
falada (ex.: PATO + SA no começo = SAPATO); 4) Adição Fonêmica: assinalar a figura cujo
nome corresponde ao acréscimo de um fonema à palavra falada (ex.: ALA + /S/ no começo
= SALA); 5) Subtração Silábica: assinalar a figura cujo nome corresponde à remoção de
uma sílaba de palavra falada (ex.: BOCA – /B/ = OCA); 6) Subtração Fonêmica: assinalar a
figura cujo nome corresponde à remoção de um fonema de palavra falada (ex.: MACACO –
MA = CACO); 7) Transposição Silábica: assinalar a figura cujo nome corresponde à inversão
da ordem das sílabas da palavra falada (ex.: LOBO – BOLO); 8) Transposição Fonêmica:
113
assinalar a figura cujo nome corresponde à inversão da ordem dos fonemas da palavra
falada (ex.: ÍRIS – SIRI); 9) Trocadilho: assinalar a figura cujo nome corresponde à inversão
da ordem dos fonemas inicias de duas palavras (ex.: CULAR PORDA – PULAR CORDA).
114
de pseudopalavras ou palavras com incorreção semântica devem ser rejeitados. Como
explicado em Capovilla e Capovilla (2004), o padrão de erros nos sete tipos de pares
revela as estratégias de leitura funcionais e as disfuncionais.
Procedimento
As 204 crianças foram avaliadas em todos os cinco instrumentos descritos
durante o período escolar regular. A PCS foi aplicada individualmente em salas reservadas
da escola e os demais instrumentos foram aplicados na própria sala de aula, mantendo
um intervalo de uma semana entre cada aplicação.
[...]
115
Discussão
FONTE: CAPOVILLA, A. G. S.; CAPOVILLA, F. C.; SOARES, J. V. T. Consciência sintática no ensino fundamental:
correlações com consciência fonológica, vocabulário, leitura e escrita. Psico-USF (Impresso), São Paulo, v.
9, n.1, p. 39-47, 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pusf/a/7T957tqxYc9x4LjmTN4cqqK/?lang=
pt. Acesso em: 26 maio 2022.
116
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• Que, ainda que a GT seja uma ferramenta bastante usada, a análise de funções
sintáticas pode problematizar vários pontos.
• Que as funções sintáticas são ferramentas importantes para o trabalho com metodo-
logia científica e também para a produção e interpretação textual.
117
AUTOATIVIDADE
1 No tópico acima, exploramos as funções sintáticas. Entre elas, a função sintática de
sujeito. Vimos que o sujeito pode ser composto por uma ou mais palavras, porque o
que assume essa função não é o núcleo, mas o sintagma completo. Dessa forma,
grife os sujeitos das sentenças a seguir.
2 Outra função sintática que exploramos foi a função sintática de objeto. Vimos o objeto
direto e o objeto indireto. Com base no que você aprendeu, leia as sentenças a seguir
e assinale a alternativa que melhor define a sequência.
118
4 Ao tratar de adjuntos adnominais e complementos, vimos que essas noções podem
ser usadas para compreender ambiguidade de sentenças. Assim, disserte sobre a
ambiguidade da sentença “O professor achou o menino inteligente”. Use as noções
vistas no Tópico acima.
119
120
UNIDADE 2 TÓPICO 3 —
TRANSITIVIDADE VERBAL
1 INTRODUÇÃO
Desde o início do livro, principalmente nas partes em que tratamos de noções
gerais sobre a Sintaxe e sua metalinguagem, vimos que os verbos são importantíssimos
para a análise sintática. Conforme estudamos desde o início, uma oração existe porque,
nela, há um verbo; é esse verbo que seleciona argumentos e, a partir dele, as funções
sintáticas são atribuídas. Tanto é que, embora estejamos dedicando um tópico aos
verbos somente agora, não fomos capazes de guiar algumas discussões anteriores
sem mencionar a sua funcionalidade. Foi o caso de classificarmos ele como o “coração”
de determinadas construções na Unidade 1 e, também, o fato de mencionarmos a
concordância que ele assume com o sujeito em muitas sentenças no tópico anterior.
Neste tópico, todavia, vamos explorar mais a natureza desse elemento tão importante.
Como de costume, tentaremos mostrar aqui uma visão mais aberta do que é
feito em materiais tradicionais. Há propostas curiosas para discussão da transitividade
verbal nos estudos linguísticos, e é, no mínimo, interessante que acadêmicos de Letras
tomem conhecimento delas. Da mesma forma, considerando que muitos dos nossos
leitores caminharão para a licenciatura, ao fim da nossa discussão, refletiremos sobre
possibilidades para trabalhar os verbos em sala de aula.
2 VERBOS TRANSITIVOS
Imagine que você está em um parque em uma tarde de domingo e alguém venha
até você. Na ocasião, a pessoa olha para você e pergunta somente: “você sabe?”. Muito
provavelmente, você estranharia essa construção e acharia que ela está incompleta,
e, então, devolveria outra pergunta: “sei o quê?” O que acontece é que o verbo “saber”
exige complementação. Não é um verbo que se usa sozinho! Quem sabe, sabe (de) algo.
121
IMPORTANTE
É claro que, se a pessoa contextualizar antes, o verbo “saber”
poderia ser usado sozinho, como: “Eu gostaria de saber onde
fica a farmácia. Você sabe?” Contudo, como estamos analisando
no decorrer de todo este material, as construções aqui são
desprovidas de toda essa contextualização prévia, justamente
porque nosso foco é a análise da estrutura em si.
Repare que os verbos [fazer], [ver] e [amar] solicitam que, para que uma sentença
faça sentido, é preciso que tenha pelo menos um complemento além do sujeito. Faça
o teste: tente pensar nas sentenças acima sem os elementos sublinhados. Elas não
fazem muito sentido fora de contexto, certo?
122
que tenham essa mesma característica. Ao começar a pensar em verbos, você vai
perceber que nem todos vão assumir essas características. Alguns não vão exigir esse
complemento direto, e outros, ainda que exijam a complementação, o farão por meio
de uma preposição (sendo um complemento indireto). Esses são os verbos transitivos
indiretos, que descreveremos a partir de agora.
123
(120) Eu assisti ao filme da Marvel na estreia.
(121) Eu respondi ao questionário de pesquisa.
(122) As crianças devem obedecer aos pais.
Nas estruturas acima, os verbos estão ligados aos objetos por meio de uma
preposição, seguindo a regra dos verbos transitivos indiretos, mas perceba que, no PB
falado, o corte dessas preposições não torna a frase estranha ou agramatical.
124
Um exemplo de verbo bitransitivo é o predicador [colocar]. Perceba as sentenças
a seguir:
125
(133) Vitor colocou na estante os livros.
(134) A professora entregou aos alunos a atividade corrigida.
(135) A filha deu para a mãe um presente.
INTERESSANTE
Ainda entre os verbos transitivos, há aqueles que são transitivo-predicativos. Veja bem:
a essa altura do campeonato, já sabemos o que são verbos transitivos e também o que
são predicativos. Já podemos imaginar que um verbo transitivo-predicativo seja aquele
que selecione um predicativo como complemento. Pense, por exemplo, em:
3 VERBOS INTRANSITIVOS
Infelizmente, é bastante comum ver que as abordagens tradicionais subdividam
os verbos em dois grupos ao tratar de transitividade verbal: transitivos e intransitivos.
Vimos, logo anteriormente, que os transitivos até que apresentam uma subdivisão bem
interessante, mas, ao falar dos intransitivos, não fazem uma subdivisão que a Linguística
já considera há bastante tempo: a de inergativos e inacusativos. O teor ‘negativo’ do
início deste parágrafo se dá pelo fato de que este é um assunto importantíssimo para a
análise sintática e, devido ao simplismo que é tratado, os alunos podem ficar bastante
confusos. Assim, este subtópico se constrói da seguinte forma: antes de tudo, vamos
retomar como a gramática tradicional fala dos verbos intransitivos para, posteriormente,
levantar a problemática e trabalhar com a subdivisão que consideramos adequada.
126
(136) Pedro nasceu.
(137) Pedro chegou.
(138) Pedro caiu.
127
(148) a. O bebê soluçou.
b. *Soluçado o bebê, …
(149) a. O trem apitou.
b. *Apitado o trem, …
(150) a. Luiza sorriu.
b. *Sorrida Luiza, …
ESTUDOS FUTUROS
O símbolo θ na expressão “papel θ” faz referência ao tema, uma noção
que veremos no próximo tópico, ao tratar de seleção semântica.
Dito isso, cabe a reflexão que recuperamos com base no texto de Lobato (2015):
considerando que esses estudos estão sendo bem debatidos na área, omitir essa sub-
divisão pode ser uma sonegação de informação. Em contrapartida, há quem possa de-
fender que o trabalho com esse tipo de análise linguística vai além da prevista para o
período escolar.
128
4 TRANSITIVIDADE VERBAL NA ESCOLA
Estamos tomando como base, na escrita deste material, os pensamentos de
cunho teórico gerativista (você pode voltar na Unidade 1 para relembrar como essa
perspectiva enxerga a linguagem). Então, apoiamos as nossas sugestões na ideia de
que todo falante, intuitivamente, tem competência linguística sobre sua língua materna.
Isso pode ser aproveitado nas aulas de gramática, principalmente se considerarmos
essas aulas como ferramentas para uma introdução à metodologia científica, como
prevê a BNCC em um dos objetivos relevantes à Educação Básica:
É claro que não podemos pensar apenas nas aulas de gramática como labo-
ratoriais. Perspectivas mais discursivas, por exemplo, como você perceberá durante o
curso, aprofundarão como trabalhar com produção e leitura de textos em sala de aula
por meio de sequências didáticas. A transitividade verbal certamente é uma ferramenta
que o aluno precisa conhecer para que seus textos sejam coerentes e passem a ideia
desejada. Uma estratégia, inclusive, é saber que, mesmo com verbos transitivos, o com-
plemento pode ser omitido caso tenha sido mencionado anteriormente, a fim de evitar
repetições.
129
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• A transitividade verbal pode ser uma boa estratégia para trabalhar com a metodologia
científica e produção textual na educação básica.
130
AUTOATIVIDADE
1 Vimos que os verbos ora selecionam complementos e ora não selecionam. A gramática
tradicional chama os primeiros de transitivos e os segundos de intransitivos. Os
transitivos se subdividem em três grupos: os transitivos diretos, os transitivos indiretos
e os bitransitivos. Levando em conta essa categorização, assinale a alternativa que
melhor define os verbos transitivos indiretos.
a) ( ) São aqueles que exigem uma complementação e ela pode ser atribuída de forma
direta, sem que haja ligação, como em: “João ganhou o jogo”.
b) ( ) São aqueles que exigem um objeto indireto como complemento, e esse objeto
deve, obrigatoriamente, estar ligado ao verbo por meio de um advérbio, como:
“Pedro assistiu freneticamente a todos os filmes da Marvel”.
c) ( ) São aqueles que exigem um objeto indireto como complemento, por isso o objeto
é constituído por uma preposição que o ligue ao verbo, como em: “Maria torce
para o Flamengo”.
d) ( ) São indiretos, porque um dos dois complementos que exigem é um objeto
indireto, como: “Felipe colocou a apostila no armário”.
I- Esses verbos não exigem complemento, mas isso não significa que é proibido
complementar o sentido das sentenças. Podemos colocar, por exemplo, advérbios:
João dormiu calmamente. A ocasião é que mesmo sem o advérbio a sentença é
gramatical.
II- Em alguns estudos linguísticos, já há reconhecimento sobre uma possível subdivisão
entre esses verbos: inacusativos e inergativos.
III- Em alguns estudos linguísticos, já há reconhecimento sobre uma possível subdivisão
entre esses verbos: intransitivos diretos e intransitivos indiretos.
131
3 Leia as sentenças a seguir e responda se os verbos destacados são transitivos diretos
(VTD), transitivos indiretos (VTI) ou bitransitivos (VB). Note que será preciso analisar
com base na natureza do verbo.
a) O pássaro cantou.
b) Maria nasceu.
c) Jorge sofreu
d) A encomenda chegou.
132
UNIDADE 2 TÓPICO 4 —
SELEÇÃO CATEGORIAL E SEMÂNTICA
1 INTRODUÇÃO
Até este ponto, nesta unidade, estudamos noções muito importantes para
o conhecimento da Sintaxe das línguas naturais – e, especificamente, do PB. Como
exemplos, podemos mencionar: que, no nível sentencial, os sintagmas não podem ser
categorizados da mesma forma – há os que são obrigatórios à oração (os argumentos)
e aqueles que são somente aceitáveis (os adjuntos); que os sintagmas argumentos
podem desempenhar duas diferentes funções dentro de uma sentença: ou a de sujeito,
ou a de objeto; que a argumentação – no sentido sintático formal do termo! –, também
pode se manifestar internamente aos sintagmas nominais; e que, como tais funções
são determinadas pela natureza do verbo, as formas verbais também podem ser
diferentemente classificadas.
Contudo, remanesce, ainda, uma questão muito relevante aos nossos estudos,
que carece de maiores explanações: a seleção. Neste tópico, entenderemos como esse
termo reflete nosso uso da língua e de que forma ele é exemplar de que a Sintaxe não
existe enquanto uma área isolada – ao contrário, qualquer profissional de Letras deve
entender que essa área (aliás, não só ela, mas todas, dentro da perspectiva de análise
formal) faz, a todo momento, interfaces e interdisciplinaridades com outras.
Para alcançar esses objetivos, esta unidade está dividida ao modo que segue:
no próximo subtópico, faremos primeiras reflexões sobre como as noções de seleção
estão imbricadas no uso que fazemos da língua, sem, por enquanto, adentrar o conceito
específico a cada uma. Cada uma dessas noções será abordada de forma individual nos
Subtópicos 2 e 3, que tratarão, respectivamente, da seleção categorial e da seleção
semântica. Finalmente, a última etapa desta unidade versará a respeito da forma
como esses dois temas podem fazer parte das aulas de Língua Portuguesa da escola.
Vamos lá?!
2 PRIMEIRAS REFLEXÕES
Para iniciarmos nossa reflexão, propomos que você julgue, quanto à gramatica-
lidade e à aceitabilidade – caso queira “refrescar” esses conceitos, recomendamos que
retorne à Unidade 1 –, as oito formações a seguir. Atenção! Lembre-se de avaliá-las exa-
tamente como viemos fazendo até agora: desconsiderando qualquer contexto e objeti-
vamente, isto é, ignorando possíveis sentidos figurados que estejam associados a elas.
133
151) Os políticos não gostam o povo.
152) A Bruna abraçou da irmã.
153) O meu cachorro comprou um caminhão.
154) Cactos dormem durante o dia.
155) O carteiro entregou uma caixa o Pedro.
156) O Rio Amazonas pulou.
157) O bibliotecário colocou os livros a gaveta.
158) A xícara chutou a bola.
AGRAMATICAL INACEITÁVEL
Os políticos não gostam o povo. A xícara chutou a bola.
134
3 SELEÇÃO CATEGORIAL
Para entendermos ao que, afinal, a seleção categorial (também chamada de
c-seleção) se refere, precisamos, primeiramente, nos atentar à coluna esquerda do
Quadro 2, conforme mencionado anteriormente. Logo, podemos alcançar a conclusão
de que uma falha na seleção categorial – o que acontece nas construções que se
enquadram nessa coluna – acaba resultando em agramaticalidade. De acordo com
o que já estudamos, a agramaticalidade é um julgamento puramente sintático. Por
consequência, podemos dizer: essa seleção envolve, exclusivamente, aspectos
sintáticos dos constituintes e da sentença.
Pelos conhecimentos que temos até agora, podemos afirmar com segurança
que esse predicador verbal abre duas lacunas, ou seja, requer dois argumentos. Um
desses argumentos é o sujeito – que, nesse caso, é o sintagma [os funcionários] –, e o
outro é o objeto direto – que, no exemplo, é [a causa].
135
que estudamos no tópico anterior –, a identificação das categorias c-selecionadas
é realizada por meio de vírgulas. No caso do predicador verbal “abraçar”, sua seleção
categorial pode ser descrita da forma em (161), a exemplo de uma sentença como (162):
Note que o conceito pelo qual definimos a seleção categorial trata da seleção
que certo predicador faz de uma ou mais categorias de argumentos em detrimento de
outras. A última parte dessa noção nos traz a consequência de que, se um predicador
verbal como “abraçar” seleciona apenas SNs em sua estrutura argumental, ele, por
consequência, bloqueará a existência de outras categorias, a exemplo de SPs. A seguir,
podemos constatar que uma sentença com esse predicador se torna sistematicamente
agramatical se um SP for inserido como sujeito ou objeto:
136
A essa altura, já somos capazes de saber por que as sentenças contidas na
coluna esquerda do Quadro 1 são agramaticais: todas elas possuem problemas quanto
às categorias que seus predicadores verbais selecionam. A seguir, listamos todas as
sentenças que se enquadram nessa questão. Para exercitar o seu conhecimento,
identifique quais são as c-seleções que cada verbo realiza e verifique a incompatibilidade
de cada formação:
Atentamos para o fato de que este é um conhecimento que todo falante nativo
ou fluente de PB domina! Por mais que não conheçamos a metalinguagem – afinal, esta
é uma competência dos estudiosos da língua, como os profissionais de Letras –, nossa
gramática internalizada sabe quais categorias argumentais deve aplicar a partir de certo
predicador. Neste tópico, restringimo-nos aos predicadores verbais, mas essa lógica
se estende a todos os predicadores. Lembre-se: quando somos proficientes em certa
língua, nossa consciência sintática sempre saberá o que fazer!
4 SELEÇÃO SEMÂNTICA
Identificadas as formações em (151-158) que possuem problemas quanto à
gramaticalidade, já sabemos quais são aquelas que preenchem a coluna direita da
tabela:
137
Não podemos dizer que essas sentenças possuem problemas quanto à
gramaticalidade. Afinal, todas as relações de argumentação e c-seleção, a partir dos
predicadores verbais, estão sendo cumpridas. Por isso, podemos dizer que, sob o ponto
de vista da Sintaxe, essas sentenças são ótimas! No entanto, sabemos que essas
frases são inaceitáveis: afinal, em uma situação natural de fala, elas dificilmente seriam
produzidas. Já que, sob o “guarda-chuva” da Sintaxe, não temos problemas, resta-nos
recorrer a outra área da gramática formal para identificarmos a questão aqui envolvida.
• Agente:
É a entidade que desencadeia determinada ação e detém controle sobre ela.
Exemplo: [O Carlos] telefonou.
• Paciente ou tema:
É a entidade que é afetada, recebendo ou sofrendo certa mudança.
Exemplos: [O vaso] quebrou.
A Paula quebrou [o vaso].
• Experienciador:
É a entidade que experimenta um fenômeno interno.
Exemplo: [Jorge] ama a Célia.
• Instrumento:
É a entidade utilizada para desencadear uma ação.
Exemplo: Quebrei a janela [com um tijolo].
138
DICA
Em “Gramática do PB”, Mario Perini relata outras categorias de
papéis temáticos além das abordadas. Confira!
167) [+ felino]
É preciso considerar que existe uma infinidade de traços. Para nosso objetivo,
que é compreender como a s-seleção se aplica às sentenças, utilizaremos apenas
alguns. Também podemos cruzar vários traços, como a seguir, no Quadro 3, que
apresenta alguns exemplos dessa lógica:
[+ humano] [- humano]
mulher cabra
menina ovelha
[+ feminino] Mariana Minnie
freira Peppa Pig
etc. etc.
homem bode
menino carneiro
[- feminino] Ricardo Mickey
padre Sonic
etc. etc.
139
É preciso o destaque para a informação de que valores positivos ou negativos
não revelam o absoluto encaixamento, ou não encaixamento, de determinado elemento
em um traço [x], mas a maior ou menor probabilidade de manifestar as características
correspondentes àquele traço. Veja a escala em (168) para o traço de animacidade, que
representa a probabilidade de substantivos serem [+ animados] ou [- animados]. Por
essa representação, podemos perceber que, apesar de “morango”, por exemplo, ser
enquadrado como [- animado], ele é mais animado do que “prédio”, que, por sua vez, é
mais animado em relação a substantivos abstratos como “amor”.
168)
[+ animado] [neutro] [- animado]
<–––|––––––––––––––––––––––––––––|–––––––––––––|––––––––|–––––––|–––>
arquiteto morango prédio Amor
140
• O meu cachorro comprou um caminhão.
A inconsistência, aqui, é dada pelo fato de que rios são incapazes de pular,
quando esse verbo se refere a se elevar a partir do chão utilizando impulso. Poderíamos
afirmar que o predicador verbal em questão demanda que seu único argumento seja
[+ animado]; contudo, existem diversos elementos dotados de valor positivo para esse
traço que são incapazes de pular, como peixes e tartarugas. Então, uma alternativa é
considerar que esse predicador demande um complemento com valor [+ pulante]: só
quem ou o que é capaz de pular pode preencher essa lacuna.
Uma situação semelhante à anterior acontece nesse caso: xícaras não são
capazes de chutar! Analisando esse predicador, em princípio, poderíamos pensar que
somente seres humanos possuem a capacidade de chutar. Contudo, embora sejam
exemplos restritos, a Biologia mostra que alguns animais, como cangurus, utilizam
seus membros de forma idêntica ao chute que as pessoas dão com suas pernas – ou
seja, essa habilidade não é exclusivamente humana. Assim, devemos ampliar o traço
requerido pelo predicador verbal “chutar” ao seu sujeito para, pelo menos, [+ animado],
o que é incompatível com o SN [a xícara].
141
professor pode abordar esses temas de forma mais ou menos aprofundada e específica.
Diferentemente de outros tópicos dentro da área da Sintaxe, contudo, esses dois
assuntos podem participar das aulas de Língua Portuguesa desde o 6º ano do ensino
fundamental até o 3º ano do ensino médio, já que crianças com 10 anos já possuem
conhecimento linguístico implícito suficiente para avaliar enunciados e verificar
inconsistências sintáticas ou semânticas, mesmo que não saibam dizer por que elas
estão ocorrendo. Com o amadurecimento intelectual dos estudantes no que concerne
à metalinguagem gramatical, por volta do 9º ano em diante, o professor pode enriquecer
as discussões, apresentando, efetivamente, os conceitos de c e s-seleção.
Com turmas a partir do 9º ano, é possível seguir o percurso fornecido por este
tópico (guardadas, é claro, as proporções, já que este é um material de nível superior):
apresentar construções agramaticais por conta de inadequações quanto à c-seleção,
e inaceitáveis, devido a inconsistências relativamente à s-seleção. Em seguida, o
professor pode instigar uma reflexão com os alunos a respeito de tais problemas: por que
acontecem? O que, na nossa mente, determina que uma sentença x é inaceitável ou,
mesmo, agramatical, enquanto outra sentença y é formada satisfatoriamente e passível
de produção? Qual é o conhecimento que está por trás desse tipo de julgamento? É um
conhecimento que aprendemos na escola ou, objetivamente, com alguém?
142
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu:
143
AUTOATIVIDADE
1 Apesar de não necessariamente termos consciência destes conhecimentos, as noções
de seleção categorial e semântica estão presentes em nosso aparato cognitivo desde
os estágios de aquisição da linguagem. Quando dominamos uma língua, formamos
sentenças satisfazendo as necessidades sintáticas e semânticas de cada predicador,
mesmo que não nos demos conta desse processo. Sobre a aplicação das noções em
questão, no âmbito escolar, assinale a alternativa INCORRETA:
144
I- A formação (1) apresenta problemas quanto à seleção categorial.
II- A formação (2) apresenta problemas quanto à seleção categorial.
III- A formação (3) apresenta problemas quanto à seleção semântica.
IV- A formação (4) apresenta problemas quanto à seleção semântica.
I- {SN; SV}.
II- {SN; SP}.
III- {SN; SN, SP}.
145
PREDICADOR EXEMPLO DE C-SELEÇÃO
C-SELEÇÃO(ÕES) POSSÍVEL(IS)
VERBAL IMPOSSÍVEL
{SN; SN} = A Gabriela ama o seu trabalho. {SN; SP} = * A Gabriela ama de
amar
{SN; SV} = A Gabriela ama trabalhar. trabalhar.
{SN; SP} =
{SN; SN} =
{SN; SP} =
{SN; SV} =
{SN; SV} =
devolver
chover
esperar
considerar
(avaliar)
{SN} =
[+ amarelo] [- amarelo]
[+ animado]
[- animado]
146
REFERÊNCIAS
BRASIL, Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC/SEF, 2019.
KATO, M.; MIOTO, C. A arquitetura da gramática. In: KATO, M.; NASCIMENTO, M. (Orgs.)
Gramática do português culto falado no Brasil, v. 2, p. 19-35, 2009.
147
148
UNIDADE 3 —
RELAÇÕES SINTÁTICAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – ENCAIXAMENTO
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
149
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
QR Code abaixo:
150
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
ENCAIXAMENTO
1 INTRODUÇÃO
Para introduzir este tópico, vamos fazer um movimento parecido com o que
realizamos nos tópicos anteriores: a volta ao período escolar. Nas aulas de Língua
Portuguesa da escola, é comum nos depararmos com nomenclaturas e termos
técnicos. Isso é bastante usual em qualquer matéria, na verdade. Cada disciplina adota
uma metalinguagem para que as referências sejam mais objetivas (vimos essa prática
na Unidade 1). No que diz respeito à língua portuguesa, você já deve ter reparado que
algumas nomenclaturas da escola são mantidas aqui neste material didático, outras são
substituídas, algumas são acrescentadas e há aquelas que nem sequer são mencionadas.
Isso acontece, porque a maneira como a GT trata a língua se difere em vários aspectos,
como já vimos, da maneira como nós resolvemos tratar. A nomenclatura que vamos ver
daqui para frente se refere às orações coordenadas e subordinadas. Na GT, essas noções
são subdivididas em uma lista enorme: as coordenadas podem ser assindéticas ou
sindéticas, já as subordinadas podem ser substantivas, adjetivas ou adverbiais, e dentro
de cada categoria podem apresentar mais subdivisões que determinam a rotularização:
oração subordinada substantiva objetiva direta, oração subordinada adjetiva reduzida,
oração subordinada adverbial temporal, entre muitas outras denominações.
151
2 ORAÇÕES COORDENADAS E SUBORDINADAS
Como mencionado na introdução deste tópico, não temos a intenção de
aprofundar a discussão por meio da nomenclatura da GT. O que faremos aqui, portanto,
é dar um direcionamento à reflexão linguística que parte desses rótulos. É importante
mencionar que nos baseamos nas discussões trazidas por dois materiais tradicionais:
o de Cunha e Cintra (2007) e o de Bechara (2009) para que pudéssemos acrescentar a
perspectiva que estamos construindo ao decorrer do nosso material.
Para início de conversa, pedimos que você volte às unidades anteriores para
se certificar da compreensão de alguns conceitos necessários para prosseguirmos
neste tópico. É muito importante que tenham ficado claros os conceitos de período
simples e período composto, vistos na Unidade 1; a diferenciação entre complemento
e adjunto, que abrem a Unidade 2; e as funções sintáticas, vistas também na Unidade
2. Visando à fluidez deste tópico, vamos retomar aqui alguns pontos, porém eles estão
mais aprofundados nas unidades que antecedem esta discussão, uma vez que, aqui,
usaremos apenas como uma base.
O fato de elas serem colocadas juntas não as fazem termos uma das outras,
porém, uma enriquece a outra em sua totalidade. Este é um caso de período composto
por coordenação e a essas orações autônomas damos o nome de coordenadas. Veja
como são diferentes de um outro período composto por três orações (que não sejam
coordenadas):
(5) Gustavo disse que tem uma aluna que nunca faz tarefa.
Neste caso, os três períodos não podem ser expostos de forma independente:
152
Os gramáticos tradicionais Cunha e Cintra (2007) apresentam a composição
de uma sentença da mesma estrutura que (5) da seguinte forma:
a) Uma primeira oração que é a declaração principal e que não desempenha nenhuma
função sintática em outra oração do período, chamada, portanto, de oração principal.
b) A segunda oração que tem sua existência dependente da primeira, funcionando
como objeto direto do verbo da oração principal, sendo um termo integrante dela.
c) A terceira oração que tem sua existência dependente da segunda, funcionando como
adjunto adnominal (um termo acessório).
Essas orações que funcionam como termos essenciais (b) ou acessórios (c) são
chamadas de subordinadas. Dessa forma, o período que é composto por uma oração
principal e outra(s) subordinada(s) é chamado de período composto por subordinação.
Contudo, talvez você tenha reparado (ou sentido) que há certa diferença entre
as orações coordenadas em (9). Veremos, um pouco à frente, que essa “classe” das
coordenadas é subdividida e é justamente a diferença entre “O Neymar chutou a bola” e
“e eu pensei” que dá respaldo a essa subdivisão. Mas veremos isso logo mais!
Por enquanto, vamos nos certificar da compreensão até aqui. Para seguir, é
importante que você tenha compreendido que a análise de um período composto deve
levar em conta as seguintes considerações:
• A oração principal não exerce nenhuma função sintática em outra oração do período;
• A oração subordinada desempenha sempre uma função sintática em outra oração;
• A oração coordenada pode relacionar-se com outra coordenada, mas em sua
integridade (CUNHA; CINTRA, 2007, p. 610).
(10) É só isso, / não tem mais jeito, / acabou. (“Boa sorte”, canção de Ben Harper e
Vanessa da Mata)
(11) Nós, gatos, já nascemos pobres, / porém já nascemos livres. (“A história de uma
gata”, canção de Chico Buarque)
153
Na frase em (10), dizemos que a oração coordenada é assindética, isto é,
não possui nenhum conectivo. Não é o caso de (11), em que um conectivo [porém],
uma conjunção coordenativa, está presente. Dizemos, então, que é uma oração
coordenada sindética. Mais do que isso, acrescentamos: uma oração coordenada
sindética adversativa, porque veremos que as sindéticas vão, também, ramificar-se de
acordo com o tipo de conjunção coordenativa que compõe a sentença.
NOTA
A nomenclatura longa e bastante específica pode assustar neste momento. São,
muitas vezes, esses rótulos que fazem os alunos pensarem que a língua portuguesa é
difícil. Contudo, convidamos você para uma reflexão acerca desses itens e não apenas
memorização. Você sabe o que é uma oração, certo? Acima, oferecemos
base para você classificar orações entre coordenadas e subordinadas.
Essa é a primeira divisão. Agora, dividimos as coordenadas em assindéticas
e sindéticas, que você também já é capaz de identificar. As sindéticas
serão subdivididas a seguir. As subordinadas serão trabalhadas mais para
frente. O que queremos enaltecer é: neste contexto, a sua capacidade de
análise linguística pode ser muito mais efetiva do que a sua capacidade
de memorização. Portanto, pense nos rótulos com toda a sua essência:
função, construção etc.
(14) O Sol pediu a lua em casamento [...] mas a lua achou aquilo tão estranho. (“O Sol e
a Lua”, canção de Pequeno Cidadão).
(15) O aluno fez toda a lição, porém o professor esqueceu de corrigir.
154
(16) Em Floripa, pode dar sol ou chover ou fazer calor ou fazer frio. Não dá pra saber!
(17) Ou você se comporta, ou não vai sair no fim de semana.
Uma oração também pode ocupar a função de objeto direto. Nesse caso,
retomamos novamente exemplos de Cunha e Cintra (2007):
155
(25) “Ninguém esperava a tua vinda”. (CUNHA; CINTRA, 2007, p. 613).
(26) “Ninguém esperava que viesses”. (CUNHA; CINTRA, 2007, p. 613).
Nesse caso, ao transformar (25) em (26), uma oração passa a ser o objeto direto
(em termos normativos, o termo integrante) da oração principal.
(29) “Ainda não o tinha visto depois da volta”. (CUNHA; CINTRA, 2007, p. 613).
(30) “Ainda não o tinha visto depois que voltara”. (CUNHA; CINTRA, 2007, p. 613).
156
QUADRO 1 – ORAÇÕES SUBORDINADAS
Orações
subordinadas
substantivas
Orações
subordinadas
adjetivas
Orações
subordinadas
Orações
subordinadas
adverbiais
157
NOTA
Se você acha que as funções sintáticas ainda estão um pouco
abstratas na sua mente, retorne à Unidade 2 para fazer uma
revisão. Elas serão muito importantes para o nosso conteúdo!
(36) É assim mesmo! Ela tem a crença de que esse chá vai curar todas as doenças.
(38) Eu espero que o meu irmão faça pelo menos isto: que ajude no serviço de casa.
158
ESTUDOS FUTUROS
A função sintática de aposto não foi abordada no tópico de funções
sintáticas da Unidade 2, porque acreditamos que, devido à forte
relação com a pontuação, ela se enquadraria melhor no Tópico 3
desta Unidade. Assim, você pode fazer relação entre essas partes
(38) As perguntas mais interessantes são feitas por quem leu os textos recomendados.
NOTA
Agora que vimos as orações subordinadas substantivas, não se
esqueça de voltar ao quadro anterior para preencher a terceira
coluna. Faça anotações e comentários que achar pertinentes,
pois eles podem ajudar na análise linguística.
(39) Letícia, que estava com dor de cabeça, não conseguiu ler.
Em (39), “que estava com dor de cabeça” é uma oração que caracteriza o SN
[Letícia]. É bastante comum que essas orações sejam introduzidas pelo pronome relativo
que. Como um adjunto adnominal, a oração subordinada adjetiva pode depender de
qualquer termo da oração, desde que seu núcleo seja um substantivo ou um pronome.
As funções sintáticas dos sintagmas desses núcleos podem ser várias: sujeito
(40), predicativo (41), complemento nominal (42), objeto direto (43), objeto indireto (44),
agente da passiva (45), adjunto adverbial (46), aposto (47) e, até mesmo, vocativo (48).
Os exemplos resgatados de Cunha e Cintra (2007, p. 616-618), mostram como essas
relações entre orações subordinadas adjetivas (em negrito) e núcleo do sintagma
(sublinhados) podem aparecer.
159
(40) Deu-lho a criada
Velha / que trouxe ao colo. (Fernando Pessoa)
(41) Era uma cachopa um tanto atarracada, / que usava meias palmilhadas e anéis
de latão. (Agustina Bessa Luiz)
(42) Na petição de privilégio / que então redigi / chamei a atenção do governo para
este resultado, verdadeiramente cristão. (Machado de Assis)
(44) É mesmo porque vem um apito triste do navio, um pedido de socorro, e a lei do cais
manda que se atenda aos / que no mar pedem socorro. (Jorge Amado)
(45) O clou da festa no Conservatório de Canto Orfeônico foi a saudação lida por um
menino / que é um prodígio. (Manuel Bandeira)
(48) Renego de ti, demônio, / que me estavas a tentar. (Romance de nau Catarineta)
INTERESSANTE
É bastante comum que gramáticas tradicionais, como é o material
de Cunha e Cintra (2007), tragam exemplos da literatura para ilustrar
conceitos. Foi o caso que acabamos de ver. Embora sejam exemplos
que apresentem o que se espera, ainda são exemplos de uma
língua escrita, que é bem comum de ser ovacionada pelos materiais
mais tradicionais. Já apresentamos aqui que a nossa visão de língua
não se limita à perspectiva normativa-tradicional. Então, temos um
desafio para que você exerça sua capacidade analítica: tente buscar
dados de fala para orações subordinadas adjetivas. Uma vez feito
isso, classifique-os de acordo com a função sintática dos sintagmas
aos quais elas se referem. Essa prática pode – e muito – lhe ajudar
na compreensão do conteúdo.
160
Ainda, é preciso entender que essas orações subordinadas adjetivas se sub-
dividem em duas categorias: as restritivas e as explicativas. Essas categorizações são
mais relacionadas à semântica, uma vez que interferem no sentido da frase. Veja as
sentenças a seguir:
(49) Cristiane é uma das professoras que sabe ensinar com maestria.
(50) Cristiane, que é professora, sabe ensinar com maestria.
NOTA
Agora que vimos as orações subordinadas adjetivas, não se
esqueça de voltar ao quadro anterior para preencher a terceira
coluna. Faça anotações e comentários que achar pertinente,
pois eles podem ajudar na análise linguística.
Como o próprio nome indica, essas orações funcionam como adjuntos adverbiais
das orações principais nas quais estão encaixadas. Daqui para a frente, a divisão se
dá pelo sentido que a oração subordinada dá para a oração principal. Esses sentidos
podem ser de causa, condição, comparação, tempo etc. Tente entender a relação que
os nomes apresentam com os sentidos e não faça apenas uma memorização. O seu
aprendizado será mais efetivo!
161
(51) Não veio para a aula, porque estava preso no trânsito.
(52) Como estava chovendo muito, a festa foi cancelada.
(53) Ainda que não participasse da reunião, poderia ao menos ter lido a pauta.
(54) O objetivo é fazer o gol, mesmo que seja de pênalti.
(58) A noiva deu uma cor para que as madrinhas se vestissem com ela.
(59) Preparamos um bolo enorme a fim de que todos comecem bem.
NOTA
Veja que as conjunções poderiam ser omitidas: “Falava tanta mentira,
a boca chegava a tremer” e “Ele jogava tão bem, amedrontava os
adversários”. É preciso saber analisar através do sentido!
162
• Oração subordinada adverbial comparativa.
A oração receberá este nome se apresentar sentido de comparação (composta por
conjunção subordinativa comparativa).
NOTA
Na oração subordinada adverbial comparativa, é comum omitir o verbo
para evitar repetições. Você pode ver isso nos exemplos (64-66).
Embora não esteja no nosso quadro inicial, há ainda outra categoria de orações
subordinadas: as reduzidas. Elas têm uma classificação bastante particular, por isso
preferimos abordá-las separadamente. O que as torna diferentes das outras é que a
oração dependente (subordinada) não se inicia nem por relativos e nem por conjunções
subordinativas. Elas têm verbos em formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio)
– o que caracteriza a primeira subdivisão. Em (73-75), temos, respectivamente, uma
oração reduzida de infinitivo, uma oração reduzida de gerúndio e uma oração reduzida
de particípio:
163
Perceba que os termos em destaque poderiam ser substituídos por “que fique
alerta”, “que voava pela cidade” e “porque estava amedrontado”. É por isso que elas são
classificadas como subordinadas. Essas subdivisões ainda se ramificam mais vezes.
Comecemos com as orações reduzidas de infinitivo, que, no PB, podem ser substantivas
ou adverbiais. No português europeu, há também uma categoria para adjetivas, mas
não abordaremos aqui. As substantivas podem ser subjetivas (76), objetivas diretas (77),
objetivas indiretas (77), completivas nominais (78), predicativas (79) ou apositivas (80).
As adverbiais, no PB, por sua vez, podem ser causais (81), concessivas (82),
condicionais (83), finais (84) ou temporais (85).
(81) Por serem bonitas, todo mundo se encanta quando elas passam.
(82) Eu gosto de cantar no karaokê, mesmo sem saber.
(83) Eu não vou fazer mais nada, a não ser estudar pra prova de Sintaxe.
(84) Tem que conhecer a Maria para poder falar dela dessa forma.
(85) Ao entrar em casa, apagou a luz e foi dormir.
164
Feita essa recapitulação da maneira como as normas veem o encaixamento das
orações, partimos agora para uma abordagem mais ligada à teoria gerativa. Veremos as
chamadas sentenças complexas e relativas.
NOTA
Como vimos na Unidade 1, os gerativistas trabalham com uma
ideia mais formal de língua, no sentido lógico do termo. É comum
fazer formalizações para explicar certos fenômenos, como é o
caso do que chamamos de “árvores sintáticas”, uma espécie
de representação hierárquica, por meio de bipartições, da
formação de enunciados. O nosso objetivo aqui não é trabalhar
profundamente essas árvores – se fosse, teríamos de fazê-lo
desde o início –, mas, sim, oferecer de forma mais descritiva e
explicativa o olhar da teoria sobre o PB.
165
A Sintaxe considera essas duas sentenças como complexas. Veja que elas são
formadas por duas sentenças finitas (não há verbo no infinitivo) que se relacionam. O
trabalho do sintaticista é descobrir como essa relação ocorre. Essa análise é feita a
partir de várias noções que já discutimos aqui: noção de sintagma, noção de funções
sintáticas, noção de argumentação e adjunção etc. Vamos entender, na prática, como
essa análise é feita.
166
(101) [Que o aluno anote a matéria] agrada/alegra o professor.
(102) [Que o aluno não anote a matéria] aborrece/perturba o professor.
INTERESSANTE
Esses verbos, por denotarem uma experiência psicológica, são chamados
de verbos psicológicos. É interessante perceber que, por apresentarem um
sintagma complementizador como sujeito, na oralidade, frequentemente
sejam sentenças em que o sujeito apareça na posição final, o que é comum
aos complementizadores:
Outro tipo de sentença complexa são aquelas que apresentam uma sentença
infinitiva como argumento de um verbo. Perceba a equivalência sintática dos elementos
em destaque das sentenças abaixo:
167
As sentenças complexas também podem ter sintagmas complementizadores
(ou outros) como adjuntos. Para entender isso, é preciso novamente entender as noções
de argumentação e adjunção. Se o verbo já cumpre seus argumentos, mas ainda sobra
elementos na sentença, então, temos adjuntos. Veja a seguir:
(109) “Ela comeu a comida [que ele cozinhou]”. (MIOTO, 2009, p. 82).
(110) “Ela comeu [o que ele cozinhou]”. (MIOTO, 2009, p. 82).
As relativas são divididas entre duas categorias: uma relativa pode ser: (i)
Relativa Núcleo Nominal (RNN) ou (ii) Relativa Livre (RL). A parte destacada na sentença
em (109) é uma RNN, porque ela é um adjunto de um sintagma nominal, comida. Em
(110), temos destacado um exemplo de uma RL, porque ela não tem um nome para se
adjungir.
As RL, por outro lado, não partem de um sintagma nominal. Veja exemplos
dessa outra categoria:
168
(117) “Ele encontrou Maria onde ela mora”. (MIOTO, 2009, p. 84).
(118) “Ele saiu quando ela chegou”. (MIOTO, 2009, p. 84).
(119) “Ele fez o trabalho como nós combinamos”. (MIOTO, 2009, p. 84).
Veja que as RLs podem funcionar como argumento ou como adjunto. Em (114),
a RL é sujeito. Em (115-116), objeto. Em (117-119), elas funcionam como adjuntos do
sintagma verbal.
4 ENCAIXAMENTO NA ESCOLA
Se começarmos este tópico nos perguntando a razão de ensinar encaixamento
na Educação Básica, caímos em várias respostas. Rasos, poderíamos dizer que os
documentos oficiais que servem de diretrizes solicitam o trabalho com coordenação e
subordinação. Contudo, esse não deve jamais ser o pensamento do professor (trabalhar
com assunto x somente por ser solicitado nos documentos). As razões pelas quais
podemos (e precisamos) trabalhar encaixamento na escola, linguisticamente falando,
são várias: (i) sentenças encaixadas são bastante comuns no cotidiano dos falantes,
então eles têm acesso a elas tanto em textos escritos quanto em produções orais, o que
torna a percepção deles mais acessível; (ii) este tema trabalha a noção de sintagma dos
estudantes, assim como os conhecimentos sobre funções sintáticas; (iii) são noções
linguísticas que podem auxiliar na produção e interpretação textual dos estudantes.
E muito mais! Veja que nem nos aprofundamos em uma importância específica da
nomenclatura. É claro que ela se faz importante quando vamos analisar e falar de termos
técnicos, mas não acreditamos que esse deva ser o foco em sala de aula.
169
Veja bem: as sentenças encaixadas são bastante comuns no cotidiano dos
alunos, então muita gramática pode ser (re-/des-)construída (no sentido de Pires
de Oliveira e Quarezemin (2016)) em sala de aula. Os alunos podem coletar dados de
textos e falas para categorizar sentenças, fazendo alusão a uma prática científica. Indo
além, podem investigar como falantes julgam a aceitabilidade de algumas sentenças
(inclusive, sentenças expostas em gramáticas tradicionais, que apresentam, muitas
vezes, conjunções que não são mais usadas), o que possibilita uma reflexão linguística
bem interessante. Mais do que isso, os alunos podem refletir sobre a ambiguidade que
sentenças encaixadas desencadeiam, como o dado abaixo, em que a encaixada [que é
estudante de cinema] pode ser referente ao sintagma [irmão de Julia] ou ao sintagma [Julia]:
DICA
As propostas e sugestões são várias. Por fim,
deixamos uma recomendação! No livro “Ensino
de gramática: descrição e uso”, organizado por
Silvia Rodrigues Vieira e Silvia Figueiredo Bran-
dão, a professora Maria Eugênia Duarte dedica
um capítulo para discutir o ensino de coordena-
ção e subordinação. Vale a pena ler!
170
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• Há várias formas de levar esse conteúdo para o ambiente escolar e o docente deve
saber analisar como adequar isso à realidade em que está inserido.
171
AUTOATIVIDADE
1 De acordo com a gramática tradicional de Cunha e Cintra (2007) , as sentenças
encaixadas são divididas em coordenadas e subordinadas. Sobre esses tipos de
sentença, leia as alternativas a seguir e marque a opção INCORRETA:
3 Como você viu nesta unidade, a perspectiva gerativista trabalha com a noção de
sentenças relativas. Leia as sentenças a seguir e identifique as relativas. Depois,
marque quais são relativas livres (RL) e quais são relativas com núcleo nominal (RNN):
172
4 O trabalho com sentenças encaixadas é exigido pelas diretrizes nacionais de
Educação. Contudo, enfatizamos a importância de que essa não seja a única razão
pela qual se trabalhe com esse fenômeno – o do encaixamento – em sala de aula. De
acordo com o material e as perspectivas adotadas, por que deveríamos trabalhar com
esse tipo de assunto em sala de aula?
173
174
UNIDADE 3 TÓPICO 2 —
TEORIA DO CASO
1 INTRODUÇÃO
Até este ponto, tivemos a oportunidade de conhecer pontos muito instigantes
sobre a Sintaxe da nossa língua, o PB. Aprendemos sobre sintagmas, suas classificações,
quais os papéis que desempenham nas orações e a respeito de muitas outras questões.
Agora, utilizaremos os conhecimentos que obtivemos para estudarmos a fascinante
teoria do caso. Muito basicamente, o caso é uma categoria gramatical que se aplica
sobre os constituintes das línguas a partir da função sintática que tais constituintes
exercem.
Embora essa definição não pareça tão complicada à primeira vista, precisamos
estudá-la com cautela, já que o caso se manifesta de formas diferentes ao longo das
línguas. Em algumas, temos uma manifestação explícita – como é o caso do latim e do
alemão contemporâneo, por exemplo; já em outras, a aplicação do caso é dada de forma
abstrata, sem que, a princípio, nos demos conta disso.
175
Quando, em nosso aparato cognitivo, o verbo seleciona um SN para ocupar
a lacuna fornecida pelo verbo, ele atribuirá caso para esse SN. O caso é, também,
responsável por definir o papel temático que esse constituinte deve ter – que, na situação
de “haver”, é o papel de paciente (ou tema). Portanto, qualquer SN que preencher essa
lacuna será marcado por caso e terá esse mesmo papel temático. Observe o exemplo
em (123), a partir de (122):
DICA
Caso você não se recorde da definição de papel temático,
recomendamos que retorne ao Tópico 4 da Unidade 2, em que
exploramos esse ponto com mais detalhes.
Quando tratamos dos constituintes marcados por caso, podemos alcançar três
generalizações:
• Apenas SNs são marcados por caso: isso significa que o caso é aplicado somente
em sintagmas nominais, sejam eles primários, secundários, terciários etc. Assim,
quando um SP primário tiver um SN como sintagma secundário, por exemplo, esse
SN será marcado por caso, e não o SP.
• Todo SN possui um caso: se houver um SN sem caso, haverá algum problema de
ordem sintática com a sentença, como estudaremos neste tópico.
• São muitos os casos que podem ser atribuídos, o que vai depender da
língua: porém, para fins didáticos, abordaremos somente estes três: nominativo,
correspondente ao sujeito; acusativo, ao objeto direto; e dativo, ao objeto indireto.
176
Consideramos, primeiramente, o caso morfológico. Você já ouviu falar que
determinada língua é uma língua de caso? Esse termo é corriqueiramente dado àquelas
línguas que têm a forma de determinadas palavras alterada em consequência da função
sintática que desempenham na oração, como é o caso do latim, alemão, ucraniano,
russo etc. É um fato que, com o passar do tempo, as línguas estão cada vez menos
manifestando o caso morfológico, o que é uma consequência perfeitamente natural.
Vamos tomar, como exemplo, o latim, a língua-mãe do PB. Nessa língua, uma
palavra como “puella”, que significa “menina”, é flexionada de formas diferentes quanto
ao caso, assim como a palavra “canis”, que significa “cachorro”. Vejamos:
PUELLA CANIS
Nominativo
puella canis
SUJEITO
Acusativo
puellam canem
OBJETO DIRETO
Dativo
puellae cani
OBJETO INDIRETO
177
Essa “falta de importância” da ordem acontece por um fato muito simples: nas
línguas, tanto o caso morfológico quanto a ordem de palavras servem para indicar, em
maior ou menor medida, a função sintática dos SNs. Assim, na ausência de um, o outro
deve se tornar mais fortalecido para compensar essa falta. Podemos comparar, nesse
ponto, o latim com o PB: nessa língua, a simples troca de posição de um sujeito com o
objeto direto muda completamente o sentido da oração – o objeto direto passa a ter a
função de sujeito e vice-versa. Observe:
ESTUDOS FUTUROS
No Tópico 3 desta unidade, abordaremos com mais ênfase
algumas questões relacionadas à ordem predominante do
PB, frente à ordem de outras línguas.
Por esse motivo, podemos considerar que o PB é uma língua de caso morfológico
fraco, praticamente ausente (adiante, estudaremos que ainda existem resquícios de
caso morfológico nessa língua). Afinal, um SN muito simples como “o meu cachorro”
pode assumir várias funções sem que precise sofrer qualquer modificação em sua forma
que possa ser atribuída a caso:
Mesmo assim, essa língua continua manifestando caso! Não nos referimos às
pouquíssimas exceções relativas ao caso morfológico, que abordaremos adiante, mas
ao caso abstrato: o PB é uma língua de caso abstrato predominante. Isso significa que,
ainda que o caso não esteja evidente por meio da flexão ou de qualquer outro recurso
morfológico, ele continua presente nessa língua. A próxima seção, que se dedica a analisar
como o PB se comporta em relação ao caso, explorará mais atentamente essa questão.
178
4 A MARCAÇÃO DE CASO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Como vínhamos discutindo, o caso abstrato é, certamente, predominante
no PB, já que essa língua, em geral, não manifesta alterações em nível morfológico
relativamente a caso. No entanto, a classe pronominal abre uma exceção ao que pode
parecer uma “regra”: trata-se, nessa situação, dos pronomes oblíquos, que, quanto a
caso, podem ser flexionados da maneira como expressa o Quadro 2:
179
Pela comparação entre os quadros, é possível depreender que, em quase
todas as pessoas – à exceção da 1ª do singular e da opção tu/te/ti da 2ª pessoa do
singular, o que parece estar acontecendo com o PB na fala e na escrita menos formal
é a neutralização entre as formas pronominais nominativa, acusativa e dativa. Em
outras palavras, estamos afirmando que parece que essa língua está caminhando
para que esses pronomes não encontrem mais distinção de caso morfológico, o que
representa que ela está paulatinamente enfraquecendo-se enquanto uma língua desse
tipo. Novamente, ressaltamos que essa é uma tendência natural pelas quais as línguas
naturais passam. Contudo, apenas uma análise futura – daqui a algumas décadas ou,
mesmo, séculos – será conclusiva para o PB neste ponto!
No PB, o elemento que atribui o caso nominativo é a raiz do verbo, e quem será
marcado por nominativo será, naturalmente, o SN sujeito. Por sua vez, será o morfema
flexional do verbo que enviará o caso acusativo ao SN objeto direto. Já o caso dativo (ou
oblíquo) é determinado sempre por alguma preposição ao seu SN complemento. Para
entendermos como se dá essa marcação, vamos analisar um exemplo simples:
Agora, podemos estender essa reflexão para a Teoria do Caso, refinando nossas
observações: devendo atribuir caso nominativo para um e somente um sintagma, a raiz
verbal “limp-" atribuirá, também, papel temático a ele. O constituinte remanescente, por
sua vez, ficará sem caso e sem papel temático, e é por esse motivo que ele não pode se
fazer presente nessa construção, uma vez que, segundo essa teoria, todo e qualquer SN
deve receber caso (e, portanto, papel temático).
180
INTERESSANTE
A Teoria do Caso se encarrega de explicar muitas questões sintáticas; dentre elas, a
conhecida estrutura “para mim + [verbo infinitivo]” (como, por exemplo, “para mim
fazer”, “para mim comer” etc.), que é muito comumente rechaçada por gramáticos e,
mesmo, falantes do PB. A crítica ao uso de tal estrutura está impregnada de diversos
tipos de preconceitos, que, inclusive, perpassam o nível linguístico. Quem nunca ouviu
(ou, mesmo, reproduziu), em resposta ao uso de tal estrutura, algo como “mim ser índio”
ou “mim não fazer nada”? Essa é uma reação que acaba por subalternizar expressões
culturais e linguísticas.
Na verdade, sob o ponto de vista lógico e científico, a construção, em tese, faz bastante
sentido! A Teoria do Caso explica, por meio dos postulados da “marcação excepcional
de caso”, que nem sempre o caso se comportará à mesma maneira,
devendo nós, estudiosos da língua, ter uma noção mais abrangente
sobre essa categoria. Por questões didáticas, este tópico, já que
se propôs a trazer questões de ordem introdutória sobre o caso
sintático, não englobará a marcação excepcional de caso. No entanto,
disponibilizamos, como leitura complementar desta unidade, uma
explanação sobre esse conteúdo, para que você aprofunde e
aprimore seus conhecimentos. Além disso, essa leitura é muito
interessante para que não se dissemine qualquer preconceito
e desinformação sobre essa estrutura. Ao contrário, neste
tópico, reunimos o conteúdo para que a informação respaldada
em evidências lógicas e em conhecimento cientificamente
fundamentado seja propagada.
181
LEITURA
COMPLEMENTAR
A MARCAÇÃO EXCEPCIONAL DE CASO (ECM)
Carlos Mioto
Maria Cristina Figueiredo Silva
Ruth Lopes
A parte que esboçamos de Teoria do Caso explicitou que são três os Casos
relevantes para a nossa discussão (também conhecidos como ‘Casos estruturais’), dois
deles atribuídos por núcleos [-N] e um atribuído pelo núcleo funcional I.
Em (22a) a menina recebe NOM [caso nominativo] de I, a flexão finita que aparece
amalgamada ao verbo; o namorado recebe ACC [acusativo] do verbo; e a amiga recebe
OBL [caso oblíquo] da preposição. Que a marcação de Caso é esta fica evidenciado em
(22b) onde os pronomes, que têm os mesmos papéis temáticos dos DPs [SNs], refletem
explicitamente os Casos que os DPs têm.
182
Vamos primeiramente identificar o tipo categoria do complemento de viu e para.
Em [os amigos rirem], as marcas morfológicas presentes na flexão verbal indicam que se
trata de um infinitivo pessoal - já vimos que estes elementos se estruturam como AgrPs
que tomam como complemento um InfP. A pergunta agora é: complementos infinitivos
devem ou não conter uma projeção CP que os introduza? Os infinitivos pessoais diferem
dos infinitivos impessoais a este respeito?
183
Assim, vamos sustentar que o complemento de viu e para em (25) é um CP, apesar
de não haver ali nenhum item realizado fonologicamente que evidencie isto. Portanto,
estamos supondo que infinitivos pessoais possuem uma projeção de concordância e
uma projeção de complementizador. Ainda que aqui esta decisão não seja crucial, ficará
claro, na discussão que segue, o papel que o CP pode ter na introdução de sentenças
infinitivas.
(28a) não traz desconforto porque evidencia uma marcação canônica de Caso:
o núcleo Agr presente no contexto do infinitivo pessoal marca casualmente o pronome
cuja forma deixa ver o Caso NOM. Em (28b), temos em mãos uma marcação casual
que não é canônica, no sentido de que ela não acontece na configuração núcleo-
complemento, como fazem normalmente as preposições e os verbos. Observe que
não é exatamente o complemento que está recebendo Caso da preposição em (28b);
o complemento da preposição não é o pronome mim, mas uma sentença infinitiva, que
a princípio não necessita de marcação casual. Na verdade, o pronome mim, argumento
externo de rir, que está sendo marcado por Caso pela preposição. Esta é a razão pela
qual dizemos que a marcação de caso é excepcional: não é o complemento que recebe
o Caso, mas o ‘filho’ do complemento, digamos assim.
184
(29) a. A Maria viu eu rir.
b. A Maria viu-me rir.
Não deixemos de notar a contradição: aqui a ‘polícia’ atua para coibir (29a),
a sentença em que se verifica uma marcação canônica de Caso: o NOM refletido no
pronome eu é atribuído pelo núcleo Agr do infinitivo pessoal. Agora não incomoda que o
argumento externo do verbo rir exiba, em (29b), o Caso ACC, mesmo que esteja em uma
marcação de Caso excepcional, paralela à que se verifica em (29b).
Um fato interessante evidenciado por (30) é que o Caso não pode provir de dois
marcadores distintos, como o infinitivo pessoal e o verbo matriz. Isto quer dizer que
um mesmo DP não pode receber Caso de dois atribuidores distintos, se por nenhuma
outra razão, pelo fato de que seria impossível dar a este DP uma forma que satisfizesse
simultaneamente os dois Casos - imaginemos o que se passaria em uma língua que
expressa os Caso abstratos via casos morfológicos, como o latim. No português, o
problema só se coloca claramente na morfologia dos pronomes: por exemplo, se o Caso
for Nominativo, o pronome é eu, mas no Caso Oblíquo, a forma seria mim. Qual delas
escolheríamos?
No entanto, este não é o único fato evidenciado por (30). Na verdade, aqui se
recoloca a questão da localidade: quando um núcleo tem condições de atribuir Caso a
um DP em configuração canônica dentro de sua projeção máxima, jamais este núcleo
185
cede a vez para outro atribuidor. De modo muito mais geral, quando um núcleo garante
a existência de uma determinada relação nos seus domínios (isto é, dentro de uma
projeção máxima), fica terminantemente proibida a interferência de outro núcleo para
implementar esta mesma relação nesse mesmo domínio.
É preciso, antes de mais nada, fazer notar que a preposição para e os verbos
ECM formam um conjunto lexicalmente restrito no PB e os itens são marcados
expressamente com esta propriedade no léxico. No reino das preposições, somente
para tem esta capacidade; no domínio dos verbos, também, pouco são os elementos
com esta propriedade: apenas (um subconjunto de) verbos de percepção e verbos
causativos podem atribuir Caso para um DP dentro de um infinitivo impessoal.
FONTE: MIOTO, C.; FIGUEIREDO SILVA, M. C.; LOPES, R. Novo manual de sintaxe. São Paulo: Contexto,
2018, p. 179-184.
186
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• O caso é uma categoria gramatical que se aplica sobre os constituintes das línguas a
partir da função sintática que tais constituintes exercem.
• A raiz verbal marcará o caso nominativo; a sua flexão, o caso acusativo; e a preposição,
o caso oblíquo.
187
AUTOATIVIDADE
1 Sobre a marcação de caso, vista no decorrer desta unidade, leia as frases abaixo e
assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As duas frases possuem, cada uma, um sintagma nominal marcado com caso
nominativo.
b) ( ) As duas frases possuem, cada uma, um sintagma nominal marcado com caso
acusativo.
c) ( ) A frase (a) possui um sintagma nominal marcado com caso nominativo; a frase
(b) possui um sintagma nominal marcado com caso acusativo.
d) ( ) A frase (a) possui um sintagma nominal marcado com caso acusativo; a frase (b)
possui um sintagma nominal marcado com caso nominativo.
( ) “a Mariana”.
( ) “suas terras”.
( ) “-êm”.
( ) “part-”.
( ) “saudades”.
188
3 A seguir, você terá uma sequência de sentenças e algumas afirmações. Consideran-
do estas sentenças, assinale a afirmação INCORRETA:
a) O Roberto
lavou toda
a roupa na
quarta-feira.
b) Pela
manhã, o
trânsito
aumenta
muito.
c) Nós
vendemos
toda a linha
de óculos
pela metade
do preço.
d) A Paula
caminhou
pelo bairro
todo.
e) O carteiro
já entregou a
encomenda
do Marcos
pra ele.
189
5 Observe a tabela a seguir. Nela, existem sintagmas nominais que estão marcados por
casos específicos, delimitados pelas colunas em que se inserem. Sua tarefa é formular
sentenças cujos sintagmas nominais (primários, secundários etc.) se enquadrem
nesses casos. Não insira outros receptores além dos preenchidos. Por fim, escreva
quais são os atribuidores a partir das sentenças que formulou.
a)
- [o sol] [o leste]
b) [os
[os dados] [o alto]
jogadores]
c)
[as crianças] - [noite]
d) [os
[o deputados]
[um e-mail]
presidente] [a segunda-
feira]
e) [a sua
- -
compra]
190
UNIDADE 3 TÓPICO 3 —
A SINTAXE DA VÍRGULA
1 INTRODUÇÃO
Durante o estudo desta disciplina, até agora, conhecemos de que forma o
estudo científico da Sintaxe opera e como podemos analisar a formação de sentenças
a partir de seus sintagmas. Entendemos – pela perspectiva adotada por este livro, o
Gerativismo – que essa organização sintática faz parte de nossa consciência linguística,
e o que fazemos, em Sintaxe, é descobrir e descrever de que forma a organização das
frases acontece a partir de um trabalho de metalinguagem: em uma frase, analisamos
quais sequências constituem sintagmas, qual sintagma exerce a função de argumento
ou adjunto e, se argumento, qual é o papel desse constituinte frente ao predicador verbal.
Essa área, contudo, opera para além dos limites de tais conteúdos. Como
insistimos desde o início deste livro, ter conhecimento teórico da Sintaxe de sua língua
concede ao profissional de Letras uma ampliação muito grande do entendimento a
respeito da organização gramatical que os falantes possuem, além de permitir que ele
mobilize esse conhecimento em seu trabalho na área, aplicando as noções aprendidas
em sua ocupação: como professor, para com seus alunos; como escritor, na melhor
estruturação de seus textos verbais escritos, independentemente dos gêneros a que
pertencerem; como revisor de textos, a fim de assegurar, à melhor forma possível, a
compreensão e adequação textual ao público-alvo.
Este tópico entra em consonância com tais objetivos! Porém, dessa vez, nosso
foco recairá sobre um item muito particular da língua: a vírgula. Nessa etapa, nosso
objetivo é compreender que a Sintaxe é particularmente útil para grafarmos esse sinal
e ensinarmos sobre o seu uso, que costuma ser um grande problema às pessoas.
Para isso, grande parte dos conceitos aprendidos nas Unidades 1 e 2 deste livro será
retomada; assim, não hesite em retornar a tais etapas e “refrescar” a memória, caso isso
seja necessário!
191
2 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O EMPREGO DA
PONTUAÇÃO
Quando tratamos puramente da escrita, estamos em um plano diferente do
que aquele restrito à fala. Nesse caso, consideramos, com Marcuschi (2005), que fala
e escrita são, ambas, duas formas de representação da língua; assim, não é coerente
pensar que a escrita seja uma representação da fala, tampouco vice-versa, embora seja
indiscutível que ambas guardem muitas semelhanças. Observe a Figura 1, que ilustra
essa relação. Nela, representamos que a língua (como um constructo mental) origina
a fala e escrita, que, por serem provenientes da mesma origem, guardam muitíssimas
características comuns, embora uma não derive da outra.
Se estamos assumindo que esses padrões são estabelecidos por meio de regras,
temos de ter em consideração que também as pontuações são utilizadas da forma que
são seguindo parâmetros específicos. Naturalmente, esses padrões mudam ao longo
do tempo, assim como tudo aquilo que envolve a língua. Especificamente a respeito
dessa mudança, Tournier (1980) aponta que, no curso da história, a forma de aplicar
192
a pontuação mais parecida àquela que utilizamos hoje advém da Idade Média. Nesse
período, duas tradições se sobressaíam para explicar como são utilizados os diversos
sinais de pontuação: (i) a de que utilizamos pontos para marcar o que corresponderia
às pausas da fala; e (ii) a de que esse uso é estabelecido em função da gramática, isto
é, considerando a organização gramatical interna a cada frase. Contudo, parecia ser a
última orientação que, de fato, imperava: em geral, a tendência era considerar que havia
uma lógica muito mais complexa para pontuar textos do que, de fato, as pausas da fala.
Apliquemos essa ideia, agora, especificamente às vírgulas, que são o foco deste
tópico. Para esse item, podemos afirmar com segurança que a tradição proeminente
no período medieval prevalece contemporaneamente. Afinal, se sabemos que fala
e escrita são provenientes da organização linguística mental, seria inconsistente
afirmar que as vírgulas dos textos que escrevemos fazem correspondência pura e
simplesmente às pausas que fazemos quando falamos. Na verdade, em muitos casos,
nós inserimos vírgulas nos textos pelos mesmos motivos que fazemos pausas em nossa
fala: para demarcar fronteiras de natureza sintática! É, justamente, por esse motivo
que é fundamental que um estudante (e futuro profissional) de Letras, como um bom
investigador e atuante sobre a língua, compreenda a virgulação sob o viés da Sintaxe.
Quando temos clareza sobre a forma como critérios de natureza sintática interferem no
uso de vírgulas, a aplicação desse sinal se torna mais fácil, lógica e intuitiva.
A posição que tomamos neste ponto explica por que alguns pensamentos sobre
o uso da vírgula como este são naturais e perfeitamente compreensíveis:
A intuição à qual o autor desse tweet se refere nada mais representa do que
nossa consciência linguística – especialmente gramatical – entrando em ação: em
alguns casos, sabemos que devemos inserir vírgulas nos textos que escrevemos porque
estão atuando as regras inerentes ao nosso conhecimento gramatical, de natureza
biológica, transpostas à noção de pontuação já apreendida ao longo de nossa vida.
Quem nunca teve uma sensação parecida com essa?!
193
Em suma, algumas considerações não podem ser esquecidas nessa etapa: que
não é a pausa da fala que determina a inserção de vírgulas; que tanto a fala quanto a
escrita são representações da língua; e que a virgulação, em grande parte dos casos,
representa fronteiras de natureza sintática que possuímos. Mobilizar tais noções será
de fundamental importância para avançarmos ao próximo subtópico, em que nos
deteremos, de fato, em como tais relações acontecem concretamente.
3.1 MOVIMENTO
Começamos este item com um pequeno desafio: pense em uma oração sim-
ples do PB, com um sujeito e um objeto. Agora, descreva a ordem dessa oração: qual
elemento vem primeiro – o sujeito, o objeto ou o verbo? Qual é o segundo e qual é o
terceiro? Claramente, não podemos dar certeza, mas supomos que você tenha pensado
em uma oração como (133), a seguir:
194
Uma sentença como essa é bastante natural para nós, falantes de PB, não é?!
Repare que, nela, o sujeito tende a ocupar a primeira posição, seguido pelo verbo e, por
último, pelo objeto (que, nesse caso, é direto, mas poderia ser indireto também). Essa,
provavelmente, também foi a ordem da sentença que você criou. Isso acontece porque
a ordem sujeito – verbo – objeto é tida como a ordem padrão do PB, o que significa que,
nessa língua, as sentenças nessa ordem serão muito mais frequentes e mais naturais.
DICA
A plataforma on-line do Atlas Mundial da Estrutura das Línguas fornece
muitos dados interessantes sobre os aspectos estruturais de mais de
2.600 línguas. Confira no site: https://wals.info/.
Assumir que cada língua se encaixa em uma ordem padrão significa dizer
que suas sentenças ocorrerão apenas nessa ordem? Absolutamente não! Vamos nos
concentrar no caso do PB: assim como (134), poderíamos ter uma sentença como (2),
em que fazemos certa ênfase no objeto direto:
Assim, com bastante facilidade, produzimos uma sentença OSV numa língua
tipicamente SVO. Mas também poderíamos formular uma oração OVS. Lembramos de
manter a entonação ascendente focada no objeto:
195
No caso do PB, é correto supor que quaisquer sintagmas adjuntos sempre
sucederão a ordem típica SVO. Assim, qualquer que seja a ordenação desses
constituintes, se estiverem após sujeitos, verbos e objetos, nessa sequência, estarão
cumprindo a ordem padrão SVO dessa língua:
Mas em o que, afinal, essa história guarda relação com as vírgulas? É muito
simples: qualquer movimentação de uma sentença a partir de sua ordem padrão (que
acontece, normalmente, da direita para a esquerda) deverá ser sinalizada pela virgulação.
Analise os exemplos em (139-142). Repare que, nestes, o sintagma final é movido para a
posição mais inicial da sentença:
Repare que essa regra não vale somente para o movimento à extremidade
esquerda da sentença. Havendo algum deslocamento, mesmo que seja para outras
posições, esse processo deverá ser marcado, na escrita, por vírgulas. No entanto,
lembre-se de um aspecto importante, que estudamos na Unidade 2: um sintagma
nunca pode romper outro. Então, o alvo desse movimento só pode ser algum lugar no
limite entre sintagmas, ok?! Analise este exemplo:
144) ____ O ser humano ____ produziu ____ notório avanço científico ao longo da história.
146) ____ O ser humano ____ produziu ____ notório avanço científico ao longo da história.
196
148) ____ O ser humano ____ produziu ____ notório avanço científico ao longo da história.
NOTA
Deixamos uma dica de atividade para você praticar essa regra:
ao longo do material, considerando exemplos e teoria, procure
e selecione pelo menos três casos desse tipo de virgulação.
Selecione exemplos em que o sintagma deslocado esteja no
início e, ainda, no meio da sentença. Depois, confira as orações
encontradas com seus tutores e compartilhe suas descobertas
com a turma!
150) Campos Sales, importante político brasileiro, foi o quarto presidente do país.
151) Importante político brasileiro, Campos Sales foi o quarto presidente do país.
152) ?? Campos Sales foi o quarto presidente do país, importante político brasileiro.
197
Conforme estudamos no tópico anterior, os apostos guardam forte relação com
as orações subordinadas adjetivas. Repare que uma modificação muito simples em uma
sentença como (150) pode transformar o aposto em uma oração encaixada. Portanto,
deve-se ter em conta que, para sê-lo, um aposto deve ter como elemento-núcleo um
item nominal, e não verbal, já que esse caracterizará uma nova sentença (nesse caso,
subordinada):
153) Campos Sales, que foi um importante político brasileiro, foi o quarto presidente
do país.
A diferença entre (154-155) não está somente na escrita, pela pontuação: lendo
as sentenças, percebemos que realizamos um trabalho prosódico distinto, ou seja,
aplicamos entonação e pausa de formas diferentes. Esse é mais um indício que nos
indica que, de fato, há uma diferença entre elas.
NOTA
Um macete interessante para sabermos o que é um aposto
é relacionarmos esse conceito à ideia de “aposta”, que é uma
palavra praticamente igual. Toda aposta trata de alguma coisa
e, portanto, deve explicá-la, assim como os apostos! Em outras
palavras, sempre que alguém nos propõe uma aposta, ele deve
explicar, caracterizar, defini-la. Se a aposta for sobre esportes,
por exemplo, quem propõe deve deixar a aposta clara: “se o
time x vencer, eu ganho; se o time y vencer, você ganha”.
198
Os vocativos, por sua vez, fazem referência a com quem ou o que se dirige. Por
isso, podem ser expressões nominais, substantivos, pronomes etc. Pragmaticamente,
a inserção de um vocativo no discurso tem, entre outras funções, o desígnio de
chamar a atenção do interlocutor ou se conectar a ele de certa forma. Como é possível
perceber, esses itens têm estrita relação com o contexto envolvido, devendo remeter
necessariamente a um ser ou elemento saliente no discurso – caso contrário, assim
como acontece com os apostos, a referência será perdida. Observe os exemplos, em
que as expressões destacadas são vocativos:
160) Vou chegar em Santa Catarina por volta da meia-noite, ok, mãe?
INTERESSANTE
A palavra “vocativo” guarda relação etimológica com o latim pelo verbo
“vocare”, que significa “chamar”. Esse significado tem tudo a ver com o
que os vocativos representam: um chamamento do interlocutor!
162) A Clara comprou quadros, louças, ferramentas e tintas pra casa nova.
coordenação entre objetos
199
163) O MASP é um lugar esplêndido, cultural e que todo mundo deveria conhecer.
coordenação entre adjuntos adnominais
Esse trecho necessita reescrita: Mesmo orações, por serem, também, funções
sintáticas, são interligadas por vírgulas e/ou conjunções. É o que estudamos no tópico
anterior, quando tratamos das orações coordenadas sindéticas e assindéticas:
164) Os escoteiros acenderam o fogo, cantaram uma canção e foram dormir à luz
das estrelas.
165) Vou viajar [pro Nordeste] [de avião] [na segunda que vem] [com o meu marido].
NOTA
Por convenção, existem algumas conjunções e expressões
coordenativas que, quando no meio de uma oração, solicitam
vírgulas somente anteriormente, enquanto outras devem ser
precedidas e sucedidas por elas. Estes são alguns exemplos:
EXPRESSÕES COORDENATIVAS
Expressões que
O João dormiu
demandam
mas pois bem como porque nem tarde, mas
vírgula apenas
acordou cedo.
antes
Expressões que
O João dormiu
demandam entretanto
porém assim por isso todavia tarde, porém,
vírgula antes e no entanto
acordou cedo.
depois
200
3.4 ELIPSE VERBAL
Um fenômeno muito comum na língua, também sintático, é a elipse (ou
apagamento), que consiste em omitirmos determinado elemento na língua porque ele
já está, de alguma forma, saliente no contexto. Essa saliência não significa que ele já
tenha sido alguma vez mencionado por alguém, mas, sim, que as pessoas envolvidas no
discurso têm consciência da referência da elipse. Para entender essa questão, considere
estes dois exemplos:
168) A Gabi gosta de dormir tarde, mas ____ detesta acordar cedo.
169) [A Maria e a Cláudia estão observando uma vitrine. A Maria aponta para um vestido:]
— Você achou ____ bonito?
170) A irmã mais velha ganhou uma bicicleta de Natal; já a caçula, uma bola, porque é
muito pequena pra pedalar.
(A irmã mais velha ganhou uma bicicleta de Natal; já a caçula ganhou uma bola, já
que é muito pequena pra pedalar.)
171) Os bancos estão abrindo vagas para estágios; os hotéis, para recepcionistas.
(Os bancos estão abrindo vagas para estágios; os hotéis estão abrindo vagas para
recepcionistas.)
Para além dos verbos e locuções verbais, a elipse também pode envolver o verbo
mais um complemento ou um adjunto. Nesse caso, já que um verbo está elíptico, esse
apagamento necessariamente será sinalizado por uma vírgula na escrita. Assim, podemos
alcançar uma conclusão importante: somente quando a elipse incorporar verbos é que ela
será representada por vírgulas. Estes são alguns exemplos dessa situação:
201
172) Algumas pessoas veem filmes de terror para entretenimento; outras, até para dormir.
(Algumas pessoas veem filmes de terror para entretenimento; outras veem filmes
de terror até para dormir.)
173) Uns turistas vinham pra cá só pra relaxar, mas a maioria, por causa das belas
cachoeiras que possuímos.
(Uns turistas vinham pra cá só pra relaxar, mas a maioria vinha pra cá por causa das
belas cachoeiras que possuímos.)
Repare que, nessa frase, temos duas orações coordenadas que estão
encaixadas a partir de uma sentença principal, introduzida pela conjunção “que”. Como
a coordenação acontece somente entre as duas orações encaixadas, que possuem
sujeitos lexicalmente distintos, elas é que deverão ser separadas por uma vírgula.
Vamos, agora, explorar a ideia de distinção lexical. Para tanto, analise este
exemplo:
175) Hoje, as papelarias estão mais atentas ao gosto do consumidor, e elas fazem
questão de oferecer produtos que brilhem os olhos dos clientes.
202
DICA
Assim como propusemos na etapa de virgulação por movimento,
deixamos, como dica, que você selecione, neste material, exemplos
de inserção de vírgulas por mudança lexical do sintagma sujeito. Se
quiser, estenda a pesquisa para outros textos, como notícias, por
exemplo. Não se esqueça de conferir os exemplos encontrados com
o tutor da disciplina!
203
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• Muitas vezes, sabemos que devemos inserir vírgulas em textos escritos porque estão
atuando as regras inerentes ao nosso conhecimento gramatical.
204
AUTOATIVIDADE
1 Imagine que você é professor de Língua Portuguesa. Em certo dia, você está corrigindo
textos produzidos por seus alunos, que já estudaram os aspectos sintáticos das
vírgulas, e se depara com estas sentenças:
Você nota problemas nas quatro frases e deve dar um feedback a respeito delas para os
estudantes. Sobre o problema que você reportará em cada feedback, associe os itens
utilizando o código a seguir:
I- Mudança de sujeito.
II- Aposto.
III- Vocativo.
IV- Expressões de mesma função sintática.
V- Movimento.
( ) Sentença (a).
( ) Sentença (b).
( ) Sentença (c).
( ) Sentença (d).
2 A partir dos aspectos estudados nesta unidade sobre a sintaxe da vírgula, considere
as frases a seguir e analise as afirmações abaixo:
(a) O mais barato da categoria, o plástico acrílico é um material que mostra mais
resistência do que o vidro e maior durabilidade.
(b) O plástico acrílico, um material de alta durabilidade, mostra mais resistência do que
o vidro, além de ser mais econômico.
205
(c) Comparado com o vidro o plástico acrílico mostra mais resistência e durabilidade,
vencendo-o, ainda, em matéria de preços.
(d) Comumente utilizado nas empresas, o plástico acrílico é mais barato, mais resistente
e mais durável em relação ao vidro.
(a) Em geral, as temperaturas em Minas Gerais são amenas e, nas regiões mais altas,
um pouco mais baixas.
(b) O estado de Tocantins apresenta clima úmido e bastante chuvoso no verão, e o seu
inverno, na maioria das vezes, é bastante seco.
(c) O verão do Espírito Santo é nitidamente chuvoso, e o estado apresenta temperaturas
mais quentes durante todo o ano.
(d) Próximo ao Uruguai, o estado do Rio Grande do Sul tem estações bem definidas,
com muito calor no verão e bastante frio no inverno.
a) ( ) Há pelo menos uma frase que está em desacordo com tais aspectos.
b) ( ) As sentenças (a) e (b) possuem exemplos de virgulação por movimento de
constituintes.
c) ( ) As sentenças (c) e (d) possuem exemplos de virgulação por mudança de sujeito.
d) ( ) As sentenças (a) e (d) possuem exemplos de virgulação por inserção de apostos.
206
a)
• Na garupa do pai, Aline acompanhou o voo
dos pássaros, e o pai, a alegria da filha.
207
5 O quadro a seguir, em cada letra, apresenta duas informações. Utilize-as para
formular uma sentença que as contemple, conforme o exemplo apresentado. Além
disso, a sentença deve conter pelo menos dois usos da vírgula estudados ao longo
deste tópico. Você deve exercitar todos os usos aprendidos. Utilize sua criatividade
para adicionar mais informações e criar as sentenças da forma que preferir!
208
REFERÊNCIAS
BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. São Paulo: Nova Fronteira, 2009.
TOURNIER, C. Historie des idées sur la ponctuation: des débuts de l'imprimerie à nos
jours. Langue Française, v. 45. Paris: Larousse, 1980.
209