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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

MORFOSSINTAXE

SERRA – ES
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1 EMENTA
Análise Morfológica e Sintática da Língua Portuguesa: Conceituação e Finalidade;
Elementos Componentes da Morfologia e Sintaxe da Língua Portuguesa; Linguagem
e sua Articulação; Os Níveis de Análise Linguística; Estudo da Linguística:
Linguagem, Língua e Fala.
2 OBJETIVOS
 Conceituar o termo Morfossintaxe;
 Discorrer sobre a finalidade da análise morfológica e sintática em Língua
Portuguesa;
 Apresentar elementos componentes da morfologia e sintaxe da Língua
Portuguesa;
 Refletir sobre a linguagem e sua articulação na Língua Portuguesa;
 Identificar os níveis de análise linguística.

3 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:

UNIDADE I – MORFOSSINTAXE: CONCEITOS FUNDAMENTAIS


UNIDADE II – MORFOLOGIA DO PORTUGUÊS
UNIDADE III – SINTAXE DO PORTUGUÊS

4 METODOLOGIA DE ENSINO
A disciplina será ministrada partir de: apresentação da ementa; aula expositivo-
dialogada; leitura crítica dos textos; relação entre as leituras e as experiências dos
alunos; discussão em grupo; exibição de vídeos; produção de resumos textuais;
seminário e mesa redonda.

5 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
A avaliação da aprendizagem será contínua, considerando os seguintes critérios:
Participação e envolvimento nas atividades propostas; trabalhos elaborados e
apresentados; leituras realizadas; participação nos estudos em grupo, assiduidade;
construção de quadro teórico conceitual abordando as teorias estudadas no decorrer
do curso.
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SUMÁRIO

UNIDADE I – UNIDADE I – MORFOSSINTAXE: CONCEITOS


FUNDAMENTAIS.....4

1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................4
2. MORFOSSINTAXE: MORFOLOGIA E SINTAXE ................................................................4

UNIDADE II – MORFOLOGIA DO PORTUGUÊS.....................................................14

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................14
2. BASES PARA A ANÁLISE
MORFOLÓGICA.......................................................................24

UNIDADE III – SINTAXE DO


PORTUGUÊS..............................................................31

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................................31
2.SINTAXE E ESTRUTURALISMO LINGUÍSTICO................................................................38
3. ANÁLISE SINTÁTICA ........................................................................................................42
4.SINTAXE E GRAMÁTICA GERATIVO-TRANSFORMACIONAL...............................44
4. REFERÊNCIAS......................................................................................................63
5. BANCO DE QUESTÕES DISCURSIVAS....................................................................65
6. BANCO DE QUESTÕES OBJETIVAS ........................................................................66
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UNIDADE I – MORFOSSINTAXE: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

1 INTRODUÇÃO

Todos nós já estudamos a gramática da Língua Portuguesa nas escolas, logo


sabemos que uma gramática é dividida em várias partes: fonética, morfologia,
sintaxe, entre outras. A divisão foi feita para nos ajudar a compreender como
funcionam as palavras na oração: sozinhas ou em relação às outras.

Porém, tal divisão, às vezes, confunde os alunos, principalmente quando o assunto


é morfologia e sintaxe. Muitos confundem as duas partes e acabam por misturá-las
em uma análise. A morfologia é a parte da gramática que considera a palavra em si
(sozinha), já a sintaxe estuda a palavra em relação às outras que se acham na
mesma oração.

Em resumo, uma palavra exerce na oração duas funções: a morfológica que é a que
a palavra exerce quanto à classe a que pertence (substantivo, adjetivo, pronome,
entre outros) e a sintática, que vem a ser a que a palavra exerce em relação a outros
termos da oração.

Nesse caso, a palavra poderá desempenhar vários papéis (sujeito, objeto, entre
outros). Não é difícil, basta o aluno prestar atenção e saber qual tipo de análise o
professor está pedindo (a morfológica ou a sintática). Porém, às vezes, as duas são
pedidas na chamada análise morfossintática. A partir daqui vamos considerar alguns
elementos da Morfologia e Sintaxe da Língua Portuguesa.

2 MORFOSSINTAXE: MORFOLOGIA E SINTAXE

2.1 DEFINIÇÃO E FINALIDADE DE MORFOSSINTAXE

Ao nos depararmos com o termo “morfossintaxe”, logo de início este nos oferece
subsídios suficientes para compreendermos seu real significado, pois inferimos que
se trata da junção entre a morfologia e a sintaxe. Desse modo, quando fazemos
referência a ambas, devemos ter em mente que se trata de duas partes da
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gramática que, mesmo estando envolvidas entre si, constituem-se de


particularidades distintas.

A morfologia encarrega-se de evidenciar as palavras de acordo com sua classe


gramatical, tendo em vista aspectos relacionados às flexões, número de sílabas,
entre outros. Assim, ao analisarmos a palavra “menino”, constatamos que se trata de
um vocábulo que possui três sílabas, portanto, é um trissílabo e revela-se como um
substantivo comum.

Já em se tratando da sintaxe, temos que esta se ocupa do estudo das funções que
uma dada palavra exerce no contexto oracional, podendo ela exercer diferentes
funções. Partindo de tais pressupostos, vejamos como ela realmente se materializa
na prática, de forma a compreendermos melhor. Para tanto, partiremos do seguinte
enunciado linguístico:

É importante a chegada dos alunos.

Analisando a frase quanto à morfologia, obtemos:

é – verbo ser

importante – adjetivo

a – artigo definido

chegada – substantivo feminino que se originou


do verbo chegar, portanto, derivado

dos – preposição, oriunda da contração entre


“de” (preposição) + “o” (artigo)

alunos – substantivo simples.

Quanto à sintaxe, temos:

é importante – predicado nominal, uma vez que se constitui de um verbo de ligação


(verbo ser)

importante – predicativo do sujeito, pois atribui uma característica a este


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a chegada dos alunos – sujeito simples

dos alunos – complemento nominal, visto que completa o sentido de um nome


(substantivo) – chegada.

No sentido de reafirmarmos acerca do fato de que uma mesma palavra pode


desempenhar funções distintas na oração, analisemos este outro exemplo, tendo
como suporte o termo em destaque:

Os alunos são aplicados – núcleo do sujeito

Os trabalhos dos alunos estão excelentes – complemento nominal

Alunos, coragem! – vocativo

Todos vocês, alunos, precisam ter coragem – aposto

Pedro é aluno – predicativo do sujeito, uma vez que conferiu uma característica a
Pedro

Os trabalhos foram realizados pelos alunos – agente da passiva.

Assim, morfossintaxe é a apreciação conjunta da classificação morfológica e da


função sintática das palavras nas orações. Trata-se de classe das palavras,
emprego de pronomes, relação entre as palavras, concordância verbal e nominal,
oração e período, termos da oração, classificação de orações, vozes do verbo e
colocação de pronome. Na morfossintaxe você precisa classificar morfologicamente
e sintaticamente. "Morfo" é forma, ou seja, a forma das palavras. Dentro da
morfologia estão verbos, adjetivos, artigos, pronomes, advérbios...

"Sintaxe" mexe com o outro lado do português. São os sujeitos, predicados, adjuntos
adnominais, objetos direto e indireto, entre outros. Morfossintaxe junta os dois.
Então você terá que classificar uma palavra morfologicamente, e a mesma palavra,
sintaticamente!

Morfossintaxe é a apreciação conjunta da classificação morfológica e da função


sintática das palavras nas orações. Ou seja, erros de morfossintaxe são erros de
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radical, afixos, desinências, vogal temática, vogal de ligação, consoante de ligação,


sujeito e predicado. (Exemplo: "xicarazeta" – em vez de xicarazinha). Já erros de
vocabulário são os erros que você comete na hora que vai escrever uma palavra.
(Exemplo: O "homem" comeu "lazanha"). O Home Matou o Home.

Pronto! Já descobrimos o conceito de morfossintaxe: por se tratar de duas


palavrinhas juntas em uma só, temos o que ela representa de forma simples: a
análise da classe e da função ao mesmo tempo, ok?

2.2 SINTAGMA E PARADIGMA

O paradigma, o modelo, significa um sistema pré-estabelecido, ou já existente. A


língua é o paradigma. O sintagma é uma atualização, uma concretização do
paradigma. É a utilização dos elementos que contam do paradigma. Exemplos:

“A lua Clara Banha a estrada solitária”.


“O luar argênteo Ilumina o caminho ermo”.

As colunas verticais são os paradigmas, a frase é o sintagma, a fala, a conversa, a


parole. O paradigma é como um depósito onde vamos apanhar o material de que
necessitamos para falar, isto é, as palavras. O sintagma é a concretização de uma
opção; Paradigma é língua, ou langue. As variações linguísticas repousam no plano
da fala; a diacronia tem a ver com o sintagma. A sincronia identifica-se com o plano
da língua, enquanto resultante de relações lógicas e psicológicas, componentes do
sistema.

A sintaxe e a morfologia compõem a gramática de uma língua; outro componente


seria o léxico. A atualização dos elementos da língua nas diversas situações da vida
constitui o discurso (o sintagma), tendo-se como discurso tudo que admite silêncio
antes e depois. A frase é a unidade do discurso, é a atualização dos elementos da
língua por um determinado indivíduo, num determinado momento. E um drama, com
falante, ouvinte e situação, embora a ênfase recaia num dos três elementos. A
distinção entre frase e vocábulo está na entonação, no drama. Há uma sequência:

Fonema→vocábulo→frase.
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Exemplo: eau (francês /ô/ – água).

A extensão e a forma não importam, e sim, a entonação. Na escrita, a entonação é


reproduzida, aproximadamente, pela pontuação. A frase pode se constituir de um só
vocábulo. Exemplo: Paremos; Sim. Fogo! Trata-se, nesses casos, de um vocábulo
complexo, com enunciação relacionada ao contexto, integrada na situação. Há
sempre uma binaridade (situação = contexto extralinguístico). Não é necessária a
significação completa, e sim, um propósito definido. A enunciação pode ser
inconclusa (no caso de citações muito conhecidas). Coordena-se com a mímica, que
pode substituir palavras. A farás pode se completar com contextos situacionais e
linguístico-contextuais. Cada língua tem um padrão frasal. Exemplo: Língua tupi –
“Mel inseto eis ele árvore flores tal colhem ativo; Língua portuguesa: Os insetos
colhem o mel das flores de tal árvore”.

A frase escrita é muito diferente da oral, o destinatário é desconhecido, não há


situação. No discurso escrito, aparece a frase complexa, uma constelação de
subunidades frasais (hipotaxe, ou período subordinado). Exemplo: O bom aluno
estuda porque gosta e aproveita o tempo quanto for possível. – Dividir os sintagmas.

Estilística

O sistema é organizado para a função informativa, na base de uma representação. A


frase é um produto da vida, não é pura informação. É, antes de tudo, apelo,
comunhão, liberação psíquica. Sem o sistema, só haveria gritos. O estilo é a solução
do problema, a forma de chegar à expressão. Preferem-se algumas locuções e
criam-se novas. Há regionalismos e até extravagâncias.

Sistema em Nível Morfo-Sintático

No ato de unificação, o falante recorre a unidades fônicas e significativas para


expressar sua mensagem, e, em seguida organizá-la da maneira que sua língua
exige. Exemplo: Latim – Canis mordet virum – permite várias combinações, o que já
não acontece em português, onde a diferença entre sujeito e objeto depende da
ordem das palavras na frase.

Outro exemplo: Frases negativas:


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Português Não sei Sujeito e objeto ocultos, flexão


verbal marcando o sujeito
Inglês I don’t know Sujeito claro, verbo auxiliar de
negação, flexão não marca o
sujeito
Francês Je ne sais pas Sujeito e objeto claros, flexão
verbal não marca o sujeito

Restrições Sistêmicas

Cada língua escolhe seus morfemas em função das alterações com que ela opera.
Ex: No português há singular e plural para os adjetivos; no inglês, o adjetivo está
sempre antes do substantivo. Por vezes, a ordem dos adjetivos interfere na
significação. “Temos opiniões diversas – Temos diversas opiniões”. Os níveis
semântico e sintático se interpenetram. “Adão comeu a maçã. ” O verbo comer pede
sujeito animado.

Norma

O linguista não faz julgamento de valor, isso compete ao gramático. Para o linguista,
tudo que ocorre na língua interessa. A linguística não prescreve, nem proscreve,
apenas descreve. A língua está sempre em equilíbrio instável. Nenhuma língua é
falada de maneira homogênea. Há variações que podem ser absorvidas pelo
sistema. A língua fornece informações sobre o falante. O conjunto de regras que
atende a um padrão social é a norma, a que é ensinada na escola, aos estrangeiros.
É a contingência social; não pode ser regional, nem popular, nem literária. Deve
assentar-se no uso falado e escrito culto. Há usos expressivos da linguagem
coloquial, mas o ensino da norma culta tem uma função social.

Há interdependência entre a passiva e a reflexiva. (Abriu-se a porta – A porta foi


aberta – Abriram a porta). Daí ocorrem formas como – Haviam livros. A forma
impessoal é mais aceita com verbos intransitivos. A passiva completa é evitada na
linguagem usual. O mais comum, é a omissão do agente. A preposição se prende a
um complemento de meio. A essência da voz passiva é o realce do processo ativo
em detrimento do agente que é esporadicamente incluído no predicado –“o que se
aproxima de um verbo passivo é um verbo ativo usado impessoalmente”.
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As línguas possuem dois níveis de estrutura; sua fonologia e sua sintaxe. A


defasagem entre esses dois níveis é preenchida pela morfologia (flexão). A
diferença entre uma categoria gramatical e uma agramatical é que, nessa não se
respeitam as regras do sistema. Há uma conexão entre a gramaticalidade das
sentenças e a significação dos enunciados reais ou potenciais. Exemplo:
“Levantamos tarde essa manhã”. A mudança de ordem traz leve mudança de
significado. Nas sentenças há relações de constituição – sintagmas. As palavras são
constituintes de sintagmas e esses de sentenças.

Há relações de:

- dependência: regência, valência, transitividade e intransitividade;

- concordância

Essas relações compõem a gramaticalidade da sentença.

2.3 DUPLA ARTICULAÇÃO DA LINGUAGEM

Inicialmente cabe a busca da origem da palavra articulação: Vinda do latim


“articulus” que significa “parte, subdivisão, membro”. Partindo desse princípio ao
dizer que a língua é articulada, tem-se por objetivo afirmar que as unidades
linguísticas são passíveis de serem segmentadas em unidades menores.

As expressões da língua são divididas em dois planos: O primeiro plano é


constituído por unidades dotadas de sentido e a menor dessas unidades chama-se
morfema. Nessa primeira articulação da linguagem, as unidades são compostas de
matéria fônica e sentido, ou seja: significado + significante.

No segundo plano, pode-se dividir os morfemas em unidades ainda menores e,


nessa etapa as unidades ficam desprovidas de sentido passando a serem chamadas
de fonemas. Essa é a segunda articulação da língua, nesse plano da linguagem, as
unidades possuem apenas valor distintivo, já que com a mudança de fonemas
podemos formar palavras diferentes.

A dupla articulação é um fator de economia linguística, pois com poucas dezenas de


fonemas, formam-se diversas unidades de primeira articulação. Se o ser humano
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produzisse um som diferente para cada expressão, teria uma enorme sobrecarga de
memória, fora que o aparelho fonador não teria capacidade de emissão de tantos
sons diferentes tampouco o ouvido conseguiria captar tamanha carga de produção
fônica.

Martinet afirma que a linguagem é duplamente articulada. Portanto, quando se diz


que a língua é articulada o que quer dizer é que as unidades linguísticas são
suscetíveis de ser divididas, segmentadas, recortadas em unidades menores. Para
Martinet, todo enunciado da língua articula-se em dois planos. No primeiro,
articulam-se as unidades dotadas de sentido. A menor dessas unidades é o
morfema.

Para Martinet, a dupla articulação da linguagem é um fator de economia linguística.


Com poucas dezenas de fonemas, cujas possibilidades de combinação estão longe
de ser todas exploradas em cada língua, formam-se milhares de unidades de
primeira articulação. Se os homens produzissem um som diferente para expressar
cada uma de suas experiências ou para designar cada elemento da realidade teriam
uma sobrecarga na memória e, além disso, o aparelho fonador não seria capaz de
emitir a quantidade de sons diferentes necessários para isso nem o ouvido seria
capaz de apreender todas essas produções fônicas.

2.4 AS UNIDADES E OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA

Émile Benveniste, no texto Os Níveis da Análise Linguística, de 1964, considera que


a noção de nível é essencial na determinação do procedimento de análise porque
somente ela é capaz de fazer justiça à natureza articulada da linguagem e ao caráter
discreto dos seus elementos.

Benveniste centra-se na definição das unidades de análise, propondo que cada


unidade de análise é definida em função de sua integração noutra unidade de um
nível superior. Assim, as unidades de um determinado nível se distribuem nesse
nível e são chamadas de unidades constituintes desse nível, as quais, por sua vez,
somente podem ser assim definidas se, simultaneamente, forem também unidades
integrantes de um nível superior. A capacidade de integração em um nível superior
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diz respeito ao sentido; a capacidade de distribuição em um mesmo nível como


constituinte diz respeito à forma.

O que Benveniste chama de nível da análise linguística, então, não é o que


comumente se encontra na linguística geral sob determinados rótulos (a fonologia, a
sintaxe, a morfologia, entre outros). Para Benveniste, um nível se define em função
das relações distribucionais e integrativas que suas unidades têm. Logo haveria
sempre relações que entendemos ser de fronteira entre os planos da língua.

2.4.1 Níveis de Análise

A língua, por ser de natureza articulada, cria diversos estratos de análise que, na
estruturação da mensagem, do maior para o menor, se apresenta na seguinte ordem
hierárquica: texto, frase, sintagma, vocábulo, morfema, fonema e traços distintivos.

NÍVEL TEXTUAL

Este plano, o do discurso, que corresponde à porção mais abrangente da


mensagem, não constitui objeto de estudo da linguística frasal. Pela complexidade, o
nível textual fica provisoriamente excluído dos estudos linguísticos propriamente
ditos. Tais pesquisas ficam a cargo da literatura, que se preocupa basicamente com
a função poética do texto; ou da semiótica, que é a ciência mais abrangente da
comunicação.

NÍVEL FRASEOLÓGICO

A proposição constitui o maior segmento de análise da linguística frasal. Unidade de


comunicação por excelência, a frase representa o ponto de convergência de todas
as unidades de nível inferior, pois é nela que quaisquer de seus constituintes se
definem plenamente. Sob esse ponto de vista, cada frase é única, e sempre nova;
pois jamais se repete numa mesma situação de tempo e espaço no processo de
comunicação.

NÍVEL SINTAGMÁTICO
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A parte da gramática que cuida da construção do sintagma é a sintaxe.

NÍVEL VOCABULAR

O vocábulo divide-se em morfema e é também constituinte do sintagma locucional.


A palavra, em si, é um sintagma; nela, a liberdade combinatória dos morfemas é
praticamente nula ao falante. A unidade vocabular já se apresenta “construída” ou
quase “pronta” para uso do indivíduo no processo de comunicação. Quando
modificada, a palavra sofre alteração apenas de adaptação de concordância ou de
flexão, a partir da unidade apresentada em dicionário. A forma da “palavra”, nessa
concepção, corresponde ao “morfema”; e sem “sentido” está no “sintagma”. A parte
da gramática que estuda a estrutura, formação e classificação da palavra é
denominada morfologia.

NÍVEL MORFOLÓGICO

O nível morfológico é constituído de unidades mínimas significativas da língua. O


segmento básico dessa camada, o morfema, divide-se em lexema e gramema. O
primeiro refere-se a um significado externo à língua, ao mundo antropocultural, são
os conhecidos radicais, da terminologia da gramática normativa; o segundo, de
significação interna no sistema, pode ser representado por marcadores (formas
presas) ou palavras com função e sentido puramente gramaticais (formas livres).

NÍVEL FONOLÓGICO

Corresponde a este plano, o fonológico, ao da camada sonora do sistema. É nessa


categoria de entidades acústicas psicofísicas que a língua, entidade abstrata, se
manifesta. Sem o som, se restringiria unicamente ao plano psíquico, sem
possibilidades efetivas de exteriorizar-se. Na divisão do signo, em significado e
significante, o nível fonológico equivale ao significante. Por ele o significado se
evoca, e a ele o sentido se associa na mente.

NÍVEL MERISMÁTICO

A camada dos merismas não corresponde propriamente a um estrato padrão – tal


como ocorre nos demais planos da hierarquia de análise linguística. Por constituir-se
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de unidades fonéticas não-segmentáveis na realização do fonema, o nível


merismático representa um infranível, uma vez que é simplesmente parte do nível
fonológico.
Por essa razão, o nível merismático se reveste de características específicas que,
evidentemente, não se aplicam às demais porções dos outros planos da análise.
Uma das mais importantes é a não-distribuição em unidade superior.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A visão saussuriana da língua como um sistema de valores está intimamente


associada à sua célebre frase: “na língua só existem diferenças”, ou seja, ela
funciona sincronicamente e com base em relações opositivas (paradigmáticas) no
sistema e contrastivas (sintagmáticas) no discurso.

A visão da língua como um sistema semiológico, a teoria do signo, com seus dois
princípios fundamentais: arbitrariedade/linearidade, a diferença entre sincronia
(funcionamento) e diacronia (evolução), a distinção fonética/fonologia, fone/fonema,
a dupla articulação da linguagem (1ª = plano do conteúdo ou morfossintaxe; 2ª =
plano da expressão ou fonologia), as noções de morfema e gramema, a tricotomia
língua/fala/norma são categorias linguísticas extremamente férteis, todas
decorrentes do pensamento de Saussure e hoje definitivamente incorporadas às
ciências da linguagem.

UNIDADE II – MORFOLOGIA DO PORTUGUÊS

1 INTRODUÇÃO

Nos estudos de Morfologia, dois objetivos norteiam o professor e o especialista:


primeiro, a atualização dos fatos gramaticais que permitirá um novo enfoque
interpretativo, desenvolvido sob um ponto de vista epistemológico; segundo, a
possibilidade de simplificação, visando à economia da língua e ao aprendizado do
estudante.

Em face destes objetivos, duas exigências se impõem: a constância na pesquisa e o


uso adequado dos termos técnicos empregados na descrição dos fatos de língua. É
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o que nos cumpre fazer, inicialmente, caracterizando o termo morfologia.


Destacamos três especialistas para conceituá-lo. Segundo Nida, um dos mais
renomados nomes estrangeiros, "A morfologia estuda os morfemas e seus
encontros na formação de palavras". Para Silveira, outro eminente especialista
dentre os brasileiros, "a morfologia é o estudo dos elementos formais constitutivos
do vocábulo”.

E, para Câmara Jr., que dispensa adjetivos, "a morfologia estuda os morfemas e os
processos de estruturação do sintagma lexical" (i. é. morfemas e processos de
formação de palavras). Vê-se, portanto, que não cabe à morfologia o estudo das
classes de palavras como enuncia a NGB. Câmara Jr. em seu Dicionário de Filologia
e Gramática assim ensina: "Espécies de Vocábulos: estudo das classes de palavras
e suas categorias gramaticais".

É comum dividir-se a morfologia em dois campos: morfologia flexional – estudo das


flexões – e morfologia derivacional – estudo da formação de palavras.

Quanto à técnica de análise, temos a análise mórfica ou análise morfêmica. Estas


denominações são formadas à base de morfema que, em geral, é definido como
unidade mínima significativa, embora nem sempre os autores apliquem,
adequadamente, tal conceito, quando olvidam o traço significativo.

Dependendo do critério linguístico, as análises mórficas serão diferentes. Por


exemplo, se for aplicado o critério mecanicista, de Bloomfield, falar-se-á em
prefixação na palavra receber, uma vez que bastará a comutação entre receber e
perceber para marcar o processo de derivação. Contudo, em um critério semântico-
funcional, estas palavras receber e perceber constitui radicais simples, não se
levando em conta a primeira sílaba re- ou per-, como prefixo, visto que a parte
seguinte – ceber não tem existência livre na língua, não existindo, portanto, o
processo de derivação.

É oportuno lembrar a lição de grandes mestres que não dissociam a significação e


função da forma.

Saussure: "Formas e funções são solidárias e é difícil, para não dizer impossível,
separá-las”. A primeira função do estruturalismo, ainda segundo Saussure: "é
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estabelecer o signo como elemento de união entre significante e significado ou da


expressão e conteúdo".

Câmara Jr.: "A análise mórfica está inelutavelmente ligada aos valores significativos
e funcionais”.

Daí o eminente linguista Pottier ter definido língua como "um funcionamento de
formas portadoras de substância semântica: forma e substância semântica são
aspectos inseparáveis". Assim Pottier define o morfema: "Elemento mínimo distintivo
portador de substância semântica”.

2 BASES PARA A ANÁLISE MORFOLÓGICA

Provavelmente você já escutou alguém falar em análise morfológica. É muito


comum os professores de gramática pedirem aos alunos para fazer a análise
morfológica de alguma frase. Você sabe o que isto significa? Apesar do nome
parecer um pouco complicado e assustador, não precisa se preocupar. A análise
morfológica é um conceito bem simples de entender. Então se você quiser aprender
como realizar esta análise leia o texto abaixo e tudo ficará bem mais claro para você.

Vamos lá? O estudo da gramática da língua portuguesa é dividido em algumas


partes. Temos uma área da gramática que se preocupa em estudar a morfologia e
temos uma área da gramática que se preocupa em estudar a sintaxe. A morfologia é
uma área que se preocupa em estudar as diversas palavras em nossa língua
sempre levando em conta a classe gramatical a qual cada palavra pertence. As
classes gramaticais são, por exemplo, os adjetivos, os verbos, os pronomes, os
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numerais, os adjuntos, as preposições, os artigos, entre outras. Portanto, ao


realizarmos uma análise morfológica estamos nos preocupando em enquadrar as
palavras dentro das classes gramaticais.

Como fazer a análise morfológica

Além da morfologia e da análise morfológica, também existe a sintaxe e a análise


sintática. Esta área da gramática é a área que estuda as funções que as palavras
estão tendo dentro de cada frase. Por exemplo, se a palavra é um aposto, um objeto
direto, um objeto indireto, um complemento nominal, um sujeito, entre outras
funções. Portanto, esta é a diferença entre a análise morfológica e análise
sintática, uma classifica e a outra dá as funções. Vamos a alguns exemplos para
facilitar a sua compreensão.

Exemplo: O dia está bonito. Vamos fazer a análise morfológica desta pequena
frase? Assim, fica mais fácil de entender. Nesta frase temos o “O” que é da classe
gramatical artigo. Temos também a palavra “dia”, que é da classe gramatical
substantivo. Além disto, também temos a palavra “está” que se enquadra na classe
gramatical verbo, o verbo estar, e temos também a palavra “bonito” que se enquadra
na classe gramatical adjetivo.

Pronto. Viu só como é fácil fazer a análise morfológica? Não é nada complicado.
Basta você saber direito quais são as classes gramaticais e quais são as suas
características. Agora experimente realizar alguns exercícios para colocar em prática
o que foi explicado aqui. Desta forma, vai ficar claro para você se deu realmente
para entender ou não. Aposto que você vai tirar de letra!

A análise da estrutura das palavras revela-nos a existência de categorias


morfológicas. Não é fácil definir categorias morfológicas, dada a heterogeneidade do
conjunto tradicionalmente levantado pelos linguistas. O melhor em se tratando
dessas categorias é fazer uma definição extensiva.

Em português, nos interessam as categorias tratadas por soluções baseadas em


flexão. Assim sendo, vamos considerar as categorias de número, gênero, pessoa,
caso, tempo, modo e aspecto. Poderíamos agregar à lista a categoria de definição,
ligada ao uso dos artigos, mas em português esta categoria é um caso limítrofe que
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precisa de abordagem à parte. Em outros idiomas, temos mais categorias como


locativa, voz e categorias de caso mais ricas que a existente em português.

De forma simplificada, consideramos categoria morfológica a solução baseada em


flexão, usada na língua para agregar traços específicos ao significado da palavra.
Esses traços se distribuem de forma complementar, ou seja, quando um está
presente, fica implícita a ausência do outro e todas as ocorrências possuem um dos
traços possíveis.

Número

Nosso sistema de flexão em número comporta singular e plural. Línguas como o


grego apresentam singular, dual e plural. A categoria número tem função semântica,
pois indica singularidade ou pluralidade do significado do termo flexionado. Também
apresenta função sintática, pois as frases em português seguem regras de
concordância em que alguns termos da frase devem concordar entre si em número.

Gênero

Em português, há dois gêneros: feminino e masculino. Não utilizamos o neutro,


presente em idiomas como inglês e alemão. Em alguns casos, a função da categoria
gênero é semântica, como nos pares a seguir:

O menino/a menina, o gato/a gata

Nos exemplos dados, a categoria gênero define um traço semântico, ou seja,


estabelece o sexo do ser representado pelo substantivo.

Em português, muitos substantivos a que não pode associar característica de sexo,


têm gênero implícito. É o que se vê na série a seguir:

O garfo, a colher, a faca, o prato.

Não é possível atribuir característica semântica de sexo aos substantivos do


exemplo, mas em português, mesmo substantivos assexuados estão associados
convencionalmente a um gênero para garantir o funcionamento das regras de
concordância sintática.
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Grau

Em português, há dois sistemas de flexão de grau: o diminutivo-normal-


aumentativo, típico dos substantivos e adjetivos e o sistema normal-superlativo,
usado com adjetivos. Não temos flexão de grau comparativo como ocorre, por
exemplo, no inglês:

John is tall. (João é alto)

John is taller than Paul. (João é mais alto que Paulo.)

John is the tallest. (João é o mais alto.)

Caso

O caso está presente em nossa língua nas flexões dos pronomes pessoais. Observe
o exemplo:

Eu pedi o livro a ele.

Ele entregou o livro a mim.

Nas duas frases, o mesmo ente é representado ora por eu, ora por mim. Eu e mim
têm funções semelhantes, mas são usados em contextos diferentes. Eu é
empregado quando o pronome está em posição de sujeito da frase e mim, quando
em função de objeto. Quando um lexema é flexionado segundo a função sintática
que desempenha na frase, temos flexão de caso.

Em português, os pronomes pessoais apresentam duas flexões de caso: oblíquo e


reto.

A flexão de caso dos nossos pronomes pessoais é um resíduo do latim que


permaneceu em nossa gramática. Em latim, o uso das flexões de caso é bem mais
intensivo, tanto que os substantivos em latim clássico apresentavam seis flexões de
caso.

Pessoa
20

A categoria de pessoa é usada para discriminar as pessoas do discurso. Elas são


três no português: primeira (quem fala), segunda (a quem se fala) e terceira (de
quem se fala).

Tempo

Esta categoria morfológica também é típica dos verbos. Em nosso sistema verbal
temos basicamente três tempos: futuro, passado e presente.

Modo

A categoria de modo está presente no sistema verbal do português. O verbo pode


ser flexionado em três modos diferentes: imperativo, indicativo e subjuntivo.
Simplificadamente, o modo indicativo é empregado para indicar ações de
consumação certa, o subjuntivo para expressar ações hipotéticas ou o desejo de
que determinada ação venha a se consumar e o imperativo é usado para incitar à
ação.

Aspecto

Não existe só uma categoria de aspecto em português, mas três, que agrupamos
em uma só por se manifestarem em apenas algumas flexões do sistema verbal.

De afirmação

O aspecto de afirmação está presente nas flexões verbais do modo imperativo. Este
tempo verbal pode ter aspecto afirmativo, quando se incita positivamente à ação ou
negativo, quando se incita a não consumar a ação.

De consumação

O aspecto de consumação ocorre nas flexões verbais do futuro do modo indicativo.


Este aspecto pode ser confirmado, caso a ação seja considerada como certa no
21

futuro ou então, cancelado, quando a ação é dada como não passível de


consumação futura.

De duração

O aspecto de duração está presente nos tempos verbais do modo indicativo


passado. Temos o aspecto pontual que indica ações consumadas em um momento
específico. O aspecto durativo indica ações que se estendem para aquém e além
de uma determinada marca temporal no passado. O aspecto imperfeito indica ações
continuadas no passado. Por fim, o aspecto anterior indica ação consumada num
passado anterior a uma marca temporal do passado.

Outras categorias morfológicas

Existem mais categorias morfológicas em outros idiomas. Em português, não temos


flexão de voz, como ocorre, por exemplo, no latim clássico. Em nossa língua, a
distinção de voz é feita com soluções sintáticas que dispensam flexão.

O artigo: morfema flexivo de definição

A Gramática Tradicional e as convenções de escrita estabelecem que artigo é


palavra, o que contraria a definição de palavra como forma livre mínima. Mas se
admitirmos que artigo é morfema flexivo, então, temos mais uma categoria de flexão
no português: a definição. A categoria flexiva definição supre a necessidade
semântica de distinguir entre dualidades como: particular/genérico, próprio/comum,
definido/indefinido. Os artigos do português apresentam flexão definida e
indefinida.

Finitude

A Gramática Tradicional considera a categoria de finitude específica dos verbos. Há


duas opções de finitude: finita e infinita. A flexão do verbo é finita quando porta
informação de tempo e modo e infinita quando indeterminada em tempo e modo.

São finitas flexões como: fizemos, fazíamos e faremos.

São infinitas: fazer, fazendo e feito.


22

A rigor, a categoria de finitude pode ser tratada como a categoria das flexões
indefinidas em tempo e modo. Tudo depende de como classificamos as flexões
verbais em português. Optamos por desconsiderar a categoria de finitude em nossa
análise porque não há prejuízo em tratar as flexões infinitas como indeterminadas
em tempo e modo. Com isso, simplificamos a classificação.

Resumindo as possibilidades de flexão de cada categoria morfológica do português


temos a seguinte tabela:

Categoria Flexões
Número Plural e singular
Gênero Feminino e masculino
Grau Aumentativo, diminutivo, normal, e superlativo
Caso Oblíquo e reto
Pessoa Primeira, segunda e terceira
Tempo Futuro, passado e presente
Modo Imperativo, indicativo e subjuntivo
Aspecto de Negativo e positivo
afirmação
Aspecto de Cancelado e confirmado
consumação
Aspecto de Anterior, durativo e pontual
duração
Definição Definido e indefinido

Vejamos, então, as principais propriedades do constituinte morfológico da Flexão.

2.1 FLEXÃO

Flexão é o processo morfológico de formação de palavras que se caracteriza pela


sua obrigatoriedade e sistematicidade: se uma dada categoria de palavras é
flexionável numa dada categoria morfossintática (por exemplo, os adjetivos
flexionam em número), então todas as palavras pertencentes a essa categoria
sintática são flexionáveis na referida categoria morfossintática (todos os adjetivos
flexionam em número). Por outro lado, a realização da flexão só pode variar em
função de subclasses morfológicas identificadas no domínio da categoria de
palavras em questão.

Assim, em português, é necessário distinguir a flexão nominal da flexão verbal: os


adjetivos e os nomes flexionam em número (Nº) e os verbos flexionam em tempo –
23

modo – aspecto (TMA) e pessoa – número (PN). As preposições e os advérbios são


palavras invariáveis.

2.1.1 Flexão Nominal

A flexão nominal diz respeito aos nomes e aos adjetivos e, no português, realiza
uma categoria morfossintática – o número – que possui dois valores: singular e
plural. Dado que, por definição, a flexão é obrigatória e sistemática, espera-se que
todos os nomes e todos os adjetivos exibam contrastes de número e que os
realizem sempre do mesmo modo.

Na verdade, a observação dos dados mostra que a maioria dos nomes e a maioria
dos adjetivos apresentam uma forma para o singular e outra para o plural, e que o
contraste é realizado pela ausência ou presença de um único sufixo (gato/ gatos;
esperto/ espertos): no singular, a flexão dos nomes e dos adjetivos opera no vazio,
ou seja, não existe nenhum sufixo para este valor de número, podendo admitir-se
que esse valor de número é assumido por defeito; o plural dispõe de um sufixo
próprio, que é – s.

No entanto, a observação dos dados também mostra que existem nomes que têm
uma flexão defetiva e nomes e adjetivos que, aparentemente, não realizam a flexão
em número da forma esperada, ou seja, por recurso ao sufixo – s

Quanto à defetividade, ela pode afetar a forma do singular, como se verifica em


anais ou calças, a forma do plural, o que se verifica nos nomes próprios (Exemplos:
Filipe, Luísa) ou as duas formas, nos casos em que o singular e o plural têm
diferentes significados (Exemplos: óculo/ óculos, féria/férias, costa/costas).

À exceção dos nomes próprios, todos os outros casos são reduzidos em número e
estão lexicalizados, não afetando a gramática da flexão dos nomes. No que diz
respeito aos nomes próprios, a restrição deve ser modalizada: eles podem ser
flexionados no plural (Exemplos: Filipes, Luísas), o que tipicamente não podem é
manter a sua interpretação de nomes próprios, remetendo para uma única entidade,
a entidade que é portadora daquele nome próprio e que é singular. O plural de um
nome próprio pode remeter para o/um conjunto de entidades que partilhem essa
24

propriedade, como uma dinastia (Exemplo: os Filipes), uma família (Exemplo: os


Pachecos), uma associação onomástica (Exemplo: os Joaquins), ou uma mera
conjunção de pessoas possuidoras do mesmo nome próprio (Exemplo: as Luísas).
Pode, assim, concluir-se que não é o contraste morfológico de número que está em
questão, mas sim a interpretação semântica das duas formas em oposição.

Aliás, a interpretação semântica dos contrastes de número não diverge apenas no


caso dos nomes próprios - os massivos também se apresentam como um caso
particular. Nos nomes contáveis (Exemplo: cadeira), o contraste de número remete
para um contraste de cardinalidade: o singular refere uma unidade, ou um conjunto
de unidades que formam um todo se se tratar de um nome coletivo como rebanho
ou multidão; o plural refere mais do que uma unidade. Nos nomes massivos
(Exemplo: água), o contraste de número tem uma interpretação mais complexa,
frequentemente relacionada com uma tipologia ou com uma medida (vejam-se as
interpretações mais imediatas para uma sequência como duas águas).

Quanto à forma de realização dos contrastes de número dos nomes e dos adjetivos,
a assistematicidade é apenas aparente: pode tratar-se de uma mera alternância
gráfica, exigida pela ortografia do português (Exemplo: refém/reféns, bom/bons), ou
de alternâncias fonéticas condicionadas pelo contexto fonológico (Exemplo: mão/
mãos, pão/pães, sabão/sabões, papel/papéis, azul/azuis, cais/cais, simples/
simples).

Nos compostos, a flexão em número é sensível à sua estrutura. Os compostos


morfológicos têm um comportamento idêntico ao das restantes palavras (Exemplo:
a). Nos compostos morfossintáticos, a flexão opera sobre o constituinte que é o
núcleo do composto: nos compostos com núcleo à esquerda, a flexão é marcada
apenas nesse constituinte (Exemplo: b); nos compostos coordenados, a flexão é
marcada em todos os constituintes e com idêntico valor (Exemplo: c), nos compostos
formados por reanálise, a flexão não reconhece a estrutura interna, operando como
se se tratasse de uma palavra simples (Exemplo: d).

a. cronômetro luso-brasileiro
25

cronômetros luso-brasileiros

b. bomba-relógio

bombas-relógio

c. trabalhador-estudante surdo-mudo

trabalhadores-estudantes surdos-mudos

d. quebra-mar

quebra-mares

2.1.2 Flexão Verbal

Como foi já referido, no português a flexão verbal é sensível à conjugação a que o


verbo pertence. As três conjugações habitualmente consideradas são identificadas a
partir da forma do infinitivo em que a vogal temática está sempre presente.

Primeira conjugação: falar

Segunda conjugação: bater

Terceira conjugação: partir

Estas conjugações têm, no entanto, diferentes comportamentos morfológicos: por


um lado, só a primeira conjugação acolhe novas palavras; por outro lado, todos os
verbos irregulares pertencem à segunda ou à terceira conjugações. Esta situação é
historicamente motivada: em latim, a primeira conjugação (tema em – a) era já a
mais produtiva e a transposição do sistema latino de quatro conjugações para um
sistema de três conjugações no português afetou basicamente a segunda e a
terceira.

Posteriormente, alguns verbos que entraram no português para a segunda


conjugação passaram mais tarde para a terceira:

caer cair
26

confonder confundir
correger corrigir
finger fingir
empremer imprimir
traer trair

Estas perturbações na diacronia das conjugações verbais são particularmente


visíveis em paradigmas de verbos morfologicamente relacionados, por partilharem
um mesmo radical latino, ou em formas divergentes de um único radical latino:

cometer admitir
intrometer vs. confundir
meter corrigir
prometer fingir
remeter imprimir
submeter trair

converter vs. advertir


perverter vs. divertir
reverter
verter
A atual sincronia do português mostra que a distribuição dos verbos por três
conjugações (e que é visível em formas do infinitivo, como falar, bater, partir) é, de
fato, substituída por uma dicotomia entre a primeira conjugação, por um lado, e as
duas restantes, por outro:

fal a vs. bat e part e


fal ei vs. bat i part i
fal ava vs. bat ia part ia
fal ei vs. bat i part i
fal e vs. bat a part a
fal ado vs. bat ido part ido
27

Em suma, a segunda e a terceira conjugações do português devem ser


interpretadas como um resíduo de contrastes morfológicos desaparecidos, sendo,
assim, mais compreensível que a distinção entre elas tenda a ser neutralizada.

Em português, a flexão verbal gera as chamadas formas simples e opera em duas


categorias morfossintáticas: tempo-modo-aspecto, que codifica morfologicamente
informação sobre tempo, modo e aspecto, e pessoa-número, que codifica a
concordância com o sujeito frásico.

Os valores de tempo-modo-aspecto (TMA) repartem-se por dois grupos: o primeiro é


constituído por paradigmas que também flexionam em pessoa-número (Exemplo: a)
e no segundo integram-se as chamadas formas nominais do verbo (Exemplo: b):

a. Pretérito mais-que-perfeito do indicativo

Pretérito perfeito do indicativo

Pretérito imperfeito do indicativo

Presente do indicativo

Futuro do indicativo

Pretérito imperfeito do conjuntivo

Presente do conjuntivo

Futuro do conjuntivo

Condicional

Imperativo – forma afirmativa

Imperativo – forma negativa

Infinitivo flexionado

b. Infinitivo
28

Gerúndio

Particípio passado

Os sufixos de tempo-modo-aspecto identificáveis na flexão verbal do português são


os seguintes:

1ª Conjugação 2ª e 3ª Conjugações
Indicativo Pretérito mais-que-perfeito Ra
Pretérito imperfeito va A
Conjuntivo Pretérito imperfeito Sse
Presente e A
Futuro r (Exemplo: a)
Infinitivo r (Exemplo: b)
Gerúndio Ndo
Particípio Do

Os valores de pessoa-número (PN) estabelecem uma distinção entre três pessoas –


primeira, segunda e terceira – referidas individualmente, no singular, ou
conjuntamente, no plural.

a. Primeira pessoa do singular

Segunda pessoa do singular

Terceira pessoa do singular

Primeira pessoa do plural

Segunda pessoa do plural

Terceira pessoa do plural

Os sufixos de pessoa-número que se associam aos sufixos de tempo-modo-aspecto


anteriormente identificados, à exceção do infinitivo, gerúndio e particípio, são os
seguintes:

Segunda pessoa do singular S


29

Primeira pessoa do plural mos


Segunda pessoa do plural des (Exemplo: c)
Terceira pessoa do plural M

Em seis paradigmas de flexão verbal (pretérito mais-que-perfeito e pretérito


imperfeito do indicativo, pretérito imperfeito, presente e futuro do conjuntivo e
infinitivo flexionado), as categorias de tempo-modo-aspecto e pessoa-número são
realizadas por sufixos independentes, gerando uma sequência em que o sufixo de
tempo-modo-aspecto precede obrigatoriamente o sufixo de pessoa-número.

Note-se que a especificação da primeira e da terceira pessoas do singular destes


paradigmas são formalmente ambíguas entre si (Exemplo: b), dado que não
dispõem de nenhum sufixo próprio. Nestes casos, a flexão em pessoa-número opera
no vazio:

b. falara

falava

falasse

fale

falar

Este tipo de ambiguidade formal também afeta a totalidade dos paradigmas do


futuro do conjuntivo e do infinitivo flexionado:

c.

Futuro do conjuntivo Infinitivo flexionado


falar falar
falares falares
falar falar
falarmos falarmos
falardes falardes
falarem falarem

O presente e o pretérito perfeito do indicativo não dispõem de sufixos distintos para


TMA e PN. O sufixo de flexão que ocorre nestes paradigmas é uma amálgama de
tempo-modo-aspecto e pessoa-número:
30

Presente do indicativo Pretérito perfeito do indicativo


fala o fale i
falar s fala ste
fala falo u
fala mos falá mos
fala is fala stes
fala m fala ram

Tendo em conta a análise acima apresentada, a ambiguidade que afeta as formas


de terceira pessoa do plural do pretérito-mais-que-perfeito e pretérito perfeito do
indicativo (Exemplo: falaram) é uma ambiguidade fonética, mas não estrutural: o
sufixo amálgama de tempo-modo-aspecto e pessoa-número (Exemplo: -ra) e um
sufixo de pessoa-número (Exemplo: -ram) que está presente nas formas do pretérito
perfeito é distinto da sequência constituída por um sufixo de tempo-modo-aspecto
(Exemplo: -ra) e um sufixo de pessoa-número (Exemplo: -m), que integra as formas
do pretérito-mais-que-perfeito.

Até aqui não foi feita referência ao imperativo, ao futuro do indicativo e ao


condicional. Relativamente ao imperativo, cabe uma nota particular dado que este é
o único paradigma da flexão verbal em que é necessário distinguir a forma que
ocorre em frases afirmativas da forma que ocorre em frases negativas, ainda que a
distinção só afete a segunda pessoa do singular (Exemplo: canta vs. não cantes).
Por outro lado, à exceção da segunda pessoa do plural do imperativo afirmativo
(Exemplo: cantai, bebei, fugi), todas as restantes são formas supletivas do presente
do indicativo e do presente do conjuntivo.

Quanto ao futuro do indicativo e ao condicional, estes paradigmas merecem uma


referência autônoma por um conjunto de razões. Note-se, por exemplo, que estas
são as únicas formas que permitem a ocorrência de mesoclíticos:

falar-lhe-ei

bater-te-íamos

Do ponto de vista morfológico, a propriedade mais relevante tem a ver com o fato de
estas formas não serem estruturas morfológicas básicas. Com efeito, o futuro do
indicativo e o condicional são uma espécie particular de compostos, constituídos
31

pela forma do infinitivo de um verbo principal e terminações do presente do


indicativo e do imperfeito do indicativo do verbo haver, respectivamente:

a. Futuro do indicativo b. Condicional


falar (h) ei falar (hav) ia
falar (h) ás falar (hav) ias
falar (h) á falar (hav) ia
falar (h) emos falar (hav) íamos
falar (h) eis falar (hav) íeis
falar (h) ão falar (hav) iam

Falta, ainda, referir as chamadas formas nominais do verbo, ou seja, o infinitivo, o


gerúndio e o particípio passado. Nestas formas ocorre apenas um sufixo da
categoria de tempo-modo-aspecto (respectivamente, -r, -ndo e -do), sendo
paradigmas defetivos em pessoa-número.

Note-se, por último, que alguns verbos são defectivos por razões de natureza
fonética: vejam-se, por exemplo, (algumas d) as formas rizotônicas de verbos como
abolir, demolir, falir (Exemplo: abole, demoles, falo). Outros são defectivos por
razões de natureza semântica: alguns verbos não podem ter um sujeito [+humano],
o que bloqueia a flexão de primeira pessoa singular ou plural. É o que se passa com
os verbos que referem as chamadas ‘vozes dos animais’ (Exemplo: ladrar, miar,
zurrar), fenômenos meteorológicos (Exemplo: chover, nevar, trovejar), ou verbos
como acontecer. Esta defetividade não afeta, no entanto, a sua morfologia:
formalmente, palavras como demoles, miei, ou ladrámos são gramaticais e em
alguns registros discursivos metafóricos elas podem mesmo ser encontradas.

UNIDADE III – SINTAXE DO PORTUGUÊS

1 INTRODUÇÃO

A Linguística pode ser conceituada como uma ciência que estuda a linguagem. O
desenvolvimento desta ciência e a maneira de entender como funciona a linguagem,
além dos mecanismos de formação e evolução das línguas faladas, criou a base
para o surgimento de pesquisas e teorias acerca do assunto. Várias correntes, cada
uma com suas peculiaridades, surgiram com o intuito de estudar cientificamente a
linguagem, entre elas destacam-se: o estruturalismo, o funcionalismo e o
gerativismo.
32

As ideias desenvolvidas por Wilhelm Von Humboldt consistiam em que a língua era
um organismo vivo, uma manifestação do espírito humano, era atividade e não um
ato. Essa concepção estruturalista do estudioso foi precursora do estruturalismo
linguístico de Ferdinand de Saussure. O estruturalismo não utilizava mais o método
comparativista, abandonava-se então a descrição histórica da língua e enfatizou-se
o estudo da linguagem em si mesma e seu caráter social.

A linguística de Saussure deu o "pontapé" inicial para que os estudiosos


desenvolvessem novas pesquisas e teorias. Assim surgiu a base do funcionalismo, a
Escola de Praga, de 1926, que era formada pelos linguistas russos, Serguei
Karcevski, Nikolai Trubetskoi e Roman Jakobson, entre outros, tendo os dois últimos
como os principais expoentes da corrente.

O funcionalismo, pois, nasceu com a necessidade de conceituar a fonologia e sua


importância no sistema da língua, e ainda enfatizaram a importância de distinguir a
fonética da fonologia. Os funcionalistas da Escola de Praga, em principal Nikolai
Trubetskoi, definiram também o fonema como sendo uma unidade mínima do
significante presente no plano da língua, além de definir o conceito de traços
pertinentes, distintivos ou funcionais dos fonemas.

Uma outra corrente, ainda ativa atualmente é a corrente gerativista, que teve início
nos Estados Unidos, com o pensamento do linguista norte-americano Noam
Chomsky. O estudioso propunha uma gramática universal que explicasse o
funcionamento das estruturas linguísticas da aquisição e a capacidade de uso da
língua através do estudo das faculdades mentais. Eis o papel do gerativismo: "[...]
constituir um modelo teórico capaz de descrever e explicar a natureza e o
funcionamento dessa faculdade mental" (KENEDY, 2008, p. 129).

A corrente linguística do Estruturalismo teve seu marco inicial no século XX quando


o linguista Ferdinand de Saussure publicou o Cours de Lingüistique Générale em
1916, uma obra publicada após a sua morte, que foi elaborada por alguns de seus
alunos. A referida obra póstuma reacendeu discussões acerca da distinção entre
língua e fala; forma e substância; a noção de pertinência; e as noções de
significante, significado e signo.
33

Vale salientar algumas das distinções suscitadas por Saussure, no ponto de vista de
Leroy (1971): a primeira delas é a distinção entre língua (langue) e fala (parole), a
língua é a parte social da linguagem em que o indivíduo falante não pode modificá-
la, sendo um fenômeno externo a ele; e a fala, diz respeito ao ato linguístico
particular psicofisiológico de cada um.

Sobre o signo linguístico, Saussure (1969, p. 18) diz que "[...] a língua é conhecida
como um sistema de Signos"; ele faz uma conexão entre um significante (imagem
acústica) e um significado (conceito), cuja relação de ambos se define em termos
paradigmáticos e sintagmáticos.

E finalmente, uma das principais discussões suscitadas pelo linguista, foi a


proveniente da distinção entre o estudo sincrônico de uma língua, que consiste na
descrição da estrutura de uma língua em certo momento no tempo; e o diacrônico,
que nada mais é do que a descrição histórica de uma língua, que leva em
consideração os diversos estágios sincrônicos dessa mesma língua.

Saussure, portanto, considerou mais importante os estudos sincrônicos, pois


acreditava que o estudo sincrônico da língua revelava sua estrutura essencial, para
o linguista: "[...]. A língua é um sistema em que todas as partes podem e devem ser
consideradas em sua solidariedade sincrônica" (SAUSSURE, 1969, p. 102). Foi
então a partir dessa predileção pelos estudos sincrônicos da linguagem que se
baseou a linguística estruturalista.

Para Saussure (apud LEROY, 1971, p. 109), portanto, "a língua não é um
conglomerado de elementos heterogêneos; é um sistema articulado, onde tudo está
ligado, onde tudo é solidário e onde cada elemento tira seu valor de sua posição
estrutural".

Em síntese, Saussure propôs a apreensão de toda a língua como um sistema,


dentro do qual cada um de seus elementos não são definidos, a não ser pelas
relações de equivalência ou de oposição que mantém com os demais. Esse conjunto
de relações formam a "estrutura" de uma língua.

Isto posto, Benveniste (1974, p. 8), que baseou sua obra Problèmes de Linguistique
Générale na obra de Saussure, o referido autor aponta como um fato curioso, que
34

no Cours de Lingüistique Générale a palavra "estrutura" não aparece na referida


obra. Ainda segundo o autor francês, "o estruturalismo é a suposição de que se
pode estudar uma língua como uma estrutura".

Outro importante linguista estruturalista é o norte-americano Leonard Bloomfield,


considerado o fundador do estruturalismo nos Estados Unidos da América, tendo
como marco a publicação do seu livro Language em 1933, onde estão presentes as
ideias de Saussure. Segundo Lepschy, o estruturalismo de Bloomfield era muito
analítico e descritivo dando enfoque no estudo da sintaxe e da morfologia, partindo
da frase como uma unidade máxima analisável.

O linguista empregou métodos de "dissecar" os seus elementos constituintes até


chegar à unidade mínima de significado e indivisível, o morfema. Isto posto,
Bloomfield influenciou muitos linguistas norte-americanos a dedicarem-se aos
aspectos formais dos fatos linguísticos.

Já o Funcionalismo era uma corrente linguística que encarava a linguagem como


sendo um recurso a ser utilizado na interação social entre os falantes de uma língua.
O seu surgimento data de 1926, com a fundação do Circuito Linguístico de Praga
que teve seu impulso inicial com o estruturalismo de Ferdinand de Saussure,
contando com a contribuição dos linguistas Trubetskoï e Roman Jakobson, entre
outros, sendo os dois citados, os que mais se destacaram.

Segundo Silva (2010), em seu artigo O Funcionalismo e suas Contribuições para o


Ensino da Língua, Trubetskoi, enfatizou seus estudos na diferenciação entre a
fonologia e a fonética. Para Trubetskoi, os sistemas fonológicos (fonemas) possuem
funções ou traços distintos entre si, tais como: os traços pertinentes, traços
distintivos ou traços funcionais. Já a contribuição de Jakobson, deu-se no fato da
formulação de um esquema de elementos da comunicação e posteriormente,
desenvolveu as funções da linguagem atreladas às finalidades comunicativas.

A Escola de Praga, como foi designada posteriormente, também recebeu a


importante contribuição do psicólogo, Karl Bühler, que desenvolveu uma teoria
acerca das funções da linguagem. Ainda segundo Silva, para Bühler, havia três
funções no ato da comunicação: a expressiva, a informativa e a estética. Jakobson,
35

posteriormente, fez sua contribuição adicionando novos conceitos e elementos ao


processo comunicativo, como as noções de referente, emissor e receptor, e o canal,
o código e a mensagem.

Jakobson manteve as três funções anteriormente desenvolvidas por Bühler, porém


deu uma nova nomeação: função referencial, função emotiva e função conativa,
acrescentando ainda mais três funções: fática, metalinguística e poética. A título de
exemplo, uma das noções desenvolvidas na Escola de Praga, foi a noção de
marcação, que nas palavras de Barbara Weedwood conceitua-se: "[...]. Quando dois
fonemas são distinguidos pela presença ou ausência de um único traço distintivo,
diz-se que um deles é marcado e o outro, não-marcado para o traço em questão"
(WEEDWOOD, 2002, p. 141).

Isto posto, na Língua Portuguesa o feminino é a forma marcada, e o masculino é


tratado como uma forma neutra. A autora utiliza o exemplo entre égua e cavalo,
sendo a primeira a forma marcada e o segundo a forma não-marcada. Este,
segundo Weedwood, é o sentido mais abstrato da marcação em que a presença ou
ausência de um afixo explícito não é necessário, como no caso do verbo regular
jump em inglês e sua forma no passado: jumped. Neste último caso o primeiro é a
forma marcada e o segundo a não-marcada.

Ainda segundo Barbara Weedwood, a principal contribuição do funcionalismo à


ciência da linguística, no período do pós-guerra, foi a distinção entre tema e rema, e
a noção da "perspectiva funcional" da frase ou "dinamismo comunicativo" que é a
forma de como a função comunicativa se relaciona com o contexto de um
enunciado, determinando assim a estrutura sintática de uma frase. O tema pode ser
entendido como tópico ou assunto psicológico; e o rema "é a parte que veicula
informação nova".

O funcionalismo, pois, concebe a linguagem como um recurso que proporciona a


interação social, permitindo aos indivíduos relacionarem-se e expressarem-se uns
com os outros validamente. A citação a seguir expressa de forma muito clara a visão
funcionalista da linguagem:

A linguagem não é simples emissão de sons, nem simples sistema


convencional, como quer um certo positivismo, nem tampouco tradução
36

imperfeita do pensamento, vestimenta de ideias mudas e verdadeiras como


a concebe um pensamento idealista. Pelo contrário, é criação de sentido,
encarnação de significação e, como tal, ela dá origem à comunicação
(LEITE, apud SILVA, 2010).

Por fim, a corrente de estudos linguísticos denominada gerativismo, teve seu início a
partir dos trabalhos do linguista Noam Chomsky. Ela foi inicialmente formulada como
uma oposição e rejeição ao modelo behaviorista da linguagem. Modelo este
embasado na premissa de que a linguagem "[...] era um fenômeno externo ao
indivíduo, um sistema de hábitos gerado como resposta a estímulos e fixado pela
repetição" (KENEDY, 2008, p. 128). Ou seja, a linguagem, para os behavioristas,
nada mais era do que um fenômeno dependente do condicionamento social,
proveniente da interação social entre os falantes de uma língua. Chomsky, criticando
a visão condicionada da linguagem, afirmou que todo ser humano era um ser
criativo, capaz de construir frases e ideias novas, jamais proferidas antes, e também
aplicando em sua fala regras gramaticais informais.

Ao contrário dos behavioristas, que afirmavam ser a linguagem um fenômeno


externo, Chomsky afirmou ser ela um fenômeno interno do falante, uma capacidade
genética. Esta capacidade inata foi denominada como faculdade da linguagem.
Portanto,

[...] o papel do gerativismo no seio da linguística é constituir um modelo


teórico capaz de descrever e explicar a natureza e o funcionamento dessa
faculdade, o que significa procurar compreender um dos aspectos mais
importantes da mente humana (KENEDY, 2008, p. 129).

Ou seja, é a partir do gerativismo que as línguas deixam de ser interpretadas como


sendo resultantes da interação ou comportamento social, e passam a ser encaradas
como uma faculdade mental natural, permitindo aos humanos desenvolver uma
competência linguística.

Segundo Kenedy, no livro Manual de Linguística, de Martelotta, os gerativistas vêm


elaborando diversas teorias com o intuito de explicar o funcionamento da linguagem
na mente humana, procurando analisar a linguagem de uma forma matemática e
abstrata, aproximando-se da linha interdisciplinar com as ciências cognitivas
(estudos da mente humana). A partir daí, foram construindo-se os modelos teóricos
chomskyanos do gerativismo: a gramática transformacional e a gramática universal.
37

O primeiro modelo teórico elaborado foi o da gramática transformacional ou a


gramática como sistema de regras que foi desenvolvido entre as décadas de 1960 e
1970 do século XX. Chomsky defende que todo ser humano carrega uma gramática
internalizada, uma gramática própria que se desenvolve tomando com o tempo uma
forma. Como por exemplo, uma criança que observa a fala de um adulto, ela
assimila e cria as próprias regras ao falar em repetição ao que foi observado, ela
internaliza a fala do adulto que serviu como um modelo de regras para a aquisição
de sua própria linguagem.

Os behavioristas acreditavam que isso era um processo de imitação externo, porém


os gerativistas afirmam que esse fenômeno nada mais é do que uma gramática
interna que cada falante de uma língua possui dentro de si, em sua mente, que se
desenvolve e toma forma com o tempo.

Os gerativistas também procuram compreender como ocorre na mente dos falantes


de uma língua a intuição sobre as estruturas sintáticas. É um conhecimento implícito
em que o falante distingue frases gramaticais e agramaticais, mesmo sem utilizar os
conhecimentos da gramática normativa. Esse conhecimento inconsciente que o
falante possui é denominado pelos gerativistas de competência linguística que "é o
conhecimento tácito das regras que governam a formação de frases da língua".
(KENEDY, 2008, p. 133)

No início dos anos de 1980 houve uma evolução na corrente gerativa, em que a
competência linguística deu lugar à hipótese da gramática universal, que deve ser
entendida como: "[...] o conjunto das propriedades gramaticais comuns
compartilhadas por todas as línguas naturais, bem como as diferenças entre elas
que são previsíveis segundo o leque de opções disponíveis na própria GU".
(KENEDY, 2008, p.135).

Dessa forma, a gramática universal é formada por regras (princípios) invariáveis que
são aplicáveis do mesmo modo para todas as línguas, e também possuindo "[...]
parâmetros de variação, responsáveis por especificar propriedades variáveis de
línguas particulares." (BERLINCK; AUGUSTO; SCHER, 2001, p. 214).
38

A linguística gerativa propõe-se, então, a comparar as línguas humanas, levando em


consideração diversos fenômenos ocorrentes nas línguas, como por exemplo, os
fenômenos morfofonológicos e sintáticos, "[...] com o objetivo de descrever os
princípios e os parâmetros da gramática universal que subjazem à competência
linguística dos falantes, para assim, poder explicar como é a faculdade da linguagem
[...] (KENEDY, 2008, p. 138).

Vale ainda afirmarmos que o Estruturalismo de Saussure foi um grande corte com as
tradições linguísticas anteriores, ampliando os conhecimentos dos linguistas que
assim tiveram novos subsídios teóricos para formular seus próprios métodos. Como
foi o caso da Escola de Praga, berço do funcionalismo, que a partir das ideias de
Saussure acerca da língua e a dicotomia entre sincronia e diacronia, houve a
necessidade de descrever a ciência dos sons da língua.

Já o gerativismo de Chomsky focou outro âmbito da ciência da linguística,


aproximando-se da interdisciplinaridade, em que a mente humana passou a ser
objeto de estudo da linguagem. Enfim, as correntes teóricas acerca da linguística
moderna foram de grande valia para a elucidação do fenômeno humano que é a
linguagem. Cada corrente estabeleceu novos métodos de análise e estudo dentro da
ciência da linguística, complementaram-se ou opuseram-se entre si, exercendo
ainda hoje um papel de suma importância no estudo da linguística atual.

2 SINTAXE E ESTRUTURALISMO LINGUÍSTICO

Costuma-se afirmar nos compêndios dedicados aos estudos de linguagem, que o


pensamento linguístico ocidental é representado, basicamente, por dois grandes
pólos de atenção: o Formalismo e o Funcionalismo. De um modo geral pode-se dizer
que o Formalismo consiste numa abordagem cujo foco incide tão somente na
observação e descrição das características estruturais das línguas, desconsiderando
suas possíveis funções.

Já o Funcionalismo consiste em qualquer abordagem linguística que dá importância


aos propósitos inerentes ao emprego da linguagem. Halliday (1985) assinala que a
oposição entre essas duas abordagens se relaciona ao tipo de orientação que cada
39

um segue. Assim, para o referido estudioso, o Formalismo assenta-se na lógica e na


filosofia e se caracteriza por uma orientação primariamente sintagmática. Por isso,
suas gramáticas interpretam a língua como um conjunto de estruturas, nas quais
podem ser firmadas, num segundo passo, relações regulares. Ancoradas nesta
concepção, tendem a enfatizar os traços universais da língua, creditando à sintaxe o
centro dos estudos linguísticos. Por extensão, organizam a língua em torno da frase.
Ou seja, são gramáticas arbitrárias.

No que tange ao Funcionalismo, Halliday (1985) afirma ser esta abordagem


assentada na retórica e na etnografia, com orientação paradigmática. Logo, as
gramáticas funcionais concebem a língua como uma rede de relações, enfatizando
as variações entre diferentes línguas, considerando a semântica como base de
análise e organizando-a em função do texto ou do discurso.

2.1 ABORDAGEM FORMAL: ESTRUTURALISMO

O Estruturalismo é uma corrente de pensamento nas ciências humanas que se


inspirou no modelo da linguística e que apreende a realidade social como um
conjunto formal de relações. Esta abordagem veio a se tornar um dos métodos mais
extensamente utilizado para analisar a língua, a cultura, a filosofia e a sociedade.
Saussure é geralmente visto como o iniciador do estruturalismo, especialmente em
seu livro de 1916 "Cursos de Linguística Geral".

Nesta abordagem a língua é conceituada como um sistema organizado de signos


que expressam a ideia no aspecto codificado da linguagem. O objetivo da linguística
é estudar as regras deste sistema e seus sentidos produzidos. O estruturalismo não
considera o contexto de uso das manifestações linguísticas, tampouco as relações
com os falantes que as enunciam (seus propósitos, os atos interacionais e
institucionais que ativam sua classe social, sexo, idade, nível de escolaridade) ou o
processamento cognitivo que lhe é inerente (VASCONCELO, 2002).

O Estruturalismo é governado por princípios como "o da estrutura" reporta aos


elementos que compõe uma língua, caracterizados em virtudes da organização
40

global de que fazem parte. Sob este prisma, fazer ciências da linguagem é postular,
e simultaneamente, elucidar as estruturas sistêmicas inerentes ao enunciado. Cada
unidade é sistêmica e, portanto, só pode ser identificada no seu interior
O objetivo da gramática de Saussure é nomeado por seus seguidores de
"Estruturalismo", é estudar a organização da língua e o sistema linguístico,
investigando as relações entre as unidades linguísticas por meio de suas oposições
ou contrastes, ignorando totalmente o estudo da linguística histórica, ou seja, a
mutação do sistema através dos tempos.

Os estruturalistas consideram a língua como um sistema de relação, ou mais


precisamente como um conjunto de sistemas ligados uns aos outros, cujos
elementos (fonemas, morfemas, palavras, entre outros) não têm nem um valor
independente das relações de equivalência e de oposição que os ligam.

A pergunta: O que é estruturalismo? Bartes (1970, p. 49) responde: "[...]. Não é uma
escola, nem mesmo um movimento, pois a maior parte dos autores que se associam
geralmente a esta palavra não se sentem, de modo algum, ligados entre eles por
uma solidariedade de doutrina ou de combate".

Quanto aos teóricos formalistas, é comum a referência aos nomes de Chomsky,


Bloomfield, Z. Harris e outros. No Brasil, é possível destacar, entre outros os nomes
de Carlos Mioto, Roberto Pire e outros. Em relação aos gramáticos podemos citar
Celso Cunha, Lindley Cintra, Napoleão entre outros.

2.2 ABORDAGEM FUNCIONALISTA

Os embates teóricos e metodológicos entre os formalistas russos desemborcaram


nos estruturalismos funcionais, projetados com o Círculo Linguístico de Praga,
fundado por Trubetskoy e Jakobson, dentre outros, em 1926. As formulações
teóricas que ali foram emboçadas disseminaram-se a partir do Congresso
Internacional de Linguística de Haia, em 1928, e da elaboração das Teses de Praga.
Das referidas teses emana o princípio básico do Funcionalismo, segundo o qual a
natureza das funções linguísticas determina a estrutura da língua.
41

O Funcionalismo é um "movimento particular dentro do Estruturalismo" (LYON,


1981, p. 166) defende a hipótese de "que a estrutura fonológica, gramatical e
semântica das línguas é determinada pelas funções que exercem na sociedade em
que operam". Concebe a linguagem prioritariamente, como instrumento de interação
social, validado pelos falantes com o objetivo principal de transmitir informações aos
interlocutores em geral, ou seja, quando se fala em Funcionalismo, insiste-se
sobretudo na ideia de uma análise linguística que considera metodologicamente o
componente discursivo, dada sua função prioritária na gramática de uma língua.

As correntes Funcionalistas atuais, por sua vez, com mais veemência enfatizam as
características inerentes ao emprego das expressões linguísticas no discurso,
abrangendo fenômenos interacionais, sociais, culturais, cognitivos e outros.
No que concerne aos principais representantes do Funcionalismo clássico, é
plausível citar os membros da Escola de Praga como (Buhler, Jakobson, e Martinet),
a escola de Londres e Halliday.

No âmbito das abordagens Funcionalistas vale colocar em evidencia os nomes


Gívón, Heine, Bybee e Traugott. No Brasil destacam-se, entre outros os trabalhos de
Ataliba Castilho, Sebastião Votre, A. Naro e Adair Gorski. A "função" na teoria
Funcionalista, não se aplica às relações de interdependência entre as palavras na
oração (as ditas "funções sintáticas": objeto direto, objeto indireto, entre outros);
refere-se "[...] ao papel que a linguagem desempenha na vida dos indivíduos [...]"
(NEVES 2004, p. 8).

Para Halliday (apud NEVES, 2004), esse é o sentido básico e principal do termo
"função" do Funcionalismo. Na gramática funcional de Halliday, importam investigar
o modo como os significados são veiculados, o que implica considerar as formas da
língua como um meio para a realização de um propósito, e não como um fim em si
mesmo. A denominação Gramática Funcional diz respeito a uma teoria linguística
que, assentada no componente significativo (caráter funcional), procura interpretar
as formas linguísticas (caráter gramatical).

Como é intenção do falante comunicar-se mediante a realização de enunciados, ele


aciona a função interpessoal, pela qual pode "agir" sobre o seu destinatário. Assim,
42

a estrutura sintática? Semântica da frase se adaptará à realidade, o que implica


necessariamente, diferença na análise e na interpretação dos constituintes frásicos.

O falante pode, conforme sua perspectiva, selecionar um novo predicador (verbo) e,


consequentemente as unidades a ele relacionadas (seus argumentos). Tomemos
para exemplo a frase seguinte: "O maratonista corria muito". Nesta frase, há um
predicador de 'ação' (correr) que determina uma estrutura semântica, a qual inclui,
necessariamente um agente (maratonista).

O Estruturalismo que se originou a partir do Curso de Linguística Geral de Ferdinand


Saussure, introduziu conceitos importantíssimos como: Língua X Fala, Sincronia X
Diacronia e Significante X Significado. Ao encararmos o Estruturalismo como um
estudo sistemático, percebemos que cada elemento deste sistema é determinado
pelas relações de equivalência ou diferença que possuem com os demais elementos
quando analisados juntos. É o conjunto das relações entre elementos que
determinam a estrutura.

Nesse estudo, percebeu-se que no formalismo, a gramática é vista como uma


tentativa de definir a língua, através de regras sintáticas e que a linguagem é
abordada como um sistema autônomo, descontextualizado que tem o objetivo de
apontar normas para a "correta" utilização oral ou escrita do idioma, isto é: escrever
e falar a língua padrão.

Já no funcionalismo, a língua é um instrumento de interação social, pois existe em


função de seu uso. A função da língua é estabelecer comunicação entre os usuários.
Por isso a aquisição da linguagem se desenvolve na interação comunicativa e a
sintaxe e a semântica devem ser estudadas dentro de uma proposta pragmática.

3 ANÁLISE SINTÁTICA

Em uma análise sintática podemos ter:

1 Frase
43

É a reunião de palavras que expressam uma ideia completa, constitui o elemento


fundamental da linguagem, não precisa necessariamente conter verbos. Exemplo:
"Final de ano, início de tormento".

2 Oração

É ideia que se organiza em torno de um verbo. Exemplo: "Tudo começa com o


pagamento da dívida".

O verbo pode estar elíptico (não aparece, mas existe). Exemplo: "O Jeca-Tatu de
Monteiro Lobato fez tanto sucesso quanto (fizeram) os Fradinhos que Henfil lançou
nas páginas do Pasquim";

3 Período

É o conjunto de orações. Ele pode ser constituído por uma ou mais orações. O
período pode ser: simples – constituído por apenas uma oração. Exemplo:
"Macunaíma é o herói com muita preguiça e sem nenhum caráter". E composto –
constituído por mais de uma oração. Exemplo: "Nós não podemos fingir /que as
crianças não têm inconsciente".

Período é também compreendido como uma expressão verbal de sentido completo,


necessariamente.

Exemplos:

- Gosto muito de vocês.


44

- Esperamos que todos voltem alegres.

O período pode ser simples ou composto.

a) Simples, quando houver apenas uma oração. Neste caso, temos oração
absoluta. Exemplos:

- Você estuda muito. (Oração absoluta)

- Antônia queria atenção de José. (Oração Absoluta)

B) Composto, quando existir mais de uma oração. Exemplos:

- Você estuda e trabalha muito.

- Antônia queria que José prestasse atenção.

O período composto subdivide-se em:

a) Coordenação – é o que apresenta relação de independência sintática entre suas


orações. Em outras palavras, as orações possuem, internamente, todos os termos
necessários à sua estrutura sintática (sujeito, verbo e complementos). Exemplos:

- Você estuda em Brasília e trabalha em Taguatinga.

Você estuda em Brasília (= oração coordenada assindética)

e trabalha em Taguatinga (= oração coordenada sindética aditiva)

- Antônia queria a atenção de José, mas ele dormia.

Antônia queria a atenção de José (= oração coordenada assindética)

mas ele dormia (= oração coordenada sindética adversativa).

b) Subordinação – é o que apresenta relação de dependência sintática entre suas


orações. Em outras palavras, as orações não possuem todos os termos necessários
à sua estrutura sintática. Exemplo:
45

C) Coordenação e subordinação – é o que combina com ambos os tipos de


período. Exemplos:

- Teresa saiu e Pedro me disse que ela voltaria.

- Desejo e espero que sejas feliz.

Observação: No período acima, o sujeito é desinencial (eu) marcado pela desinência


número-pessoal “o”.

4 SINTAXE E GRAMÁTICA GERATIVO-TRANSFORMACIONAL

Autores como Chomsky (1998); Luft (2003); Negrão, Scher e Viotti (2003) se
preocupam a gramática gerativo-transformacional, visando elucidar alguns pontos
principais desta teoria. A Teoria de Chomsky é vista como um divisor de águas
dentro da linguística. Em 1957, ela viola o estruturalismo linguístico que se via até
então e dá novas bases para o estudo da linguagem.

Chomsky (1998), por sua vez, acrescenta que a linguagem é “a verdadeira distinção
entre o homem e o animal” e está ligada de forma crucial em todos os aspectos da
vida, pensamento e interação humana. O autor diz que a linguagem envolve o “uso
infinito de meios finitos”, falando que podemos formar inúmeras sentenças partindo
de algumas poucas regras de sintaxe. Também salienta que temos biologicamente
uma matriz inata que fornece uma estrutura na qual a língua se desenvolve, é a
chamada gramática universal, uma tese inatista de que a capacidade de linguagem
já nasce com o indivíduo e que este mesmo indivíduo consegue compreender a
sintaxe da língua materna nos primeiros anos de vida sendo um “adulto” do ponto de
vista linguístico já aos 6 anos.

Em Linguagem e Liberdade (2003), Luft esclarece alguns pontos da teoria


gerativista. Entre outros assuntos, explicita a noção de competência discursiva.
Segundo ele, para Chomsky a competência é definida como a capacidade que todo
o falante tem de produzir e compreender todas as frases da língua. Também diz
respeito a todo um conhecimento que o falante tem da estrutura das frases que
fazem parte da língua. Nessa perspectiva não importa o desempenho linguístico, ou
46

seja, o desempenho de falantes específicos em seus usos concretos, mas, a


capacidade que todo o falante possui.

Outro conceito declarado por Luft é o de gramática natural, que é a gramática


aprendida quando desenvolvemos a linguagem, é uma gramática de fala, completa,
flexível e variável. Em suas palavras: “esse sistema de regras que os falantes
internalizam na infância é que constitui a verdadeira gramática da língua, a legítima,
a autêntica, da qual todas as demais (livros, teorias de gramáticas, filólogos e
linguistas, entre outros) não passam de reproduções”. Em outra ocasião afirma que:
“A criança e o falante não escolarizado sabem tudo aquilo que precisam para falar
em seu nível de comunicação. Apenas não conhecem os termos técnicos, os nomes
daquilo que sabem. ”

Aqui, Luft critica a escola que com seu ensino gramaticista forçou que se
aprendesse de memória conceitos de análise sintática sem se dar conta de que o
aluno já sabia sintaxe deixando assim de tratar de assuntos mais relevantes como
leitura e produção de textos.

Chomsky reuniu seu estudo de gramática na sintaxe que, conforme ele, é um nível
autônomo, central para a explicação da linguagem. Mostrou que as análises
sintáticas da frase feitas até então não eram adequadas, principalmente porque não
diferenciavam o nível de estrutura de superfície e profunda. No nível da superfície
muitos enunciados podem ser analisados de maneira idêntica, porém no nível
profundo, no ponto de vista de seu significado subjacente as sentenças divergem.

Nesse sentido, um dos objetivos da gramática gerativa era oferecer um meio de


análise do nível profundo dos enunciados. Na visão de Negrão, Scher e Viotti (2003)
a sintaxe abrange a competência linguística do falante daí a importância de estudá-
la.

Em seu texto no livro Introdução à Linguística – princípios de análise os autores


colocam “Imaginemos o léxico de nossa língua como uma espécie de dicionário
mental que utilizamos para construir nossas sentenças. Nossa competência nos
permite ter intuições a respeito de como podemos dividir esse dicionário, agrupando
47

itens lexicais de acordo com algumas propriedades gramaticais que eles


compartilham.

Essa intuição linguística é também o que nos faz categorizar itens léxicos em
diferentes classes de palavras seguindo critérios semânticos, morfológicos e
distribucionais. Para exemplificar esses critérios os autores exemplificam do seguinte
modo: “podemos dizer que o falante reconhece que o item lexical “plongar” pertence
à mesma categoria do item lexical “cantar” porque ambos possuem a propriedade de
assumir formas variadas dependendo dos traços morfológicos de seus sujeitos, que,
de maneira geral, são os elementos que antecedem os verbos”.

A teoria gerativo-transformacional de Chomsky foi muito importante, pois se mostrou


contrária às ideias estruturalistas as quais diziam que a língua era aprendida através
de imitação. Fez com que se enxergasse à língua sob uma outra perspectiva,
perspectiva essa, muito mais voltada para o uso da linguagem do que para sua
estrutura.

No entanto, Orlandi (1999) afirma uma deficiência da teoria com a qual estou de
acordo. Chomsky sondou a competência linguística e deixou de lado o desempenho.
Trabalhou com o falante/ouvinte ideal e deixou de lado o real. Até que ponto os
dados explorados são concretos, e se esses dados não são completos, até que
ponto a teoria tem os pés fincados na realidade? Creio que contexto de situação,
sociedade e história são relevantes sem sombra de dúvidas, para a utilização (e
análise) da linguagem.

O que permanece de melhor na teoria de Chomsky, na minha opinião, são as ideias


de aquisição da linguagem, pois, se consideramos os alunos não como seres vazios
de conhecimento e partirmos da aprendizagem de suas experiências anteriores,
calcadas na realidade deles e objetivando aprimorar a linguagem e não o ato de
decorar regras então, o ensino se tornará algo mais prazeroso e efetivo.

Em Syntactic Structures (1957; Estruturas sintáticas), o americano Chomsky, deu


nova orientação aos estudos linguísticos modernos. Chomsky reagia contra as
hipóteses teóricas do distribucionalismo (fora discípulo de Zellig S. Harris) e expunha
o que deveria ser, em sua opinião, o objetivo da linguística: a formulação de uma
48

gramática que, por meio de um número finito de regras, fosse capaz de gerar todas
as frases de um idioma, do mesmo modo que um falante pode formar um número
infinito de frases em sua língua, mesmo quando nunca as tenha ouvido ou
pronunciado.

Tais regras, afirmou Chomsky, não são leis da natureza. Foram "construídas pela
mente durante a aquisição do conhecimento" e podem ser consideradas "princípios
universais da linguagem". A tese representou uma negação frontal do behaviorismo.
Cabia ao linguista a tarefa de construir essa gramática, a partir do que Chomsky
denominou "competência" (o conhecimento que o falante possui de sua língua e que
lhe permite gerar e compreender mensagens) e não do "desempenho" (o emprego
concreto que o falante faz de sua língua).

As regras gramaticais que permitissem gerar orações inteligíveis num idioma seriam
denominadas gramática gerativa. Em suas formulações sobre essa gramática,
Chomsky distinguiu três componentes: o sintático, com função geradora; o
fonológico, a imagem acústica da estrutura elaborada pelo componente sintático; e o
semântico, que interpreta essa imagem.

Em oposição à gramática estruturalista dos distribucionalistas, que se baseava na


análise dos constituintes imediatos, Chomsky analisou as estruturas das orações em
dois níveis, o profundo e o superficial, para indicar as transformações produzidas ao
se passar de um nível para outro e as regras que regem as transformações. Esses
conceitos explicam a razão do termo gramática gerativo-transformacional e
fundamentaram grande parte dos estudos linguísticos realizados depois de
Chomsky.

Segundo a teoria gerativo-transformacional, todas as línguas possuem uma


estrutura superficial ou aparente, que representa a forma em que aparece a oração,
e outra estrutura profunda ou latente, que encerra o conteúdo semântico da oração e
forma o corpus gramatical básico que o falante de uma língua possui.

Por meio de uma quantidade limitada de regras de transformação, o falante pode


criar um número infinito de orações superficiais. O componente fonológico, ou seja,
a imagem acústica das estruturas elaboradas pelo componente sintático, é dado por
49

uma série de segmentos denominados morfofonemas por alguns linguistas com


traços distintivos que indicam como devem ser representadas, na estrutura
superficial, as orações geradas pela sintaxe.

De maneira semelhante, o componente semântico fornece o significado às orações


da estrutura superficial pela substituição ou inserção léxica de palavras e morfemas
(unidades significativas) durante o processo de transformação da estrutura profunda
na superficial. Essa consideração do componente semântico, que respondia à
diferenciação entre sintaxe e semântica das primeiras formulações da gramática
gerativa, foi um dos pontos mais conflituosos para teorias gerativas posteriores, que
consideravam inexistente essa diferenciação.

4.1 PRINCÍPIOS DE ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DA FRASE

A apresentação será destinada à descrição das regras de estrutura frasal. Passar-


se-á agora, mais especificamente, à determinação dos elementos aptos a compor a
proposição das frases do português, observando a sua organização em categoria e
as suas possibilidades combinatórias.

A partir dos exemplos:

(1) Pedro está diante da vitrine de uma joalheria.

(2) A polícia deteve vários suspeitos do furto.

(3) A criancinha doente adormeceu.

(4) Meu filho sonha ansiosamente com a noite de Natal.

(5) Você levará a encomenda.

Conforme Koch & Silva (1996), “toda frase de uma língua consiste em uma
organização, uma combinação de elementos linguísticos agrupados segundo certos
princípios, que a caracterizam como uma estrutura”. Ainda segundo as autoras
50

citadas, por trás da aparente diversidade que pode haver entre as tantas frases da
língua, todas obedecem a princípios de organização interna bem definidos.

Para evidenciar esta estrutura de que nos falam Koch & Silva (1996), temos de
decompor a frase/oração em unidades menores, e substituir estas unidades, por
aquelas equivalentes, que desempenham a mesma função. Este procedimento
denomina-se comutação. Exemplos:

Maria está na casa da vizinha.

Você fará o relatório como a professora pediu

Aquela menininha de cabelo loiro gosta de doce de leite.

Estes subconjuntos são blocos significativos e possuem equivalência entre si, pois a
troca de um pelo outro, não destrói a integridade das orações, como demonstraram
os exemplos. A estes blocos, ou unidades significativas, chamamos sintagmas. Os
sintagmas são compostos de um ou mais termos que possuem ordem e
interdependência. Constituem-se de um núcleo (que sozinho pode formar o
sintagma) e outros elementos que a ele podem se subordinar.

Como aponta Sautchuk (2004), na hierarquia gramatical de unidades linguísticas, os


elementos imediatamente inferiores à oração são os sintagmas, não as palavras:

Morfema  Palavra  Sintagma  Oração/ Frase  Texto


51

Verificando então a possibilidade de decomposição da proposição em unidades


menores e de detectar a equivalência entre essas unidades, utilizamos o
procedimento da comutação, cujas tarefas são:

a) segmentação — determinar os subconjuntos em que pode ser decomposta a


proposição;

b) substituição — verificar quais desses subconjuntos exercem a mesma função.

Constituintes Oracionais: os sintagmas

O sintagma consiste num conjunto de elementos que constitui uma unidade


significativa dentro da oração e que mantém entre si relações de dependência e de
ordem. Organizam-se em torno de um elemento fundamental, denominado núcleo,
que pode, por si só, constituir o sintagma.

Assim, nos sintagmas: Pedro, o policial, a criancinha doente, meu filho, você, o
núcleo é um elemento nominal (nome ou pronome), tratando-se, pois, de sintagmas
nominais. Já em: está diante da vitrine de uma joalheria, deteve vários suspeitos do
furto, adormeceu, sonha ansiosamente com o dia de Natal e levará à encomenda, o
elemento fundamental é o verbo, de modo que se tem, no caso, sintagmas verbais.

A natureza do sintagma depende, portanto, do tipo de elemento que constitui o seu


núcleo: além do sintagma nominal (SN) e do sintagma verbal (SV), existem os
sintagmas adjetivais (SA), que têm por núcleo um adjetivo e os sintagmas
preposicionados (SP), que são, normalmente, formados de preposição + sintagma
nominal.

Na estrutura da oração, aparecem como constituintes obrigatórios o SN e o SV. Por


exemplo:

Os garotos empinam papagaios de papel.

SN SV

(Nós) Assistimos a uma conferência sobre tóxicos.


52

SN SV

Por mais longa que seja a frase, ela pode ser decomposta nesses dois
subconjuntos:

A irmã de uma conhecida de meu marido recebeu uma belíssima.

SN SV

homenagem de seus companheiros de trabalho.

A carrocinha de pão que passava pela minha rua todos os dias pertencia a um
antigo empregado da prefeitura municipal.

SN SV

Nas regras de reescritura, o SN sujeito existe como posição estrutural, embora


muitas vezes este elemento não se atualize, isto é, sua posição não seja
lexicalmente preenchida:

Chove

SN SV

Além dos elementos obrigatórios, SN e SV, existem orações que apresentam um


terceiro subconjunto, com as seguintes características:

a) é facultativo, isto é, sua ausência não prejudica a estrutura sintática da oração;

b) é móvel, ou seja, pode ser deslocado de sua posição normal (após o SN e o SV),
vindo anteposto a esses sintagmas ou, ainda, intercalado;

c) apresenta-se, geralmente, sob a forma de um SP:

As flores enfeitam os jardins na primavera.

SN SV SP

Pode haver mais de um constituinte desse tipo na oração:


53

O padeiro entrega o pão na minha casa de madrugada.

SN SV SP SP

Assim, ao lado das orações constituídas apenas de SN + SV, tem-se aquelas


compostas de SN + SV + SP, de modo que as regras básicas de estrutura frasal são
as seguintes:

O → SN + SV (SP)

O Sintagma Nominal

O sintagma nominal (SN), como já se disse, pode ter como núcleo um nome (N) ou
um pronome (Pro) substantivo (pessoal, demonstrativo, indefinido, interrogativo,
possessivo ou relativo). No último caso, o pronome por si só constituirá o sintagma,
que terá a seguinte configuração:
54

Sintagma Preposicionado

O Sintagma Preposicionado (SP) é constituído de uma preposição + Sintagma


Nominal,

Ou de um advérbio, pois este possui também, função modificadora como a estrutura


anterior:

Examinando-se, porém, as orações:

O leiteiro sai cedinho.

adv

O leiteiro sai de madrugada.

SP (loc. adv.)

O leiteiro sai à mesma hora todos os dias.

SP (loc.adv.) SN (loc.adv.)

Que as expressões grifadas, embora nem todas apresentem estruturas idênticas,


desempenham o mesmo papel: o de modificadores circunstanciais (no caso, de
tempo). Levando-se em conta, contudo, o fato de serem esses modificadores, em
55

sua maioria, expressos por locuções adverbiais, normalmente introduzidas por


preposição, é possível atribuir-lhes a etiqueta de SP.

Há vários argumentos a favor dessa opção:

a) muitos advérbios possuem uma locução adverbial correspondente: rapidamente


— com rapidez; aqui — neste lugar; agora — neste momento, entre outros;

b) os advérbios constituem um inventário fechado, ao passo que as locuções


adverbiais formam, praticamente, um inventário aberto, sendo, assim, mais
econômico englobar a uns e outros sob o rótulo de SP;

c) a descrição torna-se mais coerente, uma vez que toma como base não a
estrutura, mas a função desses modificadores, que é a mesma.

Adotando-se tal posição, a regra de reescrita do SP passa a ser:

Prep + SN

SP → adv

Podendo a preposição, não aparecer lexicalizada como em todos os dias (=


diariamente).

Quando o SP ocorre como constituinte independente, ou seja, uma terceira divisão


da oração (os sintagmas), ele poderá veicular informações sobre as circunstâncias
em que se efetivam os fatos contidos na proposição (tempo, lugar, modo, causa,
entre outros), conforme o exemplo (a), ou indicar atitudes do falante, como nos
exemplos (b) e (c):

(a) No verão, os dias são mais longos que as noites.

(b) Felizmente, não houve vítimas no desastre.

(c) Provavelmente, o comício não se realizara.

O Sintagma Adjetival
56

O sintagma adjetival (SA) tem como núcleo um adjetivo que, à semelhança do que
ocorre nos demais tipos de sintagmas, pode vir sozinho ou acompanhado de outros
elementos: intensificadores (intens) e modificadores adverbiais (SPA), antepostos ao
núcleo, e sintagmas preposicionados (SPC), pospostos a ele. Observem-se os
exemplos:

Estes quadros são antigos.

Adj

SA

Estes quadros são muito valiosos.

intens. adj.

SA

O diretor despediu a secretária recentemente nomeada.

SP (tempo) adj.

AS

O pôr-do-sol oferecia-nos um espetáculo surpreendentemente belo.

SP (modo) adj.,

AS

O Sintagma Verbal

O sintagma verbal (SV), um dos elementos básicos da oração, conforme se viu


anteriormente, pode apresentar configurações diversificadas, as quais serão
determinadas nesta seção. Atribui-se a etiqueta verbo (V) ao constituinte do SV que
contém a forma verbal, composta de um só vocábulo (tempos verbais simples) ou de
vários vocábulos (tempos compostos ou locuções verbais).

O SV pode ser representado apenas pelo núcleo, isto é, o verbo, como em (30):
57

(30) A criancinha doente adormeceu.

Vintr

SV

SV → V. Intr. .

SN SV

Det N Mod V

SA

A criancinha doente adormeceu

ou pelo verbo acompanhado de um ou mais elementos, precedidos ou não de


preposição, dependendo da regência de cada verbo, conforme (31) — (35) :

(31) O garoto chupou as balas (duas balas, balas de aniz, etc.)

Vtr SN

SV

SV → Vtr + SN .

SN SV

Det N V SN

Det N

O garoto chupou as balas

(32) Os alunos gostaram da palestra.


58

Vtr SPC

SV

SV → Vtr + SPC
59

Os exemplos (30) a (35) apresentam o que as gramáticas tradicionais denominam


de predicado verbal. Quando, em lugar do verbo, aparece a cópula, tem-se o
chamado predicado nominal, que pode ser assim constituído:
60
61

Não raro, aparecem, ainda, dentro do SV, elementos modificadores do verbo (quer
intransitivo, quer transitivo), que ora intensificam o processo verbal (intensificadores),
ora acrescentam circunstâncias de tempo, lugar, modo, entre outras. (SP A):

(a) Este operário trabalha muito.

Vintr intens. SV

(b) As crianças acordam cedo aqui

Vintr SPA (tempo) SPA (lugar)

SV

(c) O balão incendiado caiu longe

Vintr SPA (lugar)

SV

(d) O foragido atravessou a fronteira muito lentamente.

Vtr SN intens SPA SV


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Sintetizando, podem-se estabelecer as principais possibilidades de constituição do


SV:

Considerando a descrição de todos os sintagmas (SN, SP, SA, SV), percebe-se que
apenas o SV desempenha sempre a mesma função na oração, a de predicado; os
demais podem exercer funções variadas, dependendo do nódulo ao qual se
encontram ligados. Assim, em (d), há dois SNs, o primeiro (o foragido) exercendo
função de sujeito porque se apresenta como uma primeira divisão da oração, e o
segundo (a fronteira) funcionando como objeto direto, porque é uma ramificação do
SV.

Portanto, o mesmo tipo de sintagma pode aparecer em várias posições, como


subdivisão de outros sintagmas, passando a exercer funções diferentes. Este
mecanismo, que permite todas as expansões possíveis não só dos constituintes de
uma oração, como também dos períodos simples em compostos, é denominado por
Chomsky (1965) recursividade.

Tal abordagem simplifica a descrição ao considerar-se, por exemplo, sujeito, o SN à


esquerda do SV e objeto direto, o SN à direita do V dentro do SV, dispensando as
definições clássicas da gramática tradicional nem sempre suficientemente;
esclarecedoras.
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REFERÊNCIAS

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______. Problemas de Lingüística Geral I. Campinas: Pontes, 1988.

______. Problemas de Lingüística Geral II. Campinas: Pontes, 1988.

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Anna Christina Bentes. (Org.). Introdução à Lingüística. São Paulo: Cortez, 2001.

FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Prática de Texto. Petrópolis, RJ:


Vozes, 1992.

HALLIDAY, M. A. K. et. al. As Ciências Lingüísticas e o Ensino da Língua.


Petrópolis: Vozes, 1984.
64

KENEDY, E. Gerativismo. In: Mario Eduardo Toscano Martelotta. (Org.). Manual de


Lingüística. São Paulo: Contexto, 2008.

LEPSCHY, C. G. A Lingüística Estrutural. São Paulo: Perpectiva, 1975.

LEROY, M. As Grandes Correntes da Lingüística Moderna. Rio de Janeiro:


Cultrix, 1971.

SAUSSURE, F. de. Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix, 1969.

SOUZA, Luiz Marques de; WALDECK, Sérgio. Compreensão e Produção de


Textos. Rio de Janeiro: Libro, 1992.

WEEDWOOD, B. História Concisa da Lingüística. São Paulo: Parábola, 2002.

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