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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

MORFOLOGIA E SINTAXE DO
PORTUGUÊS

GUARULHOS – SP
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4

2 GRAMÁTICAS PRESCRITIVA, DESCRITIVA E INTERNALIZADA ........................ 5

2.1 Gramática prescritiva (normativa) ....................................................................... 6

2.2 Gramática descritiva ........................................................................................... 8

2.3 O gerativismo e a gramática internalizada ........................................................ 10

2.4 Interpretando fenômenos de linguagem ........................................................... 12

2.5 Refletindo sobre os fenômenos linguísticos ...................................................... 14

3 CONCEITOS E INTERFACES: SINTAXE E MORFOLOGIA ................................ 16

3.1 Estrutura interna das palavras .......................................................................... 17

3.2 Formação de palavras e suas implicações para o ensino ................................ 18

3.3 Contribuições históricas para os estudos de morfologia ................................... 20

3.4 Morfologia vs. Sintaxe ....................................................................................... 22

3.5 Estrutura morfológica ........................................................................................ 24

3.5.1 Morfema: unidade mínima de caráter significativo na palavra. ....................... 24

3.5.2 Raiz ou radical: é a unidade irredutível da palavra, que concentra o seu


significado. ......................................................................................................... 24

3.5.3 Desinência: é a unidade responsável por caracterizar as flexões. Pode ser


nominal (indicando gênero e número) ou verbal (indicando modo e tempo)...... 25

3.5.4 Prefixos: são morfemas inseridos antes da palavra, modificando seu


sentido.............. .................................................................................................. 25

3.5.5 Sufixos: são elementos acrescentados ao final da palavra, também dando um


novo significado. ................................................................................................ 25

3.6 O que é sintaxe? ............................................................................................... 26

3.6.1 Análise sintática .............................................................................................. 27

3.7 Procedimentos de análise sintática no nível oracional...................................... 28

1
3.7.1 Termos da oração ........................................................................................... 29

3.7.2 Tipos de oração .............................................................................................. 33

3.7.3 Período ........................................................................................................... 33

4 CLASSES DE PALAVRAS E FUNÇÕES SINTÁTICAS ........................................ 34

4.1 Relação entre morfologia e sintaxe................................................................... 39

5 SINTAXE E SEMÂNTICA ..................................................................................... 41

5.1 Semântica ......................................................................................................... 45

5.2 Relações semânticas entre as palavras ........................................................... 45

6 PALAVRAS E SINTAGMAS .................................................................................. 47

6.1 Itens lexicais na análise morfossintática ........................................................... 48

6.2 Mecanismos mórficos ou sintáticos para a identificação das palavras em

classes........................................................................................................................50

6.3 Principais categorias lexicais ............................................................................ 51

6.4 Sintagma nominal e sintagma verbal ................................................................ 52

6.4.1 Sintagma nominal ........................................................................................... 52

6.4.2 Sintagma verbal .............................................................................................. 54

7 MORFEMAS ......................................................................................................... 54

7.1 Unidades morfológicas e estrutura interna das palavras .................................. 55

7.2 Morfemas da língua portuguesa ....................................................................... 57

7.3 Os tipos de morfema: radical e afixos ............................................................... 57

7.4 Vogal temática: o tema ..................................................................................... 58

7.5 Morfemas livres e presos .................................................................................. 59

7.6 Características dos morfemas e diferenças dos sintagmas .............................. 60

8 ENSINO DE SINTAXE .......................................................................................... 62

8.1 As metarregras de coerência ou metarregras de Charolles .............................. 63

8.2 Articuladores que introduzem orações coordenadas ........................................ 66


2
8.3 Articuladores que introduzem orações subordinadas ....................................... 66

9 O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO ................................................................... 67

9.1 O novo acordo ortográfico da língua portuguesa .............................................. 68

9.2 Um pouco da história do construção do acordo ortográfico .............................. 71

9.3 O que mudou, afinal? ........................................................................................ 74

9.4 Algumas regras ortográficas do novo acordo ................................................... 76

9.4.1 Eixo I – Alfabeto .............................................................................................. 76

9.4.2 Maiúsculas e minúsculas ................................................................................ 77

9.4.3 Acentuação gráfica ......................................................................................... 77

9.4.4 O hífen ............................................................................................................ 79

9.4.5 Qual é a importância global de seu uso com proficiência? ............................. 83

10 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 86

3
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 GRAMÁTICAS PRESCRITIVA, DESCRITIVA E INTERNALIZADA

A primeira gramática da língua portuguesa foi publicada em 1536 por Fernão


de Oliveira, em Lisboa. A Gramática da linguagem portuguesa não seguia o modelo
das gramáticas que até aquele momento eram produzidas, apesar de ter um caráter
normativo, que buscava “[…] propor uma norma para o português do século XVI”
(PINTO, 2004, documento on-line). Tinha também um caráter linguístico e cultural,
aludindo ao modo de falar dos portugueses daquele período. A obra era composta de
50 capítulos, contendo normas gramaticais, fonéticas, lexicológicas e, sobretudo,
estudos etimológicos e sobre a sintaxe.
Tinha o objetivo de ser um primeiro registro da língua portuguesa, a fim de
perpetuá-la. Naquela época, Portugal estava buscando por uma “autonomia nacional”.
A gramática, então, seria uma forma de afirmar a identidade do povo português, da
nação portuguesa (PINTO, 2004).
Hoje, o conceito de gramática é muito amplo e debatido por teóricos, que
possuem distintas concepções sobre ela. É impossível falar de gramática sem pensar
em língua e sem trazer à tona a necessária relação entre elas. As diferentes formas
como a língua é concebida apontam para diferentes concepções de gramática.
Uma das acepções de gramática é aquela que designa um livro, que possui
como assunto “[…] uma apresentação de elementos constitutivos de uma língua”
(FARACO; VIEIRA, 2016, p. 293). No entanto, os próprios autores alertam para a
abrangência do termo e da definição, refletindo sobre a necessidade de se manter
aberta a pergunta o que é gramática? Isso ocorre porque a língua é um objeto de
estudo muito amplo e complexo, que suscita diferentes reflexões e enfoques.
Para estudar a língua, é necessário estudar o seu funcionamento. Segundo
Nasi (2007), as formas como as diferentes correntes teóricas dos estudos da
linguagem estudam os processos de fala e de escrita demonstra suas concepções de
língua e de gramática.

5
Fonte: http://mundocarreira.com.br/

Como pode ser observado, as concepções de língua e gramática andam juntas.


Por isso, é essencial que você compreenda as diferenças entre as formas como a
língua é compreendida em cada teoria para entender os tipos de gramática que delas
derivam. A seguir, você vai conferir a distinção entre as gramáticas prescritiva (ou
normativa), descritiva e internalizada, ao mesmo tempo em que vai conhecer os
entendimentos sobre a língua que as sustentam (NOBLE, 2020).

2.1 Gramática prescritiva (normativa)

A gramática prescritiva, ou normativa, é aquela a que você provavelmente foi


exposto ao longo de sua escolarização. Isso porque, em geral, é essa a abordagem
usada para refletir sobre a linguística na disciplina de língua portuguesa. No entanto,
essa gramática pressupõe uma visão de língua homogênea, ou seja, um modelo de
língua que todo falante de uma língua deve seguir para estar de acordo com suas
regras. A gramática que acompanha essa visão de língua é a prescritiva, ou normativa,
aquela que dita normas e regras de um certo modelo de língua como se ele fosse o
único possível (NOBLE, 2020).
Conforme Franchi (2006, p. 16), alguns professores consideram que a
gramática seria “[…] o conjunto sistemático de normas para bem falar e escrever,
estabelecidas pelos especialistas, com base no uso da língua consagrado pelos bons

6
escritores. Dizer que alguém sabe gramática significa dizer que esse alguém conhece
essas normas e as domina”.
É nesse ponto que reside o maior problema da abordagem prescritiva da
gramática na escola. Ao considerá-la o padrão de excelência, a escola leva seus
alunos a perseguirem esse modelo ao longo da vida escolar. Porém, se esse é o único
ponto de vista gramatical ao qual se tem acesso, passa-se a acreditar que todo o resto
que produzimos como falantes em nosso dia a dia está errado. Nesse caso, o aluno
passa a vida acreditando que fala errado, que a língua é difícil, e duvida de sua
competência internalizada. Prioriza-se, nessa abordagem, a norma- -padrão e,
portanto, deixa-se de lado as variações da língua, que são muitas e dependem de
inúmeros fatores — sociais, econômicos, geográficos, entre outros.
Isso não quer dizer que a gramática normativa não tenha valor escolar, mas o
ensino de língua baseado somente na norma-padrão não pode desconsiderar as
variações e uma profunda reflexão linguística que passa, inclusive, pelas regras da
gramática normativa. Entra em jogo, nesse ponto, outra questão: muitos professores
afirmam compreender a variação linguística, mas consideram que ela deve ficar
apenas no âmbito da fala, sendo a escrita normatizada pela gramática da norma-
padrão. No entanto, os exemplos presentes em Franchi (2006) mostram que a escrita
escolar também não pode ser somente pautada nos padrões de certo e errado da
gramática normativa.

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Nesse exemplo, a concepção de gramática dos professores citados por Franchi
(2006) está associada à gramática normativa, que segue uma concepção de língua
dos escritores e de uma linguagem que seria mais culta e bela do que a falada no dia
a dia. O “bom português”, no entanto, como mostra Franchi (2006), nem sempre
garante um texto criativo.
No Texto 1, apesar dos desvios gramaticais, é possível notar uma maior
criatividade e, no Texto 2, uma maior contenção. Além disso, Franchi (2006, p. 26)
ressalta que o texto 1 não deixa de mostrar um “[…] razoável grau de amadurecimento
linguístico e textual”, considerando a capacidade do aluno escritor do Texto 1 de
construir uma série de operações complexas com a língua, como em “Era uma vez
um passarinho que vivia em uma árvore na frente da casa de João”, enquanto o Texto
2 tem estruturas bastante simples como “Eu gosto muito dos animais”.
Para Franchi (2006), portanto, esses exemplos evidenciam que o aluno do
Texto 1 demonstra um “controle” da língua muito superior, de certa forma, ao
demonstrado pelo aluno do Texto 2.

2.2 Gramática descritiva

A proposta da gramática descritiva tem como base o princípio da observação


dos fenômenos linguísticos. Ao contrário da gramática prescritiva, ela não tem o intuito
de prescrever regras, de ditar como a língua deve ser, mas sim de observar e
descrever como a língua tem sido utilizada pelos falantes.
Para Ferraz e Olivan (2011), a gramática descritiva é um conjunto de regras
que descrevem os fatos da língua. Analisando e descrevendo a língua real que os
falantes utilizam, é possível observar quais fenômenos linguísticos ocorrem, como a
língua se estrutura, o que é aceitável ou não em termos de língua. Essas regras
ajudam a observar o que é gramatical e o que é agramatical. Gramatical é aquilo que
atende “[…] às regras da língua segundo determinada variedade linguística”
(FERRAZ; OLIVAN, 2011, p. 2236). Em outras palavras, gramaticais são aquelas
estruturas e frases comuns à comunidade de falantes. Veja o exemplo a seguir.

8
É necessário eleger certos fatos da língua para observar, já que seria
impossível dar conta da totalidade de fatos da língua. Estudam-se, então, os fatos
sintáticos, aqueles de particular interesse à teoria, uma vez que a sintaxe é a parte
da gramática de organização da língua. Na descrição de um fato sintático, como a
posição linear que os elementos de uma frase ocupam, como no exemplo dado, é
possível observar que a língua permite certos posicionamentos e não outros. Com o
exemplo, nota-se que a gramática descritiva considera o falante, sua intuição, sua
língua internalizada, isto é, as possibilidades e impossibilidades da língua por meio de
fatos que são bastante intuitivos. O autor explica que: “[…] os falantes têm muitas
vezes intuições bem definidas […] em outros casos as intuições não são claras, e é
preciso lançar mão de outros recursos, como tentar observar o comportamento
sintático de uma sequência em outras frases” (PERINI, 2005, p. 45).
Toda gramática descritiva, portanto, pressupõe hipóteses e observação e,
consequentemente, constitui-se como resultado de uma pesquisa, argumentando e
justificando o caminho tomado. Por isso, do ponto de vista descritivo, não é possível
estudar gramática sem, ao mesmo tempo, fazer gramática, no sentido de refletir,
investigar e pensar nos fenômenos da língua.
Além disso, o trabalho de descrever uma língua inclui a descrição dos seus
aspectos formais somados aos significados que eles veiculam. Primeiro, é realizada
a descrição do aspecto formal e do semântico separadamente, posteriormente
realizando-se um confronto entre ambos (PERINI, 2005).

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2.3 O gerativismo e a gramática internalizada

A gramática internalizada é entendida como aquela que todos os falantes


possuem de maneira inata. Essa seria uma predisposição genética que permite não
somente a aquisição da linguagem, mas também o desenvolvimento de uma lógica
interna de organização da língua (NOBLE, 2020).
De acordo com essa perspectiva, a linguagem humana, expressa por meio de
uma língua natural, é entendida como um fenômeno cognitivo. A língua é tomada
como produto da mente humana, e é este entendimento que sustenta a teoria sobre
a gramática internalizada.
Segundo Kenedy (2013), a linguagem é um conhecimento implícito,
inconsciente no conjunto da cognição humana. Um indivíduo é capaz de produzir uma
infinidade de sentenças na sua língua materna sem se dar conta de que está
realizando isso, ou seja, ocorre de maneira inconsciente. Por isso, a linguagem é
entendida como um conhecimento tácito que os indivíduos possuem.
Essa concepção está ancorada no gerativismo, que tem como expoente
principal o cientista Noam Chomsky. Surge nos anos de 1950, quando o Chomsky,
então professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, formula suas ideias
sobre a “natureza mental da linguagem humana”. A teoria propunha a descrição dos
procedimentos mentais que “[…] geram as estruturas da linguagem, como as
palavras, as frases e os discursos”, sendo as frases organizadas por meio de regras
inconscientes na mente dos indivíduos (KENEDY, 2013, p. 17).
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Além disso, a teoria gerativista entende que as línguas naturais não só são
produto da mente humana, mas também possuem uma exterioridade; elas só se
tornam úteis como línguas naturais se puderem ser compartilhadas pelos indivíduos.
Para que uma língua exista, seu léxico precisa ser compartilhado pelos falantes.
Assim, pode-se dizer que há duas dimensões da língua, as quais foram
denominadas por Chomsky de língua-I (interna, individual e intencional), ou seja, a
língua enquanto faculdade cognitiva, e língua-E (externa e extensional), a língua como
código linguístico.

É a língua-I, portanto, o principal objeto de estudo da concepção gerativista,


uma vez que esta faz parte do sistema cognitivo do indivíduo. O estudo da língua-I é
o estudo da capacidade humana de colocar em prática os códigos da língua, como
fonemas, morfemas, palavras, frases. Entendendo que a língua-I está presente em
todos os indivíduos, Chomsky percebeu que, em vez de buscar uma descrição de
cada língua separadamente, era possível investigar as características universais das
línguas. Publicou, então, em 1965, Aspectos da teoria da sintaxe, em que explica os
conceitos de competência e desempenho. Competência linguística é o que permite
ao falante “[…] produzir o conjunto de sentenças de sua língua”. É por meio de sua
capacidade inata de linguagem que o falante desenvolve essa competência. Por outro
lado, o desempenho é o comportamento linguístico, são os fatores externos ou não
linguísticos, de ordens variadas, como inserção social, crenças, interlocutores, e
também o diferente “[…] funcionamento dos mecanismos psicológicos e fisiológicos
envolvidos na produção dos enunciados” (PETTER, 2015, p. 11). Isso quer dizer que
o a competência está internalizada no falante, enquanto o desempenho depende de
outros fatores. Por exemplo, você sabe falar em português, tem a competência
linguística. Porém, está apresentando um trabalho a uma turma cheia de alunos e

11
começa a esquecer palavras e gaguejar; seu desempenho está afetado pelo
nervosismo.
A teoria desenvolvida por Chomsky para explicar e analisar os dados foi
denominada de gramática gerativa, uma vez que, segundo ela, o falante pode, por
meio de um limitado número de regras internas que possui, gerar um infinito número
de sentenças. A gramática gerativa, portanto, tem por objetivo explicar e analisar as
frases potencialmente realizáveis em uma língua, cuja intuição do falante é o “[…]
critério da gramaticalidade ou agramaticalidade da frase” (PETTER, 2015, p. 11).
Observe a frase a seguir.

Problema este muito seu difícil é.

Neste exemplo, como falante, você consegue perceber que algo não está bem
na construção da sentença. Você não precisa ser um especialista em linguística para
perceber isso. É esse estranhamento que Chomsky entende como a intuição do
falante. Por menos escolarizado que o falante seja, ele é capaz de organizar os
elementos linguísticos que compõem esta sentença, tornando-a novamente
gramatical.
Uma sequência de palavras é agramatical quando, segundo Petter (2015), não
respeita as regras gramaticais internalizadas pelo falante. Um falante pode utilizar sua
competência inata para organizar o exemplo acima como:

Este seu problema é muito difícil.

Todo falante de uma língua natural possui competência para refletir sobre a
língua. Dessa forma, na escola, o professor de língua pode fazer valer essa
competência para proporcionar uma verdadeira reflexão sobre o objeto de estudo da
sua disciplina, utilizando-se de situações e exemplos do cotidiano dos alunos. No
entanto, não é isso que ocorre geralmente nas aulas de língua.

2.4 Interpretando fenômenos de linguagem

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A linguagem é um fenômeno que permeia nossa vida social em diversos
aspectos e é de fundamental importância em nosso dia a dia. É necessário, então,
entender a gramática como uma forma de refletir sobre o funcionamento da linguagem
(e não somente como um amontoado de regras em um livro).
Dessa forma, estudar gramática na escola é importante, porque proporciona
um espaço de reflexão e pesquisa, podendo inclusive promover a autonomia, a
criticidade e a curiosidade científica dos alunos (PERINI, 2005). Uma vez que se passe
a enxergar a gramática como meio de observar e interpretar os fenômenos da
linguagem que ocorrem no cotidiano, o sentido e a significação do ensino de gramática
tomam outro rumo e abrem caminho para diversas oportunidades. No exemplo a
seguir, é possível realizar uma interpretação muito simples de um fato da linguagem.

De acordo com Perini (2001, p. 13), todo falante “[…] possui um conhecimento
implícito, altamente elaborado da língua, muito embora não seja capaz de explicitar
esse conhecimento”. No Brasil, especialmente, em virtude da distinção muito evidente

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entre a língua brasileira falada e a norma culta do português, é possível perceber que
esse conhecimento da língua é algo naturalmente adquirido, e não fruto da instrução
escolar.
A interpretação dos fenômenos linguísticos pode se dar em vários aspectos,
que compõem as gramáticas de uma língua: a fonologia, a morfologia, a sintaxe e a
semântica. No entanto, esses aspectos não esgotam as possibilidades de
interpretação, pois ainda se poderia observar a história das formas linguísticas, por
exemplo. Esses aspectos “[…] constituem o estudo da estrutura interna de uma língua
— aquilo que a distingue das outras línguas do mundo, e que não decorre diretamente
de condições da vida social ou do conhecimento do mundo” (PERINI, 2005, p. 50).

2.5 Refletindo sobre os fenômenos linguísticos

Na escola, como você já viu anteriormente, não ocorre efetivamente uma


interpretação dos fenômenos da linguagem. Na maioria das vezes, na aula de língua
portuguesa, ensinam-se regras que não fazem sentido para o aluno. Utilizam-se
exemplos de grandes escritores, que geralmente não são do século XXI. Portanto, o
aluno tem acesso a uma gramática e a exemplos de língua que não condizem com a
língua conhecida por ele. Muito diferente do que muitos estudiosos defendem ser o
ideal:

[…] o que deveríamos esperar do aluno ingressante no ensino médio é a


capacidade de lidar com os aspectos da língua de modo reflexivo, sendo apto
a selecionar os recursos linguísticos e a estrutura gramatical adequados às
atividades de produção oral e escrita (FERRAZ; OLIVAN, 2011, p. 2238).

Em relação a essa postura reflexiva de língua e às concepções de gramática


que você viu até o momento, considere o fenômeno da regência verbal. A regência é
a relação entre um elemento, considerado regente e outro que o complementa. De
acordo com a gramática prescritiva, o verbo é o regente, e seus complementos variam
de acordo com o que o verbo “pede”. De acordo com a gramática descritiva, a regência
de um verbo é variável, dependendo do contexto. Além disso, varia segundo ao longo
do tempo, “[…] porque os falantes passam a interpretar de forma diferente o
significado dos verbos” (TENÓRIO; SILVA; SILVA, 2018, p. 233). Considera-se,
portanto, a gramática internalizada do falante. O verbo “assistir”, por exemplo, tem na
regência uma importante variação da significação. Que variações são essas e como
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as diferentes linhas teóricas sobre gramática a interpretam? No ponto de vista da
gramática normativa, o verbo “assistir” é apresentado como transitivo indireto ou
direto, observando-se a mudança de sentido conforme a mudança na transitividade.
Observe a seguir:

1. verbo transitivo indireto: aponta para o sentido de presenciar, ver, observar;


rege a preposição a e não admite a substituição do termo regido pelo
pronome oblíquo lhe, mas sim o (s) e a (s);
2. verbo transitivo indireto: aponta para o sentido de caber (direito a alguém),
pertencer; rege a preposição a e admite a substituição do termo regido pelo
pronome oblíquo lhe (s);
3. verbo transitivo direto: aponta para o sentido de socorrer, prestar
assistência e não rege qualquer preposição (A REGÊNCIA…, [200-?],
documento on-line).

Assim, quando “assistir” for empregado para indicar os sentidos apontados em


(1) e (2), é obrigatória a presença da preposição regida. Nesse caso, a gramática trata
da regência e da transitividade do verbo como uma prescrição, informando o que é
admitido ou não como complemento do verbo. Além disso, prescreve como obrigatória
a presença da preposição regida pelo verbo nos casos 1 e 2. A distinção e a prescrição
da regência desse verbo é semanticamente determinada, como por exemplo, em:

Assistimos ao jogo (1)


Não lhe assiste dizer se isto é certo ou errado (2)

Pela gramática descritiva, por outro lado, é possível entender o verbo “assistir”
também em suas ocorrências como transitivo direto, que rege um objeto direto, sem
preposição. Um possível exemplo é a própria acepção de assistir em “Assistimos o
jogo”. Isso porque observou-se, analisando os fenômenos linguísticos, que o uso de
grande parte dos verbos vem modificando a normatização. Notou-se também que há
uma relação mais direta entre o falante e a pessoa ou objeto a que ele se refere. Por
outro lado, o verbo “assistir” com o sentido de ajudar, auxiliar, socorrer, já é
normatizado como um verbo transitivo direto e é assim utilizado pelos falantes.
É possível também observar a forma como a gramática internalizada dos
falantes organiza esses usos. Podemos refletir sobre a voz ativa e a voz passiva em
relação ao verbo “assistir”. Observe que, pelas regras da gramática normativa, um
verbo só possui voz passiva quando é classificado como transitivo direto ou bitransitivo

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(direto e indireto). No entanto, é perfeitamente coerente e bastante utilizada pelos
falantes a ocorrência passiva, como na frase a seguir:

O filme de terror foi assistido pelas crianças.

Se, pelo viés da gramática normativa, “assistir” com sentido de ver, olhar, deve
ser transitivo indireto, tal ocorrência não poderia existir. No entanto, pela gramática
internalizada do falante, é perfeitamente corriqueira a ocorrência da voz passiva nesse
caso. Pode-se concluir que há uma discrepância entre aquilo que a gramática
normativa prescreve e aquilo que o falante entende intuitivamente como adequado.
Por fim, conhecer as regras gramaticais e saber como usá-las é também
importante. Por meio desse estudo, é possível ensinar as diversas configurações da
língua para preparar os alunos para as também diversas situações com que vão se
deparar na vida. Como explica Ferraz e Olivan (2011, p. 2236):

[…] saber gramática depende da ativação e do amadurecimento progressivo


de hipóteses sobre o que é a linguagem e quais seus princípios e regras.
Nela, o que pode ocorrer é uma inadequação da variedade linguística em um
dado momento de interação comunicativa, mas não o erro linguístico.

Para que possam se adequar às variedades linguísticas, portanto, os alunos


precisam conhecê-las, como todas as suas diversidades. No entanto, deve-se ter
como premissa que o aluno já tem conhecimento sobre a língua mesmo antes de
entrar na escola para ser alfabetizado. Considera-se, assim, sua gramática interna,
sua capacidade de produzir linguagem a partir do que já conhece. Além disso, é
fundamental incentivar o estudo da gramática por meio da reflexão dos fenômenos
linguísticos, que, como vimos, pode ser feita em certo grau por pessoas que não são
especialistas em linguística. Mais importante do que apontar erros e acertos, é
promover a reflexão sobre a língua.

3 CONCEITOS E INTERFACES: SINTAXE E MORFOLOGIA

Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de sintaxe e morfologia, duas


ciências que propõem, respectivamente, a análise da função sintática e da classe
gramatical dos termos de uma oração como forma de estabelecer conexões e
significados no texto. Você também vai entender como se dá o funcionamento da
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formação de palavras, base da morfologia, que serve de ferramenta para adaptar
palavras em relação ao significado que queremos comunicar.

3.1 Estrutura interna das palavras

O léxico é definido, tradicionalmente, como o conjunto de palavras de certa


língua. Em sua abordagem clássica, o estudo do léxico tem por objetivo uma
ampliação dos conhecimentos das características e propriedades de cada palavra.
Isso no passado e no presente, uma vez que há mudança de acordo com o espaço, o
tempo e a história de constituição de uma língua, uma vez que esta não é estática, ela
se movimenta conforme as sociedades evoluem. Pense, por exemplo, em palavras
como: internet, imprimir, escanear, tuitar. Há inserção delas no vocabulário de língua
portuguesa — algumas ainda sem registro formal, por enquanto — pelo senso comum.
Na tradição dos estudos gramaticais, a morfologia concentra-se em estudos da
flexão. Os diferentes processos de derivação e de mudança, bem como de extensão
de palavras, servem para funções predeterminadas, as quais se traduzem em
estruturas morfológicas lexicais. Lembre-se de que a morfologia não existe por acaso,
ela é historicamente a subdivisão mais antiga da gramática, mas reconhecida como
tal apenas na segunda metade do século XIX. Os linguistas que iniciaram os estudos
sobre morfologia não se percebiam, até então, como morfologistas. Dessa forma, o
léxico representa um depósito de elementos de designação, pois fornece unidades
básicas para a construção de enunciados e também comporta os processos de
formação das palavras (HOFF, 2014).
Aqui, o objetivo é fornecer para você, leitor, estudioso da língua, professor de
português, uma visão articulada dos principais processos de formação de palavras.
Você sabe por que esse conhecimento é relevante? Porque as estruturas
morfológicas constituem um instrumento fundamental tanto para a aquisição como
para a expansão do léxico individual e coletivo.
Agora, pense: de que forma o léxico se constitui na língua? Cada novo conceito
passa a ser registrado? Mas, assim, teríamos uma combinação de sequências que
não conseguiríamos realmente dar conta de guardar na memória? Portanto, para
máxima eficiência, a expansão do léxico acontece através dos processos de formação

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de palavras. Ou seja, a partir de fórmulas padronizadas de construção de novas
palavras a partir do que já existe no léxico.
Para Basílio (2006, p. 10), o léxico é “ecologicamente correto”, pois tem um
banco de dados em permanente extensão, mas utilizando material já existente, assim,
reduzindo a dependência de memória e garantindo a comunicação automática. Por
exemplo, em palavras como: computacional, globalização, etc., percebe-se formas
novas de palavras já existentes: o verbo computar, por exemplo, já existia, e serviu de
base para a formação de computador; o sufixo –ção, também já existente, possibilita
a construção da palavra computação, e assim por diante.

3.2 Formação de palavras e suas implicações para o ensino

O conhecimento acerca dos processos de formação de palavras (que pode


ocorrer através da reflexão sobre o funcionamento da nossa língua portuguesa)
possibilita que os indivíduos percebam que a língua existe como meio de comunicação
entre homens; sendo que as significações linguísticas estão na base dessa
comunicação. Quanto mais se compreende o funcionamento da língua como um
sistema vivo e mutante, mais habilitados os sujeitos estarão para compreender o

18
contexto no qual estão inseridos e aumentam-se as possibilidades de interpretação e
amplia-se a noção do certo e do errado e passamos então a perceber a língua como
algo que demarca historicamente um povo e um tempo. Diz-se com muita intensidade
que vivemos na sociedade da comunicação e da informação, na qual a palavra dita e,
sobretudo, escrita é utilizada com grande intensidade. As redes sociais modificaram
as relações dos indivíduos com o uso da palavra, o domínio dela, por conseguinte, é
possibilidade de ocupar diferentes espaços de forma adequada e fazendo uso da
riqueza que a língua oferece (HOFF, 2014).
O processo de formação de palavras traz implicações para o ensino, uma vez
que é preciso constante atualização e contextualização para que não se limite o
espaço do aprendiz. Se você parar para pensar, podemos citar inúmeras novas
palavras na nossa língua: agito, xingo, desmate, carreata, entre outras (ROCHA,
1998). A partir dessas novas criações podemos nos perguntar: por que algumas
causam estranheza e outras não? Por exemplo, a palavra desmorrer, já que a forma
desmerecer é aceita. Por que razão a palavra atingimento não é considerada como
uma palavra existente na língua, mas possível de ser criada? Por que uma palavra
proferida por uma figura pública causa tanto comentário? Pense na palavra imexível
e o que ela gerou após ter sido pronunciada por um ministro do Estado. Por que no
Rio Grande do Sul temos como forma consagrada lavagem e em Santa Catarina
lavação?
Estas e outras perguntas devem ser discutidas no âmbito da morfologia. No
decorrer do processo de ensino é necessário levantar alguns questionamentos com
os alunos:

▪ Qual o objetivo de formar novas palavras?


▪ De que maneira formamos novas palavras?
▪ Quando parece ser emergente apropriar-se de novas palavras ou de
palavras de outras línguas?
▪ Quais são as partes integrantes de uma palavra?
▪ A partir de que critério(s) podemos dizer que uma palavra existe em uma
língua?

19
Portanto, para os processos de ensino e aprendizagem, uma teoria morfológica
da língua objetiva definir como e quais novas palavras podem ser formadas. Assim,
um falante que escuta uma palavra, quer seja pela primeira vez, tem capacidade de
reconhecê-la como uma palavra de sua língua e assim permite a intuição sobre a
estruturação dela e de seus possíveis significados. Dessa forma, uma teoria
morfológica descreve esses fatos, sobretudo os mecanismos formais que criam novas
palavras e a análise de palavras que já circulam nessa língua.
É imperativo que a língua precisa ser ensinada na escola. A gramática
normativa, então, traz as regras. Mas a norma não pode ser uniforme e rígida. Ela
precisa ser elástica e contingente, evidenciando a sua adaptação de acordo com cada
situação social específica em que está inserida. Pense: o professor fala em casa da
mesma e exata forma que fala em sala de aula ou em uma conferência? Se a língua
é variável no espaço e na hierarquia social, como definir uma única representação
como a correta? Reflita sobre essa questão.

3.3 Contribuições históricas para os estudos de morfologia

Qualquer gramática de língua portuguesa que seja consultada dedica um


capítulo ao estudo da morfologia, isso quando consideramos as gramáticas do tipo
normativas. No contexto da linguística, ou seja, no que se refere ao estudo científico
do funcionamento da linguagem, a morfologia como campo de estudo tem,
historicamente, dias de valorização e de esquecimento. No período da gramática
estrutural, ela foi centro de atenção e, portanto, alcançou um progresso. Já no período
da linguística gerativo-transformacional, a morfologia ficou esquecida se comparada
à sintaxe e à fonologia. Observe o que diz Bauer (1983 apud ROCHA, 1998, p. 7):

No momento, o estudo da formação de palavras está sujeito a alterações


frequentes. Não há um corpo de doutrina pacificamente aceito nesse campo,
de tal forma que os pesquisadores estão sendo obrigados a estabelecer a
sua própria teoria e procedimentos à medida que caminham.

Porém, com o percurso histórico das sociedades e um ensaio cada vez maior
de compreensão dos fenômenos que estão postos no mundo, este pensamento tem
dado lugar para estudos cada vez mais aprofundados sobre morfologia. No âmbito da
língua portuguesa, autores se consagram nesse campo e ampliam a visibilidade e a
importância do estudo da ciência das linguagens. Margarida Basílio, por exemplo, tem
20
uma relevante obra publicada no Brasil, com o título: Estruturas Lexicais do Português:
uma abordagem gerativa, evidenciando assim o interesse crescente pela disciplina.
Quatro são as escolas que estudam e analisam o componente morfológico da língua:
o descritivismo, o historicismo, o estruturalismo e o gerativismo. Para as gramáticas
tradicionais, este tema é de menor relevância. No entanto, no período de influência do
estruturalismo houve um maior interesse, este logo ultrapassado pela teoria gerativista
(HOFF, 2014).

21
No Brasil, em meados da década de 1960, até inícios da década de 1970,
identificam-se os estágios iniciais da consolidação desse campo, isso com a
obrigatoriedade do ensino da linguística nos cursos de Letras. Em sua segunda fase,
a disciplina passa a integrar com as demais um campo desenvolvido de pesquisa na
graduação e na pós-graduação no país. Trabalhos começam a se destacar, entre eles
os do estudioso Mattoso Câmara Júnior (1970, 1971). É em meados da década de
1970 que a morfologia volta a ser legitimada como objeto de estudo na Teoria
Gerativa, destacando-se o nome de Noam Chomsky (1970).
Neste período de consolidação não poderia ser diferente, como o estudo das
estruturas internas da palavra, a morfologia se confronta com dificuldades de definição
do seu objeto de estudo. Com o decorrer das pesquisas em torno dessa temática
melhores definições são estabelecidas. Passa-se a trabalhar com regras de formação
de palavras. A partir dessa interpretação, historicamente, consolida-se o foco na
competência linguística. Ou seja, parte-se da possibilidade de pensar não apenas nas
formas existentes das formas lexicais, mas potencializar o estudo da ciência
linguística a partir da valorização da potencialidade das línguas para a formação do
novo, com o objetivo principal de atender as necessidades comunicativas.

3.4 Morfologia vs. Sintaxe

Morfologia é a parte da gramática que estuda as palavras de acordo com a


classe gramatical a que elas pertencem. As classes gramaticais são: substantivos,

22
artigos, pronomes, verbos, adjetivos, conjunções, interjeições, preposições, advérbios
e numerais. Já a sintaxe estuda a função que as palavras desempenham dentro da
oração, isto é: sujeito, adjunto adverbial, objeto direto e indireto, complemento
nominal, aposto, vocativo, predicado, entre outros (HOFF, 2014).

Quando se trata de análise morfológica, os termos da oração são analisados


isoladamente. Já na análise sintática, eles são analisados de acordo com a sua
posição, ou seja, de acordo com a função desempenhada (HOFF, 2014).

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De acordo com o apresentado pelas gramáticas modernas, você deve
considerar que a definição de palavra é uma unidade de som composta por vogais,
consoantes, semivogais, sílabas e acentos que compõem enunciados, além de
possuírem classificação morfológica. Já a frase trata-se do enunciado em si, com
capacidade de comunicar, e é analisada sintaticamente (HOFF, 2014).

3.5 Estrutura morfológica

Quanto à estrutura, você precisa conhecer alguns elementos importantes na


formação das palavras:

3.5.1 Morfema: unidade mínima de caráter significativo na palavra.

Considere a palavra “mesinhas”:

▪ mes — elementos básicos da palavra, radical que a identifica.


▪ inh — indica que a palavra está no diminutivo.
▪ a — indica que a palavra é feminina.
▪ s — indica que a palavra é plural.

3.5.2 Raiz ou radical: é a unidade irredutível da palavra, que concentra o seu


significado.

Considere a palavra “casa”, cujo radical é cas:

▪ casinha
▪ casebre

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▪ casarão

A partir do radical, você pode constituir várias palavras, acrescentado outros


elementos.

3.5.3 Desinência: é a unidade responsável por caracterizar as flexões. Pode ser


nominal (indicando gênero e número) ou verbal (indicando modo e tempo).

▪ Desinência nominal — menina, menino, criança, crianças.


▪ Desinência verbal — corri, correu, corremos, correram, correrias,
correrá.

3.5.4 Prefixos: são morfemas inseridos antes da palavra, modificando seu sentido.

▪ Atemporal
▪ Contraindicação
▪ Desconfigurado
▪ Refeito

3.5.5 Sufixos: são elementos acrescentados ao final da palavra, também dando


um novo significado.

▪ Panfletagem
▪ Casamento
▪ Rinite
▪ Perfeccionismo

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Fonte: concursosprevistos.com.br

3.6 O que é sintaxe?

Sintaxe vem do termo grego syntaxis (ordem, disposição). Tradicionalmente, ela se


refere à parte da Gramática que descreve o modo como as palavras são combinadas
para compor as sentenças. Essa descrição é organizada sob a forma de regras
(FORLI, 2012).
A sintaxe trata das relações que as unidades contraem no enunciado. Seu
ponto de partida é a combinação de formas livres, que segue dois princípios: a
sucessão e a linearidade — ou seja, as unidades se sucedem umas após as outras
numa linha temporal.
Por exemplo, você só pode explicar a expressão “a menina afaga o seu
cachorro” por meio de uma sucessão linear de unidades: a + menina + afaga + seu +
cachorro. Você pode perceber que, em português, há uma sequenciação possível:
menina + afagar + seu + bichinho + de + estimação, que leva à realização “a menina
afaga seu bichinho de estimação”, e não “estimação seu afaga bichinho a menina”.
Dessa forma, a própria língua apresenta elementos possíveis a fim de alterar a ordem
estrutural.
Ou seja, a sua capacidade como falante já é suficiente para que você tenha
algumas informações a respeito da estrutura sintática. Ao falar, você automaticamente
faz essa relação de ordem das palavras, pois apenas assim será compreendido.
O caráter básico da sintaxe é a relação, que resulta na subordinação de um
termo a outro. Com isso, temos a hierarquização dos constituintes oracionais.
Entretanto, a ordem linear, ou sucessão real, dos elementos na sequência falada não

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precisa necessariamente coincidir com a sequência determinada por regras de
dependência e hierarquização (FORLI, 2012).
Por ser um dos componentes básicos da linguagem, a sintaxe tem por objetivo
principal fazer certos conteúdos semânticos serem veiculados por meio de
sequências. Por isso, os tipos de elementos utilizados para estruturar as sequências
e dos quais resultam graus diferentes de coesão entre os constituintes variam muito
de língua para língua, mas o esquema e o mecanismo de estruturação do enunciado
são constantes.

3.6.1 Análise sintática

A análise sintática é o método que você deve utilizar quando quiser


compreender a estrutura de uma oração. Para utilizar este recurso de análise, você
precisa conhecer os termos da oração e a função sintática exercida por cada um deles.
De forma geral, você pode identificar os termos da oração em dois grupos: um
contendo os termos essenciais ou fundamentais, que são o sujeito e o predicado; outro
contendo os termos integrantes, que são o complemento verbal, o complemento
nominal e o agente da passiva, e os termos acessórios, que conhecemos por adjunto
adverbial, adjunto adnominal e aposto (FORLI, 2012).
Relembre a função dos termos essenciais na oração:

A menina bonita afaga seu bichinho de estimação.


▪ Sujeito: a menina
▪ Predicado: afaga seu animal de estimação

Ainda nessa frase, você pode identificar alguns termos integrantes, veja:

▪ Núcleo do sujeito: menina


▪ Adjunto adnominal: bonita
▪ Núcleo do predicado verbal: afaga
▪ Complemento verbal (objeto direto): animal de estimação
▪ Adjunto adnominal: de estimação

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Fazer a análise sintática de uma oração significa separar cada um de seus
elementos e classificar de acordo com suas características. A compreensão dessa
estrutura da frase vai ajudar você a escrever e pontuar corretamente.

3.7 Procedimentos de análise sintática no nível oracional

Um conjunto de palavras não é uma frase. Para ser frase, qualquer construção
precisa ter alguns princípios da língua. Esses princípios são percebidos por qualquer
usuário, mesmo por aquele com pouca escolaridade. Uma frase precisa,
necessariamente, ter significado. Exemplos:

▪ Pare! Socorro!
▪ Silêncio!
▪ As produções textuais estavam adequadas ao tema exigido.
▪ Exigido textuais as tema ao produções estavam.

Você percebe claramente que a última construção não pode ser considerada
uma frase, pois ela não tem alguns princípios da língua, nem comunica significado
algum. Já as construções anteriores comunicam uma ideia; logo, formam uma frase.
Você conclui, então, que não basta agrupar palavras para ter uma frase: é necessário
que esse agrupamento, esse conjunto, tenha significado para alguém.
Você pode dizer que uma oração é uma frase verbal, ou que ela é parte de uma
frase que obrigatoriamente contém um verbo expresso ou subtendido. Dessa forma,
a oração é diferente da frase por apresentar uma exigência: a presença de um verbo.
É em torno do verbo que os outros termos da oração se estruturam. Exemplos:

▪ Socorro! Boa tarde, queridos alunos!


▪ O livro que você me emprestou deixou a desejar.
▪ Paula toca piano, e seu namorado, violão.

Nos dois primeiros exemplos, você tem somente frase, pois não há presença
de estrutura verbal. Já nos dois seguintes há frase verbal e, portanto, oração, pois os
termos estão estruturados em torno de um verbo.
28
As frases que não são orações — ou seja, que não têm verbo — não apresentam
estrutura sintática. Isso quer dizer que elas não permitem fazer a análise sintática. Já
as orações — em que as palavras (os termos) estão relacionadas entre si —, elas sim
constituem o que chamamos de termos sintáticos. Veja, então, quais termos da oração
formam uma oração (BARBOSA, 2011).

3.7.1 Termos da oração

Os termos da oração são os elementos sintáticos da oração, formados por uma


palavra ou um agrupamento — conjunto de palavras que desempenham uma
determinada função sintática. Na maioria das gramáticas e manuais de análise
sintática, os termos da oração são enumerados desta maneira (BARBOSA, 2011):

Termos essenciais

Os termos essenciais são aqueles que compõem a estrutura básica de uma


oração. Veja a definição e exemplificação de todos esses termos.

Sujeito: pode-se representar por diversas classes de palavras e seu papel em


uma oração é identificar o responsável pela ação. O sujeito pode ser classificado
conforme a seguir.

Sujeito simples: caso em que há apenas um núcleo, ou seja, o verbo se refere


a somente um substantivo, um pronome, um numeral, uma só palavra substantivada
ou uma só oração substantivada.

▪ O gato estava com fome.


▪ Ele passou a roupa toda.
▪ Todos saíram da reunião.
▪ Os quatro colegas compraram os ingressos.
▪ O desapegar é importante nos dias de hoje.

29
Sujeito composto: caso em que há mais de um núcleo, isto é, o sujeito é
composto por mais de um substantivo, um pronome, uma palavra substantivada, uma
oração substantiva.

▪ O pai e a mãe superprotegiam o filho.


▪ Ela e eu subimos o morro.

Sujeito oculto: não está expresso na oração, mas pode ser identificado.

▪ Estávamos esperando por este dia. (nós)


▪ Terminei minhas tarefas. (eu)

Sujeito indeterminado: caso em que se desconhece quem executa a ação da


oração.

▪ Comia-se bem naquela casa.

Predicado: restante da oração (excluindo o sujeito). Pode ser verbal, nominal


ou verbo-nominal.

Predicado verbal: tem como núcleo principal o verbo. Exemplos:

▪ Eu fiz minha lição.


▪ Corremos a manhã toda.

Predicado nominal: tem um nome como núcleo e é composto por um verbo


de ligação e um predicativo. Exemplos:

▪ Ela está animada. (Está = verbo de ligação, animada = predicativo do


sujeito)
▪ Julia é inteligente. (É = verbo de ligação, inteligente = predicativo do
sujeito)

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Predicado verbonominal: possui dois núcleos, um verbo e um nome, pode ter
um predicativo do sujeito ou do objeto e indicar ação do sujeito e também uma
característica. Exemplos:

▪ As mulheres deixaram o salão irritadas.


▪ Eles assistiram à peça emocionados.

Predicativo: termo na oração que indica uma característica do sujeito ou do


objeto. Exemplos:

▪ Murilo está triste.


▪ Os professores julgaram adequado o reforço das aulas.

Termos integrantes

Os termos integrantes são os que se agrupam a determinadas estruturas, para


tornar essas estruturas mais completas. Acompanhe as explicações e os exemplos a
seguir.

Complemento verbal: composto pelos objetos direto e indireto.

Objeto direto: complemento de um verbo transitivo direto, que não precisa de


preposição. Exemplos:

▪ Recebeu o pagamento atrasado.


▪ Ela ganhou belos presentes.

Objeto indireto: complemento de um verbo transitivo indireto, que precisa de


uma preposição para ligar-se ao verbo. Exemplos:

▪ Necessitava de auxílio para as tarefas.


▪ Nunca doou nada aos pobres.

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Complemento nominal: termo que está ligado, por preposição ou substantivo,
ao adjetivo ou advérbio. Exemplos:

▪ Não aguentava mais a demora do ônibus.


▪ Recebeu notícias dela.

Agente da passiva: termo da oração que pratica a ação determinada pelo


verbo, em geral é introduzido por uma preposição. Exemplos:

▪ O e-mail foi escrito pela contadora da empresa.


▪ A nova determinação era conhecida por todos.

Termos acessórios

Os termos acessórios são aqueles que vão acompanhar substantivos,


pronomes ou verbos, informando alguma característica ou circunstância.

Adjunto adverbial: termo da oração que indica uma circunstância (tempo,


lugar, modo, causa, finalidade). Exemplos:

▪ Ela teve uma ideia brilhante.


▪ João não reagiu bem com a situação.

Adjunto adnominal: termo que qualifica ou especifica um substantivo,


independentemente de sua função na oração. Exemplos:

▪ O menino bonito jogava bola com o irmão.


▪ Arthur e João eram amigos de infância.

Aposto: termo da oração que oferece uma explicação referente a um


substantivo, pronome, entre outros. Exemplo:

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▪ Os professores, atenciosos e dedicados, organizaram a feira de
ciências.

Vocativo: termo de entonação exclamativa, relacionado com o sujeito, uma


forma de chamamento. Exemplos:

▪ Joana, não grite!


▪ Crianças, venham almoçar!

3.7.2 Tipos de oração

Os termos da oração que você acabou de conhecer são os termos sintáticos,


que fazem parte do que você chama de análise sintática interna — ou seja, são os
termos internos que estão sendo analisados. Contudo, existe também a análise
sintática externa, que faz a análise das orações.
Os tipos de orações que você encontrará na análise sintática externa são os
seguintes.

▪ Orações coordenadas: podem ser aditivas, adversativas, alternativas,


conclusivas e explicativas.
▪ Orações subordinadas substantivas: podem ser subjetivas, objetivas
diretas, objetivas indiretas, predicativas, completivas nominais,
apositivas.
▪ Orações subordinadas adjetivas: podem ser restritivas e explicativas.
▪ Orações subordinadas adverbiais: podem ser causais, conformativas,
temporais, concessivas, finais, consecutivas, condicionais,
comparativas.

3.7.3 Período

Você pode denominar que um período é formado por uma ou mais orações.
Mas frase e período não são a mesma coisa. Um período deve ser constituído por
pelo menos uma oração. Só que nem toda frase é uma oração; logo, nem toda frase
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pode ser considerada um período. Você pode classificar o período em simples ou
composto.
O período simples é formado por uma única oração. O período composto é
formado por duas ou mais orações. Exemplos:

▪ O teatro estava lotado. → apenas um verbo


▪ O teatro estava lotado e as pessoas aplaudiram com entusiasmo o
espetáculo. → dois verbos

4 CLASSES DE PALAVRAS E FUNÇÕES SINTÁTICAS

Com a leitura deste capítulo, você vai compreender cada vez mais a
morfossintaxe. Você vai conhecer alguns aspectos referentes às classes de palavras,
sobretudo no contexto da predicação nominal e dos complementos nominais.
Os objetivos estão centrados na determinação da relação entre as classes de
palavras e suas funções sintáticas; no estabelecimento da relação entre morfologia e
sintaxe e também na análise da construção dos elementos que compõem o predicado
nominal e seus papéis temáticos na estruturação dos textos em língua portuguesa.

Fonte: https://www.cidadaocultura.com.br/

As classes de palavras, também denominadas categorias lexicais, são


elementos que pertencem ao léxico. Dessa forma, em língua portuguesa, são
encontradas dez diferentes classes de palavras. São elas:

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▪ Substantivo
▪ Adjetivo
▪ Artigo
▪ Pronome
▪ Numeral
▪ Verbo
▪ Advérbio
▪ Preposição
▪ Conjunção
▪ Interjeição

A classe de palavras denominada substantivo, por exemplo, é definida desta


forma por sua propriedade semântica de designar seres ou entidades. Pela sua
propriedade morfológica, apresenta determinação de flexão de gênero e número e
pela propriedade sintática ocupa o núcleo do sujeito e complementos. Portanto, cada
uma das categorias lexicais é denominada de acordo com os três critérios:
morfológico, semântico e sintático.
Nesta análise, vamos nos valer do critério sintático para a caracterização das
dez classes gramaticais. Logo, o substantivo é um termo determinado e ocupa o
núcleo de uma expressão, ou seja, é sintagma nominal. Os adjetivos, como segunda
classe lexical, é composta de termos determinantes, ou seja, é representada por
termos que qualificam o substantivo a que fazem referência, portanto, concordam em
gênero e número com ele (CASTRO, 2011).

Substantivo: termo determinado com posição de núcleo (N) de uma expressão


(sintagma nominal). Exemplo: A bola (N) caiu.

Adjetivo: termo determinante do substantivo a que se refere; termos, estes,


que qualificam o substantivo e concordam em gênero e número com N. Exemplo: A
pequena (adjetivo feminino singular que determina o substantivo feminino bola) bola
caiu.

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A terceira classe de palavras engloba outros termos determinantes, são eles os
artigos. Estes determinam ou indeterminam o substantivo (N) a que se referem. Esta
classe de palavras também concorda em gênero e número com o núcleo do sintagma
nominal. Em seguida, temos os pronomes, como quarta classe de palavras. Estes
itens especificam o substantivo, e nesta situação são determinantes, ou substituem o
substantivo, nesta situação passam a ser termos determinados (BECHARA, 2005).

Artigo: termo (in) determinante do substantivo; concorda em gênero e número.


Exemplo: A (artigo feminino singular, determina o substantivo feminino bola) bola (N)
caiu.

Pronome: termo determinante do substantivo a que se refere; termo, este, que


qualifica o substantivo e concorda em gênero e número com N. Exemplo: A minha
(pronome feminino singular que determina o substantivo feminino bola) pequena bola
caiu.

Pode substituir o substantivo. Exemplo: Ela caiu.

Os verbos como classe de palavras, do ponto de vista sintático, são


predicadores que selecionam e relacionam os termos da oração. Mas, podem ser,
também, de ligação, e expressar noções gramaticais de tempo, modo, aspecto
número e pessoa. Dessa forma, junto com o nome, compõem a predicação. Após os
verbos, temos o advérbio como sétima classe lexical. Como termos determinantes, os
advérbios especificam a significação do termo a que se referem (BECHARA, 2005).

Verbo: predicadores (selecionam e relacionam os termos da oração) ou de


ligação (expressam noções gramaticais). Exemplos: (1) A bola quebrou (verbo
predicador) o vidro. (2) A bola é (verbo de ligação) pesada.

Advérbio: termo determinante do substantivo a que se refere; este tipo de


classe, especifica a significação do termo a que se refere. Exemplo: A bola furou
ontem (noção de tempo para o verbo furar).

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A preposição, como classe de palavras, é identificada pela sua característica
sintática de conexão dos elementos da oração, subordinando-os. A conjunção
também conecta termos, mas pode subordinar ou coordenar elementos. Já a classe
lexical composta pelas interjeições tem função sintática de frase, pois apresenta
sentido completo (BECHARA, 2005).

Preposição: conecta e subordina elementos da oração. Exemplo: A bola da


Joana furou. (Preposição de mais artigo a = da, preposição que subordina o elemento
bola à Joana).

Conjunção: responsável por conectar termos, mas pode subordinar ou


coordenar os elementos. Exemplos: Ela perdeu a bola porque foi desatenta.
(Conjunção subordinativa adverbial causal; logo, a causa de perder a bola foi a
desatenção) Julia gosta de jogar bola, mas também de ler. (Conjunção coordenativa:
Julia gosta de jogar bola/Julia gosta de ler; logo, conjunção coordenativa aditiva).

Interjeição: estes termos apresentam sentido completo, logo, têm função


sintática de frase. Exemplo: Puxa! A bola furou! (Puxa = interjeição que sintetiza uma
frase exclamativa).

Conforme você pode identificar, as classes de palavras em língua portuguesa


são representadas por dez grupos específicos. Cada um deles apresenta determinada
classificação conforme critérios semânticos, morfológicos e sintáticos. Nesta etapa de
leitura, o estudo está concentrado na análise sintática das classes lexicais. Certo?
Com relação às funções sintáticas desempenhadas pelas diferentes classes
gramaticais temos algumas definições. Os substantivos exercem por excelência a
função de sujeito (ou núcleo do sujeito) da oração e, no domínio da constituição do
predicado, podem exercer função de objeto direto, complemento relativo, objeto
indireto, predicativo, adjunto adnominal e adjunto adverbial.
Os adjetivos, como classe de palavras que se relaciona diretamente com os
substantivos, podem desempenhar função sintática de adjunto adnominal ou de
predicativo. Como predicativo ele é necessário para completar o sentido da oração
(CASTRO, 2011). Observe:

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▪ O dia está bonito. (O dia está. Neste caso, o adjetivo funciona como
predicativo, completa o sentido da oração e qualifica o substantivo dia.)
▪ O dia belo começava com o raiar no horizonte. (Neste caso, o adjetivo
desempenha função sintática de adjunto adnominal, não sendo um
termo necessário — O dia começava com o raiar no horizonte — e
qualifica o substantivo dia.)

Os artigos, como terceira classe de palavras, conforme ordem de apresentação


neste material, são termos que sintaticamente desempenham função de adjunto
adnominal, uma vez que sempre se referem a um substantivo — ou a uma palavra
por ele substantivada — e indicam seu gênero e seu número (CASTRO, 2011).
Exemplo: Ninguém entendeu o porquê dessa fúria.
Os pronomes, como classe de palavras que reúne termos que especificam e
que substituem o substantivo, podem desempenhar diversas funções quando
estabelecidas relações sintáticas entre os elementos que compõem as orações. Entre
elas, podem desempenhar papel de sujeito (CASTRO, 2011). Por exemplo, em uma
estrutura como: Eles chegaram cedo.
Mas o pronome também pode ser classificado sintaticamente como objeto
indireto. Exemplo: Não fale nada para ele.
E também como predicativo do sujeito: As culpadas foram elas.
Em tempo: os pronomes podem desempenhar função sintática de adjunto
adnominal. Exemplo: Muitos viajantes desistiram da viagem por causa do preço do
dólar.
Com relação aos numerais, é preciso observar, primeiramente, se eles estão
substituindo ou acompanhando o substantivo. Nas orações em que o numeral é
substantivo, ele pode desempenhar as mesmas funções do substantivo. Logo, pode
ser sujeito, objeto direto, complemento relativo, objeto indireto, predicativo, adjunto
adnominal e adjunto adverbial (CASTRO, 2011).
Nesta primeira situação, temos o seguinte exemplo de numeral substantivo: Um
é pouco e três é demais.
Agora, o numeral adjetivo, como aquele que acompanha um substantivo, a
função sintática possível é de adjunto adnominal. Neste segundo caso, temos o
exemplo: Duas pessoas compareceram à aula.

38
Os verbos, como uma extensa classe de palavras, desempenham função
sintática de núcleo do predicado verbal. Todas as orações são organizadas em torno
de um verbo (ou ausência de um) ou de uma locução verbal e o verbo sempre faz
parte do predicado. Logo, os verbos desempenham função sintática de núcleo do
predicado verbal. Nos casos dos verbos de ligação eles não desempenham papel de
núcleo do predicado. Neste caso, eles ligam dois elementos da oração: o sujeito e o
seu predicativo.
Advérbio desempenha na oração papel de adjunto adverbial. Estes termos são
de natureza nominal ou pronominal e se referem ao verbo, ou ainda, dentro de um
grupo nominal unitário, a um adjetivo ou um outro advérbio (nesse caso como
intensificador). Exemplo: (1) Maria é muito boa escritora. (O advérbio refere-se ao
adjetivo boa). (2) Maria escreve muito bem. (O advérbio refere-se ao advérbio bem).
A preposição não desempenha papel sintático nas orações. Elas estabelecem
conexão entre elementos (próximo do descrito anteriormente para os verbos de
ligação). É por este fato que são classificadas como conectivas ou palavras
relacionais. Mas lembre-se de que as preposições são fundamentais para a coesão
textual. Além dessas, as conjunções também desempenham papel de elementos de
ligação. Nesse caso, a morfossintaxe da língua identifica as conjunções como
conectivos (CASTRO, 2011).
A última classe de palavras, ou seja, a das interjeições, faz o fechamento desta
etapa da leitura. Esse grupo lexical abrange as expressões com que os indivíduos
traduzem os seus estados emotivos. As interjeições têm existência autônoma e, a
rigor, constituem verdadeiras orações. Elas podem assumir papel de unidades
interrogativas-exclamativas e também de chamamento, desempenhando, neste caso,
papel de vocativo.

4.1 Relação entre morfologia e sintaxe

Conforme vimos até o momento, a análise desenvolvida para a interpretação


das possíveis funções sintáticas das classes de palavras está diretamente relacionada
com a análise sintática e morfológica dos elementos que compõem a língua
portuguesa. Apenas é possível delimitar a função sintática das palavras, a partir da
relação que elas estabelecem com os outros termos da oração.

39
À morfologia cabe o estudo da estrutura, da formação e da classificação das
palavras. Neste campo de estudo, olhamos para as palavras de forma isolada. É no
contexto da morfologia que identificamos as dez classes de palavras, os seus
respectivos integrantes e as suas especificidades (ROCHA, 1998). À sintaxe, por sua
vez, investiga a disposição das palavras que compõem as frases e as orações. Ou
seja, na relação entre os elementos (relações sintáticas) podemos identificar
diferentes funções sintáticas para uma mesma classe gramatical. É por este caráter
de análise relacional que um substantivo pode desempenhar função de sujeito e em
outra situação pode ser classificado sintaticamente como objeto direto.
Logo, a relação entre morfologia e sintaxe é denominada morfossintaxe, ou
seja, neste contexto, analisamos as palavras e identificamos as classes as quais elas
pertencem (substantivo, artigo, adjetivo, pronome, numeral, verbo, advérbio,
preposição, conjunção e interjeição), mas, uma vez complementada pela análise
sintática, os elementos das classes de palavras podem ser: sujeito, predicado, objeto
direto, objeto indireto, predicativo do sujeito, predicativo do objeto, complemento
nominal, agente da passiva, adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto (CASTRO,
2011).
Dessa forma, é na análise simultânea que podemos delimitar as funções
sintáticas das classes gramaticais. Morfologicamente, as classes são estáticas, mas
sintaticamente se movimentam e um mesmo elemento pode desempenhar diferentes
funções.

40
5 SINTAXE E SEMÂNTICA

A linguagem é um sistema de signos simbólicos que expressa ideias e


sentimentos, e para que haja compreensão entre as pessoas, seus discursos têm que
estar semanticamente coerentes. Neste texto, você vai aprender que a semântica
prevê a relação mundo-discurso a partir da articulação das palavras com os
significados que elas veiculam, bem como a partir das relações que as palavras
estabelecem entre si na linearidade do discurso.

Fonte: www.stoodi.com.br

A sintaxe está relacionada com os aspectos superficiais da linguagem, como


estrutura e forma. Ela funciona como um conjunto de regras de combinação para
formar palavras, frases e orações. Já a semântica está relacionada com o significado
dessas construções sintáticas. Podemos conhecer a estrutura de uma palavra
isoladamente, porém é por meio da semântica que entenderemos o seu sentido
(BARBOSA, 2010). Por exemplo: Alea jacta est.
Essa frase significa “A sorte está lançada”. Esse exemplo mostra que, mesmo
você conhecendo a estrutura das palavras e sendo capaz de pronunciá-las, como
você não conhece a semântica (ou seja, o seu significado), esse enunciado não faz o
mínimo sentido para você. De acordo com a convivência com linguagens tidas como
“diferentes” ao nosso léxico, você passa a compreendê-las de maneira mais simples,
pois, à medida que o tempo passa, a sintaxe e a semântica vão se articulando de
maneira automática em sua mente.

41
Perceba também que, para entender o significado dessa frase, você precisou
ir além do sentido literal de cada palavra, não é mesmo? A sorte não é um objeto e
não pode ser lançada para algum lugar. Você compreendeu que alguém está
dependendo da sorte por experiência pessoal.
Veja mais um exemplo:

1. O campeão venceu novamente.


2. A bola venceu novamente.

Por mais que a estrutura sintática da frase (2) esteja adequada (sujeito = a bola,
predicado verbal = venceu novamente), ela não tem sentido. Você sabe que a bola é
um objeto inanimado, logo, não pode efetuar nenhuma ação.
A força da “coerência semântica” é tão importante que, mesmo que a
organização sintática esteja alterada, a frase ou enunciado ainda possuirá sentido.
Para compreender melhor essa afirmação, veja mais um exemplo: Quando 900 anos
de idade você atingir, parecer tão bem você não vai.
Apesar de a estrutura estar alterada, o falante/ouvinte pode compreender
perfeitamente o seu enunciado. Porém, se a estrutura sintática for perfeita e a sua
semântica apresentar defeitos, o ato de comunicação é considerado um fracasso
(BARBOSA, 2010). Por exemplo: Ideias verdes incolores dormem furiosamente.
Além disso, se a estrutura de uma oração for reorganizada, podemos obter um
novo enunciado com sentido totalmente diferente, como observado nos seguintes
exemplos: (1) Os grevistas pensam que o patrão não percebeu. (2) O patrão sabe que
os grevistas não perceberam.
Às vezes, as falhas na estrutura podem originar grandes falhas de
entendimento (significado semântico), como nos casos de estruturas ambíguas, nas
quais, em geral, a pontuação é definitiva para o entendimento adequado. Veja os
exemplos:

▪ Não quero saber!


▪ Não, quero saber.
▪ Vamos perder, nada está resolvido.
▪ Vamos perder nada, está resolvido.

42
A complexidade da linguagem humana não se reduz somente a regras lógicas,
pois o discurso pode ser analisado segundo diferentes perspectivas. Você pode
analisá-lo do ponto de vista da sua estrutura, por exemplo. Nesse caso, é a sintaxe
que analisa as relações entre os signos, independentemente do que eles designam.
Um conjunto de letras escritas ao acaso não pode ser considerado uma
palavra, como você pode perceber em “aiu”. Para que se torne uma palavra da língua
portuguesa, as letras terão de ser estruturadas conforme certa ordem: “joia”. Da
mesma forma, uma série de palavras só se constrói como uma estrutura frasal quando
as palavras se relacionam de certa maneira, desempenhando, cada uma delas,
diferentes funções. As palavras “a”, “está”, “sorte” e “lançada” só representam uma
estrutura frasal se apresentarem-se na posição “A sorte está lançada” (BARBOSA,
2010).
Nessa mesma reflexão, o discurso exige uma sequência de enunciados que se
relacionam entre si de acordo com determinada ordem, obedecendo a regras,
estabelecendo-as e analisando-as. Todo esse movimento articulatório é objeto da
sintaxe. Por isso, a sintaxe é denominada análise de regras que regem o
encandeamento dos signos no interior dos diversos atos de fala ou de discurso.
A conexão sintática entre os enunciados é garantida por uma série de termos
de ligação. Sem eles, não seria possível relacionar proposições diferentes, mas
somente construir proposições isoladas, como “o filme foi surpreendente” ou “o filme
é bom porque aborda assuntos importantes”.
Para ter proposições e assim construir um discurso, você precisa usar
determinados signos – como “e” e “ou”, entre outros – que concedem ao discurso a
sua estrutura. Assim, a sintaxe lógica é o estudo das relações entre os signos e as
proposições, abstraindo do seu significado; por isso, ela é a teoria da construção de
toda a linguagem lógica. Ela trata da determinação das regras que consentem
combinar os símbolos elementares de modo a construir proposições adequadas.
A análise sintática, ao lado da semântica e da pragmática, corresponde a outro
momento de investigação dos signos linguísticos, em que o foco de observação é sua
relação com os demais que integram o sistema. Dessa forma, o conceito por meio da
análise semântica desloca a investigação linguística para a relação formal com os
demais integrantes do sistema; nesse ponto em particular, as regras de sintaxe são
representadas, sobretudo, pela gramática (BARBOSA, 2010).

43
Isso acontece porque esses signos linguísticos não são utilizados sem a
reflexão do falante. As regras convencionalmente estabelecidas devem ser
obedecidas a fim de que, ordenadas, seja possível não só ao falante produzir sua
mensagem, como também ao ouvinte decodificar e apreender seu conteúdo. Veja um
exemplo na tirinha a seguir:

O caráter de coloquialidade se expressa pelo uso da forma verbal composta no


pretérito imperfeito do modo indicativo (tinha consertado). De acordo com a norma
padrão da língua, dado o tom hipotético da oração, deveria ser utilizado o imperfeito
do modo subjuntivo, tendo então “Pensei que você tivesse consertado” (ENEM, 2009).
Sendo assim, a análise sintática no trabalho da interpretação tem seu campo
restrito à relação dos signos entre si, uma vez que não se preocupa com o significado.
Ela se situa apenas no plano estrutural do sistema de linguagem. A expressão oral é
feita pela escrita, as regras a serem observadas são as originadas da gramática. Por
meio da investigação, você procura verificar se os termos foram corretamente
empregados dentro de uma proposição em nível de concordância entre sujeitos,
objetos, predicado, advérbios, e assim por diante, de acordo com as regras em vigor
para o idioma nacional.
Você pode perceber, portanto, que a semântica depende da sintaxe. O
emprego inadequado dos termos não só é um equívoco estético, como também pode
impossibilitar a adequada interpretação do texto, distanciando o falante,
involuntariamente, do sentido da mensagem que pretende transmitir.

44
5.1 Semântica

Até aqui, você analisou a relação dos signos (significado + significante) – ou


melhor, das palavras com os seus referentes (os objetos por eles designados) ou com
outros signos com idêntico ou distinto significado. Agora, você vai estudar os
problemas postos pela interpretação do significado dos signos, o estudo denominado
semântica. A semântica trata da significação ou do valor de verdade e/ou falsidade
das proposições (BARBOSA, 2010).
A fim de entender o que o falante quer dizer, você deve conhecer o contexto da
enunciação; em outras palavras, precisa conhecer quem disse, em que circunstâncias
disse e com qual intenção disse. Para você entender o que um colega comunica em
uma conversa, o que o médico fala em uma consulta ou o que um cronista escreve
em um artigo de jornal, não basta dominar o código. O domínio da língua é
fundamental, mas não é o bastante para você compreender a mensagem produzida
pelo falante naquele momento, naquele contexto. Os sujeitos que participam no
momento da comunicação empregam o significado do que é falado. Tal significado
depende de alguns fatores, como a experiência que a pessoa tem e o modo como as
expressões são usadas (BARBOSA, 2010).

5.2 Relações semânticas entre as palavras

Como já mencionado, a semântica trata da significação, ou seja, do sentido das


palavras agrupadas em uma oração. Quanto ao aspecto semântico da língua, é
importante que você conheça especificações desse tipo de avaliação. Acompanhe.

Sinonímia

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A sinonímia é o termo usado para designar palavras que representam a mesma
ideia, ou seja, palavras sinônimas.

▪ A casa em que moro é muito aconchegante.


▪ Meu lar é bastante agradável.

Perceba que o substantivo “casa” pode ser substituído por “lar” sem que haja
perda de sentido ou que o interlocutor perca a ideia transmitida pela frase. O mesmo
ocorre com os advérbios “muito” e “bastante” e os adjetivos “aconchegante” e
“agradável”.

Antonímia

A antonímia trata exatamente do oposto da sinonímia, ou seja, é o termo


utilizado para designar palavras com sentidos contrários.

▪ Ela administra bem suas finanças e economiza muito dinheiro.


▪ Ela administra mal suas finanças e gasta muito dinheiro.

Nessas frases, você pode perceber o sentido de contrariedade nos advérbios


“bem” e “mal” e nos verbos “economizar” e “gastar”.

Metonímia

A metonímia trata da substituição de um termo por outro com sentido


semelhante, que fornece a mesma ideia, mas que não tem exatamente o mesmo
significado, se posto fora de contexto, por exemplo.

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▪ Gosto de Chico Buarque.

Aqui, você vê a substituição da obra pela pessoa que a produz. Você consegue
entender que ao dizer “gosto de Chico Buarque” não estou me referindo à pessoa,
mas à obra produzida por ela.

▪ Usei Bombril para deixar as panelas brilhando.

Nesse caso, foi trocado o produto pela marca. Em determinado contexto, país
em que se vive, por exemplo, esse tipo de substituição fará sentido, mas talvez em
outro não. Lembre-se de que a metonímia só fará sentindo para o interlocutor se ela
estiver adequada à realidade e contexto social dele.

6 PALAVRAS E SINTAGMAS

Vamos tratar do léxico da língua portuguesa, com o objetivo de ampliar os


conhecimentos sobre as características e as propriedades de cada palavra.
Observaremos o conjunto arbitrário de palavras e conheceremos a relação que se
estabelece entre palavras e sintagmas, analisando o que isso significa para o
funcionamento da língua portuguesa.
Os objetivos do capítulo estão centrados na descrição dos itens lexicais e nos
aspectos que eles englobam na análise morfossintática; na demonstração dos
mecanismos mórficos ou sintáticos para a identificação das palavras em classes; e,
por último, no exame das características do sintagma nominal e do sintagma verbal.

Fonte: https://conceitos.com/
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6.1 Itens lexicais na análise morfossintática

Segundo Basílio (2004), o léxico apresenta certo teor de regularidade e é


elemento fundamental da organização linguística da língua, seja do ponto de vista
semântico ou gramatical. O conhecimento lexical permite analisar certas estruturas da
língua, seja em uma abordagem textual ou mesmo estilística. O que ocorre é que os
diferentes processos de derivação, de mudança e de extensão das classes das
palavras são traduzidos em estruturas morfológicas lexicais. É por essa característica
que se destaca a relevância do conhecimento dos itens lexicais e de seus aspectos
no contexto da análise morfossintática.
Primeiramente, é preciso saber que existe uma vasta possibilidade de
nomenclatura. De acordo com diferentes estudiosos, é possível encontrar
semelhanças e diferenças na classificação das palavras, dos vocábulos, dos lexemas,
das unidades ou itens lexicais. Neste capítulo, o foco se manterá na compreensão da
palavra, dos itens lexicais e dos sintagmas.
Vamos iniciar com os itens lexicais. Você sabe o que é um item lexical?
A língua existe para que possamos nos comunicar. Logo, é necessário
identificar as coisas sobre as quais queremos falar. Assim, é possível designar
pessoas, lugares, objetos, etc. Identificamos a língua como um sistema de
classificação e de comunicação. Nesse contexto, o papel do léxico apresenta dupla
função para língua: ele é um banco de dados com uma classificação prévia que
fornece unidades básicas para que o falante construa enunciados (BASÍLIO, 2004).
Assim sendo, o léxico categoriza aquelas coisas sobre as quais falamos, fornecendo
unidades de designação denominadas palavras. A palavra, portanto, desempenha
papel fundamental no processo de comunicação, pois possibilita identificação,
categorização e nomeação da realidade que cerca os falantes. É assim que os
indivíduos geram o léxico de sua língua (CASTRO, 2020).
Consideremos, agora, a seguinte questão: o que é palavra e o que é léxico?
Compreendemos a palavra como unidade de designação utilizada para a
construção de enunciados. No entanto, um conjunto fechado dessas unidades não é
suficiente para uma língua. Observe, por exemplo, as palavras que são incorporadas
ao cotidiano de fala dos indivíduos de determinada língua. Esse sistema não é
estático, ampliamos as unidades de designação, pois temos necessidade de

48
classificar situações, objetos e pessoas de formas não antes feitas. Por esse motivo,
produzimos (e reproduzimos) novas denominações. Precisamos de um sistema
dinâmico, que seja capaz de se expandir e de se moldar conforme às necessidades
dos falantes. Por exemplo, o léxico oferece as unidades de designação, como global;
a partir delas, elaboramos novos itens lexicais, tal como globalização
O léxico não se limita a um conjunto fechado de palavras. Ele é dinâmico e
apresenta estruturas que podem ser utilizadas para sua expansão. Dito de outro
modo, o léxico é mais do que palavra. No léxico, estão as estruturas e os processos
de formação de palavras que possibilitam a formação de novas unidades lexicais e,
por conseguinte, permitem a aquisição de palavras novas para os falantes (CASTRO,
2020).
Não devemos confundir item lexical com palavra: o primeiro faz referência aos
itens que estão armazenados na memória do falante; o segundo nomeia o termo que
é utilizado de acordo com a teoria gramatical. Assim sendo, existe o léxico externo e
o interno, conforme delimita Basílio (2004). Como conjunto de palavras, temos o léxico
externo, ou seja, aquele grupo que se verifica nos enunciados dos falantes. O conjunto
interno, ou mental, corresponde às palavras conhecidas pelo falante e também aos
padrões gerais de estruturação para interpretação e produção de novas formas. Para
a análise morfossintática, essa diferenciação é importante. Interpretamos palavra
como categoria mais genérica. Item lexical, no entanto, deve ser percebido como
unidade de nomeação de verbos e substantivos e outros, ou seja, como unidade
semanticamente registrada no léxico de uma língua, com potencial de combinação
com outros elementos afixais para formação de outras unidades ou sintagmas.
Para a análise morfossintática, a normalização dos itens lexicais é
imprescindível, pois esse é o processo que reduz as variações de uma palavra para
sua forma única. Os componentes formadores de palavras são o radical e os afixos.
O radical é o elemento básico, enquanto os afixos podem ser incorporados às palavras
para formar outras. Esses processos afetam significativamente a palavra original;
podem, inclusive, alterar a sua categoria morfológica (CASTRO, 2020).

49
6.2 Mecanismos mórficos ou sintáticos para a identificação das palavras em
classes

Classes de palavras são conjuntos abertos de palavras, os quais podem ser


definidos a partir das propriedades ou funções semânticas e gramaticais. Conhecer
as classes de palavras é fundamental para a compreensão do funcionamento de uma
língua, pois elas expressam as propriedades gerais das palavras. De fato, só é
possível descrever os mecanismos gramaticais mais óbvios, como a concordância de
gênero e número do artigo com o substantivo, se soubermos determinar qual palavra
pertence a cada classe.
De acordo com a gramática tradicional, podemos classificar as palavras de
diversas maneiras. É possível indicar uma classificação conforme acentuação (átonas
ou tônicas) por exemplo. Entretanto, o que está convencionado como classe de
palavras (ou categorias lexicais) corresponde a uma classificação mais específica, a
qual está relacionada com critérios semânticos ou gramaticais de análise (CASTRO,
2020).
Existe um critério ou um conjunto de critérios de classificação de palavras?
Existem divergências quanto a isso, mas, neste momento, é relevante pensar nos
critérios, uma vez que as classes de palavras são importantes para a descrição
gramatical. Dessa forma, pense na definição apenas semântica do substantivo, sobre
como ele se comportam nos enunciados. Esse critério daria conta da explicação? Não.
A posição de ocorrência das palavras na elaboração dos enunciados é essencial para
descrição gramatical. Desse modo, apenas o critério semântico não basta para a
descrição gramatical.
A definição sintática do substantivo como núcleo do sujeito, agente da passiva
ou objeto indica posições estruturais, mas não evidencia as propriedades de
concordância do substantivo em relação ao adjetivo, por exemplo. Do mesmo modo,
a definição sintática ou semântica do verbo não evidencia as necessidades das várias
formas verbais que expressam tempo, modo, número e pessoa. Portanto, conclui-se
que os propósitos de descrição gramatical exigem das classes de palavras uma
definição com diversos critérios. Assim sendo, para efeitos da descrição gramatical,
as classes de palavras devem ser definidas simultaneamente por critérios
morfológicos, sintáticos e semânticos (CASTRO, 2020).

50
6.3 Principais categorias lexicais

Como elementos do léxico, as classes de palavras podem ser denominadas


categorias lexicais. Segundo Basílio (2006), as classes de palavras que estão
envolvidas em processos de formação de palavras são as seguintes: „ Substantivos „
Adjetivos „ Verbos „ Advérbios.
A primeira classe de palavras, substantivos, é definida pela propriedade
semântica de designação de seres ou entidades; pela propriedade morfológica de
determinação de gênero e número; e, por fim, pela propriedade sintática de ocupar a
posição de núcleo do sujeito ou complemento.
A classe dos adjetivos é definida pela propriedade de caracterização ou
qualificação, sobretudo dos seres designados pelos substantivos. Os verbos, como
classe de palavras, representam relações no tempo e têm a função de predicação
com flexões de tempo e modo. Por último, a classe dos advérbios representa aquela
composta de palavras invariáveis com função de modificar os verbos, os adjetivos e
outros advérbios e enunciados.
As classes de palavras (ou categoria lexicais) são a base para a descrição dos
processos de formação de palavras. Por exemplo, a adição do sufixo -dade a um
adjetivo forma um substantivo: no caso do adjetivo leal, por meio da adição do sufixo
-dade, temos o substantivo lealdade. Assim, podemos constatar que a definição de
classes de palavras deve seguir os requisitos da descrição gramatical, bem como
aqueles requisitos relacionados ao processo de formação de palavras.
Quando afirmamos que o sufixo -ção é adicionado aos verbos para a formação
de substantivos, não se afirma apenas que ele se acrescenta a palavras que ocupam
o núcleo do predicado para formação de palavras que ocupam o núcleo do sintagma
nominal; na verdade, consideramos que palavras a que -ção é aplicável designam
eventos e situações que estão representadas no tempo e apresentam flexão de
tempo/modo/aspecto e número-pessoa. Portanto, as palavras produzidas designam
eventos e situações sem a marca de representação no tempo, sem flexão e com a
propriedade de acionar os mecanismos de concordância tanto de gênero quanto de
número.

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6.4 Sintagma nominal e sintagma verbal

Sintagma é um termo utilizado para designar dois elementos consecutivos. Um


deles é o determinado (principal) e o outro é o determinante (subordinado). Quem
introduziu este termo foi Ferdinand de Saussure (2006). Por exemplo, em um sintagma
básico, composto de sujeito e predicado, o elemento determinado é o verbo; o
determinante, o sujeito.
O que o sintagma identifica é a impossibilidade de dois termos serem
pronunciados ao mesmo tempo, ou seja, existe linearidade na expressão do signo.
Além disso, um termo apenas passa a ter valor depois de ser contrastado com outro.
O sintagma, portanto, trata da combinação de formas mínimas em unidades
linguísticas superiores. O que existe, em essência, é reciprocidade, coexistência e
solidariedade entre os elementos presentes na fala. Essa relação é sintagmática e
concebe o sintagma no plano mórfico e sintático. Dentro desse contexto, identifica-se
uma subdivisão dos sintagmas, de acordo com o núcleo que os compõem. Os tipos
de sintagma são: nominal, verbal, adjetival, adverbial e preposicional.
Neste momento, vamos centralizar nosso estudo em apenas dois tipos: nominal
e verbal.

6.4.1 Sintagma nominal

De acordo com Mioto, Silva e Lopes (2005), o sintagma nominal é composto,


obrigatoriamente, por um nome, seguido de seus determinantes. Esses determinantes
podem ser pronomes ou palavras que, em suas origens, pertenciam a determinadas
classes lexicais, mas que, a partir da recategorização, passaram a desempenhar o
papel de nomes.
O núcleo, portanto, pode ser combinado com outros elementos, como
complementos (a conquista da batalha), modificadores (o vestido azul) e também
especificadores, que podem ser definidos pelos determinantes e pelos quantificadores
(muitas balas). Portanto, as funções sintáticas que o sintagma nominal pode
representar são: sujeito, predicativo, objeto direto, indireto e oblíquo (nominal e
verbal), aposto, adjunto adverbial e vocativo (CASTRO, 2020).

52
No caso de o sintagma nominal apresentar apenas um especificador, este
ocorrerá na posição inicial do sintagma (esta aluna, muitos estudantes, etc.). Por outro
lado, quando o especificador for um quantificador não determinante, este pode acorrer
entre um determinante definido e o nome. Por exemplo: as várias amigas da Luiza.
Neste caso, a posição é intermediária.
Assim sendo, os quantificadores todos e ambos, quando iniciando sintagma
nominal, não podem preceder diretamente um nome sem a presença de um
determinante. Por exemplo: todas as ruas, ambas as ruas. Para confirmar essa
afirmação, pense na possibilidade da estrutura: todas casas e ambas casas. Essas
duas construções são agramaticais. No entanto, estes quantificadores podem ocorrer
na posição pós-verbal. Observe os exemplos de substituição:

▪ Todos os carros eram vermelhos → Os carros eram todos vermelhos.


▪ Ambas as meninas comeram doces → As meninas comeram ambas os
doces.

Com relação à função sintática exercida pelo sintagma nominal, no contexto da


oração, temos, na maioria dos casos, sujeito e complementos verbais da oração.
Analise o exemplo e as funções desempenhadas pelos sintagmas nominais:

▪ Os estudantes escreveram um texto.

Neste exemplo, são registrados dois sintagmas nominais: um na função de


sujeito e outro na função de objeto (complemento direto). Primeiramente, na função
de sujeito temos os estudantes como núcleo; sendo que o núcleo está em
estudantes, acompanhado do especificador os. Na função de objeto (complemento)
direto, temos um texto. Nesse segundo sintagma nominal, o núcleo é texto, e o
especificador determinante, um.

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6.4.2 Sintagma verbal

O segundo tipo de sintagma é o verbal, conforme apresenta Mioto, Silva e


Lopes (2005). Como o nome enuncia, o sintagma verbal é constituído pelo predicado
da oração. Nesse caso, o núcleo é o próprio verbo. Observe o exemplo a seguir:

▪ As colegas chegaram

Nesse exemplo, o predicado é o verbo chegaram. Este representa o sintagma


em evidência. Nesse tipo de sintagma, os elementos relacionados a ele são
denominados argumentos do verbo, os quais podem ocorrer inclusive na forma de
sintagma nominal, adjetival, adverbial ou preposicional. Desempenhando funções de
predicativo (predicação secundária), de objeto (complemento) direto, indireto ou
oblíquo (adverbial e nominal), os constituintes são exigidos pelo verbo. Sem esses
determinantes, não há oração com sentido completo; tanto sintaticamente quanto
semanticamente, são necessários para organização coerente das orações.
Com relação aos argumentos dos verbos, eles podem ser externos (o sujeito)
ou internos (os complementos). No entanto, nem todos os sintagmas verbais
apresentam complemento. Os verbos intransitivos, por exemplo, são exemplos de
sintagmas verbais desse tipo. Observe:

▪ Chove.
▪ Nevou.

Nesses exemplos, as frases são compostas de apenas um membro: o verbo.


Desse modo, este é autossuficiente e não precisa de complemento para dar sentido.
Esse tipo de sintagma verbal é denominado sintagma verbal reduzido.

7 MORFEMAS

Neste capítulo, você vai estudar alguns aspectos de aprofundamento em


morfologia. Nesta etapa, você vai conhecer as unidades morfológicas e as estruturas
internas das palavras, a partir do estudo dos morfemas em língua portuguesa. Além

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desses saberes, você também vai apropriar-se das características dos morfemas e da
diferença entre eles e os sintagmas.

7.1 Unidades morfológicas e estrutura interna das palavras

O primeiro aspecto que você precisa ter em mente está relacionado com o
surgimento de novas palavras em língua portuguesa. Pense: quando se formam novas
palavras? Como se formam novas palavras? Por que se formam novas palavras?
Primeiro, novas palavras são formadas a todo momento. Isso considerando
todas as suas modalidades. Mas, quais seriam essas modalidades? Podemos
destacar as seguintes: coloquial, culta, literária, técnica, científica, de propaganda,
entre outras. Dessa forma, a partir do uso e das necessidades dos falantes, e também
conforme o contexto e o período histórico, novos itens lexicais passam a fazer parte
de uma comunidade linguística. As formações podem ser esporádicas ou
institucionalizadas, conforme delimita Rocha (1998). As formações esporádicas são
aquelas relacionadas com o momento. Por exemplo, desmorrer. Nesse caso, uma
criança que brinca e diz que a formiga desmorreu. Ou seja, o contexto motiva a
criação da palavra por associação a outras parecidas e já existentes. Mas não significa
que ela venha a fazer parte do registro de palavras da língua. Esta e outras palavras
são criadas por impulsos momentâneos.
A forma institucionalizada de criar novas palavras é diferente e por este motivo
é denominada desta forma. Pense na palavra imexível. Ela foi pronunciada em um
contexto de publicidade de ato de um falante. Dessa forma, várias pessoas ouviram e
passaram a repeti-la. A circunstância era especial e tornou o vocábulo familiar para
os indivíduos. Por conseguinte, imexível passou a ser um vocábulo institucionalizado.
No entanto, você precisa saber: um vocábulo pode ser institucionalizado dentro de um
grupo de falantes de determinada língua. Por exemplo, indesmentível está
institucionalizada em determinada família e determinada residência. Logo, esta
formação é institucionalizada naquele grupo específico, mesmo que não seja
conhecido de outros grupos de falantes. O que você precisa se perguntar é: mas por
que alguns se tornam institucionalizados e outros não?
Conforme Rocha (1998), precisamos considerar a visibilidade do “criador” da palavra
e, em seguida, o poder da mídia dessa palavra. Ou seja, em que proporção esse

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vocábulo vai ser disseminado. Um vocábulo criado em um contexto mais restrito e de
forma esporádica, pode até ser institucionalizado, isso depende da dimensão que ele
atinge. Mantendo-se restrito, não será institucionalizado, mas, caso contrário, passe
a integrar a fala de um grupo maior de pessoas, ele poderá ser registrado. As redes
sociais, atualmente, têm um papel importante para a fixação de novos vocábulos.
Quando compartilhado por muitos, a palavra passa a ser conhecida e as pessoas a
utilizam fora das redes sociais. O poder da mídia é evidente neste exemplo. Palavras
como sextou e trolar saem das redes sociais e passam a fazer parte dos diálogos
entre os falantes (CASTRO, 2012).
Outra situação que mobiliza a formação de novos vocábulos tem relação com
o fato de que certos processos são mais apelativos e enfáticos do que outros. Por
exemplo, dizer fumódromo no lugar de sala de fumantes. Portanto, é importante você
saber que é difícil responder plenamente à pergunta: tal palavra existe? Pense nisso.
No nível morfológico, no entanto, passamos a tentar compreender as unidades de
sentido que compõem as palavras. No campo da análise linguística, estudamos
diferentes níveis, desde aqueles mais amplos, ou seja, os que estudam as unidades
mais amplas do discurso, até as unidades menores, como as sílabas e os sons. Entre
eles há um nível intermediário que estuda as unidades da língua as quais apresentam
certa autonomia formal. Essas unidades podem ser encontradas como entradas
lexicais do dicionário. Estamos, portanto, falando das palavras. Inserido nisso, temos
o estudo em nível morfológico. Ou seja, aquele que estuda as unidades de sentido
que compõem as palavras. Etimologicamente, a palavra morfologia se constitui de
dois elementos: morfo e logia. Originária do grego, significam, respectivamente, forma
e estudo. Por conseguinte, definido na gramática como o estudo que descreve as
formas das palavras. Mais detalhadamente: o estudo que tem como objeto de
investigação a estrutura interna das palavras (CASTRO, 2012).

56
7.2 Morfemas da língua portuguesa

Conforme descrito nos parágrafos anteriores, compreender o que é morfologia


pressupõe entender o que é forma, no sentido de sinônimo de estrutura, composta
esta de partes denominadas morfemas. A primeira informação que você precisa
internalizar é a de que toda estrutura é composta de elementos que estão
relacionados. Ou seja, isso explica que: todas as palavras são formadas por unidades
menores, as quais, quando combinadas, produzem significado. Essa combinação não
é aleatória. Na verdade, as estruturas internas, quando combinadas de determinada
forma, estabelecem relação e produzem significado. Assim, podemos afirmar que
determinadas palavras combinadas com outras exercem funções específicas nos
enunciados. Conclui-se que forma, função e sentido são solidários entre si e, até
mesmo, interdependentes (BECHARA, 2010).
Pense: quando afirmamos que lindos é um adjetivo masculino plural ou que
trabalhássemos é um verbo de 1ª conjugação que está no pretérito imperfeito do
subjuntivo e na 1ª pessoa do plural, estamos indicando que há marcas formais e
gramaticais, as quais delimitam esses enquadramentos, não é mesmo? Exatamente,
essas marcas formais são chamadas de morfemas.

7.3 Os tipos de morfema: radical e afixos

No exemplo anterior — lindos — a marca do masculino está no final -o, e a


demarcação de plural está em -s. Já no verbo citado, trabalhássemos, a marca do
pretérito imperfeito do subjuntivo está em -ss e a marca da 3ª pessoa do singular está
em -mos.
Agora, lindos tem um significado diferente de ricos, pequenos ou lisos. O que
há de comum entre eles, no entanto, são os morfemas -o e -s. Por esta similaridade
identificamos que ricos, pequenos e lisos também são palavras masculinas
compostas de plurais. O significado específico desses vocábulos está em lin-, ric-,
pequen- e lis-. O mesmo ocorre com o verbo trabalhássemos. Neste, a diferenciação
está em trabalh-. Na comparação com escrev- (escrevêssemos) e part- (partíssemos).
Os responsáveis pelos significados lexicais, nos exemplos supracitados, são
classificados como radicais (BECHARA, 2010).

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Com esta reflexão, podemos concluir que a palavra é constituída de dois tipos
de morfema:

▪ Aquele que expressa os significados na noção de mundo: lexical ou


externo (o radical).
▪ Outro que expressa o significado gramatical ou interno (os afixos
representados por morfemas de flexão e de derivação).

7.4 Vogal temática: o tema

Ainda, saiba que entre o radical e os afixos é permitido inserir uma vogal
temática (BECHARA, 2010). A missão dela é de classificação, uma vez que ela
diferencia os nomes e os verbos em grupos ou classes. Estes são conhecidos como
grupos nominais (casa/livro/ponte, etc.) e grupos verbais (denominados conjugações).
Por essa razão, podemos afirmar que o verbo trabalhássemos pertence à
primeira conjugação: trabalh-á-sse-mos. O verbo escrevêssemos é de segunda
(escrev-ê-sse-mos) e partíssemos (part-í-sse-mos) é de terceira conjugação. A
união do radical com a vogal temática representa o tema (BECHARA, 2010). Este é a
parte da palavra que está pronta para funcionar no discurso e também que está apta
para receber os afixos:

casa + s = casas
linda + s = lindas
livro + s = livros

Em algumas ocorrências, ao receber determinados afixos, a vogal temática


pode desaparecer — por exemplo em casinha [cas(a)inha]. Nos nomes, as vogais
temáticas são representadas por -a e -o. Estes dois demarcam o grupo nominal e

58
também indicam o gênero: a casa (feminino); o livro (masculino). Ainda nos nomes,
as vogais temáticas -o e -e podem ser representadas por uma semivogal de um
ditongo: pão/pães. Enquanto o -o pode passar para a variante -u: afeto/afetuoso
(afeto + oso = afetuoso).

No caso dos nomes terminados em consoante, a vogal temática -e, destacada


no singular, reaparece quando a palavra estiver no plural:

mar/mares (mar-e-s)
paz/ pazes (paz-e-s)
mal/ males (mal-e-s)

Por fim, é importante reforçar que a vogal temática aparece tanto nos temas
simples (livr-o) quanto nos derivados (livr-eir-o).

7.5 Morfemas livres e presos

O morfema será livre quando tiver uma forma que pode aparecer de forma
autônoma no discurso. Caso contrário, será preso. No exemplo agricultura, agri- é um
morfema preso, pois ele, sozinho, não tem sentido no discurso. Para significar campo,
ele precisa combinar com outro morfema (agrimensor, agrícola, agricultor, etc.).
Diferentemente de cultura, por exemplo, pois este tem vida independente no discurso
(a cultura do campo). O radical pode ter uma variante que só aparece como forma
presa. Este é o caso, por exemplo, de caber, que tem variante presa -ceber.
Aparecendo ela em: receber, perceber e conceber. A variante do morfema nesse
caos é alomorfe (BECHARA, 2010).
Os elementos, portanto, podem ser todos livres (compor, apor) ou todos
presos (agrícola, perceber), ou, ainda, combinados (agricultura, gasoduto). Assim,
59
uma só forma pode representar mais de um morfema. O -s, por exemplo, pode marcar
plural (casa/casas) e também 2ª pessoa do singular nos verbos (tu amas, escreves,
partes).

7.6 Características dos morfemas e diferenças dos sintagmas

Outra questão que precisa ser esclarecida está relacionada com a interpretação
dos sintagmas. Você precisa saber que além dos processos de formação e flexão da
palavra, à morfologia também cabe certa classificação das palavras. Ou seja, deste
processo devem ser considerados, além dos critérios formais, alguns sintáticos e
semânticos. Tudo isso pela possibilidade de classificação de uma palavra apenas pela
sua forma. Isso mesmo! A forma canto, por exemplo, pode desempenhar papel de
substantivo ou um verbo. Isso apenas depende da função e do sentido em que passa
a ser empregada. Observe:

O canto dos pássaros.


Eu canto como um pássaro.

No primeiro exemplo, a palavra funciona como um substantivo. Diferentemente


da segunda ocorrência, em que canto passa a funcionar como um verbo. Nesse caso,
o que deve ser considerado é a relação sintagmática. Ou seja, a combinação com
outros termos na frase ou no sintagma. Lembre-se de que qualquer forma pode
desempenhar função substantiva. Por exemplo: não gosto do cantar acelerado que
ela força. Nesse caso, cantar desempenha função de substantivo. Isso é possível de
ser concluído pela relação sintagmática que a expressão expressa na aproximação
com os outros sintagmas.
Para Saussure (2006), o sintagma se compõe sempre de duas ou mais
unidades consecutivas: re-ler; contra todos; a vida humana. Ou seja, as relações
sintagmáticas estão baseadas no caráter linear do signo linguístico. Nesse
entendimento, excluímos a possibilidade de pronunciar dois elementos da frase ao
mesmo tempo. Os termos se sucedem, um após o outro, de forma linear. Isso são os
sintagmas. Na cadeia sintagmática, um termo passa a ter valor a partir do contraste

60
com os outros; ou aqueles que antecedem ou aqueles precedem. Em alguns casos,
ocorre com ambos. Tudo isso devido ao caráter linear dos sintagmas. Analise:

Hoje faz calor.

Não é possível pronunciar jeho faz lorca. Não há sentido na inversão linear
dos termos. Essa cadeia fônica faz com que se estabeleçam relações sintagmáticas
entre os elementos que a compõem. A partir dessas análises, podemos concluir que
morfemas são as menores unidades formais associadas e dotadas de significado.
Enquanto os sintagmas são as sequências hierarquizadas de elementos linguísticos,
os quais compõem uma unidade na sentença; linearmente e na cadeia da fala. Dessa
forma, a noção de sintagma se aplica para além da palavra. A noção de sintagma se
aplica aos grupos de palavras e também às unidades complexas (palavras compostas,
derivadas, frases inteiras, etc). As relações sintagmáticas existem em todos os planos
da língua: fônico, mórfico e sintático.
Portanto, tenha em mente: morfemas são apenas as menores unidades da
forma das palavras; sintagmas, no entanto, são todas e quaisquer combinações de
unidades linguísticas na sequência de sons da fala, a serviço da forma (rede de
relações + componente semântico) de determinada língua.
Os morfemas são caracterizados, então, por um ou mais fonemas, mas
diferentemente destes últimos, apresentam significado. Os fonemas isolados não
apresentam significado. Observe:

/m/ /a/ /r/ /i/ /s/

Isolados, esses fonemas não fazem sentido. Mas, quando combinados,


constituem unidades mínimas de significado. Veja:

▪ [mar]
▪ [mais]
▪ [mas]

Por fim, podemos afirmar que os morfemas são caracterizados como:

61
▪ Elementos mínimos das emissões linguísticas com significado individual;
▪ Unidade mínima em um sistema de expressões que pode ser
correlacionada com alguma parte do conteúdo;
▪ As menores unidades significativas que podem construir vocábulos ou
parte deles;
▪ A menor parte indivisível da palavra que tem uma relação direta ou
indireta com a estrutura de significação.

8 ENSINO DE SINTAXE

Ensinar sintaxe não é uma tarefa fácil. Ela é, por assim dizer, a parte mais lógica
da língua portuguesa. Para entender a sintaxe, você precisa conhecer muito bem a
morfologia da língua para depois entender como as classes morfológicas –
substantivo, advérbio, adjetivo, verbo, preposição – transformam-se em funções
sintáticas – sujeito, adjunto adverbial, predicativo do sujeito, predicado, objeto indireto.
Sem conhecer essa interface morfossintática, o estudo da sintaxe pode ser
visto por muitos como difícil e entediante. A falta desse conhecimento pode gerar falta
de interesse e rejeição das aulas de língua portuguesa quando o assunto é sintaxe.
Porém, você deve entender que essas nomenclaturas e estruturas são
importantíssimas para que possa fazer uma boa interpretação textual e produzir
textos, tanto verbais quanto escritos.

Um texto, por exemplo, é coerente quando você consegue interpretá-lo de


maneira adequada. Portanto, estudar a coerência de um texto é estudar as condições
de sua interpretabilidade – condições como o conhecimento e o uso adequado dos
recursos léxicos e gramaticais da língua. Para enxergar a prática da sintaxe na
62
coerência textual, você vai tomar como base as metarregras de coerência ou
metarregras de Charolles.

8.1 As metarregras de coerência ou metarregras de Charolles

Michel Charolles é um estudioso francês e professor de Linguística da


Université Sorbonne Nouvelle, em Paris, França. Ao pesquisar sobre a coerência dos
textos, ele descobriu quatro princípios fundamentais responsáveis pela coerência
textual, as chamadas metarregras de coerência. Veja a seguir quais são elas.

Metarregra da repetição: um texto coerente deve ter elementos repetidos para


não ferir a coesão textual. Em uma frase, recuperar termos de frases anteriores por
meio de pronomes, elipses, elementos lexicais ou substitutivos constituiu um processo
de repetição ou recorrência. A coesão textual é, portanto, a primeira condição
(necessária, mas não suficiente) para que um texto seja coerente. Um texto coerente
deve retomar elementos anteriormente mencionados (BARBOSA, 2013). Veja o
exemplo:

Patrícia e Douglas esperavam nervosos o resultado do exame de gravidez.


Hoje, enfim, ele ficou pronto.

▪ Ele – pronome pessoal do caso reto, função de sujeito (o exame).

Metarregra de progressão: um texto coerente deve apresentar renovação do


suporte semântico. Um texto deve sempre apresentar informações novas à medida
que vai sendo escrito, evitando ser um texto circular, ou seja, sem elementos que
apresentem progressão (BARBOSA, 2013). Precisa acrescentar informações.

O historiador não conseguia se expressar de forma alguma. Quanto mais


tentava, mais confusa ficava a palestra. Uma hora, porém, cansado de não se fazer
entender e de ver que a plateia não estava mais prestando atenção, deu por encerrado
o encontro.

63
▪ Uso da conjunção coordenativa adversativa, porém para dar progressão
ao texto.

Metarregra da não contradição: em um texto coerente, o que se diz depois


não pode contradizer o que se disse antes ou o que ficou pressuposto (BARBOSA,
2013). Cada pedaço do texto deve “fazer sentido” com o que se disse antes.

Alguns alunos de Direito eram a favor da pena de morte para crimes hediondos
no Brasil, embora soubessem que essa questão não é aprovada no nosso país, a não
ser nos casos descritos na Constituição Federal.

▪ Embora – conjunção subordinativa concessiva, apontando que “mesmo


tendo o conhecimento em relação ao fato...”. A ideia de concessão está
diretamente ligada ao contraste, à quebra de expectativa.

Metarregra de relação: em um texto coerente, seu conteúdo deve estar


adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis (BARBOSA,
2013).

Margot foi nomeada juíza e, mesmo triste com a ausência de seus familiares,
começou a trabalhar.

▪ Mesmo – como conjunção subordinativa concessiva, sinônimo de ainda


que, embora.

Você pode perceber que, apenas com o conhecimento das metarregras de


coerência, já é possível visualizar o uso prático e efetivo da sintaxe na construção e
interpretação de um texto. Dessa forma, ao finalizar a construção textual, você deve
observar se todas essas regras foram favorecidas. Veja agora outra aplicação
sintática – os articuladores.
Articuladores são palavras ou locuções que unem, ordenam e costuram as
partes que compõem um texto. Dentro da gramática, é possível dizer que a maioria
desses articuladores é representada pelas conjunções como nexo sintático, ou seja,

64
nexo textual. As conjunções têm essa função por fazerem o papel de articulação
entre as ideias do texto. Elas também têm outras funções, como flexibilizar a costura
do texto, fazer o texto fluir, progredir sintaticamente para transmitir de forma clara e
coerente o pensamento do autor (BARBOSA, 2013). Nesses casos, expressões como
em primeiro lugar, por último, vale acrescentar, além do mais, entre outras,
também funcionam como articuladores sintáticos. Veja mais alguns exemplos de
articuladores sintáticos.

Os articuladores também estabelecem relações dentro do texto. Esses


articuladores são os conectores, que encadeiam as diferentes partes do texto,
expressando uma relação entre elementos linguísticos ou contextuais. Os mais
conhecidos são: porque, pois, uma vez que, já que, devido a, se, logo, então,

65
portanto, de modo que, assim, a fim de, mas, porém, entretanto, embora, apesar
de, mesmo que, ainda que, ou seja, ou melhor, enfim, finalmente.
O estudo dos articuladores textuais é importante para uma melhor
compreensão do processo de construção do sentido do texto e do discurso. O
emprego inadequado dos articuladores ou a interpretação inadequada de seu uso
pode constituir um problema tanto na produção quanto na recepção de textos,
interferindo no seu processamento (BARBOSA, 2013).

8.2 Articuladores que introduzem orações coordenadas

Para explicitar, você utiliza os seguintes articuladores: isto é, ou antes, neste


caso, sendo assim, por vezes, aliás, entre outros.
Para provar: com efeito, sem dúvida, na verdade, efetivamente, deste
modo, entre outros.
Para exemplificar: por exemplo, assim, tome-se como exemplo, importa
salientar, entre outros.
Para reforçar ideias: além disso, como já foi dito, por esta razão, entre
outros.
Para atenuar ou restringir ideias: mas, no entanto, todavia, sobretudo, pelo
menos, ressalve-se, entre outros.
Para concluir: finalmente, em conclusão, consequentemente, entre outros.

8.3 Articuladores que introduzem orações subordinadas

Articuladores que exprimem ideia de tempo: quando, antes que, antes de,
depois de, entre outros.

▪ Ideia de causalidade: porque, visto que, dado que, entre outros.


▪ Ideia de finalidade: para que, a fim de que, a fim de, entre outros.
▪ Ideia de condicionalidade: se, caso, contanto que, a menos que,
desde que, entre outros.
▪ Ideia de concessão: embora, apesar de, apesar de que, ainda que,
mesmo que, entre outros.

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▪ Ideia de conformidade: como, conforme, consoante, segundo, para,
entre outros.
▪ Ideia de consequência: de tal modo que, de forma que, que
(precedido de tão, tanto, tal), entre outros.
▪ Ideia de comparação: como, assim como, segundo, entre outros.

Como você pode ver, todo esse conteúdo dá grande suporte para que se possa
entender como a sintaxe funciona na prática.

9 O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO

Os países, distribuídos em quatro continentes, que têm a língua portuguesa


como oficial firmaram um acordo ortográfico que, ao longo dos anos, passou por
diversas mudanças. Além disso, é um acordo que engloba aspectos políticos, de modo
que sua discussão envolve dois grandes blocos de estudiosos da língua portuguesa:
os teóricos que defendem a importância da reforma, e outros que acreditam que essa
mudança aumenta a distância entre os falantes e a escrita formal. Dessa forma,
conhecer e refletir sobre aspectos contextuais, práticos e mesmo didáticos que
envolvem esse acordo e as mudanças pelas quais ele passou é fundamental para
todo profissional da área.
Por isso, neste capítulo, você conhecerá questões atinentes ao acordo
ortográfico, familiarizando-se com seus objetivos e reconhecendo regras que contém.
Para isso, você verá uma discussão incialmente historiográfica, já que é
imprescindível conhecer o contexto em que se firma tal acordo, assim como exemplos
e problematizações que envolvem o tema. Por fim, você também contará com uma
tratativa prática do acordo a partir de algumas de suas mudanças, especialmente
aquelas que tocam mais diretamente o Brasil.

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Fonte: www.qconcursos.com/

9.1 O novo acordo ortográfico da língua portuguesa

Certamente, você já ouviu falar, ou até falou, que a ortografia da língua


portuguesa é muito difícil, cheia de regras e de exceções. Provavelmente, essas
queixas aumentaram depois da polêmica mudança das regras ortográficas que se
efetivaram, no Brasil, no ano de 2016 — mudanças firmadas em 1990 entre os países
lusófonos.
Contudo, para falar sobre esse acordo ortográfico, o primeiro conceito
importante que devemos dominar é o de “lusofonia”, termo que se compõe de duas
partes: “luso” e “fonia”. O prefixo “luso” está relacionado a “português” (como adjetivo,
refere-se àquele que é da Lusitânia de Portugal). Assim, a história da palavra “luso”
está ligada a uma antiga província romana chamada Lusitânia que, geograficamente,
corresponde ao atual país Portugal. Já a palavra “fonia” está descrita no dicionário
Houaiss (2001, p. 914) como “1. Timbre de voz. 2. Conjunto de falantes (e escreventes
e legentes) usuários de uma língua (ou dialeto ou variedade nacional, regional ou
local), seja como vernácula, seja como franca ou de cultura”.
Assim, ainda embasados nas descrições de Houaiss, podemos dizer que
“lusofonia” (2001, p. 1203) é o:

1.1 conjunto de países que têm o português como língua oficial ou dominante
[A lusofonia abrange, além de Portugal, os países de colonização portuguesa,
a saber: Brasil, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé
e Príncipe; abrange ainda as variedades faladas por parte da população de
Goa, Damão e Macau na Ásia, e ainda a variedade do Timor na Oceania. ]

68
Apesar dos desacordos e discussões que envolvem a pertinência do termo
“lusofonia”, pensar no novo acordo ortográfico é pensar que oito países, com distintas
formações políticas, econômicas, religiosas e socioculturais percebem que seu bem
comum, o idioma, se unificado, ganha maior valorização internacional. Foi assim que
a República Popular de Angola, a República Federativa do Brasil, a República de Cabo
Verde, a República da Guiné-Bissau, a República de Moçambique, a República
Portuguesa, a República Democrática de São Tomé e Príncipe consideraram que a
ortografia unificada constituiria “[...] um passo importante para a defesa da unidade
essencial da língua portuguesa e para o seu prestigio internacional” (ACORDO…,
1990, documento on-line).
Veja, na figura 1, os países em que o português está presente espalhados pelo
mundo.

Além de pensar nos países que falam o português, e de se ater ao fato de ter
havido um acordo de alteração ortográfica, você precisa ter em mente que ortografia
não é língua, mas um código, e, portanto, um dos aspectos que se relacionam a uma
língua, estando em nível superficial; ou seja, a ortografia registra o uso da língua, que
é muito mais profunda do que isso: é sintaxe, é morfologia, é vocabulário, é contexto,
é muito mais.
Sobre a questão linguística, Henriques (2011) argumenta que a dificuldade/
facilidade de entender um português de Portugal pode ser a mesma que um morador
do sul do Brasil pode ter de entender um falante do norte do Brasil, e isso não significa
que norte e sul falem duas línguas diferentes. O acordo não veio para modificar isso,

69
visto que a ortografia está mais relacionada a “traduzir” a modalidade falada para a
modalidade escrita padrão do que para representá-la. Dessa forma, devemos
entender que o novo acordo não veio para unificar a língua, mas para uniformizar seu
registro escrito. Além disso, o acordo ortográfico se trata, especialmente, de uma
decisão política, muito mais do que linguística.
Essa concepção demonstra que a ortografia é uma convenção e está mais
relacionada a um costume, a uma aprendizagem “de fora para dentro” (ou “de cima
para baixo”) do que à formação interna e profunda de uma língua. Para Abbade (2015,
documento on-line), “Todo e qualquer sistema ortográfico é sempre uma convenção,
um combinado, um acordo, de natureza político cultural. A necessidade de uma
ortografia portuguesa regular surge com a sua escrita”.
Assim, as questões mais profundas serão mantidas. Por exemplo, mesmo que,
nos diferentes países de fala portuguesa, tenha-se perdido a obrigatoriedade de letras
duplas, quando elas não são pronunciadas, em Portugal, elas continuam sendo
utilizadas na escrita e na oralidade.
Quanto à necessidade política que preparou o terreno para o novo acordo,
Henriques (2011) argumenta que, se Angola se distanciasse ainda mais do registro
escrito padrão usado no Brasil, isso dificultaria as compras de livros (técnicos, por
exemplo) angolanos. Se Portugal se distanciasse muito desse registro ortográfico
similar, isso poderia levar a uma preferência por compras de livros em inglês, língua
global da atualidade. É nesse sentido, também, que unificar o registro escrito do
português faz abrir o mercado editorial dos países lusófonos a nível mundial,
fortalecendo a língua — fato que tem a seu favor argumentos como o prejuízo que a
diversificação ortográfica gerava devido à elaboração de documentos oficiais,
publicações gerais, desde os dicionários, até os livros didáticos, científicos e literários
em registros ortográficos distintos. Para Henriques (2011), essa lógica não procede,
pois, assim como não se espera que haja um espanhol com grafia argentina, um
espanhol com grafia colombiana, um espanhol com grafia espanhola, não deveria ser
natural o português ter duas grafias distintas.
Abbade (2015, documento on-line) resume essas vantagens com as seguintes
palavras:

Esse novo acordo previa inúmeras vantagens: possibilitar a comunicação


diplomática entre os países lusófonos; aumentar a difusão da cultura entre os
países envolvidos; estabelecer a língua portuguesa como língua de cultura,
70
ampliando seu prestígio junto às Instituições Nacionais; permitir que as obras
escritas possam ser vendidas em todos os países lusófonos; favorecer o
intercâmbio de materiais didáticos.

Vemos, com essas apresentações e reflexões, que o acordo é uma soma de


desacordos e, ainda, tem muita história a contar e a construir.

9.2 Um pouco da história da construção do acordo ortográfico

Há muito, tenta-se padronizar as ortografias de Brasil e Portugal, e essa história


se resume nos pontos-chave que você observa a seguir (ABBADE, 2015).

▪ Início do século XX: língua portuguesa com pluralidade de grafias não


padronizadas.
▪ 1907: a Academia Brasileira de Letras (ABL) aprova uma reforma
ortográfica.
▪ 1907: reforma ortográfica aprovada fica limitada às publicações da
própria Academia.
▪ 1910: nomeia-se, em Portugal, comissão para estabelecer uma
ortografia simplificada.
▪ 1911: efetiva-se reforma que modifica completamente o aspecto da
língua portuguesa escrita.
▪ 1911: resistência do Brasil (que tinha ortografia de influência
etimológica) leva as duas ortografias a ficarem completamente
diferentes.
▪ 1915: ABL assemelha a sua ortografia com a portuguesa.
▪ 1919: ortografia proposta pela ABL, em 1915, é revogada.
▪ 1915: início de buscas por um acordo entre a Academia das Ciências de
Lisboa e a Academia Brasileira de Letras.
▪ 1924: Portugal e Brasil recomeçam a procurar uma grafia comum.
▪ 1929: ABL altera as regras de escrita baseada na etimologia e retoma o
caminho da simplificação.
▪ 1931: retorno à ortografia portuguesa de 1911.
▪ 1934: o Brasil revoga o acordo de 1931 e retorna ao passado.
71
▪ 1943: Convenção Luso-Brasileira retoma o acordo de 1931 com o
Formulário Ortográfico de 1943.
▪ 1945: tentativa de retorno à etimologia por parte de Portugal, vigorando
apenas naquele país e sendo recusado pelo Brasil.
▪ 1971: o governo português altera algumas regras da ortografia de 1943.
▪ 1973: Portugal realiza alterações que reduzem as divergências
ortográficas com o Brasil.
▪ 1975: a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de
Letras elaboram novo projeto de acordo não aprovado oficialmente.
▪ 1986: encontro dos países de língua oficial portuguesa para impulsionar
um novo acordo ortográfico.
▪ 1990: a Academia das Ciências de Lisboa convoca novo encontro,
elaborando a base do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa que
está hoje contemplada em lei.
▪ Atualidade: até hoje continua sendo discutido e cada país toma uma
atitude diferente.

Nas palavras de Abbade (2015, documento on-line), “O novo texto, bem menos
problemático que o de 1986, teve dois grandes objetivos: fixar e delimitar as diferenças
entre os falantes da língua portuguesa e criar uma comunidade com uma unidade
linguística expressiva para ampliar o seu prestígio internacional”.
Sobre todas essas questões, o documento oficial (BRASIL, 2009, documento
on-line) posiciona-se da seguinte forma:

Foi, pois, tendo presentes estes objetivos, que se fixou o novo texto de
unificação ortográfica, o qual representa uma versão menos forte do que as
que foram conseguidas em 1945 e 1986. Mas ainda assim suficientemente
forte para unificar ortograficamente cerca de 98% do vocabulário geral da
língua.

Apesar disso, como o próprio panorama histórico mostra, “fixar e delimitar as


diferenças” não é tão fácil assim, visto que as discussões sobre o acordo ortográfico
não foram poucas, nem internamente, entre quem era e é a favor dele, nem
externamente, entre a comunidade de linguistas que eram e são contra essa reforma.

72
As críticas soam diversas, não apenas de cidadãos comuns, mas também de
muitos especialistas renomados, como é o caso do linguista Sírio Possenti (2008,
documento on-line):

Perguntado ou não, o que sempre fiz questão de dizer é que a reforma não
aumenta em nada a capacidade de leitura de textos. Dito de outra maneira,
fazer uma reforma porque ela facilitaria a leitura de livros brasileiros na África
ou em Portugal é uma bobagem. Qualquer pessoa que saiba ler, mesmo
precariamente, lê textos com a grafia de Portugal e do Brasil, assim como lê
textos mais antigos e textos escolares, de alunos, por mais que apresentem
problemas de grafia.

Outra linguista que ecoa na contramão da reforma é Coudry (2008, documento


on-line), para quem a reforma é uma má política linguística: “[...] [não] é preciso que
se escreva exatamente igual para que haja entendimento mútuo e não é porque se
estabeleceu uma regra comum que se falará perfeitamente igual em todos os países”.
Ainda que as críticas sejam muitas, os defensores da reforma ortográfica têm
argumentos para elas, como Bechara (2015, p. 281), que afirma que:

Muitas das vozes de resistência apresentaram e ainda apresentam razões


destituídas de qualquer fundamentação real. A primeira delas, compartilhada
por vozes fora do país, argumentava que o Acordo de 1990 escondia o
propósito de neocolonização por parte do Brasil, porque as Bases
ortográficas atendiam mais aos hábitos vigentes entre o nosso país do que
aos hábitos vigentes entre portugueses e africanos. Pondo de lado o
argumento de que o texto foi assinado sem restrição por representantes de
sete nações soberanas, por mais superficial que seja a leitura das Bases,
percebe-se que o Acordo mais se aproxima das normas estabelecidas pelo
sistema de 1945, corrente entre portugueses e africanos, do que pelo sistema
de 1943, oficial somente no Brasil.

Para Henriques (2011), o acordo ortográfico não está concentrado nas


questões orais, fonéticas ou de uso, e não pretende tocar nisso. Segundo o autor, o
documento está concentrado no registro formal da língua para representar
documentos, textos oficiais, técnicos, científicos, de jornal — na maioria das vezes.
Assim, o acordo preza pela linguagem formal, a escrita de prestígio.

73
9.3 O que mudou, afinal?

Ainda que, no Brasil, os falantes tenham se queixado a respeito das mudanças


de certas regras ortográficas, Portugal foi o país que mais precisou adequar-se às
alterações. Estima-se que 1,6% do vocabulário de Portugal tenha sofrido alterações
na escrita, enquanto, no Brasil, somente 0,5% das ocorrências vocabulares sofrerão
alteração. E que mudanças foram essas, afinal? O acordo ortográfico foi dividido em
vinte seções, cada qual fundamentada por uma base. A estrutura do acordo segue a
seguinte arqueologia (BRASIL, 2014):

74
▪ Base I — do alfabeto e dos nomes próprios estrangeiros e seus
derivados.
▪ Base II — do h inicial e final.
▪ Base III — da homofonia de certos grafemas consonânticos.
▪ Base IV — das sequências consonânticas.
▪ Base V — das vogais átonas.
▪ Base VI — das vogais nasais.
▪ Base VII — dos ditongos.
▪ Base VIII — da acentuação gráfica das palavras oxítonas.
▪ Base IX — da acentuação gráfica das palavras paroxítonas.
▪ Base X — da acentuação das vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das
palavras oxítonas e paroxítonas.
▪ Base XI — da acentuação gráfica das palavras proparoxítonas.
▪ Base XII — do emprego do acento grave.
▪ Base XIII — da supressão dos acentos em palavras derivadas.
▪ Base XIV — do trema.
▪ Base XV — do hífen em compostos, locuções e encadeamentos
vocabulares.
▪ Base XVI — do hífen nas formações por prefixação, recomposição e
sufixação.
▪ Base XVII — do hífen na ênclise, na tmese e com o verbo haver.
▪ Base XVIII — do apóstrofo.
▪ Base XIX — das minúsculas e maiúsculas.
▪ Base XX — da divisão silábica.

Embora tenha sido acordada em 1990, apenas em 2016 a nova ortografia


passou a vigorar no Brasil. Esse caráter tão recente da efetivação dessa nova forma
de registro ortográfico em nosso país leva a pensar em algumas de suas regras.
Quanto a isso, não há escapatória: é preciso ler e reler o conteúdo e comparar o antes
e o depois — assim como é preciso desmistificar, para alunos e/ou para membros da
sociedade de forma geral, certos “mitos” apresentados, tais como “agora não há mais
hífen” ou “não se usa mais acento”.
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Para os estudantes mais jovens, essa etapa será mais fácil, pois eles já
aprenderão as regras a partir do novo — não precisarão, portanto, comparar o antes
e o depois. Contudo, para os acadêmicos e especialistas, a comparação é inevitável.
Uma das críticas recebidas feitas ao acordo se refere à queda do acento
utilizado para diferenciar certos tempos verbais, como o caso do presente do indicativo
na terceira pessoa, “para”, que pode ser confundido com a preposição “para”.
Contudo, essa queda do acento diferencial não ocorre sempre, O verbo “pôr”, por
exemplo, não perdeu o acento, para não ser confundido com a preposição “por”.
Assim, também, a terceira pessoa do singular do pretérito perfeito de “poder” (pôde)
não perdeu o acento circunflexo, para não ser confundido com a forma verbal no
tempo presente. Veja na Figura 3, a seguir, uma tirinha com um exemplo do verbo
“poder” conjugado e da preposição “por”.

9.4 Algumas regras ortográficas do novo acordo

Nesta seção, abordaremos algumas das regras apontadas no novo acordo,


concentrando-nos nas principais alterações. Lembramos que é muito importante que
você conheça todas as regras e, para isso, você precisará visitar o documento na
íntegra.

9.4.1 Eixo I – Alfabeto

Antes composto por 23 letras, atualmente, comporta as letras K, W e Y,


somando 26 letras ao todo. A justificativa para tal se deu pelo fato de que, no Brasil,

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essas letras já eram utilizadas em nomes próprios, por exemplo, e em algumas
abreviaturas, como em “km” (abreviatura para quilômetro).

9.4.2 Maiúsculas e minúsculas

Um ponto importante e pouco difundido é a mudança do uso de maiúsculas e


minúsculas: meses, dias da semana e estações passam a ter seus nomes grafados
em minúsculas: segunda-feira, e não Segunda-feira, como era anteriormente; janeiro,
e não Janeiro; e primavera no lugar de Primavera.
O mesmo ocorre, agora, com os pontos cardeais: todos eles iniciam em
minúsculas — exceto quando usados em termos absolutos (“Vou para o Norte”;
“Conheço algumas línguas do Ocidente”). Opcionalmente, usa-se minúscula em:

[...] nomes que designam domínios do saber, cursos, disciplinas: inglês ou


Inglês; português ou Português; matemática ou Matemática. Nomes de
logradouros públicos (salvo nos nomes próprios neles contidos): rua da palma
ou Rua da Palma; avenida da liberdade ou Avenida da Liberdade. Nomes de
templos, edifícios ou monumentos (salvo nos nomes próprios neles contidos):
igreja dos anjos ou Igreja dos Anjos; convento de Mafra ou Convento de Mafra
(ACORDO..., 2015, documento on-line).

As alterações sobre esse quesito merecem nossa concentração, tendo em vista


que os estudantes preterem esse tema e, muitas vezes, inclusive, escrevem com
minúsculas seus próprios nomes e sobrenomes.

9.4.3 Acentuação gráfica

Uma das polêmicas da nova ortografia se relaciona às alterações,


especialmente, dos acentos diferenciais. Trata-se de uma das mais severas críticas
ao novo acordo, pois pode gerar confusão na leitura e, consequentemente, levar a
mal-entendidos. Como vimos, a supressão do acento diferencial na forma verbal
“pára” (3ª pessoa do singular no presente do indicativo) pode levá-lo a ser confundido
com a preposição “para”. Contudo, os defensores da supressão do acento
argumentam que uma leitura se faz, sempre, dentro de um contexto, e que o próprio
contexto haverá de esclarecer em que tempo verbal se insere o verbo, conforme em
“Ele para de trabalhar, sempre, às 18 horas” e “Ele trabalha para pagar as contas”.
Veja, no Quadro 1, as novas regras relacionadas à acentuação gráfica.

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9.4.4 O hífen

Certamente, o hífen foi a base que mais causou impacto na ortografia do


português brasileiro. Isso porque algumas palavras ganharam a hifenização, outras
simplesmente a perderam e algumas, além de a terem perdido, aglutinaram-se. O
Quadro 2, a seguir, apresenta algumas das alterações relacionadas ao hífen.

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9.4.5 Qual é a importância global de seu uso com proficiência?

Uma questão importante a ser considerada é que línguas como a francesa, por
exemplo, têm registro ortográfico com base etimológica; ou seja, a partir da origem da
palavra. Já o português tem registro escrito de base fonética, isto é, a partir da
sonoridade das palavras. Considerar essa questão nos leva a observar que sempre
haverá maiores dificuldades para os registros nos países de língua portuguesa, com
mais regras e exceções.
Por isso, para compreender melhor a concepção da reforma ortográfica, foi
necessário destacar princípios, tais como a noção de que a oralidade e a ortografia
pertencem a ordens distintas (lembrando o que foi dito na primeira seção: a ortografia
é convenção que não serve para representar, ipsis literis, os sons da fala, mas para
codificá-los). Por assim ser, certos desacordos não significariam um problema, mas
uma consequência natural das distinções das diferentes nuances atribuídas aos
diferentes lugares de fala — lembramos, aqui, não apenas nos diferentes países, mas
também no interior de um mesmo país, como ocorre com os diversos falares dentro
do Brasil.
Para Henriques (2011), defensor da reforma ortográfica, a polêmica já
abordada se pauta, muitas vezes, no desconhecimento sobre o que seja a ortografia,
primeiramente, gerando o preconceito equivocado de que, se mudou a ortografia,
mudou a língua. Além disso, o autor considera que a mudança gera incômodo por
mexer com o que se estava habituado e que se trata apenas de um costume.

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Assim, o uso proficiente das novas regras ortográficas se relaciona com os
lugares pelos quais você circulará e, para isso, sua escrita deverá estar adequada.
Documentos oficiais, textos para provas e concursos, trabalhos com revisão de textos,
dentre outros, precisarão estar adequados aos critérios proposto pelo acordo.
Portanto, embora o contexto, especialmente na modalidade oral, quase sempre
seja responsável por esclarecer a intencionalidade do falante, as situações formais de
uso exigirão a norma de prestígio na modalidade escrita. Nesse sentido, conhecer as
novas regas da ortografia auxiliará o profissional das linguagens, os futuros
profissionais e aqueles que precisam apropriar-se delas para os diferentes usos
sociais.
Na Figura 5, por exemplo, temos uma tirinha que exemplifica essa questão: na
oralidade, não é possível diferenciar o uso das formas porque, por que, por quê — na
fala, todas soam exatamente da mesma forma. No entanto, na escrita, é preciso
basear-se nas regras oficiais da língua e diferenciar essas formas de acordo com o
sentido, como fica claro no último quadro da tirinha.

Como vemos, são muitas as questões que englobam a reforma ortográfica


assinada pelos países de língua oficial portuguesa. Além das questões relacionadas
à história dessa tentativa de unificação, é importante destacar que se trata de uma
unificação na modalidade escrita e que não se concentra nas questões de uso oral e
informal.
Além disso, é importante ter em mente que, tanto interna quanto externamente,
o acordo foi assinado a partir de desacordos, não foi totalmente pacífico e é envolto
em polêmicas. Por outro lado, está assinado e precisa ser coerentemente difundido.

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Por isso, é importante conhecer algumas das regras que causam maior dificuldade e
polêmica e ler o acordo na íntegra.
Entendendo que os objetivos desse acordo são unificar e simplificar, é preciso
apropriar-se dessas regras com proficiência e, inteirando-se dos aspectos mais
relacionados à política linguística e as duas diferentes visões sobre a reforma,
desenvolver um pensamento crítico sobre a temática.
Trata-se, entretanto, de um trabalho incompleto, porque não é possível dar
conta de quase vinte anos de polêmicas, tampouco de mais de um século de
discussões. Contudo, fica o convite, especialmente, para que você leia o acordo em
sua íntegra e siga envolvido nas pesquisas sobre o assunto, que é dinâmico e
constantemente se modifica, já que seu objeto é uma entidade viva, a língua.

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