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Conhecimento para Platão

O que define conhecimento? Qual a diferença entre conhecimento e uma crença ou opinião? Essa é uma questão
filosófica para a qual Platão ofereceu uma resposta que ainda hoje é debatida. Seu conceito de conhecimento é
esclarecedor sob vários aspectos.
Para compreendermos seu conceito de conhecimento, analise os cenários abaixo.
Primeiro cenário
Valdir não tem opinião formada sobre a data do aniversário de Brenda e o aniversário dela é hoje.
Segundo cenário
Valdir acredita que o aniversário de sua amiga Brenda é hoje, porém o aniversário de Brenda é na próxima semana.
Terceiro cenário
Valdir lança aleatoriamente um dardo no calendário enquanto grita “Brenda” e o dardo pousa na data de hoje. Com
base nesse resultado casual, Valdir decide que hoje é o aniversário de Brenda e, de fato, isso é verdade.
Quarto cenário
Valdir olha para a carteira de motorista de Brenda e percebe que hoje é seu aniversário. Não tem motivos para
acreditar que a data da licença de Brenda seja imprecisa, passa a acreditar que o aniversário dela é hoje o que de
fato é verdade.
Temos aqui quatro situações hipotéticas, sobre as quais podemos dizer que Valdir sabe ou não sabe a data do
aniversário de sua amiga. Em quais delas você diria que Valdir sabe o dia do aniversário de Brenda e em quais não?
Por quê?
Crença
Não diríamos que Valdir tem conhecimento no primeiro cenário. Afinal, ele nem sequer tem opinião sobre o
assunto, não tem uma crença formada. Então, considerando esse caso, parece correto dizer que ter uma crença é
uma condição necessária para alguém ter conhecimento.
Outra forma de notar como conhecimento e crença estão relacionados, e analisando as afirmações abaixo:
 Sei que a Terra é redonda, mas não acredito nisso.
 Não acredito na existência de Deus, mas sei que ele existe.
Parece contraditório afirmar que se sabe de algo, mas não se acredita nisso. Sempre que sabemos, necessariamente
acreditamos. Por outro lado, o inverso não é verdadeiro, posso acreditar e ainda assim não saber. Saber e acreditar
são coisas diferentes.
É importante notar que, nesse contexto e na filosofia, a palavra “crença” não necessariamente é uma “crença
religiosa”. Nesse contexto de uso, “crença” é qualquer opinião que uma pessoa pense ser verdadeira. Posso dizer,
por exemplo, que acredito que a grama é verde, que o sol é quente e que a água mata a sede. Em todo os casos
tenho uma crença, ou seja, penso que uma afirmação é verdadeira.
Verdadeira
Se acreditar é uma condição para ter conhecimento, apenas isso não basta. No segundo cenário podemos observar
isso, pois Valdir acredita que hoje é o aniversário de Brenda, porém está errado. Ninguém diria que, nesse caso,
Valdir sabe o dia do aniversário de sua amiga, porque sua crença é falsa.
Assim, chegamos a segunda condição importante para termo conhecimento: a verdade. Só podemos ter
conhecimento de afirmações verdadeiras. Assim, sob certos aspectos, ter conhecimento é como ver. Se afirmo que
vi o Júlio na escola hoje, mas na verdade ele não estava lá, na verdade não vi nada. Pensei ter visto, me enganei, mas
em situação alguma eu realmente vi uma pessoa que não estava lá. O mesmo acontece com o conhecimento. Não
posso saber algo que é falso, posso estar enganado, confuso, mas não saber.
É importante, então, não confundir pensar que se sabe e saber realmente. O primeiro caso depende apenas de um
estado psicológico, depende apenas da pessoa. Já o segundo exige que o mundo seja de certa forma, depende de
como é a realidade fora de nós. Se penso que o Brasil foi governado por uma rainha por dois séculos, não importa o
quão intensamente acredite nisso, não saberei realmente. Para saber realmente minha crença tem que ser
verdadeira e para isso é necessário que um fato histórico, que está fora de meu controle, tenha existido.
Então, até aqui podemos concluir que há duas condições necessárias para uma pessoa ter conhecimento: acreditar e
sua crença ser verdadeira. Porém, isso é suficiente?
Justificada
No terceiro cenário, Valdir passa a acreditar que o aniversário de Brenda é hoje baseado em um jogo de dado. De
fato, ele acerta a data do aniversário, de modo que sua crença é verdadeira. Mas isso é suficiente para dizermos que
ele sabe o dia do aniversário de sua amiga?
Dificilmente diríamos isso. Se um estudante acerta as questões de uma prova de múltipla escolha usando dados, não
diremos que sabe o conteúdo da prova. O mesmo vale para Valdir. Então, para que ter conhecimento não basta ter
uma crença verdadeira.
No quarto cenário, podemos dizer que Valdir de fato tem conhecimento da data do aniversário de sua amiga. Isso
porque, além de acreditar corretamente, baseou sua crença numa justificação. Ele observou na carteira de motorista
dela a sua data de nascimento e a partir disso formou uma crença verdadeira. Essa é uma boa razão para chegar
uma conclusão como essa, afinal não tem qualquer motivo sério para pensar que a data está errada no documento.
Assim, chegamos a um conceito de conhecimento que parece captar bem o que dizemos quando afirmamos que
uma pessoa tem conhecimento ou sabe de algo. Para isso, ela precisa ter uma crença, que seja verdadeira e
justificada, ou seja, baseada em fatos ou raciocínios que são boas razões para pensar que é verdadeira.
Platão e o conceito de conhecimento
O conceito de conhecimento como crença verdadeira e justificada foi desenvolvido inicialmente por Platão no
diálogo Teeteto. Nesse diálogo o filósofo discute a natureza do conhecimento, através de um diálogo entre Sócrates
e Teeteto.
Durante muito tempo essa definição foi bastante consensual. Só no século XX, a partir de um problema apontado
por Gettier, que ela foi colocada em dúvida. De qualquer forma, esse conceito de conhecimento aparentemente
capta muito bem, geralmente, o que consideramos ser o conhecimento.
Questões sobre conceito de conhecimento de Platão
1. De acordo com Platão, o que é conhecimento?
a) Uma opinião.
b) Uma crença verdadeira.
c) Uma crença verdadeira e justificada.
d) Uma revelação divina.
2. Se definirmos conhecimento como “crença verdadeira”, a qual objeção essa definição está sujeita?
a) Existem crenças que são falsas, como a de que unicórnios existem.
b) Existem formas de conhecimento que não envolvem crenças, como quando sei que 2 + 2 = 4.
c) Existe conhecimento falso, não apenas verdadeiro.
d) Uma pessoa que possua uma crença verdadeira ainda assim pode não saber aquilo que acredita.
3. Sobre a frase. “Ter conhecimento e acreditar são a mesma coisa? ” Assinale todas as alternativas corretas.
a) Sim, porque se acreditamos em algo, isso será um conhecimento para nós. Se acredito que Deus existe, então
tenho conhecimento disso.
b) Não, porque a crença depende apenas do indivíduo. Já o conhecimento exige que a crença seja verdadeira, o que
não depende do indivíduo.
c) Não, porque as pessoas podem acreditar em algo, mesmo sem saber nada realmente sobre aquilo.
d) Sim, porque sempre que temos conhecimento, acreditamos.
4. Dentre 27 países, o Brasil é o país com o maior número de pessoas que já acreditaram em uma notícia que, na
verdade, era boato (fake news): (62%). Árabes e sul-coreanos (58%), peruanos e espanhóis (57%), chineses (56%) e,
empatados em quinto lugar, suecos, indianos e poloneses (55%) completam o ranking.
Global Advisor: Fake News, Filter Bubbles, Post-Truth and Truth
A partir da pesquisa e dos conhecimentos sobre o conceito platônico de conhecimento, é correto afirmar que
a) prevalece entre os brasileiros a exigência de justificação para que uma pessoa possa ter conhecimento.
b) Em certa medida, a adoção de uma concepção de conhecimento em que a crença predomina, mesmo na ausência
de verdade e justificação.
c) Existe um predomínio do conhecimento proveniente da internet.
d) Ocorre a prevalência de uma concepção de conhecimento baseado na revelação divina.
5. Em 2016 a palavra “pós-verdade” foi eleita pela Oxford Dictionaries como a palavra do ano. Além de eleger o
termo, a instituição definiu o que é a “pós-verdade”: um substantivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas
quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças
pessoais”.
André Cabette Fábio. O que é ‘pós-verdade’, a palavra do ano segundo a Universidade de Oxford.
Do ponto de vista do conceito tradicional do conhecimento, é possível dizer que:
a) São os “fatos objetivos” que permitem afirmar se uma pessoa tem ou não conhecimento.
b) As crenças pessoais definem o que é ou não conhecimento.
c) O conhecimento tem menos valor do que uma crença.
d) Apelos à emoção são formas válidas de justificar uma crença, pois levam ao conhecimento.
e) O conceito de pós-verdade é uma negação da ideia de conhecimento proposta por Platão.

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