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Internismo e externismo

O’Brien, ITC, cap. 8


internalismo

• O internismo requer que uma pessoa


tenha uma «compreensão cognitiva» do
que quer que seja que torne a sua
crença justificada.

• (Bach, “A rationale for Reliabilism”, in Bernecker & Dretske,


2000, p. 201)
internalismo
• [A] tarefa da epistemologia é construir um princípio ou
procedimento doxástico a partir de dentro, do nosso
próprio ponto de vista individual.
• (Goldman, “The internalist conception of Justification”1980, p. 32)

• [Só] aquilo que está dentro da perspectiva do sujeito, na


medida em que seja algo que o sujeito saiba ou em que
acredite justificadamente, pode servir para justificar.
(Alston, “Internalism and Externalism in Epistemo logy”,1986, p. 219)
internalismo
• A abordagem habitual das questões tradicionais da teoria
do conhecimento chama-se, com propriedade, “interna”
ou “internalista”. O internalista assume que, por meio de
simples reflexão sobre o seu estado consciente, pode
formular um conjunto de princípios epistémicos que lhe
permitirá descobrir, a respeito de qualquer crença que
possua, se tem ou não justificação para ter essa crença.

• (Chisholm, Theory of Knowledge, 3ª ed, 1989, p. 76)


externalismo
• Os externistas afirmam que não precisamos de refletir no que
justifica as nossas crenças, ou no que distingue o
conhecimento da crença verdadeira.

• “Uma epistemologia é externista se e só se tiver como


consequência que um qualquer fator se pode acrescentar
essencialmente à justificação epistémica da crença do sujeito,
mesmo que esteja fora do âmbito de reflexão desse sujeito”.
• (Bonjour e Sosa, Epistemic Justification: Internalism vs. Externalism, Foundations vs.
Virtues, 2003, p. 206)
fiabilismo

• O estatuto justificatório de uma crença é uma


função da fiabilidade dos processos que a causam,
ao passo que a fiabilidade consiste (numa primeira
abordagem) na tendência que um processo revela
para produzir crenças que sejam verdadeiras em
vez de falsas.

• (Goldman, “What is justified Belief?”, in Pappas 1979, p. 10)


fiabilismo
• Dizer que um processo fiável tem de produzir
sempre crenças verdadeiras seria demasiado
restritivo, mas qual é a regularidade de resultados
que consideramos necessária? Noventa e nove por
cento dos casos? Noventa por cento? O fiabilista
tem de nos dar uma explicação mais precisa da
fiabilidade. Sem perder isto de vista, iremos em
seguida explorar diferentes desenvolvimentos do
fiabilismo.
• O’Brien, ITC,178
explicação causal

• Uma estratégia que tem sido adotada é fundamentar a


fiabilidade nas conexões causais que os sujeitos têm com o
mundo.
• «S sabe que p se e só se o facto p estiver causalmente
relacionado de uma forma 'adequada’ com a crença de S em
p». (Goldman, “A causal theory of Knowing”, 2000a, p. 28).


...Osteóricos da causalidade afirmam que há conexões causais
deste tipo subjacentes a todos os casos de conhecimento
empírico. O’Brien, ITC,179
rastreamento da verdade

• Robert Nozick (1981, Philosophical Explanations, cap. 3) apresenta uma explicação diferente da fiabilidade. Para ele, «saber que p é ser alguém
que acreditaria em p se p fosse verdadeiro, e que não acreditaria em p se p fosse falso» (p. 178). Só temos conhecimento se as nossas crenças
«rastrearem» a verdade, isto é, se as nossas crenças forem sensíveis a quando acontece que p e a quando p não acontece. Para que S saiba que p,
precisam de estar reunidas as seguintes condições:

• 1. P é verdade.

• 2. S acredita que p.

• 3. Se não fosse o caso que p, então S não acreditaria que p.

• 4. Se p continuasse a ser verdade em circunstâncias diferentes, S continuaria a acreditar que p.

• O’Brien, ITC,179
rastreio da verdade e fiabilidade
• Vimos duas maneiras de conceber a fiabilidade. Desta forma,
um método fiável de aquisição de crenças será um método
que implique que as nossas crenças sejam causadas da
maneira certa, ou que permita que as nossas crenças rastreiem
a verdade. (Antes de prosseguirmos, importa notar que
subsiste a questão de saber se estas teorias proporcionam uma
explicação da natureza da justificação ou se servem para
colmatar a necessidade da justificação. Pode considerar-se
que permitem distinguir crença verdadeira de conhecimento,
não por acrescentarem qualquer condição de justificação, mas
tão-somente por nos apresentarem, em vez disso, relações
causais ou de rastreamento do tipo certo.
• O’Brien, ITC,179
fiabilismo

• o conhecimento pode ser visto como uma crença verdadeira


fiavelmente causada, e não como uma crença verdadeira
justificada.
• (Esta questão será retomada no capítulo 11, quando nos
debruçarmos sobre a abordagem naturalista da epistemologia.)

• O’Brien, ITC,181
pro, externalismo

• 3.1 Conhecimento não-reflexivo

É plausível que possamos por vezes saber que p sem que sejamos capazes de adiantar razões para o facto de tomarmos p
como verdadeiro. Primeiro, muito do que sabemos é fruto de uma aprendizagem por memorização, e muitos factos são
simplesmente acumulados sem quaisquer dados que os sustentem. Eu sei que Oliver Cromwell nasceu em 1599 e não
preciso de saber mais nada para justificar esta afirmação. Segundo, há casos que envolvem informação esquecida.
• O’Brien, ITC,181-2
conhecimento não reflexivo

Há casos em que temos conhecimento apesar não estarmos, como


diria Sellars, no espaço das razões. Certos autores referem o
exemplo de capacidades dos animais e dos bebês para apoiar esta
linha de argumentação. O gato Henry sabe quando a sua tigela
está cheia e um bébé sabe quando a mãe está próxima, ainda que
nenhum deles possa justificar racionalmente esse conhecimento.
As explicações fiabilistas do conhecimento tornam-se, deste
modo, tentadoras. Se um sujeito tiver um método fiável de
recordar factos históricos, ou a configuração de um quarto, ou de
determinar a proximidade da sua mãe, então, poderá adquirir
conhecimento desse modo, quer seja ou não capaz de refletir no
método que utiliza. O’Brien,
ITC,182
3.2 Uma panaceia epistemológica

A motivação mais forte para o externismo é que uma


perspectiva externista do conhecimento pode resolver alguns
dos nossos problemas epistemológicos mais profundos. O
externismo pretende ter uma resposta para os problemas de
Gettier (capítulo 2, secção 4), e responde quer à ameaça da
regressão da justificação (capítulo 6, secção 1), quer ao
cepticismo cartesiano (capítulo 9).

Se as soluções do externismo para estes problemas forem


convincentes, isso dar-nos-á boas razões para adotarmos uma
explicação externista do conhecimento.
• O’Brien, ITC,183
justificação

Numa explicação internalista, ter crenças justificadas não garante que essas crenças
sejam verdadeiras. Posso ter uma crença justificada de que está uma vaca no pátio
mesmo que isto não se verifique. É essa noção de justificação que abre espaço para
as possibilidades expostas nos casos de Gettier: do meu ponto de vista, posso ter
boas razões para pensar que uma dada crença é verdadeira, mas do ponto de vista
objetivo tive sorte porque a fonte da minha justificação é distinta daquilo que
efectivamente torna a minha crença verdadeira. O externalista exclui a ocorrência
deste tipo de sorte. O conhecimento é distinguido da crença verdadeira por relações
objetivas de causalidade ou rastreamento; assim, para o externalista, o conhecimento
está diretamente relacionado com aquilo que no mundo torna as nossas crenças
verdadeiras. Não há uma brecha que possa ser explorada por um caso de Gettier
entre a noção de justificação e a noção objetiva de verdade.
• O’Brien, ITC,184
sobre a regressão da justificação.

O externalista, por outro lado, propõe uma resposta diferente, ainda que esta
resposta seja em certo sentido de natureza fundacionalista. A concepção linear da
justificação é aceite, e os nossos sistemas de crenças são fundamentados em
certas crenças básicas. Contudo, essas crenças básicas não precisam de ser
justificadas pelo nosso contacto com o Dado. Para que as nossas crenças básicas
contem como conhecimento, precisamos apenas de ter relações causais ou de
rastreamento em conformidade com o mundo, relações essas que não têm de ser
cognitivamente acessíveis ao sujeito. Posso ter uma crença perceptual básica de
que está um furador vermelho à minha frente porque esse tipo de crença rastreia a
verdade de maneira fiável. Esta crença não tem de ser inferencialmente
sustentada pela crença de que me parece estar a ver uma forma vermelha ali; a
fiabilidade dos meus mecanismos perceptuais e cognitivos permite que a
regressão da justificação se detenha na minha crença acerca do furador.
• O’Brien, ITC,184-5
contra o externalismo
• Iremos examinar dois tipos de casos em que as
nossas crenças são fruto de processos epistémicos
fiáveis e que no entanto não gostaríamos de
considerar conhecimento. Com efeito, isso
implicaria que uma teoria fiabilista não permitiria
distinguir adequadamente o conhecimento da
crença verdadeira.

• O’Brien, ITC,186
internalismo e externalismo
• Há fortes intuições a favor quer do internismo, quer do externismo, e o debate sobre qual a
perspectiva epistemológica correta a adotar permanece muito vivo.
• (...) ITC 189
• Bonjour aceita que há duas concepções distintas de justificação (Bonjour e Sosa, 2003). Insiste,
no entanto, em que a noção internista é mais profunda do que a externista. Antes de podermos
começar a fazer perguntas objetivas sobre quais das nossas práticas epistémicas são fiáveis,
precisamos de saber se temos boas razões para considerar algumas das nossas crenças
verdadeiras.
• O’Brien, ITC 190-191

• A afirmação internista é que devemos começar por bloquear este pensamento céptico e mostrar
que podemos ter justificações subjetivas para as nossas crenças; só então poderemos começar a
considerar questões relativas à justificação objetiva.

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