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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Reflexões sobre a escrever letras e a redução do


conhecimento do leitor ao conhecimento
alfabetização” das letras e seu valor convencional.Pois,
segundo ela, uma vez estabelecidas estas
dificuldades conceituais iniciais, é possível
Autor: Ana Paula Martins Lopes Araújo analisar a prática docente em termos
diferentes metodológicos. Conclui após dar
Emilia Ferreiro em sua obra “Reflexões sobre ênfase em cada assunto acima citado, que
a alfabetização”, faz uma análise sobre a um novo método não resolve os
alfabetização, fazendo-nos repensar a nossa problemas, mas sim que é preciso
prática escolar, na qual se baseia em recanalizar as práticas de introdução da
experiências vivenciada por ela e por língua escrita, tratando de ver os
outros colaboradores. Ao passar por todo pressupostos subjacentes a ela.
esse processo a criança começa por
descobrir que as partes da escrita (suas Em seguida a autora fala sobre a
letra) podem corresponder a outras tantas compreensão do sistema de escrita onde
partes da palavra escrita (sílabas). Inicia-se afirma que a leitura e a escrita têm sido
então o período silábico, onde permite tradicionalmente consideradas como objeto
obter um critério geral para regular as de uma instrução sistemática, todavia
variações na quantidade de letras que através de pesquisas a autora possui uma
devem ser escritas, chegando até o período outra visão.
silábico-alfabético, que marca a transcrição
entre os esquemas futuros em via der
serem construídos.Neste período a criança Para ela as atividades de interpretação e
descobre que uma letra não basta para de produção da escrita começam antes da
representar uma sílaba e que a identidade escolarização, a aprendizagem se insere em
do som não garante a identidade de letras um sistema de concepções previamente
e nem a identidade de letras à dos sons. elaboradas, e não pode ser reduzida a um
conjunto de técnicas perceptivo-motora.
Dando seqüência Emilia Ferreiro fala sobre
a polêmica em relação aos métodos Diz ainda que a escrita não é um produto
utilizados no processo de alfabetização: escolar, mas sim um objeto cultural,
analítico, sintético, fônico versus global, resultado do esforço coletivo da
deixando claro que nenhuma dessas humanidade e que existe um processo de
discussões levou em conta as concepções aquisição da linguagem escrita que precede
das crianças sobre o sistema de escrita. e excede os limites escolares. Através de
dados colhidos em pesquisas a autora
menciona alguns dados que determina
Deste modo para ela os métodos não
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

aspectos de toda esta evolução como a


oferecem nada maias do que sugestões, construção original da criança e onde estas
incitações.Afirma ainda que o método não elaboram idéias próprias a respeito dos
pode criar conhecimento, e que nenhuma sinais de escrita, idéias estas que não
prática pedagógica e neutra, todas estão podem ser atribuídas a influencia do meio
apoiadas em certo modo de conceber o ambiente.
processo de aprendizagem e o objeto dessa
aprendizagem.
Volta a falar que em um primeiro
momento a criança passa pelo conflito que
A autora cita três dificuldades principais a distinção em o que é uma figura e o
que precisam ser colocadas: a visão que que não é uma figura. Após esta fase
um adulto já alfabetizado tem do sistema começa um trabalho cognitivo em relação
da escrita, a confusão entre desenhar e

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a um segundo conjunto, que é a documento que necessita ser interpretado
quantidade mínima de caracteres, critério para poder ser avaliado, dando ênfase não
este que tem uma influencia decisiva em só nos aspectos gráficos mas sim nos
toda evolução. O critério seguinte se refere aspectos construtivos.Ela ressalta ainda que
à variedade interna de caracteres,não basta a distinção entre desenhar e escrever e de
um certo número de grafias convencionais fundamental importância, pois ao desenhar
para que se possa ler, e necessário que se está no domínio de icônico; sendo
estes grafemas variem. importante por reproduzirem a forma do
objeto.
Em um primeiro momento a autora aborda,
a representação da Linguagem e o Ao escrever se está fora do icônico, sendo
processo de alfabetização, enfatizando a assim as formas dos grafismos não
importância dos dois pólos do processo de reproduzem as formas dos objetos.Segundo
ensino-aprendizagem (quem ensina e quem ela as crianças de um certo momento
aprende) e alerta para um terceiro item dedicam um grande esforço intelectual na
que deve ser levado em conta: a natureza construção de formas diferenciadas entre as
do objeto de conhecimento envolvendo escritas, essas diferenças são inicialmente
essa aprendizagem. intrafigurais e consiste em atribuir uma
significação a um texto escrito.
Seguindo sua análise a autora fala que a
escrita pode ser considerada como sistema Tais critérios se expressão pelo eixo
de representação da linguagem ou como quantitativo onde se atribui o mínimo de
código de transcrição gráfica das unidades três letras para que a escrita diga algo.E
sonoras, onde faz algumas considerações sobre o eixo qualitativo, como a variação
em que consiste essa diferença, na qual interna possa ser interpretada, ou seja, se o
diz que na codificação tanto os elementos escrito tem o tempo todo à escrita não
como as relações já estão predeterminadas, pode ser interpretado.O passo seguinte se
e no caso da criação de uma representação caracteriza pela busca de diferenciações
nem os elementos e nem as relações estão entre escritas para dizer “coisas diferentes”,
predeterminadas. começa assim a busca difícil e muito
elaborada de modo de diferenciação, que
resultam ser interfigurais.
A autora diz ainda que se a escrita e
concebida como sistema de representação,
sua aprendizagem se converte na Neste sentido as crianças exploram critérios
apropriação de um novo objeto de que lhes permitem, às vezes, variações
conhecimento, ou seja, em uma sobre o eixo quantitativo, variando a
aprendizagem conceitual, mas se a escrita quantidade de letras de uma escrita para
e concebida como código de transcrição, outra, e às vezes o eixo qualitativo,
sua aprendizagem é concreta ,como a variando o repertório de letras e até
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aquisição de uma técnica. mesmo o posicionamento destas sem


modificar a quantidade.
Em um segundo momento a autora aborda
as concepções das crianças a respeito do Ao passar por todo esse processo a criança
sistema de escrita, onde deixa clara a começa por descobrir que as partes da
importância das produções espontâneas, nas escrita (suas letra) podem corresponder a
quais podem ser chamadas de garatujas. outras tantas partes da palavra escrita
Segundo a autora a criança não aprende (sílabas). Inicia-se então o período silábico,
submetida à um ensino sistemático, mas onde permite obter um critério geral para
sim a toda produção desenvolvida por ela, regular as variações na quantidade de
que pode representar um valiosíssimo letras que devem ser escritas, chegando até

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

o período silábico-alfabético, que marca a escolarização, a aprendizagem se insere em


transcrição entre os esquemas futuros em um sistema de concepções previamente
via der serem construídos.Neste período a elaboradas, e não pode ser reduzida a um
criança descobre que uma letra não basta conjunto de técnicas perceptivo-motora.Diz
para representar uma sílaba e que a ainda que a escrita não é um produto
identidade do som não garante a identidade escolar, mas sim um objeto cultural,
de letras e nem a identidade de letras à resultado do esforço coletivo da
dos sons. humanidade e que existe um processo de
Dando seqüência Emilia Ferreiro fala sobre aquisição da linguagem escrita que precede
a polêmica em relação aos métodos e excede os limites escolares.Através de
utilizados no processo de alfabetização: dados colhidos em pesquisas a autora
analítico, sintético, fônico versus global, menciona alguns dados que determina
deixando claro que nenhuma dessas aspectos de toda esta evolução como a
discussões levou em conta as concepções construção original da criança e onde estas
das crianças sobre o sistema de elaboram idéias próprias a respeito dos
escrita.Deste modo para ela os métodos sinais de escrita, idéias estas que não
não oferecem nada maias do que podem ser atribuídas a influencia do meio
sugestões, incitações.Afirma ainda que o ambiente.
método não pode criar conhecimento, e Volta a falar que em um primeiro
que nenhuma prática pedagógica e neutra, momento a criança passa pelo conflito que
todas estão apoiadas em certo modo de a distinção em o que é uma figura e o
conceber o processo de aprendizagem e o que não é uma figura.Após esta fase
objeto dessa aprendizagem.A autora cita começa um trabalho cognitivo em relação
três dificuldades principais que precisam a um segundo conjunto, que é a
ser colocadas: a visão que um adulto já quantidade mínima de caracteres, critério
alfabetizado tem do sistema da escrita, a este que tem uma influencia decisiva em
confusão entre desenhar e escrever letras e toda evolução.O critério seguinte se refere
a redução do conhecimento do leitor ao à variedade interna de caracteres,não basta
conhecimento das letras e seu valor um certo número de grafias convencionais
convencional.Pois, segundo ela, uma vez para que se possa ler, e necessário que
estabelecidas estas dificuldades conceituais estes grafemas variem.
iniciais, é possível analisar a prática Dando seqüência fala das informações
docente em termos diferentes específicas do adulto, onde esclarece que
metodológicos. existe uma série de concepções que não
podem ser atribuídas a uma influência
Conclui após dar ênfase em cada assunto direta do meio, ao contrário existem
acima citado, que um novo método não conhecimentos específicos sobre a
resolve os problemas, mas sim que é linguagem que só podem ser adquiridas
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preciso reanalisar as práticas de introdução através de outros informantes (leitores


da língua escrita, tratando de ver os adultos ou crianças maiores), como, por
pressupostos subjacentes a ela. exemplo, que é convencional escrevermos
de cima para baixo, que utilizamos as
Em seguida a autora fala sobre a
maiúsculas para nomes próprios e depois
compreensão do sistema de escrita onde
de ponto.
afirma que a leitura e a escrita têm sido
tradicionalmente consideradas como objeto Afirma ainda que no caso dessa
de uma instrução sistemática, todavia aprendizagem que, conforme a procedência
através de pesquisas a autora possui uma social das crianças há maior variabilidade
outra visão. individual e maiores diferenças.
Para ela as atividades de interpretação e A autora enfoca que a escola pode
de produção da escrita começam antes da cumprir um papel importante no que se

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refere à aprendizagem, no entanto, este aprendizagem(escrita), mostrando os
papel não deveria ser de dar inicialmente avanços ocorridos gradativamente durante
todas as chaves do sistema alfabético, mas todo processo. Em um primeiro momento
sim criar condições para que a criança as a criança escreve tudo com o mesmo
descubra por si mesma.Sendo assim o grafema repetindo-o várias vezes. Dois
professor deverá adaptar seu ponto de vista meses após já se pôde notar progressões,
ao da criança, estando sempre alerta sobre ela aprendeu a desenhar algumas letras,
o que deve ser levado em conta, como, alterando caracteres em uma palavra
por exemplo, menosprezar os escrevendo de modo mais convencional,
conhecimentos das crianças ao trabalhar apesar de não haver correspondência entre
somente com base na escrita, cópia e grafemas particulares e pauta sonora. Após
sonorização dos grafemas que considerar mais dois meses a progressão foi ainda
teligível a produção da escrita.Emília maior, pois ela havia ampliado seu
Ferreiro diz ainda que apesar da escola ser repertório de letras, aprendeu que para
uma instituição social para controlar o palavras diferentes deve-se usar letras
processo de aprendizagem e sendo assim a diferentes. Quase ao final do ano já era
aprendizagem deve realizar-se na escola, a capaz de escrever seu nome pronunciando
criança desde que nasce e construtora de silabicamente para si mesma. Concluiu-se
conhecimento. então que esta criança estava construindo
um sistema silábico de escrita, tendo assim
condições de relacionar a pauta sonora da
No entanto, para ela deve-se abandonar a
palavra: uma letra para cada sílaba.
idéia de que nosso modo de pensar é o
único, fazendo-nos adotar o ponto de vista
do sujeito em desenvolvimento.No caso da A segunda criança já começava a escola
leitura e escrita a dificuldade de adotar o de 1º grau sabendo desenhar seis letras
ponto de vista da criança foi tão grande a diferentes, onde usava este repertório para
ponto de ignorar as suas produções diferenciar palavras. Após dois meses já
escritas, que a pouco tempo eram apresentava a escrita silábica. Com mais
consideradas meras garatujas.Todavia existe dois meses essa criança já se encontrava
uma série de passos ordenados antes que a no período de transcrição que denomina-se
criança compreenda a natureza do sistema silábico-alfabetico. A autora esclarece que
alfabético de escrita e que cada passo esta escrita e considerada tradicionalmente
caracteriza-se por esquemas conceituais como omissão de letras, olhando pelo
específicos, cujo desenvolvimento e ponto de vista da escrita adulta, mas vista
transformação consistem em um principal do sujeito em desenvolvimento, esse tipo
objetivo de estudo. de escrita é considerada “acréscimo de
letras”. No entanto ao final do ano a
criança já escrevia alfabeticamente.
Emilia ferreiro deixa clara a sua preocupação
com o desenvolvimento da leitura-escrita
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tanto pelo lado teórico quanto pelo lado Dando seqüência Emília Ferreiro relata
prático. Segundo ela o analfabetismo ainda uma pesquisa realizada por ela, com
hoje é um grave problema e cabe o propósito de descrever o processo de
sistema ser mais sensível aos problemas aprendizagem que ocorre nas crianças
das crianças e mais eficientes para resolvê- fracassadas. Onde enfatiza a evolução das
los, se quisermos reverter esse quadro. produções escritas feitas por elas.
Demonstra ainda sua atenção às crianças
que tiveram possibilidades limitadas de
A pesquisa começou com 959 crianças e
estarem rodeadas por materiais escritos e
foi finalizada com 886 dessas mesmas
de serem seus usuários .Em seguida a
crianças que foram submetidas a entrevistas
autora da exemplos de crianças que foram
individuais. Em cada entrevista foi
submetidas ao processo de ensino
proposta a criança quatro palavras dentro

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de um dado campo semântico com uma mantendo contato desde cedo informações
variação sistemática no número de sílabas. das mais variadas procedências como:
cartazes de rua, embalagens, livros,
revistas, etc.
Pôde-se notar que 80% dessas crianças, no
início do ano escolar, escreviam sem Sendo assim a criança não entra na escola
estabelecer qualquer correspondência entre sem nenhum conhecimento sobre o sistema
pauta sonora da palavra e a representação de leitura e escrita. Diz ainda que é
escrita, nem correspondência necessário uma imaginação pedagógica para
qualitativa/quantitativa. Assim a autora dar as crianças oportunidades ricas e
segue sua análise sobre a pesquisa variadas de interagir com a linguagem
realizada utilizando uma tabela que da escrita.Finaliza dizendo que é necessário
ênfase aos padrões evolutivos que a entender que a aprendizagem da linguagem
criança percorre onde faz observações escrita é muito mais que a aprendizagem
sobre os diferentes níveis de escrita, de um código de transcrição: é a
demonstrando quanto por cento das construção de um sistema de representação.
crianças entrevistadas se encaixam em cada
nível. COM TODAS AS LETRAS

Finalizando sua análise, Emília Ferreiro fala Resumo de : Nadeshiko Yue


sobre o polêmico tema “deve-se ou não Publicado em: abril 23, 2007
ensinar a ler e escrever na pré-escola?”, Postado por Claudemir Mazucheli
afirmando que esse é um problema mal
colocado, por ser falso o pressuposto no A autora inicia o tema da alfabetização de
qual se baseiam ambas posições crianças na última década do século XX
antagônicas. discorrendo sobre o Projeto Principal de
A autora assegura que o problema foi Educação para América Latina e Caribe,
colocado tendo por pressupostos serem os originado em 1979 numa conferência na
adultos que decidem quando essa Cidade do México.
aprendizagem deverá ser iniciada e quando
decidido que esse processo de Os três grandes objetivos desse Projeto
aprendizagem não iniciará antes do eram:
primeiro grau, as salas sofrem um processo 1. Conseguir, antes de 1999, a
de limpeza até que desapareça todo escolarização de todas as crianças em
sistema de escrita.Sendo assim a escrita idade escolar, oferecendo-lhes uma
que está presente em meio social educação geral mínima com duração
desaparece da sala de aula. Por outro lado de 8 a 10 anos.
quando se decide iniciar esta aprendizagem
antes do primeiro grau, as salas de pré- 2. Eliminar, antes de 1999, o
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escola assemelhar-se a do 1º ano, sendo analfabetismo adulto.


pressuposto o mesmo em ambos os casos. 3. Melhorar a qualidade e eficácia dos
sistemas educativos mediante reformas
adequadas.
A autora volta a falar, que a criança
inicia sua aprendizagem de matemática, por
exemplo, antes mesmo do contato escolar, A crise econômica da década de 1980
quando decidem a ordenar vários objetos impossibilitou que esses objetivos fossem
através de diversas participações ao meio cumpridos dentro do prazo. Mas o
social. No entanto não poderia ser diferente primeiro objetivo pode ser considerado
com o sistema de escrita, uma vez que cumprido, no sentido de que mais crianças
este faz parte da realidade urbana, matricularam-se; porém, a população
também cresceu consideravelmente.

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principais de um texto, ou mesmo
A promoção automática cria uma bola de distinguir se estão de acordo ou não.
neve: se a criança não aprendeu o básico,
não aprenderá o mais difícil. Na verdade, A fim de conseguir uma alfabetização de
as crianças são facilmente alfabetizáveis, melhor qualidade, inclusive para as
pois gostam de aprender coisas novas. Mas crianças marginalizadas, alguns dos
sua curiosidade não é estimulada quando principais objetivos são levar à leitura
são obrigadas a copiar! compreensiva de diversos tipos de textos, e
à curiosidade diante das representações
O ideal é que aprendam a escrever como escritas da língua. Dessa forma, dentro de
aprendem a falar: imitando, sendo dois anos, a maioria das dúvidas
incentivadas desde cedo, cometendo erros. manifestadas pelas crianças será sobre
Não deve ser negado aos pequenos o sinais e ortografia. Mas essas dúvidas
contato com livros, jornais, revistas, devem estar dentro de um contexto; do
panfletos, listas de compras, cartas, pois é contrário, a alfabetização estará ainda
só assim que eles compreendem a função, sendo deficiente.
o motivo pelo qual se escreve. As variações culturais quanto à pronúncia
devem ser respeitadas tanto quanto as
construções da escrita a partir da
A instituição escolar apoderou-se da escrita
pronúncia. O contrário é mais um fator de
de tal maneira que não é explicitado para
discriminação.
quê ela serve. E as crianças que não têm
acesso a jornais, livros e outros A autora prossegue classificando em três
instrumentos citados não sabem por quê tipos os materiais que facilitam as ações
devem aprender a escrever. Ocultando essa de alfabetização:
informação, a escola discrimina e
prejudica. Práticas mecanicistas são capazes • os dirigidos aos professores, que não
mesmo de criar traumas nos jovens devem ser levados a sério se seguirem
aprendizes. E por isso as campanhas de o modelo “receita de bolo”, que está
alfabetização de adultos nem sempre são na moda;
bem sucedidas: a exaustiva aprendizagem • os materiais para ler, essenciais
de uma técnica não coerente com o principalmente em regiões carentes
cotidiano não atrai. e/ou rurais, que demonstrem as
diversas funções da escrita, transmitam
E enquanto as crianças mais pobres conhecimentos reais (ao contrário das
continuarem a ser discriminadas pelo frases prontas e vazias das cartilhas),
método – portanto, expulsas da escola –, estimulem a exploração e a
mais teremos adultos analfabetos e classificação, além de possibilitar
indispostos a uma nova submissão ao reflexão crítica e debates sobre as
sistema escolar. Já que as crianças estão informações; ü os materiais para
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em constante processo de aprendizagem e aprender a ler – em sua grande


ainda não possuem estruturas de maioria inúteis.
pensamento fixas, podem ser facilmente
levadas a perceber que cada enunciado de As orações não estimulam o pensamento e
exercício, cada informação nos livros, é a escrita torna-se algo rígido e
também leitura. inquestionavelmente seqüenciado.
Analisando a escrita de crianças pobres,
Devido à dissociação que se apresenta freqüentadoras do ensino público,
entre o aprendizado da Língua Portuguesa percebemos que a maioria já sabe que
e as outras disciplinas, os estudantes, mais escrevemos da esquerda para a direita, e
tarde, não conseguem reconhecer as idéias distinguem letras de números. Porém,

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

poucas ou nenhuma escrevem utilizando as COM TODAS AS LETRAS


letras de acordo com seus sons, e no fim
do primeiro ano letivo menos da metado
FERREIRO, Emília. São Paulo: Editora
adquiriu esse conhecimento. Mas a verdade
Cortez,1996.
é que, se somente metade das crianças
observadas recebera instrução pré-escolar,
elas definitivamente aprendem com A ALFABETIZAÇÃO DE
facilidade; o mais difícil é compreenderem
O QUÊ e COMO a escrita representa.
CRIANÇAS NA ÚLTIMA
DÉCADA DO SÉCULO.
A capacitação dos professores é um ponto
INTRODUÇÃO
crucial. Se a escola não gera oportunidades
de aprendizagem para todos, é sinal de Ferreiro inicia o texto destacando que, em
que algo deve ser mudado. dezembro de 1979 realizou-se na Cidade
A professora que alfabetiza merece do México uma Conferência Regional de
valorização: não podemos contentar-nos Ministros da Educação e de Ministros
com o mínimo. É preciso restabelecer a encarregados do Planejamento Econômico
indignação diante disto! Tudo gira em da América Latina e Caribe, no âmbito da
torno da urbanização; assim, quem não lê Unesco. Essa conferência deu origem ao
ou escreve é marginalizado; e as escolas que se conhece por Projeto Principal de
públicas oferecem ensino “essencial”. Educação para América Latina e Caribe.No
entanto, a década de 80 foi particularmente
As particulares crescem. Ferreiro descreve
ruim para a educação em nossa região.
então um dos principais problemas
relacionados à alfabetização: o dos pré-
requisitos. Eles são considerados como Ao final da década de 80, volta-se a ouvir
habilidades que a crianças tem ou não a voz da Unesco, que declara 1990 como
tem, possíveis de se detectar a partir de o Ano Internacional da Alfabetização.
testes de prontidão! Porém, 1990 inicia-se com uma novidade:
O que a criança precisa apresentar são as não somente os organismos internacionais
condições de um “processo de tradicionalmente vinculados à educação
desequilibração”, a partir do qual se (Unesco, Unicef) inauguram a década da
constroem novas concepções. alfabetização e da educação básica, mas
também o Banco Mundial decide investir
Na prática escolar, a noção de maturidade
na educação básica e incidir sobre as
tem servido para manter crianças longe da
políticas dos governos.Apenas quatro anos
escrita, para encobrir os fracassos do
separam 1988 e 1992; no entanto, muitas
método tradicional e do professor
coisas estão ocorrendo (e não só no campo
mecanizado, além de abrir um amplo
educativo). As quais afetarão
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mercado para psicólogos e psicopedagogos


profundamente a maneira em que
que diagnosticam distúrbios às vezes
iniciaremos o próximo século.
inexistentes.
O que determina o ponto de partida da
aprendizagem escolar são os conhecimentos Para a autora é difícil falar de
que a criança tem antes de entrar na alfabetização evitando as posturas
escola. dominantes neste campo: por um lado, o
discurso oficial e, por outro, o discurso
meramente ideologizante, que chamarei
“discurso da denúncia”. O discurso oficial
centra-se nas estatísticas; o outro despreza
essas cifras tratando de desvelar “a face
oculta” da alfabetização. Onde o discurso

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oficial fala de quantidade de escolas outras dificuldades. Esta medida parece
inauguradas, o discurso da denúncia contar com a opinião favorável de todos
enfatiza a má qualidade dessas construções os setores: os professores estão de acordo,
ou desses locais improvisados que carecem porque assim conseguem aliviar as classes
do indispensável para a realização de ações superlotadas ou livrar-se dos alunos mais
propriamente educativas. difíceis; os profissionais (psicólogos e
terapeutas) estão de acordo porque se abre
para eles um mercado de trabalho: a
Onde o discurso oficial fala de quantidade
opinião pública é de que nesses serviços,
de crianças matriculadas, a denúncia fala
tão especializados, se oferece certamente
de classes superlotadas, professores mal
uma educação de “boa qualidade”. A
pagos e poucas horas de permanência na
primeira dificuldade desta alternativa tão
escola.Como pesquisadora Ferreiro tenta
bem recebida é no aspecto econômico;
ajustar-me aos requisitos elementares de
esses serviços encarecem muitíssimo o
meu ofício, ao falar de um tema ao qual
custo do atendimento educacional por
venho dedicando mais de dez anos
aluno: são, portanto, impossíveis de ser
seguidos de trabalho. Como latino-
considerados como uma medida
americana, não posso deixar de lado a
generalizada em países endividados, que
indignação que deve provocar em nós a
apenas podem pensar em expandir os
análise da situação da alfabetização na
empobrecidos serviços educativos de caráter
região.
geral.

INCORPORAÇÃO, RETENÇÃO E
A segunda dificuldade é talvez a mais
REPETÊNCIA. séria: quando a criança é enviada a esses
Primeiro objetivo do Projeto Principal: sistemas especializados (geralmente
“Conseguir, antes de 1999, a escolarização denominados “educação especial”) adota-se,
de todas as crianças em idade escolar, com isso, uma atitude semelhante à que se
oferecendo-lhes uma educação geral adota frente às crianças realmente
mínima com duração de 8 a 10 anos”.É “especiais” ou “atípicas” (os deficientes
importante considerar que, devido às altas sensoriais, por exemplo).
taxas de crescimento populacional existente
em vários países da região, o aumento da ASPECTOS QUALITATIVOS DA
matrícula na primeira série resulta de
ALFABETIZAÇÃO
esforços notáveis e persistentes. Por
exemplo, o México passa de uma Ferreiro destaca que a alfabetização parece
população de 1° Grau de aproximadamente enfrentar-se com um dilema: ao estender o
7 milhões, em 1965, a 9 250 000 em alcance dos serviços educativos, baixa-se a
1970, 15 milhões em 1980 e 15 400 000 qualidade, e se consegue apenas um
em 1983. Nesses mesmos anos o Brasil "mínimo de alfabetização". Isso é alcançar
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passa de uma população de um nível "técnico rudimentar", apenas a


aproximadamente 5 milhões em 1965, para possibilidade de decodificar textos breves e
17 milhões em 1970, 20 milhões em 1980 escrever algumas palavras (além de grafar
e 24 milhões em 1983.As maiores taxas quantidades e talvez as operações
de repetência se situam nas três primeiras elementares), porém sem atingir a língua
séries do 1° grau; o filtro mais severo está escrita como tal.Para Ferreiro, de todos os
na passagem do primeiro para o segundo grupos populacionais, as crianças são as
ano da escola primária, alcançando em mais facilmente alfabetizáveis. Ela têm
alguns países da região cifras excessivas mais tempo disponível para dedicar à
(no Brasil, por exemplo).Segundo a autora, alfabetização do que qualquer outro grupo
a criação de serviços de atendimento de idade e estão em processo contínuo de
especializado como solução alternativa gera aprendizagem (dentro e fora do contexto

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

escolar), enquanto os adultos já fixaram ao chegar; sem querer, transmite-se


formas de ação e de conhecimento mais informação sobre outra da função da
difíceis de modificar. (Em muitos casos, os língua escrita (serve para comunicar-se à
adultos elaboraram também “estratégias de distância, para dizer algo a alguém que
sobrevivência” que lhes permitem viver no não está presente no momento de se
meio urbano sem sentir a necessidade de escrever a mensagem).
ler e escrever).
Na maioria das escolas se apresenta a
OS OBJETIVOS DA ALFABETIZAÇÃO escrita como um “objeto em si”,
INICIAL importante dentro da escola, já que regula
a promoção ao ano escolar seguinte, e
Aqui a autora coloca que, antes de também importante “para quando crescer”,
desenvolver o tema anterior, devemos sem que se saiba na realidade de que
perguntar-nos: quais são os objetivos da maneira esse “saber fazer” estará ligado à
alfabetização inicial? Freqüentemente esses vida adulta: prestígio social? Condições de
objetivos se definem de forma muito geral trabalho? Acesso a mundos desconhecidos?
nos planos e programas, e de uma maneira
muito contraditória na prática cotidiana e
nos exercícios propostos para a A LÍNGUA ESCRITA COMO OBJETO
aprendizagem. DA APRENDIZAGEM
Segundo Ferreiro, no decorrer dos séculos,
Um dos objetivos sintomaticamente ausente a escola (como instituição) operou uma
dos programas de alfabetização de crianças transmutação da escrita. Transformou-a de
é o de compreender as funções da língua objeto social em objeto exclusivamente
escrita na sociedade. escolar, ocultando ao mesmo tempo suas
funções extra-escolares: precisamente
aquelas que historicamente deram origem à
Como as crianças chegam a compreender
criação das representações escritas da
essas funções?
linguagem.
É imperioso (porém nada fácil de
As crianças que crescem em famílias onde conseguir) restabelecer, no nível das
há pessoas alfabetizadas e onde ler e práticas escolares, uma verdade elementar:
escrever são atividades cotidianas, recebem a escrita é importante na escola porque é
esta informação através da participação em importante fora da escola, e não o inverso.
atos sociais onde a língua escrita cumpre
Com base em uma série de experiências
funções precisas. Por exemplo, a mãe
inovadoras de alfabetização, que se vêm
escreve a lista e a consulta antes de
desenvolvendo em diversos países latino-
terminar suas compras; sem querer, está
americanos, parece viável estabelecer de
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transmitindo informações sobre uma das


maneira diferente os objetivos da
funções da língua escrita (serve para
alfabetização de crianças.
ampliar a memória, como lembrete para
aliviar a memória). Em dois anos de escolaridade, - um dos
quais pode ser pré-escola - crianças muito
marginalizadas (urbanas e rurais) podem
Busca-se na lista telefônica o nome, conseguir uma alfabetização de melhor
endereço e telefone de algum serviço de qualidade, entendendo por isso:-
conserto de aparelhos quebrados; sem compreensão do modo de representação da
querer, essa leitura transmite informações linguagem que corresponde ao sistema
sobre algo que não sabíamos antes de ler. alfabético de escrita;- compreensão das
Recebe-se uma carta ou alguém deixa um funções sociais da escrita, que determinam
recado que deve ser lido por outro familiar diferenças na organização da língua escrita

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e, portanto, geram diferentes expectativas a língua espanhola, os grupos privilegiados
respeito do que se pode encontrar por da população se alfabetizam sem
escrito nos múltiplos objetos sociais que dificuldade, apesar das marcadas diferenças
são portadores de escrita (livros diversos, dialetais que existem entre as chamadas
jornais, cartas, embalagens de produtos “formas cultas” de fala desses diferentes
comestíveis ou de medicamentos, cartazes países.
na rua etc.);- leitura compreensiva de Toda escrita alfabética tem como princípio
textos que correspondem a diferentes fundamental marcar as diferenças sonoras
registros de língua escrita (textos através de diferenças gráficas, mas no
narrativos, informativos, jornalísticos, desenrolar histórico se produzem
instruções, cartas, recados, listas etc.) inevitavelmente defasagens entre esse
enfatizando a leitura silenciosa mais que a princípio geral e as realizações concretas
oralidade convencional;- produção de textos dos usuários.Isto se dá por duas razões: a
respeitando os modos de organização da primeira tem a ver com uma variável
língua escrita que correspondem a esses temporal - as ortografias das línguas
diferentes registros;- atitude de curiosidade escritas evoluem muito mais lentamente do
e falta de medo diante da língua escrita. que a fala; a segunda razão é de caráter
espacial na medida em que uma língua se
AS DIFICULDADES DESNECESSÁRIAS estende a um número crescente de usuários
dispersos numa área geográfica ampla,
E SEU PAPEL DISCRIMINADOR
surgem variantes dialetais que se
Ferreiro destaca que as crianças são distanciam em maior ou menor medida do
facilmente alfabetizáveis desde que que se representa por escrito.As pesquisas
descubram, através de contextos sociais sobre os processos de aquisição da língua
funcionais, que a escrita é um objeto oral mostram claramente que a repetição
interessante que merece ser conhecido desempenha um papel muito limitado nesse
(como tantos outros objetos da realidade processo.
aos quais dedicam seus melhores esforços Sabemos que as crianças aprendem muito
intelectuais). mais construindo do que repetindo o que
São os adultos que têm dificultado o os outros disseram. Em língua escrita esses
processo imaginando seqüências idealizadas processos de construção estão proibidos.
de progressão cumulativa, estimulando Nenhuma das metodologias tradicionais,
modos idealizados de fala que estariam ainda em voga na região, cogita que,
ligados à escrita e construindo definições desde o início do processo de
de “fácil” e de “difícil”, que nunca alfabetização, as crianças possam escrever
levaram em conta de que maneira se palavras que nunca antes copiaram, e que
define o fácil e o difícil para o ator essas tentativas para construir uma
principal da aprendizagem: a criança. representação são tão importantes nessa
Tudo isso tomou o processo mais difícil aprendizagem como as tentativas para dizer
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

do que deveria ser, produziu fracassos algo em língua oral. Nenhuma dessas
escolares desnecessários, estigmatizou uma metodologias pensa em dar instrumento ao
grande parte da população e transformou a professor para saber ler - quer dizer,
experiência de alfabetização em uma interpretar - essas produções infantis, para
experiência literalmente traumática para poder traduzi-las sem desqualificá-las (tal
muitas crianças. como fazemos na língua oral, onde
Para Ferreiro, não há nenhuma prova tratamos de entender o que a criança
empírica que permita concluir que é disse, dizendo-a a nossa maneira, sem
necessário certo tipo de pronúncia para ter necessidade de desqualificar sua emissão
acesso à língua escrita. Melhor dizendo, a com um “Você não sabe falar!”).
experiência empírica mostra o contrário: A escrita lhes apresenta desafios
nos diferentes países latino-americanos de intelectuais, problemas que terão que

10
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

resolver, precisamente para chegar a A ATENÇÃO A POPULAÇÃO DE 4 A 6


entender quais são as regras de construção ANOS EM RELAÇÃO À ALFABETIZAÇÃO
internas do sistema.

Segundo relato da autora, um dos setores


PRODUÇÃO DE MATERIAIS educativos com maior crescimento na
região latino-americana é o que
Um fator freqüentemente mencionado como corresponde à população infantil de 4 a 6
necessário para facilitar as ações de anos. (Na maioria dos países latino-
alfabetização é a produção de materiais. A americanos, as crianças ingressam na
esse respeito é preciso distinguir três tipos escola de 1° grau aos 6 anos. Seria
de materiais: interessante perguntar-se por que o Brasil
mantém 7 anos como idade de ingresso).
a) Materiais dirigidos aos professores como
um modo de veicular uma proposta Estima-se que em 1970, 1 728 000
pedagógica e de fazer-lhes chegar crianças menores de 5 anos freqüentavam
informação atualizada que os ajudem a algum tipo de instituição pré-escolar na
pensar criticamente sua própria prática região; em 1985 esta quantidade cresceu
profissional. Esses materiais são úteis na para 8 264 000, o que representa um
medida em que se evite a versão “receita incremento enorme: 478%. Esse aumento
culinária” (isto é, use os ingredientes em notável corresponde fundamentalmente às
tal ordem e obterá um resultado crianças de 5 anos e, em menor escala, às
comestível). de 3 e 4 anos (cifras da Unesco-
Orealc).Em relação à alfabetização, as
políticas relativas a esse nível educativo
b) Materiais para ler (não para aprender a (impropriamente chamado pré-escolar)
ler, mas para ler) - Eles são essenciais e oscilaram entre duas posições extremas:
tanto mais necessários quanto mais nos antecipar a iniciação da leitura e da
distanciamos das regiões urbanas. escrita, assumindo alguns dos conteúdos (e,
sobretudo, das práticas) que correspondem
c) Materiais para alfabetizar - É chegado o tradicionalmente ao 1° ano da escola
momento de desmistificar tais tipos de primária, ou então - posição oposta -evitar
materiais, que não só não são necessários, que a criança entre em contato com a
mas que são freqüentemente língua escrita.
contraproducentes.
Assim como os objetivos da alfabetização
Para alfabetizar é preciso ter acesso à do início da escola primária necessitam
língua escrita (tanto como para aprender a redefinir-se, também necessitam redefinir-se
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

falar é necessário ter acesso à língua oral) os objetivos da pré-escola com respeito à
e é isso que está ausentes nas famosas alfabetização. Não se trata, nesse nível,
cartilhas ou manuais "para aprender a nem de adotaras práticas ruins da escola
ler".Para Ferreiro, as seqüências didáticas primária, seguindo este ou aquele método
tradicionais baseiam-se em uma série de de ensinar a ler e a escrever, nem de
falsos pressupostos que se mantêm com a manter as crianças assepticamente afastadas
inércia dos hábitos adquiridos e que de todo o contato com a língua escrita.
resistem a qualquer análise racional. Não
seria demasiado grave se não fosse porque Esta é uma falsa dicotomia que se
essas didáticas tomam ainda mais difícil o expressa na famosa pergunta: deve se
processo para quem a escolarização já é ensinar a ler e a escrever na pré-escola ou
uma empresa de "alto risco". não? Minha resposta é simples: não se

11
deve ensinar, porém deve-se permitir que a sua voz.Há uma consciência crescente da
criança aprenda. importância da educação básica e do mais
básico na educação: a alfabetização. Mas
há também um risco de regressar à
EXPERIÊNCIAS ALTERNATIVAS DE
concepção da alfabetização como algo
ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS demasiado elementar, isto é, mínimos
As experiências alternativas de rudimentos de decodificação. Há uma
alfabetização de crianças, cujo consciência crescente sobre a
desenvolvimento tenho seguido, impossibilidade de aceitar as taxas de
atentamente, utilizam como informação repetência que existem em nossa região.
básica as descobertas sobre a psicogênese
da língua escrita na criança, resultado de Não importa que os argumentos atuais
trabalhos de pesquisa que inicie em 1974 sejam basicamente econômicos, desde que
junto com Ana Teberosky e um grupo de sirvam para recordar-nos que, se a escola
colegas, e que logo receberam ampla não gera aprendizagem, não pode justificar-
confirmação em diferentes países e línguas. se como instituição social. Há um risco
sério de continuar gerando desigualdades
Apesar de variar enormemente entre si, através de velhos e novos esquemas de
essas experiências compartilham os competitividade, eficiência e modernidade.
objetivos da alfabetização antes enunciados No entanto, existe também um sólido
e algumas propostas fundamentais sobre o pensamento teórico sobre a natureza da
processo de alfabetização que indicarei alfabetização, ao qual estão contribuindo
esquematicamente: lingüistas, historiadores, antropólogos,
psicólogos, sociólogos e educadores.
a) Restituir à língua escrita seu caráter de
objeto social Esta nova visão multidisciplinar sobre a
b) Desde o início (inclusive na pré- alfabetização não permite retornar a uma
escola) aceita-se que todos na escola visão supersimplificadora e profundamente
podem produzir e interpretar escritas, equivocada sobre o processo de
cada qual em seu nível. alfabetização.
c) Permite-se e estimula-se que as
crianças tenham interação com a língua Particularmente em nossos países
escrita, nos mais variados contextos. empobrecidos, e especialmente nos setores
d) Permite-se o acesso o quanto antes mais pobres de nossos países, os objetivos
possível à escrita do nome próprio da alfabetização devem ser mais
ambiciosos.
e) Não se supervaloriza a criança,
supondo que de imediato compreenderá
a relação entre a escrita e a Se as crianças crescem em comunidade
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

linguagem. Tampouco se subvaloriza a iletradas e a escola não as introduz na


criançaf) Não se pede de imediata linguagem escrita (em toda a sua
correção gráfica nem correção complexidade), talvez cheguem a atingir
ortográfica esses "mínimos de alfabetização", que lhes
permitam seguir instruções escritas e
aumentar sua produtividade em uma
OBSERVAÇÕES FINAIS fábrica, contudo não teremos formado
cidadãos para este presente nem para o
Segundo Ferreiro, nesta última década do futuro próximo.
século abre-se um espaço para que a
América Latina, que tem muito a dizer Há que se alfabetizar para ler o que
sobre alfabetização, faça ouvir bem alto a outros produzem ou produziram, mas

12
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

também para que a capacidade de “dizer situação e do escândalo de certas


cor escrito” esteja mais democraticamente conjunturas. Para restabelecer a necessidade
distribuída. Alguém que pode colocar no da indignação de que fala Paulo
papel suas próprias palavras é alguém que Freire.Sabemos perfeitamente que o
não tem medo de falar em voz alta. conjunto de conhecimentos que um
indivíduo adquire no curso de seu
desenvolvimento depende das exigências do
Necessitamos que muitos mais tenham a
meio cultural em que cresce. A cultura do
capacidade de dizer-nos por escrito quem
campo exige conhecimentos diferentes da
são, para manter a diversidade cultural que
cultura da cidade.
é parte da riqueza de nosso mundo.
Falamos muito da diversidade biogenética
de plantas e animais, que constitui um de Uma pessoa do campo, transferida
nossos mais prezados recursos para o violentamente para a cidade, aparece como
porvir. alguém depreciado, tanto quanto o seria
um habitante da cidade transferido
violentamente para o campo. Ocorre que o
Não esqueçamos a diversidade cultural. A
movimento social vai em direção à
alfabetização pode e deve contribuir para a
urbanização e não à ruralização... Por esse
compreensão, difusão e enriquecimento de
motivo não faz nenhum sentido caracterizar
nossa própria diversidade, histórica e atual.
o adulto ou a criança do campo como um
“carente”. Ambos só aparecem como tais
ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS E em função das exigências da vida
FRACASSO ESCOLAR PROBLEMAS urbana.Na realidade, o que ocorre na saúde
e na educação é parte da tendência geral à
TEÓRICOS E EXIGÊNCIAS SOCIAIS.
privatização que se observa em quase
todos os países da região: o Estado delega
Ferreiro ressalta que, todas as frases que ao setor privado a maior parte de suas
expressam preocupação sobre a situação do obrigações e retém somente aquelas de
analfabetismo na região já fazem parte do tipo “assistencial” para os setores cujo
discurso oficial dos governos. Todos os poder aquisitivo não lhe permite pagar por
diagnósticos coincidem: o analfabetismo se um serviço necessário.
concentra nos bolsões de pobreza das
grandes cidades, juntamente com a A noção de “direito a saúde, moradia e
aglomeração urbana, falta de água potável, educação” perde assim seu sentido global.
trabalho ocasional e mal-remunerado; o Em lugar de os cidadãos reclamarem um
analfabetismo se concentra nas zonas direito, estabelece-se, como fosse “normal”,
rurais, onde os camponeses vivem com que eles “comprem serviços”. Aqueles que
uma economia de subsistência, cultivando não podem comprá-los devem conformar-se
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

com métodos arcaicos terras empobrecidas; com um ação assistencial do Estado, que
o analfabetismo se concentra nas se limita a dar o mínimo necessário (e,
populações indígenas (também camponesas) freqüentemente, bem abaixo do mínimo
que falam alguma das muitas línguas requerido para manter os níveis de
originárias do continente, mas que não subsistência e funcionamento social
possuem recursos próprios para grafar sua degradado dessa parcela da população).
própria língua. A orientação das políticas
de alfabetização
Para ela, é preciso denunciar muito
claramente e tantas vezes quantas forem
Há ainda muito por fazer no plano do necessárias, até criar uma consciência
diagnóstico e orientação das políticas para pública de que não é possível alcançar os
que se tome consciência da gravidade da objetivos educativos colocados para o final

13
do século XX se não se modificar b) Os pré-requisitos como problema
rapidamente a própria concepção da teórico
alfabetização. É aqui onde há muito a ser Para Ferreiro, se pensarmos agora no
dito com respeito ao desenvolvimento problema dos pré-requisitos como um
teórico relativo aos processos de problema teórico, veremos de imediato
alfabetização. delinearem-se duas maneiras muito
diferentes de defini-lo, segundo a
ALGUNS PROBLEMAS TEÓRICOS perspectiva teórica adotada.
VINCULADOS À ALFABETIZAÇÃO O estudo dos pré-requisitos, no sentido dos
antecessores de aquisições posteriores no
Há domínios para os quais ninguém processo de desenvolvimento, é de extrema
pergunta se a criança está ou não “pronta” importância em geral, e é essencial numa
ou “madura” para iniciar essa perspectiva psicogenética construtivista.Os
aprendizagem. O acesso ao computador é, trabalhos sobre a relação entre consciência
hoje em dia, um deles: há programas de fonológica e leitura, que se ocupam da
iniciação ao uso do computador (não a incidência da ação escolar, contrastam
programação) para adultos profissionais e crianças que estão submetidas a diferentes
para crianças de pré-escola. Dada a metodologias de ensino da leitura
velocidade com que está tecnologia (fundamentalmente métodos globais versus
ingressou na vida moderna, parece haver métodos analíticos).
consciência de que “quanto antes, melhor”.
Isto também é reduzir um problema muito
Na medida em que não há ainda
mais complexo a um só de seus
parâmetros claros com relação ao tempo
ingredientes. O método que o professor
adequado para utilizá-lo produtivamente, e
segue é apenas um dos ingredientes da
na medida em que não faz parte do
maneira como o objeto social “língua
currículo escolar, a noção de “fracasso na
escrita” é apresentado no contexto
aprendizagem” ainda não está instaurada.O
escolar.O conhecimento das funções sociais
problema dos pré-requisitos para uma
da escrita é “natural” em crianças cujos
aprendizagem coloca-se de diferentes
pais são alfabetizados, mas não tem nada
maneiras:
de “natural” em outras, que não tiveram as
(a) apresenta-se como uma noção escolar, mesmas oportunidades sociais de interagir
como algo que uma criança "tem" ou com os diferentes tipos de objetos sociais
"não tem", e que é avaliada mediante que portam marcas escritas, que não
provas psicológicas ou tiveram oportunidades de participar de
psicopedagógicas; ações sociais (literacy events) em que
(b) é visto como um problema teórico. outros indivíduos utilizam a língua escrita,
lendo ou escrevendo com propósitos
a) Os pré-requisitos como problema definidos. Ocultando essas funções sociais,
escolar apresentando a língua escrita como um
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

“objeto em si”, abstraído de seus usos


Como problema escolar, os pré-requisitos sociais, se favorece a algumas crianças e
estabelecem barreiras: os sujeitos devem se deixa outras na penumbra
demonstrar possuir as habilidades definidas inicial.Segundo Ferreiro, reduzir a língua
como requisitos prévios para poder escrita a um código de transcrição de sons
ingressarem certo nível da escola. Supõe-se em formas visuais reduz sua aprendizagem
a aquisição dessas habilidades vinculadas a à aprendizagem de um código. Em termos
uma sempre mal definida “maturação”. Tal educativos, o problema das atividades
“maturação” é entendida, às vezes, como preparatórias coloca-se de maneira
maturação biológica, e a referência à radicalmente diferente se aceitarmos que é
biologia parecem dispensar outras função da escola introduzir a língua escrita
determinações. como tal. Não se trata de um jogo de

14
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

palavras. Introduzir a língua escrita que qualquer de seu desenvolvimento.


dizer, ao menos, o seguinte: c) Não se deve confundir a necessidade
- permitir explorações ativas dos teórica de encontrar os antecessores
distintos tipos de objetos materiais que psicogenéticos com a pseudo-
são portadores de escrita (e que, além necessidade institucional de encontrar
disso, têm recebido nomes específicos: maneiras de classificar as crianças
jornais, revista, dicionários, calendários, como “aptos/não”, “maduros/ não
agendas, livros ilustrados, livros sem maduros”, “prontos/ não” etc. Qualquer
ilustrações, livros de poesias, livros de instrumento que se utilize terminara
canções, enciclopédias, cartas, receitas, refletindo as diferenças sociais nas
recibos, telegramas etc); ocasiões de acesso a língua escrita.
- ter acesso à leitura em voz alta de Portanto, e inevitável que os testes de
diferentes registros da língua escrita maturidade (ou como se queira chamá-
que aparecem nesses distintos los) funcionem como instrumentos de
materiais; descriminação social.
- poder escrever com diferentes
propósitos e sem medo de cometer A CONSTRUÇÃO DA ESCRITA NA
erros, em contextos onde as escritas CRIANÇA
são aceitas, analisadas e comparadas
sem serem sancionadas; Para Ferreiro, o termo construção, que uso
para me referir a aquisição da língua
- poder antecipar o conteúdo de um
escrita, não e muito comum; geralmente se
texto escrito, utilizando
fala em “aprendizagem”. Não é que
inteligentemente os dados contextuais e
aprendizagem seja um termo errôneo,
- na medida em que vai sendo
porque efetivamente ha um processo de
possível
aprendizagem, porem a historia social dos
- os dados textuais;- participar em atos termos tem impregnado o termo
sociais de utilização funcional da aprendizagem com uma forte conotação
escrita;- poder perguntar e ser empirista que não e a que quero dar-lhe.
entendido; poder perguntar e obter
O termo maturação esta excluído, uma vez
respostas;- poder interagir com a
que não se trata de um processo
língua escrita para copiar formas, para
puramente maturativo. O termo
saber o que diz, para julgar, para
desenvolvimento tem sido pouco usado na
descobrir, para inventar.
literatura espanhola, ainda que em inglês,
hoje em dia, seja bastante corrente ouvir
c) Síntese falar de developmental literacy. Para ela,
Em síntese, a argumentação da autora é a quando falamos de construção da escrita
seguinte: na criança, não estamos falando da
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

a) Colocada com problema teórico, a emergência mais ou menos espontânea de


questão dos pré-requisitos (como idéias engenhosas, idéias curiosas, idéias as
antecessores necessários de aquisições vezes extraordinárias que as crianças tem -
posteriores) e de suma importância; no o que em inglês se costuma dizer
entanto, a forma de tratar o problema wonderful idéias. E algo mais que isso.
difere marcadamente segundo a posição Tampouco se trata de que algumas coisas
teórica adotada. que se constroem e em seguida ha uma
espécie de adição linear do já
b) Do ponto de vista construtivista, o
construído.Para ela, em uma visão
problema dos pré-requisitos coloca-se
construtivista p que interessa e a lógica do
da seguinte maneira: é essencial
erro: trata-se as vezes de idéias que não
estabelecer os antecessores de qualquer
são erradas em si mesmas, mas aparecem
conhecimento em um momento

15
corno errôneas porque são “... Quer para diminuir a repetência como
sobregeneralizadas, sendo pertinentes apenas para aumentar a permanência na escola
em alguns casos, ou de idéias que (pelo menos na medida em que esta se vê
necessitam ser diferenciadas ou afetada pela repetência) propuseram-se duas
coordenadas, ou, as vezes, idéias que soluções principais: promoção automática e
geram conflitos, que por sua vez ampliação dos serviços especializados de
desempenham papel de primeira apoio. (...) a causa fundamental de
importância na evolução. repetência desse primeiro ano escolar, é a
não aquisição de rudimentos de leitura e
de escrita “. Página 13”.
Alguns desses conflitos entendemos muito
bem; esperamos entender melhor outros em “A promoção automática tem sérios
um futuro não muito distante. Os processes oponentes dentro e fora das fileiras do
de construção sempre supõem reconstrução: magistério: eles sustentam que é uma
no entanto, o que e que se reconstrói? E medida que leva a” baixar a qualidade de
precise reconstruir um saber construído em ensino “. Página 13”.
certo domínio para aplicá-lo a outro; ha “A criação de serviços de atendimento
reconstrução de um saber construído especializado como solução alternativa gera
previamente com respeito a um domínio outras dificuldades (...) A primeira
especifico para poder adquirir outros dificuldade desta alternativa tão bem
conhecimentos do mesmo domínio que, de recebida é no aspecto econômico; esses
algum modo, tem sido registrados sem serviços encarecem muitíssimo o custo do
poder ser compreendidos; também ha atendimento educacional por aluno...”
reconstrução do conhecimento da língua Página 14.
oral que a criança tem para poder utilizá- “A segunda dificuldade é talvez a mais
lo no domínio da escrita. séria: quando a criança é enviada a esses
sistemas especializados (...) trata-se à
criança como se ela levasse consigo a
FICHAMENTO DO LIVRO: “COM causa de seu próprio transtorno. A
TODAS AS LETRAS” instituição escolar fica livre de
responsabilidade (...) não conheço casos
Emília Ferreiro onde o encaminhamento dessas crianças a
um sistema de educação especial não
“Em dezembro de 1979 realizou-se na
cumpra uma função discriminatória”.Página
Cidade do México uma Conferência (...)
14
que deu origem ao que se conhece por
Projeto Principal de Educação para “Ninguém nega que a repetência dos
América Latina e Caribe”. Página 07 alunos e que a interrupção de seus estudos
respondem, em primeiro lugar, a fatores de
“Primeiro objetivo do Projeto Principal:”
discriminação social existentes fora da
Conseguir antes de 1999, a escolarização
escola. Porém, é importante considerar com
de todas as crianças em idade escolar,
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

detalhe a incidência de fatores intra-


oferecendo-lhes uma educação geral
escolares”.Página 15.
mínima com duração de 8 a 10
anos.Página 11 “A alfabetização parece enfrentar-se com
um dilema: ao estender o alcance dos
“... não há parâmetros claros para afirmar
serviços educativos, baixa-se a qualidade, e
que a educação básica anterior a década
se consegue apenas um” mínimo de
de 80 ou de 70 era de melhor qualidade
alfabetização “(...) apenas a possibilidade
que a da primeira metade dos anos 80(...)
de decodificar textos breves e escrever
é muito difícil saber o que se designa
algumas palavras (além de grafar
por” qualidade “no domínio da
quantidades e talvez as operações
alfabetização”. Página 12
elementares), porém sem atingir a língua
escrita como tal”.Página 16.

16
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

“... Na medida em que a escola primária à universidade (...) apresentam sérias


continuar expulsando grupos consideráveis deficiências que levaram ao escândalo da
de crianças que não conseguem alfabetizar, presença de” oficinas de leitura e redação
continuará reproduzindo o analfabetismo “...” Página 18.
dos adultos”.Página 16. “... uma das funções principais da leitura
“De todos os grupos populacionais, as ao longo de toda a escolaridade é a
crianças são as mais facilmente obtenção de informações a partir de textos
alfabetizáveis. Elas têm mais tempo escritos (...) os estudantes não sabem
disponível para dedicar a alfabetização do resumir um texto, não são capazes de
que qualquer outro grupo de idade e estão reconhecer as idéias principais e, o que é
em processo contínuo de aprendizagem pior, não sabem seguir uma linha
(dentro e fora do contexto escolar), argumentativa de modo a identificar se as
enquanto adultos já fixaram formas de conclusões que se apresentam são coerentes
ação e de conhecimento mais difíceis de com a argumentação precedente. Portanto,
modificar”.Página 17. não são leitores críticos...” Página 18.
“... o sucesso dos objetivos da alfabetização “... a escrita se apresenta como um objeto
das crianças, coerente com o Projeto alheio à própria capacidade de
Principal, requer superar a visão da compreensão. Está ali para ser copiado,
introdução à leitura e à escrita como reproduzido, porém não compreendido, nem
aprendizagem de uma técnica, e essa recriado”.Página 19.
medida está indissoluvelmente ligada ao “Um dos objetivos sintomaticamente
problema da” qualidade de ensino “...” ausente dos programas de alfabetização de
Página 17. crianças é o de compreender as funções da
“... sobre o processo de aquisição da língua escrita na sociedade”.Página 19.
língua escrita nas crianças levam a uma “No decorrer dos séculos, a escola (como
conclusão que merece ser considerada: as instituição) operou uma transmutação da
crianças são facilmente alfabetizáveis; escrita. Transformou-a de objeto social em
foram os adultos que dificultaram o objeto exclusivamente escolar (...) a escrita
processo de alfabetização delas”.Página 17. é importante na escola porque é importante
“... quais são os objetivos da alfabetização fora da escola, e não o inverso”.Página 20.
inicial? Freqüentemente esses objetivos se “A escola (como instituição) se converteu
definem de forma muito geral nos planos em guardiã desse objeto social que é a
e programas, e de uma maneira língua escrita e solicita do sujeito em
contraditória na prática cotidiana e nos processo de aprendizagem uma atitude de
exercícios propostos para a respeito cego diante desse objeto...” Pagina
aprendizagem”.Página 17. 21.
“É comum registrar nos objetivos expostos “Por mais que se repita nas declarações
nas introduções de planos, manuais e
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

iniciais dos métodos, manuais ou


programas, que a criança deve alcançar o” programas, que a criança aprende em
prazer da leitura “e que deve ser capaz função de sua atividade, e que se tem que
de” expressar-se por escrito “. As práticas estimular o raciocínio e a criatividade, as
convencionais levam, todavia, a que a práticas de introdução à língua escrita
expressão escrita se confunda com a desmentem sistematicamente tais
possibilidade de repetir fórmulas declarações. O ensino neste domínio
estereotipadas, a que se pratique uma continua apegado às práticas mais
escrita fora do contexto, sem nenhuma envelhecidas da escola tradicional, aquelas
função comunicativa real e sem sequer que supõem que só se prende algo através
com a função de preservar informação (...) da repetição, da memorização, da cópia
essa expressão escrita é tão pobre e reiterada de modelos, da
precária que inclusive aqueles que chegam mecanização”.Página 22.

17
“... Há crianças que chegam a escola representa a língua, e não a fala. Qualquer
sabendo que a escrita serve para escrever intenção de justificar a ortografia a partir
coisas inteligentes, divertidas ou da pronuncia leva a desprezar as variantes
importantes. Essas são as que terminam de de fala das crianças das populações
alfabetizar-se na escola, mas começaram a socialmente marginalizadas, e a dificultar
alfabetizar-se muito antes, através da sua aprendizagem. (...) a correção
possibilidade de entrar em contato, de ortográfica não pode ser exigida nas
interagir com a língua escrita”.Página 23. primeiras etapas da alfabetização, com o
“... Há uma diferença substancial entre risco de distorcer o processo desde o
apontar, como objetivo da alfabetização, a início”.Página 27.
aquisição de uma técnica de transcrição de “... o processo de aprendizagem é visto
formas sonoras, e apontar, como objetivo, fundamentalmente como um processo
a compreensão do modo de representação cumulativo de informações...” Página 28.
da linguagem que corresponde a um “... o processo de aquisição da língua oral
sistema alfabético de escrita, seus usos (...) se trata de uma aprendizagem extra-
sociais e a construção e compreensão de escolar. A nenhuma mãe ocorre oculta de
textos coerentes e coesos”.Página 25. seu filho certos fonemas da língua porque
“As crianças são facilmente alfabetizáveis, são difíceis: elas falam e cantam para seus
desde que descubram, através de contextos filhos sem se preocupar em saber quais
sociais funcionais, que a escrita é um fonemas estão apresentando e em que
objeto interessante que merece ser ordem o estão fazendo (...) ninguém nega
conhecido...” Página 25. as crianças acesso à informação lingüística
“São os adultos que tem dificultado o antes que sejam falantes; ninguém propõe
processo imaginando seqüências idealizadas um plano de apresentação dessa informação
de progressão cumulativa, estimulando lingüística em uma seqüência
modos idealizados de fala que estariam predeterminada. Essa informação lingüística
ligados à escrita e construindo definições se apresenta em contextos funcionais, o
de” fácil “e de” difícil “(...) Tudo isso (...) que permite que a criança construa
produziu fracassos escolares desnecessários, significados plausíveis para os sons
estigmatizou uma grande parte da emitidos”.Página 29.
população e transformou a experiência de “As seqüências pedagógicas a respeito da
alfabetização em uma experiência língua escrita procedem de uma maneira
literalmente traumática para muitas completamente oposta (...) nega-se acesso à
crianças”.Página 25 informação lingüística até que se tenham
“... despreza-se o modo de fala das cumprido os rituais de iniciação; não se
crianças de grupos socialmente permite a criança” escutar a língua escrita
marginalizados como inconveniente para “(em seus diferentes registros) até que a
dar acesso à escrita. É preciso enfatizar mesma não possa ler; a língua escrita se
que o preconceito lingüístico é um dos apresenta fora do contexto...” Página 29.
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

mecanismos de discriminação, no interior “... No caso da aprendizagem da língua


da escola, com maiores conseqüências para oral, os adultos que rodeiam a criança
a criança...” Página 26. manifestam entusiasmo quando ela faz suas
“... toda escrita alfabética tem como primeiras tentativas para comunicar-se
principio fundamental marcar as diferenças oralmente (...) Todos tentam compreender
sonoras através de diferenças gráficas, mas o que a criança disse supondo que quis
no desenrolar histórico se produzem dizer algo, e dão feedback lingüístico ao
inevitavelmente defasagens entre esse responder as suas perguntas parafraseando,
princípio geral e as realizações concretas quando parece necessário, a emissão
dos usuários (...) é falso supor que a infantil...” Pagina 30.
escrita (...) representa diretamente a fala, “No caso da língua escrita o
ou um modo idealizado de fala. A escrita comportamento da comunidade escolar é

18
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

marcadamente oposto. Quando a criança entender quais são as regras de construção


faz suas primeiras tentativas para escrever internas do sistema”.Página 32.
é desqualificada de imediato porque” faz “... a escrita é antes de tudo uma
garatujas “. Desde as primeiras escritas, o representação da linguagem, e tudo o que
traçado deve ser correto e a ortografia se afaste da linguagem, convertendo-a em
convencional. Ninguém tenta compreender uma seqüência gráfica sem significado, a
o que a criança quis escrever, porque se deforma até caricaturizá-la. (...) os manuais
supõe que não possa escrever nada até ter ou cartilhas, introduzem sempre um
recebido a instrução formal pertinente (...) elemento de rigidez na aprendizagem, que
Ninguém tenta retraduzir o que a criança dificulta a necessária adaptação às
escreveu, porque lhe nega o direito de exigências individuais e grupais”.Página 35
aproximar-se da escrita por um caminho “Um dos setores educativos com maior
diferente do indicado pelo método crescimento na região latino-americana é o
escolhido pelo professor”.Página 30. que corresponde à população infantil de 4
“... Sabemos que as crianças aprendem a 6 anos...” Página 36.
muito mais construindo do que repetindo o “... No caso das instituições de caráter
que os outros disseram...” Página 30. público (...) a escola primária enfatiza que
“Em língua oral permitimos que a criança as crianças chegam” mal preparadas “, e
se engane ao produzir, tanto quanto ao que por isso é impossível conseguir os
interpretar, e que aprenda através de suas objetivos que fixam os planos e
tentativas para falar e para entender a fala programas. A fim de” prepara melhor as
dos outros. Em língua escrita todas as crianças “, as instituições pré-escolares
metodologias tradicionais penalizam costumam então introduzir exercícios de
continuamente o erro, supondo que só se discriminação de formas gráficas, folhas
aprende através de reprodução correta, e para cópia de grafismos, e às vezes
que e é melhor não tentar escrever, nem identificação de letras (...) No caso das
ler, se não está em condições de evitar o instituições de caráter privado que atendem
erro. A conseqüência inevitável é a crianças de pais com altas expectativas
inibição: as crianças não tentam ler nem educacionais, é muito comum que se
escrever e, portanto, não aprender” Página estabeleça a alfabetização para o grupo de
31. crianças de 5 anos, introduzindo aí todas
“Na língua oral não se aprende um as práticas tradicionais da escola primaria
fonema nem uma sílaba e nem uma que correspondem ao início da escolaridade
palavra por vez. As palavras são obrigatória.” Página 37.
aprendidas, são desaprendidas, são definidas “... as crianças que freqüentam as
e são redefinidas continuamente”.Página 31 instituições pré-escolares de caráter publico
“... o processo de aquisição da língua se limitam a realizara atividades de
escrita (...) é um processo difícil para a socialização e exercícios de caráter
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

criança, mas não mais difícil que outros perceptivo-motor enquanto aquelas que
processos de aquisição de conhecimento. È freqüentam instituições pré-escolares de
um processo que exige acesso à caráter privado e com elevadas taxas de
informação socialmente veiculada, já que matrícula devem se alfabetizar antes de
muitas das propriedades da língua escrita terminar a pré-escola”.Página 37.
só se podem descobrir através de outros “Poder-se-ia caracterizar a situação nestes
informantes e da participação em atos termos :poucas crianças pobres da região
sociais onde a escrita sirva para fins que freqüentam as pré escolas oficiais são
específicos (...) A escrita lhes apresenta impedidas de aproximar-se da língua
desafios intelectuais, problemas que terão escrita; a maioria das crianças ricas da
que resolver, precisamente para chegar a região que freqüentam as pré - escolas

19
particulares são obrigadas a alfabetizar-se a) “Restituir a língua escrita seu caráter
antes dos 6 ou 7 anos.” Página 38. de objeto social: (...) usa-se a língua
“... necessitam redefinir-se os objetivos da escrita em contextos funcionais(...); o
pré-escola com respeito a alfabetização. lugar de trabalho tem caráter de
Não se trata, nesse nível, nem de adotar “ambiente alfabetizador”, com toda
as práticas ruins da escola primária, espécie de materiais escritos e, além
seguindo este ou aquele método de ensinar disso, uma área o um canto de leitura;
a ler e a escrever, nem de manter as não só se deixam entrar os escritos
crianças assepticamente afastadas de todo que estão nas casas das crianças ou na
contato com a língua escrita.Esta é uma comunidade, mas se sai em busca
falsa dicotomia que se expressa na famosa deles, percorrendo as imediações pra
pergunta: deve se ensinar a ler e a descobrir onde há algo escrito,
escrever na pré-escola ou não?Minha perguntar porque foi escrito, antecipar
resposta é simples: não se deve ensinar, o que poderá significar e, por ultimo
porem deve-se permitir que a criança lê-lo.”Página 45.
aprenda.”Página 38. b) “Desde o início (inclusive na pré-
“Qual é a única maneira de permitir a escola) aceita-se que todos na escola
alguém - criança ou adulto - que aprenda podem produzir e interpretar escritas,
algo a respeito de certo objeto do cada qual em seu nível: O professor
conhecimento? Permitir-lhe que entre em produz e interpreta como o fazem os
contato, que interaja com esse adultos alfabetizados e as crianças o
objeto”.Página 38. fazem no nível de conceituação que
estejam elaborando. A atitude que se
“... não é obrigatório dar aulas de
adota é similar a que corresponde à
alfabetização na pré-escola, porém é
aprendizagem da língua oral ou a
possível dar múltiplas oportunidades para
aprendizagem do desenho...” Página 45.
ver a professora ler e escrever; para
explorar semelhanças e diferenças entre c) “Permite-se e estimula-se que as
textos escritos; para explorar o espaço crianças tenham interação com a
gráfico e distinguir entre desenho e escrita; língua escrita, nos mais variados
para perguntar e ser respondido; para contextos: (...) o professor deixa de ser
atentar copiar ou construir uma escrita; o único que sabe algo na sala de aula
para manifestar sua curiosidade em (todos sabem algo, cada qual em seu
compreender essas marcas estranhas que os nível).” Página 46.
adultos põem nos mais diversos d) “Permite-se o acesso o quanto antes
objetos”.Página 39. possível à escrita do nome
“Contra-argumento: não se pode permitir a próprio”.Página 46.
criança que entre em contato com um e) “Não se supervaloriza a criança,
objeto antes de ter condições necessárias supondo que de imediato compreenderá
de” maturidade “(...) De nenhuma maneira a relação entre a escrita e a
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

se está preparando a inteligência da criança linguagem. Tampouco se subvaloriza a


para compreender esse modo particular de criança, supondo que nada sabe até
representação da linguagem que é o que o professor lhe ensine. A
sistema alfabético dae escrita”.Página 40. alfabetização (...) um processo cujo
“... O que realmente é difícil para essas início é, na maioria dos casos, anterior
crianças é compreender, como já dissemos, a escola e que não termina ao
o que é que a escrita representa e como a finalizar a escola primária”.Página 47.
representa”.Página 43. f) “Não se pede de imediato correção
“... propostas fundamentais sobre o gráfica nem correção ortográfica: (...)
processo de alfabetização...” Página 44. A correção continua e imediata gera
inibição e impede a reflexão e a
confrontação...” Página 47.

20
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

(...) è difícil que os professores deixem


“A alfabetização passa a ser uma tarefa que seus alunos façam perguntas, quando
interessante, que dá lugar a muita eles próprios, nas sessões de capacitação,
discussão em grupo. A língua escrita se se vêem inibidos a duvidar, a questionar e
converte num objeto de ação e não de a perguntar”.Página 50.
contemplação. È possível aproximar-se dela “O que sabemos é que os professores que
sem medo, porque se pode agir sobre ela, se atrevem a dar a palavra às crianças e a
transforma-la e recriá-la. É precisamente a escutá-las descobrem rapidamente que seu
transformação e a recriação que permitem próprio trabalho se torna mais interessante
uma real apropriação”.Página 47. (e inclusive mais divertido), embora seja
“... É muito mais fácil introduzir a língua mais difícil porque os obriga
escrita com alegria, com entusiasmo e sem continuamente a pensar” Página 51.
medo às crianças pequenas, que devolver a
um multirrepetente a confiança em si “O professor alfabetizador está muito só:
mesmo para poder enfrentar de outra em vez de ser considerado como o
maneira uma aprendizagem que só tem professor mais importante de toda a escola
sido fonte de frustrações”.Página 48. primária, é considerado como aquele que
“O ponto delicado de qualquer processo de realiza o trabalho menos técnico e que
mudança qualitativa é a capacitação de qualquer outro poderia fazer (...) É o
professores. Isto se desdobra em vários professor com as salas mais superlotadas,
subproblemas (...) Na realidade eles são o de quem se espera um grande espírito de
produto de más concepções de sacrifício, uma atitude” muito maternal
alfabetização que já foram assimiladas. “(...) e muita paciência em troca de uma
Parece indispensável que os programas de baixa remuneração e muito pouco apoio
capacitação incluam, como um dos intelectual. È freqüente que se atribua às
objetivos, o de” realfabetizar “os aulas de alfabetização precisamente aos
professores alfabetizadores (...) Há que professores com menos experiências ou
estimulá-los a descobrir, junto com os seus àqueles que são” castigados “por alguma
alunos, o que não tiveram ocasião de razão. Os professores desejam ser
descobrir quando eles mesmos eram promovidos ao” grau superior “assim como
alunos”.Página 48. seus alunos. Não é estranho que, nessas
“Os processos de capacitação mais rápidos, condições, ninguém esteja motivado para
profundos e bem-sucedidos parecem ser pensar criticamente sobre sua prática,
aqueles em que alguém acompanha o refugiando-se nas alternativas mais
professor em serviço...” Página 49. burocráticas...” página 51.
“... Como acompanhar cada professor do “... é possível pensar em alternativas que
continente através da analise de sua transformem o professor alfabetizador no
prática? Esses professores são adultos que mais importante de toda a escola, que é
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

resistem à mudança (...) e que aprendem possível imaginar estratégias para não
mais lentamente que os alunos (...) deixa-lo só e ajuda-lo a mudar sua prática,
Incluindo um acompanhamento regular, a apelando para a sua inteligência...” Página
maioria dos projetos que conheço levam 52.
cerca de dois anos para que um professor “Há um risco sério de continuara gerando
possa (...) reprofissionalizar-se”.Página 50. desigualdades através de velhos e novos
esquemas de competitividade, eficiência e
“O que acontece se incluirmos as crianças modernidade. No entanto, existe também
como agentes capacitadores do professor? um sólido pensamento teórico sobre a
A capacitação é geralmente vista como um natureza da alfabetização (...) Esta nova
ato de caráter vertical, onde alguém mais visão multidisciplinar sobre a alfabetização
competente transmite informações a outros não permite retornar a uma visão

21
supersimplificadora e profundamente privatização que se observa em quase
equivocada sobre o processo de todos os paises da região: o Estado delega
alfabetização”.Página 53. ao setor privado a maior parte de suas
“... Alguém que pode colocar no papel obrigações e retém somente aquelas do
suas próprias palavras é alguém que não tipo” assistencial “para que os setores cujo
tem medo de falar em voz alta”.Página 54. poder aquisitivo não lhe permite pagar por
um serviço necessário. A noção de” direito
“Necessitamos que muitos mais tenham a
à saúde, moradia e educação “perde assim
capacidade de dizer-nos por escrito quem
seu sentido global...” Página 59.
são, para manter a diversidade cultural que
é parte da riqueza de nosso mundo (...)
Não esqueçamos a diversidade cultural. A “... Os cursos de alfabetização de adultos
alfabetização pode e deve contribuir para a nutrem-se abundantemente dessas crianças
compreensão, difusão e enriquecimento de mal-alfabetizadas pela escola pública,
nossa própria diversidade, histórica e dessas que ano após ano foram reprovadas,
atual”.Página 54. acumulando vergonhas, sanções e rejeições,
“... analfabetismo e pobreza caminham mas não conhecimentos”. Pagino 59.
juntos, não são fenômenos independentes;
analfabetismo e marginalização social “É preciso denunciar muito claramente e
caminham juntos, não são fenômenos tantas vezes quantas forem necessárias, até
independentes. O analfabetismo dos pais criar uma consciência publica de que não
está relacionado com o fracasso escolar de é possível alcançar objetivos educativos
seus filhos”.Página 56. colocados para o final do século XX se
“Há ainda muito por fazer no plano do não modificar rapidamente a própria
diagnóstico e orientação das políticas para concepção de alfabetização”.Página 60.
que se tome consciência da gravidade da
situação e do escândalo de certas “... há uma diferença fundamental entre a
conjunturas. Para restabelecer a necessidade concepção tradicional, que considera que o
da indignação do que fala Paulo Freire”. primeiro passo na aquisição da língua
Página 56. escrita é a aquisição de uma técnica de
codificação/decodificação, e a caracterização
“Sabemos perfeitamente que o conjunto de desse processo de aquisição com a
conhecimentos que um indivíduo adquire compreensão de um modo particular de
no curso de seu desenvolvimento depende representação da linguagem”.Página 60.
das exigências do meio cultural em que “Há domínios para os quais ninguém
cresce (...) Por esse motivo não faz pergunta se a criança está ou não” pronta
sentido caracterizar o adulto ou a criança “ou” madura “para iniciar essa
como um ‘carente”.Página 57. aprendizagem”. Página 60.
“... O funcionamento da sociedade global
requer indivíduos alfabetizados; portanto, os
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

“O problema dos pré-requisitos para uma


indivíduos podem exigir o direito à aprendizagem coloca-se de diferentes
alfabetização, o que não pode ser maneiras:
entendido como uma opção individual, mas
como uma necessidade social”.Página 58.
“... a escola pública está cada vez mais (a) apresenta-se como uma noção escolar,
deteriorada, empobrecida e tecnicamente como algo que uma criança” tem “ou” não
desatualizada, enquanto as escolas privadas tem “, e que é avaliada mediante provas
(...) multiplicam-se”.Página 59. psicológicas ou psicopedagógicas;

“Na realidade, o que ocorre na saúde e na (b) é visto como um problema


educação é parte da tendência geral a teórico”.Página 61.

22
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

atividades ou a avaliação de tais


“Como problema escolar, os pré-requisitos capacidades, fala-se exclusivamente de um
estabelecem barreiras: os sujeitos devem aspecto limitado da aquisição da língua
demonstrar possuir as habilidades definidas escrita, e dá-se ênfase a atividade de
como requisitos prévios para poder leitura...” Página 69.
ingressar em certo nível da escola”.Página
61. “... as crianças não chegam ignorantes à
escola, tem conhecimentos específicos
“... para que tem servido – na prática sobre a língua escrita ainda que não
escolar - a noção de maturidade?” Página compreendam a natureza do código
64. alfabético e que são esses conhecimentos
(e não as decisões escolares) que
“A noção de maturidade abriu um próspero
determinam o ponto de partida da
mercado comercial (...) trouxe uma nova
aprendizagem escolar”. Página 69.
clientela para psicólogos e psicopedagogos
(...) tem facilitado o trabalho dos
professores (...) servido para manter o pré- “... as diferenças maiores não se situam no
escolar” assepticamente “isolado da língua nível da metodologia que as professoras
escrita (...) prestado para encobrir os declaram estar utilizando, mas em nível de
fracassos metodológicos (...) discriminar as outras variáveis, que tem a ver com a
crianças dos setores marginalizados (...) maneira de apresentar ou (ignorar) a língua
esta maturidade, definida como algo que o escrita”.Página 70.
sujeito deve trazer consigo, que é
independente das condições de “O conhecimento das funções sociais da
aprendizagem escolar, tem sempre as escrita é” natural “em crianças cujos pais
mesmas conseqüências”.Pagina 64. são alfabetizados, mas não tem nada de”
natural “em outras, que não tiveram asa
“Em uma visão psicológica elementarista mesmas oportunidades sociais de interagir
(...) nunca houve um questionamento para com os mesmos objetos sociais que portam
tentar saber o que é que a criança conhece marcas escritas...” Página 70.
sobre a língua escrita antes de estar
alfabetizada, antes de ter participado de “... as aprendizagens sociais exigem
cursos formais, antes de ingressar na contextos sociais, e a aquisição da língua
escola primária”. Página 66. escrita não pode ser colocada como um
problema exclusivamente individual...”
“Em uma perspectiva construtivista, os pré- Página 72.
requisitos não são habilidades ou destrezas
que a criança deve demonstrar possuir “Se me perguntarem qual das metodologias
Educador de Creche (12.0207.1053.009)

antes que lhe autorizem a participar do tradicionais de ensino da leitura e da


ensino formal (...), mas aquelas noções (...) escrita introduzem desta maneira a língua
que aparecem teoricamente fundamentadas escrita, minha resposta é fácil: nenhuma.
e empiricamente validadas como as Porque todas as metodologias foram
condições iniciais sobre as quais (...) se pensadas em função do código e não em
constroem as novas concepções”.Página 67. função da língua escrita”. Página 73.

“... a ação escolar seria favorecida se fosse


“... sustento que se pode falar em sentido
incrementado o nível de consciência
estrito de construção, usando este termo
fonológica nas crianças antes da
como Piaget o usou quando falou da
aprendizagem formal e, portanto, se
construção do real na criança, ou seja: o
propicia como pré-requisitos a tais

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real existe fora do sujeito, no entanto é a diferença de posição das letras e as
preciso reconstruí-lo para conquista-lo. È combinações das mesmas”.Página 84.
precisamente isso o que temos descoberto
que as crianças fazem com a língua “A fonetização da escrita se inicia quando
escrita: tem que reconstruí-la para poderem as crianças começam a buscar uma relação
apropriar-se dela”.Página 78. entre o que se escreve e os aspectos
sonoros da fala”.Página 85.
“... um processo de construção envolve
processos de reconstrução e que os “É importante também (...) a possibilidade
processos e coordenação, integração, de ver de forma positiva muitas coisas que
diferenciação, etc. também são processos antes se viam somente como
construtivos”.Pagina 79. negativas”.Página 87. “Os processos de
construção sempre supõem reconstrução; no
“... Geralmente não se pode dizer nada entanto, o que é que se reconstrói? É
frente a uma única escrita produzida por preciso reconstruir um saber construído em
uma criança pequena, e muito menos certo domínio para aplicá-lo a outro...”
frente a uma só escrita; é preciso cotejar página 87.
uma serie de produções escritas e conhecer
as condições de produção, o processo de “... esse” saber fazer “em nível oral deve
produção e a interpretação final dada pelo ser reelaborado, que é preciso redescobrir
sujeito”. Pagina 80. a utilidade da sílaba para resolver um
problema da escrita, para saber qual é o
“Em uma visão construtivista o que valor das partes de um todo no processo
interessa é a lógica do erro: trata-se ás de construção”.Página 93.
vezes de idéias que não são erradas em si
mesmas, mas aprecem como errôneas
porque são sobregeneralizadas, sendo
pertinentes apenas em alguns casos...”
Página 82.

“Num primeiro momento as crianças


conceitualizam a escrita como um conjunto
de formas arbitrárias (...) Linearidade e
arbitrariedade de formas são as duas
características mais facilmente aceitas de
uma representação escrita”.Pagina 84.

“Logo começam a elaborar as condições


Educador de Creche (12.0207.1053.009)

de interpretabilidade, ou seja, para que


uma escrita represente adequadamente algo,
não basta que haja formas arbitrárias
dispostas linearmente; faltam certas
condições formais, de um caráter muito
preciso: uma condição quantitativa e outra
qualitativa (...) Descobrem-se assim
diferenciações quantitativas que tem a ver
com limites mínimos e máximos de
caracteres e diferenciações qualitativas que
tem a ver com as formas das letras, com

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