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MÓDULO 4

UNIDADE 1 • capítulo 1

ATIVIDADE 2
I

Responda às questões seguintes.

1. «É verdade que Joanesburgo é a capital da África do Sul, mas não acredito nisso». O que há
de errado com esta afirmação?
Não faz sentido considerar uma proposição verdadeira e não se acreditar nela.

2. Tudo aquilo em que acreditamos é conhecimento?


Não, porque acreditamos em muitas coisas que são falsas. O conhecimento implica a
crença, mas a crença não implica o conhecimento.

3. O que significa dizer que a verdade é condição necessária do conhecimento?


Significa dizer que não podemos conhecer uma determinada proposição se esta não for
verdadeira.

4. A crença não é condição suficiente do conhecimento. Está de acordo? Porquê?


Sim, porque, se o fosse, qualquer crença seria verdadeira. Ora, sabemos que há crenças
falsas.

5. João acredita que Londres é a capital de Itália. Por que razão não se pode dizer que possui
um conhecimento?
A crença é condição necessária do conhecimento porque não faz sentido dizer que P é
verdade e não acreditar que P é verdade. Mas não é suficiente, pela simples razão de que
as crenças podem ser verdadeiras ou falsas. A verdade exige a crença, mas a crença não
implica a verdade. Neste caso, João tem uma crença falsa, ou seja, uma crença que não
corresponde a qualquer conhecimento porque na realidade Londres é capital de Inglaterra.
II
3. A crença verdadeira não é condição suficiente do conhecimento. Está de acordo? Porquê?
Sim, porque não pode haver conhecimento sem justificação do que acreditamos ser
verdadeiro. Caso contrário, o conhecimento poderia ser um palpite correto, uma questão de
sorte.

4. Imagine que alguém afirma: «Acredito, tenho a forte convicção de que é verdade que
amanhã o Sol vai nascer. Logo, é verdade que o Sol vai nascer». Essa pessoa possui
conhecimento?
Não. Não é a força da nossa convicção que torna uma crença verdadeira ou falsa. O que
torna a crença verdadeira é o facto de o Sol nascer. Não é a qualidade intrínseca da minha
crença que a torna verdadeira. Caso contrário, acreditar fortemente que os extraterrestres
existem tornaria essa crença factiva ou verdadeira.

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5. João acredita que vai passar de ano. E, na realidade, essa crença é verdadeira. O seu
professor ainda não lhe disse, mas vai aprová-lo. Em que condições a sua crença verdadeira
seria justificada? Em que condições poderíamos dizer que João sabe que vai passar?
É preciso que haja boas razões para acreditar na verdade da proposição «Vou passar». Se João
argumentar que teve boas notas e boas participações nas aulas ao longo do ano e que a nota
mais fraca que teve foi 15, então estaria plenamente justificado em acreditar na verdade da
proposição «Vou passar de ano». A justificação é uma condição necessária para haver
conhecimento proposicional.

MÓDULO 4

UNIDADE 1 • capítulo 2

ATIVIDADE 1

1. Em que consiste o projeto de Descartes no que diz respeito ao conhecimento?


O objetivo fundamental do pensamento de Descartes é uma profunda reforma do
conhecimento humano que o coloque à margem de qualquer dúvida. Trata-se de justificar
ou fundamentar as nossas crenças de forma a garantirmos sem margem para dúvidas a sua
verdade.

2. O que leva Descartes a propor-se realizar este projeto?


O facto de o sistema dos conhecimentos do seu tempo estar assente em bases que não
garantem a sua verdade e o facto de estar construído de forma desorganizada. Fundamentar
o conhecimento exigirá que a base seja firme, e isso implica que essa base seja uma verdade
que não suscite nenhuma dúvida. Trata-se de começar tudo de novo, do princípio. Se a
conseguirmos encontrar, teremos o alicerce ou a base que será o fundamento do sistema do
conhecimento que pretendemos firme, seguro e bem organizado. Será a verdade a partir do
qual iremos encontrar outras que dela dependerão.

ATIVIDADE 3

1. Descartes é empirista?
Não. Descartes não é empirista porque rejeita a crença de que o conhecimento começa com
a experiência.

2. Por que razão não podem os sentidos ser a fonte ou origem do conhecimento?
Não o podem ser porque são algumas vezes enganadores. Aplicando o princípio hiperbólico
de que o que me engana algumas vezes é sempre enganador, Descartes declara que a
experiência sensível não pode fundar seguramente o que acreditamos ser verdadeiro.

3. Explicite o argumento dos sonhos.


Dada a possibilidade de que sonho e realidade não se distingam, não é impossível que seja
falsa a crença de que existem coisas sensíveis.

4. Qual é a diferença entre o primeiro nível de aplicação da dúvida e o segundo?


No primeiro nível, a dúvida não põe em causa a existência dos objetos, mas as informações
dos sentidos sobre as qualidades ou propriedades desses objetos. No segundo, é a própria
existência real dos objetos físicos que é posta em causa.

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5. Explicite o argumento do Deus enganador ou génio maligno e a sua finalidade.
Devemos reconhecer que as supostas verdades matemáticas podem ser falsidades porque
nada garante que, na hipótese de um ser omnipotente existir, ele não tenha criado a minha
faculdade de conhecer destinada ao erro, mesmo no que me parece certo e evidente. Além de
reforçar a dúvida sobre a existência do mundo físico, encaminha Descartes para uma verdade
metafísica como primeiro princípio do sistema dos conhecimentos. Este não será de tipo
matemático. O pendor metafísico do pensamento cartesiano é evidente. A matemática será
sempre um modelo metodológico, mas não a ciência primeira..

ATIVIDADE 4

1. Por que razão a existência do sujeito que duvida é uma verdade indubitável ou
absolutamente evidente?
Porque duvidar dessa existência é afirmá-la. A condição que torna possível o ato de duvidar é
a existência de quem pensa. A dúvida é um ato do pensamento, o que implica um sujeito
que, pensando, necessariamente sabe que existe.

2. Para Descartes, o primeiro princípio do saber é absolutamente primeiro. Explicite.


É um conhecimento do qual todos os outros dependem, não dependendo ele de nenhum
outro. Neste momento, duvidamos de tudo menos do sujeito que tudo pôs em dúvida.
Portanto, não há qualquer verdade anterior a esta. É necessariamente primeira para quem
pensa por ordem.

3. O «Penso, logo, existo» é uma verdade descoberta por intuição? Porquê?


Porque o sujeito – o eu – descobre a sua existência no próprio ato de pensar e não nos
resultados do ato de pensar, como os raciocínios e as inferências. É uma intuição existencial.

4. Leia o texto em que Descartes expõe o argumento que defende a distinção entre alma e corpo.
Esclareça o argumento.
Se existo, tenho de ser alguma coisa. Como a dúvida sobre existência de realidades físicas
ainda persiste, não posso dizer que tenho um corpo. Mas penso. Ora, pensar é uma
propriedade da alma. Se penso e não sei se tenho corpo, então a alma é distinta do corpo,
não depende deste para existir. A única afirmação que é impossível ser falsa é esta: sou um
ser que não precisa do corpo para existir. Penso, logo, existo como substância pensante –
alma, razão – e não como substância corpórea.

5. Qual o estatuto da verdade que diz respeito à distinção entre alma e corpo?
É a primeira verdade que deduzimos do Cogito. Por isso, é a segunda verdade fundamental do
sistema. Tal como a primeira é absolutamente verdadeira.

ATIVIDADE 5

1. Exponha o argumento mediante o qual Descartes prova que Deus existe.


Se a ideia de Deus existe, tem de ter uma causa. O sujeito não pode ser essa causa porque é
imperfeito, e a ideia de Deus representa as perfeições que a Deus atribuímos. Então, só Deus
pode ser a causa da ideia que representa a perfeição. Logo, Deus existe necessariamente.

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2. Leia o texto seguinte.
«A Filosofia é como uma árvore, cujas raízes são a Metafísica, o tronco a
Física, e os ramos que saem do tronco são todas as outras ciências que, se
reduzem a três principais: a Medicina, a Mecânica e a Moral. [...]»

Descartes, Princípios de Filosofia, Lisboa, Ed. 70, 2006, p. 22.

2.1. De acordo com o texto, que papel atribui Descartes à metafísica?


Atribui-lhe o papel de fundamento das verdades que concebemos com clareza e distinção.

2.2. Que verdades metafísicas desempenham um papel importante no sistema cartesiano


dos conhecimentos?
Essas verdades são a existência do eu e de Deus, além da distinção entre alma e corpo.

2.3. Por que razão se pode considerar que Deus é o fundamento metafísico do
conhecimento.

Deus é o fundamento metafísico do conhecimento, não só por ser uma realidade metafísica
de que este depende, mas sobretudo porque é a garantia absoluta de que o que concebo
clara e distintamente ser verdadeiro é sempre verdadeiro.

EXERCÍCIOS

1. O que é o conhecimento para Descartes?


É uma crença ou opinião verdadeira justificada sem margem para dúvidas. A vontade de
conhecimento absolutamente seguro conduz Descartes a somente aceitar como verdade o que
é impossível ser falso.

2. Por que razão uma afirmação com probabilidade de ser verdadeira não constitui, para
Descartes, conhecimento?
Embora a probabilidade de uma dada afirmação ser verdadeira possa ser muito elevada, é
sempre possível que seja falsa. E se é sempre possível que seja falsa, não é conhecimento.

3. Leia o texto seguinte:


«Nunca aceitar como verdadeira alguma coisa sem a conhecer evidentemente como tal;
[…] não incluir nos nossos juízos senão o que se apresentasse tão clara e tão
distintamente ao meu espírito que não tivesse nenhuma ocasião para o pôr em dúvida.»
Discurso do Método, pp. 29-30.

3.1. Esta regra é conhecida como regra da evidência. Explicite-a.

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Para Descartes não há meio-termo entre o verdadeiro e o falso. A vontade de conhecimento
absolutamente seguro, conduz Descartes a somente aceitar como verdade o que é impossível
ser falso. Para Descartes, só são conhecimento as afirmações que estejam justificadas de modo
que seja impossível serem falsas.

3.2. Que relação há entre esta regra e o projeto de fundamentação segura do conhecimento?
Para garantir que o nosso conhecimento do mundo seja constituído por verdades indubitáveis,
Descartes decide partir de princípios indubitáveis e raciocinar de modo a que tudo o que
derivemos desses princípios seja também indubitável. A regra da evidência define a estratégia
cartesiana. A estratégia de Descartes vai consistir em colocar na base do seu sistema uma
verdade absolutamente indubitável e, a partir dela, derivar todas as outras para garantir que
são também verdades indubitáveis.

4. Por que razão se empenha Descartes em encontrar uma verdade indubitável?


Partindo de uma verdade indubitável, Descartes pretende garantir uma base completamente
sólida ao sistema dos conhecimentos, eliminando assim a objeção fundamental dos céticos,
pois essa verdade não precisa de ser justificada e justifica todas as outras que seja possível
deduzir dela por processos de raciocínio corretos.

5. Por que razão o sistema tradicional dos conhecimentos era vulnerável às objeções dos
céticos?
A principal razão era o facto de esse sistema estar fundado nos sentidos, que são incapazes de
fornecer princípios sólidos. Ao encontrarmos os verdadeiros princípios de todo o saber,
estaremos ao mesmo tempo a constituí-lo de forma ordenada, atribuindo a cada dimensão do
saber o lugar que deve ocupar no «edifício científico». Trata-se de justificar ou fundamentar as
nossas crenças de forma a garantirmos sem margem para dúvidas a sua verdade. Encontrar
uma verdade absolutamente indubitável é, acredita Descartes, a condição necessária para,
com ordem, deduzir outras verdades indubitáveis, de modo a construir um sistema do saber
que nada tenha de incerto ou duvidoso.

6. Estabeleça a relação entre a regra da evidência e o caráter hiperbólico da dúvida.


Como o objetivo de Descartes é encontrar uma verdade indubitável, qualquer opinião de que
haja razões para duvidar, por mínimas que sejam, pode ser abandonada como se fosse falsa.
Nisto consiste o caráter hiperbólico da dúvida.

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7. Descartes começa por examinar se mediante os sentidos pode encontrar uma verdade
indubitável? Por que razões o faz e a que conclusão chega?
Descartes não pensa que vai encontrar mediante os sentidos uma verdade sem margem para
dúvidas. Então o seu objetivo é o de provar que os sentidos não são fiáveis e, ao contrário do
que era próprio do senso comum da época e da teoria dominante no plano filosófico, os
sentidos não são a origem do conhecimento nem nas suas informações podemos encontrar
certezas básicas que fundamentem o sistema do conhecimento. Rejeita assim o senso comum
como a tradição filosófica vigente de pendor empirista.

8. Em que consiste o argumento dos sonhos e qual o seu objetivo?


O argumento dos sonhos consiste em mostrar que a intensidade das nossas sensações não é
prova suficiente de que o sonho e a realidade se distinguem. Todos temos sonhos tão intensos
e vivos que julgamos ser real o que somente se passa na nossa mente. Não havendo um
critério claro para distinguir sonho e realidade, podemos suspeitar de que o mundo físico é
uma ilusão. Assim, Descartes prova que unicamente baseados nas informações dos sentidos
não podemos mostrar que a existência de realidades físicas é uma verdade absolutamente
fiável.

9. Exponha o argumento do Deus enganador ou génio maligno. Que resultados atinge


Descartes por seu intermédio?
O argumento do Deus enganador consiste em pôr em causa proposições que parecem em si
mesmas imunes a qualquer dúvida ou suspeita. Recorrendo à hipótese de um Deus enganador
ou génio maligno que nos tenha criado com caraterísticas tais que nos enganemos mesmo
quando fazemos as operações mais simples da Matemática e da Geometria, Descartes mostra
que, podendo ser vítimas desse Deus, não podemos considerar intrinsecamente fiáveis as
verdades matemáticas. A verdade das proposições matemáticas não pode ser justificada de
nodo a que delas não possamos de modo algum duvidar. Com este argumento Descartes
também reforça a dúvida acerca da existência das realidades físicas.

10. Por que razão o Cogito é uma verdade absolutamente primeira ou primeiro princípio?

Porque neste momento duvidamos de tudo menos do sujeito que tudo pôs em dúvida.
Portanto, não há uma verdade anterior a esta, e ela é necessariamente primeira para quem
pensa por ordem. A realidade do sujeito que se conhece a si próprio é necessariamente
anterior à realidade das coisas que poderá vir a conhecer.

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11. Apresente as caraterísticas essenciais da verdade expressa na proposição «Penso, logo,
existo».
1. É o primeiro princípio do sistema dos conhecimentos. Nenhuma verdade lhe pode ser
anterior e dela dependerá o conhecimento de novas verdades.
2. É uma verdade descoberta por intuição e não por dedução. Corresponde à descoberta da
existência do eu no ato de pensar e à descoberta da sua essência nesse mesmo ato. O eu existe
como ser pensante. É descoberta pela razão independentemente de qualquer contributo 
da
experiência.
Este princípio indubitável é puramente racional porque, no momento em que o
descobrimos, nenhuma realidade sensível merece crédito. É descoberta por intuição. Não é
deduzida de um conhecimento anterior mais geral do tipo «Tudo o que pensa existe»: neste
momento o sujeito que duvida só tem a certeza da sua existência.
3. É uma ideia inata. O «Penso, logo, existo» ou a existência do eu pensante é uma verdade
que não deriva ou depende da experiência, dos sentidos. Apresenta-se à razão como verdade
de que ela não pode duvidar. Está no nosso espírito desde sempre (ao nascer), e, mesmo que
não tenhamos desde logo consciência dela, a nossa razão descobre-a quando dá atenção a si e
não às coisas exteriores. É isto que segundo Descartes carateriza as ideias inatas.
4. É um modelo e um critério de verdade. O Cogito é um modelo e um critério de verdade
porque só é verdadeiro o que apreendemos com clareza e distinção. Serão verdadeiras todas
ideias que forem tão claras e distintas como este primeiro conhecimento. É claro e distinto o
que a razão, independentemente dos sentidos, considera impossível ser falso.
5. É o ponto de partida do saber. Como primeira verdade indubitável, vai ser a partir dela que
a reconstrução do saber se vai fazer.

12. Mostre como Descartes justifica a distinção entre alma e corpo.

É certo que existo. Mas em que consiste a minha essência? O que sou eu? Sou, e neste
momento só posso ser isso, uma substância exclusivamente pensante, um sujeito puramente
racional ou alma. Não posso ser uma substância corpórea porque, no segundo nível da dúvida,
pus em causa toda a realidade sensível e essa suspeita ainda permanece. Posso duvidar da
existência do corpo, não posso duvidar da existência do sujeito pensante ou da alma. Logo, sou
uma substância pensante. Assim, ao descobrir a minha essência, descubro a distinção entre
alma e corpo.

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13. «Reconheço que é impossível que ele (Deus) me engane alguma vez, porque em toda a
falácia ou logro se descobre alguma imperfeição. E embora poder enganar pareça ser uma
certa prova de subtileza de espírito ou poder, querer enganar atesta, sem dúvida nenhuma,
malícia ou fraqueza de espírito: o que, por isso, não é próprio de Deus.»
Meditações sobre a Filosofia Primeira, p. 166 (adaptado).

15.1. Mostre como Descartes tenta provar a existência de Deus.

A prova parte da ideia de ser perfeito. Sei que penso, e existo; mas também sei que duvido, e
que me engano muitas vezes. É óbvio que não sou perfeito. Isso implica que tenha a ideia do
que é ser perfeito, pois sem saber o que é a perfeição como poderia considerar-me
imperfeito? Mas se essa ideia está na minha mente a que se deve a sua presença? Tem de
haver uma origem para essa ideia. O seu autor não sou eu porque essa ideia representa a
perfeição e eu sou imperfeito. Também não deriva da observação das coisas empíricas
porque não sei se realmente existem e serão por isso menos perfeitas do que eu, que existo.
Como o imperfeito não pode ser a causa do que é perfeito, só um ser dotado de todas as
perfeições (Deus) pode ter colocado essa ideia de ser perfeito na minha mente como uma
marca impressa. Ora, um ser dotado de todas as perfeições em grau máximo não pode deixar
de existir. A existência é uma qualidade necessária de um ser perfeito, logo, Deus existe.

15.2. Por que razão Descartes se empenha tanto em provar a existência de um ser perfeito?
Qual o papel de Deus no sistema cartesiano?

Como Deus é perfeito, isto é, não é enganador, podemos confiar nas nossas faculdades
racionais e na verdade daquilo que conhecemos por seu intermédio. Deus é, assim, a garantia
de que aquilo que conhecemos clara e distintamente é verdade. O princípio da veracidade
divina é indispensável para que o sistema dos conhecimentos seja fundado. Em termos gerais,
o argumento do Deus enganador pôs em questão a fiabilidade das nossas faculdades
cognitivas: podemos ter sido criados por um Deus enganador com faculdades tais que nos
enganemos mesmo acerca das verdades mais simples e evidentes. O facto de Deus não ser
enganador mostra que esta hipótese é falsa e que podemos confiar nas nossas faculdades
desde que as usemos corretamente.

16. «Na verdade, aquilo mesmo que há pouco adotei como regra, isto é, que são
inteiramente verdadeiras as coisas que concebemos muito clara e distintamente, não é certo
senão porque Deus é ou existe, ser perfeito de que nos vem tudo o que em nós existe.

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Donde se segue que as nossas ideias ou noções, coisas reais que provêm de Deus, não
podem deixar de ser verdadeiras na medida em que são claras e distintas.»

Descartes, Discurso do Método, Lisboa, Sá da Costa, 1982, p. 32.

16.1. Que tese defende o texto?

Defende a tese de que Deus é o fundamento do critério da evidência que manda considerar
absolutamente verdadeiro o que clara e distintamente concebido pela minha razão.

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