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de Descartes
É objetiva, pois a força de uma justificação não depende das opiniões ou dos sentimentos
de cada um.
“Notei, há já alguns anos, que, tendo recebido desde a mais tenra idade tantas coisas falsas por
verdadeiras, e sendo tão duvidoso tudo o que depois sobre elas fundei, tinha de deitar abaixo
tudo, inteiramente, por uma vez na minha vida, e começar, de novo, desde os primeiros
fundamentos, se quisesse estabelecer algo de seguro e duradouro nas ciências.”
Descartes sugere-nos aqui que, para encontrar a certeza, primeiro há que tentar pôr em
dúvida tudo aquilo em que acreditamos.
Por isso, para pôr em questão muito daquilo em que acreditamos, basta encontrar razões para
duvidar de que os sentidos são uma fonte de conhecimento.
Descartes admite, no entanto, que algumas perceções sensíveis parecem não estar sujeitas à
ilusão.
O argumento do sonho
No entanto, acrescenta Descartes, alguns sonhos são tão vívidos que não é possível distingui-
los, com toda a segurança, das perceções que temos enquanto estamos acordados.
Nunca podemos, pois, ter a certeza absoluta de não estar a sonhar enquanto julgamos estar a
percecionar objetos.
Assim sendo, conclui Descartes, mesmo as melhores perceções sensíveis não nos oferecem
certeza.
O génio maligno
Além disso, talvez a nossa mente esteja a ser controlada por um ser extremamente poderoso e
inteligente, que faz tudo o que pode para nos enganar.
2. Se isso é possível, então não posso ter a certeza de que o mundo físico seja real.
3. Se não posso ter essa certeza, então não sei se o mundo físico é real.
O génio maligno poderá induzir-nos em erro até nas questões matemáticas mais elementares.
O cogito
“[N]otei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu, que assim o pensava,
necessariamente era alguma coisa. E notando que esta verdade – eu penso, logo existo – era tão firme
e tão certa que todas as extravagantes suposições dos céticos seriam impotentes para a abalar, julguei
que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava.”
Enquanto busca razões para pôr em causa aquilo em que acredita, Descartes está a pensar.
Ora, para pensar tem de existir. Assim, pela inferência eu penso, logo existo – conhecida por cogito
–, Descartes atinge uma primeira certeza.
Cada um de nós, portanto, poderá estar inteiramente certo da sua própria existência enquanto ser
pensante.
O critério de verdade
Descartes tenta encontrar nela um critério de verdade. Coloca, pois, esta questão:
Descartes responde que está certo do cogito porque percebe, com toda a clareza e distinção, que
para pensar tem de existir – o que sugere este critério de verdade:
Estas perceções são intelectuais: quando, pelo intelecto, “vemos” ou compreendemos com
toda a nitidez que algo é verdade, podemos ter a certeza de que não estamos enganados.
Para justificar melhor o seu critério de verdade, Descartes tenta provar que Deus existe.
A existência de Deus
Deus é concebido como um ser sumamente perfeito, isto é, como um ser que reúne todas as
perfeições no máximo grau possível.
Ora, segundo Descartes, a existência é uma perfeição, pois é melhor existir do que não existir.
Assim, refletindo sobre o conceito de um ser sumamente perfeito, chegamos à conclusão de que
a própria existência é uma das suas qualidades.
Estabelecida a existência de Deus, Descartes julga que o critério da perceção clara e distinta fica
validado.
Assim, desde que elas utilizem bem as suas capacidades, chegarão certamente à verdade.
Cada um de nós pode estar certo, então, de que tudo aquilo que percebe com toda a clareza e
distinção é verdade.
A realidade do mundo físico
Podemos agora estar certos de que as nossas perceções sensíveis representam objetos físicos reais.
Podemos saber que são causadas por eles.
2. Se posso conceber a minha mente sem o meu corpo, então é possível que a minha mente
exista sem o meu corpo.
3. Mas, se é possível que a minha mente exista sem o meu corpo, então (na realidade) esta
não é o meu corpo.
Uma substância é uma coisa que tem propriedades e que, de certa forma, pode existir por si
mesma.
“Tenho outra preocupação: como pode o autor evitar raciocinar em círculo quando diz que
estamos certos de que aquilo que percebemos clara e distintamente é verdade apenas porque
Deus existe? Pois podemos estar certos de que Deus existe apenas porque percebemos isso clara
e distintamente. Assim, antes de podermos estar certos de que Deus existe, devemos poder estar
certos de que aquilo que percebemos clara e evidentemente é verdade.”
Segundo esta crítica de Antoine Arnauld (1612-1694), Descartes comete o erro de tentar fazer
o seguinte:
“Mesmo que admitamos que um ser sumamente perfeito tem a implicação da existência em virtude
do seu próprio título, daí não se segue que a existência em questão seja algo efetivo no mundo real;
segue-se apenas que o conceito de existência está ligado inseparavelmente ao conceito de um ser
supremo.”
Caterus alega aqui que, a partir de uma simples definição do conceito de ser sumamente
perfeito, não podemos concluir validamente que esse ser – Deus – existe na realidade.
A interação mente-corpo
Descartes julga que a mente e o corpo interagem causalmente, o que significa que:
Alguns críticos de Descartes, como a Princesa Elisabeth da Boémia (1618-1680), alegaram que o
seu dualismo torna muito misteriosa a interação entre a mente e o corpo:
Se a mente não está no espaço, como pode estar “ligada” ao corpo e pô-lo em movimento?