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Conhecimento

vulgar e
conhecimento
científico
Deserto de Atacama, Daniele Falletta, Chile, 2009
O senso comum – definição

 Conhecimento geral que todos temos acerca da Natureza e do mundo.

As plantas morrem se não são regadas.

 Saberes coletivos e princípios aceites e partilhados por grupos culturais.

O risco de incêndio florestal é mais elevado no verão do que no inverno. No verão, é muito
perigoso fazer fogueiras nas matas.

 Competência que cada um de nós tem para recolher e analisar a informação relevante e, em
função disso, tomar as decisões mais acertadas.

Está muito calor. Por isso, para o nosso piquenique na floresta, levamos comida cozinhada
em casa e não fazemos fogueiras.
O senso comum

 Resulta da acumulação espontânea de


experiências.

 Práticas corretas e princípios úteis.

 Conhecimento utilitário, orientado


para a resolução eficaz dos problemas
comuns e para a condução da vida.

 Torna a nossa vida melhor.


Os provérbios flamengos, Pieter Brueghel, 1559
Os limites do senso comum

 Em geral, o senso comum torna a nossa vida melhor: há crenças do senso comum que pioram a
vida das pessoas.

 Conhecimento assistemático: forma-se espontaneamente e ao sabor das circunstâncias.

 Conhecimento impreciso: os seus princípios são formulados sem rigor.

 Conhecimento superficial: os seus princípios dispensam uma justificação cuidadosa e


sistemática.

 Conhecimento estável: a falta de espírito crítico contribui para a persistência dos erros.
A ciência – caracterização

 É uma tentativa para compreender, explicar e prever o mundo.

Não é uma característica distintiva, porque a religião e o senso comum também são
tentativas para compreender, explicar e prever o mundo.

 As explicações religiosas incluem a referência à ação de deuses ou de entidades sobrenaturais,


MAS as explicações científicas não incluem a referência à ação de deuses ou de entidades
sobrenaturais.

 As explicações religiosas são reveladas, MAS as explicações científicas resultam da pesquisa feita
pelos cientistas.
O método científico

 O senso comum e a ciência têm, ambos, base factual ou empírica.

O reconhecimento de uma base factual ou empírica não permite distinguir a ciência do senso
comum.

 O senso comum resulta da acumulação espontânea de experiências, MAS a experiência que apoia
o conhecimento científico é obtida sistematicamente, em condições controladas e de acordo com
regras de investigação.

 As convicções do senso comum não são testadas, MAS as teorias científicas são submetidas a
testes empíricos severos.

O método científico é experimental.


O método científico

 Os princípios do senso comum são imprecisos, MAS as explicações e as teorias científicas são
rigorosamente formuladas.

Muitas leis e muitas teorias científicas exprimem-se através de modelos matemáticos.

Os fenómenos observados têm de ser mensuráveis e quantificáveis.

 O senso comum é influenciado por fatores subjetivos e culturais, MAS a ciência oferece
explicações objetivas.

A objetividade da ciência deve-se, em grande parte, ao método científico.


O método científico Experimentação e matematização

Experiência com um pássaro na bomba pneumática,


O Geógrafo, Johannes Vermeer, 1668-69
Joseph Wright, 1768
Explicações informativas

 O senso comum é um conhecimento utilitário:

 as explicações consistem na constatação de regularidades (não explicam).

 permite fazer previsões suficientemente fidedignas.

Os teus pais ralharam muito contigo e ameaçaram-te com grandes castigos porque tiveste
uma negativa no primeiro período? Deixa lá! Cão que ladra não morde. (As pessoas que
expressam vivamente o seu descontentamento acabam por se acalmar; por isso, não te deves
afligir.)

MAS

 A ciência oferece explicações informativas.


Explicações informativas

 A ciência oferece explicações informativas:

 As explicações têm de dar uma resposta satisfatória à interrogação sobre por que razão um
dado fenómeno ocorreu:

 A resposta implica indicar a lei geral debaixo da qual o fenómeno explicado não
podia deixar de ocorrer, considerando as condições iniciais verificadas.

 Deve permitir fazer previsões rigorosas.

 A própria lei geral também pode ser objecto de explicação:

 A explicação de leis gerais orienta a investigação científica para a procura de teorias cada vez
mais informativas.
A ciência – valores epistémicos

 O conhecimento científico é um conhecimento sistemático:

 procura de leis mais gerais, que expliquem as leis menos gerais.

 exigência de consistência entre as diferentes teorias.

 unificação das explicações, das leis e das teorias (as teorias mais informativas são mais
simples do que as teorias menos informativas porque unificam mais fenómenos).

 O conhecimento científico caracteriza-se pela simplicidade ou parcimónia das explicações:

 redução do número de leis invocadas para explicar os fenómenos observados (fenómenos


aparentemente diversos podem ser explicados como efeitos da mesma lei).
A ciência – valores epistémicos

 Atitude crítica dos cientistas.

 exame das teorias estabelecidas.

 revisão frequente e deliberada das explicações, das leis e das teorias (carácter progressivo do
conhecimento científico).

 Compromisso dos cientistas com a procura da verdade.

 submissão do protocolo de investigação ao escrutínio dos outros cientistas (os resultados


experimentais obtidos devem ser reprodutíveis ou replicáveis).

 discussão pública dos resultados, dos métodos de investigação e das teorias.


SÍNTESE
SÍNTESE
SÍNTESE
A relação entre a ciência e o senso comum – descontinuidade ou continuidade?

 A humanidade, desde os seus primórdios, progrediu apenas com o senso comum – os


desenvolvimentos do período pré-histórico e todas as civilizações antigas devem-se ao senso comum.

 A ciência é uma realização muito recente:

 o espírito científico surgiu na Grécia dos séculos VII-VI a. C.

 a ciência como a conhecemos hoje – a ciência moderna – teve o seu início no Renascimento,
consolidando-se nos séculos seguintes.

O surgimento da ciência representa um desenvolvimento do senso comum, ou constitui uma nova


forma de compreensão, oposta ao senso comum?
A relação entre a ciência e o senso comum – descontinuidade ou continuidade?

 Argumentos dos defensores da hipótese da descontinuidade:

 os procedimentos do senso comum favorecem a persistência dos erros.

 o senso comum assenta em evidências factuais superficiais, induções precipitadas, analogias


fundadas em semelhanças irrelevantes.

 os hábitos mentais do senso comum constituem um obstáculo ao pensamento científico.

 o desenvolvimento do raciocínio científico exige a rutura com os hábitos mentais do senso


comum.
A relação entre a ciência e o senso comum – descontinuidade ou continuidade?

Argumentos dos defensores da hipótese da descontinuidade


A relação entre a ciência e o senso comum – descontinuidade ou continuidade?

 Argumentos dos defensores da hipótese da continuidade:

 o senso comum assegura a nossa compreensão do mundo (a humanidade sobreviveu e


prosperou com o senso comum).

 os erros do senso comum são frequentes mas os erros da ciência também.

 o senso comum, ou o bom senso, é a competência para considerar a evidência.

 a ciência resulta do desenvolvimento da nossa competência para considerar e obter a


evidência - a evidência científica é considerada e obtida metodicamente.
A relação entre a ciência e o senso comum – descontinuidade ou continuidade?

Argumentos dos defensores da hipótese da continuidade


A relação entre a ciência e o senso comum – descontinuidade ou continuidade?
A filosofia da ciência

 Um dos objetivos da filosofia da ciência é definir a ciência ou, pelo menos, apresentar um
conjunto de características distintivas da ciência e das teorias científicas.

 Muitos aspectos da caracterização da ciência feita neste capítulo não são consensuais entre os
filósofos da ciência.

 Nos próximos capítulos, veremos como os filósofos da ciência discutem o método científico e a
objetividade das teorias científicas e da ciência.

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