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XXIV Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2021 1

EPISTEMOLOGIAS DO SÉCULO XX NA PRÁXIS PEDAGÓGICA

Lucas Antonio Xavier1,6, Chirlei de Fátima Rodrigues1,6, Ana Rita Xavier2,


Mateus Geraldo Xavier3, Márcia Moreira Araújo1,4, Breno Segatto Rodrigues5
1 Escola Professora Filomena Quitiba, chirleiquimica2018@gmail.com
2 Colégio Santos Anjos, ana474@yahoo.com.br
3 Escola Sesc de Ensino Médio, mateusxavier506@gmail.com
4 Faculdade Vale do Cricaré FVC, marbio2@hotmail.com
5 Universidade Federal do Espírito Santo, breno.segatto@ufes.br
6 Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, lucas.perobas@gmail.com

Palavras-chave: Epistemologia, Pensamento científico, Ensino de Ciências.

Resumo expandido

No Ensino de Ciências, o pensamento científico é instrumento importante e


interdisciplinar para compreender o conhecimento produzido pelas comunidades
científicas. Na concepção de Faria e Vaz (2017)
“o pensamento científico é constituído pela inter-relação de conhecimentos
de domínio específico e de estratégias de domínio geral. Os conhecimentos
de domínio específico se referem, por exemplo, aos conceitos e teorias
científicas. As estratégias de domínio geral estão envolvidas na elaboração
de raciocínio baseado em evidência, de raciocínio por analogia, de raciocínio
hipotético-dedutivo, entre outros” (FARIA e VAZ, 2017).
Será que o desenvolvimento de Teatro Científico, mediada por estudo de
Epistemologia centrada no protagonismo dos estudantes, pode se apresentar como
recurso complementar para o Ensino de Ciências na educação básica? Para
compreender as nuances da ciência é necessário valorizar uma linha importante, o
campo epistemológico. Ou seja, para conhecer como se dá a produção do
conhecimento, o caminho é trazer para o chão da escola a Epistemologia,
considerando as concepções dos filósofos da ciência, hora denominados
epistemólogos da ciência. Thomas Kuhn, por exemplo, mostrou que a construção do
conhecimento científico se dá por revoluções científicas. Popper, por sua vez, diz que
o modelo científico mostra somente o que o observador vê desde seu arcabouço.
Procuramos nesta narrativa mostrar uma prática desenvolvida com os alunos do
Ensino Médio da obra de Marco Antonio Moreira e Neuza Teresinha Massoni,
“Subsídios para professores pesquisadores”, que traz as ideias centrais dos filósofos
da ciência, Karl Popper (1902-1994); Thomas Kuhn (1922-1996); Imre Lakatos (1992-
1974); Larry Laudan (1941); Gaston Bachelard (1884-1962); Stephen Toulmin (1922-
2009); Paul Feyerabend (1924-1994); Humberto Maturana (1928); Mario Bunge
(1919-2020) e Ernst Mayr (1904-2005).

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Kuhn (1993) diz que “a ideia da ciência como argumento engloba tanto
aspectos epistemológicos quando procedimentos do fazer, ensinar e aprender
ciências”. O Ensino de Ciências deve, portanto, contribuir para o letramento científico
dos alunos. De acordo com Santo; Angelo; Silva (2020) “letrado cientificamente é o
indivíduo que utiliza os conhecimentos científicos para transformar a sociedade em
que vive e solucionar problemas práticos do cotidiano”.
O Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF) ofertado no
Polo 12 sob o olhar da Sociedade Brasileira de Física (SBF) proporcionou melhor
qualidade de ensino na Educação Básica. A disciplina Fundamentos Teóricos em
Ensino e Aprendizagem, possibilitou o conhecimento das obras de Marco Antonio
Moreira, entre as quais, Moreira e Massoni (2009). Conhecer o Diagrama Vê, hora
denominado, Diagrama de Gowin, Vê epistemológico e as epistemologias, está sendo
de grande valia para a práxis pedagógica.
A participação na VI Escola Brasileira de Ensino de Física (EBEF, ocorrida em
2019 em Cariacica/ES), impulsionou ainda mais o interesse pela contribuição
intelectual de Marco Antonio Moreira, possibilitando acrescentar à prática pedagógica
a ideia de trabalhar com os alunos do Ensino Médio, as epistemologias do século XX,
destinadas a “subsidiar epistemologicamente o professor pesquisador”. No
direcionamento das ações foi proposto aos alunos a organização de um Teatro
Científico. Participaram da proposta didática dez turmas do Ensino Médio Regular (1º,
2º e 3º) por meio de atividade interdisciplinar envolvendo professores de Física,
Química, Biologia, Geografia e Filosofia. Por meio de um sorteio, foi atribuído em cada
turma um filósofo. A Figura 01 ilustra os alunos realizando uma representação corporal
do Diagrama de Gowin (mimetização do método científico). Foi uma estratégia para
que eles assimilassem o instrumento heurístico e seus elementos constitutivos. Após
alguns ensaios, a prática foi materializada em um momento teatral, considerando os
personagens (alunos) os componentes que, como mostra a Figura 2, se posicionaram,
com uso de cadeiras e bancos do refeitório da escola, em forma de um V, a fim de
explicitar cada elemento constituinte do Diagrama de Gowin contido na obra de
Moreira e Massoni (2011).

Figura 01: Representação do Diagrama de Gowin Figura 02: Apresentação de uma turma
Os resultados foram positivos. Durante e posteriormente à atividade,
houveram questionamentos pelos alunos de alguns termos contidos nas concepções
e proposituras dos epistemólogos, como "autopoiesis” (Humberto Maturana),
falseabilidade (Karl Popper), “paradigma e revolução científica” (T. Kuhn). Estes
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conceitos foram debatidos e explicitados com a ajuda dos professores envolvidos.


Stephen Toulmin chamou a atenção de uma turma do terceiro ano, pois uma parcela
de alunos estava se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Um grupo pretendia fazer faculdade de Direito, e ressaltamos, durante as preparações
do Teatro Científico, a importância atual deste epistemólogo para a área jurídica e
também educacional. De um modo geral, houve entre os estudantes grande interesse
em saber sobre a estrutura de argumentação, ou seja, sobre os usos dos argumentos
como expressão e compreensão da progressão do conhecimento científico.
Percebemos quanto foi importante trazer para o ensino médio a obra “Subsídios para
professores pesquisadores. Conjunto de pequenas monografias sobre epistemologias
do século XX com o objetivo de subsidiar epistemologicamente o professor
pesquisador, em particular na área de ciências”.
Concluímos que a inserção da obra de Moreira e Massoni (2011) em formato
de Teatro Científico se mostrou um recurso promissor para o Ensino de Ciências para
nossos alunos do ensino médio ao fazer imersão nas concepções dos epistemólogos
da ciência. Ao trazer para o chão da escola pública as concepções de produção do
conhecimento científico pretendemos deixar o educando com uma visão mais sólida
do mundo da ciência.

Referências
FARIA, Alexandre Fagundes; VAZ, Arnaldo de Moura. Pensamento científico
empregado em tarefas de física básica. Investigações em Ensino de Ciências – V22
(1), pp. 162-188, 2017.
GOWIN, D.B. Educating. Ithaca, Cornel University Press, 1981.
KUHN, Thomas. Science as na argument: Implications for Teaching and
Learning Scientific Thinking. Science education. V. 77, n. 3. p.318-337, 1993.
KUHN, Thomas S.; A Estrutura das Revoluções Científicas – 12° ed., São
Paulo: Perspectiva, 1991, p. 13.
M.A. Moreira e N.T. Massoni, Epistemologias do século
XX (E.P.U., São Paulo, 2011).
SANTOS, Leidiany Dias; ANGELO, José A. Calvalcante; SILVA, Jemima
Queiróz. Letramento científico na perspectiva biológica: Um estudo sobre práticas
docentes e educação cidadã. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias,
Vol. 19, Nº 2, 474-496 (2020). Disponível em: <
http://reec.uvigo.es/volumenes/volumen19/REEC_19_2_11_ex1707_341F.pdf >.
Acesso em: 15 jan. 2021.

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