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Lavras/MG
2023
Lendas amazônicas como uma proposta de orientação didático-
reflexiva para o ensino de literatura
Resumo
A educação pública brasileira, historicamente, enfrenta inúmeras dificuldades, mazelas que
passam pela estrutura precária de nossas escolas, por questões sociais e políticas. Para além
de problemas estruturais, existe também a priorização que as escolas acabam dando aos
textos cânones, clássicos, textos que muitas vezes fogem à realidade dos alunos e tornam o
ensino de literatura menos atrativo, menos eficiente e distante da realidade dos estudantes.
Longe disso, acredita-se que o ensino de literatura deve estar atrelado a questões sociais e
culturais, de modo que os estudantes encontrem uma identificação com a sua realidade. É
nesse sentido que o objetivo geral da presente pesquisa busca compreender como o trabalho
com lendas amazônicas pode ser um recurso eficaz no processo ensino-aprendizagem de
Literatura, considerando que esta pode ser um meio de aproximação com os alunos nortistas,
com base em uma pesquisa de cunho bibliográfico, tendo como parâmetro os estudos de
Fonseca (2021), Souza (2021), Martins (2020), Louzeiro (2019), Santos (2016), Silva (2016),
Cardoso (2018), Farias (s/d) e Frazão e Pessoa (s/d), tais autores apresentaram propostas
interessantes para tornar o ensino de literatura mais eficaz; assim como souberam explorar as
lendas amazônicas com maestria. Além disso, a pesquisa recorreu aos estudos de Aguiar Jr.
(2019), Lajolo (s/d), Zilberman (2012) e Cosson (2009), acerca da leitura e do ensino de
literatura em sala de aula. A pesquisa em torno das lendas amazônicas se justifica por ser um
gênero pouco trabalhado em sala de aula, assim como a literatura amazônica, que é
marginalizada e ausente em livros didáticos e dentro das salas de aula.
Palavras-chave: Ensino de literatura, Literatura amazônica, Lendas amazônicas.
Abstract
Historically, Brazilian public education has faced numerous difficulties, ailments that include
the precarious structure of our schools, social and political issues. In addition to structural
problems, there is also the prioritization that schools end up giving to canon, classic texts,
texts that often escape the students' reality and make the teaching of literature less attractive,
less efficient and distant from the students' reality. Far from it, it is believed that the teaching
of literature should be linked to social and cultural issues, so that students find an
identification with their reality. It is in this sense that the general objective of this research
seeks to understand how working with Amazonian legends can be an effective resource in the
teaching-learning process of Literature, considering that this can be a means of
approximation with northern students, based on a research of bibliographic nature, having as
a parameter the studies of Fonseca (2021), Souza (2021), Martins (2020), Louzeiro (2019),
Santos (2016), Silva (2016), Cardoso (2018), Farias (undated ) and Frazão and Pessoa
(undated), these authors presented interesting proposals to make literature teaching more
1 Graduada em Letras - Língua Portuguesa pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail:
samaraluane.barra@gmail.com
2 Doutor em Literatura Comparada pela UFMG e em Literatura de Língua Portuguesa pela PUC-MG.
E-mail: natalino.oliveira@ifsudestemg.edu.br
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effective; just as they knew how to explore the Amazonian legends with mastery. In addition,
the research resorted to the studies of Aguiar Jr. (2019), Lajolo (undated), Zilberman (2012)
and Cosson (2009), about reading and teaching literature in the classroom. The research
around Amazonian legends is justified because it is a genre that is little worked in the
classroom, as well as Amazonian literature, which is marginalized and absent in textbooks
and within classrooms.
1. INTRODUÇÃO
A pesquisa em torno das lendas amazônicas se justifica por ser um gênero pouco
trabalhado em sala de aula, como confirma Santos (2016) ao relatar que a literatura
amazônica “tem sido desvalorizada pelo poder público e ignorada por muitos profissionais de
Letras, livros didáticos e paradidáticos”, sendo assim, entende-se que ela é capaz de despertar
o interesse dos estudantes, e também faz parte da realidade dos alunos que residem na região
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amazônica. Além disso, o processo ensino aprendizagem de literatura deve basear-se em
propostas interativas a fim de promover o desenvolvimento do indivíduo, por isso apresenta-
se também uma proposta de sequência didática que tem como base a leitura interativa.
Desde o enfado que os alunos têm pela disciplina, até a falha na formação dos
professores e pressão das escolas, que ainda priorizam a literatura canônica, os problemas são
muitos. Pensando nisso, a presente pesquisa se justifica na tentativa de buscar metodologias
inovadoras e que façam sentido de alguma forma para os estudantes, de modo que possam
atrair os alunos, assim como contribuir na formação destes enquanto leitores de literatura.
Visando atrair os alunos e a valorização de uma área tão marginalizada, busca-se aqui
destacar a importância da literatura amazônica, tendo como foco as lendas amazônicas.
Por ser pouco trabalhada em sala de aula e desconhecida por muitos alunos, a
literatura amazônica e toda a sua diversidade de obras fica à margem do ensino de literatura.
Tal ausência é marcante inclusive nos livros didáticos, Souza (2021) levanta o seguinte
questionamento: por que os autores de obras didáticas não obedecem à legislação pertinente
ao livro didático no que diz respeito à valorização das regionalidades?
Entre as razões que poderiam ser apontadas para tal problema, Souza (2021) enfatiza
que emergem a centralidade dos autores no Sul e Sudeste do país, impedindo uma maior
diversidade de olhares; outro fator seria o apagamento das “regionalidades” nas provas do
ENEM sob a alegação de se buscar assuntos de interesse nacional; além disso, tem-se o
excessivo apego dos autores de obras didáticas às periodizações, nos quais só há lugar para
autores considerados canônicos, em especial os que se situam nos grandes centros, negando
visibilidade aos que se encontram nas demais regiões.
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de tal gênero se fundamenta por ser pouco discutido em sala de aula, além de ser um gênero
lúdico, capaz de despertar emoções e o interesse dos estudantes, “utilizar a lenda como
recurso em contextos multiculturais permite revitalizar aspectos culturais ora negligenciados
pelos livros didáticos e pelas decisões curriculares, mas que estão latentes nas comunidades
em geral e na Amazônia em particular” (Cardoso, 2018, p.8). Mais um motivo para a
realização da pesquisa se dá pela desvalorização da literatura amazônica, ainda pouco
explorada no ensino de literatura em sala de aula. Outro fator diz respeito ao fato de que a
literatura amazônica seria uma forma para que os alunos pudessem ver suas realidades
culturais e sociais presentes nas obras, possibilitando uma identificação com elas.
Farias (s/d) destaca tal relevância ao perceber que, em sua proposta de ensino, após
trabalhar textos amazônicos com alunos paraenses, os leitores buscaram suas experiências
vividas em seu contexto social ou familiar para interagir com a obra. “Dessa forma é
perceptível, certa intimidade entre leitor e obra, de maneira que em sua maioria os alunos
leitores, passaram ou já ouviram falar sobre o que a autora rememora em sua crônica”
(FARIAS, p. 10, s/d). Por fim, destaca-se que o processo de ensino/aprendizagem de
literatura deve basear-se em propostas interativas a fim de promover o interesse do aluno
pela disciplina. Pensando nisso, esta pesquisa visa propor uma sequência didática acerca do
ensino de lendas amazônicas como um incentivador à prática de leitura de livros
regionalistas. A leitura, a priori, de lendas pode ser uma porta aberta para o conhecimento da
vasta obra de autores da região amazônica.
Para o embasamento teórico, este trabalho recorreu aos estudos de Fonseca (2021),
Souza (2021), Martins (2020), Louzeiro (2019), Santos (2016), Silva (2016), Cardoso
(2018), Farias (s/d) e Frazão e Pessoa (s/d), tais autores apresentaram propostas interessantes
que contribuíram para tornar o ensino de literatura mais atrativo e eficaz; e, também, eles
souberam explorar as lendas amazônicas com maestria. Além disso, a pesquisa recorreu aos
estudos de Aguiar Jr. (2019), Lajolo (s/d), Zilberman (2012) e Cosson (2009), acerca da
leitura e do ensino de literatura em sala de aula.
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incentivo à leitura e produção textual aos alunos do 9º ano do ensino fundamental.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Para muitos alunos, a disciplina Literatura é vista como complicada, cansativa entre
outros adjetivos indesejáveis. Isto ocorre devido a falta do hábito da leitura, a qual é distante
aos olhos dos alunos. Tal fato se agrava quando identificamos o que eles conhecem acerca da
Literatura no Ensino Fundamental. Lajolo (s/d), confirma o fato acima ao dizer que o texto
literário é objeto de um nem sempre discreto, mas sempre incômodo, desinteresse e enfado
dos alunos, ou seja, o ensino de literatura é visto pelos estudantes como um fardo, um dever
ou obrigação. Este é o contexto de tal ensino na escola, a qual quer que o aluno aprenda e
leia, no entanto, não oferece subsídios suficientes para esta ocorrência.
É perceptível que o ensino da literatura neste nível é falho e até mesmo inexistente,
pois muitos estudantes só trabalham a questão no Ensino Médio, mesmo assim eles se
deparam com um ensino nada atrativo, voltado, em alguns casos, apenas para o vestibular e
suas “leituras obrigatórias”. “O vestibular, de cujo programa invariavelmente a literatura faz
parte, converte-se no limite e na razão de ser do ensino daquela” (ZILBERMAN, p. 203,
2012). Sobre a problemática envolvendo o ensino de literatura no ensino médio, Zilberman
(2012) destaca também que o professor se vê perante dois caminhos não facilmente
reconciliáveis:
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com isso, a concepção humanista presente na origem da escola secundária.
Ao fazer essa escolha, o professor assume uma tarefa complementar: a de
convencer os alunos de que a aprendizagem no secundário não se resume às
provas de seleção (ZILBERMAN, 2012, p. 205).
Em relação à formação dos professores, para Lajolo (s/d), não se sabe qual é a
formação necessária ao professor de língua materna, porém a autora sugere algumas práticas,
valores e conteúdos essenciais à formação de tal profissional. O professor deve dispor de
uma noção ampla da linguagem, ele deve ser usuário competente da modalidade culta da
Língua Portuguesa. E, ainda, de acordo com Lajolo (s/d), o professor de português deve estar
familiarizado com uma leitura bastante extensa da literatura brasileira, portuguesa e africana,
por exemplo, pode não gostar de certos autores, mas deve conhecê-los, entendê-los e ser
capaz de explicá-los.
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Zilberman (2012) destaca também que no plano da dinâmica em sala de aula, as
expectativas do ensino de literatura são simultaneamente reprodutoras e seletivas.
Dolz e Schneuwly (2013) apud Cardoso (2018) destacam que “a escola é tomada
como autêntico lugar de comunicação e as situações escolares como ocasiões de
produção/recepção de textos” (2013, p. 65), isto é, os gêneros trabalhados na escola devem
ser considerados como aparecem nas práticas de linguagem de referência. Essas práticas
discursivas devem ser reproduzidas por meio de situações recriadas, que sejam estimulantes
para o aluno, de modo a possibilitarem a aprendizagem.
É nesse sentido que o ensino de literatura deve estar atrelado à realidade dos alunos,
estes devem vê-la como algo que faça sentido, que tenha relação com suas vivências. Cosson
(2009) enfatiza que na leitura e na escrita do texto literário encontramos o senso de nós
mesmos e da comunidade a que pertencemos. “A literatura nos diz o que somos e nos
incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é
uma experiência a ser realizada, é mais que um conhecimento a ser reelaborado” (COSSON,
2009, p. 8).
Cosson (2009) salienta que a relação entre literatura e educação está longe de ser
pacífica. Segundo o autor, o lugar da literatura na escola parece enfrentar um de seus
momentos mais difíceis. Cosson (2009) destaca que no ensino fundamental, a literatura tem
um sentido tão extenso que engloba qualquer texto escrito que apresente parentesco com
ficção ou poesia. Já no ensino médio, ainda de acordo com Cosson (2009), o ensino da
literatura limita-se à literatura brasileira, ou melhor, à história da literatura brasileira,
usualmente na sua forma mais indigente, quase como apenas uma cronologia literária, em
uma sucessão dicotômica entre estilos de época, cânone e dados biográficos dos autores,
acompanhada de rasgos teóricos sobre gêneros, formas fixas e alguma coisa de retórica em
uma perspectiva para lá de tradicional.
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temática antiga que pouco interessaria aos alunos de hoje (COSSON, 2009,
p. 22).
Cosson (2009) também faz uma crítica ao trabalho da literatura escolarizada que
descaracteriza a prática da literatura. O trabalho com a literatura está focado no uso contínuo
do livro didático, escolhido ou não pelo professor, fazendo uso de textos fragmentados. Essa
metodologia não promove discussões tampouco reflexões capazes de contribuir de forma
significativa para a construção da identidade do leitor, de acordo com o autor.
Cosson (2009) compreende que a escola não promove o letramento literário, e sim a
escolarização da literatura, ficando atrelado e limitado ao texto fragmentado dos livros
didáticos, impossibilitando, assim, a formação do leitor. Assim, tal fragmentação disponível
nos livros não desperta o interesse e, muito menos, a curiosidade pelo texto literário. Para que
haja a prática do letramento literário de fato não basta apenas ler; o professor deve criar
condições para o encontro do leitor com a literatura e, nesse encontro, a leitura deve fazer
sentido. E visando ir além dessa simples leitura que Cosson (2009) privilegia o uso das
práticas do letramento literário na escola para além da simples leitura de fragmentos de obras
do livro didático com o aluno.
De acordo com Santos (2016), o desencontro entre leitor e texto não acontece apenas
diante dos clássicos da literatura universal, mas também diante da literatura amazônica. Há
tempos se discute sobre a necessidade de trabalhar-se a literatura oral e a leitura de autores
amazônicos na educação básica; fato que revela a busca por referências ao nosso local
cultural amazônico, aquilo que expressa a nossa forma de perceber o mundo, a natureza, os
povos e as florestas. De acordo com a autora, há tempos se postula em congressos, simpósios
e seminários acadêmicos locais a necessidade de trabalhar-se a literatura amazônica na
educação básica, pois ela tem sido desvalorizada pelo poder público e ignorada por muitos
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profissionais de Letras, livros didáticos e paradidáticos.
Farias (2017) ressalta que um dos entraves acerca da literatura amazônica diz respeito
ao desconhecimento e ao desprestígio da literatura de expressão amazônica, tanto em nível
regional quanto em nível nacional, e a certeza da qualidade estética dessa produção feita de
grandes autores e grandes obras e da necessidade de valorização. Tal realidade é marcante
dentro das escolas quando os autores regionais são pouco debatidos ou até totalmente
inexistentes nas salas de aula, seja por desconhecimento por parte dos professores e/ou pela
falta de incentivo da escola, destaca Farias (2017).
Conforme as autoras Frazão e Pessoa (s/d), é comum nas escolas trabalharem contos
e histórias que advêm do continente Europeu, que se destacam por trazerem o peso da
autoridade e impunidade, e utilizam elas como forma de regras éticas de conduta pessoal na
sociedade. Para Ferreira (2007) apud Frazão e Pessoa (s/d): "saber o certo e o errado, o bem e
o mal" são valores de juízo pessoal aos quais a escola tem o papel de intermediar para o
convívio em sociedade, mas:
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Frazão e Pessoa (s/d) destacam também que trabalhar com os mitos e lenda nas
escolas é uma maneira de preservar as histórias dos alunos e seus antepassados, refletindo na
sua realidade social, é o incentivo em busca da resposta acerca do mundo imaginário das
florestas, incentivar quem sabe a serem futuros pesquisadores das místicas dos seres das
matas amazônicas, despertar a curiosidade é o grande desafio dos educandos, pois ser
conhecedor da realidade do aluno significa usar os saberes, para transformar e trilhar os
caminhos da educação, a leitura não deve ser vista como formação e sim como algo que nos
forma ou nos deforma, ou ainda, nos transforma (FRAZÃO E PESSOA, p. 8, s/d).
A palavra “lenda”, segundo Cardoso (2018), provém do latim legenda, que significa
“o que deve ser lido”. Nessas narrativas há sempre um ambiente heróico, quase sempre o
sobrenatural é indispensável, quem narra e ouve (geralmente) acredita, mas os estudiosos não
as consideram verdadeiras (CARDOSO, p. 53, 2019). Para o autor, tentar definir é quase
impossível, porque há zonas de transição em que as mesmas lendas não são vistas como
lendas, ao contrário, são narradas como contos, anedotas, estórias pessoais ou rumores . A
lenda é um elemento de fixação, cuja “constante” é o traço religioso. Pertence a um passado
longínquo, transmitido de geração em geração (CARDOSO, p. 53, 2019).
Segundo Martins (2020), compreende-se que as lendas são histórias que narram
acontecimentos sobrenaturais, a maioria relata de forma criativa a origem e existência de
determinados fatos ou objetos. Esses contos narrativos são passados de geração em geração,
contados principalmente pelos mais velhos às crianças que almejam saber a causa ou a
finalidade de algo. As lendas mais comuns contadas no território amazônico são histórias de
origem indígenas, que envolvem o sobrenatural e o incompreensível. Essas lendas são
relatadas de acordo com as crenças indígenas, seus costumes e cultura; tais crendices - até a
chegada dos colonizadores nas Américas - eram suas únicas fontes de explicação e razão para
o enigmático.
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Percebe-se em grande parte das lendas amazônicas, relatos da cultura
indígena que se misturam com relatos da cultura cabocla ribeirinha;
formando assim histórias ricas da cultural regional amazônida. Mediante tais
fatos, destaca-se a grande contribuição cultural que o uso das lendas nas
salas de aulas traria aos alunos da educação infantil, estimulando não
somente sua imaginação e criatividade, como também o sentimento de
pertencimento a cultura e ao ambiente no qual habita MARTINS (2020, p.
5).
Cardoso (2018) salienta também que a Amazônia não é grande somente em extensão
territorial, há uma vasta literatura “às margens” e pouco estudada, sobretudo, no caso das
lendas. Essas narrativas tocam na parte mais sensível da existência humana, principalmente a
vida das aldeias e comunidades ribeirinhas do interior, seja qual for o status de quem conta e
de quem ouve. E, tendo em conta o modo como essas narrativas se manifestam, não podem
ser simplesmente isoladas como histórias coerentes (CARDOSO, p. 45, 2019).
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São narrativas; são textos que ora descrevem entes sobrenaturais, ora
apresentam uma história; referem-se a acontecimentos do “passado
distante”, enfocando feitos de personagens, explicando particularidades
anatômicas de certos animais; podem ser contadas por qualquer pessoa a
qualquer momento; podem transmitir os ensinamentos e os valores da
sociedade à qual estão vinculadas; apresentam regras de conduta e explicam
fenômenos da natureza (COELHO, 2003, p. 18 apud CARDOSO, 2019, p.
47).
Em relação ao ensino infantil, Martins (2020) acredita que as lendas sejam detentoras
de um grande potencial e estímulo no ensino infantil. Por meio de sua utilização, seria
possível a valorização dos costumes regionais e ribeirinhos existentes na região amazônica.
Por meio do uso das narrativas repletas de imaginação e criatividade, seria possível despertar
o interesse da criança, sua curiosidade e sentimento de pertencimento a este lugar mágico e
exuberante no qual nasceu e reside. Além disso, a adoção do gênero lenda como objeto de
ensino/aprendizagem no processo de alfabetização e letramento constitui uma possibilidade e
uma ferramenta importante para o sucesso das práticas de linguagem na escola (FRAZÃO E
PESSOA, p. 6, s/d).
3. METODOLOGIA
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pertinente ao objeto de estudo. Destacando que esta é uma pesquisa bibliográfica - em que se
utiliza relatos de pesquisas anteriores sobre o assunto de interesse, ou seja, baseia-se naquilo
que os autores que escolhemos escreveram sobre esse determinado assunto (TOMITCH E
TUMOLO, p. 61, 2009). A pesquisa bibliográfica foi composta por uma discussão acerca de
conceitos básicos relacionados à discussão proposta, tais como: leitura literária, ensino de
literatura, literatura amazônica e lendas amazônicas. De acordo com Lima e Mioto (2007)
apud Aguiar Jr (2019),
Para tanto, buscou-se realizar uma revisão bibliográfica dos trabalhos de Souza
(2021), Martins (2020), Louzeiro (2019), Cardoso (2018), Santos (2016), Silva (2016) e
Farias (s/d). Como embasamento teórico, para reflexões acerca da leitura literária e o ensino
de literatura, considera-se o entendimento de Aguiar Jr. (2019), Lajolo (s/d), Zilberman
(2012) e Cosson (2009).
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Por fim, com base na bibliografia levantada, foi elaborada uma sequência didática
que teve como foco o ensino de literatura amazônica, destacando as lendas amazônicas,
como proposta de incentivo à leitura para alunos do 9º ano do ensino fundamental. O
trabalho com as sequências didáticas é uma estratégia metodológica promotora de uma
práxis pedagógica reflexiva e crítica (AGUIAR JR, 2019, p. 18). Cardoso (2018) salienta que
no estágio pedagógico, a planificação das sequências (ou unidades) didáticas faz parte do
processo da formação inicial de professores. Pais (2010) apud Cardoso (2018) enfatiza que a
unidade didática “é uma concepção de planificação como uma entidade global e globalizada
na qual os diferentes elementos e fatores se entrecruzam para formar um todo
metodologicamente coerente designado por percurso de ensino aprendizagem”.
4. SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS
De acordo com Aguiar Jr. (2019), o trabalho pedagógico com a linguagem pressupõe
um planejamento que realmente inter-relacione indissociavelmente reflexão-ação, ou seja,
teoria e prática. Esse planejar possibilita assegurar o estreitamento, ou melhor, a imbricação
teoria e prática, entre escola e a vida cotidiana. Nesse sentido, segundo a autora, para abarcar
essa articulação, os documentos oficiais (PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais, BNCC –
Base Nacional Curricular Comum) sobrelevam a relevância do trabalho com os gêneros
textuais, que por sua vez demanda um planejamento que envolve conhecimentos teórico-
epistemológicos e práticos.
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Sobre o uso do texto literário nas práticas escolares, os Parâmetros Curriculares
Nacionais (1997, p. 29) afirmam que: é importante que o trabalho com o texto literário esteja
incorporado às práticas cotidianas da sala de aula, visto tratar-se de uma forma específica de
conhecimento. Essa variável de constituição da experiência humana possui propriedades
compositivas que devem ser mostradas, discutidas e consideradas quando se trata de ler as
diferentes manifestações colocadas sob a rubrica geral de texto literário.
Machado e Cristovão (2006, p. 552) apud Aguiar Jr. (2019, p.16) enfatizam que:
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Posto isso, vale ressaltar, portanto, que a sequência didática consiste num instrumento
de planejamento que pode orientar o trabalho do professor com o texto, desenvolvendo
sistematicamente as capacidades de linguagem fundamentais para o progresso escolar do
aluno (AGUIAR JR, 2019, p. 20). Considerando a relevância das sequências didáticas como
forma de orientar os professores no processo ensino aprendizagem, destaca-se aqui uma
proposta de trabalho possível de ser utilizada nas aulas de literatura. Pensando nisso, a
sequência didática aqui apresentada teve como base também a proposta de sequência básica
de Cosson (2009), que defende as quatro etapas da Sequência Básica: Motivação, Introdução,
Leitura e Interpretação.
A proposta tem como objeto de estudo duas lendas presentes no livro “Onze histórias
e um segredo: desvendando as lendas amazônicas”, organizado pela amazonense Taisa
Aparecida Carvalho Sales. O livro é composto por 11 conhecidas lendas amazônicas, sendo
elas: A Cobra Grande, Mapinguari, Lenda do Uirapuru, O Boto Cor-de-Rosa Surdo, Lenda da
Vitória-Régia, A Lenda da Mandioca, A Lenda do Guaraná, Lenda do Pirarucu, A Lenda da
Iara, Kauane, uma guerreira surda e O amor faz nascer um povo: A lenda da família Baré
surda. Tais lendas foram adaptadas em conjunto por alunos do 4º período do curso de
Letras/Libras da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) .
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marcante a presença de temáticas que envolvem a falta de
aceitação do próprio surdo, a discriminação por parte da
comunidade e de familiares e a dificuldade do surdo em se
comunicar em sociedade. Tais questões são resolvidas no
desenrolar das histórias na medida que a comunidade descobre a
língua de sinais e o surdo passa a ser aceito e encontra o seu lugar
na comunidade.
Título: O Boto Cor-de-Rosa Surdo e A Lenda da Iara: uma relação de intertextualidade com
a série “Cidade Invisível”
Baixe aqui!⇖
SALES, Taisa Aparecida Carvalho (org.). Onze histórias e um
segredo: desvendando as lendas amazônicas. Manaus: Dalmir
Pacheco de Souza, 2016.
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Habilidades da BNCC:
Ensino Fundamental:
EF69LP49: consiste em: Mostrar-se interessado e envolvido
pela leitura de livros de literatura e por outras produções
culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu
universo de expectativas, que representem um desafio em
relação às suas possibilidades atuais e suas experiências
anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em
seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas
orientações dadas pelo professor.
EF89LP33: consiste em: Ler, de forma autônoma, e
compreender – selecionando procedimentos e estratégias de
Objetivos:
Material:
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● Caneta, lápis e borracha;
Ações do professor:
AULA 1:
1º MOMENTO - Motivação
● Para iniciar a motivação, será feita uma roda de conversa na qual os alunos irão expor
todo o conhecimento e entendimento acerca de lendas amazônicas. Nesse momento, o
professor poderá resgatar as memórias de infância dos alunos, aquelas repassadas por
seus pais e avós.
● Traçar um porte histórico acerca da origem das lendas amazônicas. Aqui, o professor
pode falar sobre a origem das lendas, acerca de como eram transmitidos pela
oralidade e de como foram ganhando várias versões com o passar do tempo.
2º MOMENTO - Introdução
● A turma poderá explorar todos os elementos do livro, como a capa, autora, editora,
ilustrações, cores etc.
● O professor irá fazer uma leitura geral acerca das características do livro, dando
destaque para os autores, destacando que são da região amazônica.
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● Iniciar debate sobre a literatura amazônica e destacar autores e obras.
3º MOMENTO - Interpretação
Após a socialização do livro, os alunos irão relatar suas impressões e percepções sobre o que
foi exposto.
● O professor irá ressaltar que nas próximas duas aulas, os alunos irão trabalhar
especificamente com duas lendas: O Boto Cor-de-Rosa Surdo e A Lenda da Iara.
Atividade para casa: Pedir que os alunos pesquisem contos amazônicos que foram
adaptados e ganharam novas versões.
AULA 2:
1º MOMENTO - Motivação
O professor(a) deverá retomar a temática apresentada na aula anterior e destacar o que será
apresentado.
2º MOMENTO - Introdução
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Neste momento, tem-se o início das etapas de compreensão da leitura.
1ª ETAPA: Antecipação – Aqui tem início a primeira etapa para se compreender a leitura.
“São relevantes tanto os objetivos da leitura quanto os elementos que compõem a
materialidade do texto, como a capa, o título, o número de páginas, entre outros”
(COSSON, 2009).
● O professor(a) deverá dividir a turma em pequenos grupos para que eles possam
realizar as leituras em grupo.
3º MOMENTO - Interpretação
● Após a leitura em grupo, os alunos irão debater as lendas O Boto Cor-de-Rosa Surdo
e A Lenda da Iara, levando em consideração a releitura feita pelos autores ao abordar
a condição da pessoa surda.
● Os alunos devem ser instigados a debater sobre a importância social que as lendas
transmitem.
AULA 3
1º MOMENTO - Motivação
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intertextualidade como um recurso amplamente utilizado na Arte, na Literatura, na Tv e no
Cinema.
2º MOMENTO - Introdução
Fica a dica! Seria interessante demonstrar os mais variados tipos de gêneros, a exemplo de
paródias, músicas, imagens, propagandas etc.
3º MOMENTO - Interpretação
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● Após a exposição, os alunos serão levados a uma produção textual com base nas
lendas amazônicas apresentadas. A ideia é que eles tenham liberdade para criar,
deixando aflorar a criatividade. Eles terão autonomia para escolher o gênero textual
que irão trabalhar, seja poesia, campanha publicitária, artigo de opinião, crônica,
notícia etc.
AULA 4
Resultados Esperados
Espera-se que os objetivos trabalhados sejam alcançados e que esta proposta possa
proporcionar uma experiência literária, de fato, prazerosa aos alunos.
Avaliação
· Atividade de pesquisa;
· Participação no debate;
· Produção textual.
5. CONCLUSÃO
Apesar de todas as dificuldades que circundam o ensino de literatura, é notório que há
saídas para tornar o processo ensino-aprendizagem mais eficiente e atrativo. A valorização da
literatura amazônica por meio de lendas amazônicas é uma proposta eficiente e capaz de
tornar o ensino mais satisfatório.
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Retomando os objetivos desta pesquisa, entre eles o objetivo geral, que foi o de
compreender como o trabalho com lendas amazônicas pode ser um recurso eficaz no
processo ensino-aprendizagem de Literatura, sendo exemplificada por meio de uma
sequência didática proposta para alunos do 9º ano do ensino fundamental. E, e os específicos:
demonstrar como o ensino de literatura é apresentado em sala de aula; entender quais são as
principais dificuldades encontradas no ensino de literatura; compreender como a literatura
amazônica está presente no ensino de literatura; verificar de que modo o gênero lendas
amazônicas poderia ser um recurso eficaz no processo ensino-aprendizagem de literatura;
apresentar uma proposta de sequência didática a ser trabalhada em sala de aula com alunos do
9º ano do ensino fundamental. Destaca-se que tais objetivos foram alcançados.
6. REFERÊNCIAS
AGUIAR JR, Dejair Batista de. Sequências didáticas produzidas por professores
alfabetizadores: (re)significação do processo de formação docente. Dissertação (mestrado
profissional). Universidade Federal de Lavras, 2019.
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