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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CAMPUS FLORESTA
CENTRO DE EDUCAÇÃO E LETRAS
CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS
LITERATURA INFANTO-JUVENIL E ENSINO I

PEDRO HENRIQUE MATOS OLIVEIRA

RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO

Trabalho de graduação apresentado à


disciplina Literatura infanto-juvenil e
ensino I do Curso de Letras Português da
Universidade Federal do Acre – Campus
Floresta, como requisito parcial de
avaliação.
Orientador: Prof. Dr. Djalma Barboza
Enes Filho

Cruzeiro do Sul
2023
A escola de ensino integral Craveiro Costa, que fica localizada no bairro
do Remanso, foi a instituição escolhida para servir de escola-campo para minhas
observações. A sala na qual serviu de objeto de observação foi a turma de segundo
ano “D”, onde observei as aulas de língua portuguesa ministradas pela professora
Roberlândia Machado. Minhas percepções estavam centradas no ensino da
literatura para os jovens do ensino médio e como ele reage a essa arte.
Antes de falar sobre como a professora insere a literatura no ensino de
língua portuguesa, gostaria de salientar a relação professor-aluno e aluno-aluno,
pois acredito que estes fatores podem influenciar muito na aquisição do
aprendizado. Essa turma era, aparentemente, muito unida. Eles estudam juntos
desde o primeiro ano do ensino médio, logo, já estão acostumados uns com os
outros. Há uma relação de intimidade e respeito, como se todos fossem de uma
mesma família. Ainda assim, a turma acolhe a professora muito bem, com um
comportamento caloroso de boas-vindas. Fruto de sua intimidade, os alunos tinham,
inclusive, piadas internas. Um exemplo disso era que eles chamavam os
professores que eles gostavam de “chapa”, então eles se referiam a professora com
“minha chapa”.
Esse clima de descontração propicia um ambiente leve, deixando a aula
mais fluida e interessante, uma vez que a professora fazia questão de utilizar os
conhecimentos prévios deles sobre o conteúdo trabalhado e os deixava à vontade
para exporem suas dúvidas sem vergonha. Ainda assim, notei também que a
professora tem preocupações extra-escolares com seus alunos, o que a aproxima
mais ainda deles. Nas aulas em que observei, o conteúdo trabalhado foi “escolas
literárias”, assunto muito interessante no que tange à construção de identidade da
literatura portuguesa e, por conseguinte, brasileira.
Regina Zilberman (2012), em seu livro “A literatura infantil na escola”,
fala que “Preservar as relações entre a literatura e a escola, ou o uso do livro em
sala de aula, decorre de ambas compartilharem um aspecto em comum: a natureza
formativa.” (pág. 15). Essa fala sugere que, quando a literatura é utilizada junto às
escolas, ela assume um papel pedagógico, ou seja, o de formar o leitor, no caso, o
aluno. Em minhas observações, procurei analisar como o ensino da literatura era
repassado aos jovens e, mais ainda, busquei perceber como eles a recebiam. De
antemão, afirmo que os alunos, de modo geral, não têm muito apreço pela língua
portuguesa, bem como não recebem muito bem a literatura.
Neste modelo, percebia que os estudantes não demonstravam muito
interesse pela língua portuguesa, já que têm dela uma imagem de disciplina difícil e
extensa, com várias ramificações de conteúdos que os confundiam e, como a
literatura é trabalhada dentro da língua portuguesa, eles acabam tendo receio dela
também. A professora aborda as escolas por uma perspectiva histórica,
demonstrando como a literatura é o meio pelo qual o homem demonstra seu
pensamento em determinado momento da história, por isso, é possível estudar
diferentes momentos históricos através da literatura. Enquanto ela contextualiza as
escolas literárias nessa linha do tempo, observo que os alunos se interessam mais
do que quando ela caracteriza cada escola.
A docente dá sua aula com a regência de uma sequência didática, que a
auxilia a não perder o fluxo contínuo da aula, evitando os improvisos. Nem durante a
aula e nem na sequência da professora há a presença do uso do livro didático. A
forma de avaliação dela são atividades escritas no quadro para que os alunos
copiem e respondam no caderno. Pimenta e Rosa (2006) refletem sobre as ações
pedagógicas:

Assim, denominaremos de ação pedagógica as atividades que os


professores realizam no coletivo escolar, supondo o desenvolvimento de
certas atividades materiais, orientadas e estruturadas. Tais atividades têm
por finalidade a efetivação do ensino e da aprendizagem por parte dos
professores e alunos. Esse processo de ensino e aprendizagem é
composto de conteúdos educativos, habilidades e posturas científicas,
sociais, afetivas, humanas, enfim, utilizando-se de certas mediações
pedagógicas específicas. (pág. 12)

Essa fala nos faz pensar sobre a efetivação do ensino e se isso


realmente acontece na sala de aula, tendo em vista que são poucas as atividades
que promovem o despertar de interesse no aluno. Escrever no quadro para que o
aluno transcreva e responda é, sem dúvidas, parte do ensino tradicional que
perpetua até hoje.
Por se tratar de aulas expositivas de conceituação, o conteúdo não
abrange muitas margens para interpretações, logo, o sentido plural de
interpretações ficou de fora das aulas. Ainda assim, por se tratar de escolas
literárias, eram trabalhados textos de cada época na qual estas estavam vigentes,
ou seja, os textos eram, em sua maioria, clássicos. Desta forma, a literatura infantil
e/ou juvenil não é trabalhada em nenhum momento nas aulas, são utilizados apenas
trechos de escritos de cada momento literário, não sendo tão explorados por conta
do pouco tempo dos horários.
Portanto, se o ensino da literatura nas aulas de língua portuguesa é
trabalhado sobre bases de ensino que não são efetivas, a literatura infantojuvenil
nem sequer chega a ser trabalhada. Acredito que abordar uma literatura que
represente o jovem e o reconheça como membro indispensável na construção de
uma sociedade é de extrema importância para que o aluno desenvolva, aos poucos,
o gosto pela literatura. Ratificar textos clássicos nas aulas de língua portuguesa,
bem como utilizar de textos para abordar a gramática, apenas afasta o aluno do
estudo da literatura e elitiza mais ainda o ensino.

Referências bibliográficas:

PIMENTA, Selma G.; LIMA, Maria S. L. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2012.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global editora, 2012.

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