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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE – UNICENTRO

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES – SEHLA.


DEPARTAMENTO DE LETRAS – DELET
LETRAS PORTUGUÊS E LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – TCC
PROJETO DE PESQUISA

LETRAMENTO LITERÁRIO:
A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NO ENSINO FUNDAMENTAL
II ATRAVÉS DE UMA SEQUÊNCIA BÁSICA COM O CONTO “A MOÇA TECELÔ
DE MARINA COLASANTI

Lucia Elizangela Nunes1


Stela de Castro Bichuette da Silva (Orientadora)2
Linha de pesquisa: Literatura e Ensino

RESUMO: O presente artigo visa elencar a importância da contação de histórias também nos níveis
subsequentes da educação básica. No Ensino Fundamental II sua relevância se torna tão necessária
quanto os níveis anteriores, mesmo que se trate de um processo de longo prazo conforme os níveis
seguem gradativamente. Autores renomados que trataram sobre o assunto ponderam suas ideias e
perspectivas de maneira a corroborar para que os objetivos da leitura em sala de aula sejam sempre
ponderados e efetuados de acordo com as necessidades dos alunos e, acima de tudo, dos docentes,
visto que, estes últimos, são os mediadores e responsáveis pelo sucesso ou não do processo de
contação de histórias na sala de aula. A presente pesquisa tem a intenção de ampliar e desenvolver
metodologias de ensino e aprendizado da língua portuguesa através da importância da contação de
histórias no Ensino Fundamental II por meio de uma sequência didática e do letramento literário do
conto “A moça Tecelã” de Marina Colasanti, que contém uma linguagem de fácil assimilação e temática
com aproximação da realidade cotidiana.

Palavras-chave: Letramento Literário, Sequência Básica, Contação de histórias.

Introdução

O presente trabalho visa analisar a importância da literatura, especialmente na


forma de contação de histórias, no Ensino Fundamental II, sobretudo no 6º ano e as
contribuições para que tal processo se realize da melhor forma possível. É através
das histórias que podemos levar os alunos a uma viagem no tempo e na imaginação,

_____________________________
1 Graduanda do curso de Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa, coordenado pelo Núcleo de Ensino
a Distância (NEAD), Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO. E-mail: luns83@gmail.com.
2 Orientadora IES UNICENTRO, Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO, graduada em Letras
Português-Inglês pela Universidade Federal de Uberlândia-MG, Mestre e Doutora em Letras/Estudos Literários
pela Universidade Estadual de Londrina, pós-doutoranda em Teoria e História da Literatura pela Universidade
Estadual de Campinas-UNICAMP. E-mail: stelabichuette@gmail.com.
contribuindo para o seu desenvolvimento, para o contato com os livros e para a
socialização e interação de todos.
Levando em conta o que diz Regina Ziberman e Rildo Cosson, fontes teóricas
básicas para este estudo, o presente trabalho pretende utilizar a análise literária do
conto “A moça tecelã”, juntamente com a sequência didática de interpretação, debate
e produção textual, para despertar nos estudantes uma visão crítica acerca a temática
de “Privação da liberdade e o empoderamento feminino”, estimular a adoção de um
ponto de vista próprio a partir das alternativas elencadas em debate escolar e produzir
uma narrativa que desenvolva uma nova vida para a personagem principal após se
libertar das induções anteriormente citadas.
O processo terá início com a apresentação da escritora Marina Colasanti, sua
biografia e fatos sobre sua vida e obra, para chegar ao momento da leitura do conto
em voz alta, feita pelo professor, tendo todos os alunos cópias do texto em mãos. A
primeira leitura visa a fruição, o contato com a narrativa, a interação dos participantes
para elencar a temática e formar ideias pertinentes ao discurso apresentado.
A leitura literária carece de experiências significativas para que se forme um
aluno leitor habitual, não como uma regra imposta ou com obrigatoriedade, mas
explanada desde seu contexto familiar de maneira lúdica e que lhe ofereça prazer,
com materiais e literaturas que o instiguem a abrir e explorar inúmeras aventuras,
além de ter de ser motivada desde sua infância.

A importância da contação de histórias no desenvolvimento do ensino e


aprendizagem

Sabemos que atualmente o ato de contar e ouvir histórias não se restringe


apenas ao cotidiano familiar, está presente também nas instituições de educação.
Porém, o fato de existir não significa que é utilizada visando o processo de ensino e
aprendizagem. Alguns professores consideram que a contação de histórias é perda
de tempo, algo banal e que em nada contribui com sua prática. Mas, felizmente,
encontramos muitos professores que gostam de trabalhar com a literatura no Ensino
Fundamental II e com a contação de histórias. Empolgados com a possibilidade de
interação com as crianças e atividades, esses professores ultrapassam as

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dificuldades e limitações como espaço físico da escola e acervo de livros dedicando-
se a criar condições adequadas para a realização da contação de histórias.
A Literatura é uma prática interdisciplinar que se relaciona com vários modos
de demonstração (a imagem, a música e o movimento) que fazem parte do que a
criança já tem de cultura e comunicação desde os seus anos iniciais até finalizar o
Ensino Médio. O incentivo à leitura auxilia na aprendizagem e no desenvolvimento
integral do educando e é de suma importância para a formação de qualquer criança,
pois ouvir histórias faz com que a imaginação excite a parte intelectual da formulação
de proposições, suposições e hipóteses, desenvolvendo a potencialidade e as
destrezas da criança.
A organização no momento da contação de histórias precisa ser levada em
consideração, pois “Contar histórias pode ser uma sinfonia. Desde que nesta sinfonia
orquestrada com palavras entrem todos os instrumentos: o do sopro da respiração, a
da voz, do dedilhar do corpo, ao ribombar do olhar”. (SISTO, 2012, p. 141.) O processo
é encantador, quando explorado e aplicado de maneira a favorecer o interesse pela
literatura.
As metodologias das atividades lúdicas fazem com que as crianças sintam
prazer nestes momentos de interação com os livros. Os alunos ficam extasiados com
a história, prestam muita atenção no que está sendo contado, e, consequentemente,
se interessam nas atividades da sequência, mostrando alegria em executá-las, o que
aguça o seu imaginário, desenvolvendo a sua oralidade e propiciando aulas sempre
mais instigantes. Para isso, Sisto aponta que:

Para fazer o aluno gostar de ler, o professor tem, antes, que gostar de ler;
falar com entusiasmo e emoção das suas leituras; comentar, frequentemente,
alguma leitura que esteja fazendo ou que o tenha marcado; pensar com
cautela porque prefere este tipo de leitura e não aquele; pensar na leitura,
não só como uma exigência profissional, mas como uma necessidade
pessoal; estar consciente de que nem tudo o que ele lê é bom ou melhor para
seus alunos lerem; saber reconhecer as características de um bom texto e as
impressões ou sensações que um determinado texto desperta nele. Em
suma, investigar a sua história de leitura. Existe uma relação direta e
intrínseca entre o professor-leitor e o professor agente de leitura. O professor,
para se tornar um eficaz agente de leitura, tem que ser, antes de tudo, um
grande leitor. (SISTO, 2012, p. 89).

Partindo de leituras feitas, surgiu o questionamento de como a contação de


histórias contribui para o desenvolvimento do aluno no Ensino Fundamental II.

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Acredita-se que, ouvindo histórias, a criança desenvolve sua personalidade em todas
as etapas do seu amadurecimento. Autores que fundamentam o item em questão,
como Abramovich e Sisto, além de outros, confirmam que a contação de histórias vai
muito além de simplesmente ouvir histórias. Viajar pelo mundo da imaginação e dos
livros encanta e desperta no aluno a curiosidade e seu desejo por novas
aprendizagens e descobertas.
Atualmente a literatura está demonstrando uma grande importância no âmbito
escolar, mas ocorre que suas práticas não estão sendo realizadas de forma prazerosa
e significativa para os alunos. A escola tem fracassado por não alcançar o objetivo de
mostrar a magia, a beleza e o prazer que uma boa leitura oferece ao seu leitor.
Fica destacada a importância de os alunos terem autonomia para escolher os
livros que desejam ler e/ou ouvir, poder folhear os mesmos, interagindo com eles e
entendendo que a literatura, especialmente oferecida de maneira lúdica, pode
acompanhar a vida escolar dos alunos desde a sua infância até tornar-se
independente. Sisto (2012, p. 90) defende que “Um dos maiores problemas do
afastamento do jovem da leitura diz respeito à adequação. Muitas vezes a escola
exige dos alunos leituras que seriam muito mais proveitosas e adequadas numa outra
fase da vida”. Ocorre que a contação de histórias geralmente é feita na educação
infantil até o primeiro e quarto ano e do quinto até o ensino médio se tem a impressão
de que há um espaço em branco, onde a literatura deixa de ser trabalhada de maneira
lúdica e apenas como ficha de leitura, atividade para nota e até como cobrança.
O aluno não consegue entender a leitura como algo expressivo, significativo,
por este fato não se preocupa nem se interessa por ela. Sobre este assunto se pode
afirmar que somente vamos desenvolver crianças que gostem de ler e apresentem
uma relação prazerosa com a literatura, se oferecer, desde cedo, um frequente e
agradável contato com o elemento livro e com o ato de escutar e narrar histórias.
Os alunos, ao se sensibilizarem para o reconhecimento da importância da
literatura, poderão despertar em si a vontade criativa. Percebe-se, então, que o
trabalho com a literatura no Ensino Fundamental II não é uma tarefa difícil, visto que
as crianças partilham a mesma natureza com sua ludicidade, magia,
questionamentos. Tais elementos fazem do trabalho com a leitura um importante
aliado da criança e do professor na procura do entendimento do ser humano e do
mundo.

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O ato de ler uma história para as crianças não deve ser feito de qualquer jeito.
O livro deve ser lido pelo professor, antes de ser lido para elas. Segundo Abramovich
(1996), o narrador deve transmitir confiança, motivar a atenção e despertar a
admiração dos seus ouvintes.
A possibilidade educativa da contação de histórias pode incluir todas as
modalidades de ensino, além de corroborar para o interesse de alunos e professores
de todas as faixas etárias. É imprescindível uma formação pertinente para que, na
prática da contação de histórias, os docentes venham a fazer uso de metodologias
plausíveis em seu trabalho pedagógico, usufruindo de todas as benfeitorias oriundas
desta atividade.
É preciso que o professor tente fazer com que seus alunos adentrem no mundo
texto, e que, a partir de atividades, perguntem, participem da leitura, prevejam o que
vai ocorrer no livro, recapitulem para os colegas, opinem, comparem as opiniões sobre
o que leram e resumam. Tudo isso leva à uma leitura crítica e inteligente, em que o
leitor vê a si mesmo com um protagonista no processo de criação de significados.
Todos os indivíduos, em cada contexto familiar, podem ser beneficiados pelo
importante papel da literatura, pois, de acordo com Antônio Candido em O direito à
Literatura:
Portanto, a luta pelos direitos humanos abrange a luta por um estado de
coisas em que todos possam ter acesso aos diferentes níveis de cultura. A
distinção entre a cultura popular e cultura erudita não deve servir para
justificar e manter uma separação iníqua, como se, do ponto de vista cultural
a sociedade fosse dividida em esferas incomunicáveis, dando lugar a dois
tipos incomunicáveis de fruidores. Uma sociedade justa pressupõe o respeito
dos direitos humanos, e da fruição da arte e da literatura em todas as
modalidades e em todos os níveis é um direito inalienável (2004, p. 191).

Preparar a leitura com apresentações sobre o conteúdo é bem importante,


como o destaque para o autor e título, a fim de envolver os alunos com discussões,
perguntas, o que estimula a construção da oralidade, ademais de preparar um lugar
confortável e alegre. Criar condições de leitura significa criar um ambiente agradável,
um lugar que convide para a leitura fora da sala de aula, ou dentro dela. Destinar
tempo para a leitura na sala de aula também é favorável, pois demonstra que essa é
uma atividade fundamental, importante e que merece ocupar um nobre espaço.
A contação de histórias também requer, depois de efetivada, uma retomada. É
importante conversar sobre o que foi lido ou ouvido, analisar criticamente, interpretar,
realizar uma pós-contação de história, preparando o ambiente com antecedência,
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escolhendo recursos e roupas a serem utilizadas na contação de histórias, deixando
que os alunos falem abertamente, livremente sobre os enredos, com ou sem a
intermediação do professor mediador.
Sisto (2012, p. 119) apresenta 13 perspectivas técnicas que visam garantir que
a contação de histórias obtenha sucesso e, de acordo com ele, seja vista como
“literatura-viva”: “[...] emoção; texto; adequação; corpo; voz; olhar; espontaneidade e
naturalidade; ritmo; clima; memória; credibilidade; pausas e silêncios; elemento
estético”. Todos estes elementos tendem a estabelecer o envolvimento e a interação
entre os ouvintes e o contador no decorrer da atividade de contação de histórias.
Ao desenvolvermos o interesse dos alunos, deve estar claro os seguintes
fatores: a maneira onde as crianças devem sentar-se, o que devem fazer, como se
comportar e em quais dos momentos acontecerá a leitura. Para tanto, cabe ao
professor começar desde cedo o trabalho desafiador, interessante e prazeroso com a
literatura no Ensino Fundamental II, de maneira que as crianças despertem o gosto e
o amor pela leitura.
É importante salientar a intenção almejada pelo ato de contar uma história, pois
ela deve, evidentemente, ser manifestada pela escolha do texto, baseando-se
previamente nos critérios, metodologia e objetivos. Exige pesquisa, busca, para só
então se deparar com o enredo que trate de especial modo:

Com certeza, quem conta histórias tem clareza do que pretende atingir. Se
o objetivo é apenas lúdico, se é discutir determinada ideia ou tema, se é
despertar uma série de sentimentos e trazer informações, se é terapêutico,
se pretende promover uma integração social e cultural – para cada um há
procedimentos e encaminhamentos diferentes, embora se saiba que quem
conta um conto aumenta um ponto, uma vírgula, uma exclamação e uma
boca aberta diante da possibilidade de se construir um mundo melhor –
povoado de histórias! (SISTO, 2012, p. 36).

São encantadores os pormenores desta arte de contar histórias, mas a


pesquisa e a busca de informações sobre leituras, “modelos”, práticas, conteúdos
metodológicos e teóricos precisam ser potencializadas para que o benefício desta
atividade de contação de histórias na sala de aula possa vir a dar sentido e significado
as demais atividades escolares, além de, primordialmente, formar leitores.
Sisto (2012) aborda sobre a importante e relevante primazia de se buscar uma
escola que visa formar contadores de histórias, bem como existe para a arte

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dramática. Os educadores, futuros agentes de leitura, professores que se
comprometam com uma educação de qualidade, devem ser criativos, perspicazes e
instigantes, o que vem a ser indispensável no que tange ao conhecimento sobre as
prováveis e possíveis maneiras de se trabalhar com a contação de histórias, sejam
quais forem os níveis escolares, disciplinas curriculares, ou seja, inserido no contexto
educativo.
Sabe-se que, na atualidade, a formação de professores contadores se dá em
oficinas que são ofertadas pelas secretarias de educação, ou então como formação
continuada nas redes de ensino. O curto espaço de tempo não permite abordar muitas
estratégias, teorias e metodologias que permeiam o assunto. Além de tudo, as vagas
são limitadas para os eventos que, muitas vezes, abrangem área específica.
Aulas memoráveis poderiam ser mais comumente encontradas se a contação
de histórias figurasse como disciplina de formação inicial, preparando professores-
contadores, professores-agentes de leitura, professores-motivadores, professores-
modelos, professores-mediadores, professores-educadores, enfim, aulas
significativas, criativas e inesquecíveis.

A literatura em sala de aula por meio do Letramento Literário

De acordo com Antônio Cândido em sua obra A Literatura e a Formação do


Homem (1972, p. 83), a literatura vai muito além de sua função educativa e essa
complexidade não se limita a um pressuposto meramente pedagógico, podendo ser
reconhecidas por, mais do que produzirem regras, também o fazem através do
conhecimento humano.
Os primeiros textos literários para crianças foram escritos por pedagogos e
professoras, com a única intenção de educar e trazer uma ideia pragmática para
aquele indivíduo, não eram vistos como textos artísticos, tão pouco filosóficos ou
reflexivos, portanto podemos supor que eram problemáticas as relações entre
literatura e educação, essa didática fazia com que o adulto ainda exercesse domínio
sobre a criatividade da criança.
Hoje em dia a escola tem papel indispensável na sociedade, pois além de
introduzir a criança na vida adulta e proteger das agressões existentes no mundo

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exterior, carrega a incumbência da transmissão de conhecimentos básicos escolares
e ainda educar para a vida social.
A procura por distintas formas de atingir os novos leitores não é novidade nos
âmbitos escolares, e, cada vez mais, professores, pedagogos e todo o corpo docente
colocam em pauta a precisão do despertar dos estudantes ao interesse literário,
indispensável para que a visão de mundo da criança ganhe amplidão e a torne apta a
escolher o melhor caminho a seguir, a elencar alternativas para problemas cotidianos
e também conhecer seu papel na sociedade e reconhecer regras sociais.
Com um ponto de vista próprio, a criança passa a perceber as diferentes
vertentes sociais e pode buscar seus anseios com afinco e pé no chão, a partir de que
ganha maturidade e autonomia para tomar suas próprias decisões, sempre levando
em conta as possibilidades e finalidades existentes.
A formação leitora, atualmente, não mais depende do ensino do Letramento
Literário ao se transmitir algo já pronto por intermédio de textos, pois, conforme
defende Ziberman:

A experiência da leitura decorre das propriedades da literatura


enquanto forma de expressão, que, utilizando-se da linguagem verbal,
incorpora a particularidade dessa de construir um mundo coerente e
compreensível, logo, racional. Esse universo, da sua parte, alimenta-se da
fantasia do autor, que elabora suas imagens interiores para se comunicar
com o leitor. Assim, o texto concilia a racionalidade da linguagem, de que
é testemunha sua estrutura gramatical, com a invenção nascida na intimidade
de um indivíduo; e pode lidar com a ficção mais exacerbada, sem perder o
contato com a realidade, pois precisa condicionar a imaginação à ordem
sintática da língua. (2008, p. 17)

Na escola, o letramento literário em sua sequência básica se constitui por


quatro passos: motivação, introdução, leitura e interpretação (COSSON, 2001). A
sequência básica de Rildo Cosson nos aponta a melhor maneira de motivar e prender
o leitor ao texto literário, tornando o ato da leitura prazeroso fazendo com que o aluno
amplie horizontes e o vocabulário tornando-se um leitor assíduo.
Rildo Cosson (2011) em sua obra Letramento Literário: teoria e prática, propõe
uma sequência para fazer com que o aprendizado da literatura possa acontecer de
uma maneira distinta, que proporcione aos alunos analisar com mais detalhes tudo
que a literatura visa representar em nossas vidas, da forma que o próprio aluno se
transforme num leitor também fora da sala de aula. O objetivo principal do letramento
literário se pode dizer que é criar leitores críticos que tenham capacidade de entender

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a literatura que se apresenta a eles, não simplesmente por meio de leituras de obras
literárias resumidas ou fragmentos de textos, mas também inserindo o educando no
fantástico mundo literário.
Cosson (2011) enfatiza que o letramento literário se distingue dos demais
estilos de letramento, justificando que a literatura tem um único lugar no que tange à
linguagem, sendo o importante papel de transformar a sociedade. Conforme Cosson
(2011), os textos literários são separados em três grupos de aprendizado: (1)
aprendizagem que acontece pela experiência estética do mundo por meio das
palavras; (2) aprendizagem que ocorre por meio de fatos históricos e (3)
aprendizagem que se realiza por meio das habilidades que a literatura proporciona ao
educando.
De tal maneira as atividades que se realizam na sala de aula precisam
desenvolver-se através de estudos que se baseiem no letramento literário. A leitura é
essencial e necessita que venha a tornar-se um hábito não somente na sala de aula,
mas também quando o aluno aguça seus interesses na escola e, em consequência,
leva para casa e, em casa, cobra dos pais este espaço para a leitura. Cosson (2011,
p.47), destaca que:

É necessário que o ensino de literatura efetive um movimento contínuo de


leitura, partindo do conhecido para o desconhecido, do simples para o
completo, do semelhante para o diferente, com o objetivo de ampliar e
consolidar o repertório cultural do aluno.

As quatro etapas que nos são sugeridas por Cosson (2011), em sua sequência
básica, são: motivação, introdução, leitura e interpretação. A motivação antecipa o
que o professor fará com seus alunos de forma lúdica na leitura, deixando o aluno
preparado e na expectativa do início do texto, o incentivando a eleger livros que
agradem seus olhos. A etapa da motivação é um diálogo breve entre o educador seus
alunos, distinguindo o mundo infantil e o mundo adulto, o que é fantasia e o que é real,
o que já está criado e o que se cria, com o cuidado de não ter influência nas eleições
literárias de seus discentes.
Cosson (2011, p. 55) defende que “Nesse sentido, cumpre observar que as
mais bem-sucedidas práticas de motivação são aquelas que estabelecem laços
estreitos com o texto que se vai ler a seguir”. A introdução é de suma importância para

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a leitura literária, em que o professor mostra brevemente aos seus alunos o autor do
texto, não carecendo de muitos detalhes sore a vida e a biografia do mesmo.
As obras apresentadas pelo professor devem ser interessantes, fazendo com
que o aluno demostre interesse por aquele livro. Cosson (2011) avisa que é crucial
que o próprio aluno possa escolher a obra que será lida, pois, desta forma, ele poderá
analisar os pormenores do livro como capa, a contracapa e os demais elementos
textuais que completam a obra, elegendo a que mais lhe chame atenção e que ele se
identifique, despertando, assim, o desejo em ler aquela obra e a sua curiosidade.
Na sequência inicia-se a preparação para a leitura, sendo incentivada pelo
educador, que pode ler algumas páginas do livro para que a curiosidade seja
despertada em seus alunos, ou também ser lida em conjunto, acompanhado pelo
professor, sendo ele o exemplo, o espelho, para que não se perca o interesse.
Cosson (2011) aponta que quando o professor incentiva o aluno a ler
determinado texto, ele precisa negociar o tempo para que todos leiam, e, neste
espaço, marcar intervalos. Por último chegaria a interpretação, que dá o sentido real
ao texto, envolvendo os ouvintes/leitores com o autor, sendo dividida em duas partes:
o momento interior, onde o leitor se encontra com a obra e que não precisa ter sua
substituição por filme ou resumo; e o exterior, que é quando se constrói o sentido do
texto numa determinada comunidade.
O registro de leitura também pode estar presente na etapa da interpretação, de
acordo com o texto que está sendo trabalhado, variando e dependendo da idade dos
alunos, a turma que se encontra e demais fatores. Cosson (2011) enfatiza que este
registro da interpretação não precisa ser um evento grandioso, mas sim que os alunos
possam oportunizar a reflexão da obra que leram e de alguma maneira registrar o que
conheceram e aprenderam.
A escola permanecerá sendo o ambiente principal onde o aluno se aproximará
da leitura, mesmo que ela tenha contato com obras literárias, livros e textos em casa
ou em outro contexto social e tais pontos devem sim sempre serem levados em
consideração quando se planeja a sequência básica, bem como cada uma das
características de cada parte, pois, ao seguir as etapas, o professor sistematiza o
trabalho e oferta ao aluno uma coerência no processo de letramento literário
(COSSON, 2011).
Proposta de Letramento Literário através do conto “A moça tecelã”

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Atividade de interpretação

Conto: A moça tecelã


Turma: 9º ano Ensino Fundamental II

No que se refere a motivação a professora usará da ludicidade. Em suas mãos


trará um baú com muitas meadas e novelos de linhas coloridas. Expondo para a turma
o conteúdo do baú, fará algumas perguntas para mexer com o imaginário do aluno.

Por exemplo: imaginem que essas linhas coloridas são mágicas, que elas
possuem o poder de transformar seus sonhos em realidade (enquanto mostra e anda
pela sala com o baú). A professora faz com que cada aluno retire de dentro uma cor,
escolha a cor que preferir, enquanto isso prepara o terreno para a apresentação da
autora e da obra.
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Na aula de hoje vamos conhecer a autora Marina Colasanti. Alguém já leu
alguma de suas obras? Então a professora vai fazer um breve relato sobre a vida da
autora. Em seguida a obra que será apresentada: hoje leremos o conto “A Moça
Tecelã”. Vocês fazem ideia do porquê que ela é chamada dessa maneira?
Então a professora irá distribuir o texto impresso e em duplas os alunos
acompanharão a leitura que a professora fará, e, na sequência, logo após a leitura,
haverá um debate na sala sobre o enredo e desfecho da mini história (conto).
Questões serão levantadas e discutidas entre os alunos e a professora mediará
um debate sobre a personagem principal, levantando questionamentos que levem o
aluno a refletir sobre o texto e a mensagem que o mesmo transmitiu.
Como era a vida da moça?
Porque ela sentia necessidade de ter um companheiro?
Será que ela tinha uma vida solitária?
Ela era feliz na simplicidade dela?
Será que ela não poderia tecer um amigo (amiga)?
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Você consegue imaginar como era essa moça?
O que você teceria se tivesse essas linhas mágicas?
Depois de levantados tais questionamentos e debatidos entre a classe toda, a
professora realizará uma última atividade: pedirá para que cada aluno teça um novo
final para a história, e quem preferir poderá dar um rosto para a moça.

Considerações finais

O aprendizado é a fonte primordial de novos conhecimentos e saberes. A


investigação dos fenômenos da contação de histórias no contexto escolar se baseou
em análise bibliográfica sobre o tema, buscando responder as questões
metodológicas sobre a prática que envolve professores e alunos, no ambiente escolar.
Os docentes são abordados como mediadores do trabalho pedagógico,
agentes da leitura e motivadores desta arte de contação de histórias, e os alunos,
como sujeitos ativos das metodologias educativas. A significação e efetivação da
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contação de histórias no contexto escolar se contextualiza numa importante
ferramenta metodológica que promove diversificadas e significativas aprendizagens
e, acima de tudo, forma leitores.
Concluindo-se o presente artigo, foi verificado que é possível, sim, que os
alunos sejam instigados pela leitura literária pois ela é de suma importância para que
a sociedade se construa de forma mais humanizada. No presente trabalho a pesquisa
se desenvolveu e teve embasamento no Letramento Literário e na Sequência Básica
que são defendidas pelo autor Rildo Cosson, demonstrando, assim, que a literatura
tem poder para que os indivíduos despertem para a possibilidade de também
despertar sonhos, encontrando seu lugar no mundo e sendo vistos como sujeitos
ativos no processo de construção do conhecimento, em que leitura e escrita se dão
em prazerosas aulas memoráveis.

Referências

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Scipione, 1997.

CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. In Ciência e Cultura. São


Paulo: v 24, n 9, 1972.

CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vários escritos. São Paulo: Duas
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COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 2ª ed., 1ª reimpressão. São


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