Texto

dramático
O texto dramático é um texto que se
destina a ser representado em palco,
transformando-se num espetáculo
teatral.
Assistir a uma peça de teatro, em
que atores dão corpo às
personagens de um texto
dramático, é uma experiência
única.

Com efeito, uma peça pode ser

representada vezes sem conta, mas
nunca há duas representações
iguais…
Para este momento único, concebido pelo dramaturgo (que cria o
texto dramático), contribuem os atores, claro, mas também muitos
outros profissionais que se dedicaram à representação da peça de
teatro, tais como:

o encenador, que dirige o espetáculo;

o cenógrafo, que faz os cenários;

o caracterizador, que maquilha os atores;

o figurinista, que cria o guarda-roupa;

o aderecista, responsável pelo vestuário e pelos acessórios decorativos;

o sonoplasta, responsável pelos efeitos sonoros;

o luminotécnico, responsável pela iluminação;

o ponto, que lê o texto em voz baixa para auxiliar os atores, caso estes se esqueçam de uma fala.
Texto dramático

Elementos do texto
dramático

Ação

Do mesmo modo que o texto narrativo, o texto dramático conta uma história.

No entanto, como este texto se destina a ser representado em palco, normalmente, não existe
um narrador com a função de relatar as ações.

O desenrolar dos acontecimentos é dado pelas falas das personagens e pela sua
movimentação em palco.
Texto dramático

Elementos do texto Estrutura externa

dramático
Ato Cena

Estrutura Grande divisão do texto dramático,

correspondendo a um ciclo de ação; Divisão de um ato, ocorrendo quando entra
O texto dramático pode ser dividido tendo é acompanhada de mudança de cenário – ou sai uma personagem.
em conta uma estrutura externa e uma mudança do tempo e do espaço.
estrutura interna.

Exemplo de estrutura externa:

A obra Leandro, Rei da Helíria, de Alice Vieira, é composta por 2 atos e 22 cenas:
11 cenas no 1.º ato e 11 cenas no 2.º ato (existe uma Cena XI Final).
Texto dramático

Exemplo de estrutura externa:

A abertura do primeiro ato dá início a um

1.º Ato 2.º Ato ciclo de ação, que decorre no palácio do

Rei Leandro.
Cena I Cena I
Rei Leandro, Bobo Rei Leandro, Bobo

No jardim do palácio real de Muitos anos depois o rei

Helíria. Rei Leandro passeia com o
bobo.
Leandro e o Bobo caminham pela
estrada. Vestem farrapos e vão
cansados da longa jornada.
Com o segundo excerto abre-se um novo ciclo
de ação, que decorre «muitos anos depois»,
quando «o rei Leandro e o Bobo caminham pela
estrada» – portanto, num novo cenário.

Alice Vieira, Leandro, Rei da Helíria

Texto dramático
Exemplo de estrutura externa – mudança de cena:
Cena I
Rei Leandro, Bobo
No jardim do palácio real de
Helíria. Rei Leandro passeia com o
bobo.
[…] Rei: Tens razão. Farei por
esquecê-lo. Não tenho motivos
nenhuns para estar inquieto. Ainda
por cima... […] ainda por cima com
estas flores que são a luz dos meus
olhos! (Aponta para Hortênsia
e Amarílis, que entram nesse
momento, com as suas aias)
Cena II
Hortênsia, Amarílis, Rei,
Bobo, Aias
Hortênsia: Faláveis de nós, meu
pai?
Rei: Pois de quem mais poderia ser?
Alice Vieira, Leandro, Rei da Helíria
Os excertos da obra correspondem,
respetivamente, à parte final da Cena I e ao
início da Cena II.
A última frase da Cena I aponta para a
entrada de novas personagens em
cena/palco.
A referência ao número de cena no início
da Cena II confirma
a mudança de cena.
A enumeração das personagens inclui agora
também as princesas Hortênsia e Amarílis e
as suas aias.
Texto dramático

Elementos do texto Estrutura interna

dramático
Exposição Conflito
Estrutura

Apresentação das personagens e da situação Conjunto de peripécias que fazem avançar a

inicial. ação.

Desenlace

Resolução do conflito e desfecho da ação.

Texto dramático

Elementos do texto Quanto ao relevo

dramático
Personagem principal Personagem
ou protagonista secundária

Personagens Menos importante, mas contribuindo para o

Em torno da qual gira a ação.
desenrolar da ação.
As personagens são representadas por
atores.

Podem ser analisadas quanto ao relevo na

Personagem
história e quanto ao processo de
figurante
caracterização.

Ajuda a construir o ambiente, sem interferir

no desenrolar da ação.
Texto dramático

Elementos do texto
Quanto ao processo de
dramático caracterização

Caracterização direta Caracterização indireta

Personagens
Deduções do leitor/espectador a partir dos
As personagens são representadas por Feita pela própria personagem ou por outra
atores. comportamentos, das atitudes ou das falas da
personagem.
personagem.
Podem ser analisadas quanto ao relevo na
história e quanto ao processo de
caracterização.
Texto dramático

Exemplo de caracterização direta e caracterização indireta:

Caracterização direta do Rei:

segundo as suas próprias palavras, o Rei Leandro é
Rei: Que entregue as rédeas do meu reino a quem melhor do que eu o puder agora governar. Os um homem velho e sente-se demasiado velho para
deuses devem pensar que estou velho de mais. E têm razão... Há manhãs em que já me custa
governar.
levantar cedo − e um rei tem de estar a velar pelos seus súbditos desde o nascer ao pôr do Sol...
[...]

Rei: Tivesse eu filho varão, e não haveria problema; segundo as nossas leis, dele seria este reino, e
do filho que ele um dia tivesse. Mas os deuses, em vez de um filho varão deram-me três filhas
(pausa), três filhas que são o meu maior tesouro, e a quem quero com todas as forças do meu Caracterização direta das filhas do Rei:
coração. Escolher uma delas para me suceder na chefia do reino é coisa que não consigo fazer.
segundo o Rei, as suas três filhas são
Todas têm sido para mim filhas dedicadas e extremosas...
«dedicadas e extremosas».
Alice Vieira, Leandro, Rei da Helíria
Texto dramático

Exemplo de caracterização direta e caracterização indireta:

Príncipe Felizardo: E o que é que a gente faz com um coração?

Príncipe Simplício: Tiraste-me as palavras da boca! Caracterização indireta:

uma vez que o Príncipe Simplício, depois
Príncipe Reginaldo: Com um coração trazemos as pessoas que amamos para dentro de nós
de uma fala do Príncipe Felizardo, profere
próprios, e é através dos seus olhos que vemos o mundo, e é através dos seus ouvidos que
ouvimos o cantar das aves e das ondas do mar, e é através das suas mãos que sentimos a sempre a frase «Tiraste-me as palavras da
suavidade do linho ou da areia das praias... boca!», podemos concluir que esta
personagem não tem personalidade própria
Príncipe Felizardo: Ui, isso deve fazer cá uma impressão danada...
e possui um vocabulário muito reduzido.

Príncipe Simplício: Tiraste-me as palavras da boca!

[…]

Príncipe Felizardo: Gratidão? Palavra estranha...

Príncipe Simplício: Tiraste-me as palavras da boca!

Alice Vieira, Leandro, Rei da Helíria

Texto dramático

Elementos do texto
dramático

Espaço

São os locais e os ambientes em que decorre a ação.

Tempo

O tempo consiste no(s) momento(s) em que decorre a ação.

Texto dramático

Exemplo de estrutura externa:

Espaço:
1.º Ato 2.º Ato a ação decorre, no primeiro excerto, no jardim do
palácio de Leandro, rei da Helíria;
Cena I Cena I
Rei Leandro, Bobo Rei Leandro, Bobo no segundo excerto, a ação já não decorre no palácio
real, mas numa estrada do reino.

No jardim do palácio real de Muitos anos depois o rei

Helíria. Rei Leandro passeia com o
bobo.
Leandro e o Bobo caminham pela
estrada. Vestem farrapos e vão
cansados da longa jornada.
Tempo:
a ação da Cena I do 2.º Ato decorre «muitos anos
depois» dos acontecimentos do 1.º Ato.

Alice Vieira, Leandro, Rei da Helíria

Texto dramático

Modalidades do texto
dramático

Texto principal

São as falas das personagens.

Texto secundário

São as didascálias ou indicações cénicas. Surgem geralmente entre parênteses e/ou

em itálico e dão-nos informações sobre o espaço e o tempo da ação, a movimentação
das personagens, o seu tom de voz, o cenário, a luz, o som, o guarda-roupa, os adereços…

Estes dados permitem-nos compreender melhor o texto e são essenciais para o encenador, os atores e os
restantes responsáveis pela concretização da representação: cenógrafo, caracterizador, figurinista, aderecista,
sonoplasta e luminotécnico.
Texto dramático

Exemplos de texto secundário:

(Sala do banquete. Todos sentados à mesa. No lugar de honra da mesa, o rei, que se levanta para
fazer um discurso)

(Nesta altura Violeta levanta-se da mesa, e fica de pé, muito séria, a olhar para o rei durante
todo o seu discurso)

Violeta (dá um grito e cai de joelhos diante do pai):

Alice Vieira, Leandro, Rei da Helíria

Nestas didascálias encontramos dados sobre o espaço

da ação e o cenário, a movimentação das personagens,
a sua expressão facial e o seu tom de voz.
Texto dramático

Exemplos de texto secundário:

(Simplício encolhe os ombros)

(Preparativos para a festa, os criados passam com grandes travessas, cestos, barris, etc. ... Cantam)

(Apagam-se as luzes)

(Tocam as trombetas)

Alice Vieira, Leandro, Rei da Helíria

Aqui são-nos dadas informações sobre

os gestos e a movimentação
de personagens, as vozes, a luz, os adereços e o som.
Texto dramático

Modos de representação Diálogo Monólogo

do discurso
A personagem fala consigo própria,
As personagens falam entre si. revelando os seus pensamentos e
sentimentos.

O discurso é representado pelo texto que é

dito pelas personagens (falas): diálogos,
monólogos e apartes. Aparte

A personagem faz um comentário dirigido ao

público e que as restantes personagens em palco
fingem não ouvir.
Texto dramático

Exemplos de modos de representação do discurso:

Pastor: Agora é que ele fica maluco de vez...

Bobo: Não ligues, que aquilo também é fita...

Rei: Sou um pobre cego, senhora! Mas se os olhos não veem, vê o coração.

Bobo (aparte): Por acaso houve alturas em que o coração esteve... um bocado vesgo.

Alice Vieira, Leandro, Rei da Helíria

Aparte do Bobo – breve comentário dirigido ao

público que, supostamente, as outras
Diálogo entre o Pastor, o Bobo e o Rei.
personagens não ouvem.
Texto dramático

Exemplos de modos de representação do discurso:

Filho: Já estão plantados, minha mãe.

(A Mãe sai)

Filho: As mães gostam destas coisas... De procurar bonecas que não sabem como
A Mãe sai de cena, e o Filho, falando para si
são, de mandar plantar juncos à beira dos Lagos dos Encantos... Oh!, nestes
tempos que vão correndo, como é difícil ter os pais entretidos! Bem, mas agora já próprio – monólogo da personagem –, faz
tenho todo o tempo livre para pensar no que quiser! um comentário sobre as mães e os pais em
geral.
Ela: (Rapariga entrando a correr) – Bom dia! Em que estás
a pensar hoje?

Maria Alberta Menéres, À beira do lago dos encantos

Texto dramático

Consolido
Texto dramático

Encontra, na sopa de letras, os nomes de nove profissionais responsáveis pela concretização de uma peça de teatro em palco.
1.

A Y M E N C E N A D O R G K B D G
D J K A D E R E C I S T A J S B T
T M T S O N O P L A S T A E W S K
L U M I N O T E C N I C O R D W J
C A Z F I G U R I N I S T A F D E
C L D C A R A C T E R I Z A D O R
B P A G N A T O R E S U J K L A G
J C O O I F E R T T G V X V R R S
N N M P P O N T O B N H U J K L F
Texto dramático

Encontra, na sopa de letras, os nomes de nove profissionais responsáveis pela concretização de uma peça de teatro em palco.
1.

A Y M E N C E N A D O R G K B D G
D J K A D E R E C I S T A J S B T
T M T S O N O P L A S T A E W S K
L U M I N O T E C N I C O R D W J
C A Z F I G U R I N I S T A F D E
C L D C A R A C T E R I Z A D O R
B P A G N A T O R E S U J K L A G
J C O O I F E R T T G V X V R R S
N N M P P O N T O B N H U J K L F
Texto dramático

Atenta nas didascálias do excerto e identifica o profissional do teatro que, além do ator, tem um papel particularmente
2. ativo na representação deste momento do texto.

TIO CHAPELEIRO: […] (Encandeado pelos projetores.) Cheguem para lá essa luz, que me está
a incomodar. (O foco desvia-se.) Assim está melhor. (Tropeça nas caixas.) Não, afinal não está,
que fico às escuras. Anda cá, se fazes favor. (O foco volta a encandeá-lo.) Irra! Vocês não sabem
pôr os faróis nos mínimos. (Irritado e ameaçador:) Brrrr! (O foco foge-lhe, joga às escondidas com ele. O TIO
CHAPELEIRO, tropeçando, quase de gatas, tenta apanhá-lo, mas quando entra no círculo de luz, desespera-se.) Ó coisa, ó
luz, não me deixes ficar sozinho… Anda cá… Tanto não! Lá me fugiste outra vez. Deixa-te de fintas. Apanhei-te. Baixa
isso… Mas para onde vais? Não te ofendas. (Aparte.) Esta luz é muito escanifobética. Uma nervosa! Ó luz, ó coisa, para
com a brincadeira. Assim nunca mais começo o espetáculo. […]
António Torrado, O Adorável Homem das Neves, Caminho, 2008

Solução: É o luminotécnico. SOLUÇÃO

Texto dramático

Indica se é verdadeira ou falsa cada uma das seguintes afirmações sobre o texto dramático. Corrige as falsas.
3.

Um ato é um ciclo de ação e corresponde a uma mudança de personagens.

A SOLUÇÃO
Falsa. Um ato é um ciclo de ação e corresponde a uma mudança de cenário.

Um ato divide-se em cenas, que correspondem à entrada e saída de personagens.

B SOLUÇÃO
Verdadeira.

Quanto à estrutura interna, o texto dramático divide-se em exposição, conflito e desenlace.

C SOLUÇÃO
Verdadeira.

Num texto dramático, os acontecimentos são relatados pelo narrador.

D SOLUÇÃO
Falsa. O desenrolar dos acontecimentos é dado pelas falas das personagens e pela sua movimentação em palco.