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AULA 4

ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO
E LITERATURA INFANTIL

Profª Sônia de Fátima Radvanskei


CONVERSA INICIAL

Nesta quarta aula, você percorrerá o caminho reflexivo da literatura infantil


e suas possibilidades de trabalho nas classes de alfabetização. Além disso,
veremos um pouco mais sobre letramento literário, referindo-se tanto ao
letramento do professor alfabetizador quanto do aluno que será alfabetizado,
considerando a importância da leitura nas dimensões mais amplas, com base
em situações cotidianas atreladas ao divertimento e à formação do sujeito leitor
no grau mais elevado de significação.
Um professor realmente leitor compreende a função social e as
especificidades da leitura literária. Nesse sentido, ele passa a propor espaços
significativos de acesso à leitura e desperta nos alunos o gosto pela leitura e a
sua importância na sociedade letrada.
Mas sobre o que tudo isso nos faz refletir?
Para que possamos descobrir, em primeiro lugar, é preciso entendermos
que o objetivo principal da escola é propiciar, possibilitar e ampliar a formação
de leitores e produtores de textos que não apenas decodifiquem o código
escrito, mas que exerçam a escrita em várias situações de uso. Assim, a quarta
aula terá como temas:

 Tema 1 – Literatura infantil em sala de aula: possibilidades e desafios.


 Tema 2 – Letramento literário: como planejar?
 Tema 3 – Alfabetização, Letramento e literatura: elementos indissociáveis
na prática pedagógica.
 Tema 4 – Construindo alunos leitores.
 Tema 5 – A arte de contar histórias.

Neste trabalho, buscamos, por meio da reflexão sobre os temas, nortear


os caminhos e as possibilidades de se apresentar e trabalhar a literatura infantil
em sala de aula. Além disso, é possível ainda relacionar os métodos mais
significativos para planejar essa literatura a fim de que ela esteja interligada ao
letramento e à alfabetização, tanto literária quanto pedagógica.

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CONTEXTUALIZANDO

Antes de iniciarmos, vamos refletir sobre as seguintes questões:


Qual é o papel dos professores como formador de leitores? Como
organizar os tempos escolares destinados ao trabalho com leitura literária, bem
como a arte de contar histórias com a finalidade de atrair mais leitores?
Para que o professor possa desenvolver, pela construção de
conhecimentos, a articulação entre a teoria e a prática social e possa auxiliar os
alunos a atuarem em sala de aula com desenvoltura e criatividade, ele deve
ampliar as possibilidades efetivas de aprendizagem da leitura e da escrita para
que todos os alunos apresentem contextos produtivos de aprendizagem com êxito
na formação de leitores.
Quando o professor tem clareza a respeito de sua metodologia e
especificidades da literatura infantil, da literatura oral, das literaturas no trabalho
em sala de aula, ele consegue despertar questionamentos significativos e
voltados à promoção de novas aprendizagens.
Sobre a importância da escola e de seus professores para desempenhar o
papel de aluno protagonista na construção de oportunidades de aprendizagem da
leitura e escrita, que vão além da simples decodificação de informações, é
imprescindível que o professor possibilite o domínio efetivo da linguagem nas
múltiplas significações, pois a atividade fundamental desenvolvida pela escola
para a formação de alunos é a leitura. De acordo com Cagliari (2009, p. 160),

Tudo o que a escola pode oferecer de bom aos alunos, é a leitura, sem
dúvida, o melhor, a grande herança da educação. É o prolongamento da
escola da vida, já que a maioria das pessoas, no seu dia a dia, lê muito
mais do que escreve. Portanto, deveria se dar prioridade absoluta no
ensino da língua portuguesa, desde a alfabetização.

Portanto, como a escrita nos acompanha desde os primeiros anos da


infância e está presente em tudo o que vemos e fazemos, ser letrado vai além de
apenas decodificar as palavras e compreender o que está escrito, como vimos
nas primeiras aulas.
A palavra letramento refere-se ao uso da escrita e da leitura como prática
social, fornecendo ao leitor não apenas a compreensão do que leu, mas também
auxilia esse indivíduo a relacionar suas experiências, vivências cotidianas e seu
ponto de vista com aquilo que está escrito. Ao ler, a criança (ou mesmo o adulto)
passa a interagir, refletir, socializar e estabelecer relações com o que leu e com o
que está inserido no seu cotidiano. Nesse sentido, o letramento literário não é

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somente um processo de estrutura textual, pois ele é diferente dos outros tipos de
letramento, uma vez que a literatura difere na linguagem.
Cosson (2006, p. 17) ressalta que o letramento por meio da literatura,
principalmente, “torna o mundo compreensível transformando a sua materialidade
em palavras de cores, odores, sabores e formas intensamente humanas”. Mas
diante dessa significação da leitura, nos perguntamos: quais são as estratégias
para que o estudante compreenda o que lê? De que forma mediar essa leitura
literária? Quais são os caminhos para planejar momentos significativos de
literatura, letramento e alfabetização e que auxiliem a formar um estudante leitor?

TEMA 1 – LITERATURA INFANTIL EM SALA DE AULA: POSSIBILIDADES E


DESAFIOS

A literatura na sala de aula deve contribuir para a formação do leitor literário,


ampliando a compreensão de mundo e ampliando as possibilidades de
interpretações das especificidades dessa leitura e conhecimento na escola.
Com este tema, buscamos esclarecer de que forma a literatura infantil e os
textos literários podem ser inseridos no âmbito escolar e quais são os desafios
encontrados pelos professores dos anos iniciais ao planejar o seu trabalho
direcionado à leitura literária. De que acervo literário a escola dispõe e quais
políticas públicas podem favorecer o acesso para que esse profissional tenha
várias possibilidades de articular seu trabalho?

Saiba mais

Antes de continuarmos com o primeiro tema desta aula, acesse o link a


seguir e assista à reportagem sobre o que alguns estudos revelam da
importância de leitura para crianças.
<https://www.youtube.com/watch?v=PjzWjYXa0yc&feature=youtu.be>

1.1 A escola como ponto de partida

A autora de livros infantis, Lígia Bojunga Nunes, ao trazer a mensagem


sobre a importância dos livros na sua vida, nos faz refletir sobre a sua
importância e sua relação com a própria vida: “Pra mim, livro é vida; desde que
eu era muito pequena os livros me deram casa e comida. [...] Foi assim que,
devagarinho, me habituei com essa troca tão gostosa que no meu jeito de ver as

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coisas é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me
dava” (Bojunga, 1984).
Com isso, podemos perceber que há uma “troca” de conhecimento que a
literatura traz na vida das pessoas, pois é por meio da linguagem escrita e da
leitura desse mundo de possibilidades que entramos em contato com os
conhecimentos que o homem já produziu no mundo. As trocas de olhares, de
sentimentos e de percepções são ampliadas pela capacidade de leitura que
cada um tem e sua mediação por parte dos professores.
Ao utilizar a literatura na escola com objetivos significativos, levamos a
criança a organizar seus pensamentos, a desenvolver a imaginação, trazendo à
tona as emoções de forma prazerosa e importante para o seu desenvolvimento
integral. Mas para que a leitura se torne algo prazeroso, devemos criar
possibilidades para que isso se concretize. Além disso, o trabalho com a
literatura nas escolas se justifica porque há um acervo riquíssimo de obras que
possibilitam uma mediação na leitura das crianças para os mais variados temas
e pertinências de trabalho em sala de aula, de forma leve, criativa e crítica,
contribuindo, dessa maneira, para a formação integral da criança, além de
auxiliar de forma significativa na formação do leitor.
Qual é o espaço mais significativo e com intencionalidade para que esse
universo de conhecimento interpretativo da realidade aconteça?
É na escola que a criança vai encontrar meios para desenvolver
habilidades na leitura e na escrita, e a literatura infantil pode contribuir de
maneira significativa nesse processo. Como explica Bakhtin (2011), a literatura é
um meio capaz de transformar o indivíduo em um sujeito ativo, responsivo e
responsável pela sua aprendizagem, compreendendo o contexto em que vive e
a necessidade de modificá-lo de acordo com sua necessidade.
Observe a seguinte imagem:

Figura 1 – O professor como mediador

Fonte: Uninter.
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Você já parou para pensar qual é o melhor modo de apresentar/contar
uma história e fazer com que a criança mergulhe na literatura infantil?
Ao entrar em uma sala dos anos iniciais e da educação infantil, podemos
nos deparar com várias ferramentas que auxiliam a aprendizagem dos
estudantes e que abordam a literatura infantil: o livro didático, folhas xerocadas,
contendo muitas vezes a literatura fragmentada em partes, a lousa de giz, que
serve de apoio para que o professor transcreva pequenos textos, os projetores
onde os livros são apresentados em imagens ampliadas, muitas vezes
acompanhadas de narração e, propriamente, o livro de literatura infantil
manuseável.
A presença dessa literatura em vários suportes é responsável por
apresentar aos alunos diferentes práticas de leitura literária e, com base nisso,
percebermos também os tipos de gêneros literários e quais concepções de
leitura literária são adotadas pela escola e principalmente pelo professor.
Nesse sentido, entende-se que a melhor forma de utilizar a literatura
infantil em sala de aula é apresentando o livro literário ao aluno, pois ao ouvir a
história narrada pela professora, com o livro diante dos olhos, a criança dá asas
à imaginação e lança voos com sua fantasia, compara com a sua realidade,
emociona-se, surpreende-se e se diverte. Coelho (2000, p.27) explica que a
literatura infantil é, antes de qualquer coisa, uma literatura, ou ainda melhor, “é
arte, ou seja, fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a
vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real,
os ideais e sua possível/impossível realização [...]”.
Quando o professor trabalha textos literários em livros didáticos ou em
folhas xerocadas de forma fragmentada, a literatura perde, em partes, o seu
significado principal, que seria perceber sua literalidade, ou seja, ter o livro e o
enredo como objeto principal de discussão e passa a ser um texto para ser
estudado.
Soares (1999) salienta que os objetivos da leitura e do estudo de um texto
literário são específicos a esse tipo de texto. Dessa forma,

devem privilegiar aqueles conhecimentos, habilidades e atitudes


necessárias à formação de um bom leitor de literatura: a análise do
gênero texto, dos recursos de expressão e de recriação da realidade,
das figuras autor-narrador, personagem, ponto de vista a interpretação
de analogias, comparações, metáforas, identificação de recursos
estilísticos, poéticos enfim, o estudo daquilo que é literário. (Soares,
1999, p. 43)

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No entanto, muitas vezes quando o texto é abordado em livros didáticos
ou folhas fotocopiadas, isso ocorre por falta de opção, por falta de acervo na
biblioteca, ou até mesmo por falta de tempo e planejamento para a leitura
completa. Para organizar o tempo para a leitura, é necessário verificar quais são
as habilidades que estão sendo aprimoradas no estudante. Qual é o objetivo da
leitura e o que se espera refletir com ela.

Saiba mais

Vamos dar uma paradinha agora e conhecer qual é a hora de contar uma
história segundo o autor infantil, Ilan Brenman. Para isso, acesse o link a seguir:
<https://www.youtube.com/watch?v=Ry_zghvwP7g&feature=youtu.be>

A leitura em voz alta, de forma conjunta com a turma, é necessária para


que o aluno se ouça e melhore sua entonação e fluência, mas também é
imprescindível a leitura silenciosa e individual, quando esse estudante já se
apropriou do letramento, ou, quando ainda não lê, mas observa as imagens e as
palavras contidas no livro. Ambas são importantes estratégias para se
compreender o que se lê. No entanto, ao utilizar essa metodologia, é preciso ter
cuidado para que a literatura infantil não seja apenas um pretexto para avaliar a
qualidade da leitura. De todas as possibilidades apresentadas para que o aluno
esteja inserido na literatura infantil, a interação com o livro é necessária, tanto
apresentada pelo professor ao grupo, quanto individualmente, de forma que o
aluno possa manuseá-lo.
O professor tem papel fundamental para mediar essa interação de forma
que se torne um hábito interessante e curioso para o estudante. Mas diante das
inúmeras possibilidades de aprendizagem que os variados gêneros textuais
oferecem, diante dos conteúdos a serem cumpridos nos tempos escolares, qual
é o espaço da literatura infantil nesse planejamento?
A literatura infantil deve estar presente no cotidiano da sala de aula de
forma constante. Os espaços escolares podem ser aproveitados para esses
momentos, seja na biblioteca (se a escola dispuser de uma), em roda de leitura
ao ar livre ou em salas, em tapetes, almofadas, ou com a família. O importante é
que esse momento propicie encantamento e sensibilidade.
É importante que o professor esteja atento à seleção dos livros
apropriados ao público infantil, analisando se sua linguagem é acessível,
compreensível e pertinente para a construção de conhecimento e para o

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desenvolvimento do letramento literário. Deve-se observar a estrutura de um
livro, o que contém na capa, o título, o nome dos autores, o que a estética da
capa revela sobre a literatura.
Caso a leitura inicial não seja compreendida pelo estudante, cabe ao
professor estimular o pensamento crítico do aluno, deixando que ele questione,
pergunte e avance na aprendizagem.

O professor devidamente preparado, por sua vez, deve ler e contar em


voz alta os textos da tradição e os textos contemporâneos, para as
crianças ainda iletradas. É o momento das narrativas curtas, das
fábulas, dos contos populares, das parlendas, dos poemas curtos, das
histórias dos gêneros maravilhosos com fadas ou animais. O repertório
infantil vai aos poucos se constituindo e armazenando estruturas
narrativas e poéticas que, mais tarde, servirão de lastro para a leitura
individual de cada criança. (Costa, 2007, p.47)

Nesse processo, a pesquisa por livros é interessante para verificar quais


autores da atualidade encontram-se em destaque; quais livros são adequados
para aquela faixa etária e o que ele pode agregar no processo de ensino e
aprendizagem.

Saiba mais

Você conhece alguma instituição ou programa que proporciona a


pesquisa por livros? Ainda não? Então acesse o Programa Nacional de
Biblioteca da Escola (PNBE), um dos principais programas de políticas públicas
instituído em 1997 com o objetivo de criar acervo de literatura nas bibliotecas
escolares de escolas públicas e facilitar o acesso às obras de literatura infanto-
juvenis, brasileiras e estrangeiras para professores e alunos. Acesse o link a
seguir para conhecer um pouco mais sobre esse programa;
<http://portal.mec.gov.br/programa-nacional-biblioteca-da-
escola/publicacoes?id=20407>

Finalizamos este primeiro tema com as palavras de Zilberman (1998, p.


22), que argumenta o seguinte sobre a literatura:

A literatura sintetiza, por meio dos recursos da ficção, uma realidade,


que tem amplos pontos de contato com o que o leitor vive
cotidianamente. Assim, por mais exacerbada que seja a fantasia do
escritor ou mais distanciada e diferente as circunstâncias de espaço e
tempo dentro das quais uma obra é concebida, o sintoma de sua
sobrevivência é o fato de que ela continua a se comunicar com o
destinatário atual, porque ainda fala de seu mundo, com suas
dificuldades e soluções, ajudando-o, pois, a conhecê-lo melhor.

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No tema seguinte, daremos prioridade para o planejamento específico da
literatura infantil nas aulas e nas escolas na relação com a alfabetização e o
letramento. Isso se faz necessário, visto que há elementos imprescindíveis
nesse contexto, como a mediação entre os professores, os alunos e os
conteúdos, tanto escolares quanto do mundo. A convivência com textos literários
como poemas, narrativas, textos dramáticos, contos, fábulas entre outros, além
dos desenhos, ilustrações ou inferências, proporciona aos alunos o manuseio
dos livros e a compreensão e a interpretação entre as linguagens diversas
propiciadas pela leitura dos diversos gêneros, oferecendo-lhes a oportunidade
de reflexão e de criatividade em relação aos sentidos da leitura. Costa (2007)
reforça que a convivência com os textos literários faz com que a criança
desenvolva muito mais do que já foi falado: “ela forma as referências simbólicas,
efetivas e de pensamento que irão permanecer na memória e influenciar
comportamentos futuros”. (Costa, 2007, p. 27).

TEMA 2 – LETRAMENTO LITERÁRIO: COMO PLANEJAR?

A leitura e a compreensão sobre o letramento literário, de acordo com os


estudos sobre esse tema, nos permitem refletir sobre a forma de organizar a
prática pedagógica e as ações através do planejamento e como ambos estão
inseridos na rotina do professor que busca a excelência do seu trabalho.

2.1 A importância do planejamento

Ao ensinar, o professor tem como objetivo principal a aprendizagem do


aluno que está sendo mediado por ele e, principalmente, pretende que esse
aprendiz compreenda o que lhe foi instigado a dialogar entre o conteúdo da
escola e o saber cultural.
No entanto, o professor deve ter um olhar atento para entender qual é a
necessidade específica de cada aluno e de cada turma que por ele passar. O
olhar do professor deve ultrapassar a indagação de “como eu ensino” para
“como meu aluno aprende”. Essa mudança de olhar para o ensino propicia um ir
além para o professor no que tange à sua relação com o saber e o ensino.
Por isso, o planejamento não deve ser algo engessado, como explica
Freire (2002),

Todo planejamento educacional, para qualquer sociedade, tem de


responder às marcas e aos valores dessa sociedade. Só assim, é que

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pode funcionar o processo educativo, ora como força estabilizadora,
ora como fator de mudança. Às vezes, preservando determinadas
formas de cultura. Outras, interferindo no processo histórico
instrumental. (Freire, 2002, p. 10)

Para auxiliar o professor nesse processo de planejamento, ele deve


contar com a participação de todos que atuam na escola. Além disso, as
condições de trabalho devem ser favoráveis e voltadas para o desenvolvimento
da aprendizagem, priorizando a qualidade do ensino.
É importante que o espaço escolar apresente ao professor as formações
continuadas, a disponibilidade de materiais para que o professor possa planejar
sua prática; além de momentos de reuniões coletivas e individuais para o seu
aperfeiçoamento e para a organização do seu trabalho.
Nesse sentido, ao pensar a alfabetização no contexto de um
planejamento do letramento literário, deve-se ter por objetivo principal estimular
no aluno a compreensão e o gosto pela leitura, porém cabe ao professor
investigar inicialmente qual é o grau de conhecimento e compreensão dos
alunos e, com base nisso, criar situações que favoreçam o desenvolvimento das
capacidades de leitura e escrita de sua turma.
Por outro lado, a busca por leitura de assuntos familiares deve acontecer
com vista ao atendimento às possibilidades de aprendizagem do aluno. Assim,
escolher a leitura ideal para as necessidades da sua turma naquele determinado
momento facilitará o processo de compreensão do que se lê.
Cosson (2006), sobre alfabetização e letramento, salienta três formas de
compreender a leitura que, segundo ele, podem ser utilizadas no processo de
ensino-aprendizagem com o texto literário:

 A primeira: levantamento de questionamentos e hipóteses entre imagem


e palavras com base num texto, antes e durante sua leitura, considerando
a capa, o título, o número de páginas, entre outros.
 A segunda: decifração – aqui o leitor decifra as palavras, frases e o texto
elaborado e, assim, a motivação para a leitura aumenta. O aluno
relaciona as histórias ouvidas às suas vivências e, com isso, organiza-se
mentalmente e passa a resolver os conflitos reais. Na sala de aula, o
professor deve criar espaços, como “caixa de leitura”, empréstimos de
livros (para que semanalmente o aluno faça empréstimo e possa ler para
seus familiares aperfeiçoando a leitura).
 A terceira: interpretação – durante a leitura, o leitor faz inferências do
texto e o relaciona ao seu cotidiano. Ele interpreta de forma imediata o
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que lê, com fluência, e busca a leitura de histórias que mostrem um
mundo mais próximo da sua realidade.

2.2 Estratégias necessárias para o letramento literário

Avançamos um pouco sobre o nosso conhecimento de literatura, porém


aqui foram apresentadas apenas algumas pistas e alguns caminhos possíveis
para pensarmos no trabalho com a literatura e no planejamento. Para uma
compreensão mais ampla e com conhecimento realmente mais completo, é
necessário ver as arestas que ficaram para nos tornarmos professores
pesquisadores na relação com a aprendizagem do aluno e com nosso próprio
letramento literário, pois o professor só conseguirá organizar um planejamento
eficiente se ele mesmo compreender e souber muito sobre o seu objeto de
trabalho, principalmente no gênero literário, tão rico de possibilidades.
Vamos definir alguns princípios do professor de literatura, com base nos
estudos realizados até o momento realizado?

 Promover a prontidão da leitura no aluno nos diferentes níveis de ensino.


 Ser um leitor ativo e demonstrar esse hábito aos alunos.
 Encontrar e mostrar aos alunos caminhos de leitura.

Você como professor, pedagogo e estudioso da área, concorda com esses


pressupostos?
O local onde acontece a leitura na escola também não deve ser algo
engessado apenas na carteira e na sala de aula. Por ser o livro um objeto de
fácil manuseio, a leitura pode ser um convite à descontração e ao prazer: pode-
se fazer roda de leitura, leitura ao ar livre, ou sentado em almofadas, tapetes,
enfim, a leitura descontraída.
A forma como o professor lê o livro diante da turma também deve ser
elaborada. A leitura com entonação, voz alta e com as imagens voltadas para o
leitor torna o professor leitor uma referência na qual os alunos podem se
espelhar.
A escolha do livro na biblioteca também deve ser orientada a fim de que o
estudante busque informações do livro na capa, busque livros de determinado
autor ou ilustrador.
É necessário planejar atividades diferenciadas levando em consideração
que em sala encontraremos diferentes níveis de aprendizagem do aluno. O

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professor deve observar quando é pertinente realizar atividades que podem ser
feitas por todos e quando é necessária a intervenção para grupos específicos
Mas como possibilitar tudo isso e contribuir para a formação de um aluno
leitor?

Saiba mais

Acesse o link a seguir e assista ao vídeo com a professora doutora Ana


Maria Bulhões sobre “Literatura na formação do leitor”.
<https://www.youtube.com/watch?v=TwATrjQ4GX0&feature=youtu.be>

Observou quanta relevância tem o papel do professor na propagação e


incentivo do aluno leitor?
Com isso, percebe-se que as atividades devem motivar leituras de outras
obras literárias e da aprendizagem significativa por meio:

 de uma palavra ou frase do livro como uma palavra geradora que aguce a
curiosidade;
 da organização de listas com palavras que contenham a mesma letra da
palavra selecionada, porém que já tenha um significado para os alunos e
para a turma;
 da construção de acrósticos;
 da escrita de um texto narrativo;
 da descrição de algum personagem ou objeto como se fosse visto pela
primeira vez;
 da produção de narrativas com mais de uma história contada;
 da organização de histórias com materiais recicláveis;
 do desenvolvimento de entrevistas entre os alunos sobre o livro lido;
 da organização de teatros com representação da história através de
histórias em quadrinhos;
 de murais;
 de diário com registro de leituras;
 de votação do livro mais interessante da turma;
 da reelaboração do final da uma história.

Quantas atividades interessantes e que no cotidiano da sala de aula podem


estar inseridas até mesmo em outras disciplinas!

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TEMA 3 – ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E LITERATURA: ELEMENTOS
INDISSOCIÁVEIS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA

A alfabetização, o letramento e a literatura caminham juntos e são


facilitadores no processo de aprendizagem, porém é importante que o professor
seja investigador e pesquisador de sua prática para oferecer ao aluno o
conhecimento da leitura e da escrita em diferentes contextos sociais, com
reflexão das palavras que lê, com significado e interesse.
Aqui o objetivo principal desta apresenta-se e se estabelece na prática
pedagógica do professor, o qual é formar leitores e produtores de textos que não
apenas decodifiquem o código escrito, mas que exerçam a escrita em várias
situações.
Ao adentrar a história, vamos conhecer ainda mais sobre a relevância da
literatura e a formação de leitores no espaço escolar e social.
No ano de 1990, aconteceu a Conferência Mundial sobre Educação para
Todos e se discutiu a alfabetização como instrumento necessário para a cultura
nascente, de forma que a aprendizagem da leitura e da escrita se torna
ferramenta necessária para que o indivíduo crie o conhecimento reflexivo. A
partir dessa conferência, a literatura passou a contribuir no processo de
alfabetização, auxiliando o professor no desenvolvimento da aprendizagem dos
alunos.
Ao lermos para uma criança ou para um grupo de alunos, estamos não só
desenvolvendo a sua imaginação, sua criatividade e gosto pela leitura, mas
também ampliando e enriquecendo todo um processo de alfabetização e
letramento, desencadeando um maior interesse em aprender a ler e escrever.
Maia (2007) afirma que, antes de decodificar a língua escrita, é
fundamental que o professor desenvolva nos alunos o exercício à vivência por
meio dos atos de leituras. Para isso, não é necessário que a criança saiba ler
para que possa se inserir no mundo da leitura, pois a literatura lhe proporcionará
experiências significativas, mas é fundamental que a criança seja motivada
desde muito cedo.

Saiba mais

Vamos entender um pouco mais sobre esta expressão “motivar desde


muito cedo”?

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Acesse o link a seguir e assista ao vídeo sobre “O papel da educação
infantil na alfabetização” com a psicóloga Alessandra Seabra:
<https://www.youtube.com/watch?v=KbsrsFbiRfg>

Sendo a escola o local de democratização do saber, cabe a ela incentivar


e motivar a inserção da criança no mundo da literatura infantil, propiciando a
interação entre o real e o imaginário, enriquecendo e despertando a fantasia e o
lúdico.
A escola, portanto, deve considerar os fatores históricos, culturais e
sociais presentes no processo de construção e interpretação dos textos
literários, ampliando, assim, as possibilidades de situações prazerosas e
significativas que realmente contribuam para a formação de leitores.

3.1 Caminhos a trilhar

Com a regulamentação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB


em 1996, criaram-se os “ciclos básicos de alfabetização” com o intuito de
melhorar a aprendizagem da leitura e da escrita.
A mudança foi necessária, pois as instituições de ensino reconheceram
que a concepção de alfabetização como se apresentava não atendia à
apropriação e à função social da leitura e da escrita, pois ler e escrever de forma
mecânica, em apenas um ano, era uma aprendizagem incompleta, desconexa
em relação à sociedade contemporânea.
Por outro lado, o professor precisa ficar atento, uma vez que, além de ler
e escrever, é necessário que o aluno possa utilizar a leitura e a escrita em seu
cotidiano e relacione o que lê e o que escreve com suas ações, organizando seu
pensamento e refletindo sobre essa ação.

Quando a criança ouve a leitura, a contação de histórias lê ou conta


uma história, ativa uma série de capacidades, como a memória
(recorda-se de outros momentos, de histórias ouvidas ou lidas, a
atenção (se a história ou recurso utilizado para a contação da história a
envolve completamente, ela para ouvir assume uma atitude de ouvinte
atento), a fantasia (imagina-se parte da história contada, visando
mundos e personagens, ativando suas emoções). Isto é, o livro traz
cristalizadas em si as capacidades humanas e, na atividade de
contação ou leitura de histórias, a criança vivencia e ativa o uso dessas
capacidades, tornando-as individuais, parte de sua humanidade. (Lima;
Valiengo, 2011, p. 56).

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Quando um aluno faz a leitura de um pequeno texto ou uma frase, mas,
ao ser questionado sobre o que leu, não sabe explicar sobre o que se tratava,
ele é um sujeito apenas alfabetizado, mas ainda não é letrado.
Cabe aos professores organizarem a sua prática, embasados em
fundamentações teóricas pertinentes que acreditem ser as mais propícias para
se alfabetizar e letrar.
À medida que o professor amplie a sua prática, seja na troca de
experiências com seus colegas, seja nas formações continuadas, seja no dia a
dia de sala de aula, ele consegue perceber e alinhar ainda mais as atividades a
aprendizagem do aluno, considerando as necessidades de cada um, num
construir e reconstruir diário.

3.2 Como começar?

Não é o nosso intuito dar receitas ou técnicas prontas de como aprimorar


a prática e a didática para alfabetizar e letrar com eficiência, mas orientar você,
professor(a), com base em reflexões sobre estratégias que lhe possibilitem
alcançar resultados satisfatórios para o processo de leitura e escrita dos alunos
que o aproximem do ser leitor.
Nesse contexto, a literatura infantil favorece, pois, segundo Maia (2007, p.
107),

Ouvir histórias constitui-se em um momento de muita exigência para a


criança: atenção, concentração, antecipações, formulação de hipóteses
sobre a natureza da linguagem escrita. São ações que colaboram para
a compreensão dos processos e relações estabelecidas no sistema de
representação da língua.

Todo professor deve preparar situações em que o aluno se depare com


textos e possa refletir sobre a sonoridade das palavras contidas na leitura, ou
unidades menores, promovendo habilidade de consciência fonológica bem como
a prática de escrever e desmontar palavras por meio da interação com jogos e
brincadeiras, que facilitem essa compreensão e organização de textos coletivos.
Nessas atividades, os alunos se tornam protagonistas no processo do
letramento.
As atividades de linguagem e leitura devem ser incorporadas diariamente
e não apenas em dias determinados da semana, dividindo o ensino em partes,
ou mesmo na disciplina de Língua Portuguesa, ela deve invadir o planejamento
do professor e avançar com produções de texto e práticas de leituras. Essas

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práticas podem ser para auxiliar na aprendizagem ou despertar “gosto”,
interesse no aluno para a leitura e a escrita, o significado e a interpretação.
Maia (2007) comenta sobre essa prática: “É ouvindo mensagens com
contextos significativos que a criança se insere num processo de construção
acerca da linguagem; aprendizado, portanto, diferente do processo de simples
domínio de codificação e decodificação de sentenças descontextualizadas e tão
comuns nas cartilhas”.

TEMA 4 – CONSTRUINDO ALUNOS LEITORES

Neste tema, abordamos a ideia de que, ao formar leitores, o professor


desempenha uma importante função de ser mediador do conhecimento. Nesse
sentido, quanto mais informado sobre a realidade de seus alunos, quanto mais
inteirado no contexto social em que eles estão inseridos, melhor se dará a
interação entre o aluno leitor e os textos a ele apresentados.
No cotidiano da sala de aula, como observamos na leitura dos temas
anteriores, é imprescindível que o aluno tenha contato com os mais variados
gêneros textuais e livros literários. Para que isso ocorra, deve haver por parte
dos docentes esforços em planejar momentos em que essa leitura literária se
concretize de fato. Uma seleção adequada é um dos princípios para a
construção de alunos leitores.
Mediante a seleção dos livros a serem trabalhados, passamos a buscá-los
para fazer a leitura propriamente dita. Além das livrarias, essa aquisição hoje em
dia é facilitada pela ferramenta internet, que possibilita adquirir os livros em
outros formatos que não o impresso. Como vimos também nesta aula, foram
criadas algumas estratégias do Governo Federal com a finalidade de criar um
acervo literário considerável nas escolas.
O empréstimo de livros é uma estratégia metodológica que pode ocorrer
em sala de aula e que de certa forma beneficia a quem empresta, pois socializa
conhecimentos, experiências e saberes.
Tendo em mão o acesso ao livro literário, resta para o leitor a
disponibilidade de tempo para ler. Com os inúmeros atrativos que os estudantes
têm ao redor, no mundo tão interativo dos jogos, dos smartphones, da internet,
dos desenhos e dos variados programas de TV, diante de tantos motivos para
deixar leitura para mais tarde, novamente voltamos a atenção para a importância
do mediador da leitura.

016
Ferreiro (2002) nos orienta que

deve-se iniciar as crianças primeiro nos textos narrativos e depois,


paulatinamente, em outros tipos de textos? A resposta é imediata: a
exigência fundamental dos tempos modernos é circular entre diversos
tipos de textos. Não existem textos privilegiados, mas sim exposição
simultânea à diversidade (tal como é o caso na aquisição da língua
oral). Ser leitor crítico e ter critérios para poder selecionar não são
objetivos que possam ser postergados para os últimos anos do Ensino
Fundamental.

4.1 O professor leitor mediador

Ao mediar, o professor também deve dar espaço à leitura por fruição


voltada simples e puramente para o prazer do texto que se quer ler, pois gera a
autonomia do leitor e ele passa a escolher, entre as inúmeras sugestões do
mediador, qual gênero textual quer ler naquele momento.
Silva (2006) salienta que a mediação da leitura na instituição escolar
deve ficar alerta para que não haja a reprodução de frases feitas e
estereotipadas ou enunciados preconceituosos e ações que coíbam o fluir da
leitura na escola, de modo que a criança seja respeitada nesse processo e tenha
liberdade em seus primeiros passos rumo à leitura, em que o professor será o
promotor desse encontro. Nesse sentido, cabe ao docente ter a intenção de
levar a criança a experimentar de pouco em pouco os diversos sabores da
leitura. De forma alguma a leitura deve ser encarada pelo professor e pelo
estudante como um ato obrigatório e desconexo e, novamente, o professor
aparece como protagonista, devendo ser também leitor e defender a leitura
como imprescindível para a formação intelectual dos educandos.
Zilberman (1998) exemplifica bem essa ideia no seguinte contexto,

raras vezes a escola, em seu aparato, como salas de aula, seus


instrumentos, como o livro didático, e sua metodologia, como a
execução dos deveres de casa, provocam lembranças aprazíveis de
leitura. As atividades pedagógicas provocam tédio, quando não são
vivenciadas como aprisionamento, controle ou obrigação. A leitura
parece ficar do lado de fora, porque os professores não incorporam ao
universo do ensino.

A escola deve mediar a leitura de textos não literários, como jornais,


cartazes, anúncios, dicionários, enciclopédias, textos científicos, didáticos. Esses
textos são considerados comuns e rotineiros nas práticas pedagógicas, no
entanto a forma como ele é direcionado deve ser cuidadosamente planejada
pelo professor. São temas contemporâneos que podem desenvolver discussões

017
enriquecedoras, pois tratam da atualidade e muitas vezes aproximam o leitor do
cotidiano social e do seu conhecimento.
O caminho a ser trilhado pelo professor para formar um leitor eficiente
está em buscar momentos de leitura para seus estudantes que não tenham por
objetivo reproduzir simplesmente a decodificação de palavras, de questionários
de forma superficial apenas para atender um conteúdo a ser trabalhado.
Nos textos literários, o faz de conta, a imaginação e a criatividade trazem
ao leitor encantamento, surpresa, novidades e, por isso, não necessitam que
sejam realizadas atividades para provar que houve de fato a leitura. Deve-se
aproveitar essa oportunidade para aprimorar a oralidade dos estudantes, suas
opiniões acerca do que ouviram e assim desenvolver sua linguagem.
Por meio de várias ações da promoção da leitura é possível que o
estudante seja um leitor que aprofunde esse hábito, amplie sua compreensão de
mundo e seja consciente do seu crescimento pessoal que a leitura proporcionou
em sua trajetória.

TEMA 5 – A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS

Era uma vez uma criança… que estava na companhia de um adulto…


e o adulto tinha um livro… e o adulto lia. E a criança, fascinada,
escutava como a língua oral se torna língua escrita. A fascinação do
lugar preciso que o conhecido se torna desconhecido. O ponto exato
para assumir o desafio de conhecer e crescer. (Ferreiro, 2002)

A leitura deste tema nos mostrará a importância de uma história bem


contada para atrair leitores, seja ela de forma oral, como narrativa, ou através da
leitura de um livro.
Sabemos que contar histórias é uma ação que acontece há muito tempo,
desde que o mundo aprendeu a se comunicar, seja pelos escritos nas cavernas
que muitas vezes contavam a rotina dos homens primitivos, seja pela linguagem
oral.
Ao contar histórias, estamos compartilhando inúmeras sensações, como
medos, alegrias, dúvidas, contentamento, angústias e, dessa forma, vamos
conhecendo nosso eu interior e refletindo sobre o que estamos ouvindo, seja
para comparar, concordar, discordar ou indagar.

5.1 A finalidade de contar histórias

As histórias trazem grande conhecimento para quem lê e para quem


ouve. Elas nos ensinam, mesmo sendo fictícias, trazendo alguma aproximação
018
com o mundo real e, consequentemente, conhecimento, comparação e reflexão.
Inicialmente é necessário planejar o que ler e o que se espera com essa leitura,
ou seja, é preciso planejar sua ação.
Para isso, o contador deve conhecer o público a quem se dirige, a faixa
etária que será ouvinte, para que a leitura seja propícia e surta o efeito
esperado: o encantamento. Neste sentido, o contador de histórias deve se
aperfeiçoar constantemente através de formações e oficinas a fim de melhorar a
sua prática.
A forma como o contador de história vai realizar a leitura deve trazer
encantamento para quem escuta. Por isso a importância da leitura prévia para
que, ao ler para o grupo, o professor esteja familiarizado com o que lê, utilize a
entonação correta quando necessário, a pronúncia adequada, levante
questionamentos, principalmente ao final da leitura. Além disso, deixe o ouvinte
falar sobre o que sentiu sobre suas vivências, sobre o que o fez criar relações
com o que ouviu, sobre o seu ponto de vista, pois, desse modo, faz associações
e dá significado à sua realidade.
Morais (1996, p. 171) afirma que “o mais importante, ainda talvez, pela
própria estrutura da história contada, pelas questões e comentários que ela
sugere, pelos resumos que provoca, ela ensina a compreender melhor os fatos e
os atos, a melhor organizar e reter a informação, a melhor elaborar os roteiros e
os esquemas mentais”.
Feita a escolha do que contar, é necessário que o contador disponha
previamente de um espaço adequado para essa contação. O local deve ser
silencioso e convidativo, onde o ouvinte se sinta confortável para prestar atenção
no contador de histórias e, assim, viajar pelo mundo da imaginação. Pode ser a
sala de aula, o pátio da escola, a sombra de uma árvore, a biblioteca, um lugar
arejado e tranquilo.
Para que essa contação se realize de forma prazerosa, o contador deve
gostar de ler para várias pessoas, utilizar a expressão corporal, o gesto, o ritmo,
ter fluência e boa entonação de voz, ser criativo, interagir com o ouvinte, não ter
medo de errar e ter compreensão de que as palavras podem transformar
pensamentos e ações.
Ao entoar, gesticular e narrar a história de um livro, o contador de história
a transforma em algo novo e mágico, como salienta Cortes (2006, p. 82)

e, para isso, quem conta tem que criar o clima de envolvimento, de


encanto... saber dar as pausas, o tempo para o imaginário da criança
019
construir seu cenário, visualizar os seus monstros, criar os seus
dragões, adentrar pela sua floresta, vestir a princesa com a roupa que
está inventando, pensar na cara do rei e tantas coisas mais.

Dessa forma, o contador leva o ouvinte ao mundo de fantasias,


proporcionando momentos significativos de conhecimento e despertando o gosto
pela leitura, por narrar histórias e recontá-las.

FINALIZANDO

Os temas aqui expostos nos dão a possibilidade de compreender que são


inúmeras as estratégias de aprendizagem para que o estudante se torne
alfabetizado e letrado. A literatura infantil e o letramento literário podem ser
considerados como o ponto partida neste processo de aquisição da escrita, pois,
além de desenvolver no estudante a criatividade e a imaginação, possibilitam a
reflexão e o senso crítico.
Ao professor, no papel de mediador desse processo de aquisição da
leitura e da escrita, caberá buscar, por meio da pesquisa, as estratégias que
melhor proporcionarem e o auxiliarem no desenvolvimento da aprendizagem
significativa para que possibilite uma prática pedagógica dinâmica e o
nascimento de novos leitores, como afirma Frantz (1998).
É na interação com livros de literatura infantil que a criança aprende sobre
si, sobre os adultos e o modo de viver coletivamente, sem que para isso precise
abandonar o seu universo infantil, repleto de descobertas, magia, brincadeiras e
fantasia.
Ao consideramos a criança como um leitor infantil, veremos que a
literatura desempenha um papel fundamental, decisivo e intransferível para o
desenvolvimento e contato com o mundo das palavras e da linguagem.
Considerando que é por meio da fantasia, da imaginação, da emoção e
do lúdico que a criança apreende a sua realidade, atribuindo-lhe um significado,
veremos que o mundo da arte é o que mais se aproxima do universo infantil, à
medida que ambos falam a mesma linguagem simbólica e criativa.
O mundo para ambos é do tamanho da fantasia e alcança até onde vai a
imaginação criadora da criança e do artista.

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