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O TRABALHO COM A LITERATURA DE CORDEL NO ENSINO


FUNDAMENTAL: ENSINAR E ENCANTAR

Nádia, Teresinha MACHADO1


RU1801254

RESUMO

Este estudo tem por objetivo reconhecer os contributos da literatura de cordel para o
processo ensino-aprendizagem pois este favorece a formação cidadã do educando,
enfatizando assim a necessidade do professor explorar a literatura em seu cotidiano,
salientando a importância destes profissionais serem pesquisadores e incentivar os
educandos a desenvolver o gosto por ler, uma vez que é grande contributo para o
processo educativo e para a vida do aluno. O uso do cordel nas aulas permite que
os educandos reflitam, tenham contato com a cultura, sendo recurso importante e
contribuidor para que a aprendizagem se efetive visto ser um elemento
caracterizador da cultura brasileira. Para realização deste trabalho foi realizada uma
pesquisa bibliográfica em artigos e publicações online na busca de responder a
seguinte inquietação: Quais os contributos da literatura de cordel para o processo
ensino-aprendizagem? A partir das pesquisas ficou evidente os benefícios do cordel
para a formação plena do sujeito, sendo ação assertiva sua inserção nas atividades
pedagógicas para contribuir para a criticidade e postura reflexiva do educando.

Palavras-chave: Literatura de Cordel. Aprendizagem. Formação.

1 INTRODUÇÃO

A literatura é fonte de prazer e diversão, ela é atemporal e seduz o leitor no


momento em que o surpreende, portanto, ela deve integrar a rotina escolar, onde o
professor deve proporcionar aos seus alunos o encontro do prazer com o ato de ler,
na busca de contribuir para a formação de um leitor proficiente, um verdadeiro
cidadão. A leitura contribui então para a formação plena do sujeito e assim sendo a
literatura deve ser utilizada como ferramenta pedagógica que auxilia o fazer
educativo.
Ao remeter-se a literatura de cordel esta é um gênero textual que integra as
raízes culturais do nordeste, sendo instrumento de propagação cultural. É uma
1
Aluna do curso de segunda Licenciatura em Pedagogia do Centro Universitário UNINTER Pólo
Vacaria-RS.
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espécie de poesia popular a qual remete a história, a fatos de ordem política e


social, grandes são os temas que vão de assuntos da história até a atualidade como
miséria, crise hídrica, desigualdade. O que contribui para que o educando tenha
conhecimento social, político, intelectual, favorecendo assim sua formação integral.
Desta forma, este estudo bibliográfico partiu da seguinte questão norteadora:
Quais os contributos da literatura de cordel para o processo ensino-aprendizagem?
Para responder a inquietação objetivou-se reconhecer os contributos da literatura de
cordel para o processo ensino-aprendizagem pois favorece a formação cidadã do
educando, enfatizando assim a necessidade do professor explorar a literatura em
seu cotidiano, salientando a importância destes profissionais serem pesquisadores e
incentivar os educandos a desenvolver o gosto por ler, uma vez que é grande
contributo para o processo educativo e para a vida do aluno.
O interesse pela temática se deu por perceber a riqueza da literatura de
cordel e quanto ela pode contribuir para a aprendizagem reflexiva, além de colocar o
educando ao contato com diferentes culturas.
A metodologia utilizada partiu de estudo bibliográfico qualitativo, onde foram
selecionados artigos online e publicações que respondessem a problemática
elucidada.
A seguir encontra-se o referencial teórico que embasa o estudo abordando a
importância do trabalho com a literatura, bem como, os contributos do trabalho com
o cordel para a aprendizagem e a formação plena do educando. A metodologia do
estudo e as considerações finais.

2 A PRESENÇA DA LITERATURA COMO FORMA DE MOTIVAR ENSINAR

O texto literário muitas vezes está perdendo espaço no cotidiano educativo,


pois cede espaço a textos mais pragmáticos, todavia, ler é um direito humano, o
direito a arte. E, só se pode gostar, exigir o direito à literatura quando dela se tem
conhecimento.
Neste debate Ramos (2015, p. 22) evidencia que “não há homem que possa
viver sem fabulação, sem invenção, sem a criação universal a ser satisfeita, ou seja,
todos têm a necessidade e o direito à literatura”.
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Sendo assim, pode-se dizer que a literatura possibilita ao leitor experienciar


sentimentos, é indispensável para a humanização, onde o homem cria o fenômeno
literário constrói um mundo similar ao real, mas cheio de imaginação, expressa de
algum modo para que outros tenham acesso e a partir disso cada leitor forma e
transforma seu conhecimento.
De acordo com Ramos (2015) o texto literário além de impressionar possibilita
ao leitor um entendimento do entorno.

É inegável a força da literatura em relação ao que chamamos de direitos


humanos, pois ela pode propiciar a reflexão sobre questões que talvez não
consigamos tratar racionalmente como, por exemplo, a relatividade da
verdade, o desejo da estabilidade afetiva ou econômica e a compreensão
das singularidades de cada pessoa (RAMOS, 2015, p. 23).

Outro ponto de discussão se refere a literatura estar ao acesso de todos, uma


vez que esta enriquece a compreensão e percepção de mundo. Então pode-se dizer
que as histórias modificam o homem, o levam a reflexão, ao pensar. A literatura dá a
possibilidade de oferecer o conflito antes da realidade, de experimentar o conflito
pela ficção.
Pode-se dizer que não basta a escola ter bons livros, é preciso que estes
sejam bem explorados e formar leitores é ato que desafia os professores
constantemente, é necessário formar leitores proficientes que gostem de ler, que
saibam a riqueza que existe no jogo das palavras, que saibam dar vida ao texto, que
leiam as entrelinhas.
A leitura deve possibilitar a reflexão, deve ligar passado e presente,
colaborando nos processos de tomada de decisão. A leitura amplia o repertório,
aproxima as pessoas e este ato deve estar envolto no prazer, no desejo, na
descoberta.
A escola muitas vezes fica distante desta experiência, pois no ambiente
educacional busca-se que todos cheguem a um patamar comum. O mediador para
instigar os leitores deve ter o máximo de informações sobre livros, gêneros, autores,
lançamentos, informações capazes de prender a atenção dos leitores.
A mediação na escola é um ponto de preocupação, pois os professores
sobrecarregados, desvalorizados também leem pouco e não estão tão
entusiasmados pelos livros. Seria indispensável que os docentes além de
valorizados recebessem formação para se tornarem mediadores eficazes.
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O momento da leitura deve ser de troca, desprovido de cobranças e ancorado


pela paixão da leitura. “[...] a literatura dialoga de forma direta com nossa
sensibilidade, permitindo que a cada leitura possamos nos mostrar um pouco mais
aptos a ver o novo com tolerância e empatia” (DANTAS, 2019, p. 55).
Sendo assim, a escola devia ser local de aconchego para a leitura mas o que
se vê é algo diverso. Ela por vezes é considerada ameaça. É preciso então que
sejam exploradas as bibliotecas para que a leitura volte a ser ação encantadora na
escola.
Outro ponto a ser evidenciado é que a literatura deve ir além de passatempo
na escola, deve voltar a ser momento de encantamento, pois como acrescenta
Santos (2009, p.11-12) “ouvir e ler histórias é caminho para entrar em contato com
um mundo encantador, cheio de mistérios e surpresas, na maioria das vezes
interessantes e curiosas, que cada vez mais podem nos impulsionar a querer ouvir
outra vez”.
Deve-se despertar por meio da literatura o gosto por ler, por se aventurar em
histórias, onde o aluno perceba tal ato como algo gerador de prazer, ação dinâmica
e que certamente irá contribuir para a formação do leitor proficiente e por
desenvolver o gosto pela leitura.
Sendo assim, cabe aos docentes reconhecerem também a necessidade de
explorar a literatura no cotidiano escolar, visto que, esta seja por meio de livros, de
poesias, enfim, das mais diversas formas desperta o imaginário e mobiliza a
curiosidade. Por isso, é preciso que sejam explorados distintos recursos a fim de
que o educando se interesse por este ato a partir do estímulo dado pelo professor.
Por isso, reforça-se a necessidade do professor como pesquisador, como
alguém que busca novas formas de ensinar, tendo na leitura importante aliada, mas
para isso, o professor deve ser sábio na escolha da leitura, deve inovar práticas e
realmente fazer com que a leitura de histórias seja momento mágico.
Neste sentido, Cintra (2018) contribui salientando que,

O papel do professor mediador é a de organizar o ambiente, promover


situações problema, propostas e provocações estabelecendo correlação
com a faixa etárias das crianças. Essa postura docente é fundamental para
criar um ambiente propício à criatividade e à expressão. A partir do
momento que o educador entender que as crianças vivenciam e produzem
cultura, que são seres ativos e sujeitos de direitos, a prática docente tende a
ser transformada e entendida como suporte, ponte, elo de ligação para
novos saberes (CINTRA, 2018, p.02).
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A literatura é a possibilidade de formar o aluno em sua integralidade, uma vez


que desenvolve o raciocínio, possibilita a antecipação de ideias, valores, o senso
crítico, a imaginação, a livre expressão. Por isso, muitos são seus contributos para o
ato de aprender.
Outro ponto a salientar é que a literatura é fator que contribui ao processo
educativo e colabora para a formação de leitores autônomos e proficientes, por isso,
ela deve integrar o cotidiano do educando. Esta deve ser trabalhada de forma a
estimular a criança a ler.
Por isso, destaca-se que a literatura deve integrar o cotidiano da sala de aula,
uma vez que este é local privilegiado para o desenvolvimento do leitor crítico. Sabe-
se que existem diferentes gêneros literários, que podem ser trabalhados em sala de
aula, dos quais pode-se destacar a poesia, o cordel, os contos de fadas, as histórias
em quadrinhos, entre outros. No entanto, o que é preciso mesmo levar em conta é
que o estímulo a leitura deve ocorrer desde muito cedo, como evidenciam os
Parâmetros Curriculares Nacionais (2000),

[...] formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o


que se lê; que possa aprender a ler também o que não está escrito,
identificando elementos implícitos; que estabeleça relações entre o texto
que Le e outros textos já lidos, que saiba que vários sentidos podem ser
atribuídos a um texto; que consiga justificar e validar a sua leitura a partir da
localização de elementos discursivos. (BRASIL, 2000, p.54).

Diante disto, é preciso que se utilize da leitura de forma constante para que se
almeje formar um leitor competente. E, a literatura contribui para formar um sujeito
que é agente de transformação, sendo a escola o local privilegiado para que o aluno
tenha contato com os livros e aprenda a ter gosto por tal prática.
Neste sentido, é essencial que a literatura integre o cotidiano escolar, pois
auxilia na formação integral do educando. Patte (2012) ressalta que a leitura literária
possibilita que a criança apreenda o mundo, uma vez que se entrelaçam o real e o
imaginário. A literatura torna-se então uma aliada para formação integral, e assim
sendo, é preciso que as crianças tenham contato com os livros, escutem as
histórias, observem as imagens pois desta forma vão sendo desenvolvidas, as
linguagens oral, escrita e artística.
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Neste sentido, Vygotsky (2010), salienta que a educação por meio da


literatura permite que a criança adquira novas formas de lidar com a realidade, ao
mesmo tempo em que se torna um momento lúdico. Por isso, ao aluno deve ser
dada a possibilidade de experimentação, de conhecimento e contato com o livro,
onde o professor deve ser o mediador deste processo.
A literatura infantil desperta o imaginário, desta forma, o educando deve ser
sempre estimulado e motivado a ter interesse pelo conteúdo dos livros, e mesmo
que de uma forma precoce deve ser levado ao contato com os mesmos, o
manuseio, e o gosto por ouvir histórias. É um prazer e uma aquisição de novas
habilidades, que andam de forma conjunta. A literatura possibilita o desenvolvimento
da linguagem e a construção de novos conceitos, ao mesmo tempo em que as
histórias levam as crianças para um mundo de magia e de sonhos.
Pode-se dizer então, que a literatura oportuniza condições férteis para que se
desenvolva em seus princípios individuais, bem como, leva à criança a compreender
o mundo que a cerca de maneira prazerosa e também lúdica (BARROS, 2013).
Partindo deste pressuposto, destaca-se que a literatura infantil estabelece um
diálogo com o aluno, envolve-o em sua realidade é uma fonte de alimento para a
imaginação. Portanto, se apresenta como um veículo estimulador de linguagem e
valores, fonte de prazer, onde não importa se a linguagem é formal ou simbólica,
mas sim, o contato com este novo universo.
Lajolo (2008) contribui ao salientar que:

É a literatura como linguagem e como instituição, que se confiam a


diferentes imaginários, as diferentes sensibilidades, valores e
comportamentos através dos quais, uma sociedade expressa e discute,
simbolicamente seus impasses, seus desejos, suas utopias. Por isso, a
literatura é importante no currículo escolar: o cidadão, para exercer
plenamente sua cidadania, precisa apossar-se da linguagem literária,
alfabetizar-se nela, tornar-se seu usuário competente, mesmo que nunca vá
escrever um livro (LAJOLO, 2008, p.106).

Esta afirmação reforça a necessidade de o professor ter consciência da


importância de a leitura estar presente no cotidiano infantil, estimular o aluno ao
hábito das histórias para que ela cresça gostando de ler e gradativamente
desenvolva a autonomia para a leitura, interpretação e escrita.
Sendo assim, o professor deve seduzir a criança para o mundo dos livros,
como acrescenta Cavalcanti (2009):
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[...] esperamos que a entrada no mundo da leitura seja sempre realizada


num clima de muita entrega e busca pela transformação. Cada educador
tem nas mãos uma varinha de condão, e por mas difícil que seja sensibilizar
para a leitura, não podemos perder de vista o nosso propósito de não deixar
morrer a nossa tradição e cultura, portanto as histórias que falam do que
somos e podemos ser (CAVALCANTI, 2009, p.85).

Assim, o professor deve ser atento na escolha das histórias, despertar o gosto
do pequeno leitor, envolver a criança na magia que as histórias infantis
proporcionam. Deve aproveitar as histórias para além de despertar a curiosidade ir
trabalhando a linguagem, os personagens, os valores.

2.1 A LITERATURA DE CORDEL NA ESCOLA

A literatura de cordel é expressão da cultura popular a qual passa de uma


geração a outra por meio da oralidade, sendo comum em comunidades com pouco
letramento, resultado das condições socioeconômicas e do contexto histórico
(BRITO, 2019).
O cordel é representação da cultura e contempla ritmos afro-brasileiros,
mistura de rituais sagrados e profanos. De acordo com Galvão (2006, p. 28) “não há,
entre os estudiosos, um consenso quanto às origens desse tipo de literatura no país
e, particularmente, seu desenvolvimento no nordeste brasileiro”.
Percebe-se que mesmo com a difusão dos meios de comunicação o cordel
ainda tem lugar de destaque, como um meio de expressar opiniões, de protesto, de
contar a realidade, retratar problemas como desmatamento, violência, miséria,
desemprego, além dos que servem como forma de humor, de divertimento.
A partir do exposto Holanda (2011) ressalta que a literatura de cordel é
contributo para a aprendizagem e estudos ressaltam que desde a alfabetização até
as universidades ela pode ser explorada.
O cordel é alvo de estudos, pois os temas e personagens originam peças de
teatro, enredos, divulgando também esse nos meios de comunicação. Trabalhar
com a literatura de cordel é valorizar as origens culturais, é mostrar que há diversão
e reflexão além dos quadrinhos e dos jogos eletrônicos (HOLANDA, 2011).
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O cordel pode em algumas vezes remeter-se a fatos verídicos ou mesmo


também ser um texto de entretenimento,

Os temas mais abordados nos cordéis são as comédias, os romances, as


reportagens, histórias verídicas, histórias de trancoso, religiosidade,
situação social, cordéis educativos, entre outros. São temas que chamam a
atenção e despertam o interesse do leitor por fazerem parte do seu
cotidiano (SILVA, 2017, p.27).

Por meio do cordel percebe-se um senso de humor puro, uma forma simples
de expressão o que desperta interesse de diversos tipos de leitores. E, se como
professores se busca a formação crítica dos educandos o cordel deve se fazer
presente, uma vez que o aluno precisa conhecer diferentes textos, e, através destes
desenvolver o desejo pelo aprender, conhecendo a origem e as vivências das
pessoas. Geralmente, os textos de cordéis de forma provocativa geram
aprendizagens significativas (BRITO, 2019).
É importante saber que os textos de cordel possuem estrutura própria,
utilizam-se de versos e rimas, e tornam a leitura algo diferente, servindo de incentivo
e possibilidade de desenvolver o gosto por tal ato.
Ao trabalhar com o cordel em sala de aula é possível levar os educandos não
somente desenvolver a imaginação, mas também a criticidade, refletir sobre a
história, bem como leva-lo a entender as entre linhas da história.

Na sala de aula de aula é importante que o professor tenha sempre a


preocupação em não transformar o folheto em mero relato jornalístico. O
que interessa é perceber como o poeta se posiciona diante da história,
tendo sempre em vista o caráter ficcional desta produção. (PINHEIRO;
LÚCIO, 2001, p.69).

O cordel é importante ferramenta que auxilia o docente para o processo de


ensino-aprendizagem, visto que a construção do conhecimento se dá por meio da
criticidade, processo no qual o aluno é sujeito ativo e não apenas recebe o conteúdo
pronto.

Para o professor, mencionar a literatura de cordel, ou melhor, trabalhar a


poesia de cordel nos dias de hoje é um tanto ousado, uma vez que a
mesma foi esquecida nas escolas, então, citar mais precisamente o cordel
para os alunos é falar de algo desconhecido para a maioria. Sabemos que a
leitura em suas amplas diversidades tem importância em todos os sentidos,
mas é necessário buscar meios que mais aproximem o aluno da pratica de
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leitura, e nada melhor que procurar em nossas raízes culturais (SILVA,


2017, p.23).

O cordel como uma manifestação cultural possibilita não só o trabalho com a


literatura mas também com a diversidade, conforme assinala Abdalla (2020, p.28)
este “implica a diversidade cultural e a inclusão social”.
A importância do trabalho com a diversidade cultural em sala é destacado no
capítulo I, artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases 9394/96, o qual:

Art 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na


vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino
e pesquisa, nos movimentos sociais e organização da sociedade civil nas
manifestações culturais (BRASIL, 1996, s.p.).

É necessário que os educandos tenham conhecimento da diversidade cultural


existente, e fundamental na sociedade, desmistificando com isso a existência de
padrões culturais (SILVA, 2008).
Ao destacar o trabalho com a literatura de cordel é possibilitado entrar em
contato com a arte por meio das palavras, sobre isto Coelho (2000, p.10) “pode-se
dizer que a literatura é a mais importante das artes, pois sua métrica é a palavra (o
pensamento, as ideias, a imaginação) exatamente aquela que define a
especificidade do ser humano”.
O docente ao utilizar-se do cordel em sala de aula leva o aluno a aprender
através dos versos e rimas, é ferramenta com diversas possibilidades para a
construção de conhecimentos, indo “desde a espacialidade, a identidade de
pertença, o lugar de origem e sentimento de território e suas relações com o poder”
(ESTENDIO, 2019, p.34).
É importante aqui também citar o versa Morin (2001) quando citado por
Nascimento (2013):

Para o professor, mencionar a literatura de cordel, ou melhor, trabalhar a


poesia de cordel nos dias de hoje é um tanto ousado, uma vez que a
mesma foi esquecida nas escolas, então, citar mais precisamente o cordel
para os alunos é falar de algo desconhecido para a maioria. Sabemos que a
leitura em suas amplas diversidades tem importância em todos os sentidos,
mas é necessário buscar meios que mais aproximem o aluno da pratica de
leitura, e nada melhor que procurar em nossas raízes culturais (MORIN,
2001 apud NASCIMENTO, 2013, p. 66).
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A partir do exposto é importante destacar a necessidade do docente instigar


os educandos a refletirem e não apenas reproduzirem as informações contidas nos
livros didáticos. Desta forma é possível que o educando se torne protagonista no
processo de construção do conhecimento.
Novamente destaca-se o que cita Estendio (2019) quando evidencia:

Nesta perspectiva, podemos utilizar o cordel como um recurso


didático/pedagógico para a aprendizagem dos alunos, tendo como base
uma interação entre os conteúdos estudados [...]. Levando em conta as
relações sociais que se constroem no tempo e no espaço, fazendo com que
a identidade dos sujeitos sejam percebidas e valorizadas pelos mesmos
(ESTENDIO, 2019, p.67).

Ressalta-se que a versatilidade que permite o cordel possibilita trabalhar com


educandos de forma interdisciplinar e transversal, desenvolvendo a capacidade
leitora, o que torna esta ferramenta enriquecedora no processo de ensino-
aprendizagem.
O cordel permite trabalhar com diversos assunto de forma que simples e
dinâmica, pois:

Os folhetos de cordel constituem-se um recurso pedagógico de grande


relevância e interesse a ser levado para a sala de aula como material de
várias atividades, oferecendo um grande poder de compreensão por parte
de quem lê, pois, traz elementos que fazem parte do discurso cotidiano dos
alunos que impulsiona grandes discussões e gerencia a construção do
conhecimento em sala de aula, estendendo-se para além dos muros da
escola, revelando assim, um caráter educacional, social e político, pela sua
simplicidade enquanto folheto de baixo custo, como também pela sua
estruturação que chama atenção desde a capa até a rima e métrica, pois os
elementos que envolvem e encantam os alunos (SOUSA, 2017, p.33).

Pode-se acrescentar então, que o trabalho com a literatura de cordel vai muito
além que a própria literatura, mas sim um recurso didático que permite diversas
aprendizagens, valorizando a realidade dos educandos e desta forma facilita a
aquisição de novas aprendizagens e conhecimentos.
Este tipo de literatura proporciona um intercâmbio de diversidades, valoriza
identidades, proporciona diversas visões sobre o mundo, o que permite a construção
de conhecimento que passa de geração em geração. Santos (2013) ainda
acrescenta que as abordagens do cordel remetam ao conhecimento popular, o que
desenvolve nos educandos um sentimento de pertencimento, e desta forma torna o
aprendizado mais significativo.
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É correto destaca que “simbolicamente a literatura de cordel é autônoma,


expressa as diferenças e constrói identidades. É um instrumento com propósito de
enfatizar as diferenças do cotidiano, ou na área da educação, analisa as múltiplas
faces da sala de aula” (CARMO, 2010. p. 12).
Desta forma, quando trabalho em sala de aula, a literatura de cordel é forma
de dinamizar o fazer docente, permitir ao educando participar de forma ativa além de
refletir sobre a vida e os diferentes atores sociais. Construir conhecimentos por meio
da literatura de cordel é também, construir conhecimento com base em fontes
históricas.
A literatura de cordel contribui para a formação de um leitor mais crítico, pois
como acrescenta Lajolo (2008, p. 68) “o poder do texto literário de transportar para
lugares imaginários, de permitir vivências que o cotidiano nega, estimula, de
antemão, a imaginação da criança, criadora por excelência”.
É uma forma de comunicação entre as sociedade mais dinâmica e
diferenciada uma vez que aborda as concepções e formas de vida, onde pode se
explorar também a interdisciplinaridade. Além do que esta literatura suscita o poder
interpretativo, leva o educando e o professor a um movimento reflexivo.
Nesta perspectiva Silva e Arcanjo (2012) salientam que:

[...] o trabalho com a Literatura de Cordel, no contexto escolar, é


extremamente valioso, na medida em que leva para os bancos escolares
temas pertinentes que estão diretamente associados a formação dos
discentes e associados à coletividade (SILVA; ARCANJO, 2012, p. 02).

O cordel assume a postura de comunicação, onde o autor apresenta sua


visão de mundo a partir de suas vivências. Por isso, em sala de aula suscita debates
a respeito de diferentes temas, tais como: consciência ambiental, ética, questões
política e sociais e outros.
Todavia, isto também remete a importante tarefa docente, a fim de por meio
do cordel criar situações de debate, reflexão, aprendizagem, desenvolvendo nos
alunos também o gosto por este gênero literário. Como ressalta Tardif (2002):

Se assumimos o postulado de que os professores são atores competentes,


sujeitos ativos, deveremos admitir que a prática deles não é somente um
espaço de aplicação de saberes provenientes da teoria, mas um espaço de
produção de saberes específicos oriundos dessa mesma prática (TARDIF,
2002, p. 234).
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Assim, sendo percebe-se a importância do papel do educador nos últimos


tempos, a fim de estimular situações de aprendizagem para um aluno que deve ser
sujeito de seu conhecimento, tendo então, o cordel como meio de estimular por meio
da cultura e de situações reais, onde o fantasioso, a crítica, as vivências se
misturam e possibilitam que o aluno dê sua interpretação, tire suas conclusões a
desenvolva sua criticidade.

3 METODOLOGIA

Este estudo partiu de uma revisão bibliográfica, a qual embasou-se em livros


e artigos científicos sobre a utilização da literatura de cordel como ferramenta de
aprendizagens em sala de aula. Como fonte de pesquisa foram utilizadas bases de
Google acadêmico, Scielo, publicações e periódicos.
Gil (2019) sobre a pesquisa bibliográfica cita:

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado,


constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase
todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há
pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas.
Parte de estudos exploratórios podem ser definidos como pesquisas
bibliográficas, assim como certo número de pesquisas desenvolvidas a
partir da técnica de análise de conteúdo (GIL, 2019, p.50).

Também se acrescenta que este estudo apresenta caraterística de pesquisa


qualitativa, a qual, segundo Moreira (2011) é um termo utilizado para designar
diversas abordagens como pesquisa etnográfica, participativa observacional, estudo
de caso, fenomenologia construtiva, interpretativa, antropológica cognitiva.
Richardson (2009, p.83) enfatiza que “a pesquisa qualitativa tem como
ferramenta principal o próprio pesquisador, já que ele além de analisar a coleta de
informações, pode interpretar os conceitos e encontrar conclusões significativas”.
Os achados selecionados foram lidos, onde foram refutados aqueles que não
respondiam a problemática evidenciada. As publicações utilizadas foram lidas,
resumidas e posterior contribuíram para a construção do referencial teórico
apresentado.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que a literatura contribui para o conhecimento social, político,


cultural, intelectual, além de favorecer o desenvolvimento pleno do aluno. Por isso,
por meio do trabalho com a literatura o professor contribui para que o aluno
desenvolva a criticidade, seja um leitor proficiente.
Para isso, o professor deve ser sábio nas escolhas dos materiais ofertados
aos educandos, oferecendo subsídios que despertam seu interesse e desenvolvam
o gosto pelo ato de ler.
Sendo assim, a literatura de cordel surge como um meio para incentivar o
aluno a criar hábito e gosto pela leitura, bem como, ser forma privilegiada de levar o
educando a construir saberes, a conhecer diferentes culturas. Ponto a destacar é
que o ato de ler não deve ser mecanizada ou obrigado, é preciso incentivo para que
haja interesse pelo ler, visto ser necessidade para formação plena do aluno. A
escola então deve despertar os educandos o gosto e o hábito pelo ler.
Quando se remete a literatura de cordel é apostar que a forma poética pode
levar o aluno a aprendizagem, pois é uma manifestação da cultura nordestina mas
que aborda questões sociais, políticas, história de heróis, lutas, romances, além de
explorar as diferentes linguagens, sendo elas a musical, a oral, verbal, escrita,
havendo uma rica variedade linguística, o que permite afirmar que os cordéis
relatam uma diversidade de conteúdos, possibilitando assim uma leitura crítica da
realidade.
Desta forma, a pesquisa respondeu a problemática e atingiu aos objetivos no
momento em que comprovou que a literatura de cordel muito contribui para o
processo educativo podendo ser utilizada como estratégia pedagógica para formar o
educando plenamente.
A literatura de cordel contribui para a formação de um leitor crítico que se
interessa por cultura e realidade. Conclui-se então que ela deve ser explorada pelos
docentes nas práticas cotidianas, pois é rica, diverte, ensina e motiva. Também
destaca-se a necessidade de mais trabalhos e pesquisas serem realizados sobre a
literatura de cordel a fim de que mais docentes consigam perceber a riqueza deste
gênero e passem a utilizá-la em seu planejamento.
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REFERÊNCIAS

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