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A Imaginação Sociológica de Wright Mills - Capítulo 1: “A Promessa”

O autor inicia o capítulo destacando que atualmente, tudo aquilo de que os homens têm
consciência e tudo o que tentam fazer está nos limites de sua vida privada; para além desses
limites, estes são meros expectadores e sentem-se encurralados. Subjacente a essa
sensação estão as mudanças na estrutura da sociedade, que afetam a vida dos indivíduos,
os quais raramente têm consciência da complexa ligação entre suas vidas e o curso da
história.
“Quando uma sociedade se industrializa, o camponês se transforma em trabalhador, ou
passa a ser homem de negócios. Quando as classes ascendem ou caem, o homem tem
emprego ou fica desempregado. (...)” (p. 9).
Diante dessa situação, os indivíduos precisam da imaginação sociológica, designada por
Mills como uma qualidade de espírito que os ajuda a utilizar a informação e a desenvolver a
razão, com o intuito de perceber o que ocorre no mundo e dentro deles mesmos. Aquele
que possui a imaginação sociológica consegue compreender o cenário da história de
maneira mais ampla, e adquire consciência de sua real posição social, podendo assim avaliar
seu próprio destino. À medida que vive, o indivíduo contribui para a sociedade e o curso de
sua história, assim como também é condicionado por eles. Essa imaginação é a capacidade
de relacionar as transformações impessoais e remotas com as características mais íntimas
do ser humano.
Uma das mais importantes distinções feitas através da imaginação sociológica é entre “as
perturbações pessoais originadas no meio mais próximo” e “as questões públicas da
estrutura social”. As perturbações estão limitadas à vida privada do indivíduo, das quais ele
tem consciência direta e pessoal, portanto, suas resoluções estão ao seu alcance imediato.
Já as questões públicas estão relacionadas com assuntos que estão além da esfera pessoal
do indivíduo, são valores estimados pelo público que estão ameaçados, envolve quase
sempre uma crise na organização das instituições de uma sociedade.
Segundo Mills, aquilo que experimentamos em vários e específicos ambientes de pequena
escala, é com frequência causado pelas modificações estruturais, e o número e variedade
dessas modificações aumentam à medida que as instituições dentro das quais vivemos se
tornam ais gerais e mais complexadamente ligadas entre si.
Ao indagar quais as principais questões públicas para a coletividade e as preocupações dos
indivíduos em nossa época, Mills responde que devemos indagar quais os valores aceitos e
que estão ameaçados e quais os valores aceitos e mantidos pelas tendências características
do nosso período, e que tanto no caso da ameaça como do apoio, devemos levar em conta
as contradições de estrutura mais destacadas existentes na situação. O autor destaca que a
indiferença e a inquietação são características marcantes do período em que vive; os
indivíduos que não tem consciência de valores aceitos e nem de qualquer ameaça,
experimentam a indiferença, aqueles que não têm consciência, mais ainda sentem uma
ameaça, experimentam a inquietação.
“Hoje, a principal tarefa intelectual e política do cientista social – pois as duas aqui
coincidem -é deixar claro os elementos da inquietação e da indiferença contemporâneas.”
(p. 20).
No quarto tópico, Mills fala a respeito dos estilos de reflexão que se tornam denominadores
da vida cultural em determinada época, e que muitas tornam-se “modas” e passam a ser
aceitas amplamente até serem substituídas por outra. Para ele, a imaginação sociológica
estava se tornando o principal denominador da vida cultural de sua época, mas ressalta que
não deve ser considerada apenas como uma moda, é a qualidade que nos ajuda a entender
o papel das sensibilidades culturais e da razão nas questões humanas, qualidade a qual se
torna extremamente necessária à medida que essas questões se tornam mais problemáticas
e estamos cada vez mais expostos a catástrofes sociais.
Enquanto isso, o significado cultural da ciência física, torna-se duvidoso e considerada
inadequada, visto que muitas vezes provocam mais problemas morais e intelectuais, e não
os resolvem, e nessas situações, a ciência encontra-se desorientada. Na ausência de uma
ciência social para formular problemas privados e questões públicas, críticos, dramaturgos,
romancistas e poetas foram os responsáveis por fazer isso; apesar de expressar tais
sentimentos e conflitos, não eram capazes de solucioná-los, pois necessitavam da ajuda
intelectual e cultural conferida pela imaginação sociológica.
Posteriormente, o autor procura definir o sentido das Ciências Sociais, assim como
especificar os tipos de esforços que estão por trás do desenvolvimento da imaginação
sociológica e suas respectivas implicações para a vida cultural e política. Atualmente, os
cientistas sociais estão diante de uma apreensão tanto intelectual quanto moral sobre a
direção de seus estudos, que segundo o autor pode ser causado em parte por um mal-estar
geral contemporâneo da vida intelectual. Destaca a preocupação com as estruturas sociais
históricas a característica essencial da análise clássica dessa ciência, e sua importância para
as questões públicas insistentes, e que apesar dos obstáculos no caminho dessa análise,
está se tornando um denominador comum da vida cultural geral da sociedade.
No último tópico do capítulo, Mills fala sobre como a Sociologia tornou-se, nos Estados
Unidos, o centro de reflexão sobre a ciência social, e a consequente variedade de trabalhos
intelectuais que contribuíram para o desenvolvimento da tradição sociológica. A palavra
“tradição” é empregada pelo autor, pois ele explica que o trabalho sociológico vem
tendendo a movimentar-se em determinadas direções gerais, sujeitas a deformação. A
primeira tendência movimenta-se no sentido de uma teoria da história; a segunda no
sentido de uma teoria sistemática “da natureza do homem e da sociedade” e, a terceira, no
sentido de estudos empíricos dos fatos e problemas sociais contemporâneos.
“As peculiaridades da Sociologia podem ser compreendidas como deformações de uma ou
mais de suas tendências tradicionais. Mas suas promessas também podem ser
compreendidas em termos dessas tendências.” (p. 31).

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