Você está na página 1de 3

ICESP – Centro Universitário

Coordenação de Direito
Disciplina: Ética Humanidades e Sociedade

Aula 5 – Imaginaçã o Socioló gica – Capítulo 1 – A Promessa – Wright Mills

Wright Mills é um autor que escreve nos anos de 1950/1960, a sua proposta neste capítulo é
apresentar aquilo que denomina como a Imaginação Sociológica que é uma forma de se
colocar diante dos fenômenos sociais que nos afetam enquanto indivíduos.

BOX ILUSTRATIVO

Trecho do Livro On the Road de Jack Kerouak

"A mais incrível carona da minha vida estava prestes a aparecer: um caminhão, com uma plataforma de madeira na
traseira com seis ou sete caras jogados em cima. Os motoristas, dois garotos agricultores loiros de Minnesota, estavam
recolhendo toda e qualquer alma solitária que encontrassem estrada afora - eles formavam a mais simpática,
sorridente e jovial dupla caipira que se pode imaginar, os dois vestindo um macacão, uma camiseta e nada mais,
ambos ágeis e com punhos grossos e um amplo sorriso de 'Cuméquitá?' resplandecendo pra tudo e pra todos que
cruzassem o caminho deles. Eu corri, perguntei: 'Tem lugar para mais um?'. Eles disseram: 'Claro, sobe, tem lugar pra
todo mundo'."

Um aspecto que o autor ressalta logo de início é que frequentemente as pessoas percebem
que as limitações e obstáculos da sua vida privada estão para além de sua capacidade de
superação (isso pode parecer óbvio em princípio, mas não o é, pois a escolha simplória de um
curso universitário pode estar submetida a um contexto muito maior).

 Além disso, os processos de mudanças também têm caráter impessoal. Raramente as


pessoas de imediato associam a dinâmica da sua vida pessoal aos movimentos
históricos e sociológicos aos quais estão inseridos.
Mesmo escrevendo nas décadas de 1950/1960 Wright Mills percebe que o processo histórico
ultrapassa a capacidade que os homens têm para se orientarem de acordo com seus valores;
ou seja, a diminui a capacidade dos indivíduos de compreender o sentido da vida.

Em grande medida os indivíduos no mundo de hoje necessitam algo para além da informação;
os indivíduos necessitam uma qualidade do espírito que lhes ajude a usar a informação e a
desenvolver a razão a fim de perceber o mundo com lucidez  É isso que o autor irá
denominar de IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA.

A imaginação sociológica capacita seu possuidor a compreender o cenário histórico mais


amplo, em termos do seu significado para a própria vida e para o curso da vida de numerosos
outros indivíduos.

A imaginação sociológica fornece a primeira lição das ciências sociais que nos diz que o
indivíduo só pode compreender a sua própria experiência e avaliar seu próprio destino
localizando-se dentro de seu próprio período.

A imaginação sociológica nos permite compreender a relação entre as vidas privadas e as


dinâmicas históricas e sociais. Todos os intelectuais das ciências sociais procederam deste
modo e contribuíram sobremaneira para a compreensão dos fenômenos sociais.

Os intelectuais preocupados com os processos sociais entabularam uma série de questões que
são fundamentais para o seu trabalho.

1- Qual a estrutura da sociedade como um todo? Quais são seus componentes


essenciais? Como se relacionam esses componentes? Como diferem de outras
sociedades?
2- Qual a posição dessa sociedade no plano histórico? Quais são as dinâmicas que a
fazem mudar? Qual é seu lugar no desenvolvimento da humanidade como um todo?
Como algumas características afetam o seu desenvolvimento?
3- Que variedade de homens predominam nessa sociedade? Que variedades irão
predominar? Que tipos de “natureza humana” podemos encontrar?

São essas perguntas que os melhores analistas sociais formularam e que permitem o avanço
das ciências sociais. Isso permite perceber as relações entre as transformações mais
impessoais e a relação com o mais íntimo dos indivíduos.

A distinção mais proveitosa que a IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA produz é a distinção entre as


perturbações pessoais originadas no meio mais próximo e as questões públicas da estrutura
social.

As perturbações ocorrem dentro do caráter indivíduo, de suas relações imediatas com os


outros, estão relacionadas com seu eu e com áreas limitadas da vida social.

As questões estão relacionadas com assuntos que transcendem esses ambientes locais do
indivíduo e o alcance de sua vida íntima. Relacionam-se com a organização de muitos desses
ambientes sob forma de instituições de uma sociedade histórica. Uma questão é um assunto
público; é um valor estimado pelo público que está ameaçado.
EXEMPLO: desemprego

Ter consciência da ideia da estrutura social e utiliza-la com sensibilidade é ser capaz de
identificar as ligações entre uma grande variedade de ambientes em pequena escala.

Desse modo, a postura daquele que se preocupa com os fenômenos sociais passa pela
questão: Quais as principais questões públicas para a coletividade e as preocupações chave
dos indivíduos em nossa época?

A principal função do cientista social é desnudar os elementos de inquietação e da indiferença


contemporânea.

O argumento do autor sugere que a imaginação sociológica seja uma postura


acadêmico/científica que possibilite aos sujeitos uma percepção crítica da realidade enquanto
indivíduos isolados e, ao mesmo tempo, membros do corpo social.

Nesse sentido existe uma crítica profunda a forma pelas quais os métodos científicos são
usados;

 Mills afirma que a postura da imaginação sociológica que é passível de observação em


cientistas sociais, em literatos e historiadores é um poderoso instrumento para a
percepção crítica do mundo.
 A promessa das ciências sociais de compreender e dar respostas as dinâmicas as quais
os indivíduos isolados ou em grupo estão submetidos estão sob crítica diante da
especialização e compartimentalização de suas áreas. A atração excessiva por métodos
e técnicas de pesquisa tem eclipsado o objetivo mais nobre das ciências sociais.

Você também pode gostar