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maneira bastante diferente. Nada de separações físicas de outros ho-
mens, nada de observâncias de códigos e de prescrições. Para ser san-
tos é suficiente levar uma vida diferente, uma vida que se concretize
nas seguintes prescrições: não odiar o irmão, renunciar ao rancor e à
vingança, “amar o próximo como a si mesmos” (vv. 17-18).
Esta última cláusula é o ponto mais alto a que chegou a moral do
Antigo Testamento. Todavia existe um limite: o amor que se exige não
é universal, é restrito aos membros do povo de Israel. Jesus é quem
levará esse amor até as últimas consequências. Ele mostrará que o “ir-
mão” que deve ser amado é não somente aquele que pertence à própria
etnia, mas são todos os homens, também o estranho, o pagão, o inimigo.
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1. Uma nova maneira de praticar a nova justiça.
“Ouvistes o que foi dito aos antigos: olho por olho, dente por den-
te” (v. 38). Com esta citação do Antigo Testamento (Êx 21,23-25) Jesus
introduz o quinto exemplo da sua nova interpretação da lei.
“Olho por olho, dente por dente”: uma fórmula que se tornou
proverbial. Quando alguém pratica contra nós uma grosseria, e nós
lhe pagamos com a mesma moeda, para justificar-nos, dizemos:
“olho por olho, dente por dente”! A expressão já assumiu um senti-
do de: falta de compaixão, recusa a usar de clemência em relação
ao culpado.
Este, porém, não era o seu sentido original.
Façamos uma consideração prévia: esta norma nunca foi apli-
cada de forma literal; nunca foram arrancados os olhos de ninguém,
ou tirados os dentes, como castigo.
Esta lei tinha sido imposta para defender o réu das vinganças
sem limites, das represálias brutais, dos excessos nas punições.
Nos tempos antigos, quem conseguisse capturar o responsável
por alguma maldade cometida, submetia-o a punições tão severas e
tão cruéis não só a ponto de dissuadi-lo, como também dissuadir os
demais de cometer erros semelhantes.
Quem fosse pego em flagrante tinha que pagar não só pelo seu
crime, como também por todos os outros crimes cujos responsá-
veis não tinham sido descobertos. A vingança era um método anti-
quado e desumano de praticar a justiça, mas servia para manter um
pouco de ordem naquela sociedade.
Neste contexto social é introduzida a nova norma, mais justa e
mais sábia: “Olho por olho...” quer dizer: não é justo castigar uma
pessoa também pelas culpas dos outros. Quem roubou um saco de
trigo deve ser castigado por aquele saco de trigo, não por todos os
furtos que aconteceram no povoado. Não se pode cortar uma orelha
de quem roubou uma galinha, porque, nesse caso, não haveria pro-
porção alguma entre o mal cometido e o castigo. Os chamados “cas-
tigos exemplares” e as represálias são uma forma de vingança. São
proibidos já no Antigo Testamento.
A esta altura cabe fazer esta pergunta: E os homens de hoje já
conseguiram praticar esta forma elementar de justiça? Não estarão
por acaso, ainda, no nível da vingança, da qual se vangloriava Lamec,
o filho de Caim, que dizia: “eu mato um homem por um arranhão,
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eu mato uma criança que me pisa no pé. Caim se vingava sete ve-
zes, Lamec setenta vezes sete” (Gên 4,23-24).
Interpretada no seu verdadeiro sentido, portanto, a norma “olho
por olho...” é muito boa, e Jesus não afirma que ela é inválida (to-
mara que fosse praticada!). Ele, porém, quer que se avance além
desta justiça rigorosa e enfrenta o problema da violência de uma
forma totalmente diferente (vv. 38-42).
Os rabinos do seu tempo ensinavam: “Deixa-te matar, mas não
mates”, mas acrescentavam logo: se, porém, alguém te agride e quer
tirar-te a vida, tu não deves refletir, não digas a ti mesmo: “talvez me
torne culpado pelo seu sar gue”; mata-o antes que ele te mate!
Esta interpretação dos rabinos não provocava objeções, mas
eis a surpresa, Jesus não a aceita e diz aos seus discípulos: “Vós
não deveis resistir ao malvado”! Em vez de praticar a violência
contra o irmão, vós deveis estar dispostos a sofrer a injustiça (Mt
5,39). Estamos diante de palavras que não deixam absolutamente
nenhuma dúvida; mas, para evitar dúvidas, ele apresenta quatro
exemplos, tomados da vida cotidiana do seu povo.
O primeiro se refere à violência física: “Se alguém te bate na face
direita...” (v. 41). Quando se dá um tapa em alguém, em que lado se
bate? No esquerdo. Por que Jesus fala do direito? Porque a violência é
maior: trata-se da mão virada, uma ofensa muito grave, punida em Is-
rael com um castigo correspondente a um mês ou mais de um mês de
salário. Ao seu discípulo Jesus não recomenda ser melhor ou mais sua-
ve nas exigências de reparação. Exige dele uma postura radicalmente
nova: “oferece-lhe também o outro lado da face”.
O segundo exemplo se refere à injustiça econômica. O que fazer
“se alguém te leva ao tribunal para roubar-te a túnica”? (v. 40).
Nada mais do que manifestar-lhe uma generosidade total e sem
condições: “deixa-o também levar o manto”, — ensina Jesus.
O terceiro exemplo é o abuso do poder. Naquele tempo acon-
tecia com fregiiência que os soldados romanos ou algum patrãozinho
do lugar contratassem agricultores pobres e os obrigassem a servir
como guias ou carregadores. Os zelosos ou os revolucionários polí-
ticos fomentavam a rebelião e o recurso à violência para proteger-
se de tais injustiças. Outros recomendavam a prudência: “Se um
soldado quer requisitar o teu burro, não ofereças resistência e não
te queixes, de outra forma ainda levarás uma sova e depois terás
que deixá-lo ir da mesma forma”.
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Jesus não entra nesse tipo de argumentação, não apela para a
prudência: aos seus discípulos diz, com toda a simplicidade: “Se
alguém te obriga a percorrer uma milha, percorre duas” (v. 41).
O quarto caso é o daquele indivíduo inconveniente que te pro-
cura para pedir um dinheiro emprestado, e até, às vezes, sem o menor
senso de discrição. Jesus diz ao seu seguidor: “dá a quem te pede e
não vires as costas a quem te procura” (v. 42). Não finjas não en-
tender, não procures desculpas, não inventes problemas que não
existem, não procures descarregar sobre os outros o problema.
Pela lógica dos homens, as propostas de Jesus são autêntica loucu-
ra. Alguém até já bolou o chiste: “Bonzinho sim, mas não bobo!”
Com certeza, as palavras de Jesus não devem ser tomadas ao pé da
letra (isto seria de fato cretinice). Ele também, quando levou um bofe-
tão, não ofereceu a outra face, mas protestou (Jo 18,23). O que ele
exige dos seus seguidores é a disposição interior para aceitar a injusti-
ça, para aceitar a humilhação, para não prejudicar o irmão.
Os seguidores de Cristo vivem a convicção de que a única
maneira eficaz para interromper o ciclo demoníaco: ofensa-violên-
cia, é o perdão. Se à violência se contrapõe outra violência, não só
não se elimina a primeira injustiça, mas acrescenta-se outra.
Este círculo diabólico somente pode ser quebrado com um gesto
original, completamente novo: o perdão. Tudo o mais é ultrapassa-
do, é algo que já se viu, repetido sem parar desde os primórdios da
humanidade.
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celeste que faz surgir o sol sobre os maus e sobre os bons e envia a
chuva sobre os justos e também sobre os injustos” (vv. 44-45).
Todas as barreiras são derrubadas com estas palavras. Exem-
plo deste amor universal é o Pai. Ele não faz distinção entre os
homens, porque todos são seus filhos.
As palavras de Jesus excluem, da forma mais absoluta, qual-
quer recurso à violência. A pergunta: “Pode um cristão, ao menos
em alguns casos especiais, recorrer à violência?” não tem qualquer
sentido. Seria como pedir para um muçulmano: “Pode-se, pelo
menos quando a fome é muito aguda, comer carne de porco?”
o N
Tema do Domingo
“SEDE COMO VOSSO PAP
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