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Nosso texto está inserido entre os muitos que apresentam diálogos e discursos de Jesus

durante refeições. No Evangelho segundo Lucas, é a sexta vez que essa situação é
retratada (5.29; 7.36; 9.16; 10.39; 11.37). O texto também está sob o pano de fundo das
discussões sobre o sábado.
Jesus é convidado para um jantar no sábado, provavelmente após o culto na sinagoga, na
casa de uma importante autoridade religiosa. MAS, Esse convite não era exatamente uma
cortesia a Jesus, mas uma oportunidade criada pelos fariseus para observar Jesus e
encontrar motivos para criticá-lo ou apanhá-lo no erro [Volta lá no versículo 1] (v. 1).
Na lição anterior a gente viu que, logo ao entrar no recinto do jantar, Jesus viu um homem
doente, um hidrópico, alguém que sofre inchaço no corpo por causa do excesso de líquido
nos tecidos. A presença desse homem motiva Jesus a iniciar um diálogo com aqueles
religiosos, mais uma vez sobre a legitimidade de curar em dia de sábado.
A partir daqui, é Jesus quem passa a observar. O jogo vira.
E é onde começa a nossa lição de hj propriamente dita. Ele nota a disputa entre os
convidados para acomodar-se à mesa o mais próximo possível do anfitrião.
É preciso entender que um antigo costume... primeiros lugares ocupados segundo a
dignidade e o prestígio.
Cada um escolhia para si o lugar que julgava poder ocupar pela sua importância. E todos
almejavam os primeiros lugares, aqueles na cabeceira da mesa, onde se encontrava o dono
da casa. Mesmo sendo doutores da lei, conhecedores do provérbio que os advertia: Leia ai:
prov. 25.6-7 “Não te glories na presença do rei, nem te ponhas no meio dos grandes; porque
melhor é que te digam: ‘Sobe para aqui!’ do que seres humilhado diante do príncipe”
Também uma antiga tradição dos escribas dizia: “Mantém-te distante, dois ou três
assentos, do lugar que te convém, e espera até que te seja dito: ‘Sobe mais! Sobe mais!’ em
vez de que seja dito: ‘Desce mais! Desce mais!’”. E apesar disso, os convidados brigam
pelos lugares de honra.
Jesus observa a cena e com a sua sabedoria peculiar, propõe uma parábola para seus
discípulos (v. 7-11). Inspirada pelas duas tradições mencionadas acima, a parábola sugere
que
ocupe o último lugar, pois o anfitrião poderá, então, dignificar o convidado, dando-lhe o
primeiro assento.
Aqui Jesus não apenas repreende o orgulho, mas oferece uma lição sobre o reino de Deus,
como é característico de todas as suas parábolas: Deus honra aqueles que reconhecem
sua própria inferioridade e indignidade e que confiam unicamente na misericórdia
dele.
E aqui está o centro do nosso texto. Ninguém pode prevalecer-se perante Deus,
buscando conquistar os melhores lugares à sua mesa, porque é ele quem convida e é
ele quem determina os lugares a serem ocupados.
Com isso Deus anula qualquer tentativa de conquistar, por méritos próprios, a sua
graça e salvação. Mais: o ensino dessa parábola aponta para o ministério do próprio Jesus.
Pois ele ofereceu-se completamente na cruz em favor da humanidade numa atitude de
total abnegação, sendo, mais tarde, exaltado por Deus. É por isso que “todo o que se
exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado” (v. 11).
Nos últimos três versículos ele se dirige ao anfitrião. Agora, porém, Jesus não fala mais
por parábola, mas faz uma proposta explícita. A proposta consiste em, ao dar uma festa,
não convidar aqueles que podem retribuir o convite, oferecendo um outro banquete ou
então aumento do prestígio e influência do dono da casa. Deve-se convidar, conforme
Jesus, aqueles que não poderão recompensar o convite, aqueles que a sociedade despreza,
aqueles cuja companhia nem é tão agradável, aqueles que são diferentes de nós e com os
quais, muitas vezes, nem concordamos. Esse pensamento está em conexão com as
orientações de Jesus sobre o amor ao próximo no Sermão do Monte, quando apela
para o amor aos inimigos, pois “até os pecadores amam aos que os amam” (Lc 6.32). É
preciso fazer o bem e emprestar sem nenhuma paga (Lc 6.35). É essa atitude que,
segundo Jesus, agrada a Deus e que resultará em recompensa (de Deus) na “ressurreição
dos justos”.
3. Meditação
Temos diante de nós um daqueles textos bíblicos que questionam profundamente a
cultura e a prática de nosso mundo, propondo uma inversão de valores.
As relações em nosso mundo são marcadas pelo “toma lá, dá cá” ou pelo “fazer por
merecer”...
Talvez não haja outra maneira de organizar as coisas entre nós. Mas o problema está
em aplicar a mesma fórmula do “fazer por merecer” na relação com Deus. E a prática
pastoral revela: certamente esse é um dos temas mais difíceis de trabalhar na
comunidade.
É preciso, pois, dizer novamente: a salvação é prerrogativa de Deus. Ele escolhe quem
ocupará os lugares no banquete celestial, e essa escolha não tem nada a ver com os nossos
méritos. É consequência do mérito de Cristo, conquistado com sua morte e
ressurreição. A consequência prática disso serão membros que servem por gratidão àquilo
que Jesus fez, sem querer com seu serviço conquistar algo de Deus e sem querer disputar
com os irmãos um lugar de maior honra.
O orgulho é um veneno para a unidade da igreja e um forte obstáculo à missão.

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