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A Graça Irresistível

Texto: Atos 9.1-9

As pessoas reagem de diferentes formas ao ouvir o Evangelho. Enquanto


alguns, ao ouvirem a Palavra, afirmam: “É disto que eu preciso!”, outros
dizem “Isto para mim não importa!”. Duas crianças são criadas em um lar
onde as Escrituras são valorizadas, mas uma ama ao Senhor, enquanto
outra está completamente indiferente a Ele.

Como isto é possível? Por qual motivo alguns acreditam na Palavra, se


apegam à Palavra e amam a Palavra, enquanto para outros ela não tem
nenhuma importância? A Bíblia nos ensina que há um princípio que
norteia o relacionamento entre Deus e o homem desde sempre. Tudo o
que Deus faz em relação a nós, acontece por sua graça. O oposto da graça
é o mérito, o merecimento. Mas o favor de Deus para conosco em toda a
história é baseado em sua graça. Desde o Éden, pois nossos pais
desobedeceram ao Senhor e receberam o juízo em forma de trabalho
cansativo e dores. Contudo, além de o Senhor lhes providenciar vestes
para que cobrisse a sua nudez, Ele também lhes dispensa a sua graça, ao
expulsá-los do jardim, impedindo que o fruto da árvore da vida fosse
experimentado e eles vivessem eternamente no pecado.

No contexto da Reforma Protestante, há 501 anos, um dos lemas


proclamados por Lutero foi a salvação somente pela graça, através da fé.
O reformador se portou ousadamente contra os princípios religiosos de
seu tempo, pelos quais as pessoas eram instruídas a pagar determinadas
quantias ou a fazer determinados sacrifícios, pois assim receberiam do
Senhor a aprovação e poderiam até mesmo libertar seus familiares da
condenação eterna. Lendo as Escrituras, Lutero pôde perceber que “o
justo viverá pela fé”. O ensino da Bíblia é claro é enfático: “pela graça sois
salvos, por meio da fé, não por obras”. O modo como está graça salvífica
se revela nas Escrituras é o que chamamos de Graça Irresistível.

I. O que é a Doutrina da Graça Irresistível


“A doutrina da graça irresistível não significa que toda influência do
Espírito Santo não pode ser resistida. Significa que o Espírito Santo pode
sobrepujar toda resistência e tornar sua influência irresistível” (John
Piper).

Portanto, esta doutrina não significa que o homem jamais tenta resistir a
Deus, perante a oferta de Sua graça. Na verdade, se observarmos até
mesmo a nossa própria conversão, todos nós resistimos e lutamos contra
o Senhor. O ensino bíblico é que nossa resistência à graça não será final;
em algum tempo, o Senhor se encontra com o eleito, mostrando-lhe o seu
favor. Assim, ele se curva completamente ao senhorio de Cristo e se
submete voluntariamente ao seu Salvador.

Nenhum pecador é arrastado contra a sua vontade até o Senhor Jesus. Há


um milagre que acontece em seu coração no momento em que a vocação
divina se torna eficaz em seu coração. Afinal, há dois tipos de chamado
descritos na Palavra: o chamado geral e o chamado eficaz. O chamado
geral deve ser realizado pela igreja, em sua missão de proclamar o
Evangelho: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”.
A este chamado, os homens tem condições resistir e, de fato, tem
resistido, desde os tempos da pregação apostólica. Contudo, há também o
chamado eficaz, que acontece quando a Palavra encontra o coração do
eleito e o leva a crer. Acontece então o milagre da regeneração e assim
nos submetemos ao Senhor. Recebemos o dom da fé e cremos em Jesus.
O chamado eficaz se faz necessário diante de nossa resistência natural a
Deus, pois nós não somos bons por natureza. Somos irremediavelmente
depravados, distantes de Deus e inimigos de Deus.
Somente a graça do Senhor pode nos resgatar de nosso pecado e assim
podemos cantar: “Inteiramente me submeti, plena alegria nEle senti.
Anjos descendo, trazem dos céus, provas da graça que vem de Deus”.

II. Breve Sermão Expositivo (Atos 9.1-9)

Vejamos como a graça de Deus atua na vida de um pecador.


• A conversão de Paulo foi a mais importante da história. Talvez
nenhum fato seja mais marcante na história da igreja depois do
Pentecostes. Nenhum homem exerceu tanta influência no cristianismo.
Lucas ficou tão impressionado com a importância da conversão de Paulo,
que a relata três vezes em Atos (9, 22, 26).

• Paulo tinha um berço religioso de gloriosa e exaltada tradição;


• Nasceu em Tarso, capital da Cilicia e importante centro cultural do
Império, uma pequena Atenas para a aprendizagem. Lá Paulo se
familiarizou com a filosofia e a poesia dos gregos.
• Por direito de nascimento, Paulo era cidadão romano;
• Foi educado aos pés do mestre Gamaliel em Jerusalém, onde
recebeu a mais refinada educação cultural e religiosa (22.3). Era adepto da
ala mais radical do judaísmo, a seita dos fariseus (22.3).

• Apesar de sua grande erudição (26.24), Paulo estava


espiritualmente cego (2Co 3.12-18) e não compreendia o que o Antigo
Testamento ensinava de fato sobre o Messias. Ele dependia da própria
justificação, não da justificação de Deus (Rm 9.30— 10.13; Fp 3.1-10).
• Paulo foi a maior expressão do judaísmo antes da sua conversão e
tornou-se a maior expressão da igreja cristã após a sua conversão.

1. Paulo, um homem contra Deus, v. 1,2


Um homem furioso, sanguinário, que desejava a morte dos discípulos do
Senhor. Um homem que participou da morte de Estevão (At 8.1). Ele
pensava que estava fazendo um serviço a Deus, ao perseguir os crentes.
A conversão de Paulo é uma evidência clara da graça soberana de Cristo.
Ele não se decidiu por Cristo; estava perseguindo a Cristo. Foi Cristo quem
se decidiu por ele.

2. Paulo, um homem contra os cristãos, v.1,2


Em sua sede de sangue e nos exagerado zelo religioso, Paulo buscou
perseguir e castigar aqueles que eram do Caminho. Quando Paulo é posto
diante do rei Agripa, ele confessa: “muitas vezes, os castiguei por todas as
sinagogas, obrigando-os até a blasfemar” (At 26.10). Paulo era especialista
no terror ideológico e psicológico. Paulo era um missionário do medo.
3. Paulo, um homem alcançado pela graça, v. 3-6
Mas o ponto de mudança na vida de Paulo é o seu encontro com o
Senhor. Paulo não estava buscando a Cristo. Paulo não estava sendo gentil
com os cristãos. Mas foi alcançado pela graça! O próprio Senhor o
abordou e lançou em rosto a sua resistência. Como um cão de caça do
céu, o Senhor buscou Paulo e encontrou Paulo.

4. Paulo, um homem impotente diante da graça, v. 7-9


Curvado, de joelhos, Paulo encontrou-se com aquele a quem estava
perseguindo. Um retrato perfeito da graça do Senhor. O feroz perseguidor
foi domado pelo Soberano Rei da história. A ideia de resistir contra os
aguilhões é a de um touro jovem e forte, que tenta resistir a vontade de
seu dono, mas que infalivelmente será domado. O Senhor quebrou todas
as suas resistências e ele humildemente e voluntariamente se submeteu
ao senhorio de Cristo.

5. Paulo, um homem transformado pela graça, v. 15,16


De perseguidor, ele se transforma em um escolhido. De instrumento do
medo, ele foi transformado pelo Senhor como um vaso para pregação da
Palavra. O missionário do medo se converte em arauto do ministério da
reconciliação.

Irmãos, vejamos que a bendita graça de Cristo é quem transforma a vida


do pecador. Não são os méritos, ou sua inteligência, ou suas benfeitorias.
A salvação vem do Senhor! Ele soberanamente dispensa Sua graça e nos
reconcilia consigo mesmo.
“O teólogo R. C. Sproul certa vez debateu com um homem que dizia que a
salvação é como a experiência de um homem que estava se afogando e
para quem Cristo lança uma corda. O que o homem tem de fazer é
agarrar-se à corda. A parte de Deus é providenciar a corda. A parte do
homem é agarrá-la e segurá-la. Sproul retrucou que a salvação não se
compara a um homem que está se afogando, mas a um homem que já
está afogado, e está inconsciente no fundo do lago. A parte de Cristo é de
mergulhar, retirar o homem e trazê-lo até a margem, fazer respiração
boca a boca, e trazer o homem de volta à vida. Qual é a parte do homem?
Apenas voltar a viver. E isso não é parte coisa nenhuma. Você diria que tal
pessoa contribuiu para o seu próprio resgate? É claro que não. O mesmo é
verdadeiro para salvação. É Cristo sozinho quem nos salva”.

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