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AS CINCO SOLAS

TEXTO BÍBLICO: Gálatas 1.1-12

INTRODUÇÃO

Martinho Lutero era um monge agostiniano, de origem pequeno-burguesa, da região da


Alemanha. Seu rompimento com a igreja católica deu-se por causa da venda de
indulgências (perdão, ou concessão de perdão em troca de dinheiro, o que implica na
remissão da pena devida pelo pecado).

Para concluir a construção da Basílica de São Pedro, o papa Leão X (1513-1521),


determinou a venda de indulgências para toda a cristandade e encarregou o frade
dominicano Johann Tetzel de comerciá-las na Alemanha.

Lutero protestou frontalmente contra esse comércio e, em 31 de outubro de 1517, afixou na


porta da igreja de Wittenberg, onde era mestre e pregador, 95 proposições onde, entre
outras coisas, condenava a prática vergonhosa da venda de indulgências.

1. SOLA FIDE (Somente a Fé):


Sola Fide é o ensinamento de que a justificação, declarada apenas por Cristo, é recebida
somente pela fé, sem qualquer interferência ou necessidade de boas obras, ainda que
creiamos que a fé salvadora é sempre evidenciada, mas não determinada, pelas boas obras.
Em síntese, a "fé produz justificação e boas obras", em contraste com a fórmula católica
apostólica romana "fé e boas obras rendem justificação".

A salvação é um presente que Deus nos dá e isso se efetiva somente por meio da fé, jamais
pelas obras humanas. Lutero compreendeu que não eram as penitências, sacrifícios ou
compra de indulgências que podiam livrar o homem da condenação eterna, mas a graça de
Deus, através da fé (Ef 2.8). Após meditar no texto de Rm 1.17, que diz: “O justo viverá da
fé”, Martinho Lutero percebeu que a justiça de Deus nessa passagem, é a justiça que o
homem piedoso recebe de Deus, pela fé, e não uma conquista humana.

Na teologia católica, obras de justiça são consideradas meritórias para a salvação, além da
fé, enquanto que, na teologia protestante, obras de justiça são vistas como o resultado e
evidência de uma verdadeira justificação e regeneração que o crente recebeu somente pela
fé.

Na teologia católica, o meio pelo qual a justificação é aplicada para a alma é o sacramento
do batismo. No batismo, mesmo das crianças, a graça da justificação e santificação são
"infundidas" na alma, tornando o destinatário justificado, mesmo antes que ele exerça sua
própria fé. No entanto, as Escrituras nos ensinam o contrário e esta verdade foi libertadora
para Lutero: “O justo viverá da fé”. Logo, a fé é o fundamento de uma vida justificada e é por
si mesma a resposta eficiente e suficiente do indivíduo para os efeitos da justificação.

2. SOLA SCRIPTURA (Somente as Escrituras):


É o ensinamento de que a Bíblia é a única palavra autorizada e inspirada por Deus e é única
fonte para a doutrina cristã, sendo acessível a todos. Afirmar que a Bíblia não exige
interpretação fora de si mesma está em oposição direta aos ensinamentos das tradições
romanas, que restringe a interpretação das Escrituras ao magistério da Igreja; ou seja,
somente o Papa e o clero por ele autorizado pode interpretar as Sagradas Letras.

Nós, os cristãos protestantes, cremos que as Escrituras Sagradas são a única regra de fé e
de prática: 2 Tm 3.16-17: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra". Entendemos que as tradições, as
bulas, as decisões dos concílios e os escritos papais não possuem autoridade e não podem
servir de instrumento de fé e prática para o rebanho de Cristo. Somente as Escrituras
Sagradas estão habilitadas para isso. Elas foram escritas por homens inspirados por Deus,
são instrumentos de revelação da vontade de Deus para nossa vida. Ao lê-la, somos
iluminados pelo Espírito Santo para entendê-la. “Não são as experiências que julgam a bíblia,
mas a Bíblia que julga as experiências. A igreja não está acima da Palavra, mas é governada
por ela” (Rev. Hernandes Dias Lopes).

"Então, achei-me recém-nascido e no paraíso, todas as Escrituras tinham para mim


outro aspecto, perscrutava-as para ver tudo quanto ensinam sobre a justiça de Deus"
Martinho Lutero.

Celebrar os 502 anos da Reforma Protestante é mais que um evento em nossa agenda
eclesiástica; é retornar aos seus princípios originais, assim como os reformadores voltaram
à doutrina dos apóstolos, as quais eram baseadas na Palavra de Deus. A Igreja Primitiva
conheceu a Cristo através dos apóstolos. Os primeiros irmãos creram pela fé apostólica. At
2.42: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas
orações”.

3. SOLA GRATIA (Somente a Graça):


O Salmista Davi numa oração de profunda busca por Deus, declara: “Porque a tua graça é
melhor que a vida; os meus lábios te louvam” (Sl 63.3). Sim, a graça de Deus é a única ponte
que cruza o abismo entre a depravação total do ser humano e a casa do Pai, onde Jesus foi
preparar-nos lugar. Ninguém pode ser salvo por mérito próprio, por obras, penitências,
sacrifícios ou compra de indulgências. Somente pela fé o ser humano pode ser salvo. E até
mesmo a fé, que habilita o ser humano a receber o dom da graça, é dado por Deus (Ef 2.8).

Nenhuma obra, por mais justa e santa que possa parecer, poderá dar ao homem livre acesso
a salvação e ao reino dos céus. Isso somente ocorrerá pela graça de Deus. "Porque pela
graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para
que ninguém se gloria" (Ef 2.8,9).

No Cristo crucificado é que se manifestam a graça divina e o verdadeiro conhecimento de


Deus. Conhecer a Deus pela cruz é conhecer o nosso pecado em contraste à imensidão da
sua graça. Enquanto dominados pelo pecado, vivíamos em escravidão, mas a graça
sobrepujou o pecado na cruz. Por isso Paulo diz aos Romanos que “onde abundou o pecado,
superabundou a graça” (Rm 5.20). Isso nada tem que ver com méritos humanos. Deus, na
cruz, destrói todas as nossas ideias preconcebidas da glória divina. O perigo em potencial
da “teologia da glória” ensinada pela igreja romana é que ela levará o homem a alguma
forma de justiça pelas obras, à tendência de se fazer uma barganha com Deus com base
em realizações pessoais. Por outro lado, a teologia da cruz repudia firmemente as
realizações do próprio homem e deixa Deus fazer tudo para efetivar e preservar a sua
salvação. Na doutrina de Martinho Lutero, a graça da justificação pela fé está rigorosamente
orientada pelo Cristo crucificado.

4. SOLUS CHRISTUS (Somente Cristo):

É o ensinamento de que Cristo é o único mediador entre Deus e a humanidade, e que não
há salvação através de nenhum outro, o que significa que a salvação é "somente por Cristo".
O Protestantismo não tem por princípio o desprezo à memória e importância histórica
de Maria, mãe de Jesus, nem de nenhum dos outros santos exemplares. O que nós
rejeitamos, pela Palavra de Deus, é o sacerdotismo, ou seja, a crença de que não existe
relacionamento com Deus sem a intermediação de sacerdotes ordenados por Roma ou dos
santos venerados pelo catolicismo.

Lutero pregou o "sacerdócio universal dos crentes", que indica o acesso a Deus de todo
aquele que crê em Jesus Cristo, o único mediador: “Eu Sou o caminho, a verdade e a vida;
ninguém vem ao Pai a não ser por mim” Jo 14.6.

Sobre este tema, a Declaração de Cambridge diz: Reafirmamos que nossa salvação é
realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua
expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai. O
homem nada poderá fazer para sua salvação, pois Jesus Cristo realizou a obra da redenção
ao ser sacrificado na cruz do calvário, vertendo o seu sangue como sacrifício por nossos
pecados. "E não há salvação em nenhum outro: porque abaixo do céu não existe nenhum
outro nome, dentre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" At 4.12.

5. SOLI DEO GLORIA (Glória Somente a Deus):


Este é um dos pilares da Reforma Protestante, afirmando que o homem foi criado para a
glória de Deus. Fomos criados para dar glória a Deus em tudo que fazemos e destinados à
glória de Deus. O plano de eterno de salvação dos homens já contemplava a glória de Deus
(Ef 1.4-6). Soli Deo Gloria é o princípio pelo qual toda glória é dada a Deus no processo de
salvação, mas também que, durante nossa vida neste mundo, nenhum ser humano é digno
de glória. A vida do cristão é vivida diante de Deus e sob sua autoridade. Isso é para a glória
de Deus.

Ef 3.14-21: “Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
Do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome, Para que, segundo as riquezas da
sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem
interior; Para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e
fundados em amor, Poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a
largura, e o comprimento, e a altura, a profundidade, E conhecer o amor de Cristo, que excede
todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele que é
poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou
pensamos, segundo o poder que em nós opera, A esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em
todas as gerações, para todo o sempre. Amém”.

Rm 11.33-36: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus!


Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Por que quem
compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a
ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas;
glória, pois, a ele eternamente. Amém”.

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