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Betagem/Revisão: Surtadas.com
Betagem/Revisão: Luciane_asafadaliteraria
Diagramação: Ana Alves
Ao meu marido,
que conheci como amigo do meu irmão hahah
Eu sou o seu bonde sem freio.
NOTA DA AUTORA
Capítulo 4
Hoje só queria dormir até meu corpo suplicar com fome, ficar na
maior preguiça apenas assistindo uma série policial. — Sim, sou
desses. — Ou me empanturrar de doce e fingir que não preciso
manter a dieta.
Mas não é isso que vou fazer, hoje tenho um dia cheio onde irei
prender uma quadrilha de tráfico de drogas, que se instalou aqui em
Foz há alguns meses e ontem prendi um delator. Me contou
algumas coisas que precisava e onde iriam se encontrar hoje.
Espero que Deus nos proteja contra todo o mal, porque esse
trabalho não nos dá a garantia de estar vivo amanhã, por isso tento
viver o máximo que eu puder.
Ser presente na vida de quem eu amo, rir, me divertir, fazer tudo o
que acho certo para que tenha valido a pena cada segundinho. É
por isso que levanto como se fosse meu último dia, feliz por acordar
e ter a chance de um novo recomeço. Não sou um cara good vibes
como aparento, tenho meus momentos de fragilidade, querendo
apenas meu cantinho e desmoronar quando necessário.
Sou humano, repleto de falhas. Tenho minha cota de idiotices e
erros que pratico diariamente e convivo com elas sabendo que
tentei acertar. Com a morte dos meus pais anos atrás, tive uma
outra percepção do que o ser humano é capaz de fazer para te
atingir, ferir você sem ao menos te tocar. Não deixei que essa
tragédia me levasse para o fundo do poço, os Martins me acolheram
quando mais precisei e por isso eu os chamo de família hoje.
Os pais de Kaio eram melhores amigos dos meus, moramos na
mesma rua e por esse motivo somos inseparáveis até hoje. Vi nele
e em Kate a chance de ter irmãos que nunca tive, pude pegar ela no
colo quando nasceu, a vi crescer e se tornar essa mulher
engraçada, louca e com parafusos a menos. Nesse quesito acho
que parecemos dividir os mesmos neurônios, é incrível como somos
parecidos, gostamos das mesmas coisas. — Tirando aquele projeto
de demônio que ela resgatou ontem à noite, jamais dormiria na
mesma casa que aquele bicho traiçoeiro. — O fato é que apesar da
minha família de sangue já ter partido de forma horrenda, ainda
posso contar com a família de coração.
Farei o que for preciso para protegê-los, já que não consegui
manter a promessa aos meus pais. Sei que onde estiverem, não me
culpam pelo acontecido, mas a cada maldito dia, me recordo e
tenho a certeza que o trabalho que escolhi influenciou para que
partissem mais cedo.
Consegui encontrar o assassino, e que Deus me perdoe, mas
ele matar meus pais e eu fazer a mesma coisa com ele, me fez
sentir uma felicidade do caralho. Vinguei meus pais e tirei a vida
daquele lixo, para que nunca mais machuque outra família,
despedace o coração de alguém como fez com o meu.
Tirando o fato de eu acabar de mostrar meu lado ruim, gosto de
focar no meu lado bonzinho e good vibes, garanto que tenho mais
defeitos que qualidades, mas elas compensam para que eu seja
esse cara normal.
Coloco a farda e me encaro no espelho, tendo Safira ao meu
lado observando tudo com atenção. Ao ver o nosso reflexo tenho
apenas uma coisa a dizer: hoje, ou pode dar tudo certo, ou tudo
errado, mas vou sair da minha casa sabendo que não me arrependo
de nenhum segundo desse dia.
— Vamos Safira, é hora de prender alguns homens maus.
No trajeto liguei o rádio e fui escutando algumas músicas, uma
delas era Bombonzinho. — Israel e Rodolfo/Ana Castela. E essa
resume minha vida amorosa em todos esses anos, as que não
valem nada a paixão não sobe, mas o pau…por Deus, Gabriel…
tem se enfiado em cada boceta ultimamente que deveria colocar
uma faixa de interditado na entrada.
Não que eu ganhe o selo de pegador do ano, porque
literalmente faz semanas que não sei o que é sexo. A última foi uma
ruiva baixinha, mas que parecia os fãs de Michelle Morrone
correndo atrás dele, suei para tirar aquela mulher do meu pé, já
estava disposto a trocar de casa. Mas aí tive ajuda de Kate para
fugir daquela maluca, minha irmãzinha fingiu ser minha namorada
em uma ligação.
Não preciso mencionar os palavrões que foram ditos pelas duas,
a chaveirinho entrou mesmo no papel de namorada ciumenta e
desde lá estou livre daquela encrenca. Lógico que ela me zoa até
hoje por causa disso, dizendo que não sei me livrar dos meus
próprios B.Os, mas o que eu iria fazer? Prender aquela doida e
jogar a chave fora? Não que seja uma má ideia, mas prefiro o bom e
velho pé na bunda.
Mas vou criar vergonha na minha cara e achar mulheres que
não tenham tendência a ficarem grudadas em mim feito carrapato.
Chego na delegacia e já vejo o carro do Kaio, ontem levei a
viatura para casa, estava tão cansado que pedi autorização ao
delegado Rodrigues e ele aceitou prontamente. Mas hoje irei
precisar da carona do meu amigo para ir embora. Desço do carro e
deixo a porta aberta para que Safira saia também, a cadela policial
já usa seu uniforme oficial que a deixa com um ar de “me encare de
forma feia e arranco seu braço”. Essa é a minha menina. Ainda
tenho que tirar três dias da semana para treinar com ela, já faz um
tempinho que não fazemos isso, vejo que ela sente falta do nosso
momento sozinhos.
Dentro da delegacia esse horário sempre é mais tranquilo,
geralmente o caos começa depois das dez da manhã onde aparece
gente de tudo quanto é jeito, desde esfaqueado até com ameaça de
morte. É cada coisa que mesmo em dezessete anos como policial,
devo dizer que ainda não estou acostumado.
Passo cumprimentando os colegas e entro na minha sala
deixando que Safira fique no seu canto preferido, a cadela tem uma
almofada acolchoada, comida e água à vontade.
Coloco o celular sobre a mesa e me sento na cadeira giratória
dando início ao trabalho, não sou apenas policial que faz rondas na
rua, tenho minha carga horária que preciso preencher papeladas e
dar relatórios infinitos ao delegado Rodrigues.
Ligo o computador e aproveito para ir até a máquina de café e
me entupir de cafeína até que minha alma processe que saí da
cama há mais de uma hora.
De volta na minha sala, coloco a xícara de café contendo a logo
da delegacia e meu nome, no suporte de copos e dou início ao
trabalho. Vez ou outra me pego olhando os porta retratos sobre a
mesa, um deles contém a foto dos meus pais e eu com vinte e um
anos sendo aceito na polícia, foi o dia mais feliz da minha vida e
eles estavam lá comigo.
A outra, sou eu e a família Martins em um churrasco na casa
deles, essa foto foi tirada no dia do meu aniversário no ano
passado, eu e Kate fazemos aniversário com uma semana de
diferença e sempre comemoramos juntos com a nossa família. A
pestinha vai completar dezenove anos em breve e eu trinta e nove,
misericórdia, estou com o pé na porta para me sentir um velho
enquanto a chaveirinho está começando a viver.
Todos rindo na selfie e Kate esmagando Safira como se
pudesse matar minha cadela sufocada. Eu adoro essa foto e deixo
aqui para me lembrar por quem eu luto todos os dias para deixar
essa cidade mais segura.
Estou puto!
Puto pra caralho!
Minha vontade é de enfiar aquele papel goela abaixo daquele
médico abusado, ou dar umas belas palmadas em Kate por ter
aceitado sem pensar duas vezes. Acho que irei fazer as duas
coisas, porque meu sangue está fervendo, e ainda fui obrigado a ver
ele agarrando ela e cochichando algo obsceno no ouvido dela,
enquanto cheirava o cangote da minha chaveirinho.
Depois que eles saíram, minha vontade era de levantar da cama e
socar a cara daquele médico safado, ainda tive que escutar o
delegado rir na minha cara dizendo que estou deixando uma mulher
maravilhosa escapar pelos meus dedos.
Ela é minha irmã, porra!
Ela é… caralho, quando Kate se jogou em cima de mim,
automaticamente o selo irmã mais nova sumiu da minha cabeça,
vindo a cena da chaveirinho falando na cafeteria que gosta de ser
fodida com força. Puta que me pariu! Não consegui conter a ereção
e dei graças a Deus que ela saiu de cima, porque a bandida iria
perceber.
Chaveirinho consegue me fazer ser possessivo, a ponto de
quebrar a cara de alguns marmanjos que correm atrás dela, outros
apenas mostro o distintivo e saem com o rabo entre as pernas,
porque devem algo e não querem encrenca. Não nego que sou
assim, ela mesma fica puta porque Kaio e eu damos um chega pra
lá nos idiotas, mas Kate merece mais do que um cara que vai fazer
ela sofrer.
E olhando aquele médico, estava escrito na cara dele “sou um
puto e irei te fazer se apaixonar por mim”. Só por cima do meu
cadáver que ela vai ter algo com aquele imbecil. A cara de safado
dando o bilhete para ela… eu perderia meu emprego e meu réu
primário, mas mataria aquele infeliz de formas cruéis.
Agora estou aqui na casa dessa abusada, que fala coisas sem
pensar me deixando ainda mais puto. Ela quer a porra do médico,
mas vou fazer ela mudar de ideia nem que seja com tapas naquela
bunda empinada para ver se cria juízo. Não que eu tenha, sou
desprovido de neurônios assim como a chaveirinho, mas pelo
menos não saio entregando meu número para qualquer uma na rua.
São elas que me entregam.
Kate foi tomar banho enquanto começo a preparar o nosso jantar.
Nem a pau deixaria ela fazer nossa comida, ela consegue queimar
um ovo cozido.
Rio sozinho lembrando da primeira vez que ela cozinhou para a
família, todos contentes que ela iria fazer algo gostoso e quando
veio com um macarrão cru e um molho que mais parecia ter vindo
do fogo do inferno de tão ruim, todos nós mastigamos aquilo
fingindo estar gostando, fiquei duas semanas passando mal.
Hoje ela sabe que não deve mexer em um fogão e sempre que eu
ou Kaio viemos aqui visitar a maluca, cozinhamos e deixamos algo
pronto para ela. Assim não passa fome e não se mata comendo a
própria comida.
Coloco a playlist na TV da sala, ninguém mandou Kate me dar
intimidade, agora aguenta. A música fica em som ambiente e não irá
irritar a vizinha insuportável dela. Com toda certeza nos viu
chegando e irá fofocar para o bairro.
Acho que a comida mais rápida e que vai nos satisfazer é o
famoso hamburgão, com certeza ela tem hambúrguer em casa e
isso facilitaria minha vida. Abro a geladeira e já vejo alguns ali, pego
sabendo que vai ser rápido já que estou com o estômago grudado
nas costas.
Após começar a fritar, já vou preparando os pães, colocando a
salada, uma quantidade generosa de ketchup e mostarda em cada
pão, queijo, presunto e pronto.
— Hmmm! Que cheiro delicioso.
Chaveirinho aparece na cozinha vestindo um pijama que poderia
ser considerado roupa íntima. Por Deus! Não consigo desviar o
olhar dessas coxas, a barriga lisinha exposta. Por que isso está
acontecendo comigo? Ela deve estar querendo atentar meu juízo,
posso ser considerado irmão mais velho, mas ainda sou homem, e
meus olhos gostam do que estão vendo.
Porra!
Meu pau já quer ter vida própria. Isso que dá ficar semanas sem
sexo, preciso pegar uns dias de folga para foder mulheres que se
interessem apenas por uma noite quente e no dia seguinte some.
Se bem que tenho quatro dias de folga. — O delegado me obrigou,
porque se fosse por mim estaria amanhã na delegacia. — Acho que
isso pode ajudar meu pau que sente falta de brincar.
— O que foi? — Pergunta curiosa.
— Nada.
— Pra você queimar a comida, alguma coisa está passando por
essa cabeça maluca.
Safadeza, chaveirinho, várias putarias passando pela minha
cabeça, mas vou lavar meus pensamentos com sabão. Você é uma
zona proibida, onde sei que não devo meter minhas mãos, meu
pau… céus, eu tô muito fodido para esquecer essa mulher dizendo
como gosta de ser fodida.
Saio às pressas arrancando esses pensamentos indesejados,
vejo fumaça saindo da frigideira e o hambúrguer parecendo o
almoço do capeta.
— Merda!
Kate vem ao meu auxílio, mas ela esqueceu que a cozinha é um
cubículo que mal cabe uma pessoa. Queria saber o endereço desse
arquiteto e estapear a cara do imbecil que criou esse espaço
achando que alguém consegue andar aqui sem bater em algo.
Retiro o hambúrguer queimado jogando no lixo e volto a fritar os
dois últimos. Kate me abraça de lado e sinto o aroma pós banho da
morena, passo meu braço pelo ombro e a encaixo na minha cintura.
— Não gosto de brigar com você — Ela diz.
— Eu também não, chaveirinho.
— Sua opinião sempre me importou, mas quero que me deixe
quebrar a cara, Gabe. Posso ter apenas dezoito anos, mas quero
viver tudo o que for possível. Seja relacionamentos ruins, ter um
homem por noite, beber até perder a consciência e depois
comandar minha cafeteria como uma verdadeira dona da porra toda.
Solto uma lufada de ar que poderia ser uma risada amarga e
desesperadora, não queria entrar nesse assunto de novo, porque
vou voltar a ficar puto.
— Pare de se preocupar comigo e comece a procurar uma
mulher para você, quem sabe assim esquece de mim?
— Não quero mulher, sou independente demais para ter alguém
no meu pé. E sobre esquecer você. — A aperto e ouço um risinho.
— Seria impossível, sempre estarei aqui para você chaveirinho, não
será uma mulher na minha vida que mudará o que nós dois temos.
— Eu acho bom, porque se não arrancaria os cabelos da vaca e
depois as suas bolas para aprender a não ser um pau mandado.
— Ei! Está para nascer mulher que manda em mim.
— É o que todos falam. — Debocha. — Depois pagam a língua.
Kate se separa de mim para abrir a geladeira e acaba me
esmagando no fogão, não sei se eu sou grande demais ou essa
cozinha minúscula.
Termino de fritar nosso jantar e coloco dentro dos pães, fechando
em seguida e vendo que está tudo pronto. Vejo a chaveirinho pegar
refrigerante e depositar sobre a ilha, encara nosso jantar e sorri
safada ao passar o dedo pelo ketchup e levar até a boca em uma
lentidão que eu acompanho sem piscar. Mas que caralho está
acontecendo comigo? Eu estou vendo uma outra Kate, desde
aquele dia e não estou gostando disso, porque ela é proibida.
Ela acaba sujando o canto da boca e minha mão traidora vai até
lá, limpando e fazendo minha chaveirinho arfar. Me encara
mostrando excitação pelo contato, desço meus olhos dos seus
lábios, encarando todo o corpo nesse pijama justo, os pêlos dos
braços arrepiados. Estou muito fodido. Faço o caminho de volta
vendo ela me devorar com os olhos, porra! Ela também está me
vendo diferente, isso é perigoso.
— Gabe…
— O que foi? — Minha voz saiu em um sussurro, repleto de
desejo.
— É normal eu estar com uma vontade absurda de beijar você?
PUTA QUE ME PARIU!
Eu sei que Kate é sem filtro, mas escancarar o desejo que
também estou sentindo, me faz parecer um pateta que não
consegue dar o primeiro passo, porque não posso foder nossa
relação assim.
Que se foda!
Enlaço sua cintura pequena e ela arfa ficando com o rosto
próximo ao meu, ainda observo uma última vez esses olhos
castanhos para ter certeza que devemos fazer isso. É só um beijo
Gabriel, inocente, descobrindo o que tanto essa mulher te chama a
atenção.
Chaveirinho está com a respiração irregular nos meus braços,
desejosa e entregue ao que ambos querem. Não pensei em mais
nada, apenas capturei seus lábios com calma, sentindo todo meu
corpo corresponder ao calor do momento. Kate suspira e
corresponde ao beijo que começa a se intensificar, minhas mãos
passeiam pelo corpo dela como se estivessem decorando cada
parte. Aperto sua bunda e a trago para mais perto, fazendo com que
sinta a ereção que começa a se formar.
A bandida está com gosto de pasta de dente e o ketchup que
roubou do pão, pego ela no colo e a coloco sobre a bancada,
empurrando nossos pratos mais para o fundo. Devoro a boca dela
como um verdadeiro faminto, sentindo cada pêlo do meu corpo
reagir às suas mãos em mim, arranhando meu tanquinho e
descendo até meu pau que já está duro. Quando sua mão pequena
toca ali, me faz soltar um gemido rouco e necessitado na boca dela.
Kate para o beijo e levanta o rosto para que eu faça o que quiser
com seu pescoço fino, deixo beijos molhados e mordidas leves indo
direto para a fenda dos seus peitos.
Antes de entrar em um caminho que acho arriscado, levo minhas
mãos até a nuca dela e puxo seu rosto voltando a beijar essa boca
tão convidativa. Escutar seus gemidos é demais para meu cérebro
processar, minha língua brinca com a dela em uma sincronia que
me faz ficar ainda mais duro. Seus beijos são viciantes, porra, como
vou ficar sem eles depois disso acabar? Porque precisa acabar, foi
só para os dois tirar esse desejo incubado, somente isso.
— Porra, Gabriel! — Ela rosna quando ambos estão com a
respiração irregular após o beijo. — Tinha que ser tão bom nisso?
Junto minha testa com a dela, abraçando seu corpo e a fazendo
descer da bancada. Agora vejo que isso foi um tremendo erro,
porque além de Kaio arrancar minhas bolas — com razão — não
vou me perdoar por ter beijado minha irmã.
— Kate…
— Eu sei. — Ela murmura com um tom de voz firme. — Não
devemos fazer isso, mas não pense que não gostei. Você tem
pegada, irmãozinho.
O irmãozinho me broxou. Não nego que fiquei puto por falar em
tom de deboche, mas o que falou foi como um tapa para voltar a
realidade, somos família e não devemos fazer isso.
— Vou dizer o que vamos fazer. — Ela diz autoritária, porque a
única coisa que sei pensar é no seu corpo colado ao meu segundos
atrás, mas que merda Gabriel. — Vamos passar uma borracha no
que houve aqui, sabendo que foi impulso e que os dois estão
sensíveis pelo dia ter sido uma bosta. Amanhã, nós dois já teremos
esquecido e seguimos nossas vidas como antes.
— Tem razão, é isso mesmo o que vai acontecer.
Sei que ela é direta e realmente pensa que isso vai funcionar, mas
se antes eu já estava diferente em relação a ela, agora fodeu de vez
com meu pobre juízo.
— Agora vamos comer, estou morta da fome.
E ela sai levando nossos pratos até a mesa, me deixando aqui na
cozinha ainda com a respiração irregular e sentindo minha boca
dormente como se a dela ainda estivesse colada na minha.
Esqueça isso Gabriel Monteiro, não ouse guardar isso como
lembrança, está me ouvindo?
Capítulo 8
Achei que Josh não iria dizer onde é a festa, mas disse e não
sei o motivo dele ter feito tal coisa sabendo que vou socar a cara
daquele imbecil por agarrar ela.
A festa está acontecendo quatro ruas depois da casa de Kate e
no caminho não consegui pensar em mais nada além das mãos
daquele médico desgraçado tocando nela.
Vou matar Josh por me fazer ficar ainda mais puto comentando
sobre esse cara, me deixando com ânsia de arrancar o pescoço
daquele médico metido a garanhão, quem ele pensa que é para ir
atrás da minha garota?
Se ela não ligou pra ele é porque não estava interessada, não
que eu tenha dado alguma chance dela fazer isso, já que engoli o
papel. Mas que se foda, a função de irmão mais velho eu fiz.
Irmão. Nem sei mais se devo me considerar um depois de ter
sugado a língua dela duas vezes, ter tido sonhos eróticos com
minha irmãzinha e morrer de ciúmes vendo ela ficar com outro. Não
sai da minha cabeça o dia que ele entregou aquele papel e minha
vontade era de ter enfiado na bunda daquele cretino miserável.
Hoje ele vai ver que já mandei muitos outros caras para longe da
vida dela. E estou indo fazer de novo, porque não sou obrigado a
ver ele se dando bem enquanto estou em casa assistindo série e
pensando nessa bandida vinte anos mais nova que eu.
Como a chaveirinho pode ter tanto poder assim sobre mim? Não
consigo entender a chuva de sentimentos que me domina. É como
se eu não pudesse vê-la com outra pessoa, porque depois que
provei dos seus beijos, nenhuma outra boca vai se igualar, nenhum
outro sorriso vai ser como o dela, porque Kate é única.
Estacionei na rua principal e um pouco longe da casa por conta
de ter bastante gente impedindo a minha passagem. Ando a passos
rápidos em direção ao imóvel que está tocando uma música
eletrônica, no volume que está, dá pra ouvir no outro quarteirão.
Não preciso olhar uma por uma para encontrá-la, porque Kate
reconheço de longe, é só ver uma anã de jardim no meio de adultos
e está lá a minha chaveirinho. Sorrio lembrando das vezes que a
reconheci usando esse método infalível, minha gnomo favorita.
A casa está com a luz fraca, deixando alguns pontos mais
escuros para dar um ar de balada mesmo, com um globo jogando
uma luz azul no teto com desenhos de estrelas, isso é a definição
de pobre, mas eu curto, porque eu sou também. Uma grande
quantidade de pessoas está na sala, dançando e pulando e eu
tentando encontrar aquele projeto de gnomo no meio de todos. Acho
mais fácil procurar Josh do que ela, já que ele é alto e loiro e não
tem muitos com esse perfil aqui dentro.
Meus olhos recaem bem onde ele está, dançando e filmando a
própria cara enquanto toma cerveja. Passo entre as pessoas e puxo
sua camiseta fazendo com que ele virasse o rosto para mim.
— Zé pistola! Você veio mesmo. — Me abraça de lado e filma
meu rosto, coloco a mão na tela o empurrando para que pare e no
instante que ri sinto o cheiro de bebida saindo por essa boca
imunda. — Bem-vindo a minha humilde residência, se sinta em
casa, mas lembre-se que você não está.
Então aqui é o inferno? Deveria ser, já que apelidei esse ser,
como projeto de demônio.
— Cadê a Kate?
— Por aí, sendo feliz sem se importar com sua opinião. — Vou
matá-lo dentro da sua própria casa. — Mas convenhamos, mulher
gosta de homens com atitude e não que morre de medo do irmão
descobrir que estão se pegando.
— Cala a boca, fala logo onde ela está.
Ele gargalha e notei que estava filmando tudo o que falou, posta
no instagram da Kate e pego o celular para apagar antes que a
família dela veja. Ele segura com força tentando deixar o máximo de
tempo possível e meu coração falta sair pela boca enquanto brigo
com esse desgraçado.
— Ficou maluco, porra!? — Grito ainda mais alto por conta da
música. — Quer acabar com a nossa família? Se um deles visse
esse story, Josh, você seria um homem morto.
Como Deus decretou que hoje não seria uma noite agradável,
começa a tocar Fulano, de Murilo Huff e me dá um desespero em
saber que ela está beijando a boca de outro, ainda mais sendo
aquele médico safado.
Enfio o celular dela no bolso após garantir que apaguei o maldito
story. Empurro o infeliz do Josh e ele ri sabendo que conseguiu me
deixar ainda mais puto, parece ser a diversão desse filho de uma
égua.
Caminho entre as pessoas sendo acompanhado por um Josh
tagarela, dizendo que Kate está aproveitando um cara sarado.
Minha vontade é de socar a cara desse insuportável até ele
desmaiar e fechar essa boca. Respiro fundo tentando manter o
resquício de controle que me resta e vasculho o local. Sei que a
roupa dela tem brilho, já a vi usando aquele conjunto e fica uma
delícia, só de imaginar ele com as mãos bobas naquele corpo que é
meu, minha raiva aumenta a níveis incalculáveis.
Minha paciência se esvaiu assim que bati os olhos nela agarrada
com aquele ridículo no canto da sala. Ando quase correndo e puxo o
corpo dele que está no maior amasso com a minha chaveirinho,
prensando o corpo dela na parede e a mão boba como havia
imaginado.
Vou matá-lo.
Torturá-lo.
Arrancar aquelas mãos e enfiar na bunda dele para aprender a
não mexer com a mulher dos outros, filho da puta.
Não penso duas vezes e viro o corpo dele acertando um soco
certeiro no nariz. Ele geme e dá três passos para trás batendo as
costas na parede, sua mão vai direto no machucado, tentando
conter o sangramento. Kate me encara assustada e pouco me
importa se cortei seu barato.
— Você ficou maluco, cara? — O tal Théo murmura.
— Acho que quem ficou foi você por agarrar minha… — vejo o
olhar dela se estreitando, sabendo do que eu iria chamá-la.— Some
daqui antes que eu te prenda, seu desgraçado.
— Quais seriam os motivos da prisão, Gabriel? — Ela murmura.
— Você ser ciumento a ponto de invadir uma festa e não gostar de
me ver com outro? Porque estou esperando você me dizer porque
caralhos ficou duas semanas se escondendo, aí quem sabe eu tento
esquecer a merda que acaba de fazer.
— Chaveirinho…
— Não me chame mais assim, não quero essa palavra saindo da
sua boca. — Fico sem reação, porque ela amava esse apelido. —
Não irei aceitar esse tipo de atitude. Parece um homem das
cavernas, só que gostoso e um baita idiota!
Faço uma anotação mental para tirar sarro da cara dela quando
tiver oportunidade, porque mesmo puta ela ainda consegue achar
meu corpo gostoso. Minha atenção volta para ela e está na hora da
chaveirinho entender o motivo de eu ter vindo até aqui.
— Você é minha! — Sua boca se abre para rebater, mas ao
entender a intensidade jogada nas três pequenas palavras, ela
silencia e me deixa continuar. — Não vou deixar esse infeliz se
aproveitar do que é meu!
Kate está puta, e não vou fingir demência dizendo que não sou o
causador. Mas ver ela beijando esse cara me fez ficar cego e se ele
ficar mais um minuto aqui irei fazer de novo até que entenda que ela
não é para seu bico.
— Vaza, porra! A conversa agora é entre ela e eu, você já teve
mais do que deveria.
— Tive? — Ele retruca. — Estávamos muito bem sem você aqui,
quem deveria sair é você. Kate estava entregue e poderíamos ter
uma noite maravilhosa se não tivesse aparecido.
Vou feito um raio para cima dele e sinto Josh me segurar, dizendo
que não irá me deixar quebrar a sua casa, ele fez alguma piada
sobre a mãe dele, mas estou cego de ódio para prestar atenção. Ele
me puxa para longe deles e Kate vai conversar com aquele
bostinha.
Teriam uma noite maravilhosa, nem fodendo!
— Cara, você claramente perdeu a cabeça. — Josh fala ainda
me segurando, me leva para um corredor onde não consigo mais
ver minha chaveirinho.
Tento fazer meus olhos se acostumarem com a luz forte do
corredor, e encaro o rosto do Josh vendo uma sombra branca na
cara dele, vai demorar alguns segundos para voltar ao normal. Para
minha raiva diminuir, presto atenção nas pessoas que passam por
nós rindo de assuntos que não são da minha conta, também têm
cheiro de bebida como se alguém tivesse derrubado e ficasse essa
catinga no corredor.
— Acha que é assim que ela vai querer algo com você? — Forço
a vista para encará-lo e finalmente a visão volta ao normal. — Kate
é maluca, mas não gosta dessas atitudes.
— Não vou ficar quieto com aquele engomadinho sugando a
língua da minha…
— Sua o quê? — Ele me fuzila irritado, primeira vez que não
está com um sorriso debochado na cara, apontando um dedo como
se isso pudesse amenizar a raiva que está sentindo por estragar
sua festa. — Pode me odiar o quanto quiser Gabriel, mas vai ouvir
umas verdades porque você merece ter os ouvidos sangrando essa
noite.
Era só o que me faltava, ganhar sermão de Josh.
— Kate não é sua, nem de ninguém. Ao contrário de você, ela
demonstrou o que queria, mas não é idiota de ficar esperando a sua
boa vontade. Se não quer ter nada com Kate, deixe ela livre para se
divertir com quem quiser.
— Uma ova que deixo! — Declarei irritado.
— Eu te acho um babaca exibido — murmurou e quase me fez
rir. — Mas não sabia que era surdo. Pare de ser um frouxo e
conquiste ela do jeito certo ou deixe Kate em paz, não vou ficar
olhando você fazer minha melhor amiga de trouxa.
Soco a parede e no mesmo instante esbravejo sentindo dor.
Porra! Seguro a mão que está ficando avermelhada e olho para
Josh tentando manter minha cabeça no lugar. Não sou o tipo de
homem que sai socando a cara dos outros, e por mais que odeie
dizer isso, esse irritante tem razão. Não posso alimentar as
esperanças dela toda vez que a gente se ver, porque isso vai deixar
a situação ainda pior.
— Cara, você precisa de uma bebida e relaxar um pouco.
Vejo Josh esticar a mão em minha direção, nego com a cabeça
sabendo que se eu beber aí sim faço coisas sem pensar.
— Estou dirigindo, sem contar que no estado que estou a bebida
só iria me deixar mais puto lembrando que ela me trocou por aquele
médico de meia tigela.
Ele dá de ombros e abre a latinha tomando uma quantidade
generosa do líquido. Ele não tenta sair e se divertir como estava
fazendo antes, parece um carrapato grudado em mim para que eu
não soque mais ninguém.
— Ô projeto de demônio… você pode ficar mais distante? Não
precisa encostar seu corpo em mim.
— Que é isso, cara?! — Me abraça de lado e sinto o humor
duvidoso em sua voz. — Estou aqui te dando uma força. Sabia que
abraços quentinhos ajudam a acalmar gente estressada como
você? Sem contar que deveria agradecer pelo fato de ter um cara
gostoso como eu te apalpando e não reclamar.
Não consigo segurar o riso que se formou na minha garganta,
mexo a cabeça desacreditado nas merdas que esse cara fala. Se
não fosse tão irritante a gente poderia ser amigo, porque temos a
mesma tendência a falar merda antes de pensar, mas não acredito
que isso possa um dia acontecer.
— Josh… — Escuto a voz de Kate atrás dele e o mesmo se vira
deixando que nós dois vejamos a morena que claramente quer
arrancar meu pescoço. — Me deixe falar a sós com Gabriel.
— Lembra o que te falei na ligação, não é? — Resmungou, se
referindo a arrancar meus dentes se encostasse um dedo nela. —
Eu cumpro minhas promessas, nem que eu vá preso por bater em
um policial bostinha.
— Vaza daqui, seu irritante…
— Não mate ele, Kate. — Ele a abraça e cochicha algo no
ouvido dela. — Preciso que fique vivo para atormentá-lo por mais
alguns anos.
Deus me livre de aturar essa praga por mais um dia, quem dirá
anos.
Josh vai pelo caminho que ela veio e joga a cabeça para trás
enquanto bebe o resto do líquido que sobrou na latinha. Meu olhar
recai em uma baixinha invocada que está me encarando com a
expressão fechada e os braços cruzados, esperando uma
explicação.
— Você só pode ter perdido o juízo, Gabriel Monteiro!
— Sabe que nunca tive. — Sorrio. — Mas não me peça para
ficar sossegado te vendo com outro.
— Estou com outro porque você é um idiota que me afasta!
Acho que eu mereci essa.
— Chaveirinho… sabe o motivo de eu ter feito isso.
— Estou pouco me fodendo para seus motivos, se me quer,
demonstre. Se não deseja ter nada, então vai para a puta que te
pariu! Eu vou continuar nessa festa, vou encher a cara e você terá
que escolher ficar aqui comigo ou ir embora.
— E o médico babaca? — Perguntei, demonstrando curiosidade.
— Ele foi embora, cuidar do machucado que você causou. —
Bem feito, faria de novo se pudesse. — E eu disse que amanhã irei
conversar com ele.
— Katherine…
— Vai para o inferno com seu ciúme.
Tiro a distância enorme que tinha entre nós, Kate arregala os
olhos ao me ver jogando seu corpo pequeno na parede e colando
nossos corpos. Esse pequeno contato já me deixa ansioso por
prová-la, desejando fazer ela esquecer os amassos que deu com
aquele cara, vou tirar cada lembrança dessa cabeça que só pensa
em safadeza.
Senti seu perfume no instante que meu rosto foi para seu pescoço
fino, eu me odeio por sentir atração por ela, sem conseguir me
manter afastado quando mais deveria.
— Essas malditas duas semanas não consegui tirar você da
cabeça, chaveirinho. — Ela arfou ao sentir minha boca próximo a
orelha, esfregando seu corpo quente no meu, roçando sua
bocetinha na minha perna e me deixando ainda mais duro. —
Imaginei como seria se ficasse perto de você de novo e aqui está a
resposta. Não sei ficar longe, parece um vício que quando está aqui
preciso tocar e sentir seu gosto. Nunca fiquei tão confuso na minha
vida, uma batalha interna tentando entender o que você fez comigo.
— É tesão, Gabriel, puro e delicioso tesão. — Afastei o suficiente
para enxergar seu rosto. Está tão linda, pouca maquiagem e os
cabelos soltos espalhados pelos ombros, a boca entreaberta
mostrando dificuldade para respirar nesse momento. Não estou
diferente dela. — Não me importo em como a gente era antes
daqueles beijos, eu te quero e vou mostrar como isso não é um erro.
Nós não somos irmãos, não tem nada de errado em dar alguns
amassos.
— Tenho medo da sua família me odiar e Kaio não olhar mais
para minha cara, Kate, pelo simples fato de sentir atração pela
mulher que eu vi nascer, que se tornou minha família nesses anos.
Você consegue entender o meu lado? Em como aqui dentro está
uma bagunça?
— Eu entendo. — Murmura. — E te dei espaço para escolher o
que queria, mas vir até aqui e bater em Théo foi algo muito errado.
Poderia ter chegado de outra forma, mas preferiu ser um homem
das cavernas.
— E gostoso, como você disse antes.
— Não retiro o que disse, é gostoso e um grande babaca
agressivo.
— Jamais encostaria em você… mas ver aquele cara te
agarrando e você gostando, me fez subir o sangue. Josh já havia
me irritado por telefone e quando cheguei aqui, continuou a me
provocar falando sobre aquele médico desgraçado. Perdi a cabeça
sim, não nego, mas não me arrependo de ter batido nele, porque
era para eu estar ali, entende o que quero dizer?
— A única coisa que eu entendo é que você é uma mula, estou
há duas semanas subindo pelas paredes lembrando daqueles
beijos. Querendo algo mais e só podia me satisfazer com o
paulete…
— Paulete? — Minha dúvida ficou escancarada e ela apenas
soltou um risinho antes de sentenciar meu ataque de riso.
— Meu vibrador. — Diz sem cerimônia, me fazendo gargalhar. —
O coitado ficou até desgastado, tudo por culpa sua. Então vou dizer
uma única vez, ou me fode essa noite ou acho outro que faça isso.
— Porra!
— Agora com licença que tenho uma festa para curtir…
— Nós vamos embora, Kate.
— Não vamos não! Quer ir, a porta está bem ali. — Linguaruda
sem filtro, sabia que não seria fácil arrancar ela daqui, a mulher é
mais teimosa do que eu. — Vou ficar aqui até que você esteja
pronto para o próximo passo, vou te enlouquecer até não suportar a
ideia de ficar com essa língua longe de mim. Fui clara?
Eu já não suporto, deveria dizer, mas sou covarde demais para
estragar o que a gente tem.
E a atrevida me empurra gentilmente e se afasta rebolando
aquela bunda deliciosa. Porra! Eu devo ter afogado Moisés no mar
vermelho, só assim para estar pagando os pecados que ainda nem
cometi.
Capítulo 13
Meu dia está literalmente uma merda. Daquele jeito que a gente
torce para acabar logo e poder ir para a casa tomar um banho
quente e relaxante.
Já prendi dois assaltantes de banco que deram um certo
trabalho por conta de ter feito alguns reféns. Mas com o incentivo
certo — não que eu tenha comentado que faria a vida deles um
inferno — eles cederam e se entregaram.
Almocei em um restaurante comum no centro, tendo a voz
irritante de Carlos nos meus ouvidos. Estou contando os dias para o
Kaio voltar a trabalhar, é a segunda vez que sou obrigado a aturar
esse policial novato e irresponsável.
Também ajudei uma senhorinha a atravessar a rua. A abusada
nem para agradecer e ainda teve a audácia de dizer que sabe se
virar sozinha, sendo que tinha o mercado todo nas mãos a contar
pelas inúmeras sacolas. Até uma tartaruga atravessaria mais rápido
que ela. Apesar do estresse, sei que minha parte eu fiz, se ela é
amarga o problema é dela.
Passei a tarde no meu escritório revendo algumas burocracias
a mando do delegado Rodrigues, e fiz algumas coisas que não me
arrependo, talvez Kate socasse minha cara, mas faria de novo se
pudesse.
Não, Gabriel. Socar a sua cara é o mínimo que ela irá fazer
quando descobrir.
Quando aquele médico babaca estava esperando ela na frente
da casa de Josh e antes dele sair, anotei o número da placa
mentalmente e fiz algumas buscas. Também peguei minha receita
médica onde tinha o nome completo do infeliz e não me assustei ao
descobrir que usa um nome falso.
Théo Camperinni está vivo há exatos seis anos, mas que eu
saiba ele aparenta ter mais de trinta. Tenho certeza que terá uma
boa resposta quando o encurralar na parede daqui a dez minutos.
Ele já está me aguardando na sala de interrogatório, mas como sou
um filho da puta, estou fazendo ele esperar bem quietinho.
Não vi fotos dele antes de seis anos atrás. Do nada ele começa
a trabalhar como médico no centro para policiais? Isso está muito
suspeito e vou até ao inferno para descobrir quem é esse cara e o
porquê de querer algo com a minha chaveirinho.
— Cara, você acha que ele é estrangeiro e está ilegal no país?
— Carlos intrometido está atrás de mim enquanto faço as pesquisas
no banco de dados da polícia.
— Não acho nada, só sei que ele vai sumir da face da terra se
continuar atrás da minha chaveirinho. Mas não posso fazer muita
coisa a respeito… por enquanto.
— O que te impede?
— O código penal.
Falo sincero e Carlos gargalha achando que estou brincando,
mas sabemos que só não dei fim nesse infeliz porque meu lado
homem da lei é mais forte que meu lado namorado possessivo.
Namorado. Porra, será que estou ficando maluco?
Retiro essa ideia absurda da cabeça e levanto da cadeira
querendo ter uma conversinha animada com Théo Camperinni. Vejo
Carlos se empanturrando com as rosquinhas que comprei e arranco
a caixa da mão desse infeliz.
— Isso não era pra você, seu intrometido!
— Vai me dizer que iria dar para a gostosa da… — o encaro,
louco para que termine a frase e possa socar a sua cara, mas ele dá
um sorrisinho debochado. — Quer dizer, para a adorável Kate.
— Na verdade era pra mim mesmo, mas sua ideia foi boa. Vou
levar para a chaveirinho, quem sabe assim você para de pegar o
que não é seu.
— Anote o que eu digo, meu amigo. — Sua expressão ficou
séria e presto atenção na próxima idiotice que sairá dessa boca. —
Essa mulher já te amarrou pelas bolas, não vai demorar até
juntarem as escovas de dente. Estou aqui lembrando daquele dia da
cafeteria e você dizendo que não tinha nada, olha como você é um
puto safado.
Como eu disse, saiu mais uma idiotice. Ele tem razão, eu fui um
puto safado e pelo jeito vou continuar sendo, porque quero Kate de
novo.
— Vamos logo. Vou te ensinar como interrogar um babaca.
Carlos se anima e abre a porta da minha sala indo na minha
frente até a sala de interrogatório. Pego alguns papéis importantes
em cima da mesa e sigo o embuste do meu parceiro substituto.
A sala está parcialmente escura, tendo apenas uma lâmpada
fraca iluminando o local. Carlos se senta em uma das cadeiras
disponíveis na frente dele e fecho a porta fazendo a mesma coisa.
Impaciente e estranho é o que define Théo, como se estivesse
escondendo algo e não quer ser descoberto.
— Você demorou de propósito, não é? Qual o seu problema
comigo, cara?
Você tem cara de quem não presta, além disso está tentando
pegar a minha mulher. Acho que isso já basta para responder a
pergunta dele, mas não falo porque isso não poderia mantê-lo aqui
por todo esse tempo.
— Como um excelente policial que sou. — Isso não é ego
elevado, sou muito bom mesmo. — Olhei sua ficha e vi que o
médico tem apenas seis anos de vida. Estou ansioso para que você
me conte como de seis anos de idade, conseguiu crescer tão rápido
e tentar pegar a mulher dos outros.
— Para deixar claro, você disse que eram irmãos do coração e
eu achei ela linda e engraçada. Na festa, encontrei ela por acaso
porque um amigo me convidou e vi Kate lá, é óbvio que eu quero
ela, já deixei isso claro.
— Você queria, não vai tentar mais nada.
— Ela nunca mencionou que está namorando. — Juro que vou
matar ele com a prancheta. Olho de canto de olho para Carlos e o
vejo se divertindo com a situação, era só o que me faltava. — Se
está solteira, vou continuar tentando até ela escolher entre você ou
eu.
— Ela já escolheu, babaca, não entendeu a parte que estamos
juntos quando ela mesmo disse olhando para sua cara feia? —Ele
até tenta se fazer de machão, mas quem está sendo interrogado é
ele, não eu. — Agora pare de falar da minha garota e explique o
motivo de você ter trocado sua identidade. Qual seu antigo nome?
Ele se remexe na cadeira visivelmente incomodado e sorrio
sabendo que boa coisa não vem, mas vou adorar prendê-lo por
tempo indeterminado.
— Há seis anos fui quase morto pelo meu pai. Como você disse
antes, tenho trinta anos atualmente, mas não passava de um
moleque burro naquela época. Ele era alcoólatra e fazia algumas
merdas que poderiam deixá-lo na cadeia por alguns anos, eu não
compactuava com aquilo e sempre brigávamos. — Ele suspira. —
Um dia cheguei em casa mais cedo e o vi batendo em uma
prostituta, acabei me metendo e arrancando ele de cima dela. Ele
bateu a cabeça na quina da mesa e ficou desacordado. Chamei a
ambulância, mesmo sabendo que ele não aceitaria isso por ter
passagens pela polícia. Ele foi para o hospital e algumas horas
depois foi para a prisão pagar pelos crimes de roubo seguido de
assassinato. Tinha matado um guarda e fugido com o dinheiro.
— Sinto muito, cara. — É Carlos quem diz e olho para ele
irritado.
— Eu fui visitá-lo na prisão e disse que me mataria quando
saísse, que seus amigos iriam garantir que eu estaria apodrecendo
até ele conseguir fugir. — Vejo ele mexendo nas mãos ansioso, os
olhos com um medo que já vi em muitas vítimas dentro dessa
delegacia. — Os caras conseguiram me sequestrar algumas horas
depois enquanto tentava fugir, foi a semana mais horrível que eu
tive, sendo espancado, me deixaram com fome e sede. Mas
consegui me soltar e fugi apenas com a roupa do corpo.
— E como conseguiu fingir sua morte e obter identidade nova?
Antes que ele responda recebo uma ligação no meu celular e faço
ele esperar para que eu veja quem é. Acabei esquecendo de
colocar no silencioso e me deixou curioso, vai que é minha
chaveirinho querendo falar algo que me interesse. Ao olhar para a
tela, vejo que o número não é detectável. Fico encafifado e atendo
quase caindo da cadeira.
Anônimo
O passado voltou e garantirei que todos que você ama, estejam
estripados e mortos até o final do dia.
Gabriel
Quem é você?
Anônimo
Até breve, Gabriel.
Minha visão fica embaçada, meu corpo não reage da forma que
eu achei que faria. Minhas mãos estão suando com a ameaça
declarada contra todos que amo. Não sei se sobreviveria passando
por aquilo de novo, é como se fizessem isso para garantir que eu
não esqueça que fui o culpado pela morte dos meus pais.
Fico em silêncio pensando quem faria tal brincadeira de mau
gosto, mas ninguém saberia sobre meu passado a não ser o
delegado Rodrigues e o Kaio. Porra! Isso não é uma brincadeira e
sim um aviso do que vai acontecer, mas quem é o desgraçado que
sabe o que aconteceu? E porque depois de tantos anos retornar e
querer se vingar?
— Está tudo bem, parceiro? — Carlos pergunta e me
recomponho para que não saibam o que está acontecendo.
— Tudo ótimo. — A mentira tem gosto amargo, mas é
necessário no momento. — Continue a falar.
— Após fugir, percebi que não adiantaria ir à polícia porque uma
hora ou outra ele me encontraria. Com a ajuda do meu melhor
amigo, forjei minha morte e consegui documentos novos com a
autorização de um juiz que era amigo do pai dele. Ele morreu meses
depois e não fui atrás para saber se foi meu pai ou não, tenho
morado aqui desde então, vivendo minha vida com uma identidade
nova. Não estou usando documentos falsos que possam me
prender Gabriel, mas se quer saber se minha história é verdadeira,
meu nome verdadeiro é Jonathan Maciel.
— Vá averiguar isso, Carlos.
— Pode deixar.
Meu parceiro voltou cerca de dez minutos depois com a ficha
completa do nome verdadeiro do Théo. Tudo o que me disse era
verdade, até a assinatura do juiz consta nas informações sigilosas.
Ele agora está mais calmo, esperando pacientemente que eu o
libere. Suspiro irritado, porque adoraria prender esse infeliz por
falsificar documentos.
— Tudo bem, Théo. Está liberado, mas continuarei de olho em
você.
— Cara, sei que você ama a Kate. — Olho para ele perplexo. —
Percebi como a conexão de vocês é forte ontem à noite, e hoje de
manhã ficou claro que estão juntos. Vou deixá-la em paz se você
esquecer meu antigo nome para que eu continue vivendo minha
vida. Não quero meu pai atrás de mim depois de tanto tempo
escondido.
— Se isso já basta para sumir da vida da minha mulher, então
estamos conversados. Pode sair agora.
Vou para a sala do delegado Rodrigues assim que Théo sai da
delegacia. Meu peito sobe e desce pelo nervosismo, aquela
mensagem não sai da minha cabeça e preciso falar com a única
pessoa desta delegacia que sabe sobre meu passado.
— Gabriel… esqueceu como se bate na porta? — Ele me encara
sério.
— Recebi uma ameaça. — Ele então muda a expressão e me
manda entregar o celular, ele lê tudo e me encara chocado. — Meu
passado voltou para foder com a minha vida de novo. Quem é esse
maldito?
— Pode ser qualquer um. Vou mandar oficiais protegerem Kaio e
a família dele. Sei o quanto são importantes para você.
— Eu ficarei com Kate, será a primeira que tentarão algo.
— Leve seu celular para tentar rastrear o suspeito, não faça
nenhuma besteira Gabriel, seguirá minhas ordens.
— Nem fodendo! — Ele me encara como se falasse, “sabe com
quem está falando, moleque?” — Senhor, não vou deixar que
matem outra pessoa que amo, você estava lá, viu o que aconteceu.
Não vou perder mais ninguém.
— É por eu ter estado lá, que sei o quanto essa situação é
complicada e precisamos tomar decisões que não coloque eles em
risco. Agora leve seu celular para rastrear o indivíduo e depois vá
para casa e não faça nenhuma besteira.
— Sim senhor.
Nem a pau vou ficar quieto. Não com minha família correndo
perigo, mas dessa vez não vão encostar em ninguém que amo,
porque irei até o inferno para matar o desgraçado.
Capítulo 20
Lembranças do passado
Hoje faz três meses que sou um policial e meus pais e os de Kaio
estão querendo comemorar nossa conquista. — Pela milésima vez.
— Mas é tão bom saber que estão orgulhosos da gente, que
estamos no caminho certo.
Chegamos na delegacia e ao entrar fomos recebidos por
nossos colegas nos aplaudindo. Há uma semana apreendemos uma
carga de drogas de um traficante apelidado como demolidor, mas
seu nome verdadeiro é Sérgio Mascarenhas. Ele se instalou na
cidade há pouco mais de um ano e ontem Kaio e eu o perseguimos,
meu amigo acabou sendo encurralado pelos capangas desse idiota,
mas eu consegui alcançá-lo e o prendi sem dar misericórdia para
bandido.
Enquanto eu o jogava no camburão, me ameaçou dizendo que vai
me matar e também a todos com quem me importo. Eu apenas sorri
para ele, sabendo que será preso e irá apodrecer na cadeia.
Desde aquele dia estamos sendo alvos de parabenizações dos
nossos amigos que iniciaram conosco, nossa primeira missão e foi
um sucesso. Espero ter outras aventuras como essa, porque isso
eleva meu ego a níveis estratosféricos. Até as gatinhas que
entraram conosco já começaram a dar mole. Kaio parece que nunca
viu uma raba, toda hora correndo atrás delas, mas como sou um
puto safado, deixo as bandidas virem atrás do policial gato e
gostoso.
Em meus vinte e um anos, não tenho uma quantidade generosa
de fodas de que possa me vangloriar, tive que largar tudo isso para
focar nos estudos, na minha profissão. Agora é o momento de eu
aproveitar todo o esforço que fiz, beijar na boca, mas sem me
apegar porque tenho muita coisa pra viver ainda e me amarrar não
está na minha lista.
Saio dos pensamentos vendo Kaio estalar os dedos na minha
cara.
— Cara, você está me ouvindo? — Afirmo tentando lembrar de
tudo o que ele disse até agora, mas nada vem à memória. — Está
com uma cara de quem vai matar alguém.
— Pensando na vida. O que estava falando mesmo?
— Delegado Rodrigues está nos chamando na sala dele. Você
fez alguma besteira, além de existir?
— Por que não vai se foder?
— Porque prefiro te irritar.
Soco o braço do meu parceiro imbecil e seguimos para a sala
do delegado nos empurrando feito dois adolescentes no colegial. O
corpo até pode ser gostoso, mas a mentalidade é de um garoto de
treze anos.
— O senhor queria falar com a gente? — Kaio é quem pergunta
e a cara séria do delegado Rodrigues não deixa dúvidas de que
meu amigo fez alguma merda, já que não fui eu.
— Vou ser direto, porque sabem que não gosto de rodeios. O
demolidor conseguiu fugir da prisão nesta madrugada. — Meu
queixo vai ao chão. Merda! — Não preciso dizer que devem tomar
cuidado, não é? Vocês cheiram a policiais recém saídos das fraldas
e eles vão adorar brincar com vocês por semanas antes de matá-
los.
— Precisamos ir atrás deles, chefe. — Digo ainda chocado.
— Estamos trabalhando nisso. — Aponta a caneta que está em
suas mãos em nossa direção e aguardo que continue a falar. — No
momento vocês vão ficar à frente das investigações, quero saber
quem ajudou e o paradeiro desse filho da puta. Tentem não se
meter em encrenca e morrer no processo.
— Sim, senhor. — Falamos juntos.
— Estão dispensados.
Passamos o dia no presídio interrogando funcionários, procurando
pistas de quem o ajudou. Havia um buraco na cela, que foi por onde
ele saiu, alguns metros depois e estava na área aberta onde um
helicóptero ficou a postos para pegá-lo. Está claro que teve ajuda
interna e precisamos descobrir quem é.
Chego na frente da casa de Kaio, que estaciona o carro do pai
dele. Sim, pegamos emprestado para ir trabalhar porque não
ganhamos o suficiente para ter um próprio.
— Até amanhã, seu puto. Estou exausto pra caralho, só quero
agarrar minha cama.
— Eu também. Boa noite, irmão.
Saio do carro e caminho até minha casa que fica na mesma rua.
Kaio e eu somos amigos de infância e amamos a mesma profissão.
Ao chegar em casa vejo a porta entreaberta e acho estranho já
que meus pais são muito rígidos com esses pequenos detalhes. Os
dois têm a mania de olhar duas vezes se trancaram a casa, se as
janelas estão bem fechadas, ou se não tem torneira aberta e por aí
vai.
Com a convivência, acabei pegando as mesmas manias, e
como sou policial, tenho que ficar sempre em alerta e tentar ao
máximo dificultar a vida de um ladrão.
Entro devagar para não assustá-los e meus olhos recaem sobre
a sala, vendo o quanto está destruída. Pingos de sangue no piso
branco fazem meu coração sair do peito. Que porra aconteceu aqui?
Pego a pistola presa no coldre da cintura e fico em alerta caso
ainda tenha alguém aqui. Caminho lentamente, pisando nos cacos
de vidro que eram da mesa de centro, que estão com manchas de
sangue, me fazendo ficar ainda mais desesperado.
A cozinha está a mesma coisa, uma completa bagunça e sem
sinal dos meus pais. Minha respiração está irregular, me sinto
ansioso e irritado, querendo saber se eles estão bem.
A casa está em completo silêncio, como se não houvesse vida.
Consigo escutar meu coração batendo descompassado no peito,
dolorido por quase quebrar minha caixa torácica.
Mãe, pai, cadê vocês? Por tudo que é mais sagrado, peço que
eles tenham ido jantar fora e nem estejam sabendo o que aconteceu
aqui. Deus queira que seja isso, porque não vou suportar ver eles
machucados por conta de um assalto ou… não, porra! NÃO PODE
SER.
Se esse maldito encostou na minha família, vai se arrepender
de ter nascido, porque vou enfiar uma bala na cabeça dele sem
pensar duas vezes.
Chego no quarto dos meus pais e nem sinal deles, está arrumado
e não foi tocado por seja lá quem estava aqui. Banheiro também do
jeito de sempre, então sigo para meu quarto, sentindo uma coisa
ruim, um aperto no peito que me causa falta de ar. Seguro a
maçaneta da porta e abro vendo o cômodo uma verdadeira
bagunça.
Meus olhos se enchem de lágrimas e o coração se despedaça
vendo meus pais na minha cama. Sem vida. Um choro dolorido, de
pavor, surge pela minha garganta e grito correndo até eles,
segurando seus corpos e chacoalhando para que acordem, que não
me deixem assim.
Grito o mais alto que eu posso, tentando arrancar essa dor da
perda, a dor da culpa. Porque tenho certeza que foi o demolidor, já
que deixou sua mensagem na parede, usando o sangue dos meus
pais.
Caio ao chão ao lado da cama, segurando a mão de meu pai.
Sem conseguir respirar, chorando copiosamente sem poder
enxergar pela quantidade de lágrimas.
Escuto passos correndo pela minha casa, mas não me mexo
porque se for ele vindo terminar o serviço, vai me poupar de sentir
essa dor por mais um minuto, porque não quero sentir. Hoje eu
morri junto com eles, um pedaço de mim não quer voltar a viver.
— Gabriel! — É Kaio quem entra correndo e quando vê meus
pais na cama, arregala os olhos e coloca as duas mãos na cabeça,
completamente assustado em como eles estão. Seus joelhos cedem
assim como aconteceu comigo, porque não tem forças para reagir a
tamanha brutalidade. — Meu Deus…
Ele não diz mais nada, apenas se aproxima e me abraça,
chorando junto comigo. Isso não pode estar acontecendo, eles não
podem ter morrido de forma tão cruel e desumana.
Sinto as mãos de Kaio me envolver, me apertar tentando passar
conforto, mas tudo o que quero agora é morrer no lugar deles, dar
minha vida em troca, sabendo que isso é culpa minha, apenas
minha.
— Eu sinto muito, irmão.
— Eu juro por tudo que é mais sagrado, que vou matá-lo. — As
palavras saem com ódio pela minha boca. — Vou arrancar o
coração dele do peito como acaba de fazer com o meu.
A noite foi péssima, daquelas que a gente torce para que o dia
amanheça de uma vez, com a madrugada levando toda a
negatividade junto com ela. Funcionou um pouco já que Gabe
recebeu uma ligação do delegado dizendo para tirar o dia de folga,
ele nem reclamou, está mesmo precisando se afastar pelo menos
por um dia.
Resolvemos ir juntos ver como está o Kaio, meu irmão enfiado
numa cama é um alvo fácil para esse doente que resolveu brincar
com algo sério. Gabriel está preocupado com o melhor amigo
naquela situação e quis ir para aliviar a tensão que está sobre seus
ombros, achando que isso é culpa dele.
Gabe não tem culpa da morte dos pais, nem das ameaças que
recebemos atualmente, é uma vítima na mão de um sociopata. Mas
está difícil colocar isso na cabeça dele, já que vive repetindo que os
pais estão mortos por conta do trabalho que escolheu.
Sinto uma dor no coração vendo ele tão pra baixo, é como se a
luz dele estivesse fraca, se apagando aos poucos enquanto
relembra a cena de ver os pais naquele estado horrendo.
Resolvi fazer algo para animar meu homem e se ele sorrir por
cinco segundos, terá valido a pena. Antes de sair de casa me veio
isso na cabeça, poder relembrar músicas dos anos 2000 que ele
adorava, eu mal tinha saído das fraldas então fui conhecer anos
depois, mas sou viciada. Pego o pendrive na bolsa e coloco no
painel escolhendo a primeira música.
Musa do Verão, do Felipe Dylon começa a tocar e virei o rosto
para ele vendo sua reação. Um sorriso pequeno surge em seus
lábios, seus olhos se contraem quase se fechando. Aumento o
volume antes de começar a letra e ele me encara sabendo qual é.
No swing da cor
Dançando nas ondas
O teu mel, teu sabor
Dá água na boca
Dias Atuais
Kate falta roer as unhas e estou ao seu lado mostrando que vai
dar tudo certo. Hoje é a inauguração da cafeteria e Josh está mais
impaciente que minha mulher.
O lugar ficou incrível, uma parede repleta de plantas de
verdade, tendo um destaque por conta das paredes cor de café.
Está simplesmente deslumbrante como tinha certeza que ficaria.
Nas horas de folga ajudei os dois a arrumar tudo, colocar mesas e
cadeiras nos lugares que queriam e foi divertido ver os dois
discutindo onde ficaria tal coisa.
Eles sim eu vejo como irmãos do coração, Josh não tem outro
olhar para ela além de admiração e amizade. Coisa que nunca tinha
visto em Kate, foi difícil cair a ficha e quando aconteceu, essa
mulher não saiu mais da minha cabeça e coração.
Olhar Kate abraçando os familiares e recebendo elogios pelo seu
sonho realizado é algo indescritível. Ela realizou o que queria
apenas com seu esforço, aturou um chefe nojento por dois anos
para que enfim tivesse seu espaço. Josh como um bom amigo,
embarcou na loucura e está firme, ajudando em tudo e virando um
empresário muito inteligente.
Ela espalhou mensagens divertidas referente a café e comida,
estão em quadros em toda a cafeteria e isso me lembra do presente
que me deu. Foi como se estivessem mesmo aqui e isso encheu
meu coração de amor, não consigo parar de encarar a foto na sala.
Não é um quadro grande e nem pequeno, é perfeito.
Eu no meio e meus pais me abraçando, essa foto existe na
verdade, mas eu era mais novo e nessa atual eu estou com trinta e
oito anos, sorrindo junto com eles. Estou ainda mais apaixonado por
essa mulher e nem consigo mais esconder. Foi uma tortura passar
meu aniversário ao lado dela sem poder agarrá-la. Entendo o que
Kate quis dizer, poderia ser uma hora ruim, todos bebendo e isso
nunca acabaria bem.
Mas hoje ela não tem como fugir, porque estarão todos aqui
tomando apenas o melhor café do mundo, e eu vou falar para eles
que essa mulher é minha. Ela vai querer me matar, mas espero que
dê tudo certo e possamos ficar onde e quando quisermos, sem
medo de julgamentos.
Estou nervoso, mas não é um nervosismo normal, estou
morrendo e ninguém é capaz de me ajudar porque não sabem o que
está acontecendo. Venho pensando nisso há algum tempo e tudo o
que mais quero é oficializar o que temos. Torná-la minha de
verdade, não apenas amassos vez ou outra, quero mais.
A cafeteria está lotada, como Kate iniciou o perfil semanas antes
do lançamento, mostrando todo o trabalho que teve, os bastidores
de como estava ficando, isso acabou chamando atenção e logo
estava ficando famosa. Sem contar que olhar a beleza dessa mulher
enquanto ela explica a diferença entre os cafés me deixa excitado.
Por estar lotado me faz sentir uma coisa estranha na boca do meu
estômago, vai que ela diga não e eu passe vergonha na frente de
todos? Porque ela iria dizer não, Gabriel? Você é lindo, gostoso,
bom de cama e um tremendo partidão.
Aceitando que meu ego elevado esteja certo, chegou a hora de
fazer o pedido. Na verdade, vou fazer como se fosse um presente
pela inauguração, ela nem sonha o que estou aprontando, será
surpresa.
— Projeto de demônio. — Falei primeiro com Josh que acaba de
fazer seu discurso junto com a Kate. — Tenho um presente pra
você.
Ele me olha estranho e logo me abraça, me deixando sem
entender.
— Eu sabia que você me amava, cara, no fundo sempre foi
apaixonado por mim.
— Não fode, porra!— Seguro o riso, porque todos estão vendo
ele segurar o presente. Vai pagar o maior mico e estou aguardando
esse momento desde que me entregou aquele vestido no meu
aniversário. — Abra logo.
Quando retira, ele fica encarando a almofada sem emitir
nenhuma expressão, relembrando aquele dia trágico e rio quando
me encara com a boca aberta.
— Pode apagar meu contato no seu celular.
— Eu nem salvei seu contato.
— Então salva e depois apaga.
Mentira, eu tenho salvo como projeto de demônio.
Caímos na gargalhada e ele mostra pra todo mundo contando a
história por trás do presente. Dei a ele uma almofada de cocô, já
que me faz lembrar daquela festa, todo dia por conta daquele
vestido pendurado no meu guarda-roupa. Agora fiz ele lembrar do
cocô que ele caiu de bunda, queria ter visto a cena, mas tinha
coisas melhores pra fazer no quarto com minha mulher.
Nossa primeira vez juntos.
— Eu adorei, cara, vou colocar no sofá da sala para nunca
esquecer daquele dia horrível.
— Para mim não foi horrível.
— É né safado? Porque estava ocupado demais trans…
— Se divertindo. — Kate o corta antes que fale merda.
Agora chegou o momento de entregar a ela o presente e nunca
fiquei tão nervoso em toda minha vida, nem mesmo quando entrei
pra polícia fiquei dessa forma. Talvez porque todos estão aqui, a
nossa família com um sorriso no rosto achando que é apenas uma
lembrancinha, mas vão cair para trás. A confeiteira tinha guardado o
buquê atrás do balcão para que Kate não visse já que está
atendendo os convidados e os futuros clientes.
Entrego a ela a caixa e dentro tem a outra de veludo onde está
nossas alianças, sim, nunca tive tanta certeza na minha vida como
torná-la minha namorada oficialmente.
Quando segura a caixa vermelha e abre vendo o que tem dentro,
abre a boca chocada e me encara querendo sorrir e chorar ao
mesmo tempo. Pego o microfone da mão de Josh com ele piscando
o olho, sabendo o que vou fazer. Tive a ajuda dele para conseguir o
anel sem que Kate desconfiasse, ele disse que era o tamanho do
dedo da mulher que ele está gostando e queria fazer uma aliança.
Minha mulher pamonha nem percebeu como essa conversa foi
uma tremenda mentira, já que Josh nunca vai conseguir conquistar
aquela garota, e agora ela entende o porque do cretino ter feito isso,
e o encara com olhos semicerrados.
— Um tempo atrás você me fez sentir coisas que eu não
entendia e achava que era errado. Mas o amor que antes já era
forte por conta de dezoito anos te aturando — todos riem e ela me
bate no braço já chorando — se tornou mais forte, inquebrável,
genuíno. Eu espero que nossa família que está aqui entenda que
isso não vem de agora, acho que fui o único burro que não
enxergou que o ciúme não era de irmão.
Olho para Kaio, Alberto e Amélia com meu coração na mão.
Como Kate vive falando, bota o cropped Gabriel Monteiro, não é
hora de amarelar.
— Eu a amo com todo meu coração e torço para que apoiem
nossa relação, que me deixem fazê-la feliz sem se importar com o
que eu era para a Kate antes disso tudo acontecer.
— Gabe… — ela tenta me cortar, mas continuo a falar antes que
desmaie de nervoso.
— No caminho, pude ver o turbilhão de sentimentos que você
me causa, desde estresse por ser uma completa maluca. — Não
consegue segurar o riso e fica ainda mais linda. — Até me fazer
sentir como se o mundo parasse e só você importasse. É o meu
mundo, Kate, o meu bonde sem freio descendo a ladeira, a mulher
que desejo passar todos os dias da minha vida, porque dezoito anos
foram pouco, chaveirinho. Ainda mais sabendo como é ter você pra
mim. — Ela coloca a mão na boca, seus olhos repletos de lágrimas
e não consigo entender o que está pensando então apenas continuo
com o discurso que venho pensando nessa semana. — Quero uma
vida e depois dela também, desde sempre e espero que seja para
sempre. Me deixe te mostrar o quanto sou louco e apaixonado por
você chaveirinho… quer namorar comigo e me fazer o homem mais
sortudo da face da terra?
Respira Gabriel, foi muita adrenalina por um dia, não vai ter um
ataque agora que essa mulher está demorando para responder.
— Sim. – Ela fala e meu coração veio parar na boca. — Mil
vezes sim, meu amor.
— Eu te amo, chaveirinho, desde sempre.
— Eu te amo, desde sempre Gabe.
FIM!
Obrigada por ter chegado até aqui, espero que tenha gostado
desse casal fofinho e repleto de histórias para contar hahaha
Quero agradecer a Deus por me proporcionar o melhor dos
trabalhos, fazer aquilo que amo e poder levar minhas histórias para
mais pessoas.
Também quero deixar aqui todo meu amor às três mulheres que
batalham junto comigo e fizeram esse livro se tornar algo único e
especial, minhas três betinhas demais como gosto de chamar.
Sempre serei grata não só por trabalharem comigo, mas por sermos
amigas, amo muito vocês.
E por último e não menos importante, porque essas sim fazem Ana
Alves continuar crescendo, minhas leitoras perfeitas que deixam meu
dia mais leve e divertido. Viramos uma família naquele grupo do
whatsapp e não sei mais viver sem vocês, obrigada por estarem
sempre aqui e gostarem dos meus livros. Eu digo e repito, sem
vocês nunca existiria Ana Alves ou mais conhecida por a safada sem
coração hahaha.
E sim, teremos um enemies to lovers com Josh e sua bookstan
favorita hahah aguardem esse casal puro fogo e gasolina.
Amo vocês.
Ana Alves, um nome comprido que tivemos que encurtar pra ficar
Grupo no whatsapp:
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Até a próxima!