Você está na página 1de 246

Capa: Ana Alves

Betagem/Revisão: Surtadas.com
Betagem/Revisão: Luciane_asafadaliteraria
Diagramação: Ana Alves

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos são


produtos da imaginação da autora.
Quaisquer semelhanças com nomes, datas e acontecimentos reais são mera
coincidência. Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte desta obra, através
de qualquer meio tangível ou intangível sem o consentimento por escrito, da autora.
Plágio é crime!
A violação autoral é crime, previsto na lei nº 9.610/98, com aplicação legal pelo artigo
184 do Código Penal.
Criado no Brasil.
Obra registrada.
DEDICATÓRIA

Para todos que acreditam no amor verdadeiro.


Aquele que te faz suspirar e entender que achou a pessoa certa.
A sua pessoa.

Ao meu marido,
que conheci como amigo do meu irmão hahah
Eu sou o seu bonde sem freio.
NOTA DA AUTORA

  Essa história já estava guardadinha há algum tempo,


vasculhando as pastas do google encarei o nome “rascunhos” e
pensei, porque não dar um nome? Um sentido para essa história e
colocar minha nova essência nele? Foi aí que Katiriel me deu um
tapa na cara, porque tudo o que tinha pensado sobre eles, ficou no
passado.
Kate e Gabriel evoluíram com o tempo que ficaram na gaveta da
autora, se tornaram tão especiais que não poderia guardá-los só pra
mim.
Uma comédia romântica que tem tudo a ver comigo, afinal, joguei
minha personalidade em Kate e eu rezo a nossa senhora das
autoras enrascadas que vocês olhem para ela e não me cancelem
hahaha ela é muito louca, com parafusos a menos, sempre
pensando positivo e passando com um furacão na vida das
pessoas.
Espero ser o bonde sem freio de vocês, como Kate é para Gabe.
Como sou para meu marido e espero de coração que se apaixonem
por esse casal. Que o amor deles aqueça seu coração e ao terminar
o livro fique um gostinho de quero mais.
Com todo amor do mundo,
Ana Alves.
PLAYLIST
 

Bombonzinho – Israel e Rodolffo


Rancorosa – Henrique e Juliano
Fulano – Murilo Huff
Nosso Quadro – Ana Castela
Namorado e Nem Ficante – Israel e Rodolffo
I Feel Like I'm Drowning – Two Feet
Love is a Bitch – Two Feet
Go Fuck Yourself – Two Feet
Musa Do Verão – Felipe Dylon
Equalize – Pitty
Prólogo

Escuto a palavra merda ser chamada repetidas vezes e sorrio


ainda com os olhos fechados, eu deveria saber que ele agiria assim.
Ao abrir meus olhos vejo Gabriel em pé, andando de um lado para o
outro no quarto com a mão na cabeça e só de cueca, a visão é de
tirar o fôlego.
Não nego que sou louca por esse homem, tirar a casquinha foi
pouco pelo que fiz essa noite. Gostoso!
Memórias da noite passada me tomam, suas mãos fortes
afundando em minhas coxas enquanto me penetrava com fascínio,
sua boca que tanto desejei fez coisas além da minha compreensão
e gozei tantas vezes que mal posso contar. Eu fodi gostoso com o
melhor amigo do meu irmão e não estou nem ligando se ele
descobrir.
Já Gabriel parece que vai abrir um buraco no porcelanato escuro
e se enterrar. Me fita e parece estar em uma batalha interna entre
me devorar com os olhos ou surtar. Apesar de eu me garantir no
quesito chá bem dado, acho que a segunda opção é a mais sensata
no momento.
O gostoso à minha frente é vinte anos mais velho do que eu,
esse idiota me chama de bebê, mas essa noite ele viu que a
bebezinha aqui mama com vontade, meu nome era pronunciado
várias vezes e fiz ele aprender a me respeitar como mulher.
Depois de algumas rodadas que duraram a noite toda,
tomamos banho no banheiro do Josh e dormimos assim que caímos
na cama, de conchinha sentindo seu corpo abraçado ao meu,
fazendo meu coração acelerar com esse contato tão… íntimo.
— Kate… — as mãos estão fechadas em punho, enquanto ele
tenta se controlar. — Isso não devia ter acontecido, porra, Kate!
— O que foi Gabriel? — Explodo de raiva, com meu ego indo
para o ralo. — Depois que fez o que quis, que se lambuzou no meu
corpo, vai dizer que foi um erro? Beleza gatinho, já entendi qual é a
sua.
É tão difícil assim se entregar? Ele me deseja, está pensando na
noite incrível que tivemos, mas a única coisa que sabe falar é que
foi um erro, vai se ferrar.
— Não é questão de não ter gostado, porra, gostei pra caralho!
Você viu o quanto gostei, o problema é seu irmão. Ele vai me matar
quando descobrir.
— Eu vou matar você se não calar a boca.
— Ele vai arrancar meu pau, Kate! E depois me fazer comer.
Minha vontade é de rir, porque até nessas horas o seu lado
exagerado não deixa a desejar. Levanto da cama ainda nua e seus
olhos passeiam por todo meu corpo, sinto minha intimidade queimar
com tamanho desejo por esse safado irritante. Ele me deixou puta e
não vou me rebaixar por um babaca cadelinha do meu irmão.
Ando pelo quarto pegando minhas roupas, ele está me encarando
nervoso, com tesão e uma dúvida que percorre pela fenda na sua
testa.
— Kate…
— Não precisa dizer mais nada… vou poupar seu fôlego e
admitir o que tanto quer ouvir da minha boca. — Coisa que não é
verdade, mas só para encerrarmos esse assunto e cada um seguir
sua vida. Até parece né, Kate? Você foi bem comida, lógico que
quer repetir. E muito! — Tem razão Gabriel, foi um erro.
Visto a saia sem a calcinha porque esse infeliz rasgou durante
a noite. Meu Deus! Nunca tive um homem tão insaciável na cama,
me levando do céu ao inferno. Arranco os pensamentos safados —
coisa que anda virando rotina desde que percebi que o queria — e
volto a me arrumar. Coloquei o cropped que bate um pouco abaixo
dos meus seios e o salto. Vou para o banheiro escovar os dentes e
no trajeto sinto minhas costas queimarem com os olhares do idiota
indeciso.
Não sabe se quer repetir, ou se esconder em Nárnia para
quando Kaio descobrir. 
Encarando o espelho do banheiro consigo ver o “estrago” dessa
noite, tudo o que foi feito está escancarado para todos verem, fui
bem comida, essa é a minha cara. Porra, Gabriel! Tinha que foder
com tudo no dia seguinte?
Esse medroso que está do outro lado da porta, é o melhor
amigo do meu irmão. Os dois são policiais e vivem grudados desde
a infância, ele me viu crescer, deixar de ser a pirralha que ele
carregava nas costas, para me tornar uma mulher com atitude.
Ele tem medo do que Kaio pode falar sobre nós dois, mas que eu
saiba, sou de maior e vacinada. Lógico que quando Deus me criou,
colocou um pouco a mais de loucura e tirou alguns parafusos se
certificando que iria dar merda. Muita merda. Mas nada melhor que
perder o réu primário matando um policial gostoso que insiste em
me chamar de criança.
Faço minhas higienes e respiro três vezes antes de tomar
coragem para sair do banheiro. Vai Kate, você é fodona e coloca
Gabriel no chinelo, sempre tem uma resposta na ponta da língua.
Mostra para esse medroso quem é Katherine Alencar. Tenho medo
dele ter ido embora, e mais ainda se ele tiver ficado, porque aí
sinceramente não sei o que vai ser.
Ao abrir a porta, Gabriel está parado no batente, me encarando
com o semblante sério. Meu coração veio parar na boca com o
susto e tento fingir naturalidade ao passar esbarrando nessa parede
de músculos que me fuzila com raiva.
Eu quem deveria sentir raiva.
— Dá pra me ouvir, porra!? — Grita atrás de mim e sorrio.
— Não dá, tenho que ir para a cafeteria arrumar as últimas
coisas para a inauguração e você está tremendo igual um pinscher
com medo que Kaio apareça aqui e te encontre seminu. Mesmo
sabendo que meu irmão está impossibilitado no momento, então vá
se foder Gabriel. — Está tão perto, sua respiração quente no meu
pescoço, isso é um atentado ao bom senso que eu nem tenho. —
Então repito para seu cérebro de ervilha ouvir, não vamos ter mais
nada, percebi que foi um baita erro.
— Para de dizer isso. — Segura minha cintura com força e solto
um gemido quando bate meu corpo contra o seu, minha bunda vai
de encontro ao seu pau que já está duro, como pode Senhor? Esse
homem fodeu a noite inteira!
Ele me vira e vejo que seu rosto mudou para algo indecifrável…
me devora de dentro pra fora com o olhar que me lança.
— Você não me deixa falar, chaveirinho…
— Achei que já tinha falado tudo.
— É… realmente eu falei. — Seu comentário me faz querer
chutar seu saco e vê-lo gritar no chão. — Acho que o que quero
fazer não precisa falar nada, só seus gemidos me bastam.
— O quê?
— Eu vou foder você mais uma vez, Kate.
Que filho da puta.
Respiro puxando a paciência que está no meu rabo, antes que
eu arranque o coro desse infeliz que literalmente acordou apenas
para me irritar.
— Tá me zoando? — Me solto e passo por ele fugindo de suas
mãos abusadas, indo para a porta. — Fode comigo a noite inteira,
quando acorda fica xingando andando pelo quarto sem se importar
em como eu me sinto, diz que a noite perfeita que tivemos foi um
erro e agora vem com esse papo de querer me foder?
— Eu quero você, caralho!! — Grita e coloca as mãos no cabelo
tentando manter o controle que sei que tem, por isso sofri para
conseguir esse homem. — Eu te quero, Kate, há muito tempo eu te
quero.
— Você tem sérios problemas em demonstrar, sabia disso?
— Eu demonstrei essa noite.
— Achei que iria colocar a culpa na bebida.
— Não!! Você sabe que bebi bem pouco, e mesmo que tivesse
bebido, minhas atitudes não tem nada a ver com o álcool. Eu te
desejo tanto que chega a parecer loucura, porra… mas não quero
perder a amizade de Kaio por gostar da irmã dele.
Ele disse gostar?
— Gostar de mim, Gabriel? — Rio. — Você me vê como uma
criança. E mesmo eu insistindo pra te pegar, fugia como se tivesse
visto o diabo.
— Você é uma diaba…
— Obrigada pelo elogio… agora vou sair por aquela porta e
podemos esquecer o que houve nesse quarto.
Me viro já arrumada e pego a bolsa jogada no chão, até esse
maldito objeto me faz lembrar da melhor noite que tive na vida,
deveria estar saciada e feliz, agora estou com raiva desse molenga
sem atitude.
— Eu não terminei, chaveirinho.
Eu odeio quando me chama assim… me faz sentir coisas que
não deveria, porque ele faz isso comigo? Me deixa confusa e depois
joga um balde de água fria.
— Então sinto muito, gato… estou de saída.
— Não está não. — Seguro a maçaneta e sua mão grande
espalma na porta, viro meu rosto e percebo que está atrás de mim,
mais perto do que deveria. Merda! — Não acabamos ainda…
— Gabriel, se você é um covarde que se caga de medo do meu
irmão, o problema é seu. Tenho homens com mais atitude para me
satisfazer, outros até melhores que você.
— Ah é? — Afirmo já virada para ele, suas mãos apoiadas uma
de cada lado do meu corpo me deixam presa, calma Kate, não entre
no jogo de sedução desse cretino gostoso… mas ele fica ainda mais
lindo quando acorda. — Eles te fazem gozar sem ao menos ter te
tocado na boceta? — Sou incapaz de formar uma frase para
respondê-lo. Gabriel me fez gozar apenas chupando meus peitos no
banho, aquilo nunca havia acontecido e o cretino tinha um sorriso
depravado no rosto ao chupar todo meu orgasmo. — Não precisa
dizer, já sei a resposta… eu te fodo do jeito que você gosta e digo
que merecemos foder no café da manhã.
É normal me desfazer em líquidos? Estou sem a porra da
calcinha e minha saia não impede do líquido escorrer pela perna,
qual é o meu problema em segurar o tesão?
— O que me diz, Katherine? — Sua boca percorre meu pescoço
indo até o ouvido, arfo com sua barba rala me causando um arrepio.
Gabriel passeia sua boca pelo meu rosto e esfrega os lábios nos
meus, tirando o resto de relutância que eu ainda tinha. — Vamos
foder gostoso igual a noite passada?
— Eu…
— Você o quê? — Sua mão adentrou minha saia e tocou minha
boceta, deixo escapar um gemido baixo o fazendo travar o maxilar,
seus olhos verdes parecem duas joias me encarando como se
soubesse que não tenho escapatória. Move os dedos de uma forma
que causa um atrito delicioso, porra! — Já disse o quanto seus
gemidos fodem com a minha cabeça? Me deixe ouvi-los mais uma
vez.
— Que se foda o Kaio…
— Que se foda todo mundo, chaveirinho!
Capítulo 1

Como alguém consegue perder a porcaria do celular, sendo que


usou faz cinco minutos? Não é possível um negócio desse não!
Vasculho a sala, arrancando as roupas espalhadas e jogando-
as no outro sofá. — Eu sei, preciso limpar essa casa, nem que seja
com as minhas lágrimas. Nada desse celular em lugar nenhum, e
daqui a pouco Josh chega para irmos para a porcaria do trabalho.
Conto até três, com os olhos fechados começo a lembrar de
todos os lugares que fui com ele ainda na minha mão. Ao deparar
com a cena patética que fiz, coloco a mão no bolso da calça e
tcharan! A porra do celular está ali.
— Eu preciso de um médico, urgente! — Falo sozinha, porque
isso também virou um costume, pelo visto.
Mas posso colocar a culpa no universo, por estar acontecendo
isso com a minha cabeça, já que ultimamente minha vida está
resumida em trabalhar e pagar boletos. Não que aquilo possa ser
chamado de emprego. Trabalhar em uma cafeteria no shopping sem
ter um dia de folga é fodidamente horrível. Mas poderia ser pior,
como por exemplo, depender dos meus pais ou meu irmão mais
velho, e isso está fora de cogitação.
Aqui nestas veias corre o sangue de uma sagitariana,
independente e que pode viver na lona, mas não depende de
ninguém para sobreviver. É a lei número 1 da minha vida. Sim,
tenho uma lista e ela fica grudada na minha geladeira caso minha
cabeça de ervilha esqueça.
Em breve estarei abrindo minha própria cafeteria, graças ao
bom Deus, venho guardando cada maldito centavo desde que
comecei a trabalhar naquela espelunca, e aos poucos estou
arrumando o “Aroma de café”.
Tenho dezoito anos, mas sempre fui muito focada no que quero
para minha vida e os planos para o futuro que com certeza herdei
do meu pai, que até três anos atrás tinha um restaurante famoso e
resolveu fechar para curtir a vida ao lado da minha mãe.
No meu aniversário de dezoito anos, ele me deu uma grana
sabendo desse sonho e isso ajudou a diminuir o tempo para
inaugurar minha tão sonhada cafeteria. Tirando esse projeto que em
breve sairá do papel, minha família é a coisa mais importante na
minha vida, sempre que tenho uma folga vou visitá-los. Me
empanturrar com a comida do meu pai até explodir, porque minha
mãe é péssima na cozinha.
Esse quesito puxei a ela, eu consigo queimar um ovo cozido.
Meu irmão sempre que vem me visitar, traz comida com medo
de morrer intoxicado com a minha. Não posso nem ficar brava,
porque nem eu mesma consigo colocar qualquer coisa que eu faça
na boca. A única coisa que sou boa é o quê? Isso mesmo, fazer
café. Meu pai vive trazendo vasilhas e mais vasilhas para eu não
viver com comidas industrializadas, coitado. Ele sente falta do
restaurante e continua cozinhando sem parar, e é aí que a filha
safada e sem talento para cozinhar, aproveita da sua boa vontade.
Vejo a hora no celular e corro para pegar a bolsa que deixei no
quarto. — Da qual só lembrei porque acabo de procurar o celular lá,
bicha burra. — Josh está quase chegando para irmos e eu estou
aqui feito uma barata tonta no meio da sala. É hora de ir para a
tortura, como eu e meu amigo gostamos de falar.
Mas não pense que sou uma mulher focada e que vivo para o
trabalho, gosto de dançar, sair com o Josh. Uma versão curta e mais
fofa do seu nome, Joshua trabalha comigo naquela cafeteria infernal
e não vê a hora de vir trabalhar no meu cantinho. Ele diz que assim
que eu inaugurar, estará socando a porta para que eu o contrate, vai
ser divertido ter aquele maluco por perto.
Como sou a faz tudo daquela budega, tenho que abrir a cafeteria
porque o dono é um folgado. Só quer ganhar dinheiro matando os
funcionários de trabalhar, nem para contratar mais ajudantes aquele
velho fedorento tem capacidade.
Assim que estou pronta e com o uniforme, pego minha bolsa e
vasculho a sala vendo se não esqueci de nada, não consigo ver
nada com a zona de guerra que se instalou na minha sala, preciso
de uma faxineira urgente, capaz de perder a coitada no meio dessa
bagunça. Se dependesse da minha disposição, isso aqui iria parecer
um chiqueiro. Mas preciso mostrar para mim mesma que sou uma
mulher adulta e limpa.
Fecho a porta de casa, escutando Josh buzinando no portão.
Gargalho vendo a barulheira que ele faz prestes a acordar a vizinha
fofoqueira, mais conhecida como Matilde Fifi.
— Quer parar de fazer isso? — Ordeno entrando no carro e me
acomodando no banco do passageiro.
— ESTÁ NA HORA DA DONA MATILDE FISCALIZAR A
VIZINHA  ENTRANDO NO CARRO DE UM GOSTOSO!! — O
abusado grita a plenos pulmões e gargalhei ao ver a senhora
fofoqueira aparecer na janela com aqueles olhos esbugalhados. —
OLÁ VIZINHA, SENTIU MINHA FALTA!? — Ele diz a ela.
— Você não presta.
— Nunca disse o contrário. — Me abraça de lado e aperta meu
corpo fazendo estalar. — Bom dia, cabrita.
— Cabrita é a sua mãe.
— Vou contar pra ela.
A mãe do Josh me ama, desde que iniciamos nossa amizade dois
anos atrás, a senhora fofa sempre acha que eu e o filho vamos ter
alguma coisa, mas tudo que é bom dura pouco, não é mesmo?
Somos irmãos gêmeos de mães diferentes, completamos a fala do
outro, todo aquele lance de amigos verdadeiros, mas nada além
disso.
Nunca pensamos em ter algo, mas a mãe dele nunca perde a
oportunidade de tentar. O filho está mais preocupado em estudar e
trabalhar, não arrumar namorada, ainda mais uma louca e com um
parafuso a menos. Sou a que leva ele para o mau caminho, não a
que o faz sossegar o rabo em casa em pleno sábado à noite,
comendo pipoca e assistindo um filme chato que os dois ficam
depressivos. 
Josh após provocar dona Matilde dá a ré e buzina mais uma
vez para a senhora que empina o nariz como uma verdadeira
rancorosa, ela é assim desde que meu amigo veio aqui pela
primeira vez. Eu digo que ela finge que o odeia, mas no fundo
adoraria que ele sentasse na varanda dela e passasse a tarde ali
fofocando.
Isso é a cara dele.
O abusado mora a quatro ruas depois da minha, e não sei porque
não se muda logo já que não sai daqui. Cada dia ele traz uma
trouxa de roupa e deixa aqui para caso precise. — Essa é a
desculpa, ainda acho que essa peste não vive sem mim.
Ele fala sem parar em todo o trajeto, e eu como adoro suas
piadas horríveis e o senso de humor duvidoso, acompanho o bate-
papo na maior empolgação, está para nascer alguém que acorde de
bom humor como Josh.
— Não saiu no fim de semana pra  beijar na boca? — Olho para
ele com aquela cara de: Ultimamente tenho treinado em maçã para
não perder a prática, acha mesmo que fiquei com alguém?
E o cretino ri descaradamente.
Não tenho pegado nem resfriado ultimamente, quem dirá um
homem gostoso de 1,90 e com tanto músculo que parece que se
segurar o peido, irá explodir.
— E você? — Cutuco seu braço e ele tira a atenção da estrada
um segundo para mudar a música. — Não te vejo com nenhuma
menina.
— Minha vida amorosa está mais parada que saci de patinete. —
Gargalho, sabendo que estou do mesmo jeito. — É sério cabrita, já
fazem 84 anos que não beijo na boca, acho que nem sei mais como
se faz.
— É como andar de bicicleta, a gente nunca esquece.
— Eu nunca andei de bicicleta. — O encaro chocada e o vejo
fazer um bico fofo. — Estou falando sério. Nunca nem toquei em
uma pra saber como se faz.
— Nossa próxima folga vou te ensinar a andar de bike, você é
quase um idoso, já deveria ter aprendido.
— Idoso é teu irmão. — Bato nele que ri. — E o Gabriel. Com
certeza ele é um idoso.
— Para, aquele homem a gente nunca diz que ele tem trinta e
oito anos, é um gostoso!
— E idoso.
— Só porque você é um neném de vinte anos?
— Exatamente.
Cerca de quinze minutos com a gente cantando
desafinadamente músicas sertanejas e chamando a atenção de
todos na rua, enfim chegamos no inferno, mais especificamente no
trabalho. Vejo a fachada branca do shopping e já me dá uma
gastura sabendo que irei passar o dia nessa porcaria. Já falei o
quanto odeio rotina? E se fosse uma rotina mais divertida até
pensaria, mas isso aqui é como se você odiasse a si mesma e
descontasse se colocando nesse trabalho.
Todo dia saio de lá mais suada do que os caminhoneiros em
beira de estrada, talvez consiga ficar ainda pior por conta daquela
porcaria de estabelecimento não ter um ventilador funcionando.
Queimou algumas semanas atrás e o dono nem para consertar, quis
ter algo tão velho quanto ele e deixou aquele negócio como relíquia,
que enfie na bunda!
Não é o trabalho que odeio, e sim o Sr. Soares. Aquele velho não
entende nada de como comandar um negócio, deixa tudo nas
minhas mãos e tenho que fazer horas extras porque o infeliz não
libera a gente, eu poderia comprar uma casa se fosse cobrar todas
as horas que ele não pagou.
Se fosse um bom patrão, não reclamaria, mas não vale a água
da louça aquele infeliz.
— Bora para a sessão de tortura. — Murmuro desanimada para
Josh.
— Nosso lugar está garantido no inferno, cabrita.
— Então vamos de tobogã de uma vez, pelo menos a gente se
diverte no caminho.
Ele estaciona em uma vaga próximo a escada rolante e desço
esperando a donzela, ele trava o carro e vem em minha direção
fazendo uma pose engraçada. Não aguento ficar perto dele sem rir,
parece que somos o patati e patata, ninguém consegue decifrar
quem é o mais desprovido de neurônio.
Ele me abraça de lado e subimos o primeiro andar agarrados,
com a escada rolante nos levando para a masmorra. Vejo vários
turistas passeando pelo shopping antes de ir para as Cataratas do
Iguaçu, um dos pontos turísticos mais lindos do Brasil, sou
privilegiada por viver nessa cidade. Foz é um lugar encantador e
cheio de lugares para visitar, beber e se divertir nos barzinhos à
noite.
Já no andar da cafeteria, posso ver a fachada em preto e
branco, aquela placa feia escrito "café é sucesso" que porra de
marketing é esse? Aquele homem é uma mula, já falei mil vezes pra
mudar e ele não quer.
— Vai demorar para você inaugurar o nosso café?
— Nosso? — Digo com uma pitada de humor. — Não divido o
que é meu, garotão, sou possessiva e rancorosa.
— Queria poder conversar com você Kate. — Paro no meio do
shopping, curiosa com o que vai sair dessa boca esperta, já que me
chamou pelo nome, coisa rara vindo dele. — O que acha de sermos
sócios?
Demorei para processar sua pergunta, e quando faço dou
pulinhos em sua frente arrancando uma risada gostosa do meu
melhor amigo.
— Você está falando sério, Josh?
— Mais sério impossível. — Dispara me encarando. — Sei que
encontrou o lugar ideal, eu estava lá com você. Vamos fazer tudo
juntos, dividimos todos os gastos e seremos parceiros de
negócios… o que acha?
— Acho perfeito! — Pulo no seu colo e ele me segura com uma
das mãos, apertando minha cintura para não cairmos feito jacas no
meio do shopping. — AAAH! Sua mãe vai surtar, Josh! Ela odeia
que você trabalhe aqui, vamos ser os melhores da cidade.
— Então isso é um sim!? — Diz, me soltando e sorrindo
largamente.
— Mas é claro, seu bobo, porque diabos recusaria? Hoje mesmo
vou contar para minha família, vão adorar a notícia. Kate & Josh
coffee, será nossa assinatura para tudo!
— Deixa de ser louca.
Saio arrastando ele pela mão até a cafeteria onde ficaremos por
pouco tempo. Era isso que eu precisava para dar o pontapé inicial,
ter meu amigo ao meu lado. Como ele disse, achei o lugar ideal
semana passada e já paguei quatro meses de aluguel antecipado,
agora iria começar a comprar os móveis e tudo o que uma cafeteria
perfeita precisa.
Iremos ser os melhores da região, sempre estudando e
aperfeiçoando nosso café. Meu melhor amigo fez inúmeros cursos
assim como eu, sempre melhorando o que já está bom. Não basta
ser gostoso, tem que mostrar ao cliente o sabor, que ele degusta e
remete à infância, deixando um gostinho de quero mais.
— Achei que teria que abrir o café sozinho. — O rabugento do
nosso chefe já joga seu veneno às nove da manhã.
— Eu acho que é o dono, não? — Ironizo. — Quem deveria abrir
é você.
— Engraçadinha… ande logo.
Bufo irritada, louca para fazer ele engolir esse molho de chaves,
para que desça por essa barriga enorme e saia por um lugar que ele
não deseja, parecendo que está saindo canivete desse rabo gordo.
Josh fica atrás dele, fazendo caretas engraçadas me fazendo
segurar o riso e tentar colocar a chave no buraco sem rir, ele é o
único motivo de eu não ter desistido desse emprego miserável.
Enquanto vou colocando o café para passar e adicionando os
ingredientes necessários, vou vendo se falta produtos para já pedir
ao velho ranzinza. — Que já está deitado na sua sala fedida,
prestes a dormir de novo e roncar feito um porco. — Enquanto isso,
Josh vai abrindo a cafeteria e arrumando as mesas de acordo com o
gosto esquisito do dono.
Após pedir a todos os santos que eu conheço para que eu tenha
paciência de aturar mais um longo dia de trabalho, vejo a figura de
Gabriel surgir em uma farda da polícia que o deixa ainda mais lindo,
o amigo do meu irmão — que no caso é meu também, porque ele
me viu crescer. — Vem com aquele sorriso que só ele tem,
mostrando que já acorda feliz.
Ele traz Safira, sua cadela treinada para ajudar contra bandidos e
encontrar drogas quando necessário, os dois têm uma conexão
incrível e eu amo esmagá-la. Ela é da raça pastor alemão, e é a
coisa mais linda desse mundo. Gabriel segura a coleira dela e a
mesma está com a focinheira como o shopping determina, ela fica
quietinha em uma mesa onde ele a deixa enquanto caminha em
minha direção com um sorriso no rosto.
Ele faz aniversário uma semana antes de mim, dois
sagitarianos, consegue imaginar a loucura que é quando estamos
juntos? Somos a Annabelle e Edward Cullen assistindo Avatar
juntos no cinema, deu pra entender o caos? É sobre isso.
— Olha se não é o zé pistola. — Josh debocha voltando para
trás do balcão e recebe um olhar estreito de Gabriel, mas ao me
encarar volta a sorrir de canto.
— Olá, chaveirinho. — Ele me chama pelo apelido que me deu,
mostrando aqueles dentes brancos e a boca carnuda. — E olá,
projeto de demônio.
— Também te amo! — Meu amigo volta a ironizar.
— Vai ser o de sempre? — Pergunto, tentando fazer esses dois
pararem de trocar farpas e recebo um aceno confirmando.
Começo a preparar o expresso do viciado, enquanto Gabriel senta
em uma das mesas acompanhado de um policial novo, geralmente
ele trabalha com meu irmão, talvez esteja treinando esse e Kaio
ficou com outro.
O cara pediu uma coca-cola para Josh e o mesmo levou de
imediato, quem toma coca-cola às nove da manhã? — Você Kate,
meu cérebro debocha, mas é porque gosto da sensação do meu
estômago virando pedra segundos depois, eu sei, sou meio louca…
e viciada.
— Não sei como você consegue gostar desse cara. — Josh
cochicha no meu ouvido, enquanto ambos encaramos Gabriel que
está nos retribuindo o olhar. — Ele é um mala.
— Se você parasse de chamá-lo por esse apelido feio, quem
sabe ele seria gentil com você.
— E perder a oportunidade de vê-lo nervosinho? Qual seria a
graça?
— Vocês enfim se tornarem amigos? — Digo o óbvio.
— Isso está fora de cogitação. — Me abraça por trás apenas
para ver se provoca Gabriel, eu poderia dizer que isso o afeta às
vezes, mas é difícil entender o que suas expressões demonstram.
Gabriel tem tendência a ser possessivo com os amigos, é
engraçado vendo ele odiar Josh por ser próximo de mim, os dois
tem essa rivalidade desde que conheci meu amigo aqui na cafeteria
há dois anos, as trocas de farpas foram imediatas, nem um aperto
de mão de ambas as partes.
Tenho que conviver com as duas crianças rabugentas, tentando a
cada dia fazer eles se acertarem.
Termino de preparar o café e coloco na bandeja junto com uma
xícara branca e os quatro sachês de açúcar porque Gabriel é uma
formiga, só que gostoso. Pode ser meu amigo, mas que eu saiba
não tenho problema de visão.
No caminho até a mesa, vou mantendo o equilíbrio para não
acontecer nenhum imprevisto e chego em sua mesa. Recebendo
dois pares de olhos claros, o outro policial tem os olhos azuis,
enquanto os de Gabe são verdes.
— Você é a melhor, chaveirinho. — Abraça minha cintura e
seguro o ar sentindo sua mão grande me pressionando contra seu
corpo, estou com a bunda sendo amassada pelo braço forte.
Você é forte Kate, não tanto quanto gostaria, mas segure a
excitação para não passar vergonha. Estou há tanto tempo sem
sexo que qualquer contato me deixa mole.
Ele é seu amigo, sua vadia excitada.
Gabriel é um homem lindo, daqueles que você sabe que deve
comer uma mulher deliciosamente, no auge dos seus quase
quarenta anos, tem um corpo invejável, músculos para dar e vender
por treinar todos os dias. Os cabelos alinhados em um castanho
médio e os olhos verdes matando qualquer mulher de infarto. Sem
contar os dentes perfeitos, o sorriso fácil e como é divertido.
É aquele famoso pacote de perfeição.
— Não sei se ela é a melhor. — O homem que está com ele me
encara malicioso, lembrando o que Gabriel acaba de falar. — Nunca
provei a… Kate. — Diz, lendo meu nome no avental preto.
— E nunca vai. — O moreno que me abraça retruca com a voz
mais grossa do que deveria.
— Qual é cara, vai dizer que ela é sua?
— Não sou de ninguém. — Digo. — Sou dona de mim mesma.
— E a mulher empoderada, é solteira?
— Com muito orgulho.
— O que acha de sair com um policial gostoso que vai te dar a
melhor noite da sua vida?
— Uau! Você realmente se garante, ou vai apenas passar
vergonha?
— Toma, distraído. — Gabriel murmurou rindo do amigo, vendo
que o homem ficou quieto.
Dou a volta na mesa, ficando de frente para Gabriel e me inclino
próxima ao ouvido do policial debochado.
— Sabe, eu gosto de um sexo bruto e que o homem me deixe
com as pernas bambas. — Vejo Gabriel abrir a boca chocado pelas
palavras chulas que digo na orelha do homem, mas ele sabe que
não penso antes de falar. — Não eleve seu ego por conta de uma
farda, garotão.
— E como sabe que sou ruim na cama? — Ele ainda continua.
— Cara — Gabe fala com humor na voz. — Ainda não se cansou
de passar vergonha? Ela sempre tem uma resposta na ponta da
língua, sugiro que cale a boca.
Volto a ficar de pé e ajeito o avental antes de piscar para ele que
sorri para mim gostando de como estou me saindo com o
engraçadinho.
— Talvez uma senhora de setenta anos que já perdeu a
elasticidade da pepeka possa fingir que sentiu algo com seus 3
centímetros de pau, porque a senhorinha é fofa demais para te dizer
a verdade. Agora com licença, tenho mais o que fazer.
Gabriel gargalha e Josh que estava no balcão falta cair no chão
debochando do homem. Eu poderia ficar aqui o irritando a manhã
inteira dizendo várias coisas para diminuir esse ego elevado. Ele até
que é bonito, mas não sabe como chegar em uma mulher.
— Isso tudo é medo de descobrir que está errada, chaveirinho?
— Debocha com o apelido que Gabriel me chama.
— Cala boca. — Gabriel murmura para ele enquanto toma o
café. — Como andam as coisas com a cafeteria?
— Ótimas! Tenho uma novidade. — Solto um gritinho esganiçado
louca para fofocar sobre meu sócio, Gabriel sorri ao ver minha
empolgação e espera pacientemente. — Agora tenho um sócio!
Ele me olha surpreso, ansioso para que eu conte quem é. Talvez
ele odeie porque simplesmente engole Josh com farinha por ser
meu amigo também.
— Josh me fez a proposta hoje mais cedo, e aceitei.
— Você vai ser sócia do projeto de demônio? — Sua pergunta
veio em tom sarcástico, estava demorando para o mesmo humor
que o meu aparecer. — Vai deixar aquilo ali comandar sua
cafeteria? Ele é um risco para os futuros clientes, iria fazer todos
morrerem.
— Eu gostei dele. — O outro policial fala e recebe um chute de
Gabriel por baixo da mesa. — Ai cara, qual foi?
— Não se intrometa, Carlos, beba sua coca-cola antes que enfie
a latinha na sua garganta. — Ele volta a me encarar e não parece
feliz com minha novidade. — Tem certeza que é isso que quer?
Dividir seu sonho? Quer dizer, não que minha opinião importe…
— Claro que importa, você é meu amigo.
— Só quero que seja feliz, chaveirinho… você merece ter seu
sonho realizado, não deixe que ninguém estrague isso.
Tem como não amar esse projeto de gente? Amasso ele e esfrego
a mão em seu cabelo, desalinhando os fios perfeitinhos. Gabriel
solta um riso pela minha audácia e seguro seu rosto com as duas
mãos, fazendo me encarar.
— Obrigada! – Digo.
— Vou poder tomar café de graça, Kate? — Carlos pergunta e
reviro os olhos. — Ou podemos sair como disse antes e você
perceber que sou um partidão.
— Meu Deus, cala a boca Carlos. — Eu e Gabriel falamos
juntos.
Sorrio enquanto me distancio da mesa, deixando os dois em uma
conversa acalorada onde o homem não tira meu nome da boca e
Gabriel o soca no braço fazendo o mesmo gargalhar. Seja lá o que o
cara diz, faz Gabriel me encarar de um jeito diferente.
— Você não vale o ovo que come. — Josh sussurra quando
voltei para trás do balcão.
— Fala o que quer, ouve o que não quer. — Sorrio quando o
policial me encara, ainda puto por diminuir seu pau. — Até que é
bonitinho, mas não aguentaria esse homem falando o quanto é lindo
e sexy a noite inteira.
— É bem capaz dele trepar com você, enquanto se encara no
espelho.
— Eca!
Os minutos foram passando enquanto atendi outros clientes e
finalmente Gabriel e o outro policial foram embora, ele vem todos os
dias aqui com meu irmão, sempre pede a mesma coisa e se
despede me dando um beijo na testa de forma carinhosa.
Gabe participa das festas da minha família desde a infância, mora
na mesma rua que minha família. Ele perdeu os pais quando tinha
vinte e um anos e estava na delegacia que trabalha até hoje, Gabe
nunca se recuperou totalmente daquela noite, e não é para menos.
Eu era pequena então não lembro, mas a história que meus pais
contaram, é de arrepiar qualquer um.
Por isso ele é superprotetor com todos que conhece e se importa.
É assim que ele garante nossa segurança. Eu deixo ele ser assim
para ver se relaxa, mas o trabalho que escolheu o faz ficar em alerta
o tempo todo.
Quando fiz dezessete pedi para meus pais me emanciparem e
resolvi morar sozinha e cá estou desde então, um bairro próximo da
minha família. Percebi que eu poderia ter mais, ser quem eu
quisesse, ficar de pijama o dia inteiro sem me importar com
parentes entrando sem ser convidados.
Ter minha liberdade foi a melhor coisa que me aconteceu.
Gabriel foi apenas no dia da minha mudança, por insistência de
Kaio que não queria carregar tudo sozinho. Ficaram para jantar e
comemos pizza sentados no chão com um litrão de coca-cola, foi
tão divertido ter os dois naquela noite.
Nunca consegui identificar seus olhares, conforme fui crescendo e
obtendo um corpo invejável, vi que Gabriel começou a ficar mais
distante, percebendo que a menina que ele carregava nas costas
cresceu e ficou gostosa. Sempre fomos amigos, daqueles que se
veem todos os dias, eu contar para eles sobre meu primeiro beijo e
os dois ouvirem tudo querendo arrancar a língua do menino que me
beijou na escola.
Ou quando ficava doente e meus pais trabalhavam e os dois
cuidavam de mim como se fosse filha deles, me dando doces e
cafuné até melhorar.     
Ele já tinha me escutado falando palavras obscenas, mas
sempre para irritar Kaio e não dizer para um policial estranho como
gosto de ser fodida. Mas ele sabe que não tenho filtro na língua e
nos damos muito bem por conta disso, ele é da zoeira como eu e
sempre que podemos irritamos meu irmão mais velho.
Poderia até dizer que ele é um irmão postiço como considero
Josh.
Capítulo 2

Meu dia estava iniciando da pior forma possível, primeiro porque o


delegado separou meu parceiro de mim, me fazendo treinar o
policial novo enquanto Kaio ficou na delegacia. Depois esse imbecil
foi dar em cima de Kate na minha frente, demonstrando estar
interessado na irmã do meu melhor amigo.
Nem a pau deixaria.
Ver ela jantando ele em pleno café da manhã melhorou meu dia
que está uma merda. Estou vendo que vou jogar esse idiota para
fora do carro a 80km por hora se continuar me irritando.
Depois, Kate contou que terá aquele projeto de demônio como
sócio e segurei a língua o máximo que eu pude. Sei que ele é um
bom amigo pra ela, mas não sei se suportaria aquele cara como
dono da cafeteria dela, onde eu vou praticamente morar porque só
ela faz o café do jeito que gosto. Ter que ver a cara dele todo dia, já
me basta aqui.
Mas não nego que o que mais me irritou foi esse policial idiota
falar safadeza para a chaveirinho, meu sangue subiu e por pouco
não avancei no pescoço dele naquele momento.
Acham que tem um rei na barriga por estar com uma farda, como
se fossem mais importantes, mas é só estarem em uma situação de
risco que percebem o quanto ser um babaca ignorante não te ajuda
em nada. Que sua vida é um fio e corre riscos de morrer sendo um
tremendo pau no cu com todos a sua volta.
Já passei por muita coisa nesses anos como policial, vi tanta
maldade que me mostrou que ser um homem honesto e família hoje
em dia é raridade. As pessoas estão ficando cegas de ódio,
destroem famílias por querer roubar uma carteira, matam sem
pensar que estão acabando com uma vida, e que ela importa.
— Fala sério, cara. — Carlos diz com uma voz carregada de
deboche que me faz apertar o volante. — Qual é a sua com aquela
gostosa? Você gosta dela?
— Está maluco? — Retruco rapidamente. — Kate é minha
amiga. Além de ser irmã do meu melhor amigo, jamais sentiria algo
por ela.
Eu vi essa garota crescer, pegava ela no colo e agora se tornou
essa mulher tão… pare com isso Gabriel, não caia na conversa
desse filho da puta, Kate continua sendo sua irmãzinha do coração,
ela só ficou gostosa demais e com a língua afiada.
Porra! Escutar ela falando como gosta de ser fodida me fez
imaginar aquela boca carnuda pedindo pelo meu pau, querendo que
eu goze naquele rosto de boneca. Kaio certamente arrancaria
minhas bolas se soubesse o quanto imaginei.
Caralho! Tem como lavar os pensamentos com sabão?
— Eu sabia! Até você quer pegar aquela gostosa.
— Cale a boca antes que eu te jogue para fora do carro.
— Eu jogaria a chaveirinho em cima daquela mesa e foderia
aquela bunda enquanto amarro o avental em seu pescoço, a
puxando de encontro ao meu pau em cada estocada. — Freio o
carro que estava em alta velocidade, sentindo uma vontade imensa
de quebrar o maxilar desse desgraçado. O carro para com tudo e
Carlos bate a cabeça no painel, quem manda não usar o cinto. —
Porra, cara, toma cuidado!
Fico preocupado ao escutar Safira soltar um chorinho doído e
olho para trás vendo ela voltar para o banco, deve ter caído e odeio
ainda mais esse desgraçado por me fazer machucar minha cadela.
— Se eu ouvir o nome dela saindo dessa sua boca imunda mais
uma vez — o encaro com ódio. — Vou garantir que não esteja
respirando até o final do dia.
— Peraí estressadinho… não falo mais.
— Acho bom.
Carlos coloca a mão no ferimento e vejo sair um pouco de
sangue, poderia ter quebrado essa cara feia, quem sabe assim esse
merda pensaria duas vezes antes de falar da minha chaveirinho.
Como ousa chamá-la pelo apelido que eu dei? Como se atreve a
dizer essas coisas escrotas sobre ela e achar que vai continuar
inteiro?
Desgraçado!
Respiro fundo, tentando manter o controle que sempre tive. Mas
nesse momento meu corpo está queimando de ódio,  por saber que
ela poderia querer algo com esse cara e eu teria que aceitar sua
escolha, graças ao bom Deus ela o cortou. Ou melhor, diminuiu.
Não sei como aquela maluca não consegue ter filtro na língua,
sempre sai uma pérola que me faz gargalhar.
Uma senhora de setenta anos, por Deus, Kate.
Volto a acelerar o carro, depois de ver algumas pessoas
desviando da viatura e nos encarando sem entender o que houve.
Carlos geme ao apertar o machucado e sorrio gostando de ter
causado isso.

— QAP, iniciando Código 7 na QTH perto da Avenida Brasil,


sentido a Avenida República Argentina! — Escuto no rádio. —
Solicito QRR com um indivíduo suspeito em um Fox preto sem
placas.

QAP Significa: Na escuta.


QTH Significa: Localização.
QRR Significa: Apoio.

Acelero o carro sabendo que estou perto e poderei descontar


minha raiva em outra pessoa. Deveria ter pedido para Kate fazer um
café para a viagem, se eu soubesse que estaria irritado ao sair de
lá, só o café dela para melhorar meu humor de centavos.
Kaio vive me irritando dizendo que só a irmã dele para melhorar
meu humor, é chegar na cafeteria que eu sorrio, antes disso sou um
pacote de estresse que ele tem vontade de chutar. Acho que ele tem
razão, pelo visto, vou carregar Kate e uma garrafa de café o dia
inteiro para descobrir o quanto isso é real.
Estou feliz por ela estar realizando o sonho sozinha, lutando para
ter aquilo que a faz feliz. Sempre a apoiei e ajudo no que precisar,
se tiver que passar a madrugada arrumando a cafeteria para a
inauguração, serei o primeiro a estar lá. Não me surpreendi quando
ela me chamou para conhecer o lugar que tinha escolhido, ele tem
aquele estilo pinterest, com flores suspensas em cima do nome, ela
diz que vai deixar lá porque achou perfeitas.
Odiei o fato dela ter chamado aquele tal Joshua, já disse que não
engulo aquele cara? Pois é. Sempre que pode aquele filho da puta
me irrita, eu sou um cara debochado e quando encontro um infeliz
que também é, preciso mostrar quem manda, é a lei da vida.
Mas Kate consegue ser pior que nós dois, sempre dá um jeito da
gente ficar no mesmo ambiente sem se matar, coisa rara
ultimamente. Odeio aquele apelido ridículo que colocou em mim
apenas para me irritar, vontade de enfiar a pistola na boca daquele
infeliz e apertar o gatilho até não restar mais balas no pente.
Chego na Avenida Brasil e acelero o carro vendo mais uma
viatura à frente perseguindo o infrator, ligo a sirene e Carlos apenas
segura no banco com medo de eu frear de novo e ser arremessado
até o painel, ele enfim passa o cinto e não consigo segurar o
deboche.
— Coloque o cinto parceiro, nunca se sabe quando vai bater a
cabeça de novo.
— Engraçadinho…
Volto a focar minha atenção na perseguição, vendo o carro preto
logo mais à frente, ultrapassando os carros em alta velocidade, a
viatura parece que está voando pela pista. Com a sirene ligada, os
motoristas acabam abrindo caminho e os que não conseguem
apenas desvio e continuo meu trajeto.
A adrenalina percorre meu corpo, como todas as vezes que faço
isso. É o que amo fazer, sinto que estou no lugar certo, fazendo
aquilo que sempre sonhei. É por esse motivo que apoio Kate no seu
sonho, porque nada é mais gratificante do que fazer aquilo que se
ama, que tem o dom.
Quando eu e Kaio éramos pequenos, sempre brigamos para
disputar quem seria o policial e quem o ladrão. Era nossa
brincadeira preferida, foi o sonho dos dois desde moleques e ver
nós dois aqui agora, parece que estava predestinado. Meu melhor
amigo e eu trabalhamos na mesma delegacia.
Tenho trinta e oito anos, mas sirvo a lei desde meus vinte e um.
Dezessete anos fazendo aquilo que escolhi e não me arrependo,
perdi pessoas por conta de escolher esse trabalho, pessoas que eu
amava mais que tudo. Ainda sinto o peso da culpa sobre meus
ombros, mas a cada novo dia, tento entender que não posso voltar
atrás.
Ainda sinto o gosto amargo da derrota, e o medo de que isso
possa acontecer de novo com as pessoas que amo, Kaio,
chaveirinho e a família deles que me adotaram sem pensar duas
vezes. Sem a ajuda deles acho que eu teria caído em um poço
fundo e escuro o suficiente para que eu não enxergasse um palmo à
minha frente.
Sem os Martins, eu seria apenas um órfão, sem vida, sem futuro,
sem amor. Aquela família se tornou a minha depois do que
aconteceu, e serei eternamente grato a tudo o que fizeram por mim.
É por eles que estou aqui hoje, perseguindo esse carro e tirando
mais um criminoso das ruas.
Ultrapasso a viatura que estava o perseguindo e chego perto o
bastante para encostar o carro no do infeliz e o fazer ser jogado
para frente. Carlos mira nos pneus e atira várias vezes, obtendo a
atenção dos turistas e moradores. Foz do Iguaçu é o berço dos
turistas, vindo do mundo inteiro para conhecer as famosas
Cataratas do Iguaçu, mas tem aparecido cada vez mais bandidos
por conta dos turistas, suas bolsas são levadas, carteiras roubadas
e estamos aqui para garantir que não irá acontecer de novo.
Bato na traseira do Fox preto e ameaço de ultrapassar, mas ele
me impede jogando o carro para a direita, repito a tentativa e
finalmente consigo. Antes de ultrapassar, jogo o veículo contra ele
fazendo-o girar na pista ao perder o controle. Pedestres saem
correndo ao ver o carro desgovernado e ele para batendo em um
poste.
Freio a viatura e saio do carro pegando minha pistola que
estava no coldre e aponto para o carro do criminoso. Ele ainda não
saiu, a testa sangrando e o machucado foi feio pelo tanto de sangue
escorrendo.
— Mãos na cabeça! — Ordeno.
Ele, mesmo desnorteado, faz aquilo que mandei e coloca as mãos
na cabeça. Abro a porta e o puxo para fora, jogando-o contra a porta
do passageiro. Seu rosto está colado na lataria e guardo a arma no
coldre para que eu consiga revistá-lo em segurança, enquanto
Carlos direciona a sua para o meliante. Não encontro nada ilegal em
seu corpo, deixo ele com meu parceiro e entro no carro revistando.
A viatura que estava perseguindo ele antes de nós, afasta a
multidão que começou a ficar ao redor, querendo ver o que está
acontecendo.
Abro o porta-luvas e encontro vários pacotes de drogas ali, eles
estão cada dia mais abusados, percorrendo a cidade na maior cara
de pau. Continuo a revistar enquanto vou jogando os pacotes para
fora e um dos policiais vai amontoando para relatarmos a
quantidade encontrada. Ao tatear uma das mãos embaixo do banco
do motorista, acho uma pistola e saio do carro depois de garantir
que revistei tudo.
Entrego a arma a Carlos que ajuda o outro policial a fazer o
balanço de drogas, algemei e puxei o traficante em direção a viatura
o jogando dentro do camburão. Ele geme de dor e fecho a porta na
sua cara, sabendo que meu trabalho aqui está feito.
— Vamos Carlos, deixe que eles façam o restante do serviço.
— Beleza.
O trajeto foi rápido, precisava prender esse infeliz e garantir que o
delegado me tirasse da função de babá de Carlos, apesar de ver
que é bom em ação, ainda não consigo engolir esse idiota.
Estaciono em frente a delegacia e vejo que está lotada, mais um
dia na loucura que é nossa vida. Pessoas fazendo boletins de
ocorrência contra maridos agressivos, até mesmo esposas que
esfaqueiam vendo eles curtirem foto de mulher de biquíni no
instagram.
As pessoas são loucas, já vi de tudo.
Saio da viatura indo até o camburão para tirar o traficante que só
gemia na estrada e Safira pula a janela no mesmo instante indo
junto comigo, ela é treinada para isso, qualquer ameaça ela vai agir.
Carlos vem ao meu encalço e retira a arma do coldre apontando
para o carro, me deixando sem entender a porra que ele tá fazendo.
— Ele está algemado Carlos, você tem que estar com a mão no
coldre para sua segurança, mas não apontar para um homem
desarmado.
— E se ele tentar algo?
Porque virei instrutor de policiais novos? Eu devo ter feito alguma
coisa para o delegado me odiar tanto.
— Só faça o que estou dizendo, coloque a arma de volta no
coldre, mas não tranque o mesmo, deixe aberto para caso precise
tirar a arma rápido. Mas sem apontar para pessoas desarmadas.
— Ok.
Com isso, abro o camburão e retiro o homem que parece estar
grogue da batida, ainda tem sangue escorrendo na cabeça e vão
precisar ver se não foi algo mais grave, caso seja, precisam levá-lo
para o hospital para dar alguns pontos.
Empurro o infeliz em direção a entrada e Safira me acompanha
com a pose de cão de guarda que só ela tem. A menina se
comportou e vai receber uma recompensa quando chegarmos em
casa.
Coloco o homem sentado na cadeira e dou a volta ficando de
frente para ele, sentado preguiçosamente, mostrando que quem
está com problemas é ele, não eu. Dezessete anos nesse trabalho
me fez aprender truques que fazem os imbecis abrirem a boca antes
do tempo esperado. Carlos ficaria aqui dois dias inteiros para
conseguir uma fração do que consigo em meia hora.
— Ok. Em dois minutos um policial irá entrar por aquela porta
com sua ficha em mãos e descobrirei até o que você comeu hoje. —
Ele me encara temeroso e sorrio de canto sabendo que estou no
caminho certo. — Você tem duas opções nessa enrascada que você
se meteu. Conta pra mim quem está repassando as drogas e
tentarei te ajudar para que pegue alguns anos a menos na prisão,
ou vou deixar a sua vida atrás das grades parecendo que o inferno é
um parque de diversões. O que me diz?
— Não posso falar nada. — Sua voz ecoa pela sala de
interrogações. — Eles vão me matar.
— Ninguém irá te matar, garanto isso a você.
— O que o famoso policial Gabriel Monteiro poderia fazer por
mim?
Não fico surpreso por me conhecer, Kaio e eu prendemos mais
bandidos nesses dezessete anos do que eu posso contar. Nossos
nomes são conhecidos pela região por sermos quase os anfitriões
dessa instalação. Não são apenas dezessete dias, ou semanas, são
dezessete anos de experiência e os bandidos saberem nossos
nomes é o básico de um bom policial.
Estamos incomodando, essa é a melhor sensação de todas.
— Se sabe quem sou, também sabe do que sou capaz, não é?
— Antes que ele responda, Douglas, um dos policiais que trabalham
com o reconhecimento dos presos, traz a ficha do homem à minha
frente e vejo ele travar na cadeira, sabendo que a ficha é longa e vai
sofrer na cadeia. — Obrigado Dg, feche a porta quando sair.
Abro a pasta amarela contendo a descrição desse cidadão, a foto
dele é a primeira coisa que vejo e vou passando os olhos na
primeira folha.
— Com essa lista que poderia ir facilmente até a entrada da
delegacia, você sabe o que vai acontecer. — Nem o encaro, apenas
fico observando a ficha imensa desse inútil, a quantidade de merdas
que já fez, tenho vontade de jogar ele na cela mais escura pelo
resto da vida. Fecho a pasta, jogando perto dele e o mesmo leva um
susto. — Abra o bico, não tenho tempo para tricotar com você aqui
dentro.
— Eles vão se encontrar na casa de Ruan, é o mandante e
fiscaliza todos nós.
— Que horas?
— Amanhã às nove.
Ele faz uma breve descrição do endereço, como é o local e a
quantidade de homens que estarão lá. Vejo que meu trabalho está
feito e preciso pedir um mandado de prisão para poder agir.
— Até amanhã você ficará aqui na cela da delegacia e depois
que eu pegar seus amigos, todos irão para a prisão estadual.
— Você falou que iria diminuir minha pena!
— Nunca disse isso.
— Mas…
— Eu disse que iria tentar te ajudar… mas não irei fazer isso
porque não ajudo bandido.
— Seu filho…
— Sugiro que não termine essa frase.
Levanto da cadeira o deixando algemado e abro a porta
chamando um dos meus amigos para levá-lo até a cela. É hora de
pedir autorização para pegar alguns bostinhas que estão infectando
nossa cidade.
Capítulo 3

Eu poderia matar um animal facilmente hoje, é fedorento como


um pedaço de carne podre e é denominado como meu chefe. Velho
filho de uma rapariga. Meu horário é das nove às sete da noite, pois
o desgraçado me fez ficar até às dez porque Josh teve que sair e
não teria mais ninguém pra ficar. 
Meu amigo também trabalha no mesmo horário que eu, mas ele
acha que somos escravos e não contrata mais funcionários, mas
deixa ele que hoje foi o último dia que esse inseto me viu nessa
espelunca.
Caminho pela rua na frente do shopping, a procura de um uber já
que Josh me trouxe hoje de novo. A gente intercala, um dia eu o
levo, no outro é ele, mas justo hoje teve que correr para ajudar a
mãe que acabou se queimando com água quente e a levou ao
hospital.
Tadinha, deve ser uma dor horrível e nem quero imaginar muito
isso se não vou até o hospital para vê-la. Josh disse que não é
necessário porque estão fazendo curativo e logo ela volta para casa,
liguei para ele de cinco em cinco minutos tentando ter notícias e o
velho nojento me irritando dizendo que não posso mexer no celular
no horário de trabalho.
Não é mais meu horário de trabalho, seu irritante! — Gritei para
ele, que me olhou chocado por ter aumentado a voz pela primeira
vez em dois anos, mas estava farta de aguentar calada só porque
preciso da merda do trabalho. Que se foda! Não o vi mais até a hora
de ir embora, fechou a cafeteria e saiu emburrado carregando a
chave. Amanhã terá que acordar com as galinhas para abrir, e sorrio
sabendo que pela primeira vez será a porra do dono quem abre
aquela espelunca.
Ainda estressada, caminho na avenida movimentada. Vou me
distanciando do Cataratas JL Shopping, bufando ainda de ódio
daquele homem, como pode ser tão ruim com os funcionários? Com
o próprio negócio? Aquilo ali deveria ser a coisa que ele mais ama e
deixa assim, nas mãos dos outros.
Saio dos pensamentos de querer matar aquele homem e escuto
um barulho estranho, como se algum animal estivesse chorando,
gemendo, sei lá. Vou em direção ao barulho e está próximo ao
asfalto, vejo uma coisinha branca e preta se mexendo próximo ao
poste e me agacho vendo ser um passarinho.
Uma calopsita.
— Oi coisinha linda. — Falo com aquela voz afinada e estranha
que geralmente é usada para bebês, mas esse serzinho é tão pitico
que não tenho escapatória a não ser falar igual uma louca. — Vem
cá.
Levo minha mão próximo e ela fica meio arisca, consigo ver que
tem uma asinha machucada, está sangrando.
— Ô pequenina, eu vou cuidar de você. — Me aproximo um
pouco mais e o bico da calopsita roça no meu dedo, mas ela não
bicou forte, apenas fica ali como se tivesse me conhecendo. — Será
que você tem algum dono?
Olho para todos os lados vendo se alguém procura por ela, mas
apenas vejo pessoas passando apressadas a caminho de casa ou
do trabalho, nenhuma se importa com o pobre animal chorando com
dor, mas eu não irei deixar ela aqui no frio e machucada.
Coloco as duas mãos no chão, ficando bem de frente com as
duas patinhas minúsculas, ela por impulso ou por já estar
acostumada, sobe na minha mão e não consigo não sorrir por esse
feito. Sei que passarinhos que vivem na natureza são ariscos, então
devo supor que essa pitica aqui tinha dono e escapou. Ou deixaram
ela aqui vendo que estava machucada e não queriam mais.
— Vou te levar para casa e cuidar de você. Se tiver dono irei
descobrir, mas por enquanto tomarei conta de você pequenina. — Aí
caiu a ficha que vou pedir uber e eles não aceitam animais. Merda!
— O seu tio certamente virá nos buscar, mas ele certamente me
mataria se ouvisse eu o chamando de tio de uma calopsita. Pelo
jeito, vou ficar apenas como mãe de pet já que sou mais encalhada
que uma orca na praia.
Pego o celular no bolso da calça jeans e dou dois toques na
tela ligando o mesmo, minha foto nas cataratas aparece e sorrio
com a lembrança. Está na hora da gente voltar lá e garantir boas
risadas de novo. Eu, minha família, Gabriel — que também se
enquadra no quesito família — e Josh nos divertimos muito lá,
Gabriel queria jogar meu amigo lá de cima como um saco de
estrume, mas intervi porque ele facilmente faria isso.
Eles têm o mesmo porte físico, altos e com o corpitcho em dia
se é que me entende. Enquanto Gabe é moreno e olhos verdes,
Josh é o extremo oposto, um loiro de olhos azuis. Mas o que mais
acho lindo nos dois não é nem a aparência, ambos são inteligentes
e possuem um coração de ouro, generosos e sempre que podem
ajudam o próximo.
Sou privilegiada em ter pessoas boas ao meu lado, que me
encorajam a ser alguém melhor, não posso dizer que não tive uma
família, porque estaria mentindo, somos o time perfeito, sempre nos
visitando e jantando ao menos uma vez no mês na casa do outro
pra colocar o papo em dia.
Vejo o contato de Kaio e aperto para ligar, levo o celular até a
orelha e escuto o toque, espero que ele não esteja ocupado.
— Oi maninha. — Escuto a voz dele e ao fundo uma conversa,
que parece uma TV ligada.
— Oi, preciso da sua ajuda…
— O que foi? — Me interrompe, ficando preocupado.
— Estava saindo do trabalho e encontrei uma calopsita
machucada, mas não estou com o carro porque Josh me trouxe.
Poderia vir me buscar? Vou levar essa pequenina comigo.
— Um passarinho, Kate?
— Por favorzinho. — Faço um bico, mesmo sabendo que ele não
está vendo. — Não posso deixar o pobre animal passando frio,
estando com a asa machucada.
— Eu até poderia, ir se não estivesse ocupado. — Faço cara de
desconfiada, ouvindo mesmo o barulho da TV — Eu… estou
ajudando uma amiga.
— Estou achando que é mentira sua.
— Sério, maninha. Ela está em apuros aqui, quase morta!
— Meu Deus, Kaio. — Fico preocupada com o tom de voz dele,
como se a amiga estivesse mesmo em apuros. — Então vá cuidar
dela… vou ligar para o Gabriel.
— Isso maninha, Gabriel vai adorar te ajudar.
— Se cuida, irmão. 
E ele desliga na minha cara, espero que a amiga fique bem.
Volto a mexer no celular e dessa vez ligo para Gabriel que me
atende no primeiro toque. Estava com um humor duvidoso, fazendo
piada com a pobre da calopsita e disse que em vinte minutos estaria
aqui. Ele é um anjo na minha vida, sempre que preciso de algo, ele
faz prontamente.
 

Depois de um tempo sentada na calçada fazendo carinho no


pobre animal que ainda gemia com dor, vejo a viatura conhecida e
Gabriel vai parando o carro ficando na minha frente.
— Oi gatinha, quer uma carona? — Pisca várias vezes me
fazendo rir.
— É assim que você conquista as mulheres? Porque se for,
agora entendo você ainda ser solteiro.
— Ei! Elas gamam na minha sensualidade.
— Claro…
Ele sai do carro e abre a porta para mim, olho para ele mostrando
que gostei do cavalheirismo e o idiota se vangloria dizendo que as
mulheres amam, não tenho nem como discordar. Gabriel corre para
seu lugar e ao fechar a porta já liga o carro  indo em direção a
minha casa.
— Isso aí é o pacote que vim buscar? — Aponta para a calopsita
no meu colo.
— Vou chamá-la de Penélope Charmosa.
— Você é péssima dando nome para bicho. — Olho para ele
chocada. — É verdade Kate, você queria apelidar minha cadela de
tartaruga ninja e ela nem parece com uma tartaruga.
Gargalhei lembrando daquele dia.
— Você que não entendeu o apelido, é porque achei ela uma
ninja tipo… trabalhando na polícia, você e Kaio não tem senso de
humor.
— Eu tenho senso de humor. — Rebate com humor na voz. —
Você que não tem senso de ridículo. Olha que bicho mais estranho
Kate, nem tem cara de Penélope, colocaria o nome de Kate nela.
— Ora seu…
O palhaço ri descaradamente e o vejo apertar o volante, não
sabia que Gabe tinha mãos tão grandes. Não consigo desviar os
olhos dali, os homens que geralmente pegava — isso já faz oitenta
e quatro anos — pareciam ter mãos de mulheres. Acho que por isso
que não peguei mais ninguém, não acho um ser humano decente e
que tenha mãos e pau grande. É pedir muito?
O homem precisa saber enforcar, é a regra básica para um bom
sexo, e o pau grande, nunca esqueça do pau generoso.
— Porque está fazendo essa cara? — Ele me pega no flagra.
— Que cara?
— Cara de depravada.
— O quê!? Não, estava pensando na cafeteria. — Minto
descaradamente, apesar dele saber que não é verdade.
— Se quiser conversar sobre meninos, estou aqui.
— Meninos, Gabriel!? Você acha que eu tenho quantos anos?
— É difícil te enxergar como mulher, eu te vi crescer, garota!
— Quem manda ser um idoso. — Ele solta uma gargalhada que
me contagia, mas não posso deixar de pontuar a realidade para
esse senhor. — Não pego meninos e sim homens, Gabriel… lógico
que ultimamente não pego nem gripe, mas nem por isso devo
descer do salto e pegar bebês que mal saíram das fraldas.
Ele pigarreia e seguro o riso vendo sua superproteção. Gabe
sempre teve as mesmas manias de Kaio, em me proibir de namorar
quando era mais nova, mas sempre arrumava um jeito de fugir
desses dois e beijar muito na boca.
— Precisa de ajuda com algo? Sabe que quando precisar, é só
chamar né?
— Obrigada, mas será que você poderia me levar em uma
clínica veterinária para ver a asa machucada da Penélope
Charmosa?
— Meu Deus, o veterinário vai ficar horrorizado com esse nome.
É melhor chamar de pacote.
Rio e ele vai fazer carinho na cabeça dela, mas a bichinha se
assusta e dá uma bicada no dedo dele. Gabriel solta um grito e
remexe a mão para cima e para baixo levando a calopsita junto,
gargalho tentando tirar o bicho do dedo dele e Gabe fica andando
em zigue-zague na pista.
— Tira essa coisa de mim! — Grita.
— Calma, para de se mexer.
Consigo arrancar Penélope que faz um som que mostra
claramente que está brava e Gabriel geme de dor. Consigo ver o
dedo sangrando e percebo que a pegada foi forte, sabia que esse
bicho tinha um bico potente, mas isso foi o auge. Ver ele se
debatendo tentando arrancar o coro de Gabriel me fez ter um
ataque de riso enquanto o meu amigo me encarava de forma mortal.
— Desculpa, juro que estou rindo com respeito.
— Esse bicho deve ter raiva, Katherine, é a única explicação de
parecer um devorador de dedos.
— Ele não é um cachorro, Gabriel.
— É pior do que um cachorro, o que não tem de tamanho, tem
de estresse. — Me encara e logo volta a olhar para frente. — Se
livre dessa coisa, porque ele vai te matar com um travesseiro à noite
e depois virá atrás de mim para terminar o serviço.
— Quem manda chamar ela de pacote, ficou ofendida.
— Ofendida? Olhe o estado do meu dedo, chaveirinho.
Vejo o sangue escorrendo do dedo e indo para os outros, coloco
Penélope no meu colo de novo, pegando meu casaco na bolsa e a
deixando aquecida. Pego a mão direita dele e vejo a situação mais
de perto. Gabe me encara estranho, observando nossas mãos
unidas.
Vejo um pano branco no painel e limpo o excesso, o policial forte
que parece um armário resmunga dizendo que está doendo. O
homem nessas horas parece uma manteiga derretida. Dou um beijo
fazendo ele rir e ele olha o dedo vendo o resultado do meu cuidado.
— Prontinho, neném… dei beijinho para sarar.
— Engraçadinha.
Gabriel vai reclamando do dedo e diz que vai tomar remédio
contra raiva, eu só conseguia rir da situação e consegui tirar uma
risada do policial estressadinho. Ele fuzilava a pobre calopsita como
se pudesse derreter a coitadinha.
Apesar de ser tarde da noite, ainda conseguimos encontrar uma
clínica veterinária que funciona vinte e quatro horas. Penélope na
verdade era um macho e o médico riu da minha cara ao contar a ele
o nome que tinha escolhido. 
Gabriel contou ao médico o que a calopsita fez com ele no carro e
apelidou o pobre animal de Rambo, acabei gostando do nome e
disse que o chamaria assim. Agora tenho uma calopsita macho e
que é virado no jiraya. Na clínica eles vendiam gaiola e todos os
produtos que preciso para deixar o Rambo confortável dentro de
casa, com a asa enfaixada terei que cuidar do pequenino.
Gabe, cavalheiro do jeito que é, me trouxe até em casa e me
ajudou a guardar as coisas de Rambo. Acabei colocando ele no
meu quarto, em cima da cômoda para que eu pudesse ficar de olho.
Ele está quietinho dentro da gaiola coberta com serragem para
aquecê-lo. O médico disse que ele não tem nem um ano ainda e
pode ter sido machucado por outra ave, mas não aparenta ter dono
por ainda ser arisco, somente comigo ele é diferente.
— Você tem certeza que vai ficar com essa coisa?
— Rambo, Gabriel… você escolheu o nome. — Debocho. —
Acho até que podem virar amigos.
— Nem a pau!
Ele está escorado no batente da porta do meu quarto, usando a
farda da polícia que o deixa muito sexy. — Não, Kate. Não imagine
seu amigo gostoso dessa forma, é pecado. Gabriel olha para
Rambo e depois para mim como se tentasse entender como isso
pode dar certo.
— Ele é bonzinho. — Levanta a sobrancelha e rio. — Comigo.
— Que bom que conseguiu melhorar essa frase. Talvez ele seja
o seu cão de guarda, duvido que deixe alguém chegar perto de
você. — Se aproxima, segura meu rosto com as duas mãos e beija
minha testa da forma de sempre, acho isso tão fofo. — Estou morto,
chaveirinho, precisa de mais alguma coisa? Se não, irei para casa
capotar porque amanhã o dia será longo.
— Não preciso de nada. — Abraço seu corpo e me sinto uma
anã perto dele, Gabriel me esconde dentro do abraço parecendo um
urso gigante e cheiroso. — Obrigada pela ajuda, e desculpe pelo
dedo.
— Já passou, mas estarei de olho nessa coisa a partir de hoje.
Levo Gabe até a porta e espero ele trancar o portão e se certificar
que estou em segurança. Ele e Kaio tem essa mania, diz que como
sou parente deles posso ser alvo de algum bandido que odeia os
dois. — Acho que todos odeiam eles, são a pedra no sapato dos
caras. — Vejo ele acenar e sair com a viatura indo para casa.
Também preciso agarrar minha cama, porque amanhã preciso
tomar algumas atitudes. Sem contar que Rambo precisa de
cuidados e vai tomar um pouco do meu tempo até sarar por
completo.
Eu adoraria usar o paulete hoje, mas estou tão cansada que vai
ter que ficar para outro dia. Meu guerreiro vai permanecer guardado
na gaveta da cômoda por essa noite.
 

Capítulo 4

Hoje só queria dormir até meu corpo suplicar com fome, ficar na
maior preguiça apenas assistindo uma série policial. — Sim, sou
desses. — Ou me empanturrar de doce e fingir que não preciso
manter a dieta.
Mas não é isso que vou fazer, hoje tenho um dia cheio onde irei
prender uma quadrilha de tráfico de drogas, que se instalou aqui em
Foz há alguns meses e ontem prendi um delator. Me contou
algumas coisas que precisava e onde iriam se encontrar hoje.
Espero que Deus nos proteja contra todo o mal, porque esse
trabalho não nos dá a garantia de estar vivo amanhã, por isso tento
viver o máximo que eu puder.
Ser presente na vida de quem eu amo, rir, me divertir, fazer tudo o
que acho certo para que tenha valido a pena cada segundinho. É
por isso que levanto como se fosse meu último dia, feliz por acordar
e ter a chance de um novo recomeço. Não sou um cara good vibes
como aparento, tenho meus momentos de fragilidade, querendo
apenas meu cantinho e desmoronar quando necessário.
Sou humano, repleto de falhas. Tenho minha cota de idiotices e
erros que pratico diariamente e convivo com elas sabendo que
tentei acertar. Com a morte dos meus pais anos atrás, tive uma
outra percepção do que o ser humano é capaz de fazer para te
atingir, ferir você sem ao menos te tocar. Não deixei que essa
tragédia me levasse para o fundo do poço, os Martins me acolheram
quando mais precisei e por isso eu os chamo de família hoje.
Os pais de Kaio eram melhores amigos dos meus, moramos na
mesma rua e por esse motivo somos inseparáveis até hoje. Vi nele
e em Kate a chance de ter irmãos que nunca tive, pude pegar ela no
colo quando nasceu, a vi crescer e se tornar essa mulher
engraçada, louca e com parafusos a menos. Nesse quesito acho
que parecemos dividir os mesmos neurônios, é incrível como somos
parecidos, gostamos das mesmas coisas. — Tirando aquele projeto
de demônio que ela resgatou ontem à noite, jamais dormiria na
mesma casa que aquele bicho traiçoeiro. — O fato é que apesar da
minha família de sangue já ter partido de forma horrenda, ainda
posso contar com a família de coração.
Farei o que for preciso para protegê-los, já que não consegui
manter a promessa aos meus pais. Sei que onde estiverem, não me
culpam pelo acontecido, mas a cada maldito dia, me recordo e
tenho a certeza que o trabalho que escolhi influenciou para que
partissem mais cedo.
Consegui encontrar o assassino, e que Deus me perdoe, mas
ele matar meus pais e eu fazer a mesma coisa com ele, me fez
sentir uma felicidade do caralho. Vinguei meus pais e tirei a vida
daquele lixo, para que nunca mais machuque outra família,
despedace o coração de alguém como fez com o meu.
Tirando o fato de eu acabar de mostrar meu lado ruim, gosto de
focar no meu lado bonzinho e good vibes, garanto que tenho mais
defeitos que qualidades, mas elas compensam para que eu seja
esse cara normal.
Coloco a farda e me encaro no espelho, tendo Safira ao meu
lado observando tudo com atenção. Ao ver o nosso reflexo tenho
apenas uma coisa a dizer: hoje, ou pode dar tudo certo, ou tudo
errado, mas vou sair da minha casa sabendo que não me arrependo
de nenhum segundo desse dia.
— Vamos Safira, é hora de prender alguns homens maus.
No trajeto liguei o rádio e fui escutando algumas músicas, uma
delas era Bombonzinho. — Israel e Rodolfo/Ana Castela. E essa
resume minha vida amorosa em todos esses anos, as que não
valem nada a paixão não sobe, mas o pau…por Deus, Gabriel…
tem se enfiado em cada boceta ultimamente que deveria colocar
uma faixa de interditado na entrada.
Não que eu ganhe o selo de pegador do ano, porque
literalmente faz semanas que não sei o que é sexo. A última foi uma
ruiva baixinha, mas que parecia os fãs de Michelle Morrone
correndo atrás dele, suei para tirar aquela mulher do meu pé, já
estava disposto a trocar de casa. Mas aí tive ajuda de Kate para
fugir daquela maluca, minha irmãzinha fingiu ser minha namorada
em uma ligação.
Não preciso mencionar os palavrões que foram ditos pelas duas,
a chaveirinho entrou mesmo no papel de namorada ciumenta e
desde lá estou livre daquela encrenca. Lógico que ela me zoa até
hoje por causa disso, dizendo que não sei me livrar dos meus
próprios B.Os, mas o que eu iria fazer? Prender aquela doida e
jogar a chave fora? Não que seja uma má ideia, mas prefiro o bom e
velho pé na bunda.
Mas vou criar vergonha na minha cara e achar mulheres que
não tenham tendência a ficarem grudadas em mim feito carrapato.
Chego na delegacia e já vejo o carro do Kaio, ontem levei a
viatura para casa, estava tão cansado que pedi autorização ao
delegado Rodrigues e ele aceitou prontamente. Mas hoje irei
precisar da carona do meu amigo para ir embora. Desço do carro e
deixo a porta aberta para que Safira saia também, a cadela policial
já usa seu uniforme oficial que a deixa com um ar de “me encare de
forma feia e arranco seu braço”. Essa é a minha menina. Ainda
tenho que tirar três dias da semana para treinar com ela, já faz um
tempinho que não fazemos isso, vejo que ela sente falta do nosso
momento sozinhos.
Dentro da delegacia esse horário sempre é mais tranquilo,
geralmente o caos começa depois das dez da manhã onde aparece
gente de tudo quanto é jeito, desde esfaqueado até com ameaça de
morte. É cada coisa que mesmo em dezessete anos como policial,
devo dizer que ainda não estou acostumado.
Passo cumprimentando os colegas e entro na minha sala
deixando que Safira fique no seu canto preferido, a cadela tem uma
almofada acolchoada, comida e água à vontade.
Coloco o celular sobre a mesa e me sento na cadeira giratória
dando início ao trabalho, não sou apenas policial que faz rondas na
rua, tenho minha carga horária que preciso preencher papeladas e
dar relatórios infinitos ao delegado Rodrigues.
Ligo o computador e aproveito para ir até a máquina de café e
me entupir de cafeína até que minha alma processe que saí da
cama há mais de uma hora.
De volta na minha sala, coloco a xícara de café contendo a logo
da delegacia e meu nome, no suporte de copos e dou início ao
trabalho. Vez ou outra me pego olhando os porta retratos sobre a
mesa, um deles contém a foto dos meus pais e eu com vinte e um
anos sendo aceito na polícia, foi o dia mais feliz da minha vida e
eles estavam lá comigo.
A outra, sou eu e a família Martins em um churrasco na casa
deles, essa foto foi tirada no dia do meu aniversário no ano
passado, eu e Kate fazemos aniversário com uma semana de
diferença e sempre comemoramos juntos com a nossa família. A
pestinha vai completar dezenove anos em breve e eu trinta e nove,
misericórdia, estou com o pé na porta para me sentir um velho
enquanto a chaveirinho está começando a viver.
Todos rindo na selfie e Kate esmagando Safira como se
pudesse matar minha cadela sufocada. Eu adoro essa foto e deixo
aqui para me lembrar por quem eu luto todos os dias para deixar
essa cidade mais segura.
 

A primeira hora trabalhando foi tão entediante quanto assistir uma


partida de futebol sendo narrado pelos teletubbies tendo a voz do
chitãozinho e xororó.
Saio da minha sala exausto por ficar na mesma posição horas
seguidas, mandei todos os relatórios para o delegado Rodrigues e
vou para sala de Kaio vendo se já dá para irmos prender os
traficantes. O delator disse que a reunião aconteceria hoje às nove,
mas é bom irmos antes e certificar de estar presente para ver a
reunião acontecendo.
Conforme me aproximo posso ver Kaio sentado como eu estava
há pouco, concentrado olhando a tela do computador. Dou duas
batidinhas na porta e entro antes de receber autorização.
— Oi puto. — Digo sorrindo. — Levanta daí que está quase na
hora de estragar uma reunião.
— Vamos, estava só terminando alguns trabalhos aqui.
Saio da sala dele chamando Safira que vem correndo ao meu
encontro. Faço um carinho em seus pelos macios e a puxo para a
sala de preparação, é onde teremos a breve reunião para
repassarmos o que iremos fazer, estratégias e também contém no
mesmo ambiente a parede de armas onde estaremos nos
preparando.
— Atenção! — Delegado Rodrigues fala com sua voz potente na
sala. — Quero um trabalho limpo, sem mortes e que peguem eles
desprevenidos. Não sobre nenhum solto para contar história.
— Sim, senhor! — Todos gritamos.
— Kaio e Gabriel irão comandar. Quero policiais cercando toda a
área e só irão agir com o comando dos dois.
Somos uns dos mais velhos na corporação e o delegado
Rodrigues confia em nosso trabalho, sempre foi feito com
excelência e com pouca baixa de mortes. Estamos acostumados a
lidar em conjunto porque funcionamos bem assim, um completa o
outro nessa hora e podemos ter um resultado dentro do esperado.
Ele monta a estratégia que devemos usar de acordo com o
local e a quantidade de homens dentro da casa. Em seguida
começamos a nos preparar e pego mais munições da minha Glock
17.
Saímos às oito em ponto da delegacia, todos devidamente
armados e com munições extras. Kaio, eu e mais um policial novato,
vamos juntos na mesma viatura, com Safira e Zeus no banco de trás
junto com o homem. Zeus é o pastor alemão de Kaio, tendo a
mesma idade que Safira, minha cadela.
Saímos em alta velocidade pelas ruas de Foz do Iguaçu, a
caminho da reunião dos traficantes que se infiltraram feito ratos em
nossa cidade. Kaio concentrado na estrada, me faz observar as ruas
movimentadas, os turistas passeando sem ter noção das coisas que
andam acontecendo aqui. As outras viaturas andam como uma
carreata atrás de nós, com sirenes desligadas para não chamar a
atenção dos traficantes para que não fujam antes de chegarmos.
Não demorou para encontrar a casa, que já tínhamos visto por
fotos que um policial disfarçado tirou ontem após eu pegar o delator
que entregou o local da reunião. Paramos alguns metros longe e
saímos do carro em silêncio, apenas fazendo gestos com as mãos,
Safira e Zeus estão a postos apenas esperando meu comando e o
de Kaio, que já saiu do carro e está ao meu lado falando com o
delegado pelo rádio preso a farda.
— Vamos. — Digo a todos enquanto Kaio fica um passo à nossa
frente.
Retiro a arma do coldre e aponto para frente esperando qualquer
um que atravesse nosso caminho e demonstre ser o alvo da
operação.
Alguns carros e motos estacionados na frente me chamam a
atenção, mas é a casa amarela o nosso foco principal. Levanto três
dedos e aponto mostrando que três dos nossos policiais devem dar
a volta na casa, o restante vem pela frente junto comigo, Kaio e
nossos cães treinados.
Chego na porta principal e meu parceiro fica no canto da porta
enquanto eu estou na frente e aceno mostrando que irei chutar,
fizemos a contagem regressiva, para que os policiais também se
preparem e no terceiro dedo levantado chuto a porta com força
quebrando a mesma e entrando com tudo na casa.
Vejo cinco homens sentados em uma mesa de madeira
desgastada. Seus olhos arregalados mostram que não estavam
esperando pela visita e sorrio enquanto aponto a arma para eles.
— Levantem as mãos, agora! — Kaio grita e eles obedecem.
Escuto nossos homens vindo por trás e pegando os que queriam
fugir, Safira e Zeus que são treinados já começam as buscas pelas
drogas escondidas e vou para o outro cômodo vendo se tem algum
traficante. Chego a tempo de vê-lo pulando a janela assim que
nossos homens saem do lado da casa.
— KAIO! TEMOS UM DELES EM FUGA!
— VOU PELA FRENTE. — Ele grita e pulei a janela no encalço
do desgraçado.
Vejo ele entrar em um dos carros estacionados na frente do
imóvel e sair queimando os pneus. Kaio e eu chegamos ao mesmo
tempo na viatura e ele vai para o banco do motorista enquanto entro
rapidamente ao seu lado. Colocamos o cinto e meu parceiro liga o
carro xingando vários palavrões.
— Filho da puta!
— Vamos. Não podemos deixar ele fugir.
Kaio arranca o carro e vai na direção que o traficante foi, ainda
estou segurando a minha arma de forma que posso atirar nos pneus
quando chegarmos perto o suficiente.
— QAP, iniciando Código 7 na QTH perto da Avenida Jorge
Schimmelpfeng. — Digo no rádio. — Solicito QRR com um indivíduo
suspeito em um Porsche branco sem placa.

QAP Significa: Na escuta.


QTH Significa: Localização.
QRR Significa: Apoio.

O carro parece voar pela pista, no encalço do homem que dirige


literalmente fugindo da polícia. Sinto a adrenalina percorrer meu
corpo e levar uma eletricidade para meu coração que falta sair pela
boca. Não sou um robô nesses momentos de tensão, eu sinto
medo, um tesão absurdo pelo perigo.
Não sou o tipo de pessoa que espera flores da vida, levei muita
pancada nesses anos como policial, errei muitas vezes, e vou
continuar errando porque sou humano. Nada me faz ter mais
certeza de que escolhi o trabalho certo, do que quando pego esses
desgraçados e prendo cada um deles. É o sentimento de dever
cumprido, de ajudar a população a se livrar dessas pragas.
— Mire nos pneus. — Kaio diz. — Vou chegar mais perto.
O traficante está alguns metros à frente, ele passa o sinaleiro
verde e estamos logo atrás. Sabendo que o sinal nos dá acesso
para atravessar sem riscos, Kaio acelera ainda mais e a única coisa
que consigo ver é um carro vindo do lado dele, batendo na viatura
segundos depois sem dar escapatória para desviar.
Nosso carro capota tantas vezes que sou incapaz de contar,
cacos de vidros caem sobre nossos corpos, jogando os estilhaços
em nossos rostos e cortando. O carro capota uma última vez e bato
a cabeça no painel, me sinto zonzo, meu corpo dói e não sei se me
machuquei de forma mais séria, mas a lataria do carro está
afundada em nossa direção e não consigo me mover como gostaria.
— Kaio! — Viro meu rosto e vejo ele desacordado. — Porra!
Acorda Kaio…
Minha mão esquerda é a única que consigo mover, levo até o
cinto e tento destravar para ter o mínimo de controle sobre a
situação. Vejo que as pernas de Kaio estão prensadas sob a lataria
que está inclinada para o interior da viatura, preciso ajudá-lo,
chamar ajuda antes que esse carro pegue fogo.
Minha visão fica embaçada, minha cabeça está doendo demais
e sinto um zumbido no ouvido. Sinto meu corpo ceder ao cansaço,
porém não vou desmaiar, não com meu amigo precisando da minha
ajuda. Sei que depois de uma batida forte na cabeça jamais se deve
dormir.
Vou ficar acordado, nem que seja a última coisa que eu faça.
— Kaio… — Chacoalho meu parceiro e ele continua
desacordado.
Merda!
Mil vezes, merda!
Capítulo 5

Desespero é o sentimento que me toma neste momento,


dirigindo feito uma louca até o hospital da polícia militar. Meu irmão
e Gabriel sofreram um acidente de carro duas horas atrás e
somente agora fui informada do ocorrido.
Eles estavam em perseguição e acabaram batendo, quando
minha mãe ligou fiquei em choque achando que tinha acontecido o
pior e ela me acalmou dizendo que estavam no hospital. Meus pais
já estão lá, e larguei tudo o que estava fazendo para ir vê-los, deixei
um velho nojento e insensível para trás, dizendo que se eu saísse
em horário de serviço estaria despedida. Não demorou para uma
gargalhada escandalosa sair pela minha boca e acertar a cara dele
com o avental.
Já iria pedir demissão, ele só me fez o favor de poupar saliva.
Dirijo feito a louca que sou, desviando dos carros lentos e quanto
mais eu ando, mais distante parece estar a porcaria do hospital da
polícia. 
Espero que tenha sido apenas um susto e que os dois estejam
bem, não sei nem o que faria se algo acontecesse com meus dois
pacotes de estresse. 
Estaciono na primeira vaga que vejo, desço do carro e entro
correndo no hospital, eles tem um próprio, assim não precisam ficar
em um público esperando atendimento. Muitos têm machucados
graves e assim podem ser tratados imediatamente. As famílias
também podem se beneficiar dos atendimentos e isso é muito bom.
Aqui é grande, várias salas e corredores e não sei onde
procurar minha família.
— Kaio Martins e Gabriel Monteiro… onde eles estão? — Digo
ao primeiro enfermeiro que encontro.
— Siga este corredor e vire à direita.
— Obrigada.
Faço o que manda e ao virar o corredor vejo meu pai ali sentado
com a mão no rosto e os cotovelos apoiados na perna. Meu coração
dá um solavanco ao perceber que a coisa não está boa, e cadê
minha mãe?
— Pai!
— Kate, querida…
Abraço ele com carinho e sinto a angústia que ele está por conta
dos meninos.
— Como eles estão?
— Kaio está em cirurgia. — Meu Deus! — Teve ferimento nas
pernas e acabou desmaiando com a batida, ainda não deram
notícia… sua mãe está lá esperando enquanto fico com Gabe.
— E Gabriel?
— Está no quarto e o enfermeiro saiu daqui agora. — Deve ser o
homem que pedi informação. — Ele está melhor que seu irmão…
graças a Deus teve apenas arranhões e uma batida na cabeça.
— Vou vê-lo.
Deixo meu pai no corredor e entro no quarto que já estava com a
porta aberta, vejo Gabriel deitado na cama, a testa enfaixada e
usando aquelas roupas típicas de hospital, só que essa é dois tons
de azul, igual as cores do batalhão.
Ele está conversando com o delegado Rodrigues, sei disso
porque já o vi algumas vezes. Quando Gabriel percebe que estou no
quarto, já deu tempo de eu correr e pular em cima dele sem pensar
duas vezes. Ele geme e levanto o rosto vendo se acabei piorando
seu estado, estamos com os rostos próximos, seu sorriso lindo me
deixa com o coração mais leve.
— Oi…
— Nunca mais me deixe nervosa desse jeito.
Afundo a cabeça em seu peito e circulo seu corpo, Gabriel é
minha família e saber que poderia perdê-lo, me fez sentir a pior das
angústias.
— Ei, chaveirinho. — Puxa meu rosto, segurando-o pelo queixo
e encontro seu olhar novamente. — Estou bem.
Poderia dizer que meu coração está acelerado neste momento,
mas isso não resume o pobre coitado, ele está quase saindo pela
minha boca, junto com meu bom senso vendo Gabe alternar os
olhares dos meus olhos até a minha boca. Esse pequeno gesto me
deixa nervosa, ansiosa e sei que estamos perto demais, mais do
que deveríamos.
Meu corpo está literalmente em cima dele, o rosto tão colado
quanto velcro, sua respiração bate na minha boca e isso acaba me
confortando porque a dele também está acelerada. Nenhum dos
dois consegue se mover, desviar o olhar como duas pessoas
normais, mas está tão… confortável.
Ele levanta a mão e passeia pelo meu rosto em uma lentidão que
arrepia todo meu corpo, causando uma euforia no meu peito e
nunca me senti assim com ele antes. Soou tão íntimo e gostei da
sensação de borboletas no estômago.
— Sei que a situação deixou a família preocupada. — Escuto a
voz de um homem e Gabriel desvia o olhar buscando o rosto de
quem falou, faço o mesmo e vejo um médico que deve ter uns trinta
anos, bonito, sexy neste jaleco branco, um olhar intrigante e de um
predador que sabe que é gostoso. — Mas preciso que o casal se
separe para que eu veja como está meu paciente.
— Não somos um casal, Kate é uma irmã do coração.
— Irmãos não ficam nessa posição. — Ele diz com humor e
percebo de novo que estamos próximos demais.
Saio da cama às pressas e a mão de Gabriel passa pela minha
rapidamente, como se quisesse me segurar ali. Fico em pé ao lado
dele e seguro sua mão esperando que o médico o avalie.
Vejo o Sr. Rodrigues me encarando e tenho a certeza que
deixei minha educação no carro, já que nem o cumprimentei.
— Bom dia, Sr. Rodrigues.
— Bom dia, Katherine, como está?
— Aliviada por Gabriel, mas ainda nervosa por Kaio estar em
cirurgia. Como isso aconteceu?
Enquanto o médico avalia o estado de Gabriel, ele vai contando
os detalhes da operação, estavam no encalço de um traficante e
acabaram sofrendo o acidente. Meu amigo contou que Kaio estava
desmaiado e não ousou dormir enquanto a ajuda não chegou, com
medo dos dois morrerem queimados caso a viatura pegasse fogo.
Deus o livre.
— Bom, Gabriel —o médico levanta e começa a escrever no
prontuário dele enquanto conta o que ele tem. — Você teve uma
batida feia na cabeça e sei que será teimoso e não irá passar a
noite aqui em observação. — O abusado concorda na cara dura,
fazendo o médico gato soltar uma gargalhada contagiante, os
dentes brancos como neve e os cabelos repicados deixando
desalinhados, mas ainda assim, lindo. — Então preciso que você
durma na casa de algum familiar para que caso tenha algum
problema como convulsões, perda de memória curta ou a longo
prazo, venha imediatamente para o hospital.
— Sim senhor. — Digo. — Ele irá dormir na minha casa essa
noite.
— Kate…
— Você vai e ponto final. Com saúde não se brinca.
— Então já que temos uma irmã do coração disposta a ficar de
olho em você. — Ele falou irmã do coração de um jeito debochado,
com um sorriso que sei o que significa. Ele se aproxima de mim e
entrega um papel que vejo ser receita para comprar medicamentos,
logo o vejo escrever algo no prontuário e volto a prestar atenção em
tudo o que devo comprar para o paciente teimoso. — E esse aqui é
pra você, Kate. — O médico me entrega um papel contendo o nome
e o número de telefone, olho para Gabriel e o chefe dele morrendo
de vergonha. — Me liga.
Respira Kate, você não veio arrumar um boy magia no dia que
seus irmãos sofrem acidente. Ah, mas é bonito, inteligente e não
tem cara de ser um cretino. Sorrio para ele mostrando que gostei
disso e coloco o número de telefone no bolso da calça.
Safada, cachorra e pervertida, é o que meu cérebro grita, mas
estou há tanto tempo sem ser fodida que preciso de um médico que
cuide dos lugares certos. Céus! Como eu preciso.
— Já que estamos conversados, você estará liberado em
algumas horas, mas obedeça sua irmã e fique deitado o tempo que
conseguir.
— Ele vai.
Capítulo 6
— Vejo que a família está paparicando meu paciente.
O médico gostoso entra onde estamos com Gabriel e olhamos
para ele. Gato pra cacete, o corpo brigando com o jaleco branco. Eu
imagino Théo transando só de jaleco e com essa cara de safado
que ele já tem… misericórdia, Deus. Tira esses pensamentos de
puta, dessa sua filha que está indo para o caminho da safadeza.
— Vim avisar pessoalmente que Kaio já está no quarto. Está
sedado por conta da cirurgia, então apenas vão ver como ele está.
Será que ele iria receitar sentar na pica dele por pelo menos
uma semana? O jejum seria tomar leite direto da fonte.
Meu Deus… isso se chama seca, Katherine, controle o fogo no
rabo.
— Graças a Deus! — Minha mãe murmura nervosa e meu pai a
abraçou sentindo um peso sair das costas.
— Gabe, não saia daí, hein. — Brinquei e ando na direção da
porta. — Se comporte e não faça nada que eu não faria.
— Não garanto nada, chaveirinho. — Me fita com deboche. — E
não tem nada que você não faria.
— Exatamente. — Retruco com humor.
— Se puderem me acompanhar. —O médico dispara e volto a
encará-lo com pensamentos pervertidos. — Vou levá-los até lá.
Sigo Théo e ele coloca a mão nas minhas costas e se aproxima
do meu ouvido, roçando sua boca ali.
— Se continuar me encarando com luxúria, terei que te levar
para um quarto vago, Kate. — Morde o lóbulo da minha orelha e aí
nada mais faz sentido. — Posso te mostrar o que um médico
habilidoso pode te oferecer. É isso o que quer?
Sim.
Sim.
Não, sua vaca safada! Seus dois irmãos estão no hospital.
Céus… era pra ter agido normalmente? Porque literalmente
abriram as Cataratas do Iguaçu no meio das minhas pernas. Ao
olhar para ele que está próximo demais, não ousei dizer nada,
porque sei o quanto a língua é mais rápida que meu cérebro. 
Antes de sair do quarto com as pernas moles, me viro
observando Gabe e seus olhos se estreitaram em minha direção.
Ou é para Théo, é difícil saber já que ele está ao meu lado.
O delegado Rodrigues continua ali com ele, então não ficará
sozinho, porque esse teimoso provavelmente iria tentar sair da
cama.
O quarto de Kaio não fica longe de onde Gabriel está, meus
pais estão apreensivos e os abracei tentando dar carinho nesse
momento de tensão. Ao ver Kaio sedado em cima da cama, o rosto
tendo alguns arranhões por conta dos estilhaços de vidro, meus
olhos enchem de lágrimas enquanto me aproximo e seguro sua mão
gelada.
— Trate de ficar bom logo, seu idiota. — Murmuro baixinho. —
Preciso incomodar você e dizer o quanto é um idoso.
Ele provavelmente me chamaria de mucilon e teria uma piada
na ponta da língua. A gente sempre foi assim, de bem com a vida e
ver meu irmão em uma cama de hospital me machuca demais, me
causa uma dor no coração que só irá se curar quando o vir de olhos
abertos e garantir que está bem.
Ao observar seu corpo, vejo machucados pelo rosto, pescoço e
mãos.  Gabe também tem alguns cortes. Suas pernas estão
erguidas por uma haste e uma delas tem ferro por fora em forma de
círculo.
Com toda certeza irei apelidar de perna de churrasqueira,
porque esse negócio é mesmo parecido. Ele não poderá nem correr
atrás de mim, porque não tem como.
Eu amo irritá-lo.
Ele vai ficar muito puto quando acordar e ver que não poderá
sair da cama por um tempo, mas se sentirá grato por ter mais uma
oportunidade de viver, porque ele sempre foi grato até pelas merdas
que aconteceram. Ele diz que as experiências, sejam elas boas ou
ruins, nos ensinam algo que sempre levaremos para a vida.
Minha mãe faz um carinho nos cabelos dele enquanto meu pai
está mais para o final da cama, segurando a outra mão do meu
irmão. Sua família está aqui, irmão, não está sozinho, adoraria que
ele escutasse, que pudesse sentir a gente aqui e ficasse feliz.
Como o médico disse, terei que ficar de olho em Gabriel esta
noite, então não poderei ficar aqui com Kaio, mas amanhã estarei
aqui vendo se já acordou e qual seu estado depois de algumas
horas fora da cirurgia.
 

Chegamos na minha casa após passar na de Gabriel e pegar


roupas para passar a noite e o dia amanhã. Meus pais não podiam
passar a noite no hospital, acabaram ficando com Safira e como o
terreno é grande a cadela ficou se divertindo. Passamos lá um
instante para ele ver Safira e depois o trouxe para cá vendo o bico
enorme se formando nos lábios do policial.
Não trocou uma palavra comigo desde a nossa interação no
hospital. Parece estar bravo com algo e não abre a boca para me
dizer o que é. Saio do carro abrindo o portão e deixo o
estressadinho sozinho um instante. Ao entrar de volta no veículo
para colocá-lo na garagem, sinto as engrenagens de Gabriel fritando
a cabeça do infeliz que não sabe desabafar.
— Fala logo! — Minha explosão o pega de surpresa e me encara
sem entender, Gabriel está jogado no banco, ainda com o cinto e os
braços cruzados como um garoto birrento. — Porque está com um
bico maior que a barriga do meu ex-chefe?
— Você saiu da cafeteria? — Fica quase de lado no banco e me
olha atento à conversa.
— Sim, mas não mude de assunto. Por que está emburrado?
— Não é nada.
— Não vamos sair desse carro até que abra o bico.
Acelero entrando na garagem e desligo o motor olhando
seriamente para o abusado que tenta esconder algo de mim. Ele me
observa como se falasse “sério que vai tentar arrancar algo de
mim?”, mas meu olhar de quem está disposta a passar a noite no
carro o faz suspirar.
— Você quer mesmo saber? — Aceno, esperando que comece.
— O que caralho foi aquilo de colocar o número do médico abusado
no seu bolso? E pior, deixar ele te agarrar daquela forma na frente
de todo mundo como se tivessem algo? — Está realmente irritado,
então é isso que está o torturando? — Ele tem idade para ser seu
pai, Kate.
— Que eu saiba, já tenho pai e se eu quiser um homem da idade
dele, qual o problema? — Rebato.
— Você é uma menina.
— Ah, Gabriel, vai tomar no cu!
— Como que é?
— É isso que ouviu. Estou cansada de dizer pra sua cabeça de
ervilha que sou uma mulher adulta e dona do meu próprio nariz. —
Eu realmente estou cansando disso, está na hora de mostrar para
ele que a neném, não é mais neném. — Que mania sua e de Kaio
de querer escolher com quem fico. 
Ele suspira e passa a mão pelo rosto ainda nervoso, mas dessa
vez quero que enfie a raiva no meio do rabo e saia pulando feito um
pônei.
— É apenas proteção.
— Sei cuidar de mim mesma, fique tranquilo que será apenas
sexo. — Ele abre a boca chocado, mas não irei pegar leve nas
respostas, para que entenda que não devo satisfações para ele e
nem para meu irmão. — Não é como se eu fosse me apaixonar pelo
médico gostoso, só quero trepar com ele.
— KATHERINE! — Me chamando pelo nome, essa é novidade.
— Você prefere entrar e parecer que veio da Disney ou ter um
infarto no meu carro e eu ter que te levar até o hospital de novo e
com isso ver o médico gostoso?
Com certeza o deixei mais puto com a segunda opção, mas vai
aprender que comigo não tem essa de ser um babaca explosivo. Eu
sou virada em deboche, já devia estar acostumado.
— Vamos entrar. — Solta uma lufada de ar e me encara
querendo arrancar minha cabeça.
— Ótima escolha, maninho do coração.
Estico meu braço até o banco de trás e pego minha bolsa, logo
após, saio do automóvel sendo acompanhada por um homem das
cavernas que desaprendeu a andar, está pisando fundo como se
pudesse perfurar meu piso.
Abro a porta de casa que dá acesso para a minha sala e deixo
Gabriel entrar para que eu tranque a porta novamente. Ele entra
ainda com um bico enorme, mas parece ter entendido tudo o que
disse, assim espero.
— Está com fome? — Digo a fim de quebrar o gelo. — Posso
cozinhar algo pra gente.
— Você? Cozinhar algo comestível pra gente? — O cretino joga
na minha cara que sou péssima, parece que o humor duvidoso está
voltando. — Deixa que eu mesmo faço algo.
— Vai lá chef, a cozinha é sua.
Jogo a chave da casa em cima da mesa de centro, Gabe joga a
bolsa e arranca a camisa branca colocando ali também. Seus
músculos parecem de mentira, todos esses anos como policial,
treinando diariamente, o deixaram um baita gostoso.
Não, Kate, pare com isso. Como Gabe vive dizendo, vocês são
irmãos do coração. Ah, que se foda! Não sou cega.
O armário ambulante desfila pela sala usando apenas uma calça
de moletom cinza, por Deus… não existe coisa mais excitante que
homem cozinhando apenas de calça moletom e o peitoral exposto.
Percebo que vai ser uma tortura o vendo cozinhar, ainda mais com a
minha cozinha minúscula que mal cabe um.
— Vai lavar essas mãos, preciso de uma ajudante.
Fodeu.
— É... vou tomar um banho antes, logo venho te ajudar.
Pelas labaredas do inferno, o jeito é tomar um banho gelado para
ver se isso ajuda a não demonstrar nenhuma reação a esse homem
cozinhando. Vou fingir que Gabriel é uma mulher feia e lotada de
espinhas, não um gostoso, que cozinha bem e ainda tem o mesmo
humor duvidoso que o meu.
Irmão do coração, Kate, não esqueça.
Capítulo 7

Estou puto!
Puto pra caralho!
Minha vontade é de enfiar aquele papel goela abaixo daquele
médico abusado, ou dar umas belas palmadas em Kate por ter
aceitado sem pensar duas vezes. Acho que irei fazer as duas
coisas, porque meu sangue está fervendo, e ainda fui obrigado a ver
ele agarrando ela e cochichando algo obsceno no ouvido dela,
enquanto cheirava o cangote da minha chaveirinho.
Depois que eles saíram, minha vontade era de levantar da cama e
socar a cara daquele médico safado, ainda tive que escutar o
delegado rir na minha cara dizendo que estou deixando uma mulher
maravilhosa escapar pelos meus dedos.
Ela é minha irmã, porra!
Ela é… caralho, quando Kate se jogou em cima de mim,
automaticamente o selo irmã mais nova sumiu da minha cabeça,
vindo a cena da chaveirinho falando na cafeteria que gosta de ser
fodida com força. Puta que me pariu! Não consegui conter a ereção
e dei graças a Deus que ela saiu de cima, porque a bandida iria
perceber.
Chaveirinho consegue me fazer ser possessivo, a ponto de
quebrar a cara de alguns marmanjos que correm atrás dela, outros
apenas mostro o distintivo e saem com o rabo entre as pernas,
porque devem algo e não querem encrenca. Não nego que sou
assim, ela mesma fica puta porque Kaio e eu damos um chega pra
lá nos idiotas, mas Kate merece mais do que um cara que vai fazer
ela sofrer.
E olhando aquele médico, estava escrito na cara dele “sou um
puto e irei te fazer se apaixonar por mim”. Só por cima do meu
cadáver que ela vai ter algo com aquele imbecil. A cara de safado
dando o bilhete para ela… eu perderia meu emprego e meu réu
primário, mas mataria aquele infeliz de formas cruéis.
Agora estou aqui na casa dessa abusada, que fala coisas sem
pensar me deixando ainda mais puto. Ela quer a porra do médico,
mas vou fazer ela mudar de ideia nem que seja com tapas naquela
bunda empinada para ver se cria juízo. Não que eu tenha, sou
desprovido de neurônios assim como a chaveirinho, mas pelo
menos não saio entregando meu número para qualquer uma na rua.
São elas que me entregam.
Kate foi tomar banho enquanto começo a preparar o nosso jantar.
Nem a pau deixaria ela fazer nossa comida, ela consegue queimar
um ovo cozido.
Rio sozinho lembrando da primeira vez que ela cozinhou para a
família, todos contentes que ela iria fazer algo gostoso e quando
veio com um macarrão cru e um molho que mais parecia ter vindo
do fogo do inferno de tão ruim, todos nós mastigamos aquilo
fingindo estar gostando, fiquei duas semanas passando mal.
Hoje ela sabe que não deve mexer em um fogão e sempre que eu
ou Kaio viemos aqui visitar a maluca, cozinhamos e deixamos algo
pronto para ela. Assim não passa fome e não se mata comendo a
própria comida.
Coloco a playlist na TV da sala, ninguém mandou Kate me dar
intimidade, agora aguenta. A música fica em som ambiente e não irá
irritar a vizinha insuportável dela. Com toda certeza nos viu
chegando e irá fofocar para o bairro.
Acho que a comida mais rápida e que vai nos satisfazer é o
famoso hamburgão, com certeza ela tem hambúrguer em casa e
isso facilitaria minha vida. Abro a geladeira e já vejo alguns ali, pego
sabendo que vai ser rápido já que estou com o estômago grudado
nas costas.
Após começar a fritar, já vou preparando os pães, colocando a
salada, uma quantidade generosa de ketchup e mostarda em cada
pão, queijo, presunto e pronto.
— Hmmm! Que cheiro delicioso.
Chaveirinho aparece na cozinha vestindo um pijama que poderia
ser considerado roupa íntima. Por Deus! Não consigo desviar o
olhar dessas coxas, a barriga lisinha exposta. Por que isso está
acontecendo comigo? Ela deve estar querendo atentar meu juízo,
posso ser considerado irmão mais velho, mas ainda sou homem, e
meus olhos gostam do que estão vendo.
Porra!
Meu pau já quer ter vida própria. Isso que dá ficar semanas sem
sexo, preciso pegar uns dias de folga para foder mulheres que se
interessem apenas por uma noite quente e no dia seguinte some.
Se bem que tenho quatro dias de folga. — O delegado me obrigou,
porque se fosse por mim estaria amanhã na delegacia. — Acho que
isso pode ajudar meu pau que sente falta de brincar.
— O que foi? — Pergunta curiosa.
— Nada.
— Pra você queimar a comida, alguma coisa está passando por
essa cabeça maluca.
Safadeza, chaveirinho, várias putarias passando pela minha
cabeça, mas vou lavar meus pensamentos com sabão. Você é uma
zona proibida, onde sei que não devo meter minhas mãos, meu
pau… céus, eu tô muito fodido para esquecer essa mulher dizendo
como gosta de ser fodida.
Saio às pressas arrancando esses pensamentos indesejados,
vejo fumaça saindo da frigideira e o hambúrguer parecendo o
almoço do capeta.
— Merda!
Kate vem ao meu auxílio, mas ela esqueceu que a cozinha é um
cubículo que mal cabe uma pessoa. Queria saber o endereço desse
arquiteto e estapear a cara do imbecil que criou esse espaço
achando que alguém consegue andar aqui sem bater em algo.
Retiro o hambúrguer queimado jogando no lixo e volto a fritar os
dois últimos. Kate me abraça de lado e sinto o aroma pós banho da
morena, passo meu braço pelo ombro e a encaixo na minha cintura.
— Não gosto de brigar com você — Ela diz.
— Eu também não, chaveirinho.
— Sua opinião sempre me importou, mas quero que me deixe
quebrar a cara, Gabe. Posso ter apenas dezoito anos, mas quero
viver tudo o que for possível. Seja relacionamentos ruins, ter um
homem por noite, beber até perder a consciência e depois
comandar minha cafeteria como uma verdadeira dona da porra toda.
Solto uma lufada de ar que poderia ser uma risada amarga e
desesperadora, não queria entrar nesse assunto de novo, porque
vou voltar a ficar puto.
— Pare de se preocupar comigo e comece a procurar uma
mulher para você, quem sabe assim esquece de mim?
— Não quero mulher, sou independente demais para ter alguém
no meu pé. E sobre esquecer você. — A aperto e ouço um risinho.
— Seria impossível, sempre estarei aqui para você chaveirinho, não
será uma mulher na minha vida que mudará o que nós dois temos.
— Eu acho bom, porque se não arrancaria os cabelos da vaca e
depois as suas bolas para aprender a não ser um pau mandado.
— Ei! Está para nascer mulher que manda em mim.
— É o que todos falam. — Debocha. — Depois pagam a língua.
Kate se separa de mim para abrir a geladeira e acaba me
esmagando no fogão, não sei se eu sou grande demais ou essa
cozinha minúscula.
Termino de fritar nosso jantar e coloco dentro dos pães, fechando
em seguida e vendo que está tudo pronto. Vejo a chaveirinho pegar
refrigerante e depositar sobre a ilha, encara nosso jantar e sorri
safada ao passar o dedo pelo ketchup e levar até a boca em uma
lentidão que eu acompanho sem piscar. Mas que caralho está
acontecendo comigo? Eu estou vendo uma outra Kate, desde
aquele dia e não estou gostando disso, porque ela é proibida.
Ela acaba sujando o canto da boca e minha mão traidora vai até
lá, limpando  e fazendo minha chaveirinho arfar. Me encara
mostrando excitação pelo contato, desço meus olhos dos seus
lábios, encarando todo o corpo nesse pijama justo, os pêlos dos
braços arrepiados. Estou muito fodido. Faço o caminho de volta
vendo ela me devorar com os olhos, porra! Ela também está me
vendo diferente, isso é perigoso.
— Gabe…
— O que foi? — Minha voz saiu em um sussurro, repleto de
desejo.
— É normal eu estar com uma vontade absurda de beijar você?
PUTA QUE ME PARIU!
Eu sei que Kate é sem filtro, mas escancarar o desejo que
também estou sentindo, me faz parecer um pateta que não
consegue dar o primeiro passo, porque não posso foder nossa
relação assim.
Que se foda!
Enlaço sua cintura pequena e ela arfa ficando com o rosto
próximo ao meu, ainda observo uma última vez esses olhos
castanhos para ter certeza que devemos fazer isso. É só um beijo
Gabriel, inocente, descobrindo o que tanto essa mulher te chama a
atenção.
Chaveirinho está com a respiração irregular nos meus braços,
desejosa e entregue ao que ambos querem. Não pensei em mais
nada, apenas capturei seus lábios com calma, sentindo todo meu
corpo corresponder ao calor do momento. Kate suspira e
corresponde ao beijo que começa a se intensificar, minhas mãos
passeiam pelo corpo dela como se estivessem decorando cada
parte. Aperto sua bunda e a trago para mais perto, fazendo com que
sinta a ereção que começa a se formar.
A bandida está com gosto de pasta de dente e o ketchup que
roubou do pão, pego ela no colo e a coloco sobre a bancada,
empurrando nossos pratos mais para o fundo. Devoro a boca dela
como um verdadeiro faminto, sentindo cada pêlo do meu corpo
reagir às suas mãos em mim, arranhando meu tanquinho e
descendo até meu pau que já está duro. Quando sua mão pequena
toca ali, me faz soltar um gemido rouco e necessitado na boca dela.
Kate para o beijo e levanta o rosto para que eu faça o que quiser
com seu pescoço fino, deixo beijos molhados e mordidas leves indo
direto para a fenda dos seus peitos.
Antes de entrar em um caminho que acho arriscado, levo minhas
mãos até a nuca dela e puxo seu rosto voltando a beijar essa boca
tão convidativa. Escutar seus gemidos é demais para meu cérebro
processar, minha língua brinca com a dela em uma sincronia que
me faz ficar ainda mais duro. Seus beijos são viciantes, porra, como
vou ficar sem eles depois disso acabar? Porque precisa acabar, foi
só para os dois tirar esse desejo incubado, somente isso.
— Porra, Gabriel! — Ela rosna quando ambos estão com a
respiração irregular após o beijo. — Tinha que ser tão bom nisso?
Junto minha testa com a dela, abraçando seu corpo e a fazendo
descer da bancada. Agora vejo que isso foi um tremendo erro,
porque além de Kaio arrancar minhas bolas — com razão — não
vou me perdoar por ter beijado minha irmã.
— Kate…
— Eu sei. — Ela murmura com um tom de voz firme. — Não
devemos fazer isso, mas não pense que não gostei. Você tem
pegada, irmãozinho.
O irmãozinho me broxou. Não nego que fiquei puto por falar em
tom de deboche, mas o que falou foi como um tapa para voltar a
realidade, somos família e não devemos fazer isso.
— Vou dizer o que vamos fazer. — Ela diz autoritária, porque a
única coisa que sei pensar é no seu corpo colado ao meu segundos
atrás, mas que merda Gabriel. — Vamos passar uma borracha no
que houve aqui, sabendo que foi impulso e que os dois estão
sensíveis pelo dia ter sido uma bosta. Amanhã, nós dois já teremos
esquecido e seguimos nossas vidas como antes.
— Tem razão, é isso mesmo o que vai acontecer.
Sei que ela é direta e realmente pensa que isso vai funcionar, mas
se antes eu já estava diferente em relação a ela, agora fodeu de vez
com meu pobre juízo.
— Agora vamos comer, estou morta da fome.
E ela sai levando nossos pratos até a mesa, me deixando aqui na
cozinha ainda com a respiração irregular e sentindo minha boca
dormente como se a dela ainda estivesse colada na minha.
Esqueça isso Gabriel Monteiro, não ouse guardar isso como
lembrança, está me ouvindo?
Capítulo 8

Tive a pior noite da minha vida. Me revirei na cama e cada


minuto parecia uma eternidade, lembrar do que houve com Gabriel
me fez ficar acordada por horas. Precisei de um banho frio para
abaixar a temperatura do meu corpo, que teimava em subir toda vez
que recordava das suas mãos e língua em mim.
Merda! Eu sou o tipo de mulher que precisa experimentar para
sossegar o facho, mas aquele beijo me deu gostinho de quero mais
e sei que ele já esqueceu aquilo, porque Gabriel apesar de ter o
mesmo temperamento que eu, vai passar uma borracha, assim
como eu disse para fazer. Mas não quer dizer que seguirei à risca o
que saiu pela minha boca, porque tudo o que não fiz, foi esquecer.
Vez ou outra ia até o quarto de hóspedes para ver como ele
estava e o vi capotado. Os remédios davam sono como o médico
disse antes da gente sair, pelo menos alguém dormiu, deveria ter
tomado aqueles remédios também.
Levanto da cama, sabendo que estou com os olhos parecendo
duas piscinas fundas. Mas nada que uma maquiagem não resolva.
Hoje é o primeiro dia estando desempregada e preciso dar início ao
meu sonho, não irei deixar para amanhã o que posso fazer hoje
porque sou sagitariana baby, amo uma nova aventura.
Após um banho rápido, olhei a quantidade de roupas no meu
armário e decidi usar um shortinho jeans rasgado e uma blusa
branca mais larguinha por cima, ficando bem à vontade. O dia
estará cheio e preciso estar mais confortável possível, com isso
decido usar uma rasteirinha de nó na cor nude e estou mais do que
pronta.
Ao encarar meu reflexo no espelho depois de um quilo de
maquiagem vejo que estou dando para o gasto, não que eu saia
produzida para fisgar um homem a cada esquina. — Não que eu
não queira também. — Mas hoje sou a Kate dona de cafeteria e
preciso resolver pepinos, decorar meu cantinho do jeito que eu
imaginei. Já comprei algumas coisas e preciso arrumar tendo ajuda
de braços fortes para colocar onde quero.
Josh vai passar mais tarde lá, próximo do meio dia e levar nosso
almoço, porque é um amigo maravilhoso. Falando nele, vou
carregar Gabriel para me ajudar hoje, e os dois vão se bicar como
de costume, resta eu fazer as duas mulas pararem.
Decido sair do quarto e carrego minha bolsa e o celular na outra
mão, ao abrir a porta dou de cara com um Gabriel parado na minha
frente prestes a bater. Sua aparência está bem melhor do que
ontem, parece que uma noite de sono revigorou o policial. Ele me
encara de cima a baixo e a minha excitação volta mostrando que o
desejo ainda não passou, muito pelo contrário. Mas que merda
Kate, ele é proibido, um problema dos grandes, porque caralho você
sempre escolhe os que não pode ou os que não prestam?
Deus achou que eu não poderia ter dez dedos perfeitos e me
deixou com um podre para sempre fazer uma cagada na minha
vida. Só pode ser isso.
— Oi. — Diz meio sem jeito, talvez lembrando de ontem.
— Oi.
— Achei que estivesse com fome, fiz café da manhã.
Gabriel é um gentleman, daqueles que você só encontra em
filmes e livros, uma raridade em forma de gostosura. O homem é
atencioso, carinhoso, gostoso e policial, ver ele com aquela farda é
para matar qualquer mulher de infarto. Mas o que mais amo nele é
seu coração gigante, sempre disposto a ajudar, independente do
quanto ele se lasque no processo.
— Estou faminta. — Lembro do que ele tinha falado e resolvo
sair do transe. — Passei a madrugada indo ver como você estava e
não quis fazer barulho na cozinha para te acordar.
— Chaveirinho… não precisava ter tido esse trabalho, estou
bem, graças a você que virou minha enfermeira. — Me puxa para
um abraço carinhoso e retribuo sendo esmagada como ele sempre
faz. — Obrigado. O que posso fazer para te agradecer?
Eu não disse? Ele é maravilhoso.
— Não precisa me agradecer, sei que faria a mesma coisa por
mim. Sem contar que está me alimentando com comida decente,
então estamos quites.
— Vem, fiz um café da manhã delicioso pra gente. Mas garanto
que meu café nem chega aos pés do seu.
Gabe que estava abraçado comigo me fez sentar em uma das
cadeiras e fica na minha frente. Minha mesa é pequena e cabe
apenas duas pessoas. Não iria comprar algo gigante sendo que na
maioria das vezes eu estou aqui sozinha. A mesa está repleta de
coisas gostosas e percebo que ele foi na padaria e nem me chamou
para ajudá-lo.
— Isso é o café da manhã dos deuses! — Ele sorri, enquanto
coloca café em nossas xícaras. — Só você para alimentar esse
dragão chamado Kate Martins.
— É o dragão mais lindo que já vi.
Ele não disse para me provocar ou mostrar interesse, está
totalmente concentrado no café que cai na xícara e simplesmente
falou. Sinto minha respiração ficar irregular, porque Gabriel de novo
está com o peitoral exposto e isso é um gatilho para lembrar o beijo
de ontem.
Ainda bem que não estamos agindo estranho, como se tivesse
um muro de Berlim entre a gente. Jamais perderia a amizade por
conta de um beijo, mesmo que esse beijo tenha derretido cada parte
de mim e me fez ficar acordada a noite inteira. Sossega esse rabo
sua cadela safada, ele é seu irmão.
— Ontem acabamos não falando sobre sua saída da cafeteria.
— Porque será né? Acho que as bocas estavam ocupadas. Ta! Eu
parei agora. — Quer me contar?
— Ele disse que se eu saísse no horário de trabalho para ver
vocês no hospital, estaria na rua. — Lembro e começo a rir sendo
acompanhada pelo moreno à minha frente. — Não me arrependo de
ter jogado o avental na cara daquele velho fedorento.
— Queria ter visto a cena, eu amo suas loucuras. — Concordo
com a cabeça e ele enfim me encara. — E agora vai se dedicar na
cafeteria ou tirar alguns dias de folga?
Demoro para responder pois pego um pão francês quentinho,
acabo soltando um gemido vendo que está do jeitinho que eu gosto.
Vejo Gabe me encarando com a boca aberta e fico sem entender o
motivo. Quando cai a ficha que soltei um gemido bem peculiar,
começo a esquentar de novo.
— É… não, eu… — esqueci como se fala? Bota o cropped,
Katherine! — Vou agora de manhã, comprei algumas tintas e quero
pintar ainda hoje meu escritório e do Josh, depois ir para os outros
cômodos.
— O projeto de demônio irá te ajudar?
— Pare de chamá-lo assim, Gabe! Se vocês parassem de se
bicar poderiam ter uma amizade.
— Dispenso. — Reviro os olhos para o malcriado. — Agora
responda, ele irá te ajudar?
— Só poderá ficar na hora do almoço, porque ainda trabalha
naquela espelunca, ele quer sair somente quando nossa cafeteria
estiver pronta para não prejudicar a vida financeira dele e da mãe.
Mas se você não tiver outros planos, adoraria que me ajudasse.
— Será um prazer, pelo visto estou de molho por alguns dias…
posso te ajudar a acelerar a reforma, se quiser é claro.
— Vou amar.
 

Ao chegar na cafeteria, sorrio ao ver as flores pendentes em


cima do letreiro novo, ficou a coisa mais fru-fru. Gabe diz que
combina com a senhora de oitenta anos que habita em mim, apenas
o empurrei com os ombros e abri a minha cafeteria. A sensação de
estar no lugar que você sempre desejou é algo tão prazeroso e
mágico.
Gabe saiu do carro carregando todas as coisas que estavam
guardadas na minha casa, decoração da parede, lustres que
pendem do teto e que vão dar um charme para meu cantinho.
As tintas já estão guardadas aqui dentro e vou mostrar os lugares
que quero a ajuda dele. Ninguém mandou aceitar, agora irei fazer
igual as tias quando a gente vai visitar e tira a louça dos armários
para nós lavarmos. Vai aparecer trabalho até pelo buraco da
tomada.
— Onde quer que eu coloque isso, chaveirinho?
— Pode ser em cima do balcão mesmo, depois conforme for
colocando vamos nos livrando dessa bagunça.
— É engraçado que sua casa é um chiqueiro. — Seu tom de
deboche não me passa batido e sei que vai vir com suas piadas de
quinta série. — E aqui parece ser a continuação da sua casa.
— Essa bagunça é temporária, tá legal? — Faço um bico
mostrando indignação, onde já se viu falar mal da minha cafeteria,
meu olhar se estreita e vejo um sorriso de canto naquela boca
carnuda. — E você vai me ajudar a arrumar.
Gabriel e seu senso de humor continuaram a me provocar mais
dez minutos, até que explodi e saí correndo atrás dele com um cabo
de vassoura. Às vezes parece que ele ainda é um adolescente, mas
não nego que tenho os mesmos neurônios que esse policial idoso.
Com trinta e oito anos, é raro vê-lo triste ou desanimado, sempre
com um sorriso na cara e divertindo todos a sua volta.
É por esse tipo de pessoa que sou cercada, elas trazem alegria
para minha vida. Seja o Gabe, Josh, meu irmão. — Apesar da
maioria das vezes parecer um senhor de noventa e cinco anos que
faz xixi no próprio pé, mas é só a cara mesmo, por dentro é um poço
de doçura. — Até meus pais tem essa mesma vibe e acho isso um
máximo.
— Ok empresária, vamos começar a pintar seu escritório.
— Estou me sentindo um nojo tendo um escritório. Melhor do
que isso, uma cafeteria!
— Estou orgulhoso de você, sabia? — Continuo arrumando as
caixas com as decorações e apenas escuto ele falando do outro
lado da sala. — Está correndo atrás dos sonhos sem deixar de ser
você mesma, sem precisar de ajuda financeira e a cada dia tenho
mais orgulho da mulher que se tornou.
— Pensei que você me achasse uma criança. — Provoco.
— Em breve fará dezenove. — Meu Deus, tinha esquecido dos
nossos aniversários. — Quem sabe eu não tire essa sua versão
fedelha da minha cabeça.
— E o idoso fará trinta e nove anos, já está sentindo dores na
coluna?
— Isso já sinto há anos, garota. — Gira o corpo e me faz rir da
sua cara de cachorro que caiu da mudança. — Agora começaram a
aparecer fios brancos, isso sim está me preocupando.
— Homem grisalho é sexy, eu se fosse você deixava.   
Sempre gostei de homens mais velhos, de bebê já basta eu que
estou saindo dos dezoito em breve. O meu tipo de homem ideal é
aquele que sabe como tratar uma mulher, que fode do jeito que eu
gosto, que me arranca suspiros até amolecer as minhas pernas.
Que não seja um completo babaca com um ego maior que as
Cataratas do Iguaçu.
Posso dizer que o médico do Gabe sim é o meu homem ideal,
aquela cara de “vou te comer gostoso e você vai querer repetir” me
faz querer pegar o número dele e ligar agora mesmo. Mas não achei
mais no bolso da minha calça e minha memória de bosta não
recorda se tirei de lá e guardei em outro lugar.
Encarando Gabe limpando a vidraça da cafeteria, sei que ele
também é meu tipo ideal. Aquele que pareço dividir o mesmo
neurônio, que sabe de todos meus defeitos e qualidades, que
suporta meus momentos de tpm mesmo não precisando estar perto.
Que não ficamos um dia sem nos ver desde o dia que nasci. Gabe
cuida de mim desde o momento que abri meus olhos pela primeira
vez e o amo como se fosse da minha família.
Mas ultimamente tenho visto ele com outros olhos, um de
caçadora que gosta do que vê e vai testá-lo até ceder novamente.
Porque o que é bom não precisa ser feito apenas uma vez, é bom
recordar e se lambuzar no prato de novo. Ele parece não saber usar
roupa porque está com o peitoral exposto de novo para não sujar
sua camiseta limpa. A visão dos braços contendo músculos
magníficos e que cada vez que faz força para chegar até o topo me
faz babar.
O filho de uma… boa mãe. — Para não xingar a tia Rosa, que já
está no céu. — Está usando apenas um shorts curto preto que os
homens usam para malhar e deixar as mulheres da academia
suando por lugares impróprios. Gabriel quer mesmo foder com a
minha sanidade, porque não tem como desviar os olhos dele
estando assim, um baita gostoso.
Nossa manhã passou voando, conseguimos pintar o escritório
de Josh com a cor que ele escolheu, um branco gelo e com os
móveis preto e branco, vai ficar a coisa mais linda. O meu será
parecido, tendo as mesmas cores, mas uma das paredes será
marrom para remeter à cor do grão de café. Os móveis da minha
sala serão da mesma cor, deixando tudo harmonioso. Algumas
plantinhas para dar o charme porque sou a idosa das plantas.
— Gabe, você viu meu celular? Preciso ver como está o Kaio,
não consegui falar com ele hoje ainda.
Meu irmão saiu da cirurgia ontem e não acordou antes de eu
sair com Gabriel do hospital, graças a Deus ele está fora de riscos e
vai precisar cuidar da perna para melhorar.
— Está na minha bolsa.
Verdade, esqueci que tinha deixado ali porque não queria
carregar a minha. Como ele iria trazer os remédios para tomar,
joguei meu celular dentro e nem lembrava mais.
Vejo a bolsa dele em cima da bancada e abro o primeiro zíper
lembrando onde joguei meu celular, pego a capinha contendo minha
foto atrás — sim, eu sou esse tipo de pessoa — e ao retirar vejo um
papel que reconheço e seguro não acreditando no que vejo. Agora
faz sentido o papel não estar no bolso da minha calça, porque
Gabriel pegou para que eu não ligasse para o médico.
— SEU FILHO DE UMA MULA MANCA!
Ele rapidamente dá a volta no balcão e vê minha cara de quem o
pegou no flagra.
— Chaveirinho…
— Qual o seu problema, Gabriel? O que te faz pensar que pode
escolher com quem me envolvo ou não? — Ele tenta se aproximar e
levanto a mão quando está quase colado a mim. — Você não era
assim tão possessivo ao ponto de pegar algo da minha roupa.
— É, eu sou possessivo, você sabe disso.
— Mas é a minha vida! Eu não sei o que está acontecendo para
você ficar ainda mais irritante nesse assunto.
Dobro o papel e quando vou colocar no bolso Gabe pegou da
minha mão de forma brusca e o vejo colocando o papel na boca.
— Gabriel Monteiro! Me devolva isso agora! — Ele simplesmente
engole o papel e fico olhando a cena sem acreditar, ainda tem a
audácia de abrir a boca e mostrar que realmente engoliu. — VOCÊ
ENGOLIU O PAPEL? O QUE DEU EM VOCÊ?
— Quer saber, Katherine Martins? — Ok, ele me chamar pelo
nome completo me faz calar a boca e escutar como uma boa
menina, porque claramente ele ficou bravo sendo que quem deveria
ficar era eu. — Eu fiquei puto, eu ainda estou puto com você, garota.
Gabriel tira a distância que nos separava e prende meu corpo no
balcão. Meu peito arfa com o calor do seu corpo, o cheiro delicioso
que exala e parece que meu cérebro explodiu.
— Quer que eu diga que fiquei com ciúmes? É… fiquei Kate,
ainda estou, porque parece que você focou naquele verme e não irá
parar até ter ele na sua cama. Estou puto pra caralho porque eu…
— Você o quê? — É a única coisa que consigo murmurar no
momento, porque tudo o que confidenciou demorou para eu
raciocinar. Ele estava com ciúmes, puta que pariu!
— Eu quem devo te beijar chaveirinho, eu quem deveria estar na
sua cama e eu não posso porque sou a porra do seu irmão mais
velho!
Ele grita e soca o balcão me fazendo dar um pulo de susto, nunca
o vi assim tão bravo.
— Você se titulou meu irmão, Gabriel, mas sabemos que isso
não é verdade. Não temos o mesmo sangue e nosso vínculo é
apenas no sentimento.
— Um sentimento que claramente está sumindo. — Declarou
com a voz carregada de culpa. — Porque não te vejo mais como a
caçula que era até semanas atrás.
— Me beija. — Digo, tomando coragem.
— Chaveirinho…
— Quero que me beije e sinta que a atração está cravada em
nós dois, porque passei a noite lembrando daquele beijo na minha
cozinha. Desejando repetir porque não estamos fazendo nada de
errado, somos adultos Gabriel.
Ele levanta a mão calmamente e segura minha bochecha com
carinho, seu rosto se aproxima do meu com calma, como se não
tivesse gritado comigo minutos atrás. Fecho meus olhos ao sentir
seus lábios colados bem próximo da minha boca, sentindo o quanto
ele está relutante para fazer aquilo que deseja.
— Você é proibida para mim. — Sussurra.
— Depois você começa com esse seu papo de beata. — Seguro
seu rosto e sorrio safada para que o gato de olhos verdes entenda o
que quero. — Agora cala essa boca e me beija.
Puxo seu rosto de encontro ao meu e capturo os lábios carnudos
desse homem que claramente consegue me enlouquecer com esse
pequeno contato. O bom senso dele vai para a puta que pariu e
devora minha boca como fez na noite anterior, despertando meu
corpo e me deixando acesa de forma que preciso não só da boca,
mas dele inteiro.
Gabriel esfrega seu corpo no meu conforme o beijo se
intensifica, sinto sua ereção no shorts e solto um gemido, desejosa.
Segura meu pescoço de forma que me deixa excitada e levo minha
mão até seu pau que está duro feito rocha. Meu Deus do céu,
Gabriel tem um belo pau e isso me deixa com mais vontade de tê-lo.
Ele geme entre o beijo sentindo o quanto precisamos desse
contato íntimo, porque estou beirando a loucura de tanto tesão.
Gabe separa nossas bocas e me encara ainda com a expressão de
quem vai me devorar e eu irei gostar.
— Se você ousar dizer que isso foi um erro, irei fazer engolir
suas bolas.
— Porra!
Anda de um lado ao outro na minha frente e fico parada
observando sua cabeça soltar uma fumaça. Logo em seguida sou
surpreendida com ele vindo rápido demais e segurando a bancada
com as duas mãos, me deixando presa no meio.
— Diga que não vai mais atrás daquele merdinha, kate…
— Porque prometeria tal coisa? — Provoco. Quero saber até
onde ele vai para me afastar de qualquer outro. Pode me chamar de
cretina por fazer isso, mas quando quero algo, eu vou até o final
para conseguir e terei Gabriel pelo menos uma vez na minha cama.
— Não me provoque, menina!
— Menina? Estou cansada de mostrar para você que deixei de
ser criança há muito tempo. Talvez precise me ver com outro para
entender que a Katherine criança ficou no passado.
— CABRITAAAA… O AMOR DA SUA VIDA CHEGOU! —
Escuto a voz de Josh e Gabriel se afasta um pouco para que meu
amigo não perceba, sua carranca já mostra que odiou que ele
chegou neste momento e não sei se dou graças a Deus ou mato
Josh afogado numa poça. — Estou atrapalhando alguma coisa?
Sorrio tentando disfarçar e Gabriel o encarou de cara feia. Pega a
bolsa em cima do balcão e sai pisando fundo como se não tivesse
engolido minha boca segundos atrás. Ele passa por Josh sem ao
menos dizer um “oi, projeto de demônio” como costuma fazer.
— Tá legal, cabrita. — Josh coloca a comida que trouxe para
almoçarmos em cima do balcão de mármore e me encara
esperando que eu abra o bico. — Você não consegue esconder
nada de mim, fala logo o que estava acontecendo aqui.
Ele percebeu que tem algo errado, talvez porque meu batom
esteja borrado e a roupa toda amassada como se um brutamontes
tivesse me agarrado. Suspiro quando ele cruza os braços e levanta
a sobrancelha não me dando outra alternativa a não ser confidenciar
os amassos que tenho dado no meu irmão do coração.
— Se você contar isso para alguém, sua mãe nunca irá
encontrar o seu corpo… me ouviu?
Capítulo 9

Duas semanas se passaram desde o acidente de Gabriel e


Kaio, meu irmão já está em casa, porém com a patinha pra cima
para se recuperar. Tem uma enfermeira cuidando dele 24 horas por
dia, porque não consegue sair da cama por conta dos ferros na
perna.
Hoje acordei cedo, limpei minha casa que mais parecia ser
frequentada por ratos, mas isso também é culpa de Josh que
passou a tarde ontem aqui maratonando filmes de comédia.
Meu almoço foi coxinha e coca-cola e quem disser que isso não
é comida, precisa entender que sou péssima na cozinha. Qualquer
coisa comestível, para mim, é comida saudável, porque a minha
claramente me mataria.
Resolvi visitar Kaio antes de colocar meu pijama velho e
maratonar minha série favorita até de madrugada, como uma
verdadeira garota de dezoito anos que tem uma idosa vivendo
dentro dela. Acabo de chegar em frente a casa do meu irmão e saio
do carro pegando minha bolsa.
Hoje está um dia gostoso então coloquei um shorts jeans e um
blusão para ficar bem despojado, nos pés estão meus coturnos
pretos favoritos, achei a combinação perfeita e posso ir até para o
shopping se me der vontade.
Gosto de estar arrumada para qualquer eventualidade, seja boa
ou ruim. Por exemplo, joguei todas as minhas calcinhas de vovó no
lixo porque tive medo de sofrer um acidente e os paramédicos terem
que rasgar minha roupa e ver uma calcinha bege mais larga que
minha bunda.
Deus me livre de passar por esse vexame.
Agora sou uma senhora apenas na mentalidade e dor no corpo,
as calcinhas são de uma mulher jovem, sexy — essa parte acho que
não, já que não tenho pego nem gripe — e gostosa.
Abro o portãozinho que dá acesso diretamente à porta principal
da casa dele, dei duas batidas na porta e espero a enfermeira vir
abrir, já que Kaio está impossibilitado.
— Oi Kate. — Ela diz sorrindo. — Como está?
— Ótima e você? Como está sendo aturar o rabugento?
— Acho que estou pagando os pecados que nem cometi ainda.
Meu pai deve ter superpoderes e assim ter aplicado o castigo
antecipadamente.
Kaio desde que descobriu que teria uma enfermeira em casa,
tem se mostrado mais rabugento que o normal. Não é pra menos,
precisa dela para quase tudo, sem contar que limpar os ferimentos
dói pra caramba.
Lisa me dá passagem e vejo a casa dele toda arrumada. É linda
e aconchegante, parecendo mais de um Ceo riquinho do que de um
policial, mas ele ganha bem depois de dezessete anos de profissão.
Os móveis são rústicos, aquele estilo pinterest que deixa a casa
inteira harmoniosa.
O quarto dele fica no corredor, e ao chegar na porta vejo Zeus
esparramado na cama junto com o dono, alguns utensílios que Lisa
usa para cuidar do idoso e tirando isso o quarto está como de
costume.
— Oi, churrasqueira. — O provoco dizendo o apelido novo.
— Oi, mucilon.
— Como você está hoje?
Noto a TV ligada, mostrando que está assistindo a série de
médico que ele é viciado, acho que é Grey's Anatomy pelo que me
lembro.
— Estressado. Não vejo a hora de sair dessa porcaria de cama.
Vou até ele e dou um beijo estalado na bochecha, Zeus pula em
cima de Kaio para ganhar um carinho meu também, fazendo o dono
parar de assistir.
— Oi garotão. — Passo as mãos em seus pêlos sedosos, Zeus
está tão lindo, um pastor alemão bem cuidado e louco para passear
com o dono.
— Como estão as coisas para a inauguração? Sabe que se
precisar de dinheiro, estou aqui, né?
Zeus pula da cama e vai em direção a cozinha após escutar Lisa
fazer um barulho, vejo Kaio revirar os olhos sabendo que o cachorro
se bandeou para o lado da mulher que ele está tendo um ódio
gratuito. Eu gosto dela, é legal, inteligente, linda e atura meu irmão
na fase rabugenta dele.
Não demora para que Lisa entre no quarto, se sente no pufe perto
de Kaio e começa a assistir a série também. Ela sendo uma
enfermeira gosta de assistir sua própria profissão, eu passaria longe
de coisas que falem de café nas minhas horas vagas.
A voz que está passando é familiar, mas não consigo me
lembrar do motivo. A voz dessa mulher parece que já ouvi antes,
mas acabo não dando importância.
— Está praticamente pronta. — Respondo sua pergunta, após
me deitar ao seu lado e pegar um pouco de pipoca que estava na
tigela. Ele me chama de folgada pelo olhar e volto a comer a pipoca,
bem debochada. — Acho que em alguns dias já posso fazer a
contagem regressiva do sucesso. Josh tem me ajudado com todos
os gastos, então estamos bem, não será necessário sua ajuda.
Ele está prestando atenção na série e até eu acabo focando lá
após ver uma cena de um cara com um ferro atravessado na barriga
junto com outra mulher. Como consegue assistir isso? Eu perdi a
vontade até de comer a pipoca.
— Você é teimosa demais, maninha,  não custa eu te ajudar. —
Seus olhos recaem em mim por um momento e volta a olhar a TV.
Que ótimo, agora sou trocada por uma série. — Antes mesmo de
Josh querer ser sócio, você era carne de pescoço e não aceitava
meu dinheiro.
— Porque sou orgulhosa e quero que seja tudo com meu
esforço. Mas me conte, você sofreu o acidente e acabei não
perguntando, como está sua amiga?
— Que amiga? — Pergunta confuso.
— Aquela que quando te liguei para que me ajudasse com
Rambo, você disse que ela estava quase morrendo. — Volto a
comer a pipoca, mesmo vendo sangue jorrar de um cara. — Como
ela está?
— Kate, não tenho nenhuma amiga que estava morrendo.
Olho para ele desacreditada, como assim não lembra da amiga?
Esse filho da mãe mentiu pra mim? Soco seu braço fazendo ele me
encarar e esfregar no lugar que bati.
— Ai, sua louca!
— Você não tinha nenhuma amiga morrendo, Kaio Martins,
então só não quis ajudar sua irmã em apuros!?
— Eu… é…
Escuto a voz familiar passando na série novamente e aí me
lembro de onde eu conheço. No dia que liguei para Kaio, ouvi uma
voz que parecia de TV ligada ou alguém morrendo, e então cai a
ficha de que esse merdinha não foi me ajudar apenas para ficar
assistindo a série.
— Seu filho de uma égua! Sua amiga era uma personagem de
uma série?
Kaio agora olha para Lisa e começa a gargalhar e eu fico sem
entender o motivo dos dois agora riem como se fossem amigos.
— Desculpa, maninha, mas Meredith Grey estava se afogando,
não podia deixar ela sozinha neste momento tão assustador.
— Seu cretino.
— Ele não para a série nem para comer, Kate, é um viciado.
— Você também assiste. — Ele a retruca e ainda estou sem
acreditar no tamanho do vício de Kaio. — Desculpa, maninha, mas
sabemos que é só você estalar o dedo que Gabriel está do seu lado
rapidinho.
— O que quer dizer com isso?
Será que ele descobriu que ficamos? Gabriel esteve aqui e
contou tudo e Kaio está apenas me testando para que eu confesse?
Puta merda!
— Você pode pedir para ele assaltar um banco e ele faria de
bom grado, se fossem namorados acho que ele seria menos
cadelinha de você.
— Não viaja.
— Mas como é amor de irmão, ele consegue ser ainda pior.
Fiquei um tempo irritando Kaio dizendo que Lisa é bonita e que
ele está puto porque não consegue pegar ela. Estava mudando de
assunto para não falar de Gabriel e eu dar com a língua nos dentes,
porque é bem a minha cara abrir a boca nas horas que não devo.
Quase fui expulsa da casa, mas valeu a pena irritá-lo, assim
aprende a não fazer a mesma coisa com a pobre mulher. Ela entrou
no quarto para dar os remédios dele e pude ver uma interação
diferente quando estão sem se matar por alguns segundos, como se
pudessem conversar pelo olhar sem ninguém os atrapalhando.
Tem mais que ódio, não sei se é pelo fato dela ser filha do
delegado e ele nem fazia ideia de que o homem tinha uma filha,
mas os dois claramente vão se matar até o final da recuperação
dele. Aposto que Lisa é quem vai ganhar essa batalha. Pelo menos
estão convivendo apesar das diferenças.
Já Gabriel, nitidamente está me evitando depois de nossos
amassos na minha casa e na cafeteria. Toda vez que sabe que irei à
casa dos meus pais ele dá um jeito de sair antes de eu chegar, e
quando chego com ele lá, inventa que tem compromisso. Se quer
assim, não posso fazer nada, não vou ficar correndo atrás de
homem, tenho mais o que fazer da minha vida.
Como disse a Kaio, dei um talento na cafeteria nessas duas
semanas, está praticamente pronta e não aguento de ansiedade
para enfim inaugurar a "Aroma de Café". Falando no meu cantinho,
vou levar as últimas decorações e esperar o florista arrumar a
parede viva que desejei na parte principal do café, vai ficar lindo o
contraste com as paredes escuras e a vidraça permitindo a entrada
da luz natural da rua.
Josh está me ajudando com todos os gastos desde que pediu
para ser sócio, ele é inteligente e está dando conta de toda a
burocracia junto comigo. Passou as madrugadas acordado pintando
os lugares que Gabriel não terminou naquele dia e decorando do
nosso jeitinho. Juntos somos uma bela dupla e tenho certeza que
nossa cafeteria será um sucesso.
A mãe dele está tão feliz que ele vai largar aquele emprego
desprezível para se dedicar a algo dele, que valerá a pena cada dia
que ele estudou para saber tudo sobre cafés. Não é simplesmente
enfiar o pó na cafeteira e pronto, estou falando do verdadeiro café,
de todos os tipos inimagináveis, aqueles dignos de ser pagos o valor
justo dentro de uma cafeteria.
Agora que está quase pronto, estamos contratando atendentes
e uma confeiteira para deixar nossa vitrine a coisa mais linda, para
os clientes que entrarem além de tomar o melhor café da região,
ainda degustar doces incríveis. Como sou péssima na cozinha, Josh
me proibiu de tentar fazer qualquer coisa, não vou nem discutir
porque sei que é verdade.
— Kate… ele vai ficar meio sonolento por conta dos remédios.
Se quiser podemos tomar um café e te conto como é aturar seu
irmão.
— Diga a ela como é ser uma enfermeira irritante e atrevida
também. — Ele a retrucou e logo começa a bocejar.
— Vou adorar tomar café e ainda receber fofocas fresquinhas.
— Ótimo! Agora eu tenho uma irmã traidora.
— Você sabe que adoro uma fofoca, quem manda querer dormir.
Agora Lisa e eu iremos tomar um cafezinho, enquanto o idoso tira
um cochilo.
Capítulo 10

Depois de uma tarde divertida conversando com Lisa, vim


embora louca por um banho e ficar sossegada na minha casinha.
Estou deitada no meu sofá assistindo minha série policial
Chicago PD com uma travessa de doce e meu pijama mais antigo,
porque somente ele é confortável o bastante. Lógico que só uso
quando sei que não irei receber visita, porque o bichinho tá judiado,
um lado mais largo que o outro e desbotado. Sem contar os buracos
parecendo que atiraram em mim e fui salva pelo tecido. Mas me diz
se esses não são os melhores pijamas? É uma delícia!
Pego uma das balas de goma despejadas na travessa e coloco na
boca sentindo o açúcar explodir em uma quantidade generosa, sei
que estou tirando três anos da minha vida cada vez que tenho a
noite da gordice, mas não tenho como assistir minha série favorita
sem eles.
Acho graça do Rambo brincando no chão da sala, tentando
devorar o brinquedo novo que comprei, sendo que é maior que ele.
Até essa pequena bola de penas consegue me lembrar do idiota do
Gabriel, que ódio, o nome foi ele quem colocou depois da ave o
atacar dentro do carro. 
Sua asa já está boa e agora o bichinho brinca faceiro. Lógico
que só solto ele quando fecho tudo para que não fuja e outra ave
acabe machucando ele de novo, mas o deixo solto pela casa para
explorar o local.
Meu celular toca em cima da minha perna e vejo o nome de
Josh aparecer na tela.
— Cabrita! — Já disse que odeio esse apelido? E quanto mais
eu resmungo, aí que esse cretino me chama.
— Oi pra você também.
— Ei, tenho uma festa muito boa pra gente hoje.
— Não vou.
— Vai sim, Katherine Martins! É quase uma despedida daquele
emprego maldito, vamooooos, por favorzinho, aquele velho
fedorento está sugando a minha energia e preciso beber até
esquecer meu nome. Por favor, cabritinha!
— Estou de pijama e assistindo minha série Josh, não vai rolar.
— Em vinte minutos passo aí pra te pegar. Como vou comprar
mais bebidas, já pego a donzela preguiçosa.
— Você não ousaria…
— Se eu chegar e ainda estiver com esse pijama mais velho que
minha mãe — viado! — Irei te carregar assim para a festa, se
arruma.
— Te odeio.
— E eu te amo demais cabritaaaaa, até daqui a pouco.
Não acredito que ele me obrigou a sair, estava muito bom para
ser verdade. Faz tempo que não saio e acho que vai ser bom dar
uma espairecida e curtir um pouco. Estou parecendo uma idosa de
oitenta anos enfiada dentro de casa, tenho dezoito anos, deveria
estar beijando na boca e trepando como se o mundo fosse acabar
amanhã.
Decidida a melhorar meu humor, levanto do sofá e levo as
guloseimas para dentro da geladeira, amanhã quando eu estiver
com uma ressaca horrível irei precisar dessas coisinhas deliciosas
para melhorar.
Como tomei banho faz menos de uma hora, só falta a maquiagem
e uma roupa que me deixe gostosa. Hoje vou trazer um homem gato
e com pegada para casa, nem que seja na base da ameaça, porque
estou subindo pelas paredes pelo tempo que estou sem transar.
Minha boceta só não está com poeira porque o paulete dá conta
do recado, mas nada se compara a um pau de verdade, com um
corpo gostoso para eu me lambuzar.
Após colocar Rambo na gaiola e garantir que tivesse comida e
água a vontade, fui me arrumar correndo e fazer uma maquiagem
leve para não passar dos vinte minutos que o cretino do Josh
estipulou.
Não demorou para que eu estivesse pronta, falta apenas
escolher uma das bolsas que combine com minha roupa. Resolvi
colocar um conjunto de cropped e saia curta, todo preto e com
brilho, mostrando que estou indo para causar.
Escuto buzinas e pego a bolsa pequena e preta apenas para
colocar minha carteira, chave da casa e celular. Saio do quarto
colocando os saltos meio pulando e meio andando. Por pouco não
acertei a cabeça no hack da sala, mas isso seria apenas eu, sendo
eu.
Ao sair de casa vejo um Josh arrumado parado em frente ao carro
com uma pose de Ceo debochado. A música eletrônica está alta
apenas para provocar dona Matilde que claramente é obcecada por
ele.
— Caralho cabrita, você fez tudo isso em vinte minutos? — Me
faz dar uma voltinha e sorrio.
— Não meu amor, essa beleza é natural. Me desculpe se não
preciso exagerar para ficar gostosa.
— Deus tem seus preferidos, eu tenho que me matar na
academia pra ser gostoso, você se entope de doce e está assim.
Josh acena para a minha vizinha abelhuda e entramos no carro
com ele rindo.
— Ainda vou tomar café com essa fofoqueira, preciso obter mais
informações da vizinhança. Chegou carne nova no pedaço, preciso
averiguar se é solteira e somente a Matilde Fifi para me dar essa
informação.
— Você não presta.
— E elas adoram caras assim. Estou até com medo de tentar
algo com a novata do bairro.
— Porque?
— Chega a ser impressionante a quantidade de amizade que eu
fiz tentando flertar. — Começo a rir e ele me acompanha. — É sério
cabrita, noventa por cento das minhas amizades femininas foi eu
tentando pegar a criatura e acabo virando amigo dela.
— Eu sou uma dos 10% que você não tentou.
— Quando te conheci, você era louca demais para tentar algo…
com parafusos a menos já basta eu no relacionamento.
Meu melhor amigo sai da minha casa em alta velocidade e todo
animado para a festa em sua própria casa, está usando calça jeans
e uma camiseta gola polo verde água, tênis brancos e os cabelos
loiros desalinhados de forma que o deixa sexy. Josh é lindo de
morrer, olhos azuis e um corpo em forma por causa da academia,
deveria ter mulheres rastejando ao seus pés, ainda mais sendo
divertido e parceiro.
Mas ele dispensa as mulheres que são fáceis, não dá moral para
nenhuma e quando vê uma que o interessa move céus e terras para
a coitada dar uma chance, mas não precisa sofrer muito já que é
lindo e irresistível.
 

Ao chegar na festa, vejo que está lotada e isso acaba me


animando ainda mais. Pessoas entram e saem da casa dele com
copos de bebidas, ficam na rua e por todo canto a fim de se
espalhar. A música alta me faz mexer o corpo como se me puxasse
e olho para Josh com um sorriso no rosto.
— Não conheço ninguém Josh! De onde conhece essas
pessoas?
— Não conheço — Me responde rapidamente e quando vê a
confusão no meu rosto resolve explicar — Um amigo chama outro e
quando vi estava essa bola de pessoas dentro da minha casa. Lá
dentro tem alguns conhecidos, você vai se enturmar rapidinho.
Entramos na casa que já é familiar por viver aqui, da mesma
forma que Josh não sai da minha. Somos carne e unha e nos vemos
todos os dias. Sem contar que venho encher o bucho com a comida
da mãe dele, que é parecida com a do meu pai.
— Vamos encher a cara, cabrita. Se nós dois ficarmos muito
bêbados, já estamos em casa mesmo.
— Só saio daqui arrastada, meu amigo.
Mal entro na casa de Josh e já encontro Ricardo próximo ao
freezer e dou os parabéns a ele que está de aniversário hoje. É um
amigo nosso que conhecemos em um barzinho no centro e não
desgrudamos mais. Ele já está meio alegre e provavelmente não irá
lembrar que se declarou para a namorada nova na nossa frente,
mas é nessas horas que a verdade sai pela boca. A mulher apenas
ria e puxava ele para dançar, pelo visto se dão muito bem.
Não sei porque caralhos pensei em Gabriel no momento que ele
se declarou pra ela, aquele teimoso deve estar fodendo uma por dia
para esquecer que beijou a irmãzinha. Babaca!
Chegou a hora de esquecer os erros do passado e começar a
fazer os erros que me arrependerei no futuro.
Retiro aquele medroso da minha cabeça ao segurar a lata de
cerveja gelada, tomo uma quantidade generosa e puxo Josh para
dançar. A sala está lotada e amanhã meu melhor amigo terá
trabalho para limpar essa bagunça.
— Onde está sua mãe? — Falo em voz alta para que me escute.
— Foi passar o final de semana na casa da minha tia, fazia
tempo que não a visitava. Aí resolvi dar uma festa e animar meu dia
que foi uma merda.
— Imagine que logo você irá se estressar no seu novo trabalho,
tendo apenas sua melhor amiga como sócia e deixando você de
cabelos em pé.
— Não vejo a hora.
Conforme meu corpo balança pela sala, acabo esquecendo que
tem mais gente e bato em algumas pessoas no processo. Um
homem alto esbarra em mim e por pouco não derruba minha
cerveja.
— Me desculpe. — Escuto a voz e me viro vendo o médico de
Gabriel. Ele dá um sorriso largo ao me ver e fico igual idiota
admirando sua beleza. — Kate? O que faz aqui?
— Oi… é… — puxo na memória para ver se ele já tinha falado
seu nome, mas  não vem. — Me desculpe por ser uma completa
cretina, mas não lembro seu nome.
— Théo… e não recebi ligação sua, devo supor que não queria
me ver.
— Não! — Porra Gabriel, está vendo o que me faz passar?
Agora vou ter que mentir. — Eu acabei perdendo o papel com seu
número.
— Está acompanhada?
— Comigo. — Josh fala com a voz séria, quem vê até pensa que
é meu namorado. — Sou o dono da casa e o melhor amigo que
arrasta ela para as festas, me chamo Josh.
— Prazer, Josh, sua casa é linda e me desculpe vir de penetra,
mas meu amigo Ricardo me puxou para essa festa.
— Capaz cara, é amigo de Ricardo é meu amigo também. Fica à
vontade.
Os dois apertam as mãos e sei que meu amigo gostou dele
apenas porque Gabriel o odiou, já que contei tudo o que houve
naquele dia. Josh não vale a água da louça.
— Quer ir para um lugar mais calmo, Kate?
— Se não se importa, adoraria dançar. — Sorrio. — Você é bom
nisso ou vai pisar no meu pé?
— Não sou bom, gata. — Diz com um sorriso convencido. — Eu
sou ótimo.
— Olha! Então vamos lá pé de valsa.
Na próxima meia hora dancei com Josh e Théo, ele é muito
divertido e sabe dançar muito bem, devo ter tomado umas quatro
latinhas, mas não estou bêbada o suficiente. Josh pegou meu
celular da bolsa e está fazendo um monte de stories no instagram,
meus seguidores vão rir um bocado do idiota aparecendo ali.
— Kate — Théo chega perto e segura minha cintura com
pegada, me fazendo arfar. — Gostei de você desde aquele dia no
hospital, me encantei por você e adoraria poder ter algo a mais. —
Sua boca agora passa pela minha bochecha de forma lenta e deixo
que comande a situação para que me mostre se vale a minha noite.
— Me deixe provar você, morena, estou louco para te beijar.
Ele percebe que não estou relutante e me encara com esses
olhos castanhos claros, sua boca repuxa em um sorriso malicioso e
agarra meu cabelo me puxando para si. O beijo começa do jeito que
eu gosto, com fome de mais, mostrando sua verdadeira intenção.
Théo tem pegada e não nego que minha calcinha está levemente
encharcada.
Sua mão desce e aperta minha bunda com as duas mãos,
esfregando seu corpo no meu. Ele é gato, gostoso, divertido e tem
um beijo bom, céus… encontrei o homem ideal para minha noite.
Capítulo 11

O dia na delegacia foi intenso, mas senti falta dessa loucura


toda. Acabei ficando duas semanas de castigo e o delegado
Rodrigues foi firme em me deixar voltar só hoje. Treinei em casa e
aproveitei para cuidar de Safira, foi bom esse tempo livre, mas
estava com saudade do trabalho.
Tenho conversado com Kaio por ligação e tem falado mal da
enfermeira que descobri ser Lisa, a filha do delegado Rodrigues,
pelo jeito nosso chefe quer ele na linha também. Os dois estão em
guerra naquela casa, é visível o quanto se odeiam e me divirto
vendo ela macetar ele sem nem precisar de esforço.
Pedi para me dar acesso às câmeras da casa para poder rir da
cara dele e o cretino me mandou para aquele lugar.
Cheguei em casa e deixei Safira livre enquanto vou para o banho,
ela corre pela sala faceira e vai direto para sua caminha, como
comeu na delegacia vai apenas dormir como uma boa menina.
Entro no meu quarto e vejo tudo organizado do jeito que deixei.
Tiro a farda colocando no cabideiro e entro no meu banheiro tendo
apenas a cueca box. Encarei meu reflexo no espelho gigantesco e
vejo meu corpo em forma, anos treinando para chegar nessa versão
deliciosa que as mulheres ficam babando.
Eu sou gostoso, tenho total noção disso.
Desde o acontecido com a Kate, não fiquei com outra mulher, é
como se a chaveirinho tivesse tomado posse dos meus
pensamentos, mas entendo que nunca mais irá se repetir. — Estou
em negação, tentando ficar pelo menos. — Porque a única coisa
que desejo é ir até a casa dela e prensar seu corpo gostoso na
parede e foder com ela ali, forte, bruto do jeito que gosta… céus,
minhas bolas estão pesadas, loucas por um alívio e nenhuma
masturbação é capaz de diminuir o desejo pela minha irmã do
coração.
Passei o dia escutando uma única música. — Rancorosa, de
Henrique e Juliano. — Reproduzindo e fazendo a letra invadir minha
cabeça, lembrando dessa abusada que tomou posse dos meus
pensamentos e essa música diz muito sobre nossa relação abalada,
em como sou um covarde.
Um covarde que ainda não sofreu nas mãos do irmão dela que
também é policial. Kaio irá arrancar minhas bolas quando descobrir.
Kate é determinada quando quer algo, já a vi dando as cartas
em um jogo envolvente que teve com um cara ano passado. —
Lógico que fiquei em cima dos dois como um verdadeiro irmão
cuidando da sua princesinha. — Ela sempre diz que precisa provar
o prato para tirar o desejo absurdo, é por isso que a tenho evitado
nessas duas semanas, porque se aquela diaba encostar em mim,
meu juízo vai para a puta que pariu.
Estou morrendo de saudade, a gente se via todos os dias e ter
que ficar longe está consumindo minha alma, tiro o foco dos meus
pensamentos e me perco vendo pela milésima vez suas fotos no
instagram, é como se meu cérebro fosse no automático.
Em quase dezenove anos que conheço a chaveirinho, nunca
ficamos mais do que algumas horas longe um do outro. Agora que a
vi com outros olhos, fico igual idiota lembrando a evolução dela de
menina para mulher e agora consigo enxergar Kate por inteiro, ela
deixou de ser criança há anos, e eu no papel de irmão mais velho
era cego para essa nova versão.
Kate também criou um perfil para a cafeteria e para os clientes
começarem a seguir e interagir. Ela é tão boa nisso que já tem mil
seguidores com apenas uma semana de perfil aberto, lógico que
comecei a seguir e curto cada coisa que posta, mostrando que
estou aqui, mas ao mesmo tempo ficando em uma distância segura
de suas garras.
Após um banho demorado, me seco e coloco um shorts de
moletom para ficar bem à vontade em casa. Não tenho saído
ultimamente e quando tentei beber sozinho foi a maior depressão
naquele barzinho no centro.
Tirando esse dia horrível no qual não peguei nenhuma mulher
porque tinha uma coisa pequena e linguaruda na minha cabeça,
tenho visitado os pais de Kate que moram na mesma rua que eu e
acabo comendo igual um viciado a comida do Sr. Alberto. Ele tinha
um restaurante famoso e fechou para passar mais tempo com a
mulher, os dois são aposentados e vivem uma vida bacana sem
problemas financeiros.
Lógico que o homem não foi burro de gastar todo o dinheiro da
venda do restaurante e investiu em ações que o mantém seguro.
Até deu uma quantia generosa de presente para Kate ano passado
quando completou dezoito. Ele é como um pai para mim, me ajudou
quando mais precisei e se posso chamar alguém de pai após perder
o meu naquela tragédia, será esse homem que mora algumas casas
do lado da minha.
Ao relembrar o aniversário da Kate, sorrio com as lembranças de
como ela estava feliz e com muitos planos para o novo ano que a
aguardava. Meu presente foi o carro que ela tem atualmente, como
moro sozinho e com dezessete anos de profissão, ganho muito bem
e tenho condições de dar um presente caro. Ver a carinha dela de
felicidade ao receber o carro na porta foi a coisa mais linda que vi na
vida, sempre fiz questão de deixá-la feliz, ver o sorrisão naquela
boca carnuda.
Deito na cama a fim de assistir minha série policial favorita e
pego o celular para ver as novidades. Como coloquei o perfil de
Kate para aparecer antes de qualquer outro. — Eu virei um viciado
de merda, nem para disfarçar tenho capacidade ultimamente. —
Quase tenho um infarto ao ver a cara feia do Josh. Ele mostra
primeiro a festa, está lotada e a música alta. Logo em seguida, gira
o celular tirando a cara horrorosa da tela e mostra Kate e um cara
agarrando ela.
Que porra é essa!?

"E aí rapaziada! Hoje a cabrita e eu estamos nos divertindo. Olhe


aqui a bandida aproveitando a noite… chupa que é de uva!!"

Meu Deus! Josh literalmente gosta de passar vergonha, mas a


única coisa que presto atenção é o cara que está agarrado a minha
chaveirinho. Não preciso dizer que voltei o vídeo algumas vezes
para tentar descobrir quem é o maldito, mas não dá pra ver o rosto
do desgraçado porque está no pescoço da minha chaveirinho.
Fico puto porque ela claramente seguiu em frente sem nem me
dar bola. Porque caralhos eu estou com ciúmes, sendo que eu
mesmo me afastei por não querer nada? Eu sou a porra de um
idiota que quer seguir em frente e não consegue esquecer a irmã
que ele apenas beijou.
Já posso dizer que sou um policial abatido? Um cadela que
falta dar a pata quando a dona pede? Porque literalmente só falta
isso.
Josh volta a mostrar a língua e a pular com o celular dela e não
mostra mais a diaba. Minha primeira ação é ligar para ela, não
posso deixar que aquele cara se aproveite dela, nem fodendo ela
vai ficar com alguém essa noite.
Se eu estou na merda, fodido tendo apenas ela na minha cabeça,
ela também vai ficar assim.
A chamada é iniciada, mas logo a música alta começa a
preencher meus ouvidos e escuto a risada nojenta do Josh. Deveria
imaginar que seria esse irritante que iria atender a ligação, vamos lá
Gabriel, você consegue suportar Josh por alguns minutos.

— Fiquei imaginando quanto tempo demoraria para o possessivo


dar sinal.
— Vai se foder, passa para a Kate.
— Ela não está podendo falar no momento. — Debocha,
gritando porque a música atrapalha. — Está com a língua na boca
do Théo, mas você já deve ter imaginado isso ao ver os stories.
Acho que o minuto de paz acabou e posso ameaçá-lo de morte.
— Não me faça perder a paciência, seu projeto de demônio, fala
onde vocês estão que irei até aí.
— Pra você acabar com a diversão? Nem fodendo!
— Seu filho de uma put…
— Olha o preconceito, minha mãe está pagando o microondas.
— Josh! — Preciso parar de xingá-lo um momento para que me
conte onde estão, meu sangue está borbulhando por chamá-lo pelo
nome. — Por favor, fale onde vocês estão. Sabe que Kate e bebida
não combina porque ela fica louca.
Sério que essa foi a minha desculpa?
— Quem vê pensa que está preocupado com a ressaca dela, e
não está puto porque tem alguém sugando a língua da sua
chaveirinho. Eu sou hétero, Gabizinho, mas o cara tá me deixando
excitado com essas mãos safadas.
— Você é um demônio!
— Como sou um apreciador de caos. — Dá uma risadinha
irônica. — Vou dizer quem é Théo.
Respira Gabriel, seu coração está acelerado, sua raiva
crescendo, mas você dá conta de passar por essa ligação sem ter
um infarto sendo Josh a última pessoa que você ouviu.
— Não quero saber…
— Vou dar dicas tá, amigo?
— Eu já disse que o odeio com
todas as minhas forças? — Ele é um cara boa pinta, engraçado e
que conquistou Kate no primeiro dia que se conheceram. Mas para
fechar com chave de ouro e você acertar a bolada, tchan tchan
tchan…
— Fala logo, porra!
— Ele gosta de entregar o número de telefone em um ambiente
de trabalho.
NÃO!
— Kate não me irritaria nesse nível.
— É a coisa que Kate mais gosta de fazer, seu idiota, mas dessa
vez o destino quis juntar os dois. Acho que o policial medroso ficou
para trás.
— Ela te contou tudo, não foi?
— Sou o melhor amigo, lógico que ela me contaria, nem que
fosse na base da ameaça. — Deveria ter imaginado que ela iria se
abrir para alguém, como com os pais corria o risco de ficarem putos
com a gente, ela recorreu ao imbecil do Josh. — Percebi o clima
tenso aquele dia na cafeteria e após ela me dizer o que houve, tive
mais certeza que você é muito idiota por deixar ela livre. Não vai
demorar para Théo mostrar que deseja algo mais sério e aí você
terá que assistir ela feliz com outro.
Feliz com outro…
Porra! Só por cima do meu cadáver. Não deixarei isso
acontecer, porque aqueles sorrisos são meus, aquela língua afiada
é minha e Kate vai descobrir que ter ficado com aquele médico
deixou a sua situação ainda pior. Vou garantir algumas palmadas
naquela bunda redondinha, e ela vai implorar para que eu pare.
Sou possessivo, sei disso e a culpa é da merda que aconteceu
no passado e imaginar que alguém possa machucá-la de alguma
forma, me deixa irritado e pronto para agir da forma que achar
necessário.
— Vou perguntar pela última vez, Joshua. — Volto a falar assim
que escuto ele debochar da minha cara. —
ONDE.VOCÊS.ESTÃO!?
— Até que enfim tomou uma decisão sensata, mas não pense
que vou deixar você a tratar mal, está me ouvindo? Se eu sonhar
que vai vir aqui para arrastá-la a força, vou garantir que amanhã vá
para a delegacia com um dente a menos. — Sorrio achando graça
da sua proteção, mas sabemos quem levaria a pior por socar um
policial. — A festa é na minha casa, como sei que é um possessivo
de merda, tenho certeza que sabe onde moro. Vê se não acaba com
a festa, zé pistola, hoje preciso de uma companhia e você gritando
igual uma maritaca não vai ajudar em nada.
Desligo a ligação sem dar uma resposta a esse infeliz que
literalmente gosta de me irritar, mas é Kate quem está me fazendo
infartar.
Se eu parar no hospital de novo, vou garantir que a vida daquele
médico desgraçado seja um inferno. Eu vou aterrorizar até que não
suporte mais cuidar de mim e se mude para a puta que pariu!
Capítulo 12

Achei que Josh não iria dizer onde é a festa, mas disse e não
sei o motivo dele ter feito tal coisa sabendo que vou socar a cara
daquele imbecil por agarrar ela.
A festa está acontecendo quatro ruas depois da casa de Kate e
no caminho não consegui pensar em mais nada além das mãos
daquele médico desgraçado tocando nela.
Vou matar Josh por me fazer ficar ainda mais puto comentando
sobre esse cara, me deixando com ânsia de arrancar o pescoço
daquele médico metido a garanhão, quem ele pensa que é para ir
atrás da minha garota?
Se ela não ligou pra ele é porque não estava interessada, não
que eu tenha dado alguma chance dela fazer isso, já que engoli o
papel. Mas que se foda, a função de irmão mais velho eu fiz.
Irmão. Nem sei mais se devo me considerar um depois de ter
sugado a língua dela duas vezes, ter tido sonhos eróticos com
minha irmãzinha e morrer de ciúmes vendo ela ficar com outro. Não
sai da minha cabeça o dia que ele entregou aquele papel e minha
vontade era de ter enfiado na bunda daquele cretino miserável.
Hoje ele vai ver que já mandei muitos outros caras para longe da
vida dela. E estou indo fazer de novo, porque não sou obrigado a
ver ele se dando bem enquanto estou em casa assistindo série e
pensando nessa bandida vinte anos mais nova que eu.
Como a chaveirinho pode ter tanto poder assim sobre mim? Não
consigo entender a chuva de sentimentos que me domina. É como
se eu não pudesse vê-la com outra pessoa, porque depois que
provei dos seus beijos, nenhuma outra boca vai se igualar, nenhum
outro sorriso vai ser como o dela, porque Kate é única.
Estacionei na rua principal e um pouco longe da casa por conta
de ter bastante gente impedindo a minha passagem. Ando a passos
rápidos em direção ao imóvel que está tocando uma música
eletrônica, no volume que está, dá pra ouvir no outro quarteirão. 
Não preciso olhar uma por uma para encontrá-la, porque Kate
reconheço de longe, é só ver uma anã de jardim no meio de adultos
e está lá a minha chaveirinho. Sorrio lembrando das vezes que a
reconheci usando esse método infalível, minha gnomo favorita.
A casa está com a luz fraca, deixando alguns pontos mais
escuros para dar um ar de balada mesmo, com um globo jogando
uma luz azul no teto com desenhos de estrelas, isso é a definição
de pobre, mas eu curto, porque eu sou também. Uma grande
quantidade de pessoas está na sala, dançando e pulando e eu
tentando encontrar aquele projeto de gnomo no meio de todos. Acho
mais fácil procurar Josh do que ela, já que ele é alto e loiro e não
tem muitos com esse perfil aqui dentro.
Meus olhos recaem bem onde ele está, dançando e filmando a
própria cara enquanto toma cerveja. Passo entre as pessoas e puxo
sua camiseta fazendo com que ele virasse o rosto para mim.
— Zé pistola! Você veio mesmo. — Me abraça de lado e filma
meu rosto, coloco a mão na tela o empurrando para que pare e no
instante que ri sinto o cheiro de bebida saindo por essa boca
imunda. — Bem-vindo a minha humilde residência, se sinta em
casa, mas lembre-se que você não está.
Então aqui é o inferno? Deveria ser, já que apelidei esse ser,
como projeto de demônio.
— Cadê a Kate?
— Por aí, sendo feliz sem se importar com sua opinião. — Vou
matá-lo dentro da sua própria casa. — Mas convenhamos, mulher
gosta de homens com atitude e não que morre de medo do irmão
descobrir que estão se pegando.
— Cala a boca, fala logo onde ela está.
Ele gargalha e notei que estava filmando tudo o que falou, posta
no instagram da Kate e pego o celular para apagar antes que a
família dela veja. Ele segura com força tentando deixar o máximo de
tempo possível e meu coração falta sair pela boca enquanto brigo
com esse desgraçado.
— Ficou maluco, porra!? — Grito ainda mais alto por conta da
música. — Quer acabar com a nossa família? Se um deles visse
esse story, Josh, você seria um homem morto.
Como Deus decretou que hoje não seria uma noite agradável,
começa a tocar Fulano, de Murilo Huff e me dá um desespero em
saber que ela está beijando a boca de outro, ainda mais sendo
aquele médico safado.
Enfio o celular dela no bolso após garantir que apaguei o maldito
story. Empurro o infeliz do Josh e ele ri sabendo que conseguiu me
deixar ainda mais puto, parece ser a diversão desse filho de uma
égua.
Caminho entre as pessoas sendo acompanhado por um Josh
tagarela, dizendo que Kate está aproveitando um cara sarado.
Minha vontade é de socar a cara desse insuportável até ele
desmaiar e fechar essa boca. Respiro fundo tentando manter o
resquício de controle que me resta e vasculho o local. Sei que a
roupa dela tem brilho, já a vi usando aquele conjunto e fica uma
delícia, só de imaginar ele com as mãos bobas naquele corpo que é
meu, minha raiva aumenta a níveis incalculáveis.
Minha paciência se esvaiu assim que bati os olhos nela agarrada
com aquele ridículo no canto da sala. Ando quase correndo e puxo o
corpo dele que está no maior amasso com a minha chaveirinho,
prensando o corpo dela na parede e a mão boba  como havia
imaginado.
Vou matá-lo.
Torturá-lo.
Arrancar aquelas mãos e enfiar na bunda dele para aprender a
não mexer com a mulher dos outros, filho da puta.
Não penso duas vezes e viro o corpo dele acertando um soco
certeiro no nariz. Ele geme e dá três passos para trás batendo as
costas na parede, sua mão vai direto no machucado, tentando
conter o sangramento. Kate me encara assustada e pouco me
importa se cortei seu barato.
— Você ficou maluco, cara? — O tal Théo murmura.
— Acho que quem ficou foi você por agarrar minha… — vejo o
olhar dela se estreitando, sabendo do que eu iria chamá-la.— Some
daqui antes que eu te prenda, seu desgraçado.
— Quais seriam os motivos da prisão, Gabriel? — Ela murmura.
— Você ser ciumento a ponto de invadir uma festa e não gostar de
me ver com outro? Porque estou esperando você me dizer porque
caralhos ficou duas semanas se escondendo, aí quem sabe eu tento
esquecer a merda que acaba de fazer.
— Chaveirinho…
— Não me chame mais assim, não quero essa palavra saindo da
sua boca. — Fico sem reação, porque ela amava esse apelido. —
Não irei aceitar esse tipo de atitude. Parece um homem das
cavernas, só que gostoso e um baita idiota!
Faço uma anotação mental para tirar sarro da cara dela quando
tiver oportunidade, porque mesmo puta ela ainda consegue achar
meu corpo gostoso. Minha atenção volta para ela e está na hora da
chaveirinho entender o motivo de eu ter vindo até aqui.
— Você é minha! — Sua boca se abre para rebater, mas ao
entender a intensidade jogada nas três pequenas palavras, ela
silencia e me deixa continuar. — Não vou deixar esse infeliz se
aproveitar do que é meu!
Kate está puta, e não vou fingir demência dizendo que não sou o
causador. Mas ver ela beijando esse cara me fez ficar cego e se ele
ficar mais um minuto aqui irei fazer de novo até que entenda que ela
não é para seu bico.
— Vaza, porra! A conversa agora é entre ela e eu, você já teve
mais do que deveria.
— Tive? — Ele retruca. — Estávamos muito bem sem você aqui,
quem deveria sair é você. Kate estava entregue e poderíamos ter
uma noite maravilhosa se não tivesse aparecido.
Vou feito um raio para cima dele e sinto Josh me segurar, dizendo
que não irá me deixar quebrar a sua casa, ele fez alguma piada
sobre a mãe dele, mas estou cego de ódio para prestar atenção. Ele
me puxa para longe deles e Kate vai conversar com aquele
bostinha.
Teriam uma noite maravilhosa, nem fodendo!
— Cara, você claramente perdeu a cabeça. — Josh fala ainda
me segurando, me leva para um corredor onde não consigo mais
ver minha chaveirinho.
Tento fazer meus olhos se acostumarem com a luz forte do
corredor, e encaro o rosto do Josh vendo uma sombra branca na
cara dele, vai demorar alguns segundos para voltar ao normal. Para
minha raiva diminuir, presto atenção nas pessoas que passam por
nós rindo de assuntos que não são da minha conta, também têm
cheiro de bebida como se alguém tivesse derrubado e ficasse essa
catinga no corredor.
— Acha que é assim que ela vai querer algo com você? — Forço
a vista para encará-lo e finalmente a visão volta ao normal. — Kate
é maluca, mas não gosta dessas atitudes.
— Não vou ficar quieto com aquele engomadinho sugando a
língua da minha…
— Sua o quê? — Ele me fuzila irritado, primeira vez que não
está com um sorriso debochado na cara, apontando um dedo como
se isso pudesse amenizar a raiva que está sentindo por estragar
sua festa. — Pode me odiar o quanto quiser Gabriel, mas vai ouvir
umas verdades porque você merece ter os ouvidos sangrando essa
noite.
Era só o que me faltava, ganhar sermão de Josh.
— Kate não é sua, nem de ninguém. Ao contrário de você, ela
demonstrou o que queria, mas não é idiota de ficar esperando a sua
boa vontade. Se não quer ter nada com Kate, deixe ela livre para se
divertir com quem quiser.
— Uma ova que deixo! — Declarei irritado.
— Eu te acho um babaca exibido — murmurou e quase me fez
rir. — Mas não sabia que era surdo. Pare de ser um frouxo e
conquiste ela do jeito certo ou deixe Kate em paz, não vou ficar
olhando você fazer minha melhor amiga de trouxa.
Soco a parede e no mesmo instante esbravejo sentindo dor.
Porra! Seguro a mão que está ficando avermelhada e olho para
Josh tentando manter minha cabeça no lugar. Não sou o tipo de
homem que sai socando a cara dos outros, e por mais que odeie
dizer isso, esse irritante tem razão. Não posso alimentar as
esperanças dela toda vez que a gente se ver, porque isso vai deixar
a situação ainda pior.
— Cara, você precisa de uma bebida e relaxar um pouco.
Vejo Josh esticar a mão em minha direção, nego com a cabeça
sabendo que se eu beber aí sim faço coisas sem pensar.
— Estou dirigindo, sem contar que no estado que estou a bebida
só iria me deixar mais puto lembrando que ela me trocou por aquele
médico de meia tigela.
Ele dá de ombros e abre a latinha tomando uma quantidade
generosa do líquido. Ele não tenta sair e se divertir como estava
fazendo antes, parece um carrapato grudado em mim para que eu
não soque mais ninguém.
— Ô projeto de demônio… você pode ficar mais distante? Não
precisa encostar seu corpo em mim.
— Que é isso, cara?! — Me abraça de lado e sinto o humor
duvidoso em sua voz. — Estou aqui te dando uma força. Sabia que
abraços quentinhos ajudam a acalmar gente estressada como
você? Sem contar que deveria agradecer pelo fato de ter um cara
gostoso como eu te apalpando e não reclamar.
Não consigo segurar o riso que se formou na minha garganta,
mexo a cabeça desacreditado nas merdas que esse cara fala. Se
não fosse tão irritante a gente poderia ser amigo, porque temos a
mesma tendência a falar merda antes de pensar, mas não acredito
que isso possa um dia acontecer.
— Josh… — Escuto a voz de Kate atrás dele e o mesmo se vira
deixando que nós dois vejamos a morena que claramente quer
arrancar meu pescoço. — Me deixe falar a sós com Gabriel.
— Lembra o que te falei na ligação, não é? — Resmungou, se
referindo a arrancar meus dentes se encostasse um dedo nela. —
Eu cumpro minhas promessas, nem que eu vá preso por bater em
um policial bostinha.
— Vaza daqui, seu irritante…
— Não mate ele, Kate. — Ele a abraça e cochicha algo no
ouvido dela. — Preciso que fique vivo para atormentá-lo por mais
alguns anos.
Deus me livre de aturar essa praga por mais um dia, quem dirá
anos.
Josh vai pelo caminho que ela veio e joga a cabeça para trás
enquanto bebe o resto do líquido que sobrou na latinha. Meu olhar
recai em uma baixinha invocada que está me encarando com a
expressão fechada e os braços cruzados, esperando uma
explicação.
— Você só pode ter perdido o juízo, Gabriel Monteiro!
— Sabe que nunca tive. — Sorrio. — Mas não me peça para
ficar sossegado te vendo com outro.
— Estou com outro porque você é um idiota que me afasta!
Acho que eu mereci essa.
— Chaveirinho… sabe o motivo de eu ter feito isso.
— Estou pouco me fodendo para seus motivos, se me quer,
demonstre. Se não deseja ter nada, então vai para a puta que te
pariu! Eu vou continuar nessa festa, vou encher a cara e você terá
que escolher ficar aqui comigo ou ir embora.
— E o médico babaca? — Perguntei, demonstrando curiosidade.
— Ele foi embora, cuidar do machucado que você causou. —
Bem feito, faria de novo se pudesse. — E eu disse que amanhã irei
conversar com ele.
— Katherine…
— Vai para o inferno com seu ciúme.
Tiro a distância enorme que tinha entre nós, Kate arregala os
olhos ao me ver jogando seu corpo pequeno na parede e colando
nossos corpos. Esse pequeno contato já me deixa ansioso por
prová-la, desejando fazer ela esquecer os amassos que deu com
aquele cara, vou tirar cada lembrança dessa cabeça que só pensa
em safadeza.
Senti seu perfume no instante que meu rosto foi para seu pescoço
fino, eu me odeio por sentir atração por ela, sem conseguir me
manter afastado quando mais deveria.
— Essas malditas duas semanas não consegui tirar você da
cabeça, chaveirinho. — Ela arfou ao sentir minha boca próximo a
orelha, esfregando seu corpo quente no meu, roçando sua
bocetinha na minha perna e me deixando ainda mais duro. —
Imaginei como seria se ficasse perto de você de novo e aqui está a
resposta. Não sei ficar longe, parece um vício que quando está aqui
preciso tocar e sentir seu gosto. Nunca fiquei tão confuso na minha 
vida, uma batalha interna tentando entender o que você fez comigo.
— É tesão, Gabriel, puro e delicioso tesão. — Afastei o suficiente
para enxergar seu rosto. Está tão linda, pouca maquiagem e os
cabelos soltos espalhados pelos ombros, a boca entreaberta
mostrando dificuldade para respirar nesse momento. Não estou
diferente dela. — Não me importo em como a gente era antes
daqueles beijos, eu te quero e vou mostrar como isso não é um erro.
Nós não somos irmãos, não tem nada de errado em dar alguns
amassos.
— Tenho medo da sua família me odiar e Kaio não olhar mais
para minha cara, Kate, pelo simples fato de sentir atração pela
mulher que eu vi nascer, que se tornou minha família nesses anos.
Você consegue entender o meu lado? Em como aqui dentro está
uma bagunça?
— Eu entendo. — Murmura. — E te dei espaço para escolher o
que queria, mas vir até aqui e bater em Théo foi algo muito errado.
Poderia ter chegado de outra forma, mas preferiu ser um homem
das cavernas.
— E gostoso, como você disse antes.
— Não retiro o que disse, é gostoso e um grande babaca
agressivo.
— Jamais encostaria em você… mas ver aquele cara te
agarrando e você gostando, me fez subir o sangue. Josh já havia
me irritado por telefone e quando cheguei aqui, continuou a me
provocar falando sobre aquele médico desgraçado. Perdi a cabeça
sim, não nego, mas não me arrependo de ter batido nele, porque
era para eu estar ali, entende o que quero dizer?
— A única coisa que eu entendo é que você é uma mula, estou
há duas semanas subindo pelas paredes lembrando daqueles
beijos. Querendo algo mais e só podia me satisfazer com o
paulete…
— Paulete? — Minha dúvida ficou escancarada e ela apenas
soltou um risinho antes de sentenciar meu ataque de riso.
— Meu vibrador. — Diz sem cerimônia, me fazendo gargalhar. —
O coitado ficou até desgastado, tudo por culpa sua. Então vou dizer
uma única vez, ou me fode essa noite ou acho outro que faça isso.
— Porra!
— Agora com licença que tenho uma festa para curtir…
— Nós vamos embora, Kate.
— Não vamos não! Quer ir, a porta está bem ali. — Linguaruda
sem filtro, sabia que não seria fácil arrancar ela daqui, a mulher é
mais teimosa do que eu. — Vou ficar aqui até que você esteja
pronto para o próximo passo, vou te enlouquecer até não suportar a
ideia de ficar com essa língua longe de mim. Fui clara?
Eu já não suporto, deveria dizer, mas sou covarde demais para
estragar o que a gente tem.
E a atrevida me empurra gentilmente e se afasta rebolando
aquela bunda deliciosa. Porra! Eu devo ter afogado Moisés no mar
vermelho, só assim para estar pagando os pecados que ainda nem
cometi.
Capítulo 13

Depois do que aconteceu naquele corredor, voltei para a pista de


dança e comecei a dançar sem me importar se Gabriel foi embora.
— Coisa que duvido, já que é a versão gostosa do shrek.
Por conta da escuridão onde nós estávamos, poucas pessoas
presenciaram a briga e seguiram o baile sem se importar com o
ogro. Fiquei surpresa com a atitude dele, nunca o vi assim, e a cada
encontro só piora. Não sei se é uma mula ou apenas se faz, mas
está claro que isso não é ciúmes de irmão.
Mostrei que estava errado, que não quero mais esses excessos
de raiva, porque não vou aceitar que bata em todos que chegam
perto de mim. Onde já se viu, nem Kaio que é meu irmão de sangue
faz isso. Sei que é assim por conta do que houve no passado, mas
precisa mudar suas atitudes e entender que estamos seguros, que
sei me cuidar.
— Relaxa Gabe, você anda trabalhando demais e também
precisava encher a cara. — Digo, mostrando o lado bom dele estar
aqui. — Há quanto tempo a gente não sai pra se  divertir? Cadê
meu parceiro de drinks?
— Tem razão, só estou estressado com tudo o que está
acontecendo.
Dá um sorriso fraco e sei que está pensando em como vamos
ficar daqui para frente. Mas não sou vidente, só aproveito o
momento e é isso que farei agora.
Puxo sua mão o trazendo para mais perto e começo a pular no
ritmo da música, o fazendo sorrir largamente. Ele mexe o corpo
devagar me fazendo arquear uma sobrancelha.
— Qual é… você pode fazer melhor do que isso.
Então ele pega a bebida da minha mão e toma em um gole só.
Aí está meu parceiro de loucuras, sempre tocamos o terror nas
festas, andamos fantasiados para zoar e os últimos a ir embora.
Gabe sempre foi meu parceiro e até pensei em chamá-lo para vir
aqui, mas como estava me evitando nessas duas semanas, acabei
desistindo.
E ele chega aqui parecendo o Anderson Silva e nocauteia o
pobre do Théo que só estava sendo gentil e divertido. Mas amanhã
quando estivermos sem ninguém para atrapalhar ou o nervosismo
tomando conta, quero conversar com ele e colocar um ponto final
nessa possessividade, porque isso só nos faz mal.
Sou dona de mim mesma, faço aquilo que quero sem me
importar com a opinião dos outros. Ele sabe que não irei mudar
minha personalidade apenas para agradá-lo e por esse motivo ficou
ainda mais irritado. Só faltou espumar pela boca, porque seus olhos
verdes estavam faiscando de ódio.
A música. — Nosso Quadro, da Ana Castela. — Começa a
tocar e meu coração dá um solavanco no peito sentindo Gabriel
puxando meu corpo e cantar baixinho no pé do meu ouvido.
Dançamos lentamente enquanto nossos corpos estão colados.
Coloco minhas mãos nos ombros largos e sua respiração bate no
meu pescoço me arrepiando.
Respira Kate e não fique molhada em lugares impróprios, finja
que ele é a sua amiga do colegial que tinha um aparelho gigantesco
e os olhos esbugalhados.
Ah, merda! Ele está cheiroso demais para pensar naquela criatura
que não desgrudava de mim.
Eu sou uma putinha mesmo, qualquer contato estou me
desmanchando sem o mínimo de vergonha na cara. Mas foda-se,
como sempre digo, o momento de se arrepender é amanhã, hoje
vou apenas aproveitar.
A letra diz muito sobre nós dois, uma história que parou pela
metade e a gente imagina o resto. Fico pensando em como
estaríamos entre quatro paredes, esse tesão absurdo que ainda
temos um pelo outro iria fazer uma noite valer a pena.
Minha nossa senhora das mulheres com pó na boceta, eu preciso
muito desse homem na minha cama hoje.
O Dj sem graça tira a música e todos começam a vaiar, ele
coloca pra tocar. — Nem Namorado e Nem Ficante, de Israel e
Rodolffo e aí gargalho ao sentir Gabriel descolar o corpo do meu
com um sorriso debochado. Me faz girar e encontrar seu corpo mais
uma vez, podendo sentir o seu perfume único e o calor que me faz
queimar de dentro para fora.
— Isso te recorda algo, Kate?
— Que eu estou louca para dar e você doido para fugir?
Eu sou uma rapariga safada. Mas aproveito esse contato para
passar a mão no homem que eu tanto desejo ter na minha cama. E
Gabriel será meu esta noite, nem que seja a última coisa que eu
faça. Ele gargalha com minha língua solta, mas não foge, continua
agarrado a mim e dançando sem se importar com os outros.
Em uma bolha invisível que não quero estourar, porque estar
assim é melhor do que imaginei.
— Sem definir… sem rotular. — Canto em seu ouvido e ele me
aperta ainda mais. Céus! Porque ter braços tão fortes e ser o dobro
do meu tamanho?
Minha cabeça pervertida só pensa que o pau deve ser
proporcional ao corpo, não quero um geladinho não. Quero um
picolé da Kibon, recheado de um líquido branco que irei me
esbaldar.
Posso ser uma puta safada, mas serei uma tendo vários
orgasmos nesta noite com o homem que tanto quero.
— A gente segue se encontrando e na cama segue amando, o
importante é se pegar. — Continuo cantando para provocá-lo.
Sua mão vai para meu rosto e vejo ele se afastar o suficiente para
me encarar nos olhos. Gabriel brinca com seus lábios nos meus
lentamente, quando se abrem, faço a mesma coisa ao sentir sua
língua pedindo acesso. Gabe está com gosto de cerveja e pasta de
dente, provavelmente viu os stories de Josh após o banho, e devo
dizer que o filho da mãe tá cheiroso demais.
Nosso beijo é de saudade, tocando o corpo do outro como se
somente a boca não fosse o bastante, quero mais, muito mais e sei
que ele também quer. O pecado em forma de homem mordeu meus
lábios de leve puxando para si e nossos olhos se encontram.
Vejo luxúria, mas não aquela coisa rasa e momentânea. É um
homem que já demonstrou o motivo de ter vindo aqui e vai me punir
quando chegar a hora.
Céus… me jogue na parede e me chame de qualquer coisa,
menos de lagartixa porque não sou fina e molenga.
Separamos nossos lábios para buscar o ar e o sorriso largo que
o cretino expõe na boca me faz ficar com a calcinha melada em
expectativa. Gabriel volta a me abraçar e dançamos colados no
embalo da música.
— A gente briga igual casal e se pega como amante. — Agora é
ele quem canta o refrão e gargalho.
— Seu ridículo…
— A gente não tem nada sério, mas o ciúme é constante… nem
namorado e nem ficante.
Ao levar meus olhos para outra coisa que não seja esse homem,
vejo Josh discutindo com uma morena estando bem próximos da
gente. Os dois estão quase se matando e penso em intervir e socar
a cara da vaca que ousa brigar com esse príncipe, mas Gabriel está
mais do que disposto a me prender em seus braços.
— Josh precisa da minha ajuda…
— Ele é grandinho, sabe se virar. — Segura minha nuca com
força, mas não para me machucar, apenas para me fazer ficar
excitada, e devo dizer que não demorou para meu corpo ter essa
reação. Seus olhos me encaram e desviam para minha boca que
está com o batom borrado. — Passe a noite comigo, chaveirinho…
estou com uma puta vontade de te levar para um desses quartos e
te foder até que seus gritos fiquem mais altos que a música.
Puta merda! Era isso que eu esperava desse homem nessas
últimas semanas.
— O gato aqui comeu sua língua? — Brinca. — Nunca vi
Katherine Martins ficar sem fala.
— Você me pegou desprevenida, tá legal? — O safado gargalha.
— Vamos foder no quarto do Josh, gosto do perigo. Quero ver como
você vai me tratar tendo meu amigo prestes a entrar no quarto dele.
— Sua sapeca… eu vou te tratar do jeito que você merece.
Pensei em dizer ao Josh o que iria fazer, mas ele ainda discutia
com a mulher, algo como: você está olhando bem para mim? Olha o
quanto sou gostoso, lindo e inteligente, só falta você entender que
está louca por mim.
E ela disse: cala a boca. Seu ego com certeza é o triplo do
tamanho do seu pau, para quando chegar a hora a mulher estar tão
excitada que não vai se importar que seu pau seja do tamanho do
dedo mindinho dela.
Pelo visto a noite desses dois será regada com facas voando,
melhor eu aproveitar e sair enquanto posso. Apenas peguei a chave
do quarto dele que estava no bolso e saí antes que ele percebesse.
Foi mal amigo, mas preciso do seu quarto para tirar o atraso.
Puxo Gabriel pela mão, sentindo meu coração acelerado com
tamanha expectativa de ser fodida por esse homem.
O quarto de Josh fica no corredor que estávamos antes, bem ao
lado do quarto da mãe dele, que por sinal, está trancado para que
não acabem estragando nada da pobre mulher. Nessa casa tem três
banheiros, um em cada quarto e outro ao lado da sala, assim as
pessoas não precisam entrar nos quartos para se aliviar.
Coloco a chave na abertura e girei duas vezes até que sinto que
destrancou. Empurro a porta e vejo um ambiente mais arrumado do
que qualquer outro que já vi, Josh consegue ser mais organizado
que minha mãe.
Antes que eu pense em qualquer coisa, meu corpo é prensado
na porta que ainda se encontra totalmente aberta. Um Gabriel
faminto agarra minha boca e passa a língua ali enquanto me encara
transbordando luxúria.
Suas mãos estão espalmadas na porta um pouco acima da minha
cabeça, seu corpo curvado próximo a mim e aquela áurea de tesão
rodeando a gente. Ele puxa meus lábios com os dentes me fazendo
quase soltar um gemido de dor, mas antes que aconteça, Gabriel
me beija de forma bruta, me fazendo gemer de desejo.
Roça seu corpo no meu lentamente, fazendo nossos sexos terem
uma fricção deliciosa. Por Deus! Gabe me devora com fervor,
arrancando um gemido necessitado da minha boca. Suas mãos
descem pelo meu corpo e quando passam pela minha cintura, ele
aperta e me puxa para sair da porta.
Não paramos o beijo enquanto ficamos em pé no meio do
quarto de Josh. Suas mãos atrevidas continuam a descer em uma
lentidão que me deixa ansiosa. Param na barra da minha saia e ele
faz o movimento de subir e meu coração pula para fora do peito
sabendo que a porta está aberta.
— Gabriel…
— Shhhh… — sua boca desliza para meu pescoço e levantei a
cabeça para que continue o trajeto até meus peitos que estão
pesados. — Só se entregue, chaveirinho. Quando chegar a hora,
garantirei que nenhum filho da puta veja seu corpo que é só meu.
Céus!
Minha calcinha parece ter caído nas Cataratas do Iguaçu, de tão
molhada que a coitada está. Vou pendurá-la na parede como troféu
por ter conseguido fisgar esse pedaço de mau caminho.
Está destruída o vendo possessivo nessas horas, é entre quatro
paredes que o quero desse jeito, não como um ogro que espanca as
pessoas. Saio dos pensamentos com ele subindo minha saia,
deixando o pano embolado na minha cintura. Seu corpo grande está
na minha frente e ninguém consegue me ver quase nua nas mãos
desse homem. Ele desliza as mãos pela minha bunda e aperta me
fazendo soltar um gritinho.
— Vai se arrepender de me provocar, Kate, de querer minha
boca em seu corpo… porque agora não tem como me parar.
— Não pare. — Murmuro inebriada de prazer.
— Vou te foder aqui chaveirinho, e irá gritar meu nome para
todos eles ouvirem que sou eu quem te come do jeito que você
gosta.
— E como eu gosto? — Estou derretendo de tesão vendo esse
lado dele. — Fale como eu gosto, Gabriel…
— Você disse aquele dia na cafeteria que gosta de um sexo
bruto e que o homem te deixe com as pernas bambas. — Puta
merda! Ele não esqueceu aquilo. Suas mãos apertam minha bunda
com mais força e me encara com um sorriso malicioso. — Vou
garantir que não sinta suas pernas hoje, Kate, somente sentirá a
bocetinha dolorida e seu corpo repleto da minha porra.
Gabriel segura meu pescoço e não consigo parar de encarar
seus olhos verdes, que contém uma coloração mais escura tendo
apenas a claridade que vem do corredor, deixando o quarto
parcialmente visível.
Ele me empurra em direção a cama, me deixando ansiosa para
que me foda de uma vez, mas pelo jeito está disposto a provar cada
centímetro de mim. Não que eu esteja reclamando, amo um homem
que dá atenção por completo, mas senti sua ereção na minha
barriga e estou louca para que esteja dentro de mim.
Calma, sua vadia excitada! Pode ser a única vez que irão foder,
é bom garantir que tenha tudo que Gabriel está disposto a me dar.
E pelo visto, a noite será pequena perto do fogo no meu rabo.
Capítulo 14

Ver Kate totalmente entregue aos meus beijos e toques me deixou


com as bolas doloridas, mas não vou com sede ao pote. Quero
sentir cada pedaço dessa bandida, deixando ela nadando em
excitação.
Ficou intrigada de estarmos nos pegando com a porta aberta,
mas gosto do proibido. Já deu pra perceber que o perigo me atrai já
que estou aqui com ela de novo, quebrando todas as regras que eu
mesmo tinha estipulado. E saber que a qualquer momento alguém
irá passar por aqui e nos ver no maior amasso, me deixa ainda mais
duro.
Kate nunca viu esse meu lado, mas hoje terá um gostinho do
que me excita entre quatro paredes, falar sacanagem e meter até
rasgar essa boceta que estou louco para provar. Vou foder com
minha chaveirinho sem ter hora para acabar, lambuzando o quarto
de Josh e deixando o cheiro da nossa foda para aquele verme
aprender a não me irritar.
Retiro aquela coisa medonha da minha cabeça e apenas
observo minha garota caindo na cama e deixando sua calcinha
vermelha de renda totalmente exposta, já que a saia está embolada
na cintura. Porra! Passo a língua pelos lábios umedecendo-os e
louco para chupar toda sua excitação.
Chegou a hora de trancar a porta e saborear minha garota,
porque nenhum homem nessa festa terá o privilégio de ver ela nua,
somente eu serei expectador do seu corpo se entregando ao prazer,
chamando meu nome repetidas vezes, porque irei garantir que Kate
saia desse quarto bem comida.  
A deixo com as pernas abertas na cama de Josh e ando até a
porta trancando a mesma para que nem mesmo o dono do quarto
entre aqui e me atrapalhe. No mesmo instante acendi a luz do
quarto e encarei a cômoda gigantesca com um video game e
algumas bugigangas em cima. A TV enorme pendurada na parede
mostra que é um viciado, por isso não arruma uma mulher. Deve
passar as horas de folga aqui dentro jogando aqueles jogos online
que consome sua vida.
Ao deslizar os olhos consigo ver uma caixa de som pequena,
mas é daquelas potentes, sei disso porque também tenho uma e dá
para ouvir pela casa inteira. Resolvo colocar minha playlist especial
para deixar nosso momento ainda mais intenso. Ao olhar Kate ela
continua na mesma posição, os braços apoiados na cama e me
encarando curiosa com o que vou fazer.
Não demorou para que eu colocasse a música e I Feel Like I’m
Drowning começasse a tocar pelo cômodo. O toque deixa o quarto
com uma áurea sexual e a safada sorri de forma maliciosa ao ver eu
me aproximar da cama.
— Que delícia… não sabia que era desses.
— Ah, eu sou. E vou te comer no embalo dessas músicas.
Seguro seus tornozelos e a trago para a beirada da cama. Kate
roça o salto no meu abdômen me instigando a continuar com as
carícias que estão longe de acabar. Ah Kate… eu vou adorar
percorrer seu corpo com a minha língua.
Quando ela pensou em tirar o salto da minha barriga, o segurei e
a puxei colando sua bunda no meu pau.
— Oh! — Sussurra.
Caralho. O encaixe foi perfeito e poderia facilmente foder com a
chaveirinho neste momento, apenas colocando essa calcinha
minúscula para o lado e metendo devagar, sentindo essa boceta
gulosa asfixiar meu pau. No entanto, quero cada pedaço dela hoje,
porque será a primeira e última vez que vamos foder, depois cada
um vive sua vida. É isso.
Seu sorriso brincalhão morreu assim que apertei sua coxa com
mais firmeza, fazendo a morena morder os lábios para não soltar
um gemido, que devo admitir estar louco para ouvir.
Sua perna está erguida em meu ombro direito, aproveito para
beijar seu tornozelo no instante que retiro o salto. Minha mão desce
pela coxa grossa e meus olhos recaem na sua calcinha vermelha de
renda à mostra. Porra! Posso ter um vislumbre da preciosidade que
tem por baixo.
Meu pau pulsa para estar dentro dela. Sossega seu vagabundo,
deixa eu ter o mínimo de controle aqui, porque sabemos quem é ela.
Kate merece tudo de mim. Então murcha se quiser, mas minha
chaveirinho terá pacote completo.
Continuo deslizando minha mão até chegar próximo a boceta e
essa região está pegando fogo. Kate é quente, sexy e pelo jeito
viciante ao ponto de eu querer nunca mais sair desse quarto.
Antes que minha mão alcance o pedaço de pano lavado com
sua excitação, volto deslizando pela perna esquerda até chegar até
o outro salto e escuto ela resmungar, querendo atenção em seu
ponto de prazer.
Após torturá-la enquanto lambia, mordia e beijava suas coxas,
sendo agraciado com seus gemidos baixos, enfim cheguei onde
meu pau clama para entrar. Já mandei esse safado sossegar, mas
tá impossível sabendo que por causa de Kate, não entramos em
uma boceta por semanas.
Caralho, minhas bolas estão ficando roxas e pesadas, mas irei
foder essa bocetinha com a minha língua primeiro. Com isso, tirei
sua saia que estava embolada na cintura tendo ajuda de Kate que
ergueu o quadril. Jogo a saia no chão e minha atenção volta para
seu corpo. Linda pra caralho. Toco a calcinha de renda, que tem
algumas pedrarias na lateral, deixando ela ainda mais sexy. Coloco
as mãos dos dois lados, dando um puxão que faz Kate soltar um
gritinho. As pedras caem ao chão fazendo barulho até que ficam
paradas no piso e avalio a morena completamente nua na cama.
— Era isso que você queria, não é chaveirinho? — Vejo seu
rosto repleto de tesão, contendo um sorriso malicioso que me faz
apertar sua perna com mais força. — Queria me ver ajoelhado e te
fodendo com a língua.
— A realidade é melhor que a minha imaginação.
— Ah, é? — Move a cabeça lentamente, confirmando. — E o
que imaginou Kate?
Seguro sua calcinha destruída com as duas mãos e levo até o
nariz sentindo seu cheiro delicioso de excitação. Kate se remexe na
cama, atenta a cada movimento meu e a instigo para que me conte
o que imaginou, porque eu imaginei muitas coisas também.
Pensamentos que eu me culpei por ter, a cada maldita noite, me
masturbando pensando na minha irmã do coração. Pelo visto
mandei a nossa relação para casa do caralho na hora que resolvi
beijar sua boca pela primeira vez. E eu gostei. Pra caralho. E estou
aqui cometendo mais um pecado que pagarei lá no inferno, talvez
sentado no colo do capeta enquanto ele fode com a minha vida para
o resto da eternidade.
O hospedeiro safado que vive no meu corpo simplesmente…
não resistiu. De qualquer forma, será apenas um sexo gostoso com
minha irmã do coração, mostrando ao safado do meu pau como é
estar dentro dela. Esse ganancioso não sossegou até estar aqui,
então vou ajudá-lo a esquecer a chaveirinho depois dessa noite.
— Pensei em você apertando minha coxa com força. — Me
ajoelho e ela arfou quase sentando na cama para me ver em ação.
— Continue…
— Fica difícil com você apreciando minha boceta como se fosse
uma fruta doce.
E é linda, branquinha e sem pêlos como achei que seria.
Caralho! Essa mulher vai me fazer ajoelhar e foder ela sempre
que precisar, porque jamais recusaria estar no meio das suas
pernas.
— Continue… — Aperto sua coxa com força e esfrego seu
clitóris.
— Porra! Eu… é… você enfia dois dedos dentro da minha
boceta enquanto devora meu clitóris. — Céus… a gente vai queimar
juntos no inferno, mas estou pouco me fodendo com o futuro, eu
quero é concretizar os sonhos dessa mulher, aqui e agora.
Faço aquilo que ela deseja, dois dedos entram na boceta
apertada e quente, me lambuzando com sua excitação. Meus dedos
deslizam com facilidade em seu canal apertado e posso ver seu
rosto enrubescer, enquanto soltava gemidos baixos.
— Assim? — Esfrego meu rosto em seu clitóris, sentindo seu
cheiro delicioso. Passo a língua por toda a bocetinha e seguro seu
clitóris com os dentes. Está palpitando, durinho, melado pela
lubrificação natural. Sugo seu ponto sensível fazendo ela agarrar
meus cabelos e fecho os olhos em puro deleite. Meus dedos entram
e saem da boceta quente fazendo um barulho delicioso ecoar pelo
quarto, se misturando com a música — É desse jeito que imaginou,
chaveirinho?
— Oh! Sim… continua…
Brinco com seu clitóris enquanto meus dedos são sugados pela
boceta gulosa. Kate balança o quadril para frente e para trás
exigindo mais. Retiro os dedos da boceta e coloco a língua na sua
entradinha, ela solta um gritinho em resposta me fazendo agarrar
sua bunda para que fique parada. Escorrego a boca para seu
clitóris, chupando com brutalidade, totalmente arrebatado pelo
desejo.
Volto a colocar dois dedos na boceta apertada e giro dentro
dela fazendo minha garota se contorcer enquanto estoco meus
dedos até estarem no limite da minha mão. Seus gemidos ficam
mais altos assim que encontro seu ponto G. Diminuo o ritmo das
estocadas para que não goze agora, quero torturá-la para aprender
a não beijar mais a boca de outro, ainda mais sendo aquele médico
escroto.
Com o polegar faço movimentos circulares em seu ponto de
prazer enquanto mordo sua coxa grossa e aperto sua cintura com a
mão livre, deslizando até chegar em seus seios que ainda estão
cobertos.
— Me deixe vê-los, chaveirinho, mostra seus peitos pra mim.
Não demora para que o cropped de brilho saia do seu corpo e
vejo seus seios durinhos apontados para cima, lindos, pequenos e
com o bico enrijecido de prazer. Toco o seio esquerdo e aperto o
bico fazendo ela gemer.
Continuo metendo meu dedo em seu ponto G, intercalando entre
chupar seu clitóris ou deixá-la implorando para gozar.
— Nunca mais vai beijar aquele médico, está me ouvindo Kate?
— Paro de meter para que me encare e entenda as regras. —
Porque seu corpo é meu, sua boca é minha e nenhum filho da puta
terá o privilégio de escutar seus gemidos. É tudo meu,
CADA.PARTE.DE.VOCÊ.ME.PERTENCE.AGORA.
— Sim… dê prazer a mulher que te pertence. — Puta merda! —
Me mostra o quanto é meu, Gabriel.
Continuo a proporcionar seu prazer. Mais um dedo entra em sua
boceta quente e minha língua trabalha em seu ponto sensível,
chupando, mordendo e a fazendo gemer sem parar. Kate castiga
meus cabelos, puxando ainda mais meu rosto para que fique onde
estou, seu clitóris inchado tem toda minha atenção enquanto castigo
sua boceta com meus dedos.
— Que deliciosa!
— Eu vou gozar, Gabe…
Aumento a velocidade e meus dedos afundam em sua carne com
brutalidade, enquanto isso chupo sua bocetinha como se fosse o
doce mais incrível que provei. Minha mão livre aperta o bico
enrijecido e proporciona vários gemidos à minha garota, sentindo
minhas mãos e boca dando o prazer que ela tanto desejou.
Kate se desmancha na minha língua e por pouco não gozei vendo
como ela é sexy gozando. Sua boca ficou entreaberta, os olhos
fechados e a respiração irregular enquanto um gemido agudo sai
dessa boca gostosa. A chaveirinho arqueia o corpo e joga a cabeça
para trás, suas pernas estão tremendo por conta do orgasmo e às
seguro para que não perca nada do seu orgasmo. A morena rebola
deliciosamente na minha língua, me fazendo sentir seu gosto.
Sua mão ainda está em meus cabelos enquanto seu corpo
relaxa do pós-gozo. Um sorriso perfeito surge nos lábios da minha
garota, ela me puxa com força para capturar minha boca e não me
faço de rogado.
— Sinta o seu gosto, chaveirinho…
Encaixo nossos corpos, ela totalmente nua embaixo de mim e eu
completamente vestido e com o pau querendo rasgar a calça jeans.
Roço meu corpo na boceta babada querendo um pouco de atrito
para que meu pau sossegue, mas isso só aumenta minha vontade.
Solto um gemido ao sentir pulsar, querendo entrar no paraíso.
Kate enrola as pernas na minha cintura causando um atrito ainda
maior entre nossos sexos. Ambos gemem querendo mais. Quero
foder ela a cada minuto porque somente esse dia não basta. Preciso
me perder nessas curvas e me tornar um viciado.
Paramos o beijo em busca de ar, os dois sorrindo, gostando do
que houve aqui. O sorriso dessa mulher sempre será meu
combustível, fazendo o meu dia exaustivo valer a pena, porque
desde pequena Kate tem esse poder sobre mim. Quando ela tinha
dois anos, era só ver aquele sorriso banguela, que meu dia
melhorava no mesmo instante, corria para meu colo e passava o
resto da noite brincando até que ela dormia e eu mesmo a levava
para a cama. Lembro do primeiro dia de aula com medo de não
fazer amigos e voltar para casa contando tudo o que aprontou, com
um sorrisão no rosto.
Ver ela no primeiro dia de trabalho e sorrir contente que ganharia
o próprio dinheiro, porque essa mulher sempre desejou ser
independente e agora mais uma vez eu pude ver ela se tornando
dona do próprio negócio. Deixando aquele lugar com tristeza, sendo
que ela entrou sorrindo. O dono fez da vida dela um inferno e eu
pensei em várias formas de torturá-lo ao longo desses dois anos. Só
era cliente fiel porque ela estava lá e garanto que muitos clientes
deixaram de ir depois da sua saída.
Agora ela está realizando o sonho, e está conseguindo. Estarei
lá na primeira fila prestigiando e sendo o cliente número 1 da minha
chaveirinho.
O fato é que ela sempre foi e continuará sendo minha bateria,
meu ponto de paz. Não sei se nossa relação estará fadada ao
fracasso depois dessa noite, mas vou tentar não me culpar sabendo
que a qualquer momento a família dela irá me odiar. Os pais dela
me veem como filho, o irmão dela que é meu melhor amigo, me vê
como um irmão, e estou aqui fodendo com ela, dando um passo que
não deveria, mas por enquanto não me arrependo.
E é pensando nisso que continuo pecando.
Me desvencilho desse corpo perfeito e saio da cama tirando
minha camisa, deixando meu peitoral exposto. Ela morde os lábios e
passeia a mão pelo próprio corpo levando até sua boceta que está
brilhando em minha direção. Seus pés ainda me alcançam e ela
aperta meu pau que está duro feito rocha, a calça não está
aguentando o peso das minhas bolas e abro o botão rapidamente
querendo um pouco de alívio.
Loves Is a Bitch começa a tocar e vejo Kate sentar na beirada da
cama esperando pelo momento que irá chupar meu pau. Em um
passe de mágica — ou talvez seja eu apressado — a calça sai do
meu corpo junto com a cueca box. Meu pau está ereto e louco para
sentir sua boca carnuda. Kate umedece os lábios e encara meu pau
com fome, em seguida seus olhos sobem até capturar os meus, me
encarando com uma cara de safada que me faz engolir em seco.
— É lindo. — Diz encarando meu pau. — Você inteiro é lindo,
Gabriel, perfeito por dentro e por fora.
Essas palavras me pegam de surpresa, e antes que eu diga
qualquer coisa ela dá aquele sorriso que me quebra.
— Quer saber o que mais imaginei? — Afirmo, inebriado de
tesão. Sinto sua mão quente em volta do meu pau e solto um
gemido rouco quando a bandida aperta do jeito que me deixa louco.
— Eu segurava seu pau e passava a minha língua na glande
fazendo movimentos circulares… bem assim. — Sua voz sexy e
melodiosa poderia me fazer gozar, mas Kate faz aquilo que disse e
passeia sua língua, colocando apenas a cabeça rosada nessa boca
carnuda. Puta que me pariu! — Depois, eu desço passando minha
língua desde as bolas até a cabeça, deixando você com expectativa
para ser devorado pela minha boca.
Eu já estou morrendo de expectativas, e ela nem tem noção do
quanto me tem em suas mãos pequenas e atrevidas.
Colocou todo meu pau na boca, até o talo e isso faz com que se
engasgue. Não a deixo sair e a seguro por alguns segundos até que
a solto e respira forçadamente buscando o ar. Ela volta a engolir
meu pau e meus gemidos saem desconexos pela minha boca,
inebriado do prazer que essa boquinha é capaz de fazer.
Enquanto me chupa, a safada leva sua mão livre até a boceta
que está babando o lençol com sua excitação. Ela se esfrega na
cama em busca de alívio e se masturba enquanto devora meu pau.
— Caralho… chaveiri… — ela enrola a língua na cabeça e faz
um movimento de sucção e aí me perco em qualquer coisa que faça
sentido. — Puta merda, Kate!
— Seu pau é uma delícia. — Sorri e passa a língua na cabeça,
me provocando. — Quero que goze na minha língua, me deixando
sentir o gosto da sua porra.
Essa mulher será aquela que vai domar o policial e prender ele
em suas amarras invisíveis. Vai ter controle sobre mim e eu serei a
porra de um obediente, fazendo tudo o que ela pedir.
Kate volta a me chupar e começa a masturbar meu pau onde sua
boca não alcança. Para ajudá-la, movimento meu quadril para frente
e para trás fazendo nós dois entrarmos em um ritmo erótico e
quente. Sou apenas gemidos, sentindo meu orgasmo surgindo lá do
meu íntimo, desejando se desmanchar nessa boquinha atrevida.
Seguro seus cabelos quando sinto que vou gozar, ela se remexe
na cama esperando e urrei sentindo o prazer dominar meu corpo.
Minha porra começa caindo na língua dela, outros jatos caem em
seu rosto de porcelana e ela pega com um dedo e coloca nos lábios
para não desperdiçar nada.
Solto gemidos enquanto jogo minha porra nessa boca carnuda.
Kate sorri maliciosa e volta a chupar meu pau, tirando o resto de
gozo que ficou na cabeça.
— Caralho, Kate!
— Eu preciso de você dentro de mim. Agora, Gabriel.
— Não precisa pedir, pequena, eu já não suporto estar longe
dessa boceta.
Enquanto minha garota volta para o meio da cama e se
esparrama ali ficando em uma posição sexy pra caralho, eu me
agacho e pego minha carteira dentro da calça e vou em busca da
camisinha.
Depois de encapar meu pau, subi na cama vendo Kate de barriga
para cima e as pernas abertas, me dando a maravilhosa vista da
sua boceta babada com seu orgasmo. A faço ficar de lado e
continuo na mesma posição, ficando de frente para ela. Esfrego o
pau na sua entrada, babando a camisinha com sua lubrificação
natural, e forço para que a boceta gulosa asfixie meu pau.
Seguro sua coxa com força enquanto meto até o talo, sem
esperar que se acostume com minha grossura. Ela solta um grito de
dor, misturado com prazer e rebola ao sentir meu pau todo dentro.
— Quer um sexo bruto, sua safada? — Acerto um tapa nessa
bunda redondinha. — Então é isso que você vai ter.
— Mete bem gostoso…
Go Fuck Yourself começa a tocar e a safada se entrega a mim, no
embalo da música. Começo a meter lento sentindo as paredes da
boceta apertar meu pau, caralho, desse jeito eu vou gozar antes do
previsto.
Sua mão vai para a bunda e abre a banda para que eu me enfie
ainda mais dentro desse paraíso quente. Seguro seu pescoço com
força e estoco até o fundo arrancando gemidos altos da minha
garota, sentindo um prazer absurdo ao ouvir meu nome sendo
chamado por essa boca carnuda.
— Gabe… ah! que delícia.
Em um impulso a faço ficar de quatro, a mudança de posição foi
rápida já que ela estava de lado. Empina a bunda na minha direção
e acerto um tapa forte na banda direita. Meu pau que ainda estava
dentro dela pulsa para devorar essa boceta viciante e não perco
mais tempo.
Essa é a minha posição favorita, podendo meter até o fundo,
vendo a boceta engolir todo meu pau. Kate rebola deliciosamente
enquanto o deixo parado vendo ela encaixar a bunda no meu quadril
e volto a estocar meu pau devagar.
Capítulo 15

A qualquer momento meu coração vai escapar da caixa torácica.  


 
Suspiro quando o homem delicioso sela nossas bocas com
intensidade. Gabriel é fogoso e está estocando em um ritmo
frenético na minha boceta que claramente estará dolorida amanhã.
Seu pau grosso entra e sai de mim com rapidez, me arrancando
gemidos altos.
— Caralho, chaveirinho… essa boceta é apertada demais, vou
adorar foder você todo dia.
Todo dia!
Isso Gabe, me fode todos os dias, porque essa trepada está
melhor do que havia imaginado nessa minha cabeça pervertida. Seu
pau é ainda maior e sua disposição em me foder do jeito que gosto,
me faz querer que esse momento dure.
Minha bunda bate com força em seu quadril, fazendo um barulho
delicioso ecoar pelo quarto junto com a música envolvente. Não
sabia que deixava o sexo ainda mais gostoso, com uma áurea
quente e erótica. Gabriel mete fundo e com força, seguindo o
embalo como se o nosso prazer se encaixasse nas notas.
Não sei há quanto tempo estamos assim, nos movendo em
sincronia e dando beijos de tirar o fôlego, já trocamos de posições
algumas vezes e ele não brocha nunca, é delicioso ver o quanto ele
é insaciável. Minhas mãos passeiam pelo corpo gostoso enquanto
ele está em cima de mim, estocando rápido e me arrancando
gemidos que vêm do fundo da garganta.
Ele selou nossas bocas com um beijo gostoso, sua língua brinca
com a minha em uma dança erótica. Arranho suas costas assim que
se enterra dentro de mim e fica ali com todo seu corpo em cima, me
rasgando com seu pau grosso.
— Hmmm…
— Gostosa… goza junto comigo. — Seus olhos verdes intensos
encaram os meus, vejo meu Gabe ali, um parceiro de vida, não
apenas uma foda passageira. — Se entregue para mim, mais uma
vez chaveirinho… deixe seu orgasmo babar meu pau que estará
todo dentro de você.
Sorrio e o jogo para o meio da cama, ficando por cima.
— Você é perfeita demais. — Seguro seu pau e encaixo na
minha boceta que já está vermelha e dolorida pelo sexo bruto. —
Quica no meu pau, gostosa… mostra o quanto você sonhou com
isso.
Meu corpo sobe e desce, metendo forte, fazendo nossos sexos
terem um baque em cada estocada, sentindo que essa posição faz
parecer que ele está entrando no meu útero, sentindo as paredes da
minha boceta pressionar o pau grosso.
Me inclino ficando rente ao rosto dele, Gabe me dá selinhos
gostosos enquanto cavalgo no seu pau. Segura meus cabelos com
força e puxa minha boca para um beijo de fazer o cérebro derreter.
Meu Deus… esse homem é insaciável e me deixa com as pernas
bambas.
Meus peitos sobem e descem com o ritmo que estou pulando
em seu colo, deixando o pau grosso ir até o fundo e voltar para ter o
ciclo sem fim de gemidos. Gabriel me inclina ainda mais, deitando
meu corpo sobre o seu e me abraça apertado, dando uma posição
privilegiada para meter em mim do jeito que os dois gostam. Suas
mãos apertam minha bunda com força e abrem as bandas, fazendo
seu pau entrar deliciosamente.
— Gabriel… vou gozar.
— Goza, chaveirinho. — Solta um gemido no meu ouvido que
arrepia todos os pêlos do meu corpo, caralho como é gostoso ouvir
um homem gemendo. Pelo visto, eu só transava com boneco de
posto. — Se desmanche no meu pau, amor. 
Gabe mete fundo e de forma bruta, fazendo meus gritos se
tornarem mais altos, clamando por seu nome. Ele senta na cama e
coloca a boca no meu seio, mordendo o bico enrijecido, brincando
com a língua e voltando a castigar com seus dentes. Tudo isso
enquanto me sustenta pela bunda e me faz quicar no seu pau
grosso.
Meus seios estão entumecidos, arrepiados, parecem muito
mais pesados do que realmente são, se movendo com dificuldade
para cima e para baixo enquanto são chupados por uma boca
deliciosa.
— Gabe… caralho, que pau gostoso! Mete todinho ele dentro de
mim.
— Com prazer, morena. — Ele me encara nos olhos e me faz
quicar ainda mais rápido, suas pernas estão esticadas na cama
enquanto estou sentada em seu colo, sentindo minha boceta partir
ao meio com cada estocada. — Quer cada centímetro do meu pau
nessa boceta gostosa? Sinta meu pau te comendo do jeito que
gosta. — Seus dentes puxam meus lábios de forma bruta e em
seguida me dá um selinho amenizando a dor. — Agora você vai
gozar pra mim, babar meu pau com seu gozo e depois irá mamar
até que eu jogue minha porra em seus peitos.
Suas palavras fizeram um raio descer do meu ventre até minha
boceta. Meu Deus… nunca fiquei tão excitada tendo um homem me
dando ordens. Gabriel gosta de comandar o sexo e eu gosto de
obedecer como uma cadela safada.
— A menina irá mamar o pau do velhote com todo prazer.
Gabe é vinte anos mais velho que eu, me viu nascer, cuidou de
mim em todos esses anos e agora está me comendo. Ele pode
achar isso estranho e até se culpar, mas eu nunca me senti mais
relaxada no sexo como estou agora, sabendo que ele fará de tudo
para que seja perfeito. E está sendo, cada segundo dessa noite vale
a pena guardar na lembrança, jamais esquecerei o que houve aqui,
mesmo que seja a última vez.
Sinto meu orgasmo se formar a cada estocada, Gabriel mete
fundo e rápido me fazendo gritar seu nome alto. Qualquer um que
não esteja bêbado ou chapado poderá escutar o que está
acontecendo nesse quarto e isso me deixa com mais tesão do que
deveria.
Sinto as paredes da minha boceta apertar seu pau e o orgasmo
me dominar, colei nossas testas enquanto Gabriel me faz cavalgar
seu pau com mais rapidez, ele segura meu cabelo com força e puxa
minha boca até a sua.
— Oh! Caralho… — quando minhas pernas pararam de tremer,
tiro o pau grosso e me deito na cama esperando sua porra nos
meus peitos, como disse que faria. — Quero te marcar como minha,
Katherine. Ver minha porra escorrendo pelo seu corpo delicioso.
Gabriel se ajoelha na cama e vejo como fica lindo com a boca
entreaberta e gemendo enquanto se masturba. Sua mão grande
envolve o pau grosso enquanto faz movimentos rápidos, sua
respiração está irregular e a cabeça levemente inclinada enquanto
avalia meu corpo nu.
Sua gozo quente cai primeiro no meu seio direito, solto um
gemido ao sentir o calor da porra escorrendo até meu bico sensível.
Gabriel continua a me banhar com seu orgasmo e o sorriso que o
safado me lança, poderia me fazer gozar.
— Agora esfregue, Kate. — Ordena com a voz rouca e faço
aquilo que manda, porra! Fica difícil desobedecer nessas horas. —
Quero minha porra espalhada nesse corpo gostoso.
Espalho pelos meus seios e barriga e antes que chegue na
boceta eu paro, não quero que escorra ali, porque não sei se ele
tem nojo do próprio orgasmo. Tem homens que não gostam e prefiro
deixar assim.
— Não entendeu o que eu disse, pequena? — Sua mão vai até
minha barriga e leva o resto da porra até minha boceta, lambuzando
meu clitóris e a entrada dolorida. — Quero minha porra aqui
também, mostrando que foi eu quem te fodeu do jeito que queria.
Céus… Gabriel possessivo na hora do sexo vai se tornar minha
perdição. Seus dedos massageiam o clitóris e a minha entrada,
sabendo que estou dolorida.
— Está doendo?
— Está, mas de um jeito bom.
— Que bom. Porque daqui alguns minutos vou te foder de novo.
Meu Deus! Esse homem não cansa?
 

Escuto a palavra merda ser chamada repetidas vezes e sorrio


ainda com os olhos fechados, eu deveria saber que ele agiria assim.
Ao abrir meus olhos vejo Gabriel em pé, andando de um lado para o
outro no quarto com a mão na cabeça e só de cueca, a visão é de
tirar o fôlego.
Não nego que sou louca por esse homem, tirar a casquinha foi
pouco pelo que fiz essa noite. Gostoso!
Memórias da noite passada me tomam, suas mãos fortes
afundando em minhas coxas enquanto me penetrava com fascínio,
sua boca que tanto desejei fez coisas além da minha compreensão
e gozei tantas vezes que mal posso contar. Eu fodi gostoso com o
melhor amigo do meu irmão e não estou nem ligando se ele
descobrir.
Já Gabriel parece que vai abrir um buraco no porcelanato escuro
e se enterrar. Me fita e parece estar em uma batalha interna entre
me devorar com os olhos ou surtar. Apesar de eu me garantir no
quesito chá bem dado, acho que a segunda opção é a mais sensata
no momento.
O gostoso à minha frente é vinte anos mais velho do que eu,
esse idiota me chama de bebê, mas essa noite ele viu que a
bebezinha aqui mama com vontade, meu nome era pronunciado
várias vezes e fiz ele aprender a me respeitar como mulher.
Depois de algumas rodadas que duraram a noite toda,
tomamos banho no banheiro do Josh e dormimos assim que caímos
na cama, de conchinha sentindo seu corpo abraçado ao meu,
fazendo meu coração acelerar com esse contato tão… íntimo.
— Kate… — as mãos estão fechadas em punho, enquanto ele
tenta se controlar. — Isso não devia ter acontecido, porra,
chaveirinho!
— O que foi Gabriel? — Explodo de raiva, com meu ego indo
para o ralo. — Depois que fez o que quis, que se lambuzou no meu
corpo, vai dizer que foi um erro? Beleza gatinho, já entendi qual é a
sua.
É tão difícil assim se entregar? Ele me deseja, está pensando na
noite incrível que tivemos, mas a única coisa que sabe falar é que
foi um erro, vai se ferrar.
— Não é questão de não ter gostado, porra, gostei pra caralho!
Você viu o quanto gostei, o problema é seu irmão. Ele vai me matar
quando descobrir.
— Eu vou matar você se não calar a boca.
— Ele vai arrancar meu pau, Kate! E depois me fazer comer.
Minha vontade é de rir, porque até nessas horas o seu lado
exagerado não deixa a desejar. Levanto da cama ainda nua e seus
olhos passeiam por todo meu corpo, sinto minha intimidade queimar
com tamanho desejo por esse safado irritante. Ele me deixou puta e
não vou me rebaixar por um babaca cadelinha do meu irmão.
Ando pelo quarto pegando minhas roupas, ele está me encarando
nervoso, com tesão e uma dúvida que percorre pela fenda na sua
testa.
— Kate…
— Não precisa dizer mais nada… vou poupar seu fôlego e
admitir o que tanto quer ouvir da minha boca. — Coisa que não é
verdade, mas só para encerrarmos esse assunto e cada um seguir
sua vida. Até parece né, Kate? Você foi bem comida, lógico que
quer repetir. E muito! — Tem razão Gabriel, foi um erro.
Visto a saia sem a calcinha porque esse infeliz rasgou durante
a noite. Meu Deus! Nunca tive um homem tão insaciável na cama,
me levando do céu ao inferno. Arranco os pensamentos safados —
coisa que anda virando rotina desde que percebi que o queria — e
volto a me arrumar. Coloquei o cropped que bate um pouco abaixo
dos meus seios e o salto. Vou para o banheiro escovar os dentes e
no trajeto sinto minhas costas queimarem com os olhares do idiota
indeciso.
Não sabe se quer repetir, ou se esconder em Nárnia para
quando Kaio descobrir. 
Encarando o espelho do banheiro consigo ver o “estrago” dessa
noite, tudo o que foi feito está escancarado para todos verem, fui
bem comida, essa é a minha cara. Porra, Gabriel! Tinha que foder
com tudo no dia seguinte?
Esse medroso que está do outro lado da porta, é o melhor
amigo do meu irmão. Os dois são policiais e vivem grudados desde
a infância, ele me viu crescer, deixar de ser a pirralha que ele
carregava nas costas, para me tornar uma mulher com atitude.
Ele tem medo do que Kaio pode falar sobre nós dois, mas que eu
saiba, sou de maior e vacinada. Lógico que quando Deus me criou,
colocou um pouco a mais de loucura e tirou alguns parafusos se
certificando que iria dar merda. Muita merda. Mas nada melhor que
perder o réu primário matando um policial gostoso que insiste em
me chamar de criança.
Faço minhas higienes e respiro três vezes antes de tomar
coragem para sair do banheiro. Vai Kate, você é fodona e coloca
Gabriel no chinelo, sempre tem uma resposta na ponta da língua.
Mostra para esse medroso quem é Katherine Martins. Tenho medo
dele ter ido embora, e mais ainda se ele tiver ficado, porque aí
sinceramente não sei o que vai ser.
Ao abrir a porta, Gabriel está parado no batente, me encarando
com o semblante sério. Meu coração veio parar na boca com o
susto e tento fingir naturalidade ao passar esbarrando nessa parede
de músculos que me fuzila com raiva.
Eu quem deveria sentir raiva.
— Dá pra me ouvir, porra!? — Grita atrás de mim e sorrio.
— Não dá, tenho que ir para a cafeteria arrumar as últimas
coisas para a inauguração e você está tremendo igual um pinscher
com medo que Kaio apareça aqui e te encontre seminu. Mesmo
sabendo que meu irmão está impossibilitado no momento, então vá
se foder Gabriel. — Está tão perto, sua respiração quente no meu
pescoço, isso é um atentado ao bom senso que eu nem tenho. —
Então repito para seu cérebro de ervilha ouvir, não vamos ter mais
nada, percebi que foi um baita erro.
— Para de dizer isso. — Segura minha cintura com força e solto
um gemido quando bate meu corpo contra o seu, minha bunda vai
de encontro ao seu pau que já está duro, como pode Senhor? Esse
homem fodeu a noite inteira!
Ele me vira e vejo que seu rosto mudou para algo indecifrável…
me devora de dentro pra fora com o olhar que me lança.
— Você não me deixa falar, chaveirinho…
— Achei que já tinha falado tudo.
— É… realmente eu falei. — Seu comentário me faz querer
chutar seu saco e vê-lo gritar no chão. — Acho que o que quero
fazer não precisa falar nada, só seus gemidos me bastam.
— O quê?
— Eu vou foder você mais uma vez, Kate.
Que filho da puta.
Respiro puxando a paciência que está no meu rabo, antes que
eu arranque o coro desse infeliz que literalmente acordou apenas
para me irritar.
— Tá me zoando? — Me solto e passo por ele fugindo de suas
mãos abusadas, indo para a porta. — Fode comigo a noite inteira,
quando acorda fica xingando andando pelo quarto sem se importar
em como eu me sinto, diz que a noite perfeita que tivemos foi um
erro e agora vem com esse papo de querer me foder?
— Eu quero você, caralho!! — Grita e coloca as mãos no cabelo
tentando manter o controle que sei que tem, por isso sofri para
conseguir esse homem. — Eu te quero, Kate, há muito tempo eu te
quero.
— Você tem sérios problemas em demonstrar, sabia disso?
— Eu demonstrei essa noite.
— Achei que iria colocar a culpa na bebida.
— Não!! Você sabe que bebi bem pouco, e mesmo que tivesse
bebido, minhas atitudes não tem nada a ver com o álcool. Eu te
desejo tanto que chega a parecer loucura, porra… mas não quero
perder a amizade de Kaio por gostar da irmã dele.
Ele disse gostar?
— Gostar de mim, Gabriel? — Rio. — Você me vê como uma
criança. E mesmo eu insistindo pra te pegar, fugia como se tivesse
visto o diabo.
— Você é uma diaba…
— Obrigada pelo elogio… agora vou sair por aquela porta e
podemos esquecer o que houve nesse quarto.
Me viro já arrumada e pego a bolsa jogada no chão, até esse
maldito objeto me faz lembrar da melhor noite que tive na vida,
deveria estar saciada e feliz, agora estou com raiva desse molenga
sem atitude.
— Eu não terminei, chaveirinho.
Eu odeio quando me chama assim… me faz sentir coisas que
não deveria, porque ele faz isso comigo? Me deixa confusa e depois
joga um balde de água fria.
— Então sinto muito, gato… estou de saída.
— Não está não. — Seguro a maçaneta e sua mão grande
espalma na porta, viro meu rosto e percebo que está atrás de mim,
mais perto do que deveria. Merda! — Não acabamos ainda…
— Gabriel, se você é um covarde que se caga de medo do meu
irmão, o problema é seu. Tenho homens com mais atitude para me
satisfazer, outros até melhores que você.
— Ah é? — Afirmo já virada para ele, suas mãos apoiadas uma
de cada lado do meu corpo me deixam presa, calma Kate, não entre
no jogo de sedução desse cretino gostoso… mas ele fica ainda mais
lindo quando acorda. — Eles te fazem gozar sem ao menos ter te
tocado na boceta? — Sou incapaz de formar uma frase para
respondê-lo. Gabriel me fez gozar apenas chupando meus peitos no
banho, aquilo nunca havia acontecido e o cretino tinha um sorriso
depravado no rosto ao chupar todo meu orgasmo. — Não precisa
dizer, já sei a resposta… eu te fodo do jeito que você gosta e digo
que merecemos foder no café da manhã.
É normal me desfazer em líquidos? Estou sem a porra da
calcinha e minha saia não impede do líquido escorrer pela perna,
qual é o meu problema em segurar o tesão?
— O que me diz, Katherine? — Sua boca percorre meu pescoço
indo até o ouvido, arfo com sua barba rala me causando um arrepio.
Gabriel passeia sua boca pelo meu rosto e esfrega os lábios nos
meus, tirando o resto de relutância que eu ainda tinha. — Vamos
foder gostoso igual a noite passada?
— Eu…
— Você o quê? — Sua mão adentrou minha saia e tocou minha
boceta, deixo escapar um gemido baixo o fazendo travar o maxilar,
seus olhos verdes parecem duas joias me encarando como se
soubesse que não tenho escapatória. Move os dedos de uma forma
que causa um atrito delicioso, porra! — Já disse o quanto seus
gemidos fodem com a minha cabeça? Me deixe ouvi-los mais uma
vez.
— Que se foda o Kaio…
— Que se foda todo mundo, chaveirinho!
Capítulo 16

Kate e eu ficamos mais uma hora no quarto, fodendo bem


gostoso sabendo que mandei o arrependimento para a casa do
caralho. Posso correr o risco de Kaio me odiar, mas vou tentar
contar a ele o que aconteceu, antes que descubra de alguma forma
que possa piorar a situação.
Não que eu esteja pensando em namorar Kate, acho que isso
seria muita loucura. Mas não vejo mal em a gente se pegar de vez
em quando vendo como ela me atrai, e me puxa para suas amarras
sem fazer esforço. Ela me domina, me vicia e me irrita na mesma
proporção.    
A vejo vestir o conjunto que estava ontem  à noite e sorrio
sabendo que ficará sem calcinha. Pareço um adolescente perdendo
a virgindade com a garota popular da escola, mas Kate me faz ser
vinte anos mais novo, como se não tivesse visto essa gostosa
nascer, me chamar de irmão e eu quase matar todos os seus
pretendentes desde os quatorze anos.
E agora que meu pau percebeu o quanto é gostoso estar dentro
dela, não sei se consigo voltar a ser forte. Não, definitivamente não
consigo fingir que não fodemos, que eu pretendo repetir, muitas
vezes.
— Preciso ir para a delegacia. — A puxei pela cintura antes de
abrir a porta do quarto. — Mas queria te ver de noite. O que acha?
— Isso é tudo medo de que eu vá encher a cara sem você de
novo?
— Não me importo que saia, acho que está na idade de
aproveitar. — Ela me encara com aquela expressão de: "estou
esperando que me chame de menina de novo”. — Não estou te
chamando de criança, estou dizendo que você tem dezoito anos e
tem muita coisa pra viver, só quero ter o privilégio de estar nesses
momentos com você.
— Que fofo. — Me dá um selinho e joga seus braços pelos meus
ombros. — Mas sabe que sou uma velha de oitenta anos em um
corpo gostoso. Amo ficar em casa e assistir Chicago P.D e ver
aqueles policiais gostosos entrando em ação.
— Você também assiste?! — Murmuro chocado e excitado. —
Quer dizer que adora homens de farda?
— Oh sim, pode-se dizer que é um dos meus fetiches… mas
nunca achei que ficaria mesmo com um. — Não escondo o sorriso,
sabendo que tenho muitas coisas gostosas em mente, e uma delas
é algemar essa safada na viatura e foder até que peça a Deus para
que a liberte das minhas mãos. — Agora terá que me foder em um
camburão, Gabe, dê seus pulos.
Porra!
—Agradeça que no sábado aquela delegacia é uma loucura,
mas assim que possível iremos brincar de polícia e ladrão. — A
safada morde os lábios e gargalho vendo ela imaginar a cena no
mesmo instante. — Melhor eu ir, antes que eu te jogue nessa cama
de novo e finja que hoje não trabalho.
Ao abrir a porta do quarto vejo uma garota cair para trás e
levamos um susto, mesmo com a pancada ao cair no chão ela não
acordou. O cheiro forte de bebida me faz entender o que está
acontecendo. Ela dormiu sentada ali a noite inteira por estar
bêbada, nem para encontrar um sofá ou algo que a deixasse
confortável. Ninguém para ajudar a pobre moça que está nítido não
estar em seu juízo perfeito.
A pego no colo tendo os olhares de Kate em mim, levo a garota
para a cama e a deixo ali de forma que não vá cair e bater a cabeça
de novo. Ao voltar a abraçar a chaveirinho a vejo com um sorriso no
rosto, que me faz arquear a sobrancelha.
— Por que está me olhando assim?
— Eu disse que é lindo por dentro também. — Deposita um
selinho na minha boca e sorrio. — Um verdadeiro Gentleman.
— Obrigado, pequena.
O resto da casa está um caos, é tanta bagunça e lata de cerveja
que faz a casa parecer ser um lixão. Pessoas jogadas para todo
canto e devo dizer que a festa foi boa, mas a que estava
acontecendo no quarto de Josh, estava melhor. Gabriel Monteiro,
pare de ser emocionado, Kate adora curtição e você romantizando
tudo como uma borboleta emocionada saindo do casulo.
Chegamos na sala e vejo Josh jogando um cara do sofá para
poder se sentar, mas não é isso o que acaba nos chocando. Pego
meu celular rapidamente e Kate apenas me encara com os olhos
divertidos e espera eu abrir a câmera para chamá-lo.
— Josh? — Kate é a primeira a falar enquanto seguro o riso. Tiro
três fotos, uma com ele assustado, outra tentando tapar o rosto e
outra atirando a almofada com vômito perto da gente. Está puto
porque roubamos o seu quarto, já eu adorei me vingar dessa peste.
— Porque caralhos você está usando roupas da sua mãe?
Ele olha para a roupa e depois para nós dois. Abre a boca para
falar e está tão irritado que anda até nós com faíscas nos olhos.
— Ah, Katherine! — Vixi, a chamou pelo nome, então está puto.
— Eu tive uma fantasia que fodia uma garota usando a roupa da
minha mãe, sabe como são os fetiches hoje em dia.
— Sério? — Ela pergunta.
— Não, porra! Vocês me deixaram para fora do meu próprio
quarto, vou aplaudir com os pés já que com a mão vou acertar a
cara lavada dos dois. — Senta na cadeira e o vestido apertado
parece querer pular para fora do corpo dele. Ele tenta se ajeitar,
mas é impossível e olho a cena sem conseguir me conter. — Depois
de estar sujo de vômito e cocô, tive que tomar banho no quarto dela
já que o meu virou um puteiro. — Pisco para ele que me mostra o
dedo do meio. — Aí percebi que não tinha roupa e fui obrigado a
pegar essa porcaria de vestido. Essa merda é desconfortável pra
caralho, não sei como vocês conseguem usar.
— Porque geralmente usamos vestidos do nosso tamanho?
— Cala a boca, Kate.
— O que é isso, projeto de demônio. — Digo e ele me encara
esperando que eu fale a besteira da vez. — Pense no lado positivo.
Agora você sabe que se a carreira de dono do próprio negócio não
der certo.
— Não termine isso…
— Pode virar garoto de programa, talvez você ganhe para o pão.
— É chaveirinho que termina a frase, me fazendo gargalhar.
— Estou puto, Katherine, sugiro que engula esse riso porque não
estou no meu melhor dia. — Me fuzila e não escondo o sorriso, na
verdade acabei gargalhando novamente, ao observá-lo com o
vestido todo estampado indo até suas canelas. Está parecendo uma
senhora bombada, os cabelos loiros dão a impressão de ser uma
senhora mesmo, ele ficou muito engraçado. Kate acaba rindo
também e ele fica ainda mais bravo. — Já terminaram, seus amigos
da onça?
— Desculpa príncipe, mas você está muito engraçado.
— Sugiro que apague essas fotos, policial. Caso contrário, tenho
uma fofoca para fazer a Kaio Martins.
— Você jamais faria isso com Kate. — Murmuro despreocupado.
— Tem razão. — Bufa irritado. — Apaga essa merda, cara,
minha noite não foi boa como a de vocês.
— O que houve além de toda a merda que já contou? — É Kate
quem pergunta, porque eu não me importo.
— Aquela megera linda do caralho que me xingou por algumas
horas. — Fica pensativo e logo dá um sorriso sem mostrar os
dentes. Deve ser a mulher que nós vimos ele discutindo. — Foi
divertido irritá-la, acho que isso foi a parte boa da noite. Mas depois
que aquela filha do capiroto foi embora, um cara vomitou em cima
de mim e para piorar a situação na hora que eu iria correr para
tomar banho — faz cara de nojo — caí de bunda na porra de um
cocô de humano no meio da minha sala. UM COCÔ, KATHERINE!
Caio na gargalhada de novo, vendo Josh fazer ânsia recordando
a cena. Kate abraça ele e me encara chorando de tanto rir.
— Vocês podem rir da desgraça alheia, mas têm que me
agradecer por emprestar meu quarto. Pelo menos esse otário não
fugiu mais uma vez.
— Ei! — Murmuro chocado pelo rumo da conversa.
— Ele tem razão, Gabe, você fugia de mim.
— Porque eu tinha um ponto a favor.
— Seu ponto a favor era ser um bundão que dispensava uma
mulher gostosa. — O encarei de forma séria. — Qual é cara, sabe
que se a gente quisesse ter algo já teríamos dois anos atrás. Kate é
louca demais para que eu coloque em minha vida.
— Tenho que concordar. — Ele ri.
— Quando que a conversa passou a me xingar? — Resmungou.
Vou até ela e abraço seu corpo por trás, plantando um beijo no
ombro esquerdo.
— Desculpe chaveirinho… você sabe que não tem parafuso na
cabeça.
— Como se você tivesse. — Anunciou.
Josh se levantou de supetão e saiu da sala indo em direção a
parte de trás da casa. Quando retorna está carregando duas
vassouras, um saco de lixo e uma pazinha. Kate e eu nos
entreolhamos assim que ele estende em nossa direção.
— Adoraria participar da faxina. — Digo tentando fugir. — Mas
preciso ir trabalhar.
— Nós sabemos que você começa a trabalhar daqui uma hora e
meia.
— Olha… eu tenho um fã. Anda sabendo demais dos meus
horários…
— Vai se foder. Anda, zé pistola, você me deve isso por ter
lavado minha amiga e meu quarto de porra. — Kate bate na barriga
dele com a vassoura. — Os dois me devem e irei cobrar com juros o
que me fizeram passar.
— Para deixar claro, você que convidou todos, então a culpa é
toda sua. — Indaguei e ele tenta me cortar, mas sou mais rápido. —
Sem contar que passou o endereço para mim, sabendo no que iria
dar, então seu quarto estar com cheiro de sexo, a culpa também é
sua.
— Cabrita. — Ele suspira fazendo drama. — Ainda tem o manual
de como esconder um corpo? Porque esse puto está me fazendo ter
várias ideias de como matá-lo usando uma vassoura e saco de lixo.
— Nós sabemos que você não tem estômago para isso, projeto
de demônio, se já vomitou tendo cocô de outros na sua bunda. —
Seguro o riso, mas Kate não, me fazendo continuar com meus
deboches. — Deveria jogar esse vestido no lixo. Sua mãe quando
for usar sentirá cheiro de merda, vômito e das suas bolas fedidas.
Isso impregnou aí e nem se lavar com ácido irá tirar.
— Cala a boca e pega a vassoura.
Kate me encara com os olhos de cachorro que caiu da mudança e
bufo querendo me livrar. Apesar de odiar dizer isso, meio que por
conta dele Kate e eu tivemos uma noite maravilhosa. Sabendo que
não devo dizer isso em voz alta, pego a vassoura e o cretino me
lança um sorriso convencido.
A morena e eu vamos varrer, enquanto o abusado recolhe as
latas de cerveja e outras bebidas que nem sei identificar o que seja.
Parece que adorou o vestido porque ainda está usando para fazer
faxina.
Olho no relógio e falta uma hora e meia para ir para a
delegacia, posso ajudar os dois a limpar essa bagunça.
Capítulo 17

Levou meia hora para limpar a sala e os banheiros. A casa


inteira estava fedendo a bebida e restos mortais. — Foi um pequeno
exagero, mas é tipo isso.— Foi difícil conseguir respirar até que a
faxina terminasse. Estava pronto para enfiar água sanitária no nariz,
o cheiro com certeza é mais agradável.
Josh e eu meio que melhoramos nossa “relação” nesse tempo
juntos. Utilizamos o modo encher o saco de Kate e acho que
elevamos o ódio para o nível “nos suportamos”. Ela ficou puta com a
gente a irritando, mas ficou fofa xingando.
Josh quando não estava incomodando eu ou a Kate sobre
nossa noite, estava quieto e distante, como se estivesse pensando
na tal garota que o odiou. É estranho ver essa boca grande sem
jogar seus deboches e piadas sem graça e por isso Kate me
cutucou ao vê-lo sentado na banqueta da cozinha com a cara de
cachorro que caiu da mudança.
— Você gostou mesmo do vestido. — O irrito para ver se pelo
menos não parece uma jaca podre e sozinha.
— Deveria usar, entra um vento bem gostoso.
— Credo.
— Amigo, o que está acontecendo com você? Nunca te vi tão
pra baixo. Apesar da noite de merda que teve, hoje estaria animado
e seguindo em frente.
— Hoje estou só o farelo do sucrilhos. — Faz uma cara
depressiva. — Mas é aquela filha do capiroto que não sai da minha
cabeça. Acreditam que ela teve a audácia de dizer que sou feio?
EU, FEIO? Olha pra mim, sou um príncipe. — Queria ter o ego dele,
é admirável. — Isso foi pouco que a Jurema me chamou.
— Jurema? — Pergunto confuso.
— Eu apelidei ela assim após me chamar de burro do shrek.
Meu Deus.
Os dois literalmente não tem um pingo de maturidade, mas pelo
visto a morena mexeu com ele.
— Estou apaixonado. — Josh fala do nada, fazendo Kate dar um
pulinho de susto. Ele coloca uma das mãos no coração pra fazer
mais cena. — Ela é leitora, Kate! E me odeia e….
— Peraí. — O interrompo. — Para você gostar, a mulher tem que
te odiar?
— Lógico! É assim que nascem os melhores casais, não sabia
disso? Ela vai ser minha, só não sabe ainda.
Ele contou a Kate que viu a tal garota saindo da casa da vizinha
dela. Josh revelou que vai tomar café na casa da mulher hoje e
pedir um dossiê completo sobre a coitada. A chaveirinho vive
dizendo que a vizinha odeia ele, quero só ver o projeto de demônio
ser expulso da casa dela na base de vassourada.
— Me chame quando for lá, quero ver você apanhar.
— Qual é cara, achei que nossa relação tinha melhorado depois
de hoje.
— Melhorou 15%, ainda posso te zoar. — Sorrio e encaro minha
garota, que está uma puta gostosa nessa saia curta, só de imaginar
que não está usando calcinha faz com que meu pau pulse dentro da
calça. — A conversa está boa, mas preciso ir. Chaveirinho, quer vir
comigo e deixar a senhorinha de vestido remoendo o motivo de ter
sido humilhado?
— Vou com você, preciso ver como está o Rambo. — Aquele
bicho sim é herdeiro do satanás. — E depois vou almoçar com meus
pais.
Kate se despede de Josh que está com aquela cara de quem
levou um pé na bunda, sendo que nem tem nada com a garota. Ele
se aproxima com os braços abertos e reviro os olhos.
— Eu preciso fazer isso?
— Claro, agora somos amigas.
— Teu cu. O único que usa vestido aqui é você.
— Vou te dar um de presente. — Me abraça e funga no meu
pescoço achando que isso vai me arrepiar. Babaca! — É bem
confortável na verdade.
— Eu preferia quando a gente se matava.  
Puxo Kate antes que Josh queira chorar as pitangas no meu
ombro e vou em direção à porta quase arrastando minha
chaveirinho, louco para ter mais um momento a sós, nem que seja
por pouco tempo já que ainda vou passar em casa para trocar de
roupa e pegar Safira que deve estar dormindo.
Ao sair da casa do Josh dou de cara com aquele desgraçado,
meu sangue ferve sabendo que está aqui para tentar algo com a
minha chaveirinho. Nem a pau vou deixar. 
— Kate… oi. — Mas é um sonso. Se fazendo, como se tivesse
esbarrado nela por acidente e não porque veio aqui esperar ela sair.
Vagabundo. — Eu queria falar com você.
— Não quer falar nada. — Declarei antes que Kate abrisse a
boca. — Porque eu faria você engolir tudo de volta na base do soco.
De novo.
— Que é isso, Gabriel? — Kate defende o cretino e a olho de
canto de olho. Ela não pode estar falando sério, não depois do que
houve entre a gente. Devo estar muito emocionado ou ela é
afrontosa demais, ainda estou tentando descobrir. — O que você
quer Théo?
Não é óbvio, sua pamonha? Ele quer fazer crochê com você junto
com a velhinha que ficou dentro da casa. Agora ela deu pra ser
inocente? Até o idiota do Josh gostou desse cara, mas ele não me
desce e farei questão de exterminá-lo da face da terra se continuar
correndo atrás da minha garota.
— A gente não pôde conversar ontem porque seu segurança
atrapalhou. — SEGURANÇA? Ele vai perder os dentes hoje e vou
enfiar no rabo desse desgraçado. Ainda tem a audácia de dar um
sorrisinho debochado. Kate segura meu braço como se isso me
impedisse de socar esse infeliz. — Eu realmente gostei de você
gatinha e queria que me desse uma chance.
— Théo…
— Se sua língua nojenta entrar na boca dela de novo, vou
garantir que nunca mais saia um som dessa sua garganta, fui claro?
— Gabriel Monteiro! Você quer parar de me cortar? —
Chaveirinho me soca no braço com a mão livre e resmungo
esfregando o local.
— Você e esse idiota tem alguma coisa? — O infeliz pergunta
percebendo que acaba de perder o doce.
— Théo… eu te acho legal, divertido, gato… — Ela só pode
estar tentando acabar com meu juízo! — Mas…
— Sempre tem um mas. — O idiota sorri como se não soubesse
que levou um pé na bunda antes mesmo de ter algo. Toma essa,
seu babaca engomadinho.
— Não podemos ter nada. Também não sei o que vai ser entre
mim e Gabriel, mas por enquanto estamos…
— Juntos. — Termino sua frase. — E vamos continuar juntos,
então some da nossa frente e vá para a puta que te pariu.
— Quando você se cansar desse policial irritante, sabe onde me
encontrar.
— Vou garantir que ela te encontre na valeta, coberto de merda.
Some daqui antes que eu decida perder meu réu primário.
Então ele sai com o rabo entre as pernas, indo para o carro e
saindo sem nem olhar para trás. Não escondo o sorriso e encaro
Kate que está me fuzilando.
— Gabriel Monteiro! Pra quê ser um homem das cavernas desse
jeito? Nem deixou ele falar.
— A voz dele me irrita. — Expressei. — E já vai tarde também.
Que se perca nas curvas do inferno.
Kate fica de frente para mim e puxo seu corpo colando ao meu.
Ela sorri ao passar a mão no meu rosto e é assim que quero vê-la,
nos meus braços e feliz. Não tem que conversar com aquele
engomadinho coisa nenhuma.
— Sabia que aparece um pé de galinha toda vez que fica com
ciúmes?
— O quê? Não fode, Katherine!
— Estou falando sério. Você fecha a cara e aparece um pé de
galinha, acho que a idade está batendo.
— Quer saber onde irei bater se não parar de me chamar de
velho?
— Onde? — Safada! Ela coloca as duas mãos nos meus ombros
e vou empurrando a abusada a caminho do meu carro. — Pare de
ser ciumento. Não tem motivos para isso, sabe que eu queria você
desde o beijo na minha cozinha… só que é teimoso demais e outro
aproveitou enquanto você não se decidiu.
— E agora essa boca, corpo e língua afiada, é tudo meu. Só
meu, chaveirinho.
— Já que estamos conversados. — Dá vários selinhos me
fazendo quase tropeçar com ela nos meus braços. — Vamos para
minha casa. Rambo está morrendo de saudade de você.
— Aquela coisa é outra que deveria mandar para o inferno, não
vê aqueles olhos vermelhos? Claramente é um mandante do Lúcifer
para me matar.
— Ainda bem que você não é exagerado.
Capítulo 18
— Tem certeza que não quer entrar? — Digo a Gabe. Estamos
dentro do carro dele em frente a casa dos meus pais. Por conta do
muro, eles não conseguem nos ver dentro do carro, só a traseira
mostrando Safira toda ansiosa para passear. — Eles vão ficar tristes
por você não ter ido dar um oi.
— Deixa um beijo para eles, preciso ir para a delegacia. —
Segura minha mão e beija com carinho. Safira no banco de trás
solta alguns chorinhos querendo se juntar a nós, mas Gabe deu um
comando e a coitadinha tá se remoendo para vir no meu colo. —
Sem o Kaio, vou ter que treinar aquele imbecil do Carlos de novo.
— Ele continua falando idiotices? — Brinco lembrando do dia do
café.
— A cada segundo. Estou prestes a jogar ele para fora do carro
em alta velocidade.
— Você é um príncipe, jamais faria isso.
— Não sabe as coisas devassas e cruéis que passam pela
minha cabeça. — Seu tom de voz mudou, agora é sexy e dá um
recado a minha boceta que já sente saudades.
Qual é o meu problema em segurar a excitação?
— Ah é? — Assente, mordendo os lábios, porra de homem lindo.
— Estou louca pra saber o que o policial poderá fazer com uma civil
que fez coisas erradas.
— Você não tem noção do que a aguarda, chaveirinho.
Estou morrendo de ansiedade para foder com o policial, esse
homem de farda é uma delícia. Antes de chegar na casa dos meus
pais, paramos na dele e o vi colocar essa farda que o deixa mais
gostoso. Foi uma tortura apenas o observar e não agarrar esse
corpo e abusar desse homem até os dois estarem exaustos.
Sossega esse fogo no rabo, Katherine, hoje vai visitar sua família
porque claramente parece que você saiu de uma chocadeira. Sua
mãe teria vergonha se soubesse que você prefere transar do que
almoçar com ela.
Gabriel me puxou pela nuca e capturou meus lábios com um beijo
gostoso, calmo e repleto de desejo. Seguro seu rosto com carinho
correspondendo a cada movimento, sentindo o gosto de pasta de
dente e o café que fiz na minha casa e viemos tomando no caminho.
Ele diz que só o meu para animar o dia de merda dele e eu amo
como ele é exagerado e fã do meu café.
Finaliza dando um selinho e me dá aquele sorriso de canto.
Esfrega o nariz no meu e sorrio gostando dessa versão calma e
delicinha, já que parecia um brutamontes tendo Théo por perto.
— Você vai me esperar aqui? — Safira coloca as patas no meu
banco e cheira meus cabelos querendo atenção, gargalhei quando
ela morde e puxa me fazendo ir junto com ela. — Safira!
— Oi garota, vem aqui. — Faço ela saltar entre os bancos e ficar
no meu colo, apesar de ser grande. Ela tem um cheiro tão gostoso,
Gabe cuida muito bem dela. Faço um carinho em sua cabeça e ela
lambeu minha mão, logo em seguida deita no meu colo quietinha
quando o dono faz carinho nela. Meu foco vai para o Gabe que está
esperando minha resposta. — Sim. Vou passar o dia com eles, faz
tempo que não faço isso e como a cafeteria em breve será
inaugurada, não terei muito tempo.
— Tudo bem, empresária bem sucedida. — Coloca meu cabelo
atrás da orelha e se aproxima colando sua boca ali. — Essa noite
vou te comer bem gostoso na viatura. Vou te algemar e meter tão
fundo que irá suplicar para que eu a faça gozar no meu pau.
— Porra, Gabriel! Como vou olhar para a cara dos meus pais
estando excitada?
— Vai se sair bem.
— Cretino!
Me despeço do abusado e deixo Safira confortável no banco
antes de fechar a porta.
— Até depois, chaveirinho.
Mando um beijo no ar e abro o portão. Gabe buzina antes de
arrancar com o carro a caminho da delegacia e aceno para o meu
homem. Ao me virar para andar, dou de cara com meus pais na
porta de casa que está alguns metros longe.
O terreno é grande, nada luxuoso, mas repleto de plantas que
minha mãe é viciada. Quando Gabe vem aqui com ela, a cadela
adora correr pelas plantas e correr atrás dos passarinhos.
Os dois amores da minha vida estão me esperando com um
sorriso no rosto e dou graças a Deus que o muro impossibilitou eles
de ver a gente no maior amasso. Além deles infartarem, depois
arrancariam meu coro por não ter falado nada.
— Era o Gabe? — Meu pai é o primeiro a perguntar. — Porque
ele não entrou?
— Estava atrasado para ir a delegacia.
— Que pena, ele adora a comida do seu pai.
— E quem não adora a comida do senhor Alberto? É a melhor
do mundo.
Abraço eles ao mesmo tempo, sentindo o amor transbordar.
Como senti falta disso, das nossas conversas, o dia inteiro juntos.
Meus pais me carregam para dentro de casa e sinto o cheiro
delicioso da comida, meu estômago falta colar nas costas com a
fome me pegando. Gabe e eu apenas tomamos café, não
colocamos nada no estômago desde ontem, passamos uma
madrugada agitada e preciso repor energia.
— Filha, você parece cansada, tem dormido direitinho?
Ah mãe, se você soubesse o motivo de eu estar cansada, a
senhora iria me dar uma lição de boas maneiras. Ou iria rir da
situação e iria fofocar para meu pai, que também não seguraria a
língua e a rua inteira iria saber que Gabe e eu estamos nos
pegando. E se Kaio descobrir poderia fazer a amizade dos dois ficar
afetada por conta de alguns amassos.
— O suficiente para não parecer um zumbi.
— Katherine! — Me repreende. — E está comendo coisas
saudáveis? Sei que você é horrível na cozinha, mas precisa comer
algo que não seja industrializado e gorduroso.
— Mãe! Não venha me dizer o quanto sou ruim. — A alerto. —
Lembra da vez que você cozinhou aipim e ele saiu da panela
parecendo uma espiga de milho?
Meu pai gargalha e minha mãe o acerta por cima de mim,
dando um tapa certeiro na nuca dele.
— Ai! Ela está falando a verdade, querida.
— Fiquem quietos os dois.
Vamos direto para a cozinha onde minha mãe já estava abrindo
uma garrafa de cerveja e nos serviu toda empolgada. Pego meu
copo e tomo um gole sentindo o gosto amargo descer pela minha
garganta.
— Vamos filha. — Meu pai fala enquanto volta a mexer nas
panelas. Vou até ele tentando descobrir o que está fazendo e sou
ameaçada com a colher — Saia de perto das minhas panelas e nos
conte todas as novidades.
— Ontem Gabe e eu fomos em uma festa na casa do Josh.
Acabamos dormindo lá porque o policial certinho não queria dirigir.
— Meu Deus, eu vou para o inferno mentindo para meus pais.
— Como sempre, Gabriel sendo responsável.
— Para de puxar o saco dele, pai. Continuando… Quando a
gente acordou, vimos Josh usando o vestido da mãe dele, foi hilário.
— Estou confusa. — Mamãe fica pensativa. — Os dois não se
odeiam? Porque Gabriel iria em uma festa lá? E porque Josh estava
usando vestido?
Conto tudo a eles. Tudo o que Josh passou na noite, o estresse
da manhã e como os dois viraram duas comadres após limparem a
casa. Meus pais riram o tempo todo e eu também, recordando de
um Josh com um vestido apertado e parecendo uma idosa
rabugenta.
— Fala para o Gabe que preciso ver as fotos que ele tirou, é
questão de sobrevivência ver Josh com um vestido.
— Para de zoar o príncipe pai, ele já está sofrendo de coração
partido, não precisa de você dizendo o quanto ele ficou lindo
naquela roupa.
— Coração partido? Quem é a louca que recusa aquele homem
lindo?
— Também queria saber. Ele diz que vai conversar com a minha
vizinha para descobrir quem é a nova moradora da rua.
— Aquela Matilde Fifi deve ter um dossiê sobre todos os passos
dos vizinhos. — Minha mãe volta a beber sua cerveja. — Eu teria
medo de entrar lá e ninguém nunca mais me encontrar.
— Ela é legal, mãe. Meio que acaba protegendo minha casa,
sempre enfiada naquela janela. Ela odeia o Josh, mas ainda acho
que ela adoraria que ele fosse tomar café com ela.
— Ele é um menino muito carismático, iria fazer uma amizade
interessante com a fofoqueira. Josh quase não gosta de falar da
vida dos outros.
Meu pai diz que o almoço está pronto e ajudo minha mãe a
arrumar a mesa. Ela adora usar um conjunto de pratos tendo
detalhes em relevo. Foi a primeira coisa que ela e meu pai
compraram quando casaram, é o xodó dela e não tem uma peça
faltando. É bem chique na verdade, apesar de ser antigo, ainda dá a
entender que é algo da época.
Sentamos na mesa enquanto meu pai coloca as travessas com
comida para um batalhão. — Vou adorar levar minhas marmitas, sim
eu sou uma filha folgada e esfomeada. — Meu pai serve minha mãe
como sempre, perguntando tudo o que ela quer. Eu acho a coisa
mais linda esses dois juntos, o companheirismo e o amor sendo a
base deles.
— Aquele moleque deveria ter ficado para almoçar. Olha a
quantidade de coisas que eu fiz esperando ele.
— Amor, nós sabemos que você é exagerado e não precisa
colocar a culpa em Gabriel. Ele vem todos os dias aqui, com certeza
virá se esbaldar no jantar.
— Ele vem me buscar, pai. Sem contar que sua filha favorita iria
adorar levar algumas marmitas para casa. — Falo com um bico fofo.
— Já deixei sua marmita pronta, querida. — Começa a me servir
e vou apontando para tudo o que quero. — Aliás, não quero ver
você comendo tudo que esteja guardado no freezer dos
supermercados. Depois irei fazer algumas marmitas para o Gabe
também, apesar de saber cozinhar, duvido que tenha vontade
estando sozinho naquela casa.
Gabriel mora quase de frente para eles, vem todos os dias aqui
roubar a comida do meu pai, os dois são muito próximos. Consigo
entender a relutância dele em nos ver juntos, com medo da nossa
família o odiar, porque somos as únicas pessoas que ele tem. Mas
não estamos nos casando, é só alguns pegas e vida que segue,
ninguém precisa saber o que aconteceu entre nós, além do Josh é
claro.
Conto aos meus pais sobre meu melhor amigo se tornar meu
sócio e eles amaram a notícia, disseram que vamos ser um
sucesso. Minha família sempre me apoiou nesse sonho, me fazendo
entender que poderia sair do papel e se tornar algo meu, que sou
dona. Graças a eles e ao Gabe, estou a um passo de realizar meu
sonho de infância.
— Soube do seu irmão? — Minha mãe pergunta com humor na
voz, pegando uma quantidade generosa de comida e enfiando na
boca. Espero que mastigue para arrancar a curiosidade de mim e
enfim retomar a conversa.— Eu e seu pai fomos visitá-lo e vimos o
quanto ele e a enfermeira se odeiam. A moça é linda, inteligente e
super qualificada para aturar o humor severo do seu irmão. Mas
senti que tinha algo a mais ali… como se os dois já tivessem tido
algo e se odeiam por esse motivo, sabe?
— Não reparei nisso na última vez que o vi.
Deus ajude para que os dois FBI's não descubram sobre Gabe
e eu, meus pais têm a tendência de perceber qualquer interação.
Precisamos ser os mais discretos possíveis, já basta o fofoqueiro do
Josh saber sobre nosso lance proibido.
— E Rambo se recuperou? — Papai pergunta.
— Graças a Deus, está serelepe voando pela casa. O ruim é
comprar um brinquedo por semana porque ele destrói tudo, mas
está melhor do que antes. Gabe parou lá para esperar eu me
arrumar e tentou matar meu passarinho. — Rio lembrando. — Eles
claramente se odiaram desde aquele dia que Rambo o atacou.
— Ele vê Gabriel como um concorrente.
— Como assim?
— Todo animal de estimação sente ciúmes do dono, é natural ele
achar que vocês dois tem algo.
Quase engasgo com a comida, meu pai acerta dois tapas fortes
nas minhas costas me fazendo perder ainda mais o ar.
— Rambo está louco.
— Pode até ser, mas como você e Gabe tem uma ligação forte
desde a sua infância, todos que realmente não convivem com
vocês, os enxergam como casal.
Puta merda!
Capítulo 19

Meu dia está literalmente uma merda. Daquele jeito que a gente
torce para acabar logo e poder ir para a casa tomar um banho
quente e relaxante.
Já prendi dois assaltantes de banco que deram um certo
trabalho por conta de ter feito alguns reféns. Mas com o incentivo
certo — não que eu tenha comentado que faria a vida deles um
inferno — eles cederam e se entregaram.
Almocei em um restaurante comum no centro, tendo a voz
irritante de Carlos nos meus ouvidos. Estou contando os dias para o
Kaio voltar a trabalhar, é a segunda vez que sou obrigado a aturar
esse policial novato e irresponsável.
Também ajudei uma senhorinha a atravessar a rua. A abusada
nem para agradecer e ainda teve a audácia de dizer que sabe se
virar sozinha, sendo que tinha o mercado todo nas mãos a contar
pelas inúmeras sacolas. Até uma tartaruga atravessaria mais rápido
que ela. Apesar do estresse, sei que minha parte eu fiz, se ela é
amarga o problema é dela.
Passei a tarde no meu escritório revendo algumas burocracias
a mando do delegado Rodrigues, e fiz algumas coisas que não me
arrependo, talvez Kate socasse minha cara, mas faria de novo se
pudesse.
Não, Gabriel. Socar a sua cara é o mínimo que ela irá fazer
quando descobrir.
Quando aquele médico babaca estava esperando ela na frente
da casa de Josh e antes dele sair, anotei o número da placa
mentalmente e fiz algumas buscas. Também peguei minha receita
médica onde tinha o nome completo do infeliz e não me assustei ao
descobrir que usa um nome falso.
Théo Camperinni está vivo há exatos seis anos, mas que eu
saiba ele aparenta ter mais de trinta. Tenho certeza que terá uma
boa resposta quando o encurralar na parede daqui a dez minutos.
Ele já está me aguardando na sala de interrogatório, mas como sou
um filho da puta, estou fazendo ele esperar bem quietinho.
Não vi fotos dele antes de seis anos atrás. Do nada ele começa
a trabalhar como médico no centro para policiais? Isso está muito
suspeito e vou até ao inferno para descobrir quem é esse cara e o
porquê de querer algo com a minha chaveirinho.
— Cara, você acha que ele é estrangeiro e está ilegal no país?
— Carlos intrometido está atrás de mim enquanto faço as pesquisas
no banco de dados da polícia.
— Não acho nada, só sei que ele vai sumir da face da terra se
continuar atrás da minha chaveirinho. Mas não posso fazer muita
coisa a respeito… por enquanto.
— O que te impede?
— O código penal.
Falo sincero e Carlos gargalha achando que estou brincando,
mas sabemos que só não dei fim nesse infeliz porque meu lado
homem da lei é mais forte que meu lado namorado possessivo.
Namorado. Porra, será que estou ficando maluco?
Retiro essa ideia absurda da cabeça e levanto da cadeira
querendo ter uma conversinha animada com Théo Camperinni. Vejo
Carlos se empanturrando com as rosquinhas que comprei e arranco
a caixa da mão desse infeliz.
— Isso não era pra você, seu intrometido!
— Vai me dizer que iria dar para a gostosa da… — o encaro,
louco para que termine a frase e possa socar a sua cara, mas ele dá
um sorrisinho debochado. — Quer dizer, para a adorável Kate.
— Na verdade era pra mim mesmo, mas sua ideia foi boa. Vou
levar para a chaveirinho, quem sabe assim você para de pegar o
que não é seu.
— Anote o que eu digo, meu amigo. — Sua expressão ficou
séria e presto atenção na próxima idiotice que sairá dessa boca. —
Essa mulher já te amarrou pelas bolas, não vai demorar até
juntarem as escovas de dente. Estou aqui lembrando daquele dia da
cafeteria e você dizendo que não tinha nada, olha como você é um
puto safado.
Como eu disse, saiu mais uma idiotice. Ele tem razão, eu fui um
puto safado e pelo jeito vou continuar sendo, porque quero Kate de
novo.
— Vamos logo. Vou te ensinar como interrogar um babaca.
Carlos se anima e abre a porta da minha sala indo na minha
frente até a sala de interrogatório. Pego alguns papéis importantes
em cima da mesa e sigo o embuste do meu parceiro substituto.
A sala está parcialmente escura, tendo apenas uma lâmpada
fraca iluminando o local. Carlos se senta em uma das cadeiras
disponíveis na frente dele e fecho a porta fazendo a mesma coisa.
Impaciente e estranho é o que define Théo, como se estivesse
escondendo algo e não quer ser descoberto.  
— Você demorou de propósito, não é? Qual o seu problema
comigo, cara?
Você tem cara de quem não presta, além disso está tentando
pegar a minha mulher. Acho que isso já basta para responder a
pergunta dele, mas não falo porque isso não poderia mantê-lo aqui
por todo esse tempo.
— Como um excelente policial que sou. — Isso não é ego
elevado, sou muito bom mesmo. — Olhei sua ficha e vi que o
médico tem apenas seis anos de vida. Estou ansioso para que você
me conte como de seis anos de idade, conseguiu crescer tão rápido
e tentar pegar a mulher dos outros.
— Para deixar claro, você disse que eram irmãos do coração e
eu achei ela linda e engraçada. Na festa, encontrei ela por acaso
porque um amigo me convidou e vi Kate lá, é óbvio que eu quero
ela, já deixei isso claro.
— Você queria, não vai tentar mais nada.
— Ela nunca mencionou que está namorando. — Juro que vou
matar ele com a prancheta. Olho de canto de olho para Carlos e o
vejo se divertindo com a situação, era só o que me faltava. — Se
está solteira, vou continuar tentando até ela escolher entre você ou
eu.
— Ela já escolheu, babaca, não entendeu a parte que estamos
juntos quando ela mesmo disse olhando para sua cara feia? —Ele
até tenta se fazer de machão, mas quem está sendo interrogado é
ele, não eu. — Agora pare de falar da minha garota e explique o
motivo de você ter trocado sua identidade. Qual seu antigo nome?
Ele se remexe na cadeira visivelmente incomodado e sorrio
sabendo que boa coisa não vem, mas vou adorar prendê-lo por
tempo indeterminado.
— Há seis anos fui quase morto pelo meu pai. Como você disse
antes, tenho trinta anos atualmente, mas não passava de um
moleque burro naquela época. Ele era alcoólatra e fazia algumas
merdas que poderiam deixá-lo na cadeia por alguns anos, eu não
compactuava com aquilo e sempre brigávamos. — Ele suspira. —
Um dia cheguei em casa mais cedo e o vi batendo em uma
prostituta, acabei me metendo e arrancando ele de cima dela. Ele
bateu a cabeça na quina da mesa e ficou desacordado. Chamei a
ambulância, mesmo sabendo que ele não aceitaria isso por ter
passagens pela polícia. Ele foi para o hospital e algumas horas
depois foi para a prisão pagar pelos crimes de roubo seguido de
assassinato. Tinha matado um guarda e fugido com o dinheiro.
— Sinto muito, cara. — É Carlos quem diz e olho para ele
irritado.
— Eu fui visitá-lo na prisão e disse que me mataria quando
saísse, que seus amigos iriam garantir que eu estaria apodrecendo
até ele conseguir fugir. — Vejo ele mexendo nas mãos ansioso, os
olhos com um medo que já vi em muitas vítimas dentro dessa
delegacia. — Os caras conseguiram me sequestrar algumas horas
depois enquanto tentava fugir, foi a semana mais horrível que eu
tive, sendo espancado, me deixaram com fome e sede. Mas
consegui me soltar e fugi apenas com a roupa do corpo.
— E como conseguiu fingir sua morte e obter identidade nova?
Antes que ele responda recebo uma ligação no meu celular e faço
ele esperar para que eu veja quem é. Acabei esquecendo de
colocar no silencioso e me deixou curioso, vai que é minha
chaveirinho querendo falar algo que me interesse. Ao olhar para a
tela, vejo que o número não é detectável. Fico encafifado e atendo
quase caindo da cadeira.
Anônimo
O passado voltou e garantirei que todos que você ama, estejam
estripados e mortos até o final do dia.

Gabriel
Quem é você?

Anônimo
Até breve, Gabriel.

Minha visão fica embaçada, meu corpo não reage da forma que
eu achei que faria. Minhas mãos estão suando com a ameaça
declarada contra todos que amo. Não sei se sobreviveria passando
por aquilo de novo, é como se fizessem isso para garantir que eu
não esqueça que fui o culpado pela morte dos meus pais.
Fico em silêncio pensando quem faria tal brincadeira de mau
gosto, mas ninguém saberia sobre meu passado a não ser o
delegado Rodrigues e o Kaio. Porra! Isso não é uma brincadeira e
sim um aviso do que vai acontecer, mas quem é o desgraçado que
sabe o que aconteceu? E porque depois de tantos anos retornar e
querer se vingar?
— Está tudo bem, parceiro? — Carlos pergunta e me
recomponho para que não saibam o que está acontecendo.
— Tudo ótimo. — A mentira tem gosto amargo, mas é
necessário no momento. — Continue a falar.
— Após fugir, percebi que não adiantaria ir à polícia porque uma
hora ou outra ele me encontraria. Com a ajuda do meu melhor
amigo, forjei minha morte e consegui documentos novos com a
autorização de um juiz que era amigo do pai dele. Ele morreu meses
depois e não fui atrás para saber se foi meu pai ou não, tenho
morado aqui desde então, vivendo minha vida com uma identidade
nova. Não estou usando documentos falsos que possam me
prender Gabriel, mas se quer saber se minha história é verdadeira,
meu nome verdadeiro é Jonathan Maciel.
— Vá averiguar isso, Carlos.
— Pode deixar.
Meu parceiro voltou cerca de dez minutos depois com a ficha
completa do nome verdadeiro do Théo. Tudo o que me disse era
verdade, até a assinatura do juiz consta nas informações sigilosas.
Ele agora está mais calmo, esperando pacientemente que eu o
libere. Suspiro irritado, porque adoraria prender esse infeliz por
falsificar documentos.
— Tudo bem, Théo. Está liberado, mas continuarei de olho em
você.
— Cara, sei que você ama a Kate. — Olho para ele perplexo. —
Percebi como a conexão de vocês é forte ontem à noite, e hoje de
manhã ficou claro que estão juntos. Vou deixá-la em paz se você
esquecer meu antigo nome para que eu continue vivendo minha
vida. Não quero meu pai atrás de mim depois de tanto tempo
escondido.
— Se isso já basta para sumir da vida da minha mulher, então
estamos conversados. Pode sair agora. 
Vou para a sala do delegado Rodrigues assim que Théo sai da
delegacia. Meu peito sobe e desce pelo nervosismo, aquela
mensagem não sai da minha cabeça e preciso falar com a única
pessoa desta delegacia que sabe sobre meu passado.
— Gabriel… esqueceu como se bate na porta? — Ele me encara
sério.
— Recebi uma ameaça. — Ele então muda a expressão e me
manda entregar o celular, ele lê tudo e me encara chocado. — Meu
passado voltou para foder com a minha vida de novo. Quem é esse
maldito?
— Pode ser qualquer um. Vou mandar oficiais protegerem Kaio e
a família dele. Sei o quanto são importantes para você.
— Eu ficarei com Kate, será a primeira que tentarão algo.
— Leve seu celular para tentar rastrear o suspeito, não faça
nenhuma besteira Gabriel, seguirá minhas ordens.
— Nem fodendo! — Ele me encara como se falasse, “sabe com
quem está falando, moleque?” — Senhor, não vou deixar que
matem outra pessoa que amo, você estava lá, viu o que aconteceu.
Não vou perder mais ninguém.
— É por eu ter estado lá, que sei o quanto essa situação é
complicada e precisamos tomar decisões que não coloque eles em
risco. Agora leve seu celular para rastrear o indivíduo e depois vá
para casa e não faça nenhuma besteira.
— Sim senhor.
Nem a pau vou ficar quieto. Não com minha família correndo
perigo, mas dessa vez não vão encostar em ninguém que amo,
porque irei até o inferno para matar o desgraçado.
Capítulo 20

Chego em frente a casa dos pais da Kate e desço quase


correndo, sendo acompanhado por Safira. Travo o carro e abro o
portão vendo minha cadela correr na frente. Vasculho o terreno
tentando ver algum resquício de algo fora do lugar e não encontro
nada.
De tanto Safira latir na porta, Alfredo abre e começa a rir vendo
ela pular nele querendo carinho, sorrio tentando disfarçar a agonia
que estou sentindo, mas esse homem me conhece desde pequeno
e já fecha a cara me avaliando.
— Desembucha, o que aconteceu?
— Não aconteceu nada…
— Sério que vai tentar, Gabe? — Cruza os braços e fica no meio
da porta, mostrando que não tenho escapatória. — Prefere que
Amélia faça você falar?
— Prefiro você. — Sorrio de verdade agora, sabendo o quanto a
esposa consegue ser mais tinhosa que ele. — É meu passado
retornando, acho que viu que estava feliz e resolveu estragar tudo.
Conto a ele o que fiz, desde Théo porque sei que ele fica
aliviado quando pego a ficha de cada cara que tenta algo com Kate,
ela fica puta com a gente, mas é algo normal para um policial como
eu.
E conto sobre a maldita ligação e a ameaça declarada que me fez
reviver toda a merda que aconteceu no passado. Tudo o que senti
naquele dia horrível que fui o culpado, por não ter matado aquele
desgraçado enquanto tinha tempo, e ele matou as duas pessoas
que mais amei na vida.
— Vocês já sabem quem pode ser o desgraçado?
— Não. — Digo exausto psicologicamente. — Tentamos rastrear,
mas não deu em nada. Agora o delegado vai montar estratégias e
esperar ele entrar em contato de novo. Preciso que fiquem seguros,
Alberto, não vou suportar perder mais ninguém.
— Oh meu filho, vem cá. — Ele me puxa para um abraço e sinto
o carinho de pai que ele tem se tornado desde sempre. — Estamos
com você, vai conseguir pegar esse maldito.
— Se algo acontecer com a Kate… com vocês, eu jamais me
perdoaria.
— Vai ficar tudo bem. Agora, vamos entrar e contar tudo para as
meninas, você não está sozinho Gabe, sempre vai poder contar com
a gente.
Até vocês descobrirem que estou pegando sua filha e que ela é
quem corre mais riscos por estar envolvida comigo. Porra, Gabriel!
Ao entrar vejo Kate e dona Amélia sentadas no sofá da sala, rindo
de algo que a minha chaveirinho contou. Meu coração aperta por
saber que algo pode acontecer com ela, que não serei capaz de
protegê-la.
— Gabe! Você veio cedo.
— Oi… é… — Como falar essa merda?
— O Gabe tem algo pra contar a vocês.
— Pela sua cara, coisa boa não vai ser, desembucha Gabriel.
Lá vamos nós de novo.
Kate e dona Amélia ficaram chocadas, como previsto, me
abraçaram e pude receber o carinho de sempre. É uma pena não
demonstrar algo a mais com minha pequena, mas seria mais um
problema em nossas vidas. Não estou preparado para ter os pais
dela e Kaio me odiando.
Sento no sofá, tentando fazer toda a merda do meu dia sumir da
minha cabeça. Ainda não acredito que isso está acontecendo, como
alguém saberia disso? Porque voltar a me atormentar?
— Gabe… — Kate senta no sofá e me puxou para deitar em seu
colo. — Acho que você precisa de um carinho. Papai, o que acha
daqueles cupcakes que fizemos logo depois do almoço?
— Nada melhor do que um doce para aquecer um coração
ferido. — Ele diz e sai em direção a cozinha.
— Chaveirinho…
— Shhhh… — Coloca um dedo na minha boca me calando. —
Hoje a noite é para cuidar de você. Não quero que fique preocupado
com a gente, nós é que estamos preocupados com você.
— Eu não posso te perder, chaveirinho. Eu…
— Gabe. — Merda. Esqueci que a dona Amélia ainda estava
aqui. — Escute o que Kate está dizendo. Somos sua família e
queremos que fique bem. Essa noite você vai cuidar apenas de
você, querido, sei que é teimoso e quer carregar todos nas costas,
mas hoje não.
— Vai comer cupcakes deliciosos que o papai fez, porque você
sabe que sou péssima. — Sorrio concordando. — Vai tomar seu
café preferido que no caso sou eu que faço e vamos contar histórias
para sorrir essa noite, entendeu Gabriel?
— Sim, senhorita.
Alberto vem com uma tigela cheia de cupcakes de várias cores.
Meu estômago ronca sabendo que a última vez que comi algo foi no
almoço, até mesmo minhas rosquinhas deixei no escritório.
Me sento no sofá sentindo falta do calor de Kate, vai ser uma
tortura fingir na frente dos pais dela.
— Gabe, lembra daquela vez que você, Kaio e Kate encheram
balões de água e brincaram pelo jardim parecendo que eram três
crianças? — Dona Amélia recorda de um dos nossos momentos e
acabo soltando uma risada.
— Foi incrível e deveríamos repetir quando Kaio curar a patinha.
— Minha chaveirinho diz. — Está decidido, vamos repetir aquele
momento histórico.
— Você perdeu, chaveirinho… tomou tanto banho que ficou uma
semana resfriada.
— Ei!
— É verdade filha, você perdeu feio.
— Até você papai?
— Quer que eu minta?
Ela faz um bico fofo e cruza os braços como uma criança birrenta.
Tenho vontade de beijá-la, mas contenho meus impulsos sabendo
que Alfredo enfiaria todos esses cupcakes no meu rabo.
Nos servimos de cupcake até explodir e como sempre, estavam
deliciosos, Alfredo é a pessoa mais talentosa que vi na cozinha,
sempre aprendo algo novo com ele. Já Kate é o oposto do pai e é a
coisa que mais acho engraçado nela, como pode alguém ser tão
ruim na cozinha e ao mesmo tempo fazer um café incrível? Pode
pedir qualquer tipo de café, a mocinha vai te fazer ajoelhar e beijar
os pés dela suplicando que faça mais.
Passamos o resto da noite rindo e contando as nossas
bagunças. Safira depois de se esparramar no chão da sala, dormiu
sem se importar com a nossa gritaria.
Lembramos de todos os tombos que Kate já teve e algumas ela
guarda cicatrizes até hoje, principalmente nos joelhos. Mas não
posso deixar de dizer que isso a torna ainda mais linda, com um
passado feliz e repleto de amor.
— Pequena, eu gostaria que você dormisse na minha casa hoje.
— Digo assim que os pais dela vão para a cozinha. — Vou ficar
mais tranquilo sabendo que estará comigo.
— Tudo bem, mas porque não vamos para a minha? Longe dos
olhares dos vizinhos que poderiam contar aos meus pais.
— Tem razão, achariam estranho você sair de lá já que eles
moram a algumas casas de distância. Você se importa se eu dormir
na sua?
— De forma alguma, me sinto protegida estando com você.
É tão bom escutar isso, sorrio para minha garota morrendo de
vontade de encher ela de beijos.
— Os policiais já devem estar lá fora para proteger seus pais.
Disse ao delegado que eu mesmo ficaria com você.   
— Não vai poder ficar atrás de mim o tempo todo, Gabriel, você
precisa trabalhar e sabe que tenho a cafeteria para cuidar, ficarei
bem.
— Se eu estiver de folga, ficarei ao seu lado. Quando tiver que
trabalhar, outro policial cuidará da minha garota.
Ela sorri e antes que nossas bocas se encontrem escuto os pais
dela vindo da cozinha. Acabo me levantando para me despedir e
vejo o homem trazendo uma sacola repleta de comidas.
— Meu Deus. Você vai me fazer engordar.
— Que nada. Tem um monte de mulher atrás de você por conta
desse tanquinho e o rosto de neném.
— Mulheres que vão perder os cabelos. — Kate diz e quando se
toca que acaba de ter ciúmes olha para os pais com um sorriso
brincalhão. — Acha que só ele e Kaio podem brigar com meus
pretendentes? Não pense que não sei que o senhor tem um dedo
nisso também.
Ela se saiu bem na mentira, mas adorei saber que tem ciúmes.
— Eu? Quanta calúnia, menina, eu sou um pai liberal. — Faz
uma cara de sofrido que me faz rir. — É Gabriel que me força a
pesquisar sobre eles.
— Ei!
— Eu sabia que eram três safados. Está vendo, mamãe?
— Isso é apenas ciúmes, filha, deixa você encontrar um homem
que eles gostem pra ver se não vão aceitar na família rapidinho.
— Nem a pau! — Alfredo e eu falamos juntos e todos nós rimos.
— Vou levar Kate para casa e garantir que ficará segura. Se
precisarem de qualquer coisa, terá policiais ali na frente vigiando
vocês.
— Não era necessário, filho. — Ele me abraça com carinho. —
Espero que fique bem e se precisar conversar, sabe que estamos
aqui.
Depois de alguns minutos nos despedindo, eles nos levam até
o portão e apresento aos meus amigos policiais para que conheçam
o rosto e os chamem se precisarem de algo. Safira nem espera eu
abrir a porta do carro para ela, sai correndo em direção a minha
casa sem se importar se estou a seguindo. Está tão abusada. Terei
que passar lá para buscar roupas confortáveis e algumas coisas
necessárias para dormir na casa da minha garota, ficar agarradinho
sem os pais dela querendo arrancar minhas bolas.
 
— Vocês são as pessoas mais importantes na minha vida. —
Digo assim que paro em frente a sua casa, olhando no fundo dos
olhos escuros dessa mulher que tem feito meu coração agir de
forma diferente. — Sabe disso, né?
— Somos família, Gabe, ninguém nunca irá mudar isso. Você é
como um filho para meus pais, um irmão para Kaio e para mim…
— O que sou pra você, Kate?
— Tem sido muita coisa, menos um irmão do coração. —
Caralho! Tem como ser mais rendido por essa coisa pequena? —
Você é a minha pessoa, a que eu conto tudo e sei que serei
compreendida. O homem mais doce e engraçado que conheço e
que tem todo meu coração. Vamos passar juntos por essa situação
Gabe, não quero que me afaste com medo que possa me acontecer
algo.
— Chaveirinho… nem se eu quisesse conseguiria ficar longe de
você. — Seguro seu rosto a puxando para um selinho. — Você é
como um bonde sem freio descendo a ladeira. Me fazendo sentir
coisas que eu jamais pensei, me tirando da zona de conforto que eu
estabeleci. Está disposta a correr riscos e agora eu também, porque
eu entraria nesse bonde apenas para sentir as melhores sensações
que tem a me oferecer.
— É a coisa mais linda que alguém já disse sobre minhas
loucuras.
— Eu amo suas loucuras. — Ela ri me enchendo de beijos.
— Vou adorar te puxar para descer a ladeira comigo, porque
nada mais gostoso que um relacionamento que te faça sentir aquele
desejo pelo desconhecido. Você tem sido importante para mim
desde o meu  nascimento Gabriel e embarcar nessa nova aventura
com você, está me fazendo muito feliz… porque é você.
— Me sinto da mesma forma, peque…
Antes que eu termine a frase, uma Safira desgovernada como o
bonde da Kate, pula em mim e nos separa apenas para atrapalhar
os momentos de declarações.
— Safira! Vá deitar.
— Que pecado, Gabe, ela está com ciúmes.
— Só se tiver de você, porque pra mim ela nem liga, essa cadela
traidora.
— Então quer dizer que ela deixa outras mulheres se
aproximarem e agarrarem você? — Olho para ela tentando entender
aonde quer chegar, mas aí vejo que é o ciúmes de novo.
Interessante, Kate, muito interessante. — Você é uma menina má,
tem que tirar todas as sebosas da cola dele, me entendeu Safira?
Minha cadela late como se estivesse respondendo e vejo uma
risada gostosa sair da boca da chaveirinho.
— Não tem nenhuma mulher, Katherine, é só em você que eu
penso desde a hora que acordo até a hora de dormir. Tem acabado
com meu juízo, menina.
— Você acaba de alimentar meu ego, mas acho que precisamos
entrar na minha casa para eu te mostrar o que a menina sabe fazer.
Preciso refrescar sua memória, Gabriel?
Os próximos minutos foram uma tortura. Tirar Safira do carro,
pegar as marmitas e as coisas que eu trouxe e aguardar ansioso,
uma Katherine sedenta por me mostrar o quanto é mulher.
Porra, eu poderia foder com essa mulher no capô do meu carro,
fazendo ela gritar para a vizinha ouvir o quanto ela ama ser fodida
por mim. Mas a realidade foi diferente do que imaginei.
Porque ao entrar na casa dela, parecia que um furacão havia
passado por aqui. Kate olha tudo com desespero. Pego minha arma
no coldre caso o assaltante ainda esteja aqui, um arrepio na minha
coluna me faz achar que pode ser aqueles desgraçados que querem
matar quem eu amo.
Papéis picotados pelo chão, almofadas rasgadas e jogadas por
todo lado. Até o controle da TV está com marcas, Kate coloca a mão
na cabeça vendo a bagunça. Fecho a porta para que nenhuma
surpresa entre enquanto estamos de costas, aproveito para avaliar o
local e escutar qualquer coisa que demonstre ter alguém além da
gente.
Um barulho de algo mexendo em sacolas vem da cozinha e nos
entreolhamos. Faço Kate ficar atrás de mim e Safira começa a
rosnar querendo atacar o assaltante ou o assassino que esteja atrás
da minha mulher. Fico puto só de imaginar que ele veio aqui tentar
machucá-la.
— Safira… vá.
E ela vai, sedenta por destruir qualquer coisa que atravessar o
caminho dela. Caminho a passos rápidos e não vejo ninguém na
cozinha, aponto a arma para todos os lados e apenas vejo Safira
arranhando o canto da geladeira, quando ela enfim consegue
morder o que está a incomodando, meus olhos saltam vendo
apenas o rabo branco do Rambo na boca dela.
— Solte agora, Safira! — Quando vou colocar a mão na boca
babada e repleta de pena, ela desvia e foge de mim indo em direção
a sala, porra! Kate vai fazer ensopadinho de mim se esse demônio
morrer.
— O que está acontecendo, Gabriel? Você está me assustando.
— Safira está comendo o Rambo.
— O quê!? — Grita da sala vendo minha cadela indo em sua
direção. — Eu vou pegar você sua assassina de aves fofas.
Não sei onde ela viu fofura nesse bicho demoníaco, por mim
Safira poderia despedaçar ele ao meio, quem manda quase
arrancar meu dedo. Seria uma boa vingança contra esse ser
minúsculo e  raivoso.
Não acredito que foi ele quem destruiu a casa, agora vendo
com mais atenção dá pra perceber que os papéis picados parecem
ter sido feitos por bicos. Até o controle essa coisa roeu, é
inacreditável que ela ainda queira isso como pet.
Corremos atrás de Safira que está disposta a fugir de nós para se
livrar do projeto de satanás que Kate pegou como animal de
estimação. Parece até o Dustin pegando o demogorgon como pet
em Stranger Things e colocando em um aquário como se fosse a
porra de uma tartaruga. Aquilo foi bizarro e tenho certeza que essa
calopsita veio do mesmo lugar.
Consigo pegar Safira e Kate a segura para que eu retire o bicho
da boca dela. Segura ele pelo rabo enquanto abro a boca de Safira
com uma das mãos, vejo que ela não está forçando para machucá-
lo, só está se divertindo com a situação.
— Você é uma menina malvada. — Consigo arrancar o bicho e o
jogo no sofá para que eu não seja o alvo da sua fúria. — Papai está
bravo com você, poderia morrer intoxicada ou pegar raiva desse
bicho.
— Gabriel Monteiro!
Viro meu rosto procurando o de Kate e vejo ela socorrer Rambo
que está completamente babado e as penas parecendo um frango
desfiado. Não consigo segurar a gargalhada ao ver ele tão feio e
Kate me encara querendo arrancar meus membros.
— Qual é, Kate, olhe para ele. Parece que levou um choque,
isso é para ele aprender a não arrancar meu dedo.
— Qual é o animal dos dois? Ele é só um bebê e você tirando
sarro dele, deveria se envergonhar. — Vejo ela segurar o riso e fico
atentando até que pare de fingir que está brava. — Tá legal, ele
ficou engraçado parecendo um frango depenado. Mas só eu posso
tirar sarro dele.
Mesmo com a situação engraçada, ainda sinto um alívio sabendo
que ninguém invadiu a casa dela. Agora iremos limpar essa
bagunça e transar para tirar todo o estresse que estamos sentindo,
preciso estar dentro de Katherine para tirar toda essa carga que
carrego nas costas, porque estar com ela me traz uma paz que não
tenho com mais ninguém.
Capítulo 21

Casa organizada e Rambo devidamente trancado na sua gaiola,


enfim posso respirar. Na hora fiquei com medo dele ter se
machucado, mas a abusada da Safira só quis ter um brinquedo vivo.
Acabei rindo da situação porque ele estava bem engraçado, todo
babado e as penas parecendo um frango que brigou com a panela.
Foi bom ver Gabe relaxado e se divertindo depois de tanto
estresse, é gostoso ver ele assim. Depois que terminamos a faxina
da sala, ele perguntou se podia tomar um banho porque tinha
chegado do serviço e lógico que deixei, até quis que eu fosse junto
mas disse que não.
Ah Kate, qual o seu problema em recusar um banho com esse
homem? É simples, adorei ver a carinha dele de cachorro sem
dono, indo para o banho desanimado, sim eu sou cruel. Agora estou
indo atrás dele para ver a cara tristonha se tornar safada ao me ver
nua na porta do banheiro.
Deixei Safira bem confortável no meu sofá, e só deixei porque
ela é mais limpa do que eu. Depois fui garantir que o safado do
Rambo estava preso, não acredito que me descuidei da gaiola, deve
ter sido na hora de sair às pressas para a casa dos meus pais, e o
abusado fez a festa na minha ausência. Até que foi merecido ser
quase devorado pela Safira, foi como um castigo por ser um mau
menino.
Abro a porta do banheiro vendo o box embaçado, me
impedindo de desfrutar da nudez de Gabriel, apenas seu rosto é
visível e sorrio ao ver a cara de banana que está me olhando.
Começo a tirar a calça, menos sexy do que deveria porque estou
literalmente brigando com a peça de roupa. Logo retirei a blusa e
joguei junto com a calça que está no canto do banheiro, ficando
apenas de lingerie. Os olhos de Gabriel se tornaram lavas e adoro
ver esses olhares direcionados a mim.
— Achei que não quisesse tomar banho comigo.
— Só queria ver sua cara.
Sua boca se abre e fecha e nenhum som sai, mas está visível o
quanto gostou do meu atrevimento.
— Vai levar umas boas palmadas nessa bunda gostosa para
aprender a não me trollar. — Nossa senhora das calcinhas
derretidas, amo quando é bruto e sexy na mesma medida. — Agora
seja uma boa menina, e venha até aqui.
E tem como recusar uma ordem dessa? Retiro meu sutiã tendo
seus olhares minuciosos em meus seios. Passo as mãos pelo corpo
até chegar na calcinha e retiro lentamente, o torturando.
— Não seja malvada comigo, chaveirinho. Preciso de você.
Faz um bico fofo que não me aguento, é difícil resistir a Gabriel
Monteiro. Entro no box recebendo a água quente em meus braços e
pernas, Gabe sorri de canto e me abraça colando nossos corpos
nus.
— Você está tão cheiroso e quentinho…
— Eu mereço ser feliz, Kate?
Sua pergunta me pega desprevenida, e ao observar seu rosto
lembro da quantidade de perguntas que fez desde que entrou aqui,
tudo que lembrou do passado e me arrependo de ter demorado para
vir.
— É isso que você ficou pensando? Que não merece a
felicidade?
— Meu passado voltou. Quando eu estou enfim me encontrando
de novo, com propósitos e uma vida estável, feliz com você… ele
retorna para tirar tudo de mim de novo.
Seguro seu rosto com carinho, vendo seus olhos banhados em
lágrimas e meu coração se aperta o vendo assim.
— Você é o ser humano mais incrível que conheço, Gabe,
sempre ajudando o próximo, rindo e divertindo todos a sua volta
mesmo que sua cabeça pense no passado vez ou outra. Você é luz
e gratidão, mesmo quando o inimigo destruiu sua vida, você é a
pessoa que mais merece ser feliz.
— Obrigado, pequena, acho que se não fosse por você e sua
família…
— Nossa família! — O cortei. — Você faz parte dela desde
sempre.
— Se não fosse por você e nossa família — sorri fraco e isso já é
uma vitória, sabendo o que se passa nesse coração gigante e
repleto de dúvidas — eu seria alguém que não merecia um pingo de
amor, eu iria cair em um poço fundo e inalcançável e jamais sairia
de lá.
— Pois eu sou um bonde desgovernado descendo a ladeira. —
Os seus olhos se iluminaram pela mudança de assunto, mas foi ele
que me chamou assim e foi a coisa mais linda e interessante que
alguém já me chamou. — De tão louca que sou, você seria obrigado
a emergir do poço apenas para ver o que estava acontecendo. Eu
faria um zerinho com meu bonde em volta do seu poço até que você
não resistisse e subisse comigo no meu bonde das maravilhas.
— Bonde das maravilhas? — Solta uma lufada de ar. — Sério?
— Meu cérebro não filtrou a tempo, você entendeu.
Pego o sabonete que estava na prateleira de vidro e começo a
esfregar seu pescoço, massageando com calma e proporcionando
um carinho. Passo para os ombros sob seu olhar profundo, o verde
começando a se esconder enquanto as pupilas se dilatam. Desço
para sua barriga que contém os gominhos que desejo passar a
língua em breve e resolvo conversar para aliviar a tensão que estou
sentindo em seu corpo inteiro.
— Você não precisa dar conta de tudo, sabe? — Anunciei,
enquanto esfrego seu tanquinho esculpido pelo deus Himeros. O
deus do desejo sexual, minha nossa senhora das mulheres
recatadas, tire esses pensamentos de mim. Isso não é hora de ser
uma safada, Katherine! — Pode deixar a gente carregar sua
bagagem um pouco.
— Não…
— Quer carregar todos nós nas costas, Gabriel, mas você não
pode. Quer me ajudar com a cafeteria, e Kaio com a recuperação.
Estar presente na vida dos meus pais, quer ser um bom policial…
precisa deixar a gente cuidar de você, carregar suas feridas para
que consiga se recuperar. — Ele pensa em retrucar, mas coloco um
dedo repleto de espuma nos seus lábios o impedindo de prosseguir.
— Ninguém é forte o tempo todo, está na hora de emergir do poço,
e ter forças para lutar pela sua felicidade.
As lágrimas brilham em seus olhos verdes, e com a água
consegue ficar ainda mais intenso, e percebo que essa sempre foi
minha cor favorita. Puxo seu rosto com carinho, deixando que a
espuma fique nas suas bochechas o deixando todo lambuzado e
beijo os dois olhos para que meus lábios secos enxuguem suas
lágrimas.
Em seguida volto a esfregar seu corpo, indo direto para o “V”
que tive o privilégio de lamber ontem à noite. Céus, como eu me
lambuzei nesse corpo e me perdi em cada toque, beijo e sexo bruto
que me deu.
Seguro seu pau com as duas mãos e observo seu rosto mudar,
me mediu com o olhar e fechou os olhos ao sentir eu deslizar a mão
por toda sua extensão, ensaboando essa tentação em forma de
pau. Vou fazer ele esquecer pelo menos nesse banho tudo o que
está acontecendo, quero ver seu rosto lindo ser coberto de prazer,
dar e receber, porque somos assim.
— Não quero transar, chaveirinho. — Murmura me prensando no
box gelado. Suas duas mãos seguraram meu rosto com leveza para
que eu o encarasse. — Quero fazer amor com você.
Meu Deus… estou me desfazendo em líquidos e nem posso
culpar a água do chuveiro.
Gabe me beija devagar. Sua língua passeia sem pressa pela
minha boca, me dando o prazer de sentir o gosto dos cupcakes e
um toque de sabonete já que coloquei meu dedo nos seus lábios
minutos atrás.
Suas mãos deslizam pela minha cintura, nas costas e sobem
até meus cabelos, segurando firmemente os fios e tendo o controle
do beijo. Sinto seu pau duro na minha barriga e minha excitação vai
às alturas, louca para tê-lo dentro de mim. Gabe aprofunda o beijo,
mas sem deixar alternativas a não ser retribuir até que meus
pulmões gritem em busca de ar.
Apalpo seu tanquinho, arranhando de leve seus gominhos que
estão escorregadios por conta da água. Estou toda molhada, mas
nada se compara a boceta babada pela excitação natural.
Gabriel me levanta, apoiando as mãos em minha bunda e meu
corpo fica suspenso no ar. Seguro-me em seus ombros, as pernas
circulando o quadril e ele roça o pau na minha entrada. A água
batendo em seu corpo acaba respingando em mim, fazendo as
gotas quentes me deixarem mais sensível.
— Tão gostosa, chaveirinho… tão minha.
Minha.
Adoro quando fala isso.
Ao mesmo tempo que seu tronco apoia o meu, suas mãos
passeiam por todo meu corpo como se estivesse decorando, ele
agarra meu pescoço e se inclina para trás observando o meu rosto.
— Você toma remédio? Quer transar sem camisinha?
— Sim… pode meter gostoso e sem medo.
— Não tenho medo. — Murmura com a boca colada na minha.
— Só quero que você diga que concorda para que eu continue.
Tem como ser mais cavalheiro que isso? Afirmo, mostrando que
aceito e Gabriel esfrega sua ereção na minha boceta e entra
devagar, sem ajuda das mãos.
Fecho os olhos, sentindo toda sua grossura me preencher aos
poucos. O prazer me tomando após sentir sua virilha com ele
totalmente dentro de mim. Cada centímetro. Sua mão agarra minha
nuca, aproximando nossas bocas, em um selinho calmo e repleto de
palavras não ditas.
— Olhe para mim Kate. — Meus olhos se abrem devagar e
posso sentir o turbilhão de sentimentos nesses olhos verdes
intensos. — Quero fazer amor com você olhando pra mim. Lento,
gostoso, te mostrando que não quero só uma foda bruta. Quero te
dar prazer, mas te mostrar que é amada. Porque amo você, desde
sempre.
Engulo em seco, essas palavras que vivíamos dizendo um para o
outro. Mas esse amor está mudando devagar, eu sinto, e tenho
medo dessa nova forma. Mas como eu o disse, vou correr atrás da
minha felicidade, nem que ela me cause medo do desconhecido.
O que sinto por Gabe é um amor puro e genuíno, que poderia
ser considerado de irmãos, porém, depois que demos esse passo
gigantesco, sinto que o vejo com outros olhos. Agora de mulher, de
parceira. Me causa uma euforia no peito saber que podemos ser
algo a mais, que eu quero isso, independente do apoio da nossa
família ou não.
— Eu amo você, desde sempre.
Gabriel move o quadril devagar, encarando-me com aquelas
duas íris verdes que me fascinam. Seu rosto colado ao meu, nossas
bocas absorvendo o mesmo ar em busca do nosso prazer. Se
perdendo dentro de mim, indo até o fundo com seu pau grande e
grosso.
Quando fecho os olhos sentindo meu prazer se formar, Gabe
segura meu queixo com firmeza me fazendo encará-lo de novo. Isso
é tão íntimo, algo como um casal e meu coração parece dar um
salto no peito vendo que é isso mesmo que ele está pensando.
Gabriel capturou meus lábios em um beijo quente enquanto investe
em mim sem parar, saindo com todo seu comprimento de dentro de
mim e voltando a me estocar com fascínio.
Nosso beijo é quente, repleto de tesão e sacanagem, ao
mesmo tempo em que sinto meus primeiros espasmos chegando,
tomando meu corpo em um prazer indescritível.
Gabriel retira o pau e me coloca no chão e faço um bico sentindo
falta do seu corpo colado ao meu. Sinto a água quente em meus
pés, quase gelando por estar em contato com o piso frio.
Em uma rapidez me vira colando meus peitos no box, o contato
me causa uma falta de ar momentânea por conta do frio. Empino a
bunda sabendo o que quer, levo um tapa na banda direita, gemendo
com a queimação gostosa que isso me proporcionou. Seu corpo
quente encosta no meu e sinto seu membro duro na minha bunda.
— Essa visão é linda pra caralho. — Murmurou me estapeando
mais uma vez. Seu rosto está nos meus cabelos, fazendo a
respiração balançar os fios. — Quero saber quando vou poder
comer essa bunda… bem gostoso? Diz pra mim que ainda será
minha por completo, chaveirinho.
Puta merda.
Gabriel esfrega o pau ali me fazendo rebolar sem que eu tenha
controle do meu corpo. Ele me faz ficar mais curvada e penetra o
pau na minha boceta rápido e até o fundo.
— Ah, que gostoso, Gabriel!
— Você gosta do bruto, né safada? Não tem como fazer amor
lento com uma mulher tão fogosa.
As estocadas ficam mais fortes, segura minha nuca com força
enquanto mete até o fundo fazendo o som do nosso sexo se tornar
maior que o da água. Sua grossura parece querer me rasgar a cada
investida, me deixando dolorida, mas de um jeito bom.
Sua safada masoquista, é o que meu cérebro me chama, mas
não tem coisa mais deliciosa do que sentir prazer com um homem
que sabe o que está fazendo.
Coloco as duas mãos no box em busca de apoio, ele deixa as
dele por cima da minha e me prensa entre o vidro e seu corpo.
Gabe beija meus ombros e vai subindo enquanto seu pau entra e
sai com rapidez da minha boceta. Grito seu nome tantas vezes que
tenho a certeza de que amanhã irei acordar rouca.
— Goza comigo, amor. — Sussurra no meu ouvido, mordendo
logo em seguida e deixando que sua respiração me cause arrepios.
— Goza bem gostoso no meu pau.
— Oh, sim… não para Gabe.
— Está sentindo meu pau sem camisinha ser engolido por essa
boceta quente e apertada? Vou te foder assim hoje, Kate. Cru. Bruto
e repleto de desejo por você.
Aperto seus dedos nos meus, sentindo um orgasmo forte e
profundo a cada investida que faz contra mim. Gabe fala palavras
sacanas no meu ouvido, totalmente sem freio do jeito que gosto.
Minhas pernas tremem quando o orgasmo vem com força total e
me desmancho no pau do meu homem, clamando seu nome.
Gabriel xinga baixinho e aumenta as investidas querendo gozar.
Empinei mais a bunda e ele aperta as duas bandas com força, me
arrancando um gemido rouco.
— Caralho de boceta viciante!
— Goza dentro de mim. Me enche com a sua porra. — Provoco.
— Chaveirinho…
— Me marca como sua.
— Porra, Kate!
Em mais duas estocadas ele geme trincando os dentes e se
enterrando até o fundo da minha boceta, enquanto tem espasmos
ao gozar. Não tenho medo de que goze dentro, nunca deixei
nenhum homem fazer isso, mas confio no Gabriel de olhos fechados
e sei o quanto é cuidadoso com a saúde.
Também não tenho medo de engravidar, porque sou muito chata
com o remédio, não deixando passar um minuto do horário que
escolhi. Agora pude ver o quanto é gostoso sentir sem nenhum
impedimento.
Ele tirou o pau de dentro de mim e me virou fazendo com que eu
olhasse seu corpo escultural. Lindo de morrer. Gabriel é um pecado
de tão gostoso. Seu peito sobe e desce pelo sexo bruto, deixando o
peitoral ainda mais exposto.
— Como não ficar louco por você, chaveirinho? Como conseguir
me conter, mesmo quando meu dia está uma merda? Tudo o que
desejo é estar contigo, ver seu sorriso e agora… poder estar dentro
de você.
— Não quero que se contenha. Estou bem aqui, te querendo
como nunca quis antes.
Tomamos banho juntos, compartilhando o momento gostoso
sem pensar em mais nada, mas conforme o banho ia acabando,
sentia que Gabriel voltava a ficar sério, pensando em tudo o que
está acontecendo.
— Vem, querido. — Digo saindo do box e começando a me
secar na toalha felpuda, tendo seu olhar doce em minha direção. —
Vou cuidar de você agora.
— Como? — Faz uma cara de confuso.
— Vou secar seus cabelos. Fazer uma massagem para te
relaxar e depois iremos dormir de conchinha sem deixar que nossos
problemas interfiram em nosso sono.
— Vou adorar ser mimado por você.
Capítulo 22

Lembranças do passado

Hoje faz três meses que sou um policial e meus pais e os de Kaio
estão querendo comemorar nossa conquista. — Pela milésima vez.
— Mas é tão bom saber que estão orgulhosos da gente, que
estamos no caminho certo.
Chegamos na delegacia e ao entrar fomos recebidos por
nossos colegas nos aplaudindo. Há uma semana apreendemos uma
carga de drogas de um traficante apelidado como demolidor, mas
seu nome verdadeiro é Sérgio Mascarenhas. Ele se instalou na
cidade há pouco mais de um ano e ontem Kaio e eu o perseguimos,
meu amigo acabou sendo encurralado pelos capangas desse idiota,
mas eu consegui alcançá-lo e o prendi sem dar misericórdia para
bandido.
Enquanto eu o jogava no camburão, me ameaçou dizendo que vai
me matar e também a todos com quem me importo. Eu apenas sorri
para ele, sabendo que será preso e irá apodrecer na cadeia.
Desde aquele dia estamos sendo alvos de parabenizações dos
nossos amigos que iniciaram conosco, nossa primeira missão e foi
um sucesso. Espero ter outras aventuras como essa, porque isso
eleva meu ego a níveis estratosféricos. Até as gatinhas que
entraram conosco já começaram a dar mole. Kaio parece que nunca
viu uma raba, toda hora correndo atrás delas, mas como sou um
puto safado, deixo as bandidas virem atrás do policial gato e
gostoso.
Em meus vinte e um anos, não tenho uma quantidade generosa
de fodas de que possa me vangloriar, tive que largar tudo isso para
focar nos estudos, na minha profissão. Agora é o momento de eu
aproveitar todo o esforço que fiz, beijar na boca, mas sem me
apegar porque tenho muita coisa pra viver ainda e me amarrar não
está na minha lista.
Saio dos pensamentos vendo Kaio estalar os dedos na minha
cara.
— Cara, você está me ouvindo? — Afirmo tentando lembrar de
tudo o que ele disse até agora, mas nada vem à memória. — Está
com uma cara de quem vai matar alguém.
— Pensando na vida. O que estava falando mesmo?
— Delegado Rodrigues está nos chamando na sala dele. Você
fez alguma besteira, além de existir?
— Por que não vai se foder?
— Porque prefiro te irritar.
Soco o braço do meu parceiro imbecil e seguimos para a sala
do delegado nos empurrando feito dois adolescentes no colegial. O
corpo até pode ser gostoso, mas a mentalidade é de um garoto de
treze anos.
— O senhor queria falar com a gente? — Kaio é quem pergunta
e a cara séria do delegado Rodrigues não deixa dúvidas de que
meu amigo fez alguma merda, já que não fui eu.
— Vou ser direto, porque sabem que não gosto de rodeios. O
demolidor conseguiu fugir da prisão nesta madrugada. — Meu
queixo vai ao chão. Merda! — Não preciso dizer que devem tomar
cuidado, não é? Vocês cheiram a policiais recém saídos das fraldas
e eles vão adorar brincar com vocês por semanas antes de matá-
los.
— Precisamos ir atrás deles, chefe. — Digo ainda chocado.
— Estamos trabalhando nisso. — Aponta a caneta que está em
suas mãos em nossa direção e aguardo que continue a falar. — No
momento vocês vão ficar à frente das investigações, quero saber
quem ajudou e o paradeiro desse filho da puta. Tentem não se
meter em encrenca e morrer no processo.
— Sim, senhor. — Falamos juntos.
— Estão dispensados.
Passamos o dia no presídio interrogando funcionários, procurando
pistas de quem o ajudou. Havia um buraco na cela, que foi por onde
ele saiu, alguns metros depois e estava na área aberta onde um
helicóptero ficou a postos para pegá-lo. Está claro que teve ajuda
interna e precisamos descobrir quem é.
Chego na frente da casa de Kaio, que estaciona o carro do pai
dele. Sim, pegamos emprestado para ir trabalhar porque não
ganhamos o suficiente para ter um próprio.
— Até amanhã, seu puto. Estou exausto pra caralho, só quero
agarrar minha cama.
— Eu também. Boa noite, irmão.
Saio do carro e caminho até minha casa que fica na mesma rua. 
Kaio e eu somos amigos de infância e amamos a mesma profissão.
Ao chegar em casa vejo a porta entreaberta e acho estranho já
que meus pais são muito rígidos com esses pequenos detalhes. Os
dois têm a mania de olhar duas vezes se trancaram a casa, se as
janelas estão bem fechadas, ou se não tem torneira aberta e por aí
vai.
Com a convivência, acabei pegando as mesmas manias, e
como sou policial, tenho que ficar sempre em alerta e tentar ao
máximo dificultar a vida de um ladrão.
Entro devagar para não assustá-los e meus olhos recaem sobre
a sala, vendo o quanto está destruída. Pingos de sangue no piso
branco fazem meu coração sair do peito. Que porra aconteceu aqui?
Pego a pistola presa no coldre da cintura e fico em alerta caso
ainda tenha alguém aqui. Caminho lentamente, pisando nos cacos
de vidro que eram da mesa de centro, que estão com manchas de
sangue, me fazendo ficar ainda mais desesperado.
A cozinha está a mesma coisa, uma completa bagunça e sem
sinal dos meus pais. Minha respiração está irregular, me sinto
ansioso e irritado, querendo saber se eles estão bem.
A casa está em completo silêncio, como se não houvesse vida.
Consigo escutar meu coração batendo descompassado no peito,
dolorido por quase quebrar minha caixa torácica.
Mãe, pai, cadê vocês? Por tudo que é mais sagrado, peço que
eles tenham ido jantar fora e nem estejam sabendo o que aconteceu
aqui. Deus queira que seja isso, porque não vou suportar ver eles
machucados por conta de um assalto ou… não, porra! NÃO PODE
SER.
Se esse maldito encostou na minha família, vai se arrepender
de ter nascido, porque vou enfiar uma bala na cabeça dele sem
pensar duas vezes.
Chego no quarto dos meus pais e nem sinal deles, está arrumado
e não foi tocado por seja lá quem estava aqui. Banheiro também do
jeito de sempre, então sigo para meu quarto, sentindo uma coisa
ruim, um aperto no peito que me causa falta de ar. Seguro a
maçaneta da porta e abro vendo o cômodo uma verdadeira
bagunça.
Meus olhos se enchem de lágrimas e o coração se despedaça
vendo meus pais na minha cama. Sem vida. Um choro dolorido, de
pavor, surge pela minha garganta e grito correndo até eles,
segurando seus corpos e chacoalhando para que acordem, que não
me deixem assim.
Grito o mais alto que eu posso, tentando arrancar essa dor da
perda, a dor da culpa. Porque tenho certeza que foi o demolidor, já
que deixou sua mensagem na parede, usando o sangue dos meus
pais.
Caio ao chão ao lado da cama, segurando a mão de meu pai.
Sem conseguir respirar, chorando copiosamente sem poder
enxergar pela quantidade de lágrimas.
Escuto passos correndo pela minha casa, mas não me mexo
porque se for ele vindo terminar o serviço, vai me poupar de sentir
essa dor por mais um minuto, porque não quero sentir. Hoje eu
morri junto com eles, um pedaço de mim não quer voltar a viver.
— Gabriel! — É Kaio quem entra correndo e quando vê meus
pais na cama, arregala os olhos e coloca as duas mãos na cabeça,
completamente assustado em como eles estão. Seus joelhos cedem
assim como aconteceu comigo, porque não tem forças para reagir a
tamanha brutalidade. — Meu Deus…
Ele não diz mais nada, apenas se aproxima e me abraça,
chorando junto comigo. Isso não pode estar acontecendo, eles não
podem ter morrido de forma tão cruel e desumana.
Sinto as mãos de Kaio me envolver, me apertar tentando passar
conforto, mas tudo o que quero agora é morrer no lugar deles, dar
minha vida em troca, sabendo que isso é culpa minha, apenas
minha.
— Eu sinto muito, irmão.
— Eu juro por tudo que é mais sagrado, que vou matá-lo. — As
palavras saem com ódio pela minha boca. — Vou arrancar o
coração dele do peito como acaba de fazer com o meu.

Acordo assustado e encharcado de suor, e me sento na cama


tremendo e com o peito doendo por sonhar com aquele dia horrível.
Parece que o passado voltou para me atormentar.
Kate está apavorada me observando. Suas mãos seguram as
minhas e levam até a boca dando um beijo casto. Fecho os olhos
tentando voltar ao normal, mas a dor da saudade bateu forte e não
consigo segurar as lágrimas.
Minha garota vem para trás de mim e puxa meu corpo para que
eu fique deitado de costas em cima dela. Seus braços me envolvem
e coloco a cabeça em seu peito sentindo seu coração acelerado.
— Foi só um pesadelo. — Beija o topo da minha cabeça.
Choro como uma criança pequena que acaba de perder os
pais, mas isso aconteceu há dezessete anos e parece que nunca
cura. Continuo com o buraco no peito, tentando a cada maldito dia
ser uma pessoa melhor. Mas o inimigo retornou para mostrar que
até uma pequena felicidade sou impedido de ter.
— Eu não estou bem, Kate…
— Não, querido. — Sussurra. Sua mão faz um carinho gostoso
no meu peito me dando o conforto que estou precisando. — Mas vai
ficar, essa agonia vai passar, Gabe. Estou aqui e não vou a lugar
algum.
Capítulo 23

A noite foi péssima, daquelas que a gente torce para que o dia
amanheça de uma vez, com a madrugada levando toda a
negatividade junto com ela. Funcionou um pouco já que Gabe
recebeu uma ligação do delegado dizendo para tirar o dia de folga,
ele nem reclamou, está mesmo precisando se afastar pelo menos
por um dia.
Resolvemos ir juntos ver como está o Kaio, meu irmão enfiado
numa cama é um alvo fácil para esse doente que resolveu brincar
com algo sério. Gabriel está preocupado com o melhor amigo
naquela situação e quis ir para aliviar a tensão que está sobre seus
ombros, achando que isso é culpa dele.
Gabe não tem culpa da morte dos pais, nem das ameaças que
recebemos atualmente, é uma vítima na mão de um sociopata. Mas
está difícil colocar isso na cabeça dele, já que vive repetindo que os
pais estão mortos por conta do trabalho que escolheu.
Sinto uma dor no coração vendo ele tão pra baixo, é como se a
luz dele estivesse fraca, se apagando aos poucos enquanto
relembra a cena de ver os pais naquele estado horrendo.
Resolvi fazer algo para animar meu homem e se ele sorrir por
cinco segundos, terá valido a pena. Antes de sair de casa me veio
isso na cabeça, poder relembrar músicas dos anos 2000 que ele
adorava, eu mal tinha saído das fraldas então fui conhecer anos
depois, mas sou viciada. Pego o pendrive na bolsa e coloco no
painel escolhendo a primeira música.
Musa do Verão, do Felipe Dylon começa a tocar e virei o rosto
para ele vendo sua reação. Um sorriso pequeno surge em seus
lábios, seus olhos se contraem quase se fechando. Aumento o
volume antes de começar a letra e ele me encara sabendo qual é.

Você, sereia tropical


Vestida de areia e sal
Faz brilhar, reflete o mar azul
No teu corpo quase nu

No swing da cor
Dançando nas ondas
O teu mel, teu sabor
Dá água na boca

— Vai, Gabriel. Você sabe essa…


— É a musa do verão. Calor no coração, o fogo do teu beijo traz
alucinação. — Ele canta baixinho e o cutuco para que se divirta.
Faço minha mão de microfone e ele ri voltando a cantar junto
comigo. — Musa do verão, ardente tentação. Quarenta graus de
sonho, de desejo e paixão.
Bato palmas gargalhando e começo a dançar no ritmo da música
ficando bem próxima. Nossos olhares se encontram por alguns
segundos, antes dele desviar para prestar atenção na estrada.
Mesmo que tenha sido por pouco tempo, foi bom ver esse sorriso
lindo.
— É desse Gabriel que eu gosto.
— Eu sei, você não merece conviver com essa versão
depressiva. — Bufa. — Desculpa.
— Está me pedindo desculpas por ser humano? Por sentir falta
dos seus pais e por odiar o homem que está te fazendo reviver
isso? — Ele me encara com o semblante triste. — Porque se for
isso, Gabe, então não precisa pedir desculpas para ninguém. 
Ele segura minha mão esquerda e leva até a boca dando um
beijo casto, voltando a prestar atenção na rua.
— Obrigado por ser minha parceira. Por me dar apoio e ser tão
maravilhosa, chaveirinho… se não fosse por você, eu estaria pior,
acredite.
A música acaba e começa Equalize, da Pitty, fazendo Gabe
soltar uma lufada de ar que poderia ser uma risada.
O caminho até a casa de Kaio não demorou, já que ele mora no
mesmo bairro dos meus pais. Estaciona em frente a casa e
descemos sendo acompanhados por uma Safira louca para rever
Zeus, o cachorro do meu irmão.
Como o Gabriel havia comentado, tem uma viatura em frente a
casa de Kaio para o proteger de qualquer ameaça. Deve ser um
saco ficar parado o dia todo dentro do carro, me deu canseira só de
imaginar. Como os dois vão ao banheiro se não podem sair daqui?
Isso é uma coisa que agora não irá sair da minha cabeça até
descobrir.
Entrelaçamos nossas mãos e ele cumprimenta os colegas de
trabalho. Aceno para os dois, um loiro e uma mulher ruiva, os dois
com coletes a prova de bala e a arma no coldre mostrando que
estão bem preparados.
Abrimos o portão menor, deixamos a cadela afoita passar
primeiro porque seríamos pisoteados pela sua ansiedade. Quando
ela está longe do trabalho, Safira se torna uma cadela comum e
fofa, corre sem parar e adora brincar. Gabe sabe trabalhar os dois
lados dela, e acho isso o máximo porque ele não a quer apenas
como uma cadela policial, ele a ama e cuida para que tenha
momentos de lazer.
Ele dá três batidas na porta e esperamos pacientemente a
enfermeira vir abrir pra gente. Não demora para uma ruiva bonita
aparecer, vestindo calça jeans e uma blusa branca mais justa.
— Oi, como vai Lisa?
— Oi Kate. Vou bem, o paciente está deitado e reclamando
como sempre. — Fala quase sussurrando para que ele não escute.
— Estão prontos para ver o rabugento?
— Nasci aturando esse idoso, o que é mais um dia? — Digo
fazendo ela rir.
Ela dá passagem e Gabriel entra me puxando pela mão. A casa
do Kaio está arrumada como sempre, do jeitinho que o velhinho
gosta.
O quarto dele fica no corredor, ao chegar na porta vejo Safira e
Zeus rolando no chão se divertindo e Kaio deitado na cama com
uma cara de poucos amigos.
— Oi idoso. — Gabe e eu entramos juntos e Kaio nos observa
de um jeito estranho. — Como está a patinha?
— Oi mucilon. — Mostro a língua para ele. — Tá uma merda,
ainda mais tendo uma enfermeira tão… inexperiente.
Ele fala a última palavra com deboche sabendo que ela está vindo
aqui. O safado deve irritar a pobre Lisa até ela colocar calmante na
veia dele, com toda certeza esses dois devem se matar aqui
sozinhos. Aquela vez que vim aqui, só faltou facas voarem, porque o
resto eles fizeram.
— Porque chegaram juntos? — Ele pergunta, me fazendo ficar
sem reação. — Não era pra você estar na delegacia, Gabriel? E
você na cafeteria, Kate?
— Ah, é… — merda, como explicar isso agora? Gabe aperta
minha mão enquanto observa Kaio. — Nós… é…
— Kate veio ver seus pais e eu estava lá tomando café, sabe
como é, não resisto a comida do seu pai. — Isso é verdade, mas
sabemos que não foi isso que aconteceu. — Decidimos vir com um
carro só, já que iríamos vir te ver.
— Hmmm… — meu Deus, ele consegue sentir a mentira de
longe? Porque está fazendo uma cara de investigador que faz meu
corpo todo tremer. — E porque estão de mãos dadas desde que
chegaram?
Olho para nossas mãos unidas, nossos braços colados e me
afasto às pressas de Gabriel, mas sem deixar ainda mais suspeito
do que já está. Ótimo, seus dois burros, não querem contar e
parecem um casal chegando para visitar um parente abelhudo.
Me aproximo e subo na cama ficando ao lado dele, dou um beijo
estalado na bochecha e ele solta um sorrisinho besta de quem
gostou do carinho. Gabe também se aproxima e mais falso que nota
de três reais dá um abraço rápido em Kaio.
Ele me encara por cima do ombro e solta uma piscadela atrevida
antes que Kaio veja, safado.
— Estou com medo, irmão. — Respondo sua pergunta. — Medo
de que algo aconteça com você, com Gabe ou com nossos pais.
— Ninguém vai tocar em um fio de cabelo seu. Eu posso estar
em uma cama, mas aquele cara ali — aponta para o Gabriel — vai
acabar com todos eles, maninha.
— Tenho medo de como ele vai ficar depois disso tudo acabar.
— Olho para Gabe que já puxou o pufe no canto do quarto e está
bem relaxado. Seu semblante é indecifrável. Sei que ele quer matar
quem fez isso, mas essa atitude pode desencadear algo mais sério
na vida dele, algo irreversível.
— Como está a perna? — Gabriel muda de assunto.
— Dói pra caralho, quando Lisa limpa o machucado poderia
dizer que vejo estrelas. Mas a medicação ajuda a aliviar um pouco.
— Logo você vai estar na ativa de novo, preciso do meu parceiro
para ir atrás desse filho da puta.
— Como está a investigação? — Kaio agora está sério olhando
para o amigo.
— Não sei, o delegado me fez ficar em casa hoje então não
posso saber de nada por enquanto, mas amanhã vou para
delegacia e só saio de lá expulso.
— Pelo menos você puxou a ficha daquele tal Théo e sabe que
ele não é suspeito, né?
Demoro para entender do que estão falando, mas ao ver a cara
de cretino do Gabriel entendo perfeitamente o que ele fez. Não
acredito nisso, não depois de deixar claro que escolhi ficar com ele
e não com Théo.
— Sério, Gabriel? — Saio da cama, revoltada com esse idiota.
— Chaveirinho… — consegue me interceptar antes que eu saia
do quarto e segura meus braços com firmeza para que eu não me
solte. — Eu precisava fazer isso.
— Qual o seu problema, porra!?
— Não podia ficar parado vendo qualquer um entrar na sua vida,
disputar comigo seu… — Ele lembra que está na frente de Kaio e
fecha a boca antes de dizer o que queria. — Eu descobri que ele
usa nome falso, Kate, fui obrigado a interrogá-lo e ter certeza que
não era um louco querendo algo com você.
Que história é essa de nome falso?
— E não podia simplesmente me contar? Depois de tudo, ainda
consegue esconder coisas de mim, estou decepcionada.
Posso ver tristeza em seu olhar, mas não vou passar a mão em
sua cabeça mais uma vez. Porque Gabriel em cada pretendente faz
esse tipo de coisa sendo apoiado por meu pai e Kaio. Estou farta
dessa atitude, de ter ciúmes por nada.
— Me desculpe se quero te proteger e garantir que não vai
dividir sua vida com um psicopata, Katherine! Pode não gostar, mas
vou continuar fazendo até você entender a quem pertence de
verdade.
— E quem seria? — Kaio entra na conversa e o encarei nervosa.
Está vidrado vendo a discussão e como Gabriel e eu estamos
colados. Merda! — A quem a Kate pertence?
— A ninguém… que eu saiba. — Como é fingido, vamos dar um
oscar de melhor ator para esse abusado. — É só proteção, porra,
você também faz isso.
— Eu sei, por isso te apoio. Mas vocês dois estão agindo
estranho.
— Talvez seja porque um desgraçado resolveu me atormentar
com o passado! Porque Kate, você e seus pais correm perigo e a
culpa vai ser minha. DE NOVO, PORRA!
— Calma, cara. — Ele diz, quase se sentando na cama e geme
sentindo dor. — Isso é uma grande merda, mas vamos pegar esse
maldito e fazer ele entender que passado a gente deixa esquecido.
Vai se arrepender de ter mexido com você. — Kaio observa nós dois
e me afasto de Gabriel ainda puta com ele, vamos ter uma bela
conversa quando sairmos daqui, ele que me aguarde. — Kate, vem
cá que agora você precisa ouvir um sermão do irmão mais velho.
— Nem a pau! Vocês são dois babacas que gostam de cuidar da
minha vida. EU FICO COM QUEM EU QUISER! DEU PRA
ENTENDER?
— E pode ficar com quem quiser, mas que seja uma pessoa boa
e que não vai te fazer nenhum mal. Somos sua família e queremos
apenas o seu bem. Você ser feliz é nosso propósito ao puxar a ficha
de cada um deles. — Solto uma risada amarga, indignada que eles
arrumem desculpa para fazer isso. — Pode não gostar dos nossos
meios, mas já te livramos de muitos idiotas que poderiam arruinar
sua vida.
— E mais uma vez eu repito, eu preciso quebrar minha cara em
relacionamentos, nada é perfeito e sempre vou arrumar embustes,
Kaio, eu tenho dedo podre, esqueceu? — Olho para Gabriel e o
olhar que me lança deixa claro que não gostou dessa última parte.
— Comecem a cuidar da vida de vocês e esqueçam da minha. E
você Gabriel, está proibido de fazer isso de novo, me ouviu?
— Gabe só quis te proteger, Katherine e pelo visto estava certo
já que aquele cara é problema dos grandes. Depois quando você se
acalmar escute o que Gabriel descobriu.
— Chaveirinho… vem aqui. — O idiota me chama, mas nem me
mexo. Ele ao perceber que não vou, pisa fundo e vem até mim, me
segurando pelo rosto e me fazendo encará-lo — Você é minha
família, amo você e não vou deixar nenhum desgraçado estragar
sua vida, nem que fique brava comigo por conta disso. Você é
importante para mim,, mais do que pode imaginar e quero que a
gente…
Ele sorri e engole as palavras, mas sabe que aqui não pode falar
essas coisas. Meu coração está na boca, tentando absorver o
turbilhão de informações que obtive nesses minutos.
Gabe encarou meus lábios e minha respiração fica irregular
querendo beijá-lo, e também socá-lo por ser um possessivo de
merda. Tento me afastar e ele me abraça apertado me fazendo
sentir seu calor, o coração batendo rápido no peito como se tivesse
corrido uma maratona.
— Me desculpe por não ter contado, mas aconteceu de eu
receber aquela maldita ligação no instante que estava interrogando
ele. Acabei tendo problemas maiores, chaveirinho e apenas
esqueci… jamais esconderia isso de você.
— Promete não fazer mais isso?
— Não preciso puxar ficha de nenhum filho da puta que queira
ter algo com você. — Sussurra no meu ouvido. — Porque é minha.
— Ele volta a ajeitar a postura e encara Kaio que está atento na
discussão. — Prometo não fazer mais isso.
O abusado fala para meu irmão ouvir e minha vontade é de
estapear a cara desse cretino.
— Agora que as meninas fizeram as pazes. — Ele diz com
humor. — Vamos encher a cara!
— A única coisa com que você vai encher essa boca é de
remédios. — Lisa entra no quarto carregando uma bandeja com um
copo de água e alguns comprimidos.
— Estava demorando pra você vir cortar meu barato, né
princesinha?
PRINCESINHA?
Quando que a relação deles mudou que eu não percebi? Gabriel
está tão chocado quanto eu pelo apelido, mas meu irmão
simplesmente nem se importou em falar isso na nossa frente.
Gabe continua abraçado comigo, mas agora estamos de lado e
ele me segurando pela cintura, me fazendo sentir seu calor e o
cheiro delicioso do seu perfume. 
— É a única coisa que me faz adorar cuidar de você, velho
rabugento. — Ela o retruca enfiando os remédios na mão dele e
desafiando a não tomar.
Agora percebo que os apelidos são uma forma de provocação.
Esses dois ainda vão se pegar, isso se já não tiveram um rolo e
descontam em troca de farpas.
Capítulo 24

Kate ainda está puta comigo, mesmo eu tentando amenizar a


situação. Mas se ponham no meu lugar, depois da noite incrível que
tivemos, vi aquele cara esperando por ela no portão do Josh como
um leão rodeando sua presa.
Nem a pau ficaria sem olhar a ficha dele, e ela vai ficar puta
comigo por um tempo, mas entende o motivo disso. É mais do que
ciúmes e possessividade, eu quero o bem  dela, e como policial
tenho tudo isso em mãos para averiguar, prefiro fazer isso e garantir
que esteja bem, do que ver ela sofrer ou apanhar de um desgraçado
que claramente estaria morto pelas minhas mãos no dia seguinte.
Depois que voltamos da casa de Kaio, ainda ficamos juntos,
assistimos filmes agarrados e até tivemos beijos e alguns amassos
porque é difícil ficar perto um do outro sem ter esse tipo de conexão.
Depois que provei a chaveirinho, não consegui me contentar em ter
nossa antiga relação, é como um vício e estou mais do que disposto
a me matar lentamente nessa perdição de mulher.
Tive mais uma noite com pesadelos, Kate vinha toda
preocupada e a única coisa que conseguia fazer era chorar nos
braços da minha mulher, porque não estou bem. Não consigo mais
fingir que essa merda não me afeta. De tudo o que já fiz na minha
vida, essa sem dúvidas é a única coisa que não posso reverter e me
dói pra caralho saber que por conta do meu trabalho, perdi meus
pais. Da forma mais brutal possível, inimaginável, por causa de um
psicopata que não teve misericórdia. Eu também não tive quando o
encontrei e acabei com sua vida.
Agora tem outra pessoa querendo desenterrar o passado e eu
não estava preparado para isso. Foi uma surpresa ouvir aquela
frase e fingir naturalidade para Carlos e Théo. Saber que minha
família mais uma vez corre risco de vida e eu me sentindo impotente
sem ter nenhuma informação desse desgraçado.
Hoje faz três dias que o filho da puta não diz nada, não entra
em contato para fazer mais uma ameaça. O delegado está
rastreando todas as minhas ligações e vamos conseguir descobrir
onde esse merda está.
Kate precisava ir para a cafeteria nesses dias, então deixei
Carlos encarregado de protegê-la, mesmo sabendo que Josh estará
com ela o tempo todo, é melhor ter um policial treinado para cuidar
dela. Mesmo a morena arretada dizendo que não precisava porque
a cafeteria estaria trancada com ela e Josh dentro. — Coisa que me
causou um pouco de ciúmes, mas não demonstrei. — Ela me beijou
deliciosamente e prometeu me esperar para que a levasse para
casa. A deixei lá com o coração na mão, mas precisava vir para a
delegacia.
O delegado Rodrigues colocou essa situação como prioridade
porque sabe do que houve naquela noite, Kaio ligou para ele
assustado e um tempo depois ele chegou na minha casa, ficando
chocado assim como eu, me dando o apoio que jamais pude
agradecer como deveria. Sem ele para me reerguer e mostrar que
acima de tudo, meus pais iriam querer que eu continuasse nesse
trabalho, que eram orgulhosos de mim, eu acho que teria desistido.
Ele me deu tempo, me deixou passar pelo luto e quando me
senti pronto pude retornar ao trabalho e descontar toda a ruindade
que tinha no peito, prendendo pessoas ruins e colocando na cadeia.
Matando se tivesse que fazer e com isso fui empurrando minha vida
com a barriga. Mas nessa semana pude sentir toda aquela dor de
novo, ser jogado para o fundo do poço onde tenho muitas mortes
nas minhas costas, querendo acertar as contas com o filho da puta
que destruiu a vida deles.
É muito fodido ter a mente destruída por uma tragédia, onde você
se culpa a cada maldito dia da sua vida. Meus pais eram as pessoas
mais importantes da minha vida, tão carinhosos e felizes. Sempre
achei que encontraria uma mulher para viver a vida, como meus
pais eram.
Aí vem Kate, com aquele jeito doido e com parafusos a menos,
que claramente combina comigo. A intensidade e o desejo absurdo
que sinto por ela é algo surreal, porque nunca a tinha visto com
esses olhos. De homem. Eu não consigo me ver sem a chaveirinho
e estou muito fodido daqui pra frente, porque disfarçar na frente de
Kaio dias atrás foi insuportável. Ainda mais tendo ela tão puta
comigo por conta daquele imbecil do Théo.
Ela é meu porto seguro, a minha pessoa e farei o que for
preciso para protegê-la de qualquer um que queira a fazer mal.
Tudo o que quero é pegar esse cara e acabar com isso, poder
respirar sem ter a tensão nos ombros, a impotência que me faz
sentir um grande bosta.
Tic-tac
Tic-tac
O relógio me avisa que a cada segundo eu enlouqueço mais.
Esse maldito não entra mais em contato, por mensagem, nem a
porra de uma carta, nada. Estou nessa delegacia desde às oito da
manhã para que possam rastrear a ligação, mas está silencioso no
outro lado da linha.
— Quero todos em alerta para uma ligação, nenhuma linha é
mais importante do que essa. — Delegado Rodrigues continua seu
discurso. Estamos em reunião há mais de uma hora bolando
estratégias e devo dizer que algumas são boas, mas não temos
garantias de que vá funcionar. Por não conhecer o inimigo, não ter
seu perfil. — Nem se o cachorro da rainha da Inglaterra for
atropelado e quiser nossos serviços para achar o culpado. Fui
claro?
— Sim, senhor. — Dizemos em uníssono.
— A família está sendo protegida por policiais de confiança,
Gabriel é um de nós e precisa do nosso apoio. — É visível o quanto
ele está cansado, com olheiras por não dormir à noite e se
sobrecarregando para me ajudar. — Quero vocês em alerta para
qualquer coisa. Estão dispensados da reunião, mas qualquer coisa
quero que me reportem imediatamente.
Todos saem da sala e coloco as mãos no rosto tentando melhorar
a cara que não está diferente da dele. Estou exausto fisicamente e
psicologicamente e mesmo que meu corpo grite, ainda dou graças a
Deus por ele me deixar vir trabalhar e não me tirar do caso, porque
eu iria enlouquecer em casa.
— Como você está?
— Precisando de férias. — Respondo e ele solta um riso. —
Pegar minha mulher e ficar dois meses longe de toda essa merda.
Poder ser eu de novo, porque não me reconheço mais. — Olho para
ele sentindo um turbilhão de sentimentos, e nenhum deles é bom e
saudável. — Estou perdendo minha essência, delegado, a única
coisa que penso é em acabar com a vida desse merda. Destroça-lo
por apenas pensar em fazer mal a alguém que amo. De novo. Como
se uma vez não tivesse sido o suficiente pra me jogar na lama.
— Eu sinto muito, filho, vamos encontrá-lo.
— Como encontrar alguém que claramente não existe? Que não
fazemos ideia de quem seja. Ele é um nada que está fodendo com
minha cabeça, acho que essa sempre foi a intenção desse maldito,
apenas brincar comigo.
— Com licença, delegado Rodrigues. — Douglas, que é um
policial encarregado de puxar a ficha dos presos, de obter
informações sigilosas acaba de entrar com um papel na mão. — O
senhor disse que tudo o que for relacionado a Gabriel precisa ser
relatado imediatamente, chegou essa carta há um minuto e já temos
o entregador sob custódia.
— Me dê aqui. — Falo rápido sentindo meu coração na boca,
não tem notícia boa aqui, eu sinto isso.
Ele me entrega e o delegado Rodrigues que estava ao meu lado
apenas inclina a cabeça querendo saber do que se trata. Rasgo o
lacre sem esforço e puxo o conteúdo. Ao ver o que tinha dentro,
meus olhos se arregalaram, não posso acreditar.
— NÃO! NÃO! NÃO! — Começo a tremer, pouco me fodendo
para o que pensam de mim. — DESGRAÇADO!
— Interroguem esse entregador imediatamente! — O delegado
ordena.
— Sim senhor.
Douglas sai da sala apressado e não consigo me mexer, raiva,
dor, desespero, a merda da impotência de novo me invadindo. Mas
tem uma coisa que esse maldito não sabe a meu respeito, eu fiz
uma promessa quando meus pais morreram, que não deixaria nada
acontecer de novo com quem amo, e ele pegou a pessoa errada.
— Eu vou matá-lo.
— A gente não sabe quem é, Gabriel, se acalma.
— Carlos estava cuidando dela, eu já vinha desconfiando dele
há algum tempo, agora não tenho dúvidas.
— Isso é uma acusação muito grave, não fale sem ter certeza.
— Quem chegou do nada, me escolhendo desde o início,
fazendo o senhor me obrigar a ficar com ele? Quem deu em cima da
Kate no primeiro dia que a viu? — Trinco os dentes, louco para
socar esse infeliz. — Quem tem visto minha rotina e as pessoas
com quem me importo? Quem tem acesso a minha vida sem ter
esforço, delegado?
Pelo vidro posso ver esse desgraçado entrando na delegacia na
maior cara de pau, cumprimentando os outros. Disfarçando para
que não seja um suspeito, mas sabemos onde ele deveria estar. Na
cafeteria cuidando da minha mulher, a qual está amarrada em uma
cadeira em qualquer lugar dessa cidade. 
Me levanto empurrando a cadeira para trás e o delegado tenta
me segurar, mas não consegue. O ódio me domina, porque jurei a
ela que ninguém a machucaria, tocaria em um fio de cabelo e
quebrei minha maldita promessa.
— Gabriel… vim assim que me chamo…
Acerto um soco em seu rosto e ele cai ao chão, subo em cima
dele agarrando-o pela farda e enchendo seu rosto de soco, ele não
tem nem tempo de reagir porque seu rosto já começa a sangrar
pelos cortes. Sinto várias mãos me segurarem e grito com ódio
desse maldito.
— Eu vou te matar. — Tento me desvencilhar, enquanto vejo
alguns policiais o ajudando a levantar. — Me solta, porra!
— Soltem ele. — O delegado surge me encarando possesso. —
Ficou louco? Quer que eu te coloque em uma cela pra esfriar a
cabeça?
— Não vou ficar parado vendo ele machucar a minha mulher!
— Do que você está falando, seu idiota. — Carlos resmunga,
sentindo dor. — Você me chamou aqui.
— Vai continuar mentindo, caralho? Quer apanhar de novo?
— Você mandou aquele tal Théo buscar a Kate. — Paraliso. —
Ele disse que você pediu que ele fosse buscá-la para não vir de
viatura, pra não chamar a atenção.
Capítulo 25

— Eu falaria diretamente pra você, seu imbecil do caralho!


Não é possível que esse cara acreditou em uma merda dessa.
Porque caralhos mandaria Kate vir com um civil e não com um
policial?
— Ele me mostrou a mensagem que você mandou. Sua foto
estava lá, ainda dizia que era pra eu voltar para a delegacia porque
acharam provas de quem era o cara e precisavam de mim.
— MERDA!
— Eu acreditei, Gabriel. — Se justifica. — Nós vimos a ficha dele
naquele dia e…
— Seu incompetente de merda. — Me aproximo dele e sou
agarrado novamente. — Seu único trabalho era protegê-la, agora
ela está amarrada e sofrendo por sua causa. Eu vou acabar com
você, se algo acontecer com a minha mulher, está me ouvindo
porra!?
— Levem Gabriel para minha sala e Carlos para a sala de
interrogação.
— Mas senhor…
— É UMA ORDEM!
Douglas que trabalha comigo há anos é quem tenta me puxar,
olho mais uma vez para Carlos, mostrando que nossa conversa
ainda não acabou e vou arrebentar sua cara no soco se for preciso,
mas vai me contar a verdade. Até parece que ele seria idiota de
entregar uma protegida para um civil como se aquele médico
pudesse protegê-la.
Eles estão juntos nessa, um seduzindo Kate e outro obtendo
informações enquanto trabalha comigo, mas vou pegar esses dois
filhos da puta e enfiar uma bala na cabeça.
— Está mais calmo? — O delegado entra na sala dele depois de
interrogar Carlos. Nem me dou ao trabalho de respondê-lo, estou
possesso por estar aqui parado enquanto minha chaveirinho corre
risco de vida. — Carlos está falando a verdade, fizemos o teste e as
três vezes deu o mesmo resultado.
— Que se foda esse teste. — Cuspo as palavras. — Cada
segundo aqui aumenta o risco de Kate estar sendo desmembrada
como meus pais foram, acha que vou ficar parado te vendo falhar
como delegado dessa merda? Estou pouco me fodendo se estou
passando dos limites, você estava lá, caralho! Viu do que eles são
capazes.
— Eu vou fingir que nada disso saiu da sua boca, porque sei que
está sofrendo. Mas se me insultar de novo, te enfio na cela mais
escura, garoto.     
Sinto meu celular vibrar no bolso e pego vendo uma mensagem
no whatsapp no número da minha garota. Abro e vejo mais uma foto
de Kate, meus olhos enchem de lágrimas a vendo tão apavorada.

Venha sozinho ou nossa chaveirinho irá ficar em


vários pedacinhos. Talvez a deixe pendurada em
algumas argolas para fazer jus ao apelido.
Te vejo em dez minutos.

— Desculpe, delegado. — Limpo meus olhos, mostrando estar


no meu melhor juízo. Mas só Deus sabe o quanto me sinto um
merda. — Estou estressado, posso tirar meia hora para espairecer?
— Claro… vou mandar os homens obterem todas as
informações do suspeito, Carlos irá ajudar nas investigações já que
estava com você no dia. Não quero ver você socando os colegas,
me ouviu Gabriel?
— Sim, senhor.
Antes que eu saia da sala, o notebook do delegado começa a
apitar o alarme de invasão que todos os policiais têm disponíveis
dentro de casa. Ele olha para qual casa está sendo invadida e me
encara apreensivo.
— Kaio acionou o alarme. — Ele diz angustiado, sabendo que a
filha está lá. — Quero todos os homens lá imediatamente.
— Senhor, preciso resolver algo mais sério agora, não vou poder
ajudar Kaio.
— Porque caralhos não vai ajudá-lo?
— Porque Kate foi sequestrada e o inimigo acaba de me mandar
uma mensagem.
Mostro a foto e a mensagem que Théo acaba de me enviar e ele
soca a mesa irritado, fica pensativo por alguns segundos e presto
atenção no que vai querer fazer.
— Sei que você dá conta dele sozinho Gabriel, mas leve alguns
homens com você. — Nem a pau, quando ele perceber já estou lá
socando a cara do infeliz. — Enquanto isso, irei pessoalmente até a
casa de Kaio.
— Sim senhor.
É hora de matar aquele verme que sequestrou minha mulher. Irá
aprender da pior forma o que acontece se mexer com quem amo.
Não vou deixar isso acontecer de novo, nem que eu morra no
processo.
Espero que Kaio e Lisa estejam bem, mas minha chaveirinho é
prioridade nesse momento e não vou ficar em paz até ver aquele
cara sem vida.
Théo passou o endereço alguns minutos depois, enquanto eu
dirigia feito louco pela cidade com armas e munições extras, não
quis vir com a viatura para não chamar atenção dos meus amigos.
Ao puxar a localização pude ver que ficava perto de onde estava e
não demorou para que eu parasse em frente a uma casa
abandonada.
Faz dezessete anos que não piso aqui.
Esse lugar me traz lembranças da qual não quero esquecer,
porque eu o fiz pagar por ter matado meus pais, eu os vinguei e não
me arrependo de nada. Nesta casa foi onde matei o demolidor, o
homem que assassinou meus pais a sangue frio. Um psicopata que
já foi tarde.
Saio do carro carregando arma e munição extra. A frieza com
que ando é algo surreal, como se nada mais pudesse piorar, já
cheguei no meu limite e nada do que acontecer aqui, vai me impedir
de acabar com o meu passado de uma vez por todas.
O portão enferrujado faz um barulho irritante enquanto passo
entre o vão. O terreno está tomado por mato alto e entulhos. Parece
que estão ali há alguns meses, mas não me dou ao trabalho de
prestar atenção nisso.
Como está anoitecendo, preciso agir rápido antes que ele consiga
fugir. Entro na casa abandonada, caindo aos pedaços e com um
cheiro horrível, como se tivesse um bicho morto aqui.
Como não tem iluminação, forço a vista para observar cada
canto do imóvel. Paredes sujas e pichadas, móveis destruídos pelo
tempo e até um colchão velho que mostra que alguém deve ter
ficado aqui por um tempo.
Um estalo como se alguém tivesse pisado em algo e feito um
eco me chama a atenção mais à frente e aponto a arma ficando em
alerta. Vou olhando todos os cômodos que agora estão vazios,
enquanto meu foco é o maldito barulho que cada vez está mais alto,
é como se alguém estivesse pisando bem devagar na terra, mas
ainda é possível escutar, por conta do silêncio.
Ao virar no corredor que dá acesso a outra parte da casa,
aparece um sujeito vestindo roupas pretas que segura minha arma
antes que eu atire. Não fui pego de surpresa porque sabia que tinha
alguém ali. Ainda segurando a arma, dou uma cotovelada na barriga
dele para que solte-a e ele geme tentando manter o controle.
Pressiono ele na parede, segurando o objeto com mais força e
fazendo ele me acompanhar enquanto abaixo a mão. Conforme ele
abaixou, deixando seu rosto próximo do meu, dou uma cabeçada o
deixando tonto momentâneamente. Puxo a mão rapidamente e miro
nele atirando nas duas pernas, não sei se é algum capanga de Théo
ou apenas um idiota, mas será preso e interrogado.
Ele cai ao chão gritando de dor e segurando as pernas. Ele não
vai sair daqui nem rastejando, porque acertei no fêmur.
Agora que Théo sabe que cheguei, não vou fazer uma entrada
calculada, eu apenas sei onde ele vai estar e vou andando até lá
averiguando cada cômodo para não ser surpreendido por trás.
Chego na cozinha onde matei o maldito e aqui está Théo,
apontando uma arma para a cabeça da minha mulher. Ela está
chorando, os cabelos revoltos pelo rosto como se ele tivesse
puxado, vou garantir que esse maldito saia daqui sem respirar por
tocar nela.
— Meu amor… vai ficar tudo bem.
— Eu acho que não. — Ele retruca com um humor que me irrita.
— Estava aqui tendo uma conversa animada com a nossa
chaveirinho. Ela é bem afrontosa, mesmo com uma arma na
cabeça, não é docinho?
Ele cheira o pescoço dela e Kate se remexe querendo o afastar.
Minha arma está apontada para a cabeça dele, mas não posso fazer
nada enquanto a mão dele estiver no gatilho.
— O que você quer? Como sabe do meu passado?
— Acho que devemos voltar dezessete anos, para você recordar.

Lembrança de dezessete anos atrás

Ainda estou sem acreditar que eles se foram, levando um


pedaço de mim e deixando-me com um buraco no lugar do coração.
Me dói saber que sofreram muito até a vida apagar de seus olhos,
foi a coisa mais difícil que tive que presenciar na vida.
Não consigo comer, dormir, ser feliz, porque perdi tudo. Se
aquele maldito tivesse acertado uma bala na minha cabeça ou me
torturado, doeria menos.
Minha vida está resumida a encontrá-lo e garantir que não
respire mais. Estou pouco me fodendo no que irei me tornar depois
disso, mas vou vingar a morte dos meus pais, nem que seja a última
coisa que faça.
O velório aconteceu há uma semana e estou sem chão.
Entrar naquela casa tem sido um desafio que estou disposto a
perder, tenho dormido na casa dos pais de Kaio e eles têm sido
muito pacientes e carinhosos. Nós já tínhamos amizade desde que
me entendo por gente e agora pude ver o quanto se importam
comigo, me querem bem.
Sempre fui um cara ausente no quesito religião, eu dizia que
era um cara sem tempo pra isso e focava apenas no trabalho. No
entanto, perdi as contas de quantas vezes supliquei a Deus para
que volte três dias atrás, me dê eles de volta, me faça parar de
sentir, de sentir dor.
A única coisa que me mantém com a cabeça no lugar é um
serzinho pequeno que claramente é apegada a mim, mostrando o
único dentinho nessa boca banguela. Kate tem apenas um ano e já
se tornou meu mundo. Se soubesse que por conta dela eu não
afundei na escuridão. Eu a tenho como uma irmã, a vi nascer e
nesse um ano, nossa conexão foi surreal. Eu vivo na casa do Kaio e
ela me ama.
Posso dizer que tem preferência por mim, e não pelo babaca do
meu melhor amigo, porque sabemos que sou mais divertido. Os
primeiros passos dela aconteceram ontem enquanto eu estava na
sala perdido em meus pensamentos. Dona Amélia pediu para que
eu ficasse de olho na bagunceira e não desgrudei da pequena um
segundo sequer. Em um certo momento, ela ficou em pé e começou
a fazer barulhinhos engraçados como se estivesse rindo, e começou
a andar em minha direção.
Dona Amélia na hora chegou e ficou de boca aberta quando
aquele serzinho minúsculo chegou até mim e me abraçou. Ela disse
que Kate sentiu que eu não estava bem e aquele pequeno gesto me
fez renovar um pouco a energia que tinha perdido.
Kate se tornou meu mundo, minha chaveirinho e vou protegê-la
com minha vida. Não vão tocar nessa família como ousaram fazer
com a minha. Eu o mato sem pensar duas vezes, e estou indo atrás
dele para acertar as contas, para que eu possa voltar a sentir
alguma coisa que não seja ódio.
Tirei o dia para obter informações pela cidade, conversando
com traficantes que ainda não me conhecem e poderiam me dar o
paradeiro daquele maldito, quando achei que tudo estava perdido e
ficaria sem minha vingança, um maconheiro de merda disse que o
viu entrando em uma casa nesse mesmo bairro, que era dele e fazia
muitas merdas inimagináveis. Pela informação, apenas tive que dar
um pouco de dinheiro para torrar em droga.
Se eu estivesse me importando com algo que não fosse encontrar
esse desgraçado, tentaria ajudar esse homem a parar com seu
vício, mas não me importo. Pessoas têm escolhas dos seus atos,
sejam bons ou ruins, você sempre tem mais que uma opção.
Não dei a mão a ele porque me tiraram o chão, estou suspenso
de bom senso e estou mandando tudo pra casa do caralho.
Entreguei o dinheiro e comecei a caminhar até o local que ele havia
dito. Uma casa muito bonita para um homem podre por dentro.
Abro o portão devagar para não fazer barulho, escuto vozes vindo
de dentro e já pego a pistola sabendo que a coisa vai ficar feia.
Caminho rápido até a entrada da casa vendo a porta entreaberta e
as vozes cada vez mais perto. Devem ter no mínimo seis caras ali
dentro contando pelas vozes diferentes, mas vou entrar botando
todos eles de joelhos porque é isso o que faço de melhor.
Chuto a porta sem pensar duas vezes, o ódio percorrendo
minhas veias em busca de vingar meus pais. Pessoas boas que não
tinham nada a ver com essa merda toda, que eram felizes e tinham
uma vida inteira juntos pela frente. E foram ceifados como se não
fossem nada, que não significasse nada, que não tinham pessoas
que os amassem.
— No chão, seus filhos da puta! — Aponto a arma para todos
eles. Me encararam assustados, sabendo que não vim comprar
droga. — AGORA!
Estão só de cueca embalando as drogas na cara dura, e me
vendo com a arma acabam fazendo aquilo que mando. Pego a arma
de todos eles e jogo longe enquanto os deixo sentados no chão frio.
— Agora, se não quiserem morrer, vão me dizer onde está o
demolidor.
— Está na cozinha, cara, não mata a gente não. — Um deles
responde. — Só trabalhamos para ele.
— São a escória da sociedade, deveriam morrer aqui e agora,
mas deram sorte que o policial correto ficou em casa hoje. Se
tentarem sair daqui, irei até o inferno atrás de vocês.
Ando até onde o cara apontou e já vejo a ilha da cozinha e um
monte de pratos e utensílios domésticos sujos, essa casa é uma
podridão. Entro na cozinha e encaro o homem que destruiu minha
vida, está sorrindo enquanto come sua comida
despreocupadamente.
— Demorou para me encontrar. — Murmura com a comida
dentro da boca. Bicho imundo. — O que vai fazer, moleque, atirar
em mim?
Não dou tempo para que fale outra coisa, o tiro acertou seu
ombro e ele quase cai da cadeira se assustando e segurando o
ferimento. Estou cego de ódio e não pegarei leve com esse filho da
puta.
— Vou fazer mais do que isso. Primeiro irei arrancar sua pele e
te ver implorar pela vida, assim como fez com meus pais… vou te
furar inteiro de bala e só irei parar quando sua vida imunda esvair
dos olhos.
— Calma… eu…
— Vou te matar bem devagar, quero te ouvir gritar. — Ando em
sua direção e ele sai da cadeira, começa a caminhar até a ilha da
cozinha e atiro na perna o fazendo gritar. — Eles gritaram também,
te imploraram, mas  continuou a desmembrá-los, você recorda?
— Eu queria vingança! Você me prendeu.
— E você arrancou tudo de mim. Agora vou garantir que você
não faça isso com mais ninguém.
— Eu tenho um filho… pense nele.
— Garanto que vai ficar melhor sem você.

Dias Atuais

— Se recorda daquela noite, Gabriel? — Théo me desafia,


esfregando o cano da arma no pescoço de Kate. Não ousei mover
um dedo sabendo que sua cabeça está na minha mira. — Porque
eu lembro. Estava no meu quarto, tinha apenas treze anos e ouvi
meu pai pedindo misericórdia porque eu estava ali presenciando
tudo. Eu o vi matando meu pai devagar enquanto ele berrava nessa
cozinha, você todo sujo de sangue olhou para mim e saiu da casa
após garantir que seu trabalho estava feito. Se recorda?
— Claro. — O provoco. — É o motivo de eu conseguir dormir
muito bem à noite. Queria ter o poder de reviver ele pra fazer de
novo. Seu pai não foi durão enquanto implorava pela vida.
— VOCÊ NÃO ESTÁ EM POSIÇÃO DE SER DEBOCHADO! —
Grita e isso faz Kate dar um pulo de susto.
Dou pequenos passos achando uma brecha para atacar e
quando meus olhos recaem na minha mulher vejo desespero ali.
Seu rosto lindo agora tem um corte na bochecha, provavelmente por
conta de um tapa. Sua boca tem um pano cobrindo para que não
grite e ela chora sem parar, negando com a cabeça.
— Você sabe que no instante que puxar esse gatilho, sua vida
acaba Théo. — Tento fazer ele sair de perto dela. — Me trouxe aqui
sem encostar na Kate porque quer tricotar o passado como duas
velhinhas, mas não estou com tempo para isso… fala logo o que
você quer.
— O que quero é bem simples. — Ele beija o canto da boca
dela, me fazendo segurar a arma com mais força. — Você vai
assistir ela gritar também, chamar seu nome enquanto não pode
fazer nada para ajudá-la.
— Você não percebe que esse ciclo se iniciou com seu pai
matando os meus pais? — Cuspo cada palavra com raiva. — Isso é
culpa dele e pagou pelo que fez. Ainda dá tempo de você desistir e
eu não o matar.
— Eu não tenho nada a perder, é você quem tem. — Esse
maldito quer me ver ajoelhado, implorando para que a deixe em
paz? Porque se for isso, eu faço agora. Ou quer me ver sofrer de
novo, e de novo, até que eu desista de lutar e aceite as condições
que colocaram na minha vida. — ATIRA, GABRIEL! TENTE ME
ACERTAR E MATE SUA ADORÁVEL CHAVEIRINHO!
Minha mão está imóvel apenas esperando o momento certo para
tirá-lo de perto dela, é questão de tempo, um tempo que literalmente
não está do meu lado.
— Mesmo ele te avisando que iria atrás da sua família, você
ainda o prendeu, deveria escutar o que as pessoas dizem. A corda
sempre arrebenta no lado mais fraco, meu amigo.
— Você é um doente de merda.
Encontro o momento perfeito de atirar quando ele se abaixa para
pegar um caco de vidro no chão. Quando enfim se levanta a arma
está apontada para a barriga dele, atiro e no mesmo instante Théo
cai ao chão gemendo.
Vou para cima sem pensar em mais nada, apenas jogo minha
arma no chão e passo por Kate tendo ela gritando com o pano na
boca. Está apenas com as mãos amarradas e seus pés livres,
queria poder desamarrá-la para fugir, mas não posso até que tenha
acabado com esse maldito.
Ele segura meu braço para tentar me imobilizar e entramos em
uma disputa de quem aguenta segurar por mais tempo. Sua mão vai
até a outra que segura a arma e ele tenta mirar na minha cabeça.
— Solta, seu maldito! — Falo entredentes. — Ou vou quebrar
sua mão.
Ele solta um gemido sentindo a dor do tiro na barriga e aproveito
para apertar o ferimento e o desestabilizar. Durou um segundo para
que eu fizesse isso, ele afrouxou a mão da arma e eu consegui
pegá-la. Joguei longe e sou surpreendido com ele me derrubando
ao chão.
Théo e eu rolamos pela cozinha acertando o rosto um do outro, 
por pouco não chegamos próximo a arma e ele tentou pegá-la. Dei
um chute em sua barriga, sabendo o local do ferimento e isso o
impede de esticar o braço.
Ele acertou um soco no meu rosto e acabei batendo a cabeça
com força no chão. Isso me deixou levemente tonto, no entanto não
deixei que fizesse mais uma vez, seguro seu punho ainda no ar e o
faço cair ao meu lado, isso me faz voltar a ficar em pé.
— Vai aprender a não tocar na minha mulher, seu filho da puta.
— Chuto sua costela e ele se curva sentindo dor. — Vou te fazer
implorar para que eu pare, igual fiz com seu pai.
— VOU MATAR VOCÊ!
Caminho até encontrar a arma e seguro querendo acabar com a
vida desse bosta. Vejo Kate desesperada apontando para trás de
mim e antes que eu me vire sou surpreendido por um fio passando
pelo meu rosto e chegando ao meu pescoço. Théo faz força para
me enforcar e chuta minha perna para que eu caia, acabo batendo
os dois joelhos no chão o deixando livre para finalizar com a minha
vida.
O ar aos poucos esvai dos meus pulmões, me deixando
desesperado querendo respirar, sinto o fio machucar minha pele
conforme ele faz mais força, me deixando com a visão embaçada e
o corpo começando a amolecer. Ao ver Kate em pânico, uso o resto
de força e seguro a arma com agilidade, apontando para trás e o
acertando.
O som agudo do tiro acaba machucando meus ouvidos, me
fazendo escutar um chiado horrível. Sinto o corpo dele cair atrás de
mim e consigo afrouxar o fio e respirar com dificuldade. Meu peito
sobe e desce querendo mais ar e tento ao máximo respirar com
calma.
Vejo Théo se mexendo e giro meu corpo ficando de frente para
ele, coloco apenas um joelho no chão e a outra perna está curvada
me deixando mais alto que ele. O tiro acertou seu maxilar e agora o
sangue jorra o fazendo engasgar.
O seguro pela blusa, voltando a socar seu rosto sem parar até
que desmaie. Me sento ao chão ao lado do corpo com a respiração
irregular e o corpo dolorido. Minhas mãos começam a inchar e sinto
os nós dos dedos parecendo que vão cair.
Não tenho tempo para me recuperar, preciso tirar Kate daqui
antes que aconteça algo com a minha chaveirinho. Levantei meio
zonzo e vou até ela que está chorando sem parar.
— Calma, amor, vou tirar você daqui. — Vou para trás da cadeira
e tiro o nó que mantinha suas mãos presas. Ao conseguir se mover,
Kate puxa o pano da boca e se ajoelha entrando em desespero. —
Estou aqui, querida, nada vai te acontecer.
— Me perdoa… — me aperta em seus braços e dou graças a
Deus por poder sentir seus toques, saber que está viva. — Me
perdoa… por ter acreditado nele, eu achei que você tinha o
mandado por conta das mensagens no whatsapp, tinha sua foto lá
Gabriel, a foto que está usando agora. Senti um aperto no peito
quando vi o policial indo embora, parecia que ia acontecer algo e
fiquei apavorada, mas acreditei nesse filho da puta.
— Tudo bem, já passou.
— Ele… ele disse que te faria assistir eu morrendo devagar e
depois faria a mesma coisa com você. — Kate começa a tremer em
meus braços e não quero imaginar o tanto de merda que ele falou
pra ela, porque eu vou matá-lo por fazer isso com a minha mulher.
Enfiei meu rosto em seu pescoço e absorvi seu cheiro que sempre
me acalma. — Fiquei com tanto medo. Não queria que você
passasse por isso de novo, sei que jamais iria se perdoar Gabe.
— Tudo bem meu amor, não vou deixar mais nada acontecer
com você, isso é uma promessa, chaveirinho.
Seguro seu rosto e capturo seus lábios em um selinho. Acabei
gemendo com a dor e ela nos separa vendo minha situação. Volto a
abraçar minha morena sentindo um peso sair do meu corpo, porque
jamais iria conseguir viver sabendo que algo aconteceu com ela,
que eu passaria por esse pesadelo de novo e sei que não
conseguiria me reerguer, estaria fadado a escuridão e ninguém me
faria voltar ao normal.
Kate é meu mundo, minha bússola, meu porto seguro. Desde
pequena tem se tornado o motivo da minha felicidade, mas só hoje
pude ver qual realmente é meu sentimento por ela.
Eu sempre a amei. Um sentimento puro que tenho desde que a
peguei nos braços pela primeira vez, um amor genuíno. Mas desde
que a beijei, vem se moldando a nossa realidade, um amor que não
é mais de irmão, estou fodidamente apaixonado por minha
chaveirinho. 
Não sinto medo desse sentimento, eu o aceitei porque me faz
bem, estava feliz sentindo tudo mudar. Até acontecer do passado
retornar. O medo de perder a mulher que amo me fez pensar em
várias formas de matar Théo, e irei fazer, porque não vou deixar
mais uma linhagem desses merdas virem atrás de quem amo.
Vou sentenciar a morte dele para que minha família possa viver, é
um preço que estou disposto a pagar, um fardo que carrego há
dezessete anos e vou colocar mais uma bagagem nessa mala. Mas
Théo só sai dessa casa em um saco preto, indo direto para o
inferno.
Levanto Kate e a abraço de lado sentindo seu corpo tremendo,
ainda está tensa achando que não acabou, mas tem razão,
precisamos saber se Kaio e Lisa estão bem. Se o delegado
Rodrigues conseguiu chegar a tempo para ajudá-los. Por mais que
Kaio seja um ótimo policial, treinado para esse tipo de situação, ele
ainda está naquela cama e Lisa estará sozinha para defender os
dois.
Deus queira que nada tenha acontecido, meu coração ainda está
acelerado por saber que preferi vir atrás de Kate, mas sei que Kaio
jamais brigaria por ter feito essa escolha. Se eu tivesse ido lá
primeiro, Kate estaria morta e eu completamente sem chão.
Deixo minha mulher um instante e pego minha arma que caiu ao
lado do corpo de Théo. Ele ainda está desacordado, uma poça
gigantesca formada em volta dele por conta dos buracos de bala. O
rosto ensanguentado, uma legítima cena de horror.
Não consigo sentir pena, é algo que ele mesmo decretou no
momento que quis reviver o passado, poderia ter esquecido isso e
continuado sua vida. Mas aí consigo me colocar em seu lugar,
porque não descansei até matar o pai dele, sabendo que era o
responsável pela morte de quem eu amava. Théo seguiu pelo
mesmo caminho que eu, só que agora não poderá mais voltar a me
ameaçar, porque garantirei que sua vida se encerre aqui e agora.
Miro a arma na sua cabeça e minha mão treme tendo uma
batalha para aceitar meu comando. Talvez seja minha consciência
me fazendo voltar a realidade, não querendo matá-lo, mas é
necessário, como vou continuar vivendo sabendo que deixei ele
escapar? Que pode fugir da cadeia e querer terminar o serviço? Não
posso deixar isso acontecer de novo, e não vou.
— Gabe. — Minha mulher fica ao meu lado e coloca a mão
trêmula em cima da minha arma, visualizo seu rosto, vendo o que
quer me dizer. — Ele já está morto, meu amor, não precisa fazer
isso.
— Preciso garantir, Kate, não posso deixar ele vivo… eu…
— Tudo bem. — Me faz abaixar a pistola e suspiro fazendo o
que deseja. — Já acabou e ele pagou com a vida.
Ele pagou com a vida.
Entrou em uma vingança que se iniciou há dezessete anos,
deixou de viver sua vida para vingar um pai horrível que o levou
para esse caminho da escuridão. Estava disposto a matar pessoas
inocentes e se tornar como seu pai foi um dia.
Não sinto remorso em ter feito isso, me sinto leve como não estou
desde que recebi a primeira ligação do passado.
Capítulo 26

Gabriel ainda está apreensivo, como se essa situação ainda não


tivesse acabado. Depois que matou Théo, ele ainda quis garantir
que tinha mesmo finalizado com a vida dele, mas eu mostrei que já
estava morto.
Ele ligou para a delegacia e informou o que tinha ocorrido e
ficamos esperando que chegassem para averiguar toda a situação.
Mesmo que Gabe seja da polícia, eles precisam ver a cena e saber
que foi em legítima defesa. Essa parte não demorou tanto porque já
sabiam o que estava acontecendo, mas precisa passar por essa
burocracia para que possa respirar em paz.
Eles oficializaram a morte de Théo assim que chegaram, eu
estava agarrada a Gabriel naquele momento, ainda sentindo o medo
cravado em meus ossos. Nunca conheci alguém tão podre por
dentro como aquele cara, parecia que só existia para cometer essa
vingança. Não sabia o que era viver, estava disposto a machucar
pessoas de bem para que seu plano fosse concluído.
Ver Gabriel totalmente exposto para que Théo fizesse o que
desejasse, me fez sentir uma dor no coração. Ele poderia muito bem
apontar a arma para meu homem e matá-lo ali, mas queria vê-lo
sofrer e acabou perdendo essa guerra por não saber a hora de
parar. Eu vi nos olhos de Gabe que não sentia culpa pelo que tinha
acontecido, fez o que tinha que fazer para me proteger, mas quem
se sente culpada agora sou eu.
Não deveria ter saído da cafeteria com Théo, meu melhor
amigo ainda tentou me segurar dizendo que Gabriel jamais deixaria
minha vida nas mãos de um desconhecido e ele tinha razão. Até
mesmo o policial acreditou nas palavras daquele imbecil. Nas
mensagens que pareciam tão reais, o jeito do Gabe falar, tudo.
Imagino qual foi a reação dele ao ver uma foto minha amarrada.
Deve ter ficado desesperado e se culpando como sempre faz.
Precisa entender que isso nunca foi culpa dele, que é apenas uma
vítima de pessoas horríveis que arrancaram os pais dele de forma
cruel, que os mataram como um aviso pelo que tinha feito. O
passado retornou para atormentá-lo e dou graças a Deus que isso
tenha se encerrado, porque Gabe merece ser feliz.
É o homem mais gentil, corajoso e família que conheço.
Ninguém nunca mais irá tirar o sorriso do seu rosto, porque
estaremos sempre alertas com o mundo à nossa volta. Depois de
ter conhecido Théo e ele ter feito isso de propósito para entrar na
minha vida, eu creio que não vou mais conseguir confiar em
ninguém que apareça do nada. Tentar me seduzir era apenas um
plano para atingir o homem que amo.
— Chaveirinho. — Nessas horas que fiquei refém de um
psicopata, tive medo de nunca mais escutar esse apelido de novo,
medo de não poder ter Gabriel em meus braços. — Preciso te
contar uma coisa.
Está segurando minha mão enquanto dirige de volta para a
delegacia, pelo menos eu acho, já que não me falou onde
estávamos indo.
— No instante que Théo me passou a localização de onde você
estava, soou o alarme de invasão na casa de Kaio. — Encaro
Gabriel assustada, com medo que tenha acontecido algo com meu
irmão. — Fique calma, pequena, conversei com um dos meus
amigos e ele me disse que Lisa matou o cara que invadiu a casa.
Ela tem porte de arma e pôde defender os dois. Ele era o amigo de
infância de Théo. — Esse maldito tinha tudo planejado, se não
machucasse Gabriel de uma forma, tentaria de outra. Maldito! —
Lembra que eu contei a história que ele me passou quando o
interroguei? Pois então, a história era uma meia verdade, ele trocou
de nome para se vingar de mim, e o amigo ajudou ele com isso.
Esse homem é um doente, precisava de tratamento porque ficou
podre por dentro assim como o pai.
— Esse cara vem trabalhando com ele em todos esses anos e
invadiu a casa de Kaio para deixar a polícia com a atenção na
invasão e não em você, para que Théo ficasse sozinho comigo.
— Graças a Deus esse pesadelo acabou.
— Vamos ficar bem, chaveirinho… só precisamos de tempo. —
Seus olhos recaem nos meus antes de voltar a prestar atenção na
rua e sinto confusão nesses olhos verdes lindos. — Não garanto
estar 100% pra você no momento, mas desejo que não me largue
depois de tudo o que aconteceu, mesmo que minha cabeça esteja
fodida por um tempo.
— Estou com você e não vou a lugar algum, vamos passar por
isso juntos.
— Eu amo você, chaveirinho, desde sempre. — Diz, beijando
minha mão. Uma frase que antes era sem segundas intenções,
apenas como irmãos do coração, mas não o vejo assim desde o
primeiro beijo, desde que o vi com outros olhos.
Não foi intencional me apaixonar pelo melhor amigo do meu
irmão. Mas estou, e nunca tive tanta certeza na minha vida quanto
estar com ele e poder sentir esse coração bater mais forte toda vez
que o vejo.
— Eu amo você, desde sempre.
Após garantir que Kaio e Lisa estavam bem, Gabriel pediu para
que eu viesse com ele até o cemitério para ver os pais. Não consigo
imaginar tudo o que está sentindo, a bagunça que está na sua
cabeça por ter matado mais uma pessoa que estava disposta a tirar
tudo dele, mais uma vez.
Isso é para ficar possesso de raiva, eu não o julgo porque teria
feito a mesma coisa. A família é nosso bem mais precioso e só de
lembrar que corriam risco, ficava puta. Mas nunca imaginei que o
inimigo era Théo, um médico lindo por fora e por dentro um
completo desastre. Quase o deixei entrar na minha vida para
destruir uma das pessoas mais importantes para mim.
Jamais me perdoaria se Théo tivesse conseguido o que queria,
me sentiria uma merda por ter ficado com ele, beijado aquela boca
com desejo e ele apenas me usando para chegar até Gabriel. Filho
de uma rapariga.
Saio dos pensamentos ruins voltando a prestar atenção no
homem ao meu lado. Paramos em frente ao cemitério onde tem
uma floricultura bem bonita e ele quis comprar a flor preferida da
mãe, conhecida como copo de leite. Gabe diz que a mãe enchia a
casa com essa planta e deixava tudo lindo.
Nas inúmeras vezes que fui a casa dele nesses anos, eu vi
milhares de vezes essa flor, ele diz que nunca deixaria de tê-la em
memória da mãe. Meu homem é a pessoa mais incrível e
sentimental que conheço.
— Essa aqui é pra você, chaveirinho. — Vejo em suas mãos um
buquê de girassóis e meus olhos se enchem de lágrimas. — Os
girassóis são conhecidos por emanarem boas vibrações e são
famosos por trazerem boa sorte e esperança.
— São lindas. — Meus olhos brilharam ao pegar o buquê na
mão. Gabe já havia me dado flores nesses anos, mas esse tem
outro significado. — Vou plantar lá em casa e você irá me ajudar.
Ele sorri concordando e cheiro minhas novas flores favoritas.
— Tenho esperança de um futuro melhor com você. — Segura
meu queixo, erguendo com gentileza para eu o encarar. — Hoje
fiquei apavorado por achar que te perderia Kate, de não poder mais
ter isso.
— Eu também, você não saiu da minha cabeça um segundo
sequer. Morreria feliz sabendo que tive um pequeno pedaço de você
pra mim, mas estava torcendo para que não acabasse, que desse
tempo da gente conhecer essa nossa nova realidade.
Gabe captura meus lábios em um beijo cheio de sentimentos não
ditos, incompreendidos por nós, mas que estou louca para descobrir
junto desse homem perfeito.
— Meus pais iriam adorar você Kate, quando aconteceu aquela
tragédia você tinha apenas um ano. — Ele relata enquanto vê a
lápide dos pais.
— Eu adoraria conhecê-los também, ouvir todas as histórias que
sua mãe contaria para te fazer passar vergonha. — Ele riu
concordando. — Ter o dia das meninas com ela e minha mãe e nos
tornar inseparáveis assim como você é com meu pai e Kaio.
Gabe fica em silêncio, observando a foto dos dois e as flores
novas que colocou no túmulo. Pela imagem do casal, posso ver
como ele é parecido com a mãe fisicamente, uma mulher que não
merecia ter a vida ceifada daquela forma tão brutal, que estava
orgulhosa do filho entrando na polícia e realizando o sonho de
infância.
— Eles iriam amar essa sua versão empresária de sucesso com
parafusos a menos. — Coloco minha cabeça no braço dele e Gabe
me abraça de lado continuando a me difamar na frente dos pais. —
Você é maluca e minha mãe seria sua amiga, porque era outra
doida que nos fazia rir até a barriga doer. Eu sinto tanta falta deles.
Me dói saber que nunca mais vou ouvir a risada escandalosa
dos dois, as noites que passávamos comendo pizza e assistindo
novelas mexicanas horríveis que minha mãe nos forçava. Eles eram
tão jovens, tão cheios de vida e se amavam tanto. Queria que
tivessem aqui pra ver quem me tornei e com quem decidi dividir
minha vida.
— Sinto muito, Gabe. Não mereciam passar por isso, nenhum de
vocês.
— Eu sei que eles iriam nos apoiar independente da opinião dos
outros. — Está falando de nós, tem medo da reação dos meus pais
e de Kaio. — Porque apenas querem minha felicidade, e posso ser
vinte anos mais velho, Kate, mas sou tão feliz tendo você que a
diferença de idade é apenas um mero detalhe.
— Isso nunca foi problema para mim, Gabriel. Afinal, gosto de
homens idosos, eles são fofinhos e me dão comida.
— Que otária! — Gargalhamos juntos.
É bom vê-lo sorrir depois do que houve hoje.
— Você sabe que não é velho. Está quase com quarenta anos,
tem idade pra ser meu pai, com certeza. — Brinco e levo um
pequeno empurrão. — Mas você não é, Gabriel, é meu homem e
sou feliz tendo você. 
— Nós vamos ficar bem, não é?
— Vamos fazer o impossível para que sim.
Capítulo 27

Três semanas se passaram desde o meu sequestro e ainda


sinto as marcas daquela frieza do Théo. Tenho pesadelos e Gabe
também, os dois na merda tentando levantar o outro. Acho que isso
é ser um casal, mesmo que essa palavra cause uma sensação
esquisita na boca do estômago.
O importante é que seguimos ficando às escondidas, como dois
adolescentes com medo da reação dos pais. Devo dizer que
também estou, porque guardar um segredo das pessoas que te
amam, faz você recuar achando que vai piorar a situação. Que vão
ficar decepcionados.
Hoje é o aniversário do Gabriel, trinta e nove anos de pura
gostosura. Estou exausta de correr pela cidade atrás do presente
perfeito e inesquecível para esse homem.
Ele resolveu fazer uma festa na própria casa apenas para os mais
chegados. Kaio vai poder comparecer já que tirou a churrasqueira e
está usando gesso, fui visitá-lo nessas semanas seguintes e achei
ele e Lisa meio estranhos, disfarçando sempre que a conversa ia
para algo que eles não queriam falar.
Gabriel também notou, mas não conversamos sobre isso. Ele
disse que cada louco com sua mania, e não tocamos mais nesse
assunto.
Hoje está corrido, tive que ir cedo ajudar meu pai com os doces,
os homens vão assar a carne e nós ficamos encarregados de
entupir eles de açúcar. Meu pai só me deixou mexer os doces, nada
de colocar ingrediente, até poderia me sentir ofendida se não
tivesse certeza do quanto sou péssima.
Ele em um momento pai e filha, disse que estou com um brilho
nos olhos que ele nunca tinha  visto antes . Fiquei extremamente
feliz em escutar aquilo, porque é assim que Gabriel tem me deixado
nesse tempo que estamos juntos. Mas não sou besta de tocar nesse
assunto por enquanto, quero que Gabe se recupere do que houve
primeiro, que tenha certeza de que estamos em um relacionamento,
que ele deseje falar com meus pais como um namorado.
Minha nossa senhora das mulheres encalhadas, eu não estou
preparada para ter um homem lindo, de olhos verdes e muito
gostoso como namorado.
Acabei não podendo conversar com ele hoje, mandei parabéns
assim que acordei e até agora não obtive resposta. Gabe tem agido
estranho desde ontem, parece que aumentar mais um ano de vida
tornou nossa relação mais desafiadora ainda, semana que vem faço
dezenove e voltamos a ter vinte anos de diferença. Se for a questão
de aumentar um número, então devo dizer que é um baita tongo por
pensar assim.
Não vou correr atrás, gosto de deixar as pessoas absorverem o
que estão sentindo em relação a mim, se querem que eu continue
em suas vidas, ótimo, não querem, então vida que segue. Lógico
que se a gente não tiver mais nada, será difícil a convivência junto
com a nossa família, porque Gabe sempre fará parte.
E vou passar por uma bad fodida porque a cada dia estou
gostando mais, e será missão impossível continuar como a gente
era antes disso tudo. Mas chega de chorar pelo leite derramado, se
quiser algo sabe onde me encontrar. Hoje vou tratá-lo normalmente
e entregar seu presente que escolhi com muito carinho, sabendo
que vai trazer lembranças do nosso passado e o presente.
Decidi regar os girassóis que ele me deu semanas atrás, como
está um dia ensolarado, coloquei um shorts curtinho daqueles
molinhos e confortáveis e um cropped branco para não cozinhar no
sol.
Calço meus chinelos de pérolas e saio de dentro de casa
buscando a mangueira para molhar minhas flores lindas. Elas agora
estão no alto, apontadas para o sol de forma gloriosa. Nunca
consegui entender como elas têm esse poder, mas eu acho incrível.
Abro a torneira e a água começa a molhar as plantas devagar,
aos poucos percebo que a água está acabando e fico confusa. Olho
para a mangueira e percebo que estou com o pé em cima, parabéns
Kate. Ao tirar o pé, a água demora a voltar, coloco o rosto ali para
ver qual o problema e um jato enorme bate na minha cara me
fazendo jogar a mangueira longe.
— Porra! — Brigo comigo mesma. — Será que você pode ser
mais tapada?
— Já não basta ser péssima na cozinha, tem que ser no jardim
também? — Sorrio largamente quando escuto a voz que vem me
fazendo ter sonhos eróticos quando está dormindo longe.
Ao me virar vejo Gabriel com a farda da polícia, gostoso pra
caramba e aquela cara de quem vai foder com o pouco juízo que me
resta.
— Tenho outras qualidades mais interessantes. — Provoco.
— Hmm.
— Feliz aniversário, Gabe! — Pulo nos braços dele molhada por
conta da água que caiu na minha roupa, mas ele nem percebeu
esse detalhe. — Porque não me respondeu, seu babaca? Mandei
um textão no whats e você cagou pra mim.
— Desculpe, estava ocupado…
— O que houve? — Ele está agindo muito estranho, não estou
gostando nada disso.
— Porra, Kate, não tenho como falar isso sem ser horrível de
todas as formas.
— Está me assustando.
— Eu… é… o delegado recebeu uma gravação de você e Théo
como cúmplices e te deu prisão preventiva. Enquanto ocorrem as
investigações, você ficará em uma cela na delegacia.
— O QUÊ!? Ficaram malucos? 
— Sinto muito, chaveirinho, mas prefiro ser eu a estar fazendo
isso do que outro colega que seria mais agressivo. — Gabe pega a
algema que estava presa na roupa e me vira prendendo em meus
pulsos. Não acredito que isso está acontecendo mesmo, mas que
caralho eles acham que eu fiz? — Katherine Martins, você está
presa. Tem o direito de permanecer calada. Tudo que disser poderá
ser usado contra você no Tribunal. E você tem direito a um
advogado.
— ESTÁ DE SACANAGEM, PORRA!
— Queria estar.
Ele não está confortável fazendo isso, é como se estivesse
doendo nele ter que me prender, só que não sou cúmplice de nada,
eu odeio aquele homem mais do que qualquer coisa na minha vida.
Jamais trairia Gabe dessa forma.
— Gabriel Monteiro, juro que vou socar sua cara quando for
solta. Isso é uma loucura! Como que eu iria participar de uma coisa
tão horrível?
Ele me leva em direção ao portão e tento me desvencilhar de
suas mãos que apertam meu braço. Nunca o vi desse jeito e está
me deixando ainda mais nervosa porque para Gabriel vir
pessoalmente e não deixar outro policial me prender, é porque a
coisa está feia.
Gabriel me joga de encontro com a porta da viatura e arfo com o
gelado encostando na minha barriga exposta. Ele abre o camburão
e me joga ali como se fosse uma cadela parindo.
Eu não acredito nessa merda. Sinto meu corpo voltar a tremer
recordando aquele momento horrível, que passei horas nas mãos
daquele doente, ouvindo ele dizer coisas absurdas sobre Gabriel.
Como iria matá-lo e a todos que ele ama. Nunca vi alguém tão
podre por dentro, como se a alma já tivesse corrompida há muito
tempo.
Gabriel está dirigindo sem dizer uma única palavra e isso me
deixa ainda mais nervosa. Quem mandou esse vídeo falso é um
arrombado de merda que não consegue me ver feliz, é a única
explicação.
Meu carrasco nos leva para uma rua sem movimento e com
mata fechada dos dois lados da rua. Logo avisto um desmanche de
carro, está parecendo abandonado como se não tivesse uma alma
viva nesse lugar. Gabriel para dentro da propriedade como se
pudesse fazer isso.
Nunca tinha passado por aqui e não nego que um arrepio
atravessou minha coluna ao pensar coisas ruins que podem
acontecer aqui.
Eu fui sequestrada, agora tudo  encaixa na minha cabeça como
algo ruim, fico pensando em como vai acontecer e isso passa todo
dia. Acho formas de como matar os filhos da puta, por onde fugir,
meio que virou minha fuga alimentar a imaginação com essa merda.
— Você tem sido uma boa menina, chaveirinho?
Estou muito puta para conversar com ele agora e me lança um
sorrisinho sabendo que não irei fazer o que quer. Gabriel desce do
carro e consigo vê-lo através do vidro, caminhando em minha
direção. O que diabos ele está fazendo?
Quando nossos rostos estão um de frente para o outro, só que
a diferença é que ele está solto e eu parecendo uma jaca jogada no
fundo do carro. Gabriel está diferente, não tem aquela cara triste de
quem chegou na minha casa para me prender.
Eu já disse que esse homem fica sexy com essa farda? Meu
lado safada aflora toda vez que o vejo assim. A arma no coldre, a
ereção que está bem visível na sua calça, céus… Gabe tem um pau
delicioso. Ele percebe o quanto estou o comendo com os olhos e
esconde o sorriso voltando a ser meu carrasco.
— Vou perguntar de novo, Katherine e se não me responder terá
punições. — Ok. agora ele tem toda minha atenção. —
Você.foi.uma.boa.menina?
Porque ele está falando pausadamente?
Tenho cara de burra? Pelo visto sim, já que ele continua
esperando que eu fale. Estou sendo acusada por algo que não
cometi, então ele já tem a merda da resposta.
— Sim.
— Sim?
Seu olhar se tornou malicioso e sua mão vai para a parte interna
da minha coxa causando um arrepio que corre até minha boceta.
Agora a chave da putaria ativou na minha cabeça e entendi o que
está fazendo. Pelo visto essa linguagem
eu conheço, sou uma
safada mesmo.
— NÃO! — Digo rapidamente. — Tenho sido uma péssima
menina.
— E o que devo fazer com uma menina malvada?
— Qualquer coisa, pelo amor de Deus, Gabriel… depois que
você me fizer gozar, vou estapear sua cara.
— Desconte a raiva no sexo, amor. — Pisca. — Vai ser mais
prazeroso para nós dois.
Ele não é nada carinhoso ao me tirar do camburão, me segura
pelas algemas forçando o local e causando uma dor suportável por
enquanto. Gabriel coloca minha cabeça na viatura e me faz ficar
empinada pra ele, essa pequena atitude brusca fez eu molhar a
calcinha com minha excitação natural.
Ainda com os braços para trás e sem poder me mover, sinto sua
mão na minha nuca e a outra na cintura, subindo pela barriga até
entrar no meu cropped e apertar o bico do meu seio.
— Sabe o que um policial faz com meninas travessas? — Seus
dedos beliscam o bico do meu seio me fazendo soltar um gemido
baixo.
Estou tão sensível, foram dias sem transar porque ele estava
longe, Gabe ficou dormindo na própria casa e trabalhando demais,
mas nunca deixamos de nos falar por mensagem ou chamada de
vídeo.
Agora o cretino finge que iria me prender para realizar uma
fantasia. Ele tem sorte que fiquei excitada, porque senão socava a
cara dele por me fazer passar nervoso.
— Me conte o que quer fazer comigo, policial.
Gabriel xinga baixinho me vendo entrar no clima, se ele
soubesse que tive vontade de abusar desse corpo assim que o vi de
farda na minha casa, saberia que estou no clima há muito tempo.
Ele esfrega a ereção na minha bunda e esse pequeno contato me
faz sentir toda sua grossura, já que o shorts é um tecido molinho.
Gabriel morde meu pescoço fazendo um suspiro sair pela minha
boca, seu corpo grande cobre o meu e não sinto mais o frio da
viatura, agora estou queimando e preciso que esse homem me
coma com força.
— Eu vou abaixar seu shorts. — Responde minha pergunta e
começa a fazer aquilo que diz, lentamente para me deixar ainda
mais louca. — Você ficou uma delícia com essa roupa curta, sabia?
Mas preciso arrancá-lo do seu corpo para fazer o que desejo.
— Você não pode abusar assim de mim, policial.
Minha voz saiu quase como uma súplica, estou adorando fazer
isso.
— Eu posso tudo, e vou chupar essa bocetinha com você ainda
nessa posição. Depois vou tirar meu pau pra fora da calça e você
vai chupar bem gostoso sabendo que vai me obedecer.
— E se não obedecer? — Não seria nem louca.
— Aí vou ter que pegar meu cassetete para brincar em lugares
que você não deseja que ele entre.
Puta merda!
Gabriel se abaixa e termina de tirar meu shorts me deixando
apenas com a calcinha pequena, hoje estou com uma normal, mas
ainda assim é minúscula. Não tem renda, é branca e de um tecido
molinho para não marcar no shorts fino. Não estou usando sutiã
porque estava em casa e fui praticamente arrastada para essa cena
erótica.
As duas mãos dele seguraram a calcinha e retiram de forma
sexy, viro meu rosto a tempo de vê-lo levando a peça até o nariz e
cheirando minha excitação. Amo quando ele faz esse tipo de coisa,
é excitante pra cacete. Coloca o pedaço de pano no bolso da farda
e sua atenção vai para minha bunda. Suas mãos grandes abrem a
banda da minha bunda e passa a língua na boceta fazendo com que
empine ainda mais diante do seu rosto perfeito.
Sugando todo meu sexo inchado e encharcado. Gabriel me
devora sem pudor enquanto estou jogada na porta da viatura,
sofrendo por estar com as mãos presas atrás do meu corpo, as
algemas apertando meus pulsos enquanto sou deliciosamente
chupada por um policial safado.
Meus olhos vasculham o lugar com medo de que alguém
chegue e nos pegue no flagra, não teria nem como me esconder da
nudez já que estou presa. Pensando nisso, sinto um nervoso caso
alguém esteja nos vigiando entre esses inúmeros carros. Um
empilhado em cima do outro, carcaças jogadas ao chão e muita
sujeira espalhada.
Gabriel enfia um dedo dentro da minha boceta e começa a
mover rapidamente enquanto sua língua atrevida brinca com meu
cu, me preparando para seja lá o que ele quer fazer comigo, mas
estou disposta a tudo com ele, porque essa fantasia é mesmo
excitante.
Rebolo sentindo o dedo dele me penetrar com rapidez,
arrancando um barulho erótico. Meus gemidos saem cada vez mais
alto, conforme suas investidas aumentam, Gabe encontra meu
ponto G e fica me instigando a gozar.
— Gabriel…
Seu dedo sai da minha boceta e ele levanta de forma brusca e
agarra meu queixo com força. Meus olhos recaem nos seus verdes
e me perco vendo o quanto está excitado, sexy pra caralho.
— Aqui não sou Gabriel. — Sua mão aperta meu maxilar com
força e toma minha boca em um selinho brusco, ao finalizar puxa
meus lábios com os dentes e termina minha sentença. — Pra você,
sou o policial que vai te comer gostoso, não quero meu nome sendo
chamado por essa boca esperta.
— Sim, senhor. — Falo com a boca torta por estar sendo forçada
com a mão dele.
— É assim que eu gosto. — Gabriel me vira deixando minhas
mãos baterem no carro e ficarem amassadas por conta do meu
peso. Ele passa o dedo pela minha boca e desliza pelo vão dos
meus seios, barriga e chega a minha boceta enfiando dois dedos ali
sem que eu esteja esperando. — Agora engole meu dedo com essa
bocetinha apertada.
Seu olhar não desgrudou do meu enquanto metia em mim com
rapidez, está com a boca aberta e o corpo inclinado quase em cima
de mim. Seus dedos habilidosos arrancam gemidos altos e sou
silenciada com um beijo quente.
Sua língua adentra a minha boca de forma brusca e reivindica
como sua. O beijo é delicioso e repleto de tesão. Seus lábios
devoram os meus com rapidez, querendo todos os meus gemidos
só para si.
Sua boca se separa da minha e desce para meu pescoço
enquanto continuava invadindo minha boceta com os dois dedos
grossos. Estou queimando de tanto tesão, o calor do sol batendo no
meu corpo exposto causa uma sensação gostosa enquanto Gabe
deixa beijos molhados pela minha pele.
Capítulo 28

Kate está totalmente entregue ao momento. Seu corpo sensível


deixa claro que está prestes a gozar nos meus dedos e irei garantir
que não perca uma gota desse líquido precioso.
Minha boca chega aos seios que ainda estão cobertos pelo tecido
fino, essa safada está sem sutiã e agora com o tecido transparente
por ter se molhado com a mangueira os bicos estão aparecendo, foi
uma tortura dirigir enquanto recordava daquela cena.
Ela não desconfiou de nada até que eu colocasse minha mão
na coxa grossa, foi instantânea sua mudança de expressão,
sabendo realmente o que eu queria. Vi a raiva se transformar em
tesão e nunca fiquei tão duro na minha vida realizando a fantasia
dos dois. Em dezessete anos de profissão, nunca transei usando
farda, apesar de inúmeras mulheres já terem tentado algo.
Mas quando Kate confidenciou que gostaria disso, fiquei
pensando em várias formas de cometermos esse delito juntos, e
nada melhor que no dia do meu aniversário prender essa mulher e
fodê-la até que não aguente mais, que suas pernas fiquem bambas
e eu continue metendo até me perder nessa boceta quente e
viciante.
Kate é apenas gemidos, se contorce rebolando na viatura
estando apenas com esse cropped minúsculo tapando os seios
pequenos e firmes. Passo minha língua por cima do pano e sugo
seu bico enrijecido fazendo a fricção do pano deixá-la ainda mais
excitada. Com a mão livre seguro o seio e chupo gostoso sentindo o
gosto da blusa se misturar com o da sua pele quente.
— Gabr… — mordo o bico fazendo ela gritar, lembrando-a de
como deve me chamar. — Senhor policial.
Puta que me pariu!
Poderia gozar só escutando sua voz melodiosa me chamando
de policial. Caralho de mulher gostosa! Mordo, belisco, chupo seu
seio deixando minha marca ali para que ela entenda que somente
eu sou dono disso tudo.
— Não deixarei você gozar, pequena. — Murmuro passando
meus lábios pela bochecha corada, ouvindo um resmungo por não
deixá-la gozar.  — Agora você vai chupar meu pau bem gostoso.
— Sim, policial.
Céus… não vai precisar de muito esforço para me fazer gozar
se continuar assim.
Faço minha chaveirinho ficar agachada e seu sorriso travesso
faz minhas bolas pesadas latejarem por atenção. Minhas mãos vão
para o botão da calça e desci o zíper sofrendo com a ereção
eminente. Não abaixei a calça porque quero ela me chupando
assim, com a roupa no meu corpo e gostando do que vejo.
Tiro meu pau duro de dentro da cueca preta e masturbo
próximo a boca dela para que veja como me deixa. Kate passa a
língua nos lábios, contornando a boca rosada e se aproxima.
Inclino o corpo para frente e esfrego minha ereção na boquinha
atrevida. Ver ela algemada sem poder me tocar com as mãos está
me deixando maluco de tesão, nua da cintura para baixo e usando
nada além desse cropped molhado que me mostra exatamente a
perfeição que tem por baixo do pano.
— Quero sentir seu gosto na minha boca, policial.
— Mama bem gostoso, sua cachorra!
Me masturbo com calma, sabendo que estou no controle.
Respiro fundo quando seus olhos recaem sobre os meus, e com a
ponta da língua ela toca a glande.
— Puta merdaa, Kate…
Coloco uma das mãos no carro e aprecio minha mulher. Sua
língua fica envolta no meu pau e suga como uma verdadeira
putinha. Meus gemidos saem desconexos, minha mão puxa os
cabelos com mais força fazendo ela gemer com meu pau dentro da
boca.
Com uma carinha atrevida, sem desviar os olhos castanhos dos
meus, e agora com as pupilas dilatadas, Kate envolve a glande com
a boca, chupando com força.
— Me coloca inteiro na sua boca, Kate… — sua língua circula a
cabeça sem pressa, me torturando e com um sorriso travesso nos
lábios.
Dias sem ter essa mulher e não vou aguentar muito tempo,
quero gozar dentro dela e sentir se desmanchar no meu pau, os
dois exaustos depois de um sexo bruto com ela ainda algemada. Só
vou soltá-la quando minha mulher estiver completamente saciada e
feliz de ter realizado a fantasia.
A boca de Kate chega até o limite, roçando os lábios na minha
calça que ainda está em volta da minha cintura. Seus olhos
lacrimejam por estar se engasgando a cada estocada e vejo luxúria
transbordando dessas íris castanho escuro.
— Fode minha boca, policial.
Agarro os cabelos dela com as duas mãos, com o meu controle
indo para a puta que pariu. Kate abre bem a boca sabendo que vou
meter rápido até que implore para respirar. A sensação de estar
correndo risco de ser pego deixa tudo mais excitante, gosto do
perigo.
O melhor é ver seu rosto repleto de tesão, pedindo para ser
fodida sem um pingo de timidez. Querendo meu pau castigando sua
boca carnuda. Ver ela entregue e disposta a tudo me enlouquece.
Me movimento para frente e para trás com força, rápido, ouvindo
os gemidos de Kate, tão extasiada quanto eu.
Ergo sua cabeça e meto fazendo o movimento para baixo para
que enterre meu pau nessa boca atrevida. Continuo a foder com
rapidez, sentindo meu orgasmo se aproximar, aos poucos vou
diminuindo as investidas, porque não quero gozar na boca dela
agora, quero apenas deixar a experiência ainda mais gostosa para
ambos.
— Está louca pra dar para o policial, né bandida? — Retiro meu
pau da boca carnuda e a puxo pelo braço ajudando a levantar. —
Vou meter bem gostoso nessa boceta.
Acerto um tapa no rosto de porcelana, não para machucá-la
porque jamais faria isso, é apenas para excitar. E Kate geme feito a
safada que é. Sua boca está repuxada em um sorriso malicioso e a
beijo como o cadelinha que sou, porque senti falta dessa boca, do
corpo, dessa mulher inteira.
Senti falta da sua risada e das piadas ridículas que animam
meu dia. 
Foi uma semana de merda, e não pude dar a atenção que eu
gostaria porque chegava exausto em casa e tudo o que queria era
dormir. Passava a noite trabalhando porque estávamos em uma
operação importante e sigilosa onde a discrição foi a chave do
sucesso.
Minha chaveirinho entendeu o motivo e conversamos todos os
dias até eu desmaiar na ligação. Hoje pedi folga para o chefe
sabendo que é meu aniversário e quis dar esse presente pra nós
dois. Algo diferente e que saia da rotina, que a gente se divirta
acima de tudo, porque não tem nada melhor do que ver o sorriso no
rosto dela quando estamos saciados.
Kate está prensada no carro e a levanto deixando sua boceta
na altura do meu pau. Ela geme quando consegue enrolar as pernas
na minha cintura e sentir meu membro pulsando na sua entrada.
Suas mãos estão para trás do corpo e a sustento apenas com o
meu, sem a segurar com as mãos, porque estou mais disposto a
arrancar esse cropped minúsculo para saborear os peitos da minha
mulher.
— Por favor, senhor policial. — Minha nossa senhora dos
homens cadelinhas, desse jeito eu não aguento. — Preciso que
você me coma com vontade.
— Seu desejo é uma ordem.
Meu pau entra com facilidade nessa boceta que está toda melada.
Desliza sem esforço sentindo as paredes apertarem até que chegue
ao fundo. Não a deixei acostumar e começo a meter rápido,
arrancando gemidos de nós dois enquanto Kate morde meu ombro
com força.
Assim que devemos estar, sempre grudados e fodendo gostoso.
Não quero mais ter que ficar dias sem estar perto da minha mulher.
Com meu tronco apoiando o corpo dela, passo as mãos pelos
seios e com agilidade levanto o cropped para sugar seus bicos
entumescidos de prazer.
Ao sentir minha língua passar pelo bico durinho, Kate geme alto
sentindo meu pau se enterrar a cada investida. Mantenho o ritmo
frenético até que sinto meu orgasmo se formar, e Kate vem comigo.
Gozamos juntos nesse sexo incrível e excitante pra caralho.
Depois de recuperar e continuarmos na mesma posição, vejo que
minha morena está com os cabelos grudados na testa suada, ajeito
os fios jogando-os para trás da orelha e posso presenciar o sorriso
que vem fodendo com meu juízo em todo esse tempo.
Linda pra caralho.
Perigosa o bastante para eu saber que corria riscos em
continuar nessa pegação, e agora estou fodidamente apaixonado
por essa mulher. Meu coração é dela, independente se nossa
família irá nos apoiar.
— Precisamos contar a todos que estamos juntos. — Declarei e
vejo seus olhos se arregalarem. — Não consigo mais esconder isso
deles, Kate, nossa relação tomou proporções que eu não estava
preparado.
— Está arrependido?
— Nunca. Depois do primeiro beijo foi decretado que não tinha
mais como fugir, mesmo eu dizendo que o ciúme era apenas de
irmão do coração. O caralho que era de irmão, Kate. Eu sou
obcecado por você desde sempre e caralho, foi difícil admitir isso
pra mim mesmo.
— Ainda bem que sabe que é um ciumento.
Sorrio com sua língua solta.
— Quero comunicá-los, Kate, não pedir permissão, porque você
será minha independente do apoio deles.
— Eu já disse o quanto me excita esse seu lado possessivo? —
A safada puxa meus lábios e dá um selinho em seguida. — Mas
prefiro quando é no sexo.
— Podemos resolver isso daqui a pouco, meu bem. Mas quero
saber se você está de acordo com o que falei.
— Gabriel Monteiro, por mim já tinha falado no primeiro beijo,
sabe que não tenho papas na língua e foi difícil não abrir o bico.
Mas respeitei seu tempo, por saber a bagunça que estava na sua
cabeça. Não devo satisfações de quem fico pra ninguém, e meus
pais sempre respeitaram minhas decisões, sei o quanto amam você
e ficarão felizes de nos ver juntos, porque é como um filho para eles.
— Espero que esteja certa, porque a cada dia meu coração
aperta achando que vão me odiar.
Minha chaveirinho solta um gemido querendo mover as mãos e
percebo que a deixei presa por muito tempo, mas não irei soltá-la,
apenas colocar as mãos pra frente para que eu possa prender de
novo.
Eu sou um puto safado e ela é louca por essa minha versão.
— Apesar de estar louco para me enterrar dentro de você de
novo, arrumei todo nosso dia e temos muitas coisas para fazer,
então senhorita. — Capturei seus lábios dando um selinho rápido.
— Temos mais uma hora para aproveitar essa viatura, porque
depois seremos um casal normal pelas ruas de Foz do Iguaçu. E à
noite teremos a festa na minha casa então… não vou desgrudar de
você hoje, meu amor.
— Que delícia…
Capítulo 29
Gabriel não brincou quando disse que tirou o dia para
aproveitarmos seu aniversário.
Depois de uma rodada de sexo na viatura que me deixou toda
dolorida e incrivelmente saciada, Gabe nos levou até minha casa
para que pudéssemos tomar um banho e trocar de roupa. O safado
já tinha planejado tudo e trouxe roupas extras dentro do carro, mas
acabei não vendo por estar no banco da frente.
Ele me deixou algemá-lo no banco do motorista e cavalguei
esse homem bem gostoso para que nunca esqueça essa aventura
que tivemos, foi excitante, único e muito perigoso já que Gabe
escolheu esse endereço por acaso e poderia ter gente morando.
O desmanche não era ilegal, o proprietário tinha licença e meu
homem nem se atreveu a falar sobre isso para não arrumarmos
confusão, além de estar transando no local, ainda irritar o dono.
Graças ao bom Deus não tinha ninguém ali e pudemos aproveitar
cada segundo.
Eu disse que não faria mais essa loucura de transar na rua, mas
foi incrível a experiência.
Depois dos dois tomar banho, saímos com meu carro e
passeamos pelo parque das aves, um lugar encantador, podendo
entrar nos viveiros de imersão que nada mais é do que você poder
estar dentro do viveiro, ficar perto dos animais e foi delicioso.
Gabe e eu tiramos muitas fotos para mostrar a nossa família à
noite, lógico que não irei mostrar as que a gente estava se beijando
porque Gabe quer contar do jeito certo.
Também alimentamos os periquitos e lembrei de Rambo, em
como ele gostaria de estar ali, de poder voar pela natureza sem
nenhum humano machucando ele. Mas ele está acostumado
comigo e sempre que posso levo ele para o parque próximo a minha
casa, com a guia é claro para que voe, mas que também não se
perca.
Pudemos ver os flamingos e as araras de pertinho, beijamos
muito na boca, foi divertido, algo só nós dois e foi ainda mais incrível
por estar fazendo isso no aniversário dele.
Depois fomos às Cataratas do Iguaçu, que é um lugar mágico e
nunca consigo me acostumar com a perfeição daquele lugar.
Podendo ver o lado argentino e toda aquela água, o barulho, a
adrenalina percorrendo seu corpo. Simplesmente perfeito.
Ficamos lá agarradinhos aproveitando a vista, no chamego,
como ele gostou de dizer. Gabe estava tão leve, feliz e aquilo me
deixou com o coração quentinho, porque depois de reviver o
passado, foi a primeira vez que o vi tão bem.
Sei que tenho ele em minhas mãos, o homem está
completamente rendido e não consegue mais esconder, e eu fico
como? Com meu ego nas alturas.
Agora estamos aqui na casa dele, trouxe roupas extras porque
a que passamos o dia acabei sujando com comida para variar, então
tive sorte de ter um homem que me lembra o quanto sou
estabanada e esquecida.
Estou usando um vestido preto que vai um pouco acima dos
joelhos, salto alto e uma maquiagem caprichada para aproveitar a
festa, nossos amigos e familiares. Gabe convidou alguns amigos da
delegacia, inclusive o Carlos, que ele teve a humildade de pedir
desculpas e se redimir por ter achado que o cara estava envolvido
com Théo, agora estão se dando bem. Kaio e Lisa também
chegaram e estão sentados em uma das cadeiras já que ele está
com gesso.
Meus pais ainda não chegaram e o senhor Alberto deve estar
fazendo um caminhão de comida para esse povo. Ele disse para
Gabe não esquentar que ele faria tudo, meu pai é bem possessivo
com comida, então sei que vai trazer tudo pronto apenas para
comer.
Estou sentada em uma das cadeiras na área de festa, tendo
Josh, meu irmão e a enfermeira na mesma mesa. Gabe ainda não
voltou de buscar cerveja com um dos colegas e pretendo dar seu
presente logo. Josh também trouxe e tô morrendo de curiosidade
para saber o que ele está aprontando, deve ter algum bicho ali
dentro para irritar Gabriel, é a cara dele fazer isso.
— Eu tô dizendo, Kaio… ele vai adorar.
— Você não presta, Josh, todos sabemos disso. Consegue ser
pior do que Kate e Gabe juntos.
— Ninguém se compara a mim e a chaveirinho. — Escuto sua
voz atrás de mim e sorrio concordando, levanto o copo de cerveja
mostrando que meu homem está certo.
— Zé pistola! Cheguei e você não estava. — Meu melhor amigo
se levanta da cadeira e já pega o presente. — Comprei uma coisa
pra você, espero que goste.
— Tem algum bicho aqui dentro? — Me viro para não perder
nenhum detalhe dessa interação, Gabriel pegando o presente em
mãos e chacoalhando tentando descobrir o que é. — Ou é alguma
idiotice? Porque não espero outra coisa de você.
Que pecado.
— Que é isso, cara, agora somos amigas, lembra?
— Nem morto Josh… nem morto.
Ele abre o pacote e quando puxa o conteúdo cai na gargalhada
vendo que Josh comprou um vestido todo florido, parecido com o
que ele usou. Todos nós rimos quando ele colocou na frente do
corpo e ficou dando uma voltinha para todos verem. Josh não queria
mais nada, estava faceiro de ter trollado Gabe e meu homem não
escondeu que achou legal o presente.
— Agora é a minha vez. — Murmuro recebendo seu olhar
intenso em minha direção.
Pego na mesa a caixa pequena, deu um trabalhão para conseguir
achar alguém que fizesse isso, e quando encontrei pedi que
acelerasse já que achei uma semana antes do aniversário dele.
Gabe coloca o vestido em cima da mesa e segura a caixa com um
sorriso largo no rosto. Espero que goste e guarde de lembrança, fiz
com todo o amor do mundo.
Eu coloquei em uma caixa para ele não descobrir o que era logo
de cara, então ficou com um olhar curioso enquanto desfazia o
embrulho, a caixa também é bonita e não mostra o que tem dentro e
ele precisa desfazer o laço para ter acesso ao presente.
Quando enfim consegue abrir, seus olhos enchem de lágrimas
segurando o presente. Primeiro ele pega um chaveiro em formato
de coração contendo minha foto, como gosta de me chamar de
chaveirinho agora faz jus ao apelido de infância. Ele gargalhou
vendo que a foto é uma comigo fazendo careta, apenas para zoar o
bonitão.
Depois ele vê o verdadeiro presente. Mandei fazer um quadro
real dele com os pais, como se tivessem mesmo tirado a foto juntos,
com Gabe tendo essa idade que está agora já que as últimas fotos
que tem com a família são de dezessete anos atrás.
— Chaveirinho…
— Fiz com todo amor. — Digo emocionada.
— Isso foi o melhor presente que já me deram… eu…
Ele não diz mais nada, me puxa para um abraço apertado. Posso
sentir seu coração pulando no peito, o cheiro delicioso do seu
perfume e seus músculos me apertando.
— Obrigado, meu amor. — Sussurra em meu ouvido e quando
se afasta um pouco percebo que quer me beijar, mas não o faz. —
Eu amei, de verdade.
No mesmo instante meus pais chegam com um monte de coisa
em mãos e corremos para ajudar. Depois de colocar tudo em cima
da mesa e esperar os outros convidados, meus pais entregam o
presente de Gabe. Minha mãe quando viu o que dei a ele começou
a chorar também, lembrando da amiga que foi cedo demais.
Josh não deixou que o aniversário virasse em choro porque
logo começou a fazer palhaçada. Kaio e Lisa não saíram da suas
bolhas, os dois de cochichos e de vez em quando olhavam para
mim e Gabe e voltavam a conversar.
Depois de alguns copos de cerveja a bexiga começou a gritar,
como alguém estava ocupando o banheiro fiquei esperando do lado
de fora até ver que era o delegado Rodrigues. Me cumprimentou
porque não tinha o visto ainda e logo saiu me deixando aliviar o que
está me matando.
Após lavar as mãos e ver meu reflexo no espelho, abro a porta e
caminho pelo corredor vendo as fotos espalhadas na parede. Desde
Gabe pequeno, que era a coisa mais linda, até de todos nós juntos
em um dos nossos passeios às cataratas, já fomos várias vezes lá
com meus pais e Kaio, nos divertimos horrores e temos muitas fotos
para registrar.
Tem uma foto que me chama a atenção toda vez que venho aqui,
é eu e Gabe abraçados quando eu tinha um aninho de idade, minha
mãe disse que foi a primeira vez que andei, dias depois dos pais
dele morrerem, Gabe revelou a foto um tempo depois e deixa aqui
desde então. É inacreditável que me conheça há tanto tempo, sabe
dos meus defeitos, qualidades, até as manias chatas, como ele diz.
— Essa foto é a minha preferida de nós dois juntos. — Diz
beijando meu pescoço e me abraçando por trás. — Você foi minha
luz, Kate e tem sido desde então. Espero poder estar com você
daqui a quarenta anos olhando essa foto, podendo dizer que vi a
mulher da minha vida nascer.
Céus…
Ele tem planos para o futuro, e eu não tinha imaginado isso.
Gabriel me vira devagar e agarra minha boca em um beijo gostoso,
mas o medo de ser pego por alguém da família me faz ficar em
alerta e me distanciar.
— Eu quero tudo com você. Estou farto de ficar escondido.
— Hoje é seu aniversário e não queremos estragar caso alguém
não goste da situação. Vamos guardar esse segredo só mais um
pouquinho.
— Uma semana? — Ele sorri.
— Em uma semana tenho a inauguração da minha cafeteria, seu
doido, sem contar que é meu aniversário, então podemos contar em
uma semana e um dia.
— Quanta diferença.
— Estou odiando isso tanto quanto você, mas podemos aguentar
mais um pouquinho.
Somos interrompidos por vozes vindo da cozinha e nos
separamos. Começamos a andar em direção a nossa família,
aproveitando o restinho do seu aniversário que está sendo incrível.
Ver nossa família e amigos reunidos, todos rindo e comendo
como se nenhum mal fosse capaz de estragar esse momento. Era
isso que pedi a Deus naquele dia do sequestro, dias em que
pudéssemos entender os reais motivos para sermos felizes, os
pequenos gestos, carinho, amor compartilhado, união.
Capítulo 30

Kate falta roer as unhas e estou ao seu lado mostrando que vai
dar tudo certo. Hoje é a inauguração da cafeteria e Josh está mais
impaciente que minha mulher.
O lugar ficou incrível, uma parede repleta de plantas de
verdade, tendo um destaque por conta das paredes cor de café.
Está simplesmente deslumbrante como tinha certeza que ficaria.
Nas horas de folga ajudei os dois a arrumar tudo, colocar mesas e
cadeiras nos lugares que queriam e foi divertido ver os dois
discutindo onde ficaria tal coisa.
Eles sim eu vejo como irmãos do coração, Josh não tem outro
olhar para ela além de admiração e amizade. Coisa que nunca tinha
visto em Kate, foi difícil cair a ficha e quando aconteceu, essa
mulher não saiu mais da minha cabeça e coração.
Olhar Kate abraçando os familiares e recebendo elogios pelo seu
sonho realizado é algo indescritível. Ela realizou o que queria
apenas com seu esforço, aturou um chefe nojento por dois anos
para que enfim tivesse seu espaço. Josh como um bom amigo,
embarcou na loucura e está firme, ajudando em tudo e virando um
empresário muito inteligente.
Ela espalhou mensagens divertidas referente a café e comida,
estão em quadros em toda a cafeteria e isso me lembra do presente
que me deu. Foi como se estivessem mesmo aqui e isso encheu
meu coração de amor, não consigo parar de encarar a foto na sala.
Não é um quadro grande e nem pequeno, é perfeito.
Eu no meio e meus pais me abraçando, essa foto existe na
verdade, mas eu era mais novo e nessa atual eu estou com trinta e
oito anos, sorrindo junto com eles. Estou ainda mais apaixonado por
essa mulher e nem consigo mais esconder. Foi uma tortura passar
meu aniversário ao lado dela sem poder agarrá-la. Entendo o que
Kate quis dizer, poderia ser uma hora ruim, todos bebendo e isso
nunca acabaria bem.
Mas hoje ela não tem como fugir, porque estarão todos aqui
tomando apenas o melhor café do mundo, e eu vou falar para eles
que essa mulher é minha. Ela vai querer me matar, mas espero que
dê tudo certo e possamos ficar onde e quando quisermos, sem
medo de julgamentos.
Estou nervoso, mas não é um nervosismo normal, estou
morrendo e ninguém é capaz de me ajudar porque não sabem o que
está acontecendo.  Venho pensando nisso há algum tempo e tudo o
que mais quero é oficializar o que temos. Torná-la minha de
verdade, não apenas amassos vez ou outra, quero mais.
A cafeteria está lotada, como Kate iniciou o perfil semanas antes
do lançamento, mostrando todo o trabalho que teve, os bastidores
de como estava ficando, isso acabou chamando atenção e logo
estava ficando famosa. Sem contar que olhar a beleza dessa mulher
enquanto ela explica a diferença entre os cafés me deixa excitado.
Por estar lotado me faz sentir uma coisa estranha na boca do meu
estômago, vai que ela diga não e eu passe vergonha na frente de
todos? Porque ela iria dizer não, Gabriel? Você é lindo, gostoso,
bom de cama e um tremendo partidão.
Aceitando que meu ego elevado esteja certo, chegou a hora de
fazer o pedido. Na verdade, vou fazer como se fosse um presente
pela inauguração, ela nem sonha o que estou aprontando, será
surpresa.
— Projeto de demônio. — Falei primeiro com Josh que acaba de
fazer seu discurso junto com a Kate. — Tenho um presente pra
você.
Ele me olha estranho e logo me abraça, me deixando sem
entender.
— Eu sabia que você me amava, cara, no fundo sempre foi
apaixonado por mim.
— Não fode, porra!— Seguro o riso, porque todos estão vendo
ele segurar o presente. Vai pagar o maior mico e estou aguardando
esse momento desde que me entregou aquele vestido no meu
aniversário. — Abra logo.
Quando retira, ele fica encarando a almofada sem emitir
nenhuma expressão, relembrando aquele dia trágico e rio quando
me encara com a boca aberta.
— Pode apagar meu contato no seu celular.
— Eu nem salvei seu contato.
— Então salva e depois apaga.
Mentira, eu tenho salvo como projeto de demônio.
Caímos na gargalhada e ele mostra pra todo mundo contando a
história por trás do presente. Dei a ele uma almofada de cocô, já
que me faz lembrar daquela festa, todo dia por conta daquele
vestido pendurado no meu guarda-roupa. Agora fiz ele lembrar do
cocô que ele caiu de bunda, queria ter visto a cena, mas tinha
coisas melhores pra fazer no quarto com minha mulher.
Nossa primeira vez juntos.
— Eu adorei, cara, vou colocar no sofá da sala para nunca
esquecer daquele dia horrível.
— Para mim não foi horrível.
— É né safado? Porque estava ocupado demais trans…
— Se divertindo. — Kate o corta antes que fale merda.
Agora chegou o momento de entregar a ela o presente e nunca
fiquei tão nervoso em toda minha vida, nem mesmo quando entrei
pra polícia fiquei dessa forma. Talvez porque todos estão aqui, a
nossa família com um sorriso no rosto achando que é apenas uma
lembrancinha, mas vão cair para trás. A confeiteira tinha guardado o
buquê atrás do balcão para que Kate não visse já que está
atendendo os convidados e os futuros clientes.
Entrego a ela a caixa e dentro tem a outra de veludo onde está
nossas alianças, sim, nunca tive tanta certeza na minha vida como
torná-la minha namorada oficialmente.
Quando segura a caixa vermelha e abre vendo o que tem dentro,
abre a boca chocada e me encara querendo sorrir e chorar ao
mesmo tempo. Pego o microfone da mão de Josh com ele piscando
o olho, sabendo o que vou fazer. Tive a ajuda dele para conseguir o
anel sem que Kate desconfiasse, ele disse que era o tamanho do
dedo da mulher que ele está gostando e queria fazer uma aliança.
Minha mulher pamonha nem percebeu como essa conversa foi
uma tremenda mentira, já que Josh nunca vai conseguir conquistar
aquela garota, e agora ela entende o porque do cretino ter feito isso,
e o encara com olhos semicerrados.
— Um tempo atrás você me fez sentir coisas que eu não
entendia e achava que era errado. Mas o amor que antes já era
forte por conta de dezoito anos te aturando — todos riem e ela me
bate no braço já chorando — se tornou mais forte, inquebrável,
genuíno. Eu espero que nossa família que está aqui entenda que
isso não vem de agora, acho que fui o único burro que não
enxergou que o ciúme não era de irmão.
Olho para Kaio, Alberto e Amélia com meu coração na mão.
Como Kate vive falando, bota o cropped Gabriel Monteiro, não é
hora de amarelar.
— Eu a amo com todo meu coração e torço para que apoiem
nossa relação, que me deixem fazê-la feliz sem se importar com o
que eu era para a Kate antes disso tudo acontecer.
— Gabe… — ela tenta me cortar, mas continuo a falar antes que
desmaie de nervoso.
— No caminho, pude ver o turbilhão de sentimentos que você
me causa, desde estresse por ser uma completa maluca. — Não
consegue segurar o riso e fica ainda mais linda. — Até me fazer
sentir como se o mundo parasse e só você importasse. É o meu
mundo, Kate, o meu bonde sem freio descendo a ladeira, a mulher
que desejo passar todos os dias da minha vida, porque dezoito anos
foram pouco, chaveirinho. Ainda mais sabendo  como é ter você pra
mim. — Ela coloca a mão na boca, seus olhos repletos de lágrimas
e não consigo entender o que está pensando então apenas continuo
com o discurso que venho pensando nessa semana. — Quero uma
vida e depois dela também, desde sempre e espero que seja para
sempre. Me deixe te mostrar o quanto sou louco e apaixonado por
você chaveirinho… quer namorar comigo e me fazer o homem mais
sortudo da face da terra?
Respira Gabriel, foi muita adrenalina por um dia, não vai ter um
ataque agora que essa mulher está demorando para responder.
— Sim. – Ela fala e meu coração veio parar na boca. — Mil
vezes sim, meu amor.
— Eu te amo, chaveirinho, desde sempre.
— Eu te amo, desde sempre Gabe.
 

Depois de Kate aceitar ser minha namorada, coloquei a aliança


em seu dedo e ela pulou nos meus braços, beijando minha boca na
frente de todos. Parar de esconder o que tínhamos foi surreal,
libertador e estou me sentindo o cara mais feliz desse mundo.
Vejo nossa família vindo em nossa direção, um arrepio
percorreu minha coluna achando que vão brigar, fazer um escândalo
no dia da inauguração, mas aí lembro que não são assim, eles são
amorosos, família, felizes e não teriam um motivo para ir contra isso.
Me conhecem desde moleque, sabem da minha índole. Que
jamais magoaria minha chaveirinho porque ela é tudo na minha
vida, desde bebê tem se tornado meu mundo e a protegi até o
momento e vou continuar fazendo.
— Gabriel. — Alberto se aproxima com a expressão fechada,
olho para Amélia e está com o mesmo semblante. Acho que estou
infartando. Minha nossa senhora dos homens idosos, é na casa dos
quarenta que começa a ter esses problemas. — Vem cá, moleque!
— Me puxa para um abraço e fico sem reação no momento, mas
retribuo recebendo tapas nas minhas costas. — Bem-vindo a família
de novo, mas dessa vez como meu genro.
— Não está bravo? — Pergunto chocado.
— Estou bravo por não terem contado antes. Eu e Amélia
sempre torcemos para que enxergassem o quanto são perfeitos
juntos. Estou mais do que feliz sabendo que Kate tem um homem
íntegro, leal e família do lado dela.
— Oh papai…
— Mas ficarão uma semana sem minha comida para aprender a
não esconder as coisas de mim.
— O QUÊ!? — Nós dois falamos juntos.
— Deixa de ser abusado, Alberto, vem cá meu filho. — Dona
Amélia me abraça e sorrio sentindo o amor que ela sempre me deu.
— Eu já sabia há muito tempo que ficariam juntos, nesse seu ciúme
estava escrito o quanto gostava da nossa menina. Espero que a
felicidade reine na vida de vocês, que tenham cumplicidade, união e
sempre tenham diálogo para resolver as coisas.
— Vamos ter sim, dona Amélia.
— Pode ter certeza que de onde seus pais estejam, estão
orgulhosos de você, meu filho. É um homem bom, decente e
merece ser feliz Gabe, nunca esqueça isso.
— Vocês são a minha felicidade.
Meu sorriso morre quando vejo Kaio levantar da mesa e andar
com dificuldade por conta do Gesso. Meu coração pula no peito com
medo de perder a amizade dele. De achar que de alguma forma
estou usando a Kate e jamais faria isso.
— Então está pegando a minha irmã. — Ele diz sem cerimônia,
me fazendo engolir em seco. — Estava fazendo uma aposta com
Lisa para saber quando iriam contar.
— O quê?
— Eu já sabia faz tempo, eu só tenho cara de besta.
— Cara, você tem mesmo. — Kate responde.
— O fato é que estou de olho em vocês desde o dia que foram
me visitar e ficaram de mãos dadas, seus safados. Estão há
semanas juntos e nem pra contar. Aí no dia do sequestro você
escolhe ir atrás da mucilon ao invés de proteger seu melhor amigo.
— Coloca a mão no peito ofendido e sorrio do drama. — Isso eu
anotei no meu caderno do rancor, Gabriel.
— Desculpa, cara.
— Que mané desculpa. Se você tivesse me escolhido, aí não
seria você, porque Kate sempre foi sua prioridade. É um verdadeiro
Golden da minha irmã, tenho pena de você.
— Golden? Que porra é essa?
— Virou um cadelinha e se ela mandar vai dar a patinha bem
obediente.
— Vai se foder, Kaio… lembre-se que tenho mensagens
gravadas no meu celular.
— Cala boca e me dá um abraço, seu imbecil. — Meu coração
está aliviado, meu corpo que antes estava mais duro que pedra
agora está voltando ao normal. — Se eu pudesse escolher com
quem Kate ficaria, você sempre seria a única opção, seu mané.
— Não tem noção do quanto estou aliviado. — Agarro minha
namorada na frente deles e seus braços circulam minha cintura. —
A opinião de vocês vale muito pra mim. Mas caso não tivessem
apoiado sabem que eu não deixaria ela, não é?
— Como eu disse, um verdadeiro golden.
Nem me importo com as piadas de Kaio, sou um cadelinha
mesmo, sou o que minha chaveirinho quiser, porque sou
fodidamente apaixonado por essa mulher.
Saber que a cafeteria está bombando, lotada de clientes e Kate
muito gentil atendendo a todos e dando seu melhor sorriso, me dá a
certeza de que escolhi a mulher certa, com garra, determinada a
conquistar seus sonhos sem passar por cima de ninguém.
A mulher que é meu bonde sem freio. Que me deu paz e
esperança quando mais precisei, e o melhor disso, ela não precisou
falar, eu senti naquele abraço pequeno. Como me escolheu para dar
os primeiros passinhos e me fazer feliz em um momento tão
devastador.
Kate é assim pra mim, a mulher que me tira o chão, mas que
também me dá um norte. Que é amiga, parceira, leal, divertida e
uma completa maluca. Somos iguais e isso torna nossa relação
ainda mais divertida. Nunca fui fã desse negócio de opostos que se
atraem. Acho que a pessoa tem que combinar e gostar das mesmas
coisas que você, para que a relação seja leve.
Estou ansioso para as aventuras que faremos juntos, os
momentos em família e daqui alguns anos ver como continuo sendo
um filho da puta sortudo.
Capítulo 31

CINCO ANOS DEPOIS

Se me falassem que cinco anos depois de inaugurar minha


cafeteria, Josh e eu já estaríamos com a terceira em andamento eu
não acreditaria. Nós somos loucos sim, mas apaixonados pelo que
fazemos. Passar meu dia rodeada de pessoas que amam o que eu
faço, que tiram um tempinho do seu dia para saborear nosso café,
vale mais do que qualquer dinheiro no mundo.
Estou com vinte e quatro anos agora e meu marido com
quarenta e quatro, continua um gostoso. Estamos mais felizes do
que nunca porque um ano atrás nasceu nossos tesouros, meus pais
e Kaio ainda ficavam nos zoando no início, que em breve teria um
bebê correndo pela casa, mas passamos a fase do namoro muito
bem, sem pensar muito nisso e cada um vivendo na sua casa.
Quando descobrimos a gravidez, na mesma semana Gabriel me
arrastou para a casa dele. — Porque eu pagava aluguel e não fazia
sentido ele se mudar para minha se na dele não pagamos nada. —
Arrumou o quarto, comprou roupinhas sem ao menos saber o sexo.
Eu não sei qual dos dois estava mais branco na sala do médico
quando descobrimos que não era apenas um, e sim gêmeos dentro
da minha barriga. Eu só não infartei porque não queria que o bebê
sofresse, mas que fiquei exatos cinco minutos sem emitir um único
som, isso eu fiquei.
Gabriel depois do choque faltou gritar pela cidade enquanto
íamos falar para nossa família e amigos. Não preciso dizer que Josh
e Kaio não tiveram a sorte de disputar quem seria o padrinho,
porque cada um ficou com um.
Casamos antes de eu ficar parecendo uma melancia, a
cerimônia foi linda e emocionante. Temos fotos espalhadas pela
casa, para que nossos filhos cresçam vendo como os pais eram
felizes, se amavam e continuam com esse sentimento cada vez
mais forte.
Meu irmão e Lisa também tiveram uma menina, chamada Kiara.
É nossa afilhada e faço de tudo para ela enlouquecer o pai, sabe
como é, as tias é que levam para o “bom” caminho.
Meus pais estão mais felizes do que nunca, tendo três netos
para paparicar como desejar. Meu pai ama ensinar Kiara a cozinhar
e quando meus filhos estiverem grandes, garanto que vão adorar
fazer bagunça com o vovô.
Josh e Bruna vivem se matando até hoje, é engraçado a troca
de farpas mesmo declarando amor pelo outro. Não é algo ruim e
infantil, eles implicam um com o outro, mas brincando e isso deixa
todo mundo rindo vendo como ele perde feio pra ela. Com esse tipo
de interação, a chama deles nunca morre, é gostoso de ver a
relação.
Dona Matilde que era minha vizinha fofoqueira acabou se
tornando da família, é grudada em Josh e adora contar o que anda
acontecendo na vizinhança. Ela é uma senhora engraçada apesar
de não poder contar nada pra ela que já sai espalhando. Quando
descobri a gravidez e queria comunicar para o mundo, bastou contar
a ela e o bairro inteiro estava sabendo.
Dona Matilde Fifi como gostamos de apelidá-la, se tornou uma
segunda avó para meus filhos e vive na minha casa.
Saio dos pensamentos vendo meu marido entrar na cafeteria
com um sorriso largo no rosto, usando a farda que sempre me deixa
excitada e nossos dois filhos no carrinho duplo. Samuel e Rafael
são nossas vidas fora do peito, os príncipes que trouxeram mais cor
para nossa vida.
Duas bolotas em forma de gente, que mamãe ama esmagar.
— Oi, meu amor. — Ele diz. — Papai foi buscar eles na creche.
Ele é um pai babão e nem disfarça.
— Eu não sei porque a gente paga babá se você faz o trabalho
dela.
— Deixa de ser boba, chaveirinho, eu amo ter eles por perto.
Sem contar que com isso venho aqui roubar um beijo da minha linda
esposa.
— Estou gostando disso, continue.
Coloco meus braços nos ombros largos e musculosos do meu
marido, em seguida, agarro a boca do meu homem recebendo um
beijo curto por estarmos no meio da cafeteria.
— Não vejo a hora de chegar em casa, dar banho nos gordinhos
e poder dormir agarradinho com você. Estou exausto.
Gabriel continua na delegacia, prendendo bandido todos os dias.
Agora estamos mais alertas desde que tudo aconteceu, ainda está
difícil não ficar olhando por cima do ombro para ver se não estou
sendo seguida, se um cliente tentar alguma gracinha já me lembro
de Théo e faço Josh atender.
Meu marido resolveu há alguns meses começar a fazer terapia,
ainda se culpa por tudo o que houve e desde que nossos filhos
nasceram ele tem pensado ainda mais sobre isso. Um trauma tão
terrível não sai em um passe de mágica, mas com o tempo ele vai
entender que não passou de uma vítima, que o fato de ter buscado
ajuda por conta própria já é um grande avanço.
Ele é um homem tão bom, parceiro, um pai tão maravilhoso e
tudo o que mais desejo é que se livre da culpa e viva sua vida feliz,
do jeito que desejar.
É o amor da minha vida, o homem que me conhece desde o
nascimento e que vou morrer ao lado dele. Velhinhos, fazendo
piadas com todos e enchendo nossa casa de filhos, netos e
bisnetos, porque amamos a casa sempre cheia.
Ele coloca a mão no meu rosto fazendo um carinho e inclino a
cabeça adorando o toque da sua mão quente.
— Eu amo tanto você, chaveirinho. — Não tem um dia desde
que ficamos juntos oficialmente que ele  deixe de falar, eu adoro
esse lado dele. — É a mulher da minha vida.
— Eu também te amo, meu amor… você e nossos filhos são
tudo o que desejo para ser feliz.
— Vocês são meu bonde. — Relembra.
— Nosso bonde está pronto para embarcar, policial, para onde
deseja ir?
— Desde que eu esteja com vocês, posso ir para onde desejar,
meu bem, o futuro é pequeno para nós quatro.
— Acordou romântico hoje…
— Sempre fui, sua abusada! Porque eu te amo desde sempre,
chaveirinho.
— E para sempre, meu amor.

FIM!
Obrigada por ter chegado até aqui, espero que tenha gostado
desse casal fofinho e repleto de histórias para contar hahaha
Quero agradecer a Deus por me proporcionar o melhor dos
trabalhos, fazer aquilo que amo e poder levar minhas histórias para
mais pessoas.
Também quero deixar aqui todo meu amor às três mulheres que
batalham junto comigo e fizeram esse livro se tornar algo único e
especial, minhas três betinhas demais como gosto de chamar.
Sempre serei grata não só por trabalharem comigo, mas por sermos
amigas, amo muito vocês.
E por último e não menos importante, porque essas sim fazem Ana
Alves continuar crescendo, minhas leitoras perfeitas que deixam meu
dia mais leve e divertido. Viramos uma família naquele grupo do
whatsapp e não sei mais viver sem vocês, obrigada por estarem
sempre aqui e gostarem dos meus livros. Eu digo e repito, sem
vocês nunca existiria Ana Alves ou mais conhecida por a safada sem
coração hahaha.
E sim, teremos um enemies to lovers com Josh e sua bookstan
favorita hahah aguardem esse casal puro fogo e gasolina.
Amo vocês.
Ana Alves, um nome comprido que tivemos que encurtar pra ficar

fofinho. É casada (O marido não sabia onde estava se metendo,


coitado), mãe da Isabelly, sagitariana, sabe fazer de tudo um pouco e

sempre foi apaixonada por artesanatos.


Em plena pandemia da covid-19, lá estava ela lendo pelo app
Dreame e descobriu que ali poderia escrever histórias que já
passeavam em sua cabeça maluca. Por que não tentar?
Ali começou como Carol Pereira (Como eu disse, o nome é
comprido haha), um ano depois resolveu embarcar na tia Amazon e
não saiu mais. Com dezoito livros publicados, ela está longe de parar
tendo cinquenta mil ideias para colocar em modo história para seus
leitores.
Há dois anos enlouquece as leitoras com seus livros cheios de
reviravoltas e caos.
Apaixonada por doces, faladeira, adora uma bagunça.
Essa é Ana Alves.
Você pode me chamar a hora que for para surtar sobre meus
livros, jogar conversa fora e até mesmo me dar sua opinião sincera.
Fique por dentro dos meus próximos lançamentos e se divirta em um
instagram de autora doida. Coloque a câmera do seu celular no QR
Code para conseguir entrar no meu instagram.
 

Ou fazer parte do nosso grupo do whatsapp onde não falamos


apenas dos meus livros, mas sim do mundo literário. Será muito
bem-vinda(o) ao anaverso.

Grupo no whatsapp:

https://chat.whatsapp.com/LNp2AwXjGClIxP07pex3Q7

Meus livros na Amazon: https://amzn.to/3MYjK4B


 

Até a próxima!
 

Você também pode gostar