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Luisa Jones
Caramba, será que eu não consigo chegar adiantada em um
compromisso nem mesmo quando ele se trata de pegar um voo para
ir visitar o meu pai, que está a milhares de quilômetros de distância?!
Achei que depois dos vinte e um eu fosse ficar mais responsável.
Ora, o meu aniversário de vinte e um anos foi ontem, e mesmo assim
a mágica não aconteceu. Minha mãe colocou em minha cabeça que
agora isso vai mudar, e que a vida completamente adulta e
responsável de uma recém-formada engenheira do petróleo será
diferente a partir de agora. Não acho que isso vá acontecer comigo,
sou desastrada e lerda demais e não acho que isso irá mudar por
agora. Sejamos realistas, neste momento eu estou correndo como
uma louca pelo corredor do aeroporto a fim de, quem sabe,
conseguir chegar até o meu avião antes que ele decole.
Tenho que admitir que esta está sendo uma das experiências mais
emocionantes da minha vida, não que eu tenha tido muitas. Acontece
que eu não lido muito bem com a adrenalina. Uma vez eu fui inventar
de aceitar um convite da minha querida amiga inconsequente,
Fernanda, e do meu não menos inconsequente amigo gay, Gael,
para pular de um avião a quilômetros de altura com apenas um
paraquedas. Eu passei tanto mal durante a caída, que, assim que eu
encostei os pés no chão, desmaiei. Não é uma experiência que eu
goste de lembrar, mas não é como se eu pudesse esquecer, já que
os dois idiotas fazem questão de me lembrar frequentemente,
mesmo já tendo se passado dois anos. Isso fora numa manhã do
meu aniversário de dezenove anos, e o resto do meu dia eu tive que
passar no hospital tomando soro depois de ter vomitado demais,
além de ter precisado usar uma máscara de oxigênio por algumas
horas. Realmente fora um dia inesquecível.
Eu posso sentir algumas gotas de suor descendo pelo meu
pescoço conforme eu corro pelo aeroporto do Rio do Janeiro. Eu não
posso deixar de sussurrar um agradecimento quando eu vejo que a
moça da companhia aérea ainda está pegando os bilhetes e
verificando os passaportes. Bem, só restava um homem na verdade,
mas já estou no lucro. A mulher olha com a testa franzida para o meu
estado deplorável e pega o meu bilhete, checando se está tudo
certo.
Papai disse que ele não pareceu gostar nem um pouco da ideia,
mas, pelo fato do meu pai ter mais de duas décadas de trabalho na
empresa, ele cedeu, com a condição de que eu fizesse uma
entrevista com ele antes de ter as minhas aulas. Bem, agora aqui
estou eu, chegando toda molhada no apartamento do meu pai e
morrendo de ansiedade para a minha entrevista com o magnata
amanhã. Eu procurei saber um pouco mais da empresa com o meu
pai e, segundo ele, esta aqui em Nova York é a principal filial, sendo
que a sede está localizada nos Emirados Árabes Unidos, comandada
pelo sheik Tariq Hamir, pai de Ahmed Hamir. Papai me disse que,
desde que o herdeiro passou a representar a empresa nos Estados
Unidos, há dez anos, ela se tornou ainda mais competitiva no
mercado. Pelo visto o empreendedor é bom no que faz. Se eu
passar na entrevista, tenho certeza que irei amar cada minuto da
minha especialização.
Eu estava com tanta saudade do meu velho, que não resisti em lhe
dar um superabraço apertado. Eu fiquei um ano sem visitá-lo
nenhuma vez por causa da minha faculdade, que já estava no fim e
por isso não estava tendo tempo nem mesmo para parar e respirar.
Então, agora que posso vê-lo, abraçá-lo e enchê-lo de beijos, eu não
perco a oportunidade de fazer tudo isso ao mesmo tempo. Daniel
Jones é o homem que eu mais amo na minha vida, e quem é a
distância que nos separa para mudar isso. Realmente a distância
não é nada, porque a nossa relação é muito mais forte do que isso.
O meu pai é um exemplo de homem: amoroso, mas mão firme
quando necessário. Porém, é também muito caseiro e retraído, na
maioria das vezes, e acredito que esse foi um dos principais motivos
do seu casamento com a mamãe não ter ido para frente.
— Feliz aniversário atrasado, querida — ele diz, carinhosamente,
enquanto me abraça e afaga os meus cabelos.
— Obrigada, papai. O meu aniversário foi ontem, então não está tão
atrasado.
Franzo a testa.
— Bem, acredito que seja uma mistura dos dois — diz, dando de
ombros. — Espere aí que eu vou buscar algo que eu esqueci na
cozinha, querida.
— Certo.
Estava distraída demais para perceber que o meu pai tinha ido, na
verdade, buscar um bolo de aniversário para mim. Eu só percebo
isso depois que ele aparece na sala novamente com o bolinho
completamente coberto por guloseimas coloridas e com duas
velinhas com o número dois e o um. Enquanto ele caminha até a
mim, papai canta a tradicional música de aniversário. Há muito tempo
que não passo o meu aniversário com ele, pois na maioria das vezes
estou no Brasil nessa época. Achei tão bonitinho a sua atitude, que
não posso evitar de chorar.
∆∆∆
Eu tive que acordar muito cedo hoje. Acontece que meu pai me
recomendou que eu chegasse com, pelo menos, meia hora de
antecedência na empresa, pois o senhor Hamir é um homem que
exige que os seus funcionários sigam à risca os horários da
empresa, e, como eu estou querendo me especializar justamente na
Hamir Enterprises, então certamente ele irá exigir isso de mim
também. Eu estava comentando com papai agora pouco sobre o
quão estranho é o senhor Hamir querer fazer a entrevista comigo ele
próprio. Ele é um homem importante demais e certamente não deve
precisar gastar o seu tempo entrevistando uma engenheira recém-
formada. Não faz sentido isso, o homem tem milhares de
funcionários que poderiam fazer esse trabalho supérfluo para ele.
Bem, mas não vou ficar levantando hipóteses. Talvez o homem só
seja exigente demais e goste de escolher as pessoas que entram na
sua empresa a dedo. Neste momento, papai acaba de terminar o
seu café da manhã e agora está vestindo o seu terno preto. Ele pega
a chave do carro e olha para mim, sorrindo.
— Pronta, querida?
Assim que Daniel entra, não demora muito para que alguém o
chame para resolver algo na empresa. Ele olha para mim e sorri, já
acostumado com a rotina do trabalho.
— Muito bem, Luisa. — Ele vem até a mim e beija a minha testa. —
Boa sorte, minha filha.
— Obrigada, papai.
Ele acena e segue uma mulher que o estava esperando.
Eu não fico muito tempo nas minhas divagações estranhas, pois sou
surpreendida por uma mulher que vem até a mim, a qual está
perfeitamente vestida e maquiada. Ela sorri educadamente e
pergunta:
Ahmed Hamir
O caralho que eu vou dar a mão da minha irmã para o sheik Emir
Yassin! Jade é inocente demais para se casar por agora. O seu jeito
ainda é como o de uma adolescente, não faz sentido virar mulher por
agora. Não posso evitar de grunhir, extremamente irritado. Esse
sheik tem sorte de não estar aqui na minha frente neste momento,
porque, se estivesse, já teria levado um soco do meu punho. Nunca
que eu vou dar a minha irmã para ele, ou mesmo para qualquer outro
lobo miserável que vive a cercando por onde ela vai. Ninguém irá tirar
a minha irmã da proteção da nossa família. Ninguém, porra!
O sheik Tariq Hamir nunca irá permitir que a sua filha seja tomada
por um homem que pareça com ele próprio. Ora, nós somos homens
egoístas, tomamos as mulheres que queremos para nós, mas as da
nossa família não serão tomadas por família nenhuma, não importa
qual ou quão influente ela seja. O que é nosso sempre será nosso. O
meu pai, eu e os meus irmãos fazemos o que for preciso para que
isso continue assim até o fim do mundo. Eu não acho que Jade se
importe com o temperamento "difícil" dos homens da família, pois
não é muito de questionar as nossas atitudes. Eu acho isso ótimo. As
mulheres não devem questionar os homens de sua vida, e sim aceitar
de bom grado as suas decisões. Nós sabemos o que é melhor para
elas, as mulheres têm que se conformar com isso.
Luisa Jones
Aperto a mão do senhor Hamir um pouco desajeitada por causa da
minha animação extrema. No entanto, mesmo no meio desse
sentimento, eu não posso deixar de reparar no quanto ela é grande e
forte, além de áspera, o que me deixa surpresa, pois o trabalho dele
não justifica esse fato. As suas mãos são mais morenas do que o
seu rosto bonito sem barbear, pelo o quê? Uma semana, talvez?
Contudo, esse detalhe deixa-o ainda mais atraente, sem falar nos
seus olhos, que são de um verde escuro intenso. Quando eu entrei
por aquela porta eu fiquei supernervosa quando olhei para o rosto do
senhor Hamir. Acontece que de longe ele parecia estar bravo, e a
sua fisionomia mais puxada para o árabe estava ainda mais
aparente. Eu já estava insegura, vendo-o daquele jeito irado e
potente, eu quase que tive vontade de voltar para trás e sair
correndo.
Os seus olhos verdes estão brilhantes agora, cheios de... não sei,
malícia?
— Bem, isso não vem ao caso — falo, mais firme agora. — Eu tenho
que ir. Até mais, senhor Hamir — digo, já me afastando para ir
embora.
Eu não vou muito longe, porque ele logo me puxa pelo braço. Fico
horrorizada com a sua atitude.
Inconscientemente, fico aliviada por não ser nada mais que algo
profissional. Ou eu estou muito paranoica hoje, ou tem algo de
estranho no senhor Hamir que me deixa sempre em alerta. É como
se houvesse um alarme na minha consciência me avisando que estou
em terreno perigoso. Estou muito confusa com toda a situação.
Apesar de eu sentir que o empresário esconde algo, eu não posso
ter certeza disso se eu nem mesmo o conheço. Ora, a primeira vez
que o vi foi hoje.
— Entendo — fala, porém o seu olhar não está fixo em mim mais, e
sim na na parede de vidro do seu escritório, que dá para ver
claramente a agitação da cidade. — Diga-me, Luisa Jones, você
gostaria de ter essa oportunidade na Hamir Enterprises? Você
poderá se especializar onde sempre quis, eu posso ceder isso para
você.
Eu fico estagnada por uns bons segundos, não acreditando que eu
tenha escutado direito. Será que ele está falando sério? Para mim
esse dia não está fazendo sentido nenhum, agora pouco eu estava
nervosa para uma entrevista e ao mesmo tempo extremamente feliz
por tê-la conseguido, e neste momento estou aqui, no escritório de
um homem bilionário, que está me fazendo uma proposta ainda
melhor do que eu esperava. Isso é tão fora do comum... Parece bom
demais para ser verdade.
— Irei lhe dar um conselho, senhorita Jones. Sei que se formou por
agora e não tem muita experiência com negócios e muito menos com
empresários. Porém, aconselho a mostrar mais confiança, mesmo
que ainda não tenha — diz, sua voz como uma navalha raspando as
minhas recentes feridas.
— Eu agradeço pelo conselho, senhor Hamir. Eu com certeza vou
segui-lo.
Ele olha para mim por um momento e não diz nada, apenas acena e
volta novamente para dentro. A porta se fecha automaticamente
atrás da suas costas largas e perfeitamente cobertas por um terno
preto feito sob medida.
Só quando eu estou novamente na recepção da empresa é que eu
consigo respirar com naturalidade novamente. Eu fiquei tão tensa
durante a entrevista, que até pontadas na cabeça estou sentindo.
Enquanto ando em direção à saída, muitos colegas de trabalho de
papai acenam para mim. Tento ao máximo não parecer mal-educada
e aceno de volta, apesar de estar com os pensamentos em outro
lugar, um muito mais distante do que eu estou acostumada,
desconhecido, mas com grandes oportunidades de crescimento...
Capítulo 4
Luisa Jones
— Pai, eu já sou uma mulher adulta, o senhor não tem com que se
preocupar. — Olho as horas no meu celular e, vendo que ainda tenho
tempo, encaro o meu pai novamente.
— Luisa, você sabe muito bem que a sua mãe é uma festeira inata.
Tudo o que remete a viagens e festas, ela adora — ele fala, em tom
de desaprovação.
— Você não deveria a recriminar por isso. Pelo menos ela vive, pai,
já o senhor apenas trabalha — acuso.
— Okay, não vou mais tocar nesse assunto, e se você sente que
essa viagem vai ser boa para você, então boa sorte, querida.
— Quem é que está falando?! — exijo saber, com voz altiva e nem
um pouco abalada.
— Quem está falando é o sheik Ahmed Hamir! — ele responde com
extrema arrogância.
— Senhor Hamir, boa tarde. Eu sinto muito por não ter atendido
antes, eu estava ocupada.
Ele não diz nada por um bom tempo, até que pergunta,
rispidamente:
— O que você estava fazendo, Luisa? Pelo o que eu saiba, você veio
aqui meramente por questões profissionais, porém somente agora
que entrei em contato com você.
O que ele disse me parece tão interessante, que até mesmo deixo
para lá o nosso conflito anterior.
— Creio que sim. — Pelo seu tom de voz, a minha pergunta não o
agradou, porém não consigo identificar nenhum motivo para isso.
— A senhorita sabe onde fica a empresa? — ele pergunta, já
desinteressado na conversa.
Luisa Jones
Um pouco desconfiada por ele estar aqui, no mesmo lugar que eu,
digo:
— Sim, realmente estou com fome. Aliás, vou fazer exatamente isso
quando chegar no meu hotel.
Essa definitivamente não foi a resposta que ele esperava, pois logo
vejo raiva explícita nos seus olhos.
— Claro que não, senhor Hamir. Não é por isso que recusei o seu
pedido, é só que... — hesito.
Ele me encara.
— Oh, parece que acertei! Então, senhorita Jones, não vai me dizer
o porquê está fugindo de mim?
Confusa, falo:
Ele sorri.
∆∆∆
A viagem até o restaurante não durou mais que dez minutos, e,
enquanto estava sentada no seu carro luxuoso, vi quando Ahmed
trocou uma música cantada em árabe, provavelmente pop, por uma
música clássica, tocada por, principalmente, um pianista, claramente
Richard Romant. Agora, já dentro do elevador com Ahmed, o qual
está nos levando para cima, especificamente para 123° andar do
Burj Khalifa, o prédio mais alto do mundo, pergunto para Ahmed
aquilo que estava pensando antes de ficar estática ao ver o lugar que
ele resolveu me trazer:
— É mesmo?
Ele acena.
— Isso se torna uma boa qualidade quando você vai para outro país.
— Então, quem eram aqueles homens que saíram junto com você da
indústria? — Pelo o seu tom de voz, percebo que ele não gostou
daquilo. Isso me deixa confusa e irritada. Por que ele achou um
acontecimento tão normal como sendo algo ruim? Aliás, o que ele
tem a ver com isso?
— Então você estava do lado de fora da indústria me esperando sair
— afirmo, irritada.
— Sim.
O seu tom de voz raivoso me faz ficar quieta por alguns segundos,
e eu me esforço para ficar calma.
Receosa, comento:
Hesitante, comento:
— Você não atrapalha a minha vida, Luisa. E pelo visto você não
consegue compreender isso.
— Okay.
Ele acena.
Luisa Jones
— Tenha uma boa tarde, senhorita Jones, e uma boa aula amanhã.
— A sua voz sai fria, e eu duvido que ele esteja sendo verdadeiro.
Ele arqueia as suas escuras sobrancelhas, mas não diz nada. Logo
ele está acelerando o seu carro além do que eu consideraria seguro,
e rapidamente o perco de vista.
Reviro os olhos.
— Ai, garota tola, eu sei! Mas isso não significa que não possa se
divertir um pouco, né? Desde o Danilo, eu nunca mais te vi com
ninguém, e você já tem vinte um anos! Talvez esteja na hora de...
— Você queria que eu fizesse o quê? Luisa, você tinha dezoito anos,
estava no começo da faculdade e era muito nova!
— Mãe! — protesto.
— Ah, agora não quer, né?! Olha, Luisa, o que eu fiz foi te salvar de
uma enrascada, viu? Aquele garoto era uma criança, você também; e
tudo seria um desastre no fim.
— Gostava nada, aquilo era hormônio juvenil! Luisa, você não pode
tomar uma decisão tão séria assim. Independente da religião, o sexo
deveria ser sempre dentro do casamento; só dentro dele que há
compromisso de verdade! Você merece um homem de verdade, não
um moleque!
Jogo o meu celular na cama, abalada. Não é fácil lidar com a minha
mãe, ela sabe como te tirar do controle. Morrendo de vergonha,
lembro da cena a qual ela citou. Eu e Danilo estávamos completando
três meses de namoro, e ele me pediu uma noite de amor de
presente. Eu, muito apaixonada, concordei. Contudo, nós éramos
muito novos e tínhamos medo de ir para um motel. Então decidimos
fazer isso quando a minha mãe fosse para o trabalho. Toda confusão
aconteceu quando a minha mãe esqueceu sua pasta de trabalho,
voltou para casa para buscá-la, escutou alguns sons estranhos
vindos do meu quarto e resolveu verificar. Com absoluta certeza, foi
o momento mais constrangedor da minha vida. Eu estava apenas de
lingerie, Danilo estava apenas com a cueca, com uma explícita
ereção, e rasgava o plástico do preservativo com o dente.
Minha mãe ficou tão horrorizada que quase nos fez ter um ataque
cardíaco com o seu grito. No fim, ela contou para o meu pai, que
também ficou extremamente horrorizado e decepcionado. Eles me
obrigaram a mudar para outra faculdade e proibiram eu de me
encontrar com Danilo, que era o meu colega antes. Hoje, depois de
três anos, acho que não foi completamente ruim isso ter acontecido.
Eu era muito inocente, estava cega, e Danilo, apesar de ser um bom
garoto, queria se aproveitar disso. Balanço a cabeça, como que para
espantar as lembranças ruins. Isso é passado, estou em Dubai
agora e preciso pensar positivo.
Ahmed Hamir
∆∆∆
— Eu também estava com saudade, mãe. Esse último mês foi muito
agoniante para mim. É sempre ruim ficar muito tempo fora.
— Então vê se não fica um mês fora de novo, né, Ahmed? Não é
você que tem que escutar a mamãe suspirando pelos cantos quando
você desaparece! — diz Jade, um pouco atrás de nós.
Assim que a minha mãe me solta, vou até ela e a pego num abraço
de urso, tirando-a completamente do chão. Ela grita, rindo.
— Você está certo, Ahmed, ela sentiu a sua falta sim. Ela não sabe
esconder muito bem as suas emoções.
— Você se sairá muito bem, Ahmed. Seu pai soube te criar para ser
um líder. Eu, obviamente, não queria que sua educação tivesse sido
tão rigorosa. Você sabe que muitas coisas que você aprendeu eu
não concordo...
Ela acena.
— Isso de novo, Jade?! Eu já disse que não! Você não vai trabalhar
fora, por mim você nem trabalharia! — digo, sem paciência.
Fico tenso.
— Você não tem que fazer a sua vida, Jade. Nada nunca faltará para
você, sempre terá tudo o que desejar — falo, pausadamente.
Enquanto isso, minha mãe olha para toda aquela cena com pesar.
Ela sempre defende Jade. A garota fez o curso que escolheu, já
viajou para vários lugares sozinha ou com sua amiga, isso porque
Ester fez a cabeça dos homens da família.
Aos poucos, vejo lágrimas descerem pelo seu rosto, mas ela não
faz nenhum som.
— Ahmed, não seja tão duro com a sua irmã! Você é muito bruto
algumas vezes — minha mãe diz, raivosa.
— Eu disse o que ela precisava escutar. Jade precisa entender que
um passo em falso que ela der, ela poderá se colocar em perigo e
ainda por cima prejudicar a paz da nossa família!
Desta vez, literalmente rio, rio bastante da sua inocência. Jade fica
nervosa e me chama de vários nomes mal educados. Minha mãe
olha tudo isso com visível horror.
— É mesmo, bebê? Ah, então você deve estar com Alzheimer ou,
por acaso, não se lembra das inúmeras ameaças que Ali e Hassan
já fizeram para mim, nossos irmãos e pai de que tomariam você
como segunda esposa como vingança?
Jade desta vez cora, seu rosto delicado ficando envergonhado. Ela
acena.
Arqueio as sobrancelhas.
— Ahmed, não seja tão rude! — minha mãe diz, agora com a voz
firme.
Respiro fundo.
— Não estou sendo rude, mãe, estou sendo realista. O mundo que
me fez ser assim. Eu só quero que entendam que eu quero o bem
para vocês, assim como os gêmeos e o meu pai.
Ahmed Hamir
Depois de passar um dia no castelo Jasmim apenas com minha
irmã e minha mãe, enfim o meu pai e os meus irmãos chegaram de
sua viagem a Abu Dhabi. Como esperado, eles queriam ser
atualizados detalhadamente sobre a Hamir Enterprises de Nova York
e os novos acordos econômicos feitos com ela. Somente depois de
eu explicar tudo que fosse de considerável importância, que os
diálogos comuns de irmãos e pai deram início. Eu, obviamente, me
sinto aliviado por ter esses momentos de vez em quando. Viver a
maior parte do tempo fora do meu conforto familiar é algo que
aprendi a aceitar, mas isso não significa que eu gosto dessa
situação. Para ser honesto, admito que é um baita de um desafio
para mim. Eu não tenho amigos, nunca tive. A minha realidade, o
meu poder e o meu dinheiro não me permitiram arriscar ter algo
assim com outras pessoas.
— De quê? — questiono.
Meu pai me olha surpreso, assim como os meus irmãos. Eles com
certeza não achavam que eu iria admitir que há algo de errado
comigo assim tão rápido. Até eu estou surpreso por fazer isso
também. Porém, neste caso, acho que eles têm o direito de saber,
pois trata-se de algo muito sério, tanto para mim quanto para todos
da família e do clã.
Uma coisa que sempre me deixa aliviado no meu pai é que ele
nunca nos força a falar algo que não nos sentimos confortáveis para
isso. Apesar disso, ele sempre nos incentivou a sermos honestos
conosco e também com a família, para que a confiança nunca acabe
em nosso meio. Assim, sempre que algo é realmente importante,
conversamos sobre isso entre nós mesmos. Quando é algo mais
perigoso, somente entre os homens, porém. Hoje, como Jade e a
minha mãe estão em outro lugar do castelo, só restou nós, homens.
Eu acho isso ótimo, pois não quero envolver a minha irmã e a minha
mãe nisso, elas deixariam os sentimentos tomarem conta de suas
opiniões.
— Nossa, cara, pela sua cara, a situação é séria, hein? — Samir diz,
seus olhos escuros me analisando como se eu fosse de outro
mundo.
— Vá logo direto ao ponto, Ahmed — meu pai diz, indo direto ao que
interessa.
Aceno com a cabeça.
— Ahmed, antes que eu diga alguma coisa, creio que é melhor você
explicar com mais detalhes — o sheik Tariq fala, claramente irritado.
— Pelo menos você já sabe disso — meu pai repreende, sua voz
alterada. — O que essa mulher tem de especial, Ahmed? Eu
conheço você, ela provavelmente já está há tempos em sua mente.
Aceno em concordância.
— Como eu disse, a vi por coincidência na rua com o seu pai, ela era
muito nova, e a deixei ir embora para o seu país. Ela é metade
brasileira. Dois anos depois, o seu pai pediu uma oportunidade para
a filha na empresa, e eu achei que seria uma ótima ideia para fazer
aquilo que já queria antes.
— Você sabe que não pode ter essa mulher — meu pai diz, sem
enrolação
— Ela não é para você, Ahmed. É uma mulher ocidental. Ela não
possui os princípios, qualidades e requisitos necessários!
— Porque eu não posso deixá-la ir. Não por agora, pelo menos.
Samir engasga com sua água e Khaled me fita com a boca meio-
aberta. Meu pai, contudo, não mexeu nenhum músculo.
∆∆∆
O meu pai também buscava provar isso quando mais novo, porém
algo impensável aconteceu, ele se apaixonou por uma ocidental e,
como se não bastasse, uma brasileira. Isso foi um choque para ele e
para o povo também. Porém, a minha mãe era diferente, apesar de
ter nascido num lugar tão predominantemente imoral, a minha mãe
possuía bons princípios e nunca tinha estado com um homem. Assim,
o meu pai viu que a sua origem não era importante mais, pois ela era
perfeita como mulher. É claro que ela tinha alguns defeitos, como
não ser muito submissa, mas não era nada que o meu pai não
pudesse lidar. Além disso, o povo realmente gostou dela. Qualquer
um que a olhasse podia ver que ela era uma mulher de bons
princípios.
No meu caso, estou fascinado por uma mulher que não conheço
seus valores e princípios e muito menos a sua moral. Ela não me
parece ser ruim tampouco, porém a sua personalidade é muito forte,
e isso com certeza não é um bom sinal. Além disso, ela cresceu e
viveu em meio a uma sociedade absurdamente liberal, o que me faz
crer que ela já é uma mulher vivida. Ou seja, Luisa seria uma esposa
completamente inaceitável para mim. Ela é muito diferente do que a
minha mãe era, e não num bom sentido. Contudo, mesmo sabendo
que ter algo com ela não será possível, não consigo tirá-la da minha
cabeça, não consigo esquecê-la, e isso é uma verdadeira droga para
a minha mente, pois estou ficando completamente perdido.
Eu sei que preciso me casar, eu sei que não é mais aceitável ter
uma amante, eu sei que Luisa é inadequada e já ouvi isso sair da
boca do meu pai, mesmo que em outras palavras. Mas, para a minha
desgraça, ainda assim eu não penso em outra coisa a não ser em tê-
la para mim, em sentir o seu gosto. Estou obcecado por uma mulher
ocidental que nem mesmo a beijei. Isso é completamente insano e
sem sentido. Está óbvio que isso não está certo. Eu nunca quis tanto
uma mulher como a quero, nem mesmo na minha adolescência.
Admitir isso para mim mesmo me deixa preocupado, pois isso nunca
poderá acontecer. Se o conselho do clã simplesmente souber que
estou tendo esses pensamentos, eles com certeza ficarão
horrorizados e irão me chamar para uma complexa reunião.
O meu pai sabe disso tudo. Ele sabe o que é sentir na pele a
responsabilidade de não poder contrariar as regras do nosso povo.
Acredito que deve ter sido complicado para ele quando decidiu ter a
minha mãe como esposa. Agora, apesar de ele ter conseguido isso
há mais de trinta anos, não significa que será igual para mim. Tudo
está diferente agora, tudo está mais rigoroso para os membros do
clã, inclusive para mim. Conforme a modernidade vem se superando
cada vez mais, e a cultura ocidental se torna mais popular, a nossa
cultura vem sofrendo cada vez mais ameaças de um dia extinguir.
Todos estamos preocupados com isso e estamos fazendo o possível
e impossível para não permitir que aconteça daqui algumas décadas.
Apesar de meu pai não aprovar, irei ter Luisa como minha amante,
já que é a única maneira de tê-la. Vejo que terei um pouco de
trabalho pela frente, pois ela insiste em manter um pé atrás quando
se trata de mim. Tenho que mudar isso, urgentemente, pois cada
minuto é importante, já que esse relacionamento não poderá durar
para sempre. Estou ansioso para vê-la, mas sei que não posso fazer
isso por agora. Tenho que pensar direito. Para conquistá-la, preciso
de uma estratégia e eu já sei qual irei usar. Ela não se sente bem
comigo porque tem medo da minha parte árabe, certo? Pois bem,
isso será resolvido. Se ela quer um ocidental, ela terá. Isso não é
algo que me agrade, mas, como não se trata da minha esposa, eu
farei esse sacrifício. Tudo o que me importa é ter um pouco do seu
gosto antes que eu esteja preso a uma outra mulher pelo resto dos
meus dias.
Capítulo 8
Luisa Jones
Contudo, quando eu estou perto dele, eu não sei por que isso
acontece, mas eu sempre sinto uma necessidade de ficar atenta e
não confiar nele, um irritante pensamento de que ele está fingindo
fica martelando na minha mente, e eu acabo não sendo muito
agradável com ele, algo que eu sempre sou com a maioria das
pessoas. Eu não sei explicar, mas quando eu olho nos seus olhos eu
vejo fogo neles, uma ferocidade e sentimentos totalmente selvagens.
Talvez eu esteja ficando louca, mas é exatamente essa impressão
que eu tenho. Isso sempre me deixou receosa, e o meu instinto
sempre me alertou para manter distância. Mas, sinceramente? Eu
decidi que não vou mais ficar dando tanta moral para os meus
pressentimentos, pois isso não está fazendo bem para mim. A única
coisa que consegui pensando desse jeito é uma mente cheia de
paranóias. Talvez o caso de Fernanda com o namorado marroquino
dela tenha me afetado mais do que eu imaginava. Mas eu não posso
deixar que uma história ruim atrapalhe a minha vida e me impeça de
me divertir e curtir o tempo que tenho em outro país.
Além disso, até parece que Ahmed é algum maluco que esteja
fingindo ser normal só para me sequestrar e me levar para o seu
harém ou alguma coisa do tipo. Estamos no século vinte e um, até os
sheiks estão ocidentalizados hoje em dia. Tenho que parar de pensar
que estou num conto de Mil e Uma Noites e me lembrar que estou no
mundo real. Só porque Ahmed é um sheik meio-árabe, isso não
significa que ele seja um bárbaro, não é? Não faz sentido o meu
preconceito com a sua origem. Nem todo homem árabe é igual.
Agora, tenho que admitir que a maioria deles é muito bonita, tipo,
muito bonita mesmo, e olha que eu nunca me interessei por esse tipo
de homem.
∆∆∆
— Luisa, não tive o prazer de te dizer antes, mas você está ainda
mais gata hoje. E não é que você combina muito bem com vestidos?
— Samuel brinca.
— E então eu ir preso por ferir uma lei do país? Não sou louco a
esse ponto! — diz, rindo com o pensamento.
— Ah, para! Não vai dizer que não gostou do que viu? — Liam
provoca.
— Sai fo...
— Luisa.
— Ahmed — sussurro.
— Certo.
— Okay — respondo.
Ahmed Hamir
Desta vez sou eu que fico muito irritado, e sei que Luisa percebeu,
pois ela fica calada.
— Mas eu não sabia que você me queria para ocupar uma vaga de
emprego!
— Não diga isso de si mesma. Você tem muito potencial, Luisa, para
ser uma grande mulher no futuro, independente de tudo.
— Você vai desistir do seu sonho sem ao menos tentar? Achei que
fosse mais corajosa.
— Não se trata disso! Olha, não acho que posso cumprir com as
suas expectativas sobre mim.
Aceno positivamente.
— Eu não sei... Acho que não sou muito nas outras coisas.
— Está certa disso? Talvez ainda não tenha tido oportunidades para
descartar essa hipótese — digo, com um sorriso irônico.
Ela suspira.
Ela bufa.
— Isso é normal, logo verá que não tem motivos para isso.
Ela sorri, algo que apenas uma vez a vi fazendo, quando ela me viu
pela primeira vez, no escritório. Se ela soubesse o quanto isso tem
efeito em mim, ela evitaria. Luisa é uma mulher bonita, jovem e muito
atraente. Ainda não sei como algum homem não se agarrou a ela, é
inacreditável. Talvez o seu jeito confiante intimide os homens. Bem, é
uma pena, pois comigo ele possui o efeito contrário. Ela não sabe
quem eu realmente sou, e isso me diverte. Caso Luisa tivesse uma
pequena noção da minha realidade, tenho certeza que nunca teria
pisado no meu país. Obviamente, não sou nenhum psicopata e nem
um molestador de mulheres. Eu nunca, em toda a minha existência,
fiz mal a uma mulher, e isso nunca, em hipótese alguma, irá
acontecer. Porém, isso não significa que eu não possa pegar aquilo
que eu quero, independente de qualquer circunstância.
— Hum, não acho que daria certo, senhor Hamir, somos muito
diferentes, e você será o meu chefe.
Ela acena.
— Entendo.
Pelo olhar curioso e de interesse de Luisa, sei que ela quer saber
mais sobre o assunto, porém eu não vou fazer isso. A minha família
é sagrada para mim, e não posso envolvê-la de forma nenhuma com
Luisa. A minha família não a aprova, e eles estão certos; o que eu
quero com Luisa não é algo certo para a minha cultura, digamos
assim. Para os ocidentais, porém, isso é completamente aceitável.
— Ah, é mesmo?
— Sim. Diga-me, por que o seu nome é escrito com "s", e não com
"z"? Você é americana, não combina muito.
Ela ri.
Sorrio.
Luisa Jones
Não posso mentir e dizer que não estou animada e que estou triste
por conseguir um trabalho na Hamir Enterprises, pois seria a maior
mentira que eu teria contado até agora. Conseguir um emprego em
uma grande empresa é o meu sonho desde que entrei na faculdade.
Além disso, era o dos meus colegas também, todos nós tínhamos
essa meta de vida. Acho que todo mundo, independente da
profissão, pensa em trabalhar numa multinacional algum dia, e no
meu caso não foi diferente. Agora, também tenho que admitir que
estou surpresa com Ahmed, ele foi extremamente educado durante
todo o almoço e até mesmo um bom ouvinte. Estou um pouco
envergonhada pela minha má interpretação da sua proposta no
primeiro momento, foi algo completamente desnecessário. Eu
simplesmente o interrompi antes que ele terminasse o seu raciocínio.
Acho que o meu sangue é quente demais, sempre acho um problema
na situação, não importa qual seja. Herdei isso da minha metade
brasileira. A minha mãe é assim também, sempre encontra algo para
brigar, não é à toa que o meu pai não sabia lidar com ela.
Eu acho até mesmo bom que eu vou trabalhar à tarde toda agora,
assim eu ocupo a minha mente com algo que não seja estudo, senão
pode ser que eu venha ficar louca daqui um tempo. Após terminar o
meu banho, vou para o meu quarto com a minha toalha ao redor do
meu corpo. Passo um hidratante corporal e visto uma camisola azul
de algodão, bem confortável. Em dúvida sobre estudar um pouco ou
dormir, o meu cansaço fala mais alto e eu escolho a primeira opção.
Hoje é quinta, não acho que vá ser tão ruim se eu relaxar um pouco,
até porque domingo começa a minha semana de treinamento na
empresa, e eu tenho certeza que não terei muito tempo para algo
assim. Com esse pensamento, deito na minha cama e, com um
sorriso satisfeito, me deixo ser levada pelo sono e pela preguiça.
Eu não gosto muito de sonhar, mas, por ironia, isso acontece quase
sempre e desta vez não foi diferente. Passei pouco mais de quatro
horas sonhando com coisas confusas e sem nexo. Cenas como
deserto, castelos, mesquitas e pessoas com roupas árabes
passaram como neblina no meu subconsciente. Não tive nenhum
sonho concreto, apenas me vi em várias situações diferentes, todas
elas em algum lugar da Arábia. Por último, a imagem de Ahmed em
uma túnica branca e bordada a ouro também inundou a minha mente.
Mas, devido ao meu estado confuso e de mente agitada, tudo
passou rápido, em vários borrões. Acordo um tanto confusa e
irritada. Ao ver as horas no meu celular, noto que há várias
mensagens de Samuel, o meu colega.
Visualizo a primeira, enviada às 14:06:
Terceira, às 15:30:
Foi sequestrada?
Reviro os olhos.
Respondo:
Ele responde:
∆∆∆
Eu queria dormir uma hora, mas acabei dormindo duas, o que me
fez acordar muito tarde. Já são quase seis da tarde, e eu já estou
muito em cima da hora para começar a me arrumar. Decidi que vou
sair com os rapazes, até porque o Liam me mandou outras inúmeras
mensagens para me obrigar a ir. Assim, agora estou aqui, na minha
cozinha, preparando um lanche rápido para depois tomar outro banho
e me arrumar. Já tenho em mente a minha roupa do dia, ou melhor,
da noite, estou pensando em usar o meu vestido vermelho justo.
Quando o trouxe, eu até mesmo estava duvidando de que fosse
realmente usá-lo aqui, mas pelo visto eu estava enganada, pois
acabei de encontrar uma ocasião plausível. O vestido é curto demais
na minha opinião e mais "decotado" do que um país muçulmano
aprovaria, então eu nunca o usaria aqui, exceto por hoje. Bem,
estarei indo para uma boate, então é certo supor que as garotas vão
estar vestidas com algo mais ousado, não é? Eu espero que sim.
Capítulo 11
Luisa Jones
Reviro os olhos.
Liam ri.
Fecho a cara.
— Não mesmo! Escute, Liam, só estou indo com vocês para dançar,
nada mais! Não curto pegação com desconhecidos!
Samuel resmunga.
— Está certa, Lu. Mas olha, aproveite para beber algumas, você
está precisando relaxar.
— Ih, aí não dá, né, Luisa?! Você vai numa boate ou num baile
juvenil? — Liam reclama
— Ai, gente, não exagera. Sei muito bem me divertir sem fazer
merda!
Suspiro.
— Eu acho uma boa ideia, até porque, quando você entrar lá dentro,
duvido que vai pensar da mesma forma.
Ele ri.
— Ótimo! — resmungo.
— Ah, para, Luisa, duvido que seja tão santinha! — ele retruca.
— Eu não...
— Sim. Legal, né? Você vai poder ver toda Dubai enquanto dança —
Samuel responde.
— 22:10 — respondo.
— Claro que você vai beber, nem que seja só um, Luisa! — Samuel
fala.
— Não quero!
— Três shots, por favor, o melhor que você tiver — Liam diz para o
barman.
— Não quero.
— Ah, para, Luisa. Você vai ficar cinco horas numa festa sem beber
nada? Tome esse aí, depois você vai ver que rapidinho o efeito
passa — Liam insiste.
— E se eu ficar bêbada?
Samuel ri.
Suspiro, vencida.
— Certo, eu vou beber, mas só este!
∆∆∆
— Você está doido?! Vocês dois estão tão bêbados que não
conseguem nem andar! O único lugar que iremos é para nossas
casas! — falo, nervosa.
— Exceto pela parte que você não pode nem mesmo dirigir! — falo,
respirando fundo para não me descontrolar.
Conto até três para não dizer umas boas verdades e me dirijo a
Samuel:
Reviro os olhos.
— Tem certeza?
— Sim?
— Sim... — respondo.
— O quê?!
— Como...?
— Vocês não podem fazer isso, eu não fiz nada! — falo, alarmada.
— Você tem direito de fazer uma ligação antes disso, para alguém
de sua escolha, desde que seja com o telefone daqui.
Com uma forte dor de cabeça e totalmente impotente, rapidamente
olho o número da pessoa escolhida no meu celular e o disco no
celular da delegacia, antes de ter que devolver o meu próprio.
Sentindo o meu coração bater no meu ouvido, ouço os bips da
ligação, enquanto eu oro para que a única pessoa deste mundo que
pode me ajudar atenda. Eu não sou tola, sei que a situação a qual
me encontro é pior do que um dia eu poderia me imaginar. Estou num
país islâmico, que ainda lida com a Sharia. Eu não fiz nada de mal,
mas eu poderei pagar por algo que não faz sentido para mim e
sofrer muito por isso se algo não for feito. Casos de estrangeiros
irem para cadeia por fazerem coisas simples, mas erradas aqui, são
raros, porém quando acontecem rendem o inferno para a pessoa.
Não estou preparada para passar por algo assim. Provavelmente
estou sendo acusada de ser uma vagabunda ou algo parecido, já que
Samuel e Liam também estão aqui. Essas pessoas são loucas,
tinham várias pessoas na boate na mesma situação que a nossa, e
até pior, mas simplesmente resolveram nos punir, somente nós três?
Pura hipocrisia!
— Repita isso.
Ahmed Hamir
Num país islâmico, com leis islâmicas, o que vale mais é a religião,
e isso me preocupa muito agora, pois é a vida de Luisa que está em
jogo. Está óbvio que ela deve ter sido presa por ferir alguma diretriz
religiosa, já que Luisa em hipótese alguma faria algum vandalismo ou
algo parecido. Ela provavelmente agiu de forma impensada, como se
estivesse no seu país que está há milhares de quilômetros de
distância. Luisa cometeu alguma merda de erro que ela com certeza
nem sabia que estava errado, porque, sendo imatura como é, não
procurou saber como funciona as leis do país antes de tomar
qualquer decisão.
— Sheik Hamir, por Allah, o que te traz aqui? Podemos ser úteis em
algo?— um oficial pergunta.
— Bem, sheik, essa mulher está aqui por uma denuncia. Ela foi vista
na madrugada colada ao lado de dois homens embriagados, todos
saíram assim em público.
E é então que tudo faz sentido. A imagem dos dois homens que
acabei de ver aqui na delegacia me vem à tona. Eles pareciam ser
pessoas conhecidas por mim, mas eu não me lembrei a tempo. Sim,
eles são os colegas de Luisa. Lembro de tê-los visto quando a
busquei na indústria, porém quase que não olhei para suas caras, já
que a minha repulsa era maior. Mas agora, posso dizer que estou
muito, muito aliviado. Apesar de amizade entre homens e mulheres
não existir para nós, Luisa ainda acredita nisso. Eles são seus
colegas, provavelmente ela só foi uma ingênua que achou que estava
tudo bem sair com dois homens bêbados por aí. Sim, ela foi uma
completa tola e inconsequente.
A menção de uma cadeia me faz sentir culpado por tudo isso. Luisa
sendo uma mulher promíscua ou não, eu sou também culpado por
ela estar nesta situação, já que fui eu que a trouxe para cá, pois o
meu desejo de tê-la falava mais alto. Olha onde a porra do meu pau
me trouxe, na merda de uma delegacia atrás de uma libertina. Só
Allah para me proteger de um possível escândalo iminente. Luisa
está em um quarto há poucos metros da sala do delegado. Quando
ele abre a porta, sou alertado de que devo chamá-lo quando for sair.
Depois de concordar, entro no local e fecho a porta atrás de mim.
Ela parece se tocar que o seu problema é outro e então ela engole
em seco e diz, à beira das lágrimas novamente:
— Você era para ter pensado nisso antes de sair por aí com dois
homens bêbados grudados em você num país mulçumano — rosno.
— Mas eles eram meus amigos, eu não sabia que estava fazendo
algo errado!
Luisa nunca me deixaria encostar nela dessa forma, não por agora,
pelo menos. Mas ela está tão desesperada, tão assustada... Ela
pensa que eu sou a sua salvação, e isso me traz uma pontada de
culpa. Não, baby, eu não sou a sua salvação, estou mais para a sua
perdição, foi por isso que te trouxe aqui. Mas tudo mudou agora, se
um dia eu conseguir tirá-la da cadeia, irei mandá-la de volta
imediatamente. Não serei capaz de lidar com a culpa que estou
sentindo, muito menos com o coração ferido de uma mulher que não
pertence a esse lugar.
— Vai me dizer então que não fez nada com nenhum homem lá?
Continuo neutro, apesar de aliviado por saber que ela não é tão
libertina quanto imaginava.
— Certo, isso é um ponto positivo, mas não tem como provar todas
essas coisas, além disso as pessoas não querem provas. Tudo o
que importa é que te viram com dois homens bêbados.
— Ahmed, por favor, tem que ter um jeito de eu provar que não sou
promíscua como eles pensam... Olha, eu só tive um namorado na
vida, isso talvez quer dizer algo!
Olho-a surpreso.
— Sim.
— Dezoito.
— Responda!
— Não, eu não cheguei a esse ponto — fala, sem olhar nos meus
olhos.
— Beijos, abraços...
Sorrio, vitorioso, apesar de, por outro lado, estar louco para acabar
com quem tenha a visto assim. Vou deixar isso para depois, no
entanto.
— Ótimo, Habibi, isso é o suficiente por agora. Creio que serei capaz
de te salvar, desde que você renuncie algo muito precioso para você.
— E o que seria?
— Aí então você nunca irá pisar naquele lugar, será para sempre
bem tratada, tendo tudo do bom e do melhor, sendo digna de todo
respeito que nunca teve.
Aceno, sério.
— Bem, se é isso que você quer, eu serei direto. Luisa Jones, até
pouco tempo eu nunca teria nada com você além de uma relação
rápida de amantes...
Ela sorri, mas há tristeza nos seus olhos. No entanto, sei que será
por pouco tempo. Mesmo ela não sabendo, mesmo não acreditando,
ela será feliz ao meu lado, muito mais do que seria com qualquer
outro homem deste mundo.
Ahmed Hamir
— Não tenha medo, Habibi, eu não vou deixar que nada de ruim
aconteça a você a partir de agora — falo, seriamente.
— Ah! — exclama.
— Não se preocupe, Habibi. A partir de hoje, para você sempre será
a segunda tradução.
Ela cora e então vira o rosto para outro lado, fugindo do meu olhar.
Pego o seu queixo e forço o seu olhar no meu novamente.
Sorrio, ironicamente.
Suspiro, irritado.
— Sim, tem coisas que você não sabe, mas são meros detalhes. O
que você deve guardar na sua cabecinha oca é que eu só quero o
melhor para você, Luisa. Saber disso já deveria ser o suficiente.
Ela não responde, está irritada, mas não tem muita opção de ser
contra mim por agora, então fica calada.
Seu olhar sobre mim está desolado, mas ela assente mesmo
assim.
— Agora eu tenho que ir. Só tenho até à tarde de hoje para resolver
a sua situação, e logo irá amanhecer.
Depois disso, chamo o delegado Almir, que logo abre a porta para
mim, trancando Luisa sozinha novamente. Estou irritado por ela ter
que continuar aqui, mas ainda sim tento me lembrar que ela ficará
por apenas algumas horas a mais. Por ora, tenho muitos problemas
a enfrentar, e o pior deles não é o juiz de Luisa, e sim o meu pai. Ele
já sabe sobre ela e não aprova a nossa relação, meus irmãos
também não. Mas a situação é diferente agora, eles estavam certos
em discordar, tudo indicava que ela era como qualquer outra mulher
ocidental, liberal e vivida demais. Mas agora tudo mudou,
absolutamente tudo. Luisa é inocente, uma moça ainda, eles não
podem simplesmente ser contra agora, nem mesmo o meu povo. Se
o meu pai pôde se casar com a minha mãe, então eu também posso
me casar com Luisa. Tudo bem que a minha mãe tinha mais pontos a
favor. Ela nunca teve um namorado e gostava da cultura do país,
enquanto Luisa já teve um, mesmo que na adolescência, e não gosta
de nada da nossa cultura. Tudo será mais complicado, admito, mas
nada que eu não possa consertar. Saindo da delegacia, logo ligo
para Juan. Ele rapidamente atende, mesmo sendo tão cedo:
— Sheik Hamir?
— Juan, eu sei que ainda é muito cedo, mas preciso que prepare o
helicóptero, o mais rápido possível.
— Certo, sheik, já vou ir para a empresa então. Te espero na pista
de pouso e decolagem?
— Sim.
∆∆∆
— Sim e não. É essa mesma mulher, mas eu não a quero mais como
minha amante.
O meu pai fica tenso, sabendo que algo está por vir.
Aceno.
— Então que diabos você está fazendo que ainda não largou essa
mulher?! Uma ocidental totalmente contaminada!
— O senhor está errado, pai, e é por isso que estou aqui! Luisa não
é o que o senhor pensa que ela é e nem o que eu também pensava!
— falo, no mesmo tom que o dele.
— Por Allah, nunca pensei que o meu filho fosse se apaixonar tanto
por uma qualquer ao ponto de ser enganado!
Pela primeira vez, sinto ódio por algo que o meu pai disse.
Absolutamente irado, digo, em tom grave e ameaçador:
— Eu irei falar sobre isso em breve, mas por ora eu queria saber se
tenho a sua benção.
— Eu não sei, Ahmed, eu não a conheço. Além disso, você sabe que
o povo esperava que você fosse escolher alguém do nosso meio.
Estou preocupado.
— Ahmed, não compare Luisa com a sua mãe. Você não teve
contato com ela o suficiente para saber se é digna disso — meu pai
diz, irritado.
— Só porque eu fiz algo assim e deu certo, não significa que dará
certo para você casar-se com uma mulher que mal conheceu! Além
disso, aquilo não foi inteligente da minha parte, foi mais por uma
questão de não ter escolha.
— Eu confio nos meus instintos.
— Por Allah, você é tão difícil quanto a sua mãe quando acredita em
algo!
— Eu não sei não, viu? — Finjo estar em dúvida. — Acho que essa é
uma característica sua, ou seria dos dois?
— Ahmed, eu vou falar bem sério agora: você sabe o que é ter uma
esposa? Não! Mas eu vou te dizer, funciona assim: não importa que
merda aconteça, você não poderá simplesmente desistir de tudo e
procurar outra. Um sheik Hamir só tem uma esposa, por isso pense
muito bem antes de se casar com alguma mulher.
— É claro que eu sei disso, o senhor acha o quê, que estou apenas
brincando de casamento com Luisa?!
— Satisfeito?
Ahmed Hamir
— Será que você não podia ter escolhido uma mulher normal,
Ahmed? Tinha que ser uma tão problemática?! Está na cara que ela
não pertence ao seu mundo, a garota é extremamente liberal!
— Sim, tinha que ser ela. Sobre ela ser "extremamente liberal", o
que eu não acho que seja tanto, eu vou mudar isso, em breve.
— Não seja inocente, Ahmed, domar uma mulher é mais difícil que
um cavalo selvagem.
— Talvez você não seja tão esperto então. Para domar uma mulher,
só é necessário de um pouco de inteligência.
— Por acaso você está insinuando que sou burro, Ahmed?! — meu
pai rosna.
— Por Allah, e não é que Ester conseguiu o que ela queria? O meu
filho parece mais um ocidental do que um árabe!
— Mas é o que todo mundo está vendo! Você não está agindo como
um sheik, Ahmed, e sim como um empresário tipicamente americano,
ou até mesmo europeu!
Aceno em concordância.
— Sim.
— Ela é dos dois países mais liberais que conheço!
∆∆∆
O título de sheik que o meu pai e eu temos foi o que salvou Luisa.
Depois da ligação que fizemos para o juiz que tem o caso dela e
explicarmos o que aconteceu e o que ela é para a família Hamir, o
juiz prontamente atendeu ao nosso pedido de "perdoar" o erro dela.
Obviamente, o seu caso ainda será julgado, porém ele garantiu a sua
liberdade. Enquanto isso, o delegado será autorizado a deixá-la em
liberdade, e um ótimo advogado, indicado pelo próprio juiz, irá
defender Luisa no seu julgamento que será daqui a três dias.
— Vou ser sincero, sheiks, se a mulher não fosse fazer parte da
família de vocês, eu não poderia fazer muita coisa. A lei é a lei.
Agora, já que ela já está noiva do sheik Ahmed, e ele que a trouxe
para cá, ela terá o seu caso perdoado. Porém, é necessário que o
casamento seja feito o quanto antes, para que não haja reviravoltas
— o juiz Mustafá tinha dito, há algum tempo.
Ou seja, Luisa nem imagina a sorte que ela tem. Eu querê-la para
mim foi a sua salvação. Em relação aos seus amigos, eles também
serão perdoados, mas serão expulsos do país. Por causa de Luisa,
eu irei dar a eles o privilégio de não ir para a cadeia, mas isso é só.
Eu não sou bonzinho com quem se mete no caminho da minha
família. Foram eles que colocaram Luisa em perigo e, por mais que
sou grato por isso, já que só assim fui descobrir quem realmente ela
é, eu também não suporto pensar nesses homens, que poderiam ter
feito da vida da minha mulher um inferno se eu não estivesse do seu
lado. Além disso, a partir de hoje, Luisa será proibida de ter amigos
homens, eu não quero saber de mais nenhum ser do sexo masculino
perto da minha mulher, não irei permitir. Como minha esposa, os
únicos homens que ela terá contato são os da minha família.
Luisa será livre de qualquer punição, mas em troca era irá perder a
liberdade de quando era solteira. Nada de homens, nada de viajar
sozinha, vestir o que quiser, fazer o que quiser... Sua vida será
totalmente diferente agora. Eu posso ser mais tolerante do que o
meu pai com a minha mãe, porém não tanto a mais assim. Quando
se trata da minha esposa, sinto a necessidade de ser o mais
conservador e primitivo possível. Ela é minha, e eu irei provar isso.
Luisa terá que aprender a ser a esposa que eu preciso, a esposa de
um sheik árabe. É necessário que ela aprenda a ser obediente a
mim, submissa em alguns momentos e também a mãe dos meus
filhos, além de uma respeitável sheika para o meu povo. São muitas
as qualidades que Luisa irá precisar, mas eu sei que ela irá conseguir
todas. A melhor forma de conseguir o que eu quero dela é não a
obrigando a nada, e sim a convencendo de que o que eu tenho em
mente para ela é a melhor opção. E é verdade, tudo o que eu
imagino para Luisa é o melhor possível, ela só não sabe ainda.
Se ela não aceitasse, teria até mesmo que tomar uma atitude
radical, como forçá-la a isso, pois não teria outra opção. Um sheik
Hamir nunca tira a virgindade de uma mulher que não seja a sua
esposa. Se eu ferisse a sua honra de uma forma tão absurda como
essa, eu teria que dar um jeito de consertar o máximo possível.
Também teria que reunir o conselho para explicar toda a situação.
Ou seja, tudo seria traumático demais para Luisa. Logo, estou feliz
que isso não aconteceu, graças à atitude idiota dela que a colocou
numa delegacia. Ela nem imagina do que acabou de se livrar.
— Você não tem mais por que chorar, Habibi, eu já vou te tirar daqui
— falo, suavemente.
Ela assente.
Seguro o seu queixo, com firmeza, com os meus olhos fixos nos
dela.
— Você não perdeu a sua vida, Luisa, só ganhou outra, uma muito
melhor, eu prometo. Pode ser que você não acredite ainda, mas com
o tempo verá que eu falo a verdade.
Ela se mantém em silêncio.
— Eu não sei mais o que pensar, Ahmed. Não sei mais no que
acreditar, no que esperar... Eu só queria que isso fosse apenas um
pesadelo e que eu fosse acordar em breve — fala, em meio a uma
confusão de lágrimas e soluços.
Sinto uma pontada de empatia por sua dor e então a tomo nos
meus braços, novamente a protegendo.
— Você não tem que se preocupar com nada, Habibi, nem pensar
em nada, não é mais necessário. Eu cuidarei de tudo. Sei que é
assustador confiar em um homem que você não conhece muito, mas
você irá precisar confiar em mim. É a única maneira de se manter
em paz.
— O meu pai está aqui também. Ele me ajudou a te tirar daqui. Ele
também está vestido como eu, mas você não tem que se sentir
assustada e nem intimidada com o jeito dele, Luisa. Ele é um sheik e
pode parecer um pouco intimidante, mas isso é só, o meu pai não vai
ser ruim com você.
Luisa Jones
Mas aqui estou eu, ao lado de um homem que até pouco tempo
seria só o meu chefe, mas que agora será o meu marido, sendo que
eu nem mesmo sei o que ele gosta de fazer, o que não gosta, se
temos coisas em comum... Mas não, isso não foi necessário, não
quando eu estava presa numa delegacia, pronta para ir para um
lugar pior ainda. Eu estava desesperada, aceitaria qualquer proposta
para sair de lá. E então Ahmed me oferece um casamento... Agora,
não paro de pensar nos impactos que isso terá sobre a minha vida.
Nunca mais terei um namorado, uma vida normal... Quando os meus
pais souberem disso, eles ficarão desesperados, e é por isso que
não vou contar para eles, pelo menos não agora, e ainda sim,
quando contar, não será a verdade completa. Daqui um tempo,
quando eu própria souber com o que estou liderando, darei um jeito
de contar uma história mais fácil de engolir, talvez uma como: "Então,
pai e mãe, não tem o sheik Ahmed, dono da empresa que você, pai,
trabalha? Nós estamos apaixonados e já nos casamos! Foi tudo
muito rápido, sinto muito".
Me viro para onde ele está olhando e então eu vejo duas mulheres
andando em nossa direção. Quando se aproximam o suficiente, fico
espantada em como são bonitas. A senhora, mesmo mais velha, é
tão bonita que é impossível não notá-la. Ela tem cabelos negros,
pele clara e olhos muito verdes. Logo sei que é a mãe de Ahmed. A
outra, uma mulher jovem, não parecendo ter mais que dezenove
anos, é o oposto da mãe, exceto pelos olhos verdes, que parecem
com os de Ahmed, o que obviamente é uma herança da mãe. Mas,
exceto por essa parte, ela parece o sheik Hamir, tem pele morena,
cabelos longos, escuros e longos e é de estatura alta, provavelmente
com pouco mais de 1,70 metro de altura. Céus, por que essa família
é tão bonita? De repente, elas já estão na nossa frente. A mãe de
Ahmed rapidamente vai até o filho e o abraça. A irmã, por sua vez,
me cumprimenta com um aperto de mão, curiosa e observadora.
Ahmed logo me apresenta:
— Então o que o seu pai disse era verdade? Você está noivo, de
repente?
— Eu não sei o que está acontecendo entre vocês, mas saiba que é
um prazer te conhecer, Luisa. Eu sou Ester, mãe de Ahmed, e quero
que você se sinta parte da família a partir de hoje.
Sorrio.
— Okay.
— Olha, Luisa, confesso que estou aliviada, viu? Quase achei que
Ahmed fosse se casar com Jamile, uma mulher que é filha de um
membro do conselho. Ela não saía da cola dele, você acredita? E eu
não a suporto! Estou supercontente que ele não fez uma merda
dessa.
— Ih, não venha dar uma de noivo estressado não, Ahmed. Luisa
agora é da família, e você tem que entender que quero conversar
com ela sobre tudo! Ou você acha que ela pode viver numa bolha?
— ela refuta.
— Sinto muito por isso, Luisa, soltei uma bomba, não é? Mas é
porque eu não consegui me conter, fiquei feliz que Ahmed não quis
Jamile.
Logo o sheik Tariq Hamir está entre nós, ao lado da sua esposa.
Ele olha para todos e franze a testa para a tensão do filho.
— Vamos entrar, o almoço já está por vir.
— Tariq está certo, está quente aqui, e o almoço já está para ser
servido. Espero que esteja com fome, Luisa.
— Eu estou — falo.
— Jade, será que você tem alguma roupa que sirva em Luisa? Que
seja mais decente do que o vestido que ela está usando. — A sua
voz não disfarça o seu ódio pelo meu vestido.
— Este será o seu quarto por enquanto, Luisa. O banheiro é logo ali.
Eu recomendo que tome só um banho de ducha por agora, porque o
almoço já está quase sendo servido.
Ele acena e então sai, depois de ter certeza de que eu ficaria bem.
Jade logo entra, alguns minutos depois, e deixa várias roupas na
cama, animada.
Ela sorri.
— Você não tem que agradecer. Será muito bom ter alguém próximo
da minha idade e do sexo feminino na família. Você sabe, tenho três
irmãos mais velhos, nunca tive uma irmã, então vai ser bom ter uma
cunhada, principalmente uma como você, que também é metade
brasileira!
— 26 — responde.
Aceno em concordância.
— Sim — concordo.
— Certo.
— É, até que ficou bom em você. Mas, poxa, você é tão bonita que
até um saco de batatas ficaria bom!
Luisa Jones
— Cale a sua maldita boca e não fale da minha mulher, Khaled. Não
é o seu trabalho admirar a beleza da minha noiva, é o meu.
— Se está rindo tanto, Samir, então deve ser que você já está pronto
para se casar tanto quanto Khaled, não? — o sheik Tariq pergunta,
irônico.
— Por que não? Eu já tenho vinte e seis anos, não estou adulta o
suficiente até hoje?!
— Mãe, você vai concordar com isso? — Jade apela para o lado da
mãe.
— Não mesmo! — Tariq rosna, olhando feio para a sua mulher, que
nem mesmo o dá atenção.
Eu, no meio disso tudo, não podia estar mais assustada. Tenho
certeza de que a minha boca está aberta há vários minutos.
— Eu não entendo vocês, não vejo nada de mais em querer me
casar. Todo mundo um dia acaba pensando nisso, pelo menos é o
que quase sempre acontece! — Jade fala, contrariada.
— Jade, você não vai se relacionar com nenhum homem até que eu
diga que é o momento certo e o homem certo! — o sheik diz,
autoritário.
— Concordo! Antes de ele ter qualquer coisa com você, primeiro terá
que conquistar a nossa aprovação! — Ahmed fala, no mesmo tom do
pai.
Seu marido a olha atravessado, mas isso só a faz rir ainda mais.
Confusa, toco no braço de Ahmed, chamando a sua atenção. Ele me
fita, surpreso, como se tivesse se esquecido de que estou aqui, e
então fala, só para eu escutar:
— Jade deveria decidir o que fazer com a vida dela por si mesma,
não?
— Não é assim que as coisas funcionam aqui, Habibi, e logo você irá
entender o que eu estou dizendo, muito em breve.
A forma como ele me diz isso fez os pelos dos meus braços
arrepiarem. Parecia uma promessa obscura. Ele percebe o meu
assombro e simplesmente volta a conversar com os irmãos e o pai
sobre a "loucura" da irmã. Ester parecia estar se divertindo com tudo
isso. Ela me olhou um par de vezes e, vendo o meu estado de
incredulidade, piscou uma vez para mim, divertida. Ela não parece se
importar muito com as opiniões autoritárias dos homens da família.
Enfim, o almoço foi tão conturbado que nem mesmo prestei atenção
no que estava comendo, apesar de tudo ter estado muito bom.
Quando todos terminaram de comer, Jade foi a primeira a sair,
nervosa, dizendo que iria para o seu quarto. Em seguida se foram os
irmãos de Ahmed, que descobri serem gêmeos. Por fim, Ahmed
perguntou se eu queria descansar, e eu concordei. Então ele me
acompanhou até o meu quarto, não escondendo o seu mau humor,
mas sem falar nada sobre isso.
— Eu vou ser bem direto, Luisa, para que você não confunda as
coisas entre nós dois. Jade é uma boa garota, você pode ficar em
sua companhia sempre que quiser. Porém, só tem um detalhe,
lembre-se sempre que nada do que ela disser terá mais valor do que
a minha palavra. Ela é uma moça um pouco rebelde, então já digo
que não quero ver você indo na onda dela. Escutou? Se for fazer
alguma coisa, qualquer que seja, você precisa me pedir permissão
primeiro.
Olho para ele, quase não acreditando no absurdo que são as suas
palavras.
— Tudo bem que é normal que a minha liberdade diminua, mas não
tanto!
— Querida, uma coisa que a sua vida não será mais é normal. Você
será a esposa de um sheik, lembra? Um sheik árabe.
— Sim. Mas não se engane, sou mais árabe do que você imagina.
Coro, envergonhada.
— Não sei por que está achando ruim, o certo seria quinze dias, já
que sou um sheik. Porém, diminuí os dias devido às circunstâncias.
— Ah! — suspiro.
— Mas é esse tipo de roupa que você vai vestir a partir de hoje.
Tudo será estritamente elegante e discreto, exceto...
— O quê?
— Quais?
— Certo, minha noiva, vou deixar você descansar agora, mas não
por muito tempo — diz, quase que numa promessa ou ameaça. Não
sei distinguir.
Ahmed Hamir
É assim que deve ser, ninguém deve atentar contra a vida do sheik
ou da sua família, a menos que queira ser executado publicamente.
Enfim, depois desse ocorrido, alguns membros do conselho foram
expulsos, até mesmo do próprio clã. Hoje, os antigos que restaram
estão aposentados, exceto Hiran, que é um bom aliado do meu pai.
Contudo, há muitos dentro do conselho que não são muito confiáveis,
mas isso é normal, sempre há a oposição, não importa onde e nem
quando. Mas a questão é que hoje ela irá tentar complicar, e muito, a
minha vida, já estou prevendo. A escolha de uma esposa é algo
muito importante na nossa cultura, principalmente no meu caso, que
a esposa será a do líder do povo e mãe dos futuros líderes. Luisa
nem mesmo imagina o tamanho da responsabilidade que terá, mas
não vou preocupá-la com isso agora, não até nos casarmos, pelo
menos. Até porque eu ainda terei, no mínimo, mais cinco anos de
alguma liberdade até que o meu pai passe o seu lugar para mim.
Tenho certeza que Luisa estará pronta até lá e até mesmo já será
mãe de alguns dos meus filhos. Eu quero ter, pelo menos, três filhos,
e eu não vejo a hora de começar a fazê-los, digamos que Luisa me
inspira a fazer bebês, tudo parece tentador demais quando a vejo.
Ela é uma garota tímida demais, tem dificuldade de mostrar os seus
sentimentos, talvez eu precise lhe dar uma ajuda com isso. O que
não vai faltar para ela, no entanto, é um homem disposto a satisfazer
todos os seus desejos ocultos, que eu sei que ela esconde atrás dos
seus lindos olhos azuis-brilhantes. Ela não sabe ainda, mas terá
muito trabalho pela frente. Quero-a disposta a me satisfazer todos
os dias, em todos os momentos que eu quiser. Mas ela irá querer
também, em breve Luisa estará viciada em meu toque e não
conseguirá passar mais nem um dia sem. Quando ela for perceber o
que estava acontecendo, será tarde demais para mudar o que já
aconteceu: Luisa estará totalmente apaixonada por mim, seu marido.
Ele acena.
— Entendo, mas fico feliz que esteja de volta, o senhor faz muita
falta.
Sorrio.
— Então você fez igual o seu pai, hein, rapaz? Uma estrangeira.
— Exatamente.
— A sua filha pode ser tudo isso, Jamal, mas não despertou o
interesse do nosso sheik Ahmed, e isso é inadmissível. Tenho
certeza que Jamile não terá dificuldade em encontrar um homem à
sua altura mais tarde — Said diz, discordando da fala do outro
homem.
— Isso é ridículo! Jamile deveria ter sido escolhida, todos do nosso
povo já imaginavam que ela seria a esposa do sheik! — Jamal
novamente fala, irado.
— Isso porque ela espalhava notícias que não eram mais do que
frutos de sua própria cabeça! Nosso sheik nunca alimentou essa
ideia! — Hiran refuta, nervoso.
Depois da discussão ter durado mais uns vinte minutos de pura falta
de consenso entre os membros, sendo alguns mais passivos, outros
ativos, meu pai finalmente diz, irritado:
Luisa Jones
Mas, por mais estranho que isso pareça para mim, há muitas
pessoas que amam esse lugar, que sentem orgulho por serem
árabes, por serem deste país, ou de qualquer outro da região, e por
terem a cultura e tradição que têm. Isso é totalmente anormal, no
meu ponto de vista. Como que uma pessoa é tão feliz vivendo com
falsa liberdade e com leis tão absurdas? Eu não faço ideia, mas sei
que isso acontece sim, para a minha surpresa. Inclusive, pelo pouco
tempo que estive aqui, vi que as mulheres também parecem
satisfeitas com seus estilos de vida totalmente incomuns. É claro que
há várias mulheres que vivem como ocidentais mesmo, trabalham
fora etc. Mas isso não acontece com a maioria delas. Eu fico
totalmente confusa com algumas regiões deste país, que são mais
tradicionais. É tudo muito diferente.
Capítulo 18
Luisa Jones
— Claro!
— Eu sei que você deve estar com fome, mas queria conversar um
pouquinho com você antes, isso seria um problema?
Aceno, envergonhada.
— Certo.
— Bem, muito melhor! Você precisa rir mais, relaxar mais, não
somos uma família de vampiros, ninguém vai te morder.
Franzo a testa.
— Bem, acho que nada melhor que dar uma pequena pincelada da
minha própria história com Tariq, o pai de Ahmed. Gostaria de saber
um pouco sobre como nos conhecemos?
Ela acena.
— Simples assim?!
— Por que você fez isso? Ele te obrigou a casar com ele? —
questiono.
Não digo nada, ela parece estar tão concentrada, que decido não a
interromper. Ela me encara.
Ela concorda.
— Sim, trabalhei por uns dez anos, até que vi que as crianças
estavam crescendo rápido demais, e eu não estava curtindo a
infância delas como deveria. Então eu fiquei um tempo parada, dez
anos depois voltei, mas vi que isso não era mais tão importante para
mim. Você sabe, era desnecessário... E eu era feliz estando mais
despreocupada.
— Nossa, então isso quer dizer que irei poder continuar com a minha
vida profissional?!
— Não é bem assim. Acredito que Ahmed não irá deixar você voltar
à sua vida de antes por agora. Provavelmente ele irá querer passar a
maior parte do tempo com você nos primeiros anos de casados,
mas, depois de um tempo, ele provavelmente não irá se opor a você
seguir os seus sonhos, desde que eles não a levem para longe dele,
é claro.
— Ah, querida, você com certeza não irá enlouquecer, não mesmo!
Ahmed não irá deixar isso acontecer, tenho certeza de que ele irá
encontrar meios de te distrair.
— Entendo...
— Bem, é uma pena, porque eu acredito que a única coisa que irá
conseguir é dar trabalho extra para o seu futuro marido. Eu conheço
o meu filho, e ele não irá aceitar um matrimônio tão impessoal quanto
o que você tem em mente.
— Por que ele não aceitaria? É isso o que somos: duas pessoas
totalmente diferentes que irão se casar. Não pensamos parecido e
não nos conhecemos da maneira certa. Ele deveria saber que
sentimentos não é para nós dois.
— Bem, se você pensa assim... Não sou eu que irei fazê-la mudar de
ideia, Luisa. Porém, tenho o pressentimento de que isso só irá
atrasar o inevitável. Mas, enfim, a escolha é sua.
Luisa Jones
— Bem, você devia dizer isso para o seu "pretendente", foi ele que
me escolheu, não o contrário — provoco, irritada com a sua ousadia.
— Se vocês acham que isso vai ficar desse jeito, estão enganadas!
Essa farsa de casamento não irá durar muito!
— Já estou indo! Mas não pense que essa daí será o que você
precisa!
— Que vadia! — Jade diz. — Sabia que essa víbora não iria aceitar
tão fácil a derrota!
Ele acena, seus olhos verdes ficando mais escuros, seus lábios
numa linha fina e dura.
— Sim.
— Bem, eu estive no spa hoje, não tive como usar meus produtos de
sempre.
— Ótimo.
Ele ia me dizer algo a mais, mas Jade chega, com uma taça
dourada na mão, que suspeito ser folheada a ouro.
Ela ri.
— Tenho percebido que você tem uma paixão por frutas cítricas.
Aceno.
∆∆∆
— Não tem, Ahmed, e você sabe muito bem disso. Eles precisam
estar aqui quando acontecer.
Não entendendo nada do que eles estão falando, olho para Jade,
tentando encontrar algo na sua expressão, mas o que vejo é um
rosto corado de vergonha, e seus olhos evitam os meus. Então olho
para Ester, que retribui o meu olhar com uma inquietação pouco
disfarçada. Ela então se esforça para sorrir, tentando passar uma
calma que ela com certeza não tem agora.
— Você sabe que tem que fazer isso, Ahmed! Você é o futuro sheik,
sem isso, você não trará segurança para o povo de que cumprirá
com as tradições e que a sua esposa... Além disso, é uma prova
também de que os seus filhos... Ela já não fez o teste médico! — diz
Tariq, cortando partes.
Olho-a, não entendo por que raios ela está falando sobre isso aqui.
— Não, Luisa. Bem, olha, temos uma tradição de família que o casal,
você sabe, consuma o ato durante a festa — Tariq fala, não muito
confortável.
— Durante a festa?!
— Bem, sei que parece estranho para você, mas aqui isso é
normal... Obviamente ninguém irá chegar muito perto da ala que
estiverem... — Ester tenta explicar.
— Tariq!
— Luisa, por favor, faça isso por mim. Prometo que não será o bicho
de sete cabeças. É um pouco desconfortável saber que tem pessoas
no castelo, mas eles não irão te ver mais por hoje. Logo todos irão
embora.
— Certo, eu vou fazer isso, mas por você, porque eu sei que o seu
posto exige isso e porque eu respeito a sua família.
— Obrigado, Habibi.
Capítulo 20
Luisa Jones
Assim que ele escuta a minha afirmação, logo sou enlaçada pelo
seu braço, de forma possessiva, na minha cintura. Ahmed reencontra
com o seu pai e troca algumas palavras com ele, em árabe. Tariq me
olha rapidamente e acena. Em seguida, o sheik vai até alguns
homens, em um grupo reunido, e diz algo. De repente, sou o alvo de
vários olhares sistemáticos. Os outros convidados da festa também
parecem curiosos e animados. Percebendo o meu nervosismo,
Ahmed começa a me levar para mais adentro do castelo. Antes de
nos afastarmos ainda mais, porém, Ester me alcança e diz, no meu
ouvido:
Ela então se afasta, mas antes olha para o filho, que retribui o
olhar. Ahmed continua me levando para mais adentro do castelo, até
chegarmos numa porta desconhecida por mim, a qual ele abre.
Quando eu entro, a primeira coisa que sinto é o cheiro de Ahmed,
exótico e masculino. Observo o quarto rapidamente. Ele é enorme e
absurdamente luxuoso.
Não respondo. Estou fascinada demais pela forma que ele está
falando comigo, me seduzindo. Os dedos dele vão para o meu colar
de safiras, um presente me dado por ele ontem, por intermédio de
sua mãe. Ele então, de repente, para no meu decote discreto e fixa
o seu olhar lá, por longos segundos.
— Como eu te disse, amo ver você com roupas caras e joias, porém
tenho o pressentimento de que irei gostar mais de te ver sem nada,
totalmente natural.
— Oh, não fique com medo de mim, Habibi. Você não pode ficar
aflita só porque estou sendo homem, pode? O seu marido deve ter
liberdade para querer você, ou você não concorda? — pergunta,
seus olhos verdes fixos nos meus, me hipnotizando.
Balanço a cabeça.
— Você. É. Minha.
— Mas você sabe disso, não é, Habibi? Você sabe que me pertence,
que pertence ao seu sheik, para sempre — ele sussurra no meu
ouvido, sedutor.
Arfo, ansiosa, com o coração disparado e os pensamentos a mil
por hora.
— Sim, eu quero.
Ele afrouxa o aperto, mas a sua mão continua lá, num claro domínio
sobre mim.
— Eu não quero que você pense que isso é algo ruim, nem sempre a
obediência é algo ruim. Na verdade, na maioria das vezes, ela é boa
— diz, sedutor. — Ser obediente a mim lhe trará benefícios, eu
prometo. Será tão bom, que você ficará viciada, não irá querer mais
me contestar.
Não respondo, e ele entende isso como um sinal para avançar. Ele
então espalha vários beijos quentes pelo meu pescoço, nunca
encostando nos meus lábios, me deixando sempre na expectativa,
mas nunca chegando lá. Quando estou tremendo nos seus braços,
ele para. Simplesmente para e me solta, deixando-me desnorteada.
Vendo a minha insatisfação, ele sorri.
Atordoada, digo a única coisa que sou capaz de dizer no meu atual
estado:
— Ah!
— Você não deve ficar envergonhada por isso, Luisa. Eu sou o seu
marido, o seu desejo é o meu também.
— Boa noite, sheika, eu sou Aisha e esta é Leila. Estamos aqui para
te preparar para a sua noite de núpcias.
Como que eu fui parar aqui?! Olha só onde um erro idiota foi me
trazer! Tudo bem que Ahmed é extremamente bonito, mas isso aqui
é assustador. Estou me sentindo como um frango pronto para o
abate, ou um cordeiro para o sacrifício. Eu sinceramente não sei
como que, mesmo nestas condições, eu esteja tão ansiosa pelo o
que estar por vir. Eu ainda estou excitada e não paro de pensar nas
palavras de Ahmed. Tudo o que ele diz é tão machista, tão cheio de
possessividade e obsessão... Mas, ainda sim, por mais estranho que
seja, isso me deixa muito, muito animada por mais. O seu jeito
autoritário, às vezes, é intimidante, mas na maioria das vezes é um
baita afrodisíaco. O seu jeito ora carinhoso e compreensivo, ora
possessivo e autoritário me deixa totalmente confusa, mas
completamente instigada a me aproximar mais da sua presença.
Sinto um desejo obscuro de descobrir mais, de saber quem ele
realmente é e aonde ele quer me levar.
— Levante-se.
— Ahmed... — protesto.
— Nada vai entrar aqui enquanto eu não tiver o meu pênis dentro
primeiro — fala, quase que agressivo.
— Não fique triste, Habibi, eu vou deixar você chegar lá, mas precisa
ser comigo dentro de você.
Fico de boca aberta com o seu comentário. Rindo, ele logo está em
cima de mim, me dominando. Ele chupa novamente um dos meus
seios, me fazendo soltar um gemido de prazer.
— Eu vou fazer com que isso seja bom para você, esposa.
Antes que eu pudesse pensar e dizer algo, sinto a ponta do seu
pênis na minha entrada molhada. Gemo, ansiosa, mas ao mesmo
tempo assustada. Ahmed segura o meu rosto com uma mão,
enquanto a outra continua entre nós. Ele me força a olhar
diretamente em seus olhos verdes.
Não demora muito para que ele comece a entrar, devagar, parando
uma vez ou outra devido aos meus gritos de pânico.
Exausta demais, não digo nada. Ahmed beija a minha testa logo em
seguida, e eu adormeço. Caindo no sono, só tenho tempo de pensar
que o lençol debaixo de mim estava sendo tirado.
Capítulo 21
Ahmed Hamir
Bem, há muitas coisas que pretendo fazer com Luisa ainda, uma
delas é possui-la novamente, e então novamente... Só de pensar em
tomá-la mais uma vez, sinto o meu pau endurecer, deixando-me
louco por libertação. Mas agora não dá para fazer isso, preciso
resolver a questão da virgindade de Luisa com o clã. Eu me recusei
a mandá-la fazer o teste de virgindade com a ginecologista, a sua
palavra já foi o suficiente para mim. Não é a dúvida ridícula de velhos
que iria me fazer obrigá-la a isso. Porém, no caso do lençol, essa
sim é uma tradição que não posso quebrar, ela é milenar. Todos os
sheiks Hamir penduraram o lençol manchado com a virgindade da
esposa na janela. Isso serve, não só para comprovar que a esposa
era virgem, como também para provar que o casamento foi
consumado e que os meus herdeiros serão legítimos, já que a mãe
nunca teve outro homem. Se eu não fizer isso, a vida da nossa
família poderá se transformar num inferno. Podem acusar Luisa de
adúltera e os meus filhos de ilegítimos. Assim, para evitar qualquer
problema futuro, o lençol de Luisa será pendurado na janela do meu
quarto, que está no terceiro andar do castelo, para que todos do clã
vejam que Luisa era sim pura.
Essa é uma tradição que pode parecer horrível para muitos países,
porém, no caso do meu clã e algumas regiões do Oriente, isso é
motivo de orgulho para as mulheres, elas se sentem honradas por
chegarem virgens ao casamento, e os maridos também se sentem
orgulhosos. Estou um pouco preocupado, no entanto. Provavelmente
Luisa não irá entender a importância do ato e ficará histérica. Mas eu
não posso fazer muita coisa sobre isso, tenho que cumprir com a
tradição.
— E então, filho, deu tudo certo? — ele pergunta, assim que estou
na sua frente.
— Sim, ela está dormindo, acho até bom. Ela precisa descansar, a
semana foi bem agitada para ela.
Meu pai concorda e então fica sério, seu olhar fixo no lençol que
estou segurando.
Luisa Jones
De repente, em meu sonho, sou impulsionada a acordar pela voz da
minha própria mente. Quando acordo, me assusto quando vejo onde
estou. Com o coração disparado, me sento na cama e logo noto que
ainda estou nua. Olhando ao redor do quarto de Ahmed, que está um
pouco escuro, sou atraída pelo que vejo na enorme janela do
cômodo. Solto um grito assustado quando vejo que é um lençol
manchado, obviamente com o meu sangue. Desesperada, fico em
choque por vários segundos, sem saber o que está acontecendo. Só
depois que fui perceber que Ahmed estava tomando banho no
banheiro do quarto, pois ele logo sai de lá, com apenas uma toalha
ao redor do quadril. Inconscientemente, estou olhando para o seu
peito moreno e definido. Há uma cicatriz perto do seu esterno, a qual
ainda não sei o motivo de ela estar lá. Ahmed só me disse que tinha
sido um deslize de sua parte, no entanto a sua explicação foi muito
vaga.
— Você acabou de acordar, não achei que já tinha notado o que tem
no lençol.
— Eu sou muito bom com você, Luisa, mais do que você imagina.
Mas eu nunca irei permitir que você continue com o seu pensamento
de merda! Você é a minha esposa e sempre será a minha mulher,
até você morrer! Eu JAMAIS deixarei você ir para longe de mim!
Sinto o seu corpo ficar rígido, e o seu olhar fica mais escuro.
Balanço a cabeça.
— E só por isso você simplesmente decidiu que ele é falso, que ele
não merece a sua atenção?!
— Eu só não quero fingir que estou feliz!
— Eu não quero que você finja, sua tola! Eu só quero que se permita
ser feliz no futuro. É tão difícil assim colaborar para ser feliz
comigo?!
— Me solte, Ahmed!
Dito isso, a sua boca vai para o meu seio esquerdo, me chupando
com força. Grito, em choque pelo prazer instantâneo. Tento
novamente sair, sem sucesso. Logo a sua boca está alternando
entre um seio e outro, me fazendo gritar de prazer e raiva. Não
satisfeito, a sua mão vai para a minha parte mais íntima, e ele
começa a massagear o meu clitóris, com força, fazendo o atrito
aquecer a minha carne. De repente, tudo o que estou sentindo é puro
prazer, euforia e uma vontade imensa de ser preenchida. Eu nunca
tive essas sensações antes, até as últimas horas... O meu corpo
parece se lembrar do que Ahmed fez comigo ontem e parece querer
novamente, com ardor. Gemo, inconscientemente pedindo por mais.
— Se você quer gozar, então me peça "por favor" para que eu entre
em você e te preencha, até você gozar ao redor do meu pau.
— Sim — sussurro.
— Eu quero gozar.
Irritado, ele vai para o banheiro, sem dizer nada. Pouco tempo
depois, ele volta e veste uma roupa no seu closet. Algum tempo
depois, vestido, ele me fita, nervoso:
Ahmed Hamir
Porém, Luisa não tem feito nada para tentar fazer a minha vida um
pouco mais fácil, ela não tem sido nem um pouco compreensiva. Isso
é algo ruim, pois só vai tornar a sua vida mais complicada, porque o
que está feito está feito, fim de história. Ela se casou comigo,
aceitou ser a minha esposa sabendo quem eu sou. Agora terá que
ser a minha mulher para sempre, eu nunca a deixarei ir embora. Uma
vez minha esposa, sempre a minha esposa. Eu sei que ela se casou
comigo por falta de opção, ou se casaria ou iria ser presa. Mas eu
não tive envolvimento com a merda que ela se meteu. Luisa não
pode me acusar de eu ter tramado por esse casamento, porque
essa não é a verdade. Eu nem mesmo pretendia me casar com ela,
porque acreditava que ela não cumpria os requisitos para ser a
esposa de um sheik. Quando ela me contou que nunca teve algo
sério antes com um homem, então tudo mudou.
Juan acena.
— Entendi.
Sabendo que ele irá fazer tudo perfeitamente como pedi, digo-lhe
que irei ter o meu café da manhã e em seguida estarei pronto para ir
trabalhar, em Dubai. As minhas obrigações são muitas e tenho que
resolver algumas pendências antes de poder tirar alguns dias de lua
de mel com Luisa.
Luisa Jones
— Entendo — comento.
Fico de boca aberta, sem saber o que responder. Jade solta uma
risadinha, e Ester repreende os filhos, irritada e com vergonha por
eles.
— Luisa, ignore-os, são dois imaturos ainda.
Sem saber o que fazer numa situação como essa, fico parada,
vermelha de vergonha. Tenho certeza de que a família de Jade não
ficaria feliz se soubesse do tema da nossa conversa de agora.
— Hum, Jade, eu não sei se devo conversar com você sobre isso —
falo, em tom culpado.
— Ah, qual é?! Eu sou cinco anos mais velha que você, cunhada, não
sou nenhuma criança, então pode ir desabafando!
— Doeu?
— Ele foi cuidadoso sim, mas ainda sim doeu. Mas não foi culpa
dele.
— Claro.
— Sim.
— Sim, várias vezes, mas ele não aprova, nem os meus irmãos... —
Ela suspira. — É complicado. Mas eles não podem me segurar por
muito mais tempo.
— Claro que sim, não sou nenhuma boba, conheço a minha família.
Pelo pouco que conheço dos homens Hamir, eles não são
brincadeira.
— E o que tem?
— Ele parecia estar muito irritado. A cara dele não estava muito boa,
o que é bem estranho, vocês tinham acabado de ter a noite de
núpcias...
— Luisa... Garota, você não devia ter dito isso. O lençol é uma
tradição dos sheiks do clã, não foi ideia dele, é uma tradição milenar!
— Mas você não devia ter descontado nele. Tadinho... Ele parecia
tão feliz no casamento. Ele deve ter ficado arrasado. Eu conheço
Ahmed, ele realmente parece gostar muito de você.
A forma como ela disse isso me fez sentir um pouco mal, e sinto a
minha consciência pesar. Suspiro, soltando o ar com desânimo.
— A segunda coisa que aconteceu para ele ficar irritado é que ele
me perguntou se eu tomava pílulas anticoncepcionais, e eu respondi
que sim, para regularizar o meu ciclo menstrual. Ele ficou irritado e
disse para eu parar, e eu disse que não iria, porque não quero
engravidar agora.
— Nossa, vejo que a manhã de vocês não foi muito normal, hein?
— Não mesmo.
Jade então me encara, seu olhar um pouco pensativo.
— Pois é! Então não fique com raiva dele por ele querer ser pai.
Quanto mais a família for grande, menor serão os problemas para
Ahmed. É a lógica, não é muito fácil tirar uma família do poder
quando sempre há alguém dela para suceder se matarem o líder.
Ela acena.
Luisa Jones
— Exatamente!
Ele me olha, malicioso.
— Você sabe que isso não me impede de te ter, não é? Tirar a sua
roupa novamente até deixá-la nua para mim não é um problema.
Reviro os olhos.
— Blá, blá, blá! Não me venha com essa conversa por agora,
Ahmed. Eu já vou descer, te vejo na sala de jantar para a refeição,
mais tarde, okay? — falo, cortando-o, preparada para sair do
quarto.
— Sim, você não vai, porque eu já tenho planos para você neste
momento.
— Por Allah, o que eu fiz com você? Duas vezes que eu te tive e
você já pensa que tudo se trata de sexo?! — diz, fingindo
desapontamento.
Corando, questiono:
— Cinema.
— Cinema?!
— Baby, há muitas coisas que você não sabe sobre mim. Uma delas
é que eu amo assistir um bom filme.
— Então você quer me levar para algum cinema de Fujairah?
— Não mesmo. Não precisamos sair, tem uma sala de filmes aqui no
castelo, até melhor que um cinema.
— Deixe isso para lá, hoje vamos agir como dois jovens rebeldes e
comer apenas besteiras — diz, em tom baixo, como se realmente
fôssemos fazer algo de errado.
∆∆∆
Ele ri.
— Sim, eu não era tão bonzinho também. Mas era mais velho e
sabia me comportar como um bom garoto nos momentos
importantes.
Ele acena.
— É, não muito.
Ele acena.
— O quê? — questiono.
Franzo a testa.
A forma como ele me disse isso, tão sério e com tanta intensidade,
fez os pelinhos do meu pescoço se arrepiarem e o meu coração
disparar. Ele então larga o chocolate que estava comendo e segura
o meu rosto com suas duas mãos grandes e morenas.
— Eu já faço isso.
Ele então chega o seu rosto muito perto do meu, a sua boca quase
tocando a minha.
— Sério?! Nossa, achei que não fôssemos viajar. Os seus pais não
viajaram.
— Brasil.
— Bem, mas acontece que você irá para lá bem raramente agora
que é a minha esposa. Além disso, esta viagem também tem um
propósito — diz, em tom misterioso.
— E qual é?
— Casar você.
Faço uma careta.
Olho-o, espantada.
— Gostei, mas... Você sabe, eles não sabem que estamos casados,
nem que temos algum relacionamento e...
Aceno, ansiosa.
Bufo.
— Hum, é mesmo?
Reviro os olhos.
— Eu?
Coro.
— Ahmed!
— Não me olhe com essa cara, Habibi. Antes de tudo, eu sou um
homem. Lembre-se disso.
Luisa Jones
Mais uma vez, tentei a todo custo explicar a minha situação e dizer
que Ahmed não é o monstro que todos imaginam. Ela não ficou muito
convencida, no entanto. Agora, neste momento, ela está me
abraçando apertado, no aeroporto.
Ahmed está atrás de mim, nos ignorando, porque o seu olhar está
totalmente voltado para Gael, cheio de desconfiança. Vejo quando o
meu amigo olha para ele também, de cima para baixo, e ele faz
questão de piscar o olho para Ahmed, debochado. Fico de boca
aberta com a coragem dele. Ahmed fica tão tenso e irritado, que
quase achei que ele fosse voar em cima de Gael com algum soco.
De repente, o meu amigo simplesmente me abraça, beijando a minha
bochecha enquanto isso. Ele me pegou de surpresa, e tudo o que eu
pensei no momento é que Ahmed não iria gostar. Dito e feito, quando
me dou conta, Gael é arrancado de perto de mim à força por um
Ahmed irado.
— Que porra você acha que está fazendo, seu idiota?! — rosna, os
olhos em chamas.
— Ih, já vi que o seu macho é ciumento, hein, Lu? — ele diz para
mim.
Ahmed estava pronto para fazer alguma coisa pior, quando Gael
levanta as mãos, em gesto de paz.
— Calma aí, valentão. Eu sou gay, não vou tomar a sua esposa não.
— Opa, opa, opa! — olho para Ahmed. — Ahmed, o que você pensa
que está fazendo?! Quer que a gente seja preso no aeroporto?!
— Sim, pode deixar que vamos na casa da sua mãe amanhã, Lu. —
Gael olha para Ahmed do meu lado. — Só controle a sua fera árabe
antes — fala, com deboche.
∆∆∆
— Exatamente isso, você está usando um biquíni. Você não vai sair
daqui com um biquíni, Luisa.
Bufo, nervosa.
— Mas este que estou usando nem é tão pequeno. Na praia vai ter
mulheres usando uns bem menores!
Ele fecha os olhos, nervoso, e depois me encara, seus lábios em
uma linha fina de desgosto.
Grunho, irritada.
— Isso é sério?!
Ahmed Hamir
— Ele é árabe?
Ele nega.
— Ah, sim...
— Ele é uma pessoa conhecida, fiz faculdade com ele quando mais
nova!
— Ele me pareceu ter muita intimidade com você. Por acaso é ele o
seu ex-namorado de adolescência? — questiono.
— Ahmed, se controle!
Fico ainda mais irado.
— Por acaso você tem alguma ideia do que eu estou sentindo agora,
Luisa? Não! Eu sou o seu marido, caramba! Como você acha que um
marido se sente quando vê o ex da sua mulher? É a pior merda
possível! A minha vontade é de acabar com a vida dele.
Luisa Jones
— Mesmo? E o que é?
Isso é algo que não saiu da minha cabeça nos últimos dias. Ele
continua neutro.
— Tudo bem. Você pode voltar quando quiser.
— Mesmo?!
— Sim.
∆∆∆
— Acho que vocês deveriam ter ficado mais tempo. Uma semana,
só? Não dá nem para curtir! — diz Jade.
Aceno.
— Ele é mais controlado que o pai? Céus, então não quero nem
imaginar como o sheik Tariq é com você.
Ester olha um pouco estranho para Jade, mas não diz nada.
— Foi muito boa! Achei que não seria tanto, devido ela ter sido no
Brasil, porque assim, eu morei lá até pouco tempo! Mas Ahmed me
surpreendeu com tudo, o hotel, os restaurantes... Foi tudo incrível! —
falo, lembrando dos momentos.
— Jade, deixa seu pai saber sobre esses seus comentários com
duplos sentidos para você ver... — Ester diz, provocando a filha.
— Ora, ele tem que saber que eu já sou bem grandinha para saber
das coisas, né?!
— Achei que você já tinha entendido que para ele você nunca será
grande o suficiente para esse lado da vida.
Rio com a visão de Jade irritada com o seu pai controlador. Ela fica
tão engraçada quando está com raiva, parece até uma menininha.
Pensativa sobre o que Ester disse em relação ao instinto possessivo
dos homens Hamir, como um pãozinho recheado de frango enquanto
observo a conversa de Jade com sua mãe.
Capítulo 27
Luisa Jones
— O que você está fazendo aqui, Jamile? Sabe muito bem que não é
bem-vinda.
— Ai, ai, que piada, hein, sheika? Olha, acho que você está
enganada, viu? Quem não é bem-vinda é você, sua estrangeira sem
graça. O meu clã não te aprova.
E então ela sai, com o seu ridículo nariz empinado e olhos frios.
Cheia de adrenalina, tenho que fazer um esforço para controlar o
meu ódio. Ainda com a respiração acelerada, sou servida pela
comida deliciosa. Mas, devido ao estresse, não estou com tanta
fome mais. Vadia, se ela acha que vou ficar calada e não vou contar
o seu surto de hoje para Ahmed, ela está muito enganada. Não é
pelo meu marido que ela está brigando? Então é para ele mesmo
que vou contar as suas loucuras. Já até imagino o quanto Ahmed
ficará feliz com a notícia de que uma louca histérica abordou a sua
esposa num shopping, enquanto ela só queria almoçar em paz. Com
muito esforço, como toda a comida. Depois de pagar, peço um táxi
pelo aplicativo para ir direto à empresa Hamir.
Eu nunca entrei lá, mas isso vai mudar hoje. Sou a esposa do
herdeiro dela, não? Preciso aparecer lá de vez enquanto. Além
disso, pretendo trabalhar nela assim que eu terminar a minha pós-
graduação. Eu sei que, no fundo, Ahmed prefere que eu fique em
casa, cuidando dos seus tão sonhados filhos, porém eu quero
exercer a minha profissão, mesmo que no futuro eu tenha que me
dedicar a outras coisas. Eu não sou ignorante, sei que o título de
Ahmed irá exigir que a sua esposa seja um exemplo e essas coisas.
Talvez com o passar do tempo, eu irei me acostumar com essa vida
de esposa do sheik, mas, enquanto Ahmed ainda não substitui o pai
dele no clã, vou tentar ao máximo realizar os meus antigos sonhos.
Começando pela minha especialização, depois pelo meu emprego.
— Achei que este dia não chegaria tão cedo. A minha esposa vir até
o meu escritório para me ver, será que estou delirando?
— Fiquei com medo de vir aqui, confesso. Achei que você não fosse
gostar. Você sabe, talvez eu fosse te atrapalhar...
— O quê?!
— Isso mesmo que você ouviu. Cale essa bonita boca que você tem
e vem até aqui.
Franzo a testa.
Ele acena.
— Viu? É assim que eu sei o quanto você está ansiosa para me ter
dentro de você.
Luisa Jones
— Mas que caralho! Por que você não me disse isso antes, Luisa?!
— Ahmed grita comigo.
Depois de meia hora sendo dominada por ele, finalmente ele achou
que era hora de parar por um tempo. Ele fez questão de vestir a
minha roupa, obviamente tirando uma casquinha aqui e outra ali.
Depois de ambos estarmos vestidos, é que fui me lembrar do motivo
que me trouxe aqui, aquela cobra invejosa. Contei para Ahmed o que
aconteceu, falei sobre aquela maluca ter me abordado no shopping
para me ameaçar e todo o resto da situação. Porém, a reação dele
ao escutar o ocorrido me assustou, eu não sabia que ele iria ficar tão
nervoso.
Ele está muito tenso, eu posso ver isso pelo seus olhos duros e
frios e o seu maxilar contraído.
Ele rosna.
— E quem disse que vai doer? Só vai arder um pouco, mas prometo
que irá gostar, Habibi.
Tenho certeza de que corei, porque ele está rindo, seu corpo
perdendo um pouco a tensão. Ele olha para o seu relógio de ouro no
pulso e depois me fita, logo em seguida ele está se aproximando de
mim, confiante e altivo, como sempre. Quando ele está literalmente
na minha frente, ele me prende nos seus braços, suas mãos
segurando a parte inferior das minhas costas de forma possessiva.
— Nada de andar sozinha por aí a partir de hoje, esposa. Como
você pôde ver, você não está segura de aproximações de loucas
como Jamile. Imagine se fosse um assassino, então? — diz, a
irritação na sua voz. — Eu prefiro nem imaginar. Por isso, a partir de
hoje, você está proibida de andar sozinha, terá dois seguranças na
sua cola, assim como minha mãe e Jade, e não adianta dizer que
não irá aceitar. Como o seu marido, irei fazer o que for melhor para
você e sua segurança, independentemente da sua vontade.
— Claro que tenho. O prédio está lotado deles, além disso, não sei
se já percebeu, sempre estou acompanhado por alguém quando
estou fora. Esqueceu-se de Juan? Ele e sua equipe estão atrás de
mim por onde vou, Juan ao meu lado, e os outros mais a distância.
— Entendo.
— Certo.
Aceno, pensativa.
Ele acena.
— Sim, mas hoje eu irei sair mais cedo e passar o resto do dia com
a mulher mais linda deste mundo.
— Tem certeza?
— Absoluta.
Logo depois de dizer isso, ele liga para Juan, avisando que está
saindo. Fico parada, esperando-o, mas ele não demora muito e logo
está ao meu lado, me conduzindo para fora da sala até o elevador, a
sua mão possessiva sempre atrás das minhas costas.
∆∆∆
— Fico muito aliviado em saber disso, porque será aqui que iremos
morar a partir de agora.
— Eu irei levar você para dentro. Você irá amar, Habibi. A mansão já
está toda decorada, a maioria dos móveis e decorações é de estilo
clássico.
— Não precisa explicar nada. Eu não vi por dentro ainda, mas já sei
que vou amar, você também tem bom gosto, Ahmed. Muito obrigada
pelo presente.
Luisa Jones
— No médico.
Eles acenam.
Ela acena.
— Não, não acho que isso seja normal. Você ter se casado não
justifica a anormalidade do seu período menstrual. Qual
anticoncepcional você usa?
— Esse que você usa é bem eficaz... Realmente tem algo errado.
— Eu vou saber agora, Luisa. Mas relaxe e fique tranquila, que vai
dar tudo certo.
Ela sorri.
Não falo mais nada, e ela olha para o visor, enquanto procura por
algo, mexendo o transdutor no meu abdômen. Em pouco tempo ela
diz, apontando para um ponto minúsculo na tela:
— Ali está o seu bebezinho... Bem, não é um bebê ainda, mas logo
será.
— O sheik irá ficar muito feliz quando souber que o seu herdeiro já
existe — a médica fala.
∆∆∆
Eu mal saio da clínica e já encontro com os meus dois seguranças
me esperando, como estátuas na frente do prédio.
Reviro os olhos.
Ahmed Hamir
Agora que ela está grávida de mim, carregando o meu filho dentro
dela, todos os meus sentimentos absurdos triplicaram. Saber que ela
é completamente minha, que o seu corpo é meu e que o bebê que
ela carrega foi feito por mim, desperta em mim um instinto protetor
ainda mais forte, digno de um homem primitivo. Eu estou
descontrolado, os meus sentimentos estão me consumindo. Tive um
dia de trabalho improdutivo, porque tudo o que eu pensava era na
minha esposa e no meu filho indefeso e tão pequeno. Fiquei ainda
mais ansioso depois que Kalil me ligou dizendo que Luisa tinha ido
num consultório ginecológico pela tarde. Nada poderia ter me
deixado mais animado do que isso. Finalmente ela descobriria que
não estava mais só, que se tornaria mãe de um filho meu, do seu
marido. Eu não podia estar mais animado com a ideia, porém logo
outros pensamentos foram me preocupando.
Luisa não queria essa criança por agora, ela não tinha planos de
engravidar. Isso me irrita até agora, mas é a verdade. Com certeza a
sua reação com a notícia não foi muito boa. Provavelmente ela ficou
em pânico. Com esses pensamentos, foi então que um misto de
raiva, por Luisa ficar adiando a sua gravidez, e culpa, por eu tê-la
engravidado mesmo assim, tomou conta de mim. Eu estava nervoso,
triste, me sentindo culpado, mas ao mesmo tempo tão feliz, feliz de
uma forma que eu nunca tinha experimentado antes. Sim, eu não
joguei limpo quando a engravidei, e ela ficaria arrasada se
descobrisse isso. Porém, por outro lado, eu não tinha outra opção.
Luisa tinha me dito que só tinha pretensão de engravidar depois de
alguns anos, contudo eu não podia me dar o luxo de esperar tanto.
Eu sou um sheik, tenho obrigações com o meu povo e com nossas
tradições. Era o meu dever garantir a minha descendência o quanto
antes. Assim, infelizmente, tive que decidir isso sozinho, sem a
participação de Luisa. Ela não me entendia, e eu não a culpo. O meu
mundo não faz o mínimo de sentido para ela.
∆∆∆
Ela está com medo da minha reação. A minha esposa está com
medo de eu não gostar da notícia de ela ter engravidado agora. A
minha esposa está com medo de eu acusá-la. Por Allah, o que essa
mulher tem na sua bendita cabeça de algodão doce?! Às vezes ela é
tão inocente, tão boa, que eu me sinto o pior homem do mundo. E é
o que eu estou sentindo agora, estou me sentindo o pior canalha de
todos. Estou me sentindo um lixo por tê-la engravidado sem ela
saber, por ter planejado tudo sem o seu consentimento, por deixá-la
como ela está agora, com medo, receio e preocupada com a minha
maldita reação, como se ela pudesse ser a culpada pelas minhas
malditas merdas! Eu odeio o seu receio, ela não deveria estar com
receio de mim, caramba! Eu sou o culpado, eu que sou o bastardo
nesta situação, não ela! Ela nunca será culpada por nada, ela é boa
demais, e eu sou um bastardo egoísta. As minhas mãos estão ao
lado das minhas pernas agora, em punhos fechados. Eu estou com
raiva, eu estou puto de raiva. Absolutamente nervoso, porque Luisa
está se culpando por algo que ela não tem merda nenhuma de culpa!
Eu que fiz isso sozinho!
— Eu sei e sinto muito por isso. Eu não deveria temer você, você é
meu marido e...
— Foi você, não foi?! — grita. — Você fez isso! Eu não engravidei
por acaso!
— Por que eu te traí, Luisa, hein?! Por que você acha que eu te
traí?! — rosno, nervoso.
Ahmed Hamir
Ela não tinha opção, ou se casava comigo ou iria para a prisão. Ela
aceitou os meus termos, mas ela nem mesmo sabia o que eles
significavam, ela só estava com medo, queria ser salva. E então eu a
salvei, mas a prendi novamente com as minhas vontades. A sua vida
nunca mais será a mesma, pois a minha presença é pesada demais.
Sou possessivo, egoísta, autoritário e exijo muito de uma mulher que
acabou de se tornar uma. Eu estou irritado comigo mesmo agora,
porque sou eu que não estou sendo o marido que Luisa merece, e
não o contrário. Eu deveria ser mais compreensível, escutá-la mais e
pegar os seus sonhos para mim também. Eu estou do seu lado o
tempo todo, mas ainda sim estou a deixando sozinha. Luisa está em
um país totalmente diferente dos seus, o qual possui uma religião
que não é a sua, com um povo e com uma cultura que ela não se
identifica.
Exceto pela minha mãe e minha irmã, ela não tem com quem
conversar, os seus amigos ficaram no Brasil. Ela só tem a mim e a
minha família aqui. O mínimo que eu deveria ser é o seu amigo
também. Eu deveria ser seu marido e amigo ao mesmo tempo.
Percebo que eu não estou sendo isso para ela, senão não estaria
exigindo mais do que ela está pronta para me dar, mais do que ela
está pronta para ceder. Ela já cedeu a sua antiga vida, sua família,
seus amigos, parte dos seus sonhos e a sua liberdade. Agora, como
um ogro que sou, tomei a sua individualidade também ao engravidá-
la. A minha vontade de ser pai, de ter o meu herdeiro e de dar ao
meu povo o próximo líder, me cegou ao ponto de eu roubar algo que
pertence a ela: o domínio do seu corpo. Como se não bastasse a
atrocidade que fiz, tive a audácia de ficar irritado com Luisa por ela
ter ficado com raiva de mim devido eu ter provocado a sua gravidez.
Ela feriu o meu orgulho ao se mostrar com nojo do que eu fiz, com
nojo de mim, e eu me vinguei a deixando sozinha, depois de tê-la
acusado de não querer o meu filho. Eu pude ver nos seus olhos o
quanto ela ficou ferida com a minha acusação, o quanto ela se sentiu
culpada, mesmo não tendo culpa nenhuma. Ela, mesmo magoada,
me chamou novamente para perto, talvez para se desculpar. Ela
estava arrependida, sendo que não deveria. Ela não fez nada, foi eu
que ferrei com o seu psicológico. Eu preciso pedir perdão. Se Ester
soubesse o que eu fiz, tenho certeza que ficaria decepcionada, eu
estou agindo igual o meu pai agiu com ela no passado, como um
idiota. Sinto que estou ultrapassando os limites, a minha obsessão
por Luisa está me impedindo de pensar racionalmente. Eu preciso
dar um jeito nessa merda, nada que seja exagerado é saudável.
Contudo, o que eu sinto por Luisa me descontrola, trata-se de uma
força maior do que eu. Mas ainda sim preciso me redimir. Luisa é a
minha esposa, a minha obrigação é prover o seu bem-estar, e estou
falhando nisso.
Ainda é muito cedo, mas para mim já é muito tarde, já que passei a
madrugada acordado, sem conseguir dormir. Não estou cansado,
contudo, estou muito acordado, apenas esperando o momento certo
para ir até Luisa. São seis horas da manhã, ela geralmente não
acorda a essa hora, porém eu irei acordá-la hoje. Eu tenho que ir
para a empresa, mas antes preciso concertar toda a merda que eu
fiz. Já de banho tomado, visto a minha roupa de trabalho, terno,
gravata... Devidamente vestido, vou até o nosso quarto. A porta
estava destrancada, o que foi ótimo, pois teria que pegar a chave
reserva para abrir se estivesse trancada. Como esperado, a
encontro dormindo em nossa cama, toda embrulhada.
— Eu sei que fui um monstro com você, Luisa, e é por isso que estou
aqui, vim pedir perdão.
Ela se surpreende.
Aceno.
— Você era para ter pensado antes de mexer nos meus remédios
para me engravidar! Agora eu não quero saber de nada! Eu não
quero te ver na minha frente, Ahmed! Você é manipulador, cheio de
lábia, e sei que vai tentar mudar a minha mente igual tentou fazer
comigo ontem. Eu quase senti remorso, sendo que o culpado era
você!
Aceno.
Suspiro.
— Não fale coisas como essa, Luisa. Sim, o que eu fiz foi errado,
mas eu não irei fazer algo assim novamente. Eu não sou um tirano.
— Você promete que não irá fazer algo assim novamente? Que não
irá fazer nada que tenha a ver comigo sem me consultar antes?
— É claro que prometo, Habibi. Eu peço desculpas pelo o que fiz.
Nada parecido irá acontecer novamente, você tem a minha palavra.
— Eu te perdoo, Ahmed.
— Não fique com raiva de mim, Habibi. Você é muito especial para
mim. Vocês dois são especiais.
Luisa Jones
Isso é tão decepcionante. Tudo bem que eu disse que não queria
filhos por agora, mas isso não é motivo para agir tão baixo a ponto
de não me falar nada e simplesmente me engravidar. Eu sou sua
esposa, ele deveria se abrir comigo e pedir a minha ajuda e
compreensão. Eu não sou egoísta a ponto de negar algo que fosse
tão importante para ele. Se Ahmed tivesse me pedido para que eu
parasse de tomar os remédios a fim de engravidar para que ele
pudesse, enfim, cumprir com um dos seus deveres como sheik
herdeiro, eu teria pensado mais a respeito e, provavelmente, até
mesmo aceitado. Se ele tivesse explicado com calma e sinceridade,
eu teria compreendido melhor a sua situação e tentaria chegar num
acordo melhor para ambos. Eu não sou cruel, eu não o negaria um
pedido sincero. Mesmo não querendo ser mãe tão cedo, eu teria
feito isso por ele, porque ele é o meu marido acima de todas as
circunstâncias. Eu não me casei por amor, me casei por
conveniência, porém isso não me impediu de amá-lo depois.
Na verdade, ele frequentemente diz isso, e todo vez que ele diz,
tenho vontade de chorar, porque está explícito em seus olhos que os
seus sentimentos são ainda mais complexos. Ele me diz que me ama
apenas com os olhos todos os dias, mas eu não tenho coragem de
mostrar o mesmo, tenho medo. Tudo está acontecendo tão
depressa, a minha vida está mudando radicalmente em semanas.
Como posso amar alguém que não confia em mim o suficiente para
conversar comigo, falar sobre os seus problemas e me pedir apoio?
Se sou sua esposa, por que ele não acredita que posso ajudá-lo?
Isso infelizmente tem me desgastado e me feito repensar se devo ou
não mostrar os meus sentimentos. Não quero ser manipulada ainda
mais. Ahmed não é uma pessoa que sabe amar como qualquer
outra, não, ele tem a necessidade de controlar quem ele ama, de
forma que ele tenha tudo do seu jeito. Enquanto ele não tem todos
que ele ama sob a sua "proteção", ele não para com suas
manipulações. Mas ele é tão sutil, tão bom no que faz, que eu nem
mesmo percebo quando ele está me controlando. Ahmed é sempre
carinhoso e cavalheiro, então o seu jeito suave de lidar comigo me
hipnotiza ao ponto de eu não perceber nada.
Agora que estou apaixonada por ele, caio ainda mais facilmente nos
seus feitiços. Ele manipulou os meus medicamentos, me engravidou,
mas eu mesmo assim rapidamente o perdoei, porque estar grávida já
não me parece ser algo ruim mais, não quando isso significa que
estarei carregando o filho de Ahmed dentro de mim. Os meus
sentimentos por ele estão tão fortes, que, se ele me pedisse mais
cinco filhos, eu o daria, alegremente ainda por cima. Ter consciência
da dimensão dos meus sentimentos está me deixando tão
assustada, que não consigo evitar de chorar pela segunda vez nesta
madrugada. Estou deitada na cama ao lado de Ahmed, que está
dormindo. O dia de ontem foi conturbado, com Ahmed me pedindo
perdão, eu aceitando e em seguida remoendo os meus sentimentos
escondidos apenas para mim mesma. Sinto tristeza por Ahmed não
confiar em mim, estou assustada por estar amando-o mesmo assim
e emocionada por estar grávida. Talvez isso só seja resultado de
muitos hormônios da gravidez, não sei, mas a questão principal é que
estou emocionalmente abalada.
A sua voz só faz com que eu fique ainda mais emotiva e chore
mais. Ahmed logo fica assustado e se senta, me puxando pelos
braços em seguida, para que eu me sente também.
— Luisa, por que você está chorando, o que está acontecendo, você
está sentindo algo?! — questiona, me analisando por inteira, ansioso.
— Graças a Alá!
— Então por que você está chorando, Luisa? Você parece que está
com dor.
Aceno positivamente.
— Porque tenho tido muitas provas para pensar assim. Você não
confia em mim de verdade, esconde a maior parte da sua vida de
mim e acha que pode comandar a minha vida como quiser!
— Achei que você tinha me perdoado pelo que fiz, pela gravidez.
— Como que eu não tenho agido como o seu marido?! Eu faço tudo
por você, Luisa, tudo! A minha vida é pensar em você!
— Você não pode me culpar por isso, Luisa, você sempre foi contra
todas as vezes que sugeri algo. Temos pouco tempo de casados, e
você ainda não me deu brechas suficientes para que eu conhecesse
os seus sentimentos, então como que você quer que eu
simplesmente confie em você e conte tudo o que acontece comigo?
Não faz sentido! Eu não consegui intimidade o suficiente para isso,
você não me permite ser seu marido por inteiro, Luisa, não eu. Eu fui
um bárbaro ao te engravidar? Fui. Porém, você tampouco está certa
sobre eu ser o culpado por não contar tudo para você, já que você
também não me permite saber tudo sobre os seus sentimentos.
— Eu não estou gostando das suas atitudes, só isso, por isso só vou
abrir a minha alma para você quando você passar a me incluir
completamente na sua vida, e isso inclui assuntos do seu povo
também.
— Eu não incluo você na minha vida de sheik porque sei que você
não gosta e não aprova a minha cultura, Luisa.
— Eu não gosto muito da sua cultura, é verdade, mas estou
aprendendo a lidar com ela. Eu sou a sua esposa, Ahmed, eu não
me identificar muito com o mundo árabe não deve ser motivo para
você me excluir desse lado da sua vida, até porque ele faz parte de
você também, e sei que o seu povo é importante para você. Como
sua esposa, quero te apoiar por completo. Não nos casamos em
circunstâncias normais, mas nos casamos. Ao contrário do que disse
há algum tempo, o nosso casamento é, sim, de verdade, eu fui
completamente injusta naquele dia quando disse aquilo.
Tenho dificuldade de olhar nos seus olhos por causa das lágrimas,
mas faço um esforço para isso.
— Então por que você não me conta tudo, por que guarda segredos
de mim e faz coisas sem me consultar? — exijo saber, de queixo
erguido.
— Ahmed, você não deve pensar sobre isso, eu nunca vou te deixar.
O nosso casamento começou desajeitado, mas isso não muda o fato
de que será para sempre. Quando eu disse os votos para você eu
estava sendo sincera. Até que a morte nos separe, lembra? Nós
fizemos esse voto no nosso casamento do Brasil.
— Jamais?
— Jamais — respondo.
Sorrio.
— Pode.
Reviro os olhos.
— Sou sonsa às vezes, mas não surda. Eu ouvi e quero que repita
novamente.
Ahmed Hamir
Eu merecia uma punição pior, merecia algo pior do que o que Luisa
me deu. Porque na verdade ela não me puniu, além da discussão,
ela não fez mais nada, simplesmente me perdoou, mesmo estando
com o coração machucado, com o orgulho ferido e com a
consequência do meu ato no ventre. Ela deveria ter me feito sofrer
um pouco mais, eu merecia. Luisa deveria ter se vingado, pelo
menos um pouco. Mas ela não fez isso, ela nem mesmo cogitou a
ideia, porque ela é exageradamente boa, boa demais, pura demais,
inocente e ingênua demais. Ela é tudo demais para mim. Eu não a
mereço, mas sou um fodido bastardo para mantê-la para mim
mesmo assim. Sou egoísta e continuo com o mesmo propósito de tê-
la só para mim. Farei de tudo para que ela não queira me deixar,
farei o necessário para que ela não tenha coragem de ir embora.
Farei o que tiver ao meu alcance para provar que o seu lugar é do
meu lado e em nenhum outro. Como eu disse, sou egoísta, e Luisa e
o bebê são meus, apenas meus.
— Bem, você está há meia hora sentado aí, nessa mesma posição.
Seu olhar parecia tão... distante. Confesso que fiquei com medo.
— Pois é, né... Não achei que eles fossem ficar tão felizes com a
notícia. Fiquei surpresa quando todos, até o seu pai, queriam saber
sobre a condição do bebê, a minha também...
Sorrio, irônico.
Luisa ri, mas percebo que ela está um pouco nervosa. Ela então
olha para trás e vê a minha mãe a alguns metros de distância, nos
encarando. Luisa faz um gesto com a mão, indicando para a minha
mãe esperar um minuto, e então ela se volta para mim, fingindo
seriedade.
— Deixe o seu fogo para quando chegarmos em casa, Ahmed — diz,
simplesmente. — A sua mãe está me esperando para continuarmos
a nossa conversa de hoje.
— Minha?!
— Hum... Que pena, não? Vai ter que aprender a lidar com isso,
Habib. — O seu tom é irônico, e ela parece estar se divertindo com a
sua ousadia.
Ahmed Hamir
A minha mãe não aprovava tanta pressão sobre mim, mas ela não
tinha como me livrar disso, no entanto. O meu fardo nasceu comigo,
o fardo do filho herdeiro. Isso me faz pensar que o meu filho passará
por tudo que eu passei, por todas as pressões e exigências. Não me
sinto bem ao pensar nisso. É difícil para o pai saber que ele será o
responsável por grandes angústias do filho. Hoje, sei que o meu pai
foi abalado também com a minha criação. Não deve ter sido fácil
para ele tampouco, mas ele fez o que tinha de ser feito. Hoje, tenho
um nó na garganta porque sei que terei de fazer o que precisa ser
feito também, em breve. Luisa ainda não tem uma compreensão
muito ampla do que será da educação do nosso filho, e eu pretendo
ir lhe falando sobre isso aos poucos. Não quero assustá-la nem
deixá-la estressada, ela está grávida, e é importante que a sua
gestação seja tranquila. Ela já tem preocupações demais por agora,
talvez os hormônios da gravidez estejam deixando-a mais ansiosa
que o normal, tenho notado que ela tem tido mudanças de humor
mais frequentemente e sem justificativas plausíveis.
— Ahmed, por favor, não mostre a sua raiva e nem desconte os seus
problemas aqui, todos estão te olhando e esperando você dar a
notícia, não é o momento para remoer coisas ruins.
— Um dos meus maiores feitos foi ter me casado com Luisa, ela é a
mulher da minha vida, e não tenho dúvida disso. Como minha
esposa, é esperado que um dia ela me dê os filhos que preciso.
Contudo, para a minha felicidade, esse feito começou mais rápido do
que eu esperava. Luisa, além de linda, também é fértil. E a notícia
que tenho para hoje é, sem dúvida nenhuma, uma das melhores que
já tive. Em breve eu serei pai, porque a jovem sheika Hamir está
grávida. Se for da vontade de Allah que seja um menino, ele será o
futuro sheik do nosso clã após o meu governo.
Solto-o, sorrindo.
— Pois bem, logo virá um novo sheik para você ser amigo, Hiran.
— A família Hamir que é sortuda, Hiran, saiba disso — meu pai diz,
se aproximando.
— Parabéns, Tariq, você será avô, e o sangue Hamir terá, mais uma
vez, continuidade.
No instante que o meu pai diz isso, olho para Jamal, que claramente
estava irado com as palavras do sheik. Seus olhos estavam
vidrados, e o seu semblante não negava o seu ódio. Ele pareceu
sentir o meu olhar sobre ele, pois logo notou que eu o olhava. Pego
no flagra, Jamal sorri, forçadamente para mim. Aceno em resposta,
com os olhos cerrados e sérios, intimidando-o. Jamal é perigoso,
tenho que ficar mais atento com esse maldito. A sua inveja e ira por
minha família é evidente, mas esse não é o problema. O problema é
ele ser impulsionado a fazer algo contra nós por causa disso. Não
temo por mim, meu pai nem os gêmeos, nós sabemos nos proteger,
ninguém é mais esperto que nós. A minha preocupação é com Jade,
minha mãe e Luisa. Os mais vulneráveis são os mais atacados.
Jamal sempre mostrou ser do contra, mas nos últimos meses isso
tem ficado mais sério, o que me tem deixado alerta, não é como se
minha família fosse impune de ataques só porque somos da nobreza.
Meu pai já foi traído antes pelo seu próprio irmão, o que quase
custou a vida da sua esposa e do seu primeiro filho.
— Ahmed, você está bem, filho? — meu pai pergunta, pelo que
parece ser a segunda vez.
Hiran franze a testa, ainda mais preocupado, mas acena. Ele sabe
que os Hamir não têm uma vida tão tranquila como o resto das
pessoas.
— Enfim teremos uma nova criança Hamir! Você se tornará pai mais
rapidamente do que eu pensei que tornaria, sheik. O seu pai se
casou e teve filhos quando já era mais velho que você.
Meu pai, por sua vez, não parece se irritar com a provocação.
— Com certeza uma criança na família fará bem para todos, Ademir,
não só para a minha família, mas também para o clã. Nada melhor
que ser contagiado pela pureza e energia de uma criança.
Ademir sorri.
Franzo a testa.
— Por favor, Hiran, não vamos falar das dificuldades que irei
enfrentar quando for pai, ainda estou me conformando com a ideia.
— Bem, você ainda tem uns sete meses para isso — Ademir diz,
irônico.
Especial de Natal
Ahmed Hamir
— Jamais, Habibi.
Franzo a testa.
Suspiro e aceno.
— Sim, você está certa, Habibi, não foi certo o que eu fiz. Por um
momento, eu esqueci que você está mais sensível às coisas.
Mesmo não vendo o seu rosto, sei que ela está sorrindo, e então
ela responde, dengosa:
— Prometo que não farei, não enquanto estiver grávida, pelo menos
— brinco.
Depois disso, faço com que ela se vire de frente para mim,
forçando os seus seios, cobertos apenas pela minha camisa, a se
encostarem com meu peito. Logo descubro que os seus mamilos
estão enrijecidos, e isso logo me deixa excitado. Luisa percebe pelo
meu olhar o que eu estou pensando e cora.
— Hmm, isso está tão bom! Ficou igualzinho o do meu pai, da época
que ele fazia para mim.
Encaro-a.
Aceno, em concordância.
— O que foi?
— Não é nada — falo.
Aceno em concordância.
Luisa sorri.
Ela ri.
— Hum, não acho que eu queira parecer o seu pai, Habibi, prefiro
ser o seu marido.
— Mesmo?
— Hum, gostoso.
— Sabe por que eu prefiro ser o seu marido ao invés do seu pai,
Habibi? — pergunto, suavemente.
Antes que ela tivesse tempo de pensar no que eu queria dizer com
isso, trago o seu rosto para mais perto de mim e a beijo,
surpreendendo-a. Aproveitando a passagem que ela me deu ao abrir
a boca, domino todo o interior molhado e quente da sua com a minha
língua. Luisa, pouco tempo depois, começa a acompanhar o meu
ritmo, e eu sinto o seu corpo relaxar e se entregar ao meu domínio,
logo ficando tão excitada quanto eu próprio. Louco para ter mais
dela, direciono uma de minhas mãos até o meio das suas pernas. Ao
notar que ela não está usando calcinha, assim como não está usando
sutiã, interrompo o beijo por alguns segundos.
— Não está usando calcinha, Habibi? Você é uma menina má, talvez
esteja merecendo um castigo.
Ela acena, seu corpo ficando cada vez mais mole no meu braço
direito, enquanto a minha outra não está ocupada em deixá-la
excitada. Belisco o seu clitóris com força, fazendo-a gritar de
surpresa e emoção.
— Responda! — ordeno.
Luisa Jones
Estou com sete meses de gestação e a cada dia fico mais ansiosa
e nervosa. Não estou tendo uma gravidez tranquila, sinto dores
horríveis nas costas e nas pernas. Minha obstetra disse que o meu
bebê é grande para a idade gestacional que ele tem. Ahmed ficou
todo orgulhoso ao saber que terá um bebê forte e grande, o que me
deixou um pouco irritada. Não é ele que tem que carregar a criança
por nove meses! Não aceitei que a obstetra falasse o sexo do bebê,
nem mesmo para Ahmed. Eu quero descobrir no nascimento. Ahmed
ainda não se conformou com a minha decisão. Ele está superansioso
para saber se é menino, e é por isso mesmo que eu não vou ver o
sexo por agora. A cultura de Ahmed é tão machista, sinto como se
só os bebês homens importassem. Ahmed me disse que não é bem
assim, que a preferência por menino só se dá por causa do título de
sheik que o herdeiro masculino mais velho terá.
Segundo ele, quanto antes vier o primeiro homem, melhor, pois isso
evita comentários maldosos e disputas pelo poder. Independente da
explicação de Ahmed, eu ainda não me sinto bem com essa tradição
absurda. E se for uma menina? Eles simplesmente irão ignorá-la?!
Não dá para entender. Por vingança, não vou querer saber o sexo e
não deixarei ninguém saber também. Tenho certeza que se eu já
tivesse a resposta, ou o conselho estaria orgulhoso e vibrando de
alegria, ou estaria triste como se alguém tivesse morrido. Só o
pensamento disso acontecer me deixa morrendo de raiva. Não quero
ter que ver tamanha barbaridade por parte dessas pessoas. Ahmed
sempre me diz que, independente do sexo do bebê, ele irá amá-lo.
Mas isso não é o suficiente para me acalmar. Eu sei que ele está
falando a verdade, eu sei que ele será um excelente pai, eu conheço
Ahmed, ele será bom com o seu filho. Porém, não posso dizer o
mesmo do clã e do conselho, essas pessoas são conservadoras
demais, vivem na Idade Média e possuem uma cultura machista.
Mesmo Ahmed tentando me convencer de que não é bem assim, que
a questão do sexo do herdeiro é meramente estratégica, eu não
consigo aceitar essa ideia. Para começar, somente homens podem
ser líderes, a mulher só pode ser a esposa de um, se ela quiser ter o
título de sheika.
— Senhora Hamir!
Ahmed Hamir
Encaro o meu smartphone tocando pela quinta vez. Nas outras
quatro vezes, eu não pude atender, estava em uma reunião
empresarial. Agora, no entanto, já dentro do meu escritório,
aproximadamente trinta minutos desde a primeira chamada, estou
sentindo o meu coração pulsar mais rapidamente. Meu celular estava
no silencioso, nem mesmo senti qualquer vibração, e agora me
condeno mentalmente por ter sido tão idiota. Olhando para o número
na tela do celular, tudo o que me vem à mente é pedir a Alá para que
tudo esteja bem, que Luisa esteja bem. Acontece que as cinco
ligações foram feitas pelo celular de Kalil, o principal segurança de
Luisa. Ele nunca liga em horários como esse, seus seguranças
conhecem minha agenda, sabem dos meus compromissos. Kalil
nunca ligaria cinco vezes se o motivo não fosse urgente. E é isso que
me preocupa, que me deixa angustiado antes mesmo de atender a
chamada. Com uma última prece silenciosa, atendo a Kalil antes que
a chamada se encerre. Para piorar ainda mais a minha aflição, é Kalil
quem já começa a falar, antes mesmo de eu abrir a boca:
— Eu logo estarei aí, cuide dela para mim enquanto isso, Kalil.
— Certamente, sheik.
— Entendido, sheik.
Está claro que eles, ou melhor, elas, foram compradas por Jamal.
Nenhuma outra pessoa seria tão idiota quanto ele para tocar na
minha família. Tenho muitos inimigos, que amariam me ver morto,
mas eles são mais espertos que Jamal, eles não ousariam me
atacar, muito menos a minha esposa e o meu filho. Jamal é o único
estúpido e rico o suficiente para fazer isso. É claro que ele sabe que
eu sei que é ele, mas ele está tranquilo, pois sabe que não tenho
provas contra ele. Jamal neste momento deve estar rindo, feliz e se
sentindo vingado por eu não ter casado com a sua estúpida filha. Os
seus planos foram todos frustrados quando eu não me casei com
sua filha, Jamal esperava colocar a sua linhagem no poder através
da mulher. O problema é que aquela ridícula e nojenta Jamile não
seria a minha esposa nem se fosse a última mulher na face da Terra.
Jamal, ao ver seu plano de anos ser frustrado, achou que poderia se
vingar de mim usando o meu ponto fraco, a minha esposa e o meu
filho.
— Tudo indica que sim, sheik. O trauma foi muito grande para ela,
isso eu não posso negar, ela está tendo uma reposição de hemácias
e terá que passar por alguns dias de observação. Mas ela irá se
recuperar.
Aceno em concordância.
— É só o que eu desejo.
— O que aconteceu com a sua esposa foi que ela ingeriu alguma
substância abortiva muito forte. Em pouco tempo o útero da senhora
Hamir estava lutando para expulsar a criança, por isso o
sangramento. Quando ela chegou aqui, vimos que ela não tinha
dilatado mais que quatro centímetros, então optamos pela cesariana
de emergência para tentarmos salvar a criança, que ainda tinha
batimentos fetais.
Ahmed Hamir
Eu sempre soube que teria uma família feliz ao seu lado, a família
que sempre sonhei, uma parecida com a dos meus pais, uma que
nunca se desfizesse, que fosse para sempre. Uma família em que o
respeito fosse uma regra e o amor uma lei. A família sempre virá em
primeiro lugar para os Hamir. Essa é uma tradição milenar da nossa
família e nunca foi mudada. Nem todo dinheiro mundo, nem todo
poder é mais importante que nossa família, simples assim. Nós
protegemos uns aos outros, é assim que funciona. Como o chefe da
minha família, nunca mais permitirei que alguém machuque Luisa
novamente. Nunca. Se for necessário, levá-la-ei comigo para todo
lugar, inclusive para o meu escritório. Não sei se serei capaz de
deixá-la sozinha novamente. Essa experiência que tive foi a pior que
já passei na minha vida, é como se o atentado contra a minha mãe,
quando ela estava grávida de mim, tivesse acontecido novamente.
Me senti dentro de uma premonição. O pensamento de perder a
minha esposa, de perder o meu filho, quase me matou. Senti como
se uma parte da minha alma tivesse morrido. Não sei o que seria da
minha vida sem Luisa, nem mesmo cogito essa ideia, parece algo
completamente impossível para mim.
Divaguei por tanto tempo, que quase perdi o momento que Luisa
saía do bloco cirúrgico acompanhada por enfermeiros. Quase. Mas,
como ímãs, imediatamente meus olhos foram atraídos para ela, e eu
rapidamente me levantei da poltrona e fui ao seu encontro. Assim
que estou do seu lado, olho para ela. Luisa está pálida e há olheiras
em seus olhos. Imediatamente, fico preocupado e questiono o
enfermeiro apenas com o olhar.
— A senhora Hamir ficará bem, sheik Ahmed. Ela passou por muita
coisa, mas não há nada que se preocupar. Com uma dieta adequada
e acompanhamento, logo logo ficará boa e poderá ir para casa.
Aceno, sem responder nada em palavras. Assim que ele e outros
enfermeiros levam Luisa para o quarto e saem, vou até o seu
encontro e beijo a sua testa fria, demoradamente, fazendo questão
de apreciar o seu cheiro e o contato da sua pele macia com os meus
lábios. Luisa fecha os olhos com o ato por vários segundos e, assim
que me afasto, os seus olhos se abrem, inundados de lágrimas. No
mesmo instante, fico preocupado e ansioso, e ela logo fala, rouca:
— Estou feliz que tudo tenha ficado bem, que o bebê tenha
sobrevivido. Quando tudo aconteceu, eu só pensava nele, se ele iria
resistir, e pensava em você, eu me senti tão só, tão desamparada
sem você.
Encaro-a, analisando-a.
Ela acena.
Luisa ri, mas não rebate sobre minha decisão. Talvez agora ela
perceba que precisa de muita proteção. Não demora mais de dois
minutos para que Juan entre no quarto. Antes de sair, dou um outro
beijo na testa de Luisa. Não foi difícil encontrar a UTI neonatal, já
que os corredores são cheios de placas explicativas. Assim que
chego no setor, logo sinto o meu coração bater mais rápido em
expectativa e ansiedade. A enfermeira me reconhece, sorri e diz:
— O seu bebê vai ficar bem, sheik. Ele nasceu com 28 semanas, ou
seja, com sete meses. Mas, por ser um bebê grande para a idade, a
chance de ele ficar 100% bem é muito alta. A criança nasceu com
1.280 Kg, é realmente um bebê grande para a idade. Você e sua
esposa tiveram muita sorte.
Fecho os olhos e respiro fundo algumas vezes, fazendo um
agradecimento mentalmente a Alá.
Ele deve estar rindo de tudo agora. O seu objetivo não era me
matar, isso estava claro. Ele só queria machucar Ahmed e a mim
também, então ele queria que apenas o meu filho morresse. Além
disso, ele sabia que, se ele me matasse, Ahmed iria matá-lo em
qualquer lugar do mundo, independente do desejo do clã. Ahmed iria
matá-lo sem se preocupar com provas ou qualquer outra coisa.
Jamal sabe disso e ele não é um suicida. Assim, a melhor forma que
ele encontrou de se vingar pelos seus planos frustrados foi o de nos
ferir ao tirar de nós dois o nosso primeiro bebê. Ele sabe o quanto
Ahmed estava feliz por ser pai, Jamal se sentiu incomodado com a
felicidade do sheik. Na sua cabeça, o sheik é um traidor, afinal,
Ahmed preferiu se casar com uma estrangeira do que com uma
mulher do seu povo, ou melhor, com Jamile. Tariq e Ahmed são
traidores ao seu ver, ambos se juntaram com estrangeiras, com
mulheres "impuras". O seu sonho era ter o seu sangue no poder a
partir da sua filha, mas tudo isso foi frustrado quando eu, de repente,
apareci. Fui a pior coisa que apareceu no seu caminho e no da sua
fútil filha. Estou pouco ligando para ódio que eles têm por mim,
sempre soube disso e nunca isso tirou o meu sono. Agora, a partir
do momento que eles interferiram na vida da minha filha, que eles
tentaram matá-la, tudo mudou.
O que Jamal fez foi algo totalmente desumano, nada justifica ferir
um bebê inocente. Ele precisa pagar, ele e sua filha. Sei que Jamile
colaborou com isso, também, aquela cobra não me engana. Ela
mesma já me ameaçou, dizendo que a minha "vidinha perfeita" não
iria continuar assim por muito tempo. Vagabunda, sempre soube que
ela não tinha caráter, mas não a ponto de ser tão inescrupulosa para
ajudar o seu pai a matar um bebê. Eu daria tudo para enforcá-la
neste momento, tudo o que eu queria é vingar a minha filha. Mas sei
que isso não é possível, ainda, é claro. O que me consola é saber
que Ahmed fará isso por mim, muito bem feito ainda por cima.
Ele acena.
— Ela é linda, igual a mamãe. Ela tem os seus cabelos, já viu? São
bem fininhos ainda, quase imperceptíveis, mas já dá para perceber
que são loiros. Fiquei surpreendido, não me lembro de termos tido
um loiro na família.
— Mas isso não irá ficar assim. Minha filha será vingada, Habibi.
Jamal irá pagar, e eu irei matá-lo com as minhas próprias mãos.
— Matar?!
Eu também concordo que ele seja punido. Mas com a morte? Isso
parece ser extremo demais...
— A minha família está aqui, Habibi. Eles vieram correndo para ver
você e a bebê quando souberem o que tinha acontecido.
Luisa Jones
— Por Alá, Luisa, achei que fosse ter um ataque do coração! Nunca
passei um susto tão grande na minha vida!
— É claro que sim, não nasci ontem. Aliás, sou mais velha que você,
ninguém me engana, muito menos Jamile e sua família peçonhenta.
Aceno em concordância.
— Realmente, eles sempre mostraram o que são capazes. Jamile,
então? Nem se fala.
Apenas sorrio em resposta para Ester, mas ela está tensa demais
para corresponder. Khaled, como sempre, quebra a tensão ao dizer
algo totalmente idiota e desnecessário:
— Olha para o lado bom, cunhada, pelo menos você vai perder
aquela barriga enorme. Céus, seu bebê tinha sete meses ou nove?
Sua barriga estava gigante! Como conseguia andar daquele jeito? Só
a possibilidade de ela crescer ainda mais já me dava pena.
— Hoje em dia não se pode nem falar o que se pensa, nem com a
família!
Os seus dois filhos não dizem mais nada, e, então, finalmente Tariq
fala alguma coisa. Ele se manteve calado desde que entrou no
quarto. A sua expressão está séria e neutra, não demonstrando
nenhum sentimento. Quando ele fala, sou surpreendida ao ver que
ele não direcionou a palavra a mim, e sim para seu filho:
— Ele está muito nervoso, querida. Tariq não vai melhorar enquanto
não conquistar sua vingança, assim como Ahmed.
— Objetivos? — repito.
— Entendo — falo.
Ahmed Hamir
Assim que saímos do hospital, meu pai apontou para o seu carro.
— Vou passar para Ahmed, ele irá dar as coordenadas para você,
Vladimir.
— Não, Vladimir, assim não seria tão divertido. Além disso, irei
precisar delas vivas como prova. Quero apenas que as torture até
elas pedirem a morte... Depois você as traz para mim.
— É isso que vamos fazer agora. Hiran está nos esperando em sua
casa para planejarmos a punição pública. O nosso objetivo agora é
levar todo o povo do clã para a construção Al Maktoum para ver o
espetáculo.
Aceno.
— Realmente, é bem provável que meu filho venha ter que lidar com
o mesmo que passamos.
— Torça para sua filha ser sua única menina. Você sabe o quanto
Jade me dá trabalho, até para vocês irmãos é complicado. Os pais
pegam amor pelas filhas, mas elas não veem a hora de se casarem
e viverem em outra família, como parte da família de seus maridos.
É complicado, principalmente quando deixam de ter o sobrenome do
pai, elas simplesmente não pertencem mais a nós.
Ele acena.
— Você sabe que será complicado para o conselho saber que seu
primogênito é uma menina. Não é comum.
Suspiro.
Sorrio.
— Prove para ela que ser manipulador tem seu lado bom, tenho
certeza que ela irá mudar de ideia. Mulheres só focam no lado
negativo de um marido dominante. É preciso mostrá-las a parte boa.
Quando conhecem, não conseguem mais ficar sem.
Ele gargalha.
— Será divertido acompanhar o processo.
Vladimir
Hoje, o dia será divertido. Faz tempo que os Hamir não pedem por
um serviço tão completo assim. Geralmente, eles só pedem para
minha equipe dar um susto em algum empresário não pagante, mas
nada de matar ou torturar. Hoje, porém, terei direito de uma tortura
completa. Se essas vadias fossem um pouco mais novas e bonitas,
poderíamos nos divertir ainda mais, mas elas já estão velhas, e seus
corpos não servem nem para despertarem meu pau e dos meus
colegas. As vadias obesas estão vermelhas de tanto esforço que
estão fazendo para gritar através dos panos amarrados em suas
bocas. Elas estão suando como porcos enquanto Carlos e Wagner
arrancam suas unhas com alicate, uma por uma, bem devagar,
lentamente, para elas saborearem bastante o prazer. Seus gritos
abafados pelos panos são músicas para meus ouvidos, nada melhor
que gritos de vadias sofrendo.
Depois que ambos terminam com suas mãos, eles passam para
seus pés mal-cuidados e nojentos. Elas começam a se desesperar, e
as correntes fazem barulho conforme as duas se mexem no ar,
suspensas através das correntes que seguram seus troncos. Suas
mãos e pés também estão algemadas para facilitar o trabalho dos
rapazes. A mais gorda, Marta, grita ainda mais forte quando Carlos,
finalmente, arranca a unha do seu outro dedão. Ainda bem que seus
gritos são abafados, não quero ficar surdo por causa de duas vadias
mercenárias. Quando é a vez de Leila perder as unhas dos seus
dedos maiores, ela desmaia. Wagner ri e os arranca facilmente, com
a mulher ainda desacordada. Carlos me olha e fala:
— Aproveitem, companheiros.
Wagner vai até o caldeirão com lava que há dentro no lugar. Ele
coloca suas luvas de proteção e pega uma haste de ferro com a
ponta laranja pela altíssima temperatura. Carlos, rindo, aponta para
a barriga de Marta, que está com os olhos tão arregalados, que não
ficaria surpreso se eles saíssem das órbitas. Ela grita e grita quando
percebe o que irá acontecer.
Wagner ri e acena.
Hiran
Ester Hamir
Eu e Jade estamos encantadas com a pequenina bebê de Ahmed.
Ela é extremamente pequena, e isso me traz certo pesar. É triste ver
um ser tão frágil ligado a tantos aparelhos invasivos. Mas, mesmo
numa situação tão deprimente, é impossível não se encantar com a
bebê, ela é uma graça. Ela já tem um pouco de cabelo, claro como o
da mãe, talvez até mais, por ser de um bebê. Tem um rostinho
angelical, pacífico. Não parece em nada Ahmed quando era bebê.
Seu semblante sempre foi de um bebê insatisfeito, irritado e
exigente. Era um bebê autoritário, e eu achava aquilo superestranho.
Um bebê com características tão marcantes e peculiares não é algo
tão comum. Mas Tariq apenas ria quando eu dizia que Ahmed tinha
um temperamento forte. "Ele é meu filho, como podia ser diferente?".
Depois fui parar para pensar e, realmente, Ahmed era a cópia do
pai. Já os nossos outros três filhos foram a junção de nós dois.
Exceto por ser um pouco mais tolerante e menos antiquado, por
minha causa, Ahmed puxou completamente o pai. Ele é até mesmo
mais perspicaz do que o pai.
Não sei se sua menina seguirá sendo calma assim. Jade sempre foi
mais tranquila que os irmãos, ela começou a se revoltar agora, que
já tem 27 anos e seu pai e irmãos não a deixam decidir o que fazer
com sua própria vida. Olho para ela, que está atenta olhando para a
sobrinha atrás do vidro. Sorrio, achando graça e ao mesmo tempo
com pena da minha princesa árabe. Eu sabia que isso iria acontecer,
Ahmed já se mostrava terrivelmente possessivo e controlador quando
descobriu que teria uma menina. Para piorar, ela teve a "sorte" de ter
três irmãos mais velhos. Mas eu sinceramente não achei que eles
seriam tão radicais a ponto de deixá-la presa por tanto tempo. Mas
sei que não irei precisar intervir, conheço Jade e sei que ela está
planejando há muito tempo mudar de vida. Sinto que tem um homem
envolvido nisso, mas não quis pesquisar para comprovar. Ela merece
privacidade, pelo menos da minha parte, já que não tem por parte
dos outros. Só espero que ela não se envolva com um estrangeiro,
seria um desastre, seu pai nunca permitiria. Uma coisa é os filhos
escolherem estrangeiras, outra coisa é Jade fazer isso. Os filhos
sempre farão parte da família de origem, já as filhas serão parte da
dos maridos. Tariq e os filhos nunca aceitarão que Jade entre para
uma família estrangeira, que a leve para longe. Suspiro. Espero que
ela seja sensata na sua escolha, ou então haverá uma guerra nessa
família.
Capítulo 39
Ahmed Hamir
— Passe a noite com sua esposa, Ahmed, ela vai precisar do seu
apoio. Ela não entende do nosso mundo, sei que deve estar
alarmada.
— Também penso que assim será. Ela te ama muito, apesar de ter
dificuldade em mostrar. Luisa é mais americana que brasileira, seu
jeito é consideravelmente mais reservado e frio que o da sua mãe na
idade dela.
Aceno, pensativo.
— Falando nos pais dela, eles sabem que Luisa deu à luz?
— Exatamente — falo.
O médico acena.
— Tudo isso vai acabar, meu amor, em breve. Logo não terá que se
preocupar com agulhas, médicos e enfermeiros te perturbando.
— Mas não irá adiantar muita coisa. Minha filha ainda estará aqui, e
eu não poderei levá-la comigo.
— Ela irá para casa em breve, Luisa, você só precisa ter paciência.
— Sim, depois de dois meses, por aí, foi o que o pessoal do hospital
me disse.
— Eu sei, querida. Mas isso acontece com muitas mães. Sei que no
seu caso foi de forma forçada, mas... tente imaginar que aconteceu
porque tinha que ser assim.
Ela não me responde. Seus olhos ficam distantes por algum tempo
até que ela me encara novamente.
Olho-a, surpreso.
— Sabe?
— Eu não consigo não pensar. Jamile, Jamal... Eles são tão ruins...
Mas também não gosto de pensar em morte.
— Pare com isso, Luisa. Seus pensamentos vão te deixar doente.
Esses assuntos não são problema seu, e sim meu.
— Eu não quero.
Sorrio, angustiado.
— Pelo seu bem estar, esposa, eu ouso muito mais do que a sua
cabecinha seria capaz de imaginar.
Dou uma última olhada no seu rosto sereno e beijo sua testa em
despedida. Quando passo pela recepção, me deparo com meu pai
me esperando.
— O senhor podia ter ligado para avisar, assim não teria que
esperar.
— Achei melhor você acordar sozinho, sabia que não iria acordar
tarde.
— Faça isso no castelo Jasmim, você tem roupas lá. Assim iremos
agilizar muita coisa.
— Senhor?
— Leve o meu carro para minha casa. Não vou usá-lo hoje. Estarei
indo para o castelo Jasmim com o meu pai.
∆∆∆
Não havia temor nos seus olhos, apenas ódio. Ele não implorou,
não chorou... nada. E eu fiquei muito agradecido por isso, seria
deprimente ter que escutar um covarde implorar. Sua filha gritou
tanto quando seu pai caiu sem vida no chão, que, por um momento,
todos ficaram em silêncio. O clima só voltou ao normal quando
chegou a vez dela própria. Para minha sorte, uma outra pessoa fez
isso por mim. Ela foi chicoteada inúmeras vezes em público, a ponto
da pele de suas costas virar uma bagunça vermelha. Ela com certeza
ficaria com muitas cicatrizes para se lembrar de nunca mais
atormentar a família do sheik. Sua punição não deveria ser tão
severa quanto a do pai, ele era um membro do conselho, sua traição
é imperdoável. Jamile seria banida dos Emirados Árabes Unidos
para sempre depois disso. Ela poderia até entrar novamente no
território, mas não viveria muito depois disso. Mas ela não é suicida,
Jamile jamais voltará.
— Eu sempre temi que você tivesse que fazer algo parecido com o
que o seu pai fez com o irmão dele e sua família. Foi devastador
presenciar meu filho tirando vidas.
— Esse era um destino que eu não podia ignorar, mãe, faz parte de
quem eu sou. Infelizmente, meu posto traz com ele situações como
essa. Eu sinto muito, não sei o que dizer.
∆∆∆
Saímos de lá o mais rapidamente que conseguimos. Troquei
algumas palavras com o conselho, e só. O povo parecia curioso
sobre Luisa e o bebê, mas não fiz nenhum esforço para suprir sua
curiosidade. No fundo, sinto-me culpado por isso, sou o sheik, o líder
dessas pessoas, elas confiam em mim, me respeitam e querem
fazer parte da minha vida. Mas estou com a cabeça cheia demais
nos últimos tempos, é como se todos os problemas resolvessem
aparecer justamente no mesmo momento. Tudo que eu quero é
voltar à normalidade de matar um leão por dia. Essa de matar uma
alcateia já está me cansando. O que me deixa mais calmo é que pelo
menos Jamal não reside mais nesta terra para atormentar minha
família.
Creio que aos poucos tudo entrará nos eixos. Em breve voltarei a
ter paciência para lidar com o povo e explicar com mais detalhes o
que houve, além de apresentar a minha filha. Mas, neste momento,
só penso em voltar para o hospital e me redimir com a mulher da
minha vida. Tenho sido um idiota com ela. Os problemas me
cegaram, e ela sentiu as consequências. Preciso pedir desculpas,
abraçá-la, confortá-la e dizer que tudo ficará bem, que seremos
felizes, que nossa menina ficará bem. É disso que precisamos no
momento, de atenção um do outro, de conforto e paixão. É tudo
questão de contato humano, de reciprocidade.
Luisa Jones
— Você me fez tomar remédio para dormir, temos que falar sobre
isso.
Ele suspira.
— Não vamos discutir. Não quero nenhum mal estar entre nós.
— Eu sei. Mas não agora, não hoje, nem tão cedo. Estamos
passando por momentos difíceis, quero que estejamos bem para
superar tudo isso.
Ele sorri.
Ele então segura meu queixo e fita os meus olhos com intensidade.
Reviro os olhos.
Ele ri.
— Não vejo a hora de você voltar para casa. Lá estarei livre para te
mostrar o quão minha você é. Sinto que a senhora está precisando
ser lembrada, não acha?
— Ahmed, se comporte...
— Ahmed, você está jogando sujo, sabe que não podemos fazer
nada aqui.
Ele sorri, e fico sem fôlego. Seu rosto fica tão incrivelmente perfeito
quando sorri.
— Ela não irá poder por agora, mas nós sempre estaremos aqui
para vê-la.
— Você pensou num nome? Estava quase achando que teria que
fazer isso por você.
Sorrio.
— Pensei em Victoria. O que acha? É simples, bonito e tem muito
significado.
Olho-o, surpresa.
— Mesmo? Não ficou com raiva por não ser um nome árabe?
Ele sorri, leva minha mão para seus lábios quentes e a beija.
— Exatamente.
Ele ri.
— Uau, que esposa brava eu tenho! Bem, mas não se preocupe, eu
tenho bom gosto, vou escolher bons nomes.
Cerro os olhos.
— É bom mesmo.
— Então agora você terá uma aliada para se virar contra mim, não é
mesmo, senhora Hamir? Imagine só, uma filha e uma esposa para eu
domar.
— O quê?!
— É mesmo? Então vejo que teremos uma longa batalha pela frente.
— Acertou!
— No seu sonho!
Luisa Jones
Toda cultura tem seus problemas, seus defeitos, mas isso acontece
em todo lugar. Não podemos generalizar, dizer que tudo que vem da
cultura árabe, ou qualquer outra, é ruim, porque não é bem assim.
Aprendi a ver coisas boas na cultura do Oriente Médio. Existem
muitos problemas na região, muitas tradições ruins, mas essas são a
minoria. Durante os anos que vivi aqui, conheci pessoas incríveis,
com grandes corações. Conheci muitas famílias do clã de Ahmed e
me surpreendi ao descobrir que são pessoas normais, com vidas
normais, mas que decidiram guardar seus costumes. Não posso ser
hipócrita e dizer que concordo com tudo e que já me acostumei
totalmente, pois seria mentira. Ainda tenho dificuldade de assimilar
algumas coisas, vivo comparando a cultura do Oriente com a do
Ocidente e vivo me esforçando para acostumar com as diferenças.
Ela gosta de ser o centro das atenções. Não sei de quem ela puxou
isso. Talvez a família tenha a mimado demais. Zayn, ao contrário da
irmã, mesmo tendo só um ano, é mais quieto, reservado, apesar de
ter dificuldade para aceitar ordens. Independente da personalidade,
sou apaixonada pelos dois e não me vejo sem eles. Ahmed me disse
uma vez que eu nasci para ser mãe, acho que ele tem razão.
Inclusive, eu e Ahmed planejamos ter outro bebê, um menino, para
ser o segundo herdeiro do título, caso ocorra algum imprevisto.
Apesar da tradição pedir pelo menos dois meninos, tento ignorar
esse fato e pensar apenas em aumentar a família. Três filhos será
perfeito, será um sonho, mas com certeza irei parar exatamente aí,
no número três, para a decepção de Ahmed. Isso se o terceiro for
menino, é claro. Por ele, teríamos um time de futebol inteiro. Reviro
os olhos com o pensamento. O sheik terá que se contentar com
três.
Ahmed Hamir
Espero pacientemente até que Luisa consiga fazer Zayn dormir
para que nós possamos, finalmente, ter um momento só para nós
dois. Victoria eu consigo colocá-la para dormir, mas Zayn
definitivamente só aceita quando é a mãe. Só Luisa sabe o jeito
certo de niná-lo, ele é um bebê exigente e não gosta muito da minha
forma de fazê-lo dormir. Já Victoria não tem preferência, tanto papai
quanto mamãe está bom, segundo ela. Luisa está passando por uma
fase difícil, ela decidiu desmamar Zayn, já que ele já completou um
ano, porém o garoto ainda não se conformou com a ideia e toda
noite ele chora procurando o seio da mãe, o que só atrasa o horário
dele dormir e deixa Luisa exausta. Hoje, temos sorte de ele estar
mais calmo, então logo ele se renderá ao sono. Ele brincou muito
hoje, o cansaço o vencerá rapidamente.
Nada que ela poderia ter dito teria me deixado tão para baixo como
isso.
— Como não está com vontade? Você mesma tinha dito que estava,
há meia hora!
Rosno.
— Vejo que seu leite ainda não secou, esposa. Quer ajuda para
esvaziá-los?
Luisa cora, mortificada. Rio com a cena. Mas logo ela volta a
gemer quando eu rasgo sua calcinha bonita. Espalho beijos molhados
e quentes por toda sua barriga, coxas, até chegar aonde ela tanto
queria. Abro suas pernas o máximo que consigo.
Sem mais uma palavra, tiro minha boxer, me posiciono entre suas
deliciosas pernas e a penetro, com força, gemendo com o intenso
prazer que só seu calor apertado consegue me proporcionar.
Luisa não responde, ela só geme, seus belos olhos azuis revirando
para trás enquanto ela se deleita de prazer. Eu aproveito seu silêncio
para sugar seus seios com força e para manipular seu clitóris. Ela é
uma boa garota, nunca me decepciona, pouco tempo depois ela está
apertando meu pau com tanta força enquanto vem, que não tenho
outra alternativa a não ser chegar ao paraíso carnal com ela. Sua
boceta só para de me apertar depois que ordenhou meu pau por
completo. Garota gulosa. Quando ela finalmente recupera o fôlego,
cinco minutos depois, ela me olha nos olhos e diz, em lágrimas:
Luisa Jones
Jade Hamir
Eu nunca pensei que Ahmed fosse cair de amores por uma mulher.
Ele sempre foi tão seco com as mulheres, tão distante. Até mesmo
as mulheres que ele ficava tinham que manter sigilo sobre o que
aconteceu entre quatro paredes. Ahmed definitivamente não tinha o
perfil de um homem romântico. Isso começou a me preocupar
seriamente, estava se aproximando o momento de ele ocupar o lugar
de papai e ele nem mesmo tinha uma pretendente. Ele precisava se
casar e ter herdeiros antes de se tornar o líder do clã, para a
segurança da família Hamir. Foi aí que comecei a ficar com medo de
ele escolher Jamile como sua esposa, não porque ele a amava,
longe disso, mas porque ela nasceu no clã e seu pai é um dos
conselheiros de papai. Seria conveniente o casamento. Jamile estava
extremamente disposta a agarrar Ahmed, não importasse como. Eu
desde o início sabia que aquela mulher era uma víbora, e mais do
que nunca temia por Ahmed. Achava que ele realmente poderia pedir
a mão da vadia. Mas, graças a Alá, meu irmão já tinha outra mulher
em mente há algum tempo e nem mesmo tinha se dado o trabalho de
falar nela.
1- A Obsessão do Sheik
2- A Obsessão do Sheik Ocidental
3- A Obsessão do Sheik Árabe
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