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Capítulo 1

Luisa Jones
Caramba, será que eu não consigo chegar adiantada em um
compromisso nem mesmo quando ele se trata de pegar um voo para
ir visitar o meu pai, que está a milhares de quilômetros de distância?!
Achei que depois dos vinte e um eu fosse ficar mais responsável.
Ora, o meu aniversário de vinte e um anos foi ontem, e mesmo assim
a mágica não aconteceu. Minha mãe colocou em minha cabeça que
agora isso vai mudar, e que a vida completamente adulta e
responsável de uma recém-formada engenheira do petróleo será
diferente a partir de agora. Não acho que isso vá acontecer comigo,
sou desastrada e lerda demais e não acho que isso irá mudar por
agora. Sejamos realistas, neste momento eu estou correndo como
uma louca pelo corredor do aeroporto a fim de, quem sabe,
conseguir chegar até o meu avião antes que ele decole.

Tenho que admitir que esta está sendo uma das experiências mais
emocionantes da minha vida, não que eu tenha tido muitas. Acontece
que eu não lido muito bem com a adrenalina. Uma vez eu fui inventar
de aceitar um convite da minha querida amiga inconsequente,
Fernanda, e do meu não menos inconsequente amigo gay, Gael,
para pular de um avião a quilômetros de altura com apenas um
paraquedas. Eu passei tanto mal durante a caída, que, assim que eu
encostei os pés no chão, desmaiei. Não é uma experiência que eu
goste de lembrar, mas não é como se eu pudesse esquecer, já que
os dois idiotas fazem questão de me lembrar frequentemente,
mesmo já tendo se passado dois anos. Isso fora numa manhã do
meu aniversário de dezenove anos, e o resto do meu dia eu tive que
passar no hospital tomando soro depois de ter vomitado demais,
além de ter precisado usar uma máscara de oxigênio por algumas
horas. Realmente fora um dia inesquecível.
Eu posso sentir algumas gotas de suor descendo pelo meu
pescoço conforme eu corro pelo aeroporto do Rio do Janeiro. Eu não
posso deixar de sussurrar um agradecimento quando eu vejo que a
moça da companhia aérea ainda está pegando os bilhetes e
verificando os passaportes. Bem, só restava um homem na verdade,
mas já estou no lucro. A mulher olha com a testa franzida para o meu
estado deplorável e pega o meu bilhete, checando se está tudo
certo.

— O seu voo sai em 20 minutos, senhora.

— Certo, obrigada. — Não posso deixar de sorrir, aliviada por ter


chegado a tempo.

O tempo em Nova York está chuvoso e nublado. Infelizmente, eu


não previ por isso e agora estou aqui, morrendo de frio dentro de um
táxi, porque não coloquei roupas o suficiente. Esta não é a primeira
vez que eu venho para cá, nem de longe. Na verdade, todo ano eu
estou aqui. Porém, geralmente eu vinha nas minhas férias do meio do
ano, então, nessa época, aqui era verão. Acontece que desta vez a
situação é completamente diferente. Estamos no final de setembro, e
eu não estou aqui para passar as minhas férias com o meu pai, e sim
para fazer a minha pós-graduação de engenharia do petróleo em
uma das maiores empresas petrolíferas do mundo. Conseguir uma
especialização de qualidade no Brasil estava praticamente
impossível, e já estava até mesmo desistindo de me especializar
neste ano até que o meu pai me ligou dizendo que conseguiu uma
brecha para mim na empresa que ele trabalha.

Ele disse que o herdeiro e representante da Hamir Enterprises, nos


Estados Unidos, chegou da sua viagem a negócios dos Emirados
Árabes Unidos e que, certo dia, quando foi convidado pelo seu chefe
para participar de uma reunião, a qual o empreendedor Ahmed Hamir
estava, papai conseguiu falar com ele pessoalmente depois da
reunião e lhe perguntou se ele podia ceder uma oportunidade em sua
empresa para a sua filha fazer uma pós-graduação, já que
ultimamente o local tem sido alvo de professores e alunos com esse
objetivo, no que se refere às aulas práticas. Porém, como o acesso
a essas aulas é muito restrito, papai sabia que eu não conseguiria
sem uma mãozinha.

Papai disse que ele não pareceu gostar nem um pouco da ideia,
mas, pelo fato do meu pai ter mais de duas décadas de trabalho na
empresa, ele cedeu, com a condição de que eu fizesse uma
entrevista com ele antes de ter as minhas aulas. Bem, agora aqui
estou eu, chegando toda molhada no apartamento do meu pai e
morrendo de ansiedade para a minha entrevista com o magnata
amanhã. Eu procurei saber um pouco mais da empresa com o meu
pai e, segundo ele, esta aqui em Nova York é a principal filial, sendo
que a sede está localizada nos Emirados Árabes Unidos, comandada
pelo sheik Tariq Hamir, pai de Ahmed Hamir. Papai me disse que,
desde que o herdeiro passou a representar a empresa nos Estados
Unidos, há dez anos, ela se tornou ainda mais competitiva no
mercado. Pelo visto o empreendedor é bom no que faz. Se eu
passar na entrevista, tenho certeza que irei amar cada minuto da
minha especialização.

Eu estava com tanta saudade do meu velho, que não resisti em lhe
dar um superabraço apertado. Eu fiquei um ano sem visitá-lo
nenhuma vez por causa da minha faculdade, que já estava no fim e
por isso não estava tendo tempo nem mesmo para parar e respirar.
Então, agora que posso vê-lo, abraçá-lo e enchê-lo de beijos, eu não
perco a oportunidade de fazer tudo isso ao mesmo tempo. Daniel
Jones é o homem que eu mais amo na minha vida, e quem é a
distância que nos separa para mudar isso. Realmente a distância
não é nada, porque a nossa relação é muito mais forte do que isso.
O meu pai é um exemplo de homem: amoroso, mas mão firme
quando necessário. Porém, é também muito caseiro e retraído, na
maioria das vezes, e acredito que esse foi um dos principais motivos
do seu casamento com a mamãe não ter ido para frente.
— Feliz aniversário atrasado, querida — ele diz, carinhosamente,
enquanto me abraça e afaga os meus cabelos.

— Obrigada, papai. O meu aniversário foi ontem, então não está tão
atrasado.

— Felizmente não. Estava com saudade, honey — Ele sorri, os seus


olhos azuis, assim como os meus, cheios de carinho e saudade. —
Eu encomendei comida chinesa para comermos enquanto assistimos
um filme na Netflix. O que você acha?

— Parece incrível, pai — falo, animada. — Mas antes eu preciso


tomar um banho. Como o senhor pode ver, não me saí ilesa da
chuva. — Antes de ir para o meu quarto, eu digo: — Ah, eu estava
morrendo de saudade do senhor também.

Ao entrar no meu quarto para tomar o meu banho, estranhei um


pouco o cômodo e vi que eu já não me identifico mais com ele. Na
verdade, tem um bom tempo que a decoração não me representa
mais, só que da última vez que estive aqui eu deixei para mudar a
situação no próximo ano, o que obviamente não aconteceu, já que
nem aqui eu estive. As paredes estão todas pintadas de roxo e lilás,
e tem um monte de pôsteres de ídolos da minha adolescência. Não
posso evitar de soltar uma risada mentalmente ao lembrar do quão
fanática eu era por esses artistas pop. Parece que essa Luisa nem
era eu. Atualmente, eu prefiro os cantores clássicos ou mesmo
aqueles do século XX. Suspiro, exasperada. Tenho que dar um jeito
nesse quarto urgentemente.

Já de banho tomado e vestida com o meu pijama de cupcakes


super quentinho, encontro papai na sala de TV, ocupado, colocando
a comida na mesa e escolhendo um filme.
— Que tipo de filme você quer assistir hoje, querida? — ele pergunta
em inglês.

Daniel aprendeu português quando passou a namorar a mamãe há


mais de vinte anos atrás. Eles se conheceram na praia de
Copacabana, Rio de Janeiro, quando o meu pai estava de férias com
a família no Brasil. No começo era só uma amizade, mas depois de
alguns meses a relação mudou para mais do que isso. Eles se
falavam todos os dias por telefone, até que papai pediu a mão da
extrovertida Elen Alcântara por telefone mesmo. Mamãe
prontamente aceitou. Acredito que ela já estava apaixonada por ele
há um bom tempo. Eles se casaram aqui em Nova York, e ela
passou a morar aqui com ele nos Estados Unidos. No começo ela
parecia ter se adaptado bem, mas conforme os anos foram
passando, Elen não suportava mais viver fora do Brasil.

A minha mãe é brasileira demais, e morar em um lugar cheio de


americanos frios e sérios não estava fazendo bem para ela. Mamãe
entrou em depressão e isso foi deteriorando o casamento dos dois
dia após dia, até que ela decidiu voltar para o Brasil e pedir o
divórcio. Papai é um americano nato e preferiu dar o divórcio do que
se mudar junto com ela para o Brasil. Eu tinha cinco anos na época e
fui morar com a minha mãe. Depois disso, virou uma tradição eu
visitar papai aqui em Nova York uma ou duas vezes no ano durante
as minhas férias escolares e, posteriormente, da universidade. Daniel
geralmente conversa comigo em português, mesmo que com muito
sotaque, mas algumas vezes ele esquece e acaba falando em inglês,
como agora. Na verdade eu não me importo nem um pouco de ele
falar comigo em inglês, afinal eu sou metade americana também.
Porém, ele faz questão de falar sua segunda língua, pois acredita
que assim me deixará mais à vontade em casa, pelo fato de essa
ser a língua que eu mais uso no meu dia a dia.

— Eu acho que vou querer um suspense hoje. — Ele acena.


— Ótima escolha. Parece que lançou um novo filme da Netflix desse
gênero há pouco tempo. — Ele coloca o filme, animado.

Franzo a testa.

— Mas isso não está parecendo mais um terror? — questiono.

— Bem, acredito que seja uma mistura dos dois — diz, dando de
ombros. — Espere aí que eu vou buscar algo que eu esqueci na
cozinha, querida.

— Certo.

O apartamento do meu pai é bonito e muito bem decorado. Diria


que é até mesmo um pouco luxuoso. Ele tem o cargo de
coordenador do setor administrativo da empresa, e, como ela paga
muito bem, papai é privilegiado por ter uma condição financeira
realmente boa.

Estava distraída demais para perceber que o meu pai tinha ido, na
verdade, buscar um bolo de aniversário para mim. Eu só percebo
isso depois que ele aparece na sala novamente com o bolinho
completamente coberto por guloseimas coloridas e com duas
velinhas com o número dois e o um. Enquanto ele caminha até a
mim, papai canta a tradicional música de aniversário. Há muito tempo
que não passo o meu aniversário com ele, pois na maioria das vezes
estou no Brasil nessa época. Achei tão bonitinho a sua atitude, que
não posso evitar de chorar.

— Feliz aniversário novamente, honey. Não chore, hoje deve ser um


dia feliz — diz, um pouco confuso. Sorrio, achando graça da sua
cara.

— Não se preocupe, pai. Estou emocionada, é só isso.


Ele parece aliviado com a explicação.

— Bem, não vai soprar as velinhas e fazer um pedido? Estou


morrendo de vontade de provar esse bolo. Você sabe que eu não
resisto a doces.

Rio, limpando as lágrimas.

— É, eu sei — digo. Olho para o bolinho, faço um pedido e sopro as


velinhas.

∆∆∆

Eu tive que acordar muito cedo hoje. Acontece que meu pai me
recomendou que eu chegasse com, pelo menos, meia hora de
antecedência na empresa, pois o senhor Hamir é um homem que
exige que os seus funcionários sigam à risca os horários da
empresa, e, como eu estou querendo me especializar justamente na
Hamir Enterprises, então certamente ele irá exigir isso de mim
também. Eu estava comentando com papai agora pouco sobre o
quão estranho é o senhor Hamir querer fazer a entrevista comigo ele
próprio. Ele é um homem importante demais e certamente não deve
precisar gastar o seu tempo entrevistando uma engenheira recém-
formada. Não faz sentido isso, o homem tem milhares de
funcionários que poderiam fazer esse trabalho supérfluo para ele.
Bem, mas não vou ficar levantando hipóteses. Talvez o homem só
seja exigente demais e goste de escolher as pessoas que entram na
sua empresa a dedo. Neste momento, papai acaba de terminar o
seu café da manhã e agora está vestindo o seu terno preto. Ele pega
a chave do carro e olha para mim, sorrindo.
— Pronta, querida?

O caminho do apartamento do meu pai até a empresa não é tão


longo, mas o grande problema, na verdade, é o trânsito, que, como
sempre, está congestionado. Só depois de meia hora é que
conseguimos chegar até o nosso destino. Agora eu entendi a
importância de sair bem mais cedo de casa. Assim que eu saio do
carro, a primeira construção que me chama atenção é justamente
aquela que me trouxe aqui. Contudo, o que me atraiu de primeira
nela não foi o nome, pois num primeiro instante eu nem tinha notado
que se tratava da empresa Hamir, mas sim a arquitetura, que é
ostentosa e até mesmo intimidante.

— Uau! — digo, deslumbrada.

— Incrível, não? — papai pergunta, a sua mão nas minhas costas,


me conduzindo para dentro.

— Sim, com certeza.

Assim que Daniel entra, não demora muito para que alguém o
chame para resolver algo na empresa. Ele olha para mim e sorri, já
acostumado com a rotina do trabalho.

— O dever está me chamando, querida. Você já sabe como chegar


até onde o senhor Hamir está, não é?

— Sim. Fique tranquilo que você me explicou bem.

— Muito bem, Luisa. — Ele vem até a mim e beija a minha testa. —
Boa sorte, minha filha.

— Obrigada, papai.
Ele acena e segue uma mulher que o estava esperando.

Suspiro, nervosa. Vamos lá, Luisa, fique calma. É só uma


entrevista para uma pós-graduação, não é nada demais. Tudo bem
que a empresa é uma das mais importantes do mundo, mas ainda
sim não é nada demais. Além disso, talvez o empresário só queira
ver se eu não sou nenhuma doida querendo infiltrar na empresa
dele. Com certeza o resto do processo de seleção não ficará ao seu
encargo. Com esse pensamento positivo, entro no elevador, o qual já
havia três pessoas dentro, e espero até chegar no vigésimo quinto
andar. Quando as portas espelhadas se abrem, o meu coração
começa a bater mais aceleradamente. Meu Deus, não faz sentido eu
estar nervosa desse jeito. É como se o meu subconsciente estivesse
na expectativa de que algo a mais irá acontecer, totalmente sem
lógica.

Eu não fico muito tempo nas minhas divagações estranhas, pois sou
surpreendida por uma mulher que vem até a mim, a qual está
perfeitamente vestida e maquiada. Ela sorri educadamente e
pergunta:

— Você é a senhorita Jones?

Eu sempre preferi o sobrenome Alcântara, não sei exatamente o


porquê. No entanto, as pessoas aqui dos Estados Unidos sempre me
chamam com esse sobrenome, já que aparece como o último nos
meus documentos.

— Sim, sou eu.

— O senhor Hamir já avisou que viria, senhorita Jones. Ele está


ocupado agora, mas logo irá te receber. — Ela olha para o meu
blazer. — Posso guardar o seu casaco?
— Ah, sim — digo enquanto o tiro e a entrego.

— Senhorita Jones, logo ali tem alguns sofás, se quiser se sentar


enquanto espera — diz, olhando em direção ao local. — Você aceita
alguma bebida? Água, café...

— Ah, não. Obrigada.

Ela, então, pede licença e se afasta, indo para outra direção.


Decido me sentar nos sofás que a mulher, Marta Taylor, pelo que eu
li no crachá do seu terninho, indicou-me. Bem, não devo ficar
nervosa. Será uma entrevista simples, e não acho que o senhor
Hamir seja um homem ruim.
Capítulo 2

Ahmed Hamir
O caralho que eu vou dar a mão da minha irmã para o sheik Emir
Yassin! Jade é inocente demais para se casar por agora. O seu jeito
ainda é como o de uma adolescente, não faz sentido virar mulher por
agora. Não posso evitar de grunhir, extremamente irritado. Esse
sheik tem sorte de não estar aqui na minha frente neste momento,
porque, se estivesse, já teria levado um soco do meu punho. Nunca
que eu vou dar a minha irmã para ele, ou mesmo para qualquer outro
lobo miserável que vive a cercando por onde ela vai. Ninguém irá tirar
a minha irmã da proteção da nossa família. Ninguém, porra!

Eu estou carregado pelo ódio. Não há nada que me deixe mais


irado do que quando algum canalha começa a perturbar a paz da
minha irmãzinha. Eu nunca me acostumo com essas situações,
apesar de elas acontecerem mais frequentemente do que eu
gostaria. Acontece que o corpo de Jade mudou muito nos últimos
cinco anos, e, para piorar, a moça herdou o maldito corpo com
curvas das brasileiras, o que me deixa surpreso até hoje, já que a
minha querida mãe Ester sempre foi mais para delgada do que
voluptuosa. Jade também é magra, mas algumas curvas se
sobressaem mais em alguns lugares do seu corpo, justamente nos
menos apropriados. Quando ela chegou na juventude, a sua exótica
aparência miscigenada passou a dar muito trabalho para o meu pai e
eu. Mesmo sendo mantida afastada de grande parte do mundo,
incontáveis homens tentam a todo custo seduzir a minha irmã.

Aperto as minhas mãos em punhos fechados. A situação está mais


complicada do que das outras vezes, pois quem está querendo Jade
não é qualquer burguês europeu ou um árabe rico. Não, o cara é
muito mais do que isso. O sheik Emir Yassin é um homem muito
poderoso, tenho que admitir. Assim como a minha família, a dele é
extremamente influente e vem de uma descendência poderosa e
centenária. Ele não está acostumado a receber um não, e não
importa de quem seja. Eu não posso culpá-lo, essa palavra também
não existe no meu vocabulário. Entretanto, ele terá que se virar com
a sua frustração desta vez, porque eu não irei ceder a mão da minha
irmã, muito menos para ele. Esse cara me lembra a mim mesmo e
isso não é bom. Nada de bom tem nisso. Não neste caso pelo
menos. O sheik Yassin é um homem obsessivo e isso não se discute.
É uma característica marcante da maioria dos homens da família
Yassin e isso é o caralho de cilada para Jade. Eu não deixarei que
isso aconteça com ela, muito menos o pai dela.

O sheik Tariq Hamir nunca irá permitir que a sua filha seja tomada
por um homem que pareça com ele próprio. Ora, nós somos homens
egoístas, tomamos as mulheres que queremos para nós, mas as da
nossa família não serão tomadas por família nenhuma, não importa
qual ou quão influente ela seja. O que é nosso sempre será nosso. O
meu pai, eu e os meus irmãos fazemos o que for preciso para que
isso continue assim até o fim do mundo. Eu não acho que Jade se
importe com o temperamento "difícil" dos homens da família, pois
não é muito de questionar as nossas atitudes. Eu acho isso ótimo. As
mulheres não devem questionar os homens de sua vida, e sim aceitar
de bom grado as suas decisões. Nós sabemos o que é melhor para
elas, as mulheres têm que se conformar com isso.

Bem, eu já divaguei demais em meus pensamentos por hoje. Tenho


muito trabalho a ser feito e que precisa da minha atenção. Decido
continuar com os e-mails os quais estava respondendo para alguns
empresários que pretendem iniciar um contrato comercial com a
empresa petrolífera Hamir. Sento-me novamente no assento da
minha mesa de trabalho. Porém, como que uma praga para
atrapalhar o meu trabalho, o meu celular toca antes mesmo de eu ter
a oportunidade de abrir a tela do MacBook. Droga! Estou de saco
cheio de interrupções por hoje. Quando não é a minha desconfiança
pelo sheik Yassin que me atrapalha, a minha secretária é que o faz.

— Sim, Carla?! — pergunto, não escondendo a minha irritação.

— Senhor Hamir, a senhorita Jones está aqui para a sua entrevista


como o senhor — ela pausa por um instante, receosa. — Eu a
mando entrar?

— Sim, mande a senhorita Jones entrar — digo, impaciente.

O mundo só pode estar querendo se virar contra mim hoje. Não


teve uma hora que eu consegui ser eficaz no meu trabalho e tudo o
que eu ando fazendo é me estressar com os assuntos da minha irmã
e os lobos que a rodeiam. Eu tinha me esquecido da entrevista que
prometi à filha de um funcionário da empresa. Eu não faço essa
merda para ninguém, tem um pessoal preparado que trabalha com
isso aqui. Porém, desta vez eu quis fazer a entrevista pessoalmente.

Acontece que se trata da filha de Daniel Jones, aquela a qual vi


apenas de longe há dois anos atrás, quando, por coincidência, a vi
no centro da cidade com o seu pai. Eu não a vi com muita precisão,
foram apenas alguns segundos que se passaram rápido demais para
criar algo concreto na minha memória. No entanto, naqueles poucos
segundos em que meus olhos a fitaram, eu pude pegar alguns
pequenos detalhes dessa moça que, por mais que eu tentei, não saiu
da minha cabeça. Era uma cena comum, ela estava andando
abraçada com o seu pai e parecia muito feliz.

Não há como negar que a sua beleza é estonteante, mas o que


mais chamou a minha atenção foi o seu sorriso charmoso e alegre.
Eu fiquei um pouco atônito enquanto olhava aquela cena, mas então
me lembrei que ela era apenas uma jovem menina, era nova demais
para as coisas as quais estava acostumado. Não posso negar que,
algumas vezes, quando por algum motivo ou outro eu via o seu pai, a
estonteante e alegre jovem me vinha na memória. Eu há muito tempo
já tinha decidido deixá-la em paz para viver a sua vida normal de
acadêmica, porém estou começando a ter dúvidas se isso é
realmente o que eu quero. Ora, ela não é tão jovem agora, já
concluiu a sua faculdade, amadureceu e com certeza já deve ter tido
muitos relacionamentos com homens. Luisa Jones é uma mulher
madura agora, sabe o que quer, senão nem mesmo estaria aqui
neste momento, a poucos metros depois desse escritório. Ela é
decidida, o que é perfeito para as minhas expectativas com uma
mulher. Eu não iria atrás da meia-brasileira, mas, já que ela está por
aqui novamente, eu não vou perder esta oportunidade. Eu sou
Ahmed Hamir e nunca perco boas oportunidades.

Por um momento, eu esqueci que a moça já estava prestes a entrar


na minha sala e, quando ela o fez, a porta fechando
automaticamente atrás dela, fiquei surpreso ao vê-la aqui, agora,
tímida e nervosa na minha frente. Eu levo um choque ao ver o quão
bonita essa mulher realmente é. Os cabelos loiros são mais
dourados e longos do que eu me lembrava, e a pele muito mais
delicada e sedosa. Involuntariamente, fico com vontade de tocá-la
para sentir a sua textura. O corpo de Luisa emana um cheiro incrível,
algo como sexy, mas também doce.

— Senhorita, Jones. Por favor, chegue mais perto.

Ela está nitidamente nervosa, e é quase impossível ela esconder


isso, já que os seus olhos grandes e azuis são expressivos demais,
quase como os de uma criança.

— Sente-se senhorita. — Ela o faz, timidamente. — Então você é


quem está querendo uma especialização em minha empresa, não é?
O que a levou a ecolhê-la?
— Primeiramente, é um prazer conhecê-lo pessoalmente, senhor
Hamir — ela diz, cordialmente. — Acontece que eu não estava
achando um lugar no Brasil onde eu pudesse, de fato, ter uma boa
especialização, pelo menos não por agora. E então o meu pai me
lembrou da sua empresa, que é uma referência em todo o mundo,
além dele também trabalhar nela.

— Entendo. Diga-me, senhorita Jones, você pretende trabalhar onde


depois de concluir a sua pós-graduação?

Como se não bastasse ter uma aparência belíssima, a mulher tem


uma voz extremamente doce e suave. O inferno que eu não a terei
para mim. Vejo que esta entrevista não será completamente inútil, já
que uma coisa é certa: além da especialização, Luisa não trabalhará
para mim, ela é uma mulher, e mulheres são inúteis quando se trata
da maioria dos trabalhos. Elas têm um papel importante na casa,
mas fora disso... Obviamente eu não desprezo o sexo feminino, pelo
contrário, não sei o que seria dos homens sem elas. As mulheres
são a alma da casa e da vida do homem, além de essenciais para
prover os herdeiros do marido. É claro que algumas nem para isso
prestam, no máximo para uma boa transa e só.

O homem precisa ser sábio quando se trata de escolher uma


esposa, pois o que mais existe é vadias pelo mundo. No meu caso,
eu não me casarei com uma mulher menos do que perfeita. A minha
esposa precisa ser dócil, obediente, de boa aparência e, o mais
importante, pura, com certeza ela precisa ser pura. Eu não me
casarei com uma mulher que já tenha sido usada por outro ou, na
maioria das vezes, muitos outros. Uma coisa que o meu pai fez
questão de me alertar quando eu era mais jovem foi sobre o
casamento. Ele me ensinou que 99,9% das mulheres não prestam, e
que o máximo que eu devia esperar delas é sexo. Elas são
interesseiras, só querem as riquezas do homem e não são nada
menos do que cadelas no cio, logo eu devia estar sempre atento
para possíveis golpes. Contudo, uma coisa que eu aprendi também é
que para tudo existe exceção, logo existem mulheres suficientemente
boas para o casamento e que poderão fazer os homens muito
felizes. Esse foi o caso do meu pai, ele quase já não tinha mais
esperança de que iria encontrar uma mulher que prestasse, até que
encontrou a minha mãe: a mulher perfeita para um homem árabe,
exceto pela teimosia, é claro. Porém, nada que o meu pai não
conseguiu aprender a lidar.

Se a sheika Ester soubesse o que eu estou pensando agora, ela


com certeza iria me dar o seu típico sermão feminista. Eu, assim
como o meu pai, finjo me render às suas opiniões ridículas do
Ocidente, mas só para não a deixar estressada. Nós a amamos
demais, então às vezes fingimos concordar com as suas ideias tolas.
Mas, de vez enquanto, ela desconfia de nós dois, o que dá muito
trabalho para contornar a situação. Ester é muito perceptiva e muito
difícil também. No entanto, ela e a minha irmã são as mulheres mais
importantes da minha vida, e eu sou capaz de morrer e matar por
elas.

Luisa termina de falar sobre os lugares onde pretende trabalhar e


as suas expectativas para o futuro. Sinceramente? Eu não prestei
atenção em nenhuma palavra. Na verdade, eu não escuto nenhuma
palavra de uma mulher quando se trata de trabalho ou negócios, não
vale a pena. Contudo, sorrio educadamente para a senhorita Jones,
fingindo estar interessado no que ela disse, pois não quero assustá-
la, não ainda. Ela é bonita demais para ser descartada assim tão
rápido, sem antes ter tido um gosto da sua essência.

— Bem, acredito que chegará longe, senhorita Jones — minto.

Conforme fui passando muito tempo no Ocidente, eu fui percebendo


que o melhor seria fingir ser como os ocidentais. Por mais que eu
reprove a maioria de seus costumes, é preciso aprender a ser
imparcial, pois, caso contrário, isso pode interferir e muito nos
negócios. Então, eu tento ser o mais ocidental possível perto dos
outros nesta parte do mundo.

— Obrigada, senhor Hamir. — Luisa sorri, um sorriso contente e


muito sincero, que tira o meu fôlego por alguns instantes. Meu Deus,
essa mulher não podia ser mais bonita. — Estou muito feliz que
tenha aprovado os meus planos. Saiba que será uma honra conhecer
mais sobre o funcionamento da sua empresa pelos próximos meses
e que espero poder trabalhar em alguma empresa parecida com a
sua no futuro — diz, empolgada.

— Com certeza você conseguirá, senhorita Jones, talvez até mesmo


aqui, na Hamir Enterprises, um dia — digo, suavemente, quase que
contente com o assunto.

— É mesmo?! Com certeza é o que eu mais desejo conquistar um


dia — confessa, os seus olhos azuis e límpidos transbordando
felicidade pelo simples comentário.

— Eu acredito que poderá conquistar posições até mesmo melhor do


que as que você sonha, senhorita Jones — digo, ainda mais suave.

Ela, obviamente, interpreta a fala como sendo nada mais do que


questões profissionais. Pobre menina ingênua, não sabe o que os
meus planos reservam para ela. Claro, se ela concordar. Eu irei me
atentar para que concorde de bom grado, no entanto.
Capítulo 3

Luisa Jones
Aperto a mão do senhor Hamir um pouco desajeitada por causa da
minha animação extrema. No entanto, mesmo no meio desse
sentimento, eu não posso deixar de reparar no quanto ela é grande e
forte, além de áspera, o que me deixa surpresa, pois o trabalho dele
não justifica esse fato. As suas mãos são mais morenas do que o
seu rosto bonito sem barbear, pelo o quê? Uma semana, talvez?
Contudo, esse detalhe deixa-o ainda mais atraente, sem falar nos
seus olhos, que são de um verde escuro intenso. Quando eu entrei
por aquela porta eu fiquei supernervosa quando olhei para o rosto do
senhor Hamir. Acontece que de longe ele parecia estar bravo, e a
sua fisionomia mais puxada para o árabe estava ainda mais
aparente. Eu já estava insegura, vendo-o daquele jeito irado e
potente, eu quase que tive vontade de voltar para trás e sair
correndo.

Ora, ninguém pode me julgar, todo mundo sabe como são os


árabes, principalmente os sheiks. Apesar de viverem entre o
Ocidente e o Oriente, a sua maneira de pensar e cultura são quase a
mesma desde antes de Cristo. Mas o pior mesmo é a opinião deles
sobre as mulheres. Eles nos julgam como meras propriedades,
seres, muitas vezes, não pensantes. Essa ideia só se agrava ainda
mais quando se trata das ocidentais. Brasileira, então? Aí que a
cobra fuma mesmo. Eu sempre tive um pouco de receio desses
povos do Oriente Médio, mas isso piorou muito depois que a minha
amiga Fernanda começou a namorar com um homem do Marrocos e,
depois de ter se livrado dele, ter me contado detalhe por detalhe do
relacionamento. Só de lembrar das suas palavras, já fico toda
arrepiada.
Segundo ela, o homem fingia entender a cultura dela e as suas
opiniões, mas, quando eles começaram a namorar sério, ele mudou
de repente e começou a exigir que ela mudasse totalmente quem ela
era. Salim começou a controlar as roupas que ela vestia, passou a
proibir que ela se encontrasse com os seus amigos homens, até
mesmo Gael, que é gay! A coitada era proibida de tudo. Graças a
Deus ela criou coragem para dar um chute na bunda daquele
primitivo! Salim está no século vinte e um, mas parece que está na
Idade da Pedra! Fernanda até hoje não gosta de tocar no assunto de
tão traumático que foi o seu relacionamento.

Olhando para o senhor Hamir, sinto uma pontada de culpa por, no


primeiro instante, tê-lo julgado como alguém parecido com Salim.
Isso foi muito injusto da minha parte, ele fora tão educado comigo!
Ahmed Hamir realmente parecia querer saber da minha história
profissional e até mesmo disse que tenho chances de trabalhar na
sua empresa! Meu Deus, parece tudo um sonho de tão maravilhoso.
Realmente o empresário é um homem muito bom. Assim que a
conversa fluía, aquela aparência oriental e primitiva foi
desaparecendo, e um homem educado, inteligente e totalmente
ocidental ganhou lugar. Eu tenho que parar de julgar as pessoas por
causa de comparações toscas feitas pela minha cabeça neurótica.
Poxa, o homem é brasileiro também, assim como eu. Temos isso em
comum, o que até mesmo nos rendeu alguns comentários sobre o
Brasil. Segundo ele, mais brasileira que a sua mãe é difícil.

— Foi um prazer conhecê-la, senhorita Jones — o senhor Hamir diz,


depois de soltar a minha mão.

— Ah, por favor, Alcântara. Quero dizer, eu prefiro esse sobrenome.

Agora ele está me olhando mais atentamente, quase que com


curiosidade.
— Mas Jones não é o sobrenome do seu pai? Muito peculiar a sua
preferência pelo sobrenome da sua mãe.

— Bem, eu sei que aqui nos Estados Unidos se dá a preferência pelo


sobrenome do pai, mas acontece que eu passei a maior parte da
minha vida com a minha mãe no Brasil, senhor Hamir. Além disso, lá
se usa mais o que vem primeiro no documento, então... — explico.

— Entendo — ele diz, apesar da sua expressão não mostrar isso. —


Sempre preferi as moças com o sobrenome dos pais, no entanto.

Fico um pouco surpresa com a sua confissão, mas apenas digo:

— Bem, acho que é tudo uma questão de gosto, não é?

— Sim, certamente. — Os seus olhos verdes se apertam com a sua


resposta.

— Ah… Já vou indo, senhor Hamir. Obrigada pela entrevista e


também pelas oportunidades que o senhor está me dando.

— Não há de quê, senhorita Jones — diz, com um ligeiro sorriso


educado.

Não deixo de reparar que ele usou o sobrenome do meu pai


novamente, mesmo eu tendo explicado que prefiro o da minha mãe.
Contudo, não vou ficar fazendo suposições novamente, tenho certeza
de que não foi intencional. Estava tão atenta a essa questão que
nem mesmo tinha percebido que o senhor Hamir se levantou para vir
até onde estou. Inconscientemente, prendo a respiração quando ele
chega perto demais. Ele percebe e sorri, como se estivesse
satisfeito. A confusão me atravessa.

— Está tudo bem, senhorita Jones? — pergunta, em tom irônico.


— Ah, si… sim. — gaguejo, nervosa. — Eu estou bem.

Os seus olhos verdes estão brilhantes agora, cheios de... não sei,
malícia?

— Eu não acho que está — ele diz, fingindo estar pensativo. — Eu a


deixo nervosa, senhorita Jones? — A sua pergunta é um tanto
imprópria, e por um momento não sei o que responder.

— Bem, isso não vem ao caso — falo, mais firme agora. — Eu tenho
que ir. Até mais, senhor Hamir — digo, já me afastando para ir
embora.

Eu não vou muito longe, porque ele logo me puxa pelo braço. Fico
horrorizada com a sua atitude.

— Senhor Hamir, solte-me! — exijo, tentando ao máximo me


controlar.

Os seus olhos estão mais escuros agora, com algum sentimento


intenso que não sei explicar. Alguns segundos depois, ele finalmente
parece voltar ao normal. O empresário, então, solta o meu braço.

— Perdoe-me, senhorita Jones, pelo gesto desrespeitoso. Mas tinha


algo que eu precisava lhe propor antes de você ir embora — diz,
neutro.

Um pouco desconfiada, pergunto:

— É mesmo? E do que se trata?


— Trata-se de sua especialização, é claro — fala, bastante sério
agora.

Inconscientemente, fico aliviada por não ser nada mais que algo
profissional. Ou eu estou muito paranoica hoje, ou tem algo de
estranho no senhor Hamir que me deixa sempre em alerta. É como
se houvesse um alarme na minha consciência me avisando que estou
em terreno perigoso. Estou muito confusa com toda a situação.
Apesar de eu sentir que o empresário esconde algo, eu não posso
ter certeza disso se eu nem mesmo o conheço. Ora, a primeira vez
que o vi foi hoje.

— O seu pai me disse que você gostaria muito de trabalhar como


engenheira, supervisionando os processos de refinação.

— Sim, é verdade — falo, agora mais interessada em suas palavras.

— Bem, se é assim, por que decidiu se especializar na área


administrativa da empresa? — questiona, o seu olhar está atento,
como se procurasse encontrar a verdade em minhas palavras.

— Acontece que eu não tive essa oportunidade ainda, senhor Hamir.


No Brasil, eu não tive muito sucesso em encontrar uma empresa e
professores que atendesse às minhas expectativas. Além disso, as
melhores são muito difíceis de se conseguir um espaço. Fiquei muito
grata quando soube que poderia me especializar na parte
administrativa da sua empresa aqui, em Nova York.

— Entendo — fala, porém o seu olhar não está fixo em mim mais, e
sim na na parede de vidro do seu escritório, que dá para ver
claramente a agitação da cidade. — Diga-me, Luisa Jones, você
gostaria de ter essa oportunidade na Hamir Enterprises? Você
poderá se especializar onde sempre quis, eu posso ceder isso para
você.
Eu fico estagnada por uns bons segundos, não acreditando que eu
tenha escutado direito. Será que ele está falando sério? Para mim
esse dia não está fazendo sentido nenhum, agora pouco eu estava
nervosa para uma entrevista e ao mesmo tempo extremamente feliz
por tê-la conseguido, e neste momento estou aqui, no escritório de
um homem bilionário, que está me fazendo uma proposta ainda
melhor do que eu esperava. Isso é tão fora do comum... Parece bom
demais para ser verdade.

— E por que o senhor iria me oferecer Isso? — questiono, indo


direto ao ponto.

O seu olhar intenso se fixa em mim novamente. Tenho que admitir


que fico um pouco constrangida em ficar a sós com Ahmed Hamir, o
homem é extremamente intenso, tem muito poder e dinheiro e, além
disso, possui uma beleza que é muito peculiar. A sua aparência é
uma confusão para os meus sentidos. Ele tem todos os traços de um
árabe, ou melhor, um sheik. Porém, ao mesmo tempo, parece tanto
um homem brasileiro ou até mesmo americano. Os seus gestos,
modo de falar, vestes... são todos muito corriqueiros. É claro que
Ahmed não é tão comum assim, porque só de olhar para ele, você já
percebe a dimensão da sua posição social. Ele é o filho mais velho
de um sheik muito rico. Eu sinceramente não entendo muito sobre a
cultura do Oriente Médio, mas o pouco que eu sei me deixa muito
aflita. Obviamente eu não posso julgar o empresário como sendo um
homem igual a maioria dos árabes: machistas, autoritários,
intransigentes e, muitas vezes, poligâmicos. Além disso, se ele fosse
machista, ele não estaria me oferecendo essa proposta dentro da
sua própria empresa. Não faz sentido...

— Eu estou lhe oferecendo porque creio que seja competente e que


goste do que faz — ele responde, o que me tira dos meus inúmeros
questionamentos.
— O senhor está certo nas duas colocações — falo, agora mais
desperta.

Ahmed sorri de canto, quase que imperceptível, mas sorri.

— Vejo que não errei então.

— Não, o senhor não errou.

Ahmed caminha confiante para mais próximo de mim novamente,


mas agora com mais cautela.

— Então isso quer dizer que irá aceitar a proposta? Antes de


responder, já vou dizendo que não faço isso para todo mundo,
senhorita Jones — diz, muito sério. — Essa é uma oportunidade que
estou dando a você, porém, se não aceitar, eu não irei repeti-la
novamente.

Prendo a respiração, ansiosa.

— Eu posso pensar um pouco? O senhor sabe, as refinarias estão


no Oriente Médio, o que é muito longe e...

— Não — ele me corta, abruptamente. — A senhorita não pode. O


meu tempo é muito precioso, Luisa Jones, e eu não irei perder mais
nenhum minuto esperando a sua resposta — fala, autoritário. —
Então, irá aceitar a oportunidade ou não?

— É… sim, eu aceito a oportunidade, senhor Hamir. Não acho que


teria coragem de recusar uma proposta desse nível — confesso,
ainda muito abalada e eufórica.

O seu rosto continua duro e intransigente, porém os seus olhos não


estão tão inquisidores como antes. Esse homem se estressa rápido
demais. Eu não sei se é por que estou ocupando demais o seu
tempo... Acredito que seja por isso, até porque Ahmed é
extremamente ocupado, está me dando uma oportunidade incrível, e
eu mesmo assim pensei demais antes de aceitá-la.

— Desculpe-me perguntar, senhor Hamir, mas como que será daqui


para frente? Eu terei que passar um bom tempo nos Emirados
Árabes Unidos, não?

— Certamente que sim — responde, visivelmente desinteressado. —


As refinarias estão lá, não estão? — A sua pergunta é retórica e
irônica. —
Arranje um voo para lá, senhorita Jones. Tudo será pago, como que
um presente. Você tem dois dias para organizar tudo, se não
conseguir, eu irei retirar a proposta. — Pelo o seu tom de voz, é
melhor eu transmitir mais confiança e responsabilidade do que estou
transmitindo.

— Eu começarei a me organizar hoje mesmo, senhor Hamir, o senhor


não tem com o que se preocupar.

— Eu não me preocupo — diz, secamente. — Eu só não quero que


me faça perder o meu tempo mais do que já perdi com essa
conversa com você aqui, senhorita Jones. — As suas palavras são
como uma bofetada, e eu inconscientemente dou um passo para
trás. Ahmed percebe, e o seu rosto contrai.

— Irei lhe dar um conselho, senhorita Jones. Sei que se formou por
agora e não tem muita experiência com negócios e muito menos com
empresários. Porém, aconselho a mostrar mais confiança, mesmo
que ainda não tenha — diz, sua voz como uma navalha raspando as
minhas recentes feridas.
— Eu agradeço pelo conselho, senhor Hamir. Eu com certeza vou
segui-lo.

— Ótimo. — Ele caminha para ainda mais perto de mim a passos


largos.

Quando ele está próximo demais, ao ponto de eu poder esticar o


braço e trocá-lo, imediatamente fico tensa com a sua potente
presença, mas faço o máximo para não demonstrar. Ele estende a
mão para mim, e eu a aperto. Nunca foi tão intenso apertar a mão de
alguém na minha vida. Ahmed exala autoridade por todos os seus
poros.

— Foi um prazer conhecê-la, senhorita Jones. Eu vou levá-la até a


porta. — Ele coloca uma de suas mãos morenas nas minhas costas
e me conduz até a porta, sem ao menos esperar uma resposta.

— Apenas uma pergunta, senhor Hamir, com quem eu terei que


conversar assim que eu chegar nas indústrias? — pergunto, assim
que ele abre a porta.

— Você não precisa se preocupar com nada, senhorita Jones — ele


diz, cortante. — Há uma equipe extremamente competente que já
está acostumada com casos como o seu, exceto pela parte de que
quase sempre os especializandos são da região. Porém, isso não
será um problema para você.

— Certo, obrigada novamente pela oportunidade, senhor Hamir —


agradeço, já fora do escritório.

Ele olha para mim por um momento e não diz nada, apenas acena e
volta novamente para dentro. A porta se fecha automaticamente
atrás da suas costas largas e perfeitamente cobertas por um terno
preto feito sob medida.
Só quando eu estou novamente na recepção da empresa é que eu
consigo respirar com naturalidade novamente. Eu fiquei tão tensa
durante a entrevista, que até pontadas na cabeça estou sentindo.
Enquanto ando em direção à saída, muitos colegas de trabalho de
papai acenam para mim. Tento ao máximo não parecer mal-educada
e aceno de volta, apesar de estar com os pensamentos em outro
lugar, um muito mais distante do que eu estou acostumada,
desconhecido, mas com grandes oportunidades de crescimento...
Capítulo 4

Luisa Jones

Os últimos dois dias foram os mais corridos e eufóricos da minha


vida, às vezes eu tinha a sensação de que iria morrer de ansiedade.
Papai, quando soube da proposta que o senhor Hamir me fez, ficou
estático, extremamente surpreso. Eu não o culpo, parece até bom
demais para ser verdade. Ele ficou muito feliz por mim e até mesmo
com entusiasmo, contudo, hoje de manhã, que é o dia da minha
viagem para os Emirados Árabes Unidos, ele simplesmente mudou
totalmente de humor, passou a ficar preocupado e receoso, além de
muito desconfiado. Perguntei por que ele mudou de pensamento tão
rápido, porém ele simplesmente disse que não sabe, mas que sente
que tem algo na minha viagem que está o incomodando. Eu admito
que fiquei com medo do seu pressentimento ruim, só que isso
rapidamente passou. Ora, ele é o meu pai, é normal que os pais
fiquem preocupados pelos filhos, principalmente no meu caso, que
sou sua única filha e ainda por cima o vejo muito pouco.

Enfim, neste momento ele está se arrumando para o trabalho.


Acontece que ele vai me levar para o aeroporto e depois irá direto
para a empresa. Segundo ele, o senhor Hamir partiu para o seu país
ontem, depois de ter recebido uma ligação de alguém da empresa
dizendo que precisava dele na sede, que fica em Dubai. Tenho que
admitir que quando soube disso cheguei a murchar como uma flor
arrancada do solo. Eu estava tão animada, mas só de imaginar que
aquele homem estará lá também, já me desanima um pouco. Porém,
logo tive que dar um jeito de controlar as minhas emoções. Eu não
posso nunca me esquecer que estarei lá simplesmente por questões
profissionais, nada mais. Eu sou uma engenheira do petróleo e essa
será, com certeza, a maior experiência a qual eu terei a oportunidade
na vida. Não é fácil conseguir essa chance que tive, já que a
empresa Hamir é uma das mais ricas do mundo. Sou realmente
muito sortuda, logo não é um homem exótico de duas etnias que vai
me fazer desistir da viagem. Além disso, todas esses pensamentos
neuróticos só estão na minha cabeça, e isso é extremamente óbvio.
Ahmed Hamir não está querendo me fazer desistir de nada, pelo
contrário, eu só tive essa oportunidade porque ele me ofereceu! O
homem me dá um presente incrível desse, e eu ainda vejo defeito
nas coisas, nem eu consigo acreditar que essa sou eu.

— Não se esqueça de me ligar todos os dias, Luisa — meu pai diz,


assim que desço do carro, já em frente ao aeroporto de Nova York.
Não posso evitar de revirar os olhos.

— Pai, eu já sou uma mulher adulta, o senhor não tem com que se
preocupar. — Olho as horas no meu celular e, vendo que ainda tenho
tempo, encaro o meu pai novamente.

— Você deveria ser um pouco mais parecido com a mamãe. Quando


ela soube que estava indo para os Emirados, ela ficou louca de
felicidade.

— Luisa, você sabe muito bem que a sua mãe é uma festeira inata.
Tudo o que remete a viagens e festas, ela adora — ele fala, em tom
de desaprovação.

— Você não deveria a recriminar por isso. Pelo menos ela vive, pai,
já o senhor apenas trabalha — acuso.

Ele suspira, irritado com a inclinação da conversa.

— Okay, não vou mais tocar nesse assunto, e se você sente que
essa viagem vai ser boa para você, então boa sorte, querida.

Sorrio, feliz por ele ter aceitado a situação. Entro no carro


novamente apenas para lhe dar um beijinho e logo saio depois,
fechando a porta em seguida, a janela ainda aberta.

— Lembre-se, Luisa, é para você me ligar todos os dias, ouviu,


mocinha? Eu não estou nem aí se você já é uma adulta e todas
essas baboseiras. Pelo que eu saiba, para ser filha não existe idade.

— Sim, senhor, capitão! — ironizo.

A primeira sensação que tenho ao pisar no solo de Dubai é de


encantamento. Mesmo ainda estando no aeroporto, já é possível
notar a beleza do lugar. Por onde eu olho só vejo tecnologia e
pessoas muito bem vestidas. Eu pensei que fosse sentir muito calor
quando estivesse aqui, mas não, o clima está muito bom, e, além
disso, o que não falta são ares-condicionados espalhados por todo o
ambiente. É tudo tão chique e bonito, que até mesmo me sinto um
pouco deslocada e imediatamente me arrependo por ter preferido
uma roupa confortável ao invés de uma elegante. Depois de ter
ficado mais de dez minutos perdida e sem saber para onde ir,
finalmente acho um caminho que dá para fora da construção, onde
há vários táxis transitando. Não demora muito tempo para que eu
consiga pegar um.

O meu taxista está vestindo as tradicionais roupas árabe masculina:


uma Kandoora branca e o Ghtrah. Eu sinceramente acho muito
estranho essas vestes, não porque não respeito a cultura, mas é por
causa da sensação que tenho vendo tantos homens e mulheres
vestindo roupas tão diferentes das ocidentais. Inesperadamente,
sinto-me vulnerável e totalmente inapropriada. Além disso, a
aparência dessas pessoas me parece saída de um conto de Mil e
Uma Noites. Eles andam com tantas joias e estão sempre muito
limpos e bem arrumados, da forma deles, obviamente, mas mesmo
assim muito bem arrumados. Contudo, a ligação do estilo deles com
o passado torna-os estranhos. Infelizmente, não sou uma boa
apreciadora da história. Na verdade, prefiro bem mais o presente, se
vacilar, até mesmo o futuro. Eu definitivamente não sou nem um
pouco uma apreciadora da cultura do Oriente Médio.

Em pouco mais de quinze minutos, eu finalmente cheguei ao meu


hotel, o qual reservei pela internet enquanto ainda estava nos
Estados Unidos. Ele foi um dos mais simples que encontrei, mas
ainda sim é muito luxuoso e caro para o que eu realmente estava
procurando. A vida em Dubai definitivamente não é barata, e eu fiquei
surpreendida ao constatar por mim mesma o quão alto é o poder
aquisitivo da maioria das pessoas daqui. Uma mulher muito bem
vestida que trabalha no hotel me entrega o cartão do meu quarto,
depois de eu ter feito o check in. Peço que me explique como
funciona as coisas aqui no hotel, mas então ela me explica que eu só
preciso baixar o aplicativo do hotel e que eu posso fazer quase tudo
por lá mesmo. Bem, percebo que, ao contrário dos brasileiros, as
pessoas daqui são muito frias, e quanto mais praticidade o dia-a-dia
deles tiver, melhor. Contato humano definitivamente não faz parte do
vocabulário dos árabes, pelo menos não com desconhecidos e
estrangeiros.

O meu quarto de hotel é de muito bom gosto. Há uma parte dele


que é de vidro, uma espécie de janela, eu acho. Porém, quando eu
tento abrir, o vidro não cede, e é aí que percebo que a sua única
função é me mostrar a incrível vista que dá para ver lá embaixo, o
maravilhoso emirado Dubai, altamente moderno e formoso. Deus,
estou apaixonada por esse lugar! Em todos os anos que estudei
engenharia, eu nunca poderia imaginar que teria a oportunidade de
estudar por meio de uma empresa tão importante e num lugar tão
bonito.

Eu não tinha percebido o quanto eu dormi até que o meu celular


toca e eu acabo vendo as horas. Assim que eu olho para a tela do
smartphone, levo um susto, quase achei que tinha dormido por nove
horas seguidas. Mas não, acontece que o horário foi mudado
automaticamente para o daqui. Contudo, ainda sim eu dormi muito,
cerca de três horas. Poxa, eu não devia ter dormido, eu só tinha em
mente uma cochilada. A minha confusão é tanta que só percebo,
finalmente, que alguém está querendo falar comigo quando o meu
celular toca pela segunda vez. Eu jurava que o toque anterior era por
causa de um alarme ou algo assim. O número é desconhecido e,
pela forma que os numerais parecem ser de outro mundo, não é dos
Estados Unidos e muito menos do Brasil. Santo Pai, tomara que não
seja um islâmico terrorista que queira me matar por ser uma infiel
de Maomé, ou pior, vai que quer me fazer de concubina! Puta
merda, talvez eu não deva atender, vai que realmente não seja
coisa boa... Tudo bem que eu estou sendo exagerada, mas não é
para menos, eu estou num lugar totalmente diferente, com um povo
completamente estranho...

Quando eu me dou conta, fiquei remoendo se atendia ou não o


telefone por uns três minutos, sendo que nisso tudo a pessoa já me
ligou umas quatro vezes. Respire, Luisa, você está aqui a trabalho,
lembra? Provavelmente o telefonema seja simplesmente de caráter
profissional. Beleza, mas eu não me lembro de ter dado o meu
número para ninguém. Antes que eu comece a, de fato, desesperar,
atendo a ligação, com um medroso "Hello". Antes que a pessoa me
responda, um pensamento me vem à cabeça: misericórdia, eu estou
ficando paranoica igual o papai!

— Luisa! — uma voz extremamente irada e arrogante cuspe o meu


nome.

Por um momento, eu fico em choque, porém a raiva chega rápido.


Como esse cara se atreve a falar assim comigo?! Eu nem conheço
esse idiota!

— Quem é que está falando?! — exijo saber, com voz altiva e nem
um pouco abalada.
— Quem está falando é o sheik Ahmed Hamir! — ele responde com
extrema arrogância.

Eu quase acho que vou desmaiar, no primeiro instante. Merda, o


que foi que eu fiz?! Eu desafiei o dono da empresa, bem a que me
trouxe aqui. Porém, mesmo estando arrependida, ainda sim não vou
tolerar esse homem agindo como um ditador para cima de mim.
"Quem está falando é o sheik Ahmed Hamir!". Que estranho, porque
nos Estados Unidos ele nem mesmo citou o seu título árabe. Irritada,
falo com o meu melhor tom profissional:

— Senhor Hamir, boa tarde. Eu sinto muito por não ter atendido
antes, eu estava ocupada.

Ele não diz nada por um bom tempo, até que pergunta,
rispidamente:

— O que você estava fazendo, Luisa? Pelo o que eu saiba, você veio
aqui meramente por questões profissionais, porém somente agora
que entrei em contato com você.

— É senhorita Alcântara, senhor Hamir. E eu não lhe dei a


autorização para me chamar pelo primeiro nome!

— Você não respondeu a minha pergunta, Luisa. O que você estava


fazendo desde que chegou aqui?!

A prepotência desse homem de achar que eu devo explicação da


minha vida pessoal para ele me deixa a ponto de explodir de raiva.
Custa-me quase que toda a minha paciência agir com neutralidade.

— Senhor Hamir, a minha vida pessoal não é da sua conta. Como o


senhor disse anteriormente, eu estou aqui meramente por questões
profissionais. Agora, já que estou vendo que o senhor não está
respeitando o meu espaço, eu sou obrigada a dizer que estarei
pegando o primeiro voo de volta para o meu país. — As minhas
palavras com certeza o abalaram, pois rapidamente a sua voz se
torna calma e neutra, assim como no dia da entrevista nos EUA.

— Peço desculpas se a ofendi, senhorita Jones, isso não irá


acontecer novamente. — O seu pedido de desculpas, apesar de me
parecer o ideal para a situação, não me traz segurança. Eu não acho
que ele sente muito, na verdade. Contudo, decido aceitar, mesmo
desconfiada e irritada por ele continuar me chamando pelo
sobrenome do meu pai.

— Realmente o senhor me ofendeu, e espero mesmo que isso não


se repita, senhor Hamir.

— Bem, agora que nos entendemos... — ele diz, completamente


imparcial — já conversei com os meus funcionários a seu respeito,
senhorita Jones, eles irão te ensinar sobre todo o funcionamento do
curso e, claro, você terá aulas nas refinarias. Há um grupo de
docentes do Canadá especialmente para esse papel também.
Acontece que a Hamir Enterprises, cerca de duas vezes por ano,
recebe especializandos para conhecer como funciona, na prática, o
refinamento do petróleo.

O que ele disse me parece tão interessante, que até mesmo deixo
para lá o nosso conflito anterior.

— Nossa, isso realmente parece muito bom! O senhor acha que


talvez eu tenha a sorte de ter aulas com os outros estudantes?

— Creio que sim. — Pelo seu tom de voz, a minha pergunta não o
agradou, porém não consigo identificar nenhum motivo para isso.
— A senhorita sabe onde fica a empresa? — ele pergunta, já
desinteressado na conversa.

— Sim, pesquisei no Google Maps há algumas horas.

— Bom. Os docentes estarão lá às oito da manhã, senhorita Jones.


Sinta-se à vontade para aparecer lá quando quiser.

Eu já ia agradecer e dizer que apareceria lá na hora certinha, mas


ele finaliza a ligação antes que eu abra a boca.

Que homem grosso! O todo-poderoso e bilionário sheik Hamir está


acostumado com o poder, com todos o reverenciando e fazendo tudo
o que ele manda. Não o estou criticando, o homem nasceu para
suceder o pai e o título que os homens mais velhos da família levam
há milênios. Eu acho isso incrível e admiro a sua força e
autoconfiança. Porém, eu não sou da sua terra, não sou oriental e
também não trabalho na sua empresa, então não vou abaixar a
cabeça para ele. Até mesmo se eu trabalhasse para ele, que é o
meu sonho, eu não abaixaria. Eu vim de um mundo diferente, um em
que nem homem nem mulher tem que ser submisso a ninguém, não
importa de que classe social, título de nobreza, seja árabe ou
europeu, ou até quanto dinheiro tenha. Ninguém nunca, jamais, nunca
irá me fazer abaixar a cabeça.
Capítulo 5

Luisa Jones

Como esperado, no dia seguinte, exatamente às oito da manhã, eu


já estava na indústria da empresa Hamir. Numa primeira instância,
quando entrei, vários funcionários do lugar me olharam chocados,
como se eu fosse de outro planeta. Fiquei extremamente
desconfortável, pois podia escutar os homens falando alto e de
forma alarmada sobre mim uns com os outros, porém eu não
conseguia entender nada, já que falavam em árabe. Fiquei ainda
mais desconfortável quando percebi que, provavelmente, não havia
nenhuma mulher naquele lugar. Depois de ficar andando sem rumo
entre os funcionários e as máquinas por cerca de cinco minutos,
finalmente alguém veio ao meu socorro. Um homem, Tales Lam, que
é um dos docentes, veio até a mim e se apresentou como sendo um
dos meus professores. Eu não sei descrever o quanto eu fiquei feliz
quando ele me disse que era canadense e que a maioria dos
docentes eram também. Ele me explicou rapidamente como
funcionava as aulas e disse que aquela seria mais teórica, voltada
para a observação. Fiquei muito contente ao perceber que os
métodos de ensino não seriam tão diferentes assim.

Porém, o meu contentamento não durou muito, pois logo quando


encontrei com os outros alunos, percebi que se tratavam de maioria
árabe. Vi apenas dois rapazes que eram ocidentais. Para aumentar
ainda mais o meu pânico, não havia nenhuma mulher ali. Os jovens,
pelo visto nativos dali, não paravam de olhar para as minhas roupas
e para os meus cabelos soltos. Os seus olhos eram acusadores, e
eu não sabia onde enfiar a cara. Percebendo o meu desconto, o
professor Tales me apresentou para a turma e fez questão de dizer
que o próprio sheik Ahmed Hamir me tinha dado a oportunidade de
estar ali. No mesmo instante que ele afirmou isso, vi que os jovens
ficaram assustados. Depois de me observarem por alguns segundos,
espantados, as suas expressões mudaram rapidamente para
respeitosa e absurdamente séria. Fiquei agoniada ao ver tantas
emoções em seus rostos. Os únicos que agiram normalmente com a
minha chegada foram os jovens ocidentais, que mais tarde descobri
que são canadenses.

Não demorou muito para que Tales e os outros professores


iniciassem a aula, que era basicamente andar por toda indústria,
observar tudo e ir associando com as explicações dos professores.
Para a minha surpresa, não tive nenhuma dificuldade em entender o
que era lecionado. Foi aí que percebi que tive um bom ensino em
minha faculdade do Brasil e fiquei muito satisfeita com isso. Pelo
visto, os meus anos de estudo foram suficientes para me trazer o
conhecimento necessário que preciso. No fim da aula, que durou
quatro horas, os rapazes canadenses vieram conversar comigo.
Descobri que são muito educados e prestativos, assim como a
maioria das pessoas do seu país. Liam e Samuel foram muito gentis
ao me dar dicas e conselhos sobre como lidar com Dubai e os
Emirados Árabes Unidos. Segundo eles, não é tão comum assim
uma mulher ter aulas em turmas compostas por uma maioria homem
tão expressiva, como é o meu caso. Além disso, eles me explicaram
que não é tão comum as mulheres nativas mostrarem os cabelos
para outros homens que não sejam de sua família, isso as
muçulmanas, é claro, apesar disso não ser exigido, muito menos
para as estrangeiras. Por isso o estranhamento dos rapazes, já que
o meu ombro estava de fora e pelo fato de os meus cabelos loiros
também chamarem muita atenção.

Eu, enquanto escutava as suas explicações, ficava cada vez mais


receosa sobre as tradições dos nativos. Liam e Samuel, no entanto,
me disseram que o país é muito seguro e que eu não devo me
preocupar. Porém, o ideal seria se eu me vestisse de acordo com o
que era de costume para eles. Depois de ser esclarecida sobre o
país e a cidade, eles me explicaram algumas coisas sobre o curso e
também se dispuseram a me ajudar, caso eu precisasse. Eu me
senti muito grata por eles estarem aqui, nesta cidade, assim como
eu. Desse modo, me senti um pouco mais conformada e segura.

Já mais calma, me despeço dos rapazes assim que saímos da


indústria. Antes disso, trocamos nossos números para mantermos
contato, depois, nos despedimos, dizendo um "até amanhã". Assim
que estou sozinha, sinto um alívio imenso na minha alma por saber
que tudo vai dar certo. Até que não foi ruim a minha primeira
experiência, e acho que isso pode dar certo, apenas tenho que me
adequar mais aos costumes daqui. Enquanto andava pela calçada,
alheia às coisas ao redor, não tinha notado que alguém me seguia,
até escutar o meu nome sendo chamado por alguém não muito
distante. Rapidamente me viro para trás, curiosa.

— Senhor Hamir? — questiono, surpresa. Ele sorri de forma


enigmática e acena em concordância.

— Como vai, senhorita Jones? Gostou da sua primeira aula? —


pergunta, educadamente.

Um pouco desconfiada por ele estar aqui, no mesmo lugar que eu,
digo:

— Foi tudo muito bem, obrigada por perguntar.

Ele me analisa por um tempo, pensativo.

— Se é assim, que tal um almoço para repor as energias?

— Sim, realmente estou com fome. Aliás, vou fazer exatamente isso
quando chegar no meu hotel.

Ahmed Hamir aperta os lábios, e o seu rosto contrai.


— Não hoje, senhorita Jones. Hoje, gostaria de levá-la para almoçar
comigo.

Um pouco surpresa com a sua proposta, abro a boca para dizer


que não será possível, mas então eu a fecho novamente, sabendo
que não seria a melhor coisa a se dizer.

— E então, o que você me diz? — pergunta, suavemente.

Criando coragem, falo:

— Bem, senhor Hamir, eu aprecio muito a sua proposta, mas eu


acredito que seja melhor eu almoçar no meu hotel mesmo.

Essa definitivamente não foi a resposta que ele esperava, pois logo
vejo raiva explícita nos seus olhos.

— O que houve, senhorita Jones? Você não sabe ser grata o


suficiente a ponto de aceitar ter um simples almoço com o homem
que te deu uma oportunidade tão boa? — ele acusa, maneando a
cabeça em um claro gesto de decepção.

Assustada com o rumo dos seus questionamentos, explico, ansiosa:

— Claro que não, senhor Hamir. Não é por isso que recusei o seu
pedido, é só que... — hesito.

Ele me encara.

— É só o quê, senhorita Jones?

— Bem, acontece que...


— Que você está fugindo de mim — ele complementa, ainda de
forma acusadora.

— Si... Não! É claro que não é isso, senhor Hamir — falo,


desesperada, apesar de, no fundo, eu saber que ele está certo.

Ele ri, totalmente irônico. Os seus olhos verdes-escuros brilhando


com humor negro. Prendo a respiração, pois, mesmo sendo
sarcástico, ele fica muito bonito quando ri.

— Oh, parece que acertei! Então, senhorita Jones, não vai me dizer
o porquê está fugindo de mim?

— Eu não estou fugindo de você! — minto.

Ele arqueia as sobrancelhas, divertido e desafiante.

— É mesmo? Bem, se isso for verdade, acredito que não terá


problema nenhum aceitar ter um simples almoço comigo.

Confusa e exasperada, cedo, com um suspiro:

— Certo, eu aceito almoçar com o senhor.

Ahmed Hamir me olha, agora satisfeito, e diz:

— Perfeito, prometo que não irá se arrepender, querida.

O jeito como ele me chamou me deixa desconfiada, já que se trata


de um jeito íntimo demais para se referir a uma pessoa. Ahmed
percebe a minha desconfiança e logo complementa:

— Irei te levar no melhor restaurante de Dubai.


— Ah, não, por favor, isso não é necessário — falo, alarmada.

Ele, no entanto, me ignora.

— Eu insisto. Uma mulher como você não deve se contentar com


menos do que o melhor de tudo.

Confusa, falo:

— Senhor Hamir, realmente não é necessário. Eu aprecio mais as


coisas simples.

Ele sorri.

— Então vejo que preciso te fazer repensar essa sua ideia.

Antes que eu tenha a chance de dizer mais algumas coisa, ele


aponta para o seu carro estacionado a poucos metros à nossa
frente, um Audi preto do último ano. Arregalo os olhos, agora me
lembrando do quanto este homem é rico. Percebendo a minha
hesitação, Ahmed coloca uma de suas mãos nas minhas costas, me
conduzindo até o veículo. Apesar de desconfortável com a situação,
não falo nada.

∆∆∆
A viagem até o restaurante não durou mais que dez minutos, e,
enquanto estava sentada no seu carro luxuoso, vi quando Ahmed
trocou uma música cantada em árabe, provavelmente pop, por uma
música clássica, tocada por, principalmente, um pianista, claramente
Richard Romant. Agora, já dentro do elevador com Ahmed, o qual
está nos levando para cima, especificamente para 123° andar do
Burj Khalifa, o prédio mais alto do mundo, pergunto para Ahmed
aquilo que estava pensando antes de ficar estática ao ver o lugar que
ele resolveu me trazer:

— Quer dizer que aprecia música clássica?

Ahmed me olha surpreso, já que estávamos em silêncio há mais de


dez minutos.

— De fato, é o estilo de música que mais aprecio.

— É mesmo?

— Sim. Por que a curiosidade?

— Ah, nada... Bem, eu também gosto desse estilo.

Ahmed franze a testa, me observando.

— É mesmo? É difícil encontrar jovens que gostam de um estilo


como esse hoje em dia.

— Isso é verdade — comento.

— Bem, senhorita Jones, chegamos no andar do At.mosphere. Creio


que irá gostar da vista que terá da cidade.
— Não vejo como não gostar, você me trouxe para o prédio mais alto
do mundo! — ironizo, achando tudo um absurdo.

Ele não parece se importar e, ao entrarmos no restaurante


intimidante, ele novamente coloca a sua mão nas minhas contas, me
conduzindo para uma mesa. Rapidamente garçons aparecem para
nos atender, porém, quando se deparam com Ahmed, estes
rapidamente dizem algumas palavras em árabe, as quais não
entendo. Contudo, vejo que se trata de um gesto respeitoso, o qual o
senhor Hamir parece estar acostumado. Depois disso, ele faz alguns
pedidos para nós dois, e eles saem, deixando-nos a sós.

— Espero que não seja vegetariana, Luisa, pois é bem comum os


pratos daqui virem com muita variedade de carnes.

Ele ter me chamado pelo o meu primeiro nome não passou


despercebido por mim, porém decido não comentar sobre isso.

— Não se preocupe, eu não sou. Geralmente, como de tudo.

Ele acena.

— Isso se torna uma boa qualidade quando você vai para outro país.

— Eu também acho — falo.

Então, abruptamente, ele muda de assunto:

— Então, quem eram aqueles homens que saíram junto com você da
indústria? — Pelo o seu tom de voz, percebo que ele não gostou
daquilo. Isso me deixa confusa e irritada. Por que ele achou um
acontecimento tão normal como sendo algo ruim? Aliás, o que ele
tem a ver com isso?
— Então você estava do lado de fora da indústria me esperando sair
— afirmo, irritada.

Ele não parece se importar com a minha raiva e apenas responde:

— Sim.

Ainda mais irritada, pergunto:

— Você sabia que isso é invasão de privacidade? Você estava me


perseguindo!

Desta vez ele se irrita também:

— Eu não estava te perseguindo, aquela é a indústria na minha


família, e você estava dentro dela. Isso não é perseguição, Luisa!

O seu tom de voz raivoso me faz ficar quieta por alguns segundos,
e eu me esforço para ficar calma.

— Entendo — digo apenas.

— Entenda, senhorita Jones, eu estou sendo muito bonzinho com


você, e acredite, eu não sou assim. Até mesmo com a minha irmã eu
não sou tão tolerante.

Um pouco confusa pelo seu comentário, digo:

— Se estou o incomodando, então acredito que seja melhor eu ir


embora.

Ahmed Hamir fica tenso.


— Você não vai! — Depois, vendo que disse algo errado, ele
complementa: — Você não me incomoda, Luisa. Eu apenas acho que
deveria diminuir um pouco a sua desconfiança em mim.

Receosa, comento:

— Eu não te conheço, senhor Hamir. É normal que eu não tenho


tanta confiança no senhor.

Ele, então, sorri e assente.

— Bem, acredito que esteja certa. Eu que preciso conquistar a sua


confiança.

Hesitante, comento:

— Não acho que seja necessário, senhor Hamir. Você é um homem


muito ocupado, tenho certeza de que tem sempre muitas coisas para
resolver e... eu não quero atrapalhar a sua vida. Já sou grata por ter
me trazido para esta cidade.

Ele não parece gostar do meu comentário, pois diz:

— Você não atrapalha a minha vida, Luisa. E pelo visto você não
consegue compreender isso.

Infinitamente confusa e sem saber o que dizer numa situação como


esta, apenas digo:

— Okay.

Ele parecia querer me dizer alguma coisa importante, mas logo


fomos interrompidos pelos mesmos garçons que trouxeram os
nossos pratos. Olho espantada para o banquete à nossa frente. É
tanta comida, que daria para uma família inteira almoçar facilmente.
Decido não comentar nada disso com Ahmed, já que ele ainda
aparenta estar irritado. Entretanto, minutos depois ele comenta,
tirando-me do meu devaneio, tal que eu não conseguia tirar os meus
olhos da perfeita visão da cidade que os vidros do restaurante
permite aos seus clientes:

— O que está achando da cidade?

— Eu estou achando tudo muito deslumbrante, posso dizer.

Ele acena.

— Talvez devesse mudar um pouco o seu estilo de roupa enquanto


estiver aqui. Acredito que tenha percebido que não é comum as
pessoas...

— Sim, eu percebi. E vou dar um jeito nisso — interrompo-o.

Ahmed fecha a cara com a minha interrupção, mas não comenta


nada e, ao invés disso, apenas acena, os seus olhos intensos fixados
em mim enquanto saboreia um gelado suco da região.
Capítulo 6

Luisa Jones

Ahmed, enquanto me levava para o meu hotel, não disse nenhuma


palavra, e eu tampouco quis iniciar um diálogo com ele. No fim, o
único som que ouvíamos era o de uma orquestra saindo do som do
seu supercarro. O seu rosto estava rígido, e eu acho que ele estava
com raiva de mim. Ora, que fique! Eu não estou me importando nem
um pouco!

Quando chegamos, enfim, ao meu destino, ele destranca a minha


porta, e eu saio irritada. Assim que estou na rua, ele diz, ainda
dentro do carro:

— Tenha uma boa tarde, senhorita Jones, e uma boa aula amanhã.
— A sua voz sai fria, e eu duvido que ele esteja sendo verdadeiro.

Sorrio, friamente também.

— Adeus, senhor Hamir.

Ele arqueia as suas escuras sobrancelhas, mas não diz nada. Logo
ele está acelerando o seu carro além do que eu consideraria seguro,
e rapidamente o perco de vista.

— Que homem estranho! — falo para mim mesma.

Ainda confusa pelo comportamento de Ahmed, entro no meu hotel.


No mesmo instante, a recepcionista me chama, dizendo que a minha
mãe queria falar comigo urgentemente. Franzo a testa. Ora, por que
ela não ligou para o meu celular então? Contudo, assim que ligo a
tela no meu smartphone, noto que este estava no modo "não
perturbe". Merda, minha mãe com certeza deve estar pensando que
fui sequestrada agora. A primeira coisa que faço assim que estou no
meu quarto é ligar para ela. Elen atende no segundo toque:

— O que aconteceu com o seu celular, sua irresponsável?! — Essa é


a primeira coisa que escuto.

Reviro os olhos.

— Sinto muito, mãe. Ele estava no modo "não perturbe". Eu o deixei


assim quando fui para a aula, mas esqueci de tirar.

— Esqueceu de tirar?! Luisa, você está do outro lado do mundo,


menina, isso é muito perigoso, ainda mais que esse país que você
está é islâmico! Olha, não é sendo preconceituosa, mas, depois que
fiquei sabendo de tantas guerras por causa dessa religião, eu...

— Certo, mãe, eu já entendi — resmungo. — Não se preocupe,


okay? Estou muito bem, e o país é muito seguro, não há o que
temer.

Ela suspira do outro lado da linha.

— Não faça mais isso, Luisa, porque eu fico sempre preocupada


quando se trata de você — diz ressentida.

Sorrio para mim mesma.

— Eu sei, mãe, e sinto muito. Vou me lembrar de ficar atenta ao meu


celular.

Ela resmunga satisfeita.


— Então, mudando de assunto, conheceu algum gato aí? Olha, filha,
eu pesquisei um pouco sobre as pessoas daí e, sinceramente? Achei
os homens supergatos! Deu sorte, hein...!

Não consigo me conter de revirar os olhos novamente.

— Mãe, essa é a última coisa que estou pensando agora, okay?


Estou aqui para estudar, lembra?

— Ai, garota tola, eu sei! Mas isso não significa que não possa se
divertir um pouco, né? Desde o Danilo, eu nunca mais te vi com
ninguém, e você já tem vinte um anos! Talvez esteja na hora de...

— Chega, mãe! Eu não quero saber de namoro, okay? Aliás, quando


eu estava namorando com o Danilo, você fez um escândalo e fez
questão de juntar forças com o papai para me obrigar a terminar! —
acuso, irritada.

Elen resmunga do outro lado.

— Você queria que eu fizesse o quê? Luisa, você tinha dezoito anos,
estava no começo da faculdade e era muito nova!

— Mas eu já era adulta, já estava na faculdade e...

— Você não era adulta e ainda não é! Enquanto morar comigo, eu


vou me intrometer mesmo! Aliás, se eu não tivesse me intrometido,
você teria perdido a virgindade com aquele garoto!

— Mãe! — protesto.

— É isso mesmo! Você acha que eu esqueci daquela cena? O rapaz


já estava rasgando o preservativo para fazer o "tacu-tacu" com você!
Quase desmaiando de vergonha, fico me questionando por dentro
sobre como ela consegue fazer isso mesmo estando do outro lado
do mundo!

— Chega, mãe! Eu não quero mais ouvir sobre isso!

— Ah, agora não quer, né?! Olha, Luisa, o que eu fiz foi te salvar de
uma enrascada, viu? Aquele garoto era uma criança, você também; e
tudo seria um desastre no fim.

— Você não tem como saber disso, eu gostava dele!

— Gostava nada, aquilo era hormônio juvenil! Luisa, você não pode
tomar uma decisão tão séria assim. Independente da religião, o sexo
deveria ser sempre dentro do casamento; só dentro dele que há
compromisso de verdade! Você merece um homem de verdade, não
um moleque!

Já a ponto de explodir, falo:

— Certo, mãe, eu já entendi o seu ponto de vista! Agora eu vou


desligar, okay? Preciso de uma banho!

— Luisa, você precisa me escutar mais!

— Tchau, mãe, também te amo! — E, antes que ela tenha a chance


de dizer algo mais, desligo a chamada.

Jogo o meu celular na cama, abalada. Não é fácil lidar com a minha
mãe, ela sabe como te tirar do controle. Morrendo de vergonha,
lembro da cena a qual ela citou. Eu e Danilo estávamos completando
três meses de namoro, e ele me pediu uma noite de amor de
presente. Eu, muito apaixonada, concordei. Contudo, nós éramos
muito novos e tínhamos medo de ir para um motel. Então decidimos
fazer isso quando a minha mãe fosse para o trabalho. Toda confusão
aconteceu quando a minha mãe esqueceu sua pasta de trabalho,
voltou para casa para buscá-la, escutou alguns sons estranhos
vindos do meu quarto e resolveu verificar. Com absoluta certeza, foi
o momento mais constrangedor da minha vida. Eu estava apenas de
lingerie, Danilo estava apenas com a cueca, com uma explícita
ereção, e rasgava o plástico do preservativo com o dente.

Minha mãe ficou tão horrorizada que quase nos fez ter um ataque
cardíaco com o seu grito. No fim, ela contou para o meu pai, que
também ficou extremamente horrorizado e decepcionado. Eles me
obrigaram a mudar para outra faculdade e proibiram eu de me
encontrar com Danilo, que era o meu colega antes. Hoje, depois de
três anos, acho que não foi completamente ruim isso ter acontecido.
Eu era muito inocente, estava cega, e Danilo, apesar de ser um bom
garoto, queria se aproveitar disso. Balanço a cabeça, como que para
espantar as lembranças ruins. Isso é passado, estou em Dubai
agora e preciso pensar positivo.

Decidida a fazer alguma coisa útil, respondo as inúmeras


mensagens de Fernanda e Gael, que querem saber com detalhes
como é a cidade. Depois de escutar inúmeros áudios e mandar
outros muitos deles como resposta, além de fotos, finalmente vou
para o banheiro tomar o meu banho da tarde.

Ahmed Hamir

Depois de deixar Luisa no seu hotel, vou diretamente para a


empresa Hamir, especificamente para a pista de pouso e decolagem
que há numa parte atrás dela. Muitas reformas foram feitas no
prédio depois que comecei a geri-la, juntamente com o meu pai. Os
antes vinte e oito andares passaram a ser quarenta e dois, isso
porque, devido ao reconhecimento mundial da empresa, foi-se
necessário contratar muito mais funcionários para manter tudo
organizado. Assim que chego na pista com o meu carro, logo me
deparo com Juan, um funcionário da família Hamir de longa data.
Onur também era muito querido por minha família, porém ele já
estava com uma idade mais avançada, então decidiu se aposentar.
Ele ainda faz muita falta, mas sempre mantemos contato.

— Fujairah, senhor Hamir? — Juan pergunta.

— Sim, Juan, para o castelo Jasmim.

Juan acena e chama Lucas para guardar o meu carro. Enquanto


isso, Juan faz as últimas verificações no helicóptero antes de irmos.

∆∆∆

Em pouco mais de vinte minutos, chego no meu lar. Não importa


quanto tempo eu passe longe de casa, o meu lar sempre será onde
a minha família estiver. Ela é a única coisa que amo na vida. Como
sempre, minha mãe e minha irmã chegam à pista de pouso e
decolagem do castelo antes mesmo de eu sair do helicóptero. Ester
me prende em um abraço assim que coloco os pés no chão.

— Ahmed, que saudade que estava de você, filho! — diz,


carinhosamente.

Abraço-a bem apertado também, sentindo o cheiro de flores dos


seus cabelos. Por Alá, como eu amo esta mulher!

— Eu também estava com saudade, mãe. Esse último mês foi muito
agoniante para mim. É sempre ruim ficar muito tempo fora.
— Então vê se não fica um mês fora de novo, né, Ahmed? Não é
você que tem que escutar a mamãe suspirando pelos cantos quando
você desaparece! — diz Jade, um pouco atrás de nós.

Assim que a minha mãe me solta, vou até ela e a pego num abraço
de urso, tirando-a completamente do chão. Ela grita, rindo.

— Eu senti a sua falta também, irmã — digo, em seguida dou-lhe um


beijo na testa, depositando-a novamente no chão.

— Eu não disse que senti sua falta! — protesta.

— Não foi preciso, estava na sua cara que sentiu.

Ela não responde e apenas revira os olhos.

— Você está certo, Ahmed, ela sentiu a sua falta sim. Ela não sabe
esconder muito bem as suas emoções.

— Concordo — digo, rindo da expressão contrariada de Jade.

— Certo, certo. Eu realmente senti saudade, isso é normal, né? Por


que tanto alvoroço?

— Porque queríamos escutar da sua boca — digo, provocando-a.

Ela balança a cabeça, me censurando.

Assim que estamos confortáveis, sentados no sofá da sala privada


do castelo, pergunto:
— Onde estão Khaled, Samir e o meu pai?

— Estão em Abu Dhabi a negócios — minha mãe diz, um pouco


tensa. — Seus irmãos estão cada vez mais ocupados ultimamente.
Você sabe, em breve o seu pai vai deixar as suas obrigações e vai
passá-las para os filhos homens. E, como você é o mais velho, além
de ser o CEO da empresa, também será o líder do clã. Então seu
pai está fazendo de tudo para capacitar Khaled e Samir para te
ajudar. Ele sabe que você irá precisar.

— Com certeza vou. A Hamir Enterprises está muito maior do que há


trinta anos, além disso, ser o próximo líder do clã é uma
responsabilidade a qual estou me acostumando ainda.

Minha mãe sorri, seus lindos olhos verdes brilhando. Ela é


extremamente linda, e nem os seus quase cinquenta anos mudaram
isso.

— Você se sairá muito bem, Ahmed. Seu pai soube te criar para ser
um líder. Eu, obviamente, não queria que sua educação tivesse sido
tão rigorosa. Você sabe que muitas coisas que você aprendeu eu
não concordo...

— Eu sei, mãe. Mas não se preocupe, você também teve o seu


papel de mãe na minha educação.

Ela acena.

— Fiz o meu melhor. Pelo menos a minha consciência está limpa.

— Ahmed, mudando de assunto, você poderia me indicar para


trabalhar na empresa de algum conhecido seu que estivesse em
Nova York, hein? Eu quase não consigo trabalhar aqui — diz Jade,
visivelmente ansiosa.
Minha mãe fica tensa com o assunto.

— Isso de novo, Jade?! Eu já disse que não! Você não vai trabalhar
fora, por mim você nem trabalharia! — digo, sem paciência.

— Isso não é justo, eu tenho que fazer a minha vida também! —


rebate nervosa.

Fico tenso.

— Você não tem que fazer a sua vida, Jade. Nada nunca faltará para
você, sempre terá tudo o que desejar — falo, pausadamente.

— Mas não é isso o que eu quero! Eu quero viver além desses


muros, quero escolher a minha vida!

Enquanto isso, minha mãe olha para toda aquela cena com pesar.
Ela sempre defende Jade. A garota fez o curso que escolheu, já
viajou para vários lugares sozinha ou com sua amiga, isso porque
Ester fez a cabeça dos homens da família.

— Jade, entenda, você nunca será como qualquer outra mulher


deste mundo. Você é metade árabe, tem o sangue de uma família
milenar muito rica que é cheia de inimigos. Não podemos deixar você
fazer o que quer, é muito perigoso. E a obrigação dos seus irmãos e
do seu pai é te proteger.

Aos poucos, vejo lágrimas descerem pelo seu rosto, mas ela não
faz nenhum som.

— Ahmed, não seja tão duro com a sua irmã! Você é muito bruto
algumas vezes — minha mãe diz, raivosa.
— Eu disse o que ela precisava escutar. Jade precisa entender que
um passo em falso que ela der, ela poderá se colocar em perigo e
ainda por cima prejudicar a paz da nossa família!

— Eu não faria algo assim! Eu só queria ter uma chance em Nova


York, já que você está sempre lá. Eu estaria com você, não seria
perigoso!

Quase tenho vontade de rir da sua ingenuidade, mas a minha raiva


é maior.

— Jade, entenda, bebê, você é mulher, tudo é muito mais perigoso


quando se trata de você. E não é sendo machista e essas coisas
que você me chama sempre. Acontece que os nossos inimigos
sempre irão atrás dos nossos pontos fracos. No caso da família
Hamir, você e a mamãe são as mais vulneráveis, não podemos
correr o risco de deixá-las fazer o que quiserem.

Ela solta um resmungo de protesto e diz:

— Eu acredito que você está exagerando. Desde quando eu seria


alvo de alguém? Sou quase invisível!

Desta vez, literalmente rio, rio bastante da sua inocência. Jade fica
nervosa e me chama de vários nomes mal educados. Minha mãe
olha tudo isso com visível horror.

— É mesmo, bebê? Ah, então você deve estar com Alzheimer ou,
por acaso, não se lembra das inúmeras ameaças que Ali e Hassan
já fizeram para mim, nossos irmãos e pai de que tomariam você
como segunda esposa como vingança?

Jade fica completamente pálida quando lembra dos eventos.


— Pare com isso, Ahmed! Já chega! — Ester grita, nervosa.

Ignoro-a por ora.

— É óbvio que eles sofreram as consequências por nos ameaçarem.


Aliás, um deles já está morto, não é? Acho que foi o Hassan... Enfim,
não me recordo muito bem — brinco, com humor negro.

— Ahmed! — minha mãe grita novamente.

— Sinto muito, mãe, mas ela está precisando de um choque de


realidade.

Dito isso, volto a falar:

— Não posso deixar de citar o sheik Emir Yassin, não é mesmo,


Jade? Que, aliás, ainda me faz ameaças de que terá você.

Jade desta vez cora, seu rosto delicado ficando envergonhado. Ela
acena.

— Certo, eu já entendi — diz, ansiosa.

Arqueio as sobrancelhas.

— É mesmo? Estou surpreso! — ironizo.

— Ahmed, não seja tão rude! — minha mãe diz, agora com a voz
firme.

Respiro fundo.
— Não estou sendo rude, mãe, estou sendo realista. O mundo que
me fez ser assim. Eu só quero que entendam que eu quero o bem
para vocês, assim como os gêmeos e o meu pai.

Olho para longe, pensativo.

— Apenas o bem — repito.


Capítulo 7

Ahmed Hamir
Depois de passar um dia no castelo Jasmim apenas com minha
irmã e minha mãe, enfim o meu pai e os meus irmãos chegaram de
sua viagem a Abu Dhabi. Como esperado, eles queriam ser
atualizados detalhadamente sobre a Hamir Enterprises de Nova York
e os novos acordos econômicos feitos com ela. Somente depois de
eu explicar tudo que fosse de considerável importância, que os
diálogos comuns de irmãos e pai deram início. Eu, obviamente, me
sinto aliviado por ter esses momentos de vez em quando. Viver a
maior parte do tempo fora do meu conforto familiar é algo que
aprendi a aceitar, mas isso não significa que eu gosto dessa
situação. Para ser honesto, admito que é um baita de um desafio
para mim. Eu não tenho amigos, nunca tive. A minha realidade, o
meu poder e o meu dinheiro não me permitiram arriscar ter algo
assim com outras pessoas.

A família Hamir já foi traída por pessoas de seu próprio sangue,


como foi o caso do irmão mais novo do meu pai e sua família, os
quais invejavam o que o meu pai era e, com isso, no final de tudo, o
sheik Tariq teve que tomar a decisão mais difícil da sua vida: matar
aqueles da sua própria família. Depois dessa traição, passamos a
ser mais reservados no que se refere a pessoas que não pertencem
a nossa família originária, ou seja, qualquer um que não seja meu
irmão, mãe ou pai não é digno da minha confiança. Obviamente,
pretendo me casar. Eu, como futuro líder do clã, composto pelo meu
povo, devo isso a eles. Sou o seu futuro e preciso garantir que eles
tenham a certeza de que darei continuidade ao meu legado, que
serei responsável e cumprirei com os meus deveres. Contudo, essa
tem sido uma tarefa a qual ainda não posso colocar em prática por
ora.
Eu ainda não encontrei uma mulher apta para ser a minha esposa,
e não é para menos, a esposa de um sheik com tanto poder, como é
o caso dos sheiks da família Hamir, precisa ser mais qualificada que
qualquer outra esposa comum. A ética, moral, educação, respeito,
bondade, compaixão, empatia, beleza, submissão e, claro, pureza
são apenas algumas das exigências que uma sheika Hamir precisa
ter. Assim, como são muitas, ainda não a encontrei, apesar de já ter
conhecido muitas que estão na expectativa de que serão escolhidas.
Com toda certeza, porém, não serão, pois não são suficientes para
isso.

Quando eu era adolescente, o meu pai fazia questão de


frequentemente me falar sobre relacionamentos amorosos,
casamento e deveres conjugais. Sendo um homem muito ético, me
recomendou desde sempre que eu evitasse ter relações sem
compromisso com as mulheres, para que elas não tivessem
esperança de algo a mais e para que eu não ferisse a minha própria
honra. Segundo o meu pai, ele não se orgulha nem um pouco das
suas atitudes com as mulheres que ele teve antes da minha mãe. Por
isso, quando mais novo, ele me aconselhava a não seguir os seus
passos. Infelizmente, porém, não consegui ser fiel a isso por
completo e, no começo da minha juventude, me envolvi com muitas
mulheres que não prestavam, o que quase me levou à ruína, uma vez
que uma das minhas amantes tentou me esfaquear enquanto eu
dormia.

Graças a Alá, eu consegui sentir que algo estava errado e, assim,


acordar antes que o meu fim chegasse. Por ter reflexos rápidos e
ser mais forte e ágil, consegui segurar a mão da vagabunda,
claramente paga para me matar, antes que atingisse o meu coração,
mas isso não significa que a faca não me perfurou. Apesar de não
ter sido um corte que comprometesse nada de importante, foi
profundo o suficiente para me deixar uma cicatriz, a qual ainda
carrego todos os dias da minha vida. Eu acredito que isso seja bom,
assim, toda vez que eu a ver, lembrarei de nunca mais confiar outra
vez em uma mulher que Alá não tenha aprovado e que não seja
minha esposa. Depois desse episódio, passei a dar o verdadeiro
valor que os conselhos do meu pai merecem, além disso nunca mais
me deitei com outra mulher. No fim, já faz nove anos que fiz uma
promessa a mim mesmo de que a minha próxima amante será a
minha esposa. Contudo, infelizmente, tenho repensado muito sobre
isso ultimamente.

A família Hamir e o clã não aceitam a poligamia em nosso meio,


desse modo, eu terei apenas uma mulher, assim como o meu pai só
teve a minha mãe. Pensar na minha futura esposa não é algo fácil,
pois às vezes tenho dúvida se realmente irei achar uma mulher que
tenha todas as qualidades que a minha cultura e o meu clã exige e
se, ainda por cima, irei realmente amá-la. Eu claramente estou
errado, pois, querendo ou não, estou subestimando as promessas de
Alá sobre minha vida. Eu até que posso me entender um pouco, pois,
apesar de ser árabe, também tenho um pouco do Ocidente no meu
sangue, além disso estou a maior parte do meu tempo por lá. Fui
obrigado a deixar as minhas tradições e ideais durante um
considerável tempo da minha vida devido ao meu trabalho. Quando
estou no meu país, posso ser quem eu realmente sou, mas, quando
estou fora, tenho que, na maior parte do tempo, fingir que sou como
eles. E eu obviamente não sou. Minha mãe é brasileira, eu a amo, e
isso não é de forma alguma um problema para a família; ao
contrário, isso a faz ainda mais especial, pois mostra o quanto ela é
diferente e especial. Mas isso também não quer dizer que sou
apegado a essa parte do meu DNA. Eu respeito a minha mãe e sua
família, porém é só. Acontece que a minha parte árabe fala muito
mais alto. Eu nasci para ser um sheik, um líder, é para isso que eu
nasci.

— Ahmed, sinceramente, estou preocupado com você, filho. Você


passou um mês sem nos ver e, agora que está aqui, parece não
estar, na verdade. É como se você estivesse em outro mundo! —
meu pai diz, me analisando criteriosamente.
Desnorteado, olho-o, ainda confuso por ter sido interrompido em
minhas divagações.

— Sinto muito, pai, eu realmente não estou muito atento, não é?


Sinto muito por isso. O senhor tinha dito algo de importante? —
pergunto, com raiva do meu próprio descuido.

— Isso depende — diz Khaled.

— De quê? — questiono.

— Do que você estava pensando, é claro. Porque, do jeito que


estava pensativo, talvez o que estava na sua mente era mais
importante.

— Sim, cara, você está estranho hoje. Aconteceu algo? — Samir


enfatiza.

— Realmente tenho que concordar com os seus irmãos, Ahmed, tem


algo te incomodando, é perceptível isso.

Antes que eu tenha a oportunidade de dizer algo, ele continua:

— Não, não estávamos falando nada de tão importante.

Passo a mão pelos meus cabelos, tenso.

— Novamente, eu peço desculpas. E, sim, pai, há algo me


incomodando.

Meu pai me olha surpreso, assim como os meus irmãos. Eles com
certeza não achavam que eu iria admitir que há algo de errado
comigo assim tão rápido. Até eu estou surpreso por fazer isso
também. Porém, neste caso, acho que eles têm o direito de saber,
pois trata-se de algo muito sério, tanto para mim quanto para todos
da família e do clã.

— Você quer falar sobre isso? — meu pai pergunta.

Uma coisa que sempre me deixa aliviado no meu pai é que ele
nunca nos força a falar algo que não nos sentimos confortáveis para
isso. Apesar disso, ele sempre nos incentivou a sermos honestos
conosco e também com a família, para que a confiança nunca acabe
em nosso meio. Assim, sempre que algo é realmente importante,
conversamos sobre isso entre nós mesmos. Quando é algo mais
perigoso, somente entre os homens, porém. Hoje, como Jade e a
minha mãe estão em outro lugar do castelo, só restou nós, homens.
Eu acho isso ótimo, pois não quero envolver a minha irmã e a minha
mãe nisso, elas deixariam os sentimentos tomarem conta de suas
opiniões.

— Eu acho que isso será necessário — respondo, por fim.

— Nossa, cara, pela sua cara, a situação é séria, hein? — Samir diz,
seus olhos escuros me analisando como se eu fosse de outro
mundo.

— Realmente — concordou Khaled, apesar da sua boca ostentar um


meio-sorriso.

Ele geralmente brinca em ocasiões sérias. É um defeito seu.


Contudo, como desta vez não acho o caso tão sério assim, não
comento nada sobre isso.

— Vá logo direto ao ponto, Ahmed — meu pai diz, indo direto ao que
interessa.
Aceno com a cabeça.

— Eu trouxe uma mulher para cá — digo, sem hesitar.

Samir e Khaled me olham incrédulos, e o meu pai permanece


impassível, apesar do seu maxilar denunciar a sua tensão.

— O que?! Achei que a sua fase de promiscuidade tinha acabado,


cara — Khaled diz, claramente surpreso e divertido.

— Eu digo o mesmo — Samir concorda, sério.

— Ahmed, antes que eu diga alguma coisa, creio que é melhor você
explicar com mais detalhes — o sheik Tariq fala, claramente irritado.

— Certamente, pai — concordo e ignoro os comentários dos meus


irmãos. — Sendo bem resumido, há dois anos vi uma moça na rua.
Ela é filha de um funcionário da nossa empresa em Nova York, e
somente agora que a revi. Eu não sei o que houve comigo, mas eu fiz
questão de ter uma entrevista idiota para que ela tivesse o direito de
fazer algumas aulas práticas irrelevantes na empresa de lá. É claro
que eu só fiz isso para vê-la novamente depois de tanto tempo. Não
estando satisfeito, transferi a sua pós-graduação para cá, na
verdade, em Dubai e também na indústria.

Suspiro, um pouco incomodado e logo complemento:

— Eu sei, isso é completamente inapropriado.

— Pelo menos você já sabe disso — meu pai repreende, sua voz
alterada. — O que essa mulher tem de especial, Ahmed? Eu
conheço você, ela provavelmente já está há tempos em sua mente.
Aceno em concordância.

— Como eu disse, a vi por coincidência na rua com o seu pai, ela era
muito nova, e a deixei ir embora para o seu país. Ela é metade
brasileira. Dois anos depois, o seu pai pediu uma oportunidade para
a filha na empresa, e eu achei que seria uma ótima ideia para fazer
aquilo que já queria antes.

— Ahmed, você está nos assustando, irmão — diz Samir.

— Eu que o diga! — Khaled diz, no meio de uma risada.

Mau pai os fita, rapidamente silenciando ambos. Eles gostam de


me provocar, porém este não é o melhor momento.

— Você sabe que não pode ter essa mulher — meu pai diz, sem
enrolação

— Sim, eu sei. É algo que tenho tentado me conformar.

— Então por que a trouxe aqui? — Sua voz é claramente


repreensível.

— Eu não consegui evitar.

Meu pai passa a mão pelos seus cabelos negros e um pouco


grisalhos, nervoso. De repente, seus olhos estão muito sérios e
inquisidores.

— Ela não é para você, Ahmed. É uma mulher ocidental. Ela não
possui os princípios, qualidades e requisitos necessários!

— Eu sei, e eu sinto muito por isso. Eu realmente sinto muito.


Meu pai e os meus irmãos me olham em clara confusão.

— Sente muito por quê? — meu pai pergunta, rígido.

— Porque eu não posso deixá-la ir. Não por agora, pelo menos.

Samir engasga com sua água e Khaled me fita com a boca meio-
aberta. Meu pai, contudo, não mexeu nenhum músculo.

— Você não pode estar falando sério, Ahmed! Todos nós


pensávamos que tinha deixado essa ideia de amante para trás. Foi
uma ex-amante sua que quase te matou! — o sheik rosna,
completamente nervoso agora.

— Sim, eu sei. Mas não é como se eu pudesse fazer algo sobre


isso. O meu desejo por ela é muito forte, e eu preciso, pelo menos,
tê-la por algum tempo.

— Cara, você está ferrado. A maioria das mulheres do Ocidente não


é confiável — diz Samir. — Eu não acho essa ideia de amante algo
bom.

— Ahmed, você não irá ter um relacionamento assim novamente.


Você precisa de uma esposa agora, não de uma amante. Está na
hora de tomar decisões de verdade, filho!

— É, Ahmed, amante já é passado. Olha, se ela for virgem talvez a


ge...

— Não seja ingênuo, Khaled, ela com certeza não é e, mesmo se


fosse, o que é praticamente impossível, ela não conseguirá ser
aquilo que todos esperamos que ela seja. Ester foi uma exceção à
regra — meu pai diz, encerrando o assunto.
— Você está totalmente certo, pai — admito com pesar

— Cara, no que você foi se meter...? — ironiza Khaled.

— Sim, irmão. Isso é totalmente sem lógica — Samir comenta.

— Eu espero que você dê um jeito de limpar a sua bagunça, Ahmed


— meu pai diz, agora neutro.

— Certamente que sim — concordo.

∆∆∆

Não é como se eu estivesse surpreso sobre a opinião do meu pai.


Ora, como futuro líder de um poderoso clã, eu preciso dar um bom
exemplo, preciso ser o primeiro a cumprir as nossas diretrizes e viver
a nossa verdadeira cultura. No mundo de hoje, com o Ocidente cada
vez mais dominante, eu preciso mostrar para o meu povo que ainda
assim é possível ser quem somos de verdade. Preciso provar que as
nossas tradições são importantes e que somos descendentes do
melhor povo.

O meu pai também buscava provar isso quando mais novo, porém
algo impensável aconteceu, ele se apaixonou por uma ocidental e,
como se não bastasse, uma brasileira. Isso foi um choque para ele e
para o povo também. Porém, a minha mãe era diferente, apesar de
ter nascido num lugar tão predominantemente imoral, a minha mãe
possuía bons princípios e nunca tinha estado com um homem. Assim,
o meu pai viu que a sua origem não era importante mais, pois ela era
perfeita como mulher. É claro que ela tinha alguns defeitos, como
não ser muito submissa, mas não era nada que o meu pai não
pudesse lidar. Além disso, o povo realmente gostou dela. Qualquer
um que a olhasse podia ver que ela era uma mulher de bons
princípios.

No meu caso, estou fascinado por uma mulher que não conheço
seus valores e princípios e muito menos a sua moral. Ela não me
parece ser ruim tampouco, porém a sua personalidade é muito forte,
e isso com certeza não é um bom sinal. Além disso, ela cresceu e
viveu em meio a uma sociedade absurdamente liberal, o que me faz
crer que ela já é uma mulher vivida. Ou seja, Luisa seria uma esposa
completamente inaceitável para mim. Ela é muito diferente do que a
minha mãe era, e não num bom sentido. Contudo, mesmo sabendo
que ter algo com ela não será possível, não consigo tirá-la da minha
cabeça, não consigo esquecê-la, e isso é uma verdadeira droga para
a minha mente, pois estou ficando completamente perdido.

Eu sei que preciso me casar, eu sei que não é mais aceitável ter
uma amante, eu sei que Luisa é inadequada e já ouvi isso sair da
boca do meu pai, mesmo que em outras palavras. Mas, para a minha
desgraça, ainda assim eu não penso em outra coisa a não ser em tê-
la para mim, em sentir o seu gosto. Estou obcecado por uma mulher
ocidental que nem mesmo a beijei. Isso é completamente insano e
sem sentido. Está óbvio que isso não está certo. Eu nunca quis tanto
uma mulher como a quero, nem mesmo na minha adolescência.
Admitir isso para mim mesmo me deixa preocupado, pois isso nunca
poderá acontecer. Se o conselho do clã simplesmente souber que
estou tendo esses pensamentos, eles com certeza ficarão
horrorizados e irão me chamar para uma complexa reunião.

O meu pai sabe disso tudo. Ele sabe o que é sentir na pele a
responsabilidade de não poder contrariar as regras do nosso povo.
Acredito que deve ter sido complicado para ele quando decidiu ter a
minha mãe como esposa. Agora, apesar de ele ter conseguido isso
há mais de trinta anos, não significa que será igual para mim. Tudo
está diferente agora, tudo está mais rigoroso para os membros do
clã, inclusive para mim. Conforme a modernidade vem se superando
cada vez mais, e a cultura ocidental se torna mais popular, a nossa
cultura vem sofrendo cada vez mais ameaças de um dia extinguir.
Todos estamos preocupados com isso e estamos fazendo o possível
e impossível para não permitir que aconteça daqui algumas décadas.

Assim, uma das maneiras de conseguirmos manter a nossa cultura


firme e forte é não nos misturando com outras culturas e povos.
Obviamente, alguns dos nossos às vezes resolvem casar com
alguém de fora, mas, quando isso acontece, o estrangeiro passa a
tentar se adaptar completamente à nossa cultura, e não o contrário,
pois assim conseguimos impedir que um membro seja influenciado.
Portanto, só é permitido o casamento com estrangeiros se eles
aceitarem mudar radicalmente o seu estilo de vida. No meu clã, a
única característica que eles não precisam mudar é a religião.
Apesar de muitos do conselho quererem que a regra mude, meu pai
foi irredutível, e eu também serei acerca disso quando estiver no
poder. Pensamos igual sobre isso, a religião é algo muito pessoal, e
não podemos exigir uma pessoa a se tornar muçulmana. A minha
mãe, por exemplo, até hoje é cristã, e nunca isso será tirado dela.

Assim, está óbvio que o problema em Luisa não é a sua religião ou


a falta dela, mas sim a criação que ela teve. Ela será capaz de
mudar radicalmente por mim, para se tornar uma sheika? É claro que
não. Nem mesmo a minha mãe, que veio para o mundo árabe a
turismo devido a sua paixão pela cultura, teria feito isso pelo meu pai
em sã consciência. Ela teve que se adaptar, é claro. Mas isso
porque o meu pai praticamente não lhe deu outra escolha. A sua
obsessão por ela era forte demais. No caso de Luisa, eu jamais teria
coragem de impor isso a ela. Apesar do rapto e outras coisas terem
sido comuns na geração Hamir, eu não sou totalmente árabe, de
fato. Uma parte de mim, mesmo que pequena, guarda alguns
princípios morais, digamos assim, do Ocidente. A minha mãe foi
responsável por isso, obviamente.
Mas fato é que Luisa não é quem eu preciso ter ao meu lado, e eu
também não a obrigaria a ser, caso ela tivesse a maioria das
exigências de uma futura esposa de sheik. No fim, não há nenhuma
possibilidade de ela poder ser minha esposa, infelizmente. Eu
sempre soube disso, mas, no fundo, eu gostaria que isso não fosse
verdade, eu gostaria que ela estivesse esperando por mim. Isso é
uma loucura, eu sei. Eu a vi pela primeira vez quando ela já tinha
dezenove, isso quando ela caminhava na rua! Além disso, não a
procurei depois, pois achava que fosse jovem demais para mim.

Em meio a esses pensamentos intermináveis e complexos, uma


terrível ideia ainda não saiu da minha cabeça, mesmo depois da
conversa que tive com o meu pai e irmãos. Fazer de Luisa a minha
amante com certeza não é uma boa ideia, mas não é como se eu
tivesse uma outra opção. A única forma de eu tê-la é tendo esse tipo
de relação com ela, isso até que o meu futuro título de líder do clã
me obrigue a me casar com uma moça adequada. Isso me parece
cruel, mas não é como se eu estivesse tendo muito controle sobre a
minha racionalidade por ora. Eu sei que ela ainda não confia em mim,
eu sei que ela merece mais do que ser minha amante, mas, para
minha decepção, ainda assim eu a quero para mim, nem que seja
por tempo limitado. É como se eu estivesse obcecado por ela, pois
não consigo tirá-la da minha cabeça. A sua imagem é insistente em
meus pensamentos.

Apesar de meu pai não aprovar, irei ter Luisa como minha amante,
já que é a única maneira de tê-la. Vejo que terei um pouco de
trabalho pela frente, pois ela insiste em manter um pé atrás quando
se trata de mim. Tenho que mudar isso, urgentemente, pois cada
minuto é importante, já que esse relacionamento não poderá durar
para sempre. Estou ansioso para vê-la, mas sei que não posso fazer
isso por agora. Tenho que pensar direito. Para conquistá-la, preciso
de uma estratégia e eu já sei qual irei usar. Ela não se sente bem
comigo porque tem medo da minha parte árabe, certo? Pois bem,
isso será resolvido. Se ela quer um ocidental, ela terá. Isso não é
algo que me agrade, mas, como não se trata da minha esposa, eu
farei esse sacrifício. Tudo o que me importa é ter um pouco do seu
gosto antes que eu esteja preso a uma outra mulher pelo resto dos
meus dias.
Capítulo 8

Luisa Jones

Já faz três semanas que estou vivendo em Dubai e, depois daquele


dia que fui no restaurante com Ahmed, eu não o vi mais. Pelo visto,
ele realmente se irritou comigo. Confesso que, neste meio tempo,
pensei várias vezes nele, para o meu completo horror. Eu ainda não
sei por que tenho tido esses pensamentos, mas penso que talvez
esteja me sentindo culpada. Pensando bem, ele foi muito bom
comigo. Ahmed me deu uma oportunidade no seu país, com uma
bolsa de estudos integral, a qual eu não precisaria pagar nem
mesmo por minha moradia, transporte e alimentação. Quando eu
descobri isso, eu já estava aqui há alguns dias e fiquei chocada ao
saber que tinha tantos benefícios. Até pensei em rejeitá-los, mas
então a minha mãe me lembrou que o custo de vida daqui não é
muito barato e por isso seria muito caro para ela e o meu pai ter que
pagar tudo por um ano.

Depois de pensar um pouco, vi que ela tinha razão e decidi não me


privar dos benefícios que recebi. Contudo, estou me sentindo como
uma pessoa muito mal-agradecida por não ter tratado Ahmed
melhor. Tudo bem que ele é muito diferente de qualquer homem que
já pus os olhos, mas eu não posso simplesmente julgá-lo mal por ele
ter uma metade árabe em seu sangue. Isso não faz sentido. Eu
estaria sendo muito preconceituosa se continuasse com isso, por
isso decidi limpar todos os meus preconceitos da cabeça acerca do
senhor Hamir e também da sua cultura. Obviamente, ainda tenho
minhas restrições quando se trata dos árabes e alguns dos seus
costumes, mas estou sabendo filtrar melhor o que é bom e o que não
é, agora.

Eu gostaria de ter uma conversa com ele depois, para me


desculpar, talvez. Mas ele não me procurou mais, e eu não tenho
coragem de perturbá-lo. Sobre a cidade, eu realmente estou
gostando daqui, não tenho o que reclamar, exceto pelo machismo
velado. Esses dias eu resolvi pesquisar um pouco mais sobre o país
e a cidade, sobre a religião e a cultura e, no fim, descobri algo que
me deixou absurdamente assustada, a ponto de querer voltar no
mesmo instante para os Estados Unidos. Nos Emirados Árabes
Unidos, a lei da Sharia é válida. Ou seja, se uma mulher for
estuprada, e ela não tiver quatro testemunhas homens, ninguém irá
acreditar que foi vítima, pelo contrário, vão acusá-la de adultério e
sei lá mais o que podem fazer com ela. Além disso, o marido pode
espancar a mulher se ela for desobediente. É tanta barbaridade que
essa lei "sagrada" permite. Eu quase voltei para o meu país, só não
fiz isso porque a minha mãe me fez pensar mais.

Além disso, meus colegas canadenses me disseram que isso não


vale para mim, pois sou estrangeira, mas que tenho que tomar
cuidado para não "incomodar" nenhum cidadão. Eu sinceramente
estou assustada, agora não mais por Ahmed e sua cultura estranha,
e sim pelas leis religiosas do seu país. Obviamente, isso não é culpa
dele, mas não deixa de ser assustador. Eu me sinto muito grata por
ter nascido nos Estados Unidos; muito, muito grata. As mulheres
daqui vivem com tantas restrições e regras. Eu estou confusa depois
de tudo, já que descobri que um homem geralmente não toca numa
mulher em público, principalmente se ela não for nada dele. Porém...
Ahmed segurou o meu braço várias vezes. Eu sinceramente fico um
pouco admirada com ele. Ahmed foi criado de forma rigorosa para
ser um líder de um considerável número de pessoas, além de o
futuro CEO da Hamir Enterprises, mas mesmo assim ele "burlou"
muitas regras por mim. Ele até mesmo "parece" com um homem
comum, ele é sempre muito educado, um bom ouvinte, além de não
fazer comentários que me deixam desconfortável. Sim, ele realmente
parece ser um bom homem.

Contudo, quando eu estou perto dele, eu não sei por que isso
acontece, mas eu sempre sinto uma necessidade de ficar atenta e
não confiar nele, um irritante pensamento de que ele está fingindo
fica martelando na minha mente, e eu acabo não sendo muito
agradável com ele, algo que eu sempre sou com a maioria das
pessoas. Eu não sei explicar, mas quando eu olho nos seus olhos eu
vejo fogo neles, uma ferocidade e sentimentos totalmente selvagens.
Talvez eu esteja ficando louca, mas é exatamente essa impressão
que eu tenho. Isso sempre me deixou receosa, e o meu instinto
sempre me alertou para manter distância. Mas, sinceramente? Eu
decidi que não vou mais ficar dando tanta moral para os meus
pressentimentos, pois isso não está fazendo bem para mim. A única
coisa que consegui pensando desse jeito é uma mente cheia de
paranóias. Talvez o caso de Fernanda com o namorado marroquino
dela tenha me afetado mais do que eu imaginava. Mas eu não posso
deixar que uma história ruim atrapalhe a minha vida e me impeça de
me divertir e curtir o tempo que tenho em outro país.

Além disso, até parece que Ahmed é algum maluco que esteja
fingindo ser normal só para me sequestrar e me levar para o seu
harém ou alguma coisa do tipo. Estamos no século vinte e um, até os
sheiks estão ocidentalizados hoje em dia. Tenho que parar de pensar
que estou num conto de Mil e Uma Noites e me lembrar que estou no
mundo real. Só porque Ahmed é um sheik meio-árabe, isso não
significa que ele seja um bárbaro, não é? Não faz sentido o meu
preconceito com a sua origem. Nem todo homem árabe é igual.
Agora, tenho que admitir que a maioria deles é muito bonita, tipo,
muito bonita mesmo, e olha que eu nunca me interessei por esse tipo
de homem.

Depois de terminar o meu café da manhã, pego um táxi na frente


da minha casa. Sim, agora tenho direito a uma casa aqui em Dubai,
só para mim. É claro que ela é uma casa normal, sem muito luxo,
mas para mim já está sendo o máximo. Eu tenho certeza que Ahmed
mexeu os pauzinhos para que eu tivesse o direito de tê-la até o final
da minha especialização e confesso que fiquei muito irritada no início,
mas logo passou e então fiquei completamente aliviada. Viver de
hotel por um ano seria a falência dos meus pais, ou seja, estava fora
de cogitação. Eu trabalhava no Brasil, mas era como uma estagiária,
então eu não ganhava muito, logo eu com certeza não iria conseguir
viver muito tempo aqui com as minhas economias. Enfim, desconfiei
um pouco das intenções dele, mas fiz um esforço para ignorar, pois
não é como se eu tivesse opção de simplesmente recusar sua ajuda.

Depois de pagar o taxista, entro na indústria. Rapidamente


encontro Liam e Samuel me esperando. Eles são bons amigos e
colegas, e eu me sinto absolutamente grata por tê-los conhecido.
Esboçando um sorriso, cumprimento cada um deles com um abraço.

∆∆∆

As aulas foram tranquilas hoje, principalmente pelo fato do


professor Tales ter estado presente. Eu definitivamente amo as suas
aulas; a forma como ele ministra o conteúdo é a mais descomplicada
possível. As cinco horas de lições passaram depressa, e logo eu e
os rapazes estávamos saindo.

— Luisa, não tive o prazer de te dizer antes, mas você está ainda
mais gata hoje. E não é que você combina muito bem com vestidos?
— Samuel brinca.

A cada dia que passa, mais íntima estou com os rapazes,


obviamente que tudo não passa de amizade. A verdade é que nos
damos muito bem, nós nos ajudamos uns aos outros nos estudos e
também nos divertimos sempre que possível. Geralmente, saímos
para almoçarmos depois das aulas e às vezes até mesmo marcamos
para jantarmos em algum lugar. Eu sinceramente estou amando ser
amiga deles e confesso que sempre me divirto com a companhia de
ambos. Nenhum deles mostrou interesse em mim como mulher, para
o meu alívio. Na verdade, há algum tempo descobri que Samuel tem
uma namorada, que está no Canadá cursando Biologia. Liam não
namora, mas está muito feliz com a vida de solteiro. Eu, então? Não
quero nenhum romance por agora, estou nova ainda e penso em
conquistar os meus sonhos primeiro, mas é óbvio que isso não
significa que eu não queira me divertir com alguns rapazes algumas
vezes, nem que seja só uma troca de beijos e amassos. Contudo,
aqui em Dubai isso está fora de cogitação, então vou ter que esperar
a minha especialização acabar para relaxar nos meus países.
Enquanto isso, estou tentando ao máximo não ficar muito tensa com
o lugar e principalmente com as leis do país.

— Eu não gosto de vestidos, já te falei isso, só estou usando porque


é mais comum por aqui — resmungo.

— Eu não te entendo. Se eu fosse mulher, eu com certeza iria querer


mostrar as minhas pernas bonitas — Liam comenta, seus olhos azuis
brilhando de diversão.

— Ora, ninguém está te impedindo! Se quiser mostrar suas pernas


bonitas, mostre! — brinco.

— E então eu ir preso por ferir uma lei do país? Não sou louco a
esse ponto! — diz, rindo com o pensamento.

— Pior que é verdade — Samuel fala, com um sorriso. — Ninguém


merece ver as suas pernas brancas e peludas, cara.

Eu fico horrorizada com o pensamento e começo a rir, minhas mãos


indo para os meus joelhos para me equilibrar. Eu absolutamente não
iria querer ver a cena de Liam num vestido e com as pernas peludas
de fora.
— Elas são lindas, e você está com inveja — Liam diz, se
defendendo.

— Espere, você já viu as pernas nuas do Liam, Samuel? — provoco.

— Infelizmente, sim! O cara fez faculdade comigo, foi inevitável!

— Ah, para! Não vai dizer que não gostou do que viu? — Liam
provoca.

— Sai fo...

Enquanto os dois disputavam o jogo de quem passava mais


vergonha, uma potente voz interrompe o nosso diálogo.
Instantaneamente, paro de respirar por alguns segundos:

— Luisa.

O simples fato de ele dizer o meu nome já é o suficiente para fazer


os pelos do meu pescoço se arrepiarem. Surpresa, me viro para o
dono da voz grave e intensa. É claro que eu já sabia a quem ela
pertence.

— Ahmed — sussurro.

Nisso, os rapazes já pararam de falar e ambos estão parados ao


meu lado. Eu já contei para eles algumas coisas sobre Ahmed, mas
nada de muito pessoal. Para eles, nada existe entre nós além de
profissionalismo e cordialidade, até porque ele é o dono disso tudo.
Eu também queria que fosse só isso, mas os meus pensamentos
insistem em me convencer de que há algo mais. Samuel e Liam
cumprimentam Ahmed com algumas palavras e um aceno, e ele
retribui, apesar de os seus olhos parecerem nada amigáveis.
— Tiveram uma boa aula? — Ahmed questiona, neutro.

— Sim — respondemos, quase que em uníssono.

— Ótimo — comenta. Em seguida, seus olhos verdes estão sobre


mim novamente. — Luisa, você pode me acompanhar até lá fora, se
possível? — Apesar de ser uma pergunta, o seu tom de voz não
deixa espaço para uma negativa. Solto um suspiro ansioso.

— Certo.

— Até amanhã, Luisa — Samuel diz, quando me ver afastar.

— É. Até, Luisa — Liam também diz.

— Até amanhã, rapazes — falo, seguindo Ahmed, que já está quase


na saída da enorme e moderna indústria.

Enquanto o sigo, posso escutar o meu coração bater rapidamente


no meu tímpano. Eu estou muito nervosa, sem motivo nenhum. Não
sei por que sempre fico nervosa ao lado do senhor Hamir, não faz
sentido e, mesmo depois de eu ter decidido acabar com isso, aqui
estou eu, ansiosa ao ponto de ficar sem ar. Ridículo ou não, este
homem tem esse poder sobre mim. Quando já estamos na calçada,
Ahmed fala:

— Vamos para algum restaurante, aqui não é um lugar para se


conversar.

— Okay — respondo.

Ahmed aponta para o seu Audi preto. Quando chegamos, ele


rapidamente abre a porta para mim, antes que eu tivesse a chance
de fazer isso.
— Eu posso abrir uma porta, sabia?

— Acredito que sim, mas eu insisto em fazer isso por você.

Depois de eu entrar, ele faz a volta a passos largos e se senta ao


meu lado, pegando a direção.

— Estou surpreso, não está com medo de mim? — questiona,


olhando para o espelho do retrovisor.

— Não — respondo. — Eu não acho que você vai me sequestrar ou


algo assim.

Pelo espelho, vejo um sorriso despontar do seu bonito rosto.

— Não, eu não irei te sequestrar, apesar da ideia me parecer


tentadora.

Arregalo os olhos, incrédula.

— Está brincando, né?

— Não. Eu pareço estar brincando com você? — pergunta, focado


no trânsito.

— Não! Quer dizer, eu não sei...

Desta vez, Ahmed me olha diretamente.

— Relaxe, Luisa. Eu não vou te morder.


Aceno com a cabeça e direciono o meu olhar para além da minha
janela. Durante o curto trajeto, ele não disse mais nada e também
não me olhou mais. Quando ele para o carro, ele me pede para que
eu continue no meu lugar, enquanto isso, ele novamente abre a porta
para mim. Decido não comentar mais sobre isso, pois já vi que não
vai adiantar. Ele pega a minha mão e me ajuda a sair, fechando a
porta do conversível atrás. O restaurante que ele escolheu é luxuoso,
mas não tão extravagante como o outro, que ficava no último andar
do prédio mais alto de todos. Ahmed conversa com o garçom que,
antes de tudo, rapidamente diz algumas palavras em árabe e abaixa
a cabeça em um gesto de respeito. Não é a primeira vez que eu vejo
as pessoas fazerem gestos como esse quando encontram com o
senhor Hamir. Ele comenta alguma coisa com o rapaz e, em seguida,
se vira para mim novamente:

— Reservei uma sala privada, espero que não se importe.

Balanço a cabeça em concordância. Em seguida, uma de suas


mãos vai para as minhas costas, me guiando em meio ao lugar. O
ambiente que vamos jantar é realmente reservado, com apenas uma
mesa para casal. Há três lustres de cristais no teto e de algum lugar
está soando uma música de fundo. Ahmed puxa a minha cadeira.

— Até a cadeira também?

Ele sorri, divertido.

— Com certeza, madame.

Reviro os olhos. Ahmed faz o pedido, mas ele é feito em árabe,


então não entendo nada. Quando estamos definitivamente a sós, vou
direto ao ponto:
— Bem, já estou aqui, senhor Hamir. O que o senhor queria me
dizer?
Capítulo 9

Ahmed Hamir

A forma como Luisa me pergunta o que eu quero dizer para ela é


tão inocente, que eu quase me sinto mal pelos meus planos para ela.
Quase, mas isso não acontece. Sorrindo polidamente para a mulher
bonita à minha frente, respondo:

— O que eu tenho para te dizer é que eu quero você, senhorita


Jones.

Luisa se assusta, seus belos olhos azuis ficando espantados, e os


seus lábios rosados formando um pequeno "O". Mas rapidamente ela
passa de assustada para nervosa.

— O senhor está louco?! Como você tem coragem de me


desrespeitar dessa forma? — questiona, furiosa.

— Desrespeitar? Não me lembro de ter feito isso — digo, neutro.

O rosto de Luisa fica vermelho desta vez.

— Ora, seu... Não se finja de idiota!

Desta vez sou eu que fico muito irritado, e sei que Luisa percebeu,
pois ela fica calada.

— Se eu fosse você, eu tomaria muito cuidado em como fala comigo,


senhorita Jones. Eu geralmente não tenho muita paciência com
pessoas de língua solta — digo em tom grave.

Luisa me fita com ódio.


— A única pessoa de língua solta é você, senhor Hamir. O que você
disse foi o suficiente para ferir a minha dignidade!

— Sua garota tola, pare de me desmoralizar, você nem mesmo me


esperou terminar de falar.

— Ah, é mesmo? Para ouvir o senhor falar mais barbaridades?!

— Bem, isso depende da sua concepção do que é barbaridade,


senhorita Jones. Talvez uma oferta de emprego vinda da minha parte
seja algo absurdamente desprezível para você — digo em tom
acusador.

Luisa instantaneamente fica pálida, seus olhos ficando confusos.

— O quê? Não estou entendendo nada do que está dizendo!

— Claro que não, ao invés de escutar, você estava ocupada me


acusando.

— Isso porque o senhor me assustou!

— Eu estava pensando em lhe fazer uma proposta de emprego,


senhorita Jones, mas não sei se é uma ideia plausível depois da sua
reação.

— Mas eu não sabia que você me queria para ocupar uma vaga de
emprego!

— Talvez se tivesse escutado por mais tempo...


Ela suspira, uma de suas mãos indo para o seu cabelo loiro, num
completo gesto de nervoso.

— Eu peço desculpas, senhor Hamir, por tê-lo julgado mal. Eu me


precipitei, sinto muito.

Olho-a por alguns segundos calado, sentindo a tensão do seu


corpo.

— A minha proposta inicial era tê-la como minha segunda secretária.


O primeiro está em Nova York, ele é formado em Economia e
Administração pela Massachusetts Institute of Technology. Ele possui
muitos estudos na área do petróleo, como esperado.

— Mas, senhor Hamir, eu não entendo... Como você mesmo disse, o


seu secretário parece ser muito apto para o cargo, mas eu... Sou
apenas uma recém-formada — ela fala, hesitante.

— Não diga isso de si mesma. Você tem muito potencial, Luisa, para
ser uma grande mulher no futuro, independente de tudo.

Ela me olha assustada, seus olhos azuis em dúvida.

— O senhor acha? Mas você nem me conhece direito, e...

— Digamos que a minha intuição nunca falha.

Luisa assente, ainda em dúvida.

— Novamente, peço mil desculpas pelas minhas acusações injustas,


prometo que isso não voltará a acontecer.

— Eu espero que não mesmo — digo, em tom grave.


Vejo as suas mãos se moverem nervosamente sobre a mesa.

— Senhor Hamir, sobre a sua proposta, ela seria um sonho se


tornando realidade, mas eu não sei se posso aceitar, não sei se
estou pronta para dar um passo tão grande.

— Você vai desistir do seu sonho sem ao menos tentar? Achei que
fosse mais corajosa.

— Não se trata disso! Olha, não acho que posso cumprir com as
suas expectativas sobre mim.

— Eu tenho certeza que você pode sim — afirmo, sério.

Ela suspira, um perceptível vinco aparecendo entre suas


sobrancelhas.

— Senhor Hamir, sei que não é nada profissional da minha parte te


dizer isso, mas... Eu tenho medo, medo de errar, de não dar conta,
de não me adaptar com as responsabilidades... Não sei se estou
madura o suficiente.

— A meu ver, você está muito madura, já no ponto de ser colhida.

Vejo confusão passar rapidamente pelos seus olhos, e um pouco de


rubor aparece em suas bochechas.

— Hum, eu... Bem, obrigada pelo otimismo em relação ao meu


potencial.

— Isso não é otimismo, Habibi, apenas disse o que eu tenho


pesquisado. Alguns dias atrás, verifiquei o seu currículo, que é muito
bom para alguém tão jovem.
— Você acha? — pergunta, seus olhos brilhando de satisfação.

Aceno positivamente.

— Sim. Aliás, você teve estágios em ótimas empresas.

— É... Eu realmente tive sorte nisso.

Quando ia lhe responder, somos interrompidos pelo garçom, que


traz consigo os nosso pedidos. Depois da mesa ser devidamente
organizada, falo:

— Espero que goste de ostras e caviar.

— Não se preocupe, eu sou bem eclética quando se trata de comida


— ela fala enquanto se serve.

— É mesmo? E no que mais você é eclética, Luisa? — pergunto,


encarando-a.

Ela me fita também.

— Eu não sei... Acho que não sou muito nas outras coisas.

— Então você tem uma personalidade forte, huh?

Os olhos azuis de Luisa me encaram, notavelmente confusos.


Interessante.

— Eu não disse isso — responde.

— Não, você não disse, foi apenas uma observação.


— Então você observa muito as pessoas, senhor Hamir? — O tom
da sua voz é acusador.

— Não, somente quando elas me parecem interessantes.

— E eu sou interessante para você?

— Muito, senhorita Jones, posso arriscar em dizer.

Escuto um ofego sair da sua boca.

— Eu sinceramente não vejo o porquê disso, sou uma mulher


absolutamente normal.

— Está certa disso? Talvez ainda não tenha tido oportunidades para
descartar essa hipótese — digo, com um sorriso irônico.

— Eu não sei aonde o senhor está querendo chegar — diz,


visivelmente irritada.

— A lugar nenhum, Luisa. A única coisa que quero saber é se você


aceita a minha proposta.

Ela suspira.

— É complicado, senhor Hamir. Como disse antes, não sei se estou


pronta para tanta responsabilidade.

— E então você vai deixar uma oportunidade como essa passar


para outro? Sinceramente, achei que fosse mais inteligente,
senhorita Jones.

O seu rosto logo fica sério.


— Eu estou fazendo uma pós-graduação, senhor Hamir, não poderei
me dedicar ao trabalho em tempo integral.

Sorrio, vendo que ela irá aceitar a proposta.

— Isso não será um problema. Tenho certeza que não terá


problemas em trabalhar nos outros turnos.

Ela bufa.

— Não, claro que não, mas...

— Então está resolvido, você começará na próxima semana.


Enquanto isso, vou pedir a minha equipe para te explicar como
funciona o seu trabalho.

— Senhor Hamir... Olha, confesso que estou nervosa.

— Isso é normal, logo verá que não tem motivos para isso.

— Eu espero que sim e que não se arrependa de ter me escolhido.

— Não se preocupe, isso não vai acontecer. Tudo será conversado,


e chegaremos a um consenso. No futuro, se não se adaptar, você
será livre para desistir.

Ela sorri, algo que apenas uma vez a vi fazendo, quando ela me viu
pela primeira vez, no escritório. Se ela soubesse o quanto isso tem
efeito em mim, ela evitaria. Luisa é uma mulher bonita, jovem e muito
atraente. Ainda não sei como algum homem não se agarrou a ela, é
inacreditável. Talvez o seu jeito confiante intimide os homens. Bem, é
uma pena, pois comigo ele possui o efeito contrário. Ela não sabe
quem eu realmente sou, e isso me diverte. Caso Luisa tivesse uma
pequena noção da minha realidade, tenho certeza que nunca teria
pisado no meu país. Obviamente, não sou nenhum psicopata e nem
um molestador de mulheres. Eu nunca, em toda a minha existência,
fiz mal a uma mulher, e isso nunca, em hipótese alguma, irá
acontecer. Porém, isso não significa que eu não possa pegar aquilo
que eu quero, independente de qualquer circunstância.

Tudo que eu quis até o momento presente, eu consegui. Contudo, é


a primeira vez que o meu desejo atual se trata de uma mulher. Isso é
totalmente novo para mim. Mulheres geralmente não fazem muita
diferença na minha vida. Estranho ou não, eu quero Luisa, nem que
seja por tempo limitado até eu achar alguma mulher digna de se
casar comigo, já que, infelizmente, Luisa nunca será apta para esse
papel. O meu clã não a aceitaria, muito menos a minha família e eu
próprio. Ela já foi corrompida pelo mundo, está infectada por maus
costumes. Os seus valores são condenáveis para a minha cultura.
Luisa é a típica ovelha negra para um árabe muçulmano. Para mim,
então, que sou sheik, a sua situação é ainda pior aos meus olhos,
pelo menos é o que deveria ser, já que, mesmo sabendo que a sua
vida é um lago de erros, eu ainda me sinto completamente atraído
por ela.

Além disso, o fato da repulsa que eu deveria sentir nunca ter se


manifestado em mim, como já aconteceu em outras centenas de
vezes que lidei com moças, não tão moças, como Luisa, me deixa
aflito. Mesmo ela parecendo apenas uma outra mulher bonita
tipicamente ocidental, algo no meu subconsciente insiste em me dizer
que ela é especial, mas não sei dizer em quê. Essa minha fascinação
me faz lembrar do que o meu pai descreve quando diz o que sentiu
pela minha mãe no começo, mas, ao mesmo tempo, há divergências
no que se refere à minha própria situação que, por sinal, são
definitivas para criar uma barreira entre as coincidências.
A minha mãe, apesar de ser brasileira, gostava desse lado do
mundo, respeitava a cultura, mesmo que não compreendesse
completamente. Ela fazia questão de conhecer melhor o país do meu
pai, porque ela sentia a necessidade. Além disso, ela tinha boa moral
e se casou virgem. Assim, não posso comparar o que o meu pai
sentiu pela minha mãe com o que estou sentindo por Luisa. Ester
mereceu o amor do meu pai, já Luisa... Entretanto, mesmo não
gostando da minha situação, eu não consigo esquecê-la, não posso
deixá-la ir sem antes ter um aperitivo. Talvez depois disso eu me
enjoe dela. Isso pode parecer frio e cruel, mas é assim que tem que
ser. Eu sou um sheik, não tenho escolha. Sheiks tomam decisões
difíceis em favor do seu povo, pois ele é a prioridade.

— Certo, eu me sinto mais tranquila em saber que posso desistir se


eu não conseguir. — A voz de Luisa me tira dos meus pensamentos.

— Eu acho que você está subestimando a sua capacidade, mas,


sim, você pode desistir a qualquer momento.

Ela sorri, claramente contente com a conversa.

— Isso me parece bom, não sei como agradecer...

— Não se preocupe com isso. Talvez no futuro possamos ser amigos


— falo, amigavelmente.

Luisa arregala os olhos, espantada.

— Hum, não acho que daria certo, senhor Hamir, somos muito
diferentes, e você será o meu chefe.

— Não somos tão diferentes como você imagina — afirmo. —


Ambos somos meio-brasileiros, isso é algo em comum, não?
Ela ri, mostrando os seus bonitos e pequenos dentes brancos.

— É, eu acho que sim.

Luisa me encara, curiosa.

— Você gosta do Brasil? — A sua pergunta me surpreende.

— Sim, eu gosto muito do Brasil. Sempre que possível, visito o país.

Ela acena.

— Eu tenho morado lá desde muito pequena, mas eu visito os


Estados Unidos sempre que possível também.

Dou um aceno em entendimento.

— Pertencer a dois países torna a vida muito mais interessante —


falo.

— É, eu também acho. Mas acredito que o seu caso seja mais


interessante ainda. Você pertence a duas partes do mundo! Acredito
que seja bem contraditório...

— De fato, a minha vida é bastante contraditória... — falo, enquanto


jogo um pouco de limão nas ostras do meu prato.

Quando olho novamente para Luisa, me deparo com o seu olhar


sobre mim, pensativo. Ela sorri e disfarça, logo repetindo a minha
ação com as suas próprias ostras. Ainda encarando-a, percebo o
quão sexy ela fica quando engole o alimento, sem mastigá-lo.

— Hum, isso está bom! Na verdade, muito, muito bom!


— Que bom que apreciou. A comida deste lugar é sempre muito
boa, na minha opinião.

— Imagino que sim — fala. — Bem, mudando de assunto, mas não


querendo ser intrusa, posso te fazer uma pergunta pessoal?

— Você nunca será uma intrusa, Luisa.

Ela me encara, confusa, mas continua:

— A sua família mora aqui em Dubai?

Admito que fiquei surpreso com a pergunta.

— Não, nem mesmo eu moro aqui. Toda a família Hamir mora em


Fujairah, um outro emirado do país.

— Entendo.

Pelo olhar curioso e de interesse de Luisa, sei que ela quer saber
mais sobre o assunto, porém eu não vou fazer isso. A minha família
é sagrada para mim, e não posso envolvê-la de forma nenhuma com
Luisa. A minha família não a aprova, e eles estão certos; o que eu
quero com Luisa não é algo certo para a minha cultura, digamos
assim. Para os ocidentais, porém, isso é completamente aceitável.

— Eu tenho uma curiosidade sobre o seu nome — mudo de assunto.

— Ah, é mesmo?

— Sim. Diga-me, por que o seu nome é escrito com "s", e não com
"z"? Você é americana, não combina muito.
Ela ri.

— É, isso realmente me chateia até hoje quando as pessoas leem o


meu nome. Isso foi culpa da minha mãe, de quando ela foi me
registrar, acho que ela estava com muita coisa na cabeça e
esqueceu que um "s" mudaria muita coisa.

Sorrio.

— Bem, eu gosto de como o seu nome soa, Luisa — falo,


enfatizando o "s".

Ela ri, divertida.

— Olha quem fala! O seu nome é quase impossível de acertar a


pronúncia, a menos que já tenha tido contato com nomes árabes!
Não é, Ahmed? — ela ironiza, dizendo o meu nome com o sotaque
americano.

— Bem, desta vez você ganhou — falo.


Capítulo 10

Luisa Jones

Não posso mentir e dizer que não estou animada e que estou triste
por conseguir um trabalho na Hamir Enterprises, pois seria a maior
mentira que eu teria contado até agora. Conseguir um emprego em
uma grande empresa é o meu sonho desde que entrei na faculdade.
Além disso, era o dos meus colegas também, todos nós tínhamos
essa meta de vida. Acho que todo mundo, independente da
profissão, pensa em trabalhar numa multinacional algum dia, e no
meu caso não foi diferente. Agora, também tenho que admitir que
estou surpresa com Ahmed, ele foi extremamente educado durante
todo o almoço e até mesmo um bom ouvinte. Estou um pouco
envergonhada pela minha má interpretação da sua proposta no
primeiro momento, foi algo completamente desnecessário. Eu
simplesmente o interrompi antes que ele terminasse o seu raciocínio.
Acho que o meu sangue é quente demais, sempre acho um problema
na situação, não importa qual seja. Herdei isso da minha metade
brasileira. A minha mãe é assim também, sempre encontra algo para
brigar, não é à toa que o meu pai não sabia lidar com ela.

Já estou no meu apartamento temporário, Ahmed me deixou aqui


há pouco tempo. Antes disso, me disse que iria me buscar na
indústria no domingo, novamente, só que dessa vez para me levar à
sua empresa. Ele me garantiu que teria algumas pessoas para me
ensinarem como tudo funciona antes de eu começar a trabalhar. Ele
me sugeriu uma semana de treinamento, e eu prontamente aceitei.
Estou tão eufórica, parece que estou sonhando. Eu estou
simplesmente ganhando o emprego na empresa dos meus sonhos,
isso é algo que eu pensei que fosse demorar um bom tempo para
conseguir. Está óbvio que o meu caso não é comum, Ahmed deve
ver algo de especial em mim que nem mesmo eu sei o que é. Um
sheik do petróleo não faz nada sem ter um interesse por trás.
Contudo, se ele não fosse confiável, duvido que me colocaria na sua
própria empresa como funcionária.

Geralmente os psicopatas não se envolvem tanto a ponto de criar


qualquer tipo de nó difícil de desamarrar. Ahmed não é um
psicopata, um sequestrador ou algo assim, porém não posso dizer
que ele é completamente normal, pois não é. Há um perceptível
mistério nos seus olhos e nas suas atitudes, o qual eu não consigo
compreender. Ele é muito misterioso, como se escondesse vários
segredos, talvez até mesmo um mundo paralelo. Isso me assustava
no começo, mas não mais. Se ele quisesse me fazer algum mal, já
teria feito, ou ao menos daria uma pista mais concreta. Mas não,
pelo contrário, ele sempre faz questão de me passar segurança,
mesmo não sendo transparente comigo. Isso é estranho, eu sei, eu
deveria estar correndo. Contudo, eu não vou simplesmente jogar
incríveis oportunidades para trás só porque o meu novo chefe é
estranho. Desde que ele não passe do meu limite, eu posso tolerar a
sua complexa personalidade. Ele é um árabe, um sheik, deve ser
esperado que um homem com o seu status seja assim, não é? Eu
acredito que isso seja um fator muito dominante.

Eu às vezes via na televisão os sheiks de Dubai e da Arábia em


geral e, mesmo através da tela, eu me sentia um pouco intimidada
por eles. Os homens eram completamente altivos e confiantes, além
de muito exóticos, aquelas túnicas longas e brancas... Eu realmente
me sentia desconfortável com suas imagens, mesmo que por uma
tela. Quando cheguei aqui, vi que essas roupas são comuns entre a
população. Contudo, não me senti com medo ou algo assim, já que
os homens pareciam comuns, apenas um pouco exóticos. Se Ahmed
usa roupas tradicionais, eu sinceramente nunca o vi assim, mas eu
posso dizer que isso absolutamente não é necessário. O homem é
extremamente intimidante apenas com terno e roupa social, não
quero nem imaginar como ele seria com roupas árabes. Assim,
percebi que os sheiks são assim mesmo; prepotentes, altivos e
intimidadores, independente do que estejam usando ou onde
estiverem. Acho que a combinação de poder com o sangue árabe e
a riqueza é forte demais, extremamente desconcertante. Ainda não
me acostumei com essa postura de Ahmed, mas vou fazer o possível
para isso acontecer. Se quero ter um emprego num lugar como esse
e numa empresa conservadora e bilionária, preciso mudar os meus
pensamentos também, além de melhorar o meu closet. Isso
realmente é muito, muito importante.

É inadmissível que a segunda-secretária do sheik se vista como


uma estudante. Além de que não sou simplesmente uma secretária
organizadora ou algo assim, eu serei secretária de finanças, o que é
um cargo muito, muito sério a meu ver. É claro que não farei todo o
trabalho sozinha, há um outro, o oficial, em Nova York, outro,
também primeiro-secretário e oficial, só que aqui, em Dubai, além de
vários auxiliares de finanças espalhados pelas empresas. Mas o meu
cargo é um tanto especial, pois estarei lidando diretamente com a
indústria, que é onde me considero realmente boa. Obviamente que
terei um grande desafio pela frente, estudar e trabalhar. Mas isso
não vai ser um problema, na verdade, estou mais aliviada agora, pois
pretendo pagar pelos estudos oferecidos pela empresa de Ahmed
logo que possível. Ele foi muito generoso, mas não posso aceitar e
simplesmente não pagá-lo depois, isso me parece uma atitude
aproveitadora, e não sou assim. Assim, logo que possível irei pagar
tudo o que a empresa tiver gastado comigo.

Depois de preparar o meu almoço e estar devidamente alimentada,


vou ao banheiro tomar um banho de banheira. Ando pela casa já
tirando as roupas do meu corpo com impaciência. Quando estou no
meu quarto, jogo-as sobre a minha cama, que por sinal está muito
bagunçada. Bem, acordei um pouco tarde hoje, então não tive tempo
de arrumá-la antes de ir para as minhas aulas. Assim que estou no
banheiro, faço questão de me olhar no espelho mediano que há na
parede, junto com a pia de granito. A primeira coisa que noto em
mim mesma são os meus olhos azuis, que estão mais arregalados e
brilhantes do que o normal. Em seguida, me surpreendo com a cor
das minhas bochechas e nariz, que estão rosados, ao invés de
pálidos como é mais comum. Depois, noto a minha boca entreaberta
e o meu peito ofegante. Céus, até parece que corri uma maratona!

Intrigada, abro a torneira da pia e molho rapidamente a minha mão,


logo em seguida passando-a sobre os meus enormes cabelos loiros.
Eles são muito longos e bem cheios, o que não é comum para que
tem cabelos claros. Assim, sempre que possível, eu os prendo em
um coque alto, pois frequentemente eles estão me atrapalhando.
Com uma mão úmida, aliso os fios enquanto a outra já começa a
enrolá-los em uma corda grossa. Encontro um elástico de cabelo na
pia e finalizo a ação prendendo tudo em um coque simples. Depois
disso, passo a preparar o meu banho. Escolho sais de banho de
maracujá.

Eu amo essa fruta, em todos os sentidos. Sempre que possível


estou tomando um suco, um sorvete, ou até mesmo passando um
creme corporal com o cheiro da fruta. Estranho ou não, sou viciada.
Logo na minha primeira compra num supermercado daqui, fiz
questão de comprar três quilos dela que, não tão
surpreendentemente, era importada do Brasil. Quando a água está
pronta e espumante, mergulho quase que totalmente, ansiosa por um
momento relaxante. Pego o meu sabonete líquido de baunilha,
espalho em minhas mãos e passo a lavar a minha pele. Enquanto
isso, inúmeras memórias do Brasil e do meu passado me vêm à
mente. A minha faculdade, os meus amigos, meus pais e até mesmo
o meu ex-namorado de juventude passam como uma névoa rápida
nos meus pensamentos.

Não consigo evitar uma risada ao lembrar de Danilo, ele era um


bom rapaz, mas muito atrapalhado. Eu gostava dele, mas ele nunca
me despertou grandes sentimentos. Talvez eu fosse muito imatura
ainda, e ele também. Enfim, após o nosso namoro desastroso, não
tive ânimo para namorar novamente, mesmo encontrando vários
homens melhores. Até o momento presente, estive ocupada demais
sonhando com outras coisas. Porém, agora que estou nos Emirados
Árabes sozinha, é inevitável que eu não me sinta nostálgica. Já estou
aqui há praticamente um mês e estou começando sentir o peso da
solidão. Todos os dias eu ligo para os meus pais e para os meus
amigos, mas não é a mesma coisa. Os meus dias são sempre tão
previsíveis, eu acordo cedo, vou para as minhas aulas, volto para
casa e vou estudar o resto do dia sozinha, e depois o ciclo se repete
novamente.

Eu acho até mesmo bom que eu vou trabalhar à tarde toda agora,
assim eu ocupo a minha mente com algo que não seja estudo, senão
pode ser que eu venha ficar louca daqui um tempo. Após terminar o
meu banho, vou para o meu quarto com a minha toalha ao redor do
meu corpo. Passo um hidratante corporal e visto uma camisola azul
de algodão, bem confortável. Em dúvida sobre estudar um pouco ou
dormir, o meu cansaço fala mais alto e eu escolho a primeira opção.
Hoje é quinta, não acho que vá ser tão ruim se eu relaxar um pouco,
até porque domingo começa a minha semana de treinamento na
empresa, e eu tenho certeza que não terei muito tempo para algo
assim. Com esse pensamento, deito na minha cama e, com um
sorriso satisfeito, me deixo ser levada pelo sono e pela preguiça.

Eu não gosto muito de sonhar, mas, por ironia, isso acontece quase
sempre e desta vez não foi diferente. Passei pouco mais de quatro
horas sonhando com coisas confusas e sem nexo. Cenas como
deserto, castelos, mesquitas e pessoas com roupas árabes
passaram como neblina no meu subconsciente. Não tive nenhum
sonho concreto, apenas me vi em várias situações diferentes, todas
elas em algum lugar da Arábia. Por último, a imagem de Ahmed em
uma túnica branca e bordada a ouro também inundou a minha mente.
Mas, devido ao meu estado confuso e de mente agitada, tudo
passou rápido, em vários borrões. Acordo um tanto confusa e
irritada. Ao ver as horas no meu celular, noto que há várias
mensagens de Samuel, o meu colega.
Visualizo a primeira, enviada às 14:06:

Hey, Luisa, você está aí?

Em seguida a segunda, enviada às 14:40 :

Hellooo, morreu, foi?!

Terceira, às 15:30:

Foi sequestrada?

E por último, às 15:50:

Acho que vou chamar a polícia.

Bufo, exasperada e respondo, já às 16:20:

Fale logo o que você quer.

Dois minutos depois ele responde:

Um ano depois e você responde, hein? Também não quero mais


falar com você, perdi a vontade.

Reviro os olhos.

Fale logo, Samuel, senão vou desligar o celular e responder só


quando me der vontade também.

A minha ameaça parece funcionar, pois ele logo responde:


Nossa, que consideração da sua parte... Olha, vou ser direto então.
Eu e o Liam vamos sair para uma boate para uma diversão de fim
de semana, e você tem que ir com a gente, é obrigatório.

Respondo:

Hum, não sei não, Samuel, estou desanimada hoje, acabei de


acordar.

Ele logo me envia outra mensagem:

Não se preocupe, só vamos sair lá pelas nove e pouco, então você


tem muito tempo para dormir ou acordar, seja lá o que você está
querendo fazer agora.

Digito rapidamente outra mensagem:

Não gosto muito de festinhas.

Ele responde:

Certo, te busco na sua casa às 21:40. Até lá, honey.

Reviro os olhos com o apelido e nem mesmo me dou o trabalho de


responder. Samuel é uma anta mesmo, não vai aceitar um não, então
vou simplesmente dormir mais uma hora para depois ver o que irei
fazer.

∆∆∆
Eu queria dormir uma hora, mas acabei dormindo duas, o que me
fez acordar muito tarde. Já são quase seis da tarde, e eu já estou
muito em cima da hora para começar a me arrumar. Decidi que vou
sair com os rapazes, até porque o Liam me mandou outras inúmeras
mensagens para me obrigar a ir. Assim, agora estou aqui, na minha
cozinha, preparando um lanche rápido para depois tomar outro banho
e me arrumar. Já tenho em mente a minha roupa do dia, ou melhor,
da noite, estou pensando em usar o meu vestido vermelho justo.
Quando o trouxe, eu até mesmo estava duvidando de que fosse
realmente usá-lo aqui, mas pelo visto eu estava enganada, pois
acabei de encontrar uma ocasião plausível. O vestido é curto demais
na minha opinião e mais "decotado" do que um país muçulmano
aprovaria, então eu nunca o usaria aqui, exceto por hoje. Bem,
estarei indo para uma boate, então é certo supor que as garotas vão
estar vestidas com algo mais ousado, não é? Eu espero que sim.
Capítulo 11

Luisa Jones

Não tive que esperar muito, dez minutos depois de pronta, os


rapazes já estavam me mandando inúmeras mensagens para que eu
descesse do meu apartamento. Animada, dou uma última olhada no
espelho do meu banheiro e reforço o meu batom vermelho com mais
uma camada. Logo que chego na rua, já vejo Samuel dentro do seu
carro, atrás do volante. Liam está do seu lado, no banco da frente.

— Entre logo, Luisa, porque hoje a noite promete! — Liam grita.

Reviro os olhos.

— Ih, já vi que você está querendo aprontar hoje, Liam! — digo, em


tom acusador.

— Vamos, Luisa, entre aí. Já estamos te esperando há cinco


minutos! — Samuel fala, ansioso.

— E isso é esperar muito? Meu bem, você não esperou nada!

— Luisa! — Samuel exclama.

— Okay, okay, já vou.

Depois de entrar na parte de trás e colocar o meu cinto, finalmente


Samuel acelera o carro.

— Então, para qual boate nós vamos? — pergunto animada.


— Para a White Dubai. Alguns amigos meus já foram e, segundo
eles, ela é muito boa — Liam responde.

— Sim, parece que sempre os melhores DJs estão lá — Samuel


complementa.

— Tendo música boa, já está bom para mim.

Liam ri.

— Fiquei sabendo que é cheio de homem rico e bonito lá, Luisinha,


não está animada por isso? Pode rolar uma boa diversão...

Fecho a cara.

— Não mesmo! Escute, Liam, só estou indo com vocês para dançar,
nada mais! Não curto pegação com desconhecidos!

Samuel resmunga.

— Está certa, Lu. Mas olha, aproveite para beber algumas, você
está precisando relaxar.

— Não sou muito fã de bebidas alcoólicas também.

— Ih, aí não dá, né, Luisa?! Você vai numa boate ou num baile
juvenil? — Liam reclama

— Ai, gente, não exagera. Sei muito bem me divertir sem fazer
merda!

— Você é totalmente estranha, Luisa. Bem que eu estava certo, uma


garota que prefere escutar músicas clássicas só podia não ser
normal — Liam fala.

— Eu acho Luisa normal, mas esse é o problema, você precisa sair


da normalidade às vezes, garota — Samuel comenta.

Suspiro.

— Olha, vamos curtir a noite, okay? Depois vocês tiram as suas


próprias conclusões!

— Eu acho uma boa ideia, até porque, quando você entrar lá dentro,
duvido que vai pensar da mesma forma.

— Bem, agora é a minha vez de te dar um conselho, Samuel. Se


divertir não é proibido, mas trair a sua namorada sim. Vou estar de
olho em você!

Ele ri.

— Não se preocupe, não preciso de mulher para me divertir.

— Ótimo! — resmungo.

— Mas eu sim! A vantagem de ser solteiro é que você é livre! —


Liam fala, satisfeito.

— Não vou nem comentar!

— Ah, para, Luisa, duvido que seja tão santinha! — ele retruca.

— Eu não...

— Calem a boca vocês dois porque já chegamos.


Imediatamente olho através da janela do carro para fora. A primeira
coisa que vejo é o hotel Meydan Racecourse, mas logo depois os
meus olhos são atraídos para cima, para um terraço cheio de luzes e
impossível de não ser notado.

— A boate é no terraço?! — questiono.

— Sim. Legal, né? Você vai poder ver toda Dubai enquanto dança —
Samuel responde.

— Que horas são? — Liam pergunta.

— 22:10 — respondo.

— Chegamos na hora certa, vamos!

Depois de estacionar o carro, nós três nos dirigimos para o hotel.


Nervosa, tento me lembrar de não tropeçar com os meus saltos
altíssimos. Depois de pegarmos um elevador, enfim chegamos ao
último andar, onde está a boate. Somente quando entramos nela é
que conseguimos escutar a música de verdade. Isolamento acústico,
só pode. Nós entregamos os nossos passaportes de entrada, e eles
pedem os nossos documentos. Após isso, fomos liberados para
entrar. Enquanto andamos para a pista de dança, meus olhos são
atraídos pelo ambiente luxuoso e bonito. Muitas pessoas estão
chegando neste momento, o que é normal, já que o local acabou de
abrir. No entanto, o ambiente está enchendo rapidamente. Quando
chegamos na pista, logo vejo o DJ tocando e várias dançarinas
dançando sensualmente no palco. Já vejo que pudor não é algo que
vou encontrar aqui. Samuel diz que quer beber algo, e então o
seguimos até o bar.

— Vamos começar a nossa noite com um bom shot! — diz Liam.


— Ah, não! Vocês podem beber, mas eu não quero! — falo.

— Claro que você vai beber, nem que seja só um, Luisa! — Samuel
fala.

— Não quero!

— Três shots, por favor, o melhor que você tiver — Liam diz para o
barman.

O homem assente e rapidamente prepara as bebidas. Uma mistura


de Black Label com vodka e outras bebidas que eu nunca tinha
ouvido falar rapidamente são feitas e entregues a nós três. Samuel e
Liam não demoram nem um minuto para beber o líquido amarelado.

— Não morremos, viu? Agora é a sua vez — Samuel fala.

— Não quero.

— Ah, para, Luisa. Você vai ficar cinco horas numa festa sem beber
nada? Tome esse aí, depois você vai ver que rapidinho o efeito
passa — Liam insiste.

— E se eu ficar bêbada?

Samuel ri.

— Garota, ninguém fica bêbado com apenas um shot. No máximo


que você vai ficar é tonta por alguns minutos, já que não é
acostumada a beber.

Suspiro, vencida.
— Certo, eu vou beber, mas só este!

— Beba logo! — grita Liam.

Tampando o nariz para não sentir o cheiro forte de álcool, forço a


bebida entrar pela minha garganta em apenas três goles. Logo após,
começo a tossir, com os olhos lacrimejantes.

— Que merda foi essa?! — questiono, irritada.

Os dois riem descontroladamente.

— Um dia você se acostuma! — Samuel fala.

— Não mesmo! Nunca mais tomo isso aqui, é forte demais!

— Vai tomar sim, nem que seja só um copinho de vodka. Não dá


para ficar num lugar como esse sem beber, Luisa — Liam resmunga.

— Olha, eu acho melhor a gente ir dançar. Não é para isso que


estamos aqui?

— Sim, nisso você está certa — Samuel responde. — Vamos para a


pista!

Um pouco mais animada, vou com os rapazes para o meio da


multidão. Há um DJ que eu não conheço que está tocando uma
música pop bastante conhecida. Não sou muito fã de pop, mas numa
festa até que vai. Alguns poucos minutos depois, dançando sob luzes
e gelo seco, começo a sentir os efeitos do álcool. Um pouco tonta,
tenho que me controlar para não desequilibrar nos meus saltos-altos.
Conforme o tempo foi passando, vários caras chegaram até a mim,
com motivos óbvios. Obviamente rejeitei todos, não sou muito fã de
beijar desconhecidos. Na verdade, nunca fiz isso.

Dançar dá muita sede, então acabei bebendo suco misturado com


um pouco de bebida alcoólica, não tenho certeza do que era. Foi a
única coisa que consegui pegar que não fosse tão forte, já que os
meninos me proibiram de beber só água. Moral da história, estou um
pouco bêbada e tonta, e olha que só bebi um shot e um suco com
alguma coisa, talvez energético, misturado.

∆∆∆

Três horas da manhã chegaram mais rápido do que eu pensei que


chegaria, e então nós três e todas as outras pessoas tiveram que
deixar o local. Todos estamos suados e bagunçados. Os meus pés
estão latejando de dor, e eu não sei como consegui me manter de pé
até agora. Samuel e Liam estão bêbados demais, e estou
sinceramente preocupada com a lucidez de ambos. Os dois estão
tão cambaleantes, que não vejo outra alternativa a não ser segurar
no braço de cada um, já que, mesmo estando tonta e com os pés
doendo, sou a única que consigo andar sem cair. Quando saímos do
hotel, acabamos encontrando alguns funcionários do hotel e dois
hóspedes que nos olharam com recriminação. Os hóspedes, dois
homens, até mesmo fizeram alguns comentários em árabe
direcionados a nós. Agora pronto, é só o que me faltava, além de
estar carregando dois irresponsáveis bêbados, estar quase
morrendo de dor nos pés, ainda sou julgada! Pelo visto as pessoas
daqui gostam de julgar a vida dos outros. Nervosa, ignoro os
comentários em árabe e apresso os meus passos até onde o carro
de Samuel está estacionado. Liam olha contrariado para o carro.
— Lu, podíamos ir para outro lugar agora, o que acha? Tenho
certeza que tem algum bar aberto ainda — fala.

— Você está doido?! Vocês dois estão tão bêbados que não
conseguem nem andar! O único lugar que iremos é para nossas
casas! — falo, nervosa.

— Ih, está nervosa, é? Achei que tinha gostado da festa — Samuel


fala, com os olhos vermelhos devido ao álcool.

— Eu gostei, mas vocês estragaram tudo no final!

— Claro que não, nós aproveitamos a noite e agora vamos para


casa — ele refuta.

— Exceto pela parte que você não pode nem mesmo dirigir! — falo,
respirando fundo para não me descontrolar.

— Eu não estou tão bêbado assim! — ele insiste.

— Nem eu! — Liam também diz.

Conto até três para não dizer umas boas verdades e me dirijo a
Samuel:

— Me entregue a sua chave — ordeno.

— O quê? — pergunta, sonso.

— A chave do seu carro, Samuel! Eu não vou deixar qualquer um de


vocês dirigirem hoje, pois não quero morrer!
Contrariado, ele me entrega o que eu pedi e entra no carro com
Liam. Irritada, entro no carro e coloco o cinto de segurança,
acelerando o automóvel em seguida. Estou um pouco tonta também,
mas não é como se eu tivesse escolha. Esses idiotas não estão em
condições para dirigir, e não podemos deixar o carro por aí. Coloco
uma música clássica para me acalmar, e Liam reclama. Ignoro.
Quando chego no condomínio de ambos, estaciono o carro na vaga
deles. Assim que todos estão do lado de fora, entrego a chave para
Samuel.

— Espere, como você vai embora? — pergunta, agora se tocando


da realidade.

— Nossa, é mesmo, Luisa...

Reviro os olhos.

— Não se preocupem, eu vou pegar um táxi, e vocês vão para seus


apartamentos dormir!

Liam me olha, preocupado.

— Tem certeza?

— Sim, vejo vocês no domingo! Bye!

Antes que eles começassem a me irritar novamente, me afasto dos


dois, indo em direção à segurança do condomínio. Quando chego lá,
peço um táxi pelo aplicativo e dez minutos depois estou a caminho do
meu próprio apartamento. Quando entro na casa, a primeira coisa
que faço é tirar os meus malditos saltos-altos, com muito ódio e
impaciência. Depois, separo um comprimido de aspirina e o tomo
com água bem gelada. Enquanto preparava um chá de hortelã, o
interfone na minha cozinha toca, e eu tomo um susto digno de um
infarto.

— Céus, quem em sã consciência me chamaria numa hora dessa?!


— questiono para mim mesma.

Assustada, atendo com voz desconfiada:

— Sim?

— É a senhorita Luisa Alcântara Jones? — alguém pergunta.

— Sim... — respondo.

— Senhorita, aqui é a polícia, estamos na porta do seu apartamento


e precisamos que você saia.

— O quê?!

— Nós estamos na sua porta — ele repete.

Com o coração disparado, e a ponto de desmaiar, calço uma


sapatilha e rapidamente abro a porta. O que eu vejo quase me faz
ter um ataque de pânico. Há três policiais na minha porta, todos
uniformizados e extremamente sérios.

— Senhorita Jones, recebemos denúncias contra a senhorita por


motivos de desrespeito às regras morais do país e do costume local.

— Como...?

— Num primeiro momento, a senhorita está presa a mando do


delegado. Precisamos que nos acompanhe, por favor.
Sem saber o que está acontecendo, outro oficial me fala outras
coisas que não fazem sentido, e então eles me pedem para que eu
pegue os meus documentos. Assim que eu faço isso, sou obrigada a
ir embora com eles para a delegacia. Quando chegamos, enfim a
ficha cai, e eu começo a entrar em pânico. Quando me dou conta,
estou chorando e em completo desespero. Eles me levam para uma
sala onde está o delegado e outros policiais e logo saem. Não
demora muito para que os meus documentos sejam analisados, e eu
tenha o meu celular também tomado. Depois, o delegado me fez
responder inúmeras perguntas sobre a minha noite e o que eu fui
fazer na boate.

Em seguida, outras incontáveis perguntas pessoais foram feitas,


inclusive sobre Samuel e Liam. Várias vezes ele me perguntou o que
eu era deles, e toda vez que eu respondia que ambos são meus
colegas e amigos, ele fechava a cara, não apreciando a resposta.
Nesse meio tempo, vi pela parede de vidro da sala que Samuel e
Liam também estão aqui. Pude ver rapidamente seus rostos
assustados e confusos.

Enfim, depois de meia hora, o delegado fala:

— A senhorita irá preventivamente para a prisão de mulheres,


senhorita Jones, até sair a decisão final do juíz.

— Vocês não podem fazer isso, eu não fiz nada! — falo, alarmada.

Ele não responde e ao invés disso diz:

— Você tem direito de fazer uma ligação antes disso, para alguém
de sua escolha, desde que seja com o telefone daqui.
Com uma forte dor de cabeça e totalmente impotente, rapidamente
olho o número da pessoa escolhida no meu celular e o disco no
celular da delegacia, antes de ter que devolver o meu próprio.
Sentindo o meu coração bater no meu ouvido, ouço os bips da
ligação, enquanto eu oro para que a única pessoa deste mundo que
pode me ajudar atenda. Eu não sou tola, sei que a situação a qual
me encontro é pior do que um dia eu poderia me imaginar. Estou num
país islâmico, que ainda lida com a Sharia. Eu não fiz nada de mal,
mas eu poderei pagar por algo que não faz sentido para mim e
sofrer muito por isso se algo não for feito. Casos de estrangeiros
irem para cadeia por fazerem coisas simples, mas erradas aqui, são
raros, porém quando acontecem rendem o inferno para a pessoa.
Não estou preparada para passar por algo assim. Provavelmente
estou sendo acusada de ser uma vagabunda ou algo parecido, já que
Samuel e Liam também estão aqui. Essas pessoas são loucas,
tinham várias pessoas na boate na mesma situação que a nossa, e
até pior, mas simplesmente resolveram nos punir, somente nós três?
Pura hipocrisia!

No quarto toque, ele atende, com voz irritada e baixa, porém em


árabe. Criando coragem, falo, em português, para que os homens de
olho em mim não entendam.

— Senhor Hamir, sou eu, Luisa.

— Luisa... O que você... São quatro e meia da manhã! — ele rosna.

— É, eu sei, mas estou numa situação muito, muito complicada.


Sinto muito por te acordar.

Ele fica em silêncio por um tempo.

— Você nunca conversou em português comigo. O que está


acontecendo? — Há ameaça em sua voz.
— Eu estou na delegacia e vou ser presa.

Ele não diz nada, mas depois fala:

— Repita isso.

— Eu estou na delegacia e vou ser presa — repito.

Ouço um barulho estridente de alguma coisa se quebrado do outro


lado da linha.

— O quê?! Porra, o que você fez, Luisa?!


Capítulo 12

Ahmed Hamir

São quatro e meia da manhã, mas já estou acordado, porque uma


pequena mulher loira me acordou para que eu salvasse a sua bela
bunda branca da prisão. Agora eu estou aqui, na minha cama,
absolutamente furioso, ao ponto de ter quebrado um antigo vaso
valioso. Mas isso não importa, pois o meu maior problema neste
momento se chama Luisa, e ela está neste momento numa merda de
delegacia. Eu não sei o que essa garota tola fez, porém isso não é o
ponto principal agora, e sim que a polícia quer prendê-la, e é aí que
está o verdadeiro perigo. Ela está nos Emirados Árabes Unidos, não
importa quem ela seja, se ela feriu alguma diretriz do país, ela irá
presa. Ela não irá sair da cadeia com menos de seis meses,
dependendo do que tenha feito, mesmo sendo americana.

Num país islâmico, com leis islâmicas, o que vale mais é a religião,
e isso me preocupa muito agora, pois é a vida de Luisa que está em
jogo. Está óbvio que ela deve ter sido presa por ferir alguma diretriz
religiosa, já que Luisa em hipótese alguma faria algum vandalismo ou
algo parecido. Ela provavelmente agiu de forma impensada, como se
estivesse no seu país que está há milhares de quilômetros de
distância. Luisa cometeu alguma merda de erro que ela com certeza
nem sabia que estava errado, porque, sendo imatura como é, não
procurou saber como funciona as leis do país antes de tomar
qualquer decisão.

Eu estou tão nervoso, que rasguei três roupas enquanto tentava


vesti-las, até que a quarta, enfim, sobreviveu à minha ira. Luisa nem
mesmo imagina o quão grave é a sua situação agora. Eu não tenho
acesso às prisões do país, mas sei que as coisas não são muito
boas para quem está nelas. Apesar do EAU mostrar uma imagem de
que os ambientes são humanizados, principalmente para as
mulheres, as notícias as quais várias vezes tive contato contavam
outra história. É bem provável que as prisioneiras sofram torturas
algumas vezes, mas é claro que o país esconde isso muito bem. Já
no meu carro, dirijo com tanto ódio, que os nós dos meus dedos
estão brancos. A verdade é que estou muito preocupado, pois não
sei se conseguirei tirar Luisa da merda que ela se meteu.

Eu sou um sheik, mas não da nobreza de Dubai ou qualquer


emirado. Sou um sheik do meu próprio povo que vive neste país e
região antes de ele ter o nome que tem. Assim, o meu poder político
é limitado. Possuo grandes vantagens por ter alta influência
econômica, mas isso é tudo. A minha família e o governo não tem
nenhuma ligação. Portanto, a situação de Luisa é muito grave, já
que, dependendo do que ela tenha feito, eu não poderei fazer muita
coisa para evitar que ela vá para a cadeia. Depois de estacionar o
meu carro, faço uma pequena prece pedindo a Alá que esteja do
meu lado, pois a estatística certamente não está. Como um sheik
herdeiro, é vergonhoso para mim eu estar numa delegacia atrás de
uma mulher estrangeira. A minha família certamente ficaria exaltada
de raiva se soubesse o que estou fazendo neste momento. Ela nunca
teve poder o suficiente para ditar a minha vida, porém, por respeito,
faço o possível para respeitar as nossas tradições, contudo não é
isso o que eu estou fazendo agora. Quando entro na delegacia, logo
sou reconhecido por todos, que me cumprimentam surpresos e
respeitosos.

— Sheik Hamir, por Allah, o que te traz aqui? Podemos ser úteis em
algo?— um oficial pergunta.

— Tudo o que eu preciso é de ter uma conversa com o delegado —


digo, indo direto ao ponto.

Ele me olha ainda mais surpreso, mas assente rapidamente.

— Claro, sheik, eu irei o avisar de que o senhor está aqui.


Assim que ele sai, outros oficiais me cumprimentam como é o
costume. Porém, durante todo o tempo, a minha atenção estava
sobre dois homens que acabaram de sair de uma sala, algemados e
totalmente assustados. Não tive tempo de observá-los mais, pois
rapidamente o delegado, senhor Almir, atendeu ao meu chamado.
Depois um cumprimento e um "As-Salamu Alaikum", ele finalmente
diz:

— Sheik, entre, por favor, e então o senhor poderá me dizer o que te


trouxe até aqui.

Com um movimento para que eu vá primeiro, entro no sala. Depois


de me sentar, ele me oferece algo para beber, mas eu rapidamente
rejeito.

— Então, sheik, em que posso ser útil?

O meu orgulho está queimando neste momento. Nunca pensei que


fosse atrás de uma mulher tão inconsequente a ponto de ser presa.
Mas a questão maior não é essa, e sim que um sheik nunca iria
contra as leis do país, mas aqui estou eu...

— Delegado, estou aqui pela mulher estrangeira, Luisa Jones. Ela é


a minha funcionária, está sozinha no país, e eu preciso saber o
porquê ela está aqui.

O homem me olha surpreso, sem entender muita coisa.

— O senhor quer saber sobre a mulher americana?


— Sim.

Ele pisca os olhos rapidamente, curioso.

— Bem, sheik, essa mulher está aqui por uma denuncia. Ela foi vista
na madrugada colada ao lado de dois homens embriagados, todos
saíram assim em público.

Nada do que ele poderia ter me dito me deixaria tão desnorteado


como isso. Eu definitivamente não esperava escutar algo assim
sobre Luisa, mesmo ela sendo ocidental e extremamente liberal.
Estou desapontado, principalmente comigo mesmo, por querer ter
algo com uma mulher de tão baixo valor. Uma mistura de ciúmes e
ódio me invade, e uma vontade enorme de acabar com os miseráveis
que desonraram Luisa no meu país quase me faz sair à procura de
vingança agora mesmo. Mas eu preciso resolver algumas questões
mais urgentes agora, então pergunto:

— Quem eram os homens?

— Eram ambos também estrangeiros, dois canadenses.

E é então que tudo faz sentido. A imagem dos dois homens que
acabei de ver aqui na delegacia me vem à tona. Eles pareciam ser
pessoas conhecidas por mim, mas eu não me lembrei a tempo. Sim,
eles são os colegas de Luisa. Lembro de tê-los visto quando a
busquei na indústria, porém quase que não olhei para suas caras, já
que a minha repulsa era maior. Mas agora, posso dizer que estou
muito, muito aliviado. Apesar de amizade entre homens e mulheres
não existir para nós, Luisa ainda acredita nisso. Eles são seus
colegas, provavelmente ela só foi uma ingênua que achou que estava
tudo bem sair com dois homens bêbados por aí. Sim, ela foi uma
completa tola e inconsequente.

— Antes disso eles estavam numa boate conhecida — o delegado


acrescenta.

É aí que toda a minha compaixão se esvaiu como éter. Ela estava


numa boate, na merda de uma boate! Está óbvio qual era a sua
intenção para a sua noite de diversão. O nojo começa novamente a
aparecer, e quase posso sentir o gosto da bile na minha boca.
Novamente, estou decepcionado comigo mesmo por estar aqui por
uma mulher que não merece nem um pouco da minha atenção.

— Senhor Almir, entendo o porquê dela ter sido detida. Contudo,


entrarei com recursos. O senhor sabe, ela é estrangeira, além disso
ela só está aqui porque lhe dei a oportunidade.

— Sheik, te darei todo apoio necessário para que consiga ir para


frente com a defesa da detenta. Mas não vou mentir para o senhor,
o meu poder é limitado, e a lei é maior.

Aceno com a cabeça.

— Sim, eu sei e agradeço por seu apoio. Agora, se for possível,


gostaria de conversar com a mulher.
— Claro que sim, eu mesmo te levo até ela. A senhorita Jones ficará
aqui até à tarde de amanhã, quando será levada para a cadeia de
mulheres, até a decisão final do juíz dizer o tamanho da sua pena.

A menção de uma cadeia me faz sentir culpado por tudo isso. Luisa
sendo uma mulher promíscua ou não, eu sou também culpado por
ela estar nesta situação, já que fui eu que a trouxe para cá, pois o
meu desejo de tê-la falava mais alto. Olha onde a porra do meu pau
me trouxe, na merda de uma delegacia atrás de uma libertina. Só
Allah para me proteger de um possível escândalo iminente. Luisa
está em um quarto há poucos metros da sala do delegado. Quando
ele abre a porta, sou alertado de que devo chamá-lo quando for sair.
Depois de concordar, entro no local e fecho a porta atrás de mim.

A cena que vejo logo de cara é deprimente. Luisa está com um


vestido vermelho, curto e justo, com o cabelo despenteado. Ela está
de costas para mim, mas posso ver que está chorando, devido as
suas duas mãos estarem no seu rosto, com os cotovelos apoiados
nos joelhos. Ao ouvir os meus passos, ela se vira rapidamente para
mim. A sua primeira reação é de pânico, ela olha para o meu corpo
de cima para baixo com assombro. Eu já esperava por isso. Devido
à situação de hoje exigir que eu aja como o sheik que realmente sou,
estou vestido com as roupas tradicionais árabes. Não só a kandoora
branca, mas também o Ghtrah na cabeça, juntamente com o Igal.
Até mesmo nos pés uso o Na-al. Durante todo esse tempo, evitei
mostrar o árabe que há em mim, para não assustá-la, mas ela
perdeu essa mordomia depois que foi presa. A sua condição é pior
do que imagina, e o que menos me importa agora é agir como um
idiota ocidental que ela prefere.

— Ahmed? — ela questiona, hesitante.


— Sou eu — respondo friamente.

— Você está... diferente.

— Sim — respondo apenas.

Ela parece se tocar que o seu problema é outro e então ela engole
em seco e diz, à beira das lágrimas novamente:

— Eu não quero ser presa.

— Você era para ter pensado nisso antes de sair por aí com dois
homens bêbados grudados em você num país mulçumano — rosno.

— Mas eles eram meus amigos, eu não sabia que estava fazendo
algo errado!

A sua ignorância por falta de informações me deixa absurdamente


irritado.

— Você é idiota, garota?! Você está num país em que existe a


Sharia, você sabe o que é isso?! É proibido beber bebidas alcoólicas
na maioria dos lugares, mulheres não encostam em homens no meio
da rua, principalmente em dois bêbados e que não têm o seu
sangue! E para piorar, mulheres que transam antes de se casarem
correm o risco de serem torturadas! — esbravejo, com o sangue
fervendo.
Como que acordando para a realidade e percebendo o erro
absurdo que cometeu, ela começa a chorar, abertamente. Seus
olhos azuis ficam ainda mais brilhantes e expressivos, e a sua pele
clara torna-se rosada. Soluçando, ela balbucia algumas súplicas de
ajuda. Extremamente chateado, mas com pena da tola mulher
imatura, vou ao seu encontro, abraçando-a com carinho, protegendo-
a. Ela fica dura no começo, confusa, mas logo depois relaxa nos
meus braços. O que ela me diz em seguida é de partir o coração,
até mesmo o meu, que é difícil de ser tocado:

— Eles vão me torturar na cadeia, eu sei disso...

Luisa nunca me deixaria encostar nela dessa forma, não por agora,
pelo menos. Mas ela está tão desesperada, tão assustada... Ela
pensa que eu sou a sua salvação, e isso me traz uma pontada de
culpa. Não, baby, eu não sou a sua salvação, estou mais para a sua
perdição, foi por isso que te trouxe aqui. Mas tudo mudou agora, se
um dia eu conseguir tirá-la da cadeia, irei mandá-la de volta
imediatamente. Não serei capaz de lidar com a culpa que estou
sentindo, muito menos com o coração ferido de uma mulher que não
pertence a esse lugar.

— Não se preocupe, eu irei tirá-la de lá o mais rápido possível.

Ela balança a cabeça negativamente no meu peito.

— Isso não é o suficiente, eu já estarei quebrada até lá. Mesmo que


eles não sejam tão ruins comigo, eu serei quebrada. Não sou forte o
suficiente.
Suspiro fortemente, o que faz com que alguns dos seus fios
dourados saíam do lugar.

— Habibi, eu sinto muito, não há nada do que eu possa fazer a mais


do que já estou fazendo. Eu sou um sheik, mas não tenho
envolvimento com o Estado, eu não posso ir contra as leis do país.

— Mas você tem muita influência! Ahmed, eu te imploro, não me


deixe ir para lá!

Afasto-a de mim e muito seriamente falo:

— Luisa, farei o possível, mas esse possível será limitado. Como


disse, não tenho poder de Estado. Se você fosse algo para mim, se
fosse da minha família, talvez eu teria autoridade o suficiente para
reconhecer os seus erros como sendo meus e livrá-la de ser presa
devido ao meu nome, mas esse não é o seu caso. Você não
pertence a mim, nem a minha família, em nenhum sentido.

Ela acena, e uma lágrima grossa e solitária cai de um olho seu.

— Você está aqui há praticamente um mês, Luisa. Você estuda aqui,


tem internet e acesso às informações, deveria saber que as
mulheres se mantêm virgens até o casamento, que elas não se
relacionam com homens que não tenham o seu sangue e que
também não bebem bebidas alcoólicas. Se alguma delas fizer isso,
ela provavelmente será estrangeira, além de saber todos os truques
para que ninguém descubra.
— Mas eu não fiz tanta coisa errada como estão me acusando. Tudo
bem que eu bebi, mas foi só um pouco. Samuel e Lian são meus
colegas, nunca tivemos nada! Eu também não fiz nada na boate além
de dançar!

Olho para ela, não acreditando no que disse.

— Vai me dizer então que não fez nada com nenhum homem lá?

— Vou. Eu não fiz nada!

Continuo neutro, apesar de aliviado por saber que ela não é tão
libertina quanto imaginava.

— Certo, isso é um ponto positivo, mas não tem como provar todas
essas coisas, além disso as pessoas não querem provas. Tudo o
que importa é que te viram com dois homens bêbados.

— Ahmed, por favor, tem que ter um jeito de eu provar que não sou
promíscua como eles pensam... Olha, eu só tive um namorado na
vida, isso talvez quer dizer algo!

Olho-a surpreso.

— Você só teve um namorado? — questiono, cético.


Ela me fita, extremamente envergonhada. Mas não estou nem aí
para isso, o que eu quero saber é se ela está falando a verdade.

— Sim.

Franzo a testa, irônico.

— E quantos anos você tinha?

— Dezoito.

Ainda mais curioso, ansioso e incrédulo, faço a pergunta de um


milhão de dólares:

— Você se entregou para ele alguma vez?

Ela me olha mortificada, o seu rosto voltando a ficar vermelho. Ela


não responde. Irritado pelo seu mistério, ordeno:

— Responda!

— Não, eu não cheguei a esse ponto — fala, sem olhar nos meus
olhos.

— Você não chegou no ponto de se entregar para ele — afirmo,


exigindo confirmação.
— Sim.

— A que ponto você chegou? — pergunto, tão eufórico que quase


não consigo conter a minha alegria.

— Hum, você sabe, coisas de adolescentes...

Fecho a cara com o seu comentário.

— Não, eu não sei. Conte-me.

— Beijos, abraços...

Apesar da minha alegria, um incontrolável ciúmes e raiva começam


a ganhar vida.

— Ele viu você nua?

De repente, a sua expressão muda e ela passa de envergonhada


para raivosa em segundos.

— Eu já disse o suficiente, não vou contar mais detalhes da minha


vida pessoal e íntima!
Ergo a cabeça, autoritário.

— A escolha é sua, porém, se você não me der todos os detalhes


que eu preciso, não poderei fazer muita coisa para te livrar da
cadeia! — rosno.

Ela me olha assustada e volta à sua expressão ansiosa e tensa.

— Ele não me viu nua, apenas com lingerie.

Sorrio, vitorioso, apesar de, por outro lado, estar louco para acabar
com quem tenha a visto assim. Vou deixar isso para depois, no
entanto.

— Ótimo, Habibi, isso é o suficiente por agora. Creio que serei capaz
de te salvar, desde que você renuncie algo muito precioso para você.

Os seus olhos azuis mostram todo o seu medo de agora, como se


já esperassem pelo pior.

— E o que seria?

— A sua liberdade — falo, rouco.

Ela parece não entender.


— Não vejo como isso seria diferente de ir para a cadeia! —
reclama.

— Eu serei mais franco e verdadeiro do que eu jamais cheguei a ser


com você, Luisa. — Ela acena, nervosa, e eu continuo: — Se eu for
tentar te ajudar sem a sua renúncia que eu acabei de citar, eu não
irei conseguir te tirar da prisão com menos de quatro meses. Tenha
consciência de que o que você fez foi grave. Você é uma mulher,
estava em uma boate e saiu dela com dois homens bêbados na sua
cola. Você sabe muito bem o que estão pensando de você agora. Se
você não renunciar a sua liberdade, terá que encarar alguns meses
naquele lugar.

— E se eu renunciar? Como funciona isso?

— Aí então você nunca irá pisar naquele lugar, será para sempre
bem tratada, tendo tudo do bom e do melhor, sendo digna de todo
respeito que nunca teve.

Vejo o seu peito descer e subir rapidamente e, pela artéria pulsante


do seu pescoço, posso notar o seu coração disparado.

— Isso não faz sentido, você está me assustando, Ahmed.

Sorrio, apreciando o seu estado de vulnerabilidade e inocência.

— Não fique assustada, Habibi, eu nunca farei nada para te


machucar.
— Então seja mais específico!

Aceno, sério.

— Bem, se é isso que você quer, eu serei direto. Luisa Jones, até
pouco tempo eu nunca teria nada com você além de uma relação
rápida de amantes...

— O que você está dizendo?! — pergunta assustada.

— Mas... — continuo — se o que você me disse for verdade e se


você escolher esta opção, irei fazer de você a minha esposa, e você
nunca terá que se preocupar com cadeia, punição ou qualquer outro
problema na sua vida. Para sempre.

— Você está louco?! Eu não vou me casar com você!

Mantenho-me neutro, sem expressão.

— Então te desejo sorte daqui para frente. É claro que farei o


possível para te tirar o mais rápido possível, mas, como disse outras
vezes, não tenho participação no Estado, tudo dependerá do juiz e
outros oficiais.

Novamente, ela volta a chorar, como uma garotinha assustada.


— Não faça isso comigo, Ahmed! — suplica.

— Habibi, nem tudo está debaixo do meu controle.

Ela concorda, contrariada, em meio a soluços.

— Isso é tão injusto!

— A vida nunca foi justa — falo, docemente.

— Se eu casasse com você, no futuro você me daria o divórcio?

Fecho a cara, irritação voltando com tudo novamente. Ela percebe


o meu descontentamento e se afasta um pouco de mim no sofá.

— Isso estaria fora de cogitação, Luisa. Eu nunca me divorciaria da


minha esposa. Uma vez minha, para sempre minha.

Os seus olhos azuis se dilatam, e eu vejo a sua garganta engolir em


seco.

— Eu não te amo — ela fala, hesitante.

— Não se preocupe, o amor pode vir depois.


Ela não concorda, mas também não discorda. Ela só fica lá, me
olhando com os seus belos olhos azuis, que agora percebo que
escondiam uma inocência imensurável, digna de uma garota
indefesa. Suspiro, feliz e cheio de orgulho dessa mulher. Sendo o
mais cuidadoso possível para não assustá-la, ajudo-a a se levantar
do sofá. Ela, mesmo sem entender nada, faz o que eu quero.
Quando ela está de pé, com o seu rosto bonito borrado de
maquiagem, ajoelho-me aos seus pés, calçados com bonitas
sapatilhas douradas. Percebendo o que eu vou fazer, Luisa fica
tensa, com os lábios se separando em surpresa. Rapidamente pego
a sua delicada mão.

— Luisa Alcântara Jones, mesmo não estando com o seu anel


agora, irei fazer o pedido aqui mesmo, para que entenda a seriedade
dos meus planos para você. Habibi, você aceita se casar comigo e
ser minha mulher... — paro por um momento — para sempre? —
enfatizo.

Ela sorri, mas há tristeza nos seus olhos. No entanto, sei que será
por pouco tempo. Mesmo ela não sabendo, mesmo não acreditando,
ela será feliz ao meu lado, muito mais do que seria com qualquer
outro homem deste mundo.

— Eu aceito — ela responde, em meio a lágrimas.

Fecho os olhos, saboreando as suas palavras. Obrigado, Allah.


Capítulo 13

Ahmed Hamir

Depois de escutar a sua doce, mas triste afirmação, me levanto,


logo trazendo-a para os meus braços, abraçando-a de forma que ela
não tenha outra opção a não ser encostar a sua cabeça no meu
peito, para que escute o meu coração. Luisa é uma garota pequena,
não deve ter mais que 1,60 metro de altura. Em comparação
comigo, com 1,89, ela parece uma menininha indefesa, o que eu até
acho lindo, estou totalmente encantado por tudo que há nela. Luisa é
bonita como um anjo, mas valente como uma tigresa, e eu
simplesmente me sinto atraído por ambas as partes. Ela começa a
tremer, seu medo pelo o que está por vir fica bastante evidente.
Beijo a sua cabeça, para transmitir segurança, e logo um delicioso
cheiro de maracujá e baunilha penetra o meu pulmão. Céus, ela
cheira tão bem!

— Não tenha medo, Habibi, eu não vou deixar que nada de ruim
aconteça a você a partir de agora — falo, seriamente.

Ela se afasta de mim o suficiente para olhar nos meus olhos, e


então a imagem dos seus, azuis e brilhantes, faz a minha respiração
acelerar. Como uma mulher pode ser tão bonita?

— O que significa Habibi? — pergunta, curiosa.

— Isso depende. Pode significar "querida", mas também pode


significar "meu amor" — falo, com um meio-sorriso.

— Ah! — exclama.
— Não se preocupe, Habibi. A partir de hoje, para você sempre será
a segunda tradução.

Ela cora e então vira o rosto para outro lado, fugindo do meu olhar.
Pego o seu queixo e forço o seu olhar no meu novamente.

— O que foi? — pergunto, preocupado.

Ela parece abatida agora e diz:

— É só que, se eu soubesse o que iria acontecer comigo, eu nunca


teria vindo para cá, eu estaria neste momento nos Estados Unidos
com o meu pai ou no Brasil com a minha mãe, mas não aqui, eu com
certeza nunca teria pisado os pés aqui.

A dor na sua voz me deixa desarmado por alguns segundos. Reflito


as suas palavras por algum momento e então digo:

— Há coisas que podemos fugir e outras não. No seu caso, o destino


falou mais alto, e você veio para cá mesmo cheia de receios. Não
culpe o destino por algumas coisas ruins, Luisa, talvez Allah apenas
esteja querendo algo melhor para você no futuro, só que você ainda
não entende isso.

Ela balança a cabeça negativamente.

— Eu sinceramente não acredito em destino, em Deus sim, mas não


em destino.

— Acreditar em Deus é o suficiente, até porque em relação a mim


você não tem que se preocupar com o seu futuro, tudo o que eu
quero para você é o melhor.
— Eu não te entendo, Ahmed, nunca tinha imaginado que você queria
algo comigo. Para mim, eu era apenas uma recém-formada para
você.

Sorrio, ironicamente.

— Bem, você está enganada, minha querida, eu estou de olho em


você há muito tempo.

— O quê?! — exclama, assustada.

— Não se preocupe, não sou nenhum psicopata. Só porque desejo


você há algum tempo, não significa que eu iria te sequestrar ou te
obrigar a algo.

Ela me fita, em dúvida, e se afasta de mim, deixando-me


contrariado.

— O que você pretendia comigo?

Suspiro, irritado.

— Nada de mais. Você é uma mulher ocidental, eu sinceramente não


achei que fosse ter algo realmente sério com você.

Ela fica vermelha de irritação.

— Mas algo não muito sério você pretendia! — acusa.

— Ora, um homem pode sonhar! Não tinha nada sério em mente


porque achei que já era uma mulher vivida, mas tinha esperança em
ter algo com você, se você também quisesse, obviamente!
Luisa balança a cabeça em descontentamento.

— Eu sinto que você esconde muita coisa de mim.

Rio, realmente achando graça da sua desconfiança.

— Baby, eu sou um sheik herdeiro, com imensa fortuna, é claro que


tem muitas coisas que você não sabe, inclusive, a maioria delas você
nunca irá saber, para a sua segurança, é claro.

— Não foi isso o que eu quis dizer! Eu estava falando sobre


segredos que você tem e que eu estou no meio!

— Sim, tem coisas que você não sabe, mas são meros detalhes. O
que você deve guardar na sua cabecinha oca é que eu só quero o
melhor para você, Luisa. Saber disso já deveria ser o suficiente.

— Ah, é mesmo? E como vou saber que está falando a verdade?!

— Simples, é só esperar para obter a confirmação por si mesma. O


tempo diz tudo, não?

Ela não responde, está irritada, mas não tem muita opção de ser
contra mim por agora, então fica calada.

— Luisa, sei que é difícil, você está com medo, e eu te entendo


perfeitamente. Mas agora não é a hora de duvidar de mim, certo? Eu
sou a única pessoa que posso te ajudar.

Seu olhar sobre mim está desolado, mas ela assente mesmo
assim.

— Você promete que não vai me deixar ir para lá?


— Eu prometo. Você nunca irá para lá, Luisa.

Por último, dou-lhe um beijo rápido em sua testa e falo:

— Agora eu tenho que ir. Só tenho até à tarde de hoje para resolver
a sua situação, e logo irá amanhecer.

— Certo, até depois.

— Até logo, Luisa.

Depois disso, chamo o delegado Almir, que logo abre a porta para
mim, trancando Luisa sozinha novamente. Estou irritado por ela ter
que continuar aqui, mas ainda sim tento me lembrar que ela ficará
por apenas algumas horas a mais. Por ora, tenho muitos problemas
a enfrentar, e o pior deles não é o juiz de Luisa, e sim o meu pai. Ele
já sabe sobre ela e não aprova a nossa relação, meus irmãos
também não. Mas a situação é diferente agora, eles estavam certos
em discordar, tudo indicava que ela era como qualquer outra mulher
ocidental, liberal e vivida demais. Mas agora tudo mudou,
absolutamente tudo. Luisa é inocente, uma moça ainda, eles não
podem simplesmente ser contra agora, nem mesmo o meu povo. Se
o meu pai pôde se casar com a minha mãe, então eu também posso
me casar com Luisa. Tudo bem que a minha mãe tinha mais pontos a
favor. Ela nunca teve um namorado e gostava da cultura do país,
enquanto Luisa já teve um, mesmo que na adolescência, e não gosta
de nada da nossa cultura. Tudo será mais complicado, admito, mas
nada que eu não possa consertar. Saindo da delegacia, logo ligo
para Juan. Ele rapidamente atende, mesmo sendo tão cedo:

— Sheik Hamir?

— Juan, eu sei que ainda é muito cedo, mas preciso que prepare o
helicóptero, o mais rápido possível.
— Certo, sheik, já vou ir para a empresa então. Te espero na pista
de pouso e decolagem?

— Sim.

— Okay, até logo, sheik.

Assim que desligo a chamada, entro no meu carro, pronto para ir


exatamente para lá.

∆∆∆

Quando chego no castelo Jasmim, facilmente encontro o meu pai


no seu escritório, já acordado. Ele sempre acorda muito cedo, assim
como eu e os meus irmãos. Assim que me vê, logo larga o notebook
que estava mexendo.

— Ahmed, filho, você aqui numa hora dessa? O que houve?

Bem, realmente não é normal eu vir para cá antes de amanhecer


totalmente, na verdade, só venho aqui no fim da tarde, quando
termino o meu trabalho em Dubai.

— Sim, houve algo, e preciso falar sobre esse assunto com o


senhor.

O sheik franze a testa, os seus olhos sagazes me encarando.

— Comece a falar — ordena, em tom grave.


Eu não hesito em falar, o meu pai me conhece muito bem, sabe
quando algo sério está por vir. No entanto, mesmo sendo o dono da
minha própria vida e das minhas escolhas, sempre peço pela opinião
ou a benção do meu pai. Ele é mais velho, tem mais experiência,
quer o melhor para sua família, então por que eu rejeitaria a
presença do meu pai na minha vida? Jamais. É claro que discutimos
muito, já que muitas vezes temos opiniões distintas, mas nada do
que muito diálogo não resolva.

— É sobre Luisa — digo, indo direto ao ponto.

— A mulher que você quer como amante — fala, em tom acusador.

— Sim e não. É essa mesma mulher, mas eu não a quero mais como
minha amante.

O meu pai fica tenso, sabendo que algo está por vir.

— O que você está planejando, Ahmed? Você já sabe a minha


opinião sobre essa mulher.

Aceno.

— Sim, eu sei o que o senhor pensa dela, e era o que eu também


pensava, mesmo que em menor proporção.

— Pensava? — ele rosna, nervoso.

— Sim, pensava, pois já não penso mais.

— Eu achei que já tínhamos encerrado este assunto, que já tinha


entendido que essa mulher não é para você, e que o tempo de ter
amantes acabou!
— Não, pai, você está errado em parte do que acabou de dizer. Sim,
acabou o meu tempo de ter amantes, mas Luisa é sim a mulher para
mim.

De repente, o meu pai se levanta, irado, e com os olhos em fúria.

— Que inferno você está querendo dizer, Ahmed?! Está querendo


envergonhar o nome Hamir e o seu título de sheik, é isso?!

— É claro que não, eu jamais farei isso! — digo, irritado.

— Então que diabos você está fazendo que ainda não largou essa
mulher?! Uma ocidental totalmente contaminada!

— O senhor está errado, pai, e é por isso que estou aqui! Luisa não
é o que o senhor pensa que ela é e nem o que eu também pensava!
— falo, no mesmo tom que o dele.

Os olhos escuros e furiosos do sheik me fitam com indignação.

— Por Allah, nunca pensei que o meu filho fosse se apaixonar tanto
por uma qualquer ao ponto de ser enganado!

Pela primeira vez, sinto ódio por algo que o meu pai disse.
Absolutamente irado, digo, em tom grave e ameaçador:

— Pai, eu te respeito muito, mas eu não aceito que se refira a Luisa


dessa forma ou qualquer outra parecida novamente.

Como que em choque, ele fica calado, espantado com a minha


reação, mas com enorme raiva.

— Ahmed, o que há com você? — pergunta, cuidadoso.


Suspiro, chateado com o rumo da discussão.

— Eu estou bem, pai. Só estou tentando te dizer, neste tempo todo,


que Luisa é sim digna de ser minha esposa.

O sheik me analisa criteriosamente, tentando enxergar além do


superficial. Sua expressão é descontente, mas em tom neutro
pergunta:

— E por que motivo ela seria digna, Ahmed?

— Luisa ainda é inocente.

O sheik me olha surpreso, sem saber o que falar.

— Você tem certeza disso? Mas antes você estava considerando em


tê-la como amante!

— Sim, eu tenho. E, bem, eu não sabia disso tampouco até algumas


horas atrás.

— Como você tem tanta certeza?

— Ela mesma me disse.

— E por que ela te diria isso?

Fico um tempo calado.

— Eu irei falar sobre isso em breve, mas por ora eu queria saber se
tenho a sua benção.
— Eu não sei, Ahmed, eu não a conheço. Além disso, você sabe que
o povo esperava que você fosse escolher alguém do nosso meio.
Estou preocupado.

— Pois não deveria. O senhor me conhece, pai, não me casaria com


uma mulher errada, sou racional demais para isso. Sobre o nosso
povo, eles também queriam que você se casasse com alguém do
nosso meio, mas, quando conheceram Ester, viram que ela era digna
de você.

— Ahmed, não compare Luisa com a sua mãe. Você não teve
contato com ela o suficiente para saber se é digna disso — meu pai
diz, irritado.

— Não estou a comparando com a minha mãe, só estou dizendo que


Luisa poderá ser bem aceita também quando o nosso povo ver quem
ela realmente é.

— O maior problema é que nem você sabe quem ela é, Ahmed!


Você a conhece há quanto tempo, um mês?

E não é que ele acertou? Pelo menos na questão de nos


conhecermos pessoalmente.

— O senhor decidiu que teria a minha mãe no momento em que a


viu. Você a sequestrou com o quê, uma ou duas semanas?

Ele fica vermelho de raiva.

— Só porque eu fiz algo assim e deu certo, não significa que dará
certo para você casar-se com uma mulher que mal conheceu! Além
disso, aquilo não foi inteligente da minha parte, foi mais por uma
questão de não ter escolha.
— Eu confio nos meus instintos.

— É isso que me preocupa! Confie mais nos fatos!

— Quem disse que não confio? Luisa é pura, já é fato o suficiente


para mim!

Tariq resmunga, nervoso.

— Por Allah, você é tão difícil quanto a sua mãe quando acredita em
algo!

— Eu não sei não, viu? — Finjo estar em dúvida. — Acho que essa é
uma característica sua, ou seria dos dois?

— Na época que encontrei a sua mãe, eu não agia igual um camelo


apaixonado como você!

— A sua esposa diz outra versão!

Ele suspira, exasperado.

— Ahmed, eu vou falar bem sério agora: você sabe o que é ter uma
esposa? Não! Mas eu vou te dizer, funciona assim: não importa que
merda aconteça, você não poderá simplesmente desistir de tudo e
procurar outra. Um sheik Hamir só tem uma esposa, por isso pense
muito bem antes de se casar com alguma mulher.

— É claro que eu sei disso, o senhor acha o quê, que estou apenas
brincando de casamento com Luisa?!

— Eu não sei de nada, e é por isso que estou preocupado!


— Pois então não se preocupe, não sou nenhum adolescente cheio
de hormônios e vento na cabeça. E, apesar de estar há algum tempo
sem, tive mulheres o suficiente para saber quando elas são vadias.

— Eu espero que sim — fala, insatisfeito.

— Ótimo, agora só preciso da sua benção, pois a minha decisão já


está tomada.

— Eu te darei a benção que você tanto quer, mas não se esqueça,


como dita a tradição, você terá que reunir o conselho para falar da
sua decisão e, se a maioria não concordar, isso será um grande
empecilho para você.

— Eu irei lidar com isso em breve. Agora, quero a minha benção.

O sheik, ainda insatisfeito, mas conformado, se aproxima de mim.


Quando está perto o suficiente, coloca a sua mão sobre minha
cabeça e diz, como pede a tradição dos sheiks Hamir, que ainda tem
pais, no momento que escolhem as suas esposas:

— Que Allah abençoe o seu noivado e que esteja com vocês e os


seus descendentes que virão.

Quando se afasta, ele me olha com os olhos apertados.

— Satisfeito?

— Ainda não — falo.

— Como que não? — questiona, intolerante.


— Ainda preciso da sua ajuda. Agora que já tenho a sua benção,
posso falar o que é. Luisa está presa, numa delegacia, e preciso do
senhor para me ajudar a impedir que ela seja enviada para a cadeia.

O meu pai não demonstra nenhuma reação por alguns segundos,


mas depois ele grita, o suficiente para intimidar qualquer um que
estivesse de fora:

— Que porra você tem na cabeça, Ahmed?!


Capítulo 14

Ahmed Hamir

Depois de ter explicado rapidamente o que, de fato, aconteceu com


Luisa, meu pai fala, exasperado:

— Será que você não podia ter escolhido uma mulher normal,
Ahmed? Tinha que ser uma tão problemática?! Está na cara que ela
não pertence ao seu mundo, a garota é extremamente liberal!

— Sim, tinha que ser ela. Sobre ela ser "extremamente liberal", o
que eu não acho que seja tanto, eu vou mudar isso, em breve.

Meu pai ri, sem humor.

— Não seja inocente, Ahmed, domar uma mulher é mais difícil que
um cavalo selvagem.

Bufo, irritado com o pessimismo do meu pai.

— Talvez você não seja tão esperto então. Para domar uma mulher,
só é necessário de um pouco de inteligência.

— Por acaso você está insinuando que sou burro, Ahmed?! — meu
pai rosna.

— Não. Eu não ousaria — respondo, irônico. — Só estou dizendo


que o senhor foi pelo caminho mais difícil, e mais típico de um sheik
árabe, tomou a minha mãe para você, simplesmente assim. Eu
acredito que tenha uma forma mais fácil, uma que elas aceitam mais.
Admito que é um jeito bem mais ocidental e nada animador, mas
funciona.

O rosto do sheik está mortalmente incrédulo.

— Por Allah, e não é que Ester conseguiu o que ela queria? O meu
filho parece mais um ocidental do que um árabe!

— Eu nunca serei mais ocidental do que árabe — falo, seriamente.

— Mas é o que todo mundo está vendo! Você não está agindo como
um sheik, Ahmed, e sim como um empresário tipicamente americano,
ou até mesmo europeu!

— Só porque, às vezes, parece que eu sou assim, não significa que


sou. Ajo, na maioria das vezes, como um americano ou europeu,
como você mesmo disse, porque é mais vantajoso para mim, para os
negócios e muitas outras coisas. Você é um sheik em exercício da
sua função, mas eu sou o sheik herdeiro, então o meu trabalho não é
com o nosso povo, pelo menos não ainda. O meu trabalho é com a
empresa e com o mundo, pai. Obviamente, você também trabalha
com o mundo por meio da empresa, mas em menor proporção.

Meu pai me encara, revoltado.

— Eu não concordo com isso, Ahmed, e, sobre a sua mulher, espero


que consiga domá-la. Como o futuro sheik Hamir, você irá precisar
de uma sheika e esposa de verdade, não uma fazedora de
problemas.

Aceno em concordância.

— Não se preocupe, eu irei fazer isso. Como já disse, não será


difícil, é só agir com alguma astúcia.
Ele concorda, contrariado.

— Estarei de olho no resultado. Agora, sobre a prisão da sua mulher


inconsequente, não será muito difícil tirá-la da merda que se meteu.
Agora que ela está sob a nossa proteção, o juiz não irá para frente
com a pena dela. Vou pedir para Juan descobrir quem ele é e o seu
número e eu mesmo irei ligar para ele.

— Eu agradeço por isso, pai. Só faça isso o mais rápido possível,


pois logo nesta tarde Luisa será enviada preventivamente para a
cadeia.

O sheik me fita, irritado.

— O que um camelo apaixonado não faz pela mulher dele, huh?

E então logo depois ele ri, me surpreendendo.

— Mas eu até que te entendo, Ahmed. Apesar de você estar agindo


como um ocidental, o que eu não concordo, eu também fiquei louco
quando vi Ester e faria a mesma coisa por ela. Mas a diferença é
que ela não era louca como a sua mulher! — Ele azeda o tom no
final.

— Luisa não é louca, apenas inocente e inconsequente. Ela só se


esqueceu de que as leis daqui são totalmente diferentes das do país
dela.

— Ela é brasileira e norte-americana, não é?

— Sim.
— Ela é dos dois países mais liberais que conheço!

— A minha mãe é brasileira — rebati.

— Sim, mas só brasileira. Agora, norte-americana, você sabe quanto


trabalho você terá para mudar a mente dela?

— Eu dou conta — falo, apenas.

— Eu torço para que sim. Enfim, estamos perdendo tempo, então


vamos simplesmente resolver o nosso problema de hoje.

Ele pega o seu smartphone e, depois de esperar alguns toques,


diz:

— Juan, indo já ao que interessa, preciso de serviços mais


especializados hoje. — Ele escuta algo e responde: — Sim, o
trabalho de Naim será bem-vindo.

∆∆∆

O título de sheik que o meu pai e eu temos foi o que salvou Luisa.
Depois da ligação que fizemos para o juiz que tem o caso dela e
explicarmos o que aconteceu e o que ela é para a família Hamir, o
juiz prontamente atendeu ao nosso pedido de "perdoar" o erro dela.
Obviamente, o seu caso ainda será julgado, porém ele garantiu a sua
liberdade. Enquanto isso, o delegado será autorizado a deixá-la em
liberdade, e um ótimo advogado, indicado pelo próprio juiz, irá
defender Luisa no seu julgamento que será daqui a três dias.
— Vou ser sincero, sheiks, se a mulher não fosse fazer parte da
família de vocês, eu não poderia fazer muita coisa. A lei é a lei.
Agora, já que ela já está noiva do sheik Ahmed, e ele que a trouxe
para cá, ela terá o seu caso perdoado. Porém, é necessário que o
casamento seja feito o quanto antes, para que não haja reviravoltas
— o juiz Mustafá tinha dito, há algum tempo.

Ou seja, Luisa nem imagina a sorte que ela tem. Eu querê-la para
mim foi a sua salvação. Em relação aos seus amigos, eles também
serão perdoados, mas serão expulsos do país. Por causa de Luisa,
eu irei dar a eles o privilégio de não ir para a cadeia, mas isso é só.
Eu não sou bonzinho com quem se mete no caminho da minha
família. Foram eles que colocaram Luisa em perigo e, por mais que
sou grato por isso, já que só assim fui descobrir quem realmente ela
é, eu também não suporto pensar nesses homens, que poderiam ter
feito da vida da minha mulher um inferno se eu não estivesse do seu
lado. Além disso, a partir de hoje, Luisa será proibida de ter amigos
homens, eu não quero saber de mais nenhum ser do sexo masculino
perto da minha mulher, não irei permitir. Como minha esposa, os
únicos homens que ela terá contato são os da minha família.

Luisa será livre de qualquer punição, mas em troca era irá perder a
liberdade de quando era solteira. Nada de homens, nada de viajar
sozinha, vestir o que quiser, fazer o que quiser... Sua vida será
totalmente diferente agora. Eu posso ser mais tolerante do que o
meu pai com a minha mãe, porém não tanto a mais assim. Quando
se trata da minha esposa, sinto a necessidade de ser o mais
conservador e primitivo possível. Ela é minha, e eu irei provar isso.
Luisa terá que aprender a ser a esposa que eu preciso, a esposa de
um sheik árabe. É necessário que ela aprenda a ser obediente a
mim, submissa em alguns momentos e também a mãe dos meus
filhos, além de uma respeitável sheika para o meu povo. São muitas
as qualidades que Luisa irá precisar, mas eu sei que ela irá conseguir
todas. A melhor forma de conseguir o que eu quero dela é não a
obrigando a nada, e sim a convencendo de que o que eu tenho em
mente para ela é a melhor opção. E é verdade, tudo o que eu
imagino para Luisa é o melhor possível, ela só não sabe ainda.

Durante as várias horas que se passaram desde que encontrei


Luisa na delegacia, fiquei me perguntando sobre como eu pude
pensar que ela era inadequada demais para mim, vivida demais... Eu
deveria ter investigado mais da sua vida antes de tomar qualquer
atitude, fui muito inconsequente. O meu pai, por mais que eu o ache
exagerado, ele fez questão de pesquisar toda a vida da minha mãe
antes de traçar os próximos passos. Eu deveria ter feito o mesmo.
Agora, porque eu não fiz, julguei Luisa erroneamente e a expus ao
perigo, mesmo que indiretamente. Trouxe-a para cá com intenções
que hoje me deixam envergonhado comigo mesmo. Tratei uma
garota inocente como uma mulher já madura e vivida o suficiente
para aceitar algo puramente sexual e momentâneo. Dou graças a
Allah que descobri que Luisa é pura antes que eu tivesse tomado
passos mais largos e até mesmo irreversíveis. Sendo virgem, seria
questão de pouco tempo para que eu a seduzisse ao ponto de ela
mesma querer que eu a levasse para a cama. Virgens são muito
mais suscetíveis a serem conduzidas pelo desejo, já que não têm
controle e nem experiência com ele. Elas são inocentes demais, se
deixam levar, na maior parte dos casos, com muita facilidade, se
estiverem apaixonadas.

Pelo o que eu sei de Luisa, ela é reservada demais e muito fechada


para me dizer que é virgem caso um dia quisesse se deitar comigo,
isso no futuro, é claro, e se as coisas estivessem correndo como
estavam. Provavelmente, quando estivesse apaixonada o suficiente,
não iria me dizer nada sobre isso. Talvez a sua virgindade nem
mesmo signifique muito para ela. A pureza não quer dizer muita coisa
para a maioria das mulheres de hoje. Portanto, provavelmente, eu só
iria descobrir quando fosse tarde demais, e aí eu me sentiria culpado
por isso pelo resto da vida. Obviamente, iria me casar com ela
depois disso, mas seria um processo muito mais complicado, já que
eu teria deixado claro para ela durante todo o tempo que nada muito
além de um relacionamento temporário iria acontecer entre a gente,
e então, quando fosse exigir um casamento, ela provavelmente iria
se assustar e recusar, o que tornaria a minha situação muito mais
complicada.

Se ela não aceitasse, teria até mesmo que tomar uma atitude
radical, como forçá-la a isso, pois não teria outra opção. Um sheik
Hamir nunca tira a virgindade de uma mulher que não seja a sua
esposa. Se eu ferisse a sua honra de uma forma tão absurda como
essa, eu teria que dar um jeito de consertar o máximo possível.
Também teria que reunir o conselho para explicar toda a situação.
Ou seja, tudo seria traumático demais para Luisa. Logo, estou feliz
que isso não aconteceu, graças à atitude idiota dela que a colocou
numa delegacia. Ela nem imagina do que acabou de se livrar.

Agora, com a verdade disponível, posso impedir que esse desastre


aconteça e ainda fazer as coisas acontecerem da maneira certa.
Luisa terá um magnífico casamento, digno de tudo que ela nunca
nem mesmo sonhou, e uma noite de núpcias humanizada, sem ser
violada por um homem que a considere já experimente. Ou seja,
essa madrugada evitou que ambos tivéssemos um casamento às
pressas, com uma noiva em desespero e confusa, e um noivo
tomado pelo remorso. Mas, graças a Allah, isso ficará na lista do
"se", pois jamais irá acontecer. Farei tudo da maneira certa, sem
cortar etapas, para que Luisa não tenha nenhum trauma ou
constrangimento. Ela não merece menos do que isso.

Neste momento, eu, o meu pai e Juan acabamos de chegar na


delegacia, depois de termos acertado tudo o que era necessário, por
enquanto, para podermos tirar Luisa daqui. O delegado, quando nos
vê, nos cumprimenta respeitosamente, já a par dos acontecimentos.

— Sheiks, eu já avisei à moça sobre a sua liberdade. Sobre os


rapazes, eles foram enviados para casa, com liberdade limitada, até
que o caso deles seja julgado após o da moça, daqui a três dias.
— Certo, obrigado por acertar os detalhes, Almir. Agora, sobre
Luisa, ela já está liberada? — pergunto, impaciente.

— Está sim, sheik Ahmed. Posso buscá-la, se o senhor quiser.

— Não é preciso, eu mesmo vou até ela — falo. — Eu serei rápido,


pai — digo, em um claro sinal de que quero um tempo a sós com
Luisa.

— Certo — o sheik diz, somente.

O delegado então pega as chaves e me acompanha até o quarto


de Luisa. Quando ele abre a porta, se afasta, sem se dar o trabalho
de fechar depois, já que Luisa não é mais obrigada a estar aqui.
Quando ela me vê, logo as primeiras lágrimas descem pelo seu rosto
cansado e abatido. Me aproximo dela no mesmo instante e seguro o
seu rosto com as minhas duas mãos.

— Você não tem mais por que chorar, Habibi, eu já vou te tirar daqui
— falo, suavemente.

Ela assente.

— Mas em compensação eu perdi a minha vida — fala, amargurada.

Seguro o seu queixo, com firmeza, com os meus olhos fixos nos
dela.

— Você não perdeu a sua vida, Luisa, só ganhou outra, uma muito
melhor, eu prometo. Pode ser que você não acredite ainda, mas com
o tempo verá que eu falo a verdade.
Ela se mantém em silêncio.

— Eu vou levar você para Fujairah, um emirado próximo, é onde eu e


a minha família moramos.

Ela estremece e se afasta de mim.

— Isso é necessário? Eu não te conheço direito, Ahmed, muito


menos a sua família. Eu estou com medo — confessa.

— Sim, é necessário, porque eu não vivo aqui, tenho casas aqui,


mas ainda sim não moro aqui, e é perigoso te deixar muito tempo
sozinha. Você não deve ter medo de mim e da minha família, nós não
somos pessoas ruins, Luisa, só iremos te proteger.

— Eu não sei mais o que pensar, Ahmed. Não sei mais no que
acreditar, no que esperar... Eu só queria que isso fosse apenas um
pesadelo e que eu fosse acordar em breve — fala, em meio a uma
confusão de lágrimas e soluços.

Sinto uma pontada de empatia por sua dor e então a tomo nos
meus braços, novamente a protegendo.

— Você não tem que se preocupar com nada, Habibi, nem pensar
em nada, não é mais necessário. Eu cuidarei de tudo. Sei que é
assustador confiar em um homem que você não conhece muito, mas
você irá precisar confiar em mim. É a única maneira de se manter
em paz.

— Eu não acho que eu consiga fazer isso — diz, amargamente.

Suspiro, chateado, mas também irritado.

— Então apenas tente.


Sem esperar a sua resposta, pego os seus braços e a ajudo a se
levantar.

— O meu pai está aqui também. Ele me ajudou a te tirar daqui. Ele
também está vestido como eu, mas você não tem que se sentir
assustada e nem intimidada com o jeito dele, Luisa. Ele é um sheik e
pode parecer um pouco intimidante, mas isso é só, o meu pai não vai
ser ruim com você.

Os seus olhos estão arregalados, e ela realmente parece nervosa.


Reviro os olhos, exasperado. Nada a assusta mais do que um árabe
com roupas tradicionais. De onde será que vem o seu medo tão
bobo? Talvez esteja escutando besteiras demais.

— Então, pronta para sair daqui?

Ela assente, ansiosa, e com o olhar ainda em pânico. Coloco uma


mão em suas costas e a conduzo até a saída. Assim que
encontramos com o meu pai e Juan conversando com o delegado,
sinto o seu corpo recuar, porém insisto para que ela continue
andando, até estarmos de frente para todos. Assim que o meu pai a
vê, ele rapidamente faz uma inspeção rápida sobre Luisa,
extremamente crítico. Luisa se sente desconfortável e fica tensa ao
meu lado. O meu pai não parece satisfeito com o seu vestido e,
merda, eu também não estou até agora. Não vejo a hora de colocar
outra coisa mais decente sobre a sua bonita pele. Me irrita saber
que ela saiu tão ridiculamente descoberta assim. Mas me consolo
com o pensamento de que essa é a última vez que ela usa algo tão
horrível assim.

— Então você é a Luisa — meu pai fala, educadamente. — Eu sou o


sheik Tariq Hamir. Muito prazer, senhorita Jones.
Eles trocam um aperto de mão, e Luisa parece ficar ainda mais
tensa. Céus, por que ela está com tanto medo?

— Hum, é um prazer também, sheik Hamir — fala, timidamente.

Meu pai lhe dá um meio-sorriso gentil e então se vira para mim,


sério e não muito feliz.

— Então vamos? — questiona.

Olho para Luisa fixamente, tranquilizando-a. Pego a sua mão em


um aperto firme e então falo, para todos:

— Sim, chegou a hora de irmos para casa.


Capítulo 15

Luisa Jones

Eu ainda não consigo acreditar completamente no fato de que isso


está realmente acontecendo. Em um prazo de pouco mais de cinco
horas, eu fui presa na delegacia, condenada a uma prisão de
mulheres nos Emirados Árabes Unidos, com direito a um julgamento
que eu certamente perderia e ficaria pagando pena por,
provavelmente, no mínimo, seis meses. Como se não bastasse, há
boatos de que as mulheres são torturadas lá. Eu sinceramente não
consigo ver nenhuma lógica no que aconteceu e ainda está
acontecendo comigo. Eu sabia que as leis daqui são estranhas,
sabia da Sharia, mas, ainda assim, não sabia que isso poderia
chegar a tanto! Como que estar embriagado em público é proibido,
mas ir numa boate e encher a cara não é?! Então você pode se
matar de beber, desde que ninguém de fora veja? Ah, e as mulheres
não podem andar com homens desconhecidos a tocando de alguma
maneira, mas elas podem fazer isso o quanto quiserem se for em
uma boate? Quanta hipocrisia, nada faz sentido neste país! O ódio
que eu estou sentindo por este lugar quase me faz engasgar com ele
próprio. Maldito foi o dia que eu pisei o pé aqui. Se arrependimento
matasse, o meu corpo já estaria em decomposição. Essa é a
verdade.

No meio de toda essa merda, na verdade a pior que já me meti em


toda a minha vida, se não fosse o homem que eu mais desconfiava
para me salvar, eu me quebraria em mil e um pedaços na prisão.
Como que um homem como Ahmed se disporia a me ajudar tão
abertamente assim, isso em troca de um casamento? Não faz
sentido. Ele sempre foi muito educado comigo, e às vezes, quase
nunca, deixava transparecer que queria algo mais íntimo, mas isso é
tudo. Eu nunca, em hipótese alguma, pensaria que um sheik bilionário
das Arábias quisesse algo tão sério comigo como é o caso de um
casamento. O que ele tem na cabeça? Eu sou só uma mulher normal
e de classe média, por que ele iria me querer? Porque assim, agora
está absurdamente claro que ele me quer. No entanto, um sheik
nunca iria sacrificar a sua liberdade de solteiro para salvar uma
quase desconhecida, principalmente pelo fato de que, no caso de
Ahmed, ele só pode se casar uma vez. Ou seja, o que Ahmed está
fazendo não faz sentido, e isso me deixa preocupada, aflita e a ponto
de sofrer um ataque cardíaco. Eu nunca imaginei que o meu
casamento seria simplesmente uma forma de me salvar de uma pena
de prisão, nunca, em hipótese alguma.

Mas aqui estou eu, ao lado de um homem que até pouco tempo
seria só o meu chefe, mas que agora será o meu marido, sendo que
eu nem mesmo sei o que ele gosta de fazer, o que não gosta, se
temos coisas em comum... Mas não, isso não foi necessário, não
quando eu estava presa numa delegacia, pronta para ir para um
lugar pior ainda. Eu estava desesperada, aceitaria qualquer proposta
para sair de lá. E então Ahmed me oferece um casamento... Agora,
não paro de pensar nos impactos que isso terá sobre a minha vida.
Nunca mais terei um namorado, uma vida normal... Quando os meus
pais souberem disso, eles ficarão desesperados, e é por isso que
não vou contar para eles, pelo menos não agora, e ainda sim,
quando contar, não será a verdade completa. Daqui um tempo,
quando eu própria souber com o que estou liderando, darei um jeito
de contar uma história mais fácil de engolir, talvez uma como: "Então,
pai e mãe, não tem o sheik Ahmed, dono da empresa que você, pai,
trabalha? Nós estamos apaixonados e já nos casamos! Foi tudo
muito rápido, sinto muito".

Como eu vou explicar para a minha família e amigos o que está


acontecendo comigo se nem mesmo eu sei? Impossível. Primeiro, eu
preciso descobrir o meu destino. Mas, por enquanto, tudo o que eu
sei é que vou me casar com um homem que não amo e que, por
sinal, é um sheik árabe do Oriente Médio. Não posso negar que
Ahmed é bonito, muito, muito bonito. A sua beleza é muito exótica,
uma mistura de olhos verdes com pele morena e cabelos escuros.
Às vezes ele parece ocidental, às vezes oriental, é uma confusão
para a minha cabeça. Mas isso é muito sexy, não posso mentir, mas
também é intimidante. Entretanto, não acho que terei problemas em
me sentir atraída fisicamente por ele, pois na verdade eu já me sinto
desde a primeira vez que o vi, contudo a minha desconfiança sobre
quem ele realmente é era maior, e então eu sempre recuava. Eu
ainda tenho muita desconfiança, não sobre o caráter de Ahmed, isso
não mais. Ele já me mostrou várias vezes que tem boa índole.

Mas há algo que eu ainda me sinto com o pé atrás: sua vida. Eu


sempre tenho um pressentimento de que ele esconde um mundo
paralelo atrás de si. Através dos seus olhos, eu vejo tanto mistério, e
isso me deixa preocupada. Nem sempre as surpresas são boas,
principalmente vindas de um homem com uma cultura tão... diferente.
Como se não bastasse eu já estar criando inúmeras histórias
horríveis na minha cabeça, o pai de Ahmed, o sheik Hamir, quando
me viu, o seu olhar parecia querer perfurar a minha alma e ler os
meus pensamentos. A sua expressão de descontentamento quando
me olhou me deixou nervosa ao quadrado. Um simples olhar seu, e
eu já estava louca para sair correndo. Céus, como que uma brasileira
foi capaz de se casar com ele? Ele me parece assustador demais
para um marido.

— Luisa, você está bem? — Ahmed me pergunta, enquanto me


ajuda a sair do helicóptero.

Os meus pensamentos estão tão distantes do mundo real, que eu


nem mesmo vi quando chegamos a Fujairah e pousamos no castelo
da família de Ahmed. Vi rapidamente o quão grande a construção
parecia, mesmo de cima, mas isso é só, o meu cérebro apagou
todas as imagens que os meus olhos fingiam ver. Respiro fundo por
dois segundos e me concentro em Ahmed me estendendo a mão. Eu
a pego e logo em seguida estou no chão, a sua mão circundando a
minha cintura. Fico um pouco tensa com o seu toque, mas não falo
nada.

— Você ainda não me respondeu, está acontecendo algo? — ele


pergunta novamente.

— Não, eu estou bem, apenas estou achando tudo diferente.

Ele acena, os seus olhos verdes-escuros preocupados.

— Não se preocupe com a minha família, Luisa. O meu pai é um


pouco... exigente. Mas isso é porque você acabou de chegar. Logo
você vai ver que ele é um bom homem. Na verdade, acredito que
você vá gostar da minha mãe e da minha irmã, então não pense que
não terá ninguém para conversar — ele fala, seu tom de voz mais
suave quando cita as mulheres da família.

Dou um meio-sorriso nervoso e aceno. Contudo, os seus olhos logo


se desviam de mim para além do meu campo de visão.

— Falando nelas, já estão vindo para cá — fala, divertido.

Me viro para onde ele está olhando e então eu vejo duas mulheres
andando em nossa direção. Quando se aproximam o suficiente, fico
espantada em como são bonitas. A senhora, mesmo mais velha, é
tão bonita que é impossível não notá-la. Ela tem cabelos negros,
pele clara e olhos muito verdes. Logo sei que é a mãe de Ahmed. A
outra, uma mulher jovem, não parecendo ter mais que dezenove
anos, é o oposto da mãe, exceto pelos olhos verdes, que parecem
com os de Ahmed, o que obviamente é uma herança da mãe. Mas,
exceto por essa parte, ela parece o sheik Hamir, tem pele morena,
cabelos longos, escuros e longos e é de estatura alta, provavelmente
com pouco mais de 1,70 metro de altura. Céus, por que essa família
é tão bonita? De repente, elas já estão na nossa frente. A mãe de
Ahmed rapidamente vai até o filho e o abraça. A irmã, por sua vez,
me cumprimenta com um aperto de mão, curiosa e observadora.
Ahmed logo me apresenta:

— Mãe e Jade, esta é Luisa, a minha noiva.

A mãe de Ahmed olha preocupada para mim e para o filho.

— Então o que o seu pai disse era verdade? Você está noivo, de
repente?

— Eu já conhecia Luisa há um tempo, mãe, só não te falei. Não se


preocupe que eu vou explicar tudo depois.

A mãe concorda, apesar da preocupação continuar estampada no


seu rosto, e vem até a mim, me surpreendendo com um abraço.

— Eu não sei o que está acontecendo entre vocês, mas saiba que é
um prazer te conhecer, Luisa. Eu sou Ester, mãe de Ahmed, e quero
que você se sinta parte da família a partir de hoje.

Um pouco surpresa e muito tímida, falo:

— Hum, obrigada, senhora Hamir.

Ester fecha a cara.

— Nada de senhora Hamir, você pode me chamar de Ester, é o meu


nome.

Sorrio.

— Okay.
— Olha, Luisa, confesso que estou aliviada, viu? Quase achei que
Ahmed fosse se casar com Jamile, uma mulher que é filha de um
membro do conselho. Ela não saía da cola dele, você acredita? E eu
não a suporto! Estou supercontente que ele não fez uma merda
dessa.

— Jade! Pare de falar! — Ahmed rosna, nervoso.

Eu, porém, estou confusa devido às palavras de Jade. Ahmed tinha


uma pretendente ou algo assim? Onde eu me encaixo nisso?

— Ih, não venha dar uma de noivo estressado não, Ahmed. Luisa
agora é da família, e você tem que entender que quero conversar
com ela sobre tudo! Ou você acha que ela pode viver numa bolha?
— ela refuta.

Ester olha para os dois filhos, irritada.

— Jade, você podia ter esperado um momento mais propício para


começar a... hum, introduzir Luisa aos problemas da família, não?

Jade ri, achando graça da irritação da mãe e do irmão. Ela então


me diz:

— Sinto muito por isso, Luisa, soltei uma bomba, não é? Mas é
porque eu não consegui me conter, fiquei feliz que Ahmed não quis
Jamile.

— Tudo bem — respondo, sem entender nada, mas um pouco


preocupada.

Logo o sheik Tariq Hamir está entre nós, ao lado da sua esposa.
Ele olha para todos e franze a testa para a tensão do filho.
— Vamos entrar, o almoço já está por vir.

Ester é enlaçada pelo sheik, mas ela não parece se importar. Ao


invés disso, ela diz:

— Tariq está certo, está quente aqui, e o almoço já está para ser
servido. Espero que esteja com fome, Luisa.

— Eu estou — falo.

E é verdade, não como nada desde ontem à noite, antes de toda


essa confusão começar. Com a minha afirmação, Ahmed aperta
ainda mais a minha cintura, me guiando até o elevador do palácio, já
que estamos na pista de pouso e decolagem. Jade nos olha
enquanto nos acompanha, seu olhar não deixando passar o braço do
irmão sobre mim. Ela franze a testa, mas não diz nada, e eu tenho
certeza que fico vermelha de vergonha. Ela percebe o meu
constrangimento e sorri, divertida. Assim que estamos dentro,
Ahmed pergunta para a irmã:

— Jade, será que você tem alguma roupa que sirva em Luisa? Que
seja mais decente do que o vestido que ela está usando. — A sua
voz não disfarça o seu ódio pelo meu vestido.

Jade encara o meu corpo, pensativa.

— Ela é mais baixa do que eu, mas eu acredito que eu tenha


algumas roupas que sirvam sim. Quer que eu pegue?

— Sim. Luisa está cansada, é bom que tome um banho e troque de


roupa para começar a tarde.
Jade concorda e sai. Ahmed me conduz pelo luxuoso e intimidante
castelo até um quarto, que ele diz ser de hóspedes. Mas é tão
gigante e exageradamente bonito, que quase não acredito que os
quartos de hóspedes daqui sejam tão ricos de decoração e detalhes.
Imagine só os quartos dos membros da família então.

— Este será o seu quarto por enquanto, Luisa. O banheiro é logo ali.
Eu recomendo que tome só um banho de ducha por agora, porque o
almoço já está quase sendo servido.

— Certo, não vou demorar muito — falo.

Ele acena e então sai, depois de ter certeza de que eu ficaria bem.
Jade logo entra, alguns minutos depois, e deixa várias roupas na
cama, animada.

— Garota, fui procurar umas roupas para você e acabei achando um


monte de roupas novas que nunca usei porque não ficaram bem em
mim. Tenho certeza que pelo menos a maioria deve servir em você.

— Obrigada, Jade — digo, agradecida.

Ela sorri.

— Você não tem que agradecer. Será muito bom ter alguém próximo
da minha idade e do sexo feminino na família. Você sabe, tenho três
irmãos mais velhos, nunca tive uma irmã, então vai ser bom ter uma
cunhada, principalmente uma como você, que também é metade
brasileira!

— Eu também não tive irmãs, mas não tive irmãos homens


tampouco.

Ela franze a testa.


— Irmãos homens só sabem intrometer na sua vida, não se sinta
triste — diz, achando graça da própria confissão.

— E quantos anos você tem? — pergunto, curiosa.

— 26 — responde.

— O que?! — pergunto, incrédula.

— Eu sei — diz, rindo —, quem não me conhece quase não acredita.

Aceno em concordância.

— De fato, é difícil de acreditar. Eu achava que você não tinha mais


que 19!

Ela solta uma risadinha, divertida.

— Eu sempre tive cara de menininha, então isso confunde as


pessoas.

— Sim — concordo.

Ela então aponta para as roupas.

— Acho melhor você se apressar. Voltarei daqui a dez minutos para


te acompanhar até a sala de jantar.

— Certo, obrigada, Jade.

Ela faz um movimento de descaso com as mãos.


— Não me agradeça, garota. Vamos ser amigas agora, é melhor ir
se acostumando.

Sorrio, gostando do seu jeito aberto e comunicativo.

— Certo.

Ela então sai, e eu rapidamente vou para o banheiro chique e


elegante. Tomo uma ducha rápida, como Ahmed tinha sugerido, e
fico feliz por ter a chance de tirar os resquícios daquela noite
macabra. Já limpa, olho algumas roupas sobre a cama e escolho um
vestido verde-claro, que fica um pouco abaixo do meu joelho assim
que o visto. Ótimo, se Ahmed gosta do discreto, então ele vai gostar
disso. Já vestida, passo o pente algumas vezes no cabelo e já estou
pronta. Nada de maquiagem, porque não tenho nada para passar. Eu
mal termino de me arrumar, e Jade entra no quarto à minha procura.
Ela me analisa rapidamente e murmura uma aprovação.

— É, até que ficou bom em você. Mas, poxa, você é tão bonita que
até um saco de batatas ficaria bom!

— Eu não concordo! — falo, achando graça.

— Então você nunca se olhou no espelho! — rebate, fingindo raiva.


— Pronta para jantar com a família do seu noivo?

No mesmo instante, eu paraliso no lugar. Jade revira os olhos e


pega o meu braço, me puxando para fora.

— Não tenha medo, princesa. Nós não mordemos... Quero dizer,


pode ser que Ahmed irá te morder algumas vezes, mas não vai doer
muito. Os homens Hamir são assim mesmo.

— O quê?! — questiono, assustada com suas palavras.


Ela ri, baixinho.

— Nada, estou brincando...

— Ah! — murmuro, em dúvida.


Capítulo 16

Luisa Jones

Quando eu chego na sala de jantar para o almoço, juntamente com


Jade, sou surpreendida por mais dois homens desconhecidos
sentados na mesa com o resto da família. Será que são os outros
irmãos de Ahmed? Poxa, que família numerosa! Jade rapidamente
aponta para uma cadeira desocupada ao lado de Ahmed, para que
eu me sente lá. Em seguida, ela se senta ao lado da mãe, que está
ao lado do marido. Assim que eu sento ao lado de Ahmed, ele pega
a minha mão debaixo da mesa e a segura por um tempo,
possessivo, para depois soltá-la e olhar para o pai, que lhe falava
algo que eu não prestei atenção.

— Caramba, Ahmed, você não me disse que a meia-brasileira era


tão bonita, hein? — um dos homens comenta, o de pele mais
morena.

Ahmed rapidamente olha em direção a ele, seus olhos em chamas.

— Cale a sua maldita boca e não fale da minha mulher, Khaled. Não
é o seu trabalho admirar a beleza da minha noiva, é o meu.

O homem, Khaled, pela forma que conversa com Ahmed, percebo


que realmente deve ser o irmão dele.

— Não fique estressado, cara. A garota acabou de chegar aqui, e


você já quer assustá-la? — o outro irmão, mais parecido com Ester
devido o tom de sua pele ser mais claro, diz, sorrindo.

— Eu acredito que você deveria manter a sua língua dentro da boca,


Khaled — o sheik Tariq fala, mas nem um pouco sério. — Ou talvez
você só esteja querendo uma esposa, huh?

Khaled se engasga com o suco de tâmaras e olha para o pai,


cínico.

— Não mesmo! Deixe esse trabalho só para Ahmed, ele é o mais


velho.

— "Esse trabalho" que você diz, eu já estou fazendo, Khaled. Mas


você também já está perto da hora de se casar, não? Só dois anos
de diferença nos separa.

Khaled fita o irmão com os olhos semicerrados, e o outro deles ri,


gostando da situação.

— Se está rindo tanto, Samir, então deve ser que você já está pronto
para se casar tanto quanto Khaled, não? — o sheik Tariq pergunta,
irônico.

Então esse é o nome do terceiro irmão: Samir.

— Não mesmo! Tenho muito o que viver ainda! — diz, rapidamente.

— Vocês falam como se casamento fosse a pior coisa do mundo! —


Ester finalmente diz, exasperada.

— Concordo! Se vocês não querem casar, então podiam pelo menos


me deixar ter um namorado! — Jade fala, chateada.

De repente, tudo parece parar, e todos os rostos se viram para


Jade.

— Não! — os homens gritam em uníssono.


Ela os fita com a boca aberta e a testa franzida em desgosto.

— Por que não? Eu já tenho vinte e seis anos, não estou adulta o
suficiente até hoje?!

— Você não vai ter nenhum relacionamento até termos certeza de


que alguém te mereça, Jade — o seu pai diz, irritado com o assunto.

— Eu sinceramente não acho que alguém te mereça, irmã. Hoje não


se encontra bons homens como antigamente — Ahmed fala, com o
mesmo temperamento do pai.

Jade olha para ambos, incrédula.

— Então isso quer dizer que vou morrer solteira?!

— Não seria uma má ideia — comenta Khaled.

— Não mesmo — concorda Samir.

— Mãe, você vai concordar com isso? — Jade apela para o lado da
mãe.

Ester revira os olhos, não muito preocupada.

— Eu já te disse para não se importar com o que eles falam. Se


você quiser se casar, você vai!

— Não mesmo! — Tariq rosna, olhando feio para a sua mulher, que
nem mesmo o dá atenção.

Eu, no meio disso tudo, não podia estar mais assustada. Tenho
certeza de que a minha boca está aberta há vários minutos.
— Eu não entendo vocês, não vejo nada de mais em querer me
casar. Todo mundo um dia acaba pensando nisso, pelo menos é o
que quase sempre acontece! — Jade fala, contrariada.

— Jade, você não vai se relacionar com nenhum homem até que eu
diga que é o momento certo e o homem certo! — o sheik diz,
autoritário.

— Concordo! Antes de ele ter qualquer coisa com você, primeiro terá
que conquistar a nossa aprovação! — Ahmed fala, no mesmo tom do
pai.

— Até parece que a realidade funciona assim — Ester diz, rindo.

Seu marido a olha atravessado, mas isso só a faz rir ainda mais.
Confusa, toco no braço de Ahmed, chamando a sua atenção. Ele me
fita, surpreso, como se tivesse se esquecido de que estou aqui, e
então fala, só para eu escutar:

— Sinto muito por você ter de presenciar uma discussão de família


tão cedo assim, Habibi. Você está bem?

Concordo, mas digo:

— Jade deveria decidir o que fazer com a vida dela por si mesma,
não?

Ele fecha a cara, sua mandíbula mostrando a sua tensão.

— Não é assim que as coisas funcionam aqui, Habibi, e logo você irá
entender o que eu estou dizendo, muito em breve.
A forma como ele me diz isso fez os pelos dos meus braços
arrepiarem. Parecia uma promessa obscura. Ele percebe o meu
assombro e simplesmente volta a conversar com os irmãos e o pai
sobre a "loucura" da irmã. Ester parecia estar se divertindo com tudo
isso. Ela me olhou um par de vezes e, vendo o meu estado de
incredulidade, piscou uma vez para mim, divertida. Ela não parece se
importar muito com as opiniões autoritárias dos homens da família.
Enfim, o almoço foi tão conturbado que nem mesmo prestei atenção
no que estava comendo, apesar de tudo ter estado muito bom.
Quando todos terminaram de comer, Jade foi a primeira a sair,
nervosa, dizendo que iria para o seu quarto. Em seguida se foram os
irmãos de Ahmed, que descobri serem gêmeos. Por fim, Ahmed
perguntou se eu queria descansar, e eu concordei. Então ele me
acompanhou até o meu quarto, não escondendo o seu mau humor,
mas sem falar nada sobre isso.

— Eu vou ser bem direto, Luisa, para que você não confunda as
coisas entre nós dois. Jade é uma boa garota, você pode ficar em
sua companhia sempre que quiser. Porém, só tem um detalhe,
lembre-se sempre que nada do que ela disser terá mais valor do que
a minha palavra. Ela é uma moça um pouco rebelde, então já digo
que não quero ver você indo na onda dela. Escutou? Se for fazer
alguma coisa, qualquer que seja, você precisa me pedir permissão
primeiro.

Olho para ele, quase não acreditando no absurdo que são as suas
palavras.

— É sério isso?! Então serei uma espécie de posse para você?!

Ele franze a testa, não gostando de ser questionado.

— Eu não disse isso — rosna. — Você é minha, mas como minha


iminente esposa, não como um objeto. Contudo, quando eu tiver
você, a sua liberdade não será a mesma, já devia ter se conformado
com isso.

— Tudo bem que é normal que a minha liberdade diminua, mas não
tanto!

Ahmed segura o meu rosto com as duas mãos, seus olhos


penetrantes fixos nos meus.

— Querida, uma coisa que a sua vida não será mais é normal. Você
será a esposa de um sheik, lembra? Um sheik árabe.

A forma como ele me diz isso parece esconder vários outros


sentidos.

— Você é metade ocidental — afirmo.

Ele arqueia suas sobrancelhas escuras e grossas, seus olhos me


analisando.

— Sim. Mas não se engane, sou mais árabe do que você imagina.

Assustada, dou alguns passos para trás, me afastando dele.


Ahmed percebe e fica irritado.

— Você está me assustando! — acuso.

— Besteira sua. Não há nada que temer de mim, Luisa. Eu nunca te


farei nenhum mal, já disse isso. Agora, se me obedecer, irá evitar
muita dor de cabeça. Como seu quase marido, espero de você uma
esposa, não uma garota infantil, como minha irmã insiste em ser às
vezes.
— E você? Só eu que tenho que ser um monte de coisas?! — acuso
novamente, nervosa.

Ele sorri, seus dentes brancos e masculinos um pouco à mostra.

— Claro que não. Eu também tenho a obrigação de ser o seu


marido, Habibi. Você sabe o que um marido faz?

Não respondo, e então ele se aproxima de mim novamente, seus


braços indo para a minha cintura, me surpreendendo.

— Ele é o provedor da esposa e da família. Você não terá que se


preocupar com nada, tudo o que você quiser, eu te darei. Bens
materiais, bebês, prazer...

A última palavra é sussurrada dentro do meu ouvido, e eu tento me


afastar, assustada e com o coração disparado. Ele ri, maléfico, sem
me soltar.

— O que foi? Você não achou que esse casamento seria de


mentirinha, achou?

Coro, envergonhada.

— Não... Hum, acho que não.

Ele aproxima a sua boca novamente do meu ouvido, e eu sinto a


sua respiração quente sobre a minha pele sensível. Estremeço.

— Ótimo, porque a melhor parte do casamento é essa, você não


acha? Muito sexo e prazer.
Engasgo com nada e começo a tossir, com esse pensamento em
mente. Ahmed resmunga, me soltando.

— Fique tranquila, Habibi, eu respeitarei a sua inocência até o


casamento — fala. — Mas lembre-se, só até o casamento, depois
você terá muitos jogos para brincar.

Ele sorri, irônico.

— Você já pode fechar a boca.

Irritada, faço exatamente isso. Não tinha percebido que a minha


boca estava aberta.

— Mas você tem algum tempo para ir se acostumando com a ideia.


O casamento será daqui uma semana, então...

— Uma semana?! — grito, interrompendo-o.

Ele acena, com um sorriso presunçoso.

— Duas semanas tecnicamente. Falta uma semana para o


casamento, mas, como ele também irá durar mais uma semana...
devido às festas...

— Uma semana para terminar?! — grito, novamente.

— Não sei por que está achando ruim, o certo seria quinze dias, já
que sou um sheik. Porém, diminuí os dias devido às circunstâncias.

— Este casamento está perto demais! — falo, apavorada.


— Essa foi uma recomendação do juiz, Luisa. O seu caso ainda não
foi julgado, lembra? Será daqui a três dias.

— Ah! — suspiro.

— Sim, Luisa: "Ah!" — ele provoca.

Ele então me olha de cima para baixo e vice-versa, me deixando


quase desconfortável.

— Você é bonita demais para ser mostrada por aí. As roupas de


Jade estão marcando demais o seu corpo. Vou pedir a estilista da
família para montar novos conjuntos para você, que sejam mais...
discretos.

— Eu não gosto muito de roupas discretas — reclamo.

Seu rosto fica sério e tenso.

— Mas é esse tipo de roupa que você vai vestir a partir de hoje.
Tudo será estritamente elegante e discreto, exceto...

— O quê?

— Exceto algumas exceções, é claro — diz, enigmático.

Arqueio as sobrancelhas, estranhando seu pensamento não


concluído.

— Quais?

— As exceções que só envolvem a mim. Quando estiver só eu e


você, então você poderá usar tudo o que quiser, ou nada, se preferir.
Fico vermelha de vergonha e em seguida de raiva.

— Já chega! Agora eu quero ficar sozinha!

Ele ri, sempre achando divertido o meu embaraço, seus olhos


verdes brilhando de malícia e prepotência.

— Certo, minha noiva, vou deixar você descansar agora, mas não
por muito tempo — diz, quase que numa promessa ou ameaça. Não
sei distinguir.

Dizendo isso, ele sai, fechando a porta em seguida e me deixando


com as pernas bambas e o coração disparado. Céus, o que está
acontecendo com esse homem? Ele parecia supercompreensivo
antes, mas agora parece estar ficando exigente e muito estranho, de
repente. Ele me confunde mais do que seria normal. Uma hora ele
parece um homem comum, outra hora, de outro mundo. Já percebi
que estou lidando com um homem totalmente bipolar e imprevisível.
O maior problema é que eu não sei o que esperar de um marido
assim. Às vezes vejo uma selvageria no seu olhar, algo quase
primitivo, é hipnotizante, mas ao mesmo tempo parece muito, muito
perigoso. Tudo isso é muito confuso e assustador. Este
relacionamento é confuso e totalmente incomum. Não é como se o
meu "futuro marido" fosse um cara normal, com personalidade
normal. Não mesmo, Ahmed não tem nada de "previsível". Além
disso, não acho que um sheik do petróleo poderia ser diferente, ele
simplesmente age com prepotência e confiança demais porque ele
tem motivos para ser assim. Mas o problema não é isso em si, e sim
que Ahmed parece querer, a todo custo, me envolver em toda a sua
loucura autoritária e enigmática também, como se eu fosse a sua
maior obsessão.
Capítulo 17

Ahmed Hamir

Hoje eu e o meu pai temos uma reunião com o clã, e adivinhe?


Luisa será o tema principal dele. Todos os membros foram avisados
antecipadamente de que eu escolhi a minha esposa, porém eles não
sabem muito sobre ela, exceto que é estrangeira. É certeza que isso
dará o que discutir, os conselheiros estavam esperançosos de que
eu fosse escolher uma mulher do nosso próprio clã, da nossa própria
cultura. Atualmente, o conselho do clã está bastante diferente de
algumas décadas para cá. Muitos aposentaram, e outros foram
expulsos por justa causa devido ao envolvimento com os tios do meu
pai, Sherazade e Bezen, que atentaram contra a vida da minha mãe,
quando eu ainda estava no seu ventre. Mas todos que eram muito
próximos deles foram expulsos há muito tempo, na verdade, isso não
aconteceu muito tempo depois que o meu pai matou os seus tios,
para todo o clã presenciar.

É assim que deve ser, ninguém deve atentar contra a vida do sheik
ou da sua família, a menos que queira ser executado publicamente.
Enfim, depois desse ocorrido, alguns membros do conselho foram
expulsos, até mesmo do próprio clã. Hoje, os antigos que restaram
estão aposentados, exceto Hiran, que é um bom aliado do meu pai.
Contudo, há muitos dentro do conselho que não são muito confiáveis,
mas isso é normal, sempre há a oposição, não importa onde e nem
quando. Mas a questão é que hoje ela irá tentar complicar, e muito, a
minha vida, já estou prevendo. A escolha de uma esposa é algo
muito importante na nossa cultura, principalmente no meu caso, que
a esposa será a do líder do povo e mãe dos futuros líderes. Luisa
nem mesmo imagina o tamanho da responsabilidade que terá, mas
não vou preocupá-la com isso agora, não até nos casarmos, pelo
menos. Até porque eu ainda terei, no mínimo, mais cinco anos de
alguma liberdade até que o meu pai passe o seu lugar para mim.
Tenho certeza que Luisa estará pronta até lá e até mesmo já será
mãe de alguns dos meus filhos. Eu quero ter, pelo menos, três filhos,
e eu não vejo a hora de começar a fazê-los, digamos que Luisa me
inspira a fazer bebês, tudo parece tentador demais quando a vejo.
Ela é uma garota tímida demais, tem dificuldade de mostrar os seus
sentimentos, talvez eu precise lhe dar uma ajuda com isso. O que
não vai faltar para ela, no entanto, é um homem disposto a satisfazer
todos os seus desejos ocultos, que eu sei que ela esconde atrás dos
seus lindos olhos azuis-brilhantes. Ela não sabe ainda, mas terá
muito trabalho pela frente. Quero-a disposta a me satisfazer todos
os dias, em todos os momentos que eu quiser. Mas ela irá querer
também, em breve Luisa estará viciada em meu toque e não
conseguirá passar mais nem um dia sem. Quando ela for perceber o
que estava acontecendo, será tarde demais para mudar o que já
aconteceu: Luisa estará totalmente apaixonada por mim, seu marido.

Assim que os membros do conselho começam a chegar, todos já


começam a se organizar em seus lugares. As reuniões são feitas em
uma ala do castelo Jasmim específica para isso, onde só entra quem
faz parte do conselho e mulheres não são permitidas. Quando Hiran
chega, cumprimento-o, contente. Ele é um grande homem, com muita
ética, digno de respeito.

— Sheik Ahmed, quanto tempo não te temos aqui. Você ficou um


bom tempo longe do país, não?

— Fiquei sim, Hiran, devido a algumas questões que precisavam ser


resolvidas em Nova York.

Ele acena.

— Entendo, mas fico feliz que esteja de volta, o senhor faz muita
falta.
Sorrio.

— Digo o mesmo sobre você, Hiran.

— Então você fez igual o seu pai, hein, rapaz? Uma estrangeira.

— Sim, me parece ser o destino. Ela desperta em mim o sentimento


de que é a mulher que preciso.

Ele me encara, pensativo.

— Isso é o mais importante, Ahmed, que ela seja o que você


precisa. Como um sheik, as responsabilidades são muitas, e a sua
mulher também terá as dela.

— Exatamente.

Algum tempo depois, fomos interrompidos pelo meu pai, o qual


disse que daria início à reunião. Já no meu posto e os outros no
seus, meu pai começa a apresentar os assuntos mais importantes da
semana:

— Boa tarde a todos, primeiramente, espero que os senhores


estejam bem. Agora, entrando nos assuntos mais importantes da
semana, irei começar pelo caso do senhor Nasir, que conseguiu uma
promoção de emprego na Arábia Saudita, assim, como é esperado,
ele e sua família estarão deixando, temporariamente ou não, o nosso
clã.

Diante disso, cada um dá a sua opinião individual acerca do tema,


gerando uma longa troca de ideias. Após o primeiro caso ser
resolvido, outros três foram discutidos, de diferentes temas. Por fim,
chegou a minha vez de apresentar o nosso último caso de hoje.
Durante toda a reunião, até chegar ao momento presente, eu podia
sentir a tensão dos homens e também a expectativa de alguns deles.
Eles não conseguiram disfarçar muito bem sua ansiedade. Quando o
meu pai me passa a palavra, todos me encaram, atentos e em
perfeito silêncio. Com um rápido cumprimento inicial, logo falo:

— Todos do conselho já sabem o tema do meu anúncio de hoje, e


sei que devem estar ansiosos para mais informações. Pois bem,
sendo o mais direto possível, já começo dizendo que encontrei a
minha futura esposa, a qual já é a minha noiva.

Vários burburinhos começam a dar início, alguns animados, outros


nem tanto, mas logo interrompo, continuando a falar:

— Eu sei que o desejo de muitos daqui era que eu me casasse com


uma mulher de alguma família do nosso próprio clã, uma que já
estivesse inserida em nossa cultura e costumes há algum tempo.
Porém, é fato que nem sempre as coisas acontecem como
planejamos. Portanto, como o próximo líder do nosso povo, escolhi a
minha esposa tendo em base alguns princípios, como a ética, moral
e, claro, a compatibilidade entre ambos. Como manda a tradição, só
terei uma esposa, assim, me vi na responsabilidade de escolher uma
mulher que tivesse o necessário para ser uma sheika, mas também
que fosse capaz de instigar o meu interesse e desejo. Desse modo,
fiz o que achei que devia ser feito.

— Eu entendo o seu ponto de vista, sheik Ahmed. Acredito que tenha


feito a melhor escolha. Olhemos para o caso do sheik, seu pai, por
exemplo. Ester é uma ótima sheika e sempre foi fiel ao nosso povo
— Hiran diz.

— Também creio que fez a escolha certa, sheik. O senhor é sempre


muito responsável e, se pensa que a estrangeira é a melhor para o
cargo, então o senhor tem o meu apoio — Ademir também comenta.
— Eu não concordo, sheik! Como o líder do clã, o senhor deveria dar
prioridade para as mulheres que já são dele, como forma de honrar a
nossa tradição — Jamal fala, insatisfeito.

— Jamal está certo, uma mulher da nossa cultura seria o ideal —


Mustafá também refuta a minha escolha.

— Acredito que a escolha de uma esposa deve se basear em muito


mais do que é "ideal". Como um homem, ele precisa de uma mulher
que lhe seja atraente também — Said contrapõe aos opositores.

E então, como eu já estava esperando, as discussões acirradas


começam:

— Mas, como sheik, Ahmed deveria pensar primeiramente no povo,


e não nos seus desejos! — Jamal diz, novamente.

— Sheiks também têm desejos e sentimentos! Não devemos


condená-lo a um matrimônio só de aparências! — Hiran diz, irritado.

— Não necessariamente! Há várias mulheres atraentes, e com


qualidades sobrando, que poderiam ser perfeitas para o nosso sheik,
como é o caso de Jamile, a filha de Jamal — Mustafá rebate,
indignado.

— Exatamente! A minha filha Jamile seria a sheika perfeita para o


nosso povo. Ela nasceu em nosso meio e cresceu com nossa cultura
e tradições, além de ser extremamente prendada e bela!

— A sua filha pode ser tudo isso, Jamal, mas não despertou o
interesse do nosso sheik Ahmed, e isso é inadmissível. Tenho
certeza que Jamile não terá dificuldade em encontrar um homem à
sua altura mais tarde — Said diz, discordando da fala do outro
homem.
— Isso é ridículo! Jamile deveria ter sido escolhida, todos do nosso
povo já imaginavam que ela seria a esposa do sheik! — Jamal
novamente fala, irado.

— Isso porque ela espalhava notícias que não eram mais do que
frutos de sua própria cabeça! Nosso sheik nunca alimentou essa
ideia! — Hiran refuta, nervoso.

— Eu penso que a escolha de uma esposa é algo pessoal demais e


deve vir do próprio sheik! — Farid resolve dizer.

— Exato! — Ademir concorda.

Depois da discussão ter durado mais uns vinte minutos de pura falta
de consenso entre os membros, sendo alguns mais passivos, outros
ativos, meu pai finalmente diz, irritado:

— Como vi que a oposição contra o casamento de Ahmed é a


minoria, cabe a ele decidir o que irá fazer. Lembrando que a última
palavra é sempre a do sheik, a menos que ela possa trazer algum
grande mal para a nossa sociedade.

Calmo, e nem um pouco abalado com o descontentamento de


alguns, falo:

— Como o meu pai acabou de dizer, a última palavra é a minha.


Assim, concluo esta discussão dizendo que a minha escolha continua
sendo a de me casar com Luisa Alcântara Jones, minha noiva.
Acrescento, ainda, que o nosso casamento começará em uma
semana, pois quero algo rápido, sem muita demora. Repetindo o que
foi feito no casamento do meu pai, o meu também irá durar uma
semana. Espero ver todos os senhores durante as cerimônias.
Quando termino de falar, alguns gritam, contentes e animados,
outros, irritados e contrariados. Independente do que pensam,
porém, a minha escolha já foi feita.

Luisa Jones

Aproveitei que estava sozinha para dormir e descansar um pouco.


Toda essa loucura que está acontecendo comigo tem afetado a
minha mente e o meu corpo, de forma que eu irei precisar de me
lembrar de parar e refletir por um momento. Eu já dormi algumas
horas e agora estou aqui, deitada na cama, olhando para o teto do
meu quarto, que por sinal é cheio de bonitos detalhes, e pensando
nos últimos acontecimentos. Eu vou me casar em uma semana. O
que é uma semana? Nada! Eu não sei o que pensar, até pouco
tempo atrás eu nem sabia se um dia eu iria me casar. Mas aqui
estou eu, noiva de um sheik árabe, um homem de uma etnia que eu
mais tenho receio. Às vezes me lembro das conversas que tive com
a minha amiga, de quando ela falava sobre o seu ex-namorado
marroquino. Ela ficou tão marcada por esse relacionamento, que até
mesmo eu fiquei assustada. Eu nunca achei que um dia fosse me
relacionar justamente com um árabe. Eu estava disposta a me
manter sempre a distância dos orientais com essa etnia.

Eu nunca fui muito fã da cultura árabe ou oriental, na verdade.


Mesmo antes do relacionamento da minha amiga com o marroquino,
eu já não me interessava por esse outro lado do mundo. Para mim, a
melhor cultura, melhor estilo de vida e pessoas estavam no Ocidente,
nos meus países. Nunca me interessei por outros lugares diferentes,
com histórias e estilos de vida distintos. Eu já estava feliz com a
minha própria vida de nascença. Agora que estou aqui, percebo que
não estava totalmente errada, o meu lugar de nascença era muito
mais tranquilo, sem leis absurdas ou liberdade tão limitada como
aqui. Exceto pela parte de aqui ter pessoas gentis e lugares bonitos
e interessantes de se conhecer, eu não vejo muita vantagem em
pertencer a essa parte do mundo.

Mas, por mais estranho que isso pareça para mim, há muitas
pessoas que amam esse lugar, que sentem orgulho por serem
árabes, por serem deste país, ou de qualquer outro da região, e por
terem a cultura e tradição que têm. Isso é totalmente anormal, no
meu ponto de vista. Como que uma pessoa é tão feliz vivendo com
falsa liberdade e com leis tão absurdas? Eu não faço ideia, mas sei
que isso acontece sim, para a minha surpresa. Inclusive, pelo pouco
tempo que estive aqui, vi que as mulheres também parecem
satisfeitas com seus estilos de vida totalmente incomuns. É claro que
há várias mulheres que vivem como ocidentais mesmo, trabalham
fora etc. Mas isso não acontece com a maioria delas. Eu fico
totalmente confusa com algumas regiões deste país, que são mais
tradicionais. É tudo muito diferente.
Capítulo 18

Luisa Jones

Hoje é o segundo dia que estou no castelo da família Hamir e,


sinceramente? Estou assombrada pelo quanto este lugar é grande,
bonito e luxuoso. O ambiente me lembra passado, mas ao mesmo
tempo modernidade. A arquitetura e o estilo são de centenas de
anos atrás, porém está claro que todos os móveis são extremamente
modernos, e os detalhes do castelo foram muito bem reformados.
Ontem, no jantar, tudo correu bem diferente do almoço. Jade estava
até mesmo feliz, e ninguém sabia o motivo. O sheik Tariq e Ahmed
estavam satisfeitos por uma reunião que ambos tinham participado
no castelo mesmo, mas numa ala a qual fui avisada de que não
poderia ir. Eles não deram muitos detalhes sobre que reunião era
aquela, mas Ester parecia saber, apesar de não ter falado nada.
Samir e Khaled a todo momento me olhavam furtivamente, como se
soubessem de algo que eu não sei. Ou seja, apesar de eu ter
acabado de conhecer essa família, sinto que havia algo incomum
acontecendo, mas eu obviamente não perguntei e duvido que me
falariam a verdade se eu fizesse isso.

Novamente, tive sonhos conturbados de madrugada, coisas como


castelos antigos, desertos e até mesmo pessoas, como Ahmed e
outras que nem mesmo conheço, ocuparam a minha mente. Talvez
eu só esteja preocupada com o meu futuro, eu não sei explicar. Bem,
mas a madrugada passou e agora já é de manhã, quase oito horas,
na verdade. Eu já tomei o meu banho, de banheira dessa vez, e
aproveitei para relaxar e não pensar em nenhum problema. Também
lavei os meus cabelos, que já estavam ficando amarelos de tão
sujos. Novamente, tive que vestir uma roupa de Jade, mas Ahmed
tinha me avisado antes que logo chegariam várias peças feitas para
mim. Eu tentei recusar, mas ele insistiu e disse que isso é algo
comum aqui, que há uma estilista só da família que frequentemente
troca as vestimentas de todos conforme mudam as estações do ano.
Assim, decidi aceitar, já que ele não gosta das roupas que eu
geralmente uso.

Depois de arrumada para o café da manhã, já estava quase


deixando o meu quarto quando alguém bate na porta, sutilmente. Um
pouco confusa, me vejo perguntando quem deve ser, já que os
homens da casa saíram bem cedo, e Jade acabou de passar por
aqui. Quando abro, sou surpreendida por encontrar Ester, com um
gentil sorriso.

— Bom dia, Luisa, posso entrar?

— Claro!

Afasto-me para lhe dar passagem e em seguida fecho a porta. Ela


rapidamente vai até a minha cama e se senta, batendo no colchão,
num claro convite para que eu me sente também. Ainda confusa,
faço o que ela pediu e, quando estou sentada do seu lado, ela diz:

— Eu sei que você deve estar com fome, mas queria conversar um
pouquinho com você antes, isso seria um problema?

Balanço a cabeça rapidamente.

— Não, com certeza não, senhora Hamir.

Ela me fita, chateada.

— Já disse que pode me chamar de Ester, você já é da família.

Aceno, envergonhada.
— Certo.

Ela ri, seus olhos verdes se destacando ainda mais.

— Não se sinta tímida ao meu lado, querida. Acredite, comigo você


não tem que se preocupar, já não posso dizer o mesmo de Ahmed —
diz, irônica e superdivertida.

A sua risada é tão contagiante, que acabo rindo também.

— Bem, muito melhor! Você precisa rir mais, relaxar mais, não
somos uma família de vampiros, ninguém vai te morder.

Franzo a testa.

— Estranho, porque Jade me disse que o seu filho poderia me


morder sim — brinco.

Ester gargalha, achando graça.

— Isso é verdade, e é exatamente por isso que quero ter um bate-


papo rápido com você hoje. Quero te dar umas dicas e alguns
conselhos, que tenho certeza que irá me agradecer daqui um tempo.

Olho-a, curiosa, e aceno em consentimento.

— Bem, acho que nada melhor que dar uma pequena pincelada da
minha própria história com Tariq, o pai de Ahmed. Gostaria de saber
um pouco sobre como nos conhecemos?

Aceno, animada com a possibilidade de novas informações. Ester


sorri, satisfeita.
— Certo, tudo começou quando eu tinha pouco mais de dezoito, e
Tariq um pouco mais de trinta...

— Espere, só dezoito anos?! — interrompo.

Ela acena.

— Sim, eu tinha pouco tempo de faculdade, era realmente muito


nova. Enfim, continuando... O meu sonho era conhecer o Egito e os
países árabes, então, em uma visita a Dubai, conheci Tariq, e ele, do
nada, colocou na cabeça que eu iria ser a sua esposa.

— Simples assim?!

— É — responde, rindo. — Eu fiquei muito assustada, é claro, era


muito nova, não sabia muito sobre a vida... Mas Tariq estava
decidido em me ter como esposa. Fiquei angustiada, assustada e,
mesmo depois de casada, fugi dele para o Brasil.

— Por que você fez isso? Ele te obrigou a casar com ele? —
questiono.

— Eu achava que tudo não tinha passado de uma imposição, mas


depois vi que eu também queria aquilo, era o meu sonho de princesa
ter um romance árabe... Mas, como eu disse, só depois que fui
realmente perceber isso, mas quando eu fugi foi por outro motivo, o
meu pai tinha sofrido um acidente.

— E você teve que fugir para ver o seu pai?! — pergunto,


horrorizada.

— Eu achei que Tariq não iria me permitir ir tão facilmente, então


achei que seria a melhor opção, mas, na verdade, não foi. Enfim, a
nossa história é longa, mas o que eu estou tentando te dizer é que
tudo poderia ter sido bem mais fácil se tivéssemos escutado mais um
ao outro, se eu tivesse visto o verdadeiro Tariq atrás de tanto
autoritarismo e poder. Eu não conseguia ver o seu amor, disfarçado
de obsessão, que ele tinha por mim e, então, ao invés de ajudá-lo a
melhorar, eu tinha medo e achava que a solução era me afastar.

Não digo nada, ela parece estar tão concentrada, que decido não a
interromper. Ela me encara.

— Quando os meus filhos nascerem, prometi a mim mesma que faria


o possível para não deixá-los ser tão autoritários quanto o pai. Eu
acho que deu certo, com Ahmed um pouco menos, mas mesmo
assim... Luisa, eu só quero te dizer que você não tem que temer o
meu filho, ele é um grande homem, pode acreditar. Tudo bem que ele
tem muitas características do pai... mas isso é porque ele será o
próximo sheik, ele não pode ser fraco. Um líder acaba sendo mais
difícil de lidar porque as circunstâncias exigem mais... dureza.

— Eu não pretendia me casar com o seu filho, você sabe, não é?


Vou me casar porque ser presa num país como este não é uma
opção para mim.

Ela concorda.

— Eu sei. Mas, ainda sim, tudo o que estou te falando é bastante


necessário. Eu conheço Ahmed, ele nunca salvaria uma mulher em
troca de casamento. Nunca. Se ele fez isso por você, é porque você
é muito especial para ele, muito mais do que você imagina.

— Eu não entendo... — falo. — Nós nos conhecemos há pouco


tempo, e ele nunca mostrou nenhum sentimento especial por mim
antes.
— Isso porque ele é cuidadoso, ele puxou isso de mim. Ao contrário
do pai, Ahmed deixa as coisas correrem naturalmente. É óbvio que
isso não significa que ele não seja difícil de lidar de vez enquanto,
que não seja autoritário e que não será um pouquinho obsessivo com
você. Na verdade, acho que você terá muito trabalho pela frente,
porém nada impossível. Ahmed é um bom homem, você verá isso
com o tempo.

— Esse é um tema complicado para mim, Ester. Eu não sei se estou


preparada para ter um relacionamento com alguém tão... complexo.

— Ora, ninguém nunca está! — diz, irônica e divertida. — Mas


mesmo assim a gente aprende a lidar. E eu acho que você irá se dar
bem muito mais rápido do que eu. Você é uma moça inteligente, tem
muito futuro ainda.

— Eu tinha um futuro, não acho que eu tenha mais — falo,


angustiada.

Ela franze a testa.

— Como que não?

— Eu sonhava em trabalhar em uma grande empresa antes, fazer


minhas especializações e crescer profissionalmente. Mas agora...
Tudo foi por água abaixo.

— Ih, que besteira! Você está se depreciando à toa, garota! Eu


trabalhei durante muito tempo, mesmo depois de casada com Tariq!

— Isso é sério?! — pergunto, chocada.

— Sim, trabalhei por uns dez anos, até que vi que as crianças
estavam crescendo rápido demais, e eu não estava curtindo a
infância delas como deveria. Então eu fiquei um tempo parada, dez
anos depois voltei, mas vi que isso não era mais tão importante para
mim. Você sabe, era desnecessário... E eu era feliz estando mais
despreocupada.

— Nossa, então isso quer dizer que irei poder continuar com a minha
vida profissional?!

Ela faz uma careta.

— Não é bem assim. Acredito que Ahmed não irá deixar você voltar
à sua vida de antes por agora. Provavelmente ele irá querer passar a
maior parte do tempo com você nos primeiros anos de casados,
mas, depois de um tempo, ele provavelmente não irá se opor a você
seguir os seus sonhos, desde que eles não a levem para longe dele,
é claro.

— Eu não sei se irei aguentar esperar o tempo dele. Você sabe, eu


não pertenço a este lugar e tenho medo de enlouquecer.

Ela franze a testa, seus lábios mostrando um sorriso diferente.

— Ah, querida, você com certeza não irá enlouquecer, não mesmo!
Ahmed não irá deixar isso acontecer, tenho certeza de que ele irá
encontrar meios de te distrair.

Eu não sei por que, mas a minha mente me trouxe interpretações


sujas, e eu coro, envergonhada. Ester não parece perceber o meu
estado encabulado e continua a dizer:

— Olha, uma coisa eu te digo, aqui é mais interessante do que


imagina, você só precisa abrir a sua mente para novas emoções,
novos ambientes... Além disso, Dubai, Abu Dhabi são tão
modernos... Você sempre terá meios de se divertir.
— Você não se sente triste por estar longe do seu país, da sua
família?

— O meu lar sempre será onde o meu marido e os meus filhos


estiverem. Eu visito o Brasil sempre que possível para ver os meus
pais, mas isso é só. Moro aqui há mais tempo do que já vivi no meu
país, então eu já me acostumei, me sinto feliz aqui.

— Entendo...

— Enfim, espero que não esteja te assustando, porque o meu


objetivo é outro! — comenta. — Eu só quero que se sinta confortável
em nossa família e ao lado do meu filho. Ah, e outra coisa, vou te dar
um conselho: não faça nenhuma bobagem, menina, Ahmed é muito
mais tolerante que o pai, porém se tem algo que o deixa cego é
quando alguém que ele confia o decepciona.

— Não se preocupe, eu não irei decepcioná-lo, ele não confia em


mim, nós não tivemos muito tempo para chegar a esse ponto.

Ester balança a cabeça, empática.

— Entendo... Mas, no caso de Ahmed, isso deve ser um pouco


diferente. Ele não iria querer casar contigo se não confiasse em
você, mesmo que só um pouco.

Fico calada, sem saber o que dizer.

— Eu realmente espero que um dia você conheça o verdadeiro


Ahmed, Luisa. Se um dia chegar a conhecê-lo, sei que irá
rapidamente se apaixonar.

Balanço a cabeça, discordando.


— Não acho isso muito provável, Ester. O nosso relacionamento não
tem nada de romântico, tudo não passa de falta de opção da minha
parte e uma oportunidade para Ahmed de me ter, e eu sei que o que
ele queria era isso. Porém, não há sentimentos de amor envolvidos,
e não acho que eu queira que isso mude. Não vejo vantagens de
romantizar este casamento.

— Bem, é uma pena, porque eu acredito que a única coisa que irá
conseguir é dar trabalho extra para o seu futuro marido. Eu conheço
o meu filho, e ele não irá aceitar um matrimônio tão impessoal quanto
o que você tem em mente.

— Por que ele não aceitaria? É isso o que somos: duas pessoas
totalmente diferentes que irão se casar. Não pensamos parecido e
não nos conhecemos da maneira certa. Ele deveria saber que
sentimentos não é para nós dois.

Ester se levanta, seu semblante tenso.

— Bem, se você pensa assim... Não sou eu que irei fazê-la mudar de
ideia, Luisa. Porém, tenho o pressentimento de que isso só irá
atrasar o inevitável. Mas, enfim, a escolha é sua.

Ia lhe dizer algo, mas ela me interrompe:

— Certo, chega de conversa, e vamos comer porque já passou da


hora!

— Realmente… — digo, distraída.


Capítulo 19

Luisa Jones

Eu sempre achei que o tempo passa rápido demais, que os dias


têm poder de voar, mas desta vez esse fato definitivamente superou
todos os momentos mais apressados da minha vida. Primeiramente,
eu só pisquei, e já tinha chegado o dia do meu julgamento. Foi tudo
tão horrível, o promotor tinha tanto poder de persuasão, que quase
convenceu o juiz, e olha que Ahmed me disse que já estava tudo
acertado entre eles! Passei um sufoco, já que esse promotor fazia
de tudo para apoiar os cidadãos que me denunciaram. O pior era
que ele realmente falava como se eu tivesse cometido um crime.
Aquilo foi um crime para eles, não para mim, que gente com leis
ridículas... Eu, hein! Uma lição que eu aprendi é: nunca faça nada
sem ter certeza se pode num país com Tribunal Sharia... Enfim, tudo
terminou bem, graças ao nome Hamir, mas não tão bem assim. A
minha vida de antes? Já era! Além disso, Samuel e Liam também
foram punidos, ambos foram mandados de volta para o Canadá.
Fiquei triste por eles, mas depois me lembrei que pelo menos eles
poderão seguir com suas vidas, então logo a minha pena foi embora.

Quando abri os olhos novamente, já tinham começado as festas do


meu casamento. Os quatros primeiros dias foram só comemorações
mesmo, porém no quinto as coisas começaram a mudar, usando um
vestido verde, como é comum no casamento árabe, houve as trocas
de alianças e o contrato de casamento foi assinado por ambos.
Ahmed não parava de sorrir, ele não sabia nem mesmo disfarçar a
sua felicidade. No sexto dia, achei tudo bem descontraído, para a
minha surpresa. Tive um dia relaxante no spa com Jade e Ester,
conversamos sobre várias coisas e até mesmo confessamos alguns
segredos de mulher. Depois de ter tido um superdia de beleza,
algumas moças solteiras, incluindo Jade, pintaram as minhas mãos e
pés com desenhos de henna, e eu até que achei bonito. Eu gostei
desse dia de festa, parecia ser uma comemoração mais feminina e
dedicada à beleza. Por fim, aqui estou eu, no último dia de festa,
vestida de branco, com um vestido digno de filmes, bordado com
prata e pedras de safira, cheia de joias nos braços, pescoço e
orelhas. Se eu achava que tinha gente demais nos outros dias, este
então... Todo o povo de Ahmed está aqui. Acontece que hoje é
realmente o casamento, então todos estão animados e felizes.
Durante a minha chegada para a cerimônia, fui carregada num trono
todo enfeitado, e as pessoas jogaram pétalas de rosas em mim,
achei superemocionante! Eu sempre quis ser a que ficava em cima
das outras quando eu fazia ginástica, ainda na infância, mas eu
nunca tive a oportunidade, então hoje eu achei incrível ser carregada.

Em alguns momentos fiquei um pouco triste, eu queria que os meus


pais e amigos estivessem aqui, mas eu sei que não seria possível.
Se eu contasse a verdade para eles agora, ficariam desesperados,
iriam tentar me tirar daqui, mas não é assim que funcionam as coisas
por aqui. Eu aceitei me casar com Ahmed se ele me salvasse da
prisão, e ele cumpriu, agora eu preciso cumprir o que prometi
também. Eu não o amo, mas tenho palavra, além disso ele não é um
homem mau ou algo assim. Ahmed é até mesmo gentil, não me
forçou a nada e sempre está preocupado com o meu bem-estar.
Isso já parece ser o suficiente para mim. Aliás, eu não sou a única
mulher do mundo que estou me casando por motivos não românticos,
então não vejo por que ficar chorando pelos cantos. Quando tudo
estiver estabilizado, eu irei contar para os meus pais, mas preciso ter
confiança na minha própria vida primeiro.

O castelo está todo enfeitado com os tecidos mais bonitos que já


vi, há tanta comida para as pessoas comerem, tantos doces típicos
e diversos sabores de sucos, que quase penso que tem a cidade
inteira aqui, e talvez realmente tenha... A música está alta, tem uma
banda árabe tocando, e várias mulheres estão dançando com roupas
coloridas e sensuais. Percebo que são dançarinas profissionais de
dança árabe. Em vários lugares, há tendas forradas de tecidos
coloridos, em que as mulheres estão sentadas debaixo, em
almofadas bordadas. Tudo parece muito exótico para mim, mas não
paro de observar, porque é realmente impossível não ficar
maravilhada com tanta cor e vida. Distraída, de repente sou
abordada por uma mulher morena, alta e perfeitamente vestida.

— Então é você quem conseguiu fisgar Ahmed, hein? — pergunta,


do nada, me deixando confusa.

— Espere, quem é você? — pergunto, no mesmo tom.

— Eu sou a mulher que devia estar no seu lugar agora! Sua


intrometida, você roubou o meu pretendente! — ela rosna, seu rosto
bonito ficando horroroso e desfigurado pelo ódio.

— Bem, você devia dizer isso para o seu "pretendente", foi ele que
me escolheu, não o contrário — provoco, irritada com a sua ousadia.

Ela contrai os lábios, seus olhos ardendo em ódio.

— Sua ocidental barata! Você acha que é o suficiente para um


sheik? Não é mesmo! Logo Ahmed irá enjoar de você e irá dar um
jeito de se divorciar. Não vai demorar muito para ele perceber que
devia ter escolhido uma mulher da nossa cultura, você não é para
ele!

— Olha aqui, sua psicótica, resolva os seus próprios problemas para


lá, não vou ficar tolerando as suas ofensas de mulher rejeitada não!
— falo, nervosa e quase perdendo a paciência.

Ela ia soltar mais ódio e inveja em forma de palavras, mas é


impedida pela chegada de Jade, que logo fica na minha frente.
— Como você ousa perturbar a esposa do sheik, Jamile?! Saiba que
agora você a deve respeito, e, se o sheik souber, você estará em
apuros. Ninguém insulta a esposa do sheik! — diz Jade, nervosa e
autoritária.

Jamile. Agora eu sei quem essa louca é, Jade mesmo tinha me


falado sobre ela, a filha de um membro do conselho, se não me
engano.

— Esta mulher é uma impostora, ela nunca será uma sheika de


verdade!

— A única que nunca será uma sheika de verdade é você, Jamile,


porque Luisa acabou de se tornar uma.

A mulher sibila, igual uma cobra, e eu fico assustada pelo quanto


ela é horrível.

— Se vocês acham que isso vai ficar desse jeito, estão enganadas!
Essa farsa de casamento não irá durar muito!

— É melhor você calar a sua boca, víbora!

E, então, não estamos mais sozinhas. Sou surpreendida por um


braço possessivo que circunda a minha cintura, apertado. Solto um
suspiro, devido ao susto. Jade logo fica satisfeita com a chegada do
irmão. Mas ela não precisou dizer nada, pois Ahmed nos surpreende,
dizendo:

— Jamile, eu não quero ver você perto da minha esposa. Se eu a ver


novamente perturbando a minha mulher, terei que tomar medidas
mais duras! — rosna, num tom ameaçador.
A mulher o olha em choque, e logo algumas lágrimas de ódio
descem dos seus olhos pretos e sombrios.

— Eu que era para ser a sua esposa! — grita, histérica.

Jade solta um grunhido irônico, e o irmão fica rígido, nervoso.

— Eu nunca me casaria com você, Jamile, e você já devia ter se


conformado com isso. Agora, eu acho melhor você ir embora, estou
perdendo a paciência com você. Só porque o seu pai faz parte do
conselho, isso não te traz nenhum privilégio, muito menos intimidade
com a minha família!

— Eu era a melhor de todo o clã, mas você não ficou satisfeito e


preferiu escolher uma ocidental, igual o seu pai fez!

— Jamile, saia daqui, agora! Eu não vou repetir!

— Já estou indo! Mas não pense que essa daí será o que você
precisa!

Dizendo isso, ela rapidamente sai, seus saltos-altos fazendo um


barulho irritante no chão.

— Que vadia! — Jade diz. — Sabia que essa víbora não iria aceitar
tão fácil a derrota!

Ahmed olha para a irmã.

— Jade, pegue um suco para Luisa beber, por favor.

Ela acena e sai, seus cabelos longos se movimentando enquanto


anda. Ahmed logo está segurando os meus dois cotovelos e
antebraços, seu olhar criteriosamente me analisando.

— Você está bem? Ela te fez alguma coisa?

Nego com a cabeça.

— Estou bem. Além de dizer um monte de coisas sem sentido e


fazer ameaças de ódio, ela não fez nada.

Ele acena, seus olhos verdes ficando mais escuros, seus lábios
numa linha fina e dura.

— Se algum dia ela chegar perto de você novamente, você me avisa


imediatamente, entendeu? — interroga, autoritário.

— Sim.

Ele suspira, me surpreendendo com um abraço protetor e um beijo


na testa. Ele inspira o cheiro do meu cabelo e diz, chateado:

— O que aconteceu com o seu cheiro de maracujá e baunilha?

Franzo a testa, achando graça.

— Bem, eu estive no spa hoje, não tive como usar meus produtos de
sempre.

— Eu gosto do seu cheiro, não quero que o mude — fala, não


contente.

— Eu não vou mudar.

— Ótimo.
Ele ia me dizer algo a mais, mas Jade chega, com uma taça
dourada na mão, que suspeito ser folheada a ouro.

— Cunhada, você não vai acreditar: minha mãe mandou preparar


suco de maracujá para quem quisesse, pois ela se lembrou do
quanto você gosta. Aqui está! — fala, me entregando a taça.

Bebo um gole, gemendo de prazer em seguida.

— Hum... Isso está muito bom! Bem concentrado e azedo, do jeito


que gosto!

Ela ri.

— Tenho percebido que você tem uma paixão por frutas cítricas.

Aceno.

— Totalmente! São as minhas preferidas.

∆∆∆

No momento em que estávamos conversando e rindo de algumas


bobeiras, o sheik Tariq nos interrompe, logo se dirigindo a Ahmed:

— Está na hora, Ahmed. Você sabe, alguns já estão me cobrando...

Sinto o aperto de Ahmed aumentar em minha cintura, e de repente


ele fica tenso.
— Tem certeza que precisa ser agora? Não tem como deixar para
quando acabar…

— Não tem, Ahmed, e você sabe muito bem disso. Eles precisam
estar aqui quando acontecer.

Não entendendo nada do que eles estão falando, olho para Jade,
tentando encontrar algo na sua expressão, mas o que vejo é um
rosto corado de vergonha, e seus olhos evitam os meus. Então olho
para Ester, que retribui o meu olhar com uma inquietação pouco
disfarçada. Ela então se esforça para sorrir, tentando passar uma
calma que ela com certeza não tem agora.

— Eu não vou pendurar o lençol — Ahmed fala, exasperado.

— Você sabe que tem que fazer isso, Ahmed! Você é o futuro sheik,
sem isso, você não trará segurança para o povo de que cumprirá
com as tradições e que a sua esposa... Além disso, é uma prova
também de que os seus filhos... Ela já não fez o teste médico! — diz
Tariq, cortando partes.

Ahmed balança a cabeça.

— Ela não vai entender...

— Quem não vai entender? — pergunto, já ansiosa por causa de


tanto mistério.

Ahmed me olha rapidamente e desvia o olhar para o pai.

— Não é nada, Luisa, são apenas assuntos do clã — fala, sem me


encarar.
— Mas vocês não param de falar de uma mulher, sou eu, não é?

— Eu irei te explicar tudo depois — fala, cortante.

Arqueio as minhas sobrancelhas, encarando-o. Ester pigarrea,


chamando a minha atenção.

— Hum, Luisa, você sabe, é a sua lua de mel agora...

Olho-a, não entendo por que raios ela está falando sobre isso aqui.

— Bem, isso eu e Ahmed iremos pensar depois, não?

Ela olha para o marido, pedindo ajuda.

— Não, Luisa. Bem, olha, temos uma tradição de família que o casal,
você sabe, consuma o ato durante a festa — Tariq fala, não muito
confortável.

Abro a boca, assombrada.

— Durante a festa?!

— Bem, sei que parece estranho para você, mas aqui isso é
normal... Obviamente ninguém irá chegar muito perto da ala que
estiverem... — Ester tenta explicar.

Balanço a cabeça negativamente.

— Eu não quero algo assim!

— Luisa, escute, é uma tradição inquebrável! Como minha mãe


acabou de dizer, isso é absolutamente normal em nosso meio, não
precisa ficar horrorizada — Ahmed diz, ansioso e um pouco irritado.

— Mas eu estou horrorizada!

— Não te entendo, isso precisa acontecer de qualquer jeito, não? O


que custa respeitar a tradição do meu povo?

— Custa a minha dignidade!

— Hey, hey, hey…! — Jade interrompe.


— Gente, é só alguns minutos de sexo, para que tanto drama? Até
parece que terá alguém no quarto ou algo assim! — diz, irônica.

O seu pai a fita com um olhar mortal. Jade revira os olhos.

— Só sexo?! Você não tem propriedade para falar disso, garota!

— Ué, por que não?

Tariq dá um passo à frente, indicando querer pegar a filha, mas


Ester o detém.

— Tariq!

Ahmed suspira, exasperado, e me olha, sério.

— Luisa, por favor, faça isso por mim. Prometo que não será o bicho
de sete cabeças. É um pouco desconfortável saber que tem pessoas
no castelo, mas eles não irão te ver mais por hoje. Logo todos irão
embora.

— Ahmed... Isso que você está me pedindo é bárbaro demais!


— Eu sei, concordo com você. Mas essa é uma tradição milenar, não
posso mudá-la, devo cumprir com as tradições.

Não respondo. Quando me dou conta, todos se foram, até Jade.

— Por favor... Faça isso por mim, Luisa — pede, carinhoso.

Suspiro, chateada, quase chorando de raiva.

— Certo, eu vou fazer isso, mas por você, porque eu sei que o seu
posto exige isso e porque eu respeito a sua família.

Ele sorri, orgulhoso e emocionado.

— Obrigado, Habibi.
Capítulo 20

Luisa Jones

Assim que ele escuta a minha afirmação, logo sou enlaçada pelo
seu braço, de forma possessiva, na minha cintura. Ahmed reencontra
com o seu pai e troca algumas palavras com ele, em árabe. Tariq me
olha rapidamente e acena. Em seguida, o sheik vai até alguns
homens, em um grupo reunido, e diz algo. De repente, sou o alvo de
vários olhares sistemáticos. Os outros convidados da festa também
parecem curiosos e animados. Percebendo o meu nervosismo,
Ahmed começa a me levar para mais adentro do castelo. Antes de
nos afastarmos ainda mais, porém, Ester me alcança e diz, no meu
ouvido:

— Não pense muito, Luisa. Só pense em coisas boas e tente


aproveitar o momento, por mais que seja estranho para você.

Ela então se afasta, mas antes olha para o filho, que retribui o
olhar. Ahmed continua me levando para mais adentro do castelo, até
chegarmos numa porta desconhecida por mim, a qual ele abre.
Quando eu entro, a primeira coisa que sinto é o cheiro de Ahmed,
exótico e masculino. Observo o quarto rapidamente. Ele é enorme e
absurdamente luxuoso.

— Eu vou chamar alguém para te instruir, Luisa. Eu gostaria de fazer


isso, porém a tradição diz que deve ser uma mulher — ele diz, me
observando.

Aceno, perdida em pensamentos. Ele então se aproxima de mim e


segura o meu rosto com as palmas de suas mãos quentes e fortes.
Sinto os seus dedos fazerem cócegas nas minhas bochechas, e um
sorriso involuntário aparece no meu rosto. Ele sorri também, um
bonito sorriso puramente masculino, a sua barba de alguns dias
realçando o seu rosto moreno.

— Você estava linda em todos os dias de festa, mas hoje... Me


apaixonei mais por você quando te vi de branco, vestida de noiva
para mim.

O seu olhar é tão intenso, tão penetrante, que tenho vontade de


desviar o olhar. Ele então olha para o meu vestido, suas mãos
deixam o meu rosto, e alguns dos seus dedos passam a trilhar os
bordados do meu corpete, lentamente.

— Você é tão bonita, devia sempre estar coberta de roupas caras e


joias. Ficarei feliz em manter você sempre assim, como uma
princesa, como uma sheika.

Não respondo. Estou fascinada demais pela forma que ele está
falando comigo, me seduzindo. Os dedos dele vão para o meu colar
de safiras, um presente me dado por ele ontem, por intermédio de
sua mãe. Ele então, de repente, para no meu decote discreto e fixa
o seu olhar lá, por longos segundos.

— Como eu te disse, amo ver você com roupas caras e joias, porém
tenho o pressentimento de que irei gostar mais de te ver sem nada,
totalmente natural.

Surpreendida por sua ousadia, arfo, minha respiração ficando mais


rápida. Ele sorri, como predador.

— Oh, não fique com medo de mim, Habibi. Você não pode ficar
aflita só porque estou sendo homem, pode? O seu marido deve ter
liberdade para querer você, ou você não concorda? — pergunta,
seus olhos verdes fixos nos meus, me hipnotizando.
Balanço a cabeça.

— Eu não sei o que pensar — falo.

— Então não pense, apenas deixe o seu marido tomar o controle,


possuir você, te cuidar e fazer você se sentir bem.

Dito isso, logo os seus lábios estão no meu pescoço, me beijando


lá, demoradamente. Eu me arrepio toda, absolutamente todo o meu
corpo reage. O que foi isso?! Mas eu não tenho tempo de pensar na
resposta, porque logo a sua boca está no lóbulo da minha orelha, me
mordendo, sugando lá. Estremeço, ofegante. Uma de suas mãos vai
para as minhas costas, me trazendo para ainda mais perto do seu
corpo, o suficiente para que eu tenha o meu peito grudado no seu
tórax. A sua outra mão vai para o meu cabelo, decorado por uma
coroa e pedrinhas preciosas em algumas mechas. Ela vai para
debaixo do cabelo e o puxa, brutal, forte e quase de maneira ríspida
demais. Forçando o meu olhar no seu, com a posição da minha
cabeça, ele diz, feroz, possessivo:

— Você. É. Minha.

A forma como ele disse, pausadamente, em tom ríspido e


autoritário, não teve o efeito que em qualquer outra situação da
minha vida teria. Ao invés de assustada, fico eufórica, extasiada,
como se tivesse tido uma dose de alguma forte droga. Há uma forte
entonação sexual em seu tom de voz, e é impossível não se sentir
excitada, mesmo na situação que estou me encontrando: prestes a
consumar um casamento com um sheik árabe.

— Mas você sabe disso, não é, Habibi? Você sabe que me pertence,
que pertence ao seu sheik, para sempre — ele sussurra no meu
ouvido, sedutor.
Arfo, ansiosa, com o coração disparado e os pensamentos a mil
por hora.

— Você é uma boa garota, eu sei disso. Às vezes é rebelde, mas


sabe que deve honrar o seu sheik, não é? Você quer satisfazer o seu
sheik, Luisa, quer honrar o seu marido?

Suspiro, impossibilitada de falar. Ele não gosta muito do meu


silêncio, e a sua mão volta para o meu cabelo, puxando-o,
possessivo.

— Eu quero que a minha esposa responda! — ordena, autoritário.

Olho-o, meus olhos arregalados e em transe, mas ainda sim me


esforço para conseguir dizer:

— Sim, eu quero.

Ele afrouxa o aperto, mas a sua mão continua lá, num claro domínio
sobre mim.

— É assim que eu quero ver você, obedecendo ao seu marido.

Começo a fechar a cara, mas ele percebe e me impede de afastar.

— Eu não quero que você pense que isso é algo ruim, nem sempre a
obediência é algo ruim. Na verdade, na maioria das vezes, ela é boa
— diz, sedutor. — Ser obediente a mim lhe trará benefícios, eu
prometo. Será tão bom, que você ficará viciada, não irá querer mais
me contestar.

Não respondo, e ele entende isso como um sinal para avançar. Ele
então espalha vários beijos quentes pelo meu pescoço, nunca
encostando nos meus lábios, me deixando sempre na expectativa,
mas nunca chegando lá. Quando estou tremendo nos seus braços,
ele para. Simplesmente para e me solta, deixando-me desnorteada.
Vendo a minha insatisfação, ele sorri.

— Você precisa ser preparada antes, lembra? É a tradição. Eu não


posso te tornar minha mulher antes disso.

Atordoada, digo a única coisa que sou capaz de dizer no meu atual
estado:

— Ah!

Ahmed ri, seus olhos ainda cheios de desejo.

— Não se preocupe, minha esposa, não irá demorar muito, e eu logo


estarei de volta para te satisfazer, para cumprir com o meu papel de
marido. Você quer isso, não? Que eu seja o marido que você
precisa, que satisfaça os seus mais íntimos desejos?

Corando com a escolha de palavras de Ahmed, desvio o olhar,


encabulada.

— Você não deve ficar envergonhada por isso, Luisa. Eu sou o seu
marido, o seu desejo é o meu também.

Concordo, timidamente. Ele então me olha fixamente e fala:

— Você precisa ser preparada. Mas eu logo estarei de volta,


esposa.

Com essas palavras, ele sai, fechando a porta atrás de si, me


deixando sozinha no seu quarto, que reflete tanto quem ele é. Fico
alguns minutos em pé, apenas pensando no que raios acabou de
acontecer. De repente, a porta é aberta novamente, e duas mulheres
entram, sorrindo e fechando a porta atrás. Elas estão bem-
arrumadas, então provavelmente estavam na festa. Uma delas tem
em suas mãos uma bandeja com várias coisas dentro.

— Boa noite, sheika, eu sou Aisha e esta é Leila. Estamos aqui para
te preparar para a sua noite de núpcias.

— Entendo — falo, apesar de estar constrangida com esta situação.

— Já começo pedindo que a senhora tire o seu vestido e as outras


roupas. Se quiser, posso ajudá-la.

Morrendo de vergonha, recuso sua ajuda e começo a fazer isso


sozinha. As mulheres, vendo o meu desconforto, evitam olhar para o
meu corpo.

— Nós só vamos lhe dar um banho de rosas e depois passar um


óleo no seu corpo, senhora Hamir. Será rápido.

Depois de concordar, elas preparam o meu banho no banheiro de


Ahmed, que é muito maior que o do meu atual quarto. Com a água
pronta e cheia de rosas, sou orientanda a entrar. Assim que estou
submersa, elas começam a me entregar produtos para que eu me
lave. Todos têm cheiros peculiares, como de ervas. Uma delas vai
para o meu cabelo, tirando todos os adereços. Depois de alguns
minutos de banho, sou orientanda a sair, e uma toalha quente e
felpuda é enrolada em volta do meu corpo. As tatuagens de henna
dos meus pés e mãos continuam perfeitamente intactas. Bem que
Ester falou que isso não sai com facilidade. Segundo ela, só vai
desaparecer mesmo depois de dez dias. Aisha e Leila me levam de
volta para o quarto e me pedem para que eu sente na cama. Em
seguida, ambas iniciam a tarefa de espalhar o inconfundível óleo de
lavanda no meu corpo. Quando terminam, minha pele está macia e
cheirosa, mas não pegajosa, como pensei que ficaria.
Logo depois, elas me mostram uma camisola branca, e um pouco
transparente, e dizem que eu devo colocá-la. Pergunto se elas não
têm um conjunto de lingerie para eu colocar debaixo, mas, em
resposta, elas riem, achando graça. Quando estou pronta, usando a
bendita camisola curta e transparente, que não deixa muito para
imaginação, já que os meus seios estão quase totalmente visíveis,
elas sorriem, aprovando a minha aparência. Por fim, elas colocam
várias velas pelo quarto, algumas aromáticas, com o inconfundível
cheiro de lavanda novamente. Satisfeitas com o trabalho, elas saem,
dizendo frases estranhas, como: "Que Allah lhe dê o dom de
conceber" e "Que você seja orgulho para o seu marido". Confesso
que fiquei assustada, mas logo elas já não estavam aqui mais, e
então a minha mente começou a me deixar ainda mais nervosa.

Como que eu fui parar aqui?! Olha só onde um erro idiota foi me
trazer! Tudo bem que Ahmed é extremamente bonito, mas isso aqui
é assustador. Estou me sentindo como um frango pronto para o
abate, ou um cordeiro para o sacrifício. Eu sinceramente não sei
como que, mesmo nestas condições, eu esteja tão ansiosa pelo o
que estar por vir. Eu ainda estou excitada e não paro de pensar nas
palavras de Ahmed. Tudo o que ele diz é tão machista, tão cheio de
possessividade e obsessão... Mas, ainda sim, por mais estranho que
seja, isso me deixa muito, muito animada por mais. O seu jeito
autoritário, às vezes, é intimidante, mas na maioria das vezes é um
baita afrodisíaco. O seu jeito ora carinhoso e compreensivo, ora
possessivo e autoritário me deixa totalmente confusa, mas
completamente instigada a me aproximar mais da sua presença.
Sinto um desejo obscuro de descobrir mais, de saber quem ele
realmente é e aonde ele quer me levar.

Sinto que estou correndo perigo, que, quando eu me entregar, ele


não me soltará novamente, que então ele começará a exigir coisas
que eu não sou capaz de dar. Tenho o pressentimento de que ficarei
presa sob o seu domínio, que serei controlada e totalmente possuída
por ele, até eu me tornar só sua, de ninguém mais do mundo. Isso é
um pouco assustador, mas não acho que será tão ruim quanto o meu
lado racional tenta me convencer. Talvez será bom, viciante... Mas
até que ponto eu ficarei viciada, e se eu ficar dependente? Talvez
não seja o ideal eu ficar dependente do meu marido do acaso. Nós
estamos casados por motivos nada românticos. Nós não somos
como qualquer outro casal. Eu sou uma jovem no início da vida ainda,
e ele é um sheik árabe. Ele quer tudo de mim, e não sei se estou
preparada para dar. Me parece algo muito... permanente.

Novamente, me assusto quando a porta é aberta. Virando-me, sou


surpreendida com a visão de Ahmed, já sem camisa, com apenas a
calça larga e branca, a qual tem a barra bordada com fios dourados,
pertencente à sua vestimenta de hoje. Meus olhos são atraídos para
o seu peito, moreno e muito bem definido. Os seus músculos nunca
estiveram tão evidentes como agora. Alguns poucos pelos enfeitam a
parte entre os seus mamilos e outros a parte mais abaixo do seu
abdômen, descendo até por onde a calça esconde, impedindo a
visão completa. Todo o meu corpo se arrepia com a excitante visão,
e eu me viro novamente para o outro lado, envergonhada. Parada,
sinto quando Ahmed se aproxima, até chegar aonde estou, sentada
na cama. Ele então toca os meus cabelos soltos e escovados, seus
dedos passando entre as mechas loiras.

— Eu quero que você se vire para mim — ordena.

Eu me viro, o meu coração batendo mais forte. Ele me fita, seus


olhos intensos.

— Levante-se.

Quando o faço, ele fica parado, me analisando detalhadamente, de


cima para baixo. Sinto o seu olhar se demorar mais nos meus seios,
que ficam um pouco explícitos sob o fino tecido da camisola branca.
Ahmed de repente está na minha frente, suas mãos segurando o
meu rosto com delicadeza. Ele não diz nada, mas sou surpreendida
pelos seus lábios nos meus, do nada, sem aviso, simplesmente
assim. Ele não pede permissão, ele só começa a me beijar com
força, exigindo o acesso à minha boca. Eu não sou capaz de recusar,
e logo a sua língua está dentro de mim, me tomando, me possuindo,
me marcando como sua. Ele é implacável enquanto me beija e não
deixa espaço para hesitação da minha parte. Ele é dominante e
consegue provar isso até quando me beija. Suas mãos não ficam
muito tempo paradas e logo estão no meu cabelo, depois uma delas
vai para o meu seio esquerdo e, sem aviso prévio, ele aperta lá,
forte, possessivo... A sua mão passa a segurar todo o meu seio...
Em seguida, ele aprofunda ainda mais o beijo, e o seu aperto é
trocado por dedos habilidosos que beliscam o meu mamilo, forte, de
forma que eu não contenho um gemido em sua boca, entre a dor e o
prazer. Ahmed se separa de mim, e eu estou ofegante, sugando todo
ar possível.

— As circunstâncias exigem que eu não demore muito, mas eu farei


isso ser bom para você de qualquer forma.

Aceno, a minha cabeça numa confusão de pensamentos.

De repente, ele pega a barra da minha camisola e começa a tirá-la,


devagar, seus olhos nunca deixando os meus. Quando estou
totalmente nua, ele se afasta para me olhar. O que acontece em
seguida é que ele solta um rugido, digno dos homens das cavernas,
quase me assustando. O seu olhar é típico de um predador, louco
para comer a sua presa. Nesse caso, eu sou a presa.

— Se eu soubesse o quanto você é magnífica, eu teria tido muito


mais dificuldade de me manter longe de você por tanto tempo. Tudo
o que eu pude fazer foi te desejar em meu íntimo, sem poder tocá-la,
porque eu precisava manter a sua pureza até o nosso casamento.
Mas agora você já é a minha esposa, e eu não preciso mais
controlar os meus impulsos.
Dito isso, ele me pega no colo, me fazendo soltar um grito de
surpresa. Porém, logo estou na cama, deitada, nua, com o coração
disparado e a respiração ofegante. Eu não tenho muito tempo para
me recompor, porque logo a sua boca está tomando a minha
novamente, quase que de forma brutal. Mas eu estou gostando, não
posso negar. Ele não fica muito tempo na minha boca, no entanto, e
logo ela está em um dos meus seios, me sugando com tanta força,
que tudo o que eu faço é gritar, extasiada, surpresa... Ele não
parece se importar, tudo o que ele parece querer neste momento é
sugar os meus seios, um e depois o outro, alternando sempre que
penso que vou entrar em colapso. Quando, por fim, penso que vou
desmaiar, ele me morde em um, me fazendo gritar de dor e protesto.

— Você não vai gozar agora, esposa — diz, autoritário.

— O quê? — questiono, atordoada.

— O seu prazer é meu. Mas hoje você só irá gozar quando eu


estiver dentro de você, te tomando, te fazendo totalmente minha. Só
assim você chegará ao êxtase hoje, entendeu?

— Sim — sussurro, ofegante.

Quando penso que não, sou surpreendida por Ahmed separando as


minhas pernas com as suas mãos fortes e morenas, as quais são um
contraste em relação à minha pele clara e delicada. Pressentindo o
que ele está tentando fazer, tento fechar as minhas pernas,
envergonhada. Mas ele não permite, ele me mantém aberta,
arreganhada, totalmente exposta para o seu olhar possessivo.

— Ahmed... — protesto.

Mas ele nem ao menos se dá o trabalho de me responder, a sua


atenção está vidrada entre as minhas pernas, na minha parte mais
íntima. Coro de vergonha vendo-o assim. De repente, uma de suas
mãos está bem lá... tocando-me! Sinto os seus dedos separarem as
minhas dobras, revelando a minha entrada.

— Ahmed! — protesto, agora realmente forte.

Ele desvia o olhar da minha intimidade e me olha, seus olhos verdes


extremamente escuros agora, totalmente tomados pela luxúria.

— Eu quero que você fique calada agora, Luisa. Preciso te analisar


por completo. Este momento é único, e eu quero guardá-lo
eternamente na minha memória, quero gravar cada mísero detalhe.

Dizendo isso, ele volta a me olhar lá, totalmente faminto. Sou


surpreendida por um dedo seu cutucando a minha entrada, mas sem
entrar. Dou um pulo, assustada.

— Nada vai entrar aqui enquanto eu não tiver o meu pênis dentro
primeiro — fala, quase que agressivo.

Com uma última olhada, ele fala:

— Eu posso ver o quanto a sua entrada é pequena. Será difícil me


controlar quando estiver entrando em você.

O seu comentário faz todos os pelos do meu corpo se arrepiarem,


e eu suspiro, ansiosa. Enquanto estava distraída, senti algo molhado
bem na minha entrada. Alarmada, grito.

— Shh, eu preciso lubrificá-la, você não está pronta ainda.

Logo em seguida, os ataques de sua língua começam, me


atormentando, me atiçando, me fazendo gritar por puro desejo e
ansiedade pela liberação. Estava totalmente louca para chegar lá...
Porém, quando eu penso que finalmente isso vai acontecer, que vou
chegar aonde quero, ele para, de repente. Eu estava tão perto do
limite, que sinto uma forte vontade de chorar quando ele para. Vendo
a minha frustração, ele beija a parte interna de uma das minhas
coxas, carinhosamente.

— Não fique triste, Habibi, eu vou deixar você chegar lá, mas precisa
ser comigo dentro de você.

Vendo que eu não respondi, ele começou a tirar as poucas peças


que ainda usava. Quando ele está totalmente nu, assusto-me com o
que vejo e grito.

— Ah, não, isso aí não vai dar! — protesto, espantada.

Ele ri, seus olhos cheios de malícia e ironia.

— Fique tranquila, Habibi, o trabalho de fazer entrar é meu, você só


tem que relaxar e sentir quando cada centímetro de você for
preenchido.

Fico de boca aberta com o seu comentário. Rindo, ele logo está em
cima de mim, me dominando. Ele chupa novamente um dos meus
seios, me fazendo soltar um gemido de prazer.

— Pronta para receber o seu marido dentro de você?

— Não sei — falo, com sinceridade.

Ele sorri e beija brevemente os meus lábios. Porém, é impossível


não sentir o quanto o seu corpo está tenso, louco para ter o que
precisa.

— Eu vou fazer com que isso seja bom para você, esposa.
Antes que eu pudesse pensar e dizer algo, sinto a ponta do seu
pênis na minha entrada molhada. Gemo, ansiosa, mas ao mesmo
tempo assustada. Ahmed segura o meu rosto com uma mão,
enquanto a outra continua entre nós. Ele me força a olhar
diretamente em seus olhos verdes.

— Você só precisa respirar devagar agora — diz, concentrado no


que pretende fazer.

Não demora muito para que ele comece a entrar, devagar, parando
uma vez ou outra devido aos meus gritos de pânico.

— Respire, Luisa, logo eu estarei lá. Você só precisa me deixar


entrar.

E então, de pouco em pouco, ele ultrapassa a minha barreira de


nascença. Ahmed rasga a minha virgindade com um último impulso,
forte, mas contido. Involuntariamente, eu choro. Não foi rápido, ele
foi gentil e paciente, mas ainda sim doeu, e ainda está doendo,
muito. Chorando, sou calada pelo beijo de Ahmed, possessivo. Ele
me beija por longos minutos, até que a dor diminui, e eu me calo.
Quando ele me olha novamente, sou assaltada por um misto de
emoções. Acontece que há tanta coisa no olhar dele, tanta emoção,
gratidão e, claro, aquela parte possessiva está lá. Porém, há algo
mais, uma espécie de paixão... Eu não sei definir. Ainda soluçando
um pouco, observo quando Ahmed sai um pouco de dentro de mim e
olha para onde estamos unidos, soltando uma exclamação em
seguida:

— Ah, querida, você está sangrando mais do que imaginei que


sangraria…!

Assustada, tento olhar, mas ele me impede.


— Não. Não se preocupe com isso agora, apenas sinta a parte boa
que virá.

Assim, ele volta a me penetrar completamente, me preenchendo


até aonde é possível chegar. Depois de algumas idas e vindas,
começo a sentir os primeiros tremores de prazer. Ahmed enfia uma
mão entre nós, finalmente tocando o meu clitóris, me fazendo ter um
súbito choque de prazer. A combinação do seu membro dentro de
mim com o seu dedo no meu ponto de prazer foi tudo o que eu
precisava, e então, após alguns minutos, eu finalmente cheguei lá,
chorando, ofegante, enquanto os tremores me tomavam por inteira.
Logo depois de mim, Ahmed veio, rugindo de prazer. Ele morde o
meu seio novamente enquanto vem, me enchendo com seus jatos
quentes de esperma. Sinto as paredes internas da minha vagina
apertá-lo ainda mais até ele parar de vir. Quase sem consciência,
ouço Ahmed dizer no meu ouvido:

— Obrigado por se guardar para mim, Luisa, agora você é minha,


para sempre. Eu nunca te deixarei ir para longe de mim. Nunca! —
ruge no meu ouvido.

Exausta demais, não digo nada. Ahmed beija a minha testa logo em
seguida, e eu adormeço. Caindo no sono, só tenho tempo de pensar
que o lençol debaixo de mim estava sendo tirado.
Capítulo 21

Ahmed Hamir

Assim que eu despejei toda a minha semente nela, Luisa dormiu,


mas antes ela tomou tudo, inconscientemente faminta por tudo de
mim. Eu nunca, em toda a minha vida, senti algo tão poderoso, tão
intenso quanto o que acabou de acontecer. Ela estava com tanto
medo, mas a sua confiança em mim era tão verdadeira, mesmo não
tendo muita convivência comigo. Eu pude ver nos seus olhos que ela
confiava em mim, que ela acreditava que eu iria ser bom com ela,
que iria cuidá-la, ampará-la se fosse cair. Eu pude ver a inocência de
sua alma no momento em que a tomei, que rompi com a barreira da
sua virgindade. Havia tanta pureza nos seus olhos azuis, havia tanta
paixão... Eu vi tanto de sua alma, de sua essência naquele momento,
que achei que o meu próprio espírito fosse sair do meu peito, porque
eu senti o meu coração se encher com tantos sentimentos, era tanta
emoção... Eu simplesmente me apaixonei completamente por essa
mulher, por essa garota tão inocente, tão boa.

Enquanto eu entrava dentro dela e olhava dentro dos seus olhos, vi


o quanto aquilo também foi especial para Luisa, o quanto aquilo
mudou algo do seu ser. Mas então ela sentiu dor, ela chorou, eu vi
lágrimas puras e inocentes descerem dos seus olhos, e eu morri um
pouco quando vi seu sofrimento. Eu a estava fazendo chorar, sentir
dor, eu não queria que ela sentisse nenhuma maldita dor. Luisa é boa
demais para ter que sentir qualquer tipo de desconforto em sua vida.
Eu quase tive ódio de mim mesmo quando vi o quanto ela estava
sangrando. Eu tinha todo o meu pau enterrado nela, e muito sangue
virgem saia da sua vagina. Eu me senti como um bastardo idiota.
Mas então eu tive que controlar as minhas emoções, ela estava
sofrendo, e eu tinha que concertar a merda que tinha feito.
Assim, estava decidido a fazê-la sentir prazer na sua primeira vez.
Foda-se que chegar à libertação é raro para as virgens, eu não
queria saber, com Luisa seria diferente, ela é a minha esposa, então
eu ia sim fazê-la vir comigo. E eu fiz exatamente isso. Eu senti
quando ela estava vindo, quando o aperto da sua vagina apertada se
intensificou ainda mais ao meu redor, me estrangulando, incentivando
que eu viesse também, que eu liberasse o que o seu corpo
precisava. A sua vagina queria a minha semente, ela queria ser
totalmente preenchida, até transbordar. O seu útero precisava de
receber o meu DNA, necessitava ser colonizado, por inteiro. Eu pude
ver o assombro nos olhos de Luisa quando ela chegou lá, quando ela
presenciou o que eu posso fazê-la sentir, aonde ela pode chegar
comigo. Eu vi nos seus olhos o quanto ela sentiu prazer quando eu
me derramei dentro dela, intensificando ainda mais o seu próprio
orgasmo. Ela já estava vindo quando jatos quentes de mim a
inundaram, fazendo-a minha, marcando-a como a minha mulher.

As sensações que ela sentiu, os sentimentos que ela teve, foram


tão intensos, que ela desmaiou de prazer, ela simplesmente não
conseguiu lidar com tanto. Quando ela dormiu, fiz uma prece para
Allah para que ela engravidasse logo do meu filho. Ela já é minha,
não existe argumentos contra isso, porém, ainda sim, só vou me
sentir seguro de que ela nunca irá se afastar de mim, de que nunca
irá fugir, de que sempre ficará ao meu lado, quando ela estiver com o
ventre ocupado pelo meu filho, aquele que eu terei colocado dentro
dela, enquanto ela gritava pelo prazer de ser totalmente tomada por
mim. Eu ainda irei possuir Luisa de todas as formas possíveis, não
terei paz enquanto ela mesma não tiver certeza de que pertence a
mim, somente a mim. Para isso, não medirei esforços e não irei
economizar tempo, poder e artimanhas.

Eu sou um homem esperto, quando quero algo, eu consigo. Gosto


de pensar que sou mais esperto que o meu pai. Tariq é um homem
inteligente, porém ele acaba mostrando quem ele realmente é para
todos, sem exceção. Ele não se importa de ser visto como o líder
autoritário, e muitas vezes brutal, que é. Mas penso diferente. O
homem pode conquistar o mundo com apenas alguns gestos: um
elogio, um aperto de mão... Se sou bom? Não muito, porém uso da
educação, gentileza e outros gestos para conseguir o que eu quero.
Deixar as pessoas pensarem que sou "civilizado", ou seja, ocidental,
já que para as pessoas o conceito de civilizado é ser parte do
padrão ocidental, tem trazido bastantes benefícios para mim. Eu
consigo derrotar os meus inimigos apenas fingindo que sou um idiota
politicamente correto. No dia a dia, tenho o dom de convencer o
mundo de que eu sou a melhor opção. Não sou um homem bom,
mas, quando se trata Luisa, tudo o que eu quero é ser aquele que
ela mais precisa.

No caso da minha esposa, farei o necessário para convencê-la de


que a felicidade que procura, na verdade, está no simples fato de
estar ao meu lado, de ser minha. Luisa irá entender que eu sou tudo
o que ela precisa, eu sou quem ela não sabia que precisava. Irei
provar para a minha linda menina de cabelos dourados que estar sob
o meu domínio, sob a minha proteção e cuidado, é algo bom. Eu não
sou completamente bom, tenho o meu lado ruim. Porém, quando se
trata dela, tudo o que eu quero é o melhor para ela, que seja feliz e
realizada. Luisa não me parecia ser uma mulher feliz quando a
encontrei, parecia estar sempre muito tensa, com medo, sempre
ansiosa para mudar de vida. O que Luisa não sabia é que tudo o que
ela precisava era de um marido de verdade, um homem para
completá-la, para fazer dela o mundo dele. No começo, eu também
não imaginava o quanto ela seria importante para mim, o quanto eu
iria ficar obcecado por ela... Eu sabia que os meus sentimentos não
eram normais, que o que eu sentia era algo sério demais, já que ela
seria apenas uma simples amante temporária. Mas eu ignorava, pois
pensava que Luisa não seria apta para ser a esposa de um sheik, a
minha esposa.

Somente depois, na prisão, que ela confessou para mim, medrosa


e chorosa, como uma garotinha, que ainda era intacta, pura... Ou
seja, ela não só parecia uma menininha naquele momento, como
realmente era uma. Mesmo naquele ridículo vestido vermelho curto e
com aquela maquiagem borrada, ela ainda parecia uma garotinha,
indefesa, digna de cuidado e proteção. Agora, neste momento,
olhando-a dormir nua na minha cama, me sinto como um imenso
sortudo por tê-la como minha esposa. Eu estou tão feliz que ela era
virgem, que eu fui o seu primeiro e que serei o seu último. Sim,
último! Luisa nunca irá conhecer outro homem além de mim, eu nunca
irei permitir. Luisa agora é minha para sempre e em breve estará
grávida do meu filho, e, quando o bebê nascer, irei enchê-la
novamente da minha semente até que esteja grávida novamente. Eu
quero vê-la todos os dias em casa, cuidando das crianças enquanto
me espera, ansiosa.

Bem, há muitas coisas que pretendo fazer com Luisa ainda, uma
delas é possui-la novamente, e então novamente... Só de pensar em
tomá-la mais uma vez, sinto o meu pau endurecer, deixando-me
louco por libertação. Mas agora não dá para fazer isso, preciso
resolver a questão da virgindade de Luisa com o clã. Eu me recusei
a mandá-la fazer o teste de virgindade com a ginecologista, a sua
palavra já foi o suficiente para mim. Não é a dúvida ridícula de velhos
que iria me fazer obrigá-la a isso. Porém, no caso do lençol, essa
sim é uma tradição que não posso quebrar, ela é milenar. Todos os
sheiks Hamir penduraram o lençol manchado com a virgindade da
esposa na janela. Isso serve, não só para comprovar que a esposa
era virgem, como também para provar que o casamento foi
consumado e que os meus herdeiros serão legítimos, já que a mãe
nunca teve outro homem. Se eu não fizer isso, a vida da nossa
família poderá se transformar num inferno. Podem acusar Luisa de
adúltera e os meus filhos de ilegítimos. Assim, para evitar qualquer
problema futuro, o lençol de Luisa será pendurado na janela do meu
quarto, que está no terceiro andar do castelo, para que todos do clã
vejam que Luisa era sim pura.
Essa é uma tradição que pode parecer horrível para muitos países,
porém, no caso do meu clã e algumas regiões do Oriente, isso é
motivo de orgulho para as mulheres, elas se sentem honradas por
chegarem virgens ao casamento, e os maridos também se sentem
orgulhosos. Estou um pouco preocupado, no entanto. Provavelmente
Luisa não irá entender a importância do ato e ficará histérica. Mas eu
não posso fazer muita coisa sobre isso, tenho que cumprir com a
tradição.

Depois de comprovar que Luisa está mesmo dormindo, visto uma


roupa do meu closet e em seguida pego o lençol branco que estava
debaixo dela no momento que rompi com a sua virgindade. Abro-o
um pouco, o suficiente para ver a mancha vermelha-escura de pouco
mais de seis centímetros. Sinto um pouco de culpa ao vê-la, sei que
deve ter sido uma sensação ruim para Luisa no momento da
consumação. Contudo, uma parte de mim, primitiva e selvagem,
sente-se feliz em vê-la, assim como todo homem muçulmano do meu
povo. Em silêncio, saio do quarto, deixando Luisa dormindo na nossa
cama. Quando estou na ala de reuniões do clã, logo vejo o meu pai
no corredor, provavelmente me esperando.

— E então, filho, deu tudo certo? — ele pergunta, assim que estou
na sua frente.

Aceno, com um sorriso.

— Sim, ela é uma mulher incrível, perfeita. Eu sou um homem de


sorte.

O meu pai sorri também.


— Fico feliz que ela é quem você achava que era... Luisa está no
quarto?

— Sim, ela está dormindo, acho até bom. Ela precisa descansar, a
semana foi bem agitada para ela.

Meu pai concorda e então fica sério, seu olhar fixo no lençol que
estou segurando.

— Vamos entrar, o conselho está te esperando.

Suspiro, mas aceno em concordância.

— Certo, vamos terminar logo com isso.

Ao lado do meu pai, entro na sala de reuniões, todos os membros


já nos seus lugares. Eles estavam conversando, animados ainda
devido à festa, mas, quando me veem, todos se calam, seus olhares
ansiosos. Decidido a encerrar logo com isso para voltar o mais
rápido possível para Luisa, falo, indo direto ao ponto:

— Em minhas mãos está o lençol da consumação do meu casamento


com a minha esposa.

Pauso por um momento, para desdobrar o bendito lençol branco


que todos querem ver. Assim que ele está estendido em minhas
mãos, com a mancha vermelha exposta, coloco-o sobre a mesa,
para que todos vejam com seus próprios olhos.

— Aí está a prova da honra da minha esposa. Assim, qualquer


suspeita ou boato difamando o nome dela e o da minha família
jamais será aceito! — digo, alto o suficiente para deixar claro o
quanto estou falando sério.

— Como o atual sheik deste clã, reforço a palavra do meu filho,


nenhuma calúnia contra a minha nora ou contra a minha família será
aceita! — o meu pai diz, altivo, com a devida postura de um sheik.

E então, depois de algumas perguntas básicas sobre Luisa e sua


nova vida com o clã, vêm as felicitações:

— Ahmed, tenho certeza de que você fez a melhor escolha ao fazer


de Luisa a sua esposa. Que Allah abençoe a nossa nova sheika e
que o seu ventre gere muitos descendentes para o nosso povo —
Hiran diz, respeitosamente.

— Luisa Hamir terá o nosso respeito, sheik, assim como os filhos


que o senhor tiver com ela — diz Ademir.

— Obrigado pelo apoio de todos que foram à favor da minha união


com Luisa — digo, sério, para todos da sala. — Como manda a
tradição, o lençol será exposto em uma das janelas do castelo ao
amanhecer.
No fim da reunião, recebo as felicitações de alguns dos meus
opositores, inclusive de Jamal, que não conseguia esconder a raiva
por não ter conseguido colocar a sua linhagem no poder através da
sua fútil filha Jamile.
Cápitulo 22

Luisa Jones
De repente, em meu sonho, sou impulsionada a acordar pela voz da
minha própria mente. Quando acordo, me assusto quando vejo onde
estou. Com o coração disparado, me sento na cama e logo noto que
ainda estou nua. Olhando ao redor do quarto de Ahmed, que está um
pouco escuro, sou atraída pelo que vejo na enorme janela do
cômodo. Solto um grito assustado quando vejo que é um lençol
manchado, obviamente com o meu sangue. Desesperada, fico em
choque por vários segundos, sem saber o que está acontecendo. Só
depois que fui perceber que Ahmed estava tomando banho no
banheiro do quarto, pois ele logo sai de lá, com apenas uma toalha
ao redor do quadril. Inconscientemente, estou olhando para o seu
peito moreno e definido. Há uma cicatriz perto do seu esterno, a qual
ainda não sei o motivo de ela estar lá. Ahmed só me disse que tinha
sido um deslize de sua parte, no entanto a sua explicação foi muito
vaga.

Ahmed franze a testa, surpreso por me ver acordada. Ele então


caminha até a cama e se senta ao meu lado. A sua mão vai ao
encontro do meu rosto, mas eu me afasto antes que ele encoste em
mim. Ele fecha a cara, seus olhos me encarando, insatisfeitos.

— O que você tem, Luisa?

— O que eu tenho?! O que há com você?! — falo, ao ponto de


explodir.

Ahmed arqueia as suas escuras sobrancelhas, tenso.


— Hum, vejo que não acordou muito bem. Será que pode me dizer o
motivo?

O seu jeito calmo e passivo me irrita, e eu tenho que fazer um


esforço sobre-humano para não voar na sua cara com as minhas
unhas.

— Não se faça de idiota! O que aquele lençol manchado está


fazendo na janela?! Por acaso eu virei algum tipo de piada, é isso?!

Ahmed parece surpreso e olha para a janela e em seguida para


mim.

— Você acabou de acordar, não achei que já tinha notado o que tem
no lençol.

— Então você simplesmente achou que poderia colocar o lençol com


o meu sangue na janela e que eu não iria reconhecer?! — grito.

— É claro que não, eu já ia lhe explicar sobre isso.

— Pois comece explicando agora! — ordeno, estressada.

— É outra tradição, Luisa. Eu não tive escolha, não posso sair


quebrando tradições milenares o tempo todo — diz, sério.

— Céus, quantas tradições arcaicas a sua família tem?!

— Várias... Mas você não deve se preocupar com isso, o pior já


passou.

Respirando fundo, falo:


— Será mesmo?

Ahmed fica calado, e então as suas mãos grandes e masculinas


estão no meu rosto, seus olhos a poucos centímetros dos meus.

— Pare de se preocupar com as tradições, o lugar que você está,


com as pessoas... Você é a minha esposa agora, não é? Seus
pensamentos deveriam estar somente em mim, porque os meus
estão SOMENTE em você neste momento. Não estrague momentos
especiais por causa de preconceitos ou medo do desconhecido,
Luisa!

Ele fala com tanta seriedade, que engulo em seco. Levantando o


meu queixo, não convencida, falo:

— Como que posso pensar apenas em você? Nosso casamento é


falso, Ahmed. Eu não sou a sua esposa de verdade!

De repente, vejo os olhos dele queimarem de ódio. Sua respiração


fica extremamente rápida, e as suas mãos logo estão debaixo da
minha cabeça, me dominando, me mantendo no lugar, me obrigando
a olhar nos seus olhos cheios de fúria.

— O caralho que você não é a minha esposa de verdade, Luisa!


Você. É. Minha. Sim! — ruge, as últimas palavras pausadamente.

Com medo da sua explosão, tento me livrar do seu domínio, mas,


ao invés disso, ele me faz deitar na cama, suas mãos segurando os
meus braços, me mantendo no lugar, enquanto ele fica em cima de
mim. Grito, assustada. Nunca o tinha visto tão fora de si como agora.

— Eu sou muito bom com você, Luisa, mais do que você imagina.
Mas eu nunca irei permitir que você continue com o seu pensamento
de merda! Você é a minha esposa e sempre será a minha mulher,
até você morrer! Eu JAMAIS deixarei você ir para longe de mim!

Me mexo debaixo dele, tentando sair, sem sucesso. Ele é pesado e


nem se mexe com o meu esforço de tirá-lo de cima de mim.

— Eu entendo que você teve uma vida completamente diferente


durante toda a sua vida, que não gosta da minha cultura e não me
ama. Eu sei de tudo isso. Mas isso não significa que você pode me
fazer de idiota e me rejeitar e ir embora quando quiser. Você aceitou
se casar comigo, você sabia quem eu era e sabia que nunca teria o
divórcio. Então não me venha com essa de que o nosso casamento é
uma mentira! Se você pensa assim, então talvez eu não esteja
agindo como marido de verdade! — diz, gritando, nervoso, perto
demais do meu rosto.

— Me solta! — ordeno, com ódio.

— Não! Eu vou te soltar quando eu quiser. Não estou te


machucando, estou? Eu jamais irei te machucar, então não adianta
dar desculpas para se livrar de mim!

Lágrimas de ódio começam a descer dos meus olhos, e eu grito,


realmente grito, para liberar todas as emoções que estou sentindo.
Eu odeio esse homem! Ele está dominando a minha vida, a minha
mente!

— Isso, chore, garota. Você esconde muito ódio no seu coração, eu


posso ver que me odeia. Não precisa dizer, eu já vi.

Quando ele diz isso, passo a chorar ainda mais, inconscientemente.


Muitas emoções estou tendo agora e tudo o que me resta fazer é
chorar. Me sinto impotente.
— Eu sinto muito que você me odeia, Luisa. Isso torna tudo muito
mais difícil. Mas, ainda sim, eu não vou deixar você ir. Nossas vidas
estão entrelaçadas agora, para sempre. Eu só espero que você
consiga, pelo menos, me deixar ser seu amigo no futuro — ele diz,
baixo, rouco, decepcionado.

Soluçando, balanço a cabeça.

— Eu estou tão confusa! Me sinto como se estivesse perdendo a


minha identidade!

Sinto o seu corpo ficar rígido, e o seu olhar fica mais escuro.

— Você tem um conceito muito ruim de mim. Vejo que você


realmente não me conhece. Talvez o seu preconceito contra quem eu
sou e quem o meu povo é esteja te cegando.

Balanço a cabeça.

— Eu não sou preconceituosa!

Ele contrai os lábios, insatisfeito.

— Mesmo? Então você não conhece nem mesmo a si própria, pois


para mim está claro que o que você sente é preconceito, por isso se
sente tão ansiosa para achar um caminho para longe de mim.

— Isso não é verdade! Eu só não acho o nosso relacionamento


normal!

— E só por isso você simplesmente decidiu que ele é falso, que ele
não merece a sua atenção?!
— Eu só não quero fingir que estou feliz!

— Eu não quero que você finja, sua tola! Eu só quero que se permita
ser feliz no futuro. É tão difícil assim colaborar para ser feliz
comigo?!

Eu não respondo, as suas perguntas não me deixam confortáveis.


Então, viro a cabeça para outro lado e olho para o nada. Ahmed
continua em cima de mim, me prendendo. Levo um susto quando, de
repente, sinto a sua língua no meu pescoço, me lambendo, em
seguida me chupando. Grito, assustada:

— O que você está fazendo?!

— Tomando o que é meu. Você disse que este casamento é falso,


então talvez eu precise me esforçar para provar o contrário — diz,
sem tirar o rosto do meu pescoço.

— Eu não quero mais sexo com você!

— Mesmo? O seu corpo está me dizendo o contrário. Olha só a


artéria do seu pescoço pulsando mais rápido, e os seus mamilos
duros pelo meu toque...

— Me solte, Ahmed!

— Não mesmo, eu nem comecei ainda.

Dito isso, a sua boca vai para o meu seio esquerdo, me chupando
com força. Grito, em choque pelo prazer instantâneo. Tento
novamente sair, sem sucesso. Logo a sua boca está alternando
entre um seio e outro, me fazendo gritar de prazer e raiva. Não
satisfeito, a sua mão vai para a minha parte mais íntima, e ele
começa a massagear o meu clitóris, com força, fazendo o atrito
aquecer a minha carne. De repente, tudo o que estou sentindo é puro
prazer, euforia e uma vontade imensa de ser preenchida. Eu nunca
tive essas sensações antes, até as últimas horas... O meu corpo
parece se lembrar do que Ahmed fez comigo ontem e parece querer
novamente, com ardor. Gemo, inconscientemente pedindo por mais.

Ahmed então beija a minha boca, calando os meus pedidos e


protestos. Ele enfia a sua língua dentro de mim e simplesmente
domina a minha boca, sem delicadeza. De repente, percebo que a
toalha não está mais ao redor do quadril dele e eu sinto a sua ereção
cutucar a minha perna direita. Fico tensa, mas excitada. Mas Ahmed
não para com os seus ataques, com a sua língua na minha boca e os
dedos no meu clitóris, ele me faz ansiar pela chegada ao orgasmo.
Grito na sua boca, louca para chegar lá. Mas ele está me
atormentando, ele não está me deixando conseguir o que eu quero.
Começo a me esfregar no seu corpo, buscando algum atrito. Ele sai
da minha boca e ri, convencido.

— O que você quer, Luisa?

— Eu quero gozar! — grito, ansiosa e nervosa.

Ele então tira a sua mão da minha carne, me fazendo gritar,


frustrada.

— Se você quer gozar, então me peça "por favor" para que eu entre
em você e te preencha, até você gozar ao redor do meu pau.

— Isso é sério? — questiono, de boca aberta.

— Muito sério — responde, me olhando, altivo.

— Não vou fazer isso.


— Então eu vou vestir a minha roupa e te deixar aí.

Rugindo, nervosa, falo, contrariada:

— Por favor, Ahmed.

— Por favor o quê? — questiona, autoritário.

— Por favor, me faça gozar.

Ele sorri, mostrando os seus dentes alinhados e bonitos.

— Muito bem, Habibi. Agora eu vou te mostrar o quanto o nosso


casamento é verdadeiro.

Com isso, sou surpreendida por um dedo grosso seu ao entrar


dentro de mim, sem aviso. Grito, amando e assustada com a
sensação. Ele mexe o dedo dentro de mim, me fazendo contorcer de
prazer. Gemo.

— Você gosta disso?

Gemo novamente. Ele aperta e depois morde o meu seio, irritado.


Grito mais forte.

— Você gosta de ter o meu dedo grande dentro de você?! — exige


saber.

— Sim — sussurro.

— Hum, ótimo — diz. — E quanto a dois dedos, o que você acha


disso?
Quando penso que não, ele enfia outro longo e grosso dedo
moreno dentro de mim, me fazendo gritar ainda mais, louca de
tesão. Eu posso sentir o quanto estou molhada, a ponto de estar
vazando líquido para a minha bunda. Ahmed tira e enfia os dedos
dele dentro de mim, repetitivamente.

— Ahmed, por favor... — imploro.

— Por favor o quê, esposa?

— Eu quero gozar.

Ouço um rosnado do seu peito.

— Você vai. Quando eu entrar em você, logo irá gozar ao redor do


seu marido.

E então ele tira os dedos de dentro de mim, me deixando sem


nada. Mas a minha frustração dura pouco, porque, sem aviso prévio,
ele enfia o seu pênis dentro de mim, completamente, e nem um
pouco gentil como da última vez. Grito, sentindo prazer, mas também
um pouco de dor. Vendo o meu rosto contorcido, ele chupa o meu
seio, com força, me fazendo ficar louca.

— Logo você irá se acostumar com o meu tamanho. Provavelmente


sempre será desconfortável no começo, porque você é muito
pequena, mas você irá aprender a lidar comigo, sei que vai...

E então Ahmed tira o seu comprimento quase todo de dentro de


mim, mas me penetrando em seguida, com força, faminto por mim.
Eu só fico deitada, à mercê de ser totalmente preenchida por ele,
uma e outra vez, várias e repetidas vezes. Mas isso é tão bom... Eu
me sinto tão bem quando ele está dentro de mim, é totalmente
incrível. Ahmed parece estar em outro mundo e tudo o que ele
consegue fazer é me penetrar e chupar os meus seios, deixando-os
com ainda mais marcas. Ele já deixou marcas neles ontem, mas pelo
visto ainda não está satisfeito. Depois de infinitas estocadas e
chupões por todo o meu corpo, eu finalmente começo a vir,
estremecendo enquanto a minha vagina entra em espasmos,
agarrando Ahmed ainda mais apertado dentro de mim. Com esse
maior aperto, ele não consegue segurar mais e logo está na mesma
situação que eu, gozando totalmente dentro de mim, me enchendo
com o seu líquido quente. Quando ambos chegamos no ápice, ele
finalmente me solta, deitando-se ao meu lado.

— Você toma alguma pílula? — pergunta, ainda dominado pelo


prazer.

— Sim. Tomo anticoncepcional desde os quinze anos, por causa do


meu ciclo menstrual — falo, com naturalidade.

Vejo o rosto de Ahmed mudar radicalmente, seus olhos suaves


agora estão cheios de irritação, e a sua boca se contrai em
desgosto.

— Eu quero que você pare de tomar essas pílulas — rosna.

— Eu não vou parar de tomá-las. Está doido?! Eu posso engravidar


se não tomar.

— E qual é o problema de você engravidar do meu filho? —


questiona, com quase nenhuma calma.

— Eu tenho vinte e um anos! Não estou pronta para engravidar!

— Isso não justifica, a minha mãe engravidou de mim com dezenove.

Fico irritada com o seu comentário.


— Bem, mas eu não vou engravidar com vinte e um!

Irritado, ele vai para o banheiro, sem dizer nada. Pouco tempo
depois, ele volta e veste uma roupa no seu closet. Algum tempo
depois, vestido, ele me fita, nervoso:

— Não pense que isso vai ficar assim, Habibi.

Em seguida, ele vai em direção à porta, claramente indo embora,


mas antes ele me ameaça, dizendo rispidamente:

— Eu sempre consigo o que eu quero.

Depois dessa cena, ele vai embora, fechando a porta de madeira


com detalhes dourados atrás de si, me deixando de boca aberta e
confusa.
Capítulo 23

Ahmed Hamir

Eu sinceramente penso que Luisa ainda não acordou para a sua


nova realidade, parece que ela ainda não entendeu que está vivendo
em outra parte do mundo. Ela está no Oriente Médio, num país com
a lei da Sharia, o que ela esperava, que ia continuar vivendo como se
estivesse no Brasil ou nos EUA, que poderia fazer o que quisesse?
Eu tenho tentado ser um bom companheiro para ela desde que a
pedi em casamento, e agora tenho me esforçado para inseri-la na
minha família. Não a forço a nada e sempre me lembro de tentar
agradá-la. Sei que passar a viver em uma sociedade totalmente
diferente é algo difícil, e é por isso que tenho tentado ser
compreensivo com ela. A cultura do meu povo é muito mais rígida
para as mulheres, principalmente para as esposas dos sheiks, mas
eu tenho feito o possível para não sobrecarregá-la com tantas
obrigações, porque, na verdade, eu não quero que ela deixe de ser
quem ela é para virar uma réplica de mulher árabe ou algo assim. Eu
me apaixonei pela mulher que ela realmente é e nunca tentaria mudá-
la.

Porém, Luisa não tem feito nada para tentar fazer a minha vida um
pouco mais fácil, ela não tem sido nem um pouco compreensiva. Isso
é algo ruim, pois só vai tornar a sua vida mais complicada, porque o
que está feito está feito, fim de história. Ela se casou comigo,
aceitou ser a minha esposa sabendo quem eu sou. Agora terá que
ser a minha mulher para sempre, eu nunca a deixarei ir embora. Uma
vez minha esposa, sempre a minha esposa. Eu sei que ela se casou
comigo por falta de opção, ou se casaria ou iria ser presa. Mas eu
não tive envolvimento com a merda que ela se meteu. Luisa não
pode me acusar de eu ter tramado por esse casamento, porque
essa não é a verdade. Eu nem mesmo pretendia me casar com ela,
porque acreditava que ela não cumpria os requisitos para ser a
esposa de um sheik. Quando ela me contou que nunca teve algo
sério antes com um homem, então tudo mudou.

Obviamente, se eu realmente quisesse, eu poderia tirá-la da cadeia


bem rápido, muito rápido. Porém, eu não poderia evitar que ela fosse
para lá por, pelo menos, alguns dias. Assim, quando percebi que ela
não queria ir para lá de jeito nenhum, propus o casamento, e ela
aceitou. De lá em diante, tenho sido bom para ela, mas, por Luisa ter
passado a vida toda numa realidade totalmente diferente, ela ainda
não percebeu que o que estou fazendo não é muito comum assim. A
forma gentil como a trato não é uma obrigação para mim, eu sou
assim com ela porque eu quero, mas se eu não quisesse... Os
desejos do marido são a prioridade aqui, não os desejos da esposa.
Contudo, por ter uma mãe brasileira, não sou tão radical e sou mais
tolerante. Mas não tanto. Assim, espero que Luisa amadureça logo,
não quero ter que testar a minha paciência com ela. Nunca vou
machucá-la, é claro, porém às vezes fico estressado, e eu não sou
bonzinho quando estou no meu limite.

Quando ela me disse que tomava pílulas... Eu quase a obriguei a


jogar aquelas drogas fora, fiquei extremamente nervoso por ela estar
tentando não engravidar do seu marido. Porém, pensei melhor e
decidi agir com mais sabedoria. Ela iria fazer um escândalo se eu a
proibisse de tomar aquelas porcarias e provavelmente iria ficar
receosa na hora do sexo, então pensei numa melhor opção de
conseguir o que eu quero. Irei trocar aquelas porcarias por placebos.
Eu não tenho outra opção, os sheiks têm vários filhos, nós não
podemos esperar muito tempo para tê-los. Somos líderes, temos
inimigos, é necessário preencher toda a linha de sucessão com o
nosso próprio sangue, ou alguma guerra pode começar pela tomada
do poder. O próprio conselho irá cobrar de mim os meus herdeiros, e
eu sei que eles estarão certos. Eu também quero ser pai, além
disso. Tenho trinta anos e quero ter a minha própria família. Quero
engravidar Luisa sempre que der e então presenciar vários bebês
nascerem. Meus filhos. Nossos filhos. Eu não sei porque ela tem
tanto medo que isso aconteça.

Enfim, a questão é que, infelizmente ou não, a minha realidade não


permite que eu espere a vontade dela de ser mãe um dia aparecer.
Como sheik herdeiro, eu não tenho esse luxo. Em cinco anos, irei
ficar no lugar do meu pai, o que não é muito tempo. Enquanto isso,
tenho que mostrar para o meu povo que serei o que eles precisam.

Depois de ter mandado uma mensagem para Juan, encontro-o em


uma área de lazer do castelo, já me esperando.

— Juan, preciso que você resolva um problema para mim — digo,


direto, como sempre.

Juan acena.

— Do que precisa, sheik?

— Se trata da minha esposa. Luisa está tomando anticoncepcionais,


preciso que você mude aquelas porcarias para placebos, sem que
ela note a diferença. Seja discreto quando fizer isso, converse com
as mulheres que estão limpando o meu quarto e cuidando de Luisa
para te ajudar com isso.

Juan me olha intrigado. Eu sempre peço pelos seus serviços, mas


nunca pedi nada parecido.

— Certamente, sheik. Para quando quer isso?

— O mais rápido possível.

— Entendi.
Sabendo que ele irá fazer tudo perfeitamente como pedi, digo-lhe
que irei ter o meu café da manhã e em seguida estarei pronto para ir
trabalhar, em Dubai. As minhas obrigações são muitas e tenho que
resolver algumas pendências antes de poder tirar alguns dias de lua
de mel com Luisa.

Luisa Jones

Não demora muito para que uma funcionária do castelo venha me


ajudar a me aprontar para o café da manhã. Eu disse que não
precisava, que sei me cuidar sozinha, mas foi inútil. Então eu fiquei
cansada de tentar convencê-la de que ficaria bem sozinha e aceitei
que ela me ajudasse no banho e também depois, na hora de me
vestir. A mulher se chama Nádia e disse que seria minha ajudante no
dia a dia. Chegando na sala de refeições, encontrei com Ester, Jade
e os gêmeos. Mas Tariq e Ahmed não estavam lá.

Parecendo ler os meus pensamentos, Ester disse:

— Tariq e Ahmed geralmente comem mais cedo devido ao trabalho.

— Entendo — comento.

— E então, cunhada, gostou do seu último dia de festa ontem? —


Samir me surpreende ao perguntar.

— Hum, sim, foi muito bonito.

— E depois da festa, também foi legal? — Khaled ousa perguntar.

Fico de boca aberta, sem saber o que responder. Jade solta uma
risadinha, e Ester repreende os filhos, irritada e com vergonha por
eles.
— Luisa, ignore-os, são dois imaturos ainda.

— Poxa, mãe, foi só uma brincadeira — Khaled se finge de inocente.


— Acontece que vi Ahmed indo para a reunião do conselho, e ele
parecia muito relaxado.

— Pare de falar, Khaled! Ou eu vou enfiar esse pão na sua goela! —


Ester ameaça.

Jade e Samir riem, e Khaled levanta as mãos, fingindo rendição.


Depois de passar uns bons minutos embaraçada pelos comentários
dos gêmeos, eles saem, e então fico mais relaxada. Não sei por que,
mas os homens sempre imaginam coisas que não devem, já as
mulheres são mais discretas. Quando termino o meu café da manhã,
Jade me convida para ir ao quarto dela. Surpreendida pelo convite,
aceito. Quando ela abre a porta e eu entro, fico encantada com quão
bonito e feminino é o seu quarto. Quase tudo tem um toque de rosa-
claro e, claro, dourado. Sempre há dourado por todo castelo. Em
alguns casos, os detalhes são realmente folheados a ouro.
Ela então se senta na sua cama de princesa e pede para que eu
me sente ao seu lado, para depois começar a falar:

— Vamos logo, Luisa, pode soltar tudo.

Arqueio as minhas sobrancelhas, interrogativa. Ela suspira e revira


os olhos.

— A noite de núpcias, garota, como foi?

— Ah! — exclamo, envergonhada com a pergunta.

Ela ri, colocando a mão na boca para abafar o som.


— Você corou! Então pelo visto foi bom, hein?

Sem saber o que fazer numa situação como essa, fico parada,
vermelha de vergonha. Tenho certeza de que a família de Jade não
ficaria feliz se soubesse do tema da nossa conversa de agora.

— Hum, Jade, eu não sei se devo conversar com você sobre isso —
falo, em tom culpado.

— Ah, qual é?! Eu sou cinco anos mais velha que você, cunhada, não
sou nenhuma criança, então pode ir desabafando!

Suspiro, torcendo para que ninguém saiba deste nosso momento.

— O que você quer saber? — pergunto, um pouco receosa.

— Como que foi, né? Foi bom? — questiona, curiosa.

Os olhos verdes de Jade estão brilhando com uma curiosidade


quase juvenil.

— Sim... Foi bom.

Ela solta um gritinho animado, e o seu rosto ganha um aspecto


mais malicioso, mas depois fica sério.

— Doeu?

Penso um pouco se devo responder ou não, mas no fim decido ser


verdadeira:

— Sim, doeu bastante no início.


Jade parece um pouco ansiosa agora.

— Ele não foi cuidadoso com você? — Há irritação na sua voz.

— Ele foi cuidadoso sim, mas ainda sim doeu. Mas não foi culpa
dele.

— Ah! — exclama, pensativa. — Você pretende fazer novamente


logo?

Coro com a sua pergunta. Se ela soubesse que hoje de manhã


aconteceu exatamente isso...

— Claro.

— Hum... Então realmente foi bom, pelo visto.

— Sim.

— Eu quero fazer sexo também — declara.

— O quê?! — pergunto, confusa com o seu comentário aleatório.

Ela apenas balança a cabeça, olhando-me com confiança e


seriedade.

— Quando eu casar, é claro.

— Ah! — exclamo, aliviada.

Do jeito que os homens da família dela são possessivos, tenho


medo do que fariam se descobrissem que Jade transou antes de
casar. E olha que nem mesmo casar eles querem que ela case,
imagina ter sexo...

— Mas eu pretendo casar logo, sabe...? Já sou bem adulta e quero


ter a minha própria família.

— Você já falou sobre isso com o seu pai? — pergunto.

— Sim, várias vezes, mas ele não aprova, nem os meus irmãos... —
Ela suspira. — É complicado. Mas eles não podem me segurar por
muito mais tempo.

— Eu acho melhor você ter cuidado, seja lá o que tem em mente,


Jade.

— Claro que sim, não sou nenhuma boba, conheço a minha família.

— Certo — falo, não muito convencida.

Pelo pouco que conheço dos homens Hamir, eles não são
brincadeira.

— Sabe, eu vi Ahmed quando ele saiu hoje cedo para o trabalho... —


diz, mudando de assunto, reflexiva.

— E o que tem?

— Ele parecia estar muito irritado. A cara dele não estava muito boa,
o que é bem estranho, vocês tinham acabado de ter a noite de
núpcias...

Mordo o meu lábio inferior, ciente dos motivos do nervoso de


Ahmed.
— O que aconteceu? — ela pergunta, preocupada.

— Bem, digamos que aconteceu algumas coisas... — hesito. — A


primeira delas é que eu fiquei irritada com o lençol manchado na
janela e acabei dizendo que o nosso casamento é falso.

Jade arregala os olhos, abalada.

— Luisa... Garota, você não devia ter dito isso. O lençol é uma
tradição dos sheiks do clã, não foi ideia dele, é uma tradição milenar!

— Sim, eu sei agora. Mas na hora eu fiquei cega, essa tradição é a


mais horrível que já conheci na minha vida!

— Mas você não devia ter descontado nele. Tadinho... Ele parecia
tão feliz no casamento. Ele deve ter ficado arrasado. Eu conheço
Ahmed, ele realmente parece gostar muito de você.

A forma como ela disse isso me fez sentir um pouco mal, e sinto a
minha consciência pesar. Suspiro, soltando o ar com desânimo.

— A segunda coisa que aconteceu para ele ficar irritado é que ele
me perguntou se eu tomava pílulas anticoncepcionais, e eu respondi
que sim, para regularizar o meu ciclo menstrual. Ele ficou irritado e
disse para eu parar, e eu disse que não iria, porque não quero
engravidar agora.

Jade me olha chocada e depois ri.

— Nossa, vejo que a manhã de vocês não foi muito normal, hein?

— Não mesmo.
Jade então me encara, seu olhar um pouco pensativo.

— Olha, Luisa, eu sei que para você as mulheres devem engravidar


mais tarde e essas coisas, mas... Ahmed é um sheik, lembra? O
herdeiro do meu pai. Ele precisa ser pai logo, o posto dele exige
isso. É muito perigoso ficar prolongando a vinda dos herdeiros,
porque sempre existem inimigos, sabe?

— Achei que tramas pelo poder desse tipo só existissem em filmes


— comento, confusa.

Ela balança a cabeça.

— Não mesmo! Na vida real existe isso também. Ahmed, além de


ser sheik, é extremamente rico, assim como o meu pai. É natural que
existam inimigos e pessoas que querem o mal deles.

— Nossa... — falo, pensativa e assustada.

— Pois é! Então não fique com raiva dele por ele querer ser pai.
Quanto mais a família for grande, menor serão os problemas para
Ahmed. É a lógica, não é muito fácil tirar uma família do poder
quando sempre há alguém dela para suceder se matarem o líder.

— Credo! — exclamo. — Que lógica horrível!

Ela acena.

— Pois é, mas é a verdade. Mas não se preocupe, ninguém da


minha família é ingênuo, somos muito espertos. E sempre tem uma
equipe de segurança nos vigiando a distância.

— Entendo... — comento, ainda horrorizada.


— Então, não fique com raiva de Ahmed por qualquer coisa. A
maioria das coisas que acontece não é por culpa dele — Jade diz,
defendendo o irmão mais velho.

— Vou tentar me lembrar disso — falo.


Capítulo 24

Luisa Jones

Já é quase noite, e eu estou neste momento tomando um banho


super-relaxante na gigante e luxuosa banheira do quarto de Ahmed.
Quero dizer, nosso quarto agora. Acabei de lavar os meus cabelos
com o meu shampoo de maracujá com baunilha. Sempre gostei
dessa combinação de cheiros, e Ahmed me disse que gosta muito do
perfume também, então estou feliz por isso. Enquanto lavo os meus
braços com o sabonete líquido, meus olhos acabam focando tempo
demais no meu anel de noivado e também no de casamento. Depois
daquele pedido de casamento deprimente na delegacia, Ahmed logo
fez questão de repeti-lo na frente de sua família, dois dias depois, no
horário da janta. Eu estava com muitas coisas na cabeça, cheia de
receios, mas ainda assim achei que o pedido foi muito bonito.

Mesmo depois de duas semanas que recebi o anel, ainda fico


encantada em olhá-lo. Ele é feito de ouro branco e tem uma linda
pedra de safira no meio, com pequenas pedrinhas de diamantes ao
redor. Realmente divino. Como se não bastasse, durante as festas
de casamento, ele me presenteou com várias joias, novamente com
safiras. Ele me disse que era devido a cor dos meus olhos, e que
essa pedra realçava o meu olhar. Uma justificativa bem romântica, eu
achei. Sobre a aliança de casamento, ela é encantadora. Com
aproximadamente 6 mm de largura, possui uma pequena pedra de
diamante no meio e outras várias rodeando a circunferência. Ela é de
ouro amarelo. A de Ahmed é igual a minha, exceto pelas pedras. Ao
invés disso, há um pequeno símbolo na dele, algo relacionado ao clã.
Depois de divagar muito, finalmente termino o meu banho e vou para
o closet, que agora está lotado pelas roupas encomendas para mim.

Antes de escolher algo, porém, pego a minha nécessaire para


tomar a minha pílula. É algo cotidiano, eu nunca me esqueço. Eu
menstruei três dias depois que vim para cá e, quatro dias depois,
meu período acabou. Assim, meu próximo sangramento só virá daqui
a pouco menos que três semanas, para o meu alívio. Eu estou de lua
de mel, não seria nada legal sangrar por agora. Tudo bem que o meu
casamento com Ahmed aconteceu por acaso, mas isso não significa
que eu não gosto de ir para cama com ele. Na verdade, eu gosto
muito. Não posso negar que ele é o homem mais sexy que já vi e
muito másculo. Além disso, ele sabe me tocar tão bem, que até
parece que estamos juntos há anos, e não que estamos tendo
relações há pouco mais de um dia. Apesar do pouco tempo que
tenho de vida sexual, já estou amando e até penso que talvez esteja
ficando viciada. Sexo nunca foi um tabu para mim, quase perdi a
virgindade com dezoito anos se não fosse pela minha mãe. Eu só
não fiz depois porque não me interessei por nenhum homem. Nenhum
cara me chamou a atenção. Mas então, agora casada com Ahmed,
penso que não teria homem melhor para perder a virgindade. Apesar
das circunstâncias, ele me faz sentir muito bem, e a minha primeira
vez foi maravilhosa.

Enquanto visto a minha roupa, sou surpreendida pela presença de


alguém atrás de mim. Grito, assustada. Vendo que é Ahmed, fico um
pouco irritada pela sua forma estranha de se aproximar. Ele sorri,
aquele seu típico sorriso masculino e sexy à mostra, com um pouco
de ironia e divertimento.

— Seu idiota, você me assustou!

Ele ri e se aproxima de mim. Visto a minha blusa rapidamente,


antes que ele chegue perto demais.

— O que foi, está escondendo o seu corpo do seu marido? —


questiona, suas sobrancelhas arqueadas.

— Exatamente!
Ele me olha, malicioso.

— Você sabe que isso não me impede de te ter, não é? Tirar a sua
roupa novamente até deixá-la nua para mim não é um problema.

Reviro os olhos.

— Blá, blá, blá! Não me venha com essa conversa por agora,
Ahmed. Eu já vou descer, te vejo na sala de jantar para a refeição,
mais tarde, okay? — falo, cortando-o, preparada para sair do
quarto.

Mas ele segura o meu braço, me impedindo.

— Você não vai.

— Ah, é mesmo? — digo, irônica.

— Sim, você não vai, porque eu já tenho planos para você neste
momento.

Ele passa o seu polegar repetidamente no meu pulso, me atiçando.


Bufo, revirando os olhos.

— Eu sei muito bem quais são os seus planos, e a minha resposta é


não. Ahmed, este não é um bom momento — digo, tentando acordá-
lo para a vida real.

Ahmed me solta e me fita, acusador. Franzo a testa, não o


entendendo

— Por Allah, o que eu fiz com você? Duas vezes que eu te tive e
você já pensa que tudo se trata de sexo?! — diz, fingindo
desapontamento.

Abro a boca para dizer algo, mas fecho-a novamente, confusa.


Encaro-o, irritada.

— Ora, o que você queria dizer então?!

Ele sorri de canto quando eu retiro o meu pulso da sua mão.

— O que eu queria dizer é que eu tenho planos para você. Porém,


você interpretou errado quais são eles...

Corando, questiono:

— E quais são eles, então?

— Cinema.

Olho-o de boca aberta, pensando que talvez escutei errado.

— Cinema?!

— Exatamente. O que acha?

Balanço a cabeça, incrédula.

— Desde quando você vai ao cinema?

Ele sorri, irônico.

— Baby, há muitas coisas que você não sabe sobre mim. Uma delas
é que eu amo assistir um bom filme.
— Então você quer me levar para algum cinema de Fujairah?

— Não mesmo. Não precisamos sair, tem uma sala de filmes aqui no
castelo, até melhor que um cinema.

— Sério?! — pergunto, animada.

— Sim, e vamos para lá agora.

— Mas e o jantar? — questiono.

— Deixe isso para lá, hoje vamos agir como dois jovens rebeldes e
comer apenas besteiras — diz, em tom baixo, como se realmente
fôssemos fazer algo de errado.

— Uuh, isso me parece bastante divertido! — falo, rindo.

— Então você topa, minha esposa? — pergunta, me puxando para


os seus braços, seu olhar sempre sexy e intenso.

— Hum... — finjo pensar. Ahmed então beija o meu pescoço, e eu


suspiro. — Eu topo!

∆∆∆

O filme que estamos assistindo na enorme sala de cinema do


castelo da família Hamir é um suspense policial que Ahmed escolheu.
No entanto, ao invés de prestar atenção no filme, ele parece estar se
importando mais em comer bastante guloseimas e conversar comigo.
Eu não estou reclamando, porém. Investigação policial não é um
estilo de filme que eu goste muito.
— Desde então, o meu pai me proibiu de estudar na mesma escola
de Khaled e Samir, porque ele achava que os gêmeos me
influenciavam negativamente — ele diz, relembrando a sua infância.

Arqueio as minhas sobrancelhas, prestando atenção.

— Sério? Mas você também influenciava eles! — digo, não


entendendo nada.

Ele ri.

— Sim, eu não era tão bonzinho também. Mas era mais velho e
sabia me comportar como um bom garoto nos momentos
importantes.

Abro a boca, fingindo espanto.

— Ah, então o seu dom de interpretar vários papéis começou na


infância?

— Exato — fala, sem nenhuma vergonha.

Ele acha graça da minha expressão e comenta:

— E você, Habibi, como foi a sua infância?

Faço uma cara de desgosto.

— Muito normal, eu não era da nobreza igual a você, sabe...

Ele franze a testa.

— Mas isso não significa que foi ruim.


— É, bem... Não foi ruim, mas não teve muita emoção. Você sabe,
meus pais se separaram quando eu era muito criança, e eu passei a
morar com a minha mãe no Brasil.

Ele acena.

— E aí eu cresci me dedicando à escola e a tirar boas notas. Nunca


tive muitos amigos e preferia a companhia dos meus pets.

— Hum, vejo que você não se divertia muito.

— É, não muito.

Ele acena.

— Até hoje você tem esse mesmo problema.

— O quê? — questiono.

— Você não se diverte muito, tem dificuldade de se relacionar com


pessoas que não conhece há muito tempo e é muito pessimista —
diz, me encarando.

Franzo a testa.

— Ora, virou psicólogo, é?

— Não, baby, virei o seu marido.

A forma como ele me disse isso, tão sério e com tanta intensidade,
fez os pelinhos do meu pescoço se arrepiarem e o meu coração
disparar. Ele então larga o chocolate que estava comendo e segura
o meu rosto com suas duas mãos grandes e morenas.

— Está na hora de começar a se divertir mais, não acha? Deixar que


as pessoas que se importam com você se aproximem...

— Eu já faço isso.

Ele balança a cabeça, mas eu não consigo ver muito bem a


expressão do seu rosto porque a sala está escura.

— Não, não faz.

— Ahmed, você está...

— Shh, deixe-me terminar de falar. É o seguinte, minha garota


complicada, eu quero o seu melhor, mas você precisa começar a
confiar mais em mim e na minha família. Se você está aqui neste
momento, é porque você é especial para nós, simplesmente assim.

Não respondo, fico apenas parada, olhando para ele.

— Esqueça um pouco a minha origem, tente pensar, a partir de


agora, em mim, como eu sendo apenas o seu marido. Está bem
assim?

Concordo, hipnotizada pela sua voz e toque. Ele sorri, deixando-me


ainda mais fascinada por sua beleza exótica.

— Ótimo, porque preciso que esteja de mente e corpo comigo na


próxima semana.

Franzo a testa, não entendendo.


— Mesmo, por quê?

Ele então chega o seu rosto muito perto do meu, a sua boca quase
tocando a minha.

— Porque iremos viajar para a nossa lua de mel.

Olho-o, de boca aberta, surpreendida.

— Sério?! Nossa, achei que não fôssemos viajar. Os seus pais não
viajaram.

— Bem, cada casal é diferente, não é? No nosso caso, nós iremos


viajar sim. Não será por muito tempo, apenas uma semana, mas
acho que iremos nos divertir.

— Parece o suficiente para mim. Para onde vamos?

— Brasil.

— Brasil, sério? Mas há pouco tempo eu estava lá. Eu morava lá, na


verdade — falo, chateada.

— Bem, mas acontece que você irá para lá bem raramente agora
que é a minha esposa. Além disso, esta viagem também tem um
propósito — diz, em tom misterioso.

Fico um pouco tensa.

— E qual é?

— Casar você.
Faço uma careta.

— Eu já estou casada com você, Ahmed.

Ele ri, me dá um beijo na testa e me solta.

— Sim, mas preciso me casar novamente, desta vez com os seus


pais como testemunhas. Obviamente que será uma cerimônia
pequena e...

Olho-o, espantada.

— O que você está sugerindo é sério?

— Sim. Não gostou? — questiona, me analisando.

— Gostei, mas... Você sabe, eles não sabem que estamos casados,
nem que temos algum relacionamento e...

Ele continua com a sua expressão neutra.

— Iremos resolver isso. Mas não posso aceitar que continue


escondendo isso dos seus pais, eles são meus sogros agora e
também serão avós dos meus filhos. Quero resolver isso já.

Aceno, ansiosa.

— Eu só espero que esta viagem não acabe em um desastre.

— Não vai, porque você tem um marido bom em resolver situações


difíceis.

Bufo.
— Hum, é mesmo?

— Sim. Então não se preocupe com isso agora e preste atenção no


filme.

Reviro os olhos.

— O filme já está acabando.

Ele olha para a tela, surpreso.

— Bem, então está na hora do bebê ir dormir — ele diz, olhando-me.

— Eu?

— Com certeza! Vamos, deixe de comer porcarias, porque está


tarde.

— Ah, claro, papai! — ironizo.

De repente, ele está segurando os meus braços, sua boca falando


diretamente no meu ouvido:

— Eu acho melhor você não me chamar assim, Luisa. Você sabe,


dependendo do que disser para mim, pode ser que eu fique excitado
e louco para fazer coisas com o seu pequeno corpo delicado.

Coro.

— Ahmed!
— Não me olhe com essa cara, Habibi. Antes de tudo, eu sou um
homem. Lembre-se disso.

Aceno, mordendo o lábio inferior. Eu posso ver, pela tensão do seu


corpo, o que ele está querendo. Ele se levanta e me ajuda a ficar em
pé também. A forma como ele está segurando a minha cintura
enquanto anda comigo até o nosso quarto é possessiva e firme, e eu
já imagino o que acontecerá quando eu entrar pela porta do quarto,
ainda mais que todos já devem estar dormindo ou pelo menos em
seus devidos quartos. Mas, mesmo se não estivessem, isso não
seria um problema, porque este castelo é exageradamente grande.
É difícil alguém esbarrar com algum membro da família Hamir, que é
composta por apenas seis pessoas. Bem, agora sete, contando
comigo.
Capítulo 25

Luisa Jones

Antes de realmente viajar, liguei para os meus pais para contar o


que aconteceu comigo, que agora estou casada com um sheik
árabe. Como eu já esperava, a minha mãe não acreditou no início,
mas depois, quando viu que eu estava falando sério, ela entrou em
desespero, só sabia me xingar e chorar.

— Você se casou com um muçulmano, Luisa?! Você sabe o que


significa isso?! A sua vida acabou, os seus sonhos... Tudo acabou
— disse ela, histérica.

Eu tentei acalmá-la dizendo que Ahmed não é o que ela estava


pensando, que ele é bom comigo e que ele é metade brasileiro. Mas
ela não conseguia me escutar, ela simplesmente surtou. Eu fiquei
superansiosa por causa disso, até porque Ahmed nem sabia que eu
estava ligando para os meus pais. Ele que queria fazer isso. A
vontade dele era ligar para o meu pai, que trabalha na sua empresa,
e conversar com a minha mãe pessoalmente quando todos
estivéssemos no Brasil. Mas eu não aguentei esperar, eu mesma
tinha que fazer isso. Depois de deixar a minha mãe desesperada,
liguei para o meu pai. Ele não acreditou também no início, mas
depois entendeu que era realmente verdade. Ele não me xingou, nem
gritou comigo, apenas ficou em silêncio, por muito tempo e depois
disse:

— Essa família que você acabou de entrar é poderosa, Luisa.


Ahmed pertence a um mundo totalmente diferente do seu, estou
muito preocupado com você.
Eu novamente expliquei que ele não é tão ruim quanto parece, pelo
menos não comigo. O meu pai parecia triste, mas aceitou melhor do
que a minha mãe, porque já conhecia Ahmed, que é o herdeiro da
empresa petrolífera Hamir. Antes de encerrar a chamada, porém, ele
fez questão de dizer:

— Eu bem que tive um pressentimento ruim quando soube que


você estava indo para esse país.

Quando Ahmed descobriu que eu já tinha falado tudo para os meus


pais, ele ficou muito irritado, mas fez questão de ligar para eles
depois disso. Mesmo com tanto histerismo da minha mãe e tristeza
do meu pai, acho que eu fiz o que tinha que ser feito. Agora, é só
irmos para o Brasil e esclarecermos algumas coisas. Ahmed liberou
o meu pai de trabalhar na empresa por uma semana, para que ele
pudesse estar conosco no Brasil. Durante os seis dias que vieram
depois, quase não tive contato com Ahmed, porque ele passou
quase todo o tempo trabalhando. Segundo ele, era necessário
resolver tudo logo para que pudéssemos viajar. E então, depois
desse tempo, pegamos um voo comercial de primeira classe para o
Rio de Janeiro. Eu nunca tinha viajado de primeira classe, sempre fui
na classe econômica mesmo. Mas nossa, eu amei! Nem parecia que
eu estava num voo, me senti mais em um hotel cheio de regalias.

Assim que chegamos no aeroporto, Fernanda e Gael estavam nos


esperando, ansiosos. Fernanda ficou horrorizada quando contei para
ela que estava casada com um sheik árabe.

— Luisa, o que você tem na cabeça, mulher?! O meu


relacionamento abusivo não te ensinou nada?! — ela tinha dito no
telefone.

Mais uma vez, tentei a todo custo explicar a minha situação e dizer
que Ahmed não é o monstro que todos imaginam. Ela não ficou muito
convencida, no entanto. Agora, neste momento, ela está me
abraçando apertado, no aeroporto.

— Temos muito o que conversar, maluca do ano — diz ela.

Ahmed está atrás de mim, nos ignorando, porque o seu olhar está
totalmente voltado para Gael, cheio de desconfiança. Vejo quando o
meu amigo olha para ele também, de cima para baixo, e ele faz
questão de piscar o olho para Ahmed, debochado. Fico de boca
aberta com a coragem dele. Ahmed fica tão tenso e irritado, que
quase achei que ele fosse voar em cima de Gael com algum soco.
De repente, o meu amigo simplesmente me abraça, beijando a minha
bochecha enquanto isso. Ele me pegou de surpresa, e tudo o que eu
pensei no momento é que Ahmed não iria gostar. Dito e feito, quando
me dou conta, Gael é arrancado de perto de mim à força por um
Ahmed irado.

— Que porra você acha que está fazendo, seu idiota?! — rosna, os
olhos em chamas.

Gael simplesmente franze a testa, achando graça.

— Ih, já vi que o seu macho é ciumento, hein, Lu? — ele diz para
mim.

Ahmed estava pronto para fazer alguma coisa pior, quando Gael
levanta as mãos, em gesto de paz.

— Calma aí, valentão. Eu sou gay, não vou tomar a sua esposa não.

Surpreso, Ahmed o soltou, mas a tensão não saiu do seu corpo.

— Isso não me interessa. Eu não quero ver você encostando nela


novamente, entendeu?! Ou eu vou esmurrar a sua cara com o meu
próprio punho...

Assustada com o ódio de Ahmed, vou até eles, gritando:

— Opa, opa, opa! — olho para Ahmed. — Ahmed, o que você pensa
que está fazendo?! Quer que a gente seja preso no aeroporto?!

Ele fica parado, sem me olhar, ainda encarando Gael.

— Eu não quero este homem perto de você — diz apenas.

— Eu sou o amigo dela, grandalhão — Gael diz, divertido.

— Luisa, seu marido está me assustando — Fernanda sussurra ao


meu lado.

— Você é homem, minha mulher não terá amigos homens — rosna.

— Já chega! — grito, irritada.

— Vamos pegar um táxi, Ahmed. Minha mãe já deve estar ansiosa


nos esperando.

Olho para Gael e Fernanda, morrendo de vergonha pela cena do


meu marido.

— Fê, sinto muito por isso. Gael, me desculpa, sério. Eu acho


melhor a gente ir até lá de táxi... sozinhos. Encontro vocês amanhã?

Enquanto isso, finalmente Ahmed relaxa um pouco e se aproxima


de mim, logo segurando a minha cintura, possessivo. Gael nota a
intenção dele e sorri, irônico.
— Claro, amiga, amanhã nos vemos — Fernanda diz.

— Sim, pode deixar que vamos na casa da sua mãe amanhã, Lu. —
Gael olha para Ahmed do meu lado. — Só controle a sua fera árabe
antes — fala, com deboche.

Ahmed faz um som estranho do meu lado, e eu seguro o braço


dele, já com medo de ele fazer algo. Suspiro, irritada, pelo visto vou
ter muito trabalho para controlar este homem aqui no Brasil.

— Obrigada por terem recebido a gente aqui — falo.

∆∆∆

Ahmed fala português fluentemente, por isso não teve nenhum


problema para conversar com a minha família brasileira. A minha
mãe o olhou como se ele fosse de outro mundo na primeira vez que
o viu, e olha que ele estava vestido igual a um ocidental comum.
Depois de dois dias que ela foi largar um pouco a sua desconfiança.
Isso porque viu o quanto Ahmed é educado e fino, além de muito
cavalheiro. Quando o meu pai chegou, ele quase não sabia o que
dizer para o meu marido. O coitado estava numa situação difícil, o
dono da empresa que ele trabalha agora é o marido da sua única
filha. Foi um momento tenso para o meu pai, mas Ahmed novamente
soube lidar muito bem com ele, e logo o meu pai estava até mesmo
rindo. Há algo nesse sheik que me confunde, ele tem o talento de
lidar com as pessoas, de deixá-las admiradas e à vontade ao seu
lado, mesmo elas tendo várias dúvidas ao seu respeito. Eu não sei
como ele faz isso, mas realmente é fascinante.
Os dois primeiros dias aqui foram tranquilos, animados e sem
problemas. Eu e Ahmed não tivemos muito tempo para romantismo
durante esse tempo. No terceiro dia, refizemos os nossos votos com
a presença de vários familiares e amigos, só que dessa vez com a
presença de um pastor evangélico. Eu sinceramente fiquei muito
surpresa quando ele não se importou que um líder religioso de outra
religião fizesse a cerimônia. Eu achei que ele seria mais intolerante,
já que é um sheik árabe muçulmano. Mas vi que ele realmente
respeita a minha própria fé. Eu não sou muito praticante, mas ainda
sim sou cristã. Só depois que tivemos essa cerimônia, que eu fui
perceber que Ahmed nunca me pediu que eu me convertesse para a
religião dele, o que é muito raro, já escutei vários casos de
brasileiras que se casaram com muçulmanos e que depois foram
pressionadas a mudarem para a religião dos maridos. Fernanda nem
chegou a se casar, e o marroquino já falava que ela deveria se tornar
muçulmana quando fossem se casar. Mas ela conseguiu escapar do
relacionamento antes.

A cerimônia foi simples, foi feita numa chácara da família. Ahmed


parecia estar amando tudo. Às vezes eu estranhava sobre o quanto
ele parecia confortável aqui. Mas depois eu me lembrava que ele
também é brasileiro, tanto quanto eu sou. Mas querendo ou não, é
um pouco diferente para ele, porque Ahmed parece mais árabe que
ocidental fisicamente. Exceto pelos olhos verdes, ele é totalmente
árabe. Além disso, ele nunca morou aqui, apenas visitou algumas
vezes. E ele só passou a ficar mais tempo nos Estados Unidos do
que nos EAU quando ele já estava adulto. Assim, os seus hábitos
são bem mais orientais que ocidentais. Mas mesmo assim eu acho
bonito da sua parte que ele não nega a outra parte do seu sangue,
que é brasileiro.

Depois da cerimônia, eu e Ahmed nos separamos da família para


curtir um pouco os nossos dias aqui, já que estamos de lua de mel.
Estamos hospedados no Copacabana Palace, já que dinheiro para o
meu marido não é nenhum problema. Eu preferiria um lugar mais
simples, mas ele simplesmente disse:

— Como a minha esposa, você precisa ir se acostumando com as


coisas mais caras.

Concordei, a contragosto. Mas eu tenho que admitir, o hotel é


simplesmente incrível, com um serviço perfeito e ótima vista, que dá
direto para a praia de Copacabana. E, falando em praia, é para lá
que estamos indo daqui a pouco. Ahmed disse que só iremos voltar
aqui ano que vem, portanto é melhor aproveitarmos bastante as
praias e a cidade. Neste momento, estou no banheiro vestindo o meu
biquíni e organizando a minha bolsa de praia. Coloco uma saída de
banho por cima e vou ao encontro de Ahmed, que está mexendo no
seu notebook em cima da cama. Quando ele me olha, o seu olhar
escurece, cheio de desaprovação.

— Pode colocar outra roupa de banho, eu espero — diz,


simplesmente.

Olho-o, de boca aberta.

— O que você está dizendo? Eu já estou pronta para ir, Ahmed. O


que há de errado com o meu biquíni? — resmungo.

Ele fecha a cara.

— Exatamente isso, você está usando um biquíni. Você não vai sair
daqui com um biquíni, Luisa.

Bufo, nervosa.

— Mas este que estou usando nem é tão pequeno. Na praia vai ter
mulheres usando uns bem menores!
Ele fecha os olhos, nervoso, e depois me encara, seus lábios em
uma linha fina de desgosto.

— Eu estou perdendo a paciência, Luisa. Você é a minha esposa


agora, o que o resto do mundo irá vestir não importa nem um pouco
para mim — diz, apontando o dedo para a minha mala. — Eu vi um
maiô na sua bolsa, vista-o.

Grunho, irritada.

— Isso é sério?!

Ele não responde, mas o seu olhar intimidante responde a minha


pergunta. Quase explodindo de raiva, vou até a minha mala e pego o
maldito maiô preto, que nem mesmo sei por que inventei de trazê-lo.
A quem eu estou enganando? Se eu não tivesse o trago, ele me faria
entrar no mar de roupa! Totalmente fora de mim, começo a tirar a
roupa na sua frente mesmo. Ahmed, vendo o que estou fazendo,
para de mexer no notebook para me observar, seus olhos atentos.
Depois de tirar a saída de banho em forma de bata, tiro a parte de
cima do biquíni e jogo no chão, com força. Ele ri, achando graça dos
meus sentimentos. Mas então ele está sério, totalmente focado nos
meus seios, sua expressão mostrando o seu desejo. A sua luxúria
me deixa com ainda mais raiva. Quando tiro a calcinha, jogo-a na
direção do seu rosto, com raiva. Mas ele a pega no ar e, para o meu
horror, ele leva a peça para o nariz e cheira. Fico vermelha-escarlate
de vergonha.

— Prefiro o cheiro de sua calcinha quando está encharcada para


mim. Você não ficou muito tempo com esta aqui, então não tem
muito do seu cheiro.

— Ahmed! — digo, encabulada.


Ele ri. Porém, logo ordena:

— Vamos, vista logo esse maiô, mulher, estou perdendo a paciência.


Capítulo 26

Ahmed Hamir

Luisa é realmente muito ingênua se pensa que a vida dela


continuará sendo a mesma agora que é minha. Roupas curtas,
amigos homens... Tudo isso já era, com certeza é passado. Eu não
podia acreditar que ela realmente queria sair com aquela miséria de
pano que ela chama de biquíni. Imagine só, a minha mulher
mostrando o corpo que pertence a mim para um monte de babaca
ficar imaginando o que é meu na cama deles. Jamais! Se ela quer ir
para a praia, então terá que usar o maiô, menos que isso não aceito.
E olha que estou sendo muito bonzinho, porque se ela estivesse no
meu país, nem isso eu deixaria ela usar, teria que vestir uma blusa e
um short. Mas, como estamos no Brasil, decidi não ser tão radical.
Porém, neste momento, estou me sentindo um pouco arrependido
por não ter enfiado um short e uma blusa nela. Mesmo com o maiô,
ela ainda parece sexy como o inferno. A cor preta só realça a sua
pele clara e perfeita e o seu cabelo loiro. Uma parte da sua bunda
está à mostra, e saber que todo mundo está olhando para ela me
deixa nervoso.

Vi vários homens a encarando a distância e eu estou tendo que


sugar toda a minha paciência interior para não pegar Luisa e levá-la
de volta ao hotel, onde só eu posso vê-la assim. Eu não estou
exagerando, acontece que a beleza dela é muito chamativa. Loira e
de olhos claros, com um perfeito corpo, não há quem não olhe. Isso
está me deixando irritado desde que cheguei aqui. Era para ser uma
lua de mel, mas estou com tanto ciúmes, que talvez tivesse sido
melhor ter ficado nos Emirados Árabes Unidos mesmo. Pelo menos
lá os homens têm bom senso o suficiente para não olhar para as
mulheres de outros homens, pois já sabem que as consequências
não serão boas. No Brasil? Cobiçar o que é de outro é muito comum,
para o meu ódio. O que me acalma é saber que logo vamos voltar
para casa, em Fujairah. Luisa está neste momento bebendo uma
água de coco, debaixo da sua sombrinha de praia, deitada na toalha.
Estou do seu lado, tomando um açaí, que estou surpreso por ser
muito bom.

Estamos há bastante tempo assim, apenas observando o oceano,


até que vejo um homem se aproximando de nós dois, os olhos
focados em Luisa. Ela demora um tempo para perceber, mas quando
sente a aproximação do homem, ela o fita, surpresa. Tenso, já fico
no modo alerta. Quando o cara está na nossa frente, ela larga o
coco só para o abraçar, me deixando indignado.

— Danilo, quanto tempo!

O homem a abraça apertado.

— Luisa, você sumiu, garota!

Totalmente fora de mim, me levanto, puxando Luisa dos braços do


homem. Só assim o idiota percebe que ela não está
desacompanhada. Luisa me olha feio e diz para o cara:

— Danilo, este é o meu marido, Ahmed.

O Danilo franze a testa, surpreso.

— Ele é árabe?

— Sim — respondo, ameaçadoramente.

Luisa revira os olhos.


— Sim, ele é árabe, mas também é metade brasileiro.

Danilo se afasta alguns passos de mim, receoso.

— Entendo. Bem que fiquei sabendo que você conseguiu sua


especialização em Dubai, não é?

— Sim — ela responde. — Você está fazendo a sua também?

Ele nega.

— Bem que queria, mas agora tenho outras prioridade.

— Ah, sim...

Com o ódio já em todo o meu sistema, afasto Luisa ainda mais do


homem.

— Nós também temos as nossas prioridades neste momento, não é,


Habibi? Estamos em lua de mel — digo, mais para o tal do Danilo
que para Luisa.

Ele parece ficar um pouco envergonhado. Ótimo. Quase achei que


o idiota não tivesse vergonha na cara.

— Ahmed! — Luisa me repreende, mas eu não estou nem aí. Tudo o


que eu quero é tirar esse troço de perto da minha mulher.

Ele me fita, ansioso.

— Bem, Luisa, foi bom te ver, até mais


— diz.
— Até mais, Danilo — fala, envergonhada pela situação.

— Não acho que se verão muito brevemente. Você sabe, Habibi,


vivemos em outro país.

Luisa me fita mortificada. O homem sorri, sem graça, diz um "tchau"


e vai embora. Luisa está com o rosto vermelho de raiva e está me
olhando com indignação.

— O que foi aquilo, Ahmed?!

— Eu que te pergunto o que foi aquilo! Abraçar um homem que não é


nada seu! — falo, nervoso.

— Ele é uma pessoa conhecida, fiz faculdade com ele quando mais
nova!

Fico tenso e a encaro, sério.

— Ele me pareceu ter muita intimidade com você. Por acaso é ele o
seu ex-namorado de adolescência? — questiono.

Ela abre a boca, surpresa. Em seguida fica um pouco sem graça, e


é aí que consigo a resposta. Fecho as minhas mãos em punhos
cerrados, o ódio tomando conta de mim.

— Desgraçado, eu deveria ter dado um soco na cara daquele


moleque! Além de ter tentado transar com você no passado, ainda
tem coragem de te abraçar na minha frente!

— Ahmed, se controle!
Fico ainda mais irado.

— Como que vou me controlar sabendo que aquele verme te tocou


no passado, que quase tirou a sua virgindade?! Uma merda que vou
me controlar! Se eu vê-lo novamente eu vou matá-lo, pode ter
certeza disso, Luisa. Tenho pessoas que fariam isso para mim sem
deixar provas.

— Ahmed! — ela grita, assustada.

Olho-a, meus olhos em chamas.

— Por acaso você tem alguma ideia do que eu estou sentindo agora,
Luisa? Não! Eu sou o seu marido, caramba! Como você acha que um
marido se sente quando vê o ex da sua mulher? É a pior merda
possível! A minha vontade é de acabar com a vida dele.

— Ahmed, pare de dizer essas coisas assustadoras. Você está me


assustando!

— E é para ficar assustada mesmo! Assim, você pensará mil vezes


antes de abraçar esse homem novamente!

Ela fecha a cara e fica calada. Irritado, organizo as coisas que


trouxemos e pego a sua mão, fazendo Luisa andar no meu ritmo em
seguida.

— Para onde estamos indo?!

— Para o hotel, e é lá que vamos ficar até o final da semana. Você


chama muita atenção numa praia. Então, para evitar que eu mate
alguém, é melhor deixar você mais escondida.

— Você está falando sério?!


— Oh, sim, você nem imagina o quanto!

Luisa Jones

Passamos o resto da semana no hotel luxuoso. Ahmed não quis me


levar para lugar nenhum durante o dia, somente quando já era noite,
ele me levava para algum lugar, mas me fazendo usar os vestidos
mais recatados possíveis! Ele está ficando muito mais possessivo
conforme o tempo passa e às vezes ele tem uns surtos obsessivos.
Tento lidar com isso da melhor maneira possível, mas algumas vezes
é impossível não ficar irritada. Neste momento, estamos voando num
avião comercial, novamente na primeira classe, indo de volta para
Fujairah. Ele está lendo um livro, mas frequentemente me dá alguns
olhares furtivos, como se eu fosse desaparecer a milhares de
quilômetros do solo terrestre! Percebendo a minha irritação, ele para
de ler e me encara criticamente.

— O que foi, Habibi?

— Eu tenho uma pergunta importante para te fazer — decido abrir o


jogo sobre algo que está me incomodando.

As suas sobrancelhas vão um pouco para cima, seu olhar curioso.

— Mesmo? E o que é?

— Eu quero voltar com a minha especialização.

Isso é algo que não saiu da minha cabeça nos últimos dias. Ele
continua neutro.
— Tudo bem. Você pode voltar quando quiser.

A sua resposta me surpreende.

— Mesmo?!

— Sim.

Animada e muito, muito surpresa, faço outra pergunta:

— Eu também quero trabalhar com você, como tinha sido o


combinado antes de nos casarmos.

Desta vez ele aperta os lábios, não muito contente.

— Isso eu não vou permitir, Luisa. Eu te ofereci essa oportunidade


naquela época porque você era solteira. Agora, você é a minha
esposa, e a esposa de um sheik têm muitos compromissos com o
marido e com o povo dele.

— Hum... — resmungo, não contente.

Ele me observava atentamente.

— Quando você terminar a sua especialização você poderá trabalhar


comigo, se ainda quiser. Mas agora não, uma parte do seu tempo
precisa ser para mim e para outras coisas envolvendo o meu povo.

— Então, quando eu me formar, você irá me deixar ter o emprego?

O seu olhar ainda está insatisfeito, mas ele acena.

— Se essa for a sua vontade...


— Sim, é a minha vontade.

— Certo, mas primeiro você precisa se dedicar aos estudos e a


mim, é claro. Se você se sair bem, então terá o que você quer.

— Parece justo para mim — falo, sorrindo.

∆∆∆

Quando finalmente chegamos no castelo, tudo o que fizemos foi


tomar um banho de banheira juntos e depois fomos dormir,
estávamos cansados, e o fuso horário só complicou ainda mais.
Dormimos o dia todo e à noite tivemos um jantar com toda a família.
Agora, já é de manhã, e Ahmed saiu bem cedo para ir à empresa.
Estou no banheiro neste instante, acabei de tomar um banho e lavar
o meu cabelo. Olhando para o espelho do meu closet, fico confusa
com o que vejo. Estou com algumas espinhas no rosto, o que não é
comum. Eu não tenho espinhas desde os quinze anos. Quando eu
tinha essa idade, apareciam algumas, mas elas acabaram
completamente quando comecei a tomar anticoncepcionais devido ao
meu ciclo menstrual. Isso é realmente estranho, irei numa
ginecologista daqui, após eu terminar a cartela que estou tomando,
provavelmente o meu organismo já está imune ao tipo de
anticoncepcional que estou tomando, não sei... Talvez seja, já que
estou tomando o mesmo há seis anos. Ou então pode ser algo
relacionado a novos hormônios, já que agora estou tendo sexo.
Olhando para as minhas roupas, escolho um vestido de verão cor-
de-rosa para o dia. Depois, vou diretamente para a sala de
refeições, encontrando Ester e Jade já degustando as iguarias do
café da manhã.

— Caramba, Luisa, você demorou, hein? Achei que nem fosse


descer mais — Jade fala quando me ver.

— Sinto muito, gente, eu demorei no banho.

Ester repreende a filha com o olhar.

— Não se preocupe, Luisa, sei que chegou de viagem há pouco


tempo e ainda está cansada.

— Sim, estou um pouco cansada realmente.

— Acho que vocês deveriam ter ficado mais tempo. Uma semana,
só? Não dá nem para curtir! — diz Jade.

Aceno.

— Concordo, mas Ahmed é muito ocupado, vocês sabem disso


melhor do que eu. Mas ainda sim nós conseguimos passar um bom
tempo juntos, isso quando Ahmed não estava querendo esmurrar
algum homem por ciúmes de mim — falo, fazendo uma careta no fim.

Ester ri, seu olhar cheio de significado.

— Garota, você só viu o começo de tudo. Ahmed é muito mais


possessivo do que imagina, mas a notícia boa é que ele sabe se
controlar mais que o pai dele — diz ela.
Faço uma expressão de espanto.

— Ele é mais controlado que o pai? Céus, então não quero nem
imaginar como o sheik Tariq é com você.

Ester ri novamente, mas desta vez a sua pele fica um pouco


corada.

— Hum, realmente é difícil de imaginar, mas é a verdade. Talvez


depois de um tempinho você irá perceber isso. Os homens desta
família não sabem lidar muito bem com o ciúmes.

— Eu que o diga! — Jade diz, revirando os olhos.

Ester olha um pouco estranho para Jade, mas não diz nada.

— Mas me diga, Luisa, como foi a viagem de lua de mel, além do


fato de Ahmed ter ficado com ciúmes exagerado? — Ester pergunta,
amigável.

— Foi muito boa! Achei que não seria tanto, devido ela ter sido no
Brasil, porque assim, eu morei lá até pouco tempo! Mas Ahmed me
surpreendeu com tudo, o hotel, os restaurantes... Foi tudo incrível! —
falo, lembrando dos momentos.

— Uau, então vocês aproveitaram bem, hein? — diz Jade, com um


sorrisinho malicioso.

— Jade, deixa seu pai saber sobre esses seus comentários com
duplos sentidos para você ver... — Ester diz, provocando a filha.

— Ora, ele tem que saber que eu já sou bem grandinha para saber
das coisas, né?!
— Achei que você já tinha entendido que para ele você nunca será
grande o suficiente para esse lado da vida.

— Papai é um cabeça oca, isso sim!

Rio com a visão de Jade irritada com o seu pai controlador. Ela fica
tão engraçada quando está com raiva, parece até uma menininha.
Pensativa sobre o que Ester disse em relação ao instinto possessivo
dos homens Hamir, como um pãozinho recheado de frango enquanto
observo a conversa de Jade com sua mãe.
Capítulo 27

Luisa Jones

Novamente uma semana se foi, e hoje foi o meu primeiro dia de


volta aos estudos. Sinceramente? Foi bem estranho não encontrar
Samuel e Liam na turma, é duro saber que neste momento eles
estão no Canadá, provavelmente tendo que se especializarem lá
mesmo. Às vezes me sinto um pouco culpada por isso, mas eu sei
que não foi a minha culpa, eles que foram irresponsáveis por beber
demais. Agora, não tenho nenhum colega que eu possa conversar.
Na turma só tem homens, e eles não conversam comigo,
principalmente depois que eu me casei com Ahmed. Na verdade, a
maioria nem olha no meu rosto, provavelmente por respeito a
Ahmed. Eu acho isso uma palhaçada. Ultimamente, tenho percebido
que ter Hamir como sobrenome mudou a minha vida completamente.
Por onde vou, quando descobrem que sou esposa de Ahmed, o
tratamento das pessoas muda, geralmente ficam mais gentis ou
então tímidos e respeitosos. Às vezes me traz vantagens, mas às
vezes me sinto um pouco incomodada também.

Cansada, sento-me na mesa de um restaurante que me chamou


atenção no shopping de Dubai. Estou faminta e louca para comer um
bife grelhado de frango. Assim que faço o pedido, sou servida com
alguns diferentes sabores de suco para tomar enquanto espero a
comida ser preparada. Me servindo de um copo do famoso suco de
tâmaras, de repente, sou surpreendida por uma mulher que se senta
na minha frente, sem pedir permissão. Quando olho para o seu
rosto, todo o meu corpo gela, e sinto logo a sua energia ruim. Jamile
arqueia as sobrancelhas para mim, soltando uma risada irônica.

— O que foi, viu um fantasma, querida?


Enfurecida pela sua ousadia de chegar perto de mim, falo:

— O que você está fazendo aqui, Jamile? Sabe muito bem que não é
bem-vinda.

Ela ri ainda mais, totalmente forçada. Estou com os nervos à flor da


pele por saber que ela provavelmente estava me seguindo.

— Ai, ai, que piada, hein, sheika? Olha, acho que você está
enganada, viu? Quem não é bem-vinda é você, sua estrangeira sem
graça. O meu clã não te aprova.

Franzo a testa, achando graça.

— Engraçado, porque o clã estava no meu casamento, e todos


pareciam muito felizes com a escolha de Ahmed. Fui muito bem
tratada e acolhida.

Jamile fecha a cara, cheia de ódio.

— Isso é o que você pensa, tolinha. A maioria não gosta de você, e


se você acha que sua vidinha idiota vai continuar perfeita, está
enganada! Eu e nem o clã iremos permitir isso por muito tempo!

Aperto o meu copo com força, a ponto de quase quebrá-lo.

— Eu acho melhor você calar a sua boca, Jamile. Eu sou a sheika,


lembra? Querendo você e os seus seguidores fake ou não. Se você
não sair da minha frente agora, vou chamar a segurança do
shopping, e aí a sua situação pode complicar.

Ela sorri, achando tudo divertido.


— Ah, sério que você já quer que eu vá? Mas tenho tanta coisa para
te contar!

— Eu não vou pedir outra vez! — ameaço, à beira do meu limite.

Jamile revire os olhos.

— Eu só vou sair porque está lotado de pessoas neste lugar,


estrangeirinha. Mas, olha, lembra do que eu disse? Não pense que a
sua ridícula vidinha perfeita vai continuar assim. Eu não irei permitir.

Sinto o ódio tomar conta do meu cérebro.

— E quem é você para permitir algo?!

Ela franze a testa.

— Sou mais do que você imagina.

E então ela sai, com o seu ridículo nariz empinado e olhos frios.
Cheia de adrenalina, tenho que fazer um esforço para controlar o
meu ódio. Ainda com a respiração acelerada, sou servida pela
comida deliciosa. Mas, devido ao estresse, não estou com tanta
fome mais. Vadia, se ela acha que vou ficar calada e não vou contar
o seu surto de hoje para Ahmed, ela está muito enganada. Não é
pelo meu marido que ela está brigando? Então é para ele mesmo
que vou contar as suas loucuras. Já até imagino o quanto Ahmed
ficará feliz com a notícia de que uma louca histérica abordou a sua
esposa num shopping, enquanto ela só queria almoçar em paz. Com
muito esforço, como toda a comida. Depois de pagar, peço um táxi
pelo aplicativo para ir direto à empresa Hamir.

Eu nunca entrei lá, mas isso vai mudar hoje. Sou a esposa do
herdeiro dela, não? Preciso aparecer lá de vez enquanto. Além
disso, pretendo trabalhar nela assim que eu terminar a minha pós-
graduação. Eu sei que, no fundo, Ahmed prefere que eu fique em
casa, cuidando dos seus tão sonhados filhos, porém eu quero
exercer a minha profissão, mesmo que no futuro eu tenha que me
dedicar a outras coisas. Eu não sou ignorante, sei que o título de
Ahmed irá exigir que a sua esposa seja um exemplo e essas coisas.
Talvez com o passar do tempo, eu irei me acostumar com essa vida
de esposa do sheik, mas, enquanto Ahmed ainda não substitui o pai
dele no clã, vou tentar ao máximo realizar os meus antigos sonhos.
Começando pela minha especialização, depois pelo meu emprego.

Tudo bem que é bastante estranho trabalhar para a empresa do


próprio marido, mas ainda sim é a opção que tenho. Além disso, não
acho que encontraria um melhor lugar. A Hamir Enterprises é
simplesmente o lugar dos sonhos para uma engenheira de petróleo
igual a mim, não vou desperdiçar a oportunidade que tenho. Meu
marido precisa relevar algumas coisas também, não é justo só eu ter
que fazer o que ele quer. Casamento é uma troca de favores, eu
acho, um sempre tem que relevar em algo. Quando o táxi para na
frente do grande prédio, começo a ter receio se eu realmente
deveria estar aqui. Saio do carro e me dirijo para dentro, logo sendo
recebida por uma mulher que me reconhece de imediato. Falo que
estou aqui para ver Ahmed, e ela prontamente diz que vai avisá-lo
que estou aqui, mas que eu já posso subir para o último andar
enquanto isso. Depois de agradecer à mulher, vou diretamente para
o elevador, apertando o botão do último andar.

Quando estou na frente da porta do escritório de Ahmed,


novamente fico um pouco nervosa, nunca estive aqui antes e estou
com medo de atrapalhá-lo, eu realmente não gosto de incomodar as
pessoas, principalmente quando estão atrapalhando. Mordendo os
lábios de nervoso, vejo quando a porta moderna cinza se abre
automaticamente para mim, depois de Ahmed liberar. Quando entro,
vejo-o em pé, em frente à sua mesa de trabalho. Ele está de terno
hoje, o que o deixa com uma aparência mais ocidental, como um
empresário americano, talvez. Ele é tão diferente, ora ele é árabe,
ora é um CEO moderno e ocidental. Olhando-me fixamente, com a
sua costumeira postura altiva e autoritária, ele diz:

— Achei que este dia não chegaria tão cedo. A minha esposa vir até
o meu escritório para me ver, será que estou delirando?

Sorrio, aliviada por ele não ter ficado com raiva.

— Fiquei com medo de vir aqui, confesso. Achei que você não fosse
gostar. Você sabe, talvez eu fosse te atrapalhar...

— Atrapalhar? Que merda é essa, Luisa?! Você nunca estaria me


atrapalhando, você é a minha esposa — fala, irritado e sério.

— Bem, eu sinto muito, mas eu apenas...

— Shh, pare de falar — ele ordena.

Arregalo os olhos, não acreditando na sua ordem.

— O quê?!

— Isso mesmo que você ouviu. Cale essa bonita boca que você tem
e vem até aqui.

Franzo a testa.

— Até onde você está?

Ele acena.

— Ora, por que você não vem até onde estou?!


— Porque eu quero que você venha até a mim. Vamos, Luisa, não
vou esperar o dia todo...

— Ora, seu... — murmuro, nervosa. Mas, ainda sim, eu faço


exatamente o que ele pediu e vou até a sua figura prepotente me
esperando.

— E então, doeu fazer o que pedi?

Bufo em resposta, e ele sorri. No momento seguinte, uma de suas


mãos vai para a parte de trás do meu cabelo, puxando a minha
cabeça um pouco para baixo, deixando o meu pescoço à mostra. Ele
murmura algo incompreensível com a visão, e em seguida a sua
boca está ali, me mordendo, sugando, lambendo... E eu fico
totalmente atordoada, o desejo aparecendo e me deixando ofegante.
Ahmed cheira o meu cabelo e murmura uma aprovação. Ele então
solta as mechas para segurar o meu rosto, levando-o até o seu. Não
demora nem um segundo para que a sua boca ataque a minha,
rudemente, totalmente possessivo. Ele belisca um dos meus seios
através da roupa, e quando eu abro a boca, surpreendida, ele enfia a
língua quente e úmida dentro dela, me dominando, deixando a minha
própria língua à mercê da sua. Ele só sai da minha boca para morder
o meu lábio inferior, em seguida sugá-lo. Com a boca no meu ouvido,
ele sussurra:

— Eu quero te tomar aqui, no meu escritório.

Os pelinhos do meu pescoço se arrepiam.

— Você está doido? E se alguém escutar?

— É só eu manter a sua boca ocupada. Além disso, todo o prédio


possui isolamento acústico.
Arregalo os olhos.

— Prometo ser rápido, Habibi — diz, já enfiando a mão debaixo do


meu vestido.

Eu não respondo, e ele interpreta isso como um sim. De repente,


sua mão está no elástico da minha calcinha e em seguida dentro
dela. Dou um pulinho, surpresa quando ele belisca o meu clitóris,
forte, me fazendo gemer.

— Eu não quero demorar aqui com você, porque eu quero te ter


novamente em casa.

Apenas suspiro em resposta, sentindo o prazer dos seus dedos no


meu clitóris, me atormentando.

— Eu quero você — imploro.

Ele ri, convencido.

— Oh, acredite, querida, eu sei.

Dizendo isso, ele enfia um dedo em mim, do nada, me


surpreendendo, em seguida me deixando ainda mais excitada. Mas
ele logo o tira de lá, e eu protesto. Ahmed me mostra o seu dedo,
brilhante com a prova da minha excitação.

— Viu? É assim que eu sei o quanto você está ansiosa para me ter
dentro de você.

Coro, mas não nego a sua afirmação, ele está completamente


certo, eu estou louca para tê-lo dentro de mim, estou completamente
viciada em ser dele, em ser possuída pelo seu corpo no meu. Isso é
completamente contraditório com a minha vida de antes, eu sei, mas
é a verdade. A verdade é que tudo parece tão natural agora, tão
normal. Às vezes me sinto como se já fosse de Ahmed desde
sempre. Eu me casei com ele por falta de opção, é verdade, mas,
agora que sou sua esposa, penso que essa não foi uma mudança
tão ruim assim na minha vida. Ele é possessivo, ciumento e muito,
muito mandão, mas sempre me respeitou e nunca me obrigou a
nada. Ahmed é até mesmo cavalheiro, sempre pronto para me mimar
e realizar os meus desejos. Não tem como não amar as qualidades
dele.

A mão de Ahmed novamente volta para debaixo do meu vestido,


mas desta vez para a minha barriga, ele faz alguns movimentos ali,
pensativo. Antes que eu tivesse tempo de perguntar o que ele estava
fazendo, a sua mão está na minha calcinha, ele logo começa a
abaixá-la, tirando-a de mim. A cena de Ahmed se ajoelhando para
tirá-la completamente de mim, arrastando-a por minhas pernas, até
chegar aos meus pés, e eu dar um passo para trás, abandonando-a,
foi incrivelmente sexy, e posso sentir a minha respiração ficando mais
rápida, talvez as minhas pupilas até mesmo estejam dilatadas, assim
como as de Ahmed, que estão fazendo os seus olhos parecerem
mais escuros.

Muito sério e autoritário, ele ordena:

— Tire a calça do seu marido, Luisa.

— Okay — respondo, divertida.

Ele franze a testa, mas continua sério. Me ajoelhando à sua frente,


posso sentir a tensão do corpo de Ahmed. É perceptível o esforço
que ele está fazendo para se manter parado e controlado. Tomando
coragem, faço algo que eu nunca tinha feito antes na minha vida, tirar
a calça de um homem. Mas estou me sentindo confortável mesmo
assim. Ele é o meu marido, por que ficaria me sentindo estranha com
isso?

Depois de retirar o seu cinto, com as mãos tremendo um pouco,


desabotoei a sua calça para, enfim, tirá-la. Ahmed logo a descarta
no chão, assim como eu fiz com a minha calcinha. Quando ele está
apenas com a sua cueca branca Armani, sinto o meu coração bater
mais rápido. Ele fica muito sexy desse jeito, apenas com a roupa
íntima. A cor branca da peça destaca a sua cor de pele morena e
tão atraente ao meu ver. Além disso, o corpo de Ahmed é totalmente
definido, inclusive o seu abdômen e pernas. Tenho percebido
ultimamente que ele gosta muito de malhar. Ele passa boa parte do
seu tempo na academia do castelo, assim como o seu pai e irmãos.
Eu, Jade e Ester somos sedentárias e não gostamos muito de
exercícios físicos. Mas Ester disse que os nossos maridos não se
importam com isso, nem se estivéssemos acima do peso. Achei
ótima essa notícia, porque eu realmente tenho muita preguiça de me
exercitar, no máximo gosto de nadar na piscina.

Em meio aos meus pensamentos, sou surpreendida quando Ahmed


me pega no colo e me leva até a sua cadeira de presidente, me
colocando no seu colo, sentada. De repente, suas mãos estão nas
minhas pernas, afastando-as o máximo possível, deixando a minha
intimidade exposta e arreganhada. Ao invés de ficar envergonhada,
fico ainda mais excitada e ansiosa.

— Pronta para ser possuída pelo seu marido no escritório dele? —


ele sussurra no meu ouvido, rouco.

Aceno em concordância, impossibilitada de falar. Uma mão de


Ahmed vai até o meu cabelo, afastando-o de um lado do meu
pescoço, para beijar-me lá e em seguida me morder sutilmente.
Suspiro, em expectativa. Eu, o tempo todo, podia sentir o seu
membro totalmente duro debaixo de mim, mas, quando ele
finalmente me levantou um pouco para me fazer montá-lo, eu mesmo
assim fui surpreendida pelo quão duro, grande e suave ele fica
dentro de mim e quão profundo ele fica nessa posição, comigo em
cima, sentada, com os braços de Ahmed me segurando por trás,
amassando os meus seios com as suas mãos morenas e
masculinas. É tão bom quando ele me possui, ele é tão intenso e tão
dominante, que é impossível eu não ficar embriagada pelos seus
toques. Eu simplesmente virei uma completa dependente de tudo que
vem dele, e às vezes isso me assusta.
Capítulo 28

Luisa Jones

— Mas que caralho! Por que você não me disse isso antes, Luisa?!
— Ahmed grita comigo.

Depois de meia hora sendo dominada por ele, finalmente ele achou
que era hora de parar por um tempo. Ele fez questão de vestir a
minha roupa, obviamente tirando uma casquinha aqui e outra ali.
Depois de ambos estarmos vestidos, é que fui me lembrar do motivo
que me trouxe aqui, aquela cobra invejosa. Contei para Ahmed o que
aconteceu, falei sobre aquela maluca ter me abordado no shopping
para me ameaçar e todo o resto da situação. Porém, a reação dele
ao escutar o ocorrido me assustou, eu não sabia que ele iria ficar tão
nervoso.

— Como que eu iria te dizer isso antes? Aconteceu há apenas uma


hora, e quando eu cheguei aqui você nem mesmo perguntou como foi
o meu dia, ao invés disso, achou a ideia de me seduzir mais
atraente! — falo, com as sobrancelhas arqueadas em ironia.

Ele está muito tenso, eu posso ver isso pelo seus olhos duros e
frios e o seu maxilar contraído.

— Aquela vagabunda e o seu pai, aqueles dois estão testando o meu


controle! Se Jamal e a sua filha cobra pensam que ficarão impunes
por muito tempo, então só podem estar fodidamente enganados!

Fico calada, apenas o observando. Ahmed está realmente com


muito, muito ódio, e talvez eu esteja com os olhos arregalados agora.
De repente, ele me fita, nervoso e acusador. Dou um passo para
trás, me afastando ainda mais dele.
— Eu te disse que uma segurança particular era indispensável, Luisa.
Mas você é sempre tão teimosa e cabeça dura que nunca aceita as
minhas decisões!

— Nunca é uma palavra muito forte.

Ele rosna.

— Eu sinceramente ainda não sei se você é ignorante ou inocente


demais! Custa-me toda a minha sanidade ver a minha esposa agindo
como uma verdadeira suicida tola!

— O que você está dizendo?! Você está exagerando, Ahmed! —


grito no mesmo tom, absurdamente irritada agora.

Ele então passa uma mão pelos seus cabelos, frustrado.

— Você é realmente muito inocente, garota. É quase impossível de


acreditar que uma mulher, esposa de um sheik com uma fortuna
imensa, não saiba que ela e toda a família são alvos de inimigos e
até mesmo de assassinos!

— Mas eu só saí da indústria para ir ao shopping!

— Esse já é um intervalo suficiente para alguém te matar e ninguém


perceber!

Fico estática, gelada, minha respiração acelerada.

— É tão perigoso assim? — pergunto, agora em tom baixo.

O seu olhar está sobre mim, penetrante e em chamas.


— Muito mais do que o seu cérebro de algodão doce é capaz de
imaginar, Luisa. Eu estou extremamente irritado com você, a minha
vontade é de te levar para casa e bater na sua bunda — fala, num
tom misto de raiva e empatia.

— Você não vai bater na minha bunda — digo, me sentindo culpada


por ser tão idiota.

— Tem certeza? Eu não confiaria muito nisso se eu fosse você. Eu


estou muito nervoso com você agora, talvez você esteja merecendo
um castigo — diz, seus olhos verdes agora sérios, mas divertidos.

— Não mesmo, eu não gosto de apanhar!

Ele ri, me surpreendendo.

— E quem disse que vai doer? Só vai arder um pouco, mas prometo
que irá gostar, Habibi.

— Ahmed! — digo, de boca aberta com a sua ideia.

— Não se finja de inocente, Habibi. Eu te conheço muito bem para


saber que está excitada com a ideia do seu marido dar uns tapas na
sua bunda bonita.

Tenho certeza de que corei, porque ele está rindo, seu corpo
perdendo um pouco a tensão. Ele olha para o seu relógio de ouro no
pulso e depois me fita, logo em seguida ele está se aproximando de
mim, confiante e altivo, como sempre. Quando ele está literalmente
na minha frente, ele me prende nos seus braços, suas mãos
segurando a parte inferior das minhas costas de forma possessiva.
— Nada de andar sozinha por aí a partir de hoje, esposa. Como
você pôde ver, você não está segura de aproximações de loucas
como Jamile. Imagine se fosse um assassino, então? — diz, a
irritação na sua voz. — Eu prefiro nem imaginar. Por isso, a partir de
hoje, você está proibida de andar sozinha, terá dois seguranças na
sua cola, assim como minha mãe e Jade, e não adianta dizer que
não irá aceitar. Como o seu marido, irei fazer o que for melhor para
você e sua segurança, independentemente da sua vontade.

— Você não tem seguranças — acuso.

— Claro que tenho. O prédio está lotado deles, além disso, não sei
se já percebeu, sempre estou acompanhado por alguém quando
estou fora. Esqueceu-se de Juan? Ele e sua equipe estão atrás de
mim por onde vou, Juan ao meu lado, e os outros mais a distância.

— Achei que Juan fosse o seu auxiliar ou algo assim — falo,


surpresa.

— Ele é. Juan, além de ser meu segurança, também faz muitas


outras coisas. Digamos que ele tem muitas especialidades.

— Entendo.

Ótimo! Agora que fui ligar os pontos, provavelmente esse cara é o


"faz tudo" de Ahmed e seu pai, inclusive vigiar eu e Jade. Várias
vezes tive a impressão de que ele nos vigiava quando estávamos no
castelo e os sheiks não. Vejo que não estava vendo coisas então.

— Juan irá encontrar bons seguranças para você, que sejam


silenciosos e não te perturbem no dia a dia.

— Espero — falo, suspirando. — Não será fácil ter duas pessoas


atrás de mim, então pelo menos espero que sejam discretas.
— Não se preocupe com isso, você não terá problemas com eles.

— Certo.

— Porém, o mais importante é que você esteja segura, Luisa. A


minha família é alvo de todo tipo de pessoas... Jamal, sua filha e os
seus seguidores são o de menos. Obviamente, isso não significa que
não são perigosos. Irei investigar suas vidas, para conseguir provas
de que não são dignos de estar no clã, muito menos no conselho,
que é o caso de Jamal.

Afasto-me dos seus braços, ficando mais afastada, o que o deixa


contrariado, pelo que noto na sua expressão.

— Você não pode simplesmente expulsá-los, já que eles são contra


a sua família?

— Infelizmente, não. Eu não posso simplesmente expulsar um


membro do conselho, a menos que ele tenha feito algo grave, e eu
tenha provas suficientes.

Aceno, pensativa.

— Isso é uma merda — falo.

Ele acena.

— Concordo, porém é assim que funciona. Mas não se preocupe, ele


não conseguirá fazer muita coisa a não ser usar a sua filha idiota
para fazer ameaças vazias. Jamal é fraco, ele não tem poder
suficiente, e a sua frustração e inveja o fazem ficar cego e agir por
impulso.
— Eu não sei, não... — falo, duvidando.
— Jamile parece estar possuída pela vingança, tenho medo do que
essa família possa fazer.

Ahmed novamente me enlaça, fazendo-me encostar no seu peito.


Ele cheira o meu cabelo, suspira e me beija no topo da cabeça.

— Não se preocupe com eles ou com qualquer outra coisa, Luisa.


Você não deve se preocupar com nada neste mundo. Como o seu
marido, sempre irei te proteger e nunca irei permitir que nada
aconteça com você.

Balanço a cabeça, encostada no seu peito quente e forte.

— Agora, vamos, tenho que levar você para casa.

Levanto a cabeça, procurando os seus olhos.

— Mas ainda é muito cedo, você só termina o trabalho no final da


tarde! — falo, confusa.

— Sim, mas hoje eu irei sair mais cedo e passar o resto do dia com
a mulher mais linda deste mundo.

Fico vermelha com o seu elogio.

— Tem certeza?

— Absoluta.

Ele então me solta e vai até a sua mesa, mexendo em alguns


papéis e organizando algumas coisas. Depois de gastar pouco mais
de três minutos nisso, ele finalmente me olha.
— Agora estamos prontos para ir.

Logo depois de dizer isso, ele liga para Juan, avisando que está
saindo. Fico parada, esperando-o, mas ele não demora muito e logo
está ao meu lado, me conduzindo para fora da sala até o elevador, a
sua mão possessiva sempre atrás das minhas costas.

∆∆∆

Eu e Ahmed estamos na sua Mercedes-Benz Maybach Exelero


preta, indo para algum lugar que Ahmed não quer me dizer. Depois
de chegarmos no castelo, na pista de pouso e decolagem, ele
simplesmente me disse que precisava me levar a um lugar. Nem
mesmo chegamos a entrar, e ele já estava me levando para outro
lugar. Perguntei para onde íamos, mas ele disse que seria uma
"surpresa". Na hora eu fiquei receosa, não sei se gosto muito de
surpresas, porque nunca se sabe o que esperar delas. Enfim, já
estamos há dez minutos no carro, rondando o emirado Fujairah.
Nada parece fazer sentido, e neste momento estamos num lugar
mais afastado, com poucas "casas", que na verdade são mansões
superluxuosas.

— O que estamos fazendo aqui? — pergunto, quando Ahmed


estaciona o carro numa rua de um bairro de alta classe.

— Você irá saber agora — diz, apenas.

Ele então sai do carro e dá a volta para abrir a minha porta,


fazendo questão de segurar a minha mão para me ajudar a sair.
Várias vezes eu disse que não era necessário fazer isso, que eu
posso sair sozinha, mas ele finge não me ouvir. A verdade é que
Ahmed é um homem à moda antiga, e, apesar de ser autoritário,
sempre foi muito cavalheiro, não importa qual fosse a situação.
Quando estou fora do carro, ele me guia para pouco mais de cinco
metros de distância, se aproximando de uma mansão tão grande,
que quase chega a ser um castelo. Olho em volta do local e vejo
várias árvores e jardins bem cuidados. Ao olhar para a rua, é
possível ver outras mansões, mas são poucas, todas são bem
afastadas umas das outras. Eu não consigo ver direito como elas
são, porém consigo ter uma noção dos seus tamanhos. Assim, logo
percebo que esta é muito maior. Ahmed me olha, seus olhos
mostrando a sua empolgação. Estou um pouco tensa, no entanto,
porque ele não me diz o que está acontecendo. Ahmed então coloca
uma mão nas minhas contas, iniciando alguns movimentos circulares
e reconfortantes.

— Gostou da mansão? — pergunta, observando o meu rosto.

Arqueio as sobrancelhas, confusa. Então eu volto a olhar para o


imóvel intimidante de tão bonito e grande.

— Muito bonita — respondo.

Quando me viro para ele novamente, vejo um meio-sorriso satisfeito


no seu rosto. Ele tira a mão das minhas costas e a aponta para a
mansão.

— Fico muito aliviado em saber disso, porque será aqui que iremos
morar a partir de agora.

O meu corpo na hora fica estático, e o meu coração dispara. Fico


alguns segundos sem saber o que dizer. Quando digo, minha voz sai
um pouco aguda demais:

— O quê?! Como? Achei que o castelo da sua família fosse onde


ficaríamos até... não sei... Achei que não iríamos nos mudar, lá é
enorme.
— O castelo Jasmim é realmente enorme, e espaço é o que lá não
falta. Porém, a questão não é essa. Estamos casados, iremos
construir a nossa família muito em breve, e quero que tenhamos toda
a privacidade possível.

— Entendo — comento, sorrindo.

Eu realmente fiquei feliz com a surpresa. Nunca tinha pensado em


morar em outro lugar com Ahmed, até porque só temos três
semanas de casados, então não pensei muito no futuro. Mas agora
que ele me deu a notícia, fiquei muito contente. Eu realmente acho
que um lugar só para a gente será bom. Há pouco tempo, eu nunca
imaginaria que iria me casar tão rápido, mas, já que me casei,
acabei me conformando com a ideia, e até mesmo a minha
mentalidade mudou. Apesar dos defeitos de Ahmed, ele é um ótimo
marido e sempre me trata tão bem, que até mesmo passei a gostar
da minha nova vida. Ele é uma ótima companhia e um bom amigo.
Assim, o resultado é que, cada dia que passa, mais o casamento
parece ser algo normal e até mesmo bom para mim. Às vezes chego
a me pegar imaginando sobre o futuro, eu Ahmed e algumas
crianças.

— Eu irei levar você para dentro. Você irá amar, Habibi. A mansão já
está toda decorada, a maioria dos móveis e decorações é de estilo
clássico.

Abro a boca, surpresa.

— Sério?! Eu amo o estilo clássico.

Ele sorri, charmoso, como sempre.


— Eu sei. É por isso que a mansão possui esse estilo. O lar será
seu, você será a dona de tudo isso aqui, Luisa. Tudo tem que ser do
seu gosto e da forma que você quiser.

Aceno, sem conseguir balbuciar nenhuma palavra.

— Eu não te trouxe aqui mais cedo, porque queria que tudo


estivesse completamente pronto. O nosso casamento aconteceu
muito rapidamente, portanto o planejamento e decoração do lugar
demorou algumas semanas...

Coloco a minha mão no seu peito, interrompendo-o. Ahmed franze a


testa.

— Não precisa explicar nada. Eu não vi por dentro ainda, mas já sei
que vou amar, você também tem bom gosto, Ahmed. Muito obrigada
pelo presente.

Ele coloca a sua mão sobre a minha, apertando-a.

— Não há de quê, Habibi. Mas não se preocupe, porque irei


reivindicar a minha recompensa ainda hoje.

O significado do seu olhar é inconfundível, e eu coro. Bem, vejo que


o resto do dia será bem interessante. Ele nunca parece estar
satisfeito.
Capítulo 29

Luisa Jones

Literalmente, há algo muito, muito errado acontecendo comigo, e eu


estou nervosa e ansiosa como nunca tinha estado antes. A minha
menstruação nunca foi totalmente regular, porém também nunca foi
muito desregulada. Às vezes ela vem dois dias adiantada ou dois
dias atrasada, mas isso é o máximo de anormalidade dela. Neste
mês, porém, ela atrasou mais de dois dias. No terceiro dia de
atraso, já comecei a ficar muito preocupada, porém resolvi esperar
até completar uma semana. E adivinha só? Hoje fez sete dias que
estou esperando uma menstruação de verdade, porque, na verdade,
o que eu tive foi um sangramento muito, realmente muito leve, o que
não é normal no meu caso. Isso é assustador, porque, se ela tivesse
vindo normalmente, o meu período já teria acabado, porque ele
geralmente só dura quatro dias. Mas não, sangrei quase nada este
mês, e mesmo assim durante apenas dois dias. Eu não faço a
mínima ideia do que está acontecendo, porém acho que talvez os
meus hormônios estejam desregulados... Não sei dizer ao certo.
Fato é que eu definitivamente preciso ir ao ginecologista. As minhas
consultas ao ginecologista sempre foram muito superficiais e muito
de vez em quando, mas agora a minha condição é muito diferente da
de antes. Agora sou casada e muito ativa sexualmente. Eu sinto o
meu rosto corar com esse pensamento. Estou sozinha no quarto,
mas ainda é estranho falar ou até mesmo pensar sobre sexo, apesar
de eu gostar muito quando eu e Ahmed fazemos certas coisas...

Enfim, hoje estarei indo em uma ginecologista daqui, porque preciso


resolver logo a minha situação. Provavelmente precisarei trocar de
anticoncepcional, sinto que a marca que estou tomando não está
fazendo mais efeito em mim. A minha pele não está tão boa quanto
antes e agora estou tendo problemas com a minha menstruação. Já
arrumada para sair, pego a minha bolsa e dou uma última olhada no
espelho. Quando estou na saída da mansão, os meus dois
seguranças, Kalil e Adair, logo se aproximam de mim. Estou tendo
dificuldade de me acostumar com esses dois na minha cola o tempo
todo, porém, depois da ousadia de Jamile, Ahmed me proibiu de sair
sem eles. Agora que estamos morando sozinhos, tenho me sentido
um pouco solitária. Eu vou junto com ele para Dubai para estudar e
depois volto para casa com meus seguranças, sem ele. Ahmed só
volta para casa no fim da tarde, assim eu fico sozinha em casa o
resto do dia.

Às vezes Jade e Ester me visitam, e às vezes eu vou até o castelo,


mas ainda sim é inevitável que eu fique muito sozinha. Estou morando
aqui há quase duas semanas, e ainda é estranho ter uma casa
enorme que, na maior parte do tempo, só tem eu. Porém, acredito
que Ahmed tomou a decisão certa, apesar do castelo ser enorme,
nós precisamos ter o nosso próprio espaço, para construir a nossa
própria família daqui um tempo. Ahmed vive me dizendo que quer um
filho logo. Depois de pensar muito, concordei, com a condição de
que fosse depois da minha pós-graduação. Ele ficou um pouco tenso
quando eu sugeri isso, mas concordou. Eu também quero ter filhos,
mas não acho que agora seja o momento certo. Eu ainda estou me
acostumando com a minha nova vida, além disso, acabei de casar.
Eu gosto de viver só com Ahmed, estamos nos conhecendo melhor,
e estou definitivamente apaixonada por ele, como nunca estive antes
por ninguém.

É como se eu tivesse voltado no tempo e fosse uma adolescente


descobrindo os sentimentos. Ahmed se aproveitou da minha
condição na delegacia para se casar comigo, isso é fato, e me deixa
irritada até hoje quando eu me lembro disso. Porém, em
compensação, ele faz de tudo para me agradar, é um ótimo marido,
e o seu hobby é me seduzir. Não sei o que é privacidade desde que
casei. Ele domina o meu corpo e mente em todo lugar que ele quer,
até mesmo na cozinha, de madrugada! Mas não posso mentir e dizer
que não estou gostando, eu estou amando. O casamento é melhor
do que eu imaginava, talvez seja por que Ahmed age como um
verdadeiro homem. Tudo bem que ele é mandão, mas eu até acho
isso sexy, desde que ele não comece com os seus ataques
obsessivos.

Os meus seguranças logo me perguntam se eu vou sair, respondo


que sim, já sabendo o que eles vão fazer em seguida. Dito e feito,
logo vejo Kalil pegar o seu celular e discar para Ahmed, ele sempre
conversa em árabe com ele, mas pelo tom de voz respeitoso, eu sei
que se trata do meu marido. Faz duas semanas que não saio nem na
esquina sem que os meus seguranças não avisem Ahmed, é
literalmente um saco. Mas não posso fazer nada sobre isso, Ahmed
está irredutível quando o assunto é a minha segurança. Depois de
avisar para Ahmed, Kalil desliga a chamada, fala algo em árabe para
Adair, que acena, e depois diz para mim, sério:

— Aonde a senhora quer ir, sheika?

— No médico.

Os dois franzem a testa, curiosos e preocupados.

— A senhora está passando mal, sheika? — Adair me questiona.

Balanço a cabeça negativamente.

— Não, apenas vou fazer uma consulta simples.

Eles acenam.

— Certo, em qual clínica a senhora quer ir? — questiona Kalil.


Depois de dizer qual clínica estarei indo, eles me levam até lá, com
um dos carros de Ahmed.

— Me busquem aqui daqui uma hora.

— Não iremos embora, ficaremos por perto até a senhora terminar a


sua consulta — Adair diz.

Reprimo minha vontade de revirar os meus olhos e aceno, me


afastando e logo entrando no prédio, que na verdade é uma clínica.
Pesquisei na internet algumas médicas ginecologistas mulheres,
porque sei que Ahmed não iria gostar de saber que fui examinada
por um homem. Ester me disse um dia desses que nunca teve um
ginecologista homem, por causa da religião e do ciúmes do sheik
Tariq, então achei melhor procurar uma profissional mulher mesmo.
Não foi difícil encontrar opções, encontrei várias e então achei que a
doutora Nadir seria a melhor opção. Cerca de quinze minutos depois
de fazer o cadastro com a secretária do consultório, sou chamada
pela própria médica para entrar na sala. Ela logo me pede para
sentar e depois se senta do outro lado da mesa. Muito simpática, ela
pergunta:

— Boa tarde, Luisa, o que posso fazer por você?

— Boa tarde. Então, eu quero tirar algumas dúvidas e também ser


examinada.

Ela acena.

— Então vamos começar por suas dúvidas. O que a senhora quer


saber?

Respiro fundo e falo:


— Bem, acontece que a minha menstruação está atrasada há sete
dias. Veio apenas um pouco de sangue por dois dias, mas muito
superficialmente. Isso nunca aconteceu antes, eu tomo
anticoncepcionais desde os quinze anos... Eu acho que seja por
causa da minha nova vida e de novos hormônios, já que estou
casada há pouco mais de um mês... A senhora acha que isso é
normal?

Ela me fita, preocupada.

— Não, não acho que isso seja normal. Você ter se casado não
justifica a anormalidade do seu período menstrual. Qual
anticoncepcional você usa?

Depois de responder, ela fala:

— Esse que você usa é bem eficaz... Realmente tem algo errado.

Ela então pega um potinho transparente na gaveta da mesa e me


entrega. Em seguida se levanta e pega uma camisola, típica de
hospital, em um armário embutido na parede e me entrega também.

— Ali é o banheiro — diz, apontando para uma porta a cinco metros


de distância. — Vá lá, coloque essa camisola e faça xixi nesse
potinho. Quando terminar, eu irei fazer uns testes com você e com a
amostra.

Um pouco ansiosa, concordo, pego as coisas e vou para o


banheiro. Assim que vejo o espelho, faço uma pausa para analisar o
meu rosto. Os meus olhos estão arregalados, e estou um pouco
pálida. Não sei, mas... pela cara da médica, realmente a minha
situação não é normal. Com o coração disparado, tiro as minhas
roupas rapidamente, ficando totalmente nua, faço xixi no recipiente e
em seguida visto a camisola. Quando estou novamente na sala de
consulta, a médica pega o potinho, abre e coloca uma tira de plástico
dentro. Logo que ela faz isso, eu já sinto a minha boca ficar seca.
Ela me encara.

— Calma, querida, é só para ter certeza, okay?

Não respondo. Ela então aponta para a cadeira de exames.

— Deite-se ali que eu logo irei te examinar.

Quando eu me deito, ela então coloca as minhas pernas na posição


ginecológica e se afasta, indo em direção à mesa, onde o frasco
com meu xixi está. Vejo quando ela puxa a fita, olha, depois despreza
tudo no banheiro. Assim que ela coloca as luvas para me examinar,
pergunto, ansiosa:

— Qual foi o resultado?

Até agora eu evitei de fazer essa pergunta ou mesmo pensar sobre


esta possibilidade. Estar grávida não é uma opção agora, não posso
ser mãe na minha situação atual. Eu definitivamente não estou
preparada.

Ela balança a cabeça, como se a minha pergunta não fosse


importante.

— Eu vou saber agora, Luisa. Mas relaxe e fique tranquila, que vai
dar tudo certo.

Aceno, em concordância, apesar de estar quase desmaiando de


ansiedade. O exame foi rápido, ela me olhou rapidamente e resolveu
fazer uma ultrassonografia, foi então que o meu sinal de alerta
disparou, e eu soube que realmente o impensável aconteceu: eu
estou grávida! Enquanto ela preparava o equipamento para o
procedimento, eu já estava chorando, aflita. Neste momento, ela está
passando o gel na minha barriga, enquanto tenta me acalmar.

— Não chore, menina, não é o fim do mundo, você é tão nova...


Tenho certeza de que irá amar ser mãe, e o sheik ficará muito feliz.

— Então a senhora sabe que sou a esposa de Ahmed — falo, ainda


em lágrimas.

Ela sorri.

— Com certeza, o sobrenome Hamir já foi o suficiente.

Não falo mais nada, e ela olha para o visor, enquanto procura por
algo, mexendo o transdutor no meu abdômen. Em pouco tempo ela
diz, apontando para um ponto minúsculo na tela:

— Ali está o seu bebezinho... Bem, não é um bebê ainda, mas logo
será.

Ela então começa a me explicar o que está na tela, a formação da


placenta e outras coisas, porém eu não consigo prestar atenção em
nada, tudo o que consigo pensar é que estou grávida. EU ESTOU
GRÁVIDA! Isso não pode estar acontecendo, devo estar dormindo,
só pode...

— Mas, doutora, como que fui ficar grávida? Eu tomo


anticoncepcional desde os quinze anos! Sempre respeitei os
horários...

— Nenhum método contraceptivo possui 100% de eficácia além do


celibato, querida. Os anticoncepcionais são muito eficazes, porém
existe o risco de engravidar mesmo, é muito pequeno, mas existe.
— Eu não posso acreditar que na primeira oportunidade o meu
anticoncepcional para de funcionar! — falo, amargurada.

Ela sorri, empática.

— Algumas coisas acontecem dessa forma mesmo, sem aviso.


Talvez a sua gravidez era mesmo para acontecer.

Não respondo, e ela volta a observar o monitor.

— Ainda não dá para escutar o coração do seu bebê, ele só tem


cerca de quinze dias, portanto o seu tamanho é minúsculo, como a
cabeça de uma agulha.

Observo o pontinho preto na tela que ela se refere. Sim, é muito


pequeno, quase imperceptível. Mas está lá, aqui, dentro de mim.
Sinto um aperto no coração e uma imensa vontade de chorar. Eu vou
ser mãe! Eu não sei ser mãe, não estou preparada, mas ainda sim
vou ser. Eu não faço a mínima ideia do que será da minha vida
agora, mas o meu cérebro está acelerado, e diversas imagens de
bebês inundam minha mente. Um pensamento me faz sorrir,
enquanto continuo a chorar: Ahmed irá amar a notícia de que será
pai. Já até imagino a sua reação.

— O sheik irá ficar muito feliz quando souber que o seu herdeiro já
existe — a médica fala.

Ela se afasta para pegar a impressão do exame. Ela então me


avisa que posso vestir a minha roupa novamente. Depois de fazer
isso, com a mente totalmente dublada, ela me pede para sentar à
sua frente novamente, para fazer algumas recomendações médicas.

∆∆∆
Eu mal saio da clínica e já encontro com os meus dois seguranças
me esperando, como estátuas na frente do prédio.

— Achei que vocês tivessem ido dar uma volta.

— Achamos melhor esperar a senhora aqui, sheika — diz Adair.

Reviro os olhos.

— Certo, vamos voltar para casa — falo, ansiosa.

Durante a viagem de carro, novamente não consegui segurar as


lágrimas. Os meus sentimentos estão uma bagunça, e eu não sei se
estou feliz, triste, nervosa ou animada, enfim... Acho que estou
sentindo um pouco de tudo. Os meus seguranças olhavam um para o
outro, preocupados, mas desistiram de tentar descobrir do que se
tratava, já que eu ignorava a maioria de suas perguntas. Assim que
chegamos em casa, a primeira coisa que fiz foi ir para o meu quarto.
Rapidamente tirei a minha roupa e fui para o banheiro. Fiz questão
de olhar para o meu corpo nu na frente do espelho, para ver se
houve alguma mudança, mas não, estou completamente normal,
magra e com seios médios. O meu lado irracional está rindo de mim
agora. Eu estou grávida de quinze dias, como que vai aparecer
alguma coisa?! Vejo os meus olhos azuis pelo reflexo, eles estão
assustados, como se escondessem um grande segredo. A minha
respiração está irregular, e meu rosto está pálido. Fecho os meus
olhos, tentando me concentrar, respiro fundo algumas vezes para me
acalmar. Quase que com medo, coloco uma mão na minha barriga. A
minha mão está tremendo, mas eu não a tiro dali.

— Céus, eu estou grávida!


Capítulo 30

Ahmed Hamir

Nos últimos dias, eu tenho percebido a agitação de Luisa, ela tem


estado ansiosa, agitada e muito fechada. Às vezes eu a pego
observando sua cartela de anticoncepcionais, cheia de receios. Ela,
quando me vê, disfarça e finge que não tem algo a afligindo, porém
ela não consegue me enganar. Fiquei observando o seu
comportamento por alguns dias, sem dizer nada, apenas tentando
confirmar aquilo que eu já previa. Após ver que a situação continuava
a mesma e que Luisa ficava ainda mais nervosa com o passar dos
dias, finalmente tive a certeza. Ela não menstruou, por isso o motivo
da sua ansiedade. Ela estava com medo do que isso poderia
significar, caso o seu período não viesse logo. Mas não veio, ele
ainda não veio e nem virá por um longo tempo. Somente ontem que
eu finalmente relaxei e constatei a minha suspeita.

Eu passei o dia, tarde e a noite toda pensando sobre isso,


repassando as cenas dos últimos dias na minha mente e
processando o incrível presente que eu finalmente tinha conseguido.
Foi difícil me manter calado por vinte e quatro horas, tendo que
guardar algo tão especial apenas para mim. Nem mesmo Luisa sabia
o que estava acontecendo, somente eu. Mas eu não podia contar
para ela, Luisa precisava descobrir por si só ou então ela iria
desconfiar que algo estava errado, que eu tive o papel principal em
toda a situação. Não posso dizer que estou totalmente feliz com o
sucesso que tive ao mudar as pílulas de Luisa. O meu objetivo inicial
era mudar para placebos, porém Juan me indicou vitaminas que as
mulheres que desejam engravidar usam, já que são importantes para
o feto, no começo da sua formação. Achei a ideia incrível. Eu não
sou um bom conhecedor de mulheres grávidas e bebês, portanto
fiquei feliz com a sugestão de Juan. Assim foi feito, Luisa tem
tomado vitaminas ao invés das suas pupilas contraceptivas nas
últimas três semanas.

Ela engravidou muito rápido, mais rápido do que eu esperava. Isso


me deixou muito feliz. Quando finalmente pude constatar a sua
gravidez, tive um potente choque de realidade. Eu iria ser pai, esse
foi o meu maior pensamento. Não sou capaz de descrever tudo o
que senti durante essa descoberta. Eu estava tão confuso, feliz e
orgulhoso. Saber que tudo seria diferente, que eu finalmente teria um
filho com Luisa, a minha esposa, a mulher por quem sou louco,
obcecado, ao ponto de matar por ela se necessário. Eu serei pai de
uma criança nascida da mulher que eu me apaixonei desde a
primeira vez que a vi, há dois anos, andando com o seu pai pelas
ruas de New York. E então eu passei a amá-la como um louco desde
que ela disse "eu aceito" nos votos do nosso casamento. Luisa
passou a significar tanto para mim em tão pouco tempo, que às
vezes me surpreendendo com os meus próprios sentimentos. Eu nem
mesmo me reconheço, mas não é como se eu me importasse com
isso, no entanto. Luisa, e tudo que diz respeito a ela, é viciante
demais, e eu sou incapaz de me manter afastado.

Agora que ela está grávida de mim, carregando o meu filho dentro
dela, todos os meus sentimentos absurdos triplicaram. Saber que ela
é completamente minha, que o seu corpo é meu e que o bebê que
ela carrega foi feito por mim, desperta em mim um instinto protetor
ainda mais forte, digno de um homem primitivo. Eu estou
descontrolado, os meus sentimentos estão me consumindo. Tive um
dia de trabalho improdutivo, porque tudo o que eu pensava era na
minha esposa e no meu filho indefeso e tão pequeno. Fiquei ainda
mais ansioso depois que Kalil me ligou dizendo que Luisa tinha ido
num consultório ginecológico pela tarde. Nada poderia ter me
deixado mais animado do que isso. Finalmente ela descobriria que
não estava mais só, que se tornaria mãe de um filho meu, do seu
marido. Eu não podia estar mais animado com a ideia, porém logo
outros pensamentos foram me preocupando.
Luisa não queria essa criança por agora, ela não tinha planos de
engravidar. Isso me irrita até agora, mas é a verdade. Com certeza a
sua reação com a notícia não foi muito boa. Provavelmente ela ficou
em pânico. Com esses pensamentos, foi então que um misto de
raiva, por Luisa ficar adiando a sua gravidez, e culpa, por eu tê-la
engravidado mesmo assim, tomou conta de mim. Eu estava nervoso,
triste, me sentindo culpado, mas ao mesmo tempo tão feliz, feliz de
uma forma que eu nunca tinha experimentado antes. Sim, eu não
joguei limpo quando a engravidei, e ela ficaria arrasada se
descobrisse isso. Porém, por outro lado, eu não tinha outra opção.
Luisa tinha me dito que só tinha pretensão de engravidar depois de
alguns anos, contudo eu não podia me dar o luxo de esperar tanto.
Eu sou um sheik, tenho obrigações com o meu povo e com nossas
tradições. Era o meu dever garantir a minha descendência o quanto
antes. Assim, infelizmente, tive que decidir isso sozinho, sem a
participação de Luisa. Ela não me entendia, e eu não a culpo. O meu
mundo não faz o mínimo de sentido para ela.

Eu espero que no futuro ela comece a me compreender, assim,


talvez eu poderei revelar a verdade, que eu planejei a sua gravidez
sem o seu conhecimento, de forma que ela consiga me perdoar. Uma
parte de mim está se sentindo culpada, Luisa ainda é muito nova, ela
não queria engravidar aos 21, mas eu mesmo assim não pude
conceder isso a ela, eu não pude respeitar o seu desejo. Isso é uma
merda, principalmente pelo fato de que, provavelmente, terei que
fazer outras coisas que ela provavelmente não irá gostar muito no
futuro. Talvez ela terá mais filhos do que tinha em mente, talvez não
irá trabalhar tanto quanto queria, nem a sua liberdade será ilimitada.
Eu não sei o que poderá acontecer, mas, como a minha esposa, terá
que ceder algumas vontades. Eu só espero que ela não fique com
raiva de mim por isso. Se eu pudesse, faria tudo do seu jeito, mas eu
simplesmente não posso, por mais que a ame, eu não posso agir
como um ocidental, eu sou um sheik árabe, e na minha realidade, as
tradições estão acima dos desejos. Entretanto, como seu marido,
tudo que tiver no meu alcance eu irei lhe dar: o meu amor, a minha
completa atenção, uma família feliz e também tudo o que o dinheiro
puder comprar.

∆∆∆

Assim que entro no nosso quarto, já me deparo com uma cena


totalmente incomum. Luisa está sentada na nossa cama, vestida com
uma camisola rosa de seda, enquanto balança as suas pernas,
praticamente totalmente nuas, num ritmo agitado e inconstante.
Quando ela nota a minha presença, ela dá um pequeno pulo no seu
lugar, assustada, seus olhos se arregalando quando olham nos
meus. O seu rosto bonito e delicado logo fica corado de vergonha, e
ela morde o seu lábio inferior, num tique nervoso. Franzo a testa com
a sua imagem atípica e bagunçada. Sim, ela está uma verdadeira
bagunça. O seu cabelo loiro e longo está um pouco inchado e
despenteado, claramente por ela ter mexido muito nele. A sua
camisola está do lado avesso, e eu duvido que ela tenha notado isso.
O seu olhar está distante e receoso, ela não parece estar aqui
realmente. E então, novamente, uma onda de culpa me invade. Ela
está com medo, preocupada, porque está grávida. Ela não estava
preparada para isso, ela não imaginou que isso aconteceria por
agora. Provavelmente ela deve estar se perguntando o que vai fazer
agora. Luisa parece estar totalmente perdida, e isso por que eu
tomei uma decisão por ela.

Fecho os olhos por alguns segundos, abalado por vê-la tão


confusa. Quando eu os abro novamente, ela está me encarando
fixamente, seus olhos azuis se enchendo de lágrimas, fazendo com
que fiquem ainda mais fascinantes. Ela funga uma vez antes de dizer,
um pouco rouca, com sua voz cheia de receio:
— Ahmed, eu não sei como te dizer isso... Eu não sabia que isso
poderia acontecer, mas... aconteceu...

Ela está com medo da minha reação. A minha esposa está com
medo de eu não gostar da notícia de ela ter engravidado agora. A
minha esposa está com medo de eu acusá-la. Por Allah, o que essa
mulher tem na sua bendita cabeça de algodão doce?! Às vezes ela é
tão inocente, tão boa, que eu me sinto o pior homem do mundo. E é
o que eu estou sentindo agora, estou me sentindo o pior canalha de
todos. Estou me sentindo um lixo por tê-la engravidado sem ela
saber, por ter planejado tudo sem o seu consentimento, por deixá-la
como ela está agora, com medo, receio e preocupada com a minha
maldita reação, como se ela pudesse ser a culpada pelas minhas
malditas merdas! Eu odeio o seu receio, ela não deveria estar com
receio de mim, caramba! Eu sou o culpado, eu que sou o bastardo
nesta situação, não ela! Ela nunca será culpada por nada, ela é boa
demais, e eu sou um bastardo egoísta. As minhas mãos estão ao
lado das minhas pernas agora, em punhos fechados. Eu estou com
raiva, eu estou puto de raiva. Absolutamente nervoso, porque Luisa
está se culpando por algo que ela não tem merda nenhuma de culpa!
Eu que fiz isso sozinho!

Mesmo se algum dia Luisa engravidar, e eu não ter nenhum dedo


na situação, ela não será culpada! Isso porque eu que sou o homem,
eu sou o seu marido, a minha obrigação é querer e amar todos os
meus bebês que ela engravidar. Simples assim! E eu quero todos os
bebês que ela puder me dar. Ela já devia estar ciente disso,
caramba! Será que eu não sou transparente o bastante para ela ter
percebido isso?! Eu sinceramente estou decepcionado comigo,
porque pelo visto eu não estou passando a confiança de marido que
ela merece. Definitivamente não estou, até porque eu a engravidei
sem a sua autorização, ela só não sabe disso ainda.

— Não tenha medo de mim, Luisa, eu sou o seu marido. Eu sempre


estarei pronto para te ouvir e te ajudar, não importa o motivo. Nunca
tenha receio de mim, jamais, está me entendendo?! — falo, num tom
mais alto do que eu gostaria, a irritação presente na minha voz.

Luisa para de mexer com as suas mãos, naquele movimento


repetitivo, assim como as suas pernas. Ela me encara,
envergonhada e acena.

— Eu sei e sinto muito por isso. Eu não deveria temer você, você é
meu marido e...

Frustrado, aproximo-me dela e seguro o seu rosto com uma mão,


obrigando-a a olhar para mim.

— Não se desculpe, eu sou o Lobo Mau aqui, esposa, não você.


Você é doce demais, não se desculpe por nada. É verdade que você
nunca deve me temer ou ter receio de mim, porém eu não sou
bonzinho, tampouco. Às vezes eu farei coisas que você não irá
gostar, mas que mesmo assim terei que fazer.

Luisa me encara, séria e confusa.

— Do que você está falando?

— Acho que você entendeu, garota do cérebro de algodão doce. Eu


faço e ainda farei coisas que você não irá entender. A maioria delas
por causa do meu povo, é claro, porém ainda sim...

Luisa arregala os olhos, receosa, e eu posso sentir o quanto o seu


coração passou a bater mais rápido. Ela tira a minha mão do seu
rosto, com força, e a sua voz é de acusação quando ela diz:

— Você fez alguma coisa, Ahmed, eu sei que você fez!


Fico no mesmo lugar, calado, apenas a observando, ela se irrita
ainda mais e então sai da cama, se afastando de mim.

— O que você fez, Ahmed?! — grita, sua voz estridente e cheia de


rancor.

Me surpreendo com o tamanho da sua raiva, eu nunca a tinha visto


tão alterada assim. Preocupado, noto que as suas mãos estão
tremendo. Para piorar, Luisa começa a chorar, angustiada, com raiva
e mágoa.

— Foi você, não foi?! — grita. — Você fez isso! Eu não engravidei
por acaso!

O ódio na sua voz é o suficiente para machucar a minha alma. Toda


a culpa ameaça a me derrubar novamente, mas eu me mantenho
firme, mesmo que por dentro eu não esteja. Eu não posso
simplesmente ficar me acusando de algo que já foi feito. Eu fiz isso
porque eu tinha que fazer. Por Allah, uma hora ou outra Luisa teria
que ficar grávida, eu avisei para ela, quando a pedi em casamento,
que isso iria acontecer. Ela concordou mesmo assim, sobre pressão,
eu sei, mas ainda sim concordou. Não estava sob o meu controle
satisfazer o desejo de Luisa de ser mãe mais futuramente,
simplesmente não estava. Ela não entende isso, não entende as
responsabilidades que carrego nos ombros. Ela não iria concordar
em adiantar a gravidez se eu pedisse, portanto a única saída que
tive foi trocar os seus malditos contraceptivos por vitaminas. Era a
minha única opção!

— Sim, Luisa, fui eu. Sou eu o responsável pela sua gravidez —


respondo, abrindo o jogo, a irritação tomando conta da minha voz.

Ela soluça, as lágrimas descendo com mais abundância.


— Como você pôde?! Você fez isso sem o meu consentimento! Você
me traiu, Ahmed!

Extremamente irado com o seu comentário, me aproximo


novamente dela. Luisa tenta correr de mim, mas eu sou muito mais
rápido e a pego, logo em seguida estou segurando os seus dois
braços, com firmeza. Ela grita e tenta se soltar, mas eu não permito.

— Por que eu te traí, Luisa, hein?! Por que você acha que eu te
traí?! — rosno, nervoso.

Ela me fita com os seus olhos azuis cheios de raiva.

— Porque você não respeitou o meu direito de escolha! Eu não


queria engravidar por agora, mas você não se importou!

Aperto os seus braços um pouco, contudo sem machucá-la.

— Engravidar de mim é algo tão ruim ao ponto de você me chamar


de traidor?! Ser mãe dos meus filhos é algo tão abominável para
você ao ponto de estar com tanto ódio de mim?! — questiono, irado
e decepcionado.

Luisa arregala seus olhos, confusa e irritada.

— É tão ruim assim, Luisa?! — grito novamente.

Ela se assusta e balança a cabeça, ainda confusa.

— Não, mas isso não significa que...!

— Eu não acredito em você. Os olhos não mentem. Eu vi nos seus


olhos o ódio e a repulsa que você tem por mim por estar grávida do
meu filho. É como se o seu pior pesadelo tivesse se concretizado.

Ela fica quieta, sua boca está aberta em confusão e surpresa.

— Isso não é verdade, você interpretou os meus sentimentos de


forma errada!

Balanço a cabeça, cansado e decepcionado.

— Mesmo? Pois eu acho que você está confusa, talvez devesse


rever os seus próprios sentimentos.

Solto os seus braços, e ela fica parada, imóvel e sem reação. Já


sem paciência, saio do quarto. Antes, porém, ela tenta me parar,
sem êxito, com um fraco: "Ahmed, espere!". Mas eu não quero
esperar.
Capítulo 31

Ahmed Hamir

Depois de passar a noite e a madrugada toda longe de Luisa,


apenas refletindo sobre a merda que eu fiz, agora estou me sentindo
um idiota total. Ela ficou o tempo todo no quarto desde a nossa briga
e não saiu nem mesmo para jantar. Eu, cego pelo meu orgulho
ferido, a deixei sozinha esse tempo todo. Ela está grávida, com o
meu filho no ventre, e eu ainda tenho a porra de coragem de deixar a
minha esposa sozinha numa situação como essa. Ela acabou de
descobrir que está grávida, caralho! Tenho certeza que o seu
psicológico está extremamente abalado. Ela não estava preparada
para engravidar, mas eu a engravidei mesmo assim, por causa dos
meus próprios motivos, dos meus próprios objetivos.

Eu não considerei a vontade dela, fui egoísta, só pensei em mim


mesmo, no meu título de sheik, no conselho, no clã. A vontade de
Luisa, neste quesito, estava em último lugar nas minhas prioridades.
Eu fui o pior canalha possível para uma jovem de apenas vinte e um
anos. Às vezes eu fico irritado, com raiva porque ela ainda é muito
imatura, porque não consegue entender as minhas
responsabilidades, obrigações e até mesmo suas obrigações agora,
como minha esposa, como a esposa de um sheik. Eu fico estressado
e com a cabeça quente porque acabo tendo que tomar decisões sem
o seu conhecimento, já que a sua resposta para elas seria um "não".
Mas eu, como um bastardo egoísta que sou, não levo em
consideração que a jovem, que agora é minha esposa, na verdade,
provavelmente não seria minha mulher se eu não a tivesse
praticamente obrigado a isso.

Ela não tinha opção, ou se casava comigo ou iria para a prisão. Ela
aceitou os meus termos, mas ela nem mesmo sabia o que eles
significavam, ela só estava com medo, queria ser salva. E então eu a
salvei, mas a prendi novamente com as minhas vontades. A sua vida
nunca mais será a mesma, pois a minha presença é pesada demais.
Sou possessivo, egoísta, autoritário e exijo muito de uma mulher que
acabou de se tornar uma. Eu estou irritado comigo mesmo agora,
porque sou eu que não estou sendo o marido que Luisa merece, e
não o contrário. Eu deveria ser mais compreensível, escutá-la mais e
pegar os seus sonhos para mim também. Eu estou do seu lado o
tempo todo, mas ainda sim estou a deixando sozinha. Luisa está em
um país totalmente diferente dos seus, o qual possui uma religião
que não é a sua, com um povo e com uma cultura que ela não se
identifica.

Exceto pela minha mãe e minha irmã, ela não tem com quem
conversar, os seus amigos ficaram no Brasil. Ela só tem a mim e a
minha família aqui. O mínimo que eu deveria ser é o seu amigo
também. Eu deveria ser seu marido e amigo ao mesmo tempo.
Percebo que eu não estou sendo isso para ela, senão não estaria
exigindo mais do que ela está pronta para me dar, mais do que ela
está pronta para ceder. Ela já cedeu a sua antiga vida, sua família,
seus amigos, parte dos seus sonhos e a sua liberdade. Agora, como
um ogro que sou, tomei a sua individualidade também ao engravidá-
la. A minha vontade de ser pai, de ter o meu herdeiro e de dar ao
meu povo o próximo líder, me cegou ao ponto de eu roubar algo que
pertence a ela: o domínio do seu corpo. Como se não bastasse a
atrocidade que fiz, tive a audácia de ficar irritado com Luisa por ela
ter ficado com raiva de mim devido eu ter provocado a sua gravidez.

Ela feriu o meu orgulho ao se mostrar com nojo do que eu fiz, com
nojo de mim, e eu me vinguei a deixando sozinha, depois de tê-la
acusado de não querer o meu filho. Eu pude ver nos seus olhos o
quanto ela ficou ferida com a minha acusação, o quanto ela se sentiu
culpada, mesmo não tendo culpa nenhuma. Ela, mesmo magoada,
me chamou novamente para perto, talvez para se desculpar. Ela
estava arrependida, sendo que não deveria. Ela não fez nada, foi eu
que ferrei com o seu psicológico. Eu preciso pedir perdão. Se Ester
soubesse o que eu fiz, tenho certeza que ficaria decepcionada, eu
estou agindo igual o meu pai agiu com ela no passado, como um
idiota. Sinto que estou ultrapassando os limites, a minha obsessão
por Luisa está me impedindo de pensar racionalmente. Eu preciso
dar um jeito nessa merda, nada que seja exagerado é saudável.
Contudo, o que eu sinto por Luisa me descontrola, trata-se de uma
força maior do que eu. Mas ainda sim preciso me redimir. Luisa é a
minha esposa, a minha obrigação é prover o seu bem-estar, e estou
falhando nisso.

Ainda é muito cedo, mas para mim já é muito tarde, já que passei a
madrugada acordado, sem conseguir dormir. Não estou cansado,
contudo, estou muito acordado, apenas esperando o momento certo
para ir até Luisa. São seis horas da manhã, ela geralmente não
acorda a essa hora, porém eu irei acordá-la hoje. Eu tenho que ir
para a empresa, mas antes preciso concertar toda a merda que eu
fiz. Já de banho tomado, visto a minha roupa de trabalho, terno,
gravata... Devidamente vestido, vou até o nosso quarto. A porta
estava destrancada, o que foi ótimo, pois teria que pegar a chave
reserva para abrir se estivesse trancada. Como esperado, a
encontro dormindo em nossa cama, toda embrulhada.

Percebo que o quarto está muito gelado e fico preocupado com


isso. Ela pode pegar um resfriado se ficar fazendo isso, o que seria
péssimo agora que ela está grávida. Tenso, mudo a temperatura de
16°C para 20°C através da pequena tela digital na parede. Após
isso, vou até ela, que está deitada de lado, completamente coberta,
com apenas a sua cabeça loira de fora.

Com cuidado, sento-me na ponta da cama, ficando ao seu lado. Ela


não percebe a minha presença, então aproveito a oportunidade para
tocar nos seus cabelos, levemente. Alguns segundos depois, ela
acorda. Primeiro ela faz uma pequena careta, depois abre os olhos,
sonolenta. Quando ela me vê, seus olhos se arregalam, surpresos.
Ela logo tenta se sentar, mas o emaranhado de lençóis deixa tudo
mais complicado. Depois de se atrapalhar um pouco, ela se livra
deles e então se senta, ereta e visivelmente tensa. A sua voz é de
acusação quando pergunta:

— O que você está fazendo aqui, Ahmed?

Não emito nenhuma reação.

— Este é o nosso quarto, Habibi.

Ela fecha a cara, irritada.

— Não me chame de Habibi! Depois do que aconteceu ontem,


depois do que você fez, você não tem esse direito mais!

É perceptível o quanto ela está brava, e isso me preocupa.

— Eu sei que fui um monstro com você, Luisa, e é por isso que estou
aqui, vim pedir perdão.

Ela se surpreende.

— Você, pedir perdão?!

Aceno.

— Neste momento sou um marido arrependido.

Ela balança a cabeça, raivosa, seu belo rosto ficando vermelho.

— Você era para ter pensado antes de mexer nos meus remédios
para me engravidar! Agora eu não quero saber de nada! Eu não
quero te ver na minha frente, Ahmed! Você é manipulador, cheio de
lábia, e sei que vai tentar mudar a minha mente igual tentou fazer
comigo ontem. Eu quase senti remorso, sendo que o culpado era
você!

Passo uma mão pelo meu cabelo, estressado.

— Eu não sou manipulador, Luisa, só não quero te perder. Você é


minha esposa, isso nunca vai mudar, mas também preciso garantir
que sempre esteja protegida, ao meu lado...

— Você é controlador! Tudo tem que ser do seu jeito! — ela me


interrompe.

Aceno.

— Sim, você está certa sobre isso, eu realmente sou controlador.


Mas isso faz parte de quem eu sou. Eu sou um sheik, Luisa, sempre
controlei tudo ao meu redor.

— Mas eu não quero que você me controle, eu não sou sua


marionete! — grita, magoada.

Suspiro.

— Eu sei que não é, Habibi. Você é minha esposa, não minha


marionete, e eu sinto muito se a faço sentir assim, eu prometo que
irei melhorar.

Ela balança a cabeça, seus olhos se enchendo de lágrimas.

— Você trocou os meus anticoncepcionais por algo que até agora eu


não sei o que era para me engravidar, mesmo eu não estando
preparada! — acusa novamente.
— Sim, eu fiz isso. Eram vitaminas, e eu peço perdão pelo o que eu
fiz, eu fui um idiota.

Ela se afasta de mim na cama, criando espaço entre nós.

— Eu não sei o que fazer agora. Estou grávida e não confio em


você.

As suas palavras me deixam abalado.

— Não fale coisas como essa, Luisa. Sim, o que eu fiz foi errado,
mas eu não irei fazer algo assim novamente. Eu não sou um tirano.

O seu rosto está tenso e ela pergunta:

— Como que eu posso confiar em você? Você nunca me deu motivos


para isso.

Seu comentário me irrita.

— Você está sendo injusta, garota. Até aqui, eu sempre te dei


motivos para confiar em mim. Eu sempre fui bom com você, sempre
te trato da melhor maneira possível e me importo com você como
nunca me importei com alguém que não fosse da minha família
antes. Esses não são motivos suficientes?

Ela fica calada por um instante e então diz:

— Eu sinceramente não sei mais o que pensar de você, Ahmed.

— Pense apenas que sou um homem com defeitos, te decepciono às


vezes, mas isso porque eu sou louco por você, tão louco a ponto
perder a racionalidade. Eu apenas me torno irracional demais quando
se trata de você, esposa — falo, nervoso, chateado e cansado.

Luisa fica estática, seus olhos ficando maiores, e o seu rosto


mostrando a sua surpresa.

— Você tem um jeito muito estranho de mostrar que se importa


comigo.

Ela então fica calada, um pouco pensativa. De repente, Luisa cora,


ficando com a pele um pouco rosada, e olha para longe de mim.

— Eu não sou muito bom com sentimentos, esposa — falo, sorrindo.


— Mas você não pode me julgar. A senhora não é boa tampouco.

Vejo um traço de um sorriso no seu rosto, e eu não posso evitar de


suspirar de alívio. Ela está voltando ao normal, graças a Allah.

— Você vai me perdoar?

Ela não responde, continua calada, olhando para o nada, sentada


na cama, vestida com sua camisola de seda rosa, que agora não
está mais do avesso, como foi o caso de ontem.

— Por favor? — insisto.

Ela solta um suspiro cansado e olha novamente para mim, e é aí


que eu percebo que ela está chorando. Os seus olhos bonitos estão
brilhantes e melancólicos, e ver isso corta o meu coração.

— Você promete que não irá fazer algo assim novamente? Que não
irá fazer nada que tenha a ver comigo sem me consultar antes?
— É claro que prometo, Habibi. Eu peço desculpas pelo o que fiz.
Nada parecido irá acontecer novamente, você tem a minha palavra.

Ela olha para baixo, abatida, e acena.

— Eu te perdoo, Ahmed.

Aliviado com a sua resposta ao meu pedido, aproximo-me dela


novamente, indo mais para o meio da cama espaçosa. Quando estou
do seu lado, sinto que ela continua um pouco tensa. Querendo
acabar logo com isso, rodeio o seu corpo com os meus braços,
prendendo-a perto de mim. Luisa se assusta e tenta se desvencilhar,
mas eu não permito. Beijo o topo da sua cabeça loira e sussurro no
seu ouvido esquerdo:

— Não fique com raiva de mim, Habibi. Você é muito especial para
mim. Vocês dois são especiais.

Em seguida, seguro a sua mão e a levo até a sua barriga, que


ainda continua a mesma. A sua mão treme quando encosta onde eu
queria.

— Agora você será a mãe, e eu o pai.


Capítulo 32

Luisa Jones

Eu fiquei tão assustada quando descobri que estava grávida, fiquei


tão confusa e desnorteada. Eu não estava esperando uma notícia
como essa, eu não estava preparada. Mas então, em seguida, a
minha opinião e meus sentimentos foram deixados de lado por mim
mesma e coloquei a dúvida sobre o que Ahmed pensaria da notícia
quando descobrisse como principal preocupação. No começo eu
achei que ele iria gostar, que iria ficar feliz, afinal ele sempre deixou
claro que sonha em ser pai. Mas aí eu comecei a pensar por um
ângulo diferente: e se ele não gostasse da notícia? E se Ahmed
quisesse adiar um pouco a vinda de um bebê? Com esses
pensamentos em mente, comecei a entrar em pânico. Fiquei com
medo da sua reação, fiquei com medo de ele não gostar e então me
culpar. A minha cabeça e os meus sentimentos estavam uma
bagunça, e eu sinceramente não sabia no que pensar. Eu estava tão
nervosa quando dei a notícia para ele, estava tão preocupada sobre
a sua reação, mas então ele se mostrou estranho, e eu percebi que
tinha algo de errado no meio daquilo tudo. Eu fiquei horrorizada
quando descobri que tinha engravidado mesmo tomando
anticoncepcionais regularmente, eu achei aquilo um absurdo e
cheguei a duvidar de que aquilo fosse realmente possível.

Fiquei desconfiada de que não tinha engravidado acidentalmente,


mas isso durou pouco porque a própria ginecologista me disse que
casos como o meu podem acontecer, que são raros, mas possíveis.
Então eu descartei qualquer hipótese contra Ahmed e aceitei que
tinha sido um acidente, talvez até mesmo o destino. Em poucas
horas, eu me conformei que estava grávida, que seria mãe e que
Ahmed também seria pai. Todas as hipóteses mirabolantes sumiram,
e o que tomou o lugar foi o receio de contar para o meu marido. Eu
estava assustada, vulnerável, não sabia o que esperar. Mesmo
sabendo do desejo de Ahmed de ser pai, eu ainda tive dúvida se ele
realmente fosse gostar de se tornar um assim tão rápido, com pouco
mais de um mês de casado. Isso porque, se eu estivesse no lugar
dele, eu iria ficar um pouco decepcionada, um mês de casados é
muito pouco! Mas então, pela cara de Ahmed ao reagir à notícia, vi
que tinha algo de errado em toda aquela história, vi que ele tinha
feito algo. Logo mais tarde, pude comprovar que fui uma completa
ingênua e que o meu medo idiota da sua reação era uma completa
ironia. Ele tinha planejado tudo aquilo, não tinha sido um acidente!

Ahmed tinha planejado desde o início a minha gravidez, sem levar


em consideração a minha opinião. Ele manipulou os meus
medicamentos para conseguir o que queria. Ele depois me explicou
que fez isso por causa das suas obrigações como sheik, como o
sucessor do seu pai no clã. Mas isso ainda me parece ser tão frio,
tão sem sentimentos. Um bebê não deve vir por obrigação, e sim por
amor e desejo dos pais. O que me deixa mais chateada é que o
objetivo principal dele era simplesmente cumprir um dever o mais
rápido possível. Além disso, a sua atitude só provou que ele não
confia inteiramente em mim, pois se confiasse teria sido sincero
comigo e contado sobre o que de fato estava acontecendo. Ahmed
poderia ter conversado comigo, aberto o jogo e me explicado mais
sobre as suas responsabilidades e sobre o clã, mas não, ele não fez
isso, ficou calado, ao invés disso achou melhor planejar tudo às
escondidas, sem me falar nada.

Isso é tão decepcionante. Tudo bem que eu disse que não queria
filhos por agora, mas isso não é motivo para agir tão baixo a ponto
de não me falar nada e simplesmente me engravidar. Eu sou sua
esposa, ele deveria se abrir comigo e pedir a minha ajuda e
compreensão. Eu não sou egoísta a ponto de negar algo que fosse
tão importante para ele. Se Ahmed tivesse me pedido para que eu
parasse de tomar os remédios a fim de engravidar para que ele
pudesse, enfim, cumprir com um dos seus deveres como sheik
herdeiro, eu teria pensado mais a respeito e, provavelmente, até
mesmo aceitado. Se ele tivesse explicado com calma e sinceridade,
eu teria compreendido melhor a sua situação e tentaria chegar num
acordo melhor para ambos. Eu não sou cruel, eu não o negaria um
pedido sincero. Mesmo não querendo ser mãe tão cedo, eu teria
feito isso por ele, porque ele é o meu marido acima de todas as
circunstâncias. Eu não me casei por amor, me casei por
conveniência, porém isso não me impediu de amá-lo depois.

O tempo passou tão rápido, mas de forma mágica e perfeita. Em


pouco mais de um mês, eu pude conhecê-lo melhor e até mesmo me
apaixonar. Ahmed tem sido tão bom comigo, tão amigo e tão
companheiro. Todos os dias ele cuida de mim e me diz palavras
carinhosas e românticas. Ahmed levanta a minha autoestima como
ninguém nunca foi capaz, ele me faz rir nos momentos mais difíceis e
consegue me acalmar quando tenho crises de ansiedade. Às vezes
eu conto sobre coisas que pretendo fazer e, mesmo ele não
gostando das ideias, ele me apoia mesmo assim, porque a minha
felicidade é importante para ele também. Desde o dia que disse
"sim" para nós dois, Ahmed tem se esforçado todos os dias para ser
um verdadeiro homem, um verdadeiro marido. Ele conseguiu. Ele fez
tudo isso tão sutilmente que, quando me dei conta, estava
completamente apaixonada por ele. Sem perceber, passei a vê-lo
realmente como marido e até mesmo a amá-lo como tal.

Ahmed nunca me pediu que eu dissesse que o amo, nunca exigiu


que eu o amasse. Mas isso não foi necessário, no entanto, porque o
meu próprio coração decidiu que Ahmed teria o meu amor. Fiquei tão
assustada quando percebi o que estava acontecendo, que estava o
amando, eu não queria o amar, eu não deveria, nós nem mesmo nos
casamos nas mesmas circunstâncias que as pessoas normais se
casam, não fazia sentido que eu o amasse. Fiquei preocupada com a
mudança e decidi guardar o sentimento que passei a ter apenas para
mim e ninguém mais. Nunca disse para Ahmed o que sinto, nem
mesmo que gosto dele, contudo ele também nunca disse que me
ama, apenas que sou muito especial para ele.

Na verdade, ele frequentemente diz isso, e todo vez que ele diz,
tenho vontade de chorar, porque está explícito em seus olhos que os
seus sentimentos são ainda mais complexos. Ele me diz que me ama
apenas com os olhos todos os dias, mas eu não tenho coragem de
mostrar o mesmo, tenho medo. Tudo está acontecendo tão
depressa, a minha vida está mudando radicalmente em semanas.
Como posso amar alguém que não confia em mim o suficiente para
conversar comigo, falar sobre os seus problemas e me pedir apoio?
Se sou sua esposa, por que ele não acredita que posso ajudá-lo?
Isso infelizmente tem me desgastado e me feito repensar se devo ou
não mostrar os meus sentimentos. Não quero ser manipulada ainda
mais. Ahmed não é uma pessoa que sabe amar como qualquer
outra, não, ele tem a necessidade de controlar quem ele ama, de
forma que ele tenha tudo do seu jeito. Enquanto ele não tem todos
que ele ama sob a sua "proteção", ele não para com suas
manipulações. Mas ele é tão sutil, tão bom no que faz, que eu nem
mesmo percebo quando ele está me controlando. Ahmed é sempre
carinhoso e cavalheiro, então o seu jeito suave de lidar comigo me
hipnotiza ao ponto de eu não perceber nada.

Agora que estou apaixonada por ele, caio ainda mais facilmente nos
seus feitiços. Ele manipulou os meus medicamentos, me engravidou,
mas eu mesmo assim rapidamente o perdoei, porque estar grávida já
não me parece ser algo ruim mais, não quando isso significa que
estarei carregando o filho de Ahmed dentro de mim. Os meus
sentimentos por ele estão tão fortes, que, se ele me pedisse mais
cinco filhos, eu o daria, alegremente ainda por cima. Ter consciência
da dimensão dos meus sentimentos está me deixando tão
assustada, que não consigo evitar de chorar pela segunda vez nesta
madrugada. Estou deitada na cama ao lado de Ahmed, que está
dormindo. O dia de ontem foi conturbado, com Ahmed me pedindo
perdão, eu aceitando e em seguida remoendo os meus sentimentos
escondidos apenas para mim mesma. Sinto tristeza por Ahmed não
confiar em mim, estou assustada por estar amando-o mesmo assim
e emocionada por estar grávida. Talvez isso só seja resultado de
muitos hormônios da gravidez, não sei, mas a questão principal é que
estou emocionalmente abalada.

De repente, me assusto com a mão de Ahmed no meu ombro, me


obrigando a sair da minha posição de costas para ele, para olhá-lo.
Meu coração bate mais rápido quando percebo que ele está bem
acordado agora e que os seus olhos estão muito focados em mim.
Está mais claro, ele ligou as pequenas luzes que há ao redor do teto,
e eu nem percebi, o que comprova o quanto eu estava distraída.

— Luisa, por Alá, o que você tem, Habibi? — pergunta preocupado e


em tom de urgência.

A sua voz só faz com que eu fique ainda mais emotiva e chore
mais. Ahmed logo fica assustado e se senta, me puxando pelos
braços em seguida, para que eu me sente também.

— Luisa, por que você está chorando, o que está acontecendo, você
está sentindo algo?! — questiona, me analisando por inteira, ansioso.

Balanço a cabeça negativamente e tento me soltar do seu aperto.


Ahmed, porém, não solta os meus braços e ao invés disso me
segura mais firmemente.
— Responda, Luisa! — grita.

Dou um pulo, assustada.

— Eu não estou machucada — falo, simplesmente.

Ahmed fecha os olhos por alguns segundos e quando os abre


novamente vejo alívio neles.

— Graças a Alá!

Mas ele então me fita, confuso.

— Então por que você está chorando, Luisa? Você parece que está
com dor.

Aceno positivamente.

— Eu estou com dor, o meu coração está doendo.

A minha declaração deixa Ahmed surpreso, e ele logo se mostra


abalado e confuso.

— O seu coração? Mas por quê? Não estou entendendo, Habibi.


— Se você prestasse mais atenção nos meus sentimentos, você
entenderia, Ahmed.

Ele fica tenso e não responde.

— Você nunca prestou atenção nos meus sentimentos de verdade.


Nisso você sempre foi falho.

— E por que você pensa isso? — ele pergunta, cuidadoso.

— Porque tenho tido muitas provas para pensar assim. Você não
confia em mim de verdade, esconde a maior parte da sua vida de
mim e acha que pode comandar a minha vida como quiser!

Ele fica chateado e solta os meus braços. Eu rapidamente me


afasto um pouco dele na cama.

— Achei que você tinha me perdoado pelo que fiz, pela gravidez.

Balanço a cabeça, exasperada.

— E perdoei! Mas a questão maior não é essa Ahmed! A questão é:


quantas vezes mais terei que te perdoar? Tudo indica que serão
muitas se você continuar agindo como está!

Ele franze a testa, seu olhar fixo em mim.


— E como eu estou agindo, Luisa?

— Você está agindo como um controlador sem sentimentos! Você


não tem agido como o meu marido por inteiro!

Ahmed pragueja, me surpreendendo. Ele não é muito de xingar.

— Como que eu não tenho agido como o seu marido?! Eu faço tudo
por você, Luisa, tudo! A minha vida é pensar em você!

Não me intimido com o tom da sua voz.

— Ser marido não é só me dar tudo ou fazer tudo o que eu quero,


Ahmed. Não é só me tocar todos os dias e perguntar se estou bem.
Isso não é o suficiente para mim!

— E o que está faltando, senhora Hamir? — rosna.

— Confiança, parceria, é isso que está faltando! Você não confia em


mim para compartilhar dos seus sonhos e obrigações, Ahmed. Você
não me deixa ser sua amiga. Eu pensei que era, mas depois percebi
que, na verdade, não sou.

Ahmed me olha surpreso e preocupado.


— Eu não estou entendendo, Luisa. Por que você pensa que não te
considero? É claro que confio em você! Você é a minha esposa.

Irritada, me levanto da cama.

— Não, na verdade não confia! Se confiasse, teria me explicado


mais sobre o seu papel de sheik, sobre as suas responsabilidades e
sobre a sua necessidade de ter um filho por agora. Se você
realmente confiasse em mim, pediria o meu apoio ao invés de decidir
tudo sem o meu consentimento por medo de eu recusar!

Ele se levanta também, tenso e nervoso.

— Você não pode me culpar por isso, Luisa, você sempre foi contra
todas as vezes que sugeri algo. Temos pouco tempo de casados, e
você ainda não me deu brechas suficientes para que eu conhecesse
os seus sentimentos, então como que você quer que eu
simplesmente confie em você e conte tudo o que acontece comigo?
Não faz sentido! Eu não consegui intimidade o suficiente para isso,
você não me permite ser seu marido por inteiro, Luisa, não eu. Eu fui
um bárbaro ao te engravidar? Fui. Porém, você tampouco está certa
sobre eu ser o culpado por não contar tudo para você, já que você
também não me permite saber tudo sobre os seus sentimentos.

— Eu não deixo claro todos os meus sentimentos porque nem eu os


conheço o suficiente, Ahmed. Eu não tenho como compartilhá-los
com você ainda.

Ele fecha a cara.


— Porque não confia em mim — afirma.

Nego com a cabeça.

— Não, porque preciso de um tempo.

Ele passa uma de suas mãos morenas sobre os seus cabelos


grossos e escuros, irritado e ansioso.

— Você não está confiando em mim.

— Eu não estou gostando das suas atitudes, só isso, por isso só vou
abrir a minha alma para você quando você passar a me incluir
completamente na sua vida, e isso inclui assuntos do seu povo
também.

Ele suspira, exasperado. Ahmed só está vestindo uma calça de


pijama preta, o que deixa o seu peito e abdome totalmente à mostra.
Estou fazendo o possível para não me desconcentrar com a visão
dos seus músculos morenos. Concentre-se, Luisa, ele precisa
mudar, para o bem de vocês dois, para o bem do bebê e da família.
Agora não é o momento para pensar em coisas quentes.

— Eu não incluo você na minha vida de sheik porque sei que você
não gosta e não aprova a minha cultura, Luisa.
— Eu não gosto muito da sua cultura, é verdade, mas estou
aprendendo a lidar com ela. Eu sou a sua esposa, Ahmed, eu não
me identificar muito com o mundo árabe não deve ser motivo para
você me excluir desse lado da sua vida, até porque ele faz parte de
você também, e sei que o seu povo é importante para você. Como
sua esposa, quero te apoiar por completo. Não nos casamos em
circunstâncias normais, mas nos casamos. Ao contrário do que disse
há algum tempo, o nosso casamento é, sim, de verdade, eu fui
completamente injusta naquele dia quando disse aquilo.

Ahmed continua parado, sempre me analisando.

— Eu nunca poderia imaginar que se importasse com as minhas


obrigações de sheik, Luisa. Como você mesma disse, você não se
casou comigo porque estava apaixonada. Se eu não incluo você na
minha vida real é porque eu não quero te obrigar a conviver mais do
que necessário com uma cultura a qual não gosta e também não
quero que se sinta pressionada a gostar.

Sinto o meu coração apertar um pouco, e as lágrimas voltam a


descer pelo meu rosto. Ahmed logo muda o semblante para
preocupado.

— Você está dizendo a verdade, Ahmed? Para mim, tudo se tratava


de falta de confiança em mim.

Ahmed então, a passos largos e rápidos, me alcança do outro lado


da cama. Quando me dou conta, as suas mãos grandes e morenas
estão segurando os meus ombros. Ele é muito alto, e tenho que
inclinar a cabeça para olhar nos seus olhos, como sempre.
— Por Alá, Habibi, é claro que não! Eu confio em você, se não
confiasse eu nunca teria feito tantos sacrifícios para te fazer minha
esposa.

Tenho dificuldade de olhar nos seus olhos por causa das lágrimas,
mas faço um esforço para isso.

— Então por que você não me conta tudo, por que guarda segredos
de mim e faz coisas sem me consultar? — exijo saber, de queixo
erguido.

— Porque eu te amo, menina ingênua, e homens quando amam


fazem coisas idiotas. Eu tenho medo de te assustar com quem eu
sou de verdade, e você querer ir para longe de mim. Eu não
suportaria se um dia você dissesse que não quer ficar comigo.

Olho-o espantada com suas inesperadas confissões. O meu


coração bateu mais rápido com cada palavra sua, e agora estou
chorando ainda mais. Será que escutei errado, ou ele realmente
disse que me ama?

— Mas, Ahmed — sussurro, sem conseguir falar direito —, quando


você me pediu em casamento, você deixou claro que seria para
sempre, que eu não poderia ir embora.

Ele sorri, mas o seu sorriso é triste e sombrio.


— Eu disse o que eu gostaria que fosse, Habibi, mas eu nunca
imporia isso a você. Eu praticamente impus o casamento, mas isso
porque era a minha chance de fazer você se apaixonar pelo
verdadeiro Ahmed, não o Ahmed sheik árabe, nem o Ahmed
ocidental e CEO, apenas o Ahmed homem. Você tinha medo de mim,
eu via nos seus olhos, então eu agarrei a oportunidade de te fazer
minha. Porém, eu nunca irei lhe obrigar a nada, Luisa, nem mesmo a
continuar sendo a minha esposa. Se você estiver infeliz, você poderá
ir embora quando quiser. Você esmagaria o meu coração se fizesse
isso, mas eu não iria te impedir.

As suas palavras contêm tanta verdade e sentimentos, que sinto o


meu corpo ficar fraco e a minha pressão cai a ponto de eu não
conseguir mais ficar em pé. Os reflexos de Ahmed são rápidos, e ele
me segura a tempo. Preocupado, ele me leva para a cama. Ele ia
dizer algo, mas eu levanto a minha mão e o interrompo:

— Ahmed, você não deve pensar sobre isso, eu nunca vou te deixar.
O nosso casamento começou desajeitado, mas isso não muda o fato
de que será para sempre. Quando eu disse os votos para você eu
estava sendo sincera. Até que a morte nos separe, lembra? Nós
fizemos esse voto no nosso casamento do Brasil.

Ele me dá um meio-sorriso, surpreso.

— Sim, nós fizemos.

— Pois bem, então assim será. Você é o meu marido, e eu sou a


sua esposa, para sempre.
Ahmed pega a minha mão esquerda, que está com a aliança.

— Você tem certeza disso, Luisa?

Aceno, sorrindo e chorando.

— Absoluta. Por favor, Ahmed, não tenha medo de me assustar,


você não me assusta. E eu não o vejo como simplesmente um sheik
árabe ou um CEO, eu te vejo como Ahmed Hamir, meu marido. Tudo
o que eu disse no passado deve ficar no passado.

— Então você me considera como seu marido? — pergunta,


sorrindo, seus olhos verdes brilhando.

— Claro que sim!

— E não tem vergonha da minha metade árabe?

Solto um suspiro melancólico. Pobre Ahmed, o meu antigo


preconceito o traumatizou.

— Nunca, Ahmed, jamais. Você é especial do jeito que é: sheik


árabe e também com uma parte brasileira. Eu acho que você é
perfeito do jeito que é, eu nunca terei vergonha de você, jamais.

— Jamais?
— Jamais — respondo.

— Então vejo que já posso te considerar como minha sheika então.

Sorrio.

— Pode.

— Pois bem, sheika, o seu sheik árabe quer um beijo de


reconciliação.

Mordo o meu lábio inferior, fingindo estar pensativa.

— Hum, não sei se devo.

Ele finge estar decepcionado.

— Vai negar ao seu marido um simples beijo?

— Depende. Eu te dou um beijo se você me disser que me ama


novamente.

Ahmed, que antes segurava os meus braços, solta-os, claramente


surpreendido.
— Achei que não tivesse percebido o que eu disse.

Reviro os olhos.

— Sou sonsa às vezes, mas não surda. Eu ouvi e quero que repita
novamente.

Ele sorri, malicioso.

— Isso é uma ordem, senhora Hamir?

— Pode apostar, senhor Hamir.

— Pois bem, eu repetirei agora e quantas outras vezes desejar. Eu


te amo, esposa, o meu coração é todo seu.

Novamente, a emoção é tamanha que não consigo segurar o choro.


Estou muito emotiva hoje, talvez os hormônios tenham uma parcela
de culpa nisso. Envolvo os meus braços no abdômen de Ahmed, sem
aviso prévio. Inspiro o seu cheiro masculino, e ele, curioso e não
entendendo o meu gesto, me envolve também. Ahmed beija os meus
cabelos, e isso foi o impulso que eu precisava para finalmente me
libertar e dizer:

— Eu também te amo, Ahmed. Muito. Como nunca pensei que fosse


possível te amar.
Capítulo 33

Ahmed Hamir

É como se um peso fosse retirado das minhas costas, e eu


pudesse finalmente respirar de verdade, sem nenhum peso na
consciência. Assim estou me sentindo nos últimos dias, estou
genuinamente feliz. A discussão que eu e Luisa tivemos há duas
semanas começou mal, e eu sinceramente achei que terminaria ainda
pior, ambos estávamos estressados, irritados e cheios de dúvidas.
Faltava confiança entre nós dois, eu achava que ela não confiava em
mim, que ela me menosprezava por eu ser árabe, um sheik. Ela, por
outro lado, pensava que eu não queria inclui-la na minha vida
pessoal, nos meus assuntos com o meu povo. Luisa se sentia
excluída, e eu não sabia. Para piorar, eu havia traído a sua confiança
quando a engravidei sem a sua permissão, quando não fui sincero o
suficiente para contar o que estava acontecendo. Eu não dividi os
meus problemas com a minha esposa, e isso nos trouxe um grande
desgaste. Eu achei que a melhor opção seria esconder tudo dela,
porque tinha a certeza de que ela não iria entender. Contudo, vejo
que a minha decisão foi uma merda.

Se eu tivesse insistido em um diálogo, em uma conversa franca


com Luisa, poderíamos ter chegado num acordo bom para ambos.
Nós dois tínhamos dúvidas, receios e poucas informações sobre o
outro. A falta de um diálogo sincero foi o nosso problema, talvez nós
precisássemos de um pouco mais de parceria, amizade.
Aprendemos com as consequências que casamento não se sustenta
apenas com sexo, que amizade também é essencial. Graças a Allah,
toda a nossa complicada situação acabou bem. A discussão nos fez
desabafar sobre coisas que não tínhamos coragem de dizer e que
estavam entaladas em nossas gargantas. Por mais difíceis e
delicadas que elas eram, precisavam ser ditas. Eu fico feliz que Luisa
tenha se aberto para mim, que tenha desabafado, só assim eu pude
compreendê-la melhor. Luisa é uma mulher complexa, geralmente
calada, e cheia de mistérios.

Na maior parte do tempo, ela não é muito de falar sobre si mesma,


seus assuntos são sempre impessoais e leves, ela evita assuntos
sérios e complexos. Sempre que eu perguntava algo mais pessoal,
ela dava um jeito de mudar de assunto. Assim, fiquei muito surpreso
com as suas confissões e reclamações naquele dia, Luisa finalmente
soltou aquilo que tanto guardava. Entretanto, eu não a culpo por ter
sido tão vaga por todo esse tempo. Eu também não fui um bom
exemplo. Como o seu marido, a minha obrigação era ser mais
compreensível, mais sincero. Eu deveria ter insistido para que ela se
abrisse comigo, deveria ter dado mais motivos para ela confiar em
mim. Mas, ao invés disso, eu simplesmente tomei uma decisão por
ela, uma irreversível, que terá consequências durante o resto da sua
vida. Eu falhei com ela, falhei miseravelmente, e a machuquei mais
do que ela estava preparada. Eu não fui um marido, fui um idiota. Eu
deveria protegê-la, colocá-la em primeiro lugar em todas as
situações, mas, ao invés disso, eu coloquei as merdas dos meus
problemas como prioridade e não levei em consideração os seus
sentimentos, o seu psicológico e até mesmo o seu corpo.

Eu merecia uma punição pior, merecia algo pior do que o que Luisa
me deu. Porque na verdade ela não me puniu, além da discussão,
ela não fez mais nada, simplesmente me perdoou, mesmo estando
com o coração machucado, com o orgulho ferido e com a
consequência do meu ato no ventre. Ela deveria ter me feito sofrer
um pouco mais, eu merecia. Luisa deveria ter se vingado, pelo
menos um pouco. Mas ela não fez isso, ela nem mesmo cogitou a
ideia, porque ela é exageradamente boa, boa demais, pura demais,
inocente e ingênua demais. Ela é tudo demais para mim. Eu não a
mereço, mas sou um fodido bastardo para mantê-la para mim
mesmo assim. Sou egoísta e continuo com o mesmo propósito de tê-
la só para mim. Farei de tudo para que ela não queira me deixar,
farei o necessário para que ela não tenha coragem de ir embora.
Farei o que tiver ao meu alcance para provar que o seu lugar é do
meu lado e em nenhum outro. Como eu disse, sou egoísta, e Luisa e
o bebê são meus, apenas meus.

Nós entramos em um acordo e decidimos que só iríamos contar


para a família sobre a sua gravidez quando completasse pelo menos
um mês de gestação, por questões de segurança. A gestação
evoluiu bem nessas últimas três semanas, e Luisa está com um mês
e uma semana. Em breve iremos fazer uma nova consulta com a
ginecologista para sabermos sobre o desenvolvimento do feto. Por
enquanto, sua barriga não teve grandes mudanças, exceto pelo fato
de que está mais "dura", digamos assim. O tamanho continua o
mesmo. Os sintomas têm aumentado, contudo. Comidas que eram
suas preferidas se tornaram o oposto. O único alimento, ou melhor,
fruta, que Luisa ainda gosta é do seu indispensável maracujá. Suco
de maracujá, mousse de maracujá à moda brasileira, doce etc. Mas
a notícia boa é que ela está comendo bem, muito bem, na verdade.
Me surpreendi quando ela me disse que está preferindo a comida
árabe nos últimos dias. Segundo ela, o estilo da comida daqui é mais
"leve". Não posso concordar totalmente, no entanto. Algumas
comidas realmente são mais leves e saudáveis, mas também
existem aquelas pesadas e exageradas. Pelo que percebi, a sua
comida preferida tem sido o Tabule. Mas talvez ela enjoe disso logo.

Nós estamos no castelo Jasmim agora, e Luisa está sendo


paparicada pela minha mãe. Nós anunciamos a existência do bebê
hoje, durante o almoço, e a notícia foi um baque para todos. Eles
não esperavam um bebê tão cedo. Pensavam que fosse demorar
mais alguns meses para Luisa engravidar. O que eles não sabem é
que ela não iria engravidar nunca se eu não tivesse interferido e
acelerado tudo. Luisa parece ter superado o assunto, está feliz e
está superapegada ao minúsculo feto. Mas, ainda sim, evito falar
novamente sobre o que aconteceu, em respeito a ela, e também
porque eu fico puto de raiva comigo mesmo. No fim, todos pensam
que a escolha foi nossa, e resolvemos deixar assim, talvez no futuro,
quando o nosso filho nascer, contaremos a verdade.

De todos, o que mais se sentiu feliz, ou melhor, aliviado com a


notícia, foi o meu pai. Ele, mais do que eu, sente a pressão do título
de sheik. Nós dois sabemos das nossas obrigações e ambos
estávamos tensos sobre a vinda do próximo herdeiro. Os meus
irmãos nunca seriam o líder, o clã não aceitaria. É sempre assim, o
filho mais velho do sheik que deve substituir o pai. Contudo, é
importante ter vários filhos, porque, se o mais velho morrer, e este
não tiver um filho homem, o próximo irmão mais velho substitui.
Contudo, na prática, isso não acontece mais. No passado isso
poderia dar certo, mas hoje não. Os inimigos são maiores agora, e
seu objetivo é tomar o poder. Assim, a família Hamir não pode vacilar
e deixar espaço para alguma guerra. Manter a nossa linhagem de
sangue sempre em dia é uma forma de evitar problemas. Os meus
filhos precisam vir logo, é a nossa responsabilidade. A minha vida é
perigosa, sempre estou acompanhado por seguranças, porque nunca
se sabe quando será o próximo ataque contra a minha vida ou a do
meu pai.

Com a vinda do meu herdeiro, a tensão diminuirá um pouco, pois


saberão que o poder estará mais difícil de ser tomado. Talvez essa
situação pareça fria demais, sem emoções e sentimentos, mas não é
verdade. Mesmo com o complicado pano de fundo, eu quero,
realmente, ter filhos. Ser pai sempre foi um dos meus maiores
objetivos. A família é tudo para os Hamir. Luisa e o bebê são tudo
para mim agora, assim como a minha mãe e seus filhos são para o
sheik Tariq. Eu também amo a minha mãe e irmãos, mas sei que
estão protegidos pelo meu pai e também pela melhor equipe de
segurança possível.

Luisa e o bebê são minhas responsabilidades, e isso me deixa


ainda mais controlador do que sempre fui. Às vezes a minha pequena
garota se irrita com a minha constante interferência na sua vida, mas
não é como se eu tivesse o controle sobre isso. Eu só não quero que
algo lhe aconteça. Luisa está grávida, portanto está ainda mais
vulnerável aos perigos. Esta semana eu irei dar a notícia para o clã
da sua gravidez e, ao mesmo tempo que isso me deixa animado, me
deixa receoso. Não posso me esquecer do que aconteceu com a
minha mãe quando ela estava grávida de mim. Eu não posso permitir
que merda nenhuma parecida aconteça com Luisa, eu nunca iria me
perdoar se ela se machucasse por minha causa, pela minha falta de
proteção. Ao invés de dois, agora Luisa tem três seguranças. Ela
ficou irritada com a mudança, mas eu fui irredutível. Toda precaução
ainda é pouca. Ela continua indo para as suas aulas, e eu tenho
ficado um pouco perturbado quanto a isso, a rua me parece ser
perigosa demais para ela e o meu filho. Ela não sabe ainda, mas
pretendo interromper essa sua rotina. A partir dos cinco meses de
gravidez, suas aulas serão online, até que o bebê nasça.

Uma delicada mão pousa no meu braço, me tirando dos meus


conturbados devaneios. Luisa está me olhando com os seus olhos
azuis, preocupados.

— Ahmed, você está bem?

Aceno, ainda tenso.

— Estou, sim. Por que a pergunta, Habibi?

Ela franze a testa, confusa.

— Bem, você está há meia hora sentado aí, nessa mesma posição.
Seu olhar parecia tão... distante. Confesso que fiquei com medo.

Levanto-me do sofá da sala do castelo e forço um sorriso.


— Eu estou bem, Habibi. Sinto muito por isso, mas acontece que
você parecia estar muito ocupada sendo mimada por todos os
homens e mulheres da minha família.

Ela cora lindamente e dá uma risadinha, envergonhada.

— Pois é, né... Não achei que eles fossem ficar tão felizes com a
notícia. Fiquei surpresa quando todos, até o seu pai, queriam saber
sobre a condição do bebê, a minha também...

— Hum, estou com ciúmes...

Ela faz uma careta e ri.

— Ah, sei... Que hipocrisia, me engravida, mas tem ciúmes da minha


mordomia de grávida?! Tome vergonha, Ahmed! — brinca, irônica e
divertida.

Pego as suas duas mãos e as levo para os meus lábios, beijo-as e


em seguida coloco os seus braços em volta do meu pescoço. Os
olhos de Luisa parecem vidrados nos meus gestos. Os meus braços
vão para a sua cintura delicada, e eu a puxo para bem perto de mim.
Luisa cora, porque não estamos sozinhos. Para sua sorte, serei
discreto hoje. Então apenas beijo a sua boca levemente e a solto.

— Eu sempre terei ciúmes de você, Habibi, sempre, até mesmo com


a atenção exagerada da minha família.

— Wow, que marido obsessivo eu tenho! — ironiza, revirando os


olhos.

Seguro os seus dois braços, puxando-a para perto de mim


novamente. Com a minha boca muito próxima do seu ouvido,
sussurro, sério:
— Você nem imagina o quanto, Habibi. Você não tem a mínima
noção do maldito obsessivo que eu sou quando se trata de você.

Eu sinto quando o seu corpo estremece, o os pequenos pelos do


seu pescoço se arrepiam. Ela parece gostar do que ouviu. Sorrio no
seu ouvido e mordo o lóbulo da sua orelha. Ela ofega, mas logo me
empurra, corada.

— Ahmed, daqui a pouco vão perceber!

Sorrio, irônico.

— E isso é um problema? Acredito que todos saibam o que eu faço


com você todos os dias, Habibi.

Desta vez o seu rosto fica realmente muito vermelho, e ela me dá


um tapa no braço, irritada e constrangida. Contudo, no fundo dos
seus olhos, consigo ver um lado perverso que ela insiste em
esconder.

— Ahmed, aqui não é o momento para você falar sobre essas


coisas...! — ela me repreende, falando baixo.

Arqueio minhas sobrancelhas, encarando-a.

— Certo, então continuaremos em casa.

Luisa ri, mas percebo que ela está um pouco nervosa. Ela então
olha para trás e vê a minha mãe a alguns metros de distância, nos
encarando. Luisa faz um gesto com a mão, indicando para a minha
mãe esperar um minuto, e então ela se volta para mim, fingindo
seriedade.
— Deixe o seu fogo para quando chegarmos em casa, Ahmed — diz,
simplesmente. — A sua mãe está me esperando para continuarmos
a nossa conversa de hoje.

Ela então acaricia a sua barriga plana, ainda me encarando.

— Estamos aqui por causa da existência do bebê, apesar de que


você parece estar mais preocupado com outros assuntos.

O seu tom acusador me diverte.

— A culpa é sua por eu me distrair tão facilmente.

Ela me olha, sem acreditar.

— Minha?!

— Totalmente sua, esposa. Se você não fosse tão bonita, eu não me


distrairia tão facilmente.

Luisa revira os olhos.

— Hum... Que pena, não? Vai ter que aprender a lidar com isso,
Habib. — O seu tom é irônico, e ela parece estar se divertindo com a
sua ousadia.

Antes que eu tivesse tempo de dizer algo, no entanto, ela vai


embora, logo se juntando com a minha mãe e Jade novamente. Os
meus olhos a acompanharam por todo percurso, hipnotizados.
Capítulo 34

Ahmed Hamir

A tensão de todos é grande na sala de reuniões, alguns estão em


expectativa; outros estão nervosos e não conseguem esconder isso.
Eu estou calmo, porém. Finalmente eu consegui o que sonhei por
muitos anos. Além disso, também estou aliviado. Sei das minhas
responsabilidades com o meu povo, e uma delas é a vinda do meu
herdeiro, o mais rápido possível. Depois de termos anunciado a
gravidez para a minha família na semana passada, finalmente chegou
a vez do conselho saber e, consequente, o clã. Acredito que o sheik
Tariq passou esses últimos dias mais ansioso do que eu, ele estava
querendo que este dia chegasse desde o momento que me casei
com Luisa. Tariq valoriza muito as tradições, as nossas leis e nossa
cultura. Mesmo sem me dizer muita coisa, eu sabia da sua
ansiedade para a vinda do meu filho. Obviamente, o seu interesse
não se diz respeito apenas em cumprir, mais uma vez, com a
tradição do primeiro herdeiro. Eu conheço o meu pai, sei que ele
está ansioso para ser avô e ter novamente uma criança para cuidar.

A minha mãe já me disse algumas vezes que o meu pai é mais


paternal do que aparenta. Segundo ela, quando eu nasci, eu ficava
boa parte do tempo aos cuidados dele. Além disso, fiquei sabendo
também que ele gostava de me exibir por onde passava. Eu não me
lembro disso, é claro, mas me lembro da minha infância. O meu pai
esteve presente em todos os momentos da minha vida. Ele era um
ótimo pai, não economizava tempo para me dar atenção ou para me
ensinar algo. Ele também era muito rigoroso, exigia muito de mim,
que era apenas um garoto. Muitas vezes eu me senti angustiado por
isso. Os meus irmãos não eram tão cobrados como eu. Eu não podia
errar, sempre devia ser o melhor e o mais inteligente, o meu pai
exigia isso de mim e cobrava todos os dias. Mas os meus irmãos
não tinham tantas responsabilidades sobre seus ombros, e isso me
irritava. Eu não entendia por que o meu tratamento era diferenciado,
só fui entender na adolescência, e essa compreensão levou embora
o que restava da minha infância. Amadureci muito rápido depois que
completei quatorze anos. Compreendi que muitas pessoas
dependeriam de mim no futuro e então passei a me dedicar muito
mais para ser o melhor em tudo que fazia, sem que o meu pai
tivesse que me cobrar por isso.

A minha mãe não aprovava tanta pressão sobre mim, mas ela não
tinha como me livrar disso, no entanto. O meu fardo nasceu comigo,
o fardo do filho herdeiro. Isso me faz pensar que o meu filho passará
por tudo que eu passei, por todas as pressões e exigências. Não me
sinto bem ao pensar nisso. É difícil para o pai saber que ele será o
responsável por grandes angústias do filho. Hoje, sei que o meu pai
foi abalado também com a minha criação. Não deve ter sido fácil
para ele tampouco, mas ele fez o que tinha de ser feito. Hoje, tenho
um nó na garganta porque sei que terei de fazer o que precisa ser
feito também, em breve. Luisa ainda não tem uma compreensão
muito ampla do que será da educação do nosso filho, e eu pretendo
ir lhe falando sobre isso aos poucos. Não quero assustá-la nem
deixá-la estressada, ela está grávida, e é importante que a sua
gestação seja tranquila. Ela já tem preocupações demais por agora,
talvez os hormônios da gravidez estejam deixando-a mais ansiosa
que o normal, tenho notado que ela tem tido mudanças de humor
mais frequentemente e sem justificativas plausíveis.

Luisa já é teimosa por natureza, agora então... Ela tem tido


dificuldade de obedecer às minhas ordens ultimamente, e isso me
preocupa. O meu objetivo sempre será protegê-la, mas ela não
parece perceber isso. Ela cismou que eu só quero dominá-la. Bem, é
verdade que eu gosto de estar no controle de tudo, inclusive no que
se refere à minha esposa, mas isso não se trata apenas de ego, e
sim de segurança. Como seu marido, tenho a responsabilidade de
evitar que ela se envolva em problemas que possam afetar a sua
integridade física e mental. Agora que ela está grávida, a minha
responsabilidade duplicou, é o meu filho que ela carrega no ventre,
ele depende dela e de mim também. Luisa às vezes fica nervosa e
diz que estou exagerando, que não há a necessidade de tanta
preocupação. Segundo ela, estou sufocando-a com tanto cuidado e
ela sabe se proteger. Será que sabe mesmo? Eu sinceramente
duvido. Se ela tivesse um pouco mais de juízo e maturidade para me
obedecer, talvez eu acreditasse.

Inconscientemente, estava apertando as minhas próprias mãos em


punhos fechados e cerrados. Estou com raiva e muito nervoso e
estou tendo dificuldade de controlar as minhas emoções conflitantes.
A grande responsável por isso é Luisa e sua teimosia. Meu pai,
percebendo a minha tensão, se aproxima de mim e diz, baixo o
suficiente para que apenas eu escute:

— Ahmed, por favor, não mostre a sua raiva e nem desconte os seus
problemas aqui, todos estão te olhando e esperando você dar a
notícia, não é o momento para remoer coisas ruins.

A sua fala me faz acordar para a realidade, e sinto uma pontada de


raiva por quase ter me descontrolado na frente do conselho. Eu
nunca, em toda a minha vida, deixei que os meus problemas
pessoais interferissem nas reuniões do conselho enquanto eu
estivesse tratando de assuntos do clã. Mas aqui estou eu, quase
demostrando a minha raiva em plena reunião. Isso me deixa ainda
mais nervoso, desta vez comigo mesmo. Irritado, faço o possível
para relaxar o meu semblante e o resto do meu corpo. Forçando um
sorriso, finalmente falo para os homens da sala, os quais me olham
confusos e preocupados:

— Eu sinto muito pelos minutos de espera, não foi a minha atenção.


Contudo, as boas novas que trago ainda têm me deixado eufórico e
muito feliz.
Hiran arqueia suas sobrancelhas, atento às minhas palavras,
obviamente ansioso pela notícia. Jamal, contudo, tem o rosto tenso e
nervoso, a sua ansiedade não é do tipo boa como é o caso de Hiran.
Mustafá tem um sorriso falso no rosto, claramente mostrando
contentamento que ele não sente. Ademir, Farid e Said estão em
expectativa, atentos e sérios. Ignorando suas expressões, continuo:

— Um dos meus maiores feitos foi ter me casado com Luisa, ela é a
mulher da minha vida, e não tenho dúvida disso. Como minha
esposa, é esperado que um dia ela me dê os filhos que preciso.
Contudo, para a minha felicidade, esse feito começou mais rápido do
que eu esperava. Luisa, além de linda, também é fértil. E a notícia
que tenho para hoje é, sem dúvida nenhuma, uma das melhores que
já tive. Em breve eu serei pai, porque a jovem sheika Hamir está
grávida. Se for da vontade de Allah que seja um menino, ele será o
futuro sheik do nosso clã após o meu governo.

Com essas palavras, imediatamente todos ficam chocados,


completamente surpresos pela notícia. Depois de alguns segundos
de espanto, as felicitações alegres tomam conta do silêncio anterior.

— Sheik Ahmed, por Allah, que notícia maravilhosa! — diz Said,


vindo ao meu encontro, logo me abraçando.

Hiran vem logo atrás, sorrindo, emocionado.

— A incrível notícia me trouxe muitas lembranças, meu sheik. Me


lembrei do dia que o seu pai tinha anunciado a sua existência. Ele
estava tão feliz por Ester estar grávida de você.

Quando Said me solta, logo abraço Hiran, apertado.

— Você esteve com a família Hamir em muitos momentos, Hiran, nos


bons e ruins. Somos muito gratos por ter você como amigo.
— Eu que sou grato, ser considerado um amigo dos meus sheiks é
uma benção de Allah.

Solto-o, sorrindo.

— Pois bem, logo virá um novo sheik para você ser amigo, Hiran.

Ele acena, feliz.

— Como sou sortudo, participar da vida de três gerações de sheiks


do meu povo!

— A família Hamir que é sortuda, Hiran, saiba disso — meu pai diz,
se aproximando.

Hiran sorri. Ele já é um senhor de idade, tem sessenta e nove anos,


contudo ainda é forte e ama o nosso clã. Hiran com certeza foi um
dos homens mais leais que a família Hamir já teve. Todos torcemos
para que ele viva ainda muitos anos. Nunca estaremos preparados
para perder Hiran.

— Parabéns, Tariq, você será avô, e o sangue Hamir terá, mais uma
vez, continuidade.

Meu pai acena, seus olhos brilhando de orgulho e satisfação.

— O sangue Hamir sempre terá continuidade, Hiran. Foi Allah que


nos escolheu para governar o nosso povo, e iremos fazer isso até o
fim.

No instante que o meu pai diz isso, olho para Jamal, que claramente
estava irado com as palavras do sheik. Seus olhos estavam
vidrados, e o seu semblante não negava o seu ódio. Ele pareceu
sentir o meu olhar sobre ele, pois logo notou que eu o olhava. Pego
no flagra, Jamal sorri, forçadamente para mim. Aceno em resposta,
com os olhos cerrados e sérios, intimidando-o. Jamal é perigoso,
tenho que ficar mais atento com esse maldito. A sua inveja e ira por
minha família é evidente, mas esse não é o problema. O problema é
ele ser impulsionado a fazer algo contra nós por causa disso. Não
temo por mim, meu pai nem os gêmeos, nós sabemos nos proteger,
ninguém é mais esperto que nós. A minha preocupação é com Jade,
minha mãe e Luisa. Os mais vulneráveis são os mais atacados.
Jamal sempre mostrou ser do contra, mas nos últimos meses isso
tem ficado mais sério, o que me tem deixado alerta, não é como se
minha família fosse impune de ataques só porque somos da nobreza.
Meu pai já foi traído antes pelo seu próprio irmão, o que quase
custou a vida da sua esposa e do seu primeiro filho.

— Ahmed, você está bem, filho? — meu pai pergunta, pelo que
parece ser a segunda vez.

Irritado por estar deixando meus temores me distraírem tão


facilmente, xingo mentalmente em minha cabeça. Em seguida, fito o
meu pai e Hiran, este último com o olhar preocupado e curioso.

— Há algo te preocupando, sheik Ahmed? — Hiran questiona.

— Sempre há algo me preocupando, meu amigo Hiran. Paz é um


luxo que em poucos momentos tenho o prazer de tê-lo.

Hiran franze a testa, ainda mais preocupado, mas acena. Ele sabe
que os Hamir não têm uma vida tão tranquila como o resto das
pessoas.

— Luisa está bem, Ahmed? Se está tão preocupado, talvez ela


esteja no meio das suas preocupações.
Aceno em concordância.

— Não é fácil de adivinhar, não é mesmo? Ela se tornou a minha


prioridade desde que se tornou minha mulher.

Meu pai fica calado por um momento, em seguida diz:

— Precisamos conversar sobre suas preocupações então, Ahmed,


você é o meu filho, sempre poderá contar comigo. A sua esposa e
seu filho também são importantes para mim.

Quando ia lhe responder, sou interrompido por Ademir, que veio me


parabenizar:

— Enfim teremos uma nova criança Hamir! Você se tornará pai mais
rapidamente do que eu pensei que tornaria, sheik. O seu pai se
casou e teve filhos quando já era mais velho que você.

Sou abraçado por Ademir, e eu retribuo o gesto.

— A tendência é os filhos superarem os pais — comento, e Hiran ri.

Meu pai, por sua vez, não parece se irritar com a provocação.

— Você só aperfeiçoou o que eu te ensinei, Ahmed. Seu filho irá


aperfeiçoar os seus ensinamentos e não irá cometer os seus erros, a
evolução funciona assim.

— Então o senhor admite que te superei? — provoco novamente.

Ademir e Hiran se divertem com o momento.


— Você ainda tem que se superar um pouco para chegar a tanto,
Ahmed — o sheik Tariq responde, altivo.

Rio, me divertindo com a situação.

— Bem, então vou me esforçar mais — falo.

Em seguida, volto-me novamente para Ademir e digo:

— Com certeza uma criança na família fará bem para todos, Ademir,
não só para a minha família, mas também para o clã. Nada melhor
que ser contagiado pela pureza e energia de uma criança.

Ademir sorri.

— Realmente. Um pequeno sheik cheio de energia trará novas


emoções.

— Não se engane, meu sheik Ahmed, criança também traz


problemas, você terá mais dor de cabeça daqui um tempo.

Franzo a testa.

— Por favor, Hiran, não vamos falar das dificuldades que irei
enfrentar quando for pai, ainda estou me conformando com a ideia.

— Bem, você ainda tem uns sete meses para isso — Ademir diz,
irônico.

— Sete meses? A dor de cabeça começa com a gestação. Logo


logo Luisa estará dando problemas para Ahmed — meu pai diz,
maldosamente.
Mal sabe ele que ela já está me dando problemas há muito tempo.
Capítulo 35

Especial de Natal

Ahmed Hamir

Tive um dia cansativo e estressante. Há algum tempo que estou


tendo problemas para entrar em um acordo comercial com os
Estados Unidos. Nos últimos oito anos, o relacionamento entre os
Emirados Árabes Unidos e o país estava estável, porém há algum
tempo isso começou a mudar com a instabilidade do governo vigente
do país americano. Medidas mais protecionistas estão sendo o
maior problema. Contudo, não é como se a Hamir Enterprises não
houvesse passado por isso antes. O comércio com os Estados
Unidos é inconstante, mas nada que me preocupe. Na próxima
quarta, terei uma reunião com empresários americanos, veremos o
que poderá ser feito para restaurar a estabilidade de antes. Apesar
de muitos problemas, não estou preocupado, depois do aumento do
preço do petróleo devido o conflito entre o Irã e os EUA, tenho
certeza de que o país não levará a medida protecionista para frente.
Além disso, a Hamir Enterprises já é muito forte nesse país, não é
um governo conturbado que vai mudar isso.

Quando Juan estaciona na garagem da mansão, todo e qualquer


assunto relacionado ao trabalho some da minha mente, e tudo o que
eu passo a pensar é que finalmente estou em casa, onde a minha
mulher está me esperando, ou pelo menos é o que acontece na
maioria das vezes. Em alguns momentos, eu a encontro dormindo, já
que a gravidez tem a deixado mais sonolenta e cansada. Contudo,
mesmo com os sintomas persistentes da gestação, ela sempre faz
um esforço para estar acordada quando eu chego. Há algum tempo
eu venho tentando convencê-la a interromper com as suas aulas
presenciais. Ela pode muito bem fazer as suas aulas online, porém
ela é teimosa e insiste em ir de helicóptero todo dia a Dubai para
fazer a sua pós-graduação. Nada me deixa mais irritado que isso, ela
está cansada e é alvo de diversos sintomas da gravidez, mas ainda
sim ela não quer fazer o que eu digo. Uma pena para ela, porque em
breve eu irei interromper a sua rotina. O seu dia a dia é muito
agitado para uma mulher grávida de quatro meses. Nenhuma
gestante deve ficar voando de helicóptero duas vezes no dia, isso é
completamente insano. Apesar de tudo, estou tranquilo, pois logo
isso será resolvido. O meu plano, desde que descobri que Luisa está
grávida, é interromper o seu curso presencial quando ela fizer cinco
meses de gestação. Cinco meses é o máximo que eu permito que
ela continue com essa sua vontade maluca. A partir disso, terá que
estudar online, é isso ou nada. É em sua saúde que estou pensando,
na sua e na do nosso bebê. Eles são tudo para mim, nunca me
perdoarei se algo os afetar negativamente por alguma negligência da
minha parte.

Um pouco atordoado com esse pensamento, me surpreendo ao


sentir um gostoso cheiro de biscoitos vindo da cozinha. Isso me deixa
um pouco confuso, já são mais de seis horas da tarde, as
empregadas domésticas já foram embora. Curioso, vou até a cozinha
e logo me deparo com uma das cenas mais gratificantes que já vi:
Luisa vestindo uma camisa minha e descalça. Uma das suas mãos
está coberta por uma luva de cozinha para não se queimar, enquanto
tira biscoitos coloridos de uma travessa. A outra mão está na
barriga, fazendo carinhos e movimentos gentis. Ela não percebeu a
minha presença, pois está usando fones de ouvido, seu celular está
no bolso da blusa branca social. Não consigo conter um sorriso ao
ver o quanto ela está animada hoje, a ponto de dançar. Ela
literalmente está dançando enquanto tira os biscoitos e acaricia sua
barriga de cinco meses. É uma cena linda e me tira o fôlego por
quase dois minutos. Demoro a sair do transe e decidir me aproximar
da mulher mais linda do mundo. Me aproximo lentamente, sutil, como
um felino. Quando ela retirava o último biscoito, que agora percebi
que se trata de biscoitos natalinos, eu a surpreendo ao trazê-la de
costas para perto de mim, logo a prendendo nos meus braços. Luisa
grita, assustada. Ela vira o rosto para trás e me olha, irritada e com
os olhos arregalados. Logo a sua cara fica vermelha e emburrada, e
ela tira os seus fones de ouvido, com raiva.

— Você quer me fazer ter um ataque cardíaco, Ahmed?!

Sorrio, achando graça do seu susto.

— Jamais, Habibi.

— Então não me dê um susto desse de novo, seu maluco! Esqueceu


que estou grávida e qualquer coisa me assusta?

Franzo a testa.

— Eu não sou qualquer coisa, sou o seu marido.

Ela revira os olhos.

— Estou falando sério, Ahmed. Você me assustou — fala, seus olhos


agora chateados.

Suspiro e aceno.

— Sim, você está certa, Habibi, não foi certo o que eu fiz. Por um
momento, eu esqueci que você está mais sensível às coisas.

Volto a apertá-la nos meus braços. Em seguida, levo todo o seu


cabelo loiro para um lado do seu pescoço, deixando o outro exposto
e desnudo, para logo sentir o seu cheiro ali. O doce cheiro de
maracujá e baunilha que tanto amo vai para o meu pulmão assim que
eu inspiro. Solto um grunhido, apreciando o odor delicioso. Ainda
com o rosto no seu pescoço, levo o lóbulo da sua orelha para a
minha boca e o sugo, raspando os meus dentes de leve na sua pele
sensível. Luisa estremece e geme, apreciando a sensação.

— Sinto muito pelo susto que eu te dei, esposa. Você me perdoa? —


sussurro no seu ouvido, meu hálito quente atingindo a sua pele.

Mesmo não vendo o seu rosto, sei que ela está sorrindo, e então
ela responde, dengosa:

— Eu te perdoo, mas não é para fazer isso novamente.

— Prometo que não farei, não enquanto estiver grávida, pelo menos
— brinco.

Depois disso, faço com que ela se vire de frente para mim,
forçando os seus seios, cobertos apenas pela minha camisa, a se
encostarem com meu peito. Logo descubro que os seus mamilos
estão enrijecidos, e isso logo me deixa excitado. Luisa percebe pelo
meu olhar o que eu estou pensando e cora.

— Agora não, Ahmed. Acabei de terminar de fazer os meus biscoitos


natalinos. Passei o dia todo com vontade de comê-los, e não é você
que vai me atrapalhar agora.

Arqueio minhas sobrancelhas, surpreendido e divertido.

— Então os seus biscoitos são mais importantes do que eu?

— Neste momento, eles são, sim. Sabe como é, né? Desejos de


grávida.

— Nunca me senti tão ofendido — falo, fingindo mágoa.


Luisa, no entanto, me ignora. Logo ela consegue sair do meu
aperto e volta a sua tarefa. Depois de alguns segundos, ela leva um
biscoito colorido em formato de árvore de natal para a boca,
mordendo-o. O som que ela faz ao saboreá-lo envia um choque para
a minha virilha, me deixando ainda mais excitado.

— Hmm, isso está tão bom! Ficou igualzinho o do meu pai, da época
que ele fazia para mim.

Encaro-a.

— O seu pai fazia biscoitos natalinos para você?

Ela acena afirmativamente, ainda mastigando o biscoito.

— Fazia, sim. Sempre que eu passava as férias de final de ano com


ele, o meu pai fazia questão de ele mesmo fazer biscoitinhos para
mim. Ele aprendeu com a mãe dele e me ensinou. Minha mãe não
faz coisas assim no Natal, você sabe, essa é uma tradição mais
americana.

Aceno, em concordância.

— Realmente. A minha mãe sempre amou o Natal, mas ela


definidamente não sabe fazer esses biscoitos. Na verdade, não
temos o hábito de comê-los no Natal.

— Mesmo? Que pena! Então você precisa experimentar esses aqui,


acho que você vai gostar — Luisa fala, enquanto me entrega um
biscoito com formato de Papai Noel.

Faço uma careta para o desenho, e Luisa ri.

— O que foi?
— Não é nada — falo.

— Você não gosta do Papai Noel?

— Se eu não gosto? Ele nem mesmo existe, Luisa — falo, achando


graça.

Ela também ri e acena.

— Eu sei, mas a sua cara ao olhar para o biscoito foi suspeita.

— Bem, era de se esperar, não? Os muçulmanos não comemoram o


Natal, Habibi, muito menos comem coisas em formato de Papai Noel.

Luisa abre a boca, surpresa.

— Nossa, é mesmo, tinha até me esquecido desse fato, até porque


você é muçulmano, mas comemora o Natal.

Aceno em concordância.

— Sim. A minha mãe fazia questão de comemorar o Natal e ainda


faz. Meu pai nunca foi contra e até mesmo gostava dos dias de festa
e comidas, então eu e os meus irmãos ainda comemoramos. Apesar
de todos sermos muçulmanos, exceto Ester, é claro, nós apreciamos
a festa.

Luisa leva mais um biscoito à boca, desta vez em formato de


boneco-de-neve. Depois de mastigar algumas vezes, ela diz:

— Interessante. Vocês realmente são uma exceção, então.


— Sim — concordo.

Depois de olhar para o biscoito mais uma vez, decido levá-lo à


boca, e logo o gosto açucarado se espalha pela minha língua.

— Isso é bem doce, mas é bom — falo, apreciando o sabor.

Luisa sorri.

— Eu acho que eu exagero no açúcar mais do que as outras


pessoas, é que eu gosto das coisas bem mais doces, puxei minha
mãe nisso.

— Bem, cuidado, mocinha, açúcar demais faz mal — repreendo.

Ela ri.

— Você está parecendo o meu pai com esse tom de voz.

O seu comentário me faz encará-la, sério.

— Hum, não acho que eu queira parecer o seu pai, Habibi, prefiro
ser o seu marido.

Luisa ri, achando graça.

— Mesmo?

— Sim — falo, me aproximando ainda mais.

Quando estou praticamente colado no seu corpo, coloco o resto do


biscoito no balcão atrás dela e pego o seu rosto com as minhas duas
mãos. Passo o meu polegar levemente sobre os seus lábios, que
agora estão meio-abertos, enquanto os seus olhos azuis me
encaram, hipnotizados. Com o dedo, tiro alguns farelos de biscoito
ao redor dos seus bonitos lábios rosados e em seguida levo as
migalhas à minha boca.

— Hum, gostoso.

Luisa arregala os olhos e em seguida cora novamente.

— Sabe por que eu prefiro ser o seu marido ao invés do seu pai,
Habibi? — pergunto, suavemente.

Luisa balança a cabeça negativamente, sem tirar os seus olhos dos


meus.

— Porque só o seu marido pode fazer isso com você.

Antes que ela tivesse tempo de pensar no que eu queria dizer com
isso, trago o seu rosto para mais perto de mim e a beijo,
surpreendendo-a. Aproveitando a passagem que ela me deu ao abrir
a boca, domino todo o interior molhado e quente da sua com a minha
língua. Luisa, pouco tempo depois, começa a acompanhar o meu
ritmo, e eu sinto o seu corpo relaxar e se entregar ao meu domínio,
logo ficando tão excitada quanto eu próprio. Louco para ter mais
dela, direciono uma de minhas mãos até o meio das suas pernas. Ao
notar que ela não está usando calcinha, assim como não está usando
sutiã, interrompo o beijo por alguns segundos.

— Não está usando calcinha, Habibi? Você é uma menina má, talvez
esteja merecendo um castigo.

Luisa geme em resposta, e eu volto a beijá-la, desta vez de forma


mais exigente, deixando claro que eu estou no controle. Quando ela
está praticamente implorando por alívio, finalmente volto a tocar a
sua umidade, inserindo dois dedos grossos dentro da sua entrada,
surpreendendo-a e a fazendo gemer na minha boca. Afasto a minha
boca da sua e mordo o lóbulo da sua orelha, gentilmente, enquanto
manipulo a sua entrada. Luisa grita, louca pelas sensações.

— Você quer gozar, esposa? — sussurro no seu ouvido.

Ela acena, seu corpo ficando cada vez mais mole no meu braço
direito, enquanto a minha outra não está ocupada em deixá-la
excitada. Belisco o seu clitóris com força, fazendo-a gritar de
surpresa e emoção.

— Responda! — ordeno.

— Sim! — responde, gritando, excitada e louca para chegar lá.

Luisa é tão receptiva aos meus toques... É só eu tocá-la, e ela já


está pronta para mim. Ela é simplesmente perfeita, ideal para mim.
Belisco o seu clitóris novamente, e ela grita ainda mais alto.

— Sim o quê?! — exijo saber.

— Eu quero que você me faça gozar. Por favor, Ahmed!

O seu pedido foi tudo o que eu precisava e me deixou tão excitado


a ponto de eu quase explodir dentro das minhas calças sem ela nem
mesmo ter me tocado! Céus, esta mulher me descontrola... Ansioso,
insiro um terceiro dedo na sua entrada quente e com o polegar
manipulo fortemente o seu clitóris. Antes que Luisa tivesse tempo de
processar as sensações, chupo a pele abaixo da sua orelha, não tão
gentilmente. Isso foi tudo o que ela precisava para vir e logo ela
estava totalmente dominada pelos tremores, meus dedos sendo
sugados pela sua vagina gulosa. Aposto que os seus sulcos estão
mais doces que os seus biscoitos natalinos. Talvez eu devesse
provar...
Capítulo 36

Luisa Jones

Estou com sete meses de gestação e a cada dia fico mais ansiosa
e nervosa. Não estou tendo uma gravidez tranquila, sinto dores
horríveis nas costas e nas pernas. Minha obstetra disse que o meu
bebê é grande para a idade gestacional que ele tem. Ahmed ficou
todo orgulhoso ao saber que terá um bebê forte e grande, o que me
deixou um pouco irritada. Não é ele que tem que carregar a criança
por nove meses! Não aceitei que a obstetra falasse o sexo do bebê,
nem mesmo para Ahmed. Eu quero descobrir no nascimento. Ahmed
ainda não se conformou com a minha decisão. Ele está superansioso
para saber se é menino, e é por isso mesmo que eu não vou ver o
sexo por agora. A cultura de Ahmed é tão machista, sinto como se
só os bebês homens importassem. Ahmed me disse que não é bem
assim, que a preferência por menino só se dá por causa do título de
sheik que o herdeiro masculino mais velho terá.

Segundo ele, quanto antes vier o primeiro homem, melhor, pois isso
evita comentários maldosos e disputas pelo poder. Independente da
explicação de Ahmed, eu ainda não me sinto bem com essa tradição
absurda. E se for uma menina? Eles simplesmente irão ignorá-la?!
Não dá para entender. Por vingança, não vou querer saber o sexo e
não deixarei ninguém saber também. Tenho certeza que se eu já
tivesse a resposta, ou o conselho estaria orgulhoso e vibrando de
alegria, ou estaria triste como se alguém tivesse morrido. Só o
pensamento disso acontecer me deixa morrendo de raiva. Não quero
ter que ver tamanha barbaridade por parte dessas pessoas. Ahmed
sempre me diz que, independente do sexo do bebê, ele irá amá-lo.
Mas isso não é o suficiente para me acalmar. Eu sei que ele está
falando a verdade, eu sei que ele será um excelente pai, eu conheço
Ahmed, ele será bom com o seu filho. Porém, não posso dizer o
mesmo do clã e do conselho, essas pessoas são conservadoras
demais, vivem na Idade Média e possuem uma cultura machista.
Mesmo Ahmed tentando me convencer de que não é bem assim, que
a questão do sexo do herdeiro é meramente estratégica, eu não
consigo aceitar essa ideia. Para começar, somente homens podem
ser líderes, a mulher só pode ser a esposa de um, se ela quiser ter o
título de sheika.

Está claro que homens e mulheres não estão no mesmo patamar


por aqui. Não posso imaginar em ver uma filha minha conviver com
tanta desigualdade. Eu conversei com Jade sobre isso esses dias,
perguntei sobre como ela se sentia em relação à diferença de
direitos que ela tem em relação aos seus irmãos. Jade me disse que
não se importa com isso, que nunca quis ter algum tipo de cargo no
clã ou alguma influência política. Segundo ela, isso está mais para
um fardo do que um benefício e ela está feliz por não ter que lidar
com questões burocráticas e chatas. Jade disse que a única coisa
que a incomoda é a possessividade dos seus irmãos e pai, que, na
opinião dela, é bastante machista. Contudo, o resto não faz diferença
para ela. Tudo o que ela disse faz bastante sentido, está óbvio que
as obrigações dos homens Hamir, principalmente do herdeiro, são
muitas. No entanto, ainda não me conformo com o fato de que, se
meu bebê for menina, ela nem mesmo terá a chance de escolher se
irá querer ou não apossar do título do seu pai, no futuro.

Irritada com esse pensamento, acaricio a minha barriga enorme de


sete meses, que está mais para nove. Está claro que estou mais
agitada hoje que o normal. Ainda é uma hora da tarde, o que significa
que Ahmed não chegará em casa tão cedo. Nos últimos meses,
tenho estado muito ansiosa, já que agora perdi a minha rotina de ir
para as aulas em Dubai. Ahmed me proibiu de fazer as aulas
presenciais. Briguei, fiquei dois dias sem falar com ele, mas Ahmed
foi irredutível e não mudou de ideia, para o meu eterno desgosto.
Está claro que terei que terminar a minha pós online. Não é o que eu
queria, isso é óbvio, mas não parece que tenho escolha. O homem
cismou que eu não iria continuar minhas aulas presencias depois dos
cinco meses de gestação. Não vejo lógica na sua decisão. Grávida
não pode andar de helicóptero agora? Pelo visto, para ele, não.
Ahmed é protetor ao extremo, ele sempre vê perigo onde não tem.

Sua constante interferência na minha vida me irrita um pouco, mas


ultimamente não tenho tido vontade de bater-boca com ele, estou
sem ânimo para isso. Estou procurando evitar ter qualquer tipo de
discussão com ele, até porque não é como se ele fosse mudar de
ideia mesmo. Ele quase nunca volta atrás em suas decisões, nunca
vi alguém mais teimoso e insistente que ele. Sobre as minhas aulas,
fazê-las online também tem o seu lado bom, pelo menos vou curtir
mais os últimos meses da minha gestação. Além disso, estou ficando
enorme demais para ficar indo para Dubai todos os dias. Tudo o que
eu tenho desejado é ficar em casa descansando, para a alegria de
Ahmed. Inclusive, realmente tenho ficado cada vez mais enjoada,
talvez ficar voando todos os dias não seja bom no meu caso. Aliás,
neste momento estou enjoada. Coloco a minha mão no meu
estômago e sinto o bebê chutar as minhas costelas, me fazendo
gritar de dor.

— Ai! Filho, você quer me matar?!

Como que ironicamente, o bebê me chuta novamente, desta vez


mais forte. Fico sem ar por vários segundos, resmungando, sentindo
a pontada.

— Céus, já vi que você tem uma personalidade difícil.

Depois de passar alguns segundos sentada na cama, recuperando


minhas forças, escuto o meu estômago roncando, e o bebê chuta
novamente, mas desta vez não tão forte a ponto de me machucar. É
aí que um pensamento vem na minha mente.

— Você está com fome? — digo, acariciando minha barriga.


Em resposta, sinto um outro pequeno chute, quase imperceptível.
Sorrio.

— Bem, não precisava me espancar por dentro por causa disso, eu


já vou comer alguma coisa. O que acha de salada de frutas e suco
de maracujá?

Não recebo nenhuma resposta do bebê boxeador, então


simplesmente me levanto para ir em direção à cozinha.

— Já que não tem nenhuma objeção, vai ser isso, então.

Às vezes eu me pergunto se sou a única grávida que conversa com


o bebê o tempo todo. Será que isso é normal? Não tenho certeza.
Mas me sinto menos sozinha em casa quando converso com o bebê.
Ahmed diz que isso é coisa de mãe e que só estou criando vínculo
com o meu filho. Faz sentido.

Assim que chego na cozinha, logo noto algo diferente. As duas


empregadas da casa não estão aqui. Geralmente, a esta hora elas
ainda estão na cozinha, organizando as bagunças do almoço. Mas
não, não vejo nenhum sinal delas. A cozinha está uma bagunça total,
parece que as duas sumiram desde que almocei, há duas horas
atrás. Arqueio minhas sobrancelhas, estranhando tudo. Só saio do
meu transe quando escuto o meu estômago roncando novamente,
me lembrando que tenho um bebê com fome dentro de mim. Não é à
toa que pareço ter mais tempo de gestação que os meus sete
meses, nunca vi um bebê que exige tanta comida. Estou dez quilos
mais gorda e é provável que vou engordar ainda mais. Suspirando e
ainda desconfiada, abro a grande geladeira digital da cozinha. A
primeira coisa que avisto é o suco de maracujá dentro da jarra de
vidro. Vejo que as senhoras que trabalham aqui fizeram o suco
depois que almocei, porque no almoço elas tinham preparado suco
de morango com hortelã. Bem, pelo menos não terei que fazer.
Tem suco de caixinha aqui, mas eu odeio, nada se compara com o
suco natural feito em casa. Depois de tirar a jarra para fora da
geladeira e colocar na bancada de mármore, volto para a geladeira
novamente e escolho algumas frutas para fazer a minha salada.
Suspiro, com preguiça, enquanto começo a preparar as frutas e a
cortá-las em pedaços pequenos. No fim, pelo menos ficaram
apetitosas. Olho para a salada colorida contendo manga, morango,
kiwi, melão e abacate e decido adoçar um pouco com mel. Quando
tudo está pronto, levo tudo para a sala, inclusive um corpão de suco.
Assim que ligo a enorme TV ultrafina, logo escolho um programa
qualquer e relaxo no sofá. Sinto um gosto estranho no suco quando
dou o primeiro gole. Sinto um pequeno gosto amargo, quase
imperceptível. Depois de tomar mais um gole, franzo a testa,
confusa. Levo o copo para o meu nariz e cheiro, não sinto nada de
diferente, mas decido deixar o suco para lá, provavelmente as
senhoras adicionaram alguma coisa a mais. Depois de comer toda a
salada, me levanto, levando o prato para a cozinha. Logo escuto
passos pesados atrás de mim, quando me viro, me deparo com Kalil,
Adair e Yan, sendo este último o meu novo segurança pessoal.
Todos parecem assustados e preocupados, e imediatamente sinto o
meu coração acelerar em aflição. Antes que eu tivesse tempo de
dizer alguma coisa, Kalil pergunta:

— Senhora, você viu as duas funcionárias que ficam na cozinha,


Marta e Leila?

Balanço a cabeça negativamente.

— Não, por quê? — questiono.

Os três olham um para o outro, preocupados e em seguida me


encaram, ansiosos.

— Ambas saíram mais cedo do que os seus horários de trabalho


estipulam, sem dizerem nada antes. A governanta tentou entrar em
contato com elas, mas seus telefones nem mesmo chamam. A
governanta da mansão acha que tem algo de muito errado
acontecendo.

O alerta presente na voz de Kalil faz a minha pressão baixar, e eu


imediatamente tenho que me segurar na bancada para me impedir
de cair. Rapidamente, Adair se aproxima de mim, preocupado.

— Eu não estou entendendo. O que está acontecendo?! Por que


vocês estão tão assustados?

Desta vez quem responde é Yan:

— Senhora, estamos desconfiados de que Marta e Leila tenham sido


usadas para cometer algum crime na mansão. Suponhamos que
tenha alguém por trás disso. Se nossa suspeita for verdadeira, algum
crime muito bem organizado foi feito, todos os funcionários precisam
atender a inúmeros pré-requisitos antes de trabalharem aqui. Todos
passam por investigações de antecedentes criminais e entre outros.

Com o coração batendo a mil por hora, sinto a minha respiração


ficar mais fraca.

— Vocês acham que algum crime foi organizando para me atingir? —


questiono, quase sem fôlego.

— É a nossa principal hipótese, senhora. Tudo foi muito bem


organizado, está óbvio que tem muitas outras pessoas envolvidas
neste caso. No entanto, a nossa maior preocupação é com a
senhora. As funcionárias sumiram de repente. A nossa maior
preocupação é: a senhora está bem? Elas fizeram algo contra a
senhora? — Adair questiona, visivelmente preocupado.

Balanço a cabeça, confusa.


— Não... Na verdade, eu não sei... Elas fizeram o almoço, eu comi...
Tudo parecia normal, como de costume, e então eu fui para o quarto
descansar um pouco. Algumas horas depois o bebê estava com
fome e...

É então que sinto um grande aperto no peito e em seguida uma


violenta pontada no estômago. Sinto o bebê se revirar no meu ventre
e a dor se intensifica ainda mais. Grito, agoniada e em pânico. Os
meus seguranças me seguram antes da minha queda, e eu
imediatamente sinto a minha cabeça latejar violentamente, a ponto
de eu ter que fechar os olhos com força, numa falha tentativa de
fazer tudo aquilo parar.

— Senhora Hamir, o que a senhora está sentindo?! — algum deles


pergunta.

— A senhora está ouvindo, sheika?!

— Senhora Hamir!

Mesmo escutando tudo, fico completamente impossibilitada de


responder. Sinto o meu coração bater mais rapidamente e o meu
corpo tremer involuntariamente. Agoniada com a dor, sou inundada
pela inconsciência. Com um último pensamento, desejei que Ahmed
estivesse aqui comigo para proteger o bebê do que está
acontecendo.

Ahmed Hamir
Encaro o meu smartphone tocando pela quinta vez. Nas outras
quatro vezes, eu não pude atender, estava em uma reunião
empresarial. Agora, no entanto, já dentro do meu escritório,
aproximadamente trinta minutos desde a primeira chamada, estou
sentindo o meu coração pulsar mais rapidamente. Meu celular estava
no silencioso, nem mesmo senti qualquer vibração, e agora me
condeno mentalmente por ter sido tão idiota. Olhando para o número
na tela do celular, tudo o que me vem à mente é pedir a Alá para que
tudo esteja bem, que Luisa esteja bem. Acontece que as cinco
ligações foram feitas pelo celular de Kalil, o principal segurança de
Luisa. Ele nunca liga em horários como esse, seus seguranças
conhecem minha agenda, sabem dos meus compromissos. Kalil
nunca ligaria cinco vezes se o motivo não fosse urgente. E é isso que
me preocupa, que me deixa angustiado antes mesmo de atender a
chamada. Com uma última prece silenciosa, atendo a Kalil antes que
a chamada se encerre. Para piorar ainda mais a minha aflição, é Kalil
quem já começa a falar, antes mesmo de eu abrir a boca:

— Sheik! Graças a Alá o senhor atendeu!

Sinto a minha mão vacilar por um momento, o que quase faz o


celular cair.

— Kalil, o que está acontecendo?

Ele não hesita e diz, rapidamente, sua voz aflita:

— Sheik, trata-se da sua esposa. Hoje, no início da tarde, ela


passou muito mal depois de comer algo e simplesmente desmaiou.
Levamos a sheika para o hospital rapidamente e a equipe médica
suspeita de envenenamento. O estado dela é complicado, está
bastante debilitada, com contínua hemorragia vaginal e...
Vejo preto por vários segundos, o ódio, medo e ira tomando conta
de cada polegada do meu corpo. Altamente alterado, com a
adrenalina a mil, pego a primeira coisa que vejo pela frente e a jogo
contra a parede com tanta força, que no mesmo instante ela se
desfigura. Kalil para de falar quando escuta o barulho agudo do outro
lado da linha.

— Onde ela está?

— No Thumbay Hospital Fujairah, sheik. Ela foi internada há pouco


mais de trinta minutos.

— Eu logo estarei aí, cuide dela para mim enquanto isso, Kalil.

— Certamente, sheik.

Assim que encerro a chamada, no mesmo milésimo de segundo ligo


para Juan, que atende no segundo toque. Não dou tempo para que
ele me cumprimente e logo falo, rapidamente:

— Me encontre na pista, Juan. Agora.

Juan hesita por apenas um segundo, mas logo responde:

— Entendido, sheik.

Quando chego, tudo que tenho que fazer é entrar no helicóptero e


colocar o cinto. Juan ainda não sabe do ocorrido, mas não me
perguntou nada. Ele sabe que se trata de algo muito grave e está no
aguardo de eu decidir atualizá-lo. Ele saberá o que está
acontecendo, logo logo. Até porque precisarei de serviços mais
"especializados" em breve. Juan conhece os melhores agentes para
executar aquilo que o meu lado escuro não para de pensar. Mas,
antes de planejar qualquer coisa, eu preciso ver Luisa, nada é mais
importante do que ela. O que me deixa mais sem chão é saber que
meu filho está dentro dela. Meu filho indefeso pode estar em perigo
neste momento, e tudo porque alguém quis feri-lo, quis ferir a sua
mãe. Esse alguém conseguiu levar a minha mulher grávida para o
hospital. Tudo o que me mantém alerta é o ódio e a sede de
vingança.

Nunca tive tanto remorso como agora e ao mesmo tempo tanto


ódio. Eu não fui capaz de proteger Luisa e o meu filho, deixei que o
inimigo atacasse as pessoas mais importantes da minha vida na
minha própria casa. O lugar que Luisa deveria estar mais protegida
era, na verdade, o lugar que ela mais corria perigo. Eu falhei em
protegê-la. Nem mesmo três seguranças pessoais conseguiram
protegê-la. Não é como se eles pudessem prever que sua comida
estava envenenada. Está óbvio que algum funcionário foi corrompido
a fazer isso. O sistema de contratação de empregados da família
Hamir é muito preciso e exigente, não há maneiras que algum
criminoso ou cobaia de outra pessoa consiga trabalhar na casa.
Todos foram rigorosamente investigados antes de serem
contratados, o que significa que quem fez isso foi corrompido depois
que já trabalhava há algum tempo para mim.

Não é fácil corromper um funcionário Hamir, eles sabem quem


somos, o nosso poder e o que pode acontecer com eles caso nos
traem. Eles sabem que os sheiks não iriam hesitar em matá-los
dependendo da traição que cometessem. Eles sabem da nossa
fama, eles sabem o fim que o irmão do meu pai, juntamente com a
família dele, teve. Todos sabem do que somos capazes de fazer
quando alguém ousa atentar contra a vida de alguém da nossa
família. Todos, em todo os Emirados Árabes Unidos, sabem. Assim,
está claro que, quem quer que sejam os funcionários que ousaram
atentar contra a vida da minha esposa e do meu filho, eles estavam
cientes do perigo que corriam, mas mesmo assim o ignoraram. Já
que ignoraram, está óbvio que a recompensa era tão grande, que
até o risco de morte valeria a pena. A recompensa devia ser tão
grande, que eles decidiram correr o risco, pois acharam que, no fim,
iriam conseguir sair ilesos e, obviamente, muito, muito ricos.

Está claro que eles, ou melhor, elas, foram compradas por Jamal.
Nenhuma outra pessoa seria tão idiota quanto ele para tocar na
minha família. Tenho muitos inimigos, que amariam me ver morto,
mas eles são mais espertos que Jamal, eles não ousariam me
atacar, muito menos a minha esposa e o meu filho. Jamal é o único
estúpido e rico o suficiente para fazer isso. É claro que ele sabe que
eu sei que é ele, mas ele está tranquilo, pois sabe que não tenho
provas contra ele. Jamal neste momento deve estar rindo, feliz e se
sentindo vingado por eu não ter casado com a sua estúpida filha. Os
seus planos foram todos frustrados quando eu não me casei com
sua filha, Jamal esperava colocar a sua linhagem no poder através
da mulher. O problema é que aquela ridícula e nojenta Jamile não
seria a minha esposa nem se fosse a última mulher na face da Terra.
Jamal, ao ver seu plano de anos ser frustrado, achou que poderia se
vingar de mim usando o meu ponto fraco, a minha esposa e o meu
filho.

Ele, neste momento, pensa que eu estou derrotado, no fundo do


poço e que ele não será punido. Estúpido homem, ele já é um
homem morto. Assim que eu ver a minha mulher e ela estiver bem,
porque eu sei que ela ficará bem, eu vou procurar as duas piranhas
que traíram a família Hamir e vou achá-las, nem que eu tenha que
procurar no inferno. Depois que eu finalmente pôr as mãos nas
desgraçadas, eu finalmente terei a prova necessária para acabar
com Jamal de uma vez por todas. Eu irei matá-lo, nunca tive tanta
convicção disso como agora. Nada será tão gratificante quanto
matá-lo, ficarei feliz em ver o seu sangue escorrer pelo chão. Só
terei paz com a sua morte, e é isso que irei fazer: mandá-lo para o
inferno, que é onde ele pertence.

Assim que o helicóptero pousa na pista da mansão, rapidamente eu


e Juan entramos no meu Audi. Juan corre pelas ruas como nunca
tinha dirigido antes. Acredito que ele tenha pegado um pouco da
minha angústia. Depois de quinze intermináveis minutos, finalmente
chegamos no hospital que Luisa está. Saio do carro como um louco,
sem nem mesmo me preocupar em fechar a porta do carro. Assim
que chego na recepção, me deparo com uma mulher de cabelos
escuros sorrindo educadamente para mim.

— Em que posso ajudar?

— Luisa Hamir, onde ela está? — pergunto rapidamente, minha voz


saindo grossa e irritada.

A mulher rapidamente fica vermelha em constrangimento e fala:

— Ah, o senhor é o sheik. A sua esposa está na sala de cirurgia,


sheik Hamir. Ela precisou passar por uma cesariana de emergência.

Sinto todo o sangue do meu corpo se esvair, e uma pontada na


minha cabeça quase me deixa cego.

— Eu quero vê-la. Agora! — grito, fora de controle.

A mulher fica pálida e rapidamente aponta para um corredor à


esquerda.

— O caminho para o bloco cirúrgico é por ali, sheik. Há instruções


pelo caminho. Quando chegar na sala de espera de lá, com certeza
terá algum médico da equipe para te explicar o caso da sua esposa.

Nem mesmo dou o trabalho de responder e saio às pressas para a


direção que ela apontou. Há várias placas apontando para o bloco
cirúrgico, e eu chego lá em poucos segundos. Há alguns profissionais
de saúde transitando pelo local, e eu logo me direciono para um
homem, claramente um médico. Ele se surpreende quando eu já
chego dizendo:

— Eu quero ver a minha esposa. Luisa Hamir. Onde ela está?

O homem me fita, e logo uma sombra de compreensão passa pelo


seu rosto.

— Sua esposa está na sala de cirurgia, sheik. Em breve sairá de lá.

— Como ela está? — questiono, ansioso.

— Ela chegou com muito sangramento, sheik Ahmed, claramente em


um processo abortivo. Ficamos muito preocupados com o seu
estado e principalmente com o do feto. Nada podia ser feito além de
uma cesariana para retirar a criança.

Fecho os olhos por um momento, sentindo uma emoção que eu


nunca tinha sentido antes. Ser pai é algo totalmente novo para mim,
mas já me sinto como um e já amo o meu filho como se já o
conhecesse. Só o pensamento de perdê-lo para sempre faz a minha
alma sangrar. Eu não posso perder o meu filho. Por Alá, não posso!

— O meu filho vai ficar bem?

— Nós esperamos que sim, sheik. Tínhamos feito exames rápidos e


conseguimos escutar os batimentos cardíacos do feto, eles estavam
fracos, mas pelo menos estavam lá. Faremos o possível para salvá-
lo.

Agradeço a Alá mentalmente pela boa notícia e em seguida encaro


o médico.
— Luisa ficará bem, não é? — A minha voz é exigente, e há urgência
nela.

— Tudo indica que sim, sheik. O trauma foi muito grande para ela,
isso eu não posso negar, ela está tendo uma reposição de hemácias
e terá que passar por alguns dias de observação. Mas ela irá se
recuperar.

As suas palavras são tudo o que eu queria escutar e me trazem a


paz que eu quase achei que nunca mais teria. Se Luisa morresse, eu
com certeza nunca mais teria paz.

— Quando poderei vê-la? — A minha voz está rouca, tomada pela


emoção.

— Talvez daqui a trinta minutos, sheik. Mas não se desespere, sua


esposa e seu filho estão em boas mãos, eles sairão saudáveis daqui.

Aceno em concordância.

— É só o que eu desejo.

O médico sorri, e então o seu rosto fica sério.

— O senhor sabe que a sua esposa foi envenenada, certo?

— Sim — respondo. O ódio explícito na minha voz.

— O que aconteceu com a sua esposa foi que ela ingeriu alguma
substância abortiva muito forte. Em pouco tempo o útero da senhora
Hamir estava lutando para expulsar a criança, por isso o
sangramento. Quando ela chegou aqui, vimos que ela não tinha
dilatado mais que quatro centímetros, então optamos pela cesariana
de emergência para tentarmos salvar a criança, que ainda tinha
batimentos fetais.

Aperto as minhas mãos em punhos cerrados, o ódio em cada célula


do meu corpo. Tudo isso é culpa de Jamal, o desgraçado planejou
matar o meu filho e fazer a minha esposa sangrar até a morte. A
cada segundo que passa, menos eu consigo controlar a minha
vontade de matá-lo. Por mim, eu faria isso agora, mas eu não posso.
Preciso ver Luisa, urgentemente. Preciso ter certeza de que ela está
bem, preciso sentir o seu cheiro e escutar o seu coração bater e ter
certeza de que ela nunca irá me deixar sozinho. Preciso ver o meu
filho e ter certeza de que ainda sou seu pai. Eu preciso de muitas
coisas, mas ter a minha família perto de mim é a principal delas
neste momento.
Capítulo 37

Ahmed Hamir

Depois de o médico se afastar, tive que esperar quarenta minutos


até que Luisa saísse definitivamente do bloco cirúrgico, já que ficou
um bom tempo em observação. Enquanto isso, eu não parava de
remoer tudo o que aconteceu, de me culpar e sentir ódio pela minha
incompetência de protegê-la na nossa própria casa. Luisa é uma
mulher boa, pura de alma e muito inocente. Ela nunca saberia
distinguir o perigo da normalidade, ela não é de prestar atenção
nessas coisas. Sua criação foi muito tranquila, conviveu a maior parte
da sua vida com pessoas boas, ela ainda não entende a maldade
que há no mundo, ela não parece entender que a sua vida sempre
será mais perigosa agora que é a minha esposa. Se ela entendesse
isso, com certeza seria mais fácil de protegê-la. Uma simples
desconfiança em relação às empregadas já poderia tê-la salvado de
tudo isso.

As mulheres simplesmente desapareceram, deixaram tudo


bagunçado, claramente tinham fugido. Mas Luisa ainda assim comeu
coisas que aquelas desgraçadas prepararam. É claro que ela não
teria como fugir do envenenamento integralmente. Está claro que não
era só o suco da tarde que estava envenenado, o seu almoço
também estava. Porém, uma segunda dose de substância abortiva
foi a gota d'água para a expulsão do bebê. Obviamente, ele teria
sido expulso uma hora ou outra, independente do suco que ela tomou
depois, mas ele foi um agravante, que quase matou o bebê e ela por
alta dosagem. Mas é óbvio que a culpa não é da minha garota, ela é
doce demais para prever algo assim, não existe maldade no seu
coração, e ela tem dificuldade de enxergar o lado ruim das pessoas.
Eu, como seu marido, como o homem da casa, deveria ter evitado
tudo isso. A minha obrigação era ter pesquisado sobre os
empregados da casa eu mesmo, buscando qualquer sinal errado.
Mas não fiz isso, não fui rigoroso o suficiente em relação ao estilo de
vida dos meus funcionários e isso trouxe consequências dolorosas.

A minha esposa teve um quase-aborto e uma cirurgia de


emergência. Tenho certeza que quase perder seu bebê foi
traumatizante e terrível. Nenhuma mãe está preparada para algo
assim. Fiquei pensando no que Luisa sentiu quando percebeu que
estava perdendo o bebê, nos pensamentos que devem ter passado
pela sua cabeça, talvez ela tenha pedido a Deus para que não
levasse seu filho. Eu sei o quanto ela ama o nosso bebê. Não foi a
sua escolha ser mãe por agora, o responsável por isso fui eu, e
ainda sinto remorso por isso, mas, ainda sim, Luisa amou a criança
desde o momento que descobriu que um outro coração batia dentro
dela. Eu vi as suas expressões em cada ultrassom, eu vi o quanto os
seus olhos brilhavam de emoção quando escutava o coração do
nosso filho bater. Eu vi quantas vezes ela chorou e riu ao mesmo
tempo quando o bebê chutava na sua barriga. Várias vezes eu a
peguei no flagra enquanto ela conversava alegremente com o
pequeno feto. Todos os banhos eram especiais para ela, Luisa
aproveitava para acariciar o bebê e cantar músicas infantis. Sempre
que ela tinha o desejo de comer algo, ela não sossegava até comer
porque, segundo ela, talvez o bebê estivesse com vontade de comer
aquilo e ela não queria que ele passasse vontade.

Cada momento da gestação de Luisa foi mágico, porque ela fez


questão de que todo instante fosse especial. Luisa tem um coração
bom, amoroso, um coração de mãe. Mesmo que ela ainda não tinha
o seu filho nos braços, ela já sabia de letra o que é ser mãe, era
algo instintivo para ela, Luisa não tinha que se esforçar para ser
assim, tudo acontecia naturalmente, seus sentimentos maternos
surgiram rapidamente e de forma natural. Sou o homem mais sortudo
do mundo por ter tido a honra de presenciar todos esses momentos,
por ter podido fazer parte de cada um deles. Toda vez que eu olhava
para Luisa grávida, com o meu filho no ventre, eu não podia deixar
de lembrar o quão abençoado sou por ter uma mulher tão linda, doce
e pura, uma mulher que seria a melhor mãe do mundo para meus
filhos.

Eu sempre soube que teria uma família feliz ao seu lado, a família
que sempre sonhei, uma parecida com a dos meus pais, uma que
nunca se desfizesse, que fosse para sempre. Uma família em que o
respeito fosse uma regra e o amor uma lei. A família sempre virá em
primeiro lugar para os Hamir. Essa é uma tradição milenar da nossa
família e nunca foi mudada. Nem todo dinheiro mundo, nem todo
poder é mais importante que nossa família, simples assim. Nós
protegemos uns aos outros, é assim que funciona. Como o chefe da
minha família, nunca mais permitirei que alguém machuque Luisa
novamente. Nunca. Se for necessário, levá-la-ei comigo para todo
lugar, inclusive para o meu escritório. Não sei se serei capaz de
deixá-la sozinha novamente. Essa experiência que tive foi a pior que
já passei na minha vida, é como se o atentado contra a minha mãe,
quando ela estava grávida de mim, tivesse acontecido novamente.
Me senti dentro de uma premonição. O pensamento de perder a
minha esposa, de perder o meu filho, quase me matou. Senti como
se uma parte da minha alma tivesse morrido. Não sei o que seria da
minha vida sem Luisa, nem mesmo cogito essa ideia, parece algo
completamente impossível para mim.

Divaguei por tanto tempo, que quase perdi o momento que Luisa
saía do bloco cirúrgico acompanhada por enfermeiros. Quase. Mas,
como ímãs, imediatamente meus olhos foram atraídos para ela, e eu
rapidamente me levantei da poltrona e fui ao seu encontro. Assim
que estou do seu lado, olho para ela. Luisa está pálida e há olheiras
em seus olhos. Imediatamente, fico preocupado e questiono o
enfermeiro apenas com o olhar.

— A senhora Hamir ficará bem, sheik Ahmed. Ela passou por muita
coisa, mas não há nada que se preocupar. Com uma dieta adequada
e acompanhamento, logo logo ficará boa e poderá ir para casa.
Aceno, sem responder nada em palavras. Assim que ele e outros
enfermeiros levam Luisa para o quarto e saem, vou até o seu
encontro e beijo a sua testa fria, demoradamente, fazendo questão
de apreciar o seu cheiro e o contato da sua pele macia com os meus
lábios. Luisa fecha os olhos com o ato por vários segundos e, assim
que me afasto, os seus olhos se abrem, inundados de lágrimas. No
mesmo instante, fico preocupado e ansioso, e ela logo fala, rouca:

— Eu senti tanto a sua falta, Ahmed.

Suas palavras me trazem alívio e em seguida me aquecem. Sorrio


e pego a sua mão na minha, apertando-a, sentindo a sua textura
macia e delicada.

— As palavras não são capazes de expressar o quanto eu senti a


sua falta, Habibi. Por um momento, pensei que fosse morrer.

Ela dá uma risadinha fraca e em seguida chora ainda mais.

— Estou feliz que tudo tenha ficado bem, que o bebê tenha
sobrevivido. Quando tudo aconteceu, eu só pensava nele, se ele iria
resistir, e pensava em você, eu me senti tão só, tão desamparada
sem você.

Há emoção na sua voz, uma mistura de tristeza, medo e alívio.


Aperto a sua mão com mais força.

— Algo assim nunca irá acontecer com você novamente, Habibi.


Nunca. Por tudo que é mais sagrado, eu não permitirei.

Ela fecha os olhos e acena, seu rosto ficando relaxado e sereno.


Quase cinco minutos depois, eu já estava achando que ela tinha
pegado no sono quando, então, ela simplesmente abre os seus belos
olhos azuis novamente e me encara, de repente feliz e emocionada.
— Você tem que ver o bebê, Ahmed. O seu bebê está na UTI
neonatal. Eu já o vi, agora é a sua vez. Ele não nasceu em condições
normais, mas os médicos me garantiram que ele vai ficar
completamente bem.

Ela sorri largamente e balança a cabeça para o lado da porta.

— Vá, depois você volta. Eu quero que me conte a sua reação


depois.

Encaro-a, analisando-a.

— Tem certeza que ficará bem?

Ela acena.

— Certo, eu vou, mas antes me certificarei de que estará protegida.


Vou ligar para Juan para que ele fique com você, ele está na
recepção.

Luisa ri, mas não rebate sobre minha decisão. Talvez agora ela
perceba que precisa de muita proteção. Não demora mais de dois
minutos para que Juan entre no quarto. Antes de sair, dou um outro
beijo na testa de Luisa. Não foi difícil encontrar a UTI neonatal, já
que os corredores são cheios de placas explicativas. Assim que
chego no setor, logo sinto o meu coração bater mais rápido em
expectativa e ansiedade. A enfermeira me reconhece, sorri e diz:

— O seu bebê vai ficar bem, sheik. Ele nasceu com 28 semanas, ou
seja, com sete meses. Mas, por ser um bebê grande para a idade, a
chance de ele ficar 100% bem é muito alta. A criança nasceu com
1.280 Kg, é realmente um bebê grande para a idade. Você e sua
esposa tiveram muita sorte.
Fecho os olhos e respiro fundo algumas vezes, fazendo um
agradecimento mentalmente a Alá.

— A criança está sendo medicada e está na incubadora. Terá que


ficar no hospital até se recuperar do trauma e alcançar o peso
seguro. No hospital, esse peso é 2.100 Kg. Assim, teremos a
segurança de que o bebê não tenha problemas com o peso no
futuro.

Aceno. Por dentro, sinto a ansiedade aumentar. Preciso ver o meu


filho. A enfermeira percebe o meu estado e me conduz até a
incubadora. Ela me dá algumas instruções básicas e se afasta, me
dando privacidade. Quando olho através do vidro transparente, a
primeira coisa que noto é o pano ao redor do bebê, assim como a
touca do hospital. Perco o fôlego por alguns segundos e o meu
coração volta a disparar. O bebê está lotado de cor rosa. Tudo no
bebê grita rosa e mais rosa. Por Alá, é uma menina! O meu filho, na
verdade, é a minha filha! Céus, sou pai de uma menina! Fico vários
segundos dominado pelo choque, eu com certeza não estava
esperando por isso. Os sheiks Hamir são difíceis de terem filhas
mulheres, isso não é comum. Acredito que sou o primeiro sheik
Hamir a ter uma menina como primogênita.

Fico vários minutos analisando toda a situação e assimilando a


notícia. Depois do que parece ter sido séculos, eu finalmente encaro
o rostinho da minha filha. Ela é tão pequena, tão frágil, tudo nela grita
"me proteja, papai". Tudo nela é característico de uma boneca. Não
demora muito para que o meu instinto paterno venha à tona e eu
sinta aquela sensação típica de amor de pai crescer. Olho
detalhadamente para a menininha pequena através do vidro, e logo
sinto a emoção crescer.

— O seu pai te ama, minha menininha. Eu sempre estarei aqui para


te proteger e cuidar de você, filha. É uma promessa.
Luisa Jones

Eu sinceramente achei que não fosse sobreviver. Só a possibilidade


de perder a minha filha já era completamente insuportável para mim,
eu não podia aceitar algo assim. Durante os intermináveis minutos
até a chegada ao hospital, mesmo inconsciente, eu não parava de
pensar no que seria de mim sem meu bebê. Eu já o amava tanto, ele
era o meu filho, como que eu poderia ficar sem meu filho? A vida
seria muito mais cinza. Quando me levaram para o bloco cirúrgico,
eu tirei forças de onde não tinha para perguntar sobre o meu bebê, e
então eles me disseram que ele ainda estava vivo e que iriam tirá-lo
com vida. Saber que meu bebê tinha resistido até ali foi um alívio
imenso, mas em seguida veio a apreensão pelo que estava por vir.
Ele dependia daqueles profissionais para viver. Pedi aos médicos
para salvá-lo, e eles me garantiram que dariam o seu melhor. Não
demorou muito para as drogas fazerem efeito e eu dormir
novamente. Além disso, eu estava muito fraca, estava perdendo
muito sangue, o que certamente era algo muito perigoso.

Quando estava começando a acordar, eles já estavam retirando


minha filha, e então tive alguns poucos segundos para vê-la e
guardar todos os detalhes do seu pequenino rostinho antes que a
levassem para a UTI neonatal. Foi um momento difícil, chorei
bastante. Não é fácil para uma mãe ter que ver sua filha nascer tão
pequena e frágil. Mesmo ela tendo nascido grande para sua idade,
ainda sim ela era pequena e delicada, ela não era para nascer
naquele momento, seus pulmões nem mesmo tinham amadurecido
para respirar sozinha, ela ainda precisava de mim para se
desenvolver. Me senti tão impotente quando a vi daquele jeito, tão
desamparada. Queria que Ahmed estivesse do meu lado para me
dar forças, tudo aquilo parecia demais para eu ter que suportar
sozinha, o que me fez apagar logo em seguida.
Depois de algum tempo, novamente desacordada, na sala de
observação, finalmente acordei. No mesmo instante, sabia que meu
bebê não estava mais dentro de mim. Senti uma angústia no primeiro
momento, não era para as coisas terem acontecido de uma forma
tão bruta, rápida e triste. Eu tinha planejado chegar até os nove
meses de gestação, tinha planejado ter um parto normal, com
Ahmed do meu lado me apoiando e com toda a família esperando a
chegada do bebê na sala de espera do hospital. Eu tinha planejado
um parto natural, sem muita interferência, eu queria que meu bebê
viesse no momento dele. Mas então todos os meus sonhos foram
frustrados, e eu não tive nada disso. O meu bebê foi arrancado à
força de dentro de mim por pessoas tão más, que não tinham
compaixão nem mesmo por uma criança indefesa.

Elas queriam matar meu filho ainda dentro de mim. Elas


interromperam o ciclo do meu bebê, tiraram ele de mim. Mas, graças
a Deus, a minha menina sobreviveu. Ela sempre foi uma menina
grande e ativa quando estava na barriga, sempre foi uma garota
esperta. Então, ela nasceu com vida, mesmo depois de sua mãe ter
ingerido abortivos. Assim, mesmo com o coração despedaçado,
ainda tinha uma parte de mim que estava feliz e muito, muito grata.
Mesmo naquelas condições horríveis, a minha filha estava viva, seria
cuidada por ótimos profissionais e logo se recuperaria. Eu tinha fé
naquilo e ainda tenho. Não será fácil ter que olhá-la através do vidro
da incubadora e não poder pegá-la, beijá-la e nem amamentá-la
quando ela precisar. Sei que dias difíceis virão, mas sei que irei
superá-los. Ela é uma garota forte, como seu pai. Ahmed também
sofreu algo parecido quando sua mãe sofreu um acidente enquanto
ainda estava gestante dele. Ahmed sobreviveu, mesmo com os
desafios, assim como nossa filha.

Ahmed estará do meu lado, e juntos venceremos os próximos


desafios. Logo logo nossa filha irá para casa conosco, e eu poderei
fazer tudo aquilo que não pude antes: pegá-la no colo quando ela
chorar e alimentá-la quando estiver com fome. Eu sempre soube que
meu bebê era uma menina, sempre tive esse pressentimento, por
isso não quis saber o sexo. Eu sei o quanto o clã de Ahmed valoriza
o primogênito homem, sei que uma menina não é o que eles querem.
Como mãe, não suporto pensar na minha filha sendo desprezada só
por ter nascido menina. Sei que Ahmed a amará muito, ele será um
bom pai, da mesma forma que seria se ela fosse um menino.
Conheço Ahmed, seus princípios e valores são bons, ele nunca
rejeitaria sua filha, mesmo vivendo numa cultura conservadora e
patriarcal.

Agora, o que me preocupa é os julgamentos que eu sei que virão,


todos esperavam um menino, um sheik herdeiro. Será um choque
para todos quando descobrirem que a tradição foi quebrada. É isso
que eu temia desde que comecei a desconfiar que era uma menina.
Como mãe, não deixarei minha filha ser desprezada pelo seu sexo,
jamais permitiria algo assim. Depois que eu me recuperar um pouco
mais, terei uma conversa com Ahmed sobre isso, temos muito o que
falar. Enquanto isso, tenho que avisar os meus pais sobre o
nascimento da minha filha. Tínhamos combinado de que eles viriam
vê-la quando ela estivesse prestes a nascer. Meus pais estavam tão
ansiosos para ver meu bebê, também estavam loucos para saber o
sexo. Eles ficarão muito preocupados quando descobrirem que sua
neta nasceu prematura, tenho certeza disso. Principalmente quando
souberem que meu quase-aborto não foi espontâneo e que, na
verdade, fui envenenada. Suspiro, cansada e preocupada. É tanta
coisa para pensar... Eu e meu marido teremos um longo caminho
para percorrer para conseguirmos nossa tão sonhada paz.

Ainda não conheço totalmente a família Hamir, mas já tenho uma


noção do que eles são capazes. Jade me contou o que o sheik Tariq
fez com seu irmão e a família dele quando descobriu que eles tinham
programado a morte de Ester e seu bebê no ventre. Fiquei três dias
sem dormir direito, não conseguia parar de pensar na cena do sheik
matando sua família. Foi aí que descobri que eles são perigosos
quando querem. A justiça vem de suas próprias mãos, os homens
Hamir não aceitam que ninguém encoste em sua família. Os Hamir
matam quando necessário. Jade foi bem clara quando me disse que
"ninguém toca nos Hamir e fica impune". Neste momento, deitada
numa cama de hospital, tomando soro e analgésicos na veia,
enquanto o meu corpo luta para se recuperar de um quase-aborto e
uma cesariana, já posso pressentir o que irá acontecer em breve. É
como se a história do sheik Tariq estivesse se repetindo de novo,
desta vez com o seu filho herdeiro, o sheik Ahmed. Todos conhecem
o final da história, um final feliz para uns e nem tanto para outros. É
isso que me deixa aflita. Sei que Ahmed irá vingar o que aconteceu
comigo com suas próprias mãos.

Desde que soube que estava sofrendo um aborto, logo liguei os


pontos e entendi sobre quem estava atrás de tudo. Então ficou claro
que Jamal tinha feito alguma coisa, indiretamente. Ele usou as
empregadas para me atingir, para atingir a minha filha e,
consequentemente, a Ahmed. Eu não estava saindo de casa e,
quando saía, estava sempre acompanhada por seguranças. Jamal
não tinha como me atingir da forma convencional. Então, a maneira
que ele achou foi corromper os funcionários da minha própria casa,
bem aqueles que tinham contato direto comigo. Fico pensando em
como ele conseguiu fazer isso, tenho consciência do quão difícil é ser
um funcionário da família Hamir, a pessoa é investigada por
completo, nada passa despercebido antes de ser contratada. Não
entendo como Jamal conseguiu convencer as minhas empregadas a
fazerem algo assim. Com certeza ele já estava planejando isso há
tempos. Tudo que é planejado sempre traz uma certa confiança, e é
o que ele deve estar sentindo agora. As empregadas, numa hora
dessa, sumiram do país, e não temos provas para denunciar Jamal
ao clã e ao conselho.

Ele deve estar rindo de tudo agora. O seu objetivo não era me
matar, isso estava claro. Ele só queria machucar Ahmed e a mim
também, então ele queria que apenas o meu filho morresse. Além
disso, ele sabia que, se ele me matasse, Ahmed iria matá-lo em
qualquer lugar do mundo, independente do desejo do clã. Ahmed iria
matá-lo sem se preocupar com provas ou qualquer outra coisa.
Jamal sabe disso e ele não é um suicida. Assim, a melhor forma que
ele encontrou de se vingar pelos seus planos frustrados foi o de nos
ferir ao tirar de nós dois o nosso primeiro bebê. Ele sabe o quanto
Ahmed estava feliz por ser pai, Jamal se sentiu incomodado com a
felicidade do sheik. Na sua cabeça, o sheik é um traidor, afinal,
Ahmed preferiu se casar com uma estrangeira do que com uma
mulher do seu povo, ou melhor, com Jamile. Tariq e Ahmed são
traidores ao seu ver, ambos se juntaram com estrangeiras, com
mulheres "impuras". O seu sonho era ter o seu sangue no poder a
partir da sua filha, mas tudo isso foi frustrado quando eu, de repente,
apareci. Fui a pior coisa que apareceu no seu caminho e no da sua
fútil filha. Estou pouco ligando para ódio que eles têm por mim,
sempre soube disso e nunca isso tirou o meu sono. Agora, a partir
do momento que eles interferiram na vida da minha filha, que eles
tentaram matá-la, tudo mudou.

Aquele esforço que eu fazia para evitar problemas e viver em paz


não faz mais nenhum sentido. Eles mexeram com a vida da minha
filha, uma bebê inocente. Eles precisam pagar por isso, o quanto
antes. Nunca fui uma pessoa vingativa, sempre perdoei fácil, mas
agora a situação é completamente diferente. A dor que senti quando
pensei que estava perdendo a minha filha foi imensa, nunca tinha
vivenciado algo tão doloroso em toda a minha vida. Por mais que eu
tente, aquele momento nunca será completamente esquecido e,
sempre que eu lembrar dele, irei sofrer novamente. Sou mãe há tão
pouco tempo, mas a impressão que tenho é que já sou há anos.
Minha filha se tornou uma parte indispensável de mim desde quando
descobri que a tinha no ventre.

O que Jamal fez foi algo totalmente desumano, nada justifica ferir
um bebê inocente. Ele precisa pagar, ele e sua filha. Sei que Jamile
colaborou com isso, também, aquela cobra não me engana. Ela
mesma já me ameaçou, dizendo que a minha "vidinha perfeita" não
iria continuar assim por muito tempo. Vagabunda, sempre soube que
ela não tinha caráter, mas não a ponto de ser tão inescrupulosa para
ajudar o seu pai a matar um bebê. Eu daria tudo para enforcá-la
neste momento, tudo o que eu queria é vingar a minha filha. Mas sei
que isso não é possível, ainda, é claro. O que me consola é saber
que Ahmed fará isso por mim, muito bem feito ainda por cima.

Falando nele, ele acabou de entrar no quarto, com um sorriso bobo


pregado no seu rosto moreno, com uma evidente barba por fazer.
Ele me olha rapidamente antes de se aproximar, logo ficando ao meu
lado na cama de hospital. Me surpreendo quando ele pega a minha
mão sem o acesso venoso e a leva para os seus lábios, beijando-a
demoradamente.

— Obrigado por ter me dado o melhor presente da minha vida,


Habibi. Ser pai sempre foi um sonho para mim.

Olho-o, um sorriso aparecendo nos meus lábios.

— Você a viu? — pergunto.

Ele acena.

— O que achou da sua filha?

— Ela é linda, igual a mamãe. Ela tem os seus cabelos, já viu? São
bem fininhos ainda, quase imperceptíveis, mas já dá para perceber
que são loiros. Fiquei surpreendido, não me lembro de termos tido
um loiro na família.

Aceno, sorrindo feito uma boba.


— Sim, eu vi. Realmente são loiros. Ela será a primeira loira em
muito tempo, então.

Ahmed segura a minha mão firmemente, quase tampando-a toda


com a sua.

— Tive um sentimento horrível quando a vi tão indefesa naquela


incubadora. Ela parecia tão... pequena. Minha filha deveria ter ficado
mais tempo dentro de você, ela precisava crescer mais, ficar mais
forte...

As suas palavras me trazem tristes memórias, e eu não consigo


conter as lágrimas. Ahmed me encara sério, seus olhos duros. Ele
usa a sua outra mão para afastar as minhas lágrimas e fala:

— Mas isso não irá ficar assim. Minha filha será vingada, Habibi.
Jamal irá pagar, e eu irei matá-lo com as minhas próprias mãos.

A sua confissão me deixa arrepiada e eu estremeço.

— Matar?!

Eu também concordo que ele seja punido. Mas com a morte? Isso
parece ser extremo demais...

Ahmed não me responde, apenas suaviza o seu rosto, beija a minha


testa e em seguida diz, calmo e animado, o que me deixa confusa:

— A minha família está aqui, Habibi. Eles vieram correndo para ver
você e a bebê quando souberem o que tinha acontecido.

Sorrio, ficando um pouco mais feliz.


Capítulo 38

Luisa Jones

Não demorou muito para que a família inteira de Ahmed chegasse


no hospital para me ver e também a bebê. Todos chegaram de uma
só vez, ansiosos e agitados. Fiquei curiosa sobre como eles
conseguiram entrar de uma vez só, e Ahmed explicou que "ele é o
sheik". Foi uma explicação curta e desinteressada, mas o suficiente
para eu entender. A primeira que entrou pela porta, sem nem mesmo
bater, foi Jade. Seus olhos verdes e expressivos fizeram uma
varredura pelo meu corpo e meu rosto assim que me viu.

— Por Alá, Luisa, achei que fosse ter um ataque do coração! Nunca
passei um susto tão grande na minha vida!

Ela nem mesmo esperou eu falar algo e já foi se aproximando para


me tocar.

— Eu preciso saber se você está bem mesmo, você foi envenenada


por Jamile e Jamal, foram eles!

Olho para ela, curiosa e sem entender nada.

— Você sabe que foram eles?

Ela revira os olhos.

— É claro que sim, não nasci ontem. Aliás, sou mais velha que você,
ninguém me engana, muito menos Jamile e sua família peçonhenta.

Aceno em concordância.
— Realmente, eles sempre mostraram o que são capazes. Jamile,
então? Nem se fala.

— Tudo irá se resolver, Luisa. Nesta família, ninguém toca em um de


nós sem sofrer as consequências. — Sou surpreendida ao escutar
Ester dizendo isso.

Ester sempre foi a mais calma da família, a mais equilibrada e


apaziguadora. Mas, neste momento, ela está diferente, seu
semblante está mudado. Olho nos seus olhos e vejo ódio neles, algo
que eu nunca tinha visto neles antes. Está claro que ela está nervosa
e revoltada. Eu a entendo perfeitamente. O ciclo se repetiu de novo,
primeiro tentaram matá-la com seu filho ainda no ventre, e agora
tentaram matar sua neta ainda no ventre, também. Seu pior pesadelo
se repetiu, não deve ser fácil para ela conviver com isso. De tempos
em tempos, alguém tenta tocar num membro da família, geralmente
na família do herdeiro. A disputa pelo poder dos Hamir é algo
totalmente bárbaro, acho até difícil de acreditar. Como que alguém
ainda pode cogitar matar os herdeiros para pegar o título? Céus,
isso é insano!

Apenas sorrio em resposta para Ester, mas ela está tensa demais
para corresponder. Khaled, como sempre, quebra a tensão ao dizer
algo totalmente idiota e desnecessário:

— Olha para o lado bom, cunhada, pelo menos você vai perder
aquela barriga enorme. Céus, seu bebê tinha sete meses ou nove?
Sua barriga estava gigante! Como conseguia andar daquele jeito? Só
a possibilidade de ela crescer ainda mais já me dava pena.

Todos olham espantados para Khaled, não acreditando que ele


disse algo assim num momento como esse.
— Khaled, se você disser mais alguma coisa, eu vou descontar todo
o meu ódio na sua cara ridícula — diz Ahmed, em tom baixo e
ameaçador.

Khaled franze a testa.

— Hoje em dia não se pode nem falar o que se pensa, nem com a
família!

Ahmed se aproxima dele devagar, e o irmão revira os olhos.

— Já vou sair. Vocês não merecem minha companhia e bom humor!


— Dizendo isso, Khaled sai e fecha a porta atrás de si, claramente
chateado.

— Não ligue para ele, Luisa, é um idiota — diz Samir.

Jade encara o irmão em descrença.

— Você também é um idiota muitas vezes, não é à toa que os dois


são gêmeos!

— Vocês dois querem sair também? Parece que se esqueceram que


estão num hospital e que Luisa está se recuperando! — Ester
repreende, visivelmente irritada.

Os seus dois filhos não dizem mais nada, e, então, finalmente Tariq
fala alguma coisa. Ele se manteve calado desde que entrou no
quarto. A sua expressão está séria e neutra, não demonstrando
nenhum sentimento. Quando ele fala, sou surpreendida ao ver que
ele não direcionou a palavra a mim, e sim para seu filho:

— Se despeça da sua esposa, Ahmed, temos muito o que fazer.


Estarei te esperando na recepção.
Sem dizer mais nada e nem mesmo olhar para mim, meu sogro sai
do quarto, fechando a porta atrás de si. Ester percebe a minha
confusão e diz:

— Ele está muito nervoso, querida. Tariq não vai melhorar enquanto
não conquistar sua vingança, assim como Ahmed.

Ahmed olha para a mãe e não diz nada. Em seguida, deposita um


beijo leve na minha testa.

— Tenho que ir, Habibi. Voltarei assim que terminar as minhas


tarefas. Minha mãe e Jade te farão companhia.

Assim como o seu pai, ele não espera a minha resposta e


simplesmente sai, me deixando ansiosa e com um estranho
sentimento de abandono. Eu sei que ele tem que ir, por mim e nossa
filha, mas eu não queria. Estou muito sensível e abatida, sua
presença irá me fazer falta. Me sinto mais segura quando estou do
seu lado.

— Ele voltará rápido. Ahmed e Tariq são muito objetivos no que


fazem.

— Objetivos? — repito.

Ela não responde, e eu aceno.

— Entendo — falo.

Ahmed Hamir
Assim que saímos do hospital, meu pai apontou para o seu carro.

— Vamos, temos que resolver isso agora. Precisamos encontrar as


suas empregadas e torturá-las ao ponto de desejarem estarem
mortas. Em seguida, finalmente mandaremos Jamal de volta ao
inferno, onde ficará por lá pela eternidade — diz meu pai, irado.

Há algo diferente no meu pai. Ele está animado, de uma forma


bárbara, doentia. Ele tem um lado sádico, assim como eu. Há muito
tempo que ele não sabe o que é matar alguém, ou melhor, matar um
monstro, sheik Tariq está animado com essa possibilidade. Eu
também estou, nunca matei ninguém na minha vida, mas não posso
esperar para mudar isso. Pessoas como Jamal e sua filha não
merecem viver, todos aqueles que atacam os mais fracos, mulheres
e crianças, devem morrer. Lugar de covardes é no inferno, e os
Hamir sempre gostaram de enviar alguns para lá, estamos fazendo o
bem para o mundo ao eliminar seres tão desprezíveis.

Se Jamal tivesse tentado me matar, eu não teria ficado tão


possesso como estou. Eu sou homem, homens sabem se defender,
principalmente um Hamir. Eu simplesmente o chamaria para uma luta
física, sem armas, e então iríamos resolver nossas desavenças.
Quem morresse perderia. Simples assim. É assim que um homem de
verdade resolve seu problema com o rival. Mas Jamal não é homem,
é uma putinha covarde que tem medo de me encarar, então decidiu
me atingir pelo meu ponto fraco: minha esposa grávida. Ele é um
suicida, isso é fato. Ele sabe muito bem o que aconteceu com o meu
tio e sua família, mas ainda sim resolveu seguir pelo mesmo
caminho. Os covardes não sabem pensar, confiam demais na sorte.
Uma pena, porque estou prestes a lhe mostrar que os covardes não
têm vez.
Já no carro, meu pai liga para Vladimir, um dos nossos espiões
russos. Ele é uma espécie de faz tudo: hacker, detetive, agente
russo e... uma espécie de ceifador, talvez. O pensamento me traz
um sorriso no rosto.

— Vladimir... Sim, é bom falar com você também. Está no seu...


serviço hoje? Ótimo. Preciso dos seus serviços... Não, não se trata
de empresários não pagantes desta vez, se trata de algo mais...
divertido.

Meu pai ri.

— Sim, é desse "divertido" que estou falando. Primeiramente, será


algo bem simples. Só preciso que ache duas vadias para mim... São
empregadas de Ahmed. Vou te mandar as informações pessoais
delas, e em seguida quero que as pegue o quanto antes...

Meu pai ri novamente.

— Vou passar para Ahmed, ele irá dar as coordenadas para você,
Vladimir.

Meu pai me passa o celular, e eu escuto a voz grossa e cheia de


sotaque russo de Vladimir:

— Quer que matemos as vadias de imediato, sheik? Eu posso filmar


e mandar para o senhor.

— Não, Vladimir, assim não seria tão divertido. Além disso, irei
precisar delas vivas como prova. Quero apenas que as torture até
elas pedirem a morte... Depois você as traz para mim.

Vladimir fala algo em russo que eu não entendo e em seguida diz:


— Será uma honra, sheik. Voltarei em breve com notícias.

— Sim, realmente preciso que seja muito em breve...

Depois de mais algumas instruções, termino a chamada.

— Temos que marcar uma reunião pública no Al Maktoum, pai.

O sheik Tariq sorri de canto.

— É isso que vamos fazer agora. Hiran está nos esperando em sua
casa para planejarmos a punição pública. O nosso objetivo agora é
levar todo o povo do clã para a construção Al Maktoum para ver o
espetáculo.

— Tenho certeza que o dia entrará para a história — falo.

— Um dia, quando você conseguir seu herdeiro varão, ele passará


por algo assim também. Parece ser uma tradição familiar os sheiks
punirem covardes no Al Maktoum.

Aceno.

— Realmente, é bem provável que meu filho venha ter que lidar com
o mesmo que passamos.

O semblante do meu pai muda para mais suave.

— Torça para sua filha ser sua única menina. Você sabe o quanto
Jade me dá trabalho, até para vocês irmãos é complicado. Os pais
pegam amor pelas filhas, mas elas não veem a hora de se casarem
e viverem em outra família, como parte da família de seus maridos.
É complicado, principalmente quando deixam de ter o sobrenome do
pai, elas simplesmente não pertencem mais a nós.

Sinto algo ruim no meu peito e fico preocupado.

— Eu prefiro não pensar nisso agora, pai, senão ficarei louco.

Meu pai ri, dando seta no carro para virar à esquerda.

— Melhor mesmo. Qual é o nome da garota?

— Ainda não sei, Luisa ainda não decidiu.

Ele acena.

— Ela veio antes do tempo, Luisa ainda estava pensando, suponho.

— Acredito que sim.

— Você sabe que será complicado para o conselho saber que seu
primogênito é uma menina. Não é comum.

Suspiro.

— Sim, mas não é como se eu tivesse o controle sobre isso. Eles


terão que aceitar, ela é minha filha e deve ser tratada como tal.
Também terão que ter paciência até que o próximo filho venha.

— Eles irão te pressionar para a chegada do próximo.

— Acredite, eu sei, e já sinto a minha pressão subir com o


pensamento. Isso porque eu pressinto que irá demorar um certo
tempo até Luisa estar pronta novamente. Essa gravidez começou
com o pé esquerdo desde o começo.

— Você precisa de mais lábia, Ahmed. Com alguns agrados, você


consegue o que quer sem obrigá-la.

Sorrio.

— Ela é bastante desconfiada. Segundo ela, sou manipulador. Será


mais difícil do que pensa.

— Prove para ela que ser manipulador tem seu lado bom, tenho
certeza que ela irá mudar de ideia. Mulheres só focam no lado
negativo de um marido dominante. É preciso mostrá-las a parte boa.
Quando conhecem, não conseguem mais ficar sem.

Rio, me divertindo com a conversa.

— Sinto muito, pai, mas o senhor está desatualizado. Sou muito


melhor e mais evoluído que o senhor com mulheres. Sei muito bem
lidar com minha mulher.

Meu pai franze a testa.

— Se você diz... Então, vejo que não terá problema em conseguir um


garoto logo logo.

— Isso é golpe baixo.

— Não, só quero provas.

Ele gargalha.
— Será divertido acompanhar o processo.

Quando chegamos, os portões da mansão de Hiran se abrem


automaticamente para o carro do meu pai, e nós entramos, ansiosos
para resolvermos nossas pendências.

Vladimir

Hoje, o dia será divertido. Faz tempo que os Hamir não pedem por
um serviço tão completo assim. Geralmente, eles só pedem para
minha equipe dar um susto em algum empresário não pagante, mas
nada de matar ou torturar. Hoje, porém, terei direito de uma tortura
completa. Se essas vadias fossem um pouco mais novas e bonitas,
poderíamos nos divertir ainda mais, mas elas já estão velhas, e seus
corpos não servem nem para despertarem meu pau e dos meus
colegas. As vadias obesas estão vermelhas de tanto esforço que
estão fazendo para gritar através dos panos amarrados em suas
bocas. Elas estão suando como porcos enquanto Carlos e Wagner
arrancam suas unhas com alicate, uma por uma, bem devagar,
lentamente, para elas saborearem bastante o prazer. Seus gritos
abafados pelos panos são músicas para meus ouvidos, nada melhor
que gritos de vadias sofrendo.

Depois que ambos terminam com suas mãos, eles passam para
seus pés mal-cuidados e nojentos. Elas começam a se desesperar, e
as correntes fazem barulho conforme as duas se mexem no ar,
suspensas através das correntes que seguram seus troncos. Suas
mãos e pés também estão algemadas para facilitar o trabalho dos
rapazes. A mais gorda, Marta, grita ainda mais forte quando Carlos,
finalmente, arranca a unha do seu outro dedão. Ainda bem que seus
gritos são abafados, não quero ficar surdo por causa de duas vadias
mercenárias. Quando é a vez de Leila perder as unhas dos seus
dedos maiores, ela desmaia. Wagner ri e os arranca facilmente, com
a mulher ainda desacordada. Carlos me olha e fala:

— Chegou a parte mais divertida, chefe.

— Aproveitem, companheiros.

Wagner vai até o caldeirão com lava que há dentro no lugar. Ele
coloca suas luvas de proteção e pega uma haste de ferro com a
ponta laranja pela altíssima temperatura. Carlos, rindo, aponta para
a barriga de Marta, que está com os olhos tão arregalados, que não
ficaria surpreso se eles saíssem das órbitas. Ela grita e grita quando
percebe o que irá acontecer.

— Na barriga, Wagner. Ela tem muito espaço aqui para escrevermos


um pouco.

Wagner ri e acena.

— Certo. Agora vamos tatuar nessas vadias algo que realmente


combina com elas.

Fico parado, sentado na cadeira observando a banha da mulher


ficar extremamente vermelha com as letras que Wagner lhe marca.
Ela não sangra, pois o ferro é quente demais para permitir isso.
Quando Wagner termina, o cheiro de carne queimada polui o ar.
Marta desmaia, nua, sangrando pelas unhas e queimada na barriga.
Carlos parece animado com a sua vez e pega a haste da mão do
colega, fazendo uma manobra de malabarismo com a mão coberta
pela luva.

Me levanto quando Carlos termina e aproximo das mulheres


desacordadas. A palavra "bitch" está incandescente em suas peles,
e eu aplaudo.

— Ótimo, colegas. Agora só falta a cereja do bolo.

Carlos e Wagner acenam, pegam a máquina 0 e começam a


trabalhar nos cabelos negros e longos das vadias. Quando já não
resta mais cabelo, eles usam uma fina haste para escrever a palavra
"traitor" em letras garrafais. Bem, meus amigos são verdadeiros
artistas. Bato palmas, admirado com o trabalho.

— Bom. Bom. Os sheiks vão gostar. Agora só precisamos levar


esses trapos de volta para lá.

Hiran

Não fiquei nem um pouco surpreendido com a suspeita dos sheiks


de que Jamal e seus seguidores usaram as mulheres para atacarem
a criança e atingirem o herdeiro. Quando soube o que aconteceu, há
algumas horas, essa foi minha primeira suspeita. Lembro
perfeitamente da reação de Jamal quando o sheik anunciou a
gravidez da sua esposa. Seu semblante ultrapassava o ódio, estava
claro que ele não tinha se conformado com a ideia. Agora, eu só não
imaginava que ele teria coragem de tocar na mulher e no filho do
sheik. Ele sabe muito bem que ninguém toca na família do sheik.
Todos sabem as consequências de um ato assim. Será que as
mortes de Bezen Hamir, Sherazade e sua filha já não foram um
exemplo suficiente? Pelo visto, parece que não. Parece que
novamente a família Hamir terá que ensinar as regras do clã.
Sinceramente? Não sei como alguém pode ter tanta coragem para
fazer algo assim.

Sim, coragem. Coragem para morrer, porque é isso o que vai


acontecer, é o que sempre aconteceu e ainda acontece. Os sheiks
são bons com o povo, são ótimos líderes, protegem seu povo e lhes
dão bons empregos e qualidade de vida. Mas eles não têm a mínima
piedade com quem os afronta. Eles são até mesmo pacientes,
pacíficos. A família Hamir escuta ameaças de diversos tipos todos
os dias sem reagirem brutalmente. O problema começa quando as
ameaças são colocadas em prática, aí sim a guerra começa. Já vi
isso acontecer muitas vezes e posso dizer que sempre acaba da
mesma forma. E ela é a pior possível. O único que aproveita todo o
espetáculo é o povo do clã, eles se sentem honrados com a
demonstração de poder do seu sheik. Todo povo precisa sentir
segurança no seu líder, e momentos assim despertam o espírito de
pertencimento do povo e confiança na soberania do líder. São raras
as vezes que os sheiks punem alguém no Al Maktoum. Quando o clã
é avisado de que haverá algo lá, imediatamente sabem quem se
trata de algo muito importante. Agora, quando descobrem que o
motivo da reunião se trata da punição de algum traidor, aí que o
espetáculo fica ainda maior. Todos amam um espetáculo, isso é
fato.

Como conselheiro braço direito dos sheiks, ficou ao meu encargo


avisar as famílias de que elas serão requisitadas no Al Maktoum. A
curiosidade de todos era enorme, mas, devido ao protocolo, não
pude dizer o motivo. As pessoas só descobrem quando chega o
momento. Está marcado para daqui a dois dias, enquanto isso, os
sheiks estarão buscando informações com as empregadas, segundo
eles. "Buscar informações". Não me atrevi a perguntar o que
aconteceu com as mulheres. Os sheiks sempre fazem o que querem,
dentro da lei, é claro. Além disso, não é como se eu já não soubesse
o fim que ambas terão.

Através do vidro que substitui uma parede da minha sala principal,


observo Fujairah. Dou o último gole na minha taça de vinho e suspiro,
cansado. A idade já chegou para mim, não sou mais jovem e em
breve terei que me aposentar do meu cargo no conselho. Isso me
preocupa, sempre apoiei os sheiks Hamir, fiz isso por três gerações.
Não poderei fazer isso quando Ahmed finalmente herdar o pai, daqui
a cinco anos. Ele é um bom homem, merece boas pessoas ao seu
lado. Estou pensando em colocar Omar em meu lugar, ele ainda é
jovem, tem bom ânimo e é muito fiel ao clã e seus líderes, seria uma
boa opção como conselheiro do clã, e talvez ele ainda consiga apoiar
o filho de Ahmed quando for a vez dele. Filho. Isso é outra coisa que
me preocupa, também. Seu primeiro filho é uma menina, isso trará
comentários, com certeza.

Primogênitos do sexo feminino não são bem-vindos nas famílias dos


sheiks. Ele terá que arranjar um varão antes de apossar do cargo do
pai, ou então poderá sofrer novos ataques. Não é simplesmente por
questões "machistas". Ter uma primogênita é perigoso. Quando ele
apossar do cargo, será só ele, Ahmed não terá um herdeiro caso ele
morra. É claro que muitos inimigos irão se aproveitar disso. Será
muito mais fácil tomar o poder. Enquanto Tariq ainda é o líder, fica
mais difícil. Se o sheik morrer, terá Ahmed. Se Ahmed morrer, Tariq
poderá colocar Khaled. Será complicado, é claro, muitos não irão
querer Khaled, por ser o segundo, como líder, mas com esforço ele
conseguiria. Agora, depois que Ahmed for o líder, essas opções irão
por água abaixo. O único sucessor deverá ser seu filho. Sem um
varão, a soberania Hamir estará em risco. É bom que ele resolva
isso logo, ele só tem mais cinco anos, e o tempo corre.

O problema maior é a sua esposa, a estrangeira ainda não sabe o


risco que seu próprio marido poderá estar sujeito depois de substituir
o pai, caso não tenha varões logo. Ela é ocidental, não imagina o
quão diferente funcionam as coisas por aqui. Ahmed terá um longo
trabalho pela frente para conseguir fazê-la entender a real situação.
Seu mundo é muito diferente do clã, ela está presa no que é
politicamente correto, segundo os padrões ocidentais. Machismo. É
só nisso que ela pensa. Mal imagina que os problemas vão muito
além disso. Sheik Ahmed sabia das consequências de escolher uma
esposa estrangeira, agora está sentindo na pele todas elas. Mas
Ahmed é um homem perspicaz, ele tem consciência de tudo que
pode acontecer, sei que dará um jeito de resolver tudo. Contudo,
como aliado da família há décadas, não consigo me manter
impassível a tudo que está acontecendo. A família poderá entrar em
crise caso o herdeiro não aja rápido. Matar Jamal e punir os aliados
dele certamente lhe dará um alívio, mas não resolverá tudo. Os
inimigos sempre estarão à espreita, esperando uma falha do líder...

Ester Hamir
Eu e Jade estamos encantadas com a pequenina bebê de Ahmed.
Ela é extremamente pequena, e isso me traz certo pesar. É triste ver
um ser tão frágil ligado a tantos aparelhos invasivos. Mas, mesmo
numa situação tão deprimente, é impossível não se encantar com a
bebê, ela é uma graça. Ela já tem um pouco de cabelo, claro como o
da mãe, talvez até mais, por ser de um bebê. Tem um rostinho
angelical, pacífico. Não parece em nada Ahmed quando era bebê.
Seu semblante sempre foi de um bebê insatisfeito, irritado e
exigente. Era um bebê autoritário, e eu achava aquilo superestranho.
Um bebê com características tão marcantes e peculiares não é algo
tão comum. Mas Tariq apenas ria quando eu dizia que Ahmed tinha
um temperamento forte. "Ele é meu filho, como podia ser diferente?".
Depois fui parar para pensar e, realmente, Ahmed era a cópia do
pai. Já os nossos outros três filhos foram a junção de nós dois.
Exceto por ser um pouco mais tolerante e menos antiquado, por
minha causa, Ahmed puxou completamente o pai. Ele é até mesmo
mais perspicaz do que o pai.

Não sei se sua menina seguirá sendo calma assim. Jade sempre foi
mais tranquila que os irmãos, ela começou a se revoltar agora, que
já tem 27 anos e seu pai e irmãos não a deixam decidir o que fazer
com sua própria vida. Olho para ela, que está atenta olhando para a
sobrinha atrás do vidro. Sorrio, achando graça e ao mesmo tempo
com pena da minha princesa árabe. Eu sabia que isso iria acontecer,
Ahmed já se mostrava terrivelmente possessivo e controlador quando
descobriu que teria uma menina. Para piorar, ela teve a "sorte" de ter
três irmãos mais velhos. Mas eu sinceramente não achei que eles
seriam tão radicais a ponto de deixá-la presa por tanto tempo. Mas
sei que não irei precisar intervir, conheço Jade e sei que ela está
planejando há muito tempo mudar de vida. Sinto que tem um homem
envolvido nisso, mas não quis pesquisar para comprovar. Ela merece
privacidade, pelo menos da minha parte, já que não tem por parte
dos outros. Só espero que ela não se envolva com um estrangeiro,
seria um desastre, seu pai nunca permitiria. Uma coisa é os filhos
escolherem estrangeiras, outra coisa é Jade fazer isso. Os filhos
sempre farão parte da família de origem, já as filhas serão parte da
dos maridos. Tariq e os filhos nunca aceitarão que Jade entre para
uma família estrangeira, que a leve para longe. Suspiro. Espero que
ela seja sensata na sua escolha, ou então haverá uma guerra nessa
família.
Capítulo 39

Ahmed Hamir

Em menos de dois dias, Vladimir já tinha feito seu trabalho com as


empregadas e ainda as enviado de volta para cá. Ele me disse que
elas estavam na Turquia, num hotel de luxo, e que foi muito fácil
encontrá-las, já que elas foram tão tolas a ponto de usarem seus
cartões de crédito, assim, ele facilmente as rastreou. Ele me enviou
fotos e vídeos das vagabundas em seus momentos de tortura, e
fiquei muito satisfeito com o que vi. Neste momento, elas estão
guardadas em uma espécie de "presídio" da família Hamir,
geralmente usado para quando queremos intimidar, ou até mesmo
matar quando necessário, alguém que esteja saindo da linha.
Amanhã o dia será de festa. Ambas serão punidas devidamente no
Al Maktoum, assim como Jamal. Ele só não sabe ainda. Tudo
acontecerá de surpresa para ele. É óbvio que ele está tentando fugir
neste momento, já que a notícia de que amanhã terá um espetáculo
se espalhou, como pedi para que Hiran fizesse.

Jamal com certeza sabe que as mulheres estão comigo e que eu


agora tenho provas suficientes para justificar a morte de um
importante membro do conselho do clã. Ele planeja fugir, juntar com
seus aliados, e só voltar quando tiver forças suficientes que me
impeçam de matá-lo. Mas isso é só um sonho dele, é claro, um
sonho de covarde. Várias equipes de agentes estão o vigiando
desde que tudo começou. Ele está em Dubai agora, com sua própria
equipe de segurança, mas em breve ele estará de volta a Fujairah,
no Al Maktoum, para divertir as pessoas com sua miserável morte. O
clã ama uma demonstração de poder, e é isso que vai ter. Não irei
precisar fazer nada, a própria equipe de segurança de Jamal não
pode protegê-lo, sua equipe de segurança trabalha para mim, que
sou o líder do clã. Todos do conselho possuem seguranças, mas
estes não podem protegê-los do sheik, caso os conselheiros tenham
feito algo que infrinja as leis. Além disso, mesmo se sua equipe fosse
particular, ela não teria chances de defendê-lo da imensa equipe que
está ao meu dispor.

Sua filha inútil já foi pega e está guardada juntamente com as


outras traidoras. Jamile terá o que merece, sua punição não será tão
terrível quanto a do seu pai, já que ele é um membro do conselho,
porém será inesquecível do seu próprio modo. Meu pai e eu estamos
lidando com as últimas burocracias antes do "finalmente". Hoje
tivemos uma reunião de urgência com os outros membros do
conselho e mostramos as provas de que Jamal tinha sido o
responsável pela tentativa de assassinato da minha filha. As duas
vadias foram usadas como testemunhas e foram obrigadas a
confessar perante o conselho o que fizeram e quem estava por trás.
Jamile também confessou que ela e o pai tinham planejado o aborto.
Chorando de forma convulsiva, como uma víbora arrependida, ela
disse que o pai só queria se vingar da "ingratidão" do sheik, mas que
a ideia era se vingar de uma maneira mais "branda". Se eu não
tivesse na frente de todos naquele momento, eu com certeza teria
esmagado a sua cara asquerosa com murros.

A vadia ajudou seu pai num plano asqueroso, como se a vida da


minha filha fosse descartável, apenas um meio de se vingarem de
mim por não ter sido um idiota para me casar com a asquerosa
Jamile a fim de Jamal finalmente conseguir mais poder sobre o clã e
destruir a minha família. Isso é um absurdo tão grande que me faz rir
de ódio. Nunca, em toda a minha existência, me casaria com Jamile.
Não vejo a bendita hora que irei tirar Jamal desta terra e o mandar
para o inferno. Meu pai, que tem estado do meu lado o tempo todo,
parece estar ansioso também. Quando finalmente resolvemos tudo
com o conselho e deixamos tudo preparado para o dia de amanhã,
levamos Jamile de volta para o presídio, mas não antes de darmos
ordens claras para nossos camaradas para que ela tivesse o que
merece, assim como as empregadas traidoras. Um dos meus
funcionários riu de forma sádica quando soube que ela estava livre
para diversão, e eu sorri com a alegria dele e dos outros.

Jamile tem um corpo bonito, quase como o de uma modelo. Só o


seu rosto e sua alma que demonstram o quão demoníaca ela é. Mas
isso é fácil de resolver, segundo os camaradas. Só será preciso
tampar a sua cara, e o resto será somente diversão. "Ela irá se
divertir, sheik. Amanhã, estará tão satisfeita que não conseguirá nem
andar". Foi o que um deles disse. Meu pai parecia se divertir com
aquilo tudo. Às vezes, tenho a impressão de que ele é mais sádico
do que eu, ele ama toda essa merda. Mas não posso culpá-lo, nada
melhor do que fazer sofrer aqueles que tocaram em nossa família.
Quando Jamile escutou os planos dos homens, ela começou a gritar
escandalosamente. Chorando e gritando, ela não parava de gritar o
meu nome. "Ahmed, você não pode deixar que eles façam isso
comigo, você não tem esse direito, isso é desumano. Ahmed!".
Quase ri da ironia das suas palavras. Desumano, que piada!
Contudo, apesar de achar que ela merece algo parecido, deixei um
sinal para os homens de que não permitiria o abuso. Jamile logo
parou de gritar, aliviada. Entretanto, o pior a espera mais tarde.
Depois de um irônico "tenha uma boa noite", em árabe, fui embora,
acompanhado do meu pai. Os seus protestos para que eu a tirasse
de lá voltaram, ainda mais altos, e só parei de escutá-los quando saí
do subsolo. Quando estávamos a caminho de volta para o hospital,
meu pai disse, dentro do carro:

— Passe a noite com sua esposa, Ahmed, ela vai precisar do seu
apoio. Ela não entende do nosso mundo, sei que deve estar
alarmada.

Aceno, olhando para a estrada enquanto dirijo. Quando olho para o


retrovisor, vejo os carros da nossa equipe de segurança.

— Sim, ela realmente está. Luisa ainda é muito inocente para


imaginar o mundo em que agora vive.
— Eu acho até bom ela estar internada, assim você não será
obrigado a levá-la ao Al Maktoum amanhã. Ela ficaria traumatizada
com a cerimônia.

— Eu também penso o mesmo. Agradeço a Alá por ter justificativa


para não levá-la e nem a minha filha.

— Sua mãe demorou bastante para esquecer o que aconteceu lá,


quando você era um bebê. E olha que Ester é com certeza muito
mais forte que Luisa para essas coisas. Ester já conhecia um pouco
da nossa cultura e até mesmo aceitava. Fico pensando na dificuldade
que Luisa terá para assimilar uma cerimônia como essa.

— Em relação a isso, não existe argumentos. Minha mãe sempre foi


mais preparada que Luisa. Duvido que ela se acostume
completamente com a vida do clã, mas tenho certeza que irá
aprender a conviver, não por ela, mas por mim e pela nossa família.

— Também penso que assim será. Ela te ama muito, apesar de ter
dificuldade em mostrar. Luisa é mais americana que brasileira, seu
jeito é consideravelmente mais reservado e frio que o da sua mãe na
idade dela.

Aceno, pensativo.

— Isso é verdade. A dificuldade de Luisa de se expressar às vezes


me irrita, e tenho que me lembrar várias vezes de que viemos de
mundos diferentes. Apesar de ter morado muito mais tempo no
Brasil, ela definitivamente puxou o seu pai.

— Falando nos pais dela, eles sabem que Luisa deu à luz?

Balanço a cabeça negativamente.


— Não. Não é bom que eles saibam por agora, foi o que expliquei
para Luisa ontem. As circunstâncias em que Luisa deu à luz foram
totalmente diferentes que de qualquer mulher. Estou prestes a matar
o homem que fez isso com a minha mulher, e meus sogros ficariam
chocados com tudo isso. Prefiro mantê-los sossegados até tudo se
acalmar. Quando minha filha sair do hospital, eu irei avisar sobre o
nascimento dela, e eles poderão vir passar uma temporada conosco.

— Você está certo, é melhor mantê-los ignorantes quanto à


realidade da filha. Eles não saberão lidar com tanta informação.

— Exatamente — falo.

Quando chegamos no hospital, meu pai me surpreende ao dizer que


irá fazer uma visita à minha filha na UTI neonatal. Apenas concordei e
fui diretamente ao quarto de Luisa. Lá, encontrei uma equipe médica
a examinado. Quando me viram, um dos médicos, um senhor mais
velho, ficou contente com a minha presença e me chamou para ter
uma conversa fora do quarto. Imediatamente, fiquei apreensivo, em
dúvida se algo tinha acontecido com minha mulher. Não é como se
médicos fossem bons de conversa.

— Luisa está bem? — questiono assim que saímos do quarto.

— Logo ficará. As notícias são boas, sheik. Apesar do trauma, Luisa


não teve grandes complicações, quem levou o pior foi a sua filha,
mas ela terá os melhores tratamentos e também ficará
completamente bem.

— Então ela poderá ir para casa em breve?

— Mais ou menos. Uma semana é o que estamos estipulando, por


precaução.
Sorrio, surpreendido.

— Isso é ótimo. Obrigado, doutor, o senhor e sua equipe estão


sendo ótimos com minha família.

— É o mínimo que poderíamos fazer, sheik.

— Ela está bem? Está podendo me receber?

O médico acena.

— Claro, a equipe só estava fazendo a evolução da senhora Hamir,


você está livre para entrar.

Assim que ele se afasta, entro novamente no quarto. Não demora


muito para que a equipe saia também. Luisa me olha assustada.

— Eles não me deixam em paz, é sempre mais exame, drogas e


monitorização — fala, a voz quase falhando.

No mesmo instante, vou para o mais perto possível dela, com o


coração apertado por ter de ver uma mulher tão inocente sofrer
tanto. Ela não devia estar passando por isso, Luisa é doce e gentil,
nunca fez mal a ninguém, é totalmente injusto ela estar assim agora:
hospitalizada depois de uma cirurgia e levando várias agulhadas por
dia. Para piorar, sua bebê está na UTI, numa incubadora, longe dela.
É triste toda a situação, quase desumana. Isso só me deixa ainda
mais ansioso pelo dia de amanhã, quando finalmente poderei vingar a
dor da minha esposa e da minha filha, e até mesmo a minha própria.
A sede por justiça é a única coisa que me alivia neste momento.

Seguro o rosto de Luisa com as minhas duas mãos. Seu rosto é


delicado demais perto delas. Enquanto minhas mãos são grandes,
ásperas e morenas, seu rosto é delicado e claro. Há algumas sardas
nas suas bochechas e nariz, sardas pequenas e charmosas. Seus
olhos são tão bonitos, de um azul límpido e brilhante. Mas eles estão
tristes agora e não contêm a mesma chama ardente de sempre. Há
olheiras debaixo deles, uma prova do seu cansaço e sofrimento.
Corta-me ao meio essa imagem, e eu sorrio para ela,
carinhosamente.

— Tudo isso vai acabar, meu amor, em breve. Logo não terá que se
preocupar com agulhas, médicos e enfermeiros te perturbando.

— Quando eu vou embora?

— Bem, o médico me disse que, provavelmente, daqui a uma


semana.

Ela parece entusiasmada com a notícia por um tempo, mas logo


seu rosto fica sombrio novamente

— Mas não irá adiantar muita coisa. Minha filha ainda estará aqui, e
eu não poderei levá-la comigo.

Não demora muito para que as lágrimas apareçam novamente, me


deixando angustiado.

— Ela irá para casa em breve, Luisa, você só precisa ter paciência.

— Sim, depois de dois meses, por aí, foi o que o pessoal do hospital
me disse.

Suspiro, pois havia rancor na sua voz.

— Dois meses passam rápido, o importante é que ela fique forte o


suficiente para ir embora.
— Não foi assim que imaginei passar os primeiros meses com meu
bebê: eu numa UTI, vendo-o através de um vidro.

— Eu sei, querida. Mas isso acontece com muitas mães. Sei que no
seu caso foi de forma forçada, mas... tente imaginar que aconteceu
porque tinha que ser assim.

Ela não me responde. Seus olhos ficam distantes por algum tempo
até que ela me encara novamente.

— Eu sei que você vai matar Jamal amanhã.

Olho-a, surpreso.

— Sabe?

Ela acena, desanimada.

— Ester e Jade estavam muito tensas hoje, como se escondessem


algo. Eu sei o que aconteceu com seu tio, então não foi difícil juntar
os pontos. Além disso, Ester já tinha dito que vocês iriam se vingar.

Preocupado com seu psicológico, beijo a sua testa demoradamente


e me afasto.

— Não se preocupe com essas coisas, Luisa. Pense apenas em


ficar boa para podermos ir para casa e visitarmos a bebê.

— Eu não consigo não pensar. Jamile, Jamal... Eles são tão ruins...
Mas também não gosto de pensar em morte.
— Pare com isso, Luisa. Seus pensamentos vão te deixar doente.
Esses assuntos não são problema seu, e sim meu.

Olho para o meu relógio de pulso e falo, tenso:

— Já está tarde, você precisa dormir.

— Não estou com sono.

— Então vou pedir algum medicamento para te ajudar com isso.

Ela arregala os olhos.

— Eu não quero.

— Não tem que querer, você está agitada e traumatizada e precisa


dormir. Vou pedir algo para você imediatamente.

— Você não ousaria!

Sorrio, angustiado.

— Pelo seu bem estar, esposa, eu ouso muito mais do que a sua
cabecinha seria capaz de imaginar.

Ela fica quieta, seus olhos vidrados nos meus.

— Não precisa me obrigar, Ahmed. Eu mesmo vou tomar. Agora, se


você fosse mais educado, pediria ao invés de exigir.

Havia mágoa na sua voz, e no mesmo instante me senti um


completo canalha.
∆∆∆
Passei a madrugada ao lado de Luisa, que dormia sob o efeito de
calmante. Apesar dos seus protestos, achei que a droga fosse
necessária, estava claro que ela não iria dormir tão cedo, e na
situação dela o sono é muito importante. Passo a mão no rosto,
ainda me adaptando com a semiescuridão do quarto. Ainda estou
cansado, mas hoje não posso dormir como de costume. Olhando
para meu relógio de pulso, vejo que são pouco mais de cinco da
manhã. O encontro no Al Maktoum está marcado para às oito, então
não tenho muito tempo para me organizar. Quando me levanto da
poltrona que há ao lado da cama de Luisa, sinto as minhas costas
doerem de protesto pela noite que dormi em mau posição. Ainda
estou com as roupas que cheguei aqui, e elas estão amarrotadas e
em péssima condição. Vou precisar passar em casa para tomar um
banho e vestir uma roupa tradicional. Olho o monitor que está
monitorando Luisa e fico contente ao ver que ela está bem. Pego
minha carteira e minhas chaves em cima do criado-mudo e me
aproximo de Luisa, que respira uniformemente.

— Amo você, esposa. Se comporte, logo estarei aqui — sussurro


em seu ouvido.

Dou uma última olhada no seu rosto sereno e beijo sua testa em
despedida. Quando passo pela recepção, me deparo com meu pai
me esperando.

— Pai, você estava me esperando? — pergunto, surpreso.

— Sim. Mas não se preocupe, cheguei há pouco tempo.

— O senhor podia ter ligado para avisar, assim não teria que
esperar.
— Achei melhor você acordar sozinho, sabia que não iria acordar
tarde.

Aceno, querendo encerrar o assunto.

— Tenho que ir para casa tomar um banho e me trocar.

— Faça isso no castelo Jasmim, você tem roupas lá. Assim iremos
agilizar muita coisa.

— Você está certo.

Olho em volta, procurando por alguém da minha equipe de


segurança. Não foi difícil encontrar. Assim que o homem percebe que
estou o olhando, ele se aproxima rapidamente.

— Senhor?

— Leve o meu carro para minha casa. Não vou usá-lo hoje. Estarei
indo para o castelo Jasmim com o meu pai.

Ele pega as chaves que o ofereço e, com um aceno, se afasta.

Faço tudo rapidamente. Apesar do meu corpo precisar de um


banho de imersão, opto pelo de aspersão. Escolho uma veste
tradicional árabe que até mesmo tinha me esquecido que tinha. A
túnica tem detalhes em prata nas extremidades. Acredito que irá
combinar com a ocasião. Antes de sair do quarto, pego rapidamente
o alcorão, leio um versículo e faço uma breve oração pedindo o
direcionamento de Alá. Não sou tão religioso quanto deveria ser,
porém sei reconhecer quando uma oração é indispensável, como
agora. Somente Alá pode me dar permissão para tirar a vida de
alguém, mesmo um traidor. No entanto, Alá também é justiça, e vou
fazer isso hoje. Quando saio do quarto e vou para a sala principal do
castelo, encontro toda a minha família no sofá, me esperando. Todos
estão vestidos tradicionalmente, inclusive minha mãe e Jade. Exceto
pelo meu pai, estão todos tensos. Meu pai se levanta e diz, decido:

— Vamos, quanto antes acabarmos com isso, mais rápido teremos


paz.

Não digo nada, e os outros se levantam. Minha mãe ajeita mais


uma vez o lenço de sua cabeça e dá um suspiro temeroso. Jade dá
um tapinha de consolo nas costas da mãe. Quem mais está sofrendo
com isso é Ester. Não é fácil para ela ter que passar por isso
novamente, mesmo que da última vez ela não tenha presenciado, já
que estava no hospital, em coma. A sua história é realmente muito
parecida com a de Luisa. Esse fato me enfurece.

∆∆∆

Fui avisado de que Jamal tentou todos os meios de lutar contra


minha equipe através da sua própria. Assim como ele, seus
seguranças, apesar de fazerem parte do clã, estavam corrompidos.
Mas mesmo seus esforços foram em vão, e Jamal foi trago ao Al
Maktoum a tempo. Neste momento, a visão que eu tenho dentro do
carro é uma bagunça. Grande parte do clã está presente na frente
da construção, desde os ricos até os mais pobres. Crianças acenam
freneticamente para a minha família, enquanto suas famílias
observam tudo com excitação evidente. Escuto Jade fazer uma
pequena prece antes de sair do carro. Minha mãe a segue, e eu e
meu pai saímos em seguida, assim como os gêmeos. Meu pai se
posiciona ao meu lado, e juntos somos recebidos pelos membros do
conselho, os quais nos avisam da situação do local. Hiran nos
cumprimenta com seu jeito costumeiro e aproveita para dizer, num
tom baixo, apenas para mim:

— Quer um conselho, Ahmed? Seja rápido, não enrole. Quanto antes


isso acabar, melhor. Não vale a pena perder tempo com Jamal.
— Não se preocupe, Hiran. Minha intenção é sair daqui o quanto
antes.

Ele acena e se afasta. Já dentro do lugar, vejo minha mãe


observando tudo com pesar. É uma construção antiga, com
inscrições seculares espalhadas pelo chão e paredes. Trata-se de
algo parecido com o Coliseu, no que se refere à parte interna. Há
arquibancadas de pedra para as pessoas sentarem, e um grande
centro chamativo para se observar. Os membros do conselho
ocupam uma parte dele, uma área ostentosa com cadeiras tão
luxuosas e intimidadoras que lembram tronos. Observo os homens
tomarem seus lugares neles e as pessoas nos blocos de pedras. Até
todos estarem devidamente acomodados, trinta minutos se
passaram, e minha ansiedade de terminar com tudo aumentou. A
agitação das pessoas estava me irritando, e fiquei extremamente
contente quando os membros concordaram com o início da
cerimônia.

Da maneira mais tradicional possível, sem nenhum microfone,


apenas com a voz e com a colaboração do eco, expliquei para todos
os presentes, aproximadamente quarenta mil, o que estava para
acontecer ali. Fui o mais breve possível, falando apenas o
necessário e o que eles precisavam saber. Jamal tinha traído o
sheik, atentou contra a vida da minha esposa grávida, do meu filho e
por isso seria morto. Olho por olho, dente por dente. Todos sabem
como funcionam as coisas por aqui. Não deixei explícito o sexo do
bebê, não é como se eu quisesse piorar a situação da minha família
neste momento. Prefiro que eles descubram depois que tudo tenha
sido feito e que eu esteja a quilômetros do Al Maktoum. Eu amo
minha filha, independente do fato de ela ser menina. Mas sei que o
clã não terá o mesmo sentimento, por isso prefiro poupar o resto que
me sobrou de paciência.
A reação de todos me surpreendeu quando revelei que a causa de
tudo era Jamal, sua filha e outros coadjuvantes. Aparentemente, eles
já imaginavam que se tratava dele. Achei ótimo, assim não tive que
lidar com sentimento de espanto ou incredulidade. Todos pareciam
até que... conformados. Isso me fez pensar que a fama ruim de
Jamal era maior do que pensava. Quando trouxeram os traidores
para o centro, a gritaria voltou com tudo. Da maneira mais fria
possível, mostrei as empregadas usadas por Jamal, expliquei o que
fizeram e, em seguida, quase que desinteressado, com minha pistola
Glock atirei nas duas, na região frontal de seus crânios, a fim de
matá-las rapidamente. Não gosto de ver pessoas gemendo de dor,
mesmo vadias como essas. Os gritos de animação ficaram mais
altos, e eu aproveitei o momento para fixar a minha mira no crânio de
Jamal.

Não havia temor nos seus olhos, apenas ódio. Ele não implorou,
não chorou... nada. E eu fiquei muito agradecido por isso, seria
deprimente ter que escutar um covarde implorar. Sua filha gritou
tanto quando seu pai caiu sem vida no chão, que, por um momento,
todos ficaram em silêncio. O clima só voltou ao normal quando
chegou a vez dela própria. Para minha sorte, uma outra pessoa fez
isso por mim. Ela foi chicoteada inúmeras vezes em público, a ponto
da pele de suas costas virar uma bagunça vermelha. Ela com certeza
ficaria com muitas cicatrizes para se lembrar de nunca mais
atormentar a família do sheik. Sua punição não deveria ser tão
severa quanto a do pai, ele era um membro do conselho, sua traição
é imperdoável. Jamile seria banida dos Emirados Árabes Unidos
para sempre depois disso. Ela poderia até entrar novamente no
território, mas não viveria muito depois disso. Mas ela não é suicida,
Jamile jamais voltará.

Os meus sentimentos não se alteraram em nenhum momento, para


a minha surpresa. Na verdade, não senti muita coisa, apenas
desprezo, desinteresse e excitação para acabar de vez com todo
aquele inferno que me impedia de ter paz e aproveitar a mulher que
demorei tanto para conseguir. Quando finalmente tudo acabou, fui
levado de volta à realidade com a cena da minha mãe chorando nos
braços do meu pai. Jade também estava assustada, mas evitava
deixar isso tão evidente. Ao me aproximar da minha família, minha
mãe me encarou com pesar.

— Eu sempre temi que você tivesse que fazer algo parecido com o
que o seu pai fez com o irmão dele e sua família. Foi devastador
presenciar meu filho tirando vidas.

Sua tristeza me deixou abalado, e eu, de repente, me senti


desolado.

— Esse era um destino que eu não podia ignorar, mãe, faz parte de
quem eu sou. Infelizmente, meu posto traz com ele situações como
essa. Eu sinto muito, não sei o que dizer.

Ela chora, amargurada.

— Eu sempre soube que você teria desafios difíceis, desde que


nasceu. Por muitos anos sofri antecipadamente quando te via
crescer e imaginava você agora, nesta idade.

Puxo a minha mãe para um abraço apertado, e ela soluça,


encostando no meu peito. Eu a abraço de modo protetor e sussurro
palavras de encorajamento para a mulher de cabelos negros. Jade
observa tudo com pesar, e os gêmeos parecem preocupados com a
mãe. Meu pai, por outro lado, parece contente com o final de tudo.
No entanto, sei que ele supre um pouco dos mesmos sentimentos da
minha mãe, mas ele é bom demais em esconder isso.

∆∆∆
Saímos de lá o mais rapidamente que conseguimos. Troquei
algumas palavras com o conselho, e só. O povo parecia curioso
sobre Luisa e o bebê, mas não fiz nenhum esforço para suprir sua
curiosidade. No fundo, sinto-me culpado por isso, sou o sheik, o líder
dessas pessoas, elas confiam em mim, me respeitam e querem
fazer parte da minha vida. Mas estou com a cabeça cheia demais
nos últimos tempos, é como se todos os problemas resolvessem
aparecer justamente no mesmo momento. Tudo que eu quero é
voltar à normalidade de matar um leão por dia. Essa de matar uma
alcateia já está me cansando. O que me deixa mais calmo é que pelo
menos Jamal não reside mais nesta terra para atormentar minha
família.

Creio que aos poucos tudo entrará nos eixos. Em breve voltarei a
ter paciência para lidar com o povo e explicar com mais detalhes o
que houve, além de apresentar a minha filha. Mas, neste momento,
só penso em voltar para o hospital e me redimir com a mulher da
minha vida. Tenho sido um idiota com ela. Os problemas me
cegaram, e ela sentiu as consequências. Preciso pedir desculpas,
abraçá-la, confortá-la e dizer que tudo ficará bem, que seremos
felizes, que nossa menina ficará bem. É disso que precisamos no
momento, de atenção um do outro, de conforto e paixão. É tudo
questão de contato humano, de reciprocidade.

Ao me aproximar do hospital, um calor me tranquiliza. As minhas


garotas estão bem, estão seguras. Tudo vai ficar bem. Obrigado Alá.
Capítulo 40

Luisa Jones

Quando acordei e me deparei completamente sozinha, fiquei


perturbada. É óbvio que eu sabia que Ahmed vingaria Jamal, mas
meu lado emotivo evitava de pensar em morte. Ele era um monstro,
contra isso não há argumentos, assim como sua filha. Que tipo de
seres humanos tentariam matar um bebê no ventre por vingança? É
totalmente desumano. O que eles fizeram foi macabro, algo que só
psicopatas têm coragem. Mas mesmo assim não acho que Jamal
precisava ser morto, talvez uma prisão perpétua... Contudo, está
claro que as coisas por aqui funcionam de uma maneira diferente. O
que está feito está feito, só quero tentar esquecer isso daqui para
frente e seguir em frente. Preciso me conformar que meu marido
veio de uma cultura totalmente diferente da minha, ele é um sheik,
ele não tem como evitar certas coisas.

A noite anterior me vem em mente, Ahmed estava muito alterado


ontem, de uma forma que nunca tinha visto antes. Ele parecia
preocupado, ansioso e também abatido. Toda vez que me olhava, eu
podia ver a culpa nos seus olhos verdes. Eu também não estava
bem, estava alterada e com medo. Ele não estava em condições de
lidar com mais sentimentos conturbados, então achou que eu deveria
dormir. O que ele fez foi muito errado, me drogar não é a melhor
opção, eu não sou uma boneca para ele fazer o que achar melhor.
Vou conversar com ele sobre isso, não quero que isso aconteça
novamente. Preciso estipular alguns limites em nosso
relacionamento. Ahmed é naturalmente dominante, autoritário.
Acostumado a mandar em tudo, ele pensa que pode continuar assim
num casamento. Ele tem uma enorme dificuldade de distinguir as
coisas, mas ele precisa entender que sou sua esposa, não sua
súdita, ele não tem direito de mandar e tomar decisões por mim. Se
ele quer algo, ele precisa conversar comigo primeiro e ver se eu
concordo.

Coisas simples como um diálogo ou pedir permissão parecem


coisas de outro mundo para Ahmed, afinal ele é o sheik Ahmed
Hamir, ninguém manda no sheik Ahmed. Esse pensamento me faz
revirar os olhos. Às vezes penso que estou vivendo em outro século,
essa história de sheik parece não pertencer a esta era. Mas agora
sei que existem partes do mundo que ainda conservam essas
tradições, então preciso aprender a lidar com isso. Quando Ahmed
não está sendo um ditador, ele é um bom marido, excelente amante
e ótimo pai. Ahmed seria o marido perfeito se fosse mais tolerante e
educado. Ahmed é um homem bom, possui valores e ama a família
acima de tudo. É uma pena que seus defeitos escondam suas
qualidades às vezes. Mas eu acho que ele pode melhorar, com muito
trabalho duro. Apesar de ser o maior cabeça-dura do mundo, ele
ainda é meu marido, e eu o amo.

Somos casados e agora temos uma família. Jamais faria o que


minha mãe fez. Ela achou que a melhor solução seria se separar do
meu pai quando percebeu que eles eram muito diferentes. Jamais
consideraria o divórcio como opção. Eu sofri com a separação dos
meus pais, é difícil ter que viver só com um deles, enquanto o outro
está em outro país. Não quero isso para mim, muito menos para a
minha filha. Ela merece uma família feliz, com pais felizes e que se
amam de verdade. Sei que Ahmed deseja isso tanto quanto eu, ele
sempre quis ter filhos, uma esposa... Não vou deixar que a forma
como ele foi criado atrapalhe nosso relacionamento. Não posso
permitir. Sei que irei precisar ser muito paciente e persistente para
lapidar esse diamante bruto, mas tenho certeza que no final valerá a
pena. Obviamente, não quero mudar quem ele é. Eu jamais iria
querer mudar a essência de Ahmed. Ele é árabe, um sheik, é isso
que ele é e sempre vai ser. O que eu quero é que haja mais respeito
entre nós, diálogo, confiança e companheirismo, afinal só sexo não
segura casamento. Mesmo que o marido em questão seja o mestre
dos prazeres carnais.

Sei que ele sempre será mandão, possessivo e essas coisas, e


sinceramente não me importo, eu até acho sexy o seu
temperamento. Mas ele precisa diminuir um pouco, às vezes ele me
sufoca e nem percebe. Ester me disse várias vezes que isso é de
família, que os homens Hamir são obsessivos com suas mulheres.
Isso me deixava temerosa, não é fácil mexer com temperamento que
vem de gerações. Mas decidi que preciso ter fé de que ele vai
melhorar seu gênio forte, nem que leve tempo e muito esforço da
minha parte. Vou fazer isso por nós dois, pela nossa bebê, pelo
nosso futuro como família. Ester conseguiu abaixar um pouco o
terrível temperamento do sheik Tariq, eu irei conseguir também,
aliás, terei mais êxito que ela ainda. Um dia ela irá ficar de boca
aberta com a mudança do primogênito. Suspiro longamente,
pensativa. Bem, o primeiro passo é acreditar firmemente.

Uma funcionária do hospital entra no meu quarto trazendo meu


almoço. Não gosto de comida de hospital, mas a daqui é tolerável.
Quando já tinha terminado, sou surpreendida com o aparecimento de
Ahmed. Ele está vestido tradicionalmente. São raras as vezes que o
vejo assim, vestido como um sheik árabe. Confesso que ele fica
extremamente sexy com essas túnicas e ghtrah na cabeça. É
estranho? Muito. Mas não deixa de ser sexy. Ahmed se aproxima em
passos lentos, me analisando.

— Dormiu bem, Habibi?

Arqueio minhas sobrancelhas, lembrando da noite anterior.

— Você me fez tomar remédio para dormir, temos que falar sobre
isso.
Ele suspira.

— Sim. Eu te devo desculpas, o que fiz foi errado.

— Sim, muito errado. Eu estava ansiosa? Estava. Mas não precisava


ter agido tão drasticamente.

— Eu sei, e me arrependo disso. Eu não estava em meu completo


juízo. Sinto muito, Habibi.

— Eu não vou aceitar algo assim novamente.

Ele me encara fixamente.

— Não se preocupe, aquilo não vai se repetir.

— Eu acho melhor mesmo.

Ele diz algumas coisas inaudíveis que não entendo e em seguida se


aproxima completamente de mim.

— Não vamos discutir. Não quero nenhum mal estar entre nós.

— Mas há coisas que precisamos conversar, Ahmed — falo.

— Eu sei. Mas não agora, não hoje, nem tão cedo. Estamos
passando por momentos difíceis, quero que estejamos bem para
superar tudo isso.

Encaro-o, pensativa. Ele parece um pouco aéreo, perturbado, e eu


por um momento me esqueço do que estávamos falando.

— Certo... Hum... Mas depois vamos precisar conversar.


Ele não responde, e então sou surpreendida quando ele segura
meu rosto e me beija. No começo ele é delicado e suave, mas logo
ele perde o controle e se torna dominante como sempre, exigindo o
controle sobre minha boca. Ficamos assim por minutos, até que
finalmente ele me soltou. Com a respiração irregular, coloco os meus
dedos nos meus lábios, sentindo-os quentes e inchados.

— Uau! O que houve com você? — pergunto, confusa.

— Eu senti a sua falta, de te tocar e sentir o seu gosto.

Coro com o seu olhar de luxúria.

— Eu também estou sentindo sua falta. Estamos passando por uma


fase horrível, não é?

Ele sorri.

— Estou decidido a passar para uma fase melhor, e você, Habibi?

Rio ao notar animação nos seus olhos.

— Soa bastante atrativo para mim.

Ele então segura meu queixo e fita os meus olhos com intensidade.

— Você é a mulher mais bonita que já pus os olhos, Luisa. Sou um


maldito sortudo por te ter.

Posso sentir meu rosto ficando corado. Ele se diverte.


— Como uma mulher tão sexy pode ser tão tímida? Eu sinceramente
não entendo.

— Hum, tem muitas pessoas bonitas que são tímidas, Ahmed.

— Você não deveria ficar tão envergonhada quando eu faço um


elogio para você, esposa. Comigo não há necessidade de pudor,
você é minha.

Reviro os olhos.

— Claro, sou sua — falo, ironicamente.

Ele franze a testa.

— Tem coragem de dizer o contrário, de que não é minha?

— Sou sua esposa, apenas isso.

Ele ri.

— Apenas isso? Oh, bebê, isso é apenas tudo.

Reviro os olhos novamente.

— Não vejo a hora de você voltar para casa. Lá estarei livre para te
mostrar o quão minha você é. Sinto que a senhora está precisando
ser lembrada, não acha?

Um arrepio passa pela minha espinha, e eu mordo meu lábio


inferior, ficando excitada.
— Para com isso, Ahmed, estamos num hospital! — repreendo,
ansiosa.

— Eu sei muito bem que estamos num maldito hospital, senhora


Hamir. Caso contrário, caso você não estivesse em recuperação, eu
estaria profundamente dentro de você neste momento, a ponto de
você perder completamente a razão.

Ofego, envergonhada e ainda mais excitada. Meu coração está


batendo aceleradamente, e eu olho para a porta, como se esperasse
alguém entrar e me encontrar fazendo coisa errada.

— Ahmed, se comporte...

Ele toca no meu braço, em seguida no meu pulso. Seus dedos


fazem movimentos lentos e circulares ali, e eu sinto minha pele do
pescoço arrepiar. Suspiro longamente. Deus, este homem me
enlouquece...

— Ahmed, você está jogando sujo, sabe que não podemos fazer
nada aqui.

Ele sorri, larga meu pulso e beija a ponta do meu nariz.

— Você está certa. Minha esposa está se recuperando, e eu estou a


perturbando.

— Não, não é bem assim.

Ele sorri, e fico sem fôlego. Seu rosto fica tão incrivelmente perfeito
quando sorri.

— Eu sei, querida, não se preocupe.


— Quero ir embora daqui logo.

— Você vai. Em breve.

Olho para minha mão, a qual possui um acesso venoso.

— Queria que nossa filha pudesse ir com a gente.

Ele fica sério.

— Ela não irá poder por agora, mas nós sempre estaremos aqui
para vê-la.

Aceno, de repente triste.

— Mas eu não posso reclamar. Pelo menos ela sobreviveu, sou


muito sortuda.

O olhar de Ahmed fica sombrio.

— Sim, tive muita sorte de vocês duas estarem bem.

— Sabe, ela já nasceu lutando pela vida. Nossa filha é uma


verdadeira guerreira e nosso milagre. Estava pensando em um nome
para ela. É só uma ideia, se você não gostar, podemos escolher
outro.

Ele me fita surpreso.

— Você pensou num nome? Estava quase achando que teria que
fazer isso por você.

Sorrio.
— Pensei em Victoria. O que acha? É simples, bonito e tem muito
significado.

Ahmed segura minha mão, seu polegar alisando minha aliança de


casamento.

— Eu achei perfeito, Habibi.

Olho-o, surpresa.

— Mesmo? Não ficou com raiva por não ser um nome árabe?

Ele me encara, sério.

— É claro que não. O importante é que você gostou do nome, e


tenho certeza que Victoria também irá gostar. Se tivermos outras
filhas, você poderá colocar os nomes de sua preferência, Luisa.
Apenas dos nossos filhos que eu terei que escolher, e serão árabes.

Aceno com a cabeça, entendendo o que ele quer dizer.

— Eu entendo. Seus filhos serão seus herdeiros.

Ele sorri, leva minha mão para seus lábios quentes e a beija.

— Exatamente.

— Só não escolha nomes feios, ou eu vou fazer você trocar.

Ele ri.
— Uau, que esposa brava eu tenho! Bem, mas não se preocupe, eu
tenho bom gosto, vou escolher bons nomes.

Cerro os olhos.

— É bom mesmo.

Ele sorri e beija novamente a ponta do meu nariz.

— Então agora você terá uma aliada para se virar contra mim, não é
mesmo, senhora Hamir? Imagine só, uma filha e uma esposa para eu
domar.

Abro a boca, não acreditando no que ele falou.

— O quê?!

Ele ri com gosto, se divertindo da minha incredulidade.

— Estou brincando, Habibi. Calminha. Bem, talvez tenha apenas uma


pontinha de verdade aí, mas só um pouco.

— Nós que iremos te domar!

Ele franze a testa.

— É mesmo? Então vejo que teremos uma longa batalha pela frente.

— Acertou!

Ele parece muito confiante para meu gosto.


— Por mim, tudo bem, desde que a cada final de partida você esteja
implorando para ser devidamente tomada por mim.

Encaro-o de boca aberta, chocada. Como que ele conseguiu inserir


sexo num assunto totalmente diferente?!

— No seu sonho!

De repente, ele está segurando meu rosto com suas mãos


morenas.

— No meu sonho não, Habibi, na vida real.

E então ele me beija, dominante, possessivo e apaixonado. A forma


como ele me faz esquecer meu próprio nome com apenas um beijo
deveria ser estudada pela NASA, porque sinceramente parece coisa
de outro mundo. É simplesmente impossível resistir a Ahmed,
mesmo se você estiver com vontade de arrancar seus olhos naquele
momento. Eu odeio isso. Eu definitivamente amo.
Capítulo 41

Luisa Jones

Foram difíceis os momentos que passei no hospital com minha filha.


Foram os dois meses mais difíceis da minha vida. Eu não sabia o
que era dormir direito, acordava com o coração disparado e com
uma sensação ruim. Era horrível vê-la chorar na incubadora e não
poder pegá-la, acalmá-la e nem alimentá-la. A cada 100 gramas a
mais era uma alegria, e a cada 100 gramas a menos um desespero.
Durante as primeiras semanas, ela ganhou peso, parecia estar se
desenvolvendo bem, mas ela depois teve uma recaída e voltou a
perder peso. Não preciso nem dizer o quão desesperada ficava com
cada notícia ruim. Ahmed acompanhou todo o processo, esteve do
meu lado para me dar força e coragem. A primeira vez que a segurei
foi inesquecível, sentir seu calor pela primeira vez encheu meu
coração de emoção. Era tão bom sentir minha menininha, sentir seu
coração batendo junto ao meu.

Esses dois meses me ensinaram muitas coisas, entre elas ter


paciência, fé e coragem. Victoria trouxe com ela sentimentos que
nunca pensei que fossem tão fortes, tão magicamente perfeitos.
Victoria mudou completamente meu mundo, ela me tornou mãe. Ser
mãe é a melhor coisa do mundo, é libertador, emocionante. Eu a
amo tanto que às vezes fico me perguntando como isso é possível,
como posso amar tanto um serzinho que está no mundo há tão
pouco tempo. Sei que Ahmed compartilha da maioria dos meus
sentimentos, ele é um pai babão, passou esses dois meses sem
deixar de visitar a filha um dia sequer. Ele também se emocionou
quando a segurou pela primeira vez, ainda no hospital. Todos os dias
ele conversava com ela, dizia que tudo ia ficar bem. Eu chorava toda
vez que presenciava essas cenas, estava muito emotiva, e o carinho
de Ahmed pela filha era de tirar suspiros. Os dias, semanas e meses
passaram assim, nós dois acompanhando o crescimento e
amadurecimento de Victoria no hospital.

Perdi as contas de quantas vezes choramos, sorrimos e rimos. A


primeira vez que ela sorriu, primeira vez que tomou leite no copinho,
primeira vez que nos sentiu de perto... Foram experiências incríveis,
que nem mesmo o tempo pode apagar. Hoje, guardamos todos os
momentos no nosso coração. Victoria já está com seis meses,
supersaudável e gordinha. Meus pais estão passando uma
temporada conosco, a última vez que estiveram aqui foi quando
Victoria saiu do hospital. Eles ficaram surpresos quando descobriram
que ela tinha nascido há mais tempo, prematura. Explicamos que
estávamos vivenciado momentos complicados e não queríamos
preocupá-los. Eles ficaram decepcionados por não serem avisados,
mas depois entenderam. Meu pai é um vovô, ou melhor, grandpa,
babão. Ele ama fazer Victoria dormir no seu colo e se orgulha por ela
dormir tão facilmente nos braços do avô. Minha mãe é a típica avó
brasileira, ama empanturrar a neta de comida e mimá-la com
brinquedos e roupinhas. Ainda bem que ela tem consciência do que o
bebê pode e não pode comer.

Os avós paternos de Victoria também são verdadeiros bajuladores,


todo final de semana eles estão aqui para se divertirem com a bebê.
Confesso que estou surpresa com o sheik Tariq, não pensei que ele
fosse ser tão apegado em Victoria. Ele sempre me pareceu sério
demais para gostar de bebê. Mas ele se mostrou totalmente
diferente, é um avô muito presente, preocupado com a saúde e
desenvolvimento da neta, além de carinhoso. Ahmed me disse que
também se surpreendeu com o pai. "Ele sempre foi muito presente
na minha vida e na dos meus irmãos, mas não era muito carinhoso.
Ele se apegou um pouco mais em Jade, no entanto. Bem, talvez ele
goste de bajular mais as meninas", Ahmed disse esses dias. Será
que sheik Tariq prefere as meninas, ou será que é coisa de avô
mesmo? Ainda não sei exatamente. Vamos esperar para ver se ele
será do mesmo modo com nosso menino. Não estou grávida, nem
pretendo no momento, mas Ahmed e eu combinamos de tentarmos
daqui a um tempo. Enquanto isso, estamos aproveitando cada
momento do crescimento de Victoria, sonhamos com esses
momentos. Sobre Jade, ela é louca pela sobrinha e vive usando a
bebê como modelo para roupas caras e de marca de bebês.
Segundo ela, Victoria nasceu para ser modelo, é linda demais para
ser mantida fora dos holofotes. O problema é que Ahmed não gosta
da ideia de sua garotinha ficar se mostrando para os outros.

A beleza de Victoria é evidente. Mesmo bebê, seus cabelos loiros e


seus intensos olhos verdes chamam muita atenção. Ahmed com
certeza terá problemas com rapazes no futuro. Jade morre de rir
com a ideia do irmão pagar por tudo que fez com ela, já que ele e os
outros a mantiveram "cativa" no castelo pela sua vida inteira. Por
falar em cativa, ela aproveitou que todos da família estão ocupados
demais mimando a bebê para viajar pelo país sozinha. Sheik Tariq
permitiu que ela fosse desde que ela voltasse em duas semanas e
fosse com seus seguranças. E ela foi, alegre como nunca a tinha
visto antes. Tenho uma sensação estranha de que Jade vai aprontar
algo, mas é claro que não comentei sobre isso com ninguém, Deus
me livre de arrumar problemas para Jade, essa é a última coisa que
quero. Além disso, ela merece se divertir, e até mesmo aprontar um
pouco. Só ela sabe o quanto ela sofre na mãos possessivas dos
homens Hamir.

Dois anos depois...

Nunca pensei que eu seria tão feliz em um casamento. Nunca


imaginei que ter minha própria família fosse tão importante. E muito
menos pensei que eu seria tão feliz sendo mãe. Fico imaginando o
quanto as coisas mudam, no quanto nós próprios mudamos com o
tempo. Se alguém me dissesse há três anos e meio que eu seria
muito feliz casada com um sheik e mãe de dois filhos, eu jamais
acreditaria. Sheik?! Eu jamais me casaria com um árabe. É incrível
como podemos ser preconceituosos sem mesmo perceber. Hoje em
dia só se fala de preconceito por cor da pele ou opção sexual. Mas
ignoramos o fato de sermos, muitas vezes, preconceituosos contra
outras etnias, outras culturas e povos, isso simplesmente por eles
viverem uma vida diferente da nossa, por manterem tradições e
costumes que para nós é estranho.

Toda cultura tem seus problemas, seus defeitos, mas isso acontece
em todo lugar. Não podemos generalizar, dizer que tudo que vem da
cultura árabe, ou qualquer outra, é ruim, porque não é bem assim.
Aprendi a ver coisas boas na cultura do Oriente Médio. Existem
muitos problemas na região, muitas tradições ruins, mas essas são a
minoria. Durante os anos que vivi aqui, conheci pessoas incríveis,
com grandes corações. Conheci muitas famílias do clã de Ahmed e
me surpreendi ao descobrir que são pessoas normais, com vidas
normais, mas que decidiram guardar seus costumes. Não posso ser
hipócrita e dizer que concordo com tudo e que já me acostumei
totalmente, pois seria mentira. Ainda tenho dificuldade de assimilar
algumas coisas, vivo comparando a cultura do Oriente com a do
Ocidente e vivo me esforçando para acostumar com as diferenças.

Mas isso é normal, relacionamento com duas pessoas de lugares


diferentes sempre traz desafios. Com o tempo deixa de ser
assustador e passa a ser divertido, as diferenças só tornam tudo
menos monótono. Ahmed tem se esforçado para ser menos
autoritário, e eu para ser mais paciente e compreensiva. Nem
sempre conseguimos isso, o que leva em alguma discussão, mas
penso que já melhoramos bastante. Além disso, sempre acabamos
na cama depois de uma briga e damos um jeito de resolvermos
nossas diferenças nela mesmo. Nada que uma boa dose de paixão
não resolva, mesmo que o marido em questão seja um sheik
mandão.

Quando Victoria tinha dez meses, eu descobri que estava grávida


novamente. Não foi planejado, tínhamos combinado que iríamos
esperar a bebê fazer um ano para tentarmos outro. Mas acabou
acontecendo, e desta vez não foi culpa de Ahmed, foi minha mesmo.
Eu dei a ideia de fazermos sexo no carro, e Ahmed não tinha
preservativo na hora, e eu não estava tomando anticoncepcional, por
opção própria mesmo. Foi uma experiência maravilhosa, nunca tinha
feito sexo no carro antes, me senti tão perversa, tão má... Rio com o
pensamento. Mas dois meses depois descobri a consequência da
minha inconsequência. Ahmed que ficou feliz, fiquei grávida
novamente antes do previsto. Fiquei me sentindo um pouco culpada,
tive que interromper a amamentação de Victoria. Minha vontade era
amamentá-la até o primeiro ano de vida, mas grávida isso não seria
possível. Contudo, logo toda culpa sumiu e surgiu aquele conhecido
sentimento de amor de mãe, e passei a sonhar com meu pequeno
bebê.

Ao contrário da gestação de Victoria, Zayn ficou 40 semanas


inteiras na minha barriga, nasceu com quatro quilogramas e de parto
normal. Já que não tive um parto normal na gestação de Victoria, fiz
questão de ter na do meu segundo bebê. Ahmed escolheu bem o
nome, eu sinceramente fiquei apaixonada com o nome Zayn. Victoria
tinha um ano e cinco meses quando meu menino nasceu, o herdeiro
de Ahmed. Ele é a cópia do pai, acho que só puxou o meu nariz.
Ahmed é um papai orgulhoso e não aguentou esperar muito para
apresentar o mini sheik de apenas um mês para todo o clã, no Al
Maktoum. Muita gente queria pegá-lo, e eu ficava morrendo de medo
de alguém não saber segurá-lo. Mas correu tudo perfeitamente, para
meu alívio. Zayn é oficialmente o herdeiro do papai. Sheik Tariq é um
vovô atencioso em dose dupla. Ama os dois igualmente. Zayn, por
ser menino, acaba ficando mais na companhia do avô e do pai, mas
Victoria está sempre tentando chamar atenção.

Ela gosta de ser o centro das atenções. Não sei de quem ela puxou
isso. Talvez a família tenha a mimado demais. Zayn, ao contrário da
irmã, mesmo tendo só um ano, é mais quieto, reservado, apesar de
ter dificuldade para aceitar ordens. Independente da personalidade,
sou apaixonada pelos dois e não me vejo sem eles. Ahmed me disse
uma vez que eu nasci para ser mãe, acho que ele tem razão.
Inclusive, eu e Ahmed planejamos ter outro bebê, um menino, para
ser o segundo herdeiro do título, caso ocorra algum imprevisto.
Apesar da tradição pedir pelo menos dois meninos, tento ignorar
esse fato e pensar apenas em aumentar a família. Três filhos será
perfeito, será um sonho, mas com certeza irei parar exatamente aí,
no número três, para a decepção de Ahmed. Isso se o terceiro for
menino, é claro. Por ele, teríamos um time de futebol inteiro. Reviro
os olhos com o pensamento. O sheik terá que se contentar com
três.

Ahmed Hamir
Espero pacientemente até que Luisa consiga fazer Zayn dormir
para que nós possamos, finalmente, ter um momento só para nós
dois. Victoria eu consigo colocá-la para dormir, mas Zayn
definitivamente só aceita quando é a mãe. Só Luisa sabe o jeito
certo de niná-lo, ele é um bebê exigente e não gosta muito da minha
forma de fazê-lo dormir. Já Victoria não tem preferência, tanto papai
quanto mamãe está bom, segundo ela. Luisa está passando por uma
fase difícil, ela decidiu desmamar Zayn, já que ele já completou um
ano, porém o garoto ainda não se conformou com a ideia e toda
noite ele chora procurando o seio da mãe, o que só atrasa o horário
dele dormir e deixa Luisa exausta. Hoje, temos sorte de ele estar
mais calmo, então logo ele se renderá ao sono. Ele brincou muito
hoje, o cansaço o vencerá rapidamente.

Dito e feito, quinze minutos depois, Luisa entra no quarto com um


sorriso no rosto. Ela está mais bonita do que nunca. Luisa ganhou
mais corpo depois que virou mãe, apesar de que continua magra. Ela
passou de jovem para uma verdadeira mulher. Tudo nela parece
gritar sexo, Luisa está gostosa como a porra de uma deusa. Ela cora
toda vez que falo essas coisas para ela, e fico espantado por ela
ainda corar, mesmo depois de mais de quatro anos de casados.
Luisa é realmente surpreendente. Ela neste momento está
desarrumada, seu cabelo loiro e longo está preso em um coque
malfeito, e seu rosto está limpo e corado, seus olhos azuis se
destacando ainda mais. Ela usa uma camisola de seda azul, que
chega até o meio de suas coxas torneadas. Seus pés estão
descalços e têm as unhas pintadas de rosa. É uma imagem bonita, e
eu me seguro para não me levantar e atacá-la imediatamente. Ela
nota meu olhar sobre seu corpo e ri, como uma garota má que ela é.

— Sinto muito, amor, não estou com vontade hoje.

Nada que ela poderia ter dito teria me deixado tão para baixo como
isso.

— Como não está com vontade? Você mesma tinha dito que estava,
há meia hora!

— Sinto muito, Ahmed, mudei de ideia.

Encaro-a, em seguida me levanto, indo em direção ao banheiro,


frustrado. Luisa entra na minha frente e diz, rindo:

— Eu estava brincando, Ahmed. Estou doida para nos divertimos um


pouco.

Rosno.

— Sua bruxinha má!

Imediatamente, pego-a no colo, e ela enrola as pernas na minha


cintura com um gritinho. Jogo-a sobre a cama sem nenhuma
delicadeza, e seu coque desmancha na mesma hora, formando uma
bagunça de cabelos loiros sobre o colchão.
— Eu também gosto de brincar, Habibi, quer ver?

Ela balança a cabeça, sorrindo. Com um rugido, subo na cama e


ataco seus lábios, com ardor. Ela geme na minha boca, e eu
aproveito o momento para beliscar o seu seio através da camisola.
Ela geme. Domino sua língua e seguro seu cabelo, mantendo-a
presa. Depois de deixá-la sem fôlego, decido que é hora de dar
atenção para seu belo pescoço. Dou pequenos beijos molhados pela
região e em seguida chupo delicadamente abaixo do seu ouvido.
Luisa dá um gritinho de prazer. Excitado, seguro seus dois seios e
aperto-os com força, até que pequenas gotas de leite molhem sua
camisola.

— Vejo que seu leite ainda não secou, esposa. Quer ajuda para
esvaziá-los?

Luisa arregala os olhos, e eu rio. Rasgo a peça sem nenhuma


delicadeza e deixo-a com apenas sua calcinha branca. Logo estou
abocanhando seus seios, e Luisa grita de prazer, e eu fico tão
excitado que quase explodo naquele momento.

— Seus seios ficam ainda mais gostosos com leite, Habibi.

Luisa cora, mortificada. Rio com a cena. Mas logo ela volta a
gemer quando eu rasgo sua calcinha bonita. Espalho beijos molhados
e quentes por toda sua barriga, coxas, até chegar aonde ela tanto
queria. Abro suas pernas o máximo que consigo.

— Vamos ver se você já está molhada, ou se vou precisar excitá-la


mais.

Luisa estremece quando sente minha respiração quente entre suas


pernas, e eu sopro, deixando-a ansiosa. Quando finalmente dou um
primeiro beijo no seu centro, ela implora:

— Por favor, eu preciso tanto disso...

— Eu sei, bebê, eu preciso de você também.

De repente, estou chupando seu ponto doce com força e


dedicação, e Luisa está gritando e gemendo, completamente fora de
si. Não há nada que a deixa mais louca do que ter sua linda boceta
rosa chupada. Ela chega ao ápice em menos de um minuto. Dito e
feito, foi só eu inserir dois dedos na sua entrada que ela veio com
tudo, apertando meus dedos com força, enquanto suas pernas
tremiam sob o aperto das minhas mãos. Ele me olha, seu rosto
corado e suado, enquanto sorri.

— Você é meu vício, Ahmed.

Sorrio, gostando do elogio.

— E você o meu, Habibi. Sou completamente dependente de você.

Sem mais uma palavra, tiro minha boxer, me posiciono entre suas
deliciosas pernas e a penetro, com força, gemendo com o intenso
prazer que só seu calor apertado consegue me proporcionar.

— Por Alá, eu te amo, Luisa. Céus, eu te amo demais, Habibi. Você


é tudo o que sonhei numa esposa, é a perfeição que nunca pensei
que fosse encontrar — falo, gemendo, enquanto bombeio com força
dentro dela.

Luisa não responde, ela só geme, seus belos olhos azuis revirando
para trás enquanto ela se deleita de prazer. Eu aproveito seu silêncio
para sugar seus seios com força e para manipular seu clitóris. Ela é
uma boa garota, nunca me decepciona, pouco tempo depois ela está
apertando meu pau com tanta força enquanto vem, que não tenho
outra alternativa a não ser chegar ao paraíso carnal com ela. Sua
boceta só para de me apertar depois que ordenhou meu pau por
completo. Garota gulosa. Quando ela finalmente recupera o fôlego,
cinco minutos depois, ela me olha nos olhos e diz, em lágrimas:

— Eu te amo, Habib, você é tudo que eu sonhava e não sabia. Sou


uma mulher de sorte por você ter insistido em nós dois.

Não concordo. Sinto que eu que sou o maldito sortudo.

Luisa Jones

Toda a família está animada, Victoria principalmente. Vamos passar


os próximos dois anos nos Estados Unidos e Brasil. Ahmed irá tomar
o lugar do pai daqui a exatamente dois anos, quando ele tiver trinta e
seis. No início, quando eu ainda nem era mãe, o combinado era
Ahmed suceder o pai depois de cinco anos, mas depois foi mudado
para seis. Sabemos que quando isso acontecer nós não teremos a
oportunidade de passar mais do que duas semanas fora dos
Emirados Árabes, por isso decidimos aproveitar o tempo que nos
resta para curtimos a nossa família. Queremos que as crianças
conheçam mais os seus avós maternos e que tenham contato com
suas origens. Nossos filhos terão tripla cidadania, serão
definitivamente cidadãos do mundo. É claro que sabemos que o
destino de Zayn é se tornar um sheik, portanto ele passará quase a
sua vida toda no país árabe. Já Victoria e Rafi — sim, estou grávida
novamente — terão mais liberdade para curtirem como quiserem.

Ahmed é muito ciumento em relação à filha, mas não deixarei que


ele a impeça de curtir a vida, como seu pai, ele e seus irmãos
fizeram com Jade. Quero que minha filha aproveite bastante sua
juventude, o máximo possível. É claro que sei que ela nunca será
completamente livre e normal, ser uma princesa árabe acaba sendo
um empecilho, mas mesmo assim farei o possível para que ela tenha
uma vida próxima do normal. Sobre Rafi, estamos esperando ele
nascer e depois completar um mês para podermos finalmente viajar.
Ele precisa nascer no país do pai, já que é o segundo, atrás do seu
irmão, na linha de sucessão. Enquanto esperamos por esse dia,
Victoria não para de dizer o quanto ela quer conhecer a Jasmine, na
Disney. Sim, ela é fascinada pela princesa árabe dos contos de
fadas. E não foi eu ou seu pai que a incentivou a isso, ela mesma
decidiu que gostava da princesa do Aladdin. Achei bonitinho.

Ahmed tem aproveitado cada minuto perto da família. Todos


sabemos que no futuro teremos muitos afazeres, tanto eu quanto ele.
Eu terminei minha especialização, cheguei até a trabalhar na
empresa da família, mas resolvi deixar a profissão para outra época,
as crianças estão muito pequenas e quero aproveitar ao máximo
seus desenvolvimentos. Ultimamente a minha vida tem se resumido a
curtir as crianças e o meu sheik árabe. Ele também não perde uma
oportunidade de "curtir o momento", como diz ele.

— Vá dormir, esposa. Não quero que fique cansada por falta de


sonho amanhã.

Olho-o, surpresa. O quarto está escuro, achei que ele estivesse


dormindo há pelo menos quinze minutos.

— Ahmed, você está acordado!

— Vá dormir, Luisa, estou mandando.

Reviro os olhos. Ahmed então segura minha cintura, me puxando


para próximo do seu corpo, e beija minha testa.

— Vá dormir, senhora Hamir.


Sorrio na escuridão.

— Eu te amo. Boa noite — falo.

Ele suspira, satisfeito.

— Eu também te amo, Habibi. Para sempre.

Uma lágrima aparece de repente em um dos meus olhos, e eu


fungo, emocionada. Parece coincidência ele dizer algo assim bem
quando estava refletindo sobre nosso casamento. Ele parece sentir
minhas emoções.

— Para sempre — repito, já no aconchego dos braços do meu sheik.


Bônus

Jade Hamir

Eu nunca pensei que Ahmed fosse cair de amores por uma mulher.
Ele sempre foi tão seco com as mulheres, tão distante. Até mesmo
as mulheres que ele ficava tinham que manter sigilo sobre o que
aconteceu entre quatro paredes. Ahmed definitivamente não tinha o
perfil de um homem romântico. Isso começou a me preocupar
seriamente, estava se aproximando o momento de ele ocupar o lugar
de papai e ele nem mesmo tinha uma pretendente. Ele precisava se
casar e ter herdeiros antes de se tornar o líder do clã, para a
segurança da família Hamir. Foi aí que comecei a ficar com medo de
ele escolher Jamile como sua esposa, não porque ele a amava,
longe disso, mas porque ela nasceu no clã e seu pai é um dos
conselheiros de papai. Seria conveniente o casamento. Jamile estava
extremamente disposta a agarrar Ahmed, não importasse como. Eu
desde o início sabia que aquela mulher era uma víbora, e mais do
que nunca temia por Ahmed. Achava que ele realmente poderia pedir
a mão da vadia. Mas, graças a Alá, meu irmão já tinha outra mulher
em mente há algum tempo e nem mesmo tinha se dado o trabalho de
falar nela.

Quando conheci Luisa, imediatamente gostei dela, ela seria perfeita


para meu irmão. Linda, gentil, tímida, mas de temperamento forte,
ela seria a mulher ideal para colocar meu irmão no seu lugar, além
de roubar seu coração, é claro. Infelizmente, Jamile e seu pai
conseguiram interferir na vida dos dois, da forma mais cruel ainda
por cima. Mas Alá é bom e salvou a pequena Victoria. Hoje, a bebê
está bem e já está com seis meses, além de linda e muito fofa.
Sempre me emociono quando penso no quanto meu irmão é sortudo
por ter encontrado o amor da sua vida. A história de Ahmed me deu
coragem para seguir meus próprios sonhos, ele só não sabe disso
ainda. Cresci sendo a princesinha da família, a única menina, a joia
que todos precisavam guardar. Rodeada de homens Hamir
extremamente protetores, nunca pude ter um encontro com um
garoto e namorar, como qualquer outra garota comum. Sempre me vi
rodeada de seguranças, todos de olho vinte e quatro horas por dia
em mim. Apesar de toda essa proteção do meu pai e irmãos, isso
não me impediu de conhecer o amor. Quando tinha apenas dezoito
anos, houve um evento no Al Maktoum, em comemoração ao
aniversário de Ahmed. Foi uma festa enorme, havia pessoas
importantes de todos os lugares, inclusive o enigmático sheik Emir
Yassin.

Quando vi aquele homem alto, elegante, bonito e sério, me


apaixonei no mesmo instante. Lembro que eu me aproximei do sheik
de Abu Dhabi e tentei puxar conversa, mas ele simplesmente me
olhou de cima para baixo e disse: "Olha se não é a irmãzinha de
Ahmed. Como vai, princesinha?". Na hora fiquei vermelha de
vergonha, estava claro que ele me via como uma criança.
Rapidamente me afastei e passei a semana inteira chateada pelo
seu comentário. Os anos passaram, e finalmente eu tinha
completado meus tão sonhado vinte e um anos, eu finalmente
poderia me casar com o sheik Emir. Como fui tola, ele ainda me via
como uma adolescente. Lembro do momento que o convidei para
uma dança, e ele disse com pena: "Vá procurar um rapaz da sua
idade para dançar com você, princesa. Eu não sou para você". De
fato, ele é muito mais velho que eu, treze anos para ser exata. Mas
amor não olha idade, e eu estava completamente apaixonada por
ele, desde os meus dezoito anos. Magoada, jurei esquecê-lo. Com o
coração partido, nem mesmo me importava mais com as inúmeras
proibições da minha família para que eu não namorasse. Tudo que
eu menos queria era isso, não queria sofrer de amor novamente.
Mas tudo mudou há um ano e meio, quando Emir finalmente decidiu
que eu estava madura o suficiente para ele. Com o orgulho ferido,
decidi ignorá-lo por todo esse tempo, convencida de que já tinha o
esquecido. Doce e amarga mentira. Neste momento, estou largando
tudo e indo atrás do maior problema que já apareceu na minha vida:
sheik Emir Yassin, de Abu Dhabi.

Em breve, A Obsessão do Sheik Árabe. História de Jade Hamir e


sheik Emir Yassin.

Série Sheiks Obsessivos

1- A Obsessão do Sheik
2- A Obsessão do Sheik Ocidental
3- A Obsessão do Sheik Árabe

Instagram: @martinamaressa

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