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Conto

de Fadas
Rock’n Roll

O Vocalista

L. C. Almeida

Sinopse

Uma virada da sorte transforma Nicole Black, uma típica garota do


interior, em Assessora de Imprensa da Black Road, a maior banda de rock de

todos os tempos. Além de grande fã, ela cultiva há anos um amor platônico pelo

vocalista babaca gostosão, Malcolm Black.

Dividindo o mesmo teto com ele, proibida de tocá-lo por uma

determinação do seu contrato de trabalho e lidando com seu grave caso de fobia
a compromissos, ela decide enterrar seus sentimentos.

Mas o que aconteceria se ela conseguisse derrubar as barreiras que ele

construiu e um amor proibido nascesse no meio de uma turnê?



Capítulo 01 - MAL FUCKING BLACK

Meu nome deveria ser Nicole Murphy, com certeza. Nada de Nicole
Black. Nicole Murphy sintetiza perfeitamente minha essência. Provavelmente,

Murphy era meu bisavô e minha mãe esqueceu de me contar. Só pode. Eu sou a

encarnação e prova viva de que se algo pode dar errado, vai dar errado.

E deu. Ah, claro que deu.

1- O ônibus que me trouxe lá de Brown River (Não, você nunca ouviu


falar.) atrasou porque uma senhora desapareceu dentro do posto de combustível

na parada da estrada. DENTRO-DO-POSTO. Como se perde alguém DENTRO-

DO-POSTO? O motorista levou mais de uma hora até achar a velhinha fazendo

pão de queijo dentro da cozinha do restaurante. De acordo com ela, o que era

servido ali era intragável e ela precisava ensinar ao cozinheiro a receita certa.

Claro.

2- Chegando em Nova York, a fila para comprar tickets de metrô estava


dando sete voltas porque T-O-D-A-S as máquinas de venda automática pifaram.

Isso sempre pode acontecer com T-O-D-A-S de uma vez, certo? Claro.
3- Acabou a luz do metrô faltando apenas U-M-A estação para eu descer.

Pode colocar aí mais vinte minutos na minha conta. Claro.


Sempre fui uma boa menina. Nunca bati a porta do quarto para os meus
pais, sempre tirei notas altas, entrei em uma ótima faculdade aos 17 anos, reciclo

meu lixo e ajudo senhoras a atravessar a rua. Então, universo, fique sabendo que
você está muito em dívida comigo depois de tudo isso.
Por que todas essas brincadeirinhas cósmicas cismaram de me atrasar

justo hoje? Hoje, dia do SHOW DA BLACK ROAD! Meu primeiro grande show

da vida, no maior estádio do país. Livre, leve, solta e sozinha com a BLACK
ROAD!

Sou fã (Louca, maníaca, apaixonada, obcecada, sei-tudo-sobre-eles.)


desde o início da banda, mas nunca consegui ir à uma apresentação deles. Afinal,

moro lá no fim do mundo virando à esquerda, onde as únicas atrações musicais

são as da Festa Anual do Milho. E agora, no alto dos meus 25 anos, finalmente

consegui um trabalho onde posso bancar esse luxo que é realizar meus sonhos.

(Solta a música triste de fundo.)

O problema é que estar atrasada significa que vou pegar o pior lugar do

mundo e não vou conseguir seduzir o Mal (Vocalista mais sensual do planeta.
Aquele tipo de homem que até os outros homens dariam uma segunda olhada na

rua.) a ponto dele me pedir em casamento na frente das 50 mil pessoas que

estarão lá essa noite.


Sim, talvez eu tenha lido romances demais. Mas se até Anastasia Steele

conseguiu fisgar um Christian Grey, por que não eu?! Só que agora, chegando
nesse horário, vou no máximo ter a chance de seduzir a pilastra que

provavelmente vai ficar na minha frente.


Saio correndo descontrolada da estação de metrô, em direção ao estádio.

Faltam apenas duas horas para começar o show e o movimento é enorme nas
ruas ao lado do lugar. Graças ao meu empenho extremo (Louca, louca, louca!)
decorei todo o mapa dos arredores no Google e sei que posso pegar um atalho

por uma viela lateral, usada pelos jogadores para entrar no estádio. Para a minha

sorte, ela está deserta. E é meio assustadora. Talvez por isso esteja deserta. Bom,
não é hora de ter medo. É hora de BLACK ROAD.

Mas quem decide cruzar meu caminho de novo? Quem? Quem? Quem?
Uma chance!

MURPHY!

Do nada, um carro a mil por hora vira a esquina da viela, bem quando eu

estava atravessando a rua. Resultado: Fui atropelada. (Oh, que surpresa!) Caio

no chão com tudo quando a lateral do veículo me atinge de raspão. Uma pontada

de matar sobe pelo meu tornozelo, mas de resto parece que estou viva. Tento me

levantar, mas a dor não me deixa nem encostar o pé no chão.


Um cara gigante, de cabelo raspado e terno escuro, desce do sedã preto

chique e vem apressado na minha direção. Me preparo para xingar até a nona

geração daquele idiota quando vejo sua expressão preocupada e assustada.


- Senhorita, você está bem? - Ele para ao meu lado, me examinando,

provavelmente à procura de sangue, um pouco de tripas, ou algum osso exposto.


- Estou viva, mas acho que aconteceu alguma coisa com meu tornozelo.

Você pode me dar uma carona até o portão do estádio, por favor? Já estou mega
atrasada.

- Negativo. Preciso levá-la ao hospital, senhorita. Pode ter fraturado algo,


ou estar com hemorragia interna.
- E perder o show? Nem por todo o Kit Kat da China. Olha, moço. Lá

eles podem me colocar numa cadeira de rodas e depois eu vou para o

ambulatório. Juro!
- Não, não. Nem pensar. E depois a senhorita me processa por omissão de

socorro?
- Moço, eu só quero ver a banda, não quero um processo. Vamos lá, você

já deve ter desejado muito algo na vida. Tipo uma moto Harley Davidson, um

fuzil AK 47, um Tanque de Guerra M4 Sherman? Se coloque no meu lugar! -

Faço minha melhor cara de Lulu da Pomerânia abandonado na chuva. O

brutamontes suspira alto, olha para dentro do carro e de novo para mim, ainda

largada no chão. Mais uma pontada no pé e eu praguejo baixinho.

- E se eu disser que posso te levar para o hospital e te trazer para ver o


show depois?

- Acho lindo, mas eu teria uma visão melhor do palco se ficasse sentada

aqui na rua. Imagina o lugar que vai sobrar se eu chegar em cima da hora?! - Ok,
Nick. Respira, respira, respira. Vai dar tudo certo. Tem que dar tudo certo.

- Tenho ingressos para bons lugares, senhorita.


Ah, agora ele está falando minha língua.

- Tem mesmo? Jura pelo seu tanque Sherman?


- E pela minha Harley. - E bate continência para mim. Podemos confiar

em pessoas que sabem bater continência, certo?


- Fechado! - Afinal, que opção eu tenho? Com o pé desse jeito, deveria
agradecer ao Harley por me levar ao hospital e (Ah, que sonho!) tomar um

analgésico logo. Ele estende a mão, me ajudando a levantar e vejo que usa um

daqueles fones secretos no ouvido. Deve ser segurança de algum figurão que
veio ver o show.

Mais uma pontada no pé e eu gemo alto. Droga, isso está piorando.


- Senhorita, quer que eu a carregue?

- Meu nome é Nicole, Seu Harley. Pode me chamar de Nick. E não

precisa, o carro está logo ali. Só preciso ir no banco de trás para poder esticar a

pena.

Não vi nada de extraordinário no meu pedido, mas Harley olha nervoso

para o carro e parece não saber o que fazer. Será que tem um corpo ali?

Bom, isso explicaria o fone secreto.


Ele é um mafioso!

A porta de trás se abre nessa hora, interrompendo minhas divagações e

me fazendo pular de susto. Agora espero mesmo que ele não esteja carregando
um corpo. Um cadáver voltando à vida era só o que me faltava hoje. (Não, isso

não foi uma sugestão, Murphy! Não tenha ideias!)


- Pode deixar ela ir atrás, Boris. Vou acompanhá-los ao hospital de

qualquer forma. - Ah, então o nome do Harley é Boris. Combina bem com a cara
de mafioso russo assustador.

- Senhor, não acho uma boa ideia. Vou deixá-lo no estádio antes de
seguirmos.
- Boris, esse acidente foi minha culpa. Você não estaria dirigindo feito

um louco se não estivesse comigo. E assim não perdemos tempo indo até dentro

do estádio e voltando. Eu vou. Sem discussão.


Nossa, que pessoa simpática! (#Not.)

- Ahn... Seu Harley, moço. Desde que eu vá, não me importo muito com
quem mais vai. Sabe, isso está doendo. - Finalmente, os dois se dão conta de que

eu ainda estou de pé ali esperando. Então, o "corpo" sai do banco de trás, se

mostrando pela primeira vez e meu queixo cai. Despenca. Encosta no asfalto.

Não. Não pode ser.

Será? Não.

Acho que...

É! É sim!
Murphy, I love you! I love you! I love you!

MAL FUCKING BLACK!

O MEU MAL FUCKING BLACK!




Capítulo 02 - Mr. Darcy versão tatuada

Ok, Nick.

Respira. Respira. Respira. São apenas 1m90 de gostosura, tatuagens,

cabelos loiros, olhos azuis, barba cerrada, músculos definidos e talento puro. Só

isso, fácil de lidar. Apenas o ponto alto da sua vida até agora.

Eu já disse que amo Murphy?! Amo muito mesmo. Queria que ele fosse
meu bisavô.

Minha discussão mental dura aproximadamente dois segundos, então me

dou conta que devo falar alguma coisa. Afinal, acho que já deixei meio claro

para eles que sou fã da banda. Só um pouquinho fã. Quase nada.

Vamos lá. Lembre-se da sua resolução de ano novo para ser mais

corajosa e vá em frente. Você consegue.

- Prazer em conhecê-lo, senhor Black. O senhor, mais do que ninguém,

sabe como sua banda é boa. E sabe que seria uma perda lastimável eu não
assistir ao show. Então, por favor, podemos ir logo?

Acabei de falar com Malcolm Black sem gaguejar ou me envergonhar!


Que orgulho! (*Dancinha da vitória interna*.)
Respiro fundo, tremendo por dentro, e vou cambaleando para perto do

carro. Mal me olha sem alterar sua expressão carrancuda e nem se mexe para me
dar passagem. Quando passo por ele, seu perfume me atinge com tudo. Minha
santa mãezinha protetora das fãs maníacas, dai-me forças. O homem cheira

muito bem!

Com muito menos graça do que gostaria, me jogo no banco de trás e vou

arrastando meu bumbum até a outra ponta para ficar com a perna esticada. As
pontadas no meu pé ficam enlouquecidas e um gemido alto e dolorido escapa de

mim. Malcolm finalmente esboça alguma reação, fechando a porta com uma
batida estrondosa e subindo apressado no banco do carona.

O carro arranca com tudo e eu fecho os olhos para tentar acalmar a dor.

- Calma, senhorita. Vamos chegar logo. Vi um hospital aqui perto quando

estávamos vindo. - Harley olha para mim pelo retrovisor, as rugas de

preocupação vincando sua testa.

Uma parte do meu cérebro está saltitando com a ideia de estar no mesmo

carro que Malcolm Black, mesmo ele não tendo dito uma palavra para mim até
agora. A outra está agonizando de dor no chão e acabou de puxar a parte

saltitante para agonizar com ela. Fecho os olhos com mais força e começo a

cantarolar "Breathe" - música que sempre funciona para me acalmar.


Não preciso nem dizer de qual banda é, certo? Certo.

Começo a me sentir um pouco melhor. Abro os olhos devagar para


encontrar Mal virado para trás, me encarando com a expressão indecifrável. Ele

parece ainda mais carrancudo agora. Deve ser reação à minha ideia genial de
assassinar sua música com a minha linda voz de gralha fanha com gripe. (Palmas

para mim!) Para minha sorte, Harley me salva mais uma vez.
Amo ele. Amo Murphy. Amo analgésicos.
- Chegamos, senhorita. - Solto o ar aliviada, enquanto o segurança corre

para a recepção em busca de ajuda. Mal ainda está olhando para mim com a cara

fechada. Ele sempre foi o mais carrancudo (E lindo. E talentoso. E gostoso.) da


banda, mas hoje está se superando. Ou talvez só seja pior pessoalmente, vai

saber.
- Eu vou ficar bem, sabe. - Digo para puxar assunto. Tenho a péssima

mania de tagarelar quando estou nervosa. - Já torci o ligamento do pé oito vezes.

Ah, Nicole. Ótimo jeito de impressionar o bonitão, destacando como

você é jeitosa e graciosa.

- Oito? - Os olhos azuis dele ficam ainda maiores. Mais um pouquinho e

ele vai virar um pug. Pelo menos, ele falou uma palavra comigo. Agora “oito”

nunca mais vai ter o mesmo significado para mim.


- Sim, oito. Longa história. - Harley aparece com dois enfermeiros, uma

maca e logo sou tirada do carro e levada para dentro. Sem Mal. Poxa, poderiam

ter dito que era essencial para a minha recuperação que alguém segurasse a
minha mão. Cadê os defensores dos benefícios da medicina natural quando a

gente mais precisa?


Um médico velhinho, com cara de Papai Noel, aparece para me atender.

Espero que ele seja bonzinho e me dê muitos analgésicos de presente, porque a


dor só piora a cada segundo.

- Boa noite, senhorita. Sou o Doutor Ricca. Parece que sofreu um


acidente. Vamos dar uma olhada nesse pé. - Ele aperta suavemente meu
tornozelo e eu me encolho. Sei que não está quebrado, mas meus ligamentos já

eram. Acreditem em mim, eu entendo de lesões.

- Parece que não tem fratura (Viu?!), mas vamos tirar um raio - X só para
ter certeza.

Vinte minutos depois, eu ganho do Papai Noel muitos analgésicos, uma


bota de imobilização preta e dois dias sem poder colocar o pé no chão. Ótimo!

- Pode ir agora, mocinha. Antes que aquele oficial do FBI invada meu

consultório para saber notícias suas. Ele ameaçou minha vida caso eu demorasse

mais do que meia hora para te liberar. E o bonitão com cara de ator de

Hollywood já acertou todas as contas. Boa sorte, querida!

Uau! Isso foi um bônus. Minha conta bancária agradece. O doutor me

ajuda a sentar numa cadeira de rodas e vai me empurrando até a recepção.


Harley se levanta ao me ver e corre na minha direção com uma expressão

aliviada.

- Você está bem, senhorita?


- Estou ótima, Seu Harley. Vou ficar ainda melhor quando estiver dentro

do estádio. - Ele ri discretamente, agradece ao médico com um aceno e vai me


empurrando até o carro.

Malcolm está encostado no sedan, nos aguardando ainda com a cara


fechada. Agora, sem a nuvem da dor, consigo realmente parar para vê-lo com

calma.
Meu veredito? UAU!
Jeans preto justo, tênis Adidas branco, camiseta preta e jaqueta de couro

preta. Estamos vestidos IGUAL! A diferença é que ele parece um supermodelo e

eu sou a louca dos analgésicos com o pé imobilizado. (Pelo menos minha


pedicure estava em dia.)

- Então? Podemos ir finalmente? - Sua expressão se fecha ainda mais


quando chegamos ao seu lado.

- Ah, sim. Eu estou ótima. Só uma lesão nos ligamentos. Obrigada por

perguntar e por se preocupar. - Harley ri baixinho. Eu sou a alegria dos dias dele,

enquanto Mal só me olha com um misto de impaciência e desprezo.

Poxa! Toda estrela do rock é mal-humorada assim? Ou é coisa do nome

mesmo?

Levanto da cadeira, vou saltitando até o banco de trás, e, "finalmente",


estamos a caminho do estádio. Malcolm-Bom-Humor-Em-Pessoa vai mudo o

caminho todo, enquanto eu e Harley discutimos todas as lesões que já tivemos.

Ele ganhou, claro. Nunca levei um tiro e ele levou quatro. Mal até olha para mim
em alguns momentos, a expressão não entregando muito. Tudo que tem de

bonito, tem de estranho. Péssima combinação! Ele deveria andar por aí


segurando uma plaquinha de "PERIGO".

- Chegamos. - Olho para o relógio e ainda falta uma hora para o show
começar. Isso!

- Harley, você é um homem de palavra mesmo. Estou impressionada!


- Obrigada, senhorita Nicole. Vou parar aqui para a senhorita descer e
depois estaciono o carro e te ajudo a entrar.

- Tudo bem, Boris. - Mal se pronuncia pela primeira vez. Aleluia, irmãos!

- Eu a ajudo a entrar e a levo para dentro.


- Se o senhor prefere.

Ah, um resquício de algo bom nesse homem. Meu coração de fã já estava


chorando lágrimas de sangue com esse Mr. Darcy versão tatuada.

Mas espera aí.

Isso quer dizer...

Eu vou ficar sozinha com Malcolm Black??



Capítulo 03 - Cara de tarada

Passamos pela viela (Dessa vez sem atropelar ninguém!) e entramos por
um portão quase deserto, a não ser por um roadie ocasional carregando algum

equipamento. Harley para bem em frente ao corredor que dá para o que imagino

serem os vestiários, agora convertidos em camarim. Malcolm até abre a porta do

carro para mim. Olha que avanço! Desço cambaleando e o segurança dá partida,

me deixando sozinha com o cara mais lindo do planeta.


Ai, minha mãezinha protetora dos rockstars loiros e gostosos.

Coragem, Nick! Lembre-se da coragem! E lembre-se de não se

envergonhar, se possível.

Me equilibro e começo a dar pulinhos, igual a um saci. Mais uma vez tão

graciosa quanto uma ema manca. (Não, eu também nunca vi uma ema manca.)

- Assim a gente vai demorar três dias para chegar lá dentro. - Mal

percebe que estou ficando para trás, para e cruza os braços, bufando para mim
com impaciência.

- Hey! Eu não tenho culpa e não pedi para me esperar. Posso muito bem
ir sozinha, obrigada. Siga seu caminho e seja feliz. - Babaca gostoso. Ele está

muito errado se acha que eu vou deixá-lo falar assim comigo só porque é meu
ídolo da vida inteira.
Ignoro sua presença e continuo saltitando com o máximo de dignidade

que me resta, passando por ele de cabeça erguida. Ele bufa M-A-I-S-U-M-A-V-
E-Z. Já deu para concluir que esse é seu meio de comunicação preferido.
Quando percebo, mãos fortes passam pela parte de trás dos meus joelhos,

pelas minhas costas, e me erguem do chão.

- O que você pensa que está fazendo?! - Assustada, corro para segurar em
seu pescoço.

- Carregando você, o que mais seria?!


- Me coloca no chão! Vou te machucar, quebrar suas costas, estourar seus

joelhos, aí não vai ter show e tudo vai ter sido em vão! - Talvez eu tenha uma

leve tendência a ser dramática e exagerada. Sagitariana, sabe?

- Você pesa cinco gramas, acho que dou conta. - Ele revira os olhos. - E

assim a gente não demora três dias para dar dez passos. - Mais uma bufada e

uma carranca.

Realmente ele andava como se estivesse carregando nada. E esse “nada”


aqui pesa 53 kg! Tá bom, 55 kg. 56 kg depois de uma bela lasanha. Me

conformo com meu triste destino e começo a aproveitar a “carona”. O cheiro

dele é uma mistura de perfume amadeirado, sabonete e essência de homem


bonito.

Humm, será que vai ficar em mim? Se ficar, nunca mais tomo banho.
Eca, não! Talvez não hoje, pelo menos. Respiro fundo em seu pescoço e solto o

ar devagar. Ah, como é bom… Sinto sua pele se arrepiar em resposta e um leve
tremor percorrer seu corpo. Uau, isso foi por mim? Talvez seja apenas uma

reação natural, ou, quem sabe, só nojinho. Com certeza prefiro a opção A.
- O que você está fazendo? - Ele pergunta afastando o rosto de mim e me
olhando assustado.

- Respirando, oras. Posso? - Mentirosa, mentirosa, da calcinha rosa.

Antes que ele tenha chance de responder, paramos em frente a uma porta escrita
"Camarim Black Road" e eu quase tenho um treco. - Eu vou entrar no camarim?!

O camarim da Black Road?! - Meu queixo vai ao chão pela segunda vez no dia.
E pensar que até ontem estava reclamando para Belinda, minha melhor (E

única.) amiga, que meus dias pareciam todos iguais. Agora estou no colo de

Malcolm Black prestes a entrar no camarim da minha banda preferida!

Isso, definitivamente, não é nada igual ao resto dos meus dias.

- Por que? Você prefere ficar sozinha aqui fora?

- Não, claro que não. Minha nossa! Você é um raiozinho de sol de

simpatia mesmo, hein? - Sua única resposta é olhar para mim mais carrancudo
que nunca. Eu e minha boca grande! Parabéns, Nicole! Conheceu o cara há cinco

segundos e já está insultando ele.

A porta se abre com tudo e um deus grego ruivo, mistura de Ed Sheeran


com Mister Universo, olha para nós curioso e com um sorriso enorme no rosto.

Daniel Potter, o baterista, em carne, osso e tatuagens coloridas.


- Ora, ora. O que temos aqui?! Parece que Mal-Mal andou salvando

donzelas em apuros?
- Mal-Mal não fez nada para me salvar. Foi o Boris quem me salvou.

Mal-Mal é apenas meu escravo-carregador-raiozinho-de-sol. - Solto minha mão


com relutância do pescoço mais cheiroso da face da terra e estendo para Dan,
que a balança com força. - Prazer, sou Nicole Black

- Black? Seu sobrenome é Black de verdade? Ou isso é tipo aquela coisa

das fãs usarem nossos nomes? - Mal afasta seu rosto e me pergunta desconfiado.
- Você quer ver meu RG? - Respondo já sem paciência com ele. Deus, do

céu! Meu ídolo da vida é uma velha rabugenta.


Dan começa a saltitar, gargalhar, rodar e aplaudir tudo ao mesmo tempo,

como um filhotinho de cachorro hiperativo que ingeriu muito açúcar.

- Ele é sempre assim? - Pergunto a Malcolm, olhando chocada para tanta

animação na minha frente.

- Não. Quase sempre é pior. Já tentamos três adestradores diferentes e

nenhum deu resultado. - Os cantos da sua boa se levantam um milímetro.

Espera aí! Isso foi uma piada? Malcolm Black faz piadas?! Antes que eu
consiga chegar a alguma conclusão, ele desvia do “Espetáculo Dan” e me

carrega para dentro da sala toda branca e bem iluminada, onde vários pares de

olhos curiosos me encaram.


- Eles têm o mesmo sobrenome e estão vestidos igual! Igualzinho! E o

Mal salvou a vida dela! Ah, cara. O amor é lindo! - O baterista fica saltitando
descontrolado, enquanto Mal me despacha no sofá e me analisa com curiosidade,

parecendo reparar em mim pela primeira vez.


Todas as minhas inseguranças vêm à tona como uma avalanche e eu tento

encolher minha barriga discretamente, enquanto abaixo os fios levantados do


meu coque. Normalmente, gosto da minha aparência. Meus olhos são pretos, não
castanhos, o que é bem legal. E meus cabelos escuros são cortados na altura do

queixo, num corte moderno e assimétrico. Mas toda minha confiança foi por

água a baixo no momento que comecei a ser inspecionada por um rockstar


ridículo de tão maravilhoso. Tá aí uma coisa que tem o poder de deixar uma

mulher tímida.
- Ele tem razão. Estamos mesmo vestidos igual. - Ele parece confuso,

coçando a cabeça e bagunçando os lindos fios loiros. Quero muito fazer o

mesmo e sentir se seu cabelo é tão macio quanto parece. Seria muito estranho eu

fazer isso agora aqui, na frente de todas essas pessoas? Provavelmente, sim.

Foco, Nicole Black.

Foco.

- Não. A diferença é que eu pareço uma supermodelo fazendo


propaganda de produtos ortopédicos e você parece um reles mortal. - Dou de

ombros, fingindo uma segurança que estava longe de sentir. Eu sou a pobre

garota normal, enquanto ele é Malcolm Black, eleito o homem mais sexy do
mundo pela revista People por cinco anos consecutivos.

Meu plano de seduzi-lo até ele me pedir em casamento parece a maior


piada do século agora. O cara é uma obra de arte ambulante, devia estar no

Louvre, ao lado do Davi de Michelangelo.


- Eu já a amo. Podemos adotá-la, por favor?! - O baterista insano

pergunta para os outros que estão no camarim e eu me obrigo a desviar o olhar


de Mal para examinar o resto do ambiente. Para o meu total espanto, a banda
toda está reunida ali. Vou conhecer a Black Road completa!

O deus moreno, guitarrista sensacional, também conhecido como Ian

Jones vem na minha direção com um grande sorriso. Ele parece muito mais
simpático, normal e calmo que os outros dois. Ao seu lado está Axl Hunter, o

baixista que consegue ser maior e mais musculoso que o Boris e o


Schwarzenegger (É assim que escreve?) juntos. E mais assustador, com uma

barba gigante e escura.

Só para constar, os dois também são ridiculamente atraentes.

- É um prazer conhecê-la, Nicole. Sou Ian, o mais normal por aqui (Não

disse?!). E aquela é minha namorada, Mia. - Uma morena estonteante e toda

tatuada sorri para mim do outro lado da sala. Ela é linda, com sua pele morena,

lábios cheios e olhos caramelo.


- E eu sou Ax. - Como se eu não soubesse! - Boris nos contou o que

aconteceu e sentimos muito pelo acidente.

Olha só, tudo que tem de assustador, tem de fofo.


- Sentimos mais ainda pela nossa Miss Simpatia aqui e pelo idiota

descontrolado. - Ian aponta para Mal e Dan com um sorriso envergonhado. - Se


estiver se sentindo bem, pensamos em colocá-la ao lado do palco para ver o

show com a Mia. Já pedimos que arrumassem uma cadeira e um apoio para o seu
pé.

Por uns bons segundos fico com cara de peixinho dourado, abrindo e
fechando a boca.
Se estou bem? Nunca estive melhor!

Vou ver o show do palco!

Toma essa, Belinda. Quem mandou não querer vir comigo?!


- Seria mais que perfeito. Muito obrigada, Ian! Por uma experiência

dessas, valeu até enfrentar o atropelamento, a Miss Simpatia e o filhote de


pinscher hiperativo. - Todos riem, menos Mal, e Dan que olha para mim

ofendido.

- Se vai me comparar com um cachorro, que seja pelo menos com um

rottweiler. Algo mais másculo que a porra de um pinscher. - Sua boca se fecha

em um biquinho de birra. - Não quero mais adotá-la. Vamos largá-la na rua. Ela

me magoou - E sai correndo do camarim fazendo barulhos de choro.

Axl gargalha alto, enquanto Ian revira os olhos e me tranquiliza. - Não se


preocupe. Ele só foi aterrorizar outras pessoas.

Ainda estou em choque absorvendo a cena quando um roadie bate na

porta e enfia a cabeça para dentro do camarim. - Vinte minutos, pessoal.


- Hora do show! - Axl esfrega as mãos animado e começa a fazer

aquecimentos vocais, Ian se estica fazendo alongamentos nos braços e Mal vai
até o contêiner de roupas, procurando algo. Não consigo desviar meu olhar de

sua figura impactante. Ele já estava impecável, o que mais pode querer?
- Sim, ele vai trocar de roupa. Totalmente desnecessário, já que o homem

é um Deus até vestindo uma das minhas velhas camisolas do Piu-Piu com
babadinhos. - Mia se senta ao meu lado, enquanto Dan entra na sala parecendo já
ter superado o trauma emocional que causei.

- Eles são reais? Existem pessoas tão bonitas quanto eles mesmo? - É

muito hipnotizante observar a reunião de 97% da beleza do mundo em um único


espaço.

- Às vezes me faço a mesma pergunta. Juro, até eu me assusto com o


quão gato eles são, quando trombo com um deles sem estar preparada. - Ela

concorda rindo. - Hey, é bom ter uma garota aqui para variar.

- E eu estou realmente feliz por te conhecer. Adoro te seguir no

Instagram. Você é uma stylist incrível, além de ser uma daquelas pessoas que dá

vontade de ser amiga, mesmo sem conhecer. Tipo a P!nk, ou o Shawn Mendes.

- Awn! Acho que isso é uma das coisas mais legais que já me disseram.

Acho que vou ter que concordar com Dan pela primeira vez na vida, precisamos
adotar você! - Rimos juntas.

Ontem eu babava nas fotos dela, toda íntima com os meninos, e hoje ela

está aqui sentada ao meu lado e querendo me adotar.


Estou só esperando a hora que vou cair da minha cama e acordar desse

sonho.
Enquanto isso não acontece, vamos aproveitando.

- Deve ser uma loucura ser namorada de um astro do rock, mas sempre
admirei como você lida com isso. As fãs te amam! - Um turbilhão de emoções

passa por seus olhos antes dela responder.


- Não sei como isso aconteceu. Só tentei ser eu mesma e acabou dando
certo. Mas não foi fácil, principalmente no começo. Rolou muita loucura e muito

drama, te garanto. Por Ian, decidi que valia a pena passar por cima de todo o

resto. Agora, o problema é só viver na estrada. Você não faz ideia do escândalo
que o Daniel pode fazer se te flagrar usando as baquetas dele para misturar cera

de depilação.
- Acho que eu posso imaginar. - Continuamos nosso papo calcinha, até

que um movimento chama minha atenção do outro lado da sala.

Mal tira sua jaqueta de couro e a joga em um canto, depois segura a gola

da camiseta por trás e começa a puxá-la para cima. A camiseta! Para cima!

Meu coração para.

Meu pulmão para.

Meu cérebro para.


Costas musculosas estampadas com uma tatuagem gigante de asas

terminam em braços esculpidos, sendo que um deles também é totalmente

preenchido por um padrão intrincado de tinta. É, com certeza, a paisagem mais


impressionante que eu já vi na vida. Sua pele é bronzeada, perfeita, lisinha e dois

furinhos se insinuam no fim da coluna. Quem diria que costas pudessem ser tão
fascinantes...

Meus devaneios só são interrompidos por um grito estridente de Daniel,


que aponta acusadoramente para mim, me despertando do meu torpor.

- AH-HÁ. SABIA QUE ERA AMOR VERDADEIRO! Olha a cara de


louca que ela está fazendo para você, Mal. - O objeto da minha cobiça se vira
com uma expressão de tédio. Me componho rapidamente, testando a minha

melhor poker face. Espero que não tenha baba escorrendo pelo meu queixo.

- Ela parece a mesma de antes, Dan.


- Não, não. Essa safada está trapaceando. Vamos tirar a prova. Vocês três

venham aqui. - E corre para a frente do sofá onde estávamos. - Eu vou tirar a
camiseta, depois você Ian, depois Axl e, por último, o Mal. Vamos ver se ela é

apenas uma tarada que faz cara de louca para qualquer um, ou se é amor

verdadeiro mesmo.

- Dan, isso é muita loucura até para você. - Mia ri com gosto.

Sim! Isso é loucura! Alguém prenda ele na casinha agora!

Ian sorri de leve, mas se junta a Dan e Axl vem correndo, parecendo se

divertir com a ideia. Mal nem se mexe, apenas fecha mais a cara e franze a
sobrancelha para nós.

- Primeiro eu! Primeiro eu! - O ruivo insano tira correndo a sua camiseta

vermelha justa. É um belo corpo, mas a pele é muito branca e destaca demais as
tatuagens extremamente coloridas do peito e do braço. Melhor que todos os

caras que já peguei, claro, mas não fez nenhum órgão do meu corpo parar.
- Deus, Daniel. Você nunca tomou sol na vida?!

- Outch! Minha masculinidade vai te perdoar porque ela sabe que você só
tem olhos para o bom e velho Mal aqui. Vamos lá, Ian. Sua vez. - Malcolm

observa tudo de um canto, com os braços cruzados e a expressão inabalável. Ian


dá uma olhadinha para Mia que ri baixinho e faz um sinal afirmativo com a
cabeça, como se desse sua autorização.

- Tudo pelo amor! - Ele fala antes de começar a puxar para cima sua

camiseta recortada com estampa dos Rolling Stones. Seu corpo é bem magro,
mas muito definido. Uma tatuagem enorme de Star Wars brilha na sua costela

direita, enquanto o outro lado do peito tem um grande 'Mia' estilizado.


- Que romântico! Ela está para sempre no seu coração. - Um suspiro

apaixonado escapa de mim. Quais são as chances de alguém fazer uma tatuagem

bem em cima do coração com meu nome um dia? As mesmas de Malcolm sair

dançando a Macarena vestido com roupa de lambada, eu acho. - Os fãs nunca

viram essa.

- É nova. - Responde sorridente e joga um beijo para Mia, que finge

pegar e guardar em seu bolso.


- É a coisa mais linda que já vi. - Depois das costas de Mal, claro.

- Isso porque você não viu a música nova que ele compôs para mim.

- Jura? Que emoção, eu...


- Vez do Axl! Vez do Axl! - Daniel interrompe aos berros. Eu já disse que

ele é louco?
Ainda com um sorriso gigante escondido pela barba, ele começa a

desabotoar sua camisa de flanela xadrez. Pelos pretos cobrem seu peito e os
maiores bíceps que já vi na vida são preenchidos por tatuagens tribais pretas.

Assustador!
- Nossa, Axl. Você já tentou levantar um sofá com uma mão? Ou um
carro? - Pergunto com cara de assombro e ele amplia mais seu sorriso.

- Podemos tirar a dúvida depois do show. Só tentei com motos até hoje. -

Ele está falando sério?


- Chega de enrolação! Minha teoria está provada. Cara de tarada é só

para o Mal. Ah, o amor é lindo. - E começa a tentar fazer um coração com os
braços, numa pose esquisita juntando os cotovelos e as pontas dos dedos.

- Daniel, chega. Não vi ela fazendo nada estranho. - Mal resmunga ainda

parado bem longe de nós.

- Ah, é? Se você tem tanta confiança assim, vem aqui e tira a prova,

gostosão.

Ele bufa mais uma vez (Oh! Que surpresa!), mas vem caminhando até o

sofá, sem tirar os olhos de mim. Fico presa no seu olhar hipnotizante, duas
adagas azuis afiadas. Para na minha frente e, sem quebrar esse contato visual

embriagante, puxa novamente a camiseta para cima.

Aí era sacanagem, porque eu só tinha visto as costas até então.


A frente era um material totalmente novo.

E muito, muito incrível. Muito mesmo. Mesmo, mesmo.


Não sei como ele tem tempo para ser estrela do rock. Ele teria de morar

numa academia para ter esse corpo. Gominhos na barriga, um peitoral forte com
alguns pelos loiros fazendo o caminho da (Minha!) felicidade e aquelas

entradinhas do oblíquo que só quem é ridiculamente gostoso tem. Comeria ele


de garfo e faca no almoço e na janta pelo resto da vida.
Juro que até juntou um pouco de saliva na minha boca… e um pouco em

outros lugares também. Imagina como seria contar esses gominhos com a minha

língua…
- Viram só?! Ela parece o Lobo - Mau prestes a devorar a Chapeuzinho -

Mal. Corra, meu amigo. Corra enquanto é tempo. Proteja sua virtude dessa
tarada. - Mia, Axl e Ian gargalham com gosto e eu coro furiosamente.

Enquanto Mal veste a camiseta de costas para mim, percebo de relance

que a parte do rosto que a barba deixa ver está vermelhinha. Ele percebeu minha

cara de tarada! E eu faço mesmo cara de tarada para ele! Não sei o que é pior…

Sou patética.

Tudo que ele tem de gostoso, eu tenho de patética.

Bem quando estou procurando um buraco para me enfiar, Santo Harley


vem ao meu resgate mais uma vez e entra no camarim sorrindo.

- Prontos rapazes? Está na hora.

Está na hora!
Black Road ao vivo!


Capítulo 04 - Assessora de imprensa das boas

Não tenho palavras para descrever a emoção que é assistir a um show de


rock de cima do palco. Só quem já viu sua banda preferida ao vivo, sabe do que

eu estou falando. Uma mistura de êxtase, vontade de rir, vontade de chorar,

vontade de se beliscar 37 vezes para ver se é real e uma sensação de adrenalina

pura que nunca tinha vivido.

Agora, quando você vê tudo acontecendo de tão pertinho, a sensação é


multiplicada por um milhão. Você sente os instrumentos, a multidão cantando

junto e, principalmente, a voz daquele desgraçado. E que voz, que presença de

palco. Ele é o perfeito showman, um furacão de energia que não para um

segundo.

Intenso.

Ele faz caras e bocas, dança e derrete todos os corações presentes

naquele lugar. Acho que me apaixonei umas 78 vezes em duas horas…


O estádio lotado treme e é clara a emoção deles por tocar num espaço tão

grande. Os fãs acompanham cada letra de música, assim como eu e Mia. O mais
emocionante é quando eles deixam a multidão cantar sozinha. 50 mil pessoas

cantando juntas é de arrepiar qualquer um.


Óbvio que não fiquei sentada na cadeira que Ian tinha providenciado.
Pulei, cantei e dancei, tudo em um pé só mesmo. Se eu tivesse que conjurar um

patrono, com certeza essa seria a lembrança que eu escolheria. Melhor momento
da minha vida ever!
Dan grita no meio do show que ia me adotar de volta só porque eu era a

"manca-mais-animada que ele já viu", Ian olha para Mia em todas as músicas

românticas e Axl é muito atencioso com as fãs histéricas. (Até chora quando elas
gritam juntas seu nome! Fofo!).

Mal só olha para mim quando decide roubar a minha garrafa de água.
Isso foi o mais perto que cheguei do meu pedido de casamento. (#Failtotal!)

No fim da apresentação, acabo exausta e sem voz. Os meninos já estão se

despedindo do público, quando minha adrenalina baixa e me dou conta de que

meu pé está doendo e MUITO.

Droga, por que eu não sou uma mocinha comportada?

- O que foi, Nick? Está com dor? - Mia pergunta preocupada ao ver meu

rosto.
- Está doendo para caramba. Não devia ter pulado tanto, droga. -

Resmungo me sentando com dificuldade.

- Vou pedir para um dos roadies te levar para o camarim.


Mal escolhe justamente essa hora para aparecer do lado do palco, todo

suado e com a camiseta nas mãos. Alguém pode, por favor, proibir esse homem
de tirar a camiseta?!

- O que está acontecendo?


- Ela está com dor, Mal. Acho que exageramos na empolgação. Preciso

chamar um roadie para levá-la…


O louco nem a deixa terminar, joga a camiseta no chão e me ergue no
colo de novo.

- Está com problemas de dinheiro, Black? Vai ter que cancelar a

academia para economizar e por isso está me usando como seu haltere
particular? - Humm. Suor não deveria cheirar mal? Deveria ser nojento, e não

dar vontade de lamber, certo? Humm. Que gosto será que ele tem?
Ah, cara. Qual o meu problema?

- Você tem uma língua e tanto, não?

Eu poderia ter ficado quieta.

Eu poderia ter ignorado.

Mas o que eu fiz?

Dei uma típica resposta espirituosa de Nicole Black.

- Ah, Black. Você não viu nada do que essa língua pode fazer ainda. -
Brilhante, Nick. Nossa, está de parabéns. (SQN! SQN! SQN!)

Seu olhar escurece na hora e baixa para minha boca. Ele estava pensando

no que eu estava pensando? Pensando essas coisas... comigo? Fico hipnotizada,


paralisada, lesada, aguardando com expectativa… até que um barulho dentro da

sala me faz perceber que estamos parados na porta do camarim, nos encarando
com as respirações suspensas.

Mal parece despertar também, piscando confuso e percebendo a estranha


situação entre nós. Nos leva para dentro mais que depressa, recompondo sua

expressão. O que acabou de acontecer? Eu imaginei esse clima que rolou?


Ele me coloca no mesmo sofá de antes e logo Mia entra com uma garrafa
de água para mim, seguida pelos outros meninos e um engravatado que eu sabia

ser o empresário da banda, Josef.

- O problema é o seguinte, meninos. Um dos maiores programas de TV


do país veio de surpresa para o show e quer uma entrevista exclusiva com vocês.

Como não tínhamos imprensa programada, dei folga para Judy e ela não atendeu
minhas ligações. Não falarmos com um veículo de tanto renome seria

extremamente deselegante. E se falarmos sem orientação, ou um profissional

para interferir, podemos nos criar um problema.

Opa! Essa tá para mim.

- Acho que eu posso ajudar. - Josef se vira para me encarar com um misto

de impaciência e irritação.

- E você é…?
- Nicole Black, senhor. O porquê de eu estar aqui é uma longa história,

mas eu sou Assessora de Imprensa. Das boas. Posso ajudá-los. Basta vocês me

darem um briefing básico sobre planos futuros e pontos críticos da banda, que eu
posso conduzir a entrevista.

- E quais são suas qualificações para isso, mocinha? Você parece tão
nova e tão... fã. - Agora o engravatado está olhando desconfiado para mim.

- Tenho quatro anos de experiência na área e atendo diversos clientes de


grande porte. E, sim, sou fã. O que vem bem a calhar, já que sei tudo sobre a

banda, não acha? - Me orgulho muito da minha carreira, seu almofadinha de


meia tigela.
- Jo, parece uma ótima saída e acredito que ela seja realmente

qualificada. - Ian parece ser o “pai” por ali, falando de igual para igual com

Josef.
- Isso aí, aposto que a Nick sabe cuidar muito bem da gente. - Dan

concorda malicioso, levantando as sobrancelhas.


- Manda ver, Nini! - Nini? Esse Axl gigantesco dá apelidos fofos para as

pessoas?

- Já que não temos outra opção... - Ah, Malcolm. Sempre empolgado.

-Tudo bem, senhorita Black. Vamos em frente.

Começo a fazer as perguntas que acho que serão necessárias para a

entrevista, Josef me passa tudo e em três minutos estamos prontos. Quando a

equipe da TV entra, estou de pé (Ai, que dor!) na frente do camarim. Me


apresento, apresento todos os meninos, auxilio no posicionamento das câmeras,

discuto as pautas com o produtor e a entrevista começa.

Interfiro algumas vezes, adequando as perguntas e orientando os rapazes


sobre as respostas. Sinto o olhar avaliador de Josef me queimando o tempo todo.

No final, acho que o resultado é bem positivo. Grande espaço para a divulgação
da turnê, do novo álbum e nenhuma polêmica. (You go, Nick!) Nos despedimos

da equipe, que também sai feliz, e caio exausta no sofá.


- Bom, senhorita Black. Surpreendentemente bom. Em nome da Black

Road, preciso dizer que estamos muito gratos pela ajuda. - Josef aperta minha
mão formalmente. O olhar de desconfiança se transformou num olhar de
respeito. Nossa, acho que arrasei mesmo!

- JoJo, vamos adotá-la! Ninguém está me dando ouvidos. Ela colocou

nossa assessora no chinelo. - Dan parece muito empolgado com a ideia, mas até
aí nenhuma novidade. O garoto deve se empolgar até para tomar benzetacil.

- Isso é verdade. Sempre odeio entrevistas, mas essa não foi tão ruim.
Bom trabalho mesmo, Nick. - Ian sorri para mim como faria um pai orgulhoso e

eu coro toda de vergonha.

- Obrigada, meninos, mas não foi nada demais. Trabalhar para vocês,

mesmo que por um dia, foi só mais um sonho que virou realidade hoje. - Pelo

menos, quando voltar para minha vidinha pacata, vou ter sempre esses

momentos para me agarrar e relembrar, enquanto choro rios de lágrimas.

- Ela é tão fofinha! - Axl, o baixista saído dos “Ursinhos Carinhosos”,


dispara na minha direção e me dá um abraço gigante, sentando ao meu lado. Ele

parece o Hagrid, do Harry Potter, sabe? Isso se o Hagrid fosse um concorrente

do Mister Universo.
- Fique tranquila, Ninizinha. Vou convencê-los a te adotar e nós seremos

BFF’s para sempre. Igualzinho eu e a Mia. - O baterista insano também pula no


sofá, só que ele decide que seria normal sentar no meu colo.

Tem um rockstar no meu colo!


- Daniel, sai de cima da garota. Ela está com dor, seu idiota. - Mal

finalmente fala alguma coisa, mas parece ainda mais irritado que o normal. E
olha que eu achava que isso nem era possível.
- Está com ciúmes porque eu estou no colo do amor da sua vida, Mal? -

Ele passa os braços ao redor do meu pescoço e planta um beijo melecado na

minha bochecha. Desde quando eu fico tão próxima assim de caras


absurdamente gatos? O único cara que já se sentiu tão íntimo na minha presença

foi o babaca do meu ex-namorado, e ele não era nem de perto tão gato quanto
este aqui.

Na verdade, nem gato ele era.

- Daniel, para de ser imbecil por um segundo. Solta. Ela. Agora! - Suas

palavras são pontuadas por um olhar maligno que me faz encolher e querer

entrar dentro do sofá. Dan me aperta ainda mais forte, mas me solta em seguida,

se levantando.

Covarde!
- Acho que você é um labrador, Dan. Muito barulho, muita energia, mas

basicamente inofensivo. - Digo para ele com um grande sorriso. Depois de Mal,

ele já é meu preferido disparado.


- De pinscher a labrador em questão de horas. Ah, Ninizinha. Me dá mais

um dia e você vai me chamar de Pitbull. - E late para mim! Late de verdade! Au-
Au.

Todos começam a rir, menos Mal, que sai do camarim batendo a porta
sem dizer nada. Os meninos dão de ombros e parecem não dar importância a

saída estranha e tempestuosa. Pelo jeito, estranhezas eram bem normais por aqui.
Se a regra for essa, eu me encaixaria super bem.
- Então, Nick. Você mora aqui em Nova York mesmo? - Mia traz minha

atenção de volta.

- Não. Sou de uma pequena cidade do interior.


- E onde vai ficar essa noite?

- Bom, depois do show eu ia procurar algum hotel bom e barato.


- Você ainda não tem hotel? Vem com a gente então! Temos um andar

inteiro só para a banda.

- Obrigada, Mia, mas nem com meu salário do mês inteiro ia rolar pagar

uma diária dessas. E, olha, meu pagamento já está bem comprometido com as

minhas parcelas do cartão de crédito. Desse show, por exemplo, ainda estou na

primeira de doze prestações. - Isso, riam a vontade. Minha conta bancária é uma

piada mesmo.
- Eu te entendo. Lembro como é o mundo fora da redoma “Black Road”.

Mas tudo já está pago, Nick. - Mia me explica com um sorriso compreensivo.

Oi? Eu ouvi pago? É isso mesmo?


- Uma diária num hotel de luxo sem ter que pagar nada? - Olho assustada

para eles. Esse dia ainda não cansou de ser maravilhoso?


- Isso mesmo. - Axl levanta os dois dedões para cima, fazendo sinal de

positivo.
CASA COMIGO, MURPHY!

- Já que vocês insistem. - Dou de ombros, pagando de blasé e eles riem


novamente. Deus, já sou o bobo da corte Black Road.
- O quê? O quê? O que foi? - Daniel vem saltitando de onde estava se

trocando.

- A Nick vai para o hotel com a gente.


-Arrasou, Ninizinha! Isso pede uma comemoração especial…

ACAMPAMENTO DE PIZZA! - O maníaco grita e começa a fazer uma


dancinha que parece uma mistura de hula-hula com valsa.

- Vamos nos reunir para ouvir música e comer pizza no chão com as

luzes apagadas. Isso é acampamento de pizza. Bem coisa de roqueiros maus,

sabe? - Ian responde ao ver a minha cara de interrogação. Todo esse escândalo e

coreografia só para isso?

- Uau. Vocês deixam os Rolling Stones no chinelo. - Sabia que eles eram

tranquilos e quase nunca se envolviam em polêmicas e escândalos, mas não


imaginava que eram quase tão normais quanto eu. (Tirando a conta bancária, o

talento e a beleza, claro.) Esse estilo diferente e reservado atraía ainda mais fãs

do que se eles levassem uma vida de sexo, drogas e rock’n roll.


Roqueiro e bom moço é uma combinação fatal.

- Vamos, Ninizinha. Sobe aí que eu vou te dar uma carona. - Dan para de
costas para mim e estica os braços para trás.

- De cavalinho?
- É! Assim é mais seguro para a minha integridade física, do que se eu te

pegar no colo e ficar fungando no seu pescoço bonito. Se Mal achar que estou
dando em cima de você de novo, será morte certa para o Dan-Dan aqui.
- Ahn...Eu...O quê? - Mal o quê?

- Vamos logo, Nini. A barriga desse rockstar está clamando por pizza. -

Axl chama, já pegando minha bolsa para mim. Subo nas costas do labrador
irritante e ele sai me carregando sem esforço, seguido por Mia, Ian e Ax.

Nem sinal de Mal pelo caminho.


Vamos pela mesma porta por onde entrei e um grande ônibus preto com o

logo da banda nos aguarda. Será que Mal está lá dentro?

Dan me carrega escada a cima, ainda sem parecer fazer esforço, até uma

área que deve ser a 'sala'. Examino o local, todo muito masculino, com exceção

de uma mala roxa que deve ser de Mia.

E nada de Mal.

Dan responde aos meus pensamentos na hora, me enviando um olhar


cheio de significados que eu não entendo. - Onde está nosso simpático e amável

vocalista? A Nick já está com saudades.

- Vi ele saindo de carro com o Boris. Deve ter ido para o hotel já. - Ax
fala dando de ombros para mim.

Poxa. Por que ele foi na frente? Será que ele não vai participar do
acampamento de pizza?

Os fãs ficam enlouquecidos quando veem o ônibus saindo do estádio,


batendo na lataria e gritando o nome dos meninos. Que loucura! Era para eu

estar ali fora, só mais uma na multidão, mas estou dentro do ônibus com eles!
Vendo Ian, Axl e Dan acenarem sorridentes para o amontoado de gente
desesperada que daria tudo para estar no meu lugar. Isso não pode ser real. Eu

não posso ser tão sortuda assim! Posso?!

A distância até o hotel é curta e vou o caminho todo respondendo um


questionário sobre a minha vida. Para o meu total espanto, eles parecem

realmente interessados na minha pobre existência. Conto sobre Belinda, meus


pais, meu irmão Nicolas (Não, meus pais não são nada criativos.), meu trabalho

e minha vida social praticamente nula. Gostaria de ter algo mais interessante

para contar, mas a verdade é que passei 90% das minhas últimas noites lendo

romances do Nicholas Sparks e comendo Kit Kat. Até Dan consegue ser

razoavelmente normal e só leva um tapa de Ian, porque pergunta na cara dura

quando tinha sido a última vez que fiz sexo.

Melhor nem responder essa, amigo.


Como eu suspeitava, Ian é o responsável entre eles, enquanto Axl é

sensível e atencioso. Cérebro e coração. E Dan é… acho que a palavra mais

educada para o descrever seria “único”.


CARACA! Já consigo traçar perfis psicológicos para cada um. Isso quer

dizer que já somos melhores amigos da vida, certo? Certo!


Claro que eles estavam hospedados no ‘Winter e Summer’, o melhor

hotel da cidade. Daqueles que até os caras que abrem as portas dos carros usam
smoking. Os meninos destoam do lugar com suas botas, jeans rasgados,

tatuagens e ar de perigo (Oi, Ax!), mas atraem o olhar de todos. Principalmente


Dan, que está me carregando de cavalinho de novo.
Se depender dessa banda, meus pés nunca mais tocam o chão. Não me

entendam mal, não estou reclamando. Sempre tive vontade de ser carregada nos

braços por um homem. Acho tão sexy! Mas por dois astros do rock super
sarados no mesmo dia, estava além de qualquer fantasia.

Nem Nicholas Sparks poderia ter me feito acreditar que isso era possível.
Eles me deixam no meu quarto luxuoso-cinco-estrelas com chocolates no

travesseiro e pantufas fofinhas grátis e prometem voltar logo com as pizzas. Vou

saltitando até o banheiro e me surpreendo com o reflexo que vejo no espelho.

Estou corada, com os olhos brilhando e até meu cabelo parece ótimo.

Pena que Mal não está aqui para ver isso. Será que ele foi “se divertir”

com alguma groupie? É isso que rockstars fazem depois dos shows, não é?

Bom, não é hora de pensar nisso. E nem faz sentido pensar nisso. Vou
aproveitar cada minuto desse sonho, sem encanações. Eu me devo isso!

Tomo um banho rápido, com cuidado para não apoiar o pé no chão, visto

o único pijama que eu trouxe: shorts com estampa de pandas e uma camiseta
com uma panda gigante escrita "Love me!". Tão sexy! (#Not!)

Termino de desembaraçar o cabelo e ouço uma batida na porta. Sem nem


esperar eu abrir, o labrador gigante e ruivo entra correndo e se joga na minha

cama, seguido por Mia, Axl, Ian e... Mal! Ele não está enfiando a língua em
nenhuma garganta de groupie! Ele está no meu quarto, parado na porta com

quatro caixas de pizza na mão e me olhando de cima a baixo.


- Belo pijama, Black.
Capítulo 05 - Acampamento de pizza

Até minhas pandas ficam vermelhas de vergonha.


Lembrete para mim mesma: Me render à Victoria's Secrets e comprar

logo uma camisola de mocinha crescida.

- Obrigada, Black. Sabia que ia gostar, já que temos o mesmo gosto para

roupas. Se quiser emprestado, aposto que vai combinar muito bem com a sua

personalidade meiga. - E dou uma piscadela para ele.


Isso, garota! Foi meio bobinho, mas melhor que corar e abaixar a cabeça.

Ele entra no quarto sem olhar para mim, o que me permite dar uma bela

inspecionada nele. O babaca gostoso está vestindo uma camiseta preta justa,

chinelos (Belos pés!), e... calças de moletom caídas no quadril!

Ah, pelo amor da minha sanidade.

Como o homem espera que eu não pule em cima dele com essa calça que

marca tudo?! O contorno da bunda redondinha e o volume na frente. Volume


com um grande potencial, diga-se de passagem. Desvio o olhar antes que Daniel

comece a gritar sobre minha cara de tarada e me apresso em fechar a porta,


tentando controlar minha respiração.

Mal coloca a pizza no chão, e todos se sentam em roda no carpete macio


na frente da minha cama. Vou saltitando até o dimer e diminuo a luz. Mia e Ian
estão aconchegados, Axl está falando com Malcolm sobre o show e Dan está

quieto, entretido com um celular na mão que parece terrivelmente com o meu.
Terrivelmente mesmo.
- O que você pensa que está fazendo, Daniel?

- Procurando música. - E dá de ombros para mim, como se não fosse

nada estar fuçando no celular alheio.


- E como você descobriu minha senha?

- Fácil. Vi você digitando no ônibus. “0708”.


- E decorou? Você é assustador. - Balanço a cabeça incrédula.

- É a data de aniversário do Mal. Tão óbvia, Ninizinha. - Alguém precisa

internar esse idiota. Urgente. - Mas você tem um gosto musical ótimo. Rock,

Rock Clássico e muita Black Road. Sabia que você era a escolha certa para a

gente adotar. - E coloca Estranged, do Guns’n Roses para tocar.

Vou saltitando até a roda e sinto o olhar de Mal me acompanhando,

provavelmente assustado com meu nível de loucura. Ah, poderia ser


coincidência a minha senha ser o aniversário dele. Não poderia?

Sento o mais longe possível dele e de sua calça de moletom ridícula.

Devoramos a pizza com vinho, enquanto conversamos sobre música. Fico


fascinada com a dinâmica entre os cinco, que deixa claro que a amizade ali é

muito forte. São tão diferentes, mas parecem se completar, e até Mia se encaixa
perfeitamente. Por uma noite, me deixo levar pela sensação de que também sou

parte desse grupo.


Imagina só como seria….

Logo o casal de namorados sai para “aproveitar a cama do hotel”,


seguidos por Axl, que diz ter um jogo de pôquer marcado com os roadies. Eles
me deixam sozinha com Mal e Dan, que nos faz rir até perder o fôlego com suas

babaquices sem sentido. Esse ruivo é um insano, mas sabe contar uma história

como ninguém.
Ainda estamos ouvindo Guns, discutindo os méritos do Slash como

guitarrista e tomando vinho quando o celular dele toca. “I’m sexy and I know It”.
Só podia ser esse seu toque. Dan lê a mensagem rapidamente, olha para nós e se

levanta com um olhar malicioso.

- Hora de afogar o ganso! Mal, cuidado com a tarada aí. Odiaria saber

que ela se aproveitou da sua inocência e do seu corpo imaculado. - E sai do

quarto assim, sem nem me dar chance de responder. Insano! Insano! Insano! Ele

tem um bom ponto, mas ainda é um insano.

E eu acabei ficando sozinha com Malcolm em um quarto de hotel. Se a


ideia não fosse tão absurda, eu diria que a intenção dos quatro era justamente nos

deixar a sós.

Me deito no carpete felpudo com a taça de vinho na mão e começo a


cantarolar Patience, a música que está tocando agora, de olhos fechados. Melhor

não pensar no fato de que estou sozinha num quarto de hotel com o meu ídolo da
vida inteira. Com ele e suas malditas calças de moletom.

Pelo menos, de olhos fechados, a decepção quando ele levantar e for


embora vai ser menor. Sinto ele se movimentar ao meu lado e imagino que esteja

saindo. Tudo bem, mesmo assim hoje já foi o melhor dia da minha vida.
- É verdade que você já machucou o pé oito vezes?
Dou um pulo assustada ao ouvir sua voz.

Ele ficou!

Está deitado no carpete também, com as pernas para o lado oposto das
minhas e as cabeças na mesma altura. Os olhos azuis brilham no escuro e fico

sem fala momentaneamente. Caralho, ele é maravilhoso-de-tirar-o-fôlego-


minha-nossa-esse-homem.

OLHA ESSE HOMEM!

- Black? Você está fazendo cara de tarada para mim. Devo começar a

correr? - Pergunta sério, com as sobrancelhas franzidas.

Ah, droga! Sou um vexame.

- Não! Você me assustou, só isso. - Olho para cima envergonhada. - Sim,

é verdade. Oito vezes. Eu sou bailarina. Quando tinha 15 anos, rompi o


ligamento do tornozelo, mas não parei de dançar. Eu deveria, mas seria como

matar uma parte de mim. E dou aulas ainda. Então, como forço muito o pé, ele

ficou bem frágil.


- Entendi. Balé é sua paixão? - Sua testa está franzida, como se tentasse

entender algo. Como se tentasse me decifrar.


- Uma delas. Paixão e obrigação. Minhas alunas dependem de mim,

então parar não é uma opção.


- Por que elas dependem de você?

- Sou voluntária em um projeto social que atende crianças carentes. São


meninas apaixonadas por balé, mas que não poderiam pagar pelas aulas.
- Isso é legal, Black.

Olho para ele surpresa com o elogio. Ele está sério, sem o tédio que

normalmente domina seu belo rosto. Os olhos são mais azuis do que eu
imaginava. Azul, puramente azul. Azul tipo mar do Caribe num dia de verão. (É,

o amor deixa a gente brega.)


- Eu mesma fui parte desse projeto, estou apenas retribuindo. - Tomo

mais um gole de vinho em silêncio. Acho que a bebida está começando a me

deixar meio alta, porque estou me sentindo realmente a vontade com ele.

Confortável até. - Também sou apaixonada por livros, música e moda. Nessa

ordem. - E por você, nas horas vagas. - Não consigo imaginar a vida sem essas

quatro coisas.

- Sei o que quer dizer. Não consigo imaginar minha vida sem música. Ela
é parte de mim, parte de quem eu sou. Sinto que sou… - Ele para, procurando

pelo termo certo. - ...alimentado por ela.

- Sabe, tenho muito orgulho de ser fã da banda. Ainda mais agora que
conheço vocês. Conquistaram tanta coisa, são tão talentosos, ficam longe de

escândalos e ainda construíram uma amizade tão bonita.


- Esses caras são fodas. Se não fôssemos amigos há tantos anos, não seria

fácil ainda estarmos juntos como banda. E se não fosse por eles, eu já teria
enlouquecido. Eles e Mia são a minha família. - Fecha os olhos por um

momento. Esse é o primeiro resquício de sentimento que deixa mostrar. Acho


que está começando a se sentir à vontade comigo também. Esse pensamento
aquece o meu coração, mas meu faro jornalístico diz que tem mais coisa por

baixo dessa sua afirmação simples. Vou deixar passar dessa vez. Até porque só

conheço o cara há uns cinco minutos e nem eu sou tão intrometida assim.
- É muito claro que se completam e são um equilíbrio. Parece que as

diferenças só unem vocês ainda mais. - Sorrio para ele. - Hoje foi incrível, não
foi? Aquele estádio estava lotado!

- Sim, foi fodidamente surreal. Uma multidão lá só para ver a gente, isso

sempre me assusta. Ano passado, no Maracanã, tocamos para quase 100 mil

pessoas. E não somos ninguém! Só quatro manés do interior que compraram

seus instrumentos numa loja de usados e nem faziam ideia de como tocar. -

Conta balançando a cabeça, como se também não acreditasse na própria sorte.

- Adoro essa história. Um belo dia vocês estavam entediados e decidiram


que seriam rockstars! É verdade que Dan escolheu a bateria por ser o

instrumento mais barulhento, Axl escolheu o baixo porque achou que seria mais

fácil de tocar e para Ian sobrou a guitarra porque ele era uma negação cantando?
Imagina se, naquele dia, vocês tivessem decidido se tornar padeiros?! Ou serial

killers? Ou traficantes de drogas? Tudo seria diferente. A minha própria vida


seria diferente.

- Você é nossa fã mesmo, hein? O que mais você sabe sobre nós? - Vejo
que está tentando segurar um pequeno sorriso, seus olhos brilhando com

diversão.
- Sei a nota que tirou em educação física na sexta-série. Sei o nome
completo do seu cachorro. Sei o número que você calça. Eu converso com você

todas as noites antes de dormir. - Espera aí. Vou contar isso mesmo? - Tem um

pôster gigante seu na parede ao lado da minha cama. Você é um ótimo ouvinte e
adora saber sobre o meu dia. - É, contei.

- Você está brincando, certo? - Sua expressão divertida se transforma


rapidamente em um olhar apavorado. Dá uma segurada na estranheza, Nicole.

- Claro que estou brincando. Como eu poderia não estar brincando?! -

Dou um risinho nervoso. Melhor não esperar ele responder e mudar logo de

assunto. - Mas o que eu gosto mesmo é de procurar vídeos e fotos sobre os

bastidores. Queria saber como vocês eram de verdade, além dos famosos

rockstars fodões que quebraram todos os recordes dos Beatles.

Uma emoção estranha passa rapidamente pelo seu belo rosto. - Eu nunca
gostei do termo 'famoso'. Sempre se referem a nós assim. E não somos só isso,

porra. Temos uma profissão, um trabalho como qualquer outro. Sempre me

pergunto se os nossos fãs gostam do nosso som mesmo, ou só da nossa aparência


e da nossa fama.

- Não todos. Os fãs de verdade veem algo em vocês que vale a pena
amar. E ninguém ama só uma casca, ou um rótulo. - Respondo baixinho, me

incluindo nessa categoria. - Você ama o pacote completo. Ama o talento, as


personalidades e, principalmente, o que sua música nos faz sentir.

- Então… você é uma Malníaca? - A curiosidade brilha em seus olhos.


Era assim que os fãs se referiam a quem tinha ele como o preferido. O que,
obviamente, era o meu caso.

- Ah, você nunca vai saber. - Pisco marota, disfarçando meu coração

acelerado.
Sim, sei que foi uma resposta idiota. Eu já era meio lerda antes de

conhecê-lo, agora então acho que meus neurônios foram todos cozidos por sua
beleza impressionante.

- Não dá para conhecer o Dan e ainda ser fã dele. Se não for eu, que seja

o Ian. Ax também está fora do páreo, até tirar aquela barba ridícula de lenhador

da Chapeuzinho Vermelho. - Rio com gosto. Ali no fundo, escondido sobre

várias camadas de rabugice, existe um senso de humor sarcástico e irônico.

Ainda bem que ele esconde isso, ou meu pobre coração não aguentaria.

- Dan só é um pouco agitado, mas tem uma energia muito bonita.


- Ele é meu amigo mais antigo. Seus pais eram vizinhos da minha família

e nascemos com um mês de diferença. Estou sobrevivendo a ele minha vida

toda. Então, posso dizer com propriedade de causa que ele é bem mais que
“agitado”.

Estamos conversando! Estamos falando sobre a vida como dois


"amigos".

E é o Mal de verdade, não o pôster!


- Imagino como ele era quando criança. Um filhote de labrador, Deus!

Ele deve ter comido todos os seus chinelos e feito xixi nos seus brinquedos. -
Digo dando uma cutucada no braço dele, me fazendo de íntima. Um esboço de
sorriso se insinua de novo e vejo um lampejo de covinhas por baixo da barba

cerrada.

A reação no meu corpo é instantânea. Sou oficialmente a mais patética


garota da história. O que vai acontecer se ele sorrir de verdade para mim então?

Provavelmente vou amarrá-lo no pé da minha cama e não soltar nunca mais.


- Você precisa parar de fazer cara de tarada, Black. - Sua expressão grave

e séria. - Eu não vou responder por mim se continuar a me olhar desse jeito.

Oi? Ele disse isso mesmo? Para mim? Euzinha?

Começo a acreditar que sim quando ele vira de lado, se apoia no cotovelo

e seu olhar desce passeando lentamente pelo meu corpo.

- E tem outra coisa. Você não pode ficar pulando por aí assim, sem sutiã.

Seus peitos balançando vão levar esses meninos tarados à loucura. E vão me dar
ideias que nem eu, nem minha boca, podemos pensar em colocar em prática.

Infelizmente. - E ergue uma das sobrancelhas para mim, com irritação. Sei que

deveria ficar envergonhada, mas só consigo ficar excitada. Sinto lugares do meu
corpo acordando felizes depois de um longo e tenebroso inverno. Acho que é

hora de deixar o vinho responder por mim.


- E você não deveria usar essas calças que marcam todos os seus volumes

de frente e de trás. E nem ficar tirando a camisa por aí. E nem exibir suas
ameaças de covinhas. - Aponto o dedo acusadoramente para ele. - Covinhas são

sacanagem.
- Volumes? Ameaças de covinha? - Mais uma vez, minhas pandas e eu
coramos até a raiz dos cabelos, intimidadas pelo seu olhar profundo. Ele sabe o

que esse olhar pode fazer com uma mulher?

- Bom, talvez eu tenha algum problema de filtro entre minha cabeça e a


minha boca. E talvez o vinho tenha piorado isso. - E talvez sua presença me

afete demais.
- Humm, isso pode ser interessante. - Ele parece pensar por alguns

segundos. - Tenho uma proposta, Black.

- Uma proposta? - Pode ser uma proposta de casamento?

- Vamos ver se você é sem filtro mesmo. Que tal uma partida de

“Verdade ou Desafio”?

Faço uma careta para ele. - Baixou o Dan em você agora?

- Que foi? Ficou com medinho porque eu vou descobrir que você é a
maior Malníaca de todos os tempos? - Ele está me provocando! Babaca.

- Tudo bem, seu arrogante. - Não quero que o dia de hoje acabe mesmo.

Vai que eu descubro que foi tudo um sonho. - Eu começo!



Capítulo 06 - Verdade ou desafio

- Certo. Sempre as damas primeiro. - Sentamos um de frente para o


outro, com as pernas cruzadas. Não faça cara de tarada, Nick. Só dessa vez, por

favor.

- Verdade ou desafio?

Os olhos dele brilham antes de responder e ele ergue uma sobrancelha, a

expressão confiante.
- Desafio. - Posso desafiá-lo a me pedir em casamento? Acho que não,

né?!

- Desafio você a trocar de roupa comigo, vestir meu pijama de pandas, ir

até a máquina de doces no andar de baixo e me trazer um chocolate. - Agora é a

hora que ele vai me chamar de louca e sair correndo.

- Feito!

Meu queixo cai na hora.


- Jura?

- Não nego desafios, Black. Pode ir tirando seu pijama-sem-sutiã-por-


baixo. - Malícia pura brilha em seu olhar. Por isso ele aceitou tão rápido.

Malandro! Se ele queria ver meus peitos, era só me pedir.


Começo a tentar me levantar devagar e ele pega a minha mão para ajudar.
Quando nossos dedos se tocam, um choque percorre meus braços e me

faz olhar assustada para ele, que está olhando do mesmo jeito para mim.
- Você também sentiu isso? - Pergunto baixinho, olhando para nossas
mãos unidas.

- Não senti nada, Black. Só senti estática. - Aham, claro. Pode se

enganar, Black, mas isso é aquele negócio que as pessoas sentem em todos os
livros fofos, quando estão destinadas a viverem felizes para sempre. Sabia!

Somos almas gêmeas.


Deixo ele se safar dessa vez e puxo a minha mão, virando de costas.

- Vai, tira sua camiseta e me dá. - Ouço ele se movimentar e logo estica o

braço para me entregar. Coloco ela no vão da perna e tiro a minha rapidamente,

jogando para trás. Mais rápido ainda, visto a dele.

Uau. Cheiro de Mal concentrado! Alguém deveria engarrafar isso e

vender nos supermercados. Seria sucesso garantido.

Me viro para encará-lo e vejo que está mordendo o lábio inferior,


olhando fixo para mim. Minhas inseguranças rugem mais uma vez e me esforço

para não me encolher. O que tem tanto para olhar aqui?! Olha para lá!

Ele parece se tocar da cara que está fazendo e pigarreia alto, pegando
minha camiseta do chão e vestindo com pressa.

Não aguento e começo a gargalhar na cara dele. As pandas ficam todas


esticadas naquele peitoral gigantesco e a barra da blusa para na altura do

umbigo. Ele está ridículo! E adorável.


- Isso vai ter volta. - Sem me preparar antes, ele abaixa a calça e fica só

de boxer preta na minha frente. Tudo que eu disse sobre o volume antes,
esquece. Aquilo não é um volume, é um contêiner. Ele deveria andar curvado
por aí para carregar um peso desse. - Black, você está fazendo um nível

totalmente novo de cara de tarada. Se controla!

- Eu... Ahn... O quê? - Bufa com impaciência e vem na minha direção,


enroscando os polegares nos meus shorts e puxando para baixo com tudo.

- Hey, o que está fazendo?


- Você não parecia que ia se mexer num futuro breve, então estou

adiantando nosso processo. - Sorte que a camiseta dele cobre o essencial do meu

corpinho. Rapidamente pego a calça no chão e visto enquanto coro. Mais. Uma.

Vez.

O look completo de pandas está surreal de engraçado nele. Os shorts

ficam mais curtos que a boxer, que ele puxa todo incomodado para baixo.

Respirando fundo, dá as costas para mim e sai decidido do quarto.


Ele fez isso mesmo?! Minha nossa. Se alguém o flagrar, vai ser a capa de

todos os jornais amanhã. Ainda estou remoendo meu choque quando ele volta

com um Kit Kat na mão e uma expressão arrogante de vitória.


- Ainda não acredito que você fez isso.

- Sou uma caixinha de surpresas, Black - Ele diz irônico e revira os olhos
para mim, enquanto tira meus shorts e minha camiseta. Mais uma vez o corpo

dele me deixa sem fala. Esse homem é surreal... - Minha vez. Verdade ou
desafio?

Ele vai ficar só de cueca mesmo e espera que eu responda qualquer


coisa?
- Ahn… Verdade?

- O que você sente quando faz cara de tarada para mim? Exatamente essa

que está fazendo agora. - Acho que nunca fiquei tão vermelha na vida. Respiro
fundo e engulo seco. Droga, tenho que responder. Coragem, Nick! Coragem.

- Sinto vontade de passar minhas mãos por todo seu corpo. Vontade de
passar minha língua por todo seu corpo. Sentir se é tão firme quanto parece.

Sentir a textura do seu cabelo, te puxando para mim. Contornar todas as suas

tatuagens com as minhas unhas. Sinto calor em todo canto de mim. Sinto

vontade de examinar seus olhos bem de perto, para ver todos os tons de azul que

têm dentro deles. Sinto que se você só sorrisse para mim de verdade, já

infartaria. Se você me tocasse então... Melhor nem descobrir. Bom, acho que é

só isso. Verdade ou desafio? - Ele está olhando completamente chocado para


mim. Acho que exagerei na resposta. - Alô, Black? Você está fazendo cara de

chocado para mim. - Estalo os dedos na sua frente.

- Eu… Acho que a palavra não é chocado. - Balança a cabeça,


recompondo sua expressão. - Verdade.

- Qual seu maior sonho?


- Nossa, isso é profundo. - Ele parece ponderar por um instante e uma

ruguinha se forma em sua testa. - Acho que seria acordar e pensar que sou
plenamente feliz e completo. Não sentir falta de nada.

- E do que você sente falta?


- Ainda não descobri. Bizarro, eu sei.
- Não. Eu entendo perfeitamente. Você só vai saber o que faltava quando

encontrar. Aí vai se perguntar como viveu 29 anos sem aquilo. Porque, sem isso,

nada faz sentido. - Faço cara de sábia para ele e ganho mais um quase-sorriso
como recompensa.

- Você pode ter razão, Mestre Yoda. Verdade ou desafio?


- Desafio, com certeza. - Não vou sobreviver a outra pergunta.

- Desafio você a virar nossa nova Assessora de Imprensa.

Hã?

- Sério, Black. Para de besteira. Vamos terminar com isso e ir dormir. -

Não tenho paciência com brincadeiras que fazem meu coração parar.

- Estou falando sério, Black. - Ele bufa. - E eu lá tenho cara de quem

perde tempo com besteiras?! Você foi melhor que a nossa assessora. É uma
decisão racional. Já falei com os outros e com o Josef. Todos toparam.

O pior é que eu acho que ele está falando sério mesmo.

- Mas aí eu viajaria com vocês e tudo mais?


- Sim. Teria um salário de cinco dígitos e todas as despesas pagas.

CARALHO!
- Pense bem e amanhã converse com o Josef. - Ele começa a se levantar.

Droga, o dia dos sonhos acabou. - Vem, vou te ajudar a ir para cama, antes que
você quebre um braço. Ou o pescoço. - E estende a mão para mim. Tão

simpático! (#Sóquenão.)
Balanço a cabeça, aceito a mão e mais choques passeiam por nós. Para
minha surpresa, ele me levanta e me pega no colo, como se fosse a coisa mais

natural do mundo.

Humm... o peito nu dele.


Humm... cheiro bom.

Humm... acho que vou sentir mais um pouquinho.


- Black, você está me farejando de novo.

- Deus, as pessoas não podem nem respirar perto de você, Sr. Astro do

Rock.

Ele me coloca devagar na cama e eu me sinto gelada sem o calor do seu

corpo. - Você está com as minhas roupas. Vamos lá, devolva. - Ele estende a mão

para mim e tenta me intimidar com sua carranca mais fechada.

- Boa noite, Black. - Digo virando de lado e ignorando ele. O sono me


atinge com tudo, misturado com a delícia relaxante do cheiro das suas roupas.

Nem por todo Kit Kat do mundo eu vou entregar essa camiseta. Vai ser minha

prova material de que esse dia aconteceu.


- Vai, Black. Porra, não posso sair de cueca pelo corredor. - Ele me

cutuca no ombro.
- Então não saia, oras. - Resmungo apagando a luz ao lado da cama e me

aconchegando mais nas cobertas.


- Tudo bem, você mandou. - Sinto o colchão afundar e me viro assustada.

- O que você pensa que está fazendo?


- Você me mandou não sair, então vou ficar aqui. - Diz sem nem alterar
seu costumeiro tom de tédio, se ajeitando no travesseiro ao lado do meu.

- Você é louco!

- Black, me deixa dormir. - Se vira de costas para mim e fica em silêncio.


Bom, não sou eu que vou colocar Malcolm Black para fora da minha

cama.
Entorpecida com a sensação de ter o deus do rock do meu lado,

adormeço rapidamente.


Capítulo 07 - Bom dia para você também, Black.

Acordo com o sol no rosto, confusa, sem saber onde estou e com muito
calor. Então, as lembranças do dia anterior me atingem com tudo. Olho

rapidamente para o lado e, para minha surpresa, esse calor todo vem do corpo de

Mal enrolado em mim. Ele está respirando pesado, ainda dormindo

profundamente.

Malcolm Black está enrolado em mim!


Murphy, cada dia te amo mais.

E cada dia me choco mais.

Terminei meu namoro chato, monótono e infeliz há seis meses e, desde

então, não tinha chegado perto de nenhum homem que não fosse da minha

família. Estava totalmente desacreditada que um cara realmente legal pudesse

existir. Que os Christian Grey, Mr. Darcy, Gideon Cross, Ian Clarke e Maxon

Schreave eram coisa só dos romances que eu devorava desesperada a cada dia.
Mas agora, pelo menos por um dia, posso fingir que tenho um desses para

chamar de meu.
Afinal, ele está enrolado em mim, certo?!

Essa é minha primeira, e provavelmente única, chance de estudar cada


parte do meu “príncipe encantado” sem que ele rosne para mim. Os pés são
realmente bonitos e bem cuidados, as pernas fortes e cheias de pelos loiros, as

coxas com músculos marcados. Nossa, ele tem muita bunda para um homem,
grande, durinha e redonda. A cintura estreita, a tatuagem gigante de asas de anjo,
os ombros largos, o cabelo despenteado, a barba cerrada… Ele é a coisa mais

bonita que o universo já criou.

Isso foi brega, eu sei. Mas é a mais pura verdade. De fazer inveja à
qualquer estátua clássica.

Passo minhas mãos de leve por suas costas, quase sem tocar, tracejando a
tatuagem, subindo e descendo devagar. Ficaria assim para sempre, sem me

mexer um centímetro. Por favor, universo, que esse momento nunca acabe. Por

favor. Por favor. Por favor.

Depois do que parece um tempo curto demais, ouço um suspiro leve.

- Black, isso é pior que cara de tarada e você sabe. - Ele resmunga

rabugento, me fazendo sorrir, mas não se afasta. E eu que achei que ontem tinha

sido o melhor dia da minha vida...


- Bom dia para você também, Black.

- Você abusou da minha inocência e do meu corpo imaculado enquanto

eu dormia? - Ele pergunta com a voz rouca de sono, levantando o rosto


amassado para olhar para mim.

Bom, vontade não faltou.


- Sua virtude está intacta, pode ficar tranquilo.

Ele se espreguiça e rola para longe cedo demais para o meu gosto, se
sentando no lado oposto da cama. Poxa, volta aqui!

Me espreguiço também e alcanço meu celular. São oito da manhã ainda,


quase madrugada para astros do rock.
- Dormi muito bem. - Ele confessa parecendo meio surpreso e coçando a

cabeça confuso, olhando para o seu lado intacto da cama, enquanto o meu está

até sem o lençol. Isso quer dizer que dormimos enrolados a noite toda?
- Eu também. - Só então me lembro de que estou suada, descabelada,

com bafo matinal e, provavelmente, com o olho todo sujo de rímel borrado.
Preciso sumir de perto dele e rápido. - Mas agora preciso de um banho.

- Eu te ajudo a ir até o banheiro. - Ele levanta (Nunca vou me acostumar

com esse corpo.), dá a volta e me pega na cama com a mesma naturalidade de

sempre. Afundo meu nariz no seu pescoço sem nem hesitar.

- Black, você nunca vai parar de me farejar?

- Shiu, você está me atrapalhando. - Ele bufa, me larga no meio do

banheiro e fica olhando para mim de braços cruzados. Ah, ainda estou com as
suas roupas. Droga, eu não estava planejando mesmo devolvê-las. - Tá bom! Vou

tirar a sua roupa e jogar para fora.

- Seja rápida. Vou tomar um banho também e volto para te levar até o
café da manhã. Esteja pronta ou te largo aí. - E sai batendo a porta.

Humorado devia ser o segundo nome dele. “Mal-Humorado”. (Piada


péssima, eu sei.)

Depois de um banho revigorante, visto meus shorts jeans de cintura alta,


camiseta preta da Black Road, camisa xadrez de vermelho e preto por cima e

meu Adidas Branco. Assim que termino de pentear meu cabelo, ouço uma batida
na porta.
- Pronta? - Ele entra usando uma camiseta preta da Black Road, Adidas

Branco, bermuda jeans e uma pulseira de couro preta no braço.

Nham, nham.... Delicioso.


- Nasci pronta! Vamos logo, vire de costas, escravo.

- Por que de costas? - A expressão desconfiada está de volta. Esse cara


não confia nem na própria sombra.

- Você vai me levar de cavalinho. Assim não pareço uma donzela

desmaiada e você para de me torrar a paciência por respirar perto de sua

santidade, ó Deus do Rock. Anda logo!

Ele bufa, mas não reclama. Passo as mãos por seu pescoço e ele se abaixa

para pegar minhas pernas, apertando com força minhas coxas.

Meu corpo responde sozinho ao toque, meus peitos se apertam contra as


costas musculosas e meu nariz respira fundo em seu pescoço. Eu juro que não

tenho nada a ver com isso. Foi uma reação involuntária.

- Black. Farejar e esfregar já é demais. - Ele chama a minha atenção com


a voz severa. Como se eu fosse a única culpada!

- Hey. Você quem começou. Para de reclamar e vamos logo. - Ele bufa
mais uma vez, mas começa a andar. Atraímos muitos olhares no nosso caminho

até o hall.
Sim, eu estou com o rockstar.

Sim, nós dormimos juntos.


Sim, eu farejei o pescoço dele.
Chupa mundo!

Na sala do café da manhã, Ian, Axl e Mia estão sentados em uma mesa

escondida no canto e mesmo assim todos olham descaradamente para eles. Esses
meninos estão sempre sendo observados. Que agonia!

- Bom dia, gente. - Sorrio enquanto me sento. Mal apenas ergue o queixo
em um típico cumprimento de rockstar e já pega uma xícara gigante de café.

- Se encontraram no corredor? - Ian lança um olhar malicioso para nós.

- Não. Bati na porta do Black até ele se cansar e não ter outra opção a não

ser me trazer para baixo. - Minto sem esforço, dando de ombros. O que

aconteceu entre nós é um segredo só meu e não quero dividir com ninguém.

(Posso não dividir o Mal com ninguém também?) Eles se entreolham, mas

parecem comprar a história.


Bem plausível eu fazendo papel de louca mesmo.

Sou informada de que haverá uma reunião com toda a equipe da banda

em uma hora e Josef quer que eu participe. Já tinha decidido aceitar o trabalho,
se ele fosse mesmo oferecido para mim. Afinal, o que eu tinha a perder?

Escolher entre uma vida monótona e sem emoções no interior, ou uma vida de
glamour com os meus maiores ídolos? (Com um salário de cinco dígitos de

brinde ainda!)
É, acho que é uma pergunta retórica.

Mal se levanta e sai sem falar nada enquanto ainda estamos comendo.
Dou de ombros para os olhares inquisidores do resto da mesa. O homem é um
mistério, o que se pode fazer?

Axl e seus músculo gigantes me carregam de volta para o quarto e ele

promete que levará a reunião até mim, para eu não ter que andar mais. Tão
fofinho! Deito na minha cama ainda sem acreditar em como minha vida mudou

nas últimas 24 horas.


Decido ligar para os meus pais e contar as novidades. Como sempre, eles

me apoiam em tudo e nem se espantam quando conto sobre o machucado no pé.

Afinal, depois da 5a vez, isso realmente perde a graça. Prometo que vou vê-los

em breve e desligo quando ouço batidas na porta. Antes que eu consiga levantar

para atender, Daniel entra correndo e se joga na cama comigo.

- Não falei que iria convencê-los a te adotar?

- E você sempre consegue tudo o que quer, não é? - Não consigo evitar
sorrir para ele.

- Sempre, Ninizinha - E levanta as sobrancelhas malicioso. Ah, não tenho

dúvidas disso.

Logo meu quarto se enche de membros da equipe da banda, todos usando


diferentes variações do combo camiseta Black Road + jeans rasgado + grandes
sorrisos no rosto. Eles devem pagar bem mesmo, porque ninguém no meu

escritório antigo ia trabalhar tão sorridente assim.


Josef me chama num canto e conversa rapidamente sobre a vaga, o

salário e deixa um contrato gigante do tamanho de uma bíblia para eu ler. Eu


ganharia mais por mês do que eu ganho em um ano! Passo os olhos por todas as
cláusulas rapidamente, mas uma em especial me chama a atenção.

Cláusula 27: “Fica vetado qualquer contato íntimo, relacionamento de

conotação amorosa, ou interações que não correspondam a interesses de cunho


profissional entre a contratada e membros da contratante”.

Amarrar Mal no pé da minha cama e obrigá-lo a ser meu escravo sexual


conta como contato íntimo? De qualquer forma, isso era irrelevante. Como se

algum desses caras surreais fosse se interessar por “contatos íntimos” comigo.

Aceito a vaga e combinamos que eu vou estabelecer residência em

Bellflower, interior da Califórnia, mesma cidade onde os meninos moram e onde

fica o escritório da Black Road. Hoje mesmo viajaremos para lá!

Na reunião são discutidas as próximas paradas da turnê, o novo álbum e

Josef me apresenta para toda a equipe. Ian, Dan e Ax aplaudem felizes, enquanto
Mal não fala nada, nem me olha, só fica mexendo no celular o tempo todo.

Modo Miss Simpatia: On.

Quando a reunião acaba, começo a juntar as poucas coisas que trouxe e


me apronto para pegar o voo. Dessa vez, Daniel e Boris vem me buscar no

quarto e seguimos direto para um dos quatro carrões pretos parados na porta do
hotel.

No aeroporto, os meninos são recebidos por uma legião de fãs e param


para dar autógrafos, enquanto Boris me coloca discretamente numa cadeira de

rodas e nós dois, seres humanos normais, seguimos para a sala de espera do
nosso (Pausa para o choque.) JATO PARTICULAR.
Mal chega logo em seguida, usando óculos de sol e fones de ouvido, e se

senta no canto mais afastado. Sexy as hell e isolado no “Fantástico Mundo de

Mal”. Só faltou a plaquinha de “Não se aproxime” e uma cerca de arame


farpado.

Fico batendo papo com Boris, até que Dan, Axl, Ian e Mia chegam.
Somos chamados para embarcar e Axl me leva pelas escadas do jato até um dos

assentos. Não tenho vontade de farejá-lo, nem tive vontade de farejar Daniel

mais cedo....

Por que será, né?!

Malcolm vai direto para o fundo do avião, sem falar com ninguém. Foi

esse cara mesmo que usou meu pijama de pandas e brincou de Verdade ou

Desafio comigo? Estranho, estranho, tão estranho.


Desisto de tentar entendê-lo e passo o voo todo jogando pôquer com

Daniel, que é péssimo por não conseguir esconder sua empolgação quando tem

uma mão boa.


- Onde você vai ficar até conseguir uma casa aqui em Bellflower? - Mia

está sentada no colo de Ian, que faz cafuné em seus cabelos. Tão bonitinhos!
- Em um hotel, provavelmente.

- Seria um prazer recebê-la em nossa casa, Nick. Mas ela está em


reforma e estamos ficando na casa dos meus pais. - Ian conta com uma

expressão de pesar. - Lá não tem lugar nem para nós direito.


Sei como é isso de morar com os pais. Uma sardinha na lata tem mais
privacidade.

- Ninizinha pode ficar na nossa casa. Eu e Ax moramos juntinhos, sabe?

Mas nós temos uma pequena regra. - Dan faz uma expressão solene. - Não são
permitidas mulheres vestidas.

- E é por isso que eu nunca pisei lá desde que Ian se mudou. - Mia me
conta entre risos de todos. Ele falou sério mesmo?

- Por mais generosa que seja a oferta, Dan, vou ter de recusar.

- Você poderia ficar com o Mal. Ele mora em um mausoléu sozinho,

triste e abandonado com aquele dinossauro travestido de cachorro que ele chama

de Jack Daniels. - Axl me lança um olhar cúmplice, com uma pitada de malícia.

De jeito nenhum! Cláusula 27 está piscando como um neon na minha

cabeça.
- Posso ficar num hotel mesmo, gente. Sem problemas. Viajamos daqui

poucos dias, de qualquer forma. - Dou de ombros esperando que eles encerrem o

assunto.
- Não tem problema, Black - Do nada, ouço a voz rouca que me causa

arrepios instantâneos vindo do fundo do avião. - Você pode ficar na minha casa.
Está manca mesmo, vai se matar se ficar sozinha. - Tão delicado!

- Pronto, problema resolvido. Show, Ninizinha. Agora, pelo bem da


minha masculinidade, seja uma boa garota e deixe o papai Dan aqui ganhar pelo

menos uma vez.


Ótimo. Simplesmente ótimo!
Morar na casa de Malcolm Black era tudo que minha sanidade, meu

contrato e minha libido precisavam.


Capítulo 08 - Qual é o seu problema?

Desde que chegamos em Bellflower, Mal só fugiu de mim. Ele me


apresentou à simpática governanta Lucy, me instalou num quarto lindo e

espaçoso, e depois fugiu. Não há outra explicação para dividir uma casa com

alguém e não a ver por tanto tempo.

A casa, por sinal, é linda. No alto de uma colina, em um condomínio

fechado exclusivo, misturava os estilos clássicos e modernos com um toque


masculino. Muito elegante, mas totalmente sombria e impessoal. Nada de fotos

de família, lembranças de viagens ou enfeites de porcelana ridículos que tias

loucas sempre dão de presente.

Todos os empregados são muito simpáticos e me adotam logo de cara.

Geoffrey, o jardineiro e esposo de Lucy, salvou minha sanidade me levando para

conhecer o escritório da Black Road e ocupar a cabeça. Até consegui, por

algumas horas, não pensar no rockstar desaparecido.


Mas a melhor coisa aqui, sem dúvidas, é o enorme vira-lata Jack Daniels.

O "dinossauro travestido de cachorro" mais esperto e carinhoso do mundo,


apesar dos seus 30 kg, me segue por toda parte e até dormiu na cama comigo.

Pelo menos, posso dizer que dormi “acompanhada” por duas noites seguidas.
Grande novidade para a Nick.
No segundo dia, acordo e percebo que ele ainda não apareceu, então

decido parar de ter pena de mim e ir fazer algo da vida. Logo cedo, ligo para o
meu ex-chefe para pedir demissão e, em seguida, já entrevisto por Skype a
professora de balé que vou pagar para dar aulas no meu lugar. (Uhull, salário de

cinco dígitos!) Escolho uma ex-aluna que, com certeza, terá a mesma dedicação

que eu no projeto.
A equipe da banda ainda está de folga e eu tenho o dia todo livre pela

frente. Decido aproveitar para tomar sol na linda piscina que fica nos fundos do
mausoléu. Analiso meu novo e recheado closet, cortesia da Mia, já que eu não

poderia andar para fazer compras e ela tinha todos os contatos das melhores lojas

da cidade. Além de seu gosto impecável de estilista, claro. Nunca tive peças tão

bonitas! (E caras! Muito bom te conhecer, Armani!)

Escolho um biquíni preto, com alças finas e estampa de estrelas brancas.

Eu estava longe de ser um exemplo de corpo, com minha barriga que eu gostava

de chamar de “macia”, conquistada com anos de devoção ao Kit Kat, mas eu


estava sozinha mesmo e aposto que o pobre Jack não iria me julgar.

Com ele me seguindo, vou de pulinhos até a piscina, estendo minha

canga e deito usando o enorme cachorro como travesseiro. Fecho os olhos e


deixo o sol me aquecer de fora para dentro.

Ah, isso sim é vida.


- Você não passou protetor solar.

Eu e Jack pulamos assustados. Mal estava parado ao meu lado, com as


mesmas roupas do dia anterior, olhando carrancudo para mim.

- Não vejo como isso pode ser da sua conta. - Digo no mesmo tom
irritado. De onde ele surgiu?! O babaca joga um vidro de protetor na minha
direção e passa reto, indo para a piscina. Parando na borda, tira o jeans, a

camiseta, fica apenas de boxer e mergulha como um nadador profissional.

Maldito vocalista gostoso.


Começo a passar o protetor para ter algo em que me concentrar que não

seja o Adônis dando braçadas vigorosas bem na minha frente. Passo nas pernas,
na barriga, no rosto, nos peitos e nas costas até onde alcanço, já que não tem

nenhuma chance de eu pedir ajuda para esse mal-humorado bipolar. Até o Jack

traidor me deixou para ir nadar com o dono.

Melhor deitar de bruços, assim escondo minha barriguinha “macia” e não

faço cara de tarada quando ele sair da água.

Depois do que parecem horas de silêncio completo, já estou quase

cochilando sob o calor do sol, quando sinto mãos passando algo gelado em mim.
Abro os olhos assustada e vejo que Mal está ao meu lado, esfregando protetor

nas minhas costas.

Affe, que clichê.


- Black, não preciso disso. Pode ir tirando suas mãos de mim. - Estou

cansada dessas oscilações dele. Ele acha que tudo bem sumir e depois voltar
todo preocupado comigo? Que insanidade é essa?

- Você já está toda vermelha, Black. Deveria me agradecer e não ficar aí


sendo uma velha reclamona. Você sempre reage assim quando pessoas tentam te

ajudar?
- Não, só você desperta o melhor de mim. E de novo, não vejo como a
saúde da minha pele pode ser problema seu. - Ele bufa, me ignora solenemente e

continua o que estava fazendo, descendo cada vez mais a mão.

Calma, Nick. É só protetor solar, não quer dizer nada.


Cláusula 27. Cláusula 27. Cláusula 27. Lá-lá-lá.

Ele pega mais produto e começa a esfregar as minhas panturrilhas, depois


nas minhas coxas, fazendo certas partes do meu corpo se contorcerem de alegria

e esquecerem completamente de que estávamos bravas com ele. Mais um pouco

para cima e ele está esfregando a base da minha bunda. Então, espalma as mãos

bem ali e começa a massagear suavemente, suas mãos calejadas me dando

arrepios.

Ok. Isso definitivamente quer dizer alguma coisa.

Celulites, dou um chocolate para vocês mais tarde se prometerem ficar


bem escondidas agora.

A massagem vira uma sequência de apertões e deslizar de mãos,

finalizada com um tapa bem ruidoso que me deixa sem fôlego. Uau! Nunca
estive tão excitada na minha vida, e essa era a primeira vez que ele me tocava. E

ele nem me tocou para valer, se é que vocês me entendem.


Cedo demais ele tira as mãos de mim e se afasta. Me viro para protestar,

mas ele já está longe, entrando em casa com pressa. Ah, não. Ele não vai fugir de
novo. Calço minha bota ortopédica rapidamente e vou pulando para dentro o

mais rápido que posso. Encontro ele na cozinha, tomando água gelada direto da
garrafa em grandes goles. Eu sei que isso é estranhamente sexy, Nick, mas tenha
foco!

- Qual é o seu problema? - Grito fazendo ele se engasgar. - Por que está

fugindo de mim mais do que a Taylor Swift foge do Kanye West?


- Eu não estou fugindo. Que ideia ridícula, Black. Só tenho mais o que

fazer do que ficar tomando conta de você. - Seu fingido tom de voz
desinteressado não combina em nada com a tensão nos seus ombros, nem com as

mãos fechadas em punho. - Já te dei um teto, não pode simplesmente agradecer?

- Eu não te pedi nada, inferno! Nem queria ficar aqui! Qual é a dessa sua

necessidade de ser tão grosso o tempo todo? - Respiro fundo. - Vou pedir que

Geoffrey me leve ao hotel mais próximo e te livro desse fardo que é a minha

presença.

- Hoje é folga de todos da casa e você não vai a lugar algum. - Ele passa
a mão no cabelo molhado e respira fundo com os olhos fechados. Malditas

tatuagens, malditos bíceps definidos. Maldita cláusula 27. - Desculpe, Black.

Você tem razão. Posso tentar ser mais... agradável.


- Tem certeza de que isso é possível? Porque eu só conheci a estrela do

rock mal-humorada, bipolar e explosiva até agora.


- Deus! Você realmente tem uma língua e tanto. E depois eu que sou o

raiozinho de sol. - Ele aperta o osso do nariz e fecha os olhos mais uma vez,
respirando fundo. - Prometo que vou tentar, ok?

- Vamos ter uma convivência adulta, educada e pacífica? - E que envolva


minha língua nessa gota de água que está escorrendo pelo seu peito?
- Sim. - Ele concorda e, finalmente, olha para mim.

- Ótimo, estamos entendidos. Vou pedir almoço para nós. Que tal comida

japonesa? - Meu estômago ronca em concordância.


- Ok, qualquer coisa está bom. Vou dar mais um mergulho. - Ele fala,

mas não se mexe. Seu olhar baixa para o meu corpo e, na hora, meus mamilos
enrijecem. Traidores! Ele não deixa esse detalhe passar e se aproxima de mim

lentamente, sem desviar seu olhar felino. Prendo a minha respiração, minha boca

fica seca, meu coração para.

O que ele está fazendo? Ai, meu Deus. Ai, meu Deus. Ai, meu Deus.

Como um caçador se aproximando de sua presa, Mal se abaixa até que

seu rosto fique na altura dos meus peitos. Ele encosta seu nariz de leve na pele

do meu colo, inala profundamente e solta o ar, me deixando completamente


arrepiada. Se levanta devagar, sem se distanciar de mim, e me olha com uma

intensidade quase dolorosa pelo que parece uma eternidade.

Minha nossa senhora da carência, é agora que eu explodo.


Antes que eu pense em agarrá-lo, ele dá um passo para trás, acabando

com o momento, e sai porta a fora.


Ok, Nick. Respira. Respira. Respira.

Pessoas podem entrar em combustão instantânea?


É humanamente possível?

Porque, olha, dado o meu estado atual, eu acho que sim.


Tomo uma garrafa de água gelada inteira e tento não pensar muito no
momento mais sensual da minha vida que acabou de acontecer. E ele só respirou

em mim! Nem encostou direito, só respirou!

Pelo menos, eu não encostei nele. Então, não quebramos nenhuma regra,
certo?

Ligo para o restaurante japonês e peço uma barca gigante para a minha
fome e uma garrafa de saquê gigante para os meus nervos. Prendo o cabelo num

coque frouxo e vou ajeitar a mesa enquanto espero.

Quando a comida chega, avanço direto para o saquê e mando Jack ir

chamar Mal. Ele entra ainda molhado, tentando secar a bagunça que virou o

enorme vira-lata depois da farra dos dois na piscina.

Meu coração se aquece ao ver o carinho com que ele interage com o cão.

O homem até fala com voz de bebê, Senhor! Como se eu precisasse de mais
algum motivo para ficar atraída pelo babaca. Se eu vê-lo interagindo com

alguma criança então, provavelmente meus ovários vão explodir de emoção.

Sirvo uma dose de saquê e passo para ele, que bebe todo de uma vez,
como se fosse água. Parece que mais alguém está com problemas de nervos por

aqui. Ele bate o copo com um ruído na bancada e me lança um olhar zangado.
- Black, você não vai colocar nada por cima desse biquíni?

- Black, você não vai colocar nada por cima dessa boxer? - Imito sua voz
rabugenta e ele bufa carrancudo, me ignorando e começando a comer sem me

responder.
Touché, bonitão!
Seguindo por um caminho mais seguro, ele me pergunta sobre minhas

alunas, eu conto sobre a nova professora e, finalmente, conseguimos conversar

sobre amenidades.
Tudo muito normal, até que do nada, ele interrompe minha divagação

sobre os benefícios do balé para o desenvolvimento infantil. - Eu passei o dia e a


noite no estúdio, Black. - Ele despeja de uma vez, como se precisasse me falar

isso. - Uma música surgiu na minha cabeça e eu tive que correr para gravá-la,

enquanto estava inspirado. Isso não acontecia há muito, muito tempo.

- Era uma música tão boa assim?

- Eu diria que é minha melhor até agora. Mais que Breathe. - Nossa. Dá

para ser melhor que Breathe?

Acho que isso merece mais saquê, mas não cai uma gota no meu copo
quando tento me servir. Para onde foi toda a bebida?

- Mas é só melhorzinha ou é fodasticamente - foda - mais - foda - que - o

- mais - foda - dos - fodas - que - já - existiu - no - mundo - dos - fodas?


É, acho que descobri onde a bebida foi parar. O que foi que eu disse?

Ele olha para mim confuso por um segundo e, para o meu total espanto,
começa a rir. Gargalhar de verdade. Gargalhar para valer. Covinhas nível

máximo. Agora eu tenho certeza. Não existe nada mais maravilhoso na face da
Terra. Nem na face de Marte.

Sinto muito, mas ele pediu por isso.


Salto do meu banco calmamente, hipnotizada e guiada pelo seu riso
rouco e profundo. Vou até sua cadeira e passo minhas pernas pelos lados do seu

corpo, sentando em seu colo. Ele congela e para de sorrir na hora, voltando à sua

expressão carrancuda.
- O que você está fazendo, Black? - Sua voz é só um sussurro assustado.

Ignoro sua pergunta, ignoro sua carranca e me aproximo do seu pescoço,


respirando devagar, sentindo seu cheiro maravilhoso e subindo até sua orelha. -

Delicioso.

Sinto ele se arrepiar, congelar e parar de respirar. Desço minha boca por

sua mandíbula, apenas encostando meus lábios de leve, chegando até seu queixo,

sentindo a textura macia de sua barba por fazer. O volume que sinto embaixo de

mim já é impressionante. Ele está gostando, mesmo que não esteja se mexendo

nem um centímetro.
Deposito um beijo suave, quase tocando a parte debaixo dos seus lábios e

continuo minha exploração, agora seguindo pelo outro lado. Quando chego ao

seu ouvido, sussurro. - Lembra quando te contei sobre a cara de tarada? Agora
vem a parte que eu seguro seu cabelo. - Passo minhas mãos pelos fios macios.

Tão macios! - E te trago para me beijar - Puxo e aproximo nossos rostos, as


respirações se misturando.

A boca dele é um sonho, cheia e bem desenhada. Roço meus lábios nos
dele, só provocando. Ele se mexe no lugar, suas mãos calejadas subindo pela

minha cintura e apertando de leve.


Me beija, Mal.
Me beija.

Como se tivesse ouvido meus pensamentos, um brilho faminto surge em

seu olhar e ele acaba com o espaço entre nós, avançando para mim e me
beijando com desespero. Isso! Finalmente! Sua língua invade a minha boca,

dentes batem, e nossas mãos estão em todos os lugares, nos unindo ainda mais. É
desajeitado, intenso e faminto. É perfeito.

Sempre me perguntei se o que dizem sobre fogos de artifício, borboletas

no estômago e todas as outras baboseiras era real. Bom, nesse caso, foi pior.

Algo explodiu dentro de mim. Algo se completou dentro de mim. Nós dois

juntos… parecia mais que certo. Parecia... perfeito.

Um barulho distante, parecido com o de uma campainha, me puxa de

volta da minha nuvem de luxúria por um segundo. Não, Murphy não ousaria me
interromper agora. Deve ser só mais um efeito colateral de Mal sobre mim.

- Cara, sou eu. Abre a porta. - A voz masculina chega até nós, enquanto

as batidas se intensificam.
Sinto Mal congelar, suas mãos caem do meu corpo e ele se afasta. Olho

ao redor sem entender o que está acontecendo, ainda aturdida com o que acabou
de rolar entre nós.

- Porra! Se eu não abrir logo, ele vai entrar e pegar a gente assim, Black.
Estou com o rosto vermelho, ele ostenta a maior ereção que uma boxer já

viu e a cozinha cheira à excitação. O olhar que antes queimava está esfriando e
consigo ver suas paredes de proteção batendo de volta, enquanto me tira do seu
colo e me coloca sentada na cadeira.

- JÁ VOU, AX. - Ele grita e começa a andar em direção ao corredor, sem

coragem para me encarar. Ah, não... - Black. Você pode abrir enquanto coloco
uma calça jeans? Não posso atender a porta assim. - Ele para na porta da cozinha

e se vira, ainda sem coragem de me encarar, mas apontando seu bem óbvio
volume para mim.

Nham, nham. Tão apetitoso...

- Não é hora de fazer cara de tarada, porra! - Dá as costas e sai da

cozinha pisando duro, me deixando sozinha, bagunçada e excitada.

A campainha toca de novo e decido reunir o que sobrou da minha

dignidade para atender de uma vez.

- Uau. Nunca fui tão bem recebido aqui assim. - Axl dá um passo para
trás, fingindo segurar o coração com as mãos ao me ver. Só então me lembro que

ainda estou com o biquíni minúsculo que Jack deveria ser o único a ver.

Genial, Nick. Simplesmente genial.


- Ah, desculpe por isso. Estava tomando sol, mas acho que é meio óbvio.

Oi, Ax.
- Oi, Ninizinha. O Mal está em casa? - Tenho que reconhecer que ele está

fazendo ótimos esforços para não olhar muito para minha quase-nudez.
- Está sim. Entra!

- Axl. E aí? - A encarnação dos meus problemas desce as escadas


completamente vestido e composto, nada parecido com a bagunça que eu estou.
Ninguém diria que segundos atrás ele estava se agarrando com sua Assessora de

Imprensa na cozinha.

- E aí, cara?! Está pronto?


- Sim. Podemos ir.

- Quer vir com a gente, Nini?


Antes que eu responda qualquer coisa, Mal passa por mim, indo para a

porta. - Ela não pode. Está de repouso, esqueceu? Vamos logo.

- Ah, é verdade. Prometo que, quando sarar, te levo para andar de skate

com a gente então. - E me lança um lindo e fácil sorriso. Sem covinhas. Sem

arrepios. Sem fazer meu coração parar.

- Vou adorar. Até mais tarde. - Aceno e lanço o meu sorriso mais

luminoso para ele, que fica com a maior cara de bobo para mim. Mal bufa (Que
surpresa!), revira os olhos, entra para pegar Axl pelo braço e sai batendo a porta

com tudo, fazendo a casa estremecer.

Ah, cláusula 27. O que acabou de acontecer?



Capítulo 09 - Babaca do ano

Não acredito que eu beijei Malcolm Black.


Eu avancei em Malcolm Black.

Eu toquei em Malcolm Black.

Ai meu Deus. Ai meu Deus. Ai meu Deus.

Calma, Nick. Respira.

Afinal, você nem assinou o contrato ainda.


E ele te beijou também.

Ai, meu Deus. Ai, meu Deus. Ai, meu Deus.

Malcolm Black me beijou!

Decido ir tomar um banho para me acalmar e deito para tentar tirar um

cochilo. Preciso desligar meu cérebro um pouco ou vou enlouquecer.

Para minha sorte, a exaustão emocional do dia me faz pegar no sono

instantaneamente. Só acordo no início da noite, com meu celular tocando


enlouquecido.

- Alô? - Atendo com a voz mais grogue ever. Nossa, dormi para valer.
- Nini. Passo para te pegar em vinte minutos. A gente vai ao cinema.

- Dan?
- Quantas pessoas te chamam de Nini, moram nessa cidade e tem essa
voz sexy? Claro que sou eu. Esteja linda. Lembre-se que vai sair com o maior

baterista de todos os tempos. - E desliga na minha cara.


Até que não é uma má ideia. Distrair minha cabeça de certos
acontecimentos-recentes-que-não-devem-ser-nomeados é exatamente o que eu

preciso. Animada com a perspectiva de uma noite com toda a energia positiva de

Dan, decido me produzir para valer e visto um jeans justo de cintura alta que
valoriza minha bunda (Yeah!), top cropped preto mostrando a barriga, colar de

spikes, blazer preto e bota preta até o meio da coxa. (Em um pé só, claro.) Deixo
meu cabelo solto e passo uma maquiagem leve, com um super batom vermelho.

Estou precisando me sentir linda depois do fora que levei hoje à tarde.

A campainha toca no horário combinado e eu desço para encontrar um

Daniel divino com seu suéter cinza, jeans justo e botas pretas parado na porta. -

Uau, Ninizinha. Você quer me matar ou matar o Mal?

Reviro os olhos para ele. Drama Queen!

- Matar o Mal não seria má ideia, mas hoje só quero ir ao cinema com o
maior baterista de todos os tempos. - Abro um sorriso fácil, que ele provoca

naturalmente em mim, e dou um beijo em sua bochecha. Ele finge um desmaio,

apoiando no batente da porta e se abanando, mas também sorri.


- Nini, assim você dificulta a vida para mim, garota. Vamos logo, vai, ou

eu vou acabar fazendo alguma besteira que vai acabar me matando. - Antes que
eu consiga subir em suas costas, um lindo Aston Martin preto para na entrada da

casa, perto do gigante Hummer laranja de Dan. Mal desce com a expressão mais
carrancuda que nunca, seguido por Axl que parece estar se divertindo muito com

alguma coisa.
- O casalzinho vai sair? - Ele rosna para nós e eu me encolho,
escondendo atrás de Dan, que nem se abala e continua com um sorriso enorme

no rosto.

- Eu e a senhorita gostosa-mostrando-a-barriga-com-botas-arrasadoras
vamos ao cinema. Boa noite, meninos. Comportem-se.

- Black, preciso falar com você. - Mal me chama, olhando por trás de
Dan.

Não. Não vou dar trela pra esse idiota que me largou com tesão

reprimido e agiu como se nada tivesse acontecido. - Estamos atrasados, falo com

você quando voltar. Boa noite.

Subo nas costas de Dan e ele joga um beijo para Mal, antes de sair me

carregando e me colocar com cuidado sobre o banco gigante do Hummer. O

menino tem coragem, temos de admitir. Qualquer outro homem teria saído
correndo aos berros com o olhar assassino do babaca gostoso.

- Ah, Nini. Você faz o pobre Mal sofrer. - Diz sorridente ao subir do lado

do motorista.
- Ah, Daniel. Você não viu nada ainda. - Ele ri com gosto e começa a me

contar sobre sua última conquista amorosa, daquele dia no hotel. Uma modelo
russa com consoantes demais no nome para eu decorar. (Só lembro que parecia

muito com nome de vodca ruim.)


A noite acaba sendo muito melhor do que eu poderia imaginar. Ele está

em seu melhor comportamento e não sai gritando, nem fingindo chorar em


nenhum momento. Grande avanço!
Depois do filme (Ação sangrento, escolhido por mim. Nenhuma

disposição para romances.) esticamos em um bar de metaleiros quase vazio e de

aparência duvidosa, onde as chances de ele ser reconhecido eram as mesmas de


eu virar a próxima Gisele Bündchen.

- Como vão as coisas com o Mal? Ele está sendo intragável como
sempre?

- Ele não é intragável, Dan. Só é um pouco... rabugento.

- Já está até defendendo ele, que fofinha! Nini, um pouco rabugento é o

Axl com fome. O Mal é uma leoa na TPM com cólica de rim. - Tenho de

concordar que essa é uma definição perfeita.

- Ele sempre foi assim? - Não consigo conter minha curiosidade sobre

essa figura enigmática que é Malcolm Black.


- Não - Responde com a boca cheia de amendoins. Eca! - Quando éramos

criança, ele era o bobo de nós quatro. Foi depois do divórcio dos pais, do sucesso

da banda e da Melissa que ele acabou quebrado em mil pedaços rabugentos,


raivosos e sarcásticos assim.

- Melissa é a vaca que traiu ele com aquele atorzinho de um filme só e


que agora faz propagandas de aparelhos para espremer de frutas?

- Essa mesma. O idiota do Malcolm achava que ela gostava dele, mas a
vaca só queria alavancar a carreira de modelo. E fez questão de falar isso com

todas as letras. Nem tive coragem de dizer “eu te avisei”, de tão acabado que o
homem ficou. - Toma mais um gole da sua cerveja e dá de ombros. - Ele levou
uma rasteira atrás da outra dessa vadia que é a vida. O pai traiu a mãe, nosso

empresário nos traiu... Pior que novela mexicana. Foram tantas histórias de

traições que não é de se espantar que ele só pareça gostar dele mesmo. E de
mim, claro. Mas quem não gosta de mim?

Nossa. Vou ter um bocado de informações para digerir essa noite, quando
ficar sozinha.

Já passa de uma da manhã quando ele me deixa na porta do mausoléu.

Entro devagar, sem fazer barulho, para não correr o risco de acordar Mal e toda

sua bipolaridade. Mas claro que, com a minha sorte, as luzes da sala se acendem

antes mesmo que eu dê três pulos.

- Pelo jeito, a noite foi boa - Ele se levanta do sofá com a expressão vazia

e uma garrafa de vinho nas mãos. - Então, Dan fez o serviço direito?
- Que comentário desnecessário, Malcolm. - Cruzo os braços - Peça

desculpas agora.

- Pelo seu mau humor, acho que a resposta é não. Esse é seu plano? Ir
tentando até conseguir agarrar um de nós? Devo avisar ao Axl para se proteger?

- Um sorriso de escárnio, que não combina nada com ele, domina seu belo rosto.
Fico olhando chocada para ele, tentando entender de onde veio essa

avalanche de grosserias gratuitas. Ah, o vinho, claro. - Não preciso ficar aqui
ouvindo ofensas de um bêbado babaca. Quando você estiver sóbrio e pronto para

me pedir desculpas, me procure.


Jogo meu cabelo, faço cara de superior e começo a saltitar em direção ao
meu quarto. Ele não me impede, claro.

E o prêmio de babaca do ano vai para… Malcolm!

Bato a porta com tudo e respiro fundo tentando me acalmar. Qual o


problema desse garoto que, de tempos em tempos, tem esses surtos de grosseria?

De um beijo apaixonado passamos para isso?


Ah, não.

Eu e meu temperamento exagerado decidimos que estava na hora do

Senhor-Todo-Poderoso-Rockstar aprender uma lição. Volto para a sala, já

apontando o dedo em sua cara, tomada pela fúria.

- Você nunca mais vai falar dessa maneira vulgar comigo. Está

entendendo? - Os olhos azuis me encaram assustados. - Quem você pensa que é

para sair falando assim com as pessoas? Você acha que pode disparar ofensas
gratuitas só por ser quem você é? Ou você sente uma necessidade patológica de

ser um filho da puta?

A cada tom que minha voz sobe, ele se encolhe e não ousa me encarar
mais, fica só olhando para os pés, como se ali estivessem todas as respostas do

universo.
- Você tem razão, fui um escroto. Eu não sei o que deu em mim… - Uau.

Sua voz saiu tão baixa que quase não ouvi, mas tá valendo. (*Dancinha da
vitória*.)

- Peça desculpas. - Ele levanta o olhar só para me desafiar. Não vou


amolecer. - Peça desculpas agora.
Ele trinca os dentes e fecha as mãos em punho. Eu cruzo os braços e

devolvo seu olhar na mesma intensidade. Não vou amolecer. Não vou. Depois de

uma eternidade me encarando, ele solta o ar e abaixa os ombros derrotado.


- Desculpe. - ISSO! Ponto para Nick!

- Obrigada, Black. Não importa o que te deu, só não faça mais isso. -
Abro meu sorriso mais angelical de boa moça. - Ou vai acordar um belo dia e

encontrar seu cabelo tingido de fúcsia. E terá sido um acidente, claro.

Parece realmente assustado com a minha ameaça falsa. Viro de costas e

vou para cozinha rindo da cara dele. Como se eu tivesse coragem de estragar a

obra de arte que é aquele cabelo loiro, macio e brilhante.

Ele vem atrás de mim, me pega de lado só com um braço e termina o

caminho comigo no colo. Preciso urgentemente de uma boa dose de açúcar e vou
direto para o congelador, de onde escavo um pote de sorvete de flocos. Nham.

Perfeito!

Mal separa duas colheres, num acordo silencioso e me pega de novo de


lado, como se eu tivesse o mesmo peso do pote de sorvete.

Babaca gostoso e musculoso.


Ele me larga no sofá e se senta comigo, ligando a TV para nós.

- Friends! - Dou um grito quando vejo o que está passando. - Friends e


sorvete de flocos, isso sim é vida! - Nada tem a capacidade de me animar como

o bom e velho seriado.


Malcolm revira os olhos para mim, mas não fala nada. Aposto que ele
também adora! Ninguém resiste ao Joey. Como boa mocinha educada que sou,

abro o pote e ofereço para ele, que se serve de uma colherada generosa.

Não vou olhar para a sua boca.


Não vou olhar para a sua boca.

Não vou olhar para a sua boca.


Concentro em me servir daquele néctar dos deuses e tomo uma colherada

gigante de uma vez também. Um pouco escorre pelo lado, limpo com o dedo e

depois o levo a boca, lambendo o resto.

Afinal, néctar dos deuses não se pode desperdiçar.

Percebo o olhar de Mal fixo em mim e a expressão felina volta a dominar

seu belo rosto. Ele passa a língua pelos lábios e me olha com uma expressão de

verdadeira fome, igual à que estava a tarde, logo antes de me atacar.


Ah, garoto, esse jogo é perigoso.

Mas, se você quer jogar, vamos lá. Vamos cutucar a fachada impenetrável

de Malcolm Black. Pego outra colherada e, ao invés de colocar tudo na boca de


uma vez, lambo bem devagar, olhando fixo para ele.

- Black. O que você pensa que está fazendo agora? - Ele diz em um
sussurro.

Faço minha melhor cara de tarada. - Nada! - E dou outra lambida, bem
devagar, antes de enfiar a colher toda na boca novamente, sem parar de olhar

para ele.
- Black, para. Não podemos fazer isso, porra. Olha, o que aconteceu hoje
à tarde foi...

Interrompo antes que ele diga que o que aconteceu foi um erro. Meu

pobre coraçãozinho não ia suportar. - Estou tomando sorvete, Black. Não estou
fazendo nada demais. - Dou um risinho superior e volto minha atenção para a

tela. Mal só bufa e rouba o sorvete da minha mão.


Assistimos a uns quatro episódios em um silêncio confortável, quebrado

apenas por comparações entre quem era o melhor personagem, Chandler ou

Phoebe. (Chandler ganhou, óbvio!) Sinto o peso de toda a emoção do dia caindo

sobre mim e sei que vou acabar pegando no sono logo, logo.
Capítulo 10 - Maroon 5 e White Stripes

Quando acordo, percebo que estou deitada confortavelmente no meu


quarto, vestida com meu pijama de pandas. Como eu vim parar aqui eu posso até

suspeitar, mas como troquei a roupa pelo pijama, prefiro nem imaginar.

Sento na cama e passo as mãos pelo cabelo, me sentindo exausta. Se não


bastasse tudo que aconteceu ontem, ainda fiquei sonhando com Mal a noite T-O-

D-A. Sonhei que ele confessava que tinha ficado com ciúmes de Dan, me dava

um selinho suave enquanto eu dormia e ainda passava os dedos de leve pelo meu

rosto com reverência, enquanto murmurava que eu era maravilhosa. Sim, acho

que eu li romances demais mesmo. E sim, acho que assisti filmes da Disney

demais também.
Mas chega de sonhar e suspirar, porque hoje é o maravilhoso dia em que

eu posso voltar a colocar o pé no chão! Desço da cama e solto o peso devagar,

testando o tornozelo. Dói um pouco, mas dá para viver. Isso!

Só vou sentir falta das caronas com meus escravos gostosos.


Um cheiro maravilhoso de café me atinge com tudo ao sair do quarto.
Quando chego na cozinha, encontro Mal usando só uma calça de moletom preta,

ouvindo Maroon 5 no dock do IPod e cantando junto com o Adam Levine


enquanto cozinha.

Ah, pelo amor da minha sanidade.


Claro que ele tinha que saber cozinhar e claro que ele gostava de Maroon
5 também. E eu nem vou comentar a calça de moletom.

- Bom dia, Black.

- Black! Não vi você entrar. - Ele dá um pulo assustado e responde meio

sem graça, coçando a nuca. - Bom dia.


- Você está fazendo café da manhã? Posso comer também? - Percebo o

quanto estou faminta. E juro que é de comida dessa vez.


- Claro, só um instante. - E se vira para o fogão, fritando o que parecem

ser panquecas.

Pois é, gente. Estou tomando café da manhã com Malcolm Black. Pode

parar o mundo que eu vou descer nesse ponto mesmo. Já zerei a vida.

- Panquecas da paz! - Diz ele com um floreio, colocando o prato na

minha frente. Parece muito bom, não tão bom quanto o peito dele nu, mas bem

bom.
- Por que panquecas da paz? - Pergunto de boca cheia. Muito elegante, eu

sei, mas estou com fome! Ele faz uma careta para a minha falta de jeito,

enquanto coloca mais uma no meu prato.


- Não me comportei muito bem ontem, então essas panquecas são minha

tentativa de oferta de paz e bom comportamento. - Ah. Bom comportamento não


deve envolver mais amassos seminus, né? - Foi o único jeito que pensei para me

desculpar, não sou muito bom nessas coisas.


- Ótima tática me comprar com comida. Sempre funciona, caso precise

de novo no futuro - Triste, mas é a mais pura verdade.


- Bem provável que eu vá precisar. Você é uma coisinha geniosa. - Ele
murmura rabugento e eu rio. Esse clima leve é bom demais para ser verdade. -

Então, agora de manhã vamos ensaiar para a turnê. Quer ir assistir?

Assistir a um ensaio da Black Road?! Engasgo com as panquecas na


hora.

- Acho que isso é um sim. - Ele revira os olhos e bate nas minhas costas.
Eu concordo com a cabeça tão forte que chega a doer. - Como está seu pé?

-Meus pés estão no chão, isso é tudo que importa para mim. Com a dor

eu posso viver, mas não poder andar direito é angustiante.

A propósito, pode continuar me carregando se quiser, bonitão.

- Vou poder parar de ser seu escravo agora? -

Nãoooooooooooooooooooooo!

- Sua carta de alforria foi assinada. Esteja livre, serviçal. - Me sirvo de


mais panqueca. Humm… Esse café da manhã está quase tão gostoso quanto ele.

- Que alívio. Já estava ficando com dor nas costas. Cara, imagina como

seria te carregar depois de você comer todas essas panquecas?


Ele falou sério?! Babaca.

- Faça panquecas menos gostosas da próxima vez então. E vá chamar sua


vovozinha de gorda, babaca. - Foram só o quê? Cinco pratos, poxa.

E assim, ganhei meu segundo sorriso de Malcolm Black. Sim, eu conto


sorrisos. Sou patética. (E gulosa.) Vocês já sabem disso. Mais uma vez fico

hipnotizada pela explosão de covinhas. Ele é tão lindo que dói. Me dá até um
negócio no estômago, sabe?
Antes que eu o agarre como ontem, decido que é melhor subir para me

trocar e para colocar uma distância segura entre nós. Sou uma boa menina,

Cláusula 27. Tá vendo? Boa menina.


- Eu vou... Ahn.... Lá em cima. Trocar... É... Me trocar - Subo o mais

rápido que minha bota ortopédica permite e o deixo lá na mesa sozinho. -


Obrigada pelo café! - Grito já do alto das escadas.

Minha nossa senhora protetora dos fãs apaixonados por loiros sarados, o

que eu faço com esse homem?

Escolho um vestido preto soltinho com um belo decote, coloco minhas

botas over-the-knee pretas, uma jaqueta jeans surrada e um pouco de

maquiagem. Escovo meus cabelos até eles ficarem brilhosos e finalizo com

grandes brincos de argola prateados. Estou pronta para me misturar com as


estrelas do rock!

Saindo do meu quarto, dou de cara com Mal, já trocado e pronto. Sem

poder me controlar, dou uma bela olhada de cobiça nele: botas, calça e camiseta
pretas e jaqueta jeans surrada. Estamos combinando de novo. Agora diz se não

nascemos para ficar juntos?!


- Black, você precisa parar de copiar meu estilo. - Cutuco ele na costela,

o fazendo revirar os olhos para mim


- Vamos logo, vai. - E sai andando escada a baixo, me deixando sozinha e

com cara de tacho.


Ah, o bom humor típico voltou com tudo. Em menos de quinze minutos,
consegui perder meu Mal tagarela e sorridente. Lembrete para mim mesma:

comprar um livro sobre como lidar com bipolaridade.

Graças à minha bota ortopédica querida, chego ao impressionante Aston


Martin Vanquish uns cinco minutos depois que ele, o encontrando já dentro do

carro, com a maior cara de impaciência. Nem espera eu entrar direito para dar
partida, cantando pneus ao sair da garagem.

Volta, cara das panquecas!

Volta, por favor!

Decido focar minhas energias no fato de estar indo assistir a um ensaio

da Black Road e não na nuvem de irritação que está pairando sobre os lindos

cabelos loiros de Mal.

Nada vai me tirar do sério hoje! Nada! Subitamente animada, ligo o rádio
do carro e, de novo, o falsete de Adam Levine sai dos alto falantes. Olha só,

alguém é realmente fã aqui. Não julgo, Maroon 5 é minha banda preferida

também. (Depois de Black Road, claro.)


Está tocando uma versão ao vivo de Animals, uma das melhores músicas

deles. Começo a cantar junto, super identificando meu dilema atual com a letra.


Baby I’m preying on you tonight
Querida, estou caçando você hoje à noite

Hunt you down, eat you alive


Te perseguir para te comer viva



Poderia facilmente comer vivo o vocalista carrancudo sentado ao meu
lado.

Mas quem não comeria, não é?


No refrão me empolgo de verdade, como só uma música que eu amo faz

eu me empolgar, e canto como se não houvesse amanhã. Mal lança um olhar

irritado e impaciente para mim e minha cantoria, mas que não consegue me

intimidar em nada.

- Vai, você é o vocalista! Canta comigo! - Sei que não vai se aguentar,

ninguém consegue resistir a essa música.

Balança a cabeça negando, mas sua expressão se suaviza um tantinho.


Cutuco de novo, ainda cantando e dando um olhar de “Vai, eu sei que você

quer”. Ele balança a cabeça mais uma vez e eu continuo olhando para ele e

cantando.
Se rendendo, começa a murmurar e percebo que sabe toda a letra. Mais

uma cutucada e ele finalmente se solta, cantando a plenos pulmões. Não me


deixo abater pelo fato de Mal cantar divinamente e eu ser uma gralha com dor de

garganta. Nem ele se importa, já que faz até backing vocal para mim no refrão.
Queria que alguém estivesse gravando isso para eu poder guardar para

sempre. Estou cantando Maroon 5 aos gritos com Malcolm Black em seu Aston
Martin!
Murphy realmente sabe o que faz.

Um homem bonito dirigindo já é sexy. Mas Mal, com seus óculos

escuros, as mãos grandes com as veias marcadas, o pulso largo e o pequeno


alargador de orelha brilhando ao sol, é quase um crime.

Paramos em um semáforo e ele se vira para mim, flagrando minha


inspeção. Imagino que vá me dar a maior bronca, mas para o meu total espanto,

continua cantando e me encarando. Eu diria que ele está fazendo uma cara sexy,

mas não posso afirmar com certeza, porque acho todas as caras dele sexy.



So what you trying to do to me

Então, o que está tentando fazer comigo?


It’s like we can’t stop, we’re enemies

É como se não pudéssemos parar, somos inimigos

But we get along when I’m inside you


Mas nos damos bem quando estou dentro de você

Meu coração para.


Ele está cantando para mim?
Querendo dizer alguma coisa?


You’re like a drug that’s killing me

Você é como uma droga que está me matando

I cut you out entirely


Eu tento me desintoxicar completamente

But it gets so hot when I’m inside you


Mas fica tão quente quando estou dentro de você



O ar fica pesado entre nós, até o sinal abrir, uma buzina soar e o encanto

se quebrar. Eu viro uma massa derretida apaixonada, mas o Senhor-Rockstar-

Indiferente só continua cantando e olhando para frente, como se nada tivesse

acontecido.
Será que eu imagino todas essas coisas que acontecem entre nós? Bem

provável.

Volto a cantar, decidindo que posso acreditar no que eu quiser e quero


acreditar que ele está cantando para mim.

Logo chegamos a um grande galpão, o mesmo onde os meninos ensaiam


desde o começo da banda. Mal desce do carro, nem espera por mim e já vai

correndo na frente, claro. Quando finalmente consigo chegar na porta, quinze


horas depois, dou de cara com uma muralha que atende pelo nome de Axl

Hunter.
- Ninizinha, que bom que você veio! - Uma muralha tão fofinha que dá
até vontade de apertar.

- Oi, Ax. - Ele me levanta em um abraço de urso gigante, me deixando

sem ar.
- Já estava morrendo de solidão aqui. Vem, vamos botar pra quebrar!

Quando entramos, Mal já está com a guitarra de Ian, tocando Seven


Nation Army todo compenetrado. Axl pega o microfone e começa a cantar com

seu tom grave de arrepiar. Ele tem uma voz ótima, não como a do vocalista

marrento bipolar, mas muito boa.

Não resisto e vou para a bateria de Dan. Essa é uma das poucas músicas

que eu sei tocar e não posso perder essa chance. Afinal, eles estão só brincando,

né?! E a baterista original é mulher, então quem melhor que eu? Coragem! Conto

mentalmente e espero o compasso certo para entrar. Começo a tocar e eles olham
assustados para mim, Axl sorrindo e Mal com a expressão chocada.

Por favor, deuses da música, não me deixem errar nada.

Tive apenas umas poucas aulas com o meu irmão, mas sei que consigo
acertar. No refrão, ficamos enlouquecidos e já estou me sentindo a estrela do

rock. Ax está completamente envolvido, cantando de olhos fechados e Mal para


na minha frente, tocando totalmente absorto. Não posso olhar para ele e para os

bíceps torneados segurando a guitarra e mexendo os dedos com agilidade.


Não posso.

Não posso.
Quando acabamos e desperto de volta para o mundo, percebo que o
galpão já está cheio e que todos estão aplaudindo e dando gritinhos. Arrasei!

Aceno envergonhada e sem graça para a equipe, principalmente porque Mal está

olhando fixo para mim com a expressão intensa que eu não consigo decifrar. Só
consigo me soltar do seu feitiço ao ver Dan sair correndo do nada para me

abraçar.
- Ah, Ninizinha. Sabia que era você. Sabia, sabia, sabia. Sabia desde a

primeira vez que te vi.

- Eu o que, Daniel? Seria eu a acabar com a sua bateria? Desculpa, eu só

queria tocar um pouquinho e...

- Não, seria você a garota...

- DANIEL, QUIETO. - Mal grita, puxando ele pelo braço.

- O que? Eu só ia dizer que ela seria a única garota que é assessora de


imprensa e baterista reserva ao mesmo tempo. - Ele faz uma cara de anjinho que

não convence nem a mim.

- Aham, claro. - Mal arrasta ele até o canto mais afastado e começam a
sussurrar.

Vai entender esses dois.


- Oi, Nick. Que surpresa! Por que não contou que tocava também? - Ian

vem me cumprimentar sorrindo. Esses óculos de grau dele são muito charmosos.
Esses olhos verdes também. Esse piercing no lábio então...

Foco, Nick! Responde o cara!


- Ah, eu não toco de verdade, sei tocar uma coisa ou outra que meu irmão
ensinou. Só quis brincar de ser Black Road por um dia.

- Achei que tocou muito bem para quem só sabe uma coisa ou outra. - E

pisca para mim.


Ian vai ser um ótimo pai um dia, com todo esse ar calmo e confiável.

Além de ser o pai mais sexy do jardim de infância, com certeza. A propósito, já
falei que ele é a cara do Guy Berryman, do Coldplay?

Passados meu momento rockstar e a D.R. de Mal e Dan (Sério, esses

dois se amam.), o ensaio começa para valer. Sento em um canto no chão e

aproveito para pegar meu laptop e trabalhar um pouco. (Mentira. Trabalhar

ouvindo Black Road ao vivo, com certeza, não pode ser considerado trabalho.) A

banda recebe uns cinquenta pedidos de entrevista por dia e minha caixa de

entrada está transbordando.


Sem ninguém em volta, os meninos são apenas meninos e até Mal fica

sorridente e brincalhão. Eles implicam um com o outro e fazem aquelas típicas

brincadeiras masculinas sem graça que as mulheres nunca vão entender, mas é
fofo de se ver.

Me reúno rapidamente com Josef e agendo três entrevistas para a manhã


seguinte, já que a tarde sairemos para a turnê pela Europa. (Sim, eu vou

conhecer a Europa!) Aproveito para falar com meus pais e assegurá-los de que
estou viva e que os roqueiros maus não desvirtuaram a filhinha deles.

Depois de três horas de ensaio, estou faminta. Os meninos estão reunidos


e conversando absortos, então só grito que vou sair para comer, já indo para a
porta. Axl se despede dos outros e corre na minha direção. - Nini, estou

morrendo de fome também. Posso ir com você?

- Claro! Me faria um grande favor, não sabia nem por onde começar a
procurar um restaurante. - Dou de ombros rindo.

- Gosta de hambúrguer?
- AMO! - E quem não ama?

- Então eu sei de um lugar perfeito. - Vamos em direção a uma Kawasaki

laranja gigante parada ao lado do Aston Martin. Uau! Nunca andei em uma moto

como essa. É meio intimidante. E muito sexy. Axl para ao meu lado, achando

graça da minha cara de espanto.

- Uau. Que moto é essa?

- Uma Kawasaki Vulcan 900. - Como se eu soubesse o que isso quer


dizer! Ela é incrível, isso eu posso afirmar. Vamos lá, Nick. Sempre tem uma

primeira vez para tudo. Respiro fundo e faço um sinal afirmativo para ele, que

me pega pela cintura e me coloca com facilidade em cima do banco.


Com carinho e cuidado que fazem meu coração apertar, ele coloca o

capacete em mim e aperta a fivela, me dando uma piscada marota. Com uma
agilidade que eu não achava possível para alguém que usa calças tão justas, ele

passa sua perna pela frente e sobe, colocando seu próprio capacete esportivo.
A moto ruge embaixo de mim quando ele aciona o motor e sou atingida

por uma onda de adrenalina e excitação. Me agarro com força na montanha de


músculos que é o seu corpo e dou um risinho nervoso.
Ah, se meus pais pudessem me ver agora.

- Pronta?

- Pronta! - Respondo com um grito empolgado e ele sai acelerando pela


cidade. A sensação é incrível! O vento, não ter nada entre mim e o chão, o

rugido do motor, o medo de passar entre os carros. Animal!


Solto um muxoxo de tristeza quando paramos cedo demais em uma

lanchonete pequena e bem arrumada, numa parte afastada da cidade.

- Axl, isso foi demais! - Tiro o capacete e sorrio tanto que minha

bochecha dói. Ele ri alto da minha empolgação, oferecendo a mão para me

ajudar a descer.

- Que bom que gostou, Nini. A maioria das garotas fica apavorada na

primeira vez.
- Como ter medo com esse seu tamanho todo? Você é tipo um airbag

portátil. Era só mirar bem e cair em cima de você, que nada me aconteceria.

- Seria uma honra servir como seu airbag. - Concorda rindo com malícia
e piscando para mim. Enorme, barbudo, motoqueiro, tatuado e o cara mais

sorridente e fofo que já conheci. Pena que não me faz sentir metade das coisas
que um certo alguém carrancudo e mal-humorado faz.

Qual era o meu problema?


O que Malcolm Black fez comigo para eu só conseguir ter olhos para

ele?
Chega. Não vou mais pensar naquele babaca.
O almoço é muito agradável, com o melhor hambúrguer que já comi na

vida, um milk-shake do tamanho do Jack e um ótimo papo com Ax sobre as

histórias das turnês. Estou explodindo de tão cheia, enquanto ele ainda está
devorando seu terceiro lanche. Realmente, não deve ser fácil alimentar aqueles

músculos todos.
- Além do hambúrguer delicioso, é bem óbvio porque escolheu comer

aqui.

- Ah, é? Por que você acha?

- Porque a gatinha da garçonete não parece nada impressionada com

você. - A gatinha em questão estava no alto dos seus 65 ou 70 anos. Mesma

idade dos frequentadores comendo panqueca calmamente e do senhor atrás da

chapa. Não eram bem o público da Black Road, digamos assim.


- Ah, Nick. Você não faz ideia de como é bom poder almoçar sem acabar

na capa de um jornal ou sem ter que tirar selfies entre cada batatinha frita.

- Acho que estou começando a entender, Ax. - Eu tinha saído mordendo


um cachorro quente, numa pose quase sensual, na capa do maior portal de

notícias do país. Isso que dá fazer um lanchinho enquanto se espera os bonitões


darem autógrafos. Fora que já perdi a conta de com quantos editores eu gritei por

terem publicado absurdos falsos sobre a banda, só nesses dias.


“Black Road acaba e membros se mudam para uma comunidade rastafári

ufológica” foi a minha preferida até agora. Só de imaginar Malcolm de


dreadlock, usando uma túnica colorida, e falando sobre ETs, eu já ganhei meu
dia.

Depois de acabar o quarto sanduíche, o resto do meu milk-shake e as

minhas batatas, Axl parece finalmente ter ficado cheio. Ele acerta nossa conta e
deixa uma gorjeta obscena para a garçonete, que sai feliz contando as notas.

Na volta para casa, estou tão apaixonada pela Kawasaki que prometo
para mim mesma que preciso comprar uma belezinha dessas assim que minha

conta bancária permitir. Por que não, né?! Já me mato sozinha, então uma moto

esportiva não vai fazer tanta diferença.

Ele me deixa no mausoléu e eu estou radiante depois do dia perfeito que

tive. Mas tudo desmorona quando entro e dou de cara com Mal, sentado na

mesma poltrona de ontem, com os olhos vermelhos e a expressão derrotada.

- Black? O que aconteceu? - Corro até ele o mais rápido que minha bota
permite e me sento no chão à sua frente. Ele balança a cabeça, mas não fala

nada. Meu coração se aperta… Algo está muito errado. - Mal, me fala, por favor.

O que você tem? - Para minha surpresa total, ele se lança para mim e me abraça
sem aviso, afundando o rosto no meu pescoço. Tento acalmá-lo passando a mão

por seu cabelo macio. - Shiu. Calma. Vai ficar tudo bem. Me diz o que aconteceu
e a gente vai resolver. - Ele faz que não com a cabeça e me aperta ainda mais. A

imagem desse homem enorme se agarrando a mim como um menino, desfaz


meu coração em pedacinhos. - Te prometo que conseguimos enfrentar qualquer

coisa, mas você precisa me contar o que aconteceu.


Ele se afasta só o suficiente para olhar para mim e murmurar com raiva. -
Ele se casou, porra. Se casou com aquela mulher, Black.

- Quem, Mal? Quem se casou? - Pergunto sem entender, passando a mão

pelo seu rosto.


- Meu pai, Black! Meu pai se casou hoje com a mulher com quem ele

traiu minha mãe por anos!


Porra. Por essa eu não esperava. - Que merda, Mal.

- Merda é ele ter a audácia de me convidar para o jantar de

comemoração! - Porra mesmo.

- É, isso também é uma merda. E você vai?

Seus olhos brilham com raiva e ele respira fundo antes de responder. -

Minha mãe pediu que eu fosse. Ela sempre pede que eu o perdoe, que eu deixe

essa história para lá. Mas não dá, Black. Não dá, porra. Isso acabou com a nossa
família. - O tom da sua voz não é nada parecido com o seu normal. Mágoa e

ódio transbordam em cada palavra. - Minha mãe é a melhor mulher do mundo e

ele a fez sofrer tanto. Tantas brigas, tantas mentiras. Como eu posso ir lá e fingir
que está tudo bem, caralho? - Ele me pergunta com um misto de raiva e

desamparo. A pose de roqueiro fodão esquecida. Nunca o vi esboçar nenhuma


emoção, mas agora ele está aqui despejando todos os sentimentos já inventados

do universo em cima de mim.


O que eu faço?

Não sei lidar nem com os meus problemas!


O que eu posso dizer para que ele se sinta melhor?
- Mal, se sua mãe o perdoou, talvez seja hora de você perdoar também -

Digo com cuidado, olhando em seus olhos e pegando suas mãos. - Seu pai errou.

Alguns erram mais, outros erram menos, mas todo mundo erra. Se sua mágoa é
pelo que sua mãe passou, e ela está bem agora, você deve seguir em frente. Tudo

acontece por uma razão. Ela está feliz e casada agora também, não está?
- Sim. Muito feliz. O marido dela é um grande cara. - Ele conta baixinho,

olhando com uma careta para nossas mãos unidas, mas sem tirar a sua do meu

aperto.

- É isso! Não estou dizendo que precisa achar tudo lindo. Seja apenas um

cara superior, vá até lá, cumprimente seu pai e vá embora. Pense que sua mãe vai

ficar muito feliz em saber que deu um passo para superar essa história. Ela deve

sofrer muito sabendo que tem esse rancor guardado dentro de você.
Ele nem pisca, só fica olhando suplicante para mim, tentando absorver

minhas palavras. Sinto uma vontade súbita de protegê-lo de tudo e de todos, de

impedir que qualquer coisa ruim aconteça com ele. Quero ser mais que sua
empregada. Quero ser a pessoa que ele abraça nos momentos difíceis. Quero

saber tudo sobre ele.


“Be my mirror, my sword and shield”.


Coldplay, agora entendo o que quis dizer.


- Vem comigo, Black. - Sua voz é só um sussurro, mas me desperta dos
meus devaneios na hora. Será que eu ouvi direito?

- Eu? No jantar de comemoração do casamento do seu pai? - Ele

concorda com a cabeça. - Por que, Mal?


- Porque não quero ir sozinho e não quero envolver os caras nisso.

Vamos, Black. Juro que compro uma caixa de Kit Kat do seu tamanho como
recompensa.

Maldita hora que contei para ele que era fácil me subornar com comida.

Também, se ele me pedisse um rim com esse olhar desamparado, eu daria feliz.

Tragam o bisturi!

- Ok. Eu vou.

Ele me abre um pequeno sorriso tímido, mas que brilha de emoção.

Emoção que sai dele e vem se alojar diretamente dentro do meu coração.
Ai, meu Deus. Com o que eu acabei de concordar?


Capítulo 11 - Acompanhante do maior rockstar do
mundo

Me olho no espelho pela milésima vez, pensando se estou digna de ser

acompanhante do maior rockstar do mundo. Bom, meu macacão de seda preto


com um decote em V, cinto poderoso marcando a cintura, sapatilhas de verniz

com amarrações no tornozelo (Em um pé.) e uma gargantilha prateada, é o que

tenho para hoje. Confiro a maquiagem e ajeito meu cabelo escovado.

Por que estou tão preocupada? Mal está tão tenso que a última coisa em

que vai reparar é no meu look. Pensando que não adianta adiar o inevitável, saio

para o corredor e vou até sua porta. Respiro fundo e bato de leve.
Ele abre na hora, vestindo uma camisa preta, calças jeans pretas e sapatos

sociais pretos. Sim, só usamos preto. Afinal, ele é um astro do rock e eu fico

magra nessa cor. E, qual é?! Nosso sobrenome é Black!

Ainda está muito abatido, o que me dá uma vontade absurda de abraçá-


lo. Droga, era bem mais fácil enterrar esses sentimentos e abraçar a Cláusula 27

quando ele estava sendo um babaca.


- Pronto? - Pergunto mais para me distrair do cheiro maravilhoso do seu

perfume. E dele todo.


Ele me analisa de cima a baixo e um pequeno sorriso tímido se mostra. -

Seu cabelo está liso, Black.


- É, eu tentei domá-lo hoje. - Passo a mão para arrumá-lo. Malcolm tem o
poder de me deixar insegura com uma frase. Ele gostou? Ele odiou? Estou

ridícula?

- Ele é legal normalmente, mas gostei dele assim. Você está muito...
elegante.

- Nossa, Black. Você está mais abalado do que eu pensava. Está até
tentando ser legal comigo. - “Elegante” foi um bom elogio. Mas eu ainda

escolheria o bom e velho “bonita”.

- Você é uma coisinha boba mesmo. Vamos logo. - E sai na minha frente,

descendo as escadas a passos largos. O que eu posso fazer? Dou de ombros e

vou mancando atrás dele, subindo no Aston Martin brilhante e temendo pelo que

o resto da noite me reserva.

O caminho é curto até a mansão clássica, que está lotada de carros


parados na frente do gramado bem cuidado. Mal estaciona ao lado de uma

Ferrari vermelha impressionante, desliga o motor e respira fundo, segurando

com força o volante, até os nós dos seus dedos começarem a ficar brancos. Ele
não vai descer tão cedo, pelo jeito. Hora de tomar as rédeas da situação. Saio do

carro suspirando, dou a volta, e abro a porta dele. Solto seu cinto e o pego pela
mão (Oi, arrepios!) puxando seu corpo para fora com força. Vou rebocando até a

porta, já que ele parece ter esquecido como se anda. Cara, o homem é pesado!
Quando chegamos à soleira, seu aperto na minha mão se intensifica e pânico

verdadeiro domina seu olhar.


- Vai dar tudo certo, eu prometo. - Espero que ele não desmaie aqui.
Duvido que eu vá conseguir carregá-lo sozinha. Toco a campainha antes que ele

surte de vez e o aperto na minha mão fica ainda mais forte.

Vou acabar com algum dedo quebrado até o fim da noite.


Um homem idêntico ao Mal, com cerca de sessenta anos, vestido em um

terno escuro impecável, abre a porta com um sorriso enorme. Para nosso
espanto, ele puxa o filho para um abraço apertado. - Malcolm, estou tão feliz que

tenha vindo.

Ele não reage, mas se deixa ser abraçado, ainda sem soltar minha mão. O

que nos deixou numa posição bem estranha, diga-se de passagem.

- Oi, Harrison. - Responde secamente e se desvencilha dos braços do pai,

dando um passo para trás.

- Sua presença é muito importante para mim, filho. Fico muito grato
mesmo por ter vindo. - O Senhor Black está claramente emocionado, o que faz

com que Mal desvie seu olhar para mim pedindo ajuda desesperado.

Ok, bonitão. Vou te salvar dessa.


- Boa noite, Sr. Black. Sou Nicole. É um prazer conhecê-lo. - E estendo

minha única mão livre para ele, que me nota finalmente.


- Ah, olá! O prazer é meu, senhorita. E você é…

- Sou amiga do Mal e trabalho para a banda. - E acho que faltam cinco
minutos para eu me apaixonar de vez pelo seu filho. Principalmente, se ele

continuar segurando minha mão e me olhando com essa intensidade.


- Ah, sim. Fico feliz que tenha vindo para acompanhá-lo. Somos apenas
um bando de velhos hoje, então é bom que ele tenha alguma companhia.

Venham, entrem.

Acho que me saí bem, mas Mal ainda está mudo e branco igual ao Dan.
Uma empregada impecável, vestida com aqueles uniformes que a gente só vê em

filmes, pega nossos casacos e sorri com cobiça para Mal. Claro, quem resistiria?
Não julgo a pobre moça.

A casa é impecável por dentro, toda decorada em tons claros e

transbordando riqueza. Aquele tipo de lugar que dá até vontade de derrubar um

pouco de molho de tomate no chão, só para dar um pouco mais de vida. Somos

levados até uma elegante sala de jantar, com direito a lustre e mesa de 20

lugares, onde está o centro da comemoração.

Uma senhora loira, usando um tubinho creme que parece se misturar com
a decoração da casa, vem em nossa direção com um sorriso caloroso. Eu

adivinho que é a esposa do pai de Mal só pela força com que ele aperta minha

mão. Pobres dedos da Nick.


- Malcolm! Você veio!

- Heather. - Ele trava o queixo, sua expressão misturando raiva e


desprezo. Mais uma vez intercedo para salvar o momento constrangedor. Ele vai

ficar me devendo várias caixas de Kit Kat depois dessa noite.


- Prazer, senhora Black. Sou Nicole. - Estendo a mão para ela, sem sorrir.

Me parece uma boa pessoa, mas a odeio só porque ela faz meu astro do rock
sempre tão composto parecer uma criança assustada com o bicho-papão.
- Olá, Nicole. O prazer é todo meu. Você é muito bonita, querida.

- Muito obrigada. A senhora é muito gentil. - Mal bufa discretamente ao

meu lado e eu dou uma cotovelada nas suas costelas. Sorte que ela não percebeu,
ocupada com algo que a empregada assanhada veio sussurrar em seu ouvido.

- Bom, já estão servindo o jantar. Vamos nos sentar? - E nos mostra


nossos lugares, bem ao centro da mesa. Murmuramos cumprimentos a todos os

presentes, que ficam olhando para Mal sem nem tentar disfarçar a curiosidade.

O jantar transcorre sem acidentes, ou seja, Malcolm fica mudo o tempo

todo e eu respondo pelos dois quando nos perguntam algo. Os recém-casados

parecem muito felizes, se tocando, sorrindo um para o outro e trocando beijinhos

durante toda a noite. Quando todos estão empolgados admirando a aliança que

deve ter mais quilates do que eu tenho quilos, Mal busca minha mão embaixo da
mesa. O arrepio já familiar flui por mim, misturado com algo mais forte. Por

mais que eles estejam felizes, isso acabou com a família do meu babaca e isso

me mata. Quero pegá-lo no colo e sair correndo dali, ao mesmo tempo que quero
me estapear por me permitir ter esses pensamentos.

Aproveitando a deixa, pedimos licença para sair com a desculpa das


entrevistas que teremos pela manhã. Abraço o casal, poupando Mal de ter que

fazer o mesmo, e eles insistem que eu volte em breve para um almoço. Há! Qual
a chance?!

Mal simplesmente balança a cabeça e vai em direção ao carro, sem olhar


para trás. No caminho para casa, está mais calado do que nunca. Cara, que noite
foi essa?

Como esse dia, e todos os desde que Mal entrou na minha vida, foi louco.

Já amava esses quatro caras antes, mas agora, conhecendo eles, não posso
imaginar viver sem a Black Road. E, principalmente, sem Mal. Esse homem

complicado, intenso e cheio de camadas, que está se instalando no meu coração


sem nem perceber.

Chegando ao mausoléu, ele estaciona na garagem, mas não sai correndo

na minha frente como normalmente faz. Espero com paciência ele olhar para

mim. Quando os gigantes olhos azuis me encaram, meu estômago dá um salto.

Será que nunca vou superar essa beleza absurda?

- Black, eu… - Respira fundo e parece precisar de coragem para terminar

seu pensamento. - Aprecio o que fez por mim hoje. Só… não conte para
ninguém, tá?

- Eu nunca contaria. - Respondo com a voz baixa - E não precisa

agradecer, não foi nada.


- Foi sim, foi mais do que imagina. E ainda me aguentou esmagando sua

mão a noite toda. - Dou de ombros. Isso é verdade, o cara é forte. Quem será que
ganharia uma queda de braço entre ele e Axl? - Black. E se eu for como ele? -

Ele pergunta sério, com medo no olhar. - E se eu estragar tudo quando eu tiver
minha família? E se eu magoar aqueles que me amam?

Algumas coisas começam a fazer sentido na minha cabeça. Para ele,


amor é um gatilho para o medo, para coisas ruins. Pais podem ser realmente
bons em acabar com a mente dos filhos.

- Mal. Você é dono das suas atitudes. Você quer ter uma boa família,

trabalhe duro para isso. Pegue o exemplo dos seus pais e faça diferente. E
arrume uma mulher que te coloque no seu lugar, caso você pense em sair da

linha por um segundo que seja.


Ele olha para baixo, absorvendo minhas palavras. Depois do que parecem

horas, desce do carro sem falar nada e dá a volta até o meu lado. Para o meu total

espanto, ele abre a porta, passa as mãos pelas minhas pernas e me pega no colo.

Ah, que saudade disso!

- Eu acho que você já se esforçou demais por hoje. - Ele dá de ombros,

como se não fosse grande coisa.

- E eu acho que você é realmente legal, por baixo de toda essa fachada
marrenta, Black. - Digo me aninhando no seu pescoço cheiroso. Ah, eu merecia

isso depois de tudo que fiz hoje.

- Você sabe que não é educado farejar as pessoas, certo?


- Aceita que dói menos. - Respondo sem me abalar. Ele me leva até o

quarto, me deixa na cama e, antes de sair, para na porta me encarando.


- Nunca vou esquecer do que fez por mim hoje, Black. - Ele começa a

sair, mas volta e se vira, me encarando com intensidade. - Foi uma merda ver
você andando de moto com o Ax. Então... - Pausa para um pequeno sorriso. -

...amanhã você vai na minha moto. - Pisca para mim e sai batendo a porta antes
que eu tenha chance de responder.
Uau! Já pode ser amanhã agora?



Capítulo 12 - Já é amanhã!

Acordo cedo na manhã seguinte, empolgada com a expectativa do dia


que terei pela frente. Visto uma calça skinny preta, coturnos, camiseta da Black

Road com um nó na barriga e uma choker de veludo. Para completar meu visual

motoqueiro, escolho uma jaqueta perfecto de couro, batom vermelho e meus

óculos aviador. Estou um arraso!

Saio do quarto e trombo de cara com Mal, que está parado na minha
frente, parecendo que ia bater na porta naquele minuto.

- Bom dia, Black! - Abro um sorriso enorme para ele. Está lindo, os

cabelos penteados e arrumados, a barba cerrada e todo vestido de... Quem

adivinha?

- Bom dia, Black-Cara-de-Tarada. - Ele revira os olhos azuis para mim.

Nem percebi que estava fazendo cara de tarada. Acho que essa já é minha

expressão de sempre quando Malcolm está por perto. - Pronta para andar numa
moto de verdade?

- Sim! - Digo dando pulinhos com um pé. Ele balança a cabeça achando
graça e percebo um resquício de sorriso.

Ah, Mal. Eu vou te ganhar e você não vai nem perceber.


Pego minha bolsa e saio andando devagar, mais devagar do que eu
conseguiria realmente, fazendo um pouquinho de charme. - Nós iríamos tão mais

rápido se você me levasse... - Digo como quem não quer nada e faço a minha
melhor cara de filhote de panda abandonado na neve.
- Black, você sabe que eu sei que você só quer uma desculpa para me

farejar, certo?

- Black, você sabe que eu sei que você adora isso, né? Vem logo! - E o
viro de costas para mim, pulando em seu pescoço. Ele age rápido e segura

minhas pernas, apertando minhas coxas.


- Coisinha estranha. - Balança a cabeça de novo, mas começa a me

carregar sem reclamar, enquanto eu me afogo feliz no seu cheiro.

Chegando na frente da casa, uma moto esporte gigante nos espera. Ela é

preta, intimidante e sensual, igualzinha ao dono. - Uau, Black. - Ele me coloca

no chão e eu passo os dedos com reverência pela lataria reluzente.

- Eu sei. Ela é demais. - Seus olhos brilham de empolgação com minha

reação. Meninos e seus brinquedos.


- Ela?

- Sim. Uma Kawasaki Ninja ZX 10R KRT Edition, chamada Madonna. -

Ele fala como se eu realmente entendesse o que querem dizer essas siglas.
- Sua moto chama Madonna? Ela não é meio máscula para chamar

Madonna?
- Ela é poderosa, como a Madonna. - Ele explica dando tapinhas

carinhosos no tanque, como se fosse um filhotinho de cachorro.


Não consigo esconder o riso. Meu Deus, esse homem é uma caixinha de

surpresas.
Mal sobe na frente e dá a mão para me ajudar a subir atrás, me passando
um capacete preto escrito “Black”. O lugar do carona é minúsculo, meio

inclinado e me faz deslizar até ficar com os peitos colados nas suas costas. Ah,

eu gosto dessa posição.


Na moto eu estou autorizada a tocar nele, certo?

É uma questão de segurança, Cláusula 27.


Passo as mãos pela cintura musculosa e elimino qualquer espaço entre

nós. Sinto seu estômago se contrair sob a minha mão e sorrio. Ele dá partida, o

motor ruge embaixo de nós e, quando ele acelera, sinto meu corpo todo ficar

entorpecido. O vento no meu cabelo, o cheiro de Mal, seu tanquinho... Quero

começar todos os meus dias assim!

O caminho até o escritório da banda é curto demais para o meu gosto,

queria pegar uma estrada longa com essa máquina um dia. Ou quem sabe fazer
sexo em cima dela?! Opa, opa. Pensamento errado, totalmente errado. Não vá

por aí, Nick! Hora de mudar de assunto mentalmente.

Ele estaciona ao lado da moto laranja de Ax e, realmente, a dele é bem


maior. Desço e tiro o meu capacete, pronta para agradecê-lo pela carona surreal,

mas fico momentaneamente sem voz. Meu queixo está no chão com essa cena de
um perfeito bad boy, moto matadora, capacete, jaqueta de couro, roupa preta,

cara de mau.
Ah, Mal. Você dificulta tanto o meu lado assim...

Abaixo a cabeça para esconder minha cara de tarada, e sacudo os cabelos


para ajeitá-los. Quando me ergo de volta, ele está me encarando com fogo
brilhando em seus olhos. Ele está me dando esses tipos de olhares mesmo? Para

mim? O mesmo que eu estava dando agora para ele?

- Mal?
Ele se toca do que está fazendo e parece encabulado por um segundo,

depois volta ao seu modo grosseiro desnecessário, como se nada tivesse


acontecido.

- Quanta frescura com esse cabelo. Vamos logo, estamos atrasados. - E

passa por mim com passos largos. Lá vamos nós no “Incrível Mundo Bipolar de

Malcolm” de novo.

Os garotos já estão todos lá, esperando numa sala de reuniões ampla e

bem iluminada, devorando um café da manhã que parece delicioso. Dan sai

correndo para me abraçar, ainda com um donut na boca. Acabo com a bochecha
cheia de açúcar e um pouco de creme no cabelo. Ian oferece um copo de café

para mim, preparado do jeito que eu gosto. Axl me chama para almoçar com eles

numa lanchonete nova que descobriu. (Esse menino não tem fundo. Está
pensando no almoço durante o café!).

As entrevistas correm bem e eu respiro aliviada quando terminam. Ter a


imagem desses quatro nas minhas mãos é uma baita responsabilidade, mas

parece que eu nasci para esse trabalho. Modéstia parte, claro.


Depois de uma manhã cheia de gravações e fotos, os meninos estão

famintos, então acabamos indo todos almoçar na lanchonete que Axl descobriu.
Já que estão os quatro juntos, temos de ir em uma van com os vidros mais
escuros que já vi e uma equipe de segurança completa. Do nada, um almoço se

torna quase uma estratégia de guerra. Pelo menos, para minha alegria, Boris está

entre eles.
- Senhorita Nicole! Está andando! Fico muito feliz. - Vou até ele e o

abraço com força.


- Oi, Boris! Que bom te ver! - Ele sorri para mim um pouco encabulado

com a minha demonstração pública de afeto. Poxa, esse cara salvou minha vida!

Na van, acabo sentando entre Dan e Ian, que apoia meu pé no seu colo

sem nem eu pedir. Essa personalidade dele é muito admirável, sempre

preocupado e cuidando de tudo. Vamos cantando músicas antigas dos Rolling

Stones no caminho. Mal é divino, Axl e Dan cantam bem, mas Ian é péssimo. É

meio reconfortante achar pequenas falhas nesse grupinho, me ajudam a lembrar


que eles são humanos.

O restaurante é pequeno e aconchegante e nosso grupo barulhento ocupa

quase ele todo. O que é ótimo, porque conseguimos comer tranquilamente, sem
sermos incomodados. Basicamente falamos sobre nossas comidas preferidas e

discutimos uma ideia que tive para o Instagram da banda. Ao invés de fotos
oficiais, vou postar cliques pessoais, de bastidores, flagras e coisas que façam

com que os fãs se sintam próximos aos meninos.


Afinal, quem melhor que eu para saber do que os fãs iriam gostar?

Eles ficam bem empolgados com minha sugestão e até Mal parece
impressionado. Pelo menos eu acho que ficou, já que ele não colocou defeito em
nada.

Yeah! Ponto para mim.

Quando saímos do restaurante, depois de Axl repetir pela 5a vez, um

bando de paparazzi nos aguarda na porta. Alguém, com certeza, os viu e


divulgou a informação. É assustador! Preciso andar sem ver para onde estou
indo, porque os flashes me cegam completamente. Harley age rápido, fazendo

um corredor com os outros seguranças para nos tirar de lá em segurança,

enquanto fotógrafos e repórteres gritam para chamar a atenção dos meninos.

Alguém apoia a mão na base da minha coluna e vai me guiando,

enquanto eu penso na cara de assustada com que vou sair nas fotos. Chegando na

van, percebo que a mão era de Mal, que ainda está ao meu lado, esperando para

me ajudar a entrar. Parado atrás de nós, Dan abre um grande sorriso malicioso,
mas não fala nada. Milagre!

Voltamos ao escritório em silêncio. Já percebi que essas coisas sempre

chateiam eles, principalmente quando acontecem em Bellflower. De lá, os

garotos seguem para casa, enquanto eu vou me reunir com Josef para acertar os
detalhes das coletivas de cada um dos shows. Perdi minha carona sexy e ainda
vou ter cinco minutos para fazer a mala para a primeira turnê da minha vida, mas

não posso reclamar.


Quando termino o trabalho, duas horas depois, pego um táxi e chego ao

mausoléu vinte minutos antes do horário combinado para a van passar para nos
pegar. Corro o máximo que minha bota ortopédica permite e não vejo nem sinal
de Mal pelo caminho. Deve estar no seu closet separando uma infinidade de

roupas pretas maravilhosas de grife e que valem mais que a minha vida.

Chego no meu quarto e paro na porta, totalmente chocada. Uma caixa


enorme está esperando em cima da minha cama, embrulhada com um laço

vermelho. Um presente?
Abro ansiosa, rasgando a embalagem. Dentro, encontro pelo menos umas

quinhentas embalagens de… Kit Kat! Uau, Black! Melhor presente da história.

Isso só não é melhor do que se o próprio Mal saísse pelado de dentro da caixa,

usando esse o laço vermelho no pescoço. (Mas também, nesse caso, nada seria

melhor).

Quando ele disse que me daria uma caixa de Kit Kat, nunca imaginaria

isso. Pego uma das malas e encho de chocolate, para só depois me preocupar
com o resto das minhas coisas. Uma garota precisa ter prioridades na vida. E

uma garota precisa se lembrar de ajudar Mal mais vezes e, na próxima, precisa

lembrar de pedir uma Ferrari como recompensa.


Faltando um minuto para a hora combinada, Mia entra pela porta como a

tempestade morena que sempre é. - Hey! O carro chegou. Está pronta?


- Hey! Pronta. - Fecho a última mala e olho para ela. Mia está linda como

sempre, usando um micro shorts jeans que exibe bem a tatuagem gigante que
cobre toda sua perna direita. Ela me ajuda a carregar minhas tralhas até a sala,

onde Mal está cercado pelo triplo de malas que eu levo.


- Meu Deus, Black. Eu sou a garota, tenho metade das suas malas e uma
delas é só de chocolate.

- Black, eu sou o rockstar. - Levanta seu queixo anguloso para mim, me

desafiando com sua maior cara de arrogante. Eu posso levar quantas malas
quiser.

- Você tem mesmo uma mala só de chocolates? - Mia interrompe nosso


embate com os olhos brilhando. Mulheres e chocolate, a relação perfeita.

- Sim! Kit Kat ainda. - Espero que Mal assuma que foi ele quem me

mandou a caixa, mas ele se ocupa só em analisar as cutículas e me ignorar.

- Agora eu tenho uma amiga e essa amiga tem uma mala de Kit Kat. Essa

vai ser a melhor turnê da história! - Ela enlaça seu braço no meu e vamos para a

van rindo e deixando Mal-eu-sou-o-rockstar para lidar com as malas sozinho.

Quando já estou sentadinha, ao lado de Mia e de Ax, as malas


acomodadas e a caminho do aeroporto, a minha ficha finalmente cai

É isso. Vou sair em turnê com a Black Road.

Vou passar todas as horas do meu dia com Malcolm Black!


E sem poder encostar nele.

Eba! Eba! Eba! (#Not. Definitivamente #Not.)



Capítulo 13 - Black Road on the Road

Daniel é a diversão dos meus dias. Axl é a perfeita companhia para


filmes e refeições. Ian é o melhor para se conversar sobre qualquer assunto. Mia

já se tornou a minha melhor amiga.

E Malcolm... é o amor da minha vida.

Estou tão, tão ferrada. E tão, tão apaixonada.

Ele é talentoso, inteligente, bondoso (Quando acha que ninguém está


olhando.) e cheio de surpresas sob as camadas de rockstar arrogante. E não

vamos nem entrar nos quesitos físicos.

Nós dois desenvolvemos uma rotina estranha, que no começo eu adorei,

depois acabou se transformando em tortura. Sempre assistíamos Friends depois

dos shows, até que eu dormisse. Então, ele me levava para a minha “cama” no

ônibus, que era ao lado da dele, o que fazia com que eu sempre acordasse

olhando para sua cara ridícula de maravilhosa.


Ele me ajudava com meu projeto do Instagram, tirando fotos ótimas,

dando sugestões e posando sempre que eu pedia. Eu cuidava de todas as ligações


do seu pai, poupando ele de ter que atendê-lo.

Ele me ensinava pacientemente a tocar guitarra nas horas vagas.


Eu sempre preparava água com limão para hidratar sua garganta.
Ele já me deu exatos 37 sorrisos com covinhas.

Eu sempre arrumava seu cabelo antes dos shows.


Ele nunca mais encostou um dedo em mim.
Ele me transformou na melhor amiga dele.

Ele me arrastou para a friendzone, sem dó, nem piedade.

O pior é que eu não posso fazer nada sobre isso. Eu deveria ficar feliz,
certo? Mas não. Sou uma masoquista! Por que manter uma amizade saudável, se

é muito mais prazeroso saber exatamente qual o melhor ângulo da bunda dele e
como sua boca faz uma curvinha exatamente no canto direito?! Louca! Sou

totalmente louca!

Acho que os outros não perceberam o quão insana era minha obsessão,

ou não falaram nada se perceberam. (Valeu, gente.)

O trabalho, em compensação, é muito melhor do que eu imaginava,

mesmo nos meus maiores sonhos. Já conheci Suíça, Holanda, Irlanda, França,

Alemanha e Rússia, tudo em um mês. E isso, claro, só piorava minha situação.


Não poderia arriscar a maior experiência (E o maior salário.) da minha vida só

por um cara.

Mesmo que seja “O” cara.


Eu passei a ser reconhecida nas ruas e a receber milhares de mensagens

nas minhas redes sociais todo santo dia. Tudo porque, onde os meninos estavam,
eu estava. (Menos no banheiro, claro.) Eu saia super cool nas fotos, andando

com os roqueiros fodões. E eu nunca fui cool na vida! Tinham até perfis das fãs
para mim no Instagram, os meus preferidos eram os que comentavam e

postavam meus looks. E pensar que lá em Brown River as pessoas tiravam sarro
de como eu me vestia.
Ah, o mundo dá voltas mesmo.

Saí até na capa de um tabloide sensacionalista, que me acusou de estar

grávida e de que a banda acabaria porque qualquer um dos quatro poderia ser o
pai. Gente, o nome da minha barriga é torta, não bebê.

Pelo menos, não acusaram Josef de ser o pai.


Mia sempre fica arrasada quando é alvo desses desocupados, muito mais

do que eu fico. Essa invasão de privacidade aconteceu muito com ela, por ter

sido a primeira namorada “oficial” da Black Road. Agora já não é tão novidade

uma mulher na vida deles, então pegam mais leve comigo. E, como vivi no meio

dessa loucura de imprensa nos últimos anos, nem me importo muito. Sei que, no

dia seguinte, o escândalo já será outro.

Meus pais estão super orgulhosos de mim e fazem questão de mostrar


para todo mundo a filhinha “famosa”, meu irmão está aproveitando para pegar

geral falando que conhece a “Black Road” e Belinda fica me mandando links de

tudo que sai em sites sobre mim. Só as coisas boas, claro. E não são poucas.
Estou me acostumando até com os paparazzi. Descobri porque as

celebridades usam óculos de sol em todos os momentos: ajudam muito com os


flashes.

Tudo muito legal, eu sei, parece a vida dos sonhos. Mas, jogando a real, é
muito sufocante. Depois de um mês na estrada, só consigo pensar em me dar

uma folga. Preciso parar de remoer essa fixação maluca por Malcolm Black e sei
exatamente quem eu preciso arrastar comigo.
- Mia! - Ela se assusta com o meu tom de voz desesperado, levantando os

olhos do croqui que estava desenhando. Estamos as duas sozinhas sentadas na

sala do ônibus da turnê, enquanto os meninos ensaiam. - Preciso sair hoje à


noite.

- Estou dentro! - Ela nem hesita. Por isso amo essa garota. - O que quer
fazer?

- Sair, mudar de ares, ver outras pessoas. - Encontrar um cara que me

faça superar Malcolm.

- Ótimo! Vamos para um bar. Ian vai ficar putíssimo! Nós sempre temos

as melhores noites de sexo quando ele está com ciúmes. - Faz cara de safada

para mim, levantando as sobrancelhas. Impossível não gargalhar. Nem ela

aguenta e começa a rir comigo.


Os meninos voltam para o ônibus bem nessa hora, chegando do ensaio. -

O que é tão engraçado, BFFs? - Daniel se joga em cima da mesa, senta cruzando

as pernas, batendo palmas e usando sua melhor expressão afetada.


- Eu e Nick vamos sair para uma noite de meninas. - Mia conta com um

sorriso gigante e brilhante.


- Como é que é? - Ian engasga com a sua garrafa de água na hora. Ela

acertou em cheio, o menino está até ficando roxo.


- Isso me lembra que preciso falar com o Boris sobre a nossa segurança

para hoje. - Me levanto e pisco para Mia, deixando ela lidar com seu namorado.
(Que parece estar no meio de um aneurisma.)
- Ah, isso vai ser legal. - Ax abre um sorriso enorme, se senta no sofá e

coloca os braços para trás, numa postura totalmente relaxada.

- Sim, sim. Será que eu devo fazer pipoca? - Dan se junta a ele e imita
sua pose.

- Mia, que história é essa? - Vou saindo discretamente para a porta do


ônibus, fugindo da briga, até que dou de cara com uma parede em formato de

Mal, parado de braços cruzados e uma expressão matadora.

- Isso parece ideia sua, Black. - Ele está carrancudo e assustador como

não ficava há tempos comigo.

- E se for? - Levanto o queixo e o desafio com o olhar.

- Por que vocês querem sair? Não vão ver o show de hoje? - Ian pergunta

fazendo sua melhor cara de cachorrinho abandonado na chuva de granizo.


- Baby, nós vimos T-O-D-O-S os shows no último mês. Nós S-Ó vimos

vocês no último mês. Merecemos uma folga. - Mia se levanta e cruza os braços,

sem se deixar intimidar pelo biquinho de piercing dele.


- É isso aí. Não estou entendendo todo esse auê. Só vamos tomar um

drink ou outro, pelo amor de Deus. - Vou para o lado dela, cruzando os braços
também. Isso já está indo longe demais.

- Irmos ou não, não está em discussão. - Ela conclui usando seu melhor
tom de Mia-Brava-Não-Me-Estresse. Até eu me encolho um pouco.

- E, no meu caso, ninguém tem o direito de falar nada sobre onde eu vou,
ou deixo de ir. - Olho diretamente para Mal, que está fazendo uma cara de
menino mimado que nunca vi antes. Juro que tem até biquinho. Eu esperava o

biquinho de Ian e até de Dan, mas dele foi chocante. - Então, mais alguém quer

falar alguma coisa?


Silêncio total.

- Ótimo! - Mia completa e me puxa pela mão para o único quarto do


ônibus, que ela divide com seu homem. (Afinal, o casal merece privacidade.) -

Axl. Vá avisar Boris que vamos sair. Não nos incomodem. - E bate a porta,

deixando os quatro para trás.

Nos arrumamos ouvindo Beyoncé e a descarga de estrogênio nas minhas

veias é revigorante. Visto uma saia de couro rodada com um top cropped bem

justo de mangas compridas. Coloco uma ankle boot de salto pela primeira vez

em muito tempo, agora que meu pé está praticamente curado. Deixo meus
cabelos bem volumosos e faço uma maquiagem poderosa, com olhos bem

marcados.

Mia está com um vestido vermelho curto e justo, exibindo com orgulho
sua tatuagem e seu decote. O cabelo chocolate está solto em ondas suaves e o

batom vermelho dá um toque ainda mais sensual ao look. Estamos matadoras!


Quando saímos do quarto, uma hora depois, os quatro ainda estão

reunidos em volta da mesa. Ax e Dan estão com sorrisos enormes, Mal e Ian
com caretas enormes.

- Uau, garotas. Vocês pegaram pesado. - Axl ri com malícia, nos


analisando dos pés à cabeça.
- Cara. Vocês são más. Muito más. E eu adoro isso. - Dan está com seu

melhor olhar maníaco de diversão, passando de nós para Mal e Ian.

- Ahn, obrigada. Eu acho. - Garotos estranhos. - Bom, rapazes.


Comportem-se. Principalmente você, Dan. Boa noite! - Puxo Mia antes que Ian

(Ou Mal.) falasse algo.


Rock, o maior dos seguranças, está nos esperando na frente de um sedã

preto. Não estávamos autorizadas a sair sozinhas, mesmo que estivéssemos sem

os meninos. Afinal, éramos pseudo-famosas, famosas por osmose. Quer ir na

padaria comer um sonho? Leve um segurança. Quer ir na farmácia comprar

absorventes? Leve um segurança. Quer ir paquerar numa noite de sexta-feira?

Leve um segurança.

Olho encantada para as ruas da cidade que eu sonhei conhecer por tanto
tempo. Preciso dar um jeito de passear pelo menos um pouco por aqui, antes de

irmos embora. London Eye, Palácio de Buckingham, Big Ben, Wesminster

Abbey… como em todas as outras cidades, acabamos vendo os pontos turísticos


só pela janela do ônibus. Mais um lado B da vida de um rockstar.

Escolhemos um bar bem no centro, famoso por servir os melhores


Cosmopolitans da cidade. Ou seja, tudo que uma garota precisa. Sentamos em

uma mesa no canto, onde a luz é mais fraca e a música mais baixa, assim temos
um pouco de privacidade para conversar. Só um pouco, porque Rock fica parado

ao nosso lado o tempo todo.


Me divirto muito com Mia, que está tão relaxada e feliz quanto eu.
Algumas fãs nos reconhecem e são realmente simpáticas. Perguntam se eu e Mal

temos alguma coisa, já que sempre aparecemos próximos nas fotos. O que eu

posso responder? Nós temos uma Cláusula 27 que me impede de chegar perto
dele, uma friendzone do tamanho da Rússia e uma paixonite aguda da minha

parte. Fora isso, não temos nada.


Obviamente, não posso responder isso para as pobres adolescentes, então

digo que somos apenas amigos. Devo ter falado isso com a maior cara de pesar,

porque elas me consolam dizendo que torcem para que eu fique com ele e que a

gente combina muito. Ah, se elas soubessem o quanto eu também torço. Sou

nossa fã número 1.

Meu plano de conhecer alguém que me faça esquecer Mal acaba sendo

um fiasco. Alguns caras nos abordam, mas Mia exibe com orgulho sua gigante
aliança de noivado. Então, eu acabo com uma coleção de números de telefones

de caras ingleses realmente gatos. Ah, esse sotaque! E eu não estou tão fora de

forma como eu pensava, minha autoestima está saltitando feliz. O problema é


que nenhum deles me interessou de verdade. Não como “ELE” faz. Depois do

sétimo cara que não me deu nem um friozinho na barriga, desisto dessa batalha e
peço para Rock ficar na nossa frente. Não tem jeito melhor de afastar um

possível pretendente do que um segurança assustador de 2 metros de altura.


Estamos no sexto Cosmopolitan quando Mia para do nada, coloca a mão

na cintura e olha brava para mim. Lá vem bomba...


- Nicole. Quando você pretende contar para o Mal que está caidinha por
ele?

Engasgo na hora com a minha taça. Bomba mesmo!

- Como você sabe?


- Ah, Nick. Está muito na cara para todos nós.

- Até para o Mal? - Pergunto com medo da resposta.


- Acho que no fundo ele sabe, mas não quer admitir.

- Sou patética. - Digo afundando a cabeça nas mãos.

- Por que patética? Não. O que não entendemos é por que vocês não

ficam juntos logo.

- Por dois motivos bem óbvios. Um, eu trabalho para a banda e dois, Mal

não sente nada por mim.

E a louca começa a gargalhar alto. Gargalhar mesmo, na minha cara.


Gargalhar tipo o Axl gargalha assistindo Seinfeld.

- Para de rir de mim, imbecil! - Dou um tapa na sua cabeça.

- Ai, ai. É que você é tão bonitinha e bobinha.


- Eu sei. - Vou enumerando nossos problemas nos dedos. - Fui me

apaixonar por uma estrela do rock, babaca, arrogante, com problemas de


compromisso, que eu não posso tocar e que me considera sua BFF.

- Não por isso, Nicole. Você é uma bobinha porque o Malcolm é louco
por você, sua tapada.

- Aham, claro. Obrigada, mas já estou bem conformada. Não precisa


tentar me fazer sentir melhor. - Essa garota tomou Cosmopolitans demais.
- Nicole Black, pare de ser obtusa. Ele deixa você roubar as roupas dele.

Ele tem paciência para te ensinar a tocar guitarra e você é péssima! Ele passa

todas as noites com você, não festando com Axl e Dan. Se você está na sala, ele
orbita ao seu redor. Ele nunca deixa faltar Kit Kat no ônibus. Toda vez que você

chega, ele te olha como se o Mick Jagger tivesse entrado na sala. Você ouviu as
fãs, estão sempre juntos nas fotos! Pelo amor de Jimmy Hendrix, qual o

problema de vocês?

Olho para ela de boca aberta, ainda processando tudo.

- Eu.... Não.... De jeito nenhum, Mia. Se fosse assim, por que ele nunca

tentou nada?

- Minha teoria é que ele ainda não aceitou o que sente por você. A teoria

do Dan é que ele é um babaca. A teoria de Ian é que ele acha que você não sente
nada por ele. A teoria de Ax é que não importa, porque mais cedo ou mais tarde

vão ficar juntos.

- Vocês ficam discutindo sobre nós? - Agora sim eu estou chocada. E


morta de vergonha.

- Claro! Vocês dois são nossa novela particular. Fizemos até apostas. -
Ela conta com um sorriso travesso. Ai, Deus. É pior do que eu pensava.

Mia passa o resto da noite tentando me convencer a confessar o que eu


sinto para Mal, para que a gente possa “viver feliz para sempre”. Só porque ela

teve o final feliz dela, acha que todo mundo vai ter também.
Santa inocência.
Dou a noite por encerrada quando ela decide me ensinar a fazer

striptease. Detalhe: no meio do bar. O olhar desesperado de Rock foi impagável.

Na volta para o hotel, a Mia bêbada está radiante com o sexo quente que terá
pela frente e eu estou arrasada com mais uma noite sozinha. Nos despedimos de

Rock e entramos cambaleando no hall. Ian está sentado numa das poltronas da
entrada e dá um pulo assim que nos vê. Mia dá um gritinho de alegria e sai

correndo, se jogando em cima dele. Os pombinhos vão para o elevador agarrados

e se beijando loucamente.

Boa noite para vocês também.

Espero que ninguém tenha visto isso, mas tenho de admitir que a teoria

dela estava certa. Ah, o amor é lindo.

Sem vontade de ir para o quarto, mesmo que essa seja a primeira noite
que poderia dormir numa cama de verdade em muito tempo, sigo até a piscina

para pensar um pouco no que Mia disse. Me deito em uma espreguiçadeira,

olhando para as estrelas e remoendo meu triste destino.


Em qual mundo Malcolm Black estaria apaixonado por mim?

E se ele estivesse, em qual mundo a gente ficaria junto?


- Qual era seu plano, Murphy? - Pergunto em voz alta para o nada,

olhando para cima. Tomei Cosmopolitans demais mesmo, estou realmente


achando que as estrelas vão me responder.

- O plano dele eu não sei, mas o seu era arrasar alguns corações. - Mal sai
das sombras com uma garrafa na mão, me fazendo pular de susto. Ele se senta na
espreguiçadeira ao meu lado, colocando um pequeno balde de cerveja entre nós.

Ainda está vestido com as roupas do show, jeans justos e camiseta da Black

Road, mas está descalço. Descalço! E isso é tão sensual. Só eu mesmo para
achar pés tão atraentes. Precisando me ocupar com alguma coisa, pego uma

cerveja e tomo um gole enorme. Melhor nem pensar no que a mistura dela com
os Cosmopolitans vão fazer por mim mais tarde.

- Oi, Black. Errou feio. - Droga. Encontrá-lo era tudo que eu não

precisava hoje. - Meu plano era só tomar uns “bons drinks”.

Seu olhar passeia preguiçoso pelo meu corpo esticado e eu vejo a minha

pele se arrepiar sob o seu escrutínio. - Você fica um absurdo de sexy usando

salto. Porra, você é muito linda para o seu próprio bem. - Malcolm Black me

chamou de linda mesmo, ou são os Cosmopolitans de novo?


- Mal, você me chamou de linda mesmo ou são os Cosmopolitans de

novo? - Olho confusa para ele, que dá um risinho de lado, debochando da minha

clara embriaguez.
- Você nunca acredita quando eu te faço um elogio.

- Então, você me chamou de linda mesmo. Uau! - Digo admirada para


mim mesma. Ele abre mais seu sorriso maravilhoso, e se vira para me encarar de

frente, apoiando o queixo esculpido na mão. Como pode alguém ser tão bonito?
Sério. Como é possível ganhar na loteria genética assim? Não é justo com o

resto da humanidade.
Ele começa a erguer o braço, me arrancando das minhas divagações, mas
hesita por um segundo, com a testa franzida e os lábios apertados. O que será

que está pensando? Respira fundo e alcança o meu rosto, passando a ponta do

dedo suavemente pela minha bochecha, descendo devagar até os meus lábios,
traçando os contornos do meu rosto. Me apoio em sua palma, suspirando com

seu toque.
- Não sei porque não acredita quando eu te faço um elogio. - Ele

abandona sua cerveja e segura meu rosto com as duas mãos. - Black, você é

maravilhosa. A mulher mais inteligente, autêntica, intrigante, sensual, divertida e

gostosa que já conheci. A mais teimosa e enlouquecedora também. - Sua voz é

só um sussurro, seu hálito cheira a menta e cerveja, fazendo cócegas no meu

nariz. Os olhos queimam com a mesma expressão determinada de quando está

em cima do palco, até que ele cola nossas testas e eu não consigo prestar atenção
em mais nada. Tão perto. Tão, tão perto. - Você tira meu fôlego e me deixa louco

todos os dias, mas hoje se superou. Tive uma vontade do caralho de te arrastar

para dentro do quarto quando te vi vestida daquele jeito.


- Me… me arrastar para o qua... quarto? - Eu ouvi direito?

- Sim, Black. Te arrastar para o quarto. Te fazer sentir coisas que nunca
sentiu antes. Te mostrar exatamente o quanto eu te acho sexy. - Depois de abrir

um sorriso safado, Mal me solta e eu suspiro em protesto. Balançando a cabeça


divertido com minha indignação, ele levanta e senta na ponta da minha

espreguiçadeira, colocando meus pés em seu colo. Para minha surpresa, abre o
zíper de uma das minhas botas e a tira em seguida. - Fiz um show péssimo,
pensando em você e em todos os caras que estariam dando em cima de você. -

Abre o outro zíper e repete o processo. Eu não ouso falar nada, com medo de que

o Mal tagarela saia correndo de mim aos gritos.


Quando termina comigo, ele se levanta, tira sua camiseta e dobra a barra

da calça jeans preta. Sua panturrilha coberta de pelos dourados me desconcentra


por um momento. Claro que ele percebe e claro que ele ri de mim. Me pega pela

mão e me leva até a beira da piscina, nos sentamos e mergulhamos os pés na

água fria.

Por um tempo, só ouvimos os barulhos da noite e as nossas respirações.

Sério, o que ele quer com tudo isso? O que está acontecendo aqui?

Me viro para perguntar, mas sou pega mais uma vez por sua beleza

ridícula e impossível de não admirar. Como sempre, algo se revira dentro de


mim. Ele é uma obra de arte sob a luz do luar, um adônis prateado perfeito.

Sentindo meu olhar, ele se vira e me pega no flagra de novo, revirando os olhos

com diversão. - Sabia que estaria fazendo cara de tarada para mim.
- Cara, você é muito convencido! - Cutuco ele com força nas costelas. -

Só estava te olhando, ó Todo-Poderoso-Deus-do-Rock-Gostosão.


- Ai! Você precisa parar de fazer isso, sabia? Você é forte, inferno. - Ele

passa a mão por seu peito, com um biquinho de dor. Eu só reviro os olhos, o
imitando. - Eu ia dizer que gosto da sua cara de tarada para mim. É bom ter

alguém que te olhe assim.


- Claro, como se seu ego precisasse de mais afagos, “Sr. Cinco Vezes O
Mais Sexy do Mundo”.

- É diferente, Black. Com você é… pessoal. Mesmo se eu fosse um

mecânico de beira de estrada, você ainda faria cara de tarada para mim. - Humm,
Mal de macacão, coberto de graxa, parece um cenário muito bom mesmo. -

Viu?! Aposto que está imaginando a cena agora. - Pega no flagra de novo. Esse
homem me conhece! - Isso tem valor para mim, Black. Muito valor. O problema

é que você sabe que tem esse poder e faz questão de esfregá-lo na minha cara,

como hoje. - Aponta um dedo acusadoramente para mim. - Você é má, Nicole

Black.

- É, você tem razão. Sou muito má com você, pobre e indefeso Mal. -

Reviro os olhos.

- “Pobre e indefeso”. Acho que essa é uma boa definição de mim, desde
que você entrou na minha vida. - Ele me lança um olhar cheio de significados. -

Pode perguntar ao Dan. De acordo com ele, agora sou “uma florzinha meiga

apaixonada exalando coraçõezinhos de glitter”.


Balanço a cabeça incrédula e tomo mais um gole da minha cerveja. Está

acontecendo o que eu acho que está acontecendo? Ele está se declarando para
mim?

- Mal, por que está me falando essas coisas hoje?


- Talvez porque eu não consiga mais.

- Não consiga mais o quê?


Ele olha para mim com alguma emoção nublando o azul, em seguida
olha para frente. Antes que eu perceba o que está maquinando, ele nos puxa para

dentro da água gelada com roupa e tudo. - Ai, Mal! Caralho.

Grito rindo e voltando à superfície. Ele mergulha, me puxando para baixo


de novo, seu sorriso enorme chegando até os olhos. Depois de uns 5 minutos de

lutinha corporal infantil, muitos caldos e muitas gargalhadas, nadamos de volta


para a beira e para as nossas cervejas.

Deito para boiar de costas, totalmente relaxada, admirando as estrelas e

desfrutando da companhia do meu rockstar divertido e tagarela, que está me

contando sobre a fã que cortou uma mecha do cabelo de Dan à força hoje.

A noite acabou saindo melhor do que eu esperava. Mal admitiu que gosta

de mim e que ficou com ciúmes! Bom, não com todas as letras, mas já é um

começo.
Mia tinha razão! (Não que eu vá falar isso para ela.)

Saindo para buscar mais cervejas, ele me dá uma visão completa das suas

tatuagens de asas de anjo, brilhando na luz da lua. Ela é realmente linda, assim
como o dono. - Meu anjo. - Murmuro baixinho.

- O quê? - Ele pergunta, voltando para água ao meu lado.


- Nada não... - Digo fechando os olhos e corando furiosamente.

Meta da vida: parar de me envergonhar na frente dele. Tudo fica quieto,


até que uma voz suspira no meu ouvido

- Eu ouvi. - Abro os olhos assustada e encontro seu rosto a poucos


centímetros do meu. - Eu não consigo mais ficar longe de você, Black. - Me
puxa pela cintura, de encontro ao seu peito forte e prende seu olhar no meu. Eles

estão refletindo a mesma emoção que os meus carregam. Admiração, paixão e

desejo. - Eu não quero mais ficar longe de você.


Ah, cara.

E com essas palavras, eu virei oficialmente um caso perdido. Passo as


mãos pelo seu pescoço, colando ainda mais nossos corpos. Nossas respirações

estão suspensas, o cheiro do seu perfume invadindo minhas narinas.

Me beije, Mal. Por favor, me beije.

Ele me segura com reverência, suas mãos calejadas me dando arrepios.

Vejo pela sua expressão que está travando uma luta interna sobre o que fazer.

(Estou ficando muito boa em decifrá-lo.)

Sem aguentar mais a tortura, resolvo o impasse por ele e colo nossas
bocas. Um selinho casto, apenas para testar sua reação. Ele responde me

atacando, empurrando meu corpo contra a parede da piscina e me beijando

ferozmente. De novo, sinto aquela sensação de que o mundo vai explodir dentro
de mim. O seu corpo impressionante se cola todo ao meu e suas mãos me

agarram com força, quase com desespero.


Nos separamos apenas quando o ar acaba, ele olha para mim sem fôlego

e sem foco, cambaleando para trás. Espera aí, será que ele está tão bêbado
assim? Só de pensar nisso, já sinto como se tivesse levado um banho de água

fria.
- Mal. O quanto você bebeu hoje?
- Sei o que está pensando, mas bebi o suficiente para ainda me lembrar

de tudo amanhã. Qual é, coisinha? Não sou tão babaca assim. - Seus olhos caem

para a minha boca. - Ou talvez seja, porque acabei de te beijar de novo. - E


passa as mãos exasperado pelo cabelo. A excitação perde lugar para a irritação

quando sua ficha cai. - Merda. Isso tudo é uma merda de uma loucura. Estou
fodidamente atraído por você e por essa sua boca esperta, tá bom? E eu sei que

você sente o mesmo. Todo mundo sabe que sentimos algo, porra. Esses arrepios,

essa conexão, esse ciúme. É tão bom quando estou com você. - Ele balança a

cabeça incrédulo, parecendo não acreditar no que está falando. - Você ficou

longe hoje só por algumas horas e eu já senti sua falta. Isso é insano e isso é

errado.

Malcolm Black é especialista em me deixar sem palavras. (E em me


deixar excitada, mas isso fica para depois.) Ele mergulha de volta e nada

vigorosamente para longe de mim, antes que eu consiga responder qualquer

coisa. Ah, não. Esse garoto precisa aprender a parar de fugir. Vamos resolver
isso agora.

- Malcolm Black. Sai dessa piscina já. - Meu tom histérico parece
funcionar e ele sai na hora, pegando a toalha que eu ofereço e vestindo a

camiseta com pressa.


No caminho, ele deixa cair um tênis nos ladrilhos escorregadios, tropeça

e quase cai de cara. Ainda estamos meio bêbados e começamos a gargalhar


como se a coisa mais engraçada do mundo tivesse acontecido. Para nossa sorte,
o hall do hotel está vazio e ninguém flagra nossa entrada patética.

Chegando ao meu quarto, empurro Malcolm para dentro e tranco a

fechadura antes que pense em fugir. Viro furiosa para encará-lo, mas ele só sorri
maliciosamente para minhas roupas molhadas.

Como num ataque de predador, ele avança para mim de surpresa, me


prendendo na porta. Como boa presa indefesa que sou, aceito meu triste destino

e deixo sua boca me devorar com avidez. Suas mãos estão por todo o meu corpo

e ele me envolve com seu tamanho, prendendo meus braços acima da cabeça e

me deixando rendida.

Claro que esse homem teria a maior pegada da história. Não que eu tenha

muito com o que comparar, já que meu ex-namorado não era do tipo sedutor

intenso, mas Mal era o Tiger Woods, o Usain Bolt, o Cristiano Ronaldo dos
amassos. Passo minhas pernas pela sua cintura e ele me segura pela bunda, me

esfregando em seu volume impressionante. Ah, esse volume...

- Fica comigo, coisinha. - Ele diz separando nossas bocas um milímetro e


sussurrando dentro dela. - Fica comigo essa noite. Só essa noite.

Era sacanagem ele me pedir qualquer coisa estando tão perto e eu


estando tão excitada. - Mal, não podemos. Você sabe que não podemos. - Meu

sussurro é ainda mais fraco que o dele. Se eu ficasse com ele hoje, como seria
encará-lo amanhã?

E se Josef descobrisse?
- Pare de pensar um pouco e só sinta. Sinta o que você quer.
Eu quero esse homem. Muito. A dor de não o ter amanhã, não será maior

do que o arrependimento por ter deixado esse momento passar. Só uma coisa me

preocupa. - E se alguém descobrir?


- A gente mata a pessoa. - Ele faz a maior cara de Dan maníaco.

Mal sendo engraçado é demais para o meu lado racional aguentar.


Já que eu vou para o inferno mesmo…

Levo ele pela mão até o banheiro e começo a puxar sua camiseta para

cima, afinal precisamos de um banho quente. Tenho que cuidar do meu patrão,

para ele não pegar um resfriado, como a funcionária do mês que sou.

O peitoral realmente impressionante me tira o ar por alguns segundos.

Esse homem foi esculpido por um artista grego, só pode! Vou descendo

lentamente meus dedos até os ossinhos em V de sua barriga. Seus músculos se


encolhem com o meu toque e ele olha para mim sem conseguir esconder a

excitação. Retribuo com a minha melhor cara de tarada, passando as mãos pelo

cós dos seus jeans e arranhando de leve. Abro seu cinto, sem quebrar o contato
visual, e ele engole em seco, parecendo subitamente nervoso. Eu deixo Malcolm

Black nervoso? Uau. Me ajoelho, puxo as calças para baixo e, num momento
único de coragem, puxo sua boxer também.

- Black, o que está fazendo? - Sua voz está rouca e profunda.


- Além da maior cara de tarada da história? - Digo sem conseguir desviar

minha atenção do homem na minha frente. Ele é glorioso!


Preciso dele com urgência, preciso dele todo. Me levanto e tiro meu top,
a inibição e as inseguranças esquecidas, substituídas pelo maior tesão que já

senti na vida.

- Porra, coisinha. Sem sutiã? - Rio de lado da cara de sofrimento dele e


abaixo a saia lentamente, dando um passo para o lado para sair dela. Então,

abaixo a calcinha de renda preta. O olhar que ele dá varre qualquer resquício de
hesitação que eu poderia ter. Luxúria, fome e paixão crua flutuam no ambiente.

Entramos no box, ele pega a bucha e o sabonete, e vem até mim lentamente, com

seu olhar de predador.

Então, Malcolm Black começa a me dar banho.


Capítulo 14 - Escondido é bem melhor, perigoso é
divertido

O barulho do meu celular me desperta subitamente na manhã seguinte.

Ainda atordoada e tonta de ressaca, tateio às cegas procurando por ele na minha

mesa de cabeceira. Depois do que parecem horas, eu o encontro jogado embaixo

da minha cama. Como foi parar ali?

- Alô? - Atendo totalmente rouca e sonolenta.


- Quero você e o Malcolm na sala de reuniões do hotel em 10 minutos. -

A voz de Josef me acorda na hora.

- Aconteceu alguma coisa?

- Dê uma olhada nas notícias, Nicole! - E desliga.

O que aconteceu ontem? Forço minha mente ainda confusa e de ressaca,

até que o dia anterior volta com tudo. Dou um pulo e olho para o lado da cama

onde Malcolm está deitado, dormindo profundamente e totalmente nu. Peladinho


da silva.

Ele se declarou para mim!


Ele me deu banho!
Ele me deu o melhor sexo da minha vida!

No chuveiro.
E no chão do quarto.

E no sofá do quarto.
E depois na cama.
É, cláusula 27, acho que nós temos um problema.

Nunca tive um orgasmo antes, nem sozinha e nem acompanhada, mas

ontem eu parei de contar depois do sexto. Murphy sabia mesmo o que estava
fazendo quando me enfiou nessa loucura.

Sem tempo para remoer e sonhar com a noite incrível que eu tive, viro
para acordar o meu deus do rock. Afinal, 10 minutos para Josef eram 5 e já

estávamos atrasados.

- MALl! FOGO! - Grito enquanto pulo para dentro dos meus jeans.

- O que? O que foi? Onde? - Ele levanta atordoado e com a mais

adorável cara confusa que eu já havia visto.

- Josef acabou de me ligar e quer ver nós dois daqui três minutos. Ele

parecia furioso e me mandou ver as notícias antes de descer.


Consigo perceber o exato momento em que a compreensão de tudo o que

aconteceu o atinge e ele sai falando todos os palavrões já inventados, enquanto

procura suas roupas. Escovo os dentes, prendo o cabelo num rabo de cavalo
improvisado, coloco uma camiseta da Black Road e calço meus tênis brancos,

tudo em um minuto.
- Porra, tenho que passar no meu quarto, não posso aparecer com as

roupas de ontem. - E sai em disparada. Antes de chegar na porta ele para, volta
para dentro e segura meu rosto com as duas mãos, os olhos azuis brilhando.

- Ontem foi fodidamente incrível. A melhor noite da minha vida.


Meu coração se enche com uma emoção inexplicável. Fico na ponta dos
pés e o beijo pela última vez, esperando que aquele toque consiga passar tudo

que eu sinto nesse momento.

Solto ele com relutância, antes que Josef venha nos caçar. Os olhos azuis
estão quentes e ainda sorriem para mim. Pelo menos, dessa vez, as barreiras de

proteção não voltaram ao lugar. Ainda não. Ele sai e eu vou junto, chamando o
elevador enquanto carrego o maior site de notícias do país no celular.

Puta que me pariu.

Fotos minhas com Mal, totalmente molhados, rindo como loucos,

entrando no hotel estavam no principal destaque. Não flagraram o beijo, e nem

mesmo estávamos nos tocando (Viu, Cláusula 27?!), mas parecíamos felizes,

cúmplices e, mais que isso, apaixonados. O olhar dele para mim, mesmo na foto,

foi suficiente para me tirar o fôlego.


Agora entendi o porquê de tanto auê.

Quando o elevador chega, Mal sai correndo do quarto e me alcança.

Passo o celular para ele, que pega ofegante. - Puta que me pariu.
Até xingamos igual. Não somos fofos?

- Pois é...
- Você está muito sexy, dá para ver todo seu corpinho com essa roupa

grudada. O mundo inteiro vai ter pensamentos muito errados com a minha
coisinha. Eu não gosto disso, Black.

Acho que ele nem percebeu que me chamou de “minha”. Mal abriu as
comportas da sinceridade mesmo! Não consigo evitar uma gargalhada dos
ciúmes bobinhos dele.

- Malcolm. Todas as mulheres do mundo te querem. E uma boa parcela

dos homens não se importaria em perder uns minutos com você. Então, ciúmes
está fora da pauta para hoje. Temos problemas mais urgentes para resolver.

Ele olha carrancudo para mim.


- Sei, sei. Queria ver se você falaria isso se eu tivesse essa sua cintura e

esses seus peitos. - Me devolve o celular e faz biquinho. Santa mãe protetora dos

loiros charmosos e sexy. Eu não vou conseguir fingir que nada aconteceu entre

nós se ele continuar fazendo biquinho para mim.

Quando entramos na sala de reunião, Josef nos recebe com a maior cara

de poucos amigos. Sentamos na sua frente e eu me sinto enfrentando o diretor da

escola. E eu sempre fui a boa aluna! Nunca enfrentei o diretor da escola.


- Expliquem-se! - Ele diz jogando o maior jornal do país na nossa frente,

também com a nossa foto na capa.

E agora, José?
Ou melhor.

E agora, Josef?
- Josef. Eu sai ontem e, quando voltei, fui para a piscina porque a noite

estava muito bonita. Encontrei Mal e começamos a conversar. Ele teve um surto
de imaturidade e achou que seria divertido me jogar na piscina fria. Acredito que

sejam os anos de convivência com Daniel. O ponto é que ele escorregou e


acabou caindo junto comigo, o imbecil. Ficou realmente frio, decidimos voltar
para o hotel, ele tropeçou e quase caiu, que foi o momento quando a foto foi

tirada. Eu estava rindo da cara dele e ele estava bêbado. Subimos, fomos para os

nossos respectivos quartos e dormi até você me acordar gritando. Fim da


história.

Eu disse tudo com a minha maior Poker Face de assessora de imprensa,


que eu aperfeiçoei muito bem ao longo dos anos. Ele só fica olhando de um para

outro, ainda com a cara ameaçadora.

- Você sabe, mocinha, que é proibida de ter relacionamentos com os

membros da banda, certo? Você sabe também que as pessoas já desconfiam de

vocês dois, mas sempre desmentimos. E não somos mentirosos, certo? Você sabe

como isso poderia dar errado de muitas maneiras diferentes, certo?

- Josef, não entendo porque estamos tendo essa conversa. Essa foto não
diz nada além de que eu e Mal somos amigos, o que, de fato, somos. E acredite

em mim quando digo que ninguém é mais consciente sobre o que eu poderia

perder na minha própria vida. Agora, se as especulações acabaram, gostaria de


tomar meu café da manhã. - Digo me recostando na cadeira e cruzando os

braços.
Durante toda essa conversa, Mal ostentou sua maior cara de tédio, como

se não entendesse porque tinha sido chamado ali. Ótimo toque. Cara de
entediado e impaciência eram muito naturais para ele.

- Josef, por favor. Achei que me conhecesse melhor que isso. - E se


levanta sem olhar para nenhum de nós.
Ai, essa doeu.

Reviro os olhos e me levanto também.

- Vamos, Nicole. Vou acompanhá-la ao café. Preciso falar com todos


juntos. - E sai na frente, ainda muito mal-humorado. Bom, pelo menos acho que

ele comprou a história.


Mal está conversando aos sussurros com Dan quando entro no grande

salão de café, o que faz meu estômago revirar. Será que ele está contando o que

aconteceu?

Sorrio para os outros e vejo que Ian e Mia estão grudados, quase no colo

um do outro e rindo como bobos. A noite deve ter sido boa mesmo. Só duvido

que tenha sido melhor que a minha.

- Seguinte. Hoje é a noite do Grammy, como devem se lembrar. A


questão é que acabei de receber uma ligação para avisar que farão uma

homenagem para vocês. Carreira, conquistas, prêmio especial pela trajetória, o

de sempre. Como sabem, a etiqueta diz que devem ir acompanhados.


- Homenagem? Só perceberam agora, no dia do prêmio, que merecíamos

uma homenagem? - Axl pergunta com a boca cheia de omelete. Eca!


- A apresentação do Justin Bieber teve de ser cancelada, algum problema

de garganta, e ficaram com espaço sobrando. Como não teria tempo de outro
artista ensaiar uma performance, encaixaram uma homenagem antes do show de

vocês.
- Vocês vão ser homenageados no Grammy, as Olímpiadas da música, e
ainda querem saber por quê? Só aceitem, pelo amor de Deus. - Me intrometo,

sem paciência com a falta de empolgação deles.

- É isso mesmo, Nicole. - Josef concorda comigo. Ufa, acho que me


perdoou. - Ian não tem um problema. Nem Mal. Mas Axl e Daniel, precisam de

acompanhantes adequadas para hoje à noite.


Mal não era um problema? Com quem Mal iria? Ele para no meio do

caminho de dar uma colherada na sua salada de frutas e olha para Josef

assustado. - Posso saber com quem eu vou?

Meu coração para.

- Com a Nicole, óbvio. Você não me ouse aparecer com outra pessoa

depois de estarem em todas as capas hoje. Nossa imagem não é assim. Nós

somos os bons garotos. Você vai com ela e serão os amigos perfeitos. Estamos
entendidos?

Acho que fiquei realmente chocada, porque Mia precisou me chutar por

baixo da mesa para responder. - Claro, Josef.


- Ok. - Mal diz dando de ombros e voltando a comer.

Mia me obriga a engolir o café da manhã em cinco minutos, histérica


porque precisa arrumar um vestido para mim em cima da hora. Ela já tinha

providenciado o look dos meninos e o dela, mas ninguém, nem eu nos meus
maiores sonhos, imaginava que Nicole Black iria ao Grammy.

Ian se despede de mim desejando boa sorte nas compras com sua
namorada maníaca, antes de lhe dar um beijo digno de cinema que deixa os dois
corados e ofegantes.

- Depois, quero que os dois expliquem direitinho como acabaram juntos

nas capas de todos jornais. - Dan sorri malicioso para mim. - Ah. E se possível,
compre um vestido com a menor quantidade de tecido que encontrar, Nini.

- Compre um vestido com bolsos para esconder um game boy. Uma noite
com Malcolm vai te matar de tédio. - Ah, quem dera isso fosse verdade, Ax.

Mal só bate na cabeça dos dois e se levanta. - Cresçam! - E sai sem nem

olhar para mim. É, seu modo Miss Simpatia está de volta com força total.

Novamente acompanhadas de Rock, nosso guarda-costas quase

particular, seguimos para um shopping chique, e cheio de lojas que normalmente

estariam fora do meu alcance. Ela não está nada feliz com essa opção, já que eu

deveria usar um vestido de estilista feito sob medida, mas é o que temos para
hoje.

Depois de uma eternidade, Mia acha (Na S-É-T-I-M-A loja.) um look que

nós duas concordamos ser a escolha certa. Um vestido que vai até os joelhos,
absurdamente justo (Eu vou ter que colocar umas três cintas modeladoras com

ele.) e todo feito de couro ecológico preto. Tem um busto imitando corpete, uma
fenda matadora em uma das coxas, que também torna possível andar dentro

daquela coisa a vácuo, e delicadas alças finas.


No caminho para o cabeleireiro, encontramos uma loja do Christian

Louboutin que faz meus olhos piscarem com paixão. Sempre foi meu sonho ter
um desses! Escolho o par mais alto que encontro, um scarpin de verniz
absurdamente sexy.

Toma essa, Malcolm Black.

Próxima parada: salão de beleza. Sou alisada, depilada, polida e deixam


cada centímetro de mim o mais perfeito possível. Meu cabelo é enrolado em

ondas suaves, e um dos lados é preso em uma trança embutida na raiz, expondo
parte do meu pescoço. Uma maquiagem matadora em tons de preto e, mais uma

vez, estou pronta para ser a acompanhante do maior rockstar do mundo.

Chegamos ao hotel com tempo apenas para nos trocar rapidamente.

Coloco um pequeno fio dental preto só para não acabar em todas as capas de

jornais como a louca sem calcinha, um sutiã de renda preta com um bojo

poderoso para ajudar no meu decote e finalizo tudo com uma gargantilha preta

de veludo e meus Louboutins. Me enfio no vestido, que é tão justo e me aperta


tanto que não preciso nem de cinta. Ele me agarra à força, mantendo tudo no

lugar.

Me olho no espelho e quase não me reconheço. A garota perdida do


interior deu lugar a uma mulher sexy, sofisticada e linda. Alguém que poderia

mesmo estar ao lado de Mal. Mando uma foto para Belinda e para meus pais,
contando onde estou prestes a ir. Eles vão surtar quando me verem!

Dou mais uma olhada no espelho para conferir se está tudo no lugar e
suspiro. Nunca me senti tão bonita! Acho que poderia me acostumar facilmente

com essa história de ser a acompanhante daquele babaca bipolar.


Uma batida na porta me tira dos meus devaneios de nerd sonhadora que
vai no primeiro encontro com o garoto mais popular da escola. Como sempre,

Dan não me espera abrir e simplesmente surge na minha frente. Ele está um

absurdo de bonito, com uma camiseta preta justa da Black Road, terno preto com
as mangas arregaçadas, adidas branco e os cabelos ruivos cuidadosamente

bagunçados. Muito estiloso. De braço dado com ele está Axl, usando uma
camisa xadrez de preto e verde, suspensórios, calça social e botas marrons - um

lenhador fashion e sexy.

- Uau, meninos. Vocês estão incríveis. - E cheirosos. Mia é mesmo a

melhor stylist, conseguiu deixá-los ainda mais gatos. Devia ser ilegal alguém ser

tão atraente assim.

Como se tivessem ensaiado, os dois me olham de cima a baixo e abrem

sorrisos maliciosos sincronizados. - Ninizinha, você acabou de tornar essa noite


muito mais interessante do que eu achei que seria. - Axl parece subitamente

animado e eu não entendo nada.

- Cara, será que dá tempo de ir fazer pipoca? O capítulo de hoje da nossa


novela vai ser foda! - Dan acompanha Axl na animação, batendo palmas e dando

pulinhos.
- Eu... Ahn... O que? - Os dois piraram de vez

- Ah, aí estão vocês! - Josef aparece no corredor e entra no meu quarto. -


Ótimo. Estão muito elegantes. Nicole, esses dois decidiram que não tinham

ninguém que gostariam de levar, então resolveram que vão "juntos". Cuide de
explicar isso, por favor.
Por isso Axl está pendurado no braço de Dan? Engraçado, sempre achei

que ele seria o "ativo". - Ótimo, Josef. Isso vai nos dar uma mídia espontânea e

tanto.
- Eu imaginei mesmo, por isso autorizei. E também não tenho forças,

nem saúde, para discutir com Daniel. Cuide deles por mim, ok?
- Pode deixar.

Se despede de nós indo para o seu quarto, enquanto vamos em direção ao

elevador. Ao passar pelo quarto de Mia e Ian, ouvimos gemidos e gritos

abafados. Nos olhamos constrangidos e seguimos apressados pelo corredor,

dando risadinhas igual um bando de adolescentes bobos. Algo me diz que

aqueles dois vão se atrasar.

Ficamos na entrada do hotel esperando os três, enquanto Dan faz cafuné


em Axl, que está deitado em seu ombro. Não dá para dizer que não entraram no

clima mesmo.

Uma movimentação no hall chama minha atenção e tento enxergar o que


está acontecendo. Todo mundo parece estar olhando para o mesmo lugar. Não

deve ser nada grave, já que Dan está quieto aqui do meu lado, mas fico
preparada para chamar a segurança se for necessário.

Como numa cena de filme, a multidão se abre e eu vejo o motivo para


toda a comoção.

Malcolm Black.
E como não seria?!
Ele estava... inacreditável.

Sapatos pretos de verniz, calça preta ajustada, camisa preta, gravata preta

e colete! Colete! As suas mangas estavam arregaçadas, mostrando as tatuagens,


o que só deixava o traje social mais sexy. O cabelo tinha sido puxado para trás,

penteado com gel. Ele vinha andando com sua segurança típica de estrela, como
se o corredor fosse uma passarela e ele uma versão masculina e ainda mais

quente da Gisele Bündchen.

Seu olhar está preso no meu, com uma intensidade que eu só lembrava de

ter visto ontem à noite.

Putz.

Acho que minha pobre calcinha acabou de derreter.

- Dan, acho que preciso segurar a Nick. Você acha que ela teria coragem
de atacar Malcolm aqui, na frente de todo mundo?

- Eu tenho quase certeza de que ela vai fazer isso, Ax. Você que é mais

forte segura ela, amorzinho. E eu vou segurar Mal, antes que ele decida fazer
exatamente o que a gente sabe que está querendo fazer.

Nem o falatório deles quebra meu momento hipnótico. E eu achando que


não tinha como essa criatura ficar mais bonita. Doce ilusão!

Ele para na minha frente e me olha lentamente, desde meus Louboutins


até o meu penteado, sem demonstrar nada. Será que ele gostou? Estou ridícula?

Posso correr de volta para o hotel?


- Você vai assim? Porra, Black. - Ele esfrega a barba com as mãos e sua
expressão desliza por um segundo, entregando uma tristeza que eu não esperava.

Ele não gostou.

Esse é o melhor que eu posso ficar e ele não gostou!


E foi assim que Malcolm acabou com as minhas esperanças. Mas quer

saber? Foda-se. Eu acho que eu estou linda e estou indo para o Grammy com a
Black Road! É isso que importa.

- Sim, eu vou assim. E eu adoro como eu estou hoje à noite. Então,

guarde sua opinião para você mesmo. - Vou para a limusine, arrastando minha

rejeição comigo. Dan e Axl entram em seguida, olhando para mim confusos.

- Nick, acho que ele não quis dizer o que disse.

- Axl, acho que ele disse apenas o que ele disse.

Dan abre a boca para falar, mas eu levanto um dedo pedindo que ele se
cale. Para meu total e completo espanto, ele obedece.

Finalmente, Ian chega com Mia, que está deslumbrante num vestido

vermelho curto, com a cintura marcada e bem rodado. Ela está parecendo uma
diva da década de 50, numa versão toda tatuada. Uma diva meio dirty, já que o

comprimento e o decote são quase obscenos, mas ainda assim uma diva
No curto caminho até a premiação, ela vai me dando dicas de como me

portar, enquanto Dan e Axl vão tirando sarro de Ian pelo que ouvimos no
corredor. E Mal? Fica o tempo todo mudo e mexendo em seu celular.

Olha para mim, Malcolm.


Diz que isso foi fingimento.
Diz que estou errada.

Eu preciso saber o que você está pensando.

Ele parece ouvir meus pensamentos e me encara com seus olhos azuis
fulminantes, ao mesmo tempo que meu celular vibra na pequena bolsa de mão.


"Sua insana. Você precisa me deixar explicar as coisas e não sair

disparando essa sua língua afiada para cima de mim. Foi isso que eu quis

dizer:”

Outra mensagem chega:

“Você vai assim? Porra, Black. Não vou conseguir me controlar com
você tão fodidamente maravilhosa como está.”

Ele volta a digitar com rapidez.


“Como vou fazer para manter minhas mãos longes de você?”


“Por que você dificulta tanto as coisas para mim?”

“Coisinha, você está perfeita."


Olho para ele, que está olhando para janela, fingindo que nada aconteceu.
Uau! Quando o homem finalmente fala, bota para quebrar.
Malcolm Black acha que eu estou perfeita! Euzinha!

Nem tenho tempo de digerir essa informação e já chegamos ao teatro

onde vai ser a cerimônia. O frio na barriga me atinge com tudo. O mundo inteiro
estará de olho aqui!

Murphy, tire uma folga hoje, por favor.


Axl e Dan descem primeiro, ainda de braços dados, fazendo todos rirem.

Mia e Ian descem em seguida e a multidão grita enlouquecida. Os dois estão um

charme mesmo. Olho para Mal que me encara com intensidade, um sorriso

convencido pendurado no canto dos seus lábios desenhados.

- Perfeita. - E abre seu sorriso de 220 Volts. Covinhas nível máximo.

Pronto, com isso eu consigo passar por qualquer coisa.

Ele sai primeiro e os fãs vão a loucura. Será que ainda dá tempo de fugir?
Ele estende a mão para mim, então acho que não. Desço devagar, concentrada

em não tropeçar, e assim que olho para frente, os flashes me cegam. Malcolm

coloca minha mão na dobra do seu braço e cochicha no meu ouvido. - Sorria,
coisinha.

Sua presença protetora ao meu lado me dá a segurança que preciso, faço


o que ele pede e atravessamos a multidão, seguindo para o centro do tapete

vermelho. Para minha surpresa, escuto muita gente gritando meu nome.
Sim, euzinha! Nicole (Murphy) Black!

Nada comparado ao furor que Mal causa, mas também não tem como
competir com uma obra de arte presa no corpo de um astro do rock.
Na frente do espaço reservado aos fotógrafos, paramos os seis para tirar

fotos juntos. Não consigo ver nada, só sorrir e sentir o toque calmante de

Malcolm na minha cintura. Alguns jornalistas pedem aos gritos que os meninos
posem sozinhos, então eu e Mia saímos de lado discretamente. Na hora, uma

outra parte das câmeras se volta para nós, perguntando de quais estilistas são os
nossos vestidos e pedindo para a gente posar sozinhas.

Eu? Posando sozinha no red carpet do Grammy?

Quando foi que eu virei alguém?

Os meninos voltam para nos encontrar, menos Axl e Dan que ainda estão

tirando fotos juntos em poses nada discretas. Paro de olhar quando o ruivo

insano decide dar uma lambida na barba assustadora de Axl. Sorte que eu já

tinha disparado um aviso rápido aos principais jornalistas explicando que tudo
não passava de uma brincadeira. (Eu acho que era uma brincadeira, pelo menos.)

Para finalizar as surpresas da noite, Malcolm me puxa pela mão e me

leva para a frente das câmeras, deixando que tirem fotos apenas de nós dois
juntos. Sua mão descansa na base da minha coluna, a outra casualmente

colocada no bolso. Eu coloco uma na cintura e outra no seu peito forte, virando
meu corpo para ele.

Sorria e encolha a barriga, Nick!


Quando os flashes ficam enlouquecidos, desvio o olhar para o meu

babaca, que está me olhando com uma expressão que meus olhos apaixonados
definiriam como adoração pura e simples.
Por que fazer isso comigo?

Ele quer que eu avance nele aqui, bem na frente de 50% da imprensa

mundial?
- Mal, ela é sua namorada?

- Malcolm, vocês estão noivos?


- Mal, é verdade que vocês se casaram em segredo em Las Vegas?

Para o meu alívio, ele parece satisfeito com a cena que causou e começa

a nos guiar para dentro. Ou a simples sugestão dele ter se casado foi suficiente

para fazê-lo acabar com a minha tortura.

Passado o estresse das câmeras, começo a curtir para valer a sensação de

estar no Grammy. A homenagem aos meninos é linda e emocionante, com

imagens de momentos importantes da banda e várias personalidades dando


depoimentos sobre o talento deles. Vivi tudo aquilo como fã pela tela do

computador, agora estou vivendo aqui em carne e osso. O vídeo faz com que eu,

Mia e Axl choremos descontrolados. Deus abençoe a maquiagem à prova d'água.


Um pouco antes da hora da apresentação, um produtor vem buscá-los,

deixando Mia e eu sozinhas. Agora, parando para pensar, não sei qual música
vão cantar. Antes que eu consiga chutar um palpite, as luzes do palco se apagam

e uma batida lenta e sensual começa.


Uma batida que eu não conheço.

É uma música nova? Como eles não me contaram isso? Como eu não os
vi ensaiando? Eu precisava ter divulgado isso!
A voz rouca de Mal ecoa pelo espaço escuro, me deixando arrepiada e

me fazendo esquecer completamente que eu deveria estar brava.


Você vem, me atropela

Eu estava feliz sozinho


Quando menos se espera

Já é o que faltava no meu caminho

Não quero me apaixonar

Não por você

Não posso me apaixonar

Eu estou quebrado

Se eu me apaixonar por você

Eu nunca mais serei o mesmo


Se eu me apaixonar por você

Nunca me recuperarei

Putz. É uma música romântica. E das boas. As luzes se acendem no exato


momento que a batida acelera. Eles estão lindos... Talento, charme e sex-appeal

escorrem do palco.

É a primeira vez

Que eu quero amar alguém

É a primeira vez
Que eu quero pensar em felizes para sempre


Eu sei que é só o começo

Mas com você eu vou até o fim

Com você eu vou

Por você eu vou até o fim

Ian compôs isso? Ou teria sido...Mal?


É a primeira vez

Que eu quero tocar tanto alguém

É a primeira vez
Que eu penso o tempo todo em alguém


Eu sei que é só o começo

Mas com você eu vou até o fim


Com você eu vou

Por você eu vou até o fim



Eu sei que é só o começo

Mas com você eu vou até o fim

Com você eu vou


Por você eu vou até o fim


Não, Malcolm não poderia compor isso.

Em quem ele pensaria tanto?

Você não é

Como todos que conheço

Você me enlouquece

Você me enobrece

Não me abandone

Eu prometo que vou tentar


Não me abandone

É você que faz meu dia brilhar


Eu sei que é só o começo


Mas com você eu vou até o fim

Com você eu vou


Por você eu vou até o fim

Mal vem andando devagar até a frente do palco, onde estamos sentadas

na primeira fila. Seduzindo toda a plateia embasbacada com sua energia, ele se
ajoelha e nivela seu olhar com o meu enquanto canta. Uma emoção que eu nunca

tinha ouvido antes surge em sua voz, a deixando ainda mais rouca e profunda.
Um toque de… vulnerabilidade talvez?

Eu não sei o que fazer

Eu não sem nem por onde começar

Eu sou só um garoto

Que está aqui pedindo para que você fique


Fique comigo hoje à noite

Fique comigo para sempre

Eu sei que é proibido, eu sei que não devia


Mas fique, fique, fique.


Só quando começo a me sentir zonza é que percebo que tinha parado de

respirar.
Dando um sorriso convencido, ele se levanta e volta para perto da banda.

Ok. O que acabou de acontecer?



Eu sei que é só o começo

Mas com você eu vou até o fim

Com você eu vou


Por você eu vou até o fim


Eu sei que é só o começo

Mas com você eu vou até o fim

Com você eu vou

Por você eu vou até o fim

- Nick, essa música é para você! - Mia se levanta, me puxando junto, e

fica pulando histérica ao meu lado enquanto o refrão animado se repete.


Será? Não. Não tem como.

Para minha sorte, há um intervalo logo após a apresentação matadora

para eu me recuperar. Tenho que sentar e me abanar, ainda sem acreditar no que
tinha acabado de acontecer. Fico perdida no meio da minha névoa de choque até

que Mia me cutuca com sua delicadeza tão característica.


- Nick, você conhece o Adam Levine?

E eu que pensava que esse dia não poderia ficar mais louco. Adam
fucking Levine! O vocalista em carne, osso e gostosura do Maroon 5. Calma,

universo. Deixa eu me recuperar de um infarto, antes de me dar outro.


- Oi, Adam! É um prazer conhecê-lo. Como vai você esta noite? -
Estendo a mão para ele, que parece achar meu gesto engraçado. Qual o protocolo

social para quando se conhece pessoas extremamente famosas no Grammy?

- Muito bem. E vocês, senhoritas?


Não resisto em abrir meu maior sorriso para ele. O homem e é ainda mais

impressionante de perto, lindo em seu terno preto tradicional, barba por fazer e
olhos verdes brilhantes.

- Estamos melhor agora que você chegou. - Mia responde rindo e

piscando para ele. Será que um dia vou me sentir à vontade com pessoas

absurdamente famosas também? - Como vão as coisas na nova turnê?

Muito legal conhecê-lo, eu sei. Mas eu era enlouquecida por esse cara

antes, agora ele está aqui na minha frente e eu não sinto nada. Nadica! Talvez

porque eu só repare em vocalistas loiros babacas que compõem músicas


matadoras. De qualquer forma, Belinda vai morrer quando souber disso amanhã.

- Está sendo incrível! Venham para um show, estaremos em Oxford

amanhã. Posso deixar os nomes de vocês e dos caras na lista de entrada.


Como se eu já não tivesse a minha cota de choque da noite, Mal chega

nessa hora e me segura pela cintura, me puxando de encontro ao seu corpo


quente numa postura protetora.

- Esperando para me ver, Levine? - De onde surgiu esse tom de homem


das cavernas? Qual é o problema? Achei que ele fosse tão fã quanto eu.

Antes que eu consiga entender o que está acontecendo, somos avisados


de que a transmissão irá voltar ao ar, o que obriga Adam a ir para o seu lugar e a
gente a se sentar.

O resto do prêmio caminha sem acidentes, pelo menos eu acho que sim,

já que eu não consigo prestar atenção em mais nada, só penso naquela bendita
música.

De volta para a limusine, seguimos para a festa pós premiação numa das
baladas mais exclusivas da cidade. Mal não sai do meu lado nem por um minuto

e fico chocada com o quanto ele é absurdamente famoso até entre os famosos.

Somos parados a todo momento por alguém que quer cumprimentá-lo e ele

responde sempre com muita segurança. Dono da situação, como só um frontman

nato conseguiria. Enquanto isso, os outros meninos parecem mais que aliviados

em deixá-lo exercer essa posição, e se preocupam só em curtir a festa.

Malcolm me apresenta como sua assessora e eu consigo muito


orgulhosamente não surtar em nenhum momento. Nem agarro a Taylor Swift,

nem dou um beijo no Justin Timberlake. Só dá uma vontadezinha de colocar a

mão na Beyoncé para ver se ela é real mesmo.


Sorrio para todos, converso com todos e me belisco de dez em dez

segundos para ter certeza de que não estou sonhando, mas meu subconsciente
continua gritando comigo, tão incomodado com aquela música quanto eu. Acaba

logo, festa. Preciso conversar com Malcolm!


Quando a noite começa a dar sinais de que está acabando, Axl está no

palco tocando com Bruno Mars, James Valentine e Pharrel Willians. A propósito,
eu seria fã dessa banda. A última vez que vi Daniel, ele estava dançando a
Macarena com a Miley Cyrus. Depois disso, não vi mais nem ele, nem ela. Ian e

Mia desapareceram uma hora atrás, possivelmente por culpa do vestido matador.

Depois de muita socialização e de fazer seu papel, Mal olha para mim
despido da sua muralha de rockstar-fodão. Fui a única a ganhar esse olhar a noite

toda.
Ah, garoto. Precisa mesmo fazer eu me apaixonar de cinco em cinco

minutos?

- Pronta para ir?

- Sim, por favor. Preciso urgente desparafusar esse sorriso de Miss do

meu rosto. - Ele revira os olhos, mas me olha divertido e segue para a saída, me

obrigando a correr para acompanhar seus passos até o carro.

Dentro da limusine, as champanhes que tomei e a penumbra da noite me


deixam super consciente da presença do deus grego vestido todo social ao meu

lado. Eu quero tanto esse homem que chega a doer. Eu quero tanto esse homem

que acho que vou acabar ficando louca. Preciso fazer alguma coisa, preciso
sentir de novo o que senti ontem à noite.

Para não chamar a atenção do motorista, pego meu celular e mando uma
mensagem para ele. Mal me olha com curiosidade, pescando seu celular do bolso

da calça.

"Você pode tentar ser menos bonito, por favor? Obrigada.”



Sua expressão vai mudando de curiosa para arrogante enquanto ele lê e

sorri, digitando uma resposta rapidamente. Meu celular vibra no meu colo e eu

começo a sorrir antes mesmo de ler.


"Posso te foder sem tirar esse vestido que me fez ficar duro a noite toda,

por favor? Obrigado."


Ele tem que ser o melhor em tudo? Até em sexting?

Seguro seu rosto com as minhas mãos e o obrigo a olhar para mim. Me

perco na imensidão de azul e, sem pensar, despejo a pergunta que me atormentou

a noite toda.

- Mal, você compôs aquela música?

Seu olhar se aquece e, para meu total espanto, ele cora. Bochechas
vermelhinhas! Santo cristo, quero casar e ter filhinhos de bochechas vermelhas

com esse homem.

- Sim. Fodidamente boa, não?


- A mais fodidamente - fodida - de - todas - as - músicas - fodas. Qual foi

sua inspiração? - Tinha que manter isso impessoal, ainda estávamos na limusine
e o motorista parecia bem interessado em ouvir nosso papo.

- Escrevi essa música um mês atrás, mais ou menos, quando conheci uma
garota que me fez sentir coisas que nem imaginava que poderia. Já desisti de

tentar não ser piegas. Ela desperta o pior em mim. Ainda bem que não podemos
ficar juntos, ou eu acabaria virando mais meigo que o Ian.
Pego a mão dele e a beijo, esperando que o meu olhar consiga passar

tudo que não posso dizer agora.

Ah, Mal.
Eu te amo.

Eu te amo.
Eu te amo.

Eu estou ferrada.

Vamos o resto do caminho em silêncio, ainda de mãos dadas. Como bons

meninos comportados que somos, chegamos ao hotel e seguimos pelo hall sem

nos tocar, numa postura totalmente amigável e profissional. Num acordo

silencioso, seguimos direto para o seu quarto e ele nem espera a porta encostar

para me jogar contra ela. Suas mãos me prendem pela cintura e ele está tão
próximo que eu consigo sentir o cheiro do champanhe vindo da sua boca

apetitosa.

- Depois de ontem, senti que precisava te explicar, me justificar… Eu não


sou bom com palavras. Eu não gosto nem de falar, você sabe. Então, ensaiar essa

música, mesmo que de última hora, foi a saída que encontrei. E me arrependi
logo em seguida, porque fiquei me torturando pensando se você iria gostar. - Se

aproximando mais, ele me dá um beijo suave no pescoço e sussurra no meu


ouvido. - Fiquei nervoso pela primeira vez em muito tempo. - Me vira com a

cara para a porta, me pegando por trás e dando um belo tapa no meu traseiro. -
Sai daqui, Black. Agora. Antes que eu faça algo que nós dois queremos, mas que
nós dois vamos nos arrepender.

Sem chance.

- Me deixa dormir aqui... - Sussurro, colando minhas costas na frente do


seu corpo musculoso e quente. - Só dormir, eu juro.

Sinto suas mãos se mexerem pelos lados da minha cintura e acho que vai
me agarrar (Finalmente!), mas ele para e dá um passo para trás, se afastando. Me

viro para encará-lo, mas ele já está indo em direção ao banheiro, balançando a

cabeça.

- Você ainda vai me matar, garota.

Não, Mal. Eu vou te conquistar, você vai ver.


Capítulo 15 - Se eu já não te amasse…

Já está quase amanhecendo quando caímos exaustos na cama. Estou


usando uma de suas camisetas e, sem vergonha nenhuma, me deito em seu peito

nu, com as pernas enroscadas nas dele e o ouvido encostado em seu coração. Eu

mereço, pelo menos, tirar uma casquinha dele hoje. Esse homem escreveu uma

música para mim, Cláusula 27. Esse é o tipo de coisa que não dá para ignorar.

Ah, o peito dele é o melhor lugar do mundo. Nada de Paris ou Londres, o


paraíso é bem aqui. - Mal, essa é a hora que você me faz um cafuné. - Seu corpo

embaixo de mim é uma estátua de pedra, acho que está evitando até respirar.

- Não.

- Mal, essa é a hora que você me abraça.

- Não.

- Mal, essa é a hora que você aproveita para sentir o cheiro do meu

cabelo.
- Não.

Dou uma risadinha da sua rabugice e me enrosco ainda mais a ele.


- Vamos lá, eu sei que você quer. Ninguém vai saber que você tem um

coração, Mal. Estamos sozinhos.


- Não.
Dando mais uma risadinha, me rendo e deixo o sono me levar. Quando

estou quase dormindo, o sinto se acomodar melhor na cama. Seus braços fortes
me rodeiam e afunda o rosto no meu cabelo.
Com você eu vou

Por você eu vou até o fim


Ele começa a cantar no meu ouvido com a sua voz perfeita e eu continuo

sem me mexer. Só pode achar que estou dormindo, para estar sendo tão fofo.
Com delicadeza, me puxa até que eu fique toda em cima dele, e uma de suas

mãos sobe até meu cabelo, me fazendo o melhor cafuné do mundo.

Fique comigo hoje à noite

Fique comigo para sempre

Eu sei que é proibido, eu sei que não devia

Mas fique, fique, fique


Malcolm Black fez mesmo uma música para mim!

Malcolm Black realmente sente algo por mim!


Malcolm Black quer que eu fique com ele!

Acho que Murphy era, na verdade, minha fada madrinha.


Um grande e sonoro “Eu te amo” está entalado na minha garganta,

querendo muito fugir aos berros. Antes que eu fale alguma besteira, colo meus
lábios nos seus, esquecendo do mundo, do meu fingimento e de toda essa

loucura. Ele me abraça forte pela cintura com uma mão, enquanto a outra gruda
nossos rostos ainda mais. Sua boca tem um gosto doce e inebriante de hortelã e
champanhe, que deixaria tonta a mais forte das mulheres.

- Black, você prometeu que ia se comportar. - Ele se afasta de mim

quando perdemos o ar, fazendo cara de bravinho. - E você deveria estar


dormindo.

- Estraga prazeres. - Resmungo para ele e me aninho de volta a em seu


peito, deixando o sono me engolir de verdade dessa vez, relaxada com a

esperança de que, se Mal sente algo por mim, talvez a gente possa fazer isso dar

certo.

**

Nas duas semanas seguintes, vivo um pesadelo misturado com sonho.


Mal está fugindo de mim com todas as suas forças. Ele me levou ao show

do Maroon 5, mas quase não falou comigo e nem me deixou ir ao camarim falar

com Adam.
- Precisamos voltar para o hotel, tenho uma reunião com Josef cedo

amanhã. - Aham, sei.


Ele quis me levar para um tour de carro por Londres à noite, o que foi

incrível. Pena que ele ficou colado na porta oposta a minha o tempo todo.
Caberia um elefante obeso sentado entre nós. Na semana seguinte, ele escapou

para o meu quarto todas as noites que passamos em hotéis. Dormíamos juntos
(Só dormir mesmo, Cláusula 27. Juro!) e ele ia embora antes que eu acordasse.
Numa dessas manhãs, desperto mais uma vez com a sensação de frio ao

meu lado. Olho ao redor e vejo que Mal já não está mais na cama, como sempre.

No seu lugar, apenas um bilhete escrito com sua letra perfeita e um pequeno
iPod pink.


“Coisinha,

Quando não consegue se explicar, seu olhar fala por você.

Quando eu não consigo me explicar, as músicas falam por mim.

Tudo aqui me lembra de você”

Ligo correndo o IPod e a primeira música é “Por você” numa versão

acústica. Sem conseguir esperar, vou passando a playlist e encontro várias


baladas românticas da Black Road e clássicos do rock, todas em versões com só

a voz de Mal e seu violão.

Uau! (Já contaram quantas vezes eu uso essa expressão para me referir a
ele?!)

Malcolm tem um lado surpreendentemente fofo, mas eu não sei se isso é


bom ou ruim. Porque é bem mais fácil não gritar “Eu te amo” para a versão

babaca dele.
Com o IPod tocando, me arrumo para começar o dia em Budapeste,

capital da Hungria. Teremos uma manhã de autógrafos e uma coletiva de


imprensa com a mídia local. Coloco um vestido preto até o joelho, meus
scarpins Louboutin, um blazer leve e curtinho e um colar pesado. Meu rosto está

corado e meus olhos brilhando... sou a típica garota apaixonada!

Encontro um Josef de bom humor no elevador a caminho do café da


manhã, feliz por termos virado o perfil com mais seguidores em todo o

Instagram. Além dos parabéns dele, ganho um gordo aumento, que deixa meu
salário ainda mais absurdo do que já era.

Ponto para a Nick!

Todos os meninos já estão lá, com exceção de Ian e Mia. (Vulgo, coelhos

no cio.) Fico ouvindo com interesse fingido Dan contar sobre sua noite com os

garotos do One Direction, mas minha mente só consegue focar na beleza de

Malcolm, sentado bem na minha frente.

Aproveito que ele está distraído, absorto em checar o celular e tomar seu
café, e começo a esfregar meu pé pela sua perna. Subo um pouco a calça, até

meu salto arranhar sua panturrilha. Ele engasga em sua xícara e eu faço a minha

melhor cara de Dan-Inocente.


Estou quase chegando em sua virilha com a minha exploração audaciosa,

quando ele agarra meu tornozelo e me para. Por que esse chato sempre estraga
minha vibe nas melhores partes?

Mal me solta, pega seu celular de volta e sei que uma bronca está vindo.
Não passam nem 10 segundos para o meu aparelho vibrar em cima da mesa.


“Se você não quer que eu te coma de quatro em cima dessa mesa agora,
na frente desses dois panacas, você precisa parar de me provocar”.

- Mal estava mexendo no celular e depois o da Ninizinha vibrou. E agora


ela está com cara de tarada! Acho que eles estão trocando mensagens safadinhas,

Ax.
Baterista maldito.

- Daniel, você é bem criativo, não? - Digo revirando os olhos e me

fazendo de desentendida. Mal simplesmente bufa, se levanta e vai embora.

Típico.

Axl sorri e me dá uma piscadela cúmplice que me faz corar até o dedinho

do pé, mas pelo menos me poupa de mais comentários constrangedores. Acabo

meu café, me despeço dos dois e vou até a sala onde será realizada a manhã de
autógrafos, para arrumar tudo e começar a receber os fãs sorteados. Todos me

conhecem, me chamam pelo nome, pedem para tirar fotos comigo, me contam

das fanfics que escrevem sobre mim e Mal e pedem que eu conte como ele é.
Me controlo para não vomitar arco-íris e despejar toda minha paixão

naqueles pobres adolescentes. Me limito a responder que ele é rabugento e


adorável em iguais proporções, o que já basta para a parcela feminina suspirar

apaixonada.
É, eu sei como é.

Logo Mia chega, com a maior cara de quem teve uma noite para lá de
boa, e se junta a mim para mais uma rodada de fotos e, agora, perguntas sobre
Ian. Estamos cantando uma música em coro com elas quando os meninos

entram, nos fazendo ser esquecidas na hora.

Mal procura meu olhar e pisca discretamente para mim antes de ser
engolido pelos fãs. Ah, esses pequenos gestos derretem meu coração.

Mia e eu nos encarregamos de tirar as fotos e, principalmente, de salvar


os meninos quando alguém passa dos limites. Uma fã grudou em Dan de tal

maneira que tive que chamar Axl, Boris e Rock (Juntos!) para descolá-la dele.

Depois da loucura, dos gritos estridentes, e de um pequeno acidente

envolvendo uma mordida e a bunda de Ian, vamos direto para a coletiva de

imprensa, bem mais civilizada. Ali estou no meu ambiente e fico totalmente à

vontade conduzindo as coisas de cima do palco, ao lado dos meninos. Preciso

que tudo saia perfeito, quero que Mal se orgulhe de mim.


- Atenderemos duas perguntas de cada veículo, seguindo da última

fileira, até a primeira, da esquerda para a direita. Quando pegarem o microfone,

por gentileza, digam seu nome e onde trabalham. Vamos começar.


- Meu nome é Alicia Thomas, da Revista People. Gostaria de perguntar

aos garotos sobre a nova música e como funciona o processo de composição


entre eles.

Nova música, ou seja, minha música? Melhor jogar essa para o Ian.
- Ian é o compositor principal, então vou pedir que ele a responda.

- Alicia, normalmente uma ideia vem quando menos se espera, mas ela
sempre tem base em momentos que nós quatro vivemos. Quando a inspiração
vem para um de nós, corremos para o estúdio, nos reunimos, explicamos a ideia

aos outros e vamos trabalhando em conjunto, letra e melodia, e colocando um

pedacinho de nós em cada estrofe. Foi o que aconteceu com a nova música. Um
de nós teve a inspiração, ligou para os outros no meio da noite e tivemos que

correr para o estúdio gravar o que esse cara em questão disse ser uma canção
“foda que nos dará o próximo Grammy”.

- Isso quer dizer que um de vocês está vivendo um amor intenso e

proibido? - Ela pergunta com um sorriso e todos na sala riem. Tento sorrir

também e disfarçar minha expressão de medo ao olhar para Ian, enviando para

ele uma mensagem silenciosa do tipo “Não conte nada, ou Mal te mata!”.

- Com certeza, Alicia. Na verdade, dois de nós estamos vivendo um amor

intenso pela primeira vez, já que o compositor não sou eu.


Ai, droga. Hora de encerrar essa história.

- Obrigada, Alicia. Próximo, por favor.

Sem mais perguntas pessoais, a coletiva acaba sendo um sucesso, me


fazendo respirar aliviada. Os garotos são retirados por Boris e eu sou

bombardeada por jornalistas que precisam de material extra para suas


publicações, além de especulações sobre quem é o outro apaixonado.

Não sei de nada, gente! Juro! (Cof, cof.)


Depois de uma hora, finalmente consigo me arrastar de volta para o meu

quarto. Remoendo o que Ian falou, quase desmaio quando dou de cara com
Malcolm Black deitado na minha cama, com um sorriso safado.
Voltar para o quarto e ter um loiro sarado me esperando?

Eu poderia me acostumar com isso.

Corro e me jogo em cima dele, que me segura com facilidade. Deito em


seu peito e me ocupo em farejar seu pescoço delicioso, com alguns beijinhos e

mordidinhas de brinde. Depois de um tempo curto demais, ele me afasta, mas


um sorriso lindo domina seu rosto. - Sua tarada. Eu tenho ensaio daqui a pouco.

- Ninguém mandou estar aí na minha cama dando sopa. - E mordo seu

pescoço com vontade. Nham, bom!

- Passei aqui só para saber se gostou do presente e dizer que você me

deixou cheio de tesão lá na coletiva. Fica fodidamente sexy no seu papel de

mulher poderosa. - Claro que ele vai ignorar o que Ian disse. Tudo bem, vou

deixar passar dessa vez, até porque arrancar confissões de uma porta é mais
fácil, do que arrancar confissões dele.

- Que tal você me dar uma amostra do que sentiu lá na coletiva? - Puxo o

vestido para cima e sento em seu colo, sentindo sua ereção acordando.
- Porra, Black. - Ele diz em um gemido, com a expressão de sofrimento

deixando claro que quer isso tanto quanto eu. Me segurando pela cintura, me
esfrega em seu comprimento e força seu quadril contra mim. Ai, minha

mãezinha do orgasmo sem nem tirar as roupas, dai me forças! - Você sabe que
aqui vai ser o primeiro lugar que vão me procurar se eu sumir.

A realidade é como um banho de água fria em mim.


- Você tem razão. - Desço do seu colo e me deito ao seu lado. Odeio isso!
- Mas você não pode ficar aí deitado na minha cama falando de tesão. De agora

em diante, só vamos falar sobre nabos quando estivermos sozinhos. Seja mais

resistível, poxa. - Ele abre o seu maior sorriso arrogante-rockstar-fodão-ego-nas-


alturas.

(Placar de sorrisos: 88 e contando!)


- Agora você só piorou a situação. Quem quer aguentar o Daniel por duas

horas quando posso ficar aqui ouvindo sobre o quanto eu sou irresistível? - E se

joga em cima de mim, me prendendo com seu peso monstruoso.

- Malcolm, vá embora antes que eu te amarre no pé da cama e te

sequestre para ser meu escravo sexual. Minha mente é dividida em partes iguais,

uma metade maquiavélica e outra tarada. Já tenho o plano perfeito todo

montado. - Pior que é verdade.


- Gosto da ideia de ser seu escravo. Quem sabe mais tarde. - E pisca para

mim. Ah, Deus. Dá para esse homem ser mais confuso? - Então, você gostou do

IPod?
- Eu amei! Ele vai andar grudado em mim o dia todo.

- IPod sortudo. - Se levanta e volta ao seu modo estrela do rock. Era


como se ele tivesse uma chavinha de liga/desliga Modo: Rockstar. Quando

estávamos juntos e sozinhos ele era um, quando estávamos com o resto do
mundo, era o babaca de sempre. Daria tudo para ganhar pelo menos mais um

beijo, mas ele já mudou a chave para o ON, então acho que ele aparecer de
surpresa na minha cama é o máximo que vou conseguir hoje.
Uns dois minutos depois da saída de Mal, Mia invade meu quarto sem

bater para me obrigar a ir assistir ao ensaio com ela. Quase fomos pegos no

flagra! Acho que Mal tinha razão sobre sermos mais cuidadosos afinal.
- Eram vocês mesmas que queríamos. - Ian abre um sorriso assim que

entramos na sala que o hotel havia providenciado para os ensaios.


- Qualquer coisa para você, Baby. - Mia responde ronronando e correndo

para ele. Crise de hiperglicemia a vista!

- Os fãs pediram que a gente gravasse alguma música com as duas,

gostaram de ver vocês cantando hoje. - Axl termina de explicar, já que Ian está

muito ocupado com uma Mia grudada nele.

Mundo injusto. Eu queria me grudar a vácuo no Mal também, poxa. Olho

para ele brava e ele ri, sabendo exatamente o que eu estou pensando.
E não dando a mínima, óbvio.

- Vamos, meninas. Vamos gravar. Vamos, vamos, vamos. - Daniel saltita

ao meu redor. - Mia, desgruda do Ian, pelo amor de Deus. Se você matar ele
sufocado, vamos ter de colocar Malcolm para tocar guitarra e sabemos que o

forte da nossa fofurinha aqui não é a habilidade com os dedos.


Engasgo na hora com a garrafa de água que estou tomando. Ah, Dan, se

você soubesse como ele é MUITO habilidoso com os dedos. Malcolm olha para
mim tentando segurar o riso, com um olhar malicioso, e percebo que me tornei

realmente transparente para ele. Conseguimos nos comunicar sem trocar uma
palavra. Como somos bonitinhos!
- Tudo bem. Vai ser legal para eu divulgar no canal da banda, pode ter

uma boa repercussão. Que música pensaram?

- Eu pensei em Lucky, do Jason Mraz. - Axl pega o violão e começa a


dedilhar. - Você e Mia, assim que ela desgrudar do Ian, podem fazer coro na

parte da Colbie Caillat.


- Isso. Vamos de acústico. Dan na percussão, você e Ian tocam, e eu

canto com as meninas. - Mal topou fácil assim, sem reclamar? Que beleza!

- Fechado! Vamos ensaiar. MIA! Solta o seu namorado agora. - Grito a

puxando pela mão e separando os dois a força.

Nos sentamos em banquinhos altos, com meu boy magia no meio, Dan

do meu outro lado, seguido por Axl e Ian, claro, está do lado da Mia.

Depois de três ensaios e alguns acertos, preparo a câmera do celular


mega moderno de 100000 pixels de Ian e peço que Boris grave para nós. Quando

os meninos começam a tocar, me dá um super friozinho na barriga.

O mundo iria ver isso!


Mal me cutuca na costela, como costumo fazer com ele, e me abre um

pequeno sorriso.
Pronto. Agora sim, eu consigo.

Me concentro em acertar toda a letra e a afinação, até que olho para Mal,
que está cantando e olhando para mim. Lá se vai o meu foco.




They don’t know how long it takes

Eles não sabem quanto tempo leva


Waiting for a love like this

Esperar por um amor como este

Every time we say goodbye

Toda vez que dizemos adeus

I wish we had one more kiss

Gostaria que tivéssemos mais um beijo



Algo me diz que se identifica com a letra tanto quanto eu...

Mas, sério, ele precisa parar de cantar olhando para mim, ou vamos
transformar esse vídeo inocente em uma versão para maiores de 18 anos. Parece

ouvir meus pensamentos e desvia seu olhar, se voltando para a câmera. Ufa!

O resultado final fica bem legal. Nossas vozes combinam! Assim que
coloco nas redes sociais, os fãs enlouquecem. Esse vídeo vai bater recordes,

aposto. A química entre nós seis é evidente, parecemos amigos de anos se


divertindo. Parecemos felizes.

Eu pareço mais feliz do que nunca, principalmente enquanto canto para


Malcolm.

Continuo acompanhando o ensaio e trabalhando um pouco, até que Josef


se senta ao meu lado para assistir ao vídeo no meu computador. Algo muda em
sua expressão assim que a música acaba e ele passa a me encarar como se

tentasse ler minha mente. Como se quisesse me perguntar algo. Ai, droga. Será

que ainda está desconfiando de algo?


Sem querer dar mais motivos para ele suspeitar de nós, me despeço e vou

para o quarto tomar banho e me arrumar para o show. Com a água fria
escorrendo por mim, não consigo evitar que minha mente se concentre de volta

no olhar de Josef. Ah, que confusão eu me meti.

Faço um resumo mental da minha situação desesperadora e suspiro.

1 - Eu amo um cara que não deveria amar.

2 - Eu tenho quase certeza de que ele gosta de mim também.

3 - Mas não podemos ficar juntos porque trabalhamos juntos.

4 - Mesmo se pudéssemos, onde isso me levaria? Rockstars não se


casam. E, se casarem, não é com garotas como eu. É com angels da Victoria's

Secrets, como o Adam Levine e a Behati Prinsloo (Lindos!). Garotas que gostam

mais de academia, do que de mousse de chocolate (Nham, com Kit Kat em cima.
Comeria fácil agora).

5 - Por outro lado, se Mal estivesse na minha mesmo, teria sugerido que a
gente tivesse algo mais do que essa amizade estranha. E não fingiria sempre que

nada está acontecendo.


6 - E se quisesse ter algo mais, ele conversaria com Josef e resolveria

tudo. Com certeza ele não seria expulso da banda. (Hello! Ele é o
VOCALISTA!), nem me deixaria ser demitida.
7 - E ainda tem a cereja do bolo que é ele não acreditar em

compromissos.

É, acho que é isso. Coisa pouca. Nada desesperador.


Desligo o chuveiro e me enrolo na toalha, respirando fundo para tentar

me acalmar.
Preciso viver um dia de cada vez, ou vou enlouquecer. Tenho Malcolm

Black na minha vida e não só a versão em pôster. Há três meses atrás eu nem

sonharia com isso, então preciso relaxar e dar tempo ao tempo.

Pego uma taça de vinho para me acalmar e vou escolher meu look para o

show. Visto um All Star preto de salto embutido, um jeans boyfriend rasgado e

dou um nó no ladinho da camiseta Black Road que ganhei do Dan e tem uma

foto gigante dele escrita “Music is my religion, Dan is my God”.


Garoto criativo.

Prendo meu cabelo num rabo de cavalo alto e assumo meus óculos de

grau. Hoje só quero conforto, depois de ter passado o dia em cima de


Louboutins. Nos encontramos no hall e Mal nem ergue o olhar para mim quando

cumprimento todos. Queria tanto chegar e pegar na sua mão, como Ian e Mia
fazem. Dar um beijo no seu rosto, andar abraçada com ele... Essa bipolaridade é

muito exasperante!
Para me distrair, vou brincando de cantar músicas do OneRepublic com

Axl, que percebe que estou meio aérea e me chama para apostar corrida até o
camarim. Ele sempre me deixa ganhar, mesmo tendo três metros de perna, o que
sempre me deixa feliz.

Filmo os garotos trocando de roupa para postar no dia seguinte, o que

com certeza vai enlouquecer a parcela feminina dos fãs. (Eu enlouqueci pelo
menos!) Me concentro em editar o vídeo e ocupar a minha cabeça. Funciona

bem até que uma mensagem de Mal apita no meu celular.


“Me encontre na terceira porta a esquerda. Três minutos”.

Eita. O que será que eu fiz agora? Espero impaciente os três minutos se

arrastarem e me levanto de um salto. - Vou checar com a segurança se nenhum

jornalista veio hoje mesmo. - Digo para ninguém em particular, só para dar uma

disfarçada. Bem sutil, eu sei.


Conto três portas e entro num armário escuro de produtos de limpeza.

Uma mão forte me abraça por trás, me prendendo na parede e o perfume de Mal

invade minhas narinas.


- O que eu preciso fazer para você usar uma camiseta com o meu rosto?

- Me dar uma de presente, como Dan fez.


- Esse cara sabe como me irritar. - Diz rouco e me vira de frente para ele,

sua expressão ficando mais suave. - Por que você está preocupada? O que
aconteceu?

É possível que ele já me conheça tão bem? Pelo jeito, sim. Bom, acho
que a verdade é sempre o melhor caminho, mesmo que sejam paranoias
despejadas em cima de um cara que nem é meu namorado.

- Eu estou preocupada com a minha situação. Josef ficou olhando para

nós durante o ensaio e acho que suspeita de algo.


- Não tem nada acontecendo entre nós para ele suspeitar, Black. - Ai, essa

doeu. - Fique tranquila. Ok?


- Ok. - A afirmação dele só serviu para me deixar pior. Eu o amo e ele

acha que isso é “nada”.

Ouvimos gritos de “Vai começar” e eu me afasto, deixando que saia

primeiro. Ele nem percebeu que pisou no meu pobre coração mais uma vez. Por

que não posso me apaixonar por um cara bonzinho e não-proibido? E,

principalmente, que não seja avesso a compromissos e assumir namoradas.

Primeira vez que me apaixono e já começo com tudo! Bem sua cara,
Nicole Black.

Durante o show, Mia percebe meu humor e tenta me animar me puxando

para fazer dancinhas ridículas com ela. Boris, Rock e o resto dos roadies nos
observam, tentando segurar risadinhas. Sou uma piada mesmo, podem rir.

Depois da apresentação, me sento num canto, sem vontade de socializar,


e Mia se senta ao meu lado, continuando determinada na sua tarefa de me

distrair. Como se não bastasse tudo que já tinha acontecido, meu coração para
quando analiso o ambiente e vejo uma das fãs do “Meet and Greet” entrando e

indo direto conversar com Mal.


Não qualquer fã.
Melissa: a Vaca.

Ah, Murphy, qual é?! Já não deu por hoje, não?

Ele fica sério e cruza os braços em uma postura defensiva quando ela se
aproxima. Como a boa vaca que é, nem se intimida e coloca a mão no ombro

dele, se inclinando para exibir seu belo decote. (Vinte números maior que o
meu.)

Loira, olhos verdes, pernas quilométricas e o peso que eu tinha com dez

anos de idade = Exatamente o tipo de mulher que se espera que esteja do lado de

um rockstar.

Legal, não?

Não.

O ciúme late alto dentro de mim e eu fecho minhas mãos em punhos,


respirando fundo.

- É de você que ele gosta, pode ficar tranquila. - Mia me cutuca e aponta

com a cabeça para os dois. Dan escolhe justamente essa hora para se jogar entre
nós, me esmagando no braço do sofá e me salvando de ter de responder qualquer

coisa.
- Ninizinha, minha linda. Já disse que você ficou ainda mais bonita com a

minha camiseta? Pena que a minha beleza ofusca a sua.


Dou o meu primeiro sorriso verdadeiro da noite, que rapidamente cai do

meu rosto quando vejo a loira pernuda passando as mãos pelo pescoço do meu
Mal e sussurrando em seu ouvido.
Sai de perto do meu homem, vadia.

Calma, Nick.

Ele vai afastá-la.


Mal não vai deixar ela se esfregar nele bem na minha frente.

Certo? Não.
Doce ilusão.

O que ele faz em seguida? Coloca as mãos na cintura dela. Na cintura!

Ela entende isso com um sinal verde e tasca um belo de um beijo nele.

NA BOCA!

ELA ESTÁ BEIJANDO MEU HOMEM NA BOCA!

- Puta que pariu. - Dan e Mia falam ao mesmo tempo, virando assustados

para mim, seguidos por Ian, Axl e Boris.


Todos sabem!

Se não soubessem também, teriam ouvido o estrondo enorme do meu

coração se despedaçando ali no meio do camarim.


- Dan. Preciso que você me tire daqui agora. - Minha voz é apenas um

sussurro. Ele se levanta num pulo e vira de costas para mim. Subo de cavalinho
nele, como nos velhos tempos, e ele sai correndo porta a fora com Mia em seus

calcanhares. Afundo o rosto em seu pescoço e não vejo mais nada.




Capítulo 16 - Tempo o bastante para se tornar
inesquecível

Quando percebo, estamos em um sedã chique, com Dan dirigindo em alta

velocidade a caminho do hotel.


- Dan, espero que não tenha roubado esse carro. Ser presa era só o que

me faltava hoje.

- Nick bobinha. Claro que não roubei. Só peguei emprestado. - E pisca

maroto para mim. - A gente precisava de um carro de fuga, oras!

- É… acho que precisávamos. A propósito, desculpem por isso. - Encosto

a cabeça no banco do carro e me concentro em respirar fundo e não chorar.


- Não precisa se desculpar, você não fez nada. Aquele babaca sim vai ter

que pedir muitas desculpas. - Mia diz com uma hostilidade que nunca tinha

ouvido antes em sua voz.

- Nick. Você precisa conversar com o Mal. - Dan me olha sério pela
primeira vez na vida.

- Prefiro comer um prato de quiabo cru enquanto ouço um CD de Axé,


Dan. - Percebo que estou tremendo de raiva.

Sou uma imbecil.


Sou ridícula.

A garotinha bobinha que realmente imaginou que o Deus do Rock estava


apaixonado por ela!
Chegando ao hotel, Daniel corre até o meu lado do carro, me ajudando a

descer e colocando seus braços ao meu redor, segurando minha tremedeira. Mia

me oferece sua mão e eu aperto com força, respirando fundo. Hora de pensar.
- Dan, posso ficar no seu quarto hoje?

- Você não quer que ele te encontre, né?


- Não. - Definitivamente não.

- Certo. Mia, você vai atrás da maior pizza e da maior caixa de Kit Kat

que achar. Traga garrafas de vinho também. Ligue para Axl e peça para que ele e

Ian se certifiquem que Malcolm não descubra onde a Nick está. E que ele não

faça nenhuma besteira, ainda precisamos daquela anta para ser nosso vocalista.

- Deixa comigo. Volto em quinze minutos. - Ela pega a chave do carro e

sai cantando pneus. O que eu fiz para merecer esses lindos?


- Vem, Nick. - Dan me reboca para dentro do hotel, até seu quarto e em

seguida sai para buscar um pijama no meu. Tomo um banho bem quente e

demorado, assombrado por flashes da loira pernuda enfiando a língua no meu


homem. E do meu homem deixando a loira pernuda enfiar a língua nele.

Murphy, fique sabendo que está oficialmente demitido do cargo de minha


fada madrinha.

Saindo do banheiro, encontro Mia, Dan e meu kit “afogar as mágoas” me


esperando. Conto para os dois tudo que aconteceu entre Malcolm e eu desde o

começo, enquanto devoramos as pizzas e acabamos com as garrafas de vinho.


Quando termino, Mia está possessa e Daniel está quieto. Sua versão quieta é
ainda mais perturbadora que sua versão maníaca.

- Eu amo o Malcolm como um irmão, mas eu daria um soco facilmente

nele agora. - Só de imaginar essa fofura de 1m50 que é a Mia dando um soco em
alguém, já me dá vontade de rir.

- Muito obrigada por tudo, gente, mas acho que preciso tentar dormir um
pouco. - Dou um sorriso fraco enquanto mordo meu último Kit Kat. Quantos eu

comi?

- Dorme aqui e eu vou para o seu quarto. Pode ser?

- Claro. Eu já disse que vocês são lindos?

- Eu sou lindo. Mia é, no máximo, aceitável.

Ela revira os olhos para ele e me dá um beijo na testa. - Fica bem. Vai dar

tudo certo.
- Obrigada. - Pelo menos agora tenho certeza de que essa vida bandida

me deu mais uma amiga.

- Te pego amanhã para tomar café. Nem pense em fugir!


- Eu não ousaria fugir de você, Mia. - Ela mostra a língua e sai, me

deixando a sós com Dan.


Deito na cama espaçosa e fecho os olhos. Que bagunça virou a minha

vida. E, para completar, tenho certeza de que essa história vai vazar e eu vou
perder meu emprego dos sonhos.

Sinto o colchão afundar e Dan deita ao meu lado, me puxando para o seu
peito e me fazendo cafuné. O peso de tudo desaba em mim quando sinto seu
toque carinhoso e, pela primeira vez na noite, me permito chorar. Choro como só

alguém apaixonado choraria.

Ele não fala nada, só está lá para mim, me segurando firme.


Depois do que parece uma eternidade, ouço seu sussurro.

- Quando eu e o babaca éramos pequenos, fizemos uma lista de como


seria nossa “mulher perfeita”. Nunca vou esquecer da minha, e nem da dele.

Ninizinha, você é a encarnação da lista do Mal. Morena, porque ele é loiro e

gosta de ser “único”. Bailarina, porque roupas coladas são totalmente sexy. Que

tenha sempre uma resposta na ponta da língua, para não se assustar com as

babaquices que ele fala. Que toque bateria, porque ele toca guitarra e assim

seriam uma minibanda. Ninguém precisa de um baixista mesmo. Que goste de

Friends, música, coisas pretas e Kit Kat. Vocês me fizeram acreditar que toda
essa melação de alma gêmea e tampa da panela, era verdade. Por isso, eu sei que

vão ficar juntos. Eu prometo que vão.

As palavras de Dan me acalmam e eu consigo relaxar um pouco.


Apagando as luzes, ele começa a cantar baixinho uma cantiga de ninar no meu

ouvido, e nem percebo quando adormeço em seu colo.


Acordo no dia seguinte na mesma posição, com Dan também no mesmo

lugar roncando profundamente. Quem diria que o labrador hiperativo pudesse


ser tão sensível. O que ele fez por mim ontem foi incrível. Só de pensar em ter

de ficar longe dele também, meu peito se aperta. Perder Mal, meu trabalho e a
Black Road seria um baque e tanto… Seria perder tudo.
Levanto sem fazer barulho e vou para o meu quarto. Preciso de um banho

urgente e preciso encarar a realidade que me espera.

Visto jeans, botas sem salto, uma blusa soltinha, prendo o meu cabelo e
coloco os maiores óculos de sol que tenho. Indo para a bela varanda do hotel,

respiro fundo e tomo coragem para olhar meu celular.


33 chamadas não atendidas.

E uma mensagem.

Respiro fundo antes de abrir.

“Mal. Você é dono das suas atitudes. Você quer ter uma boa família,

trabalhe duro para isso. Pegue o exemplo dos seus pais e faça diferente. E

arrume uma mulher que te coloque no seu lugar, caso você pense por um
segundo que seja em se desviar.”

Eram as exatas palavras que eu tinha dito para ele quando estava
apavorado sobre ser igual ao pai… A diferença aqui é que Mal seria casado com

essa mulher e a amaria. Ela não seria só uma fã louca-obcecada que avançou
nele e foi ingênua o suficiente para se apaixonar sozinha.

Uma batida na porta faz meu coração parar. Por favor, que não seja ele.
Tomara que seja Mia.

Tomara que seja Mia.


Tomara que seja Mia.
Olho pelo olho-mágico morrendo de medo, e solto a respiração aliviada

quando vejo Axl e Ian com sorrisos gigantes.

- Bom dia, bonitões.


- Bom dia, bonitona. Pronta para um café da manhã digno de princesa?

Na verdade, não estava com a menor fome, mas a empolgação deles era
fofa demais para eu negar. - Morrendo de inanição aqui já.

- Ótimo! Você vai amar o que fizemos. - Ian está com seu maior sorriso

de criança arteira, o que me faz sorrir também. Seguimos pelo corredor, até o

quarto dele e de Mia. Eles organizaram no chão o maior piquenique/café-da-

manhã que eu já vi! Tinha de tudo, de pão na chapa até Kit Kat.

- Vocês não brincam em serviço mesmo, hein? - Digo rindo e me

sentando. Ser mimada é sempre bom, até diminui meu mau humor nefasto. Logo
Mia chega e começo a me sentir ainda melhor. Ninguém fica me olhando com

pena, apenas conversamos como se nada tivesse acontecido. E é exatamente isso

que eu preciso hoje.


Mas claro que Malcolm Black iria interromper minha paz. Nem tinha

mordido meu primeiro Kit Kat ainda, quando ele decide invadir o quarto com as
mesmas roupas do show de ontem, olhos vermelhos, descabelado e com olheiras

gigantes que me encaram fixamente.


- Nick, preciso falar com você. - Sua voz é apenas um fiapo.

Mia se levanta na hora, se colocando entre nós.


- Fica longe dela, Malcolm. Seu imbecil!
- Cara, melhor você sair daqui. - Ian se levanta e fica ao lado da

namorada.

- Nick, por favor. - Ele sussurra, sem olhar para mais ninguém naquela
sala, sem se intimidar com nossa plateia.

Não.
Me levanto devagar e dou uma olhada para Axl, que entende na hora e se

levanta também. Anda ao meu lado até que paramos na frente do babaca, então

passa seus braços de aço ao meu redor me impedindo de fazer alguma besteira.

Tenho quase certeza que iria estapear essa carinha linda. A ideia me atrai

muito, mas seria um pecado e um grande prejuízo para o mundo.

- Black. Eu não vou falar com você agora. Eu tenho problemas maiores

para resolver, como manter meu emprego. Você vai entender isso e vai ficar
longe do meu caminho. Quando, e se eu quiser conversar, você ficará sabendo.

Agora, eu gostaria de tomar o café da manhã magnífico que essas pessoas que se

importam comigo fizeram. - Respiro fundo, orgulhosa de mim mesma.


Axl me vira em seus braços e me acompanha de volta para o meu Kit

Kat, se sentando e me colocando em seu colo. Mia se senta ao nosso lado, como
um escudo e eu me concentro em não o olhar mais.

- Vamos lá. Vamos tirar o Daniel de onde quer que você tenha trancado o
pobre homem para conseguir fugir. - Ian pega Mal pelo braço e o arrasta para

fora.
- Vocês estavam mantendo o Senhor-Rockstar-Fodão em cárcere
privado? - Pergunto para Axl.

- Ele estava insano ontem, então precisamos nos revezar para ficar de

guarda. Agora é o turno do Daniel, mas já deveríamos saber que isso ia


acontecer. Você sabe que ele tem a concentração de um pinscher. Provavelmente,

Mal jogou uma bolinha, ele saiu correndo e acabou trancado dentro do banheiro.
Mal precisou ser contido pelos meninos? Ele queria tanto assim falar

comigo? Por que?

Terminamos meu café-de-princesa e vamos arrumar as malas para voltar

ao ônibus e ir para a próxima cidade. Estou tão fora de mim que nem lembro

para onde vamos. Amsterdam? Paris? Sei lá.

Não sei nem se ainda tenho um emprego.

Minha tática com Josef seria fingir que nada aconteceu e torcer para que
essa história não tenha chegado aos ouvidos dele. Confio em todos que estavam

na sala para manter nosso segredo, menos na vaca da Melissa.

O problema é que, mesmo que ele não descubra, vai perceber que eu e
Mal estamos bem menos próximos que o normal. Mas disso, tecnicamente, ele e

a Cláusula 27 não podem reclamar.


Axl me acompanha até meu quarto e, com um sorriso tímido, tira uma

pequena caixinha do bolso. Um IPod novinho azul turquesa brilha em sua mão. -
Eu sei o que tinha no seu, eu ajudei o imbecil a gravar. Então, fiz esse ontem a

noite só com músicas agitadas e felizes para você se animar um pouquinho.


Meus olhos se enchem de lágrimas mais uma vez e eu pulo em seu
pescoço, o abraçando apertado. Eu não mereço esses meninos! Ele fica

adoravelmente constrangido, mas me abraça de volta antes de ir para o seu

quarto.
Enfio meu IPod antigo dentro de três meias e uma luva, no canto mais

escondido da minha mala, junto com tudo que possa me lembrar ele. Em quinze
minutos já estou pronta para sair.

Ganho a escolta de Ian para ir até o ônibus. Ele se recusa até a me deixar

carregar minha bolsa. Já está engraçado isso. Tenho guarda-costas rockstars!

Sento na mesa redonda que fica bem na entrada do ônibus, abro meu

notebook e vou trabalhar, que é o que eu faria em um dia normal da vida.

Aproveito a companhia de Ian para já fazer as entrevistas que recebi para ele.

Mia chega em seguida com Josef e Axl e, por último, Mal e Dan entram juntos.
Nem levanto meu olhar, só continuo a falar com Ian.

Todos se sentam comigo, enquanto Josef passa a agenda das próximas

semanas. Para minha alegria, daqui três dias os meninos irão ao Victoria’s
Secrets Fashion Show em Nova York, onde a vaca, com certeza, irá desfilar.

Murphy não cansa de fazer hora extra mesmo.


A boa notícia é que ele parece não perceber nada do que aconteceu e nos

trata como sempre. Os meninos vão descansar nos beliches e eu aproveito para
repassar todas as entrevistas e divulgações dos próximos dias com Jo. Respiro

aliviada quando ele, finalmente, diz que vai se retirar para descansar também.
Estou salva, por enquanto. Se eu superar essa minha paixonite absurda, talvez eu
consiga sair dessa situação e manter meu emprego.

Isso, garota! Esse é o caminho.

Essa minha resolução de vida dura cinco minutos, até Mal voltar para a
sala e me lembrar de como ele é ridiculamente maravilhoso. Ele está menos

abatido, trocou de roupa e parece ter tomado um banho, mas eu o conheço bem o
suficiente para saber que ele está em frangalhos. Como eu.

E estamos sozinhos… Minha nossa senhora dos processos por agressão

física, me proteja!

Cadê os guarda costas rockstars quando mais se precisa? Antes que eu

consiga traçar minha rota de fuga, ele levanta os braços, como se estivesse se

rendendo.

- Não se preocupe, não vou falar nada. Só preciso... - Ele passa as mãos
pela barba cerrada e respira fundo. - Eu só preciso ficar perto de você um pouco.

- Sua voz não é nada mais que um sussurro fraco e quebrado.

Meu coração idiota dá uma derretida com o tom de desamparo e com o


pedido tão fofo. Ele pega um copo de água, um caderno de partituras e se senta

ao meu lado em silêncio.


Ah, seu cheiro é tão bom…

Não, Nick! Foco.


Volto minha atenção para o computador e continuo respondendo fãs e

perguntas dos jornalistas. Ficamos assim por duas horas, imersos em nossas
tarefas, até a parada para almoço. Ele cumpre o que prometeu e não fala nada em
todo esse tempo, só compõe.

Lá vem o próximo álbum!

Espero que não tenha nenhuma música sobre loiras com pernas
quilométricas.

Quando o ônibus estaciona num restaurante na beira da estrada, Josef é o


primeiro a aparecer, nos dando um sorriso caloroso. Pelo menos o pedido

estranho de Mal serviu para disfarçar a situação com o chefe. Eu e Malcolm

juntos era normal aos olhos dele. Eu desço em seguida bem rapidinho, querendo

evitar os olhares questionadores do resto da banda, que sabem que não tem nada

normal na nossa proximidade.

Fico quieta enquanto comemos, fingindo estar ocupada com meu celular

para não precisar olhar para Malcolm. Volto ao ônibus assim que acabo minha
massa à bolonhesa, deixando os outros para trás. Antes que Mal venha para o

meu lado de novo, deito no meu beliche para tirar um cochilo. Não confio em

mim mesma para ficar sozinha por mais duas horas com ele.
Quando acordo, já estamos estacionando no hotel. Pego minhas malas e

vou direto para o meu quarto, ficando lá quietinha, ouvindo meu “IPod-
animado”, lendo Harry Potter pela milésima vez e fingindo que o resto do

mundo não existe.


- Vamos lá, levantando. Agora. - Mia entra como um furacão, estourando

a minha bolha de sossego e revirando minhas malas.


Não, ninguém nessa banda sabe bater na porta.
- Que foi agora? - Tiro meus fones contrariada.

- Você vai estar linda no show de hoje e a gente vai te esfregar na cara do

Mal.
Lembranças minhas me esfregando de verdade na cara do Mal vem à

mente, mas não acho que ela esteja falando desse tipo de esfregação. Enterro
essas memórias e solto um suspiro exasperado.

- Adianta eu dizer que não estou interessada?

- Claro que não. Axl irá te amarrar se eu precisar.

Reviro os olhos e deixo ela fazer o que quer comigo. Quando acaba, uma

hora depois, estou com uma calça de couro, botas de salto, uma micro blusa de

gola alta que mostra minha barriga, cabelo escovado e maquiagem matadora.

- Nossa, Mia. Você se superou dessa vez. Estou M-U-I-T-O gata.


- Eu sei, sou uma artista.

- Caramba! Estou linda mesmo. - Olho de um lado para o outro no

espelho, me admirando.
- Por que o espanto, idiota? Você é linda. Agora vamos arrasar corações.

Essa é a injeção de autoestima que eu preciso! Quando descemos para o


hall, os meninos já estão todos lá reunidos. Ao me ver, Ian abre um sorriso, Axl

assobia e Dan dá um soco no braço de Mal. - Seu imbecil, olha a mulher que
você perdeu! - Grita apontando para mim.

- Obrigada, Daniel. - Sorrio internamente e sinto o olhar torturado de


Malcolm queimando para mim. - Podemos ir? Estamos atrasados
Chupa essa manga, idiota! Preciso lembrar de dar uma caixa de Kit Kat

para Mia como agradecimento por colocar essa expressão na cara do babaca.

Na saída do hotel, um bando de paparazzi nos espera. Droga, odeio


quando descobrem onde estamos hospedados. Pelo menos vou sair bonitona nas

fotos amanhã.
Só percebo que Mal estava ao meu lado o tempo todo quando ele oferece

uma mão para eu subir na van. Sem poder fazer uma cena na frente das câmeras,

eu aceito e os meus queridos e saudosos arrepios passeiam felizes por mim.

Ah, meus planos de superar essa paixonite vão de “Mal” a pior.

Ele se senta ao meu lado, mas Ian vem em meu socorro e se espreme

entre nós, ganhando um olhar assassino de Malcolm. - Sabe, Nick, estou

morrendo de saudades suas. Parece que faz séculos que a gente não conversa. - E
faz cara de Dan-Inocente. Acho que o baterista insano anda dando aulas disso

por aí.

Ele me aluga o caminho o todo, discutindo músicas que eu poderia


aprender a tocar na guitarra e não dando nenhum espaço para Mal falar comigo.

Lindo!
No palco, Malcolm está mais contido, mas continua um perfeito rockstar.

O show corre tranquilo. até que, no momento em que normalmente eles fazem
um intervalo, ele não sai do palco.

Estranho.
Um roadie entra e lhe entrega um banquinho, o seu violão e ele se senta
ajeitando o instrumento em seu colo. Parece respirar fundo e, antes de falar com

a plateia, olha para a lateral do palco, direto para o canto onde eu sempre fico.

Abre seu sorriso de um milhão de watts e pisca com malícia.


Ah, não. O que ele vai fazer?

- E quando eu não conseguir me explicar, que as músicas falem por mim.


- A plateia grita enlouquecida em resposta ao seu comentário enigmático.

Foi o que ele escreveu no bilhete quando me deu o IPod.

Malcolm Black, o que você vai aprontar?!

Ele começa a dedilhar a versão acústica de uma música que eu reconheço

logo de cara. The Reason, do Hoobastank, uma das minhas preferidas no mundo.



I'm not a perfect person

Não sou uma pessoa perfeita

There's many things I wish I didn't do


Há muitas coisas que gostaria de não ter feito

But I continue learning


Mas eu continuo aprendendo

I never meant to do those things to you


Nunca quis fazer aquelas coisas a você
And so I have to say before I go

E então tenho de dizer, antes de partir


That I just want you to know
Que só quero que você saiba



I've found a reason for me

Encontrei uma razão para mim


To change who I used to be

Para mudar quem eu costumava ser

A reason to start over new

Uma razão para começar tudo de novo

And the reason is you

E a razão é você

E vira para me encarar bem nessa parte.


Porra, Mal. Não faz isso comigo.

Meus olhos já estão cheios de lágrima e meu corpo cheio de um calor


novo, algo que nunca senti antes.



I'm sorry that I hurt you

Sinto muito por ter te machucado


It's something I must live with everyday
É algo com que tenho de viver diariamente

And all the pain I put you through

E toda a dor que te causei


I wish that I could take it all away

Eu gostaria de poder levá-la embora


And be the one who catches all your tears

E ser aquele que segura as suas lágrimas

That's why I need you to hear

É por isso que eu preciso que você ouça



Os meninos voltam correndo para o palco e começam a acompanhá-lo no

refrão. Mia se posta ao meu lado, me olhando preocupada e segurando minha

mão com força. A música parece que foi feita para nós, fala tudo o que eu queria

que ele me dissesse.




I've found a reason for me
Encontrei uma razão para mim

To change who I used to be


Para mudar quem eu costumava ser

A reason to start over new


Uma razão para começar tudo de novo
And the reason is you

E a razão é você

Ah, Malcolm. Tanta coisa poderia ser diferente.

Por que nossa relação não pode ser mais fácil?

Aos poucos, sua voz rouca vai clareando minha mente e eu entendo o que

é esse calor que tomou conta de mim… Amor. Puro, simples, profundo e

arrasador.
Deus, eu amo mesmo esse homem.

Paixonite o caramba! Isso é amor verdadeiro para caralho!

Com uma música, ele conseguiu me deixar ainda mais bagunçada do que

antes.

E eu achando que ia bagunçar ele com meu look matador.

Mal 7 x 1 Nicole.
Sem aguentar mais olhá-lo, me solto do aperto de Mia, corro para fora e

pego um táxi de volta para o hotel. Entro no meu quarto e nem me preocupo em
tirar a roupa, só me jogo na cama e tento ignorar que o resto do mundo existe


**

O dia passa como um borrão entre a viagem de volta para os Estados


Unidos, a loucura de Los Angeles e minha determinação de evitar Mal a todo
custo.

Na manhã seguinte, sou acordada por Dan me cutucando com uma

baqueta, enquanto Ian e Axl olham para mim com sorrisos enormes. - Ok, isso é
assustador. Como entraram no meu quarto? E por que estão parados aí, com

esses sorrisos maníacos de Daniel?


- Porque nós temos uma notícia incrível para te dar! - Axl está tão

empolgado que começa a dar pulinhos sem sair do lugar.

- Vocês me compraram um contêiner de Kit Kat e o Cristiano Ronaldo

veio me entregar?

- Melhor que isso! - Agora é a vez do Ian dar pulinhos.

- O Cristiano Ronaldo veio pelado entregar?

- Mas é uma tarada mesmo. - Dan balança a cabeça. - Não, sua maníaca
sexual. Melhor que isso. - E dá para ser melhor que isso?

- Nini, você vai desfilar no Victoria’s Secrets Fashion Show! - Ian

finalmente conta, com um gritinho de empolgação.


Eu vou o quê?
Capítulo 17 - Das coisas que nunca achei que
fossem possíveis

- Eu vou o quê?

- Além de tarada, é surda. - Dan me dá um tapa na cabeça - ACORDA,


NICOLE.

- Devagar com ela, seu idiota. - Ian bate com muito mais força na cabeça

dele.

- Nini. Nós usamos nossa influência Rockstar-Fodões para te colocar no

desfile. Eles estão apoiando as belezas naturais e terão uma parte com mulheres

de verdade desfilando. Você será uma delas! - Axl está mais empolgado do que
quando conseguiu levantar o sofá do ônibus com uma mão só.

- Mas por que me escolheram?

- Porque você é linda, oras. Que pergunta! Pena que é tão lerdinha. Ouch!

- Dan leva mais um tapa de Ian.


- Mas eu não posso desfilar de lingerie! Eu não quero que o mundo veja

minha bunda! - E nem minhas celulites!


- Eles vão fazer roupas mais comportadas para as mulheres que não são

modelos. Nos certificamos disso, porque não queremos matar o Mal do coração.
Você vai arrasar, vai ser a mais gata de todas!

Ok, Murphy. O que você está tramando dessa vez?


- Não sei, gente…
- Nicole Black. Nós fizemos isso por você, para você se sentir poderosa e

fodona. E você vai. Nem que Axl precise entrar vestido de anjo naquela

passarela te carregando a força. Ele ficaria lindo de fio dental. - Melhor nem
focar nessa imagem mental.

- Ok, ok. Nada de Axl de fio dental.


- Ah, meu bumbum é tão bonito. - Ele diz fazendo biquinho. - Você me

acha gordo, é isso?

Ai meu Deus. Eles são impossíveis.

- Ok, chega. Eu aceito. Me digam o que eu preciso fazer e pronto.

- Ótimo. A Mia vai te levar para um dia de beleza. Você precisa estar lá

às 15h. E o Mal não sabe! Então, vamos gravar a reação dele para você assistir

depois com carinho. - Ian está com um sorriso maléfico, idêntico ao dos outros
dois.

Gente, esses meninos são mais malvados que eu. Belinda ficaria

orgulhosa desse plano.


Logo depois do café da manhã, Mia me arrasta para um salão chique

onde sou polida e depilada (Até um pouco esfolada.) mais uma vez. Em seguida,
sem nem ter tempo de pensar no que estou fazendo, vamos de limusine para os

bastidores da gravação do desfile. Os produtores ficam bem empolgados quando


me veem, deixando minha autoestima mais tranquila com toda essa loucura.

- Chérie, você é tão bela e real quanto nos disseram. Será um sucesso! -
Um francês afetado, mas lindo como só os gays conseguem ser lindos, dá
gritinhos e pulinhos para mim. Ele e Dan se dariam muito bem.

De repente sou cercado por Alessandra Ambrósio, Adriana Lima, Behati

Prinsloo (Oi, manda um beijo para o Adam!) e mais 90% de toda a cota da
beleza feminina mundial. Todas são ainda mais simpáticas, deslumbrantes e

intimidantes ao vivo.
Vou parecer uma pata choca ao lado delas!

Pelo menos, minha “roupa” é linda, uma saia e top de renda preta com

um mini shorts por baixo. Nada de mostrar meu bumbum. Não vai ser hoje que

minhas celulites vão ficar mundialmente famosas.

E eu tenho asas! Asas gigantes! Que são de um tecido tão leve que

parecem flutuar.

A melhor parte é que não vejo nem sinal da senhorita pernas


quilométricas. Será que ela não vai desfilar esse ano?

Me informam que eu vou entrar no set da Taylor Swift e que a música

programada para ela apresentar é “I Knew You Were Trouble”! Mais perfeita,
impossível.



Oh, I knew you were trouble when you walked in
Oh, eu sabia que você era problema quando apareceu

So shame on me now
Bem feito para mim agora
Flew me to places I'd never been

Me levou a lugares que nunca tinha visitado

Now I'm lying on the cold hard ground


Agora estou deitada no chão duro e frio

Música da minha vida.

Enfim visto meu look e me olho no espelho de corpo inteiro. Minha

barriga é bem maior e menos durinha que a de todas ali e as minhas pernas têm a
metade do tamanho do delas. Não vamos nem falar dos peitos, por favor, ou vou

começar a chorar.

Então, a lembrança de Mal me olhando com desejo cru em seus olhos e

me chamando de “perfeita” me voltam a lembrança. E a força que eu preciso se

acende dentro de mim.

É por mulheres como eu que eu preciso fazer isso. Preciso mostrar que o
importante é ter orgulho do seu corpo, seja ele como for, e que posso me sentir

linda, mesmo que não pese menos que o Jack.


Saio do meu biombo sem roupão, com a cabeça erguida, decidida a fazer

isso para valer!


Quando me reúno com as outras modelos na entrada da passarela, todas
aplaudem a mim e as outras três mulheres “reais”. A adrenalina me aquece por

dentro e eu me sinto realmente bem pela primeira vez desde o Dia V. (V de Vaca,
claro.)
Vou dar uma caixa de Kit Kat do tamanho do ego do Daniel para esses

meninos lindos que me obrigaram a vir até aqui e fazer isso por mim e pela

minha autoestima.
Eu achava que Mal combinava bem com aquela vaca por ela ser uma

supermodelo, mas olha só… hoje eu sou a supermodelo.


Chupa mundo!

Vou ser a última a entrar e todas as meninas que passam por mim me

desejam boa sorte. Acho que nunca estive tão nervosa. Checo se minhas botas

estão firmes, rezo para Santa Gisele Bündchen, vejo se a saia está escondendo

minha bunda, se nenhum peito está para fora, respiro fundo e, quando chega

minha vez, vou para a passarela sorrindo.

A adrenalina me assume de vez, começo o que eu acho que seja um


catwalk poderoso, pego o ritmo da música e entro no clima. Sou muito

aplaudida, mando beijinhos para a plateia e vou me achando a última bolacha

Negresco do pacote.
Quando chego no meio da passarela, Taylor pega minha mão, sorri para

mim e vai comigo até o final. (Te amo, Taylor!) Paro na ponta da passarela, faço
carão, jogo o cabelo, mando mais um beijinho e começo a voltar.

Falta pouco, não tropeça.


Falta pouco, não tropeça.

Falta pouco, não vá procurar Malcolm na plateia


Os aplausos se intensificam e eu abro o maior sorriso que já dei na vida.
Quando chego no final, solto o ar aliviada e sou abraçada por um bando de

modelos saltitantes.

Uhull! Consegui!
Me troco para a festa pós-desfile rapidamente, ainda sentindo a

adrenalina correndo nas minhas veias. Coloco um vestido soltinho bem curto,
todo bordado de paetês, que Mia escolheu para mim e botas over-the-knee com

saltos ridiculamente altos.

Do camarim, vou direto para o red carpet do evento. Meu plano era

passar rapidinho, querendo entrar logo para encontrar os meninos, mas os

fotógrafos pedem que eu pare e pose para fotos.

Euzinha da Silva!

Mão na cintura, barriga para dentro, sorriso radiante… É isso aí, Nick.
Quando consigo entrar, sou atacada por Mia, Axl e Ian que estão

radiantes por mim, enquanto Dan está praticamente histérico. Me garantem que

eu fui a mais gostosa, mais arrasadora e mais sexy. Fofos e mentirosos! Parado
um pouco atrás deles, Mal me encara com um sorriso orgulhoso e mexe os lábios

sem fazer som. - Perfeita.


Posso agarrar ele? Não aguento quando ele me chama de perfeita...

E eu nem teria conseguido subir na passarela se não fosse por ele.


Mesmo que ele nunca vá saber disso.

Não, Nick. Não. Foco.


Você está brava com esse idiota. Seja firme!
Seu comportamento é exemplar por todo o resto da noite. Ele não só fica

sentado com a gente o tempo inteiro, como fica olhando para mim o tempo

inteiro. Nem sinal de estar procurando a vaca loira pernuda. Perdi a conta de
quantas modelos atiradas param para falar com ele, mas Mal fica a uma distância

segura de todas e desvia educadamente quando alguma saidinha tenta encostar


nele.

Bom garoto. Assim que eu gosto.

Depois de horas de sorrisos, cumprimentos, taças de champanhe e muito

glamour, o conto de fadas acaba e voltamos ao hotel acabados.

- Obrigada por hoje, seus lindos. Foi um dia inesquecível. - Pulo em cima

dos três no meio do hall, abraçando todos ao mesmo tempo.

- Você merece, Nini. - Ian aperta minhas bochechas, como faria um pai
orgulhoso.

- Arrasou, gata! - Dan abre seu sorriso gigante de gato da Alice e me dá

um tapinha no bumbum. - Vamos, Ax. Nossa missão está cumprida. Hora de me


colocar na cama.

Axl me manda um beijo soprado e sai de mãos dadas com Daniel. Esses
dois estão começando a me fazer acreditar que eles são um casal mesmo. Mas

também, quem pode dizer quando Dan está falando sério? Eu, com certeza,
nunca sei.

Boris surge na minha frente quando estou indo para o elevador e me puxa
de lado, num canto afastado. - Senhorita Nick, precisamos conversar.


Capítulo 18 - Deus abençoe as câmeras de
segurança

- Você precisa ver isso. - Nos sentamos em um dos sofás do lobby e sua

expressão mais séria que o normal é assustadora. Ele me entrega o seu celular e
um vídeo em preto e branco, do que parece uma câmera de segurança, começa a

passar na tela. É o registro daquele dia do camarim, com Mal e a Vaca.

- Ah, Boris. Qual é?! Não quero ver isso. - Digo devolvendo o celular

para ele.

- Confie em mim, senhorita. Por favor. - Suspiro derrotada e volto a olhar

para a tela. A câmera está apontada diretamente para o rosto de Mal. Ele está
sério e mais carrancudo do que nunca. Quando ela toca nele, seu corpo se

encolhe e sua expressão fica ainda mais assassina. Ela sussurra em seu ouvido e

sua expressão não muda. Quando ela se inclina para beijá-lo, raiva nubla meu

olhar, mas me forço a continuar assistindo. Ele a afasta na hora, e passa a mão na
boca, limpando como se estivesse com nojo. Então, se vira para olhar na direção

onde eu estava sentada, mas eu já estou saindo pela porta com Dan.
Ele não me traiu!

- Desculpe ter demorado todo esse tempo para conseguir o vídeo. - Boris
pega seu celular de volta. - Sabe, senhorita, ele é realmente um bom homem.

Paga o melhor colégio para os meus quatro filhos do próprio bolso. Não é a
banda que paga, é ele mesmo. E tem três instituições para crianças órfãs que eu
cuido com o dinheiro dele, porque não quer que saibam que é sua iniciativa.

Ouça o que ele tem a dizer, por favor. - Me lança um olhar compreensivo e me

deixa sozinha.
Mal não fez nada...

E eu fui uma cadela com ele.


Por que eu não o escutei?

Fiquei tão enfiada na minha paranoia de que ele nunca iria me querer de

verdade, que me agarrei à primeira oportunidade para pular fora.

Medrosa, medrosa, medrosa da calcinha rosa.

Ele fez cara de Mal assassino para ela, enquanto eu ganho todos os

sorrisos e os “Perfeita” murmurados...

O pensamento de que ele poderia gostar de mim e eu ter estragado tudo,


me faz sair acelerada, correndo pelos corredores do hotel. Preciso encontrá-lo.

Mas qual o seu quarto, droga?

Uma recepcionista, no alto dos seus 20 anos, olha com desaprovação


para mim quando paro sem fôlego na sua frente. Para minha sorte, o

reconhecimento de quem eu sou logo brilha em seu olhar. - Nick! Posso te


chamar de Nick, né?! Então! Só falta você pegar a chave do quarto. - E estica o

pequeno cartão para mim. - Estava tão ansiosa para te conhecer! Adoro seu
estilo.

- Muito obrigada... - Leio seu crachá. - Joanna. É um prazer te conhecer


também. Na verdade, preciso dar uma palavrinha com o Mal. Você pode me
dizer qual o quarto dele?

- Claro! Ele está no 509. - Ela nem termina de falar e eu já estou

correndo feito louca. Esqueço o elevador e vou pelas escadas, derrapando nos
meus saltos gigantescos.

Vou cantarolando mentalmente para me acalmar. Ele não me traiu, ele


não me traiu, lá-lá-la! Chegando em sua porta, bato com força e paro para

recuperar o fôlego. Nossa, preciso começar a fazer exercícios físicos. Estou

totalmente fora de forma.

- Coisinha? Aconteceu alguma coisa? - Um Malcolm já de pijama e uma

adorável cara confusa aparece na minha frente.

- Não. Eu só preciso conversar com você.

- Certo. Vamos conversar num lugar que eu quero que você veja então. -
Pega uma sacolinha dentro do seu quarto e seguimos em silêncio pelos

corredores do hotel. Ele está tão lindo essa noite, a expressão suave, sem o mau

humor normal. Descendo pelas escadas, vamos até o subsolo, onde passamos por
uma academia e chegamos à uma porta dupla. - Encontrei essa sala hoje mais

cedo, enquanto procurava pela academia. Acho que você vai gostar.
Quando ele abre as portas, quase caio para trás. Um salão de dança!

Lindo, com espelhos enormes nas paredes, uma barra que contorna todo o
ambiente e um piso de madeira brilhante.

- Uau! Esse lugar é incrível! - Hipnotizada, entro na sala passando as


mãos pelo metal suave das barras de alongamento. Droga! Trocaria todos os
meus Kit Kat por uma sapatilha aqui agora...

- Imaginei que fosse gostar. E que fosse querer aproveitar. Então, espero

que tenha comprado certo, porque a vendedora me garantiu que essa era a
melhor. - E me estende todo tímido a sacolinha que tinha pegado em seu quarto.

Dentro encontro um par de sapatilhas de ponta pretas, do meu número, da minha


marca preferida, com os elásticos e as fitas já costurados.

Não acredito.

Porra, Mal.

Sem olhar para ele, (Para evitar chorar descontrolada.) tiro minhas botas,

calço as sapatilhas e amarro as fitas no tornozelo.

- Ficaram perfeitas! Você sabe o número que eu calço?

- Claro que sei, Black. Sou um babaca, mas sou um babaca observador.
Ele vai para um dos cantos da sala e se senta de pernas cruzadas. Seu

celular começa a tocar “Bittersweet Simphony”, uma das minhas músicas

preferidas para dançar. Tinha contado isso para ele há muito tempo atrás e ele se
lembrou!

Ah, cara. Esse homem me faz viver constantemente numa montanha


russa sentimental.

Vou para o centro, na frente dos espelhos, e começo a me aquecer. A


música me relaxa e estar de sapatilhas, no meu ambiente, me dá a força

necessária para colocar tudo que preciso dizer para fora.


- Boris acabou de me mostrar o vídeo daquela noite no camarim. Você
não a beijou. Ela te beijou. Você a afastou. Eu te julguei muito mal e, o pior, não

ouvi você. - Continuo meus alongamentos, sem coragem de olhar para ele. - Eu

estava confusa naquele dia, tinha certeza que Josef estava desconfiando de nós.
Você falou que não tinha nada para ele descobrir, que não tínhamos nada e

aquilo acabou comigo. Mesmo que fosse verdade.


Ele continua quieto, olhando para baixo, a franja loira caída na testa,

escondendo sua expressão. Vou até a barra da parede, apoio uma perna e sinto

com prazer meus ligamentos se esticando.

- Eu tive uma crise de insegurança. Eu estava confusa com esse “não -

relacionamento” que a gente tinha. Mas você sempre deixou claro que não

poderíamos ter nada, então me desculpe. Por isso, por não ter te ouvido e por

todo o resto da minha insanidade. Me desculpe. - E saio dando grand jetés pela
sala.

Dançar me faz tão bem... Limpa minha mente e me acalma como se eu

tivesse tomado uma dose cavalar de morfina na veia. Sigo inventando minha
coreografia até que aterrisso de um salto e sinto mãos firmes me segurando pela

cintura. Depois de tanto tempo, seu toque, mesmo por cima do vestido, já faz
meu coração parar e me deixa inteira arrepiada.

- Nick. Eu só queria ouvir o que ela tinha a dizer, não imaginava que ela
seria louca a ponto de me agarrar. Sinto muito por não ter interrompido antes, a

cadela farejou que tinha algo no ar entre nós e decidiu armar uma ceninha. - Sua
voz é um sussurro raivoso, carregado de ódio. - Eu sabia que isso iria acontecer.
Sou igualzinho ao meu pai, coisinha. Eu machuco as pessoas que me amam. Eu

traio. Eu faça elas sofrerem.

Sua mágoa me faz desintegrar em mil pedacinhos por dentro.


Ah, meu menino quebrado.

- Mal, você não é nada como ele. Você não me traiu.


- Traí sim. Te magoei e eu não suporto isso. - Ele estava péssimo, as

olheiras e o cansaço marcando seu belo rosto. - Eu nunca mais vou te magoar.

Isso é uma promessa, Black. - Seu olhar queima para mim por um momento,

como se selasse sua promessa, e ele sai sem falar mais nada.

Isso quer dizer que ele vai consertar tudo...

Ou que nunca mais teremos nada?


Capítulo 19 - Projeto “Dobrar o Mal”

É, significa que nunca mais teremos nada. Voltamos à estaca zero.


Pior.

Voltamos para a etapa onde, se eu quiser conversar com Mal, preciso

falar com a versão dele em pôster.

Voltamos a ter uma relação mais estranha do que nossa fase de Miss

Simpatia, de BFFs, ou de amassos escondidos.


Agora, somos meros conhecidos, colegas de trabalho. Nos tratamos

educadamente, falamos sobre a banda, sobre o tempo e só. Mais nada. E eu que

pensava que a “friendzone” era a pior “zone”. Até o resto da banda desistiu de

nós, nos deixando viver nossa esquisitice em paz. Mas acaba por aí? Não, claro

que não. Não quando Murphy tem uma obsessão doentia por você.

A 1ª parte da turnê está acabando e eu não tenho apartamento para morar.

Quem sabe o que isso significa, levanta a mão.


Isso mesmo!

Vou ter que voltar a dividir o mesmo teto com Mal.


E não, eu não perdi o emprego. Josef nunca descobriu sobre a ceninha

com Melissa. Pelo menos isso é bom, certo?


- Nick, acorda!
- Ai! - Dou um pulo de susto. - Não grita. O que foi, Ian?

- Nós chegamos.
Só então percebo que todos já desceram do ônibus para o último show da
turnê e que estou parada, olhando para o nada, perdida na minha sofrência.

- Nossa, dormi de olho aberto. Fiquei respondendo jornalistas até às 5 da

manhã ontem. - Me espreguiço estalando as costas.


- Nini... - Ele me encara sério, parando na minha frente e pegando meu

rosto com as duas mãos. - Nós todos sabemos que esse não é o problema. Vocês
ficam uma merda sem o outro.

- Ian. - Suspiro cansada. - Não vamos falar disso, por favor.

- Está vendo?! Os dois até me responderam a mesma coisa. - Ele balança

a cabeça rindo.

- Duvido que ele tenha falado “por favor”.

- Claro que não. Acho que o malcriado nunca usou essas palavras na

vida. - Ian fala como se Malcolm fosse seu filho travesso. - Entenda que sou tão
feliz com meu amor, que não posso conceber a ideia de ver pessoas que se amam

separadas. - E pisca para mim, me deixando sozinha de volta com a minha

loucura.
Sério, as pessoas precisam parar de falar que eu e Mal nos amamos. Eu

não lembro de já ter dito isso. (Não em voz alta, pelo menos.) E ele muito
menos.

Chego na porta do camarim só para dar de cara com o babaca parado de


costas, tirando a camiseta. Flashes da minha língua passeando pela linda

tatuagem de asas me vem à cabeça e meu coração dá um solavanco violento.


Dou meia volta e saio correndo para o meu cantinho de sempre, na ponta do
palco, me escondendo até o show começar.

Depois de alguns minutos, eles saem do camarim e fazem seu ritual, uma

rodinha só dos quatro, onde se abraçam e dizem o quanto se amam. Maricas!


Quando passam por mim, Ian bagunça meu cabelo, Axl me dá um beijo

melecado na bochecha e Dan me deita de costas, fingindo me dar um beijo de


cinema, mas só conseguindo babar na minha cara.

E Mal?! Só caminha olhando para baixo, fazendo aquecimentos vocais.

Ótimo.

A casa está cheia e o show corre sem nenhum acidente de Daniel o que é

sempre sinônimo de sucesso. Um jeito perfeito de encerrar a turnê.

Deve ser até pecado falar isso, mas não vejo a hora de tudo acabar. O

cansaço desse tempo na estrada e o estresse psicológico estão me derrubando.


Acho que todos estamos acabados. Mia está no colo de Ian, quase caindo no

sono no caminho para o ônibus. Dan e Axl caminham quietos e de cabeça baixa.

Eu vou me arrastando pelo corredor, até que sinto meus pés saírem do
chão e um cheiro familiar me atingir com tudo.

- Assim a gente vai demorar três dias para chegar lá dentro. - Malcolm
diz baixinho no meu ouvido. Essa foi uma das primeiras coisas que ele me falou

no dia em que nos conhecemos.


Ah, se eu soubesse, naquela época, tudo que ia acontecer entre nós...

- Shiu, você está me atrapalhando. - Afundo meu nariz em seu pescoço e


respiro fundo, adormecendo quase instantaneamente, entorpecida com sua
proximidade.

**

Acordo no dia seguinte toda aconchegada na minha cama do hotel. Mal


me trouxe até aqui?

Bom, pelo menos ainda estou com as mesmas roupas de ontem.

Garoto confuso. Ou melhor, homem confuso. Não dá para chamar 29

anos e quase dois metros de altura de garoto.

Uma olhada no celular me avisa que tenho uma hora até sairmos para o

aeroporto e voltarmos para “casa”. Levanto, escovo meus dentes e começo a

fazer uma lista mental do que preciso providenciar na semana de folga que
teremos, enquanto arrumo minha mala.

1. Achar um apartamento
2. Ligar para os meus pais e para a Belinda

3. Achar um apartamento
4. Sair para fazer compras e gastar um pouco do meu suado

dinheirinho
5. Achar um apartamento

6. Ficar longe de Malcolm Black


7. Comprar móveis e eletrodomésticos
8. Achar um apartamento e ficar longe de Malcolm Black. (Eu

já disse isso?)


Peço café da manhã no quarto e tiro alguns momentos para olhar a linda

paisagem de Montreal, que se desenrola na minha frente. Fomos para tantos


lugares nessa turnê, mas não conheci realmente nenhum. Prometo para mim

mesma que as minhas primeiras férias serão na Europa e com tempo para

conhecer cada país com calma. Isso é, se eu tiver férias reais algum dia.

O voo de volta para casa é tranquilo e vou assistindo filmes da Pixar com

Axl, enquanto Mal está bem longe sentado com Daniel. Assim que nos

aproximamos do aeroporto, a ansiedade começa a tomar conta de mim.

Vou para casa sozinha com Malcolm.


Minha mãezinha protetora das mulheres poderosas que resistem à um

homem lindo, me ajude!

Chegando ao portão de desembarque, pegamos nossas malas, nos


despedimos dos outros, e partimos sozinhos para o sedã preto que nos aguarda.

Ignoro todos os olhares solidários dos outros e sigo de cabeça erguida até
entrarmos no carro.

- Então, quais são seus planos para os próximos dias, Black?


- Eu preciso achar um apartamento e aproveitar a semana de folga para

me mudar.
Ele arregala os olhos chocado para mim. O cara parece mesmo com um
pug às vezes. - Você vai se mudar?

- Claro, Black. Não posso ficar morando na sua casa para sempre.

- Eu não sabia. Eu fiz até algumas reformas... - Ele olha para baixo,
parecendo envergonhado com alguma coisa.

- Que tipo de reformas?


- Deixa para lá. Só me avise se precisar de ajuda com a mudança. - Se

vira para a janela e passa a me ignorar pelo resto do caminho. Reviro os olhos e

decido ignorá-lo também. Chega de bipolaridade na minha vida.

Entrando em casa, ele sobe direto para o seu quarto, batendo a porta e me

deixando sozinha com as malas.

- Geofrey? Lucy? Jack? - Ninguém me responde. Estamos sozinhos,

claro.
Arrasto minhas malas gigantes para o meu antigo quarto e meu queixo

cai assim que abro a porta. Volto para o corredor e confiro se entrei no lugar

certo.
Sim, entrei. Mas esse aqui não se parece em nada com o quarto branco

estéril de antes. Ele foi totalmente decorado em tons de lilás e preto, minhas
cores preferidas. Duas lindas fotos de uma bailarina vestida de preto estão

penduradas atrás da cama e um porta-retratos com uma foto dos meus pais está
na escrivaninha.

Como isso veio parar aqui?


Nem eu conseguiria fazer um ambiente tão minha cara quanto esse.
Ah, Malcolm... Isso é muito mais que uma reforma.

Ainda balançando a cabeça incrédula, vou guardar minha mala no closet,

antes de procurar Malcolm, mas estanco na porta. Esse também não é meu
minúsculo closet antigo. Ele pegou o quarto ao lado e fez meu espaço triplicar de

tamanho. Um monte de peças novas de roupas estão penduradas ainda com


etiqueta, todas em maravilhosas variações de tecidos pretos. Em cima de um

lindo sofá de veludo roxo, uma pilha de camisetas com o rosto de Mal e o escrito

“Music is my religion, Malcolm Black is my God”.

Por quê? Por que ele fez tudo isso para mim?

Preciso de um chocolate. Um bem grande. Urgente.

No meu caminho para a cozinha, uma porta entreaberta me chama a

atenção. Entro no que costumava ser o antigo escritório de Mal, que agora, além
da escrivaninha de madeira escura, tem estantes enormes recheadas de livros.

Uma biblioteca particular! Vou passando os dedos suavemente pelas lombadas e

encontro muitos dos meus exemplares preferidos.


O que está acontecendo aqui?

Saio de lá correndo, como se a sala me machucasse, feliz em entrar na


cozinha que ainda é a mesma. O armário está lotado de Kit Kat, como sempre,

pego logo dois e saio explorando o resto da casa, querendo saber o que mais
pode estar diferente.

Nada na sala, nem na sala de jantar. Os banheiros parecem os mesmos,


assim como a piscina, os outros quartos, a sala de TV, a sauna e o quintal. Ufa.
Falta só a academia, mas não dá para fazer nada numa academia, certo?

Errado.

Uma parte dela foi toda transformada em estúdio de dança. Com espelho,
barra, sistema de som, iluminação e tudo mais que uma escola de balé de

primeiro mundo teria.


Isso é demais para mim. Encosto no espelho novinho e vou descendo até

o chão, enquanto as lágrimas tomam conta de mim.

Porra, Malcolm. Por que você fez tudo isso?

Você não quer nada comigo, mas abre espaço na sua vida para mim

assim, tão fácil?

Ele se lembrou das minhas quatro paixões e as fez tornar realidade. O

closet dos sonhos para qualquer um que goste de moda, a biblioteca com os
meus livros preferidos, o estúdio para balé, e a música que já é minha vida desde

que o conheci.

Isso só pode significar uma coisa.


Mal gosta de mim. Gosta de mim de verdade, por mais que lute contra

isso.
Ele fez todas essas mudanças porque me quer por perto e esse é seu jeito

de me dizer isso. Agora entendo porque ele ficou tão magoado no carro quando
disse que iria me mudar.

Um novo plano surge na minha cabeça. Não vou mais ficar chorando e
resmungando sobre o quanto ele é complicado, não vou mais me preocupar com
a Cláusula 27. Eu vou dobrar Malcolm Black e vou fazê-lo admitir que me ama.

Depois eu me preocupo com as implicações disso. (Beijo, Josef!)

Enxugo as lágrimas, olho no relógio e me levanto. Hora de começar a


colocar meu plano em prática. Subo as escadas correndo e bato na porta de seu

quarto como uma louca, para não ter perigo dele não me ouvir.
Ele abre com uma cara que deveria me fazer sair correndo, mas não me

assusto mais. Não agora que tenho certeza de que está caidinho por mim. - Pode

recolher as garras, Black. Preciso de ajuda.

- Estou ocupado.

Dou uma olhada para dentro do seu quarto. - Pacman? Sério? Vamos

logo, tenho uma hora até a loja fechar. - E o puxo pela mão, o arrastando escada

a baixo.
- Para onde está me levando, sua insana? Pelo amor de Mick Jagger, não

diga loja de roupas.

- Claro que não. E para de resmungar, você vai gostar.


- Duvido. - Na garagem, sigo direto para o lado do motorista do Aston

Martin. - O que diabos você pensa que está fazendo? Enlouqueceu de vez?
- Vou dirigir, oras. Eu tenho habilitação, sou uma ótima motorista e não

vejo porque não.


- Nem fodendo vou te deixar dirigir a Shakira.

A maior gargalhada que eu já dei na vida explode de mim. - Diz que você
está brincando, por favor. Shakira?
Ele me fuzila com seu olhar matador e me empurra, entrando do lado do

motorista. Ainda sem conseguir parar de rir, vou para o lado do passageiro. Acho

que ele nunca vai parar de me surpreender. Vou dando as instruções e seguindo o
caminho que vi ao sairmos do aeroporto. Quando paramos, ele olha chocado

para mim. - Uma concessionária de motos? Sério?


- Sim! Não posso ter uma como a sua, claro, mas quero comprar uma

pequena para eu poder aprender a dirigir.

- Essa era a última coisa que eu esperava que fôssemos fazer hoje, Black.

- Sou uma caixinha de surpresas, Black. - Pisco para ele e saio do carro

feliz. Um vendedor jovem e engravatado arregala os olhos assim que nos vê

entrando. Ou ele reconheceu Mal, ou sentiu o cheiro de dinheiro a distância.

- Olá! Gostaria de dar uma olhada em algumas motos.


- Claro, senhorita. Meu nome é James e será um prazer atendê-los. O que

você tem em mente?

- Não queria nada muito grande, porque ainda vou aprender a dirigir. -
Ele me oferece o braço, me encaminhando para o meio da loja e abrindo um

sorriso.
- Sei exatamente do que precisa.

Mal bufa e resmunga atrás de nós. - Eu duvido.


Lanço um olhar zangado para ele, mas para sua sorte, acho que James

não ouviu. Ele me leva até uma moto que mais parece uma mobilete, em um tom
enjoativo de rosa-bebê-brilhante.
- Que tal essa?

Malcolm explode numa gargalhada, colocando as mãos no joelho,

dobrado de tanto rir, e a minha vontade é fazer o mesmo. Ele tem razão, James
não faz ideia do que eu preciso.

- Definitivamente não é isso que eu estou procurando.


- Vamos levar aquela ali. - Mal me interrompe apontando para uma

Kawasaki preta, menor que a dele e a de Axl, mas ainda assim maravilhosa.

Perfeita!

- Uma Ninja 300. Ótima escolha, senhor.

- Hey. Calma aí. Eu não decidi nada ainda. Nem sei se posso pagar por

aquela moto. - Ele só revira os olhos e tira seu cartão preto brilhante de dentro da

carteira.
- Eu desconto do seu salário em suaves prestações, não se preocupe.

Agora ele estava falando minha língua! Só tem mais um probleminha. -

Eu não vou dar conta de dirigir uma moto desse tamanho.


- Bobagem. Você vai ter o melhor professor. - E sai com James para

acertar o pagamento. Uau. Isso saiu melhor do que eu esperava.


Combinamos que a moto será entregue no dia seguinte e eu não consigo

conter minha empolgação, dando pulinhos ao redor dele. Quando Mal sai para
atender seu telefone, me deixando com uma montanha de papeis para assinar,

James pigarreia e olha nervoso para mim.


- Nicole, certo? Você trabalha para a Black Road?
- Trabalho sim. - Meu sorriso é enorme. Não importa quanto tempo

passe, sempre vou amar dizer isso.

- Pensei que fosse namorada do cara. Então, isso quer dizer que posso
convidá-la para sair comigo? - Ele é bonito, com sua pele cor de chocolate e

olhos cor de mel, mas o pedido me pega de surpresa. Ele poderia?


- Não, não pode. Ela é comprometida. Vamos, Black. - E pega minha

mão me arrastando para fora. Só tenho tempo de mandar um sorriso

constrangido para o moço e um olhar de desculpas.

- Poxa, Mal. Você não me deixou nem pegar o telefone do cara! - Estou

gargalhando por dentro do ciúme bonitinho dele.

- Claro que não, sua tarada. Te deixo sozinha por um minuto e você já

arranja um cara para babar por você. Será que dá para aprender a controlar seus
hormônios?

Reviro os olhos com impaciência. - Responda honestamente. Por que

você não me deixou pegar o número dele?


- Porque você não vai sair com ele.

- Não vou? Quem disse?


- EU. - E sai cantando pneus pelo estacionamento.

- Malcolm Black. Você sabe que está com ciúmes, né?


Ele vira o rosto para mim, expressão de fúria nível 3000, e eu dou o meu

melhor sorriso de Dan-inocente.


- Não viaja, Black.
- Então, qual sua explicação para esse chilique todo?

E foi assim que eu deixei Malcolm Black sem palavras.

Placar da “Operação Dobrar o Mal”: Nick 1 x 0 Babaca.


Chegando em casa, é a minha vez de subir sem falar nada e bater a porta

do meu quarto. Hora de me preparar para a 2ª parte do plano.


Tomo um banho demorado, escovo meu cabelo até ele ficar sedoso e

brilhante e pinto as unhas das mãos e dos pés de preto. Visto uma blusa branca

bem fina, sem sutiã, um micro shorts preto e coloco meias pretas até o joelho.

Ligo pedindo uma pizza, enquanto termino de me arrumar, passando um

hidratante com um delicioso cheiro de baunilha. Uma olhada no espelho me

garante que estou exatamente como queria: casualmente sexy. Quando a

campainha toca, ouço Mal sair do seu quarto e ir atender. Isso! Perfeito!
Como quem não quer nada, desço em seguida, parando no meio da

escada. - Ah, minha pizza chegou!

Acho que minha escolha de look funcionou, porque o entregador está


congelado na porta olhando para mim com o queixo caído. Mal segue seu olhar

e, ao invés de fazer cara de bobo apaixonado, fecha sua expressão e me manda


um olhar assassino. Se vira para o pobre cara, coloca uma nota em sua mão e

bate a porta na cara dele. Sem me intimidar, vou até ele e pego a pizza de suas
mãos.

- Obrigada por atender para mim. Quer um pedaço, já que você pagou
por ela? - Sem esperar por uma resposta, vou andando para a cozinha, lhe dando
a oportunidade perfeita para dar uma boa conferida em mim.

Como eu suspeitava, ele me segue e se senta no balcão ao meu lado.

Pego uma garrafa de vinho e sirvo duas taças para nós, esbarrando nele de
propósito com meus peitos quando me inclino. Comemos em silêncio, enquanto

Mal tenta com todas as forças não olhar para mim. É até engraçado. Bebo mais
um gole, tomando coragem para o meu próximo passo.

- Você pode ver se tem algo nas minhas costas? Acho que senti uma

picada. - Viro de costas, afasto o cabelo do pescoço e ergo minha blusa. Quase

consigo sentir sua hesitação e sua tensão. Depois de uma eternidade, seus dedos

calejados começam a passear lentamente pela minha espinha e meu corpo se

arrepia em resposta. - Achou alguma coisa?

- Não. - Sua voz é apenas um sussurro rouco.


Viro de frente, sem abaixar a blusa, e olho para os meus mamilos que

estão quase furando o tecido, muito felizes em tê-lo por perto. Ele acompanha

meu olhar e sua expressão torturada se intensifica. Me aproximo devagar e me


coloco no meio das suas pernas. Com ele sentado no banco, ficamos da mesma

altura. Pego uma de suas mãos, viro com a palma para cima e dou um beijo
carinhoso, a colocando na minha cintura. Pego a outra e repito o gesto, agora

pousando na curva da minha bunda. Ele aperta com força e me puxa para mais
perto, colando nossos corpos.

Ah, como é bom poder senti-lo de novo.


Passo as mãos em seu belo rosto e as enrosco em seu cabelo macio,
puxando levemente. Me abaixo e traço um caminho com minha língua, da base

do seu pescoço, até seu ouvido. - Você me quer, Mal?

- Porra, coisinha. - Sua voz mais rouca e torturada do que nunca, o aperto
na minha cintura se intensificando. Pego suas mãos e vou arrastando por cada

contorno do meu corpo, até que ele assume a tarefa e começa sua própria
exploração, com um suspiro profundo.

- Eu também quero você, Mal. - Digo aproximando nossos lábios e

falando quase dentro da sua boca.

Quando penso que vai me beijar, ele se afasta rapidamente e se muda

para o outro lado da cozinha. Droga. Até parece que aprendeu a aparatar, só para

ficar longe de mim. - Eu não posso, coisinha. Eu… não posso.

- Por que, Mal? - Suspiro derrotada.


- Porque eu não posso estragar tudo. Eu não posso ficar sem você. Eu não

conseguiria ficar sem você, porra. Ter você brava, decepcionada comigo, me

matou. E eu não vou passar por isso de novo. Não vou. - E sai, como a
tempestade que sempre é, batendo portas e xingando como um marinheiro.

Ah, meu anjo quebrado.


Isso foi, provavelmente, a maior declaração de amor que já me fez.

Saber que ele não quer viver sem mim só me deu mais motivação para
seguir com meu plano. Eu não vou desistir.


**

No dia seguinte, acordo animada com a chegada da minha moto e entro

no clima colocando uma calça de couro preta, coturnos e minha camiseta com a
estampa do rosto Mal. Espero que isso derreta pelo menos um pouquinho

daquele coração de gelo.


Ainda estou tomando meu café da manhã quando ela chega, toda preta,

linda e brilhante. Assino o recibo, pego os documentos e suspiro de emoção. É

perfeita! Tiro uma foto para mandar para Axl e Belinda, e subo nela com

cuidado. A sensação é incrível! Queria poder sair acelerando por aí nesse

minuto.

Estou tão perdida na minha alegria que dou um pulo assustado quando

sinto mãos firmes na minha cintura. - Antes de qualquer coisa, você vai precisar
disso. - Mal me entrega o lindo capacete preto com “Black” gravado nele.

O coloco na hora, ajustando a fivela no meu queixo. - Certo, qual o

próximo passo? - Passamos o resto da manhã com ele me explicando tudo e,


antes do almoço, eu já tinha dado várias voltas com ela no quintal da casa. - Mal,

quero andar para valer! Vamos para uma estrada. Vamos! Vamos! - Dou pulinhos
ao seu redor, fazendo minha melhor cara adorável.

- Você não vai calar a boca até eu fazer o que você quer, né?
- Que bom que você me conhece tão bem! - Aperto suas bochechas,

enquanto ele faz careta para mim.


- Tá bom, tá bom. Eu dirijo até uma estrada tranquila e de lá você
assume. É pegar ou largar.

- Fechado! - Dou mais um pulinho para ficar da altura dele e planto um

beijo melecado em seu rosto. Acho que vai reclamar, mas vejo que está tentando
segurar um risinho.

Mais um ponto para mim!


Subo na moto depois dele, me colando em seu corpo tanto quanto é

possível. De quebra, ainda esfrego meus peitos em suas costas musculosas, só

para tirar uma casquinha. - Você precisa se comportar, ou vou te largar aqui.

Respondo colocando minhas mãos embaixo da sua camiseta para me

segurar e passo as unhas pelo seu tanquinho. - Vamos logo, seu rabugento.

Acho que vai reclamar de novo, mas só bufa e balança a cabeça,

resmungando alguma coisa. Dá partida e sai cantando pneus pela entrada da


casa.

Ah, que sensação boa. Eu poderia dar uma volta ao mundo assim, com a

minha linda Kawasaki e meu lindo Mal. Ele me leva à uma rodovia quase
deserta e me deixa assumir, subindo atrás de mim. Suas mãos enormes quase

circundam minha cintura toda, e o volume de sua virilha nas minhas costas é
distração demais para aguentar. - Você precisa se comportar, Mal, ou vou te

largar aqui.
Ele ri baixinho e se afasta um pouco, só o suficiente para eu me

concentrar. Engato a primeira marcha e solto o freio, enquanto acelero devagar.


O motor ruge embaixo de mim e vou me soltando conforme o vento vai
bagunçando meu cabelo. Estou dirigindo uma moto! Acelero para valer e sinto

Mal me apertar com mais força.

Mudei de ideia.
Agora quero dar a volta ao mundo dirigindo minha linda moto e com

meu lindo Malcolm agarrado a mim. Ah, a vida pode ser boa! Depois de quase
uma hora, estaciono com cuidado em um pequeno restaurante na beira da estrada

para comer e esticar as pernas.

- Uau, Mal! Isso foi incrível! - Ele se solta de mim e desce primeiro,

oferecendo a mão para me ajudar. Tiramos os capacetes e nossas expressões com

sorrisos gigantes são idênticas.

- Até que você se saiu bem, coisinha.

- Eu arrasei! E eu não matei ninguém! - Faço minha melhor dancinha da


vitória, toda empolgada. - Vem, vou te pagar um almoço de agradecimento.

- Aqui? - Ele olha com desdém para o pequeno estabelecimento feito de

madeira.
- Não seja esnobe, seu babaca arrogante. Vamos logo!

Ele acaba pagando por sua língua grande, porque a comida caseira do
restaurante é deliciosa. Pedimos uma massa artesanal de comer de joelhos e ele

ainda foi cantado descaradamente pela dona do lugar, que deve ter uns 95 anos.
(Ninguém resiste a ele, paciência.)

Volto dirigindo até a entrada de Bellflower, quando trocamos de lugar


novamente e eu posso voltar a agarrá-lo. Esse cara tem músculos abdominais
que eu nem sabia que existiam.

Chegando em casa, ainda estou muito animada para ficar parada e passo

quase duas horas no estúdio de dança, enquanto Mal faz sua rotina de malhação
impressionante do outro lado da sala. Como eu consegui me concentrar com ele

usando apenas shorts de boxe e fazendo exercícios de barra todo suado, não sei.
Juro que não sei.

Quando acabamos, estou exausta e ele está delicioso. Mais uma ideia

para o meu plano maléfico surge na minha mente. - Black, você vai sair hoje?

- Acho que não. Por que?

- Vou cozinhar para nós.

- Vestida?

- Claro! Quando foi que eu cozinhei pelada?


- Ontem.

- Eu pedi uma pizza, não cozinhei. E eu não estava pelada.

- Eu preciso discordar disso.


- Hey. Não tenho culpa se sua mente só consegue olhar para mim e me

imaginar nua, Malcolm. - Ele me encara carrancudo, então sei que é verdade. Te
peguei!

- Pena que depois de ontem, se quiser me ver pelada, vai ter que implorar
de joelhos. - Dou uma piscadinha e subo as escadas correndo, o deixando lá com

a maior cara de quem comeu e não gostou.


Voltando ao quarto, tomo um banho demorado, coloco um vestido rosa,
bem leve e que combina com meu estado de espírito. Nada de preto por hoje.

Espero que isso cause um verdadeiro impacto nele. Desço toda animada para a

cozinha e coloco P!nk, minha girl crush, para tocar no último volume.
Começo a preparar minha especialidade: Lasanha! Vou dançando e

cantando enquanto cozinho e não me lembro de ter me sentido tão bem em muito
tempo. Já me sinto em casa aqui. Não quero me mudar nunca.

Sinto sua presença sem nem precisar virar para vê-lo e continuo minha

coreografia/cantoria. Quando finalmente me viro, ele está sentado no balcão com

um sorriso gigante, covinhas nível máximo.

Eu não vou agarrá-lo.

Eu não vou agarrá-lo.

Eu não vou agarrá-lo.


Que fique aqui registrado que o que Malcolm faz comigo é muita

sacanagem. Ele está sem camiseta, com todas as tatuagens brilhando reluzentes,

seu cabelo ainda molhado do banho e um cheiro maravilhoso de Mal.


Eu quero agarrá-lo.

Eu quero agarrá-lo muito!


- Você pode até estar vestida de boa moça, mas a cara de tarada ainda é a

mesma, coisinha.
Babaca!

Mostro o dedo do meio e continuo minhas tarefas, enquanto ele ri com


gosto. Meu coração dá um tranco quando True Love começa a tocar. Ótima
música para o momento. Sempre me faz lembrar dele. Pego uma colher de pau,

viro para Mal e começo a cantar, fazendo uma verdadeira performance.





Sometimes I hate every single stupid word you say

Às vezes eu odeio cada palavra estúpida que você diz

Sometimes I wanna slap you in your whole face

Às vezes quero lhe dar um tapa na cara



O idiota ri ainda mais, se ajeitando melhor no banco para aproveitar meu

show.



There's no one quite like you
Não há ninguém como você

You push all my buttons down


Você toma toda a minha atenção

I know life would suck without you


Sei que a vida seria uma droga sem você


Triste, mas é verdade.
Ele cruza os braços e fica me olhando sem piscar, com um sorriso bobo

pendurado naquela cara ridícula de linda.





At the same time, I wanna hug you
Ao mesmo tempo, quero abraçar você

I wanna wrap my hands around your neck

Quero pôr minhas mãos em volta do seu pescoço

You're an asshole but I love you

Você é um idiota, mas eu amo você



Nessa hora, seu sorriso cai e seu olhar se intensifica, ficando quase

doloroso. Quase raivoso. O que eu fiz agora? Não faço ideia.



And you make me so mad I ask myself

E você me enlouquece tanto que eu me pergunto


Why I'm still here or where could I go?

"Por que ainda estou aqui?” ou "aonde eu poderia ir? "


You're the only love I've ever known

Você é o único amor que conheci


But I hate you, I really hate you
Mas eu odeio você, eu realmente odeio você

So much I think it must be

Tanto que eu acho que deve ser


True love, true love

Amor verdadeiro, amor verdadeiro



Ele se levanta e desliga o dock do iPod, apoiando as duas mãos no balcão

da cozinha e respirando fundo. - Black, você acabou de… - Mais uma respirada.
- Acabou de dizer que me ama?

Ele não parece nada feliz com a ideia, claro.

- Eu acabei de cantar uma música da P!nk para você, mais nada. - Dou

um sorrisinho de boa moça e volto minha atenção para a lasanha.

Parece que tirei um peso do tamanho do Axl dos seus ombros. Como

podem três simples palavrinhas aterrorizarem tanto um homem gigante desses?


Ansioso para me distrair, ele começa a puxar assunto sobre amenidades. Me

conta que deu férias para Lucy e Geofrey e que Jack está na casa de sua mãe.
Saudade daquele pulguento!

Sirvo a lasanha morrendo de medo de que não tenha ficado boa. Afinal,
minha vó sempre disse um homem se conquista pelo estômago. Observo ele dar
a primeira garfada e seguro a respiração.

- Porra, Black. Isso está fodidamente incrível. - Ele fala de boca cheia, já
pegando mais um pedaço. Solto o ar aliviada e começo a comer também.
Está bom mesmo! Quase acabamos com toda a travessa e com a garrafa

de vinho. Gordinhos! Nos recostamos saciados, P!nk ainda cantando para nós,

agora acompanhada da voz baixinha de Mal. Tão bonita... - Canta para mim?
- Você não acha que já me ouviu cantar demais nesses últimos tempos,

não?
- Não. Ouvi sua voz no microfone, cantando para uma multidão. Agora

eu estou pedindo para você cantar para mim. Só para mim.

- Você é estranha, coisinha.

Reviro os olhos para ele. - Olha só quem fala! Vamos lá, eu levo o vinho,

você pega seu violão e nos encontramos na piscina.


Capítulo 20 - Origami de Mal

- Quero ouvir Photograph.


- Ed Sheeran? Música romântica? Você? - Parece chocado com a minha

escolha.

- Se você não percebeu, eu sou uma menininha apaixonada. Menininhas

apaixonadas ouvem músicas românticas. E Ed Sheeran é demais! Para de ser um

pé no saco e canta logo.


- Tudo bem, tudo bem. Que seja. - Ajeita melhor seu violão preto no colo

e começa a dedilhar as cordas.





Loving can hurt, loving can hurt sometimes

Amar pode doer, amar pode doer às vezes




Sim, eu sei Ed.



But it's the only thing that I know
Mas é a única coisa que eu sei
When it gets hard, you know it can get hard sometimes

Quando fica difícil, você sabe que pode ficar difícil às vezes
It is the only thing that makes us feel alive
É a única coisa que nos mantém vivos


Eu achei que gostava dessa música antes, até que ouvi a versão do Mal…

Agora é mais que gostar, é amor verdadeiro. Sua voz rouca deixa tudo

melhor. Poderia ficar ouvindo ele cantar para sempre.



Loving can heal, loving can mend your soul

Amar pode curar, amar pode remendar sua alma

And it's the only thing that I know

E é a única coisa que eu sei

I swear it will get easier, remember that with every piece of you
Eu juro que ficará mais fácil. lembre-se disso em cada pedaço seu

Hm, and it's the only thing we take with us when we die

E é a única coisa que levamos conosco quando morremos





Se só o que a gente leva daqui é o amor, espero que Ed esteja certo e que

as coisas fiquem mais fáceis. Porque, se não ficarem, vou sair desse mundo sem
nada. Quando Malcolm termina, me sinto praticamente dopada, chapada de

amor. É possível isso?


Bom, se é possível que Malcolm Black faça uma serenata para mim, acho
que qualquer coisa é possível.

- Black, devo começar a correr? Você está me assustando.

- A culpa é toda sua, babaca. Ninguém mandou ser todo bom, agora
aguente as consequências.

- Você acha que eu sou “todo bom”? - Um sorriso convencido brinca em


seus lábios desenhados.

- Não vamos inflar ainda mais seu ego, rockstar fodão. Sua vez de

escolher uma música.

- Eu escolho, você canta.

- Ah, não! - Dou um gemido de sofrimento. - Você conhece minha voz,

até o Ian cantando seria melhor.

- Para de ser um pé no saco e canta logo. - Sim, tudo que eu disser será
usado contra mim. Paciência...

Ele começa a dedilhar All of Me, do John Legend.

- Música romântica? Você? - Ele apenas dá de ombros e continua


tocando. Respiro fundo e começo a cantar.


What would I do without your smart mouth

O que eu faria sem sua boca esperta


Drawing me in and you kicking me out

Estou me arrastando e você me está me dispensando


Got my head spinning, no kidding
Estou com a cabeça a mil, sem brincadeira

I can't pin you down

Não posso te forçar a nada



Nossa, outra letra perfeita para nós.



What's going on in that beautiful mind

O que está se passando nessa mente linda

I'm on your magical mystery ride

Estou passando pelo seu mágico mistério

And I'm so dizzy, don't know what hit me


E estou tão confuso que não sei o que me atingiu

But I'll be alright

Mas eu vou ficar bem



My head is under water but I'm breathing fine
Minha cabeça está embaixo da água, mas estou respirando bem

You're crazy and I'm out of my mind


Você é louca e eu estou fora de controle


Chego mais perto dele, olhando em seus olhos e coloco as mãos em seus
joelhos. Vê se pega a indireta bem direta, Malcolm.



'Cause all of me loves all of you

Porque tudo de mim ama tudo em você

Love your curves and all your edges

Ama suas curvas e todos os seus cantos

All your perfect imperfections

Todas as suas perfeitas imperfeições


Give your all to me I'll give my all to you

Dê tudo de você para mim, eu te darei meu tudo

You're my end and my beginning

Você é o meu fim e meu começo

Even when I lose I'm winning

Mesmo quando perco estou ganhando


'Cause I give you all of me

Porque te dou tudo de mim


And you give me all of you

E você me dá tudo de você



- Péssima escolha de música. - Ele para de tocar do nada, balançando a


cabeça e parecendo bravo consigo mesmo.
- Acho que escolheu muito bem. - Nem me abalo com seus momentos

“Meu Malvado Favorito” mais.

- Humpf. Claro que você acha. - Estreita os olhos para mim. - Sei bem o
que está planejando.

Puxo o violão de suas mãos, colocando ao nosso lado. Subo em seu colo,
me aninhando a ele e encosto meu ouvido em seu coração. Mal suspira e o sinto

endurecer debaixo de mim. Não endurecer de um jeito bom, se é que vocês me

entendem, mas do seu jeito assustado. Insisto em ficar na mesma posição e,

depois de uma eternidade, o sinto relaxar e passar as mãos ao meu redor, me

apertando firme contra ele e afundando o rosto em meu cabelo.

Isso!

Ponto para a Nick!


- Você torna tudo tão difícil. - Ouço sua voz depois de uma eternidade. -

Eu tento ficar longe, mas você esgota todas minhas forças.

- Então poupe suas forças e não fique longe de mim.


- É o que eu mais queria, Black. - Me aperto ainda mais a ele. Isso! Isso!

Isso! - Sou um idiota patético quando o assunto é você. Pelo amor de Jimi
Hendrix, eu fiquei te olhando dormir por meia hora uma vez, sabia? Que graça

tem olhar alguém dormir? Nenhuma! E mesmo assim eu fiquei lá. E ainda te
beijei! Enquanto você dormia. O que eu sou? A porra de um personagem da

Disney?
Então eu não sonhei tudo aquilo, aconteceu mesmo.
Ah, meu anjo. Eu não vou apenas dobrar você. Eu vou fazer um origami

de Mal.

Mas não agora.


Hoje ele já deu um grande passo.

- Vamos dormir? - Me descolo dele um pouco e olho para cima, com


minha melhor expressão inocente.

- O que você quer dizer por “vamos”? - E olha desconfiado para mim.

- Nós vamos. Eu e você. Só dormir, seu idiota patético. Não vou abusar

do seu corpinho. Palavra de escoteira. - Me levanto e estendo a mão para ele.

Para minha surpresa, aceita sem hesitar.

- Como se eu não soubesse que você nunca foi escoteira. - Ele resmunga

me fazendo rir.
Subimos até o meu quarto em silêncio. Vou para o meu closet gigante,

tiro meu vestido, fico só de calcinha e coloco outra camiseta com a cara do Mal.

O babaca arrogante tinha feito um verdadeiro estoque dessas para mim. Quando
me viro, ele está parado de braços cruzados na porta, olhando para mim com um

sorriso gigante.
- De todos os seus looks, esse é de longe o que eu mais gostei.

- De todos os seus looks, esse é de longe o que eu mais gostei. - Ele está
apenas de boxer preta. Delicioso...

- Tarada.
- Gostoso. - Passo por ele, pego sua mão e o arrasto para a cama. - Vamos
dormir logo, antes que eu repense minha decisão de não abusar de você.

Mal se deita embaixo da coberta e dá um tapinha no espaço vazio ao seu

lado, convidando a me juntar a ele com um sorriso sacana. E ainda quer que eu
me comporte! Deito e ele me puxa para o seu peito forte, me dando um beijo

carinhoso no cabelo. Aos poucos o plano está dando certo, estou o arrastando
para a minha nuvem de alegria. Enterrando o pensamento de que a vida será

muito diferente quando essa semana acabar, para o bem ou para o mal, adormeço

tranquila.

**

Acordo no dia seguinte e a primeira coisa que vejo são dois olhos azuis
brilhantes me encarando. - Seu estranho, você precisa parar de me encarar

dormindo. - Resmungo me espreguiçando e chegando ainda mais perto dele.

Sinto seu corpo balançar embaixo de mim, enquanto ri. - O Edward


vampirão fica lá olhando a menina sem-sal dormir e todo mundo acha isso o

máximo. Só porque eu não sou um vampirão rico e sexy, eu sou estranho?


- Você leu Crepúsculo?

- Vi os filmes. - Dá de ombros. - Não dá para criticar sem saber do que se


trata, certo?

- Aham, sei. Aposto que você tem um pôster do Edward na parede do seu
quarto e conversa com ele toda noite antes de dormir.
- Coisinha bobinha. Quem conversa com pôsteres aqui é você. - Ele me

dá um peteleco de leve na orelha e revira os olhos. - Por falar em quarto, você

não tinha que achar um novo apartamento? - Seu tom é despreocupado, como
quem não quer nada, mas sinto a curiosidade borbulhando por baixo.

- Decidi que não vou mais me mudar. - Entro na dele e conto como se
não fosse grande coisa.

- Não? - Agora ele está praticamente gritando e eu estou rindo por dentro.

Percebendo a bola fora que deu, pigarreia alto e pergunta mais calmo em

seguida. - Por que não?

- Porque você me quer aqui.

- Ah, é? Quando foi que eu disse que te queria aqui?

- Quando você mudou sua casa inteira por mim. - E essa é a segunda vez
que deixo Mal sem palavras. Adoro essa sensação! - Então, você vai buscar o

Jack hoje?

- Vou. - Ele parece pensar por um segundo. - Quer vir junto?


- Para a casa da sua mãe? - Uau. Grande passo. Baita passo. Passo

gigante.
- Se você conheceu meu pai e sobreviveu, minha mãe vai ser fichinha.

Uma ideia passa pela minha cabeça na hora e fico subitamente animada.
- Vou com uma condição. - Me levanto e sento em seu colo. - Se você me

deixar dirigir a Shakira.


- Não.
- Vai, Mal!!

- Não.

- Por favor... - Me aproximo mais e dou um beijo demorado na base do


seu pescoço.

- Não sei nem se você sabe dirigir mesmo... - Seu olhar desconfiado me
diz que ele tem certeza que não.

- Claro que sei. Sou uma grande pilota. Por favor, por favor, por favor,

Mal. - Mais uma série de beijinhos e ele olha derrotado para mim. Sei que vai

ceder.

- Tá bom!. Mas na primeira barbeiragem que você fizer, eu assumo.

- Yeah! Obrigada!

E começo a distribuir beijos melecados por todo seu rosto, enquanto ele
ri. - E pensar que eu reclamava quando você me farejava.

Depois de expulsá-lo para eu conseguir me arrumar, visto shorts jeans

preto, uma camisa preta com um laço no pescoço e uma ankle boot sem salto.
Nem o deixo tomar café, de tão ansiosa que estou para dirigir a Shakira.

Parado ao lado do carro brilhante, ele olha com carinho para as chaves,
antes de entregá-la para mim. Parece que estou pedindo um rim. Entro no lado

do motorista e sinto o couro macio me abraçar, enquanto o motor ronrona para


mim. A Shakira é uma delícia de se dirigir, e como diria Julia Roberts, em “Uma

Linda Mulher” (Amo!), parece que ela anda sobre trilhos.


Mal não encontra nada do que reclamar e me deixa guiar o caminho todo.
Ele vai trocando as músicas, olhando a paisagem, me mostrando o caminho e,

por incrível que pareça, diria que está até se divertindo. Seguimos até uma linda

construção de tijolinhos a vista com um jardim maravilhoso na frente, no meio


de uma rua tranquila. Parece saída de um conto de fadas e tem até as cerquinhas

brancas.
- Uau, Malcolm. Esse lugar é incrível.

Ele sorri fácil para mim e está bem mais tranquilo do que na noite em

que conheci seu pai. Nem preciso rebocá-lo para fora do carro dessa vez. Olha

que avanço. Assim que aciono o alarme da Shakira, a porta da casa se abre.

- Filho! Que saudade. - Uma pequena senhora loira, que nem chega até

os ombros de Mal, se lança para ele e o abraça apertado. Como esse homem

gigantesco saiu de uma mulher tão pequena, eu prefiro nem imaginar.


- Também senti sua falta, mãe. - E a ergue em seus braços, dando um

beijo em seu rosto delicado. Nunca o vi tão à vontade com ninguém. Bom, com

ninguém além de mim, claro.


- E essa deve ser Nicole. - E passa seus braços ao meu redor. Ela é

pequena e macia, com perfume de primavera. - Ouvi tanto sobre você, querida.
- É um prazer conhecê-la, senhora Harrow.

- Me chame de Liz, querida. Você é ainda mais bonita do que Daniel


falou.

- Mas é claro que o Dan te ligou. - Mal bufa e revira os olhos. Awn, essa
amizade dos dois é tão fofinha!
- Ligou ontem e ficamos horas ao telefone. Estava ansiosa para te

conhecer, Nick. Meu ex-marido também me contou que foram juntos ao jantar

dele e que ficou encantado com você. - Ela parece encarar a situação com muito
mais naturalidade do que Mal, mas sei que meu homem odeia falar disso, então é

hora de mudar de assunto.


- Eu poderia dizer que Mal também me falou muito sobre você, Liz, mas

você conhece seu filho. Falar muito definitivamente não é a praia dele.

- Você tem toda razão, querida. - E rimos juntas.

- Mas o pouco que ele falou, foi incrível. Te garanto. - E me presenteia

com mais um sorriso gentil. Yeah. Vou dobrar a sogrinha fácil, fácil.

- E cadê o Jack? Saudade daquele dinossauro. - Como se tivesse ouvido

minha pergunta, o vira lata vem correndo dos fundos da casa e pula com tudo em
cima de mim, me fazendo cambalear.

- Oi, garoto. Calma! Também senti sua falta. - Capricho no carinho atrás

da orelha e sou recompensada com uma lambida feliz que me deixa toda babada.
- Acho que ele já gosta mais dela do que de você, filho. - Realmente,

Jack estava ignorando total o dono dele.


- Nick tem esse efeito nas pessoas. Principalmente nos machos. Precisa

ver como os panacas da banda comem na mão dela.


- Menos você, claro. - E mostro a língua para ele, que sorri para mim e dá

de ombros. Sua mãe nos observa com um misto de curiosidade e aprovação e


nem imagino o que está passando na sua cabeça.
O dia corre muito bem e me sinto totalmente acolhida e a vontade com

eles. O padrasto de Mal trata a esposa como uma rainha e é uma pessoa muito

agradável, apesar de um pouco formal. Meu babaca parece ter uma relação
melhor com ele do que com o próprio pai e isso é o que basta para me fazer

gostar dele.
Deixo minha mente divagar sobre esse momento bizarro que estou

vivendo, onde Malcolm Black está todo relaxado e sendo fofo com a mãe,

enquanto me manda sorrisos e me trata como parte da família.

Tenho que tomar uma decisão.

Se a gente não se acertar até o último dia dessas nossas “férias”, eu vou

pedir demissão.

Eu não vou conseguir voltar para a nossa rotina com a banda e fingir que
não sinto nada por ele. E pior! Se ainda não me quiser depois desses dias

mágicos, ele nunca vai querer.

E eu ainda tenho meu amor próprio, pelo amor de Deus.


- Está tudo bem? - Sua mão quente me procura embaixo da mesa e eu

sorrio.
- Está sim. Só comi demais. - Tento lançar meu sorriso mais brilhante e

ele parece convencido. Até porque eu comi muito mesmo. Três pratos de nhoque
caseiro!

Na hora das despedidas, enquanto Mal está tentando colocar um Jack


muito empolgado dentro do carro, Liz me puxa para um canto de sua sala e me
prende em um abraço apertado.

- Nick, minha querida Nick. Nunca vou ser capaz de expressar o quanto

estou agradecida por você ter entrado em nossas vidas. Meu filho estava virando
um solitário rabugento, mas você não se deixa intimidar e vai descascando suas

camadas uma a uma. É tão bonita a admiração com que ele te olha e eu sinto que
você sabe como meu Malcolm é especial. Não desista dele, por favor. - Me

afasta o suficiente para pegar minhas mãos e apertá-las com força, me olhando

suplicante. Eu não quero desistir Liz, eu juro.

- Obrigada. Obrigada por tudo. Espero muito que eu possa voltar a vê-la

em breve.

Espero que possa voltar como namorada de Mal.

Espero que seu filho admita o que sente por mim.


Quando vou para o carro, ele está no banco do passageiro esperando

obediente com as chaves estendidas para mim. Bom garoto! Chegamos em casa

quase no fim da tarde, mas ainda preciso fazer alguma coisa para ocupar meu
corpo, bombear endorfina e parar de remoer minhas sofrências.

- Mal, vamos correr? - Claro. Que jeito melhor de não remoer sofrências
do que carregar a sofrência junto com você? Podem me internar! Estou

oficialmente pirada.
- Você corre? - Ele parece genuinamente chocado. Pareço tão fora de

forma assim?
- Eu corria todos os dias antes de você me atropelar e virar minha vida de
ponta cabeça. E caso não saiba, bailarinas são atletas também, imbecil.

- Ok, língua afiada, pode guardar as garras. - E sai dando as costas para

mim e subindo as escadas.


Acho que isso foi um sim. Me troco e coloco um top preto, um short

larguinho preto, meu tênis de corrida e saio do quarto. No fim das escadas, Mal
me espera usando apenas uma bermuda larga preta e seus tênis. Passo reto por

ele e esbarro meu ombro no seu. - Exibido.

Ele ri e me acompanha para fora. Começamos com uma caminhada leve,

para aquecer, mas logo pegamos o ritmo, saindo do condomínio e encarando as

ruas calmas do bairro. Espero que ninguém o reconheça e espero que ninguém

tire fotos nossas juntos e sozinhos. Depois de alguns minutos, canso de ouvir

minha consciência maluca que não cala a boca e começo a cantar para abafar os
sons da minha mente. Não estou acostumada a correr sem música e isso me

deixa ainda mais louca que o normal.

- Isso vai foder com a sua respiração, Black.


Dou de ombros e continuo minha interpretação de “Simpathy For The

Devil”, dos Rolling Stones. (Grande música!) Ele balança a cabeça, mas não
implica mais. Aposto que está morrendo de vontade de me acompanhar.

Também cantar não é distração nenhuma, perto do que o seu corpo suado
faz comigo. Não sei que parte eu gosto mais. Nesse segundo, a bundinha

redondinha está empatada com as panturrilhas fortes.


A próxima coisa que percebo é que estou estatelada de cara no chão.
- Coisinha, o que aconteceu? - Ele para na mesma hora e volta até onde

estou, me olhando preocupado.

- Me distraí olhando para sua bunda. - Levanto limpando meus joelhos e


me examinando. Acho que estou inteira.

Malcolm, óbvio, está gargalhando da minha cara. - Cara, você não tem
filtros mesmo. Qualquer outra mulher diria simplesmente que tropeçou.

- Minha última preocupação na vida é pagar de boa moça. E trate de ficar

atrás de mim para ninguém sair machucado, imbecil.

Ele me mostra a língua, como fiz mais cedo e sai correndo. - Aí quem vai

cair de cara no chão sou eu. - Grita por cima dos ombros.

Ai meu coração.

Nem uma corrida de 50 km me deixaria tão sem fôlego quanto esse


homem.

Depois de uma hora, voltamos para casa exaustos. Na verdade, eu estou

exausta, Malcolm está apenas levemente ofegante. Tomo um banho, me enfio no


meu pijama de panda e me jogo no sofá, pedindo uma barca de comida japonesa

para nós.
Num acordo silencioso, ele desce quando a campainha toca e traz a

comida para a sala. A última coisa de que me lembro é que colocamos Friends
para passar e comemos entre risadas e silêncios confortáveis.

Acordo no dia seguinte na minha cama, dessa vez sem Mal.


Péssimo sinal.
Saio pela casa procurando por ele e o encontro na cozinha, preparando

café da manhã.

Nem tão péssimo assim então.


Humm, panquecas com Mal. Eu poderia me acostumar com isso.

Paro para admirar pela nonagésima vez a linda obra de arte em formato
de tatuagem que são suas asas e uma ideia passa pela minha cabeça. - Malcolm. -

Dou um grito e ele pula assustado, me olhando como se fosse louca. Tudo bem,

eu sou mesmo. - Me leva no seu tatuador?

- Você quer fazer uma tatuagem? - Agora sua cara de “louca” está ainda

maior.

- Não. Quero comer churros. O que mais eu faria no seu tatuador, idiota?

- Mas até que churros não seriam uma má ideia.


- Olha essa língua, sua grossa. O que quer tatuar?

- Minhas quatro paixões. - Perfeito! Sempre quis tatuar isso.

- Eu, Kit Kat, comida japonesa e motos Kawasaki?


- Esse é o seu jeito de tentar descobrir se eu estou apaixonada por você? -

Entro no joguinho dele, me aproximando e passando os dedos pelo seu belo


peitoral. - Só respondo se você prometer me responder também. - Digo imitando

o que penso ser uma voz sedutora. Ele fica branco igualzinho ao Daniel.
Ah, droga, vou acabar matando esse garoto.

- Panquecas! Eu fiz panquecas. Quer panquecas? - Ele se atrapalha todo e


quase se queima, só para não responder.
- Claro. Panquecas! - Respondo para salvá-lo de sua miséria.

Depois de me empanturrar com as panquecas que estavam divinas, nos

trocamos e vamos para o estúdio com a Shakira, que dessa vez ele não me deixa
dirigir nem sob ameaça de morte.

Seu tatuador fica num prédio abandonado, numa parte bem suspeita da
cidade. Nunca imaginaria Mal num lugar como esse, mas pela alegria com que

ele e o careca barbudo se cumprimentam, ele é um cliente antigo.

- Rod. Essa é Nicole, assessora da banda.

“Rod. Essa é Nicole, minha namorada. Razão do meu viver”. Soa melhor,

não acham?

- Olá, bonita. - E para minha surpresa dá um beijo na minha mão, como

um cavalheiro. - Ouvi falar muito de você.


- Deixa eu adivinhar. Você é o tatuador do Daniel também?

Seu sorriso abre ainda mais por baixo da barba desgrenhada. Eu deveria

contratar aquele baterista louco como meu publicitário.


- Ele e Axl estiveram aqui ontem.

Mal bufa atrás de Rod e cruza os braços. - Aquelas velhas fofoqueiras.


- Então, bonita. Você veio se tatuar também?

Meus olhos brilham de empolgação e começo a explicar a ele o que eu


quero, o afastando de Malcolm. Não quero que o intrometido fique palpitando. O

esboço fica perfeito e, depois de três horas, saio de lá não com UMA, mas com
DUAS tatuagens.
A primeira é uma bailarina que está com sapatilhas de ponta, mas vestida

com um lindo vestido Balmain, fazendo um passé, enquanto lê um livro, envolta

em notas musicais. Tudo estilizado e em preto, claro. Ela toma um bom pedaço
da minha costela e eu estou apaixonada pela riqueza de detalhes.

Mas a segunda é ainda mais perfeita. Um lindo “Black”, estilizado,


escrito na parte superior do meu seio esquerdo. Representando meu coração, o

sobrenome da minha família, a banda que eu amo e o momento em que a minha

vida deu uma virada e começou para valer. Só ficaria mais perfeita se

representasse também o nome do meu futuro marido.

- E então? - Ele pergunta com curiosidade e percebo que também tem

plástico filme subindo pelo seu peito, por baixo da camiseta.

- Incrível! Ficaram perfeitas. Rod é um verdadeiro artista.


- Ele é mesmo. - Olha para o meu corpo, tentando encontrar onde está

minha tatuagem. - Não vai me mostrar o que fez?

- Vou. Depois que você me alimentar. Estou morrendo de fome. - E quero


fazer um pouco de suspense.

- McDonald’s?
- Fechado! - Passamos em um drive-thru e pedimos tudo que temos

direito. Big Mac, McShake de chocolate e fritas grandes.


Chegando em casa, subimos direto para o meu quarto, colocamos Red

Hot Chili Peppers para tocar e espalhamos nossas guloseimas pelo tapete. Vou
ter que suar muito naquele estúdio de balé para queimar tudo isso mais tarde.
- Pronto, agora me mostra. - Ele fala limpando os dedos, depois de

devorar sua parte e tudo que sobrou das minhas batatinhas.

- Você primeiro.
- Por que?

- Porque eu quero. - E dou de ombros.


- Você não vai ver a minha ainda.

- Você tatuou “Eu te amo, Daniel” e quer mostrar para ele primeiro?

- Exato. Como você adivinhou? - Revira os olhos. - Agora vai, mostra

logo.

- Ok. Lembre-se que foi você quem pediu.

Puxo a minha camiseta para cima e, em seguida, tiro o sutiã para ele

conseguir ver os dois desenhos. Seus olhos ficam nublados na hora. Finjo
ignorar sua reação e viro de lado para mostrar a bailarina. Ele se aproxima bem

devagar e seus dedos passeiam sem pressa pelos traços delicados, me fazendo

arrepiar. Fecho os olhos e me concentro apenas em suas mãos em mim. Melhor


sensação ever.

- Perfeita. - Já não sei mais se está falando de mim ou da tatuagem. Vou


imaginar que é de mim. Só de pensar nisso, meu coração se aquece e bate mais

acelerado. Ainda de olhos fechados, sinto seus dedos descerem até a minha
cintura, contornarem meus ossos da costela e passarem para a minha barriga.

Com uma doce tortura, ele passa lentamente para a lateral dos meus seios,
chegando até a tatuagem “Black”. Seus dedos hesitam por um segundo e me
forço a abrir os olhos para ver sua reação.

Para minha total surpresa, seus olhos estão brilhando com lágrimas não

derramadas. - Porra. Quando eu penso que não pode me quebrar mais, você vai
lá e dá um soco no meu maldito coração.

Aproveitando a deixa, fico na ponta dos pés e passo a mão pelo seu
pescoço, aproximando nossas bocas. Tão próximos que respiramos o mesmo ar. -

Seu maldito coração já é meu, Black. Pare de lutar contra isso. - E o beijo com

todas as minhas forças. E o beijo com todo o meu maldito coração. E o beijo

com toda a emoção de só ter mais um dia para fazê-lo admitir isso. E o beijo

com a certeza de que amo esse homem como eu nem achava que fosse possível

amar alguém.

O arrasto até a minha cama e me enrosco nele. Nossos corpos já se


conhecem tão bem, já sabem exatamente como se encaixar, como se moldar.

- O que você planejou para o resto do dia? - Ele brinca distraidamente

com meu cabelo.


- Que tal uma soneca e depois uma corrida para queimar todo esse

McDonald’s? E, à noite, podemos pegar um cinema.


- O que você quiser, minha coisinha bonita. Agora durma. - E começa a

fazer carinho na minha costela, subindo e descendo pela minha tatuagem.


- Eu sou bonita? - Ele ri da minha cara e me aperta mais forte.

- É perfeita. - Suspira no meu ouvido e eu adormeço feliz, com um


sorriso gigante no rosto.

Capítulo 21 - O começo, o meio e, finalmente, o fim

Durante nossa corrida, ele desiste de tentar me convencer a não cantar e


acaba até fazendo beat box para mim. Tirando a beleza absurda, é fácil esquecer

que ele é um rockstar doze vezes ganhador do Grammy. Ele é simplesmente um

cara, rindo e aproveitando o dia comigo.


Vamos para o mesmo cinema que eu fui com Daniel, depois para o

mesmo bar de metaleiros suspeitos. Em nenhum dos dois lugares as pessoas

parecem se importar com quem somos, o que faz com que Mal relaxe e pareça

quase um humano normal, levando seu encontro para sair.

Voltamos para casa leves, cambaleantes e rindo como dois idiotas. Assim

que fechamos a porta atrás de nós, pulo em seu colo, me enroscando em seu
pescoço. Ele me pega facilmente pelas coxas e me vira, colando minhas costas

na parede. Sua boca ataca a minha com fome e eu retribuo mais do que feliz. Ele

desligou seu cérebro maníaco por uma noite e eu estou mais do que satisfeita em

fazer o mesmo.

**


Não existe sensação melhor do que acordar com Malcolm Black

peladinho da Silva ao meu lado. Estico meu corpo e o sinto todo dolorido por
culpa da nossa atividade física intensa dessa noite. (Não que eu esteja
reclamando!)

Alcanço meu celular e vejo que já são 14h, o que é totalmente

compreensível para quem ficou acordado até depois do sol nascer. (Se é que

vocês me entendem!) Por vários minutos, fico só olhando o subir e descer calmo
do seu peito, sua respiração cadenciada, sua boca ligeiramente aberta, seus

cabelos loiros brilhando na luz do sol...


Se Malcolm decidir se afastar de mim hoje, não quero nem pensar como

vou fazer para juntar os cacos do meu coração depois. Sem coragem de me

mexer mais e acordá-lo, fico admirando sua beleza ridícula, até que meu

estômago ronca alto, clamando por comida. Desço para a cozinha e começo a

preparar uma macarronada. Não faria nenhum sentido tomar café da manhã

agora.

Quando a massa já está pronta, me viro para subir e acordar Mal, mas ele
já está sentado na bancada, com um sorriso gigante olhando para mim. - Era

isso.

- Isso o que? - Pergunto curiosa, enquanto sirvo dois pratos para nós.
- Isso que estava faltando. Hoje eu acordei e ri como um idiota, sem

motivo. E queria descer logo para te encontrar. Eu estou feliz, coisinha. E eu


nem lembro quando foi a última vez que me senti assim. Era você. - Ele vem até

onde estou e me enlaça pela cintura. - Era você que faltava na minha vida.
Sem encontrar as palavras certas, o abraço com força e escondo meu

rosto no seu pescoço cheiroso. Essa é a coisa mais incrível que alguém já me
disse. - Eu achava que o meu Mal do pôster era demais, mas você está superando
ele fácil.

- Cara, eu sou tão foda que consigo superar eu mesmo.

Dou um beliscão na sua bunda e ele ri, retribuindo com um tapinha na


minha. Comemos quase todo o macarrão e depois vamos assistir um filme na

sala de tv/cinema de última geração dele. Escolho “Divergente” e ele bufa a cada
vez que eu suspiro pelo Theo James. Poxa, não tem como! Ele tem a voz mais

incrível do mundo, rouca e grave. Falo isso para Mal e sou recompensada com

uma carranca e um biquinho de birra. - Minha voz é a mais incrível do mundo.

Reviro os olhos para ele, que pula em cima de mim do nada, pega minhas

mãos e as prende em cima da cabeça.

- Vamos, admita. “Mal, Deus do Rock, sua voz é muito mais incrível que

a desse cara aí”.


- Não! Seu arrogante convencido. - Um sorriso enorme rasga meu rosto.

- Você pediu por isso, Black. - E me ataca com cócegas por todo o corpo,

me fazendo gargalhar como louca.


- Ok, Ok. Eu me rendo! Deus do rock arrogante e babaca, sua voz é a

mais fodástica de todas. - Digo já sem ar.


- Boa garota. - Se senta me levando junto e me colocando em seu colo. A

facilidade com que aguenta meu peso me choca até agora. Suas mãos sobem
para o meu rosto e ele fica apenas me olhando, com uma expressão de

verdadeira admiração que faz minhas entranhas revirarem.


Junto nossas bocas, sem aguentar mais a distância e, por um bom tempo,
esquecemos do filme e de todo o resto do mundo. Acabamos nosso dia na

academia/estúdio de balé, com ele exercitando seus bíceps do tamanho da minha

cintura e eu feliz inventando coreografias para as músicas da banda.


Acaba sua série impressionante de flexões e para na minha frente me

observando. Aproveito a deixa para tirar uma casquinha dele. - Vem, vou te
ensinar a dançar.

- Balé? - Faz uma careta.

- Não. Lambada. Claro que é balé. Vamos lá, esses seus braços fortes são

perfeitos para isso.

Passo a próxima hora gargalhando das suas tentativas frustradas de dar

uma pirueta. Ele é péssimo, totalmente descoordenado! Finalmente alguma coisa

em que não é bom. (Amém!)


Tomamos banho juntos e descemos para cozinhar bifes com batata frita,

nosso desejo gordinho para essa noite. Com a refeição e o dia acabando, sei que

não posso mais adiar nosso papo sobre o futuro.


Coragem, Nick. Precisa resolver isso.

Ele não vai me dispensar, não depois de tudo que passamos juntos. Só a
ideia já faz com que meus olhos se encham de lágrimas.

- Hey, o que foi? - Ele me pega do banco e me coloca sentada em seu


colo, percebendo o meu estado. - Meus bifes ficaram tão ruins assim?

Faço que não com a cabeça e as lágrimas correm ainda mais. Ele me
afasta e me força a olhar em seus olhos, segurando meu queixo. - Porra, não
chora. Me fala o que foi, por favor.

O fato dele ter falado ‘por favor’ pela primeira vez na vida consegue

ganhar minha atenção e me despertar do meu torpor histérico. - Mal. - Enxugo


algumas lágrimas. - A gente precisa conversar.

Suspira e me aperta mais forte. - Estava bom demais para ser verdade.
- Eu só preciso saber o que vai acontecer amanhã. O que vai acontecer

quando tivermos que voltar para a rotina da banda, com o Josef e tudo mais?

Ele endurece embaixo de mim e seus braços me soltam. Me coloca no

chão e se afasta de costas, olhando para baixo. Isso não vai ser bom. Isso vai ser

pior do que eu imaginava.

- Eu pensei muito nestes últimos dias, mas não queria que a hora dessa

conversa chegasse. - Vejo a tensão nas suas costas aumentar. - Eu não posso
continuar com isso. Eu não posso ameaçar seu trabalho e nem a ligação que

temos. Contar para todo mundo seria tornar isso oficial e... - Mais um suspiro

dolorido. - Eu não consigo. Não posso. Eu não poderia viver com você me
odiando quando tudo acabar. Não você.

- Deixa eu ver se eu entendi. - Respiro fundo para me acalmar - Sua ideia


é que a partir de amanhã voltemos a agir como meros conhecidos? Que

esqueçamos tudo que aconteceu?


Ele finalmente se vira para mim e parece animado com algo. - Eu pensei

que poderíamos voltar a nos encontrar de vez em quando, sem ninguém sa...
- Não termine a porra dessa frase, Malcolm. - Levanto a mão para
interrompê-lo e para estabelecer uma distância entre nós.

Eu já sabia. No fundo eu já sabia.

Quero chorar.
Não posso chorar.

Não vou chorar.


- Seu babaca. Você não vai fazer isso comigo. Eu não sou uma

adolescente que você pode escapulir para o quarto no meio da noite e dar uns

pegas. - Estou quase gritando, mas é isso ou cair em lágrimas. E eu me recuso a

chorar na frente desse imbecil. Respiro fundo de novo. - Sou uma mulher de

verdade, que quer um relacionamento de verdade com um homem de verdade.

Depois de tudo que a gente passou, se você ainda não tem bolas o suficiente para

admitir que me ama, eu não quero mais nada com você. - Começo a sair da sala,
mas me viro novamente para olhá-lo uma última vez. - Eu não me relaciono com

covardes.

Mal olha para baixo, com os ombros caídos, parecendo derrotado.


Ótimo!

- E quer saber o que mais? Tem pessoas que passam a vida procurando
pelo que a gente tem. Procurando alguém que as ame de verdade. Você não pode

viver sua vida baseada no medo de que as coisas vão dar errado. Você não pode
viver afastando quem te ama. Todo mundo precisa de alguém e nem todo o

mundo vai te trair. Aprenda a valorizar o amor verdadeiro da próxima vez que
ele estiver embaixo do seu nariz, idiota. - Saio pisando duro, subindo para o meu
quarto. No instante em que bato a porta, eu desabo. Caio no chão com as mãos

no rosto e me permito chorar finalmente.


Capítulo 22 - Agora é comigo (A versão de Malcolm
Black)

Amor verdadeiro?
Eu a amo?

A resposta pisca na minha cabeça como um letreiro neon irritante.

- Eu te amo, Nicole Black. - Falo baixinho, testando as palavras na minha

boca.

Na hora percebo que ela está certa.


Porra, eu realmente amo aquela mulher.

Amo para caralho.

Ela foi a melhor coisa que me aconteceu e eu estraguei tudo.

Estraguei tudo enquanto tentava não estragar tudo.

Genial, Malcolm!

Eu sabia que ela iria embora, soube disso no exato momento em que
disse a coisa errada e ouvi seu coração se partindo por minha causa. Justamente

a porra que eu não queria que acontecesse. Eu magoo as pessoas que me amam,
igualzinho ao meu pai. E agora está tudo acabado.

Minhas costas vão escorregando pela parede, até o chão, onde sento,
escondo o rosto nas mãos e me permito chorar pela primeira vez desde que
descobri a traição do meu pai.
Que merda.
Eu a perdi.

Minha garota. Minha garota dos sonhos. Era ela... Ela que estava

faltando...
E eu a perdi.

Fico na mesma posição pelo que parecem horas, encarando o vazio,


deixando as lágrimas caírem e me amaldiçoando de todas as formas possíveis.

Um ruído de porta batendo me tira do meu torpor e me obrigo a levantar.

Não quero que ela me veja assim, como um adolescente descontrolado, então me

arrasto de volta para o meu quarto e me tranco lá.

Será que ela foi embora?

Para onde ela iria?

Incapaz de continuar acordado e convivendo com a confusão que virou


minha cabeça, tomo dois remédios de gripe e espero ser nocauteado em um sono

pesado.

Oito horas depois estou aqui, olhando seu quarto vazio. As chaves da
Kawasaki em cima da escrivaninha, todas as roupas intocadas em seu closet.

Sempre soube que ela não ligava para o meu dinheiro, mas não imaginava que
seria tão desapegada. Ela não levou nada… Nem um Kit Kat.

Jack entra e para ao meu lado, parecendo tão abatido quanto eu. Com as
orelhas para baixo, ele afunda o focinho na minha mão e dá um ganido baixo. -

Ela só saiu há algumas horas e já estamos miseráveis. Nós somos patéticos. - Ele
concorda, me dando uma lambida na mão.
Sem poder adiar mais, vou checar meu celular, que está esquecido na

cozinha desde o dia anterior. Dou um gemido ao iluminar a tela: 30 chamadas

não atendidas dos meninos, de Mia, do Josef e até do Boris, mas nenhuma dela.
Não quero falar com eles agora, preciso falar com a Nick antes, preciso

fazer ela me perdoar e preciso consertar tudo. Pense, Malcolm. Pense.


Bom. Acho que vai ser mais fácil controlar a língua afiada dela quando

estivermos no escritório e ela não puder me matar com tantas testemunhas

presentes, certo?

Certo.

Com esse plano em mente, pego minha carteira, meu celular e, num

lampejo de inspiração, pego também as chaves da sua Kawasaki. Quem sabe isso

não ajuda a derreter o coração raivoso da minha coisinha?!


Saio voando pelas ruas, muito mais rápido e com muito menos prudência

do que costumo dirigir, na ânsia por chegar logo e vê-la novamente.

Quando entro no escritório, o insano do Daniel nem espera as portas do


elevador se abrirem direito para voar na minha direção, me pegando pelo braço e

me arrastando para dentro de uma das salas de reunião vazias. - Devagar, porra.
Qual é o seu problema?

- Meu problema é você, seu imbecil. Porra, Malcolm. Quando eu fiz


aquela maldita promessa de que te ajudaria, eu achei que era uma ideia

hipotética. Um momento bonito entre amigos, nos amamos, os violinos tocam no


fundo, os passarinhos cantam. E não que ela fosse aparecer na minha porta uma
bela noite pedindo abrigo porque você foi mais babaca do que qualquer um

imaginava que você fosse capaz. Até eu!

Quando eu e Daniel tínhamos treze anos, ele disse que um dia nós
iríamos encontrar garotas legais, mas que seríamos babacas que acabariam

estragando tudo. Então, fizemos um pacto de que ajudaríamos o outro quando a


tal garota aparecesse. E, desde que a minha coisinha atropelou meu carro, ele

vem me falando incansavelmente que ela seria “A” garota.

Nunca pensei que fosse dizer isso, mas ele tinha razão...

Era ela... Ela que estava faltando...

Sento na cadeira mais próxima, abaixo minha cabeça na mesa e começo a

lembrar de tudo que aconteceu entre nós nos últimos meses.


**

No dia do atropelamento, sua língua afiada e sua devoção pela banda já


tinham chamado a minha atenção antes mesmo de descer do carro. Mas, quando

vi aquela confusão de longas pernas, cabelos brilhantes presos em um coque


frouxo e os olhos mais pretos que já havia visto, senti um solavanco no

estômago e soube que teria um problema.


Ela era linda, porra. E não parecia fazer a menor ideia disso.

Logo de cara me colocou no meu lugar - não deu uma de fã histérica, me


tratou exatamente como tratou Boris e ainda me chamou de Sr. Black! Não ficou
nem um tantinho intimidada pela minha presença. Isso nunca tinha acontecido

antes...

Depois, me lembro com clareza do momento que tive de carregá-la no


colo. A coisinha estava manca e nem eu sou tão sem coração assim. Faria o

mesmo por um cachorrinho atropelado. Mas cachorrinhos, com certeza, não


cheiravam como ela. Ela tinha cheiro de baunilha, como o melhor dos muffins da

Starbucks.

O calor do seu corpo quente contra o meu foi o suficiente para deixar

certas partes minhas em estado de alerta. A situação do pobre Mal Júnior só

piorou quando ela deu uma resposta afiada sobre o que sua língua poderia fazer.

Foi nessa hora que ela me obrigou a reparar em seu rosto com calma e me

deixou sem fôlego pela primeira vez.


Nada de maquiagem, pele linda, uma boca desenhada, que sorri até os

cantos, e os olhos tão pretos que não dava nem para ver a bolinha no meio deles.

O nariz poderia ser meio estranho, com um ossinho maior na ponte, mas até isso
combinava com o rosto forte e exótico.

Seu olhar, ah... Seu olhar não era nada como eu já tinha visto; transmitia
tudo que ela estava pensando, brilhava quando ela falava e era sensual para

porra.
Aí ela respirou no meu pescoço e me deixou arrepiado da cabeça aos pés

- de repente eu era a porra de um adolescente tarado cheio de tesão de novo. E


tem sido assim todos os dias desde então.
Daniel sacou o que estava acontecendo de cara, por isso sugeriu aquele

maldito concurso da camiseta. Tenho que admitir que o babaca me conhece

muito bem, sabia que aquilo iria me tirar do sério. Quis matar o idiota ali mesmo
e jogar os pedaços para um bando de groupies enlouquecidas. Não consegui nem

piscar enquanto os outros três se exibiam para ela. Até Ian! Onde estava o ciúme
maníaco da Mia quando a gente mais precisava?

Mas ela parecia indiferente de verdade aos manés exibidos, até aos

músculos de Axl, por quem as meninas sempre salivavam. Algo em mim se

aqueceu com a possibilidade de ela não estar atraída por nenhum dos outros

caras, só por mim, e meu ego me obrigou a tirar a prova.

Péssima ideia.

Quando me lançou sua “cara-de-tarada”, fiquei duro na hora. Seu olhar


era puramente sensual. Parecia que queria me devorar, e minhas partes íntimas

estavam mais do que felizes em se oferecer como sacrifício para essa canibal

pervertida.
Devo ter virado um pimentão, porque Daniel olhou para mim e mexeu os

lábios sorrindo e murmurando: "É ela". E foi assim que começou a história da
coisinha ser “A” garota e foi assim que as coisas começaram a mudar na minha

vida.
Toda vez que ela entrava no modo super assessora de imprensa em ação,

toda resolvida, com atitude e dominando a situação, eu quase enlouquecia.


"É ela".
A conversa entre nós sempre fluiu e parecia que ela já estava com a

banda há anos. Nicole foi fazendo com que eu me sentisse tão à vontade com

ela, que eu sempre acabava falando e me entregando mais do que deveria.


"É ela".

Claro que ela tinha o melhor gosto para música também. E cantava muito
bem. E tocava muito bem. E me fez cantar para ela. Eu nunca cantei para

ninguém! Não diretamente, se é que vocês me entendem.

"É ela".

Parecia querer saber como eu era de verdade, e não se espantou com cada

parte que descobriu, por mais questionável que fosse. Ela sempre conseguiu ver

além das minhas reservas, ela sempre conseguiu me ver de verdade. E isso

derreteu um coração que eu nem achei que tinha.


"É ela".

Teve também esse ciúme estranho que me dominou, me fazendo espumar

pela boca quando qualquer babaca chegava perto dela. Desde Ian, até Adam
Levine. Eu entendo que Nick é uma mulher maravilhosa e que conquista

qualquer um que conhece sem fazer esforço. Mas, no fundo, queria ela só para
mim.

"É ela".
Claro que ela não teria o cabelo liso, escorrido e comprido que todas as

garotas parecem usar hoje em dia. Ela consegue ser um absurdo até sem
maquiagem, até acordando, até usando uma camiseta com a cara do Daniel. Ela é
muito sexy. Muito sexy mesmo. Mesmo. Nunca vou esquecer da primeira vez

que a vi nua. Achei que iria me envergonhar molhando as calças como um

adolescente virgem de 14 anos.


"É ela".

Adorava quando me tocava, era melhor do que qualquer massagem sueca


tântrica que já fiz na vida. Adorava quando dormíamos juntos, sempre acordava

com meu corpo todo enrolado nela, relaxado e descansado. Os melhores sonos

que tive em anos. E adorava quando ela me farejava, tinha um quê de selvagem.

Acho que eu já disse que ela é muito sexy, certo?

"É ela".

E aí veio a parte de viver com a coisinha. A maior diversão que tive em

anos, sem estar em cima de um palco. É leve, confortável, familiar. E ela me fez
reformar minha casa inteira, meu santuário, por ela. E eu gostei do resultado

final. Finalmente tudo ficou com cara de… lar.

Moral da história: Nicole Black é incrível e eu sou oficialmente uma


menininha piegas. Tragam as comédias românticas e o chocolate!

Aí teve a parte que eu estraguei tudo. Várias vezes.


Eu não sou a pessoa mais aberta que vocês vão encontrar por aí, acho que

já perceberam. Meus pais tiveram um casamento de merda, que terminou em um


divórcio de merda. E quando você está tanto tempo nessa indústria, fica ainda

mais desconfiado das pessoas e do que elas querem de você. Junte isso com o
fato de que ela trabalha para mim e como eu viro uma menininha piegas perto
dela e o que temos? Desastres. Vários e vários desastres.

Eu deveria ter ficado longe desde o começo, mas não consegui. Por que?

Porque sou um babaca egoísta. A verdade pura e cruel é que não tinha como não
querer essa garota.

"É ela".
E sempre seria ela.

**

- Malcolm, você ouviu alguma coisa do que eu disse?

O Dan do presente me chacoalha, me forçando a voltar para o mundo

real. - Claro que não. Parei de te ouvir uns 10 anos atrás, quando você disse que
achava que era um bruxo da família dos Weasley.

- Ela pediu demissão, Mal.

Sinto o mundo parar de girar.


Ela pediu demissão.

Ela abriu mão de seu sonho por mim.


Ela abriu mão de um puta salário por minha causa.

Que merda eu fiz...


Ainda estou com a boca aberta em choque, quando Josef entra na sala

como um furacão, já apontando o dedo para mim, seguido por Axl e Ian. -
Quando eu dei aquela dura nela, na sua frente, e obriguei vocês a irem juntos ao
Grammy, eu já sabia. Todos sabiam! Eu esperava que você ficasse ao lado dela,

contassem a verdade e ficassem juntos. Malcolm, eu esperava muito mais de

você. Mais que uma excelente funcionária, perdemos uma pessoa incrível.
Conserte isso. E RÁPIDO.

- Josef, agora você não está fazendo sentido nenhum. E aquela porra de
contrato?

- Esse contrato existe para afastar garotas tolas e desmioladas, que se

aproximam com interesses escusos. Posso ser intolerante e rígido, mas nunca

ficaria no caminho da felicidade de um de vocês. E, principalmente, nunca

ficaria no caminho do amor verdadeiro.

E sai da sala me deixando completamente sem palavras.

Olhando pelo lado bom, é um problema a menos para eu resolver.


- Acho que nem vou precisar quebrar a cara dele. O idiota já está

quebrado. - Ian olha para mim balançando a cabeça com pena. Me encolho sob

seu olhar de desaprovação. Para mi, a única opinião que importa no mundo é a
desses caras.

- Acho que ele parece miseravelmente ótimo, como só um cara


apaixonado com o coração partido ficaria. E isso é lindo. - Axl sempre profundo.

- Calem a boca! Eu sei que fiz merda e vou consertar. Assim que vocês
pararem de serem idiotas e começarem a me ajudar. Porque, porra, eu amo essa

garota. Eu fodidamente a amo e vou tê-la de volta.


- Ah, esse é o meu Mal-Mal. - Afasto Daniel das minhas bochechas com
um tapa, antes que ele consiga apertá-las como sei que quer fazer.

- Ian, vou precisar da Mia emprestada.

- Boa sorte em fazer com que ela fale com você, cara. Quais foram as
palavras exatas que ela usou para se referir ao Mal mesmo, Ax?

- “Quero fazer carpaccio das bolas daquele insano, temperar com limão e
servir em uma bandeja de prata para um estádio lotado de groupies histéricas”

- É, acho que foi isso.

- Vocês estão ignorando o fator Malcolm Black nas mulheres. Eu só

preciso piscar meus olhos azuis e ela vai me ajudar na hora.

**


- Seu idiota, imbecil, retardado, perturbado, vadio. Eu te odeio. Eu te

odeio. Eu te odeio. - E avança na direção do meu pobre pescoço com as unhas

compridas afiadas e assustadoras.


- Axl, acho que é hora de interferir.

- Você é o namorado, Ian. Por que eu preciso interferir?


- Sou o namorado, mas você é o cara dos músculos. Nem uma parede

seria capaz de segurá-la agora, quem dirá eu! - Enquanto as duas florzinhas
discutem, a louca já está em cima de mim e eu me defendo como posso. Mano, a

garota é forte.
- Axl, uma ajudinha?! Essa insana vai deixar vocês sem vocalista. - Meu
argumento finalmente faz com que ele tome uma providência, vindo até nós e

tirando ela com facilidade de cima de mim.

- Mia, me escuta por um minuto. Porra, eu amo a Nicole. - Consegui que


ela parasse de gritar. - E eu vou reconquistá-la. Com ou sem sua ajuda. Se você

se importa com ela e se você me ama, como eu sei que ama, vai nos ajudar.
Ela estreita os olhos para mim e parece realmente assustadora. Como

alguém desse tamanho pode ser tão assustadora? - O quanto você a ama?

- Como é?

- Você ouviu, Malcolm. Responda se quiser minha ajuda.

Que tipo de pergunta é essa? Respiro fundo e tento buscar a resposta

dentro de mim. Sei que Mia não vai aceitar nada menos do que uma resposta

100% honesta. - Eu abriria mão de tudo, de qualquer coisa, por ela. Eu só penso
nela. Eu só quero ela. Eu só me sinto bem ao lado dela. Quando não estamos

juntos, eu sinto um puta de um buraco no peito. Eu sou uma pessoa melhor,

graças a ela. É ela, Mia. E sempre será ela.


A doida chega bem perto de mim, parecendo procurar a verdade nas

minhas palavras. Suas pupilas se estreitam e ela quase encosta seu nariz no meu.
- Devo segurá-la? - Ouço Axl perguntar baixinho atrás de nós.

- Não. - Ela mesmo responde. - Não vou acabar com esse rostinho bonito
hoje. Qual seu plano, Black?

Isso! Hora da ação.


- Onde a Nick está?
- Em um avião, a caminho da cidade dela.

Droga, isso dificulta um pouco as coisas.

- Ligue para ela e a coloque no viva-voz.


Todos nos sentamos na mesa de reunião, enquanto ela disca.

- Oi, Mia. - A voz dela está firme, como eu achei que estaria. Minha
coisinha é durona.

- Oi, Nick. Como você está?

- Linda, maravilhosa e gostosa, como sempre. E sei que estou no viva-

voz, posso ouvir o eco. Oi Ax, Dan, Ian. Black.

- Como sabia que eu estava aqui?

- Intuição feminina.

- Nós precisamos conversar.


- Não, nós precisamos de terapia. - Todos riem e eu faço a minha melhor

cara assassina para eles.

- Guarde essa língua afiada por um momento e me escute, Black.


- Guarde essa arrogância por um momento e me deixe em paz, Black.

- Deus, você precisa ser sempre tão difícil? - Qual é, estou dando o
primeiro passo aqui!

- Engraçado. Tem mais três pessoas nessa sala e eu não quero matar
nenhuma delas. Será que sou eu a difícil mesmo? Tchau, Mia. Tchau, meninos. -

E desliga.
Acho que isso vai ser mais difícil do que eu imaginava. Quatro pares de
olhos me encaram com um misto de divertimento e pena.

- Você está ferrado, meu amigo. - Axl resume perfeitamente minha

situação, enquanto tenta segurar um risinho.


Não presto atenção em mais nada ao longo do dia, só fico imaginando

formas de fazer a coisinha perceber que eu a amo e vivermos toda essa baboseira
de “Felizes para Sempre” logo.

Com meu plano de guerra traçado, começo a entrar em ação.

Envio 10 dúzias de tulipas, suas flores preferidas, para a casa dos seus

pais. Em cada cartão, coloco um trecho da música que escrevi para ela.

O que qualquer garota normal faria? Derrubaria sua calcinha para mim.

O que a Nicole fez? Mandou para Daniel uma foto das senhoras do asilo

da cidade, cada uma com um sorriso no rosto, segurando um buquê de tulipas.


Próximo passo: Chocolates!

Usei minha influência para entrar em contato com a Kit Kat e fazer uma

encomenda especial. Uma caixa de dois metros quadrados personalizada com


sua foto, seu nome e cheia de todos os tipos de chocolate deles que existem.

O que a Nicole fez?


Doou chocolates para todas as escolas públicas e instituições de caridade

da cidade.
Puta que me pariu, viu?!

O dia da volta da turnê está se aproximando e eu estou um bagaço. Não


consigo me concentrar em nada, não consigo dormir direito, não consigo nem
lembrar as letras das músicas que eu mesmo escrevi!

Tudo isso porque a garota ainda se recusa a falar comigo.

Não quero nem pensar como vai ser esse show de retorno...
Até que uma ideia genial me ocorre. Como não pensei nisso antes?

- Mia! Eu já sei. - Interrompo um amasso dela com Ian, que parece não
gostar muito da minha intromissão. Dane-se! Eles já estão vivendo felizes para

sempre, precisam me ajudar.

- Já sabe o que? Que é um imbecil? Finalmente entendeu.

- Para de ser rabugenta por um segundo e me escuta.

Começo a contar para ela minha ideia genial e, pelo sorriso em seu rosto,

sei que vai me ajudar. Nosso show será transmitido ao vivo para todo o país pela

maior emissora americana, o que significa que passará em Brown River.


1º Passo: Mandar Mia para lá.

Compro as passagens para ela na mesma hora. Sua tarefa? Garantir que a

insana esteja na frente da TV, no canal certo, no horário certo. Tenho certeza de
que ela dá conta, nem que tenha de amarrar Nick.

Humm, Nick amarrada....


Foco, Malcolm. Guarde isso para mais tarde.

2º Passo: Fazer a banda aprender uma nova música.


Eles compram minha ideia na hora e ensaiam como loucos até altas horas

da madrugada, mudando o arranjo original para ficar mais parecido com nosso
som.
Na manhã do show, acordo com um frio na barriga que nunca senti antes

de uma apresentação. Nem quando tocamos com os Rolling Stones. Cara, meu

amor pela coisinha superou meu amor pelo Mick Jagger. Quem diria?!
Fico uma pilha de nervos durante todo o dia. Não consigo comer, não

consigo me concentrar, só percebo que estou andando de um lado para o outro


quando Josef vem até mim e coloca as mãos nos meus ombros, me forçando a

sentar no sofá do escritório.

Mia me manda uma mensagem falando que já está na casa de Nicole, Ian

me ajuda a preparar tudo que vou falar, Axl vai no seu alfaiate buscar um terno

para eu usar e Dan não sai do meu lado em nenhum momento, para evitar que eu

fique louco. Ou que eu morra. Ou que eu mate alguém.

Essa é minha família.


Quando ouço a voz de Boris falando que faltam 20 minutos para o show,

meu coração dá um tranco. Ele passa por mim e aperta meu ombro. - Vai dar

certo, garoto.
Espero que tenha razão, porque não tenho outra chance. Se isso não a

convencer, não sei o que mais eu poderia fazer.


As primeiras músicas do show passam como um borrão para mim.

Desculpa, plateia do Madison Square Garden, mas minha cabeça está lá em


Brown River. Quando chegamos na metade da apresentação, corro para me

trocar e checo meu celular.



“Ela está assistindo. Não estrague tudo.”

Isso, Mia!
Visto o terno, coloco o que eu preciso no meu bolso e volto para fora.

Vou andando devagar pela passarela do palco e me sento na beirada final,


abrindo os botões do paletó. Respiro fundo e olho bem para a câmera na minha

frente.

- Boa noite, Nova York. - Os gritos ensurdecedores do estádio lotado me

fazem sorrir. - Hoje eu tenho uma tarefa um pouco diferente, mas muito especial.

Posso contar com a ajuda de vocês?

Um coro de “SIM” fura meus tímpanos.

Por que a coisinha não pode ser solícita como todas as outras garotas do
mundo?

- Eu estou apaixonado. - Gritos, gritos e mais gritos. - Completamente

insano de amor. Nunca achei que fosse acontecer comigo, mas aconteceu. E foi
como um rolo compressor. Desde a primeira vez que falei com ela, eu sabia. No

fundo, eu sabia que seria ela. Todos que me conhecem sabiam que seria ela, mas
eu me obriguei a não acreditar nisso. - Respiro fundo antes de continuar. - Eu me

obriguei a fingir que nada estava acontecendo, por uma série de razões. A gente
trabalhava juntos... - Os gritos de “Nick, Nick” começaram a surgir nesse

momento e um sorriso gigante rasgou meu rosto. Acho que toda criatura viva
dessa terra gosta dela. - … e eu achava que acabaria a magoando e estragando
tudo. Acontece que eu a magoei e estraguei tudo, enquanto tentava não estragar

tudo. Ela não me pediu nada, só queria a mim. Justo eu, problemático e

perturbado como sou. Eu não estava preparado, mas ela deu um jeito e se alojou
dentro de mim. Quando eu percebi, já era todo dela.

Se essas meninas aqui na minha frente estão quase infartando, é


impossível que ela não esteja nem um pouco comovida, certo? - Ela é

inteligente, divertida, independente, linda e muito gostosa. Não aceita nenhuma

das minhas merdas e é incrivelmente talentosa. Tudo que ela se propõe a fazer,

ela faz muito bem, até me conquistar. É impossível conhecê-la e não gostar dela.

Então, posso dizer que tenho muita sorte de ter sido seu escolhido.

É agora.

Achei que estaria apavorado, mas nunca tive tanta certeza de algo na
vida.

- Sim, eu sou o cara mais sortudo do mundo. Mas ela é a garota mais

brava do mundo comigo agora. E com razão. Então, nossa missão hoje é fazer
com que Nicole Black me desculpe... - A admissão do nome dela provocou os

maiores gritos até agora. Meus fãs estavam comigo nessa. - E com que ela
aceite o que eu vou pedir.

Respiro fundo e me levanto, apoiando um dos joelhos no chão e


dobrando a outra perna. Os gritos chegam a uma quantidade decibéis

inimagináveis. Mais até do que a vez que o Daniel tirou toda a roupa no palco.
Pego a caixinha Tiffany do meu bolso e olho para câmera na minha frente.
- Nicole Black, minha coisinha perfeita. Você me daria a honra de se

casar comigo? - Abro meu sorriso de um milhão de watts. “Covinhas nível

máximo”, como ela diria. Com a multidão me apoiando, dou uma piscada para a
câmera, levanto correndo e vou para o centro do palco, onde os meninos já estão

tocando os primeiros acordes da música que escolhi para hoje.




When your legs don't work like they used to before

Quando suas pernas não funcionarem como antes


And I can't sweep you off of your feet

E eu não puder mais te carregar no colo

Will your mouth still remember the taste of my love

A sua boca ainda se lembrará do gosto de meu amor?

Will your eyes still smile from your cheeks

Os seus olhos ainda sorrirão até suas bochechas?



Flashes do seu sorriso passam pela minha mente.


Um sorriso doce, um sorriso sacana, um sorriso com curvinhas no final...



Darlin' I will be lovin' you till we're seventy
Querida, eu te amarei até que tenhamos 70 anos
Baby my heart could still fall as hard

Amor, meu coração ainda se apaixonará tão fácil

At twenty three
Quanto quando tínhamos 23

Eu vou continuar me apaixonando por ela a cada dia.

A cada coisa que descobrir.

A cada coisa nova que enfrentarmos.


No nosso casamento...

No nosso primeiro filho...



I'm thinkin' bout how people fall in love in mysterious ways

Estou pensando em como as pessoas se apaixonam de maneiras

misteriosas
Maybe just the touch of a hand

Talvez apenas o toque de uma mão


Me, I fall in love with you every single day

Eu me apaixono por você a cada dia


I just wanna tell you I am

Eu só quero te dizer que eu estou


So honey now take me into your lovin' arms
Então, querida, agora me abrace com seus braços de amor

Kiss me under the light of a thousand stars

Beije-me sob a luz de mil estrelas


Place your head on my beating heart

Apoie sua cabeça sobre meu coração palpitante


I'm thinking out loud

Estou pensando alto

Maybe we found love right where we are

Talvez tenhamos achado o amor bem aqui, onde estamos





O amor acabou cruzando nosso caminho, bem onde e quando nenhum
dos dois esperava. Ou melhor. Acabou nos atropelando. Literalmente.



When my hair's all but gone and my memory fades

Quando meu cabelo parar de crescer e minha memória falhar


And the crowds don't remember my name

E as plateias não lembrarem mais do meu nome


When my hands don't play the strings the same way
E minhas mãos não tocarem as cordas do mesmo jeito

I know you will still love me the same


Eu sei que você me amará assim mesmo

Quando eu não tiver mais minha fama, quando eu não tiver mais minha
música, ainda terei ela. Porque tenho certeza de que ela gosta de mim por quem

eu sou de verdade.



I'm thinkin' bout how people fall in love in mysterious ways

Estou pensando em como as pessoas se apaixonam de maneiras

misteriosas

Maybe it's all part of a plan

Talvez seja parte de um plano

I'll just keep on making the same mistakes


Eu continuarei a cometer os mesmos erros

Hoping that you'll understand

Esperando que você entenda




Espero que ela continue sempre me tolerando

Espero que eu continue sempre querendo ser melhor para ela.




And we found love right where we are
E nós achamos o amor bem aqui, onde estamos

- Eu te amo, Nick. Eu te amo pra caralho! - Mais uma ovação louca da


plateia.

- Mal, acho que tem alguém querendo falar com você. - Ian fala no

microfone de Ax, chamando minha atenção, e me mostra seu celular. O

FaceTime mostra a carinha linda da minha Black chorando descontrolada.

Dan vem para a frente e rouba o microfone da minha mão, se dirigindo

para a plateia.
- Oi, Nini! Galera, que tal darmos um pequeno incentivo para a Nick

responder esse pobre coitado logo? Todo mundo gritando comigo. Sim! Sim!

Sim! Sim!

Ian e Axl fazem coro enquanto batem palmas e o rostinho fofo dela se

abre, finalmente, em seu lindo sorriso.

Dan segura o microfone no viva-voz do celular e eu repito a pergunta


apenas mexendo os lábios. - Casa comigo?

- Claro que sim, seu babaca! - Ela grita do outro lado.


- Ela disse sim, porra! - Dan dá um grito no microfone, enquanto todos os

caras vêm me abraçar.


O resto do show é o melhor que eu já fiz na minha vida.
Era ela...

Sempre ela...
E agora ela é minha.

Capítulo 23 - Acompanhante (para sempre) do
maior vocalista da terra

Com as palavras de Mal ecoando na minha cabeça como um mantra,

corro pelos corredores do aeroporto enlouquecida. Preciso pegar o primeiro voo


para NY e encontrar meu noivo.

Meu noivo! Estou noiva de Malcolm Black!

A declaração dele ao vivo, para todo o país, superou todas as minhas

expectativas. Meu ídolo da vida se apaixonou por mim e ainda gritou isso para

quem quisesse ouvir. E para quem não quisesse também.

Desde o show dessa noite, meu telefone não parou de tocar por um
segundo. Até as garotas que eram más comigo na escola acharam que tinham o

direito de vir falar comigo. Para me parabenizar, claro, e em seguida pedir que

eu as apresentasse à banda.

Acho que não, queridinhas.


Finalmente chega a minha vez no guichê da companhia aérea. Um déjà

vu da outra única ocasião que viajei para NY me vem à mente e me faz sorrir.
Aquele dia, meu plano era ficar de frente para o palco e seduzir Mal até

que ele me pedisse em casamento. Não é que quase deu certo?! Só aconteceu
com uns meses e muitos dramas de atraso. Fazer esse caminho hoje, de avião,

sem a chance de nenhuma senhora se perder dentro do posto de combustível e


noiva do amor da minha vida, é muito mais do que eu poderia desejar.
Murphy, desculpe ter duvidado de você. Você é muito sábio.

Acho que minha avó tinha razão quando dizia que tudo que acontece de

ruim na nossa vida, é para melhorá-la. Sou a prova viva disso.


- Preciso de um lugar no próximo voo para NY. - Paro ofegante na frente

da atendente bem arrumada.


- Estamos lotados pelos próximos três dias, senhorita. - Ela nem levanta o

rosto da tela do seu computador.

- Moça, por favor. Pode ser em qualquer classe, mas eu preciso voar hoje.

Ela suspira exasperada, mas se levanta para me encarar. Reconhecimento

brilha em seus olhos e respiro aliviada. Ela é uma fã! - Nick! Nem acredito que é

você! Já assisti o vídeo do Mal umas 20 vezes. Você precisa ir encontrá-lo?

- Sim. Preciso muito! Tem certeza que não tem nenhuma vaguinha?
- Vou dar um jeito, não se preocupe. Você precisa chegar logo até aquele

homem! - Ah, Malcolm Black faz milagres com as mulheres mesmo à distância.

Em menos de quinze minutos estou confortavelmente acomodada na


primeira classe de um voo direto para NY, tudo pelo preço de uma passagem

econômica! Antes do avião decolar, checo meu celular pela última vez. Uma
mensagem de Mal e uma de Dan fazem meu sorriso se ampliar ainda mais.


“Conseguiu o voo? Acho melhor você chegar logo, antes que eu mude de

ideia”.

Esse era o jeito fofo e estranho dele dizer que queria que eu chegasse

logo.


“Já estou dentro do avião. Te vejo logo, meu babaca preferido”.


A de Dan me fez gargalhar sozinha.

“Ninguém aguenta mais esse cara. É bom você chegar logo, ou vai ficar

viúva antes de encontrar seu noivo”.

Digito minha resposta rapidamente.


“Pare de ser um bebê chorão. Estou a caminho.”

Estou voltando para casa. Para onde eu pertenço.


Deixei Mia para trás, para explicar tudo que estava acontecendo aos

meus pais. Mesmo sabendo que isso significa que não vou mais morar com eles,
e nem na mesma cidade que eles, aposto que vão ficar radiantes por mim. Acho

que já tinham desistido da ideia de que eu fosse casar um dia e não dá para negar
que Malcolm é um baita partido. Belinda berrou histérica por cinco minutos no

telefone, mas isso, na sua língua, significa que ela está feliz por mim.
O voo passa como um borrão e só consigo pensar em chegar logo e me
jogar nos braços de Mal. Pego minha mala correndo (Espero que seja a minha

mesmo!) e saio para o portão de desembarque. Uma multidão está parada,

impedindo minha passagem. Já até imagino o porquê.


Parado ali, cercado por fãs e seguranças, está o amor da minha vida.

Vestido com uma calça de moletom, blusa com capuz e boné preto,
provavelmente queria passar sem ser reconhecido. Ele não sabe que um homem

como ele não conseguiria passar despercebido nem se não fosse famoso?! Em

suas mãos, já meio amassada, está uma plaquinha escrita “Black”.

Engraçadinho!

Paro ao lado da muvuca e sorrio para Boris, que me nota primeiro. Ele

discretamente toca no ombro de Mal e aponta com o queixo na minha direção.

Seus olhos se acendem quando me vê e seu sorriso maravilhoso me atinge com


um soco no estômago.

Minha reação é patética, eu sei. Mas esse tempo longe me deixou

totalmente desacostumada com a beleza arrasadora desse babaca.


Ele entrega o papel que estava autografando e se desvencilha da multidão

com ajuda de Boris, vindo na minha direção. Para na minha frente e se vira.
Entendo o recado e pulo em suas costas, me aninhando em seu pescoço e

sentindo seu cheiro bom.


- Você nunca vai cansar de me farejar?

- Nunca. - Sem chances, bonitão.


Entramos por uma porta exclusiva de funcionários e saímos pelos fundos
do aeroporto, até um estacionamento de serviço. Lá está minha linda Kawasaki

preta e reluzente me esperando. - Você trouxe a Beyoncé!

- Beyoncé? - Ele ri com gosto. - Nossa garagem virou o palco do


Grammy.

- Você disse “nossa” garagem?


- Claro. Minha noiva vai morar comigo. - Ele revira os olhos para mim e

me passa o capacete - Ou vai dizer que tem outros planos?

- Eu não ousaria contrariá-lo, Black. - Digo com um sorriso de boa moça,

que o faz gargalhar. Subo na garupa e me agarro feliz a ele. Vejo Boris colocar

minha mala no porta malas de seu carro e acenar sorridente para nós.

Como é bom ter seu corpo perto de novo.

Como eu me sinto bem quando ele está por perto.


Chegando no mausoléu que agora é o meu novo lar, pulo da moto com

pressa, jogando o capacete no chão. Pego Mal pela mão e o arrasto para dentro.

Assim que abro a porta, paro em choque. O que deve ser um bilhão de velas
iluminam todo o ambiente, indo em direção à piscina no fundo da casa. Tulipas

pretas estão espalhadas por todo o caminho.


- Uau...

Vou andando estupefata, até chegar a parte externa e Jack vir até mim
abanando o rabo. Faço carinho em sua orelha, enquanto ainda tento assimilar

tudo. Mais velas iluminam o lugar e tulipas pretas boiam na piscina. Onde ele
conseguiu tulipas pretas? Tulipas pretas existem?
Na frente da água, uma toalha estendida no chão com duas caixas em

cima. Acampamento de pizza, claro. De repente, Ed Sheeran começa a tocar no

fundo. Não o CD, mas a versão em carne e osso. Aceno para ele feliz e
totalmente em choque, e ele retribui com um grande sorriso simpático.

Mal vem na minha direção, com seu olhar mais intenso de predador
dominante. Acho que vai me levar para a coberta, mas o imbecil me pega no

colo e sai correndo em direção a piscina, nos jogando lá.

Uma vez babaca, sempre babaca.

- Porra, Malcolm!

Ele volta à superfície rindo e enfia uma mão dentro do seu moletom,

puxando uma caixinha azul Tiffany molhada. AQUELA caixinha azul Tiffany.

- Eu não poderia fazer isso do jeito convencional, não é? Nicole Black,


coisinha que eu mais amo nesse mundo, você me transformou numa pessoa

melhor. Você derrubou cada um dos meus muros e aos poucos foi se infiltrando

embaixo da minha pele. A vida é muito melhor com você e eu sou egoísta a
ponto de não querer passar nem mais um dia longe. Sou um puta de um sortudo

por ter achado uma mulher tão incrível, que eu admiro desde o dedinho do pé,
até as pontas dos cabelos. Você topa me aturar para o resto da vida?

Dentro da caixinha o anel perfeito. Ouro rosa, com um lindo diamante


preto.

-SIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIM! Mil vezes sim! - Dou um berro e me


jogo em cima dele, afundando a gente e o beijando embaixo da água até nosso
fôlego acabar.

Saímos da piscina para nos secar e ele me passa um roupão quentinho e

felpudo. Ed vem até nós, nos parabeniza com um lindo sorriso, antes de se
despedir e nos deixar a sós.

A visão dele tirando o moletom já me tiraria o ar normalmente, mas o


que eu vejo me faz perder ainda mais o fôlego. Uma tatuagem gigante pega todo

seu peito. Um “Black” enorme e estilizado, idêntico ao meu.

A tatuagem que ele não me deixou ver naquele dia.

- Sim, Rod me mostrou o desenho da sua e eu decidi fazer uma igual.

Acho que uma parte de mim já sabia naquela época. Sou oficialmente uma

fofurinha apaixonada. Pelo menos posso disfarçar e falar que é para a banda.

Mas você vai sempre saber.


Sem palavras, pulo em seu colo e grudo sua boca na minha mais uma

vez.

Ele me ama. Ele me ama para valer, fodidamente para valer.


E aqui começa oficialmente o meu “Felizes para sempre”.

Valeu, Murphy.
Nota da Autora

Poder dividir minha banda preferida com vocês é um sonho que virou
realidade. Por favor, sintam-se à vontade para me contar o que acharam, me

fazer perguntas, ou simplesmente bater um papo comigo!

Vocês me acham aqui:

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E, se quiser mais um pouquinho de Black Road, nossa série tem quatro

livros, um para cada integrante da banda. Todos estão disponíveis no Kindle

Unlimited!
Conto de Fadas Rock’n Roll - O Baixista

Conto de Fadas Rock’n Roll - O Baterista


Conto de Fadas Rock’n Roll - O Guitarrista


Com carinho,
L. C. Almeida

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