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Copyright © 2021 Lily Freitas

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Capa: One Minute Designer

Revisão: Margareth Antequera

Diagramação Digital: Jack A. F.

Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa


obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e


punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Edição Digital ǀ Criado no Brasil

1º Edição

Outubro de 2021
Este livro pode causar desconforto ou gatilhos em pessoas sensíveis
aos temas: violência, tráfico de mulheres, suicídio, assassinato, drogas,
tortura, violência contra a mulher, entre outros assuntos complexos que
envolvem o submundo da máfia.
Se você tiver sensibilidade a algum desses temas, não inicie a leitura.
O universo da máfia relatado neste livro foi uma criação inteiramente
minha, misturando várias informações que retirei das pesquisas que realizei.
Criei para o clã do Paolo toda uma estrutura única.
Cada um dos temas abordados foi tratado com muita
responsabilidade, não existe romantização da violência em que os
personagens estão envolvidos, muito menos maus-tratos em relação a
personagem principal.
Não é um livro dark, A Perdição do Mafioso é um romance intenso,
com cenas fortes e um amor arrebatador entre os protagonistas.
Espero que apreciem a leitura.
Abraços.

Atenção!
Algumas pontas soltas na história de Paolo serão resolvidas no livro 3
da série, pois certo evento será essencial para a história do Domênico.
Paolo Torcasio é conhecido no submundo do crime como um homem
sanguinário e truculento, ele não teme o perigo e sente prazer em levar terror
aos seus inimigos. O poderoso Capo, no entanto, encontra um pouco da sua
humanidade quando o líder da máfia russa lhe oferece uma jovem como
oferta de paz entre as organizações.
Masha é uma delicada garota de cabelos ruivos e olhos corajosos, que
mesmo entre homens perigosos, esconde bravamente o temor pelo que o
futuro lhe reserva.
Atos de bondade não fazem parte da vida de um Capo, mas existe
algo especial na valente ruiva que o impede de deixá-la ser entregue aos
leões.
Em um rompante de insanidade Paolo decide comprar Masha, ao seu
lado ela estará segura, até que complete a maioridade e possa seguir sua vida.
O problema é que a ruiva se transforma em uma bela mulher e passa a
dominar o pensamento dele de uma maneira que nenhuma outra conseguiu.
Será que Paolo conseguirá deixá-la ir, ou vai reivindicá-la como sua?
Aviso Importante
Sinopse:
Prólogo
Capítulo 1 – Não posso voltar para casa
Capítulo 2 – Muito obrigada
Capítulo 3 – Temos piedade?
Capítulo 4 – Inferno vermelho
Capítulo 5 – Fúria
Capítulo 6 – Não te pedi para partir
Capítulo 7 – Ele não te odeia
Capítulo 8 – Ela é minha responsabilidade
Capítulo 9 - Nunca mais me toque assim
Capítulo 10 – Desculpa
Capítulo 11 - Não estou com raiva de você
Capítulo 12 - Odeio a Máfia
Capítulo 13 - Frustração
Capítulo 14 - Você é um perigo
Capítulo 15 - Eu quero você
Capítulo 16 - Preciso te provar
Capítulo 17 - Nunca fez isso?
Capítulo 18 - Tentação vermelha
Capítulo 19 - Ela é perfeita
Capítulo 20 - Sensação estranha
Capítulo 21 - Eu me sinto sua
Capítulo 22 - Eu não sou bom
Capítulo 23 - Quem te autorizou?
Capítulo 24 - O que aconteceu aqui?
Capítulo 25 - Você é minha para cuidar
Capítulo 26 - Prioridade
Capítulo 27 - Irmão
Capítulo 28 - Estamos juntos
Capítulo 29 - Eu te amo Dom
Capítulo 30 - Covarde
Capítulo 31 - Você é a minha paz
Capítulo 32 - Ele a machucou
Capítulo 33 - Capo Sanguinário
Capítulo 34 - É o meu dever
Capítulo 35 - Foi divertido
Capítulo 36 - Entendo
Capítulo 37 - Não posso trair meu Capo
Capítulo 38 - Fim da linha
Capítulo 39 - Vá embora!
Capítulo 40 – Ela é a minha luz
Capítulo 41 – Boo!
Capítulo 42 – Case-se comigo
Capítulo 43 – Vou atirar
Capítulo 44 – A culpa é minha
Capítulo 45 - Surpresa
Capítulo 46 – Família
Capítulo 47 – Fiz por amor
Capítulo 48 - La mia passione
Capítulo 49 – O vestido
Epílogo 1
Epílogo 2
O que vem no próximo livro?
Agradecimentos
Contatos da autora
Não me deixo vencer, debato o meu corpo com força enquanto o
imenso brutamontes me puxa sem nenhum cuidado pelo corredor. Posso até
estar indo para a morte, mas eu lutarei intensamente, assim como lutei nos
últimos anos da minha vida.
— Pare! — grita, interrompendo seus passos e sacudindo o meu corpo
com fúria. — Será que nunca pode fazer o que pedem? — Encaro seus olhos,
escondendo bem fundo o medo que me domina.
— Basta me largar que fico quieta. — O desgraçado abre um sorriso
maquiavélico.
— Desde quando a vadiazinha exige alguma coisa?
Quero chutá-lo, arrancar sua garganta com os dentes, mas ele é grande
demais para mim.
— Vamos, maldita puta! — Ele volta a me arrastar, enquanto eu tento
me agarrar a algo que me ajude a escapar.
Sendo um pouco realista não tenho para onde fugir, desde que
cheguei nesta maldita casa, sou jogada para todo lado por esses marginais.
Eles não me ouvem, mal me alimentam, sou como um bicho para eles, não
passo de uma mercadoria que não vale a pena dar muita atenção.
O infeliz abre uma porta e me empurra para frente. Seguro a barra do
vestido, extremamente curto, que me obrigaram a vestir e ajeito meu cabelo
completamente desgrenhado.
Olho ao redor da sala sob a luz parca e vejo uma mesa central, com
alguns homens sentados. Meu corpo começa a tremer, sei muito bem o que
está prestes a acontecer.
Busco controlar o tremor dos meus lábios e tento estabilizar a minha
respiração, assim como a vontade de vomitar. Independentemente do que eles
façam comigo, eu não vou esboçar nenhuma reação. Posso morrer nas mãos
desses bárbaros, mas morrerei como uma guerreira. Não darei o gosto a
nenhum deles em perceberem o quanto estão me apavorando.
— Aí está a diversão — Yuri comenta com alegria.
Tenho nojo dele, esse bandido me arrancou covardemente da minha
casa e família disfuncional, ele representa tudo de ruim que possa existir no
mundo.
— Venha aqui, pequena, tenho alguém que quer se divertir com você.
Não me movo, meus pés parecem presos ao chão. Por mais que eu
não queira permitir que o pavor me domine, neste momento eu me sinto
completamente amedrontada.
Há uma semana estou presa neste lugar, vendo todos esses homens ao
meu redor, sem conseguir uma oportunidade de fugir. Por várias vezes alguns
deles me fizeram entrar em desespero, insinuando que iriam me estuprar, mas
no final eles apenas riam e iam embora.
Só que agora, vendo o maldito chefe deles com um grupo de bandidos
estranhos, eu sinto que o inevitável está prestes a acontecer.
— Venha aqui, garota! Não vou pedir novamente. — Yuri endurece a
voz.
— Vá sua puta! — Sou empurrada com força pelo homem que me
arrastou até aqui.
Caio de joelhos, sem conseguir me equilibrar nos saltos que me
forçaram a colocar. Nunca usei nada nesse estilo, eu mal tinha roupas quentes
para vestir na minha casa, sapatos altos não faziam parte da minha vida, até
porque eu não gosto de usar algo assim.
— Ela já está de joelhos. — Vladislav, o cruel homem de confiança
de Yuri diz sorrindo e outros vários bastardos do seu bando o acompanham.
— Isso facilita muito, não é mesmo? — Yuri comenta ao me fitar. —
O que acha do presente que tenho para nossa noite, Paolo? — Ele gira o rosto
e encara o homem que está sentado perto dele.
Só agora analiso a sua figura, notando que seu semblante é ainda mais
perigoso do que o bandido que me faz refém.
O estranho tem o corpo forte, cabelos castanho-acobreados, uma
barba espessa e olhar intimidador. Ele veste jaqueta e blusa preta, seus dedos
são enfeitados por anéis de prata e na sua orelha uma argola se destaca
acompanhada de um piercing.
Poderia até se parecer com um astro de rock, se eu não soubesse que é
tão criminoso, quanto Yuri. Só que diferentemente do meu algoz, ele parece
ser muito mais letal.
Nossos olhares se cruzam e o homem me analisa com olhos cerrados,
ele não demonstra nenhuma emoção. Vejo seus dentes trincarem e na
sequência amassa em um cinzeiro o cigarro que pendia entre seus dedos.
— O que significa isso? — pergunta a Yuri com uma voz grossa e
gélida.
— Depois dos negócios, o prazer — sorrindo, o crápula o responde.
— Ela é mercadoria fresca, está aqui para nos divertir, obtive em troca de
uma dívida — diz com prazer. — O pai dela é um maldito viciado em jogos,
ficou me devendo um serviço e eu peguei a bonequinha como pagamento.
Meus olhos marejam quando lembro da minha desgraça. Eu me sinto
tão humilhada em ter sido moeda de troca pelo meu próprio pai. Ele me
vendeu a esse maldito homem sem pensar duas vezes.
— Quantos anos a ragazza[1] têm? — o homem pergunta sem
esconder a irritação.
— E o que isso importa? — Yuri retruca. — Ela sabe ajoelhar, não
vê? — Estende o braço na minha direção. — Quando elas aprendem a
ajoelhar, já estão prontas.
Várias gargalhadas soam pela sala vindas dos homens de Yuri, porém
os outros bandidos, que parecem pertencer ao italiano, permanecem
carrancudos.
— Tragam essa vadia até aqui! — o infeliz do russo ordena e mãos
fortes me erguem, arrastando o meu corpo trêmulo para perto da mesa. — Ela
é virgem, o pai me garantiu, reservei para nos divertimos hoje, desejo
demostrar que quero uma trégua entre nossos grupos — diz quando paro na
sua frente. — Quando foi à última vez que fodeu uma virgem, Paolo? Elas
estão em extinção, em especial na idade dessa vadia. — Yuri ergue a mão
nojenta pela minha coxa e em seguida olha para o homem que não para de me
encarar. — Se me oferecer um bom dinheiro, deixo ser o primeiro.
Vejo as mãos do tal Paolo se fecharem em punho sobre a mesa e seus
olhos prendem os meus. Ele parece estar se contendo, assim como eu estou
fazendo um esforço descomunal para não vomitar com o carinho que recebo
na minha coxa.
— Quanto quer por ela? — o homem pergunta e me faz estremecer.
Porco! Ele é tão podre quanto esse maldito lunático que me
aprisionou neste lugar nefasto. Busco dentro de mim forças para não desabar
no chão com o horror que sinto ao saber o que está prestes a acontecer
comigo.
Olho em volta tentando achar alguma arma livre, eu prefiro me matar
a ter qualquer um deles subjugando meu corpo.
— Eu sabia que não perderia a oportunidade de ser o primeiro, você
nunca decepciona. — Yuri solta uma gargalhada diabólica.
— Você não me entendeu. — A voz de barítono do enigmático
italiano soa mais alta. — Quero saber por quanto vende a ragazza apenas
para mim.
Arregalo os olhos, sem acreditar no que ouvi.
— Quer ela só para você? Não acredito nisso. — A diversão na voz
do Yuri me causa nojo. — Vamos dividi-la, Paolo, eu estou de pau duro por
essa vadia desde que a peguei. Apenas a guardei até agora porque eu quero
mostrar que estou disposto a manter a paz com seu clã. — Ele aperta a minha
coxa com tanta força que solto um gemido de dor.
Por mais que eu não queira, meus olhos lacrimejam, não só pela dor,
como também pelo nojo que sinto de todos esses homens me olhando como
se eu fosse um pedaço de carne.
— Vamos, dê o seu preço, preciso ir embora e não tenho tempo para
brincadeiras. — O homem levanta, demonstrando impaciência. — Qual o
valor por ela? Não me faça perguntar novamente — sibila em tom
ameaçador.
Pela primeira vez, desde que cheguei aqui, vejo Yuri desconfortável,
pelo jeito seu parceiro de negócios tem mais poder que ele.
— Quero cem mil euros. — Olho para o bandido em choque.
O que ele pensa que está fazendo? Esse desgraçado só pode ser louco,
será que realmente acha que vai receber essa fortuna?
— Que porra é essa, Yuri? — Vladislav bate sobre a mesa irritado. —
Estamos aterrorizando essa vadia por uma semana esperando o momento de
experimentar a mercadoria e vai vendê-la para o italiano?
— Eu sei o que faço.
— Se soubesse não estava se humilhando para o inimigo. — Yuri
levanta inesperadamente e agarra Vladislav pela blusa.
— Cale a sua boca ou eu acabo com você agora mesmo. — Os dois se
encaram furiosamente.
— Ela é nossa, não vai vendê-la.
— Quem manda aqui sou eu — diz ao empurrar o comparsa com
força. — Se quiser ela é sua, Paolo.
— Pague-o Domênico. — Fito o italiano pasma. — Agora tire as
mãos da minha ragazza, ela me pertence.
Com toda segurança ele se aproxima de mim e me puxa para perto do
seu corpo grande.
— Não volte a se meter no meu caminho. Desta vez eu aceitei a sua
proposta e negociei, mas da próxima eu acabo com todos os seus negócios
sem piedade. Roma é minha, a Bratva[2] não vai se meter no que eu controlo
— Yuri não diz nada, apenas o observa com o rosto tenso. — Adiamos[3]
ragazza — ordena ao me puxar pelo braço sem nenhum cuidado.
Tropeço atrás dele e sinto alguns dos seus homens nos seguindo. Meu
corpo começa a tremer, pois, de alguma maneira sei que caí nas mãos de
alguém pior que Yuri.
Quando saímos da casa, onde passei uma semana como prisioneira,
um carro preto para à nossa frente e eu sou arrastada para dentro do veículo.
Paolo senta ao meu lado e solta uma respiração ruidosa.
— Vá embora o mais rápido que puder — diz ao motorista e corre a
mão cheia de anéis pelo cabelo ao fechar os olhos. — Pare de tremer,
ragazza, agora você está segura — ordena sem me olhar e tira do bolso
interno da jaqueta um pequeno cantil de prata, para logo em seguido sorver
longamente o líquido que está dentro.
Olho para o seu perfil e, por mais que tenha dito que estou segura,
sinto dentro do meu coração que nunca estive tão em risco como agora.
Senhor! O que vai ser de mim ao lado desse homem?
Entro em casa sentindo a fúria me consumir. A minha vontade era
exterminar Yuri e todos os seus homens, mas não posso no momento entrar
em atrito com a Bratva. Já estou com muita merda para resolver depois dos
confrontos acirrados que tivemos nos últimos meses, uma guerra violenta
com os russos só foderia a minha vida.
Os passos suaves às minhas costas me lembram da confusão que me
meti. Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando decidi comprar a
pequena ragazza, mas vê-la tão jovem e vulnerável no meio daqueles abutres,
provocou uma ira insana que foi impossível controlar.
Tenho três irmãs e não gosto de imaginar que alguma delas pudesse
estar nas mãos de russos, prestes a ser violentada. Eu não sou um homem
com bons antecedentes, mas tenho certos limites e, violar mulheres, é um
deles.
Paro no meio da sala e inspiro fundo, estou muito fodido com essa
menina na minha casa, mas hoje não irei pensar no assunto. Estou exausto
demais, amanhã converso com a bambina[4] e vejo a maneira mais rápida de
devolvê-la à sua família.
— Domênico, chame Mirta e peça para ela acomodar a ragazza.
— O.k. — Ele rapidamente segue pelo corredor.
— Pode sentar e pare de me olhar assim, eu não vou te devorar. —
Sigo para o bar e pego um pouco de uísque. — Como se chama? —
Experimento a bebida enquanto encaro o seu rosto.
Ela tem uma beleza excêntrica, com seus cabelos ruivos compridos,
sardas ao longo do nariz pequeno e os olhos em um tom de azul-claro.
A bambina apesar de franzina exibe um olhar corajoso, desde que
coloquei meus olhos nela, só a vi se desestabilizar quando Yuri a tocou na
coxa de uma maneira suja.
— Sou Masha — diz com um fio de voz, tentando esticar o indecente
vestido que uma menina jovem como ela não deveria usar.
— Quantos anos tem bambina? — pergunto querendo ter certeza das
minhas suspeitas.
— Fiz dezessete há três dias. — Os olhos dela marejam, pois, seu
aniversário foi feito enquanto era prisioneira daquele stronzo[5].
Inspiro fundo, tentando conter a vontade de voltar ao covil de Yuri e
cortá-lo ao meio. Ela é uma menina ainda e aquele infeliz ia oferecê-la a todo
o seu bando.
Eu não sou um homem bom, na verdade, existe apenas um lugar
neutro dentro de mim, que reservo exclusivamente para minha mãe, irmãs e
qualquer criança. Nesta bolha longe da minha maldade, eu consigo ter
serenidade e empatia.
Desde que eu passei a foder mulheres, eu nunca estuprei uma, todas
estiveram comigo porque queriam e eu fui homem suficiente para dar prazer
a cada uma delas.
Ver essa menina franzina prestes a enfrentar quinze homens sobre o
seu corpo frágil, quase me fez declarar guerra aos cachorros russos sem medir
as consequências.
Eu sou a porra de um mafioso, não estuprador de menores, não sinto
prazer nesse tipo de atrocidade, gosto de ouvir minhas mulheres gemendo de
prazer sob mim.
— Maldito Yuri! — blasfemo e bebo de uma só vez o resto do meu
uísque. — Fique calma, aqui ninguém vai te ferir, Mirta irá te levar para o
quarto de hóspedes e amanhã comprarei roupas para você e veremos como
encontrar sua família.
— Não quero voltar para a minha família — ela diz rapidamente.
— Como é? — pergunto confuso.
— Meu pai vai me vender novamente, ele é viciado em jogos, álcool e
drogas, aquele maledetto[6] não tem nenhum escrúpulo, prefiro morar nas
ruas a ter que vivenciar todo o inferno que eu passava em casa.
Pego outra dose dupla de uísque e sorvo a bebida enquanto avalio sua
expressão.
— E sua mãe? Você tem algum irmão? Como seu pai se envolveu
com Yuri? Por acaso é russa? O seu nome não é italiano, mas você fala o
idioma com perfeição.
— Não sou russa, nasci na região da Calábria, na capital Catanzaro.
Meu nome é Masha porque foi uma homenagem à médica que realizou meu
parto, a minha mãe quase morreu, mas a obstetra fez o impossível e salvou
nossas vidas.
Ela olha para o chão, claramente emocionada com a história do seu
nascimento.
— Meu pai é um bandido que vive prestando serviços ilícitos para
sobreviver. Ele é bom com assassinatos e investigação. Vários grupos
criminosos o contratam, não sei muito sobre o passado dos meus pais, eles
nunca contavam nada para os filhos, mas pelo que entendi meu pai cresceu
no mundo do crime.
— Então, seu pai não faz parte de nenhuma máfia ou grupo de
traficantes?
— Não. — Ela balança a cabeça e seu cabelo ruivo se movimenta. —
Ele sempre trabalhou sozinho, mas com o tempo ficou viciado em jogos e
depois drogas. Aí ele perdeu o controle e passou a ser mau para toda a nossa
família. A minha irmã também foi vendida para pagar uma dívida, nunca
mais ouvimos falar dela, meu irmão fugiu de casa há dois anos e minha mãe
se entregou às drogas quando a depressão ficou insuportável, após perder os
dois filhos sem poder evitar e ver meu pai se transformar em um monstro. —
Rapidamente ela seca as lágrimas que despontam dos seus olhos.
Dio Santo[7]! Que vida de merda dessa ragazza.
— Por favor, me deixa ir embora, não posso voltar para casa. — O
seu desespero faz algo estranho estalar dentro de mim.
— Já ouvi. — Ouço a voz irritada de Mirta falando com Domênico.
— Estou aqui — diz me olhando irritada vestindo um roupão por cima da
camisola.
O complicado de você manter uma governanta que te criou, é que ela
se acha dona de tudo. Mirta precisa ser tratada a braço curto, porque se eu der
espaço, ela joga seu humor maldito nas minhas costas.
— Muito bom — digo friamente. — Leve a ragazza para um dos
quartos de hóspedes, tente arrumar algo seu para que ela vista antes de
dormir, amanhã providencie roupas novas para ela.
Mirta joga os olhos em Masha e enruga o nariz com desgosto ao ver o
tamanho do seu vestido.
— Agora eu serei babá das suas... — Para a sorte dela segura o resto
da frase — Vai passar a desrespeitar seu lar? — Com altivez ela me fita. —
Essa bambina ao menos é maior de idade? Até onde sei o senhor não se
envolve com meninas.
O meu sangue ferve e sinto vontade de voar no pescoço dessa
atrevida, confio em Mirta de olhos fechados, por isso ainda trabalha para
mim e mora na minha casa desde que ficou viúva, mas ela tem a língua
grande.
— Mirta... — Domênico a repreende, como sempre ele tenta controlar
os nossos atritos.
— Cale essa sua boca grande e leve a ragazza para o quarto, não te
pago para me contestar, porra!
Os olhos dela ficam injetados e, apesar de querer debater, chama
Masha e começa a subir as escadas.
— Um dia perco a cabeça com ela. — Assumo a Domênico.
— Mirta foi acordada, está de mau humor, releve.
— Relevo caralho nenhum. — Coloco uma dose para ele e reforço a
minha. — A ragazza tem uma vida fodida, não sei o que vou fazer com ela.
— Como assim? — Domênico pergunta intrigado.
Conto tudo o que ela me confessou e, assim como eu, Dom fica
chocado com a história.
— Puta que pariu! — exclama furioso. — Que homem maldito.
— Conhecemos muitos como ele, nossos pais não eram diferentes —
digo com amargor.
— Para mim, vender uma filha por causa de dívidas é demais. —
Dom é meu Consigliere[8] e, assim como eu, tem seu lado neutro, onde
abusar de mulheres não é tolerável.
Eu gosto da maldade, não sou piedoso com os meus inimigos. Quando
entro numa luta espero ver muito sangue, no entanto, gosto de um embate
com quem pode me enfrentar no mesmo nível, abusar de mulheres não está
na minha lista de confrontos prazerosos.
— Eu tô fodido com a ragazza, amanhã vou ter que encontrar um
destino para ela. — Que merda eu me meti.
Sempre me orgulhei por não permitir que as emoções me dominem,
só que hoje eu não sei que caralho me deu para virar um maldito anjo
salvador.
— Vá tentar dormir, hoje o dia foi foda, ambos estamos com a cabeça
quente.
— Você tem razão. — Pouso meu copo sobre a mesa de centro. —
Resolverei a vida dela logo cedo, não posso mantê-la aqui.
— Então nos vemos amanhã. — Dom acena e vai embora.
Começo a subir as escadas e vejo Mirta com o rosto contrito pisar no
primeiro degrau para descer.
— Não me olhe assim — falo continuando a subir. — Do jeito que te
conheço sei que não deixaria a ragazza ser estuprada por quinze homens. —
Mirta arregala os olhos horrorizada. — Pois então, milagrosamente hoje me
tornei uma boa pessoa e a livrei disso, então seja empática com a menina, ela
tem uma vida fodida.
— Eu não sabia. — Seus olhos suavizam.
— Agora sabe e cuide da ragazza, amanhã verei que destino ela terá.
— E a família dela? — Trinco os dentes ao lembrar tudo o que Masha
me contou.
— O pai a vendeu para Yuri.
— Oh! — Mirta exclama chocada ao colocar a mão sobre o peito.
— Preciso descansar, estou o dia todo na rua, veja se ela tem fome,
pelos ossos pontudos da sua clavícula aqueles abutres não a alimentavam
direito.
— Não se preocupe, eu cuidarei dela com todo carinho.
Continuo subindo, não rebato seu comentário, Mirta tem amor no seu
coração, vai saber ser atenciosa com Masha, o que não é o meu caso. O
máximo que eu posso fazer é mantê-la segura, de resto, não me importo.
Esfrego o rosto em algo macio, eu me sinto tão quente, a sensação é
boa demais. Minhas pálpebras se abrem e pisco confusa. Olho ao redor
tentando assimilar a realidade e sinto meu corpo estremecer ao lembrar de
Yuri e seus homens nojentos.
Ergo rapidamente o tronco sentindo o medo me consumir, mas então
noto que estou em um quarto extremamente elegante.
A minha cabeça volta a funcionar e me recordo que fui comprada por
um provável mafioso italiano que, surpreendentemente, foi um homem
decente comigo.
— Ah! Vejo que acordou. — Mirta entra no quarto. — Bom dia,
bambina.
Olho para ela desconfiada, no primeiro momento Mirta foi muito
grossa comigo, do nada voltou com comida e sendo extremamente doce.
Essa mulher é estranha.
— Bom dia — sussurro ainda incerta com sua simpatia.
— Consegui uma roupa para você, Adria, uma das empregadas, me
emprestou, ela é quase do seu corpo, acho que vai servir até irmos comprar
roupas novas.
— Obrigada. — Seguro a bolsa que ela me entrega.
— Se arrume rápido, o café já está servido, assim que comer vamos às
compras, chefe Paolo já deixou um carro a nossa disposição.
Arregalo os olhos, porque não imaginava que aquele homem de olhar
cruel, pudesse ter esse tipo de gentileza.
— Serei rápida — afirmo ao me levantar da cama.
— Quando terminar siga à direita depois de descer as escadas, é onde
fica a mesa do café.
Aceno para ela e vou ao banheiro. Nunca tive um banheiro privado,
estou me sentindo neste momento alguém muito chique.
Faço toda a minha higiene matinal, depois penteio o cabelo e visto as
roupas que Mirta me trouxe. Elas ficam largas, mas é melhor do que aquele
vestido indecente que fui obrigada a vestir. Como não tenho outro sapato,
calço a merda dos saltos que me fazem andar como uma estátua.
Desço lentamente as escadas, me escorando no corrimão com medo
de sair rolando. Quando chego embaixo, sigo na direção que Mirta indicou.
Encontro uma mesa farta e meu estômago se agita, nunca vi tanta
comida assim em minha vida. Olho ao redor e não vejo ninguém, fico em
dúvida se devo ou não me sentar e começar a comer.
Como Mirta disse que o café estava servido, eu me aventuro a
começar me servir.
Dez minutos depois eu estou farta e ainda assim pego mais um pedaço
de queijo. Isso é o paraíso na terra, acho que eu morri nas mãos do Yuri e,
Deus decidiu me recompensar com um banquete.
— Já acabou? — Levo um susto com a chegada repentina de Mirta.
Ela deve ter uns sessenta anos, tem os cabelos grisalhos, nariz fino,
corpo esguio e uma postura elegante.
— Sim — digo ao mesmo tempo em que tento engolir o queijo. —
Tudo estava delicioso.
— Que bom, agora podemos nos aventurar nas compras, Paolo quer
conversar o quanto antes com você, então é bom sairmos logo, porque o
chefe não sabe esperar. — Ela revira os olhos.
Não faço nenhum comentário, apenas me levanto e a sigo em direção
à porta da frente.
O mesmo carro preto que nos trouxe ontem nos aguarda e quando
entramos no veículo o motorista me cumprimenta com um leve aceno. Ele é
bem grande, parece até um lutador de boxe. Do seu lado outro homem tão
grande quanto ele está acomodado e não se dá ao trabalho de falar comigo.
Paramos em uma elegante loja e Mirta sai na frente toda saltitante. Eu
fico em choque quando uma infinidade de roupas é disposta à minha frente.
— Pra que tudo isso? — pergunto enquanto a vendedora vai pegar
mais roupas.
— Paolo não deu valor para gastarmos, disse apenas que
comprássemos o que você precisasse.
— Eu não preciso de tudo isso.
— Toda mulher precisa de muitas roupas, agora vá experimentar esse
vestido aqui, é lindo.
Uma hora depois, tenho dez bolsas com roupas e sapatos. O homem
que estava ao lado do motorista e que descobri através de Mirta se tratar de
um segurança, pega as bolsas e segue para o carro.
A minha aventura ainda não está encerrada, agora seguimos para
outra loja em busca de lingerie.
Eu fico de boca aberta com as diversas peças que a vendedora mostra
e escolho algumas que gosto. Mirta escolhe outras e saímos da loja com mais
bolsas. Como eu disse que queria um tênis, nos encaminhamos para mais um
estabelecimento e acabo comprando três modelos lindos.
Saio da loja sorrindo, nunca em toda a minha vida eu fiz compras
como hoje. Em geral, minhas roupas eram surradas, meu pai só se dignificava
a comprar novas quando as minhas já estavam rasgadas.
Voltamos à casa de Paolo lotadas de bolsas e acabamos precisando da
ajuda do motorista e do segurança para levarmos tudo para o meu quarto.
Assim que ficamos sozinhas, Mirta começa a tirar as roupas e falar sem parar.
Ela mudou completamente, não lembra em nada a mulher sisuda que
me recepcionou ontem à noite.
— Vista a calça com essa blusa, vai ficar linda.
Olho para a calça jeans clara e o cropped preto, ele é lindo, tem uma
cordinha entre os seios, que dá para puxar e fazer um charmoso franzido.
Gosto da dica dela e sigo para o banheiro.
Quando volto me sinto outra pessoa, sequer consegui me reconhecer
ao olhar meu visual no espelho.
— Você está divina, bambina. — Mirta segura minha mão e me faz
rodar. — Chefe Paolo vai ficar satisfeito com seu novo visual.
— Ele é um mafioso? — pergunto com um fio de voz, temendo estar
me metendo em mais uma confusão ficando na casa deste homem.
— Aprenda a fazer menos perguntas, isso será bom para você. — Ela
pisca. — Vamos descer.
Pela sua resposta enigmática tenho a certeza de que ele é mafioso sim,
até porque se ele não fosse um jamais teria coragem de tratar Yuri com tanto
desrespeito.
Sigo Mirta para o andar de baixo, ela me pede para esperar na sala e
some por um corredor. Olho atentamente o ambiente, ontem não tive tempo
de avaliar absolutamente nada com todo o meu nervosismo.
A sala é toda em mogno escuro, pesadas cortinas pendem das janelas
e muitos quadros, que devem custar uma fortuna, enfeitam as paredes.
Um carpete branco cobre boa parte do chão da sala e belos enfeites
estão dispostos pelos móveis. É uma casa elegante e bem masculina, não tem
nada na decoração que insinue algum toque feminino. Pelo jeito ele não é
casado.
— Venha, bambina, Paolo vai recebê-la.
Rapidamente vou atrás dela e Mirta abre uma pesada porta de
madeira. Meus olhos aflitos encaram os dela e recebo um sorriso simpático, a
sua mão cai nas minhas costas me empurrando delicadamente para frente.
Forço os meus pés a moverem, com passos incertos entro no
escritório. No primeiro momento meus olhos caem para o homem chamado
Domênico, pelo que entendi ele é o braço direito de Paolo.
O homem me encara serenamente, seus olhos são misteriosos, mas de
alguma maneira eu sinto confiança nele. Domênico não parece ser o tipo de
bastardo que me machucaria como Yuri.
Lanço a ele um sorriso tímido e corro meus olhos mais a frente, para o
carrancudo homem que me fita com sobrancelhas enrugadas. Paolo desliza os
olhos por meu corpo, ele parece me avaliar atentamente. Depois faz o
movimento contrário até que seu olhar escrutinador está nos meus.
Fico parada sem saber exatamente o que fazer. A maneira que ele me
encara é intimidadora, a grande verdade é que tudo nesse homem parece
ameaçador.
— Sente-se, ragazza, precisamos conversar — por fim diz com sua
voz grossa.
Ele aponta uma cadeira e eu sigo para o local que indicou. Desabo no
estofado sentindo meu corpo todo trêmulo, estou nas mãos desse homem e
pelo seu olhar frio, acho que não vou gostar do que vai me falar.
Domênico senta ao meu lado, ele está tranquilo e sua expressão é
neutra. Acabo me sentindo ainda mais insegura, com esses homens grandes
ao meu lado.
Os dois são bonitos e representam bem a imagem de perigo.
Domênico é muito alto, tem o cabelo dourado comprido, aprisionado em um
coque fashion e seu nariz é fino e longo. Seus lábios são extremamente
rosados e os olhos de um azul profundo. Ele tem características meio
aristocráticas, é elegante por natureza, mas curiosamente tem um lado
rebelde, com piercing na sobrancelha e os brincos nas orelhas mostram essa
faceta da sua personalidade.
Já Paolo tem uma beleza rude, com uma barba densa, também tem
piercing na sobrancelha e na orelha, e uma argola de prata com um crucifixo
pendurado em uma delas chama atenção. Seus olhos são verde-escuros e seu
cabelo castanho-acobreado está impecavelmente arrumado, com algum tipo
de pomada fixante.
Ele está com uma camisa cinza, de mangas arregaçadas, mostrando
suas tatuagens nos braços e um colete de seda preto abraça seu tronco. É o
exemplo da elegância, nada nele está fora do lugar.
Ambos são a representação perfeita da imagem dos mafiosos que
tanto se ouve falar. São lindos, finos, misteriosos e com uma aura forte de
perigo. Posso até estar enganada, mas os dois aparentam estar na casa dos
trinta anos.
— Dormiu bem? — Domênico quebra o silêncio.
— Como não dormia há anos. — Assumo.
— Muito bom. — Ele acena satisfeito, parece mais acessível que o
chefe. — Vejo que foi às compras. — Seus olhos correm por minha roupa,
mas não é um olhar de cobiça igual aos que eu recebia enquanto era
prisioneira dos russos.
— Mirta que escolheu essa roupa — digo sem graça, com medo de ter
exagerado no visual.
— Não sabia que ela tinha bom gosto para roupas, você está linda. —
Ergo os olhos na direção de Paolo, querendo ter certeza se ele soltou um
rosnado com o elogio do seu parceiro. — Gastou bem o dinheiro do Paolo?
Eu espero que você tenha voltado com muitas roupas — Domênico comenta
provocativamente.
— Acabou seu show de comédia? — Paolo pergunta com a voz
rascante.
— Ainda tenho alguns atos a encenar, mas posso esperar para
terminar depois. — Pelo jeito Domênico não se intimida com o olhar feroz do
homem a nossa frente.
— Cale-se! — Paolo põe as mãos no braço da cadeira. — Você tem
algum familiar que podemos entrar em contato fora os seus pais?
— Não. — Ele ergue uma sobrancelha, esperando eu falar mais
alguma coisa, no entanto me mantenho calada.
— E seu irmão? Não tem ideia de onde está? — Balanço a cabeça
negativamente.
— Os seus pais são italianos? — Domênico pergunta.
— Sim, meus pais nasceram em Milão.
— E realmente não existe nenhum parente deles por lá que possa te
abrigar?
— Na verdade, não. Nunca tive contato com nenhum familiar dos
meus pais. Apenas sei que minha mãe brigou com a família para ficar com
meu pai, desde então ela não tem contato com qualquer parente. Já, meu pai,
nunca nos contou nada sobre sua vida, praticamente não sei nada sobre o
passado deles, não gostavam de falar.
— Entendo. — Domênico olha para o chefe. — Isso vai ser mais
difícil do que pensamos. — Os dois trocam um longo olhar.
— Eu posso trabalhar aqui, faço qualquer coisa, só não posso voltar
para minha casa. — Praticamente imploro que me abriguem, não quero mais
voltar para aquele inferno de vida.
Paolo corre a mão pelo cabelo, claramente está descontente com a
minha presença. Sinto meu coração disparar, com medo dele me colocar para
fora ou decidir me devolver.
— Você está na idade de estudar, não trabalhar, ragazza — diz
irritado.
— Masha, pode nos dar um tempo? Preciso conversar em particular
com Paolo, assim que eu terminar Nicolo vai te chamar.
Levanto e saio em silêncio do escritório aflita.
Fico na sala por uns dez minutos, até que sou novamente guiada ao
escritório e encontro Domênico sentado no mesmo lugar, enquanto Paolo está
na janela, com um cigarro na boca.
Com um gesto, Domênico me chama para sentar, obedeço e me
acomodo ao seu lado. Um discreto sorriso brinca nos seus lábios e isso me
deixa mais calma.
Paolo se aproxima da mesa e apaga o cigarro, ele me fita de um jeito
estranho, antes de sentar e apoiar os cotovelos sobre a mesa de madeira,
posicionando as mãos em formato de triângulo.
— Você vai ficar comigo por enquanto, não vou te deixar na rua
podendo ser alvo dos russos novamente. — O meu corpo é inundado pelo
alívio.
— Eu vou poder trabalhar aqui?
— Você vai estudar, nas horas vagas Dom encontrará algo para você
fazer. Quando for maior de idade e terminar a escola, escolhe qual destino
seguir.
— Muito obrigada mesmo, eu não sei nem o que falar. — Olho feliz
para Domênico, que aperta os lábios para não sorrir da minha extrema
alegria.
— Aqui na minha casa existem regras, Masha, e você vai ter que
seguir todas. — A voz de Paolo é dura. — Não gosto de desobediência,
minha palavra é lei e tem que ser cumprida por todos. Tudo o que ver aqui
não deve ser dito a ninguém, eu posso ser pior que Yuri. — Engulo em seco.
— Por mim tudo bem, eu sou naturalmente obediente e de confiança.
— É mentira só a parte da obediência, mas ele não precisa saber disso, vou
me esforçar para não o aborrecer.
— Você estudava antes de ser vendida? — A maneira que ele fala me
deixa completamente diminuída.
— Eu estudava sim, ano que vem encerro o ensino médio.
— Ótimo. Vou providenciar uma nova escola e ver como faço o
quanto antes para você ter novos documentos.
— Tudo bem. — Estou tão feliz, que minha vontade é beijar Paolo,
mas não posso ir tão longe.
— Acabamos por aqui, pode ir para o seu quarto. Se eu precisar de
você, mando chamá-la.
— Posso ir atrás da Mirta? Não quero ficar sozinha.
— Faça como quiser — responde com desinteresse.
Sorrio para Domênico antes de sair, não sei o motivo, mas gosto dele.
Algo me diz que seremos grandes amigos, já não digo o mesmo de Paolo,
esse parece que me odeia.
Bato com força o copo de uísque puto demais, acabo de entrar em
uma enrascada e, boa parte da culpa é da pessoa que deveria me ajudar a
tomar decisões no mínimo razoáveis.
— Paolo, você está agitado demais, não precisa... — Ergo um dedo o
paralisando.
— Calado! — ordeno irritado. — Por sua causa eu estou com um pau
imenso atolado no meu rabo — esbravejo.
— Ma che palle,[9] Paolo! Não podíamos abandonar a bambina a
própria sorte.
— Quem disse que não?
Sei que Domênico está certo, ela é frágil demais para enfrentar o
mundo lá fora, mas eu sou o caralho de um Capo[10], não faço caridade
porra!
— Nós tomamos a decisão certa.
— Desde quando temos piedade, Dom? Essa menina pode ser um
símbolo de fraqueza para nossos adversários. — Ele prende os lábios,
sabendo exatamente o que estou falando.
— Não será — afirma convicto.
— Uma hora alguém saberá que ela está aqui e eu terei que dizer o
que está acontecendo.
— Relaxa. — Domênico cruza as pernas sorrindo. — Você apenas vai
dizer que a comprou e que lhe pertence. — Ergo as duas sobrancelhas. —
Ninguém vai questionar uma propriedade sua.
— Está querendo insinuar que devo dizer aos conselheiros [11]que eu
estou fodendo uma menor de idade? — A minha voz sai mais áspera do que o
necessário.
— Todos eles já foderam mulheres na idade dela, não vamos fingir
que alguns daqueles merdas prestam.
— Mas eu não sou eles, porra! — Onde esse infeliz está com a
cabeça?
— Não é, mas para não ter dor de cabeça você pode fingir ser.
— Jamais farei isso. — Pego um cigarro. — Eu tenho meu próprio
código e nele eu não fodo meninas menores de idade.
— Caralho! Como você é difícil. — Ele solta uma ruidosa respiração.
— Basta dizer que a comprou e ainda não usou sua mercadoria. — Faço uma
careta com o linguajar dele.
Porra! Eu tenho três irmãs e não gostaria de ouvir alguém se referir a
alguma delas assim.
— Se você mantiver a Masha longe do conhecimento dos
conselheiros[12], não terá problemas.
— Que péssima ideia a deixar aqui — sinto que entrei em um grande
problema. — Giorgio a verá e ele pode contar a alguém.
— Ele é de confiança, basta silenciá-lo — diz com segurança. — O
que uma menina tão frágil quanto ela pode causar de mal? Você está
preocupado sem motivos. — Como eu gostaria de pensar como ele. — Posso
ficar com Masha se assim preferir, eu gostei da menina, ela tem algo especial
que não sei explicar.
Lanço um olhar mortal em sua direção, jamais permitirei que ela fique
sozinha com esse cretino. Apesar de confiar minha vida a Domênico, nós
dois crescemos juntos, por isso eu sei que ele tem alguns graves defeitos,
entre eles é não resistir a uma boceta nova. Nunca o vi com uma menor de
idade, porém apesar de jovem demais Masha já é um pacote de tesão que
perturbou até mesmo a mim.
— Eu comprei, eu fico com ela. — Vou usar a lógica dele. — Agora
vamos embora, precisamos ver com Giorgio os contratos com os restaurantes,
temos muito que fazer.
Encerro a conversa e saio do escritório. Nicolo me acompanha de
perto. Depois terei uma conversa com ele e meus outros soldados[13] que
fazem minha segurança, por enquanto não quero que ninguém saiba sobre a
presença da Masha aqui.
Quando chego à sala, me deparo com ela descendo as escadas. Não
me controlo e admiro seu cabelo ruivo caindo sedoso por seus ombros.
Seus olhos encontram os meus e ela paralisa, mesmo eu garantindo
que está segura aqui, o medo de que eu faça algo ainda está presente. Masha
tem razão em me temer, se eu quisesse poderia ser o seu pior pesadelo.
Mirta escolheu uma péssima roupa, não gostei nada de vê-la com a
pele da sua barriga exposta. Esta casa está sempre repleta de homens e eu não
quero nenhum deles esticando os olhos para o seu corpo juvenil.
— Algum problema, Nicolo? — pergunto ao meu soldado que
rapidamente se recompõe e fecha a boca após babar por ela.
— Não, senhor. — Ele abaixa a cabeça.
— Masha, avise Mirta que não venho para o jantar, hoje é só você.
— Tu... tudo bem. — Ela gagueja.
— Vamos. — Sigo com passos pesados para a porta.
— Nos vemos amanhã, Masha, peça para Mirta te mostrar a sala de
cinema, você pode se divertir lá.
— Obrigada. — A voz dela é animada ao falar com Domênico.
— Quero você longe dela. — Aviso quando saímos. — Eu te conheço
bem.
— O que exatamente está querendo dizer? — Sua voz tem uma
reprovação velada. — Eu também não fodo crianças.
— Ela não é exatamente uma criança, em um ano será maior de idade.
— Até lá será uma criança para mim, depois... — Ele deixa em aberto
e eu sinto vontade de jogar a cara dele no chão e arruinar seu rosto
perfeitinho.
Decido não o responder e entro no meu carro o deixando ir em seu
próprio veículo. Tenho certeza de que essa menina é problema e, algo me diz
que não vou demorar a descobrir as dores de cabeça que irá me causar.

Entro na sala de jantar e encontro Masha colocando os pratos na


mesa. Estreito os olhos em sua direção, ela não percebe a minha presença e
continua o seu serviço enquanto canta baixinho.
Hoje ela está em um vestido esvoaçante azul, com os cabelos presos
em um rabo de cavalo e sapatilhas pretas. Simples e ainda assim bem
elegante.
— Ai meu Deus! — Ela pula quando nota minha presença.
— Por que está arrumando a mesa? — pergunto ao me aproximar
dela.
— Estou ajudando Mirta.
— Você não é empregada.
— Eu gosto de fazer isso.
— Não quero que faça. — Sento.
— Mas eu não tenho nada para fazer aqui, ajudar Mirta faz o tempo
passar mais rápido. — Olho para ela irritado, preciso ensiná-la que quando eu
dou uma ordem, ela obedece.
É tão simples.
— Mais tarde vá com Mirta ao shopping, compre um celular, livros,
ou qualquer coisa que te distraia, se eu te ver arrumando a mesa outra vez,
terá consequências.
Mirta entra no cômodo assim que termino de falar e me encara
desconfiada.
— Bom dia, senhor. — Ela me cumprimenta com a voz fria.
— Quando foi que te autorizei a fazer Masha de sua empregada? —
Minhas palavras duras a paralisam.
— Ela pediu para ajudar e não vi mal nenhum.
— Eu te dei essa ordem?
— Não precisa ser grosso com ela. — Masha se manifesta e meu
olhar ameaçador cai sobre sua figura pequena e de bochechas coradas de
indignação.
Percebendo que falou de mais, ela se aproxima de Mirta, parecendo
com medo de mim.
Bom. Muito bom ela saber que não deve me enfrentar.
— Senta e toma seu desjejum, ragazza — ordeno ao pegar um pouco
de café.
Masha não se move e isso me irrita, abaixo a xícara com força e olho
para ela. Mirta a empurra para sentar e coloca mais uma cestinha de pão
sobre a mesa, em seguida ela se afasta e nos deixa a sós.
Ignoro a presença de Masha e começo a comer enquanto leio o jornal.
Ela pega alguns itens da mesa e coloca no seu prato, parecendo sem apetite e
vai comendo bem devagar.
— Não está bom? — pergunto quando a vejo forçar a comida pela
garganta.
— Hoje não estou com muita fome — responde baixo.
Mulheres e seu humor inconstante, por isso cheguei aos vinte e oito
anos solteiro, apesar de precisar de um casamento urgente para providenciar
um herdeiro, não consigo me imaginar com uma esposa, aturando suas
constantes mudanças de humor.
— Então não coma, só não vá desmaiar de fome, eu estou com
problemas demais na minha vida para ter que me preocupar com mais um.
— Eu não vou desmaiar, só não tenho muita fome. — Aperto os olhos
na direção dela.
— Por acaso está grávida? — pergunto já sentindo a raiva me
dominar. Será que aquele maldito Yuri mentiu para mim? Lembro que
afirmou que a ragazza era virgem.
Abrigá-la sozinha é uma coisa, mas com uma criança a caminho nem
pensar.
— Não! — Imediatamente nega. — Eu não posso apenas perder o
apetite? — Avalio seu rosto em busca de alguma mentira, mas só encontro
seus olhos indignados. — Eu sequer podia sair com minhas amigas,
impossível engravidar.
— Então, Yuri não mentiu? Você é realmente virgem? — Ela se
engasga com o café e me olha horrorizada.
Não mudo a minha expressão, apesar de querer rir da cara dela. No
meu mundo as mulheres das famílias de elite da máfia precisam casar
virgens, mas fora da minha realidade as garotas na idade dela já têm suas
experiências sexuais, inclusive com homens canalhas da minha idade.
— Que tipo de pergunta é essa? — por fim comenta.
— É só uma pergunta direta e espero pela minha resposta.
— Não vou discutir minha virgindade com você. — O rosto dela
esquenta ao notar que respondeu minha pergunta.
Sorrio pela primeira vez no dia, por algum motivo gosto de saber que
nenhum homem colocou as mãos nela, Masha é delicada demais, não está na
hora de se envolver com algum imbecil.
Domênico me salva de manter essa conversa estranha ao chegar
sentando à frente dela e, monopolizando a conversa. Ao contrário de mim,
com ele a ruiva não tem problema em conversar. Inclusive come mais um
pouco, enquanto ele faz perguntas sobre o irmão que sumiu.
Meu amigo é um grande diplomata, sabe como dialogar com as
pessoas, esconde bem seu lado cruel nos momentos certos. O seu jeito
equilibrado e frio foi um dos motivos que o elevei a Consigliere, assim que
meu pai teve que passar o posto para mim, por causa do câncer.
Só que por trás do seu aspecto educado e tranquilo, existe um
assassino cruel, que já matou dezenas de pessoas, algumas delas com
requintes de crueldades, um tanto quanto perturbadoras para uma pessoa
comum.
— Vamos para o escritório? — Corto a conversa deles.
— Ainda não terminei de comer — Domênico me provoca.
— Leve o caralho do prato para o escritório. — Rosno sem paciência.
— Masha, faça o que mandei, vá ao shopping e compre tudo o que for
necessário para se distrair e nada de colocar a mesa sem uma ordem direta
minha.
Ela prende os lábios, claramente contrariada com a minha exigência,
porém não diz nada, apenas acena.
— Depois nos falamos. — Domênico levanta e pisca para ela ao levar
seu prato com algumas frutas e pães para o meu escritório.
— Você estava flertando com ela? — pergunto quando estamos longe
dos ouvidos da pequena ragazza.
— Pelo amor de Deus, uomo[14], eu vou flertar com ela por quê? O
que deu em você?
— Sei que não é cego, eu também não sou, Masha pode ser jovem,
mas é linda. — Ele me lança um olhar estranho.
— Gosto de mulher mais temperamental, daquelas que me deixam de
cabeça quente, Masha é doce demais — sua resposta é verdadeira, Domênico
só arruma mulheres problemáticas, uma mais complicada que a outra.
— Posso estar enganado, mas essa aí vai dar dor de cabeça em breve,
anota o que estou falando, aquele cabelo parecendo fogo não é em vão, por
trás daquele jeitinho frágil, se esconde uma diaba.
Domênico apenas sorri, parecendo não acreditar nas minhas palavras.
O que nenhum de nós sabia, era que eu estava coberto de razão.
Dois anos depois

Jogo o casaco sobre o sofá e vou em busca de uma bebida. Estou


exausto, hoje o dia foi tenso e o estresse com um dos fornecedores de drogas
está acabando comigo.
Precisei dar um bom corretivo nos homens dele para enviar um recado
direto que não vou tolerar mais desculpas. Se não cumprir com o combinado,
eu não vou pensar duas vezes antes de ir atrás dele levando o inferno até à
sua porta.
Preparo meu uísque e bebo um pouco, vou até o sofá e estico as
pernas sobre a mesa de centro e descanso a cabeça no encosto. Fecho os
olhos e tento relaxar, os nós dos meus dedos estão doendo pra caralho. Passar
uma tarde surrando ucranianos pode ter sido divertido, mas deixou minhas
mãos doloridas demais.
Eu deveria ter ido com Domênico aliviar a tensão com algumas
mulheres, porém tive a péssima ideia de vir descansar, porque amanhã tenho
algumas reuniões importantes logo cedo com alguns empresários.
— Esta mesa está limpa demais para você colocar seus sapatos sobre
ela — gemo internamente, meu inferno vermelho chegou.
Por que não fui com meu amigo foder um pouco? Dio Santo![15]
Masha é irritantemente intrometida.
— A mesa é minha, coloco todos os meus sapatos sobre ela se quiser
— respondo sem abrir os olhos.
— Está de mau humor? — Sua voz cada vez fica mais perto — minha
pergunta foi imbecil, você nunca tem bom humor.
Por que eu fiquei com ela? Poderia ter pouco me importado e
devolvido aos pais, ou então poderia levá-la a um abrigo, ou quem sabe a
colocasse em um dos apartamentos que a Famiglia[16] dispõe para as
amantes dos chefes.
Só que não, eu tinha que ouvir Domênico e comparar Masha às
minhas irmãs. O que eu fiz por ela me ajudou a nunca mais esquecer que ter
piedade não acaba bem.
Logo eu, que sou um homem desprovido de sentimentos, fui cair no
golpe da diaba vermelha e sua fragilidade fingida. Eu sabia que ela era
problema, mas parece que fiquei cego e mantive esse tormento na minha
vida.
Agora ela tem dezenove anos, está na faculdade, é mais quente que o
próprio inferno e atazana o meu juízo todos os dias com seu jeito fofinho e
sua falta de disciplina em seguir minhas ordens.
Bem-feito para você Paolo, dá próxima vez que for resgatar donzelas
virgens, as mantenha longe da sua casa.
— Por que não vai dormir? Amanhã você tem aula cedo. — Abro os
olhos e dou de cara com o meu mundo vermelho exibindo seus cabelos
longos e encorpados.
Gemo internamente, Masha é uma tentação ambulante na minha vida,
desde que completou dezoito anos, não consigo mais fingir que é uma
criança, a cada vez que meus olhos caem nela, eu só sinto vontade de jogá-la
sobre os ombros e possui-la até ouvi-la gritando meu nome.
— Estou com fome, fiz um trabalho da faculdade e vim até aqui
embaixo atrás de algo para beliscar. — Seus olhos se fecham em uma
pequena fenda enquanto me analisa atentamente, em seguida Masha arregala
os olhos. — Você está ferido? — pergunta quando se aproxima e me pega de
surpresa ao tocar meu rosto. — Tem sangue no seu pescoço.
Antes que ela alcance o local, eu coloco a mão e vejo meus dedos
ficarem vermelhos.
Porra! Eu sempre me limpo e troco de roupa no galpão antes de vir
para casa, não quero Masha perto do meu mundo de maldades.
— Não é nada — digo tentando afastá-la, mas a diaba é teimosa
demais.
— O que aconteceu com suas mãos? — Ela toca onde está
machucado. — Você precisa colocar gelo nisso.
— Eu estou bem.
Masha não diz nada, apenas segue na direção da cozinha e, finalmente
me deixa em paz.
Que tormento é a minha vida com essa mulher, não sei mais o que
faço com o caralho de tesão que sinto por ela.
Um dia ela me mata apenas por respirar ao meu lado, a cada instante
está mais difícil segurar a atração que me desperta.
— Vamos cuidar disso. — Levo um susto quando ela surge na minha
frente carregando uma vasilha e um pequeno pedaço de pano. — Você
precisa colocar gelo nessas articulações ou vai acabar ficando com a mão
inchada.
— Masha, eu sei me cuidar. — Encaro seus olhos e sinto vontade de
mergulhar nesse mar azul.
— Claro que sabe, não estou dizendo o contrário. — Ela coloca um
pouco de gelo sobre o pano. — Mas eu estou aqui e vou te ajudar, não custa
nada. — Com toda a sua teimosia coloca o gelo sobre os nós dos meus dedos.
— Não esqueça que tenho uma dívida com você.
— Não tem porra de dívida nenhuma — digo me sentindo mais
aliviado pelo gelo adormecer minha mão. — O que eu fiz por você foi apenas
porque não te quis nas mãos daqueles malditos, esqueça essa ideia que me
deve algo.
— Ainda assim quero retribuir e você apenas precisa ficar quieto.
Quando ela fica mandona é um verdadeiro tesão, que mulher
maravilhosamente gostosa.
— Quer me falar o que aconteceu?
— Não! — O meu mundo de crueldade não diz respeito a ela. Masha
não é uma mulher da máfia, o que significa que não tem noção de todas as
merdas que eu me meto.
— Como consegue levar essa vida? — Seus olhos buscam os meus.
— Nasci e fui criado para esta vida. — Essa é uma grande verdade,
não tenho para onde fugir da minha realidade. — Eu gosto do que faço,
Masha — sou sincero. — Causar dor e morte é parte da minha essência.
Ela fica quieta, apenas aperta com mais força o pano com gelo na
minha mão.
Para o meu desgosto meu inferno vermelho sabe bem tudo o que o
mundo do crime causa na vida de uma pessoa, a sua permanência na minha
casa aconteceu justamente pelos crimes do seu pai.
— Você é muito mais que um Capo, Paolo. — Por fim se manifesta.
— Mas eu entendo seu destino e respeito isso. — Masha me encara séria e
mais uma vez eu busco a minha força interior para não avançar sobre ela.
Com todo cuidado trata das minhas feridas, quando percebe que
minhas juntas não estão mais tão inchadas, se afasta.
Preciso encontrar um lugar para ela morar, não dá para mantê-la no
mesmo teto que eu, a cada dia que passa o meu controle, com relação a ela,
escorre por minhas mãos.
Sem contar que preciso procurar uma esposa, estou sendo pressionado
por todos os lados para ter um herdeiro, se eu não agir logo, posso enfrentar
um motim do Conselho.
Corro a mão pelo cabelo, agitado, só em pensar em ter uma mulher
definitivamente na minha vida, sinto um incômodo absurdo.
Amanhã mesmo vou começar a pensar para onde posso realocar
Masha, assim que ela estiver segura, vou buscar uma esposa dentro do meu
núcleo. Até, porque, o combinado era ela ficar comigo até ser maior de idade,
mas ela se formou e Domênico logo a matriculou na faculdade, alegando que
com diploma superior ela teria mais opções de emprego.
Com isso Masha foi ficando e eu não tive coragem de colocá-la porta
afora. Jamais deixaria meu lindo inferno vermelho em risco.
— Está se sentindo melhor? — pergunta quando olha a minha mão.
— Estou. — Não vou mentir que ela acabou me fazendo um grande
favor. — Você é uma boa enfermeira. — Ela sorri, satisfeita com o meu
discreto agradecimento.
— Não foi nada demais. — Masha me encara intensamente acabando
comigo.
Sempre que me fita desse jeito desestrutura a minha vida, acho que
ela não tem noção de quantas noites de sono me rouba apenas por eu saber
que está dormindo a uma porta da minha.
Masha é uma pintura surrealista, por onde passa arranca suspiros.
Preciso lidar com mão dura com meus homens, todos a cobiçam e eu fico
descontrolado quando vejo algum deles a fodendo com os olhos.
— Paolo eu queria te pedir uma coisa. — A sua mudança de assunto
me pega de surpresa.
— Por que sinto que não vou gostar disso?
— Não é nada demais, você é implicante.
— Fale — ordeno e ela me olha feio.
Foda-se! Meu limite com ela está acabando.
— Leonardo vai fazer aniversário e eu estava pensando em levá-lo
para uma de suas boates para comemorarmos. — Ergo uma sobrancelha.
Leonardo é o amigo dela, bom rapaz, mesmo sendo maluquinho é
ainda mais responsável que ela quando se trata de segurança, mesmo assim
fico de olho nele por conta de algumas amizades que possui.
— Diga o dia que libero a entrada de vocês.
— Ai, Paolo, muito obrigada. — Ela me pega de surpresa ao beijar
meu rosto fazendo corpo entrar em combustão.
Caralho, assim eu infarto.
Finjo que seu beijo não teve nenhum efeito. Masha tem a péssima
mania de ser expansiva demais, ela não pensa duas vezes em tocar alguém
quando está muito feliz.
— Ele vai ficar tão contente — diz animada. — Leo achou que você
não ia permitir, ele ainda acredita que não gosta dele por ser gay, mas eu
disse que você não gosta de ninguém, essa sua cara carrancuda é de nascença.
— Cuidado com essa boca grande, um dia ela te coloca em apuros —
advirto. — Eu não tenho nada a ver pra quem ele dá o rabo, a vida é dele e
não minha.
— Que grosseria. — Retorce o nariz em desaprovação a minha fala.
— O que foi? Vai me dizer que é só ele que come? — Solto uma
risada irônica.
— Eu não quero saber disso.
— Muito menos eu, gosto de boceta quente e molhada. — Olho para
ela ainda sorrindo e vejo o rubor se espalhar por seu rosto.
Linda pra caralho. Como eu queria beijá-la agora e levá-la para a
minha cama e me acabar na sua boceta ruiva.
Bem... não sei se é ruiva mesmo, mas como seu cabelo é
extremamente ruivo, assim como as sobrancelhas, aposto que entre as pernas
também é.
Que delícia.
O tesão que sinto por ela é surreal, eu penso nessa diaba vermelha nua
a cada minuto do meu maldito dia.
— Você não devia falar isso pra mim, é indelicado.
— E desde quando sou delicado? — Ela molha os lábios e isso me faz
olhar para a sua boca gostosa. — Masha, você está comigo há dois anos,
deveria saber que delicadeza não combina comigo.
— Por que não pode ser agradável como Domênico? Ele é sempre tão
suave, alto astral.
— Não se iluda com aquele lá, em alguns momentos pode ser pior
que eu.
— Nunca comigo. — Isso ela tem razão, Domênico é fã dela, o que
Masha pede aquele pedaço de merda faz.
— Lamento se não alcanço seus objetivos — digo ao levantar. —
Preciso dormir, amanhã meu dia estará cheio.
— Não pode ficar mais um pouco? Quase não conversamos.
— Você quer dizer que você quase não metralhou meus ouvidos com
assuntos infinitos, não é mesmo? Porque quando estamos juntos só você fala.
— Eu tenho culpa se você parece um boneco de cera sempre
enfezado? Ao menos eu tento manter um diálogo entre a gente.
Não quero diálogo com você, eu quero te foder.
Balanço minha cabeça com meu pensamento sujo, Masha não é como
as mulheres que eu trepo, ela é delicada e sonhadora, merece alguém que a
trate como uma verdadeira rainha.
O pensamento de outro homem com as mãos sobre ela me causa uma
fúria intensa, não gosto de imaginar o dia que ela aparecerá com algum
bastardo. Queira São Genaro que eu mantenha a compostura e não o arraste
ao meu galpão para torturá-lo até que implore por piedade.
— Durma bem, Masha — digo ao me afastar.
Quanto mais distância dessa tentação vermelha, melhor para nós dois.
Porque se um dia eu colocar minhas mãos nela, não gosto de pensar nas
consequências que essa merda pode trazer para as nossas vidas.
Ajeito meu vestido e olho para o meu visual, avalio com calma e
acabo gostando da combinação que fiz. Pego minhas sandálias e calço, depois
coloco os brincos e encaro todo o meu corpo, feliz com o resultado final.
Seguro a minha bolsa e desço, já estou em cima da hora, certamente
Leo chegou e ainda precisamos buscar nossa amiga Donatella. Não quero me
atrasar, hoje eu desejo curtir à noite como se fosse a última.
Desço as escadas e, assim como pensei, Leo está bebendo um dos
uísques caros de Paolo. Ele adora se divertir com as bebidas do meu ranzinza
favorito.
— Se Paolo te pega nas bebidas dele corta a sua mão.
— Não diga uma barbaridade dessas. — Ele estremece. — Uau! Você
está um arraso, hoje arruma uma boca pra beijar. — Faço uma careta. — O
que foi, gata? — Leo se aproxima e me beija.
— Você sabe quem eu queria beijar. — Já beijei muitos rapazes, mas
nenhum deles fez meu corpo pegar fogo como Paolo faz apenas em me olhar.
— Ele é de outro universo, já conversamos sobre isso.
Leonardo sacou quem é de verdade Paolo e eu não neguei sua origem,
confio nele. Desde que nos conhecemos no último ano do ensino médio,
ficamos amigos, tanto que seguimos para a mesma faculdade, no intuito de
não nos separarmos.
Ele é meu melhor amigo, sem Leo não sei o que seria de mim, nessa
minha vida solitária na casa do Paolo.
— Moramos juntos, por que ele não me nota?
— Pode apostar que ele nota, vejo os olhares que joga sobre você,
mas sua posição não o deixa se aproximar.
— Odeio isso. — Choramingo.
— Hoje não é dia de tristeza, é o meu aniversário, porra! — Ele está
coberto de razão.
— Então, vamos aproveitar. — Seguro a sua mão para que possamos
ir embora.
Do lado de fora o motorista já nos espera e abre a porta do carro para
entrarmos, Leonel, meu segurança particular que mais parece um gigante
entra no banco do carona.
Leonel sempre está com seu rosto bruto emburrado. Eu não o acho
bonito, na verdade, acho ameaçador com todas as tatuagens de monstros pelo
corpo. Ele tem um visual tipo roqueiro de heavy metal, com brincos nas
orelhas e muitos piercings. Leo o acha gostoso, mas meu amigo não conta,
ele gosta de qualquer mafioso que apareça pela frente.
A grande verdade é que os seguranças que cercam Paolo são bem
bonitos, mas Leonel é o que mais me causa medo por seu tamanho, ele tem
dois metros de altura e pesa mais de cento e vinte quilos. O homem parece
um tanque de guerra e, justamente por isso foi designado a ser meu segurança
desde que cheguei aqui.
Nunca vou entender o motivo de ter segurança, não faço parte da
máfia, então não corro os mesmos riscos das pessoas que vivem nesse
universo. Só que Paolo insiste em afirmar que eu sou um alvo pelo simples
fato de morar na sua mansão.
Não discuto com ele, ter sido vendida para Yuri me deixou uma lição,
foi puro golpe de sorte eu ter encontrado Paolo e ele decidir me livrar daquele
porco.
Passamos na casa de Donatella e seguimos para a boate, Leo está
superempolgado e não para de falar.
Quando chegamos lá, Leonel nos encaminha para a entrada e, ao
contrário dos pobres mortais que aguardam em uma fila, nós entramos direto
causando uma comoção de quem espera.
— Eu adoro ser VIP — Donatella fala ao entrarmos na boate.
— Nem me fala, amore mio — Leo concorda sorrindo.
Somos guiados até a área VIP e logo uma mesa é disponibilizada para
nós três.
Fazemos um brinde em homenagem ao nosso querido amigo. Hoje é o
seu dia e queremos que tudo de bom aconteça na sua vida.
— Champanhe de primeira — Donatella fala ao finalizar a sua taça e
pegar mais um pouco.
— São os cumprimentos da casa ao meu amigo. — Fico na ponta dos
pés e beijo seu rosto.
Paolo avisou que iria disponibilizar champanhe para comemorarmos o
aniversário dele. E tudo o que pedíssemos seria por conta dele.
Os convidados do Leo chegam, inclusive o carinha que ele anda
ficando. Não gosto muito dele, acho um tanto dissimulado, mas não me meto
na vida emocional do meu amigo.
Dançamos um pouco, Donatella se interessa por um rapaz, enquanto
eu continuo na zona fria, todo o meu desejo é concentrado em Paolo.
Faço de tudo para ele me notar, mas aquele mafioso ranzinza me
ignora completamente. Nada do que eu faça chama a sua atenção, apenas em
algumas ocasiões vejo seus olhos deslizando pelo meu corpo, mas
rapidamente ele coloca sua cara invocada e me ignora.
Um dos rapazes que estão em uma mesa perto se aproxima de mim e
me chama para dançar. Ele é bonito, tem o cabelo preto e uma pele
bronzeada. Eu deveria ficar atraída por ele, temos quase a mesma idade e
certamente ele seria uma pessoa legal para ter um namoro.
Apesar de não sentir atração por ele, aceito o seu convite. Eu preciso
tirar Paolo da minha cabeça, só assim vou seguir adiante.
Não vai demorar muito para chegar o momento de me formar e
ganhar o mundo. O nosso combinado era eu ficar na sua casa enquanto era
menor de idade, agora que sou responsável por mim mesma, ele apenas me
tolera.
Começamos a dançar e, apesar da música alta, engatamos uma
conversa tentando nos conhecer melhor. Depois de um tempo ele me chama
para ir à parte debaixo, onde o fervo realmente acontece.
Penso por um momento e decido acompanhá-lo, falo com Leo, que
está cheio de chamego com o seu paquera. Donatella decide me acompanhar,
junto do rapaz que está interessada.
Antes de descermos Leonel me intercepta, querendo saber onde estou
indo. Fico irritada com ele e digo que quero dançar com meus amigos na
pista comum a todos.
Ele resmunga e pede que eu fique no espaço VIP, mas eu bato o pé
que não fico e desço. Seguro a mão de Gildo e nos encaminho para a pista
sem me importar com os protestos de Leonel.
Por algum tempo dançamos os quatro, Donatella não resiste muito e
beija o seu acompanhante, já eu fico tensa, com as mãos de Gildo possessivas
na minha cintura.
Quando ele me segura firme e me beija, eu não o impeço. Já beijei
outros rapazes e, em todas às vezes, tudo foi tão monótono. Com Gildo não é
diferente, por mais que eu tente me entregar, a minha vontade real é de
afastá-lo.
Maldito seja Paolo, que não sai da minha cabeça.
Em certos momentos acho que o sentimento de gratidão por ele mudar
a minha vida acabou confundindo o meu coração, mas quando o vejo todo
sexy, nas suas roupas pretas de mafioso, eu fico tão excitada que entendo ser
impossível não o desejar. Difícil não cair de paixão por ele, Paolo sabe ser
irresistível.
Gildo me puxa pela pista, olho ao redor atrás de Leonel e o localizo
perto do bar. Seus olhos estão na bunda de uma loira, o idiota praticamente
baba nela. Passo por ele sem ser vista e vou para um longo corredor escuro,
que acredito que deva levar ao banheiro.
Menos mal, assim ele não fica no meu pé, fiscalizando meus passos.
Ele me encosta contra uma parede e avança sobre mim. Quero afastá-
lo, mas me forço a seguir seu ritmo, eu preciso esquecer Paolo, ele não me vê
como mulher, aos seus olhos sempre serei a garota amedrontada do dia que
me salvou de Yuri.
Sigo o fluxo do seu beijo, porém retraio o corpo quando sinto sua mão
subir pela minha perna e tentar entrar entre elas. Eu me debato, tento
empurrá-lo, mas Gildo me segura firme.
— Qual é ruivinha? Vai me dizer que não quer também? — Ele me
fita com olhos lascivos. — Já entendi que você é uma putinha e eu quero
comer você. — Ele me segura forte e começa a beijar meu pescoço, enquanto
sua mão insiste em abrir minhas pernas.
Eu me debato, as pessoas ao redor passam parecendo não se importar
com o que acontece entre nós. Alguns casais se pegam ao nosso redor e noto
que alguns estão em uma situação suspeita, acho que este corredor deve ser
um point para que as pessoas transem.
— Se você não me soltar vai se arrepender. — Faço uma falsa
ameaça, no momento Leonel está longe e não posso chamá-lo.
Eu não deveria ter saído do espaço VIP, lá Leonel estaria de olho em
mim.
— Cala a boca — ele vocifera contra meu rosto. — Você vai ficar
quieta enquanto eu te fodo.
O desespero me domina quando ele vira meu corpo me empurrando
contra a parede e aprisiona as minhas mãos nas costas. Seu corpo pressiona o
meu e eu sinto a sua rigidez contra a minha bunda.
Tenho dezenove anos e sou virgem, pensar em sexo me lembra o
terror que passei nas mãos de Yuri, isso me faz repelir qualquer homem por
temer que possa me machucar. O único momento em que me sinto excitada é
quando Paolo está por perto. Se ele tocar em mim eu me entrego sem pensar
duas vezes.
— Para, está me machucando — peço desesperada.
— Vou machucar mais se não ficar quieta.
Choramingo com medo e olho para um casal ao meu lado, eles se
beijam intensamente e vejo que ambos trocam carícias íntimas, nenhum deles
parece perceber o que está acontecendo.
Na posição que estou não posso sequer acertar esse merda entre as
pernas, estou completamente rendida a ele. Gildo avança sobre o meu
pescoço e o morde com força, arrancando de mim um gemido de dor. Ele
apalpa a minha bunda e infiltra a mão por debaixo da minha saia. Engasgo
quando puxa a calcinha para o lado.
Inesperadamente ele me liberta e quando giro, vejo Leo dando um
soco nele e logo depois começam a discutir. Fico estática, sem saber o que
fazer. Gildo tenta acertar Leonardo, mas ele é mais rápido e dá uma rasteira
nele. Quando o idiota cai, Leo me puxa e saímos do corredor.
— Que porra, Masha, como veio parar aqui com esse cara? —
pergunta irritado.
— Ele que me trouxe, eu só queria curtir uns beijos.
Leo não fala nada, apenas segue para onde Leonel está. Ele fala algo
ao segurança e vejo o corpo do homem imenso enrijecer. Seus olhos voam
até mim e seus dentes trincam.
Segurando o meu braço, Leonel me arrasta pela boate, ele fala ao
celular enquanto seguimos para a saída.
— Por que fugiu de mim? — pergunta quando estamos do lado de
fora.
— Não fugi, fui apenas dar uns beijos, não queria um segurança
presenciando este momento.
— Fugiu sim, porque eu estava de olho em você e em um piscar de
olhos desapareceu. — Mordo o lábio inferior sem graça em dizer que ele
estava secando a bunda de uma mulher, quando eu me esgueirei da sua visão.
Leo aparece e avisa que um de seus amigos vai levar Donatella para
casa. Ele me empurra no estofado do carro que para a nossa frente e senta ao
meu lado no mesmo momento que Leonel senta no banco da frente junto ao
motorista.
— Desculpe estragar sua noite. — Tento me redimir com o meu
amigo.
— Cala a boca — diz ao me puxar para um abraço. — Você está
bem?
— Graças a você, sim. — Leo beija minha testa.
— Não sei por que gosto de homens, eles não prestam — concordo
com ele.
— Se você não aparecesse o pior poderia acontecer. — Afundo o meu
rosto no seu peito e começo a chorar.
Eu sou uma chorona de carteirinha, até mesmo uma reportagem triste
me arranca lágrimas.
— Não aconteceu nada, não precisa chorar. — Ele acaricia o meu
cabelo.
Quando chegamos à mansão tenho o rosto inchado, olhos e nariz
vermelhos.
Eu e Leo entramos na sala abraçados, seguidos bem de perto por
Leonel. Para a nossa surpresa, encontramos Paolo e Domênico bebendo na
sala.
Imediatamente os olhos de Paolo vão para o meu rosto e, assim que
nota que chorei, ele se ergue exibindo olhos raivosos.
— O que está acontecendo aqui? — pergunta com a voz fria.
Olho para Leo implorando que não conte a verdade. Durante a nossa
vinda no carro não pensei na possibilidade de encontrar Paolo. Em uma sexta
à noite ele nunca está em casa, chega apenas durante a madrugada.
— Senhor. — Leonel se manifesta, mas Leo o interrompe.
— Tivemos um problema, mas agora está tudo bem.
— Não está. — Paolo se aproxima de nós. — Masha está chorando,
então isso não é nada bom. — Os olhos dele escrutinam meu rosto com
preocupação. — O que aconteceu, bambina? — Odeio quando me chama
assim, parece que ainda me vê como a menina que comprou dos russos.
— Nada demais — digo ao me agarrar a Leo.
— Um bastardo tentou ferir a senhorita Masha, não tive tempo de
verificar quem foi o stronzo o senhor Leonardo me fez trazê-la
imediatamente para casa. — Leonel não controla a boca.
Paolo trinca os dentes e fecha as mãos em punho, tentando conter sua
fúria. Seu olhar se transforma completamente e uma espécie de véu escuro
encobre seu rosto.
— Ele te feriu? — pergunta em um rosnado.
Não digo nada e Paolo me puxa para si. Sua mão grande afasta meu
cabelo para o lado e seu semblante ganha uma expressão assassina. Ele toca
meu pescoço e olha para Leo com raiva.
— Se serve de consolo eu soquei o desgraçado, não fiz um grande
estrago, mas ele sentiu meu punho no seu rosto sujo.
— Fez mais que bem. — Paolo segura firme meu braço. — Venha
comigo. — Sem nenhuma delicadeza me arrasta para a porta de saída. —
Você também vem junto Leonardo — ordena sem parar de andar.
— Paolo, o que vai fazer? — Ouço a voz preocupada de Domênico.
Claro que ele não responde ao amigo, apenas me joga no banco do
carona e toma o seu lugar no assento do motorista. Ouço Leo entrar no carro
e Paolo canta os pneus quando o coloca em movimento.
Ele dirige em alta velocidade, ultrapassando perigosamente os carros.
Por fim, paramos na frente da boate onde acabei de sair. Sua mão se fecha no
meu braço e me puxa.
— Aponte o bastardo quando avistá-lo — ordena a Leo.
Os seguranças abrem caminho quando notam a chegada do chefe. Ele
caminha apressado, enquanto eu tropeço bem atrás das suas costas. Sua mão
em meu braço é como aço, ele não alivia a pegada em nenhum momento.
Subimos para a área VIP e Paolo olha para Leo, que fala algo em seu
ouvido. Ele dispara até à mesa onde Gildo está se divertindo com os amigos.
Vejo ao meu lado Domênico nos acompanhar de perto e já lamento pelo
destino do meu agressor.
Sei bem o que eles são capazes, já vi muitas vezes ambos com
ferimentos de combate e respingos de sangue nas roupas. Dom pode ser um
homem muito gentil comigo, mas não é a mesma coisa com os seus inimigos,
ele e Paolo sabem ser cruéis quando o momento pede.
Paolo me joga para Leo, que ampara meu corpo contra si. Rodeando a
mesa ele fica frente a frente com Gildo que o encara confuso. Todos na mesa
o observam assustados, ainda bem que Donatella não está aqui, ao contrário
de Leonardo que sabe o lado oculto de Paolo, ela não tem ideia de que é um
mafioso perigoso.
Ofego quando Paolo segura a cabeça de Gildo e empurra o seu rosto
contra a mesa com extrema força. Todos pulam para trás horrorizados, mas
Paolo os ignora e vai batendo a cabeça dele sucessivas vezes, espalhando as
garrafas de bebidas por todo o chão.
Um dos rapazes tenta socorrê-lo, mas Domênico o impede. Leonel
coloca a mão sobre seu coldre, pronto para intervir de maneira mais violenta.
— Está vendo essa garota? — Paolo ergue a cabeça de Gildo e sangue
escorre por seu nariz. — Vê essa linda jovem mulher? — pergunta rente ao
seu rosto. — Você a feriu e eu não tolero que encostem um dedo no meu
inferno vermelho sem a autorização dela. — Mais duas pancadas da sua
cabeça soam sobre a mesa e eu tenho certeza de que seu nariz quebrou. —
Nunca mais se aproxime de uma mulher se ela não quiser, aprenda a ser um
merda de homem e conquiste-as antes de querer possuí-las. — Sua voz é
ameaçadora. — Ouviu bem?
Gildo não tem muitas condições de falar, depois de ter o seu rosto
destruído. Ele apenas murmura indicando que entendeu o que foi dito.
— Leonel, se encarregue dele, levo-o para fora da minha boate e
certifique-se de que não esqueça sobre o que acabei de falar. — Paolo puxa o
cabelo dele e o joga no chão. Aperto Leo quando ele pisa com força sobre o
peito de Gildo. — Nunca mais volte ao meu estabelecimento, a não ser que
queira morrer.
Sem mais um olhar para Gildo, Paolo me segura e me arrasta para
fora da boate.
No meio do caminho diz a Leo que pode voltar à sua festa, mas a
noite acabou para o meu amigo.
Quando chegamos à sua casa, Paolo ainda não está mais calmo, ele
parece espumar ódio por toda parte.
— Fique com ela hoje à noite, Leonardo, veja do que precisa e me
chame se for necessário.
— Não se preocupe, eu cuido dela.
Paolo me fita com a expressão contrariada, ele parece estar se
contendo para não avançar sobre mim.
— Dá próxima vez, não ludibrie Leonel, ele está por perto para te
proteger de merdas como aquele filho da puta que você se esfregou.
— Paolo. — Domênico o repreende, mas não surte efeito.
— Suba e vá tomar um banho, por hoje chega das suas confusões. —
Ele me joga para Leo, que me puxa na direção das escadas.
Lágrimas correm sem controle pelo meu rosto, eu fui agredida
covardemente e ainda saí como errada da história. Eu odeio Paolo e vou me
livrar dele o quanto antes.
Vejo Masha desaparecer escada acima abraçada a Leonardo. Ainda
bem que esse garoto tem zelo por ela, se não fosse por sua preocupação com
a amiga, meu inferno vermelho estaria em apuros.
Solto a respiração com força, insatisfeito por não ter dado o castigo
apropriado ao filho da puta que ousou machucá-la. Se não estivéssemos no
meio de tantas pessoas, ele se arrependeria de ter encostado nela.
— Por que fez isso? — Domênico pergunta com a voz baixa, ele está
se contendo.
— Fiz o quê? — questiono irritado.
— Não me venha com essa, sabe muito bem que falou merda para
Masha, quando ela estava em um momento vulnerável. — Olho para ele e
vejo seu semblante tenso, se eu não fosse seu superior, certamente teria seu
punho no meu rosto. — Ela já teve sua cota de homem idiota na noite, não
precisa de você sendo um.
— Fique na sua, não se meta onde não é chamado. — Vou para o bar.
— Isso aqui não são negócios, Paolo, sou eu e você conversando
sobre Masha. Eu não vou admitir que fale com ela como fez há pouco, a
bambina não se esfrega em ninguém como uma puta. — Solto uma risada.
— Você já percebeu o perigo das suas palavras?
— Foda-se minhas palavras. — Ele avança na minha direção. —
Masha é uma boa ragazza, ela nunca nos deu trabalho, sempre se mostrou
esforçada nos estudos e, jamais abriu a boca para dizer quem nós somos. A
gratidão dela pelo que você fez é admirável, ela nos dá menos preocupação
do que muitas das ragazzes da Famiglia. [17] Aí você do nada diz que ela
estava se esfregando naquele idiota? Por Deus, Paolo! Foi uma ofensa a sua
acusação, se não consegue segurar seu ciúme com relação a ela, então a tome
para si, mas não agrida os seus sentimentos como fez agora.
Sorvo de uma só vez meu uísque, odeio estar errado e, odeio mais
ainda levar sermão do Domênico.
— Eu não estava com ciúmes. — Dom sorri.
— Como é? Não estava com ciúmes? — Estreita os olhos. — Nem
você acredita nesta mentira, nós dois sabemos que é louco por Masha, não
consegue esconder de ninguém sua posse sobre ela. — Eu o encaro com
raiva. — Por que não a reivindica? É bem nítido o quanto ela é apaixonada
por você, se pegá-la para si, Masha ficará feliz.
— Não quero reivindicá-la, até porque a diaba vermelha não é do
nosso clã.
— Você é o Capo, você dita às regras, sem contar que ela tem sangue
italiano.
— Mas não é uma de nós.
— Foda-se. Os chefes da Famiglia estão com bolsos cheios de euros,
nunca prosperamos tanto como na sua liderança, podemos pressioná-los a
aceitá-la. Pense sobre isso e tome uma atitude, porque se demorar demais,
outro passará na frente.
Aperto o copo em minhas mãos com força, pensar nela com outro
homem me tira o controle. Hoje só não matei aquele merda porque o lugar
não era propício, mas se eu estivesse em outro local, ele estaria ardendo no
inferno neste momento.
— Não tenho interesse por ela, Masha é uma menina. — Minto.
— Então, como você é meu Capo, devo comunicar em primeiro lugar
que quero Masha para mim. — Bato o copo sobre o balcão do bar e olho para
meu Consigliere.
— O que disse? — Minha voz sai ameaçadora até para meus próprios
ouvidos.
— Você ouviu bem o que falei, quero que Masha seja minha esposa.
Não sei ao certo como aconteceu, apenas quando tenho Domênico
preso contra a parede e minhas mãos esmagando seu pescoço, eu percebo que
me movi.
— Vou matar você. — Ele segura o meu punho e me fita com olhos
brilhando de diversão, feliz por conseguir me desestabilizar.
Maldito!
— Matar por quê? — pergunta com a voz sufocada. — Você não se
interessa por ela, eu serei um bom marido para Masha.
— Nunca permitirei que coloque as suas mãos sujas nela.
— Então a tome para si, porque uma hora alguém vai fazer isso,
Masha não vai passar a vida alimentando uma paixão platônica por você, ela
é linda e vai querer viver sua própria vida.
Nós nos encaramos com raiva, cada palavra dele se espalhando como
veneno por meu corpo. Pensar em Dom tocando Masha, me faz querer matar
meu melhor amigo.
— Você a quer? — pergunto me sentindo consumir pelo ciúme. — Se
eu deixasse se casaria com ela?
— Não sinto interesse por ela, mas se eu não tivesse um envolvimento
fraternal com a bambina, pode apostar que seria uma alegria tê-la do meu
lado.
Solto Domênico com um empurrão e ele sorri ao ajeitar a jaqueta. Ele
me observa atentamente, com a sua expressão fria e analítica.
— Por que resiste tanto? Ela é ideal para você, Masha é tranquila, fiel,
amorosa.
— Não vou destruí-la com meu mundo de morte, ela merece mais.
— Talvez ela só queira te merecer.
— Por favor, Dom, virou um romântico agora? Você está se tornando
um homem fraco. — Ele enrijece o rosto.
— Eu estou olhando pelo ângulo de Masha, ela tem sentimentos
profundos por você e, não existe nada melhor do que termos uma mulher fiel
do nosso lado em um casamento.
— Nunca serei capaz de oferecer o sentimento que ela precisa, eu não
sou bom e você sabe disso.
— Pode ser bom para o que ela precisar — diz ao colocar as mãos nos
bolsos. — Na verdade, você já é. Coloque Masha em um mundo só de vocês,
deixe a máfia fora desse universo.
— A máfia vem acima de tudo, eu jurei com sangue que nada seria
mais importante.
— Não precisa quebrar seu juramento, necessita apenas reajustar
algumas coisas. — Ele descansa a mão em meu ombro e fita meus olhos
intensamente. — Pense com calma, se decidir reivindicá-la, terá meu total
apoio quando anunciar isso ao Conselho da Famiglia.
Sem mais palavras ele vai embora, me deixando para trás com a
mente completamente confusa.
Por que você entrou no meu caminho inferno vermelho? Por quê?

Leonardo entra na sala de jantar e para quando me vê à mesa. Faço


sinal para ele se aproximar e continuo lendo meu jornal. Após um tempo
dobro as folhas e me concentro no jovem a minha frente.
Já estimava Leonardo, mas depois de ontem ele se elevou no meu
conceito, se não fosse sua intervenção, só Deus sabe o que aconteceria a
minha ragazza.
— Quero tratar um assunto com você. — Leonardo ergue os olhos
desconfiado. — Preciso que fique de olho na Masha, vigie seus passos e me
reporte tudo.
Ele fica pensativo, analisando calmamente minhas palavras. Seus
olhos castanhos caem sobre mim e, pela sua expressão, não vou gostar do que
vai falar.
— Entendo sua preocupação, no entanto não posso aceitar sua
proposta. — Recosto o corpo contra o encosto da cadeira e o observo.
— Por que não pode?
— Porque ela confia em mim e eu a tenho como minha melhor amiga.
— Seu olhar recai sobre mim de maneira firme. — Eu prometo cuidar dela e
te chamar se algo arriscado estiver acontecendo, mas não irei reportar nada da
sua rotina, a não ser que ela esteja em risco. Não posso trair a amizade que
temos, Masha é importante para mim.
Faço um breve aceno, aprovando cada uma das suas palavras.
Leonardo acaba de ganhar ainda mais o meu respeito e, isso é algo grande,
principalmente por ele não ser da máfia.
— Está certo, gosto do seu pensamento e quero que faça exatamente o
que falou. Prometo que serei generoso com você por cuidar dela.
— Não faço isso por dinheiro.
— Eu sei, ainda assim quero te ajudar no que precisar, pense como se
fosse uma espécie de gratidão da minha parte.
— Sabe como eu quero que demonstre a sua gratidão? — Faço um
gesto com a cabeça pedindo que continue a falar. — Não a trate como uma
vagabunda, ontem você foi além dos limites e a feriu demais.
Trinco os dentes, odeio que chamem a minha atenção, só vou tolerar
que Leonardo continue a falar, porque estamos tratando de Masha.
— Acho que já sabe dos sentimentos dela por você, é um homem
vivido e minha amiga não segura os olhares apaixonados quando o bonitão
está por perto. — O meu coração começa a esmurrar o meu peito. — Ouvir
você dizer que ela se esfregou naquele merda, a destruiu, me doeu ver as
lágrimas dela, não por ter sido agredida, mas por você a rebaixar como se
fosse uma puta.
Aperto os lábios, não me lembro da última vez que me senti culpado
por algo. Nunca os meus sentimentos estiveram em conflito como agora, está
sendo um grande sacrifício manter minha máscara de indiferença.
— Não tive a intenção de insultá-la, eu estava sob a pressão do
momento.
— Nenhuma pressão deveria te desestabilizar. — Endureço o rosto
com seu atrevimento em me repreender. — Eu posso sofrer qualquer espécie
de pressão, você não tem esse direito, não com a posição que ocupa no seu
grupo.
Abro a boca para respondê-lo de maneira dura, mas Masha entra na
sala e paralisa quando me vê na mesa. O normal era eu estar no escritório a
essa hora, mas preferi tomar meu café mais tarde justamente para poder vê-la.
— Bom dia, amore mio. — Leonardo levanta e a beija.
Masha lança um sorriso carinhoso para ele e se acomoda ao seu lado
para tomar o café.
Fico em silêncio, observando-a se servir e começar a comer enquanto
conversa com Leo. Sinto a irritação me dominar por ser ignorado, ela sequer
me deu bom dia, mas engulo minha indignação e termino meu café.
Domênico chega e se junta à conversa dos dois, me deixando
completamente de lado. Se ele não fosse como um irmão, teria sua cabeça na
minha mesa do café agora mesmo, pois não o pouparia por tudo o que me
disse ontem e por estar agora cheio de amores para a diaba vermelha.
— Quando terminar o seu café vá ao meu escritório, Masha — aviso
ao me levantar. — Só apareça na minha frente quando eu terminar minha
conversa com a ragazza — digo a Dom.
Ele me lança um olhar enviesado e apenas acena, em seguida volta a
falar com Masha, fingindo que não estou mais na mesa.
Saio pisando duro, se meu pai estivesse vivo, certamente ficaria
furioso por presenciar o quanto não consigo impor respeito aos meus
subordinados. É uma verdadeira vergonha minha falta de autoridade, se
alguém do Conselho descobrir, eu perco a minha posição em segundos.
Sento e aguardo Masha, ela demora mais de vinte minutos para
chegar. Quando ouço uma batida na porta, me sinto aliviado por não
protagonizar um show ao ter que gritar seu nome.
— Entre — digo me sentindo ansioso para ficar a sós com meu
inferno vermelho.
Ela passa pela porta e a fecha com calma, caminha até a minha mesa
de cabeça baixa. Eu a magoei de verdade, se não estivéssemos nesse atrito,
ela entraria aqui saltitante, falando sem parar.
— Sente-se. — Em silêncio me obedece e faz meu corpo se agitar.
Como seria o comportamento dela se estivéssemos na cama? Será que
ela seria tão obediente?
Espanto meus pensamentos e me concentro no que eu tenho que
conversar com ela.
— Ontem eu tive um momento de descontrole e descontei em você
minha frustração por não ter tratado daquele stronzo como deveria. — Ela
mantém a cabeça baixa, olhando para as mãos. — Foi injusto dizer que estava
se esfregando nele, eu não deveria ter aberto minha boca.
Silêncio. Ela sequer me olha, encara as mãos como se elas tivessem
algo muito interessante.
— Olhe para mim — ordeno com a voz baixa, porém firme.
Como esperado ela me obedece e faz meu corpo reagir intensamente a
sua obediência. As palavras de Domênico na noite anterior vêm à minha
mente e eu me sinto tentado a dizer que ela é minha para sempre.
E não digo minha no sentido de tê-la comprado, mas por eu a querer
mais do que nunca quis qualquer outra mulher em toda a minha vida.
— Não quero que fique ofendida pelo que falei, minha raiva não era
para você, eu estava frustrado por apenas quebrar o nariz daquele filho da
puta. — Masha aperta os lábios.
— Você queria matá-lo?
— Entre outras coisas — assumo.
Se eu pudesse, iria passar horas o aterrorizando, até que ele mijasse
nas calças e aí eu libertaria o mundo de mais um homem merda.
— Por que não consegue pedir desculpas diretamente? Precisa sempre
enrolar para dizer que errou? — Nós nos encaramos, ela espera a minha
resposta com ansiedade.
— Eu não peço desculpas — digo encarando seus olhos — Nunca.
Os olhos de Masha caem para as mãos, ela aperta os lábios e inspira
fundo.
— Eu irei embora daqui. — Sou pego de surpresa com sua fala. —
Leonardo quer sair de casa, ele já trabalha, se tiver alguém para dividir o
aluguel fica mais fácil. Vou arrumar um emprego e reconstruir a minha vida
fora da sua casa, o combinado era eu me virar quando fosse maior de idade,
mas ainda estou debaixo do seu teto atrapalhando a sua vida.
Não consigo falar nada, porque eu não esperava esse tipo de assunto
na nossa conversa.
— Sou grata por tudo o que fez por mim, nunca vou esquecer que me
salvou daquele terror, mas não posso mais impor minha presença nesta casa.
— Ela corre a mão pelo rosto contendo as lágrimas que começam a cair. —
Sei que em breve você terá que se casar, Mirta já me disse que estão
cobrando um herdeiro e uma esposa legitimamente aprovada por seu clã. Ela
não vai me querer aqui, é melhor eu encontrar meu espaço logo. — Masha
levanta. — Se não se importar pedirei a Domênico que me ajude a encontrar
um lugar seguro e barato onde eu possa morar com Leo.
— Não te pedi para partir. — Essa é a única idiotice que consigo
falar.
— Eu quero ir, Paolo, já passou da hora de encarar a vida, você não
tem obrigação de me sustentar, até aqui fez muito por mim.
— Alguma vez reclamei em tê-la aqui?
— Na verdade, várias vezes. — Ela solta um sorriso triste em meio as
lágrimas. — Sou seu inferno vermelho. — Não compartilho da sua risada,
muito menos da piada.
— Esqueça essa babaquice, você não vai sair da minha casa.
— Você não é meu dono.
— Eu comprei você, então sou seu dono sim. — Imediatamente me
arrependo do que falei. — Masha eu não quis...
— Você quis e eu não posso te contestar. — Ela olha para os seus pés.
— Como faço para te pagar? Você aceita receber o valor que me comprou ao
longo dos anos? Acho que nunca terei cem mil euros para te pagar de uma
vez.
Quero gritar com ela, dizer para esquecer essa bobagem, que ela
nunca vai sair desta casa. Porém, não sei como fazer isso sem demonstrar ser
um homem fraco.
— Masha, apenas esqueça essa ideia, você não vai me pagar nada, eu
sou um merda de homem e acho que você deve me ignorar. Agora vá se
divertir com Leonardo, passeiem no shopping ou no clube, faça o que quiser,
só esqueça essa bobagem de ir embora.
— Não vou esquecer, espero estar em um mês fora daqui. — Aperto
os lábios irritado com sua teimosia. — Posso ir embora?
Ela mais uma vez demonstra a sua obediência, sem saber o quanto
isso me deixa duro. Por mais que seja determinada, ela nunca se exalta além
do apropriado. Masha sabe que preciso de controle e não me afronta, sem que
seja realmente necessário.
Dio Santo! Ela é perfeita para mim, mas para tê-la eu teria que
arrastá-la para o meu mundo de morte, desamor, vingança e dor. Não posso
fazer isso com ela, Masha é tão coração. Jamais poderia amá-la como merece.
Um Capo não ama. Um Capo mata, tortura, causa o terror entre seus
inimigos e protege a Famiglia.
Como eu poderia condená-la ao meu mundo? Logo ela que é tão
frágil e carente?
— Pode sair, só quero que esqueça essa bobagem de partir.
Ela não me responde nada, apenas se vira e deixa a minha sala com
um caminhar lento e de ombros caídos, indicando o quanto está sofrendo.
Maledizione[18]! Tudo está saindo do controle e eu não sei como
consertar a merda que me meti com meu pequeno inferno vermelho.
Domênico me fita com as sobrancelhas contritas, ele não gostou nada
do pedido que fiz de me ajudar a arrumar um apartamento.
— Masha, o Paolo não é uma pessoa fácil de lidar, você deveria saber
disso.
— Ele me feriu, eu me senti tão pequena, foi duro ouvi-lo dizer que
eu provoquei meu ataque.
— Posso te dar a minha palavra que ele não quis dizer isso para te
magoar, na verdade, tudo não passou de... — Ele para de falar e me olha,
parecendo ponderar se deve ou não continuar sua fala. — Não pense por esse
lado, Paolo sabe exatamente a menina extraordinária que você é.
— Desculpa, Dom, mas ele não se importa com nada além da
Famiglia, eu sei disso e não me importo de verdade. — Domênico me puxa
contra seu corpo grande.
Ele odeia ser tocado, Mirta me alertou sobre isso assim que cheguei
aqui e passei a ter uma amizade estreita com ele. Por isso quando Dom me
abraçou no dia do meu último aniversário e permitiu que eu o tocasse a partir
daquele momento, realmente fiquei surpresa. Além da sua mãe, sou a única
pessoa que pode se aproximar sem que se afaste.
Eu queria muito que Paolo fosse aberto como ele. Dom não se
importa em conversar comigo, ele até sorri sem preocupação quando estamos
sozinhos.
Ainda assim ele mantém sua face de mafioso, me colocando nos
trilhos de maneira firme quando necessário. Só que Paolo faz questão de ser
frio a cada segundo, ele não relaxa em momento nenhum.
— Não quero você sozinha, pode ser perigoso.
— Claro que não será, eu não sou ninguém. — Ergo o rosto para
encará-lo.
— Aí que se engana, bambina, a sua presença aqui não é segredo,
muitas pessoas acreditam que é a amante de Paolo. — Engulo em seco,
porque jamais pensei que tivessem essa visão de mim. — Não me olhe dessa
maneira, os boatos se espalham e as pessoas criam suas próprias versões dos
fatos.
— Mais um motivo para ir embora. — Domênico inspira fundo e seca
minhas lágrimas.
— Pode esfriar a cabeça ao menos por uma semana? Se até lá estiver
convicta do que deseja, eu te ajudo.
— Sei exatamente o que quero. — Eu o encaro determinada.
— Pense por apenas uma semana, pode fazer isso por mim? —
pergunta com delicadeza.
— Claro que posso. — Aperto meus braços ao redor da sua cintura.
— Eu faço tudo o que me pedir. — Ele acaricia meu cabelo, me trazendo
ainda mais para perto do seu corpo grande.
— Masha, eu quero te ensinar defesa pessoal e também a atirar. —
Ergo a cabeça surpresa. — Você precisa aprender a se proteger, se realmente
decidir partir daqui ficará exposta demais.
Eu me animo com a sua proposta, gosto da ideia de poder aprender a
lutar. Já atirar me causa medo, porém confio em Domênico.
— Podemos começar quando quiser — digo animada.
— Então essa noite será sua primeira aula. — Os seus olhos que
geralmente são frios, estão brilhando com diversão.
— Já acabou a sua sessão patética de afeto, Domênico? — A voz
arisca de Paolo nos interrompe.
Ouço o suspiro do Dom, ele pressiona os lábios sem esconder a
irritação e se afasta. Seus olhos serenos pairam sobre os meus e um discreto
sorriso brinca em seus lábios.
— Vá aproveitar seu dia com Leonardo, preciso trabalhar, à noite
quando eu estiver livre te ligo e venho buscá-la.
— Tudo bem.
Só para provocar o ranzinza, fico na ponta dos pés e beijo sua
bochecha antes de me afastar. Eu espero não o ter colocá-lo em algum tipo de
encrenca, só quero mostrar a Paolo que ele não é digno do meu carinho.

— Aonde você vai? — Paolo pergunta quando entra na sala e me


pega com roupas de malhar.
Ele estava até pouco tempo reunido com seu subchefe Giorgio,
alguma coisa está acontecendo, porque ultimamente eles estão tendo longas
reuniões no final da tarde, quando Paolo encerra seu expediente de trabalho.
— Vou sair com Dom — digo evasivamente apenas para provocá-lo.
— Vestida assim? — aponta para minha roupa.
— Qual o problema? — Passo a mão pela lateral do meu corpo. —
Não está bom?
— Pare de me provocar. — Dá um passo ameaçador na minha
direção, mas paralisa quando Dom entra na sala.
— Vejo que está pronta. — Ele está todo de preto, com uma calça
própria para academia e uma blusa com o símbolo da banda Metallica na
frente.
— Você está bonitão, hein? — Paolo me encara parecendo querer
arrancar minha garganta.
— Que porra é essa? — pergunta irritado. — O que está acontecendo
aqui? — Passo por ele e enrosco meu braço ao de Dom.
— Vou ensinar defesa pessoal à Masha — Domênico o comunica.
— E por que isso?
— Porque ela pode sofrer outro ataque como na boate. — Dom dá de
ombros. — Quando ela for morar com Leonardo será bom saber se defender
também.
— Não vou ter seguranças a vida toda — digo sentindo meu peito
comprimir ao pensar no dia que deixarei essa casa.
— Eu posso te ensinar a se defender, Domênico não precisa fazer
isso.
— Mas eu quero que seja ele.
— Não quer nada. — Paolo puxa meu braço me levando para perto de
si. — Pode subir, não vai sair com ele.
— Larga meu braço. — Tento me desprender, mas o infeliz não me
solta.
— Paolo para de ser patético. — Dom não esconde a diversão na voz.
— Solta logo a Masha, precisamos ir.
— Ela não vai. — Puxo o meu braço com força e consigo me soltar.
— Eu vou. — Corro para Domênico e seguro a sua mão. — Vamos
logo.
— Masha volte aqui. — Ele grita, mas eu já arrasto Dom pela porta.
— Você ainda vai acabar fazendo Paolo cortar o meu pescoço. — A
voz dele está longe de ser temerosa, sei bem que adora provocar o amigo.
— Ele não vai fazer nada, não pode ficar sem você.
— Não confie nele. — Cheio de graça abre a porta do carro e faz um
gesto galante para que eu entre. — Vamos embora, senhorita confusão.
— Bobo. — Reviro os olhos e sento no banco sorrindo.
Eu amo o Dom, quando eu for embora vou sentir muita falta de vê-lo
todos os dias.

Seco o suor da testa e tiro os fios de cabelo que grudaram no meu


rosto. Domênico está acabando comigo, eu não esperava que fosse ser tão
difícil aprender a me defender.
— Você precisa ter em mente que não pode enfrentar na força um
oponente mais forte, então necessita saber como acertá-lo usando seus
limites.
— Isso é difícil. — Puxo uma respiração. — Eu estou morta, Dom,
podemos parar?
— Você está fora de forma. — Ele joga uma garrafa de água para
mim. — Se quiser lavar o rosto no banheiro fique à vontade, vou te levar em
um lugar quando sairmos daqui.
— Aonde vamos? — pergunto curiosa.
— Você verá.
Com uma piscada ele se afasta e eu sigo para o banheiro.
Lavo meu rosto e ajeito meu cabelo, quando volto Domênico
conversa com um homem imenso. Ele nota a minha presença e se despede do
rapaz.
Segurando a minha mão saímos da academia em silêncio. Ele segue
para o subúrbio da cidade e entramos em uma área mais isolada onde vejo um
galpão gigante.
Não pergunto onde estamos, mas sei que esse local é da máfia, não
gosto sequer de pensar o que eles fazem em lugar tão ermo.
Dom estaciona e eu saio do carro rapidamente.
— Preparada para se transformar em uma exímia atiradora?
— Estou mais que pronta. — A adrenalina começa a correr pelo meu
corpo.
Nunca imaginei que aprenderia a atirar, sequer gostava da ideia, mas
agora que Domênico decidiu me ensinar, eu vou dar o meu melhor.

Uma semana depois

— Por que anda tão triste, bambina? — Mirta senta ao meu lado na
cozinha.
Ao longo desses dois anos ela virou uma valiosa amiga, durante esse
tempo Mirta foi uma verdadeira mãe para mim.
— Estou cansada de tudo. — Levo o copo de água aos lábios. — Não
aguento mais as grosserias do Paolo.
Ela me olha de maneira solidária, sabe exatamente do que estou
falando, aquele imbecil também não alivia para Mirta, sempre que pode é
indelicado.
— Paolo vive entre homens duros, ele não tem espaço em sua vida
para ser simpático, até porque, não se espera de um Capo que seja gentil.
— Dom é gentil.
— Ele não é Capo e não pense que de fato é gentil, muito pelo
contrário, o lado feroz dele pode ser tão assustador quanto o de Paolo — diz
com segurança. — Domênico tem um instinto de proteção contigo, por isso
ele se importa, mas não ache que ele seja um homem bondoso de verdade, a
sua melhor face é revelada unicamente para você.
— Esse mundo que eles vivem é tão estranho.
— É o que eles conhecem e nenhum deles irá mudar. Você não sabe o
que esses homens passaram para estarem nas posições que ocupam hoje.
Cada cicatriz que vê pelo corpo deles, tem uma história de dor e tortura.
— Eles sofrem muito para serem mafiosos? — pergunto com um fio
de voz, ouço muitas histórias, pesquisei algumas coisas na internet, mas não
sei ao certo o que realmente acontece.
— Ah, bambina, você não faz ideia sobre o que acontece nesse
mundo.
— Conta só um pouquinho — peço com expectativa.
Mirta me olha, parecendo indecisa se deve ou não revelar os segredos
da máfia. Raramente conversamos sobre esse assunto, ela é sempre evasiva
quando faço perguntas sobre o universo da máfia.
— O pai de Paolo era um dos piores homens que já conheci, o do
Domênico não fica atrás. — Prendo a respiração, lembro que o pai do Paolo
morreu há um ano de câncer e ele pareceu não se importar, pelo contrário,
percebi certo alívio de sua parte. — Conrado começou a iniciar o filho com
sete anos e desde então as agressões e castigos começaram. — Fico em
choque. — Uma vez ele quebrou o braço do patrão porque o viu brincando de
tomar chá com a irmã Fiorella.
— Que monstro — digo horrorizada.
— Monstro não exemplifica de verdade o que aquele homem era.
Todos os filhos sofreram nas mãos dele, as meninas um pouco menos. A sua
morte foi um alívio, inclusive para a esposa, agora eles estão longe da sua
crueldade.
— Paolo não é cruel.
— Graças a San Genaro não é como pai, ele conseguiu manter um
pouco de humanidade, ao menos quando se trata da mãe e irmãs, sempre as
protegeu como podia, apesar de não ter conseguido impedir o casamento
arranjado das duas irmãs. Chiara acabou se apaixonando por seu esposo, mas
Fiorella não teve o mesmo destino, ela não conseguiu ter sentimentos pelo
companheiro.
Sinto meu coração comprimir, é bem nítido o quanto Fiorella
despreza o marido, eu não sei como ela consegue viver ao lado de alguém
que não gosta.
Paolo tem três irmãs, Giovanna é a mais nova, tem dezessete anos.
Somos amigas, a empatia entre nós duas aconteceu desde a primeira vez que
nos vimos. Sempre que a mãe permite ela vem passar alguns dias comigo e
nos divertimos horrores.
Ele é o único homem da família e, por isso, foi o sucessor do pai na
função de Capo. Com a morte dele, Paolo assumiu todas as responsabilidades
da mãe e Gio.
Pensar que minha amiga também vai casar por obrigação acaba
comigo. Gio sonha em cursar a faculdade, mas se ela tiver que se casar assim
que completar dezoito anos nunca realizará seu sonho.
— Quando penso em toda essa realidade deles fico enjoada.
— É a vida que eles foram destinados, bambina. — Mirta acaricia a
minha mão. — Você tem sorte de ser livre, pode escolher seu futuro.
Olho para as minhas mãos sobre a mesa, não me sinto livre, não
enquanto eu viver nesta casa, sob a proteção do poderoso Capo ranzinza.
— Não sou livre ainda, mas serei em breve. — Encaro Mirta. — Vou
embora desta casa. — Ela arregala os olhos.
— Como assim vai embora?
— Estou atrás de um emprego e, Dom prometeu arrumar um bom
lugar que eu possa morar.
Já tem uma semana que tive meu conflito com Paolo e desde então
não mudei de ideia. Vou construir uma nova vida longe dele e desta casa.
Será melhor para nós dois.
— Não pode ir, você pertence a este lugar.
— Eu não pertenço a lugar nenhum, sou sozinha no mundo. — Sinto
meu coração comprimir, eu sou uma pessoa solitária desde que fui vendida.
Não tenho ninguém de verdade, talvez tenha o Leo, mas ainda assim ele não
é obrigado a me ter por perto se não quiser, ninguém é, na verdade.
— Claro que não é sozinha, você me tem sempre. — Ela passa o
braço por meus ombros. — Não pense que vá se livrar de mim, bambina,
você é como filha. — Os meus olhos ficam marejados.
— Obrigada, por sempre cuidar de mim.
— Faço isso com todo o meu amor.
— Que cena tocante. — Levo um susto quando a voz de Dom invade
a cozinha.
Ergo os olhos e o encontro com uma das mãos no bolso da calça de
linho cinza. A outra segura seu paletó sobre o ombro e seu cabelo como
sempre está preso por um elástico. Ele tem as pernas cruzadas nos
calcanhares e seu colete de seda abraça seu corpo musculoso com perfeição.
Uma camisa branca ganha destaque por conta da gravata vermelha e o
inseparável coldre contorna suas costas, deixando um lembrete da sua
verdadeira face por trás do seu olhar divertido.
Como sempre é a imagem da elegância. Domênico é um apetitoso
pedaço de homem, meu coração poderia acelerar por ele, certamente Dom
seria muito mais receptivo comigo do que Paolo.
— Não comece com implicância — digo enquanto ele se aproxima da
mesa.
— Por acaso tem café nesta cozinha?
— Claro que sim, eu mesma vou te servir. — Mirta levanta.
Ele senta ao meu lado e beija meu cabelo. Como um homem tão
gentil pode ser um assassino? Não consigo pensar nele fazendo mal a alguém,
mesmo já tendo presenciado ele com respingos de sangue na roupa.
— Como você está, grande atiradora? — pergunta ao pegar a xícara
que Mirta o oferece.
— Pare de implicar comigo, em breve estarei atirando bem. — Dom
esconde o sorriso ao beber o café. — Ainda estou determinada a ir embora.
— Ele assente e experimenta a sua bebida.
— Achei que tivesse abandonado essa ideia absurda de morar
sozinha.
— Não é absurda, é o que eu deveria ter feito quando fiz dezoito anos.
Ele abaixa a xícara e corre a ponta do indicador sobre a borda,
pensativo.
— Por que não fica até completar a faculdade? Trabalhando terá
menos tempo de estudar.
— Não vou ficar aqui. — Ele prende os lábios em uma linha fina.
— Por que tanta teimosia?
— Dom, eu quero distância de Paolo. Ficar perto dele não está me
fazendo bem. — Nunca discuti com ele a paixão que sinto por seu chefe, mas
Domênico é um homem esperto, sabe exatamente sobre os meus sentimentos.
Ele suspira fundo parecendo derrotado, por mais que não queira
aborrecê-lo, não vou mudar meus planos.
— Você entende que quem deveria estar aqui tendo essa conversa
comigo era Paolo? — pergunto sentindo a mágoa me consumir. — Ele não
liga que eu vá, deve até estar ansioso por isso.
— Não diga isso, Paolo está pensando que você teve apenas um
rompante de raiva, quando descobrir que ainda pensa neste absurdo, não vai
reagir bem.
— Ele não vai poder me impedir. — Domênico sorri.
— Ao longo desse tempo ainda não o conhece, não é mesmo? — Seus
olhos azuis metálicos caem sobre mim. — Masha, ele não abrirá mão de
você, não vai conseguir sair daqui.
— Eu vou pagar a ele o valor que me comprou, o avisei que faria isso,
só não posso quitar a dívida de uma vez, mas com os anos eu pago tudo. —
Ele estica a mão e acaricia minha bochecha.
— Você é tão inocente, bambina.
— Perdi minha inocência quando fui vendida aos traficantes. — Seus
olhos suavizam.
— Você ainda é a imagem da inocência. — Ele pega a minha mão e
beija. — Não gosto de pensar em vê-la sozinha neste mundo fodido, ainda
que hoje já saiba o mínimo para se defender.
— Eu vou me virar, não se preocupe.
— Não me lembro de dar alguma folga a você no meio do expediente,
Domênico. — Paolo aparece na cozinha com seu rosto frio e interrompe
nossa conversa.
Seus olhos vão para a minha mão que está unida a de Dom e seu rosto
fica ainda mais endurecido. Domênico não se afasta, pelo contrário, ele gira a
minha mão e a coloca com a palma para cima. Olhando para Paolo, começa a
fazer um delicado carinho com o polegar no meio dela.
— Vim pegar um pouco de café, encontrei Masha e aproveitei para
conversar sobre um assunto nosso. — Paolo trinca os dentes.
— Mirta e suas assistentes existem para servir o café, não precisa vir
à cozinha.
— Só que eu quis vir — comenta com tranquilidade.
A maneira serena que ele lida com o chefe é admirável. No geral eu
sempre me irrito com o jeito mandão de Paolo e acabamos nossa conversa
com alguma discussão. Já Dom não, ele não eleva a voz nem muda sua
expressão.
Claro que ele tem normas a seguir quando se trata do Capo, eu mesma
tenho. Por mais que Paolo me enlouqueça, nunca o afronto na frente de seus
homens, sou obrigada a engolir todos os seus desaforos, mas quando estamos
sozinhos não me contenho tanto, mostro o quanto ele me irrita.
— Quando acabar de acariciar Masha vá para o escritório, você tem
muito que fazer sobre os contratos da nova boate. — A frieza da sua voz
arrepia meu corpo. — Tenho uma reunião com alguns empresários do setor
hoteleiro, se algo acontecer me ligue.
Ele vira-se e vai embora de cara fechada, seguido de perto por Nicolo.
Nunca vi ninguém que passa o dia constantemente mal-humorado.
— Viu como ele nem falou comigo? Paolo me odeia. — Domênico
eleva os lábios contra a borda da sua xícara em um contido sorriso.
— Pode apostar que ele não te odeia. Se odiasse, na melhor das
hipóteses, você estaria fora dessa casa há muito tempo.
— E qual seria a pior das hipóteses? — Nossos olhos se encontram e
um tremor se espalha por meu corpo. — Ele me mataria?
— Paolo não mata mulheres sem ser por um bom motivo, mas ele te
deixaria à própria sorte sem nenhum tipo de ajuda.
Olho para longe, pensando no terror que seria se ele me jogasse na rua
sem nenhuma condição de me sustentar.
— Vou começar a buscar um trabalho para você e providenciar um
lugar para morar, se mudar de ideia me avisa, certo?
— Não vou mudar, eu quero ir embora. — Ele suspira derrotado.
— Ah, bambina, essa sua teimosia é irritante. — Sua mão grande
puxa minha cabeça contra seu peito e seus lábios vão até o meu cabelo. —
Você pode até ir embora, só não pense que se livrará de mim, estarei sempre
de olho nos seus passos.
— E quem disse que te quero longe? — Olho para ele sorrindo.
Domênico me encara sério e balança a cabeça ao levantar e esconder
um sorriso. Acho engraçado a sua mania de tentar se fazer de durão. Seus
olhos brilhantes deixam claro o quanto ele quer sorrir para mim.
Esses homens... são tão bobos.
Antes de ir embora ele pega outra xícara de café e desaparece pela
porta com seu andar firme e toda a sua elegância.
— Certo, eu vou pedir para ela passar aí hoje à tarde, fico te devendo
essa, Cassandro. — Domênico encerra a ligação quando para ao meu lado no
bar do La Fontaine[19], nossa mais famosa boate em Roma.
— O que você vai ficar devendo a Cassandro? — Estreito os olhos na
sua direção.
— Nada demais — sua resposta é feita enquanto digita uma
mensagem.
— Não minta para mim, quero saber agora mesmo o que vai dever a
ele. — Descanso um braço no balcão e me viro para olhá-lo melhor.
Domênico enruga a testa ao terminar a mensagem e ergue seus olhos
frios.
— Pedi uma oportunidade a Cassandro para Masha, ele vai arrumar
um emprego pra ela. — Por essa eu não esperava.
Encaro Dom sem palavras, não acredito que ele está a ajudando nessa
loucura de morar sozinha.
— Quem te autorizou a fazer isso? — pergunto sem esconder minha
irritação. — Ligue para ele agora mesmo e desfaça seu pedido impróprio.
O rosto dele endurece ainda mais e entendo que uma briga acaba de se
instalar entre nós.
— Isso não tem nada a ver com nossa relação de trabalho, então eu
não preciso me reportar a você sobre meus atos.
— Sou o seu Capo, tudo está relacionado a nossa hierarquia.
— Você sabe que não está. — Domênico mantém sua voz serena, mas
sua expressão deixa claro que ele quer quebrar a minha cara. — Masha está
convicta de que deve ir embora e eu acho que vai ser bom. Você em breve vai
procurar sua esposa e certamente ter outra mulher em casa não será do agrado
da sua companheira. É bom a bambina já ter um lugar para chamar de seu.
Odeio a sua sensatez, Dom nunca erra nos seus julgamentos e neste
momento quero esganá-lo por me mostrar o óbvio.
— Não vou me casar agora, ainda vou pensar com calma sobre o
assunto.
— Você precisa se casar com urgência, os conselheiros já estão
ficando impacientes por não ter um herdeiro. Se prolongar demais nessa
escolha, acabaremos tendo um conflito que poderá colocar em risco a sua
posição no clã.
E mais uma vez esse merda tem razão, os meus principais tenentes já
estão me pressionando sobre o assunto, alguns até andam me convidando
para festas no intuito de me aproximar das suas filhas. Todos querem o Capo
como genro, é uma honra entregar uma filha ao grande líder da Famiglia.
Inferno! Eu não quero casar, pensar em ter uma mulher para o resto
da vida é assustador.
— Não se preocupe com Masha, eu já estou pensando onde alocá-la.
Tenho vários imóveis na cidade, vou disponibilizar um para ela sem informar
que sou o proprietário, o dinheiro que ela pagar de aluguel eu guardarei para
que possa usá-lo futuramente.
— Ela é minha responsabilidade. — Sinto meu controle começar a
ruir.
— Só que ela não quer ser mais.
— Ela não tem querer. — Dom trinca os dentes.
— Vai começar com a história de ter a comprado?
— Mas eu a comprei, caralho! Não estou inventando nada.
— Você disse que quando ela fosse maior de idade poderia encontrar
o seu caminho, se não recorda Masha já tem dezenove anos, então está livre
para seguir o seu destino. — Eu vou perder o meu melhor amigo hoje, porque
se ele não calar a boca, quebro o seu pescoço.
— Ela não está livre até que eu diga que possa ir. — Travamos uma
guerra de olhares.
— Vocês querem uma bebida? — o barman pergunta, certamente
querendo impedir a nossa briga.
— Cai fora daqui, estamos resolvendo um assunto — ordeno sem tirar
os meus olhos de Dom.
— Por que está fazendo isso com ela? Você não a quer, Masha é
apaixonada por você e sofre em cada vez que a despreza. — Odeio ver a
proteção dele sobre meu inferno vermelho, eu sou o seu protetor, apenas eu
posso cuidar dela.
— Sou um filho da puta, Domênico, deveria saber disso.
— Pensei que com ela você seria diferente, ao menos eu sou quando
se trata da bambina.
— Você quer foder Masha, por isso fica se fazendo de bom moço. —
Domênico levanta e eu faço o mesmo.
Ficamos nariz contra nariz e ouço os meus seguranças sacarem as
armas. Dom pode ser um homem respeitado por todos eles, mas sabem que
devem obediência a mim, se meu Consigliere decidir me agredir, é função
deles o impedir até mesmo com a morte.
— Masha é como uma irmã, eu não tenho interesse sexual por ela,
deveria ser mais respeitoso, por conta das suas palavras desproporcionais ela
quer ir embora.
— Só que ela não vai, eu não quero que vá, ela é minha até segunda
ordem. — Vejo as narinas dele se expandirem como se fosse um touro bravo.
— Espero que você consiga um pouco de juízo e pare de ajudá-la, somos
amigos, você é um bom Consigliere, mas não pense que está livre de
qualquer punição.
Dou as costas para ele e saco o celular do bolso do terno. Busco o
nome de Cassandro e ele me atende no segundo toque.
— Senhor Torcasio, a que devo a honra?
— Esqueça o pedido de Domênico, não quero que arrume emprego
para Masha, isso é uma ordem, não pense em me contestar. — Encerro a
ligação e entro no meu escritório, puto.
Nem por cima do meu cadáver minha diaba vermelha vai embora,
ainda não sei o que fazer com ela, mas não a ter sob as minhas vistas está fora
de cogitação.

— Oi, Gio. — Largo a caneta e esfrego os olhos entre o indicador e o


polegar ao atender o celular. — O que foi, bambina?
— Paolo, quero ver Masha, mas mamãe não quer deixar — ela
resmunga. — A mãe diz que não devo me envolver com a sua amante.
Jogo a cabeça para trás, nossa mãe não acredita que Masha é apenas
uma ragazza que protejo, na cabeça dela temos um caso tórrido e vergonhoso.
Meu pai pensava o mesmo, ele não era contra eu estar com ela, mas
desaprovava mantê-la na minha casa. Inclusive os membros do Conselho
também não gostam disso, em certos momentos tenho que conter os
burburinhos por conta da presença dela na minha vida íntima.
— Já disse mil vezes que Masha não é minha amante.
— Eu sei que não é, se fosse ela me contava — Gio diz com
confiança. — Mas ela gosta de você, sabe disso, não é mesmo?
— Giovanna, isso não é assunto para você, é jovem demais para
conversar sobre certas coisas.
— Eu tenho dezessete anos, não sou tão jovem assim.
— Pode apostar que é, meu anjo. — Ela não tem ideia da metade dos
perigos que o mundo lhe reserva. — Chame a mamãe, vou pedir que lhe
envie para ficar o fim de semana comigo.
— Ah, Paolo, você é o melhor — ronrona feliz e grita por nossa mãe.
Um sincero sorriso brinca nos meus lábios, Gio é uma boa menina,
sempre alegre e sonhadora. Quando chegar o momento de escolher um
marido para ela, quero alguém de confiança, que eu saiba que não vá
machucá-la. Infelizmente não pude ter decisão no casamento das minhas
outras irmãs, Chiara ainda se acertou com o marido, já Fiorella vive infeliz,
ela e Carmelo não possuem nada em comum.
Isso me faz lembrar que eu tenho que ser cuidadoso com a escolha da
minha esposa. Quero ao menos ter alguma conexão com ela, pelo menos uma
fagulha de desejo precisa existir para manter a fachada do casamento.
— Filho, como está?
— Bem. — A voz dela está tensa, provavelmente já sabe o que vou
pedir e não pode me contrariar. — Quero Giovanna comigo neste fim de
semana, arrume as coisas dela que estarei enviando um carro para buscá-la.
— Paolo, não acho que seja apropriado, Gio está entrando na fase de
ser observada pelas famílias para se casar, estar com a sua...
— Mãe. — Eu a interrompo. — Por favor, não fale algo que irá
causar um atrito entre nós. — Ela solta um suspiro pesado. — Posso não ser
um porco como o meu pai, mas tenho o sangue maldito dele nas minhas veias
e ando um pouco azedo nos últimos tempos, então não me faça ser
desagradável com a senhora.
Ela faz alguns segundos de silêncio, certamente buscando se
controlar.
— Vou pedir que arrume suas coisas, pode enviar o carro.
— Ele estará aí em uma hora.
— Certo. — A voz dela é dura. — Mais alguma ordem? — Não perco
a sua cutucada. Vou relevar dessa vez.
— Pare de dizer que Masha é minha amante. — Volto a alertá-la. —
Se eu estivesse fodendo com ela, não teria problema em falar para todo
mundo. — Ela ofega. — Controle sua boca, evite problemas comigo, é um
conselho que estou dando porque é minha mãe e, eu não quero te colocar em
uma enrascada.
Espero ela falar algo, mas seu silêncio se estende e eu desligo.
Depois que meu pai morreu, mamãe acreditou que teria mais
liberdade para controlar Giovanna, mas eu sou o líder da família e apenas eu
sei o destino das duas. É assim que funciona e não posso mudar nada. A
minha palavra é lei, até que eu morra.

Entro em casa e ouço as vozes animadas das meninas. Giovanna e


Masha sempre se deram bem desde que se conheceram. Gosto das duas
juntas, Gio apesar de doce é um pouco intempestiva nas suas emoções, ao
contrário da ruiva, que sabe ser ajuizada nos momentos certos. O equilíbrio
entre elas é favorável à minha irmã, Masha não incentiva seus momentos
rebeldes.
Meu inferno vermelho é a primeira a notar a minha presença, depois
da confusão da noite do aniversário do Leonardo, mal nos falamos, ela faz
questão de me evitar e eu também não sou a melhor pessoa quando estou
perto dela.
Masha tem o dom de despertar uma infinidade de sentimentos em
mim, nenhum deles me agrada, isso me faz ficar ainda mais arisco.
— Você chegou. — Gio corre até mim e me abraça.
Abro um sorriso sincero quando rodeio os meus braços por seu corpo
e a ergo para poder beijar seu rosto.
— Como está, bambina?
— Feliz em poder ficar com a Masha — diz com um sorriso imenso.
Gosto de vê-la animada, vou passar a trazê-la mais vezes, talvez assim
Masha pare de pensar em ir embora.
— Sempre que quiser vir é só avisar, Masha precisa de companhia
feminina.
— Eu imagino, é muito homem nesta casa. — Gio olha para Masha,
que tem o rosto inexpressivo.
Odeio isso, sinto falta dela atrás de mim falando sem parar, com seu
sorriso fácil e suas perguntas irritantes.
Sempre reclamo que ela tem boca grande, mas dessa vez a minha
boca que exagerou. Queria restaurar o relacionamento suave que tínhamos.
— Boa noite, Masha — digo de maneira polida.
— Boa noite — responde sem me encarar.
Que vontade de ir até ela e beijá-la, a cada dia o meu controle está
escorrendo por minhas mãos.
— Você é maravilhosa. — Ouço ao fundo a voz de Leonardo
puxando saco de Mirta.
Ele sabe ser galante com as mulheres, minha governanta tem
verdadeiro fascínio por ele.
— Olá! Boa noite a todos. — Imediatamente Masha sorri e corre até
Leo, que a envolve em um abraço apertado.
Quem diria que um dia sentiria inveja desse garoto.
Ah, inferno vermelho, você fode a minha vida desde que cruzou o
meu caminho.
— Quanto tempo, Gio — diz ao beijar o rosto dela. — Você está cada
dia mais bonita. — Ela se derrete toda, ainda bem que ele é gay, caso
contrário já o colocaria no seu devido lugar.
Leonardo me cumprimenta e eu apenas aceno. Ele se junta as meninas
e começam a conversar baixo. Meu celular apita e vejo uma mensagem de
Scarlett, ela é uma atriz inglesa e está em Roma para uma gravação.
Nós nos conhecemos quando fui ao festival de Cannes. Ela ficou
atraída por meu visual perigoso e acabamos passando um final de semana
quente na Riviera Francesa.
Ela é uma mulher que sabe o que faz na cama, gosta de sexo forte e
adora realizar cada um dos meus desejos.
Scarlett: Que tal tomarmos uns drinques juntos? Depois podemos
acabar a noite na minha suíte.
Leio a sua mensagem e penso um pouco, meus olhos se erguem e me
deparo com Masha me encarando. Rapidamente corre o olhar até minha irmã,
fingindo prestar atenção no que ela fala.
Tudo o que eu mais queria nesta vida era acabar a noite na cama com
ela, eu a faria gritar muitas vezes de prazer.
Paolo: Vou buscá-la em uma hora, deixe o endereço do seu hotel.
Envio a mensagem e guardo o celular. Infelizmente não podemos ter
tudo na vida, aprendi isso desde cedo.
— Aonde vai? — Gio pergunta quando começo a ir na direção da
escada.
— Tenho um compromisso.
— Com Domênico? — pergunta curiosa.
— Não, hoje ele tem um encontro. — Pisco para ela, que enrubesce.
— Paolo, será que podemos ir a alguma de suas boates? Eu nunca fui
a uma. — Giovanna pede me pegando de surpresa.
— Esquece isso, até porque você é menor de idade. — Olho para o
inferno vermelho, da última vez que esteve no La Fontaine, a confusão que
aconteceu nos levou ao que estamos vivendo hoje.
— Por favor, a boate é sua, basta uma ordem que eu entro, o Leo
estará com a gente e você pode mandar alguns dos seus homens para nos
vigiar.
— Eu disse não.
— Paolo, juro que tomo conta delas. — Leonardo entra na conversa.
— Na última vez você tomou tarde demais. — Olho para ele que fica
sem graça.
— Mas eu cheguei antes do pior.
— Chegou sim, mas poderia ter sido antes das marcas que ficaram. —
Sinto a raiva começar a crescer dentro de mim quando lembro das manchas
roxas no pescoço e punho de Masha.
Até hoje me arrependo de não ter dado ordens para levarem aquele
infeliz ao galpão para acabar com ele.
— Nicolo poderia nos acompanhar. — Masha finalmente abre a boca.
Aproveito para observá-la.
Como é bonita, puta que pariu! Tudo nela é de uma perfeição
irritante.
— Ou pedimos pro Domênico nos levar amanhã. — Ela completa e
me deixa com raiva.
Estou odiando essa amizade extrema deles, ela deveria confiar em
mim, fui eu que a salvei daqueles malditos russos.
— Quero Domênico longe de você — digo com a voz dura. — Isso é
uma ordem, não um pedido. — Todos se retraem. — Amanhã penso se levo
vocês, hoje já tenho encontro marcado.
— Leve a sua namorada conosco. — Viro o rosto ao ouvir o
comentário de Giovanna.
— Namorada? De onde tirou isso? — Ela dá de ombros.
— Você deve ter várias, homens namoram muito. — Solto uma risada
amarga, pobre Gio, não sabe que homens como eu apenas fodem.
Namorada... essa é boa.
— Gio, vá se divertir na sala de jogos ou vendo um filme — falo ao
subir as escadas. — Pegue um dos meus vinhos, Leonardo, eu sei que você
gosta de surrupiar minhas bebidas quando fica aqui.
— Eu? — ele fala fingindo estar indignado.
— Também sei que você conhece meu tipo de trabalho, ninguém me
enrola. — Lanço um olhar aguçado para o seu lado, mas nada que diga que
vou cortar as suas bolas, tenho que admitir que esse idiota possui bom gosto
para vinho, ao menos ele pega as melhores safras.
— Você tem grana para comprar bons vinhos, preciso aproveitar que
bebo de graça.
— Ragazzo, você é corajoso. — Subo o resto das escadas evitando
sorrir.
Ainda bem que nenhum dos meus soldados está presente, seria
terrível eles presenciarem essa nossa conversa.
Passo a mão pelo meu vestido e aprovo o meu visual. Hoje Paolo
estará ao meu lado e eu quero provocá-lo o máximo que puder. Ouço uma
batida na porta e mando entrar.
Giovanna aparece sorrindo, ela está muito animada em ir a uma boate
pela primeira vez. Até agora não sei o porquê de Paolo concordar com isso.
— Você está linda. — Ela me olha com admiração. — Paolo
certamente vai ficar ainda mais mal-humorado quando vê-la assim.
— Como se ele me enxergasse.
— Pode apostar que ele enxerga. — Olho para Gio admirando a sua
beleza.
Ela veste uma calça de couro preta, que compramos mais cedo no
shopping, um cropped também preto e uma bota de cano alto. Está linda,
parece uma rebelde sem causa.
— Seu visual roqueiro está incrível.
— Se minha mãe me vir nessas roupas, vai me matar.
A mãe dela é um nojo, toda cheia de tradições, vive em cima da
Giovanna, a pobre menina mal pode respirar.
— Não tem nada demais na sua roupa. — Realmente não tem.
— É apertada demais, nem sei se Paolo vai me deixar usar. — Sinto a
raiva me dominar, odeio esse mundo restrito da máfia, as mulheres são
tratadas como simples insetos.
— Pode apostar que vai, você está perfeita. — Puxo sua mão rumo à
saída do meu quarto.
Quando chegamos à sala, Paolo está conversando com Leonardo
enquanto bebem um drinque. Nossos olhos se encontram e ele paralisa ao
avaliar minuciosamente o meu visual.
Eu não fico atrás, mapeio todo o seu corpo rígido sem nenhum pudor.
Paolo veste jaqueta e blusa preta, a calça e o sapato de couro italiano
seguem a mesma cor. Uma corrente de ouro branco com um crucifixo se
destaca no seu pescoço, seus anéis, brincos e piercings, transformam o seu
visual em algo estiloso e perigoso.
Ele está lindo e tudo o que eu queria era cruzar essa sala e beijá-lo até
meus pulmões chiarem.
— Essa roupa não é ousada demais? — ele pergunta a irmã.
— É só uma calça de couro, eu achei linda. — Gio morde o lábio
inferior insegura.
— Ela está ótima para a sua idade. — Afago suas costas com um
sorriso caloroso. — Vamos embora? — Corro meus olhos entre Paolo e
Leonardo.
Paolo me fita com claro descontentamento, ainda assim começa a
caminhar para a saída. Seguimos na sua cola e os seus seguranças nos
acompanham.
Entramos todos no mesmo carro, Paolo vai à frente e nós três atrás,
fazendo planos para a noite.
Quando chegamos à boate La Fontaine, entramos por um acesso
lateral, usado por Paolo quando vem trabalhar aqui. No último andar do
imóvel fica o escritório dele, onde resolve todos os problemas da máfia. A
parte dos seus negócios legalizados ele lida em um elegante escritório no
centro de Roma.
Giovanna fica empolgada quando o som estridente do ambiente nos
rodeia. Ela sorri como uma boba enquanto segue o irmão na direção da área
VIP.
Da última vez que estive aqui as lembranças não foram boas.
Felizmente hoje tenho um séquito de seguranças e ninguém que eu não queira
irá se aproximar de mim.
A mesa para Paolo já está reservada e um balde com champanhe
encontra-se sobre ela. Como Gio ainda não pode beber, ele pede um
refrigerante, ela faz cara feia, mas nessa situação não posso ajudá-la em nada.
Por alguns minutos ele fica conosco e conversa o tempo todo com a
irmã, parece passar algumas instruções a ela. Em seguida se afasta e vai
conversar com dois homens.
Ficamos sozinhos e Gio comenta o quanto está feliz, Leonardo segura
o seu corpo e começa a dançar com ela todo sorridente.
Eu me deixo levar pela empolgação deles, mas quando me lembro que
muito em breve Giovanna terá uma promessa de casamento arranjado, sinto
meu coração comprimir.
Ela é tão linda e cheia de vida, não me conformo de acabarem com
seu sonho por causa de uma maldita tradição desse universo da máfia. Gio
não merece isso, ela tinha que ser livre para decidir qual caminho seguir em
sua vida.
Depois que eu e Leo acabamos com a garrafa de champanhe, ele nos
chama para dançar na pista comum a todos. Eu me lembro da confusão que
aconteceu quando estive lá, mas Leonardo diz para eu relaxar. Ele avisa que
vai ao banheiro antes de descermos.
Fico a sós com Giovanna e enquanto conversamos, vejo uma mulher
elegante se aproximar de Paolo. Ela está usando um vestido colado ao seu
corpo escultural e esguio.
Sua mão vai para o seu ombro e os dois trocam dois beijos no rosto,
ela diz algo que o faz erguer um canto dos lábios, exibindo um discreto
sorriso misterioso que acelera meu coração.
Quero arrancar a mão da mulher sobre ele, mas não posso fazer nada,
então apenas observo os dois trocarem um olhar quente.
Homem maldito! Eu o odeio com todas as minhas forças.
— Vamos descer, meninas?
— Será que podemos mesmo? — pergunto com medo de Gio entrar
em alguma confusão.
— Claro que sim, vamos ter Leonel e mais um segurança na nossa
cola, hoje o poderoso chefão está com a gente, relaxa gata. — Ele segura as
nossas mãos e nos puxa.
No caminho chama Leonel, que faz sinal para um segurança bem
jovem nos acompanhar.
Entramos na pista empolgados e nos jogamos em cada música. Deixo
a canção me envolver e apago tudo o que está ao meu redor. Leo toma posse
de Gio e segura na sua cintura enquanto dança, ela está radiante, a sua alegria
transcende seu sorriso.
Fico tão feliz por ela, a pobrezinha vive em uma redoma de vidro,
vigiada em cada passo que dá.
Meus olhos vão para o alto e vejo a mulher falando algo no ouvido do
Paolo. Ela tem a mão no seu braço e o seu corpo praticamente está colado ao
dele. Por sua vez, o cretino pousa uma mão no seu quadril parecendo apreciar
a sua aproximação.
Cretino!
Sinto o ciúme correr sem controle por minhas veias, eu queria ter o
poder de ir até lá e avisar que ele é apenas meu.
Um sorriso amargo nasce na minha boca, ele me trata como sua
propriedade, mas esse bastardo é livre para fazer o que bem entender.
Raiva me consome neste momento, o que me faz olhar ao redor. Um
rapaz me olha próximo à pista, ele é alto, tem pele bronzeada e cabelos
pretos. Seu porte é forte, mas sem músculos exagerados. Não tem a metade
do charme do mafioso que possui meu coração, mas servirá para me fazer
esquecer o maledetto que não sai da minha cabeça.
Sorrio para ele enquanto danço, remexo os quadris com sensualidade,
o convidando silenciosamente a se aproximar. Ele entende os meus sinais e
vem na minha direção.
Sem dizer nada começa a dançar comigo, seus olhos negros me fitam
com desejo. Como eu queria sentir algo por ele, mas minha mente só projeta
Paolo no seu lugar.
Passo os braços por seus ombros, por sua vez ele firma as mãos nos
meus quadris. Com um aperto firme me cola contra o seu corpo e sua cabeça
abaixa até o meu ouvido.
— Você é linda, esse seu cabelo vermelho me deixou louco. — Seu
hálito quente não causa nenhum tipo de arrepio, eu estou muito fodida
mesmo.
— Posso dizer o mesmo de você, te achei um gato. — Ele eleva os
lábios contente e segura a minha cabeça.
Ai senhor! Ele vai me beijar.
Inspiro fundo, me preparando para o momento, não posso me afastar,
preciso ir em frente e tirar o desgraçado da minha cabeça.
Antes que seus lábios alcancem os meus, sou puxada para trás por
mãos que mais parecem garras. Olho para o alto e vejo Paolo com um olhar
assassino fuzilando o pobre rapaz.
— Fique longe dela ou vai se arrepender.
Ele me puxa para longe e eu só consigo seguir atrás dele
completamente chocada. Acabo me recuperando e puxo meu braço. Quem ele
pensa que é para invadir minha vida assim?
— O que pensa que está fazendo? — grito para que me ouça. —
Quero que me largue agora!
Paolo aperta ainda mais meu braço e aprisiona meu corpo entre o seu
e uma parede, apoiando as mãos em cada lado do meu rosto. Seus olhos
verdes agora estão completamente negros, sua respiração sai pesada quando
ele me fita com raiva e... ciúmes?
Não! Ele não tem ciúmes de mim, Paolo tem posse, ele me comprou,
por isso controla cada um dos meus passos, inclusive quem se aproxima.
Inesperadamente ele abaixa a cabeça e inspira fundo várias vezes,
parecendo querer se controlar. Olho para seu cabelo brilhoso e sinto
comichão na mão para tocar os fios. Parecem tão macios, sempre tive vontade
de tocá-lo mais intimamente.
Minha mão ganha vida e eu afundo meus dedos no seu cabelo, um
gemido tenta escapar de mim quando sinto os fios sedosos deslizando por
meus dedos.
Vou afagando seu couro cabeludo, me deliciando com esse contato
íntimo. Desço até sua orelha e a acaricio, em seguida minha mão vai para sua
barba, sentindo os pelos pinicarem minha mão. Sigo até seu pescoço, ele está
quente, assim como eu, o meu corpo parece ter entrado em erupção. Sinto a
umidade se instalar entre minhas pernas, estou explodindo de tesão.
Abafo um grito quando ele segura o meu punho com força e ergue a
cabeça. Raiva. Ele me olha com muita raiva, o que me faz retrair por dentro.
Sou pega de surpresa quando afunda os dedos na minha cintura e
puxa meu corpo com brusquidão contra o seu. Dando um passo à frente, ele
me aprisiona completamente entre seu corpo firme e a parede. Paolo
praticamente encosta o nariz contra o meu, enquanto prende o meu olhar.
Fogo. Vejo uma explosão acontecer em seus olhos, o desejo se
espalha como um rastro de pólvora. Um arrepio transpassa meu corpo,
finalmente ele vai me beijar.
Acompanho com a respiração suspensa ele olhar para a minha boca,
aguardo com ansiedade o seu contato, mas Paolo desvia e cola os lábios no
meu ouvido.
— Nunca mais me toque assim. — O calor do seu hálito faz meu
corpo tremer. — Eu tenho um autocontrole fodido, mas ele não se aplica a
você. — Seus dedos afundam na carne da minha cintura. — Você é delicada
demais para um homem como eu. — Aperto os olhos com força quando ele
corre o nariz pelo meu pescoço. — Porra, você tem o cheiro bom pra caralho.
— A minha mão que ainda está no seu pescoço, o aperta com força. Ele
esfrega o corpo no meu e eu gemo, me sentindo derreter com esse contato
inédito. — Deus, Masha, você é... — Para de falar e inspira fundo. — Não
posso te contaminar com a minha escuridão, não é justo. — Outro gemido
escapa de mim quando ele suga o lóbulo da minha orelha e depois o morde.
— Você vai subir comigo e vai ficar quietinha.
Saio do meu torpor de tesão e sinto a raiva me dominar.
— Só você que pode se agarrar com as vadias? — pergunto irritada.
Ele move a cabeça e encara meus olhos. Seu olhar cai para a minha
boca, depois segue para meus seios.
— Ela não é ninguém.
— Ele também não é. — Trocamos um olhar tenso, até que Paolo
ergue um canto da boca.
— Sou possessivo, ragazza, e até que provem o contrário você é
apenas minha. Ninguém toca em você, só se quiser perder a mão.
— Você é doente.
— Sou muito mais que isso. — Ele passa o polegar por meu lábio
inferior. — Esse seu batom vermelho só perde para esse maldito vestido
curto, você não sabe o que provoca nos homens.
Não digo nada apenas o observo com raiva e também desejo.
Minha respiração falha quando a sua mão que ainda está na minha
cintura sobe e seu polegar roça abaixo do meu seio. Paolo vai me matar, eu
não aguento mais segurar a vontade de beijá-lo.
Do mesmo jeito que ele se aproximou inesperadamente se afasta e me
puxa para a área VIP. Passo o resto da noite com seus olhos em mim e a
mulher que investe incessantemente nele não se afasta um minuto.
Quando chega a hora de irmos embora tenho a certeza de que ele não
vai com a gente, mas Paolo me surpreende ao voltar para casa conosco e
seguir direto para o seu quarto.
Passo algum tempo ouvindo Giovanna falar, sem parar, sobre suas
impressões da sua primeira balada. Depois de um banho eu me deito e revivo
intensamente cada momento que passei ao lado dele.
Eu preciso me afastar o quanto antes, Domênico necessita encontrar
meu emprego logo, ou eu estarei perdida.

Entro na deslumbrante joalheria e uma mulher muito elegante se


aproxima. Ela sorri com simpatia e corre os olhos por minhas roupas,
certamente avaliando se tenho dinheiro para comprar alguma joia.
— Boa tarde. — Eu a cumprimento sorrindo. — Tenho uma hora
marcada com o senhor Franco Greco.
— Ah, você é Masha Conti?
— Eu mesma. — Ela alarga o sorriso.
— Venha comigo. — Sigo no seu encalço e entro em um corredor e
sou direcionada até o fundo.
Ela bate em uma porta pesada de madeira e alguém a manda entrar. A
mulher fala rápido com a pessoa que está lá dentro, em seguida me manda
entrar.
Agradeço a sua ajuda e vou para dentro da sala, por trás de uma
grande mesa de carvalho, Franco Greco me observa com seus intensos olhos
azuis.
Além de ter várias joalherias, também é o contador da máfia e deve
estar na faixa dos sessenta anos. Possui uma barba rala, cabelos grisalhos e
olhos frios, porém não posso negar que seja extremamente bonito. Quando
jovem, certamente arrasou muitos corações, sendo um pouco sincera, deve
arrasar até hoje, ele soube manter a boa forma.
Eu espero que o senhor Greco me ajude, pois, tive problemas com as
duas indicações anteriores. Todos os lugares que eu fui às pessoas acabaram
dizendo que não me encaixava na vaga.
Domênico ficou irritado, mas os seus contatos disseram que iriam ver
se conseguiriam outra colocação para mim. Isso já tem mais de duas semanas
e nada aconteceu.
Enquanto isso eu me esgueiro pela casa de Paolo fugindo dele
desesperadamente, não suportando mais saber que nunca estaremos juntos.
Todas as noites eu sonho com suas mãos sobre o meu corpo e preciso usar de
meios próprios para abafar a minha excitação.
Tive sorte de ele ter passado a última semana fora a negócios e voltou
apenas ontem. Quanto menos contato com ele, para mim, fica melhor.
Com um pouco de sorte, saio empregada daqui e ganho minha
libertação definitiva.
— Senhorita Conti, não é isso? — O homem elegante pergunta.
— Exato. — Ele me olha com intensidade e suas sobrancelhas
enrugam.
Parece que Franco está me vendo pela primeira vez e o modo como
me encara é um pouco incômodo.
Ele não frequenta muito a casa do Paolo, mas já o vi algumas vezes
por lá, porém nunca fomos apresentados. Eu não tenho contato com os
homens da máfia, o poderoso chefe não me permite conviver no seu mundo.
Sempre que algum deles vão na sua casa, preciso ficar longe de todos.
Apenas Domênico, o marido de Chiara e Giorgio, o subchefe do
Paolo, são autorizados a se aproximarem de mim.
Claro que eu espio todos eles quando visitam Paolo, sei o nome de
alguns, mas nunca conversei com qualquer um deles.
— É Conti de quê?
— Ricci de Conti.
— Humm — diz um pouco pensativo. — Sente-se, por favor. — Eu
me acomodo à sua frente. — Masha é um nome russo, você como italiana
não deveria ter esse nome. — Inspiro fundo antes de respondê-lo.
— O meu nome veio em homenagem à obstetra que me trouxe ao
mundo — revelo o motivo do meu prenome.
— A minha mãe teve dificuldades no parto e a obstetra foi
fundamental no meu nascimento, daí meu nome.
— Que interessante — diz pensativo. — Domênico me disse que não
tem experiência, mas que está na faculdade cursando administração.
— Isso mesmo — rapidamente respondo. — Eu sou boa em aprender.
— Certo, você... — Ele não termina de falar, pois seu telefone toca.
— Por favor, preciso de um minuto. — Avisa antes de atender ao telefonema.
— Greco falando. — Seu semblante fica tenso enquanto ele ouve a outra
pessoa. — Entendido, não se preocupe, eu cuido disso. — Sem mais palavras
desliga e sua postura amistosa muda.
Franco me observa, o seu olhar é investigativo, ele avalia meu rosto
com extrema atenção.
— Eu vou te dar um formulário para responder. Minha funcionária
Fiora irá te levar para uma sala tranquila, quando terminar entregue a ela, vou
tentar encontrar um espaço na minha equipe para você.
— Muito obrigada. — Agradeço animada.
Ele pega o telefone e pede para a sua funcionária vir me buscar, em
seguida me entrega uma folha com várias perguntas.
Saio do seu escritório feliz, cheia de esperança de finalmente
conseguir minha vaga de emprego.
Respondo tudo com muita atenção e entrego à Fiora, quando saio da
joalheria, ligo para Domênico.
— Novidades, bambina? — pergunta com tranquilidade.
— Preenchi uma espécie de ficha, ele disse que irá arrumar uma vaga
pra mim.
— Que maravilha, Franco tem muitas lojas, alguma delas deve ter um
lugar que possa te colocar.
— Ai, Dom, eu estou tão animada, acho que chegou a minha vez de
controlar a minha própria vida.
— Vai dar tudo certo, agora é só esperar.
— Obrigada por tudo, sem você não conseguiria.
— Esqueça os agradecimentos, venha logo para casa, vamos tomar
um café juntos.
— Já estou chegando. — Encerro a ligação e entro no carro que me
trouxe.
Sorrio para Leonel, que me olha de maneira estranha. Eu estou tão
feliz, que não ligo para ele, em breve estarei livre, vou poder andar por Roma
sem ninguém controlando os meus passos.
Expiro a fumaça lentamente enquanto olho para o céu azul por trás da
janela do meu escritório. A minha mente vai para a noite da boate, onde eu
quase perdi a cabeça com Masha.
Isso aconteceu há quase um mês e até hoje o cheiro dela me envolve
nos momentos mais inoportunos. Se antes ela já era uma presença constante
na minha vida, agora tudo ficou pior, Masha se transformou em uma espécie
de tatuagem.
A situação é tão tensa, que foder se tornou uma missão estressante.
Quando saí com Scarlett, eu só consegui ter uma ereção quando fechei os
olhos e pensei em Masha. Tudo piorou depois de colocar minhas mãos nela.
Na semana que estive fora a trabalho, eu só consegui foder as
mulheres que passaram pelo meu caminho sem olhar em seus rostos.
Coloquei todas de quatro, de lado, qualquer posição que eu não tivesse
contato visual e pudesse apenas imaginar meu inferno vermelho comigo.
Corro a mão pelo cabelo, frustrado, sempre estive no controle das
minhas emoções, jamais me deixei levar por sentimentos conflituosos como
agora.
Olho para o relógio esperando Domênico com os relatórios sobre o
último carregamento de drogas que enviamos para Portugal, ele anda me
dando um trabalho do caralho com essa insistência em arrumar emprego para
a minha ragazza.
Da última vez quase não consigo impedir sua contratação, liguei para
o meu contador no último minuto e como Franco é um homem obediente,
acatou o meu pedido sem contestar.
O estranho foi ele me ligar depois cheio de perguntas sobre Masha.
Não entendi o seu interesse, todos os membros do Conselho sabem que eu a
comprei, porém, eu não permito que nenhum deles tenha acesso a ela. Apesar
de me dar bem com Franco, ele também nunca viu Masha de perto e me
irritou muito todo o seu interesse na minha diaba vermelha.
Eu espero não ter problemas com Franco se interessando por ela, já
basta as dores de cabeça que tenho com os outros conselheiros, não quero me
indispor com um dos meus homens mais próximos.
A porta do meu escritório abre com violência e Domênico entra com
o rosto revolto. Seus olhos frios caem sobre mim e eu sinto os pelos da minha
nuca eriçarem.
Será que aconteceu algo com nossos homens? A Bratva anda
atacando a Camorra em Nápoles e, nos últimos tempos vem tentando ganhar
espaço nas ruas de Roma, com suas drogas de péssima qualidade. Eles
sempre se mantiveram no escuro por aqui desde que assumi a liderança da
máfia na capital, os covardes se esconderam, eu fui bem claro quando
confrontei Yuri que não os toleraria invadindo o meu território.
— O que houve? — indago preocupado.
— Por Deus, Paolo, o que pensa que está fazendo? — Ele joga com
força a pasta com os relatórios sobre a mesa. — Não é justo o seu egoísmo.
Observo-o perdido, eu não consigo compreender o motivo de toda a
sua raiva.
— Pode me dizer ao menos o que está acontecendo? — peço com a
voz serena.
— Por que está boicotando as oportunidades de emprego que arrumo
para Masha? — Endureço o rosto. — E não ouse negar, eu descobri tudo.
— Quem foi o traidor que te contou?
— Foda-se quem me contou! Você não tem o direito de fazer isso.
— Eu tenho todo o direito, ela é minha.
— Não! Ela não é. — Ele me enfrenta e agora sou eu o furioso.
— Você é como um irmão, mas não vou admitir a sua rebeldia
comigo. Eu te dei uma ordem direta para não seguir com essa ideia e você me
desobedeceu.
— Ela não é assunto da máfia.
— Ela é meu assunto, porra! — Trocamos um olhar tenso, ambos
com a respiração acelerada.
— Se você não fosse o meu Capo e melhor amigo, eu cortava sua
garganta agora, porque um filho da puta como você merece sangrar até
morrer.
— Digo o mesmo sobre você, quem não obedece a seu líder, não
merece viver.
Não recuo nenhum centímetro, encaro os seus olhos querendo quebrar
o seu pescoço.
Se Domênico acha que vai me tirar Masha está enganado, ela não sai
daqui até que eu ache que chegou a hora.
— Fique com os seus relatórios, hoje eu vou trabalhar no escritório no
centro, não consigo olhar para você. — Ele se vira e começa a sair.
— Volte aqui, Domênico — ordeno com a voz ameaçadora.
— Não me venha com essa de Capo nesta situação, não me faça dizer
onde enfiar seu título, eu estou caindo fora ou então eu quebro a sua cara e
levo um tiro por te desrespeitar. — Sua voz é baixa, ele sabe que não pode
falar alto para não ser ouvido pelos soldados.
Domênico sai intempestivamente e bate à porta com tanta força, que
um dos quadros cai no chão.
Aperto o polegar e o dedo médio no alto do nariz e fecho os olhos.
Foram poucas as vezes que briguei com Domênico e na maioria delas foi
justamente por causa do inferno vermelho.
Eu sabia que ela seria problema, seus cabelos de fogo me diziam isso.
Dou a volta pela mesa e vou atrás dele, abro a porta com raiva e sigo
pelo corredor, porém, quando chego à sala, paraliso. Ele está abraçado a
Masha, afagando seus cabelos enquanto fala algo no seu ouvido.
Odeio quando esse maldito permite que ela o toque, nem eu posso
encostar um dedo nele, mas ela tem livre acesso ao seu corpo.
Desgraçado!
O monstro que habita em mim ruge com violência e eu esqueço a
prudência e parto para cima desse filho da puta. Ele quer me roubar Masha,
mas eu acabo com sua vida antes disso. Todo esse seu empenho para que ela
saia da minha proteção é para que possa se movimentar na sua direção, sei o
quanto Domênico pode ser dissimulado.
Puxo a gola da sua camisa com força o separando dela e acerto seu
rosto, ele tomba para trás com a força do meu golpe. Dom é tão forte quanto
eu e tem um metro e noventa de altura, apenas dois centímetros além do que
possuo, porém tenho mais tempo de estrada, aprendi alguns truques que me
fizeram ser mais letal que ele em uma briga.
— Eu vou matar você com as minhas próprias mãos — digo antes de
acertar outro soco.
Escuto o grito desesperado de Masha pedindo que eu o solte, mas não
paro o meu ataque, parto para cima dele com tudo. Ergo o punho para
desferir outro golpe, mas Domênico o intercepta. Aproveito que sua guarda
está aberta, acerto um soco em suas costelas com o punho esquerdo.
Ele trinca os dentes e me empurra, vejo Nicolo vir na nossa direção,
certamente ouviu os gritos de desespero de Masha.
— Afaste-se — ordeno a Nicolo segundos antes de acertar um soco
no estômago dele que o faz estremecer. — Isso é assunto nosso.
Domênico tenta só me conter, pois sabe o que significa me agredir, eu
estou possuído pelo ódio e mais uma vez o acerto. Dom vem com tudo para
cima de mim, parecendo esquecer das consequências que podem acontecer se
me acertar um golpe.
Nós nos atracamos como animais, ambos entrando na zona de
escuridão perigosa, que deveria ser contida quando estamos fora de um
conflito.
Ele tenta me acertar, mas eu desvio. Sorrio para ele, sentindo a
necessidade animalesca de arrancar sangue desse bastardo.
— Por favor, parem com isso. — Masha grita. — Paolo, você está
louco? — Bloqueio a sua voz e faço mais um avanço.
Dom recebe um golpe na bochecha e trinca os dentes, ele me empurra
e eu acabo me desestabilizando tombando para trás. Meu cotovelo acerta com
força algo as minhas costas e o grito de dor de Masha me paralisa.
Olho para trás e a vejo desabar no chão, choramingando enquanto
aperta a mão sobre as costelas. Eu não consigo me mover, apenas observo
estático Mirta aproximar-se aos gritos e se jogar ao lado dela.
Nicolo também se aproxima e apoia sua cabeça com as duas mãos.
— O que está acontecendo aqui? — Mirta olha entre Domênico e eu.
— Vocês perderam a cabeça? Ma che palle! Que barbaridade fizeram com a
bambina?
— Masha, você está bem? — Domênico se ajoelha ao lado dela.
Mirta ergue sua blusa e uma vermelhidão se espalha por sua pele, não
vai demorar a ficar roxo.
O horror me domina quando a vejo tentar puxar o ar enquanto
lágrimas caem por seu rosto. Eu feri minha ragazza, ela está machucada por
que eu a agredi.
— Saiam! — vocifero ao me aproximar dela. — Eu cuido da Masha.
— Cuida como? Vai machucá-la mais? — Mirta me encara
enraivecida.
— Cale a sua maldita boca, mulher! — Ergo-a em meus braços e subo
as escadas correndo na direção do seu quarto.
Como não tem um pingo de juízo, Mirta vem no meu encalço,
bufando parecendo um touro bravo.
Deposito o seu corpo na cama com todo o cuidado, como se ela fosse
um cristal prestes a quebrar.
— Traga bastante gelo e uma toalha, Nicolo, a bambina vai precisar
para anestesiar a dor — Mirta ordena.
— Masha... — Tento tocar seu cabelo, mas ela recua do meu toque e
geme com as mãos pressionando seu ferimento.
Eu me afasto dela surpreso por dispensar o meu toque, ela nunca fez
isso.
— Bambina, fique calma, vou cuidar de você até chamarmos o
médico — observo Mirta acariciar o seu cabelo e beijar a sua testa.
Dou um passo para trás, me sentindo completamente destroçado por
feri-la. Ela está chorando por minha causa, sou o responsável por sua dor.
Não resisto quando Domênico me dá uma chave de braço e arrasta
meu corpo até o corredor. Ele me empurra contra a parede e aproxima o rosto
do meu sem esconder a sua cólera.
— O que pensa que está fazendo, porra?! — grita a centímetros do
meu rosto. — Você viu o que fez? Feriu Masha, caralho! Está satisfeito
agora?
Fico quieto, minha mente ainda está nela gemendo, com medo de
mim. Ele segura a minha camisa e me sacode com força, mas quando vê
Nicolo entrando no corredor trazendo o gelo, me puxa até o meu quarto.
Ele bate à porta e encosta-se sobre ela, Domênico também está tão
abalado quanto eu, ambos temos a respiração descompassada.
— Porra, Paolo, você fodeu tudo. — Corre a mão pelo cabelo, o
tirando do seu rosto, agora eles estão soltos e os fios dourados pairam
próximos a seus ombros. — Que surto foi esse?
Pego um dos vasos que enfeitam um móvel e jogo contra a parede,
preciso extravasar a fúria que me engole sem piedade.
— Inferno! — rujo ensandecido, eu quero matar alguém agora
mesmo, preciso expurgar este furor que me consome. — Ela está acabando
comigo, eu não me reconheço mais. — Infiltro as mãos pelo cabelo e puxo os
fios para trás tentando me impelir alguma dor buscando sanar o ódio de mim
mesmo.
— Isso não pode mais continuar. — Ele se aproxima de mim. —
Você precisa tomar uma atitude. — Meus olhos vão para os seus e eu me
lembro das suas mãos sobre ela.
Seguro a sua garganta e aperto, Dom não contra-ataca, apenas segura
meu punho enquanto seus olhos fitam os meus.
— Você a tocou, eu sabia que a queria.
— Controle essa porra de ciúme.
— Não é ciúme, pare de fugir da verdade, você a quer. — Domênico
intensifica ainda mais seu aperto no meu braço.
— Paolo, quando vai entender que Masha é como uma irmã? Não
existe nada além de cuidado com relação a ela. Se a colocar nua agora na
minha frente, vou tirar meu terno e a cobrir, eu não a desejo, não preciso
mentir.
Abaixo minha mão e o empurro para longe, ele está sendo sincero, eu
que estou louco por conta dela. Masha virou a minha obsessão, por causa dela
eu perdi o controle e isso é muito perigoso.
— Acho que estou enlouquecendo desde que ela disse que vai embora
— assumo. — Eu me tornei um homem fraco.
Se meu pai estivesse vivo, ele mesmo me mataria, seria inadmissível
para ele ter um filho descontrolado das suas emoções por conta de uma
mulher.
— Você não é fraco, só está negando a verdade. — Dom apoia a mão
no meu ombro. — Reivindique Masha.
— Não posso, o Conselho não a aprovaria, ela não pertence ao nosso
núcleo.
— Meu amigo, ela vale qualquer briga, você é Paolo Torcasio, o
temido Capo da Cosa Nostra, você pode tudo, quem vai ser contra alguma
decisão sua sem ter alguma retaliação? — Ergue uma sobrancelha. — Masha
pode jurar com sangue que nos será fiel e, conhecendo bem a bambina, fará
isso sem pensar duas vezes.
Será um desafio conseguir o apoio da maioria do Conselho, se eu
fosse um soldado não teria problemas, mas o alto clã tem tradições a seguir.

Abro a porta do quarto da Masha devagar, já é noite e desde o


incidente de mais cedo eu não vim vê-la. Domênico passou boa parte da tarde
com ela, depois que foi examinada pelo médico que atende o nosso clã.
Aceitei as palavras dele sobre não ter interesse nela, ainda assim não
gosto da intimidade deles.
Eu sou possessivo de natureza, não posso fugir dos meus sentimentos,
principalmente quando se trata dela.
O quarto tem uma luz suave e seus cabelos vermelhos estão
espalhados pelo travesseiro. Ela está de costas para mim, mas eu sei que está
acordada, Mirta acabou de sair daqui.
Com passos lentos me aproximo da sua cama, dou a volta até ficar de
frente para ela. Masha me encara e se retrai, esse gesto me mata, odeio saber
que está com medo de mim.
— Como você está? — pergunto ao me sentar ao seu lado.
Ela evita meu olhar e aperta a mão no lugar onde a feri. Meus olhos
vão para a região e meu coração dispara.
— Posso ver? — peço, preciso olhar o estrago que fiz.
Sem me dirigir a palavra ela tira a mão do local, indicando que posso
ver. Ergo devagar a sua blusa e prendo a respiração quando vejo a imensa
mancha roxa em sua pele.
Abaixo a blusa contendo a vontade de praguejar, não acredito que fiz
isso, não nela que é como uma relíquia para mim.
Passo a mão no seu quadril, querendo de alguma maneira confortá-la.
Eu sou a imagem da destruição, o que aconteceu hoje foi um lembrete de que
não posso ficar perto dela, longe de mim estará mais segura.
— Desculpa — digo sentindo um amargor se espalhar por minha
boca. — Nunca tive a intenção de te ferir, prefiro a morte a te ver como
agora.
Masha me olha com espanto, sua boca está entreaberta, indicando o
quanto está surpresa.
— Você nunca pede desculpa — diz com a voz baixa.
— Hoje eu preciso pedir, é o mínimo que merece. — Acaricio seu
cabelo, feliz por poder tocar toda a sua suavidade.
Deslizo a mão por sua bochecha, agradecido por ela não se afastar de
mim. Corro os dedos por seu ombro e desço o carinho por seu braço, até que
seguro a sua mão.
— Precisa de algo? — pergunto ainda segurando a sua mão.
— Agora estou bem.
— Doí muito?
— Já esteve pior. — Assinto e acaricio as pontas dos seus dedos.
— Ligue ou mande uma mensagem se precisar de mim, hoje será uma
noite insone, estarei de vigilância caso necessite da minha ajuda.
— Está desculpado, Paolo, não precisa se culpar tanto, sei que foi um
acidente, você não iria me ferir por conta própria. — Ouvir isso deveria me
acalmar, mas causa o efeito contrário.
Masha é boa demais para mim, eu não a mereço. Sempre fui um filho
da puta egoísta, mas não posso ser um com ela. Não vou condená-la a ter uma
vida de miséria ao meu lado, não é justo.
O meu lugar é ao lado de uma mulher da máfia, que tenha nascido tão
condenada a infelicidade quanto eu. Ela merece amor, liberdade,
tranquilidade.
— Você não sabe como me deixa feliz em ouvir isso. — Inclino o
corpo e beijo sua testa. — Espero que durma bem.
— Acabei de tomar o analgésico, não vai demorar a fazer efeito.
— Que bom. — Faço um último carinho na sua bochecha e
relutantemente me afasto dela.
Preciso deixar Masha ir, ainda que isso seja como a morte para mim.
O meu inferno vermelho trouxe um pouco de luz para a minha escuridão,
quando ela se for, as trevas irão me engolir novamente sem nenhuma
piedade.
Desço as escadas devagar, a dor aguda nas minhas costelas é um
lembrete do caos que aconteceu ontem, ainda estou tentando assimilar todos
os acontecimentos.
Assim que eu fui atendida pelo médico da máfia, Domênico foi para o
meu quarto e durante a nossa conversa afirmou que Paolo perdeu o controle
por ciúmes, ele acredita que Dom me queira e, por isso vem buscando
atrapalhar as minhas tentativas de arrumar um emprego para continuar sendo
o único responsável por minha proteção.
Achei toda a história surreal e, conhecendo Paolo, fica difícil acreditar
que ele se importe tanto comigo a ponto de brigar com o seu melhor amigo.
Para mim ele só não quer me libertar porque pagou para me ter e quer receber
o seu dinheiro de volta. Não consigo imaginá-lo com ciúmes de alguém, ele é
frio demais para isso.
Termino de descer as escadas e ouço um burburinho vindo do
corredor que dá para o escritório do Paolo.
— Sabe que não tem para onde fugir, você tem suas obrigações e
precisa cumpri-las, antes que enfrente problemas com relação a sua liderança.
— A voz de Domênico sai irritada.
— Foda-se, eu não vou fazer nada por obrigação. — Paolo rosna.
— Quando vai entender que não é apenas uma obrigação? — Como
sempre Dom mantém a sua tranquilidade. — Você necessita de uma esposa e
um herdeiro, não pode mais negligenciar essa verdade, passou do tempo de se
casar, precisa escolher o quanto antes uma mulher do nosso clã e pode fazer
isso na festa que Mattia vai realizar.
— Por acaso está achando boa ideia eu me casar com a filha dele? —
O meu coração paralisa só em pensar que ele já tenha uma pretendente.
— Ela é uma boa ragazza, foi criada para ser esposa de qualquer
homem do mais alto nível do clã, não precisa gostar dela, apenas saber que
será uma boa companhia. Você já fez trinta anos, Paolo, com a posição que
ocupa era para estar casado há muito tempo, sabe bem disso.
— Vá se foder, Domênico, não quero a filha de Mattia, ela é uma
menina.
— Ela já tem dezenove anos, está na idade de se casar. — Seguro a
respiração, a garota tem a minha idade e pode virar a futura esposa do homem
que tem o meu coração.
Preciso ir embora daqui o quanto antes, não vou conseguir ver Paolo
transitando pela casa com uma noiva.
— O que está fazendo aqui? — Dom pergunta ao entrar na sala
carregando vários papéis na mão me pegando de surpresa.
Ele tem alguns hematomas no rosto, fora isso não parece que ontem
teve em uma luta violenta com Paolo. Nunca vi nada igual, eles pareciam
dois animais e suspeito que não foi pior porque Domênico se esforçou para
não contra-atacar o chefe.
Recupero minha compostura e finjo não ter ouvido a conversa dos
dois.
— Vim tomar café, estou com fome. — Com gentileza ele passa o
braço por meus ombros e beija a minha testa.
— Mirta já estava preparando o seu café, não precisava descer.
— Eu estou melhor. — Os remédios aliviaram muito a dor.
— Venha. — Ele me leva para o sofá e me ajuda a sentar. — Vou
pedir que traga o seu café até aqui, fica mais confortável.
— Posso ir para a mesa, não estou inválida. — Faço uma careta.
— Paolo foi comer lá. — Seus olhos me analisam com cuidado,
querendo saber qual reação terei com essa notícia.
— Não estou com raiva dele se é isso que quer saber, apenas magoada
por ele te agredir e impedir a minha contratação. — Infelizmente não consigo
ficar de verdade com raiva dele, devo muito a Paolo, se não fosse ele talvez
hoje não estivesse viva. — Por mais que eu tente, nunca serei capaz de me
chatear com ele de verdade, aquele ranzinza salvou a minha vida.
Domênico ameniza a expressão e acaricia o meu rosto, seus olhos são
ternos, raramente o vejo tão desarmado da sua máscara de homem frio.
— Você é boa demais para estar entre as feras, bambina. — Meus
olhos seguem para as costas de Dom, onde Paolo nos observa com o rosto
tenso.
Ele parece se conter, mas por sua expressão rígida entendo que sua
vontade é novamente atacar Domênico por nos ver juntos.
Esse homem me confunde tanto, em alguns momentos chego a
acreditar que ele se importa comigo, só que aí ele me olha com tanta
indiferença, que meu coração se quebra completamente.
— Pare de me olhar assim, Paolo, eu estou bem — digo tentando
amenizar o clima.
A mão de Domênico que está no meu rosto some rapidamente, ele se
vira para o chefe e dá um passo para longe de mim.
— Como se sente? — Paolo pergunta com o olhar preocupado.
— Melhor. — Tento não fazer uma careta de dor ao me mover.
Se com apenas uma cotovelada acidental ele quase tirou minha
capacidade de respirar, não gosto de imaginar o que faria se me acertasse um
soco como fez com Dom.
— Não precisava descer, Mirta ia levar seu café.
— Eu quis descer — rebato o seu comentário.
— Certo. — Ele está completamente constrangido.
— Paolo não precisa ficar pisando em ovos comigo, eu não estou com
raiva de você, nem podia depois de tudo o que fez por mim. O que aconteceu
foi um acidente, sei que jamais faria isso intencionalmente. Eu só preciso te
pedir uma coisa. — Os seus olhos me encaram com aflição.
— Só pedir.
— Nunca mais agrida o Domênico, ele é seu amigo e a pessoa mais
fiel a você. O que mais me doeu foi vê-los se atracando por minha causa,
Dom só quis me ajudar e você atrapalhou tudo, só não entendo porque fez
isso, está nítido que meu tempo aqui já ultrapassou o limite, então por que
não me deixa ir embora? É por que deseja que eu te pague? Tudo se resume
ao valor que me comprou?
Ele abre a boca, parecendo chocado com todos os meus
questionamentos.
— Estou pouco me fodendo para o dinheiro — diz parecendo
ofendido.
— Então, por que não me deixa ir? Eu não faço parte do seu mundo,
só quero tentar me encontrar, reconstruir a minha vida, não posso ficar aqui
eternamente. Eu sei que você tem que se casar o quanto antes, eu vou sobrar
nesta casa. — Ele trinca os dentes e suas sobrancelhas se unem demonstrando
o quanto está chateado com nossa conversa.
— O que faz aqui? — Mirta pergunta ao aparecer com uma bandeja
na mão interrompendo a conversa. — Você precisa repousar.
— Não sou uma moribunda — falo já me sentindo estressada com
todos em cima de mim.
— Menina, você é teimosa demais. — Ela vem na minha direção. —
Vai comer e depois irá para o quarto descansar, o médico disse que precisa de
repouso total para curar mais rápido.
Olho por sobre o ombro de Mirta e vejo que Paolo se foi, meus olhos
procuram por Dom, que apenas suspira fundo e senta ao meu lado.
Decido não perguntar nada a ele sobre as atitudes de Paolo, estou
cansada demais para ficar buscando respostas.

Os próximos dias passaram rapidamente, Leonardo me fez companhia


diariamente após a faculdade, até dormiu comigo em uma noite.
Giovanna apareceu rapidamente em uma visita à tarde, a mãe dela
veio junto e passou um longo tempo com o filho no escritório. Ela me tratou
com sua costumeira frieza, mas ao menos quis saber se eu estava melhor.
No fim de semana Gio voltou e passamos o sábado na piscina, a
minha costela já não doía mais, apenas uma mancha amarela e esverdeada
marcava o local onde fui atingida.
Voltei a faculdade uma semana depois do ocorrido, quando já não
sentia mais nenhum tipo de incômodo. Durante esse tempo Dom não tocou
no assunto sobre me arrumar um novo emprego e, Paolo continuou me
olhando como se fosse me quebrar a qualquer momento.
Nós quase não nos falávamos, na verdade, desde a situação estranha
na boate nos afastamos ainda mais. Antes eu sempre fazia questão de
conversar com ele quando chegava do trabalho e, apesar dele rosnar enquanto
me respondia tudo o que eu perguntava, dava para ver que gostava da nossa
interação. Só que tudo desandou em algum momento e agora éramos
praticamente estranhos.
Uma batida na porta me faz tirar os olhos do livro que estou lendo
para um trabalho da faculdade.
— Pode entrar. — Nicolo revela sua figura taciturna.
O homem é lindo, ele tem uma cor bronzeada e os olhos claros, sua
boca é carnuda e as tatuagens que se erguem por seu pescoço é sexy demais,
porém nunca o vi sorrir, Nicolo está sempre sério e parece um robô
ambulante.
Esses homens da máfia são cansativos com essa mania de sempre
estarem enfezados.
— Senhorita Masha, o chefe quer falar com você. — Ergo as
sobrancelhas surpresa. — Ele a espera no escritório agora mesmo.
Sem mais palavras vai embora e me deixa para trás com a curiosidade
disparada.
Rapidamente me levanto, passo uma escova nos meus cabelos
bagunçados e desço as escadas seguindo na direção do seu escritório. Vejo a
porta semiaberta, o que me faz dá uma suave batida e espiar o lado de dentro.
— Você me chamou?
— Entre. — Faz um gesto com a mão para que eu me aproxime.
Ele está sozinho, o que é um milagre, Domênico ou Giorgio passam o
dia grudado nele.
— Sente-se, Masha, preciso te falar algo. — Seu tom rígido me deixa
agitada.
Será que ele vai me expulsar da sua casa? Se fizer isso não sei para
onde ir, no momento não tenho como me sustentar.
Sento à sua frente rígida, com as mãos fechadas sobre meu colo.
Encaro Paolo aflita, esperando que me diga o pior.
— Você já se recuperou completamente?
— Estou ótima, praticamente não existe mais marca nenhuma, apenas
uma sombra pálida na minha pele. — Paolo faz um gesto positivo com a
cabeça.
— Bom saber disso. — Seus olhos demonstram satisfação. — Mas o
que quero lhe falar não tem nada a ver com o seu ferimento, queria te fazer
um convite.
— Convite? — pergunto curiosa.
— Isso. — Ele se ajeita na cadeira e apoia os cotovelos sobre a mesa,
para em seguida entrelaçar os dedos das mãos. — No próximo final de
semana será o casamento de um amigo, ele é o príncipe de Vichi, um paraíso
marítimo no Mediterrâneo. — Claro que conheço Vichi, é uma monarquia
moderna, a realeza de lá vive nas revistas de famosos. — Fui convidado para
o casamento, eu e Mitchell temos uma longa amizade, sem contar que
tivemos uma história juntos, com relação a sua noiva, então ambos fazem
questão da minha presença.
— Eu me lembro que assim que cheguei aqui você teve que ir aos
Estados Unidos resolver um problema e citou esse nome.
— Exato. Eu fui atrás de um traficante que era nosso inimigo e as
coisas se complicaram e a namorada dele foi feita refém por esse infeliz. Ela
é uma ótima ragazza, fisgou o príncipe sem chances de ele fugir. — Paolo
sorri. — Nunca imaginei vê-lo casado, mas o uomo[20] está de quatro pela
sua futura principessa[21].
Sorrio, que história mais romântica, parece até um conto de fadas.
— Que legal. É linda a história deles. — Paolo faz um leve balançar
de cabeça, certamente está rindo internamente de mim por me afetar com o
romantismo da história do casal.
— Quero saber se aceita ir comigo ao casamento, tenho um convite
para uma acompanhante e pensei que seria bom você sair um pouco daqui,
Vichi é um dos lugares mais bonitos que já pude conhecer, queria te levar nos
meus locais favoritos.
Abro a boca em choque, não esperava esse tipo de convite vindo dele,
Paolo acaba de me pegar desprevenida.
— Será só um final de semana, até podemos ficar mais uns dias;
depende das suas aulas, você já faltou demais.
Fico sem saber o que responder, ele nunca me chamou para viajar. No
máximo fui para sua propriedade, no sul da Itália, na companhia de Giovanna
e sua mãe metida.
— Acho que não estou à altura do convite, tenho certeza de que você
tem companhias bem mais habilitadas para te acompanhar dentro do seu clã.
— Ele endurece o rosto.
— Eu sei bem que tipo de companhia desejo ter — fala com
brusquidão. — Se eu estou te convidando é porque quero você comigo. — O
meu coração idiota acelera.
— Seria um prazer poder ir. — Não posso negar o quanto desejo
passar esse tempo fora, com ele.
— Ótimo. — Ele parece aliviado com minha resposta. — Vou marcar
hora com a estilista que faz os vestidos da Gio, para te receber, escolha um
belo vestido e um par de sapatos. Suas joias eu mesmo escolherei. — Fico
sem palavras com sua ordem. — Busque por algo deslumbrante, estaremos
entre as pessoas mais ricas do mundo, quero você tão princesa quanto
Kimberly, não economize nenhum euro, irei instruir a estilista também, gaste
o quanto for necessário.
Não digo nada, apenas aceno em concordância, ainda estou em estado
de torpor com tanta informação. Saio do seu escritório no modo automático e,
quando chego ao meu quarto, pego o meu celular e ligo para Leo, preciso
contar a ele que estou indo para um casamento da realeza.
Será que estou sonhando?
Entro na sala de Franco e encontro os dez conselheiros reunidos.
Todos se viram na minha direção, nenhum deles está contente, porque
tivemos um ataque em um dos nossos depósitos e certamente os russos estão
por trás disso.
Eles estão querendo nos intimidar para ganhar espaço, do mesmo jeito
que estão fazendo em Nápoles. Suspeito que por aqui eles mudaram de
liderança, Yuri sabia até onde ir, ele não me enfrentaria como está
acontecendo agora.
— Boa noite, senhores. — Cumprimento secamente.
— Você está atrasado. — Mattia tem a voz acusatória, ele é um dos
mais antigos conselheiros.
— Perdi tempo ao telefone com Nikaros, ele também está com
problemas com os russos e disposto a dar-lhes um corretivo.
Mattia se cala, Nikaros coordena o crime em Atenas, ele é um grego
muito bem-visto por todo o crime organizado.
Um dos empregados de Franco aparece e me serve um copo de
uísque, em seguida ele vai servir Domênico.
— Precisamos conter os russos, se não formos enérgicos, eles nos
engolem. — Franco olha para mim de maneira dura.
— Nós vamos, quanto a isso não se preocupe, só precisamos
organizar nossos soldados para dar um recado a eles.
— Uma guerra contra os russos não é algo inteligente a fazer no
momento, estamos tendo muitos lucros. — Giuseppe, o ex-Consigliere do
meu pai joga seus olhos raivosos sobre mim.
Ele me odeia por ter alçado Domênico como meu braço direito, na sua
cabeça soberba, eu deveria continuar com ele me auxiliando.
— Eu estou pouco me importando com uma guerra com esses merdas,
o que não posso é perder espaço do meu clã para eles — digo irritado.
— Paolo está certo. — Giorgio meu subchefe me apoia. — Nós não
podemos demonstrar fraqueza. — Todos se calam e ficam pensativos. — É
necessário um ataque bem pensado para mostrar quem manda em Roma.
Eu me acomodo na poltrona que Franco sempre destina a mim e
experimento o meu uísque. Não estou no clima para uma reunião, a minha
mente anda completamente em Masha e, na escolha da minha futura esposa.
Estou passando por um momento de conflito com esses dois assuntos
que me tiram o sono, porém não posso negligenciar os negócios.
— E o que faremos com eles? — Giuseppe pergunta.
— Domênico, apresente nosso plano. — Dom, que estava em pé no
canto da sala, se aproxima do centro e senta perto do pai.
Eu o odeio seu genitor, ele é um homem ardiloso e tão maldoso
quanto meu falecido pai. Francesco é cruel e traiçoeiro, não confio nele de
jeito nenhum, por sorte Domênico não puxou nada do pai.
Enquanto Dom apresenta o nosso plano de invadir um dos
laboratórios de drogas dos russos, no subúrbio de Roma, minha mente vai
para a mulher que está em segurança na minha casa e na viagem que faremos
juntos.
Quando ele termina de explicar um burburinho se instala e todos
começam a discutir o plano.
— É arriscado demais, podemos perder muitos homens. — Carmelo,
o marido de Fiorella que acompanha seu pai Giorgio, opina. — Acho que
precisamos pensar em algo menos arriscado.
— Não somos maricas. — Mattia o recrimina. — Precisamos de algo
que mostre que não estamos de brincadeira.
— Mattia está certo, somos a Cosa Nostra em Roma, não estamos
aqui para brincadeira. — Franco ratifica minha posição e a fala de Mattia.
Além de ser o contador da máfia, é o membro mais velho do
Conselho. Depois da minha palavra, a dele, de Giorgio e Dom têm um peso
imenso. É bom tê-los me apoiando neste plano.
— Vamos votar, se a maioria concordar, Giorgio começará a
organizar os homens para o ataque — digo com firmeza.
Domênico começa a coordenação dos votos e em poucos minutos
temos a maioria. Apenas o pai de Dom e outro conselheiro não concordam.
Saímos vitoriosos com louvor com o meu plano, isso me dá certa
tranquilidade. Saber que a maioria do clã está ao meu lado é um bom sinal,
evita problemas futuros.
— Vamos para o meu bar, reservei na parte privada as mais belas
prostitutas para todos nós. — Mattia nos convida.
Olho para Domênico, querendo que ele invente uma desculpa
qualquer, quero voltar para casa, ficar o maior tempo possível perto de
Masha, antes que ela parta de vez da minha vida.
Dom parece ignorar meu pedido silencioso e aceita ir para a putaria
que Mattia preparou.
O pai do meu cunhado Carmelo dispensa a proposta, assim como o
filho, que evita mostrar diretamente a mim que trai minha irmã Fiorella. No
entanto, eu sei que ele tem várias mulheres, só que infelizmente não posso
fazer nada. Depois que ela casou com esse pedaço de merda, a sua posse é do
marido.
Sem ter para onde fugir, eu acompanho a maior parte do Conselho
puto, por não poder voltar para a minha casa e ver o meu inferno vermelho.
Olho para as pernas da mulher que dança sobre a minha mesa, ela tem
o corpo deslumbrante e está arrancando suspirou dos homens ao redor.
Seu cabelo é castanho e sua pele tem um bronzeado artificial. Tão
comum, não existe nada nela que seja diferente, instigante.
Levo a minha bebida até à boca sem nenhum interesse, minha mente
está na ruiva na minha casa e no final de semana que teremos juntos.
Eu queria me mover na sua direção, revelar o tesão que sinto, mas não
posso fazer isso, não é justo com ela.
Quando voltarmos de Vichi eu mesmo providenciarei uma nova vida
para ela, darei todas as condições para que viva bem e segura. Quero Masha
feliz, ela merece isso, depois de tudo o que passou.
— Paolo. — Franco chama o meu nome ao sentar ao meu lado,
ignorando completamente a mulher a nossa frente. — Posso te fazer algumas
perguntas? — Aperto os olhos na sua direção, não gostando muito de
responder quaisquer perguntas suas.
— O que exatamente deseja saber? — Ele faz uma pausa antes de
começar a falar.
— A menina que mora com você, chegou a conhecer a família dela?
— Sua pergunta me deixa surpreso.
— Por que o questionamento? — Já fico na defensiva.
— Ela me disse que o nome dela é russo para homenagear a obstetra
que salvou a vida dela e da mãe.
— Pois ela falou a verdade. — Eu o encaro já perdendo a paciência.
— Qual o problema? — Franco tem os olhos um pouco apreensivos.
— Nenhum é que... — Ele interrompe o que ia falar parecendo estar
escolhendo as palavras certas a me dizer.
— Fale logo homem. — Meu olhar é duro.
— Bobagem, eu a achei parecida com uma pessoa, mas deve ser coisa
da minha cabeça — Enrugo a testa, conheço Franco desde que nasci e ele não
é de ter esse tipo de comportamento.
— A origem de Masha não é da sua conta, por que está se
incomodando com ela agora? Nunca teve interesse nela. É a segunda vez que
me pergunta sobre a ragazza. — Ele se retrai.
— Não é nada, só fiquei intrigado com a bambina. — Rapidamente se
defende. — E preciso dizer que gostei dela, parece ser uma menina
determinada, eu gostaria de tê-la como funcionária.
— Fique longe da Masha, ela é minha propriedade e eu não me
importo em passar por cima de qualquer um que pensar em esticar os olhos
na sua direção. — Deixo meu aviso bem explícito.
— Então são realmente amantes? — Seu olhar é curioso.
— Eu a comprei, ela é totalmente minha — ele assente e encerra as
perguntas.
Odeio tratá-la como objeto, mas enquanto eles acharem que me
pertence, nenhum deles pensará em feri-la. Não que Franco vá fazer isso, ele
é uma pessoa contida, mas nem todos são como ele.
Escolho uma loira para um pouco de diversão. Preciso extravasar as
tensões dos últimos dias, principalmente porque vou passar um fim de
semana com a minha ragazza e enfrentarei momentos difíceis por não poder
tocá-la.
Sexo para mim sempre foi algo rotineiro, eu escolhia as mulheres que
desejava, as fodia e ia embora. Agora não tenho tanto prazer como antes,
sempre falta algo quando termino de foder.
— Você é quente demais — a mulher diz quando ficamos sozinhos no
quarto. — Já estou molhada por você. — Suas mãos com unhas grandes
pousam na frente da minha blusa e vão descendo até apertar meu pau.
— Que maravilha — digo ao afastar a cabeça, impedindo que me
beije.
Eu não beijo prostitutas, meus beijos são reservados para as mulheres
que realmente despertam o meu desejo.
Ela faz biquinho quando percebe meu recuo, por mais que seja linda,
ela beija homens demais em um dia para o meu gosto.
— Já que está molhada ajoelha na cama, quero te foder logo. — Vou
dispensar o sexo oral, não quero ninguém com a boca no meu pau hoje.
Ela me obedece e livra-se do vestido, sutiã e calcinha. Fica apenas
com as meias 3/4 pretas e a boceta lisa me esperando começar a ação.
Bato na sua bunda e corro a mão por suas dobras, de fato ela está
molhada, isso é um bom sinal, não vou precisar perder muito tempo.
Infiltro dois dedos dentro dela e os movimento intensamente, uma das
minhas mãos vão para os seus seios e os apalpo com força. Ela geme alto
com o meu ataque bruto, requebrando os quadris contra minha mão.
Bato em sua bunda e pesco a camisinha do bolso. Deslizo por meu
pau e centralizo a ereção na sua entrada, com um movimento firme continuo
a invadindo e começo a fodê-la com força.
Seus gemidos aumentam assim como as minhas estocadas, afundo os
dedos no seu quadril e aprofundo a penetração. Puxo seu cabelo, forçando-a
erguer o corpo.
Ela faz um som de lamento, quando eu acelero a penetração, eu não
diminuo meus golpes, cada vez vou mais fundo, precisando de mais
intensidade para alcançar meu orgasmo.
Suas unhas cravam em minhas coxas quando meu ritmo beira a algo
primitivo e os seus gritos soam alto.
Sinto seu corpo se contrair quando goza, mas eu não paro, preciso ir
mais fundo, mais forte.
— Oh, Deus! Você é um animal na cama, está acabando comigo. —
Ela choraminga depois de um tempo e eu a solto.
Que puta fraca, não aguenta sequer uma surra de pau. Deve estar
acostumada a foder com os velhos do clã, que mal sustentam uma ereção.
Vou atrás do lubrificante e o acho sobre uma pequena mesa. Pego a
bisnaga e puxo seu corpo para a borda da cama, abrindo suas pernas para ter
acesso ao que eu desejo.
— Sorte a sua ter buracos disponíveis para mim, eu ainda não acabei.
Deixo cair uma quantidade grande do líquido na sua entrada traseira e
a ouço gemer quando eu o espalho no interior da sua bunda e infiltro um dedo
no seu ânus.
Quando sinto que está bem preparada e excitada novamente, me
posiciono sobre suas costas e pressiono suas pregas. Ela resmunga um
lamento quando ganho passagem e agarra os lençóis.
Eu vou em frente, mesmo quando ela coloca a mão para trás e segura
meu quadril, pedindo silenciosamente que eu vá mais devagar.
— Mãos para frente — ordeno já me sentindo fora de controle. Quero
gozar, mas ela parece não ser capaz de aguentar a porra do meu pau no seu
cu.
Inferno de vadia, não sabe sequer fazer o seu serviço.
A fera dentro de mim se agita, mas eu a silencio, não quero machucá-
la, mas também quero o meu prazer. Ela ganha para isso, então tem que fazer
o trabalho com perfeição.
Eu mato pessoas, torturo, vendo drogas e faço todas essas merdas
mesmo que em alguns momentos me incomode. Ainda assim sigo adiante,
não tenho para onde fugir, ela é como eu, precisa seguir em frente.
Se eu fosse outro, talvez não se importasse com o lubrificante,
conheço homens do Conselho que já mandaram prostitutas para o hospital,
arruinaram as pobres mulheres. Jamais faria isso, mas não admito ela se
cansar quando mal me segurou por tempo suficiente na sua boceta.
Ela entende o que precisa fazer e segura seus resmungos. Enquanto eu
me movimento ela geme, fazendo o seu papel, acreditando que eu vou cair na
sua farsa. Eu já estive com prostitutas demais ao longo da vida, minha
primeira mulher foi uma puta de quase trinta anos, sei que elas fazem apenas
o que nos agradam.
Fecho os olhos e a imagem do meu inferno vermelho surge na minha
mente. Sinto sua mão delicada tocando o meu cabelo, depois minha orelha,
barba e pescoço.
Minha respiração acelera quando penso nela acariciando o meu rosto
e o seu cheiro parece pairar sobre mim. O meu corpo esquenta e não demoro
muito a gozar soltando um rugido profundo.
Masha, meu inferno vermelho particular, a única mulher que invadiu
a minha cabeça e a única que eu não posso ter sem que eu traga a destruição
para sua vida.
Eu odeio quem eu sou. Odeio a máfia. Odeio tudo o que ela
representa e me faz ser.
Paro no bar para uma última bebida antes de ir embora. A frustração
sexual está espalhada por todo o meu corpo, eu posso foder vinte mulheres no
dia, mas nenhuma será capaz de me satisfazer, meu desejo não estará sobre
elas.
Fecho os olhos e a imagem luminosa do cabelo vermelho da Masha
aparece na minha mente. Suas sardas lindas ganham foco, assim como seu
nariz pequeno e os olhos brilhosos, tão azul quanto o mar da Grécia.
Como pode uma só mulher dominar toda a vida de um homem?
Agora entendo Mitchell quando abdicou da sua vida profana em prol de
Kimberly. Ela se instalou no seu sistema, assim como o meu inferno
vermelho fez no meu.
A sorte dele é ser um nobre e poder mudar de vida, eu estou preso à
máfia, vou morrer nesta realidade de merda.
— Que cara é essa? — Domênico senta ao meu lado enquanto prende
seu cabelo.
Ele mantém esse estilo astro do rock desde a adolescência, Dom toca
guitarra, bateria e violão com perfeição, o sonho dele era ser um artista da
música, mas a sua vida é tocar o terror entre os inimigos da máfia.
Somos dois fodidos, presos as nossas tradições ridículas e condenados
a sermos até o último dia de nossas vidas assassinos cruéis e sem coração.
— Não é nada demais. — Ergo o dedo e peço dois uísques. — Deu
sorte com a sua puta? A minha gritou que não aguentava mais na primeira
metida do meu pau.
Domênico ergue uma sobrancelha ao me olhar. Pela sua cara
satisfeita, teve um bom momento com a sua escolhida da noite.
— O que fez para a mulher dizer isso?
— Nada de anormal. — Nossas bebidas chegam. — Ela deve ser
novata, seu rosto é muito jovem, ainda não pegou o ritmo.
— Ou você foi longe demais. — Sua voz é profunda, ele está com
medo do meu lado monstruoso ter entrado em cena. — Ela está bem? Devo
verificá-la?
— Quando foi que machuquei uma mulher? — Minha voz sai mais
grossa do que o necessário.
— Sempre tem uma primeira vez e você anda caminhando
constantemente à beira do precipício — Ele tem razão, não estou vivendo os
meus melhores dias.
— Não se preocupe com ela, eu fui bruto, mas não a ponto de feri-la,
ela ganhou um bom dinheiro, pode ir para casa e passar o resto da semana
sem trabalhar. — Dom acena mais tranquilo agora.
— Paolo, eu estava pensando em algo e queria dividir com você.
— Só falar. — Como ele fica em silêncio eu olho para o lado e vejo
Domênico correndo a ponta do indicador pela borda do copo. — Vamos
uomo, não tenho a noite toda.
— Eu não tenho ninguém para levar no casamento de Mitchell, então
eu pensei se você autoriza a Giovanna a ir junto. — Inclino a cabeça e o
encaro, tentando entender que porra de pedido é esse. — Não me olhe assim,
eu só pensei que ela seria uma boa companhia para Masha nos momentos que
iremos tratar de negócios com Nikaros e Allan. Acho desnecessário perder
um convite, quando ela pode se divertir com a melhor amiga. Vichi é um
lugar neutro, elas podem aproveitar sem que estejamos muito preocupados.
Analiso sua proposta e acabo gostando, Gio quase não sai de casa e ir
ao casamento do príncipe será um evento inesquecível para ela.
— Gosto do seu pensamento — por fim digo. — Amanhã mesmo vou
pedir que ela vá à estilista com Masha e falarei com a mamãe.
— Sua mãe não irá gostar.
— Ela não tem que gostar, eu vou levá-la comigo e pronto. —
Encerro minha bebida. — Preciso ir, estou exausto.
— Não devia estar mais relaxado depois de uma boa foda?
— Se eu tivesse tido uma boa foda, talvez eu estivesse relaxado. —
Bato no seu ombro e vou embora, direto para o meu particular inferno
vermelho.

— Mãe... — Faço uma pausa para não a desrespeitar. — Não estou


pedindo autorização, apenas avisando que Giovanna tem hora na estilista e
que passará o fim de semana comigo.
— E com sua puta ruiva. — Fecho os olhos, ela anda mais azeda do
que o costume.
— Acaba de perder o seu cartão de crédito por três meses e, seu
acesso a sua conta bancária estará bloqueado em alguns minutos. Irá viver do
que eu disponibilizar.
— O quê? Não pode fazer isso.
— Farei assim que desligar, Leonel estará aí para pegar Gio, se ela
não estiver pronta eu mesmo irei buscá-la e não ficará feliz em me ver
pessoalmente, entendeu? — Ela fica calada. — Ótimo, seu silêncio é um sim.
Desligo puto. Minha mãe acha que porque meu pai morreu ela será a
grande matriarca. Só que ela não é uma mama[22] italiana comum, faz parte
da máfia e precisa respeitar a hierarquia. Odeio brigar com ela, sei o quanto
sofreu com o meu pai, mas nem por isso vou permitir que utilize palavras
ofensivas com Masha.
Saio do escritório e vou até à sala, paro em frente às escadas e grito
pela minha tentação vermelha. Ela não demora a aparecer no topo da escada
com olhos arregalados.
Linda pra caralho! Como pode ser tão perfeita?
— Gio vai com você na estilista, tente ajudá-la a escolher um vestido
sem ser revelador demais, ela ainda não é maior de idade, não quero olhos
cobiçosos sobre minha irmã.
— Que tipo de festa ela vai?
— Ela vai com a gente para Vichi, assim como Domênico. — Os
lábios rosados dela se abrem de felicidade.
Porra, eu dou minha vida para vê-la sorrir assim.
— Está falando sério?
— Eu não brinco, Masha, deveria saber disso. — Tento ser mal-
humorado. — Agora vá se arrumar, daqui a pouco estará na hora de você sair
com Leonel para buscá-la.
— Tudo bem. — Ela sai correndo na direção do seu quarto e me deixa
para trás sorrindo.
Que coisa mais foda, eu não rio do nada, porra! Que mulher infernal,
ela está me transformando em uma merda de marica.
Puta que pariu!

Olho para Domênico prendendo os lábios para evitar sorrir, enquanto


as meninas não param de falar em cada lugar que a limusine passa. A
animação delas é radiante, estou devendo uma ao meu amigo, jamais pensaria
em trazer Giovanna conosco.
— Vichi é perfeito, nós teremos tempo de ir à praia? — Gio pergunta.
— Claro que sim. O casamento é amanhã à noite, no domingo vocês
podem aproveitar.
— Eu estou tão ansiosa, nunca imaginei estar no casamento de um
príncipe. — Tão bom ver a felicidade da minha irmã.
— Mitchell não é um príncipe comum, a família dele não tem as
mesmas tradições como a britânica. Eles são mais despojados, gostam da
informalidade.
— Como pode uma família nobre ser simples? — Masha me fita e eu
aproveito para admirar o seu rosto bonito.
— Não sei como podem ser, mas eles são.
— Os Cassel são uma família moderna. — Dom entra no assunto. —
Mitchell é um grande homem.
Isso é verdade, o príncipe é um homem respeitado por todo
submundo, ele nunca se escondeu no seu título, sempre enfrentou qualquer
adversidade com muita coragem.
É estranho pensar nele casado, já tivemos muitas aventuras sexuais
juntos, na última ele já estava apaixonado por sua americana, foi nítido o seu
desconforto quando eu chamei um time de mulheres para que pudéssemos
nos divertir.
Naquela época eu não o entendia, ainda não conhecia meu inferno
vermelho, semanas depois ela entrou na minha vida e tudo mudou.
Hoje eu me vejo como Mitchell, sem vontade de foder mulheres
aleatórias, desejando apenas uma, necessitando quase que urgentemente
sentir o gosto de Masha.
Chegamos ao hotel que minha secretária reservou e somos conduzidos
diretamente para a suíte presidencial.
O lugar é praticamente uma casa, têm quatro quartos, sala de estar e
jantar, piscina, cozinha, sala de ginástica, um mordomo e cozinheiro à nossa
disposição e mais uma infinidade de outras utilidades que o gerente fala e eu
não me importo.
Giovanna parece flutuar, enquanto Masha caminha pelo local
avaliando tudo atentamente. Domênico não liga para nada e avisa que precisa
de um banho e some dentro do seu quarto.
Dispenso os seguranças e envio os dois para seus próprios quartos.
Vejo Masha na varanda, olhando o mar azul à nossa frente. Sigo para
onde ela está e paro ao seu lado. Não falo nada, apenas deixo a brisa marítima
tocar o meu rosto, enquanto observo as pessoas andarem com calma pela orla
da praia.
— Difícil acreditar em tanta beleza — ela comenta admirada.
— É um lugar fabuloso, não posso negar. — Ficamos mais um tempo
em silêncio, até que Masha move o corpo e me encara.
— Muito obrigada por esse convite. — Abaixo os olhos e admiro seu
rosto.
— Não poderia chamar outra pessoa para estar aqui comigo. —
Mesmo sabendo que não devo, ergo a mão e coloco uma mecha do seu cabelo
para trás da orelha, aproveitando para correr os dedos por sua pele macia. —
Vamos sair em meia hora para almoçar, se quiser colocar outra roupa se
apresse e fale com Gio para não se atrasar, ela ama ficar na frente do espelho
pensando no que vestir. — Masha sorri.
— Sua irmã é a indecisão em pessoa.
— E eu não sei? — Balanço a cabeça desgostoso. — Vá se arrumar,
eu preciso fazer umas ligações. — Deixo minha mão cair e imediatamente
sinto falta de poder sentir a sua pele quente.
Quando ela entra na sala da suíte, aproveito para correr os olhos por
seu corpo. Se eu pudesse possuí-la, não ficaria nenhuma parte dela sem que
eu tocasse e provasse, iria mostrar um mundo de prazer inimaginável para
ela.
Como a quero, Masha é a fonte de todos os meus desejos, ela é minha
droga.
Mesmo odiando ver Domênico com as mãos em Masha, eu assumo
meu lugar ao lado de Gio e deixo os dois de braços dados atrás de mim
enquanto entro no restaurante.
Ele já falou mil vezes que a vê como uma irmã, mas qualquer tipo de
testosterona perto da minha ruiva me deixa descontrolado.
Sigo para a nossa mesa com passos pesados, tentando controlar meu
humor azedo. Nikaros já está à mesa e fala algo no ouvido de sua esposa que
sorri.
Hellena é de uma beleza perturbadora, ela tem ascendência mexicana,
sua pele é bronzeada e os cabelos castanhos. Acho-a deslumbrantemente
bonita, uma pena que se casou com um grego feio como Nik.
— Olha quem chegou. — Ele me avista e sorri provocativamente,
seus olhos vão para Gio. — Trouxe sua irmã?
— Ela precisava de uma diversão. — Nikaros levanta e cumprimenta
as garotas, depois aperta a mão de Dom.
— Sentem-se meninas, esta é minha esposa Hellena.
Como sempre Hellena é a simpatia em pessoa, não foi à toa que
Nikaros caiu de amores por ela. Apesar de sua esposa ser irmã de um antigo
desafeto nosso no submundo, ela é completamente oposta do seu falecido
irmão Raul Diaz.
Odeio pensar nele, o stronzo nos trouxe muita dor de cabeça até que o
eliminássemos.
Mostrando insatisfação com a disposição dos nossos lugares, Hellena
reorganiza a mesa e coloca as meninas de um lado e os homens de outro. Ela
alega que iremos inevitavelmente falar de negócios e não quer participar do
assunto.
Nikaros ri amavelmente para a esposa, quem vê seu sorriso acolhedor
não sabe do que o grego é capaz. As ruas de Atenas são todas dele, o homem
tem uma liderança admirável dentro do crime na Grécia.
Assim como Hellena falou, seu marido entra no assunto da Bratva e
demonstra toda a sua irritação com os russos navegando pelo mediterrâneo às
escondidas com suas drogas.
Já as garotas se animam com algo que Hellena fala, enquanto
degustam a entrada com pequenos canapês de caviar. Acredito que a mulher
de Nikaros deva ter aproximadamente uns vinte e oito anos, bem mais velha
que Masha e Gio, ainda assim ela parece se comunicar com facilidade com
elas.
Quando a noite termina, Hellena convida as meninas para passarem a
manhã na sua suíte, tomando banho de piscina.
Giovanna me fita com olhos suplicantes, louca para que eu não
descarte o convite. Claro que não farei isso, na companhia de Nikaros ela
estará segura, até porque Leonel estará junto, então não há perigo. Vichi é um
bom lugar para as duas se divertirem sem medo.
No território do rei Martin não existe ameaça russa, as ruas de Vichi
pertencem apenas ao monarca. Nenhuma máfia é permitida em seu território,
ele lida com mão de ferro com os criminosos que não são seus aliados.
— Claro que elas irão, será ótimo, já que Domênico e eu temos
assuntos a tratar — digo ao beijar o rosto de Hellena.
— Você sempre tem negócios, é cansativa a vida de vocês.
— O que podemos fazer? — Passo o braço pela cintura da minha irmã
e beijo o seu cabelo. — Nos vemos amanhã à noite no casamento do príncipe.
Acenamos para o casal e seguimos para a limusine que nos aguarda.
— Que casal simpático. — Masha comenta quando já estamos dentro
do carro. — Hellena então é maravilhosa, achei tão bacana ela tentar se
enturmar com nós duas, ainda que sejamos tão novas.
— Ela sempre foi uma mulher agradável — Domênico diz enquanto
olha as mensagens do celular. — É difícil acreditar que seja irmã de Diaz.
— Nem me fale — resmungo.
— Sério que ela é irmã daquele homem que você teve problema? —
Os olhos de Masha se expandem.
— É irmã por parte de pai — confirmo.
— Como pode irmãos serem tão diferentes? — Masha pergunta
pensativa.
— Certamente puxou o sangue da mãe, porque o pai de Diaz era tão
desgraçado quanto ele — comento ao lembrar todas as maldades dos dois
homens.
Agora a família Diaz está sem poder nenhum após a morte de Raul. O
seu irmão nunca se interessou pela vida do crime, finalmente o mundo ficou
livre do seu gene ruim.
Quando chegamos à suíte, Giovanna vai tomar banho, Domênico se
encaminha para a varanda, eu me sento no sofá com um copo de uísque na
mão e, Masha some na cozinha.
Fico preso aos meus pensamentos, em tudo o que preciso resolver
quando voltar. O que inclui atacar os russos, providenciar um futuro digno
para Masha e o meu casamento infeliz.
Jogo a cabeça contra o encosto do sofá e fecho os olhos. Que vida
medíocre me aguarda, tudo o que eu queria era ser um homem livre.
Sinto o estofado do sofá ao meu lado afundar e o perfume delicado de
Masha invade as minhas narinas. Às vezes parece que faz anos que senti seu
cheiro diretamente na sua pele. Eu queria sentir todos os dias, a hora que eu
quisesse.
— No que está pensando? Parece tenso. — Seguro a vontade de
esticar a mão e tocá-la.
— Não estou pensando em nada demais. — Abro os olhos e viro a
cabeça para admirar seu rosto fofo. — Apenas em matar alguns russos
quando eu voltar a Roma. — Ela arregala os olhos e me faz sorrir.
Tão inocente.
Definitivamente ela não pode fazer parte do meu mundo repleto de
sangue, Masha é doce demais para se misturar com tanta violência.
— Assustada, ragazza? — pergunto com diversão. — Se não sabe,
sou um mafioso, líder de um poderoso clã em Roma, minha função é matar,
torturar e provocar o terror em quem ousar me enfrentar.
Masha corre a língua pelo lábio inferior e quase me faz gemer com a
imagem que se forma na minha mente, com ela fazendo isso no meu pau.
— Pode ter outras funções na vida.
— Não quando você nasce dentro do berço da máfia.
Para meu desespero não controlo o caralho da minha mão e enrolo um
fio sedoso do seu cabelo no meu dedo. O fricciono suavemente enquanto me
perco no seu olhar conflituoso.
Saber que ela me deseja não ajuda nada a controlar o tesão que sinto,
seria bem mais fácil se ela me odiasse profundamente. Eu sei lidar bem com
o ódio, mas esse carinho que vejo em seu olhar é algo inédito para um
homem como eu.
— Você é feliz vivendo neste mundo? — Sorrio com a sua pergunta,
porque felicidade não é uma palavra que exista no meu dicionário.
— E desde quando felicidade existe, amore mio? — Deslizo as pontas
dos meus dedos por seu rosto. — É uma invenção utópica a felicidade que a
sociedade tanto fala, a vida real é apenas uma grande selva, onde o mais forte
sobrevive.
Não gosto de ser insensível com ela, mas já que vai morar sozinha em
pouco tempo, precisa se preparar para o que vai enfrentar.
— Masha, a vida é cruel, você sabe disso mais do que ninguém. —
Preciso lembrar de tudo o que passou. — Hoje você está aqui comigo, em um
momento de tranquilidade, mas amanhã, quando estiver na sua nova vida,
nada será tão perfeito. — Subo a ponta do dedo pelo seu nariz, depois desço
pelo canto da sua boca, até que meu polegar acaricia o seu queixo. — Você
enfrentará muitas adversidades quando for morar sozinha, os momentos bons
serão poucos, por isso eles são tão inesquecíveis.
Ela expande o peito, sem tirar os olhos dos meus. Eu fico calado,
aproveitando o meu momento feliz em estar com ela, tocando a sua pele,
vendo os seus olhos ficarem escuros por que ela está excitada com a minha
presença.
Desço a mão até o seu pescoço e seguro sua nuca, Masha me encara
aflita, ela parece travar uma guerra interna. O desejo crispa em seus olhos e
faz o meu corpo reagir com intensidade.
— Este momento — digo com a voz baixa. — Será inesquecível para
mim, vou lembrar sempre que pensar em você. — Movo o corpo e beijo seu
rosto. — Boa noite, meu lindo e tentador inferno vermelho.
Levanto e vou para o meu quarto. Não posso mais ficar perto dela
sem dar vazão a tudo o que está me consumindo. Quando voltarmos para
casa, irei providenciar a sua nova vida. Chegou o momento de libertá-la do
meu domínio e deixá-la voar.
Encaro o meu reflexo no espelho completamente fascinada pela
mulher que me encara de volta. Digo mulher porque essa não sou eu, não
mesmo. Estou completamente diferente, um penteado sexy que fixa meu
cabelo vermelho no alto da minha cabeça e com fios delicados caindo por
meu rosto se destaca.
Não consigo me reconhecer, estou diferente demais do que sou na
minha vida cotidiana.
O cabeleireiro que fez meu penteado ficou encantado com a cor ruiva
natural do meu cabelo, ele me disse que muitas mulheres gastam muito
dinheiro no seu salão para terem a mesma cor do meu.
Fiquei feliz com o seu elogio, quando era mais nova costumava ficar
um pouco chateada por ter o cabelo desta cor, eu era a única ruiva na escola e
isso chamava muita atenção.
Corro a mão sorridente pelo tecido brilhoso do meu vestido na cor
prata. É tão lindo. Quando o vi pela primeira vez, fiquei completamente
apaixonada.
— Meu Deus, Masha, você está parecendo uma atriz de cinema. —
Gio se posiciona atrás de mim e eu avalio o seu vestido elegante de cetim, na
cor azul-royal.
— Senhor! O seu irmão não vai ficar satisfeito, você está adulta
demais, ninguém vai dizer que tem dezessete anos com esse vestido
deslumbrante, fora a maquiagem que te deixou com a expressão de mulher
fatal.
— Que bobagem. — Ela fica sem graça. — Não estou bonita como
você.
— Não é o que meus olhos dizem. — Ouço uma batida na porta e
Dom nos chama para irmos. — Já se prepara para o surto do seu irmão, ele
não vai gostar do que vai ver.
Pego a minha clutch e sigo para a porta, assim que eu saio Domênico
me encara com um sorriso satisfeito, ele me olha de cima a baixo, mas seu
olhar não tem nenhum tipo de conotação sexual, é apenas admiração.
Já não digo o mesmo quando ele olha para Giovanna, sua boca se abre
e parece que pela primeira vez Dom percebe que ela é praticamente uma
mulher feita. Os seus olhos pegam fogo quando param nos seus seios e
depois descem devagar avaliando minuciosamente o seu visual.
Fico quieta observando a cena, está bem interessante acompanhar o
choque dele e o constrangimento de Giovanna, ela não sabe para onde olhar
de tão envergonhada.
Se Paolo vê isso, meu amigo estará em apuros.
E falando no diabo ele entra na sala e para com o celular na mão ao
perceber a minha presença.
Os olhos de Paolo me medem dos pés à cabeça. Ele engole em seco,
fazendo seu pomo de adão se mexer. Vejo um brilho de pura luxúria explodir
no seu olhar, ele parece que está me devorando viva.
O meu corpo se agita, porque saber que ele está me desejando causa
uma euforia intensa dentro do meu coração. Tudo o que eu queria agora era
que ele me puxasse para perto e me beijasse profundamente.
— E quem diria que esse casamento acabaria sendo uma dor de
cabeça ambulante — Dom resmunga. — Vamos embora pessoal ou iremos
nos atrasar. — Pegando a minha mão, ele me leva para fora da suíte.
— Domênico, você também ouviu Paolo rosnar? — pergunto quando
seguimos para o elevador.
— Acho que ele está espumando também — comenta tentando
esconder um sorriso. — A noite vai ser interessante.
Com esse comentário ele se cala e entra no elevador.

Entramos na imensa catedral e sentamos na quarta fileira, do lado dos


convidados do príncipe. Paolo ordena que eu e Gio fiquemos entre ele e
Domênico.
Desde que saímos do hotel ele está de cara feia, mal se envolveu na
nossa conversa. Dom também não falou muito, mas ao menos respondeu às
perguntas que fiz sem rosnar como o amigo.
Vez ou outra seus olhos iam para Gio, ele é bem discreto ao olhá-la,
mas eu já saquei que adorou vê-la tão diferente e mais sensual.
— Nunca vi um casamento real — Giovanna sussurra.
— Se você não viu, eu então... — Olho ao redor avaliando a elegância
das pessoas.
Pesquisei sobre o príncipe e vi que ele é lindo, parece um artista com
suas infinitas tatuagens. A sua noiva não fica por menos, ela tem
impressionantes longos cabelos castanhos e um rosto angelical. Eles formam
um casal perfeito, pelas fotos fica claro o quanto se amam.
Um burburinho se forma e pouco tempo depois uma música começa a
tocar. Todos ficam de pé e vejo o príncipe entrar com um elegante smoking
sob medida. Pelas fotos ele era muito bonito, mas pessoalmente é de tirar o
fôlego.
— Que homem lindo — Gio não consegue segurar a boca.
— Giovanna. — Paolo chama a sua atenção e ela se cala.
Como é chato, reclama de tudo.
Atrás do noivo vem o casal real, em seguida os dois irmãos do noivo
seguem a comitiva.
Apenas dois casais de padrinhos entram, cada um se posiciona em um
lado do altar. Não demora muito e outra música toca e dessa vez a noiva
desponta, tão bela como nos filmes de romance que amo assistir.
O seu vestido tem um corpete belíssimo todo em cristal, aposto que
são cristais Swarovski, adoro ver programas de vestidos de noivas e, pessoas
ricas como eles usam muito esse tipo de ornamento. A saia do vestido é de
tule e volumosa, como não poderia ser diferente a noiva escolheu o modelo
princesa.
Uma pequena menininha vem a frente espalhando pétalas de rosa
branca, ela é tão fofinha que dá vontade de apertar. A noiva parece flutuar
enquanto caminha até o altar. Ela sorri o tempo todo, sempre com os olhos
vidrados no noivo, que também não desvia o olhar da amada.
Quando o pai da noiva a entrega ao príncipe, ele beija a sua mão e faz
um lento carinho no seu rosto com tanto amor nos olhos, que eu intercepto
uma lágrima para não desmoronar minha maquiagem.
Porém, não consigo conter um suspiro trêmulo, é tão lindo ver esse
tipo de amor entre um casal. Será que um dia alguém vai me amar assim?
A cerimônia é feita sob muita emoção, em várias vezes o príncipe
leva a mão da noiva aos lábios, ela chora com intensidade. Do meu lado vejo
Gio secar os cantos dos olhos com um discreto lenço cedido pelo irmão.
Eu não a condeno, tudo está tão emocionante, que fica difícil segurar
a emoção. Eu mesma já interceptei as lágrimas infinitas vezes, não quero nem
ver o estrago que fiz na minha maquiagem.
Quando o padre abençoa os noivos, o príncipe enlaça a cintura da sua,
agora, esposa e afunda os lábios nos da amada.
Todos aplaudem quando o casal de noivo começa a descer no altar.
Eles sorriem largamente, mostrando o quanto estão felizes. Sei que deve ser
um momento emblemático para eles, em especial para a nova princesa, ela
perdeu a sua amiga há um pouco mais de dois anos e pelo que Paolo contou,
passou um tempo difícil lutando contra a depressão.
Quando todos começam a sair da igreja, Domênico coloca a minha
mão na curva do seu braço. Olho para o alto e ele pisca para mim, lanço um
discreto sorriso e ouço atrás de mim Paolo arranhar a garganta.
Dom morde a parte interna dos lábios para não sorrir, ele parece estar
se divertindo muito nesta noite.
O local onde a festa será realizada não fica longe. Domênico explica
que é um espaço onde acontecem os eventos oficiais da família real.
É deslumbrante o salão onde será a recepção, o espaço está decorado
todo em branco e ouro, um luxo incrível, tudo parece cinematográfico.
— Eu estou simplesmente sem palavras — digo ao seguir ao lado de
Dom.
— Você está em um casamento real, querida, tudo aqui é o ápice do
luxo.
Não digo nada, apenas olho tudo com encanto, fascinada por cada
detalhe que meus olhos alcançam.
Paolo nos encaminha para uma mesa bem no meio do imenso salão,
vejo Hellena sentada acenando para nós toda sorridente. Passamos a manhã
na sua companhia, ela é extremamente animada e simpática. Tivemos um
bom tempo de conversa, uma pena que o nosso dia estava corrido e não
conseguimos passar mais tempo juntas.
— Uau, vocês estão lindas. — Ela olha admirada entre Gio e eu.
— Muito obrigada. — Dom puxa a cadeira para que eu possa sentar.
— Não te vi na igreja.
— Estávamos um pouco atrás de vocês e saímos na frente.
— Ah, sim. — Olho para Nikaros que elogia Giovanna e diz a Paolo
que ele terá que conter os pretendentes que certamente ficarão atrás da sua
irmã.
Obviamente ele não gosta da brincadeira e olha de maneira assassina
para o grego. Nikaros não se intimida e inicia um assunto que eu sei que não
vai acabar bem.
— Giovanna vai fazer dezoito anos, não é isso? — pergunta a Paolo.
— Sim. — Ele é econômico nas palavras.
— Já pensou no casamento dela? Sei que vocês programam isso com
antecedência.
— Ela ainda não completou a maioridade, quando chegar seu
aniversário de dezoito anos eu penso no que fazer. Acho que Gio pode
esperar mais um pouco para casar.
— Eu não quero me casar, quero ir para faculdade. — Rapidamente
Giovanna se manifesta.
— Por que não quer casar? — Nikaros pergunta.
— No meu mundo casar significa ser presa até a morte. — Eu me
sinto tão mal por ela, queria de alguma maneira poder ajudá-la.
— Por que não casa com Domênico? Tenho certeza de que ele te
deixaria fazer faculdade, até onde sei é um homem moderno. — Com toda
tranquilidade Nikaros comenta com Gio.
Dom se engasga com o seu champanhe e olha horrorizado para
Nikaros. Já Giovanna cora, enquanto Paolo fecha a mão sobre a mesa e
encara furioso o amigo.
— Do futuro marido de Giovanna cuido eu, Nikaros, tenha seus
próprios filhos com a sua mulher e aí opine na vida deles.
Prendo a respiração com medo de uma briga estourar ao redor da
mesa.
— Esse seu humor é terrível, italiano, você não sabe sequer entrar na
brincadeira — Nikaros diz com descontração.
— Não existe brincadeira quando você coloca Gio e Domênico na
mesma frase.
— Meninos, não briguem. — Hellena intervém.
— Controle o seu marido, hoje ele está com a boca grande demais —
Paolo a alerta.
Nikaros dá de ombros parecendo não estar arrependido por provocar
Paolo. Um homem se aproxima da mesa e acaba roubando atenção de ambos.
A interrupção é bem-vinda, o clima acaba ficando ameno. Paolo se
afasta com o convidado junto de Domênico e Nikaros, nós mulheres ficamos
sozinhas na mesa.
Em certo momento Hellena também pede licença e vai conversar com
algumas mulheres em outra mesa. Fico aliviada por finalmente poder
conversar a sós com Giovanna.
— Pensei que seu irmão fosse pular na garganta de Nikaros.
— Paolo é tão radical, tudo ele leva a sério.
— Nem me fale. — Lembro do dia que ele e Domênico se atracaram.
— Mas diga-me o que achou do pensamento do grego? Você se casaria com
Dom? — As bochechas dela ficam coradas.
— Claro que não, eu e Domênico não temos nada em comum.
— Tem certeza? — Ergo uma das sobrancelhas. — Ele só faltou
babar quando te viu.
— Não foi assim, Dom só ficou surpreso porque eu não uso esse tipo
de roupa.
— Pra mim, foi mais que isso, mas se você diz... — Dou de ombros.
— E quanto a você e meu irmão? Ele está espumando de ódio a cada
vez que seu Consigliere encosta em você.
— Gio, sabe bem que ele me comprou, para Paolo eu sou apenas uma
propriedade.
— Pode parar, meu irmão é apaixonado por você, todo mundo vê isso.
— Que loucura é essa? — Olho para ela interrogativamente.
— Masha, por que mamma te odeia tanto? — Fico confusa. — Ela
sabe que Paolo tem sentimentos por você, morre de medo dele não cumprir
com as tradições e te tomar como esposa, ou te manter como amante oficial
mesmo se casando. — Abro a boca em choque. — Na verdade, ela já tem
certeza de que você é a amante, por isso o temor de virar esposa e causar uma
guerra no nosso clã.
— Não sou amante do seu irmão, ele mal olha para mim.
— Eu sei que não é, mas ele te olha até demais, sempre que você está
distraída os olhos dele estão sobre sua figura. Eu vejo tudo, mas não posso
me meter, Paolo me castigaria. — Ela olha para as próprias mãos. — Ele é
bom para mim, mas sei que não devo confrontá-lo, tenho medo de que me
castigue entregando-me para casar com um homem que não me agrade.
Minhas irmãs não tiveram escolha, eu posso não ter também se ele se irritar.
— Não me conformo como esses homens da máfia tratam as
mulheres, vocês não são objetos.
— Sorte a sua poder escolher seu futuro, para mim ou conto com a
piedade de Paolo, ou fujo e deixo tudo para trás.
— Você não seria capaz disso, não é mesmo? Não pode fugir, ficaria
vulnerável.
— Se ele me arrumar um marido velho ou um que eu não tolere, fujo
sim. Não vou sofrer como Fiorella, desde que se casou ela está cada dia mais
triste, a menina sorridente e alegre que deixou a nossa casa não existe mais.
Sinto a impotência me dominar, eu queria levá-la para algum lugar
seguro, longe de todas essas tradições absurdas.
Um rapaz interrompe a nossa conversa e me convida para dançar.
Olho para ele e vejo que deve ter quase a idade de Paolo, beirando os trinta
anos. Seu cabelo é preto e os olhos castanho-dourado.
Lindo e muito cheiroso, o seu perfume tem uma nota cítrica
maravilhosa.
Aceito a mão que me estende e sigo para o espaço reservado para a
dança. Ele segura a minha mão e sorri, em seguida começa a me guiar pela
pista. Fico sabendo que ele é um diplomata irlandês em Vichi e que está
vivendo aqui há mais de dois anos.
Ele é muito simpático e o nosso papo flui com naturalidade, apesar do
meu inglês não ser um dos melhores. Vejo que está interessado em mim,
porém ele não avança o sinal, segue dançando com calma.
Que elegante, gostei dele.
Uma mão quente pressiona o meio das minhas costas e o belo homem
para de dançar e olha para quem está atrás de mim.
— Posso dançar com a dama? — A voz do Paolo me paralisa.
— Oh, é claro. — O homem me lança um sorriso meio que
constrangido e se afasta.
Fico parada e vejo Paolo se postar na minha frente. Sua mão esquerda
vai para minhas costas e outra segura a minha. Sem tirar os olhos dos meus,
ele começa a se movimentar. Tento desvendar a sua expressão, mas é algo
difícil, ele sabe esconder as suas emoções.
Acabo quebrando o olhar e corro os olhos pelo salão. Giovanna dança
com Nikaros, enquanto Dom está com Hellena. Vários casais giram ao nosso
redor, ao som da música suave.
— Você está linda, é a mulher mais deslumbrante da festa. — Quase
pulo ao ouvir sua voz ao pé do meu ouvido. — Todos os homens estão
admirados por você, se eu não me controlar, terei alguns corpos para me
desfazer no final da noite.
— Paolo para com isso, não é brincadeira que se faça. — Eu o
repreendo.
— Não estou brincando. — Ele busca os meus olhos. — Já me basta
Dom com as mãos em você sempre que tem a oportunidade.
— Para de implicar com o Domênico, somos amigos e ainda que não
fossemos você não tem nada a ver com nossas vidas. — Ele enruga as
sobrancelhas.
— Eu tenho a ver com tudo que se relaciona a você.
— Não tem e sabe disso. — Quebro o olhar e noto que Dom nos
observa.
— Lamento te informar, mas sempre estarei dentro da sua vida. —
Ele roça o nariz na minha orelha e me faz arrepiar. — Sempre cuidarei de
você, ragazza.
— Sei que não vai, você tem sua própria vida.
— E nela você será por todo momento minha prioridade. — Ele sobe
as pontas dos dedos por minha coluna, causando um estrago na minha
calcinha.
— Paolo — sussurro seu nome.
— Por Dio, Masha, eu não sei mais o que faço com você. — Sua mão
me puxa para mais perto do seu corpo. — Você é um perigo bambina, não
sabe o poder que possui.
— Seu tempo acabou. — Dom para ao nosso lado. — Dance com
Gio, talvez assim os abutres não queiram ficar fazendo fila para dançar com
ela.
Paolo não esconde a irritação em ser interrompido, no entanto segura
a irmã e se afasta.
— Tudo bem com você? — Domênico pergunta assim que me segura.
— Parecia que ia desmaiar.
— Acho que Paolo quer me enlouquecer. — Ele nos embala bem
devagar.
— Ele disse algo que te perturbou? — Os olhos de Dom estão
preocupados.
— Nada demais, apenas que eu sou um perigo e que não sei o poder
que eu tenho. Ele só fala em códigos, cada conversa que temos minha cabeça
dá um nó.
— Bambina, ele te quer, apenas isso. — Encaro Domênico incrédula.
— Sei do que falo, Masha, só não posso afirmar como termina essa história,
mas ele te quer como nunca quis outra mulher, não duvide de mim.
Eu me calo, não vou discutir com Dom, ele conhece bem o amigo e
talvez saiba do que ele realmente sente.
Não vou criar expectativas, mas estou pronta para o que acontecer. Se
Paolo se mover na minha direção eu pegarei tudo o que ele puder me dar,
antes que eu saia de vez da sua vida.
Por Deus que hoje eu enlouqueço de vez. Se mais um homem tocar
Masha, eu corto a mão do bastardo. Não aguento mais os olhares de luxúria
que ela recebe, por cada lugar que passa, no mínimo meia dúzia de cabeças
viram na sua direção.
— Se continuar assim, você vai ter um AVC. — Nikaros para ao meu
lado.
Acho que está na hora dele parar de beber, porque está engraçadinho
demais nesta noite.
— Não me provoque, eu te levo para o lado de fora e deixo esse teu
rosto feio ainda mais intragável. — O stronzo joga a cabeça para trás
sorrindo.
— Primeiro eu me rendi a Hellena, em seguida Mitchell pela bela
princesa e agora o italiano sanguinário por sua delicada ruiva. — Ele bate nas
minhas costas. — Você está preparado para enfrentar todos os tenentes do
seu clã por ela? Porque do jeito que olha para a ruivinha, já fez a sua escolha
para sua futura companheira.
— Nunca a arrastaria para o meu mundo.
— Ela já está no seu mundo, mora na sua casa.
— Sabe que não é a mesma coisa.
— Paolo, a menina gosta de você, os olhos da pequena transbordam
paixão, não perca tempo.
— Virou um casamenteiro agora?
— Só estou tentando ser nobre com você e te ajudando a não a perder.
— Masha não faz parte da máfia e eu não vou impor meu mundo a
ela, ainda que eu morra de tesão em cada parte do seu corpo.
— Desisto! – Joga a mão para o alto. — Você é teimoso demais. —
Ele se afasta.
Foda-se Nikaros, não pedi conselho dele, eu sei o que faço.
Domênico intercepta Masha e fala algo que a faz sorri. Giovanna se
aproxima dos dois e meu amigo olha rapidamente para ela, logo em seguida
volta a conversar com meu inferno vermelho.
Caminho até eles já com a minha paciência esgotada, estou louco para
ir embora, odeio casamentos e só vim porque tenho uma história com
Mitchell, no entanto já me aborreci demais nesta noite.
Antes que eu possa dizer que estamos perto de ir, vejo rei Martin se
aproximar. Caminho na sua direção para poder cumprimentá-lo, ele esteve
disputado demais, não consegui me aproximar dele, muito menos do noivo.
— Majestade. — Estendo a mão e ele a aperta com força.
— Segure suas provocações hoje, pare de me chamar assim. — Ergo
um canto da boca, gosto de irritar ele e Mitchell usando seus respectivos
títulos.
— É um momento especial, preciso reverenciar o rei.
— Por favor, apenas pare com essa bobagem. — Ele olha para trás
das minhas costas e, quando sigo seu olhar, percebo Domênico se
aproximando com Masha grudada no seu braço e Giovanna logo atrás. —
Quanto tempo Domênico.
— Como o senhor está?
— Radiante, casei o primeiro filho, faltam dois. — Dom sorri. — E
quem é a sua acompanhante? — Os olhos dele avaliam Masha. — Você tem
bom gosto rapaz, arrumou uma bela mulher para ser sua.
Acho que rosnei, porque pela maneira que Masha me olha, está
receosa que eu quebre o pescoço do maldito Dom.
Na verdade, essa é a minha vontade, o que também inclui o rei.
— Masha é apenas uma amiga. — Dom diz com certo
constrangimento.
— E por que só amiga? Você já foi mais esperto. — O rei segura a
mão de Masha e beija. — Muito prazer em conhecê-la, eu sou Martin.
— Muito prazer majestade. — Masha gagueja.
— Apenas Martin, odeio títulos, principalmente vindo de uma mulher
tão linda quanto você.
Martin está dando em cima dela? Ou eu que estou completamente
enlouquecido?
— Domênico, se eu não tivesse Ava, cortejaria Masha, você está
perdendo tempo rapaz. — Qual será a punição para quem mata o rei? Se
continuar assim, Martin será o primeiro rei moderno a perder a cabeça. — E
você, quem é? — Agora o alvo é minha irmã.
— Sou Giovanna Torcasio, irmã do Paolo.
— Não diga? — Martim segura a mão dela e também leva aos lábios.
— Quem diria que Paolo tivesse uma irmã tão linda.
— Hoje você está galante, majestade, onde está a rainha Ava? — Não
me seguro.
Martin me olha com as sobrancelhas franzidas, ele avalia
meticulosamente o meu rosto, em seguida sorri largamente.
— Ava está andando por aí, muitos convidados para ela
cumprimentar. — Seus olhos vão novamente para Masha, em seguida volta-
se para mim. — O conselho que dei a seu amigo serve para você — fala rente
ao meu ouvido. — Seja esperto. — Bate no meu ombro. — Foi um prazer
conhecer as senhoritas, espero que se divirtam muito, com licença.
Ele faz um gesto galante e se afasta com passos firmes.
— É por isso que o filho é lindo, o pai é deslumbrante. — Minha irmã
comenta ao observar as costas do rei.
— Giovanna se recomponha. — Olho-a de maneira irritada. — Está
muito saidinha hoje.
Imediatamente Gio olha para o chão e eu me sinto péssimo em
descontar meu mau humor nela. Minha irmã já vive tão oprimida com minha
mãe a enchendo de exigências e quando está finalmente se divertindo eu fodo
tudo.
— Vamos dançar um pouco, Gio. — Dom oferece o braço para ela,
que o segura ainda cabisbaixa.
Ele me lança um olhar de condenação e a encaminha para a pista de
dança.
— O que deu em você? Por que foi grosseiro com a Gio? Ela não
falou nada demais, o rei realmente é lindo, ninguém aqui é cego.
— Gostou dele, é? — A raiva borbulha dentro de mim. — Hoje você
está requisitada, a cada segundo que te olho tem um homem pendurado em
você. Vi até Domênico te apresentando ao príncipe Thomas, já se candidatou
a ser a nova princesa? — pergunto com sarcasmo.
— Vai me ofender também? — Masha me encara irritada.
Seus olhos azuis estão furiosos, ela fica ainda mais linda quando está
com raiva, eu sinto um tesão louco quando a vejo assim.
Perdendo a batalha interna desde que a vi nesse maldito vestido
provocante, eu seguro o seu braço e a puxo para uma porta lateral que leva
para área externa.
— Onde está indo? — pergunta ao caminhar apressada para
acompanhar os meus passos.
Não respondo, preciso buscar um mínimo de racionalidade dentro de
mim, para não foder de vez tudo o que existe entre nós. São mais de dois
longos anos a observando ficar mais linda a cada dia sem poder dar vazão a
tudo o que sinto.
Quando ela ainda era menor de idade, eu não encontrava dificuldade
em não a desejar, só que ela cresceu e agora nada me impede de expor o que
realmente quero com essa maldita ruiva infernal.
Foda-se tudo.
Foda-se meu bom senso, foda-se a máfia, foda-se a minha
determinação de não encostar nela. Masha é minha, sempre foi e hoje eu
tomo, ao menos um pouco, o que é meu por direito.
O meu sentimento de posse é ridículo, eu sei, mas foda-se ele
também. Agora eu não quero saber de mais nada, meu único interesse é a
mulher ao meu lado.
— Paolo, o que deu em você? — Masha pergunta quando sigo pela
lateral do prédio, na direção de um pequeno canto escuro. — Você está me
assustando. — Sua voz sai trêmula e eu me odeio por causar qualquer tipo de
medo na minha ragazza.
Puxo-a pelos dois braços e encosto o seu corpo contra a parede de
pedra. Masha me encara com olhos arregalados, incerteza brilha em seus
belos olhos azuis.
— Você está me fazendo ficar com medo. — Sei o quanto posso ser
assustador e no momento devo estar a encarando como um lobo, prestes a
pular na sua presa.
Seguro a parte lateral do seu pescoço, correndo o polegar pela veia
que pulsa com força. Minha mão que estava em seu braço desce até a cintura,
segurando com firmeza.
— Eu me orgulho muito como controlo minhas emoções,
principalmente quando o perigo está por perto — minha voz sai rouca pelo
tesão. — Porém, você é um perigo que eu não consigo manter o mínimo de
controle em qualquer tipo de sentido.
Dou um passo à frente e colo os nossos corpos a aprisionando entre a
parede e eu.
— Quando eu te levei para minha casa, disse a Dom que era
problema, ele duvidou. — Afasto um fio de cabelo que está caindo por seu
rosto. — Eu só não imaginava que o problema seria você não sair da minha
cabeça.
Masha ofega quando eu escorrego minha mão para trás da sua cabeça
e a seguro firmemente. Com os olhos nela, eu me aproximo e roço meus
lábios nos seus, ela não se move, apenas me observa parecendo
completamente incapaz de respirar.
— Você não tem noção o quanto fode a minha cabeça a cada
segundo. — Puxo seu lábio inferior entre os dentes. — Penso em te foder
todos os dias, eu fico duro quando te vejo com raiva, quando usa aqueles
shorts curtos ou quando solta essa merda de cabelo de fogo. — Minha mão
desce e segura a sua bunda. — Eu quero entrar fundo em você Masha e quero
que grite o meu nome enquanto eu te fodo até que seu corpo não seja mais
capaz de se mover.
A respiração dela acelera, uma de suas mãos vai para o meu peito,
bem em cima do meu coração.
— Eu quero você e todo o inferno vermelho que puder jogar sobre
mim.
Encerro meu discurso e tomo sua boca com brutalidade. Não consigo
mais segurar o que sinto por ela, o quanto a desejo intensamente.
O seu gemido contra os meus lábios me faz apertar a sua bunda com
mais força, mostro à Masha o quanto a quero, o quanto ela me deixa
ensandecido.
Quero fodê-la agora, me enterrar na sua carne macia e sentir o seu
calor. Inclino um pouco mais a sua cabeça para poder encontrar o ângulo
ideal para aprofundar o beijo.
O seu sabor é fabuloso, ela tem gosto de champanhe e algo doce, que
não consigo distinguir o que é exatamente. Masha ergue a mão e infiltra os
dedos em meu cabelo. Ela acompanha o meu beijo com sofreguidão,
imprensando ainda mais seu corpo ao meu.
Afasto a boca e puxo o ar com força, vejo seus lábios inchados por
meu beijo, ela está linda com os olhos brilhando de tesão.
— Precisamos encontrar um lugar mais calmo para fodermos, não
posso mais esperar. — Beijo rapidamente os seus lábios e começo a puxá-la
na direção do jardim, mas Masha puxa a minha mão com força.
— Não podemos. — Eu a encaro como se ela fosse um monstro de
dez cabeças.
— Você não quer? — Enrugo a testa e a acompanho passar a língua
pelos lábios.
— Quero, mas não que seja assim. — Inclino a cabeça, tentando
entender o que está acontecendo com ela. Mesmo através da maquiagem,
vejo seu rosto esquentar e o constrangimento se espalha em seu olhar. — Eu
ainda não fiz sexo, Paolo, não quero que minha primeira vez seja uma
rapidinha em um jardim.
Suas palavras me fazem voltar à racionalidade e a névoa de tesão se
dissipa. Eu estava tão cego de desejo e ciúmes, que me esqueci que Masha
tem uma vida regrada, que não sai sem seguranças e que em momento
nenhum ela teve a oportunidade de realmente se envolver com um homem.
Um sentimento estranho me domina, não sei explicar o que é
exatamente, só posso afirmar que eu estou feliz pra caralho porque serei o
privilegiado de vê-la em primeira mão nua e possuir o seu corpo.
— Eu esqueci que você não tem muita oportunidade de namorar. —
Seguro seu rosto e beijo sua boca. — Fico feliz em sempre manter alguém no
seu encalço, você vai ser só minha em todos os sentidos. — Masha me olha
feio e soca meu peito.
— Para de ser machista, você é nojento. — Seguro a sua mão contra o
meu peito e sorrio.
— Não sou nojento, só estou feliz em saber que ninguém tocou no seu
corpo, apenas eu vou fazer isso.
— Fará se eu deixar. — Eu volto a imprensá-la contra a parede.
— Ah, la mia passione[23], eu vou fazer você deixar, não tenha
dúvidas disso. — Já imagino o que farei para que ela me queira com
desespero. — Quando chegarmos à nossa suíte e todos forem dormir, eu vou
fazer por merecer cada parte de você, é uma promessa.
E com mais um beijo intenso eu me afasto e sorrio ao vê-la com a
respiração acelerada. Mais tarde vai ficar sem conseguir respirar, porque
quando eu me afundar entre as suas pernas, ela vai esquecer o próprio nome.
— Vamos para a festa, precisamos encontrar o príncipe antes de
irmos embora.
Puxo a sua mão e volto para o fervo do salão, não preciso ir muito
longe para achar Mitchell, ele está parado ao lado da esposa conversando
com o primeiro-ministro britânico.
Seus olhos notam a minha presença e ele pede licença ao homem para
falar comigo.
— Meus parabéns, principe[24], conseguiu laçar a bela ragazza. —
Olho para a nova principessa [25]de Vichi. — Lamento sua escolha, você
merecia um marido melhor, é muito bonita para ele. — Beijo sua mão e
Kimberly sorri.
— Não provoque meu marido no dia do nosso casamento. — Ela
encosta a cabeça no ombro dele, que rapidamente enlaça a sua cintura.
— Está de bom humor, Paolo? — Mitchell não perde minha mão
entrelaçada a de Masha.
— O uísque é bom, me deixou feliz. — Não digo que meu humor nas
alturas é por conta da deliciosa mulher ao meu lado.
— Sei. — Ele olha atentamente para meu inferno vermelho. — Não
vai me apresentar a sua acompanhante?
— Mitchell essa é Masha. — Olho para ela que claramente está
constrangida.
— Muito prazer, Masha, ouvi falar de você. — Ele faz um aceno para
ela. — Esta é a minha esposa Kimberly.
— Que prazer conhecer a namorada de Paolo. — Kimberly beija
Masha toda sorridente.
Eu não nego a sua afirmação, ninguém tem nada a ver com a espécie
de relacionamento e possuo com ela.
— Parabéns pelo casamento, desejo que sejam felizes, vocês merecem
— digo com sinceridade.
— Obrigado, Paolo, você faz parte de tudo isso. — Mitchell apoia a
mão no meu ombro. — Acho que nunca serei capaz de agradecer o que fez
para ajudar minha mulher.
— Esqueça essa bobagem, eu me divertir muito, isso vale qualquer
agradecimento. — Olho para a princesa. — Lide com esse bastardo a braço
curto, não o deixe sair da linha. — Ela acha graça do meu conselho.
— Não precisa pedir novamente. — Mitchell ergue uma sobrancelha
para ela e os dois dividem um olhar cúmplice.
— Bem... não vou mais atrapalhar vocês. — Aceno para os dois em
despedida.
— Paolo, obrigada por ter vindo, significou muito para mim. — A
princesa diz antes que eu me afaste de vez.
— Eles gostam de você de verdade — Masha comenta ao seguirmos
para nossa mesa.
— Gosto deles também, Mitchell é um bom amigo e Kimberly uma
menina com um passado sofrido, eles merecem toda felicidade do mundo.
Ela não diz mais nada, apenas senta quando puxo a cadeira e me
acomodo ao seu lado. Nikaros está na mesa conversando com Hellena, ele
olha a maneira como passo a mão pelas costas da cadeira de Masha. Um
discreto sorriso desenha-se nos seus lábios, mas o bastardo não fala nada.
Passo a próxima hora em angústia, louco para ir embora. Quando Gio
reclama que seus pés estão doendo de tanto dançar, dou a nossa noite por
encerrada.
Antes de irmos embora, Hellena nos convida para um almoço no seu
iate e uma tarde no mar. Penso em não aceitar o convite, mas as meninas se
animam e eu sou obrigado a ceder.
Quando saímos da festa, eu me aproximo de Masha e sussurro no seu
ouvido:
— Não se atreva a dormir, vou para o seu quarto assim que Dom e
Gio se recolherem.
Eu me afasto e já sinto meu pau pulsar com tudo o que pretendo fazer
com ela hoje.
Estou extremamente tensa quando entro na nossa suíte. Ainda me
sinto perdida com tudo o que aconteceu na festa, estou com medo de acordar
e tudo não ter passado de um sonho, por eu ter bebido demais.
— Nunca estive em uma festa como aquela. Tudo foi tão perfeito, que
realmente parece ter saído de um conto de fadas — Gio suspira e se joga no
sofá ao retirar os saltos. — Eu dancei tanto que estou exausta.
— Ótimo, vá dormir para restaurar suas energias, amanhã temos o
almoço no iate de Nikaros. — Seu irmão praticamente rosna.
Ele vai para o bar e pega um copo de uísque. Não sei como aguenta
beber tanto, eu só não estou me sentindo embriagada, porque a tensão pelo
que vai acontecer, em breve, atiçou todos os meus sentidos.
— Estou meio elétrica, acho que não consigo dormir agora — Gio
fala com os olhos fechados.
— Quanta disposição. — Domênico abre o botão do seu paletó e
desfaz o nó da gravata. — Eu vou dormir, o dia foi corrido e eu dancei e bebi
demais.
Ele beija meu cabelo e se afasta ao abrir as abotoaduras da camisa.
— Também vou para o meu quarto, preciso de um banho — digo ao
encarar as costas de Paolo, enquanto ele observa pelas portas de vidro o céu
escuro.
— Masha, eu posso dormir com você? Assim a gente conversa sobre
os detalhes da festa até o sono chegar.
Fico sem saber o que falar para Gio, se eu permitir que ela durma
comigo, bem capaz do Paolo torcer meu pescoço quando ficarmos sozinhos.
— Vá para seu quarto, Giovanna, amanhã teremos um dia no mar, é
cansativo.
— Mas Paolo, eu só... — Ele vira-se abruptamente e silencia a irmã
apenas com o olhar.
— Vá para o seu quarto e só me apareça nesta sala amanhã. — O tom
da sua voz me assusta e faz Gio se encolher. — Você também vá dormir,
Masha, por hoje chega para todos nós. — Ele encara intensamente meus
olhos pela borda do copo.
— Até amanhã. — Viro e sigo para meu quarto.
Ouço Gio fazer o mesmo, apesar de ela não parecer nada feliz com a
ordem do irmão.
Corro para o banheiro e me livro logo dos sapatos, deslizo meu
vestido até o chão e o penduro em um suporte na parede. Minhas roupas
íntimas são as próximas peças a serem descartadas.
A noite está quente, então eu ajeito a temperatura da água e quando
está como desejo entro no jato forte da ducha. Meus mamilos ficam eriçados
quando lembro das mãos de Paolo me segurando com força, dos seus lábios
exigentes sobre os meus e do seu olhar luxurioso.
Aconteceu mesmo? Ou bebi demais e estou imaginando coisas?
A incerteza me domina e quando eu saio do banho e me enrolo na
toalha, sigo para o quarto em busca de uma calcinha sexy. Na dúvida é
melhor eu estar preparada, o máximo que pode acontecer é eu dormir iludida
que ele vá aparecer.
Visto uma camisola de seda curta e subo na cama. Não faço ideia do
que fazer para parecer sensual. Já vi filmes românticos a exaustão, li uma
quantidade indefinida de livros eróticos, assisti a muitos filmes para adultos,
mas nenhum deles me preparou para a adrenalina desse momento.
Não sei o que esperar de Paolo, ele é intenso demais, nunca ninguém
me beijou como ele, eu quase derreti quando sua boca pressionava a minha.
Espero por ele pelos próximos dez minutos e nada de aparecer.
Começo a achar que tudo não passou de um delírio que a bebida causou.
Amanhã, quando eu acordar, vou perceber que foi um sonho louco e que ele
ainda me encara com sua costumeira irritação.
Olho para o teto desanimada, eu estou fissurada demais nele, estou até
criando situações absurdas na minha mente. Puxo o lençol sobre o meu corpo
e o deixo na altura da cintura, enrolo o meu cabelo em um rabo de cavalo e
jogo para o alto da minha cabeça.
Aos poucos as minhas pálpebras pesam e quando eu mergulho de vez
no sono, tenho a certeza de que tive mais um sonho erótico com Paolo.

Desperto com mãos quentes sob a minha camisola, um beijo cálido


pressiona um pouco abaixo da minha orelha. Prendo a respiração quando meu
seio é aprisionado por uma mão grande.
Os pelos da minha nuca ficam eriçados com a respiração quente na
base do meu pescoço. O sono me abandona de vez quando identifico o
perfume amadeirado de Paolo.
Eu não estou sonhando, tem que ser realidade.
— Você está aqui mesmo? — pergunto incerta.
— Claro que sim e estou louco por você. — Ele roça a sua rigidez na
minha bunda, para mostrar o quanto está duro por mim.
Gemo baixinho, ainda incrédula que finalmente ele está ao meu lado
como tanto sonhei.
— Preciso te livrar desta camisola, quero você nua.
Sinto a vergonha me dominar, eu também quero tudo o que ele puder
me oferecer, mas não posso negar que neste momento me sinto insegura.
Paolo puxa meu corpo para que eu fique de costas sobre a cama. Ele
paira sobre mim, lindo e sensual, com um olhar faminto. Sinto meu rosto
esquentar, e se ele não gostar do meu corpo? Sei que já esteve com mulheres
belíssimas, eu estou longe da perfeição delas.
Quando ele começa a erguer a minha camisola, seguro suas mãos.
Imediatamente encara meus olhos, me questionando silenciosamente.
— Pode apagar as luzes? — peço sem conseguir conter a nota de
insegurança na minha voz.
— Eu quero te ver — diz com as sobrancelhas contritas.
— Não sei se posso fazer isso com a luz ligada. — O seu olhar se
intensifica sobre mim, o que me faz encarar seu ombro.
Paolo suspira fundo, parecendo conter a irritação.
— Posso apagar a luz, mas vou ligar um abajur — diz sem esconder o
quanto está frustrado.
Ele não espera a minha resposta, ergue-se e vai desligar a luz, em
seguida volta para a cama e percebo que veste apenas a calça de seda do
pijama de dormir.
Assim como falou, ele deixa o abajur ligado e, de alguma forma, eu
me sinto menos tensa, a luz é suave e acolhedora.
— Melhor? — pergunta ao se mover sobre mim.
— Muito — a minha resposta o relaxa.
— Bom. — Ele passa a mão pela minha coxa. — Agora vamos dar
adeus a essa camisola.
Com extrema habilidade ele joga a minha camisola no chão e abre um
sorriso predador quando meus seios despontam a sua visão.
— Caralho! Você é incrivelmente linda. — Sua mão se fecha no meu
seio direito. — Pela primeira vez na vida não sei por onde devo começar.
Vejo seus olhos correrem fascinados pelo meu corpo e parar na minha
calcinha de renda branca, que não faz um bom trabalho em esconder o que
tem por trás dela.
A maneira que ele olha com admiração para mim acaba me fazendo
ganhar confiança. Coloco minha mão sobre a dele e faço uma pequena
pressão.
Paolo me encara surpreso, até que sua boca se ergue e o seu lado
safado volta com tudo. Acho que nunca o vi rir tanto para mim nesses mais
de dois anos que nos conhecemos. Depois que nos beijamos, ele parece outro
homem.
— Eu vou precisar de um bom tempo para conseguir beijar cada parte
da sua pele.
— Temos a noite toda, não é mesmo?
Ele apenas acena e se abaixa para capturar meus lábios nos seus.
Cruzo minhas mãos ao redor de seu pescoço e deixo que dite o ritmo do
beijo. Sinto meu corpo aquecer enquanto a mão dele trabalha no meu seio,
roçando o polegar no bico, em um movimento lento.
Com calma Paolo vai espalhando beijos pelo meu pescoço e clavícula,
até que para nos meus seios. O calor da sua respiração me arrepia e quando
ele ergue os olhos colocando a língua para fora e a ponta dela roça lentamente
pelo bico, eu fecho os olhos rendida.
— Abra os olhos, quero que veja tudo o que vou fazer com você. —
Sua voz saia rascante, em um tom que nunca ouvi antes.
Obedeço a sua ordem e o encaro, enquanto ele fecha de vez a boca no
meu seio. Gemo alto, sentindo uma quentura tomar conta entre as minhas
pernas.
Nunca experimentei nada parecido, sentir o calor da sua boca é uma
experiência incrível. Paolo suga meu seio parecendo estar faminto e vê-lo tão
selvagem, causa um rebuliço intenso no meu baixo-ventre.
O pulsar intenso na minha vagina é insuportável, algo que nunca me
aconteceu, nem mesmo quando me masturbava. É uma necessidade visceral
de senti-lo ali, tomando, me possuindo.
— Paolo... — sussurro seu nome em um lamento dolorido quando ele
suga com força meu seio, para logo em seguida morder o bico.
Eu seguro um grito, não posso acordar Gio e Dom, ficaria
constrangida se um deles soubesse o que está acontecendo aqui.
— Adoro ouvir você chamando meu nome com essa voz de tesão. —
Ele vai para o outro seio e me faz passar por outra sessão de prazerosa
tortura. — Você é perfeita, seu cheiro é delicioso, tudo em você me
enlouquece pequeno inferno vermelho.
— Esse apelido é ridículo — consigo dizer quando ele começa a
deslizar a língua ao espalhar eventualmente beijos por minha barriga.
— É tudo o que você representa na minha vida — diz ao pairar na
frente da minha calcinha. — O mais belo inferno que um dia já tive o prazer
de conhecer.
Com um sorriso soturno, desliza a língua pela lateral do elástico da
calcinha, causando um tremor na minha pele.
Suas mãos seguram minhas coxas e as abrem um pouco, ele desliza o
nariz pela renda, em seguida escorrega o dedo médio por toda a minha
entrada.
— Tão molhada. — Ronrona ao afastar a calcinha e me tocar.
Ofego alto quando seu dedo desliza entre os grandes lábios
espalhando minha excitação. Involuntariamente empurro meus quadris em
sua direção e vejo Paolo sorrir. Sem dizer nada ele me abre e trabalha entre
minhas dobras, até que alcança meu clitóris.
O leve roçar do seu dedo me enlouquece, sinto necessidade de mais,
de algo que não sei colocar em palavras.
— Porra, Masha, preciso te provar. — Enganchando as mãos nas
laterais da minha calcinha ele a arrasta com pressa e a descarta de lado.
Os olhos dele brilham ao encarar minha intimidade, sinto o calor subir
por meu rosto. Nunca estive tão exposta assim para um homem, não consigo
deixar de me sentir tímida.
— Ruiva. — Olho para ele confusa e mais uma vez Paolo ri, acho que
hoje à noite ele já riu pelo ano todo. — Você é ruiva aqui também —
comenta ao passar as pontas dos dedos pelo pequeno triângulo que deixei
quando me depilei. — Puta que pariu! Você não tem noção de tudo o que
estou pensando em fazer com você.
Ele pressiona o interior das minhas coxas, exigindo que eu me abra
ainda para sua apreciação.
— Paolo — pronuncio seu nome com a voz embargada. — Eu... —
Não consigo terminar a frase, eu estou sendo consumida pela vergonha.
— Shiii — ele me silencia. — Só me deixe te dar prazer com a minha
boca. — Volta a empurrar minhas coxas e dessa vez eu deixo, não tenho para
onde fugir e, na verdade nem quero.
Abro as pernas e me concentro na sua expressão de deleite. Paolo
parece que está encarando algo extremamente apetitoso, pois lambe os lábios
antes de se instalar entre minhas pernas e me lamber.
— Ohhh... — exclamo extasiada.
— Delícia — diz assim que suga meus pequenos lábios. — Acho que
não vou saber parar de te chupar, você tem um sabor incrível.
Não sei o que dizer, apenas encaro seus olhos quando ele abocanha
com fúria minha boceta.
Nesse momento já não sou mais capaz de encará-lo, desabo sobre a
cama e gemo, enquanto meus quadris ganham vida e se esfregam nele.
Paolo parece faminto, sua boca e língua estão em todo lugar, me
mordendo, sugando e lambendo. Não consigo fazer nada além de deixar meu
corpo ser tomado por puro fogo.
Tudo fica ainda mais intenso quando sinto seu dedo indicador cutucar
minha entrada.
Por eu estar muito molhada ele não tem problema com sua invasão.
Paolo começa a mover o dedo lentamente, enquanto sua boca suga meu
clitóris.
Quando eu lia nos livros sobre as mocinhas se deliciando com o sexo,
eu não tinha noção do quanto isso era bom, eu quero Paolo me lambendo
assim o dia todo, a cada segundo.
— Paolo... — chamo seu nome sem saber ao certo o que falar, eu só
preciso dizer algo, porque estou consumida por uma sensação inédita. —
Ohhh, eu vou... — paro de falar quando minhas pernas tremem e uma
explosão acontece entre minhas paredes vaginais.
Ele continua o seu ataque e empurra o dedo mais fundo, aumentando
ainda mais o meu prazer. Desabo na cama exausta, sentindo meu coração
esmurrar o peito com extrema força.
Ainda assim Paolo continua entre minhas pernas, lambendo devagar,
sem nenhuma pressa. Depois espalha beijos pelas partes internas das minhas
coxas, até retirar o dedo do meu interior.
Abro os olhos e encaro o seu rosto satisfeito, ele tem um semblante
leve, muito diferente do que estou acostumada a vê-lo. Com os olhos presos
nos meus, levanta o dedo e desliza por entre os lábios, chupando lentamente.
Em seguida fecha os olhos e corre a língua por seus lábios inchados de tanto
me chupar.
— Tenho certeza de que o manjar dos deuses tinha seu gosto, nunca
provei nada tão delicioso. — O meu rosto enrubesce, eu não sei o que dizer.
— Tão linda minha ragazza vermelhinha, em breve você vai perder essa
timidez e vai montar na minha cara para eu comer sua boceta sem nenhuma
timidez — comenta tranquilamente. — Você é tão apertada, eu não vejo a
hora de ter meu pau dentro da sua carne macia. — Deita ao meu lado e corre
a mão por minha barriga. — Como se sente?
Pisco os olhos ainda perdida, nunca pensei que meu primeiro
momento íntimo com um homem fosse ser tão intenso.
— Estou ainda assimilando tudo o que aconteceu. — Paolo beija meu
pescoço.
— Gostou?
— Acho que viu bem de perto o quanto gostei. — Ele ri contra minha
pele.
— Está certa. — Seu polegar encontra o meu mamilo eriçado. — Não
só vi como sorvi cada gota do seu prazer. — Os olhos dele vão para os meus
e o desejo cru ainda está presente, ele precisa do seu momento.
— Você trouxe camisinha? Sei que também precisa da sua satisfação
— Paolo não diz nada, apenas abaixa a cabeça e me beija, de maneira lenta e
intensa.
— Masha, não vou te foder com meu pau hoje. — Abro os olhos
surpresa.
— Você não me quer? — Sinto a insegurança me engolir, será que
não fui ativa o suficiente e ele perdeu o tesão em mim?
— Quero mais do que tudo neste mundo, mas não hoje, nem aqui com
minha irmã e Dom tão próximos. — Ele lambe meu lábio superior, depois faz
o mesmo com o inferior. — Quando eu estiver dentro de você, eu quero
poder fodê-la sem medo que grite e escandalize minha pobre irmã. —
Erguendo o rosto sorri discretamente. — Por que eu vou fazê-la gritar, várias
vezes na noite, pode ter certeza disso. — Passo a mão sobre o seu peito e
subo até alcançar sua nuca.
— Mas e você? Não é justo só eu sentir prazer. — Paolo aperta sua
mão que agora está no meu quadril.
— O quanto você está disposta a aprender a chupar um pau? — Ele
ergue uma sobrancelha em desafio, está nítido em seus olhos que acredita que
eu vou recuar.
Nunca!
Eu quero aproveitar cada segundo ao seu lado e todas as experiências
que quiser me proporcionar, isso inclui ter seu pau na minha boca. Já vi
muitos filmes adultos e sei como a mecânica funciona, então não vai ser
difícil se ele me orientar na prática como fazer do jeito que gosta.
— Estou cem por cento disposta — respondo confiante.
Paolo vai abrindo um sorriso lento, com seu olhar de predador
começando a brilhar maliciosamente.
— Então vamos começar a lição do seu primeiro boquete — afirma
ao pressionar um beijo rápido na minha boca. — Algo me diz que essa sua
boca atrevida vai levar a nota máxima.
— Hoje posso não levar, mas em pouco tempo eu serei imbatível. —
Ajoelho na cama ansiosa para senti-lo na minha boca.
— Não duvido disso — comenta ao levantar e começar a tirar a calça,
me dando a bela visão do seu corpo forte e esguio seminu, com músculos nos
lugares certos e belas tatuagens em várias partes dele.
Paolo é lindo e sexy em cada detalhe, não existe nada nele que eu
mudaria. O melhor de tudo é que nesta noite esse homem será meu e eu quero
aproveitar essa experiência em cada segundo.
Não quero mostrar para ele que estou insegura e com medo de fazer
algo que o faça perder o interesse por mim. Sei o quanto é experiente e que já
esteve até mesmo com mulheres famosas, perto delas eu sou apenas um
inseto.
— Fique relaxada, faça apenas o que quiser — diz ao se aproximar da
cama e tocar meu rosto. — Eu não quero que se sinta desconfortável com
nada.
— Eu não estou. — Sou sincera, apenas me sinto insegura com minha
inexperiência. — Só preciso que tenha paciência, tudo é novidade.
— É justamente por saber que está descobrindo o sexo que eu me
sinto tão excitado. — Ele infiltra os dedos entre os fios do meu cabelo e apoia
a mão na minha cabeça, sem tirar os olhos dos meus, me puxa para que eu
fique de pé. — Eu quero te ensinar tudo bem devagar e quero ver a surpresa
no seu rosto a cada segredo sexual que eu te mostrar. — Sua mão vai para a
minha bunda. — Te desejo como nunca desejei outra, eu quero te cobrir de
prazer.
Acaricio sua barba espessa e fico na ponta dos pés para beijá-lo. Paolo
me segura firme, trazendo meu corpo para ficar grudado no seu.
Seus lábios se movem contra os meus em um beijo furioso, ele afunda
os dedos na carne da minha bunda me fazendo gemer profundamente. Mal
acabei de gozar e já quero outro momento de prazer.
Com uma ousadia extrema eu desço uma das mãos e a fecho na sua
ereção. Imediatamente Paolo interrompe o beijo e me fita. Prendo a
respiração, com medo de ter feito algo errado.
— Eu te machuquei? — pergunto constrangida.
Ele corre o polegar por meu lábio inferior e sorri, daquele jeito
misterioso, cheio de malícia.
— Você não seria capaz de me machucar ainda que quisesse. — Ele
segura a minha mão e volta a colocá-la sobre sua rigidez. — Na verdade,
você quase me fez esquecer a minha promessa de não te foder hoje, ter sua
mão no meu pau é um paraíso.
Não digo nada apenas sorrio e volto a acariciar o seu volume. Ele é
grande e quente, estou curiosa para saber como deve ser a textura da sua
intimidade.
Volto a me deixar envolver pela ousadia e coloco a mão por dentro da
sua boxer. Sou recepcionada por seu membro rígido, quente e com uma
textura macia, parecendo um veludo.
Sinto-o inchar ainda mais na minha mão, isso me dá confiança e me
faz correr a mão bem devagar.
— Você vai me matar, Masha. — Paolo rosna. — Essa sua inocência,
misturada com a curiosidade e insegurança, é lindo demais. — Segurando
meu rosto com ambas as mãos ele me beija. — Fica de joelhos pra mim,
quero começar a te instruir.
Faço o que me pediu e o vejo escorregar a boxer por suas pernas. A
sua rigidez é coberta por uma suave penugem, ele tem os pelos pubianos bem
aparados e seu sexo ergue-se contra seu baixo-ventre, duro e com a cabeça
vermelha.
Ele é extremamente másculo, tenho certeza de que vai ser um
momento incrível quando senti-lo dentro de mim.
— Quero que me receba o tanto que conseguir e evite os dentes, pode
me explorar com calma, só fique atenta quando eu avisar que vou gozar,
porque não quero fazer isso na sua boca.
— Por que não quer? — Nos filmes que assisti, a maioria dos homens
goza na boca das mulheres.
— Ainda não é o momento — diz sorrindo e segura o seu membro. —
Agora abre essa boca, vamos começar.
Faço o que pediu e coloco a língua para fora, Paolo trinca os dentes e
insere apenas a cabeça do seu pau na minha boca. Ergo os olhos até os seus e
o sugo, pela maneira que me olha fiz a coisa certa.
Corro a minha língua por sua ponta, sentindo um gosto salgado
inundar minhas papilas gustativas. Fecho a mão na sua base e aperto sua coxa
musculosa.
Ele segura a minha cabeça e geme baixinho quando o levo no interior
da minha boca. É duro e, ao mesmo tempo macio, sinto uma mistura de
sensações me consumir.
Mantenho meus olhos nele e vou me arriscando a recebê-lo mais
fundo. A sensação que sinto agora é de poder, pois acompanhar o desejo
banhar o seu corpo me deixa em êxtase.
Relembro tudo o que já vi sobre sexo e começo um movimento de vai
e vem lento, até que Paolo começa a mover o quadril, indicando que deseja
mais.
Uso minha mão e minha boca, acelerando o máximo que posso
enquanto o chupo. Ele joga a cabeça para trás e solta um gemido longo. Solto
sua ereção e lambo da ponta até a cabeça, chegando lá eu corro a língua e a
sugo.
— Porra, Masha! Tem certeza de que nunca fez isso? — Seus olhos
estão negros.
— Nunca fiz, mas vi muito as atrizes pornôs fazerem. — Vejo o
choque estampar sua face.
— Você assiste pornô?
— Pelo celular, pensando em você e me masturbando. — Vou
assumir, não tem por que esconder dele.
— Puta que pariu! Você é meu inferno mesmo, seu apelido é perfeito.
— Ele enrola meu cabelo em sua mão e puxa a minha cabeça para que eu o
olhe. — Então, já que viu muitas atrizes fazendo boquete, faça o seu melhor,
quero gozar nesses teus peitos lindos, em breve farei isso na sua boca e você
não vai deixar escapar nada.
O meu coração acelera, acho que nunca serei capaz de fazer um
boquete como ele deve gostar, ou como vi nos filmes, mas eu vou tentar ir o
mais longe que puder.
Volto a segurar seu pau e o levo até o limite que aguento, Paolo rosna
e se movimenta fodendo a minha boca. Ele volta a jogar a cabeça para trás,
enquanto eu o sugo e movo a mão no seu eixo. Saber que ele está sentindo
prazer me excita, o que me faz colocar a mão entre minhas dobras, tentando
controlar a necessidade de senti-lo dentro de mim.
Quando seus olhos retornam para os meus, ele sorri ao ver que eu
estou me estimulando.
— Muito safada, do jeito que eu gosto. — Com um puxão no meu
cabelo e me força a se afastar. — Vou gozar. — Dando um passo para trás,
envolve sua mão no seu pau e começa a manipulá-lo com agilidade.
Sento sobre meus joelhos e coloco as mãos nas coxas, esperando o
momento que ele vai gozar.
Os primeiros jatos do seu prazer espiram no meu queixo, depois
respigam nos meus seios. Quente e viscoso. Tomo uma atitude de última hora
e capto o respingo que caiu no meu queixo com a ponta o indicador, o
levando até à boca. O gosto não é tão intolerável como algumas das meninas
da faculdade disseram, apenas é diferente de tudo o que já experimentei e me
faz pensar que tem gosto de Paolo.
Ele sorri, com todos os dentes aparecendo, de um jeito relaxado que
nunca vi.
Segurando meus braços me ergue e sua boca pressiona a minha.
Envolvo meus braços no seu pescoço, imprensando meu corpo contra o seu.
Beijá-lo é tão bom, a sua boca exigente e firme me faz querer fazer
morada nesses lábios que me enlouquecem.
— Meu pedaço de tentação, nós ainda não acabamos, mas por ora
vamos fazer uma pausa só para que possamos nos recuperar.
— Tem certeza de que não vamos transar hoje? — Eu me sinto
ansiosa para saber como deve ser incrível ele dentro do meu corpo.
— Cale essa boca gostosa, não me faça perder ainda mais a cabeça.
— Com mais um beijo duro, ele me deita na cama e segue para o banheiro
dizendo que já volta para me limpar.
Olho para o teto sorrindo, ainda sem acreditar que eu tive Paolo
Torcasio, o cruel mafioso da Cosa Nostra de Roma, dentro da minha boca e
entre as minhas pernas.
É só um sonho, tudo isso só pode ser culpa do álcool, duvido que seja
realidade. E se for, eu posso afirmar que consegui realizar o meu maior
desejo.

Aproveito a privacidade dos meus óculos escuros e observo o corpo


rígido de Paolo, na parte superior do iate. Ele tem o quadril encostado em um
gradil e está com um copo de drinque na mão, conversando com Domênico.
Ambos vestem short e estão sem camisa. Dois exemplos de homens
perigosos e gostosos. Um é mais lindo que o outro, porém meu coração só
acelera por meu mafioso ranzinza.
Quando acordei, ele não estava mais no meu quarto, tivemos uma
noite movimentada. Depois que ele voltou do banheiro, após gozar sobre
mim, limpou o meu corpo com extrema delicadeza e deitou ao meu lado.
Passamos um tempo nos beijando, até que ele me fez gozar apenas
com sua mão. Um tempo depois eu devolvi o gesto e ele também veio entre
meus dedos, resmungando meu nome e o quanto eu era perfeita.
Dormi nos seus braços, me sentindo feliz como não me sentia desde o
dia que eu descobri que ele não iria me ferir e que eu estava livre de toda a
dor que meu pai trazia para a minha vida.
No momento que saí do meu quarto, eu fugi do seu olhar, não
consegui contar para Dom e Gio que passamos a noite juntos. E não mudei
minha postura quando cheguei ao iate de Hellena, continuo evitando a sua
presença, não quero que ninguém saiba que tivemos um momento de
intimidade na noite passada.
— Olhando para Dom e Paolo, fico pensando que fazer tatuagem, não
deve doer tanto como ouço as pessoas falando. — Gio divaga. — Olhe para
Domênico, ele é coberto de tatuagens, mal dá para ver pele na parte superior
de seu corpo e, Paolo não fica atrás. Eu quero fazer algumas, você não sente
vontade?
— Sinto, mas não sei o que fazer.
— O que acha de fazermos alguma?
— Podemos pensar nisso, mas primeiro seu irmão precisa te autorizar
a fazer.
— Odeio isso. — Ela cruza os braços. — Meu sonho é ser livre, não
ter que dar satisfação a ninguém. Tudo eu preciso de autorização, não posso
dar um passo sem minha mãe ou meu irmão saberem. Estou cansada disso, a
minha vida é um pesadelo.
— Queria poder te ajudar, mas quem sou eu para enfrentar a máfia
italiana? — digo derrotada. — Só espero que Paolo não se deixe levar pela
pressão e tenha calma para escolher o seu marido.
— Eu vou fugir, Masha, ando juntando dinheiro, finjo comprar as
coisas, mas eu guardo tudo. Quando eu tiver o bastante, para me manter por
uns meses, irei para algum país na América espanhola, falo bem o idioma, ou
para a Austrália, lá a máfia italiana não tem quase influência.
— Não faça isso, você estará vulnerável aos inimigos do seu irmão.
— Ninguém me encontrará, eu vou dar um jeito de conseguir
documentos falsos.
Ela é tão cabeça-dura quanto o irmão, eu vou ter que arrumar uma
maneira de protegê-la, pensar nela sozinha pelo mundo me causa aflição.
Volto meu rosto para Paolo e parecendo saber que o observo ele olha
na minha direção. Mesmo nós dois estando de óculos escuros, sei que ele me
observa.
A minha mente vai para a noite anterior, quando o tive entre as
minhas pernas e também o provei na minha boca.
O meu rosto esquenta, imediatamente ele ergue um canto da boca,
sabendo exatamente o que estou pensando.
Quebro o nosso contato e volto a olhar para Giovanna. Deus me livre
dela descobrir tudo o que fiz com seu irmão.
— Juro que vou tentar encontrar alguma coisa para te ajudar, não é
justo você não ter decisão do seu futuro. — Ela me olha triste.
— Paolo não é mau para mim, mas ele precisa seguir a tradição, se eu
ficar com a minha família, vou casar de qualquer maneira. — O meu coração
se comprime, queria tanto poder ter uma solução rápida para a sua angústia.
— Ainda temos tempo, vamos pensar em algo. — Seguro sua mão. —
Eu vou ao banheiro quando voltarmos vamos mergulhar um pouco? Nikaros
disse que aqui onde atracamos é tranquilo para nadar.
— Claro que vamos, estou louca para isso.
Aceno para ela e sigo na direção do interior do iate. Nunca vi nada
assim, o barco é imenso, parece uma casa em alto mar. Não tenho ideia de
quanto deve custar ter uma propriedade desse nível.
Entro no banheiro e sigo para o sanitário, quando termino de fazer
xixi lavo as mãos e ajeito meu cabelo. Em seguida sorrio, estou arrumando
meu penteado para poder entrar no mar, meu Deus, que ridícula eu sou.
Saio ainda sorrindo e levo um susto quando uma pessoa me segura
com força. Abro a boca para gritar, mas Paolo a cobre com a mão.
— Você está me deixando louco com esse pedaço de pano que chama
de biquíni. — Os olhos verdes dele agora estão completamente negros. —
Não aguento mais ver essa bunda empinada sem poder tocar. — Seguro seu
punho e o puxo para que me liberte.
Paolo se afasta, mas sua mão que está na minha cintura não me
liberta.
— Você precisa se controlar ou Dom e Gio podem desconfiar de algo.
— Não devo nada a nenhum dos dois. — Suas sobrancelhas ficam
contritas.
— Pode parar, não quero que eles saibam de nada, isso é uma
exigência. — Ele me imprensa contra a parede e aproxima o rosto do meu.
— Masha, você deveria saber que eu não gosto de ordens, eu sei o
que faço e como faço. — Ele segura a minha cabeça e me beija.
Esqueço onde estou; apenas enrosco as mãos ao redor do seu pescoço
e o puxo para mim. Acho que nunca serei capaz de resistir a esse maldito
homem, ele me tem dos pés à cabeça.
Com mãos firmes ele me ergue e faz circular as pernas em sua cintura.
Aperto seu pescoço, quando ele se movimenta e entra em uma cabine.
— O que está fazendo? — pergunto confusa quando ele me coloca no
chão.
— Nada demais. — Paolo me encosta contra a porta sorrindo. — Só
vou comer a minha sobremesa.
Ele some da minha vista e fica de joelhos, abafo um grito quando
rapidamente afasta a calcinha do meu biquíni e saqueia a minha intimidade.
Sua língua corre por toda a minha entrada, em seguida ele ergue um
dos meus joelhos e apoia minha perna sobre o seu ombro. Fico um pouco
mais exposta, com ele correndo a ponta da língua no meu clitóris. Não
contente ergue o outro joelho, me fazendo apoiar a outra perna em seu
ombro, para ficar à sua mercê.
Sem piedade me ataca, sugando a minha umidade com intensidade.
Mordo o lábio dolorosamente, tentando conter meus resmungos de prazer.
Paolo está me enlouquecendo com sua língua, ele saqueia cada região da
minha intimidade.
Não duro muito e explodo contra a sua boca, mordendo as costas da
mão para não informar a todos presentes, no iate, que eu estou gozando.
Com calma, Paolo me lambe, parecendo não ter pressa, como se
tivesse todo o tempo do mundo.
— Deliciosa — diz quando se ergue e encara meus olhos. — Não
vejo a hora de chegar à noite e ir para o seu quarto, estou louco para ter sua
boca no meu pau. — Ele segura a minha cabeça e me beija, me fazendo sentir
o meu gosto na sua língua. — Agora vá, eu preciso me acalmar um pouco,
não posso aparecer com a porra de uma ereção por causa de você.
Não consigo dizer nada, apenas tropeço para fora da cabine quando
ele me empurra. Volto ao banheiro e molho o rosto, tentando ganhar um
pouco de equilíbrio.
Quando retorno para o lado externo, encontro Domênico conversando
com Hellena e Giovanna.
— Você demorou — Gio comenta quando me aproximo.
— Acabei me sentindo um pouco enjoada — digo a primeira coisa
que se passa na minha cabeça. — Aí lavei o rosto e esperei um pouco o mal-
estar passar.
— É normal — Hellena diz sorridente. — O balanço do barco e a
maresia para quem não está acostumado causa um estrago. — Fico feliz dela
sem querer compactuar com a minha mentira.
— Isso significa que não vamos mergulhar? — Giovanna pergunta
um pouco triste.
— Claro que não, eu já estou melhor. — Olho para Domênico e ele
me fita de uma maneira estranha.
Desvio do seu olhar, eu não quero que ele descubra o que eu estava
fazendo de verdade.
Ainda não chegou o momento de me abrir com ele, preciso me
acostumar com a ideia de que estou tendo um momento íntimo, com o
homem por quem sempre fui apaixonada.
Solto a minha mala perto da cama e tiro a jaqueta. Inferno! Eu estou
explodindo de tesão e não posso fazer tudo o que está na minha mente porque
tenho minha irmã no quarto ao lado.
Preciso me livrar de Giovanna o quanto antes, não posso mais passar
um segundo sem colocar as mãos na minha ruiva.
Estou completamente fascinado por ela, Masha é de uma perfeição
assustadora. Apenas a sua presença é o suficiente para me deixar duro.
Tiro a roupa com raiva e sigo para o banheiro, com uma ereção
dolorosa implorando por alívio. Não consigo deixar de pensar nela, na sua
boca quente rodeando meu pau, nela me olhando sempre com expectativas
buscando saber se estou gostando do que faz comigo.
Se ela soubesse que nenhuma das mulheres com quem já estive
conseguiu me fazer pensar nelas após uma transa, não se preocuparia tanto.
Nem mesmo as putas que passaram por minha vida, me deixaram com tanto
tesão enquanto me levavam na sua boca.
Quando a vi pegar uma gota da minha porra que respingou no seu
queixo e levar até os lábios, eu quase voltei a colocar meu pau na sua boca
para que limpasse o que restou do meu gozo nele.
Foi a cena mais quente que já vi e estou ansioso para o momento que
ela engolir cada gota do meu orgasmo.
Entro embaixo do jato de água e pego o sabonete líquido. Coloco uma
boa quantidade na mão e levo para meu pau. Fecho os olhos e recordo o rosto
corado de Masha me encarando, com sua boca pequena tentando me engolir.
— Porra! — blasfemo quando meu corpo se incendeia e eu aumento a
pressão na minha ereção.
Saber que apenas eu estive naquela boca, só eu lambi aquela boceta,
me deixa louco. Os gemidos de prazer dela são apenas meus, ninguém mais a
viu enquanto goza. Nenhum daqueles babacas que ficaram rodando-a na festa
tiveram a honra de sentir seu sabor, apenas eu sei o quanto ela é gostosa.
Ela está acabando com a minha cabeça, só penso nela, só desejo ela,
apenas ela pode matar a porra do meu tesão.
Minha mente vai para a noite passada, com ela de joelhos, entre
minhas pernas e me levando em sua boca, enquanto seus olhos não saiam dos
meus.
Que mulher! Preciso entrar nela, sentir o calor do seu corpo, ser o
primeiro a explorar aquela boceta de pelos ruivos.
Apoio a mão sobre a parede e abaixo a cabeça, o meu pau incha na
minha mão e explodo intensamente, gozando com força ao pensar na imagem
de Masha me sugando.
Hoje à noite eu preciso dela, não posso mais ficar longe. Amanhã vou
despachar Gio para casa e terei a minha ruiva apenas para mim.

Bebo meu uísque e observo Masha e Gio conversando na sala


animadas. Gosto da amizade delas, minha irmã é um pouco instável em
alguns assuntos e Masha consegue trazer para ela um pouco de racionalidade.
O que não gosto de pensar é nas decisões que terei que tomar com
relação ao futuro de Giovanna. Não suporto pensar em uni-la a alguém da
máfia apenas por uma merda de tradição. Ver Fiorella infeliz ao lado de
Carmelo me deixa furioso, não quero algo assim para Gio, ela não merece um
futuro triste.
Eu odeio a minha vida, quem eu sou e o que preciso fazer para
sobreviver em meio a máfia. Queria poder deixar tudo para trás e carregar
minha família e Masha para longe de toda essa maldade.
— Está na hora de nos recolhermos, vocês já conversaram demais —
digo ansioso para ficar sozinho com meu inferno vermelho.
— Não estou com sono — Gio se manifesta. — Você pode ir dormir,
vou ficar conversando com a Masha.
— Vamos todos dormir — ordeno. — Amanhã você acorda cedo
porque precisa ir para a escola e Masha para a faculdade. — Descarto meu
copo de uísque.
Lanço um olhar para meu inferno vermelho dizendo silenciosamente
que ela controle minha irmã. Dou as costas e sigo para as escadas.
Fecho a porta do meu quarto e tiro a roupa, coloco a calça do meu
pijama e deito na cama, esperando o momento de ir para o quarto da minha
perdição.
Um tempo depois ouço as duas no corredor e depois o silêncio
domina. Fico angustiado esperando o tempo hábil para poder ir até o quarto
de Masha e reivindicá-la para mim.
Perco a batalha interna e sigo para seu quarto. Não bato, abro a porta
bem devagar e olho por todo o quarto sem encontrar meu inferno vermelho.
Entro e fecho a porta, se ela foi ficar no quarto de Gio, amanhã terei
que explicar em detalhes que não deve contrariar uma ordem minha.
Um barulho no banheiro chama a minha atenção, em seguida ouço
Masha praguejar. Caminho até onde está e a encontro escovando os cabelos,
vestindo um babydoll indecente.
Sua bunda arrebitada molda perfeitamente o short curto e seus cabelos
ruivos caem como cascata por suas costas esguias. Meus olhos caem para
seus ombros, onde uma infinidade de sardas espalha-se pela região.
Ela se assusta quando paro as suas costas e seguro seus ombros.
Nossos olhos se cruzam e eu acompanho atentamente a escuridão espalhar-se
em seu olhar.
— Pensou que eu iria te deixar livre hoje? — Infiltro a mão por baixo
da sua blusa e encontro seus seios livres. — Isso é o paraíso.
— Paolo, sua irmã pode resolver aparecer aqui, sabe bem como Gio
pode ser intempestiva.
— Se ela aparecer vai ver o que não deve. — Beijo seu pescoço,
sentindo o seu delicioso perfume de rosas. — Estou louco por você, não
posso esperar mais para sentir sua boca no meu pau. — Ela se contorce.
— Acho melhor esperarmos até amanhã.
— Não vou esperar por mais nenhum segundo. — Pego a escova da
sua mão e a descarto. — Vem. — Chamo ao puxá-la pela mão na direção do
quarto.
Para não termos nenhum tipo de problema, tranco a porta e volto para
perto da sua cama. Masha me encara com o rosto ruborizado, sem conseguir
esconder sua excitação.
— Pare de me olhar assim — digo ao presenciar a fome em seus
lindos olhos azuis. — Não podemos ir muito além até que Gio vá para casa.
— Envolvo minha mão em sua cintura e a puxo contra meu corpo. — Mas
amanhã à noite tudo será diferente. — Coloco seu cabelo para trás da orelha e
deslizo meus lábios contra os seus, beijando-a sem pressa, me deliciando com
a textura suave dos seus lábios.
Seguro a barra da sua blusa e começo a arrastá-la por seu tronco,
Masha ergue os braços e não deixa de me fitar. A próxima peça a sair é seu
short, ele cai aos seus pés revelando uma calcinha de tule branca, que não faz
o papel de esconder sua boceta ruiva.
Que tentação. Acho que vou passar a chamá-la de minha tentação
ruiva, porque essa mulher é uma perdição ambulante.
— Deita na cama e abre as pernas — ordeno com a voz densa. —
Quero apreciar sua boceta nessa calcinha antes de tirá-la.
Masha ofega e faz o que peço, exibindo para mim o monte molhado
que eu vou me fartar em breve.
Não escondo o sorriso, ter Masha é como ingressar no paraíso. Eu sou
um filho da puta sortudo. Apesar de ser um merda de homem, tive a sorte de
encontrar essa mulher perfeita.
— Meu inferno vermelho, não grite — aviso. — Deixe seus gritos de
prazer para amanhã, tenho certeza de que vai precisar dar vazão ao que irá
sentir quando eu estiver dentro de você.
Engancho minhas mãos nas suas coxas e a puxo para mim. Ela abafa
um grito quando abocanho sua boceta, o que me deixa satisfeito. Adoro sua
obediência, fico excitado quando a vejo seguir minhas ordens.
Eu estou muito fodido, essa mulher ainda vai me fazer perder o juízo.

Entro no restaurante destruído pelos filhos da puta russos e sinto uma


necessidade visceral de rasgar a garganta de alguns deles. Malditos! Esses
merdas estão começando a colocar as garras de fora e isso não é nada bom.
— Senhor Paolo. — O homem me cumprimenta com o rosto tenso. —
Eles não deixaram quase nada no lugar.
— Estou vendo isso — digo irritado a Javier. Ele é um bom homem,
que recebe há muitos anos a proteção do nosso clã em todos os seus
estabelecimentos na cidade. — Não se preocupe, reconstruiremos tudo e
mandarei um recado aos desgraçados, eles não virão mais aqui.
— Eles querem que nos associemos à organização deles.
— Mas você não irá, porque eu vou destruí-los, fique tranquilo. —
Apoio a mão no seu ombro. — Certamente algum olheiro deles está vendo o
nosso encontro e saberão que fizeram um mau movimento em destruir seu
comércio. Vim aqui pessoalmente para mostrar o quanto sua fidelidade é
reconhecida por mim. Trabalhamos juntos há anos, não vamos mudar o que
sempre deu certo.
Nunca irei perder nenhum dos meus parceiros para esses malditos
russos.
Ordeno que alguns dos meus homens ajudem na remoção dos itens
destruídos. Preciso prestar todo o auxílio possível para mostrar que nosso clã
sempre estará ao lado dos nossos associados.
— Se precisar de mais alguma coisa ligue, Javier. — O homem faz
um gesto positivo com a cabeça. — Por Deus que eu quero matar esses russos
— digo a Domênico quando ele se aproxima.
— Não estou entendendo isso, eles nunca foram tão afoitos assim. —
Suas sobrancelhas estão contritas. — Sinto que alguma mudança ocorreu
entre eles.
Tenho que concordar com ele, já têm alguns meses que eles mudaram
o modo de ação e saíram do padrão que estamos acostumados. Os russos
andam saindo do esgoto sem medo e isso não parece ser algo que Yuri e seus
homens fariam. Não o vejo pessoalmente desde que comprei a minha ruiva,
aquele dia foi algo inédito, eu não me reúno com esses merdas.
— Tem notícias de Yuri?
— Faz tempo que não sei dele, mas vou procurar informações,
Giorgio é bom em encontrar informações com agilidade. — Dom pega o
celular e segue para o seu carro.
Era só o que me faltava Yuri não ser mais o chefe dos russos em
Roma. Ele era um homem fraco e eu nunca tive problemas em intimidá-lo.
Porém, se ocorreu uma mudança na chefia, eu preciso descobrir quem está no
poder, só assim vou saber que tipo de atitude preciso tomar para mostrar que
Roma é minha e ninguém vai mudar essa realidade.
Vejo uma ligação de Franco e praguejo. Certamente todos os
principais membros do clã estão agitados com esse incidente.
— O que foi Franco?
— Já resolveu a situação com o restaurante?
— Tudo sob controle, eu já deixei uma equipe ajeitando tudo e
Domênico está atrás de algumas informações com Giorgio sobre a chefia dos
russos, ele acredita que Yuri não está mais na liderança.
— Penso como ele, isso não é típico daquele covarde. — Entro no
meu carro e aperto o volante com força. — Se houve alguma mudança, você
precisará mandar um recado enérgico a eles.
— Não me diga o que fazer — rosno ao ligar o carro. — Sei como
foder com eles, pode ficar tranquilo. Avise aos outros que estou no controle
de tudo, agora preciso desligar.
Antes que ele fale algo encerro a ligação e sigo para o meu escritório
no centro de Roma, preciso resolver alguns problemas nos novos resorts que
estamos construindo na Tailândia. A máfia precisa de negócios lícitos para
lavar o dinheiro das drogas e armas. Nada melhor que o ramo hoteleiro para
realizar esse tipo de manobra.

O resto do meu dia foi uma merda, pelo que Domênico conseguiu
levantar Yuri não tem sido visto nos últimos tempos. As suspeitas dele
parecem ser verdadeiras. Temos um novo líder em jogo e iremos precisar
mostrar a ele que não deve avançar nos nossos negócios.
Abro o botão do terno e afrouxo a gravata quando entro em casa.
Tudo está silencioso, isso é bom, hoje preciso do meu inferno vermelho para
poder tentar trazer algo bom para meu dia fodido.
Sigo direto para meu quarto em busca de um banho. Preciso tentar
tirar um pouco da tensão que me consome.
Quando saio do banho coloco uma calça de moletom e uma blusa de
malha preta.
Bato na porta do quarto da Masha, mas ela não me atende. Entro no
seu espaço e encontro o local vazio. Desço as escadas em busca dela, nessa
hora sei que está em casa, sua faculdade é pela manhã, normalmente ela
chega em casa na hora do almoço.
Não a encontro na sala, o que me faz seguir para a cozinha,
certamente está de conversa com Mirta, as duas vivem grudadas.
É com surpresa que encontro Mirta conversando com a sua ajudante e
nada da presença do meu inferno vermelho.
— Onde está Masha? — pergunto sem me importar em cumprimentar
as duas.
— Boa noite, senhor. — Mirta faz questão de repreender
discretamente a minha falta de educação. — A senhorita Masha está com o
Leonardo; eles foram ao shopping.
Definitivamente hoje não é meu melhor dia, tudo parece estar
seguindo para me irritar.
Puta que pariu!
Não digo nada a Mirta, apenas me viro e saio da cozinha contendo a
irritação. Vou até meu quarto e pego o celular. Ligo prontamente para Masha,
ela não deveria estar a essa hora com seu amigo, não quando eu tenho planos
para nossa noite.
— Oi. — A voz suave dela causa um arrepio no meu corpo.
— Onde está? — pergunto imediatamente.
— Vim passear no shopping com Leo. — Ouço um burburinho no
plano de fundo.
— Venha para casa agora e livre-se do Leonardo, quero você aqui em
no máximo vinte minutos.
Encerro a ligação puto, eu a queria em casa, para que eu pudesse
colocar em prática tudo o que estou pensando desde que tive a péssima ideia
de colocar minhas mãos nela.
Ouço a porta abrir enquanto degusto meu uísque, não demora muito
Masha desponta na sala, com seus lindos cabelos vermelhos emoldurando seu
rosto delicado.
Ela para ao me encontrar sentado na sala, seus olhos são um misto de
apreensão e desejo.
Linda como sempre.
— Não sabe ser civilizado ao ligar para alguém? — questiona irritada.
— Até consigo ser, mas não quando quero foder a pessoa para quem
estou ligando. — Escorrego meus olhos por seu corpo. — O jantar será
servido em breve, se quiser tomar um banho fique à vontade. — Ela agarra a
alça da bolsa com força.
— Você é insuportável — diz ao girar e seguir na direção das
escadas.
Sorrio. Apesar da sua insolência eu não ligo; tudo o que desejo é tê-la
comigo, ainda que esteja chateada.
Em menos de vinte minutos Masha está de volta, com os cabelos
soltos e com um vestido justo de malha preto. Ela me fita ainda irritada, mas
eu dou de ombros, foda-se tudo, o que eu quero é apenas ela.
— Vamos jantar — digo ao me levantar.
A ruiva aperta os olhos e me avalia, acho que notou a minha agitação.
Realmente não estou conseguindo esconder o quanto estou louco para levá-la
para cama. Penso nisso desde que levantei hoje cedo e mandei Gio para casa.
— O que você tem? — pergunta quando paro ao seu lado. — Está
estranho.
— Eu sou estranho — afirmo ao tocar seu rosto. — Você está linda.
— Aproveito que estamos sozinhos e provo seus lábios.
Ela rodeia os braços por minha cintura enquanto devoro sua boca
tentadora.
— Vamos comer logo ou eu esqueço que preciso te alimentar antes de
te foder. — Aperto sua bunda com força e depois puxo sua mão.
Chamo por Mirta quando sentamos à mesa, ela não demora a aparecer
com o nosso jantar. Enquanto termina de servir a mesa, faço algumas
perguntas banais à Masha, que me responde de maneira mecânica.
Posso estar enganado, mas ela parece nervosa. No geral Masha fala
demais, principalmente quanto estou aberto como hoje, dando a ela espaço
para tagarelar.
— Por que está tensa? — pergunto ao colocar um pedaço de tomate
cereja na boca.
— Não estou tensa — rapidamente responde.
— Está e sabe disso. — Pego a taça de vinho e bebo um pouco
enquanto a observo remexer os legumes no prato. — Não precisamos fazer
nada que não queira, eu não vou te forçar a dar um passo que não esteja
preparada.
Seus olhos vão até os meus, ela parece surpresa com a minha fala, eu
também estou, o certo era eu convencê-la a ir para cama comigo, não ser o
caralho de um lorde.
Pela maneira que cora eu sei que acertei em cheio no meu comentário,
de fato está nervosa com o que irá acontecer assim que terminarmos o jantar.
— Apenas relaxe, eu não vou te pressionar.
— Sei que não vai, mas eu... — Ela bebe um longo gole de vinho. —
Só estou apreensiva com a dor, sei que será desconfortável. — Seus olhos
estão na taça a sua frente.
Estico a mão e toco a sua, querendo de alguma maneira lhe dar
conforto.
— Apenas confie em mim. — Beijo sua mão.
— Eu confio. — Sinto o meu coração esmurrar contra o meu peito ao
ver a verdade na sua afirmação.
Para não a deixar ainda mais nervosa eu entro em um assunto leve,
perguntando sobre suas impressões do casamento de Mitchell. Consigo o meu
objetivo de relaxá-la e Masha começa a falar do quanto ficou encantada com
a festa.
Eu não reparei em porra nenhuma da decoração, as únicas coisas que
me interessavam lá era a bebida de qualidade e manter o meu inferno
vermelho longe de qualquer homem. Mas se ela quer falar dos detalhes da
decoração que assim seja. O que me importa neste momento é que ela se solte
e que fique calma para o que está prestes a acontecer.
Hoje ela será minha no sentindo pleno da palavra e eu estou louco
para esse momento chegar.

Quando o jantar acaba Masha volta a ficar tensa, dessa vez não posso
fazer muito por ela, esse é um momento que terá que passar. Estou feliz
demais por ser eu o responsável a mostrá-la esse novo mundo e não um filho
da puta qualquer, que poderia machucá-la de alguma maneira.
Entrelaço meus dedos aos seus e subo as escadas, sinto sua mão
suada, ela está nervosa. Quando entramos no corredor e eu a puxo para perto
e beijo o topo da sua cabeça.
— Se quiser ir até o fim hoje, prometo que farei o máximo para que
seja confortável para você. — Acaricio sua bochecha.
— Nós vamos até o fim — afirma. — Eu quero, Paolo, ainda que eu
esteja apreensiva, eu quero você mais que tudo.
Caralho! Assim ela me faz perder a compostura.
Paro na frente da porta do meu quarto e seguro seu rosto, avançando
desesperadamente contra seus lábios. Masha aperta os braços ao redor do
meu pescoço, enquanto move a boca contra a minha.
— Tudo bem ficarmos no meu quarto? — Não quero deixá-la
desconfortável.
— Fico onde você estiver. — É... de fato ela quer foder a minha vida.
Abro a porta e a puxo para dentro. Exceto pela primeira vez que
estive com uma mulher quando meu pai me levou a um puteiro, eu nunca fico
nervoso para trepar com alguém. Só que hoje eu estou nervoso pra caralho,
saber que eu serei o primeiro a ter Masha, causa uma agitação extrema em
mim.
Puxo seu corpo contra o meu e reivindico seus lábios em um beijo
lento, para deixá-la relaxada. Levo um longo tempo a beijando, correndo
minha mão por seu corpo, instigando-a e mostrando o quanto ela me excita.
Tiro seu vestido a deixando apenas com a pequena calcinha que
esconde o triângulo ruivo que eu tanto sou fissurado. Ergo a mão e envolvo
seu seio, friccionando o polegar no bico.
— Eu vou devagar, mas avise se eu ultrapassar alguns dos seus
limites, tudo bem? — digo querendo tranquilizá-la.
— Certo. — Adoro a sua confiança em mim.
Imediatamente a livro da calcinha e a deito na cama. Masha se abre
para mim, revelando o quanto está molhada. Eu não me seguro e avanço
sobre sua boca em um beijo intenso que aquece todo o meu corpo.
Deslizo os lábios por seu pescoço, sigo pela clavícula e avanço nos
seus seios. Perco um tempo neles, me fartando em cada um, os deixando
eriçados e vermelhos. Minha mão vai para o meio das suas pernas, quero
estimulá-la um pouco para que fique bem excitada.
Enquanto sugo seu seio, eu deslizo os dedos por suas dobras e
fricciono o dedo médio no seu clitóris. Ela se remexe e geme, sua mão vai
para a minha cabeça me instigando a chupar com mais força seu peito. Eu
dou o que me pede e me farto na suavidade da sua pele.
Sigo para o outro seio e como sinto que ela está extremamente
molhada, eu infiltro um dedo no seu canal. Masha remexe o quadril gemendo
alto.
— Você está tão molhada — digo ao pairar sobre ela e roçar meus
lábios nos seus. — Está difícil manter o controle. — A diaba vermelha sorri e
toca carinhosamente o meu rosto.
Linda e completamente minha.
Coloco outro dedo no seu canal e começo a fodê-la com mais vigor.
Encaro seu rosto, acompanhando de perto cada uma de suas expressões.
Masha me fita de volta e seus olhos estão nublados de desejo, ela está bem
perto de gozar.
Intensifico meus movimentos, querendo que ela venha na minha mão.
Prendo seus lábios nos meus e meto os meus dedos bem profundo e cada vez
mais rápido.
Sinto suas unhas cravarem nos meus ombros quando ela se contorce
sob meu corpo e goza. A minha mão fica ainda mais molhada com o seu
gozo, eu não paro de penetrá-la, continuo fodendo sua boceta apertada com
meus dedos, estendendo o seu orgasmo.
— Você fica ainda mais linda quando está gozando, é uma visão
grandiosa acompanhar seu momento de prazer. — Beijo seu queixo e depois
subo até sua boca, envolvendo lentamente a minha língua a dela.
Masha se enrosca em mim, deslizando a boca contra a minha
enquanto solta suaves gemidos. Tiro meus dedos do seu interior e levo até a
minha boca, os lambo lentamente, sem tirar meus olhos dos seus.
— Deliciosa como sempre. — Ela morde o lábio inferior, parecendo
constrangida. — Adoro quando fica toda vermelha.
— Para, Paolo, você está me deixando sem graça.
— Não foi a minha intenção. — Beijo seu pescoço escondendo um
sorriso. — Quero você na minha boca.
— Acabei de gozar, me dê um tempo.
— Não vou dar tempo nenhum, eu quero que goze novamente, assim
você vai ficar bem relaxada para poder me receber.
O meu pau fica ainda mais duro quando penso que em pouco tempo
eu estarei deslizando por entre suas dobras macias.
— Eu estou relaxada. — Ela segura a minha cabeça e me beija.
Sua mão pequena vai para o meu pau, Masha desliza a palma por toda
a minha ereção, me deixando extremamente duro.
Espalho beijos por seu pescoço indo para a sua barriga, sigo
lentamente para o monte ruivo que me deixa completamente sem equilíbrio.
Abro suas pernas e avanço na sua umidade, Masha geme alto e rebola
contra a minha boca. Eu a chupo com intensidade saboreando o seu gosto
excitante. Nada se compara a ela, o seu sabor é único.
Prendo seu clitóris nos lábios e o sugo com força, ela agarra o meu
cabelo e requebra o quadril contra a minha boca.
— Gostosa pra caralho! — digo ao lamber toda a sua entrada. — Não
vejo a hora de entrar em você. — Sugo a sua boceta faminto; desesperado
para poder me afundar dentro dela e fazer Masha completamente minha.
— Paolo! — ela grita o meu nome quando se desmancha em minha
boca.
Tão bom ouvi-la me chamar enquanto goza, eu quero ser o único
dono do seu prazer. Masha é minha e de mais ninguém, não vou permitir que
cheguem perto dela, meu inferno vermelho é uma preciosidade, eu vou
protegê-la de qualquer mal.
— Você está tomando anticoncepcional? — pergunto ao encarar seus
olhos meio sem foco por conta do seu orgasmo.
— Estou — responde com as bochechas ruborizadas. — A minha
menstruação estava irregular e eu passei a tomar para ter mais controle.
— Podemos dispensar a camisinha? Quero sentir você sem nada. —
Ela morde os lábios, parecendo indecisa. — Se não quiser tudo bem, não
estou te obrigando a nada.
— Por mim tudo tranquilo, eu confio em você. — Masha ainda me
mata do coração, puta merda!
— Você está no comando sempre. — Preciso que ela se sinta segura.
— O.k. — diz ao afundar a cabeça contra o travesseiro.
Rapidamente eu me livro das minhas roupas e apoio o joelho no
colchão. Masha me encara intensamente, ela está com medo, mas tenta
controlar o seu temor.
Seguro sua perna e vou espalhando beijos lentos, até que eu chego à
sua virilha, corro a língua pelo local, a estimulando sem pressa. Preciso que
fique calma, sem medo.
Ergo-me sobre o seu corpo e a beijo, ela envolve os braços por meu
pescoço e se deixa levar pela intensidade do meu beijo. Libero a minha
ereção para cutucar a sua entrada, porém não me movo, apenas mantenho
meus lábios contra os seus, degustando lentamente a sua boca.
Quando me afasto eu fito seus olhos e vejo que ela me observa com
ansiedade. Seguro sua coxa, a colando contra meu quadril, Masha segura
meus braços, suas unhas se afundam na minha carne quando centralizo na sua
entrada.
Capturo seus lábios e a beijo lentamente, enquanto me esfrego na sua
umidade. Quando sinto que ela está completamente relaxada, eu me precipito
para o seu interior, tentando invadi-la lentamente.
Masha fica rígida, porém não me para, ela apoia as mãos na minha
cintura e mantém a boca contra a minha. Eu vou entrando lentamente,
sentindo seus músculos tensos me receberem. O calor dela me envolve,
fazendo meu corpo pegar fogo.
— Apenas relaxe, quanto mais calma ficar menos doloroso será —
digo ao me movimentar bem devagar, apenas abrindo espaço para que ela vá
se acostumando com o meu tamanho.
O suor escorre por minha testa, estou me controlando ao máximo,
contendo a vontade insana de mergulhar de uma vez nesse seu calor
delicioso.
— Eu estou tentando. — Sua voz é tensa.
Volto a beijá-la e faço um movimento lento entrando e saindo,
alargando seu canal, mas sem avançar muito. Seus músculos vão me
aceitando e eu sinto que ela está mais calma. Decido avançar mais um pouco
e chego à sua barreira, ultrapassando com um movimento continuo. Masha
resmunga e crava as unhas na minha pele.
— Quer que pare? Mas aviso que o pior já passou.
— Vou ficar bem, não pare. — Sua voz sai trêmula.
— Masha...
— Não vamos parar, apenas siga em frente. — A determinação na sua
voz me faz mover o corpo, indo ainda mais fundo.
Começo a me mover bem devagar, tentando ajustar seu corpo ao meu.
Ela quase me faz perder o equilíbrio ao sentir o quanto é apertada.
Isso é muito bom, ela é gostosa demais.
Tudo o que eu queria era invadi-la com força, meter nela até o talo,
mas ainda não posso, em breve terei meu desejo realizado e vou fazê-la urrar
de prazer enquanto a fodo com vontade.
Para aplacar um pouco seu desconforto, eu desço uma mão entre o
nosso encaixe e fricciono seu clitóris. Ela geme, demonstrando satisfação
com meu toque.
— Você é malditamente gostosa Masha, essa sua boceta quente e
apertada está me deixando louco — sussurro contra seu ouvido. — Quando
você estiver acostumada comigo, quero que me monte e leve meu pau até o
fundo, bem gostoso — ela geme e afunda as unhas na minha pele.
Vou me movendo lentamente, tentando fazê-la se acostumar com
minha invasão. Encaro seus olhos e vejo o quanto está tensa.
Intensifico a fricção contra seu clitóris, sei que nessa primeira vez seu
prazer não acontecerá com meu pau, mas eu quero que ao menos goze com a
minha mão.
Ela não dura muito e goza outra vez, seu corpo se agita sob o meu. A
sua boceta pulsa dolorosamente ao redor do meu pau, me fazendo perder o
controle e acelerar a minha invasão quando começo a sentir meu orgasmo
chegar.
O meu pau incha contra suas paredes apertadas, ela parece me sugar,
tudo o que queria era fodê-la com intensidade, mas isso vai ter que esperar
um pouco.
— Masha... — digo seu nome quando me libero no seu canal,
deixando meu prazer invadi-la. — Você é perfeita — assumo ao beijar sua
garganta.
Eu estou muito fodido, não posso mais ficar sem meu inferno
vermelho.
Sempre que eu pensava sobre a minha primeira vez, era justamente
com Paolo que eu gostaria de dividir esse momento. Claro que na maior parte
do tempo eu não achei que esse sonho seria real, mas agora, o tendo dentro de
mim, me tomando com tanto cuidado, não consigo conter a felicidade.
Quando entrei neste quarto, quase desisti de ir em frente, o medo do
que estava para acontecer me engoliu furiosamente. Tive que conter as
minhas emoções e esconder meu temor de Paolo. Sei que se identificasse
qualquer tipo de dúvida ou medo, ele não seguiria em frente. E se existe uma
pessoa com quem eu queria dividir minha primeira experiência sexual, em
toda sua plenitude, esse alguém era ele.
Paolo pressiona o dedo contra meu clitóris, fazendo todo meu corpo
pegar fogo. O meu orgasmo explode parecendo arrancar todo o meu ar e eu
gozo mais uma vez. Meu corpo treme sem controle contra o dele e eu o
abraço forte, sentindo seu pau entrar mais fundo e mais rápido.
A ardência que antes estava me deixando incomodada desaparece,
sinto apenas o prazer me dominar, enquanto os últimos resquícios do
orgasmo, que ele me proporcionou com sua mão me consomem.
Não demora muito e Paolo também goza, inundando meu interior com
seu prazer.
Ele desaba sobre meu corpo, suado e ofegante. Passo a mão por seu
cabelo e beijo sua têmpora.
Meu.
Neste momento ele é só meu e eu ainda me sinto um pouco perplexa
por tê-lo comigo, dentro de mim. Envolvo meus braços por seu corpo grande,
sorrindo feliz por me entregar a ele. Estou tão exultante que sinto que posso
sair flutuando.
— Você está bem? — pergunta ao erguer o corpo.
— Estou ótima. — Pressiono meus lábios nos seus. — Nunca estive
tão bem em toda a minha vida.
Os olhos dele brilham de alegria e sua boca vem contra a minha com
furor. Acaricio suas costas enquanto me entrego ao beijo, sentindo nas pontas
dos dedos as pequenas cicatrizes que se espalham por suas costas.
Não gosto de pensar como ele as conseguiu, o seu mundo de dor e
violência é algo que nunca vou entender.
Lentamente ele escorrega para fora do meu corpo, me fazendo soltar
um lamento quando sinto uma ardência forte se espalhar por minha vagina.
— Vai melhorar da próxima — diz ao notar minha careta de
desconforto.
— Eu espero que sim. — Ele ergue-se e vejo que tem sangue no seu
membro que, diga-se de passagem, ainda está semiereto.
— Não fique impressionada com isso — diz ao acompanhar meu
olhar. — É normal ter um pouco de sangue.
— Isso é tão constrangedor. — Sinto meu rosto esquentar.
— Você fica um tesão toda envergonhada. — Paolo se inclina e me
beija. — Vou pegar uma toalha para te limpar, fique quieta.
Até parece que quero sair desta cama, sequer tenho condições de me
mexer, parece que meu corpo foi atropelado.
Ele some no banheiro e eu fico pensativa, ainda tentando assimilar
tudo o que acabou de acontecer.
Será que é verdade? Eu realmente acabo de perder a virgindade com
Paolo, o homem por quem sempre fui apaixonada?
Fecho os olhos e deixo um sorriso bobo escapar dos meus lábios, ele é
meu, depois de dois anos vivendo uma paixão platônica, eu o tenho do meu
lado.
Paolo retorna ao quarto com uma toalha na mão. Ele senta na cama e
toca a minha coxa. Seus olhos buscam os meus preocupados e eu ruborizo.
— Posso fazer isso. — Tento pegar a toalha, mas ele me paralisa.
— Eu vou fazer, apenas fique quieta. — Permito que abra minhas
pernas e deslize a toalha lentamente entre elas.
Fico completamente constrangida, não estou acostumada com esse
tipo de intimidade. Olho o teto ansiosa para ele terminar seu serviço, sei que
esteve diversas vezes com a boca na minha boceta, mas agora é tudo
diferente.
Ele acaricia a minha coxa quando termina de me limpar e retorna ao
banheiro. Quando volta para a cama deita ao meu lado e me puxa para ficar
em cima do seu peito.
— Em breve não vai sentir mais nada. — Seus lábios depositam um
beijo na minha testa. — Aí você vai implorar pelo meu pau o tempo todo.
— Depravado. — Soco seu peito e ele sorri.
— Só estou sendo sincero, não vai demorar pra você se acostumar a
me ter dentro de você e algo me diz que terei um trabalho do caralho contigo.
Não digo nada, até porque eu concordo com ele, sei que quando meu
corpo se adaptar ao sexo, eu vou querer Paolo a qualquer momento.

Entro na sala de jantar e me deparo com Paolo e Domênico tomando


café. Inesperadamente sinto vergonha de Dom, parece que está escrito bem
grande no meu rosto que eu perdi a virgindade com seu chefe.
— Bom dia, Masha. — Paolo me cumprimenta ao notar a minha
presença. — Sente-se — ordena.
— Bom dia — saúdo os dois. — Tão cedo aqui, Dom?
— Hoje temos algumas reuniões a fazer no primeiro horário. — Ele
enruga a sobrancelha quando me vê fazer uma careta ao sentar. — Você está
bem? Parece estar sentindo dor.
Pelo canto do olho vejo Paolo erguer a xícara de café para camuflar
um sorriso. Eu tento não ficar vermelha ao responder Domênico.
— Estou ótima. — Sorrio. — Tive uma queda no banheiro, estou com
a bunda dolorida.
— Tome cuidado, Masha, quedas em banheiros podem ser perigosas.
— Eu sei, não precisa ficar preocupado. — Pego uma torrada e coloco
um pouco de geleia.
Como em silêncio, enquanto ouço os dois discutirem sobre negócios.
Quando acabo levanto e, antes que eu saia da sala, Paolo me chama.
— Masha, vamos ao escritório, tenho algo a falar em particular. —
Ele levanta. — Dom ligue para Franco, eu disse que você entraria em contato
logo cedo.
Não espera por qualquer palavra do seu Consigliere, apenas vira e
segue na direção do escritório. Domênico me lança um olhar curioso, dou de
ombros e sigo no encalço de Paolo. Quando passo pela porta do escritório ele
a fecha e empurra meu corpo contra a madeira.
Sua boca vem sobre a minha com desespero, ergo meus braços e
enlaço seu pescoço. Paolo aperta a minha bunda e traz meu corpo para ainda
mais perto do seu.
Mesmo estando dolorida eu fico excitada, sei que hoje não vou
conseguir recebê-lo dentro de mim, mas eu quero sua boca na minha boceta.
— Porra, você está tão gostosa com essa calça apertada. — Ele
afunda os dedos na minha bunda. — Quase enlouqueci de tesão quando
chegou para o café. Se Dom não estivesse presente eu te foderia naquele
momento. — Acaricio a sua barba e esfrego o nariz contra o seu. — Adoro
quando faz isso — diz com a voz rouca.
— Quando faço o quê? — Meus olhos vão para os seus.
— Esse carinho na minha barba. — Sua mão pousa sobre a minha que
está no seu rosto. — Gosto disso.
— Bom saber. — Beijo suavemente a sua boca. — Você vai chegar
muito tarde hoje? — pergunto já ansiosa para ficar a sós com ele.
— Vou tentar chegar o mais cedo possível, esteja em casa, nada de
ficar perambulando com Leonardo por aí. — Como é chato.
— Você é muito implicante. — Eu o puxo para mais um beijo. —
Não fique tão animado com relação a nossa noite, eu estou dolorida demais.
— Seu rosto fica sério.
— Eu exagerei? — Adoro ver o quanto está preocupado comigo.
— Claro que não, só faz parte não estar bem depois de você ter
colocado tudo isso dentro de mim. — Aperto seu pau que já começa a se
animar. — Você é grande, sabe disso, não é? — Um sorriso convencido
nasce na sua boca.
— Não vejo a hora de você poder me receber sem problemas, eu vou
te foder logo pela manhã, assim começo o meu dia bem.
— Tarado. — Tento me afastar, mas ele não permite.
— Você não tem noção do quanto sou tarado por você. — Sua boca
aprisiona a minha em um beijo duro. — Quando você me receber sem
desconforto, eu vou te foder como eu gosto. — Um arrepio percorre meu
peito. — Duro e intenso. — Engulo em seco, sentindo certo receio com suas
palavras. — Não me olhe assim, não irei te machucar, você vai gostar. — Ele
acaricia o meu cabelo. — Agora vá antes que eu esqueça das minhas
obrigações e te carregue para o meu quarto.
Tropeço para fora do escritório quando ele abre a porta. Ajeito meu
cabelo e ando na direção da escada querendo fugir de Dom, infelizmente não
tenho sorte, ele aparece e me estreita os olhos na minha direção.
— O que você tem? Por que está com essa expressão de quem está
fugindo de algo?
Odeio o quanto ele me conhece, Domênico parece saber decifrar tudo
o que sinto.
— Não estou fugindo de nada, apenas atrasada para a aula. — Tento
sorrir para mostrar que está tudo bem. — Preciso ir.
— Masha. — Ele segura o meu braço quando tento passar por ele. —
Está tudo bem mesmo? O que Paolo queria com você?
— Está tudo bem sim, não se preocupe. — Ignoro a pergunta sobre o
que Paolo queria comigo. — Agora preciso ir. — Fico na ponta dos pés para
poder beijar o seu rosto.
Corro para a escada e subo rápido, querendo fugir dele e evitar mais
perguntas. Sei que em algum momento terei que contar sobre o que está
acontecendo entre mim e Paolo, mas ainda não estou preparada para isso,
preciso de mais tempo para assumir para o Dom que estou transando com seu
melhor amigo.

— Não pode ser. — Leo me olha chocado. — Você deu essa boceta
ruiva para o poderoso chefão? — Olho para os lados horrorizada que alguém
no restaurante o tenha escutado.
— Vai anunciar aos quatro cantos que transei com Paolo? — pergunto
em um sussurro.
— Desculpa, mio amore, eu fiquei um pouco emocionado —
responde sorrindo. — Que inveja de você, aquele homem é um gostoso, pena
que é hétero.
— Graças a Deus, ele é, ou eu não ia ter aproveitado cada pedaço
dele. — Leo aperta os olhos.
— Mal deu essa boceta e já tá safada, eu esperava mais compostura
da senhorita. — Nós dois sorrimos. — E aí? Como se sente agora que é uma
mulher em sua plena essência?
— Sei lá, é um pouco estranho saber que finalmente ele me enxerga.
— Amore mio, ele sempre te enxergou, só não queria se aproximar.
— Você pode ter razão, mas a verdade é que eu estou bem excitada
por saber que ele me quer.
— E quem não ficaria? Aquele homem é uma loucura: lindo,
poderoso e misterioso. — Leo pisca. — Você tirou a sorte grande.
— Não sei se tenho tanta sorte assim — digo pensativa. — Não posso
ter nada além de sexo com ele, Paolo é de outro mundo, tem compromissos a
cumprir com o seu clã.
— Ele é o chefe, pode fazer o que quiser.
— Infelizmente não é assim. — Olho para as minhas mãos, sentindo a
tristeza me engolir. — Eu vou aproveitar cada segundo antes desse sonho
acabar. Sempre o desejei e agora que o tenho não desperdiçarei nenhum
momento. Quando eu partir, levarei boas memórias dos momentos que
passamos juntos.
— Você ainda quer arrumar um emprego e morar comigo?
— Claro que sim, nada mudou, Leo. — Eu até queria que tivesse
mudado alguma coisa, mas eu tenho os pés no chão, sei que não pertenço a
vida de Paolo. — Só me dê algumas semanas para poder aproveitar ao
máximo a companhia dele, depois vou atrás de um emprego e nos mudamos.
Dessa vez eu vou tentar fazer tudo por mim mesma, não quero envolver Dom
em outra confusão.
— Leve o tempo que precisar, curta seu mafioso gostosão. — Ele
aperta a minha mão.
Terminamos o nosso almoço com tranquilidade, quando nos
encaminhamos para a saída do restaurante, sinto uma sensação estranha de
estar sendo observada.
Olho ao redor, mas não vejo ninguém conhecido. Meus olhos caem
para um homem que está digitando algo no celular. Ele é grande, veste um
terno caro, tem os cabelos castanho-claros e me causa uma sensação estranha
de familiaridade.
Balanço a cabeça voltando a andar, eu devo estar imaginando coisas,
quem iria estar me vigiando além do meu segurança Leonel?
— Ninguém consegue localizar Yuri, ele sumiu — Giorgio fala com
preocupação. — Alguma coisa está acontecendo.
Franco me olha inquieto, assim como eu ele sabe que uma mudança
na liderança dos russos pode nos trazer problemas.
— Peça a algum dos nossos rastreadores para descobrir o que
aconteceu. Se Yuri tiver sido eliminado eu preciso saber com quem terei que
lidar.
— Tudo bem. — Giorgio se afasta.
— Sinto que esses russos vão dar muita dor de cabeça, em especial se
o comando mudar — Franco comenta.
— Se eles ousarem mostrar as garras, teremos um derramamento de
sangue em nossas ruas, eu não vou permitir que atrapalhem os negócios.
Ele faz um gesto de concordância, silenciosamente me apoiando em
qualquer decisão que tomar.
— Eu estive em uma ligação com Santino neste final de semana. —
Eu o encaro tentando entender porque estava de conversa com o Capo da
Camorra em Nápoles.
— Por que está conversando com ele? — pergunto irritado.
— Investimos em alguns negócios comuns, às vezes nos esbarramos
em mesas de reuniões. — Não gosto da sua justificativa. — Eles também
estão tendo problemas com os russos e eu pensei que poderíamos unir forças.
— Aperto os olhos, sinto que não vou gostar do rumo dessa conversa.
— Nós não trabalhamos com eles, você deveria saber disso já que é o
membro mais antigo do nosso clã. — Rosno. — Não quero mais que entre
em contato com Santino sem a minha autorização, sou eu que mando nessa
porra.
— Precisamos nos moldar de acordo com nossos interesses, Paolo. —
Ele não retrocede.
— Não tenho interesse em trabalhar com Santino, somos de universos
diferentes, as nossas organizações não se misturam.
— Somos italianos antes de tudo e não é um sacrilégio nos unirmos
para colocar os russos em seus devidos lugares.
— Aonde exatamente quer chegar? — Essa conversa não vai terminar
bem para o lado dele.
— Só estou tentando abrir nossos horizontes, caso os russos fiquem
sem controle.
— Não se preocupe com eles, eu sei o que faço.
— Certo. — Ergue as duas mãos em sinal de rendição. — Não vou
falar mais nada.
— Acho bom.
Domênico entra na sala interrompendo nossa conversa. Ele corre os
olhos entre nós sentindo o clima tenso.
— O que foi? — pergunto tentando mudar o foco da conversa.
— Pedi a Sergio para buscar informações sobre Yuri, não vou esperar
por Giorgio.
— Fez bem, precisamos de rapidez nessa procura. — Sergio é um
excelente rastreador, certamente não demorará a encontrar as respostas que
precisamos. — Quero ficar informado imediatamente sobre o que ele
descobrir — ordeno a Domênico. — Já você, Franco, esqueça essa merda,
não quero ligação com a Camorra além do necessário.
— Já entendi, Paolo — diz claramente irritado.
— Dom, cuide de qualquer novo acontecimento, eu vou para casa. —
Levanto ansioso para colocar meus olhos em Masha.
Ignoro o rosto contrariado de Franco, ele é um homem que tenho
muita consideração, mas não permitirei que me diga o que fazer.
Eu sou o líder dele e tomo as decisões que achar justa.

Jogo meu terno sobre a cama e afrouxo a gravata, enquanto tiro os


sapatos, pego o celular no bolso da calça e o descarto sobre a mesa de
cabeceira.
Enquanto vou abrindo os botões da camisa, sigo para o quarto do meu
inferno vermelho. Dou uma batida suave e a espero aparecer. Não demora
muito a figura graciosa de Masha aparece pela fresta da porta.
Meus olhos escorregam por suas pernas nuas, esses shorts curtos que
usa é uma verdadeira tentação.
— Você chegou cedo — diz ao abrir totalmente a porta.
— Eu disse que ia tentar chegar cedo.
— Não pensei que fosse tão fora do seu horário normal. — Ergo uma
sobrancelha.
— Por acaso não gostou da minha surpresa? — Apoio a mão no
batente da porta.
— Claro que gostei. — Ela morde o lábio inferior quando encara
minha barriga exposta.
— Sabe que pode tocar, não é? — Rapidamente encara meus olhos e
sorri.
Tão linda e doce, eu deveria ficar longe dela, mas eu sou um bastardo
egoísta.
Entro no seu quarto e fecho a porta, a seguro pela cintura e puxo o seu
corpo contra o meu. Minha boca sedenta procura pela dela e eu me sinto no
paraíso quando minha língua encontra a sua.
Desço as mãos e aperto sua bunda, Masha geme contra meus lábios.
Ela corre uma mão por meu cabelo, enquanto a outra aprisiona minha nuca.
Acho que nunca gostei tanto de beijar uma mulher como gosto de
beijá-la. Ela tem um sabor tão bom, seus lábios são macios e ávidos para
receber meus beijos.
Ergo seu corpo e a carrego para a cama. Hoje eu não vou poder estar
dentro dela, mas eu a terei na minha boca e isso para mim já basta. Só preciso
senti-la ao meu lado e esquecer por algum tempo a merda de vida que me
cerca.

— Eu não estou conseguindo entender por que Franco teve essa ideia
tão absurda. — Assim como eu, Dom também não gostou da aproximação
dele com Santino. — Também não é certo ele ter esse tipo de conversa sem
sua autorização.
— Falei com ele justamente sobre isso. — Encaro o céu através da
janela do meu escritório no La Fontaine. — Dessa vez só o repreendi
verbalmente, mas se eu souber de outra conversa terei que ser mais enérgico.
— Deixe isso claro a ele. — Domênico levanta e vai guardar uma
pasta. O seu celular toca e ele atende prontamente. — Como é? — Meus
olhos vão para sua expressão tensa. — Mas que caralho! — Ele aperta o
indicador e o polegar nos olhos. — Não faça nada, eu vou resolver isso com
Paolo, venha embora com os homens que sobraram, não queremos chamar
atenção.
Quando encerra a ligação ele me fita com irritação.
— O que foi? — Pelo pouco que ouvi temos um problema dos
grandes.
— Um de nossos carregamentos foi atacado. Perdemos três homens.
Não falo nada de imediato, tento no primeiro momento controlar a
minha ira.
— Tem noção do quanto perdemos? — Domênico não diz nada, mas
pelo seu olhar o prejuízo financeiro foi grande. — Quero todos os homens na
rua, virem Roma ao avesso, mas achem o caralho das minhas drogas.
Tenho certeza de que os russos estão por trás desse ataque, eles estão
buscando uma guerra e vão encontrar o que desejam. Eu vou iniciar um
banho de sangue e ninguém irá me parar até que eu destrua cada um desses
malditos bastardos.

— Sergio não tem pista de Yuri? — Mattia pergunta. — Tenho


certeza de que isso não é coisa dele, mudaram a liderança dos russos.
— Ele me pediu quarenta e oito horas para ter uma resposta confiável.
Yuri pode ter voltado para Moscou — Domênico o responde.
Todos os conselheiros estão reunidos e nenhum deles está feliz com
prejuízo gigantesco que tivemos.
— Precisamos retaliar à altura. — Franco está espumando de ódio, ele
é ganancioso demais para tolerar um prejuízo tão grande.
— O que vai fazer, Paolo? — o pai de Dom pergunta.
— Hoje nada. — Todos me olham surpresos. — Vou esperar a
resposta que Sergio trará, ou dos homens de Giorgio, aí eu saberei quem
estou enfrentando. Não posso arriscar mais homens em um ataque direto,
preciso ter um plano seguro para quando entrarmos em ação. No momento só
estou revirando cada canto de Roma em busca de alguma parte das drogas.
— Mas se não nos movimentarmos de imediato eles acharão que
estamos com medo — Giuseppe esbraveja. — Não podemos passar por
covardes.
— Eles sabem que não somos. — Mantenho a voz serena. — Eu não
vou tomar uma decisão por impulso, não é assim que funciona. Quando eu
atacar será letal e com riscos mínimos para todos nossos homens.
A sala fica em silêncio, sei que não concordam comigo, mas eu não
vou sair a campo no calor do momento.
— Assim que Sergio entrar em contato comigo aviso aos senhores e,
nos reunimos novamente — Domênico avisa ao vestir seu terno, indicando
que nosso encontro está encerrado.
— Mantenha a busca, Dom, qualquer coisa me ligue. — Levanto
doido para ir embora, preciso de Masha, só ela vai tirar a tensão que me
domina. — Agora vão descansar, amanhã teremos um dia longo pela frente.
Apesar do descontentamento, todos começam a ir embora. Dom se
aproxima de mim, enquanto também nos encaminhamos para a porta.
— Vamos beber algo no bar do Mattia? Podemos liberar a tensão com
algumas das garotas dele.
Nem pensar que vou perder meu tempo com prostitutas quando tenho
uma mulher quente me esperando em casa. Não troco Masha por nada deste
mundo.
— Vou direto pra casa, hoje sou péssima companhia. — Olho para o
celular tentando fingir indiferença ao respondê-lo.
— Qual é Paolo? Vai ficar em casa sozinho, quando pode ter algumas
mulheres para cuidar de você? — Inferno de homem.
— Acredite em mim quando digo que não é uma boa ideia eu ir, não
quero descontar em ninguém toda a raiva que estou sentindo. — Bato no seu
ombro. — Vou beber algo em casa, vai ser melhor para todos.
Domênico não insiste mais, ele sabe que em certos momentos preciso
estar sozinho. Não é o caso desta vez, mas ele não precisa saber disso. Ao
menos por ora eu prefiro manter meu relacionamento com Masha apenas
entre nós dois.

Entro no meu quarto e paro quando vejo Masha adormecida na minha


cama. Ela abraça um dos travesseiros e seu cabelo vermelho está espalhado
para todo lado.
Linda demais.
Fecho a porta devagar e sigo para o banheiro tentando não a acordar.
Tomo uma rápida ducha e volto para o quarto nu, não preciso de roupa para
fazer o que tenho em mente.
Deito do seu lado e beijo seu ombro, ela se remexe, mas não acorda.
Tiro alguns fios que caem no seu rosto, aproveitando para admirar a sua
beleza exótica.
Tão inocente a minha pequena bambina, eu me sinto um verdadeiro
monstro em estar a envolvendo na merda da minha vida.
Pressiono os lábios no seu pescoço, sentindo o seu cheiro delicado de
rosas. Roço o nariz contra sua pele, enquanto minha mão vaga por seu
quadril.
— Você demorou. — Ouço sua voz sonolenta. — Vim te esperar e
acabei pegando no sono, desculpa invadir seu quarto. — Ela move a cabeça
para me observar.
Escorrego os nós dos dedos por seu rosto, ela é a parte boa da minha
vida, Masha traz um pouco de humanidade para o meu coração.
— Tive um dia fodido, precisei reunir o Conselho de última hora para
discutirmos um problema.
— Quer conversar sobre o seu dia? — Ela joga o travesseiro para o
lado e move o corpo para perto do meu.
Seus olhos se arregalam quando percebe a minha nudez e o quanto já
estou duro por ela.
— Nem fodendo eu quero falar de toda a merda que enfrentei. —
Seguro seu queixo e a beijo.
É o paraíso esses seus lábios, não existe boca mais gostosa do que a
da minha ruiva.
Eu me perco nela e esvazio a mente, agora só existe eu, Masha e o
tesão que ela me desperta.
— Como você se sente hoje? — pergunto quando espalho beijos por
seu pescoço.
— Eu me sinto sua. — Ergo de uma só vez o rosto e prendo seu olhar
no meu.
Que tipo de reposta é essa? Será que ela não cansa de foder a minha
cabeça?
Apoio a mão contra a lateral do seu pescoço e a trago para um beijo.
Mordisco seu lábio inferior, infiltrando em seguida a língua na sua boca.
Masha me abraça e devolve o beijo com a mesma intensidade com que
avanço contra seus lábios rosados.
Toco sua boceta por cima do short, ela se contorce e geme ao erguer o
quadril contra minha mão. Safada demais minha bela ruiva, em breve eu
tenho certeza de que ela irá me acompanhar na cama com a intensidade que
eu gosto de foder.
Puxo sua blusa e os belos montes apetitosos despontam a minha
visão. Capturo um seio na boca, enquanto começo a puxar seu short.
Não demoro a deixá-la nua, passo a minha boca por cada canto do seu
corpo, me demorando quando alcanço a carne macia entre suas pernas.
Com desespero eu a fodo com minha língua, sugando seu clitóris
intensamente até que ela explode na minha boca, esfregando a boceta na
minha cara.
Deliciosa. O sabor do seu gozo é incrível, eu sou capaz de passar
horas apenas comendo sua boceta com a minha boca.
— Quero entrar em você — digo rente ao seu ouvido. — Estou cheio
de tesão para te sentir me receber, Masha.
— Eu também quero você. — Ela se enrosca em mim. — Hoje eu me
sinto bem. — Solto um grunhido quando meu pau roça na sua entrada.
— Vá me guiando, se eu for mais forte do que pode aguentar pode me
parar. — Do jeito que estou hoje vou precisar de muita força de vontade para
não perder meu controle.
— Certo. — Seus olhos buscam os meus, mas não vejo nenhum tipo
de apreensão neles, apenas desejo.
Isso é muito bom, saber que ela confia em mim me deixa satisfeito.
Fico sobre o seu corpo, centralizando a minha ereção na sua entrada.
Busco por sua boca, quero que ela se distraia um pouco antes de me receber.
Masha se derrete com o beijo, ela esfrega a boceta em mim, pedindo
silenciosamente que eu a penetre. Os meus músculos enrijecem com a
necessidade de me afundar nela, mas eu controlo o desejo primitivo que está
me consumindo.
Sem tirar os olhos dos seus, eu vou entrando devagar, movendo
lentamente o corpo, ainda que isso me custe cada pingo de serenidade que
exista dentro de mim.
A sua expressão é calma, ela não parece sentir dor, isso me faz
avançar, ganhando cada vez mais espaço em seu interior. Quando estou mais
da metade dentro do seu canal, ela afunda as unhas nos meus braços
gemendo. Nossos olhos colidem e eu tento decifrar sua expressão.
Como ela não demonstra nenhum tipo de incômodo eu vou me
movimentando aos poucos, já não a vejo fazer nenhuma careta. Pego um
ritmo mais rápido, ainda que seja longe do que estou acostumado a praticar
com as minhas parceiras.
A mão dela afunda na minha bunda e sua língua corre por meu
pescoço, arrepiando todo meu corpo.
Que diaba de mulher gostosa, preciso que ela se acostume logo
comigo, só assim eu vou poder comê-la mais vezes durante a noite.
Toco seu clitóris querendo que ela também goze, ainda está cedo
demais para que consiga encontrar seu prazer com a penetração.
O meu toque no seu nervo inchado agita o seu corpo, Masha geme e
começa a me levar com mais tranquilidade. Acelero a minha invasão,
sentindo o suor se espalhar por minhas costas.
A aceleração na minha própria respiração indica que estou perto de
gozar. Olho para o rosto dela e vejo seus lábios se separarem. Masha afunda
as unhas nos músculos da minha bunda e goza, estremecendo sob meu corpo.
— Paolo — meu nome sai em um sussurro delicioso.
Seguro suas coxas e aproveito que ela está relaxada pelo seu gozo e
me afundo mais forte, com estocadas rápidas e mais profundas. Os pelos do
meu corpo ficam eriçados quando meu próprio orgasmo me sufoca.
É surreal o que ela me faz sentir, nunca ninguém me deu tanto prazer
assim, o pior é saber que ainda não fiz nada muito libidinoso com ela.
Quando Masha realmente tiver condições de me receber sem incômodo, eu
vou fodê-la de mil e uma maneiras diferentes.
Estou colocando a gravata quando Masha para atrás de mim, pelo
espelho a observo e vejo que ela prendeu o cabelo em um coque no alto da
cabeça.
Ela ainda tem os lábios inchados dos meus beijos, eu acordei um
pouco mais cedo para que tivéssemos um momento juntos. A minha intenção
era que dividíssemos um prazeroso sexo oral, só que inesperadamente ela
pediu que eu a penetrasse. Não consegui esconder a surpresa, no entanto ela
garantiu que estava se sentindo bem e que me queria mais uma vez dentro de
si.
Óbvio que não neguei o seu pedido, é ela que manda e dita as regras.
Eu fui ao paraíso quando seu calor me envolveu. Acabei tenho um sexo
matinal prazeroso, que repôs as minhas energias para enfrentar um dia
fodido.
— O que foi? — pergunto ao ajustar a gravata. — Por que está me
olhando assim?
— Não posso olhar? — Eu a encaro por alguns segundos avaliando
sua expressão maliciosa, que indica que ela quer mais que olhar.
Porra! Eu queria passar o dia ao seu lado, livre para reivindicar seu
corpo a hora que eu quisesse.
— Pode olhar, só não pode fazer essa cara de quem quer tirar a minha
roupa. — Ela encosta o rosto nas minhas costas sorrindo.
— Eu gosto desse seu visual dark mafioso. — Ergo as sobrancelhas
surpreso.
— Gosta é? — Vejo suas mãos delicadas rodearem minha cintura.
— E gosto desse seu cheiro também. — Fecho a minha mão sobre a
dela, sentindo uma felicidade inédita me dominar.
O que essa criatura está fazendo comigo?
— Pare de falar essas coisas ou esqueço o meu trabalho e volto pra
cama.
— Nem pense nisso, eu tenho que apresentar um trabalho e não tenho
mais condições de receber você.
— Está com dor?
— Não é dor, mas ainda parece que você está dentro de mim. — Ela
coloca a cabeça colada no meu braço ainda envolvendo minha cintura. —
Mas a noite eu estarei disposta. — O rubor se espalha por seu rosto.
Que vontade de a encher de beijos agora mesmo, Masha está me
transformando em seu escravo, sem piedade.
— Como sabe que estará disposta? — decido jogar com ela. — Ainda
pode estar sentindo algum incômodo. — Eu viro o corpo para ficarmos de
frente. Passo os braços em volta dela e beijo rapidamente sua boca.
— Paolo, agora que eu descobri o quanto é bom fazer sexo, eu estou
sempre disposta. — Ela acaba de me deixar em choque. — Só estou chateada
por ainda não conseguir te receber sem achar que vai me partir ao meio, mas
quando meu corpo entrar no ritmo, você vai ter trabalho.
Dio Santo! Será que eu tenho uma ninfomaníaca na minha frente?
Foda-se tudo, se ela se transformar em uma compulsiva por sexo eu
serei um homem muito afortunado.
— Então eu espero que você esteja muito disposta, porque quando eu
chegar estarei pronto para te foder com mais força dessa vez — digo com a
voz baixa rente ao seu ouvido.
— Você precisa ser delicado comigo, lembre-se que eu sou uma
recente ex-virgem. — Ela não existe.
— La mia passione, você é a ex-virgem mais safada que eu conheço,
mas não se preocupe com nada, serei sempre cuidadoso com você em
qualquer ocasião.
Agora eu a beijo de verdade, me deliciando contra seus lábios ao
lamentar não ter mais tempo para ficar com ela.
Faço Masha ir se arrumar para tomar o café, ela precisa sair para a
aula e eu tenho que começar minha manhã de trabalho com Domênico.
Desço as escadas com o paletó do terno apoiado em um braço,
enquanto fecho o meu relógio no punho. Assim como o esperado Dom está
sentado na sala, digitando ao celular.
— Bom dia — anuncio a minha presença.
— Bom dia, Paolo. — Devolve a saudação sem tirar os olhos do
celular.
— Novidades?
— Sergio estará aqui agora pela manhã.
— Ótimo. — Sigo para a mesa do café. — Dependendo do que ele
nos contar, vamos nos movimentar para uma retaliação bem dura contra esses
filhos da puta.
— Estou ansioso por isso. — Trocamos um sorriso cúmplice,
ansiosos por um pouco de ação.
Enquanto tomamos café conversamos sobre as possíveis ações que
podemos tomar contra os russos. Quando Masha se junta a nós, mudamos
imediatamente de assunto.
Ela evita me olhar e concentra-se completamente em Dom. Eu
poderia ficar chateado, mas eu sei que ela está apenas tentando não
transparecer para ele tudo o que anda rolando entre nós.
Preciso contar a verdade a ele, nunca escondo nada do meu amigo,
mas vou segurar essa informação por mais alguns dias.
— Estou ouvindo. — Ergo os olhos do meu jornal quando vejo
Domênico erguer uma sobrancelha de maneira sugestiva ao atender o celular.
— Tem certeza de que estavam com a nossa mercadoria? — Eu me aprumo
na cadeira interessado na sua conversa. — Só um momento que vou falar
com o chefe. — Ele abaixa o celular. — Os nossos homens acharam dois
russos com uma parte da mercadoria roubada. Eles querem saber para onde
devem levá-los.
— Leve os bastardos para o nosso galpão! — Fecho o jornal já
sentindo a adrenalina correr por minhas veias.
— Encaminhem os dois para o galpão no subúrbio, iremos até lá
imediatamente. — Dita a ordem e desliga.
Só agora me lembro que Masha está na mesa, acompanhando com
apreensão a nossa conversa.
Merda! Não quero assustá-la.
— Masha, não está na hora de ir para a aula? — pergunto querendo-a
longe das merdas que iremos fazer.
— Ainda é cedo. — Ela joga uma uva na boca.
Meus olhos vão para Domênico, assim como eu, ele não está
confortável com sua presença, quando temos um serviço a fazer.
— Podem ir resolver os problemas de vocês — diz com tranquilidade.
— Não se importem comigo.
Porra ela é de uma perfeição assustadora, que vontade que eu estou de
beijá-la.
— Podemos conversar no meu escritório se já tiver acabado seu café?
— Ela me fita de maneira estranha, no entanto levanta e caminha ao meu lado
em silêncio.
Quando nós entramos no escritório eu seguro seus ombros e a encosto
na porta. Ela arregala os olhos e vejo certa apreensão neles. Fecho minha
boca contra a sua e a beijo. Ela me deixa completamente descontrolado, nem
mesmo quando estou indo torturar russos sujos eu consigo me afastar.
— Eu estou com grandes problemas com os malditos russos — digo
de uma vez. — Desde aquele encontro com o Yuri, quando eu te conheci, não
enfrento tanta dor de cabeça com esses desgraçados. Eles roubaram uma
mercadoria minha e eu estou puto com o prejuízo que tive. Tenha cuidado na
faculdade, não fique andando pela cidade sem motivo, depois do que farei
com os prisioneiros que estão sendo levados ao galpão eles vão ficar ainda
mais irritados.
— O que eles roubaram? — pergunta curiosa. — Foram drogas?
— Você sabe que lido com muitos negócios ilícitos. — Não minto.
— Você vai matá-los?
Que porra de pergunta é essa? Ela quer me fazer sentir ainda pior por
mostrar o homem filho da puta que eu sou?
— Masha, eu não sou bom, não faço boas ações, sequer acredito na
bondade. O que existe dentro de mim é a escuridão e é ela que me impulsiona
a levar a destruição aos meus inimigos. Farei o que for necessário.
— Você é bom sim, fez tanto por mim. — Prendo os lábios ao ver
toda a sua inocência, ela é pura demais para alguém como eu, estou fazendo
tudo errado em prendê-la a mim.
— Eu fiz o que era justo. — Seus olhos escurecem, a tristeza ganha
espaço neles com minhas palavras. — Ser justo é diferente de ser bom. Sou
justo quando torturo e mato gente filha da puta, mas ter algum traço de
bondade não faz parte de mim. — Não gosto de ser duro com ela, mas
preciso que entenda que o meu lado mal domina todo o meu ser e, esse é um
dos motivos que nuca vou poder tê-la comigo. — Eu vou fazer o que for
preciso com esses homens, necessito de respostas e também mostrar ao seu
bando que não encontrarão piedade se vierem contra a minha Famiglia. Mas
isso não tem nada a ver com você, na realidade não quero que tenha nunca.
— Seguro seu rosto e a beijo. — Agora vá para sua aula e tenha cuidado, vou
pedir que Leonel fique ainda mais atento.
Espero por alguma manifestação contrária por sua parte, mas ela
apenas abre a porta e vai embora.
Encosto a cabeça contra a madeira e fecho os olhos. Preciso abrir mão
dela, tirá-la do meu mundo de maldade. Só que não é fácil, Masha representa
luz nas trevas que me consomem, ela é um ponto de equilíbrio no meio do
caos.

Acendo um cigarro enquanto observo os homens na minha frente com


a respiração acelerada. Eles são dois putos corajosos, muito resistentes a dor,
eu estou realmente admirado com a bravura dos bastardos.
— Vou perguntar mais uma vez e espero que seja a última. — Dom
se aproxima do russo que parece mais cansado e perto de ceder. — Onde está
Yuri?
Não tenho nenhuma resposta, os merdas são mais duros do que
imaginei.
— O chefe de vocês realmente merece tanta fidelidade? — Dom
pergunta aos dois. — Falem o que queremos, vamos acabar com isso logo. —
O silêncio deles me faz querer cortar imediatamente a cabeça dos malditos.
— Eles são boas cadelas do chefe — falo ao me aproximar do russo
mais truculento. — Vamos lá seu merda, Yuri morreu ou não?
— Vá se foder. — O desgraçado cospe no meu rosto.
Prendo a respiração e passo a camisa no local onde ele cuspiu, sinto a
minha fera interna rugir e agora ninguém vai me parar.
Sem dizer nada vou até a mesa lateral e pego meu alicate, vou
começar pelos dentes, depois quebrarei todos os seus dedos. Ele vai sofrer
terrivelmente por sua afronta.
— Então vamos ver quem irá se foder de verdade. — Abro um sorriso
quase maníaco. — Nicolo, segure-o, vamos dar um tratamento aos dentes
dele. — Seus olhos arregalam e ele tenta resistir, mas Nicolo é grande igual a
um touro e o imobiliza em segundos.
Prendo o alicate no seu dente canino quando Amaro, o soldado
número um de Domênico abre a boca do infeliz e eu arranco o dente na
segunda tentativa.
O grito dele se espalha pelo porão, sangue cai ao longo do seu queixo
e respinga na camisa. Agora ele vai ver o que é terror, antes que eu acabe
com a nossa brincadeira, vou saber cada detalhe sobre o novo chefe dos
russos na minha cidade.
— Eu não sou Capo do caralho da Cosa Nostra em Roma por pura
sorte, seu filho da puta. — Soco seu rosto. — Eu vou foder com você até que
me conte a cor da cueca que seu chefe está usando hoje. Pode apostar que vai
me entregar cada detalhe sobre a nova administração, um dos maiores
prazeres da minha vida é foder bem dolorosamente merdas como você.
Ele começa a tremer e volta a gritar quando outro dente é arrancado.
Nicolo sorri, gostando de presenciar o sofrimento do nosso inimigo.
— Prepare uma sessão de choques para o amigo dele, Domênico,
vamos ver por quanto tempo as mocinhas aguentam manter a língua dentro
do cu.
Os próximos vinte minutos acontecem em uma velocidade
surpreendente, enquanto os dois urram com a nossa tortura.
Apesar de querer obter as minhas respostas, estou tendo um bom
divertimento com eles. Eu já estava sentindo falta de um pouco de ação, os
últimos meses têm sido monótonos demais.
— Vladislav é o novo chefe — após o quinto dente arrancado o
stronzo não aguenta e abre a boca. — Ele matou Yuri, era um de seus homens
e não concordava com ele se escondendo de você. — Sua respiração sai em
lufadas dolorosas. — Vlad conseguiu reunir os homens mais sanguinários do
bando e atacou Yuri, agora ele está determinado a dominar o tráfico de
Roma.
— Você é um maldito traidor — o comparsa dele esbraveja.
— Não vou perder todos os meus dentes em nome de Vladislav, ele
não vale isso.
— Se está pensando que vai nos conter pode ter certeza de que está
enganado — o outro russo fala raivoso. — Vlad virá atrás de você sem
nenhuma piedade, ele não esqueceu que pegou algo que ele queria. — Olho
para ele intrigado.
Mal sabe esse pedaço de merda que terei prazer em passar por cima
do seu líder.
— Se não percebeu, eu estou tremendo de medo — digo
tranquilamente. — Agora me diga: o que eu peguei dele? — O desgraçado
tenta sorrir.
— Você deveria saber — diz enigmaticamente — Quando ele te
alcançar, ninguém irá pará-lo. — Enrugo a testa, curioso com sua fala.
— Aquele filho da puta quer derrubar meu clã? — Se for isso, é algo
bem cômico acreditar na possibilidade de realizar esse absurdo.
— Ele quer muitas coisas.
— Diga o que é — ordeno ao segurar seu cabelo com força. — Ou
fala ou te mato agora.
— Pode me matar. — Seus olhos são frios.
Fico indeciso entre arrancar um de seus olhos ou um dos dedos,
ambas as situações podem ser bem dolorosas.
Pego a minha adaga que está nas minhas costas e opto por arrancar
seu dedo. Ele berra quando o corto com um único golpe bem nas juntas.
— Vai responder a minha pergunta? — Os olhos dele estão injetados
de ódio.
— Vai pro inferno, Paolo. — Inclino a cabeça sorrindo.
— Prefiro que você vá na minha frente. — Corto sua garganta e o
observo desabar no chão agonizando como um porco.
— Divirta-se com esse merda, Dom, faça sua dor se prolongar ao
máximo e tente tirar mais informações desse filho da puta. Vou te esperar no
escritório do La Fontaine. — Deixo o bastardo que ainda está vivo na mão do
meu amigo.
Preciso descobrir o que o merda do Vladislav quer tirar de mim,
nunca o enfrentei diretamente, meu contato direto com os russos foi apenas
na noite que eu conheci Masha.
Os pelos da minha nuca ficam eriçados com o pensamento que passa
por minha cabeça.
Não pode ser. Depois de tanto tempo será que o maldito ainda lembra
da minha ruiva?
Impossível. Eu estou ficando neurótico, ele só pode estar atrás de
outra coisa, preciso apenas descobrir o que é.
— Nós precisamos ser cautelosos. — Domênico corta a ponta de um
charuto. — Com Vladislav na liderança não podemos nos arriscar sem ter
certeza do que estamos fazendo. — Ele solta uma nuvem densa de fumaça.
— Yuri sabia que não tinha como nos superar, já o seu substituto não se
importa de arruinar tudo, sabemos o quanto ele é descontrolado.
Como sempre Dom está coberto de razão, Vladislav é um antigo
conhecido, sempre foi irresponsável e ganancioso por poder.
— Que dor de cabeça do caralho esse maldito russo está nos
causando. — Trago meu cigarro com força.
— Eles sempre são um pau no nosso traseiro. Vamos matar alguns
como sempre e mostrar que devem ir para os esgotos de Roma. — Esse
temperamento frio de Domênico é um soco no meu saco.
O desgraçado é tão frio que sequer é capaz de suar quando tortura
alguém, fica apenas com essa sua aparência inexpressiva, com poucas
palavras, parecendo uma estátua.
Bufo tão alto que chamo a atenção dele. Seus olhos me encaram com
desconfiança e minha vontade é dar um soco na cara desse merda.
É foda ter que lidar com alguém sem sangue nas veias, nesses
momentos eu prefiro o Mattia, ao menos somos iguais, se pode ter sangue,
então vamos fazer jorrar sem piedade.
— Sei que não é o melhor momento, mas preciso avisar que mandei
confirmar sua ida à festa de Mattia, ele terá alguns parentes da Sicília que
também estarão presentes, você terá boas mulheres para poder cortejar.
A vontade de socá-lo aumenta exponencialmente, o que me faz
afundar o cigarro contra o cinzeiro com força.
— Quem te autorizou a aceitar o convite em meu nome?
— Paolo já conversamos sobre isso.
— Foda-se qualquer conversa que tivemos, eu não vou nessa festa. —
Decreto.
— Você vai porque é nosso líder e todos esperam sua presença. — A
sua voz é serena, porém firme. — Não pode mais esperar, estou ouvindo
algumas conversas desagradáveis por aí, você pode enfrentar grandes
problemas se não anunciar nas próximas semanas um nome para sua futura
esposa, nunca tivemos um Capo com trinta anos sem ao menos já ter sido
casado.
A minha cabeça começa a latejar só de imaginar que terei que me
afastar de Masha.
— Essa é a nossa vida, somos homens condenados. — Encaro
Domênico sem conseguir ter argumentos para contestá-lo.
Nascemos fodidos e morreremos ainda mais fodidos.

Saio do banheiro e encontro Masha próxima da minha cama. Olho


para ela com desagrado, odeio suas aulas com Domênico, ainda que eu saiba
que está sendo para sua segurança.
Odeio mais ainda saber que tudo entre nós praticamente tem data para
acabar. Quando ela souber que escolhi uma noiva, não vai mais querer olhar
na minha cara. Conheço bem o temperamento do meu inferno vermelho,
apesar dela ser doce, também sabe ser uma tempestade sem controle em
determinados momentos.
— Pensei que fosse ficar mais tempo com seu professor — digo com
deboche.
— Se quiser posso ir embora — ela está me provocando.
Que mau movimento diaba vermelha.
— Você não sabe como eu quero que vá. — Pelo abrir da sua boca,
minhas palavras a chocaram. — Mas eu não consigo ficar longe do meu
vício. — Seguro seu braço ao perder a cabeça e assumir minha fraqueza.
Meus lábios aprisionam os seus, em um beijo violento que rouba todo
o meu ar.
— Porra, Masha. — Rosno contra sua boca quando descubro que está
sem calcinha.
— Não temos o porquê perder tempo. — Ela afunda os dedos no meu
cabelo.
— Realmente não temos. — Adoro esse seu lado safado.
Em um movimento hábil eu me livro da calça do meu pijama e retiro
a camisola dela. Seus braços me rodeiam enquanto nos encaminhamos até à
cama. Ergo-me contra ela e volto a beijá-la ao afundar meus dedos contra seu
quadril.
Ela se contorce sob meu corpo, enquanto a estimulo. Escorrego minha
boca por seu pescoço, sugando a pele do local sofregamente, causando
diversos tremores nos seus músculos.
Quando desço ao longo da sua barriga e paro entre suas pernas, ela se
abre lindamente, me convidando a prová-la. Não perco tempo e fecho minha
boca contra seu clitóris.
Ela puxa os fios do meu cabelo gemendo alto quando eu a devoro
violentamente. O seu orgasmo vem em um rompante inesperado a fazendo
gemer alto, suas coxas tremem, enquanto ondas de prazer sacodem seu corpo.
Praguejo odiando a vida por me tirar tanta perfeição. Maldita hora que
a provei, agora que sei que ela é a mulher mais gostosa que eu já conheci,
vou viver uma vida de lamento por não poder mais tê-la comigo.
— Apenas me guie, eu vou testar seus limites hoje — aviso querendo
possuir seu corpo como desejo.
Ela faz um leve aceno, com aquele olhar luxurioso que me deixa
arriado.
Coloco-a ajoelhada na cama e volto a provar da sua boceta, preciso
guardar para sempre o seu gosto, será ele que me fará suportar uma esposa
que não desejo ao meu lado. Masha requebra contra minha boca, me fazendo
resmungar contra suas dobras.
Gostosa demais.
Não consigo mais me segurar e me posiciono atrás da sua bunda
arrebitada. Invado seu canal em um movimento suave, apreciando a visão do
meu pau sumindo na sua pequena boceta.
Masha joga o corpo para frente e geme contra o travesseiro. Agora ela
já não tem tanta dificuldade em me receber o que me deixa livre para
movimentar meu corpo com mais rapidez.
— Isso é muito bom — digo ao me inclinar contra seu corpo. — Tão
quente e apertada. — Afasto seu cabelo e beijo sua nuca. — Eu quero te
foder com muita força, Masha, quero estar em cada canto dessa boceta
molhada. — Seguro o seu cabelo e a faço erguer o tronco para ficar mais
empinada. — Quero que me monte mais tarde, eu estou ansiando por isso.
Saio um pouco da sua boceta e retorno até o fundo, movimentando o
meu quadril, alargando-a cada vez mais. Ela geme longamente, mostrando o
quanto está apreciando minha penetração.
Puxo seu cabelo e começo a movimentar-me cada vez mais rápido e
profundo. Masha engasga quando bato na sua bunda e acelero a penetração.
O ar queima em meus pulmões ao ouvi-la gemer alto. Deposito outro tapa no
seu traseiro delicado, apreciando a sua pele clara ficar avermelhada.
— Gostosa demais. — Não consigo deixar de reverenciá-la. — É
lindo ver o rosado da minha mão na sua pele — digo ao acariciar o local onde
bati. — Você gosta disso, Masha? Quer mais um pouco da minha mão na sua
bunda? — Ela demora alguns segundos antes de responder.
— Quero. — Sua voz sai estrangulada e outro tapa, desta vez bem
mais forte, faz minha ruiva choramingar.
— Eu sabia que você seria safada. — Sorrio. — Ainda hoje você
estará sobre o meu pau, o levando fundo. — Entro nela com mais força,
ensandecido com a sensação de prazer que me domina.
Ela segura a cabeceira da cama e abafa um grito quando as suas
paredes vaginais começam a me apertar com intensidade. Tudo está diferente
agora, nada se parece com o que já experimentamos.
— Porra! — esbravejo quando sinto fogo percorrer minha pele —
Masha... você está me matando ao me sugar desse jeito. — Mordo o seu
ombro, a fazendo gritar quando todo o seu corpo se sacode quando o orgasmo
a alcança.
Ela goza violentamente, o seu corpo é consumido por uma explosão
potente. Seguro o seu quadril, investindo nela sem controle, afundando os
dedos na sua carne, louco para o meu instante de prazer.
O meu corpo enrijece e eu gozo em seu interior deixando escapar um
gemido longo. Solto um suspiro de alívio quando o meu corpo começa a se
acalmar.
Mesmo sem querer eu me retiro do seu interior, preciso de um tempo
para silenciar todas as vozes contraditórias que invadem a minha cabeça.
Masha tenta acalmar a sua respiração, enquanto o seu corpo relaxa
sobre a cama. Apoio a mão sobre suas costas quando me junto a ela. Beijo
sua têmpora, fazendo seus olhos fecharem.
— Fui longe demais? — Não posso deixar de me preocupar, ela ainda
não tem a experiência necessária para me acompanhar no sexo e, por mais
que eu não goste de assumir, eu me importo extremamente com minha ruiva
— Aproveitei cada momento. — Ai, caralho! — Ainda quero mais.
— Não seguro o sorriso.
— Estou aliviado por ouvir isso. — O meu lado possessivo ganha
vida e eu desço a mão entre suas pernas e espalho meu gozo por toda a sua
boceta, até que chego ao buraco apertado da sua bunda.
Sinto seu corpo ficar rígido com o meu toque inusitado. Não consigo
conter o sorriso por ela pensar que hoje vou fodê-la aqui.
Na verdade, eu vou, mas não agora, meu inferno vermelho precisa de
um pouco mais de tempo.
— Eu vou te foder aqui também e você vai gozar como ainda não
gozou. — Minha língua corre por sua orelha. — Você vai gostar de me ter
aqui. — A ponta do meu dedo me invade lentamente. — Inclusive vai me
pedir para foder sua bunda quando descobrir o quanto será bom me ter nesse
seu buraco apertado.
— Não acho que isso seja possível.
— Vai ser possível, la mia passione, você vai querer, acredite em
mim.
Ela ainda não sabe, mas seu corpo foi feito para experimentar todo
tipo de prazer e, enquanto ela for minha, eu vou mostrar um mundo novo
para a minha linda e sedutora ruiva.

— É sempre muito bom fazer negócios com você. — Aperto a mão de


Collin antes de sair da sala de reuniões.
Ele é o CEO de uma grande empresa de marcas esportivas. Quero
diversificar meus negócios e lavar o dinheiro da máfia da maneira mais
discreta possível para fugir das autoridades.
Caminho apressado ao lado de Nicolo, hoje meu dia está cheio e eu
estou louco para saber como foi o ataque que promovemos aos russos.
O meu celular toca e, quando vejo o nome de Dom, eu atendo
rapidamente.
— Como foi?
— Perfeito, fodemos os russos da melhor maneira e o recado a
Vladislav foi feito.
— Excelente. — Abro um largo sorriso.
— Precisamos comemorar.
— Não se preocupe, faremos isso.
Inspiro fundo e encerro a ligação, agora é só esperar o próximo
movimento dos malditos, para poder partir para cima e acabar com eles de
vez.

Quando entro no La Fontaine encontro Dom sentado no bar com uma


garrafa de cerveja na mão, ao lado dele está Stefano, o meu melhor assassino
e o responsável por comandar o ataque aos russos.
Ele tem apenas vinte e cinco anos, mas já matou mais homens que a
maioria dos meus soldados. Stefano é praticamente uma lenda no submundo
do crime, já tive alguns líderes da Cosa Nostra pedindo o auxílio dele. É um
orgulho contar com sua presença no meu time.
— Vejo que começaram as comemorações antes de mim. — Retiro
meu terno e o dispenso em uma cadeira. — Piero, eu quero um conhaque —
peço ao barman.
— Precisávamos de uma bebida — Dom comenta enquanto aperto a
mão de Stefano.
— Vou ter que aumentar o seu bônus de Natal. — Brinco com ele,
que apenas ergue uma sobrancelha, não esconde a surpresa com minha
brincadeira.
Eu sou bem ranzinza, não nego, mas Stefano me supera.
— Fiz apenas o trabalho para o qual você me paga. — Ele ergue a sua
garrafa de cerveja, sorvendo um longo gole.
— Hoje você se superou. — Piero traz minha bebida. — Onde está
Giorgio?
— Providenciando todo o reforço nos nossos postos principais, não
vai demorar pra fazerem uma retaliação.
— Terão homens suficientes para isso? — Olho para Stefano.
— Só se eles pedirem reforços. — Ergo um canto da boca satisfeito
com a sua resposta.
— Que venham, estou ansioso para passar por cima deles. — Enrugo
as sobrancelhas ao ver a expressão dura de Domênico. — O que foi? — Ele
olha rapidamente para Stefano antes de responder.
— Estou pensando aonde será essa retaliação.
— Se Giorgio fizer seu serviço certo, não vejo que problemas
teremos.
— Eles podem escolher um alvo mais frágil.
— E qual poderia ser? — Stefano pergunta antes de mim.
Domênico não o responde, ele apenas me encara e eu entendo
perfeitamente o que seu olhar aguçado está querendo me dizer.
— Porra! — Descarto a minha bebida e pego o celular. — Leonel,
onde o inferno vermelho está? — questiono já saindo do La Fontaine.
— Ela está cozinhando, chefe, disse que vai testar uma nova receita.
— Sinto o alívio me dominar. — Está cheirando bem.
— Redobre a segurança e avise para os outros soldados ficarem
atentos.
— Mais problemas?
— Quero evitá-los, na verdade. — Eu não me importo de ter algum
dos meus depósitos atacados, só não posso pensar na minha ruiva em perigo.
— Estou chegando, não tire os olhos de Masha.
— Eu não vou.
Entro no meu carro e acelero direto para casa, louco para descobrir o
que a diaba vermelha está aprontando.

Paro na porta da cozinha e observo Masha cortando algo. Ela está


com o cabelo preso no alto da cabeça e com um vestido azul curto. Meus
olhos escorregam por seu corpo, paro na sua bunda e penso em como quero
foder seu traseiro gostoso. Em seguida sigo adiante e admiro suas pernas
curtinhas.
Ela é um pedaço de tentação, eu estou completamente fissurado nessa
mulher.
— Senhor, chegou cedo. — Mirta entra na cozinha e atrapalha minha
observação.
— Por acaso tenho hora certa para chegar? — Ergo uma sobrancelha
para ela, sem conseguir esconder meu descontentamento por interromper meu
momento de admiração.
— Dia ruim no trabalho? — Masha pergunta e acabo esquecendo a
chata da Mirta.
— Mais um dia de merda. — Saio da minha posição e caminho até
ela. — O que está aprontando?
— Você vai ver. — Como não posso beijá-la, apenas a avalio com
atenção.
— Isso significa que o jantar é sua responsabilidade?
— A maior parte dele. — Olho para Mirta, ela me ignora e abre a
geladeira. — Eu sei o que faço Paolo.
— Eu não falei nada.
— A sua expressão disse tudo. — Vejo que ela está chateada.
— O cheiro está bom, espero que o sabor acompanhe o aroma.
— Claro que vai. — Ela busca por uma colher e pega um pouco dos
ingredientes que está preparando. — Experimenta.
Puta que pariu!
Se essa comida estiver uma merda, eu não vou saber como disfarçar
meu desgosto.
— Vamos, Paolo, apenas coma. — Não perco Mirta escondendo um
sorriso.
Mulher maldita. Ela está se divertindo com o meu temor.
Inspiro fundo e aceito a sua oferta, vou tentar ao menos conter
qualquer tipo de desgosto, não quero uma briga com ela na frente dos outros.
Arregalo os olhos quando um delicioso sabor se espalha na minha
boca. Essa diaba definitivamente tem dom para cozinhar.
— E aí? Está bom?
— Fabuloso. — Sou sincero. — É salada grega?
— Isso — responde sorrindo. — Estou fazendo um jantar
mediterrâneo, vamos ter comida de várias regiões. — Como eu queria beijá-
la.
— Bom... — Dou um passo atrás. — Tente não queimar nada, comer
só salada não mata meu apetite, eu preciso de algo mais pesado. — As
minhas palavras têm duplo sentido e pelas bochechas vermelhas dela,
entendeu exatamente o que eu quis dizer.
Porra! Essa mulher veio para dizimar a minha vida.
É linda, gostosa e sabe cozinhar.
Como vou conseguir resisti-la?
O tempo está passando rápido demais, desde que meus momentos de
paixão com Paolo começaram, já estamos juntos há um mês e meio, nesse
tempo eu só fiz me apaixonar ainda mais. Ele me pediu para dormir todas as
noites no seu quarto e a cada dia que ficamos juntos eu me sinto mais
próxima dele.
Quando penso que preciso partir para ter a minha própria vida, o meu
coração se afunda. Imaginar ficar sem Paolo é sufocante, eu estou
completamente rendida por aquele homem, não me imagino mais chegar à
noite e não estar entre seus braços.
Apesar de saber que é perigoso me entregar tanto a alguém que nunca
corresponderá aos meus sentimentos, eu não posso impedir tudo o que sinto.
Sou louca por ele e nada vai mudar isso.
Sento em uma mesa do lado externo do restaurante enquanto espero
Leonardo e Donatella chegarem. Marquei de almoçar com eles, apesar de
Leonel não gostar da minha programação.
Olho para longe e o vejo encostado em uma árvore, com as mãos no
bolso da calça. Agora além dele tenho mais uma pessoa na minha cola,
parece que Paolo continua com problemas com seus inimigos e está neurótico
com a minha segurança.
Como se alguém pudesse se interessar por mim.
Verifico as mensagens no celular e encontro uma do Paolo, ele avisa
que estará em casa mais cedo e que não me quer na rua sem necessidade. Ele
é irritante, ainda assim não consigo ficar com raiva desse controlador.
O barulho de uma moto me faz tirar a atenção do celular. Um
motoqueiro todo de preto para rente ao meio fio, bem próximo da minha
mesa. O seu capacete também é preto e com a viseira espelhada. A sua moto
é daquelas grandes, que chamam atenção por onde passa.
Apesar do capacete, sei que ele me observa enquanto faz barulho de
aceleração da moto. Não consigo interromper o meu olhar, eu o fito com
curiosidade, ao observá-lo mover a mão sobre o acelerador.
Inesperadamente ele vira o rosto e olha para frente, acompanho seu
movimento e vejo Leonel andar apressado na nossa direção com a mão indo
para dentro do seu terno, em busca da arma presa no coldre.
Na mesma hora o motoqueiro acelera e quase passa por cima de
Leonel. Vejo-o fazer sinal para o outro segurança não atirar no homem
quando ele passa cantando pneu.
Fico parada sem saber como reagir à situação, não estou entendendo
nada.
— O que aconteceu aqui? — pergunto quando ele para ao meu lado.
— Não sei, senhorita — responde ao secar a testa. — Esse homem
pareceu um risco, o seu comportamento foi estranho. — O outro segurança se
aproxima. — Você viu a placa?
— Ele cobriu alguns números — diz com o cenho franzido.
— É melhor nós irmos embora, senhorita Masha, não é seguro ficar
aqui.
Ao longe vejo Leo e Donatella se aproximando.
— Não vou embora agora, vocês podem sentar na mesa ao lado e
ficarem de olho em tudo, eu não vou deixar meus amigos na mão porque
estão neuróticos com minha segurança.
— A senhorita deveria saber que o chefe está com problemas com os
russos, esse homem que acabou de fugir poderia estar pronto para cometer
um atentado. — Sinto um arrepio correr pelo meu corpo.
— Vocês estão aqui justamente para me protegerem, então façam seu
serviço, quando eu terminar o almoço prometo ir direto para casa.
Apesar da contrariedade dele, acata meu pedido e os dois se sentam à
mesa próxima da minha. Noto o terceiro segurança do outro lado da rua, ele
não vem até nós, fica apenas atento ao redor.
Quando meus amigos se aproximam eu sorrio, finjo com louvor, não
ter acabado de passar por uma situação estranha.
Será que realmente alguém da máfia russa está interessado em mim
para poder atacar Paolo?

— Já entendi, Domênico, eu não sou um idiota. — Ele me olha com


intensidade. — Eu vou no caralho dessa festa e vou pegar a primeira mulher
que eu achar para casar, satisfeito? — O seu rosto mostra toda a sua
contrariedade. — Agora quero saber quando você vai arrumar sua própria
esposa, temos a mesma idade e você também é um dos superiores da máfia,
precisa de família.
A satisfação se espalha pelo meu corpo quando vejo Dom prender os
lábios descontente com a minha pergunta.
Peguei o desgraçado de jeito.
— Quando é a vida dos outros fica fácil opinar não é mesmo? — Eu o
encaro com seriedade.
— Sei que nós dois passamos da hora de nos casarmos, talvez na festa
de Mattia seja a oportunidade certa de cortejar alguém, eu irei aberto a tentar
um compromisso.
— Fique com a filha de Mattia, você mesmo disse que ela foi criada
para ser uma esposa do alto escalão da máfia.
— Se ela não for uma opção para você, posso conversar com a
ragazza.
Antes que eu o responda o meu celular toca e, quando vejo o nome do
Leonel no visor, sinto meu coração acelerar.
— O que aconteceu com Masha? — pergunto de imediato e vejo Dom
ficar atento a ligação.
— Ela está bem, mas tivemos um evento fora do usual que me
preocupou.
— Seja mais claro.
— Um homem de moto parou próximo ao restaurante que ela estava
esperando os amigos na área externa, foi uma cena suspeita, eu o afugentei.
— E a placa da moto?
— Estava com alguns números escondidos. — Aperto o dedo médio e
o polegar entre as têmporas.
— Onde ela está?
— Almoçando com Leonardo e Donatella.
— Por que ela não está em casa?
— Ela não quis ir, disse que primeiro iria almoçar com os amigos.
Não quis forçá-la a me acompanhar, decidi ligar para o senhor e esperar às
suas ordens.
Maldita teimosia dessa mulher, um dia ela se mete em uma confusão e
fode comigo.
— Passa o telefone para ela. — Domênico ergue uma sobrancelha,
curioso para saber o que está acontecendo.
— Oi. — A sua voz doce quase me faz esquecer o porquê estou
ligando, mas quando me recordo que pode estar correndo risco eu endureço
novamente.
— Quero que vá para casa agora.
— Leonel é um fofoqueiro.
— Vá para casa, não é um pedido.
— Não vou. — Ela me enfrenta. — Estou esperando meu almoço,
quando terminar eu prometo ir direto para casa.
— Masha, não brinque comigo, você vai se arrepender depois.
— Paolo, vocês todos estão neuróticos, não aconteceu nada demais,
só um homem olhando para mim, qual o problema? Até onde sei eu sou uma
mulher atraente.
Rosno tão alto que Domênico se afasta, certamente estou com a
expressão assassina que aterroriza a todos.
— Se eu tiver que ir até aí te pegar, a cena não será bonita. — A
minha ameaça não é vazia. — Peça o almoço para viagem e vocês comem lá
em casa.
— Não vou quebrar o meu encontro porque você está com mania de
perseguição.
— É sua última palavra?
— Sim. — Desligo.
— Que merda está acontecendo?
— Apenas Masha fazendo o que faz melhor comigo — digo ao
levantar e guardar meu celular no bolso da calça. — Ela fode sem piedade
com minha paciência.
— Aonde você vai? — pergunta quando visto meu terno.
— Mostrar a ela que nunca deve me contrariar. — Dou a volta na
mesa. — Cuide de tudo, provavelmente hoje não volto para o trabalho.
— Eu vou com você, está agitado demais e pode acabar tendo um
conflito com ela sem necessidade.
— Fique aqui. — O paraliso com meu olhar. — Não vou fazer nada
físico com ela, mas vou mostrar que não deve me contestar quando o assunto
for sua segurança. — Abro a porta e sigo puto pelo corredor, louco para
colocar as mãos na minha linda e rebelde ruiva.

Estaciono o carro em local proibido e pouco me importo se eu for


multado, no momento isso é o de menos. Caminho a passos apressados pela
calçada e não demoro a localizar Masha e os amigos.
Leonel imediatamente nota a minha presença e levanta da mesa que
está acomodado bem perto dela. Ao menos ele teve esse cuidado, não vou
esquecer de elogiá-lo depois que eu me acertar com o inferno vermelho.
O próximo a ver a minha chegada é Leonardo e ele rapidamente conta
à amiga. Ela vira o rosto e me encara tensa, sabendo que está dentro de uma
grande confusão.
— Boa tarde, como estão? — Olho entre Donatella e Leonardo.
— Paolo... — Masha tenta falar, mas eu não deixo.
— Quieta. — Ergo um dedo para silenciá-la. — Espero que o almoço
esteja bom, mas lamento informar que Masha precisa vir comigo.
— O que está acontecendo? — Leonardo pergunta claramente
preocupado com a amiga.
Eu admiro esse rapaz, ele não tem medo quando o assunto é a teimosa
ruiva, Leo se arrisca a me enfrentar sempre que acredita que eu possa tomar
alguma atitude que possa feri-la.
Nunca faria isso, pelo contrário, Masha para mim é uma prioridade,
eu faço tudo para que fique longe de qualquer perigo.
— Está acontecendo que eu estou com um problema fodido e sua
amiga não devia ficar perambulando pela cidade, em especial quando uma
situação, possivelmente de risco, aconteceu e ela se negou a ir para casa com
a intenção de almoçar com vocês — digo apenas o apropriado para o local
onde estamos. — Vamos, Masha, eu não posso perder mais tempo do meu
dia.
— Leonel está comigo, não existe risco.
— Não vou pedir outra vez. — Minha voz é baixa e perigosa.
— Masha vá, se Paolo acha que pode ter alguma situação de risco
ouça o que fala, eu e Donna vamos terminar o almoço e também seguiremos
para nossas casas. — Ao menos Leonardo tem um pouco de juízo.
Ela me olha com raiva, mas levanta e começa a andar pela calçada
evitando meu toque. Aceno para os amigos dela e caminho no seu encalço,
segurando seu braço quando a alcanço.
— Tira suas mãos de mim. — Rosna sem parar de andar.
— Eu vou colocar muito mais que minhas mãos em você quando
chegarmos em casa, você vai aprender da melhor maneira a me obedecer.
— Não vai encostar em mim hoje. — Ela vira-se e vejo seu rosto
vermelho de raiva.
Linda pra caralho! Meu pau já está começando a ficar duro ao pensar
em tudo o que eu vou fazer com ela.
— Entra no carro. — Eu a puxo na direção do veículo. — Quando
chegarmos em nossa casa você vai ver o que eu farei. — Forço a sentar-se e
sigo para o banco do motorista.
Enquanto coloco o carro em movimento ela cruza os braços contra o
peito e olha pela janela, claramente irritada com a situação que nos
encontramos.
Acho que ela não tem noção do quanto me excita ao ficar nervosinha.
Hoje ela vai entender prazerosamente o quanto eu posso ser duro quando sou
contrariado e fico cheio de tesão.
Masha pula do carro assim que eu estaciono, ela sobe as escadas da
entrada e some pela porta. Não saio de onde estou, pego um cigarro e acendo.
Fecho os olhos quando a nicotina percorre meu corpo. Essa mulher é um teste
para o meu coração.
A diaba vermelha tem sorte por eu ser louco por ela, porque se fosse
qualquer outra pessoa, eu já teria dado a ela um destino, para não ter mais
aborrecimento.
— Que merda! — resmungo enquanto entro em casa.
Assim como esperei ela não está na sala, certamente foi para o seu
quarto, mas não vai fugir da conversa que teremos.
— Senhor. — Vejo Mirta despontar no topo da escada. — O que fez
com a bambina? Ela entrou chorando e se trancou no quarto.
Merda! Odeio saber que está chorando, no entanto, tudo isso é culpa
da sua teimosia.
— Vá para a cozinha e não saia de lá até eu chamar. — Começo a
subir as escadas.
— O que vai fazer com ela? — Os olhos de Mirta se expandem com
medo de mim.
Essa mulher está louca? Será que ela acha que posso ferir minha
ruiva?
Sei que sou um monstro, não nego minha natureza hostil, porém
quando se trata de Masha eu não sou louco de deixar a minha fera sair. Ela é
meu ponto de sanidade, a única pessoa que me torna humano.
— Pare de me olhar assim, porra! — esbravejo ao chegar perto dela.
— Já machuquei Masha alguma vez? — Ela ergue uma sobrancelha e me faz
trincar os dentes. — Aquela confusão com Domênico não conta, foi um
acidente.
— Mesmo sendo acidente ela se feriu.
— Mas eu não fiz por querer e jamais encostaria um dedo nela, só que
eu não posso saber que esteve em uma possível situação de risco e ficar
parado. — Mirta me encara assustada. — Você sabe sobre os russos, ela pode
ser um alvo fácil.
— Dio Santo! — exclama surpresa. — Será que eles podem ferir a
bambina?
— Claro que podem, eles têm novo líder e o stronzo é descontrolado.
— Mirta fica pálida. — Tente aconselhar Masha a se resguardar.
— Farei isso, não se preocupe.
— Agora vá para cozinha, eu vou ter uma conversa longa e honesta
com ela.
Dessa vez Mirta não me contraria, desce as escadas silenciosamente.
Caminho até o meu quarto e tiro a roupa, coloco uma calça de
moletom antes de ir atrás dela. Bato na porta e não tenho resposta.
— Masha abra, nós precisamos conversar.
— Pode ir embora, eu não quero nenhuma conversa, estou cansada de
tudo isso. — Encosto a testa na porta.
— Eu tenho a porra dessa chave no meu quarto, vou entrar de
qualquer jeito, então apenas abra e facilite as coisas.
— Você não pode ter uma chave do meu quarto — diz indignada
perto da porta.
— Quem disse que não posso? — pergunto escondendo um sorriso.
— Abre, agora! — Minha voz já não é raivosa, agora ela está carregada de
tesão.
Quero meu inferno vermelho, preciso sentir sua pele contra meus
lábios, ouvir seus gemidos para poder controlar a minha raiva por ela se
colocar em risco por pura teimosia.
Um clique suave revela uma Masha com o rosto avermelhado e
descontente por ter que conversar comigo. Trocamos um olhar tenso, ela não
esconde que deseja voar em mim e isso me deixa duro pra caralho.
Parecendo saber tudo de pervertido que se passa na minha mente, seus
olhos descem e encara minha ereção marcada na calça de moletom. Não tento
esconder minha excitação, até porque eu pretendo fodê-la antes que entremos
em uma discussão calorosa. Depois que terminarmos de brigar, eu vou voltar
a fodê-la de novo e dessa vez eu tenho uma surpresinha.
Passo pela porta e a fecho com um baque forte, sem dizer nada seguro
sua cabeça e a beijo duramente. Ela segura meus braços, fincando suas unhas
grandes na minha pele. Rosno contra sua boca quando sinto o ardor delas,
ainda assim não retrocedo e movo meus lábios contra os seus, enroscando
minha língua na dela.
— Você gosta do perigo, não é? — pergunto quando puxo seus
cabelos. — Gosta de me ver perder o controle, de te pegar com força. — Ela
se cala, mas seus olhos dizem tudo. — Tira a roupa — ordeno e a solto.
Ela dá um passo para trás, aguardo para ver se vai negar meu pedido,
porém Masha abre a blusa e revela seu sutiã de renda branco. Seus olhos
crispam de raiva quando escorrega a calça pelas pernas, mostrando uma
calcinha de cetim que quase não cobre sua boceta.
Sorrindo, ela vira-se e coloca as mãos para trás, buscando tirar o sutiã.
Mas meus olhos estão grudados na sua bunda, onde um indecente fio dental
some entre suas nádegas.
Maldita!
Avanço sobre ela e a seguro pela garganta a trazendo contra meu
peito, Masha ofega e cobre minha mão com a sua.
— Pra quem está usando essa merda de calcinha? — pergunto rente
ao seu ouvido.
— Por que quer saber?
— Não brinca comigo. — Ela solta uma risada.
— É só uma calcinha.
— Você não usa calcinhas assim. — O ciúme começa a colocar as
garras para fora.
— Agora eu uso, comprei meia dúzia no início da semana, hoje
resolvi experimentar a primeira vez para saber se me acostumaria com algo
assim.
Viro seu corpo e encaro seus olhos, ela não desvia o olhar e me fita
séria. Ma che palle! Ela me faz perder a cabeça por causa de apenas uma
calcinha.
Volto a beijá-la e desço a mão afastando a maldita calcinha que está
me deixando perdido de tesão. O gemido dela se espalha pelo quarto quando
encontro a sua boceta completamente encharcada. Ela está assim por mim,
isso é tão fodidamente bom.
— Sempre molhada e quente para seu homem — digo rente aos seus
lábios. — Agora ajoelha, vou foder sua boca antes de te chupar. — Agarro
seus cabelos e puxo sua cabeça na direção do meu rosto. — Não pense que
não teremos uma conversa sobre sua desobediência, mas antes eu vou te
foder sem piedade, depois conversaremos e voltamos a foder. Faça o que
mandei, espero que ao menos no sexo você consiga seguir a porra das minhas
ordens.
Desta vez ela segue, meu inferno vermelho tem suas próprias
prioridades, uma pena que a sua segurança não seja uma delas.
Desabo para o lado e encaro o teto com a respiração completamente
irregular. Foder Masha é sempre um momento que me deixa exausto. Ela é
surpreendentemente quente, se aventura sem medo em tudo o que proponho.
Estico o braço e a puxo para perto de mim, afundo meu nariz no seu
cabelo inalando seu cheiro. Como gosto desta sua fragrância, o seu aroma me
acalma e silencia todos os meus demônios.
— Eu posso me acostumar a sair do trabalho à tarde, só para foder
com você. — Masha solta um suspiro e apoia a mão contra o meu peito.
— Você tá muito engraçadinho. — Ela se estica.
Tiro alguns fios que estão grudados no seu pescoço e beijo sua testa.
Apesar do clima entre nós estar o melhor possível, não posso fugir do meu
objetivo de conversar com ela.
Puxando Masha comigo eu me sento e coloco os travesseiros nas
costas. Acomodo-a sobre meu colo, passando a mão na sua cintura,
mantendo-a aprisionada entre meus braços.
— Precisamos conversar. — Ela corta o nosso olhar e encosta a
cabeça contra meu ombro.
— Podemos pular essa parte? Não quero discutir com você.
— Não haverá discussão, la mia passione, porque você vai apenas
escutar o que vou falar e me obedecer.
— Olha aqui, Paolo, se você acha que... — Eu a silencio com um
beijo, essa rebeldia dela ainda vai foder tudo.
— Masha, o novo líder dos russos em Roma é um antigo homem de
Yuri. — Faço uma pausa na minha fala. — Vladislav está no comando e ele
não é uma pessoa controlada. — Ela expande os olhos, entendendo bem o
que estou falando. — O bastardo é perigoso, sabe quem é você e que ainda
mora comigo.
— O que está querendo dizer?
— Eu não trago mulheres para minha casa, todos pensam que temos
um caso, e isso te faz um alvo. — Ela molha os lábios pensativa.
— Acha que Vladislav pode tentar se aproximar de mim?
— Não posso garantir nada, apenas te proteger. — Acaricio seu rosto.
— Mantenha seu treino com Dom, ele é o nosso melhor homem na luta
corporal e com uma adaga. Sei que está te ensinando a atirar, mas peça
também que te ensine a utilizar uma faca, pode ser útil.
— Está me assustando.
— Isso é bom, assim você sossega esse seu traseiro gostoso em casa.
— Eu a beijo suavemente. — Vou providenciar uma arma pequena para
você, atire se for necessário.
— Paolo... — Ela deita sobre meu peito e afunda o rosto no meu
pescoço, parecendo temerosa. — Desculpa pela minha teimosia, você não
tinha me contado isso.
— Apenas não queria te preocupar, mas com você desobedecendo
todo mundo, eu não podia mais ocultar o motivo de estar mais preocupado
com a sua segurança.
— Juro que vou evitar sair sem motivo até você resolver tudo.
— Bom ouvir isso. — Seguro seu rosto e a beijo longamente, aliviado
por ela entender que precisa ser cautelosa. — Agora que estamos acertados,
posso passar para o outro nível do que quero fazer com você?
— Como assim outro nível? — Ela me olha desconfiada.
Não contenho um sorriso malicioso quando penso no que desejo
fazer. Encostando a boca na sua orelha sussurro: — Quero comer seu
traseiro.
— O quê?! — Ela só não pula da cama porque eu travo seu corpo em
meus braços. — Não vai colocar esse pau imenso na minha bunda, isso é
loucura.
— Se serve de consolo, ele já entrou em outras bundas e todas as
mulheres, sem exceção, gozaram bem gostoso. — Masha soca meu ombro
irritada.
— Não quero saber quem você fodeu, isso não me interessa.
— Ciúmes, la mia passione? — Tento beijá-la, mas ela vira o rosto.
— Nenhuma delas era uma ruiva gostosa como você — digo ao segurar seu
rosto. — Muito menos alguma delas esteve na minha casa, dormindo na
minha cama, todas as noites.
Os olhos dela brilham com satisfação pelas minhas palavras.
Consegui domar minha leoa vermelha.
— Vamos ao menos tentar? Se você não gostar paramos. — Ela
morde o lábio, me olhando insegura. — Prometo que vou ser muito
cuidadoso, não vou forçar nada que não aguente.
— Estou com medo — assume.
— Não precisa ter, porque eu só quero te dar prazer. — Beijo seu
queixo.
— Certo. Vamos tentar. — Não contenho a felicidade e a beijo, feliz
por ela se arriscar experimentar algo novo.
Deixo Masha na cama e sigo em busca do lubrificante.
Quando retorno ela me olha desconfiada, meu inferno vermelho ainda
está com dúvida e isso não é bom.
— Masha, se não quiser sem problemas, não quero te forçar a nada.
— Não está forçando, eu só estou tentado imaginar como vai caber.
— Jogo a cabeça para trás e solto uma gargalhada intensa.
Essa mulher é sensacional, esse pensamento dela é completamente
hilário.
— Você vai ver que vai caber certinho. — Coloco um joelho na cama
e seguro seu rosto. — E depois que couber eu vou te proporcionar um gozo
intenso.
Busco seus lábios para um beijo, quero que ela fique bem relaxada
para poder me receber.
Vou tocando seu corpo enquanto movo meus lábios contra os seus.
Masha se derrete completamente, ela envolve os braços no meu pescoço e se
deixa levar.
Depois de um tempo vou espalhando beijos por seu corpo, até que me
instalo entre suas pernas. Chupo a sua boceta sem pressa, querendo que ela
tenha seu primeiro orgasmo antes que eu possa começar a ação.
Ela goza na minha boca chamando meu nome, enquanto se contorce.
Beijo o interior das suas coxas e vou subindo bem devagar até que alcanço
sua boca capturando seus lábios em um beijo intenso.
Seguro sua perna e começo a penetrá-la, Masha aperta a minha bunda
e me lança um sorriso tão cheio de paixão, que me faz perder o fôlego.
Seus olhos são expressivos demais, ela não consegue esconder os
sentimentos, como eu consigo fazer.
O.k., sendo sincero? Eu já não escondo tão bem quando o assunto é
ela, sou louco por esta mulher, ela ganhou um espaço imenso na minha vida e
surpreendentemente no meu coração.
E olha que eu nem sabia que tinha um coração, há tantos anos eu me
endureci para poder sobreviver no meio onde nasci, que esqueci que eu podia
ter sentimentos.
Imponho uma penetração lenta, quero que ela fique em um estado de
excitação intenso, só assim ficará relaxada como eu desejo. Quando noto sua
respiração irregular, eu me afasto e vejo seu rosto ficar contrariado.
Tão linda, a minha tentação vermelha. Ela virou uma safadinha, em
cada um dos nossos encontros ela se supera.
Pego o tubo de lubrificante e espalho uma generosa porção entre os
dedos. Masha me encara com olhos atentos quando eu abro ainda mais suas
pernas e sigo para seu buraco apertado.
Assim que ela sente o líquido gelado contra suas pregas geme, meus
olhos acompanham atentamente suas reações, enquanto eu besunto seu anel
pequeno com bastante lubrificante.
Devagar vou alargando com um dedo, enquanto toco seu clitóris. Ela
geme e toca os próprios seios, me fazendo ficar ainda mais duro. Eu
introduzo outro dedo e começo a fodê-la com mais intensidade. Masha crava
os olhos nos meus, mas não vejo desconforto na sua expressão.
Eu passo um tempo a acostumando com essa invasão, enquanto
mantenho meu polegar no seu clitóris. Quando ela começa a respiração com
rapidez, interrompo o que estou fazendo. Seu gozo só virá quando eu estiver
dentro dela.
— Eu vou bem devagar e você vai me dizendo tudo o que está
sentindo, tudo bem? — Preciso que ela entenda que tem todo o processo em
suas mãos.
— O.k. — A sua voz é baixa.
Envolvo meu pau com mais lubrificante, quero facilitar ao máximo
que me receba. Apenas desejo que meu inferno vermelho sinta muito prazer.
Mudo nossas posições e me posiciono nas suas costas, ergo uma de
suas pernas e corro o meu pau primeiramente ao longo da sua boceta. Ela
solta um gemido intenso quando a ponta da minha ereção roça o seu clitóris.
Quando percebo que está completamente desarmada, eu sigo para a
sua entrada anal, vou pressionando lentamente, até que a cabeça do meu pau
rompe a primeira barreira. Masha ofega e joga o braço para trás afundando as
unhas na minha pele.
Suor brota na minha testa, eu quero ir além, mas não posso pressioná-
la demais. Preciso que ela se acostume comigo e tenha confiança no que eu
vou fazer.
— Apenas relaxe, no início será incômodo, mas você vai se adaptar.
Ela inspira e expira, em seguida faz um gesto suave com a cabeça
para que eu prossiga. Avanço mais um pouco, sentindo meu corpo pulsar de
tesão por senti-la esmagar meu pau.
Isso é bom demais, quando ela conseguir me receber sem maiores
problemas eu serei um homem feliz.
— Toque-se, la mia passione, vai te relaxar — ordeno com a voz
baixa, louco para ir mais um pouco além.
Ela faz o que eu mandei e começa a pressionar seu clitóris. Eu avanço
e vou me movendo lentamente, acompanhando com atenção as suas reações.
Masha aos poucos vai relaxando e gemendo conforme move o dedo
contra seu clitóris. Fico mais livre e aumento meus movimentos, porém não
aprofundo demais, ela ainda vai levar um tempo para me ter mais fundo, no
momento eu já estou feliz com o avanço que tivemos.
Puxo a sua cabeça e a beijo, mantendo um movimento cadenciado.
Passamos um tempo nos beijando, seguindo um ritmo cadenciado.
Até que sinto as unhas dela cravando na minha pele. Ela quebra o beijo e
geme alto.
Acompanho atentamente ela começar a gozar enquanto fricciona o
clitóris. Aproveito que ela está na névoa de prazer e vou mais rápido, mas
sem me aprofundar demais. Quando percebo que ainda não é o suficiente eu
saio dela e bato uma punheta rápida, me derramando sobre sua bunda
enquanto ela tenta estabilizar a respiração.
Jogo a cabeça contra o travesseiro e corro a mão pelo cabelo suado.
Ainda não foi como eu quero, mas qualquer coisa que Masha possa me dar é
sensacional.
— Você está bem? — pergunto ao tocar sua perna.
— Não sei. — Fico preocupado. — Ainda me sinto fora do corpo. —
Relaxo e sorrio.
— Gostou?
— E o que eu não gosto quando estou com você? — Porra! Assim ela
me desestrutura.
— Você não sabe como gosto de ouvir isso. — Beijo seu ombro e
levanto.
Vou até à banheira do seu quarto e abro a água, ela precisa de um
banho depois de tanto esforço.
Quando tenho metade da banheira cheia volto para o quarto e ergo o
corpo dela no colo.
— Já vou deixar avisado que o dia que quiser repetir só pedir, foi uma
experiência muito boa.
— Ainda sinto você na minha bunda e já está pensando em outra vez?
— Ela me fita contrariada.
— O que posso fazer se você é gostosa em cada parte desse corpo tão
pequeno. — O seu semblante suaviza e minha diaba vermelha exibe um
discreto sorriso.
— Você é um safado, está querendo me dobrar com essas palavras
bonitas.
— Não posso negar a minha safadeza. — Beijo a ponta do seu nariz.
— Agora vamos tomar um banho, você precisa relaxar.
Ela descansa a cabeça no meu ombro e eu sinto algo dentro de mim se
revirar em perceber o quanto ela confia em mim.
Entro com ela na banheira e a sento entre minhas pernas. Pego a
esponja e começo a escorregar por seu corpo.
— Agora me diz uma coisa?
— Fala. — Ela joga a cabeça contra meu ombro e corre a ponta das
unhas nas minhas coxas.
— À noite a boceta vai estar liberada? Porque até lá, eu vou querer
mais. — Ela sorri.
— Agora ela já tá acostumada, você sendo bonzinho comigo eu libero
sem problemas.
— Eu não sabia que você era tão dengosa. — Mordo seu ombro e ela
grita. — Estamos acertados mesmo quanto sua segurança?
— Estamos. Eu vou fazer tudo o que me pedir.
— Ótimo. — Agora me sinto mais calmo. — Depois do banho vamos
descansar um pouco e à noite eu vou te levar para um jantar especial.
— Gostei dessa informação. — Masha vira o rosto na minha direção
exibindo olhos brilhantes. — Obrigada por sempre cuidar de mim, nunca
conseguirei agradecer tudo o que já fez, desde que me livrou de Yuri.
O meu coração fica pequeno, ver a fragilidade no seu olhar é um
grande incômodo.
— Sempre te protegerei, la mia passione, você é minha para cuidar.
Essa é uma promessa que eu vou levar até o dia da minha morte, pois
ainda que ela não seja minha eu a manterei segura aonde quer que vá.
Puxo a cadeira para Masha sentar e ela me lança um sorrisinho de
satisfação. Não sei como foi possível, mas ela está ainda mais linda nesta
noite. Quase enfartei quando entrou na sala com um vestido justo preto,
saltos altos e os cabelos vermelhos escorrendo por seus ombros.
— Tudo o que eu queria era comer você agora, depois que te vi nesse
vestido perdi o apetite.
— O seu apetite para safadeza sempre está em dia, não é mesmo?
Mordo a parte interna do lábio inferior para não rir, ela consegue me
divertir em qualquer ocasião.
— Gosto do seu humor.
— Só do humor? — Seus olhos brilham com malícia.
Não tenho tempo para responder, pois o garçom aparece para pegar o
nosso pedido.
Eu peço uma garrafa de vinho e uma entrada, depois aviso que
escolheremos com calma o prato principal.
Enquanto aguardamos o nosso pedido conversamos amenidades,
Masha está relaxada como há tempos não a via. Seu sorriso é fácil e sua
expressão é suave.
Nosso vinho chega, assim como a entrada, enquanto bebo e ouço-a
falar sobre a faculdade, não noto a aproximação de Franco. Apenas quando
ele para ao lado da nossa mesa, é que tomo ciência da sua presença.
— Boa noite. — Ele olha entre nós dois. — Que agradável surpresa.
— Seu olhar se prolonga na minha ruiva ao analisá-la.
— Boa noite, Franco. — Minha voz sai mais dura do que o
necessário. — Você já conhece Masha.
— Claro que sim. — Seu sorriso para ela é amistoso, não existe uma
conotação sexual, ainda assim não gosto como a analisa intensamente. —
Quase tive Masha no meu quadro de funcionários.
— Pois é, uma pena que atrapalharam nossa negociação. — Ela me
lança um olhar contrariado.
— Nunca é tarde para uma negociação. — Fecho as mãos em punho,
se Franco acha que vai levar minha tentação vermelha, está enganado. —
Masha, você tem parente aqui em Roma? — sua pergunta me pega de
surpresa.
— Não sei muito sobre a minha origem, meus pais não se davam bem
com suas respectivas famílias. — Franco arregala os olhos, parecendo
surpreso com sua fala. — Eles não falavam nada sobre o passado.
— Hummm... — ele diz pensativo. — Interessante.
— O que está acontecendo aqui? — Interrompo a conversa.
— Não é nada. — Franco rapidamente se manifesta. — Masha é
muito parecida com uma amiga, estou verdadeiramente intrigado com essa
semelhança, desde que a vi no meu escritório. — Seus olhos voltam para ela.
— Na verdade, ela é idêntica quando a minha amiga era jovem. — Vejo que
seus olhos ficam distantes, como se ele estivesse sendo engolido por
lembranças. — Não vou incomodá-los mais, tenho um jantar com Giuseppe.
— Faço uma careta, não suporto esse homem.
— Espero que não tenha indigestão — digo sem esconder meu
descontentamento.
— Não posso fugir dos negócios, meu caro. — Ele bate no meu
ombro. — Bom te rever Masha, tenham um jantar tranquilo.
— Obrigada. — Masha sorri. — Quem sabe um dia serei sua
funcionária? Não desisti de arrumar um emprego.
— Se Paolo não se importar, seria um prazer ter você na minha
equipe.
— Eu me importo, agora já pode ir. — Lanço meu olhar fulminante e
ele entende que não deve se prolongar.
Com um aceno se afasta da nossa mesa e me deixa para trás com uma
diversidade de questionamentos que não me agradam em nada.
— Por que você tem que ser sempre grosseiro?
— Eu sou o líder dele, posso ser grosso quando eu quiser.
— Claro que não pode, ser educado não mata. — Inclino a cabeça e
ergo uma sobrancelha.
— Inferno vermelho, eu sou um Capo, não um cachorrinho fofo, se eu
não impuser a minha autoridade aos meus homens, eles me engolem. Por
mais que eu goste de Franco, ele não é santo.
— Você confia nele? — sua pergunta me pega de surpresa.
— Confiar é algo perigoso no meu mundo. Confio minha vida a Dom,
com relação a Franco sempre foi um homem muito honesto e comprometido
comigo, nós nos damos bem, nunca tivemos atrito, mas confiar de verdade
não dá.
— Achei estranho ele querer saber se tenho família na cidade.
— Também achei. — Fico pensativo. — Vou tentar descobrir o
motivo da pergunta.
— Devo me preocupar com ele?
— Jamais — respondo com segurança. — Franco tem amor a própria
vida.
Masha apenas assente e pega o seu vinho confiando na minha palavra.
Isso me agrada, é bom saber que tem plena confiança em mim.
Eu sou capaz de tudo por ela, meu inferno vermelho se transformou
em uma prioridade na minha vida.

Entro no meu escritório e encontro Dom já trabalhando. Ele ergue os


olhos quando nota a minha presença e eu não gosto nada da maneira
avaliativa que me encara.
— O que foi? — pergunto ao rodear minha mesa.
— Nada. — Ele volta a mexer nos papéis que tem em mãos.
— Você está me olhando estranho.
— Estou? — Ergue uma sobrancelha.
Odeio quando ele fica evasivo, Domênico sabe ser um pé na bunda
quando quer.
— Vamos lá, diga logo.
O desgraçado apenas me encara, fazendo a minha irritação crescer a
cada segundo do seu silêncio.
— Como está Masha?
Então é isso, ele certamente está sabendo que levei o inferno
vermelho para jantar.
— Está muito bem e consciente de que precisa obedecer às minhas
ordens sobre a sua segurança.
— Contou a ela sobre os russos?
— Precisei fazer isso, só assim ela sossega e me dá algum tempo de
paz.
— Fez bem, já tinha te falado para abrir o jogo com ela.
— Como sempre você é o dono da razão — digo sarcasticamente.
— Manhã ruim? — pergunta ao voltar a analisar os papéis a sua
frente.
— Domênico não seja um pau no meu cu logo cedo. — Ele sorri.
— Você que chegou todo arredio, eu estou apenas trabalhando.
— Não. Você está com essa cara de que tem uma infinidade de
perguntas a fazer e tá apenas me rodeando, fala logo, caralho! — Perco a
paciência. — Quem foi fofocar com você sobre meu jantar com Masha? —
Entro logo no assunto.
— Não é fofoca quando você está em um lugar público com ela e
sendo bem amistoso.
Eu vou matar Dom hoje, esse seu comportamento irônico está me
tirando do sério.
— Só para deixar claro, hoje estou sem paciência.
— E você tem paciência? — não respondo, apenas o encaro tentando
controlar meu desejo de voar no seu pescoço.
— Quero que fique atento a Franco, ele teve um comportamento
estranho com Masha. — Agora Dom muda de postura.
— Como assim comportamento estranho? — indaga curioso.
— Perguntou a Masha se ela tinha algum familiar na cidade, disse que
ela parecia com alguém que conhecia. Não gostei como ele a olhou, foi algo
bem fora do normal.
— Franco é um homem sensato, é o mais confiável do nosso clã.
— Ainda assim quero que fique de olho nele.
— Tudo bem, eu vou ficar atento. — Ele gira a caneta entre os dedos.
— Tem algo a mais para me falar?
Penso por alguns segundos sobre seu questionamento e fico tentado a
confessar que estou com Masha, mas desisto de me abrir, preciso falar com
ela antes, acho que será melhor que ela mesma revele a verdade. Dom tem
uma importância imensa para a minha ruiva e, apesar de morrer de ciúmes da
amizade deles, sei que meu amigo mataria e morreria por meu inferno
vermelho.
— Não! — digo convicto. — Vamos trabalhar, hoje temos muito que
fazer.
Encerro nossa conversa pessoal e assumo meu lado profissional. Os
problemas que estão nos rondando não podem esperar.

Caminho na direção da cozinha em busca de alguma alma viva dentro


desta casa. Pelo relatório que Leonel me passou, Masha veio direto da
faculdade para nossa casa e eles não tiveram nenhum tipo de imprevisto.
Há uma semana ela está seguindo rigidamente as ordens da sua
segurança e isso tem me deixado mais tranquilo. Durante esse tempo ando
atrás da nova liderança dos russos, para poder me preparar para um grande
ataque.
Espero em alguns dias ter todas as informações para poder confrontá-
los e mostrar de uma vez por todas que eu mando nesta cidade. Eles podem
até pensar que podem me atacar, mas nunca chegarão a desestruturar meu clã.
Somos fortes demais para nos deixarmos abalar por russos sujos.
A Cosa Nostra tem uma história dentro do submundo italiano que
esses merdas precisam respeitar.
Quando entro na cozinha encontro Masha com uma vasilha na mão
mexendo em algo sem parar. Seus cabelos estão aprisionados em um coque e
sua blusa preta tem farinha para todo lado.
Paro e me encosto no batente da porta e perco um tempo admirando a
mulher a minha frente. Eu não sei o que ela fez comigo, mas meu
pensamento é inteiramente nela em cada segundo do meu dia, nem mesmo
quando durmo essa pequena tentação ruiva me deixa em paz.
Parecendo sentir a minha presença ela ergue os olhos e me vê parado
na porta a admirando.
Dio Santo! Eu sou capaz de qualquer coisa por ela, Masha é tudo na
minha vida de merda e eu preciso achar um jeito de tê-la comigo. Como
posso escolher uma noiva se apenas desejo essa mulher?
Aperto os lábios para não sorrir do seu rosto com alguns pontos
cheios de farinha.
O que essa criatura está fazendo na cozinha novamente? Agora ela
deu para cozinhar e, o pior de tudo, é que a diaba tem uma mão perfeita para
comida.
— Está me vigiando? — pergunta com irritação.
— Só admirando suas peripécias. — Entro na cozinha e me aproximo
dela. — O que está aprontando hoje?
— Assisti uma receita na televisão, estou tentando ver se dá certo. —
Toco seu rosto, onde tem um pouco de farinha.
— E para fazer a receita precisa se sujar toda? — Ergo o dedo
mostrando que ela está péssima.
— Só me deixa, eu não sou experiente na cozinha como Mirta, mas
prometo que vai dar tudo certo, você vai comer no jantar. — Busco não fazer
uma careta com medo de ela perder a mão dessa vez.
— E falando na rabugenta da Mirta, onde ela está?
— Em uma ligação com sua filha.
— Certo. — Cruzo os braços e a observo remexer a massa na bacia.
— Você fica linda cozinhando, queria te foder sobre essa mesa, uma pena
que Mirta pode aparecer e Dom está para chegar.
— Não cansa de ser pervertido? — pergunta com as bochechas já
vermelhas.
— Claro que não. — Ignorando o bom senso eu me aproximo e
seguro sua cabeça. — Basta te ver que eu esqueço tudo o que é certo. —
Meus lábios afundam nos dela.
Que mulher gostosa, eu não consigo ficar na sua presença sem que eu
a prove um pouquinho do seu sabor.
Masha esquece a bacia e segura o meu pescoço, esmagando os lábios
nos meus, se abrindo para mim com volúpia.
Deliciosa. Como eu a desejo, ela é meu ponto fraco nesta vida
miserável.
— Chega! — digo ao me afastar. — Não posso receber Dom com a
porra de uma ereção por sua causa.
— Ia ser engraçado. — Seu sorriso sapeca é lindo. — Acho que ele ia
ficar escandalizado.
— Não digo escandalizado, mas ficaria possesso por eu ocultar que
estamos juntos. — Beijo-a mais uma vez. — Espero que sua receita dê certo.
— Você vai descobrir o sabor na hora do jantar.
— Que Deus me ajude e você consiga achar o ponto da receita —
digo incerto do que vou encontrar. — Preciso ir, nos vemos mais tarde.
— Você tem farinha no pescoço — comenta sorrindo.
— Caralho, Masha! — pego um pano e começo a me limpar.
Ela apenas ri ao ver minha contrariedade e eu, como um tolo, só sinto
vontade de voltar a beijá-la.
Sem conseguir resistir à tentação eu me aproximo dela, mas minha
intenção morre quando ouço a voz de Dom.
— O que está fazendo na cozinha, Masha? — Assim como eu, ele
está admirado por vê-la cozinhando.
— Experimentando uma receita, vocês irão comer mais tarde. — Ele
me olha claramente surpreso.
— Temos que experimentar? — pergunta preocupado.
— Claro que sim. — Ela o fita com um olhar assassino.
Dom recua e sai da cozinha completamente sem reação. Olho para
Masha e a vejo me observar com olhos serrados.
— Vou me reunir com Domênico, depois nos falamos. — Eu me
arrisco a beijá-la rapidamente antes de partir.
Que Deus ajude a ela conseguir fazer a tal receita como da outra vez.
Quando chego ao meu escritório, Dom está sentado e com o notebook
aberto. Ele ergue os olhos até os meus parecendo bem curioso.
— Estamos na cola de Vladislav, mas ele parece um fantasma, não
conseguimos muitas informações sobre o bastardo, Sergio continua buscando
o seu paradeiro.
Corro a mão sobre o rosto, estressado com toda essa merda.
— Preciso saber mais sobre esse filho da puta, ele necessita ser
neutralizado.
— Vamos encontrá-lo, só me dê mais tempo.
Confio em Dom, porém eu não sei se o tempo que ele pede é
apropriado.
— Só não demore muito a resolver esse problema.
— Eu não vou. — Ele me lança um olhar aguçado. — Você tem
farinha no pescoço. — Imediatamente minha mão vai para o local onde
Masha me tocou. — Por acaso estava ajudando Masha? — Ergue uma
sobrancelha interrogativa.
— Acho que você percebeu que ela é estabanada na cozinha.
— Percebi muita coisa. — Seus olhos voltam para o notebook e ele
fica em silêncio.
Merda! Eu vou ter que conversar com Masha, ao menos Dom precisa
saber sobre nós, não gosto de mentir para o meu amigo, sempre mantivemos
a nossa amizade fundamentada na verdade.
Olho apreensivo para Domênico, pelo seu semblante ele também está
temendo o que irá acontecer com nós dois.
— Eu espero que vocês gostem, eu fiz com todo amor. — Masha
corta a torta que preparou e coloca um generoso pedaço no meu prato. — Vi
essa receita na televisão, um chef americano famoso e lindo ensinou. — Ergo
uma sobrancelha não gostando nada da parte do cozinheiro ser lindo. — Pelo
cheiro está uma delícia.
— Obrigado. — Dom agradece e olha para o prato. — Está linda.
— E certamente gostosa. — Ela serve o próprio pedaço e senta feliz.
— Não vão comer? — Olha entre nós.
Dio Santo! Que essa torta esteja tão gostosa como a última refeição
que ela preparou, ou eu vou estar perdido em ter que comer tudo isso sem
fazer uma careta.
— Você não deveria experimentar primeiro? — Domênico a pergunta
com tranquilidade.
— Devia? — Ela olha para ele confusa e, enquanto os dois se
encaram, experimento logo a torta para acabar com o impasse.
Porra! Eu já enfrentei uma infinidade de perigo nesta vida, não vai ser
uma torta de frutas vermelhas que irá me matar.
Fecho a boca no garfo e me preparo para o pior, mas um sabor
amanteigado e deliciosamente cítrico se espalha pela minha língua.
Caralho! A diaba sabe cozinhar mesmo, mais uma vez me
surpreendeu.
— Está divino, Masha — digo ao pegar um pedaço gigante e comer.
— Jura? — Seus olhos azuis viram duas imensas órbitas reluzentes.
— Você vai ter que fazer isso mais vezes, eu adorei. — Agora o
covarde do Domênico experimenta e, assim como eu, se surpreende com o
sabor.
— Uau! Está divino. — Domênico ataca seu prato.
Masha também experimenta e fica toda feliz com o resultado da sua
experiência.
Assim fica difícil, além de gostosa, faz uma comida divina.
Como posso perder essa mulher?
Pago o meu gelato e saio da loja feliz enquanto sinto o frio do sorvete
se espalhar pela minha boca. Leonel está do outro lado da rua, como sempre
com os olhos atentos em mim.
Eu o ignoro e sigo para a loja de sapatos, quero uma sandália linda
que vi na vitrine quando estava acompanhada de Donatella.
— Masha. — Levo um susto quando ouço um homem chamar meu
nome.
Olho para trás e enrugo a testa quando um rapaz alto e corpulento se
aproxima de mim. Analiso seu rosto com atenção, notando que ele se parece
com alguém que conheço.
— Dio Santo! Não acredito que finalmente está na minha frente.
Não tenho tempo de reagir, o homem me abraça e faz meu sorvete
cair no chão. Fico sem reação, não estou entendendo nada do que está
acontecendo.
Em um segundo Leonel está ao nosso lado e puxa o rapaz pelo
pescoço em uma chave de braço.
— O que está fazendo? — pergunta ao homem o arrastando para trás.
As pessoas ao redor começam a observar a cena e eu fico com medo
da polícia aparecer. Sei que Paolo tem contatos em todas as instâncias do
poder, mas eu não quero causar problemas a ele.
— Calma, Leonel, ele não me feriu — digo nervosa.
— Ele não deveria ter encostado na senhorita.
— Masha... — o homem diz com a voz engasgada pelo aperto. — Sou
eu.
Paraliso quando o tom da sua voz me soa familiar, encaro seu rosto
que agora está avermelhado e meu coração acelera.
— Andrei? — pergunto com a respiração suspensa.
Ele apenas sorri e sinto meu mundo desabar.
Estou na frente do meu irmão, depois de mais de quatro anos ele está
de volta.
— Solte-o, Leonel, é o meu irmão. — Avanço sobre o meu segurança
e bato no seu braço. — Tire suas mãos dele.
Apesar da resistência ele solta Andrei e eu o encaro mapeando cada
parte do seu corpo.
Agora ele está mais forte, tem músculos por todo o seu corpo,
tatuagens coloridas se espalham por seus braços e uma barba espessa
modifica suas feições.
Ele é um homem feito, está diferente do jovem que fugiu de casa.
— Não acredito que é você — falo com a voz embargada.
— Eu te procurei tanto, cheguei a pensar que nunca te encontraria.
Não me movo quando ele me abraça, estou chocada demais para ter
alguma reação.
— Preciso que me perdoe por te deixar sozinha com ele, mas
necessitava encontrar um modo de nos tirar daquele inferno, só não podia te
levar porque não sabia o que ia encontrar na rua.
Fico muda, estou passando por um turbilhão de emoções, não sei
exatamente o que pensar.
— Ouviu o que disse? — Andrei segura o meu rosto. — Você me
perdoa?
— Ele me vendeu aos russos, fiquei uma semana sendo torturada
psicologicamente, passei frio e fome, até que eles decidiriam que iam me
estuprar. — Andrei se afasta e me olha horrorizado. — O chefe dos russos
me ofereceu a um italiano, ele me comprou e hoje vivo na casa dele.
— Não vai mais viver, porque eu vou cuidar de você. — Ele olha para
Leonel, que neste momento guarda o celular no bolso interno do terno. — Eu
estou te observando há algum tempo, sei da sua rotina e dos seguranças que
te rodeiam, você não precisa mais disso, vamos embora.
— Andrei, não é assim que funciona.
— Masha. — Ele volta a aproximar de mim. — Sei com quem está
morando e também o que ele faz, estamos no meio da rua, se corremos agora
o segurança não vai poder fazer muita coisa sem chamar atenção, é o nosso
momento. — Sua mão vai até a minha. — Vivi todos esses anos buscando
condições de cuidar de você, quando voltei para nossa cidade não encontrei
nossos pais, ele sumiu depois que a mamãe se suicidou.
Fico em choque com a sua revelação e lágrimas escorrem pelo meu
rosto por saber que ela não aguentou mais a própria vida. Meu pai soube
como destruir a nossa família, ele trouxe a dor para todos nós.
— E nossa irmã? Sabe dela? — Andrei solta um longo suspiro.
— Provavelmente ela foi parar em algum prostíbulo, nunca mais
soube dela depois que foi vendida. — Seco as lágrimas que não param de
cair. — Sobrou apenas nós e eu não vou abrir mão de ficarmos juntos.
Olho para seu rosto em meio às lágrimas, ele está tão diferente, virou
um homem lindo.
— Faz tempo que perdi a esperança de te reencontrar.
— Eu te procurei assim que tive um teto sobre minha cabeça — diz
ao acariciar meu rosto. — Meu sonho era levar vocês três para morar comigo,
infelizmente não fui capaz. — A tristeza na sua voz quebra meu coração.
Rodeio meus braços em seu corpo, dando um abraço. Tive tanta raiva
dele, por muito tempo evitei, até mesmo, pensar na sua figura. Só que agora,
vendo tanta dor nos seus olhos, eu percebo que ele sofreu tanto quanto eu.
— Acabaram? — Levo um susto quando identifico a voz de Paolo e
me afasto do meu irmão. — Quero saber exatamente que porra está
acontecendo. — O olhar dele é assustador, nunca o vi me encarar assim.
— O que faz aqui? — Consigo encontrar minha voz.
— Eu trabalho por perto e fui comunicado que um homem, que se diz
ser seu irmão, está com as mãos em você no meio da rua. — Paolo encara
Andrei com animosidade. — Os dois venham comigo agora mesmo. — Ele
me puxa pelo braço.
— Paolo. — Tento me soltar, mas sua mão parece mais uma garra.
— Calada. — Rosna. — Nicolo e Leonel, façam o ragazzo me
acompanhar.
Com passos largos ele desce a rua e entra em outra, não demora muito
estamos à frente de um imponente prédio. Paolo entra e segue para o
elevador, seu rosto é frio e seus olhos estão escuros.
Não me atrevo a falar nada, eu sei o quanto pode ser perigoso quando
está aborrecido.
Chegamos a um andar extremamente elegante, nunca vim ao seu
escritório, apenas sei que é aqui que lida com seus negócios lícitos. Tudo o
que precisa resolver sobre a máfia é feito apenas no La Fontaine.
— Não quero ser incomodado por ninguém — avisa à secretária que
olha para nós parecendo assustada.
Certamente ela não sabe o que o chefe faz, Paolo é bom em esconder
seu lado mafioso.
Quando entramos na sala, Domênico levanta e me encara com
preocupação.
— Nicolo e Leonel esperem lá fora — ordena ao me levar para uma
cadeira na frente da sua mesa. — Sente-se. — O seu pedido é um pouco sem
sentido quando ele praticamente me joga sobre a cadeira. — Você! — aponta
para meu irmão. — Sente ali. — Sinaliza para uma pequena poltrona longe
de mim.
Meus olhos encontram com os do meu irmão e eu vejo o quanto ele
está raivoso com Paolo.
— Vai ficar tudo bem — Dom fala ao afagar meu ombro.
— Vamos lá. — Paolo se recosta na cadeira e encara meu irmão. — O
que está fazendo aqui atrás da Masha?
— Vim buscar a minha irmã, eu procuro por ela já tem um longo
tempo. — As sobrancelhas de Paolo enrugam.
— Você sumiu da vida dela por anos e acha que vai aparecer do nada
e levá-la?
— Ela é minha irmã, eu tenho direito de cuidar dela.
— E por que não cuidou quando o seu pai a vendeu?
— Paolo... — Tento me meter na conversa, mas ele me silencia
apenas com seu olhar.
— Eu livrei a sua irmã de um estupro coletivo, ela vive muito bem
sob a minha proteção e, até que eu ache que ela possa partir, vai continuar a
viver na minha casa.
— Não foi isso o que acordamos. — Eu me rebelo. — Posso ir
embora a hora que eu quiser.
— Infelizmente não pode. — Ele me olha com raiva.
— Paolo, você não... — Paro de falar quando Dom me interrompe.
— Calma — pede com a sua voz tranquila. — Vocês podem esperar
na recepção enquanto converso com Paolo? — Olho para o meu irmão que
acena positivamente.
— Domênico, não temos nada a conversar — Paolo diz sem
paciência.
— Vá, Masha — pede com a voz baixa.
Obedeço ao Dom e ouço Paolo rosnar quando saímos da sala. Olho
para Andrei e vejo o quanto está tenso.
— Como consegue viver com esse homem? — pergunta quando nos
isolamos em um canto da recepção do escritório.
— Ele não é tão ruim, só me protege.
— Você é amante dele? — Olho para o chão, sem saber como encará-
lo. — Porra, Masha! — Andrei me abraça.
— Eu amo Paolo, ele me libertou dos russos, me deu uma vida digna,
ao seu lado eu encontrei a felicidade e paz. — Meu irmão me observa
chocado.
— Esse homem é perigoso, ele não é do seu mundo.
— Sei disso. — Inspiro fundo. — Eu já avisei que vou embora da
casa dele, mas estamos vivendo um momento especial, só quero aproveitar
um pouco, depois sigo minha vida. — Andrei toca meu rosto com ternura.
— Juro que não queria ter te deixado para trás, mas eu não
conseguiria te ver enfrentando tudo o que sofri.
— A culpa não é sua, nosso pai nos levou a passar por tanta dor. —
Andrei me abraça.
— Masha, venha aqui. — A voz de Domênico me faz sair dos braços
do meu irmão.
Sigo novamente para o escritório e encontro Paolo ainda mais sisudo
que o normal. Ele fita meu irmão com raiva, pelo pouco que o conheço seu
desejo é matá-lo.
— Não precisa sentar — diz ao meu irmão. — Masha não vai embora
com você, mas, se ela quiser, poderá encontrá-lo na minha casa, ou em outro
lugar na companhia do seu segurança particular.
— Você não pode impedi-la de partir. — Andrei faz a loucura de
enfrentá-lo.
— Eu posso e vou impedir. — Paolo é intransigente.
— Paolo, pare — peço.
— Você é minha e acabou! — diz ao me encarar raivoso. —
Domênico vá informar a ele como deve entrar em contato para poder
encontrar a irmã.
Dom acena e faz sinal para o meu irmão sair da sala. Dou um último
olhar para Andrei, antes que ele suma pela porta.
— Por que fez isso? — Tento me segurar para não gritar.
— Porque eu não sei as intenções dele e não vou arriscar que corra
riscos. — Olho para ele confusa.
— Acha que Andrei pode me causar mal?
— Não sei, mas no que depender de mim ninguém encosta em você.
— Ele rodeia a mesa e se aproxima. — Entendo como se sente feliz em saber
que seu irmão está vivo, mas precisamos ter calma. — Sua mão toca meu
rosto. — Nunca vou deixar que a firam. — Seguro seus braços quando ele
roça os lábios nos meus. — Se ele for confiável eu não vou impedir o contato
de vocês, mas não vou te deixar partir, você é minha. — Não tenho tempo de
falar nada, pois Paolo se afasta no exato momento que a porta abre e
Domênico entra na sala.
Sou grata por sua preocupação, por ele zelar por mim, mas eu preciso
ter uma vida e, se meu irmão for de confiança, irei ficar com ele e sair de vez
do caminho do Paolo.
Como bem disse Andrei ele não é do meu mundo, nunca poderemos
ficar juntos oficialmente e eu me nego a ser sua amante. Irei aproveitar cada
segundo ao seu lado, mas no momento que eu partir, não irei olhar para trás,
ainda que eu deixe um pedaço do meu coração em suas mãos.
Olho para Domênico sentindo vontade de voar sobre ele e quebrar seu
pescoço. Eu odeio o seu bom senso, equilíbrio e jeito frio.
Comigo tudo tem que ser visceral, não perco meu tempo tomando
atitudes ponderadas.
— Relaxa — diz quando Masha sai da minha sala. — Vamos ter tudo
sob controle em alguns dias, não precisa me olhar assim. — Ele pega o
celular. — Amaro, siga de perto o homem que está descendo com Masha.
Quero saber cada detalhe sobre ele, não me decepcione — exige ao seu
homem de confiança e encerra a ligação.
— Não confio nesse merda — digo irritado.
— Vamos descobrir em breve se devemos ou não confiar nele. —
Domênico guarda o celular com calma. — Agora me diga exatamente o que
está acontecendo entre você e Masha. — Ele cruza os braços.
— Está acontecendo que ela fode minha cabeça a cada segundo. —
Dom não sai da sua posição e me encara com sua expressão fria, que assusta
a muitos, menos a mim. — Vai tomar no cu, Domênico — esbravejo e
começo a mexer em uns papéis dentro de uma pasta.
Tento fingir que não ligo para ele parecendo uma estátua parado no
meio da minha sala, mas eu sou um fodido que não consigo me controlar.
— O certo era eu acertar um tiro na sua cara e me livrar de você,
porque nunca vi uma pessoa tão irritante. — Passo a mão pelo cabelo, puto.
Dom sabe me irritar apenas com esse seu jeito apático. — Estamos juntos,
desde o casamento do príncipe o clima esquentou entre nós, eu quero aquela
ruiva com todas as minhas forças.
Ele balança a cabeça pensativo, parecendo analisar calmamente a
informação.
— É um longo tempo desde o casamento do príncipe, se não me
engano mais de dois meses.
— Não tenho noção do tempo, apenas sei que ela está acabando
comigo.
— Eu realmente não esperava que me revelasse esse fato, você tem
seu tempo, mas a Masha foi uma decepção.
— Dom, é tudo novidade para ela.
— Uma novidade que ela não confiou em me contar quando sempre
afirma que sou seu amigo. — Porra! Só me faltava ele agora ficar todo
delicado.
— Presta atenção... — Sou interrompido por uma batida na porta. —
O que foi?
— Desculpa, senhor Torcasio, mas tem uma pessoa querendo falar
urgentemente com o senhor, ele disse se chamar Bianco Rossi. — Agora
minha secretária tem minha total atenção.
— Mande-o entrar imediatamente.
Ela se afasta e meus olhos vão para Domênico. Bianco Rossi é um
advogado que cuida de muitos casos do nosso clã, nunca tive problemas com
ele.
— Boa tarde, senhores. — Ele nos saúda quando entra. — Desculpa
vir até este escritório, sei que não é local devido para certos assuntos, mas o
que descobri hoje não tinha como esperar e eu não podia falar para qualquer
pessoa, até mesmo fiquei ressabiado em conversar com Giorgio.
A maneira aflita com que o homem desanda a falar já deixa claro que
eu estou prestes a descobrir uma bomba.
— Apenas fale o que te trouxe aqui — peço já me preparando para o
pior.
— Um dos nossos membros está roubando o senhor. — Sinto todo
meu sangue começar a correr descontroladamente.
— Como é? — pergunto sem acreditar no que acabei de ouvir.
— Sente-se, Bianco — Domênico ordena e aponta para a cadeira a
minha frente. — Conte em detalhes sobre isso. — Nós dois trocamos um
rápido olhar.
— Bem... — Ele folga um pouco a gravata. — Eu ando saindo com
uma pessoa e o pai dela tem um pequeno café no subúrbio, nós oferecemos
proteção a eles.
— Vá logo ao ponto que te trouxe aqui — peço irritado.
— Ciro, filho de Giuseppe, é o responsável por recolher o dinheiro da
proteção dos comerciantes naquela localidade.
— E? — Dom o estimula a continuar.
— Ele aumentou o valor do pagamento e pega todo esse dinheiro
extra há mais de seis meses. Fiquei sabendo sem querer, quando ouvi o pai
dela pedir para separar o dinheiro que teria que nos pagar. Eu estranhei o
preço e quando questionei fiquei sabendo que havia aumentado o valor de
todos os comerciantes no bairro por ordem direta do chefe. — Bianco me
encara. — Mas eu sei que não houve aumento recente por sua parte.
Encaro Domênico perplexo, não acredito que o bundão do Ciro teve
essa coragem e inteligência.
— Anote aqui o nome do estabelecimento do pai da sua namorada. —
Dom estende um papel para ele. — Vou verificar isso agora mesmo.
Bianco anota tudo e entrega ao meu Consigliere, que guarda o papel
no bolso.
— A sua fidelidade à Famiglia não será esquecida, vamos verificar
tudo e se for comprovado o roubo, tomaremos as devidas providências.
— Se puder não revelar que fui eu o denunciante, ficarei grato,
Giuseppe é um péssimo homem.
— Ninguém saberá, fique tranquilo. — Dou a minha palavra e aperto
a sua mão.
Quando ele vai embora encaro Domênico que tem uma expressão
carregada.
— Vou verificar isso imediatamente. — Ele pega seu terno. — Ligo
para você se tudo for verdade.
— Dom... — Faço uma pausa antes de falar. — Se for verdade, Ciro
vai sangrar como um porco antes que eu o mate e envie o corpo para seu pai.
— Se ele roubou, terá uma morte à altura. — Com essas palavras ele
vai para a sua missão.
Que dia infeliz. Se já não me bastasse o filho da puta do irmão da
Masha aparecer, agora tenho uma suspeita de roubo dos meus subordinados.
Puta merda!

— Estou ouvindo — digo assim que atendo Dom no segundo toque.


— Passei em dez estabelecimentos que cuidamos e todos me
passaram um valor bem mais alto do que o certo.
— Filho da puta! — Já vejo tudo vermelho a minha frente. — Vou
atrás dele agora mesmo.
— Já estou indo para o escritório.
— Vá para o do La Fontaine. — Pego meu terno. — Não podemos
discutir certos assuntos aqui.
— Certo. — Ele encerra a ligação.
— Nicolo. — Olho para meu soldado. — Escolha três homens da
nossa equipe e vá em busca de Ciro, levo-o para o galpão. Pegue também os
homens de confiança dele. — Os desgraçados são os responsáveis por
recolherem esse dinheiro, deveriam ter reportado a mim a atitude traidora do
chefe.
— Farei isso imediatamente — O seu rosto está taciturno.
— Canse-os bastante, não deixem que durmam, bebam água ou
comam. — Amanhã cedo estarei lá, quero que ele esteja bem amedrontado.
— Ele estará. — Com um discreto sorriso sai da minha sala, seguido
por mim.
— Não voltarei mais hoje, se acontecer alguma emergência ligue —
aviso à minha secretária, que apenas acena.
Quando entro no elevador, estou sentindo meu corpo pressionado pela
adrenalina das últimas horas. Eu queria um dia de paz, mas no mundo que
vivo isso é algo impossível.

Entro em casa já tarde da noite, tive uma reunião longa com


Domênico e Giorgio. Um caso de roubo dentro da máfia é algo sério e punido
com morte.
Não posso admitir que um subordinado roube a mim e a Famiglia,
isso é algo inaceitável.
Como não encontro Masha na sala, eu sigo para o andar superior.
Certamente a essa hora ela já jantou e deve estar me esperando no quarto.
Passamos a dormir juntos e isso anda mexendo com minha cabeça,
nunca quis passar tanto tempo com uma mulher como desejo ficar com ela.
Eu não sei o que está acontecendo comigo, apenas me sinto
completamente dependente da presença dela e essa merda me assusta pra
caralho.
Abro a porta do meu quarto e não a encontro, sinto que terei mais
problemas nas minhas costas.
Que vida fodida.
Vou para o banheiro antes de descobrir porque não está no nosso
quarto. É bom acalmar meu humor sombrio, antes de conversar com ela.
Quando tomo banho e coloco a calça do pijama, vou atrás do meu
inferno vermelho.
Sei que está aborrecida, mas ela vai ter que entender que não pode ir
embora. Eu não posso ficar sem ela, preciso tanto da sua presença que tenho
medo de pensar nos sentimentos que ela anda despertando em mim.
Abro a porta do seu quarto e a encontro com o celular na mão. Não
faço questão de esconder minha entrada, bato a porta fazendo com que ela me
encare e, pelo seu nariz vermelho, sei que chorou.
Odeio vê-la triste.
— Por que chorou? — pergunto ao me aproximar da cama.
Masha não responde, apenas esfrega a palma da mão sobre o nariz.
Eu não me envolvo com mulheres por muito tempo justamente porque
não tenho um pingo de tato, quando elas estão frágeis e choram.
Sentimentalismo não faz parte da minha realidade, porém eu preciso ser
diferente com ela. O meu inferno vermelho não é qualquer mulher, ela é
única, ninguém se compara a ela.
— Você devia estar no nosso quarto, combinamos que dormiríamos
sempre juntos.
— Hoje você não é minha pessoa favorita. — Ela coloca o celular na
mesa de cabeceira. — Meu dia não foi bom, melhor ir para seu quarto e
conversamos depois.
— Acha mesmo que vai dormir longe de mim? — Antes que ela
possa dizer qualquer coisa eu a ergo nos braços e começo a caminhar para a
saída.
— Pode me largar, estou com raiva de você.
— Está com raiva por eu te proteger? — pergunto ao sair do seu
quarto. — Por que não quero que vá embora? — Deito-a na minha cama. —
Se tiver outra opção apenas me diga.
Os seus olhos azuis repleto de lágrimas me encaram.
— Você é egoísta. — Fico parado a encarando. — Em breve estará
com casamento marcado e eu serei apenas uma amante inconveniente. —
Masha seca uma lágrima que escorre por seu rosto. — Não quero mais ouvir
que sou sua amante, já me basta ter sido vendida como se eu fosse um pedaço
de carne. — Inspiro fundo, tentando me controlar.
Estou em péssimo dia e qualquer movimento falso eu posso iniciar
uma briga e isso é a última coisa que quero neste momento.
— Estou com um caso grave entre meus homens — digo ao sentar ao
seu lado. — Estive até agora em uma reunião com Domênico e Giorgio. —
Ajeito um travesseiro nas costas e cruzo os braços. — Terei um grande
problema quando me acertar com as pessoas que me roubaram. — Sou
sincero. — Podemos ficar em suspenso até eu resolver isso? — Olho para ela
e vejo Masha me observar atenta. — Prometo não impedir de se encontrar
com seu irmão, ele pode vir aqui para te ver quando quiser, mas você não vai
embora até conversarmos sobre algumas coisas.
— Quem te roubou? — pergunta cautelosamente.
— Você não conhece, mas ele terá o que merece e não quero falar
isso contigo. — Enrolo uma mecha do seu cabelo na mão. — Sei que você
tem um passado fodido, que precisa lidar com meu humor instável e a minha
vida rodeada de morte e maldades. — Deixo minha mão cair. — Eu
realmente sou egoísta, deveria te deixar ir. — Uma fúria intensa começa a me
consumir, estou com raiva de mim, dela por me enlouquecer apenas com sua
presença e, por eu ter tanto peso sobre as minhas costas.
Se ao menos eu fosse um simples soldado, poderia torná-la minha
sem ter outras pessoas se opondo.
— Só que eu não quero que vá, não posso deixar que parta, ao menos
ainda. — Seguro sua cabeça e roço meus lábios nos seus. — Como posso
libertar você se pertence a mim? — Coloco sua mão contra meu peito.
Avanço sobre a sua boca querendo um minuto de paz no turbilhão de
problemas que estou passando. Amanhã tenho um homem para torturar e
mostrar que a pior escolha que fez foi me trair, mas até a minha fera ser
liberta, eu preciso dela, apenas Masha tem o controle sobre minhas sombras,
ela é a luz que impende que eu mergulhe definitivamente na escuridão.

Deixo meus lábios aprisionar os seus, abafando o seu gemido quando


todo o seu corpo se sacode sob o meu. Encaro seu rosto corado e vou me
movimentando bem fundo no seu canal.
Ela corre as mãos por minhas costas e traça o polegar em uma cicatriz
que tenho na lateral do corpo, perto da cintura.
Essa eu ganhei em uma briga com facas, quando fui atrás de um
grupo de servos que roubaram algumas de nossas drogas quando meu pai
ainda era vivo.
Não sei o motivo dela sempre tocar essa região, mas tenho percebido
que se não afunda suas unhas na minha bunda, ela toca essa maldita cicatriz.
Eu tenho outras ao longo do corpo; todo homem da máfia que é
treinado para matar tem e, cada uma delas, representa um momento de dor.
Na verdade, elas são um alerta que não devemos ser fracos em nenhuma
circunstância, precisamos sempre estar atentos aos perigos que nos rodeiam.
Encaro seus olhos tomados pelo desejo e percebo que eu não fui
atento ao perigo que a diaba vermelha representa. Nunca imaginei que um dia
eu me sentiria tão conectado com uma mulher ao ponto de não me imaginar
sem ela.
Pensar em Masha partindo é muito pior do que todas as torturas que já
passei. Talvez nunca seja capaz de classificar o sentimento que sinto por ela,
apenas posso afirmar que ao seu lado eu apenas sou Paolo, um homem que se
sente tranquilo por estar na presença da mulher que deseja.
Beijo seu queixo quando enterro todo meu pau dentro dela e me
derramo na sua boceta. Mais uma vez tivemos um sexo incrível, nada pode se
comparar a tê-la me recebendo.
Volto a beijar a sua boca, em um agradecimento silencioso do quanto
ela me satisfaz. Quando interrompo o beijo me afasto lentamente e deito ao
seu lado.
Ficamos em silêncio apenas observando o teto, enquanto nossas
respirações se acalmam. Acabo me sentindo incomodado com a falta de
reação dela e decido iniciar uma conversa, que certamente não será
agradável.
— Dom sabe sobre nós — digo de uma só vez e, como imaginei,
Masha se agita.
— Como assim? Você contou? — Agora ela tem o cotovelo apoiado
no colchão e me encara atenta.
— Ele já estava desconfiado e depois da minha reação furiosa com a
aparição do seu irmão, entendeu que estamos juntos.
— Ai, Senhor! — Ela se joga contra o travesseiro. — Dom vai me
odiar por esconder isso dele.
— Bem... se eu afirmar que ele está tranquilo com essa novidade
estarei mentindo. — Sou sincero. — Ele sabe que eu não contaria o que está
acontecendo, já você... — Deixo em aberto minha fala.
— Você não tinha o direito de contar, eu que precisava fazer isso. —
Agora sou eu que me apoio no colchão para poder olhá-la de perto.
— Masha eu não tinha para onde fugir, Domênico é perspicaz demais
e eu não minto para ele.
— Sei disso, ainda assim queria ter sido eu a revelar a verdade. —
Apoio a mão na sua barriga.
— Ele vai superar. — Escondo um sorriso. — Aquele desgraçado não
consegue ficar com raiva de você. — Agora ela sorri.
— Será que não? Dom é um dos poucos amigos que tenho. — Seguro
o ciúme que começa a me corroer.
— Sei do que falo.
Para encerrar a conversa eu a beijo e deixo para trás todos os
problemas que nos rodeiam, eu não quero pensar em nada agora. Ao menos
quando estou ao lado do inferno vermelho mereço um pouco de paz.
Quando acordo Paolo já não está no quarto, estico o corpo e pulo da
cama. Como faço todos os dias sigo para o meu próprio espaço e depois da
minha higiene matinal eu me arrumo para a aula.
No instante que desço encontro Paolo conversando com Nicolo, os
dois me lançam um olhar estranho e param de falar.
— Bom dia. — Cumprimento ambos.
— Bom dia, senhorita. — Nicolo acena e se afasta para que eu possa
falar com o seu chefe.
— Mais tarde precisamos conversar — Paolo diz com o rosto tenso.
— Chegarei um pouco mais tarde, vou fazer umas pesquisas na
faculdade após a aula. — Ele apenas faz um gesto com a cabeça. —
Domênico já chegou?
— Deve estar aqui em minutos. — Paolo sabe exatamente o porquê
quero vê-lo.
Dom representa muito para nós dois, a última coisa que queremos é
magoá-lo de alguma maneira.
— Vou conversar com Mirta até que ele chegue.
Deixo a sala e vou para a cozinha, melhor não atrapalhar a conversa
deles, eu sei que estão enfrentando um grande problema. Quando chego lá
encontro Mirta junto das suas assistentes terminando de fazer o café.
— Bom dia. — Anuncio minha presença.
— Bom dia, bambina.
Desde que cheguei aqui Mirta é como uma mãe, eu me sinto
extremamente querida por ela.
— O clima está tenso nesta casa — digo tentando puxar assunto.
— Nem me fale, o chefe está agitado e seus homens também.
Pego uma uva e fico pensativa, não sei como eu vou lidar com
Domênico, não quero que ele fique magoado comigo.
— Mirta, sirva o café, Domênico já chegou. — Paolo me faz dar um
pulo com o susto que levo com sua voz firme. — Eu preciso conversar algo
em particular com ele, não quero ninguém me interrompendo.
— Tudo bem, senhor, mandarei servir tudo em segundos.
— Vamos para a mesa, Masha.
Sem esperar por mim ele some pelo corredor com a expressão de
poucos amigos.
— Hoje ele está impossível, tentei sondar Nicolo, mas ele não quis
me contar o que houve.
— Não vai demorar muito para você saber — digo enigmática e vou
ao encontro dos dois homens que têm todo o meu coração.
Ao chegar à mesa do café encontro Dom sentado de maneira ereta,
enquanto Paolo fala em um canto ao celular. Nossos olhos se encontram e eu
vejo mágoa estampada neles.
Aproveito que Paolo está distraído e me aproximo. Aperto seus
ombros e me debruço com calma sobre ele para alcançar seu ouvido, não
quero lhe causar nenhum desconforto com o meu toque.
— Não fique magoado comigo, eu só queria realizar um sonho antes
de partir e achei certo não contar a ninguém, eu te amo, Dom, você é meu
grande amigo. — Imediatamente ele me fita, surpreso com a minha
declaração.
Depois desses mais de dois anos que nos conhecemos, eu nunca fui
tão explícita sobre o quanto gosto dele. Sei que é uma pessoa reservada com
relação a sentimentos. Para esses homens idiotas da máfia mostrar o que
sente é fraqueza.
Mirta aparece com sua assistente e começa a servir a mesa, quando
tudo está organizado, Paolo se junta a nós dois. Um clima tenso se instala e
eu não sei por onde começar a falar.
Troco um olhar com Domênico e vejo o quanto está preocupado. Por
mais que ele possa sentir mágoa, por eu ter escondido meu relacionamento
com Paolo, ele não consegue ter raiva de mim.
— Sei que deveria ter contado tudo o que estava acontecendo, mas eu
não imaginei que as coisas fugiriam do controle. A minha intenção era apenas
viver tudo o que sempre quis com Paolo, antes de ir embora e começar uma
nova vida — digo mirando diretamente os olhos do meu amigo.
— Como é? — Paolo se intromete me olhando com indignação.
— Não faço parte da sua vida — digo encarando seus olhos. — Ficar
aqui atrapalhando seus planos futuros não irá me fazer bem, ir embora é a
atitude correta a tomar.
— Atrapalhar o que exatamente? — pergunta irritado.
— Paolo, nós já conversamos sobre isso. — Encaro Dom. — Estou
realmente arrependida por não ter contado tudo a você.
— Começaram a ficar juntos em Vichi — diz diretamente a mim. —
Já podia ter encontrado um momento de revelar a verdade.
— Isso não é da sua conta — Paolo responde na minha frente.
— Tudo começou no dia da festa de casamento. — Ele acena
compreendendo a situação. — Não pensei que as coisas evoluiriam tanto.
— Vocês não me devem satisfação — fala sem esconder o quanto
suas palavras são falsas.
— Devemos e sabe disso — dessa vez é Paolo a responder. — Não
podemos voltar atrás, então apenas quero que saiba que nós lamentamos.
Masha nunca quis abrir nada a ninguém e eu aceitei a sua vontade. — Olho
para ele surpresa. — Agora temos problemas maiores, precisamos resolver a
situação inusitada que caiu sobre nós.
— Já sabemos o que fazer com esse problema. — Eles trocam um
olhar estranho. — Apenas precisamos executar nossa obrigação.
— Faremos isso com muito prazer. — O sorriso que se desenha nos
lábios de Paolo não me agrada.
— Vocês estão me assustando — digo ao olhar para ambos.
— Fique tranquila, ragazza. — Paolo bebe um pouco de café. — Não
faremos nada além do normal para a ocasião que estamos passando. — Ele
morde um pedaço de pão.
— Não sei se o momento é propício, mas preciso dizer algo. — Paolo
ergue uma sobrancelha.
— Diga logo — ordena.
— Andrei quer me ver. — Imediatamente ele trinca os dentes,
claramente descontente. — Quero conversar com meu irmão, temos muita
coisa a esclarecer. — Já me imponho antes que ele surte.
— Acho que um encontro aqui não será um empecilho. — Dom entra
na conversa. — Leonel estará a postos, assim como os outros homens.
Como eu o amo, mesmo estando magoado comigo, ele não deixa de
me defender.
— Faça como quiser. — Paolo levanta. — Só não o quero presente
quando eu chegar e avise que daqui você não sai.
Ele se vira e vai embora, me deixando completamente irritada.
— Eu odeio seu chefe. — Dom bebe um pouco de suco.
— Odeia tanto que está transando com ele. — Arregalo os olhos, não
esperava ouvir algo assim dele.
— Esse tipo de ironia não combina com nossa relação. — Sou dura na
minha fala e ele me encara culpado.
— Não quis te ofender, mas não posso fingir que estou bem com você
me escondendo essa verdade. — Eu me sinto culpada. — Paolo vive no
mundo dele, não fala tudo o que acontece, mas você? — Dom suspira fundo.
— Deixa pra lá Masha, a vida é sua.
— Apenas pare — peço ao esticar a minha mão e apoiar sobre a sua.
— Nada disso foi intencional.
Domênico me encara e eu o vejo tentar se controlar. Foram poucas as
vezes que eu o vi lutando tanto para não explodir.
— Vamos esquecer isso. — Segura a minha mão e beija. — A sua
situação com Paolo não é fácil, então se prepare para tudo.
— O que está querendo dizer? — pergunto intrigada.
— Nada demais. — Ele levanta. — Mas pelo que o conheço, está
disposto a não permitir a sua partida, então saiba que se quiser realmente ir
embora, terá que encontrar uma maneira de convencê-lo a te deixar partir.
Dom me encara por alguns segundos, até que acena e vai embora.
Inspiro fundo sentindo a tensão se espalhar pelo meu corpo. Ao mesmo
tempo que Paolo foi a minha salvação, também virou minha maldição.
O que vou fazer com esse homem? Eu amo mais que tudo, porém sei
que ele nunca poderá ser meu.
Por que a minha vida não pode ser simples ao menos uma vez na
vida?

Ando pela sala ansiosa, Andrei avisou que chegaria no final da tarde.
Como Domênico me afirmou que Paolo não chegará tão cedo, eu estou
tranquila que terei um tempo para conversar com meu irmão.
— Senhorita Masha, sua visita chegou. — Levo um susto quando
Leonel quebra meus pensamentos.
Olho através das costas dele e vejo meu irmão para me encarando
com intensidade.
— Obrigada, Leonel, pode sair. — Ele prontamente me obedece e
fico sozinha com Andrei.
— Não sei como aguenta ficar vigiada dentro desta prisão. — Ele se
aproxima e beija meu rosto. — Como está?
— Muito bem. — Olho atentamente seu rosto.
Como ele está bonito, a mamãe ficaria tão feliz em vê-lo um homem
feito. Sinto meu coração esmagar quando penso que ela já não está aqui, toda
a minha família foi destruída.
— Vamos nos sentar. — Puxo sua mão. — Quero que me conte um
pouco sobre você. — Peço quando nos acomodamos juntos no sofá.
— Não tem muito que falar. — Ele fica pensativo. — Quando saí de
casa não tinha para onde ir, vivi um bom tempo vagando pelas ruas, consegui
alguns empregos esporádicos, passei a ficar em algumas pensões, quando não
dava para pagar voltava às ruas. Até que um dia fui parar em Trullo [26] e
conheci um senhor que era mecânico. Passei a trabalhar com ele e formamos
uma boa amizade. Angelo era um homem incrível e me ensinou tudo sobre
mecânica. Ele já não tinha família, era um lobo solitário como costumava
dizer.
— Parecia ser uma pessoa especial.
— Era sim — Andrei suspira triste. — Angelo faleceu tem oito
meses, ele me deixou tudo o que tinha. — Fico com a respiração em
suspenso.
— Eu lamento, Andrei. — Seguro sua mão.
— Também lamento, ele me faz falta, era meu único amigo de
verdade. — Sua mão afaga a minha. — Depois que ele se foi eu me empenhei
ainda mais em te achar, até que uma vez te vi ao redor da faculdade com uma
amiga. Naquela hora eu sabia que era você e passei a sempre ir te observar.
Um dia eu fui atrás de você em um restaurante e te vi conversando com um
rapaz, tive medo de me aproximar, mas não desisti de um contato.
A minha mente volta ao dia que senti alguém me observando quando
almoçava com Leo. Naquele dia jamais imaginei que meu irmão estava por
perto.
— Era você que parou de moto em um restaurante quando eu estava
sentada no lado externo? — Ele enruga testa.
— Nessa vez não fui eu. — Agora eu fico preocupada.
— Não? — pergunto um pouco surpresa.
— Sempre tentei ser discreto quando te observava. — O meu coração
acelera, porque se não foi ele certamente os russos estão por trás disso.
— Esquece isso, o importante é que está aqui. — Toco seu rosto. —
Estou feliz em tê-lo de volta à minha vida.
— Também estou, porém me sinto preocupado por viver aqui.
— Não tem com que se preocupar, Andrei.
— Tenho quando você está na casa de Paolo Torcasio, o líder da Cosa
Nostra em Roma. — Empertigo o corpo. — Angelo sempre pagou proteção
para ele, sei o que faz e ainda pago o que pede.
— Paolo nunca foi mau para mim, ele me salvou do pior.
— Eu não sabia dessa informação antes de me contar, sou grato a ele,
mas isso não impede de te tirar dele. — Andrei toca meu rosto. — Somos
uma família, eu enfrentei todos os desafios pensando em você, na mamãe e
na nossa irmã. Queria vocês comigo, mas não consegui salvar todas. — Seus
olhos ficam nublados pela tristeza. — Não vou falhar contigo, ao menos uma
de vocês eu vou cuidar. — Fecho os olhos quando beija minha testa. —
Vamos embora, Masha, essa vida não te pertence, o papai vivia entre
criminosos e veja o que ele nos causou?
Meu coração fica em conflito, sei que ele está certo, eu não pertenço
ao mundo de Paolo, mas ao mesmo tempo pensar em nunca mais vê-lo me
causa uma tristeza profunda.
Como será quando eu acordar e saber que não vou encontrá-lo na
mesa do café da manhã? Que não vou ouvi-lo reclamando, resmungando
pelos cantos e me deixando louca?
— Não posso ir agora, Paolo está com problemas e me pediu para
esperar até que resolva tudo.
— Você não consegue enxergar que ele está te manipulando?
— Andrei, pode apostar que ele não está. Eu quero ficar mais um
pouco. — Sou sincera. — Amo o Paolo, ele representa muito para mim, vou
aproveitar cada segundo ao seu lado e, quando chegar o momento de partir,
eu vou contigo. — Meu irmão não esconde o descontentamento com a minha
posição.
— Estou te esperando, agora posso cuidar de você. — Ele me abraça
e eu começo a sentir minha vida entrando nos eixos.
Encontrá-lo não estava nos meus planos, mas agora que ele está aqui e
que eu sei tudo o que passou, eu entendo que nós dois somos sobreviventes
de todas as transgressões do meu pai.
— Ainda viveremos muitas coisas juntos, eu prometo. — Encosto
minha testa a dele, feliz por ter alguém da minha família com quem contar.
— Paolo, eu faço o que você quiser, mas não o mate. — Giuseppe
está parecendo um tomate de tão vermelho. — Posso dar um corretivo nele
diante de todo o nosso Conselho, acho que cortar sua mão será uma maneira
justa de lembrá-lo para sempre que não deve roubar a Famiglia.
É tão prazeroso vê-lo implorar pela vida do seu único filho homem.
Sei que para ele está sendo uma vergonha imensa o que Ciro fez e isso me
deixa tão feliz.
— Apenas uma mão por seis meses dele me roubando? — Ergo o
cigarro até meus lábios e puxo um trago profundo, expiro lentamente a
fumaça, exibindo um discreto sorriso. — É muito pouco, eu quero cortar o
pescoço dele. — Ele seca o suor que se formou na sua cabeça calva.
— Eu pago tudo o que ele te roubou, só preserve a vida do meu filho.
— Na minha administração quem é ladrão morre. — Dou um soco na
mesa. — Se quiser pode ir dar adeus ao seu filho, vou fazer isso em
consideração a sua longa amizade com meu pai. — Sou irônico, porque estou
pouco me fodendo para ele.
— Por favor, não faça isso.
— Tire-o daqui Nicolo, basta desse merda se humilhando por um
ladrão filho da puta.
— Paolo eu imploro, Ciro é meu único filho homem, preciso dele.
— Educou mal seu filho, ele é pior que você. — Cuspo essas palavras
deixando claro o quanto o odeio. — Você tem sorte de não o matar também,
só não faço isso porque não descobrirmos nenhuma ligação sua com estes
roubos, mas saiba que eu vou fazer uma investigação minuciosa e se eu
descobrir, você será o próximo a ir para o inferno. — Faço sinal para Nicolo
tirá-lo da minha frente e o desgraçado sai gritando, achando que vai me
convencer a ser piedoso.
Como se eu soubesse o que é piedade. Deprimente o comportamento
dele.
— Nunca imaginei presenciar essa cena — Domênico diz perplexo.
— Giuseppe sempre foi tão acima de todos, vir implorar pelo filho ladrão me
surpreendeu.
— Foda-se ele! Se fosse eu ou você o ladrão, ele estava comendo
nosso cu agora mesmo. — Amasso o cigarro. — Avise a Giorgio para lidar
com qualquer um dos tenentes que possa querer falar comigo sobre essa
situação, irei apenas me manifestar quando eu entregar o corpo de Ciro.
— Que horas irá ao galpão? — Assim como eu, Domênico está
ansioso para começar a brincadeira.
— Apenas no final do dia, Nicolo vai até lá mais tarde preparar o
nosso caminho.
— O dia será longo. — Dom bufa. — Preciso resolver alguns
problemas na rua, ligarei para Giorgio no meio do caminho.
— Vai direto para o galpão?
— Volto a tempo para irmos juntos.
— Certo.
Quando Domênico vai embora eu ligo o computador, preciso de uma
distração ou quem vai morrer sou eu, mas no meu caso será de ansiedade,
porque eu estou louco para começar o meu embate com Ciro.
Depois de um dia de trabalho intenso eu estou no galpão, pronto para
começar a diversão. Arregaço as mangas da minha camisa, ansioso para
proporcionar a Ciro grandes emoções antes do seu último suspiro.
Entro no espaço vazio e vejo Ciro e seus três homens de confiança
enfileirados sentados em cadeiras paralelas. Fecho e abro as mãos, louco para
surrar o desgraçado.
Uma pena ser ele, eu queria o seu pai na minha frente, mas será um
bom recado para Giuseppe, ele saberá que deve se curvar a mim.
— Como vai Ciro? — pergunto ao me aproximar. — Você teve as
boas-vindas dos meus homens? — Sorrio sarcasticamente.
— Paolo, tudo não passa de um mal-entendido. — Ele me olha
apavorado.
— Não diga? — Eu paro bem na sua frente. — Então todos os
comerciantes que Domênico interrogou estão mentindo?
— Estão. — Ele se atreve a tentar me ludibriar. — Eu não cobrei nada
além do combinado.
— Mentiroso. — Soco o seu rosto. — Meus homens foram em cada
estabelecimento do bairro que era responsável e todos afirmaram que você os
cobrou a mais.
— Posso explicar. — Ele praticamente implora e recebe outro soco
que cai direto no seu olho.
— Não seu filho da puta, você não pode explicar. — Acerto mais um
soco no seu rosto, começando a deformar sua face. — O que você pode fazer
agora é assumir sua punição como homem, coisa que eu não acredito que
faça.
Percebo Domênico parar ao meu lado, ele também tem as mangas da
camisa arregaçadas e sua adaga na mão.
Nós somos homens letais em momentos como esse, aprendemos
desde cedo que devemos dar o exemplo quando somos traídos. Hoje Ciro e
seus homens irão enviar um recado certeiro a todo nosso clã.
— Você. — Dom aponta para um dos prisioneiros. — O seu chefe
traiu nosso Capo? — pergunta ao cretino com a voz fria.
— Não, senhor! Nunca cobramos a mais, não sei de onde veio essa
história. — Sem dizer nada Dom corta sua garganta e o faz cair sangrando no
chão até que ele fica parado e com olhos arregalados.
— Quem será o próximo? — pergunto ao sacar minha faca das costas.
— Eu já tenho todas as provas das traições de vocês, quero apenas que
assumam o que fizerem.
— Paolo, por favor, nós podemos conversar, juro que devolverei tudo
o que recebi a mais. — Ciro, como sempre, é um covarde.
— O problema é saber se eu quero receber. — Deslizo a lâmina da
minha faca no seu rosto, mas sem cortá-lo. — Ciro, eu não gosto de quem me
traí, muito menos de quem me rouba. — Ele estremece. — E você me traiu
da pior maneira.
— Juro que foi um ato inconsequente, por favor, tenha clemência. —
Ele me encara com pavor. — Meu pai foi o Consigliere do seu, temos uma
história juntos.
— Foda-se seu pai e o meu. — Aperto a lâmina da faca na sua
garganta. — Eu odeio os dois e será um prazer te fazer sangrar. — Para
evidenciar o que falo eu corto sua bochecha e o sangue escorre me deixando
feliz. — Isso serve de exemplo a qualquer um — digo alto para meus homens
que estão dispersos ao meu redor. — Quem me trair, vai ser punido com a
própria vida.
— Punido com muita veemência. — Domênico se aproxima de mais
um dos homens de Ciro. — O que fazemos com quem gosta de roubar? —
pergunta ao filho da puta, que apenas fica calado. — Em alguns lugares,
cortamos a mão — diz com um sorriso. — Mas no nosso caso, começamos
com os dedos. — Sem dar tempo do infeliz pensar, ele corta um dos seus
dedos o fazendo berrar e sangue jorrar fazendo Dom exibir uma expressão de
satisfação.
Nós gostamos de infligir medo, somos especialistas em aterrorizar
nossos adversários.
— Por Deus, Paolo, tenha clemência, eu juro que pago com juros.
— Se existe uma coisa que eu não tenho é clemência. — Estendo o
braço na direção de Nicolo, que coloca na minha mão um pesado cutelo
afiado. — Sabe, Ciro, hoje seu pai veio implorar por sua vida e ele me deu
uma ideia excelente. — Rodeio seu corpo e paro bem atrás dele, me inclino
lentamente até que estou próximo do seu ouvido. — Ele pediu que eu
cortasse sua mão, para que lembrasse que me roubou. — O desgraçado
começa a tremer sem controle. — Ele quer que eu poupe a sua vida e o deixe
sem mão.
— Não faça isso. — Implora, segundos antes de começar a chorar.
Os meus soldados começam a rir com a sua demonstração de
fraqueza. Um homem de verdade deveria morrer com honra, não chorando.
— Podíamos gravar o choro dele para o pai ouvir. — Nicolo
sugestiona com ironia. — Seria bom Giuseppe ver o merda de filho covarde
que possui.
— É uma ideia boa. — Descanso o cutelo no ombro do Ciro. — Seria
bem interessante mostrar àquele velho desgraçado que o filho dele é um
ladrão covarde.
— Faço o que pedir, só não me mate.
— Vai fazer o que eu pedir mesmo? — pergunto fingindo considerar
sua proposta.
— Claro que faço, apenas peça. — Olho entre Dom e Nicolo
escondendo a vontade de sorrir.
— Então estenda o braço. — Nesse momento Nino, meu outro
soldado, coloca uma mesa na frente dele.
— Não Paolo, eu imploro, não faça isso — pede aos prantos, me
deixando irritado.
— Estenda a mão sobre a mesa — ordeno com a voz baixa. O infeliz
não me ouve e eu perco a paciência de vez. — Nicolo. — Apenas olho para o
meu homem e ele segura os dois braços do Ciro.
— Não! Me solte. — Ele se debate na cadeira mesmo estando
amarrado.
— Segure-o, Amaro — Domênico pede ao seu soldado.
Amaro é grande e consegue conter Ciro sem muito esforço.
— Dom, escolha qual a mão — Ciro grita enquanto Amaro o mantém
no lugar.
— Ele é destro, então pegue a mão que ele costuma contar o dinheiro.
— Você é o melhor — digo feliz e desço o cutelo no pulso de Ciro
quando Nicolo firma seu braço sobre a mesa.
O peso do cutelo e da lâmina extremamente afiada faz o seu osso
partir na hora. Todo o galpão é inundado pelo grito de dor do ladrão
desgraçado. Bato mais uma vez com extrema força e consigo arrancar sua
maldita mão.
— Acho que ele não vai mais poder contar dinheiro. — Os meninos
riem. — Que pena.
— Porra, ele se mijou. — Amaro olha para a poça de urina no chão.
— É um fraco mesmo. — Limpo minha mão com uma toalha e
acendo um cigarro. — Nicolo, aquele é seu, faça bom uso dele — aponto
para o comparsa de Ciro que está mais afastado do chefe.
O traidor apenas me olha e não diz nada, gosto assim, um homem de
verdade tem que saber morrer com dignidade.
Enquanto Nicolo se prepara para matá-lo, olho para Ciro que chora
compulsivamente enquanto geme.
— Lento ou rápido? — Nicolo pergunta a mim.
Dou de ombros, o que ele decidir está bom, a minha diversão
verdadeira está sem uma mão.
Sacando a arma do coldre ele atira na perna dele, o homem grunhe,
mas não implora por misericórdia. Se não fosse um ladrão safado, poderia se
tornar um dos meus soldados especiais.
Nicolo dispara na sua barriga e seu rosto fica contrito e mais uma vez
ele não diz nada.
— Mate-o de uma vez, sua coragem o credenciou a ter uma morte
rápida. — Domênico instrui Nicolo que me lança um olhar pedindo minha
autorização e a recebe de bom grado.
Com um tiro certeiro no meio da testa o corpo do bravo soldado de
Ciro cai no chão.
— Temos mais um — digo ao encarar Domênico. — Sua vez.
— Amaro, meu presente para você, eu já tive o prazer de matar um
deles. — Com um aceno ele oferece a vez ao seu fiel escudeiro.
Sem pressa Amaro anda até a mesa onde disponibilizamos os
materiais de tortura e passa a mão por diversas peças, até que ele escolhe o
saco plástico.
Amaro combina bem com seu chefe, é frio e muito equilibrado
emocionalmente. Ele e Dom são entediantes, toda essa calma deles me
estressa.
Trago o cigarro enquanto o observo se aproximar da sua vítima.
Parecendo alheio ao momento, Domênico digita algo no celular. Amaro
envolve o saco na cabeça do infeliz e começa a apertar.
Ele vai se debatendo enquanto fica sem ar, começa a se debater
intensamente, tentando de alguma maneira se libertar. Quando sangue
começa a escorrer do seu nariz, sei que a pressão dentro do saco está
extinguindo completamente sua respiração.
Não demora muito seu corpo amolece e Amaro o empurra para o
chão.
— Bem... todos os subordinados já foram, agora falta o mestre.
Ciro já não fala nada, ele respira entrecortado e geme baixinho, como
o rato imundo que sempre foi. Já sem paciência com os lamentos dele não
digo nada, apenas encosto o cano da minha pistola HK na sua nuca e disparo.
Sangue respinga no meu rosto, no entanto eu não ligo, já vi sangue
demais na minha vida, o de Ciro não é diferente dos outros.
Passo a mão na calça para limpá-la um pouco e encaro Nino, o meu
soldado que costuma cuidar de toda a sujeira.
— Limpe tudo por aqui e envie Ciro ao pai, ele vai querer fazer um
bom enterro. — Ele acena. — Nicolo vá relaxar, você merece.
— Já relaxei bem, chefe. — Trocamos um rápido sorriso.
— E você Domênico, quer jantar lá em casa?
— Vou ter um tempo de prazer com Anna, preciso exercitar os
músculos.
— Cuidado, meu amigo, anda fodendo por tempo demais a mesma
puta. — Ele endurece as feições, Dom protege Anna, não sei que doce ela
tem, mas conseguiu cair nas graças dele.
— Anna sabe do que gosto, isso é algo bom.
— Sei. — Abro os botões da minha blusa. — Vou tomar um banho,
tenho que ir para casa ver como meu inferno vermelho está. — É bom poder
falar da Masha sem ter que esconder o que acontece entre nós. — Nicolo
ligue para Leonel e pergunte se o irmão da Masha apareceu lá em casa e, caso
tenha ido, quero saber se ainda está por lá, não quero olhar na cara do
desgraçado quando chegar.
— E falando no rapaz, deixei lá em cima no seu escritório tudo o que
já levantei dele.
— Devo me preocupar?
— Até o momento não, ele é mecânico, trabalha no subúrbio, leva
uma vida pacata.
— Menos mal, ainda assim investigue mais.
— Certo. — Ele se afasta.
— Vou tomar o meu banho antes de você — digo a Dom que apenas
acena com uma expressão estranha. — O que foi?
— Vai deixar a Masha ir embora? — Coço a barba antes de respondê-
lo.
— Não sei o que fazer, tudo é muito complicado.
— Se quiser ficar com ela faça acontecer, eu estarei do seu lado.
— Não quero feri-la, Dom. — Assumo. — Se eu a tornar minha,
trarei a destruição para sua vida.
Ele fica reflexivo, sabe exatamente do que eu estou falando, viver
dentro da máfia é um risco diário e eu não quero isso para ela.
— Masha é forte, ela já viveu dentro do inferno, ficar com você não
será pior do que já passou. — O meu coração acelera com suas palavras. —
A pequena te ama e é uma mulher que qualquer homem deve lutar.
— Eu não mereço o amor de ninguém, muito menos o dela.
— Se ela quer te amar pegue tudo o que te oferece e esqueça a parte
de merecer. Você sempre foi egoísta, porra! Continue assim. — Ele bate nas
minhas costas e segue para as escadas que dão ao escritório.
Dom está certo, eu sou egoísta, mas não quando se trata do meu
inferno vermelho. Com ela eu sou outra pessoa e ainda que eu a queira mais
do que tudo, preciso pensar no que é melhor para o seu futuro.
Passo o algodão sobre a pálpebra ainda pensando na minha conversa
com o meu irmão. É estranho ter um momento íntimo com ele depois de tanto
tempo.
Não posso negar que estou feliz com o seu regresso, pensei que
estivesse sem família no mundo, mas agora que ele está por perto, eu me
sinto mais segura. Posso contar com ele quando eu for embora daqui, terei
alguém além de Leo e Dom do meu lado.
Penso em Paolo e me sinto angustiada, já é tarde ele não voltou. Não
gosto de pensar no que está fazendo, imaginar que ele possa estar neste
momento matando uma pessoa me deixa completamente perturbada.
Pulo para trás quando ouço um longo suspiro, olho na direção da
porta do banheiro e vejo Paolo com o ombro encostado no batente e a blusa
de malha preta moldando-se aos seus músculos. Meus olhos vão para a calça
jeans e isso me faz perceber que trocou de roupa.
Ele matou alguém, por isso a mudança no seu visual. Sempre faz isso
para que eu não veja o sangue, porém não consegue esconder os ferimentos
nas mãos e, às vezes, sangue que passa despercebido por alguma parte do
corpo.
Sinto uma angústia me consumir, o seu mundo realmente não me
pertence, preciso encontrar forças para ir embora o quanto antes.
Não diz nada quando entra no banheiro e se aproxima de mim. Seu
braço se enrosca na minha cintura e me puxa contra seu corpo. Apoio às
mãos nos seus ombros segundos antes da sua boca aprisionar a minha.
Paolo me beija com fúria, ele segura a minha cabeça e devora a minha
boca. Infiltro a mão nos fios do seu cabelo, duelando contra a sua língua e
sentindo meu corpo aquecer.
— Quero você — diz ao me erguer contra a bancada da pia.
Novamente sua boca vem contra a minha, enquanto sua mão avança
sob o roupão e infiltra entre as minhas pernas. Gemo quando afasta a calcinha
e me toca. O seu polegar roça o meu clitóris prazerosamente.
Mordo o seu lábio inferior quando enfia dois dedos dentro de mim.
Não sei como sobreviverei sem o seu toque, meu corpo é todo rendido a esse
homem.
Ele interrompe o beijo e escorrega a boca pelo meu pescoço, quando
chega à minha clavícula suga a pele com força, arrancando-me um resmungo.
— Prometo que mais tarde serei atencioso, mas agora preciso estar
dentro de você. — Puxa a minha calcinha e a descarta no chão.
Toco o seu rosto e faço um leve carinho na sua barba, ele me encara
com intensidade, seus olhos estão nebulosos e seu rosto parece feito de pedra.
Sei que está em conflito, o que aconteceu no seu trabalho o afetou de
uma maneira profunda. Enrosto as minhas pernas na sua cintura quando ele
abre a calça e libera a sua ereção. Em um movimento contínuo ele me invade
e afunda os dedos no meu quadril.
Sem tirar os olhos dos meus, começa a se movimentar e vejo o quanto
está descontrolado, o seu toque não tem delicadeza, assim como a maneira
que me penetra.
Eu poderia ter medo do seu descontrole, no entanto, eu sei que Paolo
jamais seria capaz de me machucar.
Rodeio meus braços por seu pescoço e mordo o lóbulo da sua orelha.
Gemo profundamente deixando claro o quanto estou gostando da sua pegada
dura.
Quando estamos juntos tudo é tão perfeito, ele me faz sentir uma
infinidade de emoções. Com Paolo eu me sinto viva, segura, em casa. Aperto
os lábios para conter a emoção, eu não queria deixá-lo.
Bloqueio meus pensamentos e me deixo levar pelo nosso sexo
intenso. A maneira forte com que ele me penetra é tão alucinante que eu não
duro muito. Jogo a cabeça para trás quando o orgasmo explode por todo o
meu corpo e gemo o nome dele.
Paolo não para, ele vai mais rápido e fundo, até que ele grunhe e
segura a minha cabeça quando estreme e me preenche com seu prazer. Seus
olhos ficam mais serenos, parece ter encontrado seu equilíbrio.
— O que eu fiz para te merecer? — pergunta ao apoiar uma mão no
meu rosto. — Eu sou um homem tão cruel e ainda assim tenho um verdadeiro
anjo em minhas mãos. — Não consigo dizer nada. — Eu sou tão impuro para
tocar em você, Masha. — Ele contrai o rosto parecendo sentir dor. — Você é
minha paz.
Sua boca vem descontrolada contra a minha e eu retribuo seu beijo
com a mesma intensidade. É bom saber que eu tenho um significado
importante na sua vida, de alguma maneira isso me consola, me faz ter
certeza de que deixei uma marca nele. Quando eu me for, o que não vai
demorar muito, eu serei uma boa lembrança.

— Você quer falar sobre o que aconteceu hoje? Sei que está tenso. —
Paolo corre as pontas dos dedos pelo meu braço.
Depois do nosso momento no banheiro eu o acompanhei até a cozinha
para que ele comesse algo. Acabamos bebendo um pouco enquanto jantava,
na sequência tivemos um sexo mais calmo, onde ele me deu um orgasmo
com sua boca e depois me penetrou sem pressa, levando meu corpo mais uma
vez ao limite do prazer.
Agora nós estamos saciados e relaxados, eu sinto o sono jogar suas
garras sobre mim, já Paolo não parece que vá dormir tão cedo.
— Não aconteceu nada demais, la mia passione, apenas tive mais um
dia de merda no trabalho. — Ele me puxa mais para si. — Como foi a visita
do seu irmão? — Sinto seu corpo ficar tenso.
— Hoje soube um pouco da história dele, Andrei virou mecânico
depois de viver nas ruas. — Paolo não diz nada, apenas mantém o carinho no
meu braço. — Foi difícil ouvir tudo o que passou, meu pai soube como
ninguém arruinar a vida de todos os seus filhos. — Corro a ponta do nariz no
seu queixo. — Paolo, eu posso te pedir uma coisa?
— O que quiser. — Ele não titubeia ao falar.
— Pode tentar descobrir o que aconteceu com a minha irmã? — Ele
solta um longo suspiro.
— Posso, mas não tenha muitas esperanças, faz tempo que ela se foi.
— Tudo bem. — Afundo meu rosto contra seu peito e toco a sua
cicatriz na cintura.
Corro o dedo pela linha fina seguidas vezes, pensando em tudo o que
minha irmã ainda possa estar passando. Eu tive a sorte de encontrar Paolo, já
ela eu não faço ideia que tipo de horrores vivenciou.
— Masha, você quer ir embora com seu irmão? — a pergunta dele me
pega de surpresa.
Não respondo de imediato, primeiro controlo as minhas emoções para
que ele não perceba o quanto me dói a ideia de nunca mais vê-lo.
— Preciso seguir adiante, talvez ficar com Andrei seja bom, mas
ainda penso em morar com Leo e encontrar um emprego.
Paolo não fala nada, ele passa um longo tempo calado, sinto a tensão
por todo o seu corpo, parece estar se contendo.
— Eu não quero que vá. — Sinto meu coração acelerar. — Mas
entendo que queira ter uma vida longe de toda a merda que a máfia
representa.
— Somos de mundos diferentes. — Ele inspira fundo.
— Infelizmente. — Paolo me aperta forte entre seus braços. — Você
não merece uma vida cheia de maldades. — Uma tristeza intensa cai sobre
mim. — Eu vou sempre garantir que fique protegida, mesmo que esteja
longe, eu ficarei de olho em você.
Não digo nada ou eu vou chorar e entregar o quanto me machuca ver
que nunca poderemos ficar juntos.

— Eu estou sem palavras. — Leo leva a xícara de café aos lábios. —


Não posso passar uns dias longe de você que já me aparece com uma bomba
imensa.
— Realmente não nego que foi surpreendente o retorno do meu
irmão.
— Não vou ficar chateado por demorar a me contar, porque entendo
que passou por uma forte emoção. — Ele relaxa contra a cadeira. — Agora
me diga uma coisinha. — Faço sinal para ele falar logo. — Seu irmão é gay?
— sua pergunta me faz erguer as sobrancelhas.
— Acabei de reencontrar meu irmão, não tive a preocupação de saber
da sua sexualidade. — Leo faz uma careta.
— Se for gay já saiba que eu quero o contato dele, não abrirei mão de
nós sermos cunhados.
— E o seu namoradinho? Já acabou o romance?
— Acaba se eu tiver que ficar com seu irmão, se ele puxou a você
deve ser lindo.
— Isso ele é. — Pego o celular e busco pela selfie que tiramos. —
Aqui. — Os olhos de Leo se expandem quando pega o meu celular.
— Você é uma vaca. — O cretino me xinga. — Por que não me
mostrou a foto desse gostoso antes?
— Não pensei que quisesse conhecê-lo.
— Porra, Masha! Como não ia querer conhecer um espetáculo desses?
— Ele não para de encarar a foto. — Seu irmão é lindo. Caralho! Ele tem que
ser gay.
— Bobo. — Pego meu celular e olho a nossa foto.
Não consigo evitar o sorriso, meu irmão voltou e eu tenho uma pessoa
da minha família por perto.
— Andrei ficou um belo homem. — Sinto meu coração comprimir.
— Ele sofreu até ter uma vida estável, o nosso pai fez um bom trabalho em
nos foder.
— Ah, mio amore, não fica assim. — Leo acaricia meu ombro. —
Vocês conseguiram sobreviver as maldades da vida.
— Nós dois sim, mas minha mãe e minha irmã não tiveram tanta
sorte. — O meu coração sangra por elas.
— Infelizmente a vida tem seu lado cruel. — Ele inspira fundo. —
Agora quero saber se realmente está disposta a ir embora da casa do chefão.
— Ele muda de assunto.
— Eu o amo, Leo, mas eu sei que não posso fazer parte da sua vida.
— Como eu queria te ajudar. — Ele afaga a minha mão.
— Obrigada, por ser o meu melhor amigo.
— Sua amizade é valiosa para mim, mio amore. — Leonardo leva a
minha mão até os lábios. — Nunca vou abandonar você.
— Ai de você se fizer isso. — O safado aperta os olhos e sei que vai
falar alguma bobagem. — O que foi, senhor Leonardo? — Ergo uma
sobrancelha esperando-o falar.
— Vai descobrir se seu irmão é gay? — Como é chato.
— Perguntarei quando nos encontrarmos da próxima vez.
— Ótimo. — Ele morde um canelone. — E quero um encontro com
esse seu irmão lindo.
— Mesmo que ele não seja gay? — Leo lambe os lábios.
— Meu anjo, eu encontro Domênico sempre e aquele homem imenso
não é gay, gosto de uma tortura.
— Você não existe. — Também ataco meu canelone, me sentindo
mais calma depois de uma conversa com meu amigo. Leo me entende como
ninguém e sempre me apoia irrestritamente.
Olho para os líderes do Conselho e noto que todos, com exceção de
Giuseppe que não veio, me encaram temerosos. Eles sabem exatamente o que
aconteceu e qual as consequências devem ser aplicadas a quem traí o Capo.
Não importa se é filho de um dos tenentes, um ladrão tem que ser
exemplarmente punido.
— Senhores, eu não vou me alongar na nossa reunião. — Acendo um
cigarro. — Vocês sabem o que Ciro fez, ele me traiu da pior maneira possível
e por conta da sua transgressão teve a punição adequada para quem rouba seu
líder. Neste momento Giuseppe deve estar preparando o velório do seu filho
traidor. — Ninguém se manifesta. — Espero que todos vocês levem o
exemplo do Ciro para seus homens, filhos e, em especial, para vocês
mesmos. Não vou tolerar traições, não importa de quem seja.
— Você fez o certo, é seu dever de líder impelir a correção necessária
a traidores. — Franco se manifesta. — Sempre terá a minha lealdade e isso
não irá mudar.
— Bom saber disso. — Corro o olhar entre os outros homens. —
Alguém tem mais alguma coisa a falar?
— Você já verificou se Giuseppe sabia dos crimes do filho? —
Francesco, pai de Domênico, pergunta.
— Até o momento não o ligamos aos roubos de Ciro, por isso ainda
está vivo, mas se eu achar algo contra ele, Giuseppe será punido da mesma
maneira.
— Bom. — Francesco como sempre não demonstra piedade por
ninguém. — Você fez jus ao legado do seu pai, Paolo, meus parabéns por
conter logo o traidor. — Fico surpreso com ele me cumprimentando na frente
de todos.
— Eu sei do meu dever de Capo, Francesco, fui treinado
incansavelmente para isso. — Encaro seus olhos. — Estou aqui para ser um
líder inflexível, louco para colocar minhas mãos em meus inimigos. —
Trocamos um olhar cheio de palavras não ditas, ele sabe que meu sonho é ser
o responsável por sua morte.
— É muito bom ver que temos um líder confiável. — Ele levanta. —
A reunião terminou?
— Podem ir. — Dou as costas para eles e sigo na direção do pequeno
bar na sala de reuniões.
Ouço o burburinho deles enquanto saem, até que na sala fica apenas
Mattia, eu, Dom e Giorgio.
— Algum problema, Mattia? — pergunto irritado.
— Nenhum. — Ele ajeita o terno. — Apenas queria conversar
rapidamente com você.
— Sobre? — Mattia olha para Dom e Giorgio, silenciosamente
pedindo que saiam, mas ambos ignoram seu pedido. — Fale logo, preciso
conversar com meus homens para resolver um problema. — Ele pigarreia.
— A festa que darei está próxima e gostaria de saber se você
realmente vai e se posso promover seu encontro com minha filha.
Tento controlar a minha expressão para ele não perceber quanto
abomino a possibilidade de ter qualquer contato com sua filha.
Por trás de Mattia vejo Domênico me encarar de maneira apreensiva,
ele sabe que não posso demonstrar minhas emoções para esse bastardo.
— Posso conhecer sua filha, assim como irei conhecer as outras
garotas solteiras da festa, será uma boa oportunidade para buscar uma esposa.
— Tenho certeza de que Viviana será do seu agrado, foi criada
rigidamente, está pronta para ser uma esposa exemplar. — Tento não fazer
uma careta
— Ótimo. — Fico sem saber o que falar. — No dia da festa darei
prioridade em conhecê-la logo.
— Fico feliz em ouvir isso. — Mattia não esconde toda a sua
satisfação.
Stronzo. Nunca que irei me unir à sua família.
— Só isso, Mattia? Eu tenho um compromisso inadiável em alguns
minutos.
— Não vou mais te atrapalhar. — Ele acena para Giorgio e
Domênico. — Nos vemos em breve.
Quando ele vai embora respiro aliviado. Como odeio esse homem, se
dependesse de mim eu já teria cortado a sua garganta.
— Se prepare que Mattia quer casar a filha com o poderoso Capo —
Giorgio me provoca.
— Não comece com gracinhas. — Olho duramente para ele, que não
esconde a sua diversão.
— Você terá muitas pretendentes lá e pode escolher quem quiser. —
Domênico tenta controlar meu temperamento.
— Não quero falar sobre isso. — Levanto. — Vou ter uma reunião
com o deputado Alvaro, se algo urgente acontecer podem ligar.
— Vá trabalhar tranquilo, não é possível que mais algum problema
aconteça.
— Assim eu espero, Giorgio. — Visto meu terno. — Dom, fique
atento em tudo.
— Não se preocupe.
Deixo os dois para trás e sigo para a minha reunião. Ter contatos na
política é essencial para manter o clã livre de problemas. Eu forneço o
dinheiro que os políticos necessitam, em contrapartida eles me protegem de
qualquer problema com a justiça.
É uma ajuda mútua, que traz benefícios para ambos e gera lucros para
todos nós.

— O que você tem hoje que está tão agitado? — Masha pergunta
notando a minha inquietação
— Não tenho nada. — Tombo seu corpo sobre o colchão sem querer
dividir os dilemas que ando vivendo.
— Paolo... — Quebro sua fala em um beijo rápido.
— Esqueça os problemas, la mia passione. — Beijo-a mais uma vez.
— Na nossa cama eu quero apenas nós dois. Não divido sua atenção com
nenhum outro assunto. — Quando ela sorri percebo que consegui distraí-la.
— Por que não vamos para um novo round? — Desço a mão por sua coxa. —
Hoje estou um pouco empolgado.
— E quando não está? — Ela arranha lentamente meus braços.
— Só fico assim com você.
— É muito bom, não esqueça que eu sei atirar, cada dia minha mira
ficar melhor. — Sorrio contra seu pescoço.
— Dom me disse que você é um perigo com uma arma. — Espalho
beijos pelo vale dos seus seios.
— Sou uma aluna aplicada e pronta para usar uma arma caso você
ouse se jogar para outra.
— Vai matar sua concorrente? — Masha puxa meu cabelo com força
e me faz olhá-la.
— Não, poderoso Capo, você será a vítima, porque você é que estará
me traindo. — Ela ergue uma sobrancelha e seus olhos brilham com malícia.
— Essa não é a lei na máfia? Se alguém trair tem que morrer? — Essa mulher
é perigosa.
— Você aprende rápido diaba vermelha. — Encerro nossa conversa,
não é hora para assuntos paralelos, quando eu apenas quero fodê-la até que
grite de prazer.

Pisco os olhos ao ouvir o meu celular tocar, o meu corpo ainda está
amolecido depois do sexo intenso que tive com Masha. Estico a mão e pego o
aparelho, a luz suave me dá a visão do meu inferno vermelho jogada sobre o
meu peito.
— Oi — digo meio grogue pelo sono.
— Paolo... — A voz quebrada do outro lado me desperta.
— Quem está falando? — pergunto, pois não olhei quem ligou.
— Fiorella. — Sento na cama, ignorando o fato de assustar Masha. —
O que aconteceu? — pergunto já sentindo a tensão correr pelo meu corpo,
Fiorella não me ligaria na madrugada por nada.
— Preciso de você.
— Por que precisa de mim, porra?! — Salto da cama nervoso.
— Estou ferida. — Sua voz treme.
— Puta que pariu! — Berro ao ligar a luz do quarto. — Onde você
está?
— Em casa. — Paro ao olhar Masha sentar na cama.
— E onde diabos está Carmelo? — questiono irritado com aquele
merda.
Ela não diz nada, apenas começa a chorar descontroladamente.
— Ella, o que está acontecendo? — O meu coração está sem controle.
— Por favor, venha até aqui, eu só preciso de você.
— Merda! — praguejo enquanto sigo para o closet. — Estou
chegando, tente manter-se segura.
— Estou tentando. — Ela desliga e eu sinto que posso enfartar a
qualquer momento.
— O que houve? — Masha pergunta.
— Não sei — respondo nervoso. — Ligue para Nicolo, Nino e
Domênico, peça a ele que me encontrem na casa de Carmelo, se Dom não
atender ligue para Leonel.
Pego a primeira blusa que encontro e procuro por uma calça e boxer.
Saio do closet vestindo as roupas, olho em volta buscando os sapatos que
descartei pelo quarto mais cedo.
Enquanto termino de vestir ouço Masha ordenar os meninos a me
encontrarem. Quando me apronto, ela me encara com olhos ansiosos.
— Quero ir com você.
— Nem pensar. — Coloco meu coldre e pego a jaqueta. — Fique aqui
no quarto, eu vou avisar aos seguranças para ficarem atentos, assim que
puder te ligo. — Seguro seu rosto e deposito um beijo. — Por favor, ouça o
que digo, não sei o que aconteceu com Fiorella e não quero que nada
aconteça com você.
— Tenha cuidado.
— Não se preocupe, eu sei me cuidar. — Esmago meus lábios nos
seus.
Saio do quarto com passos apressados, desço as escadas em tempo
recorde. Quando saio da mansão encontro logo o chefe da minha segurança
noturna, passo todas as instruções do que deve fazer e sigo para o meu carro.
Ganho as ruas em uma velocidade longe da apropriada, apenas penso
no que pode estar acontecendo com a minha irmã. Quando estou perto da sua
casa meu celular vibra e vejo o nome do Dom aparecer.
— Que porra está acontecendo?
— Não sei. — Faço uma curva em alta velocidade. — Fiorella me
ligou pedindo ajuda, ela não estava bem.
— Eu estou a três minutos da casa dela.
— Invada aquela merda, se ela me pediu ajuda é porque está em risco,
eu chego em no máximo cinco minutos.
— Certo. — Ele interrompe a ligação e eu acelero ainda mais.
Se algo acontecer à minha irmã e aquele filho de uma puta do
Carmelo não tiver tido o cuidado de disponibilizar uma segurança de
confiança para ela, eu o matarei na frente de todo o Conselho.
Quando alcanço a casa de Fiorella vejo os carros de Dom e Nino.
Desço do meu veículo apressado, já engato uma das armas na mão. Um
segurança aparece nervoso na frente do portão, no entanto, não ousa impedir
minha entrada, ele sabe que não pode se erguer contra mim.
Entro na ampla sala e encontro Nino na base da escada discutindo
com Marco, chefe da segurança de Carmelo. O homem está alterado, mas se
cala quando vê a minha presença.
Não estou conseguindo entender que problema ocorre aqui, pelo que
notei até agora a segurança da casa não foi comprometida.
— O que está acontecendo? — pergunto nervoso.
— Nada que precise de vocês, seus homens invadiram a propriedade
sem autorização e isso não é certo, senhor — o homem me responde bem
aborrecido.
— Dom está com ela, vá até lá. — Nino ignora Marco e sua expressão
dura não me agrada.
— Meus homens têm autorização para entrarem aonde eu ordenar —
digo de maneira fria a Marco.
Ouço passos atrás de mim e Nicolo também chega. Ele me encara
tenso e digo que me espere com Nino. Subo as escadas com rapidez e
caminho apressado para o quarto de Fiorella, a porta está aberta e todo o meu
corpo paralisa quando a imagem a minha frente se revela.
Inspiro fundo, contendo as emoções que me dominam. Eu sou o
caralho de um Capo, não posso me abater ainda que a minha família esteja
em perigo. Sou o equilíbrio de todo o meu clã e, mesmo que o mundo desabe
a minha volta, eu preciso manter o controle.
— Ele a machucou — Dom diz com a voz contida. — Aquele
bastardo a espancou.
Não digo nada, apenas me aproximo da cama e sento ao lado da
minha irmã. Ela fecha os olhos, quando Dom abaixa o lençol e mostra seu
corpo coberto de hematomas e sangue.
Meus olhos se cruzam com os dele e vejo que sente tanta vontade
quanto eu de matar Carmelo.
— Fiorella provavelmente está com algumas costelas fraturadas,
precisamos chamar o médico e, talvez, levar ao hospital para ver se quebrou o
punho.
— Eu vou matá-lo, Dom.
— Não agora. Precisamos cuidar dela, eu só vi as feridas expostas,
não sei o que tem mais. — Fecho os olhos ao assimilar suas palavras.
Por Deus que eu vou causar uma guerra entre a Famiglia se ele
violentou a minha irmã.
Não quero saber se isso não está na minha área de ação, foda-se as
regras, Fiorella está acima de tudo na minha vida.
— Eu vou te levar para a minha casa, tudo bem? — informo, mas ela
não responde, apenas deixa as lágrimas caírem por seu rosto terrivelmente
ferido.
— Vou pegar uma roupa para ela, não podemos levá-la nua.
Dom se move pelo quarto e some no closet, me deixando a sós com
minha irmã. Seguro seu corpo e a coloco no meu colo, Fiorella resmunga
baixinho. Ela tem um olho fechado por um soco, sua boca está sangrando e
diversos hematomas espalhados por seu tronco.
— Aqui. — Dom estende um vestido e uma calcinha. — Vista nela,
vou separar os sapatos.
Tento manter o controle quando seguro suas roupas, nunca pensei
passar por uma situação assim com alguma das minhas irmãs. Chiara
encontrou paz no seu casamento, já Fiorella nunca escondeu o quanto
Carmelo era intragável. Porém, jamais supus que ele pudesse machucá-la
nesse nível, sei das muitas agressões que mulheres da máfia sofrem, dentro
dos casamentos, só não acreditei que poderia acontecer algo tão extremo com
uma das minhas irmãs quando eu sou o Capo do clã.
No fundo sempre acreditei que se Carmelo um dia decidisse feri-la,
ele faria isso de uma forma que eu jamais descobrisse sua agressão.
— Ele não vai ficar impune — afirmo ao colocar sua calcinha. —
Ella, o maldito te violentou? — pergunto não conseguindo me segurar.
Ela vira o rosto e todo o meu corpo vira lava incandescente. Eu odeio
tanto o meu pai por ter escolhido o Carmelo, espero que ele esteja agora
mesmo ardendo no inferno para toda a eternidade.
Após vesti-la pego seu corpo nos meus braços com cuidado, tentando
não potencializar ainda mais sua dor. Quando chego ao térreo, encontro
Domênico pedindo para o médico que presta serviço a nossa Famiglia ir para
a minha casa.
De verdade espero que ela não precise ir ao hospital, porque se for
necessário, Giorgio que me perdoe, mas seu filho dará adeus ao mundo em
poucas horas.
— Senhor Paolo, não pode levar a senhora Fiorella sem autorização
do marido. — O segurança tenta me impedir.
— Rapaz, cale essa sua boca ou vai sobrar pra você. — Esse merda só
pode ser louco por tentar me impedir de algo. — Avise ao seu chefe que ele é
um homem morto se algo acontecer a minha irmã.
Dou as costas para ele e saio da casa, consumido pela vontade de
extrair cada gota de sangue do corpo do merda do Carmelo.
Ando de um lado para o outro pela sala esperando alguma notícia de
Fiorella.
Masha está ao lado dela, acompanhando o atendimento do médico e
sua enfermeira. Só que até o momento ninguém apareceu para me falar que
merda está acontecendo.
— Apenas respire — Dom pede.
— Dependendo do diagnóstico do médico, eu vou comer o fígado do
Carmelo lentamente.
— Tenha apenas calma, você é um líder e não pode desestruturar o
clã assim.
— Foda-se o clã! É a minha irmã que está lá em cima espancada —
esbravejo.
— Paolo, o que está acontecendo? — Levo um susto ao ouvir Giorgio
entrar na minha sala.
Inspiro fundo, não posso avançar sobre Giorgio, não foi ele o
responsável pelas agressões a minha irmã, apesar dele ser o pai do seu
agressor.
— Fui avisado que você pegou Fiorella sem autorização do marido,
por que fez isso?
— Onde está Carmelo? — pergunto sem lhe oferecer uma resposta.
— Não faço ideia, estava dormindo quando recebi a ligação de Marco
avisando que você pegou sua irmã sem falar com meu filho.
— Dê um jeito de achar aquele stronzo, quero saber exatamente
aonde devo ir para cortar o pescoço dele. — Giorgio arregala os olhos.
— O que meu filho fez?
— Ele espancou a minha irmã. O merda do seu filho teve a coragem
de ferir Fiorella, porra! — Explodo.
Estou completamente sedento pelo sangue de Carmelo, sei que não é
certo me envolver nos conflitos de um casal, mas quando tenho uma das
minhas irmãs no meio, fica impossível aceitar as leis da máfia sobre a posse
do homem em relação a sua esposa.
Se eu não tenho controle com outros tipos de assunto, não será
quando tenho minha irmã ferida que irei pensar nas consequências dos meus
atos.
Vozes alteradas chamam a minha atenção e vejo Carmelo com seus
seguranças entrando na minha casa.
— Onde está a minha mulher? Vim buscá-la. — O desgraçado me
encara com arrogância. — Você não tinha o direito de entrar na minha casa
sem minha autorização, o que acontece entre marido e mulher não é da conta
do Capo, não tem autoridade dentro da porra do meu lar. — Carmelo ergue a
voz na última parte da sua fala, isso faz meu sangue ferver ainda mais.
Sei que ele está coberto de razão, eu estou excedendo o meu poder,
mas que se foda, não gosto de Carmelo e não vou admitir que espanque
minha irmã, muito menos que fale alto comigo na frente dos meus
subordinados.
— Carmelo — digo seu nome em tom baixo. — Eu sou um dos
líderes da Cosa Nostra mais temido dentro dos vários clãs do nosso meio,
acho que sabe disso, não é mesmo? — Ele não me responde. — E sou temido
nas outras organizações também. — Continuo com a voz mansa. — E você
sabe por que sou tão temido? — Não permito que tenha tempo de responder.
— Porque eu fodo meus desafetos sem piedade, não sou como você que
quando precisa enfrentar alguém, manda seus homens fazerem o serviço sujo
para não ter sangue nas mãos. Quando tenho um problema, eu mesmo entro
em ação, mas faço isso com quem pode me enfrentar, não com mulheres
frágeis.
— Paolo, você não vai me intimidar só porque é o grande Capo
sanguinário, está errado e sabe disso, meus problemas com minha esposa
resolvo do meu jeito. Agora traga Fiorella até mim, eu dei ordem para ela
ficar em casa e não ligar para o irmão choramingando. Quando mais tempo
ela ficar aqui será pior.
Filho de uma puta suja, ele quer morrer, só pode.
Como ousa ameaçar a minha irmã bem na minha frente?
Carmelo quer me desafiar para mostrar aos seus homens que tem
autoridade, mas comigo ele não vai crescer, foda-se se estou errado, hoje ele
vai saber como é ser surrado, vou devolver cada golpe que deu na minha
irmã.
Usarei sua falta de respeito comigo para puni-lo agora mesmo, jogarei
sobre ele o inferno que está me consumindo.
Não dou tempo para reagir, avanço na sua direção e jogo seu corpo
contra a parede. Minha mão esmaga sua garganta, corto toda a sua fonte de
ar. O desgraçado se debate, segura meu braço com força, tentando se
desprender, mas a minha fúria é intensa de mais para que ele consiga me
conter.
— Paolo, solte meu filho, podemos resolver isso sem agressão.
— Podemos? — questiono Giorgio. — Talvez até podemos, só que eu
não quero. — Carmelo começa a ficar vermelho. — Eu sou seu líder filho da
puta, nunca mais erga a voz para mim, muito menos ouse me dar ordens.
Jogo-o no chão e seguro seu braço, em segundos tenho Carmelo
berrando quando viro sua mão e a quebro.
— Solte-o, Paolo. — Giorgio tenta me afastar, mas puxo a minha
arma.
— Fique onde está ou mato você e seu filho agora mesmo. — Ele
recua, entende que não pode me conter quando perdi completamente a
racionalidade. — Ninguém se mete no que vou fazer agora, hoje Carmelo
aprende a me respeitar e a nunca mais encostar suas mãos sujas na minha
irmã.
O meu punho afunda no seu rosto, eu vou espancando o desgraçado
sem piedade, sentindo um prazer intenso enquanto ouço os ossos do seu rosto
quebrando sob minhas mãos e sangue jorrando do seu nariz.
A imagem do corpo ferido da minha irmã tremula na minha frente, ela
é tão frágil, doce, delicada como uma rosa e esse canalha a surrou. Fiorella
nunca teria condições de se defender desse bastardo, é covarde ele usar da
sua força para machucá-la daquele jeito.
Quando ele desmaia banhado em sangue eu paro, insatisfeito por vê-
lo ainda respirando, porém dei o meu recado, a partir de hoje ele saberá que
não vou ser misericordioso outra vez.
— Tire esse desgraçado da minha sala — ordeno a Giorgio. — Saiba
que não o matei por sua causa, mas não será da mesma maneira na próxima
vez que me enfrentar. — Aviso. — Posso não ter o direito de me meter se ele
espanca a esposa, mas eu posso acabar com ele quando me desrespeita na
porra da minha casa. — O rosto de Giorgio está contrito. — Agora vá cuidar
desse merda e tente mantê-lo com as mãos longe da minha irmã, será bom
para todos nós. — Ele entende o meu ponto.
Dou as costas para todos e sigo até o meu escritório, vou encontrar
uma maneira de matar Carmelo. Não quero Fiorella com ele, minha irmã
merece algo melhor. Não permitirei que viva infeliz para o resto da vida,
quando eu posso fazer algo para acabar com seu fardo.

Inalo a fumaça do cigarro ainda sentindo a ira queimar meu corpo.


Bater em Carmelo não foi suficiente, eu precisava de muito mais sangue dele
para sentir relativa satisfação.
A porta do meu escritório abre e espero ver Domênico entrar, mas é
Masha que aparece com os olhos inchados e o nariz vermelho.
Odeio envolvê-la nas merdas da minha vida, minha diaba vermelha é
sensível demais.
— Como ela está? — pergunto angustiado ao imaginar o que minha
doce irmã passou.
O meu grande ponto de fraqueza são as mulheres da minha vida, não
tolero que ninguém as machuque, já basta tudo o que passaram nas mãos do
meu pai.
— Vai ficar bem. — Masha se aproxima de mim. — O médico
imobilizou o punho dela, felizmente não quebrou, foi uma torção, mas ele
pediu um raio X para ter certeza se está tudo bem.
Amasso o cigarro no cinzeiro enquanto solto um profundo suspiro de
frustração.
— Venha aqui. — Ergo a mão para ela.
Masha rodeia a mesa e eu a puxo para o meu colo, afundo o rosto
contra seu pescoço, precisando sentir seu cheiro suave para expulsar a fera
que ainda ruge dentro de mim. Ela acaricia a minha barba e beija meu cabelo.
Tão bom sentir seu carinho, quando estou ao seu lado eu me sinto mais
humano.
— Jamais faria algo assim com você, não sou capaz de encostar um
dedo no seu corpo, que não seja com a intenção de te dar prazer.
— Eu sei disso. — A sua confiança em mim deixa meu coração
acelerado. — Domênico me contou que o marido dela esteve aqui, não gosto
de violência, mas eu fiquei feliz com o que fez.
— Queria ter feito muito mais e vou fazer.
— O que está falando? — Ela se move para poder me olhar. — Vai
matar Carmelo?
— Em algum momento. — Coloco uma mecha do seu cabelo atrás da
orelha. — Quero minha irmã livre daquele infeliz.
— Ele é um membro do seu clã, não pode fazer isso.
— Acidentes acontecem, la mia passione. — Pego sua mão e levo até
meus lábios. — Não se preocupe com isso, eu sei o que faço.
— Cuidado, Paolo, não quero que tenha problemas.
— Não terei — afirmo. — Preciso que cuide da minha irmã, vou
mantê-la aqui até que melhore e eu possa garantir sua integridade física ao
voltar para casa.
— Ela tem que voltar mesmo?
— Infelizmente sim, não posso fazer nada com relação a isso.
— E se ele fizer algo pior?
— Vou garantir que não faça nada. — Ainda não sei como vou
mantê-lo longe dela até que eu o mate, mas encontrarei um jeito. — O
médico já foi?
— Sim.
— Vou ver como ela está.
Masha levanta e segue comigo para fora do escritório. Encontro Dom
no telefone quando chego à sala, ele me olha com preocupação, faço um
aceno indicando que está tudo bem e sigo para o andar superior.
Sinto meu coração ficar pequeno ao me aproximar do quarto em que
Fiorella está. Masha aperta a minha mão com força, certamente sentiu a
minha tensão.
Quando paro na frente da porta, inspiro fundo, voltar a vê-la ferida me
faz ter vontade de ir até Carmelo e finalizar o que deixei em aberto.
— Pense que agora ela está segura — Masha diz ao acariciar meu
braço.
Aceno para ela e abro a porta.
Encontro Fiorella encolhida na cama, ela se sobressalta com a minha
presença.
— Como se sente, mio amore? — pergunto ao me aproximar da
cama.
— Segura. — Fiorella é direta.
— E ficará assim a partir de agora. — Sento ao seu lado e acaricio seu
cabelo. — Não sei se serve de consolo, mas seu marido está bem pior que
você. — Ela me fita surpresa. — Acho que eu quebrei alguns ossos do seu
rosto, sem contar o nariz e o... — Acaricio o imobilizador que pega parte da
sua mão e braço. — A mão. — Lanço a ela um discreto sorriso. — Carmelo
levará um tempo para conseguir se recuperar.
— Bateu nele?
— Por enquanto eu só bati. — Encaro seus olhos seriamente. — Em
breve ele some de vez da sua vida. — O seu rosto fica tenso.
— Paolo, eu não quero que inicie uma guerra por minha causa.
— E qual melhor motivo para uma guerra do que você? — Ergo uma
sobrancelha. — Não se preocupe com nada, eu tenho meus meios para tirar
alguém do meu caminho, antes que possa imaginar será uma linda viúva —
Fiorella não diz nada, apenas mantém o olhar atento em mim.
— Obrigada por me socorrer.
— Eu estou aqui para o que precisar, mio amore, você é minha
responsabilidade sempre. — Acaricio seu rosto. — Agora tente dormir, se
precisar de algo só me chamar, amanhã vou precisar sair cedo para uma
reunião, mas assim que resolver meus problemas estarei em casa.
— Tudo bem.
Saio do quarto ao lado da Masha, ainda me sentindo completamente
insatisfeito por saber que Carmelo está vivo.
Quando fecho a porta seguro meu inferno vermelho pela cintura e a
prenso contra a parede.
— Preciso falar rapidamente com Domênico, me espere no quarto.
— Paolo, sei que está sob pressão, mas não faça nada de cabeça
quente, por favor. — A preocupação no seu olhar suaviza um pouco a minha
ira.
— Já desfigurei o rosto do meu cunhado com a cabeça quente, acho
que por hoje não posso fazer nada pior — digo sorrindo. — Fique tranquila,
la mia passione, eu vou segurar minha fera interna, ao menos por hora. —
Movo meus lábios sobre os dela lentamente. — Vá tentar descansar, em
poucos minutos me junto a você.
Ela me olha de maneira apreensiva, mas segue para o nosso quarto.
Desço para falar rapidamente com Domênico, certamente ele não está
contente comigo, mas se fosse a sua irmã Monalisa, eu sei que faria o mesmo.
Assim que começo a descer as escadas seus olhos encontram os meus.
Ele se afasta de Nino e se aproxima para falar comigo.
— Hoje não quero sermão, guarde isso para a reunião do Conselho.
— Bem que eu queria te dar um sermão, mas não posso fazer isso. —
Dom corre a mão pelo rosto demonstrando cansaço. — Eu faria o mesmo que
você, Carmelo merecia a morte por sua covardia. Fiorella não fez nada para
ser espancada desse jeito.
— Ele vai ter Dom — prometo ameaçadoramente. — Mas preciso de
um tempo para me livrar dele.
— É arriscado. — Ele não se atreve a mudar minha ideia.
— Não se formarmos um bom cenário. — Nos encaramos
intensamente. — Temos bons aliados que podem sujar as mãos por mim, não
me importo de ficar devendo favor para livrar a Fiorella desse merda.
— Posso te pedir uma única coisa? — Avalio sua expressão e faço um
gesto para seguir em frente. — Se eliminar Carmelo, deixe sua irmã ter o
tempo dela sozinha e não a jogue em outro casamento. Permita que Fiorella
decida seu próximo companheiro, ela merece isso.
— Não sou estúpido como meu pai, Dom, eu sempre vou pensar no
melhor para todas as minhas irmãs. — Sou sincero na minha resposta. —
Elas são meus pontos de humanidade, eu faço tudo por essas meninas.
— Amanhã estarei do seu lado. — Ele bate no meu ombro. — Vou
descansar um pouco, o dia vai amanhecer em breve.
— Obrigado por socorrê-la, nunca vou te pagar por estar com ela
quando mais precisou.
— Fiz a minha obrigação, você é meu único amigo e sua dor é a
minha. — Nos encaramos em silêncio, Domênico é meu irmão do coração, eu
confio nele de olhos fechados.
— Até mais tarde. — Dou um tapa nas suas costas e volto a subir as
escadas, preciso do meu inferno vermelho para acalmar todos os meus
demônios.
Desperto com beijos delicados por todo meu peito, inspiro fundo
quando Masha desce até a minha barriga e arranha as unhas nas minhas
coxas.
Eu queria tanto que ela fosse minha, já não consigo mais imaginar
uma vida sem essa diaba gostosa.
Gemo quando ela corre a língua por toda extensão do meu pau, ela
suga a ponta dele e me faz enrijecer dolorosamente.
— Bom dia — diz com a voz rouca enquanto desliza a mão por minha
ereção. — Quero provar um pouco de você.
Que safada a minha ruiva, ela me deixa completamente louco.
— Vá em frente, inferno vermelho. — Dou permissão para ela foder
meu juízo logo cedo.
Masha segue minha orientação e me enlouquece com sua boca gulosa.
Ela tem uma aptidão natural para o sexo, sua volúpia me tira do prumo. Tudo
o que se dedica a fazer na cama fica perfeito.
Enrolo seu cabelo na minha mão e acompanho cheio de tesão me
levar até o fundo na sua boca gostosa. Ela escorrega a mão e acaricia minhas
bolas, meus músculos se retraem com o prazer que consome meu corpo.
— Dio santo, Masha, você ainda me mata do coração — blasfemo
com a voz rouca. — Que delícia. — Começo a foder a sua boca, louco para
me derramar dentro dela.
Inesperadamente ergue-se e me fita, quero exigir que retorne ao que
estava fazendo, porém Masha me monta e se posiciona sobre a minha ereção.
Apoiando uma das mãos no meio do meu peito, ela segura com a mão livre
no meu pau e o centraliza na sua entrada.
Apoio às mãos na sua cintura e rosno quando começa a descer sobre
mim.
Que paraíso é sentir essa mulher me receber, meu inferno vermelho é
do meu tamanho, ela me aceita completamente sem nenhuma dificuldade.
Fechando os olhos ela se move lentamente, indo cada vez mais fundo
até que estou totalmente dentro do seu canal. Abarco um dos seus seios em
minha mão e movo o polegar sobre o bico. Ela ronrona por conta do meu
toque e requebra sensualmente contra mim.
— Gostosa — digo quando afundo meus dedos na carne da sua
bunda. — Sou capaz de te comer o dia todo.
— Quanta disposição — diz sorrindo ao se requebrar sobre mim
fazendo os meus músculos enrijecerem.
— O que posso fazer se você é um tesão?
Com um sorriso largo ela quica sobre mim com maestria. O meu
coração parece que vai sair pela minha boca, suor se espalha por minha testa,
por eu estar tentando me controlar para não gozar dentro dela antes que tenha
seu orgasmo.
— Paolo, eu amo sentir você dentro de mim, você é tão gostoso. —
Ela desce com mais força e se retrai quando o seu orgasmo a domina.
Linda, sexy, minha.
Masha é tudo o que eu poderia querer em uma mulher, eu não vou
conseguir deixá-la ir, preciso dela na minha cama, na minha vida no meu...
Giro seu corpo interrompendo meu pensamento louco e me posiciono
sobre ela, invado seu canal com força, prologando seu orgasmo. Ela finca as
unhas nas minhas costas, gemendo enquanto eu a penetro profundamente.
Jogo a cabeça para trás quando todos os meus músculos travam ao
gozar. Mantenho meu pau até bem fundo, me esvaziando dentro dela com
intensidade.
Nossas respirações estão irregulares quando desabo ao seu lado, ainda
não me sentindo saciado.
Masha gruda em mim e beija o centro do meu peito. Ela ergue a mão
e acaricia a minha barba ternamente.
— Obrigado por iniciar meu dia de uma maneira mais leve. — Beijo
sua mão.
— Não foi um sacrifício. — Dividimos um sorriso cúmplice.
— Você está safada demais. — Com relutância me afasto.
— Promete que não tomará nenhuma atitude intempestiva contra
Carmelo?
— Não se preocupe com isso, eu sei o que faço. — Beijo sua testa. —
Pode levar Fiorella para o raio X?
— Claro que sim, jamais a deixaria sozinha nessa situação.
— Muito obrigado. — Ergo seu queixo e beijo sua boca. — Vou me
arrumar para o meu compromisso sobre o novo resort que abrirei e ainda
preciso falar com a minha mãe, prepare-se porque ela estará aqui em casa
logo mais.
— Vou tentar me manter longe, não quero problemas. — Não gosto
da sua fala.
— Aqui é a sua casa, não se esconda por causa da minha mãe. —
Seguro seu rosto. — Se ela for desagradável deixei claro que é você que mora
aqui.
— Ela é sua mãe e eu devo respeito.
— Assim como ela deve a você. — Encaro seus olhos. — Se algo
acontecer que não possa lidar ligue que eu resolvo mesmo de longe.
Masha me beija com paixão e eu aproveito para abraçar o seu corpo e
me perder entre seus lábios macios.
Como queria ter tempo para poder possuir mais uma vez o seu corpo,
infelizmente o meu dia será longo e terei muitas coisas a resolver.

Depois de uma reunião exaustiva com a equipe que está cuidando do


meu novo empreendimento, consegui desmarcar todos os meus outros
compromissos para poder estar em casa e evitar qualquer tipo de conflito
entre minha mãe e Masha.
Logo cedo liguei para dona Martina e contei o que aconteceu com a
Fiorella. Apesar de saber como as mulheres dentro da máfia são tratadas, ela
se abalou profundamente quando informei o que aconteceu com a filha.
Entro na sala e encontro tudo silencioso, nenhum sinal de confusão.
Sigo pelo corredor na direção da cozinha, quero beber um pouco de
água e, saber de Mirta o que aconteceu enquanto estive fora. Ela é detalhista
quando precisa me passar alguma informação, ainda que queira, não
consegue esconder nada.
Paro na porta quando encontro Masha sentada, digitando algo no seu
notebook, enquanto Mirta descasca legumes. Pela postura tranquila do meu
inferno vermelho, nada de grave aconteceu.
— Bom dia. — Revelo a minha presença e as duas me olham
surpresas. — Tudo tranquilo por aqui? — Masha deixa de lado o notebook.
— Graças a Deus chegou, com sua mãe andando por aqui eu me sinto
aflita. — Ela me olha nervosa.
— Ela aprontou algo? — pergunto ao entrar na cozinha e seguir para
a geladeira.
— Não aprontou, mas você sabe que ela me odeia.
— Ignore a animosidade dela.
— Não consigo.
Mirta me encara contrariada.
— O que foi? — pergunto querendo saber o que Masha não me
contou.
— A sua mãe ignorou a Masha e chegou ditando ordens, inclusive
sobre o almoço.
Encho um copo com água tentando conter uma careta, a minha mãe
nunca muda.
— O almoço já estava programado antes dela chegar?
— Estava — Mirta afirma sem pestanejar.
— Faça o programado, se ela reclamar mande falar comigo.
— Certo. — O sorriso vitorioso de Mirta deixa bem claro o quanto ela
não gosta da soberba da minha mãe.
Antes de trabalhar para mim foi funcionária na casa dos meus pais e
desde essa época que passamos a nos dar bem. Mirta sempre teve um
temperamento rebelde e odiava meu pai, esse fato por si só nos aproximou.
Quando fui morar sozinho a trouxe comigo e, desde então, a tenho
“atentando” a minha vida com todo o seu atrevimento.
— Vou ver como Fiorella está — digo quando termino meu copo de
água. — Ela já tirou o raio X? — pergunto a Masha.
— Ainda não, irá no final da manhã.
— Tudo bem. — Passo pelo meu inferno vermelho doido para beijá-
la, mas não posso fazer isso na frente da Mirta.
Bato na porta do quarto da Fiorella e recebo a permissão para entrar.
Encontro minha mãe sentada perto da janela, Gio e Fiorella estão sentadas
juntas na cama.
As três me encaram intensamente e eu sinto meu coração revirar em
pensar quão frágeis são. Por sorte elas têm a mim para protegê-las, se
estivessem sozinhas neste mundo cruel em que vivemos, ninguém poderia
socorrer Fiorella.
— Bom dia, família. — Cumprimento e caminho até a cama.
— Bom dia, filho, eu estou surpresa por vê-lo em casa nesta hora.
— Hoje ficarei por aqui. — Beijo a testa de Fiorella. — Como está,
meu anjo?
— Mais calma, os remédios aliviam as dores das minhas costelas
fraturadas. — Endureço o rosto ao lembrar o que o stronzo fez com ela.
— É um avanço — digo quando vou até Gio e beijo seu rosto. — E
você? Como está?
— Revoltada. — Ela me olha com raiva. — Quero roubar sua arma e
matar Carmelo. — Giovanna é uma menina bem doce na maior parte do
tempo, porém sabe ser temperamental em algumas circunstâncias.
Tenho medo do que pode acontecer quando casar, eu preciso
encontrar um homem tolerante e que saiba lidar com ela sem que aconteça o
mesmo que nossa irmã.
— Bem... — Cruzo os braços antes de continuar a falar. — De acordo
com meus contatos, o filho da puta vai ter que operar a mão, eu acho que já
ajuda um pouco a nossa vingança contra ele.
— Está falando sério? — Gio pergunta.
— Giorgio comentou com Dom mais cedo. — Ela sorri feliz.
— Meu filho, você se arriscou quando foi socorrer sua irmã. —
Minha mãe me fita intensamente. — Sabe que não está na sua
responsabilidade se intrometer no que acontece entre um casal. — Ela ainda
está no passado, aonde alguns maridos já chegaram a matar suas esposas
depois de surrá-las.
— Pode não estar na minha responsabilidade quando é outra mulher,
não com minhas irmãs — digo com raiva.
— Filho, cuidado, você sabe que temos tradições.
— Pois a tradição de bater nas esposas vai ter que ser revista se isso
envolver uma das minhas meninas.
— Sabe que está colocando um alvo nas suas costas, não é mesmo?
Esses homens vão encontrar uma maneira de te eliminar, ao longo da história
da máfia eles nos controlam impondo a agressão física. — Odeio que minha
mãe ainda aceite esse tipo de pensamento arcaico.
— Mãe, eu vivo com um alvo nas costas, não ligo para porra
nenhuma que aqueles vermes do Conselho possam pensar. Eu mando e eles
obedecem, simples assim.
— Não se arrisque por mim, nós precisamos de você vivo, ou todas
nós estaremos perdidas. — Fiorella pede com os olhos marejados.
— Fique tranquila, eu vou ficar bem — afirmo. — Masha vai te
acompanhar no seu raio X.
— Eu vou. — Nossa mãe rapidamente entra na conversa. — Fiorella
é a minha filha e eu sou a responsável por ela, sua amante pode ficar fora
disso.
Será que ela nunca vai aprender a segurar essa merda de boca?
— Só para deixar claro. — Miro seus olhos. — Quem decide quem a
acompanhará sou eu. — Endureço a expressão. — É por falta de disciplina
como a sua, que mulheres são agredidas por homens covardes. Infelizmente
na nossa realidade quem manda é o homem e eu digo o que vocês irão fazer.
— Por sorte ela se cala.
— Chiara está para chegar, ela pode ir comigo. — Fiorella se
manifesta. — Masha tem faculdade, não precisa se preocupar, já me ajudou
muito ontem.
Olho para Ella, eu sei que está tentando controlar o conflito que estou
travando com a nossa mãe.
— Você é quem sabe, Masha hoje não vai para a aula, está fazendo
alguns trabalhos, pode te ajudar caso queira.
— Ela pode terminar os trabalhos, Chiara e Gio me acompanham.
— Certo. — Aceno aceitando sua decisão. — Estarei no escritório
caso precise de algo, Nico está lá embaixo esperando para levar vocês.
— Obrigada por tudo, Paolo, você tem sido bom para mim.
— É o meu dever, agora preciso trabalhar. — Aceno para elas e saio
do quarto.
É difícil olhar para Fiorella ferida, no meu ponto de vista mulheres
devem ser protegidas, não experimentarem a fúria que nós homens podemos
impor a elas.
Talvez eu seja um Capo fraco, no entanto não ligo. Pensar em ferir
meu inferno vermelho me causa repulsa. Ela é o raio de sol na escuridão que
vivo, a pessoa que me faz ser humano, que me causa momentos de felicidade.
Foda-se as regras da máfia, eu nunca serei covarde com uma mulher
fisicamente, nenhuma delas merece ser agredida e não farei isso com a minha
futura esposa.
Estou preso lendo um relatório quando ouço a porta do meu escritório
abrir e Masha revelar a sua presença. Ela me fita esperando a minha
aprovação para entrar, apenas ergo a mão e mando se aproximar.
Fechando a porta rapidamente vem na minha direção com seus
cabelos ruivos compridos descendo por seus ombros, iluminando sua face
delicada.
Tão linda.
— Nicolo disse que você queria falar comigo.
— Sente-se — peço ao apontar a cadeira a minha frente.
Masha obedece e acomoda-se na cadeira, encarando-me desconfiada.
— Com toda essa confusão que aconteceu, acabei não tendo tempo de
saber como anda a sua interação com o seu irmão.
— Estamos bem, nos reconectando aos poucos, é bom saber que eu
tenho ainda alguém da minha família para contar a partir de agora.
— Você também pode contar comigo.
— Sabe que não é assim. — Ela olha para as mãos. — Em breve sua
vida ganha novo rumo e eu não tenho mais espaço nela.
— Sempre terá, já disse que nunca vou deixar de cuidar de você.
— Só que eu não quero que cuide quando eu for embora. — Masha
me olha com determinação.
Tento controlar a minha fúria, não quero causar uma briga com ela
nesse momento.
— Venha aqui, inferno vermelho — peço com a voz baixa.
Masha se aproxima e eu seguro a sua mão, a trazendo para o meu
colo. Beijo seu pescoço e esfrego a minha barba em sua pele. Ela infiltra as
mãos no meu cabelo, beijando o meu rosto.
— Ainda que não queira eu estarei pronto para te ajudar no que
precisar, assim como Dom.
— Não vamos mais falar sobre isso. — Ela corre a mão pela minha
barba. — Preciso ir agora, tenho que levar Fiorella ao raio X. — Aperto
minha mão na sua cintura.
— Chiara e Gio vão com ela, você pode voltar a estudar.
— Ela não quer que eu vá? — Vejo mágoa no seu olhar.
Puta merda!
— Não é isso, Masha. — Acaricio sua orelha. — Minha mãe falou
algumas coisas quando avisei que você iria com Fiorella, isso me fez brigar
com ela, então para acabar com o conflito ficou decidido que apenas Gio e
Chiara iriam com ela.
— Sua mãe me odeia — afirma triste.
— A minha mãe é apegada a tradições, esqueça a implicância dela.
Seguro a sua cabeça e a beijo, eu preciso controlar minha
impulsividade, porque a cada vez que penso nela partindo, sinto vontade de
esquecer a prudência e reivindicá-la como minha.
Movo a minha boca contra a sua avidamente, duelando com sua
língua, sentindo seu gosto único. Ela se agarra a mim e se entrega
completamente ao beijo.
Firmo uma mão na sua cintura, já sentindo meu corpo esquentar,
como desejo essa mulher, basta colocar meus olhos nela que fico duro.
Rosno quando ela interrompe o beijo e me encara com a boca inchada
e as maçãs do rosto avermelhadas. Selvagem demais meu inferno vermelho.
— Posso fazer uma coisa? — pergunta ao morder o lábio inferior
fazendo cara de safada.
Cerro os olhos, eu conheço bem essa expressão, ela quer aprontar algo
e isso já me deixa excitado.
— Faça o que quiser. — Dou permissão.
Imediatamente sai do meu colo e fica de joelhos na minha frente.
Caralho! Não acredito que ela vai fazer isso.
Acompanho com atenção ela abrir minha calça em busca do meu pau.
Relaxo contra a cadeira e inspiro fundo quando a ponta da sua língua rodeia a
cabeça da minha rigidez.
Delícia. Essa boca dela é uma perdição.
Masha me lambe lentamente, como se eu fosse um picolé, os olhos
azuis dela não saem de mim, essa diaba vermelha gosta de me ver perder o
controle.
— Porra, Masha, cada dia que passa você se supera no boquete —
digo quando ela me tem até o fundo da sua garganta. — Caralho, mulher! Vai
gostar de chupar um pau assim na puta que pariu. — Enrolo seu cabelo na
mão e impulsiono minha ereção na sua boca.
Meus músculos travam quando ouço a porta do escritório abrir e
minha mãe entrar.
— Paolo, eu preciso conversar com você. — Por alguns segundos
Masha não se move, ela fica com metade do meu pau na boca, respirando
com dificuldade, até que volta a me engolir e eu sinto meus músculos
tremerem.
— Agora não posso. — Tento manter a voz estável. — Mais tarde nos
falamos.
— O que custa conversarmos agora? Não pode fazer uma pausa no
trabalho? — Ela começa a se aproximar perigosamente da minha mesa.
Sinto gotas de suor se formem na minha testa, Masha não para de me
levar até o fundo. Ma che palle! Essa mulher um dia me mata.
— Mãe, juro que nós conversamos depois, agora eu não posso.
— Você não está fazendo nada de importante. — Que inferno!
— Tenho uma reunião por telefone em um minuto.
— Você está bem? — pergunta enquanto me avalia.
Puxo os cabelos da Masha, tentando conter seu avanço, assim ela vai
me fazer gozar na frente da minha mãe.
Porra! Que mulher infernal.
— Estou. — Pego o celular. — Assim que eu terminar aqui te chamo.
— Finjo procurar algo no aparelho.
— Vou te esperar na sala, as meninas já saíram.
— Tudo bem. — A minha mão treme quando Masha suga a ponta do
meu pau.
Essa feiticeira vermelha vai me pagar mais tarde, hoje ela me dá
novamente esse rabo, estou louco para fodê-la por trás.
Quando minha mãe fecha a porta, puxo o cabelo dela com força,
fazendo-a abandonar meu pau.
— Você gosta de foder a minha vida, não é? — pergunto com a voz
baixa.
Ela apenas sorri e lambe os lábios, exibindo aquela cara de safada que
sempre me deixa ensandecido.
— Foi divertido — diz sorrindo.
— Vá até a porta e tranque-a, não quero mais ninguém nos
interrompendo — ordeno.
Ela corre para fechar a porta, depois se encosta contra ela e me olha
com um meio sorriso. Dou a volta na mesa e retiro alguns papéis e pastas de
cima dela, os colocando para o lado.
— Venha até aqui, diaba vermelha. — Chamo Masha quando tenho o
centro da mesa livre.
Nunca fodi uma mulher no escritório da minha casa, já não posso
dizer o mesmo no que fica em La Fontaine, por lá passaram tantas, que
sequer consigo calcular a quantidade.
— O que vai fazer? — Ela caminha bem lentamente, avaliando a
minha expressão.
— Não consegue adivinhar? — ergo uma sobrancelha e espero por
sua resposta.
Masha me fita excitada, ela gosta do perigo e isso me agrada demais.
— Sua cara não está muito boa, devo ter medo?
— A minha cara é a de um homem com o pau duro, doido para gozar
e que está com a mulher que deseja foder ainda vestida. — Olho para a calça
legging que usa. — Tira essa calça.
Por alguns segundos ela hesita, até que começa a puxar a calça e leva
a calcinha junto.
Os meus olhos são atraídos para o triângulo de pelos ruivos que se
destacam na parte superior da sua boceta. Eu sinto o homem primitivo que
existe dentro de mim urrar sem controle, por saber que nesse momento só eu
posso vê-la nua, nenhum outro homem tem a honra de apreciar tanta
perfeição.
Puxo Masha contra meu peito e a beijo, desço a mão e toco sua
intimidade, solto um gemido quando sou recepcionado por suas dobras
completamente encharcadas.
Interrompo o beijo e seguro sua cabeça girando seu corpo para
posicioná-la contra a mesa. Masha solta um resmungo quando pressiono seu
tronco na madeira e me debruço sobre ela.
— Não faça barulho, minha mãe que tanto te ama está na sala, tente
conter-se enquanto te fodo.
— E se eu não quiser me conter? — Abro um sorriso com o seu
questionamento.
— Aí você vai causar um escândalo nesta casa. Eu não ligo, já você...
— Deixo em aberto a minha frase e me agacho para poder provar um pouco
dela antes de possuir seu corpo.
Ouço-a gemer baixo quando minha boca suga sua boceta, ela está tão
molhada que sequer precisa de estímulo, mas eu não posso fodê-la de
imediato sem sentir seu sabor único.
Ataco suas dobras faminto, chupo Masha com volúpia. Ela se
contorce, empurra a bunda na minha direção. Tão fogosa minha diaba
vermelha, eu amo esse seu despudor no sexo, ela não tem vergonha em
assumir os seus desejos.
Abro sua bunda e vou subindo meu toque, quando chego ao seu anel
apertado, corro a ponta da língua lentamente. Masha solta um gemido longo,
vejo sua boceta ficar ainda mais lubrificada.
— Hoje à noite você vai me dar esse rabo gostoso. — Corro o dedo
ao redor do seu ânus e insiro a ponta nele. — E mais uma vez você vai gozar
gostoso.
— Paolo — ronrona meu nome. — Para de me provocar, me fode
logo.
— Com pressa? — Volto a rodear a língua em seu ânus, em seguida
coloco dois dedos na sua boceta.
Ela me aperta, suga meus dedos com fome, queria ter forças para
provocá-la um pouco mais, só que eu não sou tão forte assim.
Levanto e me posiciono em suas costas, seguro seu quadril e vou a
penetrando lentamente. Gememos juntos quando ela me recebe até o fundo.
Acho que nunca vou deixar de me surpreender o quanto ela me recebe
completamente, todas as vezes que estou dentro dela, é um momento
memorável.
Queria poder conseguir ir devagar, mas quando tenho Masha comigo
tudo fica intenso demais. Ela arruína meu autocontrole apenas com a sua
presença.
Enrosco seu cabelo na mão e a ergo, ela rosna com a minha pegada
bruta e apoia as mãos sobre a mesa quando aproximo a boca contra sua
orelha.
— Adoro essa sua boceta quente, você não sabe como fico louco
quando você me recebe todo — Masha geme. — Te foder é um paraíso, saber
que só eu tive você me faz sentir como se eu fosse o homem mais sortudo
deste mundo. — Ela coloca a mão para trás e segura a minha bunda.
— Então faça por merecer ser esse homem de sorte. — Provocadora
do caralho.
Saio dela inesperadamente e a ouço resmungar, viro seu corpo e a
deito sobre a mesa. Abro suas pernas e me instalo entra elas, mergulho no seu
canal em um único movimento e começo a fodê-la com força.
Masha morde a mão, tentando não gritar enquanto eu meto nela sem
piedade. Subo a sua blusa e exponho seus seios, aperto um deles, acariciando
o bico com o polegar.
O meu corpo parece que vai explodir com o calor que me consome,
acho que preciso passar a trabalhar em casa mais vezes, só assim eu a tenho
sobre a minha mesa durante uma pausa dos problemas que não param de
chegar à minha vida.
— Você é linda — digo quando me inclino e sugo um dos seios.
Eu os amo, são de tamanho médios, redondos e com aréola pequenas,
tão delicadas quanto minha ruiva.
Toco o seu botão inchado e faço um leve friccionar, ela se contrai e
solta um gemido longo. Eu vou mais fundo e rápido, sem deixar de estimular
seu clitóris. Ela abre a boca e nossos olhares se cruzam.
Em plena sintonia gozamos juntos, ambos contendo os sons para não
chamar atenção da minha mãe. Não posso negar que essa trepada às
escondidas foi excitante demais, hoje Masha me pegou de surpresa e eu
adorei essa nossa aventura.
— Isso foi bom — ela comenta com a voz ofegante.
— Bom? — pergunto ao sair do seu interior. — Isso foi fenomenal,
você não sabe como me deixou feliz.
Ela senta sobre a mesa e me olha por trás de um sorriso sacana.
— Sempre que quiser uma distração, no meio do expediente, pode me
chamar. — Apoio as mãos em cada lado do seu corpo e encaro seus olhos
brilhantes.
— Nunca pensei que você fosse tão safada, é uma surpresa boa. —
Beijo sua boca, sem nenhuma pressa, provando seus lábios lentamente. —
Agora saia daqui, eu preciso conversar com a minha mãe.
— Preciso me esconder dela, não quero que saiba do que aconteceu
aqui. — Passo a mão por seu cabelo.
— Ela não tem como te ver sair, só tenha cuidado.
Descendo da mesa Masha se arruma e me dá um beijo rápido quando
sai do meu escritório de mansinho.
Jogo a cabeça para o alto ao pensar no quanto ela me domina. Essa
mulher me prendeu pelas bolas e o mais assustador é que eu não ligo, meu
problema é sucumbir ao desejo de tê-la para sempre ao meu lado e condená-
la a uma vida na máfia.
Sorrio da história que Leo conta a Fiorella, ela está aqui há uma
semana e agora seu rosto já está bem melhor. As suas costelas também estão
curando-se bem, por sorte sofreu uma leve fissura em uma delas e com os
remédios e repouso está se recuperando rápido.
O seu marido já saiu do hospital e está em casa, porém ele não tentou
entrar em contato com ela, apenas Giorgio e a esposa fazem visitas à nora.
— Se continuar a me atormentar eu vou socar a sua cara. — Ouço a
ameaça de Paolo no minuto que entra na sala, seguido de Domênico.
Ele paralisa quando nos vê reunidos, seus olhos me encaram aflitos,
algo está acontecendo e eu vou querer saber exatamente o que é.
— Que troca maravilhosa de afeto entre os amigos. — Como sempre
Leonardo provoca. — Boa noite, chefe.
— Hoje não é um bom dia para suas brincadeiras. — Paolo é duro na
sua resposta. — Como está, Fiorella? — Seus olhos irritados ficam mais
brandos quando fala com a irmã.
— Cada dia melhor.
— Muito bom. — Ele se livra do terno. — Pegue os documentos de
que precisa Domênico, vou tomar uma ducha antes do jantar.
— Eu vou ficar para o jantar também. — Dom entra na sala com seu
andar seguro. — Quero conversar com Leonardo, faz tempo que não nos
encontramos.
— Não faça isso com meu coração, bonitão, sabe muito bem que
tenho um amor platônico por você.
— Seu amor é volúvel demais, Leonardo. — Domênico encara
Fiorella. — Estou feliz em ver sua recuperação. — Os seus olhos que
normalmente são frios ganham um pouco de calor. — Porém, não posso
negar que estou mais feliz ainda em saber que Carmelo enfrenta dificuldade
de limpar a própria bunda.
A sua fala acaba causando uma risada generalizada, pensar em
Carmelo com a mão quebrada é de alguma maneira reconfortante depois de
tudo o que fez com a esposa.
— O poderoso chefão deveria ter arrancado a mão dele. — Leonardo
até agora não aceitou o que aconteceu, ele tem verdadeiro pavor de homens
que agridem mulheres.
— Só a mão? — Domênico joga a cabeça para o lado prendendo um
sorriso. — Não, Leonardo, ele merece perder bem mais que a mão. — Os
olhos dele procuram algo. — Você não pegou nenhum vinho do Paolo?
— Estava dando atenção à Fiorella antes de escolher o vinho da noite.
— Então escolha um, que eu preciso beber algo depois de mais um
dia estressante de trabalho.
Quando Domênico senta perto de mim e Leonardo vai pegar o vinho,
não resisto a minha curiosidade, preciso saber o motivo deles entrarem
brigando.
— O que aconteceu para Paolo estar tão agitado? — Dom me lança
um olhar estranho.
— Ele é agitado.
— Sei disso, mas ele estava mais do que o normal. — O longo suspiro
que ele solta me deixa preocupada.
— Certamente Paolo vai conversar com você. — Enrugo as
sobrancelhas.
— Por que não pode me falar?
— É algo que ele mesmo precisa te contar, não eu. — Sinto meu
corpo enrijecer.
— Tem algo a ver comigo?
— Aqui. — Leonardo retorna à sala e quebra a conversa. — Esse
vinho é maravilhoso.
— Você é bom em escolher vinho. — Ele levanta. — Vamos abrir
logo, preciso de um pouco de álcool.
Os dois seguem para o bar, enquanto eu fico para trás intrigada com a
entrada explosiva do Paolo. Já notei seu comportamento estranho há alguns
dias, ele anda irritado e dormindo pouco. Acreditei que toda a sua agitação
era por conta da irmã, mas pelo jeito tem algo a mais nessa história.
Como os meninos estão conversando, enquanto abrem o vinho, eu me
junto à Fiorella e começamos planejar o nosso fim de semana ao lado da
Giovanna.
É bom vê-la tão tranquila, sinto muita compaixão por ela, não consigo
imaginar como deve ser terrível viver com um homem que não sente um
pingo de empatia pela própria esposa.
Tudo o que eu queria era vê-la livre desse casamento para poder viver
a própria vida, só que infelizmente, ainda que Paolo a livre do marido, a
qualquer momento ela pode ter que se comprometer com outro homem.
A vida das mulheres na máfia tem tradições arcaicas, que me irritam e
também mostra que eu devo cortar meu relacionamento o mais rápido
possível com Paolo. O grande problema é ter coragem para partir, pensar em
não o ver destrói o meu coração, ainda não me sinto preparada para dar
adeus.
Talvez quebrar o clima tranquilo que está entre nós para sanar a
minha curiosidade não seja um bom movimento, mas eu não posso mais
segurar a minha curiosidade.
Paolo passou à noite irritado, foi grosseiro com Dom e Leonardo e
não escondeu o quanto estava azedo durante o jantar. Ele só se desarmou
quando falava com a irmã, fora isso estava mais arisco do que nunca.
— O que está acontecendo? — pergunto ao apoiar o queixo sobre seu
peito. — Você demonstrou estar mais agressivo do que nunca durante o
jantar. — A mão dele que fazia uma carícia ao longo da minha coluna
paralisa.
A tensão se espalha por seu corpo, deixando claro que ele está com
algum problema.
— Dom me disse que não podia me falar nada, mas que você
conversaria comigo.
— Ele disse isso? — Sua voz sai mais grossa que o normal. —
Domênico é um filho da puta.
— Não o xingue, ele é seu melhor amigo.
— E minha fonte de estresse. — Paolo corre a mão pelo cabelo.
— Quero saber o que está te irritando tanto, você anda parecendo que
vai explodir e eu sei que não é por conta da sua irmã. — O peito dele se
expande quando respira profundamente.
— Podemos conversar depois?
— Não. — Ergo o corpo para encará-lo. — Quero saber agora mesmo
o motivo que está te deixando tão descontrolado. — Fico apreensiva quando
ele foge do meu olhar. — Paolo. — Seguro seu rosto e o forço a me encarar.
— Por que está fugindo de mim? — Ele solta a respiração pesadamente.
— Tenho uma festa para ir em alguns dias na casa de um dos meus
conselheiros. — Não consigo entender o que ele está querendo dizer.
— E qual o problema? — Ele me encara intensamente. — Você
sempre vai a festas.
Sem me responder Paolo se ajeita contra o travesseiro e olha para o
teto. A sua reação me deixa agoniada, normalmente ele é muito direto no que
vai falar comigo.
— É uma festa do Mattia, um dos mais experientes conselheiros. —
Fico em silêncio esperando o que vai contar. — Eu preciso ir nessa maldita
festa, ainda que a minha vontade seja zero.
— Isso é algo ruim? — pergunto me sentindo confusa.
Desde que moro com ele, Paolo já foi em inúmeras festas dos seus
conselheiros e, em nenhuma delas, eu o vi tão irritado como agora.
— Ele quer que eu conheça a filha dele. — Fico estática. — Está
tentando me casar com a ragazza. — Faço um esforço descomunal para não
revelar a tristeza que está me consumindo neste momento. — E lá também
terei outras pretendentes, os homens da alta hierarquia da máfia estão em
ebulição querendo que eu escolha uma de suas filhas para casar.
— Entendo — digo a única coisa que vem a minha cabeça, pois não
sou capaz de falar muito, estou sentindo meu coração sangrar ao imaginar
que nosso tempo juntos está acabando.
— Que porra você entende? — A voz dele sai alterada. — Não me
venha dizer que está tudo bem, porque pra mim não está.
Eu me afasto dele porque neste momento tudo o que eu quero é ficar
sozinha e me afundar na tristeza que está se espalhando pelo meu coração.
— Não precisa ser grosso comigo. — Começo a sair da cama, mas
Paolo segura meu braço.
— Caralho, Masha, será que pode se acalmar?
— A única pessoa nervosa aqui é você, tanto que está gritando
comigo.
— Eu não estou gritando, porra! — contesta aos berros.
Puxo meu braço e levanto, estou me sentindo completamente sem
controle.
— Paolo, você tem uma vida a resolver, faça o que é esperado de
você que eu vou fazer a minha parte.
— O que está querendo dizer? — O seu rosto está completamente
apreensivo.
— Preciso seguir meu rumo, passou da hora de ir embora.
— Volta aqui, Masha — ordena com a voz tensa.
— Hoje vou dormir no meu quarto e não venha atrás de mim. — Olho
determinada para ele antes de sair do quarto.
Assim que ganho o corredor as lágrimas caem pelo meu rosto, já não
consigo conter a dor que me sufoca. O momento que eu tanto temia está
chegando e eu vou ter que dar adeus ao homem que eu amo.
Sabia que seria difícil, só não imaginei que doeria tanto.

— Você não está mais sozinha, tem a mim ao seu lado. — Andrei
segura a minha mão. — Estou esperando apenas o momento que queira ir
embora.
Seco uma lágrima que corre pelo meu rosto, ainda estou revivendo a
minha discussão com Paolo na noite passada.
Hoje pela manhã não desci para o café, infelizmente não tive forças
para encará-lo sabendo que estou bem perto de perdê-lo. Sei que estou sendo
fraca, mas não consigo controlar a tristeza que me consome em saber que
nunca ficaremos juntos.
— Eu vou sair daqui, não posso mais esperar. — Esfrego a mão no
nariz. — Começarei arrumar as minhas coisas discretamente e vou esperar
Fiorella ir embora, ela está frágil demais para ficar nesta casa sozinha.
— Tudo bem. — Os olhos dele são compreensivos. — Apenas quero
que saiba que estou pronto para te buscar.
— Vai ser um momento difícil, Paolo não vai me liberar para ir
embora tão cedo.
— Ele não é seu dono.
— Na verdade, é — digo com amargura. — Esqueceu que ele me
comprou? — Andrei endurece as feições.
— Se esse bastardo tiver algum tipo de consideração por você, te
deixará livre.
— Ele é egoísta demais, não tenho muita esperança de que vá facilitar
a minha partida.
— Daremos um jeito. — Eu me sinto mais confiante em ter meu
irmão do meu lado, é bom saber que posso contar com ele para o que eu
precisar.
— Atrapalho? — Olho para o alto e vejo Fiorella se aproximar da
mesa que estamos sentados ao lado da piscina.
— Claro que não, venha até aqui. — Andrei a observa com atenção.
— Deixa eu te apresentar meu irmão. — Levanto. — Andrei essa é Fiorella,
irmã do Paolo.
— Que prazer em te conhecer. — Ele também levanta e segura a mão
dela. — Espero que esteja melhor.
— Muito prazer. — Fiorella sorri com simpatia para ele. — Eu estou
bem agora.
— Senta aqui. — Puxo uma cadeira para ela. — Estamos bebendo um
drinque, mas é alcoólico, vou pedir um suco para você.
— Não precisa, só quero conversar um pouco, estou cansada de ficar
no quarto.
— Tem certeza?
— Claro, Masha. — Ela se concentra no meu irmão. — Apesar de
você ter o cabelo castanho se parece bastante com a sua irmã.
— Temos alguns detalhes em comum — Andrei diz sem graça. — Os
nossos pais tinham traços bem diferentes.
— Quem era o ruivo entre eles?
— Meu pai — respondo antes de Andrei. — Puxei o cabelo dele, o
resto sou toda minha mãe.
— Por sorte não puxamos ele na essência, não é mesmo? — Andrei
me encara com olhos nebulosos. — Temos caráter, coisa que ele nunca teve.
— Inspiro fundo, lembrando de toda a dor que ele nos causou.
— Conseguimos nos preservar de toda a sua falta de caráter. — Meu
irmão assente, concordando com a minha fala.
— É... pelo jeito todos nós temos problemas em família. — A voz de
Fiorella é triste.
— Atualmente seus problemas são bem piores que o nosso. — Sou
solidária com sua situação. — Ao menos nós dois somos livres, já você... —
Fiorella inspira fundo.
— Sempre podemos ser livres. — Ela me olha de um jeito estranho.
— Eu serei de uma maneira ou de outra, só não posso mais viver nesse
inferno.
O meu corpo fica tenso, entendi perfeitamente bem suas palavras e
não gosto de pensar que ela possa tomar alguma medida extrema contra sua
própria vida.
— As pessoas ao nosso redor também podem ser libertas, é uma
opção melhor. — Andrei pisca para ela, parecendo também entender o que
quis dizer. — Na vida tudo tem um jeito, a gente só precisa de uma boa
programação.
Olho para o meu irmão surpresa com sua fala, ele acaba de me pegar
de surpresa, não esperava ouvir da sua parte que eliminar o marido de
Fiorella seria uma boa solução.
Que tipo de situações Andrei teve que enfrentar na rua para poder
sugerir algo assim com tanta tranquilidade?
O meu pensamento evapora quando a assistente de Mirta chega com
um apetitoso lanche. Andrei faz algumas perguntas à Fiorella e, um tempo
depois, os dois conversam como se já se conhecessem há muito tempo.

Prendo o cabelo e passo a mão pelos fios ajeitando o meu penteado.


Encaro meu rosto abatido e me esforço para afastar da mente todo o caos
emocional que estou vivendo desde a noite passada.
Sei que não posso ficar me lamentando por algo que não pode ser
mudado, mas eu não consigo deixar de sofrer por não poder pertencer a vida
do homem que amo.
Não entendo porque tudo na minha vida tem que envolver uma carga
imensa de sofrimento, ao menos agora eu tenho meu irmão, saber que estarei
ao lado dele é um ponto de força.
Saio do meu quarto e sigo para a sala, a qualquer momento Domênico
deve chegar para a minha aula de defesa pessoal. Quando eu for embora,
sentirei falta desses momentos com ele, espero que Dom não me esqueça, a
sua amizade é valiosa demais para mim.
Encontro a sala vazia e isso me deixa feliz, ao menos vou ter um
tempo para acalmar meus sentimentos antes de enfrentar Paolo.
Para o meu azar ele não demora a entrar na sala, com a expressão
fechada, parecendo que vai matar alguém a qualquer momento. Quando nota
a minha presença para de andar e me encara com desconfiança.
Não digo nada, espero para ver o que ele vai fazer, mas Paolo fica em
silêncio, apenas me olhando com intensidade.
Como eu preciso falar com ele, vou ter que tomar a iniciativa de um
diálogo.
— Ainda bem que já está pronta. — Dom aparece atrás do chefe. —
Vamos treinar?
— Só estava te esperando. — Pego a pequena mochila e coloco sobre
os ombros. — Mas antes preciso falar rapidamente com Paolo, me espera
alguns minutos?
— Claro. — Domênico olha entre nós dois atentamente.
— Pode me acompanhar até seu escritório? Preciso te contar algo.
Ele não diz nada, sai andando rapidamente para o corredor. Sigo atrás
dele calada, admirando seu andar seguro e suas costas largas. Essa sua beleza
viril mexe comigo de uma maneira intensa, ele é de uma sensualidade
extrema.
— O que está acontecendo? — pergunta quando entramos no
escritório.
— Hoje à tarde sua irmã se reuniu comigo e Andrei quando ele veio
me visitar. — Como esperado o rosto dele fica ainda mais contrariado. — Ela
disse algo que me deixou muito preocupada. — Paolo enruga a testa.
— O que exatamente?
— Fiorella está deprimida e cogitando tirar a própria vida. — Horror
se espalha por seu rosto.
— Minha irmã disse isso?
— Não com todas essas palavras, mas deixou subentendido que tem
meios de sair do inferno que vive. — Ele passa a mão pelo cabelo agitado. —
Sei que vai enviá-la para casa, estou com medo do que ela possa fazer,
precisa encontrar um jeito de mantê-la segura.
— Já conversei com Giorgio, ele vai tomar conta dela pessoalmente,
designou alguns dos seus homens para ficar de olho nela, Carmelo sabe que
não pode mais repetir o que fez.
— Então converse com ela e peça que faça uma terapia, deve ter
algum profissional entre vocês da máfia que possa cuidar dela.
— Eu vou providenciar isso, obrigado por me avisar. — Agora ele
parece se desarmar. — Eu senti falta de você no café da manhã, mas não quis
invadir seu espaço. — Tento me manter estática quando ele toca meu braço,
mas meus músculos involuntariamente se retraem. — Masha... — Paolo me
olha com certo desespero.
— Preciso ir, Dom está me esperando. — Começo a me virar, mas ele
rodeia a mão no meu braço e me puxa contra seu corpo.
— Não faz assim. — Pede ao segurar minha nuca. — Eu sei que está
chateada. — Ele faz uma pausa e fecha os olhos. — Eu também estou, porra!
— não digo nada quando encosta a testa na minha.
O meu coração martela dentro do meu peito e a vontade de chorar é
quase impossível de controlar. Como dói saber que ele nunca será meu, eu o
amo tanto, mas nunca vou ser capaz de viver plenamente esse amor.
Firmando um braço na minha cintura ele me aperta e seus lábios caem
sobre os meus furiosos. Apesar da dor estar me consumindo, eu me entrego
ao beijo, se eu realmente decidir colocar em prática o que estou pensando,
esse talvez seja um dos últimos beijos que iremos dividir.
A minha mochila cai no chão quando ele prensa meu corpo contra a
porta. Infiltro as mãos por seu cabelo e puxo os fios o fazendo rosnar. Somos
tão perfeitos juntos, apenas um leve toque é o suficiente para incendiarmos
tudo.
Quando ele quebra o beijo estamos respirando com dificuldade. Paolo
desliza as pontas dos dedos pelo meu rosto, ele fita meus olhos de uma
maneira estranha.
— Por que não dispensa Domênico e fica em casa?
— Não posso. — Tento voltar a raciocinar. — Preciso mais do que
nunca poder me defender, em breve seus seguranças não estarão mais atrás de
mim. — Ele fica rígido. — Agora preciso ir, pode me soltar?
— Masha...
— Não Paolo, apenas pare. — Empurro seu peito com força. —
Preciso ir. — Pego a minha mochila. — Converse com a sua irmã, ela precisa
de você mais do que nunca.
Abro a porta antes que ele tente me beijar mais uma vez e eu perca o
controle. Ficar perto dele sabendo que temos praticamente data certa para nos
separarmos, está sendo demais para mim.
Entro na sala agitada e Domênico me olha com atenção, ele me
conhece bem, sabe que estou perdendo o controle.
— O que aconteceu?
— Nada — digo ao secar os olhos.
— Por que está chorando, bambina? — Ele tenta tocar o meu rosto,
mas eu o afasto.
— Vamos embora, preciso sair daqui. — Começo a andar para a
saída, precisando mais do que nunca ficar longe desta casa e toda a dor que
está explodindo dentro de mim.
Olho pela janela do carro enquanto Dom dirige em silêncio do meu
lado. Ele está tenso e querendo saber o que aconteceu para eu estar chorando
descontroladamente, porém está conseguindo respeitar o meu espaço.
Estou tão mergulhada na minha dor, que só percebo que não estamos
na academia, que costumamos treinar, quando ele estaciona em um local
diferente.
— Onde estamos? — pergunto quando desliga o carro.
Domênico não me responde, ele sai do veículo e o rodeia para abrir a
minha porta.
— Vamos, bambina. — Olho para a mão que me estende.
Como confio nele de olhos fechados eu seguro a sua mão e o sigo até
um prédio extremamente charmoso.
Não trocamos nenhuma palavra ao entrarmos no elevador, Dom
apenas passa o braço por meus ombros e como estou carente eu me aninho a
ele. Quando chegamos no último andar, saímos em um corredor acolhedor.
Ele caminha a minha frente enquanto tira as chaves do bolso interno
do terno, destranca a porta e me espera entrar. Passo por ele e começo a olhar
o elegante apartamento, levo um susto quando um cachorro aparece todo
feliz.
— Mercury não morde, fique tranquila.
O cão começa a cheirar meus pés, mas logo perde o interesse em mim
quando Dom se agacha e coça suas orelhas.
— Essa é a sua casa? — pergunto curiosa.
— É. — Domênico se ergue. — Hoje não vamos treinar, vou preparar
uma massa para nós jantarmos enquanto bebemos um bom vinho. — Ele
coloca atrás da minha orelha alguns fios que soltaram do meu cabelo. —
Enquanto providencio o nosso jantar, você me conta o motivo desse choro,
apesar de que eu tenha uma ideia do que deva ser.
Não digo nada, ainda me sinto embasbacada por estar na sua casa.
Desde que nos conhecemos ele nunca me trouxe aqui, nem mesmo sabia que
ele morava em um apartamento tão chique e tinha um cachorro.
— Vou trocar de roupa rapidamente, fique à vontade.
Apenas aceno e ando pela sala ampla até alcançar a porta francesa que
leva a varanda. Não espero por nenhuma autorização dele, abro a porta e
entro na varanda aconchegante sentindo o ar frio tocar meu rosto.
Fecho os olhos e inspiro fundo, tentando acalmar o turbilhão de
emoção que está explodindo dentro do meu coração.
Levo um susto quando sinto algo fungar meu pé, o cachorro de Dom
começa a me cheirar com interesse. Subindo o focinho pela minha perna.
Apesar do receio de ser mordida eu me arrisco a estender a mão e esperar que
ele faça algum sinal de que posso tocá-lo. Mercury cheira toda a minha mão,
em seguida me encara.
Lentamente afago seu pelo cinza, em um carinho lento que parece
agradá-lo. Sempre gostei de animais, mas na vida difícil que eu levava com a
minha família, ter um bicho de estimação não era a melhor opção.
— Pelo jeito o sem vergonha caiu de amores por você. — Dom
aparece na porta e cruza os braços.
Ele está com uma calça de moletom preta, camiseta azul e com os pés
descalços. É um visual bem inusitado para ele, que vive sempre com seus
elegantes ternos de três peças.
— Ele é tão lindo. — Coço a sua orelha. — Qual é a raça?
— Mercury é um Galgo italiano, ganhei de um conhecido que
precisou mudar para a Irlanda e não tinha como levá-lo. — Domênico bate na
coxa e imediatamente Mercury vai até o dono. — Esse rapaz chegou aqui
com seis meses e me deu um trabalho do caralho roendo minha mobília.
— É estranho imaginar você com um cachorro.
— Por quê? — Ele me lança um olhar divertido.
— Sei lá, você é um mafioso, não te imagino cuidando de um animal.
— Prefiro animais a seres humanos, eles não te traem.
— Nisto você tem razão.
— Venha comigo, vou abrir nosso vinho e começar o jantar. — Ele
caminha pela sala com Mercury na sua cola.
— Desde quando sabe cozinhar? Não sabia dessa sua faceta.
— Na verdade, não sei, mas eu tive um envolvimento com uma
renomada chef de cozinha e ela me passou alguns segredos culinários que
consegui assimilar e pratico às vezes.
— Humm... envolvimento, sei. — Ele olha com um discreto sorriso e
aponta para uma cadeira quando entramos na ampla cozinha. — Caramba,
não fazia ideia de que um apartamento pudesse ter uma cozinha tão grande.
— Aqui é a cobertura, o último andar é todo meu. — Não consigo
conter a surpresa e meu queixo despenca. — Tenho até um pequeno espaço
que fiz uma espécie de solário, nos dias de verão é um ótimo lugar para jantar
à luz da lua e umas cervejas.
— Estou em choque.
— Por que exatamente? — Ele coloca uma taça de vinho na minha
frente.
— Não te imaginava em um lugar tão grande e elegante. Pensei que
seu espaço era menor e com menos luxo.
— Ganho um bom dinheiro, por que não vou viver no luxo? —
pergunta ao abrir a geladeira.
— Sei lá, Dom, nem mesmo eu entendo os meus pensamentos. —
Dividimos um sorriso.
— E então, vai me contar o que te fez chorar? — Agora ele me faz
voltar para a minha realidade e meu coração afunda. — É por causa da festa?
— Sim. — Bebo o meu vinho de uma só vez. — Sempre soube que
ele teria que escolher sua futura esposa, mas imaginei que nesse dia eu já
estaria longe.
— Tudo é muito complicado no nosso mundo.
— Na verdade, vocês vivem em um mundo paralelo — digo com
tristeza.
— É um mundo frio, sem cor e esperança. — Domênico apoia as
mãos sobre a bancada da pia pensativo. — O nosso mundo não foi feito para
você, Masha.
— Não quero ser feita para o mundo de vocês, só queria ter meu
mundo com Paolo. — Novas lágrimas se acumulam nos meus olhos quando
penso que vou perdê-lo.
Parecendo notar minha tristeza Mercury senta aos meus pés e me
encara com seus olhos curiosos. Lanço um sorriso triste para o lindo cão e
começo a brincar com ele enquanto Domênico se move pela cozinha, me
surpreendo a cada momento ao mostrar segurança no que está cozinhando.

Ainda me sinto encantada com o lindo e charmoso espaço externo na


cobertura de Domênico. Ele tem um jardim lindo, uma mesa para refeições
aconchegante e a bela vista da cidade de Roma fecha com chave de ouro o
cenário cinematográfico.
— Você não quer contratar uma governanta? Mas ela tem que morar
no trabalho igual a Mirta. — Ele ergue uma sobrancelha. — Porque se
oferecer moradia eu trabalho para você, amei sua casa. — Um discreto
sorriso brinca nos seus lábios.
— Se eu soubesse que ficaria tão feliz em conhecer o meu espaço, já
teria te trazido aqui há muito tempo. — Dom leva a taça de vinho até à boca.
— Apesar que você veio no momento certo — afirma ao esticar a mão e tocar
a minha. — É bom te ver sorrir, bambina.
A maneira afetuosa com que ele me olha causa uma nova onda de
emoção em mim. Nem mesmo quando caí nas mãos dos russos eu chorei
tanto, como nas últimas vinte e quatro horas.
— Obrigada por ser um grande amigo. — Fecho minha mão na sua.
— Promete que não vai esquecer de mim quando eu for embora? — Dom
enruga a testa.
— Paolo não vai te deixar ir.
— Ele não pode me impedir, no sábado voltará para casa com uma
noiva. — Ele passa a mão pelo cabelo.
— Esse é o problema, Masha, eu não tenho certeza se ele vai escolher
uma noiva. — Não entendo o que ele está querendo dizer. — Paolo nunca
teve pressa de casar, adiou o quanto pôde e agora que tem você, eu estou com
muito temor dele surtar e não escolher ninguém. — Sinto uma alegria intensa
me dominar. — Só que ele precisa de uma esposa, ou alguns conselheiros
podem se rebelar para tomar o posto dele. — Domênico endurece o rosto. —
Meu pai será o primeiro a pensar nisso, ele sempre quis derrubar o pai do
Paolo para virar o Capo e eu o suceder.
Arregalo os olhos porque eu não sabia disso, essa guerra de poder
dentro da máfia é algo que nunca vou entender.
— Paolo já teve uma infinidade de mulheres, sequer posso precisar
quantas vi ao lado dele. — O ciúme começa a ganhar espaço dentro de mim
ao imaginá-lo com outras. — Porém, nenhuma delas o fez encontrar seu lado
humano. — Ele prende meu olhar. — Você alcançou um lugar dentro dele
que nem mesmo o próprio Paolo sabia que existia. No meio em que vivemos
ter o tipo de vulnerabilidade que ele possui por você é muito perigoso. Somos
máquinas de guerra, não nos importamos em quem devemos passar por cima,
no entanto, Paolo se importa com você, e não por ter te comprado, mas
porque você é importante na vida dele.
— O que está querendo dizer? — Não quero me apegar a nenhum tipo
de esperança.
— Tanto eu quanto Paolo não fomos criados para termos sentimentos,
porém mantivemos dentro de nós um lugar neutro da maldade para nossas
mães e irmãs. Só que Paolo também te colocou neste lugar e passou a ter um
afeto grande por você, que hoje já se transformou em algo muito maior e,
esse tipo de fraqueza pode ser arriscado para vocês dois.
— Está me dizendo que Paolo gosta de mim de verdade? Ele te disse
isso?
— Ele nunca me diria o que sente, mas eu o conheço mais do que
ninguém, meu amigo nunca disse que quer uma mulher como diz te querer.
Não pense que ele vá te deixar ir com facilidade, será uma luta grande sua
liberdade.
— Não vou ser amante dele, eu vou embora e ninguém vai me
impedir.
— Sabe que ele pode impedir.
— Você pode me ajudar a fugir, eu posso ir para outra cidade, com o
tempo ele me esquece e eu volto a Roma para morar com meu irmão.
— Infelizmente não posso trair meu Capo, mesmo que seja por você.
— Seus olhos caem para nossas mãos unidas. — A única coisa que posso
fazer é te apoiar e o convencer que não tem escolha ao não ser te libertar. —
Novas lágrimas se acumulam nos meus olhos. — Lamento passar por isso,
Masha, eu queria muito evitar seu sofrimento, você já teve sua cota de dor e
merece ser feliz.
O celular dele toca e Dom pega o aparelho para atender. Quando olha
o visor faz uma careta, não preciso perguntar para saber quem está ligando.
— Estou ouvindo. — Bebo um pouco do vinho enquanto vejo
Domênico bufar. — Se parar de gritar posso te dizer que ela está muito bem,
jantando comigo no meu terraço e sorrindo, coisa que ela não estava quando
saiu da sua casa.
Não sei como Dom consegue enfrentar Paolo e ainda permanecer
vivo.
— Escuta... — Ele olha para o alto quando não consegue terminar sua
fala. — Será que pode me ouvir? — Passo a mão pelo rosto sentindo um
cansaço imenso me dominar quando ouço ao fundo a voz alterada do Paolo
mesmo não estando com o celular. — Não precisa vir aqui, quando
terminarmos nossa conversa eu a levo embora, eu sei bem... — Dom abaixa o
celular e o descarta sobre a mesa. — Desligou na minha cara.
— Por que ele não consegue ter um momento de controle?
— Ele não sabe o que significa controle, esse é o problema.
— Acho melhor eu ir embora, não quero que se meta em encrenca por
minha causa.
— Fique aí, ele virá te buscar, já conheço a peça. — Com
tranquilidade Domênico enche nossas taças. — Vamos continuar a beber,
quando ele chegar será bom já não estarmos sóbrios.
Eu não sei como consegue ficar tão frio sabendo que Paolo chegará
cuspindo fogo, mas no fundo eu também não ligo, nada pode ficar pior do
que já está.

Quinze minutos depois a porta do apartamento quase vai abaixo com


Paolo batendo feito um louco. Com passos lentos, Dom deixa o terraço e vai
liberar a entrada do chefe. Mercury que estava deitado ao meu lado não se
levanta, porém fica atento às vozes alteradas vindas da sala.
No momento em que a figura emburrada de Paolo surge na porta do
terraço, meu coração estremece ao lembrar das palavras de Domênico sobre
ele ter sentimentos verdadeiros por mim.
Sempre achei que minha paixão por ele era unilateral, mas imaginar
que possa realmente gostar de mim, causa uma felicidade que eu sequer
deveria me atrever a sentir.
— Vamos embora. — Não me movo, apenas o observo enquanto
minha mão acaricia Mercury. — Ouviu o que falei?
— E desde quando sou surda? — pergunto com sarcasmo. — Dom
poderia me levar, não precisava vir.
— Eu vim porque quis, agora vamos.
— E se eu não quiser ir? — O olhar dele fica nebuloso, eu devia
temê-lo, mas estou com raiva demais para pensar em ser prudente.
— Não comece, ando com o humor péssimo.
— Você não tem humor. — Levanto e Mercury faz o mesmo. — A
sua vida é ditar ordens e ser desagradável com todos. — Passo por ele e entro
no apartamento. — Obrigada pelo jantar e pela conversa, eu estava
precisando. — Fico na ponta dos pés e beijo o rosto do meu amigo. — Você
aprendeu bem a cozinhar com sua namorada, estava tudo divino.
— Ela não era uma namorada — diz ao passar a mão pelo meu
cabelo. — Eu não me envolvo sentimentalmente, Masha, relacionamento não
é algo que eu queira ou acredite. — O olhar dele é tão frio que faz um
calafrio percorrer meu corpo. — Prometo em breve fazer outro jantar para
você.
— Vai se foder, Domênico. — Paolo tenta pegar meu braço, mas eu
me esquivo.
— Não toque em mim. — Lanço um olhar raivoso na sua direção.
A cada vez que ele se aproxima eu me sinto ainda mais dilacerada.
Cada toque seu é a lembrança de que está indo embora e que eu nunca mais
vou poder tê-lo por perto.
Com um último carinho em Mercury eu saio da casa de Dom e sigo
em silêncio com Paolo me escoltando sem esconder o quanto está furioso.
Fazemos o caminho até à sua casa sem trocarmos uma palavra e,
quando chegamos, eu sigo direto para o meu quarto. Não irei mais dormir
com ele, chega de ilusão, a vida real bateu em nossas portas e o melhor é
dissolver o quanto antes o mundo de ilusão em que vivemos.
Para a minha sorte ele não vem atrás de mim, muito menos tenta
iniciar qualquer tipo de conversa. Quando finalmente me deito, eu deixo
apenas um abajur ligado e começo a pensar em como vou ter que organizar a
minha vida de agora em diante.
Sei que Andrei pode me acolher na sua casa, mas não posso ficar
dependendo dele para sempre. Terei que arrumar um emprego rápido e talvez
paralisar a faculdade por um tempo até que eu tenha a minha vida em ordem.
A minha cabeça começa a trabalhar fervorosamente, pensando nas
várias opções que eu posso tentar quando sair daqui. Em certo momento
meus olhos pesam e eu caio no sono.
Acordo com um movimento na cama e sinto uma mão pesada
pressionar a minha barriga. O meu corpo se agita, por mais que eu queira
distância dele, não posso negar que necessito do seu toque. Sou
completamente desse homem, Paolo penetrou até mesmo na minha alma.
— Paolo, eu não...
— Shiiii. — Ele me silencia. — Volte a dormir, finja que não estou
aqui.
— Não tenho como fingir quando está tão perto.
— Lamento não poder ficar longe. — Ele beija a curva do meu
pescoço, arrepiando a minha pele. — Durma, inferno vermelho, boa noite.
Não discuto com ele e fecho os olhos sentindo seu calor me envolver.
Por um tempo penso que não vou dormir, mas aos poucos relaxo e volto a
mergulhar no mundo dos sonhos, onde lá eu posso ter o final feliz, ao lado do
homem que eu amo.
Saio do banheiro e sento na cama, o meu corpo está dolorido, parece
que um caminhão passou por cima de mim. A tensão emocional que estou
vivendo de alguma maneira está afetando meu corpo.
Hoje quando acordei Paolo já não estava na cama, agradeci não ter
que encará-lo, cada encontro que temos agora é doloroso demais.
Uma batida na porta desperta a minha atenção, ando até ela e quando
abro, vejo Fiorella do outro lado.
— Vim me despedir, Paolo já vai me levar embora. — Os olhos dela
ficam marejados e minha vontade é impedir que a levem.
— Como eu queria poder te ajudar. — A abraço apertado, sentindo a
impotência me consumir. — Seu irmão me prometeu que vai te manter
segura, ele não faria essa promessa em vão.
— Eu estou contando com a palavra dele para ter forças de voltar para
aquele lugar horrível. — Meus braços a apertam ainda mais forte.
— Estarei do seu lado para o que precisar, basta ligar. — Ela se afasta
e segura ambas as minhas mãos.
— Se eu fosse uma pessoa má, desejaria que se casasse com meu
irmão só para te ter em nossas vidas. — Fiorella olha para nossas mãos
unidas. — Mas você merece muito mais do que ser condenada a vida na
máfia. — Agora seus olhos estão nos meus. — Paolo nunca te machucaria,
mas o mundo em que ele vive, sim. — Uma lágrima escorre por seu rosto
delicado. — Vá embora enquanto é tempo, sei que ama meu irmão, mas a
máfia não é para você, seu coração é puro demais. — Ela me dá outro abraço.
— Obrigada pelo carinho que teve comigo desde que cheguei aqui, nunca
vou esquecer o que fez por mim.
Não digo mais nada e a vejo sumir pelo corredor com os ombros
caídos, como se estivesse seguindo para a forca.
Encosto o corpo contra a parede e sinto um cansaço extremo, não
aguento mais suportar tanta pressão, preciso sair desta casa, encontrar um
novo caminho e reconstruir a minha vida, longe de toda essa loucura.

— Ei Bela Adormecida, acorda. — Pisco os olhos e vejo Leonardo


sentado ao meu lado na cama. — Isso não são horas de dormir. — Ele suspira
fundo. — Muito menos de ficar chorando, seu rosto está deformado.
Passo a mão pelo cabelo e sento-me, sem nenhum ânimo para ter
qualquer conversa com ele.
— Você precisa reagir, meu anjo, sabíamos que esse momento
chegaria.
— O problema é que ninguém me avisou que doeria tanto.
— Sei que não é fácil. — Ele me puxa para si. — Você é forte, não
chegou até aqui se deixando abater pelas pancadas da vida.
— Só que antes eu não tinha um coração destruído.
— Ah, minha bambina, não fica assim. — Com carinho ele beija meu
cabelo. — Mirta disse que veio trazer seu almoço e você estava dormindo, ela
não quis te acordar.
— Estou exausta, Leo, não tive coragem de ir à faculdade. — Esfrego
a mão no olho, depois de amanhã Paolo arruma uma noiva e acabou tudo, eu
estou fora para sempre da vida dele.
Leonardo me encara sério, raramente ele tem essa expressão tão
compenetrada, meu amigo é o rei da piada, tudo para ele é uma grande
brincadeira, mas agora pareço que estou encarando outro homem.
— É melhor você sofrer pelo que experimentou do que pensar como
teria sido. — Fecho os olhos quando beija minha testa. — Vamos almoçar?
Depois do almoço podemos visitar seu irmão, ainda espero você me revelar
se é ou não gay. — Ergue um canto da boca e me faz sorrir
Como Leonardo consegue mudar o clima tão rapidamente? Por isso
que eu amo esse idiota.
— Você não presta.
— Nunca disse que prestava. — Dá de ombros e me ajuda a levantar
da cama.

Depois de enfrentar uma briga imensa com Leonel, ao pedir que me


levasse até a casa do meu irmão, tive que falar com Domênico para ter
autorização oficial, já que Paolo estava incomunicável em uma reunião.
Prontamente Dom acatou meu pedido, no entanto mandou outro
segurança na nossa cola, já que estaríamos longe do centro da cidade.
Quando chegamos à frente da oficina do meu irmão desço do carro
rapidamente. Ainda não tinha vindo à sua casa e estou ansiosa para fazer uma
surpresa.
Seguro a mão do Leo e me esgueiro entre os dois carros que estão
parados na entrada da oficina, ouço um barulho no fundo, vindo debaixo de
um carro antigo.
— Não estou vendo fotos de mulheres nuas, isso é um bom sinal —
Leo sussurra.
— E por que teria mulheres nuas aqui?
— Porque é uma oficina e, homens gostam de fotos de nudismo
feminino.
— Você não existe. — Reviro os olhos. — Andrei, está aí? — grito.
— Ele está lá em cima, já volta. — Um homem diz quando sai
debaixo do carro ao deslizar em uma espécie de carrinho tipo um skate — O
seu carro quebrou?
— Ah, não, eu vim apenas vê-lo. — Os olhos do homem deslizam
pelo meu corpo.
— Se quiser pode subir, ele vai gostar de receber a sua visita, mas o
rapaz fica aqui embaixo.
— Merda! — Leo resmunga ao meu lado. — Minhas esperanças
foram por água abaixo.
— Cala a boca. — Brigo com ele. — Sou a irmã do Andrei, poderia
chamá-lo?
— Irmã? — Ele me olha surpreso.
— Isso mesmo que ouviu.
— Masha, o que faz aqui? — Vejo Andrei aparecer no topo da
escada.
— Vim te visitar e apresentar meu melhor amigo. — Aponto para o
Leo que praticamente está babando pelo meu irmão.
Não posso negar que Andrei é lindo, ele agora tem músculos em todos
os lugares, algumas tatuagens e lindas covinhas que o deixam irresistível.
— Subam. — Ele nos dá as costas e passa por uma porta.
Aceno para o homem que trabalha com Andrei e subo rapidamente as
escadas. Leonardo segue na minha cola, acho que ele não perdeu as
esperanças do meu irmão ser gay.
— Sentem-se no sofá — pede quando entramos. — Querem beber
algo? Não tenho nada de especial, não esperava visitas.
— Não queremos nada — digo ao olhar ao redor da sua sala pequena,
porém bem confortável. — Andrei esse é o Leonardo que tanto te falei, ele é
meu melhor amigo e esteve comigo desde que comecei a estudar aqui em
Roma.
— Muito prazer, Leonardo, muito obrigado por cuidar da minha irmã.
— O prazer é todo meu. — Leo o avalia minuciosamente, o safado
quer de qualquer jeito descobrir a opção sexual do Andrei. — Você é
deslumbrantemente lindo, a genética da família é incrível. — Vejo meu irmão
ficar visivelmente constrangido.
— Não leve Leo a sério, ele fala bobagens demais.
— Sou apenas sincero. — Olho feio para ele e o empurro para o sofá
onde Andrei nos mandou sentar. — É muito charmosa a sua casa.
— Está do jeito que Angelo deixou.
— Ele tinha bom gosto — afirmo quando me sento.
— O que faz aqui? Como deixaram você vir?
— Na verdade, Domênico deixou, aquele homem é incrível, não basta
ser bonito, também é sensato, ao contrário do carcamano, que só sabe cuspir
fogo. — Leonardo bufa.
— Carcamano? Você o chama assim?
— Quando ele me irrita, chamo. — Meu irmão abre um grande
sorriso. — Acho que vamos nos dar bem.
— Você não sabe como conto com isso. — Cutuco as costelas do
Leo, mas ele me ignora e volta a babar no meu irmão.

— Se não quiser voltar fique aqui, esse Paolo não vai te tirar da minha
casa sem que eu chame a polícia.
— Ele paga a polícia, meu anjo, o poderoso chefão tem contatos
grandes, você não tem chances com ele — meu amigo diz o óbvio.
— Esse filho da puta não pode manter minha irmã prisioneira.
— Não sou uma prisioneira de fato.
— Como não é, se precisa de autorização para vir me visitar? — Olho
para a minhas mãos e fico sem argumentos. — Não posso negar que sou
grato a ele por ter te salvado, mas agora esse homem está passando dos
limites.
— O problema é que Paolo gosta da sua irmã, mas não assume,
porque esses homens da máfia têm a masculinidade frágil, assumir
sentimentos é um sacrilégio. — Leonardo faz uma careta. — Acho tão fora
de moda essa mania deles de serem sempre duros, os fodões.
— São uns bandidos nojentos, todos deveriam estar atrás das grades.
O meu telefone toca e vejo que é Leonel.
— O que foi?
— O chefe pediu que volte para casa imediatamente.
— Vou voltar quando eu quiser e se eu sentir vontade. — Ouço
Leonel resmungar.
— Senhorita, se não descer eu vou subir e caso alguém tente me
impedir de levá-la, eu terei que agir.
— Como é? Está me ameaçando? — Meu irmão levanta e só agora eu
percebo que falei demais.
— Tenho ordens para levá-la agora mesmo, não posso desobedecer ao
chefe.
— Inferno! — Desligo irritada.
— Paolo já está descontrolado? — Leo pergunta.
— Ele é descontrolado. — Sigo até onde Andrei está e o abraço. —
Sábado ele arruma uma noiva e vai ser obrigado a me deixar ir, com sorte na
próxima semana estou aqui e vai ter que me aturar na sua casa.
— Tudo o que mais quero é tê-la aqui. — Ele beija o topo da minha
cabeça. — Masha, eu não tenho medo dele, se tiver que te tirar a força da
casa daquele bandido eu faço isso, só não quero mais te ver tão triste.
— Já passei por coisas piores. — Acaricio seu rosto. — Na verdade,
nós já passamos. — Ele aperta os braços ao meu redor.
— Ligue se precisar de mim, não importa a hora.
— Claro que ligo. — Com pesar me despeço de Andrei e vou embora.
Quando chego na oficina, Leonel já está entrando, pronto para causar
uma confusão.
— Volte para o carro — ordeno antes que ele fale alguma besteira
para o funcionário do meu irmão, que tenta impedir a sua entrada. — E não
fale comigo.
Sentirei uma falta terrível do Paolo quando eu for embora, mas dos
seus cães de guarda vou dar graças a Deus em me livrar deles.

Entro em casa mais irritada do que o momento que saí, Fiorella tem
completa razão, o mundo da máfia não é para mim, preciso ir embora logo.
Ouço vozes e me deparo com Dom, Amaro, Nicolo e Paolo na sala.
Eles param de falar quando eu entro, ignoro todos os quatro e sigo para a
escada. Estou tão cansada da minha vida, que discutir com Paolo não está nos
meus planos.
— Masha, o que está acontecendo? — Paolo pergunta, mas eu não
paro de subir, estou quase explodindo de tanta raiva.
Entro no meu quarto e tiro os sapatos, jogo minha bolsa no chão e
subo na cama. Penso na minha mãe e no tempo que ela ainda tinha gosto pela
vida e me cobria de carinho. Queria ela aqui agora, poder deitar mais uma vez
no seu colo.
Abraço um travesseiro e deixo mais uma vez as lágrimas caírem, nos
últimos dias só sei chorar.
— Preciso saber o que aconteceu. — Ouço a voz de Paolo bem perto,
mas não o respondo. — Por que está chorando? Alguém te feriu? Leonel
passou dos limites com você? Pedi apenas que se assegurasse que viesse para
casa, mas se ele perdeu a mão só me avisar.
— A única pessoa que me fere aqui é você e seu egoísmo. — Ele fica
calado.
— Masha, eu...
— Chega, Paolo! — esbravejo e o encaro. — Você está acabando
comigo me mantendo na sua casa, quando vai escolher uma noiva amanhã.
— Não consigo parar de chorar. — Eu tenho a porra de um coração e ele só
bate por você, é um idiota, te ama incondicionalmente, quando você vai ser
de outra. — A minha voz treme. — Eu só queria te odiar, mas eu não
consigo, apenas te amo.
Tudo acontece muito rápido e, quando dou por mim, Paolo está
rasgando a minha blusa fazendo os botões voarem para o chão, enquanto a
sua boca me devora. A minha mente para de raciocinar e eu apenas me agarro
ao seu corpo, esquecendo completamente que deveria repeli-lo e mantê-lo
distante de mim.
Eu o amo e essa certamente será a última vez que eu vou poder sentir
como é o paraíso estar dentro dos seus braços.
Abro a sua calça desajeitadamente, preciso dele livre, meu corpo
anseia em senti-lo me possuindo. Gemo quando ele tira meu sutiã e suga meu
seio, o calor do interior da sua boca causa um tremor pelo meu corpo.
Rodeio a minha mão no seu eixo, sentindo-o ficar duro sob a palma
da minha mão. Com muita habilidade ele me deixa nua e se posiciona entre
as minhas pernas.
Nossos olhos se cruzam quando ele começa a me penetrar. Corro a
mão pela parte de trás da sua cabeça, desalinhando os fios do seu cabelo.
Ele se inclina e me beija, começando a me foder com força. A cada
estocada o meu corpo vai subindo a temperatura e um filme passa na minha
cabeça. Tudo o que vivemos até aqui corre na minha frente em alta
velocidade e só consigo chegar à conclusão do quanto ele me fez feliz, ainda
que na maior parte do tempo tenhamos brigado por causa do seu
temperamento hostil.
Paolo foi meu céu e meu inferno, mesmo assim ninguém se
preocupou tanto comigo quanto ele.
O tecido da sua camisa de seda roça nos meus mamilos, causando
uma fricção prazerosa. Afundo as unhas nas suas costas quando todo o meu
corpo se sacode com o orgasmo intenso que me domina. Abafo um grito para
não chocar os homens que devem estar lá embaixo o esperando. Eu morreria
se Dom nos ouvisse transando.
Com um profundo gemido Paolo goza e, quase me sufoca quando
esmaga meu corpo contra o seu.
Ambos respiramos com dificuldade enquanto nossos corpos começam
a retornar a terra. Aperto meus olhos com força, odiando-me por não ter tido
forças de afastá-lo. Sou uma fraca, nunca serei capaz de resistir ao sentimento
que ele me desperta.
— Eu não posso te prender à máfia, você não merece isso. — Abro os
olhos e o vejo me encarando sem realmente parecer me enxergar. — Você é
tão pura. — Seus dedos traçam a minha mandíbula, Paolo parece estar longe,
é como se ele falasse consigo mesmo. — Não quero toda a merda da minha
vida nos seus ombros. — Afunda o rosto contra meu pescoço e inspira fundo.
— Mas te deixar ir é... — Para de falar abruptamente. — Inferno! — Ele se
afasta fazendo-me estremecer com o frio que de repente sacode o meu corpo.
— Não posso, simplesmente não posso.
Fico parada ao vê-lo vestir a calça com urgência. Seus olhos
encontram os meus quando fecha o cinto, ele parece estar prestes a explodir.
No momento em que se vira e vai embora, um soluço alto escapa dos
meus lábios e eu me sinto morrer por dentro ao mais uma vez ousar ter
esperanças de que podemos ficar juntos.
Chegamos ao fim da linha e agora eu vou ter que enfrentar a fera para
ganhar a minha liberdade.
Fecho a mala e a puxo para o closet, não quero que ninguém saiba que
já estou arrumando as minhas coisas, em especial o grande ranzinza. Porém,
quero estar pronta para o momento que eu puder deixar esta casa.
Volto para o meu quarto e sento na cama, eu me sinto tão esgotada,
nunca chorei tanto em toda minha vida, nem mesmo quando meu pai me
entregou a Yuri eu derramei tantas lágrimas.
Ouço a porta do quarto do Paolo bater e sinto meu coração acelerar.
Passos pesados se aproximam, fazendo a minha respiração travar. Não posso
vê-lo, já entendi que não consigo resistir a sua presença. O seu cheiro intenso
invade o meu quarto, ele está do outro lado da porta.
Vá embora, por favor!
Peço em silêncio, implorando secretamente que ele não me faça
perder mais uma vez o controle. Fico estática olhando para a porta, temendo
vê-lo antes de ir conhecer sua futura esposa.
Hoje não saí do meu quarto, comi o pouco que Mirta trouxe para não
correr o risco de esbarrar com ele. Ontem foi nossa despedida e doeu vê-lo ir
embora depois que tivemos um sexo tão especial.
Escuto seus passos se afastando e o alívio me domina. Graças a Deus
ele se foi, eu não conseguiria encará-lo sabendo que no momento em que
voltar para casa estará dentro de um compromisso.
Olho para o teto e respiro fundo, sentindo a tristeza se espalhar por
mim, com uma força avassaladora.
Infelizmente o meu lado masoquista ganha força e eu vou até à janela,
na intenção de acompanhar a sua partida. Não demora muito e ele aparece no
pátio, o seu Jaguar preto já está estacionado, apenas o esperando.
Ele veste um terno escuro e caminha até o carro com sua costumeira
segurança. Quando abre a porta do veículo paralisa e, parecendo saber que o
observo, ergue o rosto até a minha janela. Consigo ser ágil e dou um passo
atrás, evitando que ele me enxergue.
Pouco tempo depois ouço o carro arranhar os pneus no chão quando
acelera. Volto para a cama e abraço um travesseiro, amaldiçoando a minha
sorte.
Passo a próxima hora paralisada, apenas pensando no que deve estar
acontecendo na festa. Leo me liga e conversamos um pouco, mas minha
cabeça não está boa e eu o dispenso para que possa ir a uma festa com seu
novo affair.
Diferentemente de mim ele sabe aproveitar a vida, não se apega a
ninguém, vive um dia de cada vez sem compromisso. Futuramente ele terá
que me dar algumas dicas de como não me entregar a qualquer um.
Pego outra mala e começo a guardar o que é mais essencial, quando
termino a escondo no closet e retorno para o meu quarto. Sento no meio da
cama e deixo minha mente vagar. Acabo pegando o celular e busco por uma
foto que tirei com Paolo. Nela eu estou sentada no seu colo, em uma das raras
tardes que estávamos sozinhos em casa, quando Mirta havia ido visitar sua
família e os seguranças estavam longe da piscina.
Sorrio ao vê-lo com um cigarro entre os dedos, olhando carrancudo
para a câmera e segurando a minha cintura, enquanto eu sorria como uma
tola. Meus olhos ficam marejados, fui tão feliz quando ele pôde ser só meu.
Eu o amo tanto, tudo o que eu mais queria era que estivesse aqui do meu
lado.
A angústia me sufoca e eu não resisto e ligo para o meu irmão. Espero
que ele me atenda, preciso ao menos ouvir sua voz.
— Ei, como você está?
— Sofrendo. — Solto um respiro trêmulo. — Não estou conseguindo
suportar ficar nesta casa, preciso sair daqui.
— Calma. — Ele parece mexer em algo. — Eu vou aí te pegar.
— Eles não vão me deixar sair com você sozinha — digo triste.
— Masha, o quanto está disposta a driblar sua segurança? — A sua
voz ganha um tom denso.
— Eu fujo se houver oportunidade. — Escuto algo pesado bater em
alguma superfície dura.
— Eu vou te enviar o endereço do restaurante de um amigo, vá me
encontrar lá.
— O que está aprontando? — pergunto curiosa.
— Nada demais. — Ele faz uma pausa antes de voltar a falar. —
Você confia em mim?
— Claro que eu confio, Andrei, você é meu irmão.
— E como seu irmão eu sempre irei protegê-la com a minha vida se
for necessário. — Agora sua voz é tão macia quanto uma seda. — Vou passar
o endereço do restaurante do meu amigo, encontre-me lá em uma hora e não
leve o celular, ele pode ser rastreado. — Fico apreensiva com seu pedido,
mas ele tem razão.
— Não vou levar, estarei lá na hora combinada.
Encerro a ligação e sigo para o banheiro, preciso me arrumar logo
para poder me encontrar com ele.

— Senhorita, o Leonel está de folga e apenas ele a acompanha em


eventos externos. — O responsável pela segurança noturna me olha irritado.
— Giani, você não é incompetente, pode muito bem dispor de um
novo segurança.
— Preciso ligar para o chefe.
— Não precisa ligar para ninguém, apenas chame algum segurança e
me deixe jantar com meu irmão. O seu chefe está neste momento escolhendo
uma nova esposa, ele não quer saber aonde vou jantar. — Sou dura ao falar
com ele. — Eu nunca fui impedida de sair daqui, só preciso ter alguém para
estar comigo.
Ele trinca os dentes, mas não me contesta. Enfatizando a minha fala
sigo para o lado exterior da casa.
Tento fingir que não lingo para ele, mas por dentro estou morrendo de
medo de não conseguir sair daqui. Para minha sorte não demora muito e um
carro aparece, juntamente com um segurança.
— Por favor, não me cause problemas. — Giani pede ao parar ao meu
lado. — Não quero morrer tão cedo.
— Fique tranquilo. — Minto, lamentando internamente por enganar o
coitado.
Entro no carro e ignoro o segurança, não vou ser simpática, hoje não
estou com bom humor. Quando o carro estaciona na frente do restaurante que
marquei com Andrei, saio rapidamente.
Para minha irritação o segurança vem em meu encalço e eu o
confronto.
— Não precisa entrar, só vou jantar com meu irmão, Leonel sempre
me espera no carro ou do lado de fora. — Sou seca na minha fala. — Quero
privacidade para jantar.
— Senhorita, eu preciso ver se o restaurante é seguro, depois fico a
sua espera aqui fora.
Não o contesto, apenas dou-lhe as costas e vou para o restaurante sem
esconder a minha irritação.
Assim que entro avisto meu irmão ao fundo e sigo na sua direção,
vejo seus olhos no homem que me escolta, claramente Andrei não está
satisfeito.
— O que esse idiota está fazendo atrás de você? — pergunta quando
me sento.
— Apenas verificando se é seguro o restaurante, coisas do trabalho
dele. — Minimizo sua presença. — Ele já vai me esperar lá fora.
— Muito bom. — Andrei segura a minha mão. — Está se sentindo
melhor?
— Não consigo sequer colocar em palavras como estou me sentindo.
— Olho para nossas mãos entrelaçadas. — Eu amo Paolo, Andrei. Dói
demais saber que neste momento ele está naquela maldita festa para escolher
uma esposa.
— Ele não merece seu amor, não esqueça quem ele é de verdade. Esse
cara não presta, Masha, ficar fora da vida dele vai ser a melhor coisa que irá
te acontecer.
— Não fale assim dele, Paolo pode não ser a melhor pessoa do
mundo, mas comigo ele nunca foi mau.
— Ele soube te envolver, tenho certeza de que sempre quis te seduzir
— nego com um gesto de cabeça.
— Paolo nunca me impediu de conhecer outros rapazes, eu podia sair
e tentei me conectar a alguém muitas vezes, mas nenhum dos homens que
conheci disparava o meu coração, como acontecia quando eu o via. —
Suspiro triste. — Eu poderia ter me apaixonado por Dom, ou algum dos
seguranças, mas não foi assim, Paolo sempre me deixou inquieta e tudo foi
piorando com o tempo.
— Quando vier morar comigo sua vida vai mudar, conhecerá outras
pessoas, ficará longe da influência dele e isso facilitará abrir seu coração para
outra pessoa.
— Eu queria acreditar nisso, mas eu sei que não será assim. — Sinto
o meu peito comprimir. — Não quero mais falar sobre meus problemas,
preciso me distrair.
— Isso aí. — Ele me lança um sorriso exibindo suas lindas covinhas.
Andrei pede uma bebida para nós quando o garçom se aproxima.
Mudamos o rumo do nosso assunto e conversamos sobre seu trabalho.
— Presta atenção. — Ele olha por sobre meu ombro. — Eu vou ao
bar conversar com meu amigo, enquanto isso siga pelo corredor até o
banheiro — ele aponta a direção que devo seguir. — Fique lá até que eu veja
que seu segurança não está prestando atenção em você.
— Tudo bem — digo ansiosa.
Ele segue para o bar e eu espero um tempo para poder ir ao banheiro.
Levanto e sigo para o corredor que Andrei indicou, aproveito e uso o
banheiro. Fico o aguardando apreensiva sentindo medo de que meu segurança
perceba o que estamos tentando fazer.
Andrei aparece sorrindo e segura a minha mão caminhando apressado
para o fundo do corredor. Abrindo uma porta entramos na cozinha, as pessoas
parecem não notarem a nossa presença, enquanto caminhamos entre elas.
Quando alcançamos a rua eu respiro aliviada e corro ao lado do meu
irmão até um carro preto, que está parado bem perto da saída do beco onde
fica os fundos do restaurante.
Entramos no veículo sorrindo como crianças travessas, ele pega um
boné e o coloca antes de ligar o carro.
— Abaixe-se, não podemos correr o risco do seu segurança vê-la.
— Para onde estamos indo? — pergunto ao me abaixar.
— É surpresa. — Ergue um canto da boca, fazendo mistério.
Quando coloca o carro em movimento sinto meu corpo se arrepiar.
Pela primeira vez, desde os mais de dois anos que estou com Paolo, eu me
sinto vulnerável.
Nunca pensei que me sentiria assim, acho que me acostumei a ter seus
homens ao meu redor. Sei que Andrei não vai me ferir, mas ambos estamos
por nossa conta e isso de alguma maneira me assusta.
— Pode levantar, já estamos fora do radar do seu segurança.
— Diga logo onde estamos indo — peço ao levantar e me ajeitar no
banco.
— Você verá. — Andrei me olha de maneira enigmática. — Eu
espero de verdade que goste do que preparei para você. — Não sei explicar,
mas sinto um arrepio de tensão correr pelo meu corpo e, inesperadamente,
sinto falta que não deveria ter feito essa loucura.
Um pouco antes da festa

Fecho a porta e olho para o quarto ao lado do meu, que esconde o


inferno vermelho. Mirta me disse que ela não saiu do quarto hoje, comeu
pouco e não quis conversar com ninguém.
Sei que a estou magoando, que deveria ter ajeitado tudo para que já
estivesse longe daqui, mas eu não consigo.
Merda! Como posso ficar sem ela, se Masha é o que me faz acordar
todos os dias para enfrentar a vida medíocre que estou destinado a ter?
Ela é minha luz, a leveza que eu precisava e sequer sabia. Minha
pequena ruiva é meu único ponto de humanidade, ela silencia a minha fera
interna, apenas Masha me faz sentir vontade de sorrir.
Paro na frente da sua porta e encosto a mão na maçaneta. Quero olhar
seu rosto por alguns segundos, assim vou ter algo bom para lembrar,
enquanto eu estiver reunido com as piores pessoas deste mundo.
“Eu só queria te odiar, mas eu não consigo, apenas te amo.”
Espalmo as mãos em ambos os lados do batente da porta ao relembrar
das suas palavras ontem à noite, quando por pouco não perdi a cabeça e a
pedi em casamento.
Porra! Era ela que tinha que ser minha esposa, nenhuma outra mulher
tem o direito de ocupar esse cargo, Masha é minha em todos os sentidos, eu a
quero tanto que chego a sentir uma dor física.
Apoio a cabeça na madeira e fecho os olhos, tentando ser racional e
voltando a repetir que preciso deixá-la distante da podridão da máfia. Longe
de mim estará segura e poderá ter uma vida tranquila, sem correr os riscos de
ser a esposa do Capo.
Dou um passo atrás e ajeito meu terno, preciso sair daqui antes que eu
perca a cabeça e jogue para o alto a minha decisão de libertá-la.
Chegou o momento de deixá-la voar e seguir seu rumo.
Caminho apressado pelo corredor e desço as escadas em um trote
rápido.
— Senhor, precisa de algo? — Giani, o chefe da segurança noturna
me intercepta.
— Está tudo bem, se algo de anormal acontecer ligue, se eu não
atender fale com Dom ou Giorgio.
— Fique tranquilo.
Aceno e saio da casa, o meu carro já está no pátio e quando abro a
porta, sinto os olhos dela em mim. Ergo a cabeça na direção da sua janela,
mas não a vejo. Na verdade, não preciso vê-la, sei que ela me observa, eu
sempre a sinto quando está por perto, existe uma ligação intensa entre nós.
Silencio a minha fera interna que diz que podemos tê-la, não vou dar
ouvidos ao meu pior lado, esse é um dos motivos que a quero longe da minha
vida, Masha não merece o homem que sou quando estou dentro de um
conflito.
Ganho as ruas sentindo o rugido poderoso do motor do Porsche. A
minha mente vai para a noite passada, quando tivemos o sexo mais intenso
das nossas vidas, foi completamente poderoso o prazer que ela me fez sentir.
Nosso último momento juntos, a última vez que senti seu cheiro
diretamente na sua pele, que beijei sua boca e que a ouvi dizer que me ama.
Solto um sorriso amargo, eu não sou digno de amor, tenho sangue
demais nas mãos para ser agraciado com um sentimento tão profundo por
alguém especial como ela.
Para o meu desespero deve existir por aí algum filho da puta que vá
merecer o seu amor. Acho bom o desgraçado retribuir cada grama desse amor
para não ter que enfrentar a minha fúria se de alguma maneira ele a
machucar.
Bato no volante com força quando imagino outro homem com as
mãos no seu corpo. Já não sou bom da cabeça e, quando penso nela se
entregando a outro, quero simplesmente exterminar todos os homens héteros
de Roma.
Nem sei como chego à casa de Mattia, apenas quando estaciono é que
percebo que estou prestes a entrar no inferno. Acendo um cigarro e puxo um
longo trago. Solto a fumaça lentamente, enquanto penso que todo o meu clã
espera que eu saia hoje dessa maldita festa com um compromisso formal de
casamento.
— Pensei que já tivesse chegado. — Franco aparece ao lado da sua
esposa Antonia.
— Parei para fumar. — Aceno para Antonia. — Como está?
— Muito bem. — Como sempre ela é uma simpatia.
Os dois formam um bom casal, Franco sempre foi um marido protetor
com ela e toda a família. No passado eles tiveram problemas no casamento
com a fuga da filha com o segurança da família. Foi difícil em especial para
Antonia perder a bambina, tudo piorou quando o rastreador que Franco
enviou para encontrá-la trouxe apenas o corpo da filha.
Foi um momento complexo na vida deles, pois a garota já estava
comprometida. Franco é um homem apegado ao status, ele ficou furioso e
moveu céus e terras para poder achar os dois.
Após uma perseguição com o rastreador, o carro do casal sofreu um
acidente e os dois morreram carbonizados.
— Podem entrar, eu já estou indo. — Eles acenam e entram na casa.
Passo um tempo fumando, até que piso no cigarro e sigo para o meu
destino.
Como eu bem disse uma vez para certa ragazza que hoje é uma linda
princesa vivendo seu conto de fadas: “A vida não é bonita[27]”.
E a vida de um Capo é apenas destruição, não poderia ser diferente.

Aperto fortemente meu copo de uísque, eu me agarro a ele, ou quebro


os dentes de Mattia. Como desprezo esse homem e seu sorriso falso. Nunca
serei capaz de me casar com sua filha, não consigo imaginar ter esse tipo de
ligação com ele.
— Viviana está ansiosa para começar uma família, se a escolher tenho
certeza de que não se arrependerá, minha mulher a criou para ser uma esposa
perfeita e mãe dedicada.
A menina me olha amedrontada, ela certamente ouviu as histórias do
que já fiz e teme que eu seja no casamento, tão cruel quanto seu pai.
Não posso negar a sua beleza, Viviana tem longos cabelos pretos,
ondulados e expressivos olhos castanhos. Se eu não estivesse completamente
dominado por Masha, eu me sentiria atraído por ela.
— Posso imaginar como sua filha deve ser perfeita.
— É mais que perfeita, sei que tem muitas mulheres aqui esperando
sua avaliação, porém nenhuma delas chega aos pés da minha filha. — Ao
fundo vejo Domênico observar nossa conversa. — O que acha de marcarmos
um jantar na próxima semana? Você pode conversar com Viviana com mais
calma, tenho certeza de que vai ficar impressionado como ela é doce.
Por Deus que se esse homem não calar a boca eu corto seu pescoço.
— Depois pensamos sobre isso, eu preciso conhecer outras
pretendentes.
— Se escolher ela agora não precisa, basta dizer que a quer. — Trinco
os dentes por ele achar que pode me pressionar.
— Não me diga o que fazer, Mattia, escolho quem eu quiser para ser
minha esposa. — Encaro-o furioso. — Foi um prazer conhecê-la, Viviana,
talvez possamos conversar mais tarde. — Aceno para ela e me afasto.
Se ela não fosse a filha desse merda, até que poderíamos nos
entender, mas pensar em ter Mattia como parte da minha família é algo
intolerável.
— Você precisa se controlar, está bem nítido a sua agitação. — Dom
não esconde o medo de que eu perca a cabeça e me meta em alguma
confusão.
— Foda-se você e o resto dos merdas do Conselho. — Coloco o meu
copo de uísque vazio na bandeja do garçom e pego outro. — Não tenho
obrigação de ser simpático com os pais das minhas pretendentes.
— Com eles não, mas ao menos poderia fingir para as garotas que
está gostando de conhecê-las.
— Cale a porra da boca, Domênico. — Tomo um gole da minha
bebida. — Só quero que esse inferno acabe logo.
— Paolo, você precisa escolher alguém hoje, não perca a cabeça, tem
muita coisa em jogo aqui.
— Eu sei, caralho! — Dom é um pau grande no meu cu esfregando a
verdade na minha cara.
— Sei que você está irritado, mas não posso deixar de lembrá-lo que
eu te apoiei a enfrentar todos eles por Masha, você que não a quer dentro da
máfia.
— Ela não merece isso, você mais do que ninguém deveria saber
disso. — Ele inspira fundo.
— A única coisa que sei é que você deveria deixá-la escolher o que
deseja, a bambina está sofrendo porque você tomou uma decisão por ela. —
Olho para ele querendo socá-lo.
— Não posso permitir que ela escolha a merda de vida que nós
levamos, alguém tem que ser equilibrado nessa história.
— E desde quando você é equilibrado? — Ele ergue uma
sobrancelha.
— Vai tomar no cu, porra!
Dou as costas para ele e me afasto, é melhor conhecer mais uma
mulher do que ouvir esse filho da puta me falando merda.
Passo a próxima hora ouvindo dos pais das minhas pretendentes todas
as qualidades das suas filhas. Acabo conhecendo uma loira bem bonita, ela é
filha do subchefe da Cosa Nostra em Nápoles,
De todas que conheci esta noite ela foi a que realmente me chamou
atenção, Laura além de escandalosamente bonita, tem um olhar atrevido, ao
contrário das outras ela não tem medo de mim, na verdade a loira gosta do
que vê.
— Por que não conversam um pouco? — O pai de Laura me encara
ansioso por minha resposta.
— Claro. — Se preciso escolher uma esposa, que ao menos eu sinta
vontade de fodê-la.
— Ótimo. — Carlo sorri empolgado.
Ele se afasta e vejo Mattia ao longe parecendo querer me matar. Pela
primeira vez na noite eu me sinto contente, saber que ele está com raiva de
mim, é uma bela sensação de prazer.
— Quando meu pai disse que me traria até Roma para te conhecer eu
não acreditei. — A voz dela é baixa, com o tom de submissão que exigem de
uma mulher da máfia para conversar com uma pessoa como eu. — Já ouvi
muitas histórias sobre você.
— Com certeza nenhuma delas foram boas. — Encaro seus lábios
volumosos, é uma boa boca para se foder.
— Foram histórias que me mostraram que é um homem forte. — Ergo
uma sobrancelha, ela parece gostar do perigo.
— E essas histórias te excitaram, não é? — Laura sorri.
— Muito. — Ela se aproxima ainda mais e seu cheiro adocicado me
faz retorcer o nariz. — Não quero me casar com um fraco, quero saber que
meu marido pode me proteger — diz ao correr a língua pelos lábios com a
intenção de me seduzir. — E também quero um homem bonito como você.
Sorrio, a ragazza é boa, em outras circunstâncias eu a escolheria
agora mesmo. Porém, nem toda a sua beleza e sensualidade me atraem de
verdade, apenas uma mulher consegue realmente ter o meu interesse.
Encaro o rosto dela e não consigo deixar de compará-la ao meu
inferno vermelho. A beleza de Masha é exótica, instigante, delicada. Laura
parece mais uma loira qualquer que posso encontrar pela rua, ao contrário da
minha ruiva.
Ela é única, perfeita em cada detalhe e mesmo sem querer é sedutora,
não precisa de subterfúgios para chamar minha atenção.
— Vejo que você tem em mente o marido que procura.
— Na verdade, eu só tenho em mente ser a sua esposa. — Direta.
Ponto para ela.
— Você é bem... — a minha fala se quebra quando sinto meu celular
vibrar no bolso interno do terno. — Só um minuto que preciso atender o
celular. — Pego o aparelho e vejo o nome de Giani.
O meu corpo fica tenso na hora, ele não me ligaria se algo grave não
tivesse acontecido.
— Onde está Masha? — pergunto de imediato quando atendo.
— Senhor... — O tom dele me faz dar um passo atrás e me afastar de
Laura.
— Giani, onde está Masha? — Volto a perguntar.
— Não sei. — Espalmo a mão na testa tentando assimilar a sua fala.
— Como diabos não sabe onde ela está?
— A senhorita pediu para jantar com o irmão, mandei um dos
soldados acompanhá-la, mas ela sumiu dentro do restaurante, fugiu pelos
fundos com o irmão.
— Filho da puta. — Começo a andar para a saída da casa. — Eu vou
matar ele, depois me acerto com você e o maldito soldado que não soube
cuidar dela.
— Senhor, eu... — Desligo, não vou ficar ouvindo esse idiota, preciso
buscar a minha diaba.
— Paolo, aonde vai? — Mattia entra na minha frente.
— Vai se foder — digo ao empurrá-lo para o lado.
Nicolo aparece e eu faço sinal para me acompanhar, vou precisar dele
para segurar o irmão da Masha enquanto eu quebro o rosto do bastardo. Hoje
ele aprende a nunca mais entrar no meu caminho.
— O que aconteceu chefe? — pergunta quando saímos da casa.
— Masha fugiu com o irmão, vamos atrás deles.
— Vou pedir para Nino nos acompanhar.
— Faça como quiser. — Entro no meu carro e dou ré, manobro o
veículo e acelero, quando eu colocar as minhas mãos naquele stronzo, ele vai
se arrepender do dia que nasceu.
Praguejo quando mais uma vez o celular se encaminha para a caixa
postal, ela está deliberadamente ignorando as minhas ligações. Tudo bem,
quando eu chegar à casa do seu irmão vai ter que falar comigo pessoalmente.
Piso ainda mais no acelerador quando penso nela longe de casa, sem
nenhuma segurança. Se a porra de um russo colocar as mãos nela, eu não sei
o que faço, acho que enlouqueço de vez, vou perder o restinho da minha
sanidade.
O meu celular toca e vejo o nome de Domênico piscar, cogito não o
atender, mas sei que esse merda não vai me deixar em paz.
— O que foi? — pergunto rispidamente.
— Que merda deu em você que Giorgio me disse que saiu da festa
como um louco e ainda empurrou Mattia.
— Não tenho tempo para conversar. — Desligo o telefone e segundos
depois ele volta a tocar. — Eu disse que não tenho tempo de conversar.
— Paolo. — A voz dele sai profunda. — O que aconteceu?
— Masha fugiu, estou indo buscá-la.
— Como assim fugiu? Ela não pode ter saído da sua casa sem algum
segurança ver.
— Ela fugiu na rua, Masha é esperta demais e com a ajuda do irmão
para dar asas a sua rebeldia, ela soube rapidamente enrolar o merda do
segurança. — Aperto o volante com força. — Não devia ter deixado Leonel
tirar folga esta noite, com ele lá nada disso teria acontecido.
— Está indo para a casa do irmão dela?
— Sim.
— Vou te encontrar lá, então.
— Não. — Rapidamente nego sua ajuda. — Vá para a minha casa,
você vai saber acalmá-la quando chegarmos.
— O que está pensando em fazer? — Ele não esconde a preocupação.
— Com ela nada, já com o irmão... — Deixo a minha fala em aberto.
— Se machucá-lo, ela não vai te perdoar.
— Foda-se, eu não posso é permitir que um merdinha se atreva a
achar que pode tirá-la de mim.
— Ele pode Paolo, é o irmão dela e quer cuidar da Masha, deixe-a
ficar com ele.
— Vá se foder você também. — Desligo.
Domênico volta a ligar, só que desta vez não atendo, não quero saber
de mais nada, apenas quero levar Masha para a minha casa.
Não demoro muito a chegar no bairro onde o irmão dela mora e, com
a ajuda do GPS, eu localizo o buraco que ele se esconde.
Rato do caralho, hoje ele perde uns dentes para aprender a nunca se
meter comigo.
Estaciono mais a frente para não notarem meu carro e caminho até o
imóvel percebendo tudo escuro na parte superior onde fica a casa, apenas
uma luz parca ilumina a frente da oficina.
Acendo um cigarro e escuto os carros dos meninos parando um pouco
à frente do meu.
— O que faremos? — Nicolo pergunta segundos depois quando se
posta ao meu lado.
— Abra a porta, vamos subir. — Expiro uma densa fumaça sentindo
meu corpo tremer de raiva.
Minha fera interna ruge, querendo sair da escuridão, mas eu não posso
libertá-la, infelizmente Dom está certo, se eu ferir o bastardo, como desejo,
ela nunca irá me perdoar.
Sem nenhuma dificuldade Nicolo abre a porta que leva ao andar de
cima. Isso me irrita, porque do mesmo jeito que ele não teve dificuldade em
acessar a casa do irmão dela, os russos podem fazer o mesmo.
Descarto o cigarro e subo as escadas de dois em dois degraus, quando
paro na porta de entrada tudo está silencioso demais. Pego a minha arma e
olho para os meninos. Nino passa a minha frente e testa a maçaneta, ela
destrava imediatamente.
Ele me encara preocupado, tudo está estranho, não gosto do silêncio e
da escuridão que está dentro da casa.
— Atirem para matar, só não se atrevam a machucá-la. — Instruo-os
antes de entrar.
O breu me recepciona, não tem nenhuma luz ligada, a pouca claridade
que existe, vem da iluminação que entra pela janela da sala.
Segundos depois a luz é acesa por Nicolo e meus olhos piscam para se
adaptarem a claridade.
— Vá por ali, Nino — aponto para o corredor à sua esquerda, Nicolo
segue para o lado oposto, enquanto eu fico na sala, tentando encontrar algum
sinal de que ela esteve por aqui.
— Chefe, na cozinha e lavanderia não tem ninguém. — Nicolo
retorna à sala após sua inspeção.
— Vá ajudar, Nino. — Pego o celular e ligo para ela.
No terceiro toque sou atendido e por alguns segundos me sinto
aliviado, mas quando a voz de Mirta entra na ligação eu volto a ficar tenso.
— Ela está com você? — pergunto esperançoso.
— Infelizmente não, senhor, eu encontrei o telefone dela em cima da
cama. — Puta que pariu! Ela tramou tudo certinho. — E também achei as
malas dela, a bambina as deixou no closet para que ninguém visse. — Fecho
os olhos me odiando por machucá-la tanto.
— Mirta, ela conversou algo com você sobre fugir? E não ouse mentir
para mim.
— Não senhor, ela estava muito triste nos últimos dias, mal estava
comendo. — Ela faz alguns segundos de silêncio. — A bambina é
apaixonada pelo senhor, todo mundo vê isso e depois que soube que teria que
escolher uma noiva ela ficou muito abalada, tenho certeza de que fugiu por
causa disso.
— Chefe, a casa está vazia e não existe sinal de nenhum
arrombamento ou luta, tudo está normal. — Nicolo guarda a arma no coldre.
— Mirta se ela aparecer me ligue imediatamente.
— Claro que eu ligo.
Assim que encerro a ligação eu ligo para o incompetente do Giani.
— Estou ouvindo, chefe.
— Coloque um esquadrão de homens para revirar Roma, se a
encontrar com o irmão leve os dois para a minha casa.
— Já estão procurando por ela, senhor.
— Giani, que nada aconteça a minha ragazza, porque se tirarem um
fio de cabelo dela, você é um homem morto e eu vou te matar da maneira
mais dolorosa possível. — Desligo sem esperar ele falar nada.
— Quero que vocês rodem o bairro, eles podem estar em algum bar.
— Mas não podemos deixá-lo aqui sozinho. — Nino protesta.
— Sou bem grandinho, sei me defender.
— Ele está certo, chefe. — Nicolo concorda com o parceiro. — É
melhor um de nós ficarmos aqui.
— Pelo amor de Deus, calem essas malditas bocas e vão procurar
Masha, ela sim corre risco, não eu — digo irritado. — Vão logo ou eu mesmo
coloco esse bairro abaixo.
Mesmo contrariados os dois vão embora, enquanto eu rodo todo o
apartamento observando cada detalhe.
Não é um lugar grande, porém têm dois quartos e um banheiro
confortável. Está longe do luxo que Masha vive, mas não posso negar que é
um espaço agradável.
Vou até à cozinha e no meio do caminho descubro uma porta.
Destranco-a e vejo uma iluminação discreta vinda do andar abaixo. Desço as
escadas e noto que leva diretamente para a oficina.
O lugar é bem organizado, dois carros semidesmontados estão no
fundo. Não perco tempo no local, volto a subir e sigo direto para a cozinha.
Vasculho a geladeira do desgraçado e encontro algumas cervejas.
Abro uma e me sento, odeio não saber o que fazer, eu quero ir atrás dela, mas
também preciso ficar aqui, caso chegue.
O meu celular toca e mais uma vez é Domênico, como estou sem
fazer porra nenhuma eu o atendo.
— Alguma novidade?
— Nada — respondo frustrado. — Mandei Nicolo e Nino procurarem
algum rastro deles pelo bairro, eu estou na casa do filho da puta do irmão
dela, quero estar presente caso eles cheguem.
— Paolo, por que já não mandou rastrear o celular da Masha? Não
precisa ficar procurando sem rumo quando pode ir direto à fonte. — Bebo um
pouco da cerveja.
— Ela deixou o celular em casa, pensou em cada passo da fuga. —
Dom fica em silêncio, não gosto disso, ele sempre tem algo a dizer. — O que
foi? — Ouço expirar profundamente.
— Não estou gostando disso
— O que está querendo dizer?
— Masha sempre foi muito tranquila, deixar o celular em casa não é
algo que faria sozinha.
— Está querendo dizer que isso foi ideia do irmão?
— Exato. — Ouço um farfalhar de chaves. — Ele sabia que podíamos
encontrá-la pelo celular, certamente pediu para que não o levasse.
— Domênico, tem certeza de que investigou esse moleque a fundo?
Ele passou tempo demais na rua, pode ter tido contato com nossos inimigos.
— Não achei nada que pudesse nos causar preocupação, mas tudo
pode mudar, os russos sabem dela, acreditam que é sua amante e esse menino
apareceu e se aproximou da Masha. Ninguém pode nos garantir que ele não
tenha se vendido depois que eu o investiguei.
Fecho a minha mão contra a garrafa sentindo a raiva me engolir, esse
tempo todo eu a mantive segura, bastou esse filho da puta chegar para colocá-
la em risco.
— Dom, se os russos a pegarem se prepare para a guerra, porque eu
vou atrás deles e Roma vai abaixo quando eu os alcançá-los, essa cidade não
estará preparada para o tanto de sangue que eu vou derramar.
— Você precisa se acalmar, não adianta perder a cabeça, precisamos
estar frios para encontrá-la logo.
— Frio é o caralho. — Bato a garrafa sobre a mesa e fico admirado
por ela não se quebrar. — Eu quero sangue e, vou ter, se machucarem a
minha mulher. — Sinto meus músculos tremerem.
— Paolo... — Ele tenta falar, mas eu não deixo.
— Já escolhi a minha esposa, quando eu recuperar Masha, ela vai se
casar comigo, foda-se o Conselho, ou aceitam ela como uma de nós, ou
escolham a morte, porque não abro mão dela de jeito nenhum. Se prepare
para mais um conflito, porque eu não vou ceder.
— Vamos pensar primeiro em achá-la, depois partimos para a
próxima fase. — Ouço-o ligar o carro. — Vou passar na sua casa para tentar
achar alguma pista, depois irei ao seu encontro e ficarei ligado pelo caminho
para tentar achá-la. Caso eles cheguem tente se controlar, não faça nada que
possa causar um atrito irreparável com ela, lembre-se que Andrei é o único
parente vivo da Masha.
— Não prometo nada. — Encerro a ligação e sorvo um grande gole
da cerveja furioso.
Os próximos trinta minutos passam lentamente e eu começo a pensar
que o pior aconteceu. São homens demais atrás dela, era para alguém já ter
identificado a sua localização.
— E aí Nicolo?
— Até agora nada, estou andando de bar em bar e não encontro rastro
dos dois. — Fecho os olhos.
— Nino falou com você?
— Ele acabou de ir para o bairro vizinho, disseram que lá tem um bar
bem movimentado, espero que tenha sorte.
— Não deixe de me dar notícias.
Pego outra cerveja e ando irritado pela casa, estou me sentindo dentro
de uma gaiola, se não chegarem na próxima hora, eu vou para a rua vasculhar
cada canto desta cidade. Preciso achá-la o quanto antes, não aguento mais
essa espera maldita.
Decido desligar todas as luzes da casa, mantenho apenas a da cozinha
acesa, não quero que notem que estou aqui, se eles chegarem quero pegá-los
de surpresa.
Um tempo depois ouço um barulho de carro parando, meus sentidos
ficam aguçados. Vou até à janela da sala espiar, querendo saber quem é. Dom
não pode ser porque não deu tempo dele passar na minha casa e vir até aqui.
Ninguém sai do carro, mas eu ouço a porta da oficina abrir. Volto
para a cozinha e apago a luz, finalmente chegaram. Bem... ao menos eu
espero que ela esteja com o irmão, porque se esse merda a entregou aos
russos, vai sangrar como um porco antes que eu o mate.
O alívio me domina quando ouço a risada dela vinda da oficina, a
minha ruiva está bem. Seco a testa, só agora noto que estou suando pra
caralho.
Um dia essa mulher me mata do coração, eu sabia que ela me daria
um trabalho filho da puta desde o segundo que a levei para casa.
Saio da cozinha e sento na poltrona que dá bem de frente para a porta
que leva à oficina. No instante que eles ligarem as luzes terão uma bela
surpresa.
Conforme ouço as vozes deles se aproximando, meu coração acelera.
Quando a porta se abre e a luz é acesa, eu cruzo as pernas e coloco minha
arma sobre a coxa, agora é esperar eles me notarem.
Masha percebe a minha presença primeiramente e arregala os olhos
surpresa, na sequência seu irmão me fita e paralisa. Ele até tenta se controlar,
mas o medo se espalha por seu rosto.
— Boo! — sussurro, fazendo um esforço hercúleo para não avançar
sobre o stronzo.
Algumas horas antes

O meu coração está acelerado quando Andrei entra em uma estrada de


terra estreita, ele coloca os faróis alto, pois a iluminação nessa parte é
precária.
— Você está me deixando ansiosa, quero saber onde estamos indo.
— Em instantes saberá. — Ele me lança um olhar misterioso.
Tento me acalmar, mas é um pouco difícil. Estou agitada por vários
motivos e o principal deles é por saber que quando Paolo descobrir que eu
fugi, vai ter uma crise de raiva.
Queria me sentir feliz por de alguma maneira atingi-lo, mas eu não
consigo. O amor que sinto por aquele homem não me permite sentir
satisfação em saber que ele está aborrecido.
Andrei desacelera quando chegamos a uma parte descampada e vejo
outros carros no local.
— Vem, vamos descer. — Ele estaciona e abre a porta do carro.
Também saio e olho ao redor percebendo que estamos em uma
espécie de mirante improvisado.
— Segura aqui. — Olho para o meu irmão que me entrega uma
manta.
Ele volta para o porta-malas do carro e tira de lá uma espécie de caixa
térmica.
— Vamos nos sentar ali — aponta para uma parte que fica mais longe
de onde os carros estão estacionados.
Seguimos até o espaço que indicou e eu abro a manta. Nós nos
acomodamos um ao lado do outro, Andrei pega duas cervejas e me entrega
uma. Brindamos sorrindo, em seguida admiro a paisagem à frente.
A cidade abaixo de nós brilha magicamente e o frio da noite causa um
arrepio no meu corpo. A sensação de liberdade é muito bem-vinda, porém
não posso negar que me sinto triste com tudo o que está acontecendo na
minha vida.
— Descobri este lugar quando fui morar com Angelo, passei muitas
noites aqui, pensando em como faria para encontrar você.
Deito a minha cabeça no seu ombro, feliz por tê-lo novamente na
minha vida. Desde que fui morar com Paolo não me permiti pensar muito em
minha família, mas no instante que o reencontrei, percebi o quanto senti falta
de uma referência familiar.
— Também pensei em você em alguns momentos, mesmo quando
sentia raiva por ter me deixado para trás, eu desejava que estivesse bem.
— Se eu pudesse voltar no tempo teria feito tudo diferente. — Ele
acaricia o meu cabelo.
— Não vamos pensar no passado, temos um futuro juntos pela frente.
— Você está certa. — Fecho os olhos quando ele beija a minha testa.
— Vamos comer? Eu trouxe sanduíches.
— Estou vendo que pensou em tudo — digo ao pegar a embalagem
que me oferece.
— Tentei me organizar o melhor possível, queria te animar. — Sorrio
ao morder o sanduíche sentindo o sabor do salame e rúcula se espalhar pela
minha boca.
— Uau! Está uma delícia. — Elogio ao morder mais um pedaço.
— Eu me arrisco um pouco na cozinha e sanduíches é minha
especialidade.
— Vou explorar esse seu dom. — Dividimos um sorriso cúmplice.
— Não se preocupe que vou fazer muitos deles quando vier morar
comigo.
Olho para o alto inspirando fundo, pensar em deixar a minha vida na
casa do Paolo para trás é algo sufocante. Sei que chegamos ao fim da linha,
porém não posso deixar de me sentir triste por saber que não posso tê-lo.
— Pare de pensar nele, você precisa superar.
— Já amou alguém? — pergunto ao beber um pouco da cerveja.
— Acho que sequer me apaixonei de verdade. — Ele move o corpo e
apoia um cotovelo no chão.
— Então não vai entender o que sinto. — Cruzo as pernas na altura
dos tornozelos e apoio as mãos no chão. — É difícil parar de pensar em
alguém que domina todo seu pensamento.
— Masha ele é um mafioso, precisa esquecer esse homem, você sabe
bem o que o crime pode fazer com uma pessoa.
— É... eu sei. — Assumo. — Ainda assim não posso deixar de amá-
lo, é mais forte do que eu. — Paro de falar e respiro fundo. — Não posso
evitar o que sinto, apenas o cheiro dele é o suficiente para despertar cada
célula do meu corpo, nunca outro homem me fez sentir isso e olha que eu
tentei encontrar esse frisson com muitos rapazes.
— Você vai ter que esquecê-lo.
— Não vai ser fácil, mas eu vou encontrar uma maneira de seguir em
frente.
— Estarei sempre com você, Masha, não está mais sozinha.
— Você não sabe como é bom ouvir isso. — Pego a minha cerveja e
bebo, admirando a linda paisagem a nossa frente.
— Acho melhor ir para casa, não quero que entre ainda mais em uma
confusão por minha causa.
— O que está feito não pode ser mudado, então apenas relaxe. —
Andrei parece tranquilo.
— A essa hora ele sabe que eu fugi e deve ter mandado seus homens
atrás de mim, certamente encontraremos alguém na frente da sua casa.
— Lidaremos com isso depois. — Andrei dirige tranquilamente, até
que entra na sua rua. — Com um pouco de sorte ele entende que precisa te
libertar.
Não discuto com ele, apenas viro o corpo e procuro pela minha bolsa
no banco de trás quando se aproxima da sua casa.
Entramos pela sua garagem, para nossa sorte tudo parece silencioso.
Não nego que estou surpresa, pensei que encontraríamos algum dos homens
do Paolo nos esperando, talvez meu irmão esteja certo e ele já saiba quem
será a sua nova esposa, por isso não se importa em me procurar.
Camuflo a tristeza porque não quero que Andrei perceba o turbilhão
de emoções que estou sentindo.
— Viu, não encontramos ninguém nos esperando — diz quando desce
do carro.
— Estou verdadeiramente surpresa. — Não posso negar que esperava
enfrentar problemas ao chegar à sua casa.
— Ele é esperto, Masha, sabe que não pode te impedir de ir embora
quando precisa se casar com uma mulher do seu meio. — Travo ao ouvir sua
fala, a verdade doí demais. — Não fique assim, com o tempo vai entender
que o melhor que lhe aconteceu foi sair das garras dele. — Andrei segura a
minha mão. — Agora vamos encher a cara enquanto assistimos alguma série
na TV.
Ele acaba me arrancando um sorriso quando segura a minha mão e me
puxa para subir as escadas que levam até sua casa.
Ainda bem que tenho meu irmão, não sei o que seria de mim nesse
momento sem o seu apoio.
Nós entramos na casa ainda sorrindo, mas o clima muda quando
identifico Paolo sentado em uma poltrona, com uma arma na coxa.
— Boo! — ele sussurra e cada um dos pelos do meu corpo se
arrepiam.

Tento manter a calma, mas não é fácil quando tenho o olhar furioso
de Paolo sobre mim. Ele sabe perfeitamente como intimidar uma pessoa, eu o
odeio profundamente neste momento.
— Como entrou na minha casa? — Andrei quebra o silêncio tenso.
— Qual o tipo de segurança a sua casa possui? — Paolo pergunta com
tranquilidade. — Eu não tive problema em entrar e beber algumas das suas
cervejas. — Ele segura a arma e me encara. — Se divertiu muito, inferno
vermelho?
O meu corpo estremece, sei bem que controle não é algo que ele tenha
domínio e estou com medo do que possa fazer com meu irmão.
— Apenas pare! — peço nervosa. — Fui eu que propus a Andrei que
saíssemos juntos.
— Masha, não faça isso. — Meu irmão se manifesta e eu o olho feio.
Sei que Paolo nunca será capaz de me ferir, mas não posso garantir o
mesmo com relação ao meu irmão.
— Estou pouco me fodendo quem criou essa confusão, só posso dizer
que estou muito aborrecido. — Ele levanta. — Você não devia estar aqui, seu
lugar é na nossa casa, protegida.
— A minha casa agora é aqui, eu vou vir morar com meu irmão. —
Paolo aperta os olhos, ele está prestes a explodir.
— Você não irá a lugar nenhum — diz com a voz baixa.
— Larga essa arma, Paolo. — Praticamente imploro. — Andrei
apenas fez o que pedi.
— Não ligo se foi você que pediu, ele precisa ser punido por pensar
em te tirar de mim. — Ele avança na nossa direção.
— Ninguém vai ser punido aqui. — Eu o confronto.
— Sério? — questiona ao parar na minha frente. — Quero sangue,
Masha, passei mais de uma hora de merda tentando saber onde você estava.
— Pela primeira vez na vida vejo vulnerabilidade no seu olhar. — Eu não
vou poupar ninguém além de você.
— Por favor, se acalme — suplico em desespero, sei o que pode fazer
com meu irmão.
— Não sinto calma quando te tiram de mim — Paolo esbraveja e eu
grito quando ele se move com agilidade e segura Andrei. — O quanto você é
tolerável a dor? — pergunta ao aprisionar a garganta do meu irmão.
— Pare! — grito ao segurar seu braço. — Ele não tem culpa, eu que
pedi que fugisse comigo.
— Você não faria isso. — Paolo aperta ainda mais a garganta do meu
irmão. — Esse merda que te convenceu a se rebelar.
— Por favor, Paolo, largue-o. — Tento puxar seu braço.
— Acha mesmo que pode me enfrentar, garoto? — pergunta furioso.
— Você devia ter mais amor à vida. — Andrei se debate em busca de ar.
— Solta ele. — Praticamente me penduro no seu braço, mas ele não
se move um centímetro. — Está sufocando Andrei, largue-o.
— Vou fazer muito mais que sufocar esse filho da puta.
— Paolo! — A voz profunda do Dom enche a sala e eu sinto alívio
quando o vejo parado na porta. — Solte o ragazzo — exige com sua voz
calma.
— Não me dê ordens. — Paolo aperta ainda mais a garganta do meu
irmão.
— Se você realmente se importa com Masha, não pode machucar o
irmão dela. — Domênico se aproxima. — Podemos mostrar a ele de outras
maneiras que não deve nos confrontar, agora se afaste.
Paolo respira com dificuldade, ele tem o rosto contrito e os dentes
trincados. Está completamente fora de controle e se dermos um movimento
em falso o pior pode acontecer.
— Precisa soltá-lo — digo baixo ao apoiar minha mão contra seu
peito. — Ele não teve culpa, eu o chamei porque estava triste. — Toco seu
rosto e delicadamente acaricio sua barba.
Firmo as duas mãos na sua face e o faço me encarar, prendo a
respiração quando vejo seus olhos completamente tomados pela obscuridão.
— Eu te amo, Paolo, mas não te perdoarei se ferir Andrei, precisa
soltá-lo. — Ele me encara de uma forma que me causa medo, nunca o vi com
esse olhar e estou verdadeiramente assustada com essa sua face sombria. —
Estou bem, não precisa mais se preocupar, juro que volto para casa com você
se soltá-lo.
Percebo que ele suaviza o aperto na garganta de Andrei, graças a
Deus ele está começando a voltar para a realidade.
— Você tem ideia do inferno que passei pensando que poderia ter
parado nas mãos dos meus inimigos?
— Lamento te fazer passar por esse estresse, mas eu não aguentei
ficar sozinha quando você estava saindo em definitivo da minha vida. —
Assumo. — Eu vou precisar me virar a partir de agora, você não vai mais
poder tomar conta de mim.
— Sempre vou tomar. — Agora ele solta Andrei e me segura. —
Ninguém vai te tirar de mim porque é minha; sempre foi. — Paolo me abraça
e eu fico tensa porque ainda segura a arma. — Eu morro por você e vou
enfrentar quem entrar no meu caminho, porque não aceito outra mulher na
minha vida além de você.
— Como é? — Olho para seu rosto confusa. — O que está dizendo?
— Estou dizendo que não vou escolher porra nenhuma de mulher que
o meu clã ache certo para mim, é você que eu quero e vamos nos casar. —
Ele apoia uma mão no meu rosto. — Não posso ficar sem meu lindo e
tempestuoso inferno vermelho. — Não me movo quando me beija. — Case-
se comigo, Masha, juro que me esforçarei para ser um bom marido para você.
Pisco várias vezes sem acreditar no que estou ouvindo, devo ter
bebido demais, não é possível.
— Pode guardar essa arma? — peço, pois não consigo pensar em
nada quando ele tem essa maldita pistola na mão.
— Não se preocupe com ela, jamais te machucaria. — Paolo a guarda
no coldre e olha para o sofá onde Andrei sentou tentando recuperar a
respiração. — Já não digo o mesmo de certas pessoas.
— Pare com isso. — Sou dura ao recriminá-lo. — Como assim casar?
Que loucura é essa?
— Não é loucura, eu só não posso deixar que ditem sobre a minha
vida — diz ao acariciar meu rosto com o polegar. — Se sou a porra de um
Capo, líder do meu clã, no mínimo posso escolher a minha esposa. — Paolo
me lança um sorriso sacana. — Eu quero você. — Completa com a voz baixa.
Lágrimas se acumulam nos meus olhos, porque nunca imaginei ouvir
algo assim dele.
— Não chore. — Ele me puxa para um abraço.
— Um dia vocês ainda me matam. — Ouço ao fundo a voz cansada
de Dom. — Você está bem, garoto? Quer alguma ajuda? — pergunta ao meu
irmão.
— Só quero matar seu amigo, será que me empresta sua arma? —
Paolo rosna e se afasta de mim.
— A única pessoa que merece morrer aqui é você.
— Pode parar. — Puxo seu braço. — Não ouse mais encostar no meu
irmão.
— Ele te colocou em risco — diz ao me olhar com raiva. — Tem
noção do que poderia ter acontecido? — Não digo nada. — Sequer gosto de
pensar nos perigos que correu.
— Agora está tudo bem, apenas relaxe. — Domênico tenta apaziguar
a situação.
— Está realmente bem? — Ergo o rosto quando uma voz estranha soa
no ambiente. — Acho que não tem nada bem aqui.
Paraliso ao ver o homem grande parado na porta, acompanhado de
mais cinco soldados.
Meu Deus! Vladislav em pessoa está na casa do meu irmão e isso não
é nada bom.
Todo o meu corpo se agita quando vejo Vladislav a minha frente, eu
esperava muita coisa nesta noite, menos um embate direto com ele,
justamente aqui.
Agora eu preciso ter calma, ainda que eu não saiba o que é isso, mas
terei que me segurar porque Masha está aqui.
Ele tem cinco homens ao seu lado, pode ter mais outros lá fora. Posso
lidar com todos esses cinco tendo Domênico comigo, o que não posso é
colocar minha ruiva em risco.
— Hoje foi dia de dedetização nos bueiros? — pergunto fingindo
tranquilidade e me posicionando na frente da minha ruiva. — Os ratos saíram
do esgoto, Domênico — digo ao encarar meu amigo intensamente.
Como o esperado Dom mantém sua face fria, em momentos de perigo
ninguém consegue ser tão calmo quanto ele.
— Acho que é uma boa noite para eliminar a sujeita que está em
Roma — comenta com a voz profunda.
Vladislav joga a cabeça para trás e sorri, seus homens o acompanham,
parecendo se divertirem com nossas palavras.
— Não sei se perceberam, mas somos seis e vocês apenas dois. — Ele
se movimenta e entra ainda mais na sala. — Sei que não tem mais dos seus
homens por perto, Paolo, essa briga já está ganha.
— Por acaso acha que por serem em maior número vocês irão muito
longe? — pergunto tranquilamente. — Por favor, Vladislav, você não é
ingênuo. — Eu o encaro já sentindo minha fera interna emergir. — Eu e Dom
somos melhores que vocês, se decidir seguir adiante com isso, todos sairão
mortos daqui.
— Será mesmo? — Ele inclina a cabeça. — Ela está ainda mais
gostosa, fiquei sabendo que é sua puta pessoal. — Dou um passo à frente,
agora ele conseguiu me desestabilizar.
— Controle sua boca, stronzo.
— Opa! — Ergue as duas mãos sorrindo. — Não quis ofender sua
prostituta de luxo.
E com essas palavras ele consegue me descontrolar, perco a cabeça e
vejo tudo vermelho na minha frente.
Com a agilidade de um felino pulo pelo sofá e seguro Vladislav, ele é
pego de surpresa com a minha ação e demora alguns segundos até reagir ao
meu aperto na sua garganta.
Seguro-o com força, cortando toda a sua entrada de ar. Aprendi com
meu pai a matar assim, vários homens já morreram na minha mão apenas por
não conseguirem respirar. Com a raiva que estou sentindo agora, posso matá-
lo em segundos.
— Se veio aqui para morrer vou realizar seu desejo. — Ele acerta um
soco forte no meu queixo, meu aperto diminui, pois a dor se espalha pelo
meu rosto.
Ouço um tiro ecoar e o grito da Masha se espalha pela sala. Quero
saber se ela está bem, mas não posso recuar agora, preciso matar Vladislav o
quanto antes.
Ele me dá outro soco e entramos em uma luta corporal intensa,
empurro seu corpo fazendo-o bater contra a parede, enquanto mais tiros são
disparados. O caos se espalha quando Dom começa a agir e,
surpreendentemente, o irmão da Masha também luta com os russos.
Vladislav se recupera rápido e saca a arma, achando que vai me
intimidar. Bastardo! Eu o destruirei esta noite.
— Eu vou te matar e vou levar sua garota — diz sorrindo. — Ela era
para ter sido minha se o fracote do Yuri não a tivesse vendido, tenho o direito
de usá-la como eu quiser, já que a vi antes de você.
— Para fazer isso tem que me matar primeiro — falo com calma ao
também pegar minha arma. — Mas não será hoje que vou morrer.
— Será? — Ouço mais um tiro e pela visão periférica vejo um russo
cair.
— Vá embora com seus homens que sobraram Vladislav —
Domênico ordena com sua voz fria. — Se continuar aqui, nenhum de vocês
saíra com vida.
— Então, ninguém saíra vivo, porque nenhum deles está autorizado a
recuar.
Ele se joga contra meu corpo e rolamos no chão. A minha arma
escapa da minha mão e vai para longe. Agora preciso contê-lo com minhas
próprias mãos ou tentar pegar a faca que possuo na parte de trás das minhas
costas para cravá-la no seu pescoço.
— Não, Andrei! — Masha grita quando um tiro é disparado, seguido
de um corpo caindo. — Não! — Mais uma vez ela berra em desespero.
— Para trás, Masha — Domênico ordena ao atirar.
— Andrei! — ela diz o nome do irmão aos prantos.
Tento conter Vladislav o máximo que posso, mas tudo se complica
por não poder saber o que está acontecendo com meu inferno vermelho.
Neste momento preciso confiar em Dom, agora necessito matar este maldito
russo, se ele me eliminar posso colocar minha ruiva em risco.
Consigo chutá-lo para longe e busco por minha arma. Vladislav acaba
sendo mais ágil do que eu e levanta apontando a sua pistola para mim.
— E agora, Paolo Torcasio? Quem será que vai morrer? — Ouço ao
fundo meu amigo lutando com o russo que sobrou e Masha chorando,
provavelmente porque atiraram no seu irmão.
Mais tiros são disparados e ouço corpos caindo no chão. Não consigo
identificar se Dom foi atingido, preciso me concentrar no russo.
O caos é completo e, neste momento, eu estou encurralado sem saber
o que fazer. Encontro-me no chão, desarmado e com o maldito russo
apontando uma arma para mim.
Caralho! Não posso morrer agora, não sei se Domênico está vivo
para conseguir salvar a minha ruiva.
— Se acha que vou implorar pela minha vida lamento, vou te
decepcionar. — Não tem jeito, preciso confiar que Dom esteja bem, que
consiga lidar com Vladislav para salvar minha ragazza, o meu fim chegou e
vou morrer sabendo que fiz de tudo para protegê-la.
— Não espero que implore por sua vida, apesar de desejar isso. — Ele
destrava a arma. — Ainda assim será um prazer eliminar o grande Capo de
Roma. — Encaro seus olhos, esperando pelo disparo.
Não tenho medo de morrer, uma hora iria acontecer, meu único temor
é Masha, não quero que pare nas mãos desse desgraçado.
Acabo tomando a decisão de avançar sobre ele, morrerei tentando
eliminá-lo, só assim Masha ficará segura.
— Ou larga essa arma ou vou atirar. — A voz raivosa do meu inferno
vermelho se espalha pela sala e impede minha ação.
— Temos uma corajosa aqui? — Vladislav pergunta. — Pare de
brincar com o que não pode lidar sua vadia, você... — Ele não tem tempo de
terminar sua fala, pois Masha dispara três tiros certeiros que atingem seu
peito.
Ele arregala os olhos e dá um passo para trás, em seguida seu corpo
desaba no chão respirando com dificuldade ao colocar a mão em um dos
pontos onde foi atingido.
Levanto rapidamente e pego sua arma, disparo três vezes na sua
cabeça, certificando-me de que ele não sobreviva.
Encaro os olhos vazios sentindo uma onda de prazer me dominar.
Adeus filho da puta!
— Inferno! — Ouço a voz do Domênico. — Que porra de bagunça
esses merdas fizeram. — Olho na sua direção e o vejo apertar a parte lateral
do corpo próximo da sua barriga.
— O que aconteceu aqui? — Meus olhos correm para a porta e vejo
Nicolo chegar. — Não acredito que perdi a ação da noite.
— Podia ter chegado antes, nos pouparia de tanta sujeira — digo ao
caminhar até Masha. — Solte essa arma. — Seguro a minha pistola que está
na sua mão. — Venha aqui. — A trago para dentro dos meus braços, ela está
gelada e com os músculos tensos.
— Eu matei um homem. — Sua voz sai estridente. — Matei uma
pessoa. — Seguro seu rosto.
— Não matou ninguém, eu o matei. Você apenas atirou nele, mas o
infeliz ficou vivo. — As lágrimas começam a correr com força pelo seu rosto.
— Você fez o certo, Vladislav iria nos matar.
— Meu irmão — diz baixinho. — Ele foi atingido, Dom também.
— Vou cuidar deles. — Acaricio sua bochecha. — Tudo vai ficar
bem, eu prometo. — Ver seu rosto banhado de lágrimas e seu medo acaba
comigo, eu enfrento qualquer risco, mas não consigo suportar ver meu
inferno vermelho sofrendo. — Nicolo, chame Nino agora mesmo para limpar
toda essa bagunça, precisamos socorrer o irmão da Masha, ligue para nosso
médico, vamos ver se podemos cuidar dele sem precisar levar ao hospital. —
Relutantemente me afasto dela.
— Não é nada demais. — O traste do irmão dela fala ao fazer uma
careta. — Foi apenas um tiro no braço.
— Pelo menos você é um bastardo corajoso — digo ao me agachar na
frente dele e olhar o ferimento. — Parece que a bala não ficou alojada, se ela
ultrapassou sua carne apenas uns pontos e antibiótico resolverá seus
problemas.
Dom levanta ainda apertando a lateral do corpo, olho para ele
analisando sua expressão, mas como sempre ele não demonstra nada, está
com seu rosto inexpressivo.
— Deixe-me ver como você está — peço ao me aproximar dele.
— Não vou morrer, fique tranquilo. — Ele inspira fundo.
— Lamento te informar, mas tem muito sangue na sua blusa.
— Nada que eu não posso lidar. — Trocamos um olhar tenso, não
estou gostando da falta de cor no seu rosto.
— Nino está vindo, ele vai se livrar dos russos, precisamos sair daqui,
o médico está indo para a sua casa, chefe. — Aceno para Nicolo.
— Leve Dom, eu vou com Masha e o irmão dela no meu carro.
— Certo.
Ajudo Andrei a se levantar, ele geme quando começa a andar. Olho
por sobre o ombro e vejo Masha nos acompanhar, ela ainda chora, mas
parece ter conseguido se controlar um pouco.
Quando descemos peço para eles me esperarem, estacionei meu carro
longe da casa dele para não chamar atenção. Manobro o veículo e paro na
frente deles. Ela ajuda o irmão a sentar no banco traseiro, enquanto isso
Nicolo passa por mim levando Domênico.
Pego o celular e ligo para Nino, ele terá que estar preparado para os
problemas que certamente acontecerão.
— Nino, alguém acionará a polícia, você sabe o que fazer, se as
coisas complicarem chame Giorgio, ele tem os contatos certos para abafar
tudo.
— Já estou chegando aí, chefe, pedi reforço, não vou demorar a
limpar tudo.
— Ótimo, ligue se algo incontrolável acontecer.
— Não se preocupe, eu cuidarei de tudo. — Encerro a ligação e
coloco o carro em movimento.
Olho para Masha e a vejo acariciar a cabeça do irmão. Ao mesmo
tempo que sinto alívio por ela estar bem, não posso negar a raiva que me
consome por se colocar em risco. Se não tivesse fugido nada disso teria
acontecido.
Decido ligar para Giorgio, é melhor deixá-lo alerta caso as coisas se
compliquem com a polícia.
— Paolo, o que está acontecendo? — pergunta assim que atende a
ligação.
— É uma longa história, preciso neste momento que fique atento,
Vladislav está morto, Nino vai se encarregar de limpar tudo, mas
provavelmente teremos problemas com a polícia, preciso que abafe as coisas.
— Como assim Vladislav morreu?
— Te conto depois, só preciso que cuide de qualquer problema com a
justiça.
— Não se preocupe com isso, ninguém saberá o que aconteceu.
— Ótimo. — Respiro aliviado. — Conversamos mais tarde.
— Certo. Já vou verificar se temos algum problema.
— Faça isso. — Encerro a ligação e volto a olhar pelo espelho, dessa
vez meus olhos encontram com os da Masha.
— Vai ficar tudo bem, eu garanto.
— Não quero perder meu irmão, Paolo, muito menos Dom. — Sua
voz sai trêmula.
— Os dois irão ficar bem, confie em mim, em breve você vai lembrar
desta noite como uma aventura e, para o seu próprio bem, nunca mais vai
burlar sua segurança. — Ela me olha culpada. — Infelizmente você faz parte
da minha vida e sempre será alvo dos meus inimigos. — Não posso negar a
verdade. — Mas eu morro para te ver segura, ninguém nunca encostará um
dedo em você, para isso precisa entender que seus seguranças são
fundamentais.
— Já entendi e me arrependo amargamente pelo que fiz.
— Isso é bom, no futuro não teremos mais problemas. — Ela não diz
nada. — Como minha futura esposa, você vai precisar entender que sua
segurança vem em primeiro lugar.
— Paolo, vamos falar sobre isso depois, eu estou confusa demais. —
Faço um rápido aceno.
— Tudo bem, mas preciso deixar claro que quero de verdade me casar
com você.
Ela não me diz nada, apenas volta a confortar o irmão, enquanto eu
acelero mantendo o silêncio.
Pego mais um lenço de papel para assoar o nariz, não tenho sequer
palavras para explicar o que estou sentindo.
É tudo culpa minha, Domênico e meu irmão estarem agora baleados,
se eu tivesse ficado em casa, nada disso teria acontecido. Caso algo aconteça
a eles, vou passar o resto da minha vida com esse peso na consciência.
— Não fique assim, bambina, tudo vai ficar bem — Mirta diz ao
passar o braço por meus ombros. — O doutor e o filho dele são médicos
competentes e acostumados a lidar com os problemas da máfia, eles cuidarão
bem dos meninos.
— Dom levou um tiro na barriga, pode ter afetado algum órgão.
— Não pense assim, vamos rogar a Deus que não tenha sido grave,
Domênico está acostumado a se ferir, ele vai sair dessa.
— É culpa minha, se eu tivesse ficado em casa todos estariam bem.
— Estou enjoada, a vontade de vomitar é quase incontrolável.
Pensar em tudo o que aconteceu, nas últimas horas, me deixa
completamente desnorteada.
— A culpa é dos russos, esses malditos que causaram toda essa
confusão. — A sua voz sai raivosa. — Ainda bem que todos morreram.
Falar dos russos me faz lembrar que atirei no líder deles, nunca pensei
que realmente precisaria usar uma arma, por sorte Domênico foi um bom
professor e eu pude evitar uma tragédia bem pior do que a que já estamos
enfrentando.
Meus olhos vão para o topo da escada onde Paolo aparece com a
expressão cansada. Desde que chegamos ele subiu para acompanhar o
atendimento do amigo. Por mais que tenha afirmado a mim que tudo iria ficar
bem enquanto vínhamos para casa, eu vi na sua expressão o quanto estava
preocupado com Dom.
— Como eles estão? — pergunto ao levantar e esperar por ele na base
da escada.
— Seu irmão está bem, como previ a bala não ficou alojada, levou
uns pontos e agora está dormindo por conta dos remédios. — Ele para na
minha frente com o rosto tenso.
— E Domênico? — A minha voz treme.
— O caso dele é mais complexo, vai precisar de uma transfusão, o
doutor já providenciou tudo, daqui a pouco o sangue que precisa estará
chegando.
Coloco a mão contra meu coração, assustada com a situação do meu
amigo.
— Ele vai ficar bem?
— Dom é duro na queda. — Paolo passa a mão pelo meu cabelo. —
Depois que fizer a transfusão irá se recuperar.
— Você está falando a verdade ou me poupando do pior?
— Não tenho motivos para mentir. — Neste momento Nicolo aparece
com um homem do lado.
— O sangue chegou, chefe.
— Leve-o até o doutor — ordena.
Acompanho apreensiva Nicolo e o outro homem subirem as escadas
apressados.
— Mirta, pode tentar descansar, não tem mais nada que fazer, agora é
esperar Domênico passar pela transfusão.
— Não sei se conseguirei dormir, pode me chamar se precisar de
mim.
Assim que ela se afasta Paolo me puxa para dentro dos seus braços.
Eu vou satisfeita, nunca precisei tanto dele como agora.
— Desculpa, eu causei toda essa confusão.
— Você não tem culpa de nada. — Ele apoia o indicador no meu
queixo e me faz encará-lo. Seu rosto carrega marcas da briga violenta que
teve com o russo, porém nenhum dos seus ferimentos se compara ao dos
meninos. — Esse confronto com os russos era inevitável, só não esperava que
o próprio líder deles decidisse fazer esse embate pessoalmente.
— Eu queria atirar naquele maldito novamente. — Agora que vi o
verdadeiro estrago que Vladislav deixou para trás, não me arrependo de ter
atirado três vezes nele.
— Você é boa de mira, acho que preciso me preocupar com você
futuramente. — Seus olhos têm um brilho de diversão.
— Tive um bom professor.
— Ainda bem que Dom decidiu te treinar.
— E você nunca gostou das minhas aulas. — Ele faz uma careta.
— Desta vez não tenho como me defender. — Paolo segura meu
rosto. — Você salvou a minha vida. — Abraço a sua cintura.
— Eu também sou capaz de morrer por você, te amo Paolo, jamais
permitiria que te fizessem mal quando poderia te ajudar. — Os olhos dele
brilham.
— Não sei o que fiz para merecer seu amor, mas dou a minha palavra
que o honrarei até meu último suspiro. — Ele segura a minha mão e coloca
no meio do seu peito. — Você é a maior preciosidade que já tive nesta vida,
nunca mais me dê um susto como hoje, os russos poderiam ter achado vocês
antes de estar comigo, tudo poderia ser ainda pior. — Lágrimas se acumulam
nos meus olhos.
— Eu sei disso, se eu pudesse voltar no tempo teria ficado aqui
segurando sozinha toda a minha dor. — Paolo acaricia minha bochecha.
— Nada é em vão — diz sério. — Tudo o que aconteceu serviu para
que eu visse que não posso abrir mão de você. — Encaro-o atenta. — Tentei
não te trazer para a merda da máfia, mas você já está nela desde que pisou
nesta casa.
— Tem certeza sobre o casamento? Isso não pode te causar
problemas?
— Eu vivo em meio a problemas. — Ele beija lentamente minha
boca. — Posso arrumar um novo problema para ter você comigo, só preciso
saber se realmente vai querer esse casamento.
— Essa é uma pergunta tola. — Cruzo os braços ao redor do seu
pescoço. — Eu te amo, como não vou querer me casar com você? — Ele
sorri, exibindo sem medo a felicidade com minhas palavras.
— Então se prepare, porque o mais rápido que eu conseguir vou te
transformar na senhora Torcasio, não vejo a hora de colocar uma aliança no
seu dedo.
O meu coração se agita, ainda me sinto incrédula com toda a
reviravolta que aconteceu entre nós. Iniciei a noite achando que o perderia
para sempre e agora a encerro com ele me pedindo em casamento.
Uma pena ter duas pessoas que eu amo feridas no fim dessa história,
se não fosse isso esse seria o dia mais feliz da minha vida.

Acordo ao sentir um gemido ao meu lado. A minha mente começa a


entrar em ordem e eu me lembro que dormi na poltrona vigiando o meu
irmão.
— O que foi? — pergunto ao me levantar de supetão.
— Porra! Isso dói — resmunga ao apoiar a mão no braço machucado.
— É porque está passando o efeito do analgésico. — Sento ao seu
lado. — Como se sente? — pergunto preocupada.
— Parece que fui atropelado e não levado um tiro. — Andrei faz uma
careta. — Doí pra caralho meu braço.
— Quando tomar novamente o analgésico vai se sentir melhor.
— Assim espero. — Ele me olha com atenção. — Você está bem?
— Eu não levei nenhum tiro, Andrei, claro que estou bem.
— Você atirou em um homem.
— Atirei em um infeliz que machucou todas as pessoas que amo, faria
tudo novamente sem remorso. — Andrei aperta os olhos.
— Quando foi que virou uma leoa tão brava? — Ele estende a mão e
acaricia meu rosto. — Tenho um orgulho fodido de você, se não fosse a sua
coragem acho que eu não estaria aqui, aquele russo maldito não estava para
brincadeira.
— Graças ao Dom aprendi a atirar e consegui seguir suas instruções à
risca.
— Como seu amigo está? O ferimento dele me pareceu preocupante.
— Agora está bem, teve que fazer uma transfusão porque perdeu
muito sangue enquanto o médico extraía o projétil que o atingiu.
— Ele é bom de luta, abateu praticamente todos os russos sozinho, eu
já presenciei muitos confrontos quando estive nas ruas, mas nunca vi alguém
como seu amigo, o cara é durão.
— Dom é incrível, estou aliviada por saber que ele está bem. —
Ajeito o corpo ao lado do meu irmão. — A minha imprudência deixou vocês
em risco.
— Você não tem culpa de nada. — Meu irmão toca meu rosto. — E
eu também tenho a minha responsabilidade nesta história, a ideia da fuga foi
minha.
— Nós dois erramos, essa é a verdade.
— Sim. — Ele fica um tempo em silêncio. — Vai aceitar o pedido de
casamento dele?
— Já aceitei, amo Paolo e quero passar o resto da minha vida com ele.
— Andrei me encara sério.
— Assumo que não te queria no meio da máfia, é um mundo cruel
demais e você sempre foi muito sensível. — Ele solta um longo suspiro. —
Mas deu para ver o quanto ama Paolo e ele também te ama, ainda que não
seja explícito nas palavras sobre seus sentimentos.
— Ele não precisa se declarar para mim, as suas ações dizem mais
que palavras. — Relembro do olhar angustiado dele quando eu cheguei à casa
do meu irmão. — Paolo vai enfrentar todo o seu clã para se casar comigo,
demonstração de amor maior que essa eu não conheço.
— Está certa. O maldito realmente está disposto a tudo por você. Ele
poderia de alguma maneira te convencer a ser a amante dele, não precisava
propor casamento e se meter em um confronto com seus pares.
— Eu nunca seria amante dele.
— Sei disso, meu anjo. — Andrei beija minha testa. — Mas Paolo
podia tentar essa possibilidade.
— E se frustraria, por mais que eu o ame, não passaria para ao papel
da “outra”.
— Sinto muito orgulho de você. — Ele sorri, exibindo suas covinhas
fofas. — Posso te pedir uma coisa?
— O que quiser.
— Estou morrendo de fome. — Rapidamente pulo da cama.
— Vou pedir para Mirta preparar um apetitoso café da manhã, já
volto.
Saio do quarto correndo, feliz por ver meu irmão bem e com o apetite
aflorado. Agora só falta Dom responder rapidamente ao tratamento e ficar
fora de qualquer risco.

Abro bem devagar a porta do quarto onde Domênico está e vejo seu
corpo grande recostado sobre alguns travesseiros. Ele mexe no celular e
parece não perceber minha presença.
— Posso entrar? — pergunto ainda na porta.
— É claro — responde ao erguer rapidamente a cabeça e me encarar.
— Paolo avisou que havia acordado, eu estava ansiosa para te ver.
— Estou bem, bambina, não precisa se preocupar. — O seu rosto
pálido me diz o contrário, mas eu não vou discutir com ele.
— Desculpa por ter te colocado em risco Dom, tudo isso foi culpa
minha.
— Pare de bobagem. — Ele descarta o celular. — Venha aqui. —
Estica o braço e eu seguro sua mão imediatamente. — A única coisa que você
pode se culpar foi em ter se colocado em risco, do mesmo jeito que Vladislav
descobriu que estávamos na casa do seu irmão sem seguranças, ele poderia
ter interceptado vocês antes. O confronto que aconteceu foi inevitável, já
estamos a bastante tempo trocando provocações com os russos, uma hora a
coisa iria esquentar de verdade.
— Você está tentando amenizar a minha culpa igual a Paolo. —
Descanso delicadamente minha cabeça em seu ombro.
— Não estamos. — A sua voz sai cansada. — Somos mafiosos,
estamos acostumados a violentos embates, o que tivemos ontem não foi o
pior, eu e Paolo já presenciamos enrascadas bem maiores.
— Domênico, você teve que tomar uma bolsa de sangue, como pode
me dizer que não foi algo tão ruim?
— Acredite em mim que não foi, agora passou, eu estou bem e só
preciso de alguns dias para essa merda de ferimento curar.
— Alguns dias não, no mínimo um mês. — Ele solta uma risada e
imediatamente geme ao tocar seu ferimento.
— Jamais ficarei um mês na cama, Masha, assim que não sangrar
mais o ferimento eu volto a trabalhar normalmente.
— Não pode fazer isso, jamais permitirei algo assim.
— Eu sempre faço. — Ele beija o topo da minha cabeça. — Agora
quero saber como você está. — Seus olhos demonstram preocupação. —
Você precisou atirar em uma pessoa. — Respiro fundo.
— A vida do Paolo dependia de mim, não podia deixá-lo morrer
quando eu podia impedir. — Dom parece querer ler meus pensamentos. —
Eu fiquei assustada no princípio, me senti muito mal quando tudo acabou,
mas aí... — Olho na direção onde ele está ferido.
— Aí o quê?
— Vi o estrago que aquele maldito russo fez e eu só queria atirar nele
novamente. — Dom tenta sorrir e mais uma vez uma careta retorce seu rosto.
— Bambina, você é perigosa, Paolo vai ter bons momentos de briga
com você.
— Mas que porra é essa? — A voz de Paolo quebra nosso clima de
cumplicidade. — O que está fazendo na cama com a minha mulher,
Domênico? Será que não bastou quase morrer ontem? Quer testar a sorte hoje
também?
— Aí chegou o ranzinza. — Dom me olha divertido. — Tem certeza
de que vai aceitar o pedido de casamento dele? Podia me escolher, eu sou
bem mais equilibrado.
— Para Dom. — Sorrio da sua brincadeira, mas, como sempre, Paolo
não tem humor.
— Você não brinca comigo. — Ele recrimina o amigo ao parar perto
da cama com o rosto fechado. — Está tudo bem mesmo? O nosso médico
disse que virá te ver no final do dia, mas se algo acontecer ele pode aparecer
antes.
— Vou sobreviver, não se preocupe. — Por mais que tente esconder,
Paolo está tenso com o ferimento de Dom.
— Não se atreva a morrer. — Agora ele me encara. — Vamos deixar
Dom descansar, ele não pode falar muito, ordens do médico. — Mesmo não
querendo eu me afasto dele.
— O doutor não sabe o que preciso, eu estou bem.
— Já viu seu rosto de fantasma? — Paolo apoia a mão na minha
cintura. — Vá descansar, uomo, mais tarde Mirta virá com o seu lanche da
manhã.
Dom solta um som parecendo um rosnado, fazendo Paolo sorrir ao me
arrastar para fora do quarto.
— Não estou vendo graça na situação — digo quando caminhamos
pelo corredor.
— Só estou rindo por entender Domênico, se eu tivesse que ficar na
cama recebendo comida de Mirta estaria espumando de raiva.
— Vocês são estranhos demais. — Ele beija o meu cabelo ainda
sorrindo.
Quando descemos as escadas Giorgio está entrando ao lado de um
casal. Tento me lembrar de onde conheço o homem, mas minha mente
traiçoeira não consegue descobrir de quem se trata.
— Bom dia, Masha, Paolo. — Giorgio nos cumprimenta.
— Bom dia. — Não gosto nada da maneira que o homem ao lado de
Giorgio me encara.
— Francesco e a esposa querem visitar o filho.
Ah! Agora me lembro do homem, já o vi há bastante tempo em uma
reunião com Paolo aqui em casa.
— Ele não pode falar demais. — Imediatamente Paolo rosna com os
olhos fixos no pai de Domênico. — Então sejam rápidos na visita.
— Paolo, eu quero levar meu filho para a minha casa, como mãe acho
que tenho o direito de cuidar dele. — Vejo nos olhos aflitos da mulher o
quanto está nervosa.
— Direito você tem Concetta, mas Dom quer ficar aqui e não vai sair
até que deseje. Pode passar o dia com seu filho, você é bem-vinda à minha
casa, mas ele não saíra daqui até que peça.
— Não pode nos impedir de levá-lo — Francesco contesta.
— E quem vai tirá-lo daqui sem a minha autorização? — Paolo cruza
os braços e o homem dá um passo à frente.
Fico aflita, não confio nesse Francesco depois de ouvir tantas histórias
ruins dele.
— Talvez seja melhor Dom resolver aonde deseja ficar. — Olho para
a mãe dele. — Eu estou cuidando bem do seu filho, quanto a isso não precisa
se preocupar. — A mulher sorri exibindo um olhar grato.
— Eu não sabia que a puta do Paolo também era enfermeira. Que tipo
de cuidados está oferecendo ao meu filho? — Fico em choque com a sua
ofensa.
— Procurando morrer já cedo, Francesco? — Paolo se move e para
bem rente a ele. — Aqui é a minha casa, você não é bem-vindo e se abrir sua
boca para falar mais alguma coisa desagradável à Masha, eu me acertarei
com você pessoalmente e farei o favor a sua esposa de deixá-la viúva. —
Espero a briga iniciar, mas Francesco se cala. — Você tem dez minutos com
Domênico, já Concetta pode ficar o tempo que quiser.
— Não pode me impedir de ficar com meu filho — Francesco
protesta ficando vermelho.
— Posso e vou, agora cale a porra da sua boca e vá vê-lo logo, seus
minutos já estão contando. — Os dois trocam um olhar tenso. — Vamos,
Masha. — Ele segura o meu braço e me leva para seu escritório.
— Que homem horrível — digo quando estamos a sós.
— Você não sabe o quanto. — Paolo me puxa até que estou sentada
no seu colo. — O pai do Domênico é um dos meus desafetos no Conselho,
quando eu anunciar o casamento, será um que não aceitará.
— Estou com medo desse momento.
— Não fique, eu vou controlar tudo. — Ele passa a mão pelo meu
rosto. — Por você, eu extermino cada membro do Conselho.
— Pare com isso, chega de mortes.
— Vivo em meio à morte, acostume-se. — Sua boca vem contra a
minha e eu o beijo intensamente sentindo uma emoção inédita me dominar.
Vamos nos casar, nenhuma outra mulher o terá, Paolo será meu
marido, difícil acreditar nessa verdade.
— Assim que Dom se recuperar vou marcar a reunião com todos eles
para anunciar o casamento, enquanto isso já vá pensando em tudo o que vai
querer, porque não quero demorar a casar.
— Não preciso de um casamento grande.
— Eu tenho que ter um padrão nesse casamento, necessito convidar
algumas pessoas, mas podemos tentar diminuir ao máximo os convidados.
— Os convidados ficam por sua conta, só preciso do Leo, meu irmão
e Donatella presentes.
— Faça como quiser, você tem carta branca. — Sua mão segura a
minha cabeça segundos antes dos seus lábios esmagarem os meus.
Eu espero não estar sonhando, porque apesar dos problemas que
tivemos nas últimas vinte e quatro horas, o seu pedido para nos casarmos
parece um lindo sonho bom.
Dez dias depois

Abro a porta da sala onde o Conselho foi reunido. É hoje que vou
enfrentá-los. Depois da confusão com os russos, ninguém se importou em
comentar sobre a minha saída intempestiva da festa de Mattia, todos estavam
felizes demais com a morte de Vladislav.
Não conversei com nenhum deles, apenas Giorgio sabe exatamente o
que aconteceu naquela noite, porém ele não tem conhecimento que escolhi
Masha como esposa, eu preferi deixar essa informação em segredo.
— Bom vê-lo recuperado Domênico. — Mattia me surpreende ao
demonstrar consideração por Dom.
— Não foi nada demais. — É mentira, foi grave e ele sobreviveu
porque é teimoso demais para morrer e o nosso médico é muito bom, mesmo
não tendo muitos recursos disponíveis. — Já passei por confrontos piores.
— Domênico é bem modesto — digo ao acender um cigarro. — Mais
uma vez ele demonstrou ser um dos nossos melhores homens. Ainda não está
completamente recuperado, mas em breve o teremos pronto para outro
conflito.
— Meu filho foi bem treinado. — Francesco não esconde o orgulho.
— Nós Pizzorni não temos medo do perigo.
— Os Torcasio também são. — Trocamos um olhar tenso. —
Senhores esta reunião foi marcada para que eu pudesse fazer um comunicado.
— Paolo, você ainda não falou nada sobre os russos, queremos saber
os detalhes da morte do Vladislav. — Cassio, um dos mais novos
conselheiros pergunta. — O que levou vocês a terem a briga na casa do irmão
da sua amante? — Trinco os dentes, odeio essa mania que eles têm de
chamarem Masha de amante.
— Cassio nós matamos todos os russos que nos confrontaram, dentre
eles seu líder, aonde foi não é do interesse de ninguém — digo sem esconder
minha fúria. — A única preocupação que todos nós teremos que possuir é
atenção no que eles irão fazer agora. Certamente a morte de Vladislav será
rechaçada, precisamos estar atentos.
— Iremos combatê-los na mesma intensidade — Giuseppe fala. —
No momento em que você matou Vladislav, deixou um claro recado que nós
não os toleraremos nos intimidando.
— Eu espero que eles tenham tido esse seu pensamento, Giuseppe. —
Trago longamente o cigarro. — Mas a minha reunião com vocês não é sobre
isso, quero anunciar que escolhi minha futura esposa e casarei o quanto antes.
— Mattia abre um largo sorriso, certamente está achando que escolhia sua
filha.
— E quem foi a escolhida? — pergunta ansioso.
Faço alguns segundos de suspense, gostando de observar os rostos
curiosos a minha frente.
— Vou me casar com Masha. — Um silêncio pesado se estende por
todos os conselheiros, eles me encaram como se eu estivesse contando uma
piada de péssima qualidade.
— Que brincadeira é essa? — Mattia se manifesta.
— Não é uma brincadeira — digo rispidamente.
— Paolo, a tradição diz que o Capo precisa se casar com uma das
mulheres do clã. — Giorgio é cauteloso ao me lembrar dessa maldita
tradição.
— Precisamos nos modernizar.
— O caralho que vai haver modernização. — Mattia ergue-se furioso.
— Você vai renegar a minha filha para se casar com uma puta?
Em poucos passos estou na frente dele, o empurrando violentamente
contra a parede. Mattia segura o meu braço e tenta me afastar, mas eu não
cedo um centímetro e aproximo meu rosto do seu.
— Se chamar minha futura esposa de puta outra vez perde a língua.
— Respiro com dificuldade. — Eu mando nesse clã, eu sou o chefe e eu
escolho minha esposa.
— Não pode fazer isso, é contra nossa tradição. — Giuseppe se
manifesta.
— Também é contra nossas tradições roubar o clã e seu filho fez isso
— ele se cala, mas seu rosto deixa evidente o quanto odiou a minha fala.
— Senhores! — Dom chama atenção de todos, inclusive a minha que
largo Mattia, mesmo querendo socá-lo.
— O que vocês não sabem é que Masha atirou três vezes em
Vladislav e evitou o pior — diz com sua voz firme. — Paolo perdeu a arma
quando lutou com ele e estava sob a mira do russo quando ela o atingiu sem
pensar duas vezes, depois Paolo encerrou o serviço o matando. — Todos o
encaram sem esconder a surpresa. — Masha é legitimamente italiana, pode
não ser do nosso clã, mas na noite em que confrontou os russos e ajudou a
matar Vladislav mostrou o quanto é leal a nós.
— Na verdade, ela é do nosso clã. — Franco ganha a nossa atenção.
— Do que exatamente está falando? — pergunto cauteloso.
— Masha é minha neta. — O silêncio cai pesado ao longo da sala,
Franco acaba de jogar uma bomba sobre nós.
— Espera um pouco. — Ergo a mão tentando colocar meus
pensamentos em ordem. — Como assim ela é sua neta? — Ele inspira fundo.
— Carlota não morreu como eu havia pensado. — A atenção de todos
está em Franco. — Descobri que meu rastreador mentiu, ele sempre foi
apegado à minha filha e trouxe um corpo qualquer carbonizado para que não
tivesse que matá-la. — Fico em choque. — Quando vi Masha no meu
escritório bem de perto, percebi as semelhanças dela, não só com a minha
filha, mas também com o pai, o cabelo dela é igual ao de Demetrio.
Não consigo me mover, apenas encaro Franco em choque.
— Entrei em contato com a viúva do meu rastreador e depois de uma
conversa aberta ela revelou a verdade. Aí fui atrás da minha filha e descobri
muitas informações. — Franco olha atentamente para todos os conselheiros.
— Um dia encontrei Paolo com ela em um restaurante, quando foram embora
eu recolhi os talheres e copo que ela usou. — Agora ele me olha. — Pedi
para um amigo da polícia forense italiana periciar tudo e os dados genéticos
dela coincidem com os meus, descobri isso dois dias após a confusão com os
russos, por isso não quis contar a você o que estava acontecendo.
Ainda me sinto sem palavras, eu esperava muita coisa dessa reunião,
menos descobrir que Franco é avô da Masha.
— Então se ela é neta legítima do Franco, Paolo pode se casar sem
problemas — Giorgio diz o óbvio.
— Você quer dizer então, que essa vadia que Paolo deseja se casar é
filha de uma traidora do clã? — pela primeira vez Francesco se manifesta
perguntando. — A filha do Franco fugiu com um soldado.
Agora é a vez do Franco perder o controle e acertar um soco no rosto
do Francesco. Os dois entram em uma briga corporal intensa, eu não me
meto, continuo fumando meu cigarro tranquilo, torcendo para que Franco
quebre a cara do maledetto, porque se ele não fizer isso, eu mesmo farei.
Giorgio e um dos seus soldados os separam, os dois encaram-se
raivosos.
— A minha filha nunca nos traiu, ela fugiu com um homem da nossa
máfia — ele rosna para Francesco. — O erro dela foi não aceitar o casamento
que eu havia programado.
— O que não deixa de ser uma traidora.
— Já chega! — Dom impõe a voz. — Masha é neta legítima de
Franco, com duas pessoas do nosso clã. Isso significa que ela é uma de nós, o
que a deixa totalmente apta a ser companheira do nosso Capo.
— Isso é loucura. — Mattia não esconde sua irritação.
— Domênico está certo. — Giuseppe me encara. — Não existe nada
que possa impedir o casamento dos dois.
— A ragazza atirou em um russo, só esse fato já habilita sua entrada
no nosso clã. — Cassio me apoia — Eu concordo com o casamento.
— Também concordo. — Giuseppe me surpreende ao ficar do meu
lado depois que matei seu filho.
— Sou a favor, também. — Giorgio me olha sem esconder que não
gostou de ficar sabendo da minha escolha na frente de todos.
— Eu sou contra. — Não esperava nada diferente de Mattia.
— Também não aceito essa loucura. — O pai do Dom é contrário.
Os outros conselheiros começam a votar e todos são a favor do meu
casamento.
— Bem... — digo quando acaba a votação. — Só tivemos dois votos
contra, isso significa que vou me casar com ela. Os que foram contrários ao
casamento estão liberados de comparecer ao evento, não faço a mínima
questão de tê-los presentes de qualquer maneira. — Ambos me olham com
raiva.
— Paolo, se quiser te envio o exame de DNA para não ter dúvidas do
nosso parentesco.
— Certamente quero ver e mostrar à Masha — digo a Franco.
— Irei enviar ainda hoje para você. — Ele não esconde a ansiedade
em provar que são parentes.
— Excelente. — Aceno para ele. — Então senhores, a nossa
reunião... — Não termino de falar, pois meu celular começa a tocar. — Só
um minuto que vou colocar no silencioso. — Pego o aparelho para desabilitar
o som, mas quando vejo o nome do Leonel piscando atendo de imediato. —
Que porra aconteceu?
— A senhorita Masha desmaiou ao descer as escadas, estou seguindo
com ela para o hospital.
— Puta que pariu! — Dou as costas para o Conselho e sigo para a
porta. — Passe o endereço do hospital por mensagem, encontro vocês lá. —
Encerro a ligação. — Vamos Domênico, temos uma emergência.
Ignoro todas as perguntas dos conselheiros e corro para o meu carro.
Era só o que me faltava alguma coisa acontecer com meu inferno vermelho.
— O que aconteceu? — Dom pergunta um tempo depois quando vem
andando o mais rápido que pode para a área externa do La Fontaine.
Com a porra dessa notícia até esqueci que meu amigo não pode se
movimentar com agilidade.
— Masha desmaiou e Leonel a está levando para o hospital, vamos
embora.
Dom não diz nada, apenas se acomoda no banco do carona, enquanto
eu ganho as ruas de Roma dirigindo o mais rápido que consigo.

Entro no hospital como um furacão, suando intensamente com o


nervoso que sinto. Domênico vem bem na minha cola, assim como eu está
preocupado com meu inferno vermelho.
— Preciso saber onde Masha Conti se encontra — falo com a
recepcionista.
— O senhor é parente? — Ela mal me olha e isso me irrita.
— Sou o noivo, agora me diga onde ela está. — Desperto a atenção
dela, que me encara descontente.
— O que foi? Não consegue me dar a porra da localização dela? —
Sinto a mão de Dom no meu braço.
— Senhorita, meu amigo está preocupado com a noiva, será que pode
conseguir a informação que necessitamos com urgência? — Bufo com toda a
calma dele, se dependesse de mim eu pulava a estação onde essa
incompetente está e descobria por mim mesmo onde colocaram minha
mulher.
O pedido dele surte efeito e somos direcionados para o local onde
colocaram Masha.
Quando chegamos ao andar indicado encontramos Leonel e Mirta no
corredor.
— O que aconteceu com ela? — pergunto ao meu soldado.
— Senhor, ninguém sabe, apenas escutei um barulho vindo da sala e
quando fui verificar o que aconteceu a senhorita estava caída. Um dos nossos
homens estava entrando e disse que ela desmaiou quando estava chegando
aos últimos degraus, foi uma sorte ela não rolar toda a escada.
— Puta que pariu! — Xingo nervoso. — Já deram alguma posição
sobre a situação dela?
— Ainda não, a levaram para examinar.
— Estou percebendo a bambina estranha há um tempo — Mirta
comenta.
— Como assim estranha? — a questiono.
— Ela não está no seu estado normal, mas não vou comentar sobre
isso, prefiro esperar o médico.
— Mirta não me tira do sério. — Olho raivoso para ela que dá de
ombros e me ignora. — Eu vou matar essa mulher — digo a Dom.
— Deixe Mirta, ela gosta de falar bobagens. — Ele bate no meu
ombro. — Tente se acalmar, tenho certeza de que não é nada demais, Masha
passou por muitas emoções nas últimas semanas, pode estar assimilando tudo
o que aconteceu agora.
— Acha que preciso arrumar um psicólogo?
— Talvez, vamos esperar o que o médico vai nos dizer.
A próxima hora se arrasta e eu sinto vontade de entrar na sala de
exames para poder descobrir o que aconteceu com a minha ruiva. Quando
penso em invadir a área restrita, o médico aparece.
— Vocês são os parentes da senhorita Conti? — ele pergunta ao nos
encarar.
— Sou o noivo, o que ela tem? — pergunto de uma vez.
— Ela está bem. — O homem sorri. — Apesar da queda não teve
nenhuma fratura ou concussão, apenas leves escoriações nos braços e pernas.
— Não é normal a pessoa desmaiar assim, doutor. — Domênico se
aproxima. — Masha passou por um estresse emocional há algumas semanas,
isso pode ser o motivo do seu desmaio?
— Acredito que não, o desmaio dela tem mais a ver com sua condição
física. — Olho para o médico confuso.
— O que o senhor está querendo dizer? — pergunto.
— Eu tenho uma novidade. — Ele me lança um sorriso. — Ela está
grávida de seis semanas. — Arregalo os olhos, porque não esperava ouvir
algo parecido. — Certamente sofreu uma tontura que é natural no início da
gravidez.
— Meu Deus! Ela está grávida. — Não consigo evitar um sorriso,
meu inferno vermelho está carregando meu filho.
— Sua noiva já foi para o quarto, pode vê-la agora mesmo se quiser.
Assim que alguns dos exames que fizemos ficarem prontos, ela poderá ter
alta.
— Claro que eu quero vê-la. — Que homem idiota, não vou sair do
lado da minha mulher enquanto ela estiver aqui.
Acompanho o médico até o final do corredor, ele mostra outra ala do
hospital e passa o número do quarto. Quando o localizo abro a porta bem
devagar e encontro Masha deitada com uma enfermeira aferindo sua pressão.
Nossos olhos se encontram e vejo certa apreensão nos seus. Espero a
enfermeira fazer o seu serviço parado ao lado da porta, apenas me aproximo
da cama quando a mulher vai embora.
— Como você está? — pergunto ao parar do seu lado e correr a mão
por seu cabelo.
— Assustada. — Seu rosto não esconde isso.
— Vai ficar tudo bem. — Masha morde o lábio inferior,
demonstrando insegurança. — Conversou com o médico?
— Sim. — Sento à beira da cama e a puxo para perto. — Ainda estou
fora do corpo com a notícia.
— Não está chateado?
— E por que eu estaria? — ela não diz nada, apenas me fita com seus
olhos azuis temerosos. — Porra, Masha, você está grávida de um filho meu.
— A felicidade parece me consumir. — Eu não poderia estar mais feliz. —
Seguro seu rosto e a beijo. — Sequer consigo explicar o que estou sentindo
agora.
— Também não sei bem o que pensar, não estava preparada para essa
notícia, muito menos pensava em engravidar, tomo meu anticoncepcional
regularmente.
— Sabemos que nada é cem por cento confiável. — Acaricio seu
rosto. — Ainda bem, ou você não estaria grávida. — Caralho é bom demais
falar que ela está grávida.
— Acho que nunca te vi rir tanto. — Alargo meu sorriso.
— Como não sorrir quando vou me casar com você e ainda ganhar
um filho? Eu não sei o que fiz para poder receber um presente tão especial.
— Conversou com o Conselho? Ou não deu tempo?
— Conversei, a maioria votou a favor do casamento e muita coisa
aconteceu, mas te conto alguns detalhes depois. — Acaricio uma mancha
roxa no seu braço fruto da queda.
— Eles realmente aceitaram nosso casamento?
— Aceitaram e se não tivessem aceitado agora seriam obrigados a
engolir nossa união de qualquer jeito, porque nunca vou deixar você sozinha
quando está grávida. — Coloco a mão sobre a sua barriga e sinto uma energia
estranha me consumir. — Quando poderemos ouvir o coração dele?
— Não faço ideia. — Ela dá um sorriso nervoso. — Mas vou procurar
um médico o quanto antes, até o momento os meus exames não acusaram
nada grave, ainda assim preciso saber mais profundamente se meu bebê está
bem.
— Hoje mesmo marcaremos uma consulta, tenho alguns médicos que
atendem as mulheres da máfia, vou verificar um bom para começar a te
acompanhar.
— Paolo. — Ela me encara demonstrando novamente apreensão.
— O que foi? — Acaricio a sua barriga, ainda sem acreditar que ela
tem uma parte minha dentro do seu corpo.
— Estou com medo, não tinha planos para engravidar tão cedo.
— Foi uma surpresa para nós dois, mas encontraremos um jeito de
lidar com essa novidade da melhor maneira possível. — Levo sua mão até
meus lábios. — O que importa, no momento, é que nosso filho se desenvolva
saudável, o resto ajeitamos com o tempo.
O seu olhar suaviza e um sorriso genuíno nasce em seus lábios
delicados. Um sentimento sufocante explode dentro de mim e, pela primeira
vez na vida, eu entendo que sou capaz de sentir amor.
Eu amo essa mulher e amo ainda mais o pequeno bebê que cresce em
seu ventre. Viverei para eles e todos os outros filhos que iremos ter, porque
no que depender de mim, teremos uma casa cheia de crianças, correndo sem
controle e me trazendo alguns fios de cabelo brancos.
Paolo segura a minha mão enquanto a médica começa o exame de
ultrassom. Desde ontem ele não sai do meu lado, acho que acredita que vou
ter outro desmaio.
O meu coração dispara quando escuto o barulho do coração do meu
bebê batendo com força. Lágrimas escapam dos meus olhos, porque agora é
real a sua existência.
— O embrião está se desenvolvendo perfeitamente, esse coração forte
mostra isso — a médica diz sorrindo.
Olho para Paolo, mas sua atenção está grudada no monitor. Ele parece
completamente fascinado pelo som do coração do nosso filho.
Deus! Vamos ter um filho, ainda não consegui assimilar essa
realidade.
— Vocês não precisam se preocupar, a queda não afetou em nada a
gestação, tudo está normal.
— É um alívio ouvir isso. — Sorrio para a doutora e percebo que ela
olha de maneira estranha para Paolo.
Movo meu rosto para ele e o vejo de cabeça baixa olhando para a o
chão.
— Vou te esperar lá fora. — Inesperadamente ele levanta e sai da
sala.
Fico sem entender nada, não faço ideia sobre o que aconteceu.
— Fique tranquila, homens como ele não sabem lidar com emoções,
ouvir o coração do bebê, pela primeira vez, causa impacto em qualquer um,
quando sair daqui ele estará mais calmo. — Ela acaricia a minha perna.
Quando saio da sala da médica marco minha próxima consulta e só
então encaro Paolo. Ele levanta da poltrona e se aproxima, lembro do que a
médica disse e decido não perguntar o que deu nele.
— Tudo certo? — pergunta ao segurar minha mão.
— Estou bem. — Olho para ele em busca de alguma resposta para o
seu comportamento estranho. — Já não posso dizer o mesmo de você. — Não
seguro minha língua.
— Vamos embora, Masha, hoje precisamos resolver algumas coisas.
— E o que seria? — questiono ao seguir ao seu lado para o elevador.
— Algo que eu acredito que irá gostar — diz enigmático me deixando
com a ansiedade sem controle.

Entro em casa aborrecida porque fiz de tudo para Paolo me contar o


que está me escondendo, mas ele não revelou nada. Como odeio esse homem,
é tinhoso demais.
— Você fica um tesão nervosa — fala ao rodear as mãos pela minha
cintura.
— Pode parar, você está me fazendo passar por ansiedade e isso não é
bom para o bebê. — Ele para de andar e me encara nervoso.
— Está sentindo algo?
— Raiva de você. — Paolo inspira fundo.
— Quero te contar tudo de uma vez, só estou esperando uma pessoa
chegar.
— Não está melhorando a minha ansiedade.
— Vocês já chegaram. — Mirta aparece na sala. — Como foi a
consulta? O pequeno bambino está bem?
Pensei que ela ficaria chateada quando descobrisse que eu estava
ficando com Paolo escondida, mas Mirta apenas se limitou a dizer que
sempre soube o que acontecia entre nós. Ela é esperta demais e nos conhece
como ninguém.
— Meu filho está ótimo, o coração está batendo com muita força.
— Ahh... que alegria. — Ela me abraça. — Vamos ter muito cuidado
com você, para que essa criança chegue ao mundo bem forte. — Sua mão
acaricia a minha barriga que ainda não dá evidências que tem um pequeno
bebê crescendo dentro dela.
— Quer que eu prepare um lanche antes do almoço?
— Não estou com fome e se eu seguir você, vou terminar essa
gravidez rolando.
— Precisa se alimentar bem, agora come por dois.
— Mirta tem razão, precisa estar mais atenta à alimentação — Paolo
comenta enquanto digita algo no celular. — Faça um lanche leve para ela.
— Eu não estou com fome e vou marcar consulta com a nutricionista
que a obstetra indicou. — Ele me olha com raiva. — Vou descansar um
pouco.
— Pode esperar alguns minutos aqui? Teremos uma reunião
importante com dois convidados.
— Reunião? Com quem? — Antes que ele possa me responder
Franco entra ao lado de uma mulher que presumo ser sua esposa.
— Espero não estar atrapalhando. — Os olhos dele rapidamente caem
em mim.
— Claro que não atrapalha. — Paolo se posiciona ao meu lado. —
Acabamos de chegar do médico, Masha está grávida. — A mulher que se
encontra ao lado de Franco coloca mão na boca, parecendo emocionada.
Não entendo nada quando ela me abraça e começa a chorar. Por puro
instinto eu a abraço de volta e tento de alguma maneira consolá-la, ainda que
eu não entenda nada.
Paolo apenas nos observa, ele não parece surpreso com a reação dela.
— Por favor, me desculpa, deve estar me achando louca. — Olho para
ela e vejo as lágrimas em seus olhos, realmente acho-a louca neste momento.
— Vamos nos sentar e conversar logo, eu não contei nada à Masha,
queria falar sobre o assunto com todos vocês juntos. — Paolo faz um gesto
para os convidando sentarem-se.
Segurando a minha mão ele me acomoda em uma poltrona e senta no
braço da cadeira.
— Eu não vou me alongar por conta da condição da Masha e acho
que ansiedade não cabe ao momento. — Busco por Paolo e ele apenas segura
a minha mão. — Masha, quando te vi no meu escritório acabei percebendo o
quanto você lembrava uma pessoa do meu passado.
Vejo a sua esposa pegar um lenço e secar o nariz, ela está
extremamente emocionada.
— Comecei a buscar informações sobre seu passado e o que descobri
não me surpreendeu.
— Eu estou completamente perdida — digo angustiada com toda essa
situação.
— Você é nossa neta. — Ele segura a mão da esposa. — Quando te vi
no restaurante com Paolo acabei tomando uma medida drástica e peguei os
utensílios que usou no jantar, mandei fazer uma perícia em tudo e com o teste
de DNA foi comprovado que sou seu avô. A sua mãe era minha filha e fugiu
com um dos meus seguranças, pensei que ela havia morrido, mas o rastreador
que mandei a sua procura na época forjou a sua morte. Ele sempre cuidou
dela como se fosse filha e não teve coragem de matá-la.
Não sei o que dizer, fico apenas em choque enquanto o ouço falar da
minha mãe e tudo o que aconteceu para que ela fugisse. Franco me mostra
fotos dela quando jovem e eu não consigo conter as lágrimas, realmente é a
minha mãe.
Acabo descobrindo que ela se chamava Carlota e não Grazia como eu
achei que fosse. Já meu pai era chamado de Demetrio antes de trocar de nome
e passar a ser Virginio. Eles mudaram completamente a vida para que não
fossem mais encontrados pela máfia e por isso nunca falavam do passado e
vivíamos nos mudando.
— Ontem não tive tempo de entregar o exame de DNA que fiz, mas
ele está aqui. — Franco estende para Paolo, que o examina atentamente. —
Eu e Antonia estamos felizes em saber sobre a sua existência e também a do
seu irmão, eu já estou de olho nele e muito ansioso para poder conhecê-lo
pessoalmente.
— Estou sem palavras. — Realmente não sei o que falar ou sentir.
— O exame é bem claro. — Paolo me entrega o papel e eu verifico
que realmente existe uma compatibilidade genética entre nós. — Além de um
irmão, agora você tem avós — ele diz ao apertar a minha mão. — Pelo jeito
sua família está crescendo.
Movo meus olhos até meus avós, ainda me sentindo perdida com
todas essas informações. Não acredito que algo assim esteja acontecendo.
— Você não sabe como eu fiquei feliz quando Franco disse que havia
encontrado nossos netos. — Ela funga. — Pensei que tinha perdido para
sempre qualquer vestígio da minha filha, mas saber que vocês existem
ameniza a dor de não a ter mais viva. — Meu coração se aperta. — Quero
tentar recuperar o tempo perdido, estou ansiosa para conhecer o seu irmão e
assim podermos reestruturar nossa família. — Um soluço escapa de mim,
porque nunca esperei um dia conhecer meus avós.
Paolo passa o braço por meus ombros e tenta me consolar, mas meu
choro é compulsivo, não consigo me controlar.
— Estou feliz em tê-los aqui, mas a mamãe se foi e tem Laura, Andrei
não conseguiu localizá-la, nem Paolo. — Tento secar as lágrimas e vejo o
momento que minha avó segura o braço do marido.
Olho para Franco e seu rosto é uma mistura de dor e raiva. Fico
parada, apenas encarando meu avô e o seu olhar me diz tudo o que ele não
está conseguindo colocar em palavras.
— Não! — Minha negação sai em um sussurro, pois a dor que rasga o
meu peito tira todas as minhas forças.
— Infelizmente a perdemos, consegui achar o rastro dela, mas já era
tarde. — A voz do meu avô sai embargada. — Laura foi parar em um
prostíbulo de um grande traficante de mulheres, ele era sócio de Raul Diaz,
Paolo sabe bem quem era o infeliz.
— Infelizmente tive o desprazer de conhecer o stronzo. — Paolo
aperta o meu ombro com força.
— Laura era uma das mulheres exploradas por Garcia e Diaz, ela
morreu de overdose, como é costume acontecer entre as mulheres exploradas
pelo maldito. Para conseguir manter a rotina dos programas, elas se drogam
para sair da realidade. — O meu corpo estremece ao imaginar toda a dor que
minha irmã passou. — Uma das companheiras dela disse ao meu rastreador
que ela havia morrido há pouco mais de seis meses. Provavelmente foi
enterrada como indigente, já que descartaram o seu corpo em um beco
qualquer de Madri.
Abraço Paolo, sentindo uma intensa vontade de vomitar com tudo o
que ouvi.
— Calma, eu estou aqui. — Ele beija meu cabelo.
— Você não pode se emocionar demais. — Minha avó se aproxima.
— Precisamos cuidar dessa criança. — Ela me puxa para um abraço. —
Ainda não consegui digerir o que aconteceu a Laura, nem a minha filha, mas
nós estamos aqui e vamos seguir juntas em homenagem a elas que não
puderam ter uma nova chance.
Deus como é bom saber que ela existe, que eu tenho mais familiares
vivos e posso contar com minha avó para superar essa dor que está me
sufocando.
— Ahh... minha bambina, eu estou tão feliz — diz ao segurar meu
rosto. — Já te amo tanto, quero cuidar de você a partir de agora.
— Eu também estou muito feliz em saber que existem, parece tudo
inacreditável. — Consigo sorrir para ela, minha avó lembra muito a mamãe.
— Apesar da tragédia que aconteceu com a nossa família, não posso deixar
de ser grata por tudo que está acontecendo.
— Isso mesmo. — Recebo um beijo na testa. — Agora seremos uma
família unida e você nunca mais estará sozinha.
— Precisamos falar com Andrei, ele não vai acreditar nessa história e
sofrerá quando souber da nossa irmã — digo com a voz embargada.
— Faremos isso o quanto antes, que tal um jantar na minha casa mais
tarde? — Ela propõe.
— Acho perfeito. — Sinto uma mão pesada nas minhas costas e
quando olho para o alto vejo Franco me encarando.
— Seja bem-vinda à nossa família, eu estou feliz em ter você e seu
irmão conosco.
— Também estou, vô, tudo parece um sonho. — Ele suaviza a
expressão quando o chamo de avô e abre um discreto sorriso.
— A vida é feita de surpresas e algumas delas são boas. — Sou pega
de surpresa quando ele beija a minha testa.
Eu tenho avós e isso é algo completamente inacreditável. Sei que
nada conseguirá amenizar a dor de perder a minha mãe e irmã, mas saber que
os tenho ao meu lado me dá forças para seguir em frente.
— Você é uma ingrata. — Leo berra do outro lado da ligação. — Só
agora me conta todas as novidades, nossa amizade acabou aqui.
Como é dramático.
— Como ia te contar algo se cheguei em casa tarde e tive que ficar de
repouso absoluto? Paolo sequer me deixou respirar e hoje já fui à consulta na
obstetra.
— Não interessa, eu deveria ter sido comunicado pelo carcamano
pessoalmente, sou seu melhor amigo, caralho!
Não consigo deixar de sorrir, Leonardo é muito palhaço.
— Eu que preciso te comunicar e estou fazendo isso agora mesmo, só
você sabe disso, nem mesmo Giovanna ou Donatella estão sabendo.
— Menos mal, né? Ao menos me sobrou o furo da notícia sobre a
gravidez.
— Hoje tenho um jantar na casa dos meus avós, amanhã tudo deve
estar mais tranquilo, aí você vem me ver, eu te conto todos os detalhes.
— Acho muito bom.
Ouço vozes alteradas vindas da sala e me sobressalto.
— Leo tem alguma coisa acontecendo aqui, preciso ver o que é. Nós
nos falamos depois.
Interrompo abruptamente a chamada e antes de sair do quarto ouço
uma mensagem chegando, mas a ignoro, preciso saber o porquê Paolo está
discutindo com alguém. Quando chego na escada identifico a voz da mãe
dele.
— Quando me contaram que você a escolheu como noiva eu não
acreditei, não pode fazer isso com nossa família.
— Não vou mudar minha escolha — a voz dele é fria. — Masha será
minha esposa e acabou.
— Você não vai desonrar nossa família, se casando com uma das suas
amantes.
— Mãe, não fala isso. — Ouço a voz da Giovanna.
— Por que todos não se acalmam? — Domênico tenta trazer
ponderação.
Ele tem sido um valioso aliado, em qualquer circunstância está ao
nosso lado. Ontem quando descobrimos a gravidez, Dom entrou no meu
quarto tão feliz, que parecia até que o filho era seu.
Eu amo profundamente meu amigo, não sei o que seria de mim sem a
sua presença, constante na minha vida.
— Não se meta nisso Domênico, é um assunto de família.
O meu sangue ferve e, apesar de saber que não devo me aborrecer não
me seguro. Se eu vou ser a futura esposa de Paolo, tenho que aprender a me
posicionar.
— A senhora não tem o direito de falar assim com Dom — digo ao
descer as escadas segurando firme no corrimão para não ter o risco de cair. —
Ele é da família sim, está conosco todos os dias em nossa casa.
— Volte para o quarto, não quero você se aborrecendo. — Paolo se
aproxima da escada me encarando preocupado.
— Agora a sua amante virou um frágil vaso de porcelana? — Ela me
olha com raiva.
— Não, mãe. — Paolo segura a minha mão quando alcanço o final da
escada. — Ela está longe de ser frágil, essa mulher aqui, que você não aceita
como minha futura esposa está carregando o meu filho e eu não a quero
nervosa, porque a senhora não aceita o nosso casamento. — Ela arregala os
olhos, incrédula com a revelação.
— Ela está grávida?
— Está e iremos nos casar o quanto antes.
Vejo o rosto dela se contorcer de raiva, a mulher parece que vai
explodir a qualquer momento. Já Gio sorri, não tive tempo de conversar com
ela, eu não queria que soubesse sobre o sobrinho em meio a uma briga.
— Não pode mandar na vida do Paolo, mamãe. — Giovanna se
manifesta.
— Cale a boca! Você não foi autorizada a se manifestar.
— Se gritar com Gio outra vez, teremos problemas. — Paolo a alerta.
— Senhora, Martina. — Domênico chama sua atenção. — A futura
mãe do seu neto salvou a vida do seu filho. — Ela o encara sem entender o
que está querendo dizer. — Sei que está a par que tivemos um embate com os
russos, no entanto eu tenho certeza de que não sabe que Masha atirou no líder
deles quando Paolo estava na mira do Vladislav e longe da própria arma. Se
ela não agisse naquele momento, todos nós estaríamos mortos.
Martina abre a boca e me encara chocada, Giovanna passa o braço por
seus ombros, amparando o corpo da mãe que parece que vai desabar a
qualquer momento.
Gio sabe tudo o que aconteceu naquela noite, mas eu pedi que não
contasse a ninguém. Queria que a mãe dele me aceitasse por quem eu sou,
não por ter salvado seu filho, mas agora que Dom revelou tudo, espero ao
menos que ela se desarme e entenda que amo Paolo mais do que tudo.
— Eu amo o seu filho, por ele dou a minha vida — digo
sinceramente, porque sou capaz de tudo por ele.
— Não sei o que falar. — Pela primeira vez ela me olha sem raiva. —
Obrigada por salvar meu filho.
— Esqueça os agradecimentos, eu fiz por amor e farei quantas vezes
for preciso. — Paolo rodeia a minha cintura e me puxa para si.
— Acho que chegou a hora da senhora entender que Masha é ideal
para Paolo, meu irmão não poderia ter escolhido uma mulher tão perfeita
quanto a minha amiga.
Troco um olhar terno com Gio, até que Martina encara o chão e deixa
os ombros desabarem.
— Quero que me perdoe por tudo o que falei, nunca vou pagar o que
fez pelo meu filho.
— Não quero pagamento, mas confesso que queria de verdade que me
aceitasse por quem eu sou, não por tê-lo salvado. — Fito Paolo e mergulho
nos seus olhos repletos de calor. — Morro quantas vezes for preciso por ele.
Estou sendo sincera, Paolo tem todo o meu coração, ele conseguiu aos
poucos me conquistar. Até mesmo nos momentos que era intransigente,
sempre tentou se controlar para não se exceder, a nossa química aconteceu
instantaneamente e com o tempo desenvolvemos sentimentos profundos um
pelo outro.
Por diversas vezes tentei me interessar por outros homens, mas todos
que passaram por minha vida só me despertaram tédio. Apenas ele fez meu
corpo vibrar, esse ranzinza sempre foi o dono do meu desejo.
— E só para tranquilizar seu coração, Masha é neta de Franco, ela é
uma das nossas, não estarei envergonhando a família que tanto preza. Não
que a origem dela seja importante para mim, eu estou pouco me fodendo para
esse detalhe.
— Neta de Franco? — A expressão de surpresa dela chega a ser
engraçada.
— Isso mesmo, um dos mais prestigiados membros do clã.
— E um dos mais ricos — Dom completa. — Masha faz parte da elite
da máfia.
E como não podia deixar de ser, a mãe dele se desarma
completamente, ela tem fixação por status.
— Como descobriram que ela é neta do Franco?
— Ele mesmo descobriu. — Paolo aponta para o sofá. — Vamos nos
sentar, vou contar tudo o que aconteceu. — Segurando a minha mão
firmemente ele me puxa para a sala.

Andrei me encara chocado, ele parece não conseguir assimilar tudo o


que contei. Sei como se sente, mesmo após meus avós passarem um tempo
conversando comigo, eu precisei colocar minha mente em ordem para poder
compreender todas as informações que recebi.
A pior parte foi a notícia da Laura, dói demais imaginar tudo o que ela
deve ter passado. Eu odeio muito meu pai, espero que um dia ele pague por
todas as maldades que nos fez passar.
— Não vai falar nada? — Olho para ele impaciente.
— É difícil falar algo. — Ele levanta e começa a andar pela sala. Seus
olhos estão vermelhos pelo choro com a notícia da morte trágica da nossa
irmã. — Primeiro eu levo um tiro ao enfrentar mafiosos russos, em seguida
você engravida, agora temos avós e a notícia da... — Interrompe a sua fala ao
inspirar fundo. — Acho que estou em choque.
— É muita novidade, eu sei, mas é a nossa vida mudando e partes do
nosso passado ganhando um fim. — Eu o abraço. — É dolorido saber tudo o
que nossa irmã passou, mas agora ela e a mamãe estão livres da maldade
humana.
— Se um dia eu encontrar nosso pai eu o mato, Masha, ele não
merece mais respirar. — Entendo meu irmão, também sinto uma raiva intensa
do meu pai.
— Pode ter certeza de que ele será achado e Paolo não será
misericordioso quando isso acontecer.
— Conto com isso, eu serei eternamente grato a ele por extirpar a
vida daquele maledetto. — Nesse momento Paolo desce as escadas com
agilidade.
Meus olhos correm por seu corpo esguio, ele veste uma camisa preta
com as mangas arregaçadas exibindo suas tatuagens e uma calça justa
também preta.
Meu futuro marido é deslumbrante, é até difícil acreditar que vou
passar a vida ao lado desse homem deslumbrante. A tristeza me alcança, eu
tive a sorte de encontrá-lo, já Laura teve um destino devastadoramente
trágico.
— Já conversaram? Podemos ir ao jantar?
— Andrei ainda está confuso — digo ao me aproximar dele.
— Pense sobre tudo no caminho, vamos embora. — Paolo enlaça a
minha cintura. — Franco é rígido com horários.
Ele não espera por resposta, me puxa na direção da saída
apressadamente.

Quando nós entramos na casa dos meus avós eu me sinto tensa. Não
sei exatamente o que esperar desse encontro.
— Sejam bem-vindos. — Antonia nos recepciona e seus olhos vão
direto para Andrei, que caminha logo atrás de mim e Paolo.
— Oi, vó. — É tão bom dizer isso.
Eu a conheci pela manhã, mas já sinto uma conexão intensa por ela.
— Como você está, minha bambina? — Os olhos dela ganham o
brilho das lágrimas de emoção por chamá-la de avó.
— Muito bem. — Nos abraçamos emocionadas, é muito bom saber
que a tenho na minha vida. — Contei tudo a Andrei, ele ainda está confuso e
tentando superar a morte da nossa irmã.
— Normal, vamos precisar de um tempo para assimilar tudo o que
aconteceu com Laura e sua mãe. — Ela beija minha testa e se vira para meu
futuro marido. — Boa noite, Paolo.
— Boa noite. — Ele apoia a mão nas minhas costas. — Vou deixar
vocês conversarem. — Seus olhos me observam com atenção, parecendo
querer saber se eu estou bem. — Domênico já chegou, Antonia?
— Está no escritório com Franco.
— Ótimo, estou indo conversar com eles.
Paolo nos deixa a sós e eu me sinto tensa com a reação de Andrei a
nossa avó.
— Posso te abraçar? — Antonia pergunta ao meu irmão.
Ele não responde, apenas fica a olhando, parecendo querer fugir a
qualquer momento.
— É a nossa avó, Andrei, temos mais que um ao outro agora. — Ele
me encara e vejo um conflito intenso acontecer em seu olhar.
Seguro a sua mão e o puxo para perto da nossa avó. Lágrimas
despontam dos olhos dele, fazendo com que Antonia se movimente e o
abrace.
Os dois choram dividindo um abraço caloroso, enquanto dizem
palavras ternas um ao outro, apenas observo a cena sentindo meu coração ser
tomado pela emoção. Tanta coisa aconteceu até chegarmos aqui, passamos
por muitas dores, adversidades e incertezas, perdemos pessoas que amamos,
mas acabamos vencendo todos os desafios.
— Meu pequeno menino, é tão bom poder te abraçar, vocês dois são
pedaços da minha filha, eu amo vocês e nunca mais quero os dois longe de
mim. — Ela me puxa para perto deles. — A partir de hoje sempre estaremos
juntos e, Franco prometeu que não deixará o pai de vocês impune.
— Ele é bom em se esconder, não será fácil achá-lo.
— Meu marido tem meios especiais para fazer isso, ele o achará se
ainda estiver vivo, tenha certeza disso.
— Espero que esteja bem vivo e que tenha uma morte à altura das
maldades que fez — Andrei diz com a voz raivosa.
— E ele será punido por tudo o que fez, tem a minha palavra. — A
voz de Franco ressoa potente. — Não vai demorar para que eu coloque
minhas mãos nele e o faça pagar por toda sua maldade. — Com passos firmes
se aproxima de nós. — Seja muito bem-vindo a nossa casa, meu neto. —
Apoia a mão no ombro de Andrei. — Dom me contou como foi corajoso com
os russos, estou orgulhoso de como enfrentou o inimigo e protegeu a sua
irmã.
— Eu não podia ficar parado, Masha estava em risco, aprendi um
pouco de luta enquanto morei nas ruas. — Franco sorri.
— Irá aprender a se defender ainda mais, Domênico te ensinará
algumas coisas como fez com sua irmã. — Os olhos dele me buscam. —
Estou feliz em ter vocês na nossa casa. — Agora ele encara a esposa. —
Vamos nos acomodar, temos algumas surpresas para a noite.
Ele passa os braços por nossos ombros e nos leva até o centro da
elegante sala de estar.
Olho para Paolo e o vejo relaxado, com um discreto sorriso nos
lábios.
Acho que agora tudo está se ajeitando, espero que encontremos algum
tempo de paz.
Eu nunca imaginei que me sentiria tão tenso no dia que iria pedir a
minha futura esposa em casamento, mas agora que estou prestes a colocar
uma aliança no seu dedo na frente das nossas famílias, eu me sinto
completamente agitado por saber que ela estará entrando na minha vida em
definitivo.
— É uma alegria ver nossas famílias unidas — Franco diz a minha
mãe. — Sempre tive estima por Paolo, o que não posso dizer o mesmo por
seu falecido marido. — Ele é sincero.
Não é por menos que se tornou meu contador, Franco além de ter uma
aptidão incrível para bons negócios, odiava o meu pai.
— Meu filho é um líder equilibrado, bem diferente de Conrado. —
Domênico se engasga com seu vinho ao ouvir minha mãe falar e me olha
com um meio sorriso.
Filho da puta! Está debochando de mim.
— Na verdade, Paolo não é conhecido por ser equilibrado. — Giane,
o marido de Chiara que está presente ao jantar junto da esposa, assim como
Fiorella, porém sem Carmelo, comenta sorrindo.
— Acho que ele nem sabe o que é isso. — Gio me olha descontraída.
Ela está sentada ao lado de Dom e os dois trocam um sorriso cúmplice
irritante.
— Não estou gostando das brincadeiras — digo aos dois.
— Paolo sabe o que faz — Valentino, tio mais velho de Masha
comenta recriminando ambos sabendo bem que não é boa ideia me provocar.
Por sorte os dois filhos de Franco não reagiram mal a revelação sobre
os novos membros da família. Ambos receberam os sobrinhos com muita
reciprocidade quando chegaram ao jantar, em alguns momentos até senti os
meninos revoltados ao ouvir um pouco sobre o passado dos sobrinhos.
Já minha mãe ainda não aceitou Masha completamente, mas ao menos
parou de falar suas bobagens, conseguiu cumprimentá-la com extrema
educação quando chegou. Também não poderia ser diferente, na casa Franco
ela não ousaria mostrar suas garras.
— Muito obrigado, Valentino. — Aceno para ele. — Já que
encerramos o jantar, eu gostaria da atenção de vocês. — Estou louco para
terminar essa confraternização para ir embora. — O nosso jantar além de ter
o intuito de apresentar Masha e Andrei à família deles, também foi feito com
a intenção de oficializar o nosso noivado. — Levanto e puxo a mão da minha
ruiva que encara surpresa. — Depois de uma briga intensa com Franco, eu o
convenci que precisava comprar o anel de noivado, mas nós nos entendemos
com relação a aliança de casamento, essa ele irá nos presentear com uma peça
exclusiva de um dos designers da sua joalheria.
— Ainda não estou feliz, mas não posso ir contra você — ele diz
emburrado.
— Sua inteligência é muito bem-vinda. — Aceno para ele. — Masha,
como bem sabe eu estou longe de ser um homem romântico, então não vou
me alongar neste momento. — Pego a pequena embalagem que guardei no
bolso da calça. — Eu espero que goste do anel de noivado, tive a ajuda da sua
avó na escolha. — Abro a caixinha e exibo o anel com um esplendoroso
solitário.
— Que lindo, Paolo. — Ela coloca as suas mãos sobre a boca e encara
o anel com os olhos brilhando pelas lágrimas. — Não acredito que ficaremos
noivos hoje.
— É o momento ideal, temos a família reunida. — A minha voz sai
mais grossa que o normal, queria poder ao menos por hoje ser um homem
que conseguisse extravasar seus sentimentos, só que não dá.
Saber que a amo já é algo que me assusta demais, então eu não tenho
como me ajoelhar na sua frente como nos filmes e dizer palavras fofas.
Deslizo o anel por seu dedo e faço uma leve carícia onde a joia está.
Eu espero que ela consiga ver nos meus olhos o quanto é importante para
mim.
Masha fez meu coração bater de uma forma que nunca achei que seria
possível.
— Agora vamos providenciar o casamento o quanto antes. — Beijo o
local onde está o anel. — Antonia está escalada para realizar esse casamento
em no máximo dois meses.
— Dois meses? — ela diz assustada.
— Se puder ser antes ficarei feliz.
— Vamos fazer um brinde aos noivos. — Franco levanta e ergue sua
taça de vinho.
— E também ao futuro bebê Torcasio. — Domênico completa o
brinde.
— Que vocês tenham um casamento feliz. — Fiorella diz ao nos olhar
com um sorriso que não chega aos seus olhos.
Preciso resolver logo a vida dela e, com sorte, faço isso antes do meu
casamento.
Meus olhos encontram com os da minha futura esposa e ela me encara
com um olhar que transborda amor. Um dia vou tentar entender que merda eu
fiz de bom nesta vida para receber o seu amor.

— Vamos com calma — digo quando ela monta sobre mim toda cheia
de fogo. — Você está grávida e teve um desmaio.
— Eu estou bem. — Sua mão acaricia o meu pau, que já está muito
animado querendo escapar da boxer. — Perguntei a obstetra se podíamos
transar normalmente e ela disse que estava liberado desde que não usássemos
chicotes e amarras. — Arregalo os olhos.
— Ela disse isso?
— Disse. — Masha libera o meu pau. — Agora quero meu noivo,
preciso de você, Paolo.
Caralho! Assim eu não consigo manter minha racionalidade. Não que
eu a tenha de fato, mas quando se trata da minha ruiva eu tento ser um
homem racional.
— Você é minha perdição. — Jogo o seu corpo para o lado e fico
sobre ela. — Eu sou louco por você, inferno vermelho. — Assumo. — Juro
que vou fazer de tudo para que seja feliz comigo.
— Já sou feliz. — Ela segura meu rosto e pressiona os lábios nos
meus. — Vamos nos casar, ter um filho e eu sei que tenho o seu coração. —
Ela coloca a mão no meio do meu peito. — Ainda que não consiga se
expressar com palavras, eu sei que me ama.
Esmago meus lábios nos seus, porque realmente a amo como nunca
imaginei que um dia seria capaz. Sei que ela merece ouvir com todas as
palavras o quanto a amo, mas hoje não consigo ser tão aberto. Em algum
momento eu tentarei ser, por enquanto apenas vou tentar mostrar com gestos
o quanto ela me domina.
Eu me perco no seu corpo e provo cada parte de pele exposta. Masha
se mostra completamente receptiva ao meu toque, hoje ela está ainda mais
excitada do que o normal.
Quando o nosso nível de excitação ultrapassa todos os limites eu me
lanço dentro do seu canal e começo a penetrá-la com profundidade. Ela geme
ao envolver o meu corpo e buscar pela minha boca.
— Ahh, Paolo — grita meu nome quando todo o seu corpo se
contorce embaixo do meu.
Meu inferno vermelho fica ainda mais linda quando goza.
Não paro de me movimentar, continuo investindo contra ela enquanto
acompanho extasiado o seu gozo.
Estremeço quando também gozo, afundo o rosto contra seu pescoço e
rosno ainda sentindo meu corpo ser incendiado. É muito bom estar com ela,
Masha é a única que me satisfaz plenamente.
— Eu te amo ainda mais quando me faz gozar — ela fala ao me
abraçar. — Se não nos controlarmos acho que faremos muitos filhos.
— Pode apostar que eu vou me esforçar para ter muitos bambinos
soltos pela casa.
Penso na emoção sufocante que senti quando ouvi o som do coração
do meu filho. Tive que sair da sala de exame para que Masha ou a doutora
não percebessem tudo o que estava sentindo naquele momento.
— Não vai se esforçar coisa nenhuma. — Ela segura o meu rosto e
me faz encará-la. — Preciso terminar minha faculdade.
— No dia que você terminar eu te engravido, não tem problema.
— Paolo! — Recebo um soco no ombro que me faz sorrir.
— Fica calma, diaba vermelha. — Mesmo sem querer me afasto dela.
— Vamos sem pressa, temos muito tempo para encher esta casa de crianças.
— Apoio o cotovelo no colchão e descanso a mão sobre a sua barriga. — Por
hora vamos aproveitar nosso primeiro filho.
— Pode ser filha, prefiro chamar de bebê porque é mais amplo.
— Não me importa o sexo, só quero que tenha muita saúde — ela
suspira fundo e cobre a minha mão com a sua.
— Ainda estou com medo. — Beijo sua testa.
— E eu estou realizado. — Assumo. — Sempre te quis e agora que
vamos ser uma verdadeira família eu só estou tentando merecer esse presente
inusitado que ganhei. — Mergulho no seu olhar azul e aquecido de amor.
— Você merece tudo, mesmo que não acredite nisso — a voz dela sai
cheia de emoção.
— Não mereço, la mia passione. — Roço meus lábios nos seus. —
Mas vou fazer por merecer.
— Eu te amo muito. — Pego sua mão e deposito no meio do meu
peito, enquanto não tiro meus olhos dos seus.
— Você é tudo pra mim, tudo. — Meus lábios caem contra o seu,
ansioso, nervoso, repleto de desejo.
Ela é meu porto seguro, minha âncora, meu ponto de equilíbrio. Eu
sabia que ela mudaria a minha vida, só não tinha ideia de que ficaria nela para
sempre.

— Por que está me olhando assim? — pergunto enquanto ele pega a


jaqueta para vestir.
Hoje ele não tem compromissos de negócios, por isso optou pelo
visual mais despojado, que o deixa ainda mais com cara de mafioso.
Acho que essa gravidez está mexendo comigo, porque eu estou com
um tesão descontrolado por ele.
— Não posso te olhar? — questiona ao ajustar a jaqueta no corpo.
— Claro que pode, mas está me olhando parecendo que vai dar o
bote. — O safado sorri com malícia.
— É porque eu quero justamente fazer isso. — Ele apoia as mãos na
minha cintura. — Se eu pudesse ficaria neste quarto o dia todo.
— E iria me matar. — Beijo seu pescoço.
— Claro que não, tenho certeza de que iria gostar de cada momento
que ficássemos aqui.
— Se eu não tivesse que ir para a faculdade pediria para ficar.
— Você tem certeza de que está bem para voltar a estudar?
— Claro que estou. — Paolo avalia meu rosto. — O meu desmaio não
foi nada demais, pode parar de me olhar assim.
— E enjoos? Você não sente nada?
— Por enquanto não, a médica disse que sentir enjoo não é uma regra,
porém eu ando com muito sono durante o dia e chorando demais.
— Promete que chamará Leonel se sentir qualquer mal-estar?
— Prometo. — Ele segura meu rosto e sela nossos lábios.
— Senhor! — A voz de Mirta quebra o nosso beijo. — Leonardo
chegou e ele está muito mal-humorado esperando por sua noiva.
Mirta está adorando meu noivado, ela me confessou que sempre
torceu para que ficássemos juntos.
— Já estamos indo — grito ao tentar me afastar dele.
— Seu amigo é um verdadeiro pau no cu, já cedo, perturbando.
— Ele está magoado por não saber logo da gravidez e tudo vai piorar
quando descobrir que ficamos noivos.
— Controle logo Leonardo porque hoje estou sem paciência — diz ao
pegar o celular guardar no bolso da jaqueta.
— E você tem paciência? — pergunto sem esconder o sorriso.
— Tenho. — Segurando a minha mão saímos juntos do quarto. —
Mas minha paciência tem dona, é ruiva e tira meu juízo. — Ergo um canto da
boca gostando da sua brincadeira.
— Isso foi fofo.
— Não foi não. — Rapidamente faz cara feia.
Nunca vou entender essa necessidade dele em esconder os próprios
sentimentos.
— Pois é, Domênico, a decepção com as pessoas machuca demais. —
A voz estridente de Leonardo me alcança. — Anos de amizade e eu sou
comunicado de uma gravidez por telefone.
— Lamento te informar, mas eles também ficaram noivos ontem, em
um jantar na casa do avô dela.
— O quê?! — O grito do Leo me faz retrair. — Eles estão noivos e eu
não fui convidado?
— Era uma reunião de família. — Dom dá de ombros.
— Mas você foi, tenho certeza.
— Eu sou da máfia, Leonardo, tenho acesso a casa do Franco, já você
não.
— Devíamos tê-lo chamado. — Olho para Paolo culpada.
— Não tinha como chamá-lo. — Afirma ao descermos as escadas. —
Era um momento para você conhecer seus tios, só chamei minha família
porque ficaríamos noivo e não poderia dispensar a presença de todos.
— Aí está o mais novo casal. — Leo me olha feio. — Estou muito
magoado.
— Podemos conversar com calma?
— Não! — diz irritado. — Eu merecia saber do noivado.
— Programei o noivado com Franco, nem Masha sabia, peguei todos
de surpresa.
— Mas você sabia e podia me chamar. — Paolo revira os olhos.
— Leonardo, drama logo pela manhã não me agrada, para de exagero
e vá colocar o papo em dia com sua amiga durante o café. — Como sempre
Paolo não perde tempo com os rompantes do meu amigo. — Para você ficar
mais feliz está convocado ajudar Masha a fazer um casamento rápido, preciso
me casar em dois meses, vá procurar com ela um vestido de noiva, quero um
lindo e não importa o preço.
— Quando diz não se importar com o preço eu posso colocar em
mente uns cinquenta mil euros? — Meu Deus ele está louco? Nunca vou
gastar essa fortuna em um vestido.
— Eu disse para arrumar o vestido, o valor é irrelevante.
— Puta que pariu! — Leonardo vibra. — Ela vai estar deslumbrante
poderoso chefão, eu acho bom dobrar até a segurança da noiva, porque vai ter
muito homem querendo roubá-la de você.
— Pare de brincadeira. — Paolo endurece o rosto, mas Leo o ignora.
— Vou fazer nosso roteiro para o vestido, amanhã começaremos a
procurá-lo.
— Leo, você precisa desacelerar. — Hoje já sei que ele falará sobre o
assunto o tempo todo.
— Não consigo. — Seus olhos vão para Domênico. — Tem certeza
de que não existe chances entre nós dois? Você também precisa casar e eu
seria uma noiva feliz se me escolhesse.
Paolo tosse para não sorrir, já Dom aperta os olhos parecendo pensar
se deve ou não o responder. Como o esperado ele vira-se e vai embora, com o
tempo aprendeu a deixar Leonardo falando sozinho.
— Ele é o meu homem mais ágil com uma adaga — Paolo diz
ameaçadoramente. — Um dia vai pegá-lo de mau humor e perder o pescoço.
Só espero não ser na minha sala, porque não quero que meu tapete seja sujo
de sangue.
Surpreendentemente Leonardo se cala e apenas observa Paolo se
afastar.
— Para de brincar com o perigo, eles são mafiosos e matam sem
remorso.
— Foi uma brincadeira para descontrair, Dom sempre tem humor.
— Mas pelo jeito hoje ele não está muito receptivo.
— Vamos esquecer isso. — Ele me encara. — Quero programar seu
vestido, você ficará uma noiva linda.
— Nada de vestido caro, vamos comprar um básico.
— Jamais, meu amor! — Ele enlaça o braço no meu. — Você será a
poderosa chefona da máfia, tem que se casar como uma rainha e eu a deixarei
deslumbrante.
Ai, Senhor, acho que vou ter problemas.
Pensei que achar meu vestido seria algo fácil, mas não foi bem assim.
Estou há três semanas buscando pelo meu vestido e não consigo achar nada
que me agrade. O pior é estar nas vésperas de casar, em seis semanas estarei
oficializando minha união com meu ranzinza favorito.
— Esse estilista está em alta no momento, é um jovem muito
talentoso que caiu nas graças da elite europeia — a minha avó comenta
enquanto a comitiva que me acompanha e se junta a nós ao descermos do
carro.
Dessa vez trouxe todas as minhas cunhadas e Donatella. Elas estão
empolgadas demais para me verem experimentar os vestidos, nas quatro
tentativas anteriores apenas Gio, minha avó e Leo estiveram comigo.
Chamei a mãe do Paolo também, mas ela estava com um
compromisso fora da cidade e eu agradeci por isso. Apesar dela agora ser
educada comigo, não conseguimos nos entender de verdade.
— Não gosto de pensar no quanto deve custar um vestido aí — digo
ao entrarmos no refinado espaço.
— Paolo não deu limites, então apenas escolha o que quiser que ele
irá pagar — Chiara comenta com tranquilidade.
— Ele até pode não se importar com o preço, mas eu me importo —
digo a ela.
— Meu anjo, apenas relaxe e aproveite o cartão sem limites do
carcamano. — Leonardo está empenhando em torrar o dinheiro do meu
noivo.
— Leo, você é destemido — Gio comenta sorrindo. — Se Paolo ouve
você o chamando assim, perde a língua.
— Amore mio, ele só saberá se vocês contarem, mas sei que são
damas discretas.
Uma mulher muito elegante nos recepciona e interrompe a nossa
conversa. Imediatamente somos encaminhadas para uma área reservada.
Enquanto a seguimos vou olhando os vestidos que estão em exposição, um é
mais lindo do que outro, sinto que hoje eu saio daqui com o meu modelo
escolhido.
As meninas não param de falar em especial, Chiara e Donatella, elas
vão pegando nos vestidos e dizendo o que devo escolher.
Somos acomodadas em um sofá confortável, a educada mulher que
nos recepcionou avisa que a vendedora que irá me atender estará conosco em
minutos.
Não demora muito e uma jovem sorridente aparece, acompanhada de
outra mais velha. As duas se apresentam e começam a me perguntar o estilo
de vestido que eu desejo. Tento ao máximo ser clara e aviso que estou
grávida e preciso que o vestido seja ajustado dias antes do casamento.
Como estou em dúvida sobre o modelo, ela me leva para um tour ao
longo da loja, para que eu possa ter uma noção melhor do que ela deve
separar para mim.
— Ma che palle! Esse é divino. — Leo separa um vestido com um
corpete rendado e uma saia cheia de camadas.
— É fashion — Fiorella comenta, mas não combina com Masha, ela é
mais romântica.
— Concordo. — Gio olha para o vestido. — Precisamos de algo mais
delicado.
Eles começam a falar ao mesmo tempo, talvez não tenha sido uma
boa ideia trazer todos de uma vez. Sinto que vou ter dor de cabeça com tanta
gente opinando.
Acabo escolhendo cinco modelos e sigo com a vendedora até à cabine
que vou me trocar.
O primeiro vestido é em estilo princesa e imenso, não serve para mim,
sumi dentro dele, sou pequena demais para algo tão grande. Sem contar que
tem Paolo, se ele me ver em algo tão imenso, vai reclamar o casamento todo
por ter trabalho ao tirar o vestido, já que ele tem uma infinidade de botões nas
costas.
Na primeira vez que fui procurar vestido ele deu a sugestão que fosse
algo rápido de tirar, porque não queria perder tempo na nossa lua de mel.
Que, diga-se de passagem, será no Caribe. Eu estou ansiosa por este
momento a sós com ele.
Mesmo não gostando do vestido decido desfilar para meus
acompanhantes, quero mostrar tudo a eles.
— Ai meu Deus, como está linda. — Minha avó diz com a voz
embargada. Ela nunca muda sua reação, a cada vestido que coloco chora.
— Maravilhoso, mas você parece que foi engolida pelo vestido —
Chiara diz o óbvio.
— Pensei o mesmo, mas quis me exibir para vocês. — Todos riem da
minha fala.
— Amore mio, vista algo sexy.
— Pode parar Leo, eu não quero nada muito revelador, estou grávida
e quando for o casamento minha barriga estará evidente.
— Estará linda do mesmo jeito e Paolo vai amar você sexy.
Reviro os olhos e volto para a minha cabine. Visto mais três vestidos
e não gosto de nenhum. Começo a ficar nervosa, porque se eu sair daqui sem
um vestido, posso comprometer a data do casamento.
— Com licença. — Outra vendedora entra na cabine. — Pediram que
vista este. — Ela estende um vestido com um corpete belíssimo, em uma
renda brilhosa.
— Ah, esse vestido chegou na loja ontem, é da nova coleção e
ninguém experimentou ainda. — A minha vendedora avisa. — É sexy e
elegante, também podemos ajustá-lo, o gerente avisou que nosso estilista fará
qualquer ajuste que precisar. — Olho para ela incrédula e algo me diz que
tem dedo do meu noivo nesse aviso.
Avalio a peça, ele não tem mangas, o decote é profundo no formato
coração e parte da renda pega não só o corpete, como também a parte que vai
até perto dos joelhos. Embaixo uma saia bufante em tule completa o visual.
Lindo. Perfeito.
— Vamos vestir?
— Claro que sim — digo animada.
Quando ela o coloca, encaro o meu visual estupefata e sinto meus
olhos ficarem marejados com a emoção que me domina.
— Pelo jeito achou seu vestido — a vendedora comenta sorrindo.
— É perfeito — digo ao tocar a renda.
— E mesmo que sua barriga esteja proeminente até o casamento, ele
ainda ficará perfeito — diz ao segurar meus ombros. — Vamos mostrá-lo à
sua comitiva.
Saio do provador radiante, estou me sentindo a mulher mais
deslumbrante do mundo. Finalmente achei o meu vestido e não vejo a hora de
subir no altar com ele.
Quando entro no espaço onde meus acompanhantes estão paraliso ao
avistar Paolo e Domênico ao lado do imenso sofá que o resto da minha turma
está sentada.
Os olhos de Paolo escorregam lentamente pelo meu corpo, ele parece
avaliar cada detalhe do meu vestido.
O que esses homens estão fazendo aqui? Paolo não pode me ver de
noiva antes da hora.
— E não é que o chefe tem bom gosto? — Leonardo quebra a minha
inércia. — O vestido ficou fabuloso.
— Não poderia ser diferente — Paolo se aproxima e para bem diante
de mim.
Seu olhar é puro fogo, sei exatamente o que está se passando na sua
cabeça. Sem me dizer nada ele segura a minha mão e me leva para a pequena
plataforma que fica na frente do espelho.
Encaro meu reflexo e mais uma vez admiro a perfeição do vestido,
uma pena que não vou poder ficar com ele, Paolo o viu e a tradição manda
que o noivo só conheça o vestido na igreja.
Por que ele tinha que escolher o meu vestido ideal?
— Você está incrível — diz com a voz baixa, para que apenas eu
escute. — Só não digo que é uma visão angelical, porque você é minha diaba
vermelha. — Ele me faz sorrir em meio a minha vontade de chorar.
— O que faz aqui? — Finalmente pergunto.
— Queria te ver em algum vestido de noiva, escolhi esse, é sexy,
elegante e ao mesmo tempo romântico. — Seu olhar prende o meu. — É todo
você, Masha, se eu pudesse escolher seu vestido seria esse. — Abaixando a
cabeça ele sussurra: — E tem um zíper, posso tirá-lo rápido.
Safado. Ele já está querendo tirar vantagem do meu vestido.
— Você não vale nada.
— Eu sei. — Paolo se afasta escondendo um sorriso.
Olho mais uma vez o vestido antes de virar e esperar a avaliação do
meu grupo. Domênico me lança uma piscada, deixando claro que gostou da
visão.
— Está linda, minha neta. — Minha avó me olha com carinho.
— O vestido é o estilo da Masha, pena que Paolo viu — Gio
resmunga. — Ele é um estraga-prazeres.
Todos riem da chateação dela, no entanto não posso discordar de
Giovanna, o vestido é perfeito, só que não vou poder levá-lo. Fico triste,
porque depois de experimentar tantos modelos o que realmente gostei tinha
que ser o escolhido por esse enxerido.
Não era para ele estar aqui.
— Tenho certeza de que vou achar outro tão lindo. — Tento não
demonstrar o quanto estou chateada.
— Leve esse se quiser, você pode usar um na cerimônia e outro na
festa — Paolo comenta como se comprar dois vestidos caríssimos não fosse
nada demais.
— Acho a ideia do Paolo maravilhosa — Minha avó concorda
animada.
— Não vou levar duas peças, esqueçam isso. — Com a ajuda da
vendedora desço da plataforma. — Paolo você precisa ir embora eu tenho que
escolher meu vestido.
— Já estamos indo, temos assuntos a resolver no La Fontaine. —
Mais uma vez ele me olha com desejo. — Nos vemos em casa.
Fazendo um sinal para Domênico eles se afastam. É impossível não
desconfiar que ambos são mafiosos, apenas a maneira segura com que andam
já deixa claro suas identidades.
— Masha, você gostou desse vestido, não foi? — Chiara pergunta.
— É perfeito, não existe nada nele que eu não goste — digo tristonha
por saber que não vou poder ficar com ele.
— Então o compre logo — ela diz sorrindo.
— Não posso, o seu irmão já o viu.
— Ele não sabe que esse vai ser o escolhido, só descobrirá quando
entrar na igreja e, pelo que conheço dele, vai ficar feliz por saber que
escolheu o vestido que gostou.
— Paolo já entrou aqui carregando esse vestido e ordenando que o
levassem até você — Fiorella comenta. — Concordo com a minha irmã, você
deve levá-lo, acho que não percebeu o quanto brilha ao estar nele.
— Esse é o seu vestido, Masha, apenas leve-o. — Leonardo parece já
estar entediado.
Fico pensativa, enquanto ouço todos dizerem que devo levá-lo, até
mesmo a vendedora concorda.
Cedo aos pedidos e bato o martelo. Vou comprá-lo, sei que nenhum
outro irá me agradar como este.
Quando a vendedora traz o véu e os sapatos, eu me encaro no espelho
e sinto meu coração apertar, não contenho as lágrimas e choro. Depois de
tudo o que passei, estou perto de alcançar um novo momento da minha vida.
Agora tudo está ficando ainda mais real, em poucas semanas eu serei
a senhora Torcasio.
Ai meu Deus! Paolo vai ser meu marido e eu uma mulher
extremamente feliz.
Eu estou muito nervosa e isso não é nada bom. Sei que preciso pensar
no meu bebê, mas saber que em minutos estarei entrando na igreja faz todo o
meu corpo tremer.
— Você precisa se acalmar. — A mão do meu avô segura a minha. —
Seu noivo não vai fugir.
— Ele que não se atreva a fugir, eu mesma vou atrás daquele homem.
— Ouço o seu sorriso.
— Pior é que eu sei que vai mesmo. — Olho para ele e dividimos um
sorriso cúmplice.
Franco apesar de sempre ser um homem sério, quando se trata dos
netos desarma-se. Ele passa horas conversando comigo e meu irmão, sempre
relaxado e aberto a responder nossas perguntas sobre a mamãe.
Ele e Andrei se deram bem de primeira, meu irmão agora passa um
bom tempo na casa dos nossos avós quando está de folga.
Quando o carro para na frente da igreja meu coração acelera. Meu avô
sai na frente e estende a mão para mim. Saio do veículo com as pernas
trêmulas e agradeço o apoio de Franco.
Leonel acena para mim, assim como Nino, hoje os dois são os
responsáveis pela minha segurança.
Meu avô me oferece o braço e eu o envolvo feliz. É ainda difícil
acreditar que o tenho do meu lado, a minha vida nos últimos anos foi tão
maluca, que às vezes me sinto em um filme trash de péssima qualidade.
Subimos devagar a escadaria da igreja. Quando paramos em frente as
imensas portas fechadas, suspiro fundo. Chegou o momento e muito em
breve eu estarei unida a Paolo para o resto da minha vida.
Não escondo o sorriso quando vejo as portas abrirem e a igreja
enfeitada com flores frescas entrarem no meu campo de visão. A música que
escolhi começa a tocar e, o meu avô caminha com segurança ao meu lado.
Esqueço as pessoas que me encaram, minha atenção está no altar, no
homem com um elegante smoking e um olhar intenso que incendeia todo o
meu corpo.
Caminho até ele parecendo estar nas nuvens, ainda sem acreditar que
estamos unindo as nossas vidas. Quando o alcanço, Paolo aperta a mão do
meu avô e para a minha frente. Franco beija minha testa e vai se posicionar
no altar, ao lado da minha avó, que me lança um sorriso emocionado.
Estou tão nervosa que sequer consigo sorrir para ela, apenas encaro
tensa o meu futuro marido. Ele parece perceber meu nervosismo e segura a
minha mão para logo em seguida depositar um beijo nela. Seus olhos
parecem me queimar, é como se ele conseguisse me tocar apenas com esse
olhar intenso.
— É o vestido que escolhi — diz ao beijar meu rosto.
— Ele é perfeito. — Paolo se cala e apenas entrelaça os dedos aos
meus guiando-me até o padre.
Eu queria muito prestar atenção na cerimônia, mas tudo passa como
um borrão. Não consigo acompanhar o que o padre diz, nem mesmo no meu
juramento tenho a noção do que falo. Só tento conter as lágrimas em saber
que depois de tudo o que passei eu estou me casando com Paolo, o homem
que ganhou meu coração desde que chegou a minha vida.
Eu tentei muito me conectar a outros homens, mas nenhum deles
conseguiu fazer meu corpo ficar vivo como Paolo faz. Ele me marcou
profundamente, conseguiu capturar completamente o meu coração.
— Eu vos declaro, marido e mulher. — A benção do padre me faz
voltar à realidade. — Pode beijar a noiva.
Paolo vira-se na minha direção e segura as minhas mãos. Nossos
olhos se encontram cheios de paixão, ele pode não ser bom com palavras,
mas seu olhar mostra cada grama dos seus sentimentos.
Fecho os olhos quando se inclina e beija-me. Não é o tipo de beijo
que eu queria ter agora, é apenas um roçar dos nossos lábios, porém eu me
sinto incendiar por dentro, quero muito mais dele.
Ele se afasta um pouco e beija meu rosto, em seguida encosta a boca
na minha orelha e sussurra: — Eu te amo, meu lindo e tempestuoso inferno
vermelho.
Paraliso, sem acreditar no que ouvi, esperei muito por este momento,
mas nunca imaginei que ele fosse colocar em palavras tudo o que eu sabia
que sentia por mim, na hora do nosso casamento.
Exibindo um sorriso de satisfação enlaça o braço ao redor da minha
cintura e vira-se para os convidados que nos aplaudem efusivamente.
Definitivamente eu sou a mulher mais feliz do mundo, depois de tanta
dor, eu encontrei a paz.
Coloco a mão no bolso, em seguida a retiro para poder corrê-la pela
lateral do meu cabelo. Estou uma pilha de nervos, ansioso para ver logo meu
inferno vermelho.
Ela passou o dia na casa da avó se preparando para o casamento. Foi
uma merda ficar todo esse tempo sem colocar meus olhos nela, eu só fiquei
mais calmo quando lembrei que terei toda uma vida ao seu lado.
Quando a tirei das garras de Yuri e levei para minha casa, tive certeza
de que estava trazendo um problema para a minha vida. Bem... não posso
negar que foi um grandioso problema ela vivendo comigo, porque conforme
o tempo passou e ela se transformou em uma linda mulher, eu só pensava em
torná-la minha.
O meu desejo foi realizado, hoje ela será a minha esposa e isso é
fodidamente maravilhoso.
— Você precisa se acalmar, perdi as contas de quantas vezes arrumou
esse cabelo.
— Vá se foder, Domênico.
— Se não percebeu está na igreja. — Caralho! Eu mato pessoas sem
temor, mas xingar dentro da igreja não é algo que eu me permita fazer.
— Caso não ficasse na minha cola, eu não falaria merda dentro da
igreja.
— Disse outro impropério.
Puta que pariu! Domênico tá fodendo minha vida.
— Por que não vai procurar o que fazer?
— Porque não quero. — Ele se diverte ao me ver fazer uma careta.
— Senhor Paolo, sua noiva está chegando. — A cerimonialista avisa.
— Vamos iniciar a cerimônia de entrada.
Aceno para ela, puto com esse monte de ritual para poder realizar um
casamento. Se dependesse de mim, trazia Masha direto de casa para o altar,
recebia a benção do padre e ia com ela para a nossa lua de mel no Caribe.
Não vejo a hora de ficar a sós com minha esposa, nem tão sozinho
assim, já que estaremos na companhia do nosso primeiro filho em seu ventre.
— Você está lindo filho. — Minha mãe toca meu braço. — Espero
que ela te faça feliz. — Estou contente com o esforço que anda fazendo para
aceitar meu casamento, ainda que não consiga manter um relacionamento
próximo com Masha.
— Não se preocupe com isso, estou fazendo o que eu quero, como
sempre costumo fazer. — Beijo seu rosto. — Agora vá para a sua posição,
quero terminar logo esse casamento.
Como programado fazemos a entrada e eu me posiciono no altar à
espera da minha ruiva. Sinto a gravata borboleta me sufocar enquanto encaro
as portas da igreja, ansioso por sua chegada.
Quando penso que vou perder o controle e falar alguma merda que me
comprometa com o padre, meu mundo vermelho surge incrivelmente bela e
me surpreende ao estar com o vestido que escolhi.
Perfeita! Não tenho palavras para descrever o quanto Masha está
linda.
Meus olhos acompanham cada um dos seus passos, sinto meu coração
acelerar quando ela vai se aproximando de mim. Sua barriga tem um discreto
volume e isso me deixa completamente fascinado.
Nosso filho. Ela carrega a melhor parte de nós dois. Se antes eu já a
achava linda, agora que sua barriga está se expandindo, a cada dia, para mim
é a mulher mais deslumbrante desse mundo.
Percebo seu nervosismo, ela sequer presta atenção nas pessoas que a
olham com admiração. Masha apenas me fita tensamente, parecendo querer
arrancar de mim um pouco de calma.
Se ela soubesse o quanto também estou agitado neste momento...
Franco para a minha frente e eu aperto sua mão, apesar do seu rosto
estar sério, ele não consegue esconder a felicidade. Desde que descobriu
sobre os netos tenho visto um lado mais relaxado dele que me deixou
surpreso.
Beijando a testa da neta ele se afasta e vai se posicionar ao lado da
esposa. Fico bem na frente da Masha e, apenas pela maneira que me olha, sei
o quanto está agitada.
Pego sua mão e a beijo, em seguida faço o mesmo no seu rosto e digo
baixinho: — É o vestido que escolhi.
— Ele é perfeito. — Sinto a satisfação me consumir por tê-lo
escolhido.
Entrelaço meus dedos aos seus e nos encaminho para perto do padre.
Apesar de termos ensaiado toda a cerimônia eu avisei ao sacerdote que não
queria nada longo, exigi que ele encurtasse os ritos do casamento. Claro que
ele não gostou do meu pedido, mas não me contrariou, pois sou um ótimo
contribuinte para seus projetos na paróquia.
Aguardo agitado toda a ladainha que ele fala, Masha parece uma
estátua de pedra ao meu lado, sua tensão me desagrada, não gosto de pensar
que isso possa prejudicar nosso bebê.
Quando ele começa o juramento fico feliz, está acabando essa tortura
e em breve poderei dizer com autoridade que a bela mulher ao meu lado é
minha esposa.
Deslizo a aliança no seu dedo e a beijo para ratificar meu eterno
compromisso com Masha. Só saio da sua vida quando Deus encerrar meus
dias na terra e eu conto que ele não vá fazer isso tão cedo.
Apesar da mão trêmula ela consegue colocar a minha aliança e nos
preparamos para a benção final.
— Eu vos declaro, marido e mulher. — Ergo um canto da boca feliz
porque agora ela é só minha, para sempre. — Pode beijar a noiva.
Ah, padre... não precisa pedir duas vezes.
Seguro as mãos dela e a encaro fascinado com a beleza ofuscante da
minha esposa. Apesar de querer beijá-la até que acabe o ar dos nossos
pulmões, eu me seguro e apenas roço levemente meus lábios aos seus. Não
posso mostrar aos abutres do meu clã o quanto ela é importante para mim, é
melhor eles acreditarem que eu a tomei porque sinto posse sobre ela e não
que a amo com desespero.
Relutantemente me afasto um pouco e beijo seu rosto, neste momento
não posso mais me conter, preciso libertar todo o sentimento que anda me
sufocando.
— Eu te amo, meu lindo e tempestuoso inferno vermelho. — Solto
minha declaração em um sussurro, só ela precisa saber que me tem aos seus
pés.
Não perco seu olhar surpreso, Masha parece não acreditar no que
acabei de dizer. Sorrio discretamente e enlaço sua cintura, nos posicionando
na frente dos nossos convidados que nos aplaudem efusivamente, apesar da
maioria me odiar e não estar nem aí para o meu casamento.
Foda-se todos, eu não ligo para ninguém, só me importo com a
mulher ao meu lado e com o nosso filho que ela carrega em seu ventre.
Apenas eles possuem minha melhor versão, meu lado humano e o meu
coração.
A Prometida do Consigliere – Livro 3 – Série Homens
Dominantes

Domênico

Bato a porta do escritório puto, odeio quando meu pai tenta me


intimidar na frente dos outros. Sei que lhe devo obediência, mas qualquer dia
desse eu esqueço a hierarquia e quebro a cara desse merda.
— Vamos lá — Paolo fala ao sentar atrás da imensa mesa de madeira
maciça. — O que diabos têm a me dizer que não pode esperar?
Meu pai não diz nada, apenas retira um envelope do bolso interno do
seu paletó. Ele o estende para Paolo com tranquilidade e senta relaxado na
cadeira a frente do nosso Capo, enquanto meu amigo começa a analisar o
conteúdo da folha em suas mãos.
Vejo o semblante de Paolo se transformar em uma carranca e seus
olhos seguem na minha direção. Nós nos encaramos tensos, sinto
instantaneamente que ele não está feliz com o que acabou de ler.
— Que merda é essa? — questiona furioso.
— Isso... — Meu pai aponta para o papel na mão dele. — É o acordo
que fiz com seu pai e exijo que seja cumprido imediatamente.
Fico confuso, sem saber o que está acontecendo.
— Sabia disso, Domênico? — Paolo pergunta raivoso.
— Do que está falando? — questiono perdido.
— Ninguém sabe do que acertei com seu pai, Paolo, estou revelando
hoje o nosso acordo como o programado. Domênico apenas precisa aceitar o
destino que programei para ele. — Sinto os pelos do meu corpo se
arrepiarem.
— Como é? — Olho para meu pai intrigado. — O que está falando?
— Os nossos pais acertaram que você tem que se casar com minha
irmã Giovanna — Paolo diz de uma vez e me faz paralisar.
Apoio a mão sobre a mesa de Paolo e tento assimilar suas palavras.
Eu esperava ouvir muita coisa nesta reunião estranha, menos que eu fosse o
destinado à Giovanna.
— Sempre fui muito amigo de Conrado e desejávamos unir nossas
famílias, como ele já havia prometido as outras filhas, acertamos que
Giovanna seria de Dom — meu pai diz com tranquilidade. — Quero que
anuncie o quanto antes o casamento deles. Domênico já passou da idade de
casar, quero netos machos, preciso treinar o futuro da família Pizzorni.
Trinco os dentes, porque jamais permitirei que ele coloque suas mãos
sujas nos meus filhos.
— Inferno! — Paolo joga um abajur contra a parede. — Nem morto o
filho da puta do meu pai deixa de atormentar a nossa família.
Vejo meu pai sorrir, ele está bem feliz em ver o descontrole do nosso
líder.
— Conrado era um exemplo de Capo. — Meu pai alfineta Paolo ao se
levantar. — Não precisa anunciar hoje que Giovanna é do meu filho, posso
esperar alguns dias, mas não quero que o casamento demore. — Ele ajeita o
terno. — Se me derem licença, vou beber um champanhe para comemorar a
aquisição da virgem mais desejada do clã.
Nojento. Eu odeio o profundamente.
— Calma — peço a Paolo. — Será que pode ir embora sem falar tanta
merda? — Ele endurece as feições e vem na minha direção.
— Não fale comigo nesse tom. — Nós nos encaramos intensamente.
— Se ainda não percebeu não sou mais um menino, não me faça foder
a minha vida ao meter um tiro na sua cabeça e te dar o fim merecido. — Vejo
suas narinas se dilatarem, ele odeia ser afrontado.
— Olha só seu merda, eu... — Sua fala se quebra quando Paolo o
segura pela garganta e prensa seu corpo na parede mais próxima.
— Cale sua maldita boca, stronzo! — esbraveja. — Eu te odeio e
ainda não morreu porque Dom nunca pediu a sua cabeça, mas eu posso
esquecer a vontade dele e providenciar a sua morte. — Vejo meu pai se
debater tentando aliviar o aperto de Paolo. — Não me provoque, muito
menos tente ser abusivo com seu filho na minha frente, estou farto de você e
pronto para enfrentar uma rebelião no clã por matá-lo.

O terceiro livro da Série Homens Dominantes será entre o


Consigliere Domênico e a irmã caçula do Paolo, Giovanna Torcasio.
Em breve mais uma história eletrizante e quente estará chegando.
E no livro do Dom vocês terão o desfecho do Carmelo e do pai da Masha.
Só para informar o livro do príncipe Thomas será o quarto, trago
mais detalhes no livro do Dom.
Aguardem.
Preciso começar meus agradecimentos com o príncipe Mitchell, do
primeiro livro da série, foi ele que trouxe Paolo para dentro do seu livro e
esse mafioso explosivo ganhou o coração desta autora. Se não fosse Mitch
surgir no meu sonho exigindo contar sua história, eu não teria essa série
incrível para criar.
Meu mais profundo agradecimento à minha beta Wilka Andrade, que
releu infinitas vezes cada um dos capítulos e buscou incansavelmente deixar
a história do Paolo mais perfeita possível.
E também deixo meu agradecimento à Mary Dias, que me apoiou
muito a me arriscar no universo da máfia, ela me deu um suporte essencial
para que este livro fosse finalizado.
Obrigada de coração meninas, vocês são demais.
Com amor Lily Freitas
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[1] Garota ou menina.


[2] Organização criminosa russa
[3] Vamos
[4] Menina.
[5] Equivalente no português a filho da puta.
[6] Maldito.
[7] Santo Deus.
[8] Conselheiro
[9] Esta expressão pode ter vários significados como droga, porra e, nesta situação,
possui o sentindo de: “Que merda!”.
[10] Líder da máfia
[11]
[12] Os conselheiros ao qual Paolo se refere é o grupo mais rico e antigo do seu clã,
que o auxilia a coordenar os assuntos da máfia.

[13] São os homens de classe inferior da máfia, que fazem a segurança dos que
possuem maior poder aquisitivo e tradição familiar no clã.
[14] Homem
[15] Santo Deus.
[16] Família, representa todos os membros da máfia.
[17] Família. Nesse caso o sentido é sobre todas as famílias que fazem parte da máfia.
[18] Maldição
[19] O La Fontaine além de ser uma boate famosa, serve também de escritório da
máfia.
[20] Homem.
[21] Princesa em italiano.
[22] Mãe.
[23] Minha paixão.
[24] Príncipe em italiano.
[25] Princesa.
[26] Bairro no subúrbio de Roma.
[27] Essa é a frase que Paolo cita a Kimberly, no primeiro livro da série Homens
Dominantes, O Amor do Príncipe.

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