Diagramação: Brenda Ripardo Preparação de texto/Revisão: Graci Rocha
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos des-critos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes — tangíveis ou intangíveis — sem autori-zação por escrito da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do Código Penal. Este livro segue a norma-padrão do novo acordo ortográfico da língua portu-guesa, mas há muitas abreviações como o "tá", "tô", “pra” e "pro", de forma que o tex-to fique o mais natural e verossímil possível.
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Slow Burn, Casamento por Obrigação e Mafioso Possessivo.
— “Você é minha, Catarina, isso já foi decidido. Você terá o seu
tempo, mas vai aceitar a verdade mais cedo ou mais tarde. Você é minha e nada neste mundo será capaz de me impedir de tomar posse do que é meu”.
Catarina Maldini foi criada de forma diferente das típicas mocinhas
da Máfia e, por isso, acreditou que nunca teria de se casar. Mas, seu pai, Paolo Maldini, tinha planos diferentes e não aceitaria que a filha mais nova, Bianca Maldini, se casasse antes de Catarina. Catarina não estava disposta a se submeter a um casamento arranjado pelo pai. Seu desejo de liberdade e independência a levaria a fazer qualquer coisa para resistir à ideia de um casamento por obrigação. Pietro Rossi é um homem de honra e determinado a aproveitar este casamento para reestabelecer a glória ao nome de sua família. Ela é mimada e rebelde, ele é possessivo e protetor. Obrigados a se casarem, eles terão de aprender a confiar um no outro para vencerem os perigos do submundo de Atlantic City.
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"Domada pelo Mafioso" é um romance com pitadas de suspense e ação que mergulha nas complexidades dos relacionamentos e nas tensões entre tradição e liberdade, enquanto os personagens enfrentam os dilemas impostos pelo mundo da máfia.
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Este é um romance que tem como pano de fundo a Máfia Italiana, embora você possa encontrar alguns detalhes sobre as negociações dentro da máfia e burocracias ou torturas, este livro não terá cenas de extremo abuso, pois NÃO é uma história DARK. Este livro é um romance. O foco aqui é o nosso casal principal e o relacionamento deles, mas uma boa parte da trama é dedicada a ação com pitadas de suspense e reviravoltas. A história narrada nas páginas seguintes, foi escrita baseada em muito estudo sobre a Máfia Italiana, e claro, usando o bom senso da licença poética e minha criatividade.
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Dezoito Anos Atrás Eu me agarrei àquele pedaço de pão como se ele fosse o suficiente para garantir que eu conseguiria sobreviver. Já tinha corrido o máximo que minhas pernas aguentavam e tentado me esconder por todos os becos e atalhos que eu conhecia nos arredores da feira do calçadão próximo ao Steel Pier[1]. — O idiota conseguiu se encurralar sozinho. — disse o que parecia ser o mais novo dos caras que me perseguiam. — Você tá fodido moleque. Comecei a devorar aquele pretzel como se fosse a coisa mais gostosa do mundo. Sabia o que eles eram, até dois anos atrás meu pai fazia o que eles fazem. Ou algo parecido com aquilo. — O idiota come feito um cachorro, olha só. Eu não me preocupei em responder, não tinha conseguido comer nada no dia anterior e não sabia quando iria conseguir comer de novo, então aproveitei a única oportunidade que tive para acabar com a fome que fazia minha barrida doer. — Ele fede como um cachorro também. — O mais alto deles falou e começou a caminhar em minha direção.
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Seus passos eram firmes e eu fiz o possível para comer tudo o que tinha na minha mão. Por sorte, ele não se preocupou com o meu pão, ele queria mesmo era me encher de porrada. — Ele não parece ter medo de você, Riccardo. — O mais novo voltou a falar. — O idiota está mais preocupado em comer do que fugir. Eles queriam brincar comigo, me amedrontar e se divertir como hienas fazem com suas presas. Eu não tinha medo deles, nada assusta mais do que a fome. Acordar sem ter o que comer, passar o dia procurando comida, tentando encontrar vendedores distraídos para roubar e fugindo de qualquer um que quisesse me pegar, isso sim era assustador. Um adolescente e um adulto mal-encarado não me davam nenhum medo. Eles avançavam lado a lado, deixando bem claro que eu não conseguiria passar por eles. Talvez nem tivesse tempo de tentar. Encostado no muro, eu apenas devorava o resto de pretzel. Era uma coisa estranha. A dor da fome é forte e incomoda mais do que as surras que meu pai me dava, mas comer rápido quando se está morrendo de fome, dói ainda mais. Já tinha me esquecido disso. Às vezes, ficava mais de um dia sem achar comida. Pelo menos comida fresca. Eu era um moleque que morava nas ruas, mas era metido o suficiente para não querer comer comida de lata de lixo. Então, me agachei e esperei pelo momento certo. Um deles morreria e aquela nem seria a minha primeira vítima. Sem que eles conseguissem ver, eu peguei o meu punhal que sempre deixava escondido nas minhas roupas. — Olha só, o cachorrinho está morrendo de medo. — O carinha mais novo voltou a ficar na frente e tentou me provocar. Só que nunca fui um cachorro. Infelizmente.
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Cachorros são mais simpáticos do que eu e conseguem alguém que dê comida para eles. Não era mais nada que a merda de um órfão. Já tinha alguns anos que sempre me tratavam como lixo. Por isso, não comia nada achado no lixo. Não queria revirar latas e me sentir como já senti um dia. Como a droga de um filho que nunca pareceu ter pais. Não é que minha mãe me odiasse, ela só não sabia como agir. Não sabia como ficar calada nas horas que meu pai estava bêbado e nunca soube viver sozinha. Eu aprendi a viver sozinho. O que não vou aceitar é morrer sozinho, não seria o único a sofrer naquele dia. O primeiro que tentasse me machucar teria que passar o resto da tarde recolhendo as tripas do chão. — Acabou pra você, cachorrinho. — O moleque que estava na frente falou com os olhos soltando faíscas e querendo me pegar. Eu não respondi, não tinha motivos para isso. Como tantas outras vezes, fiquei calado, somente esperando pelo pior. O mais estranho era que, desde novo, enquanto meu pai batia na minha mãe, eu começava a assoviar. Acho que no começo, foi para não ficar ouvindo os choros e gemidos dela. Com o tempo foi se transformando em outra coisa. Uma coisa que não sei explicar, mas que sempre acontece quando estou perto de surtar. Geralmente, quem se fode não sou eu, é o idiota que me fez ficar desse jeito. — Vocês dois, o que estão fazendo? — Algum cara com a voz grossa e típica de um homem mais velho falou atrás dos dois. — Nada demais, tio. — O carinha respondeu e olhou para trás. Eu fiquei quieto, agarrado ao cabo do meu punhal e esperando para matá-lo. — Nós achamos o cachorrinho que anda roubando coisas na feirinha perto do píer. — Como é que é? — O homem falou alto e veio andando para perto de nós. — O que você pretendia fazer com ele, Mateo?
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— O que sempre fazemos com vira latas. Daria uma surra e o espantaria daqui. — Você ainda está aprendendo, garoto. Não era você que deveria estar aqui na frente. — Aquele cara era importante, dava para ver só pelo jeito que os outros falavam com ele. — Riccardo, por que você deixou o Mateo tomar a frente nisso aqui? — Ele estava animado, senhor, e só estávamos perseguindo este moleque aí, não é nada demais. — O carinha também deveria ser importante, ou este homem não teria ficado tão preocupado com o que ouviu. — Você, moleque. — O cara rosnou para mim. — Qual o seu nome? Decidi ficar calado, continuei agachado e agarrado ao meu punhal, fazendo de tudo para que ele não percebesse que eu tinha aquela arma. — Podemos fazer do jeito mais fácil ou do mais difícil. — disse, sua voz mais parecia uma ordem. — Você pode me responder e depois se levantar, soltar esse punhal ou eu posso te dar um tiro daqui mesmo. Ele mal terminou de falar e sacou a pistola. — Pietro. — Falei entre os dentes. — Vamos Pietro, levante-se e solte o punhal. Eu me levantei, mas não consegui soltar o punhal. — Olhe bem para ele, Mateo. A próxima vez que você estiver perto de um garoto de, sei lá, onze anos e ele não demonstrar nenhum medo, desconfie dele. — Ele não me acertaria. — Não seja tolo, Mateo, não me dê desculpas idiotas, você é melhor que isso. — Tá bom, tio. — Pietro, hein? Você ainda não soltou o punhal, acha mesmo que eu não vou atirar. — Vão me matar mesmo, prefiro morrer lutando. Os outros dois riram, aquele cara não. — Bom garoto! Qual seu sobrenome, Pietro?
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— Rossi. Eu achava que nunca mais usaria aquele sobrenome, mas a verdade era que ele já tinha sido importante um dia. — Isso teria sido interessante. O filho de Antoni Rossi tentando matar o filho de Paolo Maldini. — Ele se virou para o tal de Riccardo. — O que seria da sua reputação, se todos ficassem sabendo que o filho do antigo subchefe da família Rossi, matou o filho do Don Maldini? O cara engoliu seco e não respondeu. — Sua família já foi importante, Pietro. Seu pai cometeu os erros dele, mas teve alguma honra. — Meu pai era um merda. — Eu respondi sem conseguir me controlar. — Ele e meu avô acabaram com o nome da família Rossi. — Você está certo. A família Rossi já era, perdeu todos os seus territórios e quase todos morreram, mas o nome ainda existe, pelo menos uma pessoa o carrega. Agora me diga, o que você prefere, tentar me matar com este punhal ou limpar o nome da sua família? Eu não respondi, também não soltei o punhal. Queria mais era que todos eles se fodessem, mas queria sobreviver. Era isso que eu fazia de melhor. Por mais improvável que fosse, eu sempre sobrevivia.
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Eu devo ter jogado pedra na cruz, só pode. Consegui tirar a tarde de folga, mal tinha saído da primeira loja e já estava tendo problemas. Eu tinha jurado para mim mesma que não me estressaria mais naquela tarde. Tive que resolver tanta coisa por erro dos outros que fui obrigada a dar um tempo. Esta droga de cidade só tinha um shopping, o The Quarter at Tropicana que ficava dentro de um dos cassinos que minha família sempre comandou. Eu não queria ir lá, estava de saco cheio de ter que dar satisfação de tudo que eu fazia para o meu pai e para o meu irmão mais velho. Ir em um dos locais que nossa família comanda é como ter que dar satisfação para qualquer soldado que possa aparecer. Foi por isso que eu fui para o Tanger Outlets The Walk, mas aquele lugar nem era um shopping de verdade, eram vários quarteirões cheios de lojas e sem um estacionamento coberto e organizado. Foi aí que o meu dia azedou de vez. — Fica quieto aí. — Eu gritei assim que dei conta de que o cara ia sair de perto do meu carro. — Causar uma colisão e sair do local é crime, sabia?
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Ele me olhou atônito. O cara deveria ter mais de um metro e oitenta, tinha braços fortes e não parecia ser dos mais calmos. Mas eu não estava nem aí. Ainda está para nascer o homem que vai me fazer ficar calada quando estou com a razão. Caminhei com passos firmes até chegar bem perto dele. Seus olhos, de um tom penetrante de verde, piscaram ainda mais surpresos, enquanto ele lentamente recuava um passo. Era como se ele estivesse avaliando a situação. Sua expressão inicial de surpresa logo deu lugar a uma mistura de desconfiança e curiosidade, o maxilar tenso deixava claro que ele não estava feliz por ser questionado por uma mulher na frente de todo mundo. — Calma, docinho, não foi... — Não me chama de docinho. — Eu o interrompi. — Foi muita coisa sim, olha o estrago que você fez no meu para choques. Se eu não tivesse visto, você teria saído de fininho. — Eu não ia fazer nada disso. — Ele respondeu tentando não falar tão alto quanto eu. Ele vestia roupas práticas, provavelmente desgastadas pelo trabalho árduo. Usava calças jeans surradas, uma camisa de flanela xadrez com as mangas arregaçadas, mostrando músculos fortes nos braços. Seu par de botas de couro estava coberto de poeira e cimento, talvez ele trabalhasse em construções. — Claro que ia, pude ver nos seus olhos que você ia sair correndo daqui. — Bom... — ele sorriu, tentando ser charmoso. — Você dirige um Audi Q5 e eu uma Ford F-150. Meu carro é mais velho que eu, é bem capaz que eu teria de vender ele pra poder pagar o conserto do seu. — Culpado, eu sabia, querendo sair daqui sem arcar com as consequências do que você aprontou. — Calma, docinho. Está na cara que você pode dar conta de consertar isso, eu é que estou na pior.
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— Já falei pra não me chamar de docinho. — Eu sentia o calor da raiva subir pelas minhas entranhas. — Não é minha culpa se você errou a manobra e bateu no meu carro, então, não sou eu que terei de pagar por isso. — Uma mocinha tão linda e tão brava, está precisando relaxar, eu te pago uma bebida e a gente conversa melhor sobre isso. Até que ele era bonito e o corpo musculoso deveria ajudar com muitas garotas por aí, mas não daria certo comigo. — Odeio homens que tentam usar essa conversa mole pra cima de garotas. Não vai colar comigo. — Qual o problema? — Ele perguntou com o rosto transparecendo perplexidade. — Você não parece ser do tipo que gosta de mulheres. — O que isso tem a ver? Do que você tá falando? Ou você se acha tão gostosão que qualquer mulher que rejeite suas investidas tem que ser lésbica? — Você é muito nervosinha, parece uma megerinha. — Megera é o caramba, ninguém me chama de megera, seu roda dura mal educado. — Eu joguei minhas compras no chão e mordi o meu lábio de tanto ódio que eu senti naquele momento. Uma das sacolas se abriu e revelou a empunhadura de uma das minhas novas armas. — Olha só, ela tá toda bravinha, porque tem uma espada. — Na verdade é um sabre. — Revidei cruzando os braços sobre meus seios. Sem querer, fiz com que eles saltassem e revelassem um pouco mais do meu decote, ele deu uma boa conferida. O que fez o meu sangue ferver. — Anda logo, para de ficar me olhando e me passa a merda dos dados do seu seguro. — Você é maluca, o patricinha? Olha bem pra minha cara e para o meu carro, você acha mesmo que eu tenho seguro? — Não me chama de maluca e eu não quero saber. — disse pegando meu celular. — Me diz então como você vai pagar por isso ou eu vou chamar a polícia. Ele avançou sobre mim e agarrou meu pulso. — Você não vai chamar a polícia coisa nenhuma.
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Como eu odeio a testosterona, se fôssemos crianças e ele não tivesse lotado de hormônio, eu conseguiria evitar este movimento ou me soltar dele, mas o maldito é muito mais forte que eu. — Solta o meu braço agora. Ele não teve tempo de responder, nenhum de nós dois viu de onde veio o soco, mas o acertou em cheio no rim e ele arqueou assim que recebeu o golpe. — Era melhor ter ouvido a senhorita Maldini. — disse Francesco, um soldado um pouco mais velho que eu e que não deveria estar ali. — Me desculpa, eu não sabia — o idiota falou assim que ouviu o meu sobrenome. Pouquíssimas pessoas não recuariam aqui em Atlantic Cty após ouvir o meu sobrenome. E eu odiava aquilo. Ser filha de um chefão da máfia tem suas vantagens, mas as coisas começam a ficar sem graça quando ninguém tem coragem de te enfrentar. — É melhor ir andando. — Francesco falou e o cara entrou quase que correndo na pick-up dele e foi embora. Francesco me encarou, quase como se quisesse me censurar, mas ficou calado. Decidiu agir de outra maneira e recolheu as minhas sacolas caídas. — Você não devia estar aqui. — Eu impliquei com ele. — E a senhorita não deveria estar no escritório da transportadora? — Ele replicou enquanto terminava de recolher tudo. — Tive um dia muito cheio e decidi sair mais cedo. Ele não tocou mais no assunto, apenas fez sinal para que eu destravasse o meu carro. Assim que as portas estavam liberadas ele abriu uma delas e colocou tudo no banco de trás. — Talvez esteja na hora de ir para casa, senhorita Maldini. Ele jamais teria coragem de me dar uma ordem direta, então fez daquela forma velada. Eu entendi, aquilo era um sinal de que eu teria de conversar com o meu pai.
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— Talvez eu faça isso. — Respondi entrando no meu carro. — Obrigada. Não era comum uma mulher trabalhando em locais da máfia, mas eu cuidava do administrativo de uma das empresas de transporte dentro do porto de Atlantic City. Aproveitava o fato de ser filha do Don e dava minhas escapulidas quando queria. Há tempos papai não colocava ninguém atrás de mim, ou pelo menos, era o que eu achava que acontecia. Francesco já foi meu segurança, se ele estava por perto era porque papai tinha mandado fazer isso. Alguma coisa estava para acontecer e eu pressentia que não iria gostar nem um pouco do que me esperava.
Entrei na mansão com o coração ainda martelando de raiva. O fim de
tarde estava frio, mas eu estava fervendo por dentro. Eu bufei quando fechei a porta atrás de mim, com mais força do que eu deveria. Aquele maldito soldado não deveria estar lá, eu não sou como as outras herdeiras da máfia, eu não preciso de babá. — Olá, Catarina. Como foi o seu dia? — Meu pai, Don Paolo Maldini, adorava se fingir de besta comigo. Era óbvio que ele já sabia de tudo, mas preferia fingir que nada demais aconteceu e ficou folheando calmamente o jornal.
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— Você realmente acha que sou estúpida, papai? — Minha voz saiu mais áspera do que uma filha comum da máfia diria ao pai, mas eu não sou qualquer uma e não podia mais conter a raiva que borbulhava dentro de mim. Ele olhou por cima do jornal, seus olhos escuros e calculistas fixos em mim. Ele sempre soube como me desconcertar com seu olhar penetrante. — O que você quer dizer, Catarina? — Ele perguntou, fingindo ignorância. — Não finja, pai. Eu me encontrei com Francesco e você já deve saber disso. Nós já tínhamos conversado sobre isso, eu não preciso de segurança ou escolta. — Esbravejei andando de um lado a outro. — Você não confia em mim? Meu pai suspirou e dobrou o jornal, colocando-o cuidadosamente de lado. Ele se levantou e caminhou em minha direção com a calma de um predador. — E eu posso confiar? — a pergunta era claramente retórica e nem eu mesma costumo ficar interrompendo o meu pai. — É perigoso lá fora. Não quero que nada aconteça com você. Se não fosse o Francesco, o que teria acontecido entre você e aquele cara que bateu no seu carro. — Eu não preciso de babás, não quero que vocês me protejam. Eu sou uma adulta. — Minha voz tremia de fúria e frustração. — Eu teria dado um jeito, chamado a polícia, ou qualquer coisa do tipo. — E você acha que daria certo ter chamado a polícia? — Não seria nada demais, não era assunto da organização, era apenas um crime comum, não tinha por que me preocupar. Ele chegou mais perto e tocou meu rosto com gentileza, mas eu sabia que era só uma máscara. — Não nos envolvemos atoa com a polícia e quando precisamos, somente falamos com os que estão nos nossos bolsos e você não sabe quem são. — Não sei, porque vocês me deixam fora de tudo. Eu afastei suas mãos e seus olhos se encheram de mágoa, eu fingi não me importar, pois minha raiva tinha atingindo o pico. Meus olhos estavam
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ardendo, cheios de lágrimas de ódio, mas eu não derramaria nenhuma na frente dele. — Os assuntos da organização não dizem respeito às mulheres, você sabe muito bem disso. — Tudo bem, mas eu sou Catarina Maldini, e quero viver minha vida do meu jeito, sem suas sombras me vigiando a cada passo. Saí da sala, deixando-o para trás, mas eu sabia que a tempestade estava apenas começando. A batalha entre minha independência e seu controle havia sido reacendida, e eu não tinha intenção de ceder tão facilmente.
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A Brigantine Bridge se estendia diante de mim, uma estrutura imponente que ligava Atlantic City à cidade vizinha, Brigantine. Nós já estávamos desconfiados de que o cara que foi idiota o suficiente para arrombar um dos contêineres do porto de Atlantic City, ou queria morrer, ou não era da cidade. Ninguém em perfeito estado mental mexeria no nosso estoque. Nem mesmo os drogados de metanfetamina tentavam isso. Pelo menos nunca mais tentaram desde que eu fui escolhido para cuidar da segurança noturna de lá. Fazia todo o sentido que fosse alguém de Brigantine. A cidade mais ao norte e que os Maldini não possuíam tanta influência assim. Nós sempre tínhamos problemas com algum imbecil que resolveu sair de lá e tentar alguma gracinha na cidade do Don Maldini. Eu dirigia tranquilo, aproveitando o vento do fim da tarde passando pela janela e ouvia os gemidos do cara que estava encapuzado no banco de trás. Era como música para os meus ouvidos. À medida que eu me aproximava da ponte, a sensação de isolamento e desolação tomava conta. O céu estava nublado, com o vento frio soprando
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do oceano, fazendo com que a estrutura de aço rangesse e gemesse. Eu parei na seção mais isolada da ponte, mas próxima da extremidade e que passava menos carros. Algumas pessoas poderiam nos ver, mas ninguém pararia. Quem é que teria coragem de descer em uma ponte do lado do oceano para reclamar de dois mal-encarados que tentam jogar outro lá de cima? Deixei que Riccardo descesse primeiro. Ele empurrou o Rato sob protestos, mas não deu a mínima, após o primeiro soco que o idiota levou, ele voltou a ficar calado. Antes que o pobre coitado pudesse perceber, Riccardo o pegou pela gola e o deixou meio pendurado na borda da ponte. — Anda logo, Rato. — Riccardo berrou com o vagabundo. — Eu estou sem paciência hoje, quero o nome do idiota que arrombou o contêiner do nosso porto. A vida na Máfia não era justa e nem glamurosa para todo mundo. Riccardo já era soldado quando Enrico decidiu que me acolheria e me trouxe para o mundo dos Maldini e dezoito anos depois, ainda é soldado. Ele merecia ter se tornado um caporegime[2], mas não tem sobrenome e nunca acharam que ele merecesse uma promoção como esta. Talvez isso também aconteça comigo, mas eu não me importo muito. A vida aqui no meio da guerra não é sofisticada, mas é bem interessante. Além do mais, eu já levo uma vida acima do que um soldado normalmente levaria. — Eu não sei de nada, cara, — o idiota tentou argumentar enquanto se debatia — eu juro que não sei do que você está falando. — Não teste a minha paciência. Todo mundo sabe que qualquer roubo ou esquema na cidade que não seja de nenhuma das famiglie[3], tem um dedo seu. Riccardo fingiu perder um pouco da força e deu um solavanco no Rato que se agarrou ao braço do soldado e parou de se debater. Aquela cena animou um pouco o meu fim de tarde e eu decidi que já era hora de participar do interrogatório.
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Me aproximei dos dois com calma, dando tempo para curtir a paisagem. A vista lá de cima era impressionante. O oceano se estendia até onde os olhos podiam ver, suas ondas agitadas e imprevisíveis, como o próprio jogo da vida que levávamos. Retirei o capuz que cobria a cabeça do Rato, acho que por sorte ele não caiu quando Riccardo o ameaçou. Os olhos daquele idiota se arregalando ao me ver foi ainda mais impressionante que a vista ao longe. O metal oxidado da ponte brilhava sob a luz cinzenta e melancólica do dia me deixando animado por não estar no cais do porto. A vida nas docas era monótona, ver um idiota morrendo de medo é que dava sabor aos nossos dias. — Qual será a altura desta ponte? — Riccardo me perguntou enquanto eu olhava no fundo dos olhos do Rato. — Setenta pés. — O que será que pode acontecer com uma pessoa que cair daqui? — Algumas fraturas ósseas se ele cair em pé ou de lado. — Respondi saboreando o medo nos olhos do pilantra. — Não precisamos nos preocupar com um Rato de perna ou braço quebrado. — E se ele cair de cabeça? — Aí pode ser uma lesão cerebral ou na coluna. — Isso não me parece nada bom. — Riccardo comentou, soltando um chiado. — Uma lesão dessas deixaria sequelas. Talvez ficasse paraplégico, quem sabe alguns dias em coma. — Eu continuei encarando o Rato. — Ratos sabem dar cambalhotas? Porque eu quero que você o derrube de cabeça. — Não, cara, espera aí. — Ele começou a suplicar. — Recuperou a memória o seu filho da puta? — gritei com ele. — Desculpa cara, eu não sabia que vocês estavam tão furiosos assim. Eu ainda não tinha me decidido se o mataria. Ele conhece muita gente e não passa de um ladrãozinho metido a besta sem honra ou coragem. Isso
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era ruim para quem trabalhasse com ele, mas era muito bom para quem quisesse arrancar informações. Nunca gostei de gente evasiva e sem escrúpulos como o Rato, mas sempre soube como aproveitar os defeitos destes idiotas. — Quem foi o imbecil que mexeu no contêiner dos Maldini? — Me tira da beirada e eu te conto, eu juro. Ele era burro o suficiente para achar que podia negociar comigo. Antes de responder eu procurei pelos bolsos dele e achei seu telefone celular. Talvez tivesse alguma informação por ali, mas eu já tinha me cansado dele. — Conte até três e pode jogá-lo da ponte, Riccardo. Eu dei as costas e voltei a andar na direção do carro. Alguns passavam por ali, mas ninguém se preocupava em nos incomodar. — Foi o Vick com os caras dos Wolves de Brigantine, eu juro. — Aqueles idiotas metidos a motoqueiros? — Eles mesmos, eu juro. Aquela gangue sempre foi um pé no nosso saco. Eles sempre se aliavam a outras famílias, fosse daqui ou de alguma cidade maior e nossa história era longa e conflituosa. — Deixa ele ir embora. — Falei assim que me virei novamente para o lado em que os dois estavam. — Vê se não me faz perder tanto tempo assim da próxima vez, Rato. — Vocês vão me deixar aqui? Estamos longe pra caralho. — Toma. — disse jogando o celular dele com mais força do que o necessário. — Chama um Uber. Riccardo gargalhou enquanto assistíamos o celular dele cair no fundo do oceano embaixo da ponte. — Boa caminhada, Rato. — O soldado falou enquanto voltava para o carro. Ajeitei o som e dei partida no motor. O vigarista ficou calado nos assistindo sair de lá. Ele não seria louco de me perturbar a paciência.
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As escadas de concreto levaram-nos ao porão da transportadora Maldini, um lugar sombrio e sujo onde parte dos soldados da família tratavam dos assuntos das ruas. A pouca parte iluminada deixava à mostra as manchas de umidade e bolor. A Máfia de Atlantic City era um esquema safado, uma pirâmide onde a base ralava nas ruas e a elite aproveitava em cassinos e entretenimentos luxuosos. Nós não reclamávamos daquilo, a vida é como é. Somente nos esforçávamos ao máximo para subir algum degrau e desfrutar de mais regalias. Ser um soldado não era de tudo ruim. Fazíamos uma boa grana, tínhamos mulheres e diversão nas horas vagas. Só que todo mundo sabia, quanto mais alto na hierarquia, maior era o volume de dinheiro que conseguiríamos ganhar e tudo o que tem de bom na vida, viria junto. Caminhamos por entre um labirinto de caixas empilhadas, algumas delas quebradas e outras cobertas por lençóis empoeirados que ocupavam boa parte do espaço. Os corredores entre as pilhas eram estreitos e apertados, dificultando a movimentação.
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O ar era úmido e impregnado com o cheiro de mofo e óleo. O som constante das ondas batia nas docas lá fora criando uma sensação de isolamento, enquanto o rangido ocasional da estrutura metálica do edifício contribuía para a atmosfera de abandono. Eu até gostava da sensação, só me cansava da monotonia que podia ser naquelas docas. Riccardo e eu nos aproximamos de Vinnie, o soldado que estava encostado em uma das pilhas de caixas empoeiradas, com um olhar que indicava que ele tinha estado ali há algum tempo. — Vinnie, trouxemos o que descobrimos — disse Riccardo, enquanto entregava um envelope lacrado a Vinnie. Por mim eu só teria dado o nome do idiota que se juntou à gangue e Vinnie Romano que se fodesse para resolver as coisas. Só que Riccardo adorava adiantar o serviço para os mais novos e insistiu em conseguir mais informações. O soldado pegou o envelope, seu rosto iluminando-se com um sorriso que tinha um toque de astúcia. Eu senti um pouco de inveja, queria estar lá nas ruas e matar alguns motoqueiros idiotas. Ficar parado no pátio da transportadora vigiando carga era muito chato. Mas não cabia a mim decidir quem iria para o ataque. Quem fazia isso era Leandro Maldini, capitão e filho do conselheiro, Enrico Maldini. Por alguma razão que eu ainda não sabia, eles estavam me deixando de fora da maioria das missões na linha de frente. — Gostei disso. — Vinnie abriu o envelope e começou a examinar os documentos dentro dele. — Isso é exatamente o que precisávamos para lidar com os Wolves. Eles não vão saber o que os atingiu. Riccardo, com seu olhar desconfiado, interrompeu: — Façam tudo bem feito e sem exagero, não queremos chamar atenção desnecessária. Vinnie olhou para Riccardo, não escondendo sua irritação. Éramos todos soldados, não havia hierarquia entre nós, mas muitos sempre tentam se impor. Riccardo sendo o mais velho de nós estava inclinado a achar que podia cobrar o outro.
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— Fique na sua, Riccardo. Nós sabemos fazer as coisas, não teremos nenhum problema com os Wolves. Os dois se entreolharam e, por mim, não tínhamos nada mais a ser dito, mas isso não era do feitio de Vinnie. — Estão sabendo do que aconteceu na cidade hoje? — Ele voltou a falar com um brilho no olhar. — A megera aprontou das suas de novo. Nunca concordei com aquilo, Catarina Maldini era terrível, estive poucas vezes em sua presença e nenhuma vez foi agradável. Ela não parecia em nada com uma mulher da Máfia. Respondia em excesso, era desobediente, chamava atenção demais quando estava fora de casa e não respeitava ninguém. Mesmo assim, era filha do Don e não cabe a um soldado ficar reclamando dela. por mais que não exista hierarquia para mulheres na organização, não pega bem um soldado reclamando e fofocando sobre a filha do patriarca da famiglia. — O que foi desta vez? — Riccardo era uma ótima pessoa, mas deixava a curiosidade atrapalhar algumas vezes. — Ela arrumou briga com um trabalhador das construções, — as feições de Vinnie brilharam feito uma fofoqueira animada, — parece que é alguém que trabalha para os Cannavaro, mas não é da organização. Eles quase saíram no braço, mas o Francesco estava lá e deu um jeito nas coisas. — A megerinha sabe como causar confusão. — Riccardo comentou e eu o fitei censurando. Por mais que ele fosse mais velho, ele já tinha se acostumado a respeitar minha opinião. — Vocês não sabem da maior. — O soldado que mais parecia um colunista de fofocas voltou a falar. — Dizem que Paolo vai obrigá-la a se casar. — Don Maldini. — Eu o interrompi e por mais indisciplinado que ele fosse, não falou nada daquela vez. — Ela terá que se casar antes de Bianca, isso é o que estão falando por aí.
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— Quem será o felizardo? — Meu amigo voltou a se entregar à curiosidade. — Ainda não sabemos, todo mundo sabe que o — ele olhou para mim — Don Maldini quer casar a Bianca com o Don Cannavaro, mas só vai fazer isso depois que Catarina se casar, pois é a mais velha. — Eu não era um homem de honra, mas já estava aqui quando a dona Francisca estava grávida de Catarina. — Ricardo aproveitava o interesse de Vinnie por essas coisas. — Foi uma gravidez bem difícil, ela ficou muito tempo internada e quase que nenhuma das duas sobrevivia. — Por isso que Catarina sempre foi mimada? — Vinnie Perguntou. — Ela sempre foi tratada de forma diferente, aproveitou o cuidado excessivo do pai e foi colocando as garras de fora, agora se tornou essa fera. — Pois é, ele ficou a vida toda mimando e estragando a filha, agora, do nada, cismou que ela tem que se casar. — Isso eu quero ver, quem será o homem que aceitará se casar com ela, alguém da Família Cannavaro? — Ricardo insistiu na fofoca. — Acho que ninguém de lá vai querer domar essa fera. — Chega de fofocas por hoje. — Eu falei sem elevar o tom. — Você é muito estraga prazeres, Pietro. — Vinnie resmungou. Ele não estava de tudo errado e não me ofendeu com aquele comentário, mas eu não estava a fim de discutir o casamento da filha mimada do Don Maldini. — E você está no nosso depósito e já passou da hora de ir cuidar da sua missão. Apenas falei e apontei a saída, por mais insatisfeito que estivesse, ele não teve coragem de reclamar. Vinnie era do tipo que falava pelas costas, como uma cobrinha venenosa, ele não passava de um covarde e não me responderia. Eu fui para a minha ronda, conferir se estava tudo certo pelo nosso depósito e pensando na infelicidade que seria para o cara que tivesse que se casar com Catarina.
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— Está para nascer o homem que vai se casar comigo! — Eu praticamente grito com o meu pai, mas ele finge não se importar. Sentado em sua poltrona de couro que mais parece um trono, ele se sente no direito de destruir a minha vida e me obrigar a casar com um idiota qualquer. Eu sabia que tinha algo de errado, não era possível que eu estivesse sendo vigiada atoa, claro que tinha algo a mais por trás daquilo. — Sinto lhe informar, mas ele já nasceu. — É tudo o que ele fala me encarando com seus olhos castanhos. — Me diz quem é ele, que eu mesma mato o desgraçado, ah, mas eu mato sim. Dois dos meus irmãos riram daquilo. — Ainda estamos decidindo isso. — é Mateo quem me respondeu, o filho mais velho do primeiro casamento de papai e meu meio irmão. Ele estava de pé ao lado do Don. Acho mesmo é que ele preferiria estar sentado no colo de papai se isso não fosse pegar mal de tão baba-ovo que é. Marco estava sentado no sofá, ao lado de mamãe e Bianca que nada diziam. Somente Luca não estava lá, era bem provável que ainda estivesse
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dormindo. Ele nunca dava as caras pela manhã. Éramos três mulheres e três homens naquele escritório, mas parecia que eu estava lutando sozinha, já que ninguém tinha coragem de me defender. — Está mais do que na hora, bambina — papai voltou a falar. — Já estamos perto do seu aniversário, vai completar vinte e quatro anos. — Se continuar assim, vai ficar pra titia. — Marco me provocou, arrancando uma careta minha. Para eles era apenas uma brincadeira, uma provocação, mas era a droga da minha vida. Queriam logo me casar, depois teria um filho e quando eu menos percebesse estaria descabelada, presa a um fogão e cheia de mini mafiosos correndo pela casa. — Está muito cedo, papai, mal comecei a trabalhar, saí da faculdade não tem nem seis meses. Podemos esperar mais um pouco. Eu fiz como de costume e tentei abusar dos privilégios que papai sempre me deu. Por mais ódio que eu estivesse sentindo, não tinha como esconder o fato de que fui tratada diferente de todas as meninas da máfia. Era muito incomum que alguma outra garota do nosso mundo conseguisse ir para faculdade. Trabalhar e andar por aí sem escolta então... Desde criança foi assim e ao longo do tempo descobri que isso acontecia porque minha mãe teve uma gravidez muito complicada, os médicos chegaram a dizer que eu não nasceria, mas, por um milagre, eu nasci e sempre fui tratada como especial por isso. Claro que fui aprendendo a como usar isso a meu favor e sempre consegui dobrar o papai com um pouco de birra e charme. Talvez ainda fosse possível arranjar mais algum prazo. — Está mais do que na hora. — Mateo repete as palavras de papai que nada fala, somente bafora o charuto. Acho que me acomodei, ninguém falava de casamento e comecei a acreditar que ele jamais me cobraria esse acordo de me casar aos vinte e quatro anos.
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Eu sempre odiei aquele maldito escritório, eles se trancavam lá e decidiam todo o futuro das nossas vidas, sempre que uma de nós entrava lá, saía com alguma notícia terrível. Homens decidiam e as mulheres se fodiam. Era assim que nossa família funcionava e eu não suportava mais isso. Ser obrigada a se casar com um homem que eu não amava e provavelmente nem conhecia era demais para mim. Estávamos em pleno século XXI e eles agiam como se ainda fosse a Idade Média. — Pois eu não aceito, nem agora, nem nunca. — Não estamos pedindo que aceite, estamos apenas te avisando. — Mateo me responde e eu me seguro para não mostrar o dedo na cara dele. — Filhinha, — mamãe fala com sua voz doce e obediente de sempre — você tem de aceitar a sua vida, não adianta ficar dando murro em ponta de faca. — Eu não sou você, não nasci para obedecer a qualquer um, não sou um fantoche na mão de um marido e nem uma reprodutora para gerar herdeiros. — BAMBINA! — Papai urrou tão alto que até os cachorros começaram a latir no canil. — Ninguém fala assim com a minha mulher na minha presença. Ele se levantou e eu fui obrigada a engolir tudo que estava atravessado na minha garganta. O grito dele foi tão alto que não consegui ouvir o copo se estalando, mas, pelo jeito. Papai socou a mesa de mogno com a mão que estava segurando o whiskey. Fiquei quieta observando-o se levantar com a mão fechada. Mateo lhe ofereceu um lenço, mas ele recusou, apenas sacudiu a mão jogando sangue pelo carpete. — Olhe bem para eles. — Papai apontou para os retratos pregados na parede revestida de madeira escura. — Estes são os nossos antepassados, eles ajudaram a fundar esta cidade e transformaram uma pequena região de Nova Jersey num lucrativo empreendimento turístico. Somos ricos desde a época da Lei Seca e nunca estivemos tão preocupados como agora. — Ele apontou o dedo ensanguentado para mim e eu fiquei praticamente hipnotizada
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assistindo a uma gota pingar novamente. — Você deve honrar a sua linhagem e cumprir com o seu dever. — Mas isso não é justo, enquanto vocês escolhem com quem podem se casar, eu tenho que me casar com alguém que você indicar. — Não seja por isso, — ele respondeu de imediato, — você tem até o seu aniversário para escolher seu marido. Ele não era o filho mais velho e mesmo assim se tornou o Don, era astuto e fazia o que tinha que fazer. Eu tinha caído na armadilha dele, mesmo assim, tentei insistir mais um pouco. — O Mateo é o seu filho mais velho, ele pode se casar antes de mim. — Eu já fui casado e você sabe muito bem que foi o papai que escolheu minha noiva. — Ele respondeu assim que teve chance. — Não seja por isso, Marco também é mais velho do que eu, ele tem que casar na minha frente. — Não estou preocupado com meus filhos homens, eles cumprem o seu devido papel na organização, são minhas filhas que me preocupam. Eu pensei no fato de que Bianca adoraria se casar, aquela boba iludida e romântica, só que, por mais raiva que eu tivesse dos homens, não jogaria minha irmãzinha no fogo. — Um mês? Você acha que eu consigo escolher um marido em um mês? — Eu falei enquanto caminhava até perto dele. — Você armou tudo isso contra mim, está dizendo que eu posso escolher meu marido, só porque sabe que eu não tenho namorado. — Eu só estou cumprindo com a minha palavra, você consegue cumprir com a sua? — O quê? — Eu te disse, anos atrás, que você só poderia fazer faculdade se fosse se casar depois, — ele me fitou novamente e eu tive que desviar dos olhos dele, — aos vinte e quatro anos. Eu disse que o prazo máximo do seu casamento seria aos vinte e quatro. — Não, não aceito, não pode ser — respondi, prensando meus lábios e tentando segurar o caldeirão que fervia dentro de mim.
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— Somos uma família tradicional, todos aqui se casarão no seu devido tempo, bambina. Quero que sua irmã se case e você terá de se casar primeiro. — Ele falou amenizando o tom. — Escolha o seu marido ou eu mesmo escolherei. Eu estava prestes a estourar e falar coisas que poderia me arrepender logo em seguida, por instinto, busquei os olhos de mamãe por apoio. — Vamos filhinha, — mamãe se adiantou a falar, — vamos tomar um chá de camomila e conversar melhor sobre isso. Todos ficaram calados e eu aceitei o convite apenas com um aceno de cabeça. Tinham armado aquilo tudo para me pegar e conseguiram. Eles sabiam que eu não aceitaria me casar e decidiram usar essa carta de que eu posso escolher. Não seria nada fácil, mas eu tentaria dar um jeito naquilo.
Maria Grazia, nossa governanta, entrou pela porta do meu quarto
segurando uma bandeja com cuidado, como se carregasse algo extremamente frágil. A chaleira soltava uma fumacinha irritante, e três xícaras alinhadas aguardavam pacientemente, coisa que eu não tinha em nada.
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Cada uma delas com um saquinho de chá de camomila. Mamãe parecia estar levando essa ideia de chá a sério, e isso me fez perceber o quão encrencada eu estava com aquela situação. Eu permaneci sentada na minha cama, segurando o travesseiro com força, como se fosse minha única âncora naquele momento. Minha vontade de esmagá-lo com os dedos nascia do desejo de extravasar toda a frustração que crescia dentro de mim, uma sensação que parecia prestes a me engolir. Maria Grazia se aproximou com a bandeja, seu rosto marcado pelo tempo e a sabedoria de quem testemunhou muitos segredos e dramas familiares ao longo dos anos. Seus olhos bondosos tentavam me acalmar, mas eu já não era uma garotinha fazendo birra, era uma mulher prestes a ser condenada e não tinha nada que elas podiam fazer para me salvar. Aquela era a maldita verdade que assolava a família Maldini. Enquanto os homens se davam bem, enriqueciam e evoluíam, as mulheres eram condenadas a uma vida de casada geradora de herdeiros. Eu não sou tão megera quanto gostam de me chamar por aí, mas eu não estava pronta para me casar aos vinte quatro anos. Queria focar na minha carreira, quem sabe me tornar a responsável por parte dos negócios legais da família e, um dia, conhecer um homem que valesse a pena me casar com ele. — O chá que a senhora pediu, dona Maldini. Enquanto ela servia as xícaras, o aroma suave da camomila encheu o quarto, e eu soube que não seria possível ignorar por muito tempo a tempestade que estava prestes a acontecer. — Isso é tudo, Maria, mas pode me chamar de Francisca quando estivermos longe dos homens da família, já te disse isso. — Tudo bem, dona Francisca. — Odeio que me chamem de senhora ou Dona. — Mamãe disse assim que Maria fechou a porta do quarto. — Mas você quer que eu me transforme em uma, né. — Pare de lutar contra a sua realidade, aceite as coisas como são. Eu me casei por conveniência e sou muito feliz.
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— Você ama mesmo o papai? — Sim, com o tempo aprendi a amar aquele velho maluco. — Ela brincou e Bianca sorriu feito a tola que sempre foi. — E eu tive a felicidade de ter as duas filhas que tanto amo. Eu revirei os olhos para ela. — Não faça assim, Catarina, não duvide dos sentimentos de mamãe. — Minha irmã tratou logo de defendê-la. — Não estou duvidando de nada, só não aguento mais essa história de ter que me casar antes de você, tudo isso é culpa sua. — Pare com isso, Catarina, deixe sua irmã em paz, nada disso é culpa dela. — E é culpa minha, por acaso? — Pare de procurar culpados e me ajude a resolver as coisas. — Ela apontou para as xícaras. — Vamos logo tomar este chá. Eu sabia que aquele chá de camomila era mais do que uma bebida reconfortante, era um pedido de trégua em meio aos meus conflitos e decidi dar uns instantes de paz e fiz um aceno aceitando. Bianca tratou logo de pegar as xícaras e nos servir, já que somos mais velhas e ela é tola o suficiente para agir de acordo com as tradições de nossa família. Ela nos entregou as xícaras, e enquanto tomávamos o chá quente, eu tive certeza que nada daquilo iria me tranquilizar, mas eu passei a pensar em algumas medidas temporárias. — Por que não escolhe alguém do seu passado? — Minha irmã perguntou com sua irritante voz doce. — Porque ninguém seria idiota o suficiente para se casar com a filha de Paolo Maldini. Por mais que a gente tente fingir que não somos uma família de mafiosos, qualquer pessoa com o mínimo de neurônios sabe o que essa família é de verdade e ninguém de fora da organização seria doido o suficiente para se casar comigo. — Eu tomei um gole do chá, ele estava gostoso, pelo menos isso. — Ninguém que queira um casamento de verdade, toparia algo comigo.
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— Nem mesmo o... — mamãe se interrompeu por um instante criando coragem para falar — o cara que tirou sua virgindade? Eu ergui uma sobrancelha e me segurei para não rir de Bianca. A pele rosada dela estava ainda mais vermelha. — E quem te disse que eu não sou mais virgem? — Todo mundo aqui sabe disso. Você acha mesmo que conseguiria esconder uma coisa assim da nossa família? — Ela repousou a xícara no pires. — A sua sorte é que seu pai te mima demais. — Isso mesmo. — Bianca concordou desviando o olhar. Era fácil perceber que não adiantaria tentar mentir sobre aquilo. — Ele nem deve se lembrar de mim, foi só um carinha do meu passado, não adiantaria tentar contar com ele. — Não tem nenhum colega da faculdade? — Bianca quis saber. — Isso não é coisa de gente normal, ninguém sai por aí se casando sem amor ou algum motivo muito forte pra isso. O papai armou uma sinuca de bico pra mim. — Deve existir alguém. Uma ideia meio maluca surgiu na minha cabeça. Não existia ninguém, mas elas não sabiam disso e era um fato que eu poderia explorar. Não seria uma solução definitiva, mas me ajudaria a ganhar tempo. — Deve existir sim. — Menti fazendo cara de pensativa. — Podem deixar comigo, vou dar um jeito de pensar em alguém e vou apresentar o meu noivo antes do meu aniversário. — Que ótimo, mana. — Bianca tratou logo de se animar. Mamãe me fitou curiosa e desconfiada, mas também, não disse nada e não duvidou de mim. Era um ótimo começo, papai queria estragar a minha vida, mas eu faria de tudo para atrapalhar os planos dele.
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Vinte e um anos atrás Era uma noite escura e chuvosa, eu estava no meu quarto, jogando vídeo game e segurando a minha fome. Ele já devia ter chegado em casa, mas demorava mais que o de costume. Sempre detestei ouvir minha barriga roncando, mas aquela era a regra, ninguém jantava naquela casa antes que o dono dela chegasse. Tinha uma música alta vindo home theater na sala. Foi mamãe que colocou ela, acho que por causa da chuva. A coitada tinha medo de trovões e se eu fosse ela, teria mais medo do papai. — Pietro, meu filho. — Mamãe me gritou lá de baixo. — Vem pra sala de jantar, seu pai já deve estar chegando. Eu dei pause no meu jogo e desci até onde ela me chamou. Caminhei com o coração apertado, enquanto observava a chuva escorrendo pelas janelas do corredor. — Venha, menino, sente-se aqui. O som da música passou pelos meus ouvidos causando um frio na espinha. Eu sabia que ela gostava de ouvir aquelas canções para se distrair. Mas naquela noite, a música se tornaria o estopim de uma tempestade muito pior do que a chuva.
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Ela tinha que aprender com o comportamento dele, sempre que chega mais tarde, ele está mais bêbado que o normal e tem mais chances de ter briga. — Posso desligar a música, mamãe? — Perguntei já no fim da escada. — Não, deixa ela aí, me ajuda a pensar. — Ela respondeu e nos guiou para a mesa. Eu me sentei no canto, a mesa era grande e caberia mais de oito pessoas nela, como sempre comíamos só nos três, mamãe gostava de servir a comida no canto próximo à lareira, mesmo que ela quase nunca estivesse acesa, pois também poderia incomodar o meu pai. Deu tempo de ouvir umas duas músicas até que o barulho dos soldados se movendo lá fora deu sinal de que ele tinha acabado de chegar. Ouvimos a porta da cozinha batendo com força e mamãe teve outra oportunidade de perceber o que estava fazendo de errado, mas nada vez, ficou apenas esperando. Meu pai entrou na sala, até a sua sombra na parede estava se remexendo pela bebedeira. Só de olhar para ele dava para saber que estava irritado, e o cheiro de bebida só mostrava que a noite seria ruim. Os olhos brilhando de raiva encontraram os de minha mãe, que tremeu enquanto apontou para o jantar colocado na mesa. — Estávamos te esperando, querido. — A voz dela saiu fraca, quase baixa demais para se ouvir. — Não consigo te ouvir com essa merda de música. — Ele respondeu alto o suficiente para até os vizinhos entenderem. Mesmo morrendo de medo, ela se levantou e foi até próximo dele. — Fiz o seu prato predileto. — Ela apontou para a mesa novamente. — Lasanha à bolonhesa que você tanto gosta. Ele olhou para ela, balançou um pouco o corpo e depois voltou a falar: — O que é toda essa maldita música, Grace? — A voz de meu pai ecoou ameaçadora.
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Minha mãe engoliu em seco e tentou manter a calma, mas já dava para saber que aquela seria uma noite de problemas. — Antoni, por favor, a música me... Antes que ela pudesse terminar a frase, ele a empurrou com brutalidade. Ela caiu contra um dos cantos da mesa, derrubando e quebrando os enfeites que ficavam ali. A música continuou tocando, ela nunca impediria a violência que sempre acontecia em noites como aquela. Ele queria silêncio, seria melhor se ela aprendesse isso e o deixasse ter o que tanto queria. Eu assistia a cena, me esforçando para não fazer nada, fiquei sentado na minha cadeira tentando não olhar para os dois. Meu coração batia descontrolado enquanto eu evitava mostrar toda a raiva que eu estava sentindo. Eu queria gritar, ajudar a minha mãe e acabar com aquele monstro. Só que da última vez que eu parti para cima dele, nós dois apanhamos e ela apanhou ainda mais. Ela só precisava aprender a ficar quieta, assim como eu aprendi. Minha mãe se levantou lentamente, com lágrimas nos olhos, e encarou meu pai. A dor em seu rosto era inegável. — Antoni, por favor, vamos jantar em família, só isso — ela implorou com a voz tremendo. Meu pai se aproximou dela com a raiva estampada em seu rosto. — Cale a boca, mulher! — Ele rugiu. — Serve logo a droga do meu jantar e pare de chorar por pouca coisa. Mamãe concordou com um movimento de cabeça e limpou as próprias lágrimas com as mãos. Ela ajeitou a sua roupa, fingiu um sorriso e foi colocar os nossos pratos. Ela devia era ter desligado a música. Mamãe serviu a lasanha à Bolonhesa no prato do meu pai, com mãos trêmulas. Olhou para mim com um olhar de desculpas, como se tentasse me prometer que tudo ficaria bem.
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O prato saboroso estava diante dele, mas meu pai já havia perdido a paciência. — Isso está frio! — ele rosnou, seu tom de voz bêbado ecoando pela cozinha. — E essa maldita música ainda está tocando! Minha mãe tentou argumentar, sua voz vacilando sob a pressão de seu marido furioso. — Antoni, por favor, só um momento, eu... Ele não a deixou terminar. Com um gesto brusco, ele atirou o prato de lasanha contra a parede, fazendo-o estilhaçar em pedaços. Os pedaços de massa e molho escorreram pela parede, como se a sala de jantar estivesse sangrando. Minha mãe ficou paralisada, o choque pintado em seu rosto. As lágrimas escorreram silenciosamente por suas bochechas enquanto ela tentava manter a calma. — Antoni, por favor, você não precisa fazer isso — ela implorou. — Deixa que eu vou esquentar tudo. Ela se levantou rapidamente e desligou a música antes de recolher a comida e levar tudo para o fogão. Meu pai a observou por um tempo. Respirou fundo e com os olhos brilhando de um jeito estranho, ele se aproximou dela, seu hálito de álcool pesado e sua presença ameaçadora deixaram um rastro por onde passou. — Isso mesmo, Grace. — Ele rosnou e a agarrou por trás fazendo com que soltasse um gemido estranho. — Seu lugar é aqui, calada e fazendo o que eu mando. O garoto de oito anos que eu era, observava tudo em silêncio, o rosto pálido e os olhos cheios de fúria sem ter forças para fazer nada. Eu peguei meu punhal e o segurei firmemente, prometendo a mim mesmo que, quando ficasse mais velho, faria de tudo para que minha mãe nunca mais precisasse passar por aquilo. A promessa silenciosa foi gravada na minha mente, um juramento que eu estava determinado a cumprir.
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Mais tarde, ainda naquela noite escura e chuvosa, eu estava trancado e agachado em cima da minha cama, incapaz de escapar dos sons vindos do quarto dos meus pais. O quarto deles não ficava muito longe do meu, e as paredes eram finas, por isso eu não conseguia evitar escutar tudo o que acontecia do outro lado. O relógio digital na cômoda da TV marcava a hora, tarde demais para qualquer criança estar acordada, tarde demais para poder jogar vídeo game e evitar de ouvir tudo aquilo. Eu não tinha escolha a não ser permanecer lá, parado e imóvel. Às vezes o silêncio pode ser agradável, mas nunca era quando mamãe aceitava aquelas coisas. Meu quarto era bom, melhor do que qualquer um dos meus colegas, mas eu odiava estar lá naquelas noites. As paredes bem pintadas, móveis novos, dignos do filho de um mafioso importante. Até o abajur que iluminava o canto do quarto era novo e bonito. Tudo que ele quebrava, o maldito comprava novo e ainda melhor. Como se comprar coisas novas pudesse consertar as merdas que ele fazia.
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A cama estava coberta com um edredom que minha mãe escolheu para mim. Era do meu super-herói predileto e foi escolhido depois de uma das piores surras que eu já levei. Mas, naquela noite, não haveria nenhum conforto ou aconchego por ali. Eu odiava passar por aquilo, ouvir os gemidos, os choros e os urros vindos do quarto dos meus pais. Eu era criança, mas não era bobo. A escola já havia me explicado sobre como as coisas funcionavam entre adultos, sobre como as pessoas tinham filhos. Mas o que eu não entendia era por que minha mãe aceitava que um homem tão cruel como meu pai fizesse essas coisas com ela. As professoras sempre diziam que "quando dois adultos se amam o suficiente, eles dormem juntos no quarto," e eu tinha certeza de que meus pais não se amavam. Talvez eles tivessem amado em algum momento, antes mesmo de eu nascer, mas isso parecia ter ficado para trás há muito tempo. Enquanto eu estava encolhido em minha cama, sentindo o peso daquela realidade, desejei que minha mãe pudesse encontrar uma maneira de escapar daquilo. Eu me perguntava por que ela continuava a suportar meu pai, um homem tão ruim, um monstro que não merecia nada além de morrer. Foi nessa hora que eu decidi me cobrir por completo e ficar no escuro. Crianças teimam em acreditar que a coberta pode nos proteger dos monstros. Eu sei que não podem, mesmo assim eu me cobri com aquele maldito edredom do Batman. Debaixo dele, eu segurava a faca que peguei escondido mais cedo. Fiquei lá por um tempo, ouvindo a chuva caindo lá fora e rezando para que se tornasse uma tempestade, quem sabe assim os barulhos do quarto deles fossem abafados. Eu não passava de um menino que nada podia fazer, uma criança perdida no mundo de adultos que eu não conseguia entender. Eu comecei a assoviar bem baixo e brinquei com a ponta da lâmina, não fiz muito barulho, ele não podia saber que eu ainda estava acordado, mas era o suficiente para não ouvir todos os sons que vinham de lá.
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Não gostava de nada daquilo, mas tem hora que a gente precisa ficar quieto e aguentar o tranco. Tentar resolver as coisas na hora errada pode acabar piorando tudo.
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Sair de casa naquela tarde estava longe de ser uma coisa simples. Cada passo meu tinha que ser cuidadosamente calculado, cada movimento milimetricamente planejado. Eu sabia que estava sendo vigiada, tive a sorte de ser confrontada por Francesco naquela tarde em que o idiota bateu no meu carro. Saber desse desagradável fato acabou sendo crucial para conduzir o meu plano com precisão cirúrgica. Aquele soldado não era muito mais velho que eu, mas era perspicaz e experiente o suficiente para me incomodar, mas eu estava disposta a usar todas as minhas habilidades para estragar o que meu pai tinha aprontado para o meu lado. Antes de deixar a dita segurança da minha casa em St. Leonard's Tract[4], peguei meu celular e digitei uma mensagem para April, minha melhor amiga. “Estou a fim de treinar hoje, que tal melhorarmos nossas habilidades na espada”? Aquele era o nosso código secreto que só nós entendíamos. A esgrima possui três arma, florete, espada e sabre. Eu sou melhor que ela no sabre e April é melhor no florete. O grande detalhe é que nenhuma
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de nós duas gosta de usar a espada que é mais rígida e típica de esgrimistas altos. Ainda bem que esgrima não é o esporte mais comum nos Estados Unidos e os homens de papai também não se importam muito com isso. Parecia uma mensagem inofensiva, mas era tudo que April precisava para me ajudar com minhas escapadas. Ela sabia exatamente do que eu queria dizer com aquilo e o que eu estava prestes a fazer. April era minha melhor amiga, minha companheira desde criança e nos conhecemos no clube de esgrima, era a única pessoa em que eu confiava plenamente. “Pode contar comigo”. Ela respondeu pouco tempo depois. Esperei por um tempo, o combinado era sempre sair de casa depois de vinte minutos que ela tivesse confirmado a mensagem para dar tempo de prepararmos nossas bolsas. Quando já estava tudo certo, peguei as chaves do meu carro e coloquei as coisas no porta-malas. Minha respiração estava acelerada, por mais que já tivéssemos feito isso várias vezes, aquela era a mais importante de todas e estava determinada a fazer o plano funcionar. Dirigi por pouco menos de meia hora até o clube de esgrima numa das maiores academias de Atlantic City. O recanto onde passamos inúmeras horas treinando, aprimorando nossas habilidades de luta e compartilhando segredos. Estacionei o carro com cuidado e entrei no clube. Aquele era um lugar que eu conhecia tão bem quanto a palma da minha mão, um espaço onde havíamos compartilhado risadas, desafios e sonhos. Era o cenário ideal para minhas fugas. Eu caminhei diretamente em direção ao vestiário, me concentrando no objetivo que estava à minha frente. Ao entrar lá, não havia sinal de April, mas eu sabia que ela chegaria em breve. Não era a primeira vez que fazíamos algo do tipo e ele nunca havia falhado comigo. Eu olhei para o espelho e comecei a me maquiar de uma forma que eu jamais usaria e que era leve o suficiente para não chamar nenhuma atenção, eu estava prestes a me transformar.
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Finalmente, a porta se abriu, e April entrou no vestiário. Seu rosto estava determinado, mas havia uma centelha de ansiedade em seus olhos. — Demorei um pouco mais do que o de costume, — ela falou quase ofegante, — mas trouxe tudo o que você precisava. Ela colocou a bolsa em cima de um dos bancos e começou a tirar as coisas que eram essenciais para o meu plano. — Adorei o look, mas essa peruca aí, não sei não. — Eu provoquei tentando aliviar a tensão. — Eu adoro quando você sai de ruiva. Nós rimos um pouco, mas continuamos com o programado, o tempo urgia. April vestiu o meu uniforme de esgrima, o tecido ajustando-se ao seu corpo de forma eficiente e similar. Ela colocou a máscara, que escondeu seu rosto. Quando me entregou a peruca, eu a coloquei imediatamente e o tamanho foi perfeito para cobrir meus cabelos castanhos que já estavam amarrados com elástico num rabo de cavalo baixo e que não apareceria por baixo dos fios ruivos. Era incrível como tínhamos um físico parecido, o melhor de tudo, era como ela conseguia imitar meus gestos, minha postura, até mesmo o brilho raivoso dos meus olhos. Ninguém, a não ser nós duas, notaria a diferença. Quando a transformação foi completa, April se olhou no espelho e sorriu. Seus olhos, agora escondidos pela máscara, transmitiam uma determinação feroz. Ela havia se tornado uma cópia perfeita de mim, uma dublê que assumiria o meu lugar no clube de esgrima. Minha amiga saiu do vestiário fingindo ser eu, caminhando em direção ao salão de esgrima. Eu a observava, sentindo um misto de gratidão e apreensão. Ela estava se arriscando para me ajudar, e eu sabia que minha vida seria uma merda sem ela. Quando ela chegou ao salão, eu finalmente saí do vestiário. Agora, estava pronta para usar o carro de April e me dirigir ao local que eu realmente queria ir. O plano estava em movimento, e eu sabia que não poderia mais voltar atrás.
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À medida que o motor do carro dela ronronava sob o meu controle, senti uma mistura de ansiedade e determinação. Minha mente estava focada em escapar do soldado que estava atrás de mim, mas também pensava em April. Ela era minha amiga mais leal, e eu não tinha certeza do que eles fariam se descobrissem que ela sempre me ajudou com essas coisas. Enquanto eu avançava pelas ruas da cidade, sob o claro e ensolarado céu, sentia a brisa suave acariciar meu rosto. Apesar do dia radiante, meus pensamentos permaneciam tumultuados. Eu estava ciente de que estava arriscando tudo, mas era algo que eu estava decidida a fazer. Minha vida estava em jogo, por mais que fosse uma loucura, eu precisava tentar ganhar algum tempo e impedir que meu pai escolhesse o meu marido.
Eu estava diante de um homem loiro, forte e atraente que havia
escolhido para o meu ousado plano. Tirei um tempo para observá-lo cuidadosamente, avaliando sua aparência e seu comportamento. Não era grande coisa, mas devia cumprir com o que eu esperava dele e seria minha escolha. — Obrigada por concordar em me encontrar, — falei por educação. — Sr...?
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Ele sorriu, revelando alguma inteligência por trás de seus olhos claros. — Pode me chamar de Alex, Catarina. Fico feliz em ajudar no que for possível. Eu assenti e como não podia perder tempo, decidi ir direto ao ponto. — Eu tenho uma proposta incomum, Alex, e estou disposta a pagar muito bem por sua colaboração. Preciso de alguém que esteja disposto a se passar por meu noivo, pelo menos temporariamente. Os olhos de Alex se arregalaram ligeiramente, e ele parecia surpreso com a proposta. — Seu noivo? — Ele piscou os olhos verdes tentando jogar charme como se aquilo fosse funcionar comigo. — Isso é bastante inusitado. Posso perguntar por que você precisa disso? — O sobrenome Maldini te diz alguma coisa? — Ele deu de ombros. Pensei um pouco sobre como agiria dali em diante e escolhi minhas próximas palavras com cuidado. Não podia explicar muito a ele antes dele topar, mas se desse certo, eu teria de falar o mínimo para que ele entendesse a dinâmica da minha família. — Meu pai é um homem tradicional e conservador, e ele está determinado a me casar antes de minha irmã. — Falei estudando as feições dele. — O que ele disse é que tenho até o meu aniversário no mês que vem para apresentar um noivo a ele, ou terei de me casar com alguém que ele escolheu. — Isso é muito pior do que eu imaginava. — disse coçando a nuca. — Não é nada demais. — Menti. — Tenho minhas próprias ambições e não quero ser forçada a um casamento sem meu consentimento. Se eu puder apresentar um noivo, talvez ele dê mais tempo para eu tomar minhas próprias decisões. Alex assentiu lentamente, começando a entender a situação, eu percebi que com o incentivo certo era provável que ele aceitasse. — Isso é arriscado, Catarina. E como você pretende justificar a repentina aparição do seu noivo?
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Eu sorri e retirei um envelope de minha bolsa, revelando uma generosa quantia em dinheiro. — Com isso, Alex. Eu estou disposta a pagar generosamente pelo seu tempo e esforço. Invente o que quiser, diga que me conheceu na internet, que foi meu professor na universidade, fale qualquer coisa, você será bem pago para isso. — Joguei o envelope em cima da mesa deixando claro que aquilo era pouco para mim e que ele poderia conseguir mais. — Faça o que tem que ser feito. Para ajudar, você terá um pequeno sotaque do centro-oeste americano, se passará por alguém que não tem a mínima ideia do que a família Maldini representa e só preciso que seja convincente o suficiente para ele não procurar outro pretendente para mim. Vi nos olhos dele que estava considerando a proposta enquanto olhava para o envelope. Ele finalmente assentiu, a curiosidade e a perspectiva de uma boa quantia em dinheiro tinham falado mais alto. — Está bem. Eu aceito o trabalho. Quando precisamos começar? Dei de ombros. — Apenas crie um perfil convincente, Alex. Não estou te pedindo nada demais. Começaremos assim que possível. Vou fornecer mais detalhes sobre a nossa história e o que você precisará saber. Você está disposto a atuar até que a situação seja resolvida? Alex assentiu, transparecendo um pouco de determinação e muita cobiça. — Estou dentro, Catarina. Vamos fazer isso funcionar. Nós começamos a traçar os detalhes do plano, criando uma história convincente que enganaria o meu pai por algum tempo. Alex seria meu noivo temporário, eu estava determinada a ganhar tempo e tomar as rédeas de minha própria vida. Aquilo tudo era uma loucura, mas era o tipo de coisa que eu tinha que fazer para me livrar do desastre que seria ter um noivo escolhido por meu pai. Talvez fosse um velho barrigudo ou um idiota qualquer querendo me encher de filhos e subir de posto. Pior ainda, talvez fosse um soldado qualquer já que papai sempre soube que não sou a típica filha troféu de um Don da Máfia.
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O Brezza Notturna era um clube noturno à beira-mar, uma propriedade de prestígio da minha família. Cuidei de tudo pessoalmente e ele foi meticulosamente preparado para aquela ocasião tão especial. As grandes janelas de vidro proporcionavam uma vista deslumbrante do oceano, e a luz suave e dourada criava uma atmosfera elegante e acolhedora. Meu coração batia acelerado, mas eu fingia estar tranquila sabendo que Alex já estava por ali. O ambiente era decorado pela mobília requintada, desde sofás de couro macio até mesas de mogno ricamente ornamentadas. Um palco ao fundo estava pronto para a performance de um quarteto de cordas que forneceria uma trilha sonora ao evento. Por um momento eu pensei se havia exagerado na farsa, mas eu até contratei uma cerimonialista para cuidar de tudo e ajudar a dar veracidade. Nada daquilo refletia a minha personalidade, até porque, foi escolhido por ela. A decoração que ela criou equilibrava luxo e conforto, criando um ambiente íntimo e aconchegante para os convidados. Mindy até me ajudou a escolher a roupa daquele dia, um vestido preto impecável. Deixei meus cabelos perfeitamente penteados e segurei a vontade de xingar todo mundo por ali.
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Fiz questão de me colocar no centro de todas as atividades, supervisionando os últimos detalhes com meu típico olhar crítico. Eu estava disposta a tudo para garantir que o evento fosse uma representação convincente do meu repentino relacionamento. Não precisávamos fingir amor, meu pai estava se lixando para isso. Ele só queria ter certeza de que eu me casaria e que ele poderia usar Bianca como uma vaca premiada e conquistar uma aliança com a família Cannavaro. Ele nunca anunciou isso, mas até eu já sabia. Para evitar danos maiores, já que eu mesma não acreditava cegamente no meu plano, não convidei ninguém de outra família. — Olha, esta é a lista seleta de convidados. — Eu entreguei o envelope para Mindy. — Nenhum nome que não esteja aí poderá entrar. Não se preocupe com a segurança, minha família já cuidou disso. — Pode deixar comigo, Catarina, vou pessoalmente instruir a quem estiver na portaria. — Ela saiu sorridente. Fui para perto de Alex, o ator contratado para desempenhar o papel de meu noivo, que havia chegado mais cedo e estava discretamente esperando em uma área separada. Ele estava vestido de maneira impecável, com um terno preto sob medida e gravata borboleta. Seus cabelos loiros bem penteados e seu rosto confiante eram a imagem do meu desespero ao tentar enganar papai. — Onde nos conhecemos? — Eu comecei a conferir as respostas dele para saber se ele tinha decorado tudo. — Num evento que patrocinei, era um campeonato amador de esgrima. Ele acertou àquela e outras perguntas. Sendo o ótimo ator que ele se mostrou, estava tudo pronto para continuar com o meu plano. Enquanto os convidados começavam a chegar, eu os recepcionava pessoalmente, explicando a natureza íntima do evento e enfatizando a importância da discrição. Deixei claro para todo mundo que queria manter uma atmosfera intimista e expliquei a importância de que todos compreendessem a necessidade de manter segredos nesta noite especial.
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Eu estava determinada a criar uma ilusão convincente que ganhasse tempo para que eu me livrasse da ideia de casamento forçado por parte de papai. Em último caso eu poderia tentar convencer Alex a se casar comigo somente no papel e dava um jeito de fugir depois. A ideia era loucura, minha família me acharia em qualquer lugar, mas eu tinha que mentir para mim mesma e continuar lutando. Quando tudo estava pronto, eu chamei Alex e o levei comigo para perto do meu pai. Eu o cumprimentei primeiro, dando um abraço caloroso e um beijo na bochecha do Don Maldini. Ele me observou com olhos críticos, seu semblante sério revelando a seriedade do momento. — Então este aí será o meu futuro genro? — Boa noite, senhor Maldini. — Alex respondeu adequadamente. Ele não o chamaria de Don e nem faria nenhuma menção à Máfia, eu expliquei a ele que não falamos dos negócios da família com pessoas de fora. Meu pai o escaneou de cima a baixo. Era um homem de tradições, e a apresentação de um noivo era um evento que não podia ser levado de qualquer jeito. — Alex Norman, não é isso? — Papai estendeu a mão. — Prazer em, finalmente, conhecê-lo. Alex cumprimentou papai, mas eu respondi por ele. — Isso mesmo, este é o meu noivo. — Onde vocês se conheceram? — Num dos campeonatos de esgrima que participei. — Eu quero que ele responda as minhas perguntas, Catarina. Ou será você a usar as calças neste casamento? Eu revirei os olhos e segurei minha boca, a noite era importante demais para eu já começar a brigar com papai tão cedo. — Há quanto tempo se conhecem? — Cerca de um ano, senhor Maldini. — Ele respondeu convincente, mantendo o semblante sereno.
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— E como tudo começou? — Apenas conversamos casualmente. Eu elogiei os movimentos dela, também conversamos sobre a vitória de April naquele dia e acabamos nos tornando bons amigos. — E como isso se transformou em um namoro escondido? — Nunca se transformou, senhor. — Como é? — Senhor Maldini, eu e Catarina nunca namoramos. — Ele gesticulou com as mãos para amenizar a situação. — Eu sei que o senhor é tradicionalista e que sua família não é contra casamentos por conveniência, este seria o caso. Sou um homem de negócios, já tive vários contratos internacionais, mas nos últimos anos passei por alguns problemas. Me casar com uma mulher bem-nascida e de uma família tão rica poderá alavancar minhas posições e garantir que o lucro retorne. Aquilo foi como um soco no queixo de papai. Ele jamais acreditaria que eu estava casando por amor, mas era bem provável que eu me casasse com alguém que pudesse me levar para longe dos planos dele. — Estou reconhecendo um sotaque diferente, de onde você é? — Sou de Chicago, Illinois. — Então você deve conhecer os Salvatore. — Desculpe senhor, mas não os conheço. — Alex é modesto demais para mencionar isso, — eu me intrometi de imediato, — mas ele é um excelente músico. Ele costumava tocar em clubes de jazz em Chicago. Talvez devêssemos convencê-lo a tocar para nós esta noite, pai. Afinal, a música sempre melhora o ambiente, não é? — Adorei a ideia, Catarina, vou até o palco me juntar ao quarteto musical e poderemos alegrar ainda mais esta noite. O ar ficou carregado enquanto Alex saia de perto de nós, eu podia sentir o olhar crítico de Don Paolo Maldini sobre as costas do meu futuro noivo falso. Depois, ele se fixou em mim, papai estava claramente desconfiado, mas ele não fez nenhum movimento para impedir a ideia. Com um aceno de
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cabeça, ele permitiu que Alex se aproximasse do quarteto de cordas que já tocava suavemente, oferecendo um sorriso sutil de aprovação. Enquanto os músicos ajustavam seus instrumentos, Alex pegou sua guitarra, preparando-se para tocar. Eu sabia que ele era um músico talentoso, mas havia algo particularmente envolvente em ver o ator transformar-se em guitarrista naquele momento. Alex começou a dedilhar o instrumento com habilidade, os primeiros acordes enchendo a sala com uma melodia suave e cativante. A tensão que pairava no ar começou a se dissipar, substituída por um senso de admiração e encanto por boa parte dos presentes. Eu estudei papai e notei que sua expressão de desconfiança cedia aos poucos. Seria necessário muito mais do que aquilo para eu me livrar de um casamento forçado, mas parecia que o início estava dando certo. Os acordes de guitarra dele harmonizavam perfeitamente com o quarteto de cordas, criando uma fusão musical que era interessante. A música fluía através do salão e alguns risos preenchiam o cômodo. Era possível acreditar que estávamos numa celebração de verdade e foi neste momento que Alex se dirigiu ao microfone, com a voz firme e calorosa. — É uma honra estar aqui com todos vocês nesta noite. Catarina e eu compartilhamos uma conexão que é verdadeiramente especial, uma que nos inspirou a dar esse passo. — Ele disse sorrindo e com os olhos brilhando. — Nosso amor ainda crescerá em meio às adversidades e desafios, mas já estamos prontos para nosso compromisso com todos aqui presentes. Este é um momento de celebração, e estamos gratos por tê-los ao nosso lado. Enquanto os convidados aplaudiam e expressavam seus melhores votos, Alex me pegou pela mão e nos misturamos com minha família. Foi tudo muito fácil com ele e conseguimos compartilhar histórias que pareciam autênticas e eram convincentes o suficiente para enganar até mesmo os mais céticos. À medida que a noite prosseguia, nós continuamos interagindo com minha família, Alex se deu bem imediatamente com Luca, o mais novo dos três filhos do primeiro casamento de papai.
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Mateo continuou meio desconfiado e Marco foi meio indiferente. Com minha mãe e Bianca conseguimos criar uma atmosfera de afeto e proximidade. Elas acreditaram facilmente na ideia de que eu arrumaria um casamento com algum empresário somente para atrapalhar os planos do meu pai. O tempo passou voando e finalmente, chegou o momento do brinde. Eu levantei minha taça, meus olhos brilhando de emoção. — Brindemos ao futuro e à família, que são os pilares que sustentam nossas vidas. A todos nós, que compartilhamos laços de sangue e lealdade, e que estamos unidos neste momento tão especial. Eu nem precisei fingir aquilo, estava realmente emocionada ao ver que meu plano estava funcionando e eu me livraria da possibilidade de me casar com um dos pretendentes que papai arranjaria. Os convidados ergueram suas taças, todos estranhando minhas palavras, mesmo assim, brindaram ao nosso noivado. Meus olhos encontraram os de Alex em um olhar cúmplice, conscientes dos desafios que estavam por vir. A noite continuou com música suave e risadas, enquanto a família Maldini aceitava a minha união. Era um futuro incerto que aguardava a mim e ao meu noivo fictício. Cada momento era uma parte crucial do meu plano para tomar controle da minha própria vida, e eu estava determinada a fazê-lo de um jeito ou de outro.
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Não é comum um soldado feito eu ser chamado pessoalmente e desacompanhado para a mansão da família Maldini. Eles gostam de seguir a hierarquia e alguém como eu sempre vem aqui acompanhado de pelo menos um caporegime. Foram poucas as vezes em que eu estive lá e nunca pude ir sozinho e dirigir tranquilo como fiz daquela vez. Eu não via motivos para me preocupar, desde que destruí todos os esconderijos dos malditos que andavam vendendo heroína e metanfetamina por Atlantic City, estive entre os favoritos da família. Assim que estacionei o meu carro, já pude notar o peso dos olhares de outros soldados me vigiando. Não há um novato na organização que não saiba quem eu sou, mesmo assim, era estranho estar ali e ser o centro da atenção de todos. A fachada era imponente, com um design arquitetônico que combinava elementos clássicos e contemporâneos. A entrada principal era guardada por colunas majestosas, e havia uma grande porta de entrada de madeira esculpida à mão. E logo ali entre elas, estava Mateo Maldini, o filho mais velho do Don e atual subchefe. Nós temos uma história de anos de rivalidade que acabou se tornando amizade.
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— Há quanto tempo não te vejo. — Ele me cumprimentou e depois me abraçou. — Sinto falta de trabalhar contigo, pulguento. — A última palavra ele falou tão baixo que quase que nem eu mesmo escutei. Ele foi o cara que me encontrou quando eu ainda morava nas ruas, por mais que ele seja sete anos mais velho e tenha me odiado quando me acolheram, foi o primeiro a reconhecer o meu valor e acabamos nos tornando algo próximo a amigos. A grande diferença é que ele é filho do Don atual e eu sou neto de um que morreu muitos anos atrás, aqui entre os Maldini, a minha família não vale mais nada, só por isso eu ainda sou um soldado. Nenhum caporegime com o dobro da minha idade fez metade do que eu já fiz por eles. Mas a vida é como é, eu não ia reclamar. — Tempo demais, Mateo. — Eu cumprimentei com um meio sorriso. — Venha, papai quer falar com você. Com certeza, não deve ser coisa boa. Assim que passamos pela porta, a primeira coisa que chamou a atenção foi o candelabro imponente de cristal que pendia do teto alto, um tanto exagerado para o meu gosto, mas iluminava o ambiente de forma perfeita. Mateo seguiu na frente, comentando algumas coisas sobre como a mansão foi construída e eu não dei nenhuma importância para nada daquilo. Não ligava para o nome do arquiteto, para quando foi construída e nem de onde veio aquele mármore. Tudo o que pensava era que teve alguém preocupado com o mais importante, pois o caminho que levava ao escritório era fácil de se proteger e garantiria tempo de preparação para o Don em caso de um ataque inimigo. O caminho seguia por um corredor principal, decorado com pinturas a óleo de mestres renomados, dispostas em painéis de madeira escura. O subchefe falava de todas elas com orgulho estampado no rosto. Quase todas são de pintores italianos e as paredes são revestidas de papel de parede rico em padrões dourados e vermelhos profundos. Eles se preocupavam muito com luxo, isso a gente percebia fácil.
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No meio do caminho para o escritório de Don Maldini, havia uma sala de estar requintada e jogado num dos confortáveis sofás de lá, estava Luca, o filho homem mais novo de Paolo. Ele me encarou com desgosto e eu cumprimentei com um aceno de cabeça apenas por educação. Temos a mesma idade e, por mais que ele nunca tenha falado nada, sei que me odeia. Tudo porque eu me tornei um homem de honra primeiro do que ele, mesmo não tendo sangue Maldini. Também pudera, por mais que o nepotismo reine em famílias mafiosas, aquele garoto só pensava em se divertir desde que começou a crescer pelos no saco. Desde jovem tudo o que ele sempre fez foi curtir a noite e correr atrás do máximo possível de mulheres que Atlantic City pode fornecer. Mal tinha começado a tarde e ele já estava fumando um charuto cubano e bebendo o melhor scotch[5] vendido na região. Aquela deveria ser uma vida tentadora, aproveitar dos móveis antigos estofados em tecidos ricos. Receber o sol das grandes janelas com cortinas pesadas e aquela vista do jardim exuberante deveria ser bem melhor que se afundar no porão da transportadora e perseguir os inimigos da família. A vida é como é, ele tem a dele, eu tenho a minha. Finalmente, o caminho nos conduziu ao escritório privado de Don Paolo Maldini. Mateo abriu a porta de madeira esculpida com o brasão da família para revelar um espaço sofisticado e de bom gosto. O escritório era dominado por uma mesa de mogno maciço, à qual Don Paolo se sentava com autoridade. Prateleiras de livros revestiam as paredes, e uma janela com vista para os jardins oferecia um toque de tranquilidade. — Boa tarde, Pietro. — Quem me cumprimentou primeiro foi Marco Maldini o filho do meio que já tinha se tornado um capitão de respeito e estava sentado em um sofá branco e luxuoso. — Boa tarde. — Eu respondi e só depois notei que toda a alta cúpula estava ali.
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Do lado oposto a Marco, estava Enrico Maldini, o homem responsável por ter me colocado nesta vida, irmão de Paolo e atual consigliere[6]. Embora ele tenha me trazido para cá e me apresentado à mulher que me criou, eu nunca tive muito contato com ele, ou com qualquer outro homem mais velho da família Maldini. — Sente-se. — O Don falou e apontou uma cadeira próxima à sua mesa. Eu me sentei sem fazer nenhum movimento brusco, nunca faltei com respeito àquela família, mas aquilo não poderia ser coisa boa. Por qual motivo um soldado feito eu estaria ali no meio de todos eles? A última vez que isso tinha acontecido, eu fui sozinho com Riccardo para algo parecido com o desembarque na Normandia[7]. — Alguns assuntos são mais delicados que outros. — Don Maldini falou me encarando. — Por isso são tratados em particular e merecem sigilo total. Tenho uma missão de extrema importância e que precisa de alguém que saiba lutar e ficar quieto na hora certa. Ele fez uma pausa e ficou estudando minhas atitudes. — Apenas dê a ordem, senhor. — Bom garoto. Não quer que eu explique melhor? — Como o senhor preferir, ordem dada é ordem cumprida. O Don sempre foi conhecido por sua natureza enigmática e volátil. Ele poderia enaltecer e destruir qualquer pessoa a qualquer momento, apenas por deleite ou tédio. — Alguns rumores estão se espalhando por aí, sei que temos soldados que gostam de falar pelos cotovelos, mas este nunca foi o seu caso. — Ele me estudou novamente e eu preferi ficar quieto e calado daquela vez. — Tenho a intenção de casar minha filha Bianca com o Don Cannavaro, assim poderemos unir as famílias mais importantes de Atlantic City. A questão é que eu sou tradicional e quero que minha filha mais velha se case primeiro. E Catarina pode ser... um tanto peculiar. Ela era chamada de megera e fera indomável por muitos ali, mas nunca fui do tipo que fica maldizendo a reputação das filhas do Don. Mesmo
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assim, coitado do cara que tivesse a missão de domar Catarina. — Por isso vamos precisar de você. — disse Enrico e eu o encarei surpreso enquanto um sorriso meio perverso se formava no rosto dele. — A questão principal agora — o Don voltou a falar — é que eu fiz um acordo com minha filha mais velha. Por mais que ela teime em não se lembrar disso, eu sempre falei que ela se casaria aos vinte e quatro anos. Eu dei um ultimato a ela, se ela não me apresentasse um noivo, eu arrumaria um para ela assim que completasse a idade. — Será no mês que vem. — O subchefe me alertou. — Ela teve a audácia de me apresentar um pretendente, mas eu não fui com a cara dele e preciso que você o investigue pra mim. — Paolo Maldini falou com a ameaça tomando conta da voz. — Eu quero saber tudo sobre este tal noivo, mas não quero violência. Não quero nenhum civil assustado falando merda por aí ou morrendo sem necessidade. Não precisamos de assassinatos desnecessários para dificultar o momento de paz que pretendo criar. — Eu posso fazer isso, senhor. — Todos aqui sabem que sim, Pietro. Quero que investigue este imbecil que se meteu com minha filha. Se eles forem mesmo se casar, tudo bem. Eu só preciso que ela se case, mas se for um aproveitador ou coisa do tipo, ajude a convencê-lo de que é melhor manter distância da minha família. — Sim senhor. — Eu assenti sem precisar de maiores explicações. — Mas sem exageros. — Ele berrou e eu contive uma risada. Não era eu o impulsivo e volátil naquela sala. Enquanto o Don reforçava a importância da missão, um silêncio pairava na sala, todos cientes da seriedade do momento. Seu olhar frio se fixou em mim, e o sorriso perverso de Enrico deixava claro que ele estava se deliciando com a situação. Minha tarefa estava definida, tinha que investigar o noivo apresentado por Catarina, descobrir seus segredos e garantir que, de uma forma ou de outra, ele se afastasse dos verdadeiros negócios da família Maldini.
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Catarina era chata e problemática, mas era linda, isso não podíamos negar. Também sabia se vestir com elegância sem atrair atenção desnecessária. Naquela tarde no shopping, seus cabelos castanhos caíam em ondas pelos ombros, refletindo o brilho das luzes. Seus olhos castanhos, além da ferocidade habitual, também eram profundos e expressivos. Segui-la juntamente a Alex não foi um desafio de verdade. Minha tarefa era entender a dinâmica de seu relacionamento, descobrir o motivo por trás desse noivado repentino e garantir que não representasse nenhuma ameaça à família Maldini. Enrico já tinha me enviado mais informações sobre os dois. Aquele era um noivado por conveniência, eu já sabia disso, então não estranhei a distância e a falta de intimidade entre eles. O casal entrou no shopping, e eu mantive relativamente longe, caminhando discretamente entre as pessoas que buscavam suas compras. Usei roupas simples e um chapéu de beisebol que me camuflavam na multidão, e meu carro alugado estava estacionado a uma distância segura, pronto para acompanhá-los sem levantar suspeitas. Eles mais pareciam dois conhecidos que um casal de verdade. Riam pouco e conversavam o mínimo possível enquanto exploravam o shopping.
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Catarina nunca foi das mais soltas e descontraídas, mas tinha curvas notáveis, e, por um instante, aquilo me intrigou. Ela usava um vestido preto que percorria suas curvas de maneira sutil. O vestido tinha um detalhe discreto nas costas e um cinto fino que marcava sua cintura de forma convidativa. Costas magras e cintura fina, aquelas eram características que pediam para ser tocadas e o pobre coitado não tinha coragem nem de chegar perto dela. Um desperdício total. O máximo de contato que ele conseguiu foi com o casaco dela que estava jogado sobre seus ombros. À medida que exploravam o shopping, Catarina e Alex entraram em uma loja de joias. O noivo parecia interessado nas peças brilhantes e sofisticadas, mas ela não demonstrou estar muito empolgada com aquilo. Ela examinava as vitrines com um olhar distante, como se o valor das joias não a tocasse profundamente. Eles continuaram e eu os segui enquanto caminhavam pela praça de alimentação. Tive que perder algum tempo enquanto o casal se preparava para comer. Catarina pediu uma massa simples, como a boa descendente de italianos que é. Alex, por outro lado, escolheu um prato mais elaborado. Enquanto almoçavam, ela parecia mais interessada no celular do que na conversa ou na comida requintada diante dela. O ideal seria colocar um aplicativo espião no celular dela, mas imaginei que seria ultrapassar algum limite. Preferi segui-los a distância sem captar nenhum som ou usar escutas para evitar problemas maiores. Eu não sabia até que ponto Catarina estava a par das atividades da família e não podia arriscar capturar nenhuma conversa sobre nossas atividades ilegais. Se algo assim vazasse, seria considerado traição. Depois do almoço, eles continuaram a explorar o shopping, passando por lojas de roupas femininas. Catarina olhava as roupas, mas sua expressão revelava desinteresse. Ela não parecia ser uma mulher fútil, por mais que tivesse fama de brigar e xingar todos ao seu redor, ela não parecia se preocupar com compras e luxo.
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Aquilo aumentou minha curiosidade. Quem era Catarina Maldini, além da filha problemática de um Don da Máfia? Num dado momento, ela parou perto de uma loja de artigos esportivos. Seus olhos se fixaram nas roupas de esgrima e defesa pessoal, e eu sabia que aquilo era algo que a interessava verdadeiramente. Ela examinou as vestimentas com um olhar crítico, como alguém que conhecia bem o assunto. O noivo estava com o olhar perdido, preocupado com coisas alheias aos dois. Continuei a seguir o casal, registrando mentalmente cada detalhe de sua interação. Estava determinado a descobrir a verdade, mesmo que isso significasse que eu teria que virar uma sombra daqueles dois. O que quer que estivesse acontecendo, eu iria desvendar para o Don Paolo Maldini.
Nem tudo que pertence à família Maldini é fodido e fede à crime.
Aquele restaurante era um ambiente familiar e exalava uma aura de prestígio e tradição. Os detalhes em madeira escura, as mesas cobertas por toalhas brancas e a iluminação suave criavam um ambiente intimista e acolhedor. As paredes estavam decoradas com fotografias emolduradas de diversas figuras importantes da história de Atlantic City.
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Fossem elas ligadas à família ou não. Eu encontrei uma mesa discreta perto o suficiente para ouvir a conversa de Catarina, mas longe o suficiente para não chamar atenção. Assim que me acomodei, folheei o cardápio como qualquer outro cliente, mantendo-me concentrado na conversa a minha frente. Catarina estava sentada em uma mesa mais central, ao lado de sua mãe, Francisca, uma mulher de postura impecável e um olhar penetrante. A irmã mais nova, Bianca, estava do outro lado dela, com um olhar curioso e acolhedor. — Catarina, querida, você precisa nos contar mais sobre seu noivo. — Francisca começou a conversa. Catarina olhou para sua mãe, franziu o cenho e prensou os lábios. Por mais estranho que parecesse, ela ficava ainda mais linda quando estava nervosa. A filha mais velha do Don parecia ponderar sobre como proceder e uma veia começou a saltar de sua têmpora. Sua mãe e irmã suspiraram antecipando a tempestade. — Mãe, você sabe como as coisas são. Papai me forçou a escolher entre alguém que eu conhecesse e alguém que ele decidiria. Fiz o óbvio, escolhi alguém que eu possa... — ela fez uma pausa ponderando as palavras e fechou ainda mais o semblante. — Alguém que eu possa influenciar, é isso. Bianca, a irmã mais nova, inclinou-se para frente, os olhos brilhando de curiosidade. — Ele é muito bonito. — Ela deu uma risadinha — Beija bem? Tem pegada? — Ai, garota. Não vou falar dessas coisas com você. Pare de fantasiar com romances e essas coisas tolas, meu casamento é um arranjo de negócios, nada mais que isso. — Credo, Catarina. Falando assim, parece que você escolheu um touro reprodutor. — Nada disso, não estou falando nada de reprodução. — Ela diminuiu o tom depois de notar o olhar de censura que recebia da mãe. — Estamos nos conhecendo aos poucos, e não quero apressar nada. Ele é um
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homem bom, gentil, e temos muitas coisas em comum. — Catarina tentou manter a calma e controlar a narrativa. — Ele é atraente, sim, e nos conhecemos por meio de amigos em comum. Ele é de Chicago, Illinois. O que importa é que estamos felizes juntos. Francisca continuou estudando a filha atentamente, como se buscasse sinais de qualquer engano em sua expressão. — Catarina, meu amor, você sabe que só queremos o melhor para você. Se é realmente isso que você quer, ficaremos felizes por você. Pude perceber uma leve tensão nos olhos de Catarina, ela sabia que a mãe não estava convencida. Mas era a esposa do Don da máfia, afinal, e não seria ela a tomar nenhuma medida exagerada com as filhas. — Mãe, obrigada por entender. Você vai adorar ter um genro como ele, tenho certeza disso. — Catarina forçou um sorriso, mas parecia mesmo que ela queria revirar os olhos. No lugar dela, eu faria o mesmo. Bianca, no entanto, não conseguia esconder o entusiasmo. — E ele gosta de esgrima, como você? — Ele não liga muito para esgrima. — Catarina engoliu em seco, por mais que as mulheres não tivessem notado, eu percebi que ela estava faltando com a verdade. — Ele não pratica esgrima, — ela tentou consertar, mas era tarde demais, só que ele tem suas próprias paixões e interesses. Vamos falar de outra coisa, sim? A conversa desviou para outros tópicos, mas eu senti o peso da mentira de Catarina. Eu já tinha recebido minhas instruções e a história que ela contou era que haviam se conhecido num evento de esgrima. Por que um empresário que não se interessa por este esporte teria patrocinado um campeonato dele? Foi isso que ela contou ao pai, mas agora se contradisse ao conversar com a mãe. Eu já podia sentir que faltava pouco para descobrir as verdadeiras intenções daqueles dois. Eu continuei observando em silêncio, depois saboreei minha refeição quando ela chegou. Já tinha outras engrenagens em movimento e eu
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pressentia que Alex seria ainda pior do que ela na hora de defender as suas versões. Cada palavra trocada àquela mesa era parte de um intrincado jogo de enganos, e o destino de Catarina estava nas minhas mãos. Eu só não sabia o quanto.
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A noite estava silenciosa, e a escuridão daquele quarto luxuoso do hotel da família Cannavaro era quebrada apenas pela luz tênue dos abajures nas mesas de cabeceira. Meu quarto estava logo ao lado do de Alex, e o cheiro das velas aromáticas que ele acendeu para criar uma atmosfera mais íntima conseguia me incomodar do outro lado da parede. Já seria problemático se ele estivesse com Catarina. Don Paolo queria usar a tradição para unir todos os italianos de Atlantic City e criar uma organização capaz de resistir aos malditos de Filadélfia ou qualquer outra cidade que decidisse nos incomodar. Se fosse para provar o quão tradicional os Maldini são, além de casar a filha mais velha primeiro, ela teria de ser virgem. Ainda que não estivesse com um homem de honra, não seria interessante que rumores se espalhassem e não seria eu a testemunhar a noite dos dois. Só que Alex era corajoso ao extremo, ou burro demais, já que decidiu se hospedar num dos hotéis do Don Cannavaro para trair a filha do Don Maldini. Ela não seria a primeira noiva de uma família da máfia a ser traída, por mais que eu achasse isso desprezível, muitos da organização agiam assim. Só que nem mafioso o cara era.
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Tinha que ser louco para fazer aquilo debaixo do nariz dos dois homens mais poderosos da cidade. Observei os movimentos de Alex por mais de uma semana, esperando pacientemente pelo momento certo para agir. Aquela noite seria ideal. O som da água da jacuzzi borbulhando ecoava pelas paredes, reforçando a minha convicção de que ele havia trazido companhia para a noite. Talvez ele não soubesse nada mesmo sobre quem seria seu futuro sogro. Pouco tempo se passou e pude ouvir as vozes das mulheres rindo e conversando alegremente, criando uma atmosfera que não condizia com o tipo de visita que Alex deveria estar recebendo. Os jogos estavam prestes a começar, e eu não podia mais ficar na defensiva, apenas ouvindo. Era hora de confrontá-lo e defender a honra da famiglia. Esperei por mais um momento, o cara estava com duas mulheres diferentes, ele tinha estilo, eu conseguia admitir isso e deixei que ele se divertisse até se cansar. Depois que nos confrontássemos, era capaz que ele nunca mais fosse visto naquela cidade. Vesti meu terno escuro e ajustei a gravata. Peguei minha arma, me certificando de que estava devidamente escondida e acessível caso as coisas saíssem do controle. Alex nunca me vira antes, e eu queria manter essa vantagem. No entanto, quanto mais se aproximava a hora de agir, mais eu me questionava sobre toda aquela situação. Eu não consegui reconhecer as vozes das garotas, só que era perceptível que aquelas mulheres não estavam ali contra a vontade delas. A atmosfera no quarto de Alex era de festa. Aquilo poderia ser apenas uma despedida de solteiro feita na hora e no lugar errado. Só que o Don Paolo era implacável em suas exigências, e qualquer ameaça à integridade moral de sua filha não podia ser ignorada.
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Os minutos finais se arrastaram como horas, até que finalmente a risada e a música do quarto de Alex cessaram. Sabia que aquele era o momento. Com passos silenciosos, me aproximei da porta do quarto de Alex, repensei mais uma vez o que deveria conversar com ele sem colocar nada em risco. Nada de violência desnecessária. Repeti para mim mesmo. Infelizmente. Tudo é mais fácil quando se pode ser violento. Respirei fundo antes de bater à porta. — Quem é? — A voz de Alex soou do outro lado, mostrando surpresa e cautela. — Sou Pietro. — Respondi calmamente, minha voz baixa e firme. — Precisamos conversar. Houve um breve silêncio, como se ele estivesse avaliando a situação. Então, a porta se abriu lentamente, revelando o rosto surpreso e confuso do noivo. Ele era um homem de boa aparência, mas seus olhos demonstraram medo e preocupação de imediato. Era alguém que não estava preparado para lidar comigo e não tinha ideia de nada do que estava acontecendo. — O que você está fazendo aqui? — Ele murmurou, claramente nervoso. Entrei no quarto sem esperar por um convite. Meu olhar percorreu o ambiente, notando as garrafas de champanhe vazias, a iluminação suave e a grande jacuzzi onde as duas mulheres ainda se encontravam, claramente desconfortáveis com minha presença. Merda. Eu jurava que elas já tinham ido embora. — Você não acha que está sendo imprudente? — Fui ríspido, mas sem exagerar no tom enquanto encarava Alex. — Sua noiva é uma Maldini, e você está brincando com fogo.
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Ele olhou para as mulheres na jacuzzi, depois para mim, seus olhos cheios de uma mistura de culpa e desafio. — Quem disse que estou brincando? — Desculpa, nós não sabíamos. — Uma delas falou e se levantou sem se importar em exibir o corpo nu. Eu não a reconheci, talvez fosse uma profissional, mas a única certeza que tive é de que ela era uma local e, também, era muito mais inteligente que Alex. — Nós vamos sair agora, ninguém precisa saber que estivemos aqui. Eu dei dois passos para o lado e elas saíram quase em disparada, só perderam algum tempo recolhendo as roupas, deixaram para se vestirem no corredor. Era este o tipo de reação que eu esperava de alguém que conhecesse o sobrenome Maldini. — Você está brincando com fogo, e devia aprender com suas amigas. — Falei de forma mais dura. — Não é uma escolha sábia me fazer perder tempo, Alex. Ele suspirou, aparentemente cedendo à pressão. — Talvez você tenha razão, mas isso não é da sua conta. Saia do meu quarto ou... — ele tentou me ameaçar, o queixo dele tremia tanto que me dava vontade de rir. Dei um passo em direção a ele. — Ou o quê? Eu nem perdi meu tempo mostrando a arma. A mera presença daquele cara era uma vergonha para todos nós. Ele me encarou por meio segundo até perder a coragem de vez e dar um passo para trás. — Ou o quê? — Eu falei o mais alto que podia sem levantar suspeitas naquele andar. — Nada, cara, desculpa. — Ele cedeu tremendo tanto que eu achei que iria começar a chorar. Eu já tinha matado gente por menos, mas aquela noite era diferente.
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— Sente-se na cama, vamos conversar. — Ordenei e ele obedeceu sem pestanejar. — Eu não sei o que você espera de mim, mas tenho algum dinheiro, você pode levar tudo, juro que não vou chamar a polícia. — Eu não quero seu dinheiro, mas pode chamar a polícia se quiser. — Fiz uma pausa, curtindo a cara de assustado dele. — Será uma roleta russa, pode ser que a polícia esteja mais do meu lado do que do seu. — Que isso, cara, nada de polícia, eu falei... nada de polícia. — É assim que eu gosto. Vamos para as perguntas. Então você é um empresário do centro-oeste americano? — Isso... isso mesmo. — Então me explica uma coisa, por que quando eu jogo seu nome e sobrenome no google não aparece quase nada sobre suas empresas? — Ele engoliu em seco. — Você disse que era tímido e não curtia redes sociais, por isso não tem Instagram ou Facebook. Mas como que alguém tão tímido assim arrasta duas gostosas para o quarto de hotel? — Eu dei sorte, cara, só isso. — Me chame de cara mais uma vez e pelo menos um dente seu eu quebro hoje. — Desculpa... — ele ficou me olhando com cara de quem queria que eu mesmo explicasse sobre como ele tinha que me chamar. — Senhor Rossi, pode me chamar de Sr. Rossi. — Eu já nem ligava para esconder nossas identidades, aquela cara estava prestes a borrar as calças, ele não traiu a filha dos Maldini no hotel dos Cannavaro por coragem, foi por não ter a mínima ideia de onde tinha se metido. — Eu não sei o que te disseram, Sr. Rossi, mas eu sou um empresário de Chicago e cheguei aqui a pouco tempo. — Ele cuspiu as palavras com a voz tremendo. — Eu acredito que você não é daqui, não tem como ser daqui e não reagir a nenhum dos sobrenomes que eu te falei hoje. Mas também não acredito que seja empresário. — Eu cheguei um pouco mais perto dele. — Que tipo de CEO millenial[8] meia boca é você que não tem nem a porra de um perfil no LinkedIn? Hein? Me diz qual é o tipo de empresário nascido em
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Chicago que tem dinheiro para gastar num hotel deste nível, no meio de tudo isso aqui e nunca ouviu falar nos Salvatore? — Desculpa ca... Sr. Rossi — ele falou tremendo e cedendo por completo. — Foi tudo culpa dela. — Dela quem? — Eu me permiti berrar daquela vez e curtir o desespero dele. — Catarina. — Ele cuspiu o nome goela afora. — é tudo culpa de Catarina, o dinheiro é dela, foi ela que me contratou, eu sou só um ator, cara, eu vim do interior do Kansas, eu só queria uma carreira por aqui, tem pouco tempo que eu cheguei na cidade e ela me contratou para fingir ser noivo dela, era muito dinheiro, não pude recusar, eu não sabia no que estava me metendo. — Ela o quê? — Me contratou pra fingir ser noivo dela, foi só isso, eu juro, nunca encostei nela, nunca manchei a honra dela, eu juro. Aquilo era demais até mesmo para Catarina. Que ela era respondona e brigona eu já sabia, mas que era inconsequente e, pelo visto, doida de pedra eu não sabia. Se algo como aquilo escapasse pelas ruas seria terrível. Quem iria respeitar uma família que a filha prefere contratar a porra de um ator a se casar com um homem de honra? Se bem que a verdade era que nenhum homem de honra de alta hierarquia ia querer se meter com Catarina. Nem mesmo a amizade de Don Paolo Maldini valia a dor de cabeça que seria aturar aquela mulher, ainda que somente por conveniência. Eu caminhei de um lado para o outro pensando em como agir dali em diante. Tinha que acabar com aquilo, talvez o Don entendesse que aquela morte foi inevitável. Ou não entendesse, se tem uma coisa impossível de prever são as atitudes do Sr. Maldini. O melhor a se fazer era me livrar daquele imbecil sem derramar nenhuma gota de sangue.
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— Eu vou te falar somente uma vez. — Expliquei abrindo os botões do meu blazer e deixando o coldre da pistola a vista. — Fui ordenado a descobrir quem você era de verdade e me disseram para não usar de violência. Posso te garantir que hoje, eu não usarei de violência. Está me entendendo? — Sim... — Mas se algum rumor, se apenas uma palavra sobre essa história maluca de noivo falso vazar pelas ruas, eu juro que vou acabar com sua raça. Não me importa o que vai acontecer comigo, eu te garanto que a honra de nenhuma família vai ser manchada com essa idiotice enquanto eu estiver por perto. — Eu cheguei perigosamente perto dele. — Está me entendendo? — Sim, Sr. Rossi, me desculpe. — Eu não me importo com o dinheiro que você recebeu. Aproveite dele, mas pare de gastar com putas ou vai torrar tudo muito rápido. Somente suma daqui, não quero ver essa sua cara na minha cidade nunca mais. — Tá bom, sinto muito. — Agora some. Ele saiu correndo deixando tudo para trás. Deixei o quarto de Alex e retornei ao meu esconderijo, sabendo que nossa conversa o faria sumir de vez. Me joguei na cama, e por um breve momento, permiti-me sentir um alívio. Meu dever estava cumprido, pelo menos por enquanto. Voltei a pensar em Catarina, a mulher que estava no centro de toda aquela intriga. Ela era um quebra-cabeça complexo e enigmático, uma peça fundamental na engrenagem da máfia de Atlantic City. Mas que teimava em não funcionar. Meu papel era proteger sua família, mas a cada passo dado, me via mais intrigado por ela. Seria tudo mais fácil se ela somente aceitasse o seu papel e se cassasse logo. A vida é como é, ela só precisava aceitar. Pelo menos naquela noite eu dormi tranquilo, pois tinha cumprido a minha missão. Vivíamos num mundo onde cada passo deveria ser
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cuidadosamente calculado para manter o equilíbrio frágil entre as famílias da máfia, mas alguns insistiam em não enxergar isso.
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Nem sempre é fácil aturar as manias dos superiores. Eu mal tinha conseguido dormir e já tive que sair de casa e seguir apressadamente para a Mansão dos Maldini. A manhã ainda começava quando eu caminhava pela casa dos Maldini com uma sensação desagradável pairando no ar. Eu já tinha perdido uma semana fazendo tocaia para descobrir que o imbecil que Catarina arrumou como noivo não passava de um ator de quinta categoria. Não tinha recebido qualquer explicação detalhada sobre o que Don Paolo desejava comigo, apenas um pedido vago para ir até a mansão. Era meio óbvio que eles estavam interessados em saber sobre o tal de Alex, mas eu já tinha explicado que ele não representava nenhum perigo. E se eu disse que cuidei do problema, é porque cuidei. — Estão te esperando no escritório. — Vinnie falou enquanto abria a porta da Mansão para mim. — Você está mesmo fazendo de tudo para subir na vida, hein? Eu não sabia direito do que aquele idiota estava falando e preferi não responder. Meu dia acabava de piorar um pouco mais tendo que aturá-lo. Ele sempre falava demais e eu o deixei para trás.
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Daquela vez ninguém me acompanhou pela casa e eu sabia exatamente por onde passar até chegar no escritório. Não bastasse tudo isso, assim que entrei na sala de jantar, fui recebido pelo olhar gélido de Catarina Maldini, que me observou de cima a baixo, com aquele jeito metido de quem estava me julgando. A tensão na mansão podia cortar o ar, e a atmosfera pesada apenas reforçava a sensação. Não era apenas o olhar da filha do Don. Era todo o contexto. Estava ali a mando do Don, e isso deveria ser suficiente para justificar minha presença, mas estava claro que nem todos compartilhavam dessa visão. Catarina, em particular, parecia determinada a expressar sua desaprovação e a tornar minha visita ainda mais desconfortável. Ela me encarava como se pudesse enxergar cada pensamento e ação que havia cometido nos últimos dias. Não gostei da forma como ela me avaliava, como se tivesse o direito de me julgar. Quem ela pensava que era? — Meu pai sempre teve um jeito peculiar de resolver os problemas. — Sua voz soou cortante, carregada de sarcasmo. — Já tenho que aturar vocês no trabalho, agora terei de lidar com soldados pela manhã dentro da minha própria casa? — Estou aqui a pedido do seu pai, — respondi com a voz firme e me calei por um instante enquanto a encarava, — Srta. Maldini. Catarina bufou, visivelmente irritada, e cruzou os braços, destacando ainda mais suas curvas. Aquela atitude só me deixava mais ansioso por vê-la partir. — Isso não me surpreende. Eu a observei por um momento, me perguntando onde ela pretendia chegar com aquele pequeno show. Catarina parecia determinada em estragar o meu dia, e eu não sabia se era simplesmente pela minha presença ali ou por sua própria personalidade. Quando ela levou uma maçã à boca, o brilho em seu dedo capturou a minha atenção. Ela ainda usava o anel de noivado, pelo menos essa parte o idiota tinha cumprido. Catarina já estava com aquele mal humor antes mesmo de saber que tinha sido abandonada pelo comparsa.
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— Por que está me olhando deste jeito? — Perguntou, desafiadora. — Por acaso, você perdeu alguma coisa por aqui? — Meu trabalho é encontrar respostas, Srta. Maldini, não as perder. Ela praticamente chiou a ponto de cuspir a maçã. — Seu trabalho parece ser mais confuso do que útil. — Disse, desviando o olhar. Eu poderia continuar respondendo, mas preferi deixar aquilo de lado e continuei andando até o escritório de Paolo Maldini. Ela resmungou alguma coisa e eu a deixei falando sozinha. Assim que cheguei na entrada do escritório, deparei-me com Marco, o filho do meio da família Maldini, que me cumprimentou com um sorriso sarcástico. Resisti à tentação de responder da mesma maneira, limitando-me a um breve aceno de cabeça. Cada pessoa que cruzava meu caminho parecia determinada a testar minha paciência, tornando o ambiente ainda mais desafiador. A tensão era palpável dentro do escritório. Ver toda a alta cúpula da família Maldini reunida daquela forma era uma ocorrência rara, e já era a segunda vez que acontecia comigo, tinha algo de errado ali. As expressões enigmáticas de cada um deles aumentavam minha desconfiança. O Don Paolo, o subchefe e o conselheiro estavam todos presentes, aguardando-me em silêncio. Dom Maldini indicou uma cadeira para que eu me sentasse e eu me acomodei. Era evidente que algo de grande importância estava acontecendo, mas ninguém parecia disposto a compartilhar detalhes. A atmosfera de segredo que envolvia o ambiente tornava a situação ainda mais confusa e preocupante. — Fiquei sabendo que o tal de Alex deixou a cidade sem sofrer nenhum arranhão. — O subchefe falou como se não tivesse sido eu a garantir isso. — Pode nos explicar o que aconteceu com todos os detalhes? — Eu descobri que ele estava hospedado em um dos hotéis da família Cannavaro e decidi conferir de perto, numa das minhas vigílias eu percebi que ele tinha levado mulheres para lá e decidi que era hora de colocá-lo contra a parede. — Falei tranquilamente enquanto estudava as
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reações deles. — Fazer uma despedida de solteiro debaixo do nariz do Don com quem vocês querem se aliar era desrespeitoso demais. — Nós queremos nos aliar. — O Sr. Maldini me corrigiu e eu o estudei por um instante. Quando o silêncio reinou novamente eu voltei a falar. — A honra da família Maldini não seria manchada por um idiota daqueles, então eu entrei no quarto dele e o coitado cantou mais do que canário quando eu falei grosso. — E o que ele confessou? — O Don quis saber. — Que a Srta. Maldini o contratou par fingir ser seu noivo. Paolo Maldini socou a mesa de mogno assim que eu terminei a frase. Ele já sabia daquilo, o conselheiro praticamente me obrigou a contar tudo a ele por telefone assim que eu informei ontem à noite sobre ter resolvido o problema. — Catarina está decidida a destruir nossa reputação. — Ele voltou a falar. — Ela não vai descansar enquanto não causar um escândalo e manchar o nome Maldini. — Irmão, — o conselheiro falou de forma polida. — Sabemos da gravidez, que você teve seus motivos, pois achou que sua esposa e a filha poderiam ter morrido e por isso sempre foi rédea solta com ela, mas há de convir que mimou demais Catarina e não pode deixar que ela continue assim. — Eu sei disso, e por acaso eu perdi a memória? Sei que tratei ela com regalias demais e agora tenho que dar um basta nisso. Todo mundo aqui sabe que fui permissivo demais com ela e é por isso que ela vai se casar, Catarina precisa de alguém que dê um jeito neste gênio dela, não precisa ficar me lembrando disso. — É que desta vez ela exagerou demais, pai. — Falou o subchefe. — Ela ultrapassou todos os limites. O que você acha que aconteceria, Pietro, se a notícia de que Catarina Maldini preferiu fingir se casar com um falso empresário a aceitar algum aliado que o pai escolheu? Por que caralhos ele estava me perguntando aquilo? — A capacidade de liderança do senhor Maldini poderia ser questionada.
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— Por que diz isso? — Ele insistiu. — Porque um homem que não consegue controlar a própria filha, não deve conseguir controlar os próprios subordinados. — Então você acha que eu não consigo controlar vocês? — O Don me perguntou com um brilho terrível nos olhos. — Não foi isso que eu disse senhor. — O que você quis dizer então? — Que se Catarina fizesse algo do tipo, passaria a impressão de que o senhor não consegue controlá-la. Ele riu da minha cara e eu não me importei com aquilo. — Eu disse que ele era bom, pai. — Mateo, o subchefe, me elogiou. — Parece que sim. — O Don comentou. — Pelo visto, ele está sendo desperdiçado como soldado. — Eu também acho isso. — Falou Enrico, o homem que me trouxe para a família Maldini. — Ele sempre esteve desperdiçado, desde quando o encontramos na rua. Acho que já está mais do que na hora dele se tornar um caporegime. — O que seria pior, Pietro... — O Don se levantou e veio para perto de mim. — Minha filha se casar com um ator ou com um morador de rua? Foi aí que eu percebi a merda em que tina me metido. E estava completamente atolado nela. Até o pescoço. — Senhor, se casar com um homem de honra sempre será melhor do que se casar com qualquer outro. Eu não podia dizer nada diferente daquilo, a menos que estivesse disposto a matar todos naquela sala. Ou morrer tentando. — Torne-se meu genro, senhor Pietro Rossi, e eu farei de você um caporegime. — Ele falou com a voz empostada e estranha, mas nem precisava me oferecer aquele cargo, aquilo não fazia diferença pra mim. — Você está de acordo em se casar com minha filha?
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Aquela não era uma proposta de verdade, era uma ordem e eu não poderia dizer não. Se fosse um aliado, eu poderia pensar em rejeitar a filha de um Don, mas um soldado jamais faria algo assim. A vida é como é. Eu não poderia rejeitar, mas não consegui dizer sim. — Catarina está de acordo com isso, senhor? — Deixa que da minha filha cuido eu. — Na verdade, se ele tivesse mesmo cuidado, nada daquilo estaria acontecendo. — Se você estiver de acordo, eu a convencerei de que este é o melhor caminho. Tanto para vocês dois, quanto para nossa organização. — Sim, estou de acordo. — Bem-vindo à família. Guarde este segredo por enquanto e compre um belo anel de diamantes. Tem mais um detalhe, Catarina é mesmo o meu ponto fraco e não consegui controlá-la direito, mas algo assim nunca acontecerá com nenhum de meus subordinados. Por mais que seja um casamento por obrigação, eu quero que minha filha seja feliz. Eu assenti com a cabeça e não disse nada em resposta. Não havia nada a se dizer, eu não tinha a mínima escolha, era uma ordem e devia ser cumprida. Todo soldado sonha em se tornar um capitão um dia, mas a minha promoção veio da pior forma e eu pouco me importava com ela. Paolo Maldini acabara de foder com a minha vida e eu não podia fazer nada contra aquilo e aceitei sem pestanejar. O que eu ainda não sabia naquele dia é que aquela não era a primeira vez que uma decisão dele ferrava com toda a minha vida.
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Sempre fui taxada como a megera da máfia. Reclamavam de minha aspereza e de como gostava de responder a todo mundo. Talvez o problema seja que eu sou parecida demais com o meu pai. E para eles, uma mulher de temperamento forte e volátil nada mais era que uma megera. Mas como eu poderia ser diferente? Se eu só sou taxada como mimada, porque a vida na organização é diferente demais. Naquela tarde mesmo em que eu precisava tanto me espairecer, tive que procurar por um lugar perto de casa para ir. Nunca pude andar livremente pela cidade, pois nem todos os bairros são comandados pela minha família e para alguém como eu, estar num território inimigo pode ser considerado como uma provocação. Ou até mesmo, uma declaração de guerra. Ainda que eu não fosse um membro oficial da máfia, por ser filha do Don, nunca fui tratada como uma pessoa qualquer. Para a minha sorte a cafeteria que eu mais gostava ficava a menos de dez minutos da minha casa e eu não tinha problemas em frequentá-la. Desde que tirei carteira eu sempre fui para lá no meu carro. Os soldados gostavam de falar que isso provava o quanto eu era mimada por gosta de dirigir o meu próprio carro e não andar por aí com um deles no
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banco do motorista, mas que mulher na América não pode dirigir o próprio carro? Era um absurdo receber um carro de presente do pai? Era um abuso poder sair de casa e tomar um café com alguns conhecidos? Consideravam isso um desrespeito, um ultrage da minha parte, talvez porque eu não era um homem na organização. Só sei que, desde o incidente com o idiota que bateu no meu carro, eu não saio de casa sem ver aquele maldito sedan preto do Francesco me seguindo. Até aquela discussão daquele dia em eu saí mais cedo do trabalho. Nenhum homem no mundo aceitaria que um idiota batesse no seu carro e saísse do local sem garantir que pagaria pelos estragos. Pior ainda, se fosse alguém da máfia e ouvisse as coisas que eu ouvi, o cara perderia no mínimo um dente. Mas comigo, tudo tinha que ser diferente, afinal de contas, eu era a mimada da máfia e só causava problemas. Eu já estava nervosa naquela tarde cinzenta de sábado quando cheguei no Brittany’s e, pelo menos, o aroma encorpado de café preenchia o ar e trazia algum conforto enquanto eu me sentava à mesa, inquieta e nervosa. O café era uma escolha natural para alguém com minha herança italiana, e eu o preferia forte e sem frescuras. April cismava em me convidar para o Star Bucks, mas daquela vez eu não suportei a ideia de tomar aquela coisa fraca e ela aceitou que fôssemos na minha cafeteria preferida. Ela era minha amiga de infância e confidente, chegou pouco tempo depois e se sentou em frente a mim, seus olhos azuis cheios de preocupação enquanto me observava. April conhecia quase todos os segredos e desafios da minha vida, eu nunca falei abertamente das atividades da minha família, mas ela devia entender nas entrelinhas e fazia vista grossa. Não existia uma pessoa que batia bem da cabeça em Atlantic City que não conhecesse o sobrenome Maldini e não o associasse à máfia. O bom é que eu sempre pude contar com ela para desabafar ou tentar alguns dos meus planos de fuga. Ela nunca foi do tipo que precisava saber de todos os detalhes, desde que entendesse o que precisava ser feito, ela dava um jeito.
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Essa era a melhor característica de nossa amizade. Só que a farsa do meu noivado estava se tornando um problema maior do que podíamos imaginar. — Cat, você já tentou ligar para ele de novo? — Perguntou April, quebrando o silêncio pesado que pairava sobre nossa mesa no Brittany's. Suspirei e balancei a cabeça, os fios dos meus cabelos castanhos caindo sobre o meu rosto e me deixando ainda mais nervosa. — Tentei, April, mas ele não atende. Aquele safado trambiqueiro. — Mordi o lábio inferior segurando minha vontade de xingar. — E minhas mensagens ficaram sem resposta. Estou desconfiada de que ele fugiu com o dinheiro. Eu devia ter esperado por isso, não se pode confiar em homem nenhum. — Mas amiga, essa história sua de contratar um ator para ser seu noivo foi muito maluca. — Não foi nada demais. — Dei de ombros, embora ela ainda estivesse com uma cara de quem não conseguia acreditar no que eu estava fazendo. — Casamentos arranjados sempre aconteceram em tudo quanto é lugar do mundo, o que ocorre é que na minha família é mais comum ainda. — Você deveria pensar em aceitar o noivo que seu pai encontrar então. — Ela inclinou a cabeça buscando me apoiar. — Impossível. Eu jamais me casarei com alguém que papai escolher. — Fechei a cara, deixando bem claro que eu já tinha tomado a minha decisão sobre aquele assunto. — Não sei nem se eu gostaria de me casar um dia, imagina aceitar algum traste que ele possa me oferecer. Não… nunca… jamais. Falei alto o suficiente para demonstrar meu ódio e rebeldia contra as convenções que cercavam minha vida como filha de um Don da máfia. Ainda que não pudesse me abrir sobre isso. A expressão de April endureceu ainda mais, ficou claro para ela a gravidade da situação e o desespero que tanto me incomodava. Eu queria poder falar tudo para ela e cuspir tudo que estava entalado na minha garganta. O meu mundo é governado pela hipocrisia. Os homens fazem tudo o que querem e as mulheres são relegadas a cuidar da casa e gerarem herdeiros.
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— E quanto ao hotel? — Ela perguntou me tirando dos meus pensamentos. — Eles não deram mais informações sobre a saída dele? — Aqueles imprestáveis? — Perguntei retoricamente balançando as mãos de tanta raiva. — Disseram que ele fez o check-out e que não tinham mais informações para compartilhar. April buscou minha mão com carinho, tentando me acalmar. Nada poderia diminuir a ira que borbulhava dentro de mim, mas eu achei fofo da parte dela. — Cat, isso é estranho, muito estranho. Você acha mesmo que ele teve coragem de te abandonar, ou pior, será se ele vai chantagear você de alguma forma? Mordi o lábio, refletindo sobre a possibilidade de esganá-lo caso me encontrasse com ele novamente. — Aquele cafajeste, traste, miserável e medroso? Tentar me chantagear? Duvido muito. Aquilo não tem honra e nem vergonha na cara. É bem provável que ele tenha se arrependido do acordo. Eu fui mesmo maluca de ter apostado meu futuro num cara desses. April olhou para mim com um brilho de compreensão em seus olhos azuis. Ela sabia como o peso das expectativas de minha família caíam sobre mim, mesmo que não soubesse de todos os detalhes. Ela entendia que eu estava presa a uma família excessivamente tradicional e que eu odiava tudo aquilo. April tinha o seu próprio jeito de me consolar, ainda que fosse meio genérico ela sempre buscava uma forma de me apoiar. O melhor de tudo é que ela nunca insistia sobre as supostas atividades ilegais e, desta forma, eu conseguia desabafar sem trair minha família. Podiam me chamar de megera, mal-educada, brigona ou tantas outras coisas do tipo, mas nunca me chamariam de traidora. — Minha família não tem ideia de como é difícil ser uma mulher na minha condição. Eles acham que podem planejar meu casamento, minha vida, como se eu fosse uma peça no xadrez deles. — Eu esfreguei o meu rosto, buscando aliviar a tensão. — Não quero soar como ingrata, mas pedi por isso, April. Acontece que eu nasci no meio disso tudo e já estou cansada
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de me rebelar sozinha. Meu pai, ele... ele é muito obstinado. Ele acha que um casamento vai dar um jeito em mim. Mas o que eu fiz de tão errado assim? É tão errado ter estudado? Conseguir boas notas? Querer trabalhar na empresa da família? Eu teria aceitado qualquer emprego, desde que fosse no setor administrativo. Eu fiz uma pausa e respirei fundo. April apertou minha mão com mais força, mostrando seu apoio silencioso. Ela olhou para mim com empatia, seu semblante transmitindo compreensão e solidariedade. Ela não precisava de palavras para mostrar que estava ao meu lado, e isso era o suficiente. Queria dizer que meu pai, por mais que tivesse me criado de forma diferente de tantas outras mulheres da máfia, decidiu que eu não era mais a filhinha dele. Por causa de alguma aliança que ele cismou de fazer, eu tinha me tornado uma moeda de troca, e já não importava em nada o que meu coração e minha vida significavam. Por ser mulher, coisas como independência e vontade própria não existiam, tudo isso era substituído pelo peso das tradições e acordos familiares. — Eu só queria ter a liberdade de escolher minha própria vida, minha própria jornada. — Concluí, desabafando minhas frustrações. April acenou com a cabeça, ainda segurando minha mão, como se me encorajasse a seguir em frente. Eu só queria ter a vida e a liberdade que um homem pode ter dentro da máfia. — Você é uma mulher forte, Catarina. Se alguém pode dar um jeito nisso tudo, é você. Naquele momento, naquela cafeteria à beira-mar, pelo menos, eu sabia que podia contar com o apoio e a compreensão de minha melhor amiga. Nem certeza eu tinha se, caso um dia eu me casasse, ela poderia ser a minha dama de honra.
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Para alguém do meu mundo, a organização vem sempre em primeiro lugar. Só que eu ainda não estava disposta a aceitar isso.
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A ansiedade estava me consumindo naquela noite. Meu vigésimo quarto aniversário havia chegado, e, como meu pai sempre gostou de me lembrar, era a idade em que eu deveria me casar. Desde que Alex sumiu, ele não falou mais no assunto, por mais que eu tentasse ficar esperançosa, algo me dizia que era para esperar o pior, mais cedo ou mais tarde meu pai iria colocar suas mangas de fora. A mansão à beira-mar estava iluminada e decorada com elementos italianos, refletindo a nossa rica herança. Eu poderia aproveitar aquela festa, não fosse a circunstância absurda que pesava sobre mim. A área da piscina de borda infinita, com sua vista deslumbrante para o oceano, era o local escolhido para a festa. Mamãe cuidou de tudo como sempre gostou de fazer e a decoração era um espetáculo à parte. Havia lanternas que iluminavam o caminho, videiras decorando as colunas e velas espalhadas por toda parte. O vermelho, o verde e o branco, cores da bandeira italiana, dominavam a paleta, criando uma atmosfera romântica e sofisticada. Para mim, parecia que ela tinha se animado bastante em decorar o meu velório. Enquanto um elegante quarteto de cordas tocava músicas atuais e clássicas, eu recebia os convidados segurando a minha língua afiada de
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sempre. Naquela noite, eu era uma anfitriã, e não sairia por aí desonrando papai na frente de tantas pessoas da organização. Don Giovanni Cannavaro estava entre os convidados de honra. Ainda não tinha chegado nos quarenta anos e já tinha se tornado o patriarca da Família Cannavaro, isso porque “os anos de sangue” como alguns gostavam de chamar, tinham levado boa parte da família dele. Muitos da nossa família também faleceram, mas, graças à Deus, papai não foi um deles. Don Giovanni era um homem de presença imponente, com o qual meu pai estava prestes a fechar um acordo que solidificaria nossa posição na máfia. Ele estava acompanhado por seu irmão Esteban, que me olhava com um misto de curiosidade e cautela. — Boa noite, senhores, é uma honra ter vocês aqui no meu aniversário. — Eu os cumprimentei forçando um sorriso simpático. — Boa noite, Catarina, você está particularmente linda esta noite. — Giovanni me respondeu com sua voz imponente e que parecia mesmo sincera. Trocamos poucas palavras e eles foram para uma mesa próxima a de meu pai. O noivado deles não tinha sido oficializado, mas era só o que se falava em minha casa. Bianca não iria conversar com eles, mas não conseguia tirar os olhos dele. Assim que os Cannavaro se afastaram o suficiente, não pude evitar a provocação e fui para perto de minha irmã. Bianca estava radiante e cheia de esperanças, enquanto eu estava mais cética do que nunca. Eu não tinha o desejo de ser forçada a um casamento arranjado. — Essa festa deveria ser pra você, Bianca. — Ela buscou meus olhos sem entender o que eu queria dizer. — É você que não se aguenta de vontade de casar. Você que insiste em acreditar nesses contos de fadas de amor verdadeiro. — Eu não conseguiria passar a noite inteira sem provocar ninguém, melhor que fosse minha irmã. — Catarina, as coisas funcionam de uma maneira específica em nossa família. Aceite isso. — Minha mãe me lançou um olhar de advertência.
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Apesar da ameaça velada da minha mãe, eu não conseguia resistir à tentação de provocar Bianca. Afinal, ela era a eterna apaixonada da família. — Ah, Bianca, você e suas manias de apaixonada. É tão adorável que você acredite nesse amor verdadeiro que os escritores inventam. — Arqueei uma sobrancelha com um sorriso sarcástico. — Acha mesmo que o Don Cannavaro é um príncipe encantado? Talvez ele seja, contanto que você não se lembre de todas as pessoas que devem ter morrido pelas mãos dele. Bianca suspirou, os olhos brilhando com a esperança de um amor romântico enquanto me ignorava olhando para Giovanni. Ela não entendia como a vida era de verdade. Nossas perspectivas eram completamente diferentes, e aquilo estava começando a nos separar. — Você está cada vez mais amarga e pessimista. Mas quem sabe o amor não pode surgir de um casamento arranjado? — Ela tentou argumentar. —Não sou pessimista, sou realista e a praticidade é o que mantém nossa família no poder. Deixe as histórias de amor para os contos de fadas. — Minhas palavras podiam ser duras, mas refletiam o que eu sempre acreditei. Eu não estava disposta a aceitar a ideia de um casamento que não fosse por escolha própria. E, naquela noite, aquela festa estava mais para uma celebração da tradição do que para a comemoração do meu aniversário. — Eu só gosto de me empolgar com o amor, não vejo nada de errado em pensar que vou ser feliz ao lado do homem com quem me casarei. Ela não estava completamente errada por acreditar que poderia ser feliz, mas eu não conseguia me conter. Eu estava longe de aceitar como nossa família funcionava. — Essa festa está acontecendo no meu aniversário, maninha. Eu deveria ser a única a estar empolgada. — Dei um suspiro frustrado e me segurei antes de dizer mais coisas que poderiam causar problemas. Minha mãe, Francisca, sempre buscou o equilíbrio de nossa família. Ela se aproximou de nós, com um sorriso gentil, na tentativa de aplacar a tensão entre suas filhas. — Meninas, não estraguem a festa com discussões. — Ela nos abraçou, tentando transmitir uma mensagem de união. — Catarina, entendo que tenha uma visão pragmática da vida e esteja um pouco frustrada, mas deixe sua irmã sonhar e aprenda que nós temos que honrar a tradição. E
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Bianca, minha querida, sua irmã sempre precisou de uma válvula de escape, para o seu azar, ela escolheu você hoje. A doçura da minha mãe poderia amolecer qualquer coração, mas eu ainda me mantinha firme em minhas convicções, cética quanto às tradições da família Maldini, mas fiquei calada por alguns instantes. — Vamos aproveitar a noite. Catarina, um dia você entenderá que o amor nem sempre vem antes do casamento. E Bianca, minha filha, lembre-se de que a família sempre vem em primeiro lugar, por mais apaixonada que seja pelo Giovanni, não se esqueça da sua origem. Minha irmã assentiu piscando os olhos e eu deixei as duas para trás. Andei por entre alguns convidados procurando um lugar para me acalmar um pouco.
Na varanda, finalmente encontrei a solidão que buscava. A brisa
marinha acalmava meus nervos enquanto eu olhava para as ondas que quebravam na costa. Precisava desesperadamente de um momento de paz para reunir meus pensamentos. Foi quando avistei meu irmão mais velho, Mateo, acompanhado por um homem que eu reconheci como Pietro. A presença dele na mansão era incomum, já que ele normalmente trabalhava nas docas e não frequentava festas na família.
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Minha curiosidade se acendeu. O que poderia ter trazido Pietro aqui? Eles estavam em uma conversa séria e preocupada. O soldado parecia tenso, e isso era algo que raramente eu via nele. A curiosidade sobre o que estava acontecendo me impulsionou a me aproximar e eu caminhei silenciosamente na direção deles. Enquanto seguia até eles, meus olhos não saíam de Pietro. Nunca fui muito de prestar atenção nele, mas sua presença era imponente e ele mantinha sempre uma postura confiante. A altura, os ombros largos e o olhar penetrante eram difíceis de ignorar. Não havia como negar que ele era incrivelmente bonito, embora eu não estivesse disposta a admitir isso facilmente. Afinal, ele era um soldado, e, às vezes, eu tinha que lidar com sua petulância na sede administrativa da transportadora de nossa família. Naquela noite, eu me esforçava para não dar atenção às feições definidas de seu rosto e seus olhos intensos que pareciam atravessar as pessoas. Seu cabelo escuro e bagunçado só contribuía para a aura de convencido que o cercava, algo que eu não deveria achar atraente, mas era difícil de ignorar. Eu tinha visto Pietro poucas vezes, ele costumava cuidar da segurança do depósito nas docas, acho que sempre pela noite, mas nunca o tinha visto em reuniões de negócios com meu pai ou em eventos familiares. Era estranho vê-lo tão confiante na presença do subchefe da família Maldini. Era como se ele acreditasse que pertencia àquele lugar. Sua atitude na transportadora sempre foi desafiadora e o tom de voz autoritário me irritavam profundamente, mas havia algo intrigante nele. Principalmente na noite de meu aniversário, com certeza ele não era um de meus convidados e vê-lo tão à vontade ali mexeu comigo. Talvez fosse hora de mostrar a e o seu devido lugar. Decidi ir até onde ele estava com meu irmão e, com um sorriso falso nos lábios, me aproximei de Pietro. Ele estava em pé, conversando tranquilamente, e sua expressão séria contrastava com o ambiente festivo ao redor.
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— Mateo, quem é esse... convidado inesperado que trouxe para a festa? — perguntei com um tom desafiador, meu olhar caindo sobre Pietro, embora eu não pudesse deixar de notar o quanto ele parecia impecável naquele terno. Os dois se entreolharam e depois, Pietro me lançou um olhar penetrante e sua sobrancelha se ergueu levemente, como se estivesse desafiando minha provocação. — Este é Pietro Rossi, Catarina. — Mateo falou comigo enquanto ele emanava uma aura estranha. — Podia jurar que vocês já se conheciam, e parece que ele não queria perder a oportunidade de desejar um feliz aniversário a você. — Ela sabe quem eu sou. — Falou com os intensos olhos azuis pesando sobre mim. — Nos encontramos por aqui outro dia. — Quando veio aqui pela manhã? — Meu irmão perguntou com um sorriso provocador. — Exatamente. — Infelizmente, eu não posso escolher as pessoas com quem esbarro por aqui, — falei num tom de deboche e desaprovação, — nem mesmo no meu aniversário. — Vai ter que se acostumar comigo. Meu irmão gargalhou daquela frase e eu não tive a mínima ideia de qual teria sido a graça. — Ele será promovido a caporegime em breve. — disse Mateo. — Depois disso ele vai frequentar esta mansão com muito mais regularidade. Revirei os olhos e respondi com sarcasmo: — Pelo visto, esta casa já foi melhor frequentada. Mas estou disposta a dar as boas-vindas a ele. Afinal, parece que não terei escolha. Parabéns pela sua promoçãozinha. Pietro me fitou como se pudesse decifrar cada um dos meus pensamentos e desviar de todas as minhas provocações. — Parabéns pelo vigésimo quarto aniversário. Ele sabia de alguma coisa? Um futuro caporegime tinha mais informações que eu e estava disposto a provocar a filha do Don daquela
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forma? Minha expressão permanecia fria, e a antipatia que sentia por Pietro não podia ser escondida. No entanto, mesmo que eu relutasse em admitir, algo nele me intrigava. Havia uma intensidade e confiança em seu olhar que não se encaixavam com o estereótipo de um soldado qualquer. Eu sabia que aquele homem de honra em ascensão estava longe de ser o tipo de pessoa que eu costumava encontrar em meu mundo, aquele mundo de aparências, regras rígidas e formalidades. Pietro era uma figura que desafiava as expectativas, e isso me incomodava mais do que eu gostaria de admitir.
O momento do discurso estava prestes a acontecer, e todos os
convidados se aglomeraram em volta do bolo de aniversário. O bolo era uma obra-prima personalizada para a ocasião, ostentando o nome "Catarina" e o número "24" com decorações elegantes e clássicas que ecoavam o tema da festa, que celebrava a herança italiana da família Maldini. Meu pai, Don Paolo Maldini, vestindo um terno impecável e usando uma expressão solene, pegou o microfone e começou a falar em um tom
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sério, mas caloroso: — Queridos amigos, familiares e convidados, hoje é um dia que não posso evitar de celebrar. Estamos comemorando o vigésimo quarto aniversário da minha adorada filha, Catarina. Todos os olhares se voltaram para ele, enquanto continuava: — É com muita emoção que vejo a mulher incrível que minha querida Catarina se tornou. Desde que era criança, ela tem sido uma fonte de orgulho para nossa família, uma verdadeira joia da Casa Maldini. Com sua inteligência, determinação e força de caráter, ela conquistou seu espaço no mundo dos negócios e na nossa família. E hoje, enquanto celebramos seu aniversário, é impossível não refletir sobre as incríveis realizações que a aguardam. Meu pai ergueu sua taça de vinho, e todos os convidados fizeram o mesmo. Eu estava cercada por pessoas que sorriam e pareciam genuinamente emocionadas. Pura falsidade, eles não iam muito com a minha cara. — Brindemos à nossa Catarina, à sua juventude, ao seu espírito destemido e ao futuro brilhante que a aguarda. Que cada dia seja repleto de alegrias, e que ela continue a iluminar nossas vidas com sua graça e inteligência. Feliz aniversário, minha querida filha! Todos os convidados aplaudiram, e meu pai lançou um olhar de orgulho em minha direção. Aquilo foi o estopim para mim, ele estava lá fingindo ter orgulho de mim e disfarçando a verdade: ele queria me entregar a qualquer outro homem para cumprir a idiota tradição de casar a filha mais velha primeiro. Andei apressada até onde o Don estava e pedi com um gesto para usar o microfone. Fosse por puro capricho ou descuido, meu pai assentiu e me deixou seguir em frente. De pé diante do microfone, com todos os olhos voltados para mim, eu não pude resistir à tentação de soltar uma de minhas afiadas observações, mesmo em um momento tão importante. Levantei minha taça de champanhe, mantendo um sorriso forçado no rosto, e olhei para a plateia. — Muito obrigada, papai, pelo discurso caloroso. Eu não poderia pedir por um pai mais... tradicional. — Enfatizei a palavra "tradicional" de
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forma provocadora. Um murmúrio de surpresa percorreu a multidão, e eu podia ver meu pai olhando-me com uma expressão de desaprovação, mas o irmão mais novo, Luca, escondia um sorriso. Não me importava se todos ali soubessem que eu estava falando a verdade. Aquele era o dia do meu aniversário, e eu estava disposta a dizer o que pensava, mesmo que fosse algo que não deveria ser dito. — Como vocês devem saber, os Maldini têm uma longa tradição de casamentos arranjados. E, bem, aqui estou eu, com meus 24 anos, ainda solteira. O que será que está acontecendo? — Brinquei, enquanto olhava para o bolo de aniversário com o número 24. — Será que serei a primeira a estragar as tradições da família? A plateia ficou em silêncio, não sabendo se deveria rir ou se preocupar com minhas palavras. Eu sabia que minha mãe e minha irmã estavam olhando-me com reprovação, mas não me importava. Estava determinada a deixar claro que não seguiria as regras da família sem questioná-las. Papai se colocou ao meu lado, calmo demais para o meu gosto e pediu o microfone educadamente. Eu não queria exagerar e decidi entregá- lo. Percebi que algo estava de errado quando notei Mateo e Pietro caminhando em minha direção cobertos por uma aura resoluta que chegou a me tirar o fôlego. Papai começou a falar no microfone e foi quando a merda atingiu o ventilador. — O que minha filha quis fazer com esta brincadeira foi adiantar a última notícia que tínhamos para hoje. — Ele apontou para a direção de Pietro e Mateo. — Como todos sabem, Pietro Rossi, ainda que tenha nascido numa família quase extinta hoje, é filho de um subchefe e neto de um antigo Don, por isso, é com muito orgulho que dou a todos vocês a notícia de que minha filha mais velha, Catarina Maldini, se casará com Pietro Rossi e juntos, buscaremos a consolidação de todas as famílias italianas de Atlantic City.
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O anúncio de meu pai me atingiu como um soco no estômago. Por um momento, tive a sensação de que o chão havia sumido sob meus pés. Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Um casamento arranjado com Pietro Rossi? Aquilo era um pesadelo. Enquanto meu pai falava, a multidão aplaudia e comemorava a notícia, mas eu estava em estado de choque. Tentei processar o que estava acontecendo, enquanto Pietro se aproximava com uma caixinha de joias. Meu pai me conhecia muito melhor do que eu imaginava. Eu já fiz muita coisa interpretada como rebeldia, mas naquele lugar, na frente de tanta gente importante, nem eu mesma teria coragem de desmentir a palavra dele. Meu ódio e desespero aumentaram à medida que o soldado abriu a caixa, revelando um lindo anel de casamento. Minha vontade era de recusar, de gritar, de fugir dali, mas eu era Catarina Maldini, a filha do Don, e sabia que não podia fazer um escândalo naquele momento. Eu poderia ser muita coisa, mas jamais seria chamada de traidora e, agir de forma diferente do que uma filha dedicada agiria na frente de tanta gente da organização, seria um ato de traição e eu não poderia faz diferente do que acabei fazendo. Com um gesto, ele pediu minha mão. Meu corpo se movimentou automaticamente, e eu posicionei minha mão sobre a dele, sentindo um calor estranho percorrer meus dedos. Naquele momento, eu não sabia se era ódio, desprezo ou qualquer outra emoção, mas estava marcado: o primeiro anel que alguém havia colocado em meus dedos sem minha permissão era de Pietro Rossi, o homem que queriam que fosse meu marido. Eu não aceitaria aquilo facilmente. Aquele casamento arranjado seria apenas o começo de uma batalha, e eu estava determinada a lutar por minha liberdade e pelo direito de escolher meu próprio destino. Mesmo que isso significasse confrontar a tradição e as expectativas de minha família. A contragosto, eu havia aceitado o casamento e o maldito nem se ajoelhou diante de mim para fazer o pedido. A festa continuou e todos comemoravam a notícia do meu noivado, mas eu, a aniversariante, não conseguia encontrar nenhum motivo para celebrar.
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Naquela noite, eu estava cercada de falsidade e havia sofrido um golpe traiçoeiro daqueles que, supostamente, me amavam e queriam o meu bem.
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Dezenove anos atrás Uma tia minha que também morreu há pouco tempo sempre dizia para ter cuidado com o que desejamos, pois às vezes, os anjos dizem amém. Eu devia ter levado isso a sério, pois passei tanto tempo desejando que meu pai morresse que isso finalmente aconteceu. E tudo se tornou uma bosta ainda maior. Meu avô não ligava muito para minha mãe, pois ela não era de nenhuma família da máfia e meu pai insistiu em se casar com ela, mesmo não sendo da organização. O resultado é que agora ela se tornou viúva e nenhum homem de honra quer se casar com ela. O pior é que mamãe não sabe se virar sozinha e meses depois que meu pai morreu ela já colocou outro cara para dentro de casa. Um idiota que está fazendo ela gastar o pouco dinheiro que sobrou em drogas. Ela achava que eu não entendia, mas sabia bem o que eles andavam usando. Naquela noite mesmo, sentado na parte de cima da escada, eu conseguia ouvir os dois discutindo.
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— Foi só isso que você conseguiu? — disse Tony com a voz trêmula e quase desesperada. — Isso é o suficiente, querido. — Cala a boca, mulher. Isso mal vai dar conta de mim, nós dois então. — Ele falou tomando os pacotinhos e a colher da mão dela. — Eu vou usar também. — Mamãe insistiu tentando pegar as drogas de volta. — Tira a mão. — Ele a empurrou contra o sofá. — Eu vou usar primeiro, se sobrar, vou deixar você usar também. — Você não vai bater na minha mãe, seu merda. — Gritei descendo as escadas. Minha mãe se levantou e entrou no meio do caminho, o idiota do Tony ficou me encarando como se fosse me bater. — Vai para o seu quarto, filho. — Ela falou apontando para o andar de cima. — Isso não é assunto para criança. — Vai aceitar qualquer idiota te bater agora? — Perguntei e ela me respondeu com um tapa na cara. Meu sangue ferveu de ódio, mas eu me segurei, afinal de contas, foi ela que me colocou neste mundo. Fiquei encarando os dois por um tempo, até que decidi obedecer, se ela queria usar drogas com aquele idiota, o problema era dela. Mal dei dois passos e senti um empurrão que me jogou no chão e depois levei um chute. — Some daqui moleque! — Tony gritou e eu me levantei o mais rápido que consegui. Desviei de outro chute que ele tentou me dar e saltei para trás. O idiota era lento e muito mais fraco que o meu pai. Peguei o punhal que recebi do meu avô e o segurei firme. — Encosta em mim de novo e eu te mato. — Berrei, deixando toda a minha raiva tomar conta da minha voz. — Você não tem coragem, moleque. — Tony falou, dando um passo para frente.
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— Chega mais perto pra você ver, seu merda. — Respondi segurando o punhal com toda a minha força e ele ficou parado. Ele era um covarde, dava pra ver de longe e eu ia furar ele todo se tentasse me bater de novo. — Vai pro seu quarto, Pietro. — Mamãe falou por trás dele. — Chega de briga nessa casa. O cara ficou parado e eu dei alguns passos para trás enquanto o vigiava. Quando cheguei na escada eu me virei e subi correndo. Só que não fui para o meu quarto, fiquei no escuro do corredor observando os dois. Eles me deixaram de lado e voltaram a conversar entre si. As vozes deles ainda estavam raivosas e exaltadas, mas eu não consegui ouvir tudo completamente. Minha mãe tinha caído em desgraça. Já era feio para ela ficar apanhando de um subchefe, mas ficar apanhando de um zé-ninguém drogado era o fim da linha. Aposto que se ela fosse filha de alguém da máfia, não teriam deixado isso acontecer. Tony, completamente impaciente e desequilibrado, retirou o isqueiro do bolso e começou a preparar tudo. Mamãe sentou-se do lado dele e ficou esperando com cara de fissurada e, em alguns segundos, o cheiro começou a tomar conta da casa. Aquela foi a primeira vez que eu senti o cheiro de heroína sendo derretida e, em pouco tempo, eu já aprenderia a odiar com toda a minha alma. Tony continuou aquecendo a heroína até que se transformasse em um líquido viscoso. Seu rosto marcado pela ansiedade e a necessidade daquilo, como se ele não pudesse esperar mais um segundo para satisfazer sua vontade. Quando o líquido estava pronto, ele o pegou com uma seringa e inseriu a agulha em sua própria veia. Seus dedos tremiam, movendo-se com desespero, mostrando o quão viciado ele já era. — Deu sorte, vai sobrar um pouco para você. — Foi tudo que ele falou antes de injetar a droga.
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Tony fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás, como se estivesse conquistando um alívio imediato para sua vida de merda. Vi o corpo dele se relaxando momentaneamente, e um suspiro de prazer escapou de sua boca. Pouco tempo depois, uma expressão de vazio tomou conta de seu rosto. Tony afundou num canto do sofá, ficou ainda mais pálido, e seus olhos, que haviam mostrado um pouco de satisfação, ficaram distantes. Enquanto Tony se entregava ao efeito da droga, minha mãe ficou ao seu lado, olhando para ele com uma mistura de desespero e cumplicidade. Suas vidas já se misturavam pelo vício, ela estava caminhando para um abismo sem fundo. Ela tremia levemente, esperando sua vez de obter o alívio momentâneo que a heroína prometia. Assim que Tony se desligou da realidade, mamãe saltou por ele em busca do resto da droga. Ela pegou a mesma seringa, as mãos ainda mais trêmulas, e fez o mesmo que Tony. Por um breve momento, sua expressão se suavizou à medida que a heroína fazia efeito. Um suspiro involuntário escapou de seus lábios enquanto a droga inundava seu corpo, levando-a temporariamente para longe das nossas vidas de merda. No entanto, assim como aconteceu com Tony, esse breve momento de prazer deu lugar a uma expressão de vazio. Os olhos de minha mãe, que haviam brilhado por um instante, agora estavam transparentes, como se sua alma tivesse vagando temporariamente para longe dela. O cheiro nojento de heroína pairava no ar, invadindo o meu nariz e me enchendo de ódio. Era uma cena deprimente, testemunhar minha própria se entregando àquela droga. Senti uma mistura de fraqueza e nojo enquanto observava aquela cena. Não havia nada que eu pudesse fazer para ajudá-la e não via a hora de poder matar qualquer idiota como aquele que cruzasse meu caminho. Com um nó na garganta, virei as costas e atravessei o corredor em direção ao meu quarto, deixando minha mãe e Tony para enfrentar os seus demônios sozinhos.
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O caldeirão de merda tinha entornado de vez. A guerra que tinha estourado em Atlantic City não diminuía e, meses após a morte do meu pai, até o meu avô já tinha morrido também. Eu ainda era uma criança e não participava de quase nada da máfia, mas a gente recebia algumas notícias. E o boato que corria por lá era de que qualquer Rossi vivo estava fugindo da cidade. Talvez o certo teria sido fugir também, só que minha mãe já não tinha cabeça para isso. Ela estava vendendo qualquer coisa de valor para comprar heroína e daquela vez tinha conseguido bastante coisa. Tony já estava caído no sofá quando ela pegou uma seringa quase completamente cheia e se preparou para tomar sua dose. Nunca me esquecerei daquela cena, de como o braço dela já estava marcado por inúmeras picadas que nunca cicatrizavam e de como a veia dela saltava com facilidade. Ela chegou a se orgulhar daquilo uma vez, dizendo como era fácil de aplicar em si mesma, pois as veias sempre saltavam. Mamãe, com as mãos trêmulas, pegou a seringa com um brilho estranho nos olhos e fez um pouco da droga voar pelos ares antes de se aplicar.
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Seu olhar vago, a pele pálida e meio corroída deixava claro que ela já estava num caminho sem volta. O suor escorria pelo seu rosto e sua respiração era ofegante, enquanto ela procurava alguma veia que ainda não havia sido destruída pelo uso constante. Com as mãos que quase nunca paravam de tremer, ela enfiou a agulha na pele, mas sua coordenação estava completamente perdida. Ela resmungou com a dor se espalhando por seu corpo, mas não desistiu, nem tentou se mover para retirar a agulha. Apenas aplicou o máximo que pode. O líquido escuro entrou em suas veias, e minha mãe desabou no sofá e rolou para o chão com um gemido angustiado. Sua respiração tornou-se irregular, os olhos vidrados, enquanto eu corria para perto dela. — Mãe, que merda é essa, mãe? — Eu gritei enquanto a balançava e dava tapas em seu rosto. Ela não respondeu, seu corpo parecia pesado e sem vida. Fiquei ainda mais desesperado quando seus lábios começaram a ficar azulados. Ela passou a tremer violentamente, e Tony estava completamente inconsciente caído do lado. Aquele desgraçado era o culpado por tudo e estava ali caído sem fazer nada. Peguei o telefone e liguei buscando socorro. — 911, qual é a sua emergência? — Enviem uma ambulância o mais rápido possível! Minha mãe está tendo uma overdose de heroína aqui! Eu acho que ela está morrendo! A maldita operadora me pediu para ficar calmo e enquanto eu passava o endereço. — Já enviamos uma equipe de emergência para o seu local. Eu preciso que você me descreva a situação. A pessoa está respirando? — Ela perguntou assim que eu terminei de explicar onde a gente morava. — Não tenho certeza, ela está tremendo ea boca tá azulada. Parece que não tá respirando mais.
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— Está bem. Vou guiá-lo em como realizar manobras de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) até que a ajuda chegue. Comece com compressões no peito no ritmo de 100-120 por minuto. Eu não tinha a mínima ideia de como fazer aquilo, mas tentei, fiz o possível até que deixei o telefone cair de lado e me dei conta da verdade. Mamãe já estava com a boca cheia de vômito e a língua pendia para o lado. O peito não se mexia e deu para ver que ela tinha morrido. Tony, o maldito que causou tudo aquilo continuava vivo, mas não por muito tempo. O tempo era curto e eu precisava dar um jeito nas coisas. Desliguei o telefone e fui correndo até o meu quarto. Enquanto observava a gaveta da cômoda escancarada na minha frente, eu comecei a assoviar institivamente. Sem que me desse conta, juntei algumas roupas e coloquei na minha mochila, peguei meu punhal e fui correndo até a sala onde os dois estavam caídos. Revistei os bolsos deles e peguei qualquer coisa de valor que encontrei. Não tinha quase nada, eles já tinham vendido praticamente tudo. Conferi minha mãe mais uma vez e o corpo dela não respondia a nada do que eu fazia. Decidi que era hora de acabar com tudo aquilo, ainda assoviando, eu peguei meu punhal com ambas as mãos e me posicionei perto de Tony. Aquilo não foi corajoso da minha parte, mas eu ainda era um moleque de dez anos e ele um homem adulto. Usei toda a força que eu tinha e enfiei o meu punhal no pescoço dele. Foi o suficiente para ele acordar e me fitar com os olhos transparentes de droga. Ele nem entendeu o que estava acontecendo. Vislumbrei os olhos dele perdendo a vida enquanto minha lâmina atravessava todo o seu pescoço e ele se remexia vomitando sangue. Aquele foi o primeiro cara que eu matei e o desgraçado nem se deu conta de como e porque estava morrendo, ele apenas se engasgou com o próprio sangue e ficou parado na poça que se formava debaixo dele.
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Eu saí correndo de lá, pouco tempo depois de passar pelo portão da casa, eu já ouvia as sirenes da ambulância ao longe, o som ecoando como um presságio sombrio. Sabia que era tarde demais para minha mãe e Tony. Enquanto as luzes da ambulância dançavam no horizonte, eu corri em direção às ruas escuras do bairro que se tornariam a minha casa. A vida tinha tirado quase tudo de mim, mas eu era Pietro Rossi, um sobrevivente, e minha jornada como assassino por Atlantic City estava apenas começando.
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Os dias começaram a se passar lentamente, por sorte, eu não encontrei com Pietro nenhuma vez durante a semana e me sentia segura naquela manhã de sábado. Sentada na confortável cadeira estofada da mesa da nossa cozinha, eu observava o anel de noivado em meu dedo. Era impossível esquecer dele, parecia que pesava uma tonelada, mas era apenas um pequeno, mas bonito anel. Me dava ainda mais raiva o fato de que ele chamou a minha atenção desde a primeira vez que reparei nele. Com a mão repousada na superfície de vidro da mesa, eu analisava atentamente aquele anel que se encaixou perfeitamente em meu dedo. O diamante central brilhava com uma intensidade cativante, capturando a luz de maneira irresistível. As linhas elegantes da armação, inspiradas na graciosidade de uma espada de esgrima, adicionavam um toque distintivo à joia e me surpreenderam por completo. Aquele anel foi encomendado especificamente para mim. Não sei se era ideia do próprio Pietro ou de alguma outra pessoa, mas os detalhes eram lindos, por mais que me doesse admitir aquilo. Os rubis, pequenos, mas imponentes ao lado do diamante, irradiavam uma tonalidade vermelha intensa, uma chama que contrastava com a pureza
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da pedra central. Meus olhos relutantes não conseguiam evitar a beleza dessa combinação única. Ergui meu dedo, examinando o anel de diferentes ângulos, como se procurasse por falhas em sua perfeição meticulosa. Meus lábios apertavam- se numa linha determinada, escondendo a admiração que começava a brotar em meu interior. Mamãe e Bianca estavam perto de mim, prontas para tomar o café da manhã e eu tinha que forçar uma cara de zangada, pois jamais admitiria minha curiosidade ou admiração perto das duas. Nunca tinha me imaginado usando anel de noivado, mas tinha algo de especial naquela maldita e singela joia. Eu esconderia de todo mundo, mas uma parte de mim começava a reconhecer a competência por trás da escolha do anel. Era mais do que uma joia, era uma prova de que Pietro sabia sobre minha paixão pela esgrima. Se bem que poderia ser apenas um artifício para conseguir que eu me casasse calada, mas isso estava fora de cogitação. Um suspiro escapou de meus lábios, uma mescla de desafio e aceitação, enquanto meus dedos exploravam suavemente as pedras que agora eram parte inseparável do nosso compromisso. — Talvez ela esteja se acostumando com a ideia, mamãe. — Bianca quebrou o silêncio. — Veja como está admirando o anel. — Não estou admirando nada. — Respondi contrariada. — Estou é incomodada com essa joia, parece mais uma algema no meu dedo. — Acho que ele fez uma boa escolha. — disse mamãe se inclinando em minha direção. — Não é uma pedra gigantesca, mas é muito bem-feita e todo o conjunto combina com você, minha filha. — É nisso que dá terem me escolhido um noivo de baixa patente, agora tenho que usar um anel pequeno e mal-feito desses. — Até parece, Catarina, você nunca foi de usar joias grandes. — Bianca me provocou. — Até os seus brincos costumam ser pequenos. Você usa pedras preciosas, é claro, mas nada muito chamativo. Ele parece te conhecer bem.
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— Não passa de um subalterno querendo agradar o patrão. — Bufei. — Eu merecia alguém do meu calibre. — Se tivesse facilitado a vida de papai, quem sabe não seria você a ser prometida ao Don Giovanni. — Os olhos de Bianca sempre reluziam quando ela falava o maldito nome do líder dos Cannavaro. — Prefiro a morte do que me casar com um Don, já me basta ser filha de um. — Catarina, pegue leve com a sua língua, por favor. — Mamãe disse calmamente me servindo uma xícara de café. — O dia mal começou, nem comemos nada ainda e você já está falando essas coisas. — Tudo culpa de Bianca, mamãe. Ela que fica insistindo em falar dessas coisas comigo. — Tomei um gole sentindo o peso da reprovação vinda de Francisca. — Obrigada pelo café. — Completei e mamãe deu um sorriso capaz de iluminar toda a casa. — Como será que vai ser o meu anel? — Bianca falou e fez um gesto querendo ver o meu. Por instinto, eu deixei que pegasse minha mão. — Eu gostaria de algo assim, especial e feito pensando em mim. Você é uma mulher de sorte, Catarina. — Pare de falar besteiras. — Puxei minha mão com força impedindo que minha irmã continuasse admirando meu anel. — Eu devo ter jogado pedra na cruz, isso sim. Obrigada a me casar com um soldado qualquer. As palavras escaparam antes que eu pudesse contê-las, mas ao olhar novamente para a joia em meu dedo, não pude negar sua beleza singela. Mesmo odiando a ideia de me casar, o anel era do jeito que eu gostaria que fosse. — Ele é do seu calibre. — Mamãe falou séria, coisa que quase nunca fazia. — Neto do Don Rossi e filho do subchefe. Desde quando um descendente direto de um Don não pode se casar com a filha de outro? — Se fossem grande coisa, não teriam se matado na guerra. — Catarina. — Mamãe elevou o tom e eu baixei o olhar. — Cuidado com o que fala, mesmo que goste de provocar, não exagere nas coisas. Eram quase tão poderosos quanto nós ou os Cannavaro, se tivesse sido a nossa família a morrer na guerra, você gostaria que fizessem piada com isso?
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Por mais que eu amasse tirar papai do sério, as coisas eram diferentes com mamãe, eu não gostava de incomodá-la, até porque, ela era tão vítima das circunstâncias quanto eu. — Desculpa, mamãe. — Me vi sendo obrigada a engolir o orgulho e pedir desculpas. — Desculpada. Mamãe aceitou minhas desculpas, mas minha irmã, sempre curiosa, não estava disposta a me deixar tomar café em paz. — Catarina, você vai mesmo se casar com ele? Sem aprontar nada? — Bianca perguntou, os olhos brilhando de expectativa. — Vou ter que engolir esse sapo. Papai já arquitetou tudo, não há muito o que eu possa fazer agora. — Respondi, tentando segurar a raiva que a ideia me causava. — Só ele poderia impedir este casamento, tenho vontade de conversar com ele, ou com Pietro. Talvez eles desistam da ideia se eu for muito chata. — Já está mais do que na hora de aceitar o seu destino. — Mamãe comentou, dando um leve sorriso. — Pietro parece ser homem de palavra. Talvez você encontre mais nele do que imagina. — Sem falar que ele é o mais famoso de todos. — Bianca comentou animada demais para o meu gosto. — Vai me dizer que você não acha emocionante se casar com um dos homens responsáveis por interromper os “anos sangrentos”. — Isso se for verdade. — Por que os outros soldados mentiriam sobre isso? — Bianca defendeu a fama de Pietro. — Você sabe como os homens são. Ninguém inventaria algo do tipo atoa. — Você acha mesmo que um só homem seria capaz de acabar com toda aquela gangue? — Eles nunca disseram que ele acabou com a gangue sozinho, — mamãe começou a explicar, — o que contam é que ele atacou alguns esconderijos sozinhos e matou qualquer um que apareceu na frente dele. Pegou tanto dinheiro deles que ficaram sem ter como manter a guerra por mais tempo que desistiram e acabaram deixando Atlantic City para trás. Não,
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ele não deve ter feito tudo sozinho, mas foi o principal responsável, pode ter certeza. — Eu acho isso sexy. — Bianca falou me deixando atônita. — Pare de falar essas coisas. — Mamãe alertou. — Imagina se seu pai escuta você elogiando o noivo da sua irmã. Sei que não teve maldade, mas não é de bom tom para uma jovem como você. — Eu só quis dizer que o jeito valente dele é uma qualidade que Catarina deveria admirar. — Deixe que ela elogie o próprio noivo. Revirei os olhos diante da sugestão de mamãe. A última coisa que eu queria era encontrar qualquer coisa positiva para falar de Pietro Rossi, o soldado impertinente que agora era meu noivo. Por mais sexy e valente que ele fosse, nenhuma palavra em favor dele sairia da minha boca. — Se ele fez tudo isso. Eu não deveria ter medo dele? Papai não estaria me obrigando a casar com um monstro? — Decidi despejar um pouco de ironia, mantendo meu olhar na xícara em minha frente. — Um marido por obrigação jamais será meu herói, ele não passa de um monstro. — Chega, Catarina. — Mamãe me repreendeu. — Pietro pode não ser o que você esperava, mas talvez, seja o que você precisa. — Tentou confortar-me, mas eu não estava disposta a aceitar aquelas palavras. — Eu não preciso de um marido, muito menos dele. — Deixei escapar novamente e mamãe balançou a cabeça insatisfeita. Todos eles poderiam passar dias tentando me convencer, mas eu não sossegaria tão facilmente. Ainda tentaria impedir aquele casamento, fosse incomodando papai ou fazendo com que Pietro desistisse. A última coisa que eu queria era me tornar prisioneira de um casamento arranjado, especialmente com alguém como Pietro Rossi. As histórias que contavam sobre ele não passavam de versões romantizadas de um passado violento.
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Minha família tinha comprado o One Atlantic Events[9] e era lá que planejavam realizar o meu casamento. Todo os preparativos para o evento deixavam a atmosfera carregada, misturando excitação e tensão, enquanto nos reuníamos para ajustar os últimos detalhes. Aquilo mexeu demais comigo. Por mais que eu pensasse nas palavras de mamãe e tentasse acreditar que algo de bom poderia vir de um casamento arranjado, eu não conseguia acreditar naquilo. A luz suave do entardecer banhava a cidade através das janelas do terraço privativo, proporcionando uma vista espetacular do horizonte. Ao lado de minha mãe eu só conseguia pensar que Bianca estaria adorando aquilo. Mas eu não conseguia parar de odiar, aquele salão de eventos poderia ser transformado facilmente em um cenário digno de um conto de fadas da máfia que minha irmã tanto adoraria. — Mamãe, você realmente acha que este é o lugar adequado para um casamento? — perguntei, meus olhos percorrendo cada detalhe do local. Francisca Maldini, por outro lado, parecia imersa em uma animação só dela. Seus olhos brilhavam enquanto ela apontava para cada canto do
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salão. — Catarina, minha querida, este é o local perfeito! Imagine só, você descendo a escadaria majestosa com seu vestido deslumbrante. Os convidados aplaudindo enquanto o quarteto de cordas toca uma melodia suave. Isso será simplesmente esplêndido! Sua empolgação contrastava drasticamente com a minha falta de entusiasmo. Era como se ela estivesse me dando um tapa na cara. Eu não conseguia visualizar o mesmo cenário grandioso que ela pintava. — Mãe, é só um lugar. Não muda o fato de que esse casamento não é o que eu quero. — Minha voz carregava a frustração acumulada. — Querida, tente olhar além do presente. Este casamento não é apenas sobre o que você quer, mas sobre a união de duas famílias poderosas. E este local, com toda a sua grandiosidade, é o símbolo perfeito para celebrar essa união. — Ela explicava, mas eu só conseguia sentir o peso do compromisso que tanto me sufocava. Na verdade, meu casamento nem era para unir duas famílias poderosas, mas para permitir um capricho de meu pai, antes de unir duas famílias poderosas. Ele só queria se livrar de mim e da mancha que uma filha solteira causaria em sua fama. — O quarteto de cordas, as flores, o cenário deslumbrante... — ela continuou enumerando cada detalhe com entusiasmo. — Mamãe, não precisa me vender um sonho que não é meu. — Interrompi, me segurando ao máximo para a frustração não se transformar em briga. — Está bem, faça do jeito que quiser. Eu só quero que isso acabe logo. Eu apenas fechei os olhos por um momento, tentando imaginar um futuro que não fosse governado por arranjos familiares e tradições opressivas. Quando abri, foi como se o chão sob os meus pés simplesmente sumisse. O meu pai entrava no local com passos firmes, seguido pelo meu irmão Mateo e pelo noivo Pietro Rossi. A atmosfera mudou instantaneamente, tornando-se mais solene e imponente na presença deles.
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— Catarina, minha filha, veja como este lugar é magnífico. — Don Maldini falou com uma mistura de orgulho e satisfação, seus olhos percorrendo o ambiente como se estivesse visualizando o futuro. — Se é o que diz, papai. — Respondi, tentando me obrigar a ficar quieta, mas era muito difícil. Olhei para Mateo, senti ainda mais raiva observando a satisfação em seu rosto, ele permanecia impassível. Tudo foi por água abaixo quando vi Pietro que parecia à vontade naquele ambiente. Seus olhos percorreram cada detalhe do salão, e havia uma expressão de aprovação em seu rosto. Como se eu precisasse de alguma aceitação por parte dele. Seu jeito convencido com o terno bem-feito e o cabelo desalinhado estavam me tirando do sério. Pois ele parecia estar se encaixando perfeitamente na minha família. — Senhora Maldini, você fez uma ótima escolha para o nosso casamento. — Pietro dirigiu-se a minha mãe com respeito, mas seus olhos encontraram os meus por um instante, revelando uma faísca de desafio. — Fico feliz que esteja satisfeito, Pietro. — Respondeu minha mãe com um sorriso. — Este é um momento especial para toda a nossa família. Enquanto meu pai e Pietro começaram a conversar sobre detalhes logísticos, Mateo aproximou-se de mim com um olhar sério. — Catarina, você precisa aceitar que isso está acontecendo. — Ele sussurrou, tentando soar reconfortante. Ele deve ter lido na minha testa que eu estava prestes a aprontar alguma coisa. — Você sabe que eu nunca quis isso. — Respondi, minha voz prestes a se tornar um grito de frustração. Como se estivesse hipnotizada, eu saí de perto do meu irmão, deixei minha mãe para trás e segui em direção ao meu pai e o... noivo. A conversa entre eles estava em andamento, e eu queria entender o que estavam tramando. — ...um casamento grandioso, algo que solidifique ainda mais nossa posição na cidade. — Meu pai estava dizendo, seu rosto iluminado por uma
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expressão ambiciosa. Pietro, por sua vez, assentiu com um sorriso cúmplice. — Claro, Don Paolo, eu compreendo a importância disso. Farei a minha parte e o senhor conseguirá a aliança ideal para aumentar nossa influência. Aquelas palavras foram como punhais cravados em meu peito. Eu não sabia o que mais me incomodava, o fato de Pietro já se referir a minha família como “nossa” ou que papai já estava conversando sobre o casamento de Bianca. Eu me senti como se não fosse nada, ou pior, como se fosse um obstáculo naquele maldito jogo de interesses do submundo de Atlantic City. — Catarina, minha filha, estávamos falando sobre os preparativos para o casamento. — Meu pai mentiu para mim na cara dura e eu não aguentei mais ficar quieta. — Eu posso imaginar. — Respondi com uma frieza mal disfarçada, mantendo os olhos fixos em Pietro — Só tem um problema que precisamos resolver o mais rápido possível. — Qual é? — Papai quis saber. — Espere, só um momento, acho que mamãe vai querer me ajudar também. — Eu aprisionei os olhos azuis de Pietro com os meus enquanto chamava minha mãe e soltei meu veneno assim que ela se aproximou. — Eu preciso de ajuda para escolher a cor do meu vestido de noiva, nossa família é muito tradicional, todos nós sabemos disso, então não poderei usar branco já que não sou mais virgem. Eu me deliciei enquanto o maxilar do noivo retesava e os olhos de meu pai se arregalavam. — Como assim? — Mamãe fingiu surpresa e se colocou na minha frente. — Do que você está falando, minha filha? Mas é claro que você vai se casar de branco. — Não, eu não vou, pois não sou mais virgem. — Feche essa sua boca, Catarina. — Papai falou o mais alto possível sem que começasse a gritar. — Quer que toda Atlantic City saiba do quanto você mancha a reputação da nossa família?
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— Pois é uma pena, papai, acho que o noivo vai até desistir do casamento ao saber disso. Pietro cerrava os dentes, e a tensão no ar era palpável. Eu estava determinada a deixar claro que não aceitaria esse casamento sem lutar. — Você está sendo infantil, Catarina. — Mamãe tentou acalmar as coisas, mas eu não estava disposta a recuar. — Infantil? Acho que é a única forma de ser ouvida nesta família. Eu não vou aceitar ser tratada como uma mercadoria a ser trocada por poder e influência. Vocês querem se livrar de mim para abrir espaço para um casamento grandioso entre minha irmã e o Don Cannavaro. Eu imaginei que havia causado um estrago irreparável. Eu estava disposta a enfrentar as consequências, mas não tinha ideia do homem que eu estava enfrentando. Pietro olhou para mim, seus olhos transmitindo uma mensagem que eu não gostei. — Eu não serei o seu primeiro homem, Catarina, mas tenha certeza de que serei o seu último. — Eu jamais me entregarei a você. — Você já é minha desde que aceitou o meu anel. Desde que esta joia encostou no seu dedo, você se tornou minha, só não tomei posse ainda. Os olhos dele irradiavam uma possessividade que eu nunca havia percebido. A aura dele pesava sobre mim e ondas se espalharam pela minha pele como uma descarga elétrica que irradia por toda parte. Eu fiquei atônita por um instante, aquele homem mexia comigo, muito mais do que eu poderia esperar. Percebi que minha tentativa de sabotar o casamento tinha se voltado contra mim. Pietro Rossi não era alguém que recuaria facilmente, e eu havia subestimado a profundidade de sua determinação. No entanto, eu não estava disposta a ceder tão facilmente. — Eu não sou propriedade de ninguém, Pietro. Não sou uma coisa pra você tomar posse. — Minha voz saiu firme, embora meu coração estivesse acelerado.
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Ele sorriu de uma maneira que me fez arrepiar. Era um sorriso cheio de confiança, como se soubesse algo que eu ainda não tinha descoberto. — Veremos, Catarina. Veremos. Eu me forcei a reagir, não podia aceitar nada daquilo. Retirei o anel do meu dedo e as feições dele mudaram completamente, toda a arrogância e convencimento sumiram. Ficou ainda pior. Ele parecia não ter mais sentimentos quando falou comigo. — Não faça isso. — A voz dele soou estranhamente calma e leve. — Eu me recuso a ver uma coisa dessas. Os olhos de Pietro correram de mim para papai e o meu irmão, depois ele baixou a cabeça como se estivesse pensando profundamente. Meu corpo se paralisou e eu fiquei com o anel na mão tentando criar coragem de jogar aquela joia longe. Tudo durou poucos instantes, mas eu tive a impressão de que ele estava assoviando enquanto evitava olhar para mim. O rosto dele virado para o chão não conseguia perceber nada do ambiente, mas eu pude sentir a atmosfera ceder por completo como se o dia se transformasse em noite. Por um instante, pela primeira vez na minha vida eu vi algo parecido com medo no olhar do meu pai e coloquei o anel de volta no dedo. — Pietro. — Papai falou e ele continuou assoviando. — Pietro, me escute, Pietro. — Meu irmão entrou na minha frente como se tentasse me proteger. O som cessou e com o silêncio, foi como se as nuvens de tempestade estivessem passando. — Ela só estava te provocando, — meu pai falou tentando amenizar a situação. — Minha filha pode se exceder nas provocações, mas ela já se arrependeu do que fez. Eu fiquei calada e assustada. — Às vezes ela não mede as palavras. — disse mamãe e até mesmo a voz doce e meiga de sempre falhou.
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— Ela vai se comportar. — Era meu irmão que falava. — E não vai espalhar essa coisa de não ser virgem por aí, ela vai casar de branco eu prometo. — Claro que vai. — Papai completou. — Está mais do que na hora dela ajudar a realizarmos nossos planos. Nós vamos controlar esta cidade, Catarina. E isso só será possível se nos aliarmos aos Cannavaro e conquistarmos a confiança de todos os italianos daqui. Para isso temos que convencer até mesmo os mais conservadores e ninguém ficará sabendo que você não é mais virgem, entendeu? — Ele me ameaçou segurando os meus olhos. — Ninguém. — Por favor, filha. — Minha mãe me puxou para longe dos homens. — Cresça filha, aceite a vida como ela é, você não vai jogar nada fora, não vai desrespeitar seu noivo e nem a sua família, ouviu bem? — Tá bom, mamãe. Eu havia desafiado todos os presentes e, consequentemente, desencadeado algo que estava além do meu controle. Eu assumi a minha derrota, ainda que parcialmente. Eu aceitei o anel na frente de muitas pessoas importantes da organização e cumpriria com a minha palavra. Eu também me casaria de branco, não seria louca de desonrar o papai, ele tinha acabado de me convencer sobre aquilo. Eu cumpriria meu papel até certo ponto. Só que nunca, em hipótese alguma eu me entregaria àquele assassino psicopata, eu jamais seria dele. Pietro passou por entre todos eles, segurou meu pulso com firmeza, mas sem me machucar, depois me virou e com uma mão possessiva nas minhas costas, me conduziu para uma das grandes janelas do terraço. — Eu nunca quis ser violento com uma mulher, juro que não te farei mal desde que me respeite como devo ser respeitado. — Sua voz era áspera e me deixava mais quieta do que eu gostaria de admitir. — Você é minha, Catarina, isso já foi decidido. Você terá o seu tempo, mas vai aceitar a verdade mais cedo ou mais tarde. Você é minha e nada neste mundo será capaz de me impedir de tomar posse do que é meu. Agora, mais do que nunca, eu percebia que estava presa em uma teia de tradições e alianças familiares, uma teia da qual eu não sabia se
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conseguiria me libertar. Ver Pietro daquela forma tinha me causado medo, mas o que mais me incomodou foi o quanto o meu corpo reagiu ao toque dele, por mais que minha mente odiasse a ideia de me casar, meu corpo começava a ceder àquele homem. O futuro se estendia diante de mim como uma estrada escura e sinuosa, e eu estava prestes a seguir por um caminho que inocentemente achei que jamais teria de trilhar. Impedir aquele casamento estava além do meu alcance. Mas eu ainda poderia lutar e resistir aos desejos do meu futuro marido. Eu poderia me casar com ele, mas não seria sua esposa de verdade e não faria dele um homem feliz e satisfeito na cama.
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O Caesar's Diamond Lounge em Atlantic City é um espetáculo de opulência e elegância assim que se cruza sua imponente entrada. Com uma estética que combina luxo moderno e toques clássicos, este lounge seria ideal para uma despedida de solteira. April, minha melhor amiga desde os tempos de esgrima, uma confidente que permanecera alheia aos detalhes sombrios da vida de Catarina da máfia. Essa amiga seria a ideal para curtir uma noite regada de bebida e strippers. Só que eu sabia que nada disso aconteceria. Seria deliciosamente extravagante, mas teríamos dois grandes problemas. Pietro não gostaria de saber que outro homem me tocou e isso daria em morte na certa. Eu tinha percebido a verdade, aquele homem a quem eu havia sido dada em compromisso, era diferente de todos os homens que eu já conheci, até mesmo dos homens de dentro da organização. Violento e obsessivo, sua presença era envolta em uma aura única, intensa e imponente. Não havia margem para deslizes ou escapadelas dos padrões estabelecidos. O peso de suas palavras continuava a ecoar em minha mente, e a sensação de pertencimento que ele insistia em enfatizar me deixava inquieta.
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Algo estava se transformando dentro de mim, algo que eu não conseguia definir ou compreender completamente. Quase que instintivamente eu olhei para o anel no meu dedo. A joia bonita e bem-feita que eu pensei em arremessar na cara de Pietro. Será mesmo se ele teria coragem de me atacar? Será se ele valoriza tanto a sua honra que estaria disposto a morrer tentando protegê-la? Quem sabe por um devaneio de minha parte, eu me vi pensando sobre o que um homem daquele seria capaz de fazer para proteger a mulher que amasse. Ainda que por um arranjo da minha família, ele faria de tudo para me proteger? Será que... se algum dia eu conseguisse ter um filho dele... o que ele estaria disposto a fazer por nós dois? — Este anel é mesmo lindo. — April comentou me fazendo despertar dos meus pensamentos. — Ele combina mais com você do que o que o tal de Alex comprou. — Combina sim. — Comentei ainda olhando para a joia. — Você já se imaginou casada um dia? — Claro que sim, acho que ainda somos novas para isso, mas eu penso em casar e constituir uma família, você ainda acha a ideia absurda? Eu ainda achava um exagero da parte do meu pai ter que me casar antes de Bianca, mas a verdade era que no meu mundo, toda mulher se casava um dia. Talvez eu estivesse vivendo uma fantasia, achando que comigo seria diferente, mas a realidade veio bater na minha cara. — Não. — Fingi um sorriso olhando para meu anel de noivado. — Aceitei este anel e o noivo deixou bem claro que seria uma completa desonra para a minha família se ele sair daqui, então eu acho que me casar já não é mais um absurdo. — O que aconteceu com Alex? Ele sumiu com todo o seu dinheiro? Um suspiro escapou enquanto eu decidia como responder a essa pergunta delicada. Resolvi manter as coisas simples, omitindo os detalhes sombrios. Eu já imaginava que papai tivesse dado um jeito em Alex, talvez tenha sido exagero da minha parte ter procurado um ator, mas não acho que
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ele tenha morrido por isso. Ele não sabia de nada sobre nossos segredos. — Alex decidiu seguir seu próprio caminho. Foi embora sem explicar, e eu não insisti. Às vezes, as coisas não funcionam como esperamos. April arqueou a sobrancelha, claramente intrigada, mas respeitando minha escolha de não entrar em detalhes. Então, veio a pergunta que eu sabia que ela estava segurando. — E agora você está noiva novamente? Catarina, isso foi rápido. Eu não sabia que você tinha se recuperado tão rápido. Um sorriso cínico brincou nos meus lábios, respondendo com a petulância que me era característica. — Em minha família, as coisas funcionam assim, April. Chegou a hora de eu me casar, e é melhor que eu aceite. A vida na família Maldini tem suas próprias regras, e elas não esperam por ninguém. Além disso, casamentos arranjados são uma tradição que eu não terei o luxo de ignorar. Fomos brevemente interrompidas, pois o garçom, um homem de postura elegante e trajes impecáveis, se aproximou com uma bandeja segurando as taças de vinho. Seus modos eram refinados, uma presença discreta próximo a nós. — Boa noite, senhoritas. — Ele cumprimentou com um leve sorriso, exibindo uma bandeja adornada com as taças de vinho tinto que haviam sido solicitadas. — Aqui estão seus pedidos, um Pinot Noir especialmente selecionado para a noite. Agradeci com um aceno de cabeça, aceitando a taça que ele gentilmente me oferecia. O aroma rico e envolvente da bebida impregnou o ar, mas meu ânimo continuava envolto em sombras. — Alguma coisa mais que possa fazer por vocês esta noite? — Ele perguntou, mantendo-se profissional, mas com um toque de cortesia que refletia o padrão do local. Talvez ele pudesse contratar um grupo de mercenários e me salvar das garras do noivo que papai arrumou para mim. — Não, obrigada. — April respondeu com um sorriso educado. — Estamos bem por enquanto.
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O garçom se retirou com um movimento gracioso, deixando-nos novamente na penumbra luxuosa do lounge. Ainda que apreciasse a qualidade do serviço, a presença de Pietro Rossi pairava em minha mente, obscurecendo o prazer que normalmente encontraria em uma noite como aquela. Na minha mente, o casamento já era dado como certo, mas eu lutaria contra qualquer investida dele. Eu poderia ser a esposa dele, mas nunca seria a mulher dele. — Não sei como você consegue se casar tão facilmente, Catarina. — Desviei o olhar das taças de vinho para a expressão sincera da minha melhor amiga. — Logo você que tanto reclamou dos privilégios masculinos. Eu gostaria de entender como você encontra coragem para isso. April sorriu, um gesto que refletia décadas de amizade e uma compreensão mútua que ultrapassava as formalidades. Eu respirei fundo, nós éramos colegas desde a infância, fomos ótimas concorrentes na esgrima e nos tornamos amigas inseparáveis na adolescência. — Acho que eu simplesmente aceitei que tudo acontece por um motivo, April. Às vezes, as surpresas da vida podem nos trazer o que nós precisamos e não o que queremos. — Você falou como a sua mãe agora. — Comentou rindo. — Foi com ela mesma que eu aprendi. — Suspirei, incapaz de compartilhar a verdadeira complexidade dos meus sentimentos. — Talvez o meu destino tenha sido escrito de um jeito que eu terei de aprender a conviver com minha família e suas tradições. — Ei, você está bem com isso? — April indagou, percebendo a mudança no meu habitual comportamento. — Apenas pensando em como fazer uma limonada já que a vida não para de me atirar limões. — Forcei um sorriso, tentando afastar as sombras que se aproximavam. — Não importa o que aconteça, estarei ao seu lado, Cat. — April segurou minha mão. — Seja lá o que estiver acontecendo, estamos juntas nisso.
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— April, já que mencionou que sempre estará do meu lado me apoiando, tenho algo a pedir — comecei, desviando meu olhar por um momento, como se buscasse coragem nas luzes da cidade lá fora. Infelizmente, poderia ser meio perigoso para ela, pois o meu casamento é estratégico para a família e terá muitas pessoas da organização por lá. April me olhou curiosa, seus olhos expressando a confiança de uma amizade de longa data. — O que é? Você sabe que pode me contar qualquer coisa. Inspirei fundo, sentindo a tensão que envolvia minha vida começar a se desvendar. Ela faria parte de uma última exigência minha. Não era nada que pudesse impedir o casamento, mas seria algo fora do padrão. — Eu estou prestes a me casar, April, e eu quero que você seja minha dama de honra. O silêncio pairou entre nós por um momento, enquanto April processava minhas palavras. Seus olhos, normalmente cheios de vivacidade, demonstraram surpresa. — Oh meu Deus! Sério? Claro que sim, estou emocionada! Será uma honra fazer parte desse momento especial ao seu lado. Mas por que você achou que eu não aceitaria algo assim? — É complicado, você sabe como minha família forçou este casamento, mas quero que a minha dama de Horna seja alguém que realmente me entende. Só não tinha certeza se você aceitaria. April franziu a testa, tentando compreender a minha hesitação. — Cat,ocê nunca me falou sobre as coisas da sua família, mas eu não quero ficar de fora de um dia tão especial, eu jamais ia recusar um pedido destes. Dessaa vez, fui eu que busquei as mãos dela. — Eu preciso de você ao meu lado, só isso. Um sorriso tênue curvou meus lábios, agradecendo silenciosamente pela compreensão de April. — Pode contar comigo, já quero saber a cor do meu vestido.
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— Obrigada, April. Você não faz ideia do quanto isso significa para mim. Sobre os detalhes da festa, vamos olhar tudo com minha mãe depois. Eu ainda evitava pensar na noite de meu casamento, mas com a companhia de minha melhor amiga eu acreditava que poderia ser mais fácil para mim.
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Com a oficialização do noivado e Catarina finalmente cedendo e marcando a data, passei a frequentar a mansão Maldini com mais frequência. Eu ainda era um soldado e estar sempre por lá atraia alguns olhares, mas ninguém ousava me dirigir a palavra ou questionar a decisão do Don Paolo. Estávamos apenas cumprindo as formalidades, ainda que minha noiva teimasse em se trancar no quarto quando eu estava por lá. Aquilo não podia continuar assim, por mais que fosse um casamento arranjado ela era minha noiva e me respeitaria da mesma forma que eu sempre respeitei a ela ou sua família. Confirmei os boatos de que ela treinava defesa pessoal e que o professor era um caporegime e a ideia de que outro cara poderia se atracar com ela pelo chão ainda que por esporte fazia todo o meu corpo arder de ciúmes. Eu não deixaria nenhum homem tirar proveito daquelas curvas tão convidativas. Não coube a mim escolher quando e com quem me casar, mas já tinha me decidido sobre aquilo, Catarina seria minha, por completo, e de mais ninguém. Até mesmo aquele olhar de fera indomável seria meu. Maria Grazia, a governanta da casa estava do meu lado e me informou sobre os horários em que ela costumava treinar na mansão e eu me
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dirigi até o local. Chegamos a uma porta dupla de madeira escura, adornada com entalhes intrincados. Empurrei-a com força, revelando a sala de treino além. A sala estava impregnada com a mistura de aromas de couro, suor e aço. Equipamentos de treino estavam dispostos de maneira organizada, demonstrando a seriedade com que a família Maldini encarava a preparação física e defensiva. Aquilo não era incomum para uma família como a deles, até mesmo o meu pai treinava Jiu-Jitsu brasileiro antes de se tornar um bêbado imprestável, o que não era normal era deixarem as filhas praticarem também. Mas eu não poderia esperar nada diferente de Catarina. Ela sempre fora excessivamente mimada. Uma das primeiras coisas que vi foram os grandes espelhos nas paredes que pareciam ampliar o espaço, criando a ilusão de que a sala se estendia além de suas dimensões reais. Por sorte, Catarina não estava no chão agarrada a outro homem. Apenas vi que no centro, um tatame macio cobria o chão, proporcionando uma superfície adequada para práticas de artes marciais. Sacos de pancada pendiam do teto, aguardando impactos que testariam a força e agilidade de quem ousasse enfrentá-los. O instrutor já não estava por ali e pode ter sido melhor assim, pois ao ver Catarina suada e meio descabelada eu prensei o meu maxilar sentindo vontade de matar o homem que foi o responsável por aquilo. Ela olhou surpresa para mim e veio até a porta. O kimono preto estava entreaberto na altura dos seios deixando à mostra um top de treino branco que evidenciava a respiração pesada dela e tragou os meus olhos assim que ela chegou perto. O peito dela subia e descia a cada inspiração e eu só pensava em qual seria o nome do homem que treinava com ela, pois aquilo iria acabar de imediato. Surpreendi Catarina cortando toda a distância entre nós bloqueando seu caminho com uma expressão séria. — O que faz aqui? — Perguntou quase chiando para mim.
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— Vim acabar com este desrespeito. — Como é que é? Eu respirei fundo para controlar minha raiva e evitar uma briga maior. — Catarina, pare com essas aulas de defesa pessoal. Você não precisa delas — Falei segurando minha vontade de derrubá-la no chão. — Não preciso? Eu não estou fazendo isso por necessidade. Estou fazendo porque gosto, e ninguém vai me dizer o que fazer — retrucou, seu semblante faiscando de raiva. Nossos olhos se fixaram uns nos outros, a tensão aumentando, pois nenhum de nós queria dar o braço a torcer e retroceder. — Você vai ser minha esposa em breve. Sua segurança será minha responsabilidade — insisti, buscando um tom mais suave. — Eu não vou abrir mão de algo que amo só porque você acha que pode decidir tudo por mim — declarou Catarina, mantendo-se firme. — Sendo minha mulher, você não precisará temer por sua segurança. Eu vou cuidar de você — argumentei fazendo com que ela mordesse o lábio inferior. — Eu não vou depender de ninguém para a minha segurança, Pietro, nem mesmo de você — Ela afirmou, cerrando os punhos. A dinâmica entre nós estava acirrada, e a troca de palavras bruscas parecia mais como uma preliminar. Ela estava sexy daquela forma, mas eu não podia deixar que as coisas saíssem do controle e Catarina tentasse alguma outra maluquice. Percebendo que a abordagem firme não estava surtindo efeito, decidi mudar a estratégia. — Se você insiste tanto em treinar, então treine comigo — propus, observando a surpresa nos olhos dela. — Você acha que pode me ensinar alguma coisa? — desafiou Catarina. — Eu posso te mostrar muitas coisas — respondi com um meio sorriso no canto da boca.
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Ela faiscou ainda mais e depois de bufar, partiu para cima de mim, me agarrando pela gola do paletó. — Você está mesmo disposta a fazer isso? — perguntei, segurando suas mãos e torcendo para que ela dissesse sim. Ela assentiu, um sorriso desafiador nos lábios. A atmosfera se tornou densa quando forcei ela a recuar até nos aproximarmos do tatame. Catarina tinha pernas ágeis, mas eu sabia que ela não estava acostumada a lutar de verdade. Começamos a nos movimentar, os movimentos calculados, cada tentativa de agarre vinha com toda força e habilidade. O suor começou a descer pela minha testa também e aquilo acabou sendo mais divertido do que pensei a princípio. Ela lutava com unhas e dentes, como se a vida dela dependesse daquilo. Minha noiva queria mostrar que não era uma fraca e aquilo me encheu de orgulho. Catarina atacou com agressividade, usando sua velocidade para tentar me derrubar. Eu respondi com contra-ataques rápidos e fortes, aproveitando cada oportunidade para explorar suas vulnerabilidades. A tensão sexual crescia a cada momento, tornando o treino mais desafiador e, ao mesmo tempo, mais excitante. Ela poderia negar, mas eu sentia que ela estava tão envolvida naquela luta quanto eu. Ela partiu para cima de mim de uma forma que me surpreendeu um pouco e conseguiu me jogar de costas no tatame. No chão, nossos corpos se entrelaçaram em uma dança frenética de força e estratégia. Cada movimento era calculado, mas havia algo mais nessa luta, uma eletricidade que alimentava silenciosamente a chama entre nós. Catarina tentou uma técnica ousada, mas eu antecipei seus movimentos e a virei, ficando por cima. Nossos olhares se encontraram, faíscas de desejo misturadas com a intensidade da luta. Ela mordeu o lábio inferior e semicerrou os olhos como se quisesse me matar. — Você é boa, Catarina, mas precisa aprender a se render quando está em desvantagem. — Minha voz saiu rouca, carregada de algo que ultrapassava os limites do treino.
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Ela não respondeu, mas o olhar que me lançou era uma mistura de frustração e fascínio. Em um movimento fluido, finalizei a disputa, mantendo-a imobilizada no chão. Ficamos ali, ofegantes, nossos corpos próximos demais para ignorar a tensão entre nós. Uma faísca de algo indefinível passou entre nossos olhares, e, por um instante, a linha entre o treino e o desejo se dissipou. — Idiota. — Ela sussurrou, tentado se desvencilhar das minhas mãos, mas não conseguiu. — Há anos que meu professor não me imobiliza assim. — Até que você sabe o que fazer, mas eu sou melhor. — Murmurei, sentindo o pulso acelerado dela sob minha mão. — E a verdade é que ele deve fingir ser mais fraco que você para te agradar ou agradar o seu pai, mas eu não estou aqui para te agradar, vou te mostrar como a vida é de verdade e aprenderá realmente a se defender treinando comigo. Ela não disse nada, mas algo mudou naquele momento. O treino era apenas uma parte do jogo mais amplo que estávamos jogando, e ambos sabíamos que as regras estavam prestes a se tornar mais complexas. Catarina poderia negar o quanto quisesse, mas era uma questão de tempo até ela ser minha de verdade.
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Algum tempo depois. Sentada diante da minha penteadeira camarim eu jurei para mim mesma que aquela seria a última vez que eu choraria por causa do meu maldito casamento. Não é fácil admitir, mas quem diz que podemos vencer tudo está mentindo. Tem coisas que são grandes demais e sempre nos derrotarão. Como essa maldita mania da máfia de tratar as mulheres como moeda de troca. Havia chegado o dia do meu casamento e eu já tinha desistido de tentar evitá-lo. O noivado falso tinha dado errado, falar de não ser virgem não adiantou e acabei percebendo que Pietro não é do tipo que recua. Ainda estava de manhã, eu apenas começava a me preparar, faria uma maquiagem leve para passar o dia de noiva até sair para o salão de festas e ficar pronta de verdade, mas já me sentia derrotada. O vestido de noiva pendurado na parte de trás da porta me encarava, o maior lembrete daquele futuro que eu não escolhi. Engoli em seco, tentando afastar o amargo sabor da derrota que preenchia minha boca. — Essa é a última vez que deixo uma lágrima cair por causa desse casamento. — Murmurei para o espelho, como se pudesse convencer a mim mesma.
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A verdade era que, por mais rebelde que eu fosse, a máfia tinha um poder que ia além das minhas artimanhas. E, no final das contas, eu era apenas uma peça no jogo de poder de Atlantic City. Terminei a maquiagem, olhando-me no espelho com uma frieza que mal reconhecia. Os olhos, que já tinham desafiado tantas vezes as normas da nossa sociedade, agora refletiam uma rendição forçada. Os toques suaves na porta reverberaram no quarto, interrompendo meus pensamentos. Uma voz familiar indagou se podia entrar, e eu concedi permissão. Minha mãe, Francisca, adentrou o quarto, seguida por Maria, a governanta da casa. A atmosfera carregava o peso de uma conversa séria, como se estivessem prestes a discutir um veredito inevitável. — Bom dia, minha querida. Como está se sentindo? — Minha mãe iniciou, tentando suavizar o clima que pairava sobre nós. Meus olhos encontraram Maria, que carregava uma bandeja repleta de itens para o café da manhã. A atenção meticulosa dela aos meus gostos era, de alguma forma, um gesto carinhoso, mas eu não podia deixar de me sentir como um condenado recebendo sua última refeição. — Bom dia, mãe. Obrigada Maria. — Respondi, mantendo minha expressão neutra. Maria colocou a bandeja em uma mesinha próxima, e o aroma do café recém passado preencheu o ar. Era um café da manhã recheado das minhas coisas favoritas, uma tentativa de tornar o dia mais agradável. No entanto, aquilo apenas sublinhava a ironia da situação. Como se ovos, bacon e frutas pudessem amenizar a amargura de um casamento por obrigação. Minha mãe se sentou delicadamente na beira da cama, suas mãos entrelaçadas em um gesto que denotava preocupação materna. — Querida, sabemos que essa não era a vida que você imaginava para si mesma. Entendemos o peso dessas tradições, mas, por favor, tente aceitar. Será melhor para todos nós. A vida nem sempre é como a gente quer. Minha resistência não vacilou, mas uma chama de desafio ardeu em meus olhos.
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— Eu já aceitei, mãe. Juro que não vou tentar mais nada para impedir o casamento, mas querer que eu vá para o meu abatedouro sorridente e acenando feito a miss simpatia é querer demais. — Fico feliz em saber que você ainda tem um pouco da sua garra e da rebeldia. — Mamãe deu aquele sorriso largo que sempre acalmava as pessoas. Talvez tenha sido ela que conseguiu amenizar minha vida com papai e não eu. — Você vai precisar do seu espírito para a noite de hoje. — Minha querida Catarina, por favor, prove ao menos um pedaço do seu bolo favorito. Está fresco e feito com carinho. — disse Maria. O olhar da governanta, sempre discreto, indicava saber mais do que elas já tinham me revelado. Ela havia visto muitas histórias como a minha se desenrolarem ao longo dos anos na nossa família. Respirei fundo, tentando manter a compostura diante da gentileza dela, enquanto a bandeja permanecia ali. O café da manhã podia ser feito com carinho, mas era impossível mascarar o amargor de um destino que eu não escolhi. — Ainda estou sem fome. — Respondi evitando levantar a voz. Havia prometido a papai que passaria a controlar um pouco mais o meu tom e estava empenhada nisso. Ele acabou se abrindo um pouco mais comigo e explicando sua visão para a organização. Ele tinha razão, todos nós estaríamos mais seguros se cada um dos italianos da cidade prestasse tributo a ele. Segundo a visão de papai, isso só aconteceria se ele se mostrasse o mais tradicional possível. — Tudo bem, minha filha. Viemos aqui para conversar sobre a noite de hoje. — Você sabe muito bem que eu não sou virgem, sei claramente o que acontece num quarto entre um homem e uma mulher. — Este é o nosso problema, querida. — Mamãe falou como se pudesse enxergar dentro de mim. — Você deveria ser virgem. — Mas não sou, você descobriu alguns anos atrás e não tem como remendar isso. — Remendar não tem, mas teremos de consertar essa falha. — O que você quer dizer com isso?
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Francisca se levantou e andou de um lado para o outro se preparando para o que teria que falar comigo. — Seu pai comprou aquela torre onde fica o One Atlantic Events por uma razão. — Ela fez uma pausa conferindo como eu reagiria. — Qualquer família italiana que quiser alugar aquele local de casamentos fará isso negociando com o seu pai e tudo foi reformado pensando em reviver uma antiga tradição. — Do que você está falando? — Eu perguntei preocupada. — O local agora possui um quarto privativo para o casal, uma suíte bem aconchegante e preparada para a noite de núpcias. — Espera aí, eu vou ter que passar a noite com o Pietro lá? — Isso mesmo. Qualquer casamento que queira se mostrar tradicional poderá ser realizado lá e, pela manhã, uma matriarca, dama de honra ou — ela apontou para Maria — uma governanta de confiança irá até o quarto para pegar o lençol e provar para todos que o casamento foi consumado. A revelação de minha mãe sobre os detalhes grotescos do casamento que meu pai arquitetara ecoava em meus ouvidos. O One Atlantic Events, um lugar que costumava abrigar casamentos comuns, tinha se transformado no palco ardiloso daquelas tradições arcaicas da máfia. — Mas mãe, — eu dei um salto e elevei um pouco a voz. — Você sabe que eu não sou virgem, o papai também sabe, isso é absurdo. Meus olhos se arregalaram de incredulidade, e uma indignação fervilhante cresceu dentro de mim. Não era apenas a ideia de ser forçada a participar desse ritual grotesco, mas também o fato de meu próprio pai ter tecido essa teia de humilhação e submissão. — Seu pai nunca me explica tudo, mas sendo quem é, acho que ele decidiu como queria que as coisas fossem feitas e vai deixar que vocês se virem para resolver isso. Ela manteve a calma, como se estivesse discutindo um assunto trivial, enquanto eu tentava processar o absurdo da situação.
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— Mesmo assim, ele armou tudo isso contra mim? O que ele quer com isso? — Eu prensei os meus lábios tentando conter a raiva que borbulhava dentro de mim. — Vou ter que levar uma faca e me cortar por causa de um capricho do papai? — Não, você não vai conseguir fazer isso. — Maria comentou estranhamente séria. — Eu vou me certificar de que você não vai usar nada pontiagudo. Nem mesmo lingerie com qualquer tipo de arame poderá ser usada, tudo para garantir a sua pureza. O absurdo da situação começou a me sufocar, e as palavras de Maria martelaram em minha cabeça. Eu estava sendo submetida a um espetáculo ridículo em nome de uma tradição arcaica e cruel. — Mas isso é um absurdo, isso é injusto, é... maquiavélico. — Desculpe, minha querida. — Maria continuou falando. — Mas a sua vida foi tudo, menos injusta. Pode não ter sido a que você queria, mas foi melhor do que todas as mulheres que eu vi crescerem nessa organização. Sendo franca com você, já vi garotas morrerem por não serem mais virgens. — Ela disse com o semblante carregado e os olhos tristes como se lembrasse de algo. — Pior ainda, já vi garotas sendo vendidas por não serem mais virgens, pois acreditavam que elas valiam mais como prostitutas nas mãos de desconhecidos. Eu quase quebrei minha promessa e gritei de ódio ali mesmo, mas os olhos vermelhos e marejados de Maria me fizeram retroceder. — Eu não acredito que o papai fez isso comigo. Já tem alguns anos que ele comprou aquele prédio, já tem alguns meses que a reforma aconteceu, você sabia disso tudo, mamãe? A sensação de traição pairava no ar, assim como a compreensão de que, de alguma maneira, eu estava envolta em uma teia de tradições cruéis. — Desculpe, querida, mas eu sabia. — E mesmo assim não me disse nada? — O que teria acontecido se eu tivesse te contado? Você teria tentado fugir? Teria contratado um ator para fingir ser seu noivo? Seu pai sempre te disse que você se casaria aos vinte e quatro anos. — Mas eu nunca acreditei que ele cumpriria com isso. Ele sempre foi diferente comigo, por que mudaria agora?
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— Porque para os homens do nosso mundo, nada é mais importante do que a organização. Por mais que me doa assumir isso, seu pai vai te colocar na fogueira para realizar a visão dele. — Papai vai me entregar de bandeja para Pietro, isso sim. Eu tinha que enfrentar a dura realidade de que meu próprio pai havia se virado contra mim. Aquela que costumava ser a princesinha do papai, a preferida e mimada, tinha se transformado num bode expiatório. Ele armou a pior das armadilhas para mim e eu não tinha a mínima ideia de como sairia dela. A dor de perceber que aquele homem que, por anos, fora meu porto seguro agora era o arquiteto de minha desgraça era insuportável. — Acredite, Catarina, ninguém está feliz com isso. — Maria falou com uma compaixão inesperada em seus olhos. — Nós apenas aprendemos a aceitar as escolhas que nos são impostas. — O casamento eu já aceitei, mas eu não vou aceitar ser exposta desta forma, isso tudo só para selar um acordo sujo. E depois? Bianca terá de perder a virgindade dela num quarto no meio de uma festa enquanto as pessoas esperam do lado de fora? — Eu sei que é difícil, querida, mas às vezes precisamos encontrar uma maneira de sobreviver neste mundo cruel. O fato de terem relevado minha pergunta sobre a noite de núpcias da minha irmã só confirmou que ela também passaria por aquele absurdo. O café da manhã à minha frente perdeu completamente a graça, tornando-se um amargo lembrete da farsa que se desenrolaria nas próximas horas. A tensão no ar era palpável, como se o próprio ambiente estivesse ciente da tragédia iminente. — E quanto a Pietro? Ele sabe sobre isso? — Seu pai deve ter conversado com ele. — Maria falou calmamente. — Não é do tipo do Don Maldini deixar seu futuro genro no escuro sobre algo tão importante. A menção a Pietro trouxe à tona uma mistura de emoções. A raiva queimava em meu peito, mas também havia uma pontada de curiosidade sobre como ele reagiria a tudo isso.
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Será se ele sempre soube do que estava prestes a acontecer, ou meu pai guardava esse detalhe como uma última revelação? — Confie nele, Pietro já sangrou por essa organização muitas vezes, tenha certeza de que ele sangrará por você. — Eu nem o conheço direito. — Pois vai aprender a conhecer, ele não é o soldado mais renomado atoa, ele sempre deu um jeito de sobreviver, pode ter certeza de que ele não vai falhar com você. — Maria falou prendendo meus olhos. — Se minha vida dependesse de um homem como ele, eu dormiria tranquila. A reputação dele já tinha se tornado inegável para mim, mas ainda pairava uma incerteza sobre como ele lidaria com as nuances do meu caso. Eu não podia ignorar o fato de que meu pai tinha seus próprios interesses em mente, e Pietro poderia ser apenas uma peça em seu jogo. Talvez eu tivesse errado em me manter afastada dele todo o meu noivado, eu poderia ter me preparado melhor para isso tudo se não tivessem me deixado no escuro. Naquele momento eu percebia o meu maior erro. Eu devia ter treinado mais vezes com ele, deixado que ele se aproximasse um pouco, eu tinha cavado a minha própria sepultura. Ter mentido para mim mesma que seria mais fácil enfrentar aquele casamento se mantivesse Pietro o mais longe possível, foi o maior dos meus erros. Eu estava prestes a encarar uma noite de núpcias onde teria de me fingir de virgem e mal tinha trocado palavras com o noivo. Pior ainda, eu tinha certeza de que não conseguiria me entregar a ele naquela noite. — Vou falar com Pietro, vou tentar pelo menos. — Você não vai conseguir se encontrar com ele antes da cerimônia. Tudo já foi planejado e seu dia será conosco. — Mamãe falou me fazendo cair em desânimo novamente. — Você é mais forte do que pensa, vai conseguir resolver isso de noite, mas tenha cuidado, ninguém pode ouvir sobre isso. Assenti, tentando imaginar o que poderia ser feito. A verdade era que eu estava prestes a me casar com um homem que eu mal conhecia, em um arranjo que eu nunca desejei. O medo e a incerteza estavam entrelaçados com a determinação de não me submeter cegamente ao destino forjado por outros.
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Enquanto eu me preparava para enfrentar o meu casamento, uma sensação inquietante tomou conta de mim. O tempo parecia escorrer entre os meus dedos, levando consigo qualquer esperança de que eu ainda conseguiria mandar em minha vida.
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A câmara reservada para o noivo no One Atlantic Events era um espaço meticulosamente decorado, projetado para proporcionar uma atmosfera de luxo e conforto. Localizada nos bastidores, oferecia um refúgio privado para o noivo se preparar antes da cerimônia. Mas de nada me ajudava em resolver os meus problemas. Eu me preparava para casar com uma mulher que se negou a conversar comigo todas as vezes que eu tentei. Obviamente, minha noite de núpcias seria uma merda, principalmente porque eu teria que lidar com os erros do Don. — Acho que você deveria deixar seu punhal comigo. — Riccardo falou o mais calmo possível, evitando me tirar do sério tão perto da cerimônia. Antes de responder qualquer coisa, eu me joguei na peça central de um conjunto de poltronas de couro, dispostas estrategicamente ao redor do espaço, aquele seria um local confortável para relaxar e refletir. Mas eu tinha que traçar minha estratégia sem deixar que mais ninguém percebesse. O pior de tudo seria fazer Catarina confiar em mim. — Minha vida será muito mais fácil se você a deixar comigo. — Respondi, me aconchegando no couro do sofá.
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— Infelizmente, nada será fácil para você. — Foi Mateo quem falou. — Eu não acreditei quando o Riccardo me disse que era bem provável que você tivesse trazido um punhal para o seu casamento. — Um sorriso sacana se formou no canto da boca dele. — Está com medo de Catarina? Aquilo não era nada estranho para mim. — Claro que não, eu gosto do meu punhal, só isso. Não estava com saco para explicar tudo, mas desde o dia que cometi meu primeiro assassinato, nunca mais dormi uma noite longe daquela faca. — Ele tem essa mania estranha. — Riccardo voltou a falar e fez um gesto indicando que era para eu entregar a arma. — Nunca dorme sem esse maldito punhal. A composição daquela sala era mais estranha que o meu habito de dormir com o punhal embaixo do travesseiro. Ou da cabeça quando nem travesseiro eu tinha para dormir. Um soldado e um subchefe sendo padrinhos de outro soldado, isso sim era incomum. Um cara do submundo que sempre anda armado, isso eu via todo dia. — Tudo bem. — Me dei por vencido e retirei a faca do coldre especial que mandei fazer para ela. — Mas cuide bem dela, quero ela de volta amanhã de manhã. — Qual é a desse punhal? Você nunca me falou nada sobre isso. — Mateo perguntou se sentando numa poltrona próxima a mim. — Foi com ela que matei o idiota que causou a morte da minha mãe, gosto de ter ela por perto, só isso. — Espera aí. — Exclamou se dando conta de algo. — É o mesmo punhal que você segurava quando eu te encontrei naquele beco, não é? — Sim. — Você ia me atacar com ele, lembro bem disso. — Claro, você queria me encher de porrada. Todos riram um pouco. O clima estava levemente descontraído, mas nós três sabíamos que a noite estava apenas começando e que os desafios que enfrentaríamos eram
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muito maiores do que as piadas momentâneas nos bastidores de um casamento por obrigação na máfia. — Você será revistado antes de entrar na suíte nupcial. — Mateo voltou a falar com o semblante se fechando. — Não serão só homens nossos ou dos Cannavaro, teremos muita gente do submundo aqui e papai quer conquistar todos eles. Você terá de dar um jeito em provar a virgindade de minha irmã. — Deixa comigo, nunca falhei em nenhuma missão que vocês passaram para mim, esta não será a primeira vez. — Queria que você visse a minha irmã como algo mais que uma missão. — Ela é mais que isso, pode ter certeza, mas se ela insistir em me atrapalhar, serei obrigado a tratar como tal. — Não se esqueça que ela é filha do Don. — Jamais me esquecerei disso, acredite quando digo que eu prefiro que ela seja feliz ao meu lado, mas será minha mulher e vai aprender a me honrar. Isso eu te garanto. — Falei firme e calmo. — E não se esqueça de uma coisa, a partir de hoje à noite, ela será minha mulher. Ele se levantou, pegou meu punhal que estava com Riccardo e caminhou até perto de mim. Não desviamos o olhar um do outro em nenhum momento. — Você sempre teve a minha benção. — Falou, parando ao meu lado e me cumprimentou tocando o meu ombro. — Eu sei que já tivemos nossas divergências e já lutamos lado a lado. Saiba que fui eu quem te indicou para ser o marido de Catarina. Sei que jamais irá nos desapontar. Seja bem-vindo à família, eu, o subchefe da família Maldini vou garantir pessoalmente que o seu punhal será devolvido amanhã de manhã. — Obrigado. — Nós sabemos que Catarina não é fácil, mas se tem alguém que pode domá-la, é você. — Eu sei que sim, Catarina já é minha, ela só não se deu conta disso ainda. Vou domá-la, pode ter certeza. Ninguém abalaria minha confiança e determinação.
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A conversa entre os homens de honra já tinha chegado a um ponto de aceitação mútua, mas todos sabíamos que a verdadeira batalha começaria quando eu e Catarina estivéssemos sozinhos. Era o início de uma nova fase na nossa vida, e eu sabia que minha noiva traria desafios, o que ela ainda teimava em não enxergar, era o fato de que eu sempre fui o único homem capaz de dominá-la.
Já era o momento de deixar o clima de antecipação de lado e
começar com a cerimônia enquanto esperava o momento em que minha noiva entraria pelo tapete vermelho. Minhas mãos conferiam o traje, certificando-se de que cada detalhe estivesse em perfeita ordem. O terno, impecavelmente cortado, destacava a seriedade do momento. A gravata, cuidadosamente ajustada, complementava a elegância que a ocasião exigia. Instintivamente toquei o espaço do coldre e senti falta de meu punhal, olhei para Mateo e tive certeza de que ele me devolveria no dia seguinte. Ele fez um sinal par mim e eu entendi que era hora de receber os cumprimentos pelo casamento. Saímos dos aposentos do noivo e caminhamos alguns metros até chegarmos na lateral do espaço preparado para a cerimônia de casamento.
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— Pietro, que este casamento traga prosperidade e fortaleça nossas alianças. — Don Cannavaro estendeu a mão para me cumprimentar, seus olhos transmitindo aprovação. — Obrigado. — Pietro, que você e Catarina construam uma união sólida, tão duradoura quanto nossas tradições familiares. — Esteban, o irmão de Don Cannavaro e subchefe, acompanhou o gesto com um sorriso amistoso. — Pietro, que esta aliança traga benefícios para ambas as famílias. — Dante Morelli se aproximou com um sorriso tenso e me cumprimentou. — Espero que seu casamento seja um marco de prosperidade e paz em nossos negócios. Assim que nos afastamos um pouco dele, Mateo falou comigo: — Você não tem problemas com ele? Não vi nenhum traço de tensão em você quando recebeu os cumprimentos. — Os responsáveis pela morte da minha família foram os Wolves quando decidiram invadir a cidade. — Falei francamente. — Os Morelli não têm culpa se minha família foi derrotada. Nada do que eu disse era mentira. Depois que minha família foi dizimada, Atlantic City passou anos em disputas por território. Os Wolves só foram expulsos depois que nós fizemos uma trégua entre os italianos e nos unimos contra eles. Acabou que a família Morelli conseguiu boa parte do território que tinha sido da minha, mas isso não importava, eu já estava com os Maldini e os Morelli sempre foram próximos deles, tanto que nem consideravam o Sr. Dante como um Don. Circulei mais um pouco entre os convidados cumprimentando o máximo possível de pessoas e fazendo a minha parte. O momento já estava próximo e, antes, de me encaminhar para o altar e esperar pela noiva, conversei com a cerimonialista. — Está tudo ótimo, você fez um bom trabalho. — Obrigada. — disse a mulher meticulosa de cabelos escuros e olhar atento. — Não foi fácil segurar a pressão e fazer tudo tão rápido quanto queriam. Mas o que não fazemos por duas das mais renomadas
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famílias da cidade. Este é um momento importante para a carreira de qualquer um. — Você se saiu bem. Ela parecia mais nervosa do que eu. O que me fez pensar em Catarina. Como será que estava a minha tão querida, calma e simpática noiva? Trocamos mais algumas palavras para finalizar tudo e a cerimonialista me guiou até o espaço do terraço que seria dedicado à celebração em si. Ela tinha criado um altar à altura da ocasião. O caminho até o altar era adornado com uma passarela de pétalas de rosas brancas, criando uma atmosfera romântica e celestial. Ao redor, arranjos florais imponentes em tons suaves de branco e creme enchiam o espaço. O altar em si era um emaranhado de design floral, com uma mistura harmoniosa de rosas, lírios e orquídeas. Um arco majestoso, entrelaçado com folhagens verdes e flores, formava o ponto central, criando um cenário de filme para a união que estava prestes a acontecer. Aquilo deve ter sido pensado pela Dona Francisca, o local combinava muito mais com a personalidade dela do que a de Catarina. Cada detalhe, desde os arranjos de flores até as velas estrategicamente posicionadas, refletia não apenas a expertise das duas, mas também o cuidado e a dedicação em transformar aquele espaço em um ambiente que marcaria o início de uma nova era em Atlantic City. Eu daria o primeiro passo, mas muitas outras engrenagens se moveriam depois da união entre mim e Catarina.
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Após a manhã tumultuada e cheia de revelações, eu precisava mesmo de um dia relaxante, infelizmente era meu dia de noiva, mas serviu para me proporcionar algum alívio. Eu já tinha aceitado o fato de me casar, isso contribuiu bastante para que eu não surtasse de vez. Acho que ninguém estava acreditando plenamente em mim, pois a casa da piscina foi transformada em um spa, o mais provável é que estavam com medo de que eu tentasse fugir se saísse de perto de tantos soldados. Até que fizeram um bom serviço, deixaram o local repleto de especialistas em beleza e bem-estar dedicados a garantir que a futura noiva estivesse impecável e serena para o grande momento. Não vou mentir, por vezes eu me senti como um animal premiado sendo preparado para um leilão. Os momentos iniciais foram dedicados a massagens revigorantes, onde as mãos habilidosas das terapeutas trabalharam para liberar as tensões acumuladas em meu corpo. Me peguei pensando se Pietro teve algo a ver com o fato de que não tinha nenhum homem dentro daquela casa. Ao deixar tudo de lado, permite-me afundar em uma serenidade temporária. O aroma calmante de óleos essenciais preenchia o ambiente, criando uma atmosfera de tranquilidade.
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Em seguida, uma sessão no spa trouxe uma sensação de renovação. Máscaras faciais, tratamentos capilares e outros cuidados de beleza foram aplicados com destreza, realçando a minha beleza natural. Enquanto as especialistas trabalhavam, eu me lembrei do tempo em que papai me permitia desfrutar da sensação de ser mimada. Aquela foi uma pausa bem-vinda antes do compromisso final. O dia de noiva continuou com uma pausa para um almoço leve, cuidadosamente preparado para fornecer energia sem sobrecarregar o estômago. Aproveitei para compartilhar risos e histórias com minhas madrinhas, April e Bianca, eu não fazia ideia de quando conseguiria um momento de paz a sós com elas novamente. À tarde, eu já estava no terraço privativo, o cenário escolhido para a cerimônia. O salão estava decorado com elegância, destacando a vista panorâmica da cidade que se estendia à sua frente. Olhei para Bianca mais uma vez, aquele local deveria parecer um sonho para ela, enquanto que para mim, era um cenário construído sobre a realidade sombria de um casamento forçado. Meu coração martelou no peito quando entrei na câmara privativa da noiva, sabendo que as sombras do futuro me aguardavam pacientemente. A suíte nupcial foi pensada para ser um local de tranquilidade, mas eu estava mais tensa do que nunca. Eu era o centro das atenções numa cerimônia que nunca quis participar. — Você está incrível, Catarina. — Bianca me elogiou enquanto ajustava as flores no meu cabelo. — O Pietro vai ter uma surpresa. April observava com um sorriso. Foi por causa dela que eu não falei nada demais. Tinha que continuar fingindo que éramos somente uma família extremamente tradicional e não os chefes do submundo. — Eu não sei como você está tão calma, Cat. — April comentou, observando-me atentamente. — Eu estaria surtando se estivesse no seu lugar. Respirei fundo, tentando dissipar a ansiedade que se acumulava dentro de mim.
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— A calma é apenas a superfície, April. — Dei de ombros, tentando mascarar a inquietação. — Este é o preço que pago por seguir as regras da nossa família. Bianca sorriu, mas seus olhos revelavam preocupação. Ela sempre fora mais próxima da visão tradicional da família, aceitando os compromissos sem questionar. Eu, por outro lado, sempre busquei desafiar as normas, mas este era um desafio que eu não consegui vencer. Enquanto April e Bianca continuavam a me preparar, minha mente vagava entre a expectativa do casamento e o que aconteceria depois. A suíte nupcial era meu último vestígio de santuário, assim que eu saísse dali, nunca mais seria vista como Catarina, seria sempre a mulher de Pietro. Finalmente, um dos piores momentos da noite chegou. A hora de me vestir. O vestido, uma obra-prima de requinte e sofisticação, envolvia-me com sua suavidade e apresentava uma paleta de tons pérola que conferia um toque etéreo à minha figura. Mamãe participou do design dele, mas a visão transferida para os tecidos era a de papai com a ausência proposital de qualquer arame em sua estrutura. Ficou perfeitamente estético e prático para a consagração da nojenta tradição opressiva que colocariam em prática. Cada camada de tecido fluía graciosamente, criando uma silhueta que combinava harmoniosamente com a minha cintura fina e delicada. O vestido não era apenas uma peça de vestuário. Era o símbolo de minha derrota em desafiar a família. Pensar naquilo começou a marejar meus olhos, mas eu resisti. Não iria mais derramar nenhuma lágrima. — Você está deslumbrante, Cat. — April admirou, seus olhos refletindo uma mistura de orgulho e tristeza. Eu me olhei no espelho, vendo uma versão de mim mesma que estava prestes a trilhar um caminho sem retorno. A maquiagem destacava meus olhos, mas não podia ocultar a determinação queimando por trás deles. — Está na hora. — Bianca sussurrou, antecipando o inevitável.
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Juntas, caminhamos em direção à porta, prontas para enfrentar o destino que havia sido traçado para mim. Enquanto seguíamos pelo corredor, o peso do vestido era um lembrete constante do compromisso que estava prestes a selar. Atrás da porta, o cenário do casamento aguardava, e eu estava prestes a dar um passo em direção ao homem que papai escolheu para mim. Mas alguns insistiriam que era meu destino.
Ao adentrar pela porta, senti uma mescla de emoções que pareciam
colidir dentro de mim, fazendo meu coração martelar e a tensão era como um fio que poderia cortar o meu rosto. O vestido fluido acompanhava meus passos enquanto eu seguia em direção ao tapete vermelho estendido até o altar. Os olhares dos presentes, conhecidos e desconhecidos, recaíam sobre mim, criando um campo de expectativa e curiosidade que podia ser sentido no ar. O contraste entre a beleza da cerimônia e a inquietação em meu coração era palpável. A música, os aplausos discretos, a atmosfera festiva, tudo isso parecia criar um cenário de sonho, enquanto a realidade de minha situação era um verdadeiro pesadelo. Cada passo em direção ao altar era um compromisso selado pela tradição e pela intrincada teia de arranjos familiares que papai estava
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traçando. Ao caminhar de braços dados com meu pai, as lembranças de uma infância mimada e protegida surgiram como fantasmas do passado. Seus passos firmes e o peso de seu braço sobre o meu transmitiam uma segurança que, naquele momento, parecia mais uma prisão do que um gesto de afeto. Enquanto a música suave pairava no ar, o aperto de meu pai em meu braço transmitia uma mensagem silenciosa de controle e conformidade. A relação que sempre fora marcada por carinho e indulgência agora revelava sua face mais sombria, à medida que me conduzia em direção a um destino que eu não havia escolhido. — Sua mãe também não me amava quando caminhou por um tapete vermelho até ser entregue a mim. — Ele falou calmamente, sentindo minha hesitação. — Nem todo casamento nasce do amor, alguns nascem do dever e da honra. E tenha certeza, nenhum de meus subordinados possuem mais senso de dever ou honra do que o Pietro. Os olhares curiosos dos convidados pareciam pesar sobre mim, enquanto tentava processar as palavras dele, palavras que insistiam em desafiar minha relutância. — Você me entregou a um soldado que eu nunca gostei. — Murmurei entredentes, desafiando-o. — Eu te entreguei meu melhor e mais honrado soldado. Conquiste-o e ninguém ousará te contrariar novamente. Agora sorria e olhe para todos ao seu redor. Graças a você e sua irmã, vamos unir todos os italianos de Atlantic City. O tapete vermelho se estendia como uma trama de destinos entrelaçados, enquanto eu me esforçava para sorrir, meu coração pesado com a carga imposta por tradições e lealdades familiares. A multidão, ainda observando com olhos curiosos, parecia testemunhar não apenas um casamento, mas a rendição de uma alma que ansiava por liberdade. No meio dessa dualidade, eu tentava encontrar um equilíbrio entre a aparência impecável da noiva prestes a unir-se ao noivo no altar e a rebelião silenciosa que ecoava em meu ser.
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Faltavam poucos passos para chegar ao altar e eu já podia vê-lo diante de mim. Quase podia sentir seu perfume e sua presença já era incontestável. Pietro se apresentava diante de mim, um quadro de masculinidade e elegância em seu terno italiano feito sob medida, que ressaltava cada linha atlética de seu corpo. Os ombros largos e postura imponente emanavam confiança, enquanto os detalhes do traje realçavam a perfeição do corte. Cada movimento dele era calculado, como se lutasse cuidadosamente refletindo a destreza que eu conhecia tão bem. A dualidade entre o soldado comprometido e o noivo elegante era evidente, como se ele fosse uma encarnação de dois mundos distintos. O homem que havia derramado sangue pela família Maldini estava agora diante de mim, pronto para selar um destino que, de alguma forma, já parecia traçado. A barba bem cuidada acrescentava uma pitada de rudeza à sua aparência, enquanto seus lábios, firmemente fechados, sugeriam um autocontrole firme. Eu podia sentir a energia pulsante ao seu redor, uma aura que sussurrava histórias de desafios vencidos e lealdades inabaláveis. Mas eu não podia sentir nenhum tipo de atração por ele. Por mais bonito e sexy que ele estivesse naquele terno, sentir algo seria trair tudo que eu tinha feito anteriormente. Enquanto meu coração resistia à ideia desse casamento forçado, não podia negar a beleza própria de Pietro. A dualidade da situação se refletia em mim. Uma mulher desejando se libertar das amarras do destino, mas também incapaz de ignorar a fascinação que a figura imponente dele gerava. Seria ele capaz de lutar por mim, assim como lutara pela família? Essa era a pergunta que pairava no ar, uma incerteza que apenas o tempo poderia responder. Por enquanto, Pietro era uma presença imponente, um enigma que eu estava prestes a decifrar, mesmo que contra a vontade.
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Ao nos aproximarmos, meu pai parou ao meu lado dele que se adiantou para nos cumprimentar. — Obrigado, Don Maldini, por me entregar um tesouro tão valioso. Prometo honrar e proteger Catarina com toda a minha vida. — Pietro mantinha a expressão impassível, mas pude perceber uma centelha de reconhecimento em seus olhos ao encontrar os meus. — Estou ciente da responsabilidade que carrego e farei o que estiver ao meu alcance para fazê- la feliz e segura. Uma reverência formal foi trocada entre eles, um gesto que denotava respeito e entendimento da tradição que envolvia a entrega da noiva. O toque de meu pai, ao me entregar a Pietro, foi suave e ao mesmo tempo carregado de significado. Seu gesto transmitia confiança na decisão que havia tomado, mas também carregava uma pontada de melancolia. Era como se ele estivesse ciente do fardo que estava colocando sobre meus ombros. Ao sentir a mão firme de Pietro encontrando a minha, uma corrente elétrica pareceu percorrer meu corpo. O toque dele, por mais sutil que fosse, deixou-me intrigada. Era firme, opressivo e dominador. Tive a sensação de que ele estava ciente de que eu já tinha decidido não fugir das minhas responsabilidades, mas de alguma forma, buscava garantir por meio daquele toque que eu não conseguiria fugir mesmo se tentasse. Enquanto meu pai se retirava discretamente, Pietro permanecia ao meu lado, seu olhar fixo no meu rosto. — Independentemente de como chegamos a este momento, prometo fazer o meu melhor para enfrentar isso juntos, e, mesmo que a estrada pareça difícil, estou aqui para você. — Pietro sussurrou suavemente em meu ouvido. — Conte comigo, sempre. Uma paleta de emoções se desenhou em seus olhos, mas sua expressão permaneceu controlada. Era como se ele entendesse o peso do momento, mas estivesse determinado a enfrentá-lo com dignidade. A música suave do quarteto de cordas pairava no ar, proporcionando uma trilha sonora delicada para esse instante crucial. A cada passo em
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direção ao altar, as vozes dos convidados se tornavam um sussurro distante, mas os olhares curiosos e atentos sobre mim eram palpáveis. Enquanto me aproximava do altar ao lado de Pietro, a luta entre os sentimentos opostos dentro de mim só aumentava. Uma pequena parte de mim ainda queria se livrar das amarras impostas pelas tradições, mas outra parte estava intrigada pela presença do homem ao meu lado. Não haveria mais como desfazer isso. Pietro, conhecido como o destemido soldado da família Maldini, agora estava ali para cumprir um papel crucial em minha vida. Enquanto a cerimônia se desenrolava, a incerteza e a curiosidade se entrelaçavam, criando um cenário imprevisível para o que estava por vir.
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Permanecemos lado a lado diante do altar, eu à direita de Catarina, enquanto o padre iniciava a cerimônia. Eu podia sentir a tensão que emanava dela, uma mistura de expectativa e resistência. — Queridos aqui presentes, hoje testemunhamos a união sagrada entre Pietro Rossi e Catarina Maldini. — O padre começou a proferir suas palavras ensaiadas, mas meu olhar permanecia fixo em minha noiva. — Neste momento solene, lembramo-nos do compromisso profundo que o matrimônio representa, não apenas aos olhos da sociedade, mas também perante Deus. Os seus olhos, inicialmente cheios de conflitos e hesitação, encontraram os meus por um breve momento. Havia algo intenso e indescritível naquele contato visual, uma troca inesperada de emoções que escapava das formalidades da cerimônia. — O casamento é uma jornada, uma promessa de lealdade e amor incondicional. — Enquanto o padre continuava suas palavras, eu me perguntava se Catarina conseguiria superar sua hesitação. — Pietro e Catarina, ao se unirem diante de Deus e de todos aqui presentes, estão prestes a embarcar nessa jornada juntos. Eu não conseguia desviar os olhos de minha noiva. E o rosto dela, normalmente cheio de desafio, agora carregava uma intensidade diferente.
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Era como se, ao encarar o compromisso diante do altar, ela estivesse fazendo as pazes consigo mesma, aceitando o destino imposto pela família. — Que este casamento seja um símbolo de respeito mútuo, compreensão e apoio. Que a chama do amor entre vocês arda eternamente, iluminando os caminhos nos momentos de alegria e confortando nos momentos de desafio. Eu tinha conversado com a cerimonialista e sabia que o momento tinha chegado: os votos e a troca de alianças. A meu ver, aquela seria a última oportunidade de Catarina aprontar alguma coisa. Assim que o Padre indicou, nós nos viramos um para o outro e segurei firme a mão de minha noiva. Ela não hesitou, senti seus dedos apertando os meus quase como um desafio. Ela não tentou exagerar, mas não se assustou com o meu jeito. Catarina me fitou intensamente, os olhos carregados de determinação. Não havia lágrimas ali, nem qualquer outra indicação de arrependimento. Ela tinha aceitado o seu destino e eu tive certeza de que aquela mulher seria minha por completo. Ainda que não fosse naquela noite, Catarina Maldini se entregaria a mim, mais cedo ou mais tarde. — Catarina, ao te receber como minha esposa, prometo honrar e proteger. — Fui firme e proclamei meus votos sinceramente. — Prometo ser o porto seguro nos momentos de tempestade, o apoio nos desafios e o farol que iluminará nosso caminho. Aceito você com todo o seu ser, com suas cicatrizes e anseios, e prometo amá-la incondicionalmente, hoje e sempre. — Pietro, o que te ofereço é minha lealdade, minha força e a verdade crua da minha presença ao seu lado. Aceito essa união porque reconheço a força que você acrescenta em nossa família e o papel que desempenhamos nesse jogo. — Enquanto um burburinho se espalhava pelo salão, eu me enchia de orgulho. — Serei sua parceira nos negócios, nos desafios e, se o destino permitir, nas alegrias. Não sou ingênua o suficiente para prometer amor, mas sou corajosa o bastante para enfrentar o que vier. Eu nunca pedi que Catarina me amasse, o que eu exigia era respeito e honra. Aqueles olhos que não se desgrudavam dos meus eram valentes, ferozes e um pouco desafiadores, mas não tinham nada de falsos.
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— Ao trocarem essas alianças, saibam que estão selando um pacto sagrado. — O Padre voltou a celebrar. — Que a aliança que hoje firmam seja forte o suficiente para suportar as tempestades da vida e gentil o bastante para permitir o crescimento e a transformação. Nós nos encaramos por um breve instante antes de deslizarmos as alianças um nos dedos do outro. — Com esta aliança, eu selo nossa união. Que ela seja mais forte que o aço e tão duradoura quanto a rocha. — Declarei esta parte em voz alta para que todos pudessem ouvir e assim que coloquei a joia no dedo de Catarina, me aproximei de seu ouvido e falei para que só ela ouvisse. — Enquanto eu estiver vivo, esta aliança jamais sairá do seu dedo e você jamais estará desprotegida ou desamparada. As feições dela se intensificaram por um momento, como se minhas palavras tivessem tocado algo mais profundo dentro dela. — Que este círculo de metal represente a integridade e a força que trazemos para este casamento. — Ela falou sem parar de me fitar. — Aceito você como meu marido, pronta para enfrentar o que quer que venha. — Que assim seja. — O padre falou. — Eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva. Catarina soltou a minha mão e fez um pequeno movimento como se fosse se virar para descer do altar, mas eu não deixei. Rápido, mas sem abusar da minha força, eu a segurei pelo pulso e a puxei para perto de mim. Nossos olhos se cruzaram mais uma vez e senti o pulso dela acelerar sob meus dedos enquanto eu admirava seus lábios. Eu a puxei para mim e quando nossos corpos se chocaram, ela soltou um pequeno gemido de susto. Pode ser que nenhum outro homem tivesse coragem de desafiá-la, mas ela não faria aquilo comigo na frente de tanta gente da organização. Continuei segurando um de seus pulsos e passei a mão em sua cintura. Pude sentir o coração dela se acelerar contra o meu peito e prensei meus lábios aos dela. O começo foi mecânico, mas em poucos instantes ela entreabriu os lábios e eu invadi sua boca com minha língua. O beijo se intensificou, ainda que ela não fechasse os olhos e fingisse não desejar aquele beijo tanto
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quanto eu, nossas línguas se entrelaçaram de maneira intensa e mergulhamos um no outro. A multidão ao nosso redor aplaudia e celebrava o momento, mas nossa conexão naquele instante foi além das formalidades do casamento arranjado. Havia uma tensão palpável entre nós, uma faísca de algo que acabaria ultrapassando as aparências. Assim, de mãos dadas e com um beijo que simbolizava uma união peculiar, descemos do altar lado a lado, enfrentando o tapete vermelho que nos conduzia à próxima etapa da festa e a nossas vidas como marido e mulher na família Maldini.
Estávamos sentados na nossa mesa aproveitando a festa na medida
do possível quando Don Paolo Maldini chamou a atenção de todos. — A família Maldini não poderia ter um dia mais feliz. Hoje, após a união de Pietro e Catarina, temos a honra de anunciar o noivado entre minha filha mais nova, Bianca Maldini e o nosso maior aliando, o Don Cannavaro. — Ele bradou, e os convidados responderam com entusiasmo. — Que esta aliança fortaleça nossos laços e nos conduza a um futuro próspero. Catarina bufou diante de mim e eu busquei por sua mão, ela me encarou sem entender o que estava acontecendo. — Não perca a cabeça e não faça um escândalo com isso.
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— Mal nos casamos — ela afastou a mão da minha — e você já vai tomar o partido de papai em vez do meu? — Eu não estou defendendo o seu pai — falei baixo para que mais ninguém ouvisse. — Estou dizendo para não fazer um escândalo. — Não posso aceitar isso. Eu fui descartada somente para que ele firmasse uma aliança com os Cannavaro, não esperou nem o meu casamento acabar e foi logo falar de Bianca, a princesinha obediente. — E por acaso você preferia estar casada com o Don Giovanni? Seus olhos se arregalaram surpresos com a minha pergunta. — Não. — Ela sacudiu a cabeça com veemência. — Mas é claro que não. — Então fique tranquila e deixe seu pai ter o momento dele. Ela cruzou os braços, prensou os lábios e depois soltou todo o ar dos pulmões. Seu rosto transbordava o descontentamento mesclado com resignação. — Pietro, isso não está certo — ela sussurrou, evitando ser ouvida pelos convidados próximos. — Eu sei que não está certo, mas agora não é o momento de confrontar seu pai. Tem anos que ele vem arquitetando isso, apenas aceite com dignidade. Ela lançou um olhar frio na direção do pai, que celebrava a aliança com os Cannavaro como se estivesse negociando uma grande vitória. — Aceitar com dignidade? Você quer que eu finja que isso não me afeta? Que eu seja a boa filha obediente? Fiquei calado por um tempo procurando pelas palavras certas. Don Maldini não se importava em carregar quem quer que fosse para o meio dos seus planos. Tudo que importava a ele era que as coisas dessem certo. — Não estou dizendo para que finja que não se importa. Estou falando para não lidar com isso agora. Hoje é o nosso casamento, você não precisará mais se preocupar com ele, vamos nos preocupar em cuidar dos nossos planos. Ela olhou para mim, seus olhos transmitindo uma mistura complexa de raiva, tristeza e indignação.
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— Sabe, você parece muito bem com tudo isso. Por acaso sabia de todos estes planos há muito tempo? — Não. Eu fui arrastado para tudo isso assim como você. Alguns soldados gostam de falar sobre os planos dos superiores, mas nunca me importei com isso. Fiquei sabendo da intenção dele de casar Bianca com Giovanni há pouco tempo. Os músicos começaram a tocar uma melodia suave, anunciando que a próxima parte da festa estava prestes a começar. Olhei nos olhos de Catarina, buscando um entendimento entre nós. — Eu não brinco sobre casamentos, agora é até que a morte nos separe. — Falei abertamente. — Vamos encarar isso juntos, Catarina. Como marido e mulher. Ela manteve o olhar por um momento antes de assentir levemente. Caminhamos de volta para o centro da festa, onde outros brindes e discursos aguardavam. Ela estava aprendendo, ainda que a contragosto, que todos abaixo do Don são peças a sua disposição, cabia a nós tirar o melhor proveito possível do que a vida nos proporcionava.
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A noite se desenrolava diante de mim, repleta de atividades que, de certa forma, me faziam esquecer as sombras que pairavam sobre o meu casamento. Aceitar o conselho de Pietro, por mais relutante que eu fosse, parecia ser a escolha mais sensata naquele momento. O salão estava imerso em risos e conversas animadas, e eu me encontrava ao lado de Pietro, cumprindo o papel de esposa diante dos convidados. Ouvi inúmeros votos de felicidade e discursos que celebravam a nossa união, mesmo que nos bastidores a realidade fosse muito mais complexa. O ritual do arremesso do buquê chegou, e as mulheres se reuniram em uma animada expectativa. Eu me vi no centro de um círculo de expectativas, segurando o buquê que representava mais do que a simples tradição. Era como se estivesse segurando as esperanças e desejos de todas ao meu redor. Lancei o buquê com um gesto aparentemente despreocupado, mas a verdade era que eu me perguntava se aquelas mulheres realmente desejavam a vida que eu estava começando a viver. A ideia de que algumas delas poderiam ser felizes mesmo enfrentando o mesmo destino que o meu, sendo entregues como peças de um
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jogo de poder, me intrigava profundamente. Os risos e gritos animados ecoaram quando uma das convidadas agarrou o buquê no ar. Seu rosto se iluminou de alegria, enquanto as outras expressavam um misto de decepção e diversão. Eu sorri, tentando me conectar com a alegria superficial do momento, mas era difícil ignorar a realidade do que ainda estava por vir. Pietro se aproximou, colocando um braço ao redor da minha cintura de forma possessiva, como se quisesse reforçar diante dos outros que eu era sua agora. Aceitei a presença dele ao meu lado, me culpando profundamente. O toque dele não me incomodava mais e o que me tirava o sossego era o fato de não o odiar mais. O que viria depois? Compreendê-lo eu já conseguia. Seria capaz de me entregar a ele? Sentir algo mais do que a crescente tensão sexual? Um arrepio percorreu o meu corpo quando eu, inconscientemente, pensei se seria capaz de amar um homem como ele. Enquanto a festa continuava, eu me via envolvida em uma dança de interações sociais, sorrindo para fotos e trocando palavras educadas com os convidados. O peso da noite pairava sobre mim, mas eu estava determinada a não permitir que isso me sufocasse completamente. Pietro, por sua vez, desempenhava o papel de marido com uma naturalidade que eu não imaginava que ele teria. Sempre o vi como um soldado qualquer, frio, duro, fechado e sem qualquer carisma, mas já tinha sido elevado a caporegime e a missão dele não era fácil. O que me surpreendia era como ele conseguia lidar com tudo com tanta serenidade. Eu não sei se outro homem teria conseguido me fazer ficar quieta naquele altar. O pior de tudo era isso. Em nenhum momento daquela festa eu pensei realmente em fugir. Algo em Pietro me fazia ficar próxima a ele e me mantinha com a cabeça no lugar Eu observei aquele homem que, mesmo sendo meu marido, ainda permanecia um mistério em muitos aspectos. Uma figura imponente que, de alguma forma, parecia pronta para lutar não apenas pela família Maldini, mas também por mim.
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Eu havia me tornado uma peça importante nesse jogo, ainda que me sentisse uma peça sacrificada para o verdadeiro movimento que meu pai tanto desejava. Minha única escolha foi aprender a dançar ao ritmo das sombras que agora nos cercavam.
Enquanto a festa se desenrolava lá fora, eu estava prestes a encarar o
momento derradeiro daquela cerimônia cruel. A antessala da noiva era um ambiente silencioso, carregado de uma tensão palpável. As mulheres ao meu redor, cada uma representando um vínculo diferente com o mundo que eu estava prestes a entrar, formavam um círculo de cobranças. Minha mãe, Maria Grazia, a governanta, Alessandra Cannavaro, prima de Giovanni Cannavaro e uma mulher dos Morelli, cujo nome eu mal conseguia lembrar, estavam ali como testemunhas do próximo capítulo da minha vida. O vestido de noiva, a penúltima peça que simbolizava tradição e compromisso, agora precisava ser retirado. Lentamente, com a ajuda das outras mulheres, fui despojando-me daquela capa de formalidade e tradição. Cada camada retirada parecia aumentar ainda mais a tensão que havia acumulado.
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Enquanto as mãos habilidosas trabalhavam nos detalhes intricados do vestido, uma mistura de emoções borbulhava dentro de mim. Havia a sensação de alívio ao me livrar daquele peso literal, mas também pairava a consciência aguda de que, em breve, eu estaria mergulhando de cabeça em um mundo que, até então, apenas espiava de longe. Quando finalmente o vestido deslizou por minhas pernas e ficou cuidadosamente dobrado em um canto da sala, pude me olhar no espelho e vislumbrar a lingerie branca que havia sido preparada para minha noite de núpcias. Sem arames, sem qualquer elemento que pudesse ser usado para um corte. O que não fosse costurado, era feito de silicone, adaptando-se suavemente ao meu corpo. Aquele era o ato final da armadilha que papai pregou em mim e no meu marido. Meu reflexo revelou a imagem de uma mulher linda e preparada para uma noite que ela nunca desejou. Eu não me entregaria a Pietro e, por mais macabro que fosse, tive medo ao imaginar se ele tentaria algo a força. — Preciso que me dê os seus brincos. — Com os olhos vermelhos de lágrimas, Maria estendeu uma mão diante de mim. Entreguei sem reclamar, a fase de brigar, gritar e resmungar já tinha passado. Minha mãe caminhou silenciosa até mim e, chorando, depositou um beijo em minha testa. Lá estava eu, vestida apenas com aquela lingerie que também foi imposta a mim. Meus olhos encontraram os olhares das outras mulheres, cada uma delas refletindo uma mistura de curiosidade, compreensão e, até mesmo, cobrança. Um breve instante de contemplação se desenrolou, como se o tempo tivesse parado. Era a última vez que eu me veria daquela maneira, uma mulher moderna obrigada a ser uma noiva tradicional. Com um suspiro contido, me virei e vesti um roupão enquanto caminhava até a porta que ligava ao corredor que ia para a suíte nupcial. Parei novamente e me senti como se estivesse num limiar entre o passado e o futuro. Apenas um corredor me separava do destino que acabei aceitando e dali em diante as sombras da máfia envolveriam cada passo que
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eu desse, moldando meu futuro de maneiras que eu ainda não conseguia compreender por completo.
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Ao atravessar o corredor que separava a antessala da suíte nupcial, uma sensação estranha se apossou de mim. Era como se cada passo fosse um mergulho mais profundo em um oceano desconhecido, onde as águas escuras e misteriosas escondiam segredos que eu mal podia vislumbrar. A suíte se revelou diante de mim, imponente e repleta de luxo, mas cada detalhe gritava a tradição e a formalidade que eu estava prestes a abraçar. As cortinas pesadas, presas por cordas, adornavam as janelas, filtrando a luz de maneira a criar um ambiente íntimo, quase sagrado. O aroma suave das velas permeava o ar, evocando uma atmosfera que se esperava ser romântica e apaixonada. Meus olhos percorreram o quarto, buscando por qualquer sinal do homem com quem eu havia me casado há tão pouco tempo. A cama imponente no centro da suíte parecia esperar por nossa presença, um símbolo do compromisso que agora carregávamos. Enquanto eu ainda estava de pé ao lado da cama, a porta do lado contrário abriu, revelando Pietro em toda a sua imponência. Vê-lo daquela forma, vestindo apenas uma cueca boxer e uma camiseta de algodão que delineava cada contorno de seu corpo, fez meu
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coração bater um pouco mais rápido. Seus músculos esculpidos, agora evidentes, conferiam uma presença dominante ao ambiente. Era como se cada centímetro daquele corpo emanasse uma força bruta, uma masculinidade que, mesmo involuntariamente, despertava uma mistura de sentimentos em mim. Ele fechou a porta atrás de si e também ficou de pé, somente a cama nos separando. Enquanto eu o observava, uma tensão peculiar se instalou no ar. Era a primeira vez que nos encontrávamos em um espaço tão íntimo, sem as formalidades do casamento ou as exigências da máfia. A suíte nupcial, com sua atmosfera carregada, tornou-se um cenário onde eu não sabia mais o que fazer. Meus olhos não podiam evitar percorrer cada detalhe do corpo de Pietro. A maneira como a camiseta se ajustava aos músculos de seu peito provocava uma resposta instintiva, um calor que se espalhava lentamente por meu corpo. No entanto, eu não podia aceitar aquilo, desejá-lo, ainda que somente como atração física, seria trair tudo pelo que lutei e aceitar que meu pai controlasse até isso. Aquele homem, que agora estava diante de mim em toda a sua forma, carregava consigo uma aura de mistério e complexidade. Eu já sabia que ele era mais do que um caporegime que obedeceria cegamente ao meu pai. Pietro era um homem com cicatrizes, experiências e uma história que se entrelaçava com a obscura teia do submundo ao qual pertencíamos. O silêncio da suíte nupcial parecia ecoar com a expectativa do que estava por vir. — Você não precisa usar um roupão esta noite. — Ele falou com a voz rouca me fazendo prender a respiração. — Eu não vou me entregar a você. — Não foi isso que eu quis dizer. Achei que já tivesse entendido que você pode confiar em mim. — Que diferença faz se eu estiver de roupão ou de lingerie?
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— Eu não quero que você me olhe com medo. Sou seu marido e jamais levantarei a mão contra você. — Eu prefiro ficar assim. — Você já é minha, Catarina. — Ele falou dando a volta na cama. — Desde que aceitou o meu anel de noivado, você já é minha, só não aceitou ainda, mas já é. Eu engoli em seco, a presença dele tão perto de mim estava mexendo comigo. — O que você acha que vai conseguir com isso? — Eu quero que você me honre e respeite e quero que nunca mais olhe para mim como se tivesse medo do que eu vou fazer com você. Você ainda vai se entregar a mim, Catarina, e quando fizer isso será com os olhos cheios de tesão. — Ele deu mais um passo deixando a distância entre nós o mínimo possível. — Você ainda vai rebolar no meu colo e gemer o meu nome enquanto goza, mas hoje à noite, eu só quero garantir a nossa sobrevivência. Como se não pudesse me mover, eu assisti as mãos dele chegando até as faixas do kimono em minha cintura e desatando o nó. Depois ele deslizou o roupão pelo meu corpo e o deixou cair no chão. Eu deveria ter socado ele, mas não fiz nada. Pietro segurou minha mão e me conduziu para a cama. Eu me deitei com o coração martelando no peito e escolhendo a hora certa que iria mandá-lo parar. Era como se a presença imponente dele me impedisse de agir como eu teria agido tempos atrás. Eu pensava em gritar, mas não tinha vontade de fazer isso de verdade. Quando dei por mim, estava deitada na cama, com as pernas entreabertas e Pietro ajoelhado quase no meio delas. Eu tremi levemente quando ele tocou minha coxa, mas foi estranho. Ele olhava para a cama, para os lados e para a minha coxa, mas em nenhum momento ele olhou a minha virilha. Eu não tinha certeza do que ele queria fazer comigo, mas me sentia estranhamente vulnerável.
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Não sabia o que era pior, sentir uma pontada de desejo de não o impedir ou pensar que isso nem fosse preciso pois ele não parecia querer avançar sobre mim. — O que você está fazendo? — Perguntei quando ele tocou minhas duas coxas ao mesmo tempo. — Acha que pode vir aqui e me pegar assim como se fosse um presente? Eu posso ser a filha do Don, mas tenho minhas vontades, eu não vou dormir com você. Por mais que meu corpo estivesse me traindo e começando a responder àquele toque, minha boca foi mais rápida e deixou todas aquelas palavras escaparem. Ele soltou as minhas coxas, mas não saiu de perto de mim. — Você não é mais a filha do Don, — ele disse, levando uma mão até a boca e a mordendo com tanta força que começou a sangrar, — é minha mulher e nunca foi um presente. — Completou, levando a mão sangrando até perto da minha virilha e deixando escorrer pela cama. — Você é a porra de um problema e eu sou a solução. Pietro permaneceu lá, encarando-me com olhos penetrantes que não pareciam despir minha roupa, mas qualquer resquício de resistência que eu pudesse ter. Era como se ele visse através das camadas que eu construí ao longo dos anos, expondo a vulnerabilidade que eu me esforçava tanto para esconder. — Seu pai é um sacana, ele te mimou e deixou fazer tudo o que queria. — A maneira como ele falou, com uma calma controlada, só aumentava a tensão no ar. — Agora que ele precisa se provar como tradicionalista, eu te aceitei e vou fazer com que saia daqui como se tivesse casado virgem. — E o que espera em troca disso? — Minha voz saiu falhando. — Como já te disse antes, quero que me honre e respeite. Eu já sentia um pouco do sangue escorrer por debaixo da minha perna. — Já é o suficiente. Eu não sangrei tanto assim.— Minha voz soou mais fraca do que pretendia, enquanto a realidade do que acabara de acontecer se instalava.
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Sem dizer nada, ele recolheu a mão, pegou um travesseiro e um edredom e os jogou no chão antes de ir ao banheiro se lavar. A sala estava agora mergulhada em um silêncio pesado, que pairava entre nós como um espectro. Eu estava deitada na cama, sentindo a frieza das lágrimas que teimaram em escorrer pelo meu rosto. Eu me sentia culpada, estava julgando Pietro erroneamente, ele nunca foi o meu problema, eu fui o problema dele. A garota mimada que não servia para alianças e atrapalhou as intenções do pai. Pietro voltou, me ignorou e se deitou no chão, afastado de mim, como se a distância física fosse um reflexo da barreira que existia entre nós. Sua respiração era audível, mas não havia palavras entre nós. Talvez não houvesse palavras capazes de traduzir a complexidade do que acabara de acontecer. Ele não subiu de vida se aproveitando do casamento, ele subiu na hierarquia vencendo um dos maiores problemas da família Maldini. Eu... Sentindo uma mistura de emoções conflitantes, rolei na cama, encarando o teto enquanto tentava assimilar tudo o que acontecera. A verdade, crua e indomável, pairava no ar como uma sombra inescapável. Eu não podia mais negar a realidade do meu casamento, por mais indesejado que fosse. Mais lágrimas escorreram pelo meu rosto quando ele mexeu inquieto no chão longe de mim. Eu não sangrei por ele, mas ele sangrou por nós, aquilo acabou me fazendo pensar que eu pudesse ter sangrado com o homem errado. — Obrigada por sangrar por mim. — Eu quebrei o silêncio, minha voz cortando a quietude como um sussurro. — Eu sangrei por nós, — ele respondeu quase indiferente, — mas conquiste a minha confiança que eu não me importarei de derramar todo o sangue do mundo por você. Essas palavras ecoaram em minha mente, provocando reflexões mais profundas. O que significava conquistar a confiança de Pietro? Seria possível encontrar um terreno comum, uma base sólida em meio a tantos desafios?
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A noite avançava, e o que começara como um casamento forjado agora se desdobrava diante de nós, revelando caminhos inexplorados e desafios inesperados. Entre o silêncio que nos separava, pairava a promessa incerta de um futuro que nenhum de nós poderia prever.
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Eu matei o homem que causou a morte da minha mãe, invadi um esconderijo dos Wolves sozinho uma vez e matei quase dez caras, mas nada me preocupou tanto como a noite anterior. Catarina pode ser rebelde e imprevisível e somente ontem à noite eu tive certeza de que ela não é indomável. O problema maior é que se ela aprontasse na noite de núpcias teria colocado tudo a perder e eu não poderia simplesmente matar a minha esposa. Não que eu quisesse fazer isso, mas às vezes, penso que as coisas podem ser mais difíceis quando a violência não é uma opção. Eu ainda não a amava e não me preocupava se ela me amasse, mas queria que ela fosse feliz e que nosso casamento fosse agradável para nós dois. Meus pais se casaram por amor, não por obrigação e vejam no que deu. Por mais valoroso que seja, o amor não garante nada. Nunca concordei com essa tradição, mas se ela é importante para que tenhamos paz, assim seja. Sou um homem que nasceu e aprendeu a sobreviver na guerra, mas para a organização lucrar, triunfar e se perpetuar, temos que buscar a paz e precisamos dos tradicionalistas ao nosso lado. Felizmente, a mulher ainda deitada na cama tinha percebido isso.
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— Algum problema? — Ela perguntou após piscar os olhos ao acordar e se dar conta de que eu a estava observando. — Obrigado por confiar em mim. — Acho que se vamos viver juntos, eu tenho que aprender a confiar. Mas não fique se animando demais, você nunca vai colocar as mãos em mim. Disse a mulher que dormiu de lingerie sem se importar em se esconder de mim usando aquele roupão com o qual entrou no quarto. Só que preferi não a confrontar dessa vez. Não aproveitei minha noite de núpcias e queria, pelo menos, ter um dia tranquilo após o casamento. — É melhor não demorar a se levantar. — Não sou do tipo ativa logo que acordo, sempre gosto de me demorar debaixo dos lençóis, é melhor ir se acostumando. — Hoje é melhor não enrolar, a festa já deve ter acabado, mas tem gente lá fora querendo conferir os lençóis. — Tá bem. — Ela bufou e chiou um pouco antes de se levantar. — Pode pegar o meu roupão pra mim? Por Deus, eu devo ser fodido da cabeça, mas ela brava e chateada ficava ainda mais linda que o normal. Eu joguei o roupão para ela, Catarina tinha bons reflexos e o pegou ainda no ar, só que eu senti uma pontada de insatisfação nela. Talvez ela quisesse que eu levasse o roupão até ela. Ou ela sentia falta da minha presença próxima a ela ou queria que eu demonstrasse necessidade de chegar perto. De qualquer jeito, ela estava se importando com a dinâmica entre nós, muito mais do que se importaria caso odiasse de verdade o fato de termos nos casado. Ela saiu para a antessala da noiva e foi se trocar, assim como eu fiz. Já do lado de fora, nos encontramos novamente e saímos de braços dados. Algumas pessoas nos esperavam lá fora. Ficamos parados, os minutos que se seguiram pareceram séculos enquanto Maria Grazia foi até o quarto e voltou com o lençol na mão
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mostrando a todos ali presentes que Catarina tinha se casado virgem. Paolo Maldini não estava ali, ele já tinha confiado o futuro de Catarina a mim. Mateo e Marco, dois dos meus cunhados vieram me cumprimentar. — Parabéns! — Aceitei o aperto de mão usando a direita e deixei a esquerda estrategicamente no bolso. Faria o mesmo com qualquer um que viesse me cumprimentar, não queria que ninguém visse minha mão machucada. Dante Morelli também estava ali, assim como outros homens e mulheres de famílias menos importantes, mas que ajudariam a manter a paz caso fosse necessário. Paolo Maldini entregou a filha e nem se preocupou em conferir se estava tudo certo. Ele podia dormir tranquilo, Catarina era minha responsabilidade agora e nada de mal aconteceria a ela. Dava para ver que ela não estava satisfeita com aquela tradição, mas sorria falsamente para quem a fosse cumprimentar. Não deve ter sido nada fácil para ela, mas tudo deu certo no final. Agora cabia a nós dois tirarmos o melhor proveito do casamento a que nos obrigaram. Por mais que alguns pensassem o contrário, eu fui obrigado a me casar tanto quanto ela. Não existia opção de dizer não ao Don, mas eu aceitei meu dever e fiz o que tinha que ser feito.
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Senti a tensão se acumular no ar enquanto dirigia pela rua tranquila em direção à casa. Era a nossa primeira parada após o casamento, e eu estava acompanhado de Catarina, que permanecia em um silêncio desconfortável desde que saímos do local da cerimônia. A casa não era tão imponente quanto ela estava acostumada, mas possuía um charme próprio, com seu pequeno gramado bem cuidado e os jardins laterais que eu prezava tanto. Moraríamos no Chelsea, um bairro residencial bastante tranquilo, próximo da praia, da Mansão dos Maldini e de onde trabalhávamos. A verdade é que ela não teria motivos para reclamar, mas sendo Catarina... Estacionei o carro à frente da residência, e enquanto me virava para encará-la, tentei dissipar parte da tensão que pairava entre nós. — Não é um palácio, eu sei. Mas é um lugar tranquilo e confortável — comentei, tentando ser reconfortante. Ela observava a casa com um olhar avaliador. Seus traços ainda denotavam incerteza, e eu entendia o porquê. Aquela casa onde eu morava com a mulher que me criou, era muito menos imponente do mundo em que ela havia sido criada.
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— Estamos aqui temporariamente, na verdade. Moro com a mulher que me criou, é uma senhora adorável. A casa é dela, e vou cuidar dela até que... — hesitei por um momento, percebendo que aquilo era uma realidade que eu não compartilhara antes. — Até que seja necessário. Ela precisa de alguns cuidados, mas é uma boa pessoa. Tenho certeza de que vocês vão se dar bem. Saímos do carro e caminhamos em direção à porta da casa. A calmaria do bairro contrastava com o incômodo dentro de mim. Como seria para ela se adaptar a um lugar tão diferente do seu mundo? Eu sabia que essa mudança não seria fácil, mas era uma realidade que precisávamos encarar. Afinal, o casamento foi forçado, mas não queria começar a brigar logo no primeiro dia. Abri a porta e a convidei para entrar, tentando criar um ambiente acolhedor e reconfortante para ela. — Ainda não entendo por que você não convidou sua mãe adotiva para o nosso casamento. — Catarina argumentou sem exagerar no tom. — Nós não tivemos um noivado comum, você nem queria olhar na minha cara e eu não queria riscos adicionais. — Você acha que eu brigaria com a sua mãe adotiva? Acha que eu sou um monstro? — Ela tem Alzheimer e está na fase em que não me reconhece todo dia. — Fui o mais franco possível. — Eu não queria ter que lidar com você, com a farsa da virgindade e com um possível episódio. — Mas eu não fiz nada demais no casamento. — Eu sei que não, mas eu não tinha como adivinhar isso. Ninguém tinha certeza de que você não aprontaria nada durante a cerimônia. Sejamos sinceros, você não pode me culpar por desconfiar de você. Ela revirou os olhos e não respondeu. Catarina não podia me culpar por ser cauteloso em relação à Antonela, mas não admitiria isso em voz alta. Eu sabia que teria trabalho para domá-la completamente e não precisava fazer isso de imediato. Também não deixaria que minha missão atrapalhasse a vida da mulher que me criou.
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Era apenas o começo do nosso casamento que parecia tão desafiador, mas eu estava determinado a enfrentar cada obstáculo para que Catarina fosse completamente minha.
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Era como se eu tivesse levado um soco no estômago. Antonela Lombardi era conhecida por todos na organização. Talvez a mulher mais doce que teve que conviver com tanta injustiça. Foi rejeitada por alguns homens por não ser muito bonita, casou velha demais para época, mas com um soldado que dizem que a tratava bem. Anos depois, o marido e o filho morreram na mesma guerra em que a família de Pietro foi dizimada. Quando encontraram meu marido na rua, levaram para ela cuidar e ela nunca reclamou de nada, apenas cumpriu o papel imposto a ela. E agora, quando o filho adotivo sobe de patente e se casa, ela não participou de nada, porque achavam que eu ia causar algum escândalo... — Mas eu não fiz nada demais no casamento. — Cuspi cada uma daquelas palavras na cara de Pietro. — Eu sei que não, mas eu não tinha como adivinhar isso. — Os olhos dele percorrem pelo foyer em que tínhamos acabado de entrar e depois pausaram sobre os meus. — Ninguém tinha certeza de que você não aprontaria nada durante a cerimônia. Sejamos sinceros, você não pode me culpar por desconfiar de você. — Não havia nenhum desafio no semblante dele, era algo como alívio.
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Passei meses pensando somente nos desafios que eu travava em relação àquele casamento que não prestei atenção em mais nada a minha volta. Ele não estava errado, nem eu mesma tinha completa certeza de que não fugiria daquele casamento, mesmo assim, não podia aceitar o que ele tinha feito. — Mesmo assim, foi insensível da sua parte não a ter levado no nosso casamento. Pietro franziu o cenho de imediato e seu maxilar se cerrou. Ele parecia muito mais tenso que o de costume. Ainda assim respirou fundo antes de voltar a falar. — Você sabe, Catarina, é complicado. Eu queria muito que ela estivesse lá, mas a situação era delicada. Minha mãe adotiva tem uma saúde frágil, e eu não queria correr riscos de estresse ou tensão pra ela. Eu desviei o olhar por um instante, tentando conter a raiva e a mágoa que ainda me consumiam. Incapaz de me acalmar, caminhei e me sentei em uma poltrona. Estava cansada e desmotivada, mas não conseguia aceitar a ideia de que minha futura sogra não poderia ir a um casamento por minha culpa. — Eu não sou um monstro, Pietro. Eu sei que não sou uma florzinha feito Bianca e que às vezes posso ser difícil, mas você acha justo ela não ter estado lá? — Minha voz soou mais exausta do que irritada. — Eu não disse que você é um monstro. Mas, considerando o histórico... — ele hesitou, escolhendo as palavras com cuidado e foi interrompido por soldados que entravam com nossas malas. Pietro me deixou lá sentada e foi indicar aos soldados qual deveria ser o nosso quarto e mais uma coisa me irritou. Era capaz de ser obrigada a dividir uma cama com ele novamente. Cruzei as pernas e os braços bufando de ódio enquanto assistia o ir e vir daqueles idiotas de terno. — Sinto muito por você se sentir assim, mas foi uma decisão difícil. Ela estava bem cuidada em casa, com enfermeiras por perto. — Ele se explicou melhor somente depois dos homens terem saído.
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Nos encaramos intensamente por um momento antes de eu responder, sentia-me sufocada pela culpa e pelo peso de como ele agia diante dos soldados. Será que todo mundo que entrava para organização fazia um curso de como fingir que sua esposa não existe na frente dos outros? — Eu entendo. Mas foi estranho, sabe? E o pior de tudo foi aqui agora... — Eu me calei por um instante, tentando me segurar, lutando contra a sensação de ter sido abandonada, mas não consegui. — É, você não leva a sua mãe ao casamento e não conversa comigo na frente dos soldados, tem vergonha de alguma coisa? — Vergonha? — Uma veia saltou em sua têmpora e ele deu um passo em minha direção com tanta firmeza que minha respiração falhou por um instante. — Eu jamais terei vergonha dela. — Dela não, de mim, por que não se explicou na frente dos soldados? — Eu não devo satisfação a soldado nenhum e não me expliquei porque tenho meus motivos. Eu queria começar o meu dia em paz, mas deve ser impossível. — Giulio... Giulio? — Uma voz fraca soou lá dentro. — Espere aqui. — Pietro não levantou a voz quando me ordenou aquilo, mas eu senti o peso daquela frase como nunca senti nenhuma ordem antes. O semblante dele mudou completamente, como se nada de ruim estivesse acontecendo e ele saiu de perto de mim. Incapaz de obedecer, fui atrás dele com passos leves e mantendo alguma distância. — Tudo bem, Giulio? — Ela perguntou com os olhos preocupados e os cabelos brancos amarrados num coque. — Ouvi barulho e fiquei preocupada. Giulio era o nome do filho dela que faleceu, ela devia estar confundindo os dois. — Tá tudo bem, mamãe, só estávamos arrumando alguns móveis, vamos para o seu quarto, cadê a Mirian? — Mirian...
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Ela parou a frase no meio e enquanto procurava pela tal de Mirian, Pietro me viu parada perto da porta da sala de estar. Seu rosto se fechou por completo e, sem que Antonela visse, ele fez um sinal para que eu não me mexesse. Ele não precisou dizer nada, mas foi como se me agarrasse pelo pescoço e ameaçasse a minha vida. Minhas pernas ficaram imóveis pela primeira vez na minha vida. Pietro se afastou com a mãe e os minutos se arrastaram feito séculos até que ele desceu do segundo andar. — Parece que Mirian não conseguiu ficar acordada a noite toda e pegou no sono. — Ele falou enquanto olhava o relógio e passava por mim. — Quem é Mirian? — Tive que juntar todas as minhas forças para perguntar. — Uma das cuidadoras que eu contrato para ajudar a olhar Antonela. Fiquei quieta e envergonhada, por alguns minutos, eu tive muitos ciúmes de uma cuidadora de idosas e não foi só isso, mesmo depois de saber o que ela fazia na casa, fiquei torcendo para que ela fosse feia e de meia idade.
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Eu estava na suíte que teria de compartilhar com Pietro para o resto de minha vida. Ela era um cômodo amplo com tons suaves de iluminação, que criava um clima acolhedor e tranquilo. Só que eu estava nervosa e inquieta. Eu mexia na penteadeira nova que tinha sido comprada especialmente para mim, mas meus pensamentos estavam distantes, emaranhados em uma teia de preocupações e incertezas. Passei o dia evitando meu marido e minha sogra, praticamente fiquei trancada no quarto mexendo em meu celular. O pior de tudo foi quando descobri que Mirian é tudo que eu não sou. Loira, alta, o tom de voz parece de uma princesa e os olhos transmitem doçura o tempo todo. Não devia ter mais de trinta anos e tinha tudo no lugar. Teve um momento que eu quis ficar por perto para ter certeza de como ela olhava para Pietro, mas a ideia de sentir ciúmes dele me deixou ainda mais incomodada. Estive dividida o dia todo. Eu não o amo, não aceito que meu corpo reaja a ele, mas aceitei ser sua esposa e não quero nenhuma outra mulher desejando o que deveria ser meu. Pietro estava no banheiro, terminando de escovar os dentes antes de se juntar a mim. Por vezes, parecia que as paredes estavam se fechando ao meu redor, enquanto minha mente martelava com questionamentos e inseguranças. O matrimônio havia sido uma imposição, uma obrigação que papai impôs a nós dois, e o peso dessa realidade me sufocava. Eu já tinha dormido no mesmo quarto que ele, sabia que ele não me forçaria a nada, ele nem demonstrou interesse em mim ontem à noite e, por mais que ferisse meu orgulho admitir isso, eu queria que ele me desejasse. Olhei para o roupão jogado sobre a cama, um lembrete vívido de um casamento que não foi por amor, mas por conveniência e decidi que o usaria novamente. O silêncio da suíte era ensurdecedor enquanto eu esperava Pietro. Eu já estava me acostumando com nosso casamento, não queria brigar com ele novamente, mas minha mente não parava de me dizer que eu tinha que jogar umas verdades na cara dele.
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O silêncio foi rompido quando eu ouvi, ao fundo, o som da água corrente na pia do banheiro. Pietro já estava escovando os dentes e depois se juntaria a mim. Eu desviei o olhar dos cremes e perfumes sobre a penteadeira, desejando que aquele sentimento de inquietação desaparecesse. Eu não tinha certeza do que queria. Uma parte de mim se iludia de que não teríamos de dividir o mesmo quarto, outra parte queria que a noite passasse rápido, que o sono viesse e me levasse para longe de tudo aquilo. No entanto, uma pequena parte estava ansiosa por sentir os olhares possessivos de um homem como Pietro. O som da torneira do banheiro se fechando indicou que ele estava prestes a sair. Eu respirei fundo, tentando reprimir a torrente que crescia dentro de mim. Precisava encontrar uma forma de lidar com a situação, mesmo que não soubesse ao certo como. Assim que ouvi o barulho da porta do banheiro se fechando eu me virei e me deparei com um homem recém-banhado e vestido com uma cueca boxer preta e uma camiseta de algodão folgada. A visão dele mais despojado daquela forma o deixou ainda mais sexy. A camiseta, desgastada pelo tempo e pelo uso, abraçava seu peito, destacando levemente os contornos dos músculos trabalhados. Senti falta de ver o seu abdome marcando na camisa e acabei me imaginando levantando aquela blusa e conferindo como ele estaria por baixo dela. Seu porte físico revelava a rigidez muscular e a tonificação de horas dedicadas ao treinamento árduo. O semblante fechado transparecia toda a chatice do dia e a seriedade de tudo que ele teve que resolver logo que nos casamos. Por mais estranho que fosse, eu queria que ele relaxasse. Pietro se jogou no sofá e eu decidi pegar um dos meus melhores cremes e me preparar para dormir. Me recostei na cabeceira da cama e passei o creme nas pernas afastando lentamente a parte do roupão que me cobria ali. Subi pela panturrilha, passei pelo joelho e fui até acima da coxa.
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Assim que terminei, olhei para ele que me fitou intensamente, mas eu ansiava por sentir os olhos dele percorrendo as minhas pernas. Nada naquele dia tinha saído como eu queria. — Eu fiz de tudo para entender você não ter levado Antonela ao nosso casamento, mas estou frustrada mesmo é com o dia de hoje. — Falei ainda passando creme em mim. — Você não apresentou sua esposa a ela até agora. Parece que tudo está indo de forma estranha e desorganizada desde o nosso casamento. — Não adiantaria te apresentar hoje, ela não estava bem. — Então é assim que você vai fazer as coisas, vai ficar fingindo que eu não existo e vai se enfurnar no quarto dela com a Mirian? — O problema de verdade é Antonela ou Mirian? — Ele perguntou como se nada do que eu tinha falado importasse. — Pelo visto você adora fingir e vou ter que me acostumar com isso. Passou o dia inteiro fingindo ser o filho daquela senhora. Acho até insensível. — Insensível? — Ele rosnou se levantando. — É você que não parece ter coração. — Eu não sou um monstro e não sou insensível. — É mesmo? — Falou apontando o dedo para mim. — Então da próxima vez que aquela senhorinha acordar procurando pelo filho, você vai lá e conta para ela que ele morreu nove anos atrás. Daí você senta com ela, a consola e veja os olhos dela perdendo todo o brilho e a vontade de viver. — Pietro cortou toda a distância entre nós e ficou o mais próximo possível. — Daí você faz isso de novo no dia seguinte, e de novo, e de novo e de novo. Todas as vezes que ela errar o seu nome, você assiste os olhos dela perderem o brilho. Faça tudo isso e volte aqui para me acusar de ser insensível. Eu o empurrei com toda a minha força e ele deu apenas dois passos para trás. Eu queria esmurrá-lo, xingá-lo e beijá-lo. Por Deus! Eu estava completamente confusa em relação a Pietro. — Nada saiu do jeito que que queria hoje, nada. — falei quase gritando.
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— Eu não sou o seu pai, — sua voz soou áspera e ele me agarrou pelos braços, — não estou aqui para fazer suas vontades. Eu sou o seu marido e estou aqui para te domar. Pietro me beijou assim que terminou a frase e me vi rendida à intensidade daquele contato. Correspondi intensamente, sentindo o coração martelar o peito e ondas de calor se espalharem pelo meu corpo. Depois, tentei afastá-lo, ainda que de leve e, infelizmente, ele aceitou. Pietro me soltou e meus braços sentiram falta do calor das mãos dele imediatamente. Ele voltou ao sofá, e o silêncio preencheu o ambiente. Eu segui para a cama, guardei o meu creme e me enfurnei debaixo das cobertas como se elas pudessem esconder todo o desejo que eu sentia em minha pele. Eu queria ter forças para lutar contra a confusão que dominava meus pensamentos, mas a batalha era cansativa demais. Era uma mistura de raiva, desejo, decepção e uma pitada de incerteza que parecia consumir cada fibra do meu ser. Pietro permanecia em silêncio, seu semblante impassível. A tensão pairava no ar, flutuava entre nós dois. Aquele embate, aquele momento de turbulência, não deixava espaço para palavras. Havia algo entre nós, algo complicado demais para ser expressado em meras frases. Eu fechei os olhos, desejando encontrar consolo no silêncio que se instalara no quarto. Sob aquela manta, buscava abafar a confusão interna e encontrar um pouco de paz, mas ela parecia fugir de mim naquela noite turbulenta. Enquanto me encolhia na cama, senti o peso do desconhecido sobre meus ombros. Um desafio iminente, uma batalha que eu não sabia se estava pronta para enfrentar. Pietro continuou imóvel no sofá, os olhos fixos em algum ponto distante. Era evidente que havia algo se desenrolando dentro dele também, algo que nem ele compreendia totalmente. De repente, o silêncio pareceu abafar qualquer som ao meu redor. O peso do desconhecido me esgotou e, lentamente, adormeci, mergulhando num
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sono conturbado, repleto de sonhos inquietos e questionamentos que ainda pairavam sobre mim. A discussão acabara, mas o peso das nossas emoções permanecia ali, pendendo como uma nuvem carregada sobre nossas cabeças.
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Já estava de madrugada e o meu sono continuava leve. Por vezes eu imaginava ter ouvido algo e acordava. Estava remoendo as palavras que tinha proferido mais cedo. Era difícil para mim, mas tinha que dar o braço a torcer. Pietro tinha razão ao mentir para sua mãe adotiva e fingir ser o filho legítimo dela. Não deve ser fácil ter que lidar com alguém tendo episódios como aquele e uma mentira por uma boa causa nem é tão ruim assim. Eu teria pedido desculpas, por mais que seja cabeça dura, eu não sou uma megera de verdade. Só que a raiva tomou conta quando nada daquele dia tinha dado certo para mim. Fui meio egoísta, eu sei, mas foi mais forte do que eu e ele deve ter passado por coisas muito mais pesadas. Tive sonhos ruins, em todos eles eu discutia com Pietro sobre alguma coisa boba e ele virava as costas e me deixava falando sozinha, por algum motivo, eu ficava ainda mais incomodada com isso. Acordei outra vez e tive uma sensação muito mais forte de que sons vinham do andar de baixo. Pietro se remexeu onde dormia, mas não acordou. Nunca imaginei que um mafioso teria um sono mais pesado do que o meu. Decidi descer e verificar o que estava acontecendo por minha conta mesmo. Levantei com cuidado, não queria mais brigas e fiz o possível para
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não acordar o homem que, até quando dormia, mantinha uma expressão séria. Vesti meu roupão e caminhei calmamente pelo corredor e, assim que comecei a descer as escadas pude ouvir alguém falando. — Quem são essas pessoas? — soou a voz fraca, mas ríspida. — São as pessoas que você ama. — respondeu alguém com o tom calmo e amoroso. — Eu também não conheço você. Sai daqui. Antonela, que sempre fora tão gentil, estava cada vez mais confusa. Mirian estava próxima a ela, tentava acalmá-la, mas a idosa não lhe dava ouvidos. — Estes são os seus familiares. — Não são não. — Ela insistiu, visivelmente nervosa. — Constance, cadê você, Constance? Olha o que fizeram com a minha parede. Me aproximei das duas, olhando para Antonela enquanto ela observava as fotografias na parede. Os olhos da minha sogra se fixavam nas imagens, mas sua expressão parecia distante, vazia. A confusão a dominava e suas feições refletiam um misto de tristeza e perplexidade. — Quem são essas pessoas? — perguntou Antonela, com a voz fraca e vacilante, apontando para as fotografias de familiares. — Vem ver Constance, eu não sei quem são estas pessoas. Mirian notou que eu me aproximava e falou o mais calmamente possível: — Constance é a irmã mais velha dela. — disse tão baixo que, praticamente, tive que ler seus lábios para entender. — Ela já faleceu. — Terminou apontando para uma foto onde duas jovens estavam abraçadas, uma delas vestia uniforme de enfermeira e supus que era Constance, pois Antonela sempre cuidou da casa e dos filhos. Puxei em minha memória, mas não consegui me lembrar da irmã mais velha, talvez ela não fosse casada com ninguém da organização, afinal de contas, ela trabalhava numa época em que nenhum mafioso aceitaria isso. Dei mais um passo em direção a ela, sentindo um aperto no peito ao notar o olhar perdido nos olhos da idosa. Mirian fez um gesto para que eu
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não me aproximasse mais e decidi ficar parada. Ela pegou a mão de Antonela com gentileza, tentando acalmá-la. — Essas são as fotos da sua família, Antonela. Este é Giulio, seu filho. Olha aqui, esta é Constance com você. Aqui está o seu lindo jardim com as flores que você cuida tão bem. Os olhos de minha sogra piscaram várias vezes, por um instante, enquanto ela olhava para a foto dela ao lado do jardim, notei um vislumbre de reconhecimento, mas logo passou e a lucidez parecia escapar novamente. — Não, não são. Eu não conheço ninguém aqui. Constance, onde está você? — Antonela ficou mais nervosa e afastou os braços de Mirian que tentava acalmá-la. — Eu não sei quem é você saia da minha casa! — A voz de Antonela se tornou mais agitada e inquieta. Instintivamente, caminhei em sua direção, minha vontade era de abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem. A cuidadora tentou acalmá-la novamente, mas Antonela continuava agitada, e a tensão pairava no ar. A voz da idosa aumentou, expressando medo e ansiedade, enquanto ela repetia perguntas confusas sobre as fotos na parede. Então, caminhei decidida até perto dela. — Quem é você? — Ela me perguntou com os olhos faiscando. — Sou a filha do Don Paolo Maldini. Sem saber o que fazer, acabei apelando ao nome do meu pai, era bem possível que ela se lembrasse dele. — Hum... — foi o que ela respondeu não parecendo ter entendido direito, mas se acalmou um pouco. — Olha ali, — eu insisti me aproximando dela e apontando para a foto do jardim. — Aquele é o seu jardim, veja como ele está bonito. Antonela olhou para a foto e depois para a janela, como se quisesse ver algo do lado de fora, mas a escuridão da madrugada não permitiu. — Este não é o meu jardim. — Retrucou olhando da foto para a janela novamente. — Tem cravos plantados aí e eu não gosto de cravos, prefiro as dálias.
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Nunca entendi de flores, talvez a minha irmã ou minha mãe soubessem a diferença entre dálias e cravos, para mim, todas as flores nas fotos estavam bonitas. — Quem sabe o jardineiro plantou os cravos. — Não preciso de jardineiro. — Foi direta, mas usando seu tom de voz habitual. — Sempre cuidei do meu jardim, sozinha, e ele vai muito bem. Se tem algo que eu nunca deixei ficar feio foi aquele jardim. Ela ficou em silêncio logo após me responder e voltou a encarar a janela. — Quer ir lá fora ver o seu jardim e admirar as flores? Foi um tiro no escuro, eu não sabia como ela reagiria ao ver as plantas e nem se confiaria em mim para guiá-la até lá fora, mas ver uma senhora tão fragilizada daquela forma estava partindo o meu coração e eu tinha que fazer alguma coisa para ajudá-la. Assim que ofereci a mão para ela, Antonela aceitou e fomos em direção à porta da frente, ao abri-la, notei que minha sogra tremeu um pouco com o vento. Não era uma noite fria, mas foi fácil de notar o desconforto. Eu não queria deixá-la sozinha novamente e tomei uma decisão. Com todo o cuidado, usei meu roupão para cobri-la, ela aceitou de bom grado e continuamos caminhando com passos leves até perto do jardim frontal. Imaginei que a camisola que usei para dormir não era decente o suficiente para ir até o lado de fora da casa, mas nunca me preocupei em ser tão puritana e não deixaria que algo assim me impedisse de dar um momento de paz e sanidade para Antonela. A idosa se moveu com cautela pelo jardim, onde um mar de cores se desdobrava. Suas mãos trêmulas roçavam suavemente as pétalas de flores variadas, cada uma contando sua própria história em tons de rosas, lilases e amarelos. Parou por um instante e suspirou em tom de alívio, depois, me olhou com um sorriso afável que foi o suficiente para esquentar todo meu ser naquela noite fresca.
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— Essas são as minhas favoritas. Venha querida, você precisa ver essas flores. — disse ela, sua voz embargada pela emoção e pela clareza momentânea. — São hortênsias brancas, não são simples de cultivar e me enchem de orgulho. — Ela passou os dedos pelas pétalas macias. — Elas são lindas. — Falei honestamente. — Quando se tratam de hortênsias, em solo com pH[10] próximo a 5,5, as folhas coloridas são mais abundantes e azuis. Em solos com pH mais alto, próximo a 6,5, a cor fica rosa. Se ficar acima de 6,5 as cores vão para branco. — Fascinante. — Não entendia nada daquilo, mas vê-la tão animada explicando o assunto me deixou verdadeiramente feliz. — Acho que você sempre teve um jeito com as plantas. Este jardim é lindo, e você sempre soube cuidar tão bem dele. Eu não tinha certeza se ela ainda cuidava das plantas, mas ficou claro que ela tinha orgulho delas e que foi a responsável por tanta beleza e graciosidade por muitos anos. — É engraçado, mas esse jardim me dava um senso de controle... — Antonela sorriu, olhando para o céu como se estivesse procurando pelas palavras nas nuvens. — Sabe, a vida é cheia de coisas que não podemos controlar. Mas aqui, neste jardim, eu conseguia fazer algo certo, eu podia ver o resultado do meu trabalho. — Você sempre terá este lugar especial. — Assenti sentindo os olhos arderem. A vida teima em ser imensamente injusta. — Veja, — disse caminhando para perto de outra planta e acariciou uma flor de pétalas lilases. — Essa é uma dália, algumas pessoas a confundem com o cravo, mas eu não planto cravos, não gosto do perfume deles. Ela se inclinou um pouco e fez sinal para que eu fizesse o mesmo. Assenti e deixei que o aroma leve e agradável tomasse conta de todo o meu olfato. — É bem suave, mas eu gostei muito.
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— Não é qualquer tipo de dália que pode ter aroma, mas eu cuido muito bem das minhas, então elas ficam perfumadas. — Você está de parabéns, Antonela. — Como é mesmo o seu nome, jovenzinha? — Catarina. — Acho que você é minha nora, não é mesmo? — Perguntou com a voz serena e me encarando. — Sou sim. — Respondi com a emoção crescendo dentro de mim. — Queria ter lembrado o seu nome. — Posso repeti-lo para a senhora sempre que quiser. — Não gosto que me chamem de senhora, os mais próximos me chamam de Nela, pode me chamar assim. — O brilho de lucidez em seus olhos pareceu fraquejar novamente. — Que bom que você quis ver o meu jardim. Não consegui mais me conter e abracei minha sogra enquanto algumas lágrimas escorriam. — Sempre que quiser ver o seu jardim, é só me falar. Seja de noite ou de dia. Ficarei feliz em te trazer aqui. — Obrigada. — Ela respondeu retribuindo o meu abraça de forma gentil. Talvez fossem as lágrimas embaçando a minha vista, mas notei uma sombra na janela do meu quarto.
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Dezoito anos atrás. Senti o carro diminuir a velocidade e, antes que eu pudesse compreender o que estava acontecendo, ele parou na frente de uma casa com um jardim bem cuidado. Desci do carro e senti meu coração acelerar. Não sabia o que esperar, estava preocupado, pois aprendi a desconfiar de todos depois de passar um ano nas ruas. Ao meu lado estava Enrico, o homem que me impediu de matar o moleque mais velho que eu, e que me trouxe até aqui. Só depois de descer do carro eu percebi que tinha uma mulher mais velha cuidando do jardim, suas mãos eram fortes ao mexer na terra e delicadas quando acariciava as flores, e ela parecia emanar uma coisa boa, nunca a tinha visto antes, mas algo nela passava uma certa confiança para a gente. Olhei para Enrico, ele continuava de cara fechada como sempre esteve e me senti inquieto, não sabia como reagir, pensei em pegar meu punhal e tentar fugir, mas acabei resolvendo ficar quieto. A mulher me olhou e abriu um sorriso gentil, era como se eu fosse algo que ela não via há muito tempo.
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Ela abandonou seu trabalho, limpou as mãos no macacão e veio em minha direção. Meu coração acelerou e eu não tinha a mínima ideia do que fazer ali. Se fossem só os caras eu poderia brigar com eles, mas nunca senti vontade de lutar contra uma mulher. — Bem-vindo, querido. — A voz dela era suave, confortável, e estendeu as mãos, não para me agarrar, mas para oferecer um abraço. Recuei instintivamente, olhando brevemente para o homem que estava ao meu lado. — Pare de agir feio um animal arisco, Pietro. — Ele falou, firme, mas não de forma intimidadora. — A senhora Antonela pode te ajudar, te oferecer um lar. As palavras dele ecoaram por um momento. Eu hesitei, mas os olhos bondosos dela me atraiam. Sentia algo diferente naquela casa, uma sensação de segurança. Dei um passo à frente, permitindo que Antonela tocasse minha mão. É um gesto simples, mas significativo. Ela me pegou pela mão e me puxou, sem ter tempo para reagir sinto-a forçar um abraço. — Você fede mais que cachorro molhado, garoto. — Ela brincou enquanto me abraçava e os homens riram. Não me importei com aquilo. Somente a abracei de volta. Ela tinha cheiro de terra e eu gostei daquilo. — Você deve estar com muita fome. — Antonela perguntou, sua voz carregada de afeto. — Qual é o seu prato favorito, querido? — Pizza Napolitana. — Respondi sem soltá-la. — Não tenho todos os ingredientes aqui, mas posso dar um jeito nisso. — Ela falou sem interromper o abraço. — Fiquei sabendo que pelo jeito que você come pão, deve amar isso também, posso preparar um sanduíche, depois você toma banho e mais tarde faço uma pizza pra você, o que acha disso? Acho que finalmente morri e, por algo que nunca vou entender, fui parar no céu. — Eu vou gostar. — Vamos entrar então.
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Aceitei a oferta dela e concordei em entrar na casa. Talvez, pela primeira vez em muito tempo, estava disposto a dar uma chance a um lugar que pudesse chamar de lar.
A primeira coisa que ouvi foram os passos pesados, os sons
estranhos de alguém pisando na água. Eu acordei meio que sem entender nada e, antes mesmo de me dar conta de onde eu estava, mão fortes me agarraram pelos braços. — O que você aprontou? Hein? — Ela estava praticamente gritando e eu não entendia nada. Eu estava na banheira, a água ainda estava meio morna e ela me sacudia como se minha vida estivesse correndo perigo. O meu punhal, onde está o meu punhal? Dei por mim que não tinha nada nas minhas mãos e instintivamente, tentei me livrar dos braços que me sacudiam, mas não consegui. Eu pisquei algumas vezes e quando ela me soltou eu comecei a recuperar a consciência. A água da banheira estava transbordando e me dei conta que tinha pegado no sono. — O que você tinha na cabeça? — Antonela perguntou de novo.
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— Eu não sei, eu só descansei a cabeça aqui na banheira e dormi. — Você é doido, menino? — Ela perguntou com a voz pesada e falhando. — Eu subi as escadas correndo quando vi que tinha água derramando pra todo lado. Abri a porta do banheiro e vejo você caído aí na banheira com um punhal aqui no chão. Antonela suspirou profundamente, seu olhar fixo em mim enquanto eu me encolhia na banheira e suas mãos não me soltavam. — Ele é meu, e gosto que fique por perto. — Tem medo de mim? — Ela perguntou com os olhos ficando vermelhos. — Não, mas eu não gosto de ficar longe dele. — Você não tem ideia do que passou pela minha cabeça, do quanto eu fiquei furiosa e assustada. A água, você desse jeito, o punhal, você me mata do coração, menino. Eu mantive o olhar baixo, incapaz de encarar Antonela. A água da banheira estava espalhada por todo lado, e eu podia imaginar que a bagunça ia para além da porta, talvez, até no andar de baixo. — Eu só queria descansar. — Murmurei, minha voz falhando um pouco diante do olhar repreensivo dela. Eu mal tinha chegado naquela casa e já ia perder tudo. Aquela não era uma ótima forma de começar meu primeiro dia na casa. Tinha medo de perder mais uma chance, mais uma oportunidade que a vida parecia disposta a tirar de mim. — Descansar numa banheira? É perigoso, olha só o que você fez comigo. — Ela parecia desesperada. — Desculpa. Vou juntar minhas coisas e ir embora. — Minhas palavras saíram rapidamente, carregadas de uma sensação de fracasso e incerteza. — Ir embora? Do que você está falando? — A expressão de Antonela suavizou um pouco, parecendo mais confusa do que zangada. — Sei que não vai querer um problema morando com você. Eu... posso dar trabalho. — Admiti, desviando o olhar.
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— Você não é o problema, mas o que você fez me deixou extremamente preocupada. — Antonela fitou-me intensamente. — Não sabe o que passou pela minha cabeça ao ver o punhal caído e você jogado na banheira. E essa bagunça... — Uma lágrima escapou de seus olhos. — Desculpa. — Eu não me lembrava a última vez que tinha pedido desculpas a alguém, mas já era a segunda vez que pedia desculpas a ela. — Vou arrumar essa bagunça. — Claro que vai. — Ela me abraçou e uma sensação calorosa tomou conta de mim. — Já perdi um filho, não quero perder outro. Perder outro filho? Era surpreendente como ela, que mal me conhecia, já me via assim. E o mais incrível era que eu acreditava nela. Seu abraço era caloroso e reconfortante, me causava sensações que eu já tinha me esquecido. Era aquilo o que chamavam de amor de mãe. — Tudo estava tão bom. — Falei abraçando-a de volta. — Que eu senti vontade de descansar. — Você vai descansar o quanto quiser, mas nunca durma numa banheira e não precisa deste punhal por perto, ou você tem medo de mim? — Claro que não tenho. — Tudo bem então. — Ela me soltou. — Vá se secar e vista essas roupas que o Enrico deixou aqui, acho que servem em você. Vamos lá para baixo, não quero comer pizza fria, depois nós arrumamos tudo. — Desculpa pela bagunça. — Não tem problema fazer bagunça, crianças fazem bagunça, isso é normal, depois a gente ajeita. — Ela se levantou e caminhou com cuidado até a porta. — Essa é sua casa agora, pode fazer bagunça desde que não quebre nada, não se machuque e arrume tudo depois. Antonela fechou a porta e eu desliguei a água da banheira que ainda estava aberta. Só quando saí de dentro dela e vi o punhal caído ao lado, eu tive ideia do que ela imaginou que eu tinha feito. Ela não sabia, não me conhecia direito ainda, mas algo que eu já tinha aprendido era a sobreviver.
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Eu vesti minha roupa e desci. Nunca tinha comido uma pizza napolitana tão boa, ela tinha gosto de lar.
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Alguns meses depois do casamento Nunca imaginei que estaria casada com um mafioso que cuida de jardim. De tudo que já tinha imaginado para mim, aquilo jamais passou pela minha mente. Era sagrado para ele, quase religioso, todos os domingos pela manhã ele conferia o gramado e todo o jardim. Com o tempo, eu passei a vigiá-lo pela janela do nosso quarto. Ver um homem como aquele se sujando de terra para cuidar do jardim da mãe adotiva era algo que mexia comigo. Eu já estava acostumada com a dinâmica da casa. Na maioria dos dias, Antonela não se lembrava direito de com quem morava, ela olhava para mim como se eu fosse uma estranha, mas não se importava com minha presença. Nestes dias, ela sempre chamava Pietro de Giulio e perguntava onde estaria o marido dela. Ele sempre respondia que estava trabalhando e ela voltava a atenção para outra coisa. Eu aprendi a amar aquele jardim. Nas poucas vezes que ela me reconhecia, sempre me chamava para vê-lo e eu amava cada uma das oportunidades que tinha de ouvi-la falando orgulhosamente de suas plantas.
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Não tinha olhar mais gentil, amoroso e satisfeito que o de Antonela nos dias em que ela estava lúcida. Ela sempre ia ao jardim e vê-lo tão bonito e bem cuidado dava a ela a sensação de que tudo estava bem, pois ela achava que era ela mesma que sempre cuidava dele. Não tinha um dia em que minha sogra estivesse lúcida que ela não fosse até o jardim. Nestes dias, ela cuidava de cada uma de suas plantas. Regava, checava se o adubo estava bom, plantava alguma coisa que sentia falta e retirava algo que não gostava. Em outros dias, o jardineiro passava por aqui e conferia também. E todo fim de semana, Pietro ia lá ter certeza de que tudo estava perfeito para sua mãe. Assim como naquela manhã, que ele estava lá embaixo, cuidando das plantas, mexendo na terra, sob a luz do sol. Seu rosto estava levemente iluminado pelo brilho dourado da manhã, sua camiseta de mangas curtas já estava marcada pelo suor, e suas feições estavam concentradas no trabalho. A suavidade dos movimentos contrastava com a força contida em cada gesto. Ele parecia totalmente à vontade ali, em seu próprio mundo. Uma folga merecida das merdas que ele deve fazer no dia a dia. Pietro nunca reclamou de eu trabalhar, nunca falou nada sobre ser no mesmo lugar que ele, mas também, nunca me disse nada sobre os trabalhos obscuros que eles fazem. Nunca me importei com isso, o que me incomodava era ter que casar com o homem que papai escolheu para mim, mas nunca quis me meter nos assuntos da máfia. Eu observava Pietro com sentimentos divididos, ao mesmo tempo que o admirava, sentia-me mal por isso provar que papai acertou ao escolher o meu marido. Eu não queria dar o braço a torcer e aceitar o desejo crescente em mim, mas a maneira como ele se dedicava ao jardim, a forma como cuidava da mãe, tudo aquilo mexia comigo. Ele não era o homem que eu imaginei, era muito diferente, muito melhor. Acho que nenhum soldado da organização que fosse promovido a caporegime agiria daquela forma.
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Qualquer um deles que passasse a ganhar muito mais dinheiro ao subir na carreira, daria um jeito de gastar em carros, mulheres e coisas fúteis, Pietro não fez nada disso. Ele tratou de reformar a nossa casa. Fez uma academia para mim, onde posso treinar jiu-jitsu e esgrima, também começou a adaptar toda a casa para quando sua mãe piorar e tiver dificuldade de se movimentar. Ele não era um cara qualquer, era um homem de família, dedicado e fiel a tudo que prometia. Nunca me desrespeitou ou me ofendeu de verdade, apenas me responde à altura quando eu o provoco. A única coisa que Pietro exigiu foi que eu não treinasse jiu-jitsu com homens e acabei cedendo neste ponto. Desci as escadas devagar, sentindo uma mistura de nervosismo e expectativa. Ao chegar à cozinha, deparei-me com Antonela e Mirian, ambas envolvidas em uma conversa animada. A luz do sol invadia o ambiente, criando um clima acolhedor. — Bom dia, Antonela. Bom dia, Mirian. — Cumprimentei-as, tentando manter um tom casual. Antonela me olhou com seus olhos serenos, um brilho sutil de reconhecimento surgindo neles. — Bom dia, minha querida. — Ela sorriu para mim, um sorriso afetuoso que fez meu coração se aquecer. — Como passou a noite? — Muito bem, obrigada. E você? — Respondi, tentando esconder minha alegria e surpresa por ela ter me reconhecido naquele momento. Não era sempre que isso acontecia e não podia demonstrar muito entusiasmo para não a confundir. O sorriso sincero de Antonela permanecia em meu pensamento, era um momento raro de lucidez que eu sabia que precisava preservar. Mirian observava a interação com um olhar sereno, sabendo lidar com a situação melhor do que ninguém. Enquanto eu ajudava Antonela a tomar o café da manhã, trocamos algumas palavras simples sobre o tempo e as plantas do jardim. Cada gesto e palavra eram medidos, preocupada em não afetar o equilíbrio frágil daquele momento especial.
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Eu sempre culpei os homens por tudo que aconteceu com Antonela, mas talvez, a vida é que seja injusta. A mulher mais doce e amorosa da organização era a que tinha sofrido mais. Ao lado dela, permiti que um sentimento de felicidade tomasse conta de mim, por ter me reconhecido, mesmo que fosse por apenas um breve momento, por me fazer sentir parte da sua vida, por seu sorriso doce e tão gentil. Aquela conexão momentânea era preciosa demais para ser desperdiçada com emoções negativas. Enquanto nós três tomávamos café da manhã, meu marido entrou na cozinha, vindo pela porta dos fundos. — O que você estava aprontando no quintal, Pietro? — indagou Antonela, com um brilho de curiosidade nos olhos, vendo que ele carregava um pouco de sujeira nas mãos. — Ah, só estava cuidando do gramado, — ele deu de ombros. — A grama estava meio alta e pensei que talvez você gostaria de dar uma olhada no jardim mais tarde. — Sim, talvez eu faça isso, mas tome cuidado para não sujar todo o chão. Você precisa se lavar e depois venha para o café. — disse, preocupada com o possível rastro de sujeira deixado por Pietro. — Sim, senhora. — Ele respondeu saindo da cozinha com um sorriso sincero no rosto. Observar aquela cena me tocou de uma maneira particular. Ver Pietro, geralmente tão reservado e sério, sorrindo e obedecendo gentilmente à mãe, era uma visão rara e adorável. Ele sabia como lidar delicadamente com Antonela, preservando o vínculo que ela ainda mantinha com o jardim. Era uma tentativa de fazê-la sentir-se independente e útil, uma maneira singela de preservar os momentos de lucidez dela. — Quero treinar mais tarde, minha professora é meio lenta, preciso de um desafio. — As palavras rolaram pela minha boca sem que eu me desse conta. — Você está me avisando, — ele respondeu se virando para mim, — ou me convidando para treinar com você hoje? Revirei os olhos antes de responder.
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— Gostaria que você treinasse comigo, quem sabe no fim do dia, o que acha disso? — Será um prazer. Foi tudo o que ele respondeu e saiu da cozinha para tomar banho e se limpar antes do café.
Eu aguardava ansiosamente por Pietro na academia. Vestindo meu
kimono, sentia uma mistura de emoções borbulhando dentro de mim. Era uma mistura de nervosismo e excitação, uma inquietação que não conseguia controlar. Pietro chegou, e no momento em que nossos olhares se cruzaram, um calafrio percorreu a minha espinha e se alojou bem na boca do estômago. Mas o que é que está acontecendo comigo, afinal? — Já se aqueceu? — Ele me perguntou após fazer uma leve reverência. — Estou mais do que pronta. — Respondi, fazendo a saudação. Quando ele menos esperava, avancei com toda a força e determinação, consegui agarrá-lo pela perna e o joguei no chão, mas Pietro demonstrou domínio e habilidade. Ele evitou que eu restringisse seus movimentos e conseguiu se desvencilhar. Passamos algum tempo ali no chão, até que ele me imobilizou
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e eu admiti a derrota naquele round. — A sua impaciência faz com que seus movimentos sejam descoordenados. — Ele falou assim que se levantou. Eu não respondi, apenas avancei novamente. Com movimentos ágeis e precisos, Pietro conseguia antecipar cada investida minha. Até que me derrubou e me imobilizou novamente. — Você está partindo para o ataque como se estivesse numa batalha. O jiu-jitsu não é apenas força, Catarina, é estratégia. — Ele falou próximo ao meu ouvido com a voz ofegante que fez os pelos da minha nuca se arrepiarem. —Você é mais rápida e ágil do que imagina. Ele me soltou e eu senti falta do aperto dos braços e pernas dele durante a imobilização. — Ainda vou te pegar de jeito. — Falei assim que me recompus. — Eu não duvido disso, você treina a bastante tempo, esqueça um pouco das emoções, da força bruta e lembre-se de todas as técnicas que você já aprendeu. Decidi que iria ouvir os conselhos dele e não atacaria impulsivamente, passei a agir de forma mais estratégica. Avancei, mesclando agilidade com precisão. Cada investida era calculada, cada passo pensado. Ainda assim, Pietro parecia um passo à frente. Eu me esquivava de seus movimentos, mantendo-me na defensiva, mas ele sempre parecia me alcançar. — Você está aprendendo rápido. Isso não é apenas uma luta, é um jogo mental. Se você encontrar a estratégia certa, poderá superar qualquer desafio. Incapaz de recuar, tentei novamente, mas daquela vez encontrei uma brecha na defesa dele. Aproveitei a oportunidade, o desequilibrei e o imobilizei no chão. Por um momento, fiquei por cima dele, sentindo sua respiração ofegante sob meu domínio. Era como se a vitória estivesse a um passo de ser minha. — Peguei você. — Minha voz saiu quase um sussurro. Ele não parecia incomodado, muito pelo contrário, seus olhos estavam cheios de orgulho e sentir o corpo forte e rígido de Pietro entre
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minhas pernas acendeu todos os meus instintos. Eu prensei meus lábios aos dele. Fiz com que minha língua pedisse passagem e ele aceitou, mas durou apenas alguns segundos. Ele logo tomou conta do beijo e enroscou sua língua na minha, uma mão buscou minha nuca e a outra me agarrou pela cintura. O volume protuberante na calça do kimono fez meu coração bater forte e eu rocei nele o máximo que podia. Todo o meu corpo desejava aquele homem, todo o meu instinto me mandava me entregar a ele. A atmosfera estava diferente. Nós dois sabíamos disso. A eletricidade carregava o ar que crepitava de tensão. Tudo o que eu evitava sentir veio à tona com aquele beijo no tatame. Eu comecei a tirar a roupa dele, expus seu tórax e o arranhei de tanto tesão, depois desamarrei a faixa e passei a mão em seu pau por fora da calça. Estava duro e era tão grosso que fez minhas pernas tremerem. Eu precisava sentir aquele homem dentro de mim e tentei colocar a mão por dentro da calça, mas ele me impediu. Os olhos de Pietro fixaram-se nos meus, e ele parecia estar hesitante sobre o que eu queria. Jamais tinha imaginado que um homem com o pau tão duro daquele jeito poderia ter dúvidas se iria foder a mulher que causou sua ereção.
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Eu já estava começando a me arrepender de ter beijado e desejado tanto aquele homem quando sua voz soou rouca. — Você tem certeza do que está fazendo? — Ele falou com a voz tensa. — Eu sou sua esposa, o que teria de errado no que estou fazendo? — Eu não sou moleque, sou um homem de honra, se você se entregar a mim, será para sempre. Você será minha, seu coração, sua alma e mente. Quero tudo de você. — Eu sou sua desde que você colocou o anel de noivado no meu dedo, desde que vi que a minha vida dependia dele. — Minha voz saiu suplicante. — Você só não tomou posse ainda. O ar que estava carregado de eletricidade se tornou uma tormenta quando as narinas dele se inflaram e Pietro parecia um touro diante da bandeira vermelha estampada na sua frente. Não havia mais motivos para negar, ele era o dono de todos os meus sonhos molhados e pensamentos devassos. Eu enfiei a mão dentro da calça e agarrei aquele pau duro, grosso e pulsante. No mesmo instante, Pietro me segurou pelo queixo e me beijou. Sua língua invadiu minha boca e tomou conta de cada centímetro dela.
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Seus lábios reivindicaram os meus numa mistura de beijo e mordidas que me incendiavam por completo. Sentia a pressão de sua ereção contra nossos kimonos e minha respiração ficou ainda mais entrecortada pela paixão crescente. Meu peito subia e descia, meu coração cada vez mais acelerado e eu não via a hora de tirar toda a nossa roupa. — Você é minha? — Ele perguntou com os olhos pegando fogo quando interrompemos o beijo. Eu o encarei, mordendo os meus lábios. Em resposta, ele desamarrou a minha faixa e tirou o meu kimono, depois soltou os cordões da minha calça e enfiou ambas as mãos dentro dela agarrando a minha bunda. Com uma força que ele nunca tinha usado antes. — Você é minha? — Ele repetiu ainda mais feroz do que antes. — Responda. — Sim... eu sou toda sua. Um olhar perverso tomou conta do rosto de Pietro quando ele enfiou a cara no decote do meu top. Aquilo me arrancou um suspiro e eu queria sentir a barba dele roçando no meu colo. Fiz questão de tirar o top e ele chupou o meu mamilo com força me arrancando um gemido. Depois brincou com a língua entre eles, dedicando um delicioso tempo para cada um dos meus seios. Minha pele se arrepiava e eu arfava enquanto ele traçava caminhos de prazer entre meus seios. Fiquei admirando aquele rosto lindo se perdendo em meu corpo e latejando entre as pernas toda vez que ele me olhava ferozmente. Por vezes, ele passava a ponta da língua em um mamilo para enrijecê-lo e depois o chupava com força e vontade. Quando ele parou para respirar eu me levantei. — Deixa comigo. — Eu queria dar uma ordem, mas diante daqueles olhos, minha voz saiu como súplica. Ele assentiu e eu tirei a minha calça, depois a calcinha e fiz questão de deixá-lo completamente nu.
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Eu não escolhi o meu marido, não escolhi o lugar do meu casamento, mas escolhi como e onde seria fodida por ele. A vida tinha me tirado o controle de quase tudo, mas não tiraria o controle da primeira vez que eu me entregaria a Pietro. Eu me posicionei sobre ele, com uma perna de cada lado da sua cintura e deixei que meu clitóris roçasse em seu pau pulsante. Me esfreguei com força nele e a fricção foi me deixando perto de perder a cabeça. Nos beijamos intensamente, meus olhos revirando conforme eu mordia os lábios dele e sincronizava os meus movimentos pressionando cada vez mais o meu ponto sensível em seu membro. Eu queria mais dele, queria sua pele e corpo. Passei a beijar seu pescoço e o seu cheiro de homem acendeu uma chama ainda mais intensa em mim. Quando me dei conta, já estava perdida beijando e mordendo seu ombro, pescoço e orelha. Pietro agarrava minha bunda com ambas as mãos e sua respiração pesada ressoava pela academia enquanto a minha língua percorria um caminho excitante pelo seu corpo. Ele apertava tanto o meu bumbum que minha pele deveria estar marcada e tudo que eu sentia era o orgulho de pertencer a um homem como aquele. Eu nunca fiquei tão excitada em toda a minha vida, nunca senti tanta vontade de me entregar a alguém. Estava encharcada, podia me sentir escorrendo em seu pau grosso e não via a hora de ser penetrada. — Quero sentir o meu pau pulsando na sua boceta. — Ele arfou e eu sorri vitoriosa. Ele me queria tanto quanto eu o desejava. Peguei seu membro grosso e brinquei com ele na minha entrada, vi seus olhos queimando como nunca e introduzi aos poucos. Ele mordia os lábios enquanto eu assistia e me sentia orgulhosa de ser a mulher de Pietro. — Minha boceta é toda sua. Vai poder fodê-la sempre que quiser. — Falei em seu ouvido enquanto rebolava em seu pau. Aguentei por alguns dolorosos segundos, fechando os meus olhos, ele era muito grosso e eu não estava com um homem há um bom tempo. Tive que
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me acostumar a ele até conseguir me movimentar o tanto que eu queria. — Eu não via a hora de estar dentro de você. Desde quando me mandaram vigiar o seu noivo falso eu já queria ter você. A confissão dele acendeu algo ainda mais forte em mim. Cada terminação nervosa do meu corpo respondeu ao ouvir aquilo. Eu mordi ainda mais forte os lábios dele e não consegui esconder meu sorriso presunçoso. Foi tão difícil perceber qualquer olhar dele, por vezes eu me senti como se não fosse gostosa o suficiente para ele, mas a verdade é que sempre fui. Subi minhas mãos que estavam em seu peito e emaranhei meus dedos em seus cabelos. Minha virilha se movia com força e vontade, nunca me senti tão livre em cima de alguém. — Nunca cavalguei um pau tão gostoso. — As palavras escaparam dos meus lábios e ele prensou os seus nos meus. Depois chupou minha língua. — Nunca imaginei que sentiria algo assim, mas eu quero ser sua. — Falei enquanto ele mordia meu lábio inferior. — Completamente sua. Incapaz de se segurar, ele colocou as mãos por baixo da minha bunda e começou a dar o ritmo que queria. Ele aliviou quase todo o meu peso e passou a me foder, mesmo estando por baixo. Tudo que fiz foi me arquear sobre ele para que o meu clitóris recebesse o máximo de estímulo possível. Seu membro me preenchia por completo, parecia ser feito sob medida e eu queria que ele fosse fundo, cada vez mais fundo. Enquanto eu me deliciava com aquele pau, sorri instintivamente. Pietro sorriu de volta e a visão foi de tirar o fôlego. Eu subia e descia em seu membro, sentia-me preenchida por completo e não havia sensação melhor do que ele estar dentro de mim. A sensação foi dominadora e meu corpo inteiro respondeu aos toques firmes de Pietro. Cada estocada dele era uma onda de êxtase que me envolvia, me deixando cada vez mais próxima do precipício do prazer, eu não podia fazer mais nada a não ser me entregar àquele êxtase. — Nunca me senti assim antes, parece que você foi feito para mim. — Deixei-me levar pelo tesão e falei abertamente.
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— Fomos feitos um para o outro, — ele falou sem perder o ritmo. — Eu precisava de você, tanto quanto você precisava de mim. Me ajeitei mais um pouco e a leve inclinação extra do meu quadril fez com que ele me penetrasse ainda mais fundo e meu clitóris pulsasse enquanto se friccionava nele. Fechei os olhos e me concentrei o máximo possível em tudo que sentia. — Eu... nunca... — minha voz falhou por um instante. — Nunca gozei no pau de ninguém. Ele me agarrou pela nuca. — Pois vai gozar. Vai gozar no meu pau e me olhando nos olhos. — Ele rosnou e eu obedeci. Encarei Pietro e por aquele singelo momento, não havia mais nada no mundo. Somente nós dois. Arfei com os lábios entreabertos, focada somente em seus olhos. Enquanto eu me perdia na sensação queimante da fricção do meu clitóris na pélvis dele, sentia meu coração acelerar. O olhar de Pietro era intenso, como se ele pudesse ver diretamente na minha alma. Eu estava nua e completamente exposta, mas nunca tinha me sentido tão bem. Eu estava exatamente no lugar que deveria estar. — Eu vou... eu vou... — gemi manhosa enquanto ele puxava ainda mais forte o meu cabelo. Meu corpo formigava e minhas pernas estavam começando a tremer. — Fala o meu nome e goza no meu pau. — Ele ordenou com a voz rouca. — Pietro... — Eu obedeci. Gemi seu nome conforme o orgasmo tomava conta de cada terminação nervosa em mim. Cravei minhas unhas em seu peito e meu corpo começou a estremecer e se contorcer. Perdi a noção do mundo ao meu redor. Nada mais existia naquele tatame além de nós dois. Aquele não era mais um casamento por obrigação. Estávamos conectados por completo. Nossas mentes, corpos e alma haviam se tornado um só, estavam em perfeita sincronia.
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Meu corpo começou a ceder e Pietro me virou como se ainda estivéssemos lutando. Sem que pudesse me recompor, ele se colocou sobre mim e me pegou pela cintura. Ainda mole do orgasmo eu o deixei me comer como bem entendia. — Você está enxarcada e eu adoro isso. — Ele urrou, me penetrando cada vez mais forte. — É você quem me deixa assim. Ele continuou se movendo para dentro e para fora, estocando cada vez mais rápido. Também me beijou intensamente e eu correspondi. Sentindo o meu corpo mole, deixei os braços no chão enquanto envolvia sua cintura com minhas coxas. Eram as únicas forças que me restavam. Pietro mordeu o meu lábio e eu senti seu corpo se contorcendo sobre o meu, cada músculo do seu corpo parecia tenso e eu o senti jorrando dentro de mim. Aquele momento pareceu tão íntimo, como se estivéssemos flutuando num tatame onde mais nada existia. Ele deixou o corpo cair sobre o meu e eu o abracei sentindo a respiração pesada queimando em meu pescoço. Naquele instante, parecia que estávamos em um universo paralelo, só nosso. Seu corpo se entregou ao meu e eu o envolvi, sentindo sua respiração forte. Sua respiração aquecia meu coração, tranquilizando todas as minhas inquietações. Ter me entregado daquela forma me fez encontrar o conforto que eu tanto ansiava. A respiração dele foi se acalmando aos poucos, enquanto nossos corpos permaneciam entrelaçados, como se tivessem se ajustado perfeitamente. Na quietude que se seguiu, os ruídos suaves da noite pareciam abraçar nosso pequeno universo íntimo. Ficamos assim por algum tempo, saboreando o momento de paz e proximidade. Então, com um suspiro suave, ele se moveu levemente, soltando-se do abraço. Seus olhos encontraram os meus em um silencioso entendimento mútuo, como se compartilhássemos um segredo.
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Sem palavras, trocamos um sorriso terno e cúmplice, enquanto o tempo parecia retornar ao seu curso normal. Pietro me beijou novamente, com uma sensação de fôlego se renovando, ele me envolveu com sua perna. O ambiente tranquilo em nossa volta foi ficando carregado novamente, as carícias se intensificando e o pulso acelerando. Um olhar rápido, um último sorriso, e voltamos a nos beijar ardentemente, deixando o ar carregado de eletricidade e reacendendo a chama que queimaria por muito tempo naquela noite.
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No amplo salão de esgrima, a luz do sol poente passava através das janelas altas, destacando o brilho das lâminas e espadas que reluziam à medida que cortavam o ar. Eu estava de frente para April, vestidas em nossos trajes de esgrima, estávamos concentradas, prontas para começar o treino. April ajustou o cabo de seu florete com destreza, os olhos concentrados em mim. Ainda estávamos distantes, dei passos firmes em sua direção. Ela agiu cautelosamente, os passos eram leves, ecoando de maneira quase imperceptível na sala espaçosa. — Pronta? — Eu perguntei com um sorriso confiante e praticamente invisível. Ela ergueu sua espada, me cumprimentando sem falar nada. Assenti determinada e ergui minha espada da mesma forma que ela. Nos lançamos uma contra a outra, ela movia-se com graça e precisão, eu mantinha a velocidade e a força nos impulsos. Ela era habilidosa, rápida como o vento, mas eu estava focada, determinada a não ceder espaço. Avançamos e recuamos, nossos olhos fixos um no outro, buscando qualquer abertura. Nossos golpes eram rápidos, quase como uma dança coreografada.
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— Seus movimentos estão incríveis hoje. — Elogiei, enquanto esquivava de um ataque. Meus golpes eram poderosos e bem calculados, enquanto os dela eram mais ágeis e fluidos. Nós nos mantivemos daquela forma por vários minutos, poucas vezes conseguimos marcar algum ponto, mas não nos preocupávamos em determinar quem estaria na frente da disputa. Estávamos apenas treinando, ainda que nos dedicássemos ao máximo, buscando uma brecha no movimento da outra, mas nenhuma de nós cedia facilmente. Os minutos pareciam voar enquanto trocávamos golpes controlados. Cada um de nós buscava aperfeiçoar nossas técnicas, um desafio amigável e uma oportunidade de aprender. — Você também está melhorando — April respondeu, desferindo um golpe leve. O som metálico dos floretes se encontrando preenchia o salão, misturando-se ao som dos passos ritmados no chão. Ambas suávamos, mas não queríamos assumir o cansaço. Nos esforçamos cada vez mais, observando cada movimento, cada gesto, cada sutil mudança na postura. Finalmente, depois de uma série de trocas de ataques e defesas, eu percebi uma abertura no movimento de April, desarmei-a habilmente com um movimento rápido e preciso. A arma dela caiu no chão com um som surdo. — Boa, Catarina — ela disse, ao retirar o elmo. Admirei seu sorriso sincero enquanto ela recuperava seu florete. — Você melhorou muito, está menos aflita. Eu sorri, ofegante, e completamente satisfeita. Ela sempre foi melhor do que eu no florete e as poucas vezes que consegui me sair melhor do que ela com aquela arma era motivo de orgulho. Tínhamos uma rivalidade saudável, fazíamos de tudo para vencer, mas não nos sentimos mal quando perdíamos. Disputávamos desde a infância e a sensação de vitória naquele momento era indescritível.
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— Obrigada. Você também está afiada como sempre, mas recebi umas dicas de jiu-jitsu que foram úteis hoje. — Acho que já praticamos muito é hora de irmos para o vestiário. — É verdade, o treino realmente voou hoje. Vamos lá, estou exausta e preciso de um bom banho. — April sugeriu. Descemos os degraus da arena de esgrima, ainda com a adrenalina das lutas percorrendo nossos corpos. Eu finalmente retirei o elmo, revelando um sorriso confiante. — Me fala melhor sobre a sua aula de jiu-jitsu. — Ela comentou, caminhando ao meu lado em direção aos vestiários e um sorriso zombeteiro dançou em seus lábios. — Devo admitir que me surpreendi um pouco. — É sempre bom ter algumas técnicas extras. — Respondi, ajeitando o coque bagunçado que segurava meu cabelo e abrindo um sorriso largo. — A coisa pegou fogo da última vez, depois eu te conto melhor, quando estivermos sozinhas. Chegamos ao vestiário, aquele local que já havia testemunhado tantas de nossas conversas íntimas e desabafos. Nos sentamos nos bancos de madeira gastas, a sensação do descanso pós-luta nos revigorando aos poucos. April se acomodou ao meu lado, um olhar curioso se manifestando em seus olhos. — Então, me conta logo tudo que aconteceu entre você e o Pietro? — Ela perguntou, com um sorriso malicioso. — Pra ser sincera, digamos que… consumamos meu casamento. — Confessei, surpreendendo-me um pouco com o nível de detalhes que estava compartilhando com ela. — Ele é... mais cuidadoso do que eu esperava. Ele é um fofo com a mãe adotiva dele e nunca torrou minha paciência. Continuo trabalhando, faço meus treinos, dirijo sozinha por aí. Ele é diferente dos outros… — Interrompi minha frase e segurei minha língua para não revelar demais. — Diferente dos outros homens da família. — Isso é ótimo. Parece que as coisas estão se encaixando. — Ela comentou, demonstrando uma felicidade sincera pela minha revelação. — Tudo se encaixou perfeitamente.
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— Estou tão feliz por você, amiga. Por mais inusitado que seja um casamento por acordos hoje em dia, fico feliz que, agora, você esteja bem com tudo isso. Eu estava surpreendentemente bem. — Só não estou pronta para quando o meu pai me vir assim. Espero que ele não jogue na minha cara que estava certo ao escolher meu marido. — Vocês andam se alfinetando muito? — April perguntou. — Quase não o vejo mais. Na minha família é assim, agora sou a mulher de Pietro, é com ele que resolvo meus problemas. Só não quero imaginar o sorriso arrogante que vai estampar o rosto de papai quando ele perceber que estou feliz ao lado do homem que ele escolheu para mim. — Deixe o seu pai de lado, — ela disse segurando minha mão, — ou melhor. Deixe que ele veja sua felicidade e tenha orgulho disso. O importante mesmo é você estar bem. — Muito obrigado por tudo, April. Não sei o que seria de mim sem uma amiga tão dedicada como você. — Que isso, nunca fiz nada que você não faria por mim. — É verdade. Quero aproveitar e te chamar para tomar um café. Pietro vai me buscar hoje, ele insistiu e eu deixei, vamos para a minha cafeteria predileta. — Vou adorar me juntar a vocês. — Ela riu sarcástica. — Nada como ser a vela de um casal praticamente em lua de mel. Enquanto nos separávamos para tomar nossos banhos, sentia-me grata pela amizade de April e ansiosa para o encontro com Pietro mais tarde naquele dia. Juntos, apesar das circunstâncias, eles se tornaram os pilares do meu conforto e apoio. Eu já não conseguia imaginar como seria minha vida sem
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ter aqueles dois ao meu lado.
Senti-me animada ao entrar no Brittany's Cafe, com Pietro ao meu
lado. Avistei April, que acenou entusiasmada para nós. Ela estava sentada em uma mesa próxima à janela, de onde se podia ver a rua movimentada. Estava acomodada em uma cadeira confortável, com um cardápio dobrado ao seu lado. Uma xícara de café fumegante estava sobre a mesa, emitindo um aroma delicioso. Seu sorriso caloroso e os gestos animados contrastavam com a expressão mais reservada de Pietro, sempre próximo a mim, mantendo-se calmo e discreto. — Que bom finalmente me encontrar com vocês dois. — April cumprimenta-nos, porém, percebo sua atenção voltada para Pietro. — Acho que é a primeira vez que encontro vocês juntos desde o casamento. — Oi, April — eu respondi, sorrindo. — É verdade, faz um tempo. Pietro se aproximou da mesa e estendeu a mão para April. — Prazer em vê-la novamente — ele disse, com um sorriso discreto.
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— O prazer é todo meu — ela respondeu, com um olhar de admiração. — Vocês estão ainda mais bonitos do que da última vez que os vi. Acho que o casamento fez bem a vocês. Pietro apenas se sentou sem dizer nada. — Obrigada. — Respondi por nós dois. — Você também está muito bonita. April se sentou na cadeira à nossa frente e tomou um gole do seu café. — Então, Cat, como tem sido a vida de casada? — Tem sido diferente do que eu esperava. — Falei abertamente. — Não fomos nós que decidimos sobre o casamento, você sabe muito bem disso, mas aprendemos a conviver bem um com o outro. — Fiquei surpresa quando me contou sobre um casamento arranjado, mas o importante é que está dando certo. — April sorriu, satisfeita. — Nunca tive a oportunidade de dizer, mas a verdade é que vocês combinam um com o outro. Eu fiquei feliz em compartilhar um momento tranquilo e banal como aquele, mas Pietro parecia mais preocupado com as portas e as janelas. Talvez fosse o hábito de soldado falando mais alto. Passou tanto tempo se preocupando com a segurança que ainda não se acostumou em ter os próprios soldados vigiando as coisas em volta dele. — Vocês estão trabalhando juntos agora? — Ela perguntou para Pietro. — Sempre trabalhamos no mesmo local, mas em funções muito diferentes. — Ele respondeu. — Eu trabalho no administrativo e durante muito tempo ele cuidou da segurança. — Complementei. — Agora está focado na logística da transportadora. Eu respondi fingindo não ser nada demais, mas enquanto eu trabalhava somente com a parte lícita, Pietro cuidava dos negócios da Máfia. Pequenos momentos como aquele no café, cercados por um ambiente tranquilo e amigável, pareciam raros em nossas vidas agitadas e cheias de responsabilidades.
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Meu marido se manteve em sua postura rígida, mas eu conseguia notar que ele não se sentia incomodado por estar ali. April continuou com a conversa, fazendo perguntas sobre a vida de casados e comentando sobre algumas lembranças que compartilhávamos. A atmosfera era leve, e a troca de sorrisos, mesmo que discretos, iluminava o ambiente. Eu tentava engajar Pietro na conversa, mas sua atenção oscilava entre fingir interesse no papo casual e uma vigilância instintiva do entorno. Aquilo não me incomodava, ele não estava em seu ambiente natural e fazia de tudo para me deixar confortável. Era como se o instinto de sobrevivência dele estivesse sempre ligado no máximo, era algo que não se consegue desligar facilmente. E eu preferia que ele fosse assim. Aos poucos, ele se deixava envolver pela atmosfera calorosa da conversa. Seu sorriso discreto, quase imperceptível, indicava uma relaxada momentânea, como se, por um instante, ele conseguisse se permitir desfrutar daquele momento de descontração. A tarde fluiu suavemente, repleta de risos e lembranças. Foi um alívio desfrutar de um momento tão descontraído e leve, mesmo que breve, no meio de nossos dias atribulados.
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O despertador ecoou no quarto escurecido pelas cortinas. Pontualmente às seis da manhã, como qualquer outro dia. Despertei, movendo-me com familiaridade no ambiente que havia se tornado meu refúgio após o casamento com Catarina. Acomodei o terno com cuidado, vestindo-o enquanto percorria o corredor do segundo andar. Passei pela porta do quarto de Antonela, ela dormia tranquilamente e Mirian cochilava numa poltrona ao lado dela. Talvez aquele fosse um bom dia para minha mãe adotiva, mas eu não teria tempo de conferir. A manhã ainda não iluminava a cidade, mas o céu apresentava um leve tom azulado. Voltei para o quarto, Catarina dormia serenamente, ela cuidava apenas da parte administrativa, era minha a rotina desafiadora da vida mafiosa. Era meu dever manter a normalidade da transportadora, garantir que a empresa operasse sem contratempos, como se fosse apenas mais uma doca naquele cais, embora essa normalidade envolvesse contrabando de joias, artes e todo tipo de mercadoria pequena, mas extremamente valiosa. Atlantic City é uma cidade pequena em comparação com outras mais próximas como Filadélfia. O porto também era menor e tivemos que nos adaptar. Por isso nos especializamos em itens pequenos e valiosos.
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Desci as escadas de madeira, olhando brevemente para o retrato de casamento que adornava a sala de estar. Catarina ainda tinha os olhos ferozes naquela foto, tão diferente de como me olhava meses após a data. Não podia reclamar, cumpri a minha missão, consegui domar a fera Maldini e junto disso, conquistei uma esposa fiel e dedicada ao seu modo. Também subi na hierarquia da famiglia. O fato de ter deixado para trás minha posição como responsável pela segurança da transportadora pesava, mas agora focava na logística, que era crucial para os negócios da família. O silêncio da manhã foi quebrado pelo suave ronco do motor do meu carro, enquanto avançava pelas ruas ainda adormecidas de Atlantic City. Conhecia a cidade como a palma da minha mão, mapeando mentalmente rotas e estratégias, não apenas para evitar congestionamentos, mas também para garantir que tudo operasse com a eficiência que o mundo criminoso exigia. — Bom dia, patrãozinho. — Riccardo zombou quando eu parei o carro para ele entrar. O certo era que um soldado como ele fosse buscar um caporegime como eu, mas eu sempre gostei de dirigir e ainda não queria deixar essa minha mania de lado. — O pessoal que ficou no depósito de noite relatou algum problema? — Perguntei sem dar importância à brincadeira dele. Ele foi o primeiro soldado a me tratar com respeito e jamais brincaria de forma inadequada na frente dos outros. Aquilo que ele falou não me incomodava em nada. — Não. Está tudo quieto. — Ele fez uma pequena pausa. — Estranhamente quieto. — Eu penso o mesmo. — Falei voltando a percorrer as ruas sob o ronco do motor. — O pessoal ainda não deu um jeito nos Wolves, mas eles não atacaram mais. Tudo isso não parece combinar. — Não precisa mais se preocupar com isso. Deixe para os caras da linha de frente e para os seguranças.
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— Mas eu tenho que me preocupar. Qualquer um que tenha coragem de atacar o depósito pode ter coragem de atacar um caminhão. Não podemos relaxar, tem algo de estranho no ar, eu posso sentir. — Argumentei novamente. Ele deu de ombros concordando em silêncio. Voltei a dirigir rumo à transportadora, as primeiras luzes da manhã começavam a se infiltrar pela cidade, banhando os edifícios com um brilho amarelado. Os arranha-céus, símbolos de poder e riqueza, perfuravam o céu, exibindo o contraste entre a imponência e a vida cotidiana das pessoas que viviam abaixo deles. Atlantic City era um emaranhado de cenários, desde os luxuosos hotéis e cassinos na orla até as áreas residenciais mais modestas. Os sons da cidade despertavam lentamente. O zunido dos carros se misturava com os ruídos distantes do porto, onde os navios se preparavam para partir. As luzes piscantes dos letreiros neon anunciavam a vida noturna, mesmo que a cidade ainda estivesse despertando. E ali estava eu, navegando por essa teia urbana, meu território, minha responsabilidade. Era meu papel garantir a funcionalidade e a segurança dos interesses da família Maldini naquele labirinto urbano, mesmo que meu foco agora estivesse na logística. Afinal de contas, movimentar um caminhão cuja carga pode valer centenas de milhões de dólares sem levantar suspeitas e sem correr riscos não era uma tarefa qualquer. Os Wolves ainda espreitavam, mas eu estava preparado para lidar com qualquer um que se intrometesse no nosso caminho.
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A manhã transcorreu em uma rotina meticulosa e minuciosa por toda a cidade. Verificar a rota dos caminhões era parte crucial do dia, especialmente naquele dia em que uma remessa particularmente importante estava em jogo. Embora não acompanhasse cada veículo, aquela entrega exigia atenção máxima, sem margem para falhas. Após o almoço, finalmente voltei para o prédio da transportadora. Estacionei o carro e subi até o último andar, onde ficava o setor administrativo. Não era sempre que eu tinha tempo de encontrar com ela e precisava sentir o cheiro e o calor da pele de Catarina. O escritório dela era espaçoso e bem iluminado, com grandes janelas que permitiam a entrada generosa de luz natural. As cortinas de cor creme adornavam as janelas, filtrando o brilho do sol e criando um ambiente sereno e acolhedor. Também tinha uma ótima vista: as ruas movimentadas de Atlantic City e, ao longe, o horizonte do oceano proporcionavam um cenário acolhedor. O mobiliário do escritório era elegante e funcional. Uma mesa de madeira escura, imponente e bem-organizada, ocupava o centro do cômodo. Sobre ela, uma pilha de documentos meticulosamente
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organizados, indicando o ritmo acelerado e eficiente com o qual minha esposa gostava de trabalhar. Além disso, havia uma lousa branca na parede, preenchida com gráficos, planejamentos e lembretes, mostrando o comprometimento de Catarina com suas responsabilidades. Aquilo era o completo oposto do que eu vivi durante tantos anos. O acesso ao porão era por uma escada de metal enferrujada e estreita que se estendia a partir de uma porta discreta no canto mais afastado do depósito principal. Ao descer os degraus, adentrava-se um espaço opressivo e misterioso. Passei anos caminhando por aquele emaranhado de caixas empilhadas e prateleiras cheias de suprimentos, algumas delas cobertas por panos empoeirados e teias de aranha. O lugar tinha um ar de abandono, com uma umidade persistente que se infiltrava nas paredes de concreto, formando pequenas poças nos cantos mais escuros. No fundo do porão, havia um espaço mais protegido, onde o ar de mistério se intensificava. A iluminação era mínima ali, com apenas uma lâmpada fraca iluminando um cofre de aço maciço, situado em um pequeno recuo nas paredes de concreto. Enquanto minha esposa passou a vida toda aqui no último andar, eu passei quase toda a minha me esgueirando pelo porão. Mas os tempos mudaram. E eu fiz por merecer tudo aquilo, morte por morte. Catarina estava em pé. Imersa em papéis e documentos. De costas para mim, eu tive tempo de admirar aquela bunda deliciosa. Uma pena estarmos com a porta aberta, pois ela pedia por um tapa bem dado. Seu olhar levantou-se e ela se virou ao perceber que alguém tinha entrado em sua sala, um sorriso leve brotou em seu rosto. Não pude deixar de me orgulhar daquilo, por mais simples que fosse. Fazer Catarina Maldini sorrir na frente dos outros era mais difícil que invadir um dos esconderijos dos Wolves.
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— Como foi a sua manhã? — Minha voz, calma, continha um tom protetor inerente. — Um pouco bagunçada, porque mudaram algumas das minhas rotas hoje. Você, por acaso saberia de algum motivo por trás disso? Aquela era apenas uma pequena indireta. — Infelizmente, não. — Menti. Ela não sabia de nada específico sobre os negócios ilícitos e por mais curiosa que fosse, eu continuaria sem falar nada a ela. Catarina sempre lutou contra muitas coisas na família, mas acabava entendendo que quem trabalha na parte legal, não se mistura com o submundo. Era o melhor a se fazer. Dei de ombros e acabei deixando a imaginação fluir olhando para o chão. O piso era revestido com um tapete de cor neutra, conferindo conforto acolhedor ao ambiente. Também olhei para o fundo, onde a sala dela possuía uma poltrona estofada de couro que parecia bem confortável. — No que você está pensando? — Ela perguntou ao notar alguma faísca em meu semblante. — Na sua mania de querer ficar por cima. — Falei deixando nossos olhares se cruzarem. — Fico imaginando se este carpete é tão confortável quanto o tatame, mas acho que aquela poltrona ali seria ainda melhor para você fazer o que sabe. — Pietro... — ela falou com o rosto corando e a voz foi quase um sussurro. — Olha só, eu sempre soube que conseguiria te conquistar, mas nunca imaginei que te faria corar assim, feito uma adolescente. Catarina franziu o senho, e seus olhos brilharam com uma certa ferocidade. — Então você acha que pode entrar na minha sala e me provocar assim? — Ela falou, caminhando até a mim e depois segurou minha gravata. — Quer mostrar pra todo mundo aqui que domou a filha do Don Maldini? — Perguntou se sentando na mesa e me puxando levemente pela gravata.
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— Não. — Respondi com a voz tranquila antes de lhe dar um beijo na boca. — Não me importo se os outros pensam que você foi ou não domada, só quero que saibam que você é minha. — Ótima resposta. — Ela emaranhou as mãos no meu cabelo e me beijou ainda mais intensamente. — Se não estivéssemos tão ocupados, talvez eu experimentasse aquela poltrona contigo. Ela parece muito mais confortável que o tatame e vou me mexer ainda melhor. — Ela falou com os lábios bem próximos aos meus. — A proposta é tentadora... — falei descendo as mãos pelas coxas dela. — Mas infelizmente, você está correta. Estamos atarefados demais hoje. Só passei aqui para checar como as coisas estavam, devo voltar ao anoitecer. — Tudo bem. Não vai faltar oportunidades. O momento, embora fugaz, transbordava com a tensão sexual entre nós, mas tínhamos a consciência de que nossas responsabilidades viriam em primeiro lugar naquele dia. Tivemos de manter a paixão contida, eu estava comprometido demais com minhas obrigações no mundo da máfia, mas era evidente para qualquer um que nos visse, que existia um desejo ardente entre nós. — Nos vemos à noite. — Falei, me afastando dela. — Até mais. Assim que saí da sala, olhei rapidamente para o soldado disfarçado entre os funcionários. Ela não aceitava ter um soldado como motorista ou guarda costas, mas essa era um dos caprichos dela que eu não podia aceitar. Catarina era importante demais para mim e sua segurança viria em primeiro lugar. Seria impossível desligar completamente o instinto protetor que sempre mantive com ela.
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O sol ainda estava forte no meio da tarde enquanto eu dirigia meu carro, seguindo o caminhão da transportadora Maldini. A brisa balançava as árvores à beira da estrada, e o ruído dos pneus no asfalto era o único som presente. Ao meu lado, Riccardo fumava um cigarro tomando todo o cuidado para não deixar a fumaça me incomodar. Havia uma tensão no ar, mas até então, não tínhamos discutido sobre os detalhes do trajeto. — Você acha que isso vai dar certo? — Ele perguntou, finalmente quebrando o silêncio. Continuei com os olhos na estrada à frente e respirei fundo antes de responder. — Claro que sim, só precisamos ter cautela. Ele assentiu, parecendo não concordar muito com o que eu disse. Estava claro que a situação o incomodava, mas já tinha passado da hora de todos se acostumarem com as rotas que eu estava traçando. Aquela era a primeira carga de tanto valor que transportávamos desde que eu tinha assumido a logística, mas estava confiante nos meus planos.
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Queriam experimentar uma rota costeira pela Route 9 e a Garden State Parkway, passando por cidades costeiras de Nova Jersey como Ocean City que era comandada pelos Cannavaro. Era isso que me incomodava. Essa rota evitaria a proximidade com Filadélfia, uma enorme pedra no nosso sapato, mas seguiria ao longo da costa até a região de Delaware e precisaríamos de apoio da outra famiglia, antes de atravessar a Chesapeake Bay para chegar a Baltimore. — Depois que Bianca se casar com Giovanni, será mais fácil. — Confirmei meu ponto de vista. — Os Cannavaro têm grande influência naquela área, mas ainda não temos uma aliança formada pelo casamento com eles. — E você acha que por isso, eles poderiam nos trair? — Não, eles não fariam algo do tipo, Giovanni quer a paz tanto quanto nós. O problema é o quão frágil a situação ainda é. — Falei enquanto ultrapassava uma perua familiar. — E se algo acontecer durante a viagem? Antes do casamento, o que vão falar por aí? Nenhuma viagem como essa está livre de problemas e prefiro que nós mesmos sejamos os responsáveis. Riccardo assentiu, ainda que não parecesse convencido e eu deixei aquilo de lado. Não tinha que ficar me justificando para ele. O Caminhão ia até Washington com parte da carga sendo distribuída em Baltimore, minha escolha foi atravessar Delaware pela Route 40, cruzando a Chesapeake Bay Bridge para chegar a Baltimore e evitando passar próximo de Filadélfia. Mas eu só acompanharia a viagem até Carneys Point que ficava pela metade do caminho. Escoltar a carga de pedras preciosas não fazia parte do meu trabalho, eu tinha que traçar as rotas e garantir que tudo ocorresse sem maiores problemas. Como era a primeira vez que usávamos o meu trajeto, decidi acompanhar uma parte dele para certificar com meus próprios olhos que tudo estava bem. Por precaução, não movimentamos tudo de uma só vez, boa parte do contrabando ainda estava guardado nos cofres do porão da transportadora.
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A tarde se arrastava lentamente, o sol começava a se pôr lá fora, tingindo o céu de tons dourados que se infiltravam pelas janelas do escritório. Estava praticamente sozinha no último andar da transportadora, finalizando alguns relatórios. A maior parte dos funcionários já havia saído para casa. O silêncio reinava nos corredores, eu estava concentrada em meus afazeres, finalizando alguns relatórios, quando o som estrondoso de metal se chocando fez o chão tremer. Um baque forte ressoou pela sala, e, rapidamente, me ergui da cadeira, confusa e alerta. Ainda sem ter ideia do que estava acontecendo, corri para a janela, onde minha visão foi instantaneamente capturada por um enorme caminhão colidindo com a entrada da transportadora. O ruído do impacto ainda reverberava pelos corredores vazios do prédio. Meus olhos se arregalaram ao perceber uma fileira de motocicletas já estacionadas no pátio da transportadora, cada uma delas com motoqueiros trajando jaquetas de couro preto. Com as mãos tremendo um pouco e o coração martelando o peito eu busquei pelo meu celular. — Amor, — falei assustada assim que ele atendeu. — Estão invadindo a transportadora, vários motoqueiros, acho que são os Wolves,
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mas nenhum deles foi louco o suficiente para usar uma jaqueta com a estampa deles. — Como assim, Catarina? Quantos são? Está tudo bem aí? — Do outro lado da linha, a voz de Pietro soou calma, mas alerta. — Não dá para saber ao certo, mas acho que são pelo menos uns quinze, talvez mais. Eles chegaram de repente, um caminhão colidiu com a entrada, e agora eles estão por todo o pátio, como se estivessem procurando alguma coisa. — Fique onde está, Catarina. Apenas se proteja, não faça nada para se colocar em perigo, estou voltando pra cidade. Mantenha-se segura, entendeu? — Eu... onde você está? — Uma pausa abrupta interrompeu minhas palavras quando a linha ficou em silêncio. A ligação teria caído ou foi cortada por uma possível interferência do lado de fora? — Pietro? — Chamei desesperadamente, mas apenas a estática respondeu do outro lado. A sensação de impotência e medo tentavam me envolver enquanto eu rediscava o número do meu marido, mas a comunicação permaneceu interrompida. Um arrepio percorreu minha espinha enquanto eu tentava mais uma vez discar para o número de Pietro, só que nada além de estática respondeu do outro lado da linha. O meu coração martelava ainda mais forte em meu peito ao mesmo tempo em que minha mente calculava possibilidades, mas a sensação de desamparo tentava me dominar a qualquer custo. Eu olhei mais uma vez pela janela, os olhos fixos no pátio, onde os motoqueiros começavam a se movimentar, espalhando-se pela área como formigas negras em busca de algo. A coisa ficaria feia, muitos dos soldados que costumam ficar na transportadora estavam acompanhando o carregamento de hoje, não sabia a que distância Pietro estava da cidade, não conseguiria falar nada com meus irmãos, só que eu não deixaria que nada acontecesse comigo sem lutar. Sentia meu coração bater descompassado, um ritmo frenético que ecoava no silêncio agourento do escritório.
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A eletricidade foi cortada e as luzes desapareceram, mergulhando a sala na escuridão. Naquele momento, tudo o que me restava era minha própria respiração ofegante e a pulsante tensão no ar. Meus olhos vasculharam o ambiente, enquanto eu me acostumava ao escuro, procurando por alguma forma de defesa. Encontrei uma tesoura, agarrando-a firmemente como se fosse minha última linha de defesa. A lâmina brilhou no escuro, uma ponta de esperança em meio ao caos que se desenrolava lá fora. Cada som que ecoava no corredor era como uma adaga fria perfurando minha coragem. Passos pesados e vozes abafadas preenchiam o ar, fazendo-me estremecer a cada batida acelerada do meu coração. Meu corpo parecia tenso, pronto para reagir, mas um pouco de medo me incomodava a cada minuto que passava. Eu já tinha treinado muitas vezes, mas estar numa situação em que sua vida corre perigo é muito pior do que uma simples simulação. A verdade era que o silêncio se tornou ensurdecedor, a expectativa de um confronto iminente deixou um gosto amargo na minha boca. A incerteza era como uma névoa densa, obscurecendo qualquer possibilidade de raciocínio claro. Quantos motoqueiros eram no total? O que eles queriam ali em cima? Eles sabiam do cofre lá embaixo? — Vocês dois, chequem os escritórios, pode ter alguém escondido por aqui. — Ouvi uma voz gritando pelo corredor. — Precisamos sair rápido daqui, antes que alguém chame a polícia. Fiquei ali, imóvel e alerta, cada ruído me lançando em uma espécie de suspensão aterradora. Minha mente lutava para permanecer focada, tentando encontrar uma estratégia, qualquer brecha para me manter segura. Mas a tensão aumentava, a espera parecia durar uma eternidade, e a angústia consumia cada fibra do meu ser. Senti um calafrio percorrer minha espinha quando os sons metálicos indicaram que a fechadura da porta estava sendo forçada. Meu coração bateu descompassado enquanto me preparei para o pior. O atrito metálico crescente se tornou quase ensurdecedor à medida que
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os invasores investiam contra a porta. A madeira resistiu por um breve momento, mas logo os brutamontes robustos, trajando jaquetas de couro e capacetes, irromperam violentamente pela entrada arrombada. A luz fraca das lanternas iluminou suas silhuetas, destacando seus movimentos bruscos e suas feições ocultas pelos capacetes. Corri na direção de um deles, saindo debaixo da mesa e acertei sua coxa com a tesoura e passei para o corredor. — Caralho! — Ele gritou atrás de mim. A curiosidade foi o meu pior erro. Ele usava jaqueta de couro, mas tive a sensação de que a calça dele fosse do mesmo tecido de um terno. Olhei para trás e foi aí que tudo deu errado. O tempo que eu perdi fazendo o movimento desnecessário para trás foi o suficiente para o outro brutamontes me alcançasse. Ele não me agarrou pelo braço, ele bateu com a escopeta na minha cabeça me jogando ao chão. Minha mente rodou e o som do meu corpo batendo no chão foi seco e tão doloroso quanto o golpe. Eu gemi enquanto tentava me levantar, mas foi em vão. Tudo rodava e minhas pernas pareciam presas em concreto, nenhuma delas se mexeu. Ele parou perto de mim, com um olhar frio e ameaçador passando pela abertura do capacete, apontou o cano da arma em minha direção. O coração acelerou ainda mais, e o medo terminou de me paralisar. O outro cara mancava e praguejava. A coxa dele tinha sofrido um golpe violento, mas eles estavam armados e, por um momento angustiante, eu não soube o que fariam a seguir. — Não faça mais nada estúpido, garota! — a voz do invasor soou grave e intimidadora. — Onde estão os outros funcionários? Enquanto o motoqueiro proferia suas palavras graves e intimidadoras, sua voz ressoava no corredor, ecoando como um sinistro presságio. O outro invasor mancava, evidentemente ferido, mas eles ainda estavam armados e a incerteza pairava sobre o que aconteceria a seguir. A tensão no ar era quase insuportável.
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— Essa é a Catarina, não é mesmo? — O cara perto de mim perguntou para o outro que assentiu sem falar nada. — Tiramos a sorte grande, então. — Anda logo, fale onde estão os outros funcionários e me diga onde está a chave do cofre. — Eu não sei quem ainda está trabalhando, eu fiquei até mais tarde. — Fui sincera. — Quem cuida do cofre é o contador, mas não deve ter nada demais lá, você vai morrer por pouco. — Não me provoque, vadia. — Ele gritou. — Foda-se o cofre da contabilidade, quero a chave ou a combinação do cofre lá de baixo, do porão. Meus olhos se arregalaram e ele deve ter percebido, pois se aproximou ainda mais de mim. — Eu não sei de que cofre você está falando. Levei um chute no estômago que me fez arquear e tossir com uma vontade imensa de vomitar. — Procurem em todas as salas, vejam se encontram alguém da contabilidade e olhem o cofre de lá também. — Ele gritou com pessoas que eu não conseguia ver. — Você virá comigo. Ele jogou a arma para um terceiro comparsa que se aproximou deles e me agarrou pela blusa me puxando violentamente e me obrigando a levantar. — Vamos para o porão, você vai nos ajudar a abrir aquele cofre. — Eu não sei do que você está falando. — Pare de mentir, não teste a minha paciência. É melhor você colaborar e te deixarei viva ao fim disso tudo. — Eu não sei… Minha frase foi interrompida por um soco que eu recebi na nuca do cara que estava mancando. — Essa aí é a vadia do Pietro. — Ele falou rangendo os dentes. — Também é a filha do Don, ela tem que saber de alguma coisa.
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— É bom que saiba, ou você é que vai sofrer as consequências. — O brutamontes que parecia ser o líder esbravejou para o outro. — Foi você que nos disse para atacar hoje e pegar o que tinha no cofre, vai ser melhor se tudo der certo. Minha visão ficou turva por um momento após o impacto do soco, enquanto tentava reunir minhas forças. Aquele cara que estava mancando deveria ser um traidor, aquilo tudo cheirava a trabalho interno. — Eu não sei de nada. Não sei de nenhuma chave, combinação ou nenhum cofre. — Gritei, minha voz oscilando entre o desespero e a raiva contida. — Você deveria saber disso, seu traidor de merda. Nenhuma mulher da máfia tem informações sobre essas coisas. — Ela tem uma língua afiada mesmo. — disse o cara que me puxava pelo braço. — Essa mimada deve saber muito mais do que está falando. — O traidor falou. Aquela voz não me era estranha, mas minha cabeça rodava devido às pancadas e eu tinha dificuldade para reconhecer de quem era aquela maldita voz. — Chega dessa conversa fiada. Você tem informações e vai nos dizer o que sabe, nem que tenhamos que arrancar isso de você. — Ameaçou o líder com uma voz que transmitia crueldade. A situação era aterradora. Sentia-me presa no meio de algo que jamais imaginei que aconteceria. Sempre achei que o nome do meu pai impediria qualquer um de chegar perto de mim, mas acabei no meio de tudo aquilo. — Eu juro que não sei de nada — Insisti numa tentativa desesperada de apaziguar a situação. — Não tenho nada a ver com os negócios ilícitos! Os invasores optaram por um consenso silencioso, e sem me retrucarem, continuaram me arrastando na direção do porão. Acabei ficando calada também, envolta em um medo contido e na incerteza do que mais poderia acontecer. Queria que Pietro estivesse por perto. Continuei sendo escoltada escada abaixo, cada passo meu era monitorado de perto pelos invasores, que me seguravam com firmeza. Suas
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mãos ásperas e suadas agarrando meus braços sem me dar a chance de revidar. Meu coração batia descompassado e parecia ecoar nos ouvidos, competindo com a própria angústia que enchia minha mente. Queria uma brecha, uma oportunidade para derrubar algum deles e pegar uma arma para revidar. Só que eles sabiam o que estavam fazendo e não me davam nenhuma chance. Dois deles me agarravam pelo braço enquanto o outro que mancava acompanhava mais atrás. Eu ouvia outras vozes e passos, algumas eram femininas e outras masculinas. Ordens eram dadas ao longe e gemidos de espanto ecoavam. Era bem capaz que já tivessem tomado conta de toda a transportadora e rendido os guardas que cuidavam da segurança do prédio. À medida que descíamos pelas escadas rangentes em direção ao porão, a escuridão aumentava gradualmente, envolvendo-nos em um manto de obscuridade. A luz escassa e incerta, proveniente das lanternas, mal iluminava os degraus empoeirados e gastos, fazendo cada passo ser hesitante e perigoso. Os invasores próximos a mim, mantinham um silêncio ameaçador, interrompido apenas pelo sussurro ocasional entre eles. O cheiro de ferrugem e umidade se intensificava à medida que nos aproximávamos do porão, anunciando um ambiente ainda mais sombrio e desolador que eu nunca frequentava. Quando estávamos bem próximos do último lance de escadas, os invasores foram subitamente interrompidos pelo som inconfundível de tiros ecoando pelos andares superiores da transportadora. O barulho repentino de disparos ricocheteava pelos corredores, desencadeando um misto de surpresa e apreensão nos caras. — Mas que porra é essa que está acontecendo? — indagou um dos invasores, visivelmente perturbado com a súbita reviravolta nos acontecimentos. — A polícia não deveria chegar aqui tão rápido! Todos os guardas já foram neutralizados. — Matamos os dois soldados que ficavam perto do cofre e prendemos os seguranças. — disse outro cara. — Não era pra ter mais
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ninguém aqui. Será se Pietro já estava no prédio? Me tranquilizei ao imaginar que ele pudesse estar ali vindo me salvar. — Vá ajudar lá em cima. — disse o líder para o traidor mancando. O cara se virou e nos deixou para trás, infelizmente, eu ainda teria que lidar com os outros dois.
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Enquanto os tiros continuavam ecoando pelos andares superiores, os invasores mantiveram o firme controle sobre mim, arrastando-me escada abaixo com pressa e determinação. A incerteza que pairava no ar era palpável, envolta na urgência deles em manter o controle da situação, apesar da inesperada reviravolta. O trajeto pelo porão revelava um labirinto de caixas estocadas do chão ao teto, criando um emaranhado desordenado que dificultava a passagem. O ambiente era permeado por um odor característico de mofo misturado com sal, que impregnava as narinas a cada respiração. À medida que avançávamos por entre as pilhas de caixotes empoeirados, percebi um movimento discreto adiante. Um outro motoqueiro, diferente dos que me mantinham sob custódia, manipulava aparelhos eletrônicos, provavelmente tentando hackear o sistema de segurança do cofre. Seu semblante concentrado demonstrava determinação, enquanto seus dedos ágeis dançavam pelos dispositivos com destreza. O brilho do monitor iluminava levemente o rosto sério do indivíduo, revelando a tensão em seus olhos fixos na tela. — Porra! — Ele exclamou assim que me viu. — O que está acontecendo? Por que vocês estão aqui? Essa vadia viu o meu rosto, ela tem
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que morrer. — Gritou ao final. — Sem desespero. — disse o líder, me empurrando na direção do cofre. — Mudança de planos, não teremos mais tempo para hackear essa merda de cofre, mas ela vai abrir pra gente. — Eu não sei a… Nem consegui terminar a frase, pois um soco me acertou diretamente no estômago me fazendo dobrar e cair no chão gemendo. — Não banque a espertinha comigo. Será melhor para todo mundo se você cooperar. — disse o líder enquanto conferia as coisas ao nosso redor. — Tenho algo muito interessante para te contar, seja uma boa menina e vai saber por que a sua família será destruída. Tentei recuperar o fôlego enquanto me encolhia no chão, segurando minha barriga dolorida. A visão turva e as lágrimas queimando meus olhos não me impediam de ver a fúria no rosto do invasor sem capacete. Todos eles deveriam estar putos comigo, mas eu não estava mentindo, nunca me falaram nada sobre as atividades ilegais ali embaixo. — Não quero saber de nada que você tenha pra me falar e ficar me batendo não vai adiantar de nada. — Falei calma, segurando minha vontade de xingar todos eles. — Por mais que eu seja filha do Don, eu trabalho no setor administrativo, nunca me envolvi com nada daqui de baixo. — Essa é a Catarina Maldini? — perguntou o cara sem capacete. — Porra, vocês deixaram a filha do Don Paolo me ver. Eu vou matar essa vadia agora mesmo. — Para com essa frescura. — Gritou o líder tirando o capacete. — Está com medo dessa mulherzinha magricela? Seu rosto era marcado por uma barba desgrenhada e densa, com fios grisalhos entrelaçados, espalhando-se por todo o queixo e parte das bochechas. Nada daquilo escondia as cicatrizes finas que se destacavam na pele áspera, testemunhas de um passado repleto de lutas e brigas. — Você acha que somos idiotas? — gritou o líder, seus olhos faiscando de raiva. — Você sabe algo sobre esse cofre e vai me falar tudo. — Eu juro, não sei a combinação! — Falei, ofegante, lutando para me levantar e ganhar um pouco de tempo. — Eu não estou envolvida nisso!
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Eu sabia que a única coisa que me restava era tentar retardar o inevitável, esperando que a confusão lá em cima desse uma brecha para me tirar daquela situação deplorável. Seus olhos, penetrantes e duros, fitavam-me com uma intensidade intimidadora, como se buscassem desvendar meus pensamentos e segredos mais íntimos. Sob as sobrancelhas grossas e severas, brilhava uma intensidade furiosa e desconfiada, dando-lhe um ar de autoridade brutal e impiedosa. — Se você não sabe nada mesmo, então não tem nenhum valor para mim, posso te matar agora mesmo. — Ele disse pegando a arma de volta e apontando para mim. Eu sentia o coração acelerar enquanto procurava desesperadamente por uma forma de ganhar tempo, uma maneira de mantê-los ocupados até que a ajuda chegasse. — Eu sou filha do Don, é melhor não me matar. — disse controlando toda a ansiedade em minha voz. — Ouça todos esses tiros cada vez mais perto. Tenho mais valor viva do que morta. Os olhos do líder dos motoqueiros pareciam avaliar a veracidade das minhas palavras, um misto de desconfiança e ponderação expressos em seu olhar gélido. A arma permanecia apontada para mim, um indício claro de que minha vida pendia por um fio, dependendo de sua decisão momentânea. — Ouça, se vocês me matarem agora, não vão conseguir nada. Pelo menos enquanto eu estiver viva, tenho informações valiosas. Informações que podem ser úteis para vocês e… — Você acabou de dizer que não sabe de nada, está brincando com a minha cara, vadia? — Não… claro que não. Eu não sei nada sobre o cofre, mas sei de outras coisas. — Tentei persuadi-lo, mantendo minha voz firme, apesar da crescente agitação interna. Os tiros lá fora ecoavam cada vez mais próximos, as coisas não tinham saído como eles planejavam, dava para acreditar que a situação poderia virar a meu favor. Eu precisava mantê-los hesitantes, prolongar o suficiente para que a ajuda se aproximasse. A tensão no ambiente era incômoda pra caralho, o
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silêncio carregado com o peso da dúvida estampada na cara do líder. Um dos caras saiu de lá com a arma na mão assim que ouviu um barulho alto demais. — As rotas… — eu falei quando um brilho estranhamente perverso percorreu os olhos do líder. — Eles mudaram as rotas dos caminhões… — Que porra de rotas você está falando? — Ele rosnou se aproximando de mim. — Os caminhões da transportadora. Não sei quais deles possuem os contrabandos, mas posso dizer quais são as novas rotas se você me tirar daqui com vida. Eu não queria trair o meu pai, mas tive certeza que ele iria puxar o gatilho se eu não falasse nada relevante. A frustração contida em seus olhos era visível para qualquer um e era bem capaz que ele descontaria aquilo tudo em mim. Um estrondo soou estranhamente perto e o outro cara correu para fora da sala do cofre também. — Não sei como as coisas vão acabar hoje, mas, já que quer tanto conversar, tenho uma coisa para te dizer. — Ele falou com um tom de voz incrivelmente calmo, como se o mundo perto de nós não estivesse desabando. — Me fale o que tem a falar que eu posso te falar das rotas. Já tivemos mortes demais hoje. — Minha voz saiu tensa, tentando manter a compostura diante de tudo que acontecia. — Agora você quer me ouvir, cadê aquela vadia de língua afiada que desprezou o que eu tinha a dizer? — Ele retorquiu, sua voz carregada de sarcasmo e desprezo. — Eu estou aqui. Me diga o que tem a dizer, pode ter certeza que vai adorar saber sobre as rotas novas. — Olha, aquele fofoqueiro não parava de tagarelar sobre algo que descobriu que seria a causa da ruína da família Maldini. — Sua voz diminuiu um pouco, como se ele estivesse prestes a revelar algo grave. — O que seria isso? — Meu coração batia rápido, imaginando se ele sabia mesmo de algo grave que eu nunca tinha ouvido falar.
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— A família do seu querido Pietro morreu toda durante a guerra anos atrás. — Ele pausou, permitindo que as palavras penetrassem antes de continuar. — Mas você sabia que a culpa da família dele ter sido destruída foi do seu pai? — Mentira, você está mentindo. — Minha voz tremia, uma mistura de choque e descrença se manifestando. — Acredite se quiser. Foi o seu pai que causou a morte do pai dele, isso desestruturou a família Rossi e causou o resto das mortes. Imagine quão feliz o seu marido vai ficar ao descobrir isso, hein? — Ele provocou, sua voz carregada de crueldade. — Mentiroso do caralho! — gritei, me sentindo idiotia demais por deixar um inimigo me tirar completamente a compostura. — Nada disso é verdade. A raiva começava a dominar meu raciocínio, uma mistura avassaladora de emoções me inundava. Mas antes que eu pudesse reagir, ele me atacou desferindo um golpe com a empunhadura da escopeta. Uma dor aguda irrompeu na lateral da minha cabeça, irradiando-se como uma onda de calor. O mundo ao redor pareceu distorcer-se, uma sensação de tontura intensa tomou conta de mim, tornando tudo difuso e embaçado. Ele me puxou pelo braço e passou para trás de mim. Me agarrou com suas mãos nojentas e tentou me forçar a andar na sua frente. Minha consciência pareceu escorregar lentamente, como se estivesse sendo envolvida por uma névoa escura que se expandia rapidamente. Meu corpo, antes rígido e alerta, começou a ceder à fraqueza, os músculos perdendo força, as pernas amolecendo. Eu tentei dar um passo, mas não consegui. Talvez ele só quisesse me deixar com medo, mas o golpe foi muito forte e eu estava quase desmaiando. Minha visão se turvou progressivamente, como se eu estivesse olhando através de um véu translúcido. Os sons ao redor começam a desvanecer, tornando-se distantes e indistintos. — Vamos, vadia. — Ele ordenou enquanto minha cabeça não parava de rodar. —Você será o meu escudo humano pra sair daqui.
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Estava próximo de terminar minha viagem, quando o telefone tocou. Estranhamento, era Catarina, a preocupação em sua voz era evidente. — Amor, — ela falou assustada assim que eu atendi. — Estão invadindo a transportadora, vários motoqueiros, acho que são os Wolves, mas nenhum deles foi louco o suficiente para usar uma jaqueta com a estampa deles. Ela cuspiu as palavras, sua voz soando tensa e apressada. — Como assim? Quantos são? Está tudo bem aí? — Eu perguntei sem transparecer minha preocupação, mas me mantive alerta. — Não dá para saber ao certo, mas acho que são pelo menos uns quinze, talvez mais. Eles chegaram de repente, um caminhão colidiu com a entrada, e agora eles estão por todo o pátio, como se estivessem procurando alguma coisa. — Fique onde está, Catarina. Apenas se proteja, não faça nada para se colocar em perigo, estou voltando pra cidade. Mantenha-se segura, entendeu? Imediatamente, um turbilhão de pensamentos invadiu minha mente. Se fosse um ataque daquela magnitude, precisariam de, no mínimo, vinte invasores. O tempo era crucial, e a distância entre onde eu estava e a transportadora parecia uma eternidade.
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— Amor? Catarina? — Perguntei e somente estática respondia do outro lado. — O que está acontecendo? — Riccardo quis saber. — Invadiram a transportadora, Catarina conseguiu me ligar, mas o celular ficou mudo, devem ter dado um jeito de bloquear o sinal. — Vamos direto para lá. — Lógico que vamos, mas ligue para o subchefe e avise-o sobre a invasão na transportadora. — Ordenei, minha voz firme, mas preocupada com o que poderia estar acontecendo com minha esposa. Apesar da transportadora não ser o principal empreendimento da organização, nem mesmo o mais lucrativo, era o local onde a filha do Don trabalhava. A ideia de envolver a família dela nisso pairava em minha mente, mesmo que eu soubesse que era capaz de resolver tudo sozinho. Mas o tempo era o meu pior inimigo. Temia não ter o tempo necessário para lidar com a situação da maneira que pretendia. A sensação de perigo me atingiu, ainda que soubesse que ação precipitada poderia causar mais problemas. Lutava contra o tempo e as incertezas que pairavam sobre a segurança de Catarina e todos na transportadora. Se ao menos estivesse mais próximo... Aquele ataque mexia comigo, o dia e a hora que ele ocorreu era específico demais, se eu tivesse acompanhado o carregamento até o destino final como cheguei a pensar em fazer, Catarina estaria completamente à mercê dos invasores. Aquilo era estranho e parecia demais com um trabalho interno, mas quem poderia ser? Encarei Riccardo enquanto ele ligava para Mateo, ele estava na organização a mais tempo que eu. Embora soubesse de tudo que eu planejava, não conseguia imaginar que ele seria o traidor. Eles conversaram rapidamente e pude sentir um leve incômodo na voz do meu subordinado.
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— Se você soubesse que alguém próximo a nós estivesse agindo de forma suspeita, você relataria isso ou tentaria resolver por conta própria? — Perguntei, querendo observar melhor as reações dele. — Meu dever é relatar qualquer atividade suspeita imediatamente. — Respondeu prontamente, mantendo a compostura. — Não hesitaria em informar sobre qualquer coisa que pudesse prejudicar nossa organização. — Se tivesse ficado sabendo de algo nos últimos tempos, a quem você relataria? Riccardo manteve-se calmo, mas algo em seu olhar denotava cautela. — Depende... — começou ele, escolhendo cuidadosamente suas palavras. — Depende de quê? — Se eu tivesse desconfiando de um soldado, eu relataria a um caporegime, como você. — Explicou, mantendo sua postura confiante. — Se eu tivesse desconfiando de um caporegime, procuraria outro, algum mais antigo. — É mesmo? E por que faria isso? — Pressionei, buscando entender seus motivos com mais clareza. — Eu respeito a hierarquia, não cabe a mim ir falar com o consigliere ou o sottocapo. — Mas não se importou em falar com o Mateo agora. — Foi uma ordem sua e você é cunhado dele, achei... — Riccardo hesitou por um momento, e então respondeu. — Que dadas as circunstâncias, estava fazendo o correto. Um silêncio tenso pairou no ar por alguns instantes. Fiquei analisando as palavras e o comportamento de Riccardo, buscando por qualquer sinal de dissimulação ou desvio. — Você fez o correto. Ele assentiu. Riccardo era um soldado leal e isso estava evidente. Também não reclamou sobre o repentino interrogatório. Talvez eu estivesse exagerando ao desconfiar dele. Mas no meu mundo, não se pode confiar cegamente em ninguém.
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— Acho que temos um traidor na organização. — Falei abertamente. — Alguém que trabalha lá ou que conhece o funcionamento da transportadora. — Por que acha isso? — Perguntou chocado com a minha acusação. — Catarina falou pouco sobre o ataque, mas deu boas dicas. — Expliquei minha teoria enquanto acelerava o máximo. — Ela disse que um caminhão bloqueou a entrada e que os motoqueiros se espalharam pelo pátio antes disso. Então, eles entraram sabendo que conseguiriam sair pela água. Aquela entrada é o único acesso via terra. — Trabalhamos numa transportadora em um cais, todo mundo sabe do acesso via mar. — Ele respondeu tentado rebater o meu argumento. — Isso é óbvio, mas eles atacaram justamente hoje quando a maioria dos soldados estava acompanhando o carregamento. Os Wolves sempre nos incomodaram, mas nunca atacaram dentro do prédio, era sempre em contêiners ou caminhões, de repente, eles ficaram corajosos demais e o ataque foi no momento ideal, isso não pode ser somente uma coincidência. — Você tem razão quanto a isso. — Ele respirou fundo antes de voltar a falar. — Você poderia ter me dito isso antes e eu já teria falado com Mateo para ficar de olho na saída pela água. — Prefiro assim, que eles cuidem da entrada normal, nós vamos direto para os fundos. — Por que prefere assim? — Porque eu vou matar pessoalmente qualquer um que se colocar entre mim e a minha esposa. — Concluí, minha voz firme e determinada. Dei por encerrado o diálogo enquanto o carro seguia a toda velocidade em direção à transportadora, onde um confronto inevitável e sangrento estava prestes a ocorrer. O silêncio tomou conta do veículo, apenas o som do motor ecoava enquanto nos aproximávamos cada vez mais do nosso destino.
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A noite era densa, apenas os faróis do veículo cortavam a escuridão enquanto eu dirigia em alta velocidade em direção à transportadora. Cada segundo era crucial. O ronco do motor do carro ecoava pelas ruas desertas próximas ao porto. O ritmo acelerado do meu coração era a única coisa perceptível em mim. Sem perder tempo, conduzi o veículo até uma área próxima à doca, um local onde a ação dos motoqueiros ainda não era visível. Num movimento rápido, eu e Riccardo saltamos do carro e fomos até o porta-malas do veículo onde pegamos armas e coletes à prova de balas. Tínhamos que nos preparar para o confronto iminente da forma mais letal possível. A tensão pairava no ar, cada passo nosso era calculado. Tirei meu blazer e o joguei no carro. Vesti meu colete tático e, além da pistola, eu tinha um suporte onde deixava meu inseparável punhal. Não seria muito útil num conflito como aquele, mas era como um amuleto da sorte para mim. Deixei uma escopeta Remington presa ao meu corpo, joguei uma bolsa com metralhadoras e pistolas para Riccardo e fiquei com uma
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submetralhadora também que era de fácil manuseio e seria ideal para o espaço apertado do porão onde ficava o cofre. Estávamos armados até os dentes e prontos para a ação. Correndo por uma área de estacionamento lateral, nós dois nos movemos no máximo silêncio, e com toda cautela possível. Seguimos até alguns arbustos e nos embrenhamos por ali. Mantivemo-nos escondidos nas sombras. A vegetação densa oferecia uma cobertura perfeita para a aproximação sorrateira, queríamos ter certeza de que nenhum olhar indiscreto nos acharia e que teríamos uma vantagem estratégica quando entrássemos na transportadora. Eu controlava a respiração, mantendo a mente focada no objetivo enquanto me aproximava cada vez mais da entrada pelos fundos. Meus sentidos estavam aguçados, alertas para qualquer sinal de perigo. A adrenalina pulsava em minhas veias. Antes mesmo de pular o muro que nos separava da doca interna, pudemos ouvir barulho de barcos a motor. As lanchas eram pequenas e alguns dos motoqueiros já estavam fugindo. Aquilo me deu certeza de que havia algum trabalho interno. Eles não tinham ido ali roubar nenhuma carga grande, somente pessoas caberiam naquelas lanchas pequenas, eles queriam mesmo eram as pedras preciosas no cofre do porão. Com o cenário noturno como aliado, seguimos praticamente invisíveis até que algo inusitado chamou minha atenção. — Siga aquele cara. — Ordenei a Riccardo o mais baixo possível. — Aquele mancando, veja a calça dele toda suja de sangue, ele não me parece com um motoqueiro comum. — Mas... — ele hesitou por um instante. — Você vai invadir a transportadora sozinho? — Faça o que eu estou mandando, não tenho tempo para ser questionado. — Sim, senhor.
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Fiquei escondido enquanto Riccardo se esgueirava atrás do cara mancando, e depois, aproveitei das sombras para chegar próximo à entrada. Barulho de disparos dentro do prédio fizeram com que os dois guardas próximos à porta se distraíssem e eu aproveitei para acabar com eles. Um tiro de escopeta para cada. O som dos tiros, poderoso e vívido, ecoou através do corredor, sua reverberação carregando uma mistura de temor e impacto, que parecia vibrar no ar por alguns instantes após o estrondo inicial. Eu soltei a arma e me agachei perto da porta esperando por algum outro motoqueiro por ali, assim que ouvi alguns passos, mirei com a MAC- 10[11] e pressionei o gatilho brevemente para não exagerar nos tiros e desperdiçar munição. Retirei minha lanterna do colete tático e corri para a escuridão da transportadora. Fui direto para a escada que levava ao porão, eu não sabia onde Catarina estava, mas o cofre lá de baixo era o objetivo daquele ataque e era minha melhor aposta. Correndo em meio aos corredores apertados e escuros do porão, eu sentia a tensão se intensificar a cada passo. O ar pesado e carregado de um odor antigo de mofo e sal impregnava minhas narinas. Eu não sabia como estava a minha esposa e nem onde a encontraria, toda a dúvida em meio aquele local provocava uma sensação de claustrofobia. As caixas empoeiradas empilhadas do chão ao teto pareciam formar labirintos desconcertantes. Cada respiração era pesada, o ar impuro do porão misturado ao aroma da poeira acumulada tornava a atmosfera sufocante. O som de meus próprios passos era interrompido por disparos e gritos nos andares superiores. Vi um clarão no final do corredor e tive reflexo para apagar a minha lanterna e esperar, assim que vi um invasor virando a esquina, disparei e o vi caindo batendo na parede de caixas.
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Faltava pouco, estava bem próximo do cofre quando outro motoqueiro apareceu. — Merda! — Praguejei para mim mesmo enquanto atirava no cara. O maldito conseguiu disparar primeiro, mas acertou o meu colete. Por mais que eu estivesse seguro, tiros a queima roupa doíam pra cacete. Poucos passos me separavam da última esquina até chegar ao cofre e foi quando o meu coração disparou de vez. Catarina apareceu na minha frente, ela cambaleava e seu olhar estava estranho e distante sobre a luz da lanterna do maldito motoqueiro que a agarrava por trás. — Larga a arma ou ela morre. — Ele gritou pra mim. Rangi os dentes e, por mais que eu não conseguisse controlar, comecei a assoviar baixinho. — Está maluco, cara. — Ele berrou estranhando meu comportamento. — Solta a porra da arma ou a vadia vai morrer. Era estranho quando eu ficava daquele jeito, o mundo parecia em câmera lenta por alguns segundos. — Você já era. — Respondi estranhamente calmo. — O lugar já está cercado, se atirar em mim, com essa escopeta aí, vai me dar chance de atirar de volta. — Falei dando passos para trás e mantendo uma certa distância entre nós. — Se atirar nela, garanto que sua morte será dolorosa e você vai sofrer por semanas, talvez meses na minha mão. — Você é maluco, isso não é uma negociação. Solta a porra da arma. O idiota estava com uma escopeta, uma péssima arma para uma situação daquelas. Ver as mãos nojentas daquele motoqueiro tocando o corpo da minha mulher fazia o meu sangue ferver, mas eu continuava assoviando e com todos os sentidos alertas e estranhamente calmo. — É você quem não entendeu ainda. — Falei encarando Catarina. — Você já é um homem morto, pelo visto, seu ataque deu errado e agora só te resta escolher se vai morrer rápida e tranquilamente ou sofrendo o máximo possível.
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— Se eu sou um cara morto, então o que me impede de espalhar os miolos dessa vadia pelos ares. — Chame a minha esposa de vadia mais uma vez e te torturarei por meses enquanto você implorará por uma morte rápida. Dia após dia você vai sonhar com sua morte, mas ela nunca chegará. Eu precisava apenas de uma brecha, a diferença de altura e de tamanho dos dois me permitiria atirar no cara com relativa segurança, mas eu não tinha certeza se Catarina conseguia entender o que eu queria.
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O cheiro do suor dele impregnava as minhas narinas, misturando-se ao aroma metálico e angustiante do medo. Eu ainda me senti atordoada e, praticamente paralisada, no meio daqueles dois. Minha mente oscilava entre o medo e o nojo. Nunca tinha sentido tanto ódio na vida como estava naquele momento. Aqueles braços horripilantes me agarravam por trás e esmagavam minhas costas contra o peito do líder dos motoqueiros. Por vezes a barba asquerosa dele roçava meu rosto de tão perto que ele ficava para evitar levar um tiro de Pietro. — Você é maluco, isso não é uma negociação. Solta a porra da arma. Ele gritou e a escopeta ficou a poucos centímetros do meu rosto, era possível sentir o cheiro de pólvora. As mãos nojentas dele roçavam meus seios e eu me sentia suja e repleta de um ódio mortal. Queria que Pietro atirasse de uma vez e acabasse com tudo aquilo. — É você quem não entendeu ainda. — Pietro falou olhando para mim e vi um brilho estranho em seu olhar. — Você já é um cara morto, pelo visto, seu ataque deu errado e agora só te resta escolher se vai morrer rápida e tranquilamente ou sofrendo o máximo possível.
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Ele estava pronto para atirar, aquele brilho era igual ao que o motoqueiro teve quando eu me entreguei mais cedo. Pietro estava pronto, só precisava de uma oportunidade. O invasor, com olhos austeros e expressão impiedosa, mantinha a arma próxima do meu rosto, seu olhar penetrante viajava entre mim e Pietro. Reprimia qualquer movimento brusco, minha respiração acelerada ecoando no ambiente abafado. Meu coração batia descompassado, uma sinfonia ensurdecedora de ódio e ansiedade. Eu estava ali, presa em um jogo de poder onde a vantagem era uma linha tênue que eu queria esticar para o lado de Pietro. — Se eu sou um cara morto, então o que me impede de espalhar os miolos dessa vadia pelos ares. — O invasor falou próximo demais, tão colado em mim que sua respiração mexia os meus cabelos. — Chame a minha esposa de vadia mais uma vez e te torturarei por meses enquanto você implorará por uma morte rápida. Dia após dia você vai sonhar com sua morte, mas ela nunca chegará. Era um jogo de empurra, cada um em busca da brecha que os daria vantagem, mas meu marido parecia calmo demais e mantinha aquela odiosa mania de assoviar quando estava próximo de fazer uma loucura. Ele não parava de me encarar, mas seus olhos eram impassíveis. Por um instante foi como se ele não sentisse nada por mim, como se pouco importasse se eu fosse sobreviver. Mas aquela ideia era errada, eu tinha de estar errada, aquele olhar de psicopata não era o meu marido de verdade. — Eu vou matar a sua mulher, eu não estou brincando. O invasor me puxou para trás com um trancão e apontou a arma para Pietro. Foi aí que eu me dei conta. Aqueles olhos não eram para mim, eram para o motoqueiro. A situação já estava a nosso favor, ele não teve coragem de me chamar de vadia novamente, Pietro já tinha entrado na mente dele, só precisava de uma oportunidade, alguma vantagem mais concreta. Quando o invasor me puxou outra vez, eu aproveitei a oportunidade.
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A arma estava apontada para Pietro e eu joguei o meu corpo para trás, dando uma cabeçada no queixo dele, com força suficiente para desmaia-lo se pegasse em cheio. O estampido estridente do disparo da escopeta irrompeu no ar, bem próximo ao meu ouvido inundando o meu tímpano com um som abrupto e assustador. Um misto de agonia e determinação, cresceu dentro de mim, enquanto meus músculos se contraíam com a tensão do momento. Eu não sentia nenhuma dor, o tiro não pegou em mim, mas o que teria acontecido com Pietro? Uma rajada de tiros irrompeu novamente e eu não entendi direito o que estava acontecendo quando o agressor meu puxou novamente. Caí para trás com o peso do corpo dele. Agi rapidamente assim que consegui, virei o meu corpo, me desvencilhando dos braços dele e, assim que me levantei, vi com satisfação que o maldito motoqueiro estava cuspindo sangue. Não precisei olhar para trás. Antes mesmo que eu conseguisse me virar, Pietro me abraçou logo que chutou a arma do outro cara para longe. — Como você tá, Catarina? — Bem. — Respondi ofegante. — Por incrível que pareça, estou bem. Mantendo uma arma na mão, Pietro usou a outra para me puxar pela cintura e me beijou apaixonadamente. A urgência era perceptível na respiração dele. A língua invadiu minha boca e eu me deixei levar pela adrenalina do momento. O mundo parecia desacelerar por um instante, enquanto o beijo oscilava entre o desejo e a urgência desesperada. Emaranhei minhas mãos nos cabelos de Pietro e me entreguei àquele beijo completamente. A carícia se tornou uma mistura envolvente de desejo e alívio, uma dança de emoções em meio à adrenalina do momento. Eu me entreguei o máximo que podia esquecendo de onde estava e do que mais poderia acontecer ao nosso redor. Os lábios de Pietro se afastaram dos meus, mas o olhar intenso permanecia. Ele acariciou meu rosto com uma ternura surpreendente, seus
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olhos transmitindo um misto de alívio e preocupação. — Que bom que você saiu viva dessa. — Pietro falou, mantendo-se próximo a mim. — Vim direto para cá, o mais rápido que pude, mas não sabia se tudo daria certo. Assenti, sentindo-me reconfortada por sua presença. — Estou bem, Pietro, são só alguns machucados. — Eu sorri levemente, tentando transmitir tranquilidade. — É preciso muito mais do que isso para derrubar Catarina Maldini. Ele tomou meu rosto em suas mãos e me beijou novamente. — Eu destruiria o mundo por você, deixaria que tudo isso queimasse, mas ele não precisava saber disso. Eu o interrompi, apoiando-me nele e me aprofundando em seu abraço. — Você fez o que tinha que fazer. — Me apoiei em seu peito. — Não me importa a tática que decidiu usar, o importante é que estamos juntos e seguros. Vamos para casa, cuidar de mim e terminar este longo dia. Ele assentiu, afagando os cabelos da minha nuca, antes de se afastar ligeiramente para me olhar nos olhos. — Vamos conferir se já está tudo seguro e sair daqui. — Ouvimos tiros pouco depois de quando os motoqueiros me encontraram. — Eu o informei do que me lembrava. — Isso significa que a resposta foi rápida. Deve estar tudo bem, vamos. Seguimos cautelosamente pelos corredores sombrios do porão, a adrenalina do confronto ainda pulsando em nossos corpos. Pietro mantinha-se atento, verificando cada canto e procurando por qualquer sinal de perigo iminente. Seu olhar determinado irradiava uma confiança que me acalmava, enquanto avançávamos em direção à saída. Eu sabia atirar e, Pietro me passou sua Glock[12] para que eu me sentisse útil e segura. O eco dos nossos passos ressoava nos corredores vazios, cada som parecia uma nota de alívio após o caos que havia se desenrolado momentos
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antes. Vozes começaram a soar, muitas em italiano, o que nos deixou aliviados. Os homens da organização já deveriam ter tomado o prédio de volta, mas eu não me importava com nada daquilo. Só queria sair dali. Pietro liderava o caminho, seu semblante firme e sua postura determinada transmitiam uma sensação de proteção. Seguíamos em silêncio, trocando apenas olhares reconfortantes de tempos em tempos, cada gesto sendo uma confirmação de que estávamos juntos e seguros. Finalmente, ao nos aproximarmos da saída, uma sensação de alívio invadiu meu ser. O ar fresco da noite nos recebeu, e a lua iluminava o céu estrelado, oferecendo um vislumbre de tranquilidade após a turbulência. Pietro segurou uma de minhas mãos com firmeza e enquanto caminhávamos, pousou outra mão possessiva na base da minha coluna. Assim, ele me guiou em direção ao veículo, deixando para trás a tensão daquela noite. Ao nos afastarmos da transportadora, a sensação de alívio era palpável. Saber que estávamos um ao lado do outro, prontos para enfrentar qualquer desafio, preenchia-me com uma sensação de segurança e conforto. O carro ganhou velocidade, afastando-nos do local, e olhei para Pietro ao meu lado. Um sorriso terno brotou em meus lábios, agradecida por termos superado juntos mais um obstáculo. A noite se estendia diante de nós, algumas incertezas ainda pairavam, mas sabíamos que estávamos unidos para enfrentar o que quer que viesse em nosso caminho. Era o momento de voltar para casa e começar a curar as feridas, físicas e emocionais, enquanto nos fortalecíamos um ao outro para o que viria a seguir.
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Ao sair daquele ambiente caótico da transportadora, a sensação de alívio e segurança aos poucos tomava conta de mim. O ar fresco da noite, embora carregado de tensão, trazia uma calma reconfortante. Pietro mantinha-se concentrado ao volante, sua expressão séria contrastava com o cuidado que ele demonstrava ao me olhar de vez em quando. A cada milha percorrida, a distância daquele lugar sombrio me trazia um alívio crescente. O silêncio no carro era reconfortante, era como se cada quilômetro nos levasse para longe da turbulência e mais perto de um refúgio seguro. — Como você está se sentindo? — Ele perguntou sério, mas me olhou de esguelha para conferir meu estado. — A sua cabeça está doendo muito? — Eu estou bem, só um pouco tonta. — Respondi sincera. — Minha cabeça parece um turbilhão, mas vou sobreviver. — Tudo bem. Você se lembra de ter perdido a consciência? — Não, acho que não. — Falei conferindo o machucado na lateral da minha cabeça. — Só que tudo ficou meio confuso depois que ele acertou minha cabeça.
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— Você está sentindo dor de cabeça, náuseas, alguma sensibilidade a luz ou barulhos? Eu o vigiei por longos instantes, mas ele não olhou em minha direção. — Você virou enfermeiro agora? Está tentando descobrir se eu tive uma concussão? — A língua está afiada como sempre. — Ele finalmente me encarou. — Deve estar tudo bem com você. — Eu consigo me lembrar de tudo. Inclusive, eu acertei um cara com a tesoura e estranhei que ele parecia usar calça de terno e não algo de jeans ou qualquer outra coisa que os motoqueiros costumam usar. — Essa é a minha garota. Eu vi esse cara e mandei Riccardo ir atrás dele, acho que ele é o traidor. — Eu sei que é ele. Falei e depois desviei o olhar de Pietro e fitei as luzes da noite passando pela janela. — Conseguiu descobrir quem era o cara? — Não. A voz dele não me era estranha, mas não reconheci quem era. — Tudo bem, eu vou dar um jeito nisso. Eu tinha certeza de que ele conseguiria e ouvir aquilo quebrou algo dentro de mim. Quando finalmente chegamos em casa, tudo ficou dividido. Uma onda de gratidão inundou meu coração. Não era apenas o fato de estar em um lugar conhecido, mas sim, estar ali com ele. Pietro cuidadosamente me ajudou a sair do carro e, com passos tranquilos, me conduziu até nossa residência. E tudo aquilo estaria prestes a acabar quando ele descobrisse que foi o meu pai que causou a morte do pai dele. A sensação de estar em casa, naquele ambiente que se tornara tão familiar e aconchegante, me envolveu. O olhar firme de Pietro enquanto me acompanhava, me aquecia, mas eu lembrava de como ele estava minutos atrás, assoviando e pronto para
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matar todo mundo. Eu pensava no que ele poderia ser capaz de fazer com o meu pai. Um foi o homem que me obrigou a casar, o outro era o homem que me mostrou que um casamento por obrigação poderia se transformar em amor. Uma emoção forte me atravessou. Era o contraste entre a sensação de gratidão por ter alguém como ele ao meu lado, alguém disposto a arriscar tudo para me manter segura e o desespero de saber que aquele homem poderia se tornar inimigo do meu pai. À medida que adentrávamos a casa, lágrimas se formaram no meu rosto, pois um sentimento de pertencimento crescia dentro de mim. Eu me vi completamente apaixonada por Pietro, emocionada e grata por ele estar ali. Só que a vida pode ser muito cruel, já que tudo aquilo se acabaria no dia seguinte assim que ele descobrisse a verdade sobre meu pai. Eu não sabia se Riccardo tinha conseguido pegar o traidor, não tinha ideia se eles conseguiriam essa informação de outra pessoa, mas eu tinha certeza que não esconderia essa verdade do homem que eu amava. Só não estava pronta para contar tudo a ele. Pelo menos não naquela noite, naquela noite ele seria meu e eu seria completamente dele.
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A água morna abraçava meu corpo, um conforto reconfortante após um dia turbulento. O vapor envolvia-me suavemente, como uma carícia que dissolvia o peso da exaustão. Cada bolha de vapor parecia transportar consigo um pouco do fardo das lembranças recentes, e as gotas d'água deslizavam pela pele como mensageiros, levando consigo fragmentos dispersos do dia. Deixei o meu corpo submerso na água da banheira da nossa suíte enquanto repassava o dia em minha mente. Os eventos daquela jornada confusa desdobravam-se diante dos meus olhos. O assalto à transportadora, a sensação de vulnerabilidade enquanto era mantida como refém, as palavras cruéis e os golpes que não atingiram apenas meu corpo, mas também minhas emoções. Entretanto, a preocupação mais profunda era a incerteza do que viria a seguir. Aquele maldito motoqueiro parecia ter certeza do que falava, aquilo estava muito bem pensado para ser uma mentira qualquer. Era bem possível que fosse verdade aquela história de que meu pai causou a morte da família do meu marido. Pietro, o homem que eu tinha aprendido a amar, estava prestes a descobrir segredos do passado que ressurgiram, trazendo à tona um nó de ansiedade em meu peito. A incerteza de suas reações, de como ele lidaria com cada detalhe, provocava um receio palpável. Eu já sabia do lado de quem eu ficaria, ainda mais, levando em conta o fato de que somente, Luca, meu irmão mais novo veio me visitar. Ele foi um pequeno alento após o caos na transportadora. Tirei um tempo para pensar em sua visita, suas palavras de consolo durante aquela noite e o olhar de preocupação que sempre me acalmava. A presença do médico da família também trouxe um alívio momentâneo, garantindo que meus ferimentos não eram sérios. Enquanto a água morna acariciava minha pele, eu sabia que as feridas emocionais seriam as mais difíceis de curar.
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As marcas físicas se fechariam, mas as consequências da revelação iminente colidiriam com meu casamento e a preocupação pairava como uma sombra em minha mente. Aquela noite de incertezas e medos antecipados parecia estender-se indefinidamente, transformando a paz momentânea da banheira em um refúgio breve para reflexões e preocupações silenciosas. Mas uma coisa eu tinha certeza, eu queria Pietro perto de mim naquela noite. Queria sentir o calor de sua respiração e a presença marcante em meus braços... e minha cama. Cada suspiro que eu dava era um mergulho mais profundo no mar de emoções conflitantes que se agitava dentro de mim. Os minutos passavam, mas o turbilhão de pensamentos continuava presente. A banheira tornava-se um santuário transitório, um intervalo entre o caos do mundo exterior e a tempestade de emoções dentro de mim. Até que eu ouvi a maçaneta se mexendo e Pietro entrou no banheiro sem cerimônias. Ele me olhou intensamente, e, por um instante eu imaginei minha vida sem ele e a ideia foi devastadora. — Como você está? — Estou bem, o médico confirmou que não tenho nada quebrado e nem uma concussão. Devo estar pronta pra outra em pouco mais de uma semana. — Não fale assim, não quero que você passe por uma situação dessas nunca mais. — Eu não vou largar o meu trabalho. — Falei com a voz mais áspera do que eu pretendia. — Eu não te disse para lagar o seu trabalho. — Ele retrucou, se aproximando de mim. — Desculpa... Ele me encarou por alguns segundos como se fosse impossível aquela palavra sair da minha boca. — Você é minha e eu não aceitarei que nenhum outro homem encoste em você. — Ele falou e sua voz parecia mais rouca que o de costume. — Eu
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não queria que ele tivesse morrido rápido, ele merecia sofrer e pedir por misericórdia. — Eu adoraria vê-lo sofrer, me sentiria ainda melhor sabendo que foi o meu homem que o deixou agonizando. Não quero que mais ninguém me toque, só você. Eu me levantei, expondo meu corpo ferido para ele. Uma mistura de luxúria, preocupação e ódio percorreu o semblante de Pietro. — O único homem que pode deixar o seu corpo marcado assim, sou eu. — Ele se aproximou da banheira. — Ainda vou matar cada um daqueles motoqueiros. — Você me promete? — Sim. — Você conseguiu pegar o traidor que fugiu? — Ele me encarou estranhando o meu atrevimento. Os homens da organização não gostavam de compartilhar essas coisas, nem mesmo com as esposas. — Eu mereço saber, não foi ele que me agrediu, mas ele é o culpado por tudo isso que você está vendo no meu corpo. — Insisti, não pretendendo recuar. Um rosnado sutil escapou dos lábios de Pietro antes de ele responder. — Sim, Riccardo já o pegou. — Você vai até eles agora? — Pressionei um pouco mais. A ideia de não conseguir passar nem mais uma noite ao lado dele parecia insuportável. Não tinha como o motoqueiro ter descoberto tudo aquilo sozinho, era bem capaz que o traidor fosse o responsável por contar aquilo tudo a ele. Eu não queria que Pietro me deixasse sozinha aquela noite. — Não, ele vai esperar, esta noite eu vou passar com você. Meu coração errou uma batida quando eu ouvi aquilo. — Então venha. — Supliquei, a voz quase um sussurro. — Entre na banheira comigo. Pietro estranhou o meu pedido repentino, mesmo assim, começou a tirar o blazer. — Não, quero que você venha aqui agora.
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— Só vou tirar minha roupa. — Não... — sussurrei enquanto o segurava pela gravata. — Quero você assim. Ele me beijou, tirando os sapatos com pressa e eu insisti querendo me entregar completamente a ele. — Pelo menos hoje, você tem de fazer as vontades da sua esposa mimada. — Falei enquanto ele espremia meus lábios com os dele. — Depois de tudo que eu passei hoje. Eu mereço isso. Eu precisava senti-lo ao menos mais uma vez, ainda que tudo pudesse se perder no dia seguinte.
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Depois de um dia terrível como este, eu entendo muito bem como a vida pode ser injusta e até mesmo perversa. Passei a vida toda odiando o fato de que acabaria me casando com um mafioso e amaldiçoei o meu pai por ter confirmado o meu destino. Só para que meses depois, quando eu me apaixonei de verdade pela primeira vez, descubro que o meu pai, causou a ruína da família do meu noivo. A vida gosta de rir da minha cara, só pode. Eu não tinha certeza do que poderia ser pior, passar a vida toda sem descobrir o quanto eu poderia amar alguém, ou ter a segurança de que nunca teria o coração partido como poderia acontecer no dia seguinte. O peito de Pietro subia e descia pesadamente enquanto eu o puxava pela gravata. — Você está com sorte hoje. — Ele falou um pouco contrariado. — Serei obrigado a fazer suas vontades. Eu sorri daquilo, mesmo sabendo que ele gostaria tanto quanto eu daquele inesperado banho de banheira. Eliminei a distância que ainda restava entre nós, puxando-o com todas as forças até que ele entrasse na banheira.
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Nossas bocas voltaram a se tocar e eu olhei para ele desafiadoramente. — Não pense muito nas coisas hoje, apenas me deixe fazer o que quero. Ele baixou a cabeça olhando minhas mãos tirarem somente a gravata dele. Depois eu o segurei pelas mangas do blazer e o puxei para baixo comigo. Um brilho malicioso surgiu nos olhos dele enquanto nossos corpos se mergulhavam na água quente. Pietro arqueou uma sobrancelha, surpreso com a minha atitude. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, a água subiu transbordando pelas laterais da banheira. Eu sorri vitoriosa e confiante. Antes que eu pudesse reagir, seus lábios encontraram os meus em um beijo apaixonado e ardente. Nossos corpos molhados se roçavam, enquanto eu lutava para não afundar por completo na água. Descansando minhas costas na borda da banheira, soltei um gemido involuntário ao sentir o corpo musculoso de Pietro se aproximar. Ele se afastou um pouco, preocupado, mas fui firme: — Não se contenha. — Mordi meu lábio inferior, desafiadora. — Estou bem. Não serão alguns arranhões que vão nos impedir de aproveitar a noite. Seus olhos encontraram os meus, repletos de desejo contido, e avançou novamente. Nossos lábios se uniram, explorando-se de forma apaixonada, molhada e intensa. Nossos corpos se espremiam dentro da água e eu ansiava por Pietro. Meu interior já fervilhava enquanto eu o sentia seu pau se roçar em mim, ainda mesmo dentro da calça encharcada. Eu beijava meu marido, emaranhando meus dedos nos seus cabelos ainda secos e sentindo a roupa molhada dele grudar em nós dois. Aquilo deixava o seu corpo ainda mais rijo e aumentava a minha vontade de me entregar a ele.
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Era como se a água da banheira estivesse aquecendo com os nossos movimentos e eu me espremia debaixo do corpo dele arfando em vontade e antecipação. Choraminguei fechando os olhos e sentindo a mão de Pietro percorrer todo o meu corpo. Ondas de calor se espalham por onde os dedos fortes e marcantes passam. A água me deixa ainda mais excitava e a pele arrepia com facilidade. Sem que eu me desse conta, ele tomou o controle por um instante e o dedos firmes dele passaram pela minha abertura. Ele roçou de leve, me arrancando um suspiro e me calando com sua boca e com um beijo forte. Assim que ele esfregou um dedo no meu ponto sensível, mordeu o meu lábio inferior e engoliu cada um dos meus gemidos. — Eu não posso ficar quieto enquanto você me provoca, é impossível te deixar me provocar assim e não fazer nada. — Quero que você me foda como quiser, mas, por favor, comece com os dedos, eles já estão me deixando louca. — Minha vontade era de dar uma ordem, mas minha voz saiu como uma súplica. Ele me encarou. Eu pude sentir todo o desejo contido no poder daqueles olhos. Ele era penetrante, pulsante e avassalador. Quase tão poderoso quanto os dedos que massageavam meus grandes lábios. Eu não me casei virgem, mas não tinha feito muitas coisas, nem mesmo tinha transado em uma banheira e queria que minha primeira vez fosse com ele. — Vai, seja o primeiro homem a me possuir numa banheira. Os olhos de Pietro se consumiram em chamas e tesão. — Você teima em querer me dar ordens, — ele grunhiu, ainda mordendo os meus lábios, — mais ainda vai suplicar por mim. Minhas costas se prensaram contra a borda da banheira com ainda mais força e eu soltei um gemido de dor e prazer. Daquela vez, ele não cedeu nenhum pouco, apenas avançou ainda mais. Ele mergulhou a cabeça e chupou meu mamilo ainda dentro d’água. No mesmo instante em que pressionou meu clitóris com força.
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Minha boca se abriu e um gemido ecoou pelo ar daquele banheiro. Ele ficava me provocando, passando o dedo pelas bordas, pelo clitóris, mas sem me penetrar. — Eu... — falei assim que ele tirou a cabeça para fora da água. — Quero sentir os seus dedos me fodendo. Eu me senti como uma presa diante do caçador. E pela primeira vez na minha vida, adorei ser mais fraca que o homem que me possuía. Os dedos firmes e quentes continuaram me provocando, mas eu podia sentir que ele estava tão próximo de perder a cabeça quanto eu. Estava certa de que ele ia me penetrar com força e vontade. Era só questão de tempo e eu me entreguei às provocações dele. — Pietro... — gemi mordendo meus lábios. Jogo meus braços em volta de seu pescoço, a roupa molhada faz minha pele arder de tesão e os dedos me penetram sem nenhuma cerimônia. Primeiro um, só para testar minha umidade e logo em seguida dois. Os dedos dentro de mim se agitam com força e velocidade. Fazem um caminho repleto de urgência tentando penetrar o mais fundo possível. Meus braços em volta do seu pescoço o apertaram com ainda mais força e eu me ergui para senti-los cada vez mais profundos. Ele esfregou o dedão contra o meu ponto sensível me deixando completamente louca. Aquela fricção no meu clitóris me deixando perto de perder a cabeça. Meus olhos se reviraram enquanto ele chupava minha língua em sincronia com os movimentos que fazia com seus dedos entre as minhas pernas. Eu nunca tinha sentido tanto tesão em toda a minha vida, nem mesmo nas vezes em que me toquei sozinha. Mesmo debaixo d’água eu podia sentir o quanto estava molhada e não era por causa da banheira. — Continue assim — ordenei, arfando e gemendo. Ele não me respondeu, apenas continuou roçando o meu clitóris com um dedo enquanto os outros iam tão fundo a ponto de encontrar meu ponto G. — Ai meu deus! — eu praticamente gritei quando ele acertou o ponto exato.
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Uma onda de êxtase tomou conta do meu corpo. Ainda não era um orgasmo, mas o encontro repentino com meu ponto interior causou uma explosão incontida dentro de mim. Ele afastou o rosto do meu, foi o suficiente para nos fitarmos novamente. Ofegando, eu admirei seu rosto lindo e másculo. As feições do único homem que já tinha me feito gozar, do único homem que eu tinha amado e, provavelmente, perderia no dia seguinte. Balancei a cabeça fazendo com que ele mirasse meus olhos estranhando o que eu havia feito. Deixei aquilo de lado, não podia pensar naquelas coisas ou não aproveitaria direito a minha noite com ele. Ele pareceu tentar se controlar e me analisou, mas não questionou nada. Somente continuou com os movimentos precisos e deliciosos. Por alguns dolorosos segundos, eu fechei os olhos, até que qualquer sombra de dúvidas sumisse da minha mente e continuasse somente a luxúria. Percebendo onde tinha me causado mais prazer, ele diminuiu os movimentos contra o meu clitóris e se concentrou nos dedos dentro de mim. Cada vez mais ele acertava meu ponto G e meu corpo começou a tremer a cada encontro. Ele escorregou os dedos dentro de mim com menos força e mais precisão e não errou mais nenhuma vez. Cada penetrada me fez arfar com o toque entre a ponta dos dedos e o ponto mais sensível dentro de mim. — Quero que goze na minha mão. — Ele finalmente falou e me deixou ainda mais louca. Eu estava tão perto e aquela frase foi a cereja do bolo. Busquei por seus lábios, beijando com sofreguidão e espremendo meus gemidos neles. Mantive os olhos fechados, concentrando-me somente em tudo que o meu corpo sentia. Era como se a água quente me abraçasse ao mesmo tempo que ele me tocava. Os lábios ainda mais quentes me deixavam pronta para gozar e os dedos movendo-se em sincronia com as leves contrações dos meus músculos completaram o serviço. Todo o meu corpo tremeu e eu me segurei no pescoço de Pietro para não me afundar na água enquanto todas as minhas forças se concentravam no
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orgasmo que se espalhava por todas as terminações nervosas do meu corpo. Ele me beijou e me levantou da água enquanto tirava os dedos de dentro de mim. — Vou te foder como nunca te foderam. — Ele rosnou para mim. Reuni toda a minha coragem para responder. — Não. — Como é? — Ele retrucou incrédulo. — Por favor... — Eu balbuciei tirando o blazer molhado dele. — Goze na minha boca. — Eu quero a sua boceta. — Ele insistiu. — Depois. — Falei desabotoando os botões da blusa dele. — Nenhum homem nunca gozou na minha boca. Ele me encarou sem responder e notei uma janela de oportunidade. Me ajoelhei na frente de Pietro, abri o cinto dele e comecei a baixar suas calças deixando-o somente com a cueca boxar. — Por favor, — supliquei diante dele acariciando o seu pau duro e pulsante. — Quero cada gota da sua porra na minha boca. Notei o sorriso de satisfação e orgulho no rosto dele quando eu parei de acariciar o seu membro por cima da cueca e a abaixei, deixando Pietro completamente nu diante de mim. Seu pau grosso e duro já estava latejando quando eu beijei a boquinha dele antes de passar a língua pela glande. — Nunca supliquei antes, — falei com os lábios colados na cabeça do pau dele, — mas imploro para que você goze fundo na minha garganta. Eu sabia como homens gostavam de mulheres submissas em certas horas, naquela noite, quis dar tudo aquilo para Pietro. — Meu pau é todo seu. — Falou com a voz rouca. — Quero ver se consegue colocar ele todo na boca. Fui obrigada a obedecer e realizar a vontade do meu homem. Introduzi o seu membro na minha boca, molhando e aprofundando aos poucos. Quanto mais eu engolia, mais ele gemia e arfava.
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Era difícil fazer aquilo, Pietro era grande, além de grosso, mas eu me esforcei ao máximo por ele. Babei um pouco no pau dele e aproveitei que ele estava molhado pela água para sincronizar os movimentos da minha mão com os meus lábios que o sugavam com vontade. Conectei os olhos aos dele enquanto o chupava e nunca pensei que pudesse me sentir tão bem ao ser submissa a alguém. Pietro me encarava com luxúria impregnada nos olhos e se segurava para foder a minha boca. Eu podia notar pela forma com que ele cerrava os punhos que se eu não tivesse levado uma pancada na cabeça, ele estaria fodendo a minha boca com toda vontade reprimida dentro dele. — Sempre quis te ver assim, de joelhos e quase se engasgando com o meu pau. Eu fiz uma pequena pausa somente para sorrir provocativa e ver a angustia no semblante dele. Pietro não conseguia ficar um segundo sem sentir minha boca em volta do pau dele. — Você foi o único homem que conseguiu essas coisas de mim. — Falei manhosa pouco antes de voltar a chupá-lo. Ele passou as mãos pelos meus cabelos, acariciou minha nuca e me senti protegida e cuidada, pois ele se segurava para não machucar a minha cabeça. Não vou mentir, aquilo me preocupava um pouco, eu sentia uma leve dor na lateral e não queria que as coisas piorassem, mas não deixaria nada daquilo me impedir de fazer o meu homem gozar na minha boca. Movi uma mão para a coxa musculosa e forte dele para me ajudar a ter equilíbrio enquanto eu colocava toda velocidade nos movimentos de sobe e desce com a boca. Senti uma mão dele se emaranhando eu meus cabelos, mas ela não me incomodou e ele não exagerou na força. — Continue... — ele gemeu. — Vou jorrar toda a minha porra na sua boca. Ele impulsionou os quadris para frente devagar, mas com firmeza, e começou a foder a minha boca.
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Instintivamente, meus olhos se fecharam. — Abra os olhos, Catarina. — Ele ordenou com a voz rouca. Inconscientemente, eu obedeci. Abri como ele tinha ordenado e nossos olhos se encontraram. — Vai me encarar enquanto eu fodo a sua boca e gozo bem fundo na sua garganta. Ouvir aquilo foi muito melhor do que eu poderia imaginar. — Faça o que quiser comigo. — Falei ao me afastar um pouco do pau dele. e para fora algumas vezes. — Porra. Isso é tão Ele sorriu satisfeito e aquela visão foi maravilhosa. Voltei a chupá-lo fazendo com que minha boca o apertasse como uma luva. A mão que agarrava meus cabelos apertou um pouco mais e eu senti a tensão da coxa dele sob a minha mão. Meu homem estava prestes a jorrar na minha boca e eu estava mais do que satisfeita com aquilo. Obedecendo manhosa, eu voltei a fitar seus olhos enquanto o sorriso dele desaparecia. Todas as suas feições se concentraram profundamente. Ele devia estar se debatendo entre me foder com toda força e me machucar ou continuar como estava e não exagerar com a mão na minha cabeça. Deixei minha boca entreaberta, babando o máximo possível e fazendo com que penetração fosse molhada e escorregadia. Foquei na minha respiração quando ele exagerou um pouco na força e velocidade. Pietro estava próximo, eu podia sentir. — Catarina... — Ele gemeu meu nome conforme sua porra tomava conta da minha boca. Foi muito mais do que eu esperava, mas, como uma garotinha obediente eu fechei meus lábios e não deixei nenhuma gota escapar. Engoli todo o seu gozo enquanto suas pernas tremiam e sua respiração ecoava entrecortada em nosso banheiro.
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Quando ele tirou o pau da minha boca, eu sorri e voltei a beijar a boquinha dele somente para ver Pietro estremecer mais um pouco diante da sensibilidade do orgasmo. — Agora você pode ter a minha boceta. — Falei manhosa. — Mas, por favor, faça amor comigo em nossa cama. Quero ser sua como nunca fui de ninguém. — Você sempre foi minha e de mais ninguém. — Ele rosnou em resposta. Saímos da banheira e quando ele se virou para ir para o quarto eu o abracei pro trás passando as mãos em seu abdome e segurando as lágrimas que começavam a se formar. Caminhamos daquela forma até chegarmos na cama, e como se notasse meu estado, ele não disse nada. Eu guiei Pietro até que ele se sentasse na cama diante de mim e o abracei com todas as minhas forças. Aquela era a melhor noite da minha vida e eu imaginava que tudo acabaria no dia seguinte quando ele descobrisse a verdade sobre o passado dos nossos pais. Mesmo assim, eu não podia me conter e ficar sem senti-lo. Ele beijou minha barriga e depois os meus seios, chupou um mamilo com desejo e enquanto ele se deliciava comigo, uma lágrima escorreu no meu olho até cair no rosto dele. Pietro me olhou perplexo e se levantou antes de me perguntar: — Tudo bem com você? — A preocupação dele era genuína e aquilo tornava tudo mais difícil. — Sim, está tudo ótimo. Falei desviando o olhar e me deitando na cama. — Estão sentindo alguma dor? — Perguntou novamente. — Então por que estava chorando? — Porque eu te amo. — Admiti em voz alta pela primeira vez. — E hoje é a melhor noite da minha vida. Agora venha comer a boceta da sua mulher, hoje eu serei completamente submissa.
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Ele veio pra cima de mim, mas não avançou feito um animal, veio com cuidado e se deitou sobre mim. Ele não sabia da verdade e eu não contaria tudo ainda, mas naquela noite, Pietro não conseguiu me foder, apenas fez amor comigo tomando todo o cuidado para não piorar os meus ferimentos.
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A luz matinal invadia o quarto quando acordei. O brilho suave iluminava os cantos da cama fazendo Catarina se remexer incomodada. A lembrança da noite anterior persistia em minha mente, fazendo meu corpo se animar logo pela manhã. Infelizmente, eu teria de deixá-la dormindo sem fazer nada, pois tinha coisas demais para resolver e já tinha adiado bastante o interrogatório. Riccardo deveria estar louco por ter passado a noite toda vigiando o traidor, mas ele não reclamaria. Olhei mais uma vez para minha esposa. Catarina. Seus gemidos ecoavam em meus ouvidos, seu toque ainda palpável na minha pele. Aquela noite com ela tinha sido especial, uma lufada de ar fresco em meio à densidade sufocante do dia anterior. Peguei a chave do carro, deixando as memórias da noite inesquecível abrandarem conforme eu me afastava. O ronco do motor do carro off-road que eu tanto apreciava preencheu meus ouvidos. Segui meu caminho em direção ao galpão industrial alugado, aquele percurso foi quase automático, como se meu corpo estivesse indo lá por
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costume, mesmo que minha mente estivesse em outro lugar. Aquela área abandonada, próxima à saída para Brigantine, era agora um ponto crucial em minha vida. Foi uma escolha arriscada, mas eu decidi fazer aquilo e estava feliz com os resultados. Quando tínhamos que torturar alguém e o assunto fosse relacionado à transportadora, fazíamos isso no porão de lá. Mas no dia seguinte ao ataque, seria impossível. Os Wolves foram corajosos, quase imprudentes e tivemos que envolver a polícia naquilo. A parte de cima da Transportadora Maldini era um negócio de fachada e ter a portaria destruída por um caminhão e o pátio invadido por motoqueiros não passaria desapercebido. Polícia, repórteres, curiosos, tudo quanto é tipo de gente estaria lá durante as investigações e eu não lidaria com nada daquilo de início. Cuidar do culpado pelos ferimentos de minha esposa estava no topo de minha lista e eu deixaria todo o resto por conta dos Maldini. Mesmo que eles não gostassem daquilo, eu faria do meu jeito. Sempre estive familiarizado com as atividades do submundo. Era meu território, meu domínio, mas algo pairava no ar naquela manhã. Uma inquietude sutil e desconhecida me incomodava profundamente, uma sensação que eu não conseguia deixar de lado. O telefone vibrou no console do carro, quebrando a quietude da viagem solitária. — Seu convidado acordou e está ansioso por ver você. — Riccardo falou do outro lado da linha, sua voz carregada de um tom conhecido de seriedade. — Já estou a caminho, nunca gostei deste filho da puta, preparei algo especial para ele. — Respondi naturalmente. — Acho que ele vai abrir o bico e cantar feito um passarinho. — A voz dele continha uma pontada de expectativa, embora ele soubesse o quão imprevisível poderia ser uma tortura. — Espero que não. — Falei, me divertindo. — Quero que ele resista e me deixe brincar bastante.
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— Sabe... — A voz dele soou estranhamente hesitante. — Não quero questionar a hierarquia, mas o topo da famiglia vai querer saber dele. Aquilo era óbvio. A filha mais velha do Don foi pega no meio do fogo cruzado e toda a famiglia estava louca para pôr as mãos naquele cara. — Prometo deixá-lo vivo e vou entregar aos Maldini pessoalmente. Isso te deixa mais tranquilo? — Estou do seu lado, só não quero que tenha problemas demais. — Ele te disse algo? — Perguntei curioso sobre o que o traidor poderia ter revelado enquanto eu cuidava de Catarina. — Não perguntei nada ainda, — ele respondeu prontamente, indicando que tinha seguido minhas ordens à risca, — só fiquei esperando por você. — Fez bem. Estou quase chegando. Vamos nos divertir hoje, meu amigo. O som do telefone desligando ecoou na cabine do carro enquanto eu me aproximava do antigo galpão industrial. A estrutura abandonada se erguia diante de mim, um símbolo sombrio de negócios escusos. Eu sabia o que me aguardava ali, naquele espaço carregado de segredos e traições. Respirei fundo, focando minha mente para o que viria a seguir. Com passos firmes, adentrei o galpão, pronto para enfrentar o traidor e pôr um fim em tudo aquilo.
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Desci do carro, consciente da ousadia de ter alugado um local tão próximo à saída para Brigantine, quase no território da Família Morelli. Era um movimento arriscado, mas a proximidade com o porto e a facilidade de acesso haviam me atraído. Ao entrar no galpão, senti uma mistura de ansiedade e familiaridade com o ambiente empoeirado e abandonado que se estendia diante de mim. Era um local sombrio, um cenário onde segredos poderiam ser guardados e traidores seriam torturados até a morte. Eu estava trilhando meu caminho de volta ao topo e contaria com a ajuda inusitada de um dos homens que eu sempre desprezei. Caminhei pelo espaço decadente até alcançar o velho depósito onde Riccardo me aguardava, exibindo sinais de cansaço em seu semblante. Eu não pude deixar de provocá-lo. — Dormiu bem, meu amigo? — perguntei sem disfarçar a ironia. — Dormi tranquilamente, ouvir Vinnie chorar foi como música para os meus ouvidos. — Ele respondeu, com um tom de aceitação misturado com humor. Riccardo era um dos poucos em que eu já confiava, especialmente em momentos como aquele, quando as tensões estavam altas e as conversas poderiam moldar o meu futuro, ou resultar na minha ruína.
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Amordaçado e amarrado a uma cadeira de madeira maciça aproveitada de restos da construção, estava Vinnie, o maldito fofoqueiro que deveria ter usado as informaç~pes que conseguimos para acabar com os Wolves, mas preferiu se aliar ao inimigo. Deveríamos ter desconfiado dele mais cedo, aquele cara nunca me convenceu. — Bom dia. — Falei apertando o machucado que ele tinha na coxa e arrancando gemidos de dor dele. — Essa ferida pode infeccionar num lugar tão sujo quanto este, é melhor cuidarmos disso. — Completei olhando para Riccardo. Meu subordinado trouxe um vidro de álcool para mim e eu derramei na ferida. — Será que só isso já basta? — Ele perguntou entrando no meu jogo. — Acho que não, ainda pode ter dificuldade em cicatrizar. — Fiz uma pausa encarando o prisioneiro. Depois peguei um isqueiro no bolso e acendi. — Antigamente, o pessoal usava fogo para cauterizar feridas e evitar infecção. Soltei o isqueiro deixando-o cair em cima da coxa suja com o líquido inflamável e assisti Vinnie se debater um pouco enquanto a chama ardia brevemente. Álcool se consome muito rápido, aquele fogo não colocaria a vida dele em risco, mas causaria muita dor e me deixou satisfeito. — Adoro o cheiro de carne queimada pela manhã. — Falei antes de dar um soco com bastante força na cara do prisioneiro e assistir seu rosto balançar de um lado para o outro. Ele começou a se debater e a tentar falar, mas a mordaça não permitia. — Acho que ele quer falar algo. — disse Riccardo se aproximando de mim. — Tire a mordaça dele. — Vai tomar no cu. — Falou assim que Riccardo liberou sua boca. — Você me bateu sem nem me perguntar nada.
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— Quem disse que eu queria te perguntar algo? — Falei me abaixando para conferir a boca dele. — Sempre quis te dar um soco na cara e quebrar um dente seu, mas acho que estou sem prática, estão todos aí. Ele cuspiu em meu rosto e eu avancei pra cima dele. Desferi uma cabeçada certeira em seu nariz e o sangue escorreu em profusão. Peguei um lenço para limpar o meu rosto e o deixei praguejando. Andei até uma caixa de ferramentas e voltei com um alicate. — Segure a cabeça dele. — ordenei para Riccardo. Enquanto ele segurava Vinnie firmemente, eu obriguei o prisioneiro a abrir a boca e escolhi um dos dentes dele, fiz força com o alicate e enquanto ele esperneava e resmungava, arranquei um dos dentes pela raiz. — A próxima vez que cuspir em mim, eu arranco a sua língua. Ele não respondeu nada, apenas ficou gemendo e tentando libertar as pernas e mãos amarradas. — Chefe, se cortar a língua dele, ele não vai conseguir falar sobre o que queremos saber. — Riccardo argumentou ironicamente. — Mas ele pode escrever. — Rebati enquanto assistia o desespero de Vinnie aumentar. — O que seria mais fácil, ele escrever ou falar sobre o ataque de ontem? — Falar é mais fácil. — Respondeu meu amigo. — Eu não vou falar porra nenhuma. — Bom, se você prefere que ele fale, — eu decidi ignorar o que Vinnie estava resmungando, — então ele não precisa das mãos. — Comentei com Riccardo e caminhei até a velha caixa de ferramentas jogada no canto do depósito. Peguei um pinador pneumático[13] e caminhei com ele até ficar de frente para o traidor. — Deixe as mãos dele com os dedos arregalados. — Ordenei e meu subordinado obedeceu imediatamente. — Se não vai escrever, não precisa das mãos livres. Assim que terminei a frase, eu disparei um prego na carne entre o dedão e o indicador, um local sensível que fez o maldito gritar de dor.
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Enquanto ele se contorcia, eu preguei a outra mão também e desamarrei as duas. — Não seria uma briga justa de você estivesse com as mãos amarradas, não é mesmo? — Dei dois socos no rosto dele fazendo o sangue espirrar pelo chão. — Se quiser revidar, é só soltar as mãos. Isso se der conta da dor. Ele berrava e gemia enquanto eu assistia esperando que ele abrisse o bico. Aquele imbecil nunca foi conhecido por ser forte ou leal, ele entregaria tudo mais cedo ou mais tarde. — Vai, se solta daí e reaja. — Berrou Riccardo. — Ele não é bom de briga, ele gosta mesmo é de fofocar. Por falar em fofoca, sabia que quem desferiu o golpe que machucou essa coxa dele foi a minha esposa? Ela usou uma tesoura. Por isso eu gosto dela, sempre com uma chama nos olhos e cheia de coragem. — Você se acha muito bom por ter se casado com a filha do chefe. — Vinnie me provocou. — Uma vadia que nem era mais virgem, está comendo o resto dos outros. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Riccardo se adiantou e cravou uma faca na coxa sem ferimentos do traidor que gritou e se contorceu de dor. — Olha como fala da esposa do meu caporegime. — Eu encarei meu amigo e ele continuou falando. — Se ele não vai lutar, também não vai precisar desta coxa. Assenti sem falar nada. Somente me abaixei até onde a faca estava e a torci remexendo a carne e causando ainda mais dor. — Se sangrar demais, ele vai morrer. — disse Riccardo. — Ele vai abrir o bico antes disso, senão, chamamos um veterinário e fazemos alguns curativos e uma transfusão de sangue. — Olhei para Vinnie, tendo certeza de que ele estava prestes a contar tudo. — Eu sei que foram os Wolves, eu reconheci o cara que estava com Catarina, mas eu não acho que isso seja só obra sua, deve ter mais alguém envolvido. — Fomos só eu e os motoqueiros, eu juro, me mata logo.
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— Deve ter mais alguma coisa. — Voltei a falar. — Acho que teve envolvimento de alguém com patente mais alta, você nem deve saber por que tudo deu errado, tem mais gente nisso. — Eu não sei do que você está falando. — O ataque foi bem planejado, mas quem passou as dicas de segurança conhecia a rotina dos trabalhos ilegais e dos legais. Vocês sabiam de quase toda a segurança e das rotinas, não pode ter sido só você. — Não sei do que você tá falando, porra. — Ele insistia em negar. Eu notei uma sombra de curiosidade no semblante dele. — Eu deixei um soldado vigiando Catarina, ele não conseguiu salvá- la, mas pôde resistir à invasão. Por isso tudo deu errado tão rápido pra vocês. Agora você está aqui comigo e precisa decidir, quer morrer rápido ou vai continuar me enrolando e sofrendo. — Ninguém sabe de tudo. Eu não sabia desse soldado e você não sabe da verdade sobre sua família. — De que merda você está falando? — Perguntei dando um soco no estômago dele. O cara gemeu e cuspiu sangue antes de voltar a falar. — Foi o seu sogro que causou a morte do seu pai. — Como é que é? — Anos atrás, quando a cidade ainda era dividida entre as três antigas famílias mafiosas e sofriam para se livrar dos Wolves por aqui, houve uma tentativa de roubo aos carregamentos deles, era uma carga que estava destinada aos caras de Filadélfia. — Ele fez uma pausa para cuspir mais sangue. — Tudo deu errado, mataram gente da máfia de Filadélfia no meio do ataque e alguém precisava levar a culpa por isso. Paolo Maldini decidiu colocar a culpa no bêbado do seu pai. — Você está mentindo. — gritei dando mais um soco. As palavras dele me atingiram como uma punhalada na barriga, cortando meu interior em pedaços. Encarei-o com uma mistura de incredulidade e angústia. Ele respirou fundo, após tossir sangue e voltou a dizer com ar de quem acreditava em todas as palavras que proferia.
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— Os anos de sangue não foram causados só pela falta de união entre as famiglias, os Wolves estiveram fortes demais porque estavam com apoio da Máfia de Filadélfia. Depois que seu pai levou a culpa, eles se concentraram em acabar com os Rossi. Depois que sua família foi destruída, conseguiram amenizar as coisas e conquistar uma trégua pelo menos com Filadélfia. Riccardo me encarava com um pesar que me fez começar a acreditar naquilo. — Você não sabe de nada. — gritei mais uma vez para o traidor. Cada palavra de Vinnie era como uma torcida de faca no estômago, alimentando o ódio em meu peito. Continuei encarando-o, buscando desesperadamente por uma negação, uma explicação alternativa, mas seu olhar pesaroso confirmava a cruel verdade. A verdade que eu não queria aceitar. — Eu sei que eu sou a merda de um soldado que não tem voz para nada, é por isso que eu estou sempre de ouvido em pé e descobrindo todos os segredos. — Desculpe, Pietro, mas esse rumor sempre existiu. — E você nunca me disse nada? — gritei para Ricardo com uma intensidade impulsionada pela raiva. — Eu também era novo na época, disse que existia um rumor, mas nunca tive certeza. — A voz de Riccardo soou como um lamento de cumplicidade. — Além do mais, de que adiantaria te contar isso? Você veio das ruas para cá, era melhor ficar por aqui mesmo. — Eu nunca teria ido parar nas ruas se minha família estivesse viva. Minha mãe morreu por causa desta merda. Um silêncio denso pairou no ar, como se as palavras de Riccardo tivessem esvaziado todo o oxigênio do ambiente. As sombras do passado emergiram diante de mim, vívidas e impiedosas. Eu me senti enfurecido, como se estivesse preso em uma tempestade de lembranças e dor que eu nunca pude superar por completo. — Amordace este filho da puta novamente, tenho que pensar no que fazer daqui pra frente.
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Cada fibra do meu ser clamava por vingança pelo nome da minha família. Meu pai sempre foi um merda e teria morrido na guerra cedo ou tarde, mas minha mãe, por mais fraca que fosse, se tornou uma vítima no meio daquele fogo cruzado. Meu avô, meus tios, primos e tantas outras pessoas morreram em meio àquela confusão. Eu cheguei a morar na rua por um ano, tudo por causa da decisão de um maldito Don. Pior ainda era o sentimento de traição, Paolo Maldini deu a filha para conseguir criar uma aliança capaz de garantir que os Wolves e alguma das famílias de Filadélfia nunca mais se unissem contra Atlantic City, mas isso nunca teria sido preciso se os antigos figurões das três famílias daqui não tivessem virado as costas uns para os outros. A ira queimava dentro de mim, um fogo alimentado pela injustiça e pelo ódio, mas era obscurecido pela dor dilacerante de imaginar a maior perda que eu teria. Cataria era minha mulher e eu faria de tudo para ela ficar ao meu lado, ainda que isso custasse a vida do seu maldito pai. Com passos lentos e pesados, eu me afastei de Riccardo e Vinnie. A vontade de matar alguém crescia dentro de mim e de nada adiantaria descontar toda a minha raiva naqueles que estavam mais próximos. O eco do meu assovio ressoou no galpão abandonado enquanto eu caminhava para longe de lá com os pensamentos voltados para minha esposa. Por mais que eu quisesse, não poderia agir impulsivamente diante de tudo aquilo que eu acabava de descobrir, famílias demais já tinham sido destruídas por aquela guerra e eu não queria acabar de vez com a minha.
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No dia seguinte à invasão tumultuada da Transportadora, eu decidi enfrentar meu pai. Não havia tempo para hesitação ou incerteza. A descoberta de que Paolo Maldini estava por trás da morte de Antoni Rossi, meu sogro, abalou as fundações do meu casamento. Tudo tinha começado apenas como uma obrigação, mas isso já tinha mudado completamente para mim, Pietro era o homem que eu amava e não poderia ficar quieta diante daquela terrível verdade. Meus pensamentos estavam tumultuados, as emoções turvando minha visão enquanto dirigia em direção à mansão da família. Aquela revelação havia rompido a fachada de normalidade que eu acreditava estar criando em minha vida. Eu precisava ouvir da boca dele, mesmo que isso significasse voltar a confrontar meu próprio pai. Eu estava ciente das regras não ditas da organização, onde certos assuntos eram reservados aos homens. Mas nada disso importava para mim naquele momento. Eu enfrentaria meu pai como fizera tantas vezes antes, sem hesitação. Enquanto seguia pela estrada próxima à praia, uma sensação de desorientação invadia meu ser. Tudo mudara. Meses atrás, eu teria feito qualquer coisa para evitar o casamento com Pietro, mas agora, a simples ideia de voltar para a proteção
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dos meus pais e me afastar da casa, que até a noite anterior eu compartilhei com ele, parecia inimaginável. A vida tinha suas ironias, e eu me encontrava diante de uma delas, lutando contra as ondas de mudança que me arrastavam para um novo entendimento sobre o que significava compromisso, lealdade e amor. A sensação de traição e desolação que me envolvia era sufocante. Meu pai nunca tinha sido assim comigo, mas agora, eu descobri a verdadeira faceta dele. Um mafioso impiedoso e inescrupuloso que não mede as atitudes. Ele destrói qualquer um que estiver em seu caminho para conseguir o que quer. Ele me jogou aos lobos me obrigando a casar e as consequências do que ele havia feito anos atrás voltaram para me assombrar. O que mais me deixava indignada era que meu pai tomava as decisões, mas as consequências iam sempre para outras pessoas, nunca para ele. Talvez essa fosse a verdade por trás da organização. O Don faz as merdas, mas os outros é que têm de limpar. Por muitos anos, eu fui impedida de notar isso, pois era mimada e protegida por ele, mas assim que ele precisou me descartar, ele não teve problemas com isso e me obrigou a casar para realizar sua fantasia de unir todas as famílias italianas de Atlantic City. Assim que estacionei o carro na entrada da majestosa mansão, respirei fundo para acalmar os nervos antes de sair. Ergui-me do banco do motorista e me dirigi à imponente porta de entrada. Os soldados que faziam a segurança se entreolharam, um deles se moveu em minha direção, mas eu olhei para ele com tanto ódio que ele desistiu de questionar qualquer coisa. Segui meu caminho, mas antes que eu pudesse tocar a maciça aldrava de metal, fui surpreendida pela figura de Marco, o filho do meio do primeiro casamento do meu pai. Seus olhos expressavam uma mistura de surpresa e preocupação ao me ver ali, parada diante da entrada.
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Marco era mais reservado e educado, fora criado para ser um consigliere, mas era tão envolvido nos intricados detalhes da organização quanto qualquer outro ali. Sua lealdade à família era inabalável, eu me perguntei se ele sabia da verdade por trás da derrota da famiglia do meu marido. — Catarina, — disse Marco, seu tom carregado de apreensão. — O que você está fazendo aqui? — Até onde eu sei, essa ainda é a casa dos meus pais. — Desaforada como sempre. Depois de tudo que aconteceu ontem, você deveria estar descansando e se recuperando. — Também acho. — falei debochada. — Obrigada pela sua visita e o apreço em demonstrar como estava preocupado comigo. Luca foi o único que teve o bom senso de ir me ver, mamãe e Bianca me ligaram perguntando como tudo estava, os demais, nem mandaram mensagens, estavam apenas preocupados com resolver as coisas da organização. Marco suspirou, sua expressão alternando entre relutância e compreensão. — Só queremos o seu bem, alguém que levou uma pancada na cabeça não deve se exceder ou passar por momentos de tensão. Você deveria estar descansando. — Concordo contigo, vamos evitar que eu me estresse, então, por favor, dê licença e me deixe falar com papai. — Ele está ocupado demais desde o incidente na transportadora. — Ele mentiu descaradamente para mim. — Não é o melhor momento. A verdade era que o subchefe deveria estar resolvendo tudo enquanto papai fazia o que bem entendesse. Ele não se aprofundava nos negócios da organização há muito tempo. Eu sabia daquilo, pois sempre fui de observar tudo dentro daquela casa. A tensão se acumulou no ar entre nós. Eu sabia que enfrentar meu pai naquele estado seria desafiador, mas a necessidade de esclarecimento era urgente demais para ser adiada.
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— Por favor, Marco, — falei o mais calma possível evitando uma briga, pois ele seria mais fácil de convencer através do diálogo que simplesmente brigando. — É sobre coisas que eu ouvi ontem durante a invasão. — Pode falar comigo, eu falarei tudo para ele depois. — Prefiro falar diretamente com ele. — Cruzei os braços em frente aos meus seios. — Você sabe que eu posso ficar aqui o dia todo te encarando e te infernizando Marco hesitou por um instante, seus olhos encontrando os meus em uma disputa silenciosa de quem daria o braço a torcer. Por fim, ele assentiu com um aceno discreto. — Vamos falar com ele. — disse ainda que contrariado. — Mas eu vou te acompanhar até o escritório. Assim que passamos pela porta, tomei a frente, Marco tentou me acompanhar. Cada passo ecoava nos longos corredores, um eco de memórias que me fazia pensar sobre como deveria agir naquele dia. O chão polido refletia a luz suave que se infiltrava pelas janelas, enquanto meu coração batia descompassado. Minha mente estava uma bagunça de emoções conflitantes. A necessidade de respostas e justiça se chocava com o receio do confronto iminente com o chefe da organização. Recordações de momentos felizes naquela casa misturavam-se com o peso de tudo que ele havia feito comigo. Tempos atrás ele era apenas o pai carinhoso que mimava a filha, nos últimos anos ele havia se tornado um insensível que me usou para conseguir o que queria. Eu não podia ficar quieta, mas algo dentro de mim dizia que eu não deveria agir como a Catarina de antigamente. O que iríamos discutir ali poderia custar a vida de alguém. Pior ainda, poderia destruir o meu casamento. Cada passo aproximava-me do escritório, um reduto de poder e segredos, mas também o lugar onde eu confrontaria o passado e buscaria resolver o presente tumultuado. Entrei no local, consciente do peso das minhas palavras e do encontro iminente com meu pai. Ele estava sentado tranquilamente atrás de
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sua imponente mesa de mogno, folheando um jornal como se sua filha não tivesse sofrido nada no dia anterior. Aquilo fez o meu sangue ferver, mas eu me segurei pensando no peso de tudo o que precisava ser dito. — Pai. — Minha voz soou firme, mas carregada com um turbilhão de emoções que eu tentava controlar. Meu coração batia rápido, mas minha expressão estava determinada. Ele ergueu os olhos do jornal, seus olhos castanhos fixando-se nos meus com uma calma que contrastava com a tempestade emocional dentro de mim. Não havia surpresa ou alarme em seu rosto, apenas uma serenidade calculada. — Catarina. A que devo a honra da sua visita hoje? — Seu tom era calmo e cortês, como se aquele fosse um dia qualquer. Respirei fundo, reunindo coragem para enfrentar a situação de frente. — Preciso falar com o senhor sobre algo muito importante. — Minhas palavras saíram com determinação e tranquilidade, embora uma parte de mim desejasse gritar com ele. Ele abaixou o jornal lentamente, os olhos fixos em mim, uma expressão enigmática que revelava poucos sentimentos. Seus traços pareciam impassíveis, mas eu sabia que por trás da fachada de calma, havia um homem acostumado a controlar os fios invisíveis dos negócios e da família. — Claro, minha querida. Sente-se. O que há de tão importante? — Ele indicou uma poltrona em frente à sua mesa. — Quero conversar sozinha com você — falei assim que me sentei. — Não tenho motivos para não discutir as coisas na frente do meu filho. — Quero falar sobre a morte do meu sogro, tem certeza de que ele está pronto para ouvir sobre isso? Houve um silêncio no escritório, enquanto papai processava minha fala eu observei uma interrogação surgir no semblante de meu irmão. — Nos deixe a sós. — Paolo ordenou e, por mais curioso que Marco parecia estar, ele saiu sem questionar. — O que foi que mentiram para você?
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— Papai perguntou assim que meu irmão saiu. A troca de olhares entre nós parecia carregar todo um histórico de decepções e verdades ocultas. Meu coração batia forte, mas mantive o olhar firme, determinada a prosseguir. — Se fosse mentira, você não estaria sozinho comigo. — Respondi fitando seus olhos. — Me disseram que foi você que causou a morte de Antoni Rossi, queria conversar com você antes de tomar a minha decisão. Eu já sabia o que eu faria com aquela informação, mas estava cautelosa, aquele diante de mim não era o meu pai, era o líder impiedoso da Família Maldini. — Não se meta nos assuntos da organização. — Seu tom era autoritário, seus dedos cruzados em um gesto de impaciência. — Não cabe a você tomar parte nessas coisas. — Eu cumpri meu papel, não cumpri? Me casei, me comportei como uma esposa obediente e até sustentamos a farsa de que eu era virgem. Agora você pode prosseguir com seus planos e selar a aliança com os Cannavaro. Acho que mereço saber toda a verdade. Seu olhar impassível parecia querer cortar minhas palavras no ar. — Você não precisa se intrometer nos assuntos da organização. — Repetiu, tentando reafirmar sua autoridade. — Não são assuntos da organização, são assuntos da minha família. — Minha voz carregava um tom de desafio, mas sem exagerar no tom, uma firmeza calculada que surpreendeu até a mim mesma. — Eu sou a sua família e você tem que ficar do meu lado. A expressão de meu pai endureceu, sua paciência rapidamente se esgotando. — Desculpe, papai, mas você venceu sua primeira batalha e agora terá que lidar com as consequências. — Do que você está falando? — Você venceu ao escolher o homem certo para mim, mas errou em ter causado a destruição da família dele. Agora, Pietro é minha família e eu vou contar para ele tudo o que eu sei.
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— Por que você faria isso? — Ele levantou o tom de voz e uma veia pulsou em sua têmpora. — Porque eu amo o meu marido. Mas em respeito a tudo que vivi aqui, quis dar a você a oportunidade de fazer o correto e assumir a responsabilidade pelo que causou. Minhas palavras foram claras, sem hesitação. A tensão pairava no ar enquanto as verdades dolorosas eram pronunciadas, marcando um momento crucial entre mim e meu pai.
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A estrada se estendia à minha frente, enquanto o rugido do motor ecoava pela paisagem. Minhas mãos apertavam o volante, uma mistura de raiva e inquietação se espalhava por dentro de mim. Não pude evitar o desejo de vingança assim que descobri a verdade sobre o Don Maldini, seu papel na morte do meu pai, e o declínio da minha família, mas eu não faria nada precipitado. Por mais que tudo isso revirasse feridas antigas, trazendo à tona um ódio que eu tentei conter a vida toda, não queria colocar meu casamento em risco. Catarina não estava em casa quando eu a procurei. Não havia deixado nenhum bilhete, não atendia minhas ligações, nem respondia minhas mensagens. Eu já sabia que ela tinha ido para a casa do pai. Aquilo me atingiu como um golpe. Afinal, por que ela iria para lá logo depois de tudo que tivemos na noite anterior. Será se ela sabia de algo também? Meu instinto dizia que ela sabia e estava daquele jeito por desconfiar que eu acabaria descobrindo algo. Se fosse isso mesmo, ela sempre soube daquilo ou tinha descoberto algo durante a invasão? Aquela manhã cinzenta parecia refletir meu próprio estado de espírito. O céu nublado e o ar pesado combinavam com o clima turbulento
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que tomava conta do meu interior. Minha mente estava uma bagunça, cada pensamento uma colisão entre o passado e o presente. Eu acreditava conhecer Catarina, mas as circunstâncias me forçavam a duvidar. Teria ela escondido algo de mim? Ou teria ela descoberto algo tão chocante quanto eu? Perguntas sem respostas dançavam em minha mente, alimentando minha impaciência e desconfiança. A mansão Maldini surgiu à minha frente, imponente como sempre e foi impossível não pensar na casa de meu avô. Não era tão grande como aquela, mas era suntuosa e eu acabei imaginando como teria sido a minha vida se meu pai não tivesse morrido. A vida ao lado do meu pai não era boa, mas era bem melhor do que ter morado nas ruas. Só que se nada disso tivesse acontecido, era bem provável que meu caminho nunca tivesse se cruzado com o de Catarina. Entrei pelos grandes portões de ferro sem nenhuma cerimônia e um soldado veio com passos firmes e parou em minha frente, me impedindo de chegar até a porta da casa. — Senhor, sua entrada ainda não foi autorizada. — Um jovem robusto e leal à família Maldini, ergueu a mão num gesto de contenção. — Encoste esta mão em mim e vai ficar sem ela. Ele abaixou o braço devagar. — São ordens superiores, senhor. — disse o soldado, seu tom cauteloso, mas firme. — O Don Maldini está tratando de assuntos familiares e nos pediram que ninguém interrompesse neste momento. — Pois é justamente isso que eu vim tratar aqui. — Franzi o cenho, sem nenhuma vontade de esconder toda a minha impaciência. — Minha mulher está aqui e eu vim falar com ela, não será um soldado que vai me impedir. Era fácil notar o medo nos olhos do garoto. Ele estava cumprindo ordens, mas eu não teria pena de ninguém que se colocasse entre mim e Catarina. — Nós não vamos deixar você entrar. — disse Luca, o meu cunhado, saindo de dentro da mansão.
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— Que milagre você estar acordado. — Provoquei, deixando a impaciência falar mais alto. — A tarde mal começou e você já decidiu nos dar o prazer de sua companhia. Ainda que Luca fosse da mesma idade que eu, ele ainda vivia como se fosse um jovem universitário bebendo todas as noites e tentando comer o máximo de mulheres que conseguia. — Não queremos problemas contigo. — Ele falou me encarando. — Mas se insistir em nos desrespeitar, serei obrigado a tomar medidas violentas. — Acredite em mim, Luca, — falei mantendo a calma, mas fazendo questão de transparecer a tensão que cortava o ar, — se eu tivesse vindo aqui com intenções violentas, você não teria tempo nem de pensar em reagir. Volte para suas noitadas e me deixe resolver as coisas com os adultos. — Temos a mesma idade e a mesma patente, — Luca arqueou as sobrancelhas, uma mistura de raiva e desafio em seu olhar. — Não me trate como se eu fosse um moleque qualquer. — Então pare de agir como um. Vá para as ruas resolver os problemas da organização e me deixe cuidar do meu casamento com o meu sogro e a minha esposa. Marco, o filho do meio do primeiro casamento de Paolo, apareceu na entrada com uma expressão serena e olhos atentos. Seus passos eram calmos, mas sua presença trazia consigo uma autoridade natural. — O que está acontecendo aqui? — questionou Marco, seus olhos percorrendo a cena com preocupação evidente. Me virei em direção a ele, mas fiquei calado, me concentrando em não perder a paciência de vez. — Estávamos apenas tentando fazer cumprir as ordens do pai. — respondeu Luca. Marco lançou um olhar inquisitivo para ambos, sua voz mantendo a calma habitual. — Pietro, o que exatamente está tentando fazer aqui? — Preciso falar com Catarina, — disse, mantendo minha determinação. — Eles estão achando que vão conseguir me impedir de
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entrar. Marco manteve o olhar firme, sua expressão mostrando uma mescla de compreensão e ponderação. — Entendo. Mas estamos num momento delicado. Ainda estamos buscando descobrir o que aconteceu exatamente ontem e Catarina está com o Don no escritório, não é um bom momento para interrupções. — Sobre o que aconteceu ontem, tenho um presente para vocês. — Falei intencionalmente com Marco. — Eu já capturei o traidor e o ofereço a vocês, apenas parem de desperdiçar o meu tempo e me deixem entrar de uma vez. — Se capturou um inimigo, você tinha que reportar ao subchefe de imediato. — Luca resmungou. — Capturei o traidor que quase causou a morte de minha esposa, fiz o que qualquer marido da organização faria no meu lugar e fui bater um papo com ele. No dia que você largar a vadiagem e se casar, vai me entender. — Pare de me provocar... — Chega, Luca. — Marco interviu. — Não é hora de incentivarmos brigas dentro da família. Onde está o suposto traidor? — Não tem nada de suposto, te direi o endereço onde encontrá-lo assim que me deixar entrar na casa. — Pode entrar, desde que vá desarmado. Eu entreguei a minha 9 milímetros, ainda que contrariado. — Ele também deve estar com aquele punhal. — Luca se intrometeu. — Tire a minha lâmina de mim e a próxima vez que eu vier aqui, não será para conversar. Ouve um silêncio pesado logo após o que eu falei, até que Luca cismou de voltar a resmungar. — Você está me ameaçando? O filho do Don? — Não, eu estou te fazendo uma promessa, hoje não é um bom dia para me contrariar e se insistir em me tratar como se eu não fosse o marido da sua irmã e como se minha lealdade pudesse ser questionada, vou te mostrar que não sou um moleque de meias palavras.
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— Pode levar a sua lâmina. — Marco falou. Eu não estava pedindo permissão para continuar com o meu punhal, mas deixei o assunto terminar daquela forma. Não por obediência, mas por respeito a Marco e pela sensatez que ele trouxe à discussão. Luca se afastou contrariado e com seus passos pesados, mas ninguém por ali parecia se importar com a insatisfação dele. Marco, mais uma vez, demonstrou sua sensatez, abrindo passagem para nós entrarmos na mansão.
Cheguei ao escritório do Don Maldini, acompanhado por Marco até a
porta. Ele a abriu e, sem uma palavra, me deixou entrar sozinho. Era evidente que essa conversa seria entre mim, Catarina e Paolo, sem interrupções ou interferências externas. Assim que meus olhos percorreram o ambiente, uma sensação estranha me invadiu. Era como se soubessem da minha chegada, como se estivessem todos preparados para meu ingresso ali. Catarina estava sentada e inquieta no sofá do escritório, seu olhar encontrando o meu brevemente com uma expressão de angústia. Ela parecia saber o que estava por vir, sua postura era uma mistura de resignação e determinação. Por outro lado, Paolo permanecia firme atrás de sua imponente mesa de mogno, uma figura dominante no ambiente. Seu olhar interrogador
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encontrou o meu, e por um momento, senti uma troca silenciosa de desafios entre nós. O silêncio preencheu o ambiente, carregado de expectativas e tensão. Não havia necessidade de palavras para entender que aquele encontro seria decisivo, cada movimento, cada olhar, transmitia uma mensagem. Eu imaginava que Riccardo tivesse entrado em contato com a famiglia. Aquela ideia me incomodava bastante, mas eu conseguia entender o lado dele. Eu saí do velho galpão sem dizer nada, mas estava claro que eu poderia fazer alguma merda. — Pietro, — começou Catarina, sua voz soando firme, mas carregada de emoção contida. — Eu sabia que você viria. — Então você já sabia de tudo? — Sim... — seus olhos se umedeceram ao meu encarar. Uma raiva intensa tomou conta de mim, a vontade era de esfaquear o Don e arrastar minha esposa dali, mas isso poderia causar a nossa morte, e mesmo se saíssemos vivos, ela me odiaria para sempre. — Você sempre soube disso? — Questionei, minha voz carregada de amargura. — Não, eu fiquei sabendo ontem. Catarina manteve o olhar fixo no meu, seus olhos transbordando tristeza e angústia. — Quem te contou? — O motoqueiro que você matou. — Respondeu ela, sua voz embargada pela dor e pelo peso das revelações. — E decidiu me esconder isso? — Eu precisava de tempo... — sua voz falhou, seus olhos fitando os meus cheios de arrependimento. — Tempo pra quê? — Gritei, a ira transbordando, sentindo minha respiração acelerar. — Para conversar com o meu pai e... — Depois de tudo o que aconteceu, — me movi em direção a ela, minhas mãos cerradas, lutando para controlar a ira que me consumia. —
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Depois de eu ter sangrado por você, você ainda preferiu ficar do lado do seu pai? — Não. — Ela se levantou cortando a distância entre nós. — Nunca, Pietro, eu escolhi ficar do seu lado, eu só precisava conversar com ele. Catarina tentou me abraçar, mas eu a impedi segurando seus braços. — Eu agi como você sempre me falou, segurei minha impulsividade e tentei fazer as coisas da melhor forma possível. — Eu te liguei, mandei mensagens e você não me retornou. — Certos assuntos devem ser tratados pessoalmente. Assim que conversei com meu pai, ficamos sabendo que você estava a caminho e eu preferi te esperar aqui e resolvermos tudo. — Ela se soltou das minhas mãos e enxugou as lágrimas nos olhos. — Eu entendo toda a raiva e o ódio que você deve estar sentindo, mas eu não podia ficar quieta esperando que meu marido se voltasse contra o meu pai. — Foi ele que se voltou contra o meu. — Eu sei, não quero defendê-lo, eu estou do seu lado, eu só não quero que mais famílias sejam destruídas. Você precisa acreditar em mim, eu ia te contar tudo, não quero segredos entre nós, mas eu não podia fazer isso antes de conversar com o meu pai. — Ficou parecendo que você estava com medo de mim... que não confia em mim. — Não, meu amor, eu nunca tinha imaginado isso, mas eu quero uma família com você, quero ser a mãe dos seus filhos, quero que eles possam crescer perto dos avós e dos tios.— Ela falou, sua expressão suplicante. — Eu sou a última pessoa que gostaria de defender o meu pai, mas eu não quero que você se vingue dele. Não é porque eu acho que ele estava correto, mas é porque eu não quero que minha família seja destruída. Senti o peso de suas palavras e, ao perceber o dilema em seu olhar, tive certeza do que deveria fazer. Calmamente, eu coloquei a mão dentro do meu blazer e retirei o meu punhal. — Desde ontem, eu pensei em te entregar isso, mas só hoje tive certeza.
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— Este é... — Sua voz falhou novamente. — O punhal que você sempre deixa debaixo do travesseiro quando vai dormir? — Exatamente. Esta é a faca que sempre esteve comigo desde o dia em que eu saí de casa. Catarina me fitou atônita. — Só houve uma vez em que ele não dormiu com esta lâmina. — Paolo falou pela primeira vez desde que eu tinha chegado no escritório. Ela voltou a me encarar e um novo brilho percorreu os olhos dela quando se deu conta. — A única vez que não dormiu com ela foi no nosso casamento... — Isso mesmo. — E você quer dar esse punhal para mim? — Sim. — Por quê? — Porque eu te amo, e de alguma forma, quero que ele te proteja, assim como me protegeu todos estes anos. Ela se jogou nos meus braços enterrando o rosto no meu peito. — Eu também te amo, Pietro. — Ela erguei o queixo e com a voz quase suplicante, perguntou. — Você vai se vingar do meu pai? — Eu estaria mentindo se dissesse que este pensamento nunca me passou pela cabeça, mas a verdade é que se a organização estivesse em risco e eu tivesse que sacrificar um bêbado imprudente para salvá-la, eu também faria isso. Meu pai também era um maldito babaca que espancava a mulher e o filho, mas por algum motivo eu não disse isso em voz alta. Paolo me encarou e seu semblante transmitia um orgulho quase como se eu fosse seu filho. — Obrigada. — Não me agradeça. — Falei mantendo o tom de voz. — Eu ainda tenho uma condição para fingir que nada disso aconteceu. — Diga. — Paolo praticamente ordenou.
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— Um dia, eu vou me mover, seja para expandir nosso território para Brigantine ou para qualquer outro lugar. Ainda não sei quando, nem onde, nem como. Mas vou fazer de tudo para reconstruir o nome da minha família. — E você vai querer a minha ajuda. — Não. Quero apenas que você não interfira e me deixe agir com os homens que quiserem me seguir. Eu prometo que nunca agirei contra você, que nunca buscarei vingança em nome do meu pai, mas um dia, farei com que o nome Rossi seja temido em toda Atlantic City. — Garoto, o nome Pietro Rossi já impõe respeito e é temido em toda Atlantic City, desde que não interfira nas minhas alianças, não tenho motivos pra atrapalhar os seus planos. — Então não precisamos mais falar do passado, somente do futuro. Os Wolves precisam ser impedidos e eu gostaria de matar cada um deles. — Ainda não é hora de fazer isso. Você não está por dentro de tudo, eles não estão sozinhos, meus contatos me disseram que alguém de Filadélfia está do lado deles novamente e precisamos selar a aliança com os Cannavaro antes de agirmos contra eles. — Então agiremos somente depois do casamento de Bianca? — Isso mesmo. — Muito bem, podemos dar o assunto por encerrado então? Quero levar minha esposa para casa. — Fique à vontade. Peguei a mão de Catarina, indicando que era hora de partirmos. Ela seguiu-me em silêncio, mas pude sentir o alívio em sua expressão. Saímos da mansão Maldini, cada passo nos levando para mais perto do futuro que construiríamos juntos.
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— Eu queria te perguntar algo. — Catarina sussurrou suavemente assim que voltou para a cama. Ela estava vestindo uma camisola de seda, cuja cor creme contrastava com sua pele. O tecido macio e leve envolvia deliciosamente o seu corpo, caindo em pregas suaves pouco abaixo de sua bunda. — Pode perguntar — respondi, me deliciando com o brilho em seus olhos. — Como você sabia que eu estava na casa do meu pai? — Um soldado me contou. — Qual? — Ela insistiu curiosa. — O mesmo que eu deixei disfarçado na parte administrativa da transportadora. Ela me olhou, uma expressão de descontentamento suave cruzando seu rosto, mas não permitiu que a frustração dominasse sua voz. — Vocês mafiosos são todos iguais, sempre mandando alguém nos vigiar. — Não é pra te vigiar, é pra te proteger. Precisamos mesmo falar sobre isso. Você é filha de um Don, esposa de um caporegime, goste ou não, tem um alvo nas costas e precisa de proteção.
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— Eu posso me virar sozinha. — Não é tão simples. Você não pode mais ficar andando por aí sozinha, estamos em tempos inseguros e precisa se acostumar com a ideia de ter um soldado como motorista ou segurança. — Acho que posso fazer isso. — respondeu um pouco contrariada. — Você é minha mulher e eu sempre te protegerei, mesmo quando não estiver por perto, terei alguém de confiança com você. Ela riu satisfeita e caminhou sedutoramente até chegar bem perto de mim, parou a poucos centímetros de distância e eu pude ver o subir e descer da respiração dela pelo decote de renda da camisola. Catarina ainda não tinha feito quase nada, mas eu já sentia meu pau ficando duro. Aquela mulher seria a minha perdição, sempre tive certeza disso. Ela colocou uma mão esplanada sobre o meu peito e depois desceu com a ponta dos dedos até chegar no meu abdome. — Odeio essa sua mania de dormir com camisetas, você tem um corpo tão lindo, — ela sussurrou manhosa para mim, — queria pedir para você dormir sem camisa hoje. Pedir? Surpreso com aquela atitude eu fiquei em silêncio e como se ela pudesse decifrar meus pensamentos, continuou a falar. — Não fique mal-acostumado, mas já que você gosta e está merecendo. De tempos em tempos eu posso ser sua esposa obediente e submissa. Eu avancei sobre ela, a puxei pela cintura com uma mão e a outra agarrou seus cabelos da nuca de uma forma possessiva e quase violenta. — Tem certeza de que consegue fazer isso? — Minha voz saiu rouca e imperativa. — Sim, sou sua e serei obediente. — Ela respondeu mordendo os lábios e eu vi em seus olhos o quanto ela se segurava para me agradar. Imaginei o quanto ela deveria estar louca para me morder e pular em cima de mim, mas vê-la se segurando para me agradar me deixou com muito mais tesão.
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— Vou te foder com força e fazer você gemer o meu nome, mas antes disso, você vai gozar tanto na minha boca que vai ficar de perna bamba antes de sentir o meu pau. Ela abriu a boca em um sussurro suplicante e eu a beijei logo em seguida. Suguei seu lábio antes de mordê-lo e ela emitiu gemidos de rendição antes de arquejar. Aprofundei o beijo e invadi sua boca com minha língua antes de sugar a dela e desci minhas mãos por todo o seu corpo. Aproveitei cada uma das curvas de Catarina antes de parar em sua bunda, apertá-la com força e pressionar seu corpo contra a minha ereção, fazendo meu pau latejar e ela gemer suplicante. — Tire sua roupa. — Ordenei e ela obedeceu. Catarina arredou uma alça da camisola primeiro e, fitando meus olhos sedutoramente, fez uma pequena pausa antes de retirar a segunda e deixar a camisola deslizar pelo corpo, percorrendo as suas curvas e caindo em seus pés. — A calcinha também. — Completei enquanto ela me provocava encarando. Ela nunca será completamente obediente, mas é este desafio que sempre me deixou enlouquecido de tesão por ela. Eu a beijei mais uma vez e subi a mão pela parte interna de sua coxa, sentindo sua pele arrepiar com o toque. Assim que cheguei em sua virilha, já sentia a umidade. — Você já está encharcada. — Você me deixa assim. — Sua boceta é doce. — disse levando os dedos molhados até a minha boca. — E será sempre minha. — Sempre. — Ela respondeu suplicante. — Quero sua boca nela. — Shhh! — Eu a impedi de continuar falando encostando um dedo em seus lábios. — Hoje, os únicos sons que sua boca vai emitir, são gemidos e o meu nome. — Uhun. — Ela gemeu contra o meu dedo.
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— Deite-se e abra suas pernas. Ela se sentou na cama primeiro, depois acariciou a minha barriga e o meu pau por cima da cueca box e, então, obedeceu, se deitando e deixando as pernas arreganhadas para mim. Eu tirei a minha camiseta e a deixei admirar satisfeita o meu corpo, antes de me abaixar e começar a beijá-la desde os seus joelhos. Com calma, apesar da minha sede. Subi cobrindo suas coxas de beijos e pequenas mordidas, até chegar em sua entrada e beijei profundamente seus grandes lábios antes de penetrá-la com a língua. Senti suas mãos se emaranharem no meu cabelo quando me concentrei no clitóris e ela arqueou as costas a cada vez que eu o suguei entre meus lábios. Fiquei um tempo me saboreando com aquela boceta, lambuzando minha barba com vontade e deixando Catarina cada vez mais próxima de gozar. Ela apertava os lençóis, agarrava minha nuca e, por vezes, levantava a virilha para facilitar que eu encontrasse o ponto ideal para deixá-la louca de tesão. Minha mulher sempre foi extremamente sincera e, até o seu corpo agia assim, aquilo facilitava para mim. Eu conseguia ler os seus movimentos e interpretar com facilidade onde ela gostava de sentir mais pressão, quando sugar mais ou menos forte e a hora que penetrá-la com meus dedos a deixava mais encharcada. Ela passou a gemer cada vez mais alto, suas pernas se moviam como se ela quisesse espremer minha cabeça entre elas e eu me concentrei ao máximo no seu ponto mais sensível. — Pietro. — Ela gemeu arfante enquanto gozava arqueando as costas e arranhando os lençóis com as unhas. Eu me levantei orgulhoso e ainda mole, ela fez sinal com as mãos me chamando par perto dela, tirei minha cueca liberando meu pau latejante e me deitei sobre Catarina, ainda sem penetrá-la e ela acariciou minha barba ajudando a limpar tudo que ela tinha lambuzado e me beijou logo em seguida.
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Levantei o torso para poder encará-la enquanto ficava provocando-a passando meu pau em sua abertura. Ela estava tão molhada que eu senti minha ereção doer de tão forte. — Fique de quatro pra mim. — Ordenei ao vê-la tão suplicante e obediente. Ela se virou assim que eu me ajoelhei na cama e rebolou a bunda no meu pau, completamente, submissa. Eu não podia ver o seu rosto, mas a imaginei mordendo os lábios e se preparando para ser penetrada. Aquela era uma visão maravilhosa, queria contemplá-la, mas não conseguia mais segurar a vontade de estar dentro da minha esposa. Me posicionei atrás dela e passei a mão em sua bunda, tão empinada e pronta para mim. Dei um tapa e ela gemeu surpresa e empinou ainda mais o rabo em antecipação. Fui obrigado a apertar suas nádegas enquanto roçava minha ereção nela. Pude sentir o quão molhada estava mesmo antes de tentar penetrá-la. — Você está ainda mais melada do que antes. Porra, é muito gostosa. — Urrei assim que escorreguei meu pau para dentro dela. — Pietro… — ela gemeu obediente. Era impossível manter minhas mãos longe dela e, enquanto eu começava os movimentos de vai e vem, tive que passar os dedos em sua boceta e deixá-la encharcar minha mão tanto quando o meu pau. Depois eu sincronizei o movimento do meu quadril e da mão fazendo massagem em seu clitóris ao mesmo tempo que a fodia. Catarina começou a se remexer, praticamente rebolando no meu pau e me deixando louco de tesão. Deixei o clitóris dela descansar e agarrei sua cintura tão fina e convidativa com ambas as mãos e estoquei com força. — Porra! — Urrei, enquanto me perdia na deliciosa sensação de penetrá-la profundamente. Aquela mulher era incrível e estar dentro dela era a melhor coisa do mundo. Eu não conseguia nem lembrar de como era a minha vida antes de conhecê-la. Catarina tinha mudado tudo e aquela mulher gemendo de quatro entre minhas mãos era tudo que eu sempre precisei.
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Não nos preocupávamos com mais nada, ela se abaixou completamente, ficando o mais empinada possível e eu me enterrei dentro dela fazendo com que gemesse e mordesse as próprias mãos. Instintivamente, eu me debrucei sobre ela, passando uma mão sobre suas costas, percorrendo toda sua envergadura até agarrar seus cabelos e puxar sua cabeça para trás. — Pietro… eu vou gozar. — Ela gemeu com os lábios entreabertos. — Goza no pau do seu homem. — Foi o que eu consegui falar enquanto me concentrava em estocá-la com força e ritmo. Ficamos daquela forma, seus cabelos emaranhados em minhas mãos, enquanto eu entrava e saía dela implacavelmente, deixando-a cada vez mais próxima do clímax. Eu nunca tinha sentido uma boceta tão gostosa, nada nunca se encaixou tão perfeitamente em mim como as curvas de Catarina. Tudo que eu queria na vida era me manter naquele paraíso quente, úmido e apertado. Ela começa a tensionar o corpo, puxando os lençóis e abafando a vontade de gritar contra o colchão. Sinto seus músculos se tensionarem e a boceta se contorcendo ao redor do meu pau. — Goza, Catarina. Goza no pau do seu homem. Ela gemeu ainda mais alto. — Pietro… Ela fala com a boca tensionada na cama e me vejo obrigado a acelerar o ritmo de minhas investidas. Queria que ela gozasse mais e mais enquanto meu pau latejava em toda aquela umidade. Catarina ofegava enquanto eu sentia seu corpo começando a ceder em minhas mãos, mas não podia evitar de aumentar ainda mais o meu ritmo. Rosnei impondo minha vontade e tesão enquanto segurava o peso de sua cintura em minhas mãos e penetrava profundamente. Não me seguro mais e perco completamente o controle apertando sua bunda contra minha virilha enquanto gozo o mais fundo possível. Penetro com toda a intensidade até que toda a minha porra jorre profundo dentro dela.
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— Foi difícil não falar nada até você gozar, mas valeu a pena — disse ela quando soltei o seu corpo e ela se deitou de bruços. — Valeu cada segundo. — Falei me deitando sobre suas costas suadas. — Não vou ficar sempre calada. — Ela resmunga voltando a ser a minha Catarina de sempre. — Nem precisa. Vou sempre te foder de todas as formas possíveis. — disse próximo do seu ouvido fazendo ela rir e arrepiar. — Se fizer por merecer, eu deixo me foder de todas as formas que quiser. Ela sorriu pouco antes de se remexer e eu tirei o meu peso de cima dela. Coloquei a cueca e me deitei decidido a dormir sem camisa naquela noite. Catarina se aninhou em meus braços e acariciou a minha barriga enquanto recuperava o fôlego. Um silêncio reconfortante envolveu o quarto sendo apenas interrompido por uma ou outra respiração mais intensa para recuperarmos o fôlego. Os momentos íntimos que compartilhamos tinham criado uma conexão que transformava aquele casamento por obrigação em algo verdadeiro e amoroso. Sob o brilho suave da luminária, eu a protegia deixando-a imersa no calor reconfortante dos meus braços. Olhei para o teto por um momento, refletindo sobre todas as reviravoltas que a vida nos havia proporcionado. Ali, naquele instante, percebi que embora o passado tivesse sido cheio de desafios e lutas, havíamos encontrado refúgio um no outro. Todos os problemas e cicatrizes do passado não desapareceriam, mas encontramos força para construir um futuro só nosso. Com um suspiro de contentamento, afaguei os cabelos de Catarina e senti o seu coração batendo tranquilo. Ali, naquele momento, eu tive certeza que traria a glória de volta ao nome Rossi e nossos descendentes fariam o medo ecoar nos ouvidos de nossos inimigos. Coloquei um braço por baixo do meu travesseiro e pela primeira vez em muitos anos, não me importei com a presença do meu punhal ali. O futuro
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poderia trazer desafios, mas, daquela noite em diante, a principal missão de minha vida seria manter Catarina protegida ao meu lado.
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Alguns anos depois A vida é o que é. Mesmo assim, vive nos surpreendendo. Nunca tinha imaginado que seria feliz largando o emprego e acordando cedo num sábado para cozinhar o café da manhã para o meu marido e filho. Eu poderia ter continuado trabalhando depois que Vincent nasceu, mas não consegui deixá-lo em casa com a babá. Acabei decidindo ser uma mãe em tempo integral. Ainda bem que decidi isso, principalmente depois que Antonela piorou, tivemos que nos dedicar bastante a ela. Nunca fui muito hábil na cozinha, então quando eu resolvia fazer alguma coisa eles tinham que se contentar com o básico. Bacon, ovos mexidos e, para não dizer que não tínhamos nada para honrar nossas raízes italianas, eu mandei um soldado ir comprar pães frescos e azeite de oliva. — Vou matar você. — A voz estridente de Vincent encheu a cozinha enquanto ele corria atrás de Pietro com sua arminha Nerf na mão. Acho que famílias normais não incentivariam uma criança a falar coisas como aquela, mas o que eu poderia esperar do meu mini mafioso e seu pai?
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— Não corra perto da sua mãe. — Pietro alertou com a voz baixa, mas firme. — Temos que tomar cuidado com ela. Eu me virei para os dois e o pequeno estava com cara de poucos amigos, mas ele não era de ficar respondendo o pai igual fazia com outras pessoas. Pietro veio até a mim, ajoelhou-se, levantou um pouco a minha blusa e beijou minha barriga. — Quer sentir sua irmãzinha chutando? — Ele perguntou a Vincent. — Ela vai ser bagunceira igual a você. — Ciao, Nelinha[14]. — Ele falou bem perto da minha barriga antes de encostar o rosto e esperar que a irmãzinha chutasse. Fui eu que pensei no nome Antonela para nossa primeira filha e Pietro adorou a ideia. O irmão mais velho foi logo a apelidando de Nela assim que ficou sabendo que teria uma irmã mais nova. Ele fez um pouco de carinho na minha barriga, depois atirou um dardo no pai e saiu correndo satisfeito. — Você precisa disciplinar melhor este menino... — fiz uma pequena pausa para provocá-lo. — Don Pietro Rossi. — Isso soa bem, mas ainda não me sinto como um Don. Nosso território ainda não era tão grande quanto foi o do meu pai, mas se famílias com menos poder tinham o seu Don, Pietro, com certeza merecia este título. — Vincent, — ele berrou quebrando a tranquilidade da cozinha. — Vamos lá em cima dar bom dia para a nonna[15], depois a gente volta a brincar. Infelizmente, os dias em que ela reconhecia Pietro eram cada vez mais raros, mas ela sempre gostava de ver o nosso filho pensando que era seu neto de sangue. Olhei pela janela observando o enorme jardim do lado de fora. A vida nem sempre é como a gente quer, mas algumas vezes, ela pode nos surpreender e ser ainda melhor.
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A seguir, eu reservei um bônus especial para você. É um trecho de “Nos Braços do Magnata Italiano”. O livro já disponível na Amazon e Kindle Unlimited. Boa leitura!
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~ Nos Braços do Magnata — Pare de olhar aquela bunda e vamos voltar ao trabalho. — Falei baixo para que ninguém mais ouvisse, mas já foi o suficiente para Luigi se descontrolar um pouco. — Não estou olhando nada. — Ele tentou disfarçar. — Cris, apaga a luz aqui do fundo, fazendo favor, quero testar a iluminação. — Claro, senhor Bianchi, só não sei onde fica o interruptor. — Nossa jovem e linda promoter respondeu de imediato. — Atrás daquele balcão ali. — Luigi apontou. Era por coisas assim que eu sempre gostei muito dele, aquele grandalhão sabia exatamente o que eu queria e, de um jeito ou de outro, sempre ajudava. Eu pouco me importava para a iluminação, a graça era que para desligar a luz naquele ponto em que estávamos, ela teria que se debruçar sobre o balcão e foi exatamente o que fez. A bunda dela era tão redonda que me lembrou a lua, mas foi o rosto de Luigi que se iluminou. As narinas até se inflaram um pouco, parecia um touro pronto para avançar em cima de Cris.
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Ainda bem que ela não estava de vermelho, ou as coisas poderiam ter saído do meu controle. O vestido leve de verão abraçava toda a sua silhueta e nem a jaqueta de linho que ela usava por cima era capaz de esconder todas aquelas curvas. — O que achou? — Ela perguntou pouco depois de apagar a luz daquele canto do salão. — Acho que vai dar tudo certo. — Respondi sem maiores explicações. — Um verdadeiro espetáculo. — Luigi falou com os olhos famintos. Eu duvidava que ele fosse tomar alguma iniciativa, por mais gostosa que Cris pudesse ser, misturar negócios e prazer sempre dá dor de cabeça e o grandalhão é ainda mais cauteloso do que eu neste aspecto. — Obrigado, pode acender novamente. — Falei já me virando de costas para ela. Luigi ainda aproveitou a vista e depois me acompanhou. Faltavam poucos dias para a festa que prometia ser a mais badalada do ano em Nápoles. A minha empresa estava a cargo de promovê-la e, por mais que eu tivesse toda uma equipe para me apoiar, quando se espera celebridades, jogadores de futebol e a nata da sociedade napolitana, é melhor cuidar de tudo pessoalmente. Já estávamos preparando os retoques finais. Eu tinha escolhido a boate mais badalada da cidade e teríamos três ambientes separados. Um convidado que desistisse de ir e vendesse seu ingresso faria uma pequena fortuna. E era isso que me incomodava. Tenho ouvidos por todos os lados e as minhas suspeitas se confirmaram no fim daquela manhã. Quando já estávamos prontos para sair dali e aproveitar as férias com a minha família, eu dei de cara com ela. Ela estava encostada em um Maserati Levante de cor grafite, o carro era uma mistura perfeita de requinte e performance, o que estragava aquele exemplar era a vadia traiçoeira encostada nele. — Leo, Leo, Leo. — Ela me provocou com o sorriso cínico estampado nos lábios. — Trabalhando nas férias de novo? Aparentemente,
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alguns de nós nunca mudam. A vadia me conhecia bem demais e sabia que eu não misturava certos tipos de trabalho com as viagens em família. Luigi já tinha estudado vários dos convidados e sabíamos que aquela festa era quente, mas eu não queria aprontar nada exagerado em um de meus eventos, mas pelo visto, ela queria se exibir e deixar claro que ela viria com tudo para o aniversário. — Há quanto tempo, Vanessa. — Fingi um de meus melhores sorrisos. — Fazia tanto tempo que eu não te via que até comecei a sentir saudades. Nossos caminhos se separaram anos atrás e o que eu menos queria na vida era ter que suportar o sorriso cínico dela. — Faz muito tempo mesmo, tantos anos que eu nem me recordo direito, você completou quarenta ou cinquenta na última primavera? Se tem algo que não me preocupa é a minha idade. — Apenas quarenta, mas se não conseguiu lembrar disso, talvez esteja precisando de um suplemento vitamínico, quem sabe com B-12 ou ômega-3. Eles favorecem a memória. Ela não se importou com minha provocação e se afastou do carro caminhando em minha direção. — Sempre tão espertinho e cheio de respostas rápidas. — Ela curvou os lábios e passou a mão no meu peito, como se aquilo, vindo dela, fosse capaz de provocar algo em mim. — Talvez você seja como vinho. — Fico cada vez melhor com o tempo? — Não, vai acabar virando vinagre mais cedo ou mais tarde. Eu e Luigi rimos daquilo. Ela tinha espírito, isso eu não podia negar. Era uma vaca traidora, mas aprendeu muitas coisas comigo. Vanessa se afastou de nós e eu podia sentir que saboreava a sensação de vitória com aquele último comentário. Deixei para lá, em vez de me preocupar em respondê-la diretamente, já estava pensando em tudo que faria para destruir qualquer plano que ela tivesse.
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— Acho que ela está atrás do Alécio, — disse a Luigi quando Vanessa já tinha se afastado o suficiente de nós dois — assim como eu tinha pensado que poderíamos fazer. — Nós tínhamos descartado essa ideia por ser um dos nossos eventos e por sua família já estar aqui em Nápoles. — Ele tentou argumentar. — Mudança de planos, vou dar um jeito, consigo alguma garota para servir de isca e você cuida do resto. Não é como se nunca tivéssemos pensado nisso. — Sim, Leo, nós tínhamos ideia do que fazer, mas desistimos por motivos sólidos. — Confie em mim, Luigi, apenas prepare a equipe de TI, vou dar um jeito de colocar o celular daquele garoto na mão de vocês e ninguém ficará sabendo de nada. — Você mesmo sempre pregou que não devemos misturar prazer com negócios. Está cometendo um erro. Ele tentava argumentar comigo, como sempre, talvez por desencargo de consciência, mas sabia que eu não mudaria de ideia. Eu nunca gostei de misturar negócios com família ou prazer. A única vez que tinha feito isso foi com Vanessa e deu no que deu. Mas abriria outra exceção por causa dela. — Luigi, não há nada que eu goste mais do que ver uma mulher perdendo a compostura, gemendo e se enlouquecendo com o meu pau. — Eu falei dando um fim àquela discussão. — E a segunda coisa que mais gosto é ver a cara de espanto de um filho da puta quando descobre que perdeu tudo ou quase tudo para mim, Vanessa já passou pela primeira experiência comigo, já está mais do que na hora de passar pela segunda. Ele não retrucou mais, não tinha porque continuarmos discutindo. Eu já tinha me decidido, aquela era a minha festa e se alguém se daria bem nela, seria eu.
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Nos Braços do Magnata Italiano: https://amz.run/7e83 Entregue aos Irmãos Vermont: https://amz.run/7e85
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[1] É um icônico píer e parque de diversões localizado em Atlantic City, Nova Jersey, nos Estados Unidos. [2] Caporegime ou capitão, é um membro de patente alta na hierarquia de uma família da máfia italiana. [3] Famílias em italiano. [4] Um bairro nobre de Atlantic City, próximo à praia. [5] Scotch: o whisky escocês deve ser feito na Escócia. Não só isso, para usar o termo "scotch whisky" no rótulo, o whisky também deve ser maturado e engarrafado na Escócia [6] Conselheiro da Máfia. [7] Também conhecido como Dia D. Momento em que as tropas aliadas desembarcaram na Normandia e ocorreu uma das maiores e mais sangrentas batalhas da história. [8] Geração nascida entre a década de 80 e meados da década de 90. [9] Esse local é conhecido por sua elegância e exclusividade. Um terraço privativo que proporciona um ambiente sofisticado, ideal para cerimônias íntimas e recepções luxuosas. [10] Unidade que mede a acidez e alcalinidade dos solos. [11] Uma submetralhadora muito compacta. [12] Um tipo de pistola semiautomática. [13] É uma ferramenta de uso profissional para fixar pregos e pinos de diversos tamanhos [14] Oi, Nelinha. [15] Avó em italiano.no