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Copyright© 2022 - Jéssica Oliveira
 
Edição 01
 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser
reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma ou por qualquer
meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros métodos eletrônicos ou
mecânicos, sem a prévia autorização por escrito da autora, exceto no caso
de breves citações incluídas em revisões críticas e alguns outros usos não-
comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.
 
 
1. Literatura Brasileira 2. Romance 3.Jovem Adulto 4. Contemporâneo
 
 
Revisão
Eduarda Azambuja
 
Diagramação
B S Oliver
 
Criação da capa
lchagasdesign
 
 
 
 

 
AVISO: Este livro é um romance que tem como pano de fundo a máfia, é
recomendado para maiores de dezoito anos e contém cenas de ação,
violência, palavrões e sexo explícito. Não é um romance dark, embora
possa conter gatilhos para leitores sensíveis. Se espera encontrar cenas de
detalhes sobre as negociações dentro da máfia e burocracias ou torturas,
este livro não corresponderá às suas expectativas.
 

Sumário
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Epílogo
 
 
 
 
 
Nascida no berço da máfia de Chicago, Fiorella Santoro descobre tarde
demais que seu destino já havia sido decidido antes mesmo de completar
dezoito anos.
 
Para garantir a paz entre Outfit e a máfia nova-iorquina, Ella, é usada como
uma moeda de troca, sendo forçada a se casar com o herdeiro da Cosa
Nostra: Franco Fiore.
 
Franco não tem honra, coração e nem moral, dominado como o Corvo, pois
reflete a encarnação do mal, pretende possuí-la e reivindicar toda sua
inocência.
 
Franco só não presumia que a sua futura esposa fosse tão sombria e
perigosa quanto ele, Fiorella não estava disposta a ceder, quebrar ou se
esconder.
 
Uma união fatal que tem tudo para terminar em sangue, se torna uma
paixão ardente, perigosa e instável, colocando em perigo não só o acordo
entre as máfias, mas tudo que está a volta deles.
 
 
 
 
À PRIMEIRA VISTA
 
Puxo o ar gélido de Chicago com força, minha garganta queima e
os músculos do meu corpo se contraem dolorosamente conforme me
esquivo das incessantes investidas da Helena.
— Fiorella, — ouço as minhas costas, Sávio, o segurança se
aproxima com uma postura rígida, me recomponho para encará-lo.
— Veio me treinar? — pergunto buscando por ar, Helena, percebe
isso e me oferece um sorriso de vitória.
Isso ainda não acabou.
— Não, o seu pai, ele não a quer fora de casa hoje.
Franzo o cenho confusa, pondo as mãos na cintura para esconder a
tremedeira.
— E qual seria o motivo? — questiono, sabendo que ele e qualquer
outro segurança odeia dar explicações, principalmente para mulheres.
— Não estou autorizado a falar. — reviro os olhos, é claro que ele
não está. Nunca estão.
— Quando uma de nós estiver morta, entramos Sávio. — aviso
ajeitando minha postura de luta, mãos fechadas em punhos logo à frente do
peito. Suspeito ter visto meu segurança com expressão de repulsa, mas o
ignoro, ele dá três passos para trás e cruza os braços, impassível.
— Idiota. — digo inaudível, e recebo um sorriso da Helena.
A garota se aproxima novamente, ela é incansável, seu punho
fechado vem em direção a minha face, mas eu desvio passando por baixo da
sua mão, e lhe acerto um golpe nas costas. Me viro para ela com um riso,
nisso vejo alguns homens de terno descendo de uma BMW. Eles ficam lado
a lado, exalando elegância, e no momento em que meus olhos encontram o
de um deles, o único que está todo de preto, dos pés a cabeça, meu corpo é
jogado ao chão, com um grito ecoando pelos meus lábios, meu abdômen
enrijece fortemente.
Gemo, encarando Helena parada aos meus pés com um sorriso
glorioso.
— Nós temos que entrar, Fiorella. — Sávio diz entredentes.
Cerro maxilar, junto minhas pernas e dou uma rasteira na minha
amiga, ela cai de costas, e um grito igual ao meu passa por seus lábios.
Rio ainda deitada no gramado, de repente vejo uma arma apontada
para minha cabeça. É o Sávio, ele está com um sorriso agora, aposto que
isso é o que ele mais deseja há meses, mas o seu dedo não está no gatilho.
Ele não é estúpido de machucar a filha do Chefe.
— Morta. Agora vamos entrar.
— Você é um estraga prazer. — resmungo desanimada e com sua
ajuda fico de pé, busco pelos os homens de terno, mas eles desapareceram
na extensão do pátio.
 
 

 
Adentro meu quarto, consumida, tudo o que eu mais preciso é um
bom banho bem quente. Reflito parando em frente ao espelho e analisando
o meu lábio inferior, está levemente inchado por um golpe da Helena, e
atrás da minha orelha há sangue seco fazendo uma trilha em direção a
minha clavícula.
— Você está um trapo. — Sienna menciona na entrada do quarto.
Olho para o meu macacão de couro preto, justo, sujo e surrado em
alguns lugares, mas é grosso o suficiente para manter o frio longe e não
atrapalhar a minha mobilidade.
— Obrigada. — digo analisando seu vestido longo e brilhante.
Para ela parecer uma rainha só falta à coroa.
Minha irmã e eu somos totalmente distintas: Sienna tem longos
cabelos ondulados tão dourados e brilhosos quanto o sol, já o meu é um
loiro perolado, mas sem brilho algum, recentemente fiz uma franja que cai
em frente aos olhos para dar um ar misterioso, e esconder um pouco minha
expressão de menina assustada.
— Você viu quem está no escritório com papai? — pergunta ao
adentrar o quarto, seus olhos azuis profundos quase iguais aos meus, me
fitam com atenção, e me passam preocupação.
— Carlo, quer que fiquem nos aposentos. — Nos viramos para a
entrada do cômodo e Donatella, nossa madrasta, está escorada contra o
batente acariciando sua pequena barriga de gestante.
Franzo os olhos, curiosa.
— Quem está com o meu pai? — questiono dando um passo na
direção dela.
— A máfia de Nova Iorque. — meus lábios se separam, e a ficha
começa a cair, a mansão está com segurança extra e Sávio mais tenso que o
normal.
Meus olhos encontram os de Sienna, e vejo o temor através dos
seus olhos, momentaneamente o medo começa a ondular em meu estômago.
Há anos papai fez um acordo com a Famiglia, para manter a paz já
que ambas as máfias estavam em guerras. Outfit em uma disputa
implacável com a Bratva, a máfia que decapitou minha mãe e minha irmã
mais nova Louisa em uma invasão nesta mesma mansão. E a Famiglia
estava em guerra com a Camorra.
Papai casaria Rocco, meu irmão mais velho com a Edwina, filha de
Riccardo Fiore o Capo da Famiglia, mas o meu irmão deu a vida dele para
salvar a minha no dia da invasão. Mexo a cabeça espantando os
pensamentos
— Fiorella, não há nada que você possa fazer. — Donatella ajeita
sua postura quando passo por ela saindo para o corredor. Sávio prontamente
já está nas minhas costas me seguindo.
Isso não vai acontecer!
Agora que Rocco não está mais aqui para se casar, papai não tem
opção a não ser escolher uma de nós ou entrar em guerra com a Famiglia
novamente. E Sienna por ser um ano mais velha que eu, com seus dezoitos
anos, com certeza será a sua opção.
Sávio me puxa bruscamente pelo braço, me imobilizando.
— Me solte. — vocifero, puxando meu braço com força, e lhe
dando um olhar atroz. Às vezes desejava não depender tanto da minha
posição, mas como filha do Capo de Chicago, minha voz também tinha
poder, mas não com o meu pai.
Abri a porta do escritório com rompante e quase cambaleei para
dentro. Olhos atentos e armas estavam apontados para mim em segundos,
evito revirar os olhos e adentro mais a sala de queixo erguido.
O homem todo de preto é o primeiro a relaxar e a baixar sua arma,
avisando com um gesto sutil para os demais fazerem o mesmo.
Seus olhos azuis cristalinos me penetram com a tamanha
intensidade que ele me olha. Desvio o olhar me sentindo ligeiramente
incomodada, nunca ninguém havia me encarando por tanto tempo, ainda
mais na presença de meu pai. Dei passos largos em direção a ele que
compreendeu pela minha expressão que eu já sabia o que estava
acontecendo.
Você não devia estar aqui. É o que os seus olhos me dizem
duramente.
— Fiorella, estes são Ettore Reviello o Consigliere e Franco Fiore
o futuro Capo dei Capi da Famiglia de Nova Iorque — meu pai diz sem
mostrar emoção.
O meu estômago se agitou, e tive que fingir um sorriso, quando
Franco me estendeu a mão, olhei para o meu pai, e ele me deu um aceno
conciso.
Estendi a mão para o homem, envergonha por meus dedos estarem
calejados e as juntas machucadas dos treinos, ele não pareceu notar, ou se
importar, apenas se curvou bons centímetros a minha frente e com seus
lábios gélidos, beijou o dorso da minha mão, levando um arrepio direto a
minha coluna. Puxei os meus dedos mais rápido que desejava, mostrando o
quanto o seu toque me incomodou, Franco abriu um sutil sorriso de quem
percebeu.
— É um prazer conhecê-la, Fiorella. — sua voz é suave e
profunda, o oposto da sua expressão. Seu queixo firme porta uma cicatriz
fina e esbranquiçada que desce em direção ao pescoço, grosso e musculoso
igual ao resto do seu corpo.
Meu pai diz algo, mas ainda estou absorta analisando o homem à
minha frente, que não consegui distinguir o que era, até duas mãos se
fecharem em torno dos meus braços e me levar porta a fora.
— Perdoe-me a intromissão de minha filha.
— Crianças. — alguém diz e a porta se fecha.
Volto para o meu quarto e me deito na cama do jeitinho que estou,
suja, ensanguentada e fatigada.
Donatella deve ter arrastado Sienna para longe de mim, com
certeza ela pensa que sou má influência, como se eu me importasse com a
opinião dela.
Quando Teodoro, o Consigliere da Outfit, sugeriu que meu pai se
casasse novamente, Sienna e eu entramos em negação. Papai tampouco
queria se casar, mas negar não era uma opção, mostrava fraqueza e não
seria bem visto pelo resto da família.
E então Donatella surgiu, e ao invés de odiá-la aprendemos a
respeitá-la, pois a escolha de estar em nossa família também havia partido
dela.
 
 
Acordo com a sensação de ter dormido mais do que devia. Balanço
a cabeça espantando a preguiça e ando para fora do quarto, para saber que
fim teve a visita da Famiglia e antes de atravessar a porta para a cozinha,
ouço a voz do meu pai conversando com Donatella, paraliso.
É sobre a reunião.
— Quando será o casamento?
Escuto alguém suspirar.
— Em um ano aproximadamente. Riccardo quer que Franco tenha
uma esposa antes de assumir o controle publicamente da Famiglia, ao que
parece o câncer dele está avançando rapidamente.
— Eles te contaram isso? — meu pai não respondeu. — Foi à
decisão certa, Carlo, ela conseguirá manter a paz.
Pobre Sienna.
— Ele aparenta ser tão jovem para se tornar O Chefe. — Dona
comenta.
— Franco tem 23 anos, Teodoro me contou, e foi iniciado aos 13
anos, após cravar uma estaca de gelo na garganta de um homem.
Donatella solta um ruído, talvez em choque.
— Não se iluda com aquele rosto fino e equilibrado, Franco Fiore é
um assassino frio e habilidoso. Os soldados o chamam de: o Corvo, porque
reflete a encarnação do mal.
— Esse casamento terminará em sangue, Carlo. — sua voz falha
demonstrando que está completamente em choque.
Ouço um suspirar de meu pai, mas não uma resposta. Meu
estômago se contrai, enjoada. Ele é o nosso pai devia nos proteger, não nos
dar em uma bandeja para alimentar o monstro do outro lado.
 
 
DEZ MESES DEPOIS | SETEMBRO
 
O carro para de repente e a porta do porta-malas é destravada, a
empurro para cima buscando por ar puro. Não leva um segundo e Helena
está à minha frente me puxando para fora.
— Isso é estupidez, o seu pai irá me esfolar viva, se acontecer algo
com você. — ela não está totalmente enganada, mas papai jamais a
machucaria, Helena salvou a minha vida, ele deve a ela, para o resto da vida
dele.
— Não seja uma estraga prazer, hoje é o meu aniversário, me faça
feliz. Eu quero ser livre por apenas uma noite, amanhã eu volto para minha
gaiola.
Minha amiga aperta seus carnudos lábios com formato de coração,
e acena positivamente, me levando para dentro do carro. Entramos no
Chevette preto um pouco velho com cheiro de perfume barato e cigarro.
Faço cara de nojo e recebo um olhar de condenação de Helena.
— Então para onde está me levando? — questiono ansiosa, nunca
sai sem seguranças na vida, desde que nasci papai é o Chefe da Outfit e
para minha segurança sempre há uma sombra constante em minhas costas,
menos hoje, farei valer a pena cada segundo longe de casa.
— Ao sul de Chicago, acho que há uma boate lá que não pertence a
sua família. Então a chance de alguém reconhecer você será mínima. — diz
em dúvida.
Aperto seu braço gentilmente para reconfortá-la, e olho para fora
da janela, o céu está escuro, sem estrelas e um pouco frio.
Estou vestindo uma minissaia de couro com fecho em frente às
pernas, e um cropped preto de manga comprida com tiras de couro envolta
da minha barriga. Estou com um puta frio na barriga, essa noite tudo é novo
para mim.
Nunca fui a uma balada, nem nunca vesti roupas sexys.
— Vou perder minha virgindade hoje à noite, Helena.
A garota freia com força, e o sinto me prende ao banco fazendo o
meu coração disparar.
— Caralho! Você quer me matar? — exclamo, me segurando no
porta-luvas.
— Isso é loucura demais até para mim Fiorella.
Mexo a cabeça mecanicamente, pressionando os lábios.
— Você não entende Helena, assim que papai casar Sienna com
Franco, restará só a mim, e se eu for impura, talvez não haja um casamento,
e estarei livre, quem sabe possa até ir para a faculdade, ou até mesmo
conhecer um homem normal, que nunca tirou a vida de alguém.
Poderia ter paz, sem medo de outra invasão, sem medo de morrer
durante a madrugada ou em um restaurante ao meio dia.
— Isso é uma puta de uma péssima ideia, — diz e volta a dirigir
com mais calma, relaxo no banco, — Você tem ideia de que vai doer
horrores?
— Como você sabe se nunca transou? — ela revira os olhos.
— É o que toda a mulher diz.
— Não importa, pode doer, pode sangrar, essa é a minha porta de
entrada para um mundo normal.
Minha amiga mexe a cabeça em negação e assopra um fio de
cabelo preto que cai em frente a sua vistosa face.
— O seu pai vai me matar. — adiciona acelerando.
Respiro fundo a brisa da noite, e me aconchego no banco olhando
pela janela, pensando nos últimos meses que se passaram. Papai reforçou a
minha segurança, me deixando com uma pulga atrás da orelha, até parece
que ele sabia que eu iria aprontar algo, agora além do Sávio eu tive que
escapar de Lazzaro, ambos estão guardando a porta do meu quarto neste
momento. Rio, da minha tamanha imprudência. Donatella ganhou um
menino, Dario, o futuro Capo dei Capi.
Sienna está mais forte como nunca esteve, pensei que entraria em
colapso por causa do casamento com Franco, contudo ela simplesmente se
esquiva do assunto toda vez que eu tento conversar com ela a respeito. Um
dia após a visita da Famiglia, eu a vi saindo do escritório do papai em
lágrimas, ela se negou a me contar a respeito da conversa, mas estava
explícito. Ela não quer esse casamento.
Quem iria querer se casar com um homem que tem mais sangue
nas mãos que um Serial Killer?
Seus olhos azuis celestiais não podem encobrir o monstro que há
por trás deles. Nem o seu sorriso suave e quase encantador que me deu
naquela sala de escritório. Estou rodeada de predadores, e meu pai talvez
seja o pior deles. Mexo a cabeça em negação como se de alguma forma
pudesse tirá-los dos meus pensamentos.
— Chegamos. — Helena estaciona em uma rua movimentada, e
aponta para uma esquina onde fica um prédio de dois andares, olhando do
lado de fora nem parece que há uma festa lá dentro.
Quando vou abrir a porta do carro ela me segura pelo pulso.
— Não podemos nos separar, Ella. Estamos sem os telefones para
não sermos rastreadas, se algo acontecer nos encontramos no carro. E pelo
amor de Deus não fuja.
Rio.
— E para onde eu iria sua boba? — ela relaxa o aperto em meu
braço e juntas nós descemos.
Atravessamos a rua recebendo muitos olhares nada discretos, e
alguns assobios. Aperto os lábios para conter o sorriso, e quase arrasto
Helena para dentro do prédio onde é a festa. Passamos por uma placa que
estava escrito que mulher não paga a entrada e nem a bebida.
Embora papai tenha uma coleção imensa de destilados, eu nunca
bebi qualquer coisa que não fosse Champanhe nas datas comemorativas.
— Você precisa se controlar, Ella.
— E você relaxar, Helena. — brinco, mas sua expressão
carrancuda permanece.
Helena eu nos conhecemos em um lugar que eu gosto de chamar
de porta dos infernos, em outras palavras, manicômio, ou como minha irmã
gosta de suavizar Centro psiquiátrico Red Hill. Nós não conversamos muito
sobre como foi ficar lá, acredito que tanto eu quanto ela, preferimos
acreditar que aquilo nunca aconteceu.
Deixamos um corredor escuro e atravessamos uma porta dupla
para entrar no primeiro piso. Luzes de várias cores piscam sobre uma
neblina cor de rosa. As pessoas dançam cada um do seu modo, elas se
beijam e se esfregam uma nas outras, é delirante, surreal.
— O que tem no andar de cima? — pergunto.
— Fica a ala vip, bares, pista de dança e quartos. — enrugo o
cenho.
— Caralho tudo isso? — pergunto abismada. — Então vamos pra
lá! — pego em sua mão para arrastá-la. Helena faz cara feia.
— É o que dizia no site. E não temos dinheiro pra pagar a Ala Vip,
Ella, a não ser que você venda o seu cabaço pra isso. — ela ri, e morde o
lábio quando enfio a mão no decote e tiro algumas notas de 100 dólares.
— Peguei da carteira do papai semana passada, eu disse que iria
comprar um presente para mim.
Entrar na ala vip foi com tirar doce de criança.
Ao contrário da bagunça que é no andar inferior, o andar de cima é
sofisticado, com música leve e iluminação suave em tons quentes.
Andamos até o bar chamando atenção de algumas pessoas, Helena
parece nem se importar, ela não tira os olhos de mim, me sinto péssima por
tê-la colocado nessa posição. Se der merda, será tão ruim para ela quanto
para mim. Cheguei até pensar em trazer Sienna, mas ela jamais
desobedeceria às ordens do papai, ou iria contra a vontade dele, ela com
certeza teria me dedurado na primeira oportunidade se soubesse do meu
plano de fuga.
Somos tão diferentes, às vezes eu a invejo. Minha irmã não
vivenciou ou presenciou metade das coisas que aconteceram comigo. Ela
não tem pesadelos que assombram a noite, ela não tem medo do escuro, ou
de perder o controle e machucar alguém. Ela é perfeita em todos os
sentidos.
— O que as garotas vão tomar? — um barman sem camisa, e
muito tatuado pergunta apoiando suas mãos no balcão.
— Duas tequila. — peço.
— Uma. — Helena fala e adiciona. — Estou dirigindo esqueceu.
— As garotas podem pedir um uber mais tarde. — o barman
sugere com um risinho.
Sem telefone? Sem chance. Sem dizer que o Chevette é a minha
entrada para a gaiola novamente. Pretendemos voltar antes da troca de
turnos, os seguranças estarão esgotados, e Helena poderá entrar na mansão
sem problema, assim eu espero.
— Uma tequila. — o homem assente e me serve.
Pego o shot e encaro o pequeno copo de vidro, a expectativa por
trás do sabor é grande, viro em um único gole como já vi em alguns filmes,
e tusso fortemente fazendo Helena gargalhar.
A minha garganta ainda arde, mas o gosto até que é bom.
— Mais uma. — falo ao homem e relaxo na banqueta, Helena faz o
mesmo e giramos para observar o resto do ambiente.
Há muitos homens espalhados ao longo da área vip, que são apenas
sofás bem almofadados, com baixas mesas de vidro no centro. Logo à
frente há uma pista de dança, onde tem mais pessoas em pé bebendo do que
dançando.
Tomo a tequila em um só gole e quando solto o shot na mesa, sinto
uma mão quente nas minhas costas, tenho um sobressalto, meu primeiro
instinto é me virar e imobilizar o meu adversário, como venho treinando há
anos. Contudo quando enxergo um par de olhos muito verdes me olhando
de volta eu simplesmente travo, e fico encarando o cara de cabelos loiros e
sorriso gentil.
— Perdão não quis assustá-la. — diz eloquente e senta ao meu
lado, abrindo o botão do seu terno escuro.
— Não assustou. — falo um pouco sem graça.
— Me chamo James e você? — quando abro os lábios para
respondê-lo, sinto um apertão em minha coxa, esforço-me para não dar um
olhar de reprimenda a Helena.
— Estela. — digo docemente e o aperto se suaviza, falar que me
chama Fiorella Santoro, seria como soar um alarme de incêndio dentro
dessa boate. Carlo Santoro, não é só o homem mais rico de Chicago, como
o mais temível também.
Enquanto James me falava como estava sendo a sua estadia em
Illinois, eu tomei mais três shots de tequila, Helena me encara quase
suplicante, ela não me pediu para encerrar com a bebida, mas eu parei para
ver se minha amiga relaxa um pouco e se divertia pra variar.
James pede licença e se encaminha para o banheiro, aproveito e me
viro para ela.
— Vai ser ele.
— Você mal o conhece. — ela mexe a cabeça assustada.
— Quando eu disse que ia perder a virgindade, você achou que eu
fosse esperar e criar laços? — questiono retoricamente, — Meu tempo está
acabando Helena, a chance de papai descobrir a minha fuga é muito grande,
ele dobrara a segurança e eu ficarei presa para sempre dentro daquela casa.
— Parece tão errado.
— Mais errado que se casar sem amor, com um homem que seu pai
escolheu para você, como uma puta premiada? — ela aperta os lábios. —
Você está nessa vida há cinco anos, eu nasci nela, essa lei nunca vai mudar,
mulheres são fantoches nas mãos dos homens. Você devia fugir enquanto
pode.
Ela mexe a cabeça mecanicamente.
— Faz o que tem que fazer, eu vou estar aqui esperando por você.
— diz com firmeza.
Fico de pé, sentindo o efeito do álcool oscilar em meu corpo.
Talvez eu nem sinta a tão falada dor, estando bêbada.
Caminho em direção ao banheiro com pequenos passos, tentando
assimilar o ambiente à minha volta, sinto olhos cravados em mim e não
tenho certeza se são os da minha amiga. Encontro James saindo pelo
corredor do banheiro, e seu sorriso aumenta um tanto surpreso em me ver.
— Quer conversar em um lugar mais privado? — pergunto
torcendo para minha voz parecer natural.
— Me parece uma ótima ideia. — expõe me estendendo a mão,
seguro nela e me impressiono por ser macia e quente.
Acompanho o homem em direção aos quartos privados, fica em um
corredor estreito com várias portas vermelhas, todas fechadas.
James tira um cartão magnético do bolso do terno, e não fico
impressionada por ele ter um, metade dos caras daqui, sem duvidas vieram
a negócios ou foder suas amantes. É nojento.
Entro no quarto à sua frente, não é muito grande, a luz é ambiente
em um tom avermelhado, e contém uma cama mediana no centro do quarto
com um cômodo de cada lado.
É simples, mas serve, reflito me virando para James. Agora em um
espaço menor ele parece bem maior, mais alto e mais forte. Com os meus
1,67 e mais o salto da bota, meu queixo se encontra abaixo do seu ombro.
— Parece assustada. — ele diz dando um passo em minha direção,
preciso reunir meu autocontrole para não dar outro para trás.
— Não estou. Devia? — pergunto segurando seu olhar.
Ele sorri.
— Não. — fala naturalmente abrindo o paletó, e depois abrindo os
primeiros botões da camisa.
— Já esteve em um desses quartos antes? — questiono olhando em
volta, não há janelas, apenas uma porta que eu acredito ser o banheiro.
— Não e você? — respiro fundo sentindo a covardia dominar o
meu peito.
— Também não. — James dá um passo em minha direção e já está
quase em cima de mim, obrigando-me a levantar o pescoço para encará-lo.
Seus longos dedos tracejam para trás do meu pescoço, e me puxam
em direção a sua face, James não me beija, ele me gira e me põe contra a
parede e seu nariz invade o meu pescoço, seus lábios tocam a minha pele, e
descem em direção ao meu seio, enquanto sua mão vagueia para baixo da
minha saia, calor se alastra em mim, não o calor de excitação, mas o de
desespero.
Seja corajosa caralho!
— Abra as pernas. — pede em meu ouvido, — Eu quero sentir sua
bocetinha. — obedeço, e seus dedos tocam minha intimidade por cima da
calcinha, deixando-me com o ar preso na garganta e quando seus dedos
tentam invadir o fino tecido, meus olhos arregalam e desespero é um
eufemismo para o que estou sentindo, seguro sua mão e a empurro para trás.
— Não dá, não consigo, desculpe. — falo apressadamente abrindo
a porta ao meu lado enquanto James me encara em incompreensão.
— Estela... — chama, mas fecho a porta em sua cara e começo a
caminhar com passos largos em direção ao bar, antes de eu deixar o
corredor Helena aparece na ponta dele correndo em minha direção.
— Precisamos nos esconder agora! — rosna.
— Papai? — pergunto com o meu sangue na cabeça.
 
Helena me arrasta com violência em direção aos quartos, James está
passando pela porta, abotoando o seu terno quando nos enxerga, sua
expressão congela em desentendimento.
— Fuja. — aviso a ele quando Helena me empurra para dentro do
quarto batendo a porta com força na cara do homem. Se meu pai chegar a
sonhar que James ficou a sós comigo, ou que se quer me tocou, será um
homem morto, disso eu tenho certeza.
— Quem você viu? — pergunto com o meu couro cabeludo
eriçado.
— Franco e Lazzaro. — mexo a cabeça em incompreensão, até
consigo relaxar por um momento.
— Isso não faz sentido. — sento na cama e cruzo as pernas,
começando a sentir o coração se acalmar. — Você me deu um puta susto
Helena. — rio, mas minha amiga ainda está congelada no lugar ela tem uma
faca na mão e me questiono onde foi que ela conseguiu uma.
— Eu sei o que eu vi, Fiorella. — fala ríspida, — Eu estava
sentada no bar conversando com o barman, quando olhei para trás e vi
Franco descendo do elevador com Lazzaro.
— Deve haver uma explicação para isso. — mordo o lábio com
força, — Porque Lazzaro estaria com Franco?
— E se ele for um traidor? — indica, e o meu queixo cai.
— Agora faz sentido, Lazzaro começou a ser o meu guarda-costas
logo depois da visita da Famiglia. Eles te viram? — pergunto ficando de pé,
com uma agitação se apoderando do meu corpo.
— Eu não sei. Vim correndo te encontrar assim que os vi.
— Vamos descer pela saída de emergência. Se acontecer algo
comigo, corra.
— Está me assustando. — ela fala e sua voz falha.
— Não tenha medo por mim, eu valho mais viva que morta,
acredite. — rio, ela faz cara feia.
Respiro fundo, tentando controlar os batimentos cardíacos, péssima
hora para ter saído de casa, e ainda nem consegui perder a porra do cabaço.
Sua fraca! Meu cérebro maldoso cospe a verdade.
— Vamos. — digo e Helena se enfia a minha frente, — Você não é
o meu segurança, Helena, eu trouxe nós para essa confusão e vou tirar. —
ela me ignora indo até a porta, mas a puxo bruscamente para trás, — Não
posso perder você também, fique atrás de mim. — digo e soa como uma
ordem.
Minha amiga obedece, passo a sua frente e abro a porta
cuidadosamente, enfio a cabeça alguns centímetros para fora, e espio.
Três portas ao lado do meu quarto enxergo Franco, ele está com
um terno escuro, e uma arma na mão que pende ao lado do corpo, aperto os
lábios para evitar emitir qualquer som e fecho a porta devagar.
— Eles estão revistando os quartos, Helena. Eu não entendo, o que
eles querem? Porque estão fazendo isso?
O que eu não estou vendo caralho?
— Eu não sei. — sussurra. — É melhor você se esconder no
banheiro. — sua aflição me domina. Balanço a cabeça. 
— Não será uma porta que o impedirá de me achar. Mas você deve
entrar, se algo acontecer comigo, meu pai precisa saber quem foi.
— Eu não vou deixá-la sozinha. — diz e de repente uma sombra se
forma em frente à porta. — Entre no banheiro, Helena. — cicio a
empurrando para dentro, encontro os olhos da minha amiga, estão
temerosos, levo uma mão aos lábios pedindo que fique calada e na hora que
fecho a porta do banheiro a do quarto se parte, saindo das dobradiças e
ficando pendurada ao lado.
— Poxa não custava bater. — digo em advertência, usando o
humor para esconder qualquer vestígio de medo, mas o sinto presente como
uma segunda pele, o meu corpo inteiro está arrepiado e isso eu não posso
esconder.
Lazzaro segura à porta pendurada e a coloca em pé, dando
passagem para Franco. Ele olha o quarto totalmente intocável, e depois seus
olhos queimam em mim, como uma chama azul.
— Olhe o banheiro. — ele ordena, num tom de voz que eu não
consigo decifrar.
Lazzaro passa por mim, e sinto o meu coração afundar no peito,
não há nada que eu possa fazer.
— Vazio. — me esforço para não me virar e eu mesma procurar, eu
acabei de deixá-la ali, quase sorrio aliviada, contudo esse alívio é
passageiro no momento que assisto Lazzaro abandonar o quarto e puxar a
porta pendurada consigo.
Franco me analisa, quase perfurando cada pedacinho do meu
corpo, como se estivesse refletindo sobre o que fazer comigo.
O silêncio é esmagador, quase sufocante, e tenho certeza que ele
sabe disso. Minha língua está dura dentro da boca, eu quero exigir saber o
que está acontecendo, o que ele quer de mim, o que pretende fazer comigo,
contudo permaneço congelada sob o seu olhar.
Franco guarda a arma no coldre escondido por baixo do terno.
— Vou te fazer perguntas, e quero que seja sincera. Se mentir
Fiorella, haverá consequências. — seu tom de voz soa afiado como uma
navalha.
Engulo em seco, incerta do que fazer, se eu mentir ele pode me
matar, me torturar, até me estuprar, embora a máfia de Nova Iorque não
tenha fama de machucar mulheres, quando se está em um interrogatório
acredito que não exista uma linha da qual seja proibido ultrapassar.
— Pergunte. — falo baixo com medo de mostrar o meu temor.
— O que veio fazer nessa boate?
— É o meu aniversário, só queria me divertir. — exponho sem
delongas, ansiando para que isso acabe.
— Com quem veio? — pergunta sem mostrar um pingo de
emoção, até parece que está conversando com uma parede.
— Minha amiga Helena.
— Onde ela está? — olho por cima do ombro, em direção ao
banheiro.
— Estava no banheiro. — respondo e duvida sonda a minha voz.
— Esteve com algum homem? — o pavor atravessa o meu rosto, e
nem que eu quisesse dizer que não estive, os meus olhos e a minha
expressão já me denunciaram. — Quem? — um lampejo de raiva ondula
em sua face.
Mexo a cabeça mecanicamente, se eu contar quem é, não sei o que
Franco fará, ainda estou tentando entender aonde ele quer chegar com essas
perguntas.
— Quem? — vocifera, fazendo meu coração apertar.
— Ele não tocou em mim, só conversamos. — grunho quando ele
me pega pelos braços, e seus dedos me apertam como torniquetes. Tento me
soltar de Franco, mas estou dura contra a parede, e seu corpo forte
pressionando o meu, impedindo qualquer movimento. Todas aquelas
malditas aulas de artes marciais não me serviram de merda alguma, se
quando eu mais preciso me defender eu não consigo.
— Ele tocou em você? — pergunta com uma voz dura, e sua mão
escorrega para a minha coxa subindo como uma aranha, fazendo-me apertar
as pernas com força.
— Eu já disse que não.
— Então se eu te pôr na cama agora, e me meter fundo em você,
encontrarei sangue nos lençóis? — a escuridão brilhou em seus olhos e
talvez um pouco de diversão.
— Você não é louco. — digo espantada, e o aperto suaviza em
meus braços, Franco se distancia o suficiente para eu ver meu peito subindo
e descendo freneticamente, como se tivesse corrido uma maratona.
— Só estaria pegando o que é meu. — junto às sobrancelhas sem
conseguir esconder a confusão que há em minha mente.
O que é meu???
— Sua carinha de desentendimento está acabando comigo.
— Eu não sou sua, Sienna foi prometida a você. — seus lábios se
curvam em um sorriso, que me dói o estômago.
— Eu avisei que seria uma péssima ideia esconder isso de você. —
fala e seus dedos afundam em seus cabelos negros, alisando-os para trás. —
Você é minha Fiorella.
Mexo a cabeça em negação, tentando bloquear suas palavras.
— Está mentindo. Meu pai teria me contado.
Franco suspira, exasperado.
— Isso é o que ele devia ter feito meses atrás. — réplica com
desgosto, — Mas infelizmente concordei em deixá-la ter o resto da
adolescência sem a preocupação de como seria viver comigo sob as regras
da Famiglia.
— Quanta bondade. — escarneço.
Ele cerra o maxilar com força, e sua expressão de raiva se dissipa
quando um celular começa a tocar. Franco enfia a mão no bolso da calça e
atende em seguida.
— Sim, estou com ela. — diz depois de um momento. — Óbvio.
— acrescenta secamente e desliga.
— Era o meu pai? — um sorriso surge nos seus lábios, Franco não
me responde, ele simplesmente joga a porta no chão causando um
estampido e me puxa em direção à saída.
Firmo as pernas no chão, tentando me livrar do seu toque.
— Você anda, ou eu te arrasto. — avisa em meu ouvido.
— Por que não me dá um tiro na cabeça logo?
— Porque ainda vou me casar com você. Devia ficar feliz. — ele
me solta, mas sua mão me segura pela cintura. Seus dedos gélidos em
minha pele nua me causam desconforto.
— Me sinto lisonjeada. — Cuspo as palavras e seus dedos me
apertam me advertindo.
— Você terá que controlar sua linda boquinha, se quiser manter sua
língua. — o encarando frustrada, e só não saio correndo porque ele ainda
me aperta contra o seu corpo.
— Pensei que tivesse senso de humor. — diz com uma expressão
mordaz.
Chegamos em um espaço aberto, meus olhos passam pelo barman,
mas ele abaixa a cabeça e me ignora, sem se importar que dois homens, do
tamanho de um armário, estão me levando embora.
Lazzaro está em frente ao elevador, esperando por nós, caminho
olhando para os pés com medo de enxergar James e não conseguir disfarçar
ou pior: ele não conseguir.
Entramos na caixa metálica, Franco me solta e escorrego para fora
do seu alcance indo para trás de Lazzaro. Traidor do cacete!
Lazzaro ignora minha presença desde o dia que chegou em minha
casa, papai nos apresentou brevemente, e foi isso. Helena achou ele uma
delícia, cabelos loiro-escuros, olhos verde-pinho e forte como um touro,
essas características me lembram um pouco de Rocco. Suspiro sentindo
saudades do meu irmão.
As mãos de Franco me puxam novamente e me arrastam para a
festa agitada do andar inferior. Dou uma última olhada em volta, sentindo
meu coração afundar, por uma noite eu queria ser como qualquer um deles,
livre.
O carro da minha amiga não está em lugar algum, é um bom sinal,
ela deve ter saído pela janela do banheiro.
Franco abre a porta de uma BMW preta e eu deslizo para dentro
em silêncio.
— Como me achou? — pergunto assim que ele adentra o carro.
Ele começa a dirigir e me ignora, descaradamente.
Escoro a cabeça no banco, imaginando o que será da minha vida.
Todos naquela casa mentiram para mim, bem na minha cara. Se eu soubesse
teria aproveitado cada segundo de cada dia. Meus olhos se enchem de
lágrimas, me viro para a janela incapaz de controlar, não vou dar esse
gostinho a ele, a nenhum deles.
O caminho de volta é rápido e silencioso. As lágrimas secaram
embora o nó em minha garganta ainda queime como se estivesse em brasa.
Por um momento me peguei imaginando se morreria, se eu abrisse a porta e
me atirasse para fora do carro em alta velocidade. Franco deve ter percebido
meus pensamentos, pois mementos depois eu o vi conferindo se as portas
estavam travadas.
Os portões da mansão se abrem, e Franco dirige para dentro sem
problema algum. Quando ele dobra a pequena curva do jardim, enxergo o
meu pai e mais alguns seguranças da casa em frente às escadas.
— Boa sorte para encontrar outra noiva. — aviso, pegando na
maçaneta, — Ele vai me matar.
Franco me lança um olhar que não me diz nada, odeio não
conseguir decifrá-lo. Será que se ele pegasse fogo, ou congelasse, sua
expressão ambígua mudaria?
— Ele não vai matá-la. Essa decisão cabe a mim agora.  — cerro o
maxilar com força.
Franco não me mataria, disso eu tenho certeza, isso acabaria com o
acordo de paz feito há quase dez anos. No máximo ele me espancaria quase
até a morte.
Desço do carro e ando em direção ao meu pai, seu cabelo loiro
escuro está desgrenhado, e sua face pálida, está um pouco avermelhada
como se tivesse sido esbofeteado. Santa vontade, meus dedos coçam para
dar um murro na cara dele, por ter me vendido como uma puta para a máfia
de Nova Iorque.
— Onde você estava? — seus lábios mal abrem, mas suas palavras
soam como um grunhido feroz. Já o vi usar esse mesmo tom de voz com
seus soldados. Carlo Santoro neste momento não é o meu pai e sim o Capo
da Outfit.
— Fui dar uma aliviada, antes do grande dia. — minha voz sai
acidamente, carregadas de desprezo. — Mamãe ficaria com nojo de você.
— adiciono, e cuspo no chão aos seus pés.
Ira atravessa o seu rosto, e quando percebo estou apenas com as
pontas dos pés no chão, papai me segura firme com uma só mão pela
garganta, me obrigando a encará-lo, seu aperto em meu pescoço não
machuca, não chega nem perto do que ele fez comigo, ao me dar ao Franco.
— Vá em frente — desafio olhando em seus olhos — não tenho
mais nada a perder mesmo.
— Já chega. — a voz de Franco faz meu pai aliviar o aperto, ele
me encara como se tivesse vendo um fantasma e me puxa mais para perto,
quase tocando nossos narizes — Vá para o seu quarto. — ele me empurra
com força em direção ao Sávio que me pega antes que eu caia no chão.
Livro-me das mãos do segurança e subo os degraus sem olhar para
trás. Assim que adentro encontro Donatella com Dario nos braços e Sienna
ao seu lado, ambas respirando aliviadas após darem uma boa inspecionada
em meu corpo.
— Por Deus, onde você esteve? — minha madrasta pergunta,
exasperada, tirando uma mexa do seu cabelo escuro das mãos de Dario.
— Obrigada por me contarem. — digo passando por elas e subindo
as escadas para o segundo andar.
— Papai nos proibiu. — Sienna diz chorosa, eu não me viro para
ela, estou com raiva demais das duas para me importar — Não fique com
raiva, Ella. — pede, e escuto seus passos na escada.
— Fica longe de mim. — grunho, entrando no quarto e quando ela
tenta fazer o mesmo, eu bato a porta em sua face. A sombra da minha irmã
fica parada diante da minha porta por um longo tempo.
Afasto-me e me jogo na cama, fatigada, desejando ter morrido com
minha mãe naquele dia. Pelo menos ela está livre dessa prisão.
Uma suave batida soou na porta, e ela se abre. Não preciso levantar
a cabeça para saber quem é. Papai senta de costas para mim, ele se curva
para frente apoiando seus antebraços na coxa. Uma posição de derrota.
— Você entende que eu precisava ter feito aquilo? — pergunta
com uma voz de culpa, que ninguém conhece além de mim e Sienna.
— Não me machucou. — digo sem me importar se o convenci ou
não.
Papai nunca foi agressivo conosco, ele é rígido na frente dos
seguranças e no começo até em frente à Donatella, mas nunca ergueu a mão
para nós. Pensando agora, parece que ele até estava nos poupando lá no
início, para poder nos apunhalar agora.
— Eu não quero me casar. — sussurro na escuridão do quarto, e
fico contente pela pouca claridade, assim ele não poderá ver a imensidão de
lágrimas que passam pelos meus olhos.
— Eu sei Ella, mas todos nós temos deveres a cumprir e
infelizmente esse é o seu.
Meu dever uma ova. — quero gritar.
— Por que eu e não Sienna? — ouço um suspirar e meu pai se vira
para mim.
— Acredite era para ser ela, — papai exala baixinho, — mas
depois que você invadiu o meu escritório, a conversa seguiu outro rumo.
— O que vai acontecer comigo? — o medo da resposta pesa em
meu estômago.
— Você se casará, e manterá a paz entre nossas famílias, Ella.
— Isso não devia ser a minha responsabilidade. — exclamo
irritada.
— Seja uma boa esposa, que ele será um bom marido. Obedeça
Fiorella, e mantenha a língua dentro da boca que tudo dará certo.
— Como deu para mamãe, e para a Louisa e Rocco? — minha voz
sai esganiçada. Papai enrijece e fica em pé, ele nunca, nunca conversa sobre
a invasão à mansão.
A culpa o assolou durante muitos anos, papai não descansou até
matar todos os russos que saíram com vida da nossa casa, e mesmo depois
quando já não havia mais nada a ser feito, não havia mais ninguém para
matar, ele nunca tocou no assunto. 
— Ele vai protegê-la Ella, mais do que eu a protegi.
Desgraçado e possessivo do jeito que ele se mostrou hoje, eu não
duvido.
— Quando será a cerimônia?
— Em breve. Amanhã haverá uma pequena reunião para anunciar
o noivado, depois marcaremos a data.
Esposa de um futuro Capo, em outras palavras: viver
constantemente na mira do inimigo.
Eu nunca vou aceitar isso.
 
 
 
Acordo na manhã seguinte com uma réstia de sol iluminando os
pés da minha cama e uma sombra sentada na ponta dela. Ligo a luz do
abajur às pressas quase o derrubando.
— Puta merda, quer me matar do coração? — pergunto a Helena, e
um sorriso triste forma no canto dos seus lábios. — Onde você estava? —
questiono.
— Eu dormi no carro. Estava com medo do seu pai.
— Já o viu? — pergunto saindo da cama e me sentando ao seu
lado.
Ela faz que sim com cabeça, silenciosa e pensativa.
— Ainda está viva! É um bom sinal. — digo lhe dando uma
cotovelada.
— Ele tá enraivecido, mas não me expulsou da mansão, por causa
de você... — para hesitante e tenho certeza que ela já sabe sobre o
casamento.
— Ele não vai expulsá-la, você não tem com o que se preocupar.
— um sorriso escapa por seus lábios.
— Você acha que eu me importo? Será um saco ficar nessa casa
sem você. — diz e meu coração se espreme do tamanho de uma ervilha.
A ficha ainda não caiu completamente, até ontem eu era quase um
garota normal, meio maluquinha, mas dentro dos padrões dessa vida de
merda, e hoje eu sou uma noiva... e em breve terei um marido e uma
família, longe de tudo que eu amo, tudo que eu conheço... De repente o
pânico toma conta de mim, me deixando desorientada.
— Ella? — Helena estala os dedos em frente a minha face.
— Eu fujo. — sussurro.
— Ninguém foge da máfia Ella, você mesma me disse uma vez.
— Deve ter uma exceção. Cacete! — praguejo ao lembrar das
perguntas de Franco. — Se eu tivesse perdido a virgindade com James, não
haveria casamento. Franco ficou enfurecido só por saber que conversei com
um homem.
— Perder a virgindade não é mais uma opção e, eu duvido que eles
te percam de vista agora.
— Eu fujo, Helena, pode ser depois do casamento eu não ligo. Eles
são muito idiotas se acham que vou ser uma esposa modelo, me curvar e
lamber o chão onde o diabo passa.
— Você vai acabar morta, ou pior nas mãos da Camorra. A
Famiglia está em guerra com eles há anos. — franzo o cenho surpresa, —
Eu tenho ótimos ouvidos.
— Você daria uma ótima espiã. — Helena ri.
— Talvez seja melhor aceitar e tentar fazer dar certo.
— Isso é o que Sienna faria. Mas ele quis a mim, então que
aguente as consequências.
Nos jogamos para trás na cama e ficamos encarando o teto por um
longo momento. 
O dia passou mais rápido do que eu desejei. Fiquei trancada em
meu quarto a maior parte do tempo com a Helena. Nós temos quase a
mesma idade, dividimos opiniões diferentes, e mesmo não tendo o mesmo
sangue, a considero como uma irmã.
Estou deitada na cama com a cabeça pendurada para fora,
encarando o quarto de ponta cabeça quando escuto uma suave batida soa na
porta, minha irmã enfia a cabeça para dentro.
— Podemos conversar? — pergunta com gentileza, adentrando o
cômodo.
— Fale. — digo sem me importar de me sentar, a encarando de
baixo para cima.
— A sós. — fala e seus olhos buscam por Helena, que está se
colocando de pé agora. Ela nos deixa a sós e me lança um olhar de
cumplicidade antes de fechar a porta.
Sienna senta ao lado da minha cabeça, mas permaneço encarando a
porta.
— O que você quer? — quero saber.
— Você não pode ficar com raiva de mim. — diz suplicante, —
Não havia nada que eu pudesse fazer.
— Poderia ter me contado.
— E no que isso mudaria? Você provavelmente continuaria noiva.
— Continuaria, mas não estaria com raiva de você agora. Eu
confiava em você e por dez meses você mentiu na minha cara. Você é a
minha irmã, a única coisa que eu esperava era a sua lealdade, cacete! —
meus olhos cospem fúria na direção dela, estou sentada encarando-a no
auge da irritação.
— Eu sei. — seus olhos estão lacrimejando, — Me desculpe, eu
não sabia o que fazer. — diz chorosa, e as lágrimas escorrem.
Outra batida soa na porta, em seguida Donatella enfia a cabeça
para dentro com um sorriso triste.
— Eles estão chegando, precisa se arrumar. — suspiro tapando a
face com as mãos.
— Vem eu te ajudo a escolher um vestido. — Dona fala com uma
mão estendida em minha direção e um sorriso positivo na face.
— Escolha qualquer um — digo me deitando para trás esmorecida.
Ela assente, e me pego sentindo saudades da minha mãe, me
recordo tão pouco dela. Somos muito parecidas, pelo menos é o que os
álbuns de foto indicam. Donatella e Sienna param em minha frente com um
vestido longo, frente única, na cor dourado e muito brilho prateado.
— Não é meio exagerado? — questiono.
— É um noivado Ella, tem que ser belo e delicado. — não consigo
esconder minha cara de nojo, mas fico de pé. Isso vai acontecer de um jeito
ou de outro.
Me dispo sem cerimônia, e com ajuda delas coloco o vestido. O
decote é longo e apertado demais, no formato V. Ele é justo apenas na
cintura, e por cima do fino cetim, há duas camadas de tule dourado com
brilhos prateados. Que puta exagero tudo isso.
Porque ele simplesmente não me leva embora hoje a noite e
terminamos com essa palhaçada de uma vez por todas? Não é como se fosse
real, como se estivéssemos apaixonados e fosse uma celebração para exibir
o quanto nos amamos. É uma puta enganação.
— Fiorella. — Donatella me chama docemente. — Se quiser eu
posso fazer uma trança em seu cabelo.
Encaro-me no espelho e meus cabelos estão domados, eles
começam a encaracolar, logo abaixo do ombro tapando os seios.
— Não, está ótimo assim.
— Uma maquiagem então? — sugere, e lhe dou um olhar violento
pelo espelho a minha frente. — Irá disfarçar o quanto está triste.
— Eu não ligo. — comento olhando meus olhos no espelho, não
estão vermelhos ou inchados, não há um pingo de emoção, além de
decepção.
A porta se abre e me viro para ela, Helena entra de olhos
arregalados, ela tenta suavizar a expressão quando eu juntos as
sobrancelhas, preocupada.
— O que aconteceu?
— Nada, estão aguardando por você.
Visto um salto alto preto com ajuda de Sienna, e quando me ajeito,
minha amiga se aproxima e abre sua mão na minha frente, revelando um
colar de pérolas.
— Carlo pediu que eu lhe entregasse. — Pego, porque era da
minha mãe, e coloco no pescoço, pode parecer ridículo, mas me senti até
mais segura.
Quando estamos deixando o quarto, percebo que Helena fica no
cômodo.
— Você não vem? — quero saber, seus lábios se espremem e sua
cabeça balança.
— Por causa de ontem, é melhor não. — realmente, se eu tivesse a
chance de ficar e fugir dos Homens de Honra que me aguardam na sala eu
também o faria.
— Me deseje sorte. — peço.
— Sorte para eles. — diz me tirando um riso.
 
Andamos as três em direção à sala de estar. Antes mesmo de
chegar às escadas que levam ao primeiro andar, escuto o burburinho vindo
de lá. Um nó tão forte de forma em meu peito, que eu não entendo como
ainda estou respirando.
— Quantas pessoas? — questiono parando no corredor.
— Poucas não se preocupe.
As duas apertam o passo à minha frente. Respiro profundamente,
me sentindo sufocada, o meu coração está em chamas dentro do meu peito,
é como se eu pudesse senti-lo queimar.
Chego à ponta da escada, e todos se viram para mim e o silêncio se
torna ensurdecedor, não há tantas pessoas, se não contar os seguranças
espalhados pela sala. Agarro-me firme ao corrimão de ferro e desço com
uma expressão tão fria quanto a de Franco.
Ele está em pé usando um terno preto, muito elegante, que faz jus a
cada milímetro do seu corpo malditamente perfeito. Uma mulher de meia
idade, com o corte chanel, está ao seu lado, sua expressão é quase gentil, ao
contrario da garota de cabelos negros, longos, e olhos claros, como os de
Franco. Sem dúvida são irmãos.
Obrigo-me a descer o resto dos degraus, e forçar um sorriso, que
não me alcança os olhos.
— Cadê o vestido branco? — olho além do Franco e vejo uma
pequena cabecinha me encarando de volta. Ele é uma miniatura fofa de
Franco, e também usa um terno, o menino deve ter uns sete anos no
máximo.
Todos riem, e o silêncio é quebrado.
A garota se agacha na frente dele e diz algo em seu ouvido, os
olhos do menino assentem e compreensão.
— É tão bela quanto Franco a descreveu. — a mulher diz
gentilmente, meus olhos encontram os dele por segundos e me questiono se
isso o que ela disse é verdade.
— Bondade sua. — respondo docemente, depois olho para o meu
pai, e o encontro mais relaxado. Talvez, imaginou que eu fosse ter um
ataque de histeria no meio da sala.
Ao contrário dos Homens de Honra, eu não culpo as mulheres,
certamente elas já estiveram no meu lugar, e passaram por essa mesma
babaquice.
Meu pai apresenta o restante da Famiglia, a senhora se chama
Carlota, a menina Edwina, e o pequenino, Enrico. O pai de Franco não está
presente apenas Ettore. Ele parece jovem demais para um Consigliere,
talvez tenha uns 28 anos, seus cabelos são castanho escuro e seus olhos
verdes, eu acho, ele não manteve seu olhar em mim nem por um segundo, e
seu corpo é tão escultural quanto o do futuro Capo dei Capi.
— Vai deixá-lo sem graça se continuar encarando-o dessa forma.
— sua voz parece quase cômica, em meu ouvido, provocando-me um
pequeno sobressalto.
— Não foi intencional. — aviso num sussurro, quando vejo olhos
demais em nós dois. — O seu pai não se juntará a nós? — pergunto, e por
alguma razão a tensão cai na sala.
Percebo que os olhos do meu pai procuram os meus, mas o ignoro.
— Não, — sua voz soa com chicote, então Franco adiciona
calmamente — mas ficará feliz de saber que perguntou por ele.
De repente Franco puxa uma caixinha dourada de dentro do paletó,
ele abre em minha frente com um gesto simples e sem delicadeza, e me
estende a mão como fez há dez meses. Hesitação me domina. Estou com as
mãos em punhos ao lado do corpo e a palma ardendo com minhas unhas
enterradas nela.
Não sei quanto tempo passou, pois ouvi um arranhar de garganta
de algum canto da sala. Soltei o ar e estendi a mão com um sorriso delicado,
eu espero.
Os dedos dele se fecham em torno da minha mão, tão gentilmente
quanto da última vez. Franco segura um anel de ouro com um monstruoso
diamante em cima, e no aro há vários outros pequenos diamantes
cravejados.
O anel desliza em meu dedo facilmente, e a sensação é a mesma de
ter uma granada pendurada ali.
— É lindo. — me forço a falar, olhando em seus olhos, que não
demonstram emoção alguma. Talvez Franco tenha se dado conta da grande
merda que acabou de fazer, e que devia ter escolhido Sienna.
— O seu anel é lindo, Ella. — minha irmã comenta parando ao
meu lado, os olhos de Franco param nela por segundos, mas ele desvia para
o bolso da calça quando seu telefone começa a tocar.
Franco pega distância de nós e dos seguranças da mansão que tão
intimamente participam do meu noivado e atende a ligação.
Respiro fundo, desejando desmaiar e nisso um garçom entra com
as bebidas, pego uma taça antes mesmo de ele parar, e recebo um olhar de
condenação do meu pai, o ignoro totalmente e viro o líquido tudo de uma só
vez. Papai não pode mais me punir, na verdade não há punição maior do
que esta que estou vivenciando, então foda-se.
— Nós precisamos ir. — Franco informa, e sua família fica em pé,
tentando esconder a preocupação que brilha em seus olhos.
— Está tudo bem? — as palavras saem de mim depressa, como se
eu me importasse.
— Não se preocupe. — diz com uma expressão mais suave do que
quando deslizou o anel em meu dedo.
Eu mal tive o prazer de conhecê-las, mas fico grata por estarem
indo tão rápido. Cansei dessa encenação.
Papai e os seguranças os seguiram para fora da mansão, minha
irmã e madrasta me encaram com algum tipo de expectativa, eu realmente
não sei o que elas querem de mim, não é como se eu fosse mudar de ideia a
respeito do casamento só porque ele enfiou um anel em meu dedo.
Honestamente eu acho que nada vai me fazer mudar de ideia.
 

 
 
Semanas se passaram desde o meu noivado, eu não vi e nem procurei saber
de Franco. A única coisa que me preocupa agora é não saber a data do casamento,
papai não fala nada com medo que eu fuja, tenho certeza. Ele reforçou a segurança
perto da  janela do meu quarto e em frente à porta durante as noites. Estou às cegas
e isso está me matando. Cada dia que passa a vontade de fugir está maior.
A notícia sobre o noivado se alastrou, havia muitos tweets na internet, e
Franco apareceu em alguns deles com um grande ponto de interrogação ao seu lado.
Quem será a garota por trás do véu, que conquistou o coração do mais
jovem milionário de Nova Iorque.
Conquistou... rio, quanta hipocrisia.
Meu cérebro fica tentando encontrar brechas para sair dessa situação, mas
não há, fugir da mansão é inviável, fugir durante a cerimônia é implorar para levar
uma bala na cabeça do próprio Franco. Nem mesmo Helena pode me ajudar, papai
colocou um segurança nas costas dela.
Bato na porta do escritório do meu pai, e abro em seguida, ele desvia a
atenção do notebook e me encara oferecendo um sorriso amável.
— Me chamou. — pergunto, ele faz sinal para eu me sentar, faço no
automático sentindo um frio na barriga.
— Dona vai levá-la para escolher o vestido de noiva. — O temor invade o
meu corpo tão rápido que não consegui disfarçar.
Meu pai pressiona os lábios e se inclina para frente na mesa.
— Não há mais como retardar Ella.
— E quando é a data? — em outras palavras, quanto tempo eu ainda
tenho?
Meu pai mexe a cabeça mecanicamente e se escora na cadeira, os segundos
de empatia dele foram embora, substituído por sua máscara de Capo.
— Eu já fui punida o suficiente pai, não tem como fugir disso, e mesmo
que tivesse eu não o faria, — lhe dou o meu olhar mais pesaroso, para ver se
amolece esse coração enferrujado.
— Escolha um lindo vestido, Ella, que eu te conto hoje à noite.
Reprimo um grito, e assinto positivamente, já que brigar, bater o pé ou
fazer birra não adianta mais, saudades de quando eu era pequena.
 

 
Jogo-me para dentro do luxuoso e blindado Audi A8, e recebo um olhar
feio de Donatella, ela não é muito mais velha que eu, tem seus vinte e três anos,
porém se comporta como se tivesse bem mais.
Sienna e Helena me dão sorrisos calorosos, acredito que as duas estejam
tentando manter os ânimos nessas últimas semanas. Meu estresse estava elevado,
que descontei tudo nos bonecos sparring. Que bagulho sem graça.
— Tem alguma preferência de vestido, Ella? — Sienna pergunta assim que
Sávio começa a dirigir com Lazzaro ao seu lado.
— Um que seja bem difícil de Franco tirar. — Helena zomba, nos fazendo
rir. Mexo a cabeça em negação, não quero pensar na noite de núpcias, não vou
sofrer antecipado.
Sávio estaciona em frente a uma loja de grife onde vende vestidos e
acessórios de noivas.
As meninas entram na loja animadas, enquanto eu me sinto indo para um
funeral, talvez eu esteja sendo exagerada e muito dramática, eu não sei, devia enfiar
na cabeça que quanto mais rápido eu aceitar melhor, mas simplesmente não
consigo.
Assim que passo pela porta, eu me viro impedindo a passagem de Lazzaro.
— Um pouco de privacidade não vai matá-lo. — aviso, deixando-o com
uma expressão dura.
— Tenho ordens para ficar de olho em você.
— OK. Mas se por acaso eu sair do provador nua, boa sorte para explicar
isso ao seu chefe. — ele cerra o maxilar e dá um passo à trás.
Viro-me e vejo que todas estão me olhando, a dona e as atendentes forçam
um sorriso.
— Você devia tentar se dar bem com ele, ele cuidará da sua segurança em
Nova Iorque, Ella.
— Então eu desejo muita sorte pra ele. — passo por Donatella, Sienna e
Helena ambas estão com vestido de noiva em frente ao corpo, se olhando no
espelho. Suspiro. Não posso nem culpá-las, no casamento da minha prima, Lilia, no
ano passado eu estava nessa mesma animação, não tinha ideia do que Lilia estava
sentindo, o casamento também foi arranjado, mas ela conseguiu mascarar seu
desgosto muito bem.  Eu nem tento.
Meus olhos se perdem na imensidão de vestidos brancos, sufoco um grito,
respiro fundo, e lhes dou um sorriso.
— A noiva tem preferência para algum vestido? Tule, renda, cetim. — cita
educadamente.
— Acredito que quanto mais casto melhor. — Donatella fala parando ao
meu lado, — Será um casamento grande, Ella, você passará nas mãos de muitos
homens na hora da dança, não acho que Franco irá gostar de muita pele exposta.
Quanta submissão apenas na porra de um vestido, talvez eu devesse
mandar Franco vir escolher por mim também.
— Papai tem sorte de ter você Dona. — ela me encara surpresa, e me dá
um sorriso iluminado.
Ainda não tinha um vestido em mente, mas agora eu sei exatamente o que
eu quero, detalho para as mulheres minuciosamente e me pego ansiosa, pela
primeira vez desde que cheguei.
— Eu devia ter previsto. — Donatella fala apertando os lábios.
— Ah não se culpe. — lhe dou uma piscada e fico de pé assim que elas
voltam para a espaçosa e confortável sala.
Fico de pé animada, sem entender o motivo, talvez seja porque agora eu sei
que Franco ficará puto ao me ver, ou talvez ele nem ligue.
A dona da loja estende à nossa frente um vestido sereia, composto por uma
pequena cauda com muitos brilhantes, todas emitimos espanto ao vê-los, é
belíssimo.
— Gostaria de provar esse?
Faço que sim com a cabeça e me dispo em frente a elas, e deslizo para
dentro do vestido, ele é justo demais, modelando perfeitamente o meu traseiro, e
afinado minha cintura, digna de uma modelo.
— Quase uma Kim Kardashian. — Sienna brinca olhando para minha
bunda, rio.
Analiso no espelho o longo decote em minhas costas, e gosto do que vejo,
Helena surge ao meu lado e puxa os meus cabelos para trás revelando as finas alças
do vestido; o decote é bem generoso no formato de U, e o que cobre os meus seios é
a tênue camada do tule ilusion, da cor da minha pele, em cima do tecido há um
bordado prateado, formando uma elegante flor que desce ao longo da cauda.
— Costas, braços e peitos de fora. — Dona me encara, tensa.
— Está gostosa pra caralho. — minha amiga comenta e as meninas da loja
concordam, diria até que um pouco emocionadas.
— Você está maravilhosa, irmã, — Sienna expressa deslizando sua
delicada mão pelas minhas costas nuas, — Mas Dona está certa, tem pele demais
amostra.
— Ele devia ter escolhido você, — Sussurro só para ela ouvir, seus olhos
mostram surpresa e desapontamento, — seria uma esposa melhor que eu. — sua
expressão se suaviza.
— Será esse. — Sienna adiciona com um sorriso.
 

Desço do carro correndo e subo para o escritório, vou ficar maluca se eu


não descobrir a data desse casamento. Abro a porta e invado a sala com impulso.
Congelo no lugar, recebendo um olhar duro do meu pai.
— Eu não sabia que estava ocupado. — digo assumindo uma postura
rígida.
— Ela nunca bate? — Franco questiona, com uma expressão ilegível.
— Acostume-se. — meu pai fala e soa quase sarcástico.
Dou um passo atrás e esbarro em uma parede de músculo, olho por cima
do ombro e Ettore me olha de volta, com as sobrancelhas em pé.
— Eu volto depois. — sussurro.
— Espere. — Franco impõe e soa como uma ordem, cerro o maxilar e o
encaro com uma expressão contestante. — Quero falar com você.
Encaro o meu pai com um olhar suplicante, mas ele está se pondo de pé
com sua máscara de Chefe, papai passa por mim me ignorando totalmente e deixa a
sala com o Consigliere.
Sou obrigada a olhar para Franco, ele está em pé agora, usando um terno
impecável, inteiramente preto como sempre. Seu olhar encontra o meu, inflexível,
ele parece me odiar, eu não entendo porque me escolheu.
— Nos casamos em duas semanas, — meu queixo tomba tão forte que não
consigo trazê-lo de volta ao lugar.
Duas semanas, entre a prisão da minha casa para a de um lar desconhecido.
Achei que teria mais tempo, com minha família. Em duas semanas serei apenas eu e
esse pedaço de carne fria.
— Você terá que aprender a controlar suas emoções, Fiorella, pode me
odiar o quanto quiser agora e depois, mas durante a cerimônia terá que parecer uma
noiva feliz.
Mexo a cabeça mecanicamente incapaz de formular uma palavra.
— Metade dos convidados não é da máfia, e não entendem como
funcionam certos acordos.
Eles entendem, só que para eles o casamento arranjado é crime. — mordo
a língua e lhe dou outro aceno.
— Mais alguma coisa? — pergunto e minha voz sai incrivelmente suave.
— Sua mãe morreu quando ainda era criança. — menciona
cautelosamente, todos sabem a carnificina que foi a invasão dos russos, mas
ninguém toca no assunto, é como se fosse proibido — Alguém conversou sobre o
que é esperado de você na noite de núpcias.
Meu coração capota e a bile me sobe à garganta, não digo uma palavra
ainda processando tudo. Eu não sou besta, sei exatamente o que me aguarda no fim
da cerimônia. Uma noite sangrenta, reflito ao lembrar as suas palavras semanas
atrás.
...se eu te pôr na cama agora, e meter fundo em você, encontrarei sangue
nos lençóis?
— Não, — emito com a voz monótona, — mas eu sei o que vai acontecer
Franco. — seus olhos azuis anil, sem brilhos ou profundidade se atenuam por uma
fração de segundos.
— Foi bom vê-la. — diz e acredito que seja só por educação.
Franco passa por mim e deixa a sala silencioso como um fantasma.
Se mal conseguimos manter um diálogo, não consigo imaginar como será
o nosso casamento. Uma inquietude se instala na boca do meu estômago, eu já fui
há um bom número de casamentos para saber o que as mulheres casadas há mais
tempo tem que suportar.
Elas não falam abertamente com medo que seus maridos escutem, mas já
ouvi a palavra, agressão, estupro e amantes... Mas papai não agia assim com minha
mãe, eu acho, eles pareciam se amar de verdade, embora na frente dos outros a
frieza de Carlo era implacável.
Torço para que eu seja tão sortuda quanto minha mãe e Dona.
 
 
 
 
Deixo o Spa Beaty Dear, mais tensa do que quando entrei apesar da
massagem incrível, Abhyanga com seus óleos e ervas, estou me sentindo
marinada.  Fiz as unhas e depilação a cera. Cacete como aquilo dói.
— Querem dar a volta na Times Square? — Dona pergunta,
olhando em seu relógio de pulso, ainda não passou das onze horas da
manhã, o casamento é apenas às dezenove horas, e, a última coisa que eu
quero é ficar socada dentro de um quarto de hotel esperando as horas
passarem.
Essas últimas semanas foram caóticas, mal consegui dormir com a
ansiedade dominando o meu corpo, dobrei o horário do meu treino para ver
se conseguia distrair a minha mente, ou quem sabe pelo cansaço apenas
desmaiar a noite, mas não, quando me deitava estava incrivelmente dolorida
e sem sono algum.
Fomos andando para Times Square, com Sávio e Lazzaro e mais
alguns seguranças espalhados à nossa volta, entre outras pessoas. Faltam
quase duas semanas para dezembro, e o frio de Nova Iorque é tão rigoroso
quanto o de Chicago.
— Aqui é tão lindo, Ella. — Sienna fala pegando em minha mão e
apontando para as luzes e os painéis enormes ao longo da famosa rua.
— Talvez você goste. — Hell comenta.
Desde que chegamos aqui noite passada as duas tem tentado me
animar, mas falharam terrivelmente. Tem uma tensão em meus ombros que
eu não consigo me livrar, as meninas estão alegres tentando absorver o
máximo do lugar, no entanto, tudo que eu consigo pensar é em hoje à noite.
Estou apavorada e tenho que esconder isso de mais de trezentas
pessoas. Sinto-me à beira de um colapso.
 

O carro estaciona em frente ao Hotel Plaza onde ocorrerá a


cerimônia e também estamos hospedadas, ainda não tenho ideia de onde
Franco mora, se é casa ou apartamento, se vive sozinho ou com a família. 
Tudo nele é um grande ponto de interrogação, a única coisa que eu
sei é: nome, idade e que por trás daquela pele imaculada há um assassino
frio.
Sávio desce para abrir a nossa porta, e de repente Helena segura
firme no meu pulso, e aponta um dedo para o lado de fora, indicando
Franco logo à frente, ele conversa com uma mulher de cabelos dourados,
como os de Sienna, ela é pequena, chegando à altura do coração dele, e usa
um longo casaco de pele branco. Os dois parecem estar em uma conversa
acalorada.
Assim que Sávio abre minha porta, a BMW de Franco aparece ao
lado deles. Nisso Helena me empurra para fora do carro e preciso da ajuda
do segurança para me equilibrar nos saltos. Franco e a moça percebem
minha presença. Ambos me encararam, e fico num impasse sobre o que
fazer. A moça tem o rosto pequeno e delicado, e pela distância eu não
consigo ter certeza, mas seus olhos parecem vermelhos. Meu futuro marido
abre a porta do carro, ela entra sem se despedir, e Franco bate à porta  com
força.
Ele se vira para mim assim que a sua BMW parte com a moça,
parece um pouco irritado como se fosse minha culpa ter chegado nesse
momento. Abro a boca para saudá-lo, contudo Franco se vira e segue para
dentro do hotel.
Fico sem entender nada, e um tanto indignada pelo seu
comportamento desaforado.
— Quem diabos será que é aquela garota? — Hell pergunta.
— Honestamente eu não ligo e não me importo.
— Uma puta? — minha irmã se questiona, — Ouvi cochichos
sobre uma despedida de solteiro. — diz baixinho para os seguranças não
escutarem.
— Despedida de solteiro? — rio com escárnio, — Como se nosso
casamento fosse de verdade, ou como se Franco não fosse continuar
trepando com metades das putas de Nova Iorque.
— Fale baixo. — Dona grunhe em meu ouvido quando adentramos
o Plaza.
— Desculpe, esqueci que eu tenho que manter a pose de boa moça,
até a porra desse casamento passar. — sussurro e vejo medo nos olhos de
Donatella.
Eu tenho certeza, aliás acredito que todos têm, que eu não duro
uma semana com Franco, minha língua solta e minhas atitudes impensáveis
acabarão me matando.
— Eu vou me comportar, não se preocupe.
 

 
A noite veio mais rápido do que eu esperava, não há mais como
retardar, estou em pé em frente ao espelho vestindo o vestido de noiva que
eu cruelmente escolhi para provocar Franco, mas agora, nesse exato
momento nunca desejei tanto ter escutado Dona. O vestido é maravilhoso,
me faz parecer ousada e sexy, me faz parecer uma mulher, não uma garota
que acaba de completar dezoito anos.
— Você é a noiva mais linda que eu já vi. — Dona comenta as
minhas costas.
— Baboseira, você deve dizer isso a todas. — falo brincando, ela
sorri e sua mão desliza pelas minhas costas nuas com delicadeza.
Minha maquiagem é o oposto do vestido, é leve e delicada em tons
prata, igual o penteado que escolhi, transaram minha franja em direção às
laterais da cabeça e fizera um coque baixo e sofisticado, onde uma pequena
presilha de brilhantes prateados está presa segurando o véu.
Olho para Helena e Sienna, ambas sentadas na cama, com os
olhares deslumbrados.
— Acho que eu nunca a vi tão linda. — Helena comenta, faço cara
feia e meu coração acelera assim que ouço uma batida na porta.
— Sorria, você é uma noiva feliz. — Sienna cantarola enquanto
caminha para atendê-la.
Ah claro, mascarar as emoções. Não tenho certeza se vou
conseguir isso. Respiro fundo e faço um sinal para minha irmã abrir. A
expressão dela congela por milésimos de segundos e então suaviza com um
sorriso gentil, ela se retira de frente a porta, Carlota, Edwina e Enrico Fiore
adentram o quarto.
— Uau! — minha futura sogra exclama com um grande sorriso, —
Você está...
— Quase pelada? — Edwina questiona, e sua mãe me dá um
sorriso sem graça.
— Espantosamente linda. — sorrio. — Franco vai admirar sua...
— Audácia. — minha cunhada adiciona com um riso.
— Ela só está brincando, você está muito delicada Fiorella.
Agradeço e observo Enrico em um pequeno terno escuro, ele olha
para sua mãe com um sorriso jovial e diz:
— Meu irmão disse que você é tão delicada, quanto o coice de uma
égua. — o silêncio sufocou o lugar inteiro, a face de Calota se tornou
carmesim como o seu vestido de festa, fazendo-me explodir em uma
gargalhada.
Pelo menos Franco tem mais senso de humor que eu.
— Não dê ouvidos ao Enrico, ele não sabe o que diz.
— Mas foi o Fr... — Edwina cobre a boca do menino com a mão,
com um sorriso e sua mãe me estende uma caixa alta preta e quadrada.
— Franco pediu que lhe entregasse, é para usar na cerimônia se
desejar. — fala gentilmente, e as meninas se aproximam para ver o que há
dentro da caixa, quando eu abri.
— Oh. — elas emitem como um coro.
Pego a tirara moldada a ouro branco e deslizo o polegar pelo
diamante no topo, prensada por outros pequenos outros diamantes.
— É linda. — falo amavelmente, analisando a joia.
Obviamente não foi Franco que a comprou, mas aceito o presente
de bom grado. Espero a família Fiore sair e peço a Dona para ajustar na
minha cabeça. Deu um charme no meu visual e é um pouco pesada, mas
nada comparado ao peso que há em meus ombros.
— Meia hora. — Helena avisa, e meu coração martela como a
sentença de um juiz.
Outra batida soa à porta, e sinto minhas tripas em uma luta dentro
de mim. Meu pai entra em seguida vestindo um terno caro na cor preta,
corro para seus braços, antes mesmo que ele diga algo.
Suas mãos deslizam para minhas costas me abraçando, me
confortando. Em instantes estamos sozinhos, tento reprimir as lágrimas,
quando ele se afasta para me olhar.
— Oh, Ella. — sussurra, agora eu não sei se é por consternação ou
pela minha estonteante beleza. — Você devia comer algo, está pálida com
um papel.
Mexo a cabeça mecanicamente.
— Eu estou com medo pai. — admito, os olhos endurecidos do
meu pai se suavizam e suas mãos que seguram em meus ombros tracejam
até minhas mãos.
— Eu sei. Sua mãe também estava quando nos casamos. — diz,
pondo a mão no meu queixo e o erguendo para cima delicadamente. —
Tudo bem sentir medo aqui, — ele cutuca o meu coração, e seus olhos me
encaram frios, — Só não deixe ninguém descobrir, se não isso tornará sua
maior fraqueza.
Meu pai leva a mão no bolso do paletó e pega uma pulseira de
brilhante.
— Era da sua mãe ela usou em nosso casamento. — ele prende em
meu pulso, — Você nunca esteve mais parecida com ela como hoje. — sua
voz sai com angústia.
Para meu pai, eu me tornei o fantasma da mulher que ele amava,
perambulando pela casa. Herdei os longos cabelos brancos, os olhos azuis
prateados com a extremidade da íris mais escura, mas não ganhei a
delicadeza e temperamento equilibrado.
— Vamos, está na hora.
Meu pai estendeu-me o braço e eu me agarrei a ele como se fosse
uma âncora. Deixamos o quarto de hotel em silêncio, parece que até
respirar me exige concentração. Entramos no elevador, e evitei me olhar no
reflexo do espelho, não desejo ver o quão assustada estou, sou capaz de
ficar ainda pior.
O elevador para em um uma sala de recepção onde encontro a
cerimonialista, pela primeira vez. A mulher que decidiu cada detalhe do
meu sórdido casamento. Ela veste um terninho branco, requintado, e segura
um pequeno tablet, em frente há portas duplas brancas, com arabescos
dourados.
— Nossa! — sua voz sai baixa, num espanto, — Você é a noiva
mais linda que eu já vi. — diz e lhe dou um sorriso fraco, me perguntado de
quantas mais pessoas ouvirei isso hoje.
— Gentileza sua.
— Não é gentileza, você está perigosamente linda, Fiorella. —
acredito nele, pois fazer elogios não é do seu feitio.
Meu pai puxa o véu em frente ao meu rosto, ele desce cobrindo até
a altura dos meus cotovelos, e a cerimonialista me entrega o buquê de rosas
brancas e lisianto rosa-claro.
— Pronto? — a mulher pergunta ao meu pai, ele lhe dá um aceno
de cabeça.
Dois homens se aproximam um de cada lado, ambos segurando a
maçaneta dourada.
Olho para papai por uma batida de coração, ele está com uma
expressão ilegível, e ao contrário dele sou obrigada a estampar um sorriso
no rosto.
Chupo as bochechas com força sentindo-as endurecidas pela
tensão, e quando as portas se abrem eu estampo o sorriso mais iluminado
que consigo.
Um acorde nos alcança, mas é abafado por centenas de pessoas
ficando em pé ao mesmo tempo, e se virando para mim. Meu pai dá o
primeiro passo me obrigando a me mover com ele.
O corredor entre as pessoas é longo e vermelho sangue, me
levando em direção ao meu noivo.               Quando meus olhos encontram
Franco em um esplendoroso smoking inteiramente preto, o meu corpo é
tomado de ansiedade. Minhas pernas ameaçam falhar, mas não permito, isso
seria vergonhoso demais para a minha família.
À medida que nos aproximamos, consigo ver minhas madrinhas de
honra, em seus vestidos cor de creme, elas exibem o mesmo sorriso que eu,
só que verdadeiro. Elas realmente acreditam que possa haver amor nesse
casamento, e por um instante me pego desejando o mesmo.
Quanto mais perto eu estou do altar, mais forte sinto o meu coração
batendo, parece uma sirene dentro de mim, em sinal de alerta máximo,
berrando:
CORRA
CORRA
CORRA
CORRA
Chegamos, e tudo que eu enxergo é Franco à minha frente, alto e
poderoso, dominando o altar. Meu pai segura em minha mão e Franco já
está com a dele estendida para me receber.
Meus dedos frios pela ansiedade, tocam na sua mão extremamente
calorosa, é quase reconfortante. Subo os dois degraus ficando de frente para
meu noivo. Sou forçada a erguer o queixo para encará-lo. Franco solta
minha mão e com um gesto simples e delicado, que parece ser incapaz de
vir dele, coloca o meu véu para trás.
Seus olhos encontram os meus e sua máscara gélida se desfaz por
meio segundo, me deixando quase acreditar que há um homem capaz de ter
alguma emoção além de raiva e ódio, por trás daquela expressão bruta. Seu
semblante se torna impassível na hora que ele pega em minha mão e juntos
nos viramos para o ministro. Entrego o buquê a Sienna e me endireito com
o semblante mais calmo. Olhando para o ministro meu cérebro berra:
Não há como fugir disso.
— Senhoras e senhores, estamos aqui presentes para celebrar a
união de Franco Fiore e Fiorella Santoro. — comunica e faz um sinal para
todos sentarem. — Se há alguém entre vocês que saiba de alguma razão
para que isto não deva ser feito, que o diga agora, ou permaneça em silêncio
para sempre.
Ah! Há tantos motivos. — grito em pensamentos já que o silêncio
imortalizou o lugar, eu nunca desejei tanto uma interrupção. Isso jamais
aconteceria, esse casamento é o mais esperado há quase uma década.
O ministro lê o seu discurso, sobre amor, respeito, confiança...
todos os pilares de um casamento... uma farsa no meu caso e sou imposta a
adorar, e agir perfeitamente de acordar com uma noiva feliz, minhas
bochechas vão quebrar até o final da noite, se eu não parar de sorrir.
Olho para Franco e me pego pensando que assassinos não deviam
possuir tanta beleza. Com sua expressão suave, ele quase parece um cara
normal, muito rico, muito lindo, e sem sangue nas mãos... De repente sinto
um aperto em meus dedos.
— Fiorella… — O ministro chama, e percebo que estava perdida
em outro lugar. — Aceita?
Franco me olha, ainda impassível como se soubesse que estava
distraída não tentando envergonhá-lo.
— Sim! — expresso em um tom alegre, e dou um sorriso que
poderia partir minhas bochechas, para o meu futuro marido.
O ministro engoliu a minha falsa alegria e se vira para o meu
noivo.
— Franco, você aceita esta mulher como sua legítima esposa? Para
ser fiel, amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença
ou até que a morte os separe?
E com essa palavra, Franco colocará o último prego no meu
caixão:
— Sim! — sua voz sai grave e triunfante, acredito que ambos
estejamos passando bem a mensagem de noivos felizes.
Ele me encara e sua expressão ilegível tomou conta da sua face,
exceto pelos olhos, parece haver alguma emoção ali, mas não consigo
decifrar, ele se vire e pega as alianças com Ettore.
Estendo minha mão, e Franco segura firme em meus dedos,
contendo minha ridícula tremedeira, e desliza uma aliança dourada junto
com o anel de noivado. Em seguida me entrega a sua e meus dedos apertam
sua mão com força, é a única maneira de esconder o tremor, e assim eu
deslizo o anel em seu dedo.
Quase lá Fiorella.
— Pelos poderes a mim concedidos, eu vos declaro marido e
mulher. O noivo já pode beijar a noiva.
Congelei quando Franco deu um passo à frente, seus dedos
deslizaram para minha cintura, e me puxaram colando nossos corpos, seus
lábios moldaram os meus sem aviso, e sua mão subiu para o meu rosto
escondendo nosso beijou. Sua língua entrou em minha boca, e eu
timidamente envolvi a minha na dele, como em uma dança lenta.
Ouço um arranhar de garganta, com certeza do ministro, fico rubra,
mas ainda estou imóvel nos braços do Franco, com ele me beijando como
se eu fosse ar e ele estivesse sufocando.
— Deixem um pouco pras núpcias.  — ouço Ettore grunhir, Franco
abre um meio sorriso contra meus lábios e se afasta.
— Senhoras e senhores é com muito prazer que vos apresento
Franco e Fiorella Fiore.
 
 
Quando me virei, os convidados estavam todos em pé, senti mãos
me abraçando por trás, olhei sobre o ombro e vi uma mecha de cabelo
preto, relaxei nos braços de Helena momentaneamente.
— Foi lindo, Ella. — minha irmã fala jogando os braços sobre o
meu pescoço e me abraçando.
Credo! Como não tinha me dado conta de como as pessoas ficam
emotivas em casamentos?
As duas se afastam quando papai se aproxima com Dona e Dario.
Seus braços me envolvem brevemente, mas antes de me soltar ele
sussurra em meu ouvido: Seja forte pela família.
Em outras palavras: seja forte pela Outfit, só que a Cosa Nostra é a
minha família agora.
Papai e Dona abrem lugar para a família de Franco nos
cumprimentar, recebo muitas saudações, mas até agora não vi o Chefe da
Famiglia em lugar algum, não me arrisco a perguntar, da primeira vez que
questionei, Franco soou áspero.
Franco desliza a mão pelas minhas costas nuas, sinto um arrepio na
espinha, e inclino o corpo para frente involuntariamente.
— Devia ter previsto isso antes de escolher algo tão revelador. —
Há frieza em sua voz, apesar de seus lábios exibirem um sorriso para nossos
convidados conforme passamos entre eles, indo em direção ao salão de
festa do outro lado do corredor.
— Você não gostou? — pergunto dócil, mas Franco sabe que estou
escarnecendo por dentro.
— Talvez eu goste mais tarde. — diz e sua mão escorrega
centímetros para minha bunda, pavor atravessa o meu rosto, Franco analisa
minhas expressão e sobe a mão para o meio das minhas costas, novamente.
— Não brinque comigo, Fiorella. — sua voz soa mordaz. — E
sorria é o dia mais feliz da sua vida.
— Quer que eu sorria, então pare de me aterrorizar. — sussurro,
ele franze os olhos e seus lábios se espremem quando mais pessoas
aparecem para nos cumprimentar.
Inferno! Quero sair correndo, quero que isso acabe logo, quero ir
para casa, onde quer que ela seja, quero ficar longe de todos esses olhares
curiosos, que me analisam minuciosamente como se eu fosse um animal
exótico, principalmente a família de Franco. Aposto que eles estão
esperando eu entrar em colapso ou sair correndo.
Ignoro o meu inferno interior e sorrio para o restante dos
convidados adentrando o salão que é enorme, no formato oval, com muitas
mesas redondas uma ao lado da outra deixando apenas um círculo aberto no
meio. Franco segura em minha mão e nos guia até a nossa mesa, ela é
comprida, como nos banquetes de reis e rainhas ficando de frente para os
convidados. Meu noivo puxa a minha cadeira gentilmente, ainda com uma
expressão suave. Embora seja falsa, fico contente de não ter que ver a
carranca irritada dele.
Em nossa mesa, está apenas a nossa família, fico grata por não ter
que conversar com alguém. Assim que me aconchego um garçom se
aproxima com taças de Champanhe em uma bandeja, pego uma e viro em
um só gole.
— Não se empolgue, você ainda tem que dançar com metade
desses homens, e não quero que esteja bêbada. — assinto, exausta dessa
situação.
Outro garçom se aproxima com nossos pratos, meu estômago
embrulha, por mais que eu tenha ficado o dia inteiro praticamente sem
comer nada, sinto que preciso empurrar algo para dentro se não quiser
desmaiar até o final da noite.
O homem solta um prato à minha frente, recheado com ostras, e
camarão ao meio. Como rapidamente, e tomo o resto do Champanhe do
Franco, ele me olha e lhe dou um sorriso ficando de pé.
— Aonde você vai? — pergunta me pegando pelo pulso de
repente, então seus dedos escorrem para a ponta dos meus delicadamente,
quando ele percebe que há olhares em nós.
— No banheiro. — Franco beija o dorso da minha mão
amavelmente e me solta, e antes que eu pudesse sair do lugar, ele faz um
sinal com a cabeça para alguém, e sei que vou mijar sendo vigiada.
Isso é ridículo! Minha vida será assim agora? Não que antes não
fosse, mas Sávio sabia os limites que não devia ultrapassar, e por mais
jovem que fosse nunca me olhou de outra forma. E eu não sei nada sobre os
homens de Franco, eu mal conheci Lazzaro, nesses últimos meses sua face
parecia uma tela congelada em uma única expressão, fechada.
No caminho para o banheiro Sienna e Helena vieram atrás de mim,
e um pouco mais distante Lazzaro, com sua expressão habitual. Entramos as
três, e fechamos a porta com força na cara do guarda-costas. Um grito
rompe pelos meus lábios, fazendo as duas me olharem desalentas.
— É tão ruim assim? — Helena questiona.
— Toda vez que ele fala comigo, é uma ordem ou uma censura.
Nada agrada aquele homem.
— Já tentou ser agradável? — Sienna questiona, e lhe dou um
olhar mortal. Às vezes me pergunto se a porra do problema sou eu, ou
Sienna acha que tudo é um conto de fada.
— E o beijo como foi? — Helena pergunta, tentando esconder a
animação.
Rio, fazendo as duas me encararem estranhas.
— Foi bom? — Sienna questiona, curiosa.
— O meu primeiro beijo foi na frente de mais de 300 pessoas,
como vocês acham que foi? — as duas esmorecem, fazendo-me rir.
Uma batida soa na porta, e não preciso nem perguntar para saber
que é o Lazzaro, checando se eu não fugi pela passagem do vaso sanitário.
— Seja uma boa esposa Ella, mesmo que ele não te de amor, ele
pode ser bom para você, pode deixar eu e Helena te visitar. Se você for
ruim, não tem porque ele ser bom e no fim você é quem sai perdendo. —
Escoro minha cabeça contra a parede fria, tentando encontrar sentido nas
palavras de Sienna, mas como ser boa para ele se tudo que eu mais desejo é
cortar a sua cabeça.
— Fiorella! — Lazzaro agride a porta, bufo audivelmente e abro
com força.
— Cacete, eu só preciso de um minuto! — grito na cara dele, e
suas feições endurecem, as minhas também.
— Nós já estávamos saindo. — Sienna explica, com sua voz de
porcelana.
— Você não tem que se explicar para ele. — aviso passando pelo
guarda-costas e empurrando minha irmã na frente.
Voltamos para o salão de festa e uma música lenta toca, e do outro
lado do salão conversando com alguns homens, os olhos de Franco
encontram os meus, ele se aproxima à medida que ando em sua direção.
Nos encontramos no meio do salão e quando sua mão pegou a
minha  a luz se tornou ambiente, e uma suave canção, nos alcançou, La
Valse de L'Amour.
Franco pega meu corpo como se eu fosse uma boneca e me conduz
na doce melodia. Minha mão está firme dentro da sua, e a outra segura em
seu ombro com firmeza, nunca desejei tanto ter mais altura, minha cabeça
não alcança nem a curva do seu pescoço.
— No que está pensando? — pergunta em meu ouvido, segurando
em minha cintura com as mãos e me rodando. Deslizo minhas mãos para o
seu pescoço, uma subindo em sua nuca.
— Que sou pequena, comparada a você. — inclino a cabeça para
encará-lo, Franco está com uma expressão agradável, quase doce,
desgraçado como consegue disfarçar tão bem?
Franco me gira e me puxa para seus braços novamente, colando
nossos lábios suavemente no fim da música. Uma salva de palmas ecoa pelo
salão, e a seguir outra música começa a tocar; um homem de meia idade,
alto e com a cabeça raspada, me oferece a mão, seus olhos são azuis
acinzentados e apresentam exaustão.
Encaro Franco e ele consente.
— És ainda mais bela do que nas fotos. — A mão dele desliza para
as minhas costas tocando em minha pele nua, ele não parece se importar e
nem Franco.
— É o meu pai, Fiorella. — Meu noivo avisa, devo ter deixado
alguma expressão passar despercebida.
— É um prazer Senhor Fiore. — saúdo corretamente e começamos
a dançar, Franco nos deixa a sós, mas logo é interceptado por sua irmã, que
o arrasta para a pista de dança, ao lado deles fico surpresa em ver Helena
dançando com Ettore, seus azuis estão arregalados encarando os meus.
Com um sorriso, volto meu olhar para o Capo dei Capi da Cosa
Nostra.
— O que achou do casamento?
— Um sonho de princesa. — digo com um sorriso.
— A verdade. — ele pede, e me vejo em um impasse, entre, dizer
o que ele quer ouvir, ou dizer o que eu acho que ele quer ouvir.
— Exagerado, para uma farsa. — Um sorriso se forma nos seus
lábios finos.
— Vocês ficarão bem. — diz, olhamos para Franco e ele está nos
olhando de volta.
— Ele me odeia. — as palavras saem de mim, impensadamente, —
Eu não devia ter dito isso. — menciono, sem graça.
— Não, — diz chamando minha atenção, — Ele não odeia você,
ele odeia mudanças, e você é uma bem grande. — ele ri, e a música chega
ao fim.
— Foi um prazer. — digo sentindo a face quente de vergonha,
Riccardo me dá um aceno de cabeça e se retira, solto o ar aliviada.
Busco pelas minhas irmãs no salão, quero passar mais tempo com
elas, antes de voltarem a Chicago, mas assim que viro-me  já tem outro
homem me pedindo uma dança, eu não conheço deve ser da família de
Franco.
Dançamos em silêncio, em uma distância confortável, os dedos
dele mal tocaram em minha pele, assim como o restante dos homens que eu
dancei depois desse. Franco também não conseguiu escapar da pista tendo
que dançar com Helena, Sienna até com a Dona, todas sob a supervisão do
meu pai e dos soldados da Outfit.
Suspiro audível, meus pés doem impiedosamente e minha coluna
parece que vai se partir.
— Cansada? — Romeo Ferraro, de executor a subchefe da Outfit.
O homem me fita com seus olhos pretos como carvão, iguais ao seu cabelo
e sua sobrancelha perfeitamente desenhada.
— Eu aguento mais uma dança. — respondo sem saber como fugir.
Romeo parece um homem gentil e equilibrado, mas as histórias
que ouvi a seu respeito, sempre me deram muito medo.
Pego em sua mão estendida, e fico admirada por ser acolhedora, a
outra eu deslizo pelo seu ombro.
— Como está Piero, ele não veio? — pergunto olhando em nosso
redor, à procura do seu irmão.
— Está viajando. — fala, e me gira.
A música logo chega ao fim, me despeço de Romeo e sinto uma
mão deslizar pelas minhas costas suavemente, não tenho um sobressalto,
pois imagino quem seja.
— Dança comigo. — sua voz me faz sufocar um grito. Olho por
cima do ombro sentindo o terror borbulhar em meu estômago.
— O que você faz aqui? — minha voz sai baixa e afiada.
James, o cara do bar, me estende a mão pedindo uma dança, tenho
vontade de dar um tapa nele e jogá-lo longe, mas não o faço pois sinto os
olhos de Franco em nós nesse exato momento e isso com certeza geraria
muitas perguntas. Pego em sua mão e espremo seus dedos com a minha.
— Você não era agressiva desse jeito, se bem me lembro.
— Você não terá o que lembrar, se não sair daqui agora. — ele ri,
chamando atenção de algumas pessoas, cravo minhas unhas na palma da
sua mão, e James faz cara de dor.
— Por que está aqui? — pergunto com medo da resposta.
Meu plano sempre foi fugir do casamento, não sair em um saco
preto, e isso é bem provável que aconteça, se James resolver abrir o bico e
contar que eu o chamei para um quarto privado, que ele deslizou a mão por
dentro da minha saia, mesmo que ele não tivesse feito nada.
— Sou o filho do governador Brent, vim com a minha família.
Nunca pensei que a veria aqui Estela. — suor brota em minha nuca, ao
ouvir o nome falso que lhe passei.
— O que você quer? — exclamo, meus olhos se perdem além dos
ombros dele, e Helena está com um olhar sanguinário na direção do James.
Puta merda, se ela não se controlar, e meu pai souber o que houve lá, jamais
vai perdoá-la. Ele mesmo vai nos matar.
As mãos de James agarram na minha cintura, uma de cada lado, e
sou forçado a segurar em seus ombros, enquanto ele me obriga a me mover
lentamente ao som da música.
— Nada, só achei que seria engraçado.
— Isso é o contrário de ser engraçado, — sussurro, — eu salvei
sua vida te mandando embora naquela noite, faça isso por mim agora. —
ele estala a língua, e seus dedos afundam em minha pele, fazendo-me quase
hiperventilar. — A dança ainda nem co...
— A dança acabou. — a voz de Franco soou sólida como aço,
embora sua expressão seja de gentileza e equilíbrio. Os dedos dele se
fecham sem aviso em torno do pulso de James, que cerra o maxilar sem
emitir um único som, ele dá um passo atrás e Franco o solta, pois olhos
curiosos se voltam para nós.
Franco avista alguém do outro lado do salão, e faz um sutil gesto
com os olhos na direção do James que está buscando a saída nesse
momento com passos calmos.
— O que você vai fazer com ele? — minha voz mal passa pelos
meus lábios. — Franco... — balbucio, e seu olhar implacável, faz-me calar.
Ele fará picadinho de mim hoje à noite.
— Vamos cortar o bolo. — assinto, e o deixo me guiar com um
aperto no coração.
— Relaxa, você está tensa. — fala, deslizando as mãos pelas
minhas costas e me apertando contra seu corpo. Solto a respiração, e esboço
um sorriso gentil.
De longe enxergo o bolo, ele tem seis andares, completamente
branco, e parece que há renda, desenhada na extremidade de cada camada.
Fazemos a volta na mesa, e os convidados nos seguem, uma parte
animada e a outra tão saturada quanto eu para que esse evento termine logo.
Juntos pegamos a espátula de inox, nisso flashes são disparados
quase me cegando. Dou um sorriso luminoso para os convidados, e
cortamos o bolo. O recheio é de chocolate com pistache. Coloco o primeiro
pedaço em um prato de porcelana com detalhes dourados e entrego ao meu
noivo com um sorriso amoroso, arrancando suspiros de nossos convidados.
Franco retribui o sorriso, e aceita o prato, de repente ele dá uma
pincelada em meu nariz com o glacê do bolo, rio, e pela primeira vez nessa
noite, meu sorriso foi sincero.
 
 
Estou conversando com Helena, e sendo vigiada constantemente
por Franco. A sensação é de estar na mira de um fuzil. Já está tarde e sei
que não vai demorar muito para subirmos, quero aproveitar cada momento
com as minhas irmãs mas meus pensamentos insistem em pensar nas
núpcias.
Sou completa leiga em relação ao sexo, eu sei onde cada coisa vai,
já vi em filmes, mas gostaria que alguém tivesse me dado alguma
orientação, cogitei uma vez perguntar para Dona, mas como esposa do me
pai, não me senti confortável.
— Você está tremendo. — Helena segura em minhas mãos me
parando.
— Eu estou bem, só estou nervosa. — fecho as mãos em punhos ao
lado do corpo.
— Você acha que ele vai perguntar do James? — céus por um
momento James nem estava em meus pensamentos.
Mexo a cabeça em concordância. Sinto que Franco parece estar
dando corda para eu me enforcar, por isso ainda não perguntou porque
James estava me perturbando.
— O lado bom é que ele não pode matá-la. — Helena diz na
tentativa de me animar.
— Do que as duas estão falando? — minha irmã se aproxima com
uma taça de champanhe.
— Núpcias. — minto.
— Está nervosa? — dou de ombros.
Nervosa é um eufemismo.
— Só quero que essa noite acabe de uma vez. — cada partícula do
meu corpo grita de exaustão, se bobear eu adormeço antes do Franco tirar o
meu cabaço. Rio da minha capacidade para fazer piada sobre isso, só pode
ser o cansaço.
— Está quase lá. — Sienna menciona baixinho, e segundos depois
sinto uma presença atrás de mim.
— Está na hora de jogar o buquê.  — a cerimonialista, me entrega
as flores, e me segura pelo braço me guiando para a saída do salão, quando
Franco me encontra no caminho, alguém dá um alto assobio chamando
atenção de todos.
— Pras solteiras que desejam encontrar um par essa noite, agora é
a hora. — Ettore, exclama, com uma taça vazia na mão e com certeza muito
bêbado.
O meio do salão começa a encher de mulheres, dando gritinhos,
animados. Sienna não se junta a elas, ela está paralisada ao lado do meu pai,
que provavelmente a impediu de ir, exceto Helena que tirou até os sapatos,
ela estala os dedos das mãos e do pescoço me fazendo rir, e inclina o corpo
para frente e faz sinal para eu jogar, como se fosse uma bola.
Localizo bem a minha amiga, no meio da multidão, os cabelos
pretos como ônix se destaca do restante. Viro-me de costas, espio por cima
do ombro e vejo o reflexo do seu cabelo; jogo o buquê com força e me viro
a tempo de ver Helena dar um salto no ar como uma leoa e agarrar o ramo.
Rio da alegria dela, e quando me viro para Franco ele está calmo me
olhando de volta, meu sorriso se esvaí.
— Está na hora de ir. — diz com a voz calma, talvez dessa vez
tentando não me aterrorizar.
Faço que sim com a cabeça, sentido o meu coração tropeçar nos
ouvidos. Franco pega em minha mão e deixamos o salão de festa recebendo
muitos aplausos.
Entramos em silêncio no elevador, e aquela pressão que eu senti
para sorrir, e fingir estar feliz passa ligeiramente me fazendo suspirar, mas
quando Franco aperta para subir, o encaro com temor.
— Pensei que fossemos para... — ah Senhor, como falar isso sem
parecer patética.
— Lua de mel? — ele pergunta.
Assinto.
— Você queria uma lua de mel?  — diz sem fazer questão de
esconder surpresa.
— Não é isso que os recém-casados fazem? — um mini sorriso
aparece no canto dos lábios dele.
— É. Mas não posso me ausentar de Nova Iorque agora, por isso
ficamos no quarto de hotel hoje e amanhã vamos para casa.
Para casa. É só isso que minha cabeça sorveu, e meu peito é
tomado de dor, só de pensar que não vou mais para lá. Franco notou meu
esmorecimento, mas escolheu ficar calado, fico grata, pois se nos
aprofundarmos nesse assunto, ficaria em lágrimas.
Descemos em um corredor bem iluminado, e pelo tapete vermelho
Franco me conduziu sem pressa para o lugar onde ele faria de mim uma
mulher.
 
 
 

Dia 1
 
Adentro o quarto primeiro que Franco. Meus olhos vagueiam pela
grande suíte, a luz é quente e suave, a cama king size coberta por pétalas
vermelhas, há uma jacuzzi borbulhando na extremidade do quarto, onde
tem uma ampla janela, dando vista para o Central Park.
Aproximo-me da janela com meu coração parecendo que quer
fugir do peito, com tamanha ansiedade. Talvez eu deva aceitar o conselho
de Sienna, se eu for boa, Franco não terá motivos para ser ruim.
Se bem que, um homem que mata a sangue frio, não deve dar
importância para isso, para os sentimentos de uma mulher.  Suspiro,
sentindo as lágrimas invadirem meus olhos, mexo a cabeça como se isso
fosse o suficiente para espantá-las.
— Fiorella. — estremeço apenas com o som da sua voz, apesar de
ter sido branda. Emito um baixinho, hum, pois minha voz entregaria minha
maior fraqueza. O medo.
— Vire-se. — amparo uma lágrima com a língua na curva do lábio,
e obedeço, Franco está a centímetros de mim, ele tirou o paletó, a gravata, e
abriu alguns botões perto do colarinho.
Ergo o queixo para encará-lo, seus olhos se estreitam quando
enxergam os meus, e um longo silêncio se estende entre nós. Reprimo o
pavor, ansiando para que isso acabe logo, só falta a última peça se encaixar,
para essa noite acabar.
— Eu não vou gritar... não vou tentar fugir... — minha voz treme e
o meu peito oscila, quando eu levo as mãos nos ombros e arrasto as alças do
vestido para baixo, o peso das pedras cede descendo centímetros do tecido,
o suficiente para revelar meus seios. O olhar de Franco é carnal, caindo sob
o meu corpo, fecho os olhos e as lágrimas rolam em abundância.
Ele puxa as alças de volta ao lugar e ergue meu queixo, me
obrigando a encará-lo.
— Eu não quero te machucar, não dessa forma. — estreito os olhos
sem entender, e Franco se afasta.
— De qual forma então?
Franco suspira e mexe a cabeça em negação.
— Você usou o caralho desse vestido provocativo para me irritar,
eu teria rasgado ele naquele altar se não tivéssemos cercado por pessoas.
Depois o filho do governador... — ele pausa, seus olhos ficam obscuros, —
O homem com quem você supostamente conversou naquela boate, é ele,
não é? — estremeço com o tom da sua voz e mexo a cabeça, com as
palavras entaladas na garganta.
Se a conversa continuar nesse caminho, terá mais sangue no meu
corpo do que no lençol.
— Eu duvido que tenham só conversado pela forma que você
estava aterrorizada. — ele está indignado, como se eu tivesse o engano.
— Eu não menti, — tento soar o mais sincera possível, — mas o
vestido foi para provocá-lo. Me desculpe.
Se tiver que pedir perdão, eu vou, pois se Franco descobrir a
verdade: que estou mentindo na cara dele pela segunda vez, não haverá
clemência.
— Temos que encontrar uma forma de conviver. Você está presa a
mim Fiorella, você é minha, querendo ou não. — engulo sua
possessividade, e aceito como uma vitória. Nunca mais quero voltar ao
assunto do James.
Franco se distancia, e sinto o ar encher os meus pulmões
novamente.
— Por que me escolheu? — pergunto, vendo-o se livrar dos
sapatos. Seus olhos encontraram os meus e Franco me analisa por um
instante.
— Você levou um chute no estômago e foi jogada no chão, invés
de sentar e chorar derrubou sua amiga com uma rasteira limpa. Depois você
invadiu a sala sem um pingo de delicadeza, com sangue no pescoço e mãos
calejadas...
— Se procurava beleza e delicadeza, se casou com a mulher
errada.
Cerro o maxilar irritada e um tanto surpresa, isso foi quando nos
vimos pela primeira, eu estava um trapo, mas da maneira que ele fala, fico
envergonhada, desejando ter a delicadeza impecável de Sienna. Dou um
sorriso triste ao perceber que deve ter sido isso, tanto espanto hoje à tarde,
antes da cerimônia.
— Você é mais linda do que imagina Fiorella, — diz como se lesse
meus pensamentos, — Mas eu não a escolhi pela beleza. Não quero uma
esposa fraca, você pode continuar se exercitando, se não fizer besteira. —
quero sorrir, mas não o faço, eu não devia ter que pedir permissão pra nada,
isso é um insulto a qualquer mulher.
Caminho até o meio do quarto e também tiro os sapatos, quase
gemo aos sentir os pés no chão. Tento remover a tiara, mas a desgraça está
presa com o véu e uma porrada de grampos.
Franco abre o restante dos botões da camisa, exibindo o tórax
invejável, e dá um passo na minha direção, eu instintivamente dou outro
para trás.
— Não poderá fugir de mim para sempre. Agora vire-se que vou
tirar isso da sua cabeça. — obedeço com o raciocínio lerdo, talvez fosse
mais fácil se ele me jogasse na cama e consumasse logo esse casamento.
Franco se aproxima o suficiente para eu sentir o calor do seu corpo
nas minhas costas. Ele começa a mexer no meu cabelo, e à medida que os
grampos vão saindo, a pressão vai diminuindo.
Relaxo o pescoço jogando-o para trás, nisso minha cabeça choca
contra o peito desnudo dele me deixando tensa. Suas mãos tracejam o
contorno dos meus ombros delicadamente fazendo meu couro cabeludo
eriçar.
Deslizo para fora do seu toque, e ouço um suspirar dele.
— Do que tem medo? — sua voz é cautelosa.
Fico calada, sem saber o que responder. De tudo, talvez seja a
resposta certa. Viro-me para Franco, antes que ele perca a paciência, ele é
tão alto e imponente, dominando completamente o ambiente com sua
postura inabalável.
— Não quero que me machuque. — balbucio, desencorajada.
— Se eu quisesse machucá-la, já teria feito Fiorella. — sua voz é
de censura.
— Não estou falando de me bater, mas de... — engulo as palavras
sentindo a minha face se tornar carmesim, — Meter fundo até encontrar
sangue no lençol. — essas foram as palavras dele, semanas atrás. Seus
olhos mostram reconhecimento, mas sua face continua impenetrável.
— Eu não devia tê-la assustado, embora você merecesse. — diz
numa voz calma, que ainda me é estranha. — Eu não ia fodê-la com força,
não na sua primeira vez. Não tenho a intenção de traumatizá-la.
Está fazendo um péssimo trabalho então.
Franco dá um passo, e, está na minha frente, fazendo sombra em
meu rosto.
— Eu vou tocá-la e se não quiser, me peça pra parar. — diz
simplesmente. Aposto que Franco nunca precisou avisar para isso, aposto
que todas as mulheres se jogam por onde ele passa, e aposto também que
ele comeu aquela mulher com quem o vi na frente do hotel.
Fico tensa, dura como uma rocha quando ele se abaixa bons
centímetros, e com seus olhos fixos nos meus a sua língua invade a minha
boca, retribuo o beijo desajeitadamente, e fecho os olhos logo depois dele.
Franco segura em meus pulsos e os coloca atrás do seu pescoço,
suas mãos voltam para minha cintura, e seu beijo se torna mais urgente,
fazendo um calor surgir em meu pescoço e descer em direção ao meu peito.
Franco abandona meus lábios e começa a beijar o meu pescoço, o ar volta
aos meus pulmões, e o calor se alastra com força. Ele me traz para perto do
seu corpo, enrijeço automaticamente, ao sentir seu pau duro em minha
barriga.
— Me impeça, se não quer que eu prossiga. — avisa em tom
grave, com sua postura reta, enfiando os dedos um de cada lado nas alças
do meu vestido.
A palavra PARE, ressoa em minha mente, mas eu não a pronuncio,
puramente fico encarando-o. Seus olhos me fitam com luxúria, Franco me
quer e isso está marcado em seus olhos e em outra região bem específica.
Seja uma boa esposa, que ele será um bom marido.
 Será que isso fará de mim uma boa esposa?
Soltei o ar, pois estava prestes a sufocar, e toquei no abdômen de
Franco com a mão aberta, seus dedos abandonaram os meus ombros e
caíram ao lado do seu corpo.
Ele parou.
Tracejo minha mão até o seu rosto, meus dedos tocam sua fina
cicatriz até o queixo, eu ainda não o havia tocado, não por vontade própria,
a sua pele é morna e macia. Franco está tenso, me encarando, parece que
pela primeira vez o deixei sem reação.  Ele segura no dorso da minha mão
repente, e cheira o interior do meu pulso. Meus dedos correm para trás da
sua nuca, à medida que ele se aproxima para me beijar.
Enquanto seus lábios dominam os meus, Franco passa uma das
mãos para as minhas costas, e com outra ele desce o zíper invisível na
lateral.
A ansiedade toma conta do meu corpo, na hora que ele se afasta e
puxa as alças, que cede ao peso e se amontoa no chão aos meus pés,
deixando-me só calcinha. Cruzo os braços em frente ao peito timidamente,
e desvio o olhar dele, nunca havia ficado nua na frente de outro, e Franco
está me encarando como se conseguisse me comer com os olhos.
— Você é perfeita, não tenha vergonha do seu corpo.
— Você é quem está me deixando envergonhada. — sussurro sem
jeito, e diversão brilha em seus olhos.
Franco estende a mão, me forçando a descruzar os braços. Pego em
seus dedos e ele me puxa para seus abraços, meus seios ficam pressionados
contra seu peito, e novamente sinto sua ereção.
— Eu quero que deite na cama.
Santo inferno. Nem no dia que fugi de casa para a boate fiquei com
o coração tão acelerado. Engulo a inquietação e obedeço, sentindo os olhos
dele queimar em mim.
Deito-me de costas no meio das pétalas, o cheiro delas invade o
meu olfato. Fico com as mãos em cima da barriga, gélidas, e sinto o meu
peito subir e descer, incontrolável.
Franco se detém no limiar da cama sem camisa, o ar fica preso em
minha garganta enquanto analiso seu corpo robusto, transar com ele sem
dúvidas, será um passeio através do fogo do inferno. E já estou queimando
sem ele encostar em mim.
— Afaste as pernas Fiorella. — pede gentilmente, e quando o faço,
Franco, se enfia entre elas, e se apoia nos antebraços, ficando em cima de
mim. 
— Está com medo?
— Estou ansiosa. — sussurro.
— Não fiquei, eu farei bem devagarinho. — seus lábios moldam os
meus, e sua mão desce entre os meus seios fazendo longas carícias, um
arrepio se estende ao longo do meu corpo, e desejei estar coberta.
Franco agarra o meu peito e o aperta, os seus lábios soltam os
meus de repente abocanham o meu mamilo, fico tensa quando ele suga
fazendo-me ofegar.
Franco percebeu, ele solta meu seio e abocanha o outro com força,
sugando e me olhando nos olhos. Minha face queima, e há uma forte
agitação em meu sexo, tento fechar as pernas, mas Franco está entre elas.
— Franco... — balbucio o seu nome involuntariamente. Ele morde
o meu mamilo e um gemido passa por meus lábios.
Puta merda o que ele está fazendo comigo?!
— Você já se acariciou alguma vez? — Franco pergunta
naturalmente, e se afasta, ele segura na extremidade da minha calcinha e
desliza pelas minhas coxas, soltando ao lado.
Mexo a cabeça mecanicamente.
— Está me dizendo que seu primeiro orgasmo também será meu?
— Se eu conseguir ter um. — falo sem pensar, Franco estreita os
olhos, e seus dedos invadem minhas dobras, fico vermelha, por estarem
úmidas.
Seu polegar pressiona o meu ponto sensível, me fazer arfar, ele faz
de novo, dessa vez olhando em meus olhos e continua me estimulando
torturantemente devagar, tento fechar as pernas, Franco não permite, a
pressão em seu polegar aumenta fazendo-me agarrar no lençol e arquear o
quadril inconscientemente, contra sua mão.
— Você está quase gozando. — ele firma e sua mão abandona o
meu sexo, me deixando com o peito subindo e descendo, acelerado, e sem
entender nada.
O que diabos você está fazendo comigo?
— Quer que eu continue, Fiorella? — suas mãos sobem para os
meus joelhos, — Quer que eu te chupe e te faça gozar? — ele me provoca
com suas palavras que me deixam tímida.
O silêncio se estende, eu passei horas praguejando o nome dele, e
agora estou pronta para dizer, sim, para que ele continue me tocando,
quando tudo que eu menos queria era ser tocada por ele.
— Diga. — ele incentiva, e seus dedos se enterram na minha
umidade outra vez, fazendo algo oscilar em meu corpo.
— Sim. — minha voz sai num sopro, envergonhada, eu devia odiá-
lo, não desejá-lo entre as minhas pernas.
Ele sorri, convencido, e desce até o ápice das minhas coxas, seus
dentes mordem o interior da minha perna, e eu sufoco um grito, me
agarrando aos lençóis.
— Não adianta lutar contra isso, Fiorella. Você é minha.  — e com
essas palavras a sua língua desliza no meu canal, e seus lábios se fecham
em torno do meu clitóris, Franco não me dá espaço para pensar, respirar, e
me chupa com violência, provocando uma onda de sensações diferentes,
que eu coloco para fora, em infinitos gemidos.
Seus lábios suavizam, e até consigo puxar o ar, de repente Franco
desliza um dedo para dentro de mim, me fazendo enrijecer inteiramente.
— Relaxa. — ele pede, com seu dedo ainda dentro de mim, mas
faço o contrário e acabo sugando-o. Franco aperta os lábios com força, e
seus olhos gritam de tesão. — Você é apertada pra caralho, — ele morde o
lábio, parece que faz com força, e coloca outro dedo, começando a me
penetrar lentamente, respiro fundo me acostumando com a sensação.
Franco desliza o polegar pelo meu clitóris, fazendo-me contorcer
outra vez, seus dedos atingem mais fundo, gemo e mexo o quadril com
urgência contra a sua mão, sem conseguir refrear as minhas ações,
atingindo um ponto doce e sensível. Repetimos o gesto e encontramos um
ritmo que me leva à beira do abismo.
Sinto os últimos tremores do orgasmo com as pernas bambas, e
assisto Franco se livrar das roupas. Ele baixa a cueca branca da Dolce &
Gabbana e seu membro salta poderoso para fora.
Engulo em seco, com os olhos tomados de terror, seu pau parece
milimetricamente incabível, eu nunca vi ou senti um para ter noção,
contudo, apenas o seu dedo já me deixou desconfortável.
— Eu não vou meter com força. — avisa, se aproximando das
minhas pernas, que eu timidamente fecho, com força. Ele não tenta abri-las,
mas desliza a mão pela minha coxa e seu dedo invadi minha umidade.
Minhas pernas cedem ao seu toque, e Franco continua me
estimulando lentamente, vagarosamente sinto os espasmos se direcionar a
minha virilha.
Franco cai sobre mim, se apoiando no cotovelo, e sua mão
continua me aliciando docemente. Seus lábios encontram os meus e seu pau
ocupa o lugar da sua mão, fico dura como uma rocha, e o meu coração freia
em meus ouvidos.
— Relaxa. — fala e o esfrega em meu sexo lentamente, de repente
Franco desliza a cabeça, ele geme e pragueja baixinho.
O ar fica preso em minha garganta e estou com todos os músculos
do meu corpo, tensionado. Nunca vou conseguir relaxar, é impossível. Ele
desliza para dentro e um grito agudo escapa por meus lábios.
— Ai caralhooo! — uivo, a dor é infernal, as paredes internas
reclamam pelo alargamento repetido, que preciso me segurar para não
empurrá-lo para longe.
Abro os olhos com os dentes cerrados, Franco está me olhando de
volta, sua expressão é cautelosa, mas seus olhos brilham em preocupação.
— Está doendo muito? — pergunta, sem se mexer.
— O que você acha? — exclamo, entre os dentes, e com as unhas
enterradas em seus ombros.
— Acho que você é a mulher mais apertada que eu já entrei. 
— Que meigo. — escarneço, ganhando um riso.
— Eu vou me mover, tente relaxar. — lhe dou um olhar violento, e
Franco tenta esconder o início de um riso enterrando a cabeça na curva do
meu pescoço.
Minhas mãos deslizam para seu pescoço, e bem lentamente ele sai
quase totalmente de mim, respiro fundo, quase aliviada, e gemo quando ele
volta a me preencher vagarosamente.
Franco repete o gesto, e entra com mais força, estremeço com a dor
e, quando ouço um grunhido felino em meu ouvido sinto até os pelos dos
meus braços arrepiarem.
— Posso continuar? — ele pergunta com a voz entrecortada, e com
o corpo inteiramente rijo em cima de mim.
— Sim.
Franco apoia o cotovelo no colchão e desliza a mão por baixo da
minha nuca, ele puxa meu lábio com os dentes e me beija sem piedade, me
concentro apenas na forma que nossas línguas se provocam, e se
entrelaçam, enquanto ele reivindica o meu corpo dolorosamente lentamente.
Entre os seus gemidos abafados por meus lábios, e suas carícias,
sinto que algo cresce profundamente dentro de mim, mas antes que eu
descubra o que é Franco, goza com força em um golpe duro.
— Com o tempo melhora. — menciona contra minha boca, e
desliza para fora de mim.
Franco senta na extremidade da cama e faço o mesmo logo atrás
dele, sentindo-me muito dolorida, dos pés à cabeça.
Meus olhos caem sobre suas costas, e o choque atravessa o meu
rosto, há tantas cicatrizes, como se Franco tivesse sido açoitado, porém as
marcas seguem um padrão, exibindo o formato de asas.
Toco em suas cicatrizes com as pontas dos dedos, e Franco me olha
por cima do ombro.
    — O que fizeram com você? — pergunto um pouco espantada,
isso deve ter doido horrores.
— Há dois anos fui capturado, por um homem que usava uma
máscara escura, ele me prendeu com grilhões e me desenhou asas com uma
lâmina.
— Asas são por causa do apelido?
O corvo.
— Quem sabe. — Franco diz com um pequeno encolher de
ombros, — Todo o homem que ele pega, é encontrado morto com desenhos
feitos à faca.
— Isso é horrível. Você o matou? — pergunto, me pondo de
joelhos e sentando nos calcanhares.
— Ainda não, pois não tenho ideia de quem ele seja. — Franco
fica de pé e anda silenciosamente em direção ao banheiro, ele fecha a porta
e fico sem saber o que fazer.
Será que eu disse algo errado?
Olho para a cama e as pétalas estão amassadas, e no meio do lençol
uma mancha de sangue bem clarinha, provando a minha santa inocência.
Deito-me na cama e espero ele sair do banheiro, por mais exausta que eu
esteja um banho viria a calhar, a maquiagem ainda me pesa na face.
Mais de meia hora se passou desde que Franco entrou l, às minhas
vistas pesam, e eu me entrego ao sono, sem forças para resistir.
 

 
Acordo sobressaltada e sinto um peso sobre a minha cintura, olho
por cima do ombro e Franco está com a face enterrada em minhas costas e o
braço agarrado em mim.
Deslizo devagarinho para fora da cama, abro minha mala
silenciosamente e me deparo com dezenas de calcinhas minúsculas de renda
de todas as cores. Cristo!
Pego qualquer uma, e um sutiã, depois abro outra mala e sem
escolher muito, tiro de dentro uma saia xadrez, preta com a cor creme, uma
blusa branca de tricot com gola caída e uma meia calça.
Entro no banho sentindo o meu corpo dolorido, parece que eu levei
uma surra na noite passada. Mas não chegou nem perto disso, tirando a
parte terrível da penetração, foi bom pra cacete, pensei que fosse explodir
de dentro para fora de tanto prazer.
Fraca! Meu cérebro maldoso cochicha e com razão, eu não resisti,
fui uma boa esposa como me foi pedido, e gostei. Ambos não tivemos
escolhas com relação a esse casamento, mas Franco ainda teve a opção de
escolher entre mim e Sienna. E ele me escolheu, ele mudou a minha vida
toda, desgraçado.
Não ter voz me enfurece, ele poderá viver normalmente, o
casamento já aconteceu, já foi consumado, Franco pode simplesmente me
jogar em uma casa e me esquecer lá para sempre. O medo se instala
rapidamente na boca do meu estômago, talvez eu não devesse ter dado tudo
de bandeja.
Quero bater minha cabeça na parede, mas não o faço, pois a porta
do banheiro é aberta, viro-me de costas sem saber como encará-lo. Franco
se aproxima por trás e sinto sua ereção na minha bunda, ele enterra seus
dedos em minha cintura, e me puxa contra seu corpo, o seu pau desliza
entre as minhas pernas. E o escuto gemer em meu ouvido.
— Que bunda. — ele aperta minha nádega direita, e sua mão
desliza para o meio dos meus peitos — Quero o seu corpo, Fiore, quero
sentir sua boceta quente e macia no meu pau outra vez. — diz com a voz
grave em meu ouvido e meu coração explode de tensão e de excitação, deve
ter algo bem errado comigo.
— Franco... — balbucio.
— Eu sei que está dolorida ainda, acalme o coração, eu não vou
entrar em você, não agora.
Ele me solta, e eu deixo o banho com as pernas trêmulas, me visto
rapidamente com a roupa que escolhi, e calço uma bota de salto alto e cano
curto. Pelo menos não precisei me livrar de todas as minhas coisas.
Estou secando os cabelos, quando ele deixa o banheiro com uma
toalha enrolada na cintura. Observo ele se arrumar pelo espelho da
penteadeira, enquanto finjo secar as pontas do meu cabelo.
Franco tira a tolha e seu traseiro musculoso fica a vista, meus olhos
sobem para suas costas e as cicatrizes me fazem ter pena dele, apesar deste
ser o preço por viver na sombra da máfia: sangue, honra e poder, esse é o
lema.
Franco coloca o coldre duplo e depois um terno inteiramente preto
e se vira para mim de repente, nossos olhos se encontram no espelho, não
tenho tempo de desviar, então ajeito minha franja em frente aos olhos e
desligo o secador, meus ouvidos agradecem.
— Vamos tomar café com a nossa família, e depois vamos pra
casa.
Assinto, ansiosa para ver as meninas outra vez, passo pelo Franco
buscando a saída, mas ele me segura pelo braço, impedindo minha
passagem.
— Devagar Fiorella, é uma mulher casada agora, não pode mais
sair por aí se comportando como uma adolescente.
— Tem vergonha do meu comportamento? — pergunto e soa
irônico.
— Você bufa, revira os olhos e faz cara feia constantemente. 
— Você está sempre de cara feia e isso não parece um problema
pra você.
— As pessoas temem o que elas veem. — me esforço para não
revirar os olhos.
— Eu vou tentar ser mais delicada em público.
— Ótimo. — Sibila.
Descemos juntos, andando civilizadamente como um casal
qualquer, mas quando chegamos ao espaço de refeição, tenho que frear os
pés ao lado de Franco para não sair correndo abraçar a minha família.
O salão é oval em tons de dourado, e há duas grandes mesas com
comidas distribuídas ao longo delas. Os homens estão sentados de um lado
e as mulheres do outro. Os olhos do meu pai encontram os meus, assim que
ele nota nossa presença, sua expressão se suaviza por um momento, mas o
ignoro, e vejo Romeo e Teodoro me analisando de longe também, suspiro, e
dirijo meu olhar para as meninas na mesa do outro lado, junto com a mãe e
a irmã de Franco.
Minhas irmãs sorriem animadas e seus olhos brilham em perguntas
que elas não podem me fazer, por ora.
— Vá se despedir. — Franco fala, e sinto uma ponta de tristeza,
penetrar o meu coração.
Ando até elas com passos rápidos, sem me importar com a
delicadeza, tenho mais meia hora, talvez uma, com elas e só Deus sabe
quando nos veremos novamente, não quero perder um segundo.
Me aproximo da mesa e as mulheres me dão olhares curiosos,
exceto Edwina, gostaria de saber porque ela tem essa aversão por mim, se
mal nos conhecemos.
— Teve bons sonhos, Ella? — Helena pergunta em tom baixo
quando me sento entre ela e Sienna.
Eu coro involuntariamente puxando um pedaço de pão da cesta.
— Eu dormi muito bem, obrigada. — ela sorri, bebericando o seu
café.
As mulheres começam a conversar entre si e fico aliviada por
minha noite de núpcias não ser o centro das atenções.
Depois de engolir o meu café quase às pressas, peço licença para ir
ao banheiro, Sienna e Helena me seguem, sem disfarçar que estamos indo
fofocar. E Lazzaro nos segue de longe, está aí um dos motivos da minha
cara feia, das minhas bufadas, e viradas de olhos, eu não tenho um minuto
de paz.
— Como foi, Ella? Ele a machucou?  — Sienna questiona
inspecionando o meu corpo.
— Eu estou bem, ele não me forçou. — as duas arregalaram os
olhos surpreendidas.
— Então ainda é virgem? — Helena questiona.
Mexo a cabeça mecanicamente, e me sinto corar, porra porque eu
sempre fico corada quando o assunto é sexo?!
— E foi bom? — Sienna quer saber.
— Sim, mas dói pra caralho. — elas me encaram assustadas.
— Ai, eu não acredito que você vai ficar aqui. Me liga ou manda
mensagem sempre que puder. — Helena pede e me abraça apertado.
— Papai ficou com o meu telefone.
— Talvez Franco te dê um. — Sienna expõe com pesar.
— Veremos. — menciono completamente desanimada. — Eu não
quero ir. — adiciono abraçando ambas e a porta do banheiro se abre.
Edwina adentra, ela faz cara de desdém em nossa direção, mas
apenas eu vejo, pois minhas irmãs estão de costas, e até melhor assim,
Helena ia querer arrancar os olhos da garota. O que não me parece uma má
ideia.
Deixamos o banheiro, às três, meu pai já estava de pé ao lado de
Dona, que embala o pequeno Dario inquieto. Me aproximo deles e Dario
tenta vir para o meu colo, ele é um pouco parecido com meu pai, mas tem
os olhos de Dona, castanhos brilhantes.
— Como passou a noite? — papai pergunta, me fazendo arquear a
sobrancelha, em uma sutil pergunta: QUER DETALHES? Porém eu sei que
tudo o que ele quer saber é se eu estou bem.
— Estou viva, não estou. — respondo com mágoa, ele vai embora
e me abandonará aqui, não sei se um dia o perdoarei por isso.
— Ele sentirá falta de você. — Dona a apaziguadora, diz e
empurra o pequeno para os meus braços. Dario tenta pegar meus cabelos e
levar a boca.
— Ele sentirá falta de comer os meus cabelos. — retruco tirando
uma mexa das suas mãos gordinhas e aperto sua bochecha fofa. — Sentirei
falta de você Zezé Pêra. — Dona faz careta para o apelido que eu lhe dei,
mas o meu pai ri.
— Está na hora de ir. — papai diz e um nó se forma na boca do
meu estômago.
— Descemos com eles. — Franco informa parando ao meu lado,
nisso Dario se estica e puxa sua gravata para fora do terno, puxo meu irmão
de volta para meus braços, mas ele ainda está agarrado na gravata.
Papai cerra o maxilar, quando Franco segura o bracinho de Dario e
o solta do tecido com uma expressão quase suave.
— Vamos. — Franco avisa.
Descemos todos em dois elevadores, conosco veio minhas irmãs,
os guarda-costas e Ettore.
Chegamos ao saguão juntos, os segui para fora hotel e fiquei
embaixo do toldo, nos degraus com tapetes vermelhos, vendo os seguranças
guardarem as malas. Franco ficou logo atrás de mim cuidando de cada
movimento meu.
— Deixei uma surpresa para você, nas tangas. — Helena fala com
sorriso, abraço minha amiga sem entender o que ela quer dizer.
— Se cuide, Hell. — ela assente e nossos olhos se enchem d’água
juntos.
— Somos tão bobas. — ela balbucia e se afasta, com certeza
tentando esconder as lágrimas, e minha irmã ocupa o seu lugar e me abraça
apertado.
— Sentirei sua falta, nada mais será igual sem você lá, Ella.
— Pare não me faça chorar mais. — peço tentando reprimir as
lágrimas, e a minha garganta começa a doer.
Papai não me deu um abraço, ele apenas deu um sorriso que não
alcançou os olhos e entrou no carro, já Dona se aproxima com um sorriso
acolhedor e me aperta contra seu peito com força.
— Carlo ama você mais que tudo, não se esqueça disso. —
sussurra.
Mexo a cabeça mecanicamente, incapaz de pronunciar qualquer
coisa, parece que há um buraco em meu peito que fica cada vez maior.
Dona entra no carro e quando fecha a porta o ursinho, cantor e
mordedor de Dario cai para fora, pela janela do carro.
Desço o restante dos degraus e ando até o ursinho o apanho do
chão e quando estendo para Dona, uma explosão reverbera a céu aberto,
quase que no mesmo instante escuto meu nome passar pelos lábios de
Franco e quando me dou conta do que está acontecendo, meu corpo já está
tombando para trás, e uma dor penetrante atravessa o meu pescoço.
Bato a cabeça no mármore da calçada e a escuridão toma conta dos
meus olhos, em instantes sinto mãos em meu corpo, depois em meu
pescoço, um cheiro forte e metálico envolve meu olfato me deixando
enjoada.
— Ela está viva. — Franco avisa para alguém, e sou erguida do
chão — Conserte essa bagunça e encontre quem fez isso. — ouço e a
escuridão me leva completamente.
 
 
 
 
 
Minhas pálpebras tremem com o esforço que eu faço para abri-las,
e mal consigo enxergar uma réstia de luz. Sinto meu corpo cansado, pesado,
mas não sinto dor, isso é um bom sinal, eu acho. Ouço vozes indistinguíveis
de longe, e também uma porta abrindo e fechando. E sem compreender
muita coisa a escuridão me leva outra vez.
 

 
Abro os olhos banhada de suor, minha visão demora um instante
para se ajustar ao ambiente. Estou em um quarto tão claro que dói as vistas,
as paredes são brancas e tem uma pequena mesa ao lado da porta
envernizada.
Vagueio os olhos pelo resto do cômodo e tem uma pessoa com
roupas claras sentada em minha cama, de costas para mim. Umedeço os
lábios sentindo a garganta seca, e tento me esticar para tocar em seu ombro,
mas estou presa.
Olho para os meus pulsos um de cada lado, eu estou amarrada aos
ferros da cama.
Oh não! Eu devia ter previsto que ele faria isso comigo.
Desgraçado.
O alvoroço invade o meu corpo, fazendo-me tremer violentamente
conforme tento puxar os pulsos com força das amarras, a pessoa que estava
sentada se vira para mim, seu rosto é um borrão, em meio a minha fúria e as
lágrimas que invadem meus olhos.
— Me solte! — ordeno, me debatendo contra as amarras.
— Eu não posso. — sua voz sai tremula, ela pega o telefone e o
leva a orelha ficando de costas para mim.
A adrenalina invade minhas veias, cedendo-me a uma força
incomum, giro o corpo na direção da mulher, e agarro-a com força; uma
perna na cintura e a outra sob seu peito, ela cambaleia para trás batendo sua
cabeça em minha barriga, o ar me escapa dos pulmões, a mulher escorrega
centímetros, mas prendo minhas pernas com força envolta do seu pescoço e
a pressiono contra meu ventre.
— Onde diabos eu estou? — grito, sentido as braçadeiras de
plástico rasgando o meu pulso, conforme a mulher faz força para se soltar,
me arrastando junto.
— Estará morta em breve se não me soltar. — ela urra com as
unhas enterradas em minha perna por cima da meia calça.
— Se eu não te matar primeiro. — digo entredentes apertando seu
pescoço com toda a minha força.
A mulher solta um berro que ecoa pelo quarto, em segundos a
porta envernizada é escancarada. Edwina surge no batente, e fica
horrorizada em frente a ela.
— Solte-a! — uma voz grossa e firme feito aço reverbera além da
garota na porta e me faz congelar. Franco puxa Edwina para fora e Ettore
surge atrás dele e sua expressão fica em choque como a de Edwina, ele solta
uma sequência de resmungos incompreensíveis.
— Onde eu estou? — grito, mas minha voz sai esganiçada pela
aflição, — Porque me prendeu? — choramingo.
Franco faz a volta na cama, sua expressão é de cólera, parece que
ele deseja me matar.
— Eu disse para soltá-la, Fiorella. — fala duramente e encara a
mulher, consigo ver pelo olhar dele que se preocupa com ela.
Minha vontade é de partir o pescoço dela com as pernas, mas alívio
o aperto e a empurro para longe com um chute, ela cai para frente de
joelhos tossindo, Franco a puxa para cima. E a mulher se vira para mim
com um gesto de indignação e com a face muito vermelha, demoro
segundos para reconhecê-la, é a mesma com quem Franco estava na saída
do hotel Plaza. 
Franco a segura pelos ombros quando ela ameaça vir na minha
direção, a raiva flui dos seus olhos, mas não me dão medo, eu continuo a
encarando.
— Saiam todos. — Franco ordena e direciona a mulher para saída,
assim que Ettore fecha a porta atrás de si, o meu marido se vira para mim
com uma expressão ilegível.
Franco enfia a mão dentro do paletó e pega uma faca média, ele se
aproxima, sentando ao meu lado, na extremidade da cama e permanece em
silêncio por um tempo, olhando o meu pescoço.
— Por que você a atacou? — meus olhos caem sobre o metal da
faca em sua mão.
— Me solta que eu conto. — digo buscando por seus olhos.
— Porque a atacou? — repete com uma voz incisiva e seus dedos
se fecham com força no cabo de aço. Reprimo a vontade de gritar com ele,
e escoro a cabeça para trás contra os travesseiros, sentindo as lágrimas
escorrerem por minhas têmporas.
Ele devia estar me consolando, não?  Afinal fui eu quem levou um
tiro, porém ele está aqui, quase implodindo em raiva, porque eu ataquei a
sua... amante?
— Você não pode mais fazer isso, entendeu? — fecho os olhos
sentindo-os queimar.
— Eu não vou machucá-la. — digo mecanicamente e não tento
parecer convincente.
Franco leva a faca na amarra e solta uma de cada vez, deslizo a
mão para o pescoço e tem um curativo grudado.
— Você levou um tiro de um raspão, mas pelo visto já está bem.
Oh, claro estou soltando fogos.
— Foi a Bratva? — questiono, massageando os meus pulsos,
machucados.
— Não, o seu pai seria o alvo principal, mas eles acertaram você,
para atingir a mim. — seus olhos mostram remorso.
— Camorra?
— Bem provável, — Franco me analisa, — isso não vai mais
acontecer, eu prometo.
— Você não pode me prometer isso.
— Eu farei o possível para cumprir. — ele fica de pé e sua
expressão está mais suave, como se ele tivesse enjaulado o monstro.
— Porque me amarrou? — ele solta o ar lentamente.
— Foi Ettore, você estava incontrolável, não queria levar os pontos
e tentou nocauteá-lo, eu cheguei agora pouco. — esclarece.
— Não lembro nada.
— Deve ser o choque, vamos pra casa. — ele me puxa para seus
braços, e vejo que estou sem minhas botas.
— E a minha família?
— Voltaram pra Chicago, o seu pai não tem autoridade em Nova
Iorque, não adiantava tê-lo por aqui. — não consigo disfarçar o desgosto, e
cada vez fica mais longe de eu querer perdoá-lo. — Ele pediu para ligar
quando estiver melhor.
— Onde estamos? — pergunto quando saímos do quarto para uma
área externa, pelas fotos de animais nas paredes pintadas de azuis celestes,
parece muito um pet shop.
— Uma clínica veterinária, — diz me levado por um corredor, —
O médico que atende a Famiglia, estava mais bêbado que um gambá.
— Quem fez os meus pontos? — questiono, olhando sua face que
se mantém impenetrável, ao contrário dos seus músculos que ficam tensos
contra o meu corpo.
— Verônica, a mulher que você estava sufocando, é filha do
médico.
— Ela cuida de animais. — digo e me sinto ofendida.
— Foram apenas pontos. — a voz dele sobe.
Cerro o maxilar e me calo quando entramos em uma sala de
recepção muito fofa, com paredes claras e patinhas desenhadas, e uma
quinquilharia de coisas para animais em estantes. Escoro a cabeça na curva
do pescoço de Franco e ignoro os olhares feios.
— Vou ficar mais um pouco com a V, ela está em choque por ter
sido estrangulada. — Edwina diz em um tom pesado de agressividade.
Minha vontade é de pular do colo dele e arrancar a língua da
garota, mas faço algo que os pega de surpresa.
— Obrigada pelos pontos e, lamento tê-la machucado, eu fiquei
assustada quando percebi que estava amarrada. — expresso gentilmente
para a mulher. O seu cabelo loiro dourado está preso em um coque frouxo
revelando um pescoço carmesim.
Ela assente levemente com a cabeça, e seus olhos desviam dos
meus para Franco, brevemente. Ele gosta dele, até um cego conseguiria ver.
— Lamenta o caralho, foi Franco que mandou você dizer isso! —
Edwina afirma.
— Não mandei, e já basta Edwina, não vou permitir que fale assim
com a Fiorella — escondo a surpresa gritante em minha face pelo repentino
apoio dele, enfiando a cabeça em seu pescoço novamente.
Deixamos a clínica em silêncio e já anoiteceu, me pergunto quanto
tempo eu apaguei, enquanto Franco me põe na BMW, que está estacionada
no acostamento. Encostei a minha cabeça no banco e observei as ruas
agitadas de Nova Iorque até entramos em um bairro com grandes mansões,
algumas lembram a minha casa, e me pego desejando estar lá.
Respiro fundo com dificuldade, parece que há mãos apertando o
meu coração com força. Quero chorar, mas reprimo as lágrimas. Essa é a
minha realidade agora e preciso dar um jeito de ficar bem com isso, antes
que eu entre em colapso.
Franco atravessa os portões assim que dois seguranças os abrem
para trás. Consigo ver a mansão nitidamente, é tão espalhafatosa quanto o
casamento, exala luxo e poder em cada detalhe; tem dois andares, sua cor é
clara e tem muita iluminação, há tantas janelas e portas que fico confusa em
busca da entrada principal, e há sua frente um exagerado jardim com uma
piscina retangular de uns seis metros de comprimento, talvez.
Franco estaciona e desce me pegando no colo em seguida.
— Gostou? — pergunto me vendo absorver o lugar todo.
— Essa casa é só pra nós?
— Sim.
— Sua intenção não é me ver pelo resto do casamento? —
questiono, pois é isso que parece.
— Pensei que fosse gostar, lembra um pouco sua antiga casa.
— Sim, mas éramos uma família de seis.
— Também não me sinto à vontade em um lugar tão grande, mas
essa era a única casa próxima da minha família, e nesse momento eu
preciso ficar perto deles.
— Por causa do seu pai?
Franco assente, sem dar explicações e acho melhor não questionar,
acredito que ele não confie em mim, para dar mais detalhes. Não o julgo, eu
também não confiaria.
— Onde morava?
— Em um apartamento residencial, no Plaza. — explica e começa
a se dirigir para dentro da casa.
— Você ainda tem o apartamento?
— Tenho. — diz passando por uma porta de vidro e me colocando
no assoalho de madeira escura.
Estamos entre a cozinha e a sala de jantar, meus olhos vagueiam
pela sofisticada bancada, e para a parafernália de acessórios que há ao longo
da cozinha.
— Eu não sei cozinhar. — menciono, seguindo Franco para um
corredor largo, passando por uma sala de repouso e entrando em outra bem
grande.
— Tudo bem, amanhã cedo você conhecerá os funcionários.
Vagueio os olhos pela extensão do cômodo, há pelo menos três
colossais sofás brancos, tapete felpudo escuro, mesa de centro, um piano no
canto perto de uma parede de vidro e uma TV em cima da lareira.
— Você toca? — quero saber.
— Não, é para você. — diz atravessando a sala, o sigo, subindo
para o segundo andar com Franco sempre a minha frente, ele parece com
pressa.
— E como sabe que eu toco?
— Eu sei muita coisa sobre você. — franzo os olhos na dúvida.
— Além do piano, o que mais sabe?
— Está bem falante. — ele comenta, mas soa como uma
reprimenda, me olhando por cima do ombro e fazendo-me ficar sem jeito.
Quando estou nervosa eu fico falante, pois assim esqueço o que
está atormentando os meus pensamentos, mas parece que minhas perguntas
estão o aborrecendo.
Sigo-o através de um corredor com o formato de um T, há portas
em ambos os lados, contei pelo menos dez, e quando chegamos ao fim do
corredor, viramos à direita ficando em frente uma larga porta branca.
— Está com fome? — pergunta abrindo as portas da suíte.
— Não. — respondo olhando para a vastidão do quarto.
— Eu não estou acostumado com pessoas tagarelas, — diz me
fazendo corar nitidamente, — mas você é a minha esposa Fiorella, eu vou
escutar você.
Assinto, mordiscando o interior da bochecha.
— Tome um banho, eu preciso fazer algumas ligações. — ele se
retira e eu jogo a cabeça para trás, me sentindo uma idiota e uma fisgada em
meus pontos no pescoço. Cacete, ranjo os dentes.
As minhas malas estão aos pés de uma grande cama de madeira
escura com cabeceira estofada de couro preto. Me abaixo no chão e abro as
duas malas.
Pego qualquer camisola preta e jogo para cima da cama, depois
vasculho a mala de lingerie atrás da peça menos sexy, mas tudo grita
SEXO, dentro da mala. Suspiro pego uma calcinha da mesma cor da
camisola e quando vou fechar a mala, um aparelho celular escorre do
compartimento extra. Oh céus! É o telefone da Helena.
Pego o aparelho e ligo a tela, está com pouco bateria e tem uma
pequena mensagem gravada na tela:
Mandarei meu número novo em breve, Com amor Hell.
Instantaneamente fico feliz, e escondo o celular de volta no
compartimento junto com o carregador enrolado. Fecho as malas e procuro
pelo banheiro. O quarto tem uma ampla janela dando vista para o pátio da
frente e logo ao lado fica o closet, espio por cima é bem espaçoso, e está
repleto de ternos pretos de um lado, do outro vazio, acredito que seja o meu
espaço.
Junto minhas peças de roupa em cima da cama e caminho para o
banheiro do lado oposto do quarto. Olho para a banheira oval, e por um
segundo penso em me afundar nela e esquecer da vida. Mas decido que o
chuveiro é a melhor opção.
Fecho a porta e me viro para o espelho, tomo um susto quando me
vejo, há sangue para tudo quanto é lado, os meus cabelos perolados estão
vermelhos iguais a minha blusa branca. Há sangue seco na curva do meu
queixo, pescoço e orelha e minha pele está pálida como se eu tivesse visto
um fantasma.
Arranco minha roupa e o curativo com cuidado. Faço cara feia
assim que vejo os pontos pretos, não tenho ideia de quantos foram, mas há
pelo menos uns oito centímetros de linha preta.
Tomo um banho ligeiro, sentindo o estômago roncar tão forte que
chega a doer, não devia ter dito que não estava com fome. Eu mal toquei no
café da manhã e pela minha palidez extrema devo ter perdido um bom tanto
de sangue.
Visto a camisola preta de tule, é curta para cacete, deixando
amostra a poupa da minha bunda e para completar é de renda vazada nos
seios e aberta em frente à barriga. Encaro-me no espelho enquanto penteio o
cabelo com pressa, cogito trocar de roupa, mas sinto que se não comer algo
logo vou desmaiar.
Entro no quarto e Franco ainda não subiu, desço me familiarizando
com o ambiente. Minha casa. Meu cérebro considera, mas meu coração
ainda não compartilha o mesmo pensamento.
Ouço a voz do meu marido vindo de algum canto da casa, ele ainda
deve estar no telefone. Entro na cozinha e pego um jarro de leite na
geladeira, abro algumas centenas de armários atrás de um copo, estava
cogitando tomar no bico quando encontrei.
Encontro o saco de pão e faço um sanduíche rapidamente. Quando
começo a comer ouço passos vindos em minha direção, tento manter minha
expressão natural, mas congelo quando vejo Franco, Ettore, Lazzaro e mais
outro cara adentrar a cozinha. Quase engasgo com o pão, ficando um em
tom escarlate. O olhar de Franco cai impiedosamente sobre meu corpo, os
outros homens desviam rapidamente o olhar assumindo uma expressão séria
e desaparecem de vista como ratos fugindo para o esgoto.
O pão entala em minha garganta e sou forçada a tomar o resto do
leite para descer.
Franco fecha a porta e entra na cozinha com passos cautelosos me
analisando predatoriamente. Questiono-me quanto tempo eu levaria para
subir correndo e vestir algo apropriado. Grrr, como se houvesse algo
naquela mala.
— Pensei que estivéssemos a sós. — balbucio, voltando a comer o
meu pão, indiferente.
— Você comia pão vestida dessa forma na sua antiga casa? — coro
sem argumento e mexo a cabeça mecanicamente. — Então pôs para me
provocar? — seus olhos brilham diante da pergunta.
Mexo a cabeça novamente.
— Não fui eu quem arrumou a mala de roupa íntima. — esclareço,
quando ele para diante de mim, Franco tirou o terno, mas ainda está usando
o coldre. Ele coloca uma mão de cada lado do balcão me prendendo, engulo
o pão com força me sentindo empanturrada.
— Como está o pescoço? — questiona, pondo meu cabelo para trás
da orelha e inspecionando.
— Dolorido. — minto, não sinto porra alguma.
— E embaixo? — sua mão escorrega para minha barriga nua, mas
seguro-a no lugar.
— Estou cansada. — sussurro, seus olhos encontram os meus e
seus dedos se desvencilham da minha mão, alcançando o meu sexo por
cima da calcinha.
— Até para ser chupada? — ele sussurra em meu ouvido e seu
dedo desliza delicadamente pelo fino tecido da calcinha, cruzo as pernas
com força, sentindo minha intimidade se agitar violentamente.
— Sim. — balbucio, mesmo que meu corpo grite o contrário, e
anseie pelo seu toque não quero que ele me veja só como um pedaço de
carne. Se alimenta e quando está satisfeito se afasta, porque foi isso que ele
fez na nossa noite de núpcias.
Franco se afasta de mim voltando a sua postura dura e desaparece
no corredor, apenas confirmando o que eu estava pensando. Suspiro e
termino de comer o meu pão sem vontade.
Queria entender porque o meu corpo reage tão rápido a qualquer
toque dele. Se Franco persistisse mais um pouco eu cederia, incapaz de me
controlar. Eu sou uma piada.
Subo para o quarto depois um longo momento, Franco está
embaixo de um fino lençol, com o peitoral desnudo até a cintura. Desligo a
luz, e ando até a cama, sentindo seus olhos em mim.
— Estava me esperando dormir para subir? — pergunta, quando
me deito na extremidade da cama e me encolho como um feto.
— Sim. — admito de costas para ele.
— Abomina tanto assim o meu toque? — pergunta, naturalmente.
— Não é isso. — digo incerta me virando para ele, antes até que
era, imaginar Franco com as mãos em mim me deixava em cólicas — Você
pretende me amar um dia ou esse casamento será por dever para sempre? —
ponho para fora me sentindo uma garotinha tola.
Franco fica em silêncio por um longo tempo, estou ponderando
dormir e esquecer que eu fiz essa maldita pergunta. Ele deve estar
pensando: mulheres e os seus sentimentalismos, porém se ele quer alguém
só para foder que encontre na rua.
— Se eu responder por dever, nunca mais deixara eu te tocar? —
ele pergunta e meu estômago dói, não era bem isso que estava esperando
escutar.
— Talvez.
— Você entende que eu teria que me satisfazer fora de casa, não
é?  — dou de ombros.
— Eu ainda não me importo se você tem outra pessoa, Franco, mas
eu não quero criar expectativas à toa.
— E quem iria satisfazer você? — ele pergunta se virando para
mim, mostrando curiosidade. Quero rir, o menor dos meus problemas é o
sexo.
— Não sei, algum segurança. — suponho, e sua feição escurece
violentamente.
— Meus homens nunca tocariam em um fio do seu cabelo, e se um
dia isso acontecer ele irá desejar não estar vivo. — possessivo do caralho,
quero berrar.
— Você não respondeu. — digo, pensando que talvez a resposta
dele esteja bem clara com essas diversas perguntas a respeito de satisfazer.
Viro-me de costas para ele exausta, começando a sentir pequenas pontadas
de dor nos pontos. Franco me puxa pela cintura até o meio da cama, seu
braço desliza para minha barriga e se mantém ali estático.
E sem uma resposta eu adormeço.
 
 
 
 
 
Acordo com a luz do sol batendo em minha face. Espreguiço-me
fortemente e percebo que já estou sozinha na cama. Encaro o céu nublado
pelas cortinas abertas e tenho vontade de ficar na cama, porém ao invés
disso eu pulo para fora e enfio uma saia de couro de cintura alta, com meia-
calça preta grossa e uma blusa vermelha, tricot. Escovo-me no banheiro e
decido deixar os cabelos soltos, está um ondulado nas pontas.
Desço as escadas para o primeiro andar e meu salto ecoa no piso de
madeira. A casa é muito mais iluminada durante o dia, com suas várias
janelas e paredes de vidro dando vista para o pátio dos fundos.
Ando até a cozinha e encontro Franco sentado à mesa, vestindo um
terno preto, e tomando uma xícara de café, ele solta o telefone na mesa e
encontro o meu olhar.
— Vai sair? — pergunto.
— Sim, vou trabalhar.
— E onde é seu trabalho? — questiono me sentando à sua frente.
— Em Wall Street.
— Onde nós moramos?
— Upper East Side.
— E qual é o seu trabalho? — Franco ergue a duas sobrancelhas
sutilmente.
— Quantas perguntas para uma manhã. — cerro o maxilar.
— Saber onde eu moro e qual é o emprego do meu marido, é o
mínimo. — ele inspira fortemente e toma um longo gole de café.
— Sou diretor de uma empresa de alta tecnologia. — franzo os
olhos, mas não retruco essa profissão não combina em nada com ele.
— Que horas você costuma voltar? — Franco encolhe os ombros.
— Nunca tive horário fixo. — aperto os lábios.
— O que eu faço o restante do dia? — agora ele aperta os lábios,
pensativo.
— Olhe um filme, leia um livro, toque piano.
Sinto-me letárgica, sem dúvidas eu devia ter ficado na cama.
— Meus pais moram há cinco minutos, faça uma visita, Edwina
tem sua idade, converse com ela.
Rio.
— A sua irmã me odeia. — Franco não discorda. — Posso ir
conhecer melhor a cidade. — sugiro, pois me nego a ter que pedir
permissão.
— Até pegarmos quem atirou em você, terá que ficar em casa.
Mexo a cabeça mecanicamente. De uma prisão para outra, só que
essa é bem mais solitária, meu peito dói de repente quando começo a pensar
nas meninas e meus olhos se enchem d’água. Inferno faz um dia que não as
vejo mas a sensação é de que nunca mais as verei.
Saio da mesa e desapareço pelo corredor limpando as lágrimas.
— Fiorella. — O meu nome ecoa pela casa, Franco pragueja
alguma coisa, mas não compreendo, pois já estou no segundo andar
entrando no quarto. Jogo-me na cama da onde não devia ter saído, Franco
adentra segundos depois e fecha a porta com força, chego a estremecer com
o som.
— Nunca mais me deixe falando sozinho. — sua voz reverbera
pelo meu corpo, — Você sabia que haveria mudanças, Fiorella. — diz baixo
e áspero.
O ignoro, pois se eu abrir a boca não sairá nada bonito. Franco
agarra o meu tornozelo de súbito e me arrasta para a extremidade da cama.
Seus olhos me engolem furiosos.
— Mudanças que eu não escolhi. — grito entre lágrimas, tentando
puxar o meu pé da sua mão. Franco fica me encarando no meio da cama por
um longo tempo, então de repente ele me solta e se retira pisando firme.
Desabo para trás desejando morrer e assim eu fico por um longo
tempo encarando o teto, com o nariz entupido e lágrimas incessantes, até
adormecer.
 

 
Levanto da cama e desço, sentindo o cheiro de comida, meu
estômago ronca em resposta. Desço com receio de encontrar com Franco,
mas acredito que ele não estará em casa tão cedo.
Atravesso o corredor para a cozinha e encontro uma pequena
senhora de cabelos pretos presos em um coque, em frente ao fogão. Lazzaro
está sentado na ilha de costas para mim, conversando com outra empregada
de cabelos ruivos escuros, vestida com um avental cinza. Ela se cala quando
me enxerga e Lazzaro se vira, seus olhos não alcançam os meus e ele se
endireita no assento.
— Bom dia. — falo entrando no espaço.
— Boa tarde. — o segurança comenta e me pego buscando por
algum relógio, encontro um grande, de parede em cima na sala de jantar, já
passou do meio dia.
— Senhora. — a mulher em frente ao fogão saúda com um sorriso
gentil, — Me chamo Elói e ela, — indica com o queixo uma mulher ruiva
de olhos claros, e sardas na face, — Se chama Nádia.
— É um prazer. — respondo me aproximando do balcão e me
sentando dois bancos longe de Lazzaro.
— Franco já almoçou, ele pediu que cozinhasse algo que desejasse.
Tem preferência?
— Ele esteve aqui? — a mulher percebe minha surpresa, e
responde rapidamente.
— Sim, foi embora há uns quinze minutos. Tem preferência para
algo? — acrescenta.
— Não, pode servir o que tiver pronto. — ela dá uma aceno com a
cabeça. Não demora muito até soltar um prato com batatas gratinadas,
ervilha e um pedaço de bife.
Começo a comer, e quando termino só estamos eu e Elói na
cozinha, ela termina de lavar a louça em silêncio.
— Elói. — chamo sua atenção, a mulher se vira com uma
expressão suave.
— Pois não senhora.
— Trabalha há muito tempo para Franco?
— Cinco anos.
— Como ele estava quando veio almoçar? — a mulher ameaça
apertar os lábios, mas substitui a ação por um sorriso.
— Estava normal.
— Carrancudo. — adiciono e ela sorri.
— Acredite é a expressão natural dele. — fala.
Deixo o meu prato na pia e subo para o quarto em busca das
minhas malas, elas foram arrastadas para o closet, mas estão fechadas. Pego
o telefone rapidamente, tranco a porta do quarto e me atiro na cama.
Tem uma mensagem de Helena, com um número de telefone para
eu ligar.
Digito com os dedos trêmulos, e o coração tomado de ansiedade.
— Ella?
— Hell?
— Ahh. — gritamos juntas.
— Como você está? A última vez que a vi... Céus Ella, achei que
estivesse morta e não saiu notícias na internet, em lugar algum, estava
começando a surtar.
— Franco com certeza abafou a confusão, mas eu estou bem, foi só
de raspão.
— E como estão as coisas aí? — quero saber.
— Tensas. Sienna e Dona estão dando um gelo em Carlo. — ela
fala e de repente escuto a voz da minha irmã atrás. — Te coloquei no viva
voz. — informa.
— Oh Ella, você nos deu um susto do caralho. — fico surpresa em
ouvir minha doce irmã falar um palavrão, Hell, a levará para o mau
caminho, sorrio.
— Um tiro que doeu bem menos que conviver com Franco. — rio.
— Ele está a maltratando? — minha irmã pergunta, e suspiro.
— Ele é um ogro, mas não me machucou. Eu só não imaginei que
sentiria tanta falta de casa, de vocês.
— Seja uma boa esposa, e então peça para nos deixar te ver depois
do Natal. — em outras palavras, abras as pernas e o faça feliz. O natal é em
um mês, será uma tarefa difícil bancar a esposa feliz em tão pouco tempo.
— Eu vou tentar. — respondo e fico mais um tempo pendurada
com as meninas no telefone, relato como foi apavorante acordar depois do
tiro e estar amarrada, conto a elas sobre a Verônica e a Edwina, e as duas
surtam junto comigo.
Depois sobre a nossa conversa noite passada e em como Franco me
deixou no vácuo deixando-me pensar no que quiser.
— Você é perfeita Ella, ele vai te amar sem perceber. — Hell
comenta fazendo-me rir, se ele não me matar primeiro talvez aja uma
chance muito, muito pequena disso acontecer.
Despeço-me delas, e fico pensativa no que fazer, espio pela janela,
há seguranças por todo o pátio. Pergunto-me se ele pôs tantos justamente
porque consegui fugir do meu pai, e ele tema que eu faça o mesmo se não
for bem vigiada.
Pelo menos dentro de casa a única cara feia que preciso ver é a de
Lazzaro. Desço, acendo a lareira e me sento no sofá, perco as horas
maratonando John Wick.
Quando percebo já anoiteceu e estamos apenas Lazzaro e eu, ele
disfarçou, mas o peguei com os olhos na grande TV uma porção de vezes.
Belisco a comida que Elói deixou para mim na cozinha e me pego
ansiando pela chegada de Franco, esse silêncio está me matando. Subo para
o quarto, tomo um banho e Franco ainda não chegou.
Deito-me na cama e fico com os olhos na janela, cogito pegar o
telefone e ligar para Helena novamente, e nisso a porta do quarto é aberta,
estou de costas, mas sei que é ele.
Em instantes o chuveiro é ligado, Franco fica lá por uma
eternidade. Seguro minha vontade de ir até lá e perguntar por que ele
demorou tanto, mesmo que ele tenha dito que não tem horário para voltar, já
passou das onze horas da noite e eu não me sinto confortável sozinha.
A luz do banheiro é apagada e a cama afunda em seguida, Franco
fica estático, ele não me toca, ele não conversa comigo, ele nem parece
respirar. Faço o mesmo, e acabo tendo uma noite infernal, já deve ter
passado das três da manhã e ainda estou rolando na cama buscando uma
posição confortável.
— Pare quieta. — ele resmunga, e me abraça pela cintura,
puxando-me e colando seu peito nas minhas costas.
E desse jeito eu miseravelmente consigo dormir.
 

 
Acordo sozinha, e pela claridade lá fora percebo que dormi demais,
sem vontade levanto da cama, me escovo e depois coloco um vestido preto
de mangas compridas e saia rodada.
Desço e encontro apenas Elói e Lazzaro na cozinha.
— Bom dia.  — Ela saúda e me oferece um café, aceito de bom
grado me sentando ao lado do segurança. Pelo visto hoje será mais um dia
longo e silencioso entre mim e o guarda-costas, eu juro que eu não entendo
como ele consegue ficar aqui o dia inteiro me vigiando. Como se eu fosse
conseguir escapar pelos seguranças lá fora.
Durante o café me pego pensando no que fazer no resto do dia.
Franco havia dito para eu ler um livro, será que ao menos tem uma
biblioteca em um dos cômodos?
Termino o café, e saio para explorar a casa. Ando em direção
oposta à escada e abro porta por porta, encontro: quarto, despensa,
escritório, banheiros, estou chegando a última porta do corredor, sem fé que
seja uma sala com livros.
Abro com força, pois parece que ela já não é usada há muito
tempo, ligo a luz ao lado e, me deparo com muitos móveis cobertos por
finos lençóis, e não há janela.
Fecho a porta e adentro a sala, descubro alguns móveis que devem
ser do antigo morador. Suspiro desanimada, são só quadros e coisas velhas,
puxo mais um lençol revelando uma grande estante de madeira escura, com
alguns livros.
Não fico contente com minha descoberta, pois metade parecem ser
livros para estudo, mas um em específico chama a minha atenção, o autor
russo Fiódor Dostoiévski, Crime e Castigo.
Escoro-me na estante e começo a folhear as páginas amareladas
sem a menor pretensão de ler e quando me dou conta estou sentada no chão
com as pernas cruzadas e chegando a página 100.
Ergo-me do chão sentindo as nádegas formigar, solto o livro na
estante, e deixo a sala pensando em pedir um chá para Elói.
Quando chego a sala Lazzaro está parado no meio dela rígido
como uma pedra, e com o semblante fechadinho.
 
 
 
 
— Qual o problema? — pergunto, e nisso vejo Franco descer as
escadas para o primeiro andar, a sua expressão consegue ser o pior que eu já
vi.
Lazzaro deixa a sala com passos largos, levando consigo Elói e
Nádia, que estavam no corredor, às mulheres dizem algo baixo, mas não
compreendo.
— Sobe! — sua voz ruge atrás de mim, me assustando.
— O que eu fiz de errado? — Franco me pega pelo braço e me
arrasta escada acima, quando percebe que não tenho pretensão de ir com ele
por vontade própria.
— Onde diabos você estava? — sua voz é um chicote, me
despedaçando. Franco me solta, e eu cambaleio para fora do seu alcance,
atordoada.
— Na sala dos móveis cobertos por lençóis. — Franco franze o
cenho.
Ele não deve ter ideia da metade das salas que existem nessa casa.
— Lazzaro me ligou e disse que você sumiu, nem ele ou os
empregados estavam te encontrando.
— Eu não desapareci, você está me vendo. — Ergo os braços,
incompreendida, — Não que você realmente se importe. — escarneço.
— Você e sua língua insolente estão acabando com a minha
paciência Fiorella! — ele fala em tom baixo, ameaçador.
Encaro seus olhos na mesma intensidade raivosa que ele olha os
meus.
— Me escolheu, agora aguenta! — Sibilo entre os dentes, Franco
me pega pelos braços como se eu fosse uma boneca de porcelana e me
pressiona contra a parede.
Uma das suas mãos desliza para o meu pescoço, exibindo como
seria fácil para ele me matar. Meus olhos o encaram o desafiando a seguir
em frente. Franco morde o lábio inferior com força, e seus dedos sólidos se
mantêm estáticos, fecho os olhos, esperando-o decidir se quer me matar ou
me ignorar, mas sou tomada por seus lábios.
Fico em choque, quando a língua dele entra na minha boca, e a
mão que desejava me estrangular, segura o meu rosto quase que
delicadamente. Franco traceja uma das mãos para a minha coxa e sobe
impetuosa por baixo do vestido. E impeço seus dedos de invadirem minha
calcinha.
— Franco. — sussurro contra seus lábios. Ele abre os olhos e
parece que recobrou o juízo.
— Me deixe tocá-la. — ele pede, em meu ouvido tão baixo que é
quase impossível de escutar, — Eu quero sentir o seu corpo, Fiore e quero
que deseje o meu toque em você. — suas mãos apertam o meu quadril
quase dolorosamente.
 Oh céus, eu desejo o seu toque infeliz. Penso sentindo a calcinha
encharcar.
— Não. — pronuncio e Franco enrijece automaticamente, suas
feições ficam duras, aproveito que ele está estagnado e saio do seu
caminho, — Ontem você me ignorou o dia inteiro, agora surta comigo sem
razão, e meio segundo depois quer o meu corpo.
— O que você quer? — pergunta.
— Que me trate com respeito Franco. — é o mínimo. Seu
semblante se suaviza por um segundo.
— Eu perdi a cabeça quando pensei que tinha fugido. — ele admite
— Você não quer ficar aqui Fiorella, sei que na primeira oportunidade que
encontrar tentará desaparecer.
— Eu não quero fugir de você para morrer lá fora, mas eu não
quero ficar aqui presa e ignorada, só alimentando suas necessidades.
— Você ainda não alimentou nenhuma das minhas necessidades.
— Ahh. — expresso desacreditada. — É por isso que está com
tanta raiva?
Será que a mente do homem é tão pequena, e tudo é relativo ao
sexo?
Franco está com os lábios comprimidos, e quando os abre para me
responder o seu telefone toca. Ele puxa do bolso da calça e atende em
seguida, Franco me olha e deixa o quarto fechando a porta.
Em instantes o vejo entrando na BMW, e outra vez eu fico socada
nessa maldita casa sem uma resposta. Inferno!
Coloco o telefone de Helena carregar em uma tomada que tem
atrás da cama, pois não achei outra em lugar algum do quarto, e decido que
hoje à noite eu peço um telefone para não ter que esconder mais esse.
Desço, depois de um momento e encontro Elói e Lazzaro na
cozinha, nenhum ergue o olhar para mim, mas a tensão está no ar
esmagando o silêncio. Suspiro, abrindo a geladeira buscando algo para
comer.
— Eu estou bem. — aviso a ela, pegando um prato pronto e pondo
no micro-ondas.  Sento-me ao lado de Lazzaro com um sorriso, ele com
certeza desejava que eu tomasse umas porradas, mas não aconteceu.
— Nos dê licença, Lazzaro. — peço lembrando-me que quando
Dona foi para nossa casa, ela estava tão deslocada quanto eu estou, e
passava a maior parte do tempo na cozinha, conversando com as
funcionárias, acredito que tentando se encaixar em qualquer lugar que fosse
daquela casa.
— E para onde deseja que eu vá? — pergunta com uma pitada de
zombaria.
— Faça de conta que eu desapareci e vá me procurar. — respondo
na mesma audácia, ele cerra o maxilar e se retira.
O micro-ondas apita mostrando que minha comida está pronta, e
Elói me entrega em seguida e permanece parada em minha frente do outro
lado da ilha.
— Está bem mesmo? — ela cochicha, parece preocupada.
— Ele não me dá medo. — respondo e a pequena mulher me olha
como se eu devesse temer.
— Eu nunca o vi tão agitado, — sussurra com um riso, — ele
estava quase te procurando dentro dos armários. — rio.
— Eu não o compreendo.
— E quem é que compreende os homens? — ela aperta os lábios.
— Ele tinha alguém antes de mim? — quero saber, Elói trabalha
para Franco há cinco anos, ela deve saber disso.
Analiso a expressão da mulher com cuidado, e noto que ela não
sabe o que responder.
— Eu não me importo com as outras, Elói, só quero entender o que
meu marido gosta. — minto.
— Eu não sei como responder isso, senhora.
— Você acabou de me dar uma resposta.
— Senhor Fiore, nunca foi de lavar mulheres para a cobertura,
Edwina passava muito tempo lá.
Assinto, um pouco aliviada, talvez Franco não seja tão sem
vergonha quanto achei.
Sento-me à sala e começo maratonar, The Handmaid's Tale, já que
minha busca por um livro quase acabou me matando.
 

 
Anoiteceu e nada do meu marido chegar. Se Franco não quer que
eu fuja, ele terá que ser mais presente, ou sim, na primeira oportunidade que
eu tiver sairei correndo.
Subo para o quarto, tomo um banho, e me deito segurando o
telefone da Hell, cogito ligar para ela, mas desisto no momento que a porta
do quarto é aberta. Deslizo o aparelho para debaixo do travesseiro, e me
sento observando Franco ir até o closet, ele não está com as mesmas roupas
de hoje à tarde, sei disso, pois está usando uma camisa branca embaixo de
um terno azul.
Franco volta para o quarto em silêncio, apenas de cueca, e desliga
a luz, não parece estar a fim de conversar. A cama afunda ao meu lado, e eu
impulsivamente ligo a luz do abajur ainda sentada.
— Onde você estava? — pergunto cautelosa, a última coisa que eu
quero é começar outra briga.
— Trabalhando.
— E o que houve com suas roupas? — o início de sorriso surge no
canto da sua boca.
— Qual o problema Fiorella? Não me diga que está com ciúmes.
— encaro Franco e desligo a luz do abajur, me sentindo uma tola. Deito-me
de costas para ele desejando ter ficado calada.
A luz do lado dele é acesa, Franco fica apoiado no antebraço me
olhando.
— O que eu disse sobre me deixar falando sozinho? — sua voz sai
dura, mas sua face não está raivosa, só indecifrável.
— Me castigue então. — escarneço, e seus olhos se tornam
violentos, nisso o celular embaixo do meu travesseiro começa a vibrar em
minha cabeça, o meu coração dispara e sem pensar levanto os centímetros
que faltam e beijo Franco com força o empurrando para o seu lado da cama,
ainda com aquela sensação de algo estar vibrando na cama.
Franco me puxa para seus braços e quando percebo estou montada
nele. Seus lábios me beijam tão forte que quase me machucam. Deslizo as
mãos para seus ombros nus, e o empurro suavemente.
— Vá devagar. — peço, e volto a beijá-lo sem aquela urgência,
minhas mãos se enterram em seus cabelos pretos como carvão, Franco nos
gira me deitando no meio da cama, ele fica entre as minhas pernas e sinto
sua ereção sólida em minha virilha.
Os lábios dele beijam o meu pescoço, e seus olhos se detêm nos
pontos do meu ferimento por um momento, depois começam a beijar o meu
ombro, a clavícula, e descem em direção ao meu peito que sobe e desce
descompassadamente. Franco segura na extremidade da camisola de cetim e
a rasga num puxão firme, o tecido desliza para fora do meu corpo.
Fico inteiramente arrepiada com seu olhar. Franco pega em meus
seios um em cada mão, e os aperta, estremeço. Seus lábios abocanham meu
mamilo com força, ofego, e me contorço enquanto ele suga e me olha ao
mesmo tempo. Ele prende os meus pulsos na cama, depois chupa o outro,
fazendo-me quase arquear o corpo.
— Você cheira malditamente bem, Fiorella. — diz cheirando
minha pele entre os seios, e sua língua desliza por ali me provando.
Franco tira minha calcinha, e separa as minhas pernas, tendo
melhor visão do meu sexo. Fico vermelha quando ele desliza os dedos pelas
minhas dobras e solta um gemido que faz meu sexo pulsar.
— Você está muito molhada. Inferno, como eu te desejo.
Ele passa o dedo no meu clitóris, e o prazer oscila, fazendo-me
morder o lábio. Seus olhos prendem os meus e seus dedos começam
massagear o meu ponto sensível com desempenho, Franco se aproxima e
seus lábios se fecham em torno da minha coxa, ele dá pequenas chupadas e
mordidas. A sensação é ao mesmo tempo demais e insuficiente, o prazer
cresce em meu estômago, minhas pernas ficam rígidas, e me pego
desejando tudo que Franco está fazendo, seja mais forte e mais rápido.
Deslizo uma das pernas sob seu ombro, ela engata em seu pescoço
e eu o puxo para frente. Franco ergue seu olhar até o meu com um sorriso
nada sutil.
— O que você quer que eu faça? — percebo diversão em sua voz.
— Você sabe... — exclamo e recebo um beijo em cima do meu
clitóris.
— Sei, mas quero ouvir da sua boca. — aperto os lábios, e mexo a
cabeça em negação.
Franco afunda sua língua em minhas dobras, fazendo-me
estremecer, e quando chega no meu ponto pulsante onde meu desejo está
todo concentrado, ele para e me olha novamente.
— Fale. — mexo a cabeça em negação.
Franco repete o gesto e se detém novamente, me esperando
implorar, não o faço, e levo meus dedos com ímpeto ao meu clitóris para eu
mesma acabar com isso, antes que isso acabe comigo, mas  ele segura
minha mão me impedindo.
— Fale. — sua voz é afiada e excitante ao mesmo tempo.
Por uma batida de coração pensei em negar novamente, mas estou
excitada demais para continuar com esse joguinho.
— Me chupe. — imploro, meu marido me dá um sorriso glorioso e
cai de boca em mim, o meu coração trabalha ferozmente enquanto Franco
me devora, alterando sua língua dentro de mim e sugando meu clitóris.
Minhas pernas começam a formigar e um calor surreal surge em
todo o meu corpo. O orgasmo explode no meu interior, e me pego com as
mãos em punhos no lençol enxergando tudo preto.
Abro os olhos com a visão embaçada, e encontro Franco de
joelhos, seu pau está inchado fazendo força para ser liberado da sua cueca
boxer. Comprimo o lábio na hora que ele baixa o tecido e seu pênis salta
para fora, grande, rosado e parece um pouco pesado.
Santo inferno!
— Fiorella. — coro e não consigo esconder, estava secando o pau
dele descaradamente. 
Encontro o seu olhar, devo estar com a expressão apavorada, pois
sua face está quase amável.
— Não vai doer como da primeira vez. — mexo a cabeça
mecanicamente, sentindo um alvoroço no meu interior.
Franco engatinha para cima de mim, se enfiado entre minhas
pernas, o meu peito desce e sobe freneticamente com a minha mente
pensando na dor lancinante da primeira vez. Ele encosta sua testa na minha,
seus olhos me encaram enquanto a cabeça do seu pênis invade a minha
entrada, vagarosamente.
— Relaxa. — sussurra, e sua língua invade a minha boca na
mesma hora que seu pau desliza para dentro de mim, devagar e me
preenchendo totalmente, a musculatura do meu sexo se expande se tornando
desconfortável, mas não dói tanto. Franco estremece fortemente dentro de
mim quando coloca o máximo que consegue.
— O que foi? — quero saber, vendo seu corpo inteiro rígido.
— Você não entenderia.
— Tente. — peço, enquanto ele desliza para fora e entra pulsando
fortemente.
— Sua boceta é tão quente e apertada, que tenho vontade de fodê-
la com toda a minha força.
Minhas pernas travam impedindo Franco de se movimentar.
— Eu disse que não entenderia. — Franco força o corpo para baixo
e minhas pernas cedem não suportando o seu peso. — Já disse eu não vou
machucá-la, Fiorella, e com o tempo você irá implorar pra te comer com
força. — ele expressa e seu pau entra na mesma intensidade das suas
palavras, fazendo-me estremecer.
Ele faz de novo, colando nossos lábios. Movo o meu corpo contra
o dele, e Franco parece gostar da minha iniciativa, pois sorri e minha
respiração acelera, sentindo-o bombeando dentro e fora, dentro e fora, os
seus gemidos em meus ouvidos, me deixam excitada, e com vontade de tê-
lo ainda mais dentro de mim.
Tracejo as mãos para seu troco, e cravo minhas unhas com força,
ele abre os olhos e reprime um grito.  Franco pega em minha mão de
repente e leva para baixo entre nós.
— Se acaricie. — ele pede com voz grave, pondo os meus dedos
no meu clitóris, sinto a umidade do meu sexo e seu pau trabalhando sem
piedade dentro de mim. Franco olha para baixo quando começo a me tocar,
e sua penetração se torna forte, implacável, acelero meus dedos e gemo alto
e incontrolável, à medida que o prazer cresce em mim, o meu corpo
convulsiona sentindo cada partícula vibrar, e gozo me dividindo em mil
pedaços embaixo dele.
Franco fica sob os joelhos, admiro seu corpo que reluz pelo suor.
Sua cabeça pende para trás com ele mordendo o lábio inferior
completamente em êxtase, odeio admitir isso, mas Franco é a coisa mais
gostosa e sexy que eu já vi na vida, ele me pega com força pelo quadril e
com mais uma potente estocada se esvazia dentro de mim. Seu corpo cai
sob o meu, e sua cabeça pousa entre os meus seios.
Franco rola para o lado depois de um momento e afunda seu nariz
na curva do meu ombro e me abraça pela cintura.
— Como está o pescoço? — questiona com a voz rouca.
— Coça um pouco, mas não dói. — me viro para poder encará-lo,
seu cabelo está uma bagunça e sexy ao mesmo tempo, e sua expressão
completamente relaxada, sexo faz mágica.
— Isso não era para ter acontecido, mas você lidou bem com a
situação. — sua respiração está voltando ao normal.
— Lidei? — pergunto surpresa. — Eu quase estrangulei a
Verônica. — digo e sinto a mão de Franco parar as caricias em minha
barriga.
— Me surpreendeu ter feito aquilo com as mãos amarradas, mas
até agora eu não entendi porque o fez. — mordo o lábio, questionando-me
quanto Franco investigou a meu respeito.
— Você soube sobre a minha internação na Clinica Red Hill?
Sua cabeça mexe mecanicamente e Franco permanece em silêncio
me esperando prosseguir, imediatamente me arrependo de ter entrado no
assunto, preferia que ele já soubesse ao invés de lhe contar.
— O que houve? — questiona devido ao meu silêncio, e seus olhos
se tornam cautelosos. Encaro o teto, sentindo uma agitação no meu anterior.
— E-eu. — sinto vontade de morder a língua, que treme dentro da
minha boca. Franco se ergue e se apoia no antebraço olhando em meus
olhos, com atenção.
Suspiro vendo que não terei escapatória agora que comecei.
— Eu me tratava com ansiolíticos depois da invasão dos russos —
pauso vendo os olhos dele brilharem em perguntas que ele não faz —
Tomei um frasco inteiro de uma vez, e quando acordei estava presa em uma
cama na ala psiquiátrica. — um riso involuntariamente me escapa, — Achei
que você tivesse me prendido quando despertei no consultório da
veterinária.
Ele ainda me olha em silêncio, deve estar pensando que se casou
com uma doida, e isso me incomoda.
— Eu não sou maluca, tá.
— Eu não acho que seja, — diz voltando a fazer carícias em minha
barriga, — Porque tentou se machucar?
Aperto os lábios, sentindo uma inquietação tomar conta da minha
perna.
— Eu não quero falar disso, Franco. — me sento abruptamente
fazendo-o se distanciar e desço da cama antes que suas mãos consigam me
pegar.
— Fiorella. — ele chama, paraliso no caminho para o banheiro
com Franco as minhas costas, suas mãos deslizam para os meus ombros que
estão tensos, e ele me vira fazendo-me encará-lo, seu olhar está suave e
preocupado.
— Porque as lembranças estavam me matando lentamente.
Fecho os olhos e a escuridão me leva direto para aquela maldita
noite da invasão, corpos cobertos por sangue ressurgem em minha mente,
gritos ecoam em meus ouvidos, tiros, muitos tiros... abro os olhos sentindo
o meu couro cabeludo eriçar.
— Quando foi isso? — ele pergunta e me leva em direção ao
banheiro.
— Eu tinha 12 anos, as minhas noites eram carregadas de
pesadelos e durante o dia as lembranças se alimentavam da minha mente, eu
vivia praticamente chapada de tanto antidepressivo. Eu só queria que aquilo
acabasse. — confesso e Franco me puxa para baixo do jato d’água após
ligá-lo.
— E depois? — questiona me olhando fixamente.
— Hã. — Emito dúvida sobre o que ele quer saber, — Eu fiquei
internada na clínica por um mês, e conheci a Helena lá… — a expressão de
Franco vira uma confusão, fazendo-me rir.
— O que ela fez pra parar lá? — seus olhos brilham em
curiosidade.
Mexo a cabeça em negação.
— A história não é minha para eu contar, mas ela me salvou de um
dos “loucos”, — digo com aspas, — que me atacou no banheiro, e meu pai
tirou nós duas de lá, continuei o tratamento em casa e depois de um tempo
comecei as aulas de autodefesa.
Franco me encara como se ainda estivesse remoendo o que eu
acabei de falar, aposto que o arrependimento está berrando em sua mente
agora.
— Eu avisei que escolheu a irmã errada. — sussurro. Fecho os
olhos e recebo a água deliciosamente quente em minha face.
— Não repita mais isso. — sua voz soa como uma ordem, fazendo-
me abrir os olhos para encará-lo, Franco se abaixo e me beija debaixo do
jato d’água, vagarosamente.
 
 
 
Quando acordei Franco já havia saído, puxei o telefone debaixo do
travesseiro e conversei com as meninas por quase uma hora. A saudade
ainda é enorme, mas aquele aperto que estava quase me sufocando no
primeiro dia está menor, é quase um alívio.
Arrumei-me rapidamente e desci, tomei um café conversando
sobre coisas banais com Elói e Nádia. Cogitei por algo na televisão para
assistir, mas já estou saturada de ficar deitada no sofá olhando séries.
Lá fora o dia está ensolarado, mas as árvores se curvam com vento
forte, penso em sair dar uma volta e conhecer os arredores, mas sozinha é
tão solitário. Sento-me em frente ao piano sem expectativa, eu tocava
encantadoramente bem uma das poucas coisas que fazia melhor que Sienna.
Depois de um longo momento de indecisão, me pego tocando La Valse de
L’Amour, a canção que Franco e eu dançamos na festa.
Ontem a noite foi surreal, mas ainda assim eu não entendo o que
esse casamento espera de mim. O que Franco espera de mim. Ele não é tão
acessível quando está vestido, até parece outro homem, consegue passar de
bruto e amável em questão de segundos, não consigo compreendê-lo.
Franco deseja o meu corpo, os seus olhos, as suas mãos e sua boca
me mostraram isso algumas vezes, mas isso não significa que ele vá honrar
os votos do matrimônio. Me pego desejando não amá-lo, não até ele me
responder se esse casamento será por dever para sempre.
A música chega ao fim, suspiro, insatisfeita, e quando ergo meu
olhar encontro meu marido na entrada da sala me observando, sua
expressão para mim como sempre é indecifrável.
— Foi a única música que lembrei. — menciono para ele não
pensar que estou vivendo um conto de fadas, relembrando como foi nossa
primeira dança. Não sou tão patética assim.
— Toca muito bem. — dou de ombros com um sorriso.
— Por que chegou cedo? — questiono saindo de trás do piano.
Ainda não passou das duas horas da tarde.
— Vamos dar uma volta.
— Onde? — pergunto sem fazer questão de esconder minha
animação.
— Vou levá-la para o treino, se vista com algo confortável. — ele
diz, naturalmente, quase pulo em seus braços, mas apenas subo para o andar
superior, com o coração frenético.
Entro no quarto, e pego o primeiro conjunto que vejo em minha
frente, uma legging rosê com detalhes cinza, o top da mesma cor, e uma
jaqueta esportiva tão justa que parece uma segunda pele.
Estou amarrando os tênis quando sinto um aperto em minha bunda.
— É bem justa esta calça.  — menciona o bem com ênfase me
analisando quando fico de pé.
— Não me diga que está com ciúmes? — zombo, como ele fez
comigo, noite passada, e pensar nisso agora me faz lembrar que Franco não
me respondeu porque estava com outro terno.
— Não preciso, todos sabem a quem você pertence.
— Não sou uma propriedade, Franco. — falo calma, não quero
brigar, mas também não vou aceitar que me trate como um objeto.
— Não é. Mas é minha, agora vamos. — expressa me dando as
costas, não retruco e o sigo para o andar de baixo.
Deixamos a casa e Franco abre a porta da BMW para eu entrar.
— Já estou livre para sair de casa? — ele mexe a cabeça
mecanicamente.
— Não, até eu ter certeza que não levará outro tiro.
— Então para onde está me levando?
— A propriedade do meu pai tem uma academia, reservei as tardes
pra você, — assinto. — Com qual idade você começou o treinamento?
— Aos treze.
— Aqui você não terá sua amiga para disputar e eu não poderei
ficar com você pra te ensinar sempre.
— Será que Lazzaro me ensinaria? Acredito que ele adoraria me
dar uma surra. — rio.
— Por que diz isso? Ele te fez alguma coisa?
— Não fez nada, mas eu sinto que ele não gosta de mim.
— Ele não está aqui para gostar de você e sim para protegê-la.
— E porque ele protegeria alguém que ele não gosta?
— Porque ele jurou a mim, protegê-la, com a vida dele, e se algo
acontecer com você ele desejará estar morto no seu lugar.
Pobre Lazzaro se ele soubesse o quanto sou um imã para o caos,
jamais teria prometido algo assim.
— Então isso é um sim?
— Eu vou falar com ele. — sorrio.
Franco entra em uma propriedade tão elegante quanto a nossa casa,
e assim que estaciona ao lado de uma fonte d’água, o painel do carro pisca
com o nome da veterinária. O celular dele deve estar conectado no
dispositivo do carro. Franco desliga a chamada e desce sem me dar
explicações, uma sensação estranha me atinge, fazendo minhas mãos
tremerem e meu coração ficar agitado.
Desço em seguida, e avançamos em silêncio pela extensão do pátio
passando por um belo jardim.
— Franco. — chamo, ele me olha por cima do ombro, está
distante, e tenho certeza que aquela mulher ocupa seus pensamentos. —
Quero um celular. — digo, não era bem isso que eu tinha em mente, queria
saber por que ele não atendeu a ligação, o que ela queria, e se os dois se
veem ainda.
— O que houve com o seu?
— Ficou com o meu pai.
— Então aquele que você esconde de mim é de quem? — fico
rubra, e a tremedeira aumenta em meu corpo.
— Helena. Desde quando você sabe?
— Soube ontem quando ele vibrou embaixo do seu travesseiro. —
Franco ri.
Meus lábios se entreabrem desacreditada, ele sabia e fez de conta
para poder se aproveitar de mim.
— O quê? Só você pode tirar proveito da situação?
Mexo a cabeça mecanicamente sem ação, apenas sorrio.
— Eu quero outra coisa. — digo e seus olhos me encaram com
atenção, — As meninas podem vir me visitar depois do Natal?
— Ainda não passou uma semana e você já quer vê-las?
— Por isso é depois do Natal. — adiciono e o telefone de Franco
apita, possivelmente mensagem, ele olha rapidamente para tela e bloqueia,
o meu estômago se retrai, quando eu penso em quem possa ser.
— Se Carlo permitir, não vejo problema. — fala, e sua mão desliza
para o meio das minhas costas, ele me direciona para uma ampla sala com
paredes de vidros escuros do teto ao chão.  Assim que atravessamos as
portas me deparo com uma luxuosa academia, tudo muito limpo e
organizado, paredes claras, aparelhos pretos.
Franco anda em minha frente, me mostrando o lugar, e passamos
por um vestuário.
Atravessamos o lugar, Franco diminui o passo quando chegamos
em frente a um tatame preto, há um ferro amarelo passando sobre ele na
extremidade, com  alguns sacos de pancada pendurados, e ao lado um
ringue todo preto.
— Nos armários você vai encontrar luvas e pesos, o que você
precisar terá lá. — assinto.
— Obrigada. — Franco me dá um aceno e um passo atrás, — Você
já vai? — questiono sem conseguir esconder a decepção.
— Preciso, mas eu volto para jantar com você.
— Está bem. — respondo, acho que nunca jantamos juntos, na
verdade nunca fizemos nada juntos além de brigar e sexo. Suspiro um
pouco decepcionada, mas não me prendo a esse sentimento, somos recém-
casados, e Riccardo Fiore mesmo disse que Franco odeia mudanças e eu fui
uma bem grande. Quem sabe ao passar do tempo ele deseje passar mais
tempo comigo.
Franco me deixa sozinha, não demora segundos e Lazzaro entra
com seu semblante suave, mas seus olhos brilham em diversão, eu disse que
ele adoraria me dar uma surra.
— Franco pediu que eu treine você. — diz se aproximando do
tatame.
— Eu sei, vai me arrancar o coro, não vai? — seus lábios se
curvam em um riso, modesto.
— Não até você tirar os pontos do pescoço. — assinto, animada,
lutar com um homem que não terá piedade será bem mais interessante. —
Me mostre o que sabe. — ele pede e obedeço sem pestanejar.
 

 
A tarde passou num piscar de olhos, Lazzaro me explicou uma
porção de coisa, metade eu já sabia, mas na prática fui um desastre. O medo
de arrebentar os pontos, fez nós dois nos limitar a agressividade.
Voltamos para a mansão quando já estava escurecendo, tomei um
banho relaxante enquanto esperava Franco chegar, e na hora que desci Elói
já havia ido embora e deixado nossas comidas arrumadas dentro do forno.
Horas se passaram e já está quase chegando a meia noite, ainda
estou sentada na ilha esperando Franco, patética. Lazzaro me olha de vez
enquanto, presumo que pela primeira vez com pena.
Subo para o quarto, coloco uma roupa confortável e me deito sem
expectativa de que Franco irá voltar para dormir em casa. Se ele fosse um
homem comum que voltasse sempre tarde até pensaria que está comendo
outra por aí. Bem, se for isso que está acontecendo, eu já devia estar ciente,
só não sabia que iria me incomodar tanto.
Cristo Fiorella, o homem pode ter levado um tiro, uma facada.
Peço a Deus que seja isso, rio.
Só percebi que peguei no sono quando senti a cama afundar do
meu lado, abri os olhos e deslumbrei Franco se ajeitar apenas de cueca
boxer, seus dedos deslizam para a minha cintura e me puxaram para seus
braços.
— Onde estava? — pergunto.
— Fiquei preso no trabalho. — diz e seus dedos descem em
direção ao meu ventre procurando a entrada da minha calcinha, o impeço.
— Ninguém acha estranho um escritório ficar aberto até de
madrugada?
— Eu não estava no escritório.
— Onde estava? — pergunto sonolenta.
— Não gosto de interrogatórios, Fiorella. — raiva borbulha em
meu estômago.
— Você estava com ela? — pergunto e vejo Franco rígido ao meu
lado como se eu tivesse dito algo absurdo, mas o que ele espera que eu
pense?
— Não faça perguntas que não deseja saber a resposta.
Puta que pariu custa responder pelo menos uma vez, sim ou
não??? Meu cérebro deseja berrar.
Pulo para longe dos seus braços, sentindo uma agitação me
desorientar, se eu dormir nesse quarto com Franco sou capaz de sufocá-lo
com o travesseiro. O mínimo que Franco poderia me dar é um pouco de
honestidade, até agora eu fiz tudo que me foi pedido, obedeci e ganhei o
que?
— Aonde você vai? — sua voz sai baixinha e desafiadora, com
certeza colocaria medo em algumas pessoas. Mas advinha só Franco, eu fui
criada por uma criatura tão horrenda quanto você, eu não tenho mais
medo.
— Ficar longe de você. — aviso chegando à porta.
— Não saia desse quarto. — diz em tom de aviso, quando meus
dedos estão girando a maçaneta, encontro seu olhar com a pouca claridade
que entra pelas janelas e atravesso a porta fechando-a em sua cara.
Talvez eu tenha assinado o meu atestado de óbito ao fazer isso,
mas não posso deixá-lo fazer o que quer comigo agora, se vamos viver o
resto da nossa maldita vida juntos. Pensar nisso me dói à alma.
Sinto-me em uma gangorra com Franco, sobe e desce, sobe e
desce, não devia ser tão cansativo. Entro em um dos vários quartos e me
deito na cama sem travesseiros, lençóis ou cobertas. Exalo alto, devia ter
feito Franco sair.
Encolho-me na posição fetal e fico encarando um cabideiro de
madeira, remoendo as atitudes dele, nunca vi um homem tão ambíguo, as
mudanças de humor dele vão acabar com o meu discernimento. Dona
estava certa, meses atrás quando disse ao meu pai que esse casamento
acabaria em sangue. Eu só não imaginava que seria o meu casamento.
A porta é escancarada e o temor que eu devia sentir não adveio,
estou de costas para Franco ainda encarando o cabideiro e suas formas,
parece um homem com muitos braços. Aguardo pelo sermão sobre deixá-lo
falando sozinho, sobre as mudanças que eu sabia que haveria, ou em como
o meu comportamento é inadequado. Contudo, um longo tempo se passou e
fazer de conta que Franco não estava parado atrás de mim me observando,
estava me deixando com o coração inquieto.
Relaxei o corpo, pois já não aguentava mais ficar contida naquela
pequena bolha fetal que me encontrava, um suspiro passou pelo meu lábio
quase inaudível.
O colchão chacoalha atrás de mim, fecho os olhos esperando pelo
pior, mas sou pega pelos braços de Franco, reprimi a vontade de pular deles
enquanto me carrega para o nosso quarto em um silêncio suave, podia dizer
que estava sendo levada por um fantasma se a presença dele não fosse tão
forte.
Nos deitamos, e continuo sem entender o que está acontecendo,
porque ele foi me buscar? Apenas para provar que pode fazer o que quer
comigo?
— Franco. — balbucio na escuridão, ele se encontra paralisado ao
meu lado.
— Nunca dei satisfação e não vou começar agora. — diz de uma
forma contida, que me faz mordiscar o interior da bochecha. — Eu só peço
que confie em mim Fiorella, quando digo que estou no trabalho é porque
estou no trabalho.
— Eu não devia ter duvidado, — admito, — só achava que seria
diferente. — Franco entende que estou falando do casamento, e suspira.
— Tem muita merda rolando, e eu não posso me dar o luxo de ficar
em casa com você.
— O que está acontecendo? — me arrisco a perguntar.
— Nada que você deva se preocupar.
— Não confia em mim, por causa do meu pai?
— Ainda não, espero que entenda.
— Entendo. — não me agrada nenhum um pouco, mas ele seria
tolo se confiasse abertamente.
Franco relaxa ao meu lado, e sua mão corre para o meu abdômen,
encaro seus olhos azuis cristalinos, enquanto sua não desce como uma
aranha em direção ao meu sexo, e cruzo as pernas, apertadas.
— Fez as pazes pra transar? — pergunto desapontada.
— Não, já estou encarando um conflito lá fora, não preciso de
outro dentro de casa. — Soa sincero, ele parece realmente cansado demais
até para mentir. Inspiro lentamente, aceitando acreditar nas suas palavras,
relaxo as pernas deixando sua mão entrar em minha calcinha e me entrego
às suas carícias.
 
 
 
 
 
A minha pele está quente, como se estivesse em brasa. Apesar de
hoje ser uma tarde terrivelmente fria em Nova Iorque, gotas de suor se
formam em minha nuca e escorrem em direção a minha coluna exposta.
Estou montada em Franco com ele dentro de mim, suas mãos
seguram firmes em meu quadril fazendo movimentos intensos e precisos,
enquanto eu me agarro ao seu pescoço tentando conter os infinitos gemidos.
Franco fica em pé de repente, ele pressiona o meu corpo contra a porta do
quarto, e sem sair de mim, desliza um braço por baixo da minha perna
esquerda, ele me manuseia como se eu fosse uma boneca.
— Tudo bem? — questiona, e tracejo minha mão para sua face.
— Sim. — gemo em resposta quando Franco esfrega sua púbis em
meu clitóris.
Franco desliza para fora e se enterra em mim com força, pontos de
dor e prazer se misturam me arrancando um grito, seus olhos que buscam os
meus estão sombrios e puro tesão.
— Não pare. — imploro, sentindo seu pau pulsar fortemente no
meu interior e seu lábio se curva em um pequeno sorriso.
— Eu disse que um dia iria me implorar para te comer com força,
Fiore. — sua boca se apossa da minha impetuosamente, e Franco começa a
me foder com mais potência do que ele já usou nas últimas semanas.
Cravo as unhas em suas costas e afundo meus dedos em sua nuca
puxando seu cabelo para trás, beijo a curva do seu queixo e enterro meus
dentes em seu pescoço. Franco grunhe tão alto que me faz estremecer, e me
penetra com mais força, mordo o seu ombro, ele geme, e eu amo o som,
amo cada vibração que seu corpo faz quando está possuindo o meu. Ele
morde o lábio inferior com força, o seu aperto em meu traseiro se torna
quase insuportável, e sei que ele já vai gozar. Ele mete impetuosamente
chegando ao fundo e alcança o seu clímax gemendo em meu ouvido.
Minha cabeça cai sobre a curva do seu peito, exausta, e minha
respiração está uma coisa de louco.
Franco me põe sentada na cama com movimento simples, ele faz o
mesmo, e vejo seu corpo brilhando de suor. Aliso seu tronco, deslizando a
mão por suas cicatrizes, que parecem vergões rosados. Franco me encara
relaxado por cima do ombro.
— Merda, eu preciso ir trabalhar. — resmunga, e fica em pé se
espreguiçando abertamente, vislumbro seu corpo, sem aquela vergonha
imensa que sentia no início.
— Não vá. — peço segurando a sua mão.
— Sabe que eu não posso ficar. E você tem o chá da tarde com a
minha mãe. — faço beiço, Franco sorri e me puxa fazendo-me ficar em pé.
— Vamos tomar um banho, depois eu te levo lá.
Entramos os dois no box. Durante o banho o peguei me
observando algumas vezes. Sempre penso em perguntar o que ele está
pensando, mas depois de algumas semanas morando junto cheguei a
conclusão de que quanto menos eu souber o que passa na cabeça do meu
marido melhor.
Completamos um mês há alguns dias, e ainda estamos vivos, quem
diria, há primeira semana foi caótica, não que ainda não seja um desastre
completo, mas como Franco passava muito tempo fora a trabalho, não
tínhamos muito tempo para brigar, e depois que o médico da Famiglia veio
tirar os pontos do meu pescoço, pude começar a treinar pesado com
Lazzaro, chegando em casa exaurida, só com forças para comer, e aguardar
meu marido retornar.
Consegui encontrar uma rotina, os dias começaram a passar mais
rápidos, e Franco passou a chegar mais cedo, eu estou tentando fazer dar
certo e acredito que ele também, do jeito dele.
Saímos os dois do banho, me visto às pressas com um vestido
branco, justo e de mangas compridas e um cinto preto preso à cintura.
Muito elegante para tomar um chá com minha sogra, penso ao deslizar para
dentro de um sobretudo cor de caramelo para suportar o frio de dezembro, e
por último calço um scarpin preto.
Estou terminando de ajeitar minha franja, vendo Franco arrumar as
armas no coldre por baixo do colete escuro, não entendo como ele suporta
andar armado o tempo inteiro.
Desço na frente dele, um tanto faminta e diminuo o passo quando
chego à escada. Enxergo lá embaixo Ettore, Edwina e mais um cara de
terno preto, deve ser segurança dela.
Os três me olham, e fico rubra imaginando há quanto tempo eles
estão aqui e se nos escutaram.
Franco chega por trás de mim, ele paralisa ao meu lado assim que
os enxerga também, sua mão desliza para o meio das minhas costas, e assim
descemos para o andar de baixo.
— Sua casa é incrível irmão. — Edwina é a primeira a falar, ela me
olha com um sorriso ficando de pé, — Mas já pensou em reforçar a vedação
das paredes?
Aí está a minha resposta. Nunca odiei tanto a minha palidez, devo
estar parecendo uma cereja.
— Não pedi por sua visita Edwina, da próxima vez avise antes de
vir. E você Ettore, o que quer? — pergunta duramente, mas o Consigliere
não pareceu se importar.
— Encontraram quem atirou em Fiorella. — avisa e sinto uma
agitação no meu âmago.
— Onde ele está?
— No Escala esperando por você. — posso jurar que vi um brilho
nos olhos dos dois homens.
— Encontro vocês lá fora. — Franco indica a saída com a cabeça,
e todos, incluindo sua irmã, se retiram.
Ele se vira para mim com uma expressão neutra.
— Se eu conseguir te busco mais tarde. — diz percorrendo seus
dedos por baixo do meu braço e me segurando na altura do cotovelo, —
Ignore Edwina, nem sempre ela é rabugenta.
— Porque ela não gosta de mim? — pergunto, pois não é como se
eu tivesse desejado ter entrado para a família Fiore.
— Não é pessoal, ela só precisa de alguém para culpar quando as
coisas não saem do jeito que ela quer.
— E o que ela queria?
— Não se prenda a isso, Fiorella.
Faço que sim com a cabeça ainda imaginando o que seria.
— Ainda vai me levar ou peço ao Lazzaro? — pergunto encarando
fixamente seus olhos.
— Eu a levo, são só cinco minutos. — lhe dou um sorriso e me
encaminho para fora. Entramos na BMW e o restante fez o mesmo em seus
carros.
— O que é Escala? — pergunto.
— É uma boate.
— Hum, é um puteiro. — Franco ri.
— Não tem nenhuma puta lá, só as dançarinas.
— Que são putas. — adiciono, ele não discorda.
Franco desliza a mão pela minha coxa e acelera.
— O que você fará com o homem que tentou me matar? —
pergunto e sua mão aperta minha coxa.
— Conversar. — ele dá um sorriso afiado que mostra todos seus
dentes, parece animado.
Atravessamos os portões da mansão e tem alguns carros
estacionados ao longo do pátio, de longe consigo ver algumas senhoras
caminhando em direção a casa.
— Pensei que fosse um chá só com sua mãe. — comento quando o
carro para.
— É só um chá com as minhas tias e primas, — meu estômago
embrulha, — não se preocupe, elas só querem fofocar sobre o casamento.
Se ficar cansada peça ao Lazzaro para levá-la embora.
— Ok. — Franco segura a minha face e planta um beija em meu
pescoço em cima da estreita cicatriz da bala, curvo o pescoço com cócegas
e um riso, escondendo minha expressão de surpresa. Franco não é
exatamente o tipo de homem que demonstra afeto, exceto durante e depois
do sexo. Parece que finalmente estamos avançando as bases.
Quando nos viramos para frente, vemos Edwina andar na direção
da Verônica com passos largos, a moça usa um sobretudo lilás fechado em
frente ao peito, com pelúcia branca na gola.
Encaro Franco de soslaio e seus olhos estão olhando para ela, até
ele perceber que eu estou olhando para ele.
— Se comporte. — ele avisa.
— Por que, vai me dar um pirulito mais tarde? — zombo.
Ele aperta os lábios, talvez escondendo um sorriso, mas seus olhos
o deduram.
— Desça antes que eu fale uma besteira. — rio e pulo para fora do
carro, aceno brevemente, mesmo não o vendo através do vidro fumê, e as
luzes da frente piscam ao meu sinal, e Franco começa a dar a ré.
Ando em direção a casa e meu sorriso se esvai quando percebo as
duas meninas me olhando, elas se viram e se apressam caminhando em
minha frente.
Senhor me dê paciência, peço em oração, sempre odiei esses
eventos, agir delicadamente por muito tempo é uma habilidade de Sienna.
Saudades de casa, as últimas vezes que liguei mal consegui falar com ela,
Helena disse que Donatella está transformando Sienna em uma verdadeira
dona de casa, algo me diz que Carlo está tramando alguma coisa, e Sienna
ainda não se deu conta.
Entro em uma sala menor com sofás, quadros e uma quinquilharia
que só pessoas velhas guardam, tudo em tom dourado, a mãe de Franco
aparece em frente à outra porta e me dá um sorriso caloroso.
— Fiorella, ficou feliz que tenha conseguido vir. — diz me dando
um beijo na bochecha.
E como eu escaparia disso?
— Obrigada pelo convite.
— Venha meu bem, estão todas ansiosas para te ver. — diz me
pegando pelo braço, e me levando, olho uma última vez para Lazzaro e seus
lábios dizem um inaudível: boa sorte.
A mulher me leva em direção a um corredor, de longe ouço muitas
vozes tagarelando sem parar. Adentramos em uma ampla sala, muito clara e
sofisticada; em cada assento de sofás e poltronas há pessoas sentadas, vejo
que há uma senhora, me observando, um sorriso amável surge em meus
lábios. De longe tenho certeza que vi Edwina revirar os olhos. Paciência
Fiorella.
— Gostaria de tirar o casaco? — Carlota pergunta.
Assinto, e lhe agradeço, tirando o sobretudo e lhe entregando.
— Parece que está sobrevivendo bem ao casamento. —
sobrevivendo?
Possivelmente, uma das tias de Franco comenta, mas não identifico
a voz, só escuto as risadas das outras senhoras.
— Não seja rude Eleonora, vai assustar a garota. — Carlota
comenta com um riso gentil e me sinaliza uma poltrona cor de creme, me
sento e cruzo as pernas delicadamente, Sienna teria orgulho de mim.
— O que eu disse de errado? — Eleonora questiona, — Ela parece
mais tranquila agora do que no dia do casamento.
— Franco é muito bom para mim. — comento e o silêncio paira
sobre a sala, como se eu tivesse dito algo errado.
— Deu para ouvir o quão bom ele era hoje mais cedo. — Edwina
diz com desdém ao lado de Verônica que a encara sem entender, fico
vermelha em segundos. Mordo a língua com força para nada estupido sair
da minha boca.
As senhoras me encaram curiosas, mas apenas sorrio, não vou
discutir minha vida sexual com ninguém dessa sala.
— Sinal que está sendo uma ótima esposa. — Minha sogra corta o
silêncio.
— Por abrir as pernas e aquecer a cama para Franco? Devia ganhar
um prêmio. — Edwina escarnece e todas as senhoras a encaram, em
reprovação, a garota faz uma expressão de vítima.
— Edwina! — Carlota chia entre os dentes atrás de mim, — V leve
a minha filha para tomar um ar.
Verônica engata no braço da minha amada cunhada e a leva por um
corredor.
— Carlota, o que deu nessa menina? — Eleonora pergunta e me
ajeito na poltrona curiosa, não é possível ela me odiar tanto, eu não fiz
absolutamente nada.
— Ela passava bastante tempo na cobertura de Franco no Plaza.
Mas agora ele tá casado, — ela sorri para mim, — não precisa de uma
adolescente tirando a paciência dele. — Claro ele já tem a mim, penso
ironicamente.
— Talvez esteja na hora de arrumar um marido para ela. — uma
das mulheres comenta, meu estômago embrulha. A face de Carlota
empalidece, ela não quer casar a filha. E qual mãe iria querer?!
— Talvez castigo funcione. — digo com um riso, Edwina é
insuportável, eu a estrangularia com minhas mãos se não fosse haver
consequência, mas não desejo o que estou passando para ninguém.
Por mais que Franco e eu estejamos nos entendendo agora, ser
livre das amarras da máfia e poder fazer escolhas sempre foi o meu sonho.
E essas senhoras, como mulheres que já estiveram no meu lugar, deviam
pensar o mesmo.
— Vamos ao chá. — Carlota oferece.
Escorei-me para trás na poltrona e assisti a minha morte lenta, as
senhoras falavam sobre muitas coisas, metade eu não entendi e apenas
assenti.
Comi biscoito, macaroons e um pedaço de torta, tomei tanto chá
que acho que minha bexiga vai explodir a qualquer momento, só assim
pude ficar fora dos assuntos das senhoras, ocupando a boca com comida.
Levantei depois de um momento, e percebi que não sei onde fica o
banheiro. Carlota está ao meu lado antes mesmo de eu buscar por ela nas
poltronas.
— Onde fica o toalete? — pergunto baixo.
— Vem eu a levo. — Carlota alcança meu casaco e a acompanho
para fora da sala, passamos por várias janelas e lá fora já está escurecendo.
Será que seria rude eu ir embora depois de ir ao banheiro?
— Eu peço desculpas se eles te assustaram. — Carlota fala
parando em frente a uma porta branca, — Caso precise de qualquer pode
me pedir. — ela sorri e se retira.
Entro no banheiro e me alivio, até respirar se tornou mais fácil.
Encaro-me no espelho enquanto me levo e minhas bochechas estão rosadas,
parece que fui esbofeteada, o que teria sido bem melhor do que ficar nesse
chá.
Deixo o banheiro e me perco no caminho para a sala, adentrando
em outro corredor, paraliso na entrada de um cômodo quando enxergo
Edwina atirada em um sofá com as pernas por cima de uma mesinha de
centro mexendo no celular.
— O que você quer aqui? — ela fica de pé, num pulo, seus cabelos
pretos estão presos para trás bem apertado.
— Eu errei o caminho. — esclareço, dando um passo para trás.
— Você parece um inseto, está por todo o maldito lado.
— Eu não vou brigar com você Edwina. — aviso lhe dando as
costas, minha respiração acelera, mas preciso mostrar que sou mais
controlada do que uma garota de dezoito anos, quero rir.
Sinto um puxão em meu ombro, que me faz desequilibrar dos
saltos, tendo que me segurar na estante ao lado.
— Não me dê as costas! — ela uiva, em minha frente fazendo meu
coração soar como uma sirene em meus ouvidos.
Recomponho minha postura e a encaro, analisando o quão punida
eu seria por Riccardo caso desse uma surra em sua filha.
— Qual é o seu problema? — pergunto dando um passo na sua
direção, ela não recua, corajosa ou burra? Difícil decisão.
— Franco nunca vai amá-la, — ela profere as palavras de repente,
— Ele ama a Verônica! Ele a escolheu por livre arbítrio, até deu um anel
para ela, então você apareceu e fodeu com tudo.
— Eu não tive escolha, — aviso com os dentes cerrados, ainda
tentando assimilar o que ela me contou, Franco estava noivo? Questiono-me
sentindo minhas pernas ficarem moles, e digo a menina duramente — você
melhor que ninguém devia saber e me entender, Edwina.
— A única coisa que eu sei é que você é a puta da Outfit. — fico
cega pela raiva, que se apodera dos meus instintos e agarro em seu pescoço
com as duas mãos, Edwina perde o equilíbrio e cambaleia para trás contra a
parede. Seus olhos me encaram ferozes, suas narinas se dilatam, enquanto
suas unhas arranham o dorso da minha mão tentando me afastar conforme
eu aperto sua pele quente e macia com mais robustez. Consigo sentir os
batimentos do seu coração na palma da minha mão, e me concentro neles
por um momento. Deleitando-me com sua agitação, se eu fosse mais
corajosa arrancaria o ar dos seus pulmões, mas isso faria Franco me odiar.
— Você aprenderá me respeitar Edwina, nem que seja da forma
mais difícil. — lhe aviso em um tom baixo e o som de vidro se partindo faz
meu coração pular, viro o meu rosto e vejo Verônica diante de um monte de
cacos de vidro com água aos seus pés.
— Solte a minha amiga! — ela vocifera, se abaixando e pegando
um vidro do chão. Suas mãos tremem visivelmente. Quero revirar os olhos,
mas não o faço, pois Lazzaro aparece na entrada da porta. Seus olhos
analisam a situação, sem demonstrar um pingo de emoção. Tiro as mãos da
Edwina, e ela cambaleia para longe de mim, chegando ao lado da sua amiga
que ridiculamente baixa o vidro.
— Vamos Fiorella. — Lazzaro se retira do caminho me dando
passagem, eu preciso de meio segundo para me recompor e conseguir sair
do lugar.
— Vai contar para ele? — pergunto.
— Não, mas você devia antes que Edwina distorça tudo.
— Há quanto tempo você está ouvindo? — questiono o
encarnando.
Lazzaro dá um sorriso modesto e não me responde, pois Carlota
surge à nossa frente, despeço-me dela o mais breve e educada possível, e
deixo a casa com Lazzaro.
Recostei a cabeça no assento na escora de couro e soltei um grito
estrangulado. Lazzaro que está à minha frente, no banco do motorista, me
olha preocupado.
Sorri para ele.
— Alivia o meu estresse, devia tentar. — suspiro.
— Eu prefiro quebrar alguns pescoços. — rio.
— Há quanto tempo trabalha para o Franco?
— Você não vai arrancar nada de mim como fez com Elói.
Suspiro.
— Ele a ama, Lazzaro?
— Isso só ele poderá responder.
 

 
Chego em casa deprimida, me arrasto para o andar superior, troco
minhas roupas e deito na cama, com uma sensação estranha tomando conta
do meu peito, acredito que seja ansiedade. Fecho os olhos e me pego
lembrando da conversa que tive com Edwina.
Franco era noivo. Pensar nisso me faz sentir uma pontada de
tristeza penetrar o meu coração. Afinal ele não é só um pedaço de carne
fria, Franco tem um coração, ele só não pertence a mim.
Suspiro e reprimo as lágrimas idiotas que ameaçam invadir minha
face.
Não se apaixone Ella. Meu cérebro sussurra baixinho, mas meu
coração se espreme do tamanho de uma ervilha, frisando que é tarde
demais.
A luz do quarto é acesa, e fico aliviada por estar com os olhos
secos, ergo a cabeça e Franco se aproxima da cama usando um paletó cinza
claro.
Ele tira a parte de cima jogando no recamier, seu semblante está
fechado, mordo o lábio na dúvida se ele já sabe o que houve na casa da mãe
dele ou se está assim por causa do homem capturado que ele foi
“conversar”.
— Tudo bem?  — pergunto ficando sob os cotovelos.
Ele assente.
— Quer me contar o que houve?
Ele mexe a cabeça em negação, parecendo exausto, e questiona:
— Como ocorreu o evento?
— Prefiro ser torturada a ter que participar de outro chá da tarde.
— Franco me dá um sorriso diabólico, e puxa de algum lugar do paletó uma
faca.
— Posso resolver isso agora. — diz com uma voz desafiadora, e
aquele semblante fechado foi substituído pela versão sexy e depravada do
meu marido.
Mexo a cabeça em negação com um riso.
Franco agarra o meu pé e me arrasta até a extremidade da cama,
sua faca desliza pelo interior da minha coxa, mordo os lábios, não acredito
que isso está me deixando excitada, eu devia estar apavorada.
Franco se aproxima do meu sexo, sua faca faz a curva na minha
virilha, e desliza pela minha pele cortando a renda da minha calcinha de
ambos os lados sem fazer esforço. Ele morde o lábio encarando o meu sexo,
faço um ruído com garganta chamado sua atenção.
— É assim que você tortura suas vítimas? — uma risada gutural
passa por seus lábios.
— Deles eu gosto de ouvir gritos de terror, — profere e corta o
cetim do meu robe em direção ao seio. — De você Fiore, — sibila e desliza
a faca em direção ao meu mamilo que enrijece com o contato do metal frio.
— Gosto de ouvir gritos de prazer.
Os dedos de Franco entram em minhas dobras, molhadas, sem
avisar, gemo.
— Não se mexa. — avisa e sinto a lâmina pressionar a minha
auréola. Seus dedos investem em mim forte e intenso, e seu polegar desliza
pelo meu clitóris e me causando um espasmo no ventre.
— Franco... — gemo. — Está me pedindo o impossível. — digo
sentindo uns tremeliques na perna, e involuntariamente minha pélvis ergue
de encontro a sua mão.
— Shh. — emite, só massageando meu ponto sensível agora.
  Oh, céus! O tesão é tanto que quase esqueço que há uma faca
contra o meu seio, que me cortaria facilmente como manteiga.
Franco desliza apenas um dedo dentro de mim, e solta um gemido.
— Cada dia que passa, parece mais apertada. — fala e a faca
desaparece em algum canto do quarto. — Eu vou explodir se não entrar em
você agora. — expressa baixando sua calça junto da cueca.
Seu pau brilha vermelho intenso, com sua cabeça lubrificada de
pré-gozo. Franco se aproxima, seus lábios encontram os meus e seu pau
desliza na minha entrada com força, arrancando-me um grito. Franco
grunhe contra os meus lábios e investe dentro de mim com movimentos
precisos e seus olhos que me encaram com ardor, queimam como uma
chama azul, intensamente. Ele geme, sem se importar com o barulho alto
que está fazendo, e me agarro ao seu pescoço, pois daqui a pouco vou parar
na cabeceira.
E sem aviso, Franco goza fortemente, com um alto grunhido, seu
corpo inteiro estremece, mandando vibrações para o meu.
— Ahh me desculpe. — diz rouco colando sua testa na minha, —
Devia ter me controlado, se quiser eu posso te chupar até você gozar?
Mexo a cabeça mecanicamente, Franco faz isso todas às vezes e eu
nunca tive coragem de fazer nele, ainda que ele já tenha insinuado algumas
vezes, como seria bom foder a minha boca. Eu não tenho a menor ideia do
que fazer e morro de vergonha de dizer isso a ele.
— Deita comigo. — peço o puxando pela mão, em direção aos
travesseiros.
Franco obedece me acolhendo em seus braços, minha cabeça fica
na curva do seu pescoço, enquanto encaramos o teto, com a respiração
pesada.
— Já estou livre para sair? — pergunto.
— Está, mas não significa que não seja perigoso.
— E quem era o homem, Franco?
Ele se vira na minha direção, com os lábios comprimidos.
— Um soldado qualquer da Camorra. — expressa sem emoção, —
Ele foi iniciado há um ano e o teste final para entrar na máfia de Las Vegas
era matar você.
— Las Vegas o aceitou? — pergunto, já que estou viva.
— Não com aquela pontaria. — diz com um riso e beija a minha
têmpora. Retribuo e beijo seu pescoço, e vejo que está de camisa branca.
— Onde estão suas roupas?
— Lixo, estavam imundas, estas são de Ettore.  — menciona
escorando sua cabeça na minha, ele suspira e fecha os olhos, em instantes
ele adormece tranquilamente. E me pego observando-o até meus olhos
cederem ao sono.
 

 
 
 
Encaro-me no espelho vestindo uma saia lápis de couro preto com
abertura nas costas, uma blusa de mangas compridas vermelha com decote
generoso, e longas botas de salto alto. Teria me vestido melhor se tivesse
me programado, mas terá que servir. Desço rapidamente enfiando um
sobretudo branco. Quando chego ao andar de baixo, Franco está em pé
soltando sua xícara de café na mesa.
— Bom dia! — saúdo a todos na cozinha.
Franco analisa minha roupa brevemente.
— Aonde você vai a essa hora? — questiona.
— Vou com você. — sorrio, — Agora que posso sair, quero
conhecer onde trabalha.
Ele me encara por um momento, nem pensei na hipótese dele dizer
não. Dou-lhe um olhar pedinchão que funcionava com meu pai, e um
sorriso doce, que faria qualquer um dizer sim.
— Então vamos que já estou atrasado. — diz secamente.
Franco sai em minha frente, e dou uma piscada para Elói que sorri
para mim do outro lado da cozinha.
Entro na BMW assim que as portas são destravadas e deslizo para
dentro, ao lado de Franco.
— Parece animada.
— Isso te incomoda? 
— Não. — diz e começa a dirigir para fora dos portões, vou
observando as ruas, as casas, tentando me localizar, não tenho a menor ideia
de direção.
— Onde vamos passar o natal? — pergunto após ver muitos
enfeites nas casas.
— Vamos a um jantar na casa dos meus pais. — Meu estômago
embrulha, mas afasto de lado a sensação nauseante antes que ela acabe com
a minha manhã.
— E como ele está? Não o vi na mansão ontem à tarde. — se bem
que eu mal adentrei a casa.
— Mal. Talvez seja o seu último natal. — Franco diz
simplesmente.
— Vocês são próximos?
— Éramos.
— O que houve?
— Nada que valha a pena falar. — aperto os lábios e não insisto.
— Você se tornará O Chefe, será o homem mais poderoso de toda
costa-oeste, isso não te assusta?
— Não vou fazer nada que já não faço agora. — diz e segue
dirigindo em um silêncio pesado.
Depois de um momento, Franco estaciona em um espaço aberto, e
o Audi de Lazzaro para logo atrás.
— Você disse que trabalha em uma empresa de tecnologia, ela
existe mesmo ou...
— Ela existe, mas também é fachada.
Caminho ao seu lado em uma rua com prédios muito altos, por
instinto me pego olhando ao redor, como se de fato fosse ver alguma arma
apontada em minha direção.
— Está com medo? — pergunta subindo alguns degraus,
caminhando em direção a um edifício acinzentado e com pilares de pedra.
— Estou. — admito.
Franco me analisa, por um momento e passa o braço em volta do
meu pescoço, quase sumo embaixo dele.
Tenho que apertar o passo para acompanhá-lo, e antes de atravessar
as portas passamos por uma parede com o nome Fiore anexado, em grandes
letras de forma, em tom metálico.
Um homem de terno escuro saúda Franco com uma aceno de
cabeça, e chama o elevador para nós, seus olhos não param em mim nem
por um segundo. Ao contrário das mulheres da recepção.
— Ele é da Famiglia? — pergunto após as portas metálicas
fecharem.
Franco assente e tira os braços da minha volta quando seu telefone
começa a tocar, ele olha a tela e desliga em seguida colocando no bolso, o
observo pelo reflexo do espelho e sua expressão continua ilegível. Torço a
língua para não perguntar quem era.
O elevador para no último andar, e Franco segura as portas para eu
passar. Adentro uma ampla e sofisticada recepção, há um balcão de madeira
escura com três meninas atrás separando a sala de espera das salas
executivas.
Passamos pela recepção e as meninas saudaram um baixinho bom
dia muito educadamente.
— É muito bonito aqui. — digo quando ele para em frente à porta
escura e abre dando espaço para eu passar. Entro na sua sala, que é
exageradamente grande e aconchegante, com a mobília escura como as do
lado de fora. Contém também sofás e poltronas de costas para as grandes
janelas de vidro.
Franco senta a sua mesa e me aproximo dele, vejo uma foto nossa
do casamento emoldurada, estamos dançando a valsa, minhas mãos em
torno do seu pescoço, e estamos nos olhando nos olhos, Franco havia me
perguntado o que eu estava pensando. Reflito pegando o quadro.
— A sua mãe lhe deu isso?
Ele sorri e assente.
— Podemos ter um em casa? — questiono analisando sua
expressão.
— Claro. — responde e uma batida soa na porta, ela se abre em
segundos. A cabeça de Ettore adentra a sala e seus olhos me encaram com
surpresa.
— Vou roubá-lo por um segundo. — assinto com um sorriso.
— Não saia daqui. — Franco avisa.
Um dia espero conseguir tolerar essa forma de mandão dele sem
querer revirar os olhos. A porta se fecha, coloco o quadro de volta no lugar
e escorrego para a grande cadeira escura, é macia pra cacete. Minha mão
coça para bisbilhotar, mas o notebook ainda está desligado e as gavetas
chaveadas.
Suspiro, o que me resta é esperar, penso e nisso o telefone toca,
linha direta. O barulho é alto fazendo meu coração acelerar, olho para porta
vendo se Franco vai chegar, e o telefone segue tocando.
Pego e atendo.
— Franco... — a voz do outro lado parece até um clamor,
chamando Franco. Um calor explode em meu corpo como um vulcão em
erupção.
— Pare de ligar para o meu marido! — exclamo, e Verônica
encerra a chamada.
Coloco o telefone no gancho com as mãos trêmulas e fico de pé,
péssima ideia, pois tenho uma leve vertigem. Me agarro à mesa, sentindo a
tremedeira se espalhar pelo corpo intensamente, encontro uma porta escura
no canto da sala e corro até lá torcendo que seja o banheiro. Abri sentindo a
bile subir minha garganta, respiro fundo esperando a náusea passar, mas só
tenho tempo de erguer a tampa da privada e vomitar, céus, me agarro ao
vaso, sentindo lágrimas invadirem meus olhos. 
Maldita ansiedade.
Ouço a porta do escritório ser fechada bruscamente, e tenho certeza
que é Franco.
— Fiorella. — Meu nome ecoa pela grande sala e de repente a
porta do banheiro é aberta, fico de pé puxando a descarga.
— Estava vomitando? — pergunta e preocupação sonda sua voz.
Assinto, passando água na boca.
— Está sentindo alguma coisa, está pálida?
— Eu sou pálida. — ele faz cara feia, e sinto que meu corpo ainda
treme, e meu estômago protesta por comida. Deixo o banheiro com Franco
logo atrás de mim.
Suspiro, desejando ter ficado em casa.
— Vamos, eu vou levá-la embora.
— Não. — respondo pondo uma mão no meio do seu peito, o
parando — Lazzaro pode me levar, eu só preciso comer alguma coisa.
— Me liga se precisar de algo. — Lhe dou um aceno e deixo a
sala.
 

 
Chego em casa e subo direto para o quarto, parece que perdi o
apetite no caminho. Coloco uma roupa mais leve e me deito abraçada nas
pernas. Sentindo um aperto na boca do estômago.
Alguém bate à porta depois de um momento e ela se abre
suavemente, Elói enfia a cabeça para dentro com um sorriso gentil. Franzo
o cenho me sentando, Elói nunca subiu até o meu quarto assim de repente.
— Eu fiz uma sopa para você. — diz empurrado a porta com o
quadril e entrando no quarto.
— Não precisava.
— O chefe mandou. — diz me entregando a bandeja escura de
tomar café na cama, — Você está bem?
— É só a ansiedade, Elói. — lhe dou um sorriso.
— E o que te aflige, menina?
— O futuro. — sorrio, tristemente.
Tomo a sopa na companhia da governanta, sentindo-me nauseada
ainda. Volto a me deitar pelo resto da tarde, completamente letárgica.
Aquela ligação me atingiu feito uma bomba, é a terceira coisa que escondo
de Franco não sei até onde eu vou conseguir seguir com isso.
 

 
Desperto, meus olhos piscam sonolentos e vejo uma sombra preta
na entrada do quarto, pisco novamente e ela está mais próxima, está se
debruçando em cima de mim.
— Hey! — sou sacudida pelo ombro, abro os olhos e enxergo
Franco sentado na extremidade da cama, ele põe a mão em minha testa. —
Como está se sentindo?
— Bem, é só um mal estar.
— Você ficou no quarto o dia inteiro e não comeu quase nada. —
faço cara feia.
— Não me trate feito um bebê.
— Se não melhorar até amanhã, o médico virá vê-la.
— Por causa de um mal estar? — pergunto chocada.
— Você não sabe o que é. — diz em tom de reprovação.
Franco chuta os sapatos para longe, e se deita ao meu lado, ele me
puxa para seus braços, e eu não penso duas vezes em me aconchegar em seu
peito e cair no sono novamente.
 
 
 
Acordo na manhã seguinte e Franco ainda está deitado ao meu
lado, fico surpresa, até checo seus batimentos cardíacos na veia carótida,
pois deve estar morto. Seus olhos se abrem nessa hora encarando os meus,
circunspecto.
— Vivo! — digo com um sorriso.
— Você está melhor? — assinto e me distancio, pois ele senta de
repente.
— Vamos descer para tomar café, quero vê-la comer. — arqueio a
sobrancelha.
— Está tão preocupado que eu morra? — brinco.
— Isso não seria bom para a aliança entre as máfias. — meu
semblante se fecha todinho, que não consigo disfarçar o quanto as palavras
dele magoaram. — Eu me expressei mal. — adiciona.
— Você disse exatamente o que queria dizer. — Ando até o closet
e pego um robe comprido, deixo o quarto sem olhar para Franco.
— Bom dia. — saúdo os empregados na cozinha e peço para Elói
me fazer um chá. Sento-me à mesa, tem tanta coisa: pães, doces, salgados,
uma torta, mas não sinto fome só um aperto no estômago.
— Coma. — Ouço-o nas minhas costas, e suspiro com sua ordem,
Franco pega um pedaço de pão e coloca no meu prato.
— Talvez você queira me tratar também. — resmungo e seu olhar
implacável, me faz pegar e morder o pão, sem vontade. Ele senta ao meu
lado e começa a tomar o próprio café da manhã.
— Se não está bem, melhor cancelar o treino de novo. — diz de
repente.
— Já tem dois dias que não vou, e essa semana Lazzaro disse que
me deixaria pegar nas facas dele. — rio.
— Você gosta de facas? — pergunta sem esconder surpresa, dou de
ombros.
— Gosto, Carlo teria me dado uma se eu não tivesse roubado uma
das dele, para treinar com Helena. — Franco ri.
— As duas são um perigo juntas.
Não discordo. Hell foi a melhor coisa que me aconteceu depois da
invasão à mansão, perdi metade da minha família, mas ganhei uma irmã
maravilhosa, mas nós duas juntas somos terríveis.
 

 
Dias se passaram desde o meu mal estar, estamos só alguns dias do
Natal, mas não estou nenhum um pouco ansiosa, só de pensar em ter que
ficar em um jantar com Edwina e Verônica, pois as duas parecem siamesas
e não se desgrudam, me dói na alma.
Franco disse que alguns familiares dele estarão presentes, e por
isso preciso agir como uma dama, quis rir, mas fiquei me perguntando se
sou tão bruta quanto ele me faz pensar.
— Eu poderia tê-la matado duas vezes. — Lazzaro grunhe em meu
ouvido, segurando a lâmina de uma faca rente ao meu pescoço.
— Quero que me ensine a atacar com uma faca, não só me
esquivar. — reclamo.
— Você tem mais chances de sobreviver fugindo de um ataque do
que tentando manusear uma faca.
— Vamos Lazzaro do que tem medo? Prometo não machucá-lo. —
escarneço, o segurança ajeita sua postura e me encara feio.
— Parece que há um conflito aqui. — ouço atrás de mim, me viro
e vejo Riccardo Fiore em uma cadeira de rodas, ele veste um terno preto
que parece grande em seu corpo debilitado. Atrás dele, um cara talvez um
pouco mais velho que Franco, o empurra em nossa direção.
— Senhor. — saúdo com um sorriso, gentil, tentando focar apenas
em seus olhos, que já perderam o brilho.
— Qual é o impasse? — ele quer saber, encaro Lazzaro antes de
responder.
— Lazzaro só quer me ensinar a fugir dos ataques.
— Você tem mais chances de viver. — diz como se já tivesse
cansado de repetir isso.
— E se eu não tiver para onde fugir faço o que, morro? —
Riccardo ri.
— Ela está certa Lazzaro.
— Eu não vou atacá-la.
— Tudo bem, Domenico a enfrentará. — Riccardo avisa olhando
para o cara atrás de si e o semblante de Lazzaro se fecha enquanto o meu se
abre.
— Fiorella... — Lazzaro segura em meu cotovelo chamando a
minha intenção.
— Franco não gostará disso. — ele sibila.
— Então Franco pode falar comigo depois, — Riccardo intervém,
— ainda dou a última palavra aqui, espero que não precise lembrá-lo disso.
— Não, senhor. — o segurança parece que foi castrado dando um
passo atrás.
Meu coração acelera quando o Senhor Fiore manda Dom subir no
tatame.
Tiro minha jaqueta jogando em um canto do chão, estou vestindo
apenas o conjunto de uma legging verde escura e uma blusa que se parece
muito com um tope. O frio passa pela minha barriga, mas é apenas a
ansiedade.
Domenico se aproxima, seus cabelos pretos e seus olhos claros me
lembram um pouco de Franco.
— Ataque Dom, mas não forte o suficiente para seu primo querer
matá-lo. — um brilho cruza pelos olhos de Domenico, e ele assente
positivamente.
Céus, o cara é tão grande quanto Lazzaro, chegando a ficar uns dez
centímetros mais alto que eu. Ele estala o pescoço com um sorriso e se
aproxima, a sua mão não perde tempo e se ergue em direção a minha face,
passo por baixo do seu braço e lhe acerto uma cotovelada no centro das
costas.
Ouço uma vaiada passar pelos lábios de Riccardo, quando Dom se
vira para mim, com um riso. Ele jamais me deixará ganhar, nem que precise
me quebrar inteira.
Dom avança, dessa mais rápido como eu previa, giro para fora do
seu golpe, sentindo meu coração começar a acelerar. Pelo visto eu feri
gravemente o ego de alguém.
— Vai começar a fugir? — pergunta e fico surpresa pelo seu tom
de voz ser agradável.
— Não, mas também não vou correr os seus braços. — digo, Dom
olha para o lado, possivelmente para o Capo, aproveito e avanço em sua
direção com a mão fechada, Dom segura em meu punho e me gira me
deixando com as costas coladas contra seu peito, bem firme.
— E agora? — ele sussurra em meu ouvido fazendo-me ter um
arrepio indesejado. Cravo os dentes em seu braço, ele grunhe e afrouxa o
aperto, aproveito a mobilidade, e lhe acerto uma cabeçada em cheio no
nariz. Dom me atira no chão com força, eu caio de quatro, sentindo meu
pulso latejar, estou me erguendo quando Domenico me empurra de volta
para o tatame com força.
— Domenico chega. — Riccardo avisa, encontro os olhos de Dom
sua face está vermelho resplandecente, com sangue escorrendo pelo nariz,
mas ele já está em ação com seu próximo golpe e me acerta em cheio um
chute no quadril que me arranca um grito e me faz rolar para fora do
tatame.
Fico deitada de costas, recebendo picos de dor, cerro os dentes,
para não emitir um gemido. Domenico se aproxima, e a preocupação está
estampa em sua face, Lazzaro empurra o homem para longe.
— Você tá muito fodido. — ele vocifera, antes de se abaixar ao
meu lado.
— Está doendo muito? — questiona.
— Não. — minto, — Só me ajude a levantar. — peço incapaz de
lhe estender a mão, pois estou abraçada em meu corpo contendo a dor.
Lazzaro me puxa e eu gemo alto.
— Vamos entrar e por gelo nisso. — Riccardo fala e faz um sinal
para Dom ir à frente.
— Não precisa, eu estou bem. — digo, quando Lazzaro passa os
braços ao meu redor e me puxa para seus braços. Faço cara de dor.
— Você entende porque ele fez isso? — Riccardo indaga.
— Seria humilhante apanhar de uma mulher. — respondo e o velho
assente.
— Você estava indo muito bem. — menciona direcionando sua
cadeira para a saída e Lazzaro o segue para dentro da mansão.
— O quão fodida eu estou? — questiono ao segurança, que me dá
um olhar feio.
— Você nada, mas Franco vai matá-lo.
— Ele não fará isso por causa de mim, e foi só um chute, não é
como se Dom tivesse me dado um tiro.
— Ele se importa com você Fiorella.
— Ele se importa com o acordo entre as máfias. — o segurança
comprime os lábios e não discute.
Assim que entramos na casa, Lazzaro me leva por um corredor,
entrando em uma sala em seguida. Carlota aparece por outra porta com uma
compressa de gelo.
— O que houve? — pergunta quando sou deitada por Lazzaro em
um sofá.
— Dom chutou Fiorella. — Riccardo expressa.
— O que? Mas por que ele fez isso? — ela pergunta atordoada.
— Foi sem querer. — minto, Dom me acertou sem dó ou piedade.
— Nos dão licença. — a mulher pede ainda surpreendida, ela
espera os dois sair e com sua ajuda eu puxo a legging para baixo ficando
apenas de calcinha.
A compressa fria em meu quadril me faz arrepiar inteira, relaxo no
sofá, me sentindo culpada se algo acontecer com Dom, ele revidou e pela
expressão que ele me olhou lá, percebeu que pegou pesado.
— Quer tomar um analgésico?
— Sim, por favor.
Carlota me deixa só, tiro a bolsa d’água e enxergo vários pontinhos
roxos em minha pele pálida. Que merda! Escora-me para trás e ouço uma
discussão vindo do lado de fora, tenho certeza que é a voz de Franco, me
ajeito sentindo pontadas de dor, mas preciso saber o que está acontecendo.
Puxo a calça para cima e ela pressiona a minha lesão, ranjo os
dentes e ando até a porta pela qual Lazzaro e Riccardo saíram. Abro uma
fresta e enxergo o meu marido aos socos com seu primo, no meio do
corredor.
Franco desfere três golpes um atrás do outro na face de Dom, o
corpo dele vacila caindo para trás.  E Franco sobe em cima dele, uma perna
posiciona em seu peito e outra no pescoço.
Meu corpo inteiro é tomado de desespero, estou congelada no lugar
quase hiperventilando, vendo Franco pegar uma faca do paletó, meu
coração bate em minha cabeça, me deixado desorientada.
Abro mais a porta, minhas pernas falham e caio para fora, os olhos
de Franco encontram os meus, mas ele me ignora, fazendo um sinal com a
cabeça para Lazzaro, que ocupa toda a minha linha de visão em segundos, e
antes que me pegue do chão, os gritos de dor e desespero de Domenico
ecoam pelo corredor, e reverberam por toda a minha alma.
Meus olhos são tomados pelas lágrimas. Lazzaro me coloca no
sofá, e me dá um olhar feio quando tento me erguer novamente.
— Fique aqui se você não quer mais confusão.
Carlota entra por outra porta com um copo d’água e um frasco de
remédio.
— O que está havendo? — amparo a face com as mãos incapaz de
falar, nisso a porta se abre e Franco passa por ela, sua expressão é perversa.
— Franco o que você fez? — Carlota olha para a mão do filho que está
manchada de sangue até o punho. A náusea bate em meu estômago tão forte
quanto o chute de Dom.
— Nada comparado com o que eu devia ter feito. — fala exalando
irritação. — Nos deem licença.
Meu coração se aperta e tenho vontade de me segurar em Lazzaro,
mas não o impeço de sair acompanhado por minha sogra, assim que ela me
entrega o copo e o remédio. Minhas mãos tremem e não tenho nem como
disfarçar.
— Está com dor? — pergunta pegando o remédio e abrindo o
frasco agilmente.
— O que você fez com ele? — pergunto baixinho entre as lágrimas
incessantes.
— Arranquei sua orelha. — meus lábios se separam pasma, e
Franco me entrega um comprimido com mão limpa, — Eu teria decepado a
perna se eu tivesse um facão. — seu tom de voz sobe.
Engulo o comprimido com um longo gole d’água.
— Não entendo porque está sofrendo por ele. — expressa nada
contente, tomando o copo da minha mão e o soltando ao lado, — Baixe a
calça, eu quero ver.
Fico de pé ignorando a dor, e desço a legging, e antes que havia
apenas alguns pontos roxos, agora se transformaram em uma mancha plena
e escura.
— Desgraçado! — Franco pragueja ficando em pé, o seguro pelo
braço, o impedindo de sair, para onde quer que ele queira ir.
— Eu quero que o médico olhe isso.
— É só um hematoma, com o tempo vai sair Franco.
Seu semblante se suaviza por um instante, e ele solta um suspiro
baixinho.
— Eu devia matá-lo, e punir o Lazzaro por deixar algo assim
acontecer com você.
— Lazzaro não teve culpa, o seu pai mandou que ele não se
metesse, o que ele poderia fazer? — vejo seu pomo-de-adão subir e descer,
pensativo. — Podemos ir para casa?
Ele assente.
 

 
Entro na banheira com ajuda de Franco, a dor não está mais aguda
e é suportável, mas ele acha que com a sorte que tenho posso escorregar,
cair e morrer. E quem sou eu para discordar.
— Não está com raiva de mim? — pergunto quando ele se vira
para me deixar sozinha no banheiro.
Franco para diante da porta, sua expressão está contida, não
exibindo emoção alguma.
— Não. — diz e se escora no batente, — Preferia que não tivesse
acontecido. Domenico é um Homem de Honra, talvez Riccardo confie mais
nele do que em mim, no entanto, pisou onde não devia.
— Ele não vai revidar?
— Só se ele quiser morrer. — fala e me deixa só.
Que caralho de confusão, reflito escorando a cabeça na cerâmica.
 
 
 
 
É Natal! A casa está enfeitada até o teto, já que Franco não me
deixou treinar até que o hematoma sumisse totalmente, resolvi transformar
a mansão na vila do Papai Noel. Franco não pareceu muito contente, mas
estava entediada para cacete, então peguei Nádia emprestada de Elói e
fomos às compras.
Meu telefone toca na estante, corro para buscá-lo, é uma chamada
de vídeo das meninas.
— Feliz Natal! — cantarolamos as três.
— Como estão? — questiono.
— Ansiosas para o ano que vem, chegamos aí na segunda semana
de janeiro.
— Eu não vejo a hora. — respondo.
— Está toda arrumada, já vão sair? — Hell pergunta e fico de pé,
mostrando o meu vestido sereia, longo e vermelho escuro, todo de
brilhantes, gritando luxúria, foi o valor de um carro. Sorri, Franco terá uma
surpresa com a fatura.
— Sim, Franco está terminando de se arrumar.
— Esse decote consegue ser quase maior que o vestido de noiva.
— Sienna desaprova, fazendo Hell revirar os olhos.
— É a Ella? — ouço papai perguntar, eu não converso com ele
desde a despedida no hotel Plaza. — Sim, você quer falar com ela? —
Sienna pergunta na mesma hora que vira o celular na direção dele.
Olhamo-nos e o silêncio se estendeu, só se passou um mês e meio
desde que fui obrigada a deixar Chicago, pensei que fosse sucumbir de
saudades dele, mas não sinto nada além de desgosto. A sua expressão me
encara neutra, embora seus olhos não filtrem suas emoções.
— Como Dona está? — pergunto sem fingir alegria, ele nos pôs
nessa situação, agora aguente.
— Ela está bem, sente sua falta.
— E você?
— Oh, Ella. — emite pegando o celular e dando as costas para as
meninas. — Você sabe que sim.
— E como eu poderia saber? Você foi embora e não ligou. — digo
com amargura.
— É melhor assim, para você criar laços com sua nova família. As
meninas disseram que você parece feliz.
— Eu levei um tiro pai, e parecer feliz, não é estar feliz. —
respondo e me pego desejando não estar conversando com ele. — Dê Feliz
Natal ao Dario. — falo e encerro a chamada, com vontade de jogar o
telefone longe.
Solto o aparelho com força, e quando me viro enxergo Franco nos
últimos degraus da escada. Ele está em um impecável terno preto, sua
vestimenta habitual.
— Estava dando feliz natal a minha família. — explico.
— Eu escutei. Ainda sente raiva porque foi obrigada a se casar? —
pergunta se aproximando de mim e trazendo consigo o meu casaco de pele
branco.
— Tenho raiva porque ele não me deu escolha.
— Eu também não tive. — diz me ajudando a vestir o casaco, —
Sabia que Ettore era pra ter se casado com sua irmã.
Viro-me para Franco, chocada.
— Como assim?
Franco aperta os lábios, quem sabe se dando conta de que não
devia ter entrado nesse assunto.
— Depois que Rocco morreu, o acordo teve que ser ajustado. Meu
pai propôs ao Carlo que Ettore se casasse com Sienna. Seu pai recusou, ele
não aceitaria nada menos que um herdeiro, então Riccardo aceitou me casar.
— Quando foi ajustado o acordo?
— Há anos, mas eu só soube que teria que casar um dia antes de
conhecê-la.
— E Enrico? — pobre menino.
— O acordo não duraria mais dez anos, se não houvesse um
casamento logo. — fala e fico surpresa pela honestidade. — Vamos já
estamos quase atrasados.
 

 
Chegamos à mansão dos Fiore, e vários carros se estendem ao
longo do pátio, há mais seguranças do lado de fora que o normal.
— Lazzaro não poderá ficar de olho em você o tempo inteiro,
então não saia da minha vista.
— Por quê? Algum ruim vai acontecer?
— Eu não sei, mas não confio no meu tio Vitto, ele...  — Franco
me olha com os lábios pressionados, indecisos se deve continuar o assunto,
ele quer confiar em mim, mas não sabe se deve.
— Ele acha que seu pai está debilitado demais para comandar, e
você teme que ele use o Natal para se tornar o próximo Chefe. Os Natais
em Chicago são semelhantes, por isso depois da invasão passamos a
comemorar apenas com a família. — falo, e Franco assente.
— Quem sabe ano que vem passamos a fazer assim também. —
sorrio.
Descemos os dois, Franco deslizou as mãos para as minhas costas
e me puxou contra seu corpo, o caminho até a casa foi rápido, olho para
Franco e sua expressão é uma mistura de imponência e severidade. Ele olha
para mim, e sua máscara descongela por milésimo de segundos.
Atravessamos as portas e adentrando uma extensa sala de estar, o
silêncio se propagou e todos os convidados se voltaram para nós, até Franco
tirar o meu casaco e exibir meu fabuloso vestido, e algumas senhoras
começam a me elogiar. Senti-me exposta como no dia do casamento e
minha sogra veio em minha direção com um largo sorriso
— Céus, você está incrível! — sorrio gentilmente, sentindo a mão
do meu marido deslizar pelas minhas costas e apertar meu bumbum
sutilmente.
— Se comporte e não beba, quero você consciente. — fala só para
eu ouvir. Assinto.
Meus olhos varrem a sala conforme andamos, em um canto muito
reservado em poltronas de couro escuro, há alguns homens de terno,
sentados, bebendo uísque e fumando charuto, até o pobre Enrico que devia
estar brincando com qualquer coisa, está no meio deles. Do outro lado, há
uma distância razoável, as mulheres conversam entre si, bebem vinhos ou
espumante.
— Vou roubá-la por um momento. — Carlota engata seu braço no
meu e me leva em direção às mulheres, muitas delas estavam no chá
daquela tarde.
Elas elogiam cada fio do meu cabelo, me deixando sem graça, não
entendo como elas são imensamente simpáticas, quando Edwina é o poço
do ódio comigo. Pensando no diabo, ela entra na sala usando um vestido
preto e segurando uma taça, ao seu lado Verônica em um vestido azul
escuro, ambas me encaram rigidamente.
— Uau, elas te odeiam. — tenho um sobressalto, quando ouço
atrás de mim. Viro-me e uma garota, talvez um pouco mais velha que eu, de
olhos e cabelos escuros, sorri. Encaro-a sem reação, acredito que nunca nos
vimos antes.
— Eu me chamo Beatriz.
— Fiorella. — me apresento.
— Todo mundo sabe quem você é. — comenta e me puxa pelo
braço sutilmente, — Ignore Edwina como eu faço, nenhuma das duas vale o
estresse.
— Quem é você? — pergunto, pois poucas pessoas falariam mal da
filha do Chefe tão abertamente.
— A bastarda de Riccardo Fiore. — diz simplesmente e precioso
cerrar a mandíbula para meu queixo não cair. Franco nunca me disse que
tinha uma irmã, bem, na verdade ele não me contou muita coisa.
— Oh, eu não sabia... — expresso sem saber o que dizer.
— Tudo bem, não é segredo, mas prefiro ficar longe dessas festas
sempre que posso.
— Queria poder também. — ela sorri.
— E como é estar casada com Franco? Ele é muito babaca? —
olhamos para o meu marido do outro lado da sala e seus olhos estão em nós.
— Uma montanha russa. — a garota ri.
Carlota se aproxima de nós com um álbum de capa bordo, e logo
atrás dela uma governanta com um quadro de uns trinta centímetros ou
mais.
— Franco disse que você adorou o quadro do escritório e pediu
que eu fizesse um para você.
A governanta vira o retrato, e as mulheres se aproximam para olhá-
lo também. A foto foi captada instantes depois que Franco pincelou o meu
nariz com o glacê do bolo, estou com um sorriso amável e com a ponta do
meu nariz branco, Franco está me olhando e seu sorriso também parece ser
verdadeiro.
— Muito lindo, obrigada. — pego o quadro com a moldura de
metal claro, com certeza de ouro branco.
— Vou pedir para o Lazzaro pôr no carro, junto com o álbum de
fotos.
Agradeço e Carlota nos deixa a sós levando os presentes.
— Mora aqui na mansão? — questiono.
— Não, moro com Giovani, ele é subchefe em Boston.
— Está casada há muito tempo? — pergunto enquanto nos
sentamos em poltronas escuras.
— Há três anos, foi arranjado como o seu.
— Você é feliz? — ela me dá um sorriso que não alcança os olhos.
— Você é? — pergunta, retribuo o sorriso, pois não sei o que dizer,
Franco e eu estamos vivendo civilizadamente, ele tem passado mais tempo
em casa, e notei que fica mais propenso a conversar depois do sexo.
— Não sei como conquistá-lo. — confesso e me arrependo quase
que no mesmo instante, mas é tão cansativo passar por tudo isso calada.
— Você deseja um casamento de verdade? — pergunta baixinho se
inclinando para frente.
— Sou idiota por querer isso? — digo tão baixinho quanto ela.
— Não, precisamos nos agarrar no que temos, seja por dever ou
não, infelizmente essa é a nossa realidade.
— Eu só não sei como faço.
— Vocês fazem aquilo? — pergunta e faz um sutil gesto com a
mão fazendo-me rir.
— Quase todo dia. — Beatriz arregala os olhos.
— Se ele te procura sempre, não deve ter amantes. — sussurra. —
Você procura por ele?
Mexo a cabeça em negação.
— Venha, vamos dar uma volta. — diz ficando de pé, faço o
mesmo, encarando Franco antes de deixar a sala, ele não está com a
expressão das melhores.
— Minha mãe era uma puta de luxo, foi assim que ela conheceu
Riccardo. — diz quando alcançamos uma varanda. — Ela falou que os
homens são todos iguais quando se trata de sexo. A lista de clientes dela era
a maior da agência. — comenta com orgulho.
— O que ela fazia? — Beatriz da de ombros.
— Ela disse um dia, que as bocetas são todas iguais o que muda na
hora do sexo é o que você sabe fazer para diferenciar a transa. Usar um
brinquedo, um chicote, uma fantasia e principalmente, saber chupar bem
uma rola. — coro, ficando da cor do meu vestido, Beatriz ri.
— O quê? Não vai me dizer que você nunca caiu de boca nele.
— Eu não tenho ideia do que fazer. — Bea ri alto.
— Uau! Você deve ter uma boceta de ouro. — rio, relembrando a
quantidade de vezes que Franco diz que sou apertada pra cacete, será por
isso que ele nunca se importou? Ou será que alguém anda fazendo essa
parte no meu lugar?
Argh! Merda de pensamento.
— Imagine que é um picolé maravilhoso e chupe como se fosse
acabar o mundo. — ela ri provavelmente da minha expressão, — Ou seja
apenas  espontânea.
Sorrio e assinto pensativa. Eu consigo ser espontânea,
normalmente as metades das besteiras que eu faço é sempre sem pensar.
Entramos em seguida, Franco pediu para eu não sumir das vistas dele, e cá
estou eu em uma sacada no segundo andar, conversando sobre minha vida
sexual com uma completa estranha, que não me fez sentir estranha ou mal
em momento algum.
Busco por Franco quando chegamos ao primeiro andar, mas não o
vejo em lugar algum.
— Franco foi procurá-la. — Edwina diz, sem muita vontade, mas
seus olhos me encaram me passando uma sensação ruim. 
— Eu vou encontrá-lo.
— Ótimo, o jantar sai em dez minutos. — Carlota avisa.
Peço licença a Beatriz e começo a procurar por meu marido.
Entro em um longo corredor, com várias portas e corredores que se
ligam. Talvez seja mais fácil pedir para Lazzaro ir atrás de Franco do que eu
me esgueirar sozinha pela mansão. Desço até o fim sem muita esperança de
achá-lo e quando viro para o próximo corredor encontro Franco e Verônica.
Os dois estão próximos demais e Verônica está sorrindo e
segurando em sua gravata com as duas mãos, possivelmente tentando
ajustar o nó. Ambos me olham no mesmo instante, permaneço estática
desejando ficar invisível ou somente desaparecer. Dou um passo atrás
voltando para o corredor e indo em direção à festa. Sei que não devia estar
me sentindo mal, pois não presenciei nada de mais, apenas uma conversa
muito íntima, entre o meu marido e a mulher com quem ele não pode ficar.
Aperto o passo me sentindo desolada, e com o choro preso na
garganta. 
— Fiorella. — Meu nome ecoa até mim, olho por cima do ombro,
Franco está logo atrás andando com passos largos. Só não saio correndo
dele, pois o vestido longo e os saltos não me permitem.
De repente sou pega pela cintura e puxada para trás com força.
— Pare de fugir. — diz em meu ouvido. Tento me livrar dos seus
braços, mas nem que eu quisesse conseguiria, Franco é forte demais. Ele me
guia para uma sala ao lado, e uma luz fraca se acende.
Franco me solta e me vira para ele, obrigando-me a encará-lo. Sua
face inflexível, suaviza em instantes quando enxerga a minha.
— Eu não sei o que você acha que viu, mas não estava
acontecendo nada. — explica calmo.
— Você sabe muito bem o que eu vi, e talvez não tenha acontecido
porque eu cheguei. — minha voz sai o oposto da dele.
— Estava te procurando, disse para não sair das minhas vistas. —
seu tom de voz aumenta, e minha indignação também.
Ele fala como se a culpa fosse minha.
— E você desistiu assim que aquela vaca surgiu no seu caminho.
— escarneço e sua face fica carmesim. — Seja imparcial pelo menos uma
vez, Franco, e se coloque no meu lugar. — limpo as lágrimas do contorno
do rosto.
— Eu te dou a minha palavra que não estava acontecendo nada.
O encaro tentando engolir sua mentira, pois aqui não é o lugar para
ficarmos discutindo, mas hoje à noite quando chegarmos em casa eu vou
querer bem mais que só a palavra dele como jura.
— Tá bom. — digo tão baixo, que não tenho certeza se ele
escutou.
Franco segura em meu rosto, e seus polegares limpam minhas
lágrimas.
— Não chore, Fiore. — Chupo meu lábio inferior sentindo-o
salgado. Franco se aproxima e me beija devagar e seus braços envolvem o
meu corpo docemente, então ele diz contra os meus lábios: — Precisamos
subir.
Franco pega a minha mão e me puxa, me levando em direção à sala
de jantar. As pessoas estão se sentando quando adentramos. A minha sogra
caminha em nossa direção preocupada.
— Você está bem querida? Está pálida.
— Estava me sentindo um pouco enjoada. — minto, e ela me
encara surpresa. — Assim que comer ficarei bem.
— Claro. — diz sinalizando nossos assentos em uma mesa com
pelo menos 16 cadeiras. Franco me conduz pela mão na direção de dois
lugares vagos, quase ao meio da mesa.
Ele puxa a cadeira para mim, e desliza ao meu lado. Do outro lado
da mesa em frente ao Franco sua irmã está sentada, na minha frente
Verônica e ao seu lado o Domenico, fazendo o meu estômago embrulhar,
não consigo encará-lo, pois meus olhos insistem em parar na sua cicatriz,
onde devia haver uma orelha ainda há pontos pretos. Franco desliza a mão
por baixo da mesa, e alisa minha perna, devo estar com um semblante
claramente péssimo para ele ter feito isso.
Respiro fundo, e percebo que Ettore está ao meu lado, ele me dá
um sorriso gentil, e retribuo.
Em seguida a sala é invadida pelos garçons que começam a
entregar os pratos na mesa.
— Cordeiro assado, com batatas gratinadas... — me perco na
explicação de Carlota quando outro garçom se aproxima com as bebidas.
Começo a comer em silêncio e escuto apenas Edwina rindo
espalhafatosamente, me dando nos nervos. Cerro o meu bife, imagino a
língua das duas no lugar. Olho para Franco, ele está conversando com seu
tio Vitto do outro lado.
— E o que está achando de Nova Iorque Fiorella? Sente saudades
da família? — a mulher ao lado de Vitto, pergunta silenciando a mesa.
— Não tive muitas chances de conhecer Manhattan, mas o pouco
que vi adorei. — digo esbanjando doçura, — E Franco é a minha família
agora. — respondo e meu sorriso se abre luminoso para o meu marido.
Nossa eu devia ser atriz.
Escuto alguns Oh, na mesa, e a vontade de revirar os olhos é
enorme.
— Edwina pode levá-la para conhecer a cidade. — Riccardo
sugere, e nós duas nos entreolhamos, prefiro ser chicoteada a ter que
passear com essa cadela.
— Ela já é uma mulher casada, não devia ficar passeando por aí.
— Edwina comenta acidamente.
— Sou a esposa de Franco, não sua prisioneira, Edwina. Quando
chegar a hora do seu casamento, — digo carregada de maldade, — o que
acredito que será em breve você me entenderá melhor. — sinto os olhos de
Franco em mim, mas estou fula demais para me importar se estou passando
dos limites.
— O que te faz pensar isso? — ela pergunta se inclinando para
frente e segurando a faca com tanto força que os nós dos seus dedos ficam
brancos.
— A sua idade e seu comportamento insolente. — respondo sem
conseguir conter uma pitada de irritação, e o que nos impede de nos
agarrarmos é apenas a mesa no nosso caminho.
— Isso é algo a se discutir, mas não na ceia do Natal. — Riccardo
fala naturalmente, terminando de mastigar um pedaço de cordeiro.
— Pai? — a garota o chama, parece suplicante.
— Agora não, Edwina. — sua voz é calma, mas me dá medo.
O jantar seguiu com o clima de funeral pelo menos para mim e
minha cunhada, se eu fiquei com pena dela? Nenhum pouco. Talvez assim
ela seja mais humana e se coloque no meu lugar. Eu não desejo um
casamento arranjado nem para o meu pior inimigo, mas eu abro uma
exceção para ela.
 

 
O caminho para casa foi longo e silencioso, Franco não trocou uma
palavra comigo, durante ou depois do jantar e eu estou exausta demais para
entender o mau-humor dele.
Entro no quarto e solto os sapatos depois me atiro na cama e fico
encarando o teto me sentindo letárgica. Estou quase pegando no sono
quando o escuto entrar, me apoio nos cotovelos para olhá-lo e Franco me
ignora notoriamente.
— Franco, eu não podia ficar calada. — explico, odiando ter que
fazer isso.
— Mas devia. — fala asperamente, o encaro desacreditada,
enquanto ele tira o paletó e caminha para o closet.
— Edwina vive me atacando, eu não vou baixar a cabeça para ela.
— replico, e fico de pé tirando o vestido. Quando Franco volta para o
quarto estou deslizando em uma camisola de cetim vermelha.
— Você sabe em qual posição a colocou hoje?
— Na mesma que estou agora, um casamento de mentira. — digo
as últimas palavras com raiva.
— Eu não estou com saco para isso agora Fiorella. Vá dormir. —
ele ordena e desliga a luz do quarto, fazendo o sangue subir para minha
cabeça.
Caminho até o interruptor e acendo as luzes.
— Ela me falou de você e da Verônica. — digo quando ele está se
aproximando da cama, mas Franco não diz nada, apenas se deita. — Você
deu um anel para ela. — exclamo.
— Isso não te diz respeito, agora desligue a luz e vá dormir.
— Não diria se fosse o seu passado, mas ela está presente o
maldito do tempo inteiro.
— O que você quer de mim, Fiorella? — Franco senta, seus olhos
gritam fuja, mas finco o pé no chão, pois não tem para onde fugir.
— Uma resposta. — digo, já estou farta de aguentar tudo calada
sem saber o que eu devo esperar desse casamento. — Pretende me amar um
dia ou esse casamento será por dever para sempre?
— Porque gosta de complicar tudo?
— Eu quero uma resposta, Franco.
— Eu não tenho uma resposta para essa pergunta. — sua voz sobe
gradativamente, me fazendo estremecer.
Meu coração parou por um momento enquanto eu compreendia sua
resposta. Tentei engolir o nó que se formou em minha garganta enquanto
dava um passo para trás. Franco podia nunca me dar seu coração, mas eu
queria ao menos fingir que ele seria meu algum dia, mas nem essa
esperança ele quer me dar.
— Então quando tiver me procure. — aviso deixando o quarto.
Fecho a porta e me escoro contra ela com uma dor crescente no
peito, fico remoendo se essa não foi a pior decisão que já tomei desde que
cheguei aqui. Franco pode nunca ter uma resposta e seremos para sempre
dois estranhos morando juntos.
 

 
 
 
É véspera de ano novo, e estou feliz que não há nenhuma festa para
ir. Já Franco ainda não voltou para casa. Faz exatamente uma semana que
não trocamos uma palavra, o silêncio está me matando. O vi pouquíssimas
vezes antes de ele sair para trabalhar, mas não o vi retornar nenhuma vez.
Eu abri a porta para ele correr para os braços da Verônica, isso
pulveriza minha alma, ainda mais quando lembro o que ele me disse
semanas atrás: Você entende que eu teria que me satisfazer fora de casa,
não é?
Não, eu não entendo!
Caminho até a cozinha, e nem mesmo Lazzaro está presente,
sentado em frente à ilha bebendo um café, apenas muitos homens de preto
espalhados pelo gramado, isso é quase uma prisão.
Abro a geladeira sem vontade alguma de comer, iguais aos últimos
dias. Mas tiro um pote de doce de leite de maracujá e solto na ilha. Suspiro,
já faz quase dois meses e ainda não sei onde ficam os talheres. Quando por
fim encontro uma colher o meu telefone toca.
— Oi Hell.
— Aquele ordinário ainda não voltou? — pergunta fazendo-me rir.
— Não, mas tudo bem.
— Não está nada bem, Ella, ele não devia te deixar passar a
virada do ano sozinha. Isso é... — ela suspira.
— Triste. — completo, — Ainda faltam dez minutos, e não faria
diferença, pois não estamos conversando.
— Você precisa resolver isso.
— O tempo vai resolver.
— Argh! Você parece a Dona falando. — rio.
— Quer que eu faça o que?
— Se anime, vai tomar umas cachaças é Ano Novo você está
sozinha, então pelo menos aproveite e enlouqueça.
— Aí está um tédio, não é?
— Tédio é um eufemismo, seu pai convidou apenas Teodoro,
Romeo e Piero para o jantar, Sienna está fazendo sala, ou seja, estou
sozinha como você.
Fico mais um tempo conversando com Hell, mas subo para o
quarto em seguida, tiro o meu vestido branco, e deslizo em uma camisola de
renda preta.
As minhas roupas permaneceram no closet junto com as de Franco,
mas eu continuo dormindo há quatro quartos de distância dele. Nádia tem
arrumado o meu cômodo todos os dias, mas não perguntou sobre nada,
apenas o deixou mais confortável para mim, com quadros, tapetes e
poltronas.
Caminho para o quarto onde estou dormindo e quando me deito
escuto a explosão de fogos lá fora, até me levantaria para assistir, mas não
estou com ânimo pra nada. Meu primeiro ano novo, casada e vou passá-lo
sozinha.
Não sei o que pensar disso.
Escuto os últimos fogos, encarando o teto e sentindo o coração
acalmar. Esses últimos dias tem sido um inferno dormir sozinha. Franco
ocupava metade da cama e ainda assim era tão confortável. Odeio sentir
tanta falta dele, gostaria de saber como passei de odiá-lo intensamente por
isso que estou sentindo agora: saudades. Argh!
Estou encontrando o meu sono quando ouço a porta do quarto ser
aberta. Ergo o olhar e Franco está parado em frente à porta, sua camisa
social preta está desabotoada revelando uma faixa branca enrolada em suas
costelas.
— Franco. — balbucio, quando seus olhos azuis profundos e
intensos como um furacão encontram os meus.
Ele adentra o quarto parando aos pés da cama, e com um
movimento simples arranca a minha coberta. Sua mão agarra meu calcanhar
antes que eu pudesse encolher as minhas pernas, e Franco me arrasta até a
extremidade da cama com um puxão firme, o meu coração pareceu perder
uma batida no caminho. Seu rosto se contrai possivelmente de dor.
Franco cai sobre mim, impedindo-me de fechar as pernas, e se
apoia com uma mão próxima a minha cabeça. Seus cabelos estão rebeldes,
e parece que há fuligem no contorno da sua face.
— O que está fazendo, Franco? — pergunto, quando sua mão
desliza para dentro da minha camisola alcançando o meu seio, seguro em
seu braço e os afasto de mim.
— Eu preciso de você. — fala, simplesmente como se nada tivesse
acontecido a semana inteira e sua mão agarra na tira da minha calcinha.
— Franco não.  — peço tentando contê-lo.
Não vou me entregar a ele, só para suprir suas necessidades.
— Não dessa forma. — o empurrando para trás pelos ombros.
— Você é minha esposa. — adverte.
— Só no papel! Eu não te devo nada. — exclamo e firmo os
calcanhares na extremidade do colchão e me empurro para cima, saindo
debaixo dele, Franco agarra o meu tornozelo e quando me puxa lhe acerto
um chute com força nas costelas, bem onde está a faixa branca. Ele solta
um gemido agoniado e cai para frente se apoiando no colchão com as mãos.
— Eu disse não!
— Eu... — ele me interrompe num sussurro, Franco leva uma mão
ao peito e rola para o lado caindo no chão, o baque do seu corpo contra o
piso de carvalho me faz estremecer.
Pulo para fora da cama e acendo a luz. Me aproximo de Franco, ele
está estático com um braço amparando as costelas.
Que coisinha linda e vulnerável, penso o analisando e me pego
indecisa entre chutá-lo para deixar de ser babaca, ou ajuda-lo a se levantar.
— Quer me matar?
— Não, mas te dar uma surra com certeza. — o início de uma
risada se inicia, mas termina com Franco gemendo. — Eu não devia ter
vindo. — fala depois de um momento e seus olhos refletem a culpa.
— É, não devia. — saio do quarto e o deixo no chão, se não
precisa de mim, que se vire para se levantar sozinho.
Entro na suíte principal, encontro o paletó em frangalhos e as
armas jogadas em cima da cama, empurro tudo para um canto e me deito na
cama, imaginando o que aconteceu para fazê-lo agir dessa maneira.
Fecho os olhos e imploro para o sono vir, meus pensamentos ficam
presos em Franco em meu quarto, eu não devia sequer me preocupar com
ele, depois da forma que ele me tratou. Obrigo-me a ficar deitada nem que
seja para ficar rolando na cama.
Horas se passaram e ainda estou com os olhos arregalados.
— Inferno! — pulo da cama e ando até o meu quarto, e ele está
atirado no mesmo lugar.
Olha só o futuro Capo Dei Capi, não consegue nem se levantar do
chão, escarneço mentalmente, devia ter trazido o celular para tirar uma foto.
Cutuco Franco com o pé, pois a bela está adormecida, seus olhos
se abrem vagarosamente e me encaram com atenção. Sem dizer nada me
abaixo uns vinte centímetros e lhe estendo a mão, ele agarra em meu
antebraço e o puxo para cima com um gemido.
Franco rola para minha cama e fica deitado de barriga para cima.
Ele respira pesadamente e ergue a cabeça para me olhar.
— Venha aqui. — ele pede gentilmente.
— Não. — respondo mexendo a cabeça juntamente, e deixo o
quarto fechando a porta.
Deito-me outra vez me sentindo bem por ter ajudado, mas nossa
situação não irá se resolver assim. Olho para o relógio antes de adormecer, e
já passou das quatro horas da manhã, bela forma de começar o ano.
 

 
Quando acordo, Franco está sentado ao pé da cama polindo suas
facas. Ele está apenas de cueca, e seu cabelo molhado escorre algumas
gotas para suas costas, que são amparadas pela faixa branca presa ao seu
tronco.
— Eu quero que fique neste quarto, o seu lugar é aqui comigo. —
diz deixando-me surpresa, tanto por saber que acordei quanto por suas
palavras.
— Isso é uma ordem? — pergunto me sentando.
Ele se vira e me encara.
— Não. Ontem eu… — ele aperta os lábios, — Eu não queria
assustá-la, nem machucá-la.
— Não foi o que pareceu.
— Eu sei e lamento. — ele solta as facas e se vira para mim.
— Não volto sem uma resposta, seja boa ou ruim, eu não ligo. —
digo antes que ele me manipule com palavras bonitas, o que parece ser
quase impossível também.
Sua face se mantém neutra, como se estivesse congelada.
— Eu quero que seja minha esposa. Não apenas no papel.
Essa é a forma dele de dizer que tentará me amar?
— E Verônica? — pergunto, e seu pomo-de-adão oscila, enquanto
seus olhos me encaram com atenção.
— Rompemos há alguns meses. Estou tentando mantê-la afastada
Fiorella, mas não posso proibi-la de visitar Edwina.
— Você iria se casar com ela? — seus olhos se estreitam como
quem diz: não pergunte coisas que não deseja saber.
— Provavelmente, mas a Famiglia vem em primeiro lugar. — é
claro que vem.
— Nunca odiou essa vida?
— Não. Fui criado para ser quem sou e não me vejo fazendo outra
coisa.
— Queria poder dizer o mesmo. Fui criada para ser uma donzela,
mas prefiro mil vezes segurar em uma espada do que em uma agulha.
— Eu tenho uma coisa para você. — Franco fica de pé, e vejo que
até os pequenos movimentos lhe causam dor, ele anda até o closet e sem
demora volta carregando uma caixinha preta, estreita e comprida.
Ele senta em minha frente e abre à caixinha revelando uma faca
média de dois gumes, o cabo é vermelho igual à bainha de couro enfeitada
com pequenos diamantes. Franco a desembainha e me estende, meus olhos
analisam a lâmina de aço, tão claro que quase consigo me ver no reflexo
dela.
Pego a faca, e um sorriso se forma em meu rosto.
— Está afiada?
Ele mexe a cabeça em negação.
E quem é que precisa do fio quando se pode usar a ponta, penso
com um riso.
— É muito linda.
— Era pra ter te dado no Natal. — expõe pegando a faca e a
guardando.
— Eu não tenho nada para você.
— Não preciso de nada, apenas fique nesse quarto.
Franco está compassivo demais, que chega a parecer suspeito.
— Esteve com outra mulher? — pergunto de repente pegando nós
dois de surpresa, ele pressiona os lábios, talvez não gostando da minha
desconfiança.
— Não. — diz sem tentar me convencer.
Franco fica em pé e pega no recamier uma camisa social preta e
desliza pelos braços.
— O que houve com você?
— Longa história.
— Me conte. — peço me pondo de joelhos.
Ele mexe a cabeça em negação enquanto desliza uma gravata preta
pelo colarinho. Engatinho até ele parando em sua frente, e sentando-me nos
calcanhares.
— Quero saber por que está todo lanhado. — explico segurando
nas pontas da gravata e ficando sob os joelhos.
— Você sabe que tem coisas que eu não posso contar. — diz
enterrando seu nariz na curva do meu pescoço, e sua barba rala me faz
arrepiar inteira.
— Nem resumidamente? — questiono, deslizando as alças da
camisola pelos ombros.
— Você está me provocando? — comprimo os lábios e dou de
ombros, sentido a renda desliza para a minha cintura.
— Vai me contar?
— Bem resumidamente... — ele pondera e me empurra para trás
com cuidado. Esparramo-me na cama e Franco puxa minha as minhas
roupas pelas pernas.
— Franco? — chamo esticando uma perna até o seu peito, vendo
seu olhar lascivo perdido entre minhas pernas.
— Há meses estávamos esperando um contêiner vir de Bogotá —
diz se pondo em cima de mim, seus olhos desviam dos meus descendo pelo
meu corpo.
— Então? — pergunto com um riso, visivelmente os homens
pensam com a cabeça de baixo, Franco não consegue nem raciocinar.
— Eu posso resumir depois? — Rio.
— Não!
Ele suspira.
— Nele tinha uma tonelada de cocaína. — assinto e minhas mãos
agarram a extremidade da sua cueca, e a deslizo para baixo. Seu membro
pula para fora, e me pego pensando se eu é que quero saber o fim da
história.
— E... — Franco balbucia abrindo minhas pernas com as suas, seu
pau bate em meu sexo, quente e pesado e brinca na minha entra. — Ettore e
eu fomos supervisionar a descarga, e quando os caminhões estavam cheios
apareceu meia dúzia de homens, talvez mais, armados.
— Eles roubaram a carga? — pergunto surpresa.
Franco solta um riso involuntário, como se eu tivesse perguntado
algo absurdo.
— Não.
— E quem tentou roubá-la?
— O resumo acaba aqui, Fiore. — Franco diz e na hora que seus
lábios tomam os meus o seu telefone começa a tocar em algum canto do
quarto, ele solta uma sequência de palavrões, e se afasta puxando sua cueca
para cima, cobrindo sua ereção.
— O que foi cacete? — ruge para alguém do outro lado da linha.
Franco joga o telefone em cima da cama depois de um momento, e
começa a se vestir.
— Tudo bem? — pergunto, puxando o lençol para cima do meu
corpo e me sentando.
— Não. Se vista com algo quente, vamos para a casa dos meus
pais.
— Franco, eu não quero ir. — acredito que todos me odeiam,
inclusive Carlota depois que coloquei sua filha em maus lençóis.
— Você tem dez minutos para se aprontar. — avisa fechado o zíper
calça.
Evito revirar os olhos e desço da cama, quando passo por Franco
ele tenta apertar minha bunda, mas lhe dou um peteleco na mão, o
impedindo.
Entro no closet e coloco uma legging peluciada, botas de cano
longo, uma básica e sobretudo justo preto com botões dourados na diagonal,
e por último uma echarpe.
Atravesso o quarto e me escovo rapidamente, e quando entro no
quarto, ele está terminando de abotoar um pesado sobretudo cinza escuro.
— O que houve com suas costelas?
— Fraturei quatro na batida de carro.
— Você bateu o carro? — pergunto perplexa, ele aperta os lábios,
pesaroso. — Não acha melhor repousar? — Franco ri.
— Não se preocupe Fiore, já quebrei mais costelas que consigo
lembrar. — franze os lábios.
— Porque estamos indo para a casa dos seus pais? — pergunto
enquanto descemos.
— Meu pai quer me ver. — diz e minha barriga ronca quando
passamos pela cozinha e percebo que já está beirando à uma hora da tarde.
— Por que eu tenho que ir junto? — questiono o seguido para o
lado de fora.
— Lazzaro está ocupado, e minha mãe quer vê-la.
— Me ver? — questiono sentindo uma pontada de dor no
estômago.
— Ela só quer saber como está. — Franco esclarece, parando em
frente a uma moto, bem grande, preta. Ele puxa dois capacetes, preto fosco,
do guidão e me alcança um.
— Outro carro chegará mais tarde, — explica enfiando o capacete
e subindo na moto com agilidade, Franco ergue a viseira e me encara com
atenção. — Nunca andou de moto, não é?
Mexo a cabeça mecanicamente, ele sorri.
— Eu vou devagar, prometo. — sem opção enfio o capacete e subo
na garupa abraçando Franco com força, seus dedos pegam os meus e os
colocam dentro do bolso do seu casaco.
— Vamos providenciar umas luvas para você. — diz e arranca,
colo meu rosto em seu corpo, sentindo o vento cortante chicotear meus
cabelos.
Depois que os seguranças abriram os portões, chegamos à mansão
de Riccardo em menos de dois minutos. Franco estacionou e me ajudou a
descer, e depois de soltar os capacetes, passou um braço a minha volta e me
guiou para dentro.
— Está acontecendo algo ruim, não é? Estou com um mal
presságio. — menciono quando chegamos em uma sala.
— Sempre está acontecendo algo, Fiore. Não precisa temer, não
deixarei nada de ruim acontecer com você.
— Estou me referindo a você, Franco. — seus lábios se
entreabrem, mas se calam quando chegamos à sala de jantar, enxergo os
cabelos loiros da Verônica de longe. Encaro Franco, mas ele continua
andando me levando até a mesa, Carlota fica de pé assim que percebe nossa
presença com um sorriso amável, as meninas se viram para trás e
instantaneamente suas feições endurecem.
Respiro fundo.
— Que bom que você veio Fiorella, espero que esteja com fome.
— Ela está. — Franco diz, antes que eu conseguisse negar. —
Coma Fiore, eu logo venho buscá-la.  — ele fala baixinho e me deixa com
Carlota, quando me viro para a mulher, ela está com um largo sorriso.
— Estou vendo que estão se entendendo. Você sabia que Fiore,
significa flor. — assinto enquanto ela me direciona até a mesa, me sento em
frente às duas najas e fico sem saber para onde olhar.
— Edwina, vá a até a cozinha e peça que tragam um prato para
Fiorella. — Carlota avisa, a garota cerra o maxilar, mas obedece deixando a
sala com passos pesados.
Verônica segue bebendo sua sopa silenciosa.
— Franco mencionou que estava com mal estar ontem à tarde, por
isso não vieram à festa de ano novo. — minha sogra menciona de repente, e
minha cara de surpresa é evidente, ele mentiu, e nem sequer me avisou.
— Oh, sim, — digo e noto minha voz subir um quarto, — Eu estou
melhor agora.
— Se me recordo você estava com mal estar no Natal também. —
ela fala e Verônica me olha sutilmente, mostrando que está ouvindo a
conversa.
Preciso parar de mentir e Franco também.
— Acho que é só saudades de casa. — olha só outra mentira.
— Já fazem quase dois meses que está casada, já considerou estar
grávida? — eu teria ficado mais chocada com a pergunta se Verônica não
tivesse se afogado com o caldo da sopa, tendo uma crise de tosse.
A mulher toma um gole d’água, assumindo um tom avermelhado, e
Edwina se aproxima nesse momento, ela encara nós três com um olhar
desconfiado.
— Sobre o que conversavam? — pergunta.
— Nada. — sua mãe responde secamente.
A sopa vem em seguida e fico grata por ficar de boca cheia, e não
ter que conversar. Depois da pergunta de Carlota, não sei no que pensar. Eu
não tenho enjoos matinais, e todos os meus mal estar foram por motivos
claros.
Oh céus. Quase dois meses transando sem proteção e só me dou
conta disso agora. É isso que acontece quando se é criada sem orientação
alguma, tudo que eu sei sobre sexo é o que eu vi em filmes ou séries, sem
contar que papai quase não nos deixava ver televisão. Nossa grade
curricular era impecável, tínhamos atividades durante o dia inteiro.
Começo a ficar enjoada, mas acredito que seja só coisa da minha
cabeça. Tomo o resto da sopa e peço licença, deixando a mesa em seguida.
Caminho sem direção e acabo em uma aconchegante sala de estar.
Aproximo-me da janela, que dá uma bela visão do pátio da frente, grande
gramado com um belo jardim.
Encosto minha cabeça na fria janela de vidro e a vejo ficar
embaçada contra a minha respiração. Fico um momento assim, apenas
pensando no que Carlota disse, ela parecia tão animada, mas cogitar essa
hipótese me dói o estômago, sou jovem demais para ter um bebê.
Sem dizer que não seria apenas um bebê. Se algum dia tiver um
filho, ele será treinado para matar, se for menina, será vendida como uma
puta.
Ouço um leve arranhar de garganta, ajeito minha postura e me viro.
Encaro os olhos cor de mel e um pouco esverdeado de Verônica, acho que
nunca olhei com atenção. Cabelos ondulados, leves sardas no nariz, e lábios
com o formato de coração. Olho além dela e não há ninguém, nem mesmo o
seu cão de guarda, a Edwina.
 
 
 
 
— O que quer? — pergunto.
Verônica se aproxima parando perto da janela, seus olhos se
perdem lá fora por um momento, então ela se vira para mim e ganho toda a
sua atenção.
— Eu não queria estar aqui tanto quanto você, mas Carlota pediu
que eu lhe entregasse isso, — ela me estende uma caixinha rosa e azul. —
Ela pensou que ficaria mais confortável com alguém mais jovem.
— Claro, me parece mais apropriado logo você me trazer um teste
de gravidez. — Minha voz sobe e minha irritação também.
— Ela não sabe de mim e do...
— Meu marido. — completo, puxando o teste da sua mão, analiso
por uma batida de coração a caixinha e a guardo no bolso interno do casaco,
sentindo um grande aperto no coração.
Verônica fica parada ao meu lado estagnada, ela está olhando além
da janela e seus lábios tremem levemente.
— Você o ama? — sua voz sai como porcelana e ainda sim suas
palavras soam como um chicote na minha alma. Respostas absurdas e
cruéis cruzam minha mente, mas as engulo com força pensando em uma
resposta adequada enquanto os olhos dela permanecem no pátio, distantes.
— Isso não te diz respeito.
— Ele pediu que eu me afastasse, — menciona e seus olhos
encontram os meus, cautelosa, — eu fiz isso por ele, mas se Franco vier
atrás de mim, eu não direi não, não espero que me entenda, mas você faria o
mesmo se estivesse no meu lugar.
Suas palavras me atingem em cheio e sinto-me caindo de um
abismo, completamente sem chão. A única coisa que me impede de matá-la,
como eu devia ter feito semanas atrás naquela clínica veterinária, é Franco
diante da porta. Ele está longe demais para escutar nossa conversa, mas pela
sua expressão não gostou nada de nos ver sozinhas.
Aproveito minha expressão de consternação e amparo uma lágrima
falsa, com o dorso da mão. Verônica se vira para trás e sua expressão é de
surpresa quando o vê.
Aproveito e ando até meu marido com passos largos, passo por ele
com cabeça baixa, sentindo meu corpo tremer inteiramente de raiva, minha
vontade é voltar lá e fazê-la engolir cada maldita palavra. Desgraçada!
— Fiorella. — Franco me puxa pelo antebraço em instantes, e me
gira para ele, — O que ela te disse? — ele ergue meu queixo me obrigando
a encará-lo, e dessa vez a lágrima que escorre é verdadeira. Franco a
ampara com o polegar.
— Não quero falar. — expresso livrando meu queixo do seu toque.
Não sei o que responder, não tenho ideia do que Franco faria se
soubesse que ela está disposta a ser sua amante. E não sei o que eu faria se
isso chegasse acontecer.
— Eu disse que não queria ter vindo. — Exclamo o encarando.
— Se não me disser vou perguntar a ela. — avisa, fazendo-me
sentir o coração bater na cabeça. Engulo a frustração, e assumo uma postura
tão dura quanto à dele.
— Eu jamais terei o que vocês tiveram, que sou apenas parte de
um acordo e nunca vai passar disso. — Oh céus, percebo que exagerei na
mentira, quando o maxilar de Franco fica rígido, ele dá um passo na direção
da sala onde eu estava, mas o pego pelo braço bruscamente.
— Por favor, esqueça isso. — peço e estendo minha mão para sua
face, meus dedos deslizam para sua nuca e o puxo para baixo, meus lábios
encontram os dele delicadamente, Franco intensifica o beijo e em instantes
o sinto duro contra a minha barriga.
— Minhas bolas vão explodir se eu não te comer hoje à noite. —
não devia, mas rio e Franco mexe a cabeça mecanicamente em reprovação.
Ele se afasta para me encarar.
— Eu vou ter que deixá-la aqui, preciso fazer uma coisa.
— Oh Franco, — imito, mexendo a cabeça juntamente, — Eu não
fico. — aviso e sua expressão se fecha.
— Eu não estou te dando escolha, Fiore. — cerro o maxilar com
raiva e cruzo os braços em frente ao peito.
— Ok. Só avise a suas bolas que elas vão explodir se depender de
mim. — Franco cerra o maxilar igualmente, mas acredito que seja para não
rir.
— Está usando sexo para me chantagear?
— É a única arma que eu tenho. — dou de ombros.
— É perigoso, e também irei de moto para ser mais rápido.
— Eu fico quietinha, você nem irá notar minha presença. — lhe
dou um olhar pedinchão, implorando que seu coração duro, amoleça.
Franco suspira, ele comprime os lábios, movendo a cabeça
mecanicamente.
— Você vai, mas sem perguntas, entendido?
Concordo, escondendo meu sorriso.
Franco me pede para aguardá-lo do lado de fora, que ele precisa
pegar algo, só espero que ele não cruze com aquela vaca no caminho, penso
parada ao lado da moto. No solzinho está gostoso, o frio de Nova Iorque é
quase tão rígido quanto o de Chicago, mas pelo menos ainda não está
nevando.
Franco se aproxima carregando um par de luvas, ele me entrega em
seguida, é pequena e peluciadas por dentro, não pergunto a quem pertence
tão pouco deveria me importar.
Subimos na moto e como eu prometi não questionei sobre nada,
nem para onde estamos indo. Apenas cuidei as placas durante o percurso
inteiro.
Passamos por uma placa que dizia “Bem-vindo a Long Island”, há
cerca de uma hora. Não percebi carros nos seguidos, então significa que
estamos sem seguranças também. Começo a ficar curiosa, e com receio de
para onde Franco está nos levando. Entramos em um reserva de chão batido
e uma extensa mata, o clima ficou mais gélido, que me encolho toda para
perto de Franco, me agarrando ao seu calor.
— Já estamos chegando. — ele avisa e acelera, mata adentro.
De longe vejo um prédio antigo acinzentado no formato retangular,
os portões são abertos e Franco atravessa diminuindo a velocidade, parando
perto da propriedade que parece um depósito, com escadas vermelhas que
levam para o primeiro andar.
Assim que desço me estico sentindo dor nas costas.
— Tudo bem? —  questiona soltando os capacetes.
— Ótimo!
— Então vamos. — Franco sobe as escadas e o acompanho um
passo atrás. Ele atravessa uma porta de metal, adentrando em um vasto
espaço aberto, o ar quente abraça o meu corpo e quase gemo de gratidão.
Caminhamos atravessando a sala, e o burburinho dos homens cessa
quando notam a presença de Franco, e o que sobressai é apenas os barulhos
das máquinas. Há dezenas delas no tamanho médio e com uma aparência
estranha, não tenho ideia do que cada uma delas faz, só que há um homem
atrás de cada uma.
— O que são aquelas máquinas? — pergunto sem reprimir minha
curiosidade, quando chegamos a uma porta do outro lado.
— O que eu te disse? — pergunta naturalmente assim que
atravessamos, parando em cima de uma escada reta, dando vista para uma
garagem, há pelo menos três caminhões estacionados.
— E você acreditou em mim? — rio.
— São máquinas embaladoras, cada uma produz 150 mil
saquinhos de coca por dia.
— Uau, é muita coisa. — respondo seguindo-o escada abaixo, olho
para os caminhões novamente e começo a ligar os pontos. Eles trouxeram a
carga de Bogotá noite passada, acredito.
Ettore surge em nosso caminho, e para de repente quando me
enxerga, lhe dou um sorriso, ele retribuiu, mas quando seus olhos
encontram os de Franco vejo reprovação explícita.
— Não enche, e me diga onde ele está.
— Caminhão do meio. — Franco lhe dá um aceno, se virando para
mim.
— Fique com o Ettore, eu não vou demorar. — ele dá uma última
olhada ao Consigliere, que lhe dá um aceno breve, então nos deixa a só com
passos largos, indo até o grande caminho branco.
— Quer um café? — Ettore pergunta gentilmente.
Assinto e Ettore me guia para uma cabine fechada, mas com
paredes de vidro, e antes dele fechar a porta, um grito animalesco nos
alcança, me viro sobressaltada sentindo os meus cabelos da nuca eriçarem.
— O que foi isso? — pergunto vendo o Consigliere em frente a
uma máquina de café, ele gesticula para eu me sentar, e assim o faço em um
sofá de couro preto.
— Franco disse por que estão aqui? — questiona me entregando
um copinho branco descartável.
— Não. — ele comprime os lábios.
— Então acho melhor perguntar a ele. — assinto, decepcionada.
Tomo o café observando os caminhões por um momento, parece
bem silencioso do lado de fora. Ettore caminha até o frigobar e percebo que
ele está mancando.
— Estava com ele noite passada? — pergunto enquanto o homem
abre uma garrafa de cerveja.
— Ele te contou? — pergunta, desconfiado.
— Resumidamente. — respondo.
— Ele está interrogando um dos homens que sobreviveu.
— E se o homem não falar nada, o que acontece?
— Ah, ele vai é irrefutável, Franco é muito persuasivo. — ele
sorri, e até imagino como meu marido está persuadindo o homem dentro do
caminhão.
— Isso não parece incomodá-la. — menciona sentando em uma
poltrona afastada.
— E devia? Aqui não há mocinhos, então seria hipocrisia sentir
pena.
— E se fosse o Franco? — pergunta e seus olhos me mostram
curiosidade.
— Ele é o meu marido acima de tudo, então, sim, eu me importaria
se fosse com Franco. — respondo soltando o copo na lixeira ao lado. —
Tem algum banheiro que eu possa usar?
Ettore assente, e aponta para trás de si, há uma porta branca.
Deslizo para dentro da pequena cabine, que contém apenas uma
privada e uma pia ao lado. Quando me sento no vaso, ouço a caixinha se
mexer dentro de mim.
Enfio a mão no casaco e a pego, fico encarando o desenho que
lembra um termômetro, e mostra o indicador de semanas. Carlota pensou
em tudo.
Suspiro e vejo minhas mãos tremerem levemente. Descarto a
embalagem sem pensar, se eu estiver grávida é melhor saber logo, para
considerar o que fazer.
Leio a descrição na embalagem, antes de descartá-la no lixo. Em
seguida faço xixi direto no palito, sentindo o coração bater na minha cabeça
e pedindo a Deus que dê negativo.
Fico encarando o resultado, que demora um minuto para aparecer,
nisso ouço uma batida na porta, fazendo-me dar um pulo do vaso.
— Fiorella, vamos. — Franco avisa, com uma voz grave que me
deixa assustada.
Cacete!
— Estou saindo. — analiso o teste mais um momento, e nada do
resultado. Argh! Foda-se eu vejo em casa, guardo o palito no bolso interno
do casaco e deixo o banheiro depois de me lavar.
Encontro Franco em pé secando as mãos em um pano branco, mas
manchado com sangue, sua expressão é mordaz, hesito em me aproximar,
ele estava com essa mesma feição ontem à noite. Seja lá qual informação
adquiriu, coisa boa não foi.
— Franco. — balbucio, e seus olhos encontram os meus pacíficos,
meu peito relaxa quase que momentaneamente.
— Vamos, antes que anoiteça, ficará mais frio. — assinto e me
despeço de Ettore brevemente.
O sigo para fora do depósito. Franco me entrega o capacete em
silêncio, ele está distante, como se algo tivesse sorvendo seus pensamentos.
Gostaria de saber o que, mas é melhor manter o bico calado dessa vez, ele
não parece muito propenso a conversar.
Subo na garupa e ele põe minhas mãos dentro do bolso do seu
casaco, e arranca com pressa. Adentramos na estrada de chão em segundos,
fico olhando a mata passar por meus olhos, distraída, até enxergar uma luz
piscar no meio da floresta, ajeito a minha postura, rápido, e olho para trás,
talvez eu esteja delirando. Não estou, há duas motos atrás de nós.
— Franco.
— Eu vi. — ele diz e acelera juntamente.
Os barulhos das motos ficam mais audíveis, olha para trás, mas já
está escuro demais, só consigo ver o farol há uma distância razoável, pois
Franco continua acelerando. Mas reduz a velocidade em uma curva e uma
das motos avança ficando talvez a um metro de nós.
— Porque não estão atirando? — pergunto, pois um simples tiro
em minhas costas me faria cair da moto, assim restaria apenas Franco.
— De duas, uma: eles me querem vivo, ou querem você para
barganhar.
Franco tira seu capacete e o arremessa para trás com um gemido de
dor, a tempo vejo a moto desviar desacelerando e a outra investe no seu
lugar rápido demais.
Encolho-me o máximo que consigo para perto de Franco quando
enxergo algo metálico brilhar no escuro, não tenho certeza do que é, mas o
meu medo é iminente.
— Franco. — balbucio, mas seu nome é engolido pelo vento.
Ele acelera tão rápido que mal enxergo as árvores, tudo se torna
um borrão, eu não entendo nem como ele está vendo algo. De repente
saímos da reserva entrando em um asfalto com duas vias, a moto para de
sacolejar e me sinto quase grata, se não fossem pelas motos logo atrás de
nós, que ganham velocidade.
— Abra o meu casaco. — ele pede, e minhas mãos sobem rápido
para o primeiro botão, meus dedos tremem incontroláveis, mas abro um por
um, sem Franco me apressar. — Segure firme. — entrelaço meus dedos
contra seu tórax e quando fecho os olhos, Franco freia de repente, e a
traseira da moto empina fazendo meu corpo sair do assento e meu coração
rugir em meus ouvidos.
O tempo que a roda levou para voltar ao chão foi o tempo preciso
para os motoqueiros passarem por nós e Franco sacar as duas armas. Seus
tiros são direcionados para o mesmo motoqueiro, que na tentativa de
desviar bate nas barreiras de concreto branco da via.
O outro fugiu, como um rato.
— Fique aqui. — Franco desce da moto, e minha vontade é de me
agarrar nele.
Ele atravessa a via com passos largos, sem olhar para os lados, pois
não há movimentação nenhuma por essa região. Franco se agacha, vira o
motoqueiro de barriga para cima com força excessiva, e remove seu
capacete bruscamente, revelando um cabelo escuro.
O motoqueiro se mexe levando a mão ao peito, Franco pisa nela e
saca a arma, apontando para a cabeça do cara. Viro o rosto para a outra via,
já tenho desgraça demais gravada em minhas memórias, não preciso de
mais uma. O tiro me faz encolher, mas apenas isso, não sinto pena ou
remorso, às vezes me pergunto se tem algo errado comigo, ou se todos que
nascem nesse mundo ficam assim, indiferente com a vida alheia.
Franco atravessa a rua falando no telefone, ele cospe uma ordem
atrás da outra, indignado. Depois guarda o aparelho no bolso e me encara
com o semblante inescrutável.
— Sabe quem era? — questiono.
— Pela tatuagem no pescoço eu tenho uma vaga ideia.
Uma gangue de motocicletas, eles estão se deslocando para Nova Iorque há
alguns meses. — diz subindo na moto.
— E o que eles faziam na reserva?
— Possivelmente reconhecendo terreno. Não se preocupe com
isso.
— Vamos deixá-lo aqui? — questiono e Franco me olha por cima
do ombro.
— Ettore já está a caminho, ele cuidará dessa bagunça. —
responde e arranca.
 

 
Adentro a casa e me arrasto para o quarto, a sensação de hoje é ter
vivido vários dias em um só dia. Tiro meu casaco e o jogo em cima da
cama, um banho é tudo que eu mais quero agora. Franco está lá embaixo no
escritório, sua irritação está nas alturas, e o melhor que eu posso fazer é
ficar distante até ele se acalmar.
Sento-me na beira da cama e removo as botas e as calças, depois
me atiro para trás consumida pelos últimos acontecimentos. Viro-me na
cama e enxergo o teste de gravidez saindo do casaco.
Oh céus, por um momento eu esqueci completamente que
carregava isso. Engatinho até lá e pego o teste, nada mais deveria me
assustar nesse dia, mas ler a palavra grávida, na janela de controle,
consegue superar tudo.
Sua estúpida! Estúpida! Estúpida! Estúpida! Meu cérebro fica
repassando essa palavra cruelmente até ela perder o significado em minha
mente.
Analiso o teste novamente, embaixo do palito está escrito 1-2,
segundo a embalagem significa que estou de duas a duas semanas. Porra
cadê a embalagem? 
Oh cacete! Joguei no lixo do depósito. Quero bater minha cabeça
na parede, por ser tão burra. Levanto-me da cama sentindo minhas pernas
bambas, a um aperto tão forte em meu peito que parece que vai parti-lo ao
meio. Escondo o teste no closet e pego uma roupa qualquer.
Ando para o banheiro e só percebo que estou chorando quando me
vejo no espelho. Seguro-me com força na pia enquanto me encaro, em
busca de uma solução que não existe.
Como fui tola.
Ligo o chuveiro e fico embaixo d’água imaginando como será
daqui para frente. Papai, Riccardo e acredito que até Sienna ficarão felizes;
grávida em menos de dois meses, parece até um recorde. Eu também devia
ficar feliz, afinal é o que se espera de mim, mas não entendo porque não
estou.
Suspiro e quando me viro, Franco está na entrada da porta me
olhando.
— Por que está chorando?  — pergunta, deve ter reparado em
minha face, vermelha.
— Besteira. — digo mexendo a cabeça mecanicamente.
— Você sabe que pode me contar tudo, não é?
Assinto com um sorriso que não me alcança os olhos, mas não
consigo lhe contar, estou tão exausta desse dia, de tudo o que aconteceu que
eu só quero que termine logo.
— Eu fiz coisas que preferia que não tivesse visto. — menciona,
com um olhar culpado.
— O meu coração já perdoou os seus pecados Franco, e nada que
você faça mudará isso.
Franco adentra o box com roupa e tudo e me beija embaixo da
corrente d 'água. Eu não tenho forças para afastá-lo, para negar o seu toque,
na verdade o meu corpo anseia por ele, como nunca antes.
Suas roupas somem em questão de segundos, e Franco me puxa
para o seu colo, sinto sua ereção bater em meu sexo, mas ele não entra em
mim, e deixa o banheiro com passos largos.
Ele me solta no meio da cama, e beija minha barriga me arrepiando
toda, Franco desliza sua língua sobre meu corpo e sobe lambendo as gotas
até a altura dos meus seios.
Seguro em seu rosto é o trago mais para cima, seus lábios
reivindicam os meus amorosos, e Franco entra em mim gemendo contra
minha boca, seus movimentos são suaves e precisos ao mesmo tempo.
Ficamos assim, com apenas os sons dos nossos gemidos
preenchendo o quarto, ambos com a cabeça cheia demais, buscando
conforto e tranquilidade no corpo um do outro.
 
 
 
 
Duas semanas se passaram desde que fomos perseguidos pelos
motoqueiros, os dias parecem que tem voado desde que soube que estou
grávida, estou tentando manter distância da mansão dos Fiore, pois assim
que Carlota colocar os olhos em mim eu sei que pedirá uma resposta,
suspiro, e a única coisa que me dá um pouco de paz é saber que minhas
irmãs chegam hoje à tarde.
Conversei com Helena durante a semana, mas não tive coragem de
contar a ela. A sensação que eu tenho é de que se eu contar a alguém se
tornará real, e eu não estou pronta para esse tipo de realidade agora.
Desço para o primeiro andar e no caminho vejo o Consigliere em
pé no meio da sala.
— Ettore, o que faz aqui? — pergunto, chegando aos últimos
degraus, com as pernas trêmulas.
— Vim conversar com o Franco, — explica, me analisando.
Olho em direção ao escritório e a porta está entreaberta.
— Sobre o que? — pergunto, impensadamente, os olhos de Ettore
desviam para o escritório brevemente.
— Eu vi a embalagem no banheiro, mas não é a respeito disso que
vim falar com o seu marido.
Enrubesço sentindo que levei um tapa.
— Deu negativo. Se você puder não dizer nada, não quero
decepcioná-lo. — falo e torço que ele engula a mentira, não sei como ou
quando contar ao Franco, e com certeza não quero que Ettore seja o
primeiro a saber.
Ettore comprime os lábios.
— Você é jovem, não devia se preocupar com isso, uma hora vai
acontecer.
Assinto. E ando para fora da sala assim que Franco deixa o
escritório.
Sirvo-me com chá quente e me sento ao lado de Lazzaro na ilha,
ele voltou há pouco tempo mais reservado que o normal, e estava um pouco
machucado. Nem tentei questionar onde ele estava, pois sei que não iria me
dizer.
— Minhas irmãs chegam hoje, — comento chamando sua atenção,
— Sabia que Helena tinha um crush em você? — digo na expectativa de
animar Lazzaro e nessa hora Franco e Ettore entram na cozinha.
— Como é que é? — Franco questiona com um riso.
— Você me ouviu. — respondo bebericando o chá.
— Ela é uma criança. — Lazzaro desconversa, enrugando o nariz.
— Hey, — lhe dou uma cotovelada, — ela é mais velha que eu.
— Quem sabe casamos Lazzaro com Helena, assim você teria uma
amiga por perto. — Franco menciona, e percebo que até Ettore ficou tenso
igual a mim e ao segurança.
— Relaxem, estou brincando. Nem quero vocês duas juntas por
muito tempo. Helena não é uma boa influência.
— Você mal a conhece. — rebato e meu tom de voz sobe, irritada
com o comentário dele.
— Sei o suficiente, se bem me lembro foi ela que te ajudou a fugir
no seu aniversário.
— E ela teria me ajudado até no dia do casamento se eu tivesse
pedido, porque é isso que os amigos fazem, mas você não saberia disso
porque só tem capachos. — digo irritada e desço da ilha deixando a cozinha
com passos firmes.
Ouço Ettore soltar um baixo assobio, admirado eu diria.
— O que deu em você? — Franco questiona no pé da escada me
virando para ele bruscamente, fico quase na sua altura.
— Não sei, — admito, realmente eu não tenho ideia, tudo tem me
deixando estressada ultimamente, — me desculpe. — sussurro abraçando o
seu pescoço.
Franco tenta se afastar ainda sério, mas não o solto e fico
pendurada em seu pescoço com as pernas para cima. Sua cara feia se
suaviza, e ele me abraça pela cintura me levanto até o sofá, vejo a porta da
frente bater quando Franco senta comigo em seu colo.
— Você tem agido diferente, nos últimos dias. — menciona me
fazendo engolir em seco, — O que está acontecendo, Fiore? — ele pergunta
tão docemente que tenho vontade de me aninhar em seu peito e contar
tudinho, tirar esse peso de mim, mas eu não consigo.
— Tenho saudade de casa às vezes. — digo, pois é verdade, e não
quero mais mentir para ele.
— Não posso abandonar Nova Iorque agora, meu pai está cada vez
mais debilitado, quando tudo se ajeitar nós vamos e você visita sua família.
— O que ele tem? — questiono, na esperança de Franco se abrir
comigo.
— Câncer de próstata, em estágio avançado, e já atingiu outros
órgãos.
— Ele parece bem. — menciono lembrando-me das últimas vezes
que o vi. Meio magro, pálido, mas não morrendo. Franco mexe a cabeça
mecanicamente.
— Ele disfarça muito bem.
Suspiro, escorando a cabeça em seu ombro, fico cheirando seu
pescoço por um longo momento, enquanto acaricio os cabelos da sua nuca
com a outra mão, Franco brinca com uma mexa do meu cabelo.
— Ficará em casa hoje? — questiono, já que é sexta-feira e ainda
não foi trabalhar.
— Não, mas eu venho em casa para levá-las jantar.
— Jura? — pergunto encarando-o um tanto surpresa, acho que
nunca saímos jantar.
— Juro, Fiore.
Beijo o meu marido com força, demonstrando todo o meu
contentamento, e à medida que o nosso beijo fica mais intenso, sinto seu
pau ganhar vida contra a minha coxa.
Minhas mãos deslizam para o seu cinto, e o abre agilmente.
— Eu vou fazer uma coisa, mas não quero que fique com muita
expectativa. — aviso, descendo do seu colo e me ajoelhando em sua frente.
Seus olhos buscam os meus quando eu puxo o fecho da sua calça, e
eles brilham de luxuria.
— Tarde demais pra me pedir isso.
Dou-lhe um olhar de reprovação, me sentindo queimar, e com sua
ajuda libero o seu pau, e o envolvo com meus lábios, antes que eu perca a
coragem. Ouço Franco soltar um gemido sufocado, e estremecer quando
minha língua fez o contorno da cabeça do seu pau, sentindo o gosto do pré-
gozo.
— Puta merda! — Franco ruge, quando sugo a cabeça e deslizo a
língua por sua pequena fenda, depois meus lábios envolvem cada
centímetro dele, e eu chupo como se fosse acabar o mundo, sem ideia se
estou fazendo certo ou errado.
Ergo o olhar buscando pelo de Franco, e ele está me devorando
com os olhos, suas mãos deslizam para meus cabelos e os arrastam para o
lado tendo melhor visão dos meus movimentos. Ele solta um gemido
gutural e seu quadril se inclina de encontro a minha boca.
— Devagar, Fiore. — ele geme alto e sua cabeça pende para trás
na escora do sofá, ele está sob o meu domínio e isso é interessante.
Chupo meu marido com o resto das minhas forças, e o sinto ficar
cada vez mais rígido em minha boca.
— Eu vou gozar, se não quiser engolir, saia. — avisa, num sufoco,
mas continuo os movimentos e sorvo seu líquido quente quando ele jorra na
minha boca.
Sugo as bochechas tirando um riso de Franco.
— Então, foi bom? — questiono vendo o mastro dele ainda em pé,
Franco me dá um sorriso tão grande que eu nunca vi antes.
— Seus lábios parecem veludo, Fiore, se eu soubesse antes que
essa boquinha linda era tão gostosa... — ele mexe a cabeça em negação e
me puxa do chão, para seus braços. — Agora eu vou te comer aqui nesse
sofá. — diz e me empurra para o lado no assento macio, caio de bunda para
o ar, a sua mão invade meu vestido pondo a saia para cima.
Suas mãos apertam as bochechas da minha bunda com força.
— Erga o quadril. — manda e faço o que me foi pedido, então
Franco puxa minha calcinha para baixo até a altura do joelho.
— Empine a bunda Fiore. — obedeço me sentindo vulnerável
nessa posição, e ainda assim ansiosa por seu toque.
Franco desliza os dedos entre meus lábios, e alcança meu clitóris,
ele o massageia, fazendo-me pulsar e apertar seu pulso que está entre as
minhas pernas.
— Franco. — cicio, e seu dedo desliza para dentro de mim,
pressiono-o com a musculatura da vagina desejando por mais. — Eu
preciso de você. — choramingo empinando mais a bunda.
— Você anda gulosa demais. — diz e tenho uma vaga impressão
que ele estava se referindo ao meu sexo. — Fique de quatro, quero testar
algo novo.
Franco fica em pé, viro-me para ele me segurando na escora do
sofá, ele agarra meu quadril com as duas mãos e desliza seu pau na minha
extensão. Gemo e empurrando mais a bunda para que ele coloque logo. Seu
membro espalha minha umidade novamente e sem aviso Franco mete
fundo, arrancando-me ar.
— É assim que você quer?
— É. — gemo, e de repente Franco esbofeteia meu traseiro, o sinto
queimar com a dor, e de alguma forma é maravilhoso. — De novo. —
imploro com um gemido, e Franco me dá outra palmada tão forte e gostosa
ao mesmo tempo, que começo a pensar que tem algo errado comigo.
— Me diz se doer. — ele avisa e quando o olho por cima do ombro
Franco desliza o dedo no buraquinho, meu coração acelera, mas meu sexo
pulsa em resposta com Franco ainda me penetrando.
— Relaxa, Fiore. Eu não vou machucá-la, prometo.
Solto o ar, e me deixo acreditar nele, Franco retirou o seu dedo
buscado por umidade, e então deslizou quase todo ele, me fazendo
estremecer com a dupla penetração, e começar a empurrar o quadril contra
seu corpo.
— Gostou disso? — pergunta enquanto me penetra em ambos os
lugares, me deixando desorientada, não imagina que dava pra sentir tanto
prazer ao mesmo tempo em um lugar tão incomum, para mim.
— Sim. — gemo alto, sentindo o orgasmo ganhar espaço em meu
corpo.
Franco tira o dedo de mim e agarra minha cintura, ele investe firme
e fundo, fazendo-me gritar seu nome até não ter mais forças para me
segurar. As estocadas foram diminuindo aos poucos e quando Franco sai de
dentro de mim, seu esperma escorre quente pela minha perna.
Meu corpo se torna gelatina, e escorrega para o sofá.
— Toma um banho comigo? — pergunto com a respiração pesada,
vendo Franco vestir sua calça. Ele me encara com um risinho.
— Eu adoraria subir e lamber cada gota do seu corpo, Fiore, mas
preciso trabalhar, e as suas irmãs já devem estar desembarcando.
Assinto e subimos os dois para o quarto, Franco se lava
rapidamente na pia do banheiro e dou-lhe um beijo de despedida, antes de
entrar no banho.
Essa semana fez dois meses que não as vejo, a saudade é
esmagadora eu tenho tanto para contar.
Deixo o banho e visto-me rapidamente com um vestido preto de
mangas compridas, coloco também botas de cano baixo e quando estou
secando os meus cabelos vejo pela janela um SVU preto estacionar perto da
casa.
Jogo o secador e a escova em cima da cama e desço às pressas,
quando chego lá embaixo ambas estão ao lado do carro olhando em volta.
— Uau Ella, sua casa é incrível. — Sienna diz impressionada
enquanto eu a agarro para um abraço.
— Precisam ver dentro. — abraço Hell, e as levo para dentro com
meu coração explodindo de felicidade.
Passamos por Lazzaro no caminho, ele cumprimenta as meninas
brevemente com um aceno de cabeça.
As duas adentram olhando em volta, tão embasbacada quanto eu
fiquei.
— É muito grande! — Helena diz indo até a sala.
— Eu disse que era um puta exagero. — As duas riem e sentam no
sofá comigo no meio.
— Me contem tudo. — elas se entreolham com um riso.
— Quase tudo está igual na verdade Ella, só é menos barulhento
sem você. — Sienna comenta com um riso, e empurra uma mecha do seu
cabelo para trás da orelha, ela parece um pouco triste.
— O que não está me contando? — pergunto, ela vira os olhos.
— Não seja boba. — diz com um sorrio.
— E você, Hell? 
— Aquela casa é um saco sem você, é muito solitário. — diz
tristemente, e me pego com pena dela, Hell não tem família, e nem amigos
além de mim e Sienna.
— Você devia ir embora e conhecer pessoas novas. — sugiro.
— Seu pai não me deixaria simplesmente ir, não sabendo de tudo
que eu sei sobre a máfia.
— De nós três, você é a única que tem chances de ter uma vida
normal, devia se agarrar a isso e tentar algo novo, nem que seja sob os
cuidados da Outfit.
— Papai não pode casá-la eu acho. — Sienna diz e nós três
ficamos em dúvida. Ele pode casar as nossas primas, porque não casaria
Helena?
— Alguma novidade boa? — pergunto, pois essa vibe depressiva é
tudo que eu menos preciso agora.
A duas sorriam.
— Dona está grávida.
— O quê?! — pergunto, sentindo-me nauseada, — Dario nem
completou um ano.
— Você e eu temos um ano de diferença. — Sienna me lembra —
E papai e Dona estão felizes, você não?
— Porque eu devia?
— Credo, Ella. — Helena fala surpresa.
— Você não quer filhos? — Sienna pergunta, ela parece
preocupada com minha resposta, quero rir.
— Quero, mas também não queria que minha única função fosse
só procriar e esquentar a cama do meu marido.
— Pensei que você e Franco estivessem bem. — Sienna fala,
vendo-me escorar a cabeça para trás.
— Nós estamos, só que... vamos subir. — digo e puxo ambas pelas
mãos para o andar superior, entramos em meu quarto em silêncio, as duas
sentam na cama, apreensivas, mas sem me perguntar nada, apenas me
observam entrar no closet.
Pego o teste de gravidez e volto para o quarto, talvez elas me
animem, já fazem duas semanas, já está na hora de encarar a realidade, já
que não há como retardar isso.
Atiro o teste entre as duas, no meio da cama e me deito na
extremidade dela. Vejo minha irmã abrir um sorriso iluminado, e Helena
não conseguiu esconder a tempo seu pavor, que é substituído por um sorriso
amável em segundos.
— Oh, Céus Ella! Isso é maravilhoso, você terá um bebê. Sua
família ficará maior e mais forte, e você não estará mais sozinha. — Sienna
está com lágrimas nos olhos e um sorriso doce, ela está feliz de verdade e
não entendo porque eu não consigo ter esse mesmo sentimento, ela me
abraça apertado comigo ainda deitada, fazendo-me rir.
— Você está bem com isso? — Helena pergunta, quando Sienna se
recompõe.
— Eu não sei. — sorrio e me sento, — Ainda estou aprendendo a
lidar com Franco, ele é meu marido, mas mal nos conhecemos, e, agora um
bebê.
— Ele já sabe? — Sienna questiona.
Mexo a cabeça em negação.
— Fazem duas semanas desde que descobri e toda a vez que penso
em falar, amarelo. Se eu soubesse que ele ficaria feliz ao menos, talvez eu
não ficasse tão apreensiva em contar, mas nunca conversamos sobre filhos,
nossas conversas sempre tiveram limites. Metade das coisas das quais
pergunto ele só dá meia resposta. — digo revirando os olhos.
— Se não usam proteção, acredito que ele já esteja aguardando por
isso. — Helena diz pegando o teste e analisando de perto. — Quem
comprou para você? — questiona.
Jogo-me para trás novamente e relato às meninas o que aconteceu
nas últimas semanas, deixando de fora somente o depósito, acredito que
Fraco não iria gostar, e não quero perder sua confiança, logo agora que ele
tem se aberto mais comigo.
Helena queria que eu tivesse revidado as palavras de Verônica com
um murro no meio da cara dela, vontade não me faltou, mas sinto que fiz
melhor em deixar passar.
— Porque não faz uma surpresa? — Sienna sugere de repente, —
Compre uma roupinha de bebê e envie para o escritório dele.
Rio.
— Não! — ela revira os olhos.
— Eu vi em um filme, uma mulher pendurou o primeiro ultrassom
na geladeira e deixou lá até ver quando o marido ia perceber.
— Eu não tenho uma ultra, — comprimo os lábios, cogitando a
opção de uma surpresa.
— Nós podemos fazer uma. — Sienna sugere, ela está
verdadeiramente animada.
— E como faríamos isso com Sávio e Lazzaro em nosso encalço, e
sem dinheiro? — minha doce irmã me dá um sorriso travesso mostrando
que tem uma ideia.
 

 
Descemos todos depois de um longo momento e pedimos para
Lazzaro nos levar para o centro da cidade. Sienna custou, mas encontrou
uma clínica particular e conseguiu agendar uma consulta no nome da
Helena. Ela pagará com o cartão de crédito do papai, bom, pelo menos
quando ele vir à fatura, já saberá que será vovô.
Passeamos pela cidade, em uma rua próxima da clínica, entramos
em algumas lojas apenas para matar tempo e quando faltam quinze minutos
para a consulta, paramos para comprar um Donut.
— Você quer um também Lazz? — Lazzaro me dá um olhar feio,
nos fazendo rir.
— Que bom que estão se dando bem, Ella. — Sienna comenta
pegando sua rosquinha com cobertura cor de rosa.
— Ele é adorável. — comento e sei que Lazzaro escutou, pois sua
expressão é séria.
Esses homens que não sabem receber elogios.
Caminhamos pelas calçadas lentamente, desfrutando das
rosquinhas quando de repente Helena para levando uma mão a barriga com
um gemido, satisfatório, ela me olha de soslaio e pisca um olho.
— Tudo bem Hell? — Sienna perguntou preocupada.
— Sim, estou, — diz dando mais um passo e levando a mão à
boca, — Acho que a comida do voo não me caiu bem.
— Tudo bem aí? — Sávio pergunta atrás, nós três nos
entreolhamos e viramos para ele.
— Hell, não está se sentindo bem. — explico com a voz vacilante,
por mais que Helena seja uma excelente atriz, não sei se estamos indo longe
demais com isso só para fazer um ultrassom.
— Talvez seja melhor ir ao médico. — ele fala, e nós três
assentimos.
— Olha, ali tem uma clínica. — Sienna aponta para o outro lado da
rua.
— Então vamos. — Sávio diz, parece preocupado também.
Atravessamos a rua e adentramos o espaço fechado, deixo Sienna e
Helena andarem na frente em direção ao balcão de recepção, enquanto eu
aguardo ansiosa nas poltronas escuras com Lazzaro.
As meninas se juntam a nós em seguida.
— A médica já vai chamar, você entra comigo, Ella. — Hell
afirma.
— Entramos todas. — falo acariciando seu braço.
Lazzaro se distancia de nós e telefona, possivelmente para Franco,
ele conversa brevemente, mas olhando em nossa direção o tempo inteiro.
— Helena. — uma das portas é aberta e uma mulher aparece na
entrada com um sorriso gentil.
Ficamos de pé as três com o coração na mão, e atravessamos o
pequeno corredor em direção à médica. Ela nos encara surpresa, talvez pela
idade ou por serem três garotas entrando no consultório sem nenhum
homem.
Assim que passamos pela porta, a médica a fecha e pede para que
nos sentamos. Uma sensação estranha me atinge, como se agora de fato eu
tivesse tomando consciência a respeito da gravidez e não há mais como
retardar.
— Qual das meninas é Helena? — a médica questiona, ela usa um
avental branco e um crachá com nome de Daiana Runar pendurado.
— Sou eu. — digo, em um tom firme.
— É a sua primeira, ultrassom?
— Sim.
— Já está fazendo acompanhamento da gestação?
— Ainda não. — ela assente e seu olhar cai sobre meu corpo, me
analisando possivelmente deve me achar jovem demais para ter um bebê,
isso é óbvio, cruzo os dedos em cima da sua mesa exibindo uma aliança e
um anel de noivado com um diamante quase do tamanho do meu punho, e
percebo que ela relaxa por um momento.
— Meu marido está trabalhando, por isso minhas irmãs vieram
comigo, e também porque quero surpreendê-lo. — explico.
— Isso é adorável. — diz com um sorriso, — Pode tirar a roupa
toda e colocar o avental no banheiro.
Assinto e me encaminho para a porta que ela sinalizou, troco de
roupa rapidamente, pois se demorarmos muito acredito que Lazzaro vai
querer invadir o consultório para ver se eu não fugi. Volto para a sala e
encontro a médica sentada ao lado de uma maca e na sua frente uma espécie
de computador.
As meninas estão do outro lado me encarando com risinhos
nervosos, não estamos fazendo nada ilegal, mas a sensação é como se
estivéssemos.
— Sente-se e tente encostar os calcanhares nas nádegas. — pede,
sinalizando a maca.
Obedeço no automático, sentindo o coração acelerar, assisto a
médica pegar uma espécie de bastão branco, fino e comprido, ela desliza
uma camisinha nele e as meninas arregalam os olhos.
— Isso é um transdutor, vou introduzir no seu canal vaginal, não
vai doer, não se preocupe. — assinto.
A médica aperta em algum botão que deixa a sala mais escura, e
depois ergue meu avental e desliza a sonda gélida para dentro de mim, é
desconfortável, sem dúvidas.
— As irmãs podem se aproximar, se quiserem ver de perto. — as
meninas sorriem e andam para o outro lado da cama.
Enquanto Dra. Runar mexe a sonda dentro de mim, e clica em
alguns botões no computador, observo Sienna, seus olhos estão grudados no
computador e ela estampa um sorriso que não consigo descrever.
Minha irmã está beirando os vinte anos, e nunca foi tocada por um
homem, beijada ou amada, e eu de alguma forma roubei tudo que ela mais
sonhava, mesmo sendo por conveniência.
— Ali. — a médica congela a tela do computador em uma imagem
escura, semelhante à de um raio-X, ela sinaliza um pequeno pontinho preto,
enquanto o bastão permanece dentro de mim.
— É tão pequeno. — digo admirada, olhando o pontinho preto com
atenção, parece um minúsculo cavalo marinho.
— O seu bebê tem 4 milímetros, equivalente a uma semente de
maçã. — encaro as meninas e nós sorrimos. — Ele está muito bem. —
adiciona.
— Quantas semanas? — Sienna quer saber.
— Aproximadamente cinco semanas, querem escutar o
coraçãozinho?
— Já dá para escutar? — pergunto surpresa, pois é minúsculo.
— Vai se surpreender com o quão alto pode ser. — diz e aperta um
botão no computador, o transdutor se mexe suavemente e quando escutamos
um som chiado romper pela sala, ela o paralisa dentro de mim.
Relaxo na maca e me concentrando apenas naquele som que não
consigo distinguir, é alto, e forte, e me passa uma sensação de oásis.
Helena pega em minha mão chamando a minha atenção.
— Como se sente?
— É estranho, mas não de uma forma ruim.
— É óbvio que não, tem uma vida dentro de você, Ella. — Sienna
diz com um sorriso meigo e alisa meu ventre.
Tem uma vida dentro de mim.

 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
Chegamos em casa no fim da tarde. Antes de deixarmos o
consultório, a médica receitou algumas vitaminas que preciso tomar e me
entregou uma pequena imagem com a foto do bebê. E na saída da clínica
percebi que Lazzaro estava com uma expressão suspicaz, mas não
questionou nada, apenas Sávio quis saber o que Helena tinha. Passamos na
farmácia antes de voltarmos para mansão e compramos os antiácidos para a
azia estomacal de Helena e as vitaminas para mim.
Enquanto as meninas desfazem as malas no andar superior, pego
um copo d’água na cozinha, e encontro Lazzaro a ilha como de costume.
— Helena não estava passando mal, não é? — pergunta quando
solto o copo na pia.
— Como descobriu? — seus olhos entram os meus.
— Perguntei à recepcionista porque estavam demorando tanto. —
respiro fundo.
— Vai contar a ele?
Lazzaro mexe a cabeça, e quando vai me dizer algo, Franco
adentra a cozinha. Ele olha para nós brevemente e solta as chaves na ilha.
— Sua irmã está melhor? — pergunta parando em minha frente,
nisso escuto o segurança nos deixar em silêncio.
— Sim. — digo com um frio na barriga e deslizo as mãos para o
seu pescoço. Franco desce centímetros e beija a ponta do meu nariz, me
tirando um sorriso, depois seus lábios moldam os meus em um beijo quente.
De repente escutamos um arranhar de garganta, Franco abre os olhos e se
afasta assumindo uma pose mais séria.
— Meninas. — ele cumprimenta minhas irmãs que estão com
risinhos diante do corredor.
— Eu vou tomar um banho. — fala para mim.
— Subo em seguida. — aviso.
As duas abrem espaço para ele passar e sentam a ilha, elas já
trocaram de roupa, preciso fazer o mesmo, mas antes um banho quente.
— Quando você vai contar a ele? — Hell pergunta.
— Semana que vem quando estivermos a sós. — Sienna faz beiço.
Deixo-as na cozinha e subo para o meu quarto, a porta do banheiro
está entreaberta e a vapor saindo pela pequena passagem. Adentro o
banheiro, Franco está de costas, com a cabeça inclinada para frente e água
correndo sobre suas cicatrizes.
— Vai ficar aí só admirando? — pergunta se virando para mim,
com um sorriso.
— Vou, quando tomamos banho juntos, demoramos o dobro para
sair. — digo em tom de advertência, — E você me prometeu um jantar.
— E nós vamos, assim que você entrar no banho comigo. — lhe
dou um olhar de reprovação, pois sei que ele não sairá do chuveiro até eu
entrar, — Serei bem rápido. — diz com um olhar predatório, tentando
parecer convincente enquanto me dispo.
— Veremos. — resmungo entrando no box.
— Não pode me privar da melhor parte do meu dia, — censura, me
direcionando para baixo d’água, e encosta as minhas costas na parede fria,
— Quando estou com você, consigo ter um momento de paz e esquecer que
tenho um monte de merda pra resolver. — expõe, moldando os meus lábios,
brevemente, enquanto suas mãos exploram meu corpo, e continua descendo
até ficar de joelhos em minha frente. Franco põe minha perna esquerda sob
seu ombro. E em como muitas outras vezes, meu marido cai de boca em
mim.
 

 
Quando deixamos o banho estava me sentindo uma velha, toda
enrugada. Escolho um vestido sexy, para sair com meu marido, ele tem a
cor vermelho, de alcinhas e frente única, com um generoso decote no
formato de coração.
— Então? — pergunto adentrando o quarto e Franco está pondo a
gravata, seus olhos caem sobre meu corpo e o vejo pressionar os lábios.
— Curto demais. — Quase reviro os olhos.
— Não é isso que eu quero saber.
— Está gostosa, como em qualquer outra roupa. — diz sem
demonstrar emoção, me fazendo rir.
— Obrigada! — me aproximo dele e lhe dou um peteleco na mão,
para me deixar terminar de arrumar o seu nó. Franco me segura pela cintura
e me olha com atenção.
— Está feliz com as meninas aqui? — pergunta, buscando por
meus olhos.
— Estou — sorrio, — Donatella está grávida. — digo, sem pensar.
— Seu pai deve estar feliz.
— Você ficaria? — me arrisco a perguntar, Franco estreita os olhos
sutilmente.
— Você está atrasada? — pergunta me pegando de surpresa, mas
não consigo distinguir qualquer emoção em Franco, pois seu telefone
começa a tocar no bolso da calça.
Ele se afasta para atender, e me sento sentindo o coração bater na
cabeça.
— Se ele não quer tomar, não dê. — Franco diz secamente. — Ele
não é um bebê se quer sentir dor deixe-o sentir.
Fico em pé apreensiva, sem entender com quem Franco está
falando.
— Não, eu estou de saída, e se eu tiver que ir aí não vai prestar.
Franco desliga o telefone, mas o segura com força, sinto que ele
está com vontade de arremessá-lo longe.
— Hey, o que houve? — pergunto me aproximando, ele inspira
fortemente.
— Meu pai não está aceitando a morfina. — diz, irritado.
— Se você tem que ir tudo bem. Ele é o seu pai.
— Não, essa noite eu disse que a levaria jantar e eu vou. — fala me
puxando pela mão.
Quando chegamos lá embaixo as meninas ficam em pé, animadas,
ambas em vestidos maravilhosos: Sienna veste um em tom rosa chiclete,
decote reto, mas justo, modelando as suas curvas, e Helena usa um vestido
preto, longo e com fenda na perna esquerda.
— Vamos. — Franco fala e se direciona para a saída, ele está aqui,
mas sinto que sua cabeça está em outro lugar. Em seu pai.
Entramos na nova BMW, as meninas sentam atrás e ficam em
silêncio apenas olhando pelas janelas, percebo que a presença do meu
marido, as deixa contidas.
Quando chegamos há uma altura do caminho, o celular dele
começa a tocar no dispositivo do carro, é Domenico. Franco pega o telefone
no bolso e atende, com um semblante nada agradável.
Pergunto-me se não escolhemos um péssimo dia para sair de casa.
— Fala. — Franco diz secamente, se eu não conhecesse meu
marido ficaria com pena de Dom, mas esse é quase que o tom natural dele.
— Então resolva caralho. — Franco ruge atrás do telefone, depois de um
momento.
Olho para as meninas com um sorriso, tentando tranquilizá-las,
pois estão tensas.
— Vamos ter que fazer uma parada antes. — Franco diz e faz o
contorno bruscamente, fazendo-me segurar no assento com o coração na
mão.
— Franco! — exclamo levando a mão ao peito, ele dá um suave
aperto em minha coxa, sem tirar os olhos do volante. — Para onde está nos
levando?
— Escala.  Mas vocês ficarão no carro. — Argh! Claro que vamos.
 

 
Franco estacionou em frente à boate. É um prédio cinza que fica
em uma esquina movimentada. De onde estamos consigo ver o início de
uma fila em frente a uma porta com dois seguranças. Assim que meu
marido nos deixou, Lazzaro se pôs em pé diante do carro, enquanto Sávio
está na traseira.
— Será que ele vai demorar muito? — Hell pergunta, olhando pela
janela.
— Já faz 40 minutos. — digo desanimada e abro a janela
chamando atenção de Lazzaro. — Estou com vontade de ir ao banheiro.
— Não vou cair nessa.
— Estou muito apertada, Lazz, você quer que eu tenha uma
infecção na bexiga, logo agora. — recorro ao seu lado sentimental.
Lazzaro estreita os olhos, mas permaneço com o meu olhar
pedinchão, fazendo-o revirar os olhos.
— Um pé dentro e o outro fora. — avisa sério, e me esforço para
não lhe dar um sorriso, apenas assinto, fechando a janela.
— Vamos para a boate meninas. — falo dando uma piscadinha.
Descemos todas e andamos seguindo o meu segurança, para a
boate, passamos na frente de todos, recebendo muitos olhares feios.
Adentramos o Escala, parece um bar/boate, o ambiente é escuro, mais
iluminado com luz quente, em várias lâmpadas de led nas paredes e no teto.
No meio há uma pista, e ao redor vários sofás no formato de U, em couro
vermelho e preto, e do outro lado em um espaço mais reservado, subindo
uma curta escada, tem um bar.
— Fiquem no bar, eu vou ao banheiro. — aviso a ambas que foram
para as minhas costas, por causa do fluxo de pessoas.
Elas assentem, animadas com o ambiente, aposto que Sienna nunca
foi há um lugar assim antes, eu pelo menos tive a minha fugidinha que
terminou de uma forma horrível.
— Onde o Franco fica? — pergunto ao Lazzaro, que indica com o
queixo para cima, mas só tem os camarotes, Franco deve ficar no andar
superior.
— Você tem cinco minutos. — ele informa passando por várias
pessoas e nos levando para um corredor perto do bar.
Entro em uma cabine sem vontade, mas já estou aqui, uso o
banheiro rapidamente, e quando o deixo, Lazzaro está escorado contra a
parede me esperando.
Caminhamos para o bar para encontrar as meninas, e Ettore está
conversando com Sienna. Minha irmã está sentada em uma banqueta com
Helena ao seu lado.
— Vamos voltar para o carro, Fiorella. — o segurança diz quando
paro ao lado de Ettore.
— Por que a pressa, Lazz? — me queixo, — Já estamos aqui, nos
deixe ficar. — meu olhar pedinchão não funciona mais com ele.
— É, deixe as meninas ficarem, Lazz. — Ettore zomba do guarda-
costas.
— Quando você tiver uma senhora Reviello, o que eu acredito que
será bem em breve, você poderá dar pitaco. — Lazzaro escarnece.
— Você está noivo? — Sienna pergunta ao homem, surpresa.
— Não. — responde com um olhar mordaz ao Lazzaro, que ri.
— Um passarinho cantou por aí que você está na lista do Chefe.
— Jamais me casaria com Edwina. — O Consigliere está tenso, o
assunto não está o deixando muito animado.
— A única coisa que te livraria desse casamento seria outro
casamento. — Lazzaro rebate, com um sorriso zombeteiro, pelo visto nem
os homens estão com sorte.
— Te desejo muita sorte, se isso chegar acontecer. — digo fazendo
o sorriso do meu segurança se manter, mas ele se afasta em seguida
pegando o telefone, possivelmente foi ver com Franco se tudo bem nós
ficarmos. Observo-o com atenção, na expectativa.
— Sem álcool. — Lazzaro diz ao se aproximar, guardando o
aparelho no bolso.
Assinto parando em frente às meninas e puxando elas das
banquetas, eu nem posso beber mesmo e duvido que Sávio deixaria as
meninas tomarem algo.
— Vamos dançar. — aviso, o meu segurança faz cara de
arrependimento instantaneamente.
— Ele não vai brigar com você depois? — Helena pergunta,
quando chegamos à pista.
— Não. — mexo a cabeça juntamente, e danço quando o DJ
começa mixar uma música. Sienna e Helena também, eu estou tão feliz que
minhas irmãs estão aqui que nem ligo para os olhos de Lazzaro presos em
nós o tempo inteiro.
Um cara chega por trás da Sienna, mas o pobre coitado não durou
um segundo e Sávio o fez desaparecer, nos tirando risos. Helena está com a
expressão de quem está caçando, eu só não sei quem.
— Eu vou ao banheiro. — minha amiga avisa e desaparece entre as
pessoas num piscar de olhos.
— Estou com sede e com dor nos pés. — Sienna avisa me pegando
pela mão, voltamos ao bar novamente e pedimos uma água com maçã verde
e limão.
— Você devia comer algo, Ella. — puxo uma rodela de maçã de
dentro do copo e mastigo, fazendo-a revirar os olhos.
— Eu como assim que formos embora.
— Você não teve enjoos ou qualquer outro sintoma? — pergunta
bebendo sua água.
Mexo a cabeça em negação, recordando-me de quando Dona
estava grávida, caralho ela vomitava todas as manhãs, era um show de
horror. E no fim da gestação ela ficava mal-humorada de repente, era
irritante demais, não entendo como papai tinha saco para aturá-la.
— Acho que estou com sorte por enquanto. — respondo.
— Há um boato rolando, estão dizendo que tem algo errado
comigo, — Sienna comenta girando o copo vazio na mesa, — Por isso
Franco não me escolheu para se casar. — diz com um sorriso sem graça.
— Oh, Sienna, você sabe que é mentira, não dê ouvidos a eles, é
babaquice, você é perfeita e Franco foi um tolo. — Nós rimos.
— Acho que eu não conseguiria lidar com o que você lida. —
menciona e entendo que se refere a Verônica e Edwina, aquelas vacas.
— Não deixe ninguém pisar em você Sienna. — ela mexe a
cabeça, assentindo.
Olho em volta procurando por Helena, ela desapareceu, e vejo
Lazzaro no telefone de costas para mim.
— Eu vou ao banheiro, se Lazzaro questionar diz que fui procurar
por Helena. — informo sorrindo, pois farei exatamente isso quando sair do
banheiro.
— Você não presta. — minha irmã diz.
Ando até o toalete com passos largos, e ninguém me barra. Se não
fosse pelo tiro que levei, diria que é ridículo ter um segurança o tempo
inteiro, é exaustivo e chato também saber que estou sendo vigiada o tempo
inteiro.
Procuro por Helena nas cabines e minha amiga não está em
nenhuma delas. Essa piranha está aprontando alguma coisa, penso com um
riso, e deixo o banheiro a sua procura.
Antes de descer para a pista, olho para o bar e somente minha irmã
está lá sentada com Sávio. Caminho entre as pessoas até alcançar uma
escada que sobe para os camarotes, o segurança me analisa, mas não barra a
minha passagem.
Avisto uma morena de longe, com um longo vestido preto, ando
até ela com passos largos.
— Achei você. — digo puxando-a pelo braço, é uma garota que eu
nunca vi antes me olha com o cenho franzido. — Foi mal. — falo soltando-
a e dando um passo atrás, então meu corpo choca-se contra uma parede de
músculos.
— Ora, ora quem está perdida por aqui. — essa voz faz meu couro
cabeludo eriçar.
 
 
 
 
James me pega pelo braço, quando tento me afastar, e me vira para
ele, com o coração disparado, não é possível essa desgraça estar aqui logo
hoje.
— Vamos dar uma palavrinha. — ele diz me puxando mais para
perto.
— Se você for esperto, me soltará agora, James. — aviso, mas seus
dedos se fecham com mais força em meu braço, com um riso.
— Seu marido não pode me matar se não ele já teria feito isso no
dia do casamento não acha? Ou você não contou para ele, o que aconteceu
naquele quartinho.
— Você acabará morto se não ficar calado. — rosno e lhe dou um
chute no saco com força, James se curva para frente grunhindo e Franco
está às suas costas, seus olhos encontram os meus tão frios quanto no dia
que me viu naquele quartinho.
— Leve-o para o meu escritório. — Fraco diz e Lazzaro arrasta
James para fora da ala vip, os olhos do meu marido encontram os meus
gélidos e sei que é melhor me manter calada. — Você vai junto. — avisa e
me puxa pelo braço, não bruscamente, mas firme o suficiente para não
fugir, como se eu tivesse para onde correr.
Quando chegamos ao bar, Helena está sentada em uma baqueta
com o semblante aterrorizado, com certeza ela já viu James com Lazzaro.
Minha amiga se coloca de pé, mas Ettore a impede de andar até mim.
— Leve as meninas para casa. — Franco fala ao Consigliere, e
continua andando me levando junto consigo, entramos no elevador, e antes
das portas fecharem vejo Sienna me encarando sem entender nada.
— Franco. — balbucio, e me viro para ele tentando me livrar do
seu toque que está se tornando doloroso.
— Você mentiu. — ele diz entre dentes, sem me olhar e me
empurra para fora quando as portas se abrem no segundo andar, sem me dar
chances de explicar.
O pior é tentar explicar, sem parecer culpada.
Firmo as pernas que parecem gelatinas e adentro mais uma
sofisticada e grande sala, com sofás espalhados, e uma mesa perto da
parede de vidro.
— Pode descer Lazzaro. — Franco fala, e o segurança passa por
mim sem nem me olhar e some no elevador.
— Franco, o que você vai fazer?  — pergunto e nisso James
aparece em minha frente com sangue escorrendo pelo canto dos lábios, pelo
visto ele resistiu à subida.
— Você não pode me matar, então vamos descer e esquecer isso.
— James avisa, em um tom firme. Ousado, para quem está com a cova
cavada.
— De fato, não posso matá-lo. — Franco afirma passando por mim
e se aproximando de James, que não recua, — Mas desejará estar morto. —
sibila e de repente dá um golpe na face de James, sangue jorra do nariz do
homem, que leva as mãos ao rosto com um grito de dor.
Franco lhe acerta outro golpe no estômago, roubando o seu ar.
James cai de joelhos como um saco de batata.
— Levanta seu merdinha. — Franco sibila entredentes, e o pega
pelos ombros o erguendo, depois o atira para trás, jogando-o em cima de
uma poltrona, como se James fosse um boneco de pano.
— Fiorella, pegue o cortador de charutos, na segunda gaveta. —
pede simplesmente afrouxando o nó da gravata e tirando o paletó.
— Franco. — balbucio, horrorizada, mexendo a cabeça em
negação, se eu me mover um centímetro sou capaz de cair dura no chão.
— Não quer que eu machuque seu namoradinho? — pergunta
zombando.
— Não aconteceu nada. — James, exclama num lamurio, ainda
atirado na poltrona. Idiota eu avisei.
— Será? — Fraco diz apertando os lábios em dúvida, — Vamos
descobrir juntos o quanto minha esposa é mentirosa. É só uma pena pra
você, porque vai doer. — Franco enfatiza com um sorriso para James, e
caminha até a mesa tranquilamente, ele está irreconhecível. Não sei o que
será de nós, quando terminar sua tortura com o filho do governador.
No momento que Franco abre a gaveta, James corre disparado em
direção ao elevador, e quando seus dedos alcançam o botão, um tiro
atravessa a sala, acertando a parede logo acima da cabeça de James.
Olho para Franco com o coração batendo na cabeça, ele suspira e
solta à arma na mesa, mexendo a cabeça em negação e estala a língua com
força.
— Odeio fujões. — diz andando até James, que se encontra de
costas para a caixa metálica, se encolhendo contra ela como se pudesse
atravessá-la de alguma forma.
— Fiorella, diga que não aconteceu nada, porra. — ele implora,
mas não adianta negar agora, Franco sabe que eu era virem, e por mais que
o que rolou não tenha sido grande coisa, eu menti, e sua raiva é por isso,
mas quem sofrerá as consequências será James. Talvez ele só esteja
mostrando o que gostaria de fazer comigo e não pode, ou não consegue.
Franco arrasta James pela nuca em direção a cadeira.
— Você vai ficar parada aí? — James rosna, — Diga algo, faça
qualquer coisa, caralho. — ele exclama, mas estou congelada no lugar, e
nem eu pudesse fazer algo, eu não faria.
Avisei James desde o casamento, talvez assim ele aprenda a dar
ouvidos a uma mulher.
— Você fica de bico calado ou arranco sua língua. — Franco avisa
prendendo o homem com algemas, cacete, de onde ele tirou aquilo?
— Franco, pra que tudo isso? — pergunto naturalmente, tentando
esconder meu terror.
Ele me ignora e tira de dentro do bolso o cortador de charuto, ele é
comprido no formato oval, contém três buracos, dois para os dedos e um ao
meio para o charuto.
Meu estômago embrulha imaginando o que ele vai cortar.
— Pra você entender, que há consequência quando mente. —
responde.
Oh céus, as suas palavras no passado foram: Se mentir Fiorella,
haverá consequências.
Inferno como fui idiota.
— Você está se excedendo. — digo, mexendo a cabeça juntamente.
— Ele tocou em você?
— Nada aconteceu. — James choraminga, jogando a cabeça para
trás, quando Franco desliza o cortador em seu dedo mindinho.
— Responda! — ele rosna.
— Sim. — sussurro, e estremeço inteiramente sentindo o grito
agonizado de James atravessar o meu corpo.
— Onde? — sua voz reverbera até mim, e o vejo encaixar o
cortador em outro dedo, fico muito enjoada.
Mexo a cabeça em negação incapaz de falar, Franco está fora de
controle.
James dá outro grito, que faz meu peito ficar tomada de aflição.
— Ele tem mais de 18 dedos e pra cada não que você disser eu vou
arrancar um.
Meus olhos se enchem d'água, e me pego tremendo,
incontrolavelmente.
— Onde? — ele questiona e ouço James gemer baixinho, ele está
chorando.
— Pescoço. — sussurro, e outro grito esganiçado, me faz fechar os
olhos com força, e as lágrimas rolarem. — Coxa, — digo me sentindo
enjoada, e o lamurio de James chega até mim outra vez, fazendo um nó se
formar na boca do meu estômago.
— Fiorella. — seu tom de voz reverbera me causando mais
desconforto que os próprios gritos de James. Estou me segurando em um
balcão olhando para baixo e tentando respirar, pois tudo que eu vejo é uma
sombra escura sob meus olhos.
— Ele tocou na minha calcinha, é isso. — respiro fundo e olho por
cima do ombro, James está desmaiado, possivelmente de dor. Sua mão está
caída contendo cinco cotocos, pingando sangue.
Cinco dedos porque eu menti. Franco é horrível, perverso,
impiedoso...
— Dom... — escuto, me viro para Franco, ele está ao telefone, —
Preciso que faça uma limpeza no segundo andar, não precisa do saco preto
só gaze e uma bandagem serve. — ele desliga e entra em um cômodo, um
banheiro, presumo.
Franco sai de lá em instantes falando ao telefone, novamente.
Ele para em minha frente, e desliga o aparelho o guardando no
bolso.
— Se tivesse me dito a porra da verdade podíamos ter evitado isso.
— diz severamente.
— Não jogue a culpa pra cima de mim. Você fez isso porque está
com o ego ferido, — rosno, — Quantas vezes você comeu a vaca da
Verônica enquanto estávamos noivos? Traga ela aqui, para eu arrancar seus
dedos também.
— Controle sua língua Fiorella, pois estou sem paciência. — rio
alto com escárnio.
— Bem conveniente me mandar ficar calada, pois sabe que é
verdade. — grito.
— Você é minha e ninguém devia tê-la tocado além de mim. — ele
cospe as palavras com fúria.
As portas do elevador abrem e Lazzaro passa por ela, seus olhos
analisam meu corpo brevemente, e depois o restante da sala.
— Leve Fiorella embora e não a deixe sair de casa. — ele nem me
olha e isso me enfurece, queria que ele visse e percebesse o quanto isso é
irracional.
— Vamos. — Lazzaro diz e me esquivo dos seus dedos, que
tentam me pegar pelo braço.
— Eu sei o caminho. — advirto, indo para o elevador.
Entro na caixa metálica, desacredita em como meu dia conseguiu
se tornar essa desgraça. Só espero que Franco se acalme antes de voltar para
casa, e que de alguma forma possamos achar um jeito de passar por cima
disso tudo.
 

 
Chego em casa, as meninas estão sentadas na sala, com pijamas
quentinhos. Elas correm me abraçar e não consigo falar, mas me debulho
em lágrimas e soluços, elas não questionam apenas me amparam esperando
eu me acalmar, e me encaram apreensivas.
— Ele machucou você? — Sienna me segura pelos ombros.
Mexo a cabeça mecanicamente, pego as meninas pelas mãos e
juntas subimos para o meu quarto, longe dos ouvidos de Lazzaro.
O segurança não disse uma palavra o caminho todo, mas seus
olhos não desviavam de mim, pelo retrovisor, preocupação, estampava a sua
face.
— Que diabos aconteceu lá, Ella? — Hell pergunta, sentando na
minha cama com minha irmã ao seu lado.
— Helena me contou sobre o James. — suspiro.
— Eu fui procurar você, Helena, e encontrei James. — os olhos da
minha amiga reluzem a culpa, — Franco nos viu juntos e tirou suas próprias
conclusões. Ele cortou os dedos do James com um cortador de charuto. —
digo e me encontro em lágrimas novamente.
Deito-me no meio das meninas com o coração esmagado.
— Ele não devia ter feito isso na sua frente. — Helena tenta secar
minhas lágrimas, mas elas rolam incontroláveis.
— Ele estava cego de raiva. — digo, como se de alguma forma
justificasse.
— Você precisa falar do bebê Fiorella, antes que ele acabe fazendo
uma besteira pior. — Siena diz contida.
— Eu sei, mas eu não quero contar nessas circunstâncias.
Simplesmente não tem clima.
A madrugada chegou, as meninas foram para o seu quarto e eu me
mantive acordada até quando consegui, precisava ver como Franco estava,
mas ele não voltou para casa.
 

 
Assim que acordo tomo um banho, me visto com algo confortável,
principalmente agora que fui proibida de sair de casa e desço sem ânimo
algum, mas sinto que vou desmaiar se não comer algo.
Quando chego à cozinha as meninas estão na mesa conversando
com Nádia e Elói. Ambas me cumprimentam e nos deixam a sós em
seguida.
— Ele não voltou não é? — Hell questiona, quando começo a
beliscar um pedaço de pão.
Mexo a cabeça em negação desanimada.
— Ele me proibiu de sair também.
— Tudo bem, não precisamos ir para lugar algum, ficaremos com
você pelo menos até ele chegar.
Assinto.
— Que tal a gente esquecer um pouco de ontem, ficar remoendo
não te fará bem. — minha amiga sugere.
— Hell está certa. Sabia que os bebês sentem quando as mães estão
tristes e isso pode atrapalhar no desenvolvimento dele. — faço cara feia,
fazendo Sienna rir. — É sério, Dona me contou, e depois eu pesquisei.
Deslizo a mão pelo ventre, respiro fundo, tenho que lidar com dois
bebês, e você é o que menos está me dando trabalho agora, penso.
— Eu topo tentar ignorar o aconteceu noite passada, mas antes eu
quero saber onde você estava Helena?
Tenho uma leve impressão de tê-la visto se embuchar com o pão,
quando minha irmã e eu a encaramos.
— No banheiro.
— Eu fui ao banheiro e você não estava lá.
— Eu desci pra encontrar vocês na pista. — pigarreia tomando um
gole de café.
— Helena eu não sou idiota. — digo e soou mais áspero que eu
desejava.
— Eu não posso dizer, Ella.
— Quem é o homem? — Sienna questiona.
— Se for um dos homens de Franco, você tem que me contar, ele
pode estar se aproveitando de você.
— Não tem ninguém se aproveitando de mim. — ela resmunga.
— Então por que não pode contar? — questiono.
— Porque causaria problemas pra nós dois.
— Pelo amor de Deus, estou com cólicas. Me conta! — imploro.
Ela mexe a cabeça em negação, com um riso.
— Não confia mais em mim? — pergunto sem conseguir esconder
a mágoa.
— Óbvio que confio, Ella.
— Você transou com ele? — Sienna indaga de repente, deixando
Helena corada.
— Céus você deu pra ele e não pode nem dizer seu nome.
— Ok. Mas e se a gente adivinhar? Você não estaria nos contando.
— Sienna sugestiona fazendo Helena revirar os olhos.
— Só tem três opções plausíveis, que estavam com nós ontem,
Sávio, Lazzaro, Ettore.
— Eu não vou dizer. — Helena rebate.
— Sávio estava comigo o tempo inteiro. — Sienna comenta para
mim.
— Lazzaro só me perdeu de vista quando fui ao banheiro.
Viramos para minha amiga, com as sobrancelhas arqueadas.
— Não vou dizer. — ela insiste em negar que já está óbvio.
— O Consigliere! Como, quando e o mais importante, por quê? —
quero saber.
— Meninas eu não posso falar.
— Mas também não está negando. — digo, ela dá de ombros nos
fazendo rir.
— Se o Carlo descobre, não sei se o que ele faria.
— Ettore tirou sua honra, talvez papai exigisse um casamento. —
Sienna comenta, fazendo minha amiga arregalar os olhos.
— Eu não sou um Santoro, talvez ele não se importe tanto.
— Papai adotou você, Helena, acho que só se você fizesse algo
muito estupido, ele não se importaria. — digo.
— Então é mais um motivo para ninguém saber.
— Não vamos contar. — minha irmã e eu dissemos juntas.
 

 
A tarde passou num piscar de olhos, e quanto mais se aproximava
da noite, eu sentia uma agitação tomar conta do meu âmago, Franco
simplesmente não veio para casa, nem para o jantar que eu mal consegui
encostar, pensar em comer me deixa enjoada.
Espero as meninas subirem para se deitarem e saio para o pátio à
procura de Lazzaro, ele está fumando escorado contra uma pilastra de
concreto.
— O que você quer, Fiorella? — pergunta jogando a bituca no
chão e amassando-a com o coturno.
— O meu marido. Onde Franco está?
— Não estou autorizado a responder. — mordo o lábio com força.
— Ele vai me abandonar nessa casa? — pergunto, com lágrimas
nos olhos.
Lazzaro suspira, comprimindo os lábios.
— Ele está com raiva, é melhor pra você que ele se mantenha
afastado, deixe-o esfriar a cabeça.
Assinto incapaz de dizer qualquer coisa e subo para o meu quarto.
Olho para cama intocável, sinto vontade de chorar. O quarto fica tão vazio
sem ele aqui. Como eu queria odiá-lo, para que esse aperto em meu peito
sumisse. E mesmo depois de tudo o que eu presenciei no escritório, nada
mudou com relação aos meus sentimentos por Franco, talvez isso seja
preocupante.
— Quer se deitar com a gente? — Sienna pergunta, me viro para
elas diante do corredor, e assinto, tristemente.
— Os homens são uns bebês. — Hell diz, furiosa, ao se deitar.
Ajeitei-me no meio delas, e fico encarando o teto inapta a
discordar e adormeço sentindo os carinhos de Sienna em minha cabeça.
 

 
 
 
 
 
Levanto-me sentindo o corpo dolorido, principalmente na lombar,
já faz uma semana que venho dormindo com as meninas. Uma semana que
não vejo Franco, que não tenho notícias dele. Esse tempo que ele está
levando para se acalmar está me fazendo perder o controle.
Mandei mensagens para ele durante a semana, altas horas da noite,
quando a ansiedade toma conta me fazendo sentir a beira da loucura, Franco
está me torturando, parece que está se alimentando com minha dor, e isso
está me matando.
As meninas já desceram para o café da manhã, mas como minhas
noites têm sido longas de tanto levantar para ir ao banheiro, e fico horas
acordada pensando em Franco até conseguir pegar no sono novamente,
então durmo até tarde e durante o dia também, e às vezes acordo com sono.
Meu organismo está uma loucura, parece que o bebê tomou o controle de
tudo; os meus seios estão maiores e sensíveis, tenho muito enjoo quando
acordo, mas como não consigo comer quase nada, não tenho o que vomitar.
— Você está bem? — Sienna pergunta assim que entro na cozinha,
já são quase onze horas e Elói está preparando o almoço, seja lá o que ela
está cozinhando me faz torcer o nariz.
— Sim, podiam ter me acordado. — respondo me sentando à mesa,
bocejando. — Nádia, traga o meu café da manhã. — peço à ruiva que está
tirando o pó dos armários.
Nenhuma das empregadas perguntou sobre o paradeiro do meu
marido, seus olhares foram quase piedosos durante a semana, o que me fez
começar a ficar com raiva de Franco.
— Não quer esperar o almoço, senhora? — Elói questiona, com
um sorriso doce.
Mexo a cabeça mecanicamente.
— Eu não sei o que você está cozinhando aí Elói, mas o cheiro está
me embrulhando o estômago. — digo e recebo olhar de advertência das
meninas.
— É o prato que você mais gosta, lasanha a bolonhesa. — diz e
seus olhos me analisam com atenção.
— Será que você não está grávida? — Nádia diz de repente ao
soltar meu café na minha frente.
Dou-lhe um olhar duro. Não quero que mais ninguém saiba antes
de Franco, mas está começando a ficar difícil esconder.
— Nádia vá pegar mais orégano na dispensa. — Elói pede, quando
me vê bebericando o café.
A ruiva sai apressada e me sinto mal, mas não me prendo a isso.
Estou com problemas maiores na cabeça, problemas que nenhuma uma
garota da minha idade deveria ter.
— Quer que eu prepare outra coisa para você almoçar?
— Não, a sua lasanha é perfeita. — respondo.
Encaro as meninas, elas me olham apreensivas.
— Vocês voltam hoje, é uma pena não podermos ter explorado a
cidade melhor. — digo com lágrimas invadindo meus olhos, caralho, acho
que não teve um dia que não chorei essa semana.
— Nós viemos por você e não pela cidade, Ella. — Hell diz com
um sorriso, triste.
— Franco me abandonou. — digo pegando as duas de surpresa,
elas mexem a cabeça juntamente.
A semana inteira se passou e não tocamos no assunto do meu
marido simplesmente ter sumido. Franco, até parece que tem outra casa,
fico me perguntando que roupas ele está usando, que cama ele está
dormindo, o que ele tem feito durante as noites que ele ficava comigo em
casa?
Ele sente a minha falta?
Porque ele está fazendo isso com nós. Ah, porque eu sou uma
mentirosa.
— Ele não faria isso. — Sienna afirma, mas dúvida sonda a sua
voz.
— Porque não conta que está grávida de uma vez?
— Eu quero que ele volte por mim, não que se sinta obrigado a
voltar.
— Daqui alguns dias você não conseguirá mais esconder Ella, seu
mal estar, está dando muita bandeira. — Hell diz.
— Mas ele não está aqui para ver isso. — falo deprimida.
 
 
A tarde veio, e me peguei esmorecida vendo as meninas
arrumarem as malas, o jato particular do meu pai vai partir às cinco horas,
elas vão desembarcar perto das sete e meia. Sinto vontade de ir com elas,
não quero ficar nessa casa sozinha, tem sido solitário com as meninas aqui,
que dirá quando estiver sozinha.
— Eu já estou com saudades. — digo abraçando as duas, em frente
ao SVU que irá levá-las e sentindo as lágrimas invadir minha face.
— Me liga se precisar de alguma coisa, eu dou um jeito e venho.
— Helena diz em um sussurro.
— Não deixe ele te quebrar, vire o jogo, seu bebê precisa de uma
mãe feliz. — Sienna alisa meu abdômen sutilmente.
Assinto, tentando absorver suas palavras.
— Mandem um beijo a Donatella.
Minhas irmãs entram no carro, e o aguardo sumir na extensão do
pátio, sentido um aperto no peito, até respirar parece que se tornou
doloroso, viro e vejo Lazzaro as minhas costas, seu semblante está suave,
diria que até ele está começando achar que Franco está indo longe demais
me torturando com esse silêncio, mas ele não diz nada, apenas me olha e
caminha para dentro de casa.
Olho ao redor, o silêncio é ensurdecedor, é tão grande e ao mesmo
tempo tão vazio e não tem como fugir.
Acendo a lareira e me deito no sofá, fico olhando o fogo por um
bom tempo, não tinha intenção de adormecer, mas acordo com meu telefone
tocando, é mensagem das meninas, avisando que já desembarcaram e estão
bem.
Levanto para tomar um copo d’água e encontro Lazzaro na
cozinha, ele está jantando um pedaço de lasanha.
— Elói acabou de partir, mas deixou sua janta no micro-ondas.
— Não estou com fome. — respondo tomando a minha água.
— Se você quer que ele volte logo, devia contar que está grávida.
— Não vou usar o meu filho pra isso, Franco volta por mim ou
pode ficar onde está. — digo me retirando da cozinha.
— Ele está no Plaza. — Lazz diz de repente me pegando de
surpresa, — Tem um apartamento no residencial.
— Obrigada, Lazzaro. — digo e subo para o meu quarto, troco a
minha roupa por algo mais confortável, e quando vou guardar meus brincos
na caixinha de joias, encontro meu ultrassom.
Pego a pequena imagem e me deito em minha cama, olho para o
ultra com atenção tentando localizar o bebê, sorrio, isso é a minha cara, não
consigo achar um ponto preto em uma foto, o que será desse bebê?
Depois de um momento o encontro, e minha mão desliza até o meu
ventre, está durinho e um pouco proeminente como se eu tivesse comido
pra caralho.
Somos dois, Franco é um. Quem está perdendo é ele.
Viro-me para o lado e adormeço.
 

 
Assim que acordo, guardo o ultrassom, tomo as vitaminas que a
médica me receitou e desço sentindo cheiro de bolo.
  — Bom dia. — digo a todos que estão na cozinha e me sento ao
lado de Lazzaro.
— Dormiu bem? — o segurança pergunta, nisso sinto os olhos de
Nádia em nós dois.
— Na medida do possível. — respondo, pois acordei muitas vezes
para ir ao banheiro, me proibi de pensar em Franco e, me peguei
ponderando em nomes de bebês.
— Já está liberada para sair. — ele avisa, e parece feliz por mim,
quando olhei para Nádia, ela estava nos cuidando novamente.
— Claro, agora que minhas irmãs foram embora, Franco resolveu
me tirar do castigo. — digo indignada, e deixo a cozinha pisando firme, a
raiva borbulha dentro de mim, e sinto que vou implodir se eu não fizer algo
para aliviar.
Passo por uma estante que tem um porta-retrato nosso do
casamento.
Pego ele, a moldura é pesada, feita de ouro, meus dedos deslizam
pela face do Franco, e tenho vontade de arrancar sua cabeça, por me tratar
feito uma prisioneira, não como sua esposa. Meus olhos se enchem d’água,
e eu não aguento mais essa sensação esmagadora, essas lágrimas
incessantes e essa maldita situação.
Olho para a foto mais uma vez, e o arremesso contra as janelas de
vidro. O som do vidro se partindo é quase libertador, e me dá um certo
alívio.
— Fiorella, o que está fazendo? — Lazzaro está atrás de mim, olho
para ele por cima do ombro e pego um vaso que parece bem caro.
— Sobrevivendo, Lazzaro. — respondo e jogo o vaso longe
acertando a frente do piano, cacos de vidro voam para todos os lados.
— Você vai se machucar.
— E quem se importa. — digo, pegando umas pedras pretas bem
pesadas que servem para enfeite, só pode, que coisa inútil, penso e jogo
uma contra a mesa de vidro e a outra a lareira. Quebrando ambas.
— O que está havendo? — Nádia aparece ao lado do segurança e
preocupação brilha em sua face.
— Nada, só estou aliviando minha raiva já que Franco não está
aqui para eu descontar nele. — digo pegando outro vaso e tirando as plantas
falsas de dentro.
— Cuide suas palavras Fiorella. — Lazz adverte.
— Eu jogaria esse vaso na cabeça do seu chefe se ele entrasse aqui
agora. — aviso com um olhar severo e jogo o vaso contra outra janela, me
sentindo satisfeita. Respiro fundo, e me viro para Nádia.
— Eu aceito um chá e um pedaço de bolo quando estiver pronto.
— aviso.
A mulher assente. Ando até o piano ignorando a bagunça que
acabei de fazer e me sento em frente.
— Pensei que fosse ficar feliz com a notícia, não quebrar a casa
inteira.
— Você não conhece mesmo as mulheres. — digo enojada.
— Você sabe que vou ter que relatar isso a ele, né?
— Faça o seu trabalho Lazzaro, eu não ligo e acho pouco provável
que Franco se importe. — dou de ombros, se Franco fosse me causar algum
mal teria feito há uma semana.
O segurança deixa a sala pisando firme quando começo a tocar
Swan Lake, Tchaikovsky.
Relaxo ao som da melodia sentindo meu coração desacelerar aos
poucos. Meus olhos se mantêm no piano embora eu já saiba onde fica cada
tecla, contudo evito olhar a algazarra à minha volta, pensando que talvez eu
tenha passado dos limites, não que eu esteja me sentindo culpada, mas
alguém terá que limpar essa bagunça.
Fico tocando piano até quando Elói sinaliza que o bolo está pronto
e me junto a ela na cozinha, enquanto Nádia organiza a sala.
— Você toca muito bem. — a cozinheira diz me entregando um
pedaço de bolo com cobertura de chocolate e uma xícara de chá de maçã.
— Toco desde os seis anos. — Acho que é a única coisa que eu
faço bem e eu nem gosto tanto.
Como em silêncio, enquanto vejo Lazzaro atrás da parede de vidro,
do lado de fora, falando ao telefone. Dedo duro, penso bebericando o meu
chá.
Lazzaro adentra a casa, carrancudo, mas o ignoro e subo para o
meu quarto em seguida, penso em pôr uma TV no quarto. Já que eu passo a
maior parte do tempo aqui em cima.
Agora que posso sair de casa, tudo que eu menos quero é fazer
isso, nem os treinos, eu estou com vontade de retomar. Sento-me na beira
da cama e me jogo para trás, o bolo volta com força parando a minha
garganta, só tenho tempo de correr para o banheiro e vomitar. Cacete.
Me lavo e me deito na cama em seguida, fico apenas observando o
vento chacoalhar as árvores do lado de fora, sem ânimo pra nada.
 
 
 
 
 
Espreguiço-me no sofá, acho que acabei pegando no sono
enquanto assistia Midnight Mass. Já escureceu, mas não deve passar das
seis horas da tarde. Ando até a cozinha, que está vazia, Lazzaro deve estar
fumando do lado de fora. Depois que eu surtei na semana passada,
quebrando alguns móveis, ele tem se mantido reservado. Se foi ordem do
meu marido narcisista, ou ele apenas não aprovou o meu comportamento e
está me dando um gelo, eu não tenho ideia.
No dia seguinte quando acordei a sala estava organizada, como se
eu não tivesse surtado no dia anterior, os vidros e os móveis foram
substituídos por outros e Franco não me deu nenhuma advertência, como eu
previa.
Analiso o que tem dentro da geladeira mesmo sem vontade de
comer, não tive uma alimentação decente desde que vi Franco cortar os
dedos de James, aquilo e toda a nossa situação deu um nó em meu
estômago de uma forma irremediável.
Fecho a geladeira sem pegar nada, subo para o meu quarto, acabo
escolhendo um robe qualquer e jogo em cima da cama, e entro no box para
um banho.
Já estamos na primeira semana de fevereiro, e no fim deste mês faz
dez anos que a Bratva invadiu a mansão. Sempre levei flores para minha
mãe e meus irmãos, Rocco e Louisa, contudo agora eu duvido que Franco
me deixe viajar até Chicago só para isso.
A vontade de fugir nos últimos dias voltou com força. Estou
começando a aceitar que Franco não voltará para essa casa, penso também
em meu bebê, ele teria uma chance de uma vida melhor e normal longe das
garras da máfia. Pois se for menina padecerá nas mãos do marido assim
como eu, sem ter escolhas, apenas vivendo de migalhas.
Limpo os pensamentos, prometi a Sienna que tentaria me manter
alegre pelo bem do bebê, só que é difícil sorrir, e fazer de conta, quando
tudo está desmoronando à minha volta.
Escoro-me na parede sentindo uma forte tontura, era só o que me
faltava desmaiar no box. Desligo o chuveiro e fico contida no lugar, ainda
sentindo-me girar mesmo de olhos fechados.
Respiro fundo, e os abro depois de um tempo, fico aliviada que
passou, pego a toalha do puxador e deixo o banheiro com passos largos, me
enrolando nela, quando chego à frente da penteadeira, meus olhos enxergam
apenas um borrão no reflexo do espelho, tudo gira, e na hora meus dedos
tocam na escora da cadeira, minha visão escurece e me sinto cair
completamente sem forças.
— Fiorella. — Ouço, abro os olhos com dificuldade, e me sinto
desorientada.
— Franco? — balbucio deslizando a mão para o contorno da sua
face, e meu polegar traceja o contorno do seu lábio delicadamente. Minha
visão desembaça devagar e enxergo Ettore ajoelhado ao meu lado.
Ah cacete, eu devo estar delirando.
— Fiorella, — o homem chama novamente, ele segura meu rosto
com ternura, me obrigando a encará-lo, — Eu vou tirá-la do chão. — avisa,
e sinto sua mão passar por baixa das minhas coxas nuas, e a outra me
segurar perto dos seios.
Oh céus, eu desmaiei na saída do banho.
Olho para o meu corpo, e vejo que a toalha me cobre, mas não foi
do jeito que me enrolei.
Ettore me solta na cama e puxa o edredom sobre meu corpo, seus
olhos me encaram com atenção.
— Você está grávida, não é? — diz sentado na beira do colchão.
— E você comeu a minha melhor amiga. — ele espreme os lábios,
pensativo.
— Não vou dizer nada ao Franco, isso não me diz respeito.
— Te digo o mesmo. — falo e nisso vejo Lazzaro na porta.
— Que merda está acontecendo aqui?
Ettore se coloca de pé, assumindo uma postura séria, aposto que
ninguém gostaria de estar na posição dele nesse momento,
comprometedora.
— Subi quando ouvi um barulho, — o Consigliere aponta para a
cadeira ao chão, — E encontrei Fiorella desmaiada.
— Esse não é o seu dever. — o segurança adverte. — Devia ter me
chamado.
— Se fumasse menos teria notado. — Ettore avisa.
— Chega! — digo quando vejo o Lazz abrir os lábios,
provavelmente para retrucar. — O que veio fazer em minha casa? — quero
saber.
— Franco pediu que eu pegasse alguns papéis no escritório. Eu já
vou. — avisa e deixa o quarto com passos largos.
— Me diga que está vestida pelo menos? — comprimo os lábios,
fazendo-o mexer a cabeça em negação. — Sabe que preciso contar a ele.
— Por favor, não. — imploro, sentindo os olhos encherem d’água.
— Ettore não dirá nada.
— Coisas ruins acontecem quando mente, pensei que tinha
aprendido.
— Não me crucifique, Lazz. — digo, amparando as malditas
lágrimas.
— Comece a comer, Fiorella, você está definhando e pegue um
pouco de sol também. — diz juntando a cadeira e saindo do quarto em
seguida.
Desço da cama com cuidado, vendo se estou com as pernas firmes,
paro em frente ao espelho nua, e analiso meu corpo: estou magra, mas nada
fora do comum, a minha clavícula está mais visível, e minha face um pouco
menor, mas o meu abdômen tem um minúsculo volume, acredito que só eu
consiga notar.
Aliso a mão no meu pequeno pacotinho, e solto um suspiro, vamos
ter que dar um jeito de ficar bem.
 

 
Enquanto tomo um chá de frutas vermelhas e como um pedaço de
torta de maçã, troco mensagens com as meninas, fizemos um grupo, assim
fica mais fácil para mim, não preciso explicar a mesma coisa duas vezes.
Dona e meu pai já descobriram que estou grávida, pela fatura do
cartão, mas prometeram não contar nada a Franco. Ambos não sabem da
nossa briga, acreditam que eu esteja esperando para fazer uma puta
surpresa.
Solto o telefone na mesa quando Lazzaro entra na cozinha.
— Quer um chá, Lazz? — questiono, com um sorriso, mas ele
morre quando enxergo Franco às suas costas.
A torta de maçã sobe tão depressa, que sou forçada a descer da
banqueta e deixar a cozinha com passos largos, em busca do banheiro mais
próximo.
Meu corpo treme, expulsando todo o conteúdo, fazia um tempo
que já não vomitava. Lavo-me na pia, e fico escorada contra a porta do
banheiro sem saber o que fazer. Franco sumiu por quase três semanas,
minha vontade é de socar a cara dele, e ao mesmo tempo abraçá-lo, mas
isso deve ser só o meu cérebro emotivo falando alto.
Tomo coragem e deixo o banheiro, subo para o meu quarto sem
olhar em direção à cozinha e quando adentro o cômodo o diabo está em
minha frente, afrouxando o nó da gravata.
Aqueles olhos azuis me fitam quase que incisivamente, e de
repente me sinto sem saber como agir na sua presença. Franco está com a
barba por fazer e sua expressão não é tão diferente da minha.
— Minha mãe está lá embaixo, — diz e percebo que ele também
não está confortável com minha presença. — Vista algo confortável, ela a
levará para uma caminhada, Lazzaro disse que você não saiu de dentro de
casa nas últimas semanas.
Chupo o lábio inferior desacreditada, que ele mal acabou de chegar
e está me dando ordens para sair, e pior de tudo, está agindo como se não
tivesse ficado fora por dias.
Não o respondo, pois um nó se formou em minha garganta tão
forte e apertado, que com certeza entraria em lágrimas se tentasse dizer
algo, apenas assinto mecanicamente e ando até o closet.
Coloco uma legging preta, uma jaqueta bordô corta vento, por
cima de uma básica e um tênis para corrida. Deixo o closet, e Franco está
sentado na extremidade da cama com o terno desabotoado.
— Fiorella. — ouço, paro diante da porta e me viro para Franco,
ergo as sobrancelhas em uma pergunta silenciosa, — Nada. — sussurra
depois de um momento, mexendo a cabeça juntamente.
Desço para o andar inferior, odiando ter que sair de casa com
Carlota que me encherá de perguntas sobre o teste de gravidez.
Chego à cozinha e minha sogra está com uma roupa parecida com
a minha. Ele deve estar na casa dos quarenta anos, e ainda com três filhos é
uma mulher incrivelmente bonita.
— Fiorella. — saúda com simpatia e um sorriso.
— Bom vê-la, Carlota. — digo lhe dando um abraço.
— Não tive tempo de programar uma rota, mas faremos a que
sempre faço todas as manhãs. — diz pegando uma garrafa d’água verde
escuro que combina com sua roupa.
Deixamos a casa em seguida, o sol da tarde está acolhedor, mas o
chão está aterrado por neve. Lazzaro e outro segurança nos seguem de
longe.
— Então, o que ele aprontou? — Carlota pergunta assim que
atravessamos os portões.
Pigarreio sem saber o que responder, fazendo-a rir.
— Para meu filho ter vindo até mim, pois não consegue fazer a
própria esposa sair de casa, deve ter sido algo bem estúpido.
— Bem, ele me fez sair, eu estou aqui. — comento com um
sorriso.
— Porque ele sabe que não diria não para mim. Olha, os homens
são complicados, e longe de mim querer defender Franco, pois o que quer
que tenha acontecido, eu tenho certeza que ele deve ter exagerado, mas o
conheço quando está arrependido.
— Só que ele é cabeça dura demais para admitir ou voltar atrás. —
deduzo.
— Homens de Honra não voltam atrás, e não pedem perdão, isso
feriria o ego deles. E isso é algo que eu gostaria de ter aprendido assim que
me casei com Riccardo, teria esperado menos.
— E o que você fazia?
— Para puni-lo?  — ela sorri quando assinto.
— Nada. Negar sexo, só o fazia buscar prazer em outro lugar, eu
torrava os cartões de credito dele, e quando Riccardo percebia que tinha
agido feito um cretino ele me comprava presentes. Essa era a forma dele se
desculpar.
— Franco pediu para você me convencer? — ela sorri, mexendo a
cabeça em negação.
— Essa é a minha história, mas sei que ele tem sentimentos por
você, Fiore. Ele só não demonstra por que foi ensinado que amor é um sinal
de fraqueza.
— O seu casamento teve amor?
— Eu tentei que tivesse nos primeiros anos, mas depois desisti,
Riccardo amava o poder. Amava tanto que matou o meu primeiro noivo,
Massimo Fiore, o primogênito.
— Ele matou o próprio irmão? — pergunto chocada, a segurando
pelo braço.
— Matou e se tornou o Capo dei Capi da Cosa Nostra. — Meu
queixo cai, Riccardo parece ser um homem tão... honestamente não tenho
palavras para descrever, mas matar o próprio irmão é desumano.
— Você não teve medo de se casar com ele? — ela ri.
— Massimo, já era velho e viúvo, ele me dava medo. E já tinha um
filho, o Domenico, por isso Riccardo o criou.
Meu queixo cai novamente tão forte que ouço minha sogra
gargalhar.
— Franco disse que Riccardo tem uma confiança muito grande em
Dom.
— Sim ele tem. Franco sentia muito ciúmes de Dom quando era
pequeno, mesmo nós tendo os criado como irmãos. Eu demorei um ano
para engravidar, e Dom já estava com três anos. Riccardo e ele eram
inseparáveis.
— Isso não será um problema futuramente? — pergunto, pois Dom
é filho do primogênito, ele tem direito ao trono, não?
— Domenico foi criado na rédea curta, ele sabe os limites embora
tenha se excedido com você, mas não será estúpido de ir contra Franco.
— Você acredita nisso?
— Preciso, é ele quem está tomando conta de Riccardo nesse
momento. — ela ri.
Caminho tentando digerir tudo o que ela me contou, deve ter tanta
coisa que eu não sei sobre a família de Franco. Pergunto-me em qual
extremo Franco chegaria para conseguir se manter no poder.
— Franco ficará bem. — ela garante, alisando minhas costas.
— Como consegue sobreviver a isso, sabe, a não ter escolhas?
— Eu fui criada para saber ceder, você foi criada por um Capo e
Capos não cedem.
— Então a culpa é do meu pai. — digo sorrindo.
— É sim! A culpa é sempre dos homens. — ela zomba.
Quando percebo estamos quase em frente a minha casa novamente,
e tudo o que eu menos desejo agora é entrar. Espairecer me fez bem,
conversar com ela me deu um pouco de ânimo, era o que eu precisava, pois
as últimas semanas foram pra lá de estressantes.
— Eu não queria ser inconveniente Fiorella... — diz e pausa, meu
estômago se contorce, já imaginando o resto da sua pergunta.
— Positivo. — afirmo, para que ela não precise falar.
— Ai meu Deus! — ela me abraça apertado, — Franco já sabe? —
ela se afasta olhando em volta, como se tivesse dado bandeira esse abraço
de repente.
Mexo a cabeça em negação.
— Eu ainda não tive chances de dizer. — respondo.
— Conte e seus problemas acabam. — ela sorri, olhando para
minha barriga, percebo que suas mãos estão agitadas, para me tocar. — Não
acredito que já sou avó, sou tão jovem. — fala emotiva.
— Eu também. — expresso sem pensar, e a vejo comprimir os
lábios.
— Eu sei querida, mas você terá alguém para amar de verdade, e
ele te amará de volta incondicionalmente, depois eles crescem e se tornam
um porre, — ela ri, — Pelo menos assim você terá algum sentido para
viver. — diz e paramos em frente aos portões.
— Até que faz sentido. — respondo.
— Me avise quando contar, Riccardo ficará feliz em saber que terá
um neto.
— Eu aviso. Você quer entrar?
— Melhor não, — ela está com um sorrisão, — vou acabar lhe
dedurando sem querer. — acrescenta e se despede com um beijo.
Subo com Lazzaro ao meu lado. Ele está com uma expressão
suave.
— Você se preocupa comigo, me fez sair de casa. — expressa em
tom de reprovação.
— Óbvio que me preocupo, você morre, ele me mata. — Lazz
escarnece, fazendo-me rir alto.
— Obrigada, foi bom ter caminhado, mesmo aqui do lado de fora.
— Digo o mesmo, mas foi Franco quem a fez sair. — responde
quando alcançamos a entrada da porta.
— Você não vem? — sussurra e vejo um sorrisinho surgir em seus
lábios.
— Vê se não quebra nada. — sussurra quando abro a porta.
Passo pela cozinha com um frio na barriga, e está vazia, tomo um
copo d’água e subo para o quarto, também está vazio. Não entendo o
motivo, mas sinto alívio. Eu quero Franco em casa, mas não sei se estou
preparada para conversar com ele, e ignorar as semanas que ele ficou longe
para me punir.
Tomo um banho demorado, e me preparo mentalmente para
qualquer situação que possa vir a seguir. Sentindo-me faminta, deixo o
banho e adentro o closet, a toalha escorrega para os meus pés, nisso sinto
uma presença nas minhas costas, me viro e Franco está no quarto parado
diante da porta. Sinto meu coração bater na cabeça, mas o ignoro e tento
agir naturalmente. Pego qualquer calcinha e a visto, não preciso me virar
para saber que ele continua me olhando. Coloco um conjunto flanela, ele
tem cor de creme e corações cinza, meio infantil, mas é muito confortável.
— Quer alguma coisa? — pergunto ao me virar e vê-lo parado
como uma coluna no meio do quarto. Seu maxilar fica cerrado, e quando ele
vai me responder o seu telefone toca.
Solto meus cabelos que estavam presos, e deixo Franco falando ao
telefone. Desço com o estômago embrulhado, mas sinto que preciso comer,
pelo bebê.
Belisco um prato pronto que Elói deixou para mim no micro-
ondas, e empurro para dentro tomando um copo d’água. E quando escuto
passos descerem as escadas afasto o prato para longe, me sentindo
empanturrada, parece que voltei à estaca zero.
Franco não entra na cozinha, ele deve ter ido para o escritório, me
pergunto o que o fez voltar? Suspiro, taí uma coisa que só vou saber falando
com ele e isso parece estar longe de acontecer.
Como está muito cedo para dormir, me sento em frente ao piano e
folheio o caderno de notas musicais, quase na última página, encontro a
canção que era a favorita da minha mãe, Comptine d'un autre été, Yann
Tiersen. Ela tocava quase sempre depois do jantar, mas depois da morte
dela eu nunca mais consegui nem ouvi-la sem ficar em lágrimas.
Escoro o caderno contra o piano e deixo na página da canção.
Vai lá e se torture idiota, ouço em minha cabeça, mas ignoro e
começo a tocá-la, antigamente ela me trazia sensação de paz, agora só um
aperto no peito. Eu me considero tão forte, mas apenas uma música
consegue me fazer chorar. É ridículo, o bebê está acabando com meu
autocontrole.
Canção idiota! Penso mexendo a cabeça, sentindo as lágrimas
pingar no teclado, passo a língua pelo contorno dos lábios, ergo meu olhar
para ver a próxima nota e encontro meu marido novamente feito uma
coluna parado no canto da sala me olhando.
Desço o olhar para o teclado, tentando fazer de conta que sua
presença não me abala. Não entendo o que Franco quer de mim, ele ficará
me sondando até quando? Porque não diz logo o que quer ou me deixa em
paz?
A música chega ao fim, e escuto um arranhar de garganta, nossos
olhos se fixam, por um longo momento, reparo que ele está com a barba
feita e sua aparência está razoável perto de quando ele chegou.
— Por que está chorando? — percebo que ele se esforça para falar.
Quer que eu te faça uma lista? Escarneço mentalmente.
— Lembranças. — digo indiferente, pegando o caderno outra vez,
meus olhos encaram os nomes e as notas, mas meu cérebro não absorve
nada.
Franco está tentando conversar, e ao mesmo tempo ignorando o
fato que me abandou nessa porra de casa por quase três semanas.
— Fiorella. — sua voz é firme.
— Porque você voltou, Franco? — as palavras correm para fora da
minha boca, e fico até grata, pois não aguento mais isso.
— Você não me queria de volta? — indaga, e não responde a porra
da minha pergunta.
— Na primeira semana sim, mas você me abandonou aqui por
tanto tempo que agora eu não sei mais. — respondo com honestidade,
passou tempo demais, se Franco se importasse ele nem teria feito o que fez.
— Eu não a abandonei a casa é sua. — cerro o maxilar, sentindo-
me frustrada.
— Diga o que quiser, pois é a sua palavra que vale. — dou de
ombros.
— Quer que eu vá embora, então? — pergunta, naturalmente
quando me coloco em pé. Reflito por um segundo, e se Franco quer ficar ou
ir, não será a minha opinião que mudará isso,
— Faça o que quiser. — exclamo, e subo as escadas ao lado para o
segundo andar, ele não me impede apenas me olha sumir para o segundo
piso.
Franco precisa reconhecer que errou, não estou esperando um
pedido de desculpas, eu menti, mas não justifica o que ele fez, eu mereço
mais que isso. Quem sabe ele esteja esperando que eu seja como as outras
esposas, apenas estoure o limite do cartão como punição, e o receba de
pernas abertas sem questionar.
Já estou deitada há um longo tempo desejando adormecer de uma
vez, quando a porta é aberta suavemente. Fico estática, no canto da cama,
com medo até de respirar. Ouço um farfalhar e imagino que seja ele tirando
suas roupas, um segundo depois a cama afunda, e ele rola para perto de
mim.
Seu calor corporal aquece as minhas costas, rápido demais que
sinto necessidade de me afastar, mas fico paralisada. Isso é patético, eu
estou na minha cama ele quem é o intruso, ele é quem devia estar na saia
justa.
— Sei que está acordada. — expõe suavemente, e seus dedos
tocam as costas do meu antebraço perto do cotovelo.
Solto o ar lentamente, e relaxo o corpo, pois não há para onde
fugir.
— Senti sua falta, o maldito do tempo inteiro. Foi por isso que
voltei. — admite e seus dedos se fecham em torno do meu braço me
forçando a virar para ele.
— E ficou todo esse maldito tempo fora, apenas para me punir. —
afirmo, puxando meu braço dos seus dedos. — Sou a sua esposa, e você me
trata como um de seus homens.
Na fraca luz que entra pelas janelas, o vejo mexer a cabeça em
negação.
— Você mentiu para mim, duas vezes. Eu teria te matado se fosse
um dos meus homens.
— Então eu devo ficar grata?
Ele expira lentamente.
— Não podia deixá-la impune e ao mesmo tempo não sabia o que
fazer com você.
— Já pensou em conversar?
— O medo costuma dar mais certo.
— Eu não tenho medo de você, Franco.
— E é por esse motivo que não sei como lidar com você, Fiorella.
Você faz e diz coisas que eu não admitiria se fosse qualquer outra pessoa.
Então quando eu falo que estou perdendo a paciência é porque eu não quero
machucá-la.
— Será sempre assim? — prendo o ar em meus pulmões, tensa,
ansiando por sua resposta.
— Acredito que não vamos ter mais mentiras, então não. —
responde e percebo que ele relaxa ao meu lado.
Viro-me de volta, com os pensamentos embaralhados. Estou
maluca ou ele acabou de me dizer que não lamenta, e ainda faria de novo se
fosse necessário?
Limpo minha mente, deslizando a mão pelo ventre, melhor não me
ater a esses pensamentos hoje. Franco quer ficar porque sente minha falta,
quem sabe eu devo considerar isso uma vitória, por ora, eu tenho mais a
ganhar com ele ao meu lado, do que com ele contra mim.
— Me odiará por muito tempo? — pergunta.
— Eu não sei, Franco. — sussurro, e sinto um pequeno alívio dele
ter perguntando.
Franco, invés de me arrastar até ele como antigamente, se
aproxima, e desliza a mão até a minha que repousa em meu abdômen. Seus
dedos se engatam por cima dos meus e se mantêm estáticos.
Ele pega no sono primeiro, enquanto, eu, fico remoendo tudo o que
aconteceu nas últimas semanas, meu cérebro parece incansável, e fica me
torturando, me lembrando de como foi horrível ficar sem tê-lo por perto, e
agora que ele está aqui... talvez seja coisa da minha cabeça, mas parece que
ele conseguiu o que queria muito rápido... fazendo-me sentir idiota e fraca
por ceder tão depressa.
 
 
 
 
 
 
— Você não devia estar comprando um vestido para hoje à noite?
— Lazzaro pergunta, enquanto arremesso uma faca em um boneco
improvisado, pintado por mim em um quadro de madeira.
Lazz comentou que o boneco lembra um pouco de Franco. Eu
disse que não vi semelhança alguma além de ser bem dotado com o cabelo
preto e olhos azuis.
— Eu tenho uma caralhada de vestido, algum deve servir pra essa
festa idiota.
— Talvez refinar o vocabulário seja uma boa ideia. — me viro
quando ouço a voz de Franco.
— O que faz aqui? — pergunto sem pensar, nisso vejo Lazzaro
deixar a academia em silêncio.
Hoje faz três dias desde que Franco voltou, ele tem ficado mais
tempo em casa, e tem sido bem atencioso, a ponto de eu acreditar que ele
fez alguma merda ou quer alguma coisa, estou indecisa, pois ainda não
transamos no máximo nos beijamos por um longo tempo, sinto que isso está
o enlouquecendo, não posso negar é divertido vê-lo sofrer.
— É assim que recebe seu marido? — diz em tom de reprovação,
mas sua expressão soa divertida.
— O que faz aqui, querido?  — pergunto em um tom exagerado de
doçura.
Fraco mexe a cabeça e seus olhos param no boneco que eu estava
arremessando as facas.
— Você que fez? — ele se aproxima do quadro pressionando os
lábios, o boneco está com facas cravadas na cabeça, no coração e nas bolas.
— Sim, você gostou? — rio. — Lazzaro disse que eu tenho uma
ótima pontaria.
— Para quem tem as bolas tão grandes, acho difícil errar.
— Mas o coração é pequeno se você olhar bem. — digo com
desdém.
— É assim que eu sou pra você? — pergunta parando ao lado do
boneco, fazendo-me apertar os lábios para não rir diante das semelhanças.
— Talvez eu tenha exagerado nas bolas. — respondo fazendo-o
cerrar o maxilar, Franco da um passo na minha direção com um olhar de
reprovação e dou outra atrás, e seus longos dedos agarram meu pulso, me
puxando para perto de si.
— Quem sabe eu te mostro outra coisa dotada.
— Agora é você quem está se superestimando. — zombo.
— E é mentira? — pergunta segurando em minha coluna.
— Como eu posso saber Franco? — rio, — Não tenho com o que
comparar.
— É justo, mas eu não minto.  — declara fazendo-me virar os
olhos.
Franco me segura pelo rosto, e seu polegar desliza por meus lábios.
— Quando vai me tirar do castigo? — pergunta e uma mão desce
para minha coluna e me puxa para perto de si, sinto sua ereção no meu
quadril. — O meu pau não devia estar assim, com um diálogo sobre bolas.
— rio da expressão dele, Franco aprendeu o meu olhar pedinchão.
— Ok. Se você acertar uma faca onde eu escolher, suas bolas
voltaram ao tamanho normal hoje à noite.
— Onde? — pergunta pegando uma de suas facas no paletó.
Pressiono os lábios, indecisa, não sei quanto Franco é bom em
arremesso, mas adoraria que ele errasse.
Caminho até o quadro e acrescento um pênis minúsculo no meu
boneco e Franco faz cara feia instantaneamente me tirando um riso.
— Dê dez passos atrás e acerte o piu-piu. — digo me afastando do
desenho.
Meu marido obedece e anda com passos largos, ele se vira de
repente e arremessa a faca sem avisar, corro para ver onde ele acertou. Viro-
me para Franco, cabisbaixa, e ele me encara com um sorriso convencido.
— Eu acertaria de olhos fechados se me pedisse. — cretino! Cerro
o maxilar, desacreditada, ele atingiu a cabeça do pauzinho.
— Revanche? — pergunto, e seus olhos brilham em maldade.
— Posso escolher o que eu ganho? — quer saber, arrancando a
faca do desenho.
— Depende o que quer? — ele sorri, quando cruzo os braços.
— Ah Fiorella eu quero algo bem específico. — coro sabendo o
que é, e isso eu não dou nem que ele me acorrente.
— O trem nem partiu e você quer entrar pela janela. — advirto.
— Não é pela janela que eu quero entrar, Fiore. — faço cara feia e
cruzo os braços.
— Guarde a faca, a brincadeira acabou. — Franco dá uma risada
gostosa.
 

 
Voltamos para casa e minha vontade é de me jogar na cama, e
dormir pelas próximas dez horas, porém o jantar beneficente da esposa do
Senador Crowley é em poucas horas e preciso me arrumar.
Franco mencionou que era sua mãe quem participava desses
eventos com Riccardo. Foi um aviso do que me espera daqui para frente. Às
vezes acredito que Franco já tomou o lugar do seu pai há meses, pois
duvido que Riccardo esteja em condições de tomar alguma decisão, e
quanto mais debilitado ele está, mais próximo Franco fica de assumir o
cargo diante de toda a Famiglia.
Tomo um banho e quando adentro o quarto meu telefone está
vibrando na cômoda, é mensagem no grupo das meninas. Me sento na
extremidade do colchão para ler.
Mensagem Sienna: Já contou, Ella? Estou ansiosa para espalhar
que serei titia.
Mensagem Helena: Já oficializaram as pazes?
Mensagem Sienna: Sério Hell, que é com isso que está
preocupada?
Reviro os olhos e bloqueio a tela quando vejo Franco parado na
entrada do quarto. Ele veste um terno com corte inglês inteiramente preto.
— Porque nunca usa outra cor? — pergunto o analisando, quando
adentra o quarto.
— O preto esconde sangue com facilidade e nunca sai de moda. —
ele sorri.
— Quando ficou longe nas últimas semanas, o que você estava
vestindo?
— Eu mantive minhas coisas no apartamento, para emergência.
— Então nada do que tem nessa casa é seu?
Ele mexe a cabeça em negação.
— É só um apartamento, Fiorella. — diz, ao notar minha expressão
de decepção.
— Não. — digo mexendo a cabeça juntamente, — É a sua válvula
de escape, por isso demorou tanto para voltar. É a vida que você teve que
abandonar quando nos casamos, mas você a mantém.
— É só um apartamento. — repete.
— O apartamento onde você tinha uma vida com a Verônica. —
expresso, magoada, ativando os hormônios de grávida, e começando a
chorar ridiculamente, como um bebê.
— O que você quer que eu faça, Fiorella?
— Tem algo dela lá? — pergunto, vendo sua expressão se tornar
ilegível.
Franco se agacha em minha frente, e segura em meus joelhos
gentilmente.
— Não. — diz, e pela primeira vez desde que o conheci não
consigo acreditar nele. — Fiore, não chore. — seu dedo escorre para minha
bochecha úmida e a limpa. — Eu posso vendê-lo se isso a faz feliz.
— Não. — falo chocada, — Eu não quero que se livre das suas
coisas Franco, só não quero que use o passado para se manter afastado de
mim.
— Não vou usar. — afirma e seus dedos correm para minha
cintura, Franco sobe centímetros e me beija. Seguro em sua face e desfruto
dos seus beijos, até quando meus lábios começam a arder pelo atrito em sua
barba, então me afasto.
— Preciso me arrumar. — ele suspira e assente, se afastando.
 

 
Paro em frente ao espelho, e passo um batom vermelho escuro,
nunca fui boa em maquiagem, Sienna ou Dona que me arrumavam para os
eventos, então fiz o básico, rímel, delineador e batom.
— Você não vai vestida assim. — ouço as minhas costas, me viro
ajeitando a minha franja.
— Vai começar a controlar minhas roupas também? — pergunto
com as mãos na cintura.
— Isso nem dá pra chamar de roupa, é calcinha e sutiã com um
pano transparente por cima.
— É um vestido, Prada. — ele faz cara feia.
Viro-me para o espelho novamente, o vestido é meio extravagante,
mas digno de uma Met Gala.  A parte de baixo se parece com uma calcinha
classic briefs, e cobre todo o meu bumbum, não entendo o que Franco está
reclamando, na parte de cima um top com o decote de coração, ambos
pretos. E por último o que dá o charme, é o tule ilusion preto, de mangas
compridas e longo que se amontoa aos meus pés, com muitos brilhantes.
— Não quero que os outros cobicem o que é meu. — minha
expressão de desgosto combina com a dele agora.
— Eu não troco. — finco o pé no chão e cruzo os braços.
— Se eu tiver que arrancar os olhos de alguém hoje, não diga que
eu não te avisei.
— Desde que não seja os meus. — aviso, pegando minha bolsa de
mão na penteadeira.
Descemos, e percebo que talvez Franco esteja certo quando
adentrei a cozinha e Lazzaro mal me olhou, e saiu rápido.
— Viu? O deixou constrangido, com sua nudez. — dou um olhar
violento ao meu marido e saio para o pátio.
O frio me faz estremecer do lado de fora, e vejo um sorriso nos
lábios de Franco.
— Ainda dá tempo de trocar.
— Não. — sibilo em tom de censura deslizando para dentro da
BMW.  Gemo com o calor do interior do carro.
— Teimosa. — diz ao deslizar para o meu lado.
— Possessivo, controlador, narcisista. — despejo em cima dele
com um sorriso e Franco me olha carrancudo.
— Só cuido do que é meu.
— Possessivo.  — Cantarolo, mexendo em uma mexa do meu
cabelo.
— Eu escutei. — sibila, eu sorrio.
 

 
Franco segue o fluxo de carros de luxo para dentro de uma
propriedade, tão extensa quanto a nossa. Ele para o carro próximo a mansão
inteiramente banca de dois ou mais andares.
Minha porta é aberta a seguir, e um homem estende a mão para
mim, desço do carro com sua ajuda e o agradeço gentilmente. Quando me
viro Franco está dando as chaves do carro para Lazzaro estacionar.
— Você não parece muito animado. — comento, sentindo sua mão
deslizar pela minha coluna e me puxa para perto de si, seu olhar se suaviza
quando encontra o meu.
— Só estou mantendo as aparências. — ele beija minha têmpora,
pegando-me de surpresa. Caminhamos ao meio de um vasto jardim, com
várias lâmpadas de chão que iluminam o caminho para a entrada da
mansão.
Olhando os casais à nossa volta, quase me sinto uma pessoa
normal, desfrutando de um evento com o meu esposo, aposto que todos
pensam o mesmo. Olho para Franco, sua beleza surreal máscara o monstro
que ele é de verdade.
— Precisamos ficar até o fim?
— Haverá uma exposição de quadros, e depois um leilão. Vamos
embora a seguir. Eu tenho planos pra você hoje à noite. — diz com malicia,
na hora que chegamos à entrada de uma porta-duplas.
— O que vão leiloar?
— É surpresa. — ele cerra o maxilar, acredito que Franco não
goste muito de surpresas. — Fique por perto, Lazzaro se manterá afastado
para não chamar atenção, então hoje eu serei sua sombra. — informa me
guiando para dentro de uma sala muito grande e iluminada, com a
exposição de quadros em vários corredores.
— Vamos comprar algum quadro? — questiono, sentindo a mão de
Franco abandonar minhas costas.
— O que você quiser. — diz e me guia para dentro da sala.
— Franco! — escuto vindo de trás. Nos viramos.
— Senador Crowley. — ele saúda o homem, de cabelos grisalhos,
na casa dos cinquenta, e uma mulher um pouco mais jovem que o Senador,
usando um vestido verde de chiffon.
— Bom vê-los novamente. — ela diz alegre estendendo a mão para
Franco, que apenas aperta com um gesto simples, e então a mulher se
aproxima para me dar um beijo.
— Obrigada pelo convite. — soo extremamente simpática.
— Aproveitem o evento. — ela expressa e nos deixa indo receber
os próximos convidados, nisso um garçom entra em minha linha de visão,
carregando uma bandeja com algumas taças de champanhe.
Franco pega uma quando o homem para em nossa frente.
— Tome Fiore, aproveite. — ele sinaliza para eu pegar a taça.
— Não, eu prefiro comer algo antes. — minto, pensando que agora
eu não tenho mais desculpa para não contar sobre o bebê. Franco assente
dispensando o homem.
Quando chegar em casa não vou esperar pelo momento certo, já
escondi tempo demais, Franco me encherá de perguntas, que não estou nem
um pouco a fim de responder, mas  dizer a verdade com certeza será
melhor.
— Não gostou de nenhum? — pergunta, e nem percebi que já
estávamos olhando os quadros. Do lado que estamos são todos abstratos e
coloridos demais.
Mexo a cabeça mecanicamente, e o guio para outro corredor e
encontro um quadro preto e branco, com a estátua da liberdade pintada de
vermelho.
— Gostei desse. — informo em frente a ele, — Ah, e vou levar um
para a sua mãe. — digo e começo a escolher outro quadro para Carlota. Ela
foi muito legal comigo e manteve meu segredo.
Escolho um quadro com flores Peônias abstrato em tons de azul.
— Ela vai gostar. — comenta, dando o número de referência ao
jovem da recepção.
Franco segura em minha mão e me guia para o fundo da sala, tem
outra porta-duplas abertas com um homem de cada lado, seguranças
possivelmente, atravessamos a passagem adentrando o salão de festas. Ele é
oval com luz quente, e muitas mesas redondas e cadeiras organizadas diante
de um pequeno estrado, bem enfeitado com tecido vermelho escuro e um
pezinho para microfone. Escuto uma música suave, mas é abafada por
muitas vozes.
— Quantas pessoas estão presentes? — Franco franze os lábios.
— Trezentas, talvez mais.
— Uau. Isso é quase o nosso casamento. — faço assim que
encontramos nossa mesa, com Fiore gravado em uma plaquinha branca.
— Porque estamos a sós, e as outras mesas com mais de quatro
pessoas? — questiono ao meu sentar.
— Eu comprei os lugares, não quero ninguém perturbando nossa
noite com conversa fiada. — rio mexendo a cabeça em negação.
Franco senta ao meu lado e seu braço corre para trás das minhas
costas, por cima da escora da cadeira.
— Ainda devo um jantar a você, não esqueci.
Não tenho certeza se ainda quero aquele jantar. Não conversamos a
respeito de James, e não tenho coragem de entrar no assunto, pensar já me
embrulha o estômago, e remexer no que passou não mudará o que
aconteceu.
— No que está pensando? — Franco pergunta baixinho e
preocupado.
— Esse mês é o aniversário da morte da minha família. Eu
costumava levar flores pela manhã. — comento na expectativa de irmos.
— Você quer ir, não é?
Assinto.
— Eu não tenho como deixar Nova Iorque agora, mas talvez Ettore
possa acompanhá-la. — sorrio feliz com a possibilidade de ir.
Janine, esposa do Senador, sobe no estrado, fazendo todos que
estavam em pé sair em busca de seus lugares. Ela aguarda com um sorriso
genuíno e a seguir agradece toda a sua equipe de apoio, e os convidados que
adquiriram mais de quatro milhões em quadros. Não fico nem um pouco
surpresa, os meus custaram mais de duzentos mil.
Ela desce do estrado e seu marido toma o seu lugar.
— Serei breve prometo, — ele sorri, — Quero agradecer a
presença de todos e por terem colaborado para que as crianças do Hospital
Lower Manhattan, consigam o tratamento para leucemia. — Os convidados
dão uma salva de palmas, — Peço que aproveitem o jantar, e abram as
carteiras, pois a seguir teremos o nosso leilão. — outra salva de palmas.
O homem desce do estrado e a seguir garçons surgem como
enxame por todos os lados, servindo o prato de entrada.
— O que aconteceria se o governo se recusasse a colaborar com a
Famiglia? — pergunto depois que o garçom solta um prato com Carpaccio
em nossa frente e duas taças de espumante.
— Depende do caso, Fiore, extorsão é um dos métodos. Se for
algo mais complicado, greve.
— Greve? — franzo o cenho.
— A máfia controla o sindicato, se o governo não cede, o sindicato
faz greve, os trabalhadores param, tudo para. Nada entra e nada sai do país.
— Uau, eles parecem marionetes. — digo perplexa.
O prato principal chega a seguir, e peço ao garçom que me traga
um copo d’água. Franco segue conversando sobre os negócios da Famiglia,
ele não disse muita coisa abertamente, mas citou: lavagem de dinheiro, casa
de jogos e tráfico de drogas, nós paramos quando o garçom trouxe os pratos
de sobremesa: Tiramisú, eu comi a de Franco também, pois estava gostosa
demais.
Escoro-me contra o ombro de Franco vendo Janine subir no
estrado. E vamos ao leilão, estou curiosa para saber o que irão leiloar e
percebo que meu marido também, pois seus olhos analisam a mulher com
atenção.
— Espero que tenham aproveitado o jantar, do nosso ilustre chefe
Auguste Ramsey. — ela sinaliza um senhor de idade com um chapéu na
cabeça e todos dão uma salva de palmas ao chefe. — Garanto que estão
todos ansiosos para descobrir o que será leiloado. — diz em tom de
mistério, eu sorrio, mas Franco está com uma expressão impassível.
— Se anime, talvez seja divertido. — ele contrai os lábios, mas não
sorri.
Uma jovem entrega uma espécie de lista a Janine que continua com
o mistério.
— Vamos leiloar as mulheres. — diz divertida, e o burburinho
começa com muitas risadas — Acalmem-se maridos e companheiros, —
Janine expressão com um sorriso, — Será apenas para uma dança, e não
serão todas.
— Se chamarem você não vai. — Franco sibila e encaro
decepcionada.
— É um leilão, você não me compraria? — ele me dá um olhar que
não precisa de resposta.
— Vou citar alguns nomes, e peço que a jovem escolhida venha até
mim. — a mulher prossegue assim que as pessoas se acalmam, percebo que
muitas estão animadas.
— Marisca Stiven, Brokes Wilson, Bibiana Jones... — Janine
prossegue com a lista e as meninas desfilam para frente, com grandes
sorrisos, — Fiorella Fiore, — ela comunica por fim.
Encaro Franco, e seu maxilar forte está cerrado, em um impasse,
ele sabe que eu quero ir, mas não quer me deixar, talvez porque esse vestido
seja um tanto revelador e terá olhos demais em mim.
— Vá, Fiore. — diz sem muito ânimo, dou-lhe um sorriso doce e
fico de pé, desfilando até as outras meninas. Encontro os olhos de Franco e
relaxo diante de centenas de olhos ansiosos esperando Janine iniciar o
leilão.
Ela anda até a primeira moça e a elogia, dos pés à cabeça.
— O lance inicial para uma dança com a doce e linda Marisca é de
quinze mil dólares.
— Vinte. — ouço um rapaz gritar, a menina lhe manda um beijo.
Vislumbro Franco e me perco imaginando como será a reação dele
quando souber da gravidez, de repente enxergo um homem se aproximando
por trás do meu marido, Franco se vira quando percebe uma presença, os
dois trocam palavras e a expressão de ambos não é das melhores.
Deus, não dá pra ter um dia normal nessa porra de vida?
Franco se coloca de pé, seus olhos encontram os meus e sua
expressão está temerosa, ele faz um sinal sutil com a cabeça, e sei que está
avisando ao Lazzaro para tomar conta de mim, então deixa o salão
acompanhando o outro homem.
Merda! O que aconteceu para ele ter que me deixar aqui?
Me pego aflita, desejando ir atrás que nem percebo quando chega a
minha vez.
— A nossa próxima leiloada será a jovem esplendorosa Fiorella.
— expressa de repente, o lance inicial será de vinte e cinco mil dólares.
Cacete, cadê o meu marido para me comprar agora, que irônico
não? Se ele ao menos tivesse pedido ao Lazzaro que desse os lances, mas
ele simplesmente me abandonou aqui.
— Quarenta. — Um senhor das primeiras fileiras diz, tenho a
impressão de tê-lo visto em meu casamento.
— Cinquenta. — Uma voz grossa reverbera até mim, busco por
seu dono, mas há cabeças demais atrapalhando minha visão.
— Cinquenta e cinco. — ouço de um jovem, de cabelos loiros e
sorriso malicioso.
Oh céus fique calado e mantenha seus olhos.
— Noventa mil. — a voz grossa surge novamente, e me pego
apreensiva, pensando que foi uma puta de uma má ideia ter vindo aqui. O
silêncio sobressai o ambiente e me sinto apreensiva por não saber de quem
era a voz que persistiu em me comprar.
— Noventa mil para a estonteante senhora Fiore, dou-lhe uma...
dou-lhe duas... vendida para Logan Specter.
Logan Specter?
 
 
 
 
Estou impaciente em uma fila ao lado, com as meninas, esperando
nossos compradores aparecer, para darmos início a dança, quero muito
saber quem é esse tal de Specter, mas desejo mais que tudo saber onde está
o meu marido.
Os homens que participaram do leilão se aproximam um por um e
as meninas engatam em seus braços e seguem em fila para a pista de dança
que há no meio do salão.
Meu estômago se contorce, quando o último comprador surge em
minha frente. Ele é alto e imponente, vestindo um terno com risca de giz
azul marinho, seus cabelos são loiros e os olhos azuis celestiais.
— Fiorella. — Specter saúda e por algum motivo seu tom de voz
faz meu coração acelerar, ele estende a mão, e hesito em pegá-la, pois um
alarme soa fortemente dentro de mim, mas não entendo o que é.
A música começa suavemente, e me forço a pegar em seus dedos.
Specter me conduz até o meio do salão, e ficamos no meio dos outros pares.
A mão dele desliza para minha cintura, e respeitosamente ele
mantém uma distância confortável entre nós. Ergo o queixo para encará-lo,
o homem deve ter a idade de Franco, talvez mais.
— Ella. — ele emite baixo e com urgência, meu corpo paralisa
estranhando esse comportamento, mas o homem continua se movimentando
por nós dois.
— Quem é você? — seu pomo-de-adão oscila, e seus olhos se
tornam apreensivos.
— Rocco. — murmura, pavor atravessa meu rosto, e sinto minhas
pernas falharem, tento me afastar desse homem, que diz ser meu irmão
morto, mas ele me segura firme dessa vez, me contendo no lugar. — Sei
que deve ser assustador ouvir isso, mas você precisa se acalmar, não temos
muito tempo.
Meus olhos se tornaram uma profusão de lágrimas, e tudo fica um
borrão.
— Eu não sei quem é você, mas eu enterrei Rocco há dez anos. —
digo desorientada.
— Não. — sussurra, — Você será forte por mim e eu por você,
entendeu? — mexo a cabeça proibindo as lembranças de invadir minha
mente, — Carlo enterrou outro garoto, eu fugi da Outfit na noite da invasão.
— O que você quer de mim? — choramingo e meus dedos lutam
contra os deles, pois quero me afastar e ele não permite. — Me solte. —
exijo.
— Acalme-se. — pede contido olhando em volta, mas me sinto
sufocada, enjoada, preciso de ar puro — Quero encontrá-la fora daqui, não
posso explicar agora, não há tempo. Estarei em frente ao Washington
Square, daqui dois dias, às duas da tarde. Não conte a ninguém. — diz em
meu ouvido.
Rocco se afasta e olha por cima do ombro.
— Eu preciso ir, Ella. — seus dedos soltam minha cintura e sinto
meu corpo amolecer, meu irmão desaparece no meio da multidão, minhas
pernas cedem ao peso do meu corpo e mãos firmes me pegam no meio da
pista.
— O que aconteceu? — Franco me puxa contra seu peito com
firmeza.
— Nada.
— Está mentindo. — ele sibila, olhando a minha face, e seus olhos
demonstram reprovação, Franco me leva para fora da multidão que nos
encara sem entender nada.
Saímos para uma área externa, com degraus de ambos os lados, o
ar frio entra em meus pulmões com força, e me sinto enjoada, me afasto de
Franco e vômito, segurando-me na pilastra de concreto.
As mãos dele puxam meus cabelos para trás, e ele me alcança um
lenço. Quando me endireito Lazzaro está se aproximando de nós.
— Me traga o homem que estava dançando com ela.
— Franco pelo amor de Deus! — grito, chamando sua atenção. —
O homem não me fez nada.
— Então porque está trêmula e vomitando? — pergunta
entredentes em um tom de voz severo.
— Porque estou grávida. — respondo enraivecida, esperando que
seja o suficiente para ele esquecer Rocco por ora.
Franco endireita sua postura ficando duro como uma rocha, seu
rosto é uma mistura de emoções, não consigo decifrar se está surpreso, feliz
ou com raiva. Seus olhos descem até meu abdômen, talvez em dúvida.
— Oito semanas. — falo, e percebo que estou quase na primeira
semana do terceiro mês.
— Como e quando descobriu? — pergunta, fazendo sinal para
Lazz buscar o carro, e se aproxima mais relaxado, ele olha em volta e tira o
seu terno, deixando amostra um pedaço do coldre por baixo do colete, e o
coloca em minha volta.
— No dia que matou o motoqueiro, a sua mãe pediu a Verônica
que me desse um teste de gravidez. — digo esperando que isso o afete de
alguma maneira, e desço os degraus vendo a BMW de longe se
aproximando.
— Minha mãe não tinha que ter feito isso e você devia ter me
contado, foi a mais de um mês. — repreende.
— Eu ia fazer uma surpresa, mas então fui surpreendida e você
passou quase três semanas me ignorando. — expresso, e pelo meu tom de
voz, ele entendeu o quão fula estou.
— Eu teria voltado. — rebate.
— Mas não teria sido por mim! — exclamo, irritada.
A BMW para em nossa frente e Lazzaro desce, abro a porta e
deslizo para dentro batendo a porta com raiva. Franco entra e se vira para
mim, sua mão desliza para minha perna e se detém. Não o encaro, pois
estou com ódio dele, mantenho meus olhos em minhas mãos que tremem
entre minhas pernas.
— Não chore. — ele pede, e me questiono de onde ele desenterrou
esse tom de voz doce.
— Não choro porque eu quero. — respondo limpando as lágrimas
com o dorso da mão.
Franco suspira baixinho.
— Eu teria voltado por você, Fiorella. — diz e sua mão escorrega
para minha barriga, tão gentilmente e o olho pelo canto dos olhos calada.
Não respondo, pois não sei o que dizer, só me encolho no assento
quando Franco começa a dirigir em silêncio. Já está tarde, as ruas estão
vazias, não demora dez minutos e estamos em casa.
Subo para o quarto e tomo um banho me sentido, fustigada, quem
sabe eu não achasse tudo tão dramático se não estivesse grávida, queria que
o bebê não mexesse tanto com o meu bom senso também, já sou meio
imprudente por conta própria.
Rocco surge em meus pensamentos, mexo a cabeça tentando
dispersá-lo, não posso lidar com essa realidade agora, meu casamento está
uma baderna, preciso focar em um problema por vez, antes que enlouqueça.
Deslizo para dentro de uma camisola de seda branca e deixo o
banheiro. Franco está sentado no recamier, ele solta o telefone ao lado
quando sente minha presença as suas costas e se vira.
— Vem cá. — ele me estende a mão, com um olhar atencioso.
Seguro em seus dedos fortes e calejados, e Franco me puxa para o
meio das suas pernas. Suas mãos seguram minha cintura, e seus olhos
buscam os meus.
— Por que me deixou no leilão? — quero saber e meu marido solta
o ar lentamente.
— Estava sendo investigado...
— Por quem? — fico perplexa.
— Eu devia ter arrancado à língua do James. — exala baixinho, —
Ele prestou queixa, depois retirou a queixa.
— Por vontade própria?
— Amo sua inocência, Fiore. — Faço cara feia, — Enfim, a
polícia ignorou o ocorrido, mas por algum motivo ontem, um detetive local,
pediu que eu o acompanhasse para fora da festa e me fez algumas perguntas
sobre o filho do governador.
— Devemos nos preocupar?
— Não, isso já está resolvido, deve ser algum policial querendo dar
o ar da graça.
Uma pulga atrás da orelha me diz que essa visita inesperada do
policial tem algo a ver com Rocco, ou seria uma puta coincidência, bem na
hora que Franco deixa o salão, é a minha vez de ser leiloada. Rocco não
teria chances de conversar comigo, Franco nunca permitiria que outro
homem me comprasse.
Céus isso vai reter meus pensamentos.
— Fiorella. — chama, me tirando do devaneio. — Você está bem
com a gravidez? — pergunta e uma das suas mãos desliza para a fenda da
camisola, cobrindo meu ventre. Sua mão me apalpa, e seus olhos me
encaram com satisfação.
— Eu não queria no começo. — admito. — Acho que por isso não
contei antes, mas depois que o vi no ultrassom, e ouvi o som de um
pequeno coração, sabia que iria ficar bem.
— Você fez um ultrassom? — ele franze os olhos, e me arrependo
de ter mencionado.
— Eu não quero mais brigar. — aviso cansada, e quando tento me
afastar ele me segura.
— Tudo bem, eu também não quero.
— Helena não estava com dor, à consulta era para mim. — explico
rapidamente, — Você quer ver o ultra?
— Claro. — Franco está relaxado, e parece verdadeiramente feliz
com o bebê.
Caminho mais tranquila até o closet, e apanho a imagem na
caixinha de joias. Volto para o quarto, e me sento em suas pernas,
entregando para ele.
Encaro sua face com os lábios pressionados enquanto Franco
procura nosso filho em uma imagem toda escura.
— Fiore... — ele me olha depois de momento, com um riso sem
graça.
— Lado esquerdo, na parte mais clara, tem um pequeno ponto
preto. — explico acariciando os cabelos da sua nuca, e deposito um beijo
em sua orelha.
— É tão pequeno. — balbucia.
— Tinha o tamanho de uma semente de maçã. — rio da expressão
dele. — Agora deve estar do tamanho de uma framboesa, e segundo Sienna,
já estão aparecendo às perninhas, os bracinhos, até a íris do olho. Sim, ela
está muito animada. — adiciono.
— Seu pai devia casá-la.
— Talvez. Ouvi um boato que Riccardo está pensando em casar
Ettore com a sua irmã, é verdade?
— Riccardo o acha ideal para Edwina, é solteiro, confiável e já a
conhece.
— E você?
— Eu não a casaria com ninguém, mas essa decisão não cabe a
mim ainda.
— Vai ter um casamento? — pergunto, pensando em Helena, será
que ela tem sentimentos pelo Consigliere?
— Será decidido em breve, e não comente com Ettore, tenho medo
que ele fuja. — Franco ri.
Se ele não quer que eu comente, é porque já sabe a decisão de
Riccardo, pobre Ettore.
Pulo do seu colo e guardo a ultra de volta no closet, aproveita e
pego minhas vitaminas.
— Estamos a sós? — pergunto indo para a porta do quarto.
Ele assente, ficando em pé e tirando o coldre e a camisa, desço
para a cozinha, acendo a luz e, tomo as vitaminas que havia esquecido mais
cedo. Quando me viro, Franco está nas minhas costas, me dando um
cagaço.
— Puta merda, quer me matar do coração? — pergunto levando a
mão ao peito.
— Estamos a sós, mas o pátio está cercado por seguranças e as
janelas são de vidro. — olho através da ampla janela e vejo dois seguranças
ao longo do pátio de costas para a casa.
— Eles nem olham para mim, é como se eu fosse invisível.
— Porque eu avisei que arrancaria seus olhos e os faria engolir se
te olhassem.
— Você não fez isso. — assobio, chocada para não dizer outra
coisa, quando haverá um limite para a possessividade dele?
Franco morde o lábio inferior, segurando em minha cintura, ele nos
gira e me coloca sentada em cima da bancada com um gesto simples.
— Você é minha. — afirma se enfiando entre as minhas pernas. —
E quanto mais olhos eu puder afastar de você, eu vou.
Franco segura na extremidade da minha camisola e a puxa,
passando pela minha cabeça deixando-me nua da cintura para cima.
— Você não teme que eles me vejam assim? — quero saber.
Franco se aproxima do meu pescoço com um sorriso perverso, ele
desliza meus longos cabelos para trás do ombro, e deposita um beijo ali.
— Não ligo, pois estarei dentro de você.
— Isso é tão errado. — sussurro, excitada não é possível. Inclino-
me para trás, e Franco faz uma trilha de beijos até meus seios.
— Uau, Fiore, — expressa com deleite, segurando meus seios com
ambas as mãos, — Nosso filho será uma criança de sorte. — seus lábios
abocanham meu mamilo, não tive tempo de protestar sobre sua insinuação
suja, pois a sucções reverberou por todo o meu corpo fazendo o desejo se
alastrar com força total para o meio das minhas pernas. Ele passou para o
outro seio e me senti ficar molhada no mesmo instante.
Franco agarra meus quadris e seus polegares encontrem a renda
branca da minha calcinha. Seus olhos se detêm em meu ventre, e o vejo em
dúvida.
— Tudo bem, não vai machucá-lo, só tente não me atravessar. —
debocho, e Franco me lança um olhar de que isso era tudo que ele mais
desejava.
Ergo a bunda e ele desce minha calcinha pelos tornozelos,
pendurando-a na porta de um armário ao lado, rio. Se não lembrarmos de
tirar, Elói terá um surpresa pela manhã.
Franco abre bem minhas pernas, tendo uma ótima visão do meu
sexo, me inclino para trás quando seus dedos deslizam por minhas dobra
úmidas, me tirando o ar. Ele chupa o lábio inferior com força, e me penetra
com o dedo indicador.
— Mal comecei e já está prontinha para mim. — seu tom de voz,
me faz miar em afirmação. Seu polegar toca meu clitóris sensível e começa
a massageá-lo.
Um gemido passa por meus lábios sem que eu consiga segurá-lo.
Faz tanto tempo, eu preciso de mais, muito mais.
— Sentiu minha falta, Fiore? — sua voz grave, faz meu sexo
explodir de tesão.
— Oh, céus como eu senti. — grunho, quando Franco retira seu
dedo e posiciona a palma da mão sobre meu clitóris levando espasmos por
todo o meu corpo.
— Não goze ainda. — abro os olhos, encontrando os dele, sua
postura, seu rosto e sua voz é de um Chefe, imponente e implacável.
— Não me torture. — choramingo, tentando evitar o inevitável,
mas meu corpo já está à beira do colapso, gemo, erguendo
involuntariamente a pélvis contra sua mão desejando por mais, e Franco
para os movimentos de repente, busco por ar com força, para insultá-lo, de
grande filho da puta, mas então suas mãos agarram meu quadril e sua língua
mergulha na minha fenda esfomeada.
— Oh céus... — me escuto gritar, sentindo as gotículas de suor
escorrer em meu pescoço.
Gemo, quando os lábios de Franco se fecham em torno do meu
clitóris, e o suga com fervor fazendo-me contorcer sobre a ilha, e encontrar
o clímax mais rápido do que desejava.
— O seu gosto, é tão gostoso quanto seu cheiro, Fiore. — profere e
beija o meu ventre.
Respiro fundo sentindo meu corpo tremer descompassadamente e
me sinto quase sem forças. Franco está descendo suas vestimentas, admiro
seu corpo rijo, e o seu pau quando ele o libera da cueca.
Acho que nunca o vi tão duro, a cabeça brilha vermelho intenso.
Franco me desce da ilha e me vira de costas, ele guia sua ereção para o
meio das minhas pernas. A cabeça do seu pau esfrega nos lábios do meu
sexo, me atiçando, fazendo-me pulsar fortemente.
A respiração dele se torna pesada em meu ouvido, enquanto suas
mãos apertam minha bunda.
— Eu daria tudo para te comer com toda a minha força agora. —
sussurra, e sinto seu pênis invadindo minha entrada, grosso demais, me
causando desconforto, fico tensa tarde demais, pois Franco mete com furor,
e sinto as paredes internas se alargar.
— Puta merda! — rosno.
— Cacete! Você está mais apertada ou é impressão minha?! —
geme puxando meu quadril para trás, ele desliza para fora, e se enterra
novamente.
Franco afunda seus dedos entre meus cabelos e me puxa para trás
quase dolorosamente, seus lábios grudam em meu ouvido, — Sua boceta é
ainda mais gostosa, do que me lembrava. — diz em tom grave, que leva
vibrações por todo o meu corpo.
Gemo em satisfação, e remexo meus quadris na direção de suas
estocadas. Franco mordisca o lóbulo da minha orelha e depois o meu
pescoço com força, jogo a cabeça para trás contra o peito dele, e seus
braços, envolvem-me, com firmeza, um cobrindo minha barriga e o outro os
meus seios.
Suas estocadas se tornam intensas, quase rigorosas, Franco solta
gemidos primitivos em meu ouvido. Meu corpo clama por mais, eu quero
tudo, estou gemendo sem pudor, sentindo os braços do meu marido, me
apertar com mais força, ele está perdendo o controle, e eu estou alcançando
meu clímax, que não consigo pará-lo, o prazer é demais, vindo de todos os
lados, mas o aperto de Franco está se tornando insuportável.
— Franco... — gemo sentindo-o vibrar dentro de mim, cada vez
mais fundo, mais duro e potente, — Franco! — grito sentindo que vou
partir, ele se enterra em mim uma última vez, seu corpo enrijece e com um
rosnado feroz ele goza com força.
— Merda. — grunhe saindo dentro de mim, de repente e me vira
para ele, — Eu machuquei você. — afirma e sua face resplandece
preocupação.
— Um pouco, pensei que fosse me quebrar.  — rio, abraçando meu
corpo dolorido pra cacete.
— Isso não tem graça. — adverte me analisando, e suas mãos
correm pelo meu tronco, e se detém em minha barriga.
Respiro fundo, buscando por ar.
— Estamos bem. — tento tranquilizá-lo, — Mas vamos pegar leve
da próxima vez. — respondo me sentindo desconfortável agora pela nudez
escancarada no meio da cozinha.
— Vamos subir. — Franco me puxa para seu colo, e antes de
deixarmos a cozinha eu pego a calcinha pendurada no armário com um riso.
Nos deitamos exaustos, tomar um banho passa por meus
pensamentos brevemente, mas me nego a sair dos braços dele.
Franco acaricia o topo da minha cabeça e a outra mão repousa em
minha barriga, fazendo círculos com o polegar. Helena estava certa, não
estávamos usando proteção, Franco já devia esperar por isso, talvez só não
imaginasse que fosse acontecer tão rápido.
Adormeço em segundos, saciada e exausta.
 
 
 
 
 
— Um pouco mais glitter, Lady Lou, e o príncipe, Alfred, irá se
apaixonar por você. — digo a minha boneca e a sento em uma linda
cadeira de ouro, depois deslizo a carruagem do príncipe Al, pelos portões
de um belo castelo.
Pego o príncipe na mão.
— Você vai se casar com ela, e a fará muito feliz, entendeu? —
aviso e o coloco sentado em uma cadeira ao lado de Lou.
— Você não está meio grandinha para brincar com bonecas?
Encaro Rocco, sentada no chão da sala com vários brinquedos de
Louisa esparramados à minha volta, coloco as mãos na cintura e faço cara
feia.
— Você não é novo demais para ter uma arma? — pergunto vendo
o seu coldre com duas pistolas.
— Justo. — ele sorri. — Está tarde devia estar na cama, Ella. —
diz sentando no sofá à minha frente.
— Estou sem sono, e está todo mundo acordado: mamãe tentando
fazer Louisa dormir no fim do corredor, e papai foi buscar Sienna na casa
da prima Lilia, é uma bebezona. Ela disse que eu não fui convidada porque
sou muito chata. Você também me acha chata?
— É a minha irmã favorita, — Rocco pisca. — Só não conte a elas.
— Será o nosso segredo. — pisco de volta com um sorriso, e pego
o bule e a xícara de chá.
— Você gostaria de um chá príncipe Alfred? — Lady Lou pergunta.
Ouço Rocco rir, ele se põe em pé e me deixa sozinha na sala. Não
compreendo os homens da minha família, para papai sou nova demais para
dormir fora, para Rocco grande demais para brincar com bonecas.
O que eu devo fazer?
Bobões.
Venha Lady Lou, vamos passear pelo vale, nem um príncipe sem
graça vale o seu tempo.
Pego minha boneca, que tem longos cabelos pretos com uma linda
coroa repousando em sua cabeça e caminho pelo vale encantado tentando
cantar a música da Cinderela.
 
Salagadula Mexegabula Bibidi-Bobidi-Boo
Junte isso tudo e teremos então
Bibidi-Bobidi-Boo
Salagadula Mexegabula Bibidi-Bobidi-Boo
Isso é magia, acredites ou não
Bibidi-Bobidi-Boo
 
Quando estou quase no fim do corredor escuto o som de algo
caindo no chão, deve ser Rocco aprontando alguma coisa, solto um bocejo,
talvez esteja na hora de dormir. Vou pedir à mamãe que me coloque na
cama, ou será que já estou grandinha demais para isso também?
Bufo tremendo os lábios, e entro na sala que mamãe está com
Louisa, e tem um homem muito feio atrás dela, ele tem uma barba muito
grande e a cabeça raspada, e o homem cobre a sua boca com a mão.
— Mamãe, — falo paralisando na entrada da sala sem
compreender, o homem sussurra algo em seu ouvido e retira a mão da sua
boca em seguida.
— Tudo bem, querida. — minha mãe tem lágrima nos olhos. —
Venha cá. — ela me estende as mãos, e quando dou um passo à frente uma
explosão reverbera pela casa, fazendo meu coração bater rápido.
Louisa senta no berço e começa a chorar, um tiro de repente
atravessa a cabeça da minha irmãzinha, manchando as grades do berço de
sangue. Um grito alto e animalesco passa por meus lábios e outro tiro
explode na sala atingindo a parede atrás de mim.
— Fuja, Ella! — minha mãe berra empurrando o homem contra a
parede, mas ele é grande e forte como um touro.
O homem pega mamãe e a joga no chão, ela grita para eu fugir, e
lágrimas surgem em meus olhos. Eu quero ajudá-la, mamãe está sofrendo,
mamãe está com dor, mas eu estou paralisada. O homem mau continua a
ferindo, ele acerta vários golpes na face dela, até a mamãe parar de gritar.
O silêncio pairou sobre a sala, vi o homem sacar a sua arma e
fechei os olhos quando ele mirou na cabeça dela, o tiro fez meu coração
quebrar, em tantos pedaços, que achei que fosse morrer nesse instante.
— Sua vez putinha. — o homem profere com um sotaque pesado,
apertei os olhos com força, desejando que fosse rápido, o tiro reverberou e
a dor em meu peito ainda era grande.
— Vamos, Ella. — Rocco diz em um tom grave, que eu nunca o vi
usar antes.
Meu irmão tenta me arrastar com força e acaba machucando meu
braço, pois estou dura, como uma pedra.
— Me deixe aqui. — peço com sufoco, vendo o homem que matou
minha mãe, caído sobre ela, dou um passo à frente, e Rocco me puxa com
firmeza.
— Nunca. Você será forte por mim e eu por você, entendeu? — diz
e me arrasta para fora da sala quando ouvimos mais disparos, Rocco me
puxa pelo pulso, e me mantém sempre as suas costas, percebo que há
sangue em sua camisa branca, perto do pescoço e ombro.
— Você tomou um tiro? — balbucio.
— Shh. — sussurra. — Ella, há muito deles, o segundo andar está
limpo, eu quero que suba para o meu quarto e se esconda dentro do baú do
recamier. Entendeu? — Rocco me encara esperando uma resposta.
— Entendi. — respondo e uma explosão atravessa o corredor,
Rocco cambaleia para trás, e dispara uma sequência de tiros.
— Ratos do inferno. — pragueja, levando a uma mão ao tórax, seu
corpo cai em cima de mim, e o escuto ofegar.
— Eu não posso perder você também. Por favor, Rocco, eu imploro
não morra. — meus dedos pressionam seu sangramento.
— Suba e se esconda. — ele assobia entre os lábios.
— Eu não vou sem você. Você será forte por mim e eu por você.
— Você é minha irmãzinha eu tenho que protegê-la, então pare de
teimar. — avisa pegando a outra arma do coldre, — Assim destrava e assim
trava. — diz mostrando com os dedos cobertos de sangue, — Mira e atira
em quem aparecer na sua frente. — ele me estende.
Mexo a cabeça mecanicamente.
— Pague! — ordena, puxando Lady Lou da minha mão e a
jogando longe perto da escada. — Eu lamento Ella, mas terá que
amadurecer mais rápido. — ele me estende a arma travada.
— Vem comigo. — implorando vendo Rocco se tornar um barrão
por causa das lágrimas.
— Não posso me esconder. Você pode e estou te mandando ir. —
vocifera e me empurra com força para perto da Lady Lou, pego a boneca e
a coloco debaixo do braço, me levanto do chão descendo meu vestido rosa,
e subo os degraus sem conseguir olhar para trás. E quando estou
alcançando o segundo andar escuto um tiro, que me faz paralisar e querer
voltar para meu irmão.
— Corra. — A voz de Rocco repercute até mim, e eu obedeço
perdendo até o sapato pelo caminho, e na hora que entro em seu quarto e
fecho a porta, acordo.
A luz do abajur está acesa e Franco debruçado sobre mim, me
sacudindo pelos ombros. Sento-me de repente com o peito acelerado e uma
sensação de sufocamento.
— Com o que estava sonhando?
— Nada. — respondo descendo da cama me sinto suada em todos
os cantos do corpo, e já está amanhecendo, respiro fundo, pelo menos não
terei que voltar a dormir pelas próximas horas.
— Fiorella. — Franco me chama quando estou entrando no
banheiro, o ignoro fechando a porta e me escorando nela.
Malditas lembranças. Maldito Rocco.
Entro no chuveiro, com a sensação que meu coração quer fugir do
peito e recebo o primeiro jato de água fria, que me faz arrepiar inteira.
NÃO PENSE!
Meu cérebro adverte, quando o pesadelo ameaça entrar em minha
cabeça.
Pense em outra coisa.
Pense em outra coisa.
Pense em outra coisa.
Respiro encostando a cabeça na parede fria, a porta se abre, não me
viro, continuo olhando para os meus pés.
— Fiorella. — Franco entra no box, e suas mãos seguram em meus
braços gentilmente. — Me conte o que aconteceu.
Mexo a cabeça mecanicamente, Franco me puxa para baixo do jato
d’água, e sinto sua ereção nas minhas costas, inclino a cabeça para trás e a
água quente limpa minhas lágrimas, Franco me gira e me encara sério.
— Estou preocupado. — diz confuso e apreensivo.
Meus olhos caem na sua ereção, e seguro em seu pau sem pensar
em mais nada, meu marido enrijece em minha mão.
— O que está fazendo?  — questiona erguendo meu queixo me
forçando a encará-lo.
— Não quero conversar. — aviso, começando a tocá-lo, Franco me
para e o encaro com lágrimas nos olhos.
— Não posso fazer isso, com você assim, Fiore. — ele me abraça,
e minha testa cola em seu peito.
— O sonho teve haver com seu irmão Rocco? — me afasto para
encará-lo. — Você disse o nome dele enquanto dormia.
Assinto para Franco, pois quanto mais eu falar, mais ele vai querer
saber.
— Tudo bem, não precisa me contar. — ele diz e volto para seus
braços mais relaxa.
Ficamos assim por um longo momento, apenas me concentrei nos
batimentos cardíacos de Franco, no seu cheiro e nas carícias em minhas
costas.
Depois que saímos do banho, Franco desceu para o escritório para
fazer algumas ligações, e eu me pego deitada na cama com os olhos bem
abertos, pensando em Rocco e no que será que ele quer comigo.
Por que ele voltou depois de todo esse tempo?
“Estarei em frente ao Parque Washington Square, daqui dois dias,
às duas da tarde.”
Quanta estupidez seria ir até lá?
Sempre que Franco e eu estamos nos entendendo parece que o
destino gira e coisas me colocam em situações controversas.
O sonho parece um chamado: NÃO! — meu cérebro berra
juntamente, isso é ridículo até para mim, tem que ser apenas uma puta
coincidência e também, talvez um gatilho.
Eu não vou!
— Fiore. — ergo a cabeça e encontro Franco diante da porta.
— O que foi? — balbucio, desanimada, e com os pensamentos
embaralhados.
— Vamos dar uma volta. — ele comprime os lábios e me estende a
mão.
— Para onde? — pergunto sentindo meu estômago embrulhar.
— Eu não devia ter dito à minha mãe que já sabia da gravidez.
— Não seja cruel, — rio, pensando que talvez seja uma boa sair e
espairecer a mente, e falar do bebê — Ela está ansiosa para contar a
Riccardo, e já teríamos que ir mesmo. — aviso lembrando-me do quadro
que comprei para ela. Lazzaro teve que voltar para buscar hoje cedo, pois
saímos na corrida noite passada e deixamos tudo para trás.
— Eu vou me arrumar. — pulo da cama.
 

 
Franco estaciona em frente à mansão dos Fiore e descemos juntos,
ele desliza uma mão para minhas costas e me guia para dentro da casa, em
silêncio. Percebi que passou boa parte da manhã me observando, nem
mesmo foi trabalhar fora.
Entramos na sala principal, e Carlota fica de pé com um sorriso
jovial, e pega de cima da mesa uma pequena caixa branca com um laço
vermelho em cima.
— Eu não resisti quando vi. — comenta me entregando a caixa e
abraça Franco. — Nem acredito que será papai. — ela dá um tapinha na
bochecha dele e a aperta em seguida fazendo-me rir.
— Controle-se. — adverte, sua mãe sorri e ignora seu senso de
humor, e apanha o quadro quando Franco lhe estende.  — Foi Fiorella que
escolheu.
— É lindo demais. — expressa amável.
Sento-me em um sofá macio cor de creme e Franco se aconchega
ao meu lado. Analisando-me abrir a caixa, há um body todo preto, estilo
smoking em frente ao peito e um pouco mais embaixo com letras divertidas,
está escrito, poderoso chefinho.
— É adorável! — eu digo, e me pego emocionada, malditas
lágrimas, ergo o body e mostro para Franco, ele sorri com um olhar de
aprovação.
— Então está mesmo grávida. — Edwina afirma, na entrada da
sala, abaixo o body e suspiro vendo Verônica ao seu lado, com os olhos
vermelhos como se tivesse chorado a noite inteira.
Podia ser mais embaraçoso? — reflito e a mão de Franco acaricia
as minhas costas.
— Sim, nos dê os parabéns. — meu marido pede e soa quase como
uma exigência. Edwina adentra mais a sala, e Verônica não se aproxima,
mas sinto seus olhos me comer viva.
— Um bebê é sempre bem-vindo. — ela diz com esforço e um
sorriso que não alcança os olhos, parece desanimada, não por nós, mas por
algo a mais.
— Amanhã teremos um brunch, adoraria que viesse, as mulheres
vão enlouquecer com a notícia. — Carlota avisa quando uma emprega se
aproxima com uma bandeja trazendo um bule e biscoitos.
Encaro Franco com um sorriso, mas pedindo socorro com os olhos.
— Não. Já temos outro compromisso. — diz secamente, a mão
dele não insiste. Respiro aliviada.
— Vou enviar uma térmica de chá e alguns muffins para você.
— Obrigada, tenho tomado muito chá. — falo, nisso Edwina deixa
a sala arrastando Verônica consigo.
Franco fica em pé, de repente, quero questionar aonde ele vai, mas
me mantenho calada.
— Vou conversar com meu pai. — assinto, e o vejo andar em
direção à saída que as meninas partiram. Por um segundo imaginei Franco
indo atrás dela e isso me doeu na alma.
Carlota senta ao meu lado, um pouco mais sossegada.
— E como meu sogro está?
— A situação não está nada boa, Franco terá que assumir logo, isso
significa passar por cima de Riccardo se for preciso.
— Espero que não chegue a isso. — sussurro.
A conversa caiu como pedra em meu estômago, e quando terminei
de tomar o meu chá, Franco voltou para sala com o semblante de um
velório.
— Fiorella vamos. — me chama da entrada.
Despeço-me da mãe dele rapidamente, pego o presente e o sigo
para fora da mansão com passos largos, preocupada.
— Algum problema? — pergunto quando alcançamos o lado de
fora, e vejo Ettore se aproximar de um Jaguar preto. O Consigliere se vira
para nós seu semblante está circunspecto.
— Não. — Franco assobia entre os dentes.
— Amanhã, uma hora da tarde. — o homem diz ao entrar no carro,
fazemos o mesmo.
— O que tem amanhã? — Franco não me responde e começa a
dirigir, parece com pressa. Chegamos em casa em minutos, abro a porta do
carro mas percebo que ele não, então me viro para ele.
— Preciso ir a um lugar. — explica.
— Está me deixando preocupada. — falo com um pressentimento
ruim. Franco, relaxa sua expressão e pega na minha mão.
— Ficaremos bem, só descansa um pouco que a noite eu volto para
jantar com você.
Assinto e desço do carro levando o presente comigo. Adentro a
grande casa, estou sozinha, e sem vontade de fazer nada, bocejo subindo
para o quarto, mas o temor de dormir e ter outro pesadelo me faz voltar para
a sala e ligar a TV. Não acredito que estou passando por isso outra vez.
Inspiro fortemente e me aconchego no sofá.
Acordo, sobressaltada e com o coração acelerado, tive outro sonho
com Rocco. Sabia que agora ele dominaria meu consciente. Suspiro.
Levanto-me e noto que já anoiteceu, e Franco pelo jeito ainda não
chegou, subo para quarto, e me deito na cama com o telefone na mão, penso
em enviar uma mensagem no grupo das meninas, mas seria idiotice
envolver Sienna nisso.
Pensando agora no que meu irmão disse na festa, o nosso pai
enterrou outro garoto no seu lugar, então ele sabe que Rocco está vivo, e
pior ainda, é um desertor. E papai não fez nada todos esses anos?
Ligo para Helena, talvez ela me dê um conselho útil, pois estou
começando a cogitar ir nesse encontro, nem que eu tenha que fugir de
Lazzaro.
— Hell. — digo receosa.
— Esse tom de voz me preocupa. — sorrio, minha amiga me
conhece mesmo.
— Tem alguém perto de você?
— Não. — responde depois de um momento, — O que você
aprontou? — quero rir, mas preciso manter o foco antes que eu perca a
coragem. Detalho a minha amiga, a respeito da festa do senador Crowley,
desejando que ela não me ache insana, pois se alguém viesse até mim e
dissesse: Seu irmão está vivo. Eu mandaria se foder.
— O que eu faço? Eu sinto que devo ir, mas toda a decisão que eu
tomo, tem acarretado consequências no meu casamento.
Ouço um suspirar.
— Se fosse você lá, eu iria sem pensar duas vezes Ella, e se, o seu
medo é Franco, conte para ele na volta. — sorrio.
— Como se ele não fosse arrancar de mim. — respondo.
— É o risco.
Oh céus.
— Pensa com calma e depois me avisa.
Concordo encerrando a ligação. Penso em fazer os prós e contra,
mas a minha decisão já foi tomada antes mesmo de ligar para Hell, acho
que eu só precisava de um incentivo. Os prós eu só saberei quando ouvir o
que Rocco quer de mim e contra, perder a confiança do meu marido para
sempre, pensar nisso me faz doer o estômago.
A noite se estendeu, já passou da meia noite e Franco ainda não
chegou, jantei sozinha, e subi para o quarto, entediada. Estou deitada
alisando meu ventre que tem ficado cada vez mais durinho, e me pego
desejando que os meses passem logo, assim terei companhia nessa casa
imensa.
 
 
 
 
 
 
Acordo e vejo que o lado da cama está intacto. Escovo-me e desço
vestindo um roupão, por cima da camisola, quando chego lá embaixo, o
vejo atirado no sofá com uma garrafa de uísque aberta na mesa de centro.
Dou a volta no sofá e me sento na pontinha dele, afundo meu dedo
indicador na bochecha de Franco, ele nem reage. Uau podia matá-lo e ele
nem perceberia. Rio, nisso seus olhos se abrem, desalentos.
— Puta merda, que hora são? — pergunta sentando, com o cabelo
todo desgrenhado e ainda assim, maravilhoso.
— Já passou das 10 horas. — respondo, e só não começo a ficar
preocupada por ele ainda estar em casa, pois Franco tem compromisso à
uma hora.
Ele fica em pé, e tonteia quase caindo de volta no lugar.
— Parece que a noite foi agitada. — comento esperando alguma
reação dele.
— Estava caçando alguns ratos. — diz subindo para o quarto com
pressa.
— Pegou alguém? — ele me dá um sorriso como resposta. — Por
que não manda um de seus homens?
— Porque eu gosto da caçada. — responde e desaparece no andar
superior.
Mexo a cabeça em negação, sem ter o que argumentar e quando
entro na cozinha, Nádia está soltando na ilha uma térmica de chá e os
muffins em uma cestinha bonitinha. Dizem que a sogra é o próprio Satanás,
mas parece que eu dei sorte.
Pego uma xícara e me sento em frente a eles, com o estômago
roncando.
— Nádia quer um pouco de chá? — ofereço me servindo.
— Não, senhora, obrigada. — diz indo em direção à dispensa.
Tomo duas xícaras de chá de hortelã, e quando estou no terceiro
delicioso muffin de chocolate, sou puxada para trás de repente e beijada no
pescoço.
Olho por cima do ombro, o meu marido está com os cabelos
molhados, e usando um terno impecável.
— Já vai sair para caçar? — pergunto, quando ele me rouba um
muffin da cesta.
— Não, é uma reunião com os subchefes.
— A respeito do seu pai?
— Não posso discutir isso com você, Fiore.
— Isso me parece um sim. — falo servindo mais chá e recebendo
um olhar de reprovação dele.
— Se comporte. — ele beija o topo da minha cabeça, até parece
que sabe que vou fazer merda.
— Minhas roupas estão começando a ficar apertadas, tudo bem se
eu sair? — pergunto, torcendo para que não implique e ao mesmo tempo
não me deixe sair de casa.
— Compre o que precisar. — Ele desliza a mão pela minha barriga
e me sinto mal por usar o bebê, pois ainda não preciso de roupas maiores,
talvez sutiãs.
Franco parte para sua reunião, e eu subo para o quarto, com o
coração batendo na cabeça. Tomo um banho ligeiro, ignorando
completamente a falta de juízo.
Deve ser quase meio dia, e ainda nem sei como despistar Lazzaro,
céus só espero que Franco não desconte nele a sua raiva por mim, pois é a
segunda vez que fugirei sob os cuidados dele.
Entro no closet, coloco um vestido lã batida, cor creme, justinho
que modela minhas curvas, por cima dele uma cinta da cor camurça, do
mesmo tom da bota de cano longo e o pesado sobretudo para suportar o frio
de fevereiro.
Estou modelando as pontas do cabelo quando vejo pela janela um
SVU preto estacionar no pátio. A ansiedade misturada com desespero
domina o meu corpo. Desço para o primeiro andar pedindo a Deus que não
seja Carlota. Quando chego ao hall aperto o passo não acreditando em quem
estou vendo do outro lado da porta de vidro.
— O que você faz aqui?
— Pensei que fosse precisar de uma ajudinha. — Helena diz em
meu ouvido quando eu a abraço com força.
— Como você veio?
— Avião, voo comercial. — reviro os olhos puxando minha amiga
para dentro, estou em cólicas, literalmente.
— E meu pai? — quero saber.
— Ele não faz ideia, eu comprei com um dinheiro que eu estava
guardando da mesada há um tempo.
— Oh, Hell. Você não devia ter vindo, eu não quero metê-la em
confusão.
— O meu sobrenome é confusão. — zomba e dá uma piscadinha.
Minha amiga, veste uma calça de couro preto, coturnos e
sobretudo, branco e peluciado, está maravilhosa como sempre.
— Já sabe como se livrar de Lazzaro? — pergunta baixinho, e
pegando um muffin quando nos sentamos à ilha.
Sirvo à última xícara de chá, sentindo uma agitação em meu
âmago.
— Não, eu ia improvisar. — Helena ri, mexendo a cabeça.
— Ainda bem que eu vim, eu tenho um plano. — diz e soa
enigmática, me inclino na sua direção, e minha amiga sussurra
detalhadamente o seu plano para a minha fuga.
 

 
Quando nos sentamos na Starbucks, comecei a me sentir enjoada
apenas em olhar para o meu mocaccino, mas sei que é apenas a ansiedade
tomando conta, mais o organismo de grávida.
— Você está legal? — Hell pergunta sentando em uma mesinha
para dois, e Lazzaro próximo à porta, nos dando privacidade.
— Estou tremendo e um pouco enjoada.
— É nervosismo. — concordo, olhando as horas em meu relógio
de pulso, deixei o telefone em casa, pois tenho certeza que há um rastreador
nele.
Falta menos de meia hora para me encontrar com Rocco, eu tenho
tantas perguntas para fazer que temo não dar tempo de voltar em menos de
15 minutos.
— Distraia a minha mente. — peço.
— Tem visto ele? — balbucia e sei a quem se refere.
— Bem pouco, e sempre de passagem. — ela assente, enrugando
os lábios. — Gosta dele, Hell?
— Eu não sei. — balbucia, — Como ele foi o meu primeiro beijo e
minha primeira transa, eu penso um pouco nele. — ela admite e encolhe os
ombros.
Seguro em sua mão e a puxa para o meio da mesa.
— Franco não disse com todas as palavras, mas Ettore parece o
ideal para se casar com a piranha da Edwina.
— É melhor assim. Ettore não tem sentimentos por mim, só que
ele faz umas coisas muito loucas com a língua e... — minha amiga para de
falar com um riso. — Vou sentir falta daquilo.
— Você ainda tem o Lazz. — Helena sorri olhando para Lazzaro
acompanho o seu olhar e o meu segurança, me olha de volta, dou-lhe uma
piscadela, e sou ignorada.
Tenho certeza que Lazzaro avisou Franco assim que Helena bateu
na minha porta, mas não recebi nenhuma ligação dele, deve estar em
reunião ainda, e espero que demore um pouco mais.
— Está na hora. — avisa, apertando minha mão. — Ande devagar.
Depois de cinco minutos eu vou, e farei de tudo para mantê-lo longe, até
você voltar. — diz fazendo meu coração disparar.
— Devia vir comigo e pegar o voo para Chicago, é o mais sensato.
— ela sorri.
— Não, Lazzaro vai perceber em cinco minutos que você sumiu e
terá cães a farejando por todos os cantos de Nova Iorque.
— Está certa. — digo ficando em pé, sentindo cólicas, e um puta
nervosismo, o meu coração parece um cavalo galopando no peito.
— Vou ao banheiro. — aviso em alto e bom tom, Lazzaro cuida os
meus passos, e sinto que até respirar me faz sentir suspeita.
Atravesso o local e depois uma porta de madeira branca, entrando
no banheiro feminino, e bem como Helena falou, as janelas são no estilo
guilhotina e não são tão altas.
Não sorrio ainda, pois esse é o menor dos meus obstáculos, o
maior é voltar antes que Lazzaro perceba que eu fugi pela janela da
Starbucks.
Penduro-me na janela e passo o copo para o lado de fora sem
dificuldades. Pulo para o chão e minhas pernas tremem quando acerto o
concreto, meu joelho reclama de dor, malditas botas de salto. No instante
que me viro para a rua do parque Washington Square, tem algumas pessoas
paradas me observando.
Oh merda!
Atravesso a rua na direção delas com passos largos, ignorando-os,
e vejo estudantes universitários por todos os lados. Rocco me disse que
estaria aqui, mas não me disse onde exatamente, pois a praça é enorme.
Começo a caminhar sem direção, me enfiando entre as pessoas,
para me camuflar, agora que eu definitivamente fugi, tenho como obrigação
descobrir o que Rocco quer, para ter o que contar ao Franco.
Ah ele vai comer o meu rim.
Ando para perto da fonte, e paro embaixo de uma construção
proeminente, acho que ela se chama Arco de Washington. Escoro-me contra
a pilastra e assim pelo menos tenho visão para os dois lados.
Cadê você Rocco? Cadê você!
Olho meu relógio de pulso, e são quase duas e quatro, se chegar ao
cinco e ele não tiver me encontrado, volto para a Starbucks, e enterro essa
loucura.
O ponteiro se torna lento, me pergunto se o relógio resolveu parar
de funcionar agora, ou é coisa da minha cabeça. Respiro fundo, tudo o que
eu menos desejo é desmaiar no meio do parque. Ergo o olhar e tem um
homem de terno escuro vindo em minha direção, mas não é o meu irmão.
Está na hora de voltar Ella, meu cérebro avisa, viro-me na direção
oposta a do homem e dou de cara com Rocco, ele veste uma roupa casual e
boné preto do Knicks. Sua aparência é uma lástima, parece que passou a
noite em claro, fugindo do diabo.
— Precisamos ir. — diz pegando em meu pulso e me puxando.
— Calminha aí, — sibilo, — Eu não disse que iria para lugar
algum com você.
— Estamos expostos demais aqui, tem uma van do outro lado da
rua. — fala e sinaliza com o indicador, de fato há uma van preta estacionada
em frente há um parquinho.
— Você tem cinco minutos. — aviso, deixando que ele me
conduza pelo braço em direção ao veículo.
— Cadê o seu segurança? — pergunta olhando a minha volta.
— Tomando café na Starbucks. — respondo e soa irônico, olho na
direção da cafeteria e meu estômago, se contrai fortemente.
Senhor, que Lazzaro ainda não tenha notado. Helena há esta altura
deve estar fingindo que estamos conversando no banheiro, mas é difícil
saber quanto tempo o segurança vai aguentar esperar até pôr a porta ao
chão.
— Então como eu devo chamá-lo, Rocco ou Sr. Specter? —
pergunto quando nos aproximamos da van.
— Pode me chamar de Logan.
— Acho que eu prefiro Rocco. — assobio entre os dentes, o vendo
arrastar a porta da van para o lado. Dando vista para o interior, e tem uma
mulher loira do lado de dentro, ela está sentada diante de um notebook.
— Entre. — ele pede.
Olho para meu irmão por cima do ombro. Quero questionar que
merda está acontecendo, mas sei que só me dirá depois que eu entrar. Olho
as horas, são duas e sete.
Entro na van, Rocco faz o mesmo e fecha a porta em seguida, as
janelas têm os vidros fumês, e a única claridade que temos é uma pequena
luz quente sobre nós e da tela do notebook, da mulher que continua me
olhando.
Rocco apresenta a mulher brevemente como Denise Vence.
— Fale. — exijo.
— Você está tão diferente. — ele balbucia me olhando e tocando o
meu joelho.
— Dez anos que você me abandonou Rocco, eu não tenho tempo
para isso agora. — ele enrijece, e assente.
Os olhos do meu irmão se direcionam para a mulher, ela entrega o
computador para ele, e ajeita os olhos de grau na face.
— Sou um agente da narcóticos, — diz simplesmente, e seus olhos
seguem mexendo no computador.
— Você está de palhaçada com minha cara? — empurro a tela do
computador para baixo, chamando sua atenção.
Rocco puxa da cintura um distintivo e me entrega, comprimo os
lábios, sem saber o que pensar, além do óbvio, ele quer me usar. Depois de
todos esses anos, ele só me procurou pra me usar.
— Eu estava há meses rastreando uma embarcação em Bogotá. —
explica e nesse exato momento recordo-me da virada do ano, e começo a
compreender porque Franco, não pode contar certas para mim, — Uma
tonelada de cocaína chegou na virada do ano. A equipe devia seguir para
onde ela ia depois de desembarcar aqui em Nova Iorque, mas tivemos
complicações.
— E o que eu tenho haver com isso? — pergunto fingindo
desentendimento.
— Quero sua ajuda para capturar Franco Fiore, e encontrar o
depósito onde ele escondeu as drogas. — Rocco expõe, roubando o ar dos
meus pulmões.
— Você faz ideia em qual situação está me colocando? — pergunto
perplexa e ficando em pé, mas Rocco me puxa de volta para o lugar.
— Ella... — diz e soa suplicante.
— Não. — faço entredentes, — Você volta depois de anos e me
pede algo sem pé e nem cabeça, estou arriscando o meu casamento para vir
falar com você, e, você é igual ao papai, só quer me usar.
— Casamento? — pergunta frustrado, — Carlo deu você em troca
de paz. — A indignação está tomando o meu corpo, que treme quase
descontroladamente.
Rocco respira fundo e solta o computador ao lado, ele tira o boné e
me olha com atenção.
— Eu não tenho o direito de julgar sua vida Ella, pois você não
tem voz e nem escolha, mas se nos ajudar você estará...
— Morta, — interrompo-o, a sua manipulação — E você sabe
disso, a Famiglia fará picadinho de mim.
— Eu cuido de você.
— Temos proteção à testemunha, você mudaria de nome, de país, e
poderia viver em liberdade. — a mulher acrescenta de uma forma positiva.
Olho para Rocco, com lágrimas nos olhos.
— Cuida? — rio, — Você me abandonou em uma casa cheia de
gente morta. Eu só tinha nove anos, Rocco, se você se importasse mesmo,
teria dado um jeito de me levar com você.
— Acha que eu não me arrependo? — ele explode, e seus ombros
ficam rígidos. — Com quinze anos eu já tinha matado mais de cinquenta
homens. Eu não escolhi aquela vida, Fiorella, e precisava sair dela de
qualquer jeito.
— Faça o bem, mas não me envolva, pois já é tarde demais para
mim.
— Você não sabe o que diz, pois não vê a metade das coisas que
seu marido faz. — Rocco pega o computador e o gira para mim.
Há uma tela aberta em uma galeria, ele abre uma das fotos, e
aparece um corpo sem os membros, Rocco arrasta para o lado e mais corpos
vão aparecendo, alguns empilhados, outros picotados.
Meu estômago embrulha com força, misturado com cólicas e
enjoo.
— Homens brutalmente assassinados.
— Homens bons? — questiono.
— Isso não importa, ninguém devia morrer dessa forma, você não
enxerga?
— Eu não ligo, Rocco. — respondo, e vejo choque em seu rosto.
— Não é possível isso não incomodá-la, o que ele fez com você?
— Já pensou que pode ter sido o seu pai? Chefe da Outfit, você
devia fazer uma visita a ele. — digo em um tom pesado de agressividade.
— Não posso me envolver com a Outfit.
Rio, e olho as horas no relógio, já são duas e vinte e cinco.
Caralho! Lazzaro já deve ter percebido que não estou no banheiro, espero
que Helena tenha fugido.
— Logan. — a mulher o chama lhe entregando um envelope pardo.
— Eu preciso ir, Rocco. — aviso, vendo-o abrir o envelope e tirar
algumas fotos escuras de dentro.
Meu irmão estende para mim e diz:
— É por esse homem que você deseja condenar a sua vida?
Olho a primeira foto, gravada nela há uma imagem de Franco e
Verônica se beijando, respiro fundo e ignoro os dois, a foto foi tirada no
residencial Plaza, pois no canto da imagem aparece um pedaço prédio.
Passo para a foto seguinte e os dois estão transando, assim como o
restante das outras fotos. Sinto-me mortificada por dentro, mas por fora
estou congelada, sem demonstrar emoção alguma.
— Sério, você vai usar isso? — pergunto pressionando os lábios,
— Franco tinha um relacionamento com ela antes de nos casarmos. —
explico me sentindo ridícula e depreciada.
Rocco ajeita sua postura, ele e sua colega trocam olhares e, em
seguida Denise lhe entrega uma câmera, tamanho médio.
— Foi há uma semana. — meu irmão vira a câmera para mim e
mostra na tela a imagem dos dois conversando no apartamento, com a data
embaixo ao lado. Foi um pouco antes de Franco voltar para a mansão,
enquanto eu sofria, ele comia a Verônica. Rocco passa para outra foto, e os
dois estão se beijando, afasto a câmera me sentindo muito enjoada, levo a
mão a boca, e quando vou vomitar meu irmão me estende uma pequena
lixeira.
Inferno! — limpo a boca com um lenço que Denise me alcança e
quando me recomponho, pergunto:
— Quantas vezes, ela foi vê-lo?
— Muitas vezes. — Denise responde.
Caio em silêncio, sentindo o coração partir dentro de mim. Não
quero acreditar que ele fez isso com a gente, mas as fotos... elas são
verdadeiras. E o meu casamento é uma mentira, e eu fui estúpida por me
deixar acreditar que ele poderia me amar algum dia.
— Fiorella. — Rocco aperta meu joelho.
— Me deixe pensar. — peço amparando a face com as mãos,
sentindo os pensamentos confusos.
Franco estava com raiva, mas nem de longe isso justifica ter me
traído e com Verônica ainda, ele sabe como me sinto em relação àquela
mulher, e mesmo assim passou por cima de tudo.
Queria ser menos corajosa, e mais submissa, mas felizmente não
fui criada para ceder e nem me curvar.
— Do que precisa? — pergunto, perturbada, confusa e com muita
raiva de Franco.
Quero que ele sofra, e quero que ele saiba que a dor dele é por
minha causa.  Eu nunca o trairia, ou o delataria, nem que me enfiassem uma
arma na cabeça. O amor é doente e nos faz fazer coisas doentias, mas
também há um limite, e Franco ultrapassou o dele.
— Primeiro da localização das drogas, — recordo-me da placa que
passamos para ir ao depósito, Long Island. — Assim que conseguir e
tiramos você da casa, depois do país.
Assinto, pensando que poderíamos ir embora agora, mas preciso
enfrentá-lo. Quero ver a cara de Franco quando vir às fotos, e quais
desculpas ele usará.
— Está sentindo alguma coisa? Está pálida demais. — Rocco
coloca a mão em minha testa preocupado.
Mexo a cabeça mecanicamente, e afasto sua mão.
— Preciso levar as fotos. Franco vai querer saber porque fugi, eu
tinha em mente contar tudo que conversamos, mas os planos mudaram. —
agora direi que me encontrei com um detetive particular, acredito que ele
engolirá.
— Ele vai machucá-la? — Rocco questiona e seus olhos mostram
preocupação.
— Estou grávida, ele vai quebrar a casa inteira, mas não tocará em
mim. — minto, não tenho ideia de qual é o limite de Franco quando se trata
de mim.
— Eu lamento que isso esteja acontecendo. Mas você e o bebê
ficarão bem, e quando tudo acabar verá que os fins justificam os meios.
— Espero que esteja certo.
Rocco anota seu telefone em um pedaço de papel e o enfio dentro
do sutiã.
— Isso que você está fazendo é muito corajoso. — Denise diz
quando Rocco abre a porta da van.
— E estúpido, porque se ele descobrir, vocês dois acabarão em
sacos pretos.
Desço da van sentindo um formigamento em minhas pernas, acho
que fiquei muito tempo sentada.
— Nós despedimos aqui. — aviso, dando um passo atrás, Rocco
me pega pelo pulso de repente e me puxa para os seus braços.
— Você amadureceu rápido demais. — diz e me aperta com força
como se quisesse compensar dez anos em um só abraço. — Se precisar liga,
mesmo que não tenha o endereço, tiramos você daquela casa.
— Eu entro em contato. — me despeço e atravesso a rua
carregando as fotos em baixo do braço. Volto para a Starbucks, pois preciso
de carona para ir embora e, algo me diz que tem algum soldado de Franco
me aguardando, caso retorne.
Quando chego em frente a cafeteria, um homem de terno escuro e
feições rígidas ajeita sua postura rapidamente no momento que me enxerga,
ele vem na minha direção pegando o telefone do bolso.
— Estou com ela. — diz com seus olhos bem escuros analisando
os meus.
Entro no SVU preto e solto as fotos no banco ao lado, cogito abrir
o envelope, mas não vou me torturar com isso, pois a sensação de derrota já
é tão grande, que não sei nem como farei para enfrentar Franco quando
chegar em casa. Estou cansada, com raiva e com cólica, aliso meu ventre e
encosto a cabeça na janela sentindo as lágrimas escorrerem pelo contorno
da minha face, enquanto o segurança me leva de volta ao inferno.
 
 
 
 
 
O carro estaciona em frente à mansão. Respiro profundamente e
desço com o peito subindo e descendo como se tivesse corrido uma
maratona. O meu estado piora quando vejo Lazzaro sair de trás de uma
pilastra, seu semblante é mordaz, quase violento.
— Onde está a Helena? — quero saber, preciso saber!
— O Chefe está te esperando. — sua voz é áspera, como nunca foi
antes.
— Lazzaro, o que você fez com a minha amiga?
Ele não responde e me leva até a porta, depois a fecha as minhas
costas, me deixando pensar no que quiser.
Seja forte.
Seja forte.
Peço mentalmente, pois força é tudo que eu preciso agora para
enfrentar o diabo. Atravesso o corredor e de longe enxergo o piano em
frangalhos, quanto mais adentro o cômodo mais enxergo o estrago da sala. 
Os meus saltos pisam nos cacos de vidro fazendo-os os menores se
estilhaçarem e outros saltarem longe.
Alcanço a entrada da sala, e vislumbro Franco de costas para mim,
de frente para o que deveria ser uma parede de vidro. Meu marido está sem
o paletó e veste uma camisa social branca com o coldre por cima.
Faço a volta em uma poltrona caída no chão, e paro a uma
distância razoável dele.
Franco olha por cima do ombro, e acho que o escuto suspirar, ele
se vira, exibindo a camisa rasgada no peito e suja de sangue, sangue dele,
que escorre por pequenos cortes. A preocupação se instala na boca do meu
estômago e preciso me lembrar que eu não devo sentir nada por esse
homem, que não seja ódio.
Seguro o seu olhar, com o queixo tão erguido quanto o dele, seus
olhos queimam de raiva, e sua expressão envia sinais de que o mais sensato
seria correr e se esconder, mas está tarde demais para isso.
Não vou me curvar, não vou ceder, Franco perderá essa batalha.
— Fugiu pela janela de uma cafeteria. — diz cada palavra soando
ríspida e cortante, nada que eu já não tenha escutado antes, mas há uma
energia diferente fluindo dele, algo escuro e perigoso.
Engulo a intensidade de emoções que correm pelo meu corpo, e me
ouço dizendo:
— Se eu não fosse vigiada permanentemente, não teria que fugir.
— surpreendo-me como o meu tom de voz saiu suave, e em como isso
incomodou ele.
Franco desce o olhar para minhas mãos, onde seguro o envelope
com força, para esconder minha tremedeira repentina e uma sensação
nauseante, não tenho certeza se esses sintomas são da gravidez ou porque
estou estressada em um nível elevado, pois me sinto suada em algumas
partes do corpo.
— Eu só tenho uma pergunta, — diz encurtado o espaço entre nós,
— E se mentir haverá consequência, Fiorella. — cerro o maxilar com raiva,
vendo Franco tirar do bolso da calça uma espécie de relógio smartwatch
preto.
— Faça a sua pergunta. — desafio com o olhar, como se não
tivesse nada a temer.
— Com quem você estava?  — exige uma resposta com
autoridade, e o tom da sua voz é a mesma que ele usa com seus soldados.
— Com um homem... — percebo que comecei com as palavras
erradas, no instante que sua face se torna uma máscara impenetrável.
Franco não me dá tempo para explicar, quando percebo ele está em
cima de mim, seus dedos fortes se fecham em torno do meu pulso
segurando-me com firmeza.
— Me solte! — vocifero puxando o braço, e quando acho que ele
vai bater em minha face com a outra mão, seus dedos deslizam o relógio em
meu pulso, nesse momento acerto uma bofetada em seu rosto, que deixam
os meus dedos formigando, e na hora que ele volta seu olhar para mim, o
pânico toma conta do meu coração.
Estou morta. É o que eu penso quando meus dedos se fecham em
torno da Beretta, Franco me empurra para trás e a arma desliza do coldre,
firme em minha mão.
— Que porra é essa que você pôs em mim? — exclamo, com os
olhos cheios de lágrimas.
Franco não responde, os seus olhos estão em minha mão trêmula,
que segura a arma, ele ousa dar um passo na minha direção, e eu ergo a
Beretta apontando para o seu peito. Franco fica estático analisando a
situação, ele está sem facas e a única arma que ele tinha consigo, está em
minha mão.
— Fiorella. — sua voz é de advertência, nem quando tem a porra
de uma arma apontada para si, consegue ser resignado.
— Cala a boca. — assobio entre os dentes e limpo as lágrimas da
face com o dorso da outra mão.
Depois de tudo o que ele me fez e ainda faz, eu simplesmente não
conseguiria tirar sua vida. Talvez eu devesse tirar a minha por ser tão fraca.
— Abaixe a arma. — diz em tom persuasivo, e faz sinal com as
mãos para eu me acalmar.
— Eu mandei calar a porra da boca. — sibilo, sentindo o coração
bater forte na cabeça, deixando-me desorientada.
Localizo o envelope com as fotos no chão e o chuto em sua
direção.
— Pegue. — digo entredentes.
O pomo-de-adão do meu marido oscila, e ele não tem outra escolha
a não ser apanhar o envelope. Franco Fiore está incapacitado, e isso está o
deixando maluco. Quero sorrir e perguntar como se sente não tendo
escolhas, mas me contenho, pois esta situação já está indo longe demais.
Ele tira as fotos de dentro e seus olhos caem sobre a primeira,
conflito se mostra em seu rosto, só comprovando a verdade.
— Onde conseguiu isso?  — sua voz está contida.
— Então é verdade. — falo, com a dor da traição rasgando um
buraco em meu peito.
— Quem foi o homem que te deu essas fotos, Fiorella? — pergunta
em tom baixo, sem paciência.
— Isso não importa. — grito, com a face rubra de indignação e a
fúria ondulando em meu estômago que se contrai dolorosamente, Franco
ousa dar um passo fora do lugar, miro centímetros para o lado e atiro contra
a outra parede de vidro. O som reverbera pelo meu corpo na mesma
intensidade da raiva que estou sentindo por ele.
— Em algum momento, foi real pra você? — exijo saber, me
sentindo cada vez mais fora de mim.
— Fiorella baixe a arma. — diz em tom de aviso e seus olhos
desviam para além de mim, quando viro a cabeça centímetros para o lado,
sinto o cano de uma arma contra o meu crânio, Franco relaxa
instantaneamente e me estende a mão para lhe entregar a Beretta.
Isso não pode acabar assim, reflito com os olhos cheios de
lágrimas e, sentindo uma pressão forte se formar em meu ventre, levo uma
mão à barriga como se fosse conter a dor, que me faz fechar os olhos com
força e soltar um gemido de dor.
— Pare de teatrinhos. — ele assobia entre os dentes.
As lágrimas escorrem quando eu abro os olhos, ergo a parte da
frente do vestido e o interior das minhas coxas está coberta por sangue, que
escorre com fluxo em direção as minhas pernas. Meus lábios se separam e o
terror atravessa o meu corpo. Sinto meu coração se quebrar de uma forma,
que não há mais conserto.
O meu bebê está indo embora, mais um que me abandona, Deus
tem um senso de humor sombrio quando se trata de mim.
— Baixe a arma, nós dois sabemos que você não vai atirar. — pede
calmo e mais próximo, não tenho forças para discordar.
— Você venceu Franco. — balbucio, girando a arma em direção a
minha cabeça, o cano frio pesa contra minha têmpora direita, e vejo
martírio refletir em seu rosto.
— Fiorella! — sua voz vibra por todo o meu corpo suplicante. —
Me peça o que quiser, mas solte essa arma, por favor.
Veja só quem está fazendo teatrinho agora.
Homens feitos não pedem desculpas quem dirá um por favor.
Mexo a cabeça mecanicamente e as lágrimas voam para os lados.
— Não dá. Eu não aguento mais você me escondendo coisas, me
traindo, e agora o meu filho, que era única coisa boa que poderia provir
desse casamento, me deixou.
— O bebê ainda pode estar aí, vamos para o hospital e depois
conversamos.
Mexo a cabeça em negação.
— Você não conversa, lembra?
Franco assente, de forma consternada, e me sinto levar uma
coronhada na cabeça. Tudo gira, e fica preto em segundos, alguém me
segura por trás antes que eu tombe no chão e tira a arma da minha mão.
Braços fortes me erguem para cima, e me apertam contra o corpo.
— Ettore prepare o carro. — ordena e ouço passos em seguida, —
Lazzaro, pegue roupas limpas, e depois descubra quem entregou essas fotos
a minha esposa.
Sou carregada para fora com passos largos, e minha cabeça lateja
contra o peito de Franco parecendo que vai explodir, me pego desejando por
isso. Entramos em um carro, as portas batem com força e logo começa a se
mover muito rápido.
— Você acha que ela faria aquilo? — ouço a voz de Ettore, como
se estivesse a milhas de distância, estou me desligando aos poucos.
— Não sei, ela é imprevisível. — sua voz sai baixa e pesarosa.
— E as fotos, são verdadeiras? Pensei que tinha terminado com
Verônica antes do casamento.
— Algumas, — diz me causando repulsa — mas não as
comprometedoras. — seus dedos deslizam por minha face delicadamente, e
o silêncio se estende dentro de mim.
 

 
Acordo deitada em uma cama de hospital e, através de uma larga
janela vejo que anoiteceu. Giro a cabeça sentindo-a dolorida e quando ergo
o braço para afagá-la percebo um cateter clarinho no meu pulso esquerdo.
Olho à minha volta, o quarto é grande e claro demais, fazendo Franco se
destacar todo de preto repousando em uma poltrona ao lado cama.
Ele ergue a cabeça, e quando nota que estou consciente fica em pé,
e anda até ao meu lado, sua face está amassada, e seus olhos com uma
expressão de fracasso, é estranho, não combina com ele.
— Como está se sentindo? — Franco senta na extremidade do
colchão ao lado da minha perna, e sua mão repousa em cima do meu joelho,
contenho a vontade de afastá-lo de mim. — Você me deu um baita susto. —
sussurra.
— O bebê ele... — engasgo com o resto das palavras levando uma
mão ao abdômen e sentindo minha face umedecer rapidamente.
— O bebê está bem. — fala, devolvendo o ar — Mas você terá que
repousar até o fim da gravidez, perdeu muito sangue e foi encontrado níveis
elevados de misoprostol no seu organismo.
— O que é isso? — Franco comprime os lábios.
— Os médicos disseram que é um anti-inflamatório que serve tanto
para dor de estômago, quanto para aborto.
— Como isso foi parar no meu organismo?
Franco suspira e mexe a cabeça mecanicamente.
— Não sabemos, mas eu vou descobrir.
Levo às mãos a face e limpo as lágrimas, nisso enxergo o relógio
em meu pulso, de repente a briga inteira se passa como um flash em minha
cabeça e o meu coração reverbera dentro de mim, como se tivesse
despertado, fazendo a máquina dos batimentos cardíacos, apitar.
— Fiorella. — ele fica em pé ao meu lado.
— O que é isso?  — exijo saber, analisando o objeto, que não tem
fecho, apenas uma plaquinha de metal com o brasão dos Fiore.
— Um relógio, de alta tecnologia, com trava digital, câmera, alto-
falante e GPS. — fala calmo.
— Tire isso de mim agora! — imponho.
— Você precisa se acalmar.
— Já estou farta de você me dizendo o que eu preciso fazer. — o
monitor ressoa ao meu lado.
Franco segura em meu pulso, e seu polegar pressiona a pequena
tela, que acende, e em seguida destrava a plaquinha de metal embaixo.
— Você é doente. — grito e atiro o relógio nele.
— Sou um desgraçado doente, mas não importa o que eu for, não
vou perdê-la.
— Você já perdeu Franco!
— Não, — expressa mexendo a cabeça juntamente, — eu não sei
quem te entregou aquelas fotos nem porque fez aquilo, mas são fotos
antigas.
— Está mentindo. — protesto, chocada que ele quer seguir em
frente com isso, — Eu vi na câmara a foto e a data de vocês se beijando.
Como explica isso?
Franco respira fundo, seu maxilar está tenso, e noto que ele não
tem argumento. Traidor de merda.
— Verônica foi me visitar na cobertura.
— Eu não quero ouvir mais nada, Franco.
— Eu não comi ela. — ele exclama como quisesse abrir um buraco
e enfiar na minha cabeça, — Não foi nem perto disso. — engole em seco e
senta na cama. — Ela apareceu de repente uma noite, eu estava estressado e
cansado pra caramba, trocamos algumas palavras e...
— Você a beijou. — concluo.
— Ela me beijou e foi horrível, porque não era você. — Mexo a
cabeça, em negação e limpo as lágrimas, incessantes com as mangas da
blusa, tentando digerir o que ele está me falando.
— Ontem na casa da sua mãe, Verônica estava chorando, você foi
atrás dela?
— Não. — diz com firmeza. — Precisa acreditar, Fiore.
Como posso acreditar nas palavras dele, se Franco falaria qualquer
coisa para conseguir o que quer.
E Rocco também...
Mas as fotos... fecho os olhos puxando na memória, e percebo que
não vi as imagens dos dois transando na câmera, pois fiquei com o
estômago embrulhado.
— Só está sendo bonzinho porque quer um nome. Todos me usam
como se eu não passasse de um objeto.
— Eu já tenho um nome. — meus olhos se estreitam, em dúvida.
— Logan Specter, o homem que a comprou no leilão.
Acredito que ele ainda não saiba que seja Rocco e muito menos um
agente da narcóticos, então obrigo-me a permanecer calma.
— Como descobriu?
— Ele foi o único homem que chegou perto de você. E acha que eu
não investigaria quem pagou noventa mil dólares por uma dança com minha
esposa?
— Isso não quer dizer nada. — Franco tira um pedaço de papel do
bolso, é o telefone de Rocco, agora meu coração acelera e não tenho nem
como esconder, pois a máquina apita.
— Isso é dele não, é? Fiorella precisa me dizer quem é esse
homem, ele não está no sistema, é um fantasma.
Oh céus Rocco, o que você fez com a minha vida?
— O que ele pediu a você? — Franco persiste.
— Porque acha que ele quer algo?
— Fiorella, aquelas fotos são de meses atrás, e se tem alguém me
vigiando eu quero saber quem é.
Escoro a cabeça para trás na cama sem saber no que pensar, Rocco
mentiu para mim? Será que ele chegaria a tanto para conseguir o que quer?
Quando tudo acabar verá que os fins justificam os meios. Rocco
disse.
Sorrio, desacreditada, ele não pensou duas vezes em me mostrar
aquelas fotos.
Oh, céus como sou estúpida.
— Quer saber quem é o homem, me traga Helena aqui. — conflito,
cintila em seus olhos, mas jamais darei uma informação sem conseguir algo
em troca.
— Helena fugiu. — cerro os olhos em dúvida.
— Ligue para o meu pai, ela deve estar em Chicago a esta altura.
— Não. Helena está sob os cuidados da Famiglia agora, se ela
colocar os pés em Chicago, seu pai tem o dever de me entregá-la.
— Dever? Pra que? O que pretende fazer com ela?
— Sua amiga te ajudou a fugir pela segunda vez, colocando o
acordo das máfias em perigo...
— Ela não fez nada de errado, a Famiglia não pode puni-la por
algo que foi decisão minha.
— E eu não posso puni-la porque é minha esposa.
— Eu sei o que está fazendo Franco, e como vou ter certeza que
não vai machucá-la assim que eu disser quem é Logan Specter?
— Porque eu te dou a minha palavra.
Reflito por um momento, chegando à conclusão que eu não tenho
escolha, não tenho mais nada para trocar, e não sei se implorar funcionaria
nessas circunstâncias.
Abro os lábios decida a contar a verdade e a porta do quarto se
abre. Uma médica morena, alta, com longos cabelos pretos entra na sala
com um sorriso gentil, percebo que Franco se segura para não correr com a
mulher daqui.
— Olá, Fiorella, me chamo Grace Pierce, e vou monitorá-la até
ganhar sua alta. Como está se sentindo?
— Bem.
— Já foi ao banheiro?
— Ainda, não. — respondo e percebo que estou usando
absorvente.
— Quando for, me informe, preciso saber se o fluxo de sangue
parou. — assinto.
A médica faz a volta na cama e para ao meu lado, ela tira do bolso
um aparelho, medidor de pressão azul escuro e passa em volta do meu
braço.
— Estou com fome e sede. — informo, vendo-a me apertar como
um torniquete.
— O café da manhã é às oito horas, mas você pode comer algo da
cafeteria.
— O que você quer? Eu busco.
— Um bolo de mirtilo e um chá de... — de repente me vem à
mente a garrafa de chá que recebi da Carlota...
— Fiorella. — Franco interrompe meu pensamento.
— Esquece o chá, me traga um leite quente. — ele assente
deixando o quarto em seguida.
— Sua pressão está baixando, isso é bom. — diz pegando o
estetoscópio.
— Me empresta o seu celular? — ela tira o aparelho da orelha e me
encara confusa.
— Você pode usar o residencial do quarto. — diz sinalizando um
telefone ao meu lado.
— Não posso. — a médica olha em direção a porta ponderando, e
me entrega o telefone em seguida.
O pego com a tela já desbloqueada e disco o número de Helena
rapidamente. O telefone cai direito na caixa postal. Inferno!
Não perco mais tempo tentando ligar para ela, e disco outro
número em seguida. Meus olhos permanecem na porta enquanto a chamada
se inicia, já é de madrugada, talvez ele nem atenda.
— Pai. — sussurro, sem intenção, pois a médica se afastou para me
dar privacidade.
— Fiorella. — percebo que sua voz sobe um quarto.
— Você não devia ter dado Helena a Famiglia.
— Não vou começar uma guerra com a Famiglia porque as duas
são desmioladas. Você não devia ter fugido.
— Não tenho tempo para o seu sermão. — assobio, irritada —
Rocco me procurou, fugi para me encontrar com ele.
— Fiorella não diga mais nada. — seu tom voz e vacilante.
— Pai, assim que Franco descobrir, ele matará Rocco nós dois
sabemos disso. Dê um jeito e avise-o, para sair da cidade.
— Eu não posso, seria traição contra a Famiglia. Rocco fez a
escolha dele quando partiu há dez anos, terá que arcar com as
consequências.
— Ele é seu filho, caralho! — eu grito e a médica se vira para
mim.
— Ele é um desertor sem honra.
— Ligue para Rocco e o avise, ou eu darei um jeito de todos os
homens honrados da Outfit saber que o filho do Chefe é um agente da
narcóticos. — encerro a chamada, orando em pensamentos que ele engoliu
a ameaça, e estendo o telefone a médica, Grace atravessa o quarto com
passos largos e quando seus dedos alcançam o aparelho a porta se abre.
— Não tinha mirtilo, eu trouxe framboesa. — assinto.
— Você levou um tombo e tanto, — a médica menciona, franzo o
cenho, confusa, — Sua cabeça está doendo?
Ahh! A coronhada que levei.
— Não. — aviso olhando Franco que permanece em pé segurando
o meu lanche.
— Bom. Então coma e descanse, se tudo estiver em ordem irá
embora ao amanhecer. — avisa e deixa a sala em seguida.
Franco senta ao meu lado, e me estende o pedaço de bolo, enrolado
em uma embalagem roxa. Começo a comer e seus olhos permanecem em
mim atenciosos, veremos até quando isso vai seguir, quando ele souber que
pretendia delatá-lo a polícia.
— Você puxaria o gatilho? — pergunta de repente, fazendo-me
parar de comer para encará-lo, vejo preocupação em sua face, e não o
culpo, ele vai ter que viver com a mulher que apontou uma arma para o seu
peito.
— Não, sou muito covarde, não conseguiria viver sabendo que tirei
a sua vida.
Ele pressiona os lábios cautelosos.
— Estou me referindo a você, Fiore.
Oh. Os meus lábios se separam, surpresa pela sua preocupação.
— Eu não sei, Franco. — respondo amassando a embalagem, —
Estava no meu limite. Mas eu não tenho pensamentos suicidas tá, se é com
isso que está preocupado.
— Eu me preocupo com você.
— A sua forma de demonstração é um tanto inóspita.
— Eu sei, — diz puxando minha mão para dentro das suas. — vou
trabalhar essa parte, eu prometo.
Franco desliza para o meu lado na cama e não me faz perguntas a
respeito de Rocco, e me vejo agradecendo mentalmente, já é madrugada e
estou exausta demais para controlar minha língua. Só espero que meu pai
avise o meu irmão a tempo.
Escoro-me contra o pescoço de Franco, e não permito que os
eventos da noite passada invadam minha mente. Apenas rumino em quais
às chances de alguém ter batizado o meu chá, até por fim adormecer.
 
 
 
 
Estou sentada na cama encostada contra uma parede de
travesseiros comendo biscoito, enquanto vejo Franco quase implodir no
meio do quarto, andando de um lado para o outro, após ouvir a história que
lhe contei sobre Rocco.
Solto a xícara na cômoda, e vejo a marca do cateter em meu pulso.
Saímos do hospital perto das dez horas da manhã, fiquei no soro pelo resto
da noite e quando havia amanhecido o sangramento diminuiu se tornando
apenas um borrão. Recebi remédios para dor e para prevenção de parto
prematuro, Lazzaro os comprou para mim.
Ainda não tivemos chances para conversar, preciso ouvir da boca
dele, que minha amiga conseguiu fugir, mesmo que eu tenha escutado de
Franco. Toda vez que eu ligo e seu telefone cai na caixa postal sinto meu
coração se espremer, ela só está nessa situação por minha culpa, preciso dar
um jeito de encontrá-la e avisar que Franco não irá machucá-la.
— Eu não acredito que ia me entregar para a narcóticos.
Franco fala de repente, parando no meio do quarto e segurando o
meu olhar com firmeza.
— E eu não acredito que Verônica tenha escalado o seu corpo e te
beijado, sem sua permissão. — contesto.
— Fiorella. — seu tom de voz suaviza. — Se ele conseguisse me
pegar, me condenariam a prisão perpétua.
— Você se colocou nessa posição quando não deu limites pra
aquela vadia. Eu jamais teria te entregue ao Rocco, mas quando vi aquelas
fotos, desejei que você pegasse fogo.
Franco se aproxima, sentando ao meu lado na cama, sua aparência
é de quem levou uma surra.
— Eu não sinto nada por ela, o que eu preciso fazer pra acreditar
em mim?
— Mate-a. — digo e vejo sua expressão, endurecer, fazendo-me
rir. —— Não sente uma ova. — adiciono.
— Eu não mato mulheres, Fiorella.
— Mande o Dom. — sugiro e sua expressão se mantém congelada,
aguardo qual desculpa ele usará, mas Franco tira o telefone do bolso, disca
um número, e leva ao ouvido.
— Domenico, está na mansão? — pergunta olhando em meus
olhos, se ele espera que vou mandá-lo parar, está me confundindo com as
outras esposas. — Verônica está por aí? — questiona, ele desliga depois de
um momento e me olha confuso.
— Ela foi embora. — cerro o maxilar com um sentimento
estranho, talvez decepção. Desde ontem no hospital coloquei na cabeça que
o misoprostol veio dentro daquela térmica de chá.
E Verônica é a pessoa que tem mais acessos a remédios, é
veterinária e seu pai o médico da Famiglia. Se eu pudesse confirmar eu
mesma a matava.
— Um dia ela volta. Esses ratos do inferno sempre voltam. —
digo, mordiscando outro biscoito, insatisfeita.
Franco desce assim que recebe uma ligação, ele parece ligado no
automático, aposto que está pensando em uma forma de caçar Rocco, mas
não tem ideia de como, no seu breve interrogatório não dei muitas pistas, eu
não vou ajudá-lo a matar meu irmão, por mais que ele mereça por ter me
trazido para essa teia de confusão, mas não a morte.
Estico-me na cama, e ligo para Sienna, talvez ela tenha alguma
novidade sobre Helena.
— Ella. — balbucia, não parece muito animada.
— Tem alguma notícia?
— Além de a Helena ter fugido ontem cedo e depois ajudado você
a fugir, não. — diz carregada de desgosto. — O que as duas tinham na
cabeça?
— É mais complicado do que você imagina.
— Então me explique. — pede atenciosa, e a ouço dizer em
seguida para alguém — Sim é a Ella, quer dizer um oi?
Tento ouvir com atenção a conversa do outro lado, mas não
entendo nada.
— Papai mandou um oi, ele disse que está tudo no seu lugar. Eu
não sei o que significa.
— E quem sabe?! — minto sentindo um alívio, isso só pode ser um
sinal, Rocco foi avisado, — Eu preciso desligar Sienna. — encerro a
chamada antes que ela persista na história.
Desço para o primeiro andar, ainda com fome, não é possível. Abro
a geladeira e pego um jarro de leite, quando a fecho encontro Lazzaro na
entrada da cozinha, ele se vira e se retira.
— Lazzaro. — chamo, ele para, agora se é por vontade própria não
tenho certeza. — Eu lamento ter fugido de você. — digo soltando o leite na
ilha e encurtando o espaço entre nós.
— Não me deve desculpas, Fiorella. — diz dando um passo atrás
indiferente.
— Helena, ela fugiu mesmo? — pergunto e recebo um aceno de
cabeça, Lazzaro deixa a casa em seguida, taciturno.
Viro-me cabisbaixa e encontro Franco na entrada da cozinha.
— Ele me odeia.  — balbucio com lágrimas nos olhos, Franco
pressiona os lábios.
— Está chorando pelo segurança. — Franco se aproxima e me
puxa pela cintura, — Me diz que isso é um sintoma da gravidez? —
pergunta retoricamente.
— Porque tem que ser tão insensível? — pergunto e ganho um
beijo no topo da cabeça.
— Eu preciso sair. — diz, afastando sua cabeça para me olhar.
— Aonde vai?
— Não posso dizer. — aperto os lábios, sentindo os olhos
encherem d’água, céus eu vou desidratar até o final da gravidez.
— Não confia mais em mim. — afirmo, saindo dos seus braços,
seco as lágrimas na manga da blusa, e pego a jarra de leite.
— Vou mandar caçar o seu irmão. — solto o jarro no mármore com
um estampido.
— Ele só quer fazer o que é certo, Franco.
— Que faça longe dos meus negócios.
Respiro fundo, e sirvo o leite em um copo, orando que Rocco tenha
partido de Nova Iorque. Odeio que as coisas tenham ficado dessa forma
entre nós, queria ter pelo menos me despedido melhor.
— Não quero que se envolva, precisa evitar estresse, lembra?
— Para isso acontecer eu tenho que nascer de novo. — replico
tomando um gole de leite.
— Volto mais tarde. — avisa deixando a casa em seguida.
Termino de tomar o leite e ando até a sala, o piano quebrado foi
removido, deixando um grande espaço vazio. As paredes de vidro pelo
menos foram recolocadas.
— Amanhã chega um piano novo. — ouço Nádia nas minhas
costas e me viro para ela com um sorriso.
— Que bom que está aqui, queria mesmo falar com você.
— No que posso ajudá-la?
— A térmica que trouxe com o chá da mansão dos Fiore, — digo,
sondando sua expressão que se torna irresoluta. — Quem fez o chá? —
pergunto por fim.
— Foi dona Carlota.
— Você estava na cozinha com ela?
— Sim, senhora.
— Quem mais estava?
— Senhora eu... — ela titubeia, fazendo-me cerrar os olhos.
— Nádia eu quase perdi o meu filho, alguma coisa me diz que
havia bem mais que chá naquela térmica. — seguro em seu pulso pegando-a
desprevenida, e a puxo com firmeza até mim, — Se não me ajudar a
descobrir quem foi, direi a Franco que foi você. — pânico cintila em seus
olhos, fazendo-me sentir mal, eu jamais colocaria a culpa em Nádia, ela não
tem jeito que machucaria uma mosca, mas preciso da sua ajuda, e bem
como Franco disse: o medo costuma dá mais certo.
— E-eu. — gagueja.
— Quem estava na cozinha com Carlota, Nádia?
— Senhorita Edwina, Verônica. — diz com a voz vacilante.
— Edwina e Verônica ficaram sozinhas com as térmicas? —
pergunto e percebo que talvez eu esteja indo longe demais, as duas são
horríveis, mas será que seriam tão cruéis a esse ponto?
— Eu não sei senhora, me desculpe.
— Tudo bem, Nádia. — suspiro e pergunto tentando aliviar a
tensão da pobre empregada, — Há quanto tempo trabalha para Franco? —
tento soar natural.
— Desde que vocês se casaram. Dona Carlota me designou para os
serviços dele.
— Sente falta de trabalhar para ela?
— Não. — diz e percebo que minha pergunta foi injusta, ela jamais
diria que sim.
— Se te faz sentir melhor, eu também não pedi para estar aqui. —
ela dá um risinho.
Ouvimos um barulho na cozinha e nos viramos, Lazzaro está
pegando um copo d’água.
— Eu vou ver se ele precisa de algo. — avisa me deixando sozinha
na sala.
Sento-me no sofá, e os pensamentos começam a me atormentar;
estou protegida, debaixo de um teto, bem alimentada e minha amiga sabe se
Deus lá onde.
 
 
Deito-me depois de tomar um banho me sentindo revigorada, está
tarde da noite, mas o meu sono não vem, pego o telefone e ligo para a
Helena novamente o telefone chama até cair na caixa.
Seguro o aparelho no alto e com força, sufocando a vontade de
arremessá-lo na parede.
— Hey o que ouve? — Franco surge na entrada do quarto, e
pergunta apreensivo.
— Estou preocupada com Helena. — sussurro, sentindo as
pesarosas lágrimas surgirem em meus olhos.
Os lábios de Franco se espremem novamente e noto que ele não
sabe agir quando estou chorando. Ele dá a volta na cama e senta ao meu
lado.
— Já estamos procurando por ela, Fiore, daqui a pouco a
encontramos.
— E o que fará com ela?
— Eu não sei. — diz e soa sincero.
— A devolva para a Outfit. — sugiro, e Franco mexe a cabeça em
negação.
— Estava indagando quando liguei para Carlo, só não imaginei
também que ele fosse ceder à garota com tanto facilidade. — ele chupa o
lábio com força e chuta o sapato longe sentando-se ao meu lado, e me
puxando para seus braços. — Descanse. — sussurra, alisando o topo da
minha cabeça.
 

 
 
Franco me conduz para dentro da mansão dos Fiore com as mãos
em minhas costas. Ele me obrigou a vir com ele, pois não ponho o pé para
fora de casa desde que Helena sumiu.
Acho que eu passei metade dos meus dias tentando ligar para ela,
mas seu celular segue desligado, e não poder sair para procurá-la é o que
me aflige.
Quando chegamos à entrada da sala de estar, Franco se vira para
mim.
— Tome um chá com a minha mãe, eu vou conversar com o Dom.
— Apenas em ouvir chá, tenho vontade de vomitar.
Assinto.
— Fiorella. — Franco me segura pelos ombros, — Está
começando a me preocupar. — diz de repente, olhando em meus olhos.
— Eu estou bem. — minto, estou péssima.
— Estou fazendo tudo que eu posso para encontrá-la, Fiore.
— Eu sei. — outra mentira, Franco nunca gostou da Helena, se ela
sumisse para sempre ele ficaria feliz, eu acho.
Franco beija o topo da minha cabeça quando sua mãe surge na sala
e me deixa, indo em direção a outro corredor.
Ando até a mulher que me recebe com um sorriso caloroso.
— Como está se sentindo querida? — pergunta me abraçando,
Franco disse para mim que mencionou com sua mãe o sangramento, para
que eu tenha alguém para conversar caso precise. Como se eu quisesse me
lembrar daquilo.
— Honestamente, tenho raiva de tudo. — Carlota sorri e me
conduz à cozinha.
— Perfeitamente normal. — diz fazendo a volta na ilha e parando
em frente em várias térmicas.
— Sabe eu achei maravilhoso aquele chá que você preparou para
mim.
— Frutas vermelhas, eu imaginei que fosse gostar, é o meu
favorito.
— Não, ele era de hortelã.
— Hortelã? — ele franze o cenho, e sinto uma agitação fortemente
no meu interior. — Deve ter acontecido confusão com as térmicas, eu
estava fazendo tantas coisas ao mesmo tempo.
— Você não tinha ajuda? — sondo.
— Só as meninas, a V e a Edwina. Taí o motivo da confusão com
as térmicas, elas acabaram mais atrapalhando que ajudando.
Certeza que aquela vaca, colocou alguma coisa no meu chá e
depois fugiu como rato, mas como vou provar isso? Edwina jamais
admitiria, e se eu revelar minha desconfiança sobre sua melhor amiga dará
com a língua nos dentes.
— Soube que Verônica foi embora. — menciono, vendo-a servir o
chá e uma xícara.
— Sim, a viagem dela pegou todos nós de surpresa, V disse que
precisa de um tempo para ela. Edwina está deprimida, e a situação só vai
piorar quando ela souber do casamento.
— Casamento. — balbucio.
— Riccardo, vai casá-la com Ettore, ele mencionou comigo noite
passada.
— Ettore já sabe?
— Não, nem o Franco, Edwina faz dezenove anos em um mês, ele
irá esperar.
— E como Riccardo está?
— Dopado. — ela sussurra. — Daqui alguns dias não dará para
esconder de ninguém à condição dele.
— Isso é horrível.
— Sim, muito, tanto que enviei Enrico para um colégio interno até
essa situação acabar, ele tinha medo de Riccardo.
— Ele ficará bem. — afirmo e andamos até a sala, uma enfermeira
de meia idade entra na cozinha e chama atenção da minha sogra, que me
pede licença e acompanha a mulher para outra sala.
Olho as horas no relógio de pulso e a data ao lado, faz meu coração
palpitar, amanhã é o aniversário da morte da minha mãe e Louisa, estou tão
envolvida com o sumiço de Helena que eu nem reparei nos dias.
Já se passaram duas semanas, e tudo me lembra ela, até os longos
cabelos pretos da Edwina, que voam alto quando ela adentra a sala com
passos largos em minha direção.
— Edwina. — digo, na hora que ela para em minha frente, e sua
mão se ergue em direção a minha face, quando percebo uma bofetada estala
em minha face. Viro-me para ela novamente alisando a bochecha sentindo-a
queimar, e enxergo Franco na entrada da sala, vejo seu semblante escurecer
em uma batida de coração.
— Nunca mais ameace Nádia, ou eu cortarei sua cabeça. — rosna,
chamando minha atenção, e não vê o seu irmão se aproximar.
Franco agarra a garota pela nuca, e puxa para trás fazendo Edwina
sair do lugar e se curva como um arco. Seu rosto desce centímetros parando
perto do dela, e seus dedos invadem seu paletó pegando uma faca.
— Me solte. Você não pode me matar.
— Eu ainda não posso. — Franco sibila com um sorriso felino e
adiciona. — Vou arrancar a sua língua, uma coisa que eu devia ter feito há
muito tempo.
— Vá se foder. — ela cospe com lágrimas nos olhos e tenta se
soltar das mãos dele.
— Franco. — chamo, petrificada, mas ele me ignora e a joga
contra um sofá com furor, arrancando um grito agudo dos lábios da garota.
— Você respeitará a minha esposa, nem que eu precise arrancar
cada membro do seu corpo um por um.
— Franco, pelo amor de Deus, pare. — exclamo e me vejo
implorando, se ele fizer isso se arrependerá pelo resto da vida, isso é demais
até para mim.
Ele me ignora, subindo no peito da garota como fez com Dom,
Edwina bate em seus braços tentando afastá-lo, mas Franco tem quase o
dobro do seu tamanho e a força de um touro. Então me vejo desmaiar, para
cima de um sofá.
Um segundo depois Franco está em cima de mim, me acudindo, e
Edwina fugindo da sala correndo. Abro os olhos e o vejo cerrar o maxilar.
— Você fingiu. — diz com a mesma expressão gélida que estava
encarando Edwina.
— Agradeço que você queira arrancar todos os membros da sua
irmã por mim, — enfatizo. — mas eu sei me proteger.
— Então por que não se protegeu? — pergunta duramente,
guardando a faca.
— Estava tentando entender porque ela tirou as dores pela Nádia.
— Vamos embora. — diz simplesmente me estendendo a mão para
levantar do sofá, sem nem ao menos se importar com o motivo.
Quando fico em pé, Franco segura minha face, e alisa minha
bochecha possivelmente vermelha e muito quente.
— Devia ter me deixado arrancar a língua dela.
— Acho que ela já entendeu o recado. — aviso puxando sua mão e
o levando para fora da mansão.
Quando entramos no carro, viro para Franco chamando sua
atenção, mas ele está com os pensamentos em outro lugar. Provavelmente
em Edwina.
— Sabe de algo que eu não sei? — quero saber, Franco relaxa no
assento do carro e se vira para mim.
— Edwina e Nádia estão juntas. — diz monotonamente.
— Mentira. — exclamo de cara feia. — Eu teria percebido, Nádia
é nossa empregada, e pelo amor de Deus, quem ficaria com sua irmã por
livre arbítrio?
— A Nádia, e minha mãe ainda não percebeu. — avisa e começa a
dirigir.
— É por isso que não a casaria com ninguém?
— É. Edwina mataria o marido na primeira oportunidade.
— E se a máfia descobrir?
— Não vai.
— Você descobriu. — digo, e Franco mexe a cabeça em negação.
— Edwina me contou, para que pudéssemos contratá-la como
empregada. Era a única forma que as duas teriam para ficar juntas.
— E você aceitou isso bem?
— Ela é minha irmã, o que eu poderia fazer? — assinto.
— Sua mãe mandou uma espiã para dentro da nossa casa.
— Nádia é uma boa mulher. — cerro o maxilar, com raiva — O
que você fez com ela, para que Edwina chegasse nesse ponto?
— Não fiz nada, ainda. — adiciono.
— Fiorella.
— Eu quero ela fora da minha casa. — aviso.
— O que você fez? — reforça.
— O misoprostol veio da garrafa térmica que ela trouxe, com o chá
da sua mãe.
— Isso é uma acusação grave. — comprimo os lábios.
— Se não veio do chá que foi preparado pela sua mãe, com duas
ajudantes que me odeiam. Quem mais seria? Elói? Lazzaro? Você?
— Por que não me contou sobre o chá?
— Porque não tinha certeza. — respondo, mas agora não há mais
dúvidas depois que Carlota disse que as meninas fizeram confusão com as
térmicas.
— Acha que Edwina participou? — ele pergunta atravessando os
portões da nossa casa.
— Sinceramente, não.
— Desgraçada. — Franco assobia entre os dentes.
Descemos do carro em silêncio e nos encaminhamos para dentro
de casa, Lazzaro nos saúda com um aceno de cabeça e permanece do lado
de fora. As coisas entre nós continuam iguais, apenas Elói me trata sem
frieza, e Nádia parece um rato fugindo de mim, toda vez que me enxerga,
agora eu entendo o motivo. Vaca.
Belisco algo na cozinha, ultimamente tenho comido bem mais que
o normal, e agora eu realmente estou precisando de roupas novas,
principalmente os jeans estão mais apertados. Termino de comer e ando até
o escritório de Franco, a porta está entreaberta, e ele falando ao telefone.
— Onde? — sua voz é implacável, — Como assim conseguiu
fugir? — diz fazendo o meu coração acelerar.
Ele deve estar falando de Rocco.
— Não me ligue até encontrá-lo. — avisa, respiro fundo e espero o
coração se acalmar para entrar no escritório.
— Fiorella. — diz soltando o telefone na mesa e vindo na minha
direção. — Precisa de algo?
— Quero ir a Chicago amanhã. — falo me sentando na ponta da
mesa, Franco se aproxima se pondo entre as minhas pernas. Suas mãos
pousam em minha barriga docemente e sua face mexe em negação.
— Com seu irmão solto por aí não quero você longe de casa. —
expõe e me vejo afastando a mão dele, Franco endireita sua posição e me
fita com a face inescrutável.
— Rocco não me faria mal. Ele é o meu irmão.
— Ele fez sua cabeça.
Suspiro.
— Eu quero ir, e quero ver minha irmã, talvez assim eu fique
melhor. — peço docemente.
— Eu sei o que está fazendo, Fiorella. — adverte.
— Não estou tentando esconder. — encolho os ombros.
— O médico pediu repouso, lembra?
— E que esforço eu farei dentro de um avião?
— Não quero ficar longe de você. — rio.
— Você está apelando. — censuro.
— Estou. — afirma e suas mãos voltam para a minha cintura, —
Eu me preocupo com você e o bebê.
— Se eu sumir no meio da noite, já sabe onde me encontrar. —
aviso me levantando e me afastando dele, sua expressão se fecha todinha, e
Franco não me impede de sair do escritório.
Subo para o quarto, e tento ligar para Helena pela milésima vez
hoje e a caixa postal dela está sendo muito atenciosa. Desligo sem deixar
mensagem. E me deito na cama sem cabeça para fazer mais nada, e em uma
piscada de olhos, vejo Franco adentrando o quarto.
Ele senta na cama e se vira para mim, pensativo.
— Lazzaro, Ettore e Dom irão te acompanhar.
— Tudo isso é medo que eu fuja ou que eu dedure o local do seu
depósito ao meu pai?
— Não Fiore, é precaução, você poderia ter dado a localização do
depósito e ido embora com Rocco naquele instante. Eu já sei onde está a
sua lealdade. — expressa e seus dedos correm para o meu cabelo.
— Vou me comportar.
— Disso eu não tenho tanta certeza. — Franco ri.
Levanto da cama e engatinho até ele, monto em seu colo e abraço
seu pescoço. Meus dedos se enrolam nos fios do seu cabelo, e os puxo para
trás sem muita força, fazendo-o inclinar a cabeça.
— Também sentirei sua falta. — aviso, e beijo o seu pescoço,
Franco arrepia.
Sorrio, e subo beijando seus lábios, sua língua invade a minha boca
com urgência e seus braços me abraçam com a força certa. Depois da nossa
briga, não nos reaproximamos, dessa forma, ainda estava com uma puta
raiva de Franco, e o médico pediu que esperássemos alguns dias.
Mas agora, eu preciso dele, meu corpo exige ele.
— Fiorella, — engasga contra meus lábios, quando desfivelo sua
cinta.
— Shhh. — digo contra seus lábios, e intensifico mais o nosso
beijo, puxando seu pau pra fora. Franco estremece grande pesado em minha
mão.
Afasto-me e puxo o vestido com desenvoltura passando pela
cabeça.
— Não quero machucá-la. — avisa, deslizando as mãos pelas
minhas costas, em direção a bunda.
— E não vai. — sussurro descendo a calcinha com ajuda dele, seu
terno roça em meus mamilos deixando-os pontudos. E seu olhar cai sobre
nossa intimidade, seu pau está preso entre nós contra o pequeno volume da
minha barriga, o pego nas mãos e Franco deixa escapar um gemido.
O apertei levemente e deslizei o polegar pela cabeça grossa e
rosada. Franco mentem seus olhos nos meus e sua face está tensa e exala
luxúria.
Minhas mãos escorregaram por sua extensão dura como uma rocha
e quente como o inferno e o vi prendendo o fôlego.
Comecei acariciá-lo, vendo cada terminação do seu corpo ficar
rígida sob o meu toque. Franco morde o lábio inferior com força e inclina
seu corpo para trás, estremecendo.
— Puta que pariu! — ruge entredentes e me para bruscamente, —
Já faz muito tempo, Fiore. — diz passando os braços em minha volta —
Monta em mim.
Sorrio, erguendo a bunda para ele, e deslizando na sua extensão
lentamente com sua ajuda. Puxo seu terno para trás e abro sua camisa com
um puxão firme.
Franco abraça o meu dorso, e o deixo conduzir as estocadas. Não
me deixo pensar em mais nada e me deleito em seu corpo, em seu cheiro e
nos seus gemidos guturais em meu ouvido.
 
 
 
 
 
Mal consegui dormir noite passada estava com o coração que era
uma loucura, a ansiedade dominando meu corpo. Acordei antes de Franco e
corri fazer uma pequena mala de mão, só com as vitaminas e uma peça de
roupa caso eu precise.
Vesti-me com calça peluciada, botas longas, e por baixo de um
trench coat preto, e uma grossa blusa de lã. Quando terminei de arrumar
meus cabelos desci e enviei infinitas mensagens a Sienna, avisando que
chegaria em algumas horas.
Desço animada, e pensando agora parece até errado estar tão feliz
hoje. E meu sorriso se esvai quando encontro Nádia no meio da sala com
um espanador na mão. Ando até ela refletindo em como resolver nossa
situação. Todo esse maldito tempo ela vendo o caos que era a minha vida
com Franco e de certo rindo as minhas custas com Verônica e Edwina.
— Bom vê-la aqui, Nádia. — seus olhos brilham em preocupação,
— Quero te devolver algo. — expresso, e o dorso da minha mão estala na
face da mulher com ímpeto, como Edwina fez na minha.
A empregada volta seu olhar para mim cheios de pavor, e sua mão
alisa a bochecha com meus dedos marcados nela.
— Minha intenção nunca foi machucá-la Nádia, eu blefei, e você
deu com a língua nos dentes.
— Senhora, eu não quis trazer transtorno, me perdoe.
— Diga a sua namorada, que os atos dela têm consequências. — a
mulher sacode a cabeça e sai da minha frente completamente desorientada.
Ando até a cozinha e me sento à ilha, metade de mim satisfeita e a
outra injuriada, nunca quis fazer mal a ninguém que realmente não
merecesse, Nádia foi à exceção. Agora que está tudo às claras, talvez
Edwina queira manter a paz, pelo bem da amada.
— Bom dia. — Elói. — saúdo a mulher.
— Madrugou hoje menina. — menciona, soltando uma sacola com
pães na bancada.
— Vou para Chicago. — falo pegando um pão quentinho da sacola.
— Bom dia. — escuto em meu ouvido e recebo um beijo no
pescoço.
Franco senta ao meu lado e Elói lhe entrega uma xícara de café
também.
— Liguei para o seu pai agora. — diz me pegando de surpresa.
— Por quê?
— Estará no território dele, e se acontecer qualquer coisa com
você, ele será o responsável.
— Nada vai acontecer. — deslizo a mão pela coxa dele e aperto
sua perna inquieta. — Estarei de volta para jantar com você.
Franco tira do bolso do terno o relógio que pôs em mim a força.
Mexo a cabeça em negação, e Franco mexe ao contrário.
— Você vai usar e quando voltar tiramos. — quero revirar os olhos
com força, mas enfio a coleira disfarçada de relógio em meu pulso. Se o
deixa mais sossegado, e não interrompe a minha visita a Chicago, por que
encrencar, não é?
 

 
A BMW para no espaço aberto de uma pista de pouso, próximo de
um jato branco. Descemos os dois e Franco traz minha mala de mão, logo
atrás de mim. Em seguida, mais um carro para na pista e descem dele,
Ettore, Lazzaro e Dom.
— Parece um tanto exagerado, todos só para me guardar.
— A sua segurança é importante para eles também.
— O acordo das máfias? — deduzo e Franco assente.
Franco para em frente à escadinha do jato, e entrega a mala ao
Lazzaro que sobe junto com os demais. Meu marido se volta para mim, e
seu olhar é taciturno. Suas mãos seguram em meu quadril e me puxam para
perto de si.
— Se eu pudesse, te acorrentava em casa. — diz contraindo os
lábios, fazendo-me rir.
— Ficaremos bem — afirmo quando seus dedos deslizam para o
bebê. Trago a sua face mais para baixo e lhe dou um beijo nos lábios. — Se
comporte. — aviso me livrando dos dedos dele e subindo os degraus com
um sorriso que poderia partir minhas bochechas, e quando me viro para
frente os acompanhantes estão me olhando com uma expressão impassível.
Adentro mais o espaçoso jato e me sento nas primeiras fileiras.
Enquanto uma aeromoça fecha a porta do jato, olho pela janela a BMW está
saindo da pista, me sinto estranha nesse momento deixando o Franco,
parece que um pedaço de mim está ficando para trás.
O jato começa a erguer, pego o meu telefone e envio uma
mensagem de texto para minha irmã.
Ella: Desembarco em menos de três horas. Bj.
Ajeito-me no banco e anseio por terra firme, o meu telefone vibra
em seguida com mensagem.
Sienna: Te aguardo ansiosa.
Guardo o telefone dentro da mala, e me pego pensando na minha
amiga. Cristo, toda a vez que me encontro sossegada e com a mente vazia,
Helena surge com força me fazendo ficar melancólica.
Se ao menos eu pudesse fazer algo para ajudá-la... uma ideia surge
em minha cabeça. Levanto da poltrona sem dar espaço para sensatez e
repouso ao lado de Ettore sentado à janela. Ele se vira para mim, e suas
sobrancelhas bem delineadas sem erguem, deixando mais visível um par de
olhos verdes bem claros.
— Fiorella. — ele saúda educadamente, se ajeitando no assento,
mantendo distância.
Oh, céus, ele me viu nua, quero levantar e sair correndo, mas agora
só ficaria mais embaraçoso.
— Contou ao Franco? — me pego perguntando, parece que minha
língua criou vida e resolveu me fazer passar vergonha.
— Tive depois que Lazzaro detalhou o inconveniente. — diz de
uma forma contida, e assinto sem graça. Bem, pelo menos eu não tive que
explicar nada, pois do jeito que Franco é deve estar tentando esquecer,
como eu devia estar fazendo.
— Eu quero te pedir uma coisa, pessoal. — explico baixo me
inclinando da direção do homem, — Em troca te dou uma informação.
Os olhos de Ettore se estreitam desconfiados, mas curiosos
também.
— Antes que diga Fiorella, — ele sibila, tão baixo quanto eu. —
nos meterá em encrenca?
Mexo a cabeça mecanicamente.
— Qual é a informação? — pergunta baixinho, com um olhar
cauteloso e o corpo inclinado na direção do meu.
Sorrio.
— Só digo se aceitar me ajudar.
— Já pediu ajuda ao Lazzaro? — me escoro na poltrona espiando
Lazzaro do outro lado do corredor, mais a frente, ele está olhando pela
janela, mas tenho certeza que seus ouvidos estão em nossa conversa.
— Já, mas a minha informação não serve para ele. — os olhos do
Consigliere brilham a curiosidade, — E Lazz está bravo comigo. —
adiciono apertando os lábios.
— Ele devia protegê-la do inimigo, não de si mesma. — diz, não
em tom de censura, mas de apoio.
— Acho que estamos quites, ele quase arrebentou com a minha
cabeça. — ele, dá um risinho como se tivesse lembrado.
— Ettore, quero que procure Helena. — informo, e vejo sua
expressão se tornar profunda e impenetrável. — Franco mandou homens
atrás dela, mas com certeza está se escondendo deles, — seus lábios se
espremem e é evidente a sua resposta. — Hell não fugiria de você. Por
favor, eu só quero minha amiga de volta. — apelo para as lágrimas, e vejo
sua expressão se tornar benevolente.
— Vou tentar encontrá-la. — informa com persuasão. — Agora
pare de chorar e me dê a informação?
Sorrio, limpando as lágrimas.
— Se casara com Edwina, assim que ela completar dezenove anos,
daqui um mês. — vejo o semblante do homem, cair por terra. — Eu
lamento. — expresso com sinceridade, esse casamento será mais
complicado que o meu, não gostaria de estar na pele de nenhum deles.
— Franco te deu essa informação? — pergunta com a voz contida
— Ninguém sabe, exceto Carlota e nós dois agora.
— Você me deu uma informação prescindível, se não posso usá-la
pra nada.
Comprimo os lábios, sem saber o que responder, de fato não há
nada o que ele possa fazer. Se ele tiver sorte, Riccardo morre antes de
deixar oficial.
— Encontre Helena e depois fuja. — sugiro fazendo-o engasgar
com o próprio ar. — Qual doeria menos, um tiro na cabeça ou um
casamento com Edwina? — pergunto retoricamente, e vejo o homem me
dar um olhar de reprovação.
Relaxo na poltrona, já tenho problemas demais, Ettore que
encontre uma solução para escapar desse casamento ou se prepare para
morrer enquanto dorme.
 
 
Assim que descemos do jato adentramos um Audi preto que estava
à nossa espera. Sentei-me atrás com Lazzaro, e me peguei sentindo falta das
nossas conversas, o via como um amigo muitas vezes e não sei o que fazer
para ele me desculpar.
— O que é? — pergunta e noto que estava o encarando.
— Não pode ficar com raiva de uma mulher grávida. — balbucio,
e noto que a única orelha de Dom está inclinada em direção a nossa
conversa,
— Não estou com raiva. — expressa de forma retraída.
Assinto tristonha e olho pela janela, o que me anima é que já
estamos chegando à mansão dos Santoro.
Os portões se abrem para trás nos dando passagem, e quando
fazemos a curva do jardim Sienna está nas escadas em frente à casa me
aguardando.
Pulo para fora do carro assim que Ettore destrava as portas, e
minha irmã me encontra no caminho, com um sorriso caloroso, seus braços
me envolvem e me sinto relaxar neles.
— Como está?
— Bem. — respondo olhando além dela, Dona segura Dario nos
quadris, ele está enorme e muito lindo também. Ando até eles e os abraço
com força.
— E meu pai? — quero saber, temos que trocar uma palavrinha a
sós.
— No escritório esperando por você. — menciona.
Olho para trás e a Famiglia está em pé como uma parede logo atrás
de mim.
— Vamos entrar, o almoço está quase na mesa. — Donatella
comunica, e sinto os braços de Sienna nas minhas costas me levando para
dentro de casa.
— E o bebê como está? — pergunta, ninguém daqui sabe a loucura
que aconteceu semanas atrás e decidi deixar assim mesmo, não tem porque
fazer o dia ficar mais dramático.
— Está ótimo. Estou com onze semanas, e você Dona?
— Treze. — ela me dá um sorriso bondoso.
Entramos todos na casa, e a segurança está tão reforçada como no
dia que vi Franco pela primeira vez, até Romeo repousa no sofá relaxado,
como se não fosse de propósito sua presença.
Dou-lhe um aceno com a cabeça e um sorriso, de repente sou
puxada pelo pulso com força, e vejo Sienna me levar em direção a escada.
— Vem preciso te mostrar uma coisa.  — expressa animada e me
arrasta para o andar superior, quando saímos da vista dos homens ela para e
me encara pesarosa.
Ele solta o meu braço e se vira para mim.
— Só o Lazzaro já era foda, — expressa e fico surpresa pelo
palavreado, — Agora mais o Consigliere e o cara sem orelha. — ela
estremece.
— Cuidado dobrado. — aliso a barriga, e minha irmã assente com
um riso.
— Vá conversar com o papai e depois, eu quero saber de tudo,
Ella. — expõe com seriedade.
Concordo sem ter ideia do que explicar, e ando com o coração
martelando no peito até o escritório de Carlo. Bato na porta suavemente e
abro em seguida.
Meu pai se coloca em pé abotoando o paletó escuro, ele faz a volta
na mesa, quando entro e fecho a porta. Sua feição é insondável analisando
minha face, fazendo-me lembrar da nossa última conversa.
— Ella. — sussurra, e seus braços caem à minha volta com força.
— Pai. — balbucio, repousando a cabeça no seu peito.
— Como está? — ele me segura pelos ombros, me afastando, para
olhar em meus olhos.
— Cansada e confusa pai. — o escuto suspirar. — Por que não
contou que Rocco havia fugido? — pergunto e meu pai se escora na
extremidade da mesa.
— Eu não podia contar, e você era tão jovem Ella, estava passando
por tantas coisas, depois cresceu e achei mais sensato manter em segredo.
— Quem mais sabe?
— Não posso te dar essa resposta.
— Porque não o trouxe de volta quando era jovem?
— Demorei anos para contatá-lo, enviei homens que nunca mais
voltaram e há dois anos, o último retornou em um saco preto com um
recado.
— Qual?
— Viria atrás da Outfit, se não o deixasse em paz.
Que irônico Rocco. Escarneço mentalmente.
— Franco não tem nada a perder, ele vai matá-lo, pai. — digo com
o coração atormentado e os olhos ardendo para derramar as lágrimas que eu
tento segurar.
— Rocco não devia tê-la envolvido nisso, — exclama com as
narinas dilatadas, e me segura nos ombros me forçando a encará-lo, — Ele
ficará bem, tem treinamento da máfia e da agência antidrogas americana,
Franco só conseguirá pegá-lo se Rocco quiser ser pego.
Respiro, aliviada, pois as palavras do meu pai soam incontestáveis.
— Vamos descer, Ella. — diz abrindo a porta para mim, seguimos
para a sala de estar em silêncio, os homens da Famiglia ficam em pé assim
que entramos, Carlo os cumprimenta um por um, e vejo que seus olhos se
detêm tempo demais em Domenico.
Será que ele sabe do ocorrido? Pergunto-me.
Sienna adentra o espaço e anuncia que o almoço está pronto. Nos
encaminhamos para sala de jantar ao lado, me sento entre Lazzaro e Ettore,
com Sienna a minha frente com Romeo ao seu lado. Vejo minha irmã
inquieta, ao lado do homem, que a ignora notoriamente e conversa com o
meu pai e os demais.
Os pratos são servidos, e me vejo em uma corrida para terminar o
almoço e ter um minuto a sós com minha irmã.
— Vai engasgar desse jeito. — Lazzaro repreende, olho para o
prato de Sienna e já está vazio. Ela dá uma pisca e inclina a cabeça para a
sala ao lado. Levantamos as duas, chamando atenção dos demais.
— Estava maravilhoso, Dona, — falo gentilmente, — Vou estar na
sala ao lado. — aviso ao Lazzaro, e não espero sua resposta seguindo minha
irmã com passos sutis, mas no fundo todos sabem que queremos sair
correndo fofocar.
Nos sentamos próximas do piano em frente a uma janela dando
vista ao jardim. Sienna segura minhas mãos em meu colo, e me dá um olhar
preocupado.
— Me diga o que está acontecendo, ninguém me conta nada, Ella.
Já estou enlouquecendo sem ter notícias da Helena e por que você fugiu? —
sua expressão é decisiva, ela não vai me deixar em paz até saber.
Pigarreio, cogitando contar que fugi para ver um detetive
particular, quando Sienna aperta minha mão firme e diz:
— Não invente nenhuma desculpa bonitinha, não sou tão frágil
como todos pensam.
— Fugi para ver o Rocco e papai deu Helena a Famiglia. — Vejo a
face da minha irmã perder a cor, espero ela assimilar as palavras por um
momento, e então conto sem detalhes demais, qual é a situação.
Sienna está petrificada, tenho vontade de lhe dar uma bofetada para
ver se volta a sua expressão normal.
— Não pode contar a ninguém. — aviso, ela mexe a cabeça
mecanicamente, ainda absorta.
— Como consegue lidar com tudo isso?  — flashbacks de duas
semanas atrás correm em meus pensamentos, fazendo-me apertar os lábios.
— Pra falar a verdade, eu não sei. — balbucio. — Agora me diga,
como andam as coisas por aqui? — quero saber, pois falar de Helena e
Rocco me deprime.
Minha irmã suspira, pensativa.
— Chatas demais, tenho visto a prima Lila nas últimas semanas,
ela disse que Antônio tem uma amante. — menciona em tom de
reprovação.
— Esses homens deviam ser castrados. — digo pensando em
Franco e nas fotos dele com a Verônica, mexo a cabeça espantando os
pensamentos. E minha irmã concorda com um riso.
 

 
A tarde passa em um piscar de olhos, e a saudade imensurável que
pensei sentir da mansão e das minhas coisas não adveio. Devo ser maluca,
talvez bipolar, mas Nova Iorque é a minha casa, ao lado de Franco e toda a
sua possessividade. É sem dúvidas, normal eu não sou.
Ando pelas lápides em silêncio com minha irmã ao meu lado,
ambas carregando vasos com a flor copo-de-leite, brancas. Era a planta
favorita da mamãe, Carlo sempre comprava um vaso para cada uma de nós
levarmos, pelo visto isso ainda não mudou.
Paramos em frente há três túmulos, e há flores em cima de dois
deles, Francesca e Louisa Santoro.
— Papai esteve aqui mais cedo. — Sienna explica, olhando o
túmulo de Rocco, meus olhos caem sobre ele também, e não acredito que
passei nove anos lamentando a sua morte. Desgraçado.
Ajoelho-me entre Louisa e mamãe, e coloco o vaso entre as duas,
Sienna faz o mesmo, escorando a cabeça em meu ombro em seguida.
— Sente falta dela? — balbucia.
— Sempre. — respondo repousando minha cabeça na sua.
Toda vez que venho aqui, tento recordar somente das coisas boas:
do sorriso da minha mãe, do seu cheiro doce e almiscarado, ou até quando
ela insistia em fazer nosso café da manhã, queimando todas as panquecas,
ela nunca foi uma boa cozinheira. Dou um sorriso triste, e me pego vendo a
fotinho de Louisa, ela tinha recém dois aninhos, e vivia querendo morder a
cabeça da Lady Lou. Rio, sentindo uma lágrima escorrer e pingar na grama
fria.
Sei que onde elas estiverem, estão em paz.
 
 
Embarcamos no jato assim que deixamos o cemitério, dormi o
caminho inteiro, me sentindo plena, foi bom ver a minha família, e o
melhor foi que não aconteceu nenhum desastre, talvez assim o meu mafioso
possessivo desencane e relaxe nas futuras viagens.
Adentro a casa com passos largos e o coração batendo forte, não
compreendo o motivo, até ver Franco sair de dentro do seu escritório, ele
está sem o paletó e sua gravata desfeita em frente ao peito, meu marido
caminha até mim e o seu sorriso é o mais lindo de todos.
— Posso estar sendo tolo, ou extremamente piegas — diz
segurando meus quadris e me puxando para seus braços, — Imaginei por
um instante, como seria ficar nessa casa sem você, e quase ordenei que
Lazzaro a trouxesse de volta. — meu corpo se enche de calor com suas
palavras. Aperto os lábios, deslizando as mãos para o seu pescoço, e meu
dedos se enroscam no cabelo da sua nuca.
— Eu também amo você. — respondo, e sua língua reivindica a
minha boca docemente.
— Minha. — Sibila contra meus lábios e volta a me beijar.
 
 
 
 
 
 
 
Estou em frente à TV, em cima de um colchonete, tentando
ridiculamente acertar os passos que a instrutora de pilates ensina na grande
tela. Dona mencionou os benefícios dos exercícios para gestação e como
lutar está fora de cogitação, me sinto igual às dondoca dona de casa.
Pelo menos assim ocupo minha mente, já que faz três semanas
desde que voltei da mansão dos Santoro, e ainda não temos nenhuma
notícia da Helena.
Estou começando a pensar o pior, ela é só uma garota, não devia
ser tão difícil encontrá-la. Tenho vontade de ligar para Ettore e questionar
se ele tomou alguma providência, mas nem o seu número eu tenho e todas
as vezes que nos vimos Franco estava presente.
Pensando em meu marido agora, faz uma semana e meia que ele
me deixou, para ir atrás de Rocco. Nenhum dos seus homens conseguiu
capturá-lo, e os últimos que o viram foram encontrados mortos, deixando
Franco descontrolado e possesso. Ele não pensou duas vezes antes de ligar
para Dom, e os dois saíram de moto na manhã seguinte.
Franco disse que precisava resolver essa pendência, como se matar
o meu irmão fosse prioridade, para que ele pudesse riscar esse item de uma
lista imaginária.
Eu venho relevando todas as coisas, para não surtar, na verdade são
apenas duas, mas que conseguem foder com o meu juízo.
Minha melhor amiga desaparecida e meu marido tentando matar o
meu irmão.
— Agora faremos a posição do Gato Arrepiado. — a instrutora
declara, e fica de quatro em cima do colchonete, faço o mesmo.
Estou de legging de cintura baixa e um top com mangas
compridas, exibindo o início de um pequeno volume em meu ventre. O
motivo pelo qual eu venho tentando manter o equilíbrio.
— Tente encostar o queixo no peito enquanto movimenta o quadril
para frente e estique as costas empinando os glúteos. Novamente, contraia
os músculos pélvicos e repita o movimento cinco vezes.
Faço os movimentos, sentido minha coluna estalar, e quando estou
no último movimento olho entre as minhas coxas e enxergo pernas
cruzadas. Viro-me, e Franco está escorado contra o batente do corredor.
— É isso que você faz enquanto eu fico fora? — pergunta com um
risinho, faço cara feia e me levanto.
— Se você está de volta é porque... — me calo sem querer pensar
ou imaginar o resto.
— Não o pegamos. — afirma de uma forma contrariada, e não
consigo esconder minha expressão de alívio. — Nós o seguimos até Las
Vegas, mas seria estupidez começar uma caça lá.
— Rocco sabe que estão em guerra com a Camorra. — expresso
andando até ele.
Franco concorda com um aceno.
— Deixe-o ir. — peço encarecidamente, segurando em seus bíceps,
enquanto seus dedos pegam em minha cintura e deslizam pela minha
barriga gentilmente.
— Sabe que eu não posso fazer isso.
— Então o que vai fazer? Não consegue pegá-lo e também não
pode deixá-lo ir. — percebo que minhas palavras não o agradam, quando
ele para as caricias em minha barriga.
— Ettore me deu um conselho. — e novamente a ansiedade
domina o meu corpo, como uma descarga elétrica.
— Diga! — Franco sorri.
— Você é a mulher mais curiosa da face da terra, sabia? — diz
colocando os meus cabelos para trás do ombro, me afasto quando seus
lábios tentam me beijar.
Ele suspira e seus olhos encaram os meus com atenção.
— Coloquei uma recompensa pela cabeça dele. — meus braços
caem de volta do seu corpo, petrificada, — Caso Rocco coloque os pés em
Nova Iorque outra vez, não há chances dele sair daqui com vida.
Chupo o lábio inferior esmorecida e ao mesmo tempo aliviada, se
ele não voltar ficará vivo, espero que seja esperto e encontre outra máfia
para desmantelar.
— Eu não quero que se envolva com isso, Fiore, — diz analisando
a minha face. — Seu irmão sabia onde estava se enfiando quando resolveu
vir atrás de mim. Se ele fosse um soldado de Carlo faria o mesmo que eu,
defenderia a família.
— Eu estou bem. — afirmo.
— Está? — pergunta retoricamente, — Então suba e me faça à
posição do Gato Arrepiado. — sugere com um risinho, lhe dou um murro
no peito, e mexo a cabeça mecanicamente.
— Tenho consulta em uma hora, e você vem junto. — afirmo me
desvencilhando dos seus braços. — E tome um banho está fedendo. —
torço o nariz, fazendo-o soltar uma risada.
— O que fizeram com a minha mulher? — pergunta, vendo-me
subir para o quarto.
— Culpe o seu filho, ele é quem está me deixando com os sentidos
apurados.
Prendo o meu cabelo e tomo um banho ligeiro, antes que Franco
decida entrar comigo. A saudade dele é imensa, mas não somos animais, ele
terá que esperar até depois da consulta.
Entro no closet e coloco um vestido de lã na cor terracota. Pego as
botas e me sento em dos pufes para calçar, sinto que perdi um pouco do
equilíbrio depois que entrei para o quarto mês de gestação, quero ver o que
restará quando eu não estiver mais nem enxergando os meus pés.
Termino de me arrumar em frente à penteadeira, Franco adentra o
quarto apenas com uma toalha enrolada na cintura, ele faz questão de tirá-la
as minhas costas, e exibir sua ereção no reflexo do espelho.
Deslizo a língua pelo lábio inferior, e depois subo meu olhar para
encontrar o dele, suas sobrancelhas escuras se erguem em uma pergunta
silenciosa e explicita pra cacete.
— Sentimos sua falta. — diz com um risinho convencido.
— A consulta. — reprovo, soltando a escova na penteadeira, o vejo
cerrar o maxilar, e o seu pau se mexer, quase rio, mas me forço a deixar o
quarto antes que ele resolva me agarrar.
Desço e encontro Lazzaro na cozinha, ele fica surpreso quando me
vê, quem sabe imaginou que Franco não sairia de cima de mim pelas
próximas horas.
— Tenho consulta. — esclareço fazendo-o assentir, como se isso
explicasse muita coisa.
As coisas voltaram quase ao normal entre nós, parei de tentar fazer
as pazes e um dia como se nada tivesse acontecido, Lazz perguntou se eu já
sentia o bebê se mexer, enquanto eu alisava a barriga e tomava café da
manhã.
Franco desce depois de um momento, com a barba feita, e
aparência mais saudável. Ele me come com os olhos, posso sentir isso e lhe
dou um olhar de censura.
— Como é Las Vegas? — pergunto quando entramos na BMW.
— Suja e brega com putas, bêbados e viciados em todos os cantos.
— Parece bem divertida, nos filmes. — balbucio, mas é meio
óbvio porque é ficção.
— Nunca saiu de Chicago e Nova Iorque? — pergunta curioso.
— Não. — respondo com decepção.
— E para onde gostaria de ir?
— Maldivas, — respondo sem pensar muito, — Lá parece um
sonho, calor, águas cristalinas. — por um instante me imaginei tomando um
sol.
— E você?
— Não sei, gosto de Nova Iorque.
— Seu pai me disse que não gosta de mudanças, não pensei que
fosse ao extremo.
— Quando ele te disse isso?
— Em nosso casamento.
Franco não diz nada e vai o resto do caminho em silêncio.
Adentramos a clínica, que Carlota me indicou durante uma ligação
na semana passada, e assim que a recepcionista nos enxerga, ela pega o
telefone, e com um sorriso forçado nos pede para entrar na sala ao lado.
Franco anda atrás de mim, me guiando com uma mão as minhas
costas, e abre a porta sem nem bater. Doutora Villar, se coloca em pé e nos
saúda com aperto de mão, ela é loira, baixinha, e tem o sorriso simpático.
Ela indica a cadeira para nos sentarmos, mas Franco fica em pé
encarando a mulher, tenho vontade de lhe dar uma cotovelada para que
controle a carranca.
— Como tem passado, Senhora Fiore? — questiona, sentando e
possivelmente abrindo minha ficha no computador.
— Bem. — balbucio.
— Bom, — diz simplesmente e me olha, — Temos agendado um
ultrassom, pode sentar na maca e puxar o vestido para cima. Faremos na sua
barriga.
Levanto-me e faço o que me foi pedido, Franco me observa
imóvel, a médica senta na cadeira ao meu lado, e a sala escurece em
seguida. Ela cospe algo gélido e transparente em minha barriga, fazendo-me
arrepiar. Estendo minha mão para Franco e vejo hesitação em seus olhos.
Será que isso é muita demonstração de afeto em público?
Quando minha mão está caindo sobre a maca, ele anda na minha
direção, parando atrás da médica, que pega um equipamento e desliza sobre
minha barriga espalhando uma espécie de gel. Na tela a sua frente, aparece
um bebê todo formado, em tons alaranjados. Vejo Franco relaxar enquanto
observa o bebê com atenção.
— O seu bebê está com... — ela clica em umas teclas e adiciona,
— Onze centímetros, e cento e dez gramas. Será um bebezão. — diz
tirando-me um riso.
O aparelho pressiona minha barriga exibindo o comprimento da
coluna, os pezinhos, até os dedinhos. É perfeito demais.
— Querem saber o sexo? — pergunta e meus olhos encontram os
de Franco. Sei o que todos esperam de mim, tanto a Famiglia quanto à
Outfit. Um filho homem, como se houvesse um botão onde eu pudesse
selecionar a opção.
— Só se quiser. — ele diz com um olhar complacente.
— Pode dizer. — falo, pois tenho absoluta certeza que vou ficar
com isso em meus pensamentos.
— É um menino. — A expressão de Franco se mantém ilegível,
mas sei que por dentro ele está dando saltos de alegria.
Sorrio. Uma parte de mim feliz por ele não ter que passar o que eu
passei e a outra mortificada, imaginando como será a vida do meu filho,
Rocco invade meus pensamentos por um momento, ele não suportou, e
fugiu...
Mexo a cabeça mandando embora os pensamentos negativos,
cansada de sofrer antecipado.
Deixamos o consultório da médica sem mais delongas, e entramos
na BMW. Franco permanece com a expressão congelada, deixando-me
irritada.
— Você não dirá nada? — pergunto com minha voz carregada de
decepção.
— Eu estou feliz. — afirma alisando a minha perna.
— Então porque não parece? Você não queria um menino?
— Não me importo com o sexo do bebê, Fiore. Se fosse menina,
seria tão perfeito quanto você.
— Então o que é? — quero saber, e o telefone de Franco toca no
painel do carro, é Dom.
Franco comprime seus lábios e desliga.
— Eu te disse uma vez que, fui criado para ser quem sou e não me
vejo fazendo outra coisa. A minha alma já está condenada ao inferno, e eu
aceito isso...
— Oh. — balbucio, deslizando uma perna sob sua coxa. — Nosso
filho não tem que ser como você.
— Nós homens também não temos escolhas, Fiorella. — emite me
partindo o coração. — Eu prometo a ti que serei um pai melhor que o meu
foi para mim, e que nosso filho terá honra de verdade. — sua mão apalpa
minha barriga com carinho.
 

 
Chegamos em casa, e não existe fita métrica para o meu desanimo,
a descoberta do sexo devia ser um momento de felicidade, pelo menos para
planejar o quartinho o enxoval inteiro, ou imaginar como será o rostinho,
não esse clima de luto.
Desço do carro, e vejo outro estacionado logo ao lado da piscina,
acredito que seja Ettore pelo modelo, Jaguar preto. Meu estômago dói
imaginando o que ele quer com Franco, quase sempre que ele vem traz más
notícias ou os dois saem resolver alguma merda.
— Deu tudo certo lá? — Lazzaro pergunta diante da porta ele está
com uma expressão relaxa.
— É menino. — respondo e um largo sorriso se formar em seu
rosto.
Entro na casa e escuto o segurança parabenizando Franco. Ando
para a sala, e Ettore está em pé diante da entrada.
— Fiorella. — ele saúda com o semblante preocupado. — Está
tudo bem?
Dou-lhe um aceno de cabeça e um pequeno sorriso.
— É menino. — revelo.
— É menino. — escuto de trás do Consigliere, uma voz que faz
minhas pernas falhar.
Ettore sai da minha frente revelando Helena, minha amiga caminha
e me abraça com força espremendo minha barriga, fazendo-a doer.
Afasto-me para ver o seu rosto, o seu corpo, ela está bem, linda
como sempre e intacta.
— Cristo, Helena, por onde você andou? — quero saber, e vejo
seus olhos ficarem sérios, olhando além de mim.
Viro-me e Franco está ao lado de Ettore, a expressão que ambos se
encaram, me faz pensar que vão se acatar no meio da sala.
— Franco, Helena está aqui! — grito o óbvio, chamando a atenção
dos dois, — Você sabia? Sabia que haviam encontrado ela? — pergunto
eufórica, sentido o coração bater forte, ignorando a tensão que vibra na sala.
— Não fui informado. — diz encarando Ettore. — Fico contente
que esteja bem e segura, Helena. — Franco, balbucia sem expressão
alguma, ou seja, a normal.
— Obrigada. — Helena fala tão baixo quanto ele.
— Ettore, uma palavrinha em meu escritório. — avisa dando as
costas para o homem, que lança um olhar discreto a minha amiga.
Quando os dois saem da sala, me viro para Helena, que usa um
vestido cor de pêssego, que faz suas feições ficarem dóceis. Seus cabelos
pretos estão soltos e bem ondulados, e a face um pouco rosada. Ela está
maravilhosa, achei que quando a encontrassem estaria maltrapilha e
definhando.
— Por onde andou? — questiono e pego em sua mão para nos
sentarmos e meus dedos se enroscam em um anel. Puxo sua mão até os
meus olhos, e há uma aliança de noivado ao lado de um anel de casamento,
Helena tenta se desvencilhar de mim, mas eu a seguro firme em minha mão.
— Que merda é essa? — pergunto analisando o grande diamante.
Helena empalidece, parece que engoliu todas as palavras, ela mexe
a cabeça mecanicamente com os olhos azuis meio arregalados.
— Ettore te deu isso? — meu cérebro parece que pifou.
— Não é o que parece. — sussurra se livrando das minhas mãos.
— Me parece muito que você está casada. — sibilo entre dentes
em choque.
— O casamento é de mentira, e não posso dar mais detalhes.
— Você pode e vai! — advirto. — Maldito, eu pedi para ele
encontrá-la não para usá-la de bote salva-vidas.
— Ettore não me usou. Se acalme, o seu marido já deve estar
comendo as vísceras dele lá dentro.
— Eu espero realmente que sim. — falo pasma. — Você estará
presa a ele para sempre Helena. — ela mexe a cabeça em negação.
Cristo o que eu fiz? Enfiei Helena em um casamento arranjado.
— É só até Edwina se casar depois... — ela sussurra e se cala em
seguida, olho por cima do ombro, os dois já voltaram para a sala.
— Helena, vamos. — Ettore fala, fazendo o meu sangue subir para
a cabeça.
Levanto sem pensar, virando-me para o homem que eu
malditamente pedi ajuda, e quando avanço em sua direção com olhar
violento e as mãos em punhos para lhe dar um murro, Franco me detém
pelos ombros no meio do caminho.
— Ela é dele agora, para sempre. — olho para Helena, e pavor
cruza a face dela.
— Você pelo menos sente algo por Helena? — pergunto pegando a
todos de surpresa, a face de Ettore é insondável, mas seus olhos o
denunciam, deixando bem explicita sua resposta. Não.
Filho da puta ele só a comeu.
Tento me desvencilhar dos braços de Franco e nisso o seu telefone
começa a tocar no bolso do paletó, e ele me dá um olhar antes de me soltar,
com quem diz: não faça nenhuma merda.
— Fale Dom. — Franco diz ao telefone.
Afasto-me dele e ando até a minha amiga que está com os braços
cruzados em frente ao corpo, seus olhos estão em Ettore, se eu pudesse
arrancava as bolas dele, por tê-la usado dessa forma.
— Eu estou bem. — Hell balbucia segurando em seus cotovelos.
— Riccardo morreu. — me viro para Franco, e vejo em sua face
uma máscara impenetrável.
 
 
 
 
Desço do carro com minha amiga, e somos acompanhadas por
Lazzaro, até o local do enterro, Franco não quis que eu fosse noite passada
para o velório, ele saiu com Ettore logo que soube da noticia e me deixou
sozinha com Helena. Eu ainda não o vi, mas pela maneira que ele estava
ontem desde que chegou de Las Vegas, acredito que até o final da noite seu
autocontrole esteja por um fio.
A minha cabeça estava tão preocupada com ele que eu não
consegui pensar em mais nada, nem mesmo em interrogar Helena, sobre
como e quando ela foi encontrada, e o que levou ela a se casar com Ettore.
Bem, agora tempo é o que não nos faltará.
Caminhamos entre as passagens das lápides em direção à multidão
de casacos pretos. Presumo que toda a dinastia está neste cemitério para
prestar condolências, e suponho que este foi um dos motivos para que
Franco não me quisesse perto tão cedo.   
Franco se tornou Capo dei Capi, na hora que Riccardo deu o
último suspiro, e agora, mesmo no velório do seu pai, os abutres de honra
estão o analisando, esperando qualquer sinal de fraqueza. 
Lembro-me do que Carlota disse quando Massimo se tornou Capo
e Riccardo o matou para tomar o seu título. Isso me apavora um pouco, pois
Franco tem muitos tios e primos que podem querer o seu lugar,
principalmente Domenico que guarda as suas costas ao lado do caixão
fechado.
Carlota, Edwina e Enrico e até mesmo Beatriz estão próximos de
Franco, mas tão pouco choram. O meu marido usa a mesma expressão que
me apavorava antes de nos casarmos: frio, calculista, imponente.
Seus olhos encontram os meus, e ele indica com um olhar para eu
ir ao seu lado. Lazzaro segura o braço de Helena, contendo minha amiga no
lugar.
Ando até Franco e aliso o rostinho de Enrico com as mãos, depois
me viro para a multidão, há muitas pessoas, e metade julgo que sejam
seguranças.
— Daqui a pouco vamos para minha casa, haverá a recepção com o
buffet. — Carlota sussurra.
Assinto.
Olho para Franco pelo canto dos olhos, eu quero tocá-lo e
perguntar como está, no entanto não o faço. Eu nunca entendi o
relacionamento que ele tinha com Riccardo, mas independente de qualquer
coisa, era o seu pai e duvido que ele não esteja sentindo nada.
Olho para frente e Helena está com Ettore e Lazzaro às suas costas,
minha amiga veste um dos meus vestidos pretos, e sua expressão combina
com o luto, os seus olhos encontram os meus talvez pensando na merda que
fez ao se casar com Ettore.
Riccardo morreu, e o casamento não iria seguir, visto que Franco
não queria casar a Edwina. Que ironia não? Quero rir, Ettore se casou para
fugir de um casamento e agora está preso a um de mentira.
Permaneço rígida ao lado de Franco até que as pessoas param de
vir prestar pêsames.
— Vá com a Carlota, eu a vejo mais tarde. — diz naturalmente e
sinto os dedos da mulher se fecharem em volta do meu antebraço.
— Vamos querida, enterro não é lugar para uma grávida. — ela
sussurra.
Encontro Lazzaro e Helena no caminho e voltamos para o carro
seguindo Carlota e seus filhos, nem mesmo Enrico ficou para terminar de
assistir a descida do caixão.
— Pensei que seu pai viria. — Helena comenta assim que
adentramos o carro.
— Se ele viesse não poderia levá-la de volta. — minha amiga
comprime os lábios, consternada.
— Como está, Sienna? Soube que foi visitá-la.
— Como você acha Helena, você desapareceu por um mês e uma
semana. — recordo-me que ainda nem avisamos ela.
— Ella, eu não poderia mesmo ficar na mansão para sempre. Carlo
casará Sienna uma hora, e eu não sou filha legítima dele, Dona não ia
querer uma mulher de quase vinte anos dividindo o teto com o marido dela.
— Dona te fez alguma? — estreito os olhos.
— Céus, não! Mas é o que eu sinto.
Relaxo no banco e assisto por um momento, Lazzaro seguir o carro
da frente. Que semana bagunçada, reflito e vejo Hell deslizar a cabeça pelo
assento em direção ao meu ombro, sua mão desliza para o meu ventre e me
apalpa gentilmente.
— Um menino. — balbucia e seus olhos encontram os meus
dóceis. — Me conte o que aconteceu quando voltou para casa naquela
noite.
Pede e instantaneamente vejo os olhos de Lazzaro em mim pelo
retrovisor.
Mexo a cabeça mecanicamente, pois também não quero lembrar.
— Brigamos. — Hell aceita a minha resposta rasa, porque sabe que
quero me aprofundar na história dela, mas não o faço, agora não é o
momento, apenas conto sobre o sangramento, e que minha principal
suspeita, resolveu fazer uma viagem de última hora.
 

 
Adentramos na mansão dos Fiore, e seguimos o rebanho de
ovelhas negras para a sala de recepção, onde ocorrerá o Buffet. A sala está
com uma grande mesa, com vários tipos de comidas estendida ao longo
dela. Meu estômago embrulha só de pensar em pôr algo para dentro.
— Vamos dar uma volta. — Helena me puxa pelo pulso para fora
da sala e entramos em uma área externa, com vista para o pátio de trás. —
Como você está?
— Preocupada com Franco. — digo, pois é só nele que consigo
pensar.
— Não devia Ella. Franco já era temido antes, agora que sua
palavra é lei, ninguém se atreverá a fazer algo.
— Talvez hoje não, mas o perigo agora é iminente. — minha
amiga passa os braços à minha volta e me aperta com força.
Caminhamos pela mansão sem direção, ficar em movimento me
faz respirar com mais facilidade e até esquecer um pouco a bagunça que
está a minha cabeça. Lazzaro nos segue mais de perto, e sua insegurança
não me faz sentir mais segura.
Helena paralisa na entrada de uma sala, fazendo-me bater contra o
seu corpo.
— Aii, — gemo e saio de trás das costas dela, alisando minha
barriga.
— Vamos para outra sala. — avisa, pegando em meu pulso,
quando enxergo Verônica sentada em um sofá com o celular na mão.
Os olhos da mulher se arregalam como se fossem saltar da orbita,
Verônica fica em pé, perdendo totalmente a cor do rosto, ela dá um passo
para o lado, como se quisesse fugir como um maldito rato.
— Você não devia ter voltado. — minha voz sai branda, dominada
pelo autocontrole.
A mulher abre os lábios, mas não emite nenhum som, e seus olhos
revelam sua covardia. Adentro mais a sala com passos firmes e o coração
amortecido no peito.
— Pague ela. — aviso, Helena, que estreita os olhos, — Agora! —
Sibilo.
— Fiorella. — ouço Lazzaro atrás de mim, quando minha amiga
avança em direção a Verônica que corre até a outra saída. — O que vai
fazer?
— Acertar as contas. — aviso tirando o meu sobretudo e lhe
entregando. Lazzaro já está com o telefone na mão para ligar para Franco.
Independente do que meu marido disser, Veronica sangrará hoje.
Vejo Lazzaro deixar a sala, e Helena trazer Verônica pelo braço, a
mulher tenta refrear os pés no chão, mas isso não impede minha amiga de
empurrá-la para frente em minha direção. Verônica firma as pernas no salto
parando a um braço de mim, e posso sentir a tensão em seu corpo.
— Por quê? — pergunto, olhando em seus olhos, cobertos por
lágrimas ainda não derramadas.
— Franco era meu — exclama e as lágrimas rolam, — Eu cuidei
dele quando todos acharam que fosse morrer, fiquei ao seu lado até se
recuperar. E pra quê?  — sua cabeça mexe em negação. — Ele me
esqueceu assim que se casou.
— Você quase matou o meu filho, que não tem culpa alguma nessa
história — digo, com a palma da mão coçando.
— Só queria que ele sofresse como me fez sofrer. — expressa
lamentosa e limpa a face vermelha.
— Fiorella. — Lazzaro está nas minhas costas.
— O que ele disse? — questiono, olhando por cima do ombro.
— Pediu que não fizesse força. — informa e me estende sua arma
com um olhar apreensivo. Um riso abre em meus lábios, impressionada, e
vejo um lamurio escapar pela boca da Verônica.
Franco deixaria eu mesma matá-la, nossa, ele deve estar no limite.
— Eu não posso fazer isso. — expresso, chocada, que tipo de
pessoa eu seria se tirasse a vida de alguém com um bebê em meu ventre? —
Me dê uma faca. — peço estendo a mão com a palma virada para cima.
— Ella. — Helena balbucia e sua voz vibra a aflição.
— Tudo bem Hell. O sangue será pago com sangue, me parece
bem justo. — menciono olhado nos olhos da Verônica, e fecho os dedos em
volta do punhal que pesa em minha mão, as lágrimas dela escorrem e não
me comove nenhum pouco.
— Segure, ela. — aviso ao segurança, sua expressão é
inconcebível.
Engraçado os homens, eles matam a sangue frio e quando
enxergam uma mulher armada, parece que somos bruxas de Salém.
— Lazzaro, por favor, não faça isso. — ela implora com as mãos
fechadas em frente ao corpo, para ele não tocá-la, mas Lazzaro a segura por
trás com firmeza. Observo a face da Verônica, suas narinas estão dilatadas e
fúria estampa o seu semblante.
— Você já o tem, — ela grita, — O que mais você quer?
— A sua cabeça. — respondo só pelo fato dela não demonstrar um
pingo de remorso, — Mas vou me contentar com seus dedos.
O mesmo terror que vi em James, está esculpido na face da mulher.
— Qual mão? — Lazzaro pergunta alto, sobre o choro da Verônica,
dou de ombros e ele estende a esquerda em cima da mesa de centro.
Agacho-me para poder encará-la.
— Isso não é por Franco, Verônica, que tipo de mãe eu seria se
ignorasse o que você fez? Não espero que me entenda, mas você faria o
mesmo se estivesse no meu lugar. — digo as suas palavras de semanas atrás,
e seu semblante mostra reconhecimento.
Os olhos de Lazzaro encontram os meus breves e desviam quando
me vê erguer a faca, e sem hesitar deslizo em um golpe firme sobre os
dedos da mulher. O grito dela oscilou em meu corpo, como uma corrente
elétrica.
Soltei a faca na mesa evitando olhar para os seus dedos, não
preciso dessa imagem na minha cabeça. Fico em pé e assopro uma mexa do
meu cabelo para trás, nessa hora vejo Edwina na porta, mais branca que um
osso.
— Gostaria de dizer algo? — pergunto, vendo o segurança sair de
cima da Verônica que abraça os cotocos coberto por sangue, contra o peito e
chora incessantemente.
— Não. — ela balbucia, parece que está mais abatida pela amiga,
do que com a própria morte do pai.
— Pode levá-la, mas os dedos ficam. — Edwina me lança um
olhar resignado e ajuda sua amiga a sair do chão.
Sento-me no sofá onde Verônica estava e Helena faz o mesmo, me
puxando para seus braços. Em silêncio vimos Lazzaro pegar um pedaço de
jornal e juntar os dedos da mulher, meu estômago embrulha com força, e
me vejo na urgência para tomar um banho.
 

 
Voltamos para minha casa em seguida, assim que cheguei fui direto
para o banho sentindo o corpo tremer. A adrenalina que tive na hora que
cortei os dedos da Verônica foi embora, e agora o que pesa é só a
consciência. Nunca desejei ser uma pessoa má, sei que a minha forma de
lidar com a situação pode soar errado para algumas pessoas, mas
infelizmente é eficiente.
Suspiro, deitada no sofá vendo Helena caminhar de um lado para o
outro na sala, falando ao telefone com Sienna, e relatando minuciosamente
os detalhes da sua fuga, que me deu instantes atrás, fiquei petrificada e triste
por ela ter passado um perrengue dos infernos e feliz que agora ela está aqui
comigo. Minha amiga apesar de tudo parece bem animada, será que ela
ainda não se deu conta que nunca mais terá uma vida normal?
Ficará presa ao Consigliere para sempre, e pensando no diabo o
próprio entra na sala, fazendo Helena encerrar a chamada.
— Onde está Franco? — quero saber, e segundos depois meu
marido surge de trás do Ettore. Levanto-me sentindo um alívio no peito.
O abraço pela cintura, ignorando a presença dos dois, Franco
relaxa instantemente e passa seus braços a minha volta, seu nariz invade
meus cabelos, inalando o meu cheiro.
— Já estamos indo. — Ettore avisa, fazendo-me enrijecer.
— Franco. — balbucio, e recebo um olhar de repreensão dele, olho
para Helena, ela me dá um sorriso que tenta me mostrar que está tudo bem e
caminha para fora da sala com Ettore.
— Não me peça para separá-los. — comenta pondo meus cabelos
para trás da orelha. — Os dois merecem isso por tramar as minhas costas.
— Ele não a fará feliz, é um casamento de mentira.
— Helena se casou por vontade própria. — retruca, — E se ela for
esperta como você, — diz com um risinho, — Ettore caíra de quatro por
ela.
Quero esconder um riso, mas não consigo, Franco me pega nos
braços, com firmeza.
— Lazzaro me contou o que aconteceu. Quer conversar? —
pergunta me olhando com atenção e nos levando para o andar superior.
Mexo a cabeça em negação.
— Não há o que dizer, só que ela não colocará mais os dedos em
nosso casamento.  — ele ri alto e eu amo o som da sua risada.
— Sabia que você era a esposa certa para mim. — declara.
— Por que competimos com a loucura? — quero saber.
— Porque você é minha igual. — diz com persuasão, e me põe na
cama.
Cruzo as pernas e me sento nos calcanhares, enquanto o vejo
remover o paletó, o colete e por o coldre. Franco estala o pescoço com
força, e depois tira a camisa, sentando-se no recamier.
Deslizo as mãos por seus ombros, que estão quentes e tensos.
— Você está bem com a morte do seu pai? — pergunto, pois a
máscara que ele usava mais cedo sumiu, e sua face está suave.
— Ele já estava morto, Fiore. — aperto meus lábios pesarosa.
— E como a Famiglia está reagindo? — pergunto, pondo meu
queixo na curva do seu pescoço e Franco arrepia com minha respiração
gélida. Seus olhos encontram os meus de soslaio.
— Metade já estava ciente que meu pai não comandava mais nada,
e a outra terá que me aceitar, visto que reforcei o juramento para me
legitimar Capo dei Capi. — explica naturalmente.
Franco se vira para mim, e me puxa para o seu colo.
— Nada mudará dentro da nossa casa, não tem com o que se
preocupar. Você e o nosso filho serão a minha prioridade sempre. — ele
sussurra, como se fosse algo que não devia ser dito, e suas mãos deslizam
para o meu ventre amorosamente, encaro Franco com um sorriso leve e
juntos sentimos o primeiro chute do bebê.
— Você sentiu isso? — pergunta, impressionado, sorrio e assinto
tão emocionada quanto ele.
Franco me deita na cama, e sobe minha blusa até a altura dos seios,
suas mãos ocupam toda a minha barriga, ele aproxima os lábios do meu
ventre e deposita um beijo, depois murmura algo inaudível para meus
ouvidos.
— O que está fofocando aí? — ergo a cabeça e arqueio a
sobrancelha.
Franco engatinha até mim, abrindo minhas pernas com as suas, e se
enfiando entre elas. Ele desce se apoiando nos braços e com o seu nariz
quase encostando ao meu, expressa com uma voz devassa:
— Disse que agora a mamãe fará a posição do Gato Arrepiado pro
papai. — Não sei se eu rio ou bato em Franco.
Então faço os dois, mas sou presa por suas mãos, que seguram
meus braços acima da cabeça, o meu marido desce os centímetros que
faltam para sua boca encostar na minha e me beija sem piedade.
 

 
 
 
 
 
04 MESES DEPOIS | SETEMBRO
 
Volto para o quarto parecendo um zumbi, não tenho ideia de
quantas vezes acordei essa noite, e pelos vãos das cortinas percebo que está
quase amanhecendo. Dou um grande bocejo e me deito na cama novamente,
quando me viro encontro Franco com os olhos bem abertos.
— Eu disse que posso cuidar do Stef durante a noite. — avisa com
um olhar preocupado me puxando para seus braços.
— E dará os seus peitos para ele mamar? — pergunto sem conter
um risinho.  — Nádia estava com ele, mas se Stef tem fome o que eu posso
fazer?
Franco enruga os lábios, nada contente com a minha resposta e
sem argumento.
— Você está se preocupando demais. — falo, me virando para
Franco e deslizando uma mão por sua face, sua barba está grande e macia.
Seus olhos azuis intensos me observam com atenção, posso
adivinhar no que ele está pensando: no dia do parto.
Stefano nasceu há exatos quarenta dias. Estava com oito meses e
alguns dias, e minha pressão parecia uma panela de pressão prestes a
explodir na minha cabeça além das complicações que o misoprostol causou.
Mas no fim deu tudo certo, Stef mesmo nascendo antes do tempo já tinha o
tamanho de um bebê de nove meses, com os cabelos da cor de carvão, mas
que parecem com plumas. Os olhos claros, mas ainda indefinidos e uma
carranca igualzinha à de Franco. Sorrio, fazendo Franco estreitar os olhos.
— O que foi? — quer saber.
— Nada. — falo descendo a mão para o seu corpo quente e nu, —
A quarentena acabou, e seu pintinho já pode voltar a nadar em águas
profundas. — aviso sentindo cada gominho do seu tórax se tencionar. Meu
dedo indicador desliza para a extremidade da sua cueca e puxa o elástico,
fazendo estalar contra a sua pele. 
— Não brinque comigo, Fiorella. — adverte, mas seus olhos
brilham a luxúria.
— Eu sei que estou um trapo, mas sinto sua falta — confesso
pegando em seu pau por cima da cueca e sentindo-o crescer e pulsar na
minha mão, mostrando que o sentimento é mútuo.
Franco permanece em silêncio fitando-me com o seu olhar intenso.
Se inclina vagarosamente e prendo a respiração quando ele deixa um beijo
de lábios abertos no meu pescoço e mordisca minha pele deixando-a
sensível, em seguida sinto sua língua quente acalmar o lugar em que seus
dentes cravaram. Gemo adorando a sensação que ele provoca apenas com
seus lábios.
— Minha… — rosna, com uma voz profunda retirando minha
camisola e calcinha, deixando-me nua, exposta para o seu deleite.
Ele se abaixa distribuindo beijos em cada centímetro da minha
pele, contorço-me ansiando que ele chegue logo em um lugar que está
pulsando ardentemente, e como se lesse os meus pensamentos sinto sua
barba densa roçar o lado interno das minhas coxas. Ergo o olhar e o flagro
com um sorriso devasso nos lábios e os olhos envelopados de prazer e
luxúria.
— Fiore… Esperei muito para prová-la novamente — Sussurra,
esfregando minha fenda encontrando-a completamente molhada. 
Seus olhos brilham e ele sorri parecendo satisfeito.
— Foi o que pensei… Já está molhada para mim, mas não importa,
primeiro a farei gozar na minha boca, e depois irei fodê-la até estarmos
totalmente saciados.
Com um rosnado do vindo do fundo da garganta ele abocanha meu
sexo. Arqueio minhas costas no colchão. Franco mal começou a sua tortura
e já sinto ondas de prazer invadir o meu corpo.
Tem sido longos dias sem sentir o calor do seu corpo no meu.
Fecho os olhos e jogo a cabeça para trás, puxando o lençol, delirando e
caindo na vórtice que sua boca deliciosa provoca em mim.
Franco suga meu clitóris com voracidade, deslizando contra
minhas dobras molhadas, tornando-as mais úmidas.
Aquela sensação deliciosa começa a se formar e ele percebe, pois
desacelera seus golpes me levando a borda do precipício.
— Franco… — choramingo seu nome, silenciosamente
implorando para me fazer chegar a minha libertação.
Sinto o seu sorriso e dois dedos são empurrados para dentro de
mim.
— Oh, Deus! — grito.
Arqueio, empurrando meu quadril para a sua boca.
Ele se afasta, observando o meu rosto.
— Adoro foder essa boceta apertada, querida e principalmente,
adoro ver quão linda fica quando está prestes a gozar — Murmura batendo
seus dedos duros em mim, me fazendo arfar e me tornar uma bagunça.
E um grito se perde em minha garganta quando o primeiro
espasmo alcança-me e tudo à minha volta se torna um borrão.
Seus lábios me tomam, em um beijo urgente calando todos os meus
gemidos e murmúrios de prazer.
Quando nos afastamos, a luxúria ainda ferve entre nós e ao julgar
como seu pau pulsa furiosamente contra o tecido fino da sua boxer, meu
delicioso marido já está no limiar do limite.
Sorrio sensualmente e passo minhas unhas sobre seu peito
trabalhado o empurrando gentilmente contra a cama, prontamente
libertando-o da única peça que me impede de tê-lo.
O pego em minhas mãos e Franco suspira audivelmente, com sua
mandíbula cerrada enquanto o guio diretamente em minha entrada.
Com os olhos cravados no seu, desço sobre ele lentamente.
Suas mãos poderosas seguram cada bochecha da minha bunda,
apertando-as.
Gememos em uníssono.
Quando já estou totalmente empalada por ele, começo a me mover,
lento, e fundo, o levando a loucura como todas as vezes ele faz comigo.
— Isso… mostre-me quem está no comando… — rosna, cravando
ainda mais seus dedos em minha pele, começando a ditar o nosso ritmo.
Minhas coxas se apertam em cada lado e isso parece enlouquecê-
lo.
— Fiorella, sua boceta está me apertando tão deliciosamente que
irei explodir.
Ele agarra minha nuca e levanta o quadril, encontrando os meus
golpes.
O jeito que ele me olha é intenso, carnal e erótico que não demora
muito para me ter completamente enlouquecida, gritando o seu nome.
Franco mantém o seu aperto, intensificando ainda mais e quando fecha os
olhos e solta uma respiração ruidosa, sinto seu líquido quente explodir
dentro de mim, provocando uma avalanche prazerosa, me fazendo chegar
no meu segundo orgasmo.
Caio exausta e suada, sobre o seu peito e os seus braços deslizam
para minha coluna fazendo longas carícias, o silêncio se propaga e estou a
cair no sono quando Stefano começa a chorar.
Franco estende a mão para a babá eletrônica e a silencia, mas o
chorinho do meu bebê, eu consigo escutar mesmo com a porta do nosso
quarto fechada.
Sento-me no automático, ele me coloca na cama puxando a sua
cueca ao lado.
— Eu vou lá, não deve ser fome, — diz entrando no banheiro para
se lavar, e Stef continua a chorar inconsolável, olho pela tela da babá
eletrônica e Nádia começa a embalar o berço gentilmente.
Eu devia estar fazendo isso.
Quando meus pés alcançam o chão, Franco volta para o quarto e
me dá um olhar de advertência.
— Fique na cama. — diz e soa como uma ordem, fazendo-me
arquear uma sobrancelha. — Estou falando sério, hoje é seu aniversário, eu
quero você descansada pra mais tarde.
Oh céus é o meu aniversário! E provavelmente passaria
despercebido, Stefano tem ocupado todo o meu tempo, que às vezes nem
sei quando é noite ou dia, pois o sono dele é totalmente desregulado.
Deito-me na cama e vejo Franco puxar sua calça do recamier, ele
começa a vesti-la com seus olhos nos meus.
— Descanse, se ele ficar com fome o trago. — avisa e deixo o
quarto fechando a porta atrás de si.
Aconchego-me na cama novamente, e me cubro sentindo os
músculos do corpo e a mente, exigindo descanso. Pego a babá eletrônica a
tempo de ver Nádia deixar o quartinho de Stef. Franco se aproxima do
berço, e apanha nosso filho, ele se vira para câmera do quarto e mostra Stef
que quase desaparece em seus braços. Franco me dá uma piscada, pois sabe
que estou de vigia. Ele tem se esforçado muito ultimamente para estar
presente tanto para nós quanto para Famiglia, que devia ser sua prioridade,
na visão dos Homens de Honra.
Depois que se tornou o Chefe, tivemos algumas mudanças, mais
guarda-costas principalmente depois que o Stef nasceu. Domenico tem feito
mais visitas, e como Carlota mesmo disse, ele sabe o seu lugar. Eu lamento
de verdade que teve que perder sua orelha por nossa culpa, mas aquela
desavença nunca o fez ser desrespeitoso comigo. Também, seria estupidez.
Vejo Franco sentar na cadeira de balanço com meus olhos pesando
e na primeira embalada dele, sinto meus olhos se fecharem vagarosamente,
e sou levada pelo cansaço.
 

 
 
 
Acordo sentindo uma fisgada no peito, e quando abro os olhos Stef
está agarrado em meu seio, enquanto sua mãozinha incontrolável bate no
outro, e Franco sentado na extremidade da cama mexendo no telefone. Ele
me olha com um riso e encolhe os ombros, como quem diz: está
alimentado, não está?!
Em seguida Franco me mostra o telefone e na tela há exatamente
uma foto minha de instantes atrás, com os dois peitos amostra e Stef na luta
para abocanhar um.
— Você vai apagar isso. — aviso puxando o lençol e cobrindo até a
nuca do bebê.
Franco mexe a cabeça mecanicamente com um risinho no canto
dos lábios.
— Tudo que eu amo em uma foto — comprimindo os lábios, —
Nem pensar. — adiciona, guardando o telefone no bolso.
Suspiro e mexo a cabeça em negação, Deus queira que ninguém
hackeie esse celular.
— Tome um banho e desça. — Franco avisa ficando em pé.
— Está muito mandão hoje. — digo inconformada, é meu
aniversário quero mimos, não ordens.
— Estaremos lá embaixo esperando por você. — Franco diz,
pegando Stef que veste um macacão muito fofo, vermelho com colete
xadrez preto e branco, dou uma cheirada no cangote dele antes de soltá-lo
por fim.
Olho as horas no rádio relógio e, caralho, já está beirando ao meio
dia. Ah que delícia poder dormir, sem preocupação, quando Franco está em
casa parece que tudo está no seu lugar.
Entro no banho, e gemo quando a água quente escorre pelo meu
corpo, aliso a minha barriga sentindo a fina marquinha da cesariana. Faz
alguns dias e ainda é estranho não ter mais aquele barrigão que me impedia
até de enxergar os pés. Rio, mas não sinto falta, Stef já estava grande
demais, a sensação era que eu iria literalmente explodir a qualquer
momento.
Termino o meu banho, e deslizo em um vestido laranja floral, de
alcinhas finas e decote reto, já estamos quase no fim do verão e eu amo esse
clima.
Seco meus cabelos rapidamente, e tomo o meu anticoncepcional
antes de descer. Eu amo Stef, mas disse ao Franco antes de deixarmos a
maternidade que não quero ter mais filhos. Não serei usada como uma
máquina reprodutora para que a Famiglia possa fechar mais acordos
futuramente. Ele não objetou e eu aceitei isso como um sim.
Chego ao corredor sentindo o cheiro de comida, e o meu estômago
desperta dentro de mim, quando alcanço as escadas enxergo os longos
cabelos de Helena debruçada sobre o sofá, com certeza mimando o bebê.
Ela percebe minha presença e se vira para mim, com um sorriso
doce.
— Até que enfim a aniversariante acordou. — repreende me dando
um abraço e quando olho além da minha amiga, enxergo Sienna sentada no
sofá, meu queixo cai surpresa.
— Oh... Meu Deus você está aqui. — expresso, e me aproximo
dela.
— É seu aniversário, Franco pediu ao papai que eu viesse. — ela
dá uma piscadinha. — E eu estava muito ansiosa para conhecer essa fofura.
— diz cheirando a cabecinha de Stefano.
— Por que não me disse que viria? — pergunto, dando um beijo
nela.
— Porque não seria surpresa. — Franco avisa atrás de mim, com
Ettore ao seu lado. Dou um largo sorriso que me dói às bochechas, e recebo
os parabéns do Consigliere.
— O almoço está na mesa. — Elói anuncia da entrada da sala,
nisso Stef começa a chorar, devo ser uma péssima mãe, pois acho adorável
o seu chorinho.
— Vou roubá-lo para mim. — Sienna diz, trazendo o meu filho.
— Já não tem a Mady para chorar nos seus ouvidos? — pergunto
retoricamente, já que Dona teve a bebê recentemente. Minha irmã assente
com um sorriso, mas o seu olhar arregalado mostra o quanto Dona está
sofrendo.
Assim que pego o bebê o choro cessa, e vejo Franco fazer uma
carranca.
— O que você tem que eu não tenho? — quer saber me puxando
pela cintura, com o bebê entre nós.
— Peitos. — Ettore responde antes que eu pudesse formular uma
resposta, arrancando risos das meninas que se encaminham para a cozinha.
— Errado ele não está. — Franco emite, com um risinho, ele
parece incrivelmente relaxado.
Solto Stef no berço móvel no meio da sala e coloco para rodar o
móbile de macaquinhos.
Franco aguarda as minhas costas, me viro para ele e o abraço pela
cintura, ganhando um beijo no topo da cabeça.
— Obrigada. — sussurro, encontrando o seu olhar, sua cabeça
mexe levemente em negação.
— Isso é o mínimo, — fala, pondo o meu cabelo atrás da orelha, e
seu polegar desliza pela pequena cicatriz do tiro que recebi após o dia do
nosso casamento.
O olhar de Franco encontra o meu suavemente.
— Obrigado, por não desistir de nós, só Deus sabe o quanto eu
merecia aquele tiro, aqui no meio desta sala.
— Eu posso resolver isso. — aviso com um riso e vejo Franco me
dar outro.
— Nunca pensei que desejaria tanto uma esposa mafiosa. — e com
essas palavras ele me beija, tão intensamente como na primeira vez, naquele
altar, como se eu fosse ar e ele estivesse sufocando.
Olhando para trás, jamais supus que seria feliz aqui, e depois de
todo o terror vivido, não me vejo em outro lugar, que não seja nos braços do
meu mafioso possessivo.
 
 
 
 
 

 
 
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