Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
São Paulo
2020/2
FERNANDA DO NASCIMENTO CINTRA
Aprovada em ___/___/_______
BANCA EXAMINADORA:
C575d
Fernanda do Nascimento, Cintra
DESIGN, BORDADO E RESISTÊNCIA: ENTRE
TRAJES E PONTOS DE OPOSIÇÃO / Cintra Fernanda
do Nascimento. - 2020.
145f. : il.; 30cm.
CDD 741.6
Agradeço primeiramente
primeiramente ààCAPES
CAPESpelae ao Setor
Bolsa de Pesquisa
de Estudos da Universidade
concedida, bem como
Anhembi Morumbi
à Universidade pela bolsa
Anhembi de estudos
Morumbi concedida.
pela Bolsa Esse
de Estudos auxílio oportunizou
Institucional, a
Modalida-
realização
de Parcial. da pesquisa.
Esses auxílios oportunizaram a realização da pesquisa
Agradeço a Cristiane Mesquita, minha orientadora. Por toda a parceria, por
acreditar na minha pesquisa, compartilhar seus conhecimentos, clarear o ca-
minho e apontar novos olhares de maneira generosa, incansável, precisa e por
contribuições tão enriquecedoras. Minha gratidão e admiração a você!
Às Professoras convidadas, Priscila Almeida Cunha Arantes e Suzana Avelar,
por terem prontamente aceito o convite para participar da banca de defesa. Obri-
gada pela leitura delicada e cuidadosa e por colocarem pontos de vista tão rele-
vantes para o texto, que me proporcionaram novas reflexões.
Agradeço aos professores e ex-professores, à coordenação e ao apoio do
PPGDesign Anhembi Morumbi: Agda Carvalho, Ana Mae Barbosa, Gisela Beluz-
zo de Campos, Mirtes Marins de Oliveira e Sérgio Nesteriuk, pelos ensinamentos
compartilhados. Vocês são inspiradores! A querida Antônia Costa, agradeço por
todo seu auxílio.
Obrigada àqueles que compartilharam o peso de tentar tornar-me uma pes-
quisadora e deixaram meu percurso mais leve: todos os que conheci por meio
desse PPG e que hoje chamo de amigos.
Ao pessoal do Instituto Zuzu Angel, que me acolheu, respondeu paciente-
mente à tantas perguntas – e pegou caixas e mais caixas para eu pesquisar:
Hildegard, Manon, Simone, Rubens e Bianca. Passaria meses nessa casa linda
em contato com o acervo, que nos convida a desvendar mapas e montar que-
bra-cabeças.
Muito obrigada também ao pessoal do Linhas de Sampa, pela atenção e
paciência com as quais me receberam. Lenira, Reiko, Gláucia, Cauê, Carmem
e outres. A dignidade do trabalho de vocês dá esperança, vontade de estar e de
bordar junto. Sua luta atravessa qualquer preconceito.
Ao meu companheiro Renan. Este processo foi concluído graças ao seu
incentivo. Suas contribuições foram tantas! De revisor a curador – passando por
editor de imagens... Comemorou comigo cada conquista e me motivou em mo-
mentos de desânimo e frustração durante a pesquisa. Por vezes, acreditou mais
em mim do que eu mesma.
Aos meus pais Maria Clara e Mauro, pelo amor incondicional. Sempre priori-
zaram a minha educação e me ensinaram a reconhecer as injustiças a nossa volta.
A minha irmã Flávia, por ser um exemplo de determinação e torcer sempre por mim.
Aos demais familiares e amigos, agradeço pelo carinho de sempre, pelo
incentivo e por compreender todas as minhas ausências.
Obrigada também ao Thiago, que me motivou e ajudou a organizar as ideias
em uma fase intensa, enquanto eu acompanhava minha mãe em tratamento con-
tra o câncer. Elídia, obrigada pela sua precisão e por sugestões tão interessantes.
“O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.”
(Margaret Atwood)
RESUMO
Esta pesquisa apresenta um percurso investigativo que enfoca os
conceitos de traje de oposição e bordado de oposição, por meio
de aproximações entre os campos do design de moda e da po-
lítica. Para tanto, além de uma tomada histórica, são elencadas
significativas mudanças nos modos de vida, ocorridas na segun-
da metade do século XX, em articulação com roupas e bordados.
Nesse contexto, o conceito de resistência é delineado na produ-
ção de subjetividade contemporânea, a partir da abordagem de
trajes e de bordados, apresentados por meio de dois estudos de
caso. O primeiro deles é uma coleção de roupas da designer de
moda mineira Zuzu Angel, criada no ano de 1971 em meio à di-
tadura civil-militar brasileira (1964-1985). O segundo, inserido no
cenário político da última década (2010-2020), são os panfletos
bordados do Coletivo paulistano Linhas de Sampa, realizado nos
últimos dois anos. A pesquisa enfoca as potências do traje e do
bordado de oposição como fatores narrativos dissonantes, que
criam espaços expressivos questionadores da hegemonia social,
no sentido de ampliar as articulações entre os campos do design
e da política.
Palavras-chave: design de moda; design e política; bordado de
oposição; Zuzu Angel; Linhas de Sampa
ABSTRACT
This research presents an investigative path that focuses on the
concepts of oppositional dress and oppositional embroidery, throu-
gh approximations between the fields of fashion design and politi-
cs. To this end, in addition to a historical take, significant changes
in ways of life are listed, which occurred in the second half of
the 20th century, in conjunction with clothing and embroidery. In
this context, the concept of resistance is outlined in the produc-
tion of contemporary subjectivity, from the approach of costumes
and embroidery, presented through two case studies. The first is
a collection of clothing by the fashion designer from Minas Gerais,
Zuzu Angel, created in 1971 in the midst of the Brazilian civil-mi-
litary dictatorship (1964-1985). The second, inserted in the politi-
cal scenario of the last decade (2010-2020), are the embroidered
pamphlets of the São Paulo Collective Linhas de Sampa, carried
out in the last two years. The research focuses on the powers
of the oppositional dress and embroidery as dissonant narrative
factors, which create expressive spaces that question social he-
gemony in the sense of expanding the articulations between the
fields of design and politics.
Keywords: fashion design; design and politics; oppositional em-
broidery; Zuzu Angel; Linhas de Sampa
LISTA DE FIGURAS
Introdução.............................................................................................................13
1. Design, política e resistência em trajes e bordados..........................................18
1.1 Design, política e resistência......................................................................19
1.2 Nos bastidores do traje de oposição..........................................................27
1.3 Bordado de oposição entre história e resistência.......................................36
1.3.1 Um breve arremate: linhas iniciais......................................................36
1.3.2 Nos bastidores do bordado como resistência: alguns pontos................40
2. Nos bastidores da ditadura civil-militar: Zuzu Angel e os bordados..................51
2.1 Nos bastidores da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985)...................54
2.2 Zuzu Angel: uma designer brasileira..........................................................63
2.3 Nos bastidores do caso Stuart Angel..........................................................67
2.4 Os bordados de oposição de Zuzu Angel...................................................71
3. Bordados nos bastidores do Coletivo Linhas de Sampa...................................83
3.1 Nos bastidores dos levantes mundiais dos anos 2000: um breve
percurso................................................................................................................85
3.2 Nos bastidores da política brasileira: alguns momentos
pontuais (2013-2020)........................................................................................88
3.3 Ações do Coletivo Linhas de Sampa: Bordando a resistência...................92
Considerações finais............................................................................................108
Bibliografia............................................................................................................114
Apêndices.............................................................................................................128
INTRODUÇÃO
13
dissonância, nas tangentes ou em sentido contrário.
14
Neste contexto, a presente pesquisa enfoca o concei-
to de “resistência” como uma variável relevante na subje-
tividade contemporânea. Por meio de aproximações entre
design de moda e política, a partir da investigação de tra-
jes e bordados, em configuração com as articulações entre
os campos, para melhor compreensão de seus diálogos e
reverberações, pela abordagem dos dois estudos de caso,
conforme descrito a seguir.
15
nas mazelas dos tempos atuais, em diversos sentidos.
Suas estratégias e os diversos componentes que per-
meiam suas criações dispararam curiosidades a respei-
to das relações entre o campo do design de moda e da
política. A pesquisa de mestrado foi uma das estratégias
encontradas por mim, para refletir acerca dessas cone-
xões, em diálogo com as práticas realizadas pelo coletivo
Linhas de Sampa, no momento presente.
16
Esta investigação divide-se em três capítulos. O capí-
tulo I apresenta uma (a)bordagem que articula design, po-
lítica e resistência. Partimos de uma percepção acerca do
design como articulador de campos e criador de interfaces,
perpassando o conceito de “resistência”, para, em conexão
com o conceito do “traje de oposição”, apresentarmos mo-
mentos na história ocidental nos quais se faz presente esse
tipo de traje. São eles: o traje emancipado feminino, o terno
zoot, o traje existencialista, o traje ted, o traje hippie, o traje
punk, o traje insurgente árabe e o feminista norte-america-
no, que exemplificam aproximações entre design e política.
Em seguida, uma breve história sobre ato de bordar delineia
um percurso que se fará importante para melhor compre-
ender a técnica do bordado e suas relações com a política.
Abordaremos o conceito de “ponto subversivo”, que, neste
trabalho chamamos de “bordado de oposição”, destacado
por meio de dois exemplos: o sufrágio feminino e a segunda
onda feminista. Uma breve apresentação sobre o contexto
das práticas manuais no Brasil amplia esta reflexão e nos
aproxima dos nossos estudos de caso.
17
1. Design, política
e resistência em
trajes e bordados
Este capítulo busca observar articulações entre trabalhos de de-
sign de moda com resistência política. Nosso percurso para deli-
mitar algumas das variáveis atravessa as proposições de Michel
Foucault (1988) para “resistência”, em articulação aos conceitos
de “trajes de oposição” de Elizabeth Wilson (1989), alinhavados
ao contexto da produção de bordados, com base nas reflexões
de Rosziska Parker (2010) de “ponto subversivo” e indica alguns
exemplos nos quais se fazem presentes aproximações entre fe-
nômenos socioculturais que articulam design de moda e resistên-
cia política.
19
no com o propósito de melhorar a configuração das mercadorias
(CARDOSO, 2016).
20
Com esse propósito Papanek definiu então seis atributos
básicos a qualquer projeto de design, sendo eles: método, uso,
necessidade, telesis, associação e estética. O atributo método
diz respeito a interação de ferramentas, processos e materiais de
forma eficiente; o atributo uso se refere a competência do artefato
no cumprimento das suas funções básicas; o atributo necessi-
dade busca avaliar o quanto o produto atende alguma carência
e não apenas desperta desejo de consumo; o atributo telesis se
refere a adequação na ordem socioeconômica em que o artefato
está inserido; o atributo associação se conecta a qualidades que
atendam a públicos com necessidades específicas; e por fim o
atributo da estética é aquele que confere ao elemento beleza,
prazer e significado (PAPANEK, 1985). Assim, todos os atributos
básicos do projeto deveriam se interconectar em um objeto, con-
ferindo a ele o que Papanek compreendia como função (figura 1).
21
significado em seu uso. Embora suas proposições datem da dé-
cada de 1970, reverberam ainda hoje de forma expressiva.
22
É reconhecível que, um dos campos com os quais o design
dialoga é o campo político. Um exemplo dessa conexão pode ser
percebido na Alemanha nazista, quando Adolf Hitler (1889-1945)
encomendou como parte de sua campanha o design de um carro
popular (PAPANEK, 1985). Em outra via, o surgimento da contra-
cultura3 nos anos 1960 fez despontar designers engajados, com
propostas contrárias aos sistemas políticos e econômicos vigentes,
dando margem a projetos que colocam o usuário como figura cen-
tral e participativa no fabrico de artefatos e objetos, como forma de
resistência. Nesta pesquisa, observamos estratégias que se fazem
por meio dos trajes, das materialidades e das técnicas empregadas
e podem ser entendidas como manifestações de resistência.
23
com a proposição de que a resistência é inseparável das relações
de poder (REVEL, 2005).
24
des e suscitam reagrupamentos, percorrem
os próprios indivíduos, recortando-os e os re-
modelando, traçando neles, em seus corpos e
almas, regiões irredutíveis (ibid, 1988, p. 91).
25
na vida cotidiana, que produzem deslocamentos nos processos
de subjetivação e criam novos possíveis:
[...] é em que medida o design pode fazer al-
guma coisa para alcançar as subjetividades
vulneráveis e fazer reverberar algum possí-
vel, alguma possibilidade de encontro e de
partilha com o Outro, distante das superfícies
desenhadas e programadas e que consigam
apontar alguma transformação da paisagem
subjetiva e objetiva que experimentamos hoje
em dia (JESUS, 2014, p. 18).
26
Nesse contexto, o próximo tópico apresenta exemplos nos
quais as lógicas vigentes são questionadas, mais especialmente
no campo do design de moda. Por meio da abordagem da histo-
riadora inglesa Elizabeth Wilson (1989), são elencados exemplos
que expressam resistência a partir de trajes, como um dos fios
condutores desta pesquisa.
27
(ibid, p. 246) e expressava valores como efemeridade e simplicida-
de na vestimenta masculina, que na época era considerada exces-
sivamente simples, quando comparada aos trajes aristocráticos e
exagerados.
6 _ Termo criado pela escritora feminista Sara Grand. Disponível em: <https://
www.jstor.org/stable/25103291?seq=3#metadata_info_tab_contents>. Acesso
em 4 de set. de 2019.
7 _ Do texto original: “The primary significance of the counterculture was its
28
Em muitas dessas situações, a geopolítica8 mundial foi alte-
rada e foram vários os movimentos de resistência que emergi-
ram em distintos lugares. Nesse contexto, juntamente dos fluxos
contraculturais, os trajes de oposição engendram-se a partir de
diferentes variáveis, tais como posicionamentos culturais e polí-
ticos, questões de gênero e raça e embates contra os sistemas
econômicos e a luta de classes.
rejection of the military-industrial complex with its profoundly destructive and anti-
-ecological vision for eternal economic growth. The counterculture was an explo-
ration of the “politics of conciousness” tha called for new ways of understanding
sexuality, community, nature, and the individual psyche”. Tradução nossa.
8 _ Geopolítica é a congruência entre demasiados grupos de estratégias ado-
tadas pelo Estado para administrar seu território e anexar a geografia cotidiana
à história (MAGNOLI, 1994).
29
Nas décadas de 1930 e 1940, afro-americanos sofriam dis-
criminações violentas e largo preconceito nos Estados Unidos. Al-
guns desses homens buscavam se expressar por meio de trajes
de oposição, com seus ternos zoot, movimento ligado à afirma-
ção da identidade cultural por meio do vestir, iniciado por jovens
hispano e afro-americanos nas regiões periféricas de Nova York,
Los Angeles, Detroit, Chicago e Atlanta. (ALFORD, 2004). Ainda,
segundo a autora: “Por viverem em uma sociedade na qual eram
silenciados, estes indivíduos usavam a auto expressão por meio
de trajes de oposição”. (ibid, p. 103). O traje era composto por ter-
nos com ombreiras enormes, calças muito largas com suspensó-
rios e outras proporções exageradas, também nas gravatas com
nó e nos chapéus (figura 3). Esses elementos eram motivados
em parte pelo culto ao swing, dança que exigia vestimentas am-
plas. Para alguns, era também um disfarce da atividade criminal,
alternativa que restava no contexto da marginalidade.
30
Figura 3- Traje zoot Figura 4- Traje existencialista
Fonte: Smithsonian Magazine. Disponível em:<https:// Fonte: Old Cinema Journal. Disponível em: <https://old-ci-
www.smithsonianmag.com/artsculture/brief-history-zoot- nema.livejournal.com/79713.html>. Acesso em 26 de set.
suit-180958507/ >. Acesso em 27 de set. de 2019. de 2019.
31
drões salariais anteriores à guerra; no entanto,
viviam num mundo que não oferecia oportuni-
dades aos jovens das classes trabalhadoras [...]
Um mundo que - muito diferente da América- era
culturalmente dominado pelos estilos e valores
da alta burguesia. (WILSON, 1989, p. 255).
Pode-se dizer que o grupo era formado por uma nova onda
de teds e que sua vertente mais expressiva estava ligada à cena
musical londrina. O traje de oposição punk era criado por meio de
bricolagem – técnica que ressignifica o uso de materiais ordinários –
em um visual composto por objetos interessantes: coleiras caninas,
roupas rasgadas, cabelos com corte exótico, raspado e espetado
no centro da cabeça (figura 7). O objetivo do conjunto era chocar,
parecer artificial e colocar em xeque os conceitos de bom gosto e
de beleza da época; expressão material da angústia da Guerra Fria
e do medo da vida pós industrial e pós moderna a que estavam sub-
metidos os jovens nos centros urbanos (WILSON, 1989).
32
Figura 6- Traje hippie Figura 7- Traje punk
33
XX, outras tantas manifestações dos trajes de oposição podem
ser percebidas, graças à multiplicidade de emergências sociais.
34
mulheres, a reforma da imigração, os direitos reprodutivos, direitos
LGBTQI+, a liberdade religiosa, entre outras. O evento reuniu mais
de cinco milhões de pessoas10, sendo realizado em várias cidades
dos Estados Unidos e do mundo e ocorreu imediatamente após a
posse do presidente americano Donald Trump (1946 -) contra algu-
mas das suas declarações, consideradas ofensivas. O símbolo de
resistência ficou a cargo de gorros da cor rosa, como pode ser visto
na figura 9. Faziam alusão à uma frase de cunho machista dita por
Trump em sua campanha no ano anterior11 (PORTAL G1, 2017).
35
1.3. Bordado de oposição entre história e resistência
36
Figura 10- Bolsa de esmolas Figura 11- Bordadeiros no perío- Figura 12- Bordadeiras no perío-
francesa do pré Renascimento do pós Renascimento
Fonte: Parker (2010, p. 33). Fonte: Parker (2010, p. 4). Fonte: Parker (2010, p. 62).
37
As práticas de bordado continuaram a permear universos ex-
clusivamente femininos nos séculos seguintes. A figura 13, data-
da do ano 1740 é a pintura A mãe trabalhadora, do artista francês
Jean Siméon Chardin que mostra o trabalho de bordado sendo
transmitido de mãe para filha. A figura 14 mostra um manual de
boas maneiras feminino norte-americano do ano de 1889, com
instruções de bordado.
38
Figura 14- Manual de boas maneiras com instruções de bordado
39
delos para bordar, com a proposta de resgatar conceitos como
paz, prosperidade e abundância, por meio dessa atividade, que
como tantas outras, ficara em suspenso durante os anos de ba-
talha (ibid, p. 202).
40
ro, etnia, origem ou classe social (PINTO, 2010). As primeiras
manifestações surgiram no final do século XIX, na Inglaterra, se
espalharam por alguns outros países industrializados e perdura-
ram até o início do século XX. Inspiradas pelos protestos sindicais
masculinos – nos quais trabalhadores portavam banners impres-
sos e bandeiras sindicais – as feministas produziram materiais
expressivos que se diferenciavam graças à sua habilidade supe-
rior com as atividades domésticas manuais, eclesiásticas, costu-
ras e, principalmente, bordados (ibid, p. 198). A figura 16 mostra
um banner com o bordado de oposição sufragista bordado com
os dizeres “lembre-se: moradores de rua e suas irmãs exigem
votos” (tradução nossa) do ano de 1908.
41
Figura 17- Banner sufragista
42
Parker, pode-se dizer que a forma e conteúdo da maioria dos bor-
dados retratava a feminilidade não como fragilidade, mas como
força, que visava apresentar o movimento sufragista como apoio
a igualdade de direitos:
Não havia nada de ingênuo no protesto sufra-
gista por meio de bordados, elas estavam fa-
miliarizadas com métodos e materiais do bor-
dado, elas entenderam o conteúdo simbólico
dos materiais16 [...]. O guarda-sol era um ob-
jeto essencialmente feminino que, tomado em
conjunto com o bordado, sugere que o uso do
bordado pelo movimento era tático para com-
bater a propaganda anti-sufrágio, que cons-
tantemente retratava as feministas de maneira
caricata e masculinizadas17 (PARKER, 2010,
p. 198,199).
16 _ Do texto original “There was nothing naive in the suffrage use of embroi-
dery. they were familiar with methods and materials of pictorial embroidery.
They understood the symbolic content of materials”. Tradução nossa.
17 _ Do texto original “The parasol was such a quintessentially feminine object
that, taken in conjunction with embroidery, it suggests that the use of the art by
the movement was tactical, to counter anti-suffrage propaganda that constantly
depicted feminists as ‘large-handed, big footed, flat chested and thin-lipped’”.
Tradução nossa.
18 _ Mrs. Christabel Pankhurst e Mrs. Pethick Lawrence líderes do movimento
sufragista (LLOYD, 1968).
19 _ Do texto original “Some were highly skilled embroiderers, others able only
clumsy to follow the lines of their handwriting. The banner transformed a prison
gesture of solidarity into a public statement. Imprisoned and on hunger strike,
the women embroidered handkerchiefs with their signatures, bringing together
the tradition of political petition and protest”. Tradução nossa.
43
Figura 18- Banner WSPU
44
Unidos, por exemplo, depois de inseridas no espaço público e pro-
fissional, grande parte dessas mulheres foram demitidas e tiveram
que deixar os seus antigos postos de trabalho para os homens
que estavam voltando da guerra. Portanto, elas foram incentivadas
a retomar um estilo de vida prioritariamente doméstico (GARCIA,
2018). Nesse contexto, o outro exemplo no qual é possível notar a
relação entre a produção de bordados e contexto sócio-político é o
movimento feminista ocorrido após esse período, também conheci-
do como segunda onda feminista, na década de 1970.
45
Figura 19- Bordado de Beryl Weaver
46
Figura 20- Caminho de mesa de Beryl Weaver
47
Para Borges (2019), técnicas manuais como os bordados,
entre outras práticas, podem ser consideradas capazes de pro-
duzir narrativas sobre a cultura popular. Por vezes, são conside-
radas menos valorosas, quando comparadas equivocadamente
com a alta cultura23. Em suas próprias palavras: “As narrativas
construídas sobre a chamada cultura popular são, muitas vezes,
assimiladas em campos de oposição em relação a uma pretensa
cultura erudita” (BORGES, 2019, p. 7).
23 _ São consideradas alta cultura maneiras, atitudes e obras que são feitas
pela aristocracia para seu próprio consumo, com acesso restrito às massas.
Essa cultura admite em si os tópicos em torno das artes plásticas: cinema,
música, esculturas, teatro, pinturas, literatura e outros (BOURDIEU,1982)
24 _ Para mais informações, ver: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/publica-
cao/sfgec.pdf>. Acesso em 25 de jul. de 2020.
48
Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte (ibid, p. 9). É
importante lembrar que, embora oficialmente são chamados de
mestres – no masculino da palavra – estima-se que 85% dos ar-
tesãos sejam mulheres.
49
Aos fatores de mudança elencados por Borges, as proposi-
ções de Barbosa Ramos e Prado (2019) acrescentam também
aspectos políticos, defendendo que as práticas podem, em certas
situações, subverter a função ornamental dos bordados. Algumas
vezes aparecem, inclusive, como forma de ativismo:
[...] a partir da reterritorialização dos atos anô-
nimos e domésticos dos trabalhos de agulha
que se estendem sobre o espaço público, em
que grupos constroem discursos e possíveis
diálogos com o público, de forma lúdica e pal-
pável, [...] são levantadas uma série de ques-
tões que incluem o envolvimento dos sujeitos
na ação (BARBOSA RAMOS; PRADO, 2019,
pp. 69-74).
50
2. Nos bastidores
da ditadura civil-mili-
tar: Zuzu Angel e os
bordados
No contexto das articulações entre resistência, trajes de oposi-
ção e bordados de oposição, este capítulo (a)borda mais especi-
ficamente o design de moda, como um campo de materialização
dessas conexões. Nosso percurso para delimitar algumas das va-
riáveis dá início na segunda metade do século XX, com o término
da Segunda Guerra Mundial (1945), a emergência da Guerra Fria
(1945-1991) e perpassa o contexto da ditadura civil-militar e suas
reverberações nos campos político, social e cultural.
52
das informações, a partir das quais será pos-
sível construir a análise e chegar à compre-
ensão mais ampla do problema delineado [...]
dependendo do volume e da qualidade delas,
o material de análise torna-se cada vez mais
consistente [...] (DUARTE, 2002, p. 141).
53
e Simone Costa Avila, museóloga responsável pelo acervo docu-
mental do Instituto Zuzu Angel. As transcrições das entrevistas re-
alizadas constam nos apêndices 1, 2 e 3 da pesquisa.
54
ao voto para os analfabetos, entre outros fatos que alarmaram as
camadas conservadoras dos empresários, banqueiros e militares.
55
tica desarmada, outros buscaram se guiar por modelos como Chi-
na e Cuba, que formavam exércitos populares de luta armada. No
Brasil, a primeira ação armada ocorreu no ano de 1967, quando
um dos partidos oposicionistas, de nome Aliança Nacional Liber-
tadora, liderado por Carlos Mariguella, (1911-1969) dirigente do
Partido Comunista do Brasil (PCB), invadiu um carro forte em São
Paulo, com objetivo de arrecadar dinheiro para o financiamento
da luta revolucionária.
56
e greves, ocorre a promulgação do Ato Institucional número 5, no
mês de dezembro de 1968. A partir de então, um regime policial
civil-militar rígido regulava toda a vida brasileira:
[...] absoluta, a censura instalava-se [...] na
imprensa, nos meios de comunicação, nas
escolas e nas universidades. Indo mais longe
na escalada repressiva, houve suspensão de
direitos de muitos cidadãos, prisões preventi-
vas de civis por militares, demissões do serviço
público e perseguições em empresas particula-
res, confiscos (LOPEZ; MOTA, 2012, p. 830).
57
nos Estados Unidos. Entretanto, os manifestantes brasileiros
enfrentavam um regime de exceção desde o ano de 1964: “Ao
contrário do movimento francês, não se lutava no Brasil contra
abstrações [...] mas contra uma ditadura de carne, osso e muita
disposição para reagir” (VENTURA, 1988, p. 134).
58
Segundo Calirman, a ausência de diretrizes por parte do
governo com relação aos critérios de censura era o que provo-
cava nos criadores uma espécie de “censura imposta” por eles
mesmos, o que delineava algumas fronteiras entre o “permiti-
do” e o “proibido”:
Temendo a perseguição, muitas vezes exer-
cida de forma arbitrária e sem aviso, estes
artistas se esforçaram para não deixar vestí-
gios de autoria em suas obras. Mais anárquica
do que dogmática, eles desenvolveram uma
linguagem metafórica para abordar as reali-
dades que enfrentavam diariamente (CALIR-
MAN, 2014, p. 6).
59
país, que elevou a posição do Brasil no cená-
rio internacional (ibid., 2014, p. 5).
60
Figura 23- Obra de Cildo Meireles
uma estaca de madeira e depois de encharcá-
-las de gasolina, incendiou-as vivas, num ritual
público de grande impacto que tinha como in-
tenção denunciar as práticas de tortura, morte e
desaparecimento de presos políticos no regime
(figura 23). Segundo Calirman (2014), por meio
da homenagem ao mártir nacional Tiradentes33,
o artista buscava traçar um paralelo entre a si-
tuação repressiva do país naquela época e as
condições vivenciadas durante o período colo-
nial (ibid., 2014).
61
eurocêntrica, ao partir da premissa de que os brasileiros não de-
veriam imitar e sim devorar as novas informações estrangeiras,
assimilando-as e reinventando-as de maneira autônoma sob os
atributos da cultura brasileira, prática conhecida como canibalis-
mo cultural. Em suas palavras: “A ideia do canibalismo cultural
servia-nos, aos tropicalistas, como uma luva. Estávamos ‘comen-
do’ os Beatles e Jimi Hendrix” (VELOSO, 1997, p. 248).
62
Figura 25- Coleção inspirada em cangaço 2.2 Zuzu Angel: uma designer brasileira
63
Zuleika de Souza Netto nasceu no ano de 1921 na cidade de
Curvelo, em Minas Gerais. Desde jovem, costurava para si mes-
ma e, posteriormente, para os três filhos Stuart Angel (1946-1971),
Ana Cristina Angel (1948 -) e Hildegard Angel (1949 -). No ano de
1956, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, capital do
Brasil naquele momento. Das amizades com algumas mineiras
surgiram suas primeiras freguesas, para quem ela começou a tra-
balhar com tecidos simples como panos de colchão, misturados
a fitas de gorgorão e confeccionar saias. Por isso foi apelidada
de Zuzu Saias (VALLI, p. 19). Embora tivesse entre suas clientes
algumas pessoas envolvidas com o governo da época, ela não
possuía ainda nenhuma aspiração ou preocupação política. Na
década de 1960, Angel projetou-se como protagonista da moda
carioca. Vestiu artistas internacionais e famosas, como a atriz ca-
nadense Yvone de Carlo (1922-2007) e a norte-americana Kim
Novak (1933-). Atendia também muitas clientes que integravam
as altas classes sociais do Rio de Janeiro. Um dos primeiros en-
saios de sua coleção de saias pode ser verificado na figura 27.
64
Graças a seus bons contatos e a seu casamento com o co-
merciante canadense naturalizado norte-americano Norman An-
gel Jones (1920-1985), Zuzu exportava suas roupas para várias
lojas nos Estados Unidos, entre elas, a casa Bergdorf Goodman
– tradicional loja de departamentos de luxo localizada no cen-
tro de Manhattan, na cidade de Nova York. Da sua produção do
período, destacam-se noivas com túnicas e calça e vestidos fei-
tos a partir de toalhas de rendas brasileiras. Além disso, entre as
estampas, a iconografia tropical que apresenta aves, borboletas,
flores e frutos.
65
Marcado pela valorização da cultura e pelo desejo de de-
mocratização da moda, o trabalho de Angel é considerado pio-
neiro em diversos sentidos, especialmente na persistência pela
brasilidade. Para Johansen (2014), “ela foi inovadora, mostrando
o potencial de inspiração nas tradições e nos materiais brasilei-
ros. A moda não precisava ser copiada de nenhum outro lugar!”.
Sua filha Hildegard Angel colabora ao confirmar a inventividade
da mãe por se inspirar em elementos brasileiros para criar seus
produtos, algo bastante inusitado para a época e que fez com que
a mãe fosse ridicularizada muitas vezes:
O pioneirismo [...] que eu vejo, foi a brasilidade
na moda. Porque...não que os outros estilistas
não se inspirassem em coisas brasileiras, se
inspiravam, mas não faziam disso o tema do
seu trabalho [...] Os sofisticados brasileiros
consideravam tudo que era do Brasil ‘cafona,
brega, jeca’, então foi também romper uma
estrutura de pensamento equivocada sobre
as coisas brasileiras. E isso ela fez com muita
coragem, sendo muito atacada, muito ridicu-
larizada, mas ela desafiou toda essa arrogân-
cia da colonização cultural brasileira, que os
brasileiros tinham uma colonização cultural
francesa... e ela desafiou aqueles padrões de
elegância convencional e fez a moda brasilei-
ra, com as cores brasileiras, com os tecidos
brasileiros, estampas, temática, o espírito do
Brasil (informação oral).
66
foram vendidas [...]. E fora que as roupas da
Zuzu, eram roupas que fizeram muito suces-
so, que as pessoas queriam ter, representava
uma certa posição social você ter alguma rou-
pa da Zuzu (informação oral).
67
No dia 14 de maio de 1971 à noite, Zuzu Angel re-
cebeu a notícia por meio do advogado do militante Alex
Polari, que estava preso no mesmo local do filho de An-
gel e assistiu da janela de sua cela às torturas feitas
contra o jovem. O homem contou que vira Stuart amar-
rado na traseira de um jipe, tendo sido arrastado pela
base aérea do Galeão e morrendo por asfixia. A partir
dessa informação, ela decidiu interromper seu traba-
lho para descobrir os motivos do horror que estava lhe
acontecendo (VALLI, 1987, p. 37). Em meio ao desa-
parecimento de Stuart, Zuzu tornou-se envolvida com
a luta política em processo no país. Em suas próprias
palavras:
E eu tenho que sofrer? E meu filho?
Morto na tortura? Isto acontecen-
do no Brasil desde 1964? Eu, na
minha santa ignorância. Fazendo
moda, vestidinho com flor e passa-
rinho. Moda alegre, descontraída,
moda e liberdade[...] será que isto
é comigo? Como pode ser que há
esta guerra no Brasil. Brasileiro
contra brasileiro. E eu tenho que
entrar nela [...] agora tenho que en-
trar para a política e virar militante.
Que jeito? A procura do meu filho,
e depois do filho das outras (VALLI,
1987, p. 35).
68
com modelagens amplas – que continham os bordados
de oposição que serão detalhados em seguida. O se-
gundo tema Resort, apresentou roupas leves e apropria-
das ao lazer e as férias. Todos os modelos eram com-
plementados com uma faixa preta no braço esquerdo,
fazendo alusão ao luto (VALLI, 1987).
69
Figura 30- Material de imprensa do desfile International Dateline IV
70
2.4 Os bordados de oposição de Zuzu Angel
71
Figura 33- Contato da bordadei- Os bordados também eram feitos manualmente por uma bor-
ra de Angel dadeira de nome Lecy localizada no Largo do Machado - RJ. Em
caderneta pessoal de Zuzu, é possível ver o seu contato com o
telefone (figura 33).
72
Figura 34- Vestido túnica bordado – réplica para Figura 35- Vestido túnica bordado – original do
Ocupação desfile
Fonte: Acervo documental do Instituto Zuzu Angel. Dis- Fonte: Acervo documental do Instituto Zuzu Angel. Ima-
ponível em: <https://www.zuzuangel.com.br/vestuario/ gem da autora.
vestido-de-protesto-politico-manga-longa>. Acesso em 08
de nov. de 2020.
Figura 36- Lista de desenhos para bordados escolhidos para ornar os vestidos podem ser
de vestido túnica vistos em manuscrito de Zuzu (figura 36) e são:
anjo, barquinho, canhão, caracol, casinha com
fumaça, estrela, menino com grade, menino
com chapéu, navio com bandeira, navio sem
bandeira, passarinho, pinto, soldado, tanque,
pomba da paz e sol.
73
Figura 37- Detalhes dos bordados presentes em Figura 38- Detalhes dos bordados presentes em
decote do vestido túnica corpo do vestido túnica
Fonte: Acervo documental do Instituto Zuzu Angel. Ima- Fonte: Acervo documental do Instituto Zuzu Angel. Ima-
gem da autora. gem da autora.
74
Ela era uma colecionadora nata, que pensava
muito nos registros, documentava tudo, regis-
trava tudo, fazia muitas anotações em todos
os lugares, fazia anotações nos moldes dela,
em rascunhos, tudo da Zuzu tem uma anota-
ção complementar [...] Você vê manuscritos
dela em todos os lugares. Ela era uma pessoa
de manuscritos. Tanto em documentos, quan-
to na parte têxtil (informação oral).
75
A ausência de informações sobre Stuart por parte do regime
autoritário não coincidia com as informações clandestinas que
Angel recebia. Em muitas idas da designer aos órgãos de segu-
rança, não recebia mensagens objetivas. Os militares desconver-
savam, negavam a passagem dele por qualquer uma das instân-
cias mencionadas, alegando que seu nome nunca constou nas
listas de presos e que deveria estar no exterior (ANGEL, in VALLI,
1987). O advogado defensor Nilo Baptista (1944 -) colaborou com
Zuzu em depoimento, no qual afirmou que todas as instâncias sa-
biam tratar-se de um caso de assassinato: “[...] sabia que estava
defendendo um morto. Todos sabiam; o procurador militar sabia
que acusava um morto, os juízes militares e o auditor sabiam que
julgavam um morto” (BAPTISTA, Nilo. In: VALLI, 1987, p. 68).
76
Figura 41- Detalhes dos bordados presentes em corpo do vestido
túnica
77
O tratamento dos bordados de oposição utilizado por Angel era
uma estratégia de design utilizada para driblar a censura que imperava
na época. Priscila Andrade (2006) colabora nesta proposição: “Para
que a coleção pudesse passar pela censura, era preciso que a mensa-
gem estivesse disfarçada, por isso o tratamento naif foi conferido aos
bordados”. (ANDRADE, 2003, p. 8)
Vale notar que, apesar do luto, a designer faz uso das cores.
Para Ávila:
Ela conseguiu colocar cor (na coleção), apesar de
toda a dor, exceto no vestido de luto dela. Aquilo era
ela e ela fez para ela, não fez para ninguém ali. Era
o luto dela, ali ela exteriorizou o que ela realmente
estava sentindo por dentro [...] e colocou as fitinhas
pretas nas meninas no desfile. Mas ela de forma
nenhuma colocou essa tristeza, essa amargura em
nenhuma peça dela. Então [...] isso é muito da res-
ponsabilidade do designer, da estilista que ela era,
que ela sempre foi, que é até hoje (informação oral).
78
Figura 42- Traje de luto de Angel
Na ocasião, o desfile não recebeu atenção
da imprensa nacional, em decorrência da cen-
sura que imperava naquele momento. No recor-
te do Jornal Última Hora39 (figura 44) é possível
perceber que, o evento não foi noticiado com
destaque e nem em seu caráter de protesto.
Embora a ditadura tenha se iniciado no ano de
1964, o envolvimento de Zuzu com a gravidade
da situação política não se deu de imediato e
sim a partir do momento em que seu filho entrou
para a luta armada e depois, para a clandestini-
dade no final dos anos 1960.
80
Figura 45- Estudos de bordados Figura 46- Estudos de bordados
81
Zuzu estava absolutamente sóbria na noite do
acidente e uma semana antes tinha feito revi-
são completa em seu carro que, sem aparente
motivo, desviou-se da estrada, capotando di-
versas vezes em um barranco. A análise das
fotos e dos laudos periciais, as inúmeras con-
tradições e omissões encontradas no inquérito
e depoimentos de testemunhas oculares com-
puseram uma base robusta para a decisão da
CEMDP reconhecendo a responsabilidade do
regime militar por mais essa morte de oposi-
tor político. (COMISSÃO ESPECIAL SOBRE
MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS,
2007, p. 414).
82
3. Bordados nos
bastidores do Cole-
tivo Linhas de Sampa
Em articulação com o trabalho de Zuzu Angel, da época do regime
autoritário deflagrado em 1964, esta pesquisa se desloca para o
cenário dos levantes populares ao redor do mundo nos anos 2000,
com foco no contexto brasileiro e especificamente em um movimen-
to conhecido como Jornadas de Junho, ocorrido em 2013. Lança-
mos um olhar sobre as práticas realizadas pelo coletivo paulistano
Linhas de Sampa. Suas ações e bordados problematizam causas
sociais, defendem os direitos humanos e dão voz às minorias, além
de sinalizar protestos pontuais a partir de situações específicas. As
técnicas utilizadas pelo grupo podem enriquecer este percurso, na
retomada de conceitos trabalhados anteriormente – “resistência” e
“bordado de oposição” – na paisagem que se consolidou nos anos
2000 com o chamado ativismo on-line. As formas de trabalho utili-
zadas pelo grupo apontam para uma discussão sobre a estratégia
do bordado como vetor de resistência.
84
Após delinear o contexto dos principais movimentos e ativis-
mos mundiais e brasileiros nos últimos anos, alinhados às manifes-
tações de resistência, olhamos para as ações do Coletivo Linhas
de Sampa (figura 48) e os modos de distribuição de seus panfletos
bordados, para refletir sobre suas práticas e realçar as articulações
entre design e política que contornam esta pesquisa.
85
tinham muito em comum, tal como sintetiza Pinheiro-Machado:
“foi forjada na rua uma nova geração, que busca, na atuação mi-
croscópica e na ação direta, o afeto radical, a criatividade política
e a horizontalidade” (ibid., p.18).
86
tags “tornaram-se instrumento político e tiveram sua ascensão
durante as eleições iranianas de 2008-2009”.
87
3.2 Nos bastidores da política brasileira: alguns momen-
tos pontuais (2013-2020)
88
(PINHEIRO-MACHADO, 2019). Entretanto, apesar das distorções,
os atos reverberaram amplamente, abrindo um campo fértil para
várias formas de ativismo e militância em prol das mais diversas
causas. Desde então, as Jornadas de Junho estimularam mais e
mais pessoas a se organizar, ocupar espaços públicos e manifes-
tar-se via diferentes linguagens e aparatos.
89
le ano (PINHEIRO-MACHADO; SCALCO, 2018). Na sequência,
as medidas adotadas pelo presidente empossado Michel Temer
(1940 -) produziram desemprego e quedas econômicas (FER-
NANDES JR, 2019), fatores que levaram a novas reivindicações
em todas as regiões do Brasil com o lema “Fora Temer”, ou “#Fo-
raTemer” (RUFFATO, 2016). Tais protestos atravessaram todo o
ano de 2016 e continuaram a ocorrer em 2017, contra as refor-
mas trabalhistas propostas pelo governo, entre elas aquelas que
incluíam a retirada de direitos dos trabalhadores, com a hashtag
“#nãoareformadaprevidência”.
90
mais de 2 mil quilômetros quadrados da região (“#AmazoniaEm-
Chamas” e “#amazoniaemchamas”) (BARBOSA, 2019). Protes-
tos em favor dos povos indígenas ocorreram em várias cidades
do Brasil e do mundo (WATSON, 2019), estendendo-se por todo o
ano, com os assassinatos dos caciques Emyra Wajãpi, no Amapá
em julho, com as hashtag “#Wajapi” ou “#soswajapi” (ANDRADE,
2019); e Paulo Guajajara no Maranhão, em novembro (hashtag
“#PauloGuajajara” e “#guajajara”) (Portal G1, 2019).
91
3.3 Ações do Coletivo Linhas de Sampa: Bordando a
resistência
No contexto dos levantes dos anos 2000, muitos grupos praticam ati-
vidades manuais como forma de resistência e cidadania, elaborando
suas obras de maneira singular e insurgente. Entre eles, encontra-se
o Coletivo Linhas de Sampa, objeto de estudo deste capítulo.
92
conjugado com as entrevistas, o que resultou numa compilação
de dados relevantes. Também foi importante acompanhar as re-
des sociais, onde o grupo se mantém ativo, majoritariamente nas
plataformas Facebook e Instagram.
93
especialmente como prática politizada de desenvoltura, conheci-
mento local e formas organizacionais não hierárquicas. O Linhas
de Sampa não possui líder, mas sim um colegiado democrático.
O grupo é autofinanciado e não tem sede própria. Em suas pró-
prias palavras:
Na verdade, se você pensar, nosso custo não
é alto [...] Por exemplo, este folheto tem mais
ou menos 12cm x 12cm. Um metro deste al-
godão custa R$ 7,00, tem 1,40m de largura
e rende bastante. Nosso custo não é alto, e
com as doações, a gente se auto paga. Quan-
do nós fazemos reuniões são em lugares que
nos apoiam ou que nós apoiamos como causa
(LINHAS DE SAMPA, informação oral).
94
Figura 51- Linhas de Sampa oferecendo oficinas de bordado
95
Havia mais de 100 panfletos pendurados e levou cerca de
uma hora até que todos tivessem sido distribuídos. Vale notar que
os usuários reverberam esses bordados de oposição ao usarem-
-nos pendurados em suas bolsas e roupas e também contribuem
fotografando-os e postando em mídias sociais, de modo que as
publicações ampliam ainda mais o alcance das práticas do Cole-
tivo (figuras 52 e 53).
96
A outra ação acompanhada foi o movimento Resiste Vene-
zuela em fevereiro de 2020. Na ocasião, não houve distribuição
dos panfletos bordados. Em um painel, alguns integrantes mon-
taram uma exposição (figura 54) de bordados que haviam sido
produzidos para um evento anterior – Mil agujas por la dignidad54
– ocorrido em 7 de dezembro de 2019 no Masp (SP), em soli-
dariedade aos levantes do Chile. Com isso, foi possível verificar
que o Coletivo desenvolve uma multiplicidade de ações e se faz
presente em diversos eventos relativos às pautas que defende.
97
Nas ruas e nas redes, os bordados do Linhas de Sampa pro-
vocam reflexões em favor das populações periféricas, contra a
violência policial, em prol de lutas femininas, pela educação, a
democracia, a liberdade e contra a reforma da previdência. Tam-
bém cristalizam em algodão colorido a oposição aos processos
imputados contra o ex-presidente Lula, a defesa dos povos tradi-
cionais e do meio ambiente e a solidariedade aos levantes popu-
lares ocorridos na América Latina, especialmente no Chile.
98
Figura 56- Receita de pontos diversos
99
Exemplificando o trabalho do Linhas de Sampa, seguem panfletos bordados com frases e
desenhos organizados por temática (figuras 57 a 64). Heterogêneos, não possuem padronização
e recusam um estilo estético definido. O que determina seu resultado final é a pauta defendida em
cada um, que geralmente é norteada por reivindicações de minorias.
Figura 57- Série de bordados Linhas de Sampa Figura 58- Série de bordados Linhas de Sampa
Fonte: Facebook Coletivo Linhas de Sampa. Disponível Fonte: Facebook Coletivo Linhas de Sampa. Disponível
em: <https://m.facebook.com/pg/linhasdesampa/photos/>. em: <https://m.facebook.com/pg/linhasdesampa/photos/>.
Acesso em 5 de abr. de 2020. Acesso em 5 de abr. de 2020.
Figura 59- Série de bordados Linhas de Sampa Figura 60- Série de bordados Linhas de Sampa
100
Figura 61- Série de bordados Linhas de Sampa
Fonte: Fotos da autora e Facebook Coletivo Linhas de Sampa. Disponível em: <ht-
tps://m.facebook.com/pg/linhasdesampa/photos/>. Acesso em 5 de abr. de 2020.
101
Figura 62- Série de bordados Linhas de Sampa
102
Figura 64- Série de bordados Linhas de Sampa
103
Na segunda observação, abordamos aspectos dos panfletos
na interação com os usuários de redes sociais. Para isso, nos bali-
zamos pela metodologia de Análise de sentimento de Salustiano55.
Um primeiro mapeamento demonstra que, no Facebook, o Coletivo
Linhas de Sampa conta com cerca de 3 mil seguidores56. Suas pu-
blicações já receberam mais de 12 mil interações, sendo que uma
única foto de um dos panfletos chegou a ser compartilhada mais de
3700 vezes. Trata-se do bordado Matam Ágathas para que não se
tornem Marielles (vide figura 57 acima). No Instagram, o grupo tem
perto de 4 mil seguidores57 e cerca de 15 mil interações. A hashtag
“#linhasdesampa” foi publicada mais de 400 vezes. Esta metodo-
logia permite observar reações ambíguas aos panfletos, embora
95% das interações sejam positivas (figuras 65 a 68).
104
Figura 67- Reverberação do trabalho do Coletivo nas redes sociais
105
Os bordados enfatizam expressões de resistência e promo-
vem a reflexão por meio da visualidade, do volume das linhas,
das cores, das texturas e da tridimensionalidade. É possível notar
que, pelos temas bordados, integram-se vários sujeitos de lutas
e pautas diversas. Embora sem padronização estética, tudo é
facilmente identificável. Isso confere aos panfletos certa homo-
geneidade que está ausente dos bordados em si, mas presente
nas articulações que se estabelecem quando apresentados nos
varais dos eventos, bem como nas redes sociais.
58 _ Do texto original: “A craftivist is anyone who uses their craft to help the
greater good. Your craft is your voice. Craftivism is about raising your consciou-
sness, creating a better world stitch by stitch, and things made by hand, by a
person […] and celebrating traditional skills in new ways” Tradução nossa.
59 _ Do texto original: “We can add to this another characteristic [...] about the
radical potential of the digital Web—interconnection, weaving, producing and
reproducing alliances”. Tradução nossa.
106
víduos e as relações entre eles são os laços,
ou as interações que incluem compartilhar,
retweetar, comentar e curtir, por exemplo. A
título de curiosidade, na linguagem computa-
cional de arquitetura de dados, as linhas for-
madas pelas interações entre nós e laços de
relações virtuais em muito se assemelham às
construções percebidas nos fazeres que ligam
os tecidos e linhas dos bordados (figura 69).
107
CONSIDERAÇÕES FINAIS
108
À medida que as sociedades urbanas vão se tornando frag-
mentadas e complexas, surgem desejos de individualidade, es-
pecialmente nas populações mais jovens, materializados em
fronteiras não-verbais. As aproximações entre design de moda e
resistência política ocidental no século XX permitem compreen-
der alguns momentos em que os cenários socioculturais e polí-
ticos podem influenciar modismos, técnicas, tecidos, estampas,
bordados, entre outros componentes dos trajes. Também deno-
tam que, no século XXI, alguns grupos jovens urbanos seguem
produzindo “trajes de oposição”.
109
É notável como essa coleção extrapola as dimensões mer-
cadológicas e realça o atributo político das roupas e suas estraté-
gias decodificadas, que materializam denúncias ao vestir os cor-
pos das modelos. Além disso, a designer aproveita a capacidade
de divulgação de um desfile de moda para amplificar sua voz de
mãe corajosa, combatente e contestadora. Em seus bordados em
estilo naïf, percebem-se diálogos com a linguagem cultural co-
nhecida como tropicalismo, que vigorava na época.
110
todos esses e outros significados estão rela-
cionados a astúcia e a fraude. Na situação do
verbo – to design – significa, entre outras coi-
sas, tramar algo, simular, projetar, esquemati-
zar, configurar, proceder de modo estratégico
(FLUSSER, 2017, p. 179).
Por fim, vale ressaltar que esta escrita foi finalizada durante a
pandemia da COVID-19. Em nível global, pesquisadores afirmam
que este é o maior desafio desde o término da Segunda Grande
Guerra. No Brasil, até o momento, a doença ceifou a vida de cen-
tenas de milhares de pessoas, criando um cenário que chegou
sem avisar e impôs sofrimento, crises e mudanças estruturais no
cotidiano da maioria das pessoas. Não apenas para quem vive
no Brasil, o(s) enfrentamento(s) perpassa(m) questões que ex-
trapolam a crise sanitária. Ser pesquisador hoje, face a tantas
dificuldades e limitações, também pode ser considerado um ato
de resistência.
111
dados ao manifestar resistência me deram alento e forças para
perseverar no processo.
112
Além disso, fiz o bordado da figura 71 abaixo, motivada pe-
los trabalhos de Antônio Manuel, que usavam manchetes dos jor-
nais como suporte e também a capa do jornal norte-americano
The Washington Post que, em 02 de abril, início do isolamento
no Brasil trouxe a foto aérea impactante de um cemitério na ci-
dade de São Paulo, em que se abriam covas para as vítimas
fatais do vírus. A manchete alertava que o vírus poderia destruir
os países em desenvolvimento, como o Brasil. Fiz esse bordado
em referência à triste marca de 100.000 mortos pela COVID-19
que o Brasil atingiu em agosto – quatro meses após a publicação
norte-americana, que confirmava o destaque do país como um
epicentro da pandemia – um lembrete de nosso direito ao luto e
da não-normalização dessa grave tragédia.
113
BIBLIOGRAFIA
AGNEW, John. Hegemony: The new shape of global power. Philadelphia: Tem-
ple University Press, 2005.
ALFORD, Holly. O Terno Zoot: Sua história e influência. In: Fashion Theory. A
Revista da Moda, Corpo e Cultura (Versão Brasileira), São Paulo, v.3, n.2,
2004.
ANDRADE, Bianca. “Gente estranha tirou a vida do meu pai”, diz Aikyry Wajãpi.
Amazônia Real. Amapá, 10 de set. de 2019. Disponível em: <https://amazonia-
real.com.br/gente-estranha-tirou-a-vida-do-meu-pai-diz-aikyry-wajapi/>. Acesso
em 23 de abr. de 2020.
ANDRADE, Priscila. Zuzu Angel: O Poder da Moda Contra a Opressão. In: Anais
do II Colóquio Nacional de Moda. Salvador, 2006. Disponível em: <http://www.
coloquiomoda.com.br/coloquio2017/anais/anais/edicoes/2-Coloquio-de-Mo-
da_2006/artigos/94.pdf>. Acesso em 01 de dez. de 2018.
114
______. A marca do Anjo: A Trajetória de Zuzu Angel e o desenvolvimento da
identidade visual de sua Grife. In: Iara – Revista de Moda, Cultura e Arte, São
Paulo, v.2, n.2, out./dez. 2009 – Dossiê 4. Disponível em: <http://www1.sp.senac.
br/hotsites/blogs/revistaiara/wpcontent/uploads/2015/01/05_IARA_vol2_n2_Dos-
sie.pdf> Acesso em 01 de nov. de 2018.
ANSON, Libby; HODGE, Nicola. A-Z of art: The world greatest and most popular
artists and their works. Londres: Carlton, 2006.
BALLOUSSIER, Anna Virgínia. Lula Livre domina ato por Luiz Marinho em SP.
Folha de São Paulo. São Paulo, 16 de ago. de 2018. Disponível em: <https://
www1.folha.uol.com.br/poder/2018/08/lula-livre-domina-ato-por-luiz-marinho-em-
-sp.shtml>. Acesso em 23 de abr. de 2020.
BIENAL DE SÃO PAULO. Antônio Manuel. Repressão outra vez – eis o saldo.
Bienal de São Paulo. Disponível em: <http://www.bienal.org.br/post/267>. Aces-
so em 10 Mai 2020.
115
BIVAR, Antônio. O que é punk. São Paulo: Brasiliense, 1995.
BOECKEL, Cristina. Protesto no Rio cobra punição à Vale por desastre ambien-
tal em Mariana. G1. Rio de Janeiro, 16 de nov. de 2015. Disponível em: <http://
g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/11/protesto-no-rio-cobra-punicao-vale-
-por-desastre-ambiental-em-mariana.html>. Acesso em 20 de abr. de 2020.
BOURDIEU, Pierre. O mercado dos bens simbólicos. In: MICELI, Sérgio (org.). A
economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1982.
BRAGA, João. PRADO, Luís André. História da moda no Brasil: Das influên-
cias as autorreferências. São Paulo: Disal, 2012.
CARDOSO Rafael. Design Para um Mundo Complexo. São Paulo: UBU, 2016.
116
______. Uma Introdução à História do Design. São Paulo: Blucher, 2008.
CERCA de 34% dos países do mundo hoje vivem em regimes autoritários. Exa-
me. São Paulo, 14 de out. de 2018. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/
mundo/estes-sao-os-regimes-autoritarios-que-ainda-existem-no-mundo/>. Aces-
so em de 18 abr. de 2020.
117
COATS AND CRAFTS. 100 pontos de bordado. Disponível em: <http://coats-
crafts.com/wpcontent/uploads/sites/4/2018/02/100%20Pontos.pdf> . Acesso em
13 de mai. de 2020.
CRANE, Diana. A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade das
roupas. São Paulo: Senac, 2006.
DANIEL, Maria Helena. Guia prático dos tecidos. Barueri: Novo Século, 2011.
118
EVANS. Trevor. Cinco explicações para a crise financeira internacional. In: Re-
vista Tempo do Mundo, Brasília, v.3, n.1, 2011. Disponível em: <http://reposito-
rio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6248/1/RTM_v3_n1_Cinco.pdf>. Acesso em 13
de mar. de 2020.
FAYOLA, Antohony, et. al. Contagion could crush developing world. The Washin-
gton Post, Washington, 2 de abr. de 2020. Disponível em: < https://www.press-
reader.com/usa/the-washington-post/20200402/281483573488407>. Acesso em
13 de mai. de 2020.
FERNANDES JR, Florestan. O Tubo vai fechar. Brasil 247. São Paulo. Disponí-
vel em: <https://www.brasil247.com/pt/colunistas/florestanfernandes/385320/O-
-tubo-vai-fechar.htm>. Acesso em 12 de jan. de 2020.
119
FLUSSER, Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comu-
nicação. São Paulo: UBU, 2017.
GREER, Betsy. Knitting for good: A guide to creating personal, social, and polit-
ical change, stitch by stitch. Boston e Londres: Trumpeter, 2008.
120
______. Em torno de Zuzu: encontro com Isabela Capeto. 3 jun. 2014. (0h
56min 04seg). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=i3RZ6pShd-
Tk>. Acesso em 6 de nov. de 2018.
______. Em torno de Zuzu: encontro com Ronaldo Fraga. 19 dez. 2014. (1h
21min 49seg). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Ffa9D3Qh-
fmY&>. Acesso em 13 de nov. de 2018.
______. Em torno de Zuzu: encontro Gisele Dias. 19 dez. 2014. (1h 11min
29seg). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=i3RZ6pShdTk>.
Acesso em 12 de nov. de 2018.
JESUS, Eduardo de. Design, arte e política. In: RENA, Alemar; RENA, Natacha
(org). Design e política. Belo Horizonte: Fluxos, 2014.
JOHANSEN, Katia. Eu sou a moda brasileira em ação. In: Ocupação Zuzu An-
gel. 2014. Disponível em: <https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/zuzu-angel/
eu-sou-a-modahttps://www.itaucultural.org.br/ocupacao/zuzu-angel/eu-sou-a-mo-
da-brasileira/brasileira/>. Acesso em 28 de set. de 2019.
121
______. Fotos Facebook do Coletivo Linhas de Sampa. São Paulo, 18 de
mai. de 2020. Disponível em: <https://m.facebook.com/pg/linhasdesampa/pho-
tos/>. Acesso em 05 de abr. de 2020.
LOPEZ, Adriana; MOTA Carlos Guilherme (org.). História do Brasil: uma inter-
pretação. São Paulo: Senac, 2012.
MACKENZIE, Mairi. Ismos. Para entender a Moda. São Paulo: Globo, 2010.
MÃE é presa pela PM durante protesto contra violência policial. G1.São Paulo,
02 de Jul de 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/
mae-e-presa-pela-pm-durante-protesto-contra-violencia-policial.ghtml>. Acesso
em 20 de abr. de 2020.
122
MANUEL, António. Antônio Manuel. Eis o Saldo: Textos, Depoimentos e En-
trevistas de António Manuel. (Org) Guilherme Bueno. Rio de Janeiro: Funarte,
2010.
MARCHA das Mulheres reuniu mais de dois milhões contra Trump. G1. São
Paulo, 22 de jan. de 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/
marcha-das-mulheres-reuniu-mais-de-dois-milhoes-contra-trump.ghtml>. Acesso
em 20 de jul. de 2020.
MELO, Cristina Teixeira Vieira; VAZ Paulo Roberto Givaldi. E a corrupção coube
em 20 centavos. In: Galaxia, São Paulo, n.39. São Paulo, 2018. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/gal/n39/1519-311X-gal-39-0023.pdf>. Acesso em 18
abr. 2020.
123
______. WSPU Holloway Prisioners Banner. Disponível em: <https://collec-
tions.museumoflondon.org.uk/online/object/91239.html>. Acesso em 10 de dez.
de 2019.
PAPANEK, Victor. Design for the real world: human ecology and social change.
Chicago: Academy Chicago Publishers, 1985.
PARKER, Rozsika. The Subversive Stitch: Embroidery and the Making of the
femininity. Londres: The Womens Press Limited, 2010.
124
PINTO, Céli Regina Jardim. Feminismo, história e poder. In: Rev. Sociol. Polít.,
Curitiba, v.18, n.36, 2010. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/rsp/article/
view/31624/20159>. Acesso em 30 de nov. de 2019.
PRETIE, Ruthie. A day in life of the Spare Rib. Disponível em: <https://www.
bl.uk/spare-rib/articles/a-day-in-the-life-of-spare-rib>. Acesso em 08 de dez. de
2019.
REVISTA ZULEIKA. Caderno de Exposição. Itaú Cultural, São Paulo, v.1, 2014.
Disponível em <https://issuu.com/itaucultural/docs/zuleika/5> Acesso em 10 de
jul. de 2019.
RIO tem protestos após morte de Ágatha Félix: ‹Que a Justiça seja feita›, diz tia.
G1. Rio de Janeiro, 23 de set. de 2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/rj/
rio-de-janeiro/noticia/2019/09/23/rio-tem-manifestacao-apos-morte-da-menina-a-
gatha-felix.ghtml>. Acesso em 22 de abr. de 2020.
RUFFATO, Luiz. O “Fora, Temer” Brasil afora. El País. São Paulo, 08 de set.
de 2016. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/07/opi-
nion/1473260994_023470.html> . Acesso em 21 de abr. de 2020.
125
SILVA, Elizabete Rodrigues da. Feminismo radical – pensamento e movimento.
In: Revista Travessias – Educação, Cultura, Linguagem e Arte, Paraná, v.2,
n.3, 2008. Disponível em: http://www.unioeste.br/travessias. Acesso em 12 de
ago. de 2019.
SILVA, Tarcizio; STABILE, Max. Análise de rede em mídias sociais. In: SILVA,
Tarcizio. STABILE, Max. Monitoramento e pesquisa em mídias sociais: meto-
dologias, aplicações e inovações. São Paulo: Uva Limão, 2016
SOUZA, Jessé. A radiografia do golpe: entenda como e por que você foi enga-
nado. Rio de Janeiro: Leya, 2016.
TIMPF, Katherine. SJW Blog: The Vagina Imagery at the Women’s March Was
Offensive to Women Without Vaginas. Nova Yorque, 25 de jan. de 2017. The
National Review. Disponível em: <https://www.nationalreview.com/2017/01/sjw-
-blog-vagina-imagery-womens-march-was-offensive-women-without-vaginas/>.
Acesso em 22 de jul. de 2020.
VALLI, Virgínia. Eu, Zuzu Angel, procuro meu filho. Rio de Janeiro: Record,
1987.
126
VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
VENTURA, Zuenir. 1968: O ano que não terminou. Rio de Janeiro: Objetiva,
1988.
127
APÊNDICES
1) Qual a relação entre o design de moda e a política na coleção International Dateline IV e não
apenas nessa coleção, mas em todo o trabalho da Zuzu Angel?
3) Na minha pesquisa ao acervo, encontrei gabaritos datados do ano de 1976, contendo bor-
dados de casinha, caracol, todos com formas quadradas. Esses gabaritos ficaram inacabados com
a morte de Angel. Poderia falar mais sobre isso?
4) Quanto ao acervo têxtil e indumentária presente no Instituto Zuzu Angel, notei que não
existem todas as coleções completas, o que dificulta um pouco na descrição das peças, poderia
comentar um pouco mais sobre o acervo?
5) Na produção de Zuzu Angel, havia as roupas sob medida e tinha peças de prêt-a-porter na
loja? Existe algum documento referente à coleção International Dateline IV foi feita para ser desfila-
da em Nova York, atestando que teria sido essa uma coleção feita apenas conceitualmente, tendo
sido feita apenas para um protesto, ou se essa coleção foi comercializada posteriormente no Brasil.
128
Apêndice 2- Respostas das entrevistas – Ins-
fatos políticos do momento, entendeu? Então eu
tituto Zuzu Angel
acho que isso foi o pioneirismo dela. Importante”.
1) Resposta Hildegard Beatriz Angel Bogossian,
Jornalista, filha de Zuzu Angel e presidente do
Instituto Zuzu Angel – Realizada em 30 de janei- 2) Resposta Simone Costa Avila- Museóloga
ro de 2020, 4 minutos e 20 segundos: responsável pelo acervo documental do Instituto
Zuzu Angel – Realizada em 25 de abril de 2019,
“A moda foi um instrumento a que a Zuzu recor-
3 minutos e 42 segundos:
reu num momento de grande angústia, desespe-
ro, quando soube, efetivamente que meu irmão “Eu acho que a Zuzu rompeu barreiras. Acho
havia sido assassinado e torturado barbaramen- que ela foi a primeira designer de moda a utilizar
te, foi um instrumento a que ela recorreu para fa- a moda como essa ferramenta de manifesto. Eu
zer essa denúncia internacionalmente. Então... A acho que antes disso, ela mesma fala em alguns
moda... Se ela fosse pintora seria uma pintura, se relatos, antes de sentir na pele, o desapareci-
ela fosse dramaturga seria uma peça de teatro, mento do filho, a questão do filho envolvido tão
se ela fosse uma compositora seria uma música. politicamente né? E numa época tão repressora,
Como a arte dela, como ela se expressava artisti- ela dizia que ela fazia para peças para ‘dondoca’
camente através da moda, ela resolveu rompen- para ‘damas da sociedade’ e ficava ali naque-
do todas as expectativas, porque, nunca se havia les recortes olhar... não europeu, porque a Zuzu
feito isso, ela resolveu contar a sua tragédia atra- sempre foi muito brasileira no que ela produziu,
vés da sua moda. Se vestiu de luto, colocou um ela sempre foi muito...fez um moda originalmen-
anjo no pescoço, cruzes na cintura e fez da moda te brasileira e muito nossa e muito alegre. Mas
uma bandeira de denúncia das arbitrariedades eu acho que o grande marco foi o desapareci-
que eram cometidas no Brasil naquela época. mento do Stuart, a questão do envolvimento do
Historicamente, não se sabia de um desfile de Stuart, foi onde ela viu que a partir do que ela
moda de um estilista que tivesse conceitualmen- fazia, do que ela produzia ela tinha como fazer
te usado a moda como instrumento de denúncia como esse design dizer além, além de ser uma
política. Há na história, várias ações políticas na roupa bonita, eu tenho que falar alguma coisa,
moda...porque a arte é política né? Então você eu tenho que passar alguma mensagem, uma
vai lá na revolução francesa, quando as mulhe- mensagem do que está acontecendo com os jo-
res começaram a usar uma fitinha vermelha no vens nesse país nesse momento de repressão
pescoço com aqueles vestidos diretório, porque total. Então eu acho que ela foi sem dúvida a
aquela fitinha vermelha no pescoço era um de- precursora e com os traços, como eu até tinha
boche, uma ironia em relação à decapitação da comentado com você, nos bordados ela mos-
Maria Antonieta e você vai, você vai encontrando trou isso, firmes mas suaves e alegres. Ela nun-
fragmentos, referências, de política na moda ao ca deixou de botar cor em nada, ela nunca foi
longo de toda a história, mas não uma coleção fúnebre no que ela apresentou, pelo contrário.
conceituada como uma coleção de denúncia, de Ela conseguiu colocar cor, apesar de toda a dor,
protesto político. E hoje, de certa forma foi um ca- exceto no vestido de luto dela. Aquilo era ela,
minho que ela abriu. Porque hoje nós vemos a ela fez para ela, não fez para ninguém ali. Era
moda, hoje, já tem alguns anos, não muitos, que o luto dela, ali ela exteriorizou o que ela real-
a moda expressa politicamente, em termos de mente estava sentindo por dentro, eu estou aqui
129
assim, olha, dessa forma e colocou as fitinhas siva, porque poderia ser uma coisa agressiva.
pretas nas meninas no desfile. Mas ela de forma Ela contou uma história ali extremamente sofri-
nenhuma colocou essa tristeza, essa amargura da, absurda, de uma maneira poética entendeu,
em nenhuma peça dela. Então eu acho que isso porque você olha aquele vestido ainda te passa
é muito genial, isso é muito da responsabilida- uma coisa não agressiva. Então o que eu acho
de do designer, da estilista que ela era, que ela interessante mesmo dessas peças muito fortes
sempre foi, que é até hoje, porque ela é atem- e ligadas a esse momento pós morte do Stuart,
poral. Você pode usar qualquer uma daquelas por exemplo, aquela estampa do vestido andori-
peças agora que você vai sair lindíssima”. nhas, é muito forte, são andorinhas pretas com
sangue escorrendo, quer dizer, então eu acho
que é uma estamparia que tem uma mensagem
Resposta Manon de Salles Ferreira – Coordena- fortíssima também. O que eu achei interessan-
dora do Instituto Zuzu Angel, responsável pelo te é que são peças fortes, emocionantes, que
acervo têxtil e Indumentária – Realizada em 24 a gente vê, quem viveu aquele contexto políti-
de abril de 2019, 4 minutos e 56 segundos: ca, mas com uma coisa singela ainda. Aí que
eu acho importante o papel do designer, porque
“O que eu vi trabalhando com o acervo é que,
tem uma harmonia, tem uma estética, tem uma
claro que teve essa importância dela a partir
beleza em cada estampa, eu acho que ela con-
desse desfile protesto político, o momento que
seguiu, apesar de toda a dor que ela passou,
a gente estava vivendo, significou tudo aquilo,
trazer essa leveza, não é nem leveza, essa po-
foi o primeiro desfile de protesto eu acho que na
esia ali, porque são peças assim, principalmen-
história da moda, mas o que eu vejo também,
te a modelagem também, ela tinha um trabalho
então isso meio que sempre ficou à frente do
que ela sempre gostava de valorizar o corpo da
trabalho dela, mas o trabalho dela enquanto de-
mulher brasileira, as curvas, cintura no lugar, en-
signer, é fortíssimo, então principalmente em re-
tão a modelagem dela nunca saiu desse padrão,
lação às estampas e a essa brasilidade que ela
você vê que mesmo ela usando essas estam-
incorpora, então você vê em detalhes, como um
pas, esse tipo de protesto na roupa ela sempre
vestido de noiva feito todo com guardanapos de
manteve essa figura mais feminina do que uma
renda do nordeste, numa época que a gente es-
coisa mais agressiva, então eu acho que ela
tava saindo de estilistas como Dener, Clodovil,
conseguiu ali colocar política na moda dela mas
que era aquela moda afrancesada ainda, então,
sem perder o que ela já vinha fazendo desde
isso tudo eu acho muito forte. Mas a maneira de
sempre”.
ela se posicionar, algumas peças da coleção são
até emocionantes de a gente trabalhar com elas,
como o luto, que ela usava, aquilo virou uma ale-
2) Resposta Hildegard Beatriz Angel Bogossian,
goria depois do desfile, que ela continuou a usar
Jornalista, filha de Zuzu Angel e presidente do
socialmente aquela roupa, para marcar uma po-
Instituto Zuzu Angel – Realizada em 30 de janei-
sição política. Por exemplo, o vestido branco, na
ro de 2020, 4 minutos e 20 segundos:
verdade aquilo para mim é um texto, um vesti-
do texto, textual, você lê uma situação política “O pioneirismo que eu acho que eu vejo, foi a
de um país, e o mais interessante é que é de brasilidade na moda. Porque...não que os ou-
uma forma singela sutil, não é uma moda agres- tros estilistas não se inspirassem em coisas bra-
130
sileiras, se inspiravam, mas não faziam disso o Resposta Manon de Salles Ferreira – Coordena-
tema do seu trabalho. Nem nunca conceituaram dora do Instituto Zuzu Angel, responsável pelo
a brasilidade na moda, porque o Brasil era con- acervo têxtil e Indumentária – Realizada em 24
siderado cafona. Os sofisticados brasileiros con- de abril de 2019, 6 minutos e 08 segundos:
sideravam tudo que era do Brasil cafona, brega,
“Eu acho que o anjo, é por causa do nome dela,
jeca, então foi também romper uma estrutura de
eu acho que ela não tinha essa concepção ‘vou
pensamento equivocada sobre as coisas brasi-
criar essa peça, vou repetir essa peça, vou repetir
leiras. E isso ela fez com muita coragem, sen-
essa imagem, vou repetir esse símbolo, para que
do muito atacada, muito ridicularizada, mas ela
ele se torne frequente em todas as coleções’, eu
desafiou toda essa arrogância da colonização
não vi essa preocupação. É porque era uma outra
cultural brasileira, que os brasileiros tinham uma
época, como eu estava dizendo...mais de bouti-
colonização cultural francesa né? E ela desafiou
que e ela não era uma empresária, ela era mais
aqueles padrões de elegância convencional e
uma criadora mesmo, então eu não vejo essa re-
fez a moda brasileira, com as cores brasileiras,
petição, a não ser o anjo. O anjo está em várias
com os tecidos brasileiros, estampas, temática,
fases, em várias épocas, então... Essa visão de
o espírito do Brasil”.
mercado dela veio graças aos Estados Unidos,
pelas idas e vindas dela. Toda essa relação que
ela teve com os Estados Unidos: isso a Hilde já
Resposta Simone Costa Avila- Museóloga res-
falou em entrevista também algumas coisas que
ponsável pelo acervo documental do Instituto
ela antecipou aqui, essa linha casa, teve uma
Zuzu Angel – Realizada em 25 de abril de 2019,
outra coleção que ela fez mãe e filha também,
3 minutos e 20 segundos:
dentro dessa ideia de criar já uma história, a par-
“Ela era uma colecionadora nata, que pensava te toda de camisolas também, que foram feitas,
muito nos registros, documentava tudo, regis- então ela foi abrindo esse leque em função eu
trava tudo, fazia muitas anotações em todos os acho de uma visão mais americana de fazer essa
lugares, fazia anotações nos moldes dela, em linha de produtos, com essa influência de lá. Ela
rascunhos, tudo da Zuzu tem uma anotação tinha essa visão de mercado de marketing, des-
complementar, para complementar informações sas viagens e dessa relação que ela teve com os
sobre aquela peça, aquele registro, aquele mo- Estados Unidos. E assim, da parte de criação, o
mento. Você vê manuscritos dela em todos os que ela tinha também, um pouco avançado para
lugares. Ela era uma pessoa de manuscritos. a época, essa questão do aproveitamento das
Tanto em documentos, quanto na parte têxtil, em coisas, então, esses porta-copos, por exemplo,
pedaços de tecido, ela escrevia como deveria eram sobras de tecidos que fazia aquele crochê,
de ser. Era uma pesquisadora também, porque gerava o porta-copo... Aí tem porta-óculos tam-
gente tem revistas, livros que ela buscava como bém, as Zuleiquinhas, que na verdade elas do-
fonte de inspiração, obras de arte que ela bus- avam. As Zuleiquinhas ela não fazia, ela doava
cava como fonte de inspiração, como se ela sou- o tecido para uma senhora que ficava no centro
besse da importância dela em algum momento de uma praça em Belo Horizonte. Ela mandava
posterior. Ou então, até que ela não sabia, mas o saco de retalhos para essa senhora, para aju-
ela tinha essa intuição que isso era importante da-la. Aí ela fazia essa bonequinha e vendia. Aí
registrar e guardar, que seria importante”. quando a Zuzu foi assassinada as pessoas co-
131
meçaram a fazer as doações para a Hilde como 4)Resposta Simone Costa Avila- Museóloga res-
solidariedade e tudo isso e aí as pessoas foram ponsável pelo acervo documental do Instituto
doando essas Zuleiquinhas. A Hilde nem sabia Zuzu Angel – Realizada em 25 de abril de 2019,
que tinha essas Zuleiquinhas, o que a mulher 6 minutos e 57 segundos:
fazia com esses retalhos, entendeu? Então isso
“Sim, essas peças de coleção, ela fazia e vendia,
tudo é um trabalho de uma senhora que ficava na
fazia sob medida, por encomenda, ou na maio-
praça central de Belo Horizonte, fazendo, então
ria das vezes para venda. A Hilde conseguiu re-
ela tinha essa coisa de não estragar nada, então
cuperar muita coisa por doação, por coisas que
a gente vê que tem umas bolsas que ela colo-
a Ana Cristina (a outra filha dela) guardou por
ca as etiquetas que eram usadas nas coleções
muito tempo e depois passou para Hilde. Então
antigas para não estragar, então ela também é
as coleções mais antigas e as coleções emble-
bem precursora nessa história de colocar etique-
máticas não foi muito fácil recuperar. Não exis-
ta pra fora, que ninguém colocava, etiqueta em
tem mostruários e por isso que existe bastante
metro, na bolsa, então, tinha muito essa questão
réplica, que foram em sua maioria feitas para
também dos botões que ela reaproveitava, então
representar na Ocupação (Itaú Cultura, 2014),
acho que...ela tinha um pouco dessa visão ameri-
no filme (Zuzu Angel, 2006), para as pessoas
cana de fazer moda”.
terem uma ideia, pois nós temos bastante fotos
3) Resposta Manon Resposta Manon de Salles e documentos, tudo original, revistas e releases
Ferreira – Coordenadora do Instituto Zuzu Angel, originais, mas a roupa em si foi uma recupera-
responsável pelo acervo têxtil e Indumentária – ção mais difícil. A gente tem algumas coisas,
Realizada em 24 de abril de 2019, 3 minutos e mas não tem tudo. Tem as roupas que a Zuzu
36 segundos: vestia, sim, mas as roupas da coleção, foram
coisas que foram vendidas. Também tem muitas
“Eu acho que ela não parou nessa coleção,
coisas da loja. A gente tem bastante camiseta,
aqueles fragmentos que têm, aquela fita foi colo-
pois eram da loja, deu para guardar, mas es-
cada somente para a exposição do Itaú (2014).
ses vestidos, essas outras roupas foi mais difícil
Eles foram feitos depois, como ela foi assassi-
de manter e guardar. E fora que as roupas da
nada, ela não conseguiu realizar peça nenhuma
Zuzu, eram roupas que fizeram muito sucesso,
com aquilo. Tem gola também, você chegou a
que as pessoas queriam ter, representava uma
ver? Então eram estudos para outras peças que
certa posição social você ter alguma roupa da
não foram realizadas. Eu acho que o bordado
Zuzu. A gente recebeu de doações de pessoas
foi também interessante, até porque é uma coisa
um vestido de noiva e um outro vestido também
por si só que já é delicada. Para falar de uma
de outras coleções que não as coleções 4 e 5,
coisa tão dura, foi uma opção. Mas, porque já
que falaram que o sonho delas era ter peças da
está fazendo a ligação com esse grupo de bor-
roupas da Zuzu e por isso mantiveram até hoje,
dados agora. Mas eu acho que na estamparia
que não tem mais onde guardar, os filhos não
também ela colocou muitas situações de protes-
querem e doaram para nós. Mas são pessoas
to, que de repente, não entra nessa pesquisa.
que conheciam a história, conheciam todos o
A gente pode procurar e organizar melhor que
contexto. Estão muito conservadas”.
tem mais dessa coleção. Eu acho que não foi só
nessa, acho que ela tentou continuar, mas acho
que é um recorte interessante de bordados”.
132
Resposta Manon de Salles Ferreira – Coordena- a gente abre uma peça, você pode ficar um mês
dora do Instituto Zuzu Angel, responsável pelo pesquisando, seis meses pesquisando, então,
acervo têxtil e Indumentária – Realizada em 24 como o volume era grande e a gente tinha um
de abril de 2019, 6 minutos e 19 segundos: prazo de entrega, a coleção tem em torno de 600
peças, fora documentos, o foco era a gente fazer
“Como são peças que pertencem a várias cole-
a conservação e documentação, por isso que a
ções, a gente levantou de qual coleção a peça
gente abre espaço para pesquisadores, porque
era. Se a gente entrar no sistema, vê de qual
tem muita pesquisa a ser feita, uma delas que a
coleção a peça era. O critério foi: tinha o gran-
gente está fazendo, comecei a fazer por estam-
de guarda-chuvas Zuzu Angel e a gente ia ca-
pas e a próxima vai ser por coleção, encaixar as
talogando por peça. Algumas peças que têm a
peças que tem de cada coleção. Por que a gente
mesma estampa por exemplo ‘São João’, vesti-
tem que levantar esse registro, porque tem coi-
do com estampa ‘São João’, bolsa com estam-
sas um pouco confusas, às vezes peças que co-
pa ‘São João’. Os que tinham identificação de
meçam numa coleção e que são replicadas na
data, de desfile, de coleção a gente colocava
outra, são repetidas, que são vendidas depois e
na ficha. A Hildegard já tem essa coleção des-
voltam. Tem que resgatar essa história.
de o assassinato da Zuzu e ela vem a tempos
tentando organizar de uma maneira melhor.
Quando o Itaú veio com essa proposta da ex-
5) Resposta Simone Costa Avila- Museóloga
posição, eles tiveram essa contra partida, dando
responsável pelo acervo documental do Instituto
um auxílio nessa coleção Zuzu. Foi uma empre-
Zuzu Angel – Realizada em 25 de abril de 2019,
sa que desenvolveu um banco de dados com
7 minutos e 05 segundos:
todas essas especificações, uma equipe aqui
que foi fazendo todo esse levantamento histó- Existiu comercialmente, eu não posso te preci-
rico da coleção, roupas que ficaram na casa da sar. Pois eu ainda não consegui, eu tenho al-
Hildegard levantando arquivo documental, sepa- gumas coleções, do material que ela produziu,
rando, porque ela guardava bem, mas não com documentos das lojas da Zuzu, documentos de
uma organização museológica, depois teve uma vendas, que eu ainda não tive tempo de aces-
equipe que fez toda higienização dessas peças sar. O nosso maior objetivo é linkar todas essas
e outra equipe que fez a parte de fotografia e coisas, por exemplo: ‘Este vestido é o vestido da
depois conservação, guarda e organização das International Dateline Collection, essa é a nota
reservas. Era um desejo muito antigo da Hilde- fiscal da compra do tecido, este é o recibo de
gard e partir dessas parceria com Itaú, que era venda, este vestido foram feitos 100 peças, ao
pra ser prolongada, se não fosse a crise do país, tal preço’. Seria o próximo passo Isso faz parte
era para estar aberto inclusive o museu ao pú- de um nosso processo de catalogação que ainda
blico, a gente fez essa primeira parte que era não existe, fazer essa grande conexão. Primeiro
o que, proteger essa coleção, então agora ela nós temos que catalogar e identificar todas es-
está toda catalogada, higienizada e nesse espa- sas peças, até porque a nossa prioridade é de
ço com condições adequadas, controle de umi- conservação, por que você tem que tratar logo
dade, temperatura. Mas a parte de pesquisa a da peça antes que ela se deteriore, não posso
gente tem que voltar algumas vezes, porque o deixar posterior. Então nem tudo a gente pode
foco não era a pesquisa, porque cada vez que fazer como a gente gostaria”.
133
Resposta Manon de Salles Ferreira – Coordena-
dora do Instituto Zuzu Angel, responsável pelo
acervo têxtil e Indumentária – Realizada em 24
de abril de 2019, 6 minutos e 19 segundos:
134
APÊNDICE 3- TERMO DE CONSENTIMENTO – INSTITUTO ZUZU ANGEL
135
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Concordo em participar, como voluntário, do estudo que tem como pesquisador responsável a
aluna de pós graduação Fernanda do Nascimento Cintra, do Programa de Pós Graduação em
Design Stricto Sensu da Universidade Anhembi Morumbi, que pode ser contatada pelo e-mail
fernandancintra@gmail.com e pelo telefone (19) 99220-2935. Tenho ciência que o estudo tem
em vista realizar entrevistas com pesquisadores e ativistas envolvidos com o tema, visando, por
parte da referida aluna a realização da sua dissertação intitulada “Design e conspiração:
bastidores entre Zuzu Angel e linhas de Sampa”. Nossa participação consistirá em conceder uma
entrevista que será gravada e transcrita, realizando também registros fotográficos da pesquisa
de campo e dos encontros produzindo imagens que serão posteriormente usadas na publicação.
Entendo que esse estudo possui finalidade de pesquisa acadêmica, que os dados obtidos não
serão divulgados, a não ser com prévia autorização, e que nesse caso será preservado o
anonimato dos participantes, assegurando assim nossa privacidade. A aluna providenciará uma
cópia da transcrição da entrevista para meu conhecimento. Além disso, sei que podemos
abandonar nossa participação na pesquisa quando quisermos e que não receberemos nenhum
pagamento por esta participação.
136
137
APÊNDICE 4 – PERGUNTAS DAS ENTREVISTAS COLETIVO LINHAS DE SAMPA
Entrevistadora: Fernanda do Nascimento Cintra. São Paulo, 2019, 2020. Arquivos .mp3.
1) Como surgiu o Coletivo Linhas de Sampa, foi uma continuidade do projeto Coletivo Linhas
do Horizonte?
5) Quando estão panfletando, ou bordando gera curiosidade nas pessoas, como é a interven-
ção, faz com que mais pessoas tomem conhecimento de assuntos?
138
Apêndice 5 – Respostas das entrevistas Co- Rio de Janeiro e a Lenira Machado, de SP. Elas
letivo Linhas de Sampa conversaram sobre a importância de expandir
as Linhas para outros lugares e caberia às duas
1) Resposta do Colegiado do Coletivo Linhas de
integrantes que estavam o Rio e em SP, criar
Sampa – Entrevista Realizada em 13 de agosto
um coletivo. A partir daí, a Lenira chamou uma
de 2019, 19 minutos e 12 segundos:
conversa aqui em São Paulo, a Telinha chamou
“Tudo começou com o Linhas do Horizonte (LH). uma conversa no RJ e assim nasceram: Linhas
No passado, durante Fórum Social Mundial em de Sampa, Linhas do Rio, depois disso, vimos
Salvador, três integrantes das LH que estavam tendo conversas em outros lugares, por exemplo
lá para diferentes atividades, se reuniram e de- em Santos e Caraguatatuba, onde os coletivos
cidiram que estava na hora de expandir as Li- se instalaram. Em Itu, o coletivo não vingou”.
nhas para outros lugares. Foi o que aconteceu.
2)Resposta do Colegiado do Coletivo Linhas de
Então, a partir dali, a Lenira Machado, que mora
Sampa – Entrevista Realizada em 13 de agosto
em São Paulo e a Maristela Pimenta, que mora
de 2019, 19 minutos e 12 segundos:
no Rio, voltaram para suas cidades com a ta-
refa de tentar encontrar quem se aventurasse “Então, nós funcionamos mais ou menos assim:
a criar um coletivo de bordados. E aqui em SP, nós temos uma agenda que é discutida numa
na primeira conversa que tivemos em abril de reunião de periodicidade mais ou menos men-
2018 éramos 7 pessoas, hoje somos 68, 1 ano sal. Reunimos as bordadeiras e os bordadores
e 4 meses depois. Foi uma experiência mui- e cada um vai trazendo as demandas dos seus
to bem sucedida, do pouco tempo que nós te- coletivos e as demandas mais gerais. O pessoal
mos eu acho que o espaço que conquistamos, da saúde traz as demandas da saúde, o pes-
a inserção que tivemos em diversos momentos soal da educação traz as da educação e os co-
da vida política nacional, foi muito legal. E ago- mitês dos coletivos que lutam por democracia e
ra a iniciativa já se desdobrou para Linhas de pela liberdade do Lula trazem também as suas
Santos, que acabou de ser criado. Em julho fi- pautas e aí nós vamos decidindo no conjunto.
zemos uma conversa com as companheiras Por exemplo, tivemos uma reunião semana pas-
santistas que estavam querendo criar um cole- sada (dia 6 de agosto) e ali nós decidimos que
tivo lá e a partir dessa conversa já nasceu Li- naturalmente viriamos para esta manifestação,
nhas de Santos, um grupo bem legal mesmo, que faz parte das pautas mais gerais, as quais
já está trabalhando e bordando em público na apoiamos. Nós temos diferentes formas de atua-
semana Tereza de Benguela, por exemplo”. ção: oficinas, rodas de bordado na rua, participa-
ção em manifestações. No momento temos dois
Resposta membro do Colegiado do Coletivo Li- convites para realização de oficina de bordados
nhas de Sampa – Realizada em 14 de abril de na periferia: uma no Campo Limpo e outra na
2020, 2 minutos e 34 segundos: Chácara Santa Maria, pra lá do Capão Redondo.
Então são oficinas de bordados que nos pedem
“Sobre o Fórum Social Mundial: Três integran-
para fazer. Fizemos uma oficina no Instituto Fe-
tes do LH que estavam no FSM para diferentes
deral de
atividades, fizeram uma reunião. Eram a Leda
(Leonel), de Belo Horizonte, uma das coordena- Educação, no projeto Pertencer, que reúne e
doras do LH, a Telinha (Maristela Pimenta), do abriga crianças filhos de imigrantes, bolivianos,
139
colombianos, paraguaios, que estão ali na região o parque da água branca, nós bordamos uma
do Canindé. Foi uma oficina maravilhosa, porque única vez lá. Estava tendo festival do Morango
o bordado já faz parte da infância de muitas des- e um dos organizadores veio conversar e falou:
sas crianças, principalmente bolivianas, cujas ‘vocês estão vendendo produto?’ Nós respon-
mães e avós já bordam. Para eles essa oficina demos: ‘nós estamos dando’. E eles falam, que:
foi uma coisa muito natural e também emocio- ‘então tudo bem’. Porque o parque é público,
nal, pois eles têm uma referência. Outra forma então, realmente se você for comercializar que
de atuação é a participação em manifestações tem algum impedimento. Na Paulista também,
onde uma multidão se reúne e nós não temos a Paulista é aberta para qualquer iniciativa nos
como bordar. Já levamos os bordados prontos domingo. Nós começamos fazendo bordados no
e fazemos o varal. Onde existem as condições último domingo no mês, sempre no último do-
para bordar, fazemos uma roda de bordado que mingo. A gente variava de horário e lugar, pois
reúne as bordadeiras, os bordadores e as pes- achava que tinha que ter um rodízio. Quando
soas que quiserem podem se juntam e também começaram os mutirões Lula Livre, são todos os
bordar. Nós sempre carregamos um kit, que cha- últimos sábados e domingos do mês, nós acha-
mamos de kit oficina e ali tem linha, agulha, teci- mos que não dava para fazer as duas ativida-
dos e outros apetrechos e oferecemos pra quem de juntas e nós passamos então para o terceiro
quiser bordar com a gente. Se quiser aprender, domingo do mês. Na última vez foi no parque
vai aprender, se já sabe, vai bordar com a gente. da Água Branca. Para este mês, nós ainda não
Para o funcionamento interno do grupo, temos resolvemos onde vai ser. Este mês de agosto
dois grupos de WhatsApp, um, dedicado nós ainda não decidimos. Quando é decidido, a
gente joga nas redes sociais”.
exclusivamente ao funcionamento das Linhas
de Sampa, que é o bordado, o que bordamos, 4) Resposta do Colegiado do Coletivo Linhas de
onde bordamos, que convites nós recebemos e Sampa – Entrevista Realizada em 13 de agosto
quais vamos aceitar. Um outro grupo é o Linhas de 2019, 19 minutos e 12 segundos:
Antenadas que existe para questões gerais, pra
“Nós somos totalmente autofinanciadas. Quan-
abrir o coração, mandar parabéns para quem faz
do você vai entregar o bordado, tem gente que
aniversário, transmitir alguma coisa de política,
quer pagar de qualquer jeito, a pessoa briga com
informações etc. Nesses dois grupos é que a
você ‘eu quero pagar, vocês gastaram linhas, te-
gente resolve as coisas. É ali que colocamos as
cido’”.
atas, as memórias das reuniões...”.
Nós não aceitamos dinheiro, mas se você qui-
3) Resposta do Colegiado do Coletivo Linhas de
ser doar linha, agulha, tecido, nós aceitamos, é
Sampa – Entrevista Realizada em 13 de agosto
uma troca. Então por exemplo, nós fizemos uma
de 2019, 19 minutos e 12 segundos:
oficina na Fiocruz- no RJ e foram as três Linhas:
“Nos locais públicos a gente não pode ser im- Horizonte, Sampa e Rio, ali o grupo da Fiocruz
pedido de usar. Só é impedido de usar se você doou material também. Então as meninas volta-
for vender coisas lá dentro. Como o nosso pro- ram com alguns metros de algodão cru. É uma
jeto não é de venda, nosso projeto é de doação troca, por exemplo: agora a mãe de uma ami-
de bordados, são panfletos, então isso não tem ga minha faleceu, ela já começou a mexer nas
impedimento nenhum. Quando nós fomos para coisas da mãe e já me mandou uma foto das
140
linhas tal: ‘vocês querem?’ eu falei ‘claro que nós 6) Resposta do Colegiado do Coletivo Linhas de
queremos’. Então já vem uma doação aí. É isso. Sampa – Entrevista Realizada em 13 de agosto
Na verdade, se você pensar, nosso custo não é de 2019, 19 minutos e 12 segundos:
alto. Por exemplo, este folheto tem mais ou me-
“Não temos ninguém bordando profissionalmen-
nos 12cmx12cm. Um metro deste algodão custa
te. Temos diversas bordadeiras na ativa e outras
R$ 7,00, tem 1,40m de largura e rende bastan-
aposentadas das áreas de educação, saúde,
te. Nosso custo não é alto e com as doações, a
serviço público em geral, jornalistas, publici-
gente se auto paga. Quando nós fazemos reu-
tários. São de diferentes profissões e áreas. E
niões são em lugares que nos apoiam ou nós
é dessa atuação que trazem as pautas para o
apoiamos a causa. Já fizemos reunião no Coleti-
Coletivo que posteriormente pode virar tema de
vo Digital, fazemos no GTA que é o grupo técni-
bordado. Algumas tem tarefas específicas como
co de apoio. A gente não tem custo na verdade
a Lenira, que borda muito pouco, mas é a articu-
sabe? Nós não temos uma sede nada disso. A
ladora política; eu, bordo menos do que gostaria,
nossa conversa é no WhatsApp e uma vez por
mas cuido mais do operacional pra garantir que
mês nessa reunião geral que a gente faz é isso”.
a atividade aconteça. E atualizo o Facebook e
5) Resposta do Colegiado do Coletivo Linhas de do Instagram”.
Sampa – Entrevista Realizada em 13 de agosto
de 2019, 19 minutos e 12 segundos:
141
Apêndice 6- Termo de consentimento – Coletivo Linhas de Sampa
142
APÊNDICE 7 – AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM
143
este trabalho foi desenhado em arial
regular, arial bold e arial bold italic por
fernanda sanovicz | outubro de 2020.