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Caruaru, 2017
Flávio Vieira da Silva Santos
Caruaru, 2017
Catalogação na fonte:
Bibliotecária – Marcela Porfírio – CRB/4-1878
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Profa. Dra. Flávia Zimmerle da Nóbrega Costa (Orientadora)
Universidade Federal de Pernambuco
____________________________________________
Profa. Dra. Danielle Silva Simões Borgiani (Examinador Interno)
Universidade Federal de Pernambuco
____________________________________________
Profa. Dra. Nara Oliveira de Lima Rocha (Examinador Interno)
Universidade Federal de Pernambuco
Agradecimentos
Genuinamente e de coração aberto, minha sincera gratidão se volta para o Criador dos
céus e da terra. Sua força é o que rege a vida e nele é quem confio minha direção, a justiça
aspirada para cada causa e a revelação sobre o que ainda não entendo.
Aos meus pais, Angelita Vieira e João Ambrósio por tudo que fizeram e me ensinaram
para que hoje possa ser parte do que sou. A presença deles é a certeza que sempre terei um
cais a me esperar, durante as tempestades da vida.
A meus irmãos Fábio Vieira e Maria Angélica, pelos encorajamentos, incentivos e
fraternidade.
Ao amigo-irmão Jefferson Sobral, por me incentivar a lutar por meus sonhos e
objetivos e que sempre me ajudou nos momentos mais difíceis dessa jornada acadêmica.
Meu ser se sente lisonjeado pelas pessoas incríveis que cruzaram meu caminho
durante essa jornada e partilharam companheirismo, sorrisos e afetos, entre eles Michele
Farfan, Maíra Fernandes, Valdete Paz e a todos que de algum modo fizeram parte dessa
trajetória.
A todos os professores do curso de Design da UFPE-CAA, pelo partilhar do
conhecimento e contribuição em minha formação acadêmica e humana, em especial à Flavia
Zimmerle pela disponibilidade, direcionamento e paciência necessários a esse trabalho.
“A alta-costura, para mim, é um estado de espírito, porque nos abre muitos caminhos, como o
da excentricidade e o do individualismo".
Christian Lacroix
Resumo
O segmento de alta-costura pode ser considerado o ápice do sistema de moda cujas
referências sejam estéticas, sejam tecnológicas ecoam por toda a cadeia desde o setor têxtil à
moda popular. Seu surgimento e desenvolvimento remontam as origens e sistemática das
sociedades industriais que desencadeou uma revolução no próprio modo de vida das pessoas.
Fruto dessa revolução industrial, a burguesia desejosa pelo luxo percebeu na indumentária um
modo de diferenciação social visível e palpável; é nesse cenário que surge a figura do
designer pelo visionário creditado pai da alta-costura o inglês Charles Worth que estabeleceu
a Câmara Sindical da alta-costura, que regulamenta e dita as regras para as Maison
s que fazem parte do seleto grupo. Edificada sob um sistema de produção artesanal e centrada
sob uma clientela exclusiva e abastada, todo o trabalho empregado em uma peça couture
perpassa por processos que envolvem desde o desenvolvimento de tecidos exclusivos,
modelagem sob medida, seleção entre inúmeras técnicas de aplicação (bordados, perolização,
plumaria) e técnicas de acabamento manual. Esse estudo se propôs ao entendimento da alta-
costura como engrenagem no sistema de moda, seja pela historicidade, tecnologias e técnicas
de acabamentos empregados. Por meio da pesquisa documental, foi possível identificar e
analisar diferentes tipos de acabamentos usados em costuras de união de grandes blocos que
compõe de modo geral a peça de vestuário. Outros tipos de acabamentos são explorados, por
serem de extenso uso na alta-costura, denominados: barras, vistas e debruns, para os quais
destacamos os detalhes de uso, material e técnica. Os resultados percebidos apontam para uma
variedade de acabamentos pouco estudada e explorada na literatura nacional e no meio
acadêmico, visto a quase inexistência de publicações com conhecimento direcionado sobre o
tema. Desse modo, o estudo possibilita o conhecimento de técnicas e procedimentos que
aguçarão a percepção técnica e criativa de designers e profissionais da área no sentido de
pensar a construção do vestuário de um modo amplo com novas adaptações e possibilidades
de finalizações no vestuário.
.
Lista de quadros
Quadro 1: Haute Couture VS. Ready-to-Wear ......................................................................... 27
Quadro 2 - Aplicação: bordas de costuras de união (margens de costura). .............................. 40
Quadro 3 - Aplicação: Debrum ................................................................................................ 42
Quadro 4: Características gerais dos acabamentos de barra. .................................................... 43
Quadro 5: Acabamento de borda/Bainha plana ........................................................................ 44
Quadro 6: Informações gerais sobre as vistas separadas. ......................................................... 50
Quadro 7: Informações gerais das vistas em viés. .................................................................... 51
Lista de figuras
Figura 1: Segmentos de varejo do mercado de moda ............................................................... 17
Figura 2: Christian Dior, por Yves Saint Laurent: "L'Elephant blanc". ................................... 31
Figura 3: Vestido de Gabrielle Chanel ..................................................................................... 32
Figura 4: Vestido de noite de Hubert de Givenchy .................................................................. 33
Figura 5: Debrum (Hong Kong) e bainha plana: base para alguns dos principais acabamentos
em couture ................................................................................................................................ 35
Figura 6: Chuleio à mão em margem de costura no vestido Dior. ........................................... 39
Figura 7: Vestido assinado por Bohan para Casa Dior. ............................................................ 40
Figura 8: Início da execução do debrum .................................................................................. 41
Figura 9: Finalização da execução do debrum. ........................................................................ 41
Figura 10: Margem de costura encadernada com chiffon de seda cor nude............................. 42
Figura 11: Redução de volume de costura em área da bainha.................................................. 44
Figura 12: Bainha plana dobrada, alfinetada e alinhavada para costura. ................................. 45
Figura 13: Modo de segurar o vestuário para abainhar: (a) posição para abainhar tecidos que
não enrugam); (b) posição para abainhar tecidos que enrugam. .............................................. 45
Figura 14: Bainha de costura dupla .......................................................................................... 46
Figura 15: Processo de construção da bainha enrolada à mão ................................................. 47
Figura 16: Bainha tombada. .................................................................................................... 47
Figura 17: Vestido da década de 1950 de Hardy Amies. Decote escamado, cintura caída e saia
cheia. O decote termina com revestimentos separados. ........................................................... 48
Figura 18: Aplicando vista à mão, de cima para baixo: (a) aplicando na parte da frente do
vestuário; (b) aplicando na parte das costas do vestuário. ........................................................ 49
Figura 19: Formato de vistas, da esquerda para direita: (a) vista circular; (b) vista retangular.
.................................................................................................................................................. 50
Figura 20: Vestido de seda desenhado por Cristobal Balenciaga na década de 1950. Uma vista
larga finaliza o decote e a cava. ................................................................................................ 50
Figura 21: Aplicação de uma vista em viés em um decote. ..................................................... 51
Figura 22: Debrum único.......................................................................................................... 53
Figura 23: Da esquerda para a direita: (a) Preparando a tira de debrum; (b) Costura de
vestuário sobre tira de debrum; (c) Finalizando o debrum. ...................................................... 53
Sumário
1 INTRODUÇÃO 12
1.2 Objetivo Geral 13
1.3 Objetivos Específicos 13
1.4 Justificativas 13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 15
2. 1 A indústria da moda: a configuração do mercado de moda e o luxo 15
2.2 O ápice de uma cadeia 19
2.2.1 O florescer da Haute Couture 19
2.2.2 A Haute Couture hoje 21
2.3 A suprema arte de projetar artefatos na Couture 24
2.3.1 Pilares da construção de uma peça Couture 25
2.3.2 Artesanato requintado: a alma da Haute Couture 29
2.4 Acabamentos aplicados ao vestuário da alta-costura 33
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 36
4 DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS 38
4.1 Acabamentos em costura de união 38
4.1.1 O Chuleio 39
4.1.2 O Debrum (Hong Kong) 41
4.2 Acabamentos de borda 43
4.2.1 Barra 43
4.2.2 Bainha plana 43
4.2.3 Bainha de costura dobrada 46
4.2.4 Bainhas estreitas 46
4.2.5 Bainha enrolada à mão 46
4.2.6 Bainha tombada 47
4.3 Vistas 47
4.3.1 Vistas separadas 48
4.3.2 Vistas em viés 51
4.3.3 Vistas estendidas 51
4.4 Debruns 52
4.4.1 Debrum único 52
4.4.2 Debrum duplo 53
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 55
REFERÊNCIAS 57
12
1 INTRODUÇÃO
A democratização da moda seja por meio da difusão de estilos, diversificação de
materiais e segmentos de mercado, seja pelo acesso à informação sobre tendências em voga,
não foi capaz de suplantar o desejo envolto na busca pelo individual, o único e o exclusivo.
Como ápice de uma cadeia diversificada e globalizada a alta-costura abarca todas as
características fomentadas por um mercado de luxo que tem suas origens remontadas na
segunda metade do século XIX. Mas o que fá-la tão reluzente e ao mesmo tempo tão secreta?
Embora uma peça couture seja demasiada cara para a maioria dos usuários, uma
totalidade de técnicas aplicadas nas salas das casas de alta-costura podem ser reproduzidas,
fato que pode surpreender muitos profissionais que não possuem esse conhecimento
específico (SHAEFFER, 2011).
1
“como artista e estabeleceu o seu ‘nome’ como uma autoridade internacional para a concepção de originais
roupas de luxo”. [Tradução elaborada pelo autor]
13
Como resultado, a representação e passo a passo de como deve ser utilizado representa
um importante resgate histórico. A pesquisa contempla um segmento de uma grande área que
é pouco explorado, possibilitando um fácil acesso e utilização dos conteúdos aqui explorados
por estudantes e profissionais de diversas áreas.
1.4 Justificativas
As nuances da moda, seu aperfeiçoamento e sua busca por qualidade, tem
vertiginosamente alimentado o fascínio pela exclusividade entre o público consumidor.
Apesar de presenciarmos o declínio de algumas profissões concernentes ao mundo da moda,
como a profissão de alfaiate, cujo exercício se aproxima da ideia de construção de vestimentas
únicas para o usuário, a alta-costura como o ápice da cadeia produtiva da moda, onde tudo é
possível, ainda fomenta a exclusividade no desejo de consumo do vestir.
Sofisticada, cara e exclusiva, a alta costura goza de status que somente uma clientela
muito seleta e abastada pode ter acesso. Segundo Claire Shaeffer (2011), colecionadora e
perita em alta costura, esta é constituída por cerca de 2.000 (duas mil) mulheres no mundo
inteiro, na qual destas, apenas algumas centenas consomem com assiduidade.
Se a moda é uma arte que “conseguiu estabelecer uma ponte entre a beleza e a vida”
como declarada pelo filósofo Manuel Fontán de Junco (1996), podemos acrescentar que o
mérito da Haute Couture foi estender essa ponte ao nível dos sonhos e da magia.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Esse capítulo trata dos aportes teóricos que fundamentaram nossa pesquisa. Iniciamos por
tratar da indústria de moda, explorando o mercado de luxo. Seguimos com o entendimento do
segmento de alta-costura, esmiuçando suas formas de produção. Por fim levantamos os
principais acabamentos que são aplicados ao vestuário desse segmento.
O uso das roupas em diferentes períodos da história, sob diversos aspectos, foi
incutido pelo homem para sinalizar diferenciação seja ela, social, simbólica ou conduzida por
valores morais (BRAGA, 2006).
uma produção muito mais rápida e barata; ao mesmo tempo, a burguesia encontrava
na moda um dos elementos de ostentação desta prosperidade e de exercício de seu
desejo pelas novidades estéticas. (POLLINI, 2007, P, 38).
No início do século XX, época denominada de “La Belle époque” (1900 à 1914) ou na
“era da opulência” como ficou conhecida, “[...] a riqueza era exibida em estilos de vida
extravagantes e era especialmente evidente nas luxuosas roupas femininas” (MENDES e DE
LA HAYE, 2009, p. 2). Já o homem, antes portador de vestimentas mais elaboradas, passa a
apresentar uma aparência mais mitigada, com o uso do casaco de alfaiataria e chapéu; sinais
dos tempos do trabalho nas novas sociedades industriais (MENDES e DE LA HAYE, 2009).
A época era propícia ao luxo, e foi durante esse período que a Chambre Syndicale de
la Confection pour Dames et Enfants, durante a Exposition Universelle de Paris, em 1900
organizou uma mostra de trabalhos de vinte grandes casas, consagrando a indústria francesa
de alta-costura perante o mundo. O estilo Eduardiano2 trouxe a referência da alfaiataria
britânica para o homem do início do século e os ricos eram fregueses de alfaiates famosos,
longamente estabelecidos na Bond Street e na Savile Row (MENDES e DE LA HAYE, 2009).
Podemos pontuar que embora a sociedade estivesse caminhando para a democratização da
moda, existia uma forte inclinação para a exclusividade no trajar, e as similaridades de
estética só poderiam existir dentro do mesmo grupo social.
Desde a introdução da máquina de costura com pedal em 1859, pelo inventor norte
americano Isaac Singer, o sistema de produção do vestuário absorveu profundas mudanças. O
boom da revolução industrial possibilitou a dinamização da produção de vestuário, aliada a
uma grande oferta de tecidos. Nos dias contemporâneos, o uso de softwares como o CAD (do
inglês: computer aided design) “[...] permitiu à indústria responder com rapidez as demandas
do mercado [...]” (JONES, 2005, p. 56).
2
Referência ao então rei da Inglaterra Eduardo VI, que influenciou a moda masculina da época e ainda nos dias
atuais. Segundo Mendes e De La Haye (2009, p. 36) “apesar de nos últimos anos ter se tornado extremamente
corpulento, Eduardo VI continuou a se vestir com aprumo”.
17
Por segmentação de mercado podemos entender que esta, compreende duas esferas,
que de modo geral, em primeiro plano, estão divididas pelo sexo e fase de vida dos usuários: a
moda masculina, a moda feminina e a moda infantil (JONES, 2005), sendo distribuídas por
tipos de varejo. Esta última engloba em diferentes setores do mercado, todos os indivíduos da
primeira esfera, distribuídos por aspectos sociais, culturais e econômicos (vide Fig. 1):
A denominação Haute Couture só pode ser utilizada por casas que passem pelo
rigoroso crivo das regras da Chambre Syndicale de la Haute Couture. Tal titulação é
sustentada por poucas casas na França e outras que originalmente não fazem parte do circuito
francês mas que participam como convidados à exemplo dos italianos Valentino e Giorgio
Armani. Nos demais países, entre eles o Brasil, a denominação para uma moda inspirada na
couture é o High Fashion ou Alta Moda, ou mesmo um prêt-à-porter de luxo (PALOMINO,
2003).
O mercado consumidor da alta-costura, segundo Allérès, (2000, p. 143), se distribui da
seguinte forma:
Jones (2005, p. 39), disserta que a alta-costura “Está edificada sobre o prestígio e o
sucesso das peças únicas, sob medida e finalizadas à mão, vendidas a um público abastado e
socialmente versátil”. Sorger e Udale (2009, p. 110) enfatiza que “As roupas [...] são feitas
para ajustar-se a clientes individuais e são muito caras, uma vez que o estilista utiliza tecidos
exclusivos e artesãos altamente qualificados”. As definições apresentadas apontam para um
produto de luxo e exclusivo, vários são os processos que validam essa individualidade o que
concomitantemente, é feita para um consumidor que pode pagar por tal produto.
The sewing staff are divided between two areas: dressmaking (flou), for dresses and
draped garments based upon feminine dressmaking techniques, or tailoring (tailleur),
for suits and coats utilizing male tailoring techniques of construction. The staff work
according to a hierarchy of skills ranging from the première, head dressmaker or
tailor, to apprentices3 (STEELE, 2005, p. 186).
3
As equipes de costura estão divididas entre duas áreas: costureira (flou), para vestidos e roupas drapeadas com
base em técnicas de costura feminina, ou alfaiataria (tailleur), para ternos e casacos utilizando técnicas de
alfaiataria masculina de construção. O trabalho pessoal de acordo com uma hierarquia de habilidades que vão da
première, costureira chefe ou um alfaiate, para aprendizes. [Tradução livre do autor.]
19
Apesar de a França ser o único país a deter os poderes absolutos sobre o setor da alta-
costura, a maior percentagem de usuárias desse produto não é francesa; a própria Europa não
adquire nem a metade da produção. Mesmo com a recessão financeira vivenciada nos últimos
anos, e ainda, apesar de possuir um mercado ready-to-wear bem desenvolvido, o público
americano é o principal mercado comprador da alta-costura, como se pode verificar na
distribuição desse mercado, segundo Allérès (2000) no esquema apresentado anteriormente.
Embora em teoria, o mercado brasileiro não consuma a alta-costura francesa, temos um caso
peculiar da brasileira e ex-modelo Bethy Lagardère que morou na França durante vários anos;
numa exposição apresentada durante a São Paulo Fashion Week em comemoração ao Ano da
França no Brasil em 2009, foram exibidos alguns modelos pertencentes à sua vasta coleção
pessoal (MARRA, 2009).
Worth’s designs also commanded high prices that were a substantial investment in
the garment It self and his associated and recognizable design style. This significant
shift established the profession of fashion designer of women’s garments as a
suitable and profitable one for men. Worth worked directly with the French silk
20
weaving industry to access and promote the original, luxury textiles that were a
signature of his production4 (STEELE, 2005, p. 186).
No desenrolar da moda, por todo o século XX, muitos nomes e acontecimentos sociais
influenciaram a estética e desenvolvimento da alta-costura. Pela primeira vez um costureiro
foi capaz de sugerir a libertação do corpo feminino dos opressores espartilhos, em voga por
todo o período da Belle Époque; o jovem Paul Poiret introduziu a cintura reta, o que veio a se
tornar moda de fato, com a ocupação feita pela mulher em diversos setores no campo de
trabalho, por motivo do acontecimento da Primeira Grande Guerra Mundial (BRAGA, 2009).
Já nos chamados anos loucos (1920), uma das maiores referências da moda do século
foi Coco Chanel. A criadora que elevou seu nome ao status de estilo começou sua carreira
com a confecção de chapéus, migrando posteriormente para o campo do vestuário. Uma das
suas maiores ousadias nesse campo foi a introdução da malha jérsei na confecção de tailleurs
(BRAGA, 2009).
A crise mundial iniciada no final dos anos 20, encadeada pela grande depressão da
bolsa de Nova York, se estendeu até 1937, e alterou o ritmo de produção das maisons6 de
grandes costureiros, como Jean Patou e Chanel, que com menos clientes especiais, tiveram
4
“Projetos de Worth também comandaram os altos preços que eram um investimento substancial no vestuário
em si e seu estilo de design associado e reconhecível. Essa mudança significativa estabelecida à profissão de
designer de moda de roupas femininas como um adequado e rentável ofício para homens. Worth trabalhou
diretamente com a indústria Francesa de tecelagem de seda para acessar e promover os originais, tecidos de luxo
que eram uma assinatura de sua produção”. [Tradução livre do autor.]
5
“Neste tempo havia pouca distinção entre alta-costura, roupas feito à medida, e confecção, roupas ready-
made”. [Tradução livre do autor.]
6
Casas de alta-costura.
21
que exportar suas ideias para todo o mundo, direcionando sua produção desse modo, a
usuários anônimos. Posterior a esse período de depressão, um novo período de turbulência,
dessa vez uma Segunda Grande Guerra mundial, fez parar a produção de moda em Paris, que
se viu sitiada pelas tropas alemãs. Sobre esse período NERY (2004, p. 230- 231) disserta que
“A alta-costura fechou suas portas, como fez Chanel, que reabriria as suas após 15 anos.
Enquanto houve guerra, não houve grandes criações e o setor da moda não podia trazer
novidades”.
Nas décadas posteriores, vários nomes figuraram como expoentes máximos da moda
francesa, Cristobal Balenciaga, Hubert de Givenchy e Yves Saint Laurent, mas a nova
configuração das sociedades e o surgimento constante de novos comportamentos, fez com que
a moda lograsse seu direcionamento rumo a várias camadas sociais. Com o advento do ready-
to-wear americano e o equivalente francês prêt-à-porter, a alta-costura teve que se adaptar
aos novos tempos. Entre essas adaptações estão os “contratos que permitem às maisons [...]
pôr grife em sapatos, artigos de marroquim, óculos, joias relógios, etc.” bem como a
exportação de “um prêt-à-porter e acessórios made in france cujo padrão está relacionado
com o nome daquele que os propões”, ou seja, o designer (MENDES e DE LA HAYE, 2009,
p. 173).
até mesmo a sua possível morte. O primeiro sinal de declínio da Haute couture ocorreu no
final da década de 1950, quando a iminência de um mercado adolescente em crescimento e
abastado, dos dois lados do atlântico, fez surgir a sociedade do descartável e do consumismo
(MENDES e DE LA HAYE, 2009).
Lipovetsky (1989, p. 108) destaca que ainda nesse momento, muitas casas podiam
trabalhar somente com o vestuário sob medida, mas nos anos que seguiram o declínio passa a
ficar mais evidente; “[...] em 1975, a parcela do sob medida não representava mais que 18 por
cento da cifra de negócios direta (excluídos os perfumes) das casas de Costura, e, em 1985, 12
por cento”.
Nesse momento histórico da moda francesa, a alta-costura perde espaço para o sistema
de prêt-à-porter voltado para um público jovem e dinâmico. O número de casas cai de 106 em
1946 para 19, já na década de 1970 e passa a ser sustentada por uma clientela formada por
apenas 3 mil mulheres (STEELE, 2005).
Lipovetsky (1989) discursa sobre a nova posição da couture dentro da nova realidade
do mercado da moda:
Não só o polo costura sob medida, expressão sublime da moda de cem anos,
atrofiou-se por decréscimo extremo da clientela, como também a Alta Costura não
veste mais as mulheres na última moda. Sua vocação é bem mais de perpetuar a
grande tradição de luxo, de virtuosismo de ofício, e isso essencialmente com fim
promocional, de política de marca para o prêt-a-porter ponta de série e para os
diversos artigos vendidos sob sua griffe no mundo. Nem clássica nem vanguarda, a
Alta Costura não produz mais a última moda; antes reproduz sua própria imagem de
marca “eterna” realizando obras-primas de execução, de proeza e de gratuidade
estética, toaletes inauditas, únicas, suntuosas, transcendendo a realidade efêmera da
própria moda. (LIPOVETSKY, 1989, p. 109).
23
Nos anos que se seguiram a alta-costura soube se preservar perante a ameaça do prêt-
à-porter, apesar do declínio (tendo em vista a queda no número de clientes) o sistema de
produção soube se adaptar à nova realidade. O número de pessoas no trabalho das casas
classificadas como “Costura Criação” também foi afetado e contava com apenas (2.000) duas
mil operárias, para um total de vinte e uma casas; onde antes, por exemplo, somente a casa
Chanel (antes da Segunda Guerra mundial) empregava 2.500 (duas mil e quinhentas)
operárias (LIPOVETSKY, 1989).
Em 1987 Christian Lacroix surge para dar novo fôlego à alta-costura e provoca uma
nova atenção ao segmento. Seu estilo barroco aliado a uma sedução sofisticada, “assinala o
fim do século XX; a expressão barroca sempre foi sinal de passagem [...]” (VINCENT-
RICARD, 2008, p. 76).
Contudo essa pequena fatia do mercado de moda é responsável por promover as casas
e impulsionar as vendas do segmento de prêt-à-porter, perfumes, sapatos e um número
infindável de outros produtos licenciados. Segundo Shaeffer (2011, p. 16):
Today, couture is considered the engine that pulls the train as the most successful
houses spin off lucrative licenses for ready-to-wear clothing, fragrances, cosmetics,
fashion and home accessories, chocolates and even automobile interiors. The House
of Cardin, for example, had 840 licenses in 94 countries, including one for car tires.
Although supported by bigger and more profitable business operations, haute
7A base de clientes de alta-costura tem diminuído para cerca de 2000, talvez com apenas algumas centenas de
mulheres que compram regularmente, e o número de casas de alta-costura caiu de uma alta de 53 após a Segunda
Guerra Mundial, para 21 no início de 1993. Até 2010, havia apenas 11. [Tradução elaborada pelo autor].
24
couture is still an art form practiced by a few creative men and women and a small
group of skilled artisans8.
8 Hoje, a couture é considerada o motor que puxa o trem para as casas de maior sucesso com lucrativas licenças
de produtos como vestuário pronto-a-vestir, perfumes, cosméticos, moda e acessórios para casa, chocolates e até
mesmo interiores de automóveis. A Câmara dos Cardin, por exemplo, teve 840 licenças em 94 países, incluindo
um para pneus de carro. Embora apoiada pelo maior e mais rentável negócio operações, alta-costura ainda é uma
forma de arte praticada por alguns homens e mulheres criativos e um pequeno grupo de artesãos qualificados.
[Tradução elaborada pelo autor]
25
O inglês Charles Frederick Worth foi um visionário de sua época, na qual soube aliar
ao seu tino empreendedor tanto a sua habilidade de alfaiate, como os conhecimentos sobre
tecidos adquiridos desde a infância, numa loja de cortinas em Londres e, posteriormente, na
capital francesa em sua estadia na maison Gagelin.
Many printed fabrics are made with exclusive patterns or colorways, meaning the
same design in different colors, designed by either the couturier or a fabric designer.
A few couturiers work closely with a fabric house to develop new fabrics. Some
fabrics, such as the extra-wide silks manufactured for Vionnet, the silk gazar
designed in 1958 for Balenciaga by the noted fabric-design firm of Abraham […]
and the printed silk muslin designed in 1947 for Dior by the firm of Bianchini-Ferier
[…], are still widely used. Many other original fabrics are, of course, no longer
Muitas maisons possuem ligação de longa data com fabricantes na criação de tecidos.
Um exemplo é a parceria entre a Chanel e a Linton Tweeds, que desde a primeira coleção da
marca em 1919 desenvolve com exclusividade os variados padrões de tweed com mescla de lã
e mohair, que por vezes recebem o incremento de outros fios. No entanto, em determinados
projetos, alguns tecidos são criados no próprio ateliê, em especial quando se busca uma
9
Muitos tecidos estampados são feitos com exclusividade em padrões ou colorways, ou seja, o mesmo design
em cores diferentes, concebidas tanto pelo designer ou um designer de tecidos. Alguns designers trabalham em
estreita colaboração com uma casa de tecido para desenvolver novos tecidos. Alguns tecidos, como as sedas
extra-largas fabricadas para a Vionnet, o gazar de seda desenhado em 1958 para a Balenciaga pela firma de
design de tecido Abraham [...] e a musselina de seda impressa desenhada em 1947 para a Dior pela firma
Bianchini -Ferier [...], ainda são amplamente utilizados. Muitos outros tecidos originais, obviamente, não estão
mais disponíveis. [Tradução elaborada pelo autor].
26
unidade em harmonia e caimento de padrão, tal como acontece com o uso das listras em que o
tecido é cortado e posteriormente cosido para um olhar contínuo respeitando características da
figura do usuário (SHAEFFER, 2011).
Dentro do ateliê das maisons existem divisões de áreas que determinam o tipo de
roupa que será criado. As principais são denominadas, flou e tailleur. O flou é destinado à
construção de vestidos e peças desenvolvidas pela técnica da moulage. No tailleur técnicas da
alfaiataria são empregadas na construção de blazers, casacos e ternos, que são adaptados ao
corpo feminino (RENFREW e RENFREW, 2010). Shaeffer (2011) destaca que algumas
maisons possuem duas salas que realizam o trabalho de execução da alfaiataria e detalhes
diferenciados são empregados no acabamento de peças em tecidos como a seda:
A few houses have two tailoring workrooms: one that concentrates on tailored,
menswear-influenced designs made of fabrics similar in texture, weave, and weight
to those used for menswear; and a second that concentrates on softer dressmaker
styles made of soft wools, mohairs, bouclés, or chenilles. In the dressmaking atelier,
where many gowns, dresses, blouses, and other garments are sewn, silk is the
predominant fabric. Many of the garments made in this workroom are softly draped
designs the prototypes, the edges are sometimes serged, pinked, or zigzagged, and it
is not uncommon for tailored garments to be left unlined 10 (SHAEFFER, 2011 p.
11) .
10
uma que se concentra em projetos sob medida, influenciado-moda masculina, feita com tecidos semelhantes
em textura, tecer, e peso aos utilizados para a moda masculina; e uma segunda que se concentra em estilos de
costureiras mais macios feitos de lã macia, mohairs, Boucles, ou chenilles. No atelier couture, onde muitas batas,
vestidos, blusas e outras peças de vestuário são costuradas, a seda é o tecido predominante. Muitas das roupas
feitas nesta oficina são suavemente drapeado desenha os protótipos, as bordas são, por vezes, overlocado,
picotado, ou em ziguezague, e não é incomum para roupas sob medida serem deixadas sem forro. [Tradução
elaborada pelo autor]
27
(Continua)
28
When Lucien Lelong, president of the Chambre Syndicale during the War, was
challenged by the Nazi authorities to transport the couture to Berlin in the 1940s, he
responded that such a move was impossible because of the synergy between the
couturiers and the petites mains workshops. To have taken the couture to Berlin
would have meant moving hundreds of ateliers, and so the führer's plan was
thwarted13. (MARTIN E KODA, 1995, p. 73).
11 Embelezamento e acessórios são adicionados de forma incremental, como a decoração aplicada, muitas vezes
a partir de fontes de fora da casa de alta-costura. [Tradução elaborada pelo autor]
12
Ofícios.
13
Quando Lucien Lelong, presidente da Chambre Syndicale durante a guerra, foi contestado pelas autoridades
nazistas para o transporte da alta-costura para Berlim na década de 1940, ele argumentou que tal mudança era
impossível por causa da sinergia entre os costureiros e as oficinas de petites main (pequenas mãos). Para ter
tomado a couture para Berlim teria sido necessário o deslocamento de centenas de ateliês, e assim o plano do
Führer's foi frustrado. [Tradução elaborada pelo autor]
30
peça couture de uma roupa prêt-à-porter, e isso não é um mero acréscimo de luxo, mas um
valor essencial empregado à peça de vestuário (SHAEFFER, 2011).
que a prática de luxo continue a ser sustentada pelas habilidades manuais que tratam, em si,
de mestria, sutileza, e etiqueta (MARTIN e KODA, 1995).
Ilustramos essas horas de trabalho com o caso de um vestido de noite que apresenta
uma silhueta trapézio, resultante da aplicação de uma rígida estrutura formada por uma
esvoaçante gaiola. Contendo um trabalho em bordado cintilante aplicado em uma superfície
transparente, “[…] from the earliest works at the house of Dior through the designer's
accomplishments in his own house, Saint Laurent has practiced and perfected this modernist
wielding of couture construction and proficiency to seem wholly unfettered”14 (MARTIN E
KODA, 1995, p. 90) (vide Fig. 3):
14
Desde as primeiras obras na casa de Dior através das realizações do designer em sua própria casa, Saint
Laurent tem praticado e aperfeiçoado este modernista manejo de construção de Alta-costura e proficiência para
parecer totalmente sem restrições. [Tradução elaborada pelo autor]
32
O trabalho empregado nesta rede de seda da Figura 3 e seus babados é uma prova da
habilidosa percepção estética de Chanel, que muito embora tenha difundindo uma estética
com forte influência da alfaiataria masculina, “was not oblivious to the beautiful benefits of
the virtuoso hand-sewn details of the couture”15 (MARTIN E KODA, 1995, p. 99):
15
Não era alheia ao belos benefícios dos virtuosos detalhes costurados à mão na alta-costura.[Tradução
elaborada pelo autor]
33
A segunda definição sobre acabamento que será explorada nesse trabalho, diz respeito
ao modo como a roupa será acabada durante o processo de confecção (FISCHER, 2010).
Mussi (2009, p. 370) classifica esse modo de finalização da peça de vestuário como “proteção
das beiradas da margem de costura ou do pedaço do tecido para que não desfie”, Fischer
(2010, p. 178) acrescenta que tais técnicas e métodos, são empregados em “costuras e
bainhas”. Assim sendo, acabamentos são partes essenciais no vestuário; trata-se da finalização
ou pré-finalização de uma roupa e irá afetar diretamente a estética e o toque. São diversos os
modos e técnicas empregadas para acabamentos, e envolve conhecimentos prévios sobre
fechamentos, forros e comportamentos do tecido, e seu uso abrange boa parte da construção
do vestuário em diferentes setores da produção (FISCHER, 2010).
Hems, facings, and bindings are all edge finishes, but each has a slightly different
function. Hems are used on the lower edges of a garment or garment section (like a
sleeve) and may help the garment hang attractively by adding weight to the edge.
Facings, on the other hand, are most often applied to the upper and vertical edges of
a garment. Bindings can be used on upper, lower, or vertical edges, but they are used
more often to replace facings rather than hems. 16 (SHAEFFER, 2011, p. 64)
“Barras, Vistas, e debruns são todos os acabamentos de borda, mas cada um tem uma função ligeiramente
diferente. Barras são usadas nas bordas inferiores de uma peça de vestuário ou seção de vestuário (como uma
manga) e pode ajudar a roupa a cair atraente, adicionando peso para a borda. Vistas, por outro lado, são mais
frequentemente aplicados às bordas superior e vertical de uma peça de vestuário. Debruns podem ser usados em
35
Figura 5: Debrum (Hong Kong) e bainha plana: base para alguns dos principais acabamentos
em couture
bordas superior, inferior ou vertical, mas são usados mais frequentemente para substituir as vistas do que as
barras”. Shaeffer (2010, Tradução livre do autor).
36
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Envolto a atender as propostas definidas nos objetivos gerais e específicos, buscou-se
por meio da pesquisa bibliográfica, onde segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 186) permite
“que se estabeleça um modelo teórico inicial de referência, da mesma forma que auxiliará na
determinação das variáveis e elaboração do plano geral da pesquisa”, e ajudou situar a
historicidade pertinente ao entendimento da alta-costura e os processos na construção,
desenvolvimento e contribuições que esta provocou no sistema de moda e em toda a cadeia
produtiva de vestuário, com ênfase às técnicas e tecnologias empregadas.
Nosso estudo se caracteriza de base exploratória, pois segundo Leão (2007, p.3), “Os
estudos exploratórios têm como principal característica a informalidade, a flexibilidade e a
criatividade, e neles procura-se obter um primeiro contato com a situação a ser pesquisada ou
um melhor conhecimento sobre o objeto em estudo”. Segundo o autor, esses estudos podem
ser efetuados a partir de dados secundários. Assim, de modo a direcionar o processo de
identificação, seleção e amostragem em forma de passo-a-passo dos acabamentos, para além
das pesquisas documentais, utilizamos como referência a obra da escritora estadunidense,
Claire Shaeffer, por ser uma das poucas que exploram o know how do universo da alta-costura
com maestria.
define no ato de refilar, o tamanho das bordas, anteriormente a essa tarefa (a depender da peça
a ser confeccionada) as marcações de costura são realizadas com o ato de alinhavar no tecido.
Como a tendência do tecido, de um modo geral, é a de desfiar, é necessário um tratamento de
finalização para que, com a manipulação, uso e lavagem da vestimenta, não ocasione o
desgaste do tecido e consequentemente da peça de vestuário. Na couture, existem duas
maneiras de executar esse acabamento que são o chuleio e o debrum.
4.1.1 O Chuleio
A técnica de chulear à mão, é o processo de acabamento mais usado e mais demorado
(e também o mais caro) na alta costura, pelo fato de possibilitar uma aparência lisa, suave e
menos provável de mostrar ou marcar do lado de fora - lado direito da roupa. Na atualidade,
algumas salas de trabalho de alta-costura, passaram a admitir o uso de uma estreita costura de
ziguezague à maquina nas margens das peças, ou ainda, o acabamento das bordas em
overloque, a fim de diminuir despesas e agilizar o tempo de construção (Vide Fig.6).
Figura 10: Margem de costura encadernada com chiffon de seda cor nude.
4.2.1 Barra
Os acabamentos de barra de um modo geral contemplam as bainhas de peças como
blusas e saias, mas diz respeito também à cavas, por exemplo. O acabamento barra pode ser
efetuado por meio do acabamento de bainha plana, bainha de costura dobrada, bainha
enrolada à mão e bainha tombada, conforme explorados a seguir. No quadro 4 apresentamos
as características gerais desses acabamentos.
Existem duas maneiras de segurar o vestuário para abainhar (Fig. 13, (a) e (b) da
esquerda para a direita):
Figura 13: Modo de segurar o vestuário para abainhar: (a) posição para abainhar tecidos que
não enrugam); (b) posição para abainhar tecidos que enrugam.
4.3 Vistas
Outro modo de finalizar bordas do vestuário que ao contrário das barras que pendem
fora do corpo, as vistas moldam-se à forma do corpo e afetam sutilmente a silhueta do
vestuário. Esse acabamento é comum em aberturas de vestuário e bordas curvas e moldadas, e
seu uso dar-se principalmente em bordas superiores do vestuário e resulta em peças de
vestuário bem construídas.
48
As vistas são divididas em três tipos, na qual duas são cortadas à parte do vestuário
(separadas e viés), no geral em tecidos leves e o outro tipo denominadas estendidas, na qual o
corte é feito como uma extensão da seção do vestuário a exemplo das bainhas planas.
Em alta-costura frequentemente uma vestimenta ou uma única borda é elaborada com mais de
um tipo de vista. Abaixo são apresentadas informações gerais pra cada tipo de vista e seu uso
em alta-costura (vide fig. 17):
Figura 17: Vestido da década de 1950 de Hardy Amies. Decote escamado, cintura caída e
saia cheia. O decote termina com revestimentos separados.
e adaptados de modo a encaixar no desenho da roupa. Esse tipo de vista pode ser facilmente
adaptado para um revestimento menor ou um forro (vide, fig. 18):
Figura 18: Aplicando vista à mão, de cima para baixo: (a) aplicando na parte da frente do
vestuário; (b) aplicando na parte das costas do vestuário.
Figura 19: Formato de vistas, da esquerda para direita: (a) vista circular; (b) vista retangular.
Figura 20: Vestido de seda desenhado por Cristobal Balenciaga na década de 1950. Uma
vista larga finaliza o decote e a cava.
Bainha plana (vide, pág. 42) constitui exemplo claro para entendimento de como
proceder com esse tipo de acabamento, que também é muito usado em decotes e em bordas
destinadas a ter uma aparência nítida e construída, e também em bordas fendidas.
52
4.4 Debruns
Debrum é o tipo de acabamento mais versátil e adequado para quase todas as bordas.
Sua constituição é baseada em uma tira de tecido, que é costurada pelo lado direito de uma
borda, é envolvida ao redor da borda, na qual é assentada na parte inferior. O corte do debrum
em viés (ângulo de 45º em relação à linha longitudinal) permite a manipulação e o molde do
mesmo em bordas curvas, também sua aplicação em tecidos transparentes, tecidos de face
dupla, e em vestuário reversível e sem forro é frequente, pois possibilita um olhar limpo e
elegante em ambas as partes do vestuário. Também pode ser cortado no sentido do fio de
modo a compor projetos que pedem bordas retas realçando-os. A depender do tipo de tecido,
os valores de largura dos debruns concluídos, podem variar, mas de modo geral seguem-se as
medidas estabelecidas abaixo:
As tiras de debruns podem ser feitas com uma camada (mais flexível) ou duas
camadas (duras e espessas) que atendem a diferentes projetos em diferentes tecidos de pesos
leves ou pesados e volumosos. No geral, o debrum é confeccionado com o mesmo tecido do
vestuário a qual será trabalhado, mas pode sofrer variações. A execução dos pontos de
costura em debruns pode ser feitos inicialmente à mão ou máquina e a borda em bruto é
coberta no ato do revestimento.
Figura 23: Da esquerda para a direita: (a) Preparando a tira de debrum; (b) Costura de
vestuário sobre tira de debrum; (c) Finalizando o debrum.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse estudo, a historicidade sobre o desenvolvimento do sistema de produção em
alta-costura, tornou possível o entendimento sobre diferentes momentos da linha do tempo
que configuraram profundas mudanças sob as estruturas que configuram as engrenagens da
moda e suas nuances frente às novas realidades de cunho tecnológico e humano.
Enquanto ápice do sistema de moda, a alta-costura, apesar de não ser lucrativa por si, é
fomentadora do savoir-faire que destila influência estética e técnica para a vasta rede de
componentes que integram a indústria da moda.
De modo a atender aos objetivos pretendidos pelo estudo, fora exposto um breve
passa-a-passo de algumas das principais técnicas de acabamentos próprio do construto da
couture, que tornou possível o entendimento pormenorizado sobre o acabamento pretendido.
A compilação de acabamentos inferida trouxe uma pincelada sobre as possibilidades de uso e
aplicação, no entanto, não buscou ser um guia de referência, mas sim, um promotor sobre a
necessidade de expansão sobre conhecimentos de diferentes procedimentos utilizados em
setores do design de moda que carecem de estudos e difusão, à exemplo da alta-costura e
alfaiataria.
Por fim, na pesquisa fica evidente que o estudo dos diferentes tipos de acabamentos,
seja em costuras de união ou em bordas, expande as possibilidades sobre o modo de se
desenvolver um vestuário com maior perspicácia, ao mesclar diferentes métodos, como à
costura à mão (quase inexistente na atualidade) e à máquina, instigando assim, o designer a
aumentar o leque de possibilidades em acabamentos e finalização de uma peça de vestuário
com qualidade e valor de design.
56
REFERÊNCIAS
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BRAGA, João. História da moda. 8. Ed. – São Paulo: Anhembi Morumbi, 2009.
CALLAN, Georgina O´Hara. Enciclopédia da moda de 1840 à década de 90. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
JONES, Sue Jenkyn. Fashion design: manual do estilista. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
MARTIN, Richard; KODA, Harold. Haute Couture. East Greenwich: Meridian Printing
Company, 1995.
MENDES, Valerie D. DE LA HAYE, Amy A moda do século XX. 2. Ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2009.
MUSSI, Alessandra. A bíblia da costura: o passo a passo de técnicas para fazer roupas e
acessórios. [Tradução: Alessandra Mussi... et al.], Rio de Janeiro: Reader´s Digest, 2009.
SHAEFFER, Claire, B. Couture sewing techniques. United States of America: The Taunton
Press, 2011.
SHAEFFER, Claire, B. Couture sewing: the couture cardigan jacket : sewing secrets
from a Chanel collector. United States of America: The Taunton Press, 2013.
STEELE, Valeire. Encyclopedia of Clothing and Fashion. Vol. 1 - Thomson Gale, United
States of America, 2005.
MARRA, Heloísa. Homenageada da SPFW, 'vulcão' Bethy Lagardère expõe coleção de alta-costura.
Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,MUL1197708-7084,00.html>
Acesso em: 10 jul 2014.