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Cultura Documentos
2
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-65-00-68324-0
23-153777 CDD-373.011
Índices para catálogo sistemático:
3
Anais do I Colóquio da Rede de Pesquisa em Políticas para o Ensino Médio
Katharine Ninive Pinto Silva (org.)
Financiamento:
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq);
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFPE)
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
ISBN 978-65-00-68324-0
Comissão Científica:
Anderson Gois Marques da Cunha (UFPE); André Henrique Batista da Silva (UFPE); André Luís Gonçalves
Pereira (IFPE/UFPE); Antonio Marcos da Conceição Uchoa (IFSertãoPE); Doriedson do Socorro
Rodrigues(UFPa); Jaqueline Maria do Nascimento (Secretaria de Educação de Pernambuco); José
Mawison Cândido de Lima (Rede Estadual de Pernambuco); José Nildo Alves Caú (IFPE); Joseane Maria
da Silva Santos (IFPE); Luís Felipe da Silva (Rede Estadual da Paraíba); Paulo Ricardo Pereira (IFPE);
Sayarah Carol Mesquita dos Santos (UFPE); Sérgio João da Silva (UFPE); Sulamita Bernardo de
Albuquerque (UFPE); Tatianne Amanda Bezerra da Silva (UFPE); Thamyrys Fernanda Cândido de Lima
(UFPE).
Comissão Organizadora:
Fábio Raí Bernardo Hentringer (UFPE); Guilherme Antonio Colaço da Silva(UPE); José Nildo Alves Caú
(IFPE); Katharine Ninive Pinto Silva (UFPE); Sayarah Carol Mesquita dos Santos (UFPE); Thamyrys
Fernanda Cândido de Lima (UFPE).
Arte da Capa
Sob responsabilidade dos organizadores do Evento
Revisão Textual
Sob a responsabilidade dos autores
4
SUMÁRIO
Título Autor(es) p.
Apresentação 08
5
13 Impactos na formação das juventudes do José Nildo Alves Caú; Gabriela 70
IFPE – experiência do II Festival de Cultura Anita de Almeida da Silva; Laura
Corporal de Lima Parente
14 Implementação do Novo Ensino Médio no Gercilene da Silva de Souza; Si- 75
Estado da Bahia: regulamentações e princí- mone Leal Souza Coité; Gabri-
pios legais em discussão ela Sousa Rêgo Pimentel
15 O Ensino Médio e a Política de Educação Paulo Bruno José Ferreira de 80
Integral em Pernambuco: uma política pú- Brito; José Mawison Cândido de
blica consolidada? Lima
16 O lugar do letramento literário na BNCC do Karen Fava Fraga 86
Ensino Médio
17 O que vem depois do Ensino Médio? Refle- Hadislayne Karine dos Santos; 91
xões acerca do projeto levando ciência nas Juliane Carla Guedes Lima da
escolas Silva; Allana Graziela Casé; Ma-
yara Bernardo Silva
18 Os desafios do “Novo Ensino Médio” na Alberto Guerra de Lima 96
Prática Docente de uma escola integral
19 Os impactos das Políticas Educacionais Sérgio João da Silva; Ramon de 102
“Modernizantes” no Estado de Pernambuco Oliveira
sobre as condições do Trabalho Docente
20 Os itinerários formativos do Novo Ensino Renan Fernando Coelho; José 107
Médio das escolas públicas de Pernam- Mawison Cândido de Lima
buco e São Paulo
21 Os Reformadores Empresariais da Educa- José Mawison Cândido de Lima; 115
ção: o alvo é o “Novo Ensino Médio” Thamyrys Fernanda Cândido de
Lima; Sayarah Carol Mesquita
dos Santos
22 Participação e a ampliação das possibilida- José Nildo Alves Caú; Philipe 121
des de conhecimentos em Esporte e Lazer Michel Silva Soares; Caio Gui-
– materialização do II Festival de Cultura lherme Lopes Reis
Corporal
23 “Pensar, planejar, empreender!”: o empre- Jefferson Cândido de Carvalho; 126
endedorismo nas escolas da Rede Esta- Maia Maiara Barbosa Pinheiro
dual de Ensino Médio de Iguatu/Ceará
24 Políticas de Responsabilização/Accountabi- Divane Oliveira de Moura Silva; 131
lity Educacional no Ensino Médio Pernam- Janini Paula da Silva; Kátia
bucano: uma revisão bibliográfica integra- Silva Cunha
tiva
25 Políticas Públicas Educacionais e o Projeto Ruan Carlos Fernandes da Silva 137
de fortalecimento de vínculos
6
28 Público e privado no Ensino Médio amazo- André Henrique Batista da Silva 154
nense: uma análise prévia à implementa-
ção do Novo Ensino Médio
29 Qual o espaço da educação física escolar Hugo Felipe Tavares Ramos 159
no Novo Ensino Médio Pernambucano?
30 Reflexão sobre as aulas de educação física Andreza Michella Cardoso Nery; 164
no ensino médio integrado do IFPE – Cam- Joyce Kelly da Silva Oliveira;
pus Recife Sarah Ellen de Lima Monteiro
31 Reforma do Ensino Médio: Desprofissionali- Rosângela Cely Branco Lin- 168
zação do Trabalho Docente doso; Aline Marília Pereira da
Silva; Laurecy Dias dos Santos
32 Repercussões nas práticas formativas, no José Nildo Alves Caú; Petrúcio 173
cotidiano das juventudes do IFPE durante a Venceslau de Moura; Lorena de
Pandemia por COVID Lima Parente
33 Representação Corporal: um olhar sobre Aline Marília Pereira da Silva; 179
corpo através dos discentes do IFPE – Edson José da Silva; José Jorge
Campus Recife dos Reis Filho; Márcio Alexan-
dre da Silva Oliveira.
34 Roda de Conversa sobre Capoeira: uma Jamerson Souza de Santana; 183
perspectiva da Prática Pedagógica nas au- Alexsander Soares da Silva;
las de Educação Física Jéssica da Silva Nascimento
35 Trabalho Docente no Novo Ensino Médio: Karla Rossana Rodrigues de 189
reflexões Souza
ANEXO – Programação completa do I 196
Colóquio da Rede de Pesquisa sobre
Políticas para o Ensino Médio (REPPEM)
7
APRESENTAÇÃO
A Rede de Pesquisa sobre Políticas para o Ensino Médio (REPPEM) realizou seu I
Colóquio, no período entre 9 e 11 de maio de 2023, como parte das atividades planejadas
em torno da realização da pesquisa “O Novo Ensino Médio na Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica e nas Escolas Técnicas Estaduais dos estados do
Ceará, Pará e Pernambuco – desafios para o trabalho docente e para a formação da
juventude” (financiada pela Chamada CNPq/MCTI/FNDCT nº 18/2021 – Faixa B – Grupos
Consolidados).
A pesquisa é coordenada pela Profª Drª Katharine Ninive Pinto Silva (Grupo
GESTOR – Pesquisa em Gestão da Educação e Políticas do Tempo Livre/UFPE) e pelos
seguintes pesquisadores/doutores: Jamerson Antonio de Almeida da Silva (Grupo
GESTOR – Pesquisa em Gestão da Educação e Políticas do Tempo Livre/UFPE);
Ronaldo Marcos de Lima Araújo; Doriedson do Socorro Rodrigues (GPTE – Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e Educação/UFPA); Ramon de Oliveira
(Qualificação Profissional e Relações entre Trabalho e Educação/UFPE); José Nildo
Alves Caú (Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais: Educação Física,
Esporte e Lazer/ IFPE); John Mateus Barbosa (LEPPEM – Laboratório de Estudos,
Pesquisa e Extensão no Ensino Médio/ IFCE).
O I Colóquio da Rede de Pesquisa sobre Políticas para o Ensino Médio foi realizado
no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Pernambuco (IFPE) – Campus
Recife, uma das instituições envolvidas na pesquisa e contou com o apoio, além do CNPq
e do IFPE, da Universidade Federal de Pernambuco viabilizando a participação da
Conferencista Rebecca Tarlau, da Universidade da Pennsylvania, através de convênio
com esta instituição.
Nestes Anais do I Colóquio, constam 35 Resumos Expandidos que nortearam 6
sessões temáticas sobre as Políticas para o Ensino Médio que mobilizaram os debates
através de Relatos de Experiências e de Relatos de Pesquisas (concluídas ou em
andamento). Os Resumos Expandidos estão organizados através de ordem alfabética
dos títulos, no sumário. Como anexo temos a Programação Geral desse primeiro evento,
incluindo as Conferências e Mesas Redondas que serão posteriormente sistematizadas
em e-book.
8
1. A IDENTIDADE DUALISTA NA HISTÓRIA DO ENSINO MÉDIO BRASILEIRO
RESUMO
Busca-se demonstrar como a característica da dualidade se faz presente na trajetória do
Ensino Médio brasileiro, culminando com a implementação do Novo Ensino Médio
instituído pela Lei nº 13.415/2017. Utilizou-se pesquisa bibliográfica para fins de análise.
Identifica-se que o Ensino Médio brasileiro tece historicamente uma identidade dualista,
entre formação de caráter propedêutico, ampla e orgânica para a classe dominante e
formação produtiva e instrumental para a classe trabalhadora, sendo o atual modelo de
ensino reforçador desse dualismo classista e disseminador de uma formação cada vez
mais precária para a classe trabalhadora.
Palavras-chave: Ensino Médio; Dualidade; Lei nº 13.415/2017.
9
esse objetivo. Com o processo de industrialização, nascem também as forças externas
dentro do capitalismo internacional em expansão que irão impor novas necessidades
sociais, dentre elas, a “preparação dos trabalhadores a qual se inicia com a educação
escolar básica e se estende com os cursos profissionalizantes e superiores” (SILVEIRA,
2014, pp. 91-92).
A criação do Ministério da Educação e Saúde Pública (1930), e os atos normativos
que ficaram conhecidos como “Reforma Francisco Campos”, de acordo com Silveira
(2014), marcam o início do momento em que a educação começa a ser pensada como
uma questão nacional. Já na década de 1940, com as “Leis Orgânicas do Ensino”, são
estruturados, de um lado, a educação propedêutica em primário e secundário e, do outro
lado, o ensino técnico-profissional (industrial, comercial, agrícola e normal), o que acabou
estruturando a dualidade educacional na medida em que não permitia aos estudantes da
educação profissional o prosseguimento aos estudos superiores. De acordo com Santos,
Carvalho e Oliveira (2019, p. 110), a chamada Reforma Capanema da Ditadura Varguista
inibia a “participação das classes mais baixas no ensino secundário e, por conseguinte, a
educação profissional não recebia o investimento e zelo necessário, limitando-se ao
ensino comercial que não dava acesso ao ensino superior”.
O marco da dualidade educacional nesse momento se expressa no arranjo entre
um modelo formativo para o ingresso nos cursos superiores destinados às elites e outro
modelo mais restrito ao caráter profissional para a classe trabalhadora. Porém, com a
promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), na Lei
nº 4.024/1961:
10
A aprovação da segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n°
9.394/96, foi resultado de diversas influências políticas, sociais e econômicas do
neoliberalismo às correntes mais progressistas. No campo progressista, se tentou
articular a formação do Ensino Médio com a formação para o trabalho numa concepção
que entendia a atividade laboral como intrínseca à vida humana e que, assim, não poderia
estar separada dela.
Porém, sob a hegemonia do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso
(FHC), foi estabelecido o Decreto n° 2.208/97 que legitimava a dualidade educacional ao
separar a educação profissional do Ensino Médio. De todo modo, o Ensino Médio na
política educacional do governo de FHC se pautava nas transformações decorridas do
processo de reestruturação produtiva em resposta à crise da década de 1970, alinhando-
se às políticas neoliberais em ascensão nesse período no Brasil e orientanda pelos
organismos internacionais. Expressos no Relatório Delors (1998) e o documento da
Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) Educación y conocimiento: eje de
la transformación productiva, que visava atender aos interesses do capital em escala
internacional, segundo a análise de Ferretti e Silva (2017).
No início do governo de Lula (2003-2010), as discussões em torno da educação e
do trabalho tomaram outros rumos, no sentido de uma mudança de orientação das
políticas educacionais que eram mantidas com base na dicotomia entre formação,
qualificação e certificação para o trabalho (FERREIRA, 2017). Ainda que tenha
perpetuado até os dias de hoje a estrutura de classe e suas desigualdades que
influenciam a educação e reproduzem um modelo de ensino fundado nessa dualidade,
especialmente no Ensino Médio.
No começo do governo petista, se instituiu o Decreto n° 5.154/2004 que além de
regulamentar a educação profissional no Brasil, também visou integrar e articular essa
modalidade com o Ensino Médio, na tentativa de superação da dualidade.
No governo petista foi implementado também o Programa Ensino Médio Integrado
e o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica
na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja), ambos os programas tendo
por princípio pedagógico uma instrução politécnica, almejando uma formação mais
integral dos indivíduos. Outro programa criado foi o Ensino Médio Inovador, em 2009, com
o objetivo de apoiar e fortalecer os sistemas estaduais de educação na adoção de
propostas curriculares inovadoras nas escolas de Ensino Médio.
Também tivemos a publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino
Médio (DCNEM), em 2012, e no mesmo ano as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Profissional Técnica de Nível Médio, o Plano Nacional de Educação
(PNE/2001-2010), o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) e o Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB), ambos em 2007, e o atual PNE (2014-2024) do governo Dilma,
fruto de debates entre diversos segmentos da sociedade civil e da realização da
Conferencia Nacional de Educação (CONAE), em 2014.
Apesar de importantes avanços na política educacional nos governos do Partido
dos Trabalhadores, a exemplo do Decreto n° 5.154/2004 (articulação do Ensino Médio
com a educação profissional), do FUNDEB (garantia de recursos financeiros para os
estados e municípios) e do atual PNE (desenvolvimento de uma política que amplia o
acesso e conclusão dos jovens no Ensino Médio – exemplo da meta 3), o caráter
estrutural das desigualdades educacionais não desapareceu nesses governos, mas se
manteve intacto, ainda que com programas e políticas que buscassem diminuir os
impactos severos dos determinantes sociais no cenário educacional.
11
Desse modo, a marca da dualidade educacional brasileira entre formações
distintas para a classe trabalhadora e para as classes dominantes, vem atravessando o
século XX até os dias atuais.
O Novo Ensino Médio foi implementado no governo de Michel Temer (apesar das
propostas de reformulação dessa etapa serem germinadas desde o governo de Dilma
Rousseff, na gestão do Partido dos Trabalhadores), com a participação principal do
empresariado industrial e financeiro e dos representantes dos órgãos gerenciais e
burocráticos da educação brasileira, implementaram uma reforma que toca na concepção,
nos princípios e na organização do currículo do Ensino Médio, ajustado às dinâmicas
laborais do capitalismo na contemporaneidade. Com base nos estudos de Motta e Frigotto
(2017), ao invés da reforma propiciar um caráter mais integrado, amplo e pleno na
formação das juventudes, a fim de garantir uma escolarização sólida e rica de
conhecimentos, estabelece-se uma reforma que empobrece o currículo, secundariza
conhecimentos fundamentais na formação humanística e crítica dos sujeitos e expande
uma educação de caráter tecnicista, que atinge, sobretudo, as escolas públicas com seu
público majoritariamente oriundo da classe trabalhadora.
Nesse sentido, o Novo Ensino Médio se trata de uma contrarreforma no bojo das
políticas educacionais que se alinha às demandas produtivas e ideológicas do capitalismo
em sua fase atual, que propaga e necessita de trabalhadores mais flexíveis, polivalentes,
produtivos e subjetivamente adaptados aos processos de exploração e precarização do
labor, para fins de elevar as taxas de lucro dos capitalistas.
Nesse sentido, a escola é um lócus fundamental para disseminar as ideologias
dominantes e fazer com que os jovens, principalmente do Ensino Médio, tenham uma
formação dirigida para o mercado, em tempos que imperam a organização produtiva de
caráter mais flexível e ao mesmo tempo mais precária.
De todo modo, observa-se no marco histórico do século XX aos governos petistas,
que a oferta do Ensino Médio no Brasil é bastante marcada pelo seu caráter dualista no
que se refere à formação dos estudantes de classes sociais antagônicas. Não é algo
recente na história da educação brasileira, mas possui uma raiz que se alastra ao longo
das décadas e que tem seu fundamento nas sociedades de classe, especialmente no
modo de produção capitalista que baseia a sua organização na divisão social do trabalho
e influencia de modo dicotômico a educação, bem como reforça os abismos sociais de
acordo com o posicionamento de classe que os indivíduos são provenientes.
Portanto, pensar a dualidade educacional no contexto inicial do século XX para os
dias atuais, por exemplo, não significa conceber a dualidade do mesmo modo. Porquanto,
no início do século XX, a imposição se dava para formar trabalhadores para a expansão
da modernização e industrialização que ocorria no país, enquanto os filhos das classes
dominantes recebiam uma educação estritamente propedêutica. Já na
contemporaneidade, é possível observar que se mantém a dualidade entre formações
educacionais diferenciadas de acordo com as relações sociais de classe; no entanto, os
tipos de formações ofertadas, principalmente para a classe trabalhadora, não se eximem
dos impactos do desemprego estrutural e dos trabalhos cada vez mais flexíveis,
temporários, informais e precários, latentes em nosso tempo.
REFERÊNCIAS
12
FERREIRA, Eliza Bartolozzi. A contrarreforma do Ensino Médio no contexto da nova
ordem e progresso. Educação e Sociedade, Campinas, v. 38, n. 139, p. 293-308,
abr./jun., 2017.
FERRETTI, Celso João; SILVA, Monica Ribeiro da. Reforma do Ensino Médio no contexto
da medida provisória n° 746/2016: Estado, currículo e disputas por hegemonia. Educação
e Sociedade, Campinas, v. 38, n. 139, p. 385-404, abr./jun., 2017.
KRAWCZYK, Nora; FERRETTI, Celso João. Flexibilizar para quê? Meias verdades da
“reforma”. Retratos da Escola, Brasília, v. 11, n. 20, p. 33-44, jan./jun., 2017.
MOTTA, Vânia Cardoso da; FRIGOTTO, Gaudêncio. Por que a urgência da Reforma do
Ensino Médio? Medida provisória n° 746/2016 (Lei n° 13.415/2017). Educação e
Sociedade, Campinas, v. 38, n. 139, p. 355-372, abr./jun., 2017.
13
2. A INFLUÊNCIA DA NOVA GESTÃO PÚBLICA NAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO
EM PERNAMBUCO: UM OLHAR SOBRE OS INDICADORES EDUCACIONAIS DO
ENSINO MÉDIO ESTADUAL
RESUMO: Este trabalho tem por objetivo analisar os impactos da Nova Gestão Pública
(NGP) na educação básica do estado de Pernambuco no período 2000-2018. Para isto,
escolhemos fazer uma análise que adotou, especialmente, técnicas quantitativas de
coleta e análise de dados. Os procedimentos foram divididos em duas etapas, a primeira
foi uma revisão bibliográfica e a segunda foi à análise dos dados secundários.
Construímos uma linha do tempo contendo as principais iniciativas institucionais
alinhadas a NGP, a partir do portal AlepeLegis, para avaliar a adesão dos gestores
públicos a esta modalidade de gestão. Além disso, também construímos, e analisamos,
os indicadores da rede estadual de educação básica a partir da Sinopse do Censo
Escolar, disponibilizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (INEP) para identificar a influência da gestão sobre os indicadores. Sendo
assim, percebemos que o arcabouço institucional criado por uma elite técnica dos
gestores estaduais alinhados à NGP influenciou uma melhora quantitativa dos indicadores
educacionais. Porém, ao aprofundarmos a análise dos indicadores referentes aos
docentes, percebemos que, ao contrário dos demais indicadores analisados, o impacto
positivo da NGP é menor e tende a ser negativo para os professores quando comparado
com os números do Brasil.
Palavras–chave: Nova Gestão Pública; Trabalho Docente; Educação; Indicadores
INTRODUÇÃO
3 Mestrando
do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco
(PPGEdu/UFPE); e-mail: matheus.mcavalcanti@gmail.com
14
mapeamos as atitudes institucionais ligadas à NGP construímos uma linha do tempo e
entendemos que a entrada do Partido Socialista Brasileiro (PSB) em 2007 como ponto de
inflexão da implementação da NGP em no estado.
Por isso, este trabalho teve por objetivo analisar os impactos da Nova Gestão
Pública na educação básica do estado de Pernambuco no período 2000-2018. E
concluímos que a implementação da NGP se deu a partir de um arcabouço técnico
legislativo, de cima para baixo, baseado em três pilares: a bonificação, o foco na avaliação
e a implementação da escola em tempo integral com bons resultados, em detrimento dos
indicadores da classe docente.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
RESULTADOS/ DISCUSSÕES
15
orientada pelas “demandas individuais e necessidades sociais de mão-de-obra” (LAVAL,
2004. p.89) se instala, se instala concomitantemente, as iniciativas de privatização da
educação, seja em stricto sensu com a oferta de vouchers (FREITAS, 2018) ou em lato
sensu, com a difusão de estratégias de gestão orientada para a necessidades do mercado
(LIMA, 2018) e a gestão por resultados (NORMAND, 2019).
Estados nacionais, principalmente aqueles que não tiveram acesso ampliado ao
Estado de Bem-estar social, adotaram o regime de Nova Gestão Pública no campo da
educação, implementando os sistemas de avaliação e direcionando as políticas
educacionais5 em direção às políticas de accountability6 que afetam não só a gestão, mas,
também, o trabalho docente.
No caso de Pernambuco, estado brasileiro analisado neste trabalho, a
implementação gradual de políticas alinhadas à mudança de gestão pública se relaciona
com as mudanças estruturais das décadas de 1980 e 1990 e a ascensão do
neoliberalismo brasileiro, com tímidas, mas presentes, inspirações neoliberais na gestão
educacional pernambucana, tendo o seu auge e ponto de inflexão a mudança de gestão,
quando o Partido Socialista Brasileiro (PSB) é empossada no ano de 2007.
Entre as diversas iniciativas legislativas do campo educacional alinhadas às
noções empresariais da NGP de 2000 a 2018 (FIGURA I), destacamos: programas de
bonificação para profissionais da educação (Lei n.13.486/2008; Lei n. 14.514/2011; Lei n.
15.973/2016); condiciona a distribuição de recursos aos resultados das avaliações (Lei n.
13.368/2007); estabelece a obrigatoriedade da publicização dos índices alcançados nas
avaliações de larga escala por unidade escolar (Lei n. 14.602/2012); e institui premiação
para municípios com melhores resultados nas avaliações em larga escala (Lei n.
14.923/2013). Observar a Figura 1 no final do texto.
Segundo Duarte (2019), a gestão educacional por desempenho, que tem por base
a NGP, em Pernambuco, teve a sua implementação verticalizada, de cima para baixo, e
assegurada por um denso arcabouço institucional. Consideramos que existem, neste
conjunto de iniciativas institucionais, três principais pilares que sustentam essa estrutura
jurídica que permite tanto a propagação quanto o relativo sucesso dessa gestão, são eles:
O Bônus de Desempenho Educacional (BDE) instituída pela Lei nº 13.486 e a cultura de
premiação; as políticas de propaganda dos índices e resultados; e o foco na escola em
tempo integral7
O resultado desse arcabouço institucional alinhados a datificação da NGP durante
a gestão do PSB foi uma melhora significativa nos indicadores medidos por avaliações
externas: o IDEB8 do ensino médio público passou de 2,7 em 2005 para 4,4 em 2019,
como mostra o Gráfico 1 (apresentado no final do texto) e o IDEPE9 que passou de 2,6
em 2008 para 4,7 em 2018.
5A sociedade civil enclausurada no privado não pode imputar a generalidade que os interesses e as
instituições estatais parecem servir. Por isso, elas se apresentam como portadoras dos interesses
públicos e, muitas vezes, do universal. As políticas públicas emanadas pelo Estado apresentam-se
como dirigidas por interesse universal, ainda que focalizadas a determinados públicos-alvo. Contudo
essas políticas são resultantes de disputas em que os grupos organizados tentam legitimar como
universal, acima de particularismo, seus próprios interesses (OLIVEIRA, 2010)
6 Na gestão da educação pública, os princípios da NGP traduziram-se, sobretudo, na forma de políticas de
16
As taxas de evasão e repetência do ensino médio público também caíram: Em
2007 a taxa de evasão (Gráfico 2) e repetência (Gráfico 3) era, respectivamente, 25,7%
e 12,9% e em 2018 passaram a ser 7,3% e 5,7% demonstrando uma queda significativa
e vendido como um dos principais desdobramentos da política de NGP, pois é parte
constitutiva do cálculo realizado para a distribuição do BDE.10
Os gráficos apresentados podem nos levar a afirmar, ou concluir, que a
implementação da gestão por resultados, baseados na NGP, é, em certa medida, um
sucesso. Entretanto, quando colocamos dentro desta equação alguns números acerca da
condição de trabalho dos professores da rede estadual, nos deparamos com questões
que merecem atenção.
Pois, quando analisamos os indicadores dos professores, cotejados com os dados
relacionados ao Brasil, a situação torna-se preocupante: em 2018 o Brasil possuía 24,5%
dos professores inadequados, ou seja, lecionando matérias para as quais não possuíam
formação superior e Pernambuco tinha 43,4% (Tabela 1 apresentada no final do texto).
Outro ponto que contribui para a precarização do trabalho docente é o número de
docentes pernambucanos atuando no ensino médio público em modelo de contratação
temporária, o Brasil, no ano de 2018 teve 36,6% dos seus professores do ensino médio
público com contrato temporário, já no estado de Pernambuco esse número chegou a
41,9% dos docentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
17
ANDRADE, D. P. O que é o neoliberalismo? A renovação do debate nas ciências
sociais.Revista Sociedade e Estado – Volume 34, Número 1, Janeiro/Abril 2019
QUADROS/TABELAS/FIGURAS
18
Fonte: Elaboração própria.
19
Fonte: Censos Escolares, INEP. 2008 – 2018
Fonte: Inep, 2013 – 2018. Obs.: Grupo 1: docentes com formação superior de licenciatura (ou bacharelado
com complementação pedagógica) na mesma área da disciplina que leciona; Grupo 2: docentes com
formação superior de bacharelado (sem complementação pedagógica) na mesma área da disciplina que
leciona; o Grupo 3: docentes com formação superior de licenciatura (ou bacharelado com complementação
pedagógica) em área diferente daquela que leciona; o Grupo 4: docentes com formação superior não
considerada nas categorias anteriores; e Grupo 5: docentes sem formação superior.
20
3. A REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, CIENTÍFICA E
TECNOLÓGICA E A EFETIVAÇÃO DA META 10 DO PNE 2014-2024
RESUMO
A Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, aprovou o Plano Nacional de Educação para o
decênio 2014-2024, estabelecendo em relação a educação de jovens e adultos a oferta,
no mínimo, de 25% (vinte e cinco por cento) das matrículas de educação de jovens e
adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional.
Qual o papel da rede federal de EPCT para a efetividade da meta 10 do PNE? O estudo
objetiva apontar elementos que apontem o papel da rede federal de EPCT, no que
concerne a efetivação da citada meta do PNE. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e
documental. Na história do PROEJA a rede federal de EPCT desempenha um papel
estratégico nos termos da legislação.
Palavras-Chave: Plano Decenal de Educação; Ensino Integrado; Educação de Jovens e
Adultos
INTRODUÇÃO
O PROEJA, como apontado, inicialmente era restrito à rede federal, que na época
era composta por Centros Federais de Educação Tecnológica, Escolas Técnicas
Federais, Escolas Agrotécnicas Federais e Escolas Técnicas vinculadas às Universidades
Federais. Posteriormente, o programa foi ampliado pelo Decreto n. 5.840, de 13 de julho
de 2006, extrapolando o âmbito da rede federal de ensino técnico. Alia-se a esses
decretos, a Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, que instituiu a Rede Federal de
Educação Profissional, Científica e Tecnológica, bem como redimensionou a rede,
11
Licenciando em História da Universidade Estadual de Alagoas
21
transformando os antigos Centros Federais de Tecnologia em Institutos Federais de
Educação, Ciência e Tecnologia, dotando-os de natureza específica, a partir da
concepção de Trabalho e Educação inaugurada pelo Decreto nº 5.154, de 23 de julho de
2004, qual seja: educação integrada. Nesse sentido, nos termos da lei, os institutos
federais passam a exercer papel específico nas políticas de educação profissional do
país:
Cabe também destacar que um dos objetivos dos Institutos Federais previsto em
lei, no que concerne à EJA e, ao mesmo tempo, argumento central dessa nossa reflexão
sobre o papel desses na consolidação do PROEJA, decorre do próprio texto da lei:
22
Institucional. Por fim, a Lei nº 11.741, de 16 de julho de 2008, por sua vez, ao revogar o
decreto de 2006 fez desaparecer a obrigatoriedade do percentil mínimo de 10% na oferta
de cursos técnicos integrados, na modalidade EJA, por partes das instituições integrantes
da Rede Federal de EPCT. Assim, no nosso entender, a partir de então, permanece o
dever de oferta da EJA integrada a EPCT no ensino médio, entretanto, sem percentis
mínimos.
Resgatamos aqui a análise de Frigotto (2016) acerca da adesão do ensino médio
integrado no período de 2011 a 2013. Referindo-se àquele momento, o autor aponta que
houve “Um crescimento relativamente pequeno, mas que indica um processo crescente
de adesão” (FRIGOTTO, 2016, p. 67), destacando a rede pública como a protagonista na
implantação do ensino médio integrado.
Assim, o PNE para o decênio 2014-2024, na meta 10, prevê a ampliação da oferta
em 25% (vinte e cinco por cento), no mínimo, das matrículas de educação de jovens e
adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional.
Evidentemente que essa meta é dirigida ao conjunto das instituições e dos sistemas de
educação do país, mas, em larga medida, evoca a participação das instituições federais
especializadas na EPCT, de forma destacada no que diz respeito ao ensino médio
integrado à EJA, por força da natureza e dos objetivos legais dessas instituições. Nesse
contexto institucional, como pano de fundo, permanecem as disputas em torno da escola
unitária e da dual.
Kuenzer (2017) aponta que a partir da aprovação das Diretrizes Curriculares
Nacionais do Ensino Médio, em momento posterior à implantação do PROEJA, formaram-
se dois grupos: (i) os que defendiam a flexibilização dessas diretrizes curriculares,
assegurada a base nacional comum, sob a alegação da rigidez, do caráter disciplinar e
número excessivo de componentes curriculares, além do percurso único instituído pelas
Diretrizes. Esse grupo é representado destacadamente pelo Conselho Nacional de
Secretários da Educação e defendem que os alunos, a partir de sua trajetória e de seu
projeto de vida, o aprofundamento em uma área acadêmica ou a formação técnica e
profissional; (ii) do outro lado, educadores, intelectuais, movimentos populares de
educação ligados à defesa do ensino médio, apontando a proposta de flexibilização como
fragmentária da formação, separando a educação propedêutica e a formação profissional;
além de fragmentar a própria noção de educação básica como uma unidade obrigatória e
comum.
A reforma do Ensino Médio, operada pela Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de
2017, consubstanciou a posição daqueles defensores da flexibilização do Ensino Médio
e, no nosso entender, a retomada do modelo de educação profissional instituído pelo
Decreto nº 2.208, de 17 de abril de 1997, separando a formação propedêutica da
formação profissional, através do chamado ensino médio integral, modulado segundo
itinerários formativos diversos, a partir da oferta pelas instituições de ensino e da demanda
de adolescentes e jovens. Com efeito, a reforma de 2017 não teve grande e direta
repercussão sobre a EJA, mas abriu caminhos para repercussões na EPCT. Ramos e
Frigotto (2016, p. 45) alertam para o alcance da reforma e comentam:
23
econômica e política para a grande maioria dos jovens que pertencem à
classe trabalhadora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
24
FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise (org.). Ensino
Médio Integrado: concepções e contradições. São Paulo: Cortez, 2005.
QUADROS/TABELAS/FIGURAS
25
4. A UBERIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE EM MEIO AO NOVO ENSINO MÉDIO
RESUMO
O presente trabalho buscou investigar o processo de uberização do trabalho docente a
partir da implementação do Novo Ensino Médio. A partir de uma revisão narrativa da
literatura, buscou-se analisar como se configura esse fenômeno e, como esse mecanismo
se estende para os trabalhadores docentes em geral. Do que foi tratado, percebemos que
a partir da inserção dos itinerários formativos e eletivas nas escolas, os docentes tiveram
que se adequar ao rebaixamento curricular como meros prestadores de serviços. Por fim,
compreendemos que essas práticas vêm se intensificando na educação básica e estão
atreladas aos interesses dos reformadores empresariais da educação.
Palavras-chave: Uberização; Trabalho docente; Novo Ensino Médio.
INTRODUÇÃO
26
Em 13 de julho de 2017, o governo brasileiro resolveu alterar as regras
jurídicas das relações de trabalho, modificando grosseiramente a Consolidação das
Leis Trabalhistas, por meio da Lei nº 13.467. Tal medida é tratada por seus autores e
pela mídia como Reforma Trabalhista, condição que aboliu direitos dos trabalhadores,
enfraqueceu a posição do empregado diante do empregador e flexibilizou jornadas
de trabalho. As empresas agora podem contratar funcionários de forma intermitente e
pagar apenas pelas horas que prestam serviços. Não se trata de criação de empregos ou
crescimento econômico. Estamos vendo a economia encolher, o desemprego e a
incerteza se aprofundarem.
Compreendida a lógica neoliberal que está por trás da Reforma do Ensino Médio,
partimos para o ponto crucial de nosso estudo. Como opção ao desemprego,
precarização, baixa remuneração e desprestígio da categoria, intensificados a partir da
supracitada Reforma Trabalhista, a classe docente busca por novas alternativas para se
estabelecer no mercado de trabalho e/ou complementar a renda. Nesse contexto, em
alguns estados do país emergem formas de contratação de professores que manifestam
novas tendências do mundo do trabalho. Entre elas, uma em especial vem sendo
disseminada país afora e apresenta grande chance de expansão para diversos setores,
a uberização. Segundo Abílio (2020), a uberização das relações de trabalho é
compreendida como uma nova forma de precarização, a partir de novas formas de
organização e controle dos trabalhadores. Em geral, está alicerçada no modelo de
negócio intermediado por aplicativos ou plataformas online, mas não se restringe ao meio
digital.
O termo deriva da forma de organização da multinacional Uber e diz respeito a um
novo padrão de gestão, controle e exploração do trabalho humano para extração de mais-
valor. Segundo Antunes e Filgueiras (2020, p. 32), a uberização é um mecanismo no qual
“modos de ser” do trabalho se expandem nas plataformas digitais, onde as relações de
trabalho são cada vez mais individualizadas e invisibilizadas, de modo a assumir
aparência de prestação de serviço”. Conforme Abílio (2020, p. 116), na uberização “o
trabalhador passa a ter seu trabalho utilizado e remunerado na exata medida. Aquele hoje
denominado empreendedor é na realidade o trabalhador solitariamente encarregado de
sua própria reprodução social.” Nessa condição, o trabalhador é apartado de direitos
como benefícios previdenciários, décimo terceiro salário, seguro-desemprego, Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e outras garantias. Nessa espécie de utilização
da força de trabalho, o trabalhador tem a falsa sensação de autonomia e liberdade, no
entanto a empresa detém sua disponibilidade e subordinação. Diante disso, este trabalho
se propõe a investigar o processo de uberização do trabalho do docente a partir da
implementação NEM. Buscou-se analisar como se configura esse fenômeno e, como esse
mecanismo se estende para os trabalhadores docentes em geral.
METODOLOGIA
27
foram encontrados 23 artigos, dos anos de 2017 a 2023, após a leitura dos resumos foram
selecionados 12 trabalhos que subsidiaram o presente estudo. Também foram analisadas
publicações, relacionadas ao tema abordado, dos seguintes jornais e revistas de acesso
público: CartaCapital, Jornal Extraclasse e Revista Trabalho Necessário. Foram
encontradas 21 matérias, após a leitura integral foram selecionadas 16 para nortear o
presente trabalho.
28
Os docentes são incitados a construir eletivas atraentes, atreladas a uma ou mais
áreas do conhecimento. Ou seja, é preciso que o professor arquitete uma disciplina
interessante do ponto de vista de boa parte dos alunos, dado que eletivas com poucos
inscritos não são levadas adiante. Nesse sentido, o educador precisa vender o seu
“produto pedagógico”, que deve ser chamativo e bem elaborado para que os alunos
“comprem” a ideia. Quanto menos requisitado o professor em relação às suas eletivas,
maiores as chances de ser dispensado pela instituição de ensino. É preciso frisar que a
necessidade de totalizar a carga horária exigida também oportuniza a competitividade
entre os docentes da unidade escolar. Segundo Freitas (2014), “a colocação dos
profissionais de educação em processos de competição entre si e entre escolas levará à
diminuição da possibilidade de colaboração entre estes”.
Ainda em relação aos itinerários formativos, de acordo com Li (2016) na falta de
professores para alguns dos componentes curriculares, os sistemas de ensino poderão
optar por não oferecer os “itinerários formativos” que correspondam às áreas de maior
carência de docentes devidamente habilitados para o exercício profissional. Nesse
sentido, o ensino público poderá privilegiar a “formação técnica e profissional” dado que,
nessas condições é autorizada a contratação de profissionais com notório saber. Nada
mais é que uma nova forma de desvalorizar a profissão de docente, uma vez que
permite que profissionais sem formação pedagógica ministrem disciplinas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
29
. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.
LI, L. Para entender a dimensão brutal do desmonte do ensino médio. Rio de Janeiro,
23 set. 2016. Disponível em: https://www.facebook.com/
gilberto.calil/posts/1285429744801649. Acesso em: 18 abr. 2023.
30
5. ANÁLISE DE POLÍTICAS PARA ENFRENTAMENTO E REDUÇÃO DE
INCIDENTES COM ARMAS EM ESCOLAS: um estudo do tipo scoping review
RESUMO
Em cada um dos últimos anos têm ocorrido um incidente significativo em
escolas/instituições de ensino, resultando em tragédias e traumas psicológicos. Esta
pesquisa tem o objetivo de mapear políticas públicas de redução de incidentes com armas
em escolas. Trata-se de uma revisão narrativa usada para sintetizar evidências para
reconhecer e esclarecer os limites conceituais de um campo ou área de pesquisa. A
expressão active shooters school policy foi utilizada para realizar a busca dos artigos no
site Google Acadêmico. Foram encontradas intervenções e políticas voltadas para reforço
da segurança nas escolas, desenvolvimento de habilidades socioemocionais, combate ao
bullying e resolução de problemas e análise de riscos de ataques em escolas. Concluiu-
se que as ações de cunho mais restritivas e ostensivas (como o incentivo à presença de
pessoas armadas em escolas) parecem ser as menos eficientes.
Palavras-chave: Violência com armas de fogo; Atiradores ativos; Escola; Políticas
Públicas
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão narrativa usada para sintetizar evidências para reco-
nhecer e esclarecer os limites conceituais de um campo ou área de pesquisa. Essa revi-
são seguiu os critérios estabelecidos por Levac et al (2010): (1) esclarecer a questão de
pesquisa; (2) identificar estudos relevantes; (3) selecionar estudos; (4) mapear estudos;
(5) resumir e relatar os resultados. A expressão active shooters school policy foi utilizada
31
para realizar a busca dos artigos no site Google Acadêmico. Posteriormente serão utiliza-
dos os seguintes palavras-chave: violência com armas de fogo; atiradores ativos; escola;
políticas públicas e seus correlatos em inglês para a conclusão do estudo.
32
emocianal e habilidades para solução de problemas foram efetivas para a mudança da
cultura estudantil e redução da tensão social na escola (FREY et al., 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BONANNO, Caitlin M.; LEVENSON JR, Richard L. School shooters: History, current
theoretical and empirical findings, and strategies for prevention. Sage Open, v. 4, n. 1, p.
2158244014525425, 2014.
Centers for Disease Control and Prevention, Department of Health and Human Services
(WASHINGTON-DC). Results from the school health policies and practices study,
2015.
FOX, James Alan; DELATEUR, Monica J. Mass shootings in America: moving beyond
Newtown. Homicide studies, v. 18, n. 1, p. 125-145, 2014.
HANKIN, Abigail; HERTZ, Marci; SIMON, Thomas. Impacts of metal detector use in
schools: Insights from 15 years of research. Journal of School Health, v. 81, n. 2, p. 100-
106, 2011.
33
JONSON, Cheryl Lero. Preventing school shootings: The effectiveness of safety
measures. Victims & Offenders, v. 12, n. 6, p. 956-973, 2017.
LEVIN, Jack; MADFIS, Eric. Mass murder at school and cumulative strain: A sequential
model. American behavioral scientist, v. 52, n. 9, p. 1227-1245, 2009.
MEARS, Daniel P.; MOON, Melissa M.; THIELO, Angela J. Columbine revisited: Myths
and realities about the bullying–school shootings connection. Victims & Offenders, v. 12,
n. 6, p. 939-955, 2017.
OLIVER, Jon; RYAN, Michael. Lesson One: The ABCs of Life: the Skills We All Need
But Were Never Taught. Simon and Schuster, 2004.
PRICE, James H.; KHUBCHANDANI, Jagdish. Firearm violence by the mentally ill: Mental
health professionals' perceptions and practices. Violence and Gender, v. 3, n. 2, p. 92-
99, 2016.
VOSSEKUIL, Bryan et al. The final report and findings of the Safe School
Initiative. Washington, DC: US Secret Service and Department of Education, 2002.
34
6. AS POLÍTICAS DE PRIVATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL: A
FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR NO ‘‘NOVO ENSINO MÉDIO’’
RESUMO
Este trabalho analisa o processo de implementação do ‘‘Novo Ensino Médio’’ no Brasil.
Com a aprovação da Lei n° 13.415/2017, a atual política para o Ensino Médio introduziu
mudanças curriculares no âmbito das políticas educacionais. Dessa forma, a pesquisa
tem por objetivo analisar a flexibilização curricular no Novo Ensino Médio, visando
compreender os desdobramentos dessa política para educação básica brasileira.
Metodologicamente, trata-se de um estudo qualitativo de base materialista histórico-
dialética, que utiliza a pesquisa bibliográfica e a análise documental como técnicas de
coleta de dados. Sendo assim, é de destaque que nas escolas públicas, principalmente
as mais vulneráveis, o Novo Ensino Médio tem se mostrado inadequado para fornecer
uma formação geral sólida, pois limita conteúdos fundamentais, dando ênfase a
conteúdos (itinerários formativos) que esvaziam a formação dos estudantes, em
detrimento os interesses dos reformadores empresariais na privatização do currículo.
Palavras-chave: Novo Ensino Médio; Flexibilização Curricular; Itinerários Formativos.
INTRODUÇÃO
O Ensino Médio é a última etapa da educação básica e sempre foi um desafio para
a educação pública brasileira. Com a aprovação da Lei n° 13.415 19 de 16 de fevereiro de
2017, a atual política para o Ensino Médio introduziu mudanças curriculares no âmbito
das políticas educacionais, garantindo sua implementação nos estados brasileiros.
O golpe parlamentar de 2016 criou as condições de ampliação das políticas não
só educacionais, mas também trabalhistas e econômicas que desencadearam reformas
em vários setores da sociedade, entre elas o campo discursivo acerca da crise do ensino
médio e sua emergente necessidade de reforma (SILVA, 2018).
A reforma do ‘‘Novo Ensino Médio’’ partiu da justificativa difundida pela mídia de
que o Ensino Médio não era atrativo para os estudantes, buscando a modernização do
currículo (MOTTA; FRIGOTTO, 2017).
O Documento apresenta a obrigatoriedade do ensino da língua portuguesa e de
matemática durante os três anos. Além disso, tanto a formação geral básica, como a parte
diversificada dos currículos que trata o caput do art. 26 devem ser compostos por quatro
áreas de conhecimento: Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas; Matemática e suas Tecnologias e Linguagens e suas Tecnologias.
Essa proposta priva os estudantes do acesso ao conjunto de conhecimentos
historicamente produzido, tornando o currículo vago, ignorando as condições
socioeconômicas dos jovens, as condições de trabalho dos professores e a condições de
infraestrutura precária das escolas (FERRETI, 2018).
Nesse sentido, a política dos reformadores empresariais no Brasil visa colocar as
redes públicas em um ‘‘vetor de privatização’’, que preferencialmente não se deve haver
35
sistema público de educação, mas a competição de escolas em um livre mercado
(FREITAS, 2018).
Desse modo, existe o interesse dos organismos internacionais, fundações e
corporações na formulação de diretrizes/bases nos sistemas públicos de educação, que
operam de forma mais radical no processo de privatização do currículo (ADRIÃO, 2018).
Em 2022, a maioria dos estados brasileiros começou a implementar o Novo Ensino Médio
(NEM), e muitos estudantes já começaram a sentir os efeitos negativos da reforma.
Diante destas considerações iniciais, pontua-se que o objetivo deste trabalho é
analisar a flexibilização curricular no Novo Ensino Médio, visando compreender os
desdobramentos dessa política para educação básica brasileira.
Sendo assim, além dessa introdução, o texto está organizado na seguinte
temática: A implementação do ‘‘novo’’ currículo e os itinerários formativos, no qual é feita
uma contextualização sobre processo de flexibilização curricular e escolha de itinerários
formativos. Na consideração final são resgatadas as principais constatações às quais se
chegou ao longo do texto e apontados os desafios para a necessária revogação do ‘‘Novo
Ensino Médio’’.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÕES
36
No entanto, nas escolas públicas, principalmente as mais pobres, o novo ensino
médio tem se mostrado inadequado para fornecer uma formação geral sólida, pois retira
conteúdos e pouco ou nada oferece em troca, e também não forma para o mundo do
trabalho, oferecendo uma qualificação profissional insuficiente.
Em Pernambuco, a reforma curricular destaca o projeto de vida dos estudantes e
o percurso profissional dos professores como elementos centrais para a elaboração dos
itinerários formativos que compõem a parte flexível do currículo. Embora a ampliação da
carga horária possa oferecer uma formação mais abrangente e diversificada, outras
experiências formativas são estreitadas ou aligeiradas (LIMA; GOMES, 2022).
Considerando que essa parte do currículo é definida de acordo com a realidade
da unidade escolar, é possível que se tenha grande diversidade de IFs para escolha das
escolas, no entanto uma oferta bastante reduzida se percebido as reais condições físicas,
pedagógicas e de pessoal docente para sua efetiva implementação nos estados.
Nesse contexto:
A análise combinada dos dados de ‘escolha’ dos/as estudantes e da
oferta de itinerários formativos nas escolas de ensino médio da rede
estadual de São Paulo revela aquilo que a propaganda governamental
da reforma do ensino médio sempre tentou escamotear: a ‘livre escolha’
prometida aos/às estudantes é estritamente limitada pelas condições
materiais da rede de ensino e, sobretudo, das escolas. E uma vez que
tais condições não estão sendo substantivamente alteradas com a
reforma, a liberdade de escolha continuará sendo um privilégio
daqueles/as que sempre gozaram dela: estudantes das escolas privadas
provenientes das elites, das classes médias e, como mostram os dados
analisados na pesquisa, estudantes da rede estadual mais privilegiados.
(CÁSSIO; GOULART, 2022, p. 530).
Vale ressaltar ainda que os maiores entraves da reforma não residem apenas na
questão curricular, mas na sua implementação em termos de formação docente,
estruturação de escolas, material e organização, o que causa insegurança em sua
efetividade. Ou seja, um currículo que afirma respeitar as diversidades peca por não
considerar em termos de sua aplicabilidade.
Nas escolas públicas, a criação, em diversos estados, de um número
extremamente limitado de ‘escolas-piloto’ de jornada ampliada vem criando redes de
ensino paralelas, que atendem somente os/as estudantes mais privilegiados/as das redes
públicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
37
avaliação e reestruturação da política nacional de ensino médio, que vinha sendo
implantado de forma autoritária e sem o devido debate com a sociedade.
Dessa forma, a luta não pode parar, é preciso mobilização dos movimentos
sociais, estudantes e professores em defesa da escola pública e para resistir ao avanço
dessa reforma empresarial na educação brasileira.
REFERÊNCIAS
CÁSSIO, F.; GOULART, D. C. A implementação do Novo Ensino Médio nos estados: das
promessas da reforma ao ensino médio nem-nem. Retratos da Escola, v. 16, n. 35, p.
285-293, 2022. Disponível em:
https://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde/article/view/1620/1108. Acesso em: 30
mar. 2023.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
MOTTA, V. C.; FRIGOTTO, G. Por que a urgência da reforma do ensino médio? Medida
Provisória nº 746/2016 (Lei nº 13.415/2017). Educação & Sociedade, v. 38, p. 355-372,
2017. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/es/a/8hBKtMRjC9mBJYjPwbNDktk/?format=pdf&lang=pt. Acesso
em: 30 mar. 2023.
38
QUEIROZ, L. M. S.; DE AZEVEDO, A. A. Parcerias público-privadas: ressignificações
docentes em uma escola no Rio Grande do Norte. Retratos da Escola, v. 16, n. 35, p.
295-313, 2022. Disponível em:
https://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde/article/view/1491/1109. Acesso em: 10
abr. 2023.
39
7. DA PERMANÊNCIA AO ÊXITO: contribuições dos Programas Estudantis
executados no Instituto Federal de Pernambuco
RESUMO
Este trabalho é uma pesquisa em andamento de doutorado que tem como objetivo
analisar quais fatores contribuem para a Permanência dos alunos que fazem parte dos
Programas Institucionais de Iniciação Científica, Extensão e Monitoria do Instituto Federal
de Pernambuco. Acredita-se que esses Programas promovem o engajamento estudantil,
condicionante para a Permanência e êxito escolar. A pesquisa será realizada nos campi
Afogados da Ingazeira, Cabo de Santo Agostinho e Vitória de Santo Antão. O estudo será
de natureza qualitativa, utilizaremos dados do sistema Qacadêmico do IFPE,
questionários via googledocs e a técnica de grupo focal para a triangulação dos dados.
Após levantamento bibliográfico identificamos que há poucas pesquisas que focalizam a
Permanência Estudantil na Educação Profissional, assim, espera-se que esse estudo
contribua para as discussões sobre a temática nessa modalidade, como também para o
delineamento de ações que possam contribuir para a Permanência do aluno na escola.
Palavras-chave: Permanência Estudantil; Educação Profissional; Engajamento
estudantil.
INTRODUÇÃO
40
Nesse sentido, a dualidade perpassa por uma divisão política, na relação de
governantes e governados e não de reduz a extinção do modo capitalista, mas sim em
conscientizar as camadas menos favorecidas do seu papel crítico na sociedade, em
busca de inserção em todas as esferas do Estado. Romper com a dualidade da Educação
Profissional, implica em romper o determinismo das formações direcionadas para os
pobres e para os ricos, e superar a dualidade do trabalho manual x trabalho intelectual.
A marca da dualidade educacional do Brasil é a marca da educação moderna nas
sociedades ocidentais sob o modo de produção capitalista (RAMOS, 2008).
O tripé acesso, permanência e êxito é o grande objetivo dos documentos que
legalizam o sistema educacional brasileiro. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação n.
9.394/1996 e o Plano Nacional de Educação instituído pela Lei n.13.005/2014 visam, por
meio de objetivos, finalidades, diretrizes, metas e estratégias promover a democratização
do acesso, permanência e êxito. No Brasil, a expansão da Educação Profissional vem
ocorrendo de forma acelerada como processo de democratização da educação. A
ampliação do acesso à formação Técnica e Tecnológica desdobrou na necessidade de
fiscalização da qualidade do ensino ofertada, além de avaliar a eficiência dos recursos
orçamentários investidos nessa ampliação, como pontuam Dore, Sales, Silva ( 2017, p.1):
41
Contudo esta pesquisa terá como objetivos diagnosticar os índices de evasão dos
Programas Pibic, Pibex e Monitoria nos campi analisados, identificar quais fatores
contribuem para a Permanência e êxito e investigar as principais relações entre
Permanência, êxito e engajamento estudantil a partir da percepção dos Coordenadores
dos Programas.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÕES
CONSIDERAÇÕES FINAIS
42
sólida com a permanência do aluno na escola até sua formação. Wehlage, et al. (1989)
entendem que a Permanência Estudantil está atrelada ao nível de engajamento nas
atividades da instituição e na funcionalidade do curso que o aluno está inserido. Logo,
destacamos a importância do princípio da contextualização no aprendizado de forma
geral. Quanto mais dotada de sentidos a prática pedagógica, maior é o sentimento de
pertencimento dos alunos como protagonistas da sua formação e mais significativo o
curso passa a ter para eles.
A promoção desses Programas Estudantis de iniciação científica, extensão e
monitoria, não só viabiliza a contextualização do ensino, mas também promove a
articulação entre o saber fazer e o desenvolvimento da Educação, Ciência e Tecnologia.
REFERÊNCIAS
DORE Rosemary; SALES, Paula Elizabeth Nogueira; SILVA, Carlos Eduardo Guerra.
Educação Profissional e Evasão Escolar: Contexto e Perspectivas. Coleção de
artigos sobre educação profissional e evasão escolar. Belo Horizonte, RIMEPES 2017.
Disponível em:https://abapeve.org/wp-content/uploads/2021/12/Dore-Sales-Silva-2017-
Educacao-Profissional-e-Evasao-Escolar.pdf
43
GATTI, Bernardete Angelina. Grupo focal na pesquisa em ciências sociais e
humanas. Brasília: Líber Livro, 2005.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo. Editora
Atlas,2017.
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP. Censo
Escolar de 2019. Braíslia, 2019. Disponível em <http://portal.inep.gov.br/censo-escolarf>
Acesso em: 26 abr. 2020.
RUMBERGER, R. W. Dropping out: why students drop out of high school and what can
be done about it. Cambridge: Harvard University Press, 2011.
RUMBERGER, R. W. Why Students Drop Out of School and What Can be Done.
University of California: Santa Barbara, 2001.
44
YIN, R. K.Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman,
2001.
45
8. DEMOCRACIA EXPROPRIADA: POR UMA GENEALOGIA DA
CONTRARREFORMA DO ENSINO MÉDIO – A ARTICULAÇÃO DO ICE COMO APH
NACIONAL INDUTOR DA REFORMA
RESUMO
Esta comunicação versa sobre os estudos empreendidos durante nossas pesquisas no
doutorado em Educação, no campo das políticas públicas educacionais e as formas de
expropriações como formas de subordinação da classe trabalhadora e de seus filhos.
Tomamos as considerações de Dörre (2010); Fontes, (2018), sobre a exploração
dinamizada pela configuração que forma o capital-imperialismo e os contrassensos que
marcam uma dada imposição de uma realidade social cada vez mais mercantificada.
Assim, nos debruçamos em apresentar a genealogia da Contrarreforma do ensino médio,
a partir da atuação do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE) na cidade de
Recife, em Pernambuco (ICE) como aparelho privado de hegemonia (APH) articulador de
um novo tipo de sociabilidade no contexto educativo brasileiro, com a contrarreforma do
ensino médio, pautado pelo rompimento democrático com o direito à educação e a
formação complexa da juventude da classe trabalhadora. Para problematizar tal questão
nos amparamos epistemologicamente na perspectiva gramsciana de hegemonia, cuja
concepção se sustenta pelo entendimento da lógica de manutenção da direção/domínio
da sociedade, através do consenso, estabelecido via aspectos culturais, linguísticos e
elementos do senso comum. Assim, compreender o deslocamento do sentido da
democracia nas decisões sobre a escola e a educação, por meio dos espaços de
influência e participação nos processos de disputa e construção de hegemonia em torno
de determinadas posições ideológicas e políticas que definem as políticas educacionais.
Palavras-chave: Contrarreforma; Ensino Médio; ICE; Expropriação
INTRODUÇÃO
21 IFPE/UFPE
22 UNIFESP
46
autônomo, que este “é o seu próprio assalariado” (p.125). Braga (2012) retoma essa ideia
ao considerar o fenômeno do precariado contemporâneo: “uma massa formada por
trabalhadores desqualificados e semiqualificados que entram e saem rapidamente do
mercado de trabalho, por jovens a procura do primeiro emprego, por trabalhadores recém
saídos da informalidade e por trabalhadores sub-remunerados” (p.96).
A Reforma do Ensino Médio (REM) é uma das expressões do movimento pelo
fomento em prol da formação do trabalhador de tipo precariado. Ademais de um complexo
arranjo que ultrapassa a forma de expropriação sobre o mais valor do trabalho, é
expressão também da definição dos atores globais no contexto das determinações
políticas, dos direitos, das sociabilidades em torno dos aspectos democráticos,
participativos e econômicos.
Tomamos a compreensão de Gramsci (1976), sobre as consequências educativas
no âmbito de reformas de rebaixamento ou afastamento da classe trabalhadora da
educação complexa. Em “Homens ou Máquinas”, Gramsci discorre:
47
assume um lugar de promoção de um novo modelo educacional, que vai demonstrar o
caráter central e os elementos que se tornariam o eixo de na sua política educacional: a
dualidade, a expropriação cultural e educacional e a promoção de uma educação em
conformidade com o capital.
Ao ser reinaugurada, a escola recebeu o nome de Centro de Ensino Experimental
Ginásio Pernambucano, como resultado da formalização de um acordo de cooperação
técnica entre o ICE e o Governo de Pernambuco, que deu origem ao Programa de
Desenvolvimento dos Centros de Ensino Experimental (PROCENTRO). Essa instância
vinculada à Secretaria de Educação era responsável por implantar Centros Experimentais
de Educação por todo o Estado, de acordo com a Lei nº 12.965, de 26 de dezembro de
2005. Foram criados nessa fase 13 destes centros em diferentes regiões, sob a tutela de
empresas privadas, que deveriam:
48
O modelo educacional do ICE é denominado “Escola da escolha” e, a partir da
experiência de Pernambuco, foi disseminado o conceito de uma escola adaptável e
adaptada.
Desde 2009 o modelo foi adotado por outras redes estaduais e municípios de
todas as regiões brasileiras23. A partir da aprovação do Plano Nacional de Educação
(PNE) em 2014, o ICE buscou consonância com as exigências colocadas no plano,
fazendo deste o suporte de sua atuação, notadamente na implantação de seu modelo de
escola em tempo integral. Foi eleito o “projeto de vida” como eixo do modelo educacional
que “é um dos elementos da cultura escolar que mais tem incorporado a racionalidade
dominante na sociedade do capitalismo [...] impregnado da lógica posta pela competição
e pela adaptação da formação às raízes do mercado’ (SILVA, 2008, p. 56). Em
depoimento de 2012 o dirigente do ICE, Marcos Magalhães, afirmava que currículo deve
ser flexível com uma quantidade reduzida de disciplinas obrigatórias e diferentes
disciplinas eletivas.
Tais construções partem de uma visão empresarial, formulada a partir da TEO
(Tecnologia Empresarial Odebrecht) que busca a disposição para o servir, a capacidade
e o desejo de evoluir e vontade de superar resultados (DA SILVA, 2014). Esta tecnologia
é adaptada aos princípios educacionais do ICE e recebe o nome de TESE (Tecnologia
Empresarial Socioeducacional). Para a TESE, a educação deve ser um negócio gerador
de resultados e ter como elementos essenciais a existência de uma comunidade que
demande educação de qualidade e um investidor disposto a prover os recursos para a
escola (KRAWCZYK, 2014).
Por essa trajetória, podemos afirmar que a contrarreforma do ensino médio teve
em Pernambuco, através notadamente das experiências com o ICE, um protótipo de
implementação a partir das Escolas de Referência em Ensino Médio. Estas são as
sucessoras dos Centros Experimentais, que já implantavam com antecedência o
aumento de carga horária do docente na escola, ao mesmo tempo que diminuíam o
número de aulas de diferentes disciplinas, privilegiando disciplinas como
empreendedorismo e projeto de vida. Segundo Lima e Gomes (2022) foi um verdadeiro
projeto piloto posteriormente incorporado pela equipe do ministro Mendonça Filho.
CONCLUSÃO
23
Segundo o site do ICE somente em cinco Estados brasileiros não há iniciativas conduzidas pela instituição:
Roraima, Pará, Alagoas, Bahia, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
49
BIBLIOGRAFIA
LIMA, Maria da Conceição Silva; GOMES, Danyella Jakelyne Lucas. Novo Ensino Médio
em Pernambuco: construção do currículo a partir dos itinerários formativos. Retratos da
Escola, v. 16, n. 35, p. 315-336, 2022. Disponível em:
https://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde/article/view/1478 Acesso em: 17 fev 2023.
50
9. DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA IMPLEMENTAÇÃO DO ENSINO MÉDIO INTE-
GRADO COM O USO DA TECNOLOGIA: uma análise das Políticas Educacionais
atuais
RESUMO
O Ensino Médio Integrado, que busca integrar as áreas de conhecimento de forma con-
textualizada, pode se beneficiar do uso da tecnologia como uma ferramenta para poten-
cializar o ensino e a aprendizagem. No entanto, sua implementação enfrenta desafios
significativos, como a formação de professores, a infraestrutura das escolas e a inclusão
digital. Este trabalho tem como objetivo analisar os desafios e as possibilidades na imple-
mentação do Ensino Médio Integrado com o uso da tecnologia, a partir das políticas edu-
cacionais atuais. Será realizada uma revisão bibliográfica e uma análise crítica das políti-
cas educacionais vigentes, com foco nos desafios e nas possíveis soluções relacionadas
à formação de professores, à infraestrutura escolar e à inclusão digital. A partir dessa
análise, busca-se identificar as possibilidades e as limitações do uso da tecnologia na
implementação do Ensino Médio Integrado, bem como apontar estratégias que possam
contribuir para o sucesso dessa abordagem educacional. Espera-se que este estudo
possa fornecer insights relevantes para a compreensão dos desafios e das possibilidades
da integração do Ensino Médio com o uso da tecnologia, contribuindo para o debate sobre
políticas educacionais e práticas pedagógicas inovadoras.
Palavras-chave: Ensino Médio Integrado; tecnologia; políticas educacionais; formação
de professores.
INTRODUÇÃO
O Ensino Médio Integrado tem sido uma das propostas mais debatidas no campo
da educação nos últimos anos, buscando uma formação mais abrangente e integrada ao
mundo do trabalho e à vida social. Com a crescente presença da tecnologia em todos os
setores da sociedade, não poderia ser diferente na educação. Oliveira (2022, p. 27), pon-
dera que:
O Ensino Médio Integrado é uma das propostas que busca superar a fragmenta-
ção do conhecimento presente na educação tradicional, que para Luckesi (2021, p. 37)
“as denominadas Pedagogias Tradicionais foram estabelecidas como meios de educar
homens e mulheres segundo as crenças dos seus propositores”; integrando as áreas de
conhecimento de forma contextualizada. Essa proposta tem como objetivo possibilitar
uma formação mais abrangente e integrada ao mundo do trabalho e à vida social. A tec-
nologia, por sua vez, pode ser uma ferramenta importante para potencializar o ensino e a
aprendizagem, tornando o processo mais dinâmico e interessante para os alunos, que na
visão de Rosini (2013, p.58) “o aprendiz deve estar atento às mudanças naturais da evo-
lução da humanidade, engajando-se eticamente no sistema de educação.”. No entanto, a
utilização da tecnologia no Ensino Médio Integrado apresenta desafios que precisam ser
51
enfrentados, como a formação de professores, a infraestrutura das escolas e a inclusão
digital.
Objetivo geral:
Objetivos específicos:
METODOLOGIA
A metodologia utilizada neste estudo foi a pesquisa bibliográfica, por meio de uma
pesquisa bibliográfica, com o objetivo de identificar as políticas educacionais mais recen-
tes e as experiências de implementação do Ensino Médio Integrado com o uso da tecno-
logia. Foram realizadas buscas em bases de dados acadêmicas e em documentos oficiais
de políticas educacionais, selecionando artigos, relatórios e documentos relevantes para
o tema em questão. Após a seleção dos materiais, foi realizada uma leitura crítica e sis-
temática dos mesmos, visando identificar os desafios e possibilidades na implementação
do Ensino Médio Integrado com o uso da tecnologia, de acordo com as políticas educaci-
onais atuais. Foram feitas anotações e fichamentos dos artigos selecionados, com o ob-
jetivo de construir um corpus de dados para análise e discussão dos resultados.
A análise dos dados foi realizada de forma qualitativa, por meio da interpretação
dos resultados obtidos na revisão da literatura. Foram identificados os principais desafios
e possibilidades na implementação do Ensino Médio Integrado com o uso da tecnologia,
com base nas políticas educacionais mais recentes. Em seguida, foram realizadas refle-
xões sobre os resultados, com o objetivo de discutir as implicações para a prática educa-
tiva e apontar possíveis caminhos para a superação dos desafios identificados.
52
limitante, pois muitas ainda não possuem equipamentos e recursos tecnológicos adequa-
dos para a implementação do Ensino Médio Integrado.
Outro desafio é a inclusão digital, já que nem todos os alunos possuem acesso à
tecnologia em casa e podem ficar em desvantagem em relação aos colegas. É importante
que sejam criadas políticas públicas para garantir a inclusão digital dos alunos, possibili-
tando a igualdade de acesso aos recursos tecnológicos necessários para o processo de
ensino e aprendizagem. Diante desses desafios, é importante que as políticas educacio-
nais atuais estejam voltadas para a promoção da formação adequada dos professores e
para a melhoria da infraestrutura das escolas. Além disso, é importante que haja políticas
públicas para garantir a inclusão digital dos alunos, possibilitando que todos possam ter
acesso aos recursos tecnológicos necessários para o processo de ensino e aprendiza-
gem.
Portanto, a análise dos resultados indica que a implementação do Ensino Médio
Integrado com o uso da tecnologia pode ser uma alternativa eficaz para potencializar o
processo de ensino e aprendizagem. No entanto, é necessário superar os obstáculos re-
lacionados à capacitação de docentes, infraestrutura das escolas e inclusão digital para
que essa modalidade de ensino possa ser amplamente implementada de forma eficaz.
Os resultados obtidos na revisão da literatura indicam que a tecnologia pode ser uma
aliada importante na implementação do Ensino Médio Integrado, desde que haja uma
formação adequada dos professores e uma infraestrutura adequada nas escolas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, Édison Trombeta de. Como escolher tecnologias para educação a distân-
cia, remota e presencial. São Paulo: Editora Blucher, 2022.
53
10. DESINTEGRANDO O ENSINO MÉDIO:
semelhanças entre o Novo Ensino Médio e a Reforma Capanema
RESUMO
Este texto objetiva compreender a desintegração da matriz curricular dos cursos técnicos
integrados dos Institutos Federais no que concerne às disciplinas propedêuticas de
formação geral quando da implementação do Novo Ensino Médio de 2017, que pode ser
comparado com a reforma educacional realizada durante o Estado Novo, conhecida por
Reforma Capanema. Para tanto recorremos à uma revisão de literatura do tipo narrativa
nos valemos de alguns textos de pesquisadores das políticas educacionais que já
observassem análises anteriores e, sobre elas, encontrassem convergências entre
propostas antigas e aquelas para o atual modelo. O Novo Ensino Médio (NEM) está
pautado numa reforma baseada principalmente nos argumentos de ofertar um ensino
moderno e que centralize a “atenção” do estudante para um itinerário formativo. No
entanto, as ideias desse formato moderno esbarram exatamente na desintegração das
disciplinas propedêuticas da formação geral para dar vez e voz a projetos de disciplinas
eletivas que nem sempre estão alinhadas com o projeto de vida dos alunos. Dessa forma,
na educação profissional, vê-se claramente que retrocedemos à uma formação integral
do sujeito e caminhamos para a Reforma Capanema, onde a formação científica não é
direcionada a todos os estudantes, mas para apenas uma parcela da população.
Palavras-chave: Novo Ensino Médio; Reforma Capanema; Ensino Profissional.
INTRODUÇÃO
Em uma busca nos dicionários pelo significado da palavra reinventar, uma das
definições sugere que seja “mudar a maneira como algo ou alguém funciona ou se
comporta. Há diversas pesquisas que tratam de inovações no processo educativo ao
longo dos tempos, geralmente buscando adaptar-se às demandas socioeconômicas em
que o Estado (re)orienta suas políticas, atendendo a interesses diversos. As ofertas, os
sujeitos, as estruturas, as possibilidades, cada agente ou aparelho necessário para
atender à política escolhida é pensado ou é consequência destas escolhas.
Não à toa, a Educação no Brasil passou por diferentes momentos, modalidades,
formatos, ofertas. A Educação Profissional em mais de um século de história passou por
diversas mudanças, quer fosse pelos cursos ofertados, quer pelo reconhecimento e
possibilidade de pleno funcionamento.
Realizado em diferentes etapas do ensino ao longo deste século, hoje vivenciamos
a educação profissional posterior à conclusão do ensino básico ou pelo menos paralelos
aos estudos no ensino médio regular em cursos concomitantes ou integrados.
Mas a atualização realizada pela Lei n° 13.415/2017, popularmente denominada
de Novo Ensino Médio não apenas “especializou” o ensino médio, voltando a um modelo
muito semelhante ao criado por Gustavo Capanema durante o Estado Novo, como
também desintegrou a formação geral do ensino profissional integrado que os Institutos
Federais ofertam. Esse movimento é observável quando os novos cursos ofertados já se
54
adequam à redução de componentes e carga horária das disciplinas propedêuticas que
compõem o currículo com temas gerais de compreensão do mundo.
Assim, objetiva este texto compreender sobre a desintegração da matriz curricular
dos cursos técnicos integrados dos Institutos Federais no que concerne às disciplinas
propedêuticas de formação geral quando da implementação do Novo Ensino Médio de
2017, que pode ser comparado com a reforma educacional realizada durante o Estado
Novo, conhecida por Reforma Capanema.
Para tanto, realizamos uma revisão da literatura narrativa que sirva para ilustrar
pontos em comum entre os movimentos e dar subsídios para discussões sobre a reforma
do Ensino Médio nas instituições que compõem a Rede Federal de Ensino.
METODOLOGIA
REFERENCIAL TEÓRICO
55
A entrevista de Gaudêncio Frigotto à João Vitor Santos (2022) atualiza uma
análise de Demerval Saviani em 1986 que tratava sobre “o nó do 2º grau” onde a Lei
Orgânica do Ensino Secundário mostrava que não era uma modalidade de ensino para a
classe trabalhadora mas, sim, a oferta de cursos que era promovida pelo sistema S
(SENAI, SENAC, SESI). Ainda afirma que o sucesso de um ensino médio de carga horária
ampliada e que forma profissionalmente o cidadão está condicionada a diversos fatores,
entre eles a infraestrutura:
Se o ensino médio anterior não era bom, as coisas agora estão piores.
Se antes havia 13 disciplinas nas escolas – o que era apontado como
um grave problema por “especialistas” ligados ao mercado –, com o NEM
foram criadas dezenas de microdisciplinas, todas sem conteúdo.
Portanto, a “volta para trás” em termos de equidade educacional e de
acesso ao conhecimento é justamente a continuidade da implementação
de uma reforma que dizima o ensino médio público brasileiro (CÁSSIO,
2023).
Então como pode ser o NEM um ensino moderno de solução adequada para as
necessidades educativas, se sujeita o indivíduo a escolhas precoces que desintegram a
formação integral do cidadão? Nessa perspectiva observamos historicamente as
semelhanças da trajetória cidadã das escolas profissionalizantes federais do Brasil e
como as mudanças sugeridas por Gustavo Capanema, durante o Estado Novo, se
assemelham à atual reforma.
56
Durante o Estado Novo25, A partir de 1942 passasse a oferecer cursos de nível
médio o que se segue ao longo dos anos nestes estabelecimentos que ao longo das
décadas vai ganhando novas denominações: Escolas Industriais Técnicas 26, Escolas
Técnicas Federais, Centros Federais de Educação Tecnológica e, os atuais Institutos
Federais de Educação, Ciência e Tecnologia27. Tais mudanças, inclusive, não se
resumindo apenas ao nome, mas também tratando da gestão administrativa e
pedagógica, cada vez mais autônoma.
No Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), a
oferta de cursos de cursos técnicos na modalidade integrada ao ensino médio ocorre a
partir da publicação do Decreto n° 5.154, de 23 de julho de 2004, que regulamenta a
Educação Profissional a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação28 em seus artigos
39 a 41.
Tais legislações, além de outros documentos como os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN), serviram de base para a organização desta modalidade de ensino que
exigiam da instituição de ensino a observação do inciso I do artigo 24 da Lei n° 9.394, de
1996 e da diretrizes curriculares nacionais para a educação profissional técnica de nível
médio, “ampliar a carga horária total do curso, a fim de assegurar, simultaneamente, o
cumprimento das finalidades estabelecidas para a formação geral e as condições de
preparação para o exercício de profissões técnicas” (BRASIL, 2004).
No entanto, a mudança da estrutura do Ensino Médio no Brasil a partir do Novo
Ensino Médio29 a partir de itinerários formativos e definindo uma nova organização
curricular, mais flexível, que ainda contemple uma Base Nacional Comum Curricular
(BNCC), impõe uma reorganização também dos Institutos Federais nos cursos já
ofertados e aqueles que venham a ser ofertados a partir de 2022.
Neste caso, o processo de inovação nestes campi desafia docentes, gestão e
pedagogos a criar cursos técnicos que não somente são de uma nova modalidade de
ensino, mas que também atendam as novas legislações e desafios impostos à Educação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Novo Ensino Médio (NEM) está pautado numa reforma baseada principalmente
nos argumentos de ofertar um ensino moderno e que centralize a “atenção” do estudante
para um itinerário formativo que será criado a partir do Projeto de Vida que o estudante
traça ainda no primeiro ano do NEM. Entre estes itinerários há um que não está pautado
em grandes áreas de conhecimento, mas numa formação profissional cujo modelo já está
consolidado em instituições de ensino mantidas pelo poder público federal (no caso dos
Institutos Federais) e naquelas mantidas pelo poder privado (como é caso do SESI,
SENAI, SENAC): o eixo V da Lei n° 13.415/2017 que trata da formação técnica e
profissional.
No entanto, as ideias desse formato moderno esbarram exatamente na
desintegração das disciplinas propedêuticas da formação geral para dar vez e voz a
projetos de disciplinas eletivas que nem sempre estão alinhadas com o projeto de vida
25 Estado Novo, ou Terceira República, é o termo utilizado para denominar a ditadura instaurada por Getúlio
Vargas no Brasil em 10 de novembro de 1937, vigorando politicamente até 29 de outubros de 1945 e,
oficialmente até 31 de janeiro de 1946.
26 Decreto Lei n° 4.073, de 30 de janeiro de 1942
27 Lei n° 11.892, de 29 de dezembro de 2008.
28 Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
29 Lei n° 13.415, de 16 de fevereiro de 2017.
57
dos alunos, embora o risco para que isso aconteça entre cursos médios integrados seja
menor pela escolha anterior à matrícula, mas ainda pode trazer danos na formação do
sujeito que está se especializando em apenas um curso.
Dessa forma, na educação profissional, vê-se claramente que retrocedemos à
uma formação integral do sujeito e caminhamos para a Reforma Capanema, onde a
formação científica não é direcionada a todos os estudantes, mas para apenas uma
parcela da população.
REFERÊNCIAS
CÁSSIO, FERNANDO. O ‘Novo’ Ensino Médio é pior que o anterior. Carta Capital,
2023. Disponível em https://www.cartacapital.com.br/opiniao/o-novo-ensino-medio-e-
muito-pior-que-o-anterior/. Acesso em 14/04/2023.
SANTOS, João Vitor. Reforma do ensino médio representa uma regressão e uma
traição aos jovens e ao país. Instituto Humanistas Unisinos. Disponível em
https://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/616742-reforma-do-ensino-medio-
representa-uma-regressao-e-uma-traicao-aos-jovens-e-ao-pais-entrevista-especial-com-
gaudencio-frigotto. Acesso em 16/04/2023.
58
11. ENTRE GESTÃO DEMOCRÁTICA E GERENCIALISMO NA GESTÃO
EDUCACIONAL E ESCOLAR DO PEI: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DAS
PRODUÇÕES ENTRE (2008-2022)
INTRODUÇÃO
59
Para realização deste estudo utilizamos o seguinte Banco de Dados, a saber:
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). Para efetivarmos esta
tarefa, estabelecemos alguns critérios que pudessem fornecer uma maior eficácia na
captura por teses e dissertações que apresentassem um maior envolvimento com a
temática em foco. Posto isto, definimos os seguintes critérios. São eles:
a) Produção acadêmica – Teses e Dissertações;
b) Demarcação temporal delimitada no período de (2008-2022);
c) Todos os campos de pesquisa disponíveis na plataforma: título, autor e assunto;
d) Seleção de três descritores, a saber: (1). Programa de Educação Integral de Pernam-
buco; (2). Gerencialismo; (3). Gestão educacional e escolar;
e) Definição da ordem em que os descritores foram inseridos na plataforma;
f) Escolha analítica das combinações entre os descritores.
Para iniciarmos esta pesquisa, é necessário adiantarmos que nos últimos anos,
houve um considerável aumento na produção científica a respeito do Programa de
Educação Integral de Pernambuco (PEI), com destaque para a produção em programas
de pós-graduação. Por essa razão, optamos em concentrar este estudo na busca por
pesquisas desenvolvidas em teses e dissertações, sem necessitar recorrer, neste
primeiro momento, aos estudos realizados, por exemplo, em artigos científicos e/ou
capítulos de livros. Outro aspecto decorrente dessa decisão, dá-se no fato deste estudo
encontrar-se em andamento, portanto, neste momento, apresentaremos apenas uma de
suas etapas, a saber: o recorte das produções acadêmicas desenvolvidas em teses e
dissertações.
No que se refere ao recorte temporal, tentamos envolver o período de (2008-
2022). Optamos por essa demarcação, em função de englobar o intervalo entre a
implantação do PEI, e o seu processo de consolidação, enquanto política de educação
de tempo integral no estado de Pernambuco, desenvolvida, em grande medida, durante
os governos estaduais do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que se constituíram no
estado de Pernambuco entre os anos de (2006-2023), durante as gestões dos
governadores Eduardo Campos e Paulo Câmara. Bem como, tentamos examinar e
apontar as categorias de análises desenvolvidas em teses e dissertações, especialmente
em relação ao conceito de Gerencialismo e Gestão educacional e escolar no âmbito do
PEI.
Em relação às seleções dos descritores, tomamos como critério a articulação
estabelecida entre a tríade sugerida neste estudo. A saber: (a) Programa Educação
Integral de Pernambuco; (b) Gerencialismo; e (c) Gestão educacional e escolar. Os
descritores foram inseridos na plataforma, obedecendo as seguintes ordens e
combinações:
1) Descritor 01: Programa de Educação Integral de Pernambuco;
2) Descritor 02: Gerencialismo;
3) Descritor 03: Gestão educacional e escolar.
60
conceito de Gerencialismo e o Programa de Educação Integral de Pernambuco (PEI).
Desse modo, estabelecemos a primeira conexão entre os descritores.
Por fim, na tentativa de identificar os trabalhos que fazem uma articulação
aproximada da tríade abordada neste estudo, optamos por articular simultaneamente os
três descritores, adicionando o descritor 03: “Gestão educacional e escolar”, conforme
estabelecido na ordem de busca exposta anteriormente.
Para que possamos proporcionar uma melhor visualização e compreensão dos
dados encontrados a partir da busca realizada, obedecendo à sugestão da ordem
analítica de articulação entre os descritores, apresentamos a tabela 1, ao final do texto.
Os resultados encontrados na primeira busca utilizando o descritor 01: “Programa
de Educação Integral de Pernambuco”, obtiveram 34 trabalhos encontrados, distribuídos
entre teses e dissertações. Em função da busca se concentrar em um único descritor,
permitiu ao BDTD apontar uma quantidade maior de produções, considerando um único
objeto para a consulta. Bem como, por consequência do descritor 01, situar-se como
objeto principal deste estudo, acabou por envolver um número maior de produções.
Identificamos também que, em virtude do descritor 01 utilizar a palavra
“Pernambuco”, a maior quantidade de trabalhos encontrados está distribuída na seguinte
instituição, a saber: na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com 17 trabalhos,
sendo 13 dissertações de mestrado e 4 teses de doutorado.
A profusão de trabalhos direcionados para a análise do Programa de Educação
Integral de Pernambuco, realizados no Programa de Pós-Graduação em Educação
(PPGE/UFPE), está, em grande parte, reunida no seio dos trabalhos desenvolvidos pelos
pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Gestão da Educação e Políticas do Tempo Livre
(GESTOR). Esse grupo produziu no âmbito do PPGE/UFPE, 9 produções, sendo 7
dissertações de mestrado e 2 teses de doutorado, entre os anos de (2013-2020).
Ainda em relação ao descritor 01, encontramos 5 produções realizadas no
Programa de Mestrado e Doutorado em Gestão e Avaliação em Educação Pública da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Foram capturadas 4 dissertações mestrado
e 1 tese de doutorado realizadas no intervalo de (2013-2015). Essas produções
concentraram-se em diferentes categorias de análise, a saber: (a) nos processos de
implantação do Programa de Educação Integral de Pernambuco; (b) nos desafios
oriundos do ingresso e da permanência dos estudantes nas escolas de tempo integral de
Ensino Médio da rede estadual de ensino de Pernambuco; e (d) na avaliação de
desempenho das escolas que fazem parte do PEI.
Quando referido ao descritor 02: “Programa de Educação Integral de Pernambuco
And Gerencialismo”, a busca resultou no total de 5 produções encontradas, sendo 4
dissertações e apenas 1 tese. Todos os trabalhos foram realizados no âmbito do
PPGE/UFPE. Ao inserimos o descritor 02, podemos constatar uma redução considerável
no quantitativo de produções realizadas, quando articulamos os dois descritores:
Programa de Educação Integral de Pernambuco And Gerencialismo.
Por fim, na terceira e última busca, inserimos a articulação entre os três descritores
simultaneamente. Conforme apontado na tabela 1: “Programa de Educação Integral de
Pernambuco And Gerencialismo And Gestão educacional e escolar”. Os resultados desta
última busca apontou um dado importante, a saber: encontramos apenas 3 dissertações
de mestrado que envolvem as categorias de análise correspondentes a articulação entre
os três descritores sugeridos neste estudo.
As “categorias de Aproximação”
61
Conforme anunciado na introdução, após realizarmos a primeira etapa deste
estudo, no qual se concentrou mais atentamente aos resultados quantitativos encontrados
a partir da busca por produções científicas desenvolvidas em teses e dissertações, em
consideração aos critérios definidos anteriormente. A partir desse momento, passaremos
a realizar uma análise dos resumos, objetivos e conclusões apresentados nas produções
encontradas no período estipulado neste estudo.
Bem como, conforme descrito, para realização da segunda etapa deste estudo,
que se concentrou na análise qualitativa dos trabalhos encontrados, elaboramos um breve
quadro de “Categorias de Aproximação”. As produções encontradas foram distribuídas
entre as quatro categorias distintas. São elas: (1) Mudanças no modelo de Gestão
educacional e escolar; (2) Entre Gestão Democrática e Gerencialismo; (3) Políticas de
Responsabilização; (4) Funções e Objetivos do PEI.
Após as leituras dos 44 trabalhos encontrados, concentrando a análise nos
resumos, objetivos e conclusões. Entendemos necessário realizarmos uma primeira
triagem, tendo como pressuposto a identificação das produções que mais se
aproximavam com a tríade proposta nesta pesquisa. Por conseguinte, após a realização
desta primeira triagem, desconsideramos 10 trabalhos, pois estes não apresentavam uma
relação direta com a temática em foco.
Portanto, após a análise proposta para a segunda etapa e a realização da triagem
já mencionada, ficaram assim distribuídos, entre as quatro “Categorias de Aproximação”,
os 34 trabalhos encontrados. Para que possamos compreender melhor a distribuição
entre as “categorias de aproximação”, apresentamos a tabela 2, ao final do texto.
As “Categorias de Aproximação” apresentadas na tabela 2 derivam da análise
sistemática das produções identificadas. Essa análise tomou como pressuposto, como já
mencionado, a realização de uma leitura aprofundada dos resumos, objetivos e
conclusões apresentadas nas pesquisas encontradas. Esta etapa possibilitou localizar
“categorias de análises comuns” entre alguns trabalhos. Justamente em função dessa
equivalência, elaboramos as “Categorias de Aproximação”, situando as produções entre
elas.
Com isso, a distribuição dos trabalhos entre as “Categorias de Aproximação”
possibilitou, por exemplo, dimensionarmos como as produções científicas em teses e
dissertações têm tratado à temática aqui proposta e, por consequência, as categorias
comuns de análise que essas produções apresentam, considerando, no caso deste
estudo, a tríade sugerida na tabela 1, que apresenta os descritores e suas respectivas
ordens e combinações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
62
sugeridos: Programa de Educação Integral de Pernambuco And Gerencialismo And
Gestão educacional e escolar. Estes trabalhos foram analisados e distribuídos entre as
“Categorias de Aproximação”, relacionados entre apenas três delas. Quais sejam: na
categoria 01: Mudanças no Modelo de Gestão educacional e escolar; na categoria 02:
Políticas de Responsabilização; e na categoria 04: Funções e Objetivos do (PEI).
Portanto, não encontramos nenhuma produção que contemplasse a categoria 03:
Políticas de Responsabilização. Isto implica, dentre outras questões, na necessária
realização de pesquisas que possam contemplar essa dimensão.
REFERÊNCIAS
QUADROS/TABELAS/FIGURAS
63
2º ENTRE GESTÃO DEMOCRÁTICA E GERENCIA- 04
LISMO
3º POLÍTICAS DE RESPONSABILIZAÇÃO 11
4º FUNÇÕES E OBJETIVOS DO (PEI) 08
TOTAL 34
Tabela elaborada pelo autor com base no catálogo da BDTD.
64
12. ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NA PERSPECTIVA DO TRABALHADOR(A)-
ESTUDANTE
RESUMO
Esse trabalho se propõe a problematizar a perspectiva do trabalhador(a)-estudante e sua
inclusão/exclusão na educação em tempo integral, no contexto da política curricular
atualmente vigente para a Educação Básica. Discute os antagonismos presentes na
oferta dessa modalidade considerando que a meta de implementação gradativa da
educação integral em parte das escolas públicas, está previsto no PNE (Lei n° 13.005/14)
tendo sua vigência até 2024. Em termos metodológicos, realizou-se um levantamento
bibliográfico acerca da escola em tempo integral na interface com a realidade vivenciada
pelo trabalhador(a)-estudante. Por fim, buscou-se demonstrar as contradições presentes
na política de educação integral a partir das tendências apontadas na realidade.
Palavras-chave: Educação; Escola em tempo integral; Trabalhador(a)-estudante.
INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 traz em seu art. 205, a educação como um direito
de todos, sendo um dever do Estado e da família, promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Pode parecer numa primeira leitura, ao tratar do pleno desenvolvimento da pessoa
elencado no art. 205 do texto Constitucional, que a educação em tempo integral no Brasil
é uma iniciativa recente, uma vez que sofreu grande influência nos anos 2000, em
particular nos governos do Partidos dos Trabalhadores. Mas, seguindo o direcionamento
do texto Constitucional, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) promulgada em
1996, já trazia em seu art. 34 a possibilidade de o ensino fundamental incluir, pelo menos
quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o
tempo de permanência na escola (BRASIL, 1996).
Mesmo antes desses períodos, na metade do século XX a estratégia de uma
“Educação integral experimentou diversas iniciativas e estratégias de implantação, sendo
a mais conhecido por nós, as Escolas-Parque de Anísio Teixeira (anos 50), e os Centros
Integrados de Educação (CIEPs) de Leonel Brizola (anos 80 e 90)” (SILVA; SILVA, 2009,
p.2).
Nesse contexto, deve-se ressaltar, que a retomada nos anos 90 em âmbito
nacional, da temática envolvendo a escolarização em tempo integral, coincide com a
abertura do Brasil a doutrina socioeconômica neoliberal, iniciada no governo de Fernado
Collor de Mello e posteriormente consolidada com a chegada de Fernando Henrique
Cardoso a presidência, onde o Estado deixou de ser desenvolvimentista e investidor como
31 Professor e Advogado. Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). gustavo-
melo@hotmail.com
32
Assistente Social no Tribunal de Justiça de Pernambuco e Mestranda no programa de pós-graduação em
educação da UFPE. patriciaclarice2016@gmail.com
65
nos governos de Getúlio Vargas (1930-1945) e Juscelino Kubitschek (1956-1961),
passando a um Estado regulador.
Em um capitalismo tardio globalizado, no qual está inserida a sociedade brasileira,
fundamentalmente caracterizada pela dicotomia entre capital e trabalho, entre
exploradores e explorados, que se busca consolidar a escola em tempo integral, através
de políticas educacionais marcadas por contradições cuja tendência principal, ao menos
no que se refere a rede pública de ensino, é a desvalorização de conhecimentos que são
indispensáveis a compreensão de uma realidade social que ultrapasse o plano das
aparências. (DUARTE; JACOMELI, 2017, p. 564).
Neste cenário, emerge uma proposta para a educação integral a partir do
Programa Mais Educação, o qual foi instituído através da portaria interministerial nº
17/2007 e regulamentado pelo Decreto 7.083/10, cuja finalidade é a de oferecer ações
socioeducativas no contraturno escolar. O Programa comporta em seu texto, a
necessidade de se atentar para a situação de vulnerabilidade na qual muitas crianças e
adolescentes estão expostos tendo a educação um papel fundamental na superação
dessas situações. (BRASIL,2007)
Imerso no contexto de ampliação das jornadas escolares, está o trabalhador(a)-
estudante33, ou seja, aquele(a) que frequenta uma instituição de ensino, mas que
necessita realizar uma atividade laboral para sua sobrevivência ou de sua família, em um
ou nos dois horários de funcionamento das escolas em tempo integral.
Assim, analisar a condição do(a) trabalhador(a)-estudante na escola de tempo in-
tegral tendo como foco o Estado de Pernambuco, constitui o nosso objeto de pesquisa.
Deste modo, buscaremos enunciar como o programa de educação integral vem se de-
senvolvendo em nível nacional, para compreender as ações voltadas ao(a) trabalha-
dor(a)-estudante nos Municípios onde só existe escola de tempo integral Para tanto, bus-
caremos identificar as legislações e normativas nacionais e estaduais para a educação
em tempo integral nos níveis fundamental e médio e por fim pretendemos revelar a pers-
pectiva do(a) trabalhador(a)-estudante frente as dificuldades vivenciadas na escola em
tempo integral.
O trabalho proposto vem a contribuir com o campo das políticas educacionais
tendo em vista as contradições operantes neste terreno, sobretudo em tempos de contra
reforma levadas a cabo por uma fração lobista de empresários cujo projeto escancara o
dualismo estrutural de classes.
33 Projeto de lei n° 5524 de 2019, de autoria do Senador Acir Gurgacz (PDT/RO), insere o Capítulo V no Título
III da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943,
para dispor sobre o trabalhador(a)-estudante.
66
Sob o mote de uma educação universalizada, “[...] as propostas amparam-se no
pressuposto de que somente a escola de tempo integral pode ser considerada
verdadeiramente escola” (PARO et al, 1988, p.12), acrescida da ideia salvacionista de
que as escolas podem solucionar problemas estruturais causados pelo sistema
concentrador de riquezas. Assim, ampliam-se as jornadas escolares dos(as) alunos(as)
sem qualquer conexão com a realidade por eles vivenciadas, uma vez que, na sua maioria
são pessoas advindas das camadas vulnerabilizadas e apartadas dos direitos sociais
mínimos a uma vida digna.
Neste aspecto, a escola é acionada a gerenciar as desigualdades convertendo-se
em simulacros da inclusão. Sob discursos modernos, mas carregados de
conservadorismo, a promessa do ensino integral escancara a dualidade educacional
tendo em vista a precarização dos currículos, o esvaziamento dos conteúdos cedendo
espaço para uma formação aligeirada em total sintonia com as exigências do mercado
neoliberal.
67
verdadeiro descompasso com a própria condição de dignidade, já que este(a) aluno(a),
não consegue se inserir numa “educação integral plena” diante da necessidade de
continuar trabalhando.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
68
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9.394/96. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 5 abr. 2023
CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise. Ensino Médio e Educação Profissional no Brasil: du-
alidade e fragmentação. Revista Retratos da Escola, v.5, n-8, p.27-41, jan/jun.2011. Dis-
ponível em: <http//www.esforce.org.br>. Acesso em: 4 abr. 2023.
DUARTE, Elaine Cristina Melo; JACOMELI, Mara Regina Martins. A educação integral na
perspectiva histórico-crítica: para além da ampliação do tempo escolar. Educação, Teoria
e Prática, 2017. p. 562-574.
PARO, Vitor et al. A escola pública de tempo integral: universalização do ensino e proble-
mas sociais. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, p.11-20,1988.
SILVA, Jamerson Antônio de Almeida da; SILVA, Katharine Ninive Pinto. A educação
integral no contexto da intersetorialidade: avaliando a implementação do programa
mais educação no Estado de Pernambuco. Texto elaborado a partir do projeto de
pesquisa “Educação Integral do Contexto da Intersetorialidade: avaliando o programa
Mais Educação no estado de Pernambuco”. Pesquisa financiada pelo CNPq. Disponível
em: https://www.anpae.org.br/simposio2009/144.pdf. Acesso em: 5 abr. 2023.
69
13. IMPACTOS E NOVAS SOCIABILIDADES DO II FESTIVAL DE CULTURA
CORPORAL NA FORMAÇÃO DA JUVENTUDES DO IFPE
RESUMO
A pesquisa buscou identificar os impactos do II Festival de Cultura Corporal (II FCC) na
formação das juventudes do IFPE. Estudo caracteriza-se como pesquisa qualitativa,
envolvendo 865 discentes do ensino médio integrado de (07) cursos do Campus Recife.
Utilizou-se os relatórios avaliativos e um grupo focal como estratégia metodológica para
analisar as percepções dos sujeitos. Observou-se como impactos o fortalecimento dos
laços de amizade, ampliação de conhecimentos, engajamento, trabalho coletivo,
protagonismo e novas formas de sociabilidades no contexto escolar.
Palavras-chave: Sociabilidade; Cultura Corporal; Juventude.
INTRODUÇÃO
70
FCC no processo formativo a partir das percepções discentes nas comissões, no evento
e as repercussões nas suas vidas.
METODOLOGIA
ANÁLISE E DISCUSSÃO
71
futebol, eu vi como funciona mesmo os jogos e participando da comissão,
eu acho que a principal contribuição foi ter responsabilidades e ver
que você está contribuindo para algo maior.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
72
significativas na ampliação e apreensão de novos conhecimentos no âmbito do esporte e
lazer. Demonstrou-se a relevante contribuição do trabalho coletivo, valorizando os canais
de escuta no cogestão do evento. Observou-se o sentido e o significado das experiências
de pró-atividade discente gerando um sentimento de pertencimento ao espaço escolar e
com seus pares, no fortalecimento dos vínculos afetivos. Portanto, potencializando o
esporte e lazer, enquanto fenômenos sociais capazes de promover a socialização e
fortalecimento da saúde mental dos praticantes.
REFERÊNCIAS
DAYRELL, J.; CARRANO, P. Juventude e ensino médio: quem é este aluno que
chega à escola. In: DAYRELL, J.; CARRANO, P.; MAIA, C. L.(Org.). Juventude e ensino
médio: sujeitos e currículos em diálogo. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2014. p. 101-133.
QUADROS/TABELAS/FIGURAS
73
Figura 1 – Avaliação pelos participantes
Fonte: [Wordcloud]
74
14. IMPLEMENTAÇÃO DO NOVO ENSINO MÉDIO NO ESTADO DA BAHIA:
REGULAMENTAÇÕES E PRINCIPIOS LEGAIS EM DISCUSSÃO
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo apresentar relato de pesquisa em andamento, vinculada
ao Programa de Pós-Graduação em Ensino (PPGE) da Universidade Federal do Oeste
da Bahia (UFOB) acerca da implementação do Novo Ensino Médio, no Estado da Bahia.
Assim, apresenta resultados preliminares, por meio de análise documental com base na
legislação em vigor, em especial, a Lei nº 13.415/2017. A realização desta investigação
possibilitou a tessitura de reflexões acerca de elementos inerentes a organização
curricular proposta para essa etapa de ensino, bem como, a ampliação dos estudos
voltados à implementação da lei, nos últimos anos. A metodologia adotada consiste na
abordagem qualitativa, pesquisa do tipo bibliográfica, com a utilização da técnica análise
documental e Análise de Conteúdo (BARDIN, 2015). Os dados indicam que a
implementação do Novo Ensino Médio é permeada por indagações que emergem de um
cenário de dificuldades diversas, com condições mínimas para a sua operacionalização
pela maioria dos gestores escolares públicos. Portanto, consta-se a necessidade de um
aporte maior de recursos financeiros, pedagógicos e assistência técnica aos sistemas de
ensino, por meio do Ministério de Educação (MEC), fundamentais para o processo de
implementação dessa política de relevância educacional e social.
Palavras-chave: Rede Estadual de Ensino da Bahia; Lei nº 13.415/2017; Ensino Médio;
INTRODUÇÃO
Técnica em Assuntos Educacionais na Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). Professora Adjunta
na Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
39 Pós-Doutora, em Política Transnacional. Doutora em Educação. Professora Titular e Professora
75
desenvolvimento de pesquisa sobre a Educação Básica, a partir de mudanças recentes
na estrutura curricular no Ensino Médio.
A motivação para o desenvolvimento desta investigação consiste na busca por
respostas para as indagações epistemológicas, em torno, da discussão acerca da
implementação do Novo Ensino Médio e as políticas públicas educacionais. Possibilitando
assim, a produção de conhecimentos acerca da temática, em face do contexto atual,
permeado por incertezas e desafios enfrentados por profissionais que atuam nesta
modalidade de ensino.
METODOLOGIA
76
reforma do Ensino Médio. É importante destacar que, tanto a MP nº 746/2016, como o
Projeto de Lei (PL) nº 6.840/2013 foram alvo de questionamentos por parte da sociedade
civil, especialmente, no âmbito do Movimento em Defesa do Ensino Médio, visto que
elementos do PL estão presentes na Lei 13.415/2017 com modificações (FERRETTI,
2018).
Assim, a reforma se configura em uma proposta com distanciamento e lacuna
entre a sua implementação e a efetivação da garantia do direito a um ensino flexível e
com qualidade social. Um ponto de questionamento se refere ao fato de que, apenas os
componentes Língua Portuguesa e Matemática são obrigatórios nos três anos do Ensino
Médio, sugerindo assim, uma formação específica na última etapa da Educação Básica.
A reforma se constitui em um processo que se contrapõe aos interesses da classe
trabalhadora e democratização da educação, do ponto de vista do acesso, da
permanência e conclusão escolar (FELIPE, 2021).
Nesse sentido, é possível afirmar que a mudança do Art.36 da Lei 13.415/2017,
passa a vigorar com a redação “por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares” é
a garantia do reconhecimento das demandas dos estudantes e reconhecimento de sua
liberdade de escolha. No entanto, nota-se que não serão os estudantes que definirão os
itinerários formativos, mas estes serão pré-estabelecidos de acordo com a realidade de
cada estado, que estarão vinculados as condições das secretarias de educação, e muitas
vezes não refletem a necessidade dos estudantes.
As alterações propostas com o texto da Lei n.º 13.415/2017, aponta um movimento
em direção a uma proposta de mudança no ensino médio mais delimitada e fragmentada,
dialogando com as concepções tradicional e utilitarista do conhecimento, negligenciando
o caráter mais abrangente promovido pela LDB de 1996. A leitura da lei corrobora para o
pensamento que a mudança não estabelece propriamente uma reforma educacional.
A reforma do ensino médio revela a dualidade histórica na educação básica. Essa
nova organização curricular proposta não traz inovações, ao contrário se identifica com
outras reformas como a Capanema, as mudanças propostas pela Ditadura Militar com a
Lei n.º 5.692/71 e reafirma o Decreto n.º 2.208/97.
Com a aprovação da Lei n.º 13.415/2017 o estado da Bahia formulou um
Documento Orientador do Novo Ensino Médio, esse dispositivo possui três versões 2019,
2020 e 2022. As versões de 2019 e 2020 exprimem que até 2023 a rede estadual de
ensino estará sobre um período de transição curricular.
A partir do ano de 2023 o currículo do ensino médio no estado da Bahia foi
orientado pelo DCRB (2022) Volume 2 que refere-se a etapa do ensino médio, destina-
se às ofertas do Ensino Médio de Tempo Parcial, do Ensino Médio de Tempo Integral, do
Ensino Médio com Intermediação Tecnológica (EMITec), do Ensino Médio Profissional e
Tecnológico e do Ensino Médio do Turno Noturno. O documento é uma referência para
as unidades de ensino estadual e objetiva:
77
estruturantes, territorialidade, fundamentos teóricos, contexto indicativo arquitetura
curricular, componentes curriculares eletivos, itinerários formativos, ensino médio integral,
ensino médio noturno, ensino médio com intermediação tecnológica (EMITec),
orientações para a formação continuada para profissionais da educação e referências. O
processo de implementação do NEM na Bahia representa segundo Felipe (2021) uma
produção da escola que está se processando, na qual se observa avanços, recuos,
disputas de hegemonia, interesses divergentes, visões distintas da sociedade, do fazer
educativo e a presença de referenciais teóricos também distintos, por vezes,
contraditórios.
Diante do exposto, a implementação do NEM acontece marcado por questões
históricas produzidas a partir dos embates, tensões, contradições e demandas da
sociedade em relação as políticas educacionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BAHIA. Documento Curricular Referencial da Bahia para o ensino médio (v. 2) / Secretaria
da Educação do Estado da Bahia. – Rio de Janeiro: FGV Editora, 2022.
78
BRASIL. Medida Provisória nº 746, de 22 de setembro de 2016. Altera a Lei de
Diretrizes e Bases e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino
Médio em Tempo Integral. Brasília: 2016.
MOTTA, Vânia Cardoso da; FRIGOTTO, Gaudêncio. Por que a urgência da reforma do
ensino médio? Medida Provisória nº 746/2016 (Lei nº 13.415/2017). Educação &
Sociedade, v. 38, p. 355-372, 2017.
SILVA, M.R. O Ensino Médio como um campo de disputas: Interfaces entre Políticas
Educacionais e Movimentos Sociais. Reunião Científica da ANPED Sul 11, Curitiba, 2016.
79
15. O ENSINO MÉDIO E A POLÍTICA DE EDUCAÇÃO INTEGRAL EM
PERNAMBUCO: UMA POLÍTICA PÚBLICA CONSOLIDADA?
RESUMO
Esse trabalho teve por objetivo geral investigar o Programa de Educação Integral (PEI)
em Pernambuco no tocante a ampliação das escolas de Ensino Médio e suas implicações.
Metodologicamente, optamos pela pesquisa bibliográfica e documental de cunho
qualitativo. Os resultados apresentam que a política se desenvolveu de forma gradativa
no estado quanto à sua expansão alcançando a meta 6 proposta pelo Plano Nacional de
Educação (PNE); além disso, a política das Escolas de Referência em Ensino Médio
(EREM) foi replicada para o Ensino Fundamental, como é o caso das Escolas de
Referência em Ensino Fundamental e Médio (EREFEM). Destacamos ainda, a presença
de novos formatos de oferta escolar (como as escolas de dupla jornada) demandando
pesquisa sobre sua origem se dar pela falta de infraestrutura ou de demanda da
comunidade; análise sobre o binômio tempo versus educação integral, e por fim, a
necessidade de investigar onde estuda o aluno que não pode estar em tempo integral na
escola.
Palavras-chave: Educação Integral; Política de Educação Integral; Pernambuco.
INTRODUÇÃO
Na discussão sobre educação integral é mister trazer à luz o seu conceito. Para
esta discussão, nos amparamos em Ferreira e Pinheiro (2018, p. 19), “a essência da
Educação Integral se encontra na valorização da totalidade da pessoa, atendendo ao seu
desenvolvimento físico, intelectual e social”, e está relacionada com “o desenvolvimento
humano e a formação global e harmoniosa do indivíduo” (FERREIRA e PINHEIRO, 2018,
p. 20). Este entendimento permeará nossa abordagem, distinguindo tempo integral de
educação integral, no entanto, o tempo é uma estratégia para potencializar esta
educação.
O nosso objeto de estudo é o Programa de Educação Integral (PEI) que foi
implantado em Pernambuco através da Lei Complementar nº 125/2008. Segundo Dutra
(2014, p. 43) “a decisão de transformar o referido programa experimental em Política
Pública está alinhada à meta proposta pelo governo do estado de melhoria da qualidade
do ensino e reestruturação do Ensino Médio”. Já Nascimento (2019, p. 21), traz outra
nuance da motivação de sua implantação: “em Pernambuco, para minimizar a crise
educacional diante dos resultados das avaliações externas e em busca da melhoria da
qualidade da educação no Ensino Médio, acesso à qualificação profissional e a inclusão
social dos estudantes, foi instituído em 2008 o Programa de Educação Integral (PEI)”.
A nível nacional, no ano de 2014, foi aprovado o Plano Nacional de Educação
(PNE/ 2014-2024) para o decênio que se seguia, trazendo 20 metas para diversas áreas
da educação. Dentre elas, a Meta 6 sobre Educação Integral cujo objetivo é “Oferecer
80
educação em tempo integral em, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas
públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos(as)
alunos(as) da educação básica”. Tal documento veio a corroborar com o modelo
educacional de Pernambuco que contava com o desafio da ampliação do número de
matrículas e maior abrangência no território.
No entanto, conforme Nascimento (2019), existe a necessidade da realização de
estudos no tocante à expansão das escolas de referência em ensino médio. Com base
nisso, esse trabalho tem como objetivo investigar o Programa de Educação Integral em
Pernambuco no tocante a ampliação das escolas de Ensino Médio e suas implicações.
Metodologicamente, optamos pela pesquisa bibliográfica e documental na perspectiva
qualitativa (OLIVEIRA, 2016).
81
para alcançar essa meta. Vale ressaltar que no próximo ano, o PNE completa o ciclo e
está meta não será alcançada.
82
Essa ampliação das escolas estaduais de Ensino Médio teve reverberações no
Ensino Fundamental a partir de 2016 quando surgiu a primeira Escola de Referência em
Ensino Fundamental (EREF). Mais tarde, essa etapa amplia suas matrículas através de
um novo formato trazido pelas Escolas de Referência em Ensino Fundamental e Médio
(EREFEM), que funcionam com dupla jornada, ofertando duas etapas em tempo integral:
o Ensino Fundamental Anos Finais (1ª entrada) e o Ensino Médio (na 2ª entrada),
conseguindo atender a necessidade local por matrículas.
Durante esse percurso, a política teve seu escopo legal atualizado, com a Lei
Complementar 364/2017 que traz algumas alterações incluindo no PEI as Escolas
Técnicas Estaduais (ETE) e as Escolas de Referência em Ensino Fundamental (EREF).
Algumas das alterações foram assimilações do Programa de Fomento Ensino Médio em
Tempo Integral definidas pelo MEC, quando da preparação dos entes subnacionais para
acolher mais adiante, as mudanças oriundas da Reforma do Ensino Médio.
Em 2021, a Lei Complementar 450/2021, traz atualizações com foco na
valorização dos professores, equidade de gênero, inclusão, combate ao bullying e
incentivo à cultura de paz nas escolas integrais.
A imagem 1 (disponível no final do texto), mostra o Percurso histórico da política
pública de educação integral em Pernambuco, de 2007 a 2022.
Essa política se desenvolveu de forma gradativa ao longo dos anos e levou
Pernambuco a ser o primeiro estado a universalizar o ensino médio em tempo integral no
Brasil. Por universalização o governo usou como parâmetro o fato de ter possibilitado e
alcançado 70% de todas as matrículas da etapa no tempo integral.
Atualmente, existe pelo menos uma Escola de Referência em Ensino Médio em
cada município que ao longo do estado formam uma rede de 576 unidades educacionais;
sendo esse um número de vanguarda no atual cenário educacional brasileiro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
83
DUTRA, Paulo. Educação integral no Estado de Pernambuco – uma política pública
para o Ensino Médio. Recife: Editora UFPE, 2014.
OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. 7. ed. Petrópolis: Vozes,
2016.
QUADROS/TABELAS/FIGURAS
84
Quadro 1. Indicadores da Meta 6
85
16. O LUGAR DO LETRAMENTO LITERÁRIO NA BNCC DO ENSINO MÉDIO42
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar os postulados teórico-metodológicos da Base
Comum Curricular do Ensino Médio (BNCC) no que se refere ao ensino de literatura
através do Letramento Literário. Essa é uma perspectiva importante para que se construa
a relação entre a prática social e o ensino dentro da sala de aula. Para subsidiar essa
pesquisa, cuja metodologia é de caráter documental, fundamentamo-nos em autores
como Soares (2001), Amorim e Silva (2019), Cosson (2022), entre outros. A pesquisa é
resultante, portanto, da reflexão sobre a matriz curricular do Novo Ensino Médio, mais
especificamente do campo de atuação artístico-literário da disciplina língua portuguesa.
Os resultados apontam que há diversidades de letramentos literários em distintas
dimensões a serem trabalhadas pelos docentes, contudo existem pontos negativos, pois,
percebe-se lacunas nas orientações metodológicas do parâmetro curricular que dificulta
a prática docente em sala, afinal, entende-se que a BNCC norteia as práticas de ensino
de leitura literária realizadas nas escolas.
Palavras-chave: Ensino de Literatura; Letramento Literário, Campo Artístico-literário;
BNCC; Novo Ensino Médio.
INTRODUÇÃO
42 O trabalho é resultado do artigo científico apresentado na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, como
requisito parcial para a conclusão do curso de Licenciatura em Letras Português-Espanhol da Universidade
Federal Rural de Pernambuco — UFRPE, sob orientação da prof.ª. Dra. Sherry Morgana Justino de Almeida.
E-mail: sherry.almeida@ufrpe.br e coorientação da prof.ª Dra. Tatiana Simões e Luna. E-mail:
tatiana.luna@ufrpe.br.
43 Graduanda em Licenciatura em Letras Português-Espanhol pela UFRPE.SEDE, E-mail:
kfavafraga@gmail.com
86
contexto sócio-histórico (SOARES, 2001) e de letramento literário como forma de
escolarizar a literatura sem que ela perca o seu sentido humanizador. Ou seja, o
letramento literário é uma prática social que permite que a literatura não abandone o
prazer para qual essa arte foi criada, mas que reconhece a função a qual esse saber é
designado: a construção do conhecimento (COSSON, 2022).
Posto isto, é essencial que se estuda a BNCC: por ser um documento que norteia
as práticas de ensino. Afinal, ter uma matriz curricular de ensino traz para o docente uma
segurança na execução de sua sequência didática ou plano anual de ensino, como
também mostra para o alunado que ele possui uma linha a seguir durante seu
desenvolvimento.
Desse modo, objetivo analisar os postulados teórico-metodológicos da Base
Comum Curricular do Ensino Médio (BNCC) no que se refere ao ensino de literatura
através do Letramento Literário Assim sendo, a análise será guiada pelas seguintes
perguntas de pesquisa: Qual(is) noção(ões) de letramento literário é(são) explicitada(s)
nos postulados da BNCC? Qual(is) tipo(s) de letramento(s) literário(s) é(são)
contemplado(s) por essa matriz curricular? Qual(is) orientação(ões) metodológica(s)
é(são) indicada(s) para que o docente desenvolva o letramento literário em suas aulas?
METODOLOGIA
ANÁLISE
87
usufrui (COSSON, 2022). Logo, desenvolver os letramentos críticos corresponderá a um
ensino de uma linguagem emancipatória, pois formará um sujeito crítico dentro de sua
realidade, ou seja, o ensino de linguagem defenderá “... a importância do entendimento
da língua como discurso...” (AMORIM & SILVA, 2019, p.155).
Assim sendo, a BNCC pressupõe o trabalho com o letramento em dois prismas, o
primeiro é tratar o letramento literário só como simples processo de fruição, ou seja, “as
atividades desenvolvidas” estarão pautadas no “... imperativo de que o importante é que
o aluno leia, não importando bem o que” (COSSON, 2022, p. 22). E o segundo é
conceituar o ensino da literatura como mero caracterizador das obras dentro de um
modelo pré-concebido (AMORIM & SILVA, 2019).
Posto isto, o documento propõe um diálogo entre as situações vivenciadas pelos
estudantes e os objetos de ensino, cabendo a metodologia a função organizacional deste
diálogo do saber. Portanto, as articulações propostas não se dão somente pelos
itinerários formativos, mas também se darão pelos campos de atuação; que têm como
finalidade desenvolver “uma formação voltada” para a “participação mais plena dos jovens
nas diferentes práticas sociais que envolvem o uso das linguagens” (BRASIL, 2018,
p.473).
Logo, quando se leem os parâmetros curriculares norteadores para o ensino do
campo artístico-literário, percebe-se que, a princípio, o aspecto que norteia o ensino
desse campo é a escolha de um repertório de obras significativas para serem
apresentadas aos estudantes, pois os critérios principais do aprendizado estão na
construção crítica do sujeito, diante das produções culturais diversificadas apresentadas
a ele, bem como a sua própria escrita literária como forma de o estudante buscar o seu
autoconhecimento. Espera-se também que os indivíduos possam ser apreciadores
críticos da estética das obras, construindo diálogos entre diversos gêneros, ampliando
suas visões de mundo ao passo que constroem repertórios “significativos” presentes em
obras canônicas e não canônicas 44, a fim de conhecerem os marcos históricos nas
diversas obras literárias.
O que se percebe é que o primeiro parâmetro orienta que o docente trabalhe a
leitura em seus alunos de forma que tenham contato com gêneros diversificados bem
como trazer para o espaço escolar um acervo literário que contempla desde obras da
tradição popular aos grandes best-sellers nacionais e internacionais. Isso pode ser uma
barreira para os professores da rede pública45, pois, com a pouca verba destinada à
educação, fica difícil construir uma biblioteca que consiga esse acervo diverso.
O segundo parâmetro indica que os planos anuais de ensino tenham uma ampliação
das obras canônicas brasileiras e estrangeiras com o intuito de aumentarem o repertório
clássico do alunado a fim de que consigam compreender os valores estéticos e éticos da
tradição literária, construindo, dessa forma, diálogos e comparações entre as esferas que
permeiam os textos literários clássicos em seus diversos gêneros como estipulado no
terceiro parâmetro. Contudo, o documento não indica como os professores pode fazer a
seleção dessas obras, nem mesmo como eles podem trabalhar as obras dialogicamente.
Focar na ampliação, diminui espaço para reflexão crítica de uma obra e até prejudica o
processo de fruição da obra pelo leitor, pois o docente terá pouco tempo letivo para
44
Obras canônicas são as que estão presentes dentro da Tradição Literária Ocidental.
45Ressalta-se que a construção de um acervo complexo, significativo e diversificado também será uma
problemática para o(a) professor(a) da rede privada, não por falta de verba, mas por uma questão de
hierarquia, afinal, muita das vezes, a autonomia do professor(a) é, de certa forma, condicionada pelas ordens
da gestão escolar à qual pertence.
88
explorar um repertório vasto de obras (ou de leituras), não considerando processo de
maturação psíquica exigido pela literatura.
Já o quarto e o quinto parâmetros exortam para que se trabalhem obras
significativas, sem explicitar o que se entende por significativo, de diferentes períodos
históricos, focando nas relações diacrônicas e sincrônicas 46entre elas. Abre espaço,
assim, para que o docente trabalhe o letramento e/ou fruição em conjunto com a
historiografia da obra, visando à construção crítica entre aquilo que o estudante vive com
aquilo que ele capta da sociedade da época que se lê ou construindo a ponte entre a
apreciação estética da obra em conjunto com o entendimento do contexto social em que
aquela obra lida está inserida.
E, por último, o sexto parâmetro orienta que os professores, durante os seus
planejamentos, deixem reservado tempo para que os alunos desenvolvam o fazer literário
como forma de contemplarem e conhecerem a si. Logo, há uma intenção de que sejam
formados escritores literários de diversos gêneros, pois o aluno teria seu protagonismo
ao escolher o gênero discursivo que iria contemplar em conjunto com aquilo que vivencia
em sua comunidade.
Contudo, apesar de o autoconhecimento ser importante para as práticas de
letramento, não há exortações claras de como seriam desenvolvidos esses momentos de
contemplação da escrita: Seriam em aulas ou nos itinerários formativos em forma de
oficina? Como se daria esse fazer literário no decorrer do ano letivo? O aluno só
escreveria para si ou a sua comunidade veria aquilo que produziu? E como os docentes
construirão oficinas de escrita literária? Haveria uma formação continuada para suprir
teórica e didaticamente esta exigência, com o intuito de não construir “moldes” genéricos
para as produções de escrita?
São princípios vagos, contudo válidos para uma orientação teórico-metodológica,
principalmente por eliminarem o foco da historicidade e mostrarem um leque de
possibilidades para o ensino da literatura. Todavia, há perguntas que carecem de
respostas como: O que são obras complexas? O que são obras significativas? Como
será construído o acervo de obras que serão trabalhadas no espaço escolar? Que espaço
as obras canônicas e as não canônicas terão dentro das aulas de língua portuguesa?
Como será desenvolvido o trabalho de fruição estética? Será em conjunto com a
historicidade literária? E, por fim, como todos esses aspectos estarão envolvidos dentro
da prática social?
Tais lacunas presentes nos parâmetros curriculares dificultam o trabalho docente,
afinal interferem no trabalho dos professores ao elaborarem os planos anuais de ensino
para as turmas do Ensino Médio, pois não há clareza quanto à compreensão e à
implementação dessas orientações no currículo efetivamente realizado em sala de aula
para que ocorra o ensino através do letramento literário.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
46Relação sincrônica refere-se ao estudo da língua, neste caso, a linguagem literária, dentro de um tempo
específico, já a relação diacrônica estabelece esse estudo através dos séculos.
89
É de suma importância que os parâmetros estejam construídos de forma clara para
auxiliar as práticas de letramento, então, um ponto que se deve que levar em
consideração em relação ao letramento literário é que a BNCC não se preocupa em
enumerar os conteúdos que serão trabalhados. Todavia há uma menção em estudar uma
literatura, que não fique só na tradição, que converse com as obras de literaturas que se
apartem do tradicionalismo, que proponham o diálogo entre o passado e o
contemporâneo, afinal a literatura deverá dialogar com o momento histórico em que o
alunado está inserido e assim apresentá-lo às literaturas passadas.
Por fim, este artigo evidencia o possível apagamento da literatura dentro dos
postulados da BNCC, por conta dos itinerários formativos que a orientam. A literatura
acabou perdendo espaço e atuação no âmbito escolar. A Base é um documento
teoricamente novo e carece de mais estudos no que tange os letramentos, os
multiletramentos e os hiper letramentos. Então, uma possibilidade de pesquisa futura é
investigar a abordagem dos letramentos literários no universo multimodal e hiper
midiático, inclusive o transmidiático.
REFERÊNCIAS
COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. 2. ed., São Paulo: Contexto,
2022.
90
17. O QUE VEM DEPOIS DO ENSINO MÉDIO?
REFLEXÕES ACERCA DO PROJETO LEVANDO CIÊNCIA NAS ESCOLAS
RESUMO
O projeto voluntário Levando Ciência é composto por mulheres das mais diversas áreas
do conhecimento científico, onde possui como principal intuito, levar assuntos de cunho
científico, educacional, profissional e social para as escolas de ensino público do estado
de Pernambuco, sobretudo para estudantes do Ensino Médio. Através disso, o seguinte
trabalho tem como objetivo apresentar o desenvolvimento das ações presenciais do
Projeto Levando Ciência nas escolas EREM Rodolfo Aureliano e EREM Desembargador
Antônio da Silva Guimarães, situados nos municípios de Jaboatão dos Guararapes e
Cabo de Santo Agostinho, respectivamente. O questionamento “O que vem depois do
Ensino Médio?”, por um lado é extremamente assustador para os estudantes, por outro é
uma pergunta norteadora das ações voluntárias do projeto. Dessa forma, o Levando
Ciência adotou a ferramenta do Google ClassRoom para desenvolver atividades voltadas
para o acesso a informações com aplicação de formulários, tendo como foco a
identificação das maiores dificuldades dos estudantes, e posteriormente ser construída
uma rede de conexões com pesquisadoras e profissionais das áreas em que os
estudantes possuam interesse, curiosidades e/ou dúvidas. Dessa forma, possibilitando a
construção de um projeto de vida e consequentemente aproximando os discentes com as
áreas que possuem afinidades.
Palavras-Chave: Educação; Ensino Médio; Orientação Profissional; Escola Pública;
Ciência
INTRODUÇÃO
47
Serviço Social UNIFG/ Sem vínculo
48 UFPE/ Arqueóloga e Mestranda em Arqueologia
49 UFPE/ Mestranda em Administração
91
(2016) também relata que essas escolhas são muitas vezes direcionadas para uma
necessidade coletiva, isso podemos identificar nas ofertas dos cursos técnicos dos
EREM’s e ETE’s.
Portanto, o Levando Ciência se justifica por entender que é imprescindível que
estudantes tenham acesso de qualidade às temáticas das ciências e educação, como
também que tais orientações são fundamentais para o crescimento interpessoal de cada
indivíduo e que esses crescimentos geram consequências bastante eficazes para o futuro
dos jovens concluintes de Ensino Médio, sobretudo se tratando de discentes do Ensino
Público.
Através dessa inquietação relacionada às dificuldades de acesso à informação dos
estudantes sobre as formas de ingresso nas universidades, benefícios, bolsas e entre
outros assuntos relevantes, o Levando Ciência foi pensado e estruturado para
proporcionar e nortear ações futuras dos discentes, seja para o ingresso nos âmbitos
acadêmicos, ou no mercado de trabalho.
Dessa forma, o projeto pretende construir uma ponte entre os múltiplos
conhecimentos (científicos e profissionais), desenvolvidos sobretudo em universidades,
por meio das mulheres que estejam nesses ambientes, colocando-as em interação com
os adolescentes que buscam orientações para trilhar seus próprios caminhos. Tendo
como objetivo principal desmistificar os ambientes do Ensino Superior, apresentando uma
realidade que vai além das salas de aula. Através disso, o projeto une essas demandas
do Ensino Médio, com a lamentável falta de reconhecimento das mulheres nos espaços
de liderança e poder, e assim o projeto também possui o foco de fornecer esse
reconhecimento do protagonismo feminino nos espaços de conhecimento científico e do
mercado de trabalho.
Esse retrato é evidente nos resultados de estatísticas de gênero, os quais revelam
que apenas 37% dos cargos gerenciais eram ocupados por mulheres no Brasil em 2019.
A proporção de mulheres docentes de ensino superior era de apenas 46,8% no mesmo
ano, apresentando um incremento de apenas 3,5% em relação à 2011 (IBGE, 2019). Além
disso, as mulheres representavam em 2019 uma taxa de participação na força de trabalho
26% inferior ao homem e rendimento habitual abaixo na comparação segmentada em
todos os recortes de raça, mesmo possuindo maior nível de instrução do que os homens
na mesma comparação (IBGE, 2019). Em que pese as gritantes desigualdades entre
homens e mulheres retratadas no período em análise, a série Estatísticas de Gênero -
Indicadores sociais das mulheres no Brasil, publicada pelo IBGE, foi descontinuada até o
presente momento.
Com isso, o Levando Ciência também possibilita a desmistificação da imagem que
a pessoa que produz ciência e pessoas em espaço de poder no mercado de trabalho, são
sempre homens, na maioria das vezes branco, quando, na verdade, muitas mulheres são
cientistas e desenvolvem um papel fundamental dentro dos espaços profissionais, porém
não têm o reconhecimento merecido. Em contrapartida, de maneira específica
objetivamos atender e levar a ciência e experiências profissionais para os adolescentes
de escolas vulneráveis de conhecimento e tecnologia.
A partir disso, é importante contextualizar que inicialmente o projeto foi construído
para ser realizado no formato presencial em contato direto com o nosso público alvo, mas
com o acontecimento drástico da pandemia da COVID-19, o projeto precisou ser
readaptado para o formato totalmente online. Onde, desde o ano de 2020, tivemos
diversas ações e realizações de atividades, como por exemplo o Programa de Mentoria,
Conversando sobre Educação, Semana da Empregabilidade, sendo esse último, em
parceria com a Celpe, entre outras atuações.
92
Entendendo a necessidade de atuar presencialmente, uma vez que o ensino remoto
fora uma exceção motivada pela pandemia, e que poucas escolas tiveram tempo hábil,
recursos e arranjo para uma adequação a ele, nos primeiros meses do ano de 2023 foram
iniciadas as articulações para os contatos diretos nas escolas. Partindo dessa questão,
tivemos a oportunidade de retomar a ideia principal do projeto e iniciamos as atividades
presenciais nas instituições da rede pública de ensino do estado de Pernambuco. Nossas
ações presenciais contemplarão as turmas do 3°ano das escolas EREM Desembargador
Antônio da Silva Guimarães (A, B e C) e EREM Rodolfo Aureliano (A, B, C e D) onde
foram realizadas as apresentações do projeto, propósitos, objetivos, formação da equipe,
conhecimento dos estudantes e suas expectativas futuras, dinâmicas de
autoconhecimento e proposta para continuidade dentro da plataforma do Google
ClassRoom.
METODOLOGIA
De acordo com Souza (2016), o uso das tecnologias em sala de aula, proporcionam
importantes relações entre docentes e estudantes, culminando em resultados mais
eficazes na aprendizagem das disciplinas ministradas. A partir disso, Scuisato (2016,
p.20, apud SOUZA 2016, p. 1), nos traz a reflexão de que tais meios tecnológicos
possibilitam novas formas de comunicação interpessoal, e para isso também uma
adaptação aos novos meios.
Nesse sentido, as redes tecnológicas atreladas ao ensino-aprendizagem, podem
ser encaradas como um desafio para muitos professores, mas são sem dúvida
mecanismos potencializadores da educação (GOMES et al., 2002). A partir disso, é
importante enfatizar que essas tecnologias possibilitam também, o que Souza (2016) vai
colocar como “Aprendizagem Colaborativa Online”, que ocorre quando duas ou mais
pessoas interagem virtualmente para fins educacionais, propiciando uma construção de
saberes.
Com isso, o Projeto Levando Ciência utilizará a plataforma do Google ClassRoom
como estratégia para unir todos os estudantes que a equipe houver acesso nos encontros
presenciais. Mas antecedendo essa união de contatos, a equipe tem como primeiro passo
o diálogo aberto em salas de aula, através de interações e dinâmicas, com o propósito de
atrair a atenção do público alvo e fazer com que ocorra o interesse nos próximos passos
do projeto.
A plataforma do Google ClassRoom foi escolhida para facilitar as comunicações
com estudantes, mas também por apresentar outros recursos possíveis para fins
didáticos, como Google Forms, Drive, Meet, e assim sucessivamente. Além disso, a
plataforma possui um diferencial do feedback entre discentes e professoras que poderão
conduzir melhor as interações e adaptar as didáticas apresentadas.
93
Evidenciar que existem muitas possibilidades para desempenhar após a conclusão
do Ensino Médio, além de desmistificar o espaço das Universidades, garante um maior
discernimento dos concluintes e consequentemente despertar um maior interesse sobre
como atingir esses objetivos. Para isso, o Levando Ciência apresentará essas
possibilidades através da continuidade dentro da plataforma do Google ClassRoom, com
a organização de Feiras de Profissões, Capacitações, além de articular momentos
presenciais, como as visitas guiadas nas Instituições Federais de Ensino e espaços
públicos de aprendizagem.
Dessa forma irá possibilitar que os jovens estudantes de Ensino Médio de escolas
públicas, tenham opções de escolhas para um futuro mais direcionado e norteado, através
de momentos colaborativos com mulheres das mais diversas áreas do conhecimento
científico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com Souza (2016), é de extrema importância que o corpo docente das
instituições de ensino estejam preparados para lidar com as divergentes situações que
surgem em sala de aula, seja no sentido do uso dos meios digitais, por exemplo, mas
ampliando a discussão, podemos direcionar essa participação fundamental dos
professores nas decisões futuras dos discentes. Com isso, trabalhar em conjunto com
outros profissionais, como psicólogos, psicopedagogos e assistentes sociais.
Desse modo, entendendo as necessidades atuais dos discentes de Ensino Médio,
das escolas públicas, sobretudo nas instituições de ensino que teremos acesso mais
direto, EREM Rodolfo Aureliano e EREM Desembargador Antônio da Silva Guimarães, o
Projeto assume um compromisso de proporcionar o contato dos jovens com mulheres
capacitadas em suas áreas, com finalidade de ajudar na organização de ideias e
propósitos para tomadas de decisões.
REFERÊNCIAS
94
REGATTIERI, M; CASTRO, J. M. Ensino médio e educação profissional: desafios da
integração, 2.ed, Brasília : UNESCO, 2010
SOUZA, Affonso César Santos de. Uso da Plataforma Google Classroom como
ferramenta de apoio ao processo de ensino e aprendizagem: Relato de aplicação no
ensino médio, 2016.
95
18. OS DESAFIOS DO “NOVO ENSINO MÉDIO” NA PRÁTICA DOCENTE DE UMA
ESCOLA INTEGRAL
RESUMO
O Novo Ensino Médio (NEM) é uma política educacional que, desde sua implementação
tem sido alvo de críticas, pela heterogeneidade como as escolas têm organizado seus
currículos, além da falta de monitoramento, por parte do Ministério da Educação. O estado
de Pernambuco se dedicou a elaborar um currículo baseado nas premissas da Lei 13.415,
que criou o NEM, porém, a prática nas escolas integrais tem se mostrado análoga ao que
se preconiza na lei, visto que a matriz curricular foi excessivamente preenchida com a
carga horária de disciplinas dos itinerários formativos e atividades complementares,
consequentemente reduzindo os componentes curriculares da Formação Geral Básica.
Este relato de experiência teve como objetivo compreender a forma como essa
implementação tem acontecido, sugerindo mudanças no âmbito do currículo de
Pernambuco. A metodologia usada foi a observação simples e participante, e o estudo de
caso, por meio de abordagem qualitativa, naturalística e interpretativa, tendo como lócus
uma escola de Referência em Ensino Médio, no município de Lagoa do Carro.
Compreende-se que mudanças pontuais na matriz curricular do estado podem contribuir
com as mudanças feitas pelo Ministério da Educação, para a melhoria da oferta do Novo
Ensino Médio, caso não se opte por sua revogação total.
Palavras-chave: Novo Ensino Médio; Currículo; Escola Integral.
INTRODUÇÃO
96
índices de qualidade (3,7 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB
2015), além de ter um terço dos estudantes com atraso de mais de dois anos.
O modelo atual veio de uma proposta do governo Michel Temer, e consequente
implementação gradual, desde 2022, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, e vem recebendo
duras críticas de movimentos de educadores, professores e cientistas, acerca de diversos
pontos do programa. Entre eles, a ampliação da desigualdade (UNISINOS, 2023).
A lei que regulamenta o NEM - Lei 13.415/17 (BRASIL, 2017), foi originada da
Medida Provisória Nº 746/16 (BRASIL, 2016). A mesma propunha a organização do
ensino médio, “tomando como referência o que está previsto na legislação vigente que
institui as diretrizes e bases da educação nacional e o debate mais amplo sobre o tema.”
(BRASIL, 2016). Ela foi criada com a intenção original de unificar os currículos em torno
de uma base comum, no entanto, a realidade tem sido bem diferente, visto que cada
estado da Federação e o Distrito Federal, tanto no âmbito público, quanto privado, têm
feito seu próprio desenho curricular, representando uma fragmentação do que deveria ser
unificado no papel.
A seguir, iremos observar, de forma sumária, como o NEM tem sido implementado
em alguns estados, e como esta política educacional tem sido experimentada em uma
escola integral da rede estadual de ensino de Pernambuco, seguindo os princípios do
Ciclo de Políticas de Ball (MAINARDES, 2006).
METODOLOGIA
Como mencionado anteriormente, o NEM foi criado com a intenção de, à grosso
modo, se reduzir a evasão escolar e melhorar os índices do IDEB. No entanto, o modo
como foi implementado e o contexto político em que ocorreu seu lançamento, fez com
que se estabelecesse uma espécie de colcha de retalhos de currículos, em todo o país.
A falta de monitoramento, por parte do Ministério da Educação (MEC), durante o
conturbado governo Bolsonaro, deixou a critério de cada ente da Federação, a
personalização, de acordo com suas realidades (UNISINOS, 2022).
O ciclo de políticas de Stephen Ball, que é uma abordagem que se dedica a avaliar
e analisar políticas, a partir de suas contribuições, positivas ou negativas, considera que
as políticas não são implementadas, o que seria visto como um movimento linear, pois
elas não se constituem em práticas, que exigem ação, enquanto as políticas são apenas
escritas (MAINARDES, 2009).
A partir deste posicionamento epistemológico, podemos iniciar a reflexão sobre a
experiência que tem sido a implementação do NEM nas escolas estaduais de
Pernambuco, com foco na realidade das escolas integrais de 45 horas, de horário
totalmente integral. Este modelo de escola integral totaliza 5.400 horas-aula anuais, que
têm sido preenchidas pelas aulas da Formação Geral Básica (FGB) – composta pelos
componentes curriculares tradicionais, e dos Itinerários Formativos (IF) I (Quadro 1.),
97
além dos Itinerários Formativos II, formados pelas unidades curriculares das trilhas de
aprofundamento (Quadro 2.) (PERNAMBUCO, 2021).
Os Itinerários representam o que há de inédito no NEM, pois são as disciplinas
que aprofundam os conhecimentos das áreas (trilhas) escolhidas pelos estudantes, ao
longo do 1º ano de estudos. Entre estas unidades curriculares, estão ainda as atividades
Eletivas e Projeto de Vida, além de outras complementares, como a Educação
Socioemocional, o Estudo Orientado e o Protagonismo Juvenil (IBID., 2021).
Embora estas novidades que o NEM traz tenham sido bastante criticadas por
educadores e especialistas em Educação, elas podem ser bem úteis, enquanto uma
tentativa de dar ao Ensino Médio uma estrutura moderna e adequada aos novos tempos
e demandas do tecnológico século XXI. No entanto, a bandeira que tem sido levantada
por setores mais radicais, é o da total revogação do NEM, sem aproveitar nada do que
há, e tudo o que foi investido em recursos até hoje. Uma ação que não tem se alinhado
ao pensamento de secretários estaduais de Educação e até o próprio Ministro da
Educação (CALGARO; TENENTE; SANTOS, 2023).
Ainda sobre a perspectiva dos Ciclo de Políticas, podemos depreender que o
contexto da prática e da influência é parte do processo de mudança das políticas ou ao
menos do pensamento sobre elas. O modo de pensar as políticas pode ser mudado pela
própria ação política (MAINARDES, 2009). Logo, as mudanças que se pretendem para
as políticas públicas, e que são de fato urgentes e necessárias, devem vir acompanhadas
de bom senso e responsabilidade, a fim de que, após uma eventual extinção de tal
política, possa ser apresentada uma alternativa sólida.
Consideramos importante atentar para contribuições de mudança no modelo atual
do Currículo de Pernambuco, a fim de evitar os extremos da revogação total, ou da
permanência do que tem sido vivenciado atualmente. A partir de nossa experiência, como
gestor escolar, interagindo com professores e alunos, na Escola de Referência em Ensino
Médio Dr. Francisco Siqueira, no município de Lagoa do Carro, percebemos as várias
fragilidades e limitações do modo como o NEM foi implementado no estado, por meio do
Currículo Oficial de Pernambuco. São grandes as angústias e inquietações dos docentes,
que, mesmo se dedicando à prática pedagógica, têm esbarrado nos desafios desta nova
política.
Entendemos que muito há que se aproveitar, no entanto, muito mais a mudar,
para se chegar a uma proposta ideal para as necessidades dos estudantes. A seguir,
duas sugestões bastante pontuais e práticas.
Pernambuco optou por oferecer um segundo itinerário formativo, para
complementar a matriz, o que representa um aumento desnecessário de carga horária
em uma trilha diferente da escolhida pelo aluno. Por exemplo: se o aluno optou por
Linguagens, terá também que estudar assuntos de Humanas, que é o segundo itinerário
obrigatório. Essa carga horária de 56 aulas poderá ser supérflua nos seus três anos na
escola (PERNAMBUCO, 2021). Entendemos que tal carga horária poderia ser
redistribuída no tempo retirado da FGB, para melhor complementar a matriz curricular.
As aulas eletivas, tão criticadas e ridicularizadas na mídia, por suas temáticas
nada usuais, de fato representam um tempo pedagógico importante, retirado dos
componentes curriculares clássicos. Elas poderiam ser reduzidas em seu quantitativo
exacerbado, recebendo temas mais pertinentes, de acordo com a realidade de cada
escola. Estas são duas intervenções que consideramos imprescindíveis no Currículo de
Pernambuco, independente das decisões vindouras sobre o NEM.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
98
À guisa de conclusão, podemos depreender que, de fato, os componentes
curriculares da FGB sofreram redução significativa, sob pretexto de que seriam
aprofundados nas trilhas de conhecimento. Porém, se não houvesse um segundo
itinerário, ou o número exagerado de eletivas, como sugerido anteriormente, haveria
bastante tempo para componentes, como física, química, sociologia, etc. Desta forma, se
atenderia o clamor dos educadores, que perceberam a diminuição e até a supressão de
importantes componentes curriculares, para atender esta parte diversificada no currículo
das escolas integrais de 45h.
Este é um momento de muita seriedade na condução dos rumos de nossos
estudantes. A dinâmica da situação apenas nos permite vislumbrar o que há hoje, pois a
cada dia, novas ações têm sido tomadas, sendo a mais atual, a suspensão do cronograma
de implementação do NEM e consequentemente do ENEM 2024, o qual depende
totalmente do que se decidirá nos próximos dias. Há que se apelar para que esta política
educacional seja bem avaliada e se decida pela alternativa mais justa, que venha a
beneficiar os estudantes do ensino médio.
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, Denilson. Ensino médio já passou por três grandes reformas desde
Getúlio Vargas. 2017. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/
educacao/2017/09/1916668-ensino-medio-ja-passou-por-tres-grandes-reformas-desde-
getulio-vargas.shtml. Acesso em: 31 mar. 2023.
99
PERNAMBUCO, Secretaria da Educação do Estado de Pernambuco. União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação do Estado de Pernambuco. Currículo de
Pernambuco. Recife: SEE- PE/UNDIME-SP, 2021. Disponível em:
http://www.educacao.pe.gov.br/portal/upload/galeria/523/CURR%C3%8DCULO_DE_PE
RNAMBUCO_DO_ENSINO%20M%C3%89DIO%202021_Final.pdf. Acesso em: 20 mar.
2023.
R7. Lema de novo mandato de Dilma, educação terá currículo nacional e novo
ensino médio. 2015. Disponível em: https://noticias.r7.com/educacao
/lema-de-novo-mandato-de-dilma-educacao-tera-curriculo-nacional-e-novo-ensino-
medio-03012015.
UNISINOS. MEC abre diálogo com professores e estudantes para debater o ‘Novo
Ensino Médio’. 2023. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/
categorias/626861-mec-abre-dialogo-com-professores-e-estudantes-para-debater-o-
novo-ensino-medio. Acesso em: 31 mar. 2023.
QUADROS/TABELAS/IMAGENS
100
Quadro 2. Itinerário Formativo II e Atividades complementares
101
19. OS IMPACTOS DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS “MODERNIZANTES” NO
ESTADO DE PERNAMBUCO SOBRE AS CONDIÇÕES DO TRABALHO DOCENTE.
RESUMO
Este resumo busca apresentar alguns resultados de uma pesquisa que teve como objetivo
geral analisar os desdobramentos das políticas educacionais modernizantes do Estado
de Pernambuco sobre as condições do trabalho docente nas Escolas em Tempo Parcial
(ETP) e em Escolas em Tempo Integral (ETI) que fazem parte da rede estadual de
educação. Desta forma, buscando entender como os docentes desenvolvem seu trabalho
nessas duas modalidades de ensino, a luz do materialismo histórico-dialético, utilizamos
enquanto instrumentos de pesquisa a revisão bibliográfica, análise documental e
entrevistas semiestruturadas com 12 (doze) professores efetivos, 2 (dois) coordenadores
pedagógicos e 2 (dois) gestores. Os resultados indicam, que apesar das especificidades
de cada escola, a falta de condições de trabalho envolvendo falta de infraestrutura
adequada, baixa remuneração e outros, tem gerado uma precarização e intensificação do
trabalho docente nessas escolas.
Palavras-chave: Condições do Trabalho Docente; Intensificação; Precarização.
INTRODUÇÃO
Este resumo pretende refletir sobre alguns resultados de uma pesquisa que
buscou compreender as condições do trabalho docente no estado de Pernambuco. Nesse
sentido, faremos considerações acerca de alguns pontos principais relacionados aos
desdobramentos da reestruturação produtiva do capital e das políticas educacionais de
Pernambuco sobre as condições do trabalho docente nas Escolas em Tempo Integral e
em Tempo Parcial.
Acreditamos que antes de dar continuidade ao texto é importando, inicialmente,
apontar o que compreendemos enquanto condições de trabalho docente. Neste sentido,
embasados em Hypolito (2012), consideramos aqui alguns aspectos que envolvem as
condições de trabalho docente, elementos como formação, remuneração e condições
físicas e materiais.
Na atualidade é cada vez mais comum o oferecimento de bônus ou outros
incentivos para professores que “cumpram metas” ou que lecionem em escolas de melhor
rendimento nas avaliações institucionais. Ou ainda, a seleção, via concurso interno, dos
melhores professores para trabalhar em escolas com condições especiais. Em comum,
todos esses modelos parecem comungar do mesmo objetivo: aumentar a “produtividade”
da escola a partir da reestruturação, entre outras coisas, da organização do trabalho na
escola.
O modo como se organiza o trabalho pedagógico nas escolas, porém, não está
dissociado do modo como se organiza a produção da existência fora dela. Neste sentido,
a busca por um maior controle sobre o trabalho docente deve também ser entendido como
102
parte de um movimento global de modificação do padrão de gestão da força de trabalho,
no quadro daquilo que chamamos de processo de “reestruturação produtiva” (ANTUNES,
2015; ALVES, 2011; MÉSZÁROS, 2009).
Na educação, a reestruturação produtiva tem sido traduzida, no plano da gestão
educacional, em propostas (muitas vezes sutis) de mercantilização e privatização da
educação (OYAMA, 2015), e mecanismos de responsabilização dos professores,
derivados da incorporação de uma lógica empresarial de gestão educacional, com a
participação cada vez mais decisiva de ONGs, fundações e órgãos de consultoria
privados na definição dos currículos e das políticas públicas de educação (FREITAS,
2012; SILVA e SILVA, 2014).
Tendo este contexto como referência, nos questionamos, quais os
desdobramentos das políticas educacionais “modernizantes” do Estado de Pernambuco
sobre as condições do trabalho docente na rede estadual de educação? Neste sentido,
nosso objetivo geral foi analisar as condições do trabalho docente nas Escolas em Tempo
Parcial e em Tempo Integral em meio as políticas educacionais ditas “modernizantes” do
Estado de Pernambuco.
A compreensão dessa nova realidade material das escolas e de seus
desdobramentos sobre o processo educacional, nos parece fundamental para orientar os
cursos de formação docente, que precisam se preocupar em instrumentalizar os
professores para compreenderem os condicionantes sobre sua atuação e as
possibilidades reais de resistência e superação. Acreditamos, ainda, que a pesquisa
contribui para o auto reconhecimento de classe e a atuação coletiva desses docentes nos
órgãos de representação de classe.
METODOLOGIA
Para entendermos o quadro aqui analisado, voltamos nosso olhar para o fim do
século XX e início do século XXI, onde durante o governo Jarbas Vasconcelos (1999-
2006), as políticas desenvolvidas no estado de Pernambuco estavam alinhadas as
mudanças globais e com o processo de modernização dos estados brasileiros e
implantação de políticas neoliberais incentivadas pelo presidente Fernando Henrique
Cardoso.
O resultado desse alinhamento foi a parceria com o Instituto de
Corresponsabilidade pela Educação (ICE) realizando em 2000 a reforma física do Ginásio
Pernambucano, e a partir de 2003 a implantação do Programa de Desenvolvimento de
103
Centros de Ensino Experimental (Procentro), objetivando o desenvolvimento e expansão
de uma educação em Tempo Integral.
Em 2007 com a chegada de Eduardo Campos ao governo de Pernambuco, foi
realizada a implantação do Programa de Modernização da Gestão Pública – Metas para
Educação, e a partir deste o Programa de Educação Integral (onde estão localizadas as
escolas que funcionam em Tempo Integral). Mas, na mesma rede de ensino temos, ainda,
as escolas que não fazem parte deste programa (PEI) e funcionam em Tempo Parcial.
Neste sentido, analisamos os desdobramentos das políticas educacionais
“modernizantes” sobre as condições do trabalho docente considerando as especificidades
de cada escola, assim como, as contradições e aproximações que envolvem o trabalho
docente nestas duas realidades. Embasados em Hypolito (2012), consideramos aqui
alguns aspectos que envolvem as condições de trabalho docente, elementos como
formação, remuneração e condições físicas e materiais.
Ressaltamos, ainda, que o trabalho docente aqui nesta pesquisa é o trabalho
desenvolvido por professores que se encontram no ensino médio, última etapa do ensino
básico. Esta é uma fase que exige bastante do professor, onde os alunos – geralmente
entre 15 e 17 anos – estão em um processo de transição, entre o ensino fundamental e a
inserção no mercado de trabalho ou em um curso superior.
Contextualizado o campo empírico, nos próximos parágrafos nos esforçaremos
para resumir alguns apontamentos dos professores da ETI e ETP em relação as
condições de trabalho. Lembramos que os fatores que envolve essas condições, segundo
Oliveira e Assunção (2010) e Hypolito (2012) são: a qualidade dos equipamentos,
infraestrutura da escola, salário e formação.
Indicamos que em nossas análises em relação a infraestrutura, os professores da
ETI apontaram para a falta de laboratórios de física e matemática, indicam que precisam
de uma internet de qualidade, pois no momento os professores pagam para acessar uma
internet melhor e reclamaram dos ventiladores que são barulhentos. Foram apontados,
ainda, problemas na rede elétrica que impedem a instalação de ar condicionado, a quadra
da escola que não é coberta, o refeitório é improvisado em uma área da escola, os
banheiros não oferecem uma estrutura adequada considerando que os alunos passam o
dia todo na escola e os materiais didáticos são limitados.
Na ETP as condições de trabalho também não são das melhores. Os professores
apontam algumas limitações que acabam prejudicando seu trabalho como a falta de um
laboratório de química, falta um apoio a questões relacionadas a informática, não tem
quadra, as salas precisam ser ampliadas, os recursos tecnológicos são poucos e apontam
como exemplo o Datashow, onde no total de treze apenas um está funcionando e precisa
ser compartilhado entre todos os professores.
Além da infraestrutura e materiais didáticos, salário e formação continuada, que
são fatores importantes para garantia de boas condições do trabalho docente
(HYPOLITO, 2010), também foram pontos questionados aos professores. Os problemas
envolvendo salário e formão docente não são novos, desde o período da ditadura houve
um movimento de arrojo salarial e cobranças por mais formações, porém, mais formações
não indicava garantia de melhores salários e condições de trabalho (GARCIA; ANADON,
2009).
Desde 1996, quando a Lei nº 9.394 – Lei de Diretrizes e Base da Educação
Nacional (LDB) – foi implementada, a mesma já indicava a necessidade do piso salarial,
especificamente em seu Art. 67. Em 2008 foi criada a Lei nº 11.738, de 16 de julho de
2008, “regulamenta o Piso salarial profissional nacional para os profissionais do
magistério público da educação básica” (PISO SALARIAL DOS PROFESSORES, 2008).
104
Apontamos, também, o Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 que traz em
algumas das 20 metas a importância de pensar a valorização dos trabalhadores da
educação, são as metas 15, 16, 17 e 18. Ou seja, em comum percebemos a necessidade
do debate sobre a valorização salarial.
Mesmo com tantas lutas, a realidade relatada pelos professores ainda é de muita
limitação e a falta de valorização. Alguns professores da ETP precisam trabalhar em duas
escolas para complementar a renda. Já os professores da ETI, mesmo recebendo uma
gratificação relatam problemas em relação a mesma, pois segundo os entrevistados o
valor prometido, de 200%, para esses trabalhadores que lecionam em ETI, ou seja, que
fazem parte do Programa de Educação Integral, não estava sendo cumprido.
Quando o assunto é formação continuada, também encontramos reclamações
parecidas entre os professores de ambas escolas, onde os mesmos indicam que para
além da dificuldade de transporte, pois geralmente são formações que acontecem em
outras cidades, a maioria dessas são direcionadas para português e matemática
(buscando responder as avaliações de larga escala).
Durante nossas análises percebemos que, considerando a falta de material
didático, infraestrutura, salário, plano de carreira e formação continuada nas Escolas em
Tempo Integral e a falta dos mesmos nas Escolas em Tempo Parcial, e das
especificidades de cada escola, em relação ao trabalho docente notamos uma
insatisfação destes trabalhadores em ambas escolas. O que podemos perceber é um
aprofundamento dos problemas envolvendo as condições do trabalho docente, gerando
uma precarização e intensificação do trabalhado realizado por esses trabalhadores da
educação, evidenciadas nos depoimentos dos próprios professores durante esta
pesquisa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
105
Campinas, v. 33, n. 119, p. 379-404, abr./jun. 2012. Disponível em:
<https://www.scielo.br/pdf/es/v33n119/a04v33n119.pdf> Acesso em: 02 de fevereiro de
2017.
106
20. OS ITINERÁRIOS FORMATIVOS DO NOVO ENSINO MÉDIO DAS ESCOLAS
PÚBLICAS DE PERNAMBUCO E SÃO PAULO
RESUMO
Esse trabalho tem por objetivo geral investigar os Itinerários formativos dos estados de
Pernambuco e São Paulo. Metodologicamente, esse estudo caracteriza-se como uma
pesquisa bibliográfica e documental de abordagem qualitativa. Os resultados apresentam
o esvaziamento curricular na Formação Geral Básica para oferta dos Itinerários
Formativos (podendo ser via Educação a Distância), levando a fragmentação e
aligeiramento do ensino e a precarização da formação da juventude em ambos os
estados.
Palavras-chave: Política Educacional; Novo Ensino Médio; Itinerários Formativos;
Pernambuco; São Paulo.
INTRODUÇÃO
107
profissional da juventude, cria novas barreiras para o acesso ao ensino
superior público – prejudicando especialmente estudantes que sempre
tiveram as piores condições de escolarização –, e estabelece estruturas
articuladas de privatização da educação, sobretudo com a ampliação do
ensino a distância. É a reforma antipovo por excelência: aquela que
oferece menos escola para quem mais precisa de escola.
Com base nesse contexto, esse trabalho tem por objetivo geral investigar os
Itinerários Formativos (IFs) dos estados de Pernambuco (devido os pesquisadores
estarem inseridos dentro da rede estadual de ensino) e São Paulo (por ser o primeiro
estado a implementar o Novo Ensino Médio), mostrando pontos de convergências e
divergências. Como percurso metodológico, esse estudo é uma pesquisa bibliográfica e
documental de caráter qualitativo.
OS ITINERÁRIOS FORMATIVOS
54 Disponível em https://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/616742-reforma-do-ensino-medio-
representa-uma-regressao-e-uma-traicao-aos-jovens-e-ao-pais-entrevista-especial-com-gaudencio-frigotto.
108
ITINERÁRIOS FORMÁTIVOS: O CASO DE SÃO PAULO E PERNAMBUCO
Em 2019, São Paulo inicia a implantação do Novo Ensino Médio, de forma piloto,
em 200 escolas estaduais. No início de 2020, é o 1º estado a homologar o Currículo do
Novo Ensino Médio. Em 2021, é o pioneiro na implementação do Novo ensino Médio
durante a Pandemia. Em 2022, é o 1º estado a divulgar material específico para o Novo
Ensino Médio.
Em 2021, foi realizada de modo online, a ‘escolha’ de itinerários pelos/as
estudantes; e em 2022, da efetiva oferta dos itinerários pelas escolas destacando: 1) a
‘livre escolha’ no NEM depende das condições materiais das redes de ensino, e 2)
estudantes com melhor condição socioeconômica têm maior ‘liberdade de escolha’.
Conforme Cássio e Goulart (2019, p. 516)
55Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias,
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
109
Em Pernambuco, em 2020 é homologado o Currículo do Novo Ensino Médio. Em
2022 foi implantado o Novo Ensino Médio, a matriz curricular estabelece quatro Itinerários
Formativos (segundo as áreas de conhecimento) mais um de Formação Técnica
Profissional. No tocante à organização curricular do Ensino Médio é constituída de
Formação Geral Básica (1800 horas) e os Itinerários Formativos (1200 horas), que teve
por base os interesses dos estudantes e a vocação local (SILVA, 2021). Na imagem 2
apresentada no final do texto é possível verificar essa distribuição.
Os itinerários são formados por conjuntos de unidades curriculares oferecidas a
cada semestre, tendo por finalidade promover a ampliação das aprendizagens em relação
à Formação Geral Básica. As unidades podem ser: obrigatórias (para todos/as os/as
estudantes de determinada Trilha), optativas (dependem da oferta de cada escola para
aprofundamentos em dada Trilha), eletivas (são mais amplas e não relacionadas
diretamente à Trilha escolhida) e, por fim, o Projeto de Vida (LIMA; GOMES, 2022).
Esse quatros IFs, distribuídas em 14 trilhas formativas, que são denominadas, a)
específicas: refere-se à conteúdos específicos de uma determinada área (LIMA; GOMES,
2022), e b) Integradas: união dos conteúdos e habilidades de duas áreas do conhecimento
(LIMA; GOMES, 2022), apresentadas nas imagens 3 e 4 no final do texto.
Em Pernambuco, destaca-se a oferta das disciplinas de Aprofundamento
Obrigatório: Investigação Científica e Tecnologia (semestralmente cada) no 1º ano do
Ensino Médio em todo o estado, pois segundo Pernambuco (2020, p. 88), “considerando-
se que essas duas unidades curriculares estão presentes em todas as trilhas dos IF,
entende-se que o estudante, ao final do primeiro ano do Ensino Médio, poderá mudar de
trilha/área do conhecimento, sem qualquer prejuízo na carga horária já cursada”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos Estados em estudo, São Paulo destaca-se por ser o pioneiro da implantação
dos Itinerários Formativos, tendo Pernambuco realizado esse processo posteriormente.
O estado de São Paulo é primeiro a revelar que a promessa da flexibilização curricular
acentua as desigualdades educacionais; e que segundo Cássio e Goulart (2019, p. 290),
“não é possível que a flexibilização do currículo do ensino médio em itinerários formativos
venha a beneficiar aqueles/as cuja condição de escolarização sempre foi mais
precarizada. A estratificação educacional é, nesse sentido, um efeito inexorável da
reforma”.
A carga horária dos Itinerários Formativos apresenta diferenças nos estados:
Pernambuco (1200h) e São Paulo (1350h), existindo a possibilidade em ambos os
estados da oferta da modalidade EaD que pode provocar a precarização da formação da
juventude.
Em Pernambuco, destaca-se no 1º ano do Ensino Médio a oferta das disciplinas
de Aprofundamento Obrigatório definidas pelo Estado; nas turmas de 2º e 3º anos do
Ensino Médio, as disciplinas ofertadas foram escolhidas pelas escolas. As eletivas
totalizam 8 aulas ofertadas pela escola. Já em São Paulo, as disciplinas de
Aprofundamento são ofertadas apenas nas turmas de 2º e 3º anos do Ensino Médio; e as
eletivas totalizam 6 aulas ofertadas pelo Programa Inova.
Com o Novo Ensino Médio, deve-se dar uma atenção à redução na carga horária
de algumas disciplinas e esvaziamento curricular no ensino público, como é o caso de
Biologia, Física, Química, Educação Física, etc., essas cargas horárias são direcionadas
para disciplinas dos itinerários formativos. Nesse novo modelo percebe-se um paradoxo:
110
ampliação das jornadas escolares visando oferecer a formação mais abrangente e
diversificada versus experiências formativas são estreitadas ou mesmo aligeiradas.
REFERÊNCIAS
FREITAS, Luiz Carlos de. A reforma empresarial da educação: nova direita, velhas
ideias. São Paulo: Expressão Popular, 2018.
LIMA, Maria da Conceição S.; GOMES, Danyella Jakelyne L. Novo Ensino Médio em
Pernambuco: construção do currículo a partir dos itinerários formativos. Revista Retratos
da Escola, Brasília, v. 16, n. 35, p. 315-336, mai./ago. 2022. Disponível em:
http://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde. Acesso em 9 abr 2023.
SÃO PAULO. Currículo Paulista: etapa ensino médio. Secretaria da Educação. São
Paulo: SEDUC, 2020.
111
QUADROS/TABELAS/IMAGENS
112
Imagem 2. Novo Ensino Médio em Pernambuco
113
Imagem 4. Trilhas Formativas Integradas
114
21. OS REFORMADORES EMPRESARIAIS DA EDUCAÇÃO: O ALVO É O “NOVO
ENSINO MÉDIO”
RESUMO
Esse trabalho tem como objetivo investigar os estudos sobre a implementação do Novo
Ensino Médio e o papel dos reformadores empresariais. Metodologicamente esse
trabalho é de cunho qualitativo, do tipo bibliográfico. Foi constatado que a reforma do
ensino médio implica um aprofundamento do empresariamento nos processos
educativos, incidindo na perspectiva de formação dos jovens brasileiros, ao se apontar
fatores que inserem os grupos privados na formulação da política ao “chão” da escola,
intensificando mais práticas e concepções individualistas, instrumentais, meritocrática e
produtivista.
Palavras-chave: Novo Ensino Médio, Reformadores Empresariais, Política Educacional.
Privatização.
INTRODUÇÃO
115
A proposta surge inicialmente através da Medida Provisória (MP n.º 746/2016)
durante o governo golpista de Michel Temer e depois foi sancionada pela Lei nº
13.415/2017 que instituiu uma série de modificações nas redes públicas de ensino, bem
como propôs a expansão do Ensino Médio em Tempo Integral no Brasil (BRASIL, 2017).
A reforma educacional que culminou com a aprovação do “Novo Ensino Médio” se
colocou como ordem do dia, e sua urgência era apresentada na mídia com um discurso
que buscava alcançar o senso comum da população de que o ensino ofertado era de
baixa qualidade, sem identidade e desconectado dos interesses juvenis, o que justificava
os altos índices de abandono e de reprovação persistentes, tendo a necessidade de torná-
lo atrativo para os alunos (FERRETI, 2018). Outros argumentos com forte apelo midiático
para lograr a reforma do Ensino Médio foram: a estagnação do Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica (IDEB) no ensino médio e a necessária melhoria do país e dos
estudantes nos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA)
(SILVA, 2018).
Ademais, outra razão alegava o excesso de disciplinas curriculares e rigidez
estrutural, pois “o formato vigente com 13 componentes curriculares obrigatórios não
permitia aos estudantes escolher a área de conhecimento para se especializar e; limitava
a uma formação que excluía a dimensão técnico-profissional” (FILHO; LOPES; IORA,
2019, p. 166). Essa questão é exposta por Silva (2018, p. 2),
116
É necessário refletir sobre a reforma do Ensino Médio, e quais os interesses de
setores privados nessa proposta tão criticada por diferentes pesquisadores do campo
educacional. Em conformidade, Tarlau e Moeller (2018) apontam que o processo
acelerado de elaboração e aprovação de uma política pública decorre dos diversos
recursos utilizados por fundações privadas para obter o consenso entre os diferentes
atores sociais e institucionais.
Outro ponto bastante importante foi a comparação dos currículos dos países
membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE);
117
que Filho, Lopes e Iora (2019) destacaram: flexibilização/diversificação curricular;
formação técnica integrada ao Ensino Médio e expansão do ensino em tempo integral.
Em 2018, a avaliação realizada pelo Grupo de Trabalho do Ensino Médio (GT-
EM), destacou a presença dos parceiros do empresariado “(Itaú BBA, Instituto Unibanco
e Instituto Natura)” (CÁSSIO; GOULART, 2019, p. 512). Em 2019, a FRENTE e os
parceiros “(Instituto Unibanco, Itaú BBA, Oi Futuro, Instituto Natura, Movimento pela Base,
Instituto Inspirare, Instituto Sonho Grande, Instituto Reúna e Fundação Telefônica Vivo)”
(CÁSSIO; GOULART, 2019, p. 512), produziram pesquisas, elaboraram planos de ação
e produtos de comunicação.
Conforme Catini (2023), a atuação massiva dos organismos privados na agenda
do Ensino Médio, pois “em nome da defesa do direito à educação para todos, o
empresariado transforma os serviços sociais em ativos financeiros” (imagem 1 disponível
no final do texto).
Segundo Santos (2021, p. 115), a promoção da “contrarreforma do Ensino Médio
decorre de debates e elaborações promovidas pelos reformadores empresariais, em que
se traçou uma política de cunho empresarial e privatista para essa etapa, com a finalidade
de atender aos interesses do mercado”. Nesse sentido, o mercado empresarial tem
ocupado cada vez mais os espaços decisórios no campo educacional, definindo os rumos
da educação atualmente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Novo Ensino Médio traz um cenário desafiador para todas as redes de ensino e
para a educação da juventude do país. É necessário ficar atento, a maior atuação e
ocupação de espaços pelos empresários na elaboração e gestão das políticas
educacionais que pode significar perdas à escolarização dos jovens e ameaçar a
democratização da educação (QUADROS; KRAWCZYK, 2019). É urgente lutar pelo
direcionamento dos jovens pobres para a formação através do novo currículo do Ensino
Médio em tempo integral, no qual apresenta um retrocesso na garantia de uma educação
de qualidade social.
Concordamos com Cássio e Goulart (2019, p. 290) que a” reforma do ensino
médio não é reformável. Seus efeitos perversos, que já estão sendo observados nas
pesquisas, não são tratáveis ou corrigíveis por meio de ‘revisões’ da política educacional”.
O empresariado objetivando o lucro descobriu um setor lucrativo e com perspectiva
exponencial de exploração - o mercado da educação.
REFERÊNCIAS
118
CÁSSIO, Fernando; GOULART, Débora C. A implementação do Novo Ensino Médio nos
estados: das promessas da reforma ao ensino médio nem-nem. Revista Retratos da
Escola, Brasília, v. 16, n. 35, p. 285-293, mai./ago. 2022. Disponível em:
http://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde. Acesso em 9 abr 2023.
FILHO, Edson do Espírito S.; LOPES, Vânia Pereira M.; IORA, Jacob A. Os
Reformadores Empresariais e o Ensino Médio no Brasil: Interesses e Projetos em
Disputa. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 11, n. 2, p.159-
170, 2019. Disponível em:
https://periodicos.ufba.br/index.php/revistagerminal/article/view/33157/20068. Acesso
em 15 mar 2023.
FOSTER, John B. Educação e a crise estrutural do capital: o caso dos Estados Unidos.
Perspectiva, Florianópolis, v. 31, n. 1, 85-136, jan./abr 2013.
Disponível em https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/2175-
795X.2013v31n1p85. Acesso em 15 mar 2023.
OLIVEIRA, Maria M. de. Como fazer pesquisa qualitativa. 7. ed. Petrópolis: Vozes,
2016.
119
SILVA, Monica R. da. A BNCC da Reforma do Ensino Médio: o resgate de um
empoeirado discurso. Educação em Revista, Belo Horizonte, v.34|e214130, 2018.
Disponível em
https://www.scielo.br/j/edur/a/V3cqZ8tBtT3Jvts7JdhxxZk/abstract/?lang=pt. Acesso em 2
mar 2023.
QUADROS/TABELAS/FIGURAS
120
22. PARTICIPAÇÃO E A AMPLIAÇÃO DAS POSSIBILIDADES DE CONHECIMENTOS
EM ESPORTE E LAZER – MATERIALIZAÇÃO DO II FESTIVAL DE CULTURA
CORPORAL
RESUMO
A presente pesquisa visa analisar através das percepções dos discentes as contribuições
formativas do processo de organização do II Festival de Cultura Corporal (II FCC) do
IFPE. Caracteriza-se como pesquisa qualitativa desenvolvida no campus Recife na qual
envolveu jovens/discentes do Ensino Médio Integrado. Utilizou-se o grupo focal para
levantar os dados. Evidenciou-se o potencial da participação na cogestão do evento, na
ampliação dos conhecimentos e no protagonismo do trabalho coletivo.
Palavras-Chave: Engajamento; Cultura Corporal; Trabalho Coletivo.
INTRODUÇÃO
121
Esse espaço vem na contra - mão das investidas da “contrarreforma” que vai no
sentido contrário aos interesses dos filhos e filhas das classes trabalhadoras com o
fragmentar e minimizar das possibilidades de conhecimentos e as experiências
significativas, nesta importante etapa de formação em que se propõe aprofundamento e
preparar para continuidade dos estudos, preparar para inserção no mundo do trabalho e
promover um exercício pleno para cidadania de milhares de jovens brasileiros.
Portanto, a reforma do ensino médio agravou com a fragmentação do
conhecimento, a hierarquização social e a qualidade dessa etapa da educação básica. A
“nova” organização proposta é velha na política educacional brasileira, já que sempre
quando grupos conservadores chegam ao poder, se reforça a dualidade educacional e
social que caracteriza historicamente o país, intensificando a retirada de direitos da classe
trabalhadora (MOURA; LIMA FILHO, 2017). No contexto da Educação Física nos
deparamos com a possibilidade de supressão do componente curricular no ensino médio,
que estaria na não obrigatoriedade do mesmo em parte do trajeto formativo das(dos)
alunas(os), o que gerou uma mobilização da área e um grande debate nos diversos
contextos político educacionais.
METODOLOGIA
ANÁLISES E DISCUSSÃO
[...] festival foi algo marcante para mim, através dele, pude me conectar
mais com meus amigos e colegas de classe, desenvolver o espírito
de equipe e criar experiências que nunca esquecerei.
[...] O importante foi o espírito de equipe que tínhamos não só com os
nossos cursos mas também com as outras pessoas na organização do
evento, a (...) melhor ainda, não tenho nada a acrescentar.
122
conhecimento de cada um e fomos conseguindo criar algo interessante
e melhor, assim, resolvendo esses problemas que vinham aparecendo.
[...] O festival foi muito bom, tanto para divertimento quanto para
aprendizado coletivo e de organização!
[...] Quando envolve essa participação assim, acho que tipo, envolve todo
mundo. Até aquelas pessoas que são quietas ou tímidas, começam
a se abrir com a galera que tá participando, pensam “se eles
conseguem estar naquele momento jogando vôlei, jogando queimado,
por que eu também não posso?”. Essa questão da participação envolve
a ligação de chamar, correr atrás daquela pessoa. Como o evento foi
organizado gerou esse clima de participação.
[...] acredito que eventos como esse são extremamente importantes para
os estudantes, para que possam vivenciar a experiência de um ensino
médio mais saudável e que vai além de provas e conteúdos
engessados em sala de aula, mas traz também a experiência,
experimentação e incentivo a novas formas de aprendizagem, como
o trabalho em equipe que vivenciamos.
[...] A escola foi um ótimo suporte para os alunos que estavam
participando, porque tinha muita gente que estava receosa de participar
por causa das aulas, das provas, então quanto a isso, deram suporte à
gente não dando faltas e tudo mais. Também, foi muito bom ver a
participação ativa de todos, porque tinha gente na minha sala que eu
nunca imaginaria que estaria lá torcendo, gritando pelo curso, mas
estava todo mundo lá, participando e torcendo, reconhecendo os amigos
e tal.
123
através de instrumentos de participação como: assembleias, conselhos, colegiados,
projetos pedagógicos e representações estudantis.
Ressaltamos a importância da participação e o fortalecimento dos canais de
diálogo alinhados ao Estatuto da Juventude (Lei n.º 12.852, de 5 de agosto de 2013.), que
reitera no artigo 4º, “O jovem tem direito à participação social e política e na formulação,
execução e avaliação das políticas públicas de juventude”. Onde entende-se por
participação juvenil: “I - a inclusão do jovem nos espaços públicos e comunitários a partir
da sua concepção como pessoa ativa, livre, responsável e digna de ocupar uma posição
central nos processos políticos e sociais”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e bases da educação. Senado Federal, Centro Gráfico, 1996.
124
GATTI, B. A. (2005). Grupo focal na pesquisa em ciências sociais e humanas. (Série
Pesquisa em Educação, vol. 10). Brasília: Liber Livro Editora.
MOURA, Dante Henrique; LIMA FILHO, Domingos Leite. A reforma do ensino médio:
regressão de direitos sociais. Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 11, n. 20, p. 109-
129, jan./jun. 2017.
125
24. “PENSAR, PLANEJAR, EMPREENDER!”: o empreendedorismo nas escolas da
rede estadual de ensino médio de Iguatu/Ceará
RESUMO
Com o processo de reestruturação produtiva, a acumulação capitalista passou a pautar
novos contornos, tendo a flexibilização e a precarização do trabalho sido colocadas no
centro das relações trabalhistas. Com isso, o empreendedorismo passou a assumir uma
posição de destaque entre as políticas de geração de emprego e renda no Brasil, o que o
levou a ocupar o debate educacional e a inserir-se dentro do currículo formal das escolas,
em uma tentativa de adequação da subjetividade da juventude trabalhador a essa nova
realidade. Diante disso, o presente trabalho objetiva compreender a estrutura curricular
do empreendedorismo, a sua construção didático-metodológica e os seus princípios
pedagógicos. Para tanto, utilizou-se como suporte teórico a desespecialização
multifuncional”, de Pinto e Antunes (2017); a “pedagogia do aprender-a-aprender”, de
Duarte (2001); a tese da “produtividade da escola improdutiva”, de Frigotto (1989); e a
concepção gramsciana de hegemonia (Gramsci, 1891-1937). Para chegarmos a sínteses
desse trabalho, adotados como ferramenta metodológica a análise de conteúdos,
Palavras-chave: Empreendedorismo; Currículo; Reestruturação produtiva.
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
126
área urbana de Iguatu. Com isso, a nossa campo de estudo ficou delimitada nas quatro
escolas, dentre elas uma de ensino profissional e três de ensino médio em tempo integral.
Fechado o campo de estudo e os sujeitos participantes pesquisa, iniciamos o
processo coleta dos dados por meio das entrevistas, que foram aplicadas nas referidas
escolas nos horários em que os professores tinham disponibilidade. Após as entrevistas,
tabulamos as informações e fizemos as análises de conteúdo que nos possibilitaram
chegar às sínteses apresentada abaixo.
Inserido na rede regular de ensino médio por meio do currículo oficial das escolas
estaduais, o empreendedorismo está presente tanto nas escolas profissionais, como nas
de ensino médio em tempo integral. Nas escolas de ensino médio em tempo integral ele
é ofertado como disciplina eletiva, não sendo obrigatório aos educandos cursarem. Já nas
escolas profissionais, por estar dentro da parte diversificada, torna-se uma disciplina
obrigatória.
Referente ao currículo do componente do empreendedorismo, observa-se que
todas as escolas que analisamos seguem normas e documentos construídos por
instituições privadas, que, diga-se de passagem, são encarregadas não apenas de
elaborar materiais didáticos, mas também de construir momentos de formação dos
professores. Conforme o Entrevistado 1:
O que está colocado nessa fala, trata-se, pois, de uma privatização da educação
pública sem a privação do acesso, mas sim do percurso formativo, haja vista que a ação
pedagógica é reduzida a uma reprodução do que está proposto nos manuais. Com isso,
as instituições que produzem os materiais conseguem assegurar seu domínio sobre a
própria dinâmica da sala de aula.
Referente aos conteúdos ministrados no componente curricular do
empreendedorismo, os entrevistados 1 e 2 disseram o seguinte:
Pronto, é... os principais conteúdos eles, eles transitam com relação ao,
é... a história do trabalho, é... a maneira como gerações diferentes en-
xergam o trabalho, a... a compreensão do... das mudanças na cultura
empreendedora no decorrer da história, né, é... os conteúdos abordados,
de maneira segmentada, eles, eles estão relacionados ao instrumento
de produção do plano de negócio, que é o Canvas Model Bisnegs, então,
dentro do Canvas, a gente organiza todos os setores que compõem a, a
idealização de um modelo de negócio, desde a proposta de valor, que é
um conteúdo central dentro do Canvas, a questão do público, a questão
dos custos, a questão dos relacionamentos com os clientes, a questão
da estrutura física. O aluno ele consegue, no decorrer da construção do
Canvas, identificar que o modelo de negócio ele é formado por segmen-
tos que tentam, que devem estar é... harmonicamente se relacionando,
127
né. Não é a mera criação de um negócio é... assim, de uma forma rápida,
de uma forma impulsiva, é feita toda uma construção e reflexão em cima
daquele, daquele, daquela ideia que a equipe ela propõe executar (En-
trevistado 1)
É, por exemplo, uma delas que é ligada ao mercado formal, ela faz simu-
lação de entrevistas; simulação de pequenos negócios né, chamado de
minimercado. No Jovem Empreendedor II, também faz a simulação de
uma miniempresa né, com aqueles processos ligados a uma empresa
mesmo, com cálculos de despesa, cálculos de lucro é, então, toda uma
simulação para que ele entenda é... que uma empresa, no fim das con-
tas, tem que dar resultados, tem que dar lucro. Então ele vai participar,
ele participa de todo um processo para entender que se aqueles passos
128
não acontecerem não vai dar resultados; e a mesma coisa também na
questão da, do processo de seleção do mercado de trabalho também,
eles participam de algumas simulações para ele verem que se ele não
se enquadrar naquele modelo, naquele perfil de ação é... que as empre-
sas buscam quando fazem seleção de seus colaboradores, também não
vai conseguir ingressar (Entrevistado 2).
Pode-se observar nas falas acima uma concepção das atividades como simula-
cros, que as convertem em tentativas de transpor a dinâmica de uma empresa para dentro
da sala aula, simulando as etapas de produção e comercialização de mercadorias e re-
passando para os educandos os valores da ética empresarial, a fim de transformá-los em
agentes do seu próprio negócio e, por consequência, do seu sucesso.
Fundamentada na “desespecialização multifuncional” (PINTO; ANTUNES, 2017),
essa estratégia constrói uma falsa ideia de que os educandos estão sendo preparados
para entrarem no mercado de trabalho, não precisando aprofundar sua formação e, as-
sim, desvinculando o ensino médio da sua função propedêutica.
A efetivação do empreendedorismo enquanto componente curricular, para além
de estabelecer a ligação direta entre a escola e trabalho flexível, também se insere na
vertente pedagógica que Duarte (2001) chamou de “neoescolanovismo”, que adota como
princípio pedagógico a responsabilização dos educando pelo seu sucesso acadêmico e
profissional, em um movimento que dialoga com a ideia da “produtividade da escola im-
produtiva” de Frigotto (1989), haja vista que a escola passa a ser vista com um espaço
de promoção de sucessos.
Consequentemente, isso é um produto da hegemonia burguesa que, diante do
momento de restruturação produtiva do capital, precisa conquistar as mentes da juven-
tude trabalhadora e garantir o controle moral e a manutenção do seu domínio enquanto
classe. Para tanto, a efetivação do empreendedorismo como componente curricular tem
cumprido o papel de controle da juventude trabalhadora, conformando-a com a realidade
precária do trabalho, adequando os educandos ao trabalho informal.
O centro das atividades desenvolvidas durante as aulas do componente curricular
do empreendedorismo são as simulações dos modelos de negócios, que transmitem a
ideia de que é possível empreender. No entanto, ao se restringirem a meras simulações,
essas ações ficam limitadas ao campo do modelo ideal, não tendo conexão com a reali-
dade concreta dos educandos. Desse modo, até as ações práticas desenvolvidas no pro-
cesso de formação desse componente curricular são idealistas, o que não se distancia da
própria realidade social do empreendedorismo, que presume um mundo de possibilidades
ideais inalcançáveis no capitalismo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
129
escola converte o processo de ensino-aprendizagem a uma função mecânica de repro-
dução de planos e manuais, reforçando uma falsa ideias de desenvolvimento de habilida-
des e autonomia, que chega na escola por meio de uma falsa proposta de desenvolvi-
mento psicossocial, que atribui aos educandos a função de promover o seu autodesen-
volvimento.
Por fim, o que se pode frisar sobre o componente curricular do empreendedorismo
é que ele segue um currículo idealizado, que prega a ideia de um suposto sucesso e
prosperidade individual, desvinculando desse processo toda e qualquer interferência pro-
venientes das desigualdades estruturais da sociedade de classe. Como se fossem igrejas,
as escolas estão vendendo aos educandos a ideia de um paraíso, que só será alcançado
se eles seguirem à risca os valores e a moral empresarial.
REFERÊNCIAS
130
25. POLÍTICAS DE RESPONSABILIZAÇÃO/ACCOUNTABILITY EDUCACIONAL NO
ENSINO MÉDIO PERNAMBUCANO: uma revisão bibliográfica integrativa
RESUMO: Este trabalho de natureza teórica tem como suporte metodológico uma revisão
bibliográfica integrativa. Além de compor uma pesquisa mais ampla no âmbito do
doutorado na Universidade Federal de Pernambuco, ele intenta uma aproximação ao
nosso objeto de estudo, a saber, a política de responsabilização educacional adotada no
Estado de Pernambuco. Nosso objetivo é compreender as articulações discursivas
referentes à responsabilização/accountability como prática na gestão pública e seus
entrecruzamentos com as políticas educacionais, analisando trabalhos selecionados.
Inferimos que o discurso hegemônico tem se articulado em direção à
desresponsabilização do Estado e responsabilização do/da professor/professora. Entre
outros aspectos, percebemos que o alcance de metas de aprendizagem intenta inserir
uma cultura de performatividade, precariza o trabalho docente, reduz a compreensão
curricular e ignora as inúmeras variáveis que interferem no processo de aprendizagem.
Palavras-Chave: Política Educacional; Responsabilização; Revisão Integrativa.
INTRODUÇÃO
131
blematizamos as políticas educacionais na rede pública pernambucana, objetivando com-
preender as articulações discursivas no que se refere aos entrecruzamentos das políticas
de responsabilização/accountability com a Educação Básica.
No intento de uma aproximação inicial à temática, pareceu-nos relevante uma ex-
ploração de teses e dissertações que abordassem essa política em Pernambuco, a fim
de percebermos a discursividade aderente, bem como as lentes teóricas adotadas pelos
autores.
METODOLOGIA
132
para oferecer uma educação de qualidade. Nesse sentido, o discurso empresarial em
relação à necessidade de uma nova qualificação e formação geral do trabalhador tem se
apresentado hegemônico, inclusive com a tentativa de vincular a ideia de que o professor
é tudo. Entretanto, o que está por trás é a ideia de responsabilização, pois a autonomia
escolar é convertida em maior responsabilização dos professores e diretores pelo
sucesso ou fracasso da escola.
Preocupações com a intromissão do capital privado na definição de políticas e
projetos para a educação pública tem sido uma tônica no trabalho de Estevão (2019). A
pesquisadora aponta consequências que envolvem o estreitamento curricular, pois
estariam voltados à defesa dos interesses do capitalismo. Nessa direção, Teixeira (2017)
nos leva a refletir como a influência de grupos bilionários, por meio do Movimento Todos
pela Educação, possibilitou a retirada das disciplinas Filosofia e Sociologia do currículo
do Ensino Médio, via Lei Nº 13.415, sancionada pelo Presidente Michel Temer, visto não
ser percebida a contribuição delas para a educação e a formação de mão de obra para
atuar no mercado brasileiro.
Além da questão curricular, Lindoso (2017) percebe que, a educação tem sido
compreendida como uma mercadoria, a qual gera lucros açambarcados pela classe
dominante. Ela atesta que, a apropriação ideológica dos testes opera na formação do
consenso, capturando a subjetividade pela suposta inovação. Santos (2016) afirma que é
necessário desvendar quem está por trás dos interesses empresariais. Nesse sentido,
demonstra que o Movimento Todos pela Educação tem influenciado o Conselho Nacional
de Educação e o Ministério da Educação para vender a ideia de consórcios
público/privados. Na busca dos interesses do mercado, através do alcance de índices e
metas, a escola pode se afastar de elementos que poderiam promover uma educação
com mais qualidade.
Santos (2018) aponta como o alcance das metas estabelecidas pelo PDE em
Pernambuco, revelam o forte apelo às políticas de responsabilização dos profissionais da
educação, que é subsidiada pelo termo de compromisso pactuado por cada escola. Essa
responsabilização é conferida via avaliações externas, precarizando o trabalho dos
professores e ranqueando as escolas. De cunho neoliberal, o objetivo dessa política se
articula com a construção de um projeto único para a educação brasileira. Nessa direção,
Pernambuco registrou o maior crescimento do País, no entanto, promovendo a
exploração dos docentes.
Ao analisar o discurso da política da Educação Básica, no bojo da instituição do
PMCTE, Oliveira (2019) considera a responsabilização, como um dos importantes pilares
dessa política. Há uma sincronicidade do discurso da accountability com outros discursos
neoliberais. Desta forma, a prestação de contas seria um termo polêmico, com a ocultação
de palavras e sentidos que invisibilizariam disputas de poder sobre as orientações desta
política. Para Lira (2018), a naturalização de ações por parte das escolas foi uma
tendência considerada para melhor se localizarem nos rankings educacionais,
consolidando uma cultura de performatividade pelo estabelecimento dos indicadores
educacionais, os quais são a principal diretriz das ações em Pernambuco.
Por fim, numa perspectiva de padrões educacionais neoliberais, a escola é vista
como uma empresa, segundo Moura (2018). Dentro de uma lógica de responsabilização
e meritocracia, o setor público educacional forneceria um serviço/produto para um
mercado competitivo, no qual os melhores são premiados e os piores são punidos,
gerando segregação e exclusão.
6ª Etapa: Conclusão – Diante das pesquisas em políticas de
responsabilização/accountability referentes ao Estado de Pernambuco, percebemos que
133
entre as abordagens teórico-metodológicas, ainda é dominante o materialismo histórico-
dialético. Quanto à compreensão das articulações discursivas em torno dos
entrecruzamentos das políticas de responsabilização/accountability com a Educação
Básica pernambucana, percebemos que o discurso hegemônico tem se articulado em
direção à desresponsabilização do Estado e responsabilização do/da
professor/professora. O alcance de metas de aprendizagem, entre outros aspectos, tem
implantado uma cultura de performatividade, além de precarizar o trabalho docente e de
reduzir a compreensão curricular, ignorando as inúmeras variáveis que interferem no
processo de aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio de uma revisão integrativa, dialogamos com os autores dos textos
levantados discorrendo de forma integrada com os conceitos que se apresentam sob o
foco da nossa investigação. Diante dos achados, percebemos a necessidade de
prosseguir a pesquisa passando a refletir com mais profundidade sobre os efeitos sociais,
bem como sobre os afetos que a responsabilização/accountability suscitam no cotidiano
das escolas públicas de ensino médio pernambucanas, inclusive, na vivência docente.
Entendemos que a exposição pública de resultados traz discussões morais e
consequências vexatórias que impactam a formação ética e cidadã dos indivíduos.
REFERÊNCIAS
134
FOSSATTI, Emanuele C.; MOZZATO, Anelise R.; MORETTO, Cleide F. O uso da
revisão integrativa na administração: um método possível? Revista Eletrônica
Científica do CRA-PR-RECC, v. 6, n. 1, p. 55-72, 2019
MELO, Danila V. D. “Quando Vai Falar de IDEPE, Você Fala de Bônus” – As Influências
do Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (IDEPE) nas Escolas
Estaduais. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco. 2015.
QUADROS/TABELAS/FIGURAS
135
X UFPE SANTOS, (2018)
136
26. POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E O PROJETO DE FORTALECIMENTO
DE VÍNCULOS
RESUMO
Toda uma sociedade está ou esteve inserida em um processo educativo que está
entrelaçado um contexto histórico social e financeiro, desse modo o presente trabalho tem
como objetivo destacar importância das políticas públicas evidenciando uma experiência
com estudantes de um projeto de fortalecimento de vínculos que é desenvolvido no
município de Nazaré da Mata estado de Pernambuco. O escrito faz-se evidente a
introdução, a relevância de uma educação social para minimizar as problemáticas com a
violência, o relato de experiencia do autor com o projeto de fortalecimento de vínculos ao
qual desperta o senso críticos dos indivíduos que estão na margem de uma sociedade.
Sendo assim, é bastante notório destacar a importância da educação para a formação
cidadã, desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem e progresso da sociedade,
dessa forma se teve como metodologia o procedimento qualitativo.
Palavras-chaves: Educação; Fortalecimento de Vínculo; Políticas Públicas.
INTRODUÇÃO
Toda uma sociedade está ou esteve inserida em um processo educativo que está
entrelaçado um contexto histórico social e financeiro, sendo assim é de suma importância
uma reflexão a respeito da qualidade educacional que professores estão proporcionando
aos estudantes de diversas localidades. As políticas educacionais são de grande valia
para o desenvolvimento de ações sociais no campo educacional.
O processo educativo tem um papel social fundamental na minimização de
problemas relacionado as diversas dificuldades no âmbito social, portanto Oliveira (2010)
considera que a ampliação do acesso à escola é fundamental para retirar os jovens e
adolescentes da ociosidade, nas últimas décadas constitui um indicador de que a
qualidade educacional está melhorando, pelo fato de que beneficia a população
historicamente excluída proporcionando ações como o projeto de convivência nas área
marginalizada da sociedade. Senso assim é bastante evidente que, a ampliação da escola
fundamental, por outro lado, estimula a procura por níveis subsequentes de ensino e
produz novos desafios para o sistema.
Vale ressaltar que as políticas públicas educacionais têm por intuito encontrar
soluções para os grandes desafios sociais na educação brasileira, atingindo assim os
diferentes níveis de escolaridade, bem como as diferenças sociais dentro da sala de aula,
consequentemente é necessário destacar que a Lei (9394/96) de Diretrizes e Bases (LDB)
em seu artigo 2° ressalta que a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
No Brasil ainda é bastante presente um sistema educacional bastante arcaico como
também ultrapassado que de certo modo não atinge grande maioria. Sendo assim o
presente trabalho tem como objetivo destacar a importância de um programa social de
fortalecimento de vínculo educacional em uma escola municipal do município de Nazaré
da Mata localizado na Zona da Mata Norte do estado de Pernambuco, como também tem
137
por metodologia o procedimento qualitativo destacando a importância da política
educacional desenvolvida através da secretaria de ação social do município supracitado.
O processo educativo é uma arte, que deve ser aperfeiçoada, torna-se necessário
a valorização desta política por parte do estado, haja visto que, compete a ele investir e
articular ações que proporcionem o desenvolvimento da mesma. Todavia, em um país
que não reconhece a educação como prioridade, tais ações não são desenvolvidas da
maneira que deseja e que atinja todo uma sociedade despertando o ser crítico reflexivo,
pois falta investimentos e como se não bastasse há a criação de vários projetos, que não
são valorizados pelos entes federados e por isso não são concretizados, o que dificulta a
garantia de uma educação de qualidade e ocasiona mazelas que prejudicam
significativamente o avanço do país (MAUÉS; MORAES, 2020).
Destacando importância de políticas publicas educacionais é necessário evidenciar
que garantir apenas o processo educativo não é bastante suficiente para conceder uma
educação de qualidade para toda uma sociedade, uma vez que, existem diversos
problemas relacionados as políticas públicas que devem ser tratados onde pode-se
destacar a fome, as drogas, a violência, entre outros, tais problemas, estão relacionados
com o baixo desenvolvimento na educação pública.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
138
criticidade dos indivíduos que frequente, mas também reforça os conhecimentos
abordados em sala de aula. O projeto de fortalecimento de vínculo ajuda estudantes com
ações educacionais como por exemplo reforço escolar destacando o processo de leitura
e compreensão. Durante os todo o ano no projeto são desenvolvidas ações como palestra
e oficinas para despertar o senso crítico-reflexivo de seus usuários, mas também são
evidenciadas bastantes práticas pedagógicas eficientes para a compreensão do ensino.
Portanto, vale salientar que o projeto de fortalecimento de vínculo é bastante
eficiente, pois atinge indivíduos que estão na margem da sociedade e que muitas vezes
não tem acesso a educação de boa qualidade, fazendo assim este indivíduo estar
ocupado com atividades educacionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
139
27. PROGRAMA GANHE O MUNDO: EXPERIÊNCIAS DE MOBILIDADE ACADÊMICA
DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO DE PERNAMBUCO E SUA INTERSECÇÃO
COM A FELICIDADE
RESUMO
O Programa Ganhe o Mundo é uma política pública desenvolvida pela Secretaria de
Educação do Estado de Pernambuco criado em 2011, que realizou o seu primeiro
embarque em 2012 e enviou mais de sete mil estudantes para o intercâmbio internacional.
Este relato de pesquisa em andamento é um recorte da tese de Doutorado em Educação
da UFPE que surgiu durante as entrevistas para a coleta de dados. Momento em que os
estudantes apontaram a relação da experiência de intercâmbio com as suas concepções
sobre felicidade e transformação em seu modo de ver a vida, a si mesmo e a sociedade.
Durante o intercâmbio a inserção dos estudantes em outras culturas, a necessidade de
comunicar-se em outras línguas, a reelaboração de conceitos ou ressignificações
emocionais, as aprendizagens subjetivas e o desenvolvimento da inteligência
intercultural, as convivências em outros espaços de socialização, podem ter influenciado
o modo como os estudantes visualizam o sentido de sua existência e como estes
ensinamentos mudaram as suas concepções sobre a felicidade. Sendo a felicidade um
tema almejado por todos, mas, distante de alguns, que após a reflexão pode nortear a
existência e contribuir para o bem estar social dos indivíduos.
Palavras-chave: Experiência, Intercâmbio, Felicidade.
INTRODUÇÃO
140
configurações pode nos ajudar quanto ao entendimento das possíveis redes de
interdependência estabelecidas entre eles e quais táticas adotaram para manter-se no
intercâmbio.
A nossa inquietação surgiu durante a coleta de dados, momento em que, a maioria
dos estudantes, ao narrar os fatos de sua experiência, apontou a contribuição do
Programa Ganhe o Mundo em sua transformação humana e como esta experiência
proporcionou a aproximação da felicidade em sua existência.
Diante de novos elementos que apontam indícios de percepções distintas sobre a
felicidade nos questionamos: será que a experiência de intercâmbio contribuiu para que
os estudantes adquirissem além da transformação emocional e social novas percepções
sobre a felicidade? Diante desta premissa buscamos analisar a experiência de
intercâmbio e a sua intersecção com a felicidade. Como objetivos específicos, buscamos:
identificar as percepções de felicidade dos estudantes egressos em suas narrativas e
compreender a contribuição desta experiência na mudança de percepção dos estudantes
sobre a felicidade após a vivência do intercâmbio. Como fundamento teórico iremos
utilizar os pressupostos de Norbert Elias (2018), Bosch (1998), Giannetti (2002) e
Sampaio (2007), dentre outros.
Norbert elias (2018) numa perspectiva sociológica analisa as configurações que
são formadas entre os indivíduos e o estabelecimento de redes de interdependência. O
autor conclui que os indivíduos estabelecem entre si laços afetivos que são fortalecidos à
medida que os indivíduos se vinculem com afetividade.
Ao tratarmos sobre o que é felicidade e sua importância nos dias atuais, podemos
perceber uma grande diversidade em relação a sua percepção, como também quanto aos
meios de conquistá-la, uma vez que, trata-se de um assunto privado e subjetivo, o que
nos leva a considerar que cada pessoa tem o seu. As reflexões sobre a felicidade são
realizadas na tentativa de buscar o entendimento sobre os aspectos que a nossa
sociedade tende a relacioná-la considerando suas características atuais.
Para Bosch (1998) ao tentarmos discutir sobre a felicidade, encontramos várias
correntes filosóficas a respeito e também vários problemas, isto porque, as reflexões
sobre um tema como a felicidade, com alto grau de subjetividade, nos conduzem a vários
questionamentos, colocando-se em dúvida sua autenticidade, e até veracidade, se
partimos do pressuposto que não temos como medir o grau de felicidade das pessoas.
Entretanto, essa subjetividade não impede a busca pela objetividade para tentar
compreendê-la (GIANNETTI, 2002).
Para Bauman (2009) em nossa sociedade líquido-moderna, marcado pela
“fluidez”, onde as relações são temporárias e o indivíduo é definido por aquilo que
consome e o modo como consome, as escolhas geralmente estão associadas aos ideais
neoliberais de consumo. Seguindo este entendimento, uma característica que podemos
citar referente às percepções dos indivíduos do século XXI quanto à felicidade seria a sua
individualização, de forma que o sentimento de coletividade defendido muitas vezes pelos
filósofos e pensadores da antiguidade, começa a ser deixado de lado, e este assunto se
torna cada vez mais privado, como por exemplo, viajar, ter filhos, comprar um
apartamento ou um smartphone de última geração (COMTESPONVILLE, DELUMEAU,
FARGE, 2006).
Como o indivíduo começa a associar sua felicidade ao desejo de possuir alguns
destes bens, e acredita ser possível desfrutar de tudo o que pode ser materialmente
disponibilizado, muitas vezes sem perceber, termina se separando cada vez mais da
almejada felicidade, ou seja, como desejamos mais do que podemos obter, aumentamos
a distância entre o desejo e a realidade.
141
Assim, na tentativa de identificar os aspectos que podem tornar possível a nossa
aproximação com a felicidade, observamos que a educação aparece como fator
importante nessa discussão. Neste sentido a busca por níveis cada vez mais elevados de
educação pode estar relacionada à felicidade, podendo seguir diversos entendimentos,
dentre os quais citaremos dois neste artigo, um que consiste principalmente no
desenvolvimento das virtudes para a realização humana e felicidade individual e coletiva;
e outro na busca pelo êxito e reconhecimento social, podendo até contribuir para a
manutenção das desigualdades em nossa sociedade.
O motivo destas diferentes formas de relacionar educação e felicidade se dá pois,
as reflexões acerca da educação mostram pesquisas que perpassam múltiplos campos
do saber. Porém seguindo a lógica das sociedades neoliberais, a preocupação das
instituições de ensino permeiam a geração de lucro, na tentativa de formar, cada vez
mais, indivíduos que atendam as demandas do mercado de trabalho, sendo este, muitas
vezes, seu único objetivo. Como consequência deste processo, criam-se verdadeiros
campos de batalha entre as instituições de ensino que buscam por maiores resultados,
como por exemplo, o número de aprovados nas universidades, utilizando estes dados
como comprovantes de sua boa qualidade.
Este fato se deve ao entendimento de que os interesses das instituições de ensino
estão voltados para questões econômicas, de domínio e competição atendendo aos
interesses do capital e da minoria que detém o poder, negligenciando o respeito a vida e
a dignidade do ser humano (SAMPAIO, 2007). É notório que o reflexo deste modelo
educacional acarreta a manutenção das desigualdades sociais, uma vez que, por parte
da elite, não existe a intenção de modificá-la, e assim, utiliza-se da escola na tentativa de
dar continuidade ao seu processo de dominação.
Porém quando passamos a pensar na educação como uma ação que envolve a
formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral do ser humano, iniciamos uma
discussão sobre sua verdadeira finalidade e entendemos que a educação é o caminho
para a realização humana (SAMPAIO, 2007).
Do ponto de vista histórico, a defesa pela educação voltada para os valores
humanos e sociais não é característica unicamente da sociedade atual. Em seu livro
Hourdakis (2001) discute sobre a concepção da teoria de Aristóteles e sua relação com a
educação, desta forma, ele defende a felicidade como o objetivo fundamental de sua
teoria política e pedagógica. Para Aristóteles (2005) a felicidade constitui o objetivo do
homem, sendo assim, seus princípios educacionais encontram-se baseados nesta
perspectiva.
Deste modo, para refletirmos e entendermos suas considerações, Hourdakis
(2001 p.11) explica que “[...] a virtude, associada às noções do fazer e do agir, torna-se
uma das noções mais fundamentais da educação no âmbito de uma pedagogia ativa, que
ainda hoje constitui o objetivo principal da reflexão pedagógica moderna”. Assim, quando
a educação se volta para a necessidade da sociedade, na tentativa de formar cidadãos
críticos, a cultura de transmissão de saberes sistematizados e sua consequente
manipulação começa a perder forças, pois, o educando passa a ser atuante e
transformador da realidade.
Por isso, torna-se necessário refletirmos sobre a importância dada a educação
em nossa sociedade e consequentemente sobre os investimentos feitos nela. Para isso,
realizaremos uma breve reflexão a partir do pensamento de Bourdieu, levando em
consideração sua discussão sobre o capital social e o capital cultural das diferentes
classes sociais e o seu respectivo grau de investimento neste setor.
142
Nesta perspectiva, para Bourdieu (1983), a formação do caráter individual não é
autônomo e caracteriza-se por alguns componentes socialmente herdados que podem
ser objetivos, como por exemplo o capital econômico, o capital social e o capital cultural
institucionalizado (títulos escolares); e subjetivos, como o capital cultural “incorporado”
(patrimônio transmitido pela família), que tem como elementos a “cultura geral”, o domínio
maior ou menor da língua culta, o gosto e o bom-gosto, as informações sobre o mundo
escolar.
Bourdieu (1983) defende que o capital cultural é o elemento com maior impacto
na definição do destino escolar, pois, facilita a aprendizagem escolar. Assim, para as
crianças com um maior capital cultural a escola torna-se uma continuação da educação
familiar. Além disso, este capital favorece um melhor desempenho no processo de
avaliação.
Os grupos sociais também incorporam, através das experiências, um
conhecimento prático sobre o que está ao alcance do grupo dependendo da realidade em
que estão inseridos. Deste modo, os indivíduos analisam suas chances de acesso, de
acordo com o volume e os tipos de capital adquiridos, e assim as ações mais adequadas
serão incorporadas pelos sujeitos como parte do seu habitus, que para o autor seria
entendido como “sistemas de disposição socialmente construídos” (BOURDIEU, 1983,
p.45).
Desta forma, as experiências vividas pelo grupo em relação ao sucesso ou
fracasso escolar determinarão os investimentos na carreira escolar dos seus filhos. Além
disso, os investimentos escolares interessam aos seus agentes, pois, é através da
escolarização que existe a possibilidade de êxito social.
Em termos objetivos os níveis de capital cultural e social determinam o valor dos
investimentos que serão feitos na área escolar pela família, visto que estes grupos sociais
consideram a escolarização e o diploma como fatores importantes para o êxito social e,
desta forma, desenvolvem estratégias para alcançar este objetivo procurando sempre um
processo mais seletivo e de difícil acesso aos diversos grupos sociais, assim, estes
fatores são incorporados pelo sujeito, constituindo seu habitus.
Bourdieu (1983) discute em sua teoria, que os indivíduos da sociedade veem a
educação como um fator importante para o êxito social, considerando também que o
aumento do acesso à educação por parte das camadas populares gerou uma procura por
níveis maiores de escolarização. Porém este investimento acontece de forma desigual
dependendo do nível do grupo social.
Desta forma, o grupo dominante tende a criar uma série de práticas que terminam
por determinar aqueles que devem ou não ascender socialmente, ou seja, “os agentes
que se situam junto à ortodoxia devem, para conservar sua posição, secretar uma série
de instituições e de mecanismos que assegurem seu estatuto de dominação”
(BOURDIEU, 1983, p.22). Para as classes populares que apresentam um menor volume
de patrimônio, acontece o que o autor chama de “escolha do necessário” (NOGUEIRA,
2004, p.70), desta forma, estas classes tendem a preocupar-se menos com o acesso a
altas posições sociais e mais com sua estabilidade, pois, muitas vezes, consideram fora
da realidade a possibilidade de sucesso escolar devido às estatísticas de fracasso
presente em seus meios e um retorno baixo, incerto e a longo prazo, logo o investimento
desta classe social no universo escolar é baixo.
Para as classes médias existe uma necessidade de ascensão social muito
presente, pois, estas se encontram oscilando entre os dominantes e os dominados.
Assim, esta classe investe bastante na escolarização dos seus filhos, pois, eles
apresentam maior probabilidade de sucesso escolar e com isso nutrem a esperança de
143
ascensão social. Em relação às elites sociais, para Bourdieu (1983) elas apresentam duas
categorias: a do capital econômico, que investe mais em consumo de bens; e a do capital
cultural, que investe mais na educação.
Finalmente, Bourdieu (1983) considera que as camadas dominadas, com maior
capital cultural, investem muito mais na educação visando o prestígio através da
escolarização e as camadas dominantes, com maior capital econômico, usam a educação
como um legitimador para justificar sua posição nos cargos de comando.
Este entendimento nos auxilia na problematização de uma realidade presente em
nossa sociedade, sobre os objetivos da educação e as consequências da falta de
oportunidade dentro deste contexto. Isto porque a sociedade que se preocupa com a
formação humana dos cidadãos encontra na educação a principal fonte de disseminação
de valores e princípios importantes para seu desenvolvimento. Vista desta forma, a
educação deixa de estar a serviço da manutenção das desigualdades sociais e avança
no sentido de favorecer uma sociedade mais justa e igualitária, transformadora da
realidade social.
A visão mais crítica do universo escolar apresenta peculiaridades que o transforma
em um componente imprescindível para a formação humana e social, de forma que se
torna necessário, dentro do cenário atual, ressignificá-lo para servir à vida, à realização
humana, social e ambiental. Cabe assim, buscarmos estudar ações que de fato, tornem
possível aos estudantes este desenvolvimento humano para além do interesse puramente
econômico.
Neste sentido, o PGM se materializou como ação educativa que proporcionou aos
estudantes contato com diferentes realidades educacionais, sociais e culturais, que pode
ter levado a mudanças de percepções quanto a diversos aspectos de suas vidas. Tendo
em vista que o intercâmbio internacional no Brasil só ocorria através do investimento
privado de famílias das elites e que o PGM foi realizado sem nenhum custo para os
estudantes e custeado exclusivamente pelo Governo Estadual com verba pública, cabe
refletirmos sobre esta vivência, e seu desenrolar quanto as percepções de felicidade.
Com o intuito de discutir sobre a importância dada à educação em nossa
sociedade atrelada à busca pelo reconhecimento social, realizaremos uma breve
reflexão a partir do pensamento de Bourdieu, levando em consideração sua discussão
sobre o capital social e o capital cultural das diferentes classes sociais e o seu respectivo
grau de investimento neste setor.
Nesta perspectiva, para Bourdieu, a formação do caráter individual não é
autônomo e caracteriza-se por alguns componentes socialmente herdados que podem
ser objetivos, como por exemplo o capital econômico, o capital social e o capital cultural
institucionalizado (títulos escolares); e subjetivos, como o capital cultural “incorporado”
(patrimônio transmitido pela família), que tem como elementos a “cultura geral”, o
domínio maior ou menor da língua culta, o gosto e o bom-gosto, as informações sobre o
mundo escolar.
Bourdieu defende que o capital cultural é o elemento com maior impacto na
definição do destino escolar, pois, facilita a aprendizagem escolar. Assim, para as
crianças com um maior capital cultural a escola torna-se uma continuação da educação
familiar. Além disso, este capital favorece um melhor desempenho no processo de
avaliação.
Os grupos sociais também incorporam, através das experiências, um
conhecimento prático sobre o que está ao alcance do grupo dependendo da realidade
em que estão inseridos. Deste modo, os indivíduos analisam suas chances de acesso,
de acordo com o volume e os tipos de capital adquiridos, e assim as ações mais
144
adequadas serão incorporadas pelos sujeitos como parte do seu habitus, que para o
autor seria entendido como “sistemas de disposição socialmente construídos”
(BOURDIEU, 1983, p.45).
Desta forma, as experiências vividas pelo grupo em relação ao sucesso ou
fracasso escolar determinarão os investimentos na carreira escolar dos seus filhos. Além
disso, os investimentos escolares interessam aos seus agentes, pois, é através da
escolarização que existe a possibilidade de êxito social.
Em termos objetivos os níveis de capital cultural e social determinam o valor dos
investimentos que serão feitos na área escolar pela família, visto que estes grupos
sociais consideram a escolarização e o diploma como fatores importantes para o êxito
social e, desta forma, desenvolvem estratégias para alcançar este objetivo procurando
sempre um processo mais seletivo e de difícil acesso aos diversos grupos sociais, assim,
estes fatores são incorporados pelo sujeito, constituindo seu habitus.
Bourdieu defende em sua teoria que os indivíduos da sociedade veem a
educação como um fator importante para o êxito social, considerando também que o
aumento do acesso à educação por parte das camadas populares gerou uma procura
por níveis maiores de escolarização. Porém este investimento acontece de forma
desigual dependendo do nível do grupo social. Desta forma, o grupo dominante tende a
criar uma série de práticas que terminam por determinar aqueles que devem ou não
ascender socialmente, ou seja, “os agentes que se situam junto à ortodoxia devem, para
conservar sua posição, secretar uma série de instituições e de mecanismos que
assegurem seu estatuto de dominação” (BOURDIEU, 1983, p.22).
Para as classes populares que apresentam um menor volume de patrimônio,
acontece o que o autor chama de “escolha do necessário” (NOGUEIRA, 2004, p.70),
desta forma, estas classes tendem a preocupar-se menos com o acesso a altas posições
sociais e mais com sua estabilidade, pois, muitas vezes, consideram fora da realidade a
possibilidade de sucesso escolar devido às estatísticas de fracasso presente em seus
meios e um retorno baixo, incerto e a longo prazo, logo o investimento desta classe social
no universo escolar é baixo.
Para as classes médias existe uma necessidade de ascensão social muito
presente, pois, estas se encontram oscilando entre os dominantes e os dominados.
Assim, esta classe investe bastante na escolarização dos seus filhos, pois, eles
apresentam maior probabilidade de sucesso escolar e com isso nutrem a esperança de
ascensão social.
Em relação às elites sociais, para Bourdieu elas apresentam duas categorias: a
do capital econômico, que investe mais em consumo de bens; e a do capital cultural, que
investe mais na educação.
Finalmente Bourdieu considera que as camadas dominadas, com maior capital
cultural, investem muito mais na educação visando o prestígio através da escolarização
e as camadas dominantes, com maior capital econômico, usam a educação como um
legitimador para justificar sua posição nos cargos de comando.
METODOLOGIA
145
alunos da pesquisa para a coleta de dados de acordo com o nosso interesse sobre a
felicidade. Para analisar os dados iremos utilizar os pressupostos deste autor através da
análise de conteúdo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS;
REFERÊNCIAS
146
ARANHA, M. L.; MARTINS, M.H.P. Filosofando: Introdução à Filosofia. 3. ed. São Paulo:
Moderna, 2003.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret,
2005.
BAUMAN, Zygmunt. A Arte da vida. Tradução de: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro,
Zahar, 2009.
BOSCH, Phillipe Van den. A filosofia e a felicidade. Tradução de: Maria Ermantina Galvão.
São Paulo: Martins Fontes, 1998.
BOURDIEU, Pierre. Sociologia. Org: Renato Ortiz. São Paulo: Ática, 1983.
ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. ELIAS,
Norbert. O Processo Civilizador: Uma história dos costumes. 2ª ed., v. 1, Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2011.
147
28. PROJETO DE VIDA: DIFERENÇAS CONCEITUAIS ENTRE A BNCC E OS
CURRÍCULOS IMPLEMENTADOS NO ENSINO MÉDIO BRASILEIRO
RESUMO
Homologada em 2018, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o Ensino Médio
é alvo de inúmeras críticas oriundas do cenário político-jurídico instalado no Brasil desde
o impeachment da presidenta Dilma Roussef. Em seu bojo, a BNCC traz uma série de
normativas sobre o que deve ser considerado como “base” nos currículos elaborados
pelos estados brasileiros. Uma dessas orientações versa sobre Projeto de Vida (PV), que
foi colocado presente nas 10 Competências Gerais da Educação Básica e recebeu status
de lei, presente no Art. 35-A, § 7º da Lei nº 9.394/96, a lei de Diretrizes de Bases da
Educação Brasileira. Nesse contexto, a pesquisa em tela se propõe a analisar quais as
políticas de currículo existentes na BNCC e nos currículos estaduais brasileiros que
abordam Projeto de Vida. Considerando que Projeto de Vida é um bem jurídico
estabelecido pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, resultados preliminares
apontam que tanto a BNCC quanto os currículos até agora investigados – Pernambuco e
Ceará - o discurso presente é superficial, reprodutor de conceitos neoliberais e promotor
de uma disjunção do conceito de Projeto de Vida dos direitos humanos, seu local de
origem.
Palavras-chave: Projeto de Vida; Políticas de Currículo; Ensino Médio; BNCC.
INTRODUÇÃO
A pesquisa em tela tem como objetivo geral analisar quais as políticas de currículo
existentes na BNCC e nos currículos estaduais brasileiros que abordam Projeto de Vida.
O que levantamos como hipótese é que Projeto de Vida foi colocado na BNCC e na LDB
de forma negligente pelo legislador e pelos autores responsáveis das orientações
pedagógicas e normativas.
67 Formadora/Centro Lemman
68
Professor/Centro Universitário Brasileiro
148
Na tabela 1 (disponível no final do texto), destacam-se alguns marcos importantes
no que tange à implementação de orientações curriculares para o ensino médio após a
LDB/96.
As discussões mais atuais têm apontado que a 3ª versão da BNCC, construída
durante e após o processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Roussef, sofreu
profundas alterações em relação as suas versões anteriores. E na gestão do presidente
Michel Temer, com o então ministro da educação, Mendonça Filho, foi homologada uma
contrarreforma do Ensino Médio e uma BNCC que precariza o trabalho docente e foca a
formação dos jovens para uma vivência precária do trabalho (DOS SANTOS; SILVA,
2022).
Projeto de Vida
METODOLOGIA
149
Trata-se de uma pesquisa documental, que segundo Gil (2008), os dados são
de maneira indireta em fontes como documentos, livros, jornais, fotos, filmes, entre outros.
Em geral, esses dados indiretos são foram coletados e armazenados para servir aos in-
teresses de organizações, em especial na administração pública. Para este estudo, foram
consideradas fontes de dados indiretos, registros institucionais escritos, conforme indica
Gil (2008): projetos de lei e relatórios e outros textos de órgãos governamentais. Os do-
cumentos analisados neste estudo foram coletados nos sites institucionais dos governos
estaduais, em específico nos sites das secretarias de educação ou equivalentes.
Como procedimento de análise de dados, foi aplicada a técnica de análise de
conteúdo, com a finalidade de descrever sistematicamente o conteúdo das mensagens
analisadas para obter inferências e indicadores (BARDIN, 2011). As etapas da análise de
conteúdo dos documentos em tela foram: pré-análise (organização e leitura dos dados
obtidos nas entrevistas); b) exploração do material (definição de categorias); c) trata-
mento dos resultados, a inferência e a interpretação (BARDIN, 2011). Foram anali-
sados os currículos dos estados de Pernambuco e Ceará.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
150
pudesse subsidiar a construção de proposta curricular sobre PV em seus currículos.
Como resultado, observamos uma política curricular para o componente PV incipiente.
REFERÊNCIAS
CAMINHA, Ana Carolina de Azevedo; DE PAULO, Lara Campos; RIBEIRO, Raisa Duarte
da Silva. Caso Loayza Tamayo Vs. Peru: Prisão Arbitrária e Privação de Garantias
Judiciais. NIDH, 2023. Disponível em: https://nidh.com.br/caso-loayza-tamayo-vs-peru-
prisao-arbitraria-e-privacao-de-garantias-
judiciais/#:~:text=O%20caso%20Loayza%20Tamayo%20vs,ocorrida%20no%20ano%20
de%201993. Acesso em: 24/04/2023.
DOS SANTOS, Sayarah Carol Mesquita; SILVA, Katharine Ninive Pinto. Juventudes
precarizadas e a contrarreforma do Ensino Médio: a educação da classe trabalhadora no
capitalismo flexível. Germinal: marxismo e educação em debate, v. 14, n. 1, p. 517-
535, 2022.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. Editora Atlas SA,
2008.
151
PERNAMBUCO. Governo do Estado. Currículo de Pernambuco – Ensino Médio. 2021.
QUADROS/tABELAS/FIGURA
152
Documento Apresenta o Qual o conceito apresentado?
conceito de
PV?
BNCC Sim Dessa maneira, o projeto de vida é o que os estudantes almejam,
projetam e redefinem para si ao longo de sua trajetória, uma cons-
trução que acompanha o desenvolvimento da(s) identidade(s), em
contextos atravessados por uma cultura e por demandas sociais
que se articulam, ora para promover, ora para constranger seus
desejos. (pg. 473)
Ceará Sim A elaboração do Projeto de Vida do aluno proporciona oportunida-
des para seu autoconhecimento e para que faça escolhas adequa-
das em relação a suas aptidões e aspirações. Favorece tomadas
de decisão que implicam pensar o futuro, enquanto exercita seu
senso de criticidade e responsabilidade. (pg. 70)
Pernambuco Sim Refere-se, portanto, à relação entre o eu, indivíduo que se reco-
nhece capaz de escolhas autônomas e sua interação com o outro
em contextos diversos, dentro e fora do ambiente escolar, objeti-
vando o protagonismo e a corresponsabilidade na construção de
um mundo mais justo e solidário. (pg. 77)
Fonte: BNCC (2018); Ceará (2021) e Pernambuco (2021)
153
29. PÚBLICO E PRIVADO NO ENSINO MÉDIO AMAZONENSE: UMA ANÁLISE
PRÉVIA À IMPLEMENTAÇÃO DO NOVO ENSINO MÉDIO
RESUMO
As políticas em educação para o ensino médio tem sido objeto de investigação frequente
na área de estudos educacionais no Brasil. No estado do Amazonas, a relevância deste
tema é ainda maior, considerando-se as particularidades e os desafios enfrentados na
região. Neste contexto, o presente estudo que faz parte da minha pesquisa de mestrado
em andamento, desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Federal de Pernambuco, inserido no Grupo de Pesquisa em Gestão da
Educação e Políticas do Tempo Livre (GESTOR), tem como propósito principal analisar o
contexto anterior à implementação do novo ensino médio no estado do Amazonas com-
preendendo as articulações entre o setor público e privado nesta última etapa da educa-
ção básica.
Palavras-chave: Público e Privado; Ensino Médio; Amazonas
INTRODUÇÃO
154
Essas investidas apresentam uma vasta capilaridade de atuação no Brasil, por
vezes mediante a grupos que prestam assessorias ao planejamento e à execução de
políticas, ou, ainda, à disputa de políticas públicas educacionais, travestidas em movi-
mentos da sociedade civil sem fins lucrativos, como o Movimento Todos Pela Educação
(TPE), ou em parceiros institucionais de entidades representativas, como a União dos
Dirigentes Municipais de Educação (Undime) ou como o Conselho Nacional de Secretá-
rios de Educação (Consed) (SANTOS; SILVA 2022); e, principalmente, por meio de par-
cerias público-privadas (PPPs) com órgãos, repartições, empresas e entes federados, in-
cutindo a cultura de mercado como parâmetro das relações institucionais e sociais.
155
veiculada pela Seduc (on-line)71, o governador Wilson Lima, entre 2019 e 2021, inaugurou
oito Cetis com recursos do Estado e do Programa de Aceleração do Desenvolvimento
Educacional do Amazonas (PADEAM), financiado pelo Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID).
Em 2020, sob demanda da meta 6, do Plano Nacional de Educação (PNE), no
decênio de 2014-2024, o ensino médio de tempo integral foi realizado mediante parceria
público-privada firmada entre o governo do Estado do Amazonas e o Instituto de
Corresponsabilidade pela Educação (ICE), com apoio do Instituto Natura e do Instituto
Sonho Grande, para implementação do Programa Escola Ativa (PEA), a nova política de
ensino médio em tempo integral.
Lançado em 9 de março de 2020, o Programa Escola Ativa, na ocasião,
contemplou 27 escolas da rede estadual de ensino, 10 dessas em Manaus, e 17 em
interiores, contemplando território vasto e diverso com os municípios de: Anori,
Barreirinha, Beruri, Borba, Coari, Humaitá, Itacoatiara, Manicoré, Maués, Nhamundá,
Novo Airão, Parintins, Presidente Figueiredo, Nova Olinda do Norte, Urucará, Benjamin
Constant e Lábrea.
A PPP, através do PEA, chama a atenção pelas instituições parceiras serem as
mesmas que contribuíram para a aprovação da Lei n.º 13.415, referente à reforma do
Ensino Médio no Brasil, e que expandem, no território brasileiro, processos de
privatização, demonstrando a robustez do projeto nacional do empresariado na definição
e condução das políticas para o ensino médio.
Outra questão de relevância é: como a articulação nacional, associada a esse
projeto do empresariado, foi admitida no “Referencial Curricular Amazonense do Ensino
Médio – RCA/EM, aprovado pela Resolução Ad Referendum n.º 085/2021- CEE/AM de
21 de julho de 2021” (AMAZONAS, 2021). De acordo com o Conselho Estadual de
Educação (CEE), essa aprovação consagra um:
71 Ver:http://www.educacao.am.gov.br/wilson-lima-inaugura-oitavo-ceti-da-gestao-no-viver-melhor-e-abre-
mil-vagas-na-educacao-de-tempo-integral/ Acesso: 28/12/2021
156
do Estado do Amazonas – SEDUC contará com o apoio do Centro de Educação
Tecnológica do Amazonas – CETAM.
O CETAM é uma autarquia do Estado do Amazonas e está vinculado à Secretaria
de Educação e Desporto – SEDUC/AM, um de seus objetivos “Ofertar cursos de
qualificação profissional, contribuindo para a formação de trabalhadores e incentivando a
atividade autônoma nos diversos segmentos econômicos do estado do Amazonas”
(CETAM, 2020, p. 14).
No documento Diretrizes Pedagógicas Institucionais, do CETAM, uma de suas
metas para 2021 era “[...] Implementar em parceria com a Secretaria de Estado de
Educação e Desporto - Seduc a continuidade dos trabalhos para execução do Itinerário
Formativo V, em cumprimento a Lei 13.415/2017 do Novo Ensino Médio” (CETAM, 2020,
p. 14). Entretanto, tendo em vista a extensão territorial do Amazonas e sua diversidade,
não se sabe ao certo: 1) se seria possível o CETAM Contemplar tanto a capital de Manaus
quanto os seus munícipios na implementação do Novo Ensino Médio e, 2) de que forma
esse processo se desenvolverá tendo em vista as limitações, diversidade geográfica e
cultura do Amazonas.
Para atuar no Estado, o CETAM tem formalizado acordos de cooperação técnica
em quatro vertentes: CETAM na empresa, CETAM no governo, CETAM no terceiro setor
e Soldado cidadão (CETAM, on-line). Essa perspectiva corrobora significativamente para
o movimento empresarial que vem controlando a educação pública por meio das políticas
públicas, das parcerias público-privadas – PPPs e Acordos de Cooperação Técnica com
o teor de projetos privatistas para/ na educação pública.
A preocupação, no âmbito deste debate das políticas educacionais, remete à
correlação de forças na determinação de um modelo educativo de formação que, para o
empresariado, redesenha o currículo da educação pública em conteúdo, método e gestão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
157
AMAZONAS. Conselho Estadual de Educação. CEE-AM aprova o Referencial
Curricular Amazonense do Ensino Médio. Disponível em:
http://www.cee.am.gov.br/?p=107. Acesso em 25 de outubro de 2021.
SANTOS, Cleverson José dos; SILVA, Monica Ribeiro da. O papel dos agentes
intermediários no processo de implementação de uma política educacional: o GT
Ensino Médio do Consed e a reforma pela Lei No 13.415/2017 no Brasil. Revista de
Estudios Teóricos y Epistemológicos en Política Educativa, v. 7, e20007, p. 1-16, 2022.
158
30. QUAL O ESPAÇO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO NOVO ENSINO
MÉDIO PERNAMBUCANO?
RESUMO
Esse trabalho parte da necessidade de compreender as consequências diretas para
disciplina de Educação Física, no campo escolar, no contexto do processo de
implementação da reforma do Ensino Médio (Lei 13.415/2017). Esta reforma, configura o
Novo Ensino Médio, que dentre outros pontos, determina a flexibilização do currículo
escolar. Esse procedimento incide em disciplinas que não estão dentro das selecionadas
como fundamentais pra avaliações externas de desempenho escolar. Diante deste
cenário, o objetivo geral é identificar qual o espaço que a educação física assume dentro
da organização do Novo Ensino Médio em Pernambuco. No percurso metodológico,
optamos por realizar um estudo bibliográfico de caráter qualitativo. Identificamos
inicialmente que a disciplina de Educação Física, dentro desse contexto, enquadra-se
como uma das disciplinas que passam a ter sua carga horária reduzida, além de perder
a obrigatoriedade de estar presente em todos os anos do Ensino Médio.
Palavras-chave: Novo Ensino Médio; Educação Física; Pernambuco.
INTRODUÇÃO
159
Com a Lei 13.415/2017, estudantes podem selecionar o itinerário formativo que
desejar de acordo com seus interesses, porém facultando a cada instituição e redes
estaduais organizarem essas possibilidades de escolhas, pois cada instituição deverá
optar quais itinerários irão disponibilizar. Esta proposta vem para justificar que as
mudanças no Ensino médio é fruto da necessidade de haver uma escola mais atraente
para os jovens. Esse novo visual mostrou o direcionamento entre o papel da formação da
Educação Básica e as demandas do mercado, que ampliam as desigualdades entre as
regiões e suas redes de ensino sobre as condições materiais para implantação do novo
modelo. (AGUIAR; DOURADO, 2018).
Considerando os pontos abordados, em especial o contexto da flexibilização, a
Educação Física sofre os impactos do Novo Ensino Médio em sua carga horária. Segundo
Bungenstab e Lazzarotti Filho (2017), ela foi excluída da lista de disciplinas obrigatórias,
na primeira versão do Novo Ensino Médio. Além disso, passa a contar com “a
possibilidade de supressão desse componente curricular no Ensino Médio que se
materializaria na não obrigatoriedade do mesmo em parte do trajeto formativo dos
estudantes” (GARIGLIO; JUNIOR; OLIVEIRA, 2017, p.55).
Esse trabalho tem o objetivo geral de identificar qual o espaço que a educação
física assume dentro da organização do Novo Ensino Médio em Pernambuco. Como
caminho metodológico, esse trabalho se enquadra dentro do campo da pesquisa
qualitativa. Segundo Minayo (2009), esse tipo de pesquisa representa um “nível de
realidade que não pode ou não deveria ser quantificado” (MINAYO, 2009, p. 21). Esse
trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica que para Gil (2002, p.44) é construída por
meio de materiais já produzidos, “constituído principalmente de livros e artigos científicos”.
160
e a escolha dos itinerários formativos” (LIMA; GOMES, 2022, p.322). Desta forma, as
possibilidades de oferta de Ensino Médio em Tempo Integral assumiram uma redução
considerável em sua estrutura de horário, enquanto as regulares assumiram a
necessidade de ampliar sua carga horária.
No Novo Ensino Médio, dois pontos chaves definidos pelo Parecer influenciam na
reconstrução curricular na Rede Pública Estadual de Pernambuco. O primeiro é a
ampliação de um Projeto de Vida como um componente curricular obrigatório. O segundo
é a atuação de professores em novas disciplinas denominadas de eletivas, definidas por
meio da afinidade de sua área de formação com o campo dos novos componentes
curriculares (PERNAMBUCO, 2021a).
Entendendo o documento Currículo de Pernambuco – Ensino Médio de modo
amplo, podemos entender que, o mesmo aponta elementos como currículo, avaliação e
formação docente. Também aborda significados para o Novo Ensino Médio na vida dos
estudantes e questões de identidades dos sujeitos. Porém o destaque fica para a parte
final, com a definição da Formação Geral Básica, com redução das ofertas de disciplinas
por turma e redução da carga horária.
Além disso, temos os Itinerários Formativos, com a argumentação de escolha do
melhor caminho para construção dos conhecimentos. Conforme o Art. 15 da Instrução
Normativa Nº 003/2021, é destacado que os Itinerários são um conjunto de unidades
curriculares que possibilita o estudante aprofundar seus conhecimentos e se preparar
para continuar os estudos ou seguir para o mundo do trabalho, contribuindo para
solucionar problemas específicos dentro da sociedade.
161
uma vasta experiência em uma das práticas corporais existentes” (BUNGENSTAB E
LAZZAROTTI FILHO, 2017, p. 32), limitando os conhecimentos à prática corporal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
162
FREITAS, L. C. Os reformadores empresariais da educação: da desmoralização do
magistério a destruição do sistema público de educação. Educ. Soc., Campinas, v. 33,
n. 119, p. 379-404, abr./jun. 2012.
MOTTA, V. C.; FRIGOTTO, G. Por que a urgência da reforma do ensino médio? Medida
Provisória nº 746/2016 (Lei nº 13.415/2017). Educação & Sociedade, v. 38, p. 355-372,
2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/es/a/8hBKtMRjC9mBJYjPwbNDktk/ Acesso
em: 4 Abr. 2023.
163
31. REFLEXÕES SOBRE AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO
INTEGRADO DO IFPE - CAMPUS RECIFE
RESUMO
O objetivo deste trabalho é relatar a experiência e as reflexões feitas pelas discentes do
curso de licenciatura em Educação Física da Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE-SEDE), através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
(PIBID/IFPE). Utilizamos como metodologia abordagem qualitativa, a partir dos
instrumentos metodológicos (a observação, a reflexão da prática/teoria, a avaliação e o
planejamento) e relatórios das observações das aulas de educação física, ministradas no
ensino médio integrado, no Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) - Campus Recife.
Como resultado das análises dos dados, conseguimos apontar que os discentes têm um
maior envolvimento com as atividades físicas porque os materiais e espaços ficam
disponíveis para eles usufruírem além das aulas de Educação Física, ademais a
aprendizagem dos estudantes não se restringe a gestos técnicos, o que proporciona a
participação deles e a experimentação do esporte sem a necessidade de serem perfeitos
na prática.
Palavras-Chave: Ensino médio integrado; PIBID; Educação Física.
INTRODUÇÃO
164
O conteúdo ministrado na primeira unidade das turmas acompanhadas estava de
acordo com a matriz curricular de Educação física, elaborado pela instituição, foi o
atletismo, trazendo os fundamentos e as regras da prática, tal como sua execução. Na
segunda unidade os alunos puderam vivenciar o esporte handebol, que não está presente
na matriz, porém os professores têm a liberdade de aplicar nas turmas, a começar dos
interesses dos alunos a partir das opções apresentadas pelos professores. Neste
momento, foram expostos aos discentes conteúdos como origem, história, fundamentos,
regras e adaptações de jogo, onde puderam vivenciar a teoria e sua prática. O IFPE
disponibiliza para as aulas espaços físicos, equipamentos e materiais adequados tanto
para a realização das aulas de atletismo como para as aulas de Handebol.
Esse relato tem como objetivo descrever as nossas experiências durante as aulas
de Educação Física acompanhando os dois docentes nas turmas de eletrotécnica e
eletrônica do ensino médio integrado do IFPE - Campus Recife. E destacar também a
importância de contribuir na construção do conhecimento acerca da Educação Física no
Ensino Médio Integrado.
METODOLOGIA
ANÁLISES E DISCUSSÕES
165
vestibulares para a futura inserção dos alunos no mercado de trabalho.
(MAIA, SANTIAGO, PEREIRA, ESTÁCIO, LIMA, 2019).
Mas apesar de uma ementa superficial, onde são apresentadas apenas seis
atividades físicas para todo o componente curricular sem nenhuma especificação ou
orientação para a prática dessas atividades, o IFPE - Campus Recife tem um cuidado a
mais na estrutura dos espaços utilizados pelos alunos e nos materiais das atividades
práticas e teóricas. Esses recursos disponibilizados para os alunos utilizarem em horários
além das aulas de Educação Física, faz com que o interesse e o envolvimento deles pelas
atividades físicas se torne mais forte, possibilitando um amplo respeito aos alunos com
as aulas de Educação Física. Proporcionando a oferta de diversas atividades esportivas
e culturais que possibilitam ampliação das experiências motoras, enquanto atividades
extracurriculares, além das aulas de Educação Física, como capoeira, badminton,
natação, dança circulares e futsal.
É importante, também, ressaltar que as atividades de cunho lúdico e recreativo
estimulam a participação dos discentes nas aulas práticas. Este ponto facilitou o
entendimento das regras e dos fundamentos que foram apresentados durante as aulas
de Educação Física. Essas práticas consistiram em mini campeonatos entre os alunos da
própria turma como forma de analisar o desenvolvimento dos mesmos ao final da unidade.
Ao longo desse período, também foram apresentadas dinâmicas em grupos, brincadeiras
de reconhecimentos das atividades estudadas, aquecimentos antes das práticas com o
intuito de evitar lesões, mini jogos com espaços e quantidade de participantes reduzidos
com o objetivo de adaptar as atividades.
Além das aulas práticas desenvolvidas pelos docentes com o intuito de mostrar
na execução os movimentos das atividades que fazem parte da matéria, também são
elaboradas aprendizagens teóricas como forma de fixação dos conteúdos estudados.
Essas aulas se baseiam em vídeos lúdicos explicando os fundamentos e regras,
elaboração entre os alunos de atividades de cunho recreativo e apresentações dessas
atividades desenvolvidas por eles. Durante todo esse período de acompanhamento, os
docentes estimulam práticas em grupo entre os estudantes, onde se coloca em ação a
comunicação, a empatia e o senso de ajuda entre os colegas.
Durante as aulas viu-se que as ações dos estudantes eram observadas e
pontuadas pelos professores, com isso possibilita para eles uma avaliação do processo
ensino aprendizagem. É também um combustível de motivação, pois a medida que vai
ouvindo, se justifica e consequentemente aprimora suas habilidades.
166
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Oliveira, D. Élen B. de, Teixeira, F. C., Oliveira, L. P. de, Broch, C., Pizani, J., Caruzzo, N.
M., & Barbosa-Rinaldi, I. P. (2018). O feedback como ferramenta de aprendizagem no
contexto escolar: considerações a partir da atuação de professores de Educação
física. Corpoconsciência, 22(3), 25-35. Disponível
em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/corpoconsciencia/article/view/683
5>. Acesso em: 16 de abril de 2023.
167
32. REFORMA DO ENSINO MÉDIO: DESPROFISSIONALIZAÇÃO DO
TRABALHO DOCENTE
RESUMO
O texto tem por objetivo observar o aprofundamento das subcategorias já estudadas em
pesquisa anterior. Parte de recorte de pesquisa realizada sobre políticas educacionais e
trabalho docente, estabelecendo nexos e relações com a Reforma do Ensino médio.
Utilizaremos como método do materialismo dialético e da categoria do método totalidade,
através do universal, singular e particular. No universal, encontramos o capitalismo em
uma nova fase de acumulação, no particular as políticas educacionais, buscando regular
através das mesmas. No singular encontramos os efeitos objetivos e subjetivos no
trabalho docente. No primeiro estudo nosso foco foi a política de avaliação adotada em
Pernambuco, articulados ao gerencialismo, forma de controle do trabalho. Os efeitos se
expressam por meio de subcategorias, precarização-falta de condições de trabalho;
proletarização-burocratização e falta de autonomia e intensificação-exaustão. No
segundo caso nosso foco está na Reforma do Ensino Médio. Estabeleceremos algumas
regularidades, todas as subcategorias já observadas na política de avaliação também
estão na Reforma do Ensino Médio, que embora suspensa, está em curso, entretanto, há
um aprofundamento e uma nova subcategoria se apresenta, consiste na
desprofissionalização, ou seja, atuação profissional sem a formação para tal.
Palavras-Chave: Políticas Educacionais; Regulação; Reforma do Ensino Médio;
Itinerário Formativo; Desprofissionalização.
INTRODUÇÃO
168
o trabalho assalariado.
Buscando compreender o trabalho docente, Saviani (1991, p.19) nos adverte que
a educação é um fenômeno próprio dos seres humanos, como também é o trabalho.
Dependendo do produto resultante desse trabalho, ele pode ser material, resultando dele,
em escala cada vez mais ampla e complexa, os bens materiais. Já o trabalho não material,
resulta a produção de ideias, valores, conceitos, símbolos, atitudes e habilidades. A
categoria trabalho docente se constitui como campo em construção, complexo,
atravessado por situações políticas e pelo apelo dos docentes por melhores condições de
trabalho, no contexto das reformas educacionais e sua incidência nas mudanças relativas
à organização do trabalho.
Articulado a esse movimento, o trabalho, em sentido geral, vem sendo
constantemente reestruturado cientificamente buscando técnicas, no sentido de
racionalizar a produção, eliminando os tempos mortos e outros constrangimentos a fim
de se obter mais trabalho. Segundo Antunes (2003, p.53), trata-se da intensificação das
condições de exploração do trabalho, reduzindo ou eliminando o trabalho improdutivo. A
este processo se seguem, como resultados imediatos, a desregulamentação dos direitos
do trabalho, além da fragmentação da classe trabalhadora.
Todas as novas técnicas são instrumentos de regulação que através do trabalho
objetivo modificam o trabalhador em sua subjetividade. Pernambuco, por meio da política
de governo, adota como nova técnica para obter mais trabalho o gerencialismo, para
todas as áreas de governo, inclusive na educação, com a implementação da política atual
que tem características gerenciais. Isso se soma com a Reforma do Ensino Médio,
acentuando os efeitos.
O gerencialismo se constitui em uma forma de gestão através da adoção de
elementos do mercado, por meio de paradigmas como racionalidade técnica, eficácia e
eficiência, elementos adotados pela forma administrativa.
Os efeitos objetivos no trabalhador docente de expressam por meio de
subcategorias, precarização, proletarização, burocratização e falta de autonomia e
intensificação-exaustão. Para melhor entendimento traremos algumas categorias,
sabendo que elas são interligadas.
A precarização do trabalho docente envolve as relações de emprego, como
número de alunos por turma, carga horária, estrutura física, materiais didáticos e
pedagógicos, regime de trabalho, rotatividade, saúde dos profissionais, dentre outros
aspectos.
Para Bosi (2007), a precarização do trabalho docente vem sendo objeto de
estudos dos campos da sociologia, do serviço social, da saúde e da educação,
esclarecendo sobre as diversas dinâmicas de precarização vividas por docentes do
ensino fundamental e médio, mostrando como a reestruturação produtiva atingiu esses
docentes.
Para compreender a intensificação, partiremos do termo intensidade, que Dal
Rosso (2008, p.23) conceitua como,
169
e o controle dos resultados do trabalho existem no sentido de obter, ao máximo, a forma
mais organizada de trabalho, apesar da quantidade e da intensidade envolvida no
trabalho fazerem parte da preocupação histórica dos modos de produção anteriores.
A tecnologia utilizada para aumentar a produção altera o próprio trabalho, que
passa a ser reorganizado e reestruturado, exigindo do trabalhador maior envolvimento e
esforço.
A proletarização é o processo evidenciado sobretudo pela perda de controle do
trabalho e da autonomia pelo docente. Com o amparo das estruturas gerenciais a serviço
do Estado, sobretudo em fases de crises econômicas, objetivando obter maior
racionalização dos recursos administrativos. Isso implica na desqualificação dos
docentes, principalmente na implantação de dispositivos de controles técnicos externos e
internos.
.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÕES
170
desenraizando a formação da atuação profissional; e 2) oferta das
disciplinas da educação profissional por pessoas sem formação
docente e contratadas precariamente para lidar com jovens em
ambiente escolar. Tudo isso fere a construção de uma formação
ampla e articulada aos diversos aspectos que envolvem a
docência – ensino, aprendizagem, planejamento pedagógico,
gestão democrática e diálogo com a comunidade.
CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
79 https://exame.com/brasil/apos-reforma-do-ensino-medio-alunos-tem-aulas-de-o-que-rola-por-ai-rpg-e-
brigadeiro-caseiro/
171
DAL ROSSO, S.; FORTES, J. A. A. S. (Org.). Condições de trabalho no limiar do
século XXI. Brasília: Época, 2008.
172
33. REPERCUSSÕES NAS PRÁTICAS FORMATIVAS, NO COTIDIANO DAS
JUVENTUDES DO IFPE DURANTE A PANDEMIA POR COVID.
RESUMO
A COVID-19 se espalhou pelo mundo e o distanciamento social foi uma das principais
estratégias de redução de mortes e internações. Este estudo qualitativo se trata da análise
das repercussões da pandemia na vida dos jovens do Ensino Médio Integrado (EMI) no
IFPE. O estudo qualitativo foi realizado no IFPE – Campus Recife e Barreiros. Na coleta
de dados utilizou – se da aplicação de questionários, envolvendo discentes do ensino
médio integrado. Realizamos a análise temática (BARDIN, 2010). Identificando a partir da
análise, as palavras-chave que orientam o seu discurso (MINAYO; GOMES, 2015).
Evidenciou-se restrições ao cotidiano dos estudantes no período de isolamento social da
pandemia, seja no hábito de frequentar ambientes públicos e contato com familiares e
amigos, alterações na rotina escolar e no lazer. Quanto às atividades de lazer se
destacam tanto as atividades físicas, quanto os aparelhos eletrônicos. Os praticantes de
atividade física relataram prioritariamente a realização de atividades em ambiente
doméstico em comparação com as atividades ao livre.
Palavra-Chave: Pandemia; Isolamento social; Cultura Corporal; Ensino Médio Integrado
INTRODUÇÃO
173
No Brasil, as decisões das autoridades nos níveis nacional, regional e local,
foram objeto de muita discussão, quanto às mudanças de comportamento necessárias
para o sucesso das mesmas, seja no contexto familiar, laboral ou educacional. No Instituto
Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Pernambuco – IFPE, acompanhou as
decisões referentes à necessidade do isolamento social, que levaram à interrupção
parcial ou total das atividades pedagógicas presenciais por mais de 18 meses. A
instituição utilizou como uma das estratégias de redução de impactos desse período, o
trabalho e o ensino na modalidade remota (BRASIL 2020; IFPE, 2020c; PERNAMBUCO,
2020a, 2020b). A análise de tal contexto permite compreender o seguinte
questionamento: Que repercussões a pandemia de COVID-19 trouxe para o cotidiano dos
membros da comunidade acadêmica do IFPE? Estas informações serão facilitadoras para
a adoção de medidas para minimizar as repercussões negativas e preparar estratégias
de proteção considerando a possibilidade de novos períodos de isolamento sociais
causadas por emergência ou calamidade em saúde pública. Sob esta ótica, este estudo
focou na identificação de mudanças de comportamento na rotina do trabalho, estudo,
lazer e interação social durante a pandemia, principalmente no que diz respeito ao lazer
e à prática de atividade física.
METODOLOGIA
Este projeto foi avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres
Humanos da UFPE, sob o número CAAE 59824322.5.0000.5208, recebendo parecer
favorável à sua realização a partir do parecer nº 5.681.144 de 04 de Outubro de 2022,
respeitando os critérios da Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466/2012 e nº
510/2016 (BRASIL, 2012; 2016). No quadro 1, disponível no final do texto, resumimos a
metodologia da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
174
transmissão do SARS-COV-2 era necessário, antecipando suas repercussões
econômicas e sociais através do controle da circulação de pessoas, seja na para a
produção e oferta de serviços, quanto para o consumo. A mudança brusca e prolongada
da rotina trazida pelo isolamento social, gerou aumento da ingestão de alimentos, do
estresse, ansiedade, depressão e conflitos familiares principalmente acometendo as
mulheres, adultos jovens e adolescentes (ARRUDA, 2020; BEZERRA et al., 2020; CRUZ
et al, 2021; OLIVEIRA et al., 2020; TALEVI, 2020). Na amostra estudada, as principais
repercussões apresentadas foram as mudanças na rotina de trabalho e a participação em
afazeres domésticos.
Evidenciou - se mudança no hábito de frequentar espaços externos à residência
como praças, mercados, igrejas (27,3%). Dentre os hábitos iniciados nesse período, a
prática de esportes foi relatada por 22,7% e 18,2% passaram a ter mais contato com
aparelhos eletrônicos com celular e ver TV. No Brasil, em levantamento realizado por
Bezerra et al. (2020), 89% dos entrevistados informaram ter passado por algum nível de
isolamento, total ou parcial, em decorrência da pandemia. O estudo demonstrou que os
sujeitos em melhor situação financeira apresentaram o convívio social como principal
repercussão da pandemia em suas vidas. Por outro lado, os indivíduos com renda mais
baixa, que convivem com mais pessoas na mesma habitação, apresentaram redução ou
perda completa de sua renda, maior nível de estresse advindo de conflitos familiares e
interrupção da prática de atividade física durante este período.
Destacou-se, a interrupção ou redução da prática de atividade física foi relatada
por 31,8% dos sujeitos. Outros 27,3% dos sujeitos relataram não ter se exercitado neste
período. É necessário ressaltar que a prática de atividade física seria uma atividade
importantíssima para se manter durante o período de isolamento social, pois ela interfere
nos marcadores imunológicos e inflamatórios, além dos benefícios de ordem mental e
social. Diante do contexto de restrição, estratégias de manutenção do estilo de vida ativo
dentro de casa se multiplicavam nos meios de comunicação com dicas sobre o uso do
espaço limitado, exercícios que utilizassem o próprio peso do corpo e acessórios
domésticos como cadeiras, garrafas e vassouras como material possível de ser utilizado
nos treinos (CRUZ et al, 2021; NOGUEIRA et al., 2021; SOUZA; BEZERRA et al., 2020).
Neste contexto, 50% dos sujeitos relataram ter se exercitado em casa, e apenas 18,2%
ter se exercitado ao ar livre.
Houve grande controvérsia quanto à possibilidade de fazer exercícios físicos ao
ar livre e nas academias quando permitido no que diz respeito aos protocolos que
deveriam ser adotados. Na nova realidade, seria necessário se informar antecipadamente
sobre o estado das medidas de restrição local, respeitar o distanciamento mínimo, manter
o uso de máscara e álcool em gel MATTOS et al., 2020; NOGUEIRA et al.). Assim, o uso
de máscara na prática de atividade física com máscara, sem dificuldade, foi relatado por
31,8% dos sujeitos, enquanto 40,9% dos participantes não usavam máscaras nestas
atividades. Este cenário demonstra a complexidade das decisões relativas ao isolamento
social, principalmente relativo a atividades não-essenciais de lazer e turismo adotadas
pelas autoridades políticas e de saúde, que foram alvo de tanta discussão e crítica
(STEIN, 2020).
CONCLUSÕES
175
decorrência da pandemia dos jovens discentes do ensino médio integrado. É possível
identificar restrições ao cotidiano dos estudantes no período de isolamento social da
pandemia, seja no hábito de frequentar ambientes públicos e contato com familiares e
amigos, alterações na rotina escolar e no lazer. Dentre as atividades de lazer se destacam
tanto as atividades físicas, quanto os aparelhos eletrônicos. Os praticantes de atividade
física relataram prioritariamente a realização de atividades em ambiente doméstico em
comparação com as atividades ao livre. O avanço na aplicação do questionário
possibilita um retrato mais amplo e fidedigno destas repercussões no que diz respeito ao
recorte proposto neste estudo. Registro que o estudo contemplou amostra de Barreiros e
Recife, porém quanto aos dados de Recife não analisamos todas as questões que foram
aplicadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
176
MACEDO JÚNIOR, A. M. COVID-19: calamidade pública. Medicus, v.2, n.1, p.1-6, 2020
MATTOS et al. Atividade e exercício físico durante a pandemia COVID-19. Rev Bras Ativ
Fís Saúde. n. 25, 2020
TALEVI, D. et al. Mental health outcomes of the COVID-19 pandemic. Riv Psichiatr v.
55, n.3, p. 137-144, 2020
QUADROS/TABELAS/FIGURAS
177
Qualitativo Estudantes 57 estudantes Aplicação de Estatística descritiva
dos cursos (Servidores Questionário
técnicos em fase de
integrados/ser coleta)
vidores
Barreiros/Recif
e
178
34. REPRESENTAÇÃO CORPORAL: UM OLHAR SOBRE CORPO
ATRAVÉS DOS DISCENTES DO IFPE - CAMPUS RECIFE
RESUMO
O corpo humano eleva diversas manifestações culturais. O culto ao Corpo em busca de
um padrão não é algo novo na sociedade. Com isso, essa pesquisa em andamento tem
por finalidade desvelar a concepção de corpo dos discentes do IFPE - campus Recife e
qualificar a leitura dos estudantes sobre suas ideias de corpo e de como ele se relaciona
com a sociedade enquanto manifestação cultural. Os resultados que obtivemos até o
determinado momento nos mostra que a concepção que se predomina é a de corpo como
anatomofisiológico.
Palavras-chave: Corpo; Cultura; Sociedade; Educação
INTRODUÇÃO
179
visto que neste período temos a separação da alma e do corpo, na qual a alma se
sobrepunha sobre quaisquer circunstância sobre as manifestações de corporais. “O bem
da alma estava acima dos prazeres carnais, o que inibia qualquer manifestação corporal.”
(FARHAT, 2008, p.06). O corpo era tido como pecaminoso e por isso devia sofrer para
alcançar a redenção. Flagelações, apedrejamentos, enforcamentos e execuções em
praça pública se tornaram comuns nesse marco histórico.
O regresso do culto ao corpo é notório atualmente, principalmente a propagação
de conteúdo com a propagação da internet e seu acesso. Plataformas de redes sociais
como Instagram, Tiktok, que com seus vídeos curtos promovem a estética corporal tida
como perfeita, aumenta a busca por um padrão, que muitas vezes se torna inalcançável
quando não levado em conta a genética e as particularidades de cada indivíduo.
Partindo dessa perspectiva e tentado entender como os jovens estudantes do
IFPE - Campus Recife entendem concepção de Corpo, buscamos objetivar uma análise
de onde vêm as influências para que adotem uma representação de corpo, seja pela
evolução dos meios digitais, o acesso e consumo de material sobre corpo, a influência
dos fenômenos midiáticos, pessoas famosas na mídia como influencers, artistas em suas
diversas categorias, atletas e até mesmo sobre seus conhecimentos empíricos.
METODOLOGIA
180
que se pretende que o aluno apreenda é o exercício de atividades corporais que lhe
permitam atingir o máximo rendimento de sua capacidade física” (COLETIVO DE
AUTORES, 2012, p.37) e tal afirmação não foge da realidade do instituto.
As formas de tratamento, olhar e entendimento a partir da temática do corpo são
circulares. Durante certo período, até a chegada no século XVII, o corpo era visto sob
este mesmo olhar utilitarista e puramente funcional, assim, sendo ele (corpo), visto
apenas como um caminho para chegar a algo que se desejasse.
Com a revolução industrial, o corpo passa a ser visto como uma ferramenta de
trabalho e um caminho para a obtenção do lucro.
Quando olhamos para o entendimento que os estudantes do Instituto Federal de
Pernambuco (IFPE), tem a partir do momento que a temática de corporal passa a ser
discutida, podemos observar que este entendimento está apenas atrelado ao corpo
anátomo-fisiológico. Evidenciamos que a percepção de um corpo social, não é retratada
nas respostas dos estudantes. “A escola, como espaço que reconstrói a cultura, não pode
hierarquizar conhecimentos. O currículo deve fortalecer os setores excluídos para que se
tornem aptos a participar do processo democrático” (Neira, 2016). Sendo assim, a partir
de nossas observações, entendemos que a escola e os professores têm total
responsabilidade a respeito do entendimento que os estudantes têm da temática de corpo
em desmistificar essa imagem de corpo construído no imaginário social.
É de extrema importância que os professores de educação física e demais áreas
do conhecimento possibilitem jovens/ estudantes a questionar as narrativas hegemônicas
sobre o corpo e a beleza, incentivando-os a refletir sobre as pressões sociais e culturais
que moldam essas ideias. Isso pode ser feito por meio de discussões em grupo, leituras
de textos críticos e atividades de produção textual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
181
história, exteriorizadas pela expressão corporal [...]” (COLETIVO DE AUTORES, 2012,
p.39).
Também é fundamental que a escola promova a inclusão de corpos de
diferentes tamanhos, formatos e habilidades, desafiando os padrões estéticos impostos
pela mídia e pela sociedade. Os professores de educação física podem promover
atividades que valorizem a diversidade corporal, como aulas de dança inclusiva, esportes
adaptados e atividades que valorizem a autoestima e a aceitação do corpo.
Com essas estratégias, é possível ajudar o estudante de educação física a
desenvolver uma visão mais ampla e integrada do corpo, que valorize não apenas a força
e a aparência física, mas também a saúde, a flexibilidade, a coordenação e o bem-estar
geral.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
182
35. RODA DE CONVERSA DE CAPOEIRA: UMA PERSPECTIVA DA PRÁTICA
PEDAGÓGICA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA.
RESUMO
O presente trabalho visa apresentar um relato de experiência de um evento vivenciado
no IFPE - Campus Recife, na Semana da Consciência Negra, que envolveu mestres de
capoeira de Pernambuco, docentes, discentes, através de uma roda de conversa que
abordou a historicidade da Capoeira e o negro no Brasil. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa através da observação e descrição do evento realizada por bolsistas do
PIBID/UFRPE/IFPE. Buscou-se identificar através dos registros as representações e
significados atribuídos pelos sujeitos na roda de conversa. Ganhou evidência o respeito
à diversidade cultural e reafirmação da capoeira enquanto um instrumento de luta e
tomada consciência do movimento negro no Brasil.
Palavras-Chave: Capoeira; Educação Física Escolar; Cultura
INTRODUÇÃO
87
UFRPE - SEDE), discente PIBID/UFRPE/IFPE.
88 UFRPE - SEDE), discente PIBID/UFRPE/IFPE.
89 UFRPE - SEDE), discente PIBID/UFRPE/IFPE.
183
proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação em experiências
metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar que
busquem a superação de problemas identificados no processo de ensino aprendizagem.
Então, é necessária uma breve síntese para entender um pouco sobre o processo de
construção da capoeira dentro do contexto histórico brasileiro para podermos facilitar a
compreensão acerca dela.
A origem da palavra “capoeira” vem da junção de termos do Iorubá (língua nativa
africana) "Ka'a" com o tupi-guarani (língua indígena, nativa brasileira) "Puer", que
significa "Aquilo que foi mata" ou "mato rasteiro", que eram justamente os locais que os
escravos fugiam para poder praticar e exercitar sua arte. Os primeiros indícios do
surgimento da capoeira aqui no Brasil se dão na região nordeste, no Quilombo do Zumbi
dos Palmares, localizado no atual estado de Alagoas, mas que antes faziam parte da
então Capitania de Pernambuco.
A capoeira é uma arte marcial (luta) genuinamente brasileira criada pelos negros
no período pré-colonial, como uma ferramenta de defesa em combate a violenta opressão
sofrida na escravidão pelos mau feitores e senhores de engenho. Então, com base nos
movimentos dos animais em meio à natureza, os escravos conseguiram desenvolver uma
luta com fundamentos de ataque e defesa. Durante muito tempo a capoeira foi
discriminada, perseguida e marginalizada. Em ruas e praças, chegou a ser considerada
crime no primeiro Código Penal da República, em 1890. Aproximadamente 40 anos
depois, foi descriminalizada, e teve início seu processo de institucionalização rumo às
escolas e universidades.
De acordo com Lussac e Tubino (2009), o marco inicial mais expressivo em
promover a luta brasileira como esporte, defesa pessoal e ginástica, foi a publicação da
obra “O guia do capoeira ou ginástica brasileira” (Annibal Burlamaqui, Zuma, 1928).
“Ginástica Nacional – capoeiragem- metodizada e regrada”, e é a partir deste momento
que se faz necessário mencionar um dos principais precursores da capoeira aqui no
Brasil.
Para tanto, destacamos uma grande referência da capoeira, Manoel dos Reis
Machado, mais conhecido como "Mestre Bimba", nascido no dia 23 de novembro de 1900,
em Salvador. Seu apelido tem origem numa aposta entre sua mãe e a parteira, onde quem
ganhasse, a criança teria como apelido, o órgão genital respectivo ao sexo. A parteira por
apostar que a criança seria do sexo masculino, venceu a aposta, e assim ficou seu
apelido.
A capoeira se encontrava num período extremamente conturbado, e devido a isso,
marginalizada, principalmente por ainda se encontrar no Código Penal da República em
1890. Naquele momento, passava a ser uma prática desorganizada, desvalorizada e sem
nenhuma fundamentação teórico-prática, perdendo cada vez mais credibilidade diante a
sociedade. Tendo ciência disso, Mestre Bimba revolucionou e elevou o patamar da
capoeira desenvolvendo a tão conhecida "Capoeira Regional". Com o interesse de
eliminar a carga pejorativa sobre a capoeira e aumentar a sua aceitação na sociedade,
Bimba mesclou seu conhecimento sobre a capoeira primitiva, a capoeira angola, é uma
luta denominada “batuque”. Ele foi o primeiro capoeirista de sua época a desenvolver um
sistema de ensino, e também, o primeiro a dar aulas em ambiente fechado. Ao longo dos
anos, o baiano transformou a capoeira numa luta com método de ensino próprio, criando
rituais como o batizado, a formatura e a especialização. A capoeira era trabalhada em
duas vertentes: como luta de defesa pessoal e como manifestação cultural e artística.
Seus feitos fizeram com que a capoeira conquistasse espaço, valorização e
reconhecimento e respeito da sociedade na época em que a perseguição às
184
manifestações da cultura negra eram intensas. Isso gerou como consequência, a saída
da prática da capoeira do código penal em 1937, com o então presidente Getúlio Vargas.
Posteriormente, a capoeira ganha espaço como esporte institucionalizado, estabelecido
por meio de padrões de movimento, regras e sistemas de graduações (SANTOS, 2016).
Ainda que muito desvalorizado na categoria de luta, o esporte é aceito como forma de
legitimar sua prática. Isso gera diferentes posicionamentos em relação à capoeira e sua
capacidade de se afirmar fora dos canais de marginalização socialmente construídos ao
longo da história.
Em 2008 a capoeira tornou-se o mais novo patrimônio cultural brasileiro em
Salvador, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Posteriormente, no dia 26 de novembro de
2014, a capoeira é reconhecida pela 9º Sessão do Comitê Intergovernamental para a
Salvaguarda, como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÕES
185
Contextualizando desse modo, de acordo Araújo (1999), que a forma primitiva da
capoeira chegou ao Brasil com os negros bantus, originários da África Ocidental. E Siega
(2002), em seu artigo “Capoeira uma abordagem histórica” conta que “após o
descobrimento do Brasil, os portugueses necessitavam de mão-de-obra barata para o
cultivo da terra e a exploração das riquezas naturais”.
A partir dessas vivências, passaremos a incluir a sociedade dentro de um processo
de conscientização crítica acerca do ser humano e do meio em que vivem, na tentativa
de sanar o déficit educacional proporcionado por diversos momentos históricos de
divergência ao longo dos anos no nosso país. O relato foi feito enquanto instrumento
formativo de ampliação de conhecimentos da relação da capoeira e suas relações a
respeito da cultura negro e a influência da capoeira os movimentos de resistência no
Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
186
BRAGA, Janine; Saldanha Bianca. Capoeira: da criminalização no código penal de 1890
ao reconhecimento como esporte nacional e legislação aplicada. Disponível em:
http://publicadireito.com.br/artigos/?cod=7de47452d56d59cf#:~:text=O%20reconhecime
nto%20da%20capoeira%20como,no%20C%C3%B3digo%20Penal%20de%201890.
Acesso em: 14 abr. 2023.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. - 6. ed. - São Paulo: Atlas,
2008.
QUADROS/TABELAS/IMAGENS
187
Fonte: Registro da Oficina de capoeira/IFPE.
188
36. TRABALHO DOCENTE NO NOVO ENSINO MÉDIO: BREVES REFLEXÕES
RESUMO
Ser professor significa frequentemente rever suas práticas pedagógicas e estratégias
metodológicas, já que o cotidiano escolar e as mudanças na dinâmica sociocultural
exigem ressignificações constantes. Entretanto, no atual cenário educacional brasileiro, o
professor que atua em turmas do Novo Ensino Médio precisa repensar o seu
planejamento o triplo de vezes que os demais, já que tal etapa da Educação Básica possui
componentes curriculares e atividades complementares que até então não pertenciam à
rotina dos professores, tampouco à sua formação. Isto posto, o presente relato tem a
finalidade de apresentar as experiências, dificuldades e vivências de professores de uma
escola estadual de referência do estado de Pernambuco sob a ótica de uma educadora
de apoio, que é a profissional responsável por orientar e acompanhar o trabalho docente.
Assim, o relato em questão fundamenta-se à luz dos postulados teóricos de Libâneo
(2009), Saviani (2021), Freire (2019), entre outros. E quanto à metodologia, trata-se de
um relato de experiência que buscou não somente apresentar uma narrativa subjetiva do
dia a dia escolar, mas sim um relato teórico-reflexivo, contribuindo com mais um espaço
de discussão em torno da implementação do Novo Ensino Médio no país.
Palavras-chave: trabalho docente; didática; ensino; Novo Ensino Médio
INTRODUÇÃO
189
cidadania, “de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de
ocupação ou aperfeiçoamento posteriores”; aprimorar a formação do estudante enquanto
indivíduo, favorecendo o pensamento crítico, a autonomia e o protagonismo intelectual do
jovem. Além disso, espera-se que os egressos do Ensino Médio compreendam os
pressupostos teórico-científicos, relacionando teoria e prática no aprendizado de cada
disciplina ou componente curricular.
Segundo Silva e Scheibe (2017), para atingir tais objetivos, a LDB/96 propõe que
190
Com isto, encontram-se no documento curricular do estado de Pernambuco e nos
cadernos temáticos disponibilizados no site da Secretaria de Educação sutis orientações,
na tentativa de fornecer certo aporte teórico-metodológico ao professor, além de
concepções de sujeito e de sociedade condizentes com os princípios democráticos e
inclusivos.
A estrutura do Novo Ensino Médio em Pernambuco compreende a junção da
Formação Geral Básica (parte do currículo que envolve as competências e habilidades
previstas pela Base Nacional Comum Curricular, a BNCC, incluindo os componentes
curriculares diversos: Língua Portuguesa, Arte, Língua Estrangeira, Educação Física,
Matemática, Química, Física, Biologia, História, Geografia, Filosofia e Sociologia) com os
Itinerários Formativos, que abrangem as Trilhas Formativas, as disciplinas Eletivas, o
componente curricular Projeto de Vida e os Aprofundamentos Obrigatórios e Optativos,
além das denominadas Atividades Complementares.
Partindo disso, podemos entender a concepção de Trilhas Formativas como
conjuntos de unidades e componentes curriculares ofertados com o intuito de
proporcionar aos educandos percursos formativos destacando pelo menos duas áreas do
conhecimento.
Assim, por exemplo, na escola em que trabalhamos duas Trilhas Formativas foram
divulgadas para a escolha dos estudantes:
Trilha 01 - Modos de Vida, Cuidados e Inventividade;
Trilha 02 - Possibilidades em Rede e Humanização dos Espaços
Na Trilha Modos de Vida, Cuidados e Inventividade, as áreas do conhecimento
que ficam em evidências são Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Linguagens e
Suas Tecnologias, no entanto, as quatros áreas do conhecimento serão contempladas,
pois os estudantes continuarão tendo aulas de todas as disciplinas, embora na prática
pareça meio confuso organizar o quadro de horários e a enturmação dos estudantes
seguindo o modelo de percursos formativos. Já na Trilha Possibilidades em Rede e
Humanização dos Espaços, a ênfase será dada às seguintes áreas: Ciências Humanas e
Matemáticas e suas Tecnologias.
Além das Trilhas em si, temos ainda as famosas disciplinas Eletivas, que na
verdade fazem parte da proposta pedagógica do Programa de Educação Integral do
estado de Pernambuco, não se atrelando ao currículo do Novo Ensino Médio
propriamente. São componentes curriculares criados ou sugeridos pelo docente que
podem inclusive fazer referência à sua área de formação inicial. Um exemplo de Eletiva é
a Oficina de Produção Textual, ministrada pela professora de Língua Portuguesa para as
turmas dos 2° anos do Ensino Médio.
Outro elemento curricular relevante a ser discutido é o Projeto de Vida, que divide
opiniões entre professores, alunos e gestores por manter em seu cerne um vínculo com
a lógica neoliberal e com o empreendedorismo. Há, todavia, na página da Secretaria de
Educação de Pernambuco um caderno temático norteador de apoio docente para que nas
aulas de tal disciplina não predomine esse aspecto mercadológico e com viés de coaching
ou autoajuda.
Em suma, a logística de implementação dos Itinerários Formativos por si só
desgasta a equipe gestora das instituições de ensino, os educadores e os estudantes,
entretanto, a parte que mais inquieta todos os atores envolvidos no processo educacional
são os chamados Aprofundamentos. Em resumo, são unidades curriculares organizadas
para proporcionar um percurso formativo dentro de uma área do conhecimento.
Além disso, temos ainda as denominadas Atividades Complementares, que no
estado de Pernambuco fazem parte da dinâmica do Programa de Educação Integral.
191
Correspondem às Atividades Complementares os seguintes componentes: Educação
Socioemocional, Protagonismo Juvenil, Nivelamento (Língua Portuguesa e Matemática)
e Estudo Orientado. Tais Atividades são tidas como as “alavancas de sucesso” da
Educação Integral de Pernambuco, justamente por complementarem a formação do
estudante, considerando a multidimensionalidade dos sujeitos envolvidos no ensino-
aprendizagem.
Para tanto, nos Itinerários Formativos deve perpassar pelo menos um Eixo
Estruturante, entre os quatro possíveis: Investigação Científica, Processos Criativos,
Mediação e Intervenção Sociocultural e, é claro, Empreendedorismo.
Contudo, é válido ressaltar que, diante da insegurança instaurada no dia a dia
escolar, principalmente devido à fluidez dos denominados Itinerários Formativos e à
progressiva redução de carga-horária da Formação Geral Básica, os docentes não
visualizam com nitidez tais orientações e subsídios teóricos.
Por outro lado, como bem nos orientou Freire (2016):
Nessa perspectiva, ser professor significa com frequência revisitar suas práticas
pedagógicas e estratégias metodológicas, considerando o ato de pesquisar inerente ao
trabalho docente, dialogando com a ideia de formação docente permanente e continuada,
sobretudo em se tratando de professores que ministram aulas em turmas do Ensino
Médio, devido às especificidades da implementação da atual reforma.
Metodologia
Os procedimentos metodológicos envolvidos no desenvolvimento do presente
relato de experiência serão as descrições apresentadas do cotidiano escolar em questão,
com ênfase no trabalho docente dos professores do Ensino Médio, a partir do olhar crítico-
reflexivo de uma educadora de apoio. É pertinente pontuar que o período de observação
compreende desde o dia de Abertura do Ano Letivo 2023, 01/02/23, até a segunda
quinzena do mês de março. Todavia, a função de educador de apoio pressupõe a
observação constante do trabalho docente.
Quanto à unidade de ensino, trata-se de uma escola de referência da rede
estadual de Pernambuco, situada no bairro de Areias, com jornada semi-integral ou
integrada de dois turnos, o que significa dizer que oferta duas etapas distintas da
Educação Básica (Ensino Fundamental e Ensino Médio), seguindo os parâmetros do
Programa de Educação Integral da rede, potencializando, em termos práticos, a
problemática do Novo Ensino Médio, uma vez que exige da equipe docente a mobilização
de conhecimentos acerca de duas políticas públicas educacionais diferentes: o paradigma
da Educação Integral no Novo Ensino Médio.
O presente trabalho se constitui enquanto um relato de experiência, como já
mencionado anteriormente. Isto posto, tem-se que um relato de experiência corresponde
a um texto científico que apresenta o registro de vivências que possibilitam o
desenvolvimento de discussões acadêmicas sistematizadas.
Outrossim, para Mussi, Flores e Almeida (2021), o relato de experiência consiste
em:
192
[...] um tipo de produção de conhecimento, cujo texto trata de uma
vivência acadêmica e/ou profissional em um dos pilares da formação
universitária (ensino, pesquisa e extensão), cuja característica principal
é a descrição da intervenção. Na construção do estudo é relevante conter
embasamento científico e reflexão crítica (MUSSI; FLORES; ALMEIDA,
2021, p. 65).
193
Logo, percebemos que as indagações e angústias acima mencionadas se
configuram como questionamentos válidos, visto que, é papel do docente, como defendia
Freire (2016), posicionar-se de forma crítica diante sua prática. Entretanto, observamos
que falta no cotidiano do educador, inclusive acerca do Novo Ensino Médio, mais estudos
e acesso às pesquisas mais recentes para que compreenda melhor a realidade
educacional brasileira e possa se posicionar com assertividade e efetividade, lutando pela
busca por uma educação verdadeiramente inclusiva, democrática e de qualidade para
todos os estudantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e Pedagogos, Para Quê? 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
194
SILVA, R. M; SCHEIBE, L. Reforma do ensino médio: pragmatismo e lógica mercantil.
Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 11, n. 20, p. 19-31, jan./jun. 2017.
195
ANEXO – Programação completa do I Colóquio da Rede de Pesquisa sobre
Políticas para o Ensino Médio (REPPEM)
APRESENTAÇÃO
A Rede de Pesquisa sobre Políticas para o Ensino Médio (REPPEM) convida para
o I Colóquio organizado em torno da realização da pesquisa “O Novo Ensino Médio na
Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e nas Escolas Técnicas
Estaduais dos estados do Ceará, Pará e Pernambuco – desafios para o trabalho docente
e para a formação da juventude” (financiada pela Chamada CNPq/MCTI/FNDCT nº
18/2021 – Faixa B – Grupos Consolidados).
A pesquisa é coordenada pela Profª Drª Katharine Ninive Pinto Silva (Grupo
GESTOR – Pesquisa em Gestão da Educação e Políticas do Tempo Livre/UFPE) e pelos
seguintes pesquisadores/doutores: Jamerson Antonio de Almeida da Silva (Grupo
GESTOR – Pesquisa em Gestão da Educação e Políticas do Tempo Livre/UFPE);
Ronaldo Marcos de Lima Araújo; Doriedson do Socorro Rodrigues (GPTE – Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e Educação/UFPA); Ramon de Oliveira
(Qualificação Profissional e Relações entre Trabalho e Educação/UFPE); José Nildo
Alves Caú (Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais: Educação Física,
Esporte e Lazer/ IFPE); John Mateus Barbosa (LEPPEM – Laboratório de Estudos,
Pesquisa e Extensão no Ensino Médio/ IFCE).
O I Colóquio da Rede de Pesquisa sobre Políticas para o Ensino Médio será
realizado no Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Educação de Pernambuco (IFPE)
– Campus Recife, uma das instituições envolvidas na pesquisa em desenvolvimento, no
período entre 9 e 11 de maio de 2023, de forma híbrida. E as inscrições ainda estão
abertas para participação através do Link: https://www.even3.com.br/l-coloquioreppem/.
PROGRAMAÇÃO
196
09 de maio de 2023 (1º dia)
Local: Auditório Central do IFPE – Campus Recife
Palestrantes:
Palestrantes:
197
Prof. Me. André Luís Gonçalves (IFPE/ Doutorando UFPE)
Prof. Dr. Doriedson Rodrigues (UFPA)
Prof. Dr. José Nildo Alves Caú (IFPE)
Palestrantes:
198
Local: Auditório Central do IFPE – Campus Recife
Conferencista:
Profª Dra. Rebecca Tarlau (Universidade Estadual da Pensilvânia)
Coordenação: Katharine Ninive Pinto Silva (UFPE)
Comissão Científica:
Anderson Gois Marques da Cunha (UFPE); André Henrique Batista da Silva (UFPE);
André Luís Gonçalves Pereira (IFPE/UFPE); Antonio Marcos da Conceição Uchoa
(IFSertãoPE); Doriedson do Socorro Rodrigues(UFPa); Jaqueline Maria do Nascimento
(Secretaria de Educação de Pernambuco); José Mawison Cândido de Lima (Rede
Estadual de Pernambuco); José Nildo Alves Caú (IFPE); Joseane Maria da Silva Santos
(IFPE); Luís Felipe da Silva (Rede Estadual da Paraíba); Paulo Ricardo Pereira (UFPE);
Sayarah Carol Mesquita dos Santos (UFPE); Sérgio João da Silva (UFPE); Sulamita
Bernardo de Albuquerque (UFPE); Tatianne Amanda Bezerra da Silva (UFPE);
Thamyrys Fernanda Cândido de Lima (UFPE)
Data: 10/05/2023
Horário: 8h às 10h
Sessão 1
Local: Auditório Central do IFPE – Campus Recife
Coordenadoras:
Sayarah Carol Mesquita dos Santos
Thamyrys Fernanda Cândido de Lima
199
EIXO 2/ RESUMO 2 - Desafios e possibilidades na implementação do Ensino Médio
Integrado com o uso da tecnologia: uma análise das políticas educacionais atuais
Autora: Lindalva Augusto Santiago/ Discente – UFRPE
Data: 10/05/2023
Horário: 8h às 10h
Sessão 2
200
Local: Mini-auditório (Bloco A) – IFPE – Campus Recife
Coordenadores:
Hugo Felipe Tavares Ramos
Patrícia Tavares de Araújo
EIXO 5/ RESUMO 6 - Qual o espaço da educação física escolar no Novo Ensino Médio
Pernambucano?
201
Autor: Hugo Felipe Tavares Ramos/UFPE/Estudante da Pós-Graduação – Mestrado em
Educação
Data: 11/05/2023
Horário: 8h às 10h
Sessão de Pôsteres
Local: Hall do Auditório Central do IFPE – Campus Recife
Coordenadores:
Fábio Raí Hentringer
202
EIXO 5/ PÔSTER 4 - Reflexão sobre as aulas de educação física no ensino médio
integrado do IFPE – Campus Recife
Autoras: Andreza Michella Cardoso Nery/IFPE/PIBID; Joyce Kelly da Silva
Oliveira/IFPE/PIBID; Sarah Ellen de Lima Monteiro/IFPE/PIBID
Data: 11/05/2023
Horário: 8h às 10h
Sessão 1
Local: Auditório Central do IFPE – Campus Recife
Coordenadores:
203
EIXO 5/ RESUMO 4 - Democracia expropriada: por uma genealogia da contrarreforma
do Ensino Médio – a articulação do ICE como APH nacional indutor da reforma
Autores: André Luís Gonçalves Pereira/IFPE/Professor; Danielle do Nascimento Rezera/
UNIFESP/ Estudante
Data: 11/05/2023
Horário: 8h às 10h
Sessão 2
Local: Mini-auditório (Bloco A) – IFPE – Campus Recife
Coordenadores:
José Mawison Cândido de Lima
José Nildo Alves Caú
204
Autores: José Nildo Alves Caú/ IFPE – Campus Recife – Docente; Philipe Michel Silva
Soares/ IFPE – Reitoria – PROEXT; Caio Guilherme Lopes Reis – IFPE Campus
Recife/Discente/PIBIC/Técnico
Data: 11/05/2023
205
Horário: 14h às 15h
Local: Auditório Central do IFPE – Campus Recife
Coordenadores:
Emanuelle de Souza Barbosa
EIXO 5/ RESUMO 4 – O que vem depois do Ensino Médio? Reflexões acerca do projeto
levando ciência nas escolas
Autoras: Hadislayne Karine dos Santos/ Serviço Social UNIFG/ Sem vínculo; Juliane
Carla Guedes Lima da Silva/ UFPE/ Arqueóloga e Mestranda em Arqueologia; Allana
Graziela Casé/UFPE/ Mestranda em Administração; Mayara Bernardo Silva
206