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— Eu achava que essa cama não poderia ficar mais cheia, sabe?
Quando a voz feminina surgiu do além, quase me mata de susto, porque eu
ainda estava em um estado de sonolência gostosa, toda enrolada no corpo
de Blake e pensando se conseguiria dormir por mais algumas horas antes de
ter que trabalhar. Ao ouví-la, levanto rápido, segurando o lençol sobre meu
corpo nu e encaro a visitante com os olhos arregalados.
— Hã… oi? — digo, constrangida, e sai mais como uma pergunta do
que um cumprimento. A loira estonteante me olha da porta do quarto com
um meio sorriso divertido.
Os outros três acordaram também com o meu susto, mas ainda estão
se espreguiçando na cama e falando coisas desconexas.
— Bom dia, querida. Desculpa, não resisti a perturbar meu irmão, e
realmente não esperava que tivesse mais alguém aqui. Aos três eu estou
acostumada, agora quatro é novidade. Para dormir, pelo menos. Eu sou
Serena, irmã de Oliver, aliás. — divaga ela, contando tudo de uma vez. Meu
cérebro ainda está em modo avião, e não sei bem o que responder.
— Jasmine — é a única coisa que consigo dizer e sou salva de pensar
em algo mais porque Oliver finalmente está desperto e também se sentou na
cama.
— Eu vou confiscar esse maldito cartão de acesso, Serena. Eu te dei
para emergências, não para ser intrometida sempre que quiser — diz Oliver
em seu tom meio mal-humorado. É a primeira vez que o vejo assim e é até
meio fofo seu franzir de sobrancelhas.
— É uma emergência, você ficou um mês fora e eu estava com
saudade do meu irmão, oras — exclama, cruzando os braços e devolvendo
para ele a cara de indignação.
— Você teria me visto hoje mesmo na empresa, sua pentelha.
— Mas não veria Blake e Liam, de quem, aliás, gosto mais do que
gosto de você — rebate ela, mostrando a língua para Oliver, que revira os
olhos e bufa, mas Serena apenas dá risada.
— Espero que tenha trazido café da manhã pelo menos — diz Liam,
enquanto levanta da cama — por sorte, de cueca — e se dirige até a
cômoda, onde pega uma toalha e coloca sobre os ombros.
— Claro que sim, agora vistam-se e venham para a cozinha, porque a
pobre Jasmine não está entendendo nada do que tá rolando aqui. Vocês tem
cinco minutos, ou vou começar a cantar — define Serena. Liam e Blake,
que estavam deitados e calados até o momento, soltam muxoxos idênticos e
também se levantam.
— Vinte. Precisamos tomar banho — negocia Oliver.
— Tá, mas andem logo ou também sequestrarei um dos gatos —
finaliza ela, e sai pela porta da mesma forma súbita com que apareceu.
Serena tem razão em um ponto: não entendi bulhufas do que acabou
de acontecer. Eles não tinham dito que ninguém sabia do relacionamento?
— É melhor obedecer a rainha do circo, princesa. Ela tem a pior voz
do mundo e nenhum medo de usá-la para torturar nossos ouvidos. Te
explico melhor enquanto tomamos café — conta Blake, levantando
completamente nu e roubando a toalha do ombro de Oliver antes de seguir
para o banheiro. Passo alguns segundos apreciando aquela bunda, mas
decido que o melhor é seguir com a maré, e me enrolo toda no lençol antes
de ir até o quarto onde estão minhas coisas.
Tomo um banho rápido, sem parar para analisar todas as marcas
distribuídas por meu corpo e me concentro apenas em desembaraçar meu
cabelo. Escovo os dentes e visto a melhor opção entre as peças que me
restaram: um vestido soltinho que está meio amassado por ficar na mala, e
que com certeza não é adequado para o clima lá de fora, mas para tomar
café da manhã aqui no climatizador do apartamento está mais do que bom.
Sigo para a cozinha, onde encontro Blake e Oliver com os cabelos
molhados do banho, vestindo apenas calças sociais e encostados sob a
bancada da cozinha.
— Oi querida, venha aqui. Agora consigo te dar bom dia direito —
cumprimenta Oliver, e me dá um selinho enquanto me enlaça pela cintura.
Fico automaticamente vermelha e me viro para olhar para Serena, que
ostenta um meio sorriso e um olhar de curiosidade — Não ligue pra ela,
essa intrometida é minha irmã mais nova. É uma das poucas que sabe sobre
nosso relacionamento, e sobre… bom, quase tudo, já que frequenta o clube
também. Nós crescemos todos juntos, e Serena acabou adotando Blake e
Liam como irmãos também, e os dois a ela, pois é impossível nos livrarmos
dessa pentelha — explica ele, e me gira para que eu fique contra seu peito e
de frente para Serena.
— Pois é, carrego o poder de chantageá-los sobre todos esses
segredos idiotas, mas como sou uma boa alma, não faço nada disso — conta
ela, sorrindo. Blake ri e quase se engasga com o café que estava tomando.
— Boa alma? Serena Pierce? Quer que eu conte tudo que você já
aprontou também, rainha do circo? — caçoa ele, desatando a rir. Serena
estreita os olhos e dá um tapa no braço descoberto de Blake.
— Cale a boca, seu bundão — reclama, fazendo cara de brava, mas
que logo se desfaz porque Blake estala um beijo em sua bochecha —
Ignore ele, e me conte tudo sobre você. Como veio parar na casa desses
manés?
— Lembre que esse mané é responsável pela construção da sua nova
casa, viu? É bom me tratar muito bem se não quiser que eu autorize a
projeção de closets minúsculos — é Liam quem intercede, entrando na
cozinha e dando um selinho em mim e em seus namorados. Serena apenas
abana com a mão, ignorando, e volta a me encarar com expectativa.
— Bom, você quer a versão resumida ou a completa? — questiono, e
ela sorri.
— A completa, é claro!
— Então me passe aquele croissant ali que eu conto.
Pra você meu nome é Sr. Advogado
Oliver
Por alguns instantes eu realmente achei que ia conseguir sair de casa
sem ter que passar pela inquisição de Serena. Havia deixado ela e Jasmine
na sala conversando, como se já fossem grandes amigas, quando fui
terminar de me trocar para trabalhar. Mas assim que piso os pés de volta no
recinto, Serena me chama.
— Finalmente, Ollie! Mais um pouco e nos atrasaremos.
— Porque você não foi para o hotel com o seu carro? E porque não
trouxe minha sobrinha? Estou com mais saudades dela do que de você.
— Porque não vim com ele, o motorista me deixou aqui e eu o liberei
pois vou pegar uma carona com você, é lógico — explica ela, erguendo os
ombros e eu reviro os olhos em retorno — E Lily passou o fim de semana
com nossos pais, vou buscá-la na escola mais tarde.
— Então vamos logo, tenho reuniões desde cedo — informo, Serena
se levanta do sofá e começa a pegar suas coisas espalhadas: bolsa, celular,
casaco.
Blake e Liam também entram na sala, Blake já vestido na sua roupa
social toda preta, que o deixa gostoso pra caramba e parecendo um mafioso
italiano, enquanto Liam veste apenas jeans e uma camiseta de manga longa
simples. Ele é o único que não tem compromissos urgentes nessa sexta,
então vai estender suas férias até segunda-feira e aproveitar para levar
Jasmine para comprar roupas mais tarde. Desgraçado sortudo.
Jasmine falha em disfarçar o quanto se divide para olhar para nós três
e contenho uma risadinha, mas Serena não é tão bondosa e dá uma
cotovelada em Jas enquanto diz:
— Não babe querida, logo eles voltam — a outra fica toda corada e
desvia o olhar para o chão, mas minha irmã continua — Não julgo, tá? Se
não visse todos como irmãos, também os acharia gostosos — todos dão
risada, e eu apenas suspiro em agradecimento outra vez, porque nada me
daria mais pesadelos do que a ideia da minha irmã se interessando pelos
meus namorados.
— Mas só beleza não sustenta essas bundas, então vamos todos
trabalhar, né? Liam você vai visitar obras hoje, por isso o modelito casual?
— questiona Serena, mas Liam nega com a cabeça, enquanto se senta em
uma das poltronas da sala.
— Não, só volto a trabalhar na segunda. Meu velho está lá cobrindo
minhas férias, e ainda não me ligou gritando. Deve estar tudo bem. Eu e
Jasmine vamos sair daqui a pouco, comprar algumas roupas — explica ele.
— Vamos? Em que momento eu me tornei herdeira, querido? Tenho
que trabalhar, talvez no fim da tarde — Jasmine afirma, soando sarcástica,
levantando uma sobrancelha na direção do moreno.
— Que seja mais tarde então, mas vamos sair para gastar previamente
todo o dinheiro que Oliver vai arrancar daquele maldito dono do seu prédio
— conta Liam, abrindo um sorriso. Jasmine dá risada e diz apenas “Ok, já
sei que não adianta discutir”.
— Certo, chega de conversa ou de fato vamos todos nos atrasar —
finalizo, e dou um beijo em Liam e outro em Jasmine, para depois arrastar
minha irmã pelo braço até o elevador. Blake nos segue e rapidamente
estamos descendo até a garagem.
Meu namorado me dá um beijo rápido quando paramos na frente do
meu carro, mas não se afasta de imediato como eu esperava.
— Que horas é sua reunião com o cara do prédio?
— Minha secretária me mandou mensagem avisando que o tal de Sr.
Williams marcou às 10h, lá no hotel, que era meu primeiro horário livre.
Acho que o síndico passou bem o recado — detalho, vendo Blake franzir
ainda mais o cenho.
— Se o Sr. Williams não colaborar, me ligue que farei eu mesmo uma
visitinha para ele, ok? — pede, deixando a clara irritação se propagar.
Contenho um sorriso porque amo esse lado protetor dele.
— Relaxe, querido, ele não vai conversar com o Ollie. Vai conversar
com o Advogado Pierce, e eu nunca perco — afirmo e lhe dispenso um
sorriso convencido, que funciona para que Blake desmanche a carranca.
— Ok então, senhor advogado. Me ligue mais tarde para dizer como
foi. Bom trabalho — deseja ele, e ajeita a gravata em meu pescoço antes de
se afastar e ir até seu carro.
— Vocês são tão irritantemente fofos — reclama Serena — Agora
vamos logo!
Aceno com a cabeça e finalmente entramos no carro e partimos.
Para ser justo com minha irmã, ela aguentou exatos 3 minutos antes
de começar a inquisição prevista.
— Então… qual é a dessa nova dinâmica? Entendi o lance de vocês
terem ajudado ela na montanha, estão ajudando agora por conta do
apartamento, mas vocês três também estão se relacionando com ela… Isso
nunca aconteceu antes!
— Claro que já, já dividimos mulheres várias vezes — explico
pacientemente, sem desviar meus olhos da direção.
— No clube, ou no máximo por uma noite. Acho que nenhuma
mulher nunca nem dormiu nesse prédio, na casa de nenhum de vocês!
— Liam já, aquela menina com quem ele teve um casinho de umas
duas semanas — respondo e nem preciso ver seu rosto para saber que está
revirando os olhos.
— Argh! Quer parar de desviar do ponto? Quero entender o que tá
rolando de diferente dessa vez, com a Jasmine! Porque o que assisti agora
de manhã foi vocês se tornando um… um quadrisal! Com direito a
bichinhos de estimação — exclama ela, irritada. Respiro fundo enquanto
penso no que dizer, porque a verdade é que também não tenho muita
certeza.
— Não sei, Serena. Oficialmente? É um caso com data para acabar,
combinamos de nos divertir juntos por um mês. Mas… — paro no sinal, e
aproveito para olhar para minha irmã, que me encara num misto de
preocupação e confusão — Não vou negar que gostamos dela um pouco
mais do que devíamos. Mas não deve passar de um encantamento, ela é
uma garota divertida, interessante e gostosa pra caramba. Quando
aliviarmos todo esse tesão, vai acabar — concluo e Serena faz uma cara de
nojo.
— Eca, não preciso saber o que vocês fazem a quatro — sua careta
logo se desfaz e ela coloca uma mão em meu braço — Mas olha, só se
cuida, ok? Vocês já vivem algo complicado, um segredo difícil e uma
dinâmica toda própria de relacionamento, então vá com calma ao colocar
mais uma pessoa nessa equação. Cuidado com os sentimentos de vocês, e
com os dela também.
O sinal abre, me dando o escape perfeito para não ter que responder a
Serena olhando-a nos olhos.
— Ninguém vai sair machucado, pode ficar tranquila. É só um pouco
de diversão e carinho, nada demais.
Serena emite um som típico de descrença, mas depois de alguns
instantes decide ser boazinha e muda de assunto. Respiro aliviado enquanto
a ouço contar sobre as fofocas do hotel enquanto estive fora. Aceito a
distração, porque é muito cedo para pensar em coisas complicadas.
Blake me liga 2 minutos depois que o Sr. Williams deixou minha sala.
Aposto 10 mil em fichas de que ele estava de olho nas câmeras do hotel, já
que a Wolf é nossa empresa de monitoramento e segurança.
— Sabe, meu hotel não é Big Brother pra você ficar vigiando, Sr.
Wolf — digo direto, sem nem cumprimentá-lo antes. Blake ri do outro lado.
— Cada um se diverte com os brinquedos que tem. Acontece que eu
tenho vários e a câmera que registra a porta da sua sala é uma das minhas
favoritas, porque às vezes, a sua porta fica aberta e consigo te ver
trabalhando todo concentrado — confessa, e eu não consigo reprimir um
sorriso, mas continuo a provocação.
— Tenho certeza que isso aí não está previsto no nosso contrato, quer
que eu aplique uma multa para a Wolf sobre quebra de privacidade?
— Uma multa pela equipe de vigilância vigiar demais? Quero ver
onde você vai achar uma brecha para isso — replica ele, e também posso
ouvir o sorriso em sua voz.
— Talvez uma direta pra você então, por algum tipo de abuso de
poder.
Blake ri gostoso do outro lado da linha.
— Mande a multa lá pra casa, pagarei com sexo — responde meu
namorado descarado e é a minha vez de gargalhar.
— Ah querido, pode ter certeza de que vou cobrar isso mais tarde —
afirmo, e Blake murmura “mal posso esperar”, que me faz arrepiar. Balanço
a cabeça e tento voltar para o foco.
— Então, sobre o dono do prédio. Era um babaca, como o imaginado.
Achou que ia chegar aqui com um contratinho pronto, oferecendo o
conserto do teto do apartamento, e 10 mil dólares apenas de compensação
para Jasmine — Blake grunhe do outro lado, mas continuo — Mas precisei
de apenas 20 minutos para lembrá-lo de como funcionam as leis
imobiliárias, e uma vez que ele assumiu o risco de ferir alguém ao não fazer
a manutenção do prédio, uma ação contra ele seria causa ganha. Jasmine
poderia ter morrido se estivesse naquele quarto, além de todos os bens
materiais que ela perdeu, há também o abalo emocional. Ele quis se exaltar,
reclamar, negociar, mas acabou assinando um contrato com os termos que
eu queria quando eu o informei que bastaria uma ligação minha para meu
amigo Henry Travers, o prefeito, para que todos os prédios que ele possui
fossem vistoriados e multados em caso de irregularidades. Então ele assinou
rapidinho um contrato com direito a apartamento reformado, reposição de
todos os móveis, objetos e roupas que a água danificou, o quanto for
necessário de diárias de hotel para Jasmine, além de mais 50 mil de
compensação emocional para ela.
Blake está gargalhando antes mesmo que eu termine de contar.
— Meu amor, você é realmente imbatível. Isso foi incrível — elogia
ele, e meu ego agradece.
— Eu teria conseguido muito mais com um processo, mas levaria
muito tempo e seria desgastante para a Jas. Mas o que ele não sabe é que,
de toda forma, avisarei Henry para dar uma olhada cuidadosa nos imóveis
desse babaca, porque vai saber quantas outras vidas ele está pondo em
risco… — Blake ri tanto que o escuto ter que parar para recuperar o fôlego.
— Perfeito, Ollie. Perfeito. Você é meu advogado favorito.
— E é bom que eu seja o único, Sr. Wolf. Agora deixa eu desligar,
porque ainda tenho que ligar para Jas e Liam contando sobre isso antes da
minha reunião das 11h.
— Certo. Queria ir almoçar aí mais tarde, mas um cliente ligou
reclamando e exigindo uma reunião, então vou encontrá-lo nesse que seria
meu único horário vago — reclama ele, perdendo um pouco da animação.
— Que droga, mas boa sorte. Te vejo em casa, B — me despeço.
— Te vejo em casa, Ollie.
Desligamos, mas ainda estou sorrindo enquanto ligo para Liam para
contar para aos dois a novidade.
Provadores de roupas tem muitas funções
Liam
Passei o dia quase todo ao lado de Jasmine enquanto ela trabalhava.
Nossa hóspede instalou a mesa de desenho e o notebook no escritório, e
passou quase uma hora com a funcionária no telefone, se atualizando de
tudo e organizando os pedidos atrasados, enquanto eu me revezava entre
assistí-la toda concentrada e ler as notícias do mercado financeiro no meu
tablet. Depois que Oliver ligou e nos deu as boas notícias, foi visível o
quanto a garota ficou aliviada, como se um peso invisível tivesse saído de
seus ombros.
Durante o almoço, Jasmine insistiu em ajudar a Sra. Roberts, nossa
cozinheira, a preparar o almoço. A Sra. Roberts nem ao menos piscou
diante da presença de Jasmine ali, está mais do que acostumada a não fazer
perguntas, mas percebi que ela gostou de Jasmine de cara, pois cozinharam
e conversaram o tempo todo.
A lasanha ficou incrível e descansamos por uns 30 minutos depois de
comer assistindo TV, e eu super teria tirado uma soneca no colo de Jasmine
se ela não tivesse insistido em voltar a trabalhar.
Fiquei na sala assistindo a alguns episódios de The Last of Us, mas
fazendo algumas pausas para checar Jasmine, lhe provocar com piadinhas
ruins, roubar uns beijos ou admirar ela desenhando.
Porém, quando o relógio bateu cinco da tarde, eu tive que arrastá-la
para fora do escritório.
— Já deu 8 horas diárias, Jas. Pode bater o ponto, sua chefe não vai
reclamar — ironizo e ela revira os olhos verdes pra mim — Nós vamos para
o shopping agora.
— Mas… — tenta começar a argumentar, porém me encara e percebe
que não vou desistir — Aff, tá bom. Vou tomar um banho e me trocar, aí
podemos ir. Pode verificar se meus féericos precisam de comida enquanto
isso?
— Seus o quê? — questiono, sem entender nada.
— Os gatos — responde, como se fosse óbvio.
— E você os chamou de fé… o que?
— Féericos. É que os nomes deles são baseados em personagens do
tipo féerico, que é tipo uma “fada mais poderosa” — explica, fazendo aspas
com as mãos, porém minha cara deve ser da mais pura confusão, porque ela
suspira e continua — Enfim, são criaturas do livro que eu gosto, não
importa. Só vá lá ver se eles têm água, ração e se a caixinha precisa limpar.
Ficarei pronta em meia hora — define e se afasta, seguindo pelo corredor
até seu quarto. Encaro sua bunda balançar enquanto ela anda e só depois
faço a volta e sigo para a área de serviço fazer o que ela pediu.
— Ferinhas? Feriquinhos? Ou seja lá como sua mãe os chama, cadê
vocês? — chamo pela casa, procurando pelos pestinhas. Pelo visto agora ela
manda e eu obedeço, né.
Oliver
Não sei bem qual de nós está com mais raiva. Blake é o que mais
demonstra, claro. Está socando um saco de areia há 40 minutos sem parar,
mas Liam também não para de balbuciar e xingar baixinho enquanto
levanta mais peso na barra do que de costume. E eu estou correndo na
esteira, como sempre, para tentar desestressar.
Não saímos do lado de Jasmine enquanto ela dormia, exausta de tanto
chorar. Quando ela acordou, duas horas depois, consegui fazer com que
comesse umas torradinhas e tomasse um remédio para dor de cabeça. Só
então ela conseguiu nos contar em mais detalhes sobre a discussão com os
pais.
Saber de tudo só nos deixou mais putos. É tão ridículo e absurdo que
parece coisa de novela mexicana. Vir até aqui pra levar a filha para se casar
com um filho da puta daqueles! E ainda falar todo tipo de absurdo e tentar
bater nela!
Talvez correr não seja suficiente e eu tenha que também socar alguma
coisa por um tempo. Fecho as mãos em punhos antes de apertar o botão de
parada da esteira com toda força e descer da máquina, ainda repassando
todos os acontecimentos na cabeça.
Depois de nos contar tudo, nós a consolamos e a distraímos como
pudemos. Fizemos pipoca doce e salgada e ficamos abraçados a ela
assistindo a uma maratona de Jogos Vorazes, sua saga favorita. Mas mesmo
quando ela adormeceu outra vez, nós três não conseguimos pregar o olho.
Por fim resolvemos vir até nossa academia particular, que fica no
apartamento de Liam, para tentar transformar ódio em suor.
Tiro os sapatos ao me aproximar da área de tatame onde Blake está, e
calço minhas próprias luvas de boxe, mas escolho bater no boneco de
pancadas. Depois de uns 15 minutos batendo, meus braços queimam pelo
esforço, e meu corpo está pingando suor, mas sinto um certo alívio. Isso é
realmente muito mais eficaz. Faço uma pausa para tomar água e tinha a
intenção de voltar ao boneco quando reparo que Blake parou e está quieto,
segurando o saco de pancada com as duas mãos e com a testa encostada
sobre ele. Decido me aproximar e retiro as luvas para tocar suas costas
nuas.
— B? Não é só a situação com Jasmine que está te deixando assim,
não é? — inquiro, e o vejo respirar fundo antes de confessar.
— É por causa disso, mas… ah cara, você não sabe como foi. Eu só
ouvi o último dos desaforos que o pai falou pra ela, mas já foi horrível. E o
olhar dos dois pra ela era de total desprezo mesmo, sabe? Nunca pensei que
os pais pudessem fazer isso com uma filha.
— Que merda. Também nunca pensei — concordo, e assisto enquanto
Liam também para sua atividade para se aproximar de nós.
— E ver aquilo, me fez pensar… E se isso acontecer conosco?
Quando nossos pais descobrirem sobre tudo isso? Seus pais sabem que você
é bissexual pelo menos, mas eu não tive coragem nem de fazer isso quando
ainda era adolescente. Mas meus pais… Eu sei que a cabeça deles ficou no
século passado, sabe? Melhoraram com o passar dos anos, mas ainda tem a
cabeça fechada e um tanto quanto preconceituosa. Eles não foram os pais
mais presentes do mundo, mas eu sempre soube que me amavam. Sempre
me apoiaram nos momentos importantes. E eu os amo demais. Mas será que
o amor deles também é condicional como é o dos pais da Jas? Um filho
bissexual e que vive com mais de um parceiro pode ser a condição que os
fará virar as costas pra mim?
Blake levanta a cabeça depois de desabar tudo isso, e olha de mim
para Liam, procurando respostas. Mas a verdade é que também não sei. Eu
o abraço fortemente enquanto reflito.
Sendo honesto comigo mesmo, esse também sempre foi um dos meus
medos. Meus pais são muito mais flexíveis e com pensamentos mais
modernos, e ainda sim levaram um tempinho para se acostumarem ao fato
de eu me assumir bissexual ainda no começo da faculdade, mas nunca
pensaram em me renegar por conta disso. Por mim já teríamos contado
sobre nosso relacionamento, tirar esse peso de nossas costas, mesmo que
interfira em nossas carreiras, mas a realidade de Blake e Liam é
completamente diferente.
Blake foi criado para dizer amém a tudo que o pai pedisse. Fez
diversas artes marciais desde pequeno porque precisava ser forte, fez
faculdade de computação porque o pai queria expandir a área da empresa
que cuidava de segurança da informação. Trabalhava desenvolvendo
softwares em meio período e na outra metade seguia seu pai pra lá e pra cá,
para aprender sobre negócios. E mesmo quando Blake assumiu como CEO,
o pai dele ainda ficou 2 anos indo pelo menos uma vez por semana até a
empresa para ver como as coisas estavam. Blake sempre teve essa coisa
dentro de si de ter que se provar, de garantir que seria o orgulho da família,
o melhor em tudo. É muita pressão para por em si mesmo.
Mas para quem estou querendo mentir? Nós três somos assim.
Queremos o topo sempre, e tememos tudo que ameaça isso.
Para Liam as coisas não são muito melhores. A mãe e o irmão mais
velho faleceram num acidente de carro 15 anos atrás. Ryan era 8 anos mais
velho do que Liam, e era o garoto de ouro. Era ele que teria seguido o
caminho do pai e tomado conta da construtora, mas depois da tragédia…
Toda a atenção do pai recaiu sobre Liam, como se ele quisesse realizar
todos os sonhos do outro filho e da esposa através da vida dele. A sua
obsessão da vez, inclusive, é ter netos. Ele já tentou arrumar tantos
encontros para Liam com ‘moças casáveis e de boa família para me dar
netinhos logo’, que perdemos as contas. E Liam teme decepcioná-lo.
— Eu queria poder te dizer que isso é impossível, que nossos pais nos
amam e que vai dar tudo certo. Porém, se tivéssemos essa certeza, não
teríamos passado dos 30 ainda carregando esse medo. Mas a hora de
enfrentarmos isso se aproxima, eu sinto isso. E só nos resta torcer pelo
melhor. Torcer para o amor ser suficiente para superar qualquer coisa. Só o
que posso afirmar é que o nosso amor será — digo, e Blake respira fundo
contra o meu pescoço enquanto me abraça.
— De um jeito ou de outro, vamos superar isso. Seja do jeito ideal,
onde tudo vai dar certo, ou com muita terapia, álcool e sexo até superarmos
todas essas mágoas. Assim como a Jas também vai conseguir — reforça
Liam, esfregando nossas costas.
É. O amor terá que ser suficiente.
Meu ouro precioso
Liam
Jasmine passou os dias seguintes bem mal, e não era pra menos. Nós
três também não estávamos nos nossos melhores momentos depois daquela
conversa sobre família. Mas doía olhar para ela, ver um semblante tão
arrasado e aqueles olhos verdes sem brilho era desolador. Não podíamos
deixá-la afundar assim, então no sábado logo depois do almoço, nós a
convencemos a sair de casa para ver como estava o andamento das obras no
apartamento dela, mas não contamos sobre a programação para depois
disso.
Estamos todos no meu carro dessa vez, e consigo uma vaga próxima
do seu prédio. Enquanto caminhamos até a entrada e depois ao elevador,
aproveito para passar o braço pelos ombros de Jasmine.
— Como você está, baby? De verdade? — pergunto, e ela respira
fundo antes de responder.
— Estou… melhorando. Foi bom ter conversado com minha
psicóloga ontem. Faço terapia desde que comecei a ter dinheiro para pagar,
três anos atrás. Sarah me atendia virtualmente a cada 15 dias, porque eu
realmente estava muito melhor desde que saí da casa dos meus pais. Mas
depois disso tudo… bom, vamos voltar aos encontros toda semana. Uma
hora vai doer menos. Uma hora eu vou superar e seguir em frente. Não
tenho opção além de cuidar de mim e acreditar nisso, né?
Aproveito que paramos ao entrar no elevador, e olho pra ela,
impressionado. Consigo ver em seus olhos ainda aquela dor, mas também o
reflexo da mulher forte que está lutando para superar tudo. Ela pode estar
abalada e frágil, mas não vai se permitir desmoronar. Que mulher incrível.
— Você é uma força da natureza, baby. Vai superar tudo que desejar
nesta vida, tenho certeza — afirmo, sorrindo suavemente pra ela, que me
retribui com um meio sorriso e um murmuro de "obrigado". Meus
namorados também ecoam em concordância sobre ela ser incrível.
Aproveito a privacidade do elevador e dou um beijo rápido em seus lábios.
Ao chegarmos no apartamento, encontramos o lugar em um estado
muito melhor do que na semana anterior. Não há detritos espalhados pelos
cantos e nenhuma caixa d'água à vista. Os móveis danificados também já
foram todos retirados e no quarto de Jasmine, o teto está parcialmente
reconstruído. Enquanto passo os olhos por tudo, só consigo pensar no
desperdício de investimento que esse imóvel é. Esse prédio é ótimo, mas
muito mal cuidado. Os apartamentos têm ambientes de tamanhos
excelentes, o que é um grande diferencial aqui em Portland. Entretanto, o
exterior é horrível, as escadas tem azulejos quebrados, o corrimão da frente
não existe, e o elevador opera numa velocidade péssima. Além da
segurança ser bastante questionável, a porta da entrada de Jas é tão fina que
eu abriria com alguns chutes. Esse espaço, nessa região, poderia ser alugado
por preços muito mais interessantes se fosse reformado.
Não seria uma má ideia…
Pego meu celular e anoto como primeiro compromisso na segunda-
feira: ligar para o idiota dono daqui e verificar se ele não tem interesse em
vender. Faz muito tempo que penso em investir em coisas assim, mas meu
pai sempre foi reticente. "Nós construímos com qualidade. Não reformamos
espeluncas, garoto!" É o que ele me disse mais de uma vez. Porém, se eu
não envolver a OMR, posso fazer o que bem quiser. Tenho dinheiro mais do
que suficiente para comprar sozinho e cuidar de uma equipe de reforma. Eu
deixaria esse lugar perfeito para Jas, e sem risco nenhum de acidentes por
falta de manutenção.
— Está bem melhor. Não deve demorar muito mais para ficar pronto
e eu poder parar de incomodar vocês — Jas interrompe meus pensamentos.
Olho para ela com minha melhor cara de deboche.
— Ah, sim, que bom. Porque você realmente vai acabar me
enlouquecendo. Não sei se com sua língua ou sua sentada, mas toda vez
tenho certeza de que vou perder o juízo.
Ela semicerra os olhos e tenta me empurrar para trás, sem muito
sucesso.
— Você é mesmo um bocó, sabia? — repreende ela, mas sem
conseguir conter o repuxar de lábios de um sorriso.
— E você é linda, sabia? — devolvo, e ganho mais um mini
empurrão, mas é seguido de um sorrisinho e fico feliz de estar conseguindo
entretê-la.
— Tá bom, já vimos tudo. Podemos voltar pra casa porque hoje tem
maratona de Vestida para Casar e eu adoro ver noivas surtadinhas e vestidos
lindos — anuncia Jas, se encaminhando para a saída.
— Claro, claro. Mas vamos passar no shopping antes, tá? Na próxima
semana a filha do meu gerente financeiro fará aniversário e preciso comprar
um presente. Preciso de você para me ajudar a escolher um livro, ela tem 13
anos — digo uma meia verdade. Não vamos lá só para isso, é claro, mas
sabia que funcionaria para convencer Jasmine a não mais uma tarde meio
cabisbaixa no sofá.
— Certo, adoro comprar presentes, ainda mais se forem livros — Ela
ergue as sobrancelhas e me olha mais animada ao dizer isso.
— Então, vamos crianças? Vimos o que precisávamos, que o homem
está cumprindo com sua palavra e arrumando as coisas com agilidade.
Podemos ir embora tranquilos — pergunta Oliver, já com a porta da frente
aberta enquanto nos espera.
— Isso. E é sua vez de dirigir — digo, e jogo a chave do carro para
Oliver, que bufa, mas aceita seu destino.
Quarenta minutos depois, meu peito se aquece ao ver uma Jasmine
quase totalmente iluminada outra vez enquanto leva 5 livros de lançamentos
nos braços. Ela escolheu o livro para eu dar de presente em poucos minutos,
dizendo que não há como errar levando Cinder, porque é uma releitura de
Cinderela, só que no caso a garota é uma ciborgue. Até eu achei
interessante, jogaria um jogo com essa trama distópica facilmente. Levo
também um marcador de páginas magnético, post its e canetas marca-texto
de várias cores. Segundo Jas, esse é um pacote básico de leitora. Não
entendo nada, mas acho uma graça vê-la explicar.
— Desde que me mudei eu já gastei muito mais do que eu devia em
livros. Mas antes eu só podia ter ebooks, que eram protegidos no meu
kindle com senha para meus pais não bisbilhotarem. Agora todo mês
compro 4 ou 5 livros das minhas sagas favoritas. Mas com o dinheiro de
compensação do Sr. Williams, acho que eu posso me permitir esbanjar um
pouco, né? — dispara ela a explicar e me entrega os livros que tem nos
braços, rapidamente virando e indo em direção a outra prateleira para
procurar por mais títulos.
— Eu acho que acordamos o dragãozinho consumidor de livros
dentro dela — digo para Blake, parado ao meu lado também observando
Jasmine. Oliver está em algum lugar também escolhendo livros de
suspense.
— De fato. Acho que acordamos o Smaug e os livros são o ouro que
ela vai empilhar — Blake concorda, arregalando um pouco os olhos
quando a vê carregar um box de livros nos braços. Gargalho com a
referência a Hobbit e aceno em concordância.
— Acho bom encontrarmos um lugar para sentar para poder segurar
tudo isso — digo e meu namorado concorda. Por sorte essa livraria tem
algumas mesas, cadeiras e pufes, então encontramos uma mesa pequena
vazia e colocamos os livros nela enquanto sentamos.
Em dez minutos, Jasmine já apareceu para deixar conosco o box e
outros três livros.
— Você acha que ela ficaria tão animada assim escolhendo
brinquedos eróticos? — questiono, erguendo uma sobrancelha para Blake.
Ele me encara de volta rindo e balançando a cabeça.
— Eu desconfio que não, mas qualquer hora vamos ter que testar.
Dou risada e concordo. Agora só nos resta esperar.
Após o frenesi literário, passamos o resto da tarde como quatro
crianças: fomos ao cinema, nos empanturramos de pipoca e refrigerante, e
depois passamos umas três horas dentro do parque indoor, onde
descobrimos que Jasmine é péssima no jogo de corrida de carros, porém
excelente no jogo de dança e deixou Oliver no chinelo. Eu a venci na
primeira partida do jogo de matar zumbis, mas na revanche ela pegou o
jeito de atirar e ganhou de mim por 5 pontos, só não conseguiu ganhar de
Blake. Gostaria de dizer que facilitei e a deixei ganhar, mas seria uma
grande mentira.
Passamos pela maior parte dos jogos, e fizemos até uma competição
verdadeira na mesa de Air Hockey. Eu e Oliver disputamos a final, que ele
venceu por 1 único ponto. Como estávamos apostando um boquete, não
estou preocupado. Pagarei com muito gosto.
Jantamos cachorro quente no shopping, e talvez eu tenha que tomar
um antiácido antes de dormir, depois de comer só besteira o dia todo, mas
não me arrependo nem um pouco. Após chegarmos em casa e tomamos
banho de banheira juntos, estamos estirados em nossa cama, assistindo a
Modern Family outra vez. Jasmine está deitada apoiada no meu peito,
enquanto Oliver também usa Blake de travesseiro.
— Obrigada por hoje. Por todos esses dias, aliás. Por todo esse
carinho e preocupação. Nem sei como explicar como esse apoio é
importante pra mim. Obrigada, de verdade. Vocês são incríveis — Jasmine
se pronuncia, antes de pegarmos no sono.
— Estamos sempre a disposição, princesa — Blake diz, esticando a
mão para tocar a bochecha dela.
— Exato, e não fizemos nada demais. Só queríamos que você se
distraísse e voltasse a rir. Funcionou, e nós nos divertimos pra caramba
também — afirma Oliver, segurando sua mão.
— Nossa missão agora é essa, baby. Fazer você sorrir — também
confirmo, acariciando seu cabelo. Ela fecha os olhos, numa tentativa de
esconder as emoções transbordando, e murmura outra vez "Obrigada".
Aperto-a mais contra mim e sussurro de volta — Durma bem, estaremos
aqui.
Fazer uma centena de cupcakes nem foi o que
causou mais bagunça por aqui
Oliver
— Serena, você só pode estar de brincadeira! — exclamo no telefone.
Havia acabado de sair do banho e pretendia ir na padaria comprar algumas
coisas para comermos, quando Serena me ligou.
— Por favooooor, Oliver! Você é minha única saída. Eu esqueci
completamente que esse maldito evento da escola dela era nessa segunda-
feira e que eu fiquei responsável por levar os cupcakes. Não existe nenhum
lugar que eu possa encomendar com tanta urgência! — pede, e posso
apostar que do outro lado da linha ela está fazendo sua melhor cara de
gatinho do Shrek. Grunho de frustração, porque minha irmã já aprontou
dessas comigo diversas vezes. Não sei pra quê ela tem uma agenda se não
lembra de anotar nada nela.
— De quantos você precisa?
— Cento e vinte.
— Cento e vinte?! — quase grito, e começo a andar pelo quarto de
um lado a outro — Você acha que eu sou uma confeitaria para conseguir
produzir tudo isso nessa tarde?
— Eu sei que você consegue, é só colocar todos para trabalhar. Além
dos meninos, ainda tem a Jasmine como um par de mãos extra, e vocês
podem usar os fornos de todos os apartamentos! Vai dar certo, irmãozinho!
— Simples assim, né? Porque é que você não vem ajudar também?
— Porque eu sou um desastre na cozinha e você passaria mais tempo
brigando comigo do que realmente cozinhando — confessa ela com a maior
tranquilidade.
— O pior é que é verdade — concordo e esfrego a mão na testa
enquanto penso na logística disso — Aff, Serena, eu não sei…
Sou interrompido pela voz infantil da minha sobrinha.
— Tio Ollie! Você vai fazer meus cupcakes cor de rosa? Quero
cobertura rosa e um unicórnio de enfeite, como um que vi numa loja com a
mamãe.
— Oi minha flor, não garanto nada sobre o unicórnio, mas vou tentar
a parte do rosa, ok? — respondo para Lily com minha voz mais suave. Que
não é o tom que a mãe dela vai ganhar quando eu voltar a falar com ela já
já.
— Oba! Pode ser de chocolate também, eu amo chocolate —
comemora ela, toda animada.
— Pode deixar. Deixa o tio Ollie falar mais uma coisinha com a sua
mãe, por favor?
— Tá bom. Beijinhos de fada! — se despede ela com seu bordão fofo
mais recente. Como alguém poderia negar qualquer coisa a ela?
— Beijinhos de fada para você também, minha flor — respondo, e
ouço alguns barulhos enquanto o telefone volta para as mãos de Serena.
— Diga, maninho.
— Jogo baixo, Serena Miller! Jogo muito baixo esse seu! —
repreendo, e ela dá risada do outro lado.
— Cada um joga com as cartas que tem e acontece que essa minha
cartinha fofa aqui funciona para muitas coisas — confessa minha irmã, com
sua cara de pau natural. Grunho de frustração mais uma vez. Adeus
domingo de descanso e sexo.
— Você vai ficar me devendo essa. E se vire para arranjar o corante
cor de rosa que ela quer, além das forminhas e mandar entregar aqui o
quanto antes. O restante dos ingredientes eu acho que tenho.
— Hmm, corante eu tenho bastante aqui, rosa, roxo, azul e tudo mais.
Descobri que ela tende a comer mais legumes se forem coloridos, e agora
nossa cozinheira faz sempre. Uma couve-flor pink é irresistível — a
estratégia me faz sorrir — Quanto as forminhas… eu vou dar um jeito. Em
uma hora no máximo estará tudo aí.
— Ok. Enquanto isso vou ficar aqui pensando como é que você vai
me recompensar — digo e Serena ri outra vez.
— Beleza. Me avise quando decidir. Obrigada, maninho! Te amo!
— Você é um pé no saco, mas também te amo — me despeço e ela
desliga ainda rindo.
Termino de me trocar, vestindo a primeira camiseta que encontro e
caminho até a sala para encontrar meus novos ajudantes de cozinha.
— Levantem suas lindas bundas do sofá. Temos infinitos cupcakes
para fazer para uma garotinha de 5 anos, e não foi possível recusar.
Duas horas e uma festa do chá depois, minha barriga dói de tanto rir,
e estou fazendo um verdadeiro álbum de fotos de Lily brincando de salão de
beleza com os tios.
Oliver trouxe pra ela um kit enorme de maquiagem infantil, além de
itens como escova de cabelo, amarradores coloridos e presilhas de
borboleta. A garota amou e decidiu que os tios seriam os clientes perfeitos.
Blake ganhou um batom rosa bastante borrado, além de uma sombra
roxa e duas presilinhas no cabelo. Liam foi premiado com um penteado
mais elaborado, envolvendo diversas maria chiquinhas e um blush bem
forte na testa e nas bochechas. Oliver é a cobaia da vez, e Lily está
passando uma sombra azul em suas pálpebras depois de terminar de encher
o cabelo do tio com as borboletas.
Eu assumi o papel de assistente dela, claro. Alcançando os itens,
dando opiniões e tirando fotos de cada passo.
Eu vou mandar fazer quadros com essas fotos e pendurar nas paredes
da minha casa e vou rir a cada vez que olhar.
A sorte deles é esse kit não ter vindo com glitter, ou desconfio que os
três estariam cobertos com ele.
— Pronto, tio Ollie. Ficou bonito — anuncia a pequena, terminando
de passar um batom laranja em Oliver e entrega um espelhinho para ele
poder conferir a arte.
Perco o controle da gargalhada que eu estava segurando quando o
vejo encarar o espelho com pavor genuíno. Liam e Blake, sentados no
tapete da sala ao meu lado, também estão se matando de rir.
— Ficou ótimo, minha flor, obrigada. Agora diga para aqueles bobões
que eu sou o tio mais bonito dessa casa — demanda Oliver, enquanto aperta
as bochechas fofas de Lily com as mãos. Ela se solta rapidamente e olha de
uma para outro.
— Hã…minha mãe mandou eu nunca responder isso. Que é pra eu
dizer que gosto dos três iguais — diz ela, olhando em dúvida.
Oliver abre a boca, indignado, mas se recupera e diz:
— Está certo, espero mesmo que você goste muito de nós. Mas diga
aqui para o tio Ollie, quem é o mais bonito? — tenta ele de novo. Lily
coloca a mão embaixo do queixo, pensando com afinco e analisando cada
um.
— Hummm, acho que o mais bonito é o tio Liam. Mas vocês são
todos bonitões, não se preocupe.
Cubro a mão com a boca para não rir da cara de incredulidade de
Oliver. Liam já não é tão bondoso, e se levanta num segundo para pegar
Lily no colo e enchê-la de beijos na bochecha.
— É isso aí, garota esperta! Titio Liam bonitão, titio Liam bonitão,
titio Liam bonitão — entoa ele como uma musiquinha, e gira com ela pela
sala, fazendo a menina gargalhar.
— Pronto, como se ele já não fosse convencido o suficiente – diz
Blake, revirando um pouco os olhos, mas dando risada também.
Oliver se arrasta até se sentar do meu lado e apoiar a cabeça no meu
ombro. As presilhas no seu cabelo me fazem cócegas e me encolho toda.
— Meu ego nunca mais vai se recuperar. Minha própria sobrinha!
Sangue do meu sangue! — diz ele, ainda indignado. Sei que não está
realmente chateado, mas dou um beijinho em sua testa em consolação — E
quanto a você, Jas, quem vai escolher como mais bonito?
Mordo o lábio e finjo pensar, de repente ganhando de volta a atenção
dos 3 homens. Lily já desceu do colo de Liam e agora está penteando Az
com suavidade.
— Porque é que eu teria que escolher um, se posso ter os três? —
digo finalmente.
— Muito espertinha, Srta. West. Muito espertinha — repreende
Blake, semicerrando os olhos pra mim. Pisco pra ele, sem nenhuma
vergonha.
— Ah, eu sei. Esperta e sortuda. Fazer o quê?
Os três dão risada, mas não percebo a trama da troca de olhares entre
eles até que gritam:
— Ataque de cócegas na tia Jas!
Arregalo os olhos, e nem tenho tempo de tentar fugir antes de Oliver
me puxar pelas pernas e me colocar deitada no tapete. Os três, e Lily, fazem
um verdadeiro complô contra mim, me fazendo gritar e pular enquanto me
atacam com as cócegas por todo lado. Eles só param quando peço arrego.
— Parem, parem, parem, eu faço o que quiserem! — imploro e rio ao
mesmo tempo. Só então eles sossegam e me largam, e Lily parece pensar no
que quer pedir.
— Que tal montarmos uma cabana bem grande aqui na sala? —
sugere ela, e estendo minha mão na direção da loirinha.
— Fechado. Para sua sorte, sou expert em cabanas de lençol —
confirmo sorrindo, ela pega na minha mão, fechando o acordo.
— Oba! E depois chocolate quente!
Ouço suspiros triplos dos homens ao meu redor. Parece que essa noite de
quarta-feira ainda vai demorar para acabar, mas eu não poderia estar me
divertindo mais.
Essa festa está virando um enterro
Jasmine
Depois de gastar a manhã de sábado inteira para escolher um vestido
com ajuda de Serena, ela me levou a um salão e spa, onde fui depilada,
massageada, fiz pé, mão e sobrancelhas, além de penteado e maquiagem
chiquérrimos. Com o vestido vermelho escuro que desce até o chão — e me
permite usar saltos baixos e razoavelmente confortáveis — não nego que
estou me sentindo uma princesa de verdade.
Deixar os três homens embasbacados quando saí do quarto toda
pronta não foi nada ruim também. E agora estamos aqui, na limousine que
Oliver alugou para irmos até o baile de 70 anos da rede Wish.
Impressionante o império que sua família conseguiu construir a partir de
uma simples pousada.
Eu, que obviamente nunca tinha entrado em uma limousine, não
consigo parar de olhar para todos os lados em admiração enquanto
deslizamos pela cidade e de beber o delicioso champanhe que me serviram.
— Está nervosa, baby? — pergunta Liam, colocando a mão sobre
minha coxa e fazendo com que eu pare o movimento frenético que estava
fazendo. Não sou eu que controlo essas reações, é a minha velha amiga
Ansy. Dou um meio sorriso constrangido para ele.
— Um pouco, não posso negar. Não faço ideia do que esperar e a
ansiedade está roendo minha perna — confesso e ele me dá uma risadinha
compreensiva.
— Você vai desfilar maravilhosa desse jeito nos braços de Oliver, e
ele vai te apresentar a basicamente todo mundo. Haverão alguns homens
sem noção que ficarão olhando para seus peitos, algumas velhas ricas e
metidas que vão julgar cada movimento seu, e 99% das pessoas serão
curiosas ou intrometidas demais, mas minha dica é: dê um meio sorriso, um
levantar de sobrancelhas e tome um gole de champanhe. Assim não precisa
responder nada que não queira, e as pessoas irão te classificar como
“misteriosa”.
— Não sei se saber de tudo isso me deixou mais ou menos nervosa —
admito, franzindo as sobrancelhas.
— Mas se alguém te incomodar de verdade, basta nos avisar, ok? —
ajuda Blake de seu lugar à minha frente.
Concordo, e tento desviar meu foco de atenção. Volto a reparar em
como os três ficaram gostosos vestindo paletó completo e gravatas
borboleta estranhamente sedutoras. Me dá vontade de tirar com os dentes.
Essa linha de pensamento me distrai e seco Blake de cima a baixo sem
receio.
— Pare de me olhar assim se quiser sair desse carro ainda toda
arrumadinha, princesa — avisa, e eu me arrepio um pouquinho com sua voz
grossa. Passo a língua nos lábios enquanto encontro seus olhos e ganho um
som parecido com um rugido saindo do peito dele — Você é uma tentação
ambulante e eu vou rasgar esse vestido quando chegarmos em casa.
Dou risada enquanto um calorzinho gostoso se espalha pela minha
barriga.
— Entre na fila, amor — diz Liam, debochado. Blake volta os olhos
profundos para o ele.
— Posso começar com sua camisa também, não tem problema —
afirma Blake, e Liam sustenta um sorriso de safado ainda maior.
— Parem com isso antes que a gente chegue na festa com
semiereções! — intercede Oliver, e o vejo se ajustar dentro da calça. Me
contenho para não rir e decido olhar para fora. Quando vejo a imensa
fachada do hotel, com o nome Wish todo iluminado, meu queixo vai no
chão.
— Cacete, esse é o seu hotel?
— Um deles, sim. Um dos mais bonitos, na minha opinião. Acho que
só perde para o de Vegas e o de Miami — reflete Oliver, enquanto o carro
se aproxima da porta de entrada.
— Um, de quantos? — pergunto, me arrependendo de não ter
pesquisado sobre a vida dele antes.
— Trinta e dois no total, espalhados pelo país. Outros três estão em
construção — conta, com um subir de ombros como se fosse algo banal.
Acho que vou hiperventilar.
Foi bom eu não ter pesquisado antes, ou realmente teria tido uma dor
de barriga de tanto nervoso.
— Nada disso, respire e olhe pra mim, isso. Você está maravilhosa e
será bem tranquilo, ok? Prometo — reafirma ele, e tenho que respirar fundo
várias vezes enquanto foco em seus olhos azuis para me acalmar.
O carro para e um funcionário abre a porta. Liam me faz um carinho
na mão antes de ser o primeiro a descer. Blake murmura “Vai ficar tudo
bem” antes de fazer o mesmo.
— Pronta? — pergunta Oliver, atencioso como sempre.
— Não. Mas vamos lá — digo e ele sorri antes de descer do carro.
Deslizo pelo banco até estar ao lado da porta e observo que Oliver
substituiu o funcionário e está parado do lado de fora estendendo a mão
para mim. Pego-a em apoio, tanto moral quanto para não tropeçar nesse
vestido.
Há câmeras e flashes saindo por todos os lados e passo a agir no
automático. Oliver me conduz pelo tapete vermelho da entrada, parando de
vez em quando para posarmos para alguma câmera. Sorrio por instinto em
todas essas paradas, rezando para não ter nada no dente, nem que meus
olhos estejam esbugalhados de medo.
Volto a respirar normalmente só quando já estamos dentro do salão de
festas suntuoso, decorado com flores brancas e amarelas, e infinitos
detalhes em metal dourado reluzente. Se algo disso aqui for ouro eu vou
desmaiar.
— Beba, querida — pede Ollie, me entregando uma taça de
champanhe e pegando uma pra si mesmo. O líquido gelado desce
maravilhosamente por minha garganta que nem percebi o quanto estava
seca — Melhor?
— Sim. Um pouco.
— Então venha, vamos cumprimentar meus pais e depois fazer uma
pequena peregrinação cumprimentando as pessoas — diz ele, voltando a
colocar a mão em minha cintura para guiar o caminho.
— Mantenha o álcool vindo — é tudo que digo antes de embarcar
nesse mundo deles por completo.
O quarto não tem nada muito mirabolante, mas parece perfeito para
nós. As paredes são cobertas por espelhos, e o teto também. Uma luz
vermelha suave é responsável pela iluminação do lugar, e temos uma cama
bem grande no centro, com lençóis de seda. Há uma grande cômoda de
mogno ao lado da cama, e abro as gavetas — curiosa como sempre —
dando de cara com os mais diversos tipos de produtos que poderíamos usar.
Vibradores de vários tipos e tamanhos, lubrificantes, camisinhas, algemas,
cordas e até mesmo um chicote de couro. Minha coluna se empertiga só de
imaginar usar esse último. Não descarto totalmente a ideia, mas com certeza
não será hoje.
Blake se aproxima e pega várias camisinhas, um vibrador fino e um
dos lubrificantes na gaveta, jogando tudo na cama. Em seguida, ele me puxa
pela mão e me coloca no centro do quarto, rapidamente descendo o zíper do
meu vestido e desfazendo o laço da minha máscara. Tiro os sapatos e, agora
nua, subo na cama, aproveitando para apreciá-los também se despindo.
— O que está fazendo aí tão longe, minha putinha? Quero você aqui
de joelhos — manda Blake, e não demoro a obedecer, saindo da cama e me
ajoelhando no chão, na frente dos três paus, já semi eretos. Nem preciso de
instrução e abocanho Liam, que está bem no meio, enquanto masturbo os
outros dois. Alterno entre chupar e tocar os três, amando os sons de prazer
que provoco, e principalmente o sentimento de poder, de controlar o prazer
de todos eles.
Daí em diante, é pura loucura. Eles me colocam na cama e Oliver me
chupa, enquanto insere um vibrador pequeno no meu cu. Quando gozo
chamando seu nome e já me considero feliz pra caralho, Blake assume o
lugar de Oliver, repetindo todo o processo. E depois mais uma vez com
Liam. Poder nos ver de todos os ângulos devido aos espelhos eleva ainda
mais o nível de luxúria. No terceiro orgasmo, tenho certeza que meus
membros já viraram gelatina, mas Blake me vira até me deixar de quatro no
meio da cama e estapeia minha bunda.
— Empina essa bunda gostosa, e nos diga quem você quer que coma
esse cu primeiro — manda ele, mas solto uma lamúria, me recusando a
escolher.
— Qualquer um, apenas… apenas me comam, por favor — imploro,
pois já perdi a cabeça e sou totalmente controlada pelos anseios do meu
corpo.
Pelo tapa que se segue, sei que é Blake quem se posiciona atrás de
mim. Eu já estava lubrificada por conta do que usaram para inserir o
vibrador, mas sinto quando ele despeja mais, e só depois começa a me
penetrar devagar. Afundo a cabeça no colchão. Blake é bem mais grosso do
que os plugs e vibradores que já usei, mas estou tão relaxada que dói bem
menos do que eu esperava. Entretanto, só volto a respirar normalmente
quando sinto que ele está todo dentro.
— Porra. Caralho. Tão apertada e gostosa! — esbraveja e me segura
pela trança, fazendo com que eu volte a erguer a cabeça e o encare pelo
espelho. Blake sai quase todo, e depois me preenche outra vez, o que me faz
morder o lábio para conter um gemido. Ele sorri diabolicamente — Olha só
como você fica linda assim, uma puta perfeita, perdendo a última
virgindade que restava.
Não respondo, mas deixo um longo som de êxtase escapar, porque ele
encontrou um ritmo delicioso de me penetrar. Blake solta meu cabelo e se
dedica a apertar os dedos em minha bunda com força. Aproveito para virar
a cabeça para o lado e assistir enquanto Liam e Oliver se masturbam para
nós.
Não passamos muito tempo assim, pois Blake logo anuncia:
— Ela está pronta — não sei o que isso significa, mas ele sai por
completo de mim, e me puxa até que eu esteja ajoelhada. Oliver se
aproxima e se deita ao meu lado, mas com as pernas para fora da cama.
Faço menção de esticar a mão para iniciar uma punheta para ele, mas Blake
me impede.
— Não, não, quero que se sente nele, minha safada. Oliver vai comer
essa boceta, enquanto vou encher esse cu ao mesmo tempo. Exatamente
como você queria.
Minha respiração fica ainda mais acelerada enquanto faço o que pede,
passando as pernas por cima de Oliver e deslizando por seu pau, já coberto
com a camisinha. Eu e ele gememos em uníssono. Colo meu peito com o
de Oliver, deixando a posição perfeita para que Blake volte a me penetrar
por trás.
Eu nem ao menos sei como descrever ser preenchida por dois ao
mesmo tempo. É um pouco estranho, por ser a primeira vez, mas é intenso e
bom pra caralho. E quando eles começam a se movimentar dentro de
mim…porra. É insano.
— Era como imaginava, minha gostosa? — pergunta Blake.
— Não. É bem melhor — confesso entre gemidos. Blake e Oliver me
imitam.
— Então se prepare, porque faremos sempre — afirma Blake,
passando a mão lentamente por minha coluna e me fazendo arrepiar.
— Sempre. Gostosa do caralho — reitera Ollie, e depois me beija.
— Cada parte sua é nossa agora, Jasmine. Sua boca, sua boceta e seu
rabo. Só nossa — continua Blake, e deixo as afirmações me atingirem,
deixo o sentimento incrível de fazer parte deles se infiltrar por minha
corrente sanguínea.
— Só de vocês — confirmo, e ganho um sorriso de Oliver, além de
um beijo de Blake nas minhas costas, mas que é logo seguido por um tapa
na bunda.
— Agora rebola nesses paus, princesa. Rebole como uma boa
princesa em seu reino de devassidão — manda, e obedeço tão rápido como
sempre.
Tento olhar para nós pelos espelhos, mas a cada estocada sou atacada
por tantas sensações que é difícil focar. Mas vejo quando Liam se aproxima
de Blake e acaricia suas costas. Quando ele me segura para que eu pare de
me movimentar, sei que é porque precisa de uns instantes para se ajustar ao
pau de Liam o penetrando.
Quando voltamos a nos mexer, encontramos um ritmo perfeito: lento
e com força. Perco a noção do que digo, gemo e grito dentro desse quarto.
Perco a noção de quantas vezes atinjo o orgasmo. Completamente inebriada
pelos toques, pelos sons e pela visão de nós quatro juntos, ao mesmo tempo.
Quando gozo mais uma vez, liberando um squirting que me faz ver o céu,
eles aumentam o ritmo e sei que também estão perto, então faço meu último
pedido:
— Quero que gozem em cima de mim.
Oliver quase ruge contra minha boca, não muito diferente das reações
dos outros.
Nos desencaixamos e sou jogada de costas na cama, logo sendo
cercada pelos três, que se masturbam com pressa. Revezo em me concentrar
nas expressões de prazer de cada um, mas quando gemem alto e começam a
gozar, espalhando porra pelo meu corpo, finalmente fecho os olhos,
sorrindo e completamente satisfeita.
Não recomendo ser pego com as calças abaixadas
Blake
Eu me orgulho de ser um cara organizado e prevenido. Eu sigo uma
agenda meticulosa, então nunca esqueço de uma reunião, nunca perco uma
data comemorativa, nunca chego atrasado nos lugares, e nunca, nunca sou
pego de surpresa, porque meus sistemas de segurança estão por todo lado,
principalmente na minha casa e na empresa, onde tenho uma TV com as
imagens das câmeras para que eu possa observar de vez em quando. E eu
nem sei o que me fez olhar para essa TV justo agora, enquanto Oliver se
afunda na minha bunda e Liam está logo no tapete da minha sala comendo
Jasmine com força.
Meu fim de tarde ter virado uma mini festinha a quatro não estava na
programação, com certeza. Mas depois que acabei dizendo no grupo que
estava morrendo de fome, mas ainda tinha uma pilha de papelada para
resolver e trabalharia até tarde, os três decidiram me fazer uma surpresa,
chegando aqui às seis e meia da tarde munidos de sanduíches, batata frita e
refrigerante que eles compraram no caminho. Confesso que não comi mais
do que algumas batatas antes de atacá-los porque decidi me satisfazer de
outra forma.
E o que com certeza não estava na programação desta quarta-feira é
meu pai estar passando pela portaria do prédio acompanhado de um amigo
dele nesse exato momento.
— Porra, fodeu. Meu pai — exclamo desesperado, pensando no que
fazer primeiro.
— Que? B, eu não tenho essa pira de ‘daddy’ não viu? — pergunta
Oliver, completamente confuso.
— Não, cacete. Meu pai está subindo pra cá, olha ali — digo,
apontando para a TV com as câmeras, onde os dois homens passam agora
pela recepção.
Oliver sai de mim num rompante e os minutos seguintes são de puro
caos. Todos nós estamos xingando baixinho e tentando pegar todas as
roupas espalhadas pela sala, além dos pacotes de comida. Me visto o
melhor que posso, mas não dá nem tempo de colocar a gravata de volta
quando ouço meu pai bater na porta e tentar abrir.
Agradeço a todos os deuses que me lembraram de trancar.
— Só um minuto pai, estou no banheiro — é a única coisa
vergonhosa que consigo pensar enquanto empurro meus namorados pela
porta que dá para o terraço para poder escondê-los.
Corro para o banheiro e dou descarga para disfarçar, e aproveito para
passar uma mão por meu cabelo e alinhá-lo um pouco. Respiro fundo e só
então me encaminho para a porta do escritório e a abro.
— Pai. Sr. Jones. Eu não os esperava por aqui — cumprimento, e
gesticulo para que entrem. Meu pai me dá um tapinha no ombro.
Blake Wolf Junior, mais conhecido apenas por Wolf, é um homem de
65 anos, alto e magro, com cabelos grisalhos cheios que são motivo de
inveja para a maioria dos seus amigos já carecas. O homem que o
acompanha é Jeremy Jones, dono do clube de campo que todas as famílias
ricas dessa região frequentam. Ele me cumprimenta com um aperto de mão
e logo os dois estão sentados na poltronas em frente a minha mesa. Tento
não pensar no que eu estava fazendo naquela mesa há menos de 10 minutos
enquanto a contorno e sento na minha cadeira.
— Ah, eu sei garoto, mas eu estava tomando um café com o Jeremy
aqui por perto, e ele comentou sobre alguns novos negócios que podem
interessá-lo. Imaginei que ainda estivesse trabalhando depois daquela
reunião com os acionistas mais cedo, então arrisquei vir até aqui — diz meu
pai, animado.
— De fato tenho muita coisa para resolver ainda hoje. Mas vamos lá,
sou todo ouvidos.
Jasmine
Não leva mais do que alguns segundos para meu celular explodir de
notificações.
Os três tentam me ligar um em sequência do outro, mas não atendo. Sei
que estão putos, mas tenho certeza de que foi o melhor. Mando um áudio no
chat:
“Parem de surtar, estou indo no mercado comprar os ingredientes da
lasanha que vou preparar. Não vou reclamar se vocês trouxerem algum vinho
dessa adega maravilhosa ai, ok? Quando chegarem, estará tudo pronto e vamos
poder conversar. Beijinhos”
Consegui finalizar sem nem sair com a voz tremida. Venci demais.
Eles continuam me ligando, mas decido deixar o celular no sofá e levanto,
pegando minha bolsa e as chaves. Preciso de algum tempo sozinha com um
cartão de crédito na mão para poder colocar meus pensamentos no lugar, então
parto para o mercado mais próximo do meu prédio.
Quando retorno com os braços cheios de sacolas, há três carros de luxo
parados na minha pacata rua, chamando a atenção de vários vizinhos. Mas o
pior são os três homens de braços cruzados e expressões furiosas bem na
portaria do prédio.
Porque é que eu achei que eles seguiriam minhas instruções e só viriam às
20h, hein?
— Vocês podiam ter trazido logo a Ferrari para terminar de chamar a
atenção do bairro todo — começo, tentando brincar, mas só ganho testas
franzidas.
— Não precisaríamos fazer isso se você não tivesse fugido de casa! —
exclama Blake, com uma cara de quem quer me dar umas palmadas. Droga, vou
sentir uma falta danada até das suas palmadas.
— Não fugi não, só voltei para o meu apartamento, que finalmente ficou
pronto. Esse era o motivo pelo qual eu fui parar na casa de vocês, para começo
de conversa — me defendo, e Oliver esfrega o rosto, frustrado.
— Vamos entrar, não estou afim de discutir aqui fora — pede ele e
concordo com a cabeça. Tento colocar as compras no chão para pegar a chave,
mas eles enfim parecem reparar na quantidade de coisas que carrego e em
segundos tomam todos os pacotes.
Abro o portão e entramos, fazendo a viagem de elevador mais
constrangedora da história, já que eles estão se segurando para não falar nada
ainda. Quando entramos no apartamento, eles não levam nem um segundo para
começarem a reclamar.
— Como você pôde nos deixar assim? — exclama Oliver, enquanto
coloca as compras na minha bancada da cozinha.
— Porque não nos falar nada antes de sair? Porque ir, aliás? Achei que
estivesse gostando de ficar com a gente — pergunta Liam, e todos os
pedacinhos do meu coração doem e querem se jogar nos braços deles e pedir
que nos amem até o coração se curar de novo. Mas é um sonho absurdo, e
apesar do meu coração não saber disso, meu cérebro sabe bem.
— Porque não nos deixou ajudar, pelo menos? Eu teria mandado instalar
um sistema de segurança decente antes de te deixar vir — é a vez de Blake
protestar, também se livrando dos pacotes.
Respiro fundo e me encaminho para a sala, fazendo com que me sigam.
Me sento na poltrona e deixo os três ocuparem todo o sofá.
— Eu já disse, não queria atrapalhar vocês. Recebi a ligação do síndico
de manhã e simplesmente senti que era a hora certa de vir pra casa.
— Atrapalhar? Me poupe, Jasmine. Achei que já tivéssemos passado
desse ponto há muito tempo — replica Oliver, me olhando claramente chateado.
— Foi por causa de ontem a noite? — pergunta Blake, estralando os
dedos, o que aprendi ser um dos seus sinais de nervosismo — Eu sinto muito
mesmo, mas entrei em pânico e…
— Não, não — interrompo-o, negando. Apesar de não ser totalmente
verdade — Olha, eu sabia muito bem no que estava me metendo quando disse
sim para vocês, sabia que vocês precisavam manter o segredo. Mas lembram
também do que combinamos, lá naquele primeiro dia?
— O quê? Do prazo de um mês?
— Isso — confirmo para Liam, mas foco o olhar no chão enquanto
continuo — Na verdade, quatro fins de semana. Eu disse que precisávamos de
um prazo para acabar, porque eu corria o risco de me apegar demais. Eram para
ser só aventuras sexuais e diversão, mas toda essa situação com meu
apartamento nos fez ficar muito mais tempo juntos do que o previsto. Dormi e
acordei com vocês por mais de um mês! E me afeiçoei à vocês, à rotina que
criamos e quando vi… estava apegada. Não adianta negar agora. Mas eu
precisava me distanciar o quanto antes, porque se não, quanto mais demorar,
mais vai me machucar, entendem? — confesso tudo de uma vez e só então
volto a procurar seus rostos.
Suas expressões são um misto de confusão e tristeza. Imagino que o
mesmo que a minha.
Liam é o primeiro a voltar a falar, trocando olhares com seus namorados
antes de se voltar para mim.
— Mas e se… confessarmos que nos apegamos a você também?
— Sim. E se quisermos tentar, sabe, algo de verdade. Com você — apoia
Oliver, seus olhos azuis pedindo direto para os meus, já marejados.
— Não estou nenhum pouco pronto para me afastar de você, princesa —
é a vez de Blake se pronunciar.
Me levanto e beijo calmamente cada um deles, colocando todo o carinho
que consigo. Quando volto para a poltrona, lágrimas silenciosas escorrem pelo
meu rosto porque, uma situação que eu pensei que não poderia ficar pior, ficou.
E muito.
Se eles não sentissem nada por mim de volta, seria muito mais fácil. Seria
mais fácil de superar e esquecer. Mas agora vou ter que partir ainda mais meu
coração, e o deles, por algo que sei que eles não podem mudar.
— Por favor, diga alguma coisa. Está me matando te ver chorar — pede
Oliver, baixinho.
— A verdade é que, no fim, não vai mudar em nada. Porque não há nada
para se tentar. Não posso ser um segredo mais uma vez. Não posso mais ter que
reprimir meus sentimentos e esconder partes de mim mesma. Fiz isso a vida
inteira e não consigo voltar. Nem mesmo por vocês — revelo, e a dor de reação
dos três rostos me acerta em cheio.
Homens são idiotas
Liam
Há instantes na vida que servem para nos fazer despertar. Não sei
dizer em que momento nós acabamos presos e dependentes de uma trama
de mentiras. Em que momento pensamos que colocar uma carreira ou a
aprovação de uma sociedade à frente dos sentimentos era uma boa ideia. A
frente do amor.
Não sei dizer quando foi que fingir que "Nós preferimos assim"
acabou se tornando uma verdade. Uma verdade ridiculamente frágil e
estúpida.
Ninguém prefere se esconder. Ninguém prefere não poder segurar a
mão das pessoas que ama.
Mas de algum jeito, nós conseguimos arrastar essa situação absurda
até aqui. E eu só acordei de verdade quando Jasmine chorou dizendo que
não se esconderia do mundo por nós.
Cheguei em casa destruído. Nada diferente de Oliver e Blake. Eu só
tive força para abraçá-los e chorar, jogados no tapete do hall de entrada.
Acho que eles também chegaram à mesma conclusão, pois pedimos
desculpas um para o outro sem parar.
“Desculpa por esconder que os amo.
Desculpa por todas as vezes que os fiz se esconder, fingir, negar.
Desculpa por todas as vezes que fui obrigado a desviar o olhar do de
vocês, para que as pessoas ao redor não reparassem na intensidade do que
sentimos.
Desculpa por cada vez que os chamei apenas de amigos.
Desculpa se pareceu que amar vocês não era o suficiente.”
Digo tudo isso a eles, e mais um pouco. E recebo o mesmo tratamento
enquanto as lágrimas descem, de alguma forma traiçoeiras e libertadoras ao
mesmo tempo.
Não há dúvidas de que não podemos continuar desse jeito. Não é
justo com a gente mesmo. Porém, acabar com toda essa mentira, sem que
ela acabe conosco, não vai ser fácil. Não vai ser fácil mesmo o que vamos
precisar fazer. Mas desde que eu os tenha do meu lado, sei que de uma
forma ou de outra, vai dar certo.
Vai dar certo. Porque eu nunca perco, e não vou começar agora.
Eu tenho um plano.
Oliver