Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
—Você conseguiu?
Keeley arranca o formulário fotocopiado da minha mão
antes mesmo que tire o casaco. Ela examina o papel, seu rabo
de cavalo tingido de lilás balançando sobre um ombro. Ela
empurra os óculos grossos para cima enquanto lê, seu nariz
sardento enrugando, então ela sorri para mim tão
calorosamente que estou surpresa por ela não embaçar as
lentes.
—Você conseguiu, garota! — Keeley pula em mim, seus
abraços sempre uma força da natureza. Por cima do ombro,
Raine me observa, encostada no encosto do sofá, seus longos
cabelos escuros trançados sobre um ombro. De nós três, Raine
é a mais quieta. A mais reservada. Quando fomos designadas
como colegas de quarto no primeiro ano, ela mal falou até o
feriado de Ação de Graças.
—Oi. — Aceno para ela sobre as costas de Keeley. Raine
oferece um pequeno sorriso, o movimento mudando seu
piercing no nariz. Ela também está satisfeita por mim.
—Você sabe o que isso significa, certo? — Keeley se
afasta, agarrando meus ombros. Tento não estremecer. Não é
que Keeley seja rude, é que ela é entusiasta e não conhece sua
força. Como uma das melhores alunas de ciências do esporte
no Llewellyn College, Keeley é mais forte do que metade dos
rapazes do campus.
—Estou tendo uma aula com um professor que me odeia?
Ela me sacode até meus dentes baterem. —Não, Luce!
Graduação! — Keeley grita a última palavra alto o suficiente
para acordar a vizinhança, gritando para o teto do nosso
apartamento. Ela bate em mim de novo, me abraçando até não
conseguir respirar, mas não a empurro.
Amo que Keeley não tenha cuidado comigo.
—Vamos nos formar juntas no próximo verão, depois
conseguir empregos na cidade e morar juntas como se
estivéssemos em um programa de tv. — Keeley me guia para a
cozinha enquanto ela fala, nos parando perto da geladeira para
que ela possa pegar duas garrafas de cerveja. Ela retira as
tampas e joga fora antes de me entregar uma e beber a
outra. Em seguida, ela limpa a boca com as costas da mão,
agarra meu ombro e me leva de volta para fora da cozinha em
direção ao sofá.
—Já estamos morando juntas, — Raine aponta, sua voz
calma. Ela coça a bochecha lisa e bronzeada. —Nada vai
mudar.
Keeley grita, a expressão escandalizada. Estremeço,
sorrindo enquanto bebo minha própria cerveja. A garota
precisa seriamente de controle de volume.
—Claro que as coisas vão mudar! — Keeley aponta o
braço em volta do nosso apartamento, quase derrubando uma
estante de livros. —Teremos dinheiro! Independência!
Podemos comprar qualquer merda que quisermos!
—Não é assim que os empregos funcionam, — ouço Raine
murmurar enquanto Keeley me empurra para o sofá.
Particularmente, estou com Raine nisso, não estou prestes a
explodir cada centavo do meu salário quando finalmente tiver
um. Mas não tenho coragem de estourar a bolha de Keeley, e
ela está pensando sobre o futuro com os olhos arregalados.
—Vou comprar um pufe, — declara ela. —Um daqueles
enormes de chão. E uma cafeteira chique. E uma mesa de
pôquer.
—O que há de errado com uma mesa comum? — Raine
puxa um fio solto de sua calça jeans, sentando no braço do
sofá. Keeley revira os olhos e a puxa para baixo, de modo que
nós três ficamos amontoadas nas almofadas.
—Mesas comuns não têm feltro verde.
—Então?
—Então, eu quero o feltro. Duh.
Deixei suas brigas tomarem conta de mim, procurando
entre as almofadas em busca do controle remoto da TV. Ligo a
TV, abaixo o som e passo os canais, em busca de um filme
ruim para assistir. Existem toneladas de filmes sentimentais
de amor, e geralmente iria para um deles, mas algo sobre ver
Gideon hoje me faz ficar bem longe.
Decidi por um filme de terror. Algo cheio de sustos e
sangue falso vermelho brilhante. Raine se desculpa, indo ler
em seu quarto, mas Keeley fica e joga os pés no meu colo.
—Por que aquele professor te odeia tanto, afinal? — Ela
segura um saco de pipoca caramelo comido pela metade, os
olhos grudados na tela. Mordo meu lábio inferior, forçando
meu rosto a ficar calmo.
—Não sei. — Keeley me lança um olhar incrédulo, então
encolho os ombros. —Ele me pegou conversando na aula dele
há dois anos. Deve ser por isso.
—Caramba. — Keeley se joga contra as almofadas do
sofá, se contorcendo para ficar confortável. Ela pega um
punhado enorme de pipoca, deixando cair os pedaços em si
mesma e me oferecendo o saco. Balancei minha cabeça. —Fale
sobre tenso. — Ela sorri com a boca cheia de pipoca. —Ele
precisa transar.
Tremo, dando um longo gole na minha cerveja para
esconder o rubor que mancha minhas bochechas. Keeley me
observa com o canto do olho, expressão sagaz.
—Ele é fofo, não é?
Encolho os ombros, o movimento espasmódico. Se mentir
e disser que Gideon é nojento, então Keeley certamente vai
conhecer ele e descobrir que sou uma grande mentirosa. Mas
se contar a ela como ele é lindo, como meu coração bate forte
só de pensar nele.
Bem. Algumas coisas são melhores não ditas.
—Ele é fofo, — afirmo. —Todos os professores não são
fofos? Os jovens, de qualquer maneira.
Keeley acena sabiamente. —Sim você está certa. É como
bombeiros. O trabalho os torna sexy.
—Exatamente. — Rio, aliviada. Não há necessidade de
revelar todos os meus segredos esta noite. —Além disso, ele me
desaprova.
Keeley cantarola. —Oh, inferno sim. Essa é uma
combinação incrível. — Ela se vira para mim, sorrindo com a
bochecha pressionada contra a almofada. —Você deveria
transar com ele, Luce.
Meu rosto está mais quente do que o sol. Keeley ri quando
vê, cutucando meu ombro.
—O que? Muito puritana?
Certo. Porque para Keeley e Raine e quase todos os outros
que conheço, sou a boa menina Lucy. Lucy que sai em
encontros doces e talvez beije na porta da frente. Lucy, que
nunca arrastaria um homem estranho para uma chapelaria e
cairia de joelhos.
Cutuco o rótulo da minha garrafa de cerveja.
Se elas soubessem.
—Venha comigo.
Três semanas depois, Raine está ao lado da minha mesa
na biblioteca com os braços cruzados. Olho do livro de pintores
americanos que estou olhando para ela, mas não a vejo. Lá
fora, o céu está escuro e os ventos de inverno batem contra o
vidro, jogando uma chuva torrencial.
—Huh?
—Você já está deprimida o suficiente. — Raine se inclina
e fecha meu livro. —É hora de se recompor.
Veja, Raine é a mais quieta do nosso grupo, a que as
pessoas confundem com ser tímida. Mas Raine não é
tímida, ela é extremamente reservada e tem uma tolerância
muito baixa para besteiras. Keeley e eu não costumamos irritá-
la, mas quando o fazemos, corremos para nos proteger.
Bufo. —Que diabos, Raine? Estou acompanhando as
aulas. Turnos de trabalho. Posso ficar triste.
—Não. — Ela afirma. —Você não pode confessar uma
vida secreta fodida e depois ser trágica. Onde está a garota que
teve um caso com seu professor gostoso? Onde essa garota foi?
—Repensar suas escolhas de vida.
—Não. — Raine me puxa da cadeira, empurrando meus
livros em meus braços. —Ela só precisa de um chute na
bunda.
O que preciso é de um tempo sozinha. Pensar. Sofrer.
Parece bobo, quase não estávamos envolvidos, mas Gideon
cravou suas raízes no meu peito. De alguma forma,
instintivamente, sei que levará anos até que o supere.
Deveria estar chateada com ele por isso. Deveria ligar
para ele para reclamar e gritar.
Mas toda vez que olho seu nome no meu telefone, fico com
medo. Embora daria tudo para ouvir sua voz, sua risada
esfumaçada no meu ouvido, não posso arriscar a ligação. Ele
ignorou todas as minhas mensagens até agora. Ele
provavelmente rejeitaria e bloquearia meu número, e não
poderia aguentar, porra.
Assim, pelo menos, posso fingir que ainda há
esperança. Há uma porta aberta, apenas por uma fresta.
Obviamente, não digo nada disso a Raine. Ela já acha que
sou uma bagunça patética.
—Se você soubesse onde ele mora, você iria vê-lo? — Os
sapatos de Raine batem na escada.
—Sim, — digo imediatamente. Talvez não seja corajosa o
suficiente para um telefonema, mas a chance de ver Gideon
pessoalmente mais uma vez? Pegaria em um piscar de olhos.
—Se lembre que você disse isso, — Raine murmura,
saindo pela saída da biblioteca. Keeley está esperando no
pátio, os braços cruzados sobre o suéter rosa doce e um sorriso
de comedor de merda esticado em seu rosto.
—E aí, otárias? — Ela acena um pedaço de papel. —
Acontece que as informações pessoais são muito fáceis de
conseguir.
—Provavelmente deveríamos nos preocupar com isso, —
reflete Raine. A ignoro, marchando para frente e arrancando o
papel da mão de Keeley.
No papel amassado e manchado de chuva, nos
garranchos confusos de Keeley, está um endereço do outro
lado da cidade. Fico olhando para ele. Li duas, três vezes.
—É isto? — Pergunto finalmente. —É dele?
Keeley bufa. —Não, nós quebramos um monte de leis
para conseguir o endereço do reitor. Obviamente é de Gideon,
sua idiota.
Ambas estão sorrindo para mim quando olho para
cima. O papel treme em minha mão.
—Você vai? — Raine levanta o queixo em desafio. Me
preparo, empurrando meus ombros para trás e aceno.
—Inferno, sim, estou indo.
—Bom. — Ela cutuca Keeley. —Vamos finalmente pegar
nosso sofá de volta.
FIM
SOBRE A AUTORA