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HIS ROYAL HIGHNESS

R. S. GREY
TRADUÇÃO E FORMATAÇÃO:

BOOKSUNFLOWERS
ÍNDICE

1. Capítulo Um
2. Capítulo Dois
3. Capítulo Três
4. Capítulo Quatro
5. Capítulo Cinco
6. Capítulo Seis
7. Capítulo Sete
8. Capítulo Oito
9. Capítulo Novo
10. Capítulo Dez
11. Capítulo Onze
12. Capítulo Doze
13. Capítulo Treze
14. Capítulo Quatorze
15. Capítulo Quinze
16. Capítulo Dezesseis
17. Capítulo Dezessete
18. Capítulo Dezoito
19. Capítulo Dezenove
20. Capítulo Vinte
21. Capítulo Vinte e Um
22. Capítulo Vinte e Dois
23. Capítulo Vinte e Três
24. Capítulo Vinte e Quatro
25. Capítulo Vinte e Cinco
26. Capítulo Vinte e Seis
Epílogo
CAPÍTULO UM

WHITNEY

inha vida é um conto de fadas. Ou melhor… ocorre

M dentro de um. Precisamente ao longo da costa sul da


Geórgia onde está o maior parque temático do mundo.
Quando os visitantes saem da estrada, dirigem sob uma
placa de boas-vindas colorida da altura de dois andares
e deixam para trás todos os vestígios do mundo exterior. Uma
estrada sinuosa corta florestas de pinheiros irregulares e
prados extensos. Longos minutos se passam. A caminhada
continua, aparentemente interminável. As crianças ficam
inquietas no banco de trás de uma minivan alugada. Pequenos
sapatos e biscoitos começam a voar. O líder no banco do
motorista teme que ele tenha dado uma volta errada e
pergunta-se quando deveria admitir que não tem idéia para
onde está indo.
Tudo isso é intencional.
Esse passeio é um buraco negro, transportando os visitantes
de suas vidas mundanas das 9 às 5 e colocando-os em um
mundo cheio de magia e admiração.
No exato momento em que uma inversão de marcha parece
quase inevitável, uma visão aparece no horizonte: um castelo
francês medieval com pináculos de telhado roxo projetando-se
para o céu, tão grande e imponente, que não há como não
notar.
O motorista não tem certeza se sua visão está falhando. Ele
se convence de que é apenas uma miragem até seus filhos
começarem a gritar de alegria. — Nós chegamos! Nós
chegamos!
Ambos os pais limpam as gotas de suor das sobrancelhas. O
motorista agora pode admitir, com uma risada aliviada, que ele
ficou perto das lágrimas por um segundo.
Bem-vindos ao Reino dos Contos de Fadas.
Trabalho dentro daquele castelo no horizonte, no piso
inferior de uma sala projetada para imitar um grande salão. A
mesma possui pisos de pedra e paredes cobertas de tapeçarias.
Uma escada em espiral leva os hóspedes a um restaurante que
exige reservas com um ano de antecedência. Eu estou do outro
lado da escada, na frente de uma lareira enorme trajando um
vestido cintilante verde-pálido. Música suave toca de uma
harpa no canto e várias centenas de crianças ficam na fila
esperando sua vez de me conhecer.
— É ELA! MÃE! É A VERDADEIRA PRINCESA
ELENA!
Uma criança olha para mim com os olhos brilhando. Outra
garota grita de empolgação quando olho na direção dela, então
ela rapidamente enfia o rosto no vestido da mãe, dominada
pela timidez. Sorrio e aceno graciosamente e continuo a fazer
minha parte.
Tudo isso enquanto o segurança tenta tirar um garotinho
que se enfiou por baixo do meu vestido.
Não é a primeira vez que isso acontece.
Minha saia de tule é um ponto de tentação brilhante, uma
nuvem de tecido implorando para ser reaproveitada como um
esconderijo. Eu sabia que o menino era um problema assim
que eu coloquei os olhos nele. Ele limpou o ranho do nariz
com as costas da mão enquanto examinava meu vestido, os
olhos iluminados por possibilidades. Ao lado dele, sua irmã
mais velha esperava pacientemente com o livro de autógrafos
agarrado ao peito, tremendo de animação. Quando finalmente
chegou a sua vez de me encontrar, seu irmão não perdeu a
chance. Ele a ignorou e mergulhou embaixo do meu vestido,
rápido demais para que sua mãe o agarrasse
Agora eu rio alegremente, o tempo todo tentando sinalizar
para Ryan se apressar até lá em baixo. Sob o meu vestido, o
garoto envolve os braços magros em volta da minha perna e
muda meu centro de gravidade para a direita. Pela primeira
vez, minha máscara cai. Ah não, eu vou cair. Em um segundo,
eu estarei deitada de bruços em um monte de tecido e essa
cena idílica cuidadosamente construída dentro do castelo de
Elena será arruinada quando os paramédicos correrem para
cuidar do meu nariz quebrado. Centenas de crianças ficarão
marcadas pela vida toda pela imagem do sangue escorrendo
em meu vestido.
Existe um protocolo para esta situação. Sob nenhuma
circunstância eu devo quebrar o personagem. Sob nenhuma
circunstância eu devo colocar as mãos na criança e removê-la
à força. A Companhia Knightley não quer fotos circulando na
internet de uma de suas princesas lidando com um garotinho.
Esse é o trabalho do Ryan.
Ryan é o homem escolhido como Sua Alteza Real, o
interesse amoroso da princesa Elena. Além de desempenhar
seu papel, ele deveria funcionar como uma forma de segurança
de primeiro nível. Ele deveria ter essa situação sob controle,
mas ele não tem. Ele é muito galante e doce. Ele se ajoelha e
tenta tirar o garoto de debaixo do meu vestido prometendo
doces. — Você gosta de Skittles? Sim? Que tal eu lhe comprar
um pacote? Dez pacotes? — Mas o garoto apenas ri com
alegria e se apega a mim com mais força. Eu balanço em meus
calcanhares, os olhos arregalados encontrando os de Ryan.
— Por favor, se apresse! — Eu sussurro.
Com coragem reunida, Ryan levanta a parte inferior da
minha saia, enfia a parte superior do corpo por baixo e tenta
agarrar o menino. Ai meu Deus. A mão de Ryan desliza
acidentalmente contra minha panturrilha nua - a que eu
esqueci de raspar esta manhã - e o garoto se afasta como uma
pequena cobra. Meu rosto fica do mesmo tom do meu cabelo:
vermelho intenso.
Crianças e pais começam a se preocupar. Eu tento agir
espontaneamente, mas ainda estou completamente estática
quando Ryan grita, — Peguei!
Ele tira o menino de debaixo do meu vestido. O garoto
chora de raiva. Sua mãe pede desculpas profusamente, mas o
segurança do parque corre para o grande salão, passando pela
irmã do garoto com o livro de autógrafos ainda agarrado ao
peito. Ela fica em choque mortificado, a boca aberta. Esse era
o momento dela. Ela viajou de algum lugar distante, esperou
sua vez por horas e agora está arruinado. Ela não vai me
conhecer.
O segurança quer verificar se estou bem, mas passo por eles
e, sem hesitar, agacho-me na frente da garota, minhas mãos
entrelaçadas delicadamente. Inclino minha cabeça e sorrio.
Minhas bochechas ainda estão manchadas de vermelho pela
vergonha, mas fora isso, eu sou a princesa Elena.
— Olá. Qual é o seu nome? — Eu pergunto, tom suave e
doce, apenas uma pitada mais alta que a minha voz normal.
— Mc-McKenna, — ela gagueja.
Eu sorrio. — McKenna, é um prazer conhecê-la. Esse livro
que você tem é muito bonito. Posso ver?
Ela assente e o entrega, e assim, a situação é recuperada.
Cinco minutos depois, McKenna tem um novo autógrafo
brilhante e três fotos com a princesa Elena prontas para a mãe
comprar na loja de presentes. O sorriso dela está
permanentemente fixado nas bochechas - ou ficará até que o
irmão faça outra coisa para irritá-la.
Durante o restante do meu turno, sorrio, converso e poso
com crianças, mas por dentro estou morta. Não apenas ignorei
minha gilete nesta manhã, como também disse: Ah, dane-se, e
decidi usar minha calcinha de algodão de vovó - você sabe,
aquelas caídas que cobrem toda a sua bunda e mais algumas
partes - e eu sei que Ryan viu.
Eu sei.
É feia e desbotada, da cor de berinjela, mas não consigo me
separar dela.
Olho para ele pelo canto do olho, mas ele não encontra o
meu olhar. Sua visão está indubitavelmente nublada por uma
tonalidade púrpura clara.
Maravilhoso.
Eu tenho uma queda por Ryan desde que ele assumiu seu
cargo como Sua Alteza Real, dez meses atrás. Ele entrou na
sala de treinamento, envolto no obrigatório casaco verde
esmeralda e calça marrom, e meu coração palpitou no peito.
Seu cabelo castanho claro é repleto do brilho de mil
diamantes. Seus olhos são da cor de um céu de verão. Ele sorri
e as mães esperando na fila caem em derrota. Conversamos
antes de cada turno e, às vezes, ele me leva de volta ao meu
armário quando terminamos. Através de nossas conversas,
comecei a reunir informações sobre ele, e guardo os fatos
perto do meu coração. Ele gosta de música country. Ele nunca
viu o Armageddon. Ele foi para a faculdade por dois anos e
meio para cursar artes cênicas antes de abandonar tudo para
trabalhar no Reino de Contos de Fada em período integral. Ele
é, em resumo, o amor da minha vida.
Claro, eu também tenho uma queda por um cara que
trabalha na padaria do outro lado da rua do castelo. Às vezes,
ele me dá amostras grátis de café ou fudge de chocolate. Por
uma questão de simplicidade, e porque ele nunca usa seu
crachá, eu o chamo de Cara do Fudge, e eu tenho uma queda
por ele a quase tanto tempo quanto tenho por Ryan.
Há também Jake da contabilidade. Ele é mais velho.
Quieto. Ele distribui os salários dos funcionários, e meus
sentimentos por ele aumentam e diminuem a cada duas
semanas.
Isso pode parecer confuso, mas eu tenho tudo organizado
no meu Rolodex de interesses amorosos. Embora eles nunca
pareçam nada de mais, não deixo isso me deter. Eu amo o
amor. As borboletas no estômago, a promessa esperançosa do
que o amanhã pode trazer. Eu me apaixonei pela primeira vez
aos dezoito anos. Não era correspondido e era bobo,
embrulhado em angústia adolescente. Ainda assim, nenhuma
das minhas paixões chega aos pés daquela. Até hoje, essa
paixão eclipsa todas as que vieram depois dela. Um fato
irritante, mas duradouro.
Eu tenho esperança com Ryan, no entanto. Uma criatura
simples. Ele seria bom para mim. Ele poderia me apresentar ao
mundo do honky-tonk. Nós poderíamos assistir Armageddon e
eu poderia chorar no ombro dele quando Bruce Willis se
sacrifica. Bem, eu poderia ter feito isso… antes que ele visse
minha calcinha cor de berinjela.
Ainda estou desesperada com o rumo da manhã quando me
junto a Cal para um jantar mais cedo. Temos um encontro
permanente toda quarta-feira. Como um relógio, fecho meu
turno, troco meu vestido por roupas comuns e volto para sua
cobertura, com vista para o parque temático. Sim, ele vive
dentro do castelo da Elena. Babaca sortudo.
Em suma, Charles Knightley, também conhecido como
“Cal”, é o cérebro intrépido por trás da Companhia Knightley.
Ele é para o Reino dos Contos de Fadas o que Elon Musk é
para Tesla. Sem ele, nenhum de nós estaria aqui.
Ele é uma lenda nessa área, e poucas pessoas têm muita
interação com ele, especialmente se não estão em uma equipe
executiva. Mas, nos últimos oito anos, Cal tem sido meu
mentor e, mais do que isso, um amigo. Pode parecer um
emparelhamento estranho, considerando que ele tem quase 60
anos, mais ou menos, mas funciona.
Subo a escada em espiral pelo restaurante do segundo andar
até chegar ao elevador do terceiro piso. Digitalizo minha
identificação de funcionário e entro. As portas se fecham atrás
de mim e eu subo.
A cobertura de Cal é inventada a partir de pura fantasia.
Ornamentada, opulenta, exagerada e cheia de tudo o que o rei
da Companhia Knightley precisa para administrar seu reino,
nunca fica quieta. Mesmo agora, quando saio do elevador para
o hall de entrada, ouço vozes vindo da sala de estar. Ele usa a
parte principal da cobertura para executar as operações do dia-
a-dia. Sempre há executivos e gerentes entrando e saindo.
As paredes do longo e amplo foyer estão cobertas de
representações e desenhos arquitetônicos do parque. Existem
notas emolduradas com anotações sobre montanhas-russas em
potencial e conceitos de personagens desenhados às pressas
que acabaram ganhando vida de uma maneira ou de outra.
Esses pedacinhos do passado do Reino do Conto de Fadas
seriam vendidos em leilão por milhões de dólares, e, no
entanto, aqui estão eles, bem na ponta dos meus dedos.
A voz estridente de Cal chega até onde eu estou, sorrio e
me movo, finalmente o avistando na grande margem das
janelas que dão para a Castle Drive - seu local habitual. É uma
visão que poucos no mundo tiveram a sorte de ver.
Eu aceno para as outras pessoas na sala - todas as quais eu
conheço pelo rosto, se não pelo nome - e vou até Cal. Ele
inclina a cabeça em saudação e continua sua discussão com o
chefe de alimentos e bebidas. Eu sei que não devo interromper
enquanto ele está tratando de negócios. Em vez disso, olho
pela janela e observo o parque. Na área ao redor do castelo de
Elena, tudo foi projetado para parecer uma vila medieval
francesa em tons pastéis coloridos. Caminhos de
paralelepípedos vermelhos passam por pequenos chalés que
abrigam lojas de presentes. Uma ferraria produz espadas de
brinquedo. Uma loja de boticário vende suco de frutas
disfarçado de várias infusões e poções. Os restaurantes lotados
enquanto garçonetes e cantores se espalham pelas ruas. Os
gramados bem cuidados são verdes e pontilhados de topiarias
cuidadosamente esculpidas em cavaleiros realistas e seus
cavalos. A rua em si está alinhada com lanternas pretas e vasos
pendurados. Os vendedores vendem cachorros-quentes e
balões, sorvetes e máquinas de bolhas de sabão. Embora os
sons não cheguem aqui, eu posso imaginar o zumbido do
parque. Mesmo no final da noite, o Reino do Conto de Fadas
está vivo, e cada centímetro quadrado parece ser preenchido
pelos visitantes. De onde estou, parecem formigas.
A mão de Cal bate no meu ombro e olho para trás.
Sua camisa branca solta está bem enrolada até os cotovelos,
debaixo de um colete de algodão roxo. Sua calça verde militar
deveria colidir com o fino lenço francês amarrado ao pescoço,
mas não fazem. Assim é o Cal. Nunca o vi se afastar de cor,
padrão ou textura. Suas roupas são tão estranhas e excêntricas
quanto ele.
— Ouvi falar do incidente hoje — diz ele, removendo os
óculos e deixando-os pendurados no cordão azul.
Eu coro, embora não deva me surpreender que ele tenha
descoberto sobre o menino. Se algo fora do comum acontece
em seu parque, ele fica sabendo.
— Não foi grande coisa. Ryan resolveu isso eventualmente.
Ele estreita os olhos, não satisfeito com essa resposta. Cal
não gosta muito de Ryan. Ele chega atrasado para os seus
turnos de vez em quando. Ele não faz o possível pelos
hóspedes como alguns de nós.
— Acho que teremos que mudar um pouco as coisas com o
pessoal.
Meus olhos se arregalam. — Você não vai despedir o Ryan,
vai?
Ele acaricia sua barba branca por um momento enquanto
pensa. — Não, ainda não. Vou mantê-lo lá por enquanto, mas
gostaria que um funcionário auxiliar estivesse com você
também, alguém de personagem.
Personagem é como nos referimos à funcionários que estão
fantasiados e são parte ativa do mundo do Reino do Conto de
Fadas. Os hóspedes podem interagir com eles. Em
comparação, um Não-Personagem - como uma pessoa da
manutenção - embora vestido com um uniforme temático, não
está fantasiado e, portanto, deve se misturar com o ambiente
para não prejudicar a experiência geral dos hóspedes. Cal
acredita em imersão total e todos nós devemos levar essa
tarefa a sério.
— O que você quer dizer? A última vez que verifiquei, há
apenas a princesa Elena e Sua Alteza Real colocados dentro do
castelo de Elena.
É assim que a história se passa, pelo menos. Cal deveria
saber. Ele criou isso.
Ele assente, sem dúvida já está trabalhando em uma solução
em sua mente. Então ele olha o relógio antes de voltar-se para
o hall de entrada. Ele está mais distraído do que o habitual esta
noite.
Os executivos foram embora. Somos apenas nós agora.
Ele me pega olhando para ele e sorri. — Venha. Vamos
comer. Pedi a Ava para fazer sua refeição favorita hoje à noite.
Pães fofos, frango frito, feijão verde com manteiga e purê
de batatas caseiras enchem meu prato enquanto atualizo Cal
sobre minha vida. Ele me pergunta se tenho notícias dos meus
pais e prometo que vou ligar para eles ainda esta semana.
— Eu sei que eles sentem sua falta.
Engulo um nó na garganta e pego minha água.
À minha frente há um jogo americano, um prato, um copo
de cristal e um guardanapo de linho dobrado que permanecem
intocados, tudo destinado a um convidado que não apareceu.
— Você esperava que alguém se juntasse a nós?
Cal verifica o relógio novamente. — Sim. Aparentemente,
ele está atrasado.
Ele fala baixo sobre esse fato, mas não quer desenvolvê-lo,
então eu não o forcei. Não é incomum ter outras pessoas se
juntando a nós para nossos jantares à quarta-feira à noite. Cal é
um homem importante. Ocasionalmente, dividimos a refeição
com outros funcionários do parque, membros do conselho de
viagem ou investidores, mas, mesmo assim, Cal sempre
mantém meu lugar na mesa ao lado dele e, de alguma forma,
arranjamos tempo para conversar. Mesmo durante reuniões
mais animadas, quando a lista de convidados fica fora de
controle e eu pareço a estranha em uma sala cheia de gênios
criativos, ainda estou feliz por estar lá sentada ao lado de Cal,
absorvendo tudo. Sendo um mentor para mim por tanto tempo,
em algum momento ele se transformou em família.
Eu sei que ele sente o mesmo.
— Haverá muitas mudanças na empresa nos próximos
meses, — ele me diz agora, sua voz soando grave.
Meu olhar imediatamente trava em seu peito como se eu
fosse capaz de ver seu coração batendo através de suas roupas.
É uma reação instintiva.
Ele ri. — Não é por causa do meu coração.
A recente passagem de Cal no hospital por um ataque
cardíaco tem estado na vanguarda de minha mente
recentemente. Todos nós ficaríamos sem chão sem ele.
— Dito isto, é hora de começar a me preparar para uma
aposentadoria, que esperamos que seja daqui a muito tempo.
Vou mudar as pessoas, delegar mais. — Quando ele pega meu
sorriso não tão sutil, ele altera sua declaração. — Tentando
delegar. Meus médicos insistem nisso. Alguma esperança de
que eu possa convencê-la a aceitar uma posição comigo?
Estreito os olhos e balanço a cabeça. — Sério? Usando sua
saúde para conseguir o que quer? Eu esperava mais de você.
Ele ri com bom humor e arranca um pedaço de seu pão. Seu
jantar não se compara ao meu. Seu frango não é frito, seu
feijão não é amanteigado e suas batatas foram trocadas por
quinoa, mas ele puxou um pãozinho da cesta no centro da
mesa quando nos sentamos. Um homem tem que viver, ele
disse, e eu não discuti.
— Não é isso que estou fazendo. — Ele inclina a cabeça,
um sorriso divertido espreitando por sua barba. — Não, a não
ser que funcionasse, — reviro os olhos e ele ri. — Eu apenas
acho que seu talento é desperdiçado lá no personagem. Eu
deveria ter insistido em promovê-la anos atrás.
Este é um velho truque. Cal gosta de pensar que tenho
vários especialistas em negócios enterrados dentro de mim
queimando para serem libertados, mas estou feliz exatamente
onde estou. — Você sabe que eu gosto do meu trabalho.
Troque todo o pessoal que você quiser, mas me deixe em paz.
E é isso. Não há mais conversa sobre negócios.
À medida que nossa comida desaparece de nossos pratos,
nossa discussão volta-se para o podcast de mistério sobre
assassinatos que acompanhamos nas últimas semanas. Eu o
viciei e agora nós dois gostamos de brincar de detetive de
poltrona.
Depois do jantar, ele me leva até o elevador com uma
sacola cheia de comida suficiente para me manter alimentada
por uma semana. Ava sempre faz isso e eu aprendi a não
resistir. Sei que, quando chegar em casa, descobrirei que a
sacola está cheia não só de sobras da nossa refeição de hoje à
noite, mas também de outros alimentos previamente
preparados.
Ela simplesmente não consegue evitar.
— Mesmo horário na próxima semana? — Ele pergunta,
pressionando o botão do elevador para mim.
— No mesmo horário. — Concordo com a cabeça.
As portas se abrem e eu dou um passo antes de perceber
que há um homem tentando sair. O convidado de Cal deve ter
finalmente chegado. Por uma fração de segundo fazemos o
estranho tango do elevador. Esquerda. Direita. Esquerda.
Como dois humanos podem estar tão sincronizados?
Dançaremos um com o outro por toda a eternidade, acho, até
que ele ri e me dá um grande espaço, passando por mim. Entro
no elevador e me viro, os olhos indo rapidamente para o rosto
dele. Espero ver um membro do conselho ou um confidente
próximo de Cal, alguém que frequenta sua cobertura. Em vez
disso, levo um soco no estômago pela visão de um homem que
não vejo há oito anos.
Nossos olhares se prendem e meus joelhos cedem. Um
segundo antes de eu entrar em colapso, me seguro contra a
parede do elevador, logo acima do painel de controle.
Ele não fala.
Eu também não.
Faz cinco segundos ou cinco anos desde o momento que
nossos olhos travaram?
A boca dele se abre. Eu sei que ele está prestes a dizer algo,
mas antes que ele possa, bato com a mão no botão Fechar a
porta e, pela primeira vez, a maldita coisa decide funcionar.
Certamente é a primeira vez na história já registrada. As portas
do elevador se fecham, bloqueando-o da minha vista, e eu
deslizo para o chão, perdida em palavras, procurando por ar.
Faz oito anos e agora ele está de volta.
O neto de Cal.
Minha primeira paixão.
CAPÍTULO DOIS

DEREK

u tive um dia infernal. Voo atrasado em Londres.

E Companheiro de poltrona tagarela. Congestionamento na


estrada. Eu gostaria de trocar de roupa, uma refeição
quente e uma cama. Embora se eu pudesse escolher,
escolheria a cama. Eu tinha planejado chegar hoje à tarde
e me instalar no meu apartamento na casa dos executivos antes
do jantar com Cal, mas tive que vir direto do aeroporto para
cá. Ele me disse que era urgente.
Eu culpo a privação do sono e um longo dia de viagem por
minhas péssimas maneiras agora. Eu não esperava sair do
elevador e quase tropeçar em outra pessoa. Eu estava tão
preocupado em nos manter de pé que nem pensei em parar e
olhar para ela.
Foi quando ela entrou no elevador que meu cérebro
cansado pela fadiga finalmente juntou dois mais dois.
Whitney.
Minha velha amiga.
Toda crescida…
— Você está atrasado — diz Cal, seu tom duro.
Olho por cima do ombro e vejo meu avô, as mãos enfiadas
nos bolsos da calça, barba mais branca do que quando o vi
pela última vez. Ele e eu tínhamos a mesma altura, mas parece
que a velhice lhe roubou um centímetro ou dois.
Deslizo a mão pelo queixo e aceno. — O avião teve
problemas mecânicos. Só cheguei uma hora atrás.
— Eu esperava que você estivesse aqui para jantar.
A menção de uma refeição faz meu estômago roncar tão
alto que Cal não pode deixar de notar.
Seu olhar reprovador suaviza enquanto balança a cabeça.
— Vamos, vou pedir para Ava arrumar um prato para você.
Ele espera que eu o alcance e caminhamos lado a lado até a
sala de jantar. Ele passa o braço em volta dos meus ombros -
nunca se reprime de mostrar afeto. — É bom ter você em casa.
É bom estar em casa.
Estou longe há muito tempo, mais do que pretendia
originalmente.
Londres é minha base há oito anos. Cal queria que eu
supervisionasse a construção do nosso parque temático irmão,
mas agora que está funcionando, eu pertenço aqui, com ele.
— Como você está se sentindo?
O braço dele sai dos meus ombros. — Se você acha que
vamos passar a noite toda falando sobre minha saúde, você
pode dar meia volta, ir embora e encontrar outro lugar para
comer.
— Eu acho que é uma pergunta justa. Você me deve um
pouco de informação após a proeza que você fez.
Não sei de quem foi a ideia de manter seus problemas de
saúde escondidos de mim, mas quando descobri que ele estava
no hospital alguns meses após o fato, fiquei mais do que um
pouco chateado. Eu conheço Cal. Sei que ele gosta de
subestimar a gravidade de seus problemas de saúde -
especialmente quando esses problemas poderiam tirar seu foco
do trabalho - mas se eu soubesse, estaria no primeiro voo de
volta à Geórgia. Eu teria chegado em casa mais cedo.
Ele mergulha a cabeça na cozinha e pede a Ava para me
arrumar um prato. Então ele se vira e toma seu lugar na
cabeceira da mesa. — Tudo o que vou dizer é que tenho uma
equipe de médicos ao meu redor sem parar. Uma enfermeira
vem aqui todos os dias para medir minha pressão sanguínea e
perseguir Ava sobre como é minha dieta. Ela mente por mim, é
claro. Não há ninguém mais leal que Ava, mas como eu disse a
Whitney: um homem tem que viver. Um pouco de sal aqui, um
pouco de vinho ali… não vai me matar e, se o fizer, vou
morrer feliz.
— Estou feliz em saber que você está levando sua saúde a
sério.
Meu tom seco o faz revirar os olhos para o teto. — Eu digo
que, quando chegar à minha idade, você me diz se vale a pena
viver a vida sem um bom copo de vinho no final do dia.
Com essa deixa, Ava entra com dois copos meio cheios de
Merlot e os coloca sobre a mesa. Ela é uma mulher mais velha,
com um rosto atraente e uma natureza tímida. Na maioria das
vezes, ela usa vestidos florais e um avental manchado. Eu
sempre tive um ponto fraco por ela.
Cal agradece e ela sorri calorosamente em minha direção.
Eu rodeio a mesa para abraçá-la. Faz muito tempo desde que
eu a vi. A convido a ficar e comer conosco, mas ela me
garante que tem muito o que fazer.
Uma vez que ela está de volta à cozinha, preparando minha
comida, há um impasse silencioso entre meu avô e eu
enquanto ele levanta o copo à boca e toma um longo gole. Eu
sei que ele tem razão. Não é minha função ficar no pé dele.
Parece que já existem muitas pessoas fazendo isso.
Com um suspiro, puxo a cadeira ao lado dele e me sento.
Eu sentei neste local para jantar quase todas as noites enquanto
crescia. Nada na sala de jantar mudou desde que eu estive fora.
Paredes com painéis em azul escuro brilhante. Obras
organizadas ordenadamente sob as luminárias de latão da
biblioteca. A antiga mesa de jantar francesa ainda está
incrustada com trepadeiras de bordo e nozes interrompidas
pelas marcas de água que deixei quando criança, com as quais
Cal nunca se importava muito.
Ava retorna alguns minutos depois com uma refeição digna
de um rei, e eu não perco tempo.
Eu como enquanto Cal pergunta sobre o parque de Londres.
Não há um único detalhe sem importância. Ele quer saber
tudo.
Alguns membros do conselho tentaram, sem sucesso, tomar
o controle da Companhia Knightley de Cal ao longo dos anos,
mas seus esforços são sempre em vão. A maioria de nosso
conselho e equipe executiva sabe que não há como Cal se
afastar da Companhia Knightley enquanto ele viver. Não há
aposentadoria em seu futuro. Ele construiu tudo isso. Nos anos
setenta, Cal dirigia o parque temático de sua família em Nova
York. Era pequeno e eles queriam expandir, mas a terra ao
redor era muito cara para comprar. Quando seu pai faleceu,
Cal vendeu o parque e foi para a Geórgia, trazendo cada
centavo com ele. Ele queria construir o maior parque temático
do mundo e, para fazer isso, precisava de muitas terras baratas.
Ele assumiu um grande risco. Essa região era conhecida por
suas baixas pradarias costeiras e pântanos e, embora
existissem bolsões profundos de florestas de pinheiros, os
madeireiros estavam mais interessados em colher madeira no
norte da Geórgia. A área foi declarada oficialmente deserta
pelo estado. Cal aproveitou a oportunidade. Ele começou a
comprar imóveis por US$80 o acre através de pequenas
transações privadas, mantendo as suspeitas e os custos baixos.
Ele acumulou 18.000 acres antes de um jornalista
empreendedor juntar as pistas e divulgá-lo em um jornal local.
Empresário de Nova York deve construir parque temático no
pântano
Ele era motivo de chacota no estado, mas mesmo assim os
preços das terras subiram e os últimos 2.000 acres acabaram
custando o mesmo valor que os primeiros 18.000.
Você poderia dizer que Cal riu por último.
Com uma participação anual de 60 milhões de pessoas, o
Reino do Conto de Fadas não é apenas o parque temático mais
visitado do mundo, mas também o mais rentável.
Oferecemos todas as comodidades que um hóspede pode
esperar encontrar fora do próprio parque: resorts temáticos,
shopping centers, campos de golfe, comunidades particulares e
restaurantes, tudo isso através de um cuidadoso equilíbrio de
preservação e inovação. Em cinquenta anos, Cal apenas
desenvolveu um quarto da terra que comprou originalmente.
Os campos e florestas ainda cercam o Reino do Conto de
Fadas como um meio de preservar a ecologia local.
Também imitamos essa prática em Londres, embora em
menor escala.
— Gostei do meu tempo lá, mas estou feliz por estar em
casa. Eu gostaria de assumir o cargo de diretor de operações
do parque dos EUA. Acho que já passou da hora.
Tem sido o plano desde o primeiro dia, eu trabalhando
diretamente com Cal. Ele não vai se aposentar oficialmente,
mas eu poderia ajudar a tirar a maior parte da carga dele.
— Eu estive pensando sobre isso…
Ele toma outro gole de vinho e meu garfo para antes de
chegar à minha boca.
— Eu tive um pequeno contra-ataque do conselho.
Acho isso um pouco difícil de acreditar.
— Alguns deles estão sussurrando preocupações sobre
nepotismo, — ele finaliza.
Eu recuo no meu assento. Meu garfo bate contra meu prato.
— Isso é um absurdo. É um negócio de família. Você me
preparou para esse trabalho a vida toda. Há uma estátua nossa
lá no meio do parque, pelo amor de Deus. O que eles esperam?
Que eu fique feliz em me afastar e abrir espaço para uma
contratação externa? Não vou.
— E eu não espero que você fique. Mas Derek, acho que há
uma maneira de fazer todo mundo feliz. Eu estive pensando
nisso e, neste outono, devemos provar sua dedicação à
empresa de uma maneira que ninguém possa refutar.
— Acho que mais do que provei minha dedicação à esta
empresa.
Passei meus primeiros anos da adolescência trabalhando em
papéis de Não-Personagem no parque, apenas saindo para
cursar uma graduação em Princeton, com foco em economia e
administração, e depois uma pós-graduação em hospitalidade
global em Yale. Quando me formei, me mudei para casa e
trabalhei como Diretor de Entretenimento da Companhia
Knightley. Quatro anos depois, quando a visão de Cal para um
parque temático irmão em Londres finalmente recebeu o sinal
verde, me mudei para lá e supervisionei o projeto. Sem
perguntas. Mude-se para cá. Trabalhe aqui. Construa isso.
Todas as facetas da minha vida giraram em torno desta
empresa e de suas necessidades.
O conselho pode ir se foder.
Ficamos em silêncio por um longo período, e eu sei que ele
está me dando tempo para me acalmar. Termino meu vinho de
uma só vez e empurro meu copo.
— Quero que você assuma esta empresa mais do que
ninguém, — ele esclarece.
Eu limpo minha garganta.
— Dito isto, acho que uma pequena reorganização seria
bom para você.
Entrelaço meus dedos sobre a mesa e olho para onde
minhas mãos se encontram. — Apenas me diga o que você
tem em mente. Tem sido um longo dia.
— Alguns meses trabalhando como personagem no parque.
— Suas palavras têm o mesmo efeito que uma mão vencedora
de pôquer, virada e espalhada sobre a mesa. É como se ele
soubesse que já venceu esta batalha.
— Absolutamente não.
Ele está louco.
Eu levanto para sair. — Agradeça a Ava pelo jantar.
Ele me chama enquanto eu me afasto. — Qual é a principal
preocupação dos nossos funcionários de nível básico agora?
A questão veio do nada e, no entanto, sem hesitar recito a
resposta que sei estar correta. — Salário por hora trabalhada,
seguido de perto pelo seguro desemprego.
— Errado.
Eu paro de repente.
— Estamos saindo de um verão abrasador, — continua ele.
— A principal preocupação deles é o calor. Quando estão
fantasiados com o sol batendo nas cabeças, eles não dão a
mínima para o seguro desemprego. Eles querem turnos mais
curtos, pausas mais frequentes e sistemas de refrigeração
eficazes embutidos nas roupas.
Embora eu queira argumentar, fico completamente em
silêncio.
— Você conhece o amplo escopo de gerenciar a empresa
melhor do que ninguém, mas receio que tenha esquecido as
minúcias. Trabalhar como personagem por alguns meses o
tirará das nuvens e dará ao conselho um exemplo brilhante da
extensão do que você deseja fazer para esta empresa. Ninguém
será capaz de argumentar quando eu o nomear como meu
sucessor de uma vez por todas.
Eu não concordei com isso. Eu acho que é uma ideia
absolutamente ridícula. Ainda assim, faço uma pergunta
simples, sei que ele tem a resposta. Cal está sempre dez passos
à frente do resto de nós.
— Onde?
— Castelo de Elena. Você trabalhará ao lado de Whitney, a
garota que estava aqui comigo quando você chegou.
— Você esqueceu que eu já a conheço.
— Isso mesmo, — ele ri. — Eu tinha esquecido. Tenho
certeza de que ela ficará feliz em ter seu antigo mentor de
volta.
CAPÍTULO TRÊS
WHITNEY

u sou o produto de uma infância única. Minha família e

E
eu nos mudamos de Idaho para a Geórgia quando eu
tinha seis anos. Minha irmã mais velha estava doente e,
de acordo com todos os especialistas, seu prognóstico era
desolador o suficiente para ser medido em meses, não em
anos. Meus pais queriam que a vida dela fosse tão feliz
quanto poderia, pelo tempo que ela teve e, bem… não há lugar
na Terra mais indutor de felicidade do que o Reino dos Contos
de Fadas. Quando eu tinha seis anos pensei que essa era a
melhor decisão que eles poderiam ter tomado. Morando ao
lado de um parque temático? Gênios. Mas eu tinha seis anos.
A realidade da nossa situação era menos do que perfeita.
Nós nos esprememos em um apartamento de dois quartos em
ruínas ao lado do hospital infantil. Ambos estavam tão perto
do Reino dos Contos de Fadas que podíamos ver as torres
roxas do Castelo de Elena do quarto de hospital de Avery. Às
sextas-feiras, nos empoleirávamos na janela e assistíamos ao
show de fogos de artifício com os rostos pressionados contra o
vidro.
De certa forma, a vida na Geórgia parecia mais divertida.
Meus pais trabalhavam no parque como empregados de nível
básico. Seus uniformes pareciam mais fantasias de Halloween.
Minha mãe usava um chapeuzinho fofo e meu pai fingia forjar
machados de brinquedo. Na minha cabeça, os dois ganharam o
prêmio de melhor emprego.
Em dias bons, quando meus pais podiam sair do trabalho e
Avery estava com vontade de ir, todos nós íamos juntos ao
Reino dos Contos de Fadas. O parque sempre foi acolhedor.
Avery recebia guloseimas e brinquedos especiais. Os
funcionários sempre davam atenção especial a ela e nós
conseguíamos assentos na primeira fila para o desfile da tarde.
De outras formas, a vida na Geórgia era a mesma de Idaho.
Avery ainda estava doente, e isso foi extremamente frustrante
para mim. Na minha mente de seis anos, a Geórgia deveria
curar Avery, como se tudo o que ela estava perdendo antes
fosse a culinária do sul. Pegue mais cobbler de pêssego,
agora!
A outra parte da vida em Idaho que foi arrastada conosco
para a Geórgia foi meu papel como doadora de Avery. Não me
lembro da primeira vez que doei sangue ou medula óssea para
Avery. Fazia parte da minha vida desde que minha memória se
estica. Você não quer ajudar sua irmã? Sim. Isso vai doer, mas
Avery precisa. Ok. Ninguém nunca me forçou a ajudar; eles
não precisavam. Ser sua doadora me fez sentir importante, e
meus pais e a equipe de cuidados de Avery sempre foram
muito agradecidos. Essas foram as poucas vezes em que me
senti verdadeiramente notada.
Com o passar do tempo, nossos papéis ficaram gravados em
pedra. Avery era a paciente e eu era a cuidadora. Eu não
troquei a intravenosa ou distribuí a medicação, mas todos os
dias depois da escola eu corria para o quarto do hospital com
novas obras de arte. Suas paredes logo foram cobertas. Eu
levava histórias para ela do mundo exterior: como era a
comida de nossa cafeteria, que sapatos novos Cara Sims usou
na escola naquele dia. Eu pegava livros da biblioteca para nós
duas lermos juntos. Mais importante, no nível mais básico, eu
me certificava de ser o meu eu mais sorridente e feliz sempre
que estava com ela, porque Avery precisava de felicidade.
No entanto, com o passar dos anos e o foco de meus pais na
saúde de Avery, comecei a ver lentamente minha posição
como algo para me ressentir. Eu sei que é uma coisa terrível,
mas houve momentos em que eu costumava desejar que eu
fosse a pessoa doente. Avery parecia ter tanto amor e atenção,
não porque ela exigisse, mas porque ela precisava.
Provavelmente nem foi intencional, mas o fato é que, quando
uma criança está doente, todo mundo fica em segundo plano.
É a única maneira da unidade familiar sobreviver. Entendi
isso, mas minha esperança era que, quando Avery melhorasse
e deixasse o hospital, a vida iria se equilibrar novamente. Nós
poderíamos nos transformar em uma família normal.
Não foi assim que funcionou.
Avery chutou a bunda do câncer e, eventualmente, ela
voltou para casa e para se encolher no apartamento de dois
quartos conosco. Ainda assim, isso não significava que ela era
“normal” do jeito que eu era - forte ênfase nas aspas no ar.
Avery sempre precisou de mais. Ela estava atrasada na escola.
Ela era frágil e pequena para a idade dela. Ela precisava de
uma dieta especial, tutores, exames de rotina.
Meus pais continuaram a providenciar para ela da melhor
maneira que podiam, e eu encontrei um lugar para sobreviver
sozinha: o Reino dos Contos de Fadas. Comecei a trabalhar lá
no verão, aos quinze anos. Meu trabalho não era tão
importante - vendi balões em Castle Drive - mas adorei cada
minuto. Eu estava desempenhando o mesmo papel que havia
desempenhado há anos: fazer as pessoas felizes e sustentar os
outros, mas desta vez foi nos meus próprios termos. As
crianças gritavam de alegria quando eu entregava um balão e,
depois daquele primeiro verão, eu sabia que queria trabalhar
no parque em tempo integral um dia.
No último ano do ensino médio, meus pais começaram a
discutir a idéia de se mudar para Nova York para que Avery
pudesse seguir uma carreira de atriz real. Ela tinha sido
mordida pelo inseto da atuação quando ainda estava no
hospital. Sua unidade pediátrica havia apresentado uma peça
de Natal e cada criança recebeu um papel. Avery interpretou a
rainha da ameixa e, naquele palco improvisado na cafeteria do
hospital, ela encontrou o seu chamado.
Depois disso, ela foi escalada para produções teatrais
locais. Meus pais a levavam a audições e treinos em todo o
estado, ficando fora a maioria das noites da semana. Ela voltou
recentemente para casa, radiante de orelha a orelha, ansiosa
por me informar que tinha um agente. Ela me mostrou seu
cartão de visita enquanto eu estava sentada em nosso quarto
compartilhado, lendo meu livro de história na minha cama.
— É real! Toque nisso.
Eu segurei a cartolina em minhas mãos. Era grossa e
gravada com letras pretas em negrito. Real, de fato.
— Ele quer que eu voe para Nova York e faça um teste para
uma peça off-Broadway.
Eu não tinha ideia do que “off-Broadway” significava, mas
agi como se soubesse.
— Você deveria fazer isso — eu disse, segurando o cartão
de volta para ela.
Os olhos dela estavam brilhantes de esperança. — Você
poderia vir também!
Não, não poderia. Eu tinha escola e turnos no Reino dos
Contos de Fadas.
Logo depois disso, a mudança para Nova York parecia
quase inevitável, então examinei minhas opções para descobrir
formas de permanecer na Geórgia sem eles.
A Companhia Knightley possui um programa especial para
os calouros. Se aceito, os participantes dividem seu tempo
entre trabalhar no parque temático e fazer cursos universitários
na Universidade do Sul da Geórgia. O objetivo é se formar em
administração de hospitalidade e ganhar experiência no mundo
real. Além de um salário pequeno, o programa paga as
mensalidades da faculdade e oferece acomodação e
alimentação.
Enviei minha inscrição no primeiro dia em que o período de
inscrição foi aberto e, quando minha carta de aceitação chegou
pelo correio, gritei tão alto que Avery entrou correndo em
nosso quarto, presumindo assassinato.
Uma parte de mim tinha um pouquinho de esperança de que
meus pais brigassem por eu ficar na Geórgia sem eles. O plano
era que todos nós nos mudássemos para Nova York, mas
quando mostrei a carta de aceitação e expliquei o quão
competitivo era o programa, eles me abraçaram e me disseram
como estavam orgulhosos. Sem lágrimas de tristeza pelo fato
de que eles me deixariam para trás, apenas pregos no caixão
do nosso relacionamento.
No dia em que eles empacotaram tudo e colocaram no
caminhão de mudança, eu me acomodei no meu dormitório
totalmente mobiliado no Reino dos Contos de Fada. Embora
os corredores fossem barulhentos e cheios de outros novos
estagiários como eu, fiquei sentada sozinha no meu quarto,
triste de uma maneira que não conseguia explicar com
facilidade. Eu estava na minha mesa, olhando para o meu
horário de curso e tentando criar emoção para minha nova
vida, quando um e-mail apareceu no meu computador.

De: Info@Knightley.com
Para: WhitneyAtwood@Knightley.com
Assunto: Programa de Mentores

Olá, alunos,

Todos os calouros estagiários ingressantes devem participar


de nosso programa de mentores. Cada aluno foi colocado com
um membro da equipe de nível executivo que atuará como um
recurso e conselheiro no próximo ano. Os mentores oferecerão
oportunidades de sombreamento, bem como atribuições
aprovadas pelo programa. Cada aluno receberá uma hora de
crédito pela participação no programa.

Os mentores foram notificados de suas atribuições e entrarão


em contato em breve. Estabeleça um horário e local
consistentes para as reuniões conducentes à sua
programação. (Mínimo de quatro reuniões necessárias por
semestre.)

Whitney Atwood foi colocada com Derek Knightley, chefe de


entretenimento.

O número de telefone e o e-mail dele foram fornecidos abaixo,


mas eu não cheguei tão longe. Como funcionária de longa data
e amante do Reino dos Contos de Fadas, conhecia a família
Knightley. Eles eram da realeza. Cal Knightley era o homem
por trás de tudo, alguém raramente visto no parque. Eu pensei
que poderia ter vislumbrado ele uma vez, de longe. Seu neto
também trabalhava no parque, mas como chefe de
entretenimento, ele era alguém com quem eu nunca cheguei
perto de interagir. Por incrível que pareça, meu cargo como
vendedora de balões não exigia muito tempo cara a cara com
os superiores e, no entanto, aqui estava eu como a nova
aprendiz de Derek Knightley.
Eu não podia acreditar.
Recebi um e-mail da assistente dele no mesmo dia
solicitando os horários das minhas aulas e turnos do parque.
Eu respondi imediatamente, com os dedos voando e, em
seguida, fiquei perto do meu computador o resto da noite,
esperando instruções de onde e quando eu deveria esperar
minha primeira reunião com Derek.
Foi planejada para uma semana depois em uma cafeteria
em Castle Drive, dentro do parque.
Eu não sabia quase nada sobre Derek fora de seu papel no
parque. Nem a idade dele, nem a aparência dele. Nada.
Embora houvesse sussurros de que ele era bonito, parecia mais
uma lenda urbana do que qualquer outra coisa. Como um
humano poderia ter tanta sorte? Também havia rumores de que
Cal vivia dentro do castelo, mas ninguém havia confirmado ou
negado isso também. Havia tanto segredo em torno da família
Knightley, e todos os boatos pegavam fogo. Desde o inócuo
(Cal bebe seu café com cinco colheres de chá de açúcar!) até
o mais absurdo (ele adquiriu a capital para construir o parque
da máfia russa, não cruze com ele).
No dia da minha reunião com Derek, eu apareci no café
bem na hora e em roupas que eu peguei de uma loja de
segunda mão na semana anterior. Eu estava me afogando em
uma calça terninho azul marinho e, embora tivesse me
ç ,
convencido de que parecia profissional no meu dormitório, lá
fora, no sol da Geórgia, eu me sentia uma bagunça suada. Não
ajudou que minhas sapatilhas também fossem um número
maior - o resto da Avery. Elas continuavam escorregando
quando eu andava, e eu já tinha uma boa bolha se
desenvolvendo na parte de trás do meu calcanhar direito.
Minha aparência ficou nítida quando peguei meu reflexo na
janela da cafeteria. Meu cabelo ruivo muito comprido pendia
em ondas soltas. Minha pele tinha um brilho saudável -
obrigada, caminhada rápida em clima de 32 graus - mas o
tom de batom vermelho que eu havia comprado em uma
farmácia na noite anterior não estava me fazendo nenhum
favor. Ele destacou os tons rosa na minha pele, resultando em
mim algo muito parecido com um tomate cereja. Limpei-o
com as costas da mão o mais rápido possível, mas quando abri
a porta da cafeteria, ainda estava consciente da mancha nos
meus lábios.
Era de manhã cedo - uma hora antes da abertura oficial do
parque - e a cafeteria estava vazia, exceto por outros
funcionários.
Um homem estava sentado sozinho em uma mesa com a
atenção concentrada em um laptop. Ele digitou furiosamente,
depois parou, pegou um lápis e rabiscou rapidamente em um
caderno.
Ele não era apenas casualmente atraente. A visão dele me
agarrou pela gola, como se dissesse: Olhe, sua tola. Olhe!
Ele usava calça azul marinho, tênis legais e uma camisa
social branca dobrada e enrolada até os cotovelos. Sem
gravata. Ele tinha cabelos castanhos, grossos e aparados mais
curtos nas laterais. Havia o mínimo de produto, apenas o
suficiente para dar uma aparência sofisticada.
Seu rosto estava barbeado. Ele tinha uma mandíbula forte e
cílios escuros que se espalharam por suas bochechas enquanto
sua atenção permanecia no caderno. Sua concentração era
inabalável. A minha também. Fiquei olhando por tanto tempo
que perdi a noção do motivo de estar lá em primeiro lugar.
Ah, sim, orientação.
Tirei os olhos dele e dei uma espiada na loja, procurando
sinais estereotipados de um executivo: barrigudo, de terno e
arrogante. Havia um barista masculino e um homem vestido
com uma fantasia de bobo da corte medieval, mas todas as
outras pessoas eram mulheres. A menos que Derek estivesse
atrasado, meu mentor era o homem à mesa.
Meu estômago apertou quando cedi à vontade de dar outra
olhada.
Um homem em um nível diferente.
Então os rumores sobre ele eram verdadeiros. Gostaria de
saber se Cal realmente estava na máfia russa.
— Com licença, — alguém disse, me contornando para
entrar na cafeteria.
Eu estava bloqueando a porta desde a minha chegada, e já
era hora de me mexer.
Não havia chance de Derek me olhar, nenhuma chance de
eu me comprometer a me fazer de boba antes de pular no
fundo do poço. Ele estava muito absorto em seu trabalho para
me notar até que eu estivesse em sua mesa, a um pé de
distância.
Limpei a garganta e estava prestes a falar quando uma voz
feminina falou atrás de mim.
— Gelado americano, sem creme. Se houver muito gelo,
mandarei refazê-lo.
A mão de Derek disparou para o café, mas em vez disso
esbarrou em meu braço.
Ele recuou. Eu recuei. A assistente dele, no entanto, não
recebeu o memorando, então colidimos. O americano gelado
derramou na parte de trás do meu terninho e uma cascata de
gelo fez minha espinha formigar. Eu gritei e dancei ao redor,
sacudindo o café das minhas roupas. Os minutos seguintes
foram confusos para todos. Para Derek, parecia que eu tinha
acabado de sair de um buraco no chão ao lado de sua mesa.
Tenho certeza que ele se perguntou há quanto tempo eu estava
lá, perseguindo-o silenciosamente. Não tive tempo de me
apresentar, mas fizemos isso no meio das desculpas,
guardanapos e bebidas frescas por conta da casa, mas não
ajudou muito. Quando finalmente me sentei em frente a ele,
senti que parecia uma babaca molhada que alguém havia
arrancado da lixeira nos fundos.
— Então você é a senhora Atwood — disse ele, usando um
guardanapo para limpar as últimas gotas de café da mesa.
Concordei enquanto pegava meu cabelo úmido - ensopado
com café - e tentava fazer um coque.
Assim que eu o soltei, caiu como um monte triste nas
minhas costas.
Perfeito.
— Eu sou Derek. Esta é minha assistente, Heather.
Nós três nos sentamos juntos à mesa. Os dois, um par
estranho. Heather parecia alguns anos mais velha que Derek
com óculos de armação grossa, um pequeno tablet e uma
barriga de grávida escondida cuidadosamente sob um vestido
preto.
— Eu acho que você tem… — a frase de Heather parou
quando ela apontou para o canto dos lábios, tentando me
informar gentilmente que eu tinha algo no meu rosto.
Passei a mão agressivamente no borrado batom vermelho.
Sem dúvida, agora estava ainda mais manchado no meu
queixo.
Em retrospectiva, eu deveria ter pedido licença e ido ao
banheiro, recuperado minha inteligência e consertado minha
aparência, mas na época eu estava muito intimidada. Não
queria perder tempo e, sinceramente, não tinha certeza de que
poderia realizar a tarefa simples de andar sem as pernas
dobrando debaixo de mim. Eu parecia uma girafa recém-
nascida.
Derek era demais para o meu cérebro adolescente.
Quebre-o pedaço por pedaço e ainda era muito para
processar: herdeiro de um império, muito mais velho, bonito e
confiante me avaliando do outro lado da mesa de uma maneira
que me fez querer me mexer.
Um ping soou no tablet de Heather e ela passou o dedo pela
tela.
— Mika quer mudar sua reunião das onze horas para dez e
quinze. Vou ver se podemos acomodá-la. Você tem mais vinte
minutos aqui e, em seguida, precisa encontrar com Alimentos
e Bebidas no portão norte para um trabalho completo.
Enquanto ela falava, Derek se concentrou em mim,
conduzindo um estudo cuidadoso, como se eu fosse um
pássaro raro que ele nunca encontrou. Ah, sim, os hábitos de
acasalamento dessa fêmea incluem batom manchado e o
cheiro de borra de café.
Eu me mexi na cadeira, um pouco desconfortável, mas
mesmo assim não tive a sensação de que ele estava sendo
crítico. Apenas… Curioso.
— Obrigado, Heather. Encontro você lá fora em vinte
minutos, — ele disse, efetivamente a dispensando.
— Mas você me pediu para fazer anotações.
— Não acho que seja necessário.
Sem outra palavra, ela se levantou e saiu.
Eu quase pedi para ela ficar. Nós éramos um trio estranho,
mas sem ela, eu não tinha coragem de tirar meu olhar da mesa.
— Me desculpe novamente pelo café, — disse ele, sua voz
firme e resoluta, confiante, mesmo enquanto se desculpava. —
Tenha certeza, nós vamos arrumar um novo terno.
Minhas bochechas ardiam. Por favor, Deus, não pergunte
de onde é. Ele assumiria que Goodwill era algum tipo de
boutique legal. Se pronuncia Güdwíll?
— Inicialmente, pedi a Heather para participar de nossa
reunião, mas acho que posso atendê-la melhor
individualmente. Hoje, especialmente, podemos apenas
conversar. Sem falar de negócios.
Engoli em seco, a tarefa se mostrando mais difícil do que o
normal.
— Devemos começar com nomes? — Ele continuou. —
Presumo que seja bom chamá-la de Whitney. Ou você prefere
senhorita Atwood?
O fato de ele, dentre todas as pessoas, conhecer não apenas
meu sobrenome, mas também meu primeiro nome, era
completamente incompreensível. Eu estava no dormitório por
uma semana agora. As aulas ainda não começaram. Eu mal
tinha saído do meu quarto. Eu deveria ter uma colega de
quarto, mas ela perdeu seu lugar no programa no último
minuto e eles não haviam designado ninguém para substituí-la
ainda. Eu passei os últimos sete dias principalmente sozinha,
lendo meus livros, terminando as tarefas, ouvindo vozes no
corredor, sentindo saudades de uma casa que não existia mais.
Eu não tinha me apresentado à uma pessoa, mas Derek me
conhecia.
— Whitney está ok, — eu disse, minha voz trêmula. Tentei
limpar a garganta, mas não obtive sucesso.
— Bom. Você pode me chamar de Derek. Não quero que
essas reuniões pareçam formais. A questão é que
desenvolvamos um relacionamento pessoal.
O rubor nas minhas bochechas dobrou. Eu queria cobrir
meu rosto com as mãos para esconder o efeito que ele tinha
em mim. Foi bobo. Eu estava sendo boba, mas não conseguia
me conter.
Se Derek notou, ele não deixou transparecer. — Então você
está se instalando nos dormitórios. Há muitos de vocês no
programa. Você conheceu algum dos seus colegas de classe?
A vergonha tomou conta de mim. — Conheci algumas
pessoas, — conheci no banheiro comunal a caminho para
escovar os dentes.
Nesse ponto de nossa reunião, eu ainda não havia feito
contato visual com ele. Parecia uma tarefa hercúlea apenas
olhar para as mãos dele, segurando sua bebida. Elas eram
grandes, bronzeadas, bonitas, se é que as mãos poderiam ser.
— Tudo bem, — ele continuou, quase divertido. — Acho
que precisamos quebrar o gelo. Sei que as últimas semanas
provavelmente foram difíceis para você. Ainda me lembro de
quando cheguei na faculdade. Eu não pensei que ficaria
sobrecarregado, mas fiquei. Por que não vira a mesa? Você me
faz perguntas. O que você quiser.
Meus olhos finalmente se ergueram quando uma pequena
risada me escapou.
A ideia de eu entrevistar ele foi hilária.
Suas covinhas apareceram quando ele se recostou,
completamente sério.
— É sério. Manda.
Tentei pensar em perguntas que me fariam parecer educada
e informada, no nível dele. Não queria que ele pensasse em
mim como uma adolescente boba. Então, me sentei mais ereta
e pensei. Eu sabia que era inteligente. Eu me destaquei no
ensino médio e me formei no topo da minha turma. Eu já
trabalhava no Reino dos Contos de Fadas há três anos. Havia
perguntas que eu queria fazer… mas meu cérebro ficou em
branco.
Ele se inclinou para frente. — Nada muito intenso. É cedo e
eu não terminei este café. Algo simples.
— Quantos anos você tem? — Perguntei, a pergunta saindo
de mim por impulso.
Ele escondeu um sorriso. — 28.
Dez anos mais velho. Ele parecia ainda mais velho.
— Seu avô mora dentro do parque?
Seu sorriso se abriu mais. — Sim.
— Dentro do castelo de Elena?
Ele tomou um gole de café antes de responder em um tom
gotejando com severidade falsa. — Essa é uma informação
classificada. Pergunte outra coisa.
Eu estava sorrindo então. Me divertindo.
— Você trabalhou aqui quando tinha a minha idade?
Ele assentiu. — Meu primeiro emprego dentro do parque
foi vendendo balões.
Eu acendi com emoção. — Esse é o meu trabalho! Bem…
era. Agora que estou no programa de estágio, fui colocada
dentro do castelo. Ajudarei a controlar as filas das sessões de
fotos com a princesa Elena.
Ele pareceu impressionado. — Esse é um ótimo lugar para
se estar. Você terá experiência com os funcionários em
personagem e, pensando nisso, gerenciar essa linha pode ser
um dos trabalhos mais difíceis do parque, — ele inclinou a
cabeça. — É engraçado, você parece com ela.
Não foi a primeira vez que ouvi isso. Era principalmente o
meu cabelo e a forma felina dos meus olhos verdes pálidos.
Enquanto estava no meu carrinho de balão, algumas crianças
no parque me confundiram com ela, mas a princesa Elena
sempre foi interpretada por alguém mais velha. Linda.
Equilibrada. Eu poderia ter interpretado a irmã mais nova da
princesa Elena com minhas bochechas arredondadas e a
constelação de sardas no nariz.
Eu acho que ele confundiu meu silêncio como um sinal de
ofensa porque ele mudou de assunto. — Você e eu teremos
que descobrir essa coisa de orientação juntos. Eu nunca tive
um aprendiz e, para ser sincero, não tenho muito tempo na
minha agenda, mas gostaria de tentar ser um recurso para
você, se você precisar.
— Eu gostaria disso, — eu disse, me sentindo, de repente,
tímida de novo.
— Nos encontraremos aqui novamente em um mês. Sua
tarefa antes disso é fazer um amigo no programa. Você
precisará de alguém para se apoiar nos próximos quatro anos.
Mordi o lábio antes de perguntar o que eu pensava ser uma
pergunta simples.
— E você não conta?
A pergunta foi feita com inocência. O que é um mentor, se
não um amigo? Mas suas sobrancelhas franziram um pouco
quando ele me estudou em silêncio. Então Heather voltou,
interrompendo a reunião. Derek nunca me respondeu de uma
maneira ou de outra, mas a verdade é que ele foi o primeiro
amigo que fiz naquele outono.
No mês seguinte, Derek e eu trocamos e-mails algumas vezes
por semana. Em cada um deles, ele me designava uma
pequena tarefa: ler tal artigo sobre economia e administração,
ouvir tal podcast sobre tendências de hospitalidade nos EUA,
analisar e levar a sério O Novo Padrão-Ouro: 5 Princípios de
Liderança Para Criar uma Experiência Lendária ao Cliente
Cortesia da Companhia Ritz-Carlton Hotel. Nenhuma das
tarefas foi classificada ou algo assim, e Derek sabia que o
programa de mentoria era para ser um crédito fácil de uma
hora, mas concluía suas tarefas logo depois que ele as enviava,
digerindo os conceitos e temas da melhor maneira possível e
compondo e-mails pensativos de volta para ele. De certa
forma, eu me senti igual a Derek, o que era ridículo,
considerando a brecha cavernosa entre minha posição na
empresa e a dele.
Seus e-mails eram sempre marcados em horários estranhos.
04:30. 21:20. 01:23. Gostaria de saber se ele dormia.
Todas as suas tarefas subsequentes se mostraram mais
fáceis de realizar do que a primeira que ele havia emitido.
Fazer amigos não veio naturalmente para mim, mas eu
poderia ser extrovertida no meu trabalho. Conversar com
estranhos enquanto vestia o uniforme do Reino dos Contos de
Fadas nunca parecia tão difícil. Fora do trabalho, porém, eu
voltava para a minha concha. Eu nunca pensei em mim mesma
como uma solitária, mas antes da faculdade, eu sempre tive
Avery. Depois da escola e nos fins de semana, a vida sempre
parecia girar em torno dela. Eu nunca tive tempo de notar
minha falta de amigos.
Agora, estava na vanguarda da minha mente todos os dias
quando eu entrava na cafeteria do dormitório e percebia que
não tinha com quem me sentar. Eu tinha notado outra garota
sentada sozinha, com a cabeça baixa sobre um livro toda vez
que eu passava por ela. Eu fantasiava sobre sentar e me
apresentar, mas nunca fiz isso. A idéia quase me deixou
doente.
Eu contei a Derek sobre ela em um e-mail uma vez. Ele me
incentivou a falar com ela; de fato, ele disse: “Se ela gosta de
ler muito, é vai ser uma ótima amiga.”
Não tive coragem até uma semana depois. Peguei uma
xícara extra de cafeína, cansada de almoçar escondida no meu
dormitório sozinha, e ciente de que estava apenas a alguns dias
do meu segundo encontro com Derek (e querendo deixá-lo
g ( q
orgulhoso), peguei minha comida da fila do buffet e caminhei
diretamente em direção ao estande onde a menina estava
sentada lendo.
— Oi. Esse assento está ocupado?
Ela levantou a cabeça, surpresa. Seus cabelos pretos,
aparados curtos na base do queixo, eram destacados pela pele
clara. Ela tinha franja frontal longa estilo anos sessenta e olhos
azuis surpreendentes - olhos azuis que estavam me encarando
em choque.
Abortar.
Corre!
Como um animal preso, procurei uma saída ao meu redor.
Embora as portas da cafeteria estivessem a alguns metros de
distância, uma fileira de janelas estava perto o suficiente para
eu mergulhar por minha conta e risco.
Então ela finalmente falou.
— Ah, hum, não, não está, — ela arrastou a mochila da
mesa e a colocou no assento ao lado dela. — Vá em frente.
Eu me sentei. Ela fechou o livro. Houve um silêncio tão
alto que comecei a suar. Eu sabia que precisava começar uma
conversa fiada, mas a parte do meu cérebro capaz dessa função
estava gritando para eu parar de ser estranha.
— Você estava lendo com antecedência para a aula? — Eu
finalmente perguntei, acenando com a cabeça em direção ao
livro dela.
Ela parecia hesitar em admitir que estava.
— Eu também estava. Honestamente, com o semestre em
pleno andamento, estou tão nervosa em ficar para trás. Eu
tentei adiantar nossas tarefas.
Ela assentiu, revelando um pequeno sorriso. — Onde você
está trabalhando no parque?
— Castelo de Elena.
As sobrancelhas dela levantaram. — Sério? Isso parece
legal. Eu queria trabalhar no Departamento de Figurinos, mas
fui colocada em Valência, perto da Floresta Encantada. Eu tive
alguns turnos em que acompanhei o chef ou o maître, mas na
maioria das vezes eu estou apenas servindo mesas.
— Não brinca! Isso ainda é incrível. Eu nunca estive lá
dentro.
Ela sorriu, vendo sua posição com novo entusiasmo agora
que eu tinha considerado legal. — Às vezes, no final do meu
turno, eles me deixam levar para casa as sobras de comida.
Meu queixo caiu. O restaurante tinha estrelas Michelin. As
reservas foram baseadas em um sistema de loteria. Havia
notícias o tempo todo de celebridades sendo rejeitadas.
Ficamos lá conversando durante o restante do almoço. A
conversa fiada deu lugar a conversas frenéticas, cada uma de
nós conversando sobre a outra com pressa para expressar todas
as palavras que estávamos engolindo nas últimas semanas.
No meio desse caos, descobri que Carrie não estava
morando nos dormitórios.
— Eles foram reservados no momento em que enviei meu
pedido de moradia. Vou ficar com um amigo da família a cerca
de vinte minutos do parque.
Eu quase pulei sobre a mesa com emoção. — Eu não tenho
uma colega de quarto. Eles nunca apareceram e, para ser
sincera, nem tenho certeza de que a administração perceba que
estou vivendo sozinha.
— Sério?
Eu assenti, as engrenagens girando.
Nenhuma de nós pensou que era estranho sugerir morarmos
juntas trinta minutos após nos conhecermos. De fato, nós duas
estávamos de acordo. Deixamos a cafeteria lado a lado e
marchamos juntas para o escritório administrativo. Minha
primeira tarefa de Derek foi oficialmente concluída.

Na minha segunda reunião com Derek, eu usava um vestido


verde esmeralda semelhante ao que eu tinha visto Heather usar
no mês anterior. Era novinho em folha e cortesia da
Companhia Knightley. Um cartão-presente eletrônico chegou à
minha caixa de entrada três semanas antes, enviado por
Heather para compensar o incidente do café. Duzentos dólares
para usar na Nordstrom. Eu estiquei cada centavo para cobrir
um vestido novo, um blazer justo da prateleira e um par de
sapatilhas confortáveis e elegantes que realmente serviam. Eu
tinha comprado o mesmo par para Carrie. Quando a surpreendi
mais tarde em nosso dormitório, seu queixo caiu.
— Você não precisava fazer isso.
Eu dei a ela um olhar aguçado. — Acho que experimentei
quase todas as peças de roupa dentro de Nordstrom enquanto
você estava sentada naquele camarim apertado. É o mínimo
que posso fazer — empurro os sapatos em sua direção. —
Além disso, agora nós combinamos.
O vestido era profissional e bonito, com um laço na minha
cintura. Eu me senti como uma mulher prestes a entrar em
uma sala de reuniões e latir ordens para os subordinados
encolhidos.
No entanto, minha confiança foi embora assim que entrei
na cafeteria. Derek estava na mesma mesa de antes, embora
desta vez ele estivesse cercado por um grupo de pessoas. Ele
era o sol, e eles eram planetas orbitando, se arrastando,
competindo para ser o mais próximo dele. Eles ouviram
enquanto ele falava. Se possível, eles teriam arrancado suas
palavras do nada e as enfiado na garganta. Eu me perguntei se
parecia desesperada quando estava perto dele.
Claro que sim.
Não consegui coragem de me infiltrar no grupo. Toc Toc.
Olá, se importam se eu cortar o papo?
Em vez disso, comecei a me dirigir ao balcão para pedir um
café e que colassem a tampa no lugar, para que não houvesse
perigo de eu encontrar Derek com café derramado em minhas
roupas pela segunda vez.
Eu estava a meio caminho do balcão quando o tom
autoritário de Derek cortou o zumbido da conversa.
— Whitney.
Cabeças viraram na minha direção.
Eu demorei a olhar por cima do ombro como se, mesmo
depois de um mês de e-mails quase constantes, não estivesse
absolutamente certa de que eu era a Whitney que ele estava
chamando.
Quando nossos olhos se encontraram, ele assentiu para eu
me juntar a ele.
— Heather já pegou seu café.
Antes de fingir uma emergência no banheiro, eu não tinha
escolha a não ser virar e ir direto para eles. Ah, que ótimo.
Caminhando em direção a esse grupo de jovens profissionais,
senti o peso de cem olhares críticos. É uma maravilha que eu
tenha me mantido em pé. Seus pensamentos foram projetados
em ondas. Quem é ela? Por que Heather está comprando seu
café?
Então cheguei à mesa e Derek deixou claro que ele e eu
tínhamos uma reunião. Eles se dispersaram rapidamente, mas
não antes de lançarem desesperadamente as palavras finais de
despedida: “Vou mandar um e-mail para você sobre esse
pedido!” “Adoraria ouvir mais dos seus pensamentos sobre a
expansão.” “Entrarei em contato com Heather sobre marcar
uma reunião!”
Depois que eles se foram, Derek puxou minha cadeira para
mim, um ato de cavalheirismo que eu nunca havia
experimentado antes. Por um momento, ficamos um pouco
perto demais. O tamanho dele me assustou. Você vê um
homem alto e tonificado em um filme de ação e pensa: Corra.
Mas Derek não era um cara durão, pelo menos não que eu
tinha visto.
Ele apontou para o meu café, diante de mim, na mesa.
— Heather me fez prometer que não iria derramar isso em
você antes que ela fosse embora.
Não consegui encontrar os olhos dele quando sorri. Em vez
disso, eu o observei por baixo dos meus cílios enquanto ele
contornava a mesa. A cadeira que me fazia sentir pequena
parecia quase diminuta embaixo dele.
— Temos vinte minutos, — ele me disse, parecendo quase
que ia se desculpar.
Eu queria me inclinar para a frente e começar a falar em um
ritmo acelerado. Vinte minutos não eram o suficiente. Era
quase nada.
Derek não perdeu um segundo.
— Trouxe esse livro para você, — disse ele, enfiando a
mão na bolsa de couro batido.
Sem Reservas, de JW Marriott Jr., deslizou sobre a mesa.
Notei as abas amarelas presas entre as páginas.
— Essas são as seções nas quais acho que você pode
aprender mais, — explicou. — Elas ajudarão com o seu perfil.
— Vou ler a coisa toda, — assegurei a ele, sabendo que
faria isso.
Eu não queria nada além de impressioná-lo, absorver todas
as pequenas informações que ele se sentia obrigado a oferecer.
Ele assentiu e notei um brilho de respeito em seu olhar. Ele
admirava minha ética de trabalho da mesma maneira que eu o
respeitava.
O livro era para um trabalho de classe. Eu tive que criar um
perfil para um empresário do setor de hospitalidade, e Derek
foi o único a sugerir que eu escrevesse sobre JW Marriott Jr.
Ele havia sido designado pela primeira vez por um professor
de Princeton.
— Como estão as coisas com a sua nova companheira de
quarto? — Ele perguntou depois que eu deslizei o livro no
meu colo. Ambas as mãos o envolveram como se fosse um
bem precioso.
— Bem. Ela me ajudou a escolher este vestido, — olhei
para baixo e depois lhe dei um sorriso torto. — Obrigada, a
propósito. — Suas sobrancelhas franziram em confusão e eu
corri para explicar: — Heather enviou um cartão de presente
para compensar o terno manchado de café.
— Ah, — compreensão ocorreu em seus traços
perfeitamente afiados. — Fico feliz.
Então, por alguma razão, o silêncio se apegou a nós. Ele
olhou para o vestido por apenas um momento antes de pegar
seu café.
Fiquei vermelha e tentei desesperadamente encontrar outro
assunto para conversar. Parecia que eu estava esperando ele
opinar sobre o vestido, mas isso seria inapropriado. Ele era
meu mentor. Enquanto eu estava profissionalmente vestida, era
irrelevante o que eu usava.
Oh, Deus, ele acha que estou esperando um elogio? Fale!
Diga algo.
Eu levantei o livro. — Obrigada por isso, a propósito. Todo
mundo na classe ainda está debatendo sobre quem vão
escolher.
— Eu não ficaria surpreso se mais de um deles fizessem o
perfil dele também.
— Bem, eu vou ter que fazer melhor.
Entramos em uma discussão sobre minha tarefa e como eu
deveria abordá-la. Não houve menção do que ele pensava
sobre o vestido, o que eu pensei que era o melhor. Eu não tinha
certeza se sobreviveria a um elogio de Derek.
Nas semanas seguintes, Derek e eu nos comunicamos com
frequência, mas os tópicos sempre se mantiveram
profissionais. Discutimos meu estágio e as aulas na faculdade,
como eu estava indo nas minhas aulas, como era o papel dele
como Chefe de Entretenimento. Uma vez, eu o acompanhei
por um dia inteiro. De manhã, nos encontramos fora da
cafeteria e, para meu aborrecimento, Heather permaneceu ao
nosso lado o dia todo. Ele mal percebeu que eu estava lá,
muito focado em seu trabalho. Ele se encontrou com o chefe
de elenco e discutiu as performances planejadas para a
temporada de férias, garantindo que a equipe fosse contratada
e treinada adequadamente. Corremos de lá para outra reunião,
que foi realizada em um escritório com vista para Castle
Drive. Heather me disse para sentar silenciosamente no canto,
e eu o fiz, observando Derek comandar a sala. Duvido que me
lembrei de piscar. Duvido que eu poderia ter repetido uma
única frase proferida. Eu estava muito apaixonada. Naquele
dia, entendi por que Derek combinava sua calça com tênis
elegantes em vez de sapatos. Embora minhas novas sapatilhas
fossem confortáveis, cobrimos toda a área do parque pelo
menos três vezes e, quando voltei para o meu dormitório
naquela noite, meus pés estavam me matando.
Eu esperava nossa próxima reunião mensal no café como se
fosse algo especial. Marquei a data no meu calendário com
estrelinhas vermelhas. O sono estava fora de questão na noite
anterior ao nosso encontro. Fiquei acordada, imaginando-o
sentado à nossa mesa, esperando por mim, angustiada por
saber como eu o cumprimentaria. Oi Derek! E ai Derek! Olá,
amigo.
Eu tive sorte. Carrie só tolerava sua mentora. Ela era uma
executiva do departamento jurídico, uma mãe de cinco filhos
que mal tinha tempo suficiente para usar o banheiro
regularmente. — Uma vez, ela me fez ir com ela e conversou
comigo através da cabine, — Carrie lamentou.
Ela só se encontrava com Carrie quando era absolutamente
necessário cumprir os requisitos do curso. Além disso, elas
nunca se falavam. Carrie me via deitada na cama em nosso
dormitório, lendo os livros que Derek havia me emprestado e
resmungando sobre o quanto ela desejava que Derek fosse seu
mentor também. A idéia de ter que compartilhá-lo fez meu
estômago doer tanto que eu quase dobrei ao meio.
Eu disse a mim mesma que era apenas algo territorial,
nosso tempo juntos, porque estava recebendo um
conhecimento inestimável dele. Mas na verdade era mais
lamentável que isso. Desde a nossa primeira reunião, minha
cabeça e meu coração estavam em duas páginas diferentes
quando se tratava de Derek Knightley. Dez anos mais velho,
um homem adulto em posição de poder na empresa em que eu
trabalhava, a lógica me disse para esmagar meus crescentes
sentimentos românticos por ele. Meu coração pensou que a
lógica poderia ir para o inferno.
Meu coração quase parou uma semana antes do Dia de Ação
de Graças. No caminho para a minha quarta reunião mensal
com Derek, recebi uma ligação de meus pais. Conversávamos
de vez em quando, mas sempre à noite, quando sabiam que eu
estava em casa, livre da aula e do trabalho. Uma ligação no
meio do dia me preocupou. Minha mente imediatamente saltou
para os piores cenários sobre Avery, mas meus alarmes não
eram necessários. Ela ainda estava em forma de violino, mas
eles não seriam capazes de chegar à Geórgia no Dia de Ação
de Graças.
Eu não os via desde que partiram para Nova York no final
do verão. Eu estava usando o Dia de Ação de Graças como
uma tábua de salvação em minha cabeça, embora não tenha
percebido quão profundamente até que eles o arrancaram.
Eu sabia que Avery não havia conseguido o papel na peça
off-Broadway para a qual havia feito testes meses atrás, e seu
agente a fez fazer testes para qualquer papel que ele pudesse
encontrar. Ele tinha esperanças de que ela conseguisse um em
breve. — Ele diz que sua irmã tem potencial para ser uma
estrela de verdade! — Meus pais me disseram que não era um
bom momento para viajar. Eles precisavam se concentrar em
Avery. Eu teria sugerido que eu voasse para visitá-los, mas não
consegui. A temporada de férias é um período movimentado
para o Reino dos Contos de Fadas, com tantas crianças de
férias da escola. Ao aceitar minha posição no programa de
estágio, eu concordei que seria capaz de trabalhar durante as
férias.
Desliguei meu telefonema às pressas, preocupada que
estava atrasada para a minha reunião com Derek e chateada
demais para efetivamente expressar o quão decepcionada eu
estava por não estarem vindo para a Geórgia. Não havia
menção aos planos de Natal, mas no fundo eu sabia que as
chances não estavam a meu favor lá também.
Depois de uma respiração firme, enfiei meu telefone na
minha bolsa e corri para o café no momento em que Heather
estava saindo. Nós assentimos uma para a outra, mas eu não
encontrei os olhos dela. Eu mal tive um controle sobre minhas
emoções. Eu já estava sentando na cadeira em frente a Derek
antes mesmo de ele olhar para cima. Meu cabelo protegia um
lado do meu rosto enquanto eu me ocupava em tirar um livro
da minha mochila para devolvê-lo.
— Ei, Whitney.
Sua voz, embora rouca e masculina, tinha um tom educado,
um toque que facilmente perfurou meu coração indefeso.
Não falei, não consegui falar, não com a garganta tão
apertada.
— O que há de errado?
Eu imediatamente tentei reorganizar minhas emoções para
esconder melhor meu humor. — O quê? Ah. Não é nada, —
deslizei o livro sobre a mesa e mantive contato visual com a
coluna. — Obrigada por me emprestar isso, — eu disse,
tentando empurrar a conversa para um território neutro.
— Você tem certeza que está bem?
— Sim. Bem. É uma coisa boba de família. Nada que valha
à pena compartilhar. A propósito, gostei muito desse livro.
Limpei cruelmente minhas bochechas, brava com as poucas
lágrimas por me entregarem. Já havia uma diferença de idade
tão distinta entre nós, e o choro desfez todas as semanas de
trabalho que eu tive para me apresentar de uma maneira
madura.
— Eu também tenho coisas bobas de família. Você não está
sozinha nesse aspecto.
Ele estava tentando aliviar minha carga, mas eu não
precisava dele fazendo isso. Nada de bom viria de mim
chorando em seu ombro.
— Eu aposto que pode até ser mais boba que a sua, — ele
provocou. Eu podia ouvir o sorriso provocador em suas
palavras, mas sabia que não devia olhar para cima. Seu rosto
ainda era demais para lidar às vezes, especialmente naquele
momento.
— Não é uma competição, — repreendi.
— Diz a pessoa que pode perder.
Eu não podia acreditar que estávamos brincando sobre algo
tão sério. Eu estava chateada com a minha família. Ferida. Eu
não o queria tirando proveito disso. Eu queria sentir pena de
mim mesma.
Ele começou de qualquer maneira, ignorando meus planos
de lamentar. — Minha mãe faleceu quando eu era jovem e, no
ano passado, meu pai se casou pela quarta vez. Eu não conheci
sua nova esposa, apesar de ouvir que ela é adorável. Mais ou
menos da minha idade. Ela é francesa e não fala inglês. É claro
que meu pai não fala uma palavra em francês, então você pode
imaginar como eles se dão bem na hora do jantar.
Mordi um sorriso tentando se arrastar para fora.
— Ele não quer nada com a Companhia Knightley, embora
esteja feliz em lucrar com o trabalho duro do meu avô. Ele e
minha nova madrasta, — ele estremeceu quando disse a
palavra, — moram nas Bahamas. Eu não o vejo há alguns
anos. A última vez que conversamos, ele me disse que estava
fazendo uma jornada espiritual para cortar os laços com as
construções terrenas e se distanciar da energia prejudicial.
— Isso é… — eu não consegui encontrar a coisa certa a
dizer. Então isso me atingiu. Eu abri um sorriso. — Bobo.
Ele sorriu, então. Um sorriso cheio de megawatts do tipo
que rouba-seu-coração-e-o-guarda-para-sempre.
Eu tive que desviar o olhar.
— Meus pais também não moram aqui, — ofereci. — Eles
se mudaram quando eu comecei a faculdade.
— Isso deve ter sido difícil. Muita mudança ao mesmo
tempo.
Eu assenti com a cabeça, me perguntando se ele se
lembrava de como eu estava quieta na primeira vez que nos
conhecemos. Com Carrie ao meu lado, eu não me sentia mais
tão sozinha, mas ainda achava difícil sair da minha concha, às
vezes.
— Eles estão na cidade de Nova York.
— À trabalho?
— Pela minha irmã, Avery, — eu estava brincando com
minha unha, pegando esmalte invisível para evitar encontrar
seus olhos. — Não é a primeira vez que eles se mudam por
ela.
— Quando foi a primeira vez?
Eu não podia acreditar que ele se importava, não podia
acreditar que ele queria saber mais sobre mim. Nos minutos
que se seguiram dentro daquele café, eu compartilhei com
Derek as peças definidoras da minha infância. A doença de
Avery. A maneira como meus pais nos “desenraizaram” e
correram para a Geórgia por ela. O desequilíbrio não
intencional da dinâmica da nossa família. Meu papel como
doadora dela. Eu até contei a ele sobre as poucas vezes que eu
queria ser a criança doente, em vez da saudável, a vergonha
que acompanhava isso. Então, finalmente, encerrei com o
telefonema que recebi logo antes de me encontrar com ele, a
notícia de que nenhum deles estava chegando no Dia de Ação
de Graças, embora comparado a tudo o que precedeu, esse
assunto parecia minúsculo.
Não me lembro exatamente como Derek respondeu, se ele
foi pego de surpresa ou não pela quantidade de informações
pessoais que eu joguei em seu colo, mas lembro que sua
atenção nunca vacilou enquanto falava. Uma vez, ele olhou
por cima do meu ombro - presumivelmente para Heather - e
levantou um dedo. Um sinal de que ele e eu não tínhamos
terminado. Eu sei que baguncei toda a agenda dele naquele
dia. Conversamos por duas horas. Ou melhor, eu falei.
Não sei por que me senti confortável o suficiente com
Derek para me abrir sobre meus demônios mais particulares,
quando ainda não os havia discutido com Carrie. Talvez seja
porque ele era meu mentor, alguém que eu já considerava
conselheiro e confidente. Ou talvez seja porque, mesmo assim,
meu coração o amava de maneiras que minha cabeça não tinha
percebido.

Uma semana depois, o chefe do programa de estagiários me


enviou um e-mail informando que eu tinha conseguido uma
folga para a semana de Ação de Graças. Eu não tinha
solicitado, mas sabia quem tinha, e o gesto, embora pequeno
nos olhos dele, significava tudo para mim.
Levei meus sentimentos por Derek comigo até a cidade de
Nova York, passando a semana com minha família, pensando
principalmente nele. Contei a Avery sobre minha paixão,
embora mantivesse em segredo os detalhes de sua identidade.
Ela assumiu que era outro garoto da minha turma, e eu não
senti a necessidade de corrigi-la. Ela me incentivou a arriscar.
— Toda essa tolice de “o amor é paciente?” É besteira! Não
há espaço para a paciência quando se trata de amor. Se você
quer esse cara, precisa contar a ele!
— Não é tão fácil.
— Eu. Gosto. De. Você. — Ela estalou os dedos a cada
palavra. — Me explique por que isso é difícil.
— As circunstâncias…”
— Circunstâncias? Ai, meu Deus. Você tem dezoito anos!
As circunstâncias não devem importar! — Avery sempre foi
assim. Enquanto crescia, o futuro nunca foi definitivo para ela.
Na sua opinião, todos estávamos aproveitando o presente.
Você recebe o hoje, é isso, ela me dizia, com seus pálidos
olhos verdes me encarando.
Estávamos de volta ao apartamento que ela dividia com
meus pais, uma caixa de sapatos disfarçada de eficiência.
Minha mãe e irmã dormiam no quarto. Meu pai dormia no
sofá. Enquanto estava na cidade, dormi no chão. Meus pais
estavam saindo para fazer compras para o jantar de Ação de
Graças, e eu me sentei na cama observando Avery. Eu não
pude evitar. Quando estávamos juntas, nossos antigos papéis
sempre se encaixavam. Ela sempre seria a estrela.
Ela estava sentada no parapeito da janela, uma perna
dobrada contra o peito. A cabeça estava encostada no painel de
vidro. A cidade estava na ponta dos dedos. A luz quente
inundou seus cachos loiros.
— Ele é casado? — Ela perguntou, seu olhar na rua abaixo.
— Não.
— Um criminoso?
— Não.
— Então, criança, — temos apenas um ano de diferença, —
você precisa fazer isso.
Antes que eu pudesse apresentar uma refutação sólida, ela
pulou do parapeito da janela como um gato gracioso e pegou
meu laptop de onde estava em cima da minha mochila.
— Qual é a sua senha?
— Avery!
Ela já estava digitando seu primeiro palpite. — Hã.
AveryChata parecia uma coisa certa.
Tentei em vão arrancar o computador dela, mas ela se virou
e correu para o banheiro, gritando de terror quando a persegui.
A porta bateu. Bati minha mão contra ela, gritando.
— Avery. Isso não tem graça.
— Você está certa. É muito sem graça como você está
disposta a deixar a vida passar por você. Estou tentando ajudá-
la. Agora me diga, qual é a sua senha?
Eu deixei minha testa bater contra a porta. — Avery…
— EuAmoAvery também não funcionou. Isso seria muito
mais fácil se trabalhássemos juntas. Se você jurar que não
roubará o laptop de volta, eu vou aí e podemos sentar na cama
e nos comportar como adultas.
Eu aproveitei a oportunidade. — Tá! Ok.
p p
A porta abriu um pouco. Um de seus olhos examinou o
perímetro. — Mostre-me suas mãos.
Revirei os olhos. — Eu não tenho uma arma, se é isso que
você está pensando.
Quando ela não fez um movimento para abrir mais a porta,
eu me afastei para que ela visse que eu estava de mãos vazias,
depois me virei e joguei meu corpo na cama. Ela veio se sentar
ao meu lado e me pediu novamente minha senha. Eu olhei
para o teto descascando, meu coração um cavalo de corrida
estrondoso no peito.
— Derek.
— O nome dele é sua senha? Ah, uau!
Eu apertei meus olhos fechados de vergonha. Foi uma coisa
de impulso. Meu computador é necessário. Tenho uma senha
para fazer login. Eu queria que fosse fácil, algo que estava
sempre na vanguarda dos meus pensamentos.
Eu a ouvi clicar e rolar.
— Vocês enviam muitos e-mails.
Eu mantive meus olhos fechados.
— Ah… que desenvolvimento interessante. A Pequena
Miss Perfeita tem uma queda por um homem mais velho. O
mentor dela, na verdade. Isso ficou muito mais suculento.
Eu rolei e enfiei meu rosto em um travesseiro.
Ela deve ter percebido que eu atingi meu ponto de ruptura.
Ela largou o laptop e se jogou sobre mim como um rolo
compressor. Seu peso me esmagou contra a cama. Sua mão
puxou meu cabelo para longe do meu rosto e ela se inclinou,
com os lábios junto à minha orelha.
— Você quer que eu esqueça isso?
Eu pensei por um longo segundo, debatendo. Então eu
balancei minha cabeça negativamente.
Foi bom compartilhar minha paixão com outra pessoa. Eu
estava querendo contar a Carrie por semanas, mas estava com
muito medo da reação dela. Ela e eu éramos muito parecidas -
cautelosas, inteligentes. Avery era a pessoa que eu precisava
agora - alguém que me desse uma cutucada na direção errada.
— Vamos apenas enviar um e-mail para ele. Como essa é
sua forma preferida de comunicação, não parecerá estranho.
Eu a tirei de cima de mim e me sentei. Olhos piscando.
Contemplando sua ideia.
— O que diria?
Seus lábios se transformaram em um sorriso malicioso. —
Querido Derek, eu quero chupar seu pau.
Tentei bater nela com um travesseiro, mas ela se esquivou,
rindo diabolicamente. — Estou brincando! Relaxe! Podemos
escrever o e-mail juntas.
Foram necessários quarenta minutos para escrever e foi um
esforço semelhante a arrancar os dentes. Avery sugeria uma
palavra, eu recusava e passávamos cinco minutos tentando
encontrar algo melhor. No final, ficou assim:

Querido Derek,

Obrigada por me dar uma folga nesta semana. Não percebi o


quanto precisava disso. A cidade de Nova York tem sido uma
explosão, mas estou ansiosa por estar em casa. Esta é minha
época do ano favorita no Reino dos Contos de Fadas - não há
nada como ver o castelo decorado para as festas.

Sei que não temos outra reunião marcada para o próximo


mês, mas esperava que você se juntasse a mim para jantar no
sábado à noite, depois que eu voltar à cidade. Talvez
pudéssemos até esquecer os rótulos de mentor / aprendiz por
apenas por algumas horas.

Até lá,
Whitney
XO

Avery me convenceu do “XO” e da frase sobre esquecer os


rótulos porque, na opinião dela, sem eles eu não estava
divulgando meus sentimentos.
— Ainda é sutil. Não se preocupe.
Eu me preocupei. Eu me preocupei durante o restante
daquele dia e no outro.
Eu me preocupei e não aproveitei o jantar de Ação de
Graças e o resto do meu tempo em Nova York. Voei para casa
na Geórgia suando frio, imaginando o que o destino me
reservava para quando eu tocasse o chão. Eu deveria ter
corrigido imediatamente o primeiro e-mail num segundo.
Ah! Ai, meu Deus! Desculpe. Minha conta foi invadida.
Talvez eu não tivesse recebido uma resposta automática
dele imediatamente.

Estou fora do escritório para o feriado de Ação de Graças e


não terei acesso regular ao e-mail.

Tentarei responder o mais rápido possível.

Se for algo urgente, envie um e-mail para


HeatherLewis@Knightley.com.

Atenciosamente,
Derek Knightley

Eu não podia suportar a ideia de lhe enviar um e-mail uma


segunda vez. Eu queria que o primeiro desaparecesse, mas ele
estava na minha caixa de saída, apodrecendo.
No domingo anterior ao início das aulas, um e-mail
finalmente chegou à minha caixa de entrada.

De: Info@Knightley.com
Para: WhitneyAtwood@Knightley.com
Assunto: Programa de Mentores

Este e-mail é para informar que seu mentor não é mais um


participante de nosso programa. Isso não comprometerá sua
hora de crédito. Todas as reuniões anteriores serão contadas
conforme sua necessidade.

Você foi emparelhada com um novo mentor: Charles


Knightley, Presidente e CEO da Companhia Knightley.

O assistente dele entrará em contato com você na próxima


semana para estabelecer um prazo para sua primeira reunião.
Como lembrete, é necessário que cada mentorado se encontre
com seu mentor pelo menos quatro vezes por semestre.

Não responda a este e-mail. Envie perguntas para


Ajuda@Knightley.com

Eu mantive a calma quando peguei meu telefone da minha


cama e fui para a porta. Carrie me perguntou para onde eu
estava indo, mas balancei a cabeça e corri para o corredor,
tentando desesperadamente sair antes de perdê-la. Avery era a
única pessoa com quem eu queria conversar, e ela atendeu no
segundo toque, ouvindo enquanto eu contava o que havia
acontecido.
Não fazia sentido. Eu o ofendi tanto que ele nem queria
mais ser meu mentor? Eu tinha cruzado uma linha de uma
maneira que não poderíamos voltar?
Avery ficou furiosa em meu nome, chamando Derek de
todos os nomes sob o sol e soltando uma forte e confiante
conversa de “Você pode fazer melhor”, que só me fez sentir
pior.
Pelos próximos dias, eu estava uma bagunça. Digitei cinco
e-mails diferentes para Derek e apaguei todos. Eu digitei o
número do seu trabalho no meu telefone - aquele na parte
inferior de sua assinatura de e-mail - e então vacilei,
finalmente desistindo todas as vezes.
Carrie sabia que algo estava errado comigo, então eu menti
e disse que estava com gripe. Isso me deu liberdade para me
afundar em tristeza.
Eu vacilava entre o desespero pelo fato de ter arruinado
uma coisa boa e a esperança que talvez Derek tenha pedido
para ser removido como meu mentor oficial por causa de seus
sentimentos complicados por mim. Essa esperança só surgia
na calada da noite, quando meu cérebro estava com muito
sono para notar a óbvia ingenuidade.
Uma semana depois que fui informada da minha nova
tarefa de mentoria, voltei da aula e encontrei um e-mail não
lido em negrito na parte superior da minha caixa de entrada. O
nome de Derek trouxe meu coração de volta à vida. Pulei para
minha cadeira e cliquei quatro vezes. Surgiu na tela, mas
quando li suas palavras pela primeira vez, elas pareciam sem
sentido.

Whitney,

O trabalho me levou para Londres.

Não se preocupe, eu não deixei a bola cair como seu mentor.


Meu avô vai aconselhá-la muito melhor do que eu jamais
pude. Aproveite tudo o que ele está disposto a ensinar.

Com carinho,
Derek

Eu li novamente, olhos focados na primeira frase.


Derek estava indo para Londres. Londres, Inglaterra? Por
quanto tempo? Ele não disse.
Ele não havia abordado minha proposta de jantar. Nada
falando sobre marcar outro dia ou prometer me compensar
quando ele voltar. Pior, ele nem sugeriu que ficássemos nos
comunicando enquanto ele estava fora. Nenhuma menção a
uma amizade contínua. Nenhuma pista sugerindo que ele
poderia ter se sentido da mesma maneira que eu.
Eu nem sabia que Londres estava em questão para ele. Esse
foi o primeiro golpe. Eu não sabia porque ele nunca me
contou. Era um sinal irrefutável de que eu tinha transformado
nossas reuniões em algo mais significativo do que antes. Ele
nem pensou em se despedir pessoalmente.
Eu me senti… esmagada.
Meus sentimentos por Derek não eram platônicos. Eles
nunca foram. Eu tinha lembranças dele espalhadas pela minha
vida. O nome dele era a senha do meu computador. Seus livros
emprestados estavam empilhados ao lado da minha cama. Seus
e-mails foram cuidadosamente categorizados em sua própria
pasta na minha caixa de entrada. Se fossem cartas, as folhas de
papel teriam se esfarrapado e desintegrado.
Olhando para trás, me pergunto se Derek já percebeu o
quanto sua amizade significou para mim naquele outono.
Quanto tempo levei para superá-lo. Quanto me censuro por ter
sentimentos por um homem pelo qual nunca deveria ter me
apaixonado. Não sei como uma alma encontra sua
companheira, porque parecia que a minha se apegara a alguém
que era a escolha menos lógica. Tudo o que sei é que faz oito
anos e ainda não superei minha paixão boba por Derek
Knightley.
Mas espero que eu supere em breve.
CAPÍTULO QUATRO

WHITNEY

na manhã seguinte ao meu jantar com Cal - na manhã

E seguinte em que vi Derek saindo do elevador - que a


curiosidade me faz reler meus antigos e-mails para ele. É
pior do que eu me lembro. Minha ansiedade sangra para
fora da tela. Tantos! Pontos! De! Exclamação! Existem
muitas tentativas exageradas de soar mais inteligente do que
eu era. Devo ter consultado um dicionário de sinônimos toda
vez que digitei uma resposta. Palavras como laboriosa e
esotérica foram enfiadas em frases. O resultado é uma
tentativa triste e óbvia de parecer sábia além dos meus anos.
Não havia como ele pensar em mim como algo além de uma
adolescente boba.
— Ah, não. O que aconteceu?
A voz de Carrie me assusta e eu olho para cima para ver o
reflexo da minha amiga no espelho de parede a parede em
frente à minha cadeira de maquiagem. Ela está na porta,
segurando o vestido da princesa Elena, um gesto doce que ela
não precisava fazer. Normalmente, alguém o traz do
Departamento de Figurino. O armazém fica a alguns minutos
se for de carro de golfe, bem mais se for a pé - mas ela mesma
trouxe, e tenho a sensação de que sei o porquê.
— Nada aconteceu, — eu digo, bloqueando a tela do meu
celular e jogando-o na minha bolsa. Ver esses e-mails foi uma
má ideia.
— Seu rosto estava contando uma história diferente.
Eu murmuro e me inclino para frente, voltando à tarefa em
questão. Meu turno começará em breve, o que significa que
preciso terminar de me arrumar. Durante o treinamento, um
profissional me ensinou como me maquiar para parecer com
nossos personagens à perfeição. Alguns dos outros
funcionários que são personagens no parque têm maquiagem
muito mais difícil de fazer do que a minha. Conheço uma
garota que interpreta uma fada de pele rosa. Antes de cada
turno, ela tem que cobrir o rosto e os braços com tinta. Eu não
a invejo.
Como a princesa original do livro de histórias de Knightley,
Elena é mais simples e discreta. Bronzer e blush aprimoram
meus traços, rímel e sombra quente, garantindo que eu pareça
mais maquiada do que em um dia normal. Meus lábios estão
revestidos em um tom rosa coral escuro, a apenas um fio de
cabelo do nude.
Meu cabelo é encaracolado e longo, metade dele enrolado
atrás da minha cabeça com um diamante cintilante e uma tiara
de esmeralda.
— Certeza que nada está incomodando você? São seus
pais?
— Pais? O que é isso?
Ela ri e balança a cabeça.
Eu a tranquilizo. — Não, sério. Está tudo bem. Prometo.
Carrie dá um passo à frente e abre o zíper da capa de
proteção.
O traje verde pálido é uma versão atualizada do vestido
atemporal que metade das meninas do país possui e, como
Designer Sênior, Carrie teve uma mão na sua criação. O
corpete é tão delicadamente bordado que parece que o material
pode se partir com o menor puxão. Um sutiã embutido garante
que nenhuma alça interrompa o decote quadrado e profundo.
As mangas compridas e justas se encaixam em meus braços
com força e terminam com um V nos pulsos. A cintura é bem
apertada e a saia de tule ondula até o chão. O material em si é
contemporâneo e leve, mas o corte e o estilo são uma mistura
de renascimento e figurinos medievais. Em resumo, é a melhor
e mais bonita peça de roupa que já usei.
Em vez de se fechar como um espartilho, o vestido tem um
zíper nas costas, encaixado perfeitamente. Carrie ajeita minha
saia, fica de pé e me gira.
— Ok, chega, — diz ela. — Eu sei que você ouviu as
notícias.
Eu torço o nariz e me finjo de desentendida. Notícias? Eu
não sei do que você está falando.
— Derek voltou de Londres. Dizem que ele está aqui para
substituir Cal de uma vez por todas.
Meu rosto não revela nada. — Cal não mencionou nada
ontem à noite.
Ela sorri conspiratoriamente. — Eu achava que era apenas
um boato também, que ele não está realmente de volta, mas eu
sei de fato que ele está.
Meu coração bate contra o meu corpete apertado. Não
consigo respirar fundo, por mais que tente.
Quando eu não exijo mais informações imediatamente, ela
fica convencida, balançando o que sabe sobre a minha cabeça
como isca.
— O figurino vai fazer o ajuste em alguém especial hoje.
Você consegue adivinhar para quem é?
— A rainha da Inglaterra.
Ela ignora meu sarcasmo seco. — Derek.
Carrie sabe a verdade sobre Derek. Anos atrás, eu
finalmente me abri para ela sobre todos os detalhes tristes. Ela
já adivinhou o que estava acontecendo antes mesmo de eu
contar a ela. Aparentemente, as pessoas não têm gripe há
meses a fio.
Eu sentaria se pudesse, mas o vestido não permitirá. Ou
melhor, Carrie não permitirá. Se eu enrugasse o tule antes do
meu turno, ela arrancaria minha cabeça.
— Isso não faz sentido. Desde quando ele precisa de uma
fantasia?
Eu penso nele como ele era oito anos atrás. Suas camisas
sociais, calças justas, tênis legais. As roupas dele poderiam ter
sido feitas sob medida, mas não acho que o Departamento de
Figurino tivesse algo a ver com elas. Talvez eu esteja errada.
Ela está olhando para as unhas agora, examinando-as
friamente. — Gostaria de poder dizer mais, porém é
confidencial.
Eu resisto ao desejo de sacudi-la. Minhas mãos apertam
minha lateral, em um esforço para me conter.
— Me conta!
Ela ri e finalmente olha para mim. — Eu sinto muito. Não
posso deixar escapar o segredo. Você sabe quão boca fechada
essa empresa é.
Meu olhar diz: quem você pensa que eu sou? — Isso é
diferente. Nós não guardamos segredos.
Sua sobrancelha escura arqueia. — Você tem certeza sobre
isso?
Nós duas sabemos que ela está se referindo aos meus
sentimentos pelo meu antigo mentor. Eu poderia ter aceitado
meu amor por ele naquela época, mas eu garanti a ela que isso
está tudo no passado. Ele não significa nada para mim agora.
— Carrie! — Eu digo, agarrando-a pelos ombros.
— Ai! Caramba!
— Whitney — uma voz suave chama do corredor logo
antes de uma mão bater na porta. — Estamos alguns minutos
atrasadas. Você está quase terminando aí?
Meus olhos disparam para Carrie. DEPRESSA. Me conta!
Ela interpreta meu olhar de olhos arregalados como medo.
Ela acha que não quero me atrasar para o meu turno. Eu
esqueci que tenho até um turno. Mas eu quero informação.
Agora.
Ela encontra meus saltos altos e se abaixa para me ajudar a
amarrá-los.
— Carrie, — eu exijo, a voz baixa.
Outra batida soa na porta.
— Isso não é engraçado, — eu digo com os dentes
cerrados.
— Tudo bem, — diz ela, terminando de me provocar. Ela
começa a falar rápido. — Não conheço todos os detalhes, mas
acho que nos próximos meses…
A porta se abre e o tempo dos segredos acabou. A agitação
do Subsolo se infiltrou no meu camarim. Minha supervisora,
Julie, está me esperando com o fone de ouvido e a prancheta
na mão. Um walkie-talkie está pendurado no quadril. O
vestido de algodão e o avental verde esmeralda combinam
com o tema do castelo de Elena. Ela deveria ser uma lavadeira
ou serva, mas na verdade ela é a pessoa que garante que minha
sessão de encontro com os fãs ocorra bem. Ela garante que eu
esteja no meu lugar a tempo e cumpra minha cota de crianças,
enquanto gerencia a linha. É a mesma posição que ocupei oito
anos atrás.
Julie é pequena, mais como um camundongo que humana.
Ela se aproxima e acena um olá para Carrie antes de verificar
minha aparência. Faz parte do trabalho dela, e ela leva a sério.
Uma volta rápida ao meu redor e, em seguida, uma marca de
verificação na prancheta, garante que eu estou bem.
Carrie aponta um olhar de desculpas para mim enquanto
Julie me conduz. Ela se sente mal.
— Me liga mais tarde! — Ela grita.
Para chegar ao meu posto no castelo de Elena, usamos o
túnel abaixo do parque temático, extra oficialmente batizado
por todos nós como o Subsolo. É, sem dúvida, o segredo mais
bem guardado do Reino dos Contos de Fadas. O Subsolo é
essencialmente uma cidade abaixo do parque temático
acessada apenas por funcionários. É onde chegamos para os
nossos turnos, onde batemos o ponto quando chegamos e
vamos embora e trocamos de roupa. Existem salas de
treinamento, salas de estoque, centros de conferência, salas de
descanso e escritórios para as equipes de elétrica e de
engenharia. No centro, embaixo do castelo, há uma cafeteria
com um Subway e um McDonald’s.
Os túneis no Subsolo são amplos o suficiente para permitir
pedestres e carrinhos de golfe. Espalhados por essas
passagens, existem trinta e cinco escadas que levam a entradas
ocultas do parque. Os portões secretos são necessários porque
o parque é composto de várias zonas temáticas diferentes,
como a Vila da Elena, Floresta Encantada, Ilha Safari, entre
outras. A vila da Elena foi projetada como uma vila francesa
medieval com o grande castelo em seu centro. No entanto, siga
para o norte e esses chalés luminosos e amigáveis
gradualmente dão lugar a uma floresta escura e misteriosa.
Essa seção do parque é para adolescentes e adultos. Os
funcionários se vestem como fadas e caçadores, ninfas e elfos.
Se um hóspede visse um elfo da Floresta Encantada andando
pela Castle Drive, o tiraria do cenário cuidadosamente criado.
Então, os executivos não permitem. Temos que sair de nossas
zonas pelo Subsolo se quisermos ir de uma área para outra.
Se uma criança acidentalmente aparecesse no Subsolo, isso
destruiria seu mundo. É um ventre corajoso em comparação
com a terra do faz de conta que existe no topo da Castle Drive.
Aqui em baixo, as fadas andam com redes de cabelo. Os ursos
andam com seus macacões e as cabeças da fantasia enfiadas
debaixo dos braços. Os homens da manutenção tocam as
buzinas nos carrinhos de golfe, furiosos se alguém se desviar
do caminho. Certa vez, encontrei um caçador da Floresta
Encantada se pegando com um aprendiz de ferreiro em Castle
Drive. Então, sim, ninguém é permitido aqui embaixo sem um
crachá de funcionário ou uma fantasia.
Julie passa o distintivo na entrada e andamos por uma
escada rasa que se abre diretamente para a lareira da grande
sala dentro do castelo de Elena.
Em um dia normal, estou animada com o meu turno.
Hoje, as horas se estendem diante de mim em um mar
interminável de crianças. Estou contando os minutos até que
eu possa sair daqui e caçar Carrie para obter mais informações.
Ela poderia muito bem ter jogado uma granada em mim
naquele vestiário. Até mesmo agora, isso está sentado no chão
perto dos meus pés…
Tique-taque.
CAPÍTULO CINCO

DEREK

ceitar meu novo papel como Sua Alteza Real parece

A muito com caminhar pelos cinco estágios do luto. A


negação vem em primeiro lugar e dura exatamente o
tempo que levo para ir da cobertura de Cal ao meu novo
apartamento nas moradias executivas. Sorrio para mim
mesmo e penso: Cal, que viagem. Ele realmente me
encurralou dessa vez. Trabalhar como personagem no
parque? Hilário. Então eu percebo que não. Cal é sincero.
Ele espera que eu concorde.
Essa percepção dá lugar à raiva - uma dose saudável dela.
Não é que eu ache que estou acima da tarefa. Trabalho é
trabalho. É um trabalho honesto, como todo o resto. Vindo do
conselho, no entanto, parece um tapa na cara. Eles sabem o
quanto trabalhei na última década. Eles sabem que é um
insulto sugerir que eu não teria conquistado o cargo de Diretor
de Operações.
Eu durmo fumegando e acordo apenas algumas horas
depois, chutando meus lençóis. Minha corrida é tão abusiva
que a esteira suspira de alívio quando eu saio dela. Durante o
café, fantasio em encaminhar meu currículo para os membros
do conselho - uma maneira de jogar minha experiência em
seus rostos - e depois criar um dedo do meio com os caracteres
do teclado para complementar. Depois que meu café entra em
ação, percebo que essa opção é ridícula. Eu posso fazer
melhor.
Sair da Companhia Knightley é outra possibilidade. Ir
trabalhar para um concorrente certamente doía, mas não há
como eu fazer isso. Não tenho vontade de vingança e nunca
faria isso com Cal.
A barganha se mistura com a depressão enquanto eu me
arrasto para o Departamento de Figurino no final da manhã.
Eu já estive aqui milhares de vezes antes, mas nunca nessas
circunstâncias - nunca para uma prova de roupa.
Eu apenas sorrio para Patty, a recepcionista. E já está aqui
há tanto tempo que conhecia minha falecida avó. Em um outro
dia, eu pararia e a abraçaria, perguntaria como ela está. Hoje,
continuo andando pelo corredor depois de um aceno educado.
Meu avô é louco, o idiota que todo mundo pensa que ele é.
Durante toda a minha vida, olhei para ele como um gênio, mas
agora que ele acha que eu deveria assumir o papel de Sua
Alteza Real, acho que ele pode ser louco.
O pensamento azeda.
Ele não está louco.
Apenas… errado.
Fui recebido pelo Chefe de Figurino, que me conduz a uma
sala onde um alfaiate e a assistente dele estão esperando.
Enquanto as medidas são tomadas, o alfaiate fala apenas
para gritar números, mas sua assistente preenche as lacunas
para ele com respostas para perguntas que eu não fiz.
— Você vai adorar trabalhar no castelo de Elena. Você
estará com Whitney. Deus, ela está nesse papel há anos, não é,
Hank?
O alfaiate assente, relata o comprimento do meu quadril até
o tornozelo e depois separa minhas pernas para que ele possa
obter minha costura interna. Não é uma experiência agradável
para ninguém.
— Não acho que alguém seja mais dedicado ao cargo do
que Whitney. Você sabe que ela ganhou a funcionária do mês
mais do que qualquer outra pessoa aqui? — Eu não sabia, mas
a assistente não me deu tempo para responder. — Algumas
pessoas pensam que ela é um pouco exagerada, tipo nós
entendemos que você adora trabalhar aqui, mas Whitney vê a
verdadeira magia neste lugar.
Admito, Whitney não esteve em minha mente nas últimas
doze horas. Estou um pouco preocupado com o processo de
luto.
— Vocês dois formarão um par perfeito. Ryan está
trabalhando ao lado dela agora, mas você nasceu para
interpretar Sua Alteza Real. Você tem a coloração exata. O
corpo também.
Não é uma coincidência. Cal imaginou o personagem com
meu pai em mente. Eu sou a imagem dele. Eu tenho uma conta
a acertar com Cal, no entanto, porque Sua Alteza Real merece
um nome. Na história original, o interesse amoroso de Elena é
apenas Sua Alteza Real. Eu nunca me importei muito com isso
antes. Agora, isso irrita meus nervos. É como se ele fosse
completamente auxiliar na trama principal da história. Ele é
apenas um cara. Você sabe, o príncipe ou o que quer que seja.
Quem se importa?
Eu me importo… porque, aparentemente, eu vou passar por
essa farsa.
O alfaiate termina seu trabalho perto da minha virilha -
incrível - e depois me vira como se eu fosse um manequim. De
costas para eles, posso finalmente deixar minhas feições
relaxarem em uma máscara de aborrecimento.
— De qualquer forma, você vai gostar de trabalhar com ela.
Algumas dessas princesas podem ser esnobes, mas não
Whitney.
— Vocês duas são amigas? — Eu pergunto, curioso. Caso
contrário, ela pode ser a presidente do fã-clube de Whitney.
A garota ri timidamente. — Ah, hum, mais ou menos. Eu
não sei. Whitney meio que é amiga de todos.
Interessante. Minha antiga aprendiz parece ser muito mais
popular do que quando eu a conheci. Lembro-me da primeira
tarefa que lhe dei anos atrás para fazer uma amiga. Eu acho
que ela aprendeu muito bem.
Eu sei que ela e Cal se aproximaram, passando pelo
relacionamento de mentores e formando um vínculo mais
estreito. Ele a mencionava quando me ligava de vez em
quando, e seu tom sempre carregava um ar de carinho, algo
raro para Cal.
Fiquei feliz em saber que ela estava se saindo bem na
Companhia Knightley. Ela passou pela minha cabeça uma ou
duas vezes desde que me mudei para Londres, mas na minha
mente, ela tinha permanentemente dezoito anos.
A primeira vez que conheci Whitney, ela tinha batom
vermelho manchado no queixo e tinha acabado de tomar
banho de café gelado. Suas roupas a engoliram. Ela poderia ter
dezoito anos, mas parecia quatorze. Aqueles olhos grandes
estavam cheios de vulnerabilidade, incapazes de encontrar
meu olhar.
A antiga imagem dela então está em nítido contraste com a
mulher que vi na noite passada no Cal.
Whitney toda mulher.
Eu quase sorrio com a ideia e percebo que estou
decepcionado por ela ter saído tão rapidamente. Eu mal tive a
chance de aceitar as mudanças, de acompanhar minha velha
amiga antes que ela desaparecesse atrás das portas do
elevador.
É esse pensamento que me leva ao meu Tesla no
estacionamento executivo logo atrás de uma fileira de lojas em
Castle Drive depois que terminei no Departamento de
Figurino.
Se Cal vai insistir que eu faça isso, quero saber no que
estou me metendo. Faz anos desde que eu vi a loucura que
acontece dentro do castelo de Elena durante as sessões de
autógrafos.
Passo pelos portões, deslizo o crachá de funcionário e abro
a porta que leva à Castle Drive. A porta em si está escondida
atrás de um banheiro, e ninguém percebe o fato de que eu
acabei de aparecer do nada. É um truque de mágica de
proporções épicas. Com vistas (Castle Drive), sons (música
alegre) e cheiros (bolos de funil, cachorros-quentes e pipoca),
chamamos a atenção dos hóspedes para as partes do parque
cuidadosamente selecionadas para seu entretenimento e longe
dos becos e entradas secretas.
Junto-me à multidão de pessoas indo para o norte pela
Castle Drive, e vejo as janelas na cobertura de Cal. Eu me
pergunto se ele está parado lá em cima agora, me vendo aceitar
meu destino.
Não é minha curiosidade sobre Whitney que me faz
concordar com o plano de Cal. Não tem nada a ver com isso. É
o fato de que, no fundo, eu sei que Cal está certo. Não sobre eu
me provar para o conselho - eles podem se foder - tem a ver
com nossos funcionários. Percebo o valor de sair da sala de
reuniões e me familiarizar com a vida cotidiana do parque.
Nossa empresa existe apenas por causa de nossos funcionários
de nível básico. É imprescindível cuidarmos de suas
necessidades e manter um ambiente de trabalho com o qual
eles não apenas se sintam confortáveis, mas também
orgulhosos.
Faz vinte anos desde que vendi balões por um salário
mínimo. Eu acumulei diplomas e subi a escada corporativa um
degrau de cada vez, e agora que estou no topo, Cal está certo -
estou nas nuvens. Talvez eu precise trabalhar ao lado de
nossos funcionários e me familiarizar com suas lutas mais uma
vez.
Pela entrada dos fundos do grande salão, sou capaz de
contornar a fila e ocupar um lugar no canto da sala, com vista
para a multidão. Uma corda vermelha guia os visitantes pelo
perímetro da sala, enrolando-os em espiral em direção ao seu
destino final: Whitney.
A visão dela me atinge como uma flecha bem apontada.
Meu estômago aperta e minha mão o cobre reflexivamente,
esperando sangue.
Eu não a olhei ontem à noite, as portas do elevador se
fecharam antes de eu ligar os pontos de quem ela era. Agora,
esses vislumbres se reúnem para formar uma imagem que não
consigo conciliar. Nos anos em que estive fora, Whitney
floresceu. A cada ano que eu envelhecia, ela também.
É difícil mesclar a garota que eu conheci com a mulher
bonita diante de mim. Ela está centrada na sala, emoldurada
pela lareira e a multidão amontoada ao seu redor. Seu rosto
doce e redondo deu lugar a um formato de coração mais
feminino e atraente. Ela tem bochechas macias e um sorriso de
tirar o fôlego ainda mais adorável quando acentuado por suas
covinhas.
Ela mudou muito desde que eu fui embora, alguns
centímetros mais alta e preenche seu vestido com curvas
tentadoras. Fico feliz em ver que seus olhos verdes jade - o
tom exato de seu vestido - permanecem inalterados. Eu me
conformo nisso. Eu gostaria de estar olhando para eles de
perto. Eu gostaria que estivéssemos sozinhos agora, nos
familiarizando novamente.
Ela se abaixa para conversar com uma garota sentada em
uma cadeira de rodas, sussurrando em seu ouvido e fazendo-a
rir. Eu sorrio reflexivamente e depois rio baixinho quando me
pego.
Ela fala com a jovem por mais tempo que o necessário. A
coordenadora de linha de Whitney tenta chamar sua atenção -
sem dúvida, para acelerá-la - mas Whitney a ignora e deixa a
criança sentir seu vestido e seu cabelo. As crianças estão
especialmente apaixonadas pelo cabelo dela. Vermelho escuro,
quase castanho-avermelhado e parece pouco domado.
Eu fico lá durante o restante do seu turno, observando-a
interagir com os convidados. A assistente do alfaiate não
estava exagerando. Whitney vai além com cada criança que se
aproxima para encontrá-la. O sorriso dela nunca oscila, o
entusiasmo dela é tão forte com a centésima família quanto
com a primeira.
Ao lado dela, durante todo o turno, está o homem que
atualmente interpreta Sua Alteza Real. O cara parece recém-
saído da faculdade com um sorriso arrogante e gel suficiente
no cabelo para atender todo o elenco de Grease. Ele não é a
atração principal, mas mesmo assim algumas crianças estão
ansiosas para conhecê-lo. Algumas delas insistem que ele e
Whitney se juntem para tirar uma foto. Quando ela está
ocupada com crianças, ele a observa, o interesse pesado em
seu olhar. Quando uma criança pede que ele a beije na
bochecha, Whitney ri, mas ele fica muito feliz em agradecer.
Ele envolve as mãos em volta da cintura dela e a puxa para
ele. A multidão enlouquece. Sua boca pressiona contra sua
bochecha e os flashes das câmeras piscam. Depois, ele
murmura algo contra a concha da orelha e as bochechas de
Whitney ficam vermelhas. Meus olhos se estreitam.
Quando a linha finalmente desaparece e a última criança é
levada para fora da sala, Whitney solta seu sorriso e suspira
aliviada, esticando as bochechas e a boca como se estivesse
tentando recuperar a sensação no rosto. O gesto me faz sorrir.
Isso me lembra a garota que eu conhecia.
Dou-lhe uma breve pausa antes de sair do meu lugar e
passar pela corda vermelha.
Ela não me nota imediatamente, até que a gerente de linha
me veja e pisque três vezes em rápida sucessão. O
reconhecimento dela é inesperado. Estou longe do parque dos
EUA há muito tempo.
— Ah. Oi. Senhor, oi. — A gerente dela repete a saudação
duas vezes, e eu estou preocupado que um terceiro a siga antes
que ela assinta com reverência. — Eu não sabia que você
estava aqui observando.
Eu sorrio para aliviar sua preocupação. — Não
oficialmente.
Quando falo, a coluna de Whitney se enrijece antes que ela
se vire lentamente e me olhe por cima do ombro. Seus olhos
de jade estreitam no primeiro impulso antes que ela se
recupere e suavize suas feições.
— Whitney, eu estava esperando falar com você por um
momento, se estiver tudo bem.
Ela franze a testa com a ideia, e percebo que poderia ter
encontrado um momento mais apropriado para me reunir com
ela. Ela acabou de terminar um turno exaustivo. Ela
provavelmente está morta de ficar tanto tempo em pé.
— Eu não vou demorar muito — asseguro a ela.
— Sim, claro. Não tem problema — a gerente de linha
responde por ela, conduzindo os últimos funcionários para fora
da sala - todos, exceto seu co-estrela, o beijador de bochecha.
Ele paira irritantemente perto até eu sorrir em sua direção.
Minha boca diz que sou um cara educado. Meus olhos dizem:
Dá o fora.
— Quer que eu espere por você? — Ele pergunta a
Whitney.
— Eu vou ficar bem, Ryan. Obrigada.
Ryan aponta um olhar cuidadoso em minha direção - um
aviso, se não me engano.
Eu o ignoro e me aproximo, estendendo minha mão para
Whitney. Parece apropriado, dadas as circunstâncias, mas ela
olha para ela como se eu estivesse oferecendo a ela uma
piranha. Eu percebo meu passo em falso. Só porque a gerente
de linha me reconheceu não significa que ela me reconhecerá.
— Ah, certo, você pode não se lembrar de mim. Sou Derek,
neto de Cal, — inclino a cabeça. — Eu fui seu mentor por
alguns meses, anos atrás, quando você participava do nosso
programa de estágio da faculdade.
— Eu lembro de você — diz ela, sem se mexer para aceitar
o meu aperto de mão.
Isso está… estranho.
Baixo minha mão e enfio no bolso da frente, imperturbável.
— Certo. Bem, é bom vê-la novamente. Eu assisti a última
metade do seu turno e esse papel combina com você. Duvido
que haja alguém na terra mais adequada para a posição de
princesa Elena do que você.
O sorriso que ela aponta para mim é tenso. Então ela olha
incisivamente por cima do ombro. — Senhor Knightley, é bom
vê-lo novamente, mas tem sido um longo turno e…
Espere, espere, espere - isso não faz absolutamente nenhum
sentido. A Whitney que eu lembro estava tão ansiosa pelo meu
tempo que ela teria me seguido até em casa se eu deixasse.
Esta nova versão parece não querer nada que tenha a ver
comigo.
Eu não gosto disso, mas me convenço de que ela está
apenas cansada. Quando falo novamente, meu tom é legal e
profissional. Eu vou direto ao ponto. — Certo. Bem, tenho
certeza de que Cal já te informou o plano dele.
Suas sobrancelhas franzem, seus olhos finalmente se fixam
nos meus. Todo o seu impacto me pega de surpresa. — Plano?
— Para eu trabalhar aqui com você por um tempo.
— Por que diabos você faria isso? — Ela parece
horrorizada. — Você não pertence às salas de reuniões?
Executando o show? Não… participando dele.
— Bem, eu passei os últimos anos em Londres, como você
deve se lembrar, — procuro seu rosto, tentando determinar se
ela realmente se lembra de mim ou se estava mentindo antes.
— Vamos apenas dizer que é uma boa maneira de eu me
familiarizar com o parque dos EUA.
— Por que aqui, especificamente? Você não solicitou isso,
solicitou?
— Foi uma decisão do meu avô.
Ela levanta o queixo, uma coisinha orgulhosa. Me chame
de louco, mas acho que ela preferiria se eu tivesse solicitado, o
que não faz sentido, dada sua atitude atual. A trama engrossa.
— O que há aqui para você fazer? — Ela pergunta, ainda
parecendo incomodada com toda a idéia. — Julie já administra
minha linha e ela faz um ótimo trabalho. Tenho certeza que
você notou.
Eu sorrio. — Ela continuará nessa posição. — Então, tendo
me convencido de que há definitivamente calor por trás de seu
tom brusco, estreito os olhos, decidindo cortar a merda e
abordar o assunto que me interessa. — Me corrija se eu estiver
errado, mas você e eu não deixamos as coisas em bom estado
anos atrás? Você parece agitada comigo por algum motivo.
Um rubor rasteja por seu peito e pescoço. Mal chega às
bochechas dela, o que é uma pena. Eu decidi que gostaria de
vê-la corar.
Ela pisca e desvia o olhar, encontrando um lugar para se
concentrar logo acima do meu ombro. — Desculpe, Sr.
Knightley…
— Derek, — eu corrijo. — Abandonamos as formalidades
há oito anos.
Ela engole qualquer lembrança que brilhe em seu olhar
verde e, quando fala novamente, seu tom é gelado. — Você
está certo, nós abandonamos. Então, eu vou ser sincera. Estou
cansada depois do meu turno, e vendo você aqui… bem, é
inesperado, para dizer o mínimo. Por que você não me diz qual
é o seu papel e pode voltar correndo para o seu escritório
executivo e eu finalmente posso ter uma pausa para ir ao
banheiro?
Eu rio porque não posso evitar. Eu sempre amei mulheres
assertivas, aquelas com tenacidade e determinação.
— Que tal assim: Por que não esperamos até segunda-feira
e retomamos a conversa novamente? Não quero afastar você
do banheiro.
Eu já estou dando um passo para trás.
O queixo dela cai. — Você está de brincadeira?
— Eu nunca brinco com esses assuntos. Não queremos que
você manche esse vestido personalizado por minha causa.
— Senhor Knightley! Você não vai me contar? Existem
tantas funções para os funcionários que não são personagens.
A menos que… — os olhos dela se arregalam com o
pensamento. — Certamente você não faria isso.
Eu levanto uma sobrancelha, em silêncio. Faço uma pausa
antes de me virar, só porque quero ver o rosto dela quando o
entendimento cair sobre ela.
— Cal disse que ia colocar alguém aqui como personagem.
Eu assumi que seria alguém como Ryan. Alguém menos… —
sua mão gesticula para meu corpo e depois recua. —
Importante.
Não tenho certeza se importante é o adjetivo que eu
esperava, mas aceito.
— Vejo você na segunda-feira, Whitney.
Eu não me viro novamente para ver se ela ainda está lá
olhando para mim. Eu sei que ela está.
Uma risada me escapa quando volto para o lado de fora.
Essa coisa toda é uma loucura total e, no entanto, eu estou
passando por isso. Vou aceitar meu destino como o novo
príncipe do Reino dos Contos de Fadas, e Whitney será minha
princesa. Vamos trabalhar na parte do felizes para sempre na
segunda-feira.
CAPÍTULO SEIS

WHITNEY

s funcionários não precisam morar no local do Reino

O dos Contos de Fada. De fato, a maioria não mora. No


entanto, existem opções de moradia para quem prefere.
Tudo, desde a eficiência modesta de um quarto a
condomínios de luxo com quatro quartos, pode ser
nosso por um preço. Os doze complexos habitacionais estão
abertos apenas à equipe da Companhia Knightley, e descontos
estão disponíveis quando os funcionários atingem marcos.
Durou dois anos? Parabéns, aqui está uma redução de 5% no
aluguel mensal. Carrie adora. Ela se mudou para um pequeno
apartamento perto do Departamento de Figurino logo após a
faculdade. Devido à sua localização, todos os seus vizinhos
também são seus colegas de trabalho - artistas, designers,
costureiras. Imagino que à noite eles se sentam na sala
comunal fumando, bebendo kombucha, desenhando nus.
Sufjan Stevens toca em vinil enquanto alguém lê sua entrada
mais recente de poesia slam. Eu não sei. Minhas noites são
muito diferentes.
Depois da faculdade, optei por permanecer nos dormitórios
- uma escolha incomum para os padrões de qualquer pessoa.
Digo a todos que fiquei porque havia um cargo de gerente de
residência em meio período que eu não podia deixar passar. A
verdadeira razão é menos clara.
Juntamente com uma pequena bolsa mensal, eu vivo de
graça enquanto ajudo as novatas a entrar no mundo
complicado da vida no dormitório.
O melhor de tudo é que nem precisei sair de onde morei na
faculdade. Moro no mesmo cubículo que compartilhei com
Carrie. É encantador, disse ninguém, nunca.
Eu atualizei o local um pouco, já que moro sozinha. Em vez
de uma segunda cama de solteiro, tenho uma mesa longa.
Metade dela é usada para funções normais de mesa. Abriga
canetas, livros e um calendário de mesa que pensei que
precisava, mas nunca uso. A outra metade contém uma
cozinha de ponta… se você apertar os olhos um pouco. Eu
tenho uma cafeteira e um escorredor. Uma prateleira,
pendurada ao nível dos olhos, armazena dois pratos, duas
tigelas e duas canecas - duas de cada uma, para o caso de eu
ter companhia, como a Carrie. Há uma pequena pia, um
frigobar e um micro-ondas e, em vez de um closet minúsculo,
tenho dois.
O tapete (de brechó) e a arte (também de brechó) nas
paredes se esforçam para vestir a casa, mas funcionam
principalmente como batom em um porco.
Eu me mudaria… irei, eventualmente. Apenas… não agora.
Neste momento, esse quarto é um porto seguro, um lugar
onde não existem problemas fora de “Jessica roubou meus
Pringles!” E “Candace usou minha toalha de novo!”
Especialmente nesta manhã, não quero deixar a segurança
do meu dormitório, mas tenho trabalho. Um suspiro sai de
mim, pego minha bolsa e vou para a porta, passando por uma
foto da minha família. Olho para ela melancolicamente, como
faria se todos estivessem mortos e eu estivesse estrelando em
um filme da Hallmark. Mas não, eles estão vivos e bem na
cidade de Nova York com Avery.
Eu falei com eles ontem à noite.
— Sua irmã está mais ocupada do que nunca, ensaiando
sem parar!
Oito anos de trabalho duro valeram a pena. Avery
conseguiu um papel de protagonista em um musical da
Broadway (agora eu sei a diferença entre “on” e “off”
Broadway, muito obrigada). A noite de abertura é daqui a
apenas três meses, e eu concordei em tirar uma folga e voar
para vê-la se apresentar. Deve seguir o caminho de todas as
minhas outras visitas. Suprirei meu profundo ressentimento
em relação a meus pais enquanto coloco um rosto corajoso
para Avery, que na maioria das vezes não está lá, de qualquer
maneira, por causa de sua agenda exigente. Depois de alguns
dias de tensão na família, voltarei para a Geórgia com um
gosto ruim na boca e uma dor de estômago que permanece por
alguns dias.
Mas agora não é hora de se preocupar com isso.
Hoje tenho problemas maiores e mais complicados.
Derek Knightley e seus traços grotescamente perfeitos
esperam por mim no castelo de Elena.
É cruel a maneira como o tempo decide ter favoritos. Antes,
ele era tão bonito que eu mal podia olhar para ele. Nos oito
anos que se passaram, o tempo decidiu conceder-lhe ainda
mais dons genéticos. Maçãs do rosto? Sim, vamos em frente e
aprimorar ainda mais. Maxilar? Mais afiado! Sorriso
pretensioso? Queremos calcinha caindo, gente!

É
É por isso que me comportei como uma perfeita idiota na
sexta-feira. Bem, parte do motivo. Eu estava realmente
cansada e, de fato, precisava usar o banheiro. Mas também
fiquei chocada por ele ter vindo me ver, chocada por ele estar
lá em toda a sua glória. Não tive tempo de me preparar para a
bateria de emoções que me assaltaram ao vê-lo novamente de
perto, sorrindo para mim.
— Você pode não se lembrar de mim.
Essa frase foi um tiro no meu coração. Ele sugerindo que eu
não me lembraria dele é uma projeção de seus próprios
sentimentos em relação a mim naquela época. Claro que
lembro de você, seu tolo! EU TE AMEI!
Errado!
Não!
Eu pego uma borracha para apagar meus pensamentos. Não
era amor. Eu tinha sentimentos por ele como todos os
adolescentes têm. Foi apenas uma paixão boba. Essa reação
exagerada que eu estou tendo ao seu retorno de Londres é
completamente desnecessária. Eu fui rude com ele e ele não
merecia. Ele deve pensar que eu estou louca depois da maneira
como o tratei.
Então hoje eu vou consertar.
Eu ando pelo Subsolo a caminho do meu camarim,
acenando para todos que passo, dizendo olá, parando para
conversar sempre que o tempo permite. É da mesma maneira
que comecei todos os meus turnos nos últimos anos. A garota
tímida que Derek conheceu se foi há muito tempo. Depois de
quase uma década trabalhando na Companhia Knightley,
conheço quase todos os rostos que vejo nos túneis.
Não é como se um dia eu decidisse pular das sombras e
cumprimentar o mundo com mãos de jazz. Foi uma mudança
gradual. Todos no programa de estágio da faculdade ficaram
muito próximos ao longo dos quatro anos em que tivemos
aulas juntos, unindo-se por causa de professores tirânicos e
montes de tarefas para casa. Depois que nos formamos, boa
parte deles continuou trabalhando para a Companhia
Knightley. Além disso, meu segundo emprego como gerente
de residência significa que um punhado de funcionários aqui
foram calouros no meu andar. Com saudades de casa,
preocupados, sem absorventes - eu era a mãe deles.
Eu acho que também há uma dose saudável de admiração
em relação ao fato de que Cal e eu somos amigos. Ele ainda
raramente é visto no parque, e sua fama me atingiu até certo
ponto. Para o bem ou para o mal, sou estranhamente popular.
Whitney do ensino fundamental ficaria muito feliz com essa
mudança de eventos.
Os rostos familiares pelos quais passo me dão o impulso de
confiança de que preciso. Quando termino a maquiagem e
cabelo e estou vestida com o vestido da princesa Elena, me
sinto pronta para enfrentar a situação com Derek. Não
chegarei perto de reagir da maneira que fiz na sexta-feira. Não
senhor.
Então Julie me leva ao grande salão para o meu turno. Vejo
Derek e paro na hora.
A visão dele vestido como Sua Alteza Real é
impressionante.
Na verdade, me enfurece que ele pareça tão bem vestido
com fantasia. Ele deveria parecer absurdo e inseguro de si
mesmo, como Ryan. Em vez disso, ele é um rei entre os
camponeses. As botas de montaria de couro preto até o joelho
dão lugar a calças justas de cor cáqui, cortadas
cuidadosamente para acentuar as pernas. Um casaco verde
esmeralda, feito sob medida para que ficasse perfeito, oculta a
maior parte de uma camisa de algodão branca de mangas
compridas enfiada na cintura. Uma gravata de musselina está
dobrada transversalmente em uma faixa e amarrada no
pescoço bronzeado.
O queixo e a mandíbula estão barbeados. Seu cabelo foi
recentemente aparado e estilizado com perfeição. Seu sorriso
branco e direto é voltado para uma garota vestida como a
criada de uma dama. Eu acho que ela é a hostess lá em cima
no restaurante e o que ela está fazendo aqui em baixo e por
que Julie está tentando chamar minha atenção?
— Você está bem? — Julie diz, saltando no ar na minha
frente.
— Estou bem. Eu só estava pensando que talvez tenha
deixado meu fogão aceso.
— Você não tem fogão, — Julie praticamente morava na
minha residência. — Você parece pálida. Você não vai
desmaiar, vai?
Sua avaliação é um tapa na cara. Se controle, Atwood! Eu
vim trabalhar com uma meta, e essa meta está me encarando.
Sorrio e garanto que tudo está bem antes de seguir direto
para Derek.
Ele me vê quando me aproximo, uma sobrancelha escura se
erguendo em diversão óbvia. Um sorriso conhecedor segue o
exemplo. Parece que vamos retomar exatamente de onde
paramos na sexta-feira. Eu não entendo. Ele nunca costumava
agir assim comigo. O velho Derek era cortês e respeitoso, até
cavalheiresco. O novo Derek me levaria a um beco escuro
antes de me salvar de um.
— Foi muito bom conhecer você. E obrigada pela foto! —
A garota diz para Derek antes de se virar e ir para o seu posto.
Suas bochechas estão coradas. A emoção borbulha de todos os
poros.
— Já está aproveitando os holofotes?
Whitney malvada!
— Ignore isso. Vamos começar de novo. Olá, Derek. É bom
te ver. Você parece bem. Teve um bom fim de semana? Isso é
ótimo. Escute, gostaria de me desculpar pelo meu
comportamento na sexta-feira. Provavelmente isso o
confundiu e, como vamos trabalhar juntos por enquanto, eu
gostaria de esclarecer as coisas. A verdade é que, quando eu
era adolescente, eu tinha uma queda inofensiva por você.
Suas sobrancelhas se erguem com um ar intrigado.
— Você provavelmente não se lembra, mas eu até te enviei
um e-mail convidando você para jantar…
Seu sorriso é desarmante. — Eu lembro.
O constrangimento residual enche minhas veias, sem
dúvida colorindo minhas bochechas para sua diversão. — Ah.
Bem. Aí está. Sua presença me pegou de surpresa e, bem, não
há razão para não sermos cordiais, certo? Tudo isso está no
passado. Embora, honestamente, teria sido tão difícil abordar o
convite para o jantar? Recusar minha oferta educadamente, em
vez de deixá-la lá para sempre sem resposta?
Ele está me estudando com cuidado. — Você ainda está
chateada com isso?
Eu recuo. — Chateada? Não. Apenas… Curiosa. Chame de
negócios inacabados.
Ele está completamente imperturbável. De fato, ele parece
encantado com essa mudança de eventos. — Fico feliz em
discutir isso com você outra vez. Que tal, tomando um café?
Estou ciente de que estamos começando a reunir uma
plateia. Ryan acabou de entrar na sala e está indo em nossa
direção. Em alguns momentos, a área estará repleta de
famílias.
— Eu não tomo mais café.
Tomei três xícaras esta manhã enquanto andava no meu
dormitório, atirando o líquido escuro na boca como um
alcoólatra usando Listerine. Talvez seja por isso que estou
agindo tão louca agora.
Um sussurro de um sorriso transforma seu rosto em algo
totalmente agradável demais. Cada nervo dentro de mim
suspira de felicidade.
— Almoço, então?
— Eu não tenho tempo… neste século.
Ele ri, um som rico proveniente de seu peito musculoso. —
Estou confuso. Você está chateada comigo porque eu a rejeitei
por um encontro há uma década, mas agora você me recusou
duas vezes. Talvez eu deva ficar chateado com você.
Meu queixo cai, mas antes que eu possa responder, Ryan dá
um passo ao meu lado, tocando meu braço.
— Bom dia, Whit.
Derek e eu ainda estamos olhando um para o outro, nossos
olhos presos em batalha.
Ele sussurra: — Whit?
Minhas narinas se abrem e, através de um feito sobre-
humano, afasto minha atenção dele e saúdo Ryan com um
sorriso caloroso.
— Bom dia, Ryan.
Ele sorri para mim antes de deixar seu olhar mudar para
Derek. Ele assente em cumprimento. — E aí, cara? Acho que
deveria estar treinando você hoje.
Quero tanto olhar para Derek, para ver a reação dele a tudo
isso, mas me recuso por princípios.
— Esse é o plano, — diz Derek com um leve toque de
indignação colorindo seu tom educado.
— Legal. Então você pode apenas me observar e ver como
interajo com os convidados e outras coisas.
Ryan, seu tolo! Você não percebe com quem está falando?
— Parece fácil o suficiente.
— Sim. Vai ser meio engraçado ter dois de nós aqui
embaixo.
— Não vai ser por muito tempo, — assegura Derek.
Essa informação é muito tentadora para deixar passar.
— Oh? — Eu me animo. — Quanto tempo exatamente?
Em minutos, por favor.
Os dois me ignoram.
Ryan estende a mão para cumprimentar Derek. — Eu sou
Ryan, a propósito. Trabalho aqui há alguns meses. Se precisar
de ajuda para descobrir algo sobre o Subsolo, validação do
estacionamento ou qualquer outra coisa, me avise.
Um gemido cansado explode de mim. Não posso deixar que
isso continue. — Você não sabe quem ele é, Ryan? Derek
Knightley. Ele é o verdadeiro príncipe por aqui.
Bato uma mão na boca como se estivesse tentando tapar um
vazamento. Os golpes baixos mesquinhos continuam
chegando. Essa não sou eu. Eu sou agradável. Geralmente
gentil!
Derek deveria me demitir por insolência, mas juro que cada
uma das minhas observações o deixa mais feliz que a anterior.
Ele está me estudando, um sorriso de verdade nos lábios,
quando Ryan salta para o nosso momento privado.
— Espere, você é Derek Knightley? Não brinca?
Fantástico! Podemos tirar uma foto?
Ai, meu Deus.
É aqui que a frase estou vivendo ou sobrevivendo? se
originou, certamente. Enquanto conduzem a primeira rodada
de crianças para a sala e suas risadas ecoam nas paredes de
pedra, eu tomo meu lugar com Ryan à minha esquerda e Derek
à minha direita. Ele está alguns metros atrás de mim - mais nas
sombras do que Ryan - então é impossível vê-lo sem se virar.
Eu juro que posso sentir seus olhos em mim, seu olhar quente
nas minhas costas. Eu o imagino seguindo o delicado tecido do
meu corpete na espinha. Meu corpo reage como se ele
estivesse me tocando - arrepios florescem em meus braços - e,
por um capricho, logo antes da primeira criança correr em
minha direção para um abraço, eu lanço um olhar tímido por
cima do ombro.
E, sem dúvidas, seus olhos castanhos travam nos meus.
Minhas mãos em punhos ao meu lado.
Seu sorriso se foi e suas sobrancelhas escuras estão
franzidas, como se estivesse pensando.
A mão de Ryan atinge a base da minha espinha e os olhos
de Derek a seguem, estreitando-se.
— Sua vez, princesa, — diz Ryan, suas palavras um
sussurro contra o meu ouvido.
Eu tremo e Derek vê. Ele acha que estou reagindo ao Ryan.
Eu deveria estar reagindo ao Ryan. Ele é o que eu queria
até alguns dias atrás. Ele, o Cara do Fudge e o Homem do
Pagamento. Todos eram nomes em uma lista imaginária de
possíveis interesses amorosos, homens que eu pensava que
poderiam eventualmente me apaixonar… Dado tempo
suficiente. No entanto, agora parece que Derek está chegando
à la Miley e tendo uma bola de demolição para todos aqueles
sentimentos preconcebidos. Todas as conversas que tive com
Ryan empalidecem em comparação com esse impasse de curta
duração e sem palavras com Derek. Eu sei que vou dormir esta
noite pensando nele. Eu sei que vou ter medo de passar por
outro turno com ele parado atrás de mim. Eu nem consegui
passar pelo primeiro.
É péssimo saber que em oito anos nunca consegui pegar
meu coração de volta de Derek.
Talvez seja a hora de tentar um pouco mais.
CAPÍTULO SEVEN
DEREK

amãe, por que esse homem está carrancudo? — A


garotinha pergunta, apontando diretamente para mim.
-M — Ele tem caráter, querida. Ele deve ser um vilão
na história. Não tenha medo.
A risada sussurrada e a tosse de Whitney chamam minha
atenção para a parte de trás de sua cabeça. Eu quero que ela se
vire, mas ela não vai. Ela não se virou desde que começou o
seu turno. Eu acho que ela é muito covarde. Ou talvez ela
esteja muito ocupada trabalhando.
Gostaria de poder dizer o mesmo. Estou entediado e,
aparentemente, estou fazendo um péssimo trabalho em
suavizar meus traços durante o meu primeiro turno. Não há
nada que possa ser feito. Espreitando por trás do casal feliz,
meio lançado na sombra, provavelmente pareço assustador
como o inferno. Um sorriso ajudaria, mas infelizmente meu
mau humor parece insuperável.
Ficar atrás de Whitney e Ryan enquanto os convidados os
bajulam não é exatamente a minha maneira ideal de passar
uma manhã. Os turnos deles vão durar até a tarde, mas assim
que o relógio na parede bater 10h, meu treinamento será
concluído durante o dia.
Ninguém está me forçando a estar aqui. Cal sabe que é
melhor em nem tentar. No entanto, parte de aceitar minha
posição como Sua Alteza Real é sofrer com o treinamento. É
bom para mim ter uma ideia de como é ser um de nossos
funcionários. Até agora, acho que todos eles merecem um
aumento. Exceto Ryan.
Eu não preciso ser treinado. Ajudei a desenvolver os
programas de treinamento, mas aqui estou, olhando a nuca de
Whitney e assustando crianças pequenas.
Eu sei o que minhas tarefas incluirão. Sei que além de estar
como um personagem, precisarei fornecer uma rede de
segurança para Whitney. Como nossa personagem mais
popular, ela chama muita atenção, tanto boa quanto ruim.
Colocar um guarda de segurança tatuado e forte atrás dela não
se encaixava no cenário de contos de fadas, então Cal criou
esse método de proteção. Eu me pergunto o quão bem Ryan se
saiu até agora.
Enquanto Whitney tira fotos e assina autógrafos com uma
família numerosa, Ryan se aproxima de mim, querendo
conversar. Ele ri baixinho ao contar um incidente na semana
passada, onde teve que rastejar sob o vestido de Whitney para
pegar uma criança que corria por baixo dele. Não me interesso
nem um pouco pela história dele, então ele muda de direção,
tentando me dar mais informações sobre o trabalho.
— Sim, então vai depender da temporada. Como agora, eu
só atendo essas sessões de autógrafos, mas os desfiles de fim
de ano começarão em breve e eu vou ter que ensaiar para isso,
eu acho. Espera… você vai tomar o meu lugar?
Boa pergunta.
Eu não decidi.
Há um curto intervalo no meio do turno de Whitney.
Permite que o restaurante tenha tempo para servir e limpar as
mesas e dá a nossos atores a chance de deixar de lado o
personagem, usar o banheiro e relaxar por 15 minutos. É
também a minha deixa para sair.
Assim que o salão se esvazia, Whitney faz uma corrida
louca pelas escadas que levam ao seu camarim. Normalmente
não sou do tipo de brincar de gato e rato, mas Whitney não é
um rato comum. Infelizmente, teremos que brincar outra hora.
Eu tenho uma reunião com Cal.
Heather me encontra no Subsolo com minhas roupas para
que eu possa me trocar. Vestindo calças, uma camisa social
branca e botas marrons, amarro meu relógio de couro no meu
pulso enquanto ela me atualiza sobre o meu itinerário pelo
resto do dia. Heather não se mudou para Londres comigo. Ela
tem marido e três filhos agora, talvez até outro a caminho, se
não me engano, mas sei que não devo perguntar. Depois que
me mudei, ela se transferiu para outro departamento e dividiu
seu tempo ajudando dois executivos. Quando a enviei um e-
mail na semana passada, solicitando que ela voltasse e
trabalhasse para mim, também incluí um aumento substancial
no seu salário e benefícios.
Parece que estamos felizes em trabalhar juntos novamente.
— Você acha que é loucura eu estar passando por isso? —
Pergunto enquanto caminhamos juntos em direção à cobertura
de Cal.
Ela franze a testa e ajeita os óculos. — Passando pelo que
exatamente?
— Pelo papel de Sua Alteza Real. Trabalhando como
Personagem. Tudo isso.
— Acho que isso mostra sua disposição de ir além por esta
empresa. Eu já ouvi murmúrios sobre isso da equipe. O tom
parece de admiração. A maioria das pessoas na sua posição
não se dignaria a se humilhar. Você é o herdeiro da Companhia
Knightley, e todos sabemos que você administrará este lugar
um dia. Você não precisa fazer isso, e ainda faz. Pode não ser
o seu principal motivo para seguir esse caminho, mas você
acabará conquistando o respeito de seus funcionários,
independentemente disso. Mostrar a eles que você se importa
o suficiente para ver como são as condições de trabalho e
diminuir o nível delas… te dá um crédito.
Eu concordo com a cabeça. — Eu admito, tenho outras
intenções também.
Ela ri. — Acho interessante que Cal tenha colocado você
com Whitney. Existem outras posições em aberto no parque.
Olho para ela, percebendo pela primeira vez que Heather
conhecia Whitney naquela época também. — O que você acha
da transformação dela?
Ela dá de ombros. — Ela era linda até mesmo quando era
adolescente, embora fosse mais sutil. Você tinha que prestar
atenção para perceber. Agora, qualquer pessoa com um par de
olhos está meio apaixonada por ela.
Eu franzo a testa. — Ela tem um namorado?
Eu nem tinha considerado a possibilidade.
Heather olha para mim como se eu tivesse brotado uma
segunda cabeça. — Eu não faço ideia. Ela e eu não nos vemos
com tanta frequência, — então ela faz uma pausa,
considerando algo. — Você quer que eu descubra?
Dizer que isso está fora dos limites de nossas conversas
normais relacionadas ao trabalho é um eufemismo.
— Não.
Eu posso fazer meu próprio trabalho sujo.

Cal está me esperando dentro de seu escritório na cobertura. É


a minha joia favorita em todo o parque. O estúdio de um
artista bagunçado. O covil de um vilão. Um buraco de hobbit.
As paredes são pintadas de um rico azul escuro e cobertas de
recordações - esboços, fotografias assinadas, recortes de
jornais. Cortinas pesadas emolduram as janelas. Uma fileira de
estantes se estende do chão ao teto, completa com uma escada
de biblioteca. Quando criança, caí dessa coisa mais vezes do
que posso contar. Eu ainda posso ter uma cicatriz ou duas para
provar isso. Os livros enchem todos os lugares disponíveis
nessas prateleiras e também o chão, empilhados como arranha-
céus.
Cal está sentado atrás de sua mesa com um colete roxo em
camadas sobre uma camisa azul. Uma gravata de seda está
amarrada no pescoço. Seu relógio de couro, combinando com
o meu, reflete a luz do sol quando ele se levanta e tira os
óculos.
— Meu garoto.
Ele se levanta e circula a mesa, segurando meu rosto para
que ele possa beijar minha bochecha. Esta é a saudação que eu
esperava dele na outra noite, mas ele estava chateado por eu
estar atrasado para o jantar. Agora, ele parece orgulhoso de
mim, sem dúvida, porque estou cumprindo seu plano.
— Você teve treinamento esta manhã? — Ele pergunta,
dando um tapinha nas minhas costas antes de apontar para a
cadeira de couro gasta em frente à dele.
— Se você quiser chamar assim.
Sento-me e respiro tudo: cinquenta anos de vida vivida.
Couro gasto, livros antigos, os restos de seu café da manhã. Os
aromas se instalam em algum lugar profundo.
— E foi informativo?
Uma parte de mim quer dizer que não, mas isso é mentira.
— Eu já comecei a compilar uma lista de mudanças que
gostaria de implementar, novas contratações. Eu acho que
deveria haver um assistente de fotógrafo, para reduzir os
atrasos. Pequenos ajustes no fluxo das sessões de autógrafos.
Ele sorri. Maçã, árvore. Ele e eu somos cortados do mesmo
tecido.
A discussão do trabalho explode em outros tópicos. Ele
pergunta se eu sinto falta de Londres.
— Um pouco. Não é o tempo. Já está frio e chuvoso lá.
— E sua casa na cidade?
— Decidi não vender. O mercado de aluguel perto do Hyde
Park está indo bem. Vou alugá-lo por enquanto.
— Suponho que não faz sentido discutir Laurie?
Embora devesse, o nome não me comove.
— Não realmente, embora eu ache que ela está bem.
, q
— Que bom. Fico feliz em saber que você está se
instalando. Estou pensando em fazer um jantar na sexta-feira
para comemorar seu retorno. Nada grande. Há um novo chef
em Étoile. Eu pensei que poderíamos pedir que ele viesse aqui
e fizesse um menu de degustação.
Eu sei que “nada grande” significa pelo menos vinte
pessoas, e não apenas executivos do parque. Cal se envolve
com outros criativos. A arte inspira arte, e Cal acredita nisso
mais do que ninguém.
— Tudo bem, mas eu gostaria que você convidasse
Whitney.
CAPÍTULO OITO
WHITNEY

omo você se sente sobre o Derek estando de volta? —


Carrie me pergunta no almoço.
-C — Temos que fazer isso?
— Tá. Enterre seus sentimentos. Isso serviu bem por
oito anos.
— Oh? — Eu me inclino para frente e continuo em um
sussurro de raiva. — E como está o Thomas? Já confessou seu
amor eterno por ele?
Uma batata frita bate no meu olho aberto. Sal queima
minha retina.
— Ei!
— Você poderia abaixar a voz? Alguém pode ouvir você!
Deus não permita.
Carrie é o sujo falando do mal lavado. Ela tem uma queda
por Thomas - um gerente do Departamento de Entretenimento
- há anos e nunca fez nada a respeito. Juntas, sofremos, mas
agora me pergunto se tem sido prejudicial. Sem mim, Carrie
poderia ter feito algo quanto a esses sentimentos há séculos.
— Quero que você saiba que subimos de elevador juntos na
semana passada.
Minhas sobrancelhas se arquearam. — Ah? Você falou com
ele?
— Não. Havia várias pessoas entre nós e acho que ele não
sabia que eu estava lá.
— Uau. Espero que um pedido de casamento chegue a
qualquer dia agora.
Uma segunda batata bate no meu rosto, e agora ela está
desperdiçando comida perfeitamente boa.
— Que tal você apenas manter seu pequeno segredo sujo e
eu vou manter o meu? — Ela sugere.
Eu sorrio. — É um segredo se nós duas sabemos a verdade?
Ela revira os olhos. — Você sabe a verdade sobre mim, mas
não tenho ideia do que está acontecendo nesse seu cérebro.
Você está pirando que Derek está de volta? E o Ryan? E
aquele cara que te dá o fudge de graça?
É
— É difícil, se quer saber, desfrutar de todos esses amantes
em potencial. Como posso escolher?
Minha atitude blasé não a engana. — Você pode ter
pensado que estava interessada em outros caras ao longo dos
anos, mas nós duas sabemos quem você realmente ama.
— Amor?
A palavra não pertence a esta conversa. Ela precisa ser
apanhada e arremessada através da cafeteria.
Minha apatia foi substituída por pânico e olhos arregalados.
— O amor é a última coisa em minha mente.
— Ah é? Porque ali está ele, o homem que você ama.
Olho por cima do ombro e, com certeza, do outro lado da
lanchonete, Derek está de pé com uma xícara de café na mão,
conversando com o chefe de manutenção. Ele não está mais de
personagem, mas não está menos bonito. Meu estômago revira
ao ver seu perfil e tenho medo de vomitar a primeira metade
do meu almoço. Por favor, Deus, não deixe isso acontecer.
Linguiça de peru com maionese aioli não irão ressurgir
agradavelmente.
Derek ri e minha atenção permanece nele como se ele
tivesse um imã. Sob as luzes fluorescentes, ele deveria parecer
doentio como o resto de nós. Em vez disso, sua pele bronzeada
brilha quente e farta. Um homem pode parecer farto ou esse
adjetivo não serve? Aqui estou eu, considerando exatamente
isso, quando Derek olha para cima e me pega olhando para ele.
Não sou uma boa espiã.
Seus olhos enrugam nas bordas e ele aponta sua xícara de
café na minha direção - um gesto aguçado depois que seu
olhar voa para a minha mesa, para a xícara de café
correspondente diante de mim. Apenas algumas horas antes eu
disse a ele que não consumia mais a bebida.
Ele acha o fato de que ele me pegou em uma mentira
extremamente divertida, tenho certeza.
Pego meu copo e tomo um longo gole. Queima, mas eu não
cedo.
Ele sorri e se vira para terminar sua conversa.
Parece que acabei de sobreviver a uma terceira guerra
mundial. Empurro minha bandeja de comida para longe de
mim e deixo cair o queixo nas mãos.
— Me fala quando ele for embora, — digo a Carrie,
irritada.
— Ele está caminhando em direção à saída… ah! Espera.
Agora ele está conversando com uma garota.
Minha cabeça gira tão rápido que leva meu corpo com ela.
Quase escorrego da cadeira de plástico e dou de cara no chão
antes de me estabilizar.
Ela ri. — Rá. Te fiz olhar.
Então, sim, Carrie e eu não somos mais amigas, o que é
uma pena, dada a nossa história, mas estou confiante de que
posso sobreviver sozinha neste mundo cruel.
Naquela noite, entro no meu dormitório e piso diretamente
em um cartão-presente do Starbucks. O plástico resmunga
debaixo do meu pé antes que eu perceba que está lá. Não há
nenhuma nota ou assinatura. Olho em volta para ver se mais
alguma coisa foi colocada debaixo da minha porta, mas não
encontro nada. Nenhuma dica de quem é. No fundo, tenho
uma boa ideia.
À propósito, é de 15 dólares. Não sei por que acho esse fato
encantador. Talvez seja porque eu sei que Derek e sua família
valem um trilhão e um dólar. Eu meio que esperava que ele
estivesse tão fora de contato com a realidade que ele
erradamente me presenteasse com um cartão carregado com
milhares de dólares. Não é esse o custo de uma xícara de café
nos dias de hoje?
O vale-presente vem com uma centena de perguntas. Como
ele descobriu onde eu moro? O que ele pensa do fato de eu
ainda morar em um dormitório? Ele que veio entregar?
Eu o deixo cair na minha mesa de cabeceira e juro não usá-
lo.
Quando acordo na manhã seguinte, pisco os olhos abertos e
olho diretamente para ele. É cegante.
No trabalho, Derek está de volta para outro turno. Ele e
Ryan estão juntos em frente à lareira. Não há competição. Há
apenas um vencedor muito óbvio e muito confiante, com um
brilho de conhecimento nos olhos quando eu passo para tomar
minha posição.
— Dormiu bem, Whitney? — Ele pergunta, o verde
esmeralda no paletó destacando seus olhos.
Ele é maravilhoso.
O QUÊ?
Eu limpo minha garganta.
— Maravilhosamente — eu digo, a voz tensa.
— Tomou sua dose de cafeína esta manhã?
Aí está, a resposta definitiva.
Eu deveria agradecer a ele pelo cartão-presente, mas algo
me diz que é a jogada errada. Termina o jogo aqui e agora.
— Na verdade, tomei — meu tom é mergulhado em açúcar.
— Obrigada por perguntar. Eu tenho uma cafeteira no meu
dormitório. Eu usei um café torrado extraforte essa manhã.
Bebi duas xícaras enquanto ouvia os pássaros cantando do
lado de fora da minha janela. As manhãs não são tão
pacíficas? — Sem parar, eu me viro para Ryan e sorrio. —
Ryan, você está bonito. Cortou o cabelo?
Seus olhos se arregalam em choque por eu ter pensado em
sua aparência.
— O quê? — Ele toca o cabelo. — Não, hum… Mas eu
comprei um novo gel de cabelo na semana passada.
— Bem, o que quer que você esteja fazendo, parece ótimo.
Minhas covinhas estalam com o elogio.
Suas bochechas estão vermelhas e Derek não pronunciou
uma palavra em minutos e talvez eu seja melhor neste jogo do
que pensei que era.
Um rápido olhar para ele prova que a teoria está errada.
Seu sorriso está no lugar. Ele vê através de mim.
Uma hora depois, uma garota que parece ter cerca de dez
anos me pergunta por que tenho “dois príncipes”.
— Oh, céus. Dois príncipes? Certamente não. Sua Alteza
Real está bem aqui, — coloco minha mão delicadamente no
braço de Ryan.
Ela estreita os olhos com desconfiança, depois faz uma
bolha de chiclete rosa e o estoura com um POP.
— Bem, então quem é aquele? — Ela pergunta, apontando
de volta para Derek.
Sim. Quem é aquele? Ninguém me deu um script para lidar
com esse cenário. Ela não é a primeira criança a me perguntar
sobre meus dois príncipes, é apenas a mais ousada.
— Aquele é um amigo de Sua Alteza Real — eu asseguro,
me curvando. — Eu amo sua blusa. Isso é uma borboleta?
Ela revira os olhos. — Obrigada. Sim. Enfim, ele deve ser
um príncipe também porque está vestido como esse cara. E, se
os dois são príncipes, isso é como o The Bachelorette? Minha
mãe me deixa assistir com ela, às vezes…
,
Nesse momento, sua mãe horrorizada já está a arrastando
para longe enquanto ela continua, agora gritando.
— Eu só quero saber qual você vai escolher! Eu acho que o
outro é mais fofo! Ele parece um príncipe de verdade! Mãe,
me deixa! Você está me machucando!
No dia seguinte, estou no Subsolo andando com Julie a
caminho do meu turno. Passo por uma porta aberta e encontro
Derek sozinho dentro de um camarim com um membro do
Figurino. Uma mulher alta e esbelta está com as mãos na
garganta dele, fixando a gravata para que fique perfeita sob o
queixo afiado.
Ela está dando risadinhas e conversando.
Ele se vira e percebe que eu parei ali, paralisada.
Percebo, um momento tarde demais, que meu ciúme está
escrito em meu rosto, claro como o dia.
Eu me viro rapidamente e fujo atrás de Julie.
Mais tarde, no dia seguinte, encontro Cal para jantar. Penso
em cancelar, preocupada com a idéia de que Derek possa se
juntar a nós, mas quando chego, a mesa está posta apenas para
dois e Cal garante a Ava que ninguém mais se juntará a nós.
Discretamente, limpo a gota de suor da minha testa. É apenas
o meio da semana e já estou começando a duvidar da minha
capacidade de ficar perto de Derek sem dar um passo em falso.
Eu tento muito ignorar completamente a presença dele, mas
nunca consigo totalmente. Acabo encontrando desculpas para
me virar e olhá-lo durante meus turnos de sessão de
autógrafos, ou cedendo durante o almoço para examinar o
perímetro da cafeteria como um falcão, ignorando minha
comida e esperando que ele apareça.
Cal geralmente me oferece uma taça de vinho caro no
jantar, e eu sempre aceito. Hoje à noite, no entanto, estou
tentada a pedir a Ava para deixar a garrafa toda. Melhor ainda,
coloque-o na minha boca aberta, sim? Cal leva o vinho muito
a sério. Suas seleções são sempre atenciosas. Esta safra foi
cultivada durante a estação das chuvas na Toscana. Eu não
digo a ele que poderia ser até vinho de posto de gasolina, dada
diferença que eu não sinto.
Hoje à noite, especialmente, ele está adorando a garrafa que
escolheu, e eu aceno com a cabeça quando parece apropriado,
mas minha mente não está presente. Parece estar
completamente ausente esta semana.
Ele murmura alguma coisa.
Eu aceno de novo. Sim, uvas. Eu sinto o gosto delas.
Então ele chama minha atenção com seu próximo
comentário.
— Estou tão feliz que você estará lá.
Espera. O quê?
— Desculpe, eu me distanciei. Acabei de concordar com
alguma coisa?
Ele sorri, imperturbável pela minha falta de foco.
— Vou dar um jantar na sexta-feira. Eu gostaria que você
viesse. Você pode trazer Carrie.
Abro a boca, percorrendo possíveis rejeições na minha
cabeça. As mulheres nos anos 50 não sabiam o quanto eram
boas. Aquela desculpa de lavar o cabelo? Brilhante.
— Está resolvido então — diz ele, enchendo meu copo. —
Você estará lá.

Eu não consigo continuar. Esta semana durou quatrocentos


anos. Eu mal estou dormindo. A cafeína perdeu seu efeito em
mim. Toda vez que entro no meu dormitório, aquele cartão-
presente me provoca. Eventualmente, eu o passo para uma das
garotas do primeiro ano, a primeira que eu vejo no corredor.
— Você. Aqui. Pegue isso.
Coloco na mão dela com força.
— Você está falando sério? — Ela pergunta, olhos
arregalados. — Ganhei algum tipo de sorteio?
— Sim. Vá. Tire isso da minha frente.
Eu me sinto melhor com ele longe de mim.
Volto para o meu quarto e fico feliz em descobrir que há
menos uma coisa para me lembrar da minha antiga paixão. Eu
mal penso nele quando visto meu pijama e pego meu livro.
Esqueci até que ele existe quando releio uma página três vezes
antes de fechar o livro com força e encarar meu teto com raiva.
Na quinta-feira, Derek resgata uma criança. Eu gostaria de
estar brincando.
De alguma forma, um garotinho com bochechas rosadas e
coxas fofinhas que dá vontade de morder se solta sob a corda
vermelha que nos separa da multidão. Sem saber do perigo em
potencial, ele segue direto para a única armadilha mortal em
todo o grande salão: um ferro decorativo descansando em
frente à lareira.
— Ben! Benjamin! — Os gritos de sua mãe são penetrantes
quando ecoam nas paredes.
Derek dá um passo à frente e levanta o garoto, incitando
uma onda de suspiros audíveis - porque, dã, toda a imagem é
totalmente adorável.
A mãe da criança vem correndo pela multidão, chorando
enquanto agradece a Derek - que, aliás, realmente nem fez
tanto assim, exceto segurar uma criança nos braços e parecer
bem ao fazer isso.
Não importa. A história explode. Você ouviu que o Derek
resgatou um garoto que caiu do segundo andar do castelo? É
a iteração que ouvi no dormitório mais tarde, durante a festa
de sorvete que organizei para o meu andar. Eu estou atrás de
uma mesa, distribuindo bolas enquanto as garotas do primeiro
ano falam sobre a história como se fosse uma notícia de última
hora. Elas deveriam estar se unindo, eu penso, antes de
perceber que elas estão falando… Sobre Derek e como “ele
não é apenas bonito, ele é um herói!”
No dia seguinte, piora.
Depois de terminar de tirar uma foto com uma família, dou
um passo para trás e a parte de baixo do meu vestido fica presa
nos meus saltos. O tule fica preso. Perco o equilíbrio e me
encolho em antecipação à minha colisão com o chão. Então,
de repente, braços se esticam para me pegar, parando o
momento e acabo na horizontal nos braços de alguém, e não
no chão.
Derek me segura com confiança enquanto se inclina, sua
boca a centímetros da minha.
— Devagar.
Sua voz profunda é um sussurro que rouba minha
respiração.
Mil volts de energia surgem de onde sua mão permanece na
minha cintura.
— Whit! Er… Princesa Elena, você está bem? — Ryan
pergunta, correndo para me ajudar a me levantar. Seus reflexos
são tão lentos quanto melaço. Se dependesse dele, eu estaria
com uma concussão agora.
Eu engulo em vez de responder. Não foi nada. Nem mesmo
uma queda, apenas um tropeço. E, no entanto, meu coração
está batendo forte como se eu tivesse caído. Com força.
— Vamos fazer uma pausa de cinco minutos.
A sugestão de Derek não deve ser questionada, mas eu
questiono assim mesmo.
— Não seja bobo. Estou perfeitamente bem.
Perfeitamente bem pode ser um leve exagero.
Afinal, o jantar de Cal é hoje à noite e não tenho ideia de
como vou sobreviver. Passei a semana toda correndo de uma
atividade para outra, me mantendo ocupada - de propósito.
Nos poucos momentos em que estive sozinha, imediatamente
comecei a pensar em Derek. Carrie fica me perguntando como
me sinto agora que ele voltou, e não há uma resposta simples
para isso. Minhas emoções parecem não concordar. Parte de
mim ainda está brava com ele por conta de como deixou as
coisas oito anos atrás, e quer vingança. Parte de mim está feliz
por ele finalmente voltar para casa. Eu temia que ele nunca
voltasse. Outra parte menor - a parte que eu gostaria de ignorar
- ainda está envergonhada pela maneira como eu me
comportava naquela época. Como um filhote ansioso.
Prova disso é encontrada em um e-mail que puxo enquanto
espero Carrie chegar ao meu dormitório naquela noite.

De: WhitneyAtwood@Knightley.com
Para: DerekKnightley@Knightley.com
Assunto: RE: Tarefas

Bom dia, Derek!

Espero que este e-mail não o acorde. Provavelmente não vai,


considerando que você parece nunca dormir. Haha. Acionei o
alarme uma hora mais cedo para poder ler o artigo que você
enviou antes de ir para a aula. Sei que não nos encontraremos
até a próxima semana e você disse que poderíamos discutir o
assunto então, mas pensei em ir em frente e enviar um e-mail
para você!
Não consigo ler o resto. Meus verdadeiros sentimentos devem
ter pulado da tela e dado um tapa no rosto dele. EU ESTOU
PERDIDAMENTE APAIXONADA POR VOCÊ! VOCÊ
NÃO CONSEGUE VER?
Com um calafrio, fecho meu laptop, pego meu celular e vou
até meu closet. Eu hesito com tudo o que minhas mãos tocam.
Jeans? Não. É. Bom. O. Suficiente.
Eu tenho o número de Ryan, embora nunca o tenha usado.
Enquanto vasculho os vestidos, mando uma mensagem para
ele.
Whitney: Ocupado hoje à noite?
Então eu mando uma mensagem para Carrie também.
Whitney: Se você ainda não saiu do seu apartamento, você se
importaria de me trazer uma roupa que eu possa pegar
emprestada para o jantar? Algo que você sempre quis me ver
usando, mas eu nunca deixei
Recebo duas mensagens imediatamente.
Ryan: Não. Quer sair?

Carrie: SIM. Estarei aí em breve.


Duas horas depois, estou no elevador em direção à
cobertura de Cal, com Carrie de um lado e Ryan do outro.
Minha maquiagem foi meticulosamente aplicada. Meu
cabelo está em ondas intencionalmente soltas. Eu estou usando
um fino suéter preto com decote em V que paira sobre meus
ombros, emparelhado com uma saia de seda preta que cai no
meio da panturrilha. Meus saltos me deixam uns três
centímetros maior que Carrie.
É uma roupa que deveria adornar uma celebridade da lista
VIP, cujo objetivo principal é parecer ridiculamente gostosa
sem parecer que ela tentou. Não tenho tanta certeza de que sou
capaz de conseguir fazer isso. Quero estender a mão e ajustar
o suéter para que não revele tanta pele, mas Carrie me garante
que é de bom gosto e se encaixa perfeitamente. Segundo ela,
não vai escorregar mesmo que pareça que vai. Do jeito que
está, há apenas uma pitada de decote.
De volta ao meu dormitório, sugeri um colar e Carrie riu.
— Seus acessórios são suas clavículas e as sombras logo
abaixo, a inclinação do seu pescoço e ombros lisos. Acredite
em mim, você não precisa de mais nada. As mulheres
subestimam o quão sexy é essa área do corpo.
Eu acreditei nela. Afinal, ela é a figurinista.
Para seu crédito, Ryan olhou duas vezes quando me viu
pela primeira vez. Isso tem que contar para alguma coisa.
— Você tem certeza que Charles não vai se importar que
você esteja me levando? — Ryan pergunta, puxando a gravata.
Ele está vestido com um terno preto. O ajuste quadrado e a
maneira como as calças penduram um pouco além dos
tornozelos dele fazem parecer que ele está a caminho do baile
de formatura. Eu meio que espero que ele pegue um corsage
do bolso. Ainda assim, acho encantador que ele se esforce
tanto. Acho que ele está nervoso por conhecer Cal, e entendo
como ele se sente. Eu também ficaria nervosa.
— Vai ficar tudo bem. Eu prometo.
E se não ficar, bem, agora é tarde demais.
Carrie e eu trocamos um olhar rápido antes de eu pegar o
batom na minha bolsa. A cor é “Pucker Up”, um vermelho
coral sutil o suficiente para chamar a atenção para os meus
lábios sem ser gritante.
Carrie teve tanto cuidado com sua aparência hoje à noite
quanto eu. O vestido vermelho escuro tem mangas compridas
e uma bainha curta. Ela o viu pendurado em um manequim na
janela da Free People, há dois meses e, como não podia pagar
por ele, voltou para casa e imitou o design. Esta noite é a
primeira vez que ela o usa, e eu me pergunto se ela está
esperando que Thomas esteja presente. Eu já o vi nessas coisas
antes.
Claro, eu poderia apenas perguntar a ela, mas parece que
hoje à noite há um entendimento silencioso de que é melhor
andar na ponta dos pés perto do coração uma da outra.
Ela mexe no cabelo preto curto, e eu digo a ela que ela está
ótima logo antes das portas do elevador se abrirem e as vozes
entrarem para nos cumprimentar.
Nós chegamos.
Ryan sai do elevador primeiro, estendendo os cotovelos
para nós. Há um sorriso torto no lugar quando ele explica, —
Se eu vou entrar de penetra em um jantar, é melhor fazer isso
com duas mulheres lindas nos meus braços.
É suave, principalmente vindo de Ryan, e me sinto
genuinamente feliz por tê-lo aqui comigo. Eu poderia
originalmente o ter convidado por um capricho, como uma
tentativa juvenil de provar a Derek que eu cresci e me
transformei em uma mulher que os homens querem, mas há
outra camada, algo inocente e puro. Ryan realmente era
alguém que eu me via namorando. Durante meses, eu tinha
uma queda por ele. Nas duas semanas desde que Derek voltou
à cidade, ele foi jogado para segundo plano, mas isso não é
muito justo. Devo a mim mesma ver se realmente tenho
sentimentos por ele. Na verdade, eu quero desesperadamente
ter sentimentos por ele, porque quando entramos na sala de
estar, onde os convidados já começaram a se acumular,
encontro Derek envolvido em conversas com um grupo de
pessoas, uma mulher bonita ao seu lado.
Ela não me é estranha. Nadine é gerente do Departamento
de Entretenimento há mais de meia década. Ela ajudou a me
treinar para o meu papel de Princesa Elena. Alta, de pele
escura, britânica. Não há uma coisa ruim que você possa dizer
sobre ela, a menos que ela seja educada demais. Você conhece
esse tipo de pessoas. Toda a sua existência é um grande pedido
de desculpas. Estou no seu caminho? Oh, aqui, você vai
primeiro. Oh, por favor, pegue o meu.
Eles parecem bonitos juntos, ficando lado a lado, muito
mais próximos do que ele e eu somos. Duvido que ela tenha
enviado a alguém e-mails embaraçosos convidando-os para
jantar e, se tiver, eles provavelmente tropeçaram em si
mesmos para enviar de volta uma resposta rápida, com os
dedos quebrando as letras no teclado.
Thomas está em seu círculo, um fato que Carrie não perde.
Para salvar a nós duas, vou na direção do bar, onde Cal está
atrás do balcão, abrindo garrafas de vinho para seus
convidados. Ele me vê e sorri, puxando a rolha de uma garrafa
no momento em que nos juntamos a ele.
— Ah, momento perfeito, — diz ele, enchendo os copos
alinhados na frente dele. — Whitney, eu mal te reconheci.
Você parece radiante.
— Você está dizendo que eu nem sempre pareço radiante?
— Pergunto, sabendo muito bem que metade das vezes eu
apareço para nossos jantares semanais vestindo jeans e uma
camiseta folgada, cabelos presos em cima da cabeça.
— Estou apenas sugerindo que hoje à noite, especialmente,
há um ar sobre você.
— Carrie me vestiu. Provavelmente é isso.
— Bem, Carrie, você fez um bom trabalho. Como você
está? — Ele a cumprimenta com ternura. Eu trouxe Carrie para
a casa de Cal muitas vezes. Eles se dão bem, e ela é uma
adição fácil aos nossos jantares.
Então os olhos de Cal cortam para Ryan. — Ah, e você
trouxe outro convidado.
— Ryan Culver, senhor — diz Ryan, estendendo a mão. —
Eu trabalho com Whitney.
Cal assente e tenho certeza de que ele parece perfeitamente
agradável para todos os outros, mas posso dizer que ele não
está muito interessado em ver Ryan aqui. Ele deixou seus
sentimentos sobre ele perfeitamente claros para mim. Ainda
assim, ele tenta.
— Qualquer amigo de Whitney é meu amigo. Bem-vindo à
minha casa. Temos vinho e coquetéis aqui. Eu costumava
contratar um barman, mas acho que as pessoas costumam
fazer suas próprias bebidas se você lhes der a chance. O jantar
será servido às sete e meia.
Com isso, ele me lança outro olhar antes de se mover ao
nosso redor para cumprimentar outra pessoa.
— Puta merda, — Ryan exala com uma risada quando nós
três estamos sozinhos. — Acabei de falar com Charles
Knightley! Estou dentro da casa dele! — Ele está limpando as
mãos nas pernas da calça. — Você acha que a pintura ali é de
alguém famoso?
Não tenho coragem de dizer a ele que é um Cézanne
original. Em vez disso, levanto meu copo de vinho para
brindar.
— Um brinde a uma noite interessante.
CAPÍTULO NOVE

DEREK

hitney está aqui, e ela fez uma bela entrada. Acho que

W a sala inteira parou para assistir ela e a amiga


entrarem.
Eu nunca pensei nela como alguém disposta a
reduzir-se a uma mulher troféu, mas lá está ela,
pendurada no braço de Ryan perto do bar. Ele a faz sorrir e ela
se inclina, seu corpo roçando o dele.
Hoje à noite, especialmente, o cabelo dela parece estar
pegando fogo, queimando em ondas pelos ombros pálidos e no
suéter preto.
Escondo uma pontada de aborrecimento enquanto Nadine
segue meu olhar.
— Ah! Whitney está aqui, — ela observa agradavelmente.
— E ela trouxe um encontro, ao que parece. Acho que aquele
é o garoto que interpreta seu príncipe no castelo, não é? —
Alguém confirma que ele é e ela suspira como se tivesse
acabado de receber um recém-nascido. — Ah, isso é muito
fofo, eles estão juntos. Eu me pergunto se eles são um casal.
— Ah, não. Você não ouviu? Derek aqui é seu novo
príncipe, — Thomas diz, sorrindo.
Ele e eu nos conhecemos há tempos. Nossos anos em
Princeton se sobrepuseram antes de ele vir trabalhar para a
Companhia Knightley, e o considero um amigo, mais do que
um colega.
— Não oficialmente — eu emendo, tomando minha bebida.
Thomas estreita um olho de brincadeira. — Eu vi o traje em
que você estava. Parece bastante oficial.
O queixo de Nadine cai. — Não! Você não pode estar
falando sério!
Eu explico a situação para ela usando todos os atalhos
possíveis. Ainda assim, ela acende com empolgação.
— Por favor, diga que você tem uma foto. Eu tenho que ver
você vestido de príncipe. Aposto que é muito bom! As mães
estão apaixonadas por você?
— Você não ouviu que ele salvou uma criança? — Alguém
sente a necessidade de acrescentar.
Olho de volta para Whitney por cima da minha bebida -
exceto que ela não está mais no bar. Ryan e Carrie conversam
sozinhos. Olho através da sala, em direção ao corredor que
leva ao banheiro, mas depois pego um vislumbre de um cabelo
cor de fogo desaparecendo na cozinha.
— Peço licença por um momento — digo ao grupo,
cortando o meio da conversa como um machado, sem nem
perceber.
Eu sigo atrás de Whitney, intrigado com o destino dela até
encontrá-la perto da pia, dando um abraço em Ava. O chefe e o
subchefe de Étoile trabalham do outro lado, perto do fogão.
Ava deveria estar na sala de estar conosco, como convidada
esta noite. Eu digo isso a ela, assim que entro na cozinha.
— Eu vou sair em um minuto, — ela promete. — Eu
simplesmente não podia deixar de ver o chef trabalhando.
Ava não foi treinada do modo clássico. Ela era cozinheira
em uma lanchonete de família na beira da rodovia, a alguns
quilômetros da saída para o Reino dos Contos de Fadas. Ela
faz a melhor comida. Comida caseira genuína. Bife de frango
frito, pão de milho, cenoura assada. Meu avô comeu no
restaurante dela uma vez depois de um voo atrasado e, até
hoje, ele diz que foi a melhor refeição de sua vida. Ele enviou
alguém todos os dias para comprar algo para ele durante uma
semana, experimentando um prato diferente a cada vez. Na
segunda-feira seguinte, ele marchou até o restaurante e
ofereceu a Ava um emprego como sua chef pessoal. Uma vez
cheguei a ver o quanto ele lhe paga. É obsceno, e ela vale cada
centavo.
— Eu não vou te segurar, — diz Whitney, sorrindo culpada
para Ava. — Eu só queria dizer oi.
A mulher mais velha empurra o braço dela. — Que
absurdo! Estou feliz que você veio aqui. E olhe para você! Eu
nunca te vi tão chique. Ela não está bonita, Derek?
Linda. Radiante. Inacreditável pra caralho.
— Sim — é tudo que eu consigo dizer.
Ava ri para si mesma e empurra o balcão, indo para os
chefs. — Vocês dois precisam de ajuda aqui?
— Ava, por favor, — eu aviso de brincadeira. — É a sua
noite de folga, lembra?
Ela levanta as mãos em sinal de rendição e sai da cozinha,
rindo. Cal ficará feliz por eu ter insistido. Ela é tão viciada em
trabalho quanto o resto de nós.
Whitney e eu estamos sozinhos. Do outro lado da cozinha,
o que parece quilômetros de distância, os dois chefs continuam
trabalhando, mas sinto que eles nem percebem que estamos
aqui.
Ela não se mexe para falar, nem eu.
Isso entre nós tem sido confuso, para dizer o mínimo.
Estive com ela a semana toda e, tecnicamente, nos
comunicamos verbalmente, mas não sinto que realmente falei
com ela, exceto pela manhã em que ela admitiu sua antiga
paixão por mim.
Ela está olhando para a bebida, arrastando o delicado dedo
indicador pela borda.
A luz quente acima da pia destaca os diferentes tons de
vermelho em seus cabelos. Sua pele de marfim é tingida com
tons rosados.
Tem um milhão de coisas que quero dizer. Elogios podem
sair de mim para sempre, mas eu não quero falar sobre o quão
bonita ela está. Isso é óbvio. Estou mais curioso sobre os
pensamentos que ela está tentando esconder. Ou seja, sua
paixão adolescente por mim.
— Ver você aqui com Ryan é inesperado.
Ela olha para cima, seus olhos não menos impressionantes
do que a última vez que os vi.
— Eu pensei que seria bom ter um amigo ao meu lado.
— E Carrie?
O canto da boca dela se levanta. — Tudo bem então, dois
amigos.
— Então você e Ryan são apenas amigos?
Ela assente, pela primeira vez sem desviar o olhar. — Por
enquanto. Antes de você voltar, pensei que tinha sentimentos
por ele.
Eu me agarro à confissão. Minha cabeça se inclina. —
Antes de eu voltar?
Ela pega seu erro. — Não. Isso… eu quis dizer que estive
ocupada nas últimas duas semanas. Eu queria convidá-lo hoje
à noite para que eu pudesse passar um tempo com ele,
descobrir as coisas.
Eu murmuro, decepcionado que ela parece estar dizendo a
verdade.
— E você? — Ela pergunta. — Você trouxe uma
acompanhante?
A idéia de trazer alguém hoje à noite nem me passou pela
cabeça. Agora, eu me pergunto se isso foi bobagem da minha
parte.
— Sem acompanhante.
— E em Londres? Você tem namorada lá? Ou uma esposa?
Quero dizer, você não usa anel, mas não quero presumir…
— Sem namorada. Nenhuma esposa.
Ela assente, finalmente caminhando em direção à ilha da
cozinha. Eu me junto a ela e ficamos de frente um para o
outro. Há uma tábua de frios entre nós, com vários petiscos
empilhados. Depois que eu roubo algumas uvas, ela segue o
exemplo e nós comemos em silêncio por um momento.
— Tenho certeza de que você não ficou solteiro por oito
anos — diz ela, buscando mais informações.
Eu sorrio. — Não. Eu namorei aqui e ali.
— Como foi seu último relacionamento?
Não é isso que eu quero discutir com ela, mas pela primeira
vez desde que voltei, ela me lembra a Whitney antiga. Curiosa,
de olhos brilhantes.
— Ah, bem… Laurie era ok. Não há muito o que dizer. Ela
era advogada. Na maior parte, litígios.
Ela luta contra a diversão. — Na verdade, acho que cochilei
por um segundo.
Eu sorrio com a provocação óbvia dela. — Laurie e eu
namoramos por alguns meses. Foi tudo bem. Ela atendia às
minhas necessidades na época.
— Atendeu às suas necessidades? Eu não consigo… eu
apenas… — ela aponta para a comida na nossa frente. — Eu
sinto que poderia ter mais sentimentos por esse bloco de
queijo do que você acabou de fazer parecer sobre sua ex-
namorada.
— Não é como se eu fosse entrar em detalhes com você
sobre todas as coisas que eu amava em Laurie.
Ela imediatamente fica sóbria.
— Você fez isso? A amou, quero dizer? — Ela parece tão
sincera naquele momento. Sem pretensões.
q p
Eu balanço minha cabeça rapidamente, por algum motivo,
desesperado para ela saber disso. Por quê? Não é como se eu
não a amasse porque amava Whitney.
— Não. Nunca fui alguém que se apaixona com tanta
facilidade.
Ela sorri novamente, seu humor parecendo mais leve agora.
— Sério? Sinto que me apaixono o tempo todo, — ela deve
perceber meu ceticismo porque esclarece. — Não apenas por
pessoas. Por qualquer coisa! Um bom livro, um novo sabor de
sorvete. Quando amo algo, amo descaradamente. Pegue o meu
trabalho, por exemplo. Eu trabalho na Companhia Knightley
há mais de uma década. Estou no mesmo papel da Princesa
Elena há mais de quatro anos!
— Você era assim quando era mais jovem também. Vivaz.
Ansiosa. Entusiasmada com qualquer tarefa que eu lhe dava.
Ela ri e olha para baixo. Seus dedos batem contra a
bancada. Ela fica em silêncio enquanto debate alguma coisa.
Então ela me olha com aqueles olhos felinos e eu fico
fascinado. — Sabe, esta noite li um e-mail antigo que enviei
enquanto você era meu mentor. Chame de curiosidade
mórbida. Uma parte de mim queria ver aquilo com novos
olhos, julgar da maneira que você provavelmente julgou
naquela época. Admito que no começo fiquei envergonhada.
Deus, eu queria te impressionar. Eu nem era boa em esconder
isso. Por um instante, enquanto eu relia aquelas palavras, era
como se não houvesse passado tempo nenhum. Eu ainda era
aquela garota de dezoito anos. Fiquei com tanta raiva de
pensar que não mudei nem um pouco. Eu imediatamente quis
provar para mim mesma que sim, eu mudei, então Carrie foi e
me vestiu assim — ela gesticula para o próprio corpo. — Eu
coloquei salto alto e tirei um tempo para escolher o tom
perfeito de batom, como se isso fosse suficiente. Mas agora
estou de pé aqui, percebendo que tudo foi por nada.
Abro a boca para cortá-la. Ela acabou de falar tanta coisa
que eu quero abordar, mas ela não me deixa. Ela fala
novamente com um sorriso autodepreciativo. — A verdade,
Derek, é que ainda sou a mesma garota boba. Sou apaixonada.
Talvez seja só isso. Tenho muita paixão e me apaixono tão
facilmente. E você é…
— Sem coração? — Eu digo com uma sobrancelha
levantada, provocando-a.
Ela resmunga alegremente. — Não! De modo nenhum.
Você é reservado. Imperturbável. Uma estátua grega, e eu
sou…
— Uma Jackson Pollock.
— Exatamente! — Ela ri. — É engraçado, na verdade, quão
pouco mudamos desde que você foi embora — seu olhar se
estreita. — Bem, isso não está certo. De alguma forma, você
está ainda mais intimidante para mim agora do que antes. Você
exala um ar de confiança. Eu gostaria de poder absorver isso.
Ela encolhe os ombros e se afasta da ilha, contornando-a
para poder voltar para a festa. — Me sinto melhor, mesmo,
agora que você sabe toda a verdade. Toda essa pretensão
estava ficando muito difícil de gerenciar. E daí? Eu gostava de
você e uma parte imatura de mim queria que você voltasse e
me visse como essa mulher mais velha e sofisticada,
equilibrada e confiante — ela encolhe os ombros. — Eu não
sou. De várias maneiras, eu ainda sou…
Minha mão dispara para pegá-la enquanto ela passa por
mim. Seu braço é tão delicado por baixo do suéter que eu
imediatamente afrouxo meu aperto.
— Eu não deveria ter um momento para falar agora? Para
lhe dizer como vejo as coisas?
Ela sorri e parece tão íntimo quanto um beijo. — Estou
tentada a ficar e ouvir. Eu me pergunto se você poderia pensar
em algo mais excitante do que as coisas que falou sobre
Laurie, mas Cal está nos chamando para a sala de jantar. Acho
que estamos segurando todo mundo.
Ela está certa, é claro. Estamos aqui há muito tempo.
Não tenho escolha a não ser deixá-la ir. Os chefs estão
preparando o primeiro prato. Os convidados estão reunidos na
sala de jantar, procurando seus nomes nos cartões na mesa. Cal
adora bancar o anfitrião. Não se sentar ao lado de alguém que
você conhece bem. Qual seria a graça nisso? Nosso objetivo é
nos misturar, nos forçar a sair de nossas zonas de conforto.
Whitney está designada para um assento a um campo de
futebol longe de mim. Ryan senta em frente a ela. Ava está no
lugar de honra à direita de Cal. Estou do outro lado dela, perto
de Carrie e Thomas.
De alguma forma, eu me encontrei em uma zona morta.
Cal e Ava conversam animadamente. Carrie e Thomas
mantêm as cabeças inclinadas metade da noite. Eu sou deixado
por minha conta, ou seja, remoendo tudo o que Whitney me
falou na cozinha.
Ela está em todos os lugares desde a minha chegada de
Londres. Ela oscila entre me manter à distância e me agarrar
mais perto, espalhando a verdade entre nós como se ela
estivesse me entregando páginas arrancadas direto de seu
diário. Exceto que, não tenho certeza se são todas as páginas.
Claro, ela está tentando parecer aberta e honesta, mas parece
mais que ela está me alimentando com a esperança de que isso
seja suficiente. Não é.
Na verdade, estou mais desesperado do que nunca para
obter toda a verdade dela. Eu só preciso prestar atenção para
saber que há mais na história. Assim como Pollock, a sutileza
não é a coisa de Whitney. Suas expressões, seus sentimentos,
suas verdadeiras convicções estão espalhadas por sua pele
como tinta em uma tela.
Sinto seus olhos em mim meia dúzia de vezes durante a
noite. Eu sei que se eu der uma olhada, eu vou pegá-la me
observando. Suas bochechas vão ficar com aquele tom rosado
de vermelho que me deixa louco. Então eu não olho. Eu a
ignoro como se estivesse pegando uma dica e dando espaço a
ela.
Na realidade, estou compilando uma lista de perguntas que
quero respostas. Eu quero saber quando ela parou de ter
sentimentos por mim. Quero saber por que, toda vez que faço
contato com sua pele, seus lábios se abrem como se ela
estivesse esperando um beijo. Ela fez isso mais cedo quando
eu a peguei no momento que ela tropeçou em seu vestido, e ela
fez um momento atrás na cozinha. Eu quero saber como ela
poderia me achar intimidador.
Eu não engulo essa.
Oito anos atrás? Talvez. Ela era mansa. Ela teria ficado
sentada quieta naquela mesa, com muito medo de falar em
meio a tantos colegas. Agora, ela encanta a todos nós. Ela é a
luz para a qual somos atraídos.
Eu, mais do que todos.
CAPÍTULO DEZ
WHITNEY

onestidade deveria vir com um suspiro de alívio. Eu

H deveria sentir que acabei de arrancar uma pedra dos


meus ombros. Tudo o que eu disse na cozinha era a
verdade, mas agora em vez de me sentir leve, me sinto
mais atada a Derek do que nunca. Não posso passar
cinco minutos sem olhar para trás em sua direção. Eu gostaria
de ter ficado para ouvi-lo antes de sair da cozinha. Na verdade,
eu não conseguia sair dali rápido o suficiente.
Eu não posso acreditar no quanto eu revelei.
Ao seu redor, quase não consigo me conter.
São os olhos dele. Eles são o marrom escuro mais
verdadeiro, um tom que não desfila com pomposidade e
circunstância. Há um puxão silencioso em suas profundezas.
Me conte seus segredos e eu nunca direi a uma alma, eles
prometem. E eu escuto. Eu tomo um soro da verdade cada vez
que nossos olhares se encontram.
Eu quero que você goste de mim.
Eu me vesti só para você.
Eu gostaria de não ser a mesma garota boba que você
conhecia, mas eu sou.
Eu acho que estou tão apaixonada por você agora como
estava naquela época, como vou sobreviver?
Diga-me, olhos castanhos, como?
Graças a Deus parei antes de dizer isso.
Depois do jantar, concentro minha atenção em Ryan. É fácil
o suficiente. Ele está encantador esta noite, animado por estar
aqui com tantas pessoas influentes. Cal serve bebidas e
sobremesas na sala de estar. Alguém o encorajou a contar a
história do dia em que o parque abriu. Já ouvi isso um milhão
de vezes, mas adoro ouvir. Estamos espalhados pela sala,
dando a ele nossa atenção. Derek está à sua direita, uma mão
segurando um copo de vidro grosso, a outra casualmente no
bolso. Ainda bem que conheço a história de Cal porque não
absorvo uma palavra dela hoje à noite. Mesmo sem fazer
contato visual, posso sentir o peso da presença de Derek na
sala. Meu corpo se recusa a ignorá-lo. Isso faz eu me contorcer
e me remexer. Uma vez, nossos olhos travam e minhas coxas
se apertam. Sinto muito calor no meu suéter sufocante
enquanto ele mantém o meu olhar por tanto tempo que parece
que toda a sala deveria prestar atenção. Como se estivéssemos
nos comportando indecentemente no meio de um jantar
elegante.
Eventualmente - dolorosamente - eu forço meu olhar para a
minha bebida, e então outro convidado quer sentar no sofá.
Ryan tem que se aproximar de mim. Nossas pernas roçam e
deveria haver uma faísca, ou borboletas, ou um zumbido baixo
de… alguma coisa. Até olho para onde nos tocamos,
procurando por mais - como uma vítima que não percebe a
verdadeira extensão do ferimento até ver o sangue - mas isso
não muda nada. Claro, meu estômago está com um nó, mas
não por causa de Ryan.
No final da história de Cal, Derek desaparece na cozinha e
volta de mãos vazias. Eu assisto enquanto ele caminha até Ava
e se inclina para beijar sua bochecha.
Ele está indo embora.
Eu me sinto em pânico com a ideia.
Ryan se inclina e pergunta se eu gostaria de outra bebida.
Balanço a cabeça e espero Derek se virar e caminhar em
minha direção, para me dar um beijo na bochecha, como ele
fez com Ava. Meu queixo até levanta para dar a ele melhor
acesso, mas ele não olha na minha direção enquanto se
despede de Cal e de alguns outros.
Então ele se foi, desaparecendo no corredor.
Meu corpo balança para a frente como se fosse fisicamente
obrigado a segui-lo. Sinto-me desanimada em sua ausência.
No final da noite, Ryan leva Carrie e eu de volta ao
apartamento dela. Na porta, Carrie entra, mas eu permaneço na
entrada enquanto Ryan me agradece por convidá-lo. Encontro
seu olhar fácil e sorrio. Quando ele ousadamente se inclina
para me beijar, eu deixo. Seus lábios se movem nos meus e eu
permaneço perfeitamente imóvel enquanto meu intestino torce.
Depois de apenas alguns segundos, dou um passo para trás e
tento não quebrar em pedaços.
O que há de errado comigo?
Ryan acabou de me beijar! Eu deveria estar pulando de
alegria!
Ele ri e balança a cabeça, arrastando o polegar ao longo do
lábio inferior.
— Eu tive vontade de fazer isso a noite toda.
Não tenho resposta, então mudo de assunto. — Estou feliz
que você veio.
Ele chuta o concreto entre nós e despenteia seu cabelo
castanho claro. — Sim, foi muito divertido. Talvez possamos
fazê-lo novamente na próxima semana? Só você e eu? Não
vou usar terno, prometo.
Eu rio enquanto uma bolha de alívio explode dentro de
mim.
Ele não espera por uma resposta, apenas dá um passo para
trás e mergulha a cabeça. — Vejo você na segunda, Whit.
Carrie está escovando os dentes quando eu me junto a ela
no banheiro. Sem uma palavra, eu vou para trás dela e deixo
meu rosto cair no declive côncavo entre suas omoplatas.
Sua presença reconfortante desencadeia um lento
gotejamento de lágrimas embaraçosas. Elas provavelmente
estão encharcando o vestido dela.
— O que há de errado? Ryan fez alguma coisa?
— Não é sobre Ryan.
— Me diga então.
— É… Eu…
Ela se inclina para enxaguar a boca, coloca a escova de
dentes em um copo e se vira para me segurar na distância de
um braço. Eu estou uma bagunça. Fico feliz que ela esteja
bloqueando meu reflexo no espelho.
— Derek, — diz ela conscientemente.
O nome agita meu estômago.
— Eu o odeio. — Digo cruelmente. Furiosamente. — O
que há nele que eu não consigo abalar? Quero dizer, DEUS, eu
era amiga dele por alguns meses, oito anos atrás! Isso não é
nada. Um pontinho! Garotas adolescentes têm paixões. O
amor não correspondido não é único!
— Diminuir seus sentimentos não os fará desaparecer —
diz ela calmamente, como se estivesse canalizando Oprah.
Ela está certa, é claro. Eu tentei isso sem sucesso nos
últimos oito anos.
Derek sempre esteve fincado em meu coração, como um
pedaço de estilhaço, o custo da remoção sempre superando a
dor de deixá-lo ficar.
Quero me livrar dele de uma vez por todas.
É
— É como se ele fosse um vício que não consigo superar.
— Talvez você devesse parar de tentar superar.
Eu já estive nessa estrada antes. Não vou fazer isso uma
segunda vez.
Terminei de falar sobre isso. Preciso me controlar.
Respiro fundo, viro e arranco meu suéter por cima da
cabeça. Minha saia segue. Eu ligo o chuveiro no mais quente
que ele permite. Carrie me diz que vai fazer um chocolate
quente para nós antes de fechar a porta e me deixar em paz.
Termino de me despir antes de pisar na corrente de água e
depois lavo a noite de mim, limpando o batom e o beijo de
Ryan da minha boca. Fecho os olhos e estremeço quando uma
imagem de Derek vem à mente. Eu o imaginei tanto ao longo
dos anos. Quando estou sozinha no meu dormitório, dobrada
na cama, ele é o homem que eu imagino quando minha mão
desliza sob a camisola. Nunca é uma cena específica tanto
quanto um sentimento, um calor - não, um calor escaldante.
Hoje à noite, tenho algo novo para imaginar: a mão dele em
volta do meu antebraço naquela cozinha. Eu podia sentir sua
força. Eu podia senti-lo me tocar e se conter para que ele não
me machucasse.
Eu me pergunto se ele pensa em mim, se ele me imagina
assim. Eu no chuveiro. Na cama dele. Embaixo dele. Eu me
pergunto até que ponto ele se deixa levar.
Esses novos pensamentos fazem meu estômago palpitar, e
minha mão o cobre como se eu pudesse fazer com que parasse
com apenas um toque.
Quero deslizar minha mão para baixo, mas não vou. Não no
banheiro de Carrie. Não quando ainda posso sentir o beijo de
Ryan nos meus lábios.
Desligo o chuveiro e me enrolo em uma toalha. Carrie me
deixou uma camiseta enorme, dobrada no balcão. A coloco e
me junto a ela na sala de estar.
Sei que meu rosto provavelmente está manchado de
lágrimas, mas não acho que surjam novas agora que controlei
minhas emoções.
Além disso, eu cansei de pensar em mim mesma durante a
noite. Estou ansiosa para ouvir o que ela e Thomas discutiram
durante o jantar.
Na segunda-feira, me sinto mais leve. O choro de sexta-feira
no chuveiro significa que eu provavelmente perdi metade do
meu peso corporal em lágrimas, mas o resto do fim de semana
não foi gasto me lamentando. Levei um grupo de garotas do
primeiro ano para o cinema no sábado e depois passamos a
noite decorando o andar para o outono. Nós exageramos um
pouco. Morcegos estão pendurados no teto, cutucando olhos
desavisados. Abóboras e caveiras falsas estão espalhadas pelo
chão. Há uma boa chance de eu tropeçar em uma abóbora
antes que a semana termine.
Carrie e eu passamos o domingo lendo no parque. O outono
se instalou aqui e, embora ainda esteja quente à tarde, na
sombra e à noite, as temperaturas caem o suficiente para que
seja realmente tolerável ficar do lado de fora por mais de cinco
minutos.
É a minha época favorita do ano.
O ar não é tão pesado, o que significa que também não sou.
Ryan e eu mandamos mensagens um para o outro algumas
vezes.
Acho que estou preparada para enfrentar Derek novamente
durante o meu turno, especialmente com Ryan como reserva,
mas quando chego ao grande salão, recebo a notícia que Ryan
foi transferido para outra seção do parque. As informações
vêm direto da boca de Julie, então eu sei que são precisas.
Ainda assim, estou meio convencida de que é um boato.
Tem que ser. Certo?
Meu estômago está em nó quando Derek entra com passos
confiantes. Suas botas ecoam pela sala silenciosa.
Ele nem sequer tem tempo para me cumprimentar antes que
eu ataque em tom acusador. — Você mandou Ryan embora?
Ele puxa a gola do casaco verde esmeralda, endireitando-o.
Quando ele fala, ele tem o tom autoritário de um verdadeiro
príncipe. — Mandá-lo embora? Você faz parecer que ele
deixou o país. Não. Ele foi transferido.
— Por quê?
Há uma frieza nele hoje de manhã, quase como se ele
estivesse irritado com a minha linha de perguntas. — Não é
óbvio? Eu fui colocado aqui para bancar o seu príncipe. Na
semana passada, eu estava treinando. Foi um acordo
temporário. Você viu como era confuso para os visitantes ter
Ryan e eu parados aqui em personagem.
— Certo, mas Ryan queria este trabalho.
— Sim, e eu só estou tolerando isso.
Me tolerando, ele quis dizer.
Desvio o olhar, magoada.
— Por enquanto, vou interpretar Sua Alteza Real.
— E para os desfiles do final do ano? Certamente Ryan fará
isso.
Ele limpa a garganta. — Infelizmente não.
A notícia é chocante, para dizer o mínimo. Na semana
passada, me senti sufocada pelos meus sentimentos residuais
por Derek e ele estava aqui apenas algumas horas por dia, em
pé na parte de trás. Agora ele estará ao meu lado a cada turno?
Ensaiando para o desfile? Eu engulo em seco.
— Se você está decepcionada por eu estar aqui, em vez de
Ryan, fale com o Cal. Não tive nada a ver com isso.
Dizer que meu primeiro dia trabalhando sozinha com ele é
deplorável é um eufemismo. A notícia da colocação de Derek
como Sua Alteza Real se espalha como fogo pelo parque. Se
os visitantes sabem quem ele é ou apenas o consideram
particularmente bonito, isso não importa. Minha linha de
sessão de autógrafos dobra. Para cada foto que eu tiro com
uma criança, ele tira uma com uma adolescente ou uma mãe.
Elas se abanam e fazem pequenas piadas. Derek fica quieto,
seus olhos castanhos tão afiados quanto facas cada vez que
nossos olhares se encontram.
Algumas vezes, fomos pedidos para tirarmos fotos juntos.
Vamos lá, vocês dois! Se juntem! Como se estivesse com medo
que eu proteste, Derek sempre se move rapidamente. Ele
agarra minha cintura, me puxa para perto, e lá estou eu,
aglomerada por seu tamanho, seu domínio. Eu poderia muito
bem ser uma boneca com a maneira como ele me move para lá
e para cá. Tenho certeza de que quando os visitantes
retornarem aos seus hotéis e examinarem suas fotos, eles se
perguntarão por que eu pareço tão estranha, por que meu
sorriso é tão tenso e por que minhas bochechas estão tão
vermelhas, meus olhos vidrados. Eu provavelmente pareço que
estou gripada. Quero me desculpar e dizer a eles que voltem
outro dia, de preferência daqui a alguns meses, quando Derek
não estiver mais aqui. Então, eu darei a eles o sorriso
deslumbrante que eles esperam.
O pior é quando eles nos imploram para beijar. Eles são
implacáveis com suas provocações. Eles não deixam pra lá
quando fica claro que não faremos isso. Ou melhor, Derek não
fará. Ele nem sequer beija minha bochecha como Ryan teria
feito. Eu sei que somos personagens de um conto de fadas
fictício, mas a rejeição ainda dói.
Durante todo o dia, sinto-me febril e tensa, esperando o
outro sapato cair. É o humor dele que estou percebendo. Eu
nunca o vi assim. Ele ainda é o homem estoico e composto que
eu conheci, mas sob o exterior de mármore, posso dizer que há
uma tempestade se formando.
No final do turno, ele sai sem dizer uma palavra, e eu
resisto ao desejo de correr atrás dele, bater meus punhos nas
costas dele e implorar para que ele pare.
A semana inteira se arrasta assim.

Sábado à noite, Ryan me convida para jogar minigolfe.


Whitney: Sério?

Ryan: Ah… foi mal. Eu deveria convidar você para fazer algo
mais legal? Não é tarde demais para pegar uma rave ou algo
assim.

Whitney: UMA RAVE? Pare enquanto ainda pode.

Ryan: Então… sim?


É um pedido tão inocente, e eu tive uma semana tão tensa,
então eu aceito alegremente. Como a maioria dos funcionários
não mantém carros no local, Ryan aparece no meu dormitório
com duas bicicletas no reboque. Uma é dele. A outra ele pediu
emprestada a um amigo.
Ele segura um capacete preto e eu o pego com uma risada.
— O minicampo de golfe não está longe, mas levaria uma
eternidade para caminhar até lá. Você topa?
Coloco o capacete na cabeça em resposta. Ele sorri e dá um
passo à frente, me ajudando a ajustar as tiras para que elas se
fiquem confortavelmente sob o meu queixo.
— Desculpe. Meu amigo tem uma cabeça grande.
Eu dou risada e ele se aproxima e se abaixa um pouco,
mexendo na fivela. Finalmente, ela se encaixa no lugar. Seus
olhos encontram os meus e seu sorriso desaparece. Eu acho
que ele quer me beijar. Ele vai me beijar, mas então eu bato
meu punho fechado no capacete e declaro que ele se encaixa
perfeitamente.
— Pronto para ir?
Por ser uma noite de sábado, o campo de minigolfe está
extremamente cheio. Não ajuda que nós estamos bem atrás de
uma grande festa de aniversário. Os três primeiros buracos
levam trinta minutos. O tempo se move ao contrário. Danny
(eu sei o nome dele porque todo mundo está vestindo camisas
com DANNY FAZ 8 ANOS!) parece legal e eu odeio falar
besteira sobre ele, mas o garoto não sabe jogar golfe. No
quarto buraco, sua bola cai do moinho de vento em miniatura,
colide com uma árvore e consegue acertar Ryan diretamente
no rosto.
As crianças gritam quando o nariz dele começa a jorrar
sangue. Corro para pegar gelo no escritório principal. Depois
disso, sentamos na calçada em frente, enquanto Ryan inclina a
cabeça para trás, esperando o sangramento parar.
— Quer que eu volte e destrua Danny no golfe por você?
— Eu provoco.
Ele ri e depois geme.
— Você não acha que está quebrado, acha? — Pergunto,
olhos arregalados.
— Não. Meu nariz sangra muito facilmente. Eu tenho uma
constituição fraca.
Eu rio, porque categoricamente não é verdade. Ele é alto,
atlético.
— Vai parar em um segundo — ele me assegura.
Com certeza, depois de alguns minutos, ele tira o gelo do
rosto e não há mais sangue, apenas um pouco de inchaço e um
leve galo vermelho.
Ele olha para mim e eu sorrio.
— Realmente não está tão ruim. Você sempre ficou sem a
metade esquerda, certo?
Ele se inclina e empurra de brincadeira meu ombro com o
dele. Eu sorrio para os meus pés.
— Não acredito que trabalhámos juntos por tanto tempo
antes que eu tivesse coragem de te chamar para sair.
Um dos meus olhos se estreita quando eu penso sobre isso.
— Eu não, tecnicamente, chamei você primeiro? Semana
passada?
— Isso não conta. Nós nunca ficamos sozinhos. Este é
definitivamente o nosso primeiro encontro.
— Uau. Encontro, hein? — Enfatizo a palavra com um
sorriso exagerado.
— Eu sabia que deveria ter levado você para a rave.
Eu dou risada.
Seu tom é mais sério quando ele continua: — Estou
querendo convidá-la há um tempo, mas você sabe… você é
meio intimidadora.
Uma risada explode em mim. Certamente ele está
brincando.
Ele não está.
— Quero dizer, você é você, — diz ele, gesticulando para
mim como se eu devesse entender o que isso significa. Sua
declaração me deixa um pouco desconfortável, então eu giro,
tentando manter o clima leve.
— Isso é porque eu te destruí nos três primeiros buracos?
Porque eu te avisei. Para alguém que não pratica esportes,
tenho uma coordenação olho-mão assustadora.
Seu sorriso não alcança seus olhos. — Vamos lá, fala sério.
Não. Essa é a última coisa que eu quero agora. Eu tenho
falado sério a semana toda.
— Você gosta da sua nova posição no parque? Você é um
caçador na floresta agora, certo? — Pergunto. — Deve ser
legal. Ouvi dizer que você pode aparecer cedo e se voluntariar
para testar algumas das montanhas-russas.
Ele desvia o olhar, decepcionado. — É legal. Sim. Quero
dizer, não queria deixar meu personagem anterior, mas não
tive opção.
— Você pode voltar, sabe. Derek só vai trabalhar lá por um
tempo. Eles precisarão de alguém novamente quando ele for
embora.
Ele assente, olhando para mim pelo canto do olho. —
Como é trabalhar com ele, afinal?
Parece errado discutir Derek com Ryan. Então eu não faço
isso.
Aponto para a barraca de raspadinha do outro lado da rua e
prometo voltar logo.
Em alguns minutos, volto com duas pilhas de gelo raspado.
O xarope escorre pela lateral do copo de isopor e eu obrigo o
p p p p g
Ryan a comer rápido. — Rápido! Está pingando!
— Eu não posso! Meu nariz! — Ele protesta.
Rimos quando minhas mãos se transformam em uma
bagunça pegajosa. No final, tenho que pegar um pouco do
copo dele para que ele possa colocar a colher embaixo da
bolsa de gelo. É um desastre. Tudo. Mas estamos nos
divertindo e, mesmo que eu esteja lutando contra bocejos, sei
que não é porque ele é chato. Ele não é. Este foi o encontro
mais agitado que eu já participei, de longe, mas não tenho
dormido bem nas últimas semanas e, eventualmente, meu
cansaço vence.
— Pronto para ir? — Pergunto, acenando em direção às
nossas bicicletas estacionadas.
Ryan joga sua bolsa de gelo no lixo antes de começarmos a
viagem de volta para casa. O ar do outono esfria minhas
bochechas enquanto corremos pela estrada, rindo quando Ryan
faz uma piada sobre “pegar um ar” enquanto ele levanta o
pneu dianteiro em um movimento falso de BMX.
Eu tento a mesma coisa e consigo levantar minha bicicleta
apenas um centímetro. Ryan, é claro, age como se fosse a
coisa mais incrível que ele já viu.
— Você vai se profissionalizar, com certeza.
Nós dobramos juntos a esquina de volta para a minha rua e
meu dormitório paira à nossa frente. Sugiro uma corrida até o
fim e Ryan concorda. Pedalamos rápido, mas então meu olhar
pega alguém sentado no meio-fio, alguns metros à frente. Bem
na frente do meu prédio.
Desacelero.
Ao luar, posso dizer que o cara é alto, com cabelos escuros.
Estreito o olhar para distinguir suas feições, desejando -
depois me repreendendo por isso.
Meu estômago afunda quando Ryan se vira para perguntar:
— Aquele é o…
— Derek.
Ele tem os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça baixa.
Eu sei que é ele mesmo antes de desmontarmos e desfazemos
a fivela dos nossos capacetes. Ele olha para cima e nossos
olhos se encontram. Um puxão familiar me puxa na direção
dele e é doloroso resistir. Ele parece triste, embora eu duvide
que alguém mais notaria. É a maneira sutil de suas
sobrancelhas escuras ficarem levemente abatidas, um sulco
raso entre elas. Sua boca cheia está perfeitamente reta, e ainda
assim eu juro que ele está franzindo a testa.
Ele está vestindo jeans e uma camiseta do Miami Heat, o
mais casual que eu já o vi. Seu cabelo escuro está despenteado
e, quando ele se levanta, meus olhos seguem seu corpo. Ele é
tão atlético quanto Ryan e, embora seja mais alto, se comporta
com mais graça e fluidez. Acho que é autoconfiança em quem
ele é e o que quer.
Nas mãos dele, há um livro de capa dura. Ele me vê
perceber e depois o enfia debaixo do braço.
Arranco meu capacete, tentando controlar a bagunça insana
de ondas que estavam enfiadas por baixo. Claro, é impossível.
Eu desisto e os deixo voar.
Ryan é o primeiro a falar. Ele é o único de nós atualmente
capaz de falar, eu acho.
— Derek, ei. — Ele soa sem fôlego. Nós dois estamos. —
E aí?
Derek olha para ele e sua carranca se aprofunda. — O que
aconteceu com você? Você está sangrando?
Ah, certo, a bola de golfe.
— Se você conseguir acreditar, recebi uma bola de golfe
diretamente no rosto, cortesia de uma criança de oito anos.
Não se preocupe, Whit aqui cuidou bem de mim.
Ryan ri e olha para mim como se estivéssemos
compartilhando uma piada interna. Eu acho que nós estamos.
— Estávamos jogando minigolfe — explico, parecendo
culpada.
Não há protocolo para esta situação. Ninguém sabe como
agir. Ryan olha entre mim e Derek. Derek estuda o prédio do
outro lado da rua. Eu mantenho meu foco preso ao chão.
— Bem… — Ryan diz, finalmente. — Parece que vocês
precisam conversar. Eu te ligo mais tarde, Whit, ok? — Ele se
vira e beija minha bochecha, pegando a borda da minha boca.
Eu assisto Derek, tentando decifrar se eu o machuquei. A
ideia é ridícula. Estou projetando o que quero ver, não o que
realmente está lá, visível em seus olhos castanhos escuros.
Esses olhos podem me obrigar a derramar a verdade, mas
fazem exatamente o oposto para Derek. Um poço de marrom
escuro tão profundo que me perco procurando por respostas.
Eu nem penso em reconhecer Ryan até que ele afaste as
bicicletas, a alguns metros da calçada de onde eu estou.
Dou um tchau tímido em sua direção, decepcionada comigo
mesmo. Eu me diverti com ele hoje à noite. Ele merece
melhor.
— Você não disse que você e Ryan eram apenas amigos?
— Derek pergunta quando eu me viro para encará-lo.
Dou de ombros. — Nós somos.
— Então não foi um encontro?
— Foi minigolfe. Chame do que você quiser.
De repente, estou com raiva de Derek por estar aqui, por
arruinar uma noite perfeitamente boa. Sofri com o mau humor
dele durante toda a semana no trabalho e agora ele está aqui,
depois de horas, lembrando-me do que inevitavelmente me
aguardará na segunda-feira.
— O que você está fazendo aqui, afinal? — Pergunto,
parecendo acusadora.
Meus braços estão cruzados sobre o peito. Eu tento ficar
alguns centímetros mais alta.
— Eu quero conversar.
— Então fale — eu atiro de volta.
Em um instante, percebo onde estamos. Aqui fora, vozes
ecoam. Tenho certeza que os alunos dentro dos dormitórios
podem nos ouvir. Diria a ele que devemos guardar isso para
outra hora, mas quero ouvir o que ele tem a dizer. É
claramente importante, ou ele não estaria no meio-fio,
esperando por mim.
Suspiro e aceno com a cabeça em direção à porta dos
fundos do dormitório. É misto, e não há parâmetros reais sobre
quem é permitido, desde que faça check in na recepção. Ainda
assim, pulo esse degrau e subo pela escada dos fundos, em
direção ao meu quarto no final do corredor. É melhor estar
dentro de casa, mais seguro agora que estamos longe de
olhares curiosos.
Eu gostaria que estivéssemos em outro lugar, no entanto.
Eu nunca pretendi trazer Derek para o meu dormitório. É o
meu espaço pessoal e ele está invadindo. Depois de pousar o
livro na minha pequena cômoda, ele observa minha cozinha e
mesa improvisadas. Minha cama de solteiro tem um edredom
branco simples e dois travesseiros. Nada mais cabe. Meus
livros (alguns dos quais são dele) estão empilhados ao lado da
minha cama. Quero correr até lá e deslizar a pilha para que ela
desmorone no chão, impedindo-o de ler os nomes, mas é tarde
demais. Rezo para que ele não se lembre de ter emprestado
para mim, em primeiro lugar.
Ele está absorvendo tudo, olhando, examinando,
bisbilhotando. Ele mantém as mãos para si mesmo, mas faz
um círculo lento no quarto, curioso sobre cada detalhe. Sou
um espécime e ele é um cientista, e lembro-me da primeira vez
que nos conhecemos, quando ele estava sentado em frente a
mim na cafeteria, me examinando com diversão.
Sinto que ele está fazendo a mesma coisa agora.
Eu explodo.
— Estamos aqui agora, então fale.
Eu imediatamente me arrependo de ter explodido com ele e
quase peço desculpas, mas ele pede primeiro.
Ele se vira para me olhar por cima do ombro, olhos
castanhos despertando um enxame de borboletas dentro de
mim. — Sinto muito pela maneira como lidei com as coisas há
oito anos, — diz ele, como se fosse uma questão de fato.
— O quê?
Fico perfeitamente imóvel, tentando descobrir se o ouvi
direito. Talvez eu tenha sido atingido na cabeça por uma bola
de golfe também.
Ele se vira totalmente para mim e continua: — Você está
chateada comigo por causa da forma como deixei as coisas
naquela época, então aqui estou eu, me desculpando.
Não parece certo. Ele não parece tão arrependido. Na
verdade, seu tom é bastante irritado. Sua postura é muito
orgulhosa para alguém que está se desculpando.
Inclino minha cabeça enquanto penso sobre isso.
— Então, se você pudesse voltar no tempo, lidaria com as
coisas de maneira diferente? — Testo, querendo
esclarecimentos para o meu eu de dezoito anos.
Sua expressão permanece neutra. Quase entediado. — Eu
não disse isso.
Ponho as mãos nos quadris. — Então você não está se
desculpando.
Ele quase sorri. — Eu acho que não.
Jesus! A arrogância!
Ele encolhe os ombros. — Não posso me desculpar por não
ir atrás de você naquela época. Aos meus olhos, você ainda era
uma criança.
ç
— Criança ou não, eu ainda tinha sentimentos. De fato,
ainda sinto a pontada de rejeição quando recebi o e-mail do
formulário genérico informando que você não seria mais meu
mentor.
Os olhos dele se estreitam. — Você parece pensar que eu a
ofendi na época, mas me deixe esclarecer. Seu e-mail foi
encantador e doce. No entanto, você o enviou no servidor do
e-mail da empresa, — é preciso todo o meu autocontrole para
não me encolher. Eu nem tinha considerado esse fato. — Além
desse flagrante passo em falso, havia uma óbvia diferença de
idade entre nós. O que você queria de mim? Um
relacionamento? Você mal tinha saído do ensino médio. Eu já
havia terminado minha pós-graduação e tinha um foco:
trabalhar. Nos últimos oito anos, mal aproveitei o tempo para
olhar para cima, mas agora estou olhando, Whitney. Eu vejo
você. Você quer que eu rasteje e implore por perdão pelo que
fiz naquela época? — Ele dá um passo em minha direção. —
Prefiro falar sobre o que sinto por você agora.
Me mantenho firme quando ele se aproxima, meu queixo
levantando em desafio. — Isso é tudo muito bom, mas como
eu te disse na semana passada, ainda sou a mesma garota. Se
você não me queria naquela época, por que eu deveria me
importar que você de repente me quer agora?
Eu praticamente posso ouvir um coro de mulheres me
aplaudindo na minha cabeça. Sim! Vai fundo, garota! Mais
alto para as pessoas que estão na parte de trás!
Sua atenção cai para a minha boca. Meus lábios se separam
em uma inalação. — Apesar do que você pensa, você mudou.
Você cresceu. Essa conversa prova isso.
Sua mão se curva em volta da minha cintura. Quando
atinge a base da minha coluna, ele me puxa em sua direção. Eu
praticamente tropeço. Minhas mãos atingem seu peito e ele
não se mexe, tão resistente quanto uma parede de tijolos.
A outra mão dele alcança meu queixo e então ele se abaixa,
inclinando minha cabeça apenas o suficiente para que nossos
lábios possam fazer contato.
Exceto que não fazem. Derek fica lá, congelado. Meu
coração está na minha garganta. Estou respirando com tanta
dificuldade que pareço um animal enlouquecido, preso
embaixo de um predador. Não é um beijo, mas meu corpo está
reagindo como se fosse. Eu caio contra ele, respirando seu
perfume: a confiança picante de um homem que eu queria
desde que aprendi o significado de querer. Eu imaginei esse
momento por tanto tempo. É inebriante. Estou gritando por um
beijo de maneiras que não exigem palavras: meus dedos se
cavam na camisa dele, meus quadris roçam nos dele. Eu sei
que ele pode sentir isso, e ainda assim ele não cede.
Finalmente, ele fala, e seus lábios quase roçam os meus
enquanto se movem.
— Eu tenho uma teoria.
O barulho de raiva que eu faço é involuntário. Primitivo.
Faz seus lábios carnudos se curvarem em um sorriso astuto.
Ele se endireita e se afasta. Seu contato comigo termina tão de
repente que eu balanço em sua direção. É como se ele fosse
minha espinha agora. Sem ele, eu vou entrar em colapso.
— Não acho que seus sentimentos por mim sejam
puramente do passado. Eu acho que você pode ser tão louca
por mim agora como era naquela época.
Eu mastigo minha raiva, mordendo o lábio.
Como ele ousa?
COMO ELE OUSA?
— Você está errado.
Eu jogo as palavras para ele com raiva, mas seus olhos
afastam minhas camadas de fingimento. Resisto ao desejo de
me contorcer, de me cobrir como se estivesse nua de alguma
maneira.
— Estou? — Ele provoca.
É irritante perceber que não tenho escudo contra ele, não há
maneira de convencê-lo de que não sou um livro aberto. Eu
sou um diário, trancado e escondido. Ou melhor, eu queria
ser…
Não darei a ele a satisfação de me ver aborrecida. Não. Em
vez disso, vou até minha porta, abro e gesticulo para que ele
possa gentilmente sair.
— Agora.
Seus olhos se estreitam e ele não se move. Seu olhar brilha
com o meu. Então, finalmente, ele se aproxima para recuperar
seu livro e passa por mim, pressionando o livro encadernado
no meu peito ao sair.
Claramente, é um presente.
Eu fico lá, recuperando o fôlego e a compostura. O tempo
todo, mantenho o livro pressionado contra o coração até saber
que Derek teve tempo suficiente para deixar o dormitório e
voltar para o carro. Eu pairo lá, imóvel. É um jogo mental que
estou jogando comigo mesma, como se não pudesse me
j g g , p
importar menos com o livro. Olhe para mim, sendo paciente.
Nem mesmo olhando para ele. Me empurro ainda mais, me
convencendo de que preciso de um banho mais do que
qualquer coisa. Coloco o livro na minha mesa e agarro meu
organizador de produtos de higiene. Me enxaguo lentamente
no chuveiro comunitário, de pé sob a água quente enquanto me
repreendo por querer que Derek me beijasse.
Quando não suporto a água aquecida por mais um segundo,
saio e me seco. De volta ao meu dormitório, me sento na beira
da cama com meu roupão, escovando meus cabelos
emaranhados enquanto olho o livro.
Parece velho. A capa é azul escura, desbotada para um azul
marinho opaco. É impossível ler o nome gravado na coluna do
outro lado do quarto, embora eu ache que esteja incrustado
com folha de ouro.
Finalmente, com um bufo impaciente, jogo a escova na
cama e me levanto, caminhando para inclinar o livro em minha
direção. Traço as letras com o dedo e imediatamente recuo
uma vez que percebo o que estou tocando.
É uma cópia da primeira edição de The Enchantress, um
conto de fadas francês do século dezoito que Cal diz que o
inspirou a desenvolver o Reino dos Contos de Fada.
Na página de título gasta, em tinta preta, alguém escreveu
cuidadosamente: Você me lembra ela.
CAPÍTULO ONZE
DEREK

u quase me esqueci e beijei Whitney na noite passada.

E
Não fazia parte do meu plano quando decidi esperar por
ela fora de seu dormitório. Eu queria conversar, dar o
livro a ela. Foi ela quem me convidou para seu
dormitório. Foi ela quem me puxou para seu santuário
particular com sua cama branca e fofa. Quando a vi, eu a
imaginei deitada sobre os lençóis, tirando a roupa, revelando a
pele perfeitamente nua. Eu levaria um tempo deslizando minha
mão ao longo de seu estômago, umbigo e, em seguida, mais
embaixo.
Não preciso me perguntar se ela foi dormir pensando em
mim ontem à noite. Eu sei que ela foi.
A única razão pela qual eu não a beijei é porque ela
cheirava a colônia de Ryan. Isso me lembrou onde ela tinha
estado mais cedo naquela noite: em um encontro.
Talvez ele seja bom para ela. Ele parece inofensivo. Tenho
certeza de que eles tiveram uma noite agradável, mas não sou
do tipo que difere. Crescer com privilégios não me deixou
preguiçoso. O exato oposto, de fato. Sempre tive que trabalhar
duas vezes mais para provar que mereço estar onde estou, e
essa luta significa que não valorizo verdadeiramente as coisas
que são fáceis. Eu gosto de uma luta adequada. Se Ryan quiser
jogar seu chapéu no ringue, deixarei.
Na manhã seguinte, estou no banho, pensando nela, me
acariciando com uma mão enquanto mantenho a outra apoiada
na parede. Um fluxo quente toma conta de mim quando a cena
da noite passada se desenrola com um final totalmente
diferente. Seus lábios carnudos estavam manchados de
vermelho. O hálito dela cheirava doce. Eu queria lamber até a
última gota dela.
Essas sessões no meu banho são a única razão pela qual
sobrevivi nas últimas duas semanas. Como um garoto excitado
de dezoito anos, não consigo durar um dia inteiro sem ceder à
vontade de me tocar enquanto fantasio com ela.
E está piorando.
Eu já tive relacionamentos antes e sei como é o desejo real,
mas essa reação visceral que tenho em relação a Whitney é
mais do que isso. Vem de um abismo tão profundo e tão amplo
que me assusta.
Eu termino e me lavo, pegando minha toalha e enrolando-a
na cintura. Vou para a minha cozinha para preparar o café da
manhã e verificar meu e-mail.
Tenho uma nova mensagem de Whitney que foi enviada
ontem à noite.

De: WhitneyAtwood@Knightley.com
Para: DerekKnightley@Knightley.com
Assunto: Presente

Eu não posso aceitar este livro. Vou deixar com Heather.

De: DerekKnightley@Knightley.com
Para: WhitneyAtwood@Knightley.com
Assunto: RE: Presente

Eu já escrevi dentro dele. É seu. Fique com ele.

Eu poderia facilmente colocar uma nota dentro do livro, em


vez de marcar a página de título, mas tive a sensação de que
ela não aceitaria de bom grado. Espero que ela não procure o
valor na internet; ela vai ter a ideia errada. Não estou tentando
comprar o carinho dela. Foi simplesmente um presente. Além
disso, quem apreciaria mais esse livro que Whitney? É para ser
dela.
Ela deve estar acordada cedo também, porque eu recebo
uma resposta logo depois que meu café fica pronto.

De: WhitneyAtwood@Knightley.com
Para: DerekKnightley@Knightley.com
Assunto: RE: RE: Presente

Ainda acho que não posso aceitar.

Eu odeio a formalidade forçada. Conversar por e-mail do


servidor da empresa não é exatamente o melhor método de
comunicação se eu pretendo em ir atrás dela. Quero pedir o
seu número, mandar uma mensagem de texto para sugerir que
passemos o dia juntos. Fazendo o quê? Quem se importa? Vou
levá-la de volta para o minicampo de golfe, se é isso que ela
quer. Encontrarei a mesma sobremesa que manchou seus
lábios de vermelho e tornou sua boca açucarada e lhe
comprarei meia dúzia deles.
Em vez disso, fecho o laptop e me preparo para o dia.
Foi fácil me instalar no meu novo apartamento no último
andar. Ele foi totalmente mobiliado e minhas roupas foram
enviadas de Londres. Heather as desempacotou e pendurou no
meu closet antes mesmo de eu chegar à cidade.
O apartamento tem todas as comodidades que eu poderia
precisar, mais espaço do que uma família de cinco pessoas
poderia ocupar e silêncio suficiente para deixar alguém louco.
Eu só noto isso ocasionalmente. Normalmente, só estou aqui o
tempo suficiente para tomar banho e dormir. Eu tenho me
esfarrapado nas últimas duas semanas.
Assumir uma posição de personagem no parque não
significa que eu me afaste de meus outros deveres. Em vez
disso, tenho que gerenciar meu tempo até o último minuto e
desistir de algumas preciosas horas de sono todas as noites.
Cal já começou a me treinar para assumir o cargo de diretor de
operações.
Ele está me esperando no parque esta manhã. Temos uma
nova montanha russa que será inaugurada no próximo ano e as
equipes de construção estiveram trabalhando duro. Hoje,
vamos visitar a área com o empreiteiro chefe e o engenheiro.
Ontem à noite - antes de eu esperar Whitney do lado de fora
do dormitório dela - tivemos um jantar com um grupo de
hospitalidade sediado em Pequim. Eles estão na cidade para
discutir negociações para uma oportunidade de franquia. Em
suma, eles querem comprar os direitos da marca Reino dos
Contos de Fada para que possam construir um parque imitador
independente na China. O número que eles jogaram na mesa
na noite passada foi suficiente para dar uma pausa a Cal, mas
quando eu o encontrei hoje de manhã, ele balança a cabeça,
ignora uma saudação e diz simplesmente: — Não vou aceitar a
oferta deles.
Claro que ele não vai.
Ele é ferozmente protetor de sua marca. A única maneira
que nosso parque irmão surgiu em Londres é porque eu
supervisionei pessoalmente sua criação.
— Vou enviar um e-mail legal.
Ele assente e é isso.
O resto do dia é uma correria. Mal paramos para almoçar, e
até isso é trabalho já que experimentamos o novo menu de
degustação de outono em València.
Às oito, quando volto para o meu apartamento, estou
cansado pra caramba. Tiro os sapatos e vou direto para a
geladeira para tomar uma cerveja. Não me surpreende que
meu pai tenha se afastado dos negócios na minha idade,
retirando suas ações da empresa e deixando este mundo para
trás. Se você entrar nessa linha de trabalho esperando que seja
um emprego, vai desmoronar.
É um modo de vida. Uma paixão. Seus valores criativos ou
se alinham com os de Cal ou não.
Whitney me acusou de falta de paixão no jantar de Cal.
Acho engraçado, considerando que ex-namoradas me
acusaram de ser muito apaixonado. Não por elas, mas pela
Companhia Knightley.
Eu me resignei a uma vida em que era casado com a
empresa, assim como Cal. Claro, cônjuges e amantes podem ir
e vir como a maré, mas meu verdadeiro amor sempre será meu
trabalho.
Agora, quando penso em Whitney, me pergunto pela
primeira vez em muito tempo se posso estar errado sobre isso.
CAPÍTULO DOZE
WHITNEY

u acho que preciso limpar meu quarto no dormitório. É

E
embaraçoso admitir, mas nunca trouxe um cara para cá.
Não é que eu seja uma virgem-nunca-fui-beijada. Longe
disso. Eu tive dois parceiros sexuais. O primeiro foi um
ano depois que Derek se mudou para Londres.
Carrie e eu fomos a uma festa no apartamento de um
amigo. Não era exatamente uma festa universitária
estereotipada. Havia refrigeradores de vinho e pessoas jogando
Scrabble. Ainda assim, eu conheci um garoto.
Winston, com esse nome por causa de Winston Churchill,
era fofo com cabelos pretos e olhos azuis pálidos.
Originalmente da Inglaterra, ele parecia a pessoa menos
ameaçadora que eu já conheci. Nós começamos a conversar
em um canto e, provavelmente devido ao seu comportamento
de passarinho e a Smirnoff Ices que eu tinha consumido, me
senti confortável o suficiente para admitir que nunca tinha
feito sexo antes.
Ele também não.
Nossos olhos se iluminaram com possibilidades.
— Você…
— Poderíamos…
Os finais de nossas frases não eram necessários. Ele pegou
minha bebida pela metade, colocou-a no chão e me levou para
o seu dormitório. Aquela noite foi doce e estranha. Muitos
“Você tem certeza?” e “Esse é o lugar certo?” misturado com
“Eu não acho que estamos fazendo certo.”
Nem preciso dizer que não cheguei a experimentar um
orgasmo, mas tinha a confiança de uma boazona não-virgem.
Esfreguei minha experiência sexual na cara de Carrie como
qualquer boa amiga deveria, dizendo coisas clichê como
“Depois que fizer sexo, você entenderá” tantas vezes que ela
finalmente tentou me sufocar com um travesseiro.
Meu segundo parceiro sexual era um cara com quem eu
estava namorando na época. Alguns anos depois de Winston.
Eu estava mais do que pronta para enfrentar o sexo pela
segunda vez.
Grant era muito bonito e alguns anos mais velho. Ele era
associado do departamento de engenharia e Carrie tentara me
alertar para ficar longe dele. Segundo ela, ele era obcecado
com o próprio reflexo. Ele tocava violão e se descrevia como
um cantor e compositor promissor, e era exatamente isso que
ele era no quarto… promissor. Uma verdadeira maravilha de
um hit só, com um single de dois minutos intitulado “Ela não
está satisfeita”.
Eu dei a ele um segundo encontro, pensando que talvez ele
estivesse ansioso e teve um mal desempenho. Ele insistiu em
tocar seu violão antes de começarmos a trabalhar. Eu sentei em
um lado do sofá, ele sentou no outro, olhos fechados, cantando
em alto falsete. Eu não tinha certeza do que fazer com as mãos
depois que ele educadamente me pediu para parar de bater
palmas no ritmo da música.
Nós não voltamos para o quarto. Eu menti sobre uma
emergência familiar e saí do apartamento dele.
Ele ainda trabalha aqui. Nós raramente nos cruzamos, mas
quando isso acontece, ele sempre pergunta como está minha
avó.
Nem preciso dizer que minha história sexual é escassa e,
portanto, meu cérebro se prendeu à pequena troca que tive
com Derek no meu dormitório no outro dia e corri com ela.
Não foi nem um beijo - seus lábios mal tocaram os meus - e
ainda assim eu sonho com ele naquela noite e na outra. Na
segunda-feira, acordo quente. Formigando. Excitada.
Eu tiro minhas cobertas e me levanto. Brava.
Me recuso a fazer alguma coisa sobre o meu estado atual.
Não terei um orgasmo auto induzido enquanto penso em
Derek. Aqueles olhos castanhos dele saberiam o que eu fiz.
Ele sorriria presunçosamente e me perguntaria sobre minha
manhã, me fazendo corar e reviver cada onda de prazer gerada
apenas pela sugestão de um beijo.
Não.
Decido exercer essa energia reprimida de outras maneiras
mais saudáveis.
Eu faço cinco polichinelos. Então começo a fazer dez
flexões, paro depois da terceira e desmorono no meu tapete.
Meus olhos encontram o romance que Derek me presenteou
debaixo da minha cama. Eu o escondi. Pensei que estava
seguro lá embaixo, fora da vista. Acontece que eu estava
errada.
Eu quero devolver a coisa. Como ele ousa me dar um
presente tão atencioso e inestimável? O que eu devo fazer com
isso? Mesmo agora, está embrulhado em um saco Ziploc. Se
eu procurar o valor, provavelmente vou desmaiar. Não vou me
permitir. Estendo a mão e o empurro um pouco mais para
baixo da minha cama.
Para o meu turno mais tarde naquele dia, decido aparecer
exatamente um minuto antes do início da sessão de autógrafos.
Julie está em pânico do lado de fora da porta do meu camarim.
— Temos de ir! Vamos nos atrasar! Vou ser demitida! — Acho
que a ouço hiperventilando, mas sua preocupação é por nada.
Eu trabalhei nessa posição por tempo suficiente para saber que
levo exatamente dez minutos para andar em um ritmo normal-
rápido do meu camarim até a minha marca em frente à lareira.
Então, eu lhe dou onze minutos.
Ela olha para mim com raiva durante a nossa caminhada.
Há suor acima do lábio dela.
Derek já está de pé em sua posição, esperando
pacientemente que eu suba e me junte a ele. Ele cumprimenta
Julie com um aceno educado e não esconde seu interesse por
mim enquanto ajusto as mangas do meu vestido. Arrumo meu
cabelo. Limpo minha garganta. Finjo reconhecer e acenar para
alguém do outro lado da sala. Qualquer coisa para me manter
ocupada.
— Whitney, — diz Derek em saudação.
Ele não faz nada além de falar meu nome em sua voz
profunda e imediatamente me lembro da fantasia que tive esta
manhã, a necessidade quente e ansiosa que tentei reprimir com
polichinelos.
— Derek, — eu respondo, abrupta e formal.
— Como foi o resto do seu fim de semana?
— Sem intercorrências.
Carrie e eu fomos de ônibus para a mercearia para
mantimentos. No caixa, ela olhou meu carrinho cheio de itens
únicos: macarrão espaguete, mas sem molho; casquinhas de
sorvete, mas sem sorvete; uma cebola solitária. Embora suas
sobrancelhas se erguessem com interesse, ela manteve os
lábios fechados.
— E o seu? Você deu de presente outros artefatos de valor
inestimável?
Ele sorriu. — Apenas um.
— Eu realmente não posso aceitar.
— Sim, você pode. Eu dei para você. É seu agora.
Seu tom sincero me convence a ceder à vontade de olhar
para ele.
— Você é insano. Você sabe disso? Por escrever naquele
livro.
Ele não parece se importar com a minha acusação. Ele usa
o rótulo com orgulho. — Então você não gostou?
— Eu amei.
— E a minha teoria? Você pensou um pouco nela?
As crianças estão fazendo fila. Em breve, estaremos
ocupados demais para conversas particulares.
— Teoria?
É como se eu nunca tivesse ouvido a palavra na minha vida.
Você poderia usá-la em uma frase?
Ele sorri, vendo através da minha fachada fina tão
facilmente que minha irritação aumenta.
— Não, — eu respondo apressadamente. — Não há tempo
para teorias, receio.
— Você viu Ryan de novo?
— Como isso é da sua conta?
— Estou curioso para saber se esse rubor que você está
usando é para ele ou para mim.
Eu estreito meus olhos para ele, rangendo os dentes. Eu
quis dizer cada palavra que disse no meu dormitório. Ele não
pode reaparecer na minha vida e, de repente, decidir que me
quer. Onde está a justiça poética nisso? Meu coração se partiu
há oito anos e se ele tinha ou não razões válidas para me
deixar desamparada - sei que eram válidas - eu não sou tão
ilógica que não consiga entender seu ponto de vista. Uma parte
de mim sente que eu não posso, que não vou ser capaz de
ceder e lhe dar o que ele quer.
Além disso, ele ainda não deixou claro o que quer. Um
encontro? Um beijo? Ou é apenas a curiosidade que o
interessa? Talvez ele queira nada mais do que eu admitir que
ainda tenho sentimentos por ele, para que ele possa dizer: Aha!
Eu sabia! Caso encerrado.
Meu coração não aguentaria. A modo como ele falou, de
maneira tão irreverente sobre sua ex-namorada, só prova meu
ponto. Se eu descobrisse que ele me descrevia dessa maneira,
nunca me recuperaria.
Quando ele fala em seguida, é como se estivesse ouvindo
meus pensamentos.
— Deixe-me levá-la para jantar, — há uma pausa
superficial. — Um encontro. — Ele esclarece com uma voz
suave e aveludada.
— Não! — Digo rápido demais. Sai quase que estridente. A
resposta é uma algo instintiva que surge das profundezas da
minha mente. A mesma parte do meu cérebro que me adverte
para não tocar em fogões quentes, me adverte para não aceitar
esse convite.
Eu recuo, percebendo o meu erro. Minha reação exagerada
é uma espécie de evidência em si. Tento amenizar minha
resposta com justificativas. — Não acho que seja uma boa
ideia. Não é justo para você, na verdade. Teoria à parte, acho
que posso ter sentimentos por Ryan. E também tem um cara
que trabalha na loja de doces do outro lado da rua. Eu não o
conheço bem, mas…
Minha frase diminui quando percebo o pouco sentido que
estou fazendo.
Olho para cima, esperando ver sinais de rejeição, mas ele
parece divertido e, então, graças a Deus, a onda de crianças
finalmente desce sobre nós, exigindo toda a nossa atenção.
Eu pensei que os turnos que trabalhei com Derek na semana
passada foram infinitos e induziam à miséria, mas de alguma
forma, isso é pior.
Sua teoria é uma grande nuvem de gordura sobre nossas
cabeças. Eu não posso nem olhar para ele, especialmente
depois que um cara tenta me apalpar e Derek intervém. Ryan
nem teria notado. Nos dez meses em que trabalhei com Ryan,
houve incontáveis homens agindo de maneira inadequada em
relação a mim enquanto eu estava fantasiada de princesa
Elena. Nada de assustador, apenas comentários astutos e
insinuações não tão astutas, alguns números de telefone
escritos às pressas em papel de rascunho e enfiados na minha
mão, mas aparentemente esse tipo de coisa não passa com
Derek ao meu lado. Quando um jovem, um pouco embriagado
e muito arrogante, exige que eu tire uma foto com ele e depois
fica ao meu lado, com o braço em volta da minha cintura,
Derek o remove à força.
— Ah, vamos lá, eu estava apenas convidando-a para sair!
Olhe para ela, cara!
Não ouço o que Derek diz para ele, mas o rosto do cara
empalidece e ele levanta as mãos em rendição antes de ir
embora. Aparentemente, seu interesse por mim não valia a
pena causar a ira de Derek.
Quando Derek volta para tomar seu lugar ao meu lado,
ajeitando a jaqueta, ofereço a ele um pequeno sorriso. —
Obrigada. Eu agradeço.
Ele assente, e é isso. Ele poderia muito bem ter dito: estou
apenas fazendo meu trabalho.
Depois do nosso turno, Derek me surpreende ficando para
trás. Na maioria das vezes, ele é o primeiro a sair. Heather está
sempre pairando nas proximidades, com o telefone
pressionado no ouvido e a prancheta na mão, pronta para
entrar imediatamente nos negócios do parque. Hoje, no
entanto, ele levanta o dedo para ela e se vira para mim.
— Me perdoe por passar dos limites mais cedo. Foi
inapropriado convidá-la para jantar enquanto estávamos
trabalhando.
Seu tom é mais formal do que eu já ouvi, aço onde antes era
aveludado.
Abro a boca, procurando uma resposta, mas fico
balançando a cabeça
Eu quero dizer a ele que está tudo bem. Eu não me ofendi
nem um pouco, mas ele já está se virando para se juntar a
Heather, muito ocupado para esperar por mim para colocar
minha cabeça em ordem.
Mais tarde, eu me pergunto se ele assumiu que eu o havia
colocado no mesmo grupo daquele cara bêbado. Eu não fiz
isso. Nem um pouco. Mesmo que eu não tenha planos de ceder
a seus avanços paqueradores, ainda quero a atenção de Derek.
É um impulso do ego para a adolescente ainda dentro de mim.
No almoço, Carrie se senta à minha frente, me mostrando
alguns dos esboços e amostras de tecido para as fantasias do
desfile de fim de ano. Temos nosso primeiro ensaio na sexta-
feira e os desfiles começam em algumas semanas. Ela está
preocupada por não conseguir fazer tudo a tempo.
Enquanto conversamos, uma sombra cai sobre nós e meu
intestino se aperta. Presumo que seja Derek. Pego meu garfo.
Então, percebendo que não preciso de uma arma para ele,
apenas um conjunto sólido de armadura, solto o garfo e olho
para cima, apenas para encontrar Thomas lá.
Eu afundo no meu assento.
Carrie se ilumina como a Times Square.
— Oi, Thomas.
— Oi, que bom que te encontrei. Eu sei que devemos nos
encontrar às 15hrs para revisar as roupas, mas há alguma
chance de podermos conversar agora? Tenho uma reunião às
14:30h que pode demorar.
— Claro, — ela assente com entusiasmo, afastando o
almoço pela metade do caminho, como se não tivesse certeza
do por que estava lá em primeiro lugar. A maior parte derrama
na minha bandeja. Obrigada. Sua maçã rola para o chão com
um baque, mas ela não se importa. — Na verdade, eu estava
apenas analisando projetos com Whitney.
Como gerente do Departamento de Entretenimento,
Thomas é responsável pela produção do desfile. Por acaso,
Carrie está dirigindo a equipe de figurinos este ano. Eles terão
que trabalhar juntos de perto e, pelo que parece, nenhum deles
se importa.
O olhar dela encontra o meu, alarga-se com um apelo
silencioso, e já estou arrumando minhas coisas.
— Você não se importa, não é?
— Não. Nem um pouco.
Me levanto e vou para uma mesa cheia de algumas das
meninas do meu dormitório. A alegria delas por eu ter me
juntado a elas no almoço me faz sentir bem, como se talvez,
mesmo com tudo acontecendo, eu ainda esteja fazendo um
bom trabalho como gerente de residência. Então, depois que
minha bunda mal faz contato com meu assento, todas se
inclinam em tons abafados e exigem informações sobre Derek.
— Sabemos que você está trabalhando com ele agora!
Aparentemente, a notícia se espalhou.
— Ele é tão bonito quanto todo mundo diz?
Eu não respondo.
— Vocês vão ter que se beijar no desfile de fim de ano ou
isso é apenas um boato?
Querido Deus, espero que não.
Deixo a mesa sem dizer uma palavra e decido que o almoço
é superestimado. Meu tempo seria melhor gasto trancada
dentro do meu camarim, me escondendo dos meus problemas.
Quarta à noite com Cal deveria ser um alívio. Entro, jogo
minha bolsa no chão ao lado da porta e vou procurar por Ava.
Ela está na cozinha, terminando o jantar. Eu ando até ela e
descanso minha cabeça em seu ombro.
Ela ri. — Longo dia?
— O mais longo de todos.
— Quer falar sobre isso?
— Nem um pouco.
Ela beija o topo da minha cabeça e me garante: — Vou
fazer sua sobremesa favorita.
Infelizmente, Cal não recebeu o memorando de pegar leve
comigo.
— Estou pensando em subir Thomas para o cargo de Chefe
de Entretenimento quando Pam se aposentar, — ele anuncia
enquanto comemos.
Faz sentido. De qualquer maneira, ele é qualificado demais
para seu cargo atual, e seu objetivo final sempre foi
administrar o departamento.
— Isso deixará a posição atual dele em aberto, — continua
Cal.
Entendo para onde ele está indo, porque já percorremos
esse caminho antes. Muitas vezes.
— Você poderia passar o sal?
Ele me ignora.
— Eu acho que você é mais do que qualificada para
assumir a posição dele, — empurro comida em volta do meu
prato. — E você terá que considerar a possibilidade de deixar
seu cargo atual um dia. Por que não agora?
— Eu gosto do meu trabalho.
— Qual é o seu plano de longo prazo?
Eu suspiro. — Não podemos apenas jantar?
Em momentos como este, nossos papéis como
mentor/mentorado se misturam ao de pai/filha. É como se eu
tivesse esquecido que ele é Charles Knightley. No momento,
ele é apenas Cal, me empurrando para fora da minha zona de
conforto.
Eu não gosto disso.
Quero Ava e seus abraços quentes.
Posso sentir que ele não vai abandonar o assunto até que eu
lhe dê uma resposta.
Com um suspiro, digo: — Acho que vou trabalhar onde
estou até que não faça mais sentido e depois decidirei o que
fazer. Ei, talvez eu volte a vender balões na Castle Drive.
Ele me estuda, quieto. Sua habilidade astuta de ver pelas
minhas camadas me lembra Derek. Então ele assente: — Tudo
bem. Se é isso que vai deixar você feliz.
Penso nessa palavra durante o resto do jantar. Eu realmente
não tenho sido feliz nas últimas semanas. Eu tenho vivido à
beira do meu abismo. Esperando. Se tenho alguma esperança
de recuperar algo parecido com felicidade, preciso assumir o
controle dessa situação com Derek, orientá-la na direção em
que me sinto confortável. Então, pouco antes de sair, peço a
Cal o novo endereço de Derek. Se ele está curioso sobre o
porquê eu preciso disso, ele não deixa transparecer.
Vou direto para o complexo executivo de apartamentos
depois de sair da cobertura do Cal.
Lá dentro, vou para o elevador logo após o saguão, mas sou
parada por uma mulher atrás da recepção. Seu cabelo está
preso em um coque apertado. O terno dela é de um preto
intenso. Suas unhas estão cortadas e limpas.
Aparentemente, todos os residentes precisam mostrar uma
identidade por motivos de segurança. Eu tenho meu crachá de
trabalho, mas não é suficiente.
— Quem você está aqui para ver? Eu vou ligar para a
pessoa.
— Ah, hum… Derek Knightley.
Seu olhar cético não passa despercebido. Ela
provavelmente acha que eu sou alguma fã que está aqui para
invadir a privacidade dele. Ainda assim, ela faz a ligação
enquanto me olha pela ponte do nariz.
— Sim, Sr. Knightley, desculpe incomodá-lo. Há uma
Whitney Atwood aqui para vê-lo. Devo mandá-la para cima
ou…?
Mandar ela embora.
A pausa que se segue parece infinita, então ela assente e
diz: — Certo, obrigada, senhor. Ela está a caminho.
A viagem de elevador é mais rápida do que eu gostaria. Já
estou na porta dele, prestes a bater quando paro um momento
para olhar para baixo. Ah, sim, minha aparência… estou
usando um vestido e blusa de suéter creme fino. Meu cabelo
ainda está preso desde meu turno no parque, embora uma
quantidade saudável de fios tenha escapado. Eu gostaria de ter
pensado em olhar no espelho antes de sair do Cal, porque se há
comida presa nos meus dentes, é tarde demais para limpar
agora. A porta se abre antes que meu punho faça contato com
ela.
Thomas sorri para mim. — Whitney! Não sabia que você se
juntaria a nós na noite do pôquer.
Eu posso sentir a cor sumir do meu rosto quando ele me
leva ao hall de entrada de Derek e depois para a sala de jantar.
Dentro do espaço luxuoso, três caras sentam-se em torno de
uma grande mesa circular, cartas nas mãos, licor escuro em
copos grossos de cristal. As fichas de pôquer marcam o lugar
de cada homem na mesa. Do outro lado de onde eu estou,
Derek está sentado, vestindo uma camisa social branca, seu
peito bronzeado um pouco visível na gola onde ele abriu dois
botões. Seu cabelo castanho está levemente despenteado. Ele
me avalia com uma intriga fria.
— Desculpe aparecer aqui sem aviso prévio, — eu digo, me
sentindo mais tola do que nunca. — Eu não sabia que estaria
interrompendo
Um dos amigos de Derek, um homem que reconheço, mas
nunca conheci, sorri preguiçosamente e depois levanta o copo
em saudação. — Você pode aparecer no meu apartamento sem
aviso prévio quando quiser.
Derek fica calado, me observando com olhos castanhos
quentes.
— Cal me deu seu endereço. — Explico, mordendo minha
língua antes de acrescentar: Culpe-o!
Thomas volta para a mesa e puxa uma cadeira. — Junta-se
a nós?
O convite mal é feito antes que Derek se levante e rode a
mesa em minha direção.
— Estou assumindo que você gostaria de dar uma palavra?
— Ele pergunta, finalmente falando enquanto se aproxima e
bloqueia minha visão da mesa.
Um deles resmunga. — Ah, vamos lá! Não podemos todos
ouvir o que ela tem a dizer? Se você for para outro lugar, nós
vamos nos levantar e ouvir na porta de qualquer maneira.
Todos riem, mas Derek me vira e me guia por um corredor
com uma mão em volta do meu bíceps. Entramos em um
quarto. Ele fecha a porta atrás de nós e fica lá, esperando que
eu diga alguma coisa.
Eu até falaria, mas minha atenção está focada em outro
lugar nomeado de cama king size, que paira ao nosso lado.
— Este é o seu quarto? — Engulo em seco.
— Eu não achei que você gostaria de falar na frente dos
caras.
Claro, mas ele poderia ter me empurrado para um armário
no corredor. É muito melhor. O acesso ao seu quarto é como
ter liberdade para controlar sua vida privada. Mais ou menos.
O quarto é escasso. Não me interpretem mal, os móveis e as
roupas de cama parecem os melhores que o dinheiro pode
comprar. Quero esfregar meu rosto nesses lençóis e sentir o
quanto os meus estão tão desesperadamente ausentes de
conforto. Há arte nas paredes, mas é do tipo que você encontra
em um hotel: veleiros abstratos, paisagens vagas. Nenhum
item pessoal chamou minha atenção, exceto a brochura na
mesa lateral e um copo de água que provavelmente foi deixado
lá na noite anterior.
— Parece que você está decepcionada, — diz ele.
Dou de ombros. — Eu meio que esperava mais coisas
pessoais, algo para chantagear você. Um ursinho de pelúcia
parcialmente escondido embaixo do travesseiro, esse tipo de
coisa.
Ele ri e o som cresce dentro de mim, me enchendo de
coragem.
Viro, junto as mãos atrás das costas e digo simplesmente:
— Estou aqui porque gostaria que sejamos amigos.
Suas sobrancelhas se franzem. Claramente, não foi isso que
ele pensou que eu vim aqui para dizer.
— Tivemos algumas semanas tumultuadas. Eu sei que não
deveria deixar isso me atingir, mas atingiu. Eu penso muito em
você… — há uma mudança em seu olhar, um desejo familiar
que faz meu intestino apertar. O sangue corre pelas minhas
bochechas quando eu limpo a garganta. — Na nossa situação,
quero dizer. Eu penso muito sobre a nossa situação. Em
qualquer outra circunstância, eu diria que seria melhor dar
espaço um ao outro, mas não podemos fazer isso. De fato, só
passaremos mais tempo juntos a partir de sexta-feira, quando
os ensaios começarem, então parece que podemos aproveitar o
melhor da situação.
— Então você quer que sejamos amigos?
— Sim, e quero que você me perdoe pelo modo como me
comportei nas últimas semanas. Em troca, prometo perdoá-lo
por tudo o que aconteceu oito anos atrás.
— Um recomeço.
Eu sorrio. — Exatamente.
Ele assente e seu olhar voa pelo meu corpo, apenas por um
momento, antes de olhar pela janela. — Você está certa.
Estaremos muito juntos nas próximas semanas…
Inclino minha cabeça, tentando encontrar seus olhos. Tenho
a sensação de que ele talvez não aceite minha oferta, então
altero meus termos. — Talvez ser amigos seja demais? Que tal
apenas conhecidos? Se eu passar por você no corredor,
prometo acenar. Que tal isso?
Quando seu olhar volta para mim, meu coração bate forte
no meu peito.
— Com uma condição.
CAPÍTULO TREZE
DEREK

eu olhar se alarga com medo de qual será minha condição.

S Eu não consigo resistir e dou um sorriso. Ela é tão fácil de


irritar que às vezes eu não consigo me controlar. Como
uma raposa brincando com uma lebre, aqui estou eu,
bloqueando seu caminho para fora do meu quarto, em um
esforço para tirar dela um pedaço da verdade. Estou ciente de
que é uma coisa malvada. A sociedade moderna está franzindo
a testa para mim e, no entanto, aqui estou, um homem das
cavernas com um ego ferido.
Eu deveria ter vergonha de mim mesmo, mas não tenho.
Whitney veio ao meu apartamento. Ela está de pé no meu
quarto. Essa conversa poderia ter esperado até a manhã
seguinte. Ela poderia ter agendado uma reunião com Heather
para que pudéssemos discutir isso durante o horário comercial
em um escritório com uma mesa robusta nos separando,
garantindo que mantivéssemos as mãos para nós mesmos.
— Qual é a sua condição? — Ela pergunta, a voz ofegante.
Minha condição é simples: quero saber se ela ainda tem
sentimentos por mim. A pergunta está na minha língua antes
que eu me pare. Por que importa se ela ainda tem sentimentos
por mim? Sentimentos não significam nada se ela não planeja
agir sobre eles.
Eu redireciono.
— Eu quero que você cumpra a sua parte da promessa. Eu
realmente quero o recomeço que você prometeu.
Dou um passo à frente e estendo minha mão. Ela sorri e
inclina a cabeça enquanto a aperta. Ela acha que está saindo
dessa fácil. Não tenho dúvida de que ela estava imaginando
algo muito mais tórrido.
— Derek Knightley, é um prazer conhecê-lo.
Há um brilho nos olhos dela. É doce. O fato de eu não a
beijar sem dó agora é algo que eu deveria estar extremamente
orgulhoso.
Quando ressurgimos na sala um momento depois, vejo que
os caras decidiram reorganizar a mesa de pôquer. Há uma
quinta cadeira entre Nick e Allen. Sem dúvidas, eles também
tiraram algumas fichas da minha pilha e olharam para as
minhas cartas.
— Whitney, vamos lá — diz Nick. — Vamos ensinar você
a jogar.
Sem parar, pego seus ombros e a direciono para a porta.
— Desculpe, Whitney tem que ir.
Ela ri de mim por cima do ombro.
— O que? Não posso ficar e jogar?
— Não essa noite.
— Vamos lá, cara! Justo é justo — Allen resmunga. —
Vocês dois só ficaram lá por cinco minutos. Parece que
Whitney aqui fez sua escolha e não é você.
— Isso mesmo. Whitney, venha se sentar e eu mostrarei as
cordas. Eu sou Nick, o amigo muito mais legal de Derek.
Basta perguntar a ele; ele lhe dirá que eu chutei o traseiro dele
nas últimas três rodadas.
Eu mostro o dedo do meio para eles e todos riem.
— Nick é cheio de merda — argumenta Allen. — Sou um
professor muito melhor.
— Eu sempre quis aprender — Whitney fala de volta para
eles enquanto eu a conduzo para o foyer.
Se ela acha que eu vou sentar lá enquanto meus amigos
jogam seus chapéus no ringue para chamar sua atenção, ela
está errada. Eu não sou masoquista.
— Cal tentou me ensinar há alguns anos — diz ela com um
sorriso.
Isso apenas os estimula.
— Whitney está indo para casa agora — eu insisto. —
Digam tchau.
— Tchau, Whitney! — Thomas e Nick gritam em uníssono.
— Tchau, Whitney! — Allen canta.
— Grupo animado que você tem aí — ela brinca.
— Por que você acha que estou aceitando sua oferta de
amizade? Estou pensando em abandoná-los depois desta noite.
Destranco a porta e a seguro aberta para ela.
Ela sorri.
— Eles parecem legais. Na verdade, conheço Thomas do
trabalho. Você sabe, enquanto ele estiver aqui, você deveria
descobrir o que ele pensa sobre Carrie.
— O que tem ela? Ele está apaixonado por ela, se é isso que
você quer dizer.
O queixo dela cai. Eu aceno como se fosse uma notícia
antiga.
— Por que ele não fez nada sobre isso?
Eu arqueio uma sobrancelha.
Sim, por que ele não fez nada sobre isso, Whitney?
Ela fecha a boca e balança nos calcanhares, balançando a
cabeça em entendimento silencioso.
Eu dou de ombros.
— Se for para ser, eles descobrirão, eventualmente.
Seus olhos de jade travam nos meus. Vulneráveis e gentis,
eles confirmam o que eu já sei.

— Como você e Whitney estão? — Cal me pergunta no dia


seguinte, durante o almoço.
— Esplendidamente. Melhores amigos agora, na verdade.
— É mesmo?
— Ah, sim. Unha e carne.
— Você soa amargurado.
— Eu?
Ele murmura e decide que é melhor mudar de assunto.
— Recebi feedback do conselho.
Me encosto na cadeira, deixando meu rosto em indiferença
fria.
— Barry me disse que até os críticos mais fortes estão
impressionados com o papel que você assumiu. Eu sei que
você acha que tudo isso é uma perda de tempo, mas está
funcionando. O conselho está vendo você descer no mesmo
nível que seus funcionários, conquistando o respeito deles.
Isso mostra um nível de integridade e cuidado. Dentro de
algumas semanas, quando eu os informar do meu plano de
promovê-lo, sei que a votação será unânime. Este trabalho não
é em vão. Lembre-se disso.
Não importa. Não estou fazendo nada disso por eles.
Para ser sincero, não tenho muita certeza do porquê estou
fazendo isso. Digo a mim mesmo que é para o bem da
empresa, uma experiência inestimável que levarei comigo
enquanto tomo as rédeas de Cal. Mas, se eu for honesto, eu
também posso estar vestindo esse traje todos os dias só para
poder passar um tempo com Whitney.
Não me aprofundo mais nesse pensamento.
Sexta à tarde, há uma hora entre o final do meu turno como
Sua Alteza Real e o início dos ensaios para o desfile, depois
que a última família sai do salão, começo a sair, planejando ir
ao meu escritório, porém Whitney me chama.
— Você tem que trabalhar antes dos ensaios?
Eu paro. Curioso.
O sorriso dela é autoconsciente. Ela morde o lábio.
— Porque se não, poderíamos comer alguma coisa?
Hesito antes de responder. Eu deveria me agachar em
algum lugar com meu laptop e pegar uma picareta para passar
pela montanha de e-mails não lidos na minha caixa de entrada,
mas não há como eu recusar esse convite.
— Como amigos — ela esclarece, como se esse fosse o
meu problema. Então ela caminha em minha direção e me
cutuca no estômago. — Você está com fome, não está?
— Faminto.
— Tudo bem, vamos lá. Eu conheço um lugar.
Concordamos em nos encontrar no Subsolo depois que
trocamos nossas roupas. Quando a vejo novamente, ela está
usando leggings e um top da Nike, tênis azuis e o cabelo em
um rabo de cavalo alto. O visual esportivo enche minha cabeça
de novas fantasias, como se eu já não estivesse em capacidade
máxima.
Ela está conversando com um cara, alguém que eu não
reconheço. Ele está usando o uniforme que os funcionários
que trabalham na vila da Elena usam: blusa de camponês
branco e calça. Sem crachá. Cabelo loiro, estilo Bieber. Ele
tem a mesma altura que ela, o que significa que eu me elevo
sobre os dois quando me aproximo.
— Sim, então passe por lá algum dia e eu vou deixar você
provar — diz ele, sua voz drogada de desejo. — O melhor
sabor que já tivemos.
Ela sorri e assente com entusiasmo pouco antes de o cara
olhar para o celular, xingar e reclamar que ele tem que correr
ou que vai se atrasar para o trabalho.
Sim. Vá.
Eu deveria evitar essa troca, mas Whitney e eu somos
amigos agora, certo? Isso não deveria vir com vantagens?
— Quem era? — Pergunto, observando enquanto ele corre
pelo corredor.
— O cara do Fudge.
Meus olhos se arregalam com maldade.
— O cara que você…
Ela pula para cobrir minha boca com a mão.
— Sim! Não faça piada. Eu acho ele meio fofo.
Eu sorrio contra a palma da sua mão.
— Se eu tirar minha mão, você será legal?
Dou de ombros dizendo, sem palavras, que não posso fazer
promessas.
— Ouça, ok. Às vezes ele me deixa ter amostras grátis das
coisas. É legal. Ele estava me falando sobre um sabor de
pumpkin spice que eles estão lançando para o outono.
Meu sorriso só aumenta sob a palma da sua mão. Isso é
bom demais.
— Ugh! Tanto faz. Jante sozinho. Eu não quero ouvir isso.
Ela tira a mão da minha boca, gira e sai em direção à
cafeteria. Depois de apenas alguns passos, eu a alcanço
facilmente e, embora eu tente limpar o sorriso do meu rosto,
ele está esculpido em pedra.
— Você sabe que ele está tecnicamente roubando
propriedades da empresa quando distribui amostras grátis
assim — eu indico, a cutucando.
Seus olhos me alertam para deixar isso pra lá.
— Ele é meio pequeno, você não acha? — Continuo. —
Pequeno para um cara.
— Você só está me empurrando ainda mais nos braços dele.
Continue assim e talvez eu vá ficar loucamente apaixonada por
ele.
— Cara do Fudge — eu digo com um tom monótono.
— O primeiro e único.
Sua careta finalmente se abre em um pequeno sorriso e ela
se aproxima de mim, tentando me empurrar de brincadeira. Ela
só consegue machucar o próprio ombro. Ela o massageia e me
lança um olhar bravo.
— Você malha muito?
Eu olho para baixo. Também estou vestido com roupas
esportivas, por sugestão de Thomas.
— Eu acho que sim. Jogo futebol às vezes. Cardio. Pesos
aqui e ali. Por quê?
— Apenas perguntando. Agora vamos, deixe-me lhe
apresentar esta pequena joia escondida que eu conheço — a
essa altura, estamos na cafeteria, e ela acena com a mão sobre
as mesas em direção a um restaurante do outro lado. —
Subway… Você já ouviu falar disso?

Os ensaios para o desfile de festas de fim de ano acontecem


dentro de um estúdio de dança perto do armazém do desfile.
Sou um peixe fora d’água quando entramos na sala, espelhos
refletindo em duas das quatro paredes. Há uma dúzia de
funcionários que trabalham como personagens em roupas de
ginástica, em grupos. Alguns deles se esticam, outros se
apoiam no espelho traseiro. Todos eles olham para Whitney e
eu quando entramos.
Ela acena para a maioria deles. Eles parecem felizes em vê-
la. Os poucos homens na sala estão em menor número, e pode
ser por isso que estamos chamando tanta atenção. Não espero
Whitney escolher um lugar, levando-nos direto para o canto de
trás, longe de olhares indiscretos.
Eu esperava que Thomas estivesse aqui para oferecer apoio
moral, mas quando a porta do estúdio se abre novamente, uma
mulher alta e mais velha entra, leve em seus pés. Ela tem
cabelos grisalhos presos em um coque, acentuados por um
lenço roxo. Suas feições são leves, seu corpo magro escondido
sob uma túnica preta e meia-calça. Ela caminha para o centro
da sala e, assim que a porta fecha, ela bate as mãos. Qualquer
conversa perdida morre rapidamente.
— Como muitos de vocês sabem, esses ensaios se movem
rapidamente. Estaremos em estúdio até a próxima semana.
Depois disso, iremos para o armazém do desfile e
praticaremos nos carros alegóricos. Daqui a três semanas,
teremos nosso primeiro desfile real. Levante a mão se tiver
alguma dúvida.
Ninguém levanta. Ela assente.
— Que bom. Embora muitos de vocês sejam veteranos, os
roteiros mudaram este ano. Eu vou passar para vocês — ela
segura as folhas. — Leiam-os. Comecem a ensaiar. Vou dar
uma volta, dar feedback e responder a perguntas — ela olha
para baixo, lendo o roteiro. — Carro alegórico um. Ilha Safari.
Girafas.
Um cara caminha para pegar o roteiro para seu grupo.
Continua a partir daí. A Ilha Safari tem os sete primeiros
carros alegóricos do desfile, e os que se seguem serão
preenchidos com personagens da Floresta Encantada: caçador,
elfos, fadas. O carro alegórico da princesa Elena é o grande
final. Whitney sussurra para mim enquanto aguardamos nosso
roteiro.
— Não se preocupe, no ano passado eles fizeram meu carro
parar com um salão de baile. Havia muitos casais dançando
nele e meu antigo parceiro e eu não precisávamos de muita
prática. Se for o mesmo este ano, basta girar e girar até que os
fogos de artifício disparem. Bem fácil. Nesse momento, a
diretora de ensaios se aproxima de nós. Ela assente para mim,
um pequeno gesto reverente que me diz que sabe quem eu sou,
mas que não fará um grande show.
— Leiam e deixem-me saber se vocês têm alguma dúvida.
Whitney olha primeiro o roteiro, seus olhos examinando a
página rapidamente antes que eles percebam alguma coisa.
— Oh — diz ela, esticando a mão com o papel para eu
pegar. — Eles realmente mudaram.
Jesus. Parece que ela está prestes a desmaiar. Quão ruim
pode ser? Eu já vi esse desfile várias vezes. Claro, os temas
mudam de vez em quando, mas geralmente são coisas bem
simples. Talvez eu não tenha dançado em um estúdio antes,
mas sei como liderar uma parceira. Nós ficaremos bem.
Então, eu olho para o roteiro e três palavras saltam para
mim.
Um casamento real.
C A P Í T U L O Q U AT O R Z E
WHITNEY

ssencialmente, o roteiro diz o seguinte: A princesa Elena

E
e Sua Alteza Real posam na frente de um sacerdote -
interpretado por uma coruja animatrônica empoleirada no
topo de um tronco - enquanto trocam seus votos. Eles
devem sorrir e olhar carinhosamente nos olhos um do
outro. Quando o desfile deles virar na Castle Drive e
mergulhar sob um arco de rosas, Sua Alteza Real e a Princesa
Elena irão se beijam, selando seus votos para toda a multidão
ver.
Repetidamente.
Nós vamos nos beijar.
Segunda, quarta e sexta-feira a partir de agora até o ano
novo, Derek e eu ficaremos em um carro alegórico, fingindo
nos casar e nos beijar.
Risos borbulham dentro de mim.
Tenho um forte desejo de me desculpar, embora nada disso
seja minha culpa. Não tive parte em escrever esse roteiro. Na
verdade, eu não sei quem escreveu. Thomas? Nadine? Cal?
Derek termina de ler e devolve o papel para mim. Ele não
consegue encontrar meus olhos.
— Vamos lá, é um pouco engraçado. Não?
Ele não ri.
Eu estou sóbria. — Certo, bem… você sempre pode
desistir. Ryan ia desempenhar esse papel antes de você
assumir. Tenho certeza de que ele ficaria bem com isso.
Os olhos de Derek disparam para os meus e eu tenho minha
resposta: Só sobre seu corpo morto.
A diretora de ensaios, Lydia, passa por nós novamente,
perguntando se temos alguma dúvida. Derek e eu balançamos
a cabeça. — Então comecem.
Ah, certo.
— O que há para ensaiar, exatamente? — Derek me
pergunta. — Você já beijou alguém antes, eu presumo?
Eu faço uma careta.
— Claro. Não seja ridículo. Mas isso não é tudo o que
precisamos fazer. Você já esteve em um altar? Professando seu
amor por alguém?
— Não pode ser tão difícil.
— Tente.
— Ainda nem estamos noivos. Não estamos pulando alguns
passos?
Eu reviro meus olhos. Ele está claramente tentando enrolar.
— Não precisamos nos beijar se você não quiser.
Ele se vira e pega minhas mãos, segurando-as entre nós. —
Isso não é justo. Você não pode roubar a única parte boa de
tudo isso.
Engulo uma risada. — Vamos, seja sério.
— Você está certa.
Seu rosto se transforma, seu olhar é tão sincero que meu
coração pula uma batida quando ele se agacha sobre um
joelho.
— Whitney Atwood — diz ele, a voz firme e suave. —
Você quer se casar comigo?
Minha boca se abre um pouco quando eu reprimo a vontade
avassaladora de gritar: Sim!
Lydia bate palmas e nós dois viramos nossas cabeças para
onde ela está a alguns metros de distância. — Vocês dois têm
uma química perfeita. Essa cena não deve ser problemas para
vocês.
Derek levanta uma sobrancelha e eu resisto ao desejo de
socá-lo. Eu gostaria que estivéssemos de volta no almoço,
sentados na lanchonete, mastigando nossos sanduíches,
roubando as batatas fritas um do outro. Foi fácil lá, mas agora
minhas mãos estão nas dele, e seu aperto não é tão sufocante
que dói, mas é forte do mesmo jeito. Eu digo a mim mesma
que não poderia puxar minhas mãos mesmo que eu quisesse,
mas talvez eu simplesmente não queira.
— Vou agir como sacerdote para que vocês possam acertar
o timing — Lydia oferece, aproximando-se.
Derek se levanta, mantendo minhas mãos nas suas.
Posso sentir todos da sala nos observando. Curiosos.
— Sua Alteza Real, você aceita a Princesa Elena como sua
legítima esposa?
Derek sorri. — Claro.
— E Princesa Elena, você também aceita?
Minha garganta aperta, então tudo que consigo é dar um
rápido aceno de cabeça.
— Então eu agora vos declaro marido e mulher. Você pode
beijar a noiva.
Derek solta minhas mãos e dá um passo à frente, para que
seu corpo fique próximo ao meu. Meus lábios se separam
quando eu inclino minha cabeça para trás. Uma de suas mãos
passa pela minha cintura, a outra segurando minha bochecha.
Ele se inclina, me inclinando junto com ele um pouco. Nossos
olhos travam - colidindo - e ele fica lá. Imóvel. Não me
beijando. Já estivemos aqui antes e, apesar de estarmos em
público, sendo observados, anseio que ele feche sua boca na
minha e faça isso logo. Me mostre o que estou perdendo.
Seus lábios lentamente se abrem em um sorriso antes que
ele me puxe para cima de volta e se afaste, virando-se para
Lydia. — Bom?
— Maravilhoso.
— Você não me beijou — murmuro enquanto ela se afasta.
— O roteiro diz que ele a beija, não quase a beija. O que há
com você e quase me beijar?
— Pelo meu entendimento amigos não se beijam. Estou
esquecendo de algo?
Eu chuto o chão, irritada com a minha frustração. — Não,
está tudo bem. Eu só não quero ser surpreendida quando
estivermos no carro alegórico no meio do desfile e você me
beijar, e for tão ruim que o público verá o desgosto no meu
rosto.
Sua risada em resposta deixa claro que ele não está
mordendo a isca.
— Se você quer que eu te beije, tudo que você precisa fazer
é pedir.
— Pouco provável.
Ele concorda com a cabeça. — Então acho que vamos ter
que esperar.

Ele quis dizer o que disse. Em nosso próximo ensaio no


estúdio, os lábios de Derek nunca tocam os meus. Não que
isso realmente importe, porque todas as outras partes do nosso
corpo se tocam. A culpa é da coreografia. Durante o desfile,
não apenas nos casamos e depois saímos do carro alegórico.
Depois do nosso beijo, Derek deve me rodopiar e iremos
dançar enquanto fogos de artifício explodem no céu. Tudo isso
significa que suas mãos estão por toda parte enquanto
ensaiamos: agarrando minha cintura, pressionada contra minha
espinha, segurando meu braço, inclinando meu queixo,
segurando meu pescoço, me segurando uma vez depois que eu
quase caí de bunda após um giro excessivamente zeloso.
Ensaiar para esse desfile é a coisa mais íntima que fiz fora do
sexo.
Não, risca isso.
É mais íntimo.
Eu podia ficar na frente de uma parede de amostras de tinta
na Home Depot e identificar o tom exato dos lábios de Derek.
Eu os estudei em grandes detalhes. Os olhos dele também. Eu
já sabia que eles eram marrons, mas na verdade são rodeados
de ouro pálido e cheios de palavras não ditas.
Depois de fazer a transição para o ensaio em cima dos
carros alegóricos, outros membros da equipe juntam-se a nós.
O Departamento de Figurino - liderado por Carrie - começa a
nos vestir em pedaços das nossas fantasias para que eles
possam avaliar o ajuste e o movimento. Enquanto Carrie
coloca meu véu na minha cabeça, eu faço uma careta para ela.
Ela é incapaz de encontrar meus olhos porque sabe que tem
sido uma péssima, não boa, amiga.
Ainda estou um pouco irritada por ela não ter me avisado
sobre minhas núpcias com Derek. Imediatamente após o nosso
primeiro ensaio, corri direto para o apartamento dela para
confrontá-la. Ela não estava lá, então eu tive que andar no
saguão, a raiva se intensificando a cada passo. Quando ela
finalmente chegou, feliz em me ver, eu a ataquei com todas as
acusações que eu estava reunindo em sua ausência. Por que
você não me contou sobre o casamento? Pensei que éramos
amigas e você ter um esboço do meu vestido com você… Por
acaso… não importa, isso não vem ao caso… COMO VOCÊ
PÔDE?
Eu assobio para ela agora. — Ainda não acredito que você
escondeu isso de mim. Você sabia que Derek e eu teríamos que
nos casar no desfile. Você desenhou meu vestido de noiva!
— Desculpa, ok? Como eu disse, assino acordos de não
divulgação sobre essas coisas. Deveria ser mantido em sigilo.
— Isso é uma desculpa péssima!
Como regra, Carrie e eu assinamos esses acordos e logo
depois corremos uma para a outra para compartilhar todo e
qualquer segredo que reunimos. Isso se chama amizade.
Procure no Google.
— Tudo bem. Ok. Não contei porque Thomas e eu
concordamos que seria melhor se você e Derek não
soubessem.
— Ah, então Thomas é seu novo melhor amigo agora?
Pareço uma criança de oito anos no parquinho. Ou ele ou
eu! Nós dois não podemos ficar nessa gangorra!
— Não aja como se isso fosse a pior coisa do mundo — diz
ela, olhando com os olhos estreitos como se tivesse me pegado
na mentira. — Seu vestido vai ficar incrível e Derek vai comer
seu coração quando ele te vê nele. Qual é o problema, afinal?
Você mesmo disse que você e Derek são amigos. Isso deveria
ser divertido! Agora fique quieta para não que eu enfie
acidentalmente este pente no seu couro cabeludo.
Adorável.
Minha melhor amiga está escondendo segredos de mim e,
embora o carma deveria atingi-la, na realidade, ela está tendo a
oportunidade de sua vida durante tudo isso. Como produtor
executivo do desfile, Thomas também está presente em todos
os nossos ensaios. Ele e Carrie estão juntos durante as leituras
de roteiros e eu pego seus sorrisos e brincadeiras. Como um
bêbado irritado, quero gritar com eles para irem para um
quarto. Em vez disso, canalizo minha raiva para os ensaios.
Sou a melhor noiva que alguém já viu. Eu uso esse véu como
se fosse uma capa de super-herói. Eu olho para Derek
enquanto ele se inclina sobre mim e mantenho meus lábios
fechados, sem vontade de admitir que eu MORREREI se ele
não me beijar logo.
— Parece que você realmente quer me pedir alguma coisa
— brinca Derek, inclinando-se sobre mim. — Whitney, vamos
lá. Eu não consigo ler lábios. Você terá que me dizer o que
quer.
Estou ofegante. Então eu me recupero.
— Eu quero que você me solte para que eu possa pegar um
pouco de água.
Ele sorri e me coloca em pé novamente. Suas mãos saem da
minha cintura. — Agora que você mencionou, você parece
corada.
— Eu te odeio.
Enquanto ando em direção a minha garrafa de água, ele
grita: — Isso não é algo que uma noiva deva dizer ao noivo no
dia do casamento!
Aparentemente, eu sou a única sentindo a tensão sexual.
Derek acha que tudo isso é uma grande brincadeira. Enquanto
isso, estou me aproximando da loucura. Falo sobre o desfile
com quem quiser ouvir: os calouros do dormitório, Julie,
Carrie, a garota do Subway fazendo meu sanduíche de peru de
quinze centímetros. Ok, isso foi apenas uma vez, mas acho que
todos podemos concordar que ela uma artista de sanduíches.
Em um esforço para proteger as poucas cordas que restam
do meu coração, passei a usar camadas extras de roupas para
os ensaios. Regata, camiseta, moletom, casaco Nancy Drew
amarrado na cintura… qualquer coisa para manter as mãos
dele longe de mim. Mas estamos falando do sul da Geórgia e,
mesmo no outono, são agradáveis 26º à tarde. As camadas
geralmente duram apenas até que eu esteja coberta de um belo
brilho de suor e minha visão esteja pontilhada, então eu as
arranco com um bufo zangado.
Mesmo nos dias em que consigo me segurar e me vestir
excessivamente, Carrie inevitavelmente estraga tudo ao me
pedir para experimentar um pedaço do meu traje. “Eu só quero
ver se esse corpete muito revelador serve ou não. Agora tire
sua camisa.” Eu sempre acabo me sentindo com pouca roupa
nos braços de Derek. Como se eles fossem treinados para isso,
suas mãos sempre conseguem encontrar a polegada de pele
entre a minha camisa e minha calça e eu tremo. Ele percebe.
Toda. Maldita. Vez.
No final dos ensaios, uma vez que Thomas nos dispensa,
corro para a segurança do meu dormitório. Derek
ocasionalmente me convida para jantar no apartamento dele ou
para se juntar a ele no Cal, mas eu recuso rapidamente e
bruscamente. É imperativo que eu me distancie agora mais do
que nunca, porque - e isso não será uma surpresa para
ninguém - ding ding ding! Derek está certo! Eu quero que ele
me beije. Desesperadamente! Eu também quero um milhão de
dólares em dinheiro! E daí? Desejar e querer são duas coisas
diferentes. Decidi há muito tempo deixar de lado o sonho de
estar com Derek. Isso está trancado em um cofre. Joguei fora a
chave e queimei o pedaço de papel com a senha.
Com tudo o que tem acontecido durante as semanas de
ensaios, encontro exatamente dois minutos de tempo livre por
dia. Eu os uso para gritar no meu travesseiro. Então eu saio
novamente, correndo dos meus turnos no Castelo de Elena
para o Figurino, para ensaios, para o Cal, depois volto para o
dormitório para as tarefas no salão da residência. Carrie e eu
almoçamos enquanto ela me força a usar acessórios para o
meu vestido de noiva (quero dizer, o da Elena).
No final de cada dia, eu caio na cama como se eu sofresse
de narcolepsia. Me deito com as pernas penduradas para fora,
ainda em minhas roupas, em cima do edredom e estou morta
para o mundo em segundos. Então, às três horas da manhã,
pulo de pé, preocupada por já estar atrasada para o trabalho ou
para os ensaios.
Ryan me manda mensagens de texto com frequência e me
pergunto como seria ter tempo para pensar em mandar
mensagens para alguém. Ele me envia memes engraçados ou
apenas frases simples - espero que você esteja tendo um bom
dia! - E, embora eu normalmente não me lembre de responder
até horas depois ou, se estou sendo sincera, dias depois, ele é
sempre muito bom nisso.
Parte de mim se pergunta se estou sendo injusta com Ryan,
amarrando-o, mas não é como se estivesse dando a ele falsas
esperanças ou tentando usá-lo para deixar Derek com ciúmes.
De modo nenhum. Derek não é meu para ficar com ciúmes. Se
eu estivesse jogando com as probabilidades, diria que é muito
mais provável que, ao final de tudo isso, depois que Derek
terminar seu tempo bancando Sua Alteza Real e retomar a sua
posição elevada como herdeiro da Companhia Knightley,
acabarei com Ryan.
Ele é quem se encaixa na minha vida. Ele é a aposta muito
mais segura.
Também estou fazendo um péssimo trabalho em responder
as mensagens de minha família. Eles estão me perseguindo
mais do que o normal por causa da noite de estreia da Avery
em três semanas.

Mãe: Você ainda está planejando vir para Nova York, não é?

Pai: Compramos sua passagem de avião. Sua irmã realmente


quer que você venha.
Mãe: Aqui está uma foto da Avery em traje! Ela não parece
uma estrela!?

Avery: Alôôôôô. Por que você não está atendendo minhas


ligações? Você ainda está viva? Mamãe e papai disseram que
compraram uma passagem para você. Por favor, venha! Você
não precisa ver o musical - embora fosse muito legal!
Podemos apenas sair e explorar a cidade juntas, só você e eu.
Pense nisso e pare de ignorar minhas ligações! Te amo. Bjs

Eu nem tenho espaço no cérebro para minha família no


momento, então respondo a todos de uma vez.

Whitney: Eu irei. Mal posso esperar.

No segundo em que envio a mensagem, me sinto enjoada.


Por que eu não posso ser apenas alguém que diz: Não, quer
saber? Prefiro engolir uma unha do que ir para Nova York. A
vida seria muito mais simples assim… Exceto que isso não é
verdade. Eu quero ver Avery, mas não há como ver Avery sem
ver meus pais também.

Na noite anterior ao nosso primeiro desfile, depois de


concluirmos o ensaio final, Thomas agradece a todos pelo
trabalho duro e nos obriga a nos reunirmos em círculo e
colocar as mãos no centro, como se fossemos um time de
futebol americano prestes a entrar em campo para o jogo do
campeonato. Todo mundo reclama que isso é bobagem, mas
eles fazem mesmo assim. Eu não consigo me encaixar bem
com todo mundo se aglomerando, então Derek se aproxima de
mim e me agarra, me puxando na frente dele para que eu faça
parte do círculo. Sua mão está em volta da minha cintura, me
segurando enquanto Thomas nos conduz através de um canto
de um, dois, três, vai equipe!, que não faz absolutamente
nenhum sentido, mas nos faz rir de qualquer maneira.
Inclino minha cabeça para trás e olho para Derek. Seu olhar
voa para a minha boca e sua mão aperta minha cintura. Eu não
consigo acreditar que isso está prestes a acontecer aqui, de
g q p q
todos os lugares, mas Carrie está comigo, me puxando em sua
direção e cortando o meu momento íntimo com Derek.
— Ok, aqui está o plano. Nós vamos para casa tomar um
banho rápido, tomar bebidas energéticas ou o que quer que
seja, e depois nos encontrarmos no Lucky Star para tacos e
bebidas.
— Quem somos nós?
— Thomas, eu, algumas das outras garotas do Figurino,
algumas das fadas, eu acho. Derek, você também vai, certo?
Ele se vira para mim, sobrancelha arqueada. Nós dois
brincamos sobre ir direto para casa e dormir assim que os
ensaios terminassem. Nós gememos de prazer fingido com a
idéia de uma cama recém-feita e travesseiros macios.
Edredons macios, eu disse, e seus olhos reviraram. Oito horas
ininterruptas, ele respondeu, me fazendo quase desmaiar de
prazer.
Agora, nenhum de nós está disposto a admitir quão
patéticos nós realmente somos.
Ele sorri, batendo no meu ombro como se fossemos dois
velhos amigos. — Vamos lá. Nossas camas podem esperar.
Deveríamos sair, nos divertir.
— Tudo bem, mas você vai me comprar um taco. Você
quase me deixou cair durante o processo final.
— Sim, porque você estava de pé como uma boneca de
pano. Eu estava fazendo todo o trabalho por nós dois.
— Não é verdade! Só sou uma dançarina melhor, então
estava dando um tempo e deixando você ensaiar.
Carrie se afasta de nós enquanto continuamos a discutir - se
é que você pode chamar isso de discussão. É o que temos feito
nas últimas semanas, e é a única maneira que sabermos como
nos comunicar: provocando, cutucando, fingindo ser amigos.
Cómico.
Eu sou amiga de Derek da mesma maneira que os garotos
apanha-bolas são amigos dos jogadores da NBA. Hey Lebron!
Lebron! Quer sair depois do jogo?
No final, concordamos em ir apenas porque outra pessoa
vai. Nós até juramos de dedinho por causa de minha
insistência.
— Você quer que eu te pegue no meu caminho? — Ele
pergunta, estendendo a mão para me entregar minha mochila.
Ele faz essas pequenas coisas: deixar as portas abertas, puxar a
cadeira para mim, comprar minha refeição quando jantamos
juntos na cafeteria, mesmo quando eu insisto que não é
necessário. Uma garota pode se acostumar com esse tipo de
tratamento, então tento não deixar isso subir à minha cabeça.
— Está tudo bem, Carrie e eu iremos juntas. Tenho certeza
que ela vai querer me arrastar de volta para o apartamento dela
e me forçar a usar algum tipo de roupa fashion. Pessoalmente,
prefiro continuar do jeito que estou.
Eu estou vestindo um moletom e leggings. Eles são pretos,
no entanto, então… Fashion.
Ele tira um chapéu imaginário para mim e começa a se
afastar. — Tudo bem, então eu vou te ver lá.
— Não se esqueça do meu taco! — Falo antes de Carrie
passar o braço pelo meu e me arrastar para longe, exatamente
como eu suspeitava.
Enquanto eu estou tomando banho no seu chuveiro, ela está
arrancando roupas do closet. Minhas opções são limitadas:
vestido muito curto ou saia muito curta.
Eu levanto a saia. — Onde está a parte que cobre minha
virilha?
— Está cortada.
Largo e o tecido sedoso cai de volta na cama dela. —
Talvez eu apenas coloque minhas roupas de volta.
— Elas fedem. Você estava suando, tenho certeza. Agora
basta escolher algo para que possamos terminar de nos
arrumar.
— Você está entusiasmada hoje à noite. Isso não tem nada a
ver com Thomas se juntando a nós, tem?
Ela sorri. — Ele me convidou para sair ontem. Nós vamos
jantar no sábado. Essa noite é uma espécie de teste.
Meu queixo cai. Um fio ininteligível de sílabas sai de mim.
Eu agarro seus braços, sacudindo-a de um lado para o outro
com tanta força que tenho certeza que acidentalmente
desloquei seu cérebro. — VOCÊ ESTÁ FALANDO SÉRIO?!
— SIM!
— Eu sabia que ele acabaria fazendo algo!
Ela está vermelha como maçã agora e eu a abraço,
genuinamente feliz por ela estar feliz.
— Deus, espero não estragar tudo. Eu gosto dele desde
sempre — ela diz com uma voz trêmula.
Meus braços a apertam ainda mais. — Você não vai. Você é
incrível. A designer mais talentosa de todos os tempos e você
é linda, — ela geme — e não adianta negar agora porque
Thomas te convidou para sair!
Ela ri e recua, mordendo o lábio. — Sim, vamos ver como
vai ser essa noite. Não sei como devo agir. Como se fossemos
apenas amigos? Ou mais que isso?
Eu dou um tapinha no nariz dela. — Seja você mesma.
Ela revira os olhos. — Obrigada, mãe.
Então ela vai para a pilha de roupas em sua cama e joga
uma roupa para mim. Um meio-termo feliz, se você preferir:
jeans legais e rasgados, combinados com uma camisa preta de
mangas compridas. Depois de colocá-la, alguns centímetros do
meu diafragma ficam descobertos. Eu a puxo para baixo e ela
se reposiciona.
— Deveria ficar assim. Pare de esticá-la.
Não quero ouvi-la, mas a parte de cima mostra muito
decote se eu puxar para baixo, então tenho que deixar assim.
Carrie veste uma minissaia de couro emparelhada com uma
blusinha solta. As botas dela poderiam matar alguém e eu me
sinto um pouco menor quando entro no bar atrás dela, mas
depois me lembro que esse pensamento é estúpido. Ela precisa
desse momento. Quero que Thomas olhe para ela e sue. E ele
faz isso. Ele está no bar quando entramos e no momento em
que ele a vê, quase caí de joelhos.
Ele nem espera que a gente vá até ele, saindo do banquinho
e indo direto para nós, os olhos em Carrie. Eu gosto de
Thomas. Ele e Carrie têm uma veia tímida, o que significa que
eles circulavam um ao redor do outro por anos antes de chegar
a esse momento. Ele ajeita os óculos de armação preta e sorri
para ela. Olho entre eles e é óbvio que a atração é mútua,
visível como a poeira mágica rodopiando no ar entre um
projetor e uma tela de cinema.
Eu não fico por perto. Ficar de vela não é meu hobby
favorito. Depois de um rápido alô, eles se separam e vão para
o bar para que possam se apaixonar mais profundamente, e eu
vou para onde nosso grupo se reuniu nos fundos, perto dos
dardos. Há uma dúzia de pessoas do desfile agrupadas em
torno de mesas, conversando e bebendo. Sou calorosamente
acolhida e me sento à mesa de um grupo de garotas que
trabalham como fadas na Floresta Encantada. O carro delas
está logo à frente do meu. Quando os ensaios ficam chatos,
gritamos umas para as outras, para o grande aborrecimento de
Thomas.
Enquanto sento, examino as outras mesas, procurando por
Derek, e meu coração afunda quando percebo que ele ainda
não está aqui.
— Quer uma bebida? — Pergunta uma das meninas.
Eles pediram uma jarra de cerveja e eu me sirvo,
despejando um pouco do líquido âmbar pálido em um copo ao
mesmo tempo que ouço meu nome ser chamado de algum
lugar atrás de mim.
Olho por cima do ombro e vejo Ryan parado a alguns
metros de distância em jeans e uma camiseta desbotada. Ele
parece extremamente feliz em me ver. Eu fico surpresa.
Quando eu o alcanço, ele se inclina para me abraçar. É um
pouco estranho já que eu estou com minha cerveja na mão e
não estava exatamente esperando um abraço, o que parece
bobagem considerando nosso último encontro. Claro que ele
me abraçaria. Felizmente, ele ri dos meus movimentos
forçados.
— Desculpa — me encolho. — Eu não queria derramar
minha bebida. Como você está? Como está o nariz? —
Pergunto, apertando os olhos para ver se há algum dano
residual. Não acredito que não o vejo pessoalmente desde
aquela noite. Eu acho que realmente estive ocupada.
Ele funga como se fosse para provar que ainda está
funcionando. — Estou feliz em informar que está novinho em
folha — rio e ele acena na direção do grupo atrás de mim. —
Eu não sabia que você estaria aqui hoje à noite.
Minha boca forma O e o som correspondente segue. —
Sim. Uma espécie de calmante antes do grande dia de amanhã.
Você também faz parte desse grupo?
Ele assente e enfia as mãos nos bolsos da calça jeans. —
Alguns dos caras com quem trabalho na Floresta Encantada
me convidaram.
Como se para provar seu argumento, um dos caçadores do
desfile tenta acenar para ele ir até lá. Ryan levanta a mão.
— Como tem estado ultimamente? Enviei uma mensagem
para você mais cedo, mas acho que você estava ocupada.
Como estou aqui agora, em um bar, parece que claramente
tive tempo de responder à mensagem dele, mas simplesmente
escolhi não fazer isso. Eu pareço uma babaca. Quero dizer a
ele que corri direto dos ensaios para a Carrie e para este bar.
Nem olhei para o meu celular desde o almoço, mas isso é uma
desculpa esfarrapada. Em vez disso, peço desculpas.
— Desculpa. Eu sou péssima. Eu não te culparia se você
desistisse de ser meu amigo. Acho que posso pertencer a outro
século, quando os pombos-correios eram o método mais
rápido de comunicação. Sinto que essa pode ser a velocidade
exata com a qual consigo manter uma conversa com sucesso.
Ele ri.
— Anotado. Da próxima vez que eu quiser falar com você,
preciso capturar e treinar um pombo primeiro — eu rio e ele
dá de ombros, continuando: — É realmente minha culpa por
incomodá-la em primeiro lugar. Eu acho que outro cara
poderia ler os sinais, mas eu não sei. Acho que ainda não sinto
vontade de desistir.
Franzo a testa, sem saber o que dizer. Não quero magoar
seus sentimentos, e não é como se eu precisasse de espaço -
quero que ele continue me mandando mensagens. Certo?
Embora se fosse esse o caso, eu provavelmente o responderia
de vez em quando.
Ai, meu Deus.
Na verdade, estou uma bagunça, e perceber isso enquanto
converso com alguém não é exatamente o ideal. Movo minha
boca para falar, mas nenhum som sai. Só estou tornando isso
cada vez mais estranho.
Ryan balança a cabeça.
— Esqueça que eu disse isso, certo? Vou pegar uma cerveja
e volto já. Fique parada, ok?
Depois que ele se vai, tomo minha cerveja e faço uma
careta com o gosto nojento, mal conseguindo engoli-la sem
cuspir. Eu geralmente gosto de cerveja, mas essa tem gosto de
urina real. A coloco de volta na mesa, olho para a porta e vejo
quando ela se abre e um casal anda de braços dados. Ela se
fecha atrás deles e meus ombros caem.
Eu esqueço o quão ruim é a cerveja, tomo outro gole e me
encolho.
Whitney, qual é!
Eu afasto isso e olho para a porta que se abre pela segunda
vez. Mais dois não-Dereks entram e eu os odeio pelo fato de
não serem ele. Quem os convidou de qualquer maneira? Eu
deveria ter pedido a Ryan para me pegar uma bebida mais
forte, porque eu realmente preciso de uma agora. Pelo menos
eu teria algo para fazer enquanto estou sentada aqui, esperando
ansiosamente.
Thomas e Carrie estão com as cabeças próximas no bar e,
em outro momento e lugar, eu me sentiria feliz por eles, mas
não há espaço para nenhuma emoção quando eu já estou cheia
de desejo ansioso.
Ryan chega ao bar e faz o pedido, e olho de volta para a
porta a tempo de vê-la se fechar. Derek chegou e as cordas que
ele amarrou ao redor do meu coração se esticam. Ele examina
o local, procurando nosso grupo, ou talvez apenas procurando
por mim. Meu estômago afunda como se eu estivesse na beira
de um precipício.
Tenho tempo suficiente apenas para observá-lo, apenas para
vê-lo de calça jeans, botas de couro marrom e suéter cinza
claro com as mangas até os cotovelos. Ele parece tão
surpreendentemente deslocado aqui, um transplante óbvio. Ele
é o epítome de refinamento; não há como vesti-lo normal ou
encaixá-lo em um molde casual. O rosto dele é bonito demais.
Seus traços são impressionantes demais. Seus olhos castanhos
chocolate bordados com cílios escuros chamam muita atenção,
e eu não sou a única olhando para ele agora, enviando uma
oração silenciosa para que eu seja a pessoa com quem ele
passará seu tempo.
Uma morena perto da porta ajeita os ombros e afofa os
cabelos, tentando chamar sua atenção. Eu não a culpo nem um
pouco. Eu sou ela. Ele continua escaneando e as sobrancelhas
franzem antes de olhar para o nosso grupo e me encontrar.
No alvo.
Sua boca se contrai e, por um momento, ele permanece ali,
imóvel. O calor flui através de mim, curvando meus dedos,
dificultando a respiração.
Olá, digo com um pequeno aceno tímido. Você me
encontrou.
Disse que eu viria, o sorriso dele responde.
Meus olhos reviram. Demorou demais.
Balançando a cabeça, ele começa a atravessar a multidão
para chegar até mim, e de repente estou nervosa. Estou
tremendo.
Olho para minhas mãos trêmulas e tento me acalmar. É
aterrorizante perceber que, não importa o quanto tentei me
convencer a não amá-lo, foi impossível. Eu fui totalmente
derrotada.
Mais alto que a maioria, é fácil rastreá-lo enquanto ele vem
até mim. Eu fico empoleirada no meu banquinho e então ele
está aqui e eu estou inalando sua colônia com especiarias
enquanto ele se inclina para beijar minha bochecha.
— Desculpe pelo atraso. Eu tive que fazer umas coisas.
— Tudo certo. Você cheira bem, — digo a ele.
— Tomei banho.
— Eu também.
Seus olhos olham para o meu corpo.
— Essa é a roupa que Carrie forçou em você? Eu gostei.
— Obrigada. Mas não conte a ela, ou ela continuará
tentando me vestir.
Ele fecha os lábios e pega minha cerveja, tomando um gole
sem perguntar.
— Não é boa — eu digo depois que ele engole.
Sua boca se enruga de nojo.
— Poderia ter me avisado primeiro.
— Vou comprar uma melhor para você.
Ele acha engraçado. O brilho nos olhos dele me diz isso.
— O quê? Uma garota nunca te comprou uma cerveja?
Eu cutuco seu peito e ele pega minha mão, torcendo-a para
que ele possa entrelaçar nossos dedos antes que ele pense
melhor e a solte. Nós dois desviamos o olhar por um
momento. Em silêncio.
Então, ele limpa a garganta antes de perguntar:
— Você já comeu? Estou faminto.
— Não, eu estava esperando por você.
— Você pode pegar a cerveja. Vou pegar nossos tacos.
Nós fazemos o nosso caminho para o bar e eu estou
flutuando na minha pequena faixa do paraíso, obviamente,
porque eu esqueci completamente de Ryan. Chegamos ao bar
no momento exato em que ele se vira, presumivelmente para
me encontrar novamente. Suas sobrancelhas se erguem, um
sorriso fácil iluminando seu rosto.
— Ei, você cansou de me esperar? — Ele estica a mão com
uma das duas cervejas que acabou de comprar. — Achei que
você iria querer uma bebida melhor. — Ele me oferece e
depois olha para Derek. — Ah, ei, e aí? — Ryan pergunta. —
Desculpa, eu teria pegado uma cerveja para você também se
soubesse que você estava vindo. O barman está ocupado. Você
ficará aqui por um tempo.
Quero recusar a cerveja que ele está me oferecendo, mas
como posso? Não machucarei os sentimentos de Ryan apenas
para tornar essa situação menos embaraçosa. Derek está
olhando para mim, no entanto… esperando uma explicação, eu
acho.
— Ryan conhece alguns dos caçadores do desfile — eu
ofereço, esperando que Derek entenda o que estou tentando
dizer.
Metade de mim quer gritar toda a verdade: não o convidei
nem pedi que ele me comprasse uma bebida e não estava
esperando por ele - estava esperando por você. Ryan é uma
emoção barata, uma segunda opção que estou mantendo
guardada, para não ter que ficar sozinha quando você me
deixar como me deixou da última vez. Essa é toda a triste
verdade, mas não digo, porque simpatizo com Ryan. Eu cresci
sendo a segunda opção. Ele e eu podemos não ser os Dereks e
as Averys, mas ainda temos sentimentos.
Derek assente e se vira para o bar. Parece uma rejeição
aguda.
— Whit? Você vem? — Ryan pergunta.
— Derek? Não é…
Ele olha para trás e seus olhos olham através de mim
enquanto ele acena na direção de Ryan.
— Seu amigo está esperando por você.
— Derek…
— Estou cansado, Whitney — diz ele, sua voz tão dura que
dou um passo para trás. — Não essa noite. Ok?
Ele se vira para o bar e eu fico parada atrás dele, parecendo
tola. Não consigo me mexer. Eu olho para as costas dele,
tentando empurrar todas as minhas emoções para baixo da
superfície, mas está se mostrando mais difícil do que nunca.
Apenas um momento atrás, nossas mãos estavam unidas e
nossa noite continha todas as possibilidades que eu podia
imaginar, mas agora ele nem sequer olha para mim. Ele fica lá,
esperando o barman, seu corpo rígido me avisando para deixá-
lo em paz. Ele claramente quer algum espaço.
Eu me viro e volto para a mesa. Ryan está lá, olhos sem
foco enquanto ele passa a mão pelo cabelo. Nossas cervejas
ficam intocadas na frente dele. Me sento ao lado dele e
agradeço pela bebida. Ele não diz uma palavra.
— Sinto muito — ofereço em silêncio.
É um pedido de desculpas atrasado. Ele o deixa lá,
demorando-se no ar desconfortavelmente, antes de finalmente
falar.
— Há quanto tempo você está afim do Derek? — Pergunta
enquanto continuamos a observar nossas cervejas intocadas.
As palavras saem de mim muito enfaticamente.
— Eu não estou.
— Poderia ter me enganado — ele ri melancolicamente. —
É engraçado… os sinais estavam lá. Era óbvio que você não
gostava de mim, mas eu não queria acreditar, sabe? — Ele se
levanta e balança a cabeça. — Vou para casa.
Pego sua manga, meu rosto expressando toda a angústia
que sinto por dentro.
— Não sei o que devo dizer. Eu sinto muito.
— Não, não sinta. Eu estava atirando fora da minha liga.
Então ele se vira, tira o braço da minha mão e empurra
entre a multidão. Quando ele desaparece, as lágrimas
começam a embaçar minha visão. Eu nunca me senti tão
decepcionada comigo mesma. Eu fui cruel. Eu deveria ter sido
honesta com Ryan desde o início. Eu gostaria que ele voltasse.
Na verdade, quero gritar o nome dele e implorar para que me
deixe explicar tudo.
Eu não faço isso, no entanto. Seria uma atitude egoísta,
uma maneira de amenizar minha própria culpa. Por que Ryan
se importaria com a minha história com Derek? Não muda o
resultado desta noite para ele. Ele tem sentimentos por mim
que não posso retribuir. Eu esperava que pudesse, mas não
posso, e agora ele sabe disso. Eu lhe devo espaço.
Limpo meus olhos, tentando esconder meu colapso público.
Eu nunca chorei em um bar antes. Com o letreiro de cerveja
neon piscando perto da minha cabeça, eu também poderia
muito bem-estar estrelando um videoclipe na CMT.
Arrasto meu olhar de volta para o bar e encontro Derek
ainda bem onde o deixei, esperando o barman, os cotovelos
apoiados no bar, focando em um ponto na sua frente. De
repente, estou determinada a falar com ele, mesmo que ele
esteja cansado, mesmo que ele queira ser deixado em paz. Não
posso deixar que esta noite termine assim.
Eu limpo minhas bochechas mais uma vez e é quando eu
noto a morena de mais cedo - aquela que afagou seus cabelos
quando ele entrou pela primeira vez. Ela está de pé atrás dele,
reunindo coragem. Ela ajeita a blusa e depois se inclina para
frente, batendo no ombro dele. Ele se vira e olha para ela. Eu
estou congelada, observando-os. Ela fala e lhe dá um sorriso
gentil, balançando nos calcanhares antes de estender a mão.
Ele devolve o sorriso dela e aceita a sua mão. A conexão deles
é um golpe que eu não esperava. O barman finalmente começa
a aceitar o pedido de Derek. Ele se vira para a morena,
perguntando algo antes de levantar dois dedos.
Duas bebidas. Uma para ele e uma para ela. Meu coração
queima como se alguém estivesse segurando um isqueiro
embaixo dele. Eu. Fui eu que acendi o isqueiro, segurando
minha mão em concha do lado da chama para que ela não
apague. É o meu pior medo criando vida. Derek com outra
pessoa. Derek com uma mulher bonita, flertando com ela bem
na minha frente. Meu primeiro instinto é partir, mas preciso
testemunhar isso. Rasgar o Band-Aid de uma só vez. Pronto,
vá. Prenda a respiração e viva a dor. Você vai sobreviver, eu
digo a mim mesma. Você chegará ao outro lado e perceberá
que não foi tão ruim. A dor só existia dentro da sua cabeça.
Procurando prova disso, olho para o meu peito e, como
esperado, não há chamas pressionadas contra o meu coração.
De volta ao bar, a mulher pega o banquinho livre ao lado de
Derek e inclina o corpo na direção dele. O joelho dela roça a
coxa dele. Ela se inclina para falar com ele, e ele faz o mesmo,
tentando ouvi-la sobre os sons do bar. Suas bocas estão muito
próximas. Eu a vejo olhar para ele. Ela molha os lábios,
inconscientemente, tenho certeza. Ela o quer. Ela seria uma
tola por não querer ele tanto quanto eu o queria todos esses
anos.
A mão dela toca o ombro dele. Meu ombro. Meu.
Derek sorri para ela, e esse pequeno gesto é o golpe fatal.
Eu volto para a mesa, pego uma das cervejas de Ryan e a
engulo, deixando um pouco derramar pelo meu queixo.
Engulo, engasgo e tusso, passo as costas da mão no rosto e
depois me viro para sair. A exaustão me alcançou. Sinto como
se estivesse atravessando uma calda grossa, carregando o
mundo nas costas enquanto encontro a saída, empurro a porta
e saio. Dou cinco passos, até a borda de algumas sebes
cobertas de vegetação, antes de passar mal. Tomar uma cerveja
sem jantar primeiro foi estúpido, mas não é por isso que estou
assim. Outra onda pesada de náusea me atravessa.
Uma voz gentil atrás de mim pergunta se eu estou bem e
aceno, envergonhada demais para olhar e ver quem é. Eu sei
que Carrie ainda está lá dentro. Deus, eu gostaria de poder
buscá-la, mas não posso voltar assim. Não quando tenho
vômito na blusa dela. Não quando ela finalmente está virando
a esquina com Thomas. Não quando Derek está sentado no
bar, conhecendo alguém novo, tendo esquecido tudo sobre
mim. Gostaria de saber se ele vai comprar o taco que me
devia.
Eu levanto e apoio minhas mãos nos joelhos e respiro
profundamente. O ar frio do outono atinge meus pulmões
como gelo e eu começo a curta caminhada de volta ao meu
dormitório. Fantasio sobre o que farei quando chegar lá.
Chorar. Bater meus punhos no meu travesseiro. Escrever uma
carta para Derek, depois a rasgar em pedaços e queimar. Ou
talvez eu apenas durma. Isso soa como um bom plano.
Consigo chegar em casa, lavar o rosto e vestir o pijama mais
macio que possuo. Estou me colocando na cama quando ouço
uma batida na minha porta.
— Whitney, você ainda está acordada? Ei, é Alexa do 3B.
Sei que devemos colocar reclamações formais na sua caixa de
correio, mas Kelly está comendo meu Pringles novamente…
Jogo um travesseiro na minha porta. — VÁ EMBORA!
CAPÍTULO QUINZE
DEREK

mulher que se apresenta a mim no bar não quer beber

A
nada. Eu ofereço, para ser legal, mas ela diz que já tem
vinho na mesa. Então, eu só compro duas cervejas. Uma
para mim e outra para Whitney. É um acidente. Assim
que eu faço o pedido, me lembro de Whitney já
tomando uma bebida, cortesia de Ryan.
O amigo dela.
Eu provavelmente poderia ter lidado com essa situação um
pouco melhor, poderia ter dado um tapinha no ombro de Ryan
e agido como se estivesse feliz em vê-lo, mas honestamente,
não estava. Estou farto de ver o rosto dele. De saco cheio dele
no meu caminho.
Enquanto espero o barman trazer as cervejas, a mulher se
esforça para manter a conversa por nós dois. Não consigo
lembrar o nome dela logo depois que ela o diz e ela precisa
fazer uma pergunta duas vezes antes que eu perceba que ela
está esperando por uma resposta. Eu sorrio e peço desculpas.
Ela tenta conversar mais uma vez, e quando eu respondo com
uma resposta de uma palavra, ela finalmente desiste e vai
embora.
Fico feliz em vê-la partir. Não vim ao bar para conversar.
Eu vim para Whitney e agora ela está em algum lugar, sozinha
com Ryan. Esse pensamento amargo me mantém plantado no
meu banquinho. Se vou ter que enfrentá-los juntos, preciso de
mais requinte do que posso no momento. Fico no bar e
saboreio minha cerveja, meio concentrado no jogo de futebol
passando na TV à minha frente.
Tento colocar um rosto corajoso, relaxando os punhos para
que eles não causem danos corporais acidentalmente a Ryan.
Eu nunca fui um bárbaro ciumento. Arrastar Ryan para fora do
bar pela gola da camisa não resolverá meus problemas. Além
do mais, ele não merece isso.
Eventualmente, eu me forço a levantar, mas é tarde demais.
Levei muito tempo para compartimentar meus sentimentos por
Whitney, porque quando eu pego sua cerveja e o que resta da
minha, e então viro para encontrá-los, eles se foram.
— Você está procurando a Whitney? — Uma garota
pergunta. Eu a reconheço dos ensaios, mas o nome não vem à
minha cabeça. Eu acho que ela é uma das elfas da Floresta
Encantada.
Eu concordo.
Ela aponta para a porta.
— Ela saiu há um tempinho.
— Com Ryan?
Aparentemente, meu aborrecimento com a ideia é visível
porque seus olhos se arregalam. Eu conscientemente afrouxo
meu aperto no copo de cerveja, em um esforço para parecer
menos um lunático.
— Não. Eles saíram separadamente por alguns minutos.
Parecia que eles estavam brigando ou algo assim. Enfim,
alguém disse que Whitney estava passando mal lá fora,
vomitando. Não é uma boa imagem, se você me perguntar.
Eu não perguntei.
Sem outra palavra, largo as bebidas em uma mesa próxima
e vou para a porta. Se ela ainda estiver por aí, eu a ajudarei.
Mesmo com tudo acontecendo, eu ajudarei a cuidar dela, se
ela precisar de mim.
Uma vez lá fora, eu a procuro, circulando o bar inteiro, mas
ela se foi. A ideia de ela voltar para casa sozinha me irrita. Sei
que ainda estamos na propriedade da Companhia Knightley e é
uma área relativamente segura, mas ainda assim ela estava
bebendo e, até onde eu sei, pulou o jantar.
Pego meu celular, prestes a ligar para ela, mas percebo que
ainda não trocamos números. Eu xingo e ligo para Heather.
Ela não está nada feliz em ouvir de mim, algo sobre limites e
não incomodá-la depois do horário de trabalho. Digo a ela que
ela pode tirar um dia de folga sempre que quiser, antes de
instruí-la a puxar o arquivo de funcionários de Whitney em
seu computador. Eu preciso do número de telefone dela.
Depois que ela termina, ela diz:
— Vou tirar dois dias de folga — antes de desligar.
Vou para o meu carro e o destranco enquanto ligo para
Whitney. Toca por uma eternidade e depois vai direto para a
caixa postal. Tento novamente quando me sento no banco da
frente e fecho a porta. Ela finalmente atende.
— Eu juro que se é alguém reclamando de Pringles, eu vou
gritar.
— O quê?
Há uma longa pausa.
O tic metálico de uma lâmpada sendo acesa em segundo
plano.
— Whitney? É o Derek.
— Ah.
Há um gemido abafado como se seu rosto estivesse
pressionado contra o travesseiro.
— Você está bem?
— Desculpa. Eu estava quase dormindo. Grogue, eu acho.
Você precisa de algo?
Ela deixou cair seu tom amigável.
Inclino minha cabeça contra o encosto de cabeça e esfrego
os olhos.
— Alguém disse que você estava passando mal do lado de
fora do bar. Eu queria verificar se você estava bem.
— Ah, bem… não era eu. Deve ter sido apenas um
guaxinim ou algo assim. Estou bem. Na verdade, eu estava
cochilando antes de você ligar. Não me deixe impedi-lo de
aproveitar sua noite.
— Minha noite? — Pergunto asperamente.
— Com a Sra. Cabelo Fofo.
— Do que você está falando?
— A morena no bar.
— Aquela com quem conversei por cinco minutos?
— Foi o suficiente para convencê-la a voltar para o seu
apartamento? Eu subestimei você. — Sua atitude gelada irrita
meus nervos.
— Estou sentado no meu carro, sozinho. E o Ryan? Ele está
ao seu lado?
— Você viu como minha cama é pequena. Não há como um
homem adulto ficar aqui comigo. Ele está no chão.
Meu estômago se contorce. Então eu percebo que ela está
brincando. Não é engraçado.
— Se você está ligando para ver se estou bem, estou — ela
continua em um tom cortante. — Melhor do que nunca. Ótima,
de fato.
— Maravilhoso.
— Fantástico pra caralho.
— Boa noite, Whitney.
Ela desliga primeiro.
Eu fico sentado no carro, lutando contra o desejo de ligar
para ela novamente e continuar essa briga. Quero empurrá-lo
ao seu limite para que possamos expressar nossas queixas de
uma vez por todas. Acho que vou ter que guardar para
amanhã.

Eu durmo inquieto, me mexendo e virando a maior parte da


noite. Acordo cedo e vou à academia, minha frustração
alertando qualquer um que apareça no meu caminho. Um
treinador bem-intencionado se aventura na minha direção.
Balanço a cabeça e digo: — Não — ele se vira, acelerando o
passo. Tomo banho e afasto os pensamentos de Whitney
enquanto a água escorre pelo meu peito e abdômen. Com uma
virada zangada, desligo o chuveiro e saio para cumprimentar
meu reflexo. Eu estou uma besta carrancuda esta manhã. Eu
poderia interpretar de forma convincente qualquer vilão em
nosso parque temático, e o pensamento só me incomoda mais.
Com um rápido e-mail para Heather, eu a informo que vou
pular meu turno como Sua Alteza Real durante a sessão de
autógrafos matinal de Whitney. Ela ficará bem sem mim por
algumas horas. Eu gostaria de algum tempo no escritório para
fazer algum trabalho antes do desfile esta tarde. Tenho certeza
de que Whitney também apreciará esse tempo longe de mim.
— Você está de bom humor esta manhã — diz Heather
enquanto trabalhamos juntos. Delego tarefas, verifico e-mails,
adiciono eventos e tarefas ao meu calendário e assim por
diante, trabalhando para me manter ocupado.
— A menos que você tenha um comentário relacionado ao
trabalho, eu realmente não quero ouvi-lo.
— Perdão?
Acho que nunca fui tão duro com ela. Eu imediatamente me
arrependo.
— Eu sinto muito. Me ignore. Eu tive uma noite terrível.
Vamos continuar.
Trabalhamos direto durante o almoço, até o último
momento possível, antes que eu precise ir ao armazém do
p q p
desfile e trocar de roupa. Heather caminha comigo para que
possamos continuar trabalhando. Com a gravidez dela, é mais
difícil para ela me acompanhar, e eu esqueço de diminuir o
ritmo. Até o final de hoje, provavelmente vou dever a ela meio
ano de folga remunerada.
Duas funcionárias do Departamento de Figurino estão me
esperando com meu terno. Dispenso Heather e vou para o
provador. O traje é desenhado de maneira militar, semelhante
ao que a nobreza britânica usaria se eles se casassem. Eu tenho
uma calça preta e uma jaqueta vermelha justa com botões
dourados empilhados no centro. Uma faixa azul royal
atravessa meu peito, acentuada por uma gola e punhos em
ouro amarelo. Há um brasão da família bordado logo abaixo
de uma medalha que está presa no meu coração.
Eu me sinto um pouco ridículo usando a maldita coisa.
— Está tudo onde deveria estar? — Pergunto quando saio,
e as duas funcionárias concordam com a cabeça, olhos
arregalados, silenciosas.
Saio do provador e vou em direção ao final do desfile.
Nosso carro alegórico é o último da fila e os cenógrafos foram
exagerados ao decorá-lo com o tema de um casamento real. É
enorme - pelo menos dois andares - completo com uma mini
versão do Castelo de Elena perto da parte de trás. As rosas
cobrem cada centímetro quadrado do carro, arqueando e
girando para criar um pano de fundo para a plataforma elevada
na qual estaremos. Um engenheiro está estacionado lá agora,
passando por uma lista de verificação para confirmar que tudo
está funcionando corretamente. Não há motorista presente
durante a procissão. Cada carro alegórico é construído com um
minicomputador a bordo pré-programado com a rota do
desfile. Há quilômetros de distância, há uma sala cheia de
engenheiros sentados em suas mesas, preparados para
solucionar qualquer problema que surgir.
Subo a escada e aceno com a cabeça para o engenheiro
antes de notar que o nível de volume dentro do armazém
começa a diminuir. O silêncio que se segue puxa minha
atenção de volta para os provadores, exatamente quando
Whitney passa por uma porta. Eu olho, extasiado. É tudo de
mentira. Eu sei que o vestido de noiva dela é apenas uma
fantasia, mas ainda assim, ela está mais impressionante do que
qualquer noiva que eu já vi. Um contraste impressionante de
renda branca e cabelo vermelho escuro.
Não deveria ser um choque vê-la. Ela usou partes de sua
roupa durante os ensaios - o véu, a parte de cima, a saia…
porém, nunca tudo junto. Heather me disse que uma equipe de
costureiras têm trabalhado no vestido noite e dia para finalizá-
lo a tempo. Seus esforços não foram em vão. Whitney usa isso
como um sonho. As mangas de renda se estendem até os
pulsos, o top correspondente se estreita na cintura e a saia cai
em pregas suaves até o chão. Um V está cortado na gola alta,
revelando apenas uma pitada de decote.
Seu cabelo está solto, alguns fios presos sob o véu de renda.
Há uma pequena tiara de diamante em sua cabeça -
exatamente o que uma princesa deve usar no dia do
casamento. Os olhos de todos a seguem enquanto ela caminha.
O armazém do desfile é na verdade apenas um espaço
industrial com piso de concreto e dutos expostos, e ainda
assim Whitney poderia muito bem estar andando pelo corredor
central de Notre Dame. Carrie caminha ao lado dela,
segurando o véu para que não se arraste no chão. Whitney está
conversando com ela, sem saber do efeito que ela tem sobre o
resto de nós.
É melhor assim. Eu preciso de um momento para observá-
la, para me recompor. Me lembrar de onde estamos. O que
estamos fazendo. Quando ela se aproxima do carro, desço a
escada, sabendo que ela precisará de ajuda para subir. Seus
olhos voam para mim, para o meu terno de casamento. Eu
tinha esquecido que estava usando a maldita coisa, mas ela
percebe. Suas bochechas ficam vermelhas e ela desvia o olhar,
de volta para Carrie.
— Me ajude a subir a escada? Não quero cair e quebrar
meu pescoço, ou pior, rasgar este vestido.
— Eu ajudo — digo a Carrie e ela assente, dando um passo
para trás.
— Carrie pode me ajudar — Whitney insiste, olhando para
Carrie por cima do ombro. Só posso imaginar que ela está
ameaçando a amiga com um olhar urgente. Não ouse a me
deixar sozinha com ele.
Que pena.
Dou um passo à frente e passo o braço em volta dos ombros
de Whitney, virando-a na direção da escada.
— Não seja difícil. Hoje não tenho energia para isso.
Ela exala um suspiro de raiva, mas me ouve de
qualquer maneira. Tomo cuidado com ela enquanto ela sobe os
primeiros degraus, concentrando-se na fileira de pequenos
botões brancos que percorrem sua espinha. Eu levanto muito
do seu peso, duvido que ela esteja tocando os degraus
enquanto sobe.
— Eles poderiam ter me colocado em um terninho ou algo
assim, pelo menos. Isso não parece nada seguro. Subir escadas
em um vestido de noiva…
— Temos um bom seguro para os empregados.
— Ha ha. Muito engraçado.
O engenheiro pede licença assim que subimos para a
plataforma. Ou ele terminou sua lista de verificação ou nos
ouviu discutindo e queria ficar o mais longe possível de nós.
Não posso dizer que estou triste por vê-lo partir. Eu preciso de
um momento a sós com Whitney.
Assim que ela está segura, ela tenta colocar espaço entre
nós. Embora o carro alegórico em si seja grande, a plataforma
em que estamos tem apenas três metros de largura. Ela não
pode ir longe.
Por alguns momentos, ficamos em silêncio. Whitney ajeita
o vestido e arruma o véu para que caia levemente pelas costas.
Quando ela acaba de inventar tarefas para se manter ocupada,
ela finalmente me olha rapidamente.
Quando ela fala, seu tom carrega uma nota de
aborrecimento.
— Você parece um príncipe de verdade. Alto, musculoso, e
esse cabelo castanho grosso também não é ruim. É como se
eles tivessem te arrancado direto das páginas de um conto de
fadas. Eu já posso praticamente ouvir as mulheres na multidão
desmaiando.
Eu não mordo a isca.
Ela olha para mim. Seus olhos felinos estão estreitos e
travessos.
— Você não vai dizer nada sobre a minha aparência?
— Eu acho que você provavelmente já ouviu o suficiente
hoje.
Ela faz uma careta.
— Espero que o dia do meu casamento real não seja tão
ruim assim. Não deverá ser, considerando que meu noivo não
será tão arrogante quanto você.
— Arrogante?
— Sim. Eu acho que isso descreve você com bastante
precisão. Isso significa prepotente ou mandão — ela explica
com um tom soberbo.
Quero ignorar completamente o comentário dela, mas não
consigo. Eu a pressiono.
— Como exatamente eu sou arrogante?
— Não é óbvio? Você faz exatamente o que gosta em todos
os momentos. Assim como você fez um momento atrás,
afastando Carrie e me empurrando em direção à escada.
Entrando e saindo da minha vida sempre que tem vontade. Eu
acho que faz sentido o porquê você age dessa maneira.
Crescendo como herdeiro deste império, tenho certeza de que
você carregava muito peso em seus ombros. A maioria dos
homens teria se curvado sob essa pressão, mas você se
levantou para a ocasião. Agora, imagino que seria impossível
separar o homem do herdeiro.
Ela poderia muito bem estar olhando para as unhas. Tão
confiante em sua avaliação, ela está entediada.
— Eu não sabia que estávamos analisando um ao outro. É a
minha vez agora?
CAPÍTULO DEZESSEIS
WHITNEY

u miro um sorriso para ele antes de responder: — Você

E
pode tentar, mas duvido que você acerte. Vá em frente.
Me diga tudo o que acha que sabe sobre mim.
Estou fracamente ciente de Thomas falando com todo
o desfile com um megafone. Estou muito ocupada
olhando Derek para ouvir. Eu também não acho que ele
registra Thomas. Assim que os carros alegóricos na frente da
linha começam a avançar, Derek se vira totalmente para mim.
— Você se lembra da nossa conversa na cozinha de Cal no
jantar? Você alegou que era a pessoa apaixonada de nós dois.
Eu praticamente rosno para ele. — Sim. Eu me lembro. E
daí?
Ele ri, e eu tenho que morder minha língua para não chamá-
lo de um nome ruim apenas para recuperar a vantagem.
— Bem, você está errada. Você não é apaixonada. Você faz
as coisas com paixão. Você brinca de faz de conta. Com seu
coração, com seu trabalho, com sua vida. Você se iludiu
pensando que se colocou para fora, mas é ainda mais reservada
do que eu. Você não ama Ryan.
— Eu poderia amar! Antes de ontem à noite! — Respondo
quando nosso carro alegórico começa a se mover. Balanço nos
meus pés e ele estende a mão para me firmar. Afasto meu
braço dele assim que tenho certeza de que não cairei. Ele não
amaria isso? Eu espatifada no concreto?
— Pense nisso — ele cutuca, a voz aguda e firme.
Nesse momento, nosso carro alegórico sai do armazém,
virando para uma rua lateral que leva ao parque, e o sol
brilhante da Geórgia me cega. Fecho os olhos, ouvindo. Em
alguns momentos, estaremos na frente de uma multidão
gritante. Mesmo agora, eu posso ouvir a música animada
estridente dos alto-falantes dentro do parque.
— Você diz que é romântica incurável, que se apaixona o
tempo todo, mas sabe o que eu acho? — Ele continua.
Pisco meus olhos enquanto eles se ajustam à luz, não
querendo olhar na direção dele.
— Eu realmente não me importo — cuspo de volta para ele,
fervendo de raiva.
— Eu acho que você diz a si mesma que é amor, então você
não precisa considerar o fato de que é exatamente o oposto.
Nada. Paixões vazias. Relacionamentos sem conteúdo.
Estamos no parque agora e não tenho escolha a não ser me
virar na sua direção e deixá-lo pegar minhas mãos nas dele. A
coruja animatrônica empoleirada ao nosso lado folheia as
páginas de um livro de celebração. “E eles viveram felizes
para sempre” está gravado em cursivo na capa. Eu bufo.
Deveríamos estar compartilhando nossos votos agora, olhando
adoravelmente nos olhos um do outro, uma representação
perfeita do amor.
Na realidade, estamos cuspindo fogo. Há um mar de
pessoas atrás dos ombros de Derek, um borrão de cores que
tento focar. Não consigo. Estou tremendo de raiva, tentada a
empurrar Derek para fora desse carro alegórico. Ah, não se
preocupe - ele ficaria bem. Ele aterrissaria em uma nuvem de
fãs adoradores.
— Você está errado — eu insisto com os dentes cerrados,
olhando para os botões dourados em sua jaqueta. — Eu já tive
paixões reais e já me apaixonei, com certeza.
— Tenho certeza que você pensa assim. O cara do fudge, é
ele quem você ama? — Seu tom de zombaria me faz apertar
minhas mãos. Infelizmente, ele as está segurando. Ele sabe
que acabou de desencadear uma reação. — Já convidou ele
para sair? Tentou conhecê-lo? Talvez, eu não sei, perguntar o
maldito nome dele?
— Eu estava esperando ele me perguntar — digo em um
sussurro de raiva.
— É, bem, eu te perguntei. Eu perguntei.
Finalmente levanto meu olhar para ele, mas ele está
olhando para a multidão agora, carrancudo. Deus, estamos
fazendo um trabalho horrível fingindo estar apaixonados. Eu
sei que teremos problemas por isso. Estamos arruinando o
desfile para todos os visitantes, mas não consigo me forçar a
me recompor. Eu quero saber o que ele quis dizer.
Continuamos descendo a rua, nos aproximando da Castle
Drive. Em um momento, passaremos sob o arco de rosas
vermelhas. Essa é a nossa deixa para nos beijar. Meu coração
começa a bater forte contra o meu corpete de renda. Tenho
certeza que ele pode sentir minhas mãos suando contra as dele.
— Você jurou que me daria um recomeço — diz ele,
parecendo derrotado —, mas você não fez isso. Você ainda
está com medo de se machucar novamente.
— Ah, qual é.
Eu soo incrédula e, finalmente, ele vira a cabeça para mim.
Pela primeira vez desde o início do desfile, estamos olhando
nos olhos um do outro. Parece que ele está me segurando pela
nuca, mantendo minha atenção nele. É visceral, essa conexão
entre nós. Ele se abaixa, liberando minhas mãos para que ele
possa envolver seus braços em volta da minha cintura e me
puxar para perto. Minhas mãos atingem seu peito duro e, fora
de foco, ao fundo, espio mil rosas vermelhas cor de sangue.
— É verdade, Whitney. Você está com medo da dor real —
ele sussurra para mim, suavemente agora que sua atenção está
nos meus lábios. — Do tipo ardente. Que te deixa acordada e
preocupada. Não consegue comer, não consegue pensar, não
há vida sem você… desse jeito.
E então ele se inclina e me beija.
Fogos de artifício explodem, literalmente, sobre nossas
cabeças. Um milhão de faíscas de arco-íris estalam no céu
enquanto seus lábios possuem os meus. Ele me beija com um
abandono imprudente, como se nunca tivéssemos outra
chance, como se eu pudesse voltar atrás e afastá-lo a qualquer
momento. Isso, o beijo dele me diz, é isso que eu estava
esperando… você ficando suave e doce nos meus braços.
Em nosso roteiro, simplesmente dizia que a princesa Elena
e Sua Alteza Real “compartilham um beijo” e, como nunca o
ensaiamos, não há como saber exatamente o que isso
significava. Ainda assim, se eu tivesse que adivinhar, suponho
que se destinava a ser um selinho rápido e modesto. O que
estamos fazendo é exatamente o oposto.
É quente e enlouquecido, um beijo destinado a ocorrer atrás
de portas trancadas, dando um nó em torno de dois corações.
Ele é implacável. Com fome. Minhas mãos deslizam por seu
peito e envolvem seu pescoço. Ele geme quando minhas mãos
tocam sua pele quente. Ele segue o exemplo, movendo-se para
embalar meu queixo para que ele possa inclinar minha cabeça
para trás e aprofundar ainda mais o beijo. Minha pele ganha
vida sob seu toque.
Sua língua toca a minha e minha cabeça gira. Tenho certeza
de que crianças pequenas estão de pé na primeira fila, de
queixo caído e preocupadas.
— Ele não está… A machucando, está, mamãe?
Um de nós precisa parar com isso, mas ele não está me
deixando fazê-lo, e eu me recuso a me afastar. Agora que estou
aqui, pressionada contra ele, é como se não pudesse me
aproximar o suficiente. Quero rasgar sua jaqueta e entrar nela,
sentir sua força tranquilizadora. Não há nenhuma maneira na
terra que em que meu primeiro beijo supere este e isso é bom,
considerando quantos problemas teremos quando tudo acabar.
Derek é quem acaba com isso. Ele recua o suficiente para
deixar sua testa tocar a minha e nós permanecemos assim
durante o resto do desfile, nossos corações batendo
loucamente, nossas respirações pesadas. Nos recusamos a nos
separar, mesmo com o rugido do parque temático ao nosso
redor. Meus lábios estão inchados e se separam quando tento
agarrar um fio de bom senso para me levar de volta a dez
minutos no tempo.
Antes de nos beijarmos. Antes de que eu percebesse que
todas as minhas imaginações de como seria seu beijo não eram
nada comparadas à coisa real. Não encontro nenhum fio.
Nenhum mesmo. Ao ficar aqui, pressionada contra ele, estou
admitindo a derrota, admitindo o meu medo. Eu tenho ficado
longe dele como uma maneira de proteger meu coração. Não
estou confiante de que posso sobreviver a ele me deixando
uma segunda vez, mas eu suponho que você só pode atrasar o
inevitável por algum tempo.
Às vezes, o destino está cansado de ser ignorado.
Eu me inclino para a frente e roubo outro beijo rápido. Não
é o suficiente. Derek agarra minha cintura com mais força,
comunicando seu aborrecimento quando me afasto. Seus olhos
estão aquecidos pelo desejo. Poderíamos reacender tão
facilmente. Outro beijo… mais… nosso carro alegórico pula
quando ele volta para o armazém, e Thomas tem seu megafone
apontado diretamente para nós.
— Derek, posso falar com você?
Derek e eu nos entreolhamos, e tenho que morder o lábio
para conter uma risada boba.
— Estamos com problemas — eu sussurro como se
fossemos adolescentes delinquentes.
— Não se preocupe, eu vou levar a culpa, diga a ele que fui
eu quem o iniciou. Eu tirei vantagem de você.
— Isso não vai funcionar. Eu estava beijando você de volta,
quase subi em cima de você. Eu teria subido, se meu vestido
permitisse.
As sobrancelhas dele arqueiam com a ideia.
— Tudo bem, então teremos que bancar Bonnie e Clyde.
Nós vamos escapar e seguir em frente.
— Posso arrumar minha mala em cinco minutos.
Ele sorri.
— Derek — Thomas diz novamente, e desta vez a
severidade em sua voz nos faz finalmente nos afastarmos e
tentarmos, sem sucesso, esconder os sorrisos de nossos rostos.
Aparentemente, deveríamos levar isso muito mais a sério.
Derek me ajuda a descer a escada e eu murcho quando ele
tira as mãos da minha cintura e se aproxima de Thomas.
Temos muito o que conversar. Você não apenas compartilha
um beijo como esse e volta à vida como a conhecia antes.
Tudo mudou. Tem que mudar.
Carrie passa correndo por eles com um entusiasmo
vertiginoso. Seu sorriso é contagioso e, no momento em que
ela passa por Derek e fica fora da linha de visão dele, ela joga
as mãos no ar em triunfo.
— É verdade? O que todo mundo está dizendo? Eu pensei
que talvez ele apenas te beijasse na bochecha, mas
aparentemente vocês realmente estavam indo fundo!
Assustando as crianças, até! Me conte tudo!
— Oh, Deus — meu rosto se enche de cor.
Eu conto tudo, parando de respirar e falando rápido
enquanto ela me leva de volta ao camarim. Ela tira o meu véu
e depois começa a desfazer os botões do meu vestido. Uma
assistente bate na porta, perguntando se Carrie quer ajuda, mas
ela a afasta para que possamos continuar conversando.
No momento em que estou colocando meu jeans e suéter,
há outra batida na porta. Carrie está tratando de pendurar o
vestido de casamento de volta, então eu respondo e recuo,
surpresa ao encontrar Thomas lá. Suas sobrancelhas estão
franzidas, olhos ilegíveis. Não, não é verdade. Ele parece…
preocupado. Chateado, até. Estamos realmente com tantos
problemas? Foi só um beijo. Nós não machucamos ninguém.
Ele passa a mão pelos cabelos e pergunta se pode entrar.
— Claro. Espere, é sobre…
Eu não termino a frase antes que ele me interrompa.
— Cal está no hospital.
— Não vejo o motivo de toda essa confusão.
— Cal, deite-se para que a enfermeira possa ver seu braço
— diz Derek, parecendo desconcertado.
— Por quê? Eles estão realizando testes o dia todo. Não
preciso medir minha pressão arterial pela centésima vez,
garanto.
Derek lembra que os testes são necessários. Eles precisam
ter certeza absoluta de que podem descartar um ataque
cardíaco.
— Um ataque cardíaco? É o que eles pensam? Não — Cal
parece incrédulo. — Foi apenas um pouco de azia, na verdade.
Eu estou do lado de fora do quarto de hospital de Cal,
encostada na parede. Derek está lá agora, junto com uma
enfermeira. Provavelmente é um quarto pequeno, então eu fico
aqui fora, não querendo atrapalhar. Ou assim eu disse a mim
mesma.
Após o desfile, corri direto para o hospital com Carrie e
Thomas. Eles me ajudaram a navegar pelo labirinto de
corredores, me levando a passar por máquinas de venda
automática e salas de espera vazias, sob sinais de aparência
oficial e através de portas de aço inoxidável. Pareciam
quilômetros entre a garagem e a unidade de terapia intensiva
cardíaca do hospital.
Assim que entramos, uma enfermeira nos parou
imediatamente, pedindo para ver nossos crachás de visitante.
Não tínhamos crachás.
Ela deu um resmungo.
— Quem você está aqui para ver? — Eu disse o nome a ela
e ela balançou a cabeça. — Somente família.
Carrie deu um passo à frente, apontando para mim.
— Ela é da família. Leve ela. Vamos esperar aqui fora.
Eu menti e disse à enfermeira que meu sobrenome era
Knightley. Quando ela pediu para ver uma identificação, eu
disse a ela que não tinha nenhuma comigo. Com tudo
acontecendo, não pensei em pegar nada prático. Eu sei que era
contra a política do hospital ela me deixar passar, mas as
chances são de que ela deu uma olhada no meu rosto cheio de
lágrimas e pensou: não tenho tempo para essa merda hoje
porque ela suspirou, pegou um crachá e exigiu que eu o usasse
antes de apontar para uma sala no final do corredor.
Andei até lá com as pernas dormentes, segurei a maçaneta
da porta e depois parei, ouvindo as vozes lá dentro. Na hora, o
médico de Cal estava revisando as coisas com ele. Metade das
palavras eu não entendi, e o resto eu tentei ignorar. Parecia
uma invasão de sua privacidade, então fiquei lá fora até ele
sair. O médico me olhou com curiosidade, mas não disse uma
palavra.
Isso foi uma hora atrás. Desde então, os enfermeiros vêm e
vão. Eu fiquei aqui.
Não estava no hospital na última vez que Cal teve um
ataque cardíaco há alguns meses atrás. Ninguém me disse que
ele tinha sido internado até ele voltar para casa, descansando.
Fui jantar e Ava compartilhou a notícia. Realmente não me
atingiu o quão sério era. Ele parecia bem para mim. Ele estava
de pé, andando por aí, vestido com as roupas de sempre. Além
dos jantares saudáveis que Ava começou a preparar para nós,
nada havia mudado. Ele parecia bem, mas não pode ser,
porque aqui está ele, de volta ao hospital novamente tão cedo.
— Você poderia me pegar um lanche na máquina de venda
automática? — Cal pergunta a Derek. — Algo salgado? Estou
faminto.
— Você está falando sério?
— Tá. Que tal uma barra de granola? Isso é saudável o
suficiente, certo? O quê? Como se tirar meu sangue mil vezes
não fosse ruim o suficiente, agora vocês todos vão me matar
de fome?
Há mais conversas, mas isso não vai até o corredor. Então a
porta se abre e eu me endireito. Envergonhada, embora não
tenha certeza do porquê. Derek sai da sala com a cabeça baixa,
concentrado. Então ele me vê e para no meio do caminho. Nós
nos encaramos. Em silêncio. Ele ainda está fantasiado do
desfile - o único toque de cor no corredor do hospital. As
últimas horas são visíveis em seus olhos pesados e cabelos
desgrenhados.
Ficamos assim por alguns momentos enquanto ele olha para
mim. Não sei se ele está surpreso por eu estar aqui ou chateado
por eu estar me intrometendo. Seu olhar se volta para o meu
crachá: Whitney Knightley. Ele oferece um pequeno sorriso.
Eu ofereço uma ainda menor, prestes a abrir minha boca para
me desculpar quando ele acena com a cabeça em direção ao
quarto.
— Entre. Ele vai querer ver você.
Espero até a enfermeira sair, empurrando o carrinho, e bato
suavemente na porta.
É
— Cal? Tudo bem se eu entrar? É a Whitney.
— Finalmente! Alguém que eu realmente quero ver —
entro, mas paro perto da porta. — Por favor, diga que você
tem um lanche com você. Alguns pretzels, talvez?
Eu balanço minha cabeça, mordiscando meu lábio inferior.
— Por que você está chorando?
Ops.
— Eu não estou — eu minto, limpando meu nariz.
Só que ele parece tão frágil deitado naquela cama com a
roupa do hospital, vinte anos mais velho que a última vez que
o vi, pálido e ligado a mil máquinas.
— Você não acha que isso é sério, não é? — A testa dele
enruga. — Vamos lá, eu preciso de você do meu lado. Eles vão
me dispensar e podemos voltar para casa. Ava provavelmente
preparou o jantar para nós.
— Cal.
Ele suspira e dá um tapinha na cama, me incentivando a me
aproximar.
Cal sempre foi carinhoso. Beijos na bochecha, tapinhas
pesados no ombro. Ele é uma alma calorosa e gentil, e é por
isso que eu me abro e o abraço. Quero o calor dele, para me
garantir que ainda está lá.
— Você realmente não precisa se preocupar — diz ele
calmamente, dando um tapinha nas minhas costas.
Eu me sinto boba. Derek não estava chorando. Por que eu
estou?
Balanço a cabeça, sem falar nada.
— Você também está chateada com a falta de lanches neste
lugar? Sinto vontade de chorar, se for honesto.
Eu rio e mantenho meu rosto enterrado contra seu peito.
— Não… — não faça pouco caso disso. — Você é minha
família — eu sussurro contra seu peito.
— Claro que sou. É por isso que você tem meu sobrenome
no seu crachá. Eu gosto do jeito que isso soa. É verdade, você
sabe. Só tive um neto, mas se pudesse escolher uma neta,
gostaria que ela fosse exatamente como você.
Se o objetivo dele era me fazer parar de chorar, ele está
fazendo um péssimo trabalho. Agora, estou chorando contra o
peito dele. Ele terá que trocar a bata do hospital com todo o
ranho que estou manchando.
— Eu prometo que vou ficar bem. O médico já me garantiu
isso. Eu não tive um ataque cardíaco. Ele chamou de
cardiomiopatia tako-alguma-coisa. Aparentemente, ele imita
os sintomas de um ataque cardíaco, e é por isso que Ava
insistiu em chamar uma ambulância hoje de manhã, mas eles
vão me dar um remédio e isso deve fazer o truque. Eles estão
até me deixando ir para casa. Bem, quase isso. Vou ter que ter
uma enfermeira comigo e algumas dessas máquinas também.
Agora, pare com isso. Vamos lá. Conte-me sobre o desfile.
Como foi? Derek fez a parte dele?
— Eu fiz muito bem, obrigado.
Afasto-me de Cal, voltando a me levantar e dando um
passo para trás. Eu não tinha percebido que Derek estava lá.
Eu limpo meus olhos e meu nariz, agradecendo a Cal depois
que ele me passa um lenço de papel do esconderijo ao lado de
sua cama. Não me viro para encontrar os olhos de Derek,
embora eu possa senti-lo me observando. O quarto do hospital
está lotado demais com nós três nele.
— Uma enfermeira me deu uma xícara de frutas e algumas
nozes — diz Derek, se aproximando de mim e colocando a
comida de Cal na mesa de cabeceira.
— Ah, bom. Comida de esquilo.
— Vamos pedir que Ava faça algo melhor em casa. Eles
estão preparando tudo para transportá-lo para lá agora. Heather
reservou uma equipe de atendimento para você e teremos uma
enfermeira em casa. Seu cardiologista ficará feliz em ver você
lá também mais tarde esta noite.
— Que bom. Quando podemos sair?
— Dentro de uma hora. Quero garantir que eles tenham
tudo preparado.
Então, muito gentilmente, Derek estende a mão e envolve a
minha cintura, me puxando contra ele e dando um beijo no
meu cabelo. Lágrimas voltam aos meus olhos, mas elas não
desfocam o sorriso que se espalha pelo rosto de Cal.
— Bem, então vamos todos — diz ele, parecendo
extremamente satisfeito consigo mesmo.
Embora eu me ofereça para voltar ao meu dormitório - não
querendo me intrometer - Cal e Derek insistem no contrário.
“Tem sido um longo dia” e “Você não comeu” vem de Derek
e “E se eu piorar?” vem de Cal. Eu balanço minha cabeça
então, lutando contra um sorriso pela audácia dele antes de
assentir com a cabeça e concordar. Depois de contarmos a
Thomas e Carrie os novos planos, Thomas garante que ele
levará Carrie para casa em segurança e eles saem do hospital
de mãos dadas.
É um borrão de atividade durante o transporte de Cal de
volta para casa. Uma enfermeira já está lá para ajudá-lo a se
estabelecer. O médico dele chega logo depois de nós. Cal não
acha que outro exame seja necessário, mas seu médico insiste
nisso. Ele voltará de manhã também.
Eu permaneço na cozinha, sem saber onde eu deveria ficar.
Eu me sinto meio inútil, cansada. Eu assisto Ava se mover,
terminando o jantar. Ela já mandou comida para Cal, mas há
canja de galinha caseira no fogão e muffins de pão de milho
que ficam dourados no forno.
— Tem certeza de que não precisa de ajuda?
Ela está guardando potes de especiarias, limpando os
balcões, arrumando a cozinha. Pego um pano de prato para
ajudá-la e ela o pega de volta, afastando minha oferta.
— A sopa está apenas aquecendo até que os muffins
estejam prontos. Não faça nada. Posso fazer um chá para
você? Camomila?
Ela nem espera minha resposta antes de começar a se virar
para o armário. Percebo então que Ava está fazendo o que o
resto de nós está tentando fazer: ficar ocupada, sendo útil,
mantendo tudo junto. Deslizo do banquinho e dou a volta na
ilha em direção a ela, colocando a mão sobre a dela enquanto
ela tenta abrir a caixa de saquinhos de chá. Ela está tremendo.
— Estou bem. Eu não suporto chá. Você sabe disso.
Ela ri e suspira, e está tão cansada quanto todos nós nos
sentimos hoje.
— Whitney? — A voz de Derek vem de trás de nós. Ele
está na porta da cozinha, acenando com a mão para eu me
juntar a ele. — Vamos.
— Não demorem — Ava avisa. — O jantar estará pronto
em breve e, pelo que parece, vocês dois precisam de uma
refeição decente.
Sua mão alcança a minha e eu o deixo me levar pelo
corredor. Embora eu já tenha estado na cobertura de Cal
centenas de vezes antes, raramente vou para os espaços
privados, para os corredores que saem das salas principais.
Ainda assim, de tanto bisbilhotar, sei que Derek tem um quarto
aqui, o de sua infância.

É
É para onde ele me leva, fechando a porta atrás dele. Todos
os itens pessoais que eu queria encontrar em seu apartamento
estão aqui: uma TV antiga com videogames empilhados ao
lado, uma pequena foto emoldurada dele jogando T-ball. Eu
seguro e ele sorri.
— Tive o melhor recorde de rebatidas da liga.
Eu murmuro, soando impressionada.
Há uma etiqueta de nome desbotada do Reino dos Contos
de Fadas ao lado da moldura. É o estilo que a empresa usou
anos atrás. Eu o toco e ele assente.
— Foi de quando eu vendia balões. Lembra?
Como eu poderia esquecer?
Coloco-o de volta em sua cômoda gentilmente, depois olho
para cima e vejo seu reflexo no espelho pendurado na parede.
Ele está desabotoando sua jaqueta, provavelmente ansioso
para sair do traje abafado.
Há uma mochila na cama, sem dúvida cortesia de Heather.
Eu estou com inveja. Eu gostaria de ter uma muda de roupa.
Não fiquei muito tempo lá, mas ainda cheiro a hospital.
— Eu preciso de um banho — diz Derek, encontrando
meus olhos no espelho.
Ele coloca o casaco na cama e puxa a camisa branca da
calça. Vislumbro um pedaço do seu torso bronzeado.
— Vem comigo?
Meu estômago afunda quando eu puxo meu olhar de volta
para ele.
— Para o… O chuveiro?
Minha voz quebra no meio da frase.
Ele concorda com a cabeça.
Eu sei que pode parecer estranho, mas não tenho a sensação
de que Derek me queira no chuveiro para que possamos fazer
aquilo. Eu sei que ele é um homem de sangue quente e eu sou
uma garota que esperou oito anos para ele me olhar como está
me olhando agora, mas ainda assim, não há desejo em seu
tom. Não essa noite. Há uma vulnerabilidade nele, na maneira
como seu corpo está ligeiramente inclinado e, percebo que, por
mais difícil que tenha sido esse dia para mim, foi mais difícil
para ele.
Cal pode se sentir como minha única família, mas para
Derek, ele realmente é. Ele se vira e entra no banheiro. Eu
ouço o chuveiro ligar, a água batendo no azulejo. O vapor
começa a sair para o quarto. Meu estômago treme de
nervosismo, mas seu convite paira como um laço em volta do
meu pescoço, me puxando para o banheiro.
O box do chuveiro já está embaçado quando olho e vejo a
cabeça de Derek debaixo o fluxo. Seus olhos estão fechados e
a água bate em seus ombros largos, rolando pelas costas.
Desabotoo meus jeans e empurro-os para o chão, os dobro em
uma pilha bem arrumada junto com meu suéter e os coloco ao
lado dos dele no balcão. Eu mantenho minha calcinha e sutiã,
sem vontade de me separar de uma pequena quantidade de
modéstia.
Metade de mim quer bater na porta de vidro antes de abri-
la, tipo, olá. Se importa se eu entrar? Em vez disso, eu a abro
e entro. A cabeça de Derek levanta e nossos olhares travam.
Então sua mão dispara e ele me puxa para a água com ele.
Nós não nos beijamos. Nós nos abraçamos, nossos corpos
completamente envolvidos um ao outro. Meu sutiã está
encharcado em segundos e o material é suave e sedoso contra
sua pele quente. Seu rosto está enterrado no meu cabelo e
minha bochecha está pressionada contra seu peito. Meus
braços envolvem sua cintura com tanta força que posso estar
cortando sua circulação.
Ele nos vira, me protegendo do jato do chuveiro com seu
corpo. Suas mãos afastam os cabelos do meu rosto e ele segura
meu queixo, olhando para mim. Fico nas pontas dos dedos dos
pés e beijo seu pescoço, sua bochecha, suas sobrancelhas e sua
testa. Ele sorri e pega seu sabonete, ensaboando um pouco nas
mãos e dando um passo para trás para que ele possa me lavar.
Fico perfeitamente imóvel, deixando suas mãos grandes
deslizarem sobre a minha pele. Ele varre as palmas das mãos
ensaboadas pelos meus braços e ao redor dos meus ombros,
mergulhando os dedos sob as alças do meu sutiã, mas evitando
o meu peito. Eu tremo e ele me vira, pegando mais sabão para
que ele possa lavar minhas costas.
As coisas que ele usa têm um perfume masculino limpo e
amadeirado, o tipo de sabão vendido em uma garrafa azul
escura com a imagem de uma montanha no rótulo. Quando
terminarmos, sentirei o cheiro dele. Eu não vou querer tomar
banho novamente. Um pequeno preço a pagar, acho, para
manter o cheiro dele em mim.
Suas mãos percorrem minha espinha até que as pontas dos
dedos roçarem a barra da minha calcinha. Ele para por aí e
curva a mão em volta da minha cintura, puxando meu corpo
contra o dele novamente. Eu o sinto lá, duro contra mim. Eu
pisco, toda a inocência indo embora.
— Oh — digo, surpresa, embora como eu esteja, eu não
tenho idéia.
Ele pode não ter me convidado aqui para isso, mas duvido
que ele tenha algum controle sobre a reação de seu corpo a
mim. Deus, espero que não. Isso não seria maravilhoso?
— Apenas deixe-me terminar de te lavar — diz ele em
resposta.
É a maneira mais sincera que ele fala, o fato de que eu sei,
sem sombra de dúvida, que ele está falando sério. Ele não está
tentando tirar vantagem de mim durante um momento
emocional. Ele está tentando se apoiar em mim, me usar como
sua rocha. Eu quero confortá-lo. Eu quero senti-lo. Ele todo.
Suas mãos se dobram no meu estômago e eu assisto a
espuma se espalhar pela minha pele. Ele sobe mais alto e seus
dedos roçam a renda no meu sutiã. Desta vez, ele não hesita.
Coloco minha mão para trás, entre nossos corpos e seguro sua
coxa, a movendo lentamente para cima.
Ele não se mexe.
De alguma forma, é mais fácil com ele atrás de mim. Sem
ter que olhar para ele, posso ser tão ousada quanto quero,
subindo ainda mais para segurar seu comprimento na minha
mão, acariciando-o enquanto meus olhos se fecham e minha
cabeça se encosta em seu peito. Um arrepio o invade e ele roça
contra mim como se não pudesse se conter.
Um braço envolve minha cintura, me apertando mais contra
ele. O outro desliza pelo meu sutiã molhado, sentindo meu
peito cheio na palma da mão. Ele move para o outro lado,
roçando o tecido delicado e usando-o para me atormentar. Meu
corpo se contorce, e isso só faz mais por ele, considerando
cada vez que meus quadris se movem, eu roço contra ele. Sua
boca cai no meu pescoço enquanto ele arrasta meu sutiã
molhado para longe, finalmente me mostrando.
Meus olhos se fecham quando a mão dele cobre minha
nudez, arrastando as gotas quentes de água pelo meu peito.
Uma onda de prazer me atravessa e ele faz isso de novo,
começando no meu peito, mal tocando de verdade, como se
estivesse com muito medo de me machucar. Sou uma obra de
arte frágil e ele é um observador curioso, passando por cima
da corda do limite para poder tocar a moldura.
A mão dele desliza pelas minhas costelas e desce pelo
centro do meu abdômen. Ele pode me sentir tremendo, meu
estômago contorcendo quando ele o escova, e então ele
continua, empurrando o material molhado da minha calcinha
para o lado. Então desce mais. Quando a mão dele me cobre
lá, eu o aperto mais forte na minha mão, bombeando
lentamente para cima e para baixo, meus movimentos
lânguidos.
Um gemido rouco faz cócegas na concha da minha orelha
enquanto seu dedo médio pressiona dentro de mim. Ele gira a
mão para que a base da palma me acerte exatamente no lugar
certo, enviando um delicioso formigamento na minha espinha.
Eu acelero quando ele acelera, bombeando enquanto ele
desliza o dedo dentro e fora de mim. Eu me contorço,
precisando de mais.
Por favor.
Ele pode ouvir meu pedido e um segundo dedo desliza ao
lado do primeiro, me esticando. Seu polegar se junta,
circulando habilmente enquanto seus dedos entram e saem.
Mais rápido. Mais forte. Um gemido me escapa e o estimula.
Seu polegar me leva cada vez mais perto do clímax. Seus
dedos empurram para dentro, os mais profundos que já
estiveram, e seguram lá enquanto eu balanço contra ele,
arqueando minhas costas, choramingando para que o som
reverbere em torno dos azulejos do banheiro.
Meu prazer alimenta o dele. Minha mão se move sobre ele
rapidamente e eu posso sentir a umidade quente cobrir minhas
costas enquanto ele geme profundamente, sons guturais de
prazer reverberando através dele enquanto ele mantém os
dedos enterrados dentro de mim.
Nós permanecemos assim até nossas respirações nivelarem,
até que meu corpo gasto consiga reunir energia suficiente para
eu levantar a mão e acariciar sua bochecha, confortando-o. É
neste momento, antes de nos separarmos e nos limparmos,
antes de sairmos do chuveiro e entrar novamente no mundo,
que ele se inclina e pressiona um beijo firme na minha boca,
sussurrando uma verdade junto com ele. — Estou me
apaixonando por você.
CAPÍTULO DEZESSETE

DEREK

hitney não diz uma palavra quando saímos do

W chuveiro e nos enrolamos na toalha. Eu acho que ela


pode estar em choque. Se eu acenasse com a mão na
frente do rosto dela, duvido que ela reagisse. Seus
olhos verdes estão vazios, focados no chão enquanto
ela pisca, perdida.
Não é como se eu pudesse voltar e retirar o que disse.
É a verdade.
Embora agora eu veja que eu poderia ter pensado em
esperar para contar a ela em um dia melhor.
Tivemos doze horas ocupadas. Começamos naquele carro
alegórico, quase na garganta um do outro. Então eu a beijei.
Isso nos calou com certeza. Então tudo aconteceu com Cal e
como ainda estamos de pé? Quanto tempo pode durar esse
dia?
Eu me encolho quando olho para ela. Ela parece meio
lamentável parada lá.
Ela tem minha toalha em volta dela como uma capa,
fechando-a com os punhos bem embaixo do queixo. Ela não se
mexe. Eu saio do banheiro e vasculho dentro da mochila que
Heather me trouxe. Eu disse a ela para colocar coisas extras,
sem saber por quanto tempo ficaria com Cal, e agora sou grato
pela camiseta e boxer sobressalentes. Depois de me vestir,
levo os dois para o banheiro e passo na frente de Whitney. Ela
parece menor que o normal.
— Você ainda está viva?
— Não tenho certeza.
— Com frio?
— Muito.
— Eu trouxe roupas para você.
Ela resmunga algo, mas não faz nenhum movimento para
pegá-los. Como eu disse, acho que ela está em choque. Me
agacho na frente dela.
Minha mão toca seu tornozelo.
— Posso?
Ela não fala, então eu coloco minhas mãos debaixo da
toalha e tiro sua calcinha molhada. Eu tento fazer isso de uma
maneira não-sexual. Esse deveria ser o dia menos sexual com
tudo o que aconteceu conosco, mas é a Whitney, e ela pode
ficar ali, em estado comatoso e, mesmo assim, eu a quero.
Ela sai do material molhado e eu agarro minha boxer,
mantendo-a aberta para ela.
— Ela ficará grande, mas talvez você possa enrolá-la?
Sem resposta.
Eu a deslizo pelas suas longas pernas bem torneadas. Ela
fica folgada nos quadris dela, então eu a enrolo duas vezes.
Bom o bastante. Com a camiseta na mão, me levanto e tiro sua
toalha. Ela me deixa afastá-la e, com os braços ao lado do
corpo, tudo o que vejo é a suave pele de marfim da cintura
para cima, ainda corada pelo chuveiro. Um sutiã molhado
colado sobre…
Jesus.
Rapidamente, dou um passo à frente e alcanço ao redor dela
o abro o sutiã, soltando-o e arrastando-o para fora dela. Ele é
jogado no chão e minha camiseta é puxada sobre sua cabeça
com um pouco de força. Eu poderia ter arrancado uma orelha.
Eu deveria ser mais gentil, mas estou tentando ser um
cavalheiro aqui e quanto mais cedo ela for coberta, melhor
será para nós dois.
Leva um momento para registrar que ela precisa passar os
braços pelos buracos. Por um segundo, ela fica ali sem braços.
Eu perco a luta com um sorriso. Como alguém nesse estado
pode ser tão fofa?
— Estou com fome — diz ela, parecendo distante.
Sonolenta.
Ela finalmente força os braços através das mangas.
Eu concordo com a cabeça.
— Eu também. Eu vou pegar jantar para nós. Você quer
ficar aqui?
Como resposta, ela sai do banheiro e vai para o meu quarto,
pegando uma manta na cama para que ela possa se enrolar
nela. Corro para o corredor, me sentindo apressado para pegar
sua comida e verificar Cal. O médico dele já deveria ter saído
agora. Espero que ele esteja dormindo. Ele precisa descansar.
Ava não está na cozinha, mas ela colocou uma bandeja de
comida para Whitney e para mim. Aqueço a sopa no micro-
ondas e depois carrego a bandeja de volta para o meu quarto,
devorando dois muffins de pão de milho no caminho. Uma vez
lá, encontro Whitney encolhida na minha poltrona no canto, a
cabeça apoiada na palma da mão. Adormecida.
Aposto que ela apagou no segundo em que fechei a porta.
Sorrio e baixo a bandeja de comida antes de puxar o
edredom e tirar alguns travesseiros para dar espaço para nós
dois. Quando a levanto da poltrona, espero que ela se mexa,
mas ela não dá nem um suspiro. Eu a coloco na cama e levo a
comida comigo, indo verificar Cal.
Eu estava certo sobre o médico dele já ter saído, mas ele
ainda está acordado, apoiado em sua cama com travesseiros.
Uma enfermeira fica sentada no canto, olhando para o laptop
e, quando me vê, sorri e se levanta, nos deixando a sós.
Há uma pequena lâmpada ao lado de sua cama, mas a maior
parte da luz entra no quarto através das janelas. Embora o sol
tenha se posto horas atrás, as ruas do Reino dos Contos de
Fadas estão alinhadas com lâmpadas, iluminando as equipes
noturnas que estão trabalhando fora: cortando gramados,
regando as flores, esvaziando as latas de lixo, consertando
bancos, repintando edifícios - fazendo o que podem retocando
o parque para que pareça novinho em folha quando os
visitantes chegarem novamente de manhã. Cal observa tudo do
seu poleiro em sua cama.
Ele parece melhor do que a algumas horas atrás. A cor
voltou às suas bochechas. A bata do hospital foi trocada por
pijama e um robe branco grosso.
— Com fome? — Pergunto, colocando a bandeja ao lado
de sua cama.
— Ava me trouxe comida há um tempo atrás. Estava bom.
Sente-se. Coma algo. — Então ele olha por cima do meu
ombro. — Onde está Whitney?
— Dormindo.
— Aqui?
— Sim. No meu quarto.
Ele assente e depois olha pela janela.
— Fui cuidadoso com ela ao longo dos anos — diz ele. —
Ela teve uma criação única. A criança esquecida na família
dela, você poderia dizer.
— Ela me contou sobre isso, anos atrás.
Outro dia me lembrei disso nos ensaios, quando o celular
dela continuou a tocar. Era sua irmã, Avery, querendo saber se
ela ainda estava indo a Nova York para uma visita. Não tenho
certeza se Whitney teria me contado algo sobre isso se eu não
estivesse ali enquanto ela lia as mensagens.
— A irmã dela está se apresentando na Broadway agora —
compartilha Cal. — Os pais de Whitney estão orgulhosos. O
mundo deles gira em torno de Avery. Sempre girou. Sabe, em
todos os anos em que mentorei Whitney, nunca conheci os pais
dela. Isso não lhe parece estranho?
Eu franzo a testa, pensando sobre isso.
— Eles não vêm aqui com frequência — continua ele. —
Na verdade, não me lembro da última vez que a visitaram.
Whitney voa para Nova York de vez em quando para vê-los,
mas ela sempre volta para casa pior do que quando saía.
— Parece que ela está melhor sem eles.
Ele se vira para mim.
— Como você está melhor sem o seu pai?
Eu dou de ombros, me sentindo culpado.
— Eu sei que deveria querer um relacionamento com ele,
mas a verdade é que você tomou o lugar dele anos atrás. Eu
nunca quis outra família.
Cal sorri e estica a mão para dar um tapinha na minha.
— Acho que essa é a razão exata pela qual tomei cuidado
com ela. Imagine se você e eu não tivéssemos um ao outro,
quão difícil seria a caminhada…
Eu fico em silêncio, refletindo sobre isso.
— Você vai cuidar dela, não vai? — Ele pergunta.
Algo clica em mim então. É uma verdade óbvia que tenho
ignorado todas essas semanas. Eu sempre soube que Cal
estava alguns passos à frente de todos nós. Sua mente trabalha
continuamente, inventando e projetando todos os aspectos do
parque. Eu não sabia que ele estava estendendo seus presentes
para a minha vida também. Sentado aqui com ele agora,
finalmente entendo a verdadeira razão pela qual Cal me
colocou no papel de Sua Alteza Real. Não ficaria surpreso ao
saber que o conselho não tinha nada a ver com isso. Cal estava
dando uma de casamenteiro.
Estou certo disso.
Gostaria de saber a quanto tempo ele queria que Whitney e
eu ficássemos juntos. Eu não pergunto. Não importa agora. Na
verdade, eu deveria agradecer a ele. Em vez disso, aceno com
a cabeça, respondendo sua pergunta, e levanto sentindo-me
profundamente exausto.
— Antes de partir, Derek, há algo que precisamos discutir
sobre a empresa.
CAPÍTULO DEZOITO

CAL

uando ouço o som da voz de Whitney na minha porta,

Q enfio o livro debaixo das cobertas e deito, fingindo


dormir. Ela está aqui com meu café da manhã. Posso
ouvir o tilintar de cerâmica quando ela coloca a bandeja
na mesa de cabeceira ao lado da minha cama.
— Cal? — Ela sussurra, tocando minha mão.
Me certifico de que minha respiração soe abatida, um
chiado ou dois dados por precaução. Isso funciona bem. Na
hora, a mão de Whitney aperta a minha. Seu aperto suave
traduz todas as suas preocupações.
Abro um olho lentamente, como se fosse preciso toda a
força que me resta.
— Whitney? — Pergunto, agindo cansado.
Ela sorri timidamente. — Bom dia. Como você está se
sentindo?
Maravilhoso. Aquela enfermeira e eu jogamos cartas pela
metade da noite e ela provou ser uma oponente digna.
— Ah, vou me virar — gemo, tentando me levantar para
ficar sentado.
Ela se inclina para a frente para me ajudar e a primeira
pontada de culpa atinge meu coração. Serve-me bem,
colocando-o assim. Porém, que opção eu tenho?
Whitney e Derek estão se divertindo, realizando um ritual
de acasalamento prolongado. Alguns de nós não têm anos para
esperar que admitam seus sentimentos um pelo outro. Não tive
escolha a não ser agir.
Claro, eu não planejei a hospitalização. Isso foi apenas um
acidente feliz, na verdade. Depois que os vi juntos ao meu
lado, percebi a oportunidade que me fora apresentada. Agora,
só preciso ordenar isso.
— Você e Derek foram muito úteis. Não sei como me sairia
sem vocês dois.
Ela assente e afofa meu travesseiro.
— Ele é um bom homem, Whitney.
— Eu sei.
— Você o ama?
Ela recua, surpresa.
Ops.
Pressiono uma mão no meu coração como se um espasmo
repentino estivesse me causando dor. Ela esquece minha
pergunta e se preocupa comigo.
Eu mudo de rumo.
— Derek não será mais Sua Alteza Real.
Suas sobrancelhas franzem sobre os olhos verdes jade,
olhos que espero ver nos rostos dos meus futuros netos algum
dia.
— Claro — diz ela, entendendo.
— Vou precisar que ele assuma algumas das minhas
funções. Eu tenho sido obstinado quando se trata de passar as
rédeas, mas está na hora — ela assente, ficando quieta
enquanto eu continuo: — Vamos pedir que Ryan o substitua.
— Sério?
Ah, que bom, ela está decepcionada.
— Embora agora possa ser um bom momento para você
sair da sua função também.
A testa dela enruga.
— Parar de trabalhar como princesa Elena?
Inclino a cabeça para trás e fecho os olhos.
— Considere isso.
É difícil não sorrir. Eu não sabia que tinha uma série de
maldades dentro de mim.
Há outra batida na porta - meu cardiologista aqui para fazer
um exame matinal. Whitney pede licença e no segundo em que
ela sai, eu me inclino, pegando minha bandeja de café da
manhã.
Estou faminto.
— Bom dia, doutor.
— Oi, Cal. Como você passou a noite?
— Nada a declarar. Ei, escute, enquanto eu tenho você aqui,
existe alguma maneira de você fazer meu prognóstico parecer
pior do que é?
Ele franze a testa, confuso.
— Como assim?
— Ah, talvez apenas falar que tenho algumas semanas de
vida. Esse tipo de coisas.
Trinta anos mais novo, ele ainda tem a audácia de me
lançar um olhar reprovador.
— Receio não poder fazer isso. Os betabloqueadores em
você devem fazer todo o trabalho. Você estará de pé
rapidamente.
Eu suspiro, profundamente decepcionado.
— Bom, merda. Não mencione isso ao meu neto ou a
Whitney se você os vir no corredor ao sair. Melhor eles
pensarem que estou no meu leito de morte por enquanto.
CAPÍTULO DEZENOVE
WHITNEY

a manhã seguinte, acordo antes de Derek, enroscada em

N
seus lençóis luxuosos, pressionada por seu braço
bronzeado esticado pelo meu corpo. Ele dorme sem
camisa, e a visão de seus ombros e braços musculosos
em plena exibição me distraem por tempo suficiente
para minha bexiga quase explodir.
Depois de usar o banheiro o mais silenciosamente possível,
fui verificar Cal e levar o café da manhã para ele, mas agora
que terminei, não tenho certeza do que devo fazer. Andar por
aí? Me tornar útil? Pega minhas roupas e fugir? A última
opção soa melhor, mas quando volto para o quarto de Derek,
ele está acordado em seu banheiro com a porta fechada. Eu
posso ouvir o zunido de sua escova de dentes elétrica. Eu
penso rápido, pegando meu celular na minha bolsa e me
enfiando dentro do closet de Derek para fazer uma ligação.
Carrie não responde a princípio. Fico ansiosa.
— Vamos, vamos, vamos.
A ligação é conectada.
— Alô? — Ela pergunta, parecendo meio adormecida.
— Carrie, sou eu.
— Amor, desligue — acrescenta uma voz rouca. — Vamos,
está cedo.
AI. MEU. DEUS.
— Quem é? — Exijo.
— Thomas — ela admite.
— CARRIE.
— Jesus, pare de gritar. Ele consegue ouvir você.
— Diga a Whitney que você ligará de volta — diz Thomas,
provavelmente pegando o telefone para desligar.
— Não! Eu preciso de ajuda! Carrie, diga a Thomas para
parar de ouvir.
— Thomas, pare de ouvir.
— Não — ele diz simplesmente.
Eu suspiro.
— Tá. Eu só… Preciso de ajuda.
— Onde você está? — Ela pergunta. — Parece que você
está no Subsolo.
— Estou me escondendo no closet do Derek.
Thomas grunhe.
Carrie realmente ri.
— Você o quê? Ele sabe que você está aí? Na casa dele,
quero dizer?
O que ela acha que eu sou?! Uma stalker? Só porque nós
seguimos o Cara do Fudge até o carro dele uma vez, agora eu
sou algum tipo de pessoa louca?
— Sim! Claro que ele sabe que eu estou aqui… na casa,
quero dizer. Não no closet dele.
A torneira se fecha no banheiro. Eu estou ficando sem
tempo!
Eu coloco minha mão sobre minha boca para abafar minha
voz.
— Eu dormi aqui ontem à noite, mas não sei o que fazer.
Ficar? Agir fofa? Casual? Como se eu fizesse esse tipo de
coisa o tempo todo…
— Ela está pensando demais — responde Thomas.
— Diga a ele para parar de ouvir! Essa é uma conversa
particular!
Então, antes que qualquer um deles possa responder, a porta
do closet é aberta e Derek está parado ali, olhando para mim,
me cegando com a luz do sol e seu físico esculpido.
— E não me ligue de novo! — Grito no celular antes de
desligar. — Malditos operadores de telemarketing.
Derek inclina a cabeça, um sorriso divertido acentuando
suas feições adoravelmente sonolentas.
— Você sempre atende telefonemas no closet?
Eu levanto meu celular.
— O sinal é melhor. Algo a ver com todas as paredes, eu
acho. Enfim, bom dia. Eu estava apenas vestindo minhas
roupas e vou sair do seu caminho.
Eu passo por ele e entro no banheiro para encontrar meu
sutiã e calcinha. Eles olham para mim do balcão como se
dissessem: Nós sabemos o que você fez ontem à noite. Eu os
repreendo na minha cabeça antes de pegar meu jeans e suéter.
Derek está parado na porta do banheiro, encostado na
moldura. Braços cruzados. Tranquilo. Mesmo com o cabelo de
quem acabou de acordar, ele é tão fofo que quero lambê-lo.
Beijá-lo. Abraçá-lo até que nossos corpos grudem como cola
quente e palito de picolé.
Eu não faço nada disso.
— Bem, você não vai se virar? — Giro meu dedo em um
círculo para que ele entenda a idéia.
Ele me lança um olhar que diz: eu já vi tudo de qualquer
maneira, mas então ele obedece, virando as costas para mim.
Músculos bronzeados suaves afinam-se até a cintura, onde as
calças de pijama cinza ficam baixas nos quadris. Eu encaro por
um segundo longo demais antes de trocar sua cueca boxer pela
minha calcinha. Então eu puxo meu jeans. Enquanto as costas
dele ainda estão viradas, eu dobro cuidadosamente a cueca ao
meio, de novo e de novo até que esteja pequena o suficiente
para enfiar no meu bolso. Espero que ele não sinta falta dela.
Ela é minha agora.
— Onde você está indo tão cedo? — Ele pergunta.
— Eu tenho um grande dia. Trabalho e tudo mais.
— Heather colocou alguém para substituir você.
— Quem? — Exijo.
— Isso importa?
Eu acho que não.
— Se você está pirando com o que eu disse ontem à noite…
Eu congelo com meu suéter na metade do caminho,
cobrindo meus olhos. Não consigo ver nada.
— Que coisa? — Pergunto timidamente através da mistura
de nylon e poliéster.
Suas mãos repentinamente puxam minha blusa o resto do
caminho, então seu olhar encontra o meu. Ah, que bom,
contato visual. Minha coisa favorita.
— Que estou me apaixonando por você. Você ouviu isso,
não ouviu?
— Ah sim. Ok. Então isso realmente aconteceu. Eu não
tinha certeza.
— Você tem alguma opinião sobre isso?
— Amor? Em geral? Eu acho que é bom.
— Whitney…
— Eu não sei, Derek — me sinto enjaulada em seu
banheiro, sob pressão. Ele está bloqueando minha única saída
e eu realmente não posso sair pela janela, pois estamos a um
milhão de andares do chão em um maldito castelo. — Eu
preciso de tempo para pensar nas coisas. Ontem de manhã
estávamos brigando e então ontem à noite… bem, eu não
consigo nem olhar na direção do seu banheiro sem meus
joelhos enfraquecerem. Agora você está me pedindo para
descarregar minhas emoções? — Bato na minha têmpora. —
Está uma bagunça confusa aqui. Caos, sério. Estou tentando
não me preocupar com Cal, tentando não fazer o movimento
errado com você. Pensei em sair antes de você acordar, para
parecer legal, mas você arruinou isso — levanto as mãos em
derrota.
— Desculpa? — Ele diz, confuso.
— Desculpas aceitas — começo a me mover ao redor dele.
— Agora, se você me der licença, eu gostaria de ver Cal mais
uma vez antes de voltar para o meu dormitório…
A palma da sua mão contra o meu peito me para no meio
do caminho. Ele realmente não está exercendo pressão, mas
sua mão é firme e grande e o gesto é claro: fique parada.
— Eu não vou te deixar de novo.
Eu sou um pequeno pássaro empoleirado em um fio, pronto
para voar a qualquer momento.
— O quê?
— Não farei o que fiz há oito anos.
Meu coração bate contra a palma da sua mão enquanto ele
olha para mim com expectativa. Ontem, supostamente
deixamos isso para trás, não foi? Aquela briga no carro
alegórico era sobre eu não lhe dar um recomeço. Eu deveria
fazer piada disso. Minimizar a dor.
Derek continua antes que eu possa.
— Naquela época, você se abriu sobre sua família. Naquele
dia no café quando você chorou? Você se lembra? Seus pais
não estavam vindo para o Dia de Ação de Graças e você se
sentiu sozinha e se abriu comigo sobre isso. Eu era seu amigo
e, por minha própria falta de consideração, magoei você
quando você estava mais vulnerável. Eu fui embora e nem me
despedi. Eu te enviei um e-mail.
Eu não recuo. Eu permaneço perfeitamente imóvel como
aquele pequeno pássaro, asas prontas.
— Eu sei que dissemos que o passado era passado, mas não
é assim que a vida funciona. Eu te machuquei naquela época e
gostaria de compensar isso, ganhar sua confiança novamente
— ele inclina a cabeça. — Você não vai dizer nada?
Os músculos ao redor da minha garganta estão contraídos.
A fala é uma habilidade que não possuo no momento.
— Whitney — diz ele, levantando meu queixo suavemente
para me olhar melhor.
Seus suaves olhos castanhos estão manchados de
preocupação. Ele acabou de se abrir para mim e, embora mais
palavras me falhem, eu consigo dizer rapidamente:
— Sim. Ok. Vou tentar — antes de me levantar nas pontas
dos pés e beijá-lo. Então eu fico lá, meu rosto pressionado
contra o dele, então estamos bochecha com bochecha.
Dormimos enrolados um no outro e dá para perceber. Nós
carregamos o mesmo perfume. Seu sabão se mistura no ar
entre nós.
Eu escovo minha bochecha contra sua barba por fazer,
aproveitando a queimadura por um momento antes de dar um
passo para trás e pegar sua mão para que possamos verificar
Cal juntos.

Se eu soubesse o turbilhão que estava reservado para nós nos


próximos dias, provavelmente teria ficado um pouco mais
naquele quarto, barricado a porta, aproveitado meu tempo com
Derek enquanto eu ainda tinha a chance. Com Cal em licença
médica, Derek agora está administrando o Reino dos Contos
de Fadas por conta própria. Ele está mais ocupado do que
nunca. Eu nunca o vejo. Quando vou checar Cal, Derek não
está na cobertura. Quando atravesso o Subsolo, procuro por ele
incessantemente (para o grande aborrecimento de Carrie), mas
ele não está à vista. Vejo Heather de vez em quando, mas até
mesmo ela mantém um ritmo quase acelerado o tempo todo, a
mão em volta de sua barriga em crescimento.
Ryan voltou oficialmente ao papel de Sua Alteza Real. No
primeiro dia em que o vi, me preparei para o pior, pensando
que talvez ele ainda estivesse com raiva de mim pela outra
noite, mas ele sorriu e deu de ombros.
— Amigos?
Nós apertamos as mãos e foi isso. Ele esteve no desfile
comigo também e agora, eu me casei com ele em vez de com
Derek. Eu tento não me sentir muito triste com isso. Ryan não
é tão ruim, na verdade. Tornamos isso divertido e bobo. Eu
minto e digo a ele que ele deveria me beijar na bochecha e
Thomas nunca nos corrige. Depois do meu encontro íntimo
com Derek no primeiro dia do desfile, ele provavelmente
concorda que menos é mais.
Temos uma nova adição também durante as sessões de
autógrafos. Um jovem, vestido como lacaio no castelo, agora
está atrás de mim durante todas as minhas sessões como
princesa Elena. Ele é um segurança. Com um metro e noventa
e cinco, ele é enorme, com feições másculas e ombros tão
largos que uma vez o vi virar de lado para passar por uma
porta.
Eu meio que espero que as crianças corram de medo
quando o vêem, mas há algo inerentemente suave nele. É o
sorriso dele, eu acho. Uma nova rotina se desenvolve muito
rapidamente. As crianças vêm até mim primeiro e tiram uma
foto, e depois correm para ele, implorando que ele tencione
seus músculos. Quando ele tenciona, elas gritam com encanto
espantado.
Duas semanas se passam assim. O outono se instala e o
Halloween fica a apenas alguns dias. Minha viagem a Nova
York paira no horizonte e eu tento muito encontrar maneiras
de sair dela. Eu até penso em usar a doença de Cal, mas ele me
repreende quando eu digo isso a ele.
— Você precisa ir. Vê-los. Apoie Avery.
Não apoiei Avery o suficiente na minha vida?
Carrie e Thomas estão presos pelo quadril. Eles nem tentam
esconder a devoção obsessiva um pelo outro. Eles falam em
vozes de bebês e usam nomes como “neném” e “amorzinho”.
Suas mãos estão juntas o tempo todo. Eles apenas se separam
relutantemente quando encontram alguma obstrução imóvel,
como um pilar de concreto, depois passam por ele e
imediatamente se grudam novamente como dois ímãs da
NASA. Thomas se junta a nós para almoçar todos os dias. Eles
compartilham comida. Uma vez, ele deu seu sanduíche para
ela antes de eu dizer:
— Não. Essa é a linha. Você achou.
Depois do trabalho, eles estão sempre chupando os rostos
um do outro. Não querendo me intrometer ou acidentalmente
ter meu rosto chupado, volto para o meu dormitório e passo
um tempo com as meninas. Quando elas não estão discutindo
sobre as queixas das colegas de quarto ou me incomodando
sobre notícias de Derek, elas são uma boa companhia.
Às vezes, eu as ajudo em suas tarefas escolares e dou dicas
de como estudar para uma determinada prova. Afinal, fiz todos
os mesmos cursos, não faz muito tempo. Ocasionalmente, elas
invadem meu quarto e assistimos compulsivamente a Friends.
A maioria delas nunca viu. Qual é a Phoebe mesmo? Querido
Deus, realmente depende de mim educar adequadamente os
jovens desta nação?
Eu não acho que era intenção de Derek me dar tanto espaço
depois da nossa conversa no quarto dele. Não é como se
estivéssemos evitando um ao outro. Enviamos mensagens de
texto sempre que podemos, conversamos pelo telefone e nos
vemos esporadicamente.
Um dia, a caminho do armazém do desfile, eu o vejo com
um grupo de homens e mulheres de terno andando pela Castle
Drive. Eu paro, paralisada ao vê-lo no leme, falando com o
grupo enquanto aponta algo no horizonte. Ele olha na minha
direção quando eles passam e pisca para mim sem interromper
o passeio.
Minhas pernas se transformam em gelatina.
No dia seguinte, ele bate na porta do meu dormitório às 6
da manhã. Suponho que seja uma das garotas - que precisa de
um absorvente interno ou um ombro para chorar - e
educadamente digo a elas para darem o fora antes de enfiar
minha cabeça debaixo do travesseiro.
— Whitney, abra a porta.
Quando meu cérebro sonolento liga os pontos - isso soa
como Derek, que é Derek, Derek está do LADO DE FORA - eu
jogo meu travesseiro pelo quarto e corro para a porta. Ela é
aberta e ele é puxado para dentro pelas lapelas do paletó e nos
beijamos como se fossemos viciados quebrando nossa
sobriedade. A placa que proclama os dias desde o nosso último
encontro volta para zero.
— Entra — eu imploro, puxando-o para o meu covil do mal
para que eu possa devorá-lo inteiro.
— Eu não posso — ele ri, meio que gemendo. — Eu tenho
que ir para o escritório. Temos uma reunião do conselho e
preciso me preparar para não parecer um bundão.
Por falar em bundas… minhas mãos encontram a dele.
Mais tarde, quando eu tomar café, vou corar pensando nesse
encontro. Com um último beijo sugador de almas, ele me diz
para voltar a dormir. Ele só queria dizer oi. Impossível.
Naquela noite, tento criar coragem para mandar uma
mensagem de verdade. No final, eu me acovardo.

Whitney: Eu sinto tanto sua falta.

Whitney: Eu realmente quero vê-lo por mais tempo do que


esses trechos de cinco segundos.

Whitney: Oi. Você está ocupado?

Ele não responde por duas horas.

Derek: Desculpa, eu estava jantando com um pessoal da nossa


equipe de Londres. Eles estavam na cidade para a reunião hoje
de manhã e vão embora amanhã. Você ainda está acordada?
Posso ligar?

Na manhã seguinte, vejo a mensagem e uma ligação


perdida e meu coração afunda.
Lamento minha hora de dormir cedo. Derek e eu
poderíamos ter conversado! Talvez até ter feito sexo por
telefone!
Me jogo de volta no travesseiro e enfio as mãos nos olhos,
gemendo de aborrecimento. Eu preciso vê-lo.
Duas semanas depois do dia em que Derek me beijou no
carro alegórico, estou trabalhando um turno como Princesa
Elena e isso está se arrastando de um jeito que nunca
costumou ser. Sem Derek ao meu lado, não estou ansiosa para
trabalhar. Não consigo reunir o mesmo entusiasmo quando
uma garota olha para mim com grandes olhos arregalados e
me diz que sou sua heroína. Quero amar meu trabalho do jeito
que costumava amar, mas não há como ignorar o fato de que
minha antiga vida de repente não é boa o suficiente. Começo a
perceber que superei meu papel como princesa de meio
período.
No meu caminho para o meu camarim, depois do meu
turno, estou com o celular na mão, tentando encontrar uma
maneira de, sem soar como uma psicopata, transmitir a Derek
que vou cair em uma crise existencial completa se eu não o ver
logo. Então uma mão agarra meu antebraço e eu sou puxada
para o lado, em um quarto escuro. A porta bate atrás de mim e
eu grito.
— Eu tenho dinheiro! No meu camarim. E lanches! Você
gosta de Fig Newtons?
Meu sequestrador ri e a luz é acesa. Eu pisco, rapidamente
vendo o quarto aonde provavelmente ficarei em cativeiro pelos
próximos meses. Em um canto, há caixas empilhadas até o
teto. Uma delas tem FARINHA escrita ao lado. Bom, eu posso
usar para fazer uma espécie de pasta para comer, para que eu
possa sobreviver aqui em baixo.
Então eu olho para o meu captor.
Derek está lá, bem vestido, bonito, calmo diante do meu
pânico.
Eu imediatamente corro em direção a ele e bato meus
punhos em seu peito.
— Você me assustou pra caramba!
Ele me deixa bater nele por outro momento ou dois antes de
pegar meus pulsos. Eu tento me soltar, mas ele não deixa.
— Me perdoa? — Ele diz, se inclinando para beijar minha
bochecha.
Afasto meu rosto.
Pensei que teria que dividir meus Fig Newton ou comer
pasta de farinha. Eu estou puta. Ele me apoia contra a porta,
segurando meus pulsos, irritantemente forte. Estou respirando
com dificuldade, tentando cortá-lo com meu olhar estreito.
Seus quadris encontram os meus, me prendendo, e ele se
abaixa novamente, seus lábios um sussurro contra a minha
pele.
— Me perdoa?
Então ele beija meu pescoço e a tensão no meu estômago
cede lugar a outra coisa. Uma vibração suave e quente. Sua
boca se abaixa, mais perto da borda do meu decote quadrado e
profundo. Já que eu ainda estou fantasiada, ele tem acesso a
muito da minha pele. Seus lábios estão por toda parte,
implorando para que eu ceda. Eu amaldiçoo Figurino por não
me colocar em um vestido de gola alta.
— Whitney — ele implora, e eu não consigo aguentar.
Duas semanas parecem dois anos e eu choramingo quando
seus lábios encontram um ponto sensível embaixo da minha
clavícula. Ele ouve o som suave e é todo o sinal verde que ele
precisa. Seus lábios encontram os meus e nos beijamos com
um frenesi, como se fôssemos a única esperança de
sobrevivência um do outro. Beije-me ou o mundo chegará ao
fim.
Sua língua varre a minha e mordo seu lábio. Devo tirar
sangue. Eu sinto o gosto quando a mão dele cobre meu peito
sobre o meu vestido, irritado com a quantidade de material que
separa nossa pele. Há um zíper na parte de trás do meu
corpete; com um puxão afiado, fica solto o suficiente para ele
puxá-lo e me cobrir com a palma da mão. Eu tremo de prazer.
Impaciente e possessiva, nenhum de nós está indo devagar
para fazer isso da maneira civilizada.
Sua outra mão está puxando minha saia de tule, lutando
contra as quarenta e cinco camadas até que seus dedos
encontram minha perna nua e depois deslizam pelo triângulo
macio de tecido entre minhas pernas. De um lado para o outro,
ele escova provocativamente antes de puxar minha calcinha
para o lado. Meus olhos se fecham. Eu já estou perto, pairando
no precipício, louca de desejo enquanto vozes entram e saem
do corredor do outro lado da porta. Perto de nós. Atrás de nós.
A maçaneta da porta treme e alguém xinga.
Meus olhos se abrem.
Os alarmes tocam no meu cérebro.
Derek coloca o dedo nos meus lábios em aviso e ficamos
em silêncio.
— Quem trancou isso? — Pergunta uma mulher, irritada.
— Não tenho certeza. Não fui eu.
— Droga — ela geme. — Tenho que pegar minha chave.
Vamos lá.
— Merda — Derek amaldiçoa baixinho, dando um passo
para trás, levando meu coração com ele. Eu caio contra a
porta, tentando recuperar o fôlego.
Com uma estudada lenta, Derek ergue o olhar pelo meu
corpo, me memorizando. Eu não me cubro, embora eu queira.
A adoração em seus olhos prende meus braços ao meu lado.
Ele aperta a ponta do nariz e balança a cabeça.
— Vamos lá. Merda. Isso foi estúpido. Precisamos sair
daqui.
Ele ajuda a arrumar meu vestido e me garante que eu não
pareço completamente arrasada. Então ele abre a porta, assente
e gentilmente me empurra para fora. Ele segue e, assim,
estamos de volta ao corredor, passando por outros funcionários
como se ele não tivesse colocado a mão debaixo da minha
saia.
Me sinto irritada e insatisfeita.
Ele deve se sentir da mesma maneira, porque não dizemos
uma palavra enquanto caminhamos juntos, lado a lado, olhos à
frente.
— Quando posso te ver novamente? — Pergunto assim que
dobramos a esquina.
— Essa noite?
— Estamos tendo uma noite de cinema com tema de
Halloween no dormitório. Hocus Pocus. As meninas vão me
matar se eu cancelar.
— Amanhã tenho reuniões o dia todo. Depois, há o evento
de doces ou travessuras no parque.
— Thomas e Carrie estão dando uma festa de Halloween no
apartamento dele amanhã à noite. Você estará lá?
— Ainda não sei. Vou tentar.
Sua mão encontra a minha e nossos dedos se entrelaçam.
— Eu nunca pensei que sentiria falta de trabalhar como Sua
Alteza Real — diz ele, me dando um sorriso tímido.
Eu consigo dar um sorriso escasso em resposta pouco antes
de seu celular tocar. Ele suspira. Aparentemente, nosso tempo
acabou.
Eu amo o Dia das Bruxas tanto quanto qualquer garota que
bebe pumpkin spice latte, decorar para o outono em julho, mas
meu coração não está afim esse ano. Mesmo as performances
dignas do Oscar em Hocus Pocus não podem mudar meu
humor.
No dia seguinte, no parque, todas as crianças estão
fantasiadas e com seus baldes de doces prontos. Depois de
cada foto que tiro, pego um pedaço de doce e, antes que eu
perceba, meu turno acaba e vou jantar com Cal. É mais tarde
que o normal quando chego. Ele está sentado na janela da sala,
olhando o parque. Está cheio de crianças ainda correndo,
tentando transbordar seus baldes. Hoje à noite, o parque ficará
aberto até mais tarde do que o habitual. É por isso que Derek
ainda está lá fora, trabalhando. Não há descanso para os
cansados.
É
— É o seu dia favorito do ano — digo a Cal, ficando ao
lado dele.
É um dia que prova que pode haver um pouco de magia real
nos bastidores do Reino dos Contos de Fada. Assim que a
última criança sair do parque, os funcionários imediatamente
começarão a retirar e transportar todas as decorações de
Halloween. Enquanto ainda estiverem em movimento, uma
segunda onda de funcionários se seguirá, dando início as
decorações de Natal.
Durante todo o ano, nossa equipe de decoração se prepara
para esta noite. Nos canteiros, as flores de outono são trocadas
por poinsétias. Árvores de Natal pré-bufadas e pré-iluminadas
são colocadas em suas marcas. Grinaldas e guirlandas são
penduradas em Castle Drive. Toda a vila é iluminada com
milhares e milhares de luzes de Natal. Todo ano penso: não,
não há como eles conseguirem fazer tudo em uma noite.
E ainda assim eles sempre conseguem.
Eu geralmente sento aqui, empoleirada ao lado de Cal,
passando da minha hora de dormir só para ver todos
trabalhando. Esta noite, este também é o meu plano, mas Cal
parece confuso com isso.
— Você não tem um lugar para estar?
Olho para o meu telefone, relendo minhas mensagens de
antes.

Whitney: Alguma chance de você conseguir ir à festa de


Thomas?

Derek: Não tenho certeza. Eu não quero te dar esperanças. Eu


prometo que as coisas vão desacelerar em breve.

Whitney: Não se preocupe. Eu sei que você está ocupado.

Derek: Quer me encontrar para um jantar rápido? Talvez eu


tenha tempo por volta das 20h.

Whitney: Eu deveria ver Cal hoje à noite. Você poderia se


juntar a nós?
Derek: Eu vou tentar.

Há uma hora, ele mandou uma mensagem novamente.

Derek: Não vou conseguir ir jantar. Estou com a equipe das


festas de fim de ano passando por uma verificação final antes
de o parque fechar e as coisas começarem. Eu sinto muito.

Whitney: Não, está tudo bem. Boa sorte. Bjs

— Não — digo a Cal, guardando meu celular. — Somos


apenas você e eu hoje à noite.
— Derek trabalha demais — diz ele, provavelmente tendo
um vislumbre das minhas mensagens.
— Derek não é meu único amigo, sabe. Eu tenho outros
lugares onde eu poderia estar. Carrie e Thomas estão dando
uma festa.
— Então por que diabos você está aqui comigo?
— Eu queria verificar você.
— Estou bem. Você sabe disso. Na próxima semana,
pretendo voltar ao trabalho.
Eu franzo a testa.
— Sério? Já?
— Não será como antes. Vou diminuir meu ritmo, ajudar
Derek a fazer a transição para o cargo de Diretor de Operações
e garantir que ele tenha uma boa equipe ao seu redor para que
ele possa delegar. Ele não pode continuar no ritmo em que está
trabalhando agora. No momento, acho que ele não dormiu
mais do que algumas horas nas últimas duas semanas — ele se
levanta. — Não, vamos lá, você não vai ficar aqui comigo a
noite toda. Quero que você se divirta.
Eu resisto.
— Eu nem tenho uma fantasia. Está tudo bem. Estou feliz
em ficar com você.
— Besteira. Agora me siga. Eu tenho uma ideia.
CAPÍTULO VINTE

WHITNEY

ocê está brincando — Carrie diz secamente.

—V Eu estendo minhas mãos. — O quê?


— A maioria das mulheres aqui estão vestidas
como se elas tivessem perdido metade das roupas e
você aparece assim.
Eu giro em um círculo. — O que há de errado com a minha
fantasia?
Thomas dá um passo atrás de Carrie na porta e se dobra de
rir. — Você mandou bem!
Eu sorrio. — Obrigada. Agora, você vai me convidar para
entrar ou vou ficar aqui no corredor a noite toda?
Nesse momento, duas mulheres vestidas como bruxas sexys
passam por mim. Eles me dão uma olhada antes de franzirem a
testa em confusão.
— Eu sou Charles Knightley — declaro orgulhosamente.
Seus sorrisos dizem que sentem muito por mim. Eles não
deveriam. Eu estou incrível. Cal me deixou invadir seu closet.
Eu estou vestindo uma camisa de linho roxa enfiada na minha
calça jeans e um pequeno cachecol marinho está amarrado no
meu pescoço no estilo francês. Uma ligação de Cal para a
equipe noturna do Departamento de Figurino produziu uma
barba branca que agora está colada na minha mandíbula. Meu
cabelo está preso em um coque debaixo de uma das fedoras de
palha de Cal. Ele até me emprestou seu relógio, e um par extra
de seus óculos de leitura está pendurado em um cordão em
volta do meu pescoço.
As bruxas desaparecem lá dentro e eu olho de volta para
Carrie - que, a propósito, também não está vestida tão sexy.
Ela está com os cabelos presos em um coque pela metade. Ela
está vestindo um gibão de couro rendado sobre calças pretas
justas. Há uma adaga e uma espada fina no coldre em sua
cintura. Ela parece uma assassina medieval.
— Quem você deveria ser? — Então eu estalo meus dedos
com realização. — Dã, você é Arya — me viro para Thomas e
vejo seu colete e calça de couro combinando. — O que faz de
você… Gendry?
Ele segura um capacete em forma de cabeça de um touro e
brilha, orgulhoso por eu ter acertado. Eles me conduzem para
dentro e me oferecem algo para beber. Eu aceito o que quer
que eles tenham em uma enorme tigela de ponche e tusso
dramaticamente após o primeiro gole, porque é o inferno.
— Isso é uísque caseiro? — Pergunto, chiando.
— Apenas um ponche muito forte — Carrie me garante. —
Thomas me pediu para fazer e eu não tinha certeza da
proporção correta.
— Talvez da próxima vez peça ajuda a Jeeves. Acho que
isso acabou queimando o revestimento do meu esôfago.
Carrie revira os olhos e joga o braço em volta do meu
ombro.
— Não seja um bebê. Beba e vamos, preciso que você seja
minha parceira neste jogo de pong de cerveja que Thomas está
me forçando a jogar.
Thomas, sendo a alma corajosa que é, convidou muitas
pessoas para o seu apartamento. Claro, ele tem muito espaço,
já que mora em moradias executivas, alguns andares abaixo de
Derek, mas toda vez que olho para cima, é como se a festa
dobrasse de tamanho. Ou talvez eu esteja vendo apenas o
dobro? Quem sabe. Carrie e eu somos péssimas em pong de
cerveja e somos forçadas a beber muito do seu ponche de
baixa qualidade.
Reconheço a maioria das pessoas daqui de todo o parque,
embora algumas delas também sejam só os amigos de
Thomas, porque não conheço o cara vestido como Einstein
tentando chamar minha atenção.
— Nossas fantasias podiam ser amigas — diz ele,
apontando entre nós.
Parecemos dois caras velhos.
Eu dou risada.
— Sim, deveríamos estar jogando xadrez em um parque ou
resmungando sobre os méritos do Brexit.
Ele sorri.
— Exatamente. Quem você deveria ser, afinal? — Explico
e ele ri. — É estranho que eu ainda ache você gostosa, mesmo
com barba?
Eu não bebi o suficiente para achar esse comentário hilário.
Não é. A eu sóbria está revirando os olhos.
Ele estende a mão, acho que para se apresentar, mas Carrie
me arrasta para longe. É engraçado. Minha roupa deveria estar
afastando os homens, mas acho que eles estão curiosos sobre
quem diabos eu deveria ser.
Quando voltamos à cozinha, verifico meu celular pela
centésima vez, esperando que Derek mande mensagem ou
ligue. Ele não fez nenhum dos dois. Eu não quero estar
obsessivamente pensando nele. Seria ótimo se eu pudesse me
jogar nessa festa como todo mundo, mas há esse enorme
sentimento de desinteresse, já que Derek não está aqui. Não
quero ter conversa fiada com outros caras. Eu só quero o
Derek.
Quando deslizo meu celular no bolso de trás, olho para
cima e vejo Ryan no canto com alguns amigos e aceno. Ele
está vestido como um pirata com um papagaio falso no ombro.
Ele acena de volta, mas não se aproxima de mim. É melhor.
Carrie me encontra novamente, me puxando na direção da
mesa de café onde ela e Thomas montaram um tabuleiro
Ouija. Eu resmungo.
— Sério?
— Sim! É Halloween — diz Thomas. — A coisa está
prestes a ficar assustadora. Alguém apague as luzes!
Leva aproximadamente quarenta e cinco minutos para as
pessoas localizarem os interruptores de luz em torno de seu
apartamento…
— O da esquerda. Não, esse controla o ventilador — mas,
eventualmente, o lugar de Thomas é mergulhado na escuridão.
Algumas lanternas de celulares estão acesas para iluminar o
quadro.
Por um segundo, um fio de medo percorre minha espinha.
Então um cara pergunta para onde foi a tigela de Cool Ranch
Doritos.
— Whitney, fique do outro lado — diz Carrie, empurrando
a lupa em forma de coração do tabuleiro Ouija em minha
direção. Juntas, enfrentamos o sobrenatural.
— Alguém faz uma pergunta — Thomas solicita a sala.
— Whitney é virgem?
Mostro meu dedo do meio para multidão e todo mundo ri.
Todos voltamos a ser adolescentes e então estamos fazendo as
perguntas mais ridículas ao tabuleiro.
— Quantas lambidas são necessárias para chegar ao centro
de um pirulito?
— Quem roubou a tigela de Cool Ranch Doritos?
— O espírito de Elvis Presley está entre nós?
Acabamos de identificar que Elvis está, de fato, no prédio.
— Diga a ele que eu disse oi!
Alguém grita quando a porta do apartamento de Thomas se
abre, inundando a sala de luz. Em sintonia com a nossa
atividade atual, todos gritamos.
Agachada sobre o tabuleiro Ouija, não vejo a multidão, mas
Thomas se levanta e ri, dizendo a todos para se acalmarem.
— É apenas o Derek. Ei cara, entre.
DEREK!
Eu pulo de pé, jogando o tabuleiro Ouija para longe de
mim. Atinge um rapaz no rosto e ele geme de dor. As luzes do
apartamento são acesas e a multidão se dispersa, mas eu estou
na mesa de café, tentando encontrar Derek. Ali. Thomas está
acenando para ele vir em nossa direção. Ele ainda está em suas
roupas do trabalho, com a gravata solta no pescoço. Ele deve
ter vindo direto para cá e aposto que está exausto.
Estendo a mão para arrumar meu cabelo antes de perceber
que ainda estou vestida como um homem velho. Examino a
multidão rapidamente, tentando localizar uma daquelas
bruxas. Eu preciso da sua roupa! Agora! Troque comigo!
É tarde demais.
Derek me encontra em toda a minha glória. Aceno e toda
uma gama de expressões brilha em seu rosto em questão de
segundos: confusão, reconhecimento, descrença. Ou isso é
encanto? Difícil de dizer.
Quando ele me alcança, ainda estou em um grupo com
Thomas e Carrie, e não tenho certeza de como ele quer que eu
aja. Nós não estamos namorando, na verdade. Quero dizer,
estamos? Eu não sei. Agora não parece um momento
apropriado para esclarecermos isso.
Eu nem sei como cumprimentá-lo adequadamente. Se eu
agisse do meu jeito, eu jogaria meus braços em volta do seu
pescoço, enrolaria as pernas em volta da sua cintura e o faria
me carregar como um bebê coala de volta para o apartamento
dele. Em vez disso, estendo a mão.
— Olá, Derek, prazer em vê-lo.
É formal e discreto. Ele deveria estar orgulhoso.
Em vez disso, ele balança a cabeça, sorrindo antes de pegar
minha mão e usá-la para me puxar em sua direção, bem no
meio do círculo. Lá se vai a discrição.
— Você é absolutamente louca — diz ele antes de se
inclinar para beijar minha bochecha, logo acima da borda da
minha barba.
— Você sabe quem eu devo ser? — Pergunto.
— Você realmente tem que perguntar?
— Fiz um bom trabalho, não fiz?
Eu levanto meu relógio. É o gêmeo de Derek. Nós os
juntamos como se estivéssemos no ensino médio, encaixando
duas metades de um colar de amizade.
— É misterioso — diz ele, puxando uma das pontas do
cachecol no meu pescoço. — Você é uma versão em miniatura
dele.
— E qual é a sua fantasia? — Pergunto, provocando.
— Idiota sobrecarregado? — Ele diz com um sorriso
autodepreciativo. — Desculpa por ser tão difícil entrar em
contato comigo nessas últimas semanas.
— Não tem sido tão ruim — eu digo, dando de ombros. Ele
arqueia uma sobrancelha e eu desvio o olhar, admitindo
timidamente.
— Ok, foi um pouco ruim.
— Eu te beijaria agora, mas não tenho certeza se sei onde
seus lábios estão por baixo dessa barba. Você pode tirá-la?
— Está colado na minha pele. Permanentemente, eu acho.
— Você está brincando.
— Não. Carrie e eu tentamos tirá-la alguns minutos atrás,
porque está começando a coçar, e nem se mexeu. E se eu ficar
assim para sempre?
Ele estreita um olho, pensando bem.
— Eu me acostumaria a isso.
— É?
— Não vale a pena terminar por causa disso.
— Terminar?
Minha voz sai estridente. Ele gosta da minha reação. Ele
está sorrindo com a confiança de um guerreiro.
— A menos que você queira ir devagar?
Devagar? Não. Quero acelerar as coisas. Acelerar. Se eu
tivesse um carro, o enfiaria no porta-malas e nos levaria a uma
capela drive-thru em Las Vegas. Elvis realmente estaria
naquele prédio.
— Então é oficialmente oficial? — Pergunto.
— Oficial — ele confirma, como se tivéssemos acabado de
assinar um contrato.
Nós apertamos a mão, selando um acordo. Então nossas
mãos se demoram, e temos bastante público nos observando
neste momento. Eu acho que eles estão realmente confusos
sobre a nossa interação. Quero dizer… estou usando barba e
Derek Knightley está olhando para mim com olhos bobos.
— Vocês terminaram de ser esquisitos? Porque eu quero
jogar outro jogo de pong de cerveja. Whiterek versus
Thomarie — Thomas diz, nos conduzindo para a mesa
montada perto das janelas traseiras.
— Whiterek realmente soa como o nome de um atleta de
verdade — aponto, como se isso provasse que seremos os
vencedores. Derek parece concordar.
— Você tem certeza disso? Estou completamente sóbrio —
ele diz a Thomas. — Vamos vencer com folga.
Thomas aponta diretamente para mim.
— É melhor você não dizer coisas como essa antes de ver
sua parceira jogar.
— Ah, qual é! Isso é desnecessário! Derek, como meu
namorado, acho que você deveria bater nele.
Não é esse o privilégio número um de estar em um
relacionamento? Ter um lacaio para lutar todas as suas
batalhas?
Durante a minha primeira vez, eu miro cuidadosamente e
depois deixo a bolinha voar. A bola de pingue-pongue bate na
mesa, bate na janela e depois bate na parte de trás da cabeça de
Drácula. É o mesmo cara que eu bati na cara com o tabuleiro
Ouija. Ele se vira, presas à mostra.
— Sério? De novo?
Para ser sincera, ele provavelmente deveria me evitar.
Quando é minha vez novamente, Derek desliza atrás de
mim e tenta direcionar meu lance. Sou imediatamente distraída
com a sensação do corpo dele pressionado totalmente contra o
meu.
Thomas marca falta.
— Está roubando! Não. Não toque nela.
— Ela é minha namorada — ressalta Derek. — Estou
apenas abraçando-a.
— Você está mirando a bola para ela! — Carrie diz
indignada, apontando para onde a mão de Derek embala a
minha.
— Estamos apenas de mãos dadas — digo com uma voz
inocente.
Nos deixe em paz! Estamos apaixonados!
Então Derek sacode meu pulso para mim, e a bola voa e cai
em um dos copos deles com um blup satisfatório. Thomas diz
a Derek que ele pode se ferrar antes de pegar a bola de pingue-
pongue e atirar de volta para dentro do copo.
Infelizmente, mesmo roubando, ainda perdemos.
Derek acha que eu deveria marcar uma consulta para checar
meus olhos, porque ele não tem certeza de como alguém pode
ser tão ruim com pong de cerveja. Eu digo a ele que é uma
arte.
Nós nos misturamos um pouco, furtamos alguns lanches
que parecem ter a menor quantidade de mãos mergulhada
neles, e então Derek acena em direção à porta.
— Quer sair daqui?
— Sério? Porque eu esperava que pudéssemos ficar aqui
por mais uma hora, talvez comer mais batatas fritas velhas e…
Meu sarcasmo é interrompido quando ele me puxa para me
despedir de Carrie e Thomas. Eles ainda estão dominando a
mesa de pong de cerveja. Eu acho que eles podem tentar se
profissionalizar. Eles nem se importam com o fato de sairmos
mais cedo. Carrie acena, sem perceber que estou de pé ao lado
dela, porque ela está ocupada demais mirando a bolinha. Ela
só passa a mão na minha barba e permanece totalmente
imperturbável. É como se ela sempre acariciasse minha barba
quando nos despedimos.
— Tenham uma boa noite!
No corredor, Derek me leva em direção aos elevadores.
— Então, eu estou passando a noite? — Pergunto,
interpretando a garota legal.
— Eu pensei que fosse óbvio.
— Nada é óbvio quando você toma tantas bebidas quanto
eu.
Ele sorri e pressiona a mão nas minhas costas.
— Vamos, campeã.
Dentro do elevador, puxo minha barba. Ela permanece
fundida ao meu rosto. Lembro-me da antiga repreensão de
meus pais: Se você continuar fazendo essa careta, ela ficará
assim. Parece que isso está finalmente se concretizando. Eu
sempre parecerei um homem de 80 anos. Devo choramingar
de angústia porque Derek ri e passa os braços em volta dos
meus ombros quando chegamos ao andar dele.
— Vamos lá, eu vou ajudá-la a tirar isso.
No final, ele me apoia na pia do banheiro e fica entre as
minhas pernas, esfregando cuidadosamente um cotonete
embebido em álcool embaixo das bordas da barba. Ele se
concentra como se estivesse realizando uma cirurgia de peito
aberto. Ele é tão gentil, trabalhando devagar para não rasgar
minha pele por acidente. Fui muito clara com ele dizendo que
gosto da minha pele.
— Onde você conseguiu essa cola? — Ele pergunta.
— Alguém do Figurino a trouxe.
— Ah. Certo. Eu acho que isso faz sentido. Eles querem
que essas barbas fiquem com as pessoas que estão no
personagem o dia todo.
Ele trabalha em outro pedaço da barba enquanto eu fico
parada, o observando.
Deveria ser tedioso, mas não é. Eu tenho acesso ilimitado
ao seu rosto. De perto e intimamente. Estudo seu nariz (reto,
bonito, se um nariz pode ser considerado assim) e sua testa
(aparentemente um tamanho apropriado, atualmente enrugada
em concentração), suas sobrancelhas (marrons, grossas o
suficiente para equilibrar suas características fortes) e as
pequenas sardas que mal são visível no nariz. Ele tem uma
pequena cicatriz na bochecha esquerda que eu nunca havia
notado antes.
— Você é tão bonito — eu digo.
Ele ri, mas mantém sua atenção em seu trabalho.
— Você está balançando.
Eu estou? Eu pensei que estava perfeitamente imóvel.
Volto a estudar seu rosto.
— Não gostei dessas duas últimas semanas — admito em
voz baixa.
— Nem eu.
— Senti sua falta.
— Você nunca disse isso — diz ele, olhos subindo para os
meus.
— Eu estava tentando parecer legal.
Ele murmura e puxa um pouco mais da barba do meu rosto,
e me pergunto se alguém vestindo uma fantasia como a minha
pode ser considerada legal.
— E eu sabia que você estava ocupado, então eu também
me mantive ocupada, — confesso.
— Uma vez, eu dirigi pelo seu dormitório e quase exigi que
você entrasse no meu carro, mesmo que fosse meia-noite.
Meu coração dispara.
— Você devia ter feito isso!
Ele sorri.
Envolvo minhas pernas em volta de sua cintura e ele
continua trabalhando. Finalmente, minha barba está arrancada
e sou uma mulher livre. Eu me viro para olhar no espelho e
sou recebida pela pele vermelha e manchada. Manchas de cola
ainda estão no meu rosto. Em outras palavras, eu estou uma
bagunça.
Como não há nenhuma maneira no inferno de fazermos
algo hoje - eu nem me beijaria agora - decido usar essa
oportunidade para algo igualmente importante.
Eu me viro.
— Vamos ter um discurso sobre o estado da união.
Suas sobrancelhas se franzem.
— Isso significa…?
— Vamos garantir que você e eu estamos na mesma página.
Em relação ao relacionamento.
Ele tira a gravata e entra no closet para pendurá-la.
— Não devemos fazer isso de manhã?
— Eu não vou conseguir dormir se não fizermos isso —
errado. Eu poderia deitar neste balcão e apagar em cinco
segundos, mas estou preocupada que eu me acovarde se
esperar até a manhã seguinte, quando estou sóbria como uma
pedra.
— Tudo bem, então — diz ele, voltando ao banheiro alguns
momentos depois, depois de se trocar. Ele está de peito nu,
somente com calças de pijama cinza, e meu coração tropeça
em si mesmo, tentando acompanhar.
Como se estivesse olhando quando não deveria estar, meus
olhos disparam para o teto enquanto o sangue corre pelo meu
pescoço e bochechas.
Ah, bom, meu rosto não estava vermelho o suficiente.
Derek ri.
Meu constrangimento apenas o diverte.
Ele senta na beira da banheira, de frente para mim, pernas
cruzadas nos tornozelos. Ele é pura confiança e requinte. Eu
sou a mulher anteriormente barbuda. A diferença entre nós
nunca foi tão óbvia. Espero ele começar, assumir o comando e
explicar em detalhes o que exatamente estamos fazendo, mas
ele fica em silêncio. Me assistindo. Esperando. Eu limpo
minha garganta dramaticamente antes de começar.
— Então… estamos em um relacionamento?
Eu deixo pendurado no ar como uma pergunta.
— Sim.
— Se eu te chamar de meu namorado em público, você não
negará.
— Por que eu…
—Apenas concorde ou discorde.
— Concordo.
— Uau.
Se eu quisesse, eu poderia enfiar minha cabeça pela janela
do banheiro agora e dizer a todos que estou namorando Derek
Knightley. Que ótima hora para estar viva.
— É só isso.
Ele ri e fica parado na banheira. Aparentemente, ainda não
terminamos.
— Há outras coisas a discutir.
Meu olhar está preso em seu peito quando pergunto:
— Como o quê?
— Com Cal de volta ao escritório na próxima semana, não
estarei tão ocupado, mas ainda será difícil encontrar tempo um
para o outro se você estiver trabalhando em dois empregos.
Minhas sobrancelhas se contraem.
— O que você quer dizer?
— Você pode ter que se aposentar como gerente de
residência.
— Sério? Mas eu gosto desse trabalho.
É divertido. Mais ou menos. Ultimamente, suponho que
tenha sido mais uma tarefa do que qualquer outra coisa, mais
uma coisa me impedindo de pensar em Derek.
— Ok, então se você gosta desse trabalho, talvez possa
reduzir suas horas no parque.
— Nunca!
— Então, nos veremos no próximo ano? — Ele pergunta
categoricamente. — Talvez eu possa reservar você para passar
um tempo juntos em maio.
— Bom ponto.
— Onde você se vê daqui a cinco anos? — Ele pergunta.
— Na sua cama. Você está passando calda de chocolate
pelo meu corpo.
— Whitney — ele tenta me nivelar com um olhar que diz
falando sério, mas eu tenho cola no rosto, ainda estou vestido
como seu avô, e há álcool suficiente no meu sistema para
sedar um touro.
— Tudo bem — fecho meus olhos como se realmente
estivesse tentando imaginar meu futuro agora. — Eu não estou
mais trabalhando como princesa Elena. Agora estou correndo
pelo parque. Você trabalha para mim. Você me chama de
mestre…
Com os olhos fechados, não o vejo se mover até que ele de
repente me puxa para fora do balcão, e caio na gargalhada
quando ele me carrega para o seu quarto. Eu bato em sua
bunda como se estivesse tocando bateria. Ele me joga na cama
e fica em cima de mim.
— Você está bêbada.
Eu levanto meus dedos para que eles fiquem juntos,
separados apenas por um milímetro.
— Só esse pouquinho.
Ele tira meus sapatos e os joga no chão. Minhas meias vão
em seguida.
— Sedutor — provoco, revirando a língua como se
estivesse falando espanhol.
Meus jeans são arrancados junto com o colete de Cal.
— Espera, se vamos fazer sexo, você pode me fazer um
café primeiro? Quero me lembrar da nossa primeira vez e
minha cabeça está girando.
CAPÍTULO VINTE E UM
DEREK

hitney ainda está decepcionada por não estarmos

W
fazendo sexo hoje à noite.
Estamos parados lado a lado, escovando os dentes
no banheiro. Ela está em uma das minhas camisetas,
quase se afogando nela, as bochechas ainda vermelhas
por causa daquela cola estúpida.
— Vamos lá, só uma rapidinha? — Pergunta, pasta de dente
saindo da boca.
É ridículo que ela ainda seja atraente.
— Cuspa — digo a ela, e ela o faz antes de enxaguar a
boca.
— Que tal eu te masturbar?
Eu a nivelo com um olhar estreito e ela levanta as mãos.
— Esse relacionamento já está morto. Olhe para nós…
Primeiro dia e já vamos dormir como dois idosos. Sem beijos.
Apenas higiene dental adequada, seguida por luzes apagadas.
Ela rasteja sob as cobertas da minha cama e as leva até o
queixo. Ela é uma cabeça flutuante, envolta em lençóis
brancos. Seus cabelos ruivos se espalham loucamente ao seu
redor.
— O que vem a seguir… você vai me contar uma história
para eu dormir? — É dito em tom de brincadeira, mas então
seus olhos se iluminam. — Espera! Sim.
Saio para buscar um pouco de água e um Advil para ela
tomar de manhã. Eu meio que espero que ela esteja dormindo
quando eu volto, mas ela está exatamente onde eu a deixei,
sorrindo, dando um tapinha na cama onde eu deveria sentar.
Aparentemente, ela estava falando sério sobre a história de
ninar.
— Estou lendo um livro do Stephen King.
— Ooooh, assustador. Perfeito para o Halloween.
— Eu já li dois terços do livro. Você não vai entender o que
está acontecendo — digo enquanto me sento ao lado dela, me
apoiando nos travesseiros enquanto abro o livro onde parei da
última vez.
— Sim, eu vou — ela insiste.
Uma página depois, ela vira, enrola-se contra o meu lado e
fecha os olhos. Eu fico lendo até ela dormir profundamente.
Eu deveria estar feliz por ela estar dormindo um pouco para se
livrar do álcool, mas não estou. Eu meio que… sinto falta dela.
De manhã, preparo o café da manhã com o que tenho em
mãos. Depois de algumas semanas ocupadas, minha geladeira
e despensa estão quase vazias.
Descasco uma laranja, tosto um pouco de pão e sacudo
bastante cereal do fundo da caixa para fazer para cada um de
nós uma pequena tigela com migalhas. Whitney sai direto do
meu quarto, corre ao redor do balcão e vem direto para mim,
passando os braços em volta da minha cintura.
— Me desculpe pela noite passada.
— Não precisa se desculpar.
— Eu continuo tendo flashbacks da nossa conversa, e
sim… eu definitivamente preciso me desculpar.
Eu dou risada e me viro, levantando seu queixo. O rosto
dela voltou ao normal, e digo isso a ela. Ela esfrega a
bochecha com a palma da mão, um alívio evidente em seu
olhar.
— Posso ajudar? — Pergunta, olhando para o balcão. —
Aqui, deixe-me assumir e você vai se sentar à mesa e não vai
levantar um dedo. É o mínimo que posso fazer.
— O café da manhã já está pronto. Café na mesa. Suco
também. Bem, um pouco de suco. Teremos que dividir um
copo.
— E talheres?
— Ao lado dos pratos.
— Ok, bem, eu lavo a louça, pelo menos.
É bom sentar em frente a ela, comendo torradas, tomando
café. É a atividade mais normal do mundo, mas há mais ênfase
agora que estamos fazendo juntos.
Whitney está quieta, e eu suponho que ela provavelmente
esteja enfrentando a ressaca, então eu não a incomodo.
Quando meu prato está limpo, eu levanto e a mão dela dispara
para me parar.
— Eu preciso te pedir um favor.
Whitney quer que eu vá com ela para Nova York em uma
semana.
Parece quase impossível com tudo o que está acontecendo
comigo agora. Eu deveria estar trabalhando durante o sono,
especialmente com Cal ainda de licença médica, mas não digo
nada disso para Whitney. Eu sei por que ela está me pedindo
isso, e eu sei que ela nunca teria trazido à tona se ela realmente
não precisasse de mim.
Além disso, quando ela abordou o assunto, ela me fez uma
promessa.
— Depois de Nova York, decidirei o que quero fazer sobre
o meu futuro. Ok? Vou lhe dar um plano de cinco anos e
prometo ser séria sobre isso também.
Levo isso para Heather e Cal no dia seguinte e os olhos de
Heather se arregalam. — Você é louco? Vocês dois são
loucos?
— Faça isso dar certo. Voarei na sexta-feira, chegarei a
tempo do show da irmã e voltarei no sábado. Com Whitney.
Cal está totalmente a bordo. Ele não dirá uma palavra sobre
Whitney ir para Nova York sem mim.
— Eu te disse que essas viagens são sempre tão difíceis
para ela. Ela ficará melhor com você ao lado dela.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
WHITNEY

eu voo pousa na cidade de Nova York às 21h da

M
quarta-feira seguinte. Meus pais originalmente
reservaram meu voo às 6h20. Eu mudei no último
minuto. Eu disse a eles que precisava, porque não
podia tirar outro dia de folga do trabalho, mas na
verdade, estava tentando reduzir a duração da viagem
por autopreservação.
Meu pai está me esperando na área de bagagens, olhando
impacientemente sobre outros passageiros para me encontrar.
Ele está usando um boné dos Yankees e uma camiseta
combinando. Seu rosto está duro, sem sorrir, mesmo quando
ele finalmente me vê.
Ele sempre foi bom em reclamar. É a primeira coisa que ele
faz. Não, como vai você? Apenas: — Você pode acreditar
neste aeroporto? Jesus, é o meio da noite e ainda está tão
cheio. Você trouxe uma mala? Não? Que bom. Vamos.
— Onde está a mamãe?
— Dormindo.
Lá fora, ele sinaliza para um táxi. Então, com a mão ainda
no ar, ele me dá uma olhada.
— Você parece magra. Você está comendo lá na Geórgia?
Não tive tempo para jantar, porque cheguei atrasada no
aeroporto. Devorei um pacote de amendoins como um esquilo
raivoso, olhando avidamente o saco do meu vizinho de
assento, enquanto ele passava seu tempo agradável, comendo-
os um por um, esmagando-os com os dentes da frente. Depois
de lutar por um apoio de braço compartilhado por metade do
voo, acho que foi uma retribuição da parte dele.
— Sim. Eu estou comendo. Apenas trabalhando muito.
— Ah? Bem, isso é bom. Carly ainda está trabalhando com
você?
Ele quer dizer Carrie.
— Sim.
— O que ela faz mesmo? Ela faz os sapatos?
Sim, pai. Ela é sapateira.
— Trajes, na verdade. Vestidos.
Ele não está me ouvindo. Agora que estamos no táxi, ele
está muito ocupado discutindo com o motorista sobre um
caminho melhor a seguir, falando sobre mim até que eu decida
calar a boca.
— Droga — meu pai diz. — Perdemos a nossa saída.
Me encolho no banco de trás, me arrependendo. Eu deveria
ter ficado em um hotel. Eu deveria ter esperado e voado na
sexta-feira com Derek para poder usá-lo como um escudo
humano. Ou, melhor ainda, simplesmente não deveria ter
vindo.
Depois que finalmente chegamos ao prédio dos meus pais,
dou gorjeta ao motorista de táxi quando meu pai não está
olhando. Subimos para o oitavo andar enquanto meu pai
começa a traçar nossos planos para o dia seguinte.
— Avery tem tempo para o café da manhã se acordarmos
cedo e formos com ela, então espero que você não tenha
planejado dormir até tarde.
Há uma longa pausa e percebo que ele espera uma resposta
minha.
— Ah, não. Estou ok com um café da manhã cedo.
— Bom, porque então podemos caminhar com Avery até o
teatro para os ensaios. Depois disso, sua mãe e eu temos que
trabalhar.
Esta revelação apresenta um enigma clássico para mim. Eu
gostaria que eles saíssem, trabalhassem e me deixassem em
paz, mas na realidade, estou chateada por eles nem pensarem
em tirar um dia de folga para passar um tempo comigo. Não
nos vemos há um ano. Não parece tanto tempo assim, mas
verifiquei meu calendário e é verdade.
Um ano.
No apartamento deles, meu pai arruma o sofá-cama e eu
olho ao redor da sala. Não mudou muita coisa desde a última
vez que estive aqui. O apartamento deles não é tanto um lar,
mas sim um santuário para minha irmã. Seus pôsteres de
produção estão assinados, emoldurados e pendurados nas
paredes. Seus portfólios oficiais repousam na estante da TV ao
lado de uma cesta cheia de quinze controles remotos. Para que
eles poderiam precisar de todos eles? Quem sabe.
Duvido que eu faça uma única aparição no local, mas estou
errada. Na geladeira, meio escondida atrás de um imã da
Anthony’s Pizzeria, eles penduraram uma foto minha na minha
formatura no ensino médio. Eles não estavam lá quando me
formei na faculdade - Avery tinha uma grande audição - então
é isso, aparentemente. Whitney de cara gordinha com uma
pizza de pepperoni cobrindo os cabelos.
Eu quero tomar um banho, mas meu pai balança a cabeça e
avisa que minha mãe está com sono leve hoje em dia.
Maravilhoso. Vou carregar o lixo do aeroporto até a manhã
seguinte. Depois que ele vai para a cama, eu vou para a pia da
cozinha, projetada na sombra.
— A luz também a acorda.
Enquanto eu me lavo da melhor forma possível, usando a
lanterna do meu telefone apoiada contra a parede. Lavo os
braços e me inclino para lavar o rosto, mas é tudo o que
consigo sem tentar enfiar o pé debaixo da torneira.
Enquanto escovo os dentes naquela cozinha escura e
solitária, iluminada pelo meu celular, sinto uma sensação
avassaladora de desesperança. Isso é bobagem. Não sei por
que esperava que algo fosse diferente. Repetidas vezes, me
deixo me decepcionar com meus pais, e essa dor só me deixa
mais irritada. O ciclo vicioso gira em torno de si mesmo.
Como eles ainda têm a capacidade de causar danos?
Por que eu lhes dou esse poder?
Eu termino na pia e depois procuro na minha bolsa uma
muda de roupa. Tudo está uma bagunça confusa, porque eu
arrumei as coisas de última hora e só consigo encontrar uma
meia enrolada em alguma roupa íntima, então desisto e decido
dormir com minhas roupas sujas do aeroporto, cobertas de sal
de amendoim, como a pagã que eu sou. Depois de entrar
embaixo do lençol do sofá-cama, descanso a cabeça no
travesseiro irregular do sofá e ligo para Derek.
— Ei — diz ele, atendendo após o primeiro toque.
Sua voz é uma melodia, uma sílaba que rasga direto através
de mim. Eu o amo por responder imediatamente. É como se
ele estivesse esperando perto do celular pela minha ligação. É
como se nós dois odiássemos que eu estivesse fora, embora eu
estivesse com ele apenas algumas horas atrás. Ele insistiu em
me levar para o aeroporto. Nos beijamos no posto de
segurança até que um garotinho gritou: Eca! e nos separamos,
rindo.
— Oi — eu sussurro, sabendo que meus pais têm paredes
finas como papel.
— Como foi seu voo?
Quero contar a ele sobre meu vizinho de assento, meu pai e
o banho improvisado pia, mas não consigo fazer isso.
Eu sento lá, em silêncio, a garganta se fechando.
— Whitney?
A preocupação em sua voz atinge um ponto fraco em mim,
mas eu não me permitirei chorar.
— Desculpa — eu sussurro, esperando que ele não
perceba que estou chateada.
— Tão ruim assim? — Ele pergunta, sabendo.
— Não — digo a ele, tentando me recompor.
Isso não é nada. Há crianças morrendo de fome no mundo.
SE RECOMPONHA.
— Estarei aí cedo na sexta-feira, mas posso adiar meu voo
um dia se você precisar de mim?
— Não. Está tudo bem. Só estou cansada e tenho que
sussurrar porque meus pais estão dormindo. Falo com você
amanhã, ok?
E então desligo rapidamente, sabendo que é o melhor.
Ele me manda uma mensagem.

Derek: Me envie o endereço dos seus pais quando tiver a


chance.

Depois do que parecem apenas algumas horas, sou acordada


pelo som dos meus pais se movendo pelo pequeno
apartamento. Meu pai tenta - e falha - ficar quieto enquanto
faz café. Cling. Clang. Crash. É como se ele nunca tivesse
estado em uma cozinha antes. Minha mãe está com a TV
ligada no quarto deles.
Me sento e limpo os olhos, abandonando a noção de sono.
Minha mãe sai do quarto deles, uma versão mais velha da
Avery. Seu cabelo loiro está cortado curto no queixo. Ela é
magra, com um rosto redondo e atraente que ela cobre em
maquiagem pesada, se baseando totalmente na teoria de que
mais é mais.
— Eu estava prestes a acordar você. Precisamos sair em
breve.
— Posso tomar um banho muito rápido?
— Acho que não dá tempo. Avery acabou de ligar e disse
que está com pressa.
O que é outra camada de sujeira, certo?
Entro no banheiro, lavo o rosto, escovo os dentes e visto
um suéter e jeans e, quando volto, encontro-os na porta do
apartamento, esperando por mim. Os pés batendo no chão.
Eles estão vestindo camisetas combinando. Rush está
impresso em branco na frente - o nome do musical da minha
irmã. A assinatura dela está rabiscada no canto esquerdo, sobre
o R. Imediatamente, meu olhar vai para o pedaço de tecido
enrolado na mão esquerda da minha mãe. É da mesma cor rosa
chiclete que suas camisetas.
Ah, claro.
Meu pai tira dela.
— Aqui, sua mãe comprou uma camisa para você.
Ele está na minha frente como se ele estivesse verificando
se vai servir.
— Vou colocar mais tarde.
Eu poderia ter acabado de dizer a eles que fui condenada
por assassinato pelo jeito que seus rostos ficam. Depois de
lutar no sofá-cama irregular por metade da noite, não tenho
mais brigas dentro mim. Coloco a camisa por cima do suéter
que já estava vestindo e nós três deixamos o apartamento.
No tapete, do lado de fora da porta, um mensageiro deixou
um denso buquê de rosas vermelhas sangue. Me inclino
rapidamente para pegar a nota que o acompanha. Diz:
Uma rosa para cada vez que eu queria te beijar durante o
ensaio do desfile.
Eu acho que você ainda me deve…

Sorrio para mim mesma, guardo o bilhete e carrego as


flores de volta para dentro, para que sejam a primeira coisa
que verei quando voltarmos. Meus pais assumem que alguém
enviou as flores para Avery. Eu não os corrijo.
Na calçada de Nova York, com nossas camisas cor-de-rosa
iguais, atraímos os olhares de todos que passam por nós.
Depois de uma viagem de metrô e uma curta caminhada mais
tarde, nos encontramos no distrito dos teatros.
No caminho, me dão um resumo básico do musical de
Avery. Aparentemente, é uma paródia da cultura das
irmandades americanas, daí o nome Rush. Avery é uma das
personagens principais, uma caloura que espera conseguir uma
vaga cobiçada em Kappa Zeta no dia da escolha. Ela enfrenta
uma arqui-inimiga (a capitã da equipe de torcida atrevida) e
encontra o amor ao longo do caminho (na forma de um
bonitão da irmandade). Minha mãe acha muito legal o quão
inclusivo o elenco é.
— Tem até uma garota da Espanha!
Olho tristemente para o tráfego que se aproxima pouco
antes de encontrar Avery em frente a uma lanchonete com uma
mochila preta pendurada no ombro. Ela está examinando a
multidão, procurando por nós e, quando nossos olhos se fixam,
ela corre diretamente para mim, me envolve em seus braços e
nos gira. Eu resmungo que vou vomitar e ela finalmente para,
recuando na distância de um braço.
— Deus, eu senti sua falta. Por que você não me visita
mais?
Nós duas sabemos a resposta para isso, então não me
incomodo com uma resposta. Ela me estuda. Sorrio
timidamente, esperando não parecer tão cansada quanto me
sinto.
— Como você está tão crescida? Você deveria ser minha
irmãzinha, mas você não tem nada de zinha. Você é linda
demais. Olhe para essas maçãs do rosto.
Ela aperta meu rosto em suas mãos. Meus lábios enrugam
como um peixe. Ela é a única pessoa no planeta que eu
permito fazer isso.
— Eu acho que ela precisa comer mais — meu pai aponta
com uma careta.
Avery revira os olhos, ignorando-o, e pega minha mão para
me guiar em direção ao restaurante. Usamos a distância de
nossos pais para nossa vantagem.
— Vejo que eles te forçaram a vestir a camiseta — diz ela
com uma piscadela.
— Não vale a pena brigar.
— Por que você vai ficar com eles, afinal? Você quer ficar
comigo esta noite? Por favor? Venha! Vai ser divertido.
— Eu não quero aborrecê-los.
É
— Oh, acredite em mim. Eu sei. É o seu lema de vida —
franzo a testa e ela revira os olhos, sem insistir nessa questão.
— Tanto faz, pense na minha oferta, ok? Eu tenho espaço
extra. Bem, um pouco. Você teria que dormir comigo na minha
cama de solteiro.
Meu pai percebe nossa conversa dentro da lanchonete e
balança a cabeça.
— Absolutamente não. Essa comuna não é segura o
suficiente para você. Não terei Whitney lá também.
— É uma cooperativa de atores, não uma comuna.
— Agora não — minha mãe repreende meu pai quando
deslizamos para uma cabine perto da janela. O estofamento
vermelho está pegajoso com calda de um cliente anterior. —
Avery já tem estresse suficiente. Não quero discutir hoje.
Agora, Avery, nos conte como foram os seus ensaios na noite
passada.
E é isso.
Não há um único momento do café da manhã que não gire
em torno de Avery. Ah, ela tenta curvar a conversa em minha
direção, mas meus pais apontam os holofotes de volta para ela.
Na verdade, eu estou bem com isso. Isso é confortável, como
calçar um par de sapatos gastos. Sento, ouço e como contente
em ser um subestudo.
Nós nem pedimos a conta quando Avery olha para o celular
dela e xinga.
— Eu tenho que ir. Dave quer todos lá mais cedo hoje.
Temos coletiva de imprensa.
Ela se inclina e beija minha bochecha e quando ela sai, ela
leva toda a energia com ela. Depois disso, há uma sensação
avassaladora de O que fazer agora? Nenhum de nós faz
contato visual. Reorganizo os pacotes de açúcar. Felizmente,
não dura muito. Meus pais precisam ir trabalhar, afinal. Eu
tenho um dia para mim e aproveito ao máximo. Logo depois
que eu arranco aquela camiseta rosa chiclete.

No dia seguinte, meus pais e eu passamos uma manhã tensa e


desajeitada juntos no apartamento minúsculos deles. Nós
ocupamos o espaço um do outro. Sugiro que saíssemos para
passear, mas minha mãe acha que é melhor ficarmos aqui.
Temos uma grande noite pela frente, ela me lembra. O musical
começa às 19h e minha mãe quer garantir que cheguemos lá
com bastante tempo de antecedência para encontrar nossos
lugares. Depois, temos reservas tardias para o jantar em um
restaurante que minha mãe continua descrevendo como “muito
chique” enquanto me dá um olhar aguçado.
É como se ela pensasse que eu vou rolar do sofá-cama,
calçar sapatos e me proclamar pronta para ir.
Uma longa caminhada sozinha pela cidade na hora do
almoço é a única coisa que me mantém sã.
— Você reservou uma mesa para cinco no jantar? —
Pergunto depois, sentada à janela para usar a luz natural para
aplicar minha maquiagem.
— Sim. Avery talvez vá levar um convidado.
Não. Ela não vai. Sugeri que ela fizesse isso porque sou
covarde e não contei a meus pais sobre Derek. Até mesmo
agora, enquanto estamos na calçada, embaixo da marquise do
teatro, ainda não contei as novidades, e percebo que isso foi
um planejamento ruim da minha parte no exato momento em
que Derek sai de um carro e se levanta à sua altura máxima,
ajeitando o paletó.
Meu coração pula na minha garganta.
Ele realmente veio.
Ele voou até Nova York para estar aqui para mim hoje à
noite.
Olho para meus pais e eles também o notaram. Todo mundo
notou. O tapete que leva da rua até a entrada do teatro foi
amarrado para as chegadas. Nós, é claro, entramos pela
calçada, levados por uma coordenadora que imediatamente
nos marcou como indignos. Um pouco. Ela puxou meu braço
quando eu passei.
— Quem é você? Uma blogueira? Você atua? Se você
quiser tirar fotos, precisará entrar pela rua.
Decidi aceitar o elogio antes de corrigi-la.
Alguns dos outros convidados que chegam ao teatro estão
considerando aquela curta caminhada pelo tapete como tudo
pelo que vale a pena. Andam. Posam. Sorriem. Olham
ardentemente. Flash, flash, flash. Derek ignora os fotógrafos
quando eles começam a tirar fotos freneticamente. Ele abaixa
a cabeça e mantém os olhos em frente.
Duvido que os paparazzi saibam exatamente quem ele é.
Afinal, ele não faz parte da sociedade de Nova York, mas isso
não os impede de conseguir uma boa foto. Tirar foto agora,
pesquisar depois. Com passos rápidos, ele passa por eles, indo
para a porta do teatro, então ele olha para cima e para os
alguns metros além, onde eu estou com meus pais.
Ele sorri. Perfeitamente vestido, cabelo recém cortado, o
rosto em uma perfeita harmonia. O calor se espalha através de
mim, e por meio segundo naquela calçada movimentada,
somos apenas nós dois, trocando uma saudação silenciosa.
Seus olhos rapidamente examinam meu vestido, uma coisa
preta simples e curta, despretensiosa, exceto por seu ajuste
apertado. Eu tenho uma capa cobrindo meus ombros, não o
suficiente para combater a temperatura fria de Nova York,
mas, no momento, não sinto nada.
Meus pais se entreolham, depois por cima dos ombros,
tentando determinar para quem ele está olhando, porque
certamente não pode ser eu. Então ele se vira, caminha direto
para mim e se inclina para dar um beijo diretamente na minha
boca. É inesperado. Breve, mas doce. E assim, os últimos dois
dias são limpos. Eles não são nada comparados a como ele me
faz sentir. Minhas bochechas ficam quentes enquanto as
câmeras continuam piscando.
Derek tem um sorriso orgulhoso. Quero cutucá-lo e
repreendê-lo por chamar tanta atenção para nós, mas então
percebo que estamos sendo vigiados por mais do que apenas a
imprensa.
Meus pais estão boquiabertos, olhos arregalados, totalmente
confusos.
— Hum… Mãe, pai… esse é Derek — digo quando ele se
vira para eles.
Minha mãe balança a cabeça.
— Você… me desculpe, você é um amigo de Avery?
Ela aparentemente perdeu a parte em que trocamos saliva.
Derek sorri e estende a mão para ela.
— Eu sou Derek Knightley, namorado da Whitney. É um
prazer conhecer vocês.
Depois de apertar a mão do meu pai, ele sugere que
entremos - já que as câmeras ainda estão piscando - e meus
pais fazem exatamente o que ele diz. Eu nunca os vi tão
impressionados.
— Perdão, você disse que é namorado da Whitney? —
Minha mãe pergunta, tentando esclarecer as coisas quando
estamos no saguão.
Ela tem que parecer tão surpresa? Nossa.
Meu pai está ainda mais confuso.
— Whitney não mencionou nada.
Meu pescoço fica quente. Eu arranco minha capa e a coloco
debaixo do braço.
— Que tal uma bebida? Alguém quer uma bebida? —
Pergunto, procurando pelo bar no saguão. Lá, do outro lado da
sala.
Eu não espero por respostas. Eu apenas sorrio e digo:
— Uma para cada? Ok! Volto já! — Então corro na direção
oposta. Deixar Derek sozinho com meus pais após a
introdução mais embaraçosa do mundo é cruel, para dizer o
mínimo, mas faço uma promessa silenciosa de compensar isso
mais tarde.
Quando estou na fila do bar, olho para trás e vejo os três
conversando bem. Ou melhor, Derek está. Meus pais parecem
totalmente extasiados. Quando volto, equilibrando
cuidadosamente quatro taças de champanhe, todos parecem
velhos amigos.
— Eu poderia ter ajudado você — diz Derek, rapidamente
tirando duas das taças das minhas mãos antes que
acidentalmente derrame tudo na frente do meu vestido.
— Está tudo bem.
— Então, Derek — minha mãe olha para ele, os olhos
brilhando. — Você disse que vai ficar no Plaza? Avery esteve
lá no mês passado para uma reunião com o agente dela — essa
mudança de assunto para Avery é impressionante até para os
meus padrões. — Eu me pergunto se você o conhece? Martin
Branch?
— Por que Derek conheceria o agente de Avery? — É a
pergunta que faço na minha cabeça antes de beber metade do
meu champanhe.
— Não, receio que não.
— Mas você deve conhecer algumas pessoas na cidade de
Nova York, com sua família…
Sendo tão rica e tudo mais é o que meu pai está insinuando.
Outro grande gole de champanhe desliza pela minha
garganta. Nesse ritmo, não poderei andar quando a cortina
abrir.
— Seu avô é Charles Knightley? — Minha mãe pergunta
quando a conversa termina.
Derek assente.
Minha mãe se vira para mim.
— Avery, você… — ela ri, tendo percebido seu erro. —
Whitney, você conhece Charles um pouco, não é?
— Um pouquinho.
Derek está olhando para mim, as sobrancelhas franzidas.
Não consigo imaginar o que ele pensa dessa troca.
— Whitney e meu avô são muito próximos — ele emenda.
Meus pais parecem achar isso muito impressionante.
— Você nunca nos contou — diz minha mãe.
Eu aperto meus molares e olho para longe
— Eu contei. No ano passado.
— Ah.
Um funcionário aparece, informando aos convidados que é
hora de encontrar seus lugares. Nossos ingressos foram
presentes da Avery. Derek teve que comprar o dele. Eu me
pergunto onde ele está sentado, então ele pega quatro bilhetes
do bolso.
— Espero que vocês não se importem. Eu comprei um
camarote para todos nós podermos sentar juntos.
Meus pais não têm problemas com essa mudança. Afinal,
os ingressos de Avery eram bons, mas não eram nada
comparados aos de Derek. Agora estamos sentados como a
realeza em um camarote particular. Um atendente nos pergunta
se gostaríamos de mais alguma coisa para beber e eu
praticamente imploro por outra taça de champanhe.
Sento-me no final da primeira fila de cadeiras, mais perto
do palco, forçando Derek a me isolar dos meus pais. É o
melhor. Agora eu posso realmente prestar atenção na peça. É
fantástica. O resumo dos meus pais mais cedo não fez justiça.
A escrita é concisa, o ritmo é perfeito, e eu mal me pego ciente
dos meus arredores enquanto a produção acontece.
Avery cativa a todos nós, lançada no brilho daquelas luzes
do palco como se ela tivesse nascido para estar na Broadway.
Estou tão incrivelmente orgulhosa dela que eu poderia
explodir. Quando ela se curva no final, eu pulo e assobio com
os dedos. Elegante, eu sei.
Esperamos por ela depois do show, perto da saída onde os
atores estão se filtrando nos últimos quinze minutos. Ela nos
vê e grita, jogando os braços em volta de mim primeiro e
depois abraçando nossos pais. Quando ela se apresenta a
Derek, ela o abraça também.
— Então você é o homem que roubou o coração da minha
irmãzinha.
CAPÍTULO VINTE E DOIS

WHITNEY

quase como se eu não me reconhecesse no jantar. Ou

É melhor, Derek não me reconhece. Percebo porque ele


fica olhando, tentando chamar minha atenção. Ele quer
conversar em particular - uma explicação do motivo pelo
qual eu quase não disse nada a noite toda - mas não há
como administrar isso sem anunciar para a mesa.
Em vez disso, atiro nele sorrisos tranquilizadores que dizem
Totalmente bem! e resisto à vontade de pedir outra bebida.
Flashbacks do Halloween me lembram que hoje à noite, duas
taças de champanhe são o meu limite.
Minha mãe não estava brincando sobre o restaurante ser
chique. Está cheio de panos de mesa brancos finos, copos de
vinho de cristal e vários pratos. Apenas o melhor para Avery.
Há um vaso de peônias cor de rosa em cima da mesa de
parabenização, entregue antes da nossa chegada. É tão grande
que estou impedida de ver o rosto da minha mãe na minha
frente. Eu decido que não me importo com isso, na verdade.
— Vocês não precisaram fazer tudo isso — diz Avery,
balançando a cabeça, sorrindo, no entanto.
Ela está usando um vestido vermelho solto que mostra sua
pele bronzeada e cabelos loiros brilhantes. Fica pendurado em
seu corpo esbelto, e nosso garçom mal consegue tirar os olhos
de seus lábios vermelhos correspondentes.
Ela é vivaz e cativante, e eu me sinto com inveja de sua
presença em uma sala. Como se tudo o que ela tivesse que
fazer fosse existir e isso por si só merecesse elogios. Esse
pensamento toma conta do nosso segundo prato de sopa de
cenoura e cebola assada.
Lembro-me que só tenho inveja de Avery por causa do
nosso passado, porque fui condicionada a pensar que ela é
mais importante. Eu sei que não é verdade. Normalmente,
posso me convencer disso. Hoje à noite, no entanto, está se
mostrando mais difícil. Até mesmo agora, ela carrega a
conversa na mesa, fazendo perguntas a Derek sobre o trabalho
dele.
Estou sentada com uma bola apertada de tensão no
estômago.
Um garçom entra para começar a limpeza do segundo prato
e meu pai se inclina na direção dele, como se ele fosse falar
com ele, depois começa a anunciar suas próximas palavras
para metade do restaurante.
— Minha filha estrelou um musical da Broadway — ele se
orgulha. — Estamos aqui para comemorar. Avery, vamos lá,
conte a ele sobre o musical.
Por que os pais pensam que estranhos se importam com as
realizações de seus filhos? Ei, sim, você pode trazer o
ajudante de garçom aqui também? Quero que ele saiba que
meu filho recebeu um A na prova de ortografia.
As sobrancelhas do garçom se levantam com o mesmo
interesse.
Pego minha água e tento canalizar Jesus, mas quando tomo
um gole, fico triste em dizer que não foi transformada em
vinho.
— Pai — Avery repreende quando o garçom finalmente se
afasta após conseguir um autógrafo. Ele tentou pegar o
número dela também, mas ela riu do pedido dele como se ele
estivesse brincando. Ele definitivamente não estava brincando.
— Ok, vamos lá, pessoal. Assunto novo. Whitney, como está
tudo na Geórgia? Você ainda está trabalhando no dormitório?
Eu deveria dizer que sim, minha vida está exatamente igual
da última vez que você me perguntou sobre isso. Eu ainda me
visto como uma princesa e tiro fotos com crianças durante o
dia e à noite eu tomo conta de um monte de calouros da
faculdade.
Eu não consigo dizer essas palavras.
Em vez disso, eu digo:
— Não, na verdade. Quando voltar, aceitarei uma nova
posição.
Todo mundo se anima, intrigados. Derek mais que todos.
— Então você não vai mais interpretar aquela princesa? —
Meu pai pergunta, como se eu estivesse passando a última
década da minha vida afundando.
— Não. Essa será uma grande promoção. Muito
importante.
Derek fica perfeitamente quieto, sem confirmar nem refutar
minhas reivindicações. Meu coração ameaça explodir do meu
peito.
O que estou dizendo?
É
Isso é mesmo verdade? É o que Cal quer há anos, mas eu
tenho sido covarde demais para realmente fazer a mudança,
aceitar um novo papel e agitar as coisas. Minha posição como
princesa Elena é o que eu sei. Eu sou boa nisso. Em outras
palavras, é seguro.
Nesse instante, um novo futuro se desenrola diante de mim.
Um que não envolva que eu fique presa na minha rotina. Um
que parece aterrorizante, mas emocionante. Pela primeira vez,
eu não corro disso.
Sim. Ok. Eu vou fazer isso. Vou aceitar a oferta de Cal.
Estou sorrindo agora, empolgada com a emoção de tomar
uma decisão importante da vida e seguir em frente. Eu vou
aceitar uma nova posição. Eu poderia chorar. Eu já posso estar
chorando. A mão de Derek envolve a minha e aperta. Olho
para cima, emocionada, e então percebo que a conversa na
mesa seguiu em frente sem mim. Minha mãe está perguntando
a Avery quando ela pode conseguir ingressos para outro show.
Eles querem ir para o maior número possível e, talvez, se a
agenda deles permitir, eles até…
Eu não aguento.
Eu me levanto, cadeira raspando no chão. Agora estou mais
alta que aquele ridículo vaso de peônias.
— Vocês estão brincando comigo? — Estou respirando
pesadamente, como se eu tivesse corrido uma maratona até a
linha de chegada.
Meu pai olha em volta, envergonhado. Minha mãe tenta me
fazer sentar novamente.
— Whitney, só…
— Não. Eu não vou sentar. Acabei de anunciar que estou
recebendo uma grande promoção e vocês nem me perguntaram
sobre isso. É realmente um grande negócio. Vocês deveriam se
importar.
— Nós nos importamos — minha mãe diz apressadamente.
— Não, vocês não se importam. Vocês já passaram a falar
sobre o musical de Avery novamente. Quero dizer, vocês
poderiam pelo menos ter me perguntado sobre isso. Apenas
uma pergunta.
Eu levanto um dedo para enfatizar meu argumento.
— Nós nos importamos — minha mãe me garante. —
Sente-se e podemos conversar sobre sua promoção.
Meu peso muda de pé para pé quando percebo que
definitivamente não estou me sentando, não agora que
realmente me levantei pela primeira vez na vida.
— Não. Você não entende. Isso não é sobre a promoção, na
verdade. É só que… — eu olho para frente e para trás entre
eles, os olhos arregalados de horror, ou talvez apenas pura
descrença de que eu tenho uma voz. — Às vezes vocês dois
agem como se eu nem existisse. Não, às vezes não. O tempo
todo — as palavras continuam saindo, como se eu tivesse
explorado uma profunda reserva de petróleo e agora não há
como impedir o fluxo. — O mundo inteiro de vocês gira em
torno de Avery e eu estou cansada de vocês me tratarem como
se eu não importasse tanto quanto ela — me encolho ao ouvir
a acusação. — Eu não acho que vocês fazem isso de propósito,
é só que… — me viro para Avery. — Eu sempre tive inveja de
você.
Seus lábios vermelhos se separam. Os olhos dela refletem
minha dor.
— Sim, praticamente toda a minha vida. E eu sei que não
havia razão para ter inveja de você quando estava realmente
doente, exceto que mesmo assim você tinha toda a atenção —
faço uma careta, balançando a cabeça. — Não é que eu
quisesse ficar doente. Não é isso. É que… você sempre foi
especial, mesmo quando não queria ser, e isso é bom. De
verdade. Eu não… que seja. Não é por isso que estou
desabafando.
Esfrego minha testa com força, tentando decifrar os
milhares de pensamentos que escalam para serem libertados de
uma só vez.
— Eu não culpo vocês por cuidarem de Avery como vocês
cuidaram. Ela precisava disso. Mas eu também existia.
Também sou a filha de vocês, e houve muitas vezes em que eu
me senti… esquecida — respiro fundo, tendo percebido o erro
colossal que acabei de cometer. Uma rápida leitura do
restaurante confirma que cada pessoa parou o que está fazendo
para olhar e me ouvir fazer esse discurso. — Ah, tudo bem. Eu
vou me desculpar agora. Avery, você foi muito boa nesse
musical e eu te amo. E desculpe por estragar sua grande noite.
Então eu afasto minha cadeira ainda mais e saio pela porta
da frente do restaurante, mas não antes de um cara gritar com
as mãos em concha:
— Sim, querida! Fala tudo!
Uma rajada de ar frio me atinge quando chego na calçada.
Meu ataque de honestidade não me deu a chance de planejar
adequadamente uma saída. Deixei minha capa lá dentro. Não
posso voltar e pegar. Prefiro perder um braço congelado do
que enfrentar meus pais agora.
Então uma jaqueta quente cobre meus ombros e eu olho
para cima para descobrir que Derek se juntou a mim.
— Pronta para ir? — Seu tom calmo contradiz a cena que
nós dois acabamos de deixar para trás. Ele me leva até a rua e
chama um táxi. — Para o Plaza — ele diz ao motorista antes
de me puxar contra ele.
Andamos de táxi em perfeito silêncio. É um presente, eu
percebo. Ele está me dando o que eu mais preciso: um
momento para me recuperar. Quando chegamos lá, passeamos
pelo saguão e subimos para o quarto dele, como se
estivéssemos voltando de um dia feliz na cidade. Ele tem uma
suíte com espaço suficiente para fazer uma série de
estrelinhas, mas eu me concentro na cama e na garrafa de
champanhe ao lado.
— Posso abrir isso? — Pergunto, já indo pegá-la.
— Sim, e ainda estou com fome — diz ele, pendurando a
jaqueta no guarda-roupa. — Você está?
— Morrendo de fome. O que havia na sopa de cenoura,
afinal?
— Cenouras — diz ele antes de fazer um pedido de serviço
de quarto para um cheeseburguer, batatas fritas, espaguete e
um milk shake baunilha - eu o corrijo - de chocolate.
— A comida estará aqui em quarenta e cinco minutos.
Eu desisto de tentar abrir o champanhe. A adrenalina
residual está fazendo minhas mãos tremerem. A garrafa volta a
bater no balde de gelo e eu ando até a janela. O Central Park
fica ao meu alcance, aparentemente interminável. Como
Manhattan faz isso? Te faz esquecer que você é uma pequena
mancha numa pequena ilha, uma pessoa entre milhões?
Derek vem para o meu lado, com uma taça de champanhe
na mão. Eu nem ouvi a rolha estourar. Ele oferece para mim e
eu aceito, segurando ao meu lado, sem vontade de me mover.
Eu não consigo lidar com o fato de que eu simplesmente
explodi assim no meio de um restaurante. Quero trocar de vida
com aquela senhora lá no parque, passeando com seu
cachorro. Aposto que ela nunca causou uma cena como eu
acabei de fazer.
— Para constar, acho que o que você fez foi incrivelmente
corajosa.
Minha risada está cheia de sarcasmo.
— Obrigada, mas foi principalmente bobeira. Duvido que
tenha feito sentido.
— Claro que fez.
Minha testa bate no vidro. Meus olhos se fecham.
— Foram vinte anos guardando tudo — confesso.
— Eu percebi.
— Eu parecia louca?
Ele esfrega a parte de trás do meu braço suavemente com a
junta, logo acima do meu cotovelo.
— Não, nem um pouco.
— Acha que eles me odeiam agora?
— Claro que não.
Não sei por quanto tempo ficamos assim. Na rua, uma
sirene cresce alto, mais alto, mais alto e depois desaparece.
Meus olhos ficam fechados. Ele se aproxima, me envolvendo
nos braços. A última gota da minha adrenalina e preocupação
evaporam quando me acomodo contra ele. Amar é se acalmar,
sentir-se acalmado pelo abraço de um amante. É por isso que
as pessoas geralmente definem o lar como uma pessoa, não
como um lugar.
Derek é minha casa agora.
Eu solto uma risada suave.
— E o musical? Você gostou?
Ele ri.
— Foi bom… eu acho.
— Você acha?
— Honestamente, eu estava meio distraído. Preocupado
com você.
Eu me inclino para trás e olho para ele.
Sua testa está enrugada e seus olhos são de um marrom
profundo e triste. Ele está franzindo a testa para mim, como se
tudo o que eu carregasse hoje à noite também fosse seu fardo.
Em um instante, eu me levanto na ponta dos pés o beijo.
Deus, esse homem.
Eu poderia simplesmente… eu o beijo novamente, e desta
vez ele não me deixa ir tão facilmente. Ele procura meus
lábios novamente quando estou me afastando, e há um desejo
subjacente na maneira como ele me envolve em seus braços
novamente, na força de seu aperto na minha parte inferior das
costas. Lembro-me de onde estamos, da paisagem cintilante às
nossas costas e da cama vazia ao nosso lado. Lembro-me de
que ele voou até Nova York para ficar comigo esta noite e não
quero perder mais um segundo.
O restaurante está esquecido. A cidade se foi. Todos os
milhões de pessoas abaixo de nós desaparecem no momento
em que o beijo novamente, desta vez com mais força,
implorando por mais. Suas mãos percorrem meus braços nus,
provocativamente lenta. Meu corpo ganha vida para ele, como
se ele estivesse aumentando o desejo vívido dentro de mim nas
últimas semanas. Ele não tem certeza de onde está minha
cabeça - é por isso que está indo devagar - mas depois que sua
língua varre a minha e meu estômago aperta, eu dou um passo
para trás para mostrar a ele que estou pronta para mais.
Minha taça intocada de champanhe é colocada na mesa
lateral. Minhas mãos alcançam as dele e eu ando para trás em
direção à cama. Ele fica na beira quando eu subo nela e o
encaro. Ele rouba outro beijo, um selinho. Então ele se inclina
para trás com os olhos encapuzados e mantém as mãos para si
mesmo enquanto me observa esticar a mão e segurar a barra
do meu vestido. Eu puxo alguns centímetros pela minha coxa e
depois mais alguns, juntando o material em minhas mãos para
expor mais e mais pele.
Eu o observo, me alimentando da necessidade ardente
crescendo em seu olhar enquanto meu vestido revela minhas
coxas e depois a borda da minha calcinha de renda. Ele
estende a mão para me tocar, a palma da mão deslizando no
interior da minha perna, começando no meu joelho. Meu corpo
treme e um sorriso pinta seu rosto em uma luz diabólica
enquanto ele continua para cima. Quando ele alcança o topo
das minhas pernas abertas, a articulação do dedo indicador
desliza no meio da minha calcinha e eu permaneço
perfeitamente imóvel, deixando-o tomar um tempo explorando
enquanto eu, obedientemente, seguro meu vestido para ele.
Para frente e para trás, ele passa o dedo. Quase
inocentemente. Quase. Meu estômago afunda e eu estou
queimando por dentro, mal consigo me conter enquanto ele faz
isso de novo, empurrando o material contra a minha pele mais
sensível.
Com uma respiração inebriante, solto meu vestido e
estendo a mão para a camisa dele para que eu possa começar a
desabotoar. Quando os dois primeiros botões estão abertos,
dou um beijo em seu peito, e seu baixo estrondo em resposta
me encoraja a continuar. Desço, deixando minhas mãos
vagarem sob o tecido. Sua pele bronzeada é uma das minhas
coisas favoritas nele. Ele parece alguém que está sempre
voltando de uma semana na costa italiana. Um bronzeado
quente e romântico.
Ele fica pacientemente na minha frente, me deixando tocá-
lo enquanto ele toca as alças do meu vestido. Elas são finas e
fáceis de empurrar pelos meus ombros. Uma vez que elas
ficam moles nos meus braços, ele passa a parte de trás do dedo
indicador ao longo de uma linha do pulso ao meu pescoço e
depois desce ao longo da minha clavícula.
Eu tremo.
Um sorriso se eleva em sua boca e ele continua sua
exploração gentil.
Termino com a camisa dele, tirando-a dos ombros largos.
Uma vez no chão, ele dá um passo à frente para encontrar o
zíper na parte de trás do meu vestido. Olho por olho, eu penso.
Ele o abaixa e os únicos sons na sala são nossas respirações e
aquele zíper, descendo pelas minhas costas.
Meu vestido fica frouxo agora que não há nada o
segurando. Meu sutiã sem alças é visível apenas pelo tempo
que ele leva para soltá-lo, e então ele também cai da cama, em
cima da sua camisa. Nesse instante, suas mãos deslizam pelas
minhas costelas e cobrem meu peito. Olho para baixo e o vejo
me tocar. Eu me sinto bonita com a maneira como ele está
reagindo. É como se alguém o estivesse segurando, mantendo-
o afastado, e agora que ele finalmente está me tocando e ele
não consegue tocar o suficiente.
Eu tento pegar seu cinto, mas então ele se abaixa para levar
à boca o que ele já sentiu com as mãos. Minha cabeça cai para
trás e um gemido suave escapa quando sinto a língua dele
sobre meus seios.
— Quarenta e cinco minutos não são o suficiente — eu o
aviso enquanto suas mãos puxam a frente do meu vestido um
pouco mais. Um centímetro. Dois. Estou nua das costelas para
cima. Seus olhos me comem viva.
Em resposta à minha preocupação, ele me puxa para cima e
me joga de volta na cama. Eu pulo um pouco. Seus olhos
castanhos estão selvagens. Eu me afasto dele, de brincadeira.
Ele agarra meus tornozelos e me puxa de volta para a beira do
colchão. Seu peso me cobre e suas mãos estão nos meus
cabelos, segurando meu rosto inclinado para ele, então quando
ele me beija, é uma magia desimpedida.
Seus gemidos combinam com os meus e seus lábios vão da
minha boca ao meu queixo, até a pele sensível logo abaixo.
Ele me beija mais baixo, espalhando calor. Eu me contorço e
arqueio com cada novo território que ele conquista. Suas mãos
estão puxando meu vestido para baixo. Minha calcinha é
macia e sedosa contra a calça dele, mas isso não é justo. Quero
acesso. Exijo acesso. Infelizmente, Derek não concorda.
— Você é minha — ele sussurra contra o meu ouvido
enquanto sua mão desliza dentro da minha calcinha. Mais
baixo. Me abrindo.
Minha cabeça se inclina para trás e minha boca se fecha. Eu
não acho que a família boa e imaginária que está no quarto ao
lado precise ouvir os pensamentos sujos correndo pelo meu
cérebro agora. Derek sabe que estou tendo dificuldades para
me conter, no entanto. Seu sorriso malicioso me diz isso antes
de ele deslizar um dedo dentro de mim. Bombeando
lentamente. Ele adiciona outro. Sua boca encontra meu peito
novamente e eu gemo seu nome, passando minhas unhas pelas
suas costas enquanto ele me aproxima de um orgasmo antes de
se afastar.
Ele não se intimida com a minha angústia. Ele se levanta e
dá dois passos para longe da cama. Elevando-se sobre mim
enquanto eu deito nos lençóis, perfeitamente exposta. Minha
pele está pegando fogo por suas carícias encharcadas de
querosene. Ele me olha fixamente, como sempre, enquanto tira
o cinto e desabotoa as calças. A cueca boxer escura é puxada
para baixo e meus lábios se separam antes de eu molhar meus
lábios.
— Você tem camisinha? — Pergunto, minha voz cheia de
necessidade. — Se não, vou ligar para o concierge e exigir
uma. Eles têm esse tipo de coisa na gaveta?
Já estou pegando o telefone quando ele me diz que tem um
na mala. Eu me viro, olhando por cima do ombro enquanto ele
a pega e rasga com facilidade, desenrolando enquanto eu a
encaro. Acho que meu papel nessa cena deveria ser uma garota
esperando pacientemente na cama, mas não consigo esperar.
Me levanto e caminho em direção a ele, empurrando-o
suavemente de volta em direção à parede. Ele sorri e aceita
meu beijo ansioso antes de nos girar, me enjaulando. O papel
de parede é suave quando ele me ergue, guiando minhas
pernas em volta de sua cintura.
— Aqui? — Ele pergunta, passando a mão entre as minhas
pernas para que ele possa me provocar com círculos suaves.
— Em qualquer lugar — digo a ele, parecendo frenética. —
Aqui. No chão. Na cama. Só… — a frase é cortada
bruscamente quando ele se inclina entre nós e empurra dentro
de mim em um impulso forte. — Grande — é a palavra que
escolho dizer. Ela cai entre nós e ele realmente ri. RI.
Então ele sai lentamente de mim e empurra de volta
novamente com a mesma força. De novo. Nossos quadris se
encontram e eu emito o grito mais lamentável de “estou
morrendo”. Ele me cobre de beijos, encontra minha boca e nos
mantém juntos enquanto ele se move dentro de mim, fazendo
o trabalho. Cada impulso me mantém presa contra a parede.
Cada pequeno roçar de seu polegar me envia força total para a
borda da existência.
Ele sabe disso. Ele sabe como roçar contra mim
repetidamente, mais e mais e estou dizendo a ele que o amo.
Não sei quando comecei. Pode ter sido só na minha cabeça no
começo, mas é repetido várias vezes até ganhar vida entre nós,
as palavras nos selando.
— Eu te amo — eu digo novamente, logo antes dos meus
olhos se fecharem e meus dedos do pé se enrolarem. Minhas
coxas seguram as dele e meus calcanhares cavam nas suas
costas e estou perdida pelas ondas que atravessam através de
mim.
— Whitney — ele geme, soando como se estivesse com
dor.
Eu estou matando ele. Eu estou. Ele está bombeando com
tanta força e seu rosto está enterrado profundamente no meu
pescoço. Seu suor se apega a mim e então eu o sinto gozar
também. É tão consumidor que eu temo nos perdermos nisso.
Nós não existimos mais. Pelo menos não da maneira que
existíamos antes dessa noite. Eu beijo sua bochecha enquanto
ele recupera o fôlego.
Eu o conforto como ele tem me confortado tanto esta noite.
Meus braços se enrolam ao seu pescoço, e sem uma palavra,
ele nos carrega para o banheiro e liga o chuveiro. Sou
colocada no banco e ele se inclina sobre mim, as mãos
descansando em ambos os lados dos meus quadris. Nossos
olhos estão no mesmo nível quando ele pisca aqueles olhos
castanhos e me diz simplesmente: — Eu também te amo.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

DEREK

u considerei pedir a Whitney que se casasse comigo

E enquanto dividíamos o milk-shake de chocolate entregue


pelo serviço de quarto após o banho. Fico tentado a
deixar escapar sem preâmbulos. Sem anel. Uma pergunta
casual sobre se ela gostaria ou não de passar o resto da
vida dela como minha esposa. Até que a morte nos separe. O
desejo se intensifica quando ela se inclina e rouba uma
mordida do hambúrguer que eu coloquei na frente da minha
boca. Ela é gananciosa, pega demais e sorri maliciosamente
enquanto limpa o ketchup dos lábios.
Case comigo, sim?
Eu quase faço a pergunta novamente mais tarde, no meio da
noite, quando acordo e escorrego mais para baixo na cama,
puxando a camiseta dela para cima e sobre o estômago para
poder pressionar beijos nas coxas pouco visíveis no escuro. Eu
as abri e ela riu e disse Que bela maneira de acordar!
enquanto minha cabeça mergulhava entre suas pernas.
Seguro a mão de Whitney na minha a caminho do
apartamento dos pais dela de manhã. Olho para o dedo anelar
e tento imaginar qual o tamanho que ela usa. 12? 24? Eu não
faço ideia. Eu nunca dei um anel para uma parceira. Faço uma
anotação mental para perguntar a Carrie.
— Você poderia encostar aqui? — Whitney pergunta de
repente.
Ela tem o tom e a aparência em pânico de alguém que está
prestes a ficar doente. Uma vez que o carro desvia para o
meio-fio, ela pula para fora, diz ao motorista contratado para
lhe dar “dez segundos” e desaparece em uma loja de donuts.
Eu sei que ela está nervosa em confrontar seus pais, e eu
não acharia estranho se ela saísse correndo como fez ontem à
noite. Quando seus dez segundos se passaram e mais alguns, o
motorista olha para mim como se eu tivesse respostas para
ele. Ela também é um mistério para mim, cara. Desculpe.
Foi quando Whitney finalmente emergiu novamente,
carregando uma caixa branca não marcada. Presumi que ela
estivesse correndo ao banheiro da padaria, mas parece que ela
estava comprando uma oferta de paz em forma de massa frita.
Ela desliza de volta para o carro e todos inalamos
profundamente. Esse cheiro deveria ser engarrafado e vendido.
— Obrigada por me esperar — diz ela ao motorista. —
Quer um?
Poucos minutos depois, paramos do lado de fora do prédio
dos pais dela e o motorista nos acena com sua bear claw meio
comida, garantindo que irá esperar aqui até voltarmos.
Subimos as escadas devagar. Ela para várias vezes, se vira, dá
meia volta, murmura para si mesma que essa é uma idéia
estúpida, sugere que deixemos os donuts em frente a porta de
um apartamento aleatório e saímos.
— Como dessa senhora simpática. Olha, ela mantém um
vaso de flores na porta. Aposto que ela gosta de rosquinhas.
Eu a seguro, giro na direção certa e a empurro para frente.
— No mínimo, você precisa pegar suas coisas — eu indico.
— Eu preciso? Porque você disse que estamos voando de
primeira classe para casa e tenho certeza de que eles lhe dão
aqueles chinelos e um roupão.
— Somente para voos internacionais.
— Porcaria. Sem chinelos?
Ela parece realmente chateada com isso.
— Mas nós vamos conseguir outras coisas de cortesia,
certo? — Ela insiste quando eu meio que a empurro, meio que
a carrego pelas escadas. — Uma toalha de mão quente?
— Talvez.
— Lanches de verdade? Não apenas amendoins?
— Geralmente é um passo acima de amendoim.
— Então… Nozes? — Seus olhos brilham com a idéia. —
Espera. Vamos dizer às comissárias de bordo que é nossa lua
de mel! Somos recém-casados! É quando você recebe as
coisas realmente boas.
Eu quase engasgo, me perguntando se de alguma forma eu
transmiti o que estava em minha mente a noite toda e a manhã
toda. Eu acidentalmente murmurei um pedido de casamento
quando estava no táxi?
— O que você quiser — eu digo, apaziguando-a quando
chegamos à porta dos pais dela. — Mas você precisa fazer isso
primeiro.
É importante que estejamos aqui. Na noite passada,
Whitney jogou duas décadas de bagagem em seus pais, e eles
yj g g g p ,
merecem ter a chance de falar e fazerem as pazes. Se não é
isso que eles pretendem fazer, eu vou assegurar que tudo ficará
bem.
Eu sou a família dela agora.
CAPÍTULO VINTE E CINCO
WHITNEY

erek bate com o punho pesado antes que eu possa sair

D
correndo.
Ouço barulhos de pratos batendo na cozinha e, em
seguida, a voz da minha mãe chama do outro lado da
porta.
— Só um minuto — ela diz rapidamente, a fechadura sendo
mexida.
Meu coração está prestes a explodir. Estou suando, embora
talvez isso seja apenas da caixa de rosquinhas quentes que
estou segurando contra o meu peito.
A porta se abre e prendo a respiração, sabendo que este é o
momento que importa. Meus pais ou ouviram e levaram a
sério o que eu disse ontem à noite ou não. Ou eles estão
dispostos a fazer uma alteração ou essa conversa está morta
antes mesmo de começar.
Minha mãe vê Derek primeiro e suas sobrancelhas se
erguem de surpresa. Ela oferece um breve sorriso antes de se
virar para me olhar ali ao lado dele. Por dois segundos,
nenhuma de nós se move. Então seu olhar voa para o meu
peito e ela se move, ajustando o aperto na porta.
— Estou aqui para pegar minhas coisas — digo
rapidamente, me protegendo contra o pior cenário possível. —
E para deixar isso.
Eu estico as mãos com os donuts e sua testa enruga em
angústia.
— Você entrará por um segundo, não é? Ou você precisa
chegar ao aeroporto imediatamente?
Eu digo a ela que posso ficar um pouco.
— Que bom. Entre. Entre e podemos conversar por um
segundo. Eu acho que há algumas coisas que precisam ser
ditas.
Derek diz que vai me esperar na rua e diz à minha mãe que
foi bom vê-la novamente. Fico feliz que ele não entre. Os
próximos minutos serão difíceis o suficiente sem uma
audiência.
Papai está sentado no sofá com seu café e, embora já tenha
tomado banho e se vestido para o dia, ele parece um inferno.
Olheiras estão sob seus olhos e quando ele me vê, ele apenas
oferece um pequeno sorriso suplicante, como se não tivesse
muita certeza de como vou reagir a ele.
Eu quero ir direto para ele e dar-lhe um abraço, mas fico
perto da porta, esperando. Minha mãe não tem certeza do que
fazer com os donuts. Ela segura a caixa nas mãos. Meu pai
limpa a garganta, olha para o café em busca de conselhos e
então arrisca um rápido olhar para mim. Quebra meu coração
vê-los assim.
Eu nunca quis machucá-los, e acho que foi por isso que
demorei tanto para reunir coragem para falar e pedir o que eu
precisava. Minha mãe finalmente coloca os donuts no balcão e
depois entra na sala, passando uma mão sobre os cabelos e
depois no vestido. Ela se vira para mim e fala de repente.
— Eu realmente não sei como começar — diz ela,
franzindo a testa para o chão na frente dos meus pés. — Eu sei
que você não tem muito tempo, então talvez devêssemos ir
direto ao ponto? Sim?
Ela olha para o meu pai em busca de apoio e ele assente.
— Whitney — ela continua com uma voz fraca. — Quero
que você saiba que eu e seu pai lamentamos como lidamos
com as coisas. Depois do que você disse ontem à noite… bem,
começamos a conversar e percebemos que erramos… — ela
desvia o olhar e respira fundo, tentando se equilibrar. Quando
ela se vira, há lágrimas nos olhos. — Seu pai e eu te amamos
muito, e fizemos um péssimo trabalho em demonstrar isso, às
vezes. Você sempre foi nossa filha fácil… boas notas, nunca se
meteu em problemas quando estava crescendo e acho que, de
certa forma, nós não consideramos muitas coisas.
Logo, não há um olho seco na sala.

Quinze minutos depois, quando volto para a calçada, com


lágrimas secando nas bochechas, sinto-me cem quilos mais
leve. Como se eu não fosse cuidadosa, eu poderia apenas
flutuar na brisa. Derek está encostado na parede de tijolos ao
lado da porta e, quando ele me vê, se endireita e coloca o
celular no bolso.
Sem uma palavra, ele caminha direto para mim, tira minha
bolsa da minha mão e me abraça. Seus abraços são a minha
coisa favorita sobre ele. Mais que seus beijos. Mais do que
qualquer coisa que fizemos naquele quarto de hotel ontem à
noite. Seu corpo me eclipsa e é como se eu tivesse acabado de
me esconder atrás de um escudo impenetrável. O mundo não
pode me machucar enquanto ele estiver lá.
— Tudo bem? — Ele pergunta, hesitante.
— Melhor que bem. Eles vão me visitar no próximo mês.
Apenas uma curta viagem de fim de semana, mas eles querem
ver o parque e conhecer você um pouco melhor também.
Ele assente e me leva em direção à rua, onde nosso
motorista ainda está esperando.

Em nosso terminal, enquanto esperamos o nosso voo, procuro


na seção de brinquedos de uma loja e encontro uma daquelas
máquinas que comem moedas e cospe lixo em troca -
tatuagens temporárias, kazoos de plástico, armadilhas de dedo
chinesas. Eu tenho que alimentá-lo com mais de oito dólares
antes de finalmente conseguir pegar dois anéis de plástico. Um
tem um grande diamante, o outro uma esmeralda com corte de
princesa.
Eu distribuo o excesso de bugigangas a duas crianças
empolgadas que estão perto de mim, cujos pais estão menos do
que emocionados com seu futuro cheio de kazoo. Mãe! Ouça!
Então, volto para onde Derek está sentado no portão com o
laptop no colo, trabalhando. Por um segundo, antes que ele me
veja, eu o admiro como se ele fosse um estranho. Eu não sou a
única. Passo por duas mulheres de cabelos cacheados, com
mais de 80 anos, que estão falando sobre ele em quase gritos.
— Sheryl, você não estava brincando. Ele é um muito
parecido com aquele ator que costumávamos amar. Qual o
nome dele?
— Ah, quem se importa. Apenas me deixe admirá-lo
enquanto posso. E baixe seu aparelho auditivo, ele aumentou
novamente.
Derek olha para cima e me vê, soltando um sorriso que
devasta todo o mundo.
— Oh, ela deve ser a namorada — diz uma delas.
— Ela tem sorte — a outra concorda. — Senhor, se eu
fosse quarenta anos mais nova…
Ainda estou sorrindo com a conversa quando chego a
Derek. Ele pergunta por que eu estou tão feliz. Eu beijo sua
bochecha e, em seguida, aceno com a cabeça em direção às
duas mulheres.
— Elas estavam falando de você.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Acha que eu tenho uma chance? A da direita é fofa. Eu
gosto da blusa de gato dela.
— Devo me afastar?
Ele balança a cabeça como se estivesse saindo de um
estupor.
— Ah, você ainda está aqui?
— Sim, agora concentre-se, porque preciso te pedir em
casamento para que eu possa conseguir coisas grátis neste voo.
Ele olha para o céu.
— É como se você nunca tivesse saído de casa antes.
— O quê? É da primeira classe que estamos falando. Com
licença, mas eu cresci pobre, então deixe-me ter isso.
Pego os anéis do bolso da calça jeans e seguro para ele.
Ele olha para eles quase como se fossem reais. De fato, ele
olha tanto, sem hesitar, que me sinto compelida a dizer que
foram vinte e cinco centavos cada e para não ficar excitado.
Eventualmente, ele pega o com a esmeralda.
— Acha que vai caber em mim?
Ele tenta com o dedo anelar, mas não ultrapassa os nós dos
dedos. Ele tenta o mindinho em seguida e até isso é exagerado.
Ele deixa e depois acena para eu colocar o meu. Está um
pouco apertado, mas eu o empurro no meu dedo anelar.
Derek está visivelmente impressionado.
— Não são para crianças? Como isso cabe em você?
Eu dou de ombros.
— Eu tenho mãos pequenas.
— Qual o seu tamanho de anel?
— Não tenho certeza. Agora ouça, quando eles nos
perguntarem sobre o nosso casamento, você precisa agir com
muito entusiasmo.
Spoiler: ele não faz isso.
Mais tarde, depois de falar com a comissária de bordo sobre
nossas recentes núpcias e lua de mel na Grande Maçã, Derek
olha por cima de seu laptop e diz, inexpressivo:
— Eu nem conheço essa mulher.
Quando a comissária se afasta, dou um tapa nele com o
guia de segurança que puxo do bolso do banco.
— Você está falando sério? Poderíamos ter conseguido
lanches grátis!
Ele está sorrindo. Claramente, ele pensa que é engraçado.
Eu o ignoro, ajoelho e examino o corredor atrás da comissária
de bordo.
— Tudo bem agora, quando ela voltar, preciso que você
finja amnésia. Diga a ela que você se lembra de mim agora
e…
Minha frase é interrompida quando Derek suspira e levanta
a mão. Uma nova comissária de bordo se aproxima de nós em
segundos. Eu quase grito. Um segundo, o corredor está vazio.
No próximo, ela está lá como um falcão.
— Sim, senhor? Como posso ajudá-lo?
Ela é toda sorrisos e eu penso: Uau. Chega de classe
econômica para mim. Somente o luxo de primeira classe daqui
em diante.
— Acho que minha esposa gostaria de pedir algo.
Ele está brincando e, no entanto, meu corpo vibra com
energia ouvindo-o se referir a mim dessa maneira.
— Posso perguntar, qual é a coisa mais extravagante que
você tem para comer neste voo? — Eu me inclino, cobrindo a
metade do colo de Derek. — Tipo, se Bill Gates estivesse aqui,
o que ele comeria?
As sobrancelhas dela se franzem.
— Ah, hum… servimos caviar Beluga…
Faço um péssimo trabalho reprimindo uma careta. Então eu
aponto um sorriso cuidadoso para ela.
— Que tal bolo? — Sugiro.
— Bolo? — Ela está confusa. — Temos um torte sem
farinha com uma camada de mousse de chocolate e chantilly.
— Sim — estalo meus dedos. Torte é apenas um bolo
chique. — Isso. Eu quero isso. Por favor.
São 9h45, veja bem. Quando Derek aponta isso para mim,
eu o ignoro.
— Além disso, parabéns pelo seu primeiro voo conosco,
Srta. Atwood — diz a comissária com um sorriso largo. — O
bolo é um presente de todos nós aqui na primeira classe.
Derek nem olha na minha direção enquanto ela se afasta.
Ele não precisa. Meu sorriso tem um raio de quinze metros. Eu
tenho uma aura exuberante que permeia o ar entre nós.
Enquanto espero que minha iguaria seja servida em uma
bandeja dourada, abro meu guia. Ele digita em seu laptop.
Quando eles chegam com o bolo, ele não tem escolha a não ser
ajudar a entregá-lo para mim. Quando nossos olhos se
encontram, posso dizer que ele está lutando contra a diversão.
Com cada pedaço daquela torte de chocolate ensopada com
mousse e pingando chantilly, ele tenta se concentrar em seu
trabalho.
Eu só deixei ele dar duas mordidas.
O resto é meu. Eu mereci.
Quando pousamos, Derek me diz que Cal quer que o
encontremos para um almoço tardio.
— Você quer ir ou quer que eu te deixe em casa? — Ele
pergunta.
— Não, vamos lá.
Eu tenho coisas para discutir com os dois. Eu fui produtiva
no voo para casa. Depois que terminei meu bolo, usei um
guardanapo de cocktail levemente manchado com chantilly
para mapear meu plano de cinco anos. Aquele que Derek está
esperando.
É o seguinte:

Ter um trabalho fodão


Estar casada??
Começar uma família?!
Economizar muito $$$ para a aposentadoria (ok…
pelo menos um $) Nessa nota… Aprender a
1 2
diferença entre 401k e SEP-IRA . Mesma coisa??

— Não, eles não são — disse Derek casualmente durante o


voo.
— O quê? Para! Isso é particular — viro o ombro para
impedi-lo de ler o resto da lista.

Usar fio dental regularmente!


Construir um relacionamento melhor com meus
pais
Aprender a trocar um pneu

No almoço, decido que é melhor não mostrar a Derek e Cal


a lista real, mas Derek insiste em vê-la.
— Entregue.
Eu a seguro fora de seu alcance.
— Não. De verdade, é…
Ele puxa da minha mão.
Meu rosto se enche de cor quando ele o examina.
— Você riscou ‘estar casada’ e ‘começar uma família’.
Você mudou de idéia sobre essas coisas? Nesse caso, é melhor
você tirar esse anel.
Eu aperto meu diamante de mentira no meu peito.
— Não. Só não queria que você surtasse.
Cal senta-se quieto na cabeceira da mesa, sorrindo um
pouco enquanto nos observa.
— Estou mais preocupado com o fato de você não saber
trocar um pneu — diz Derek. Típico.
Pego o guardanapo de volta da mão dele.
— Certo, bem, eu nem tenho carro, então isso realmente
não importa. De qualquer forma, vamos continuar no assunto
em questão.
Ava distribui um almoço com sanduíches de salada de
frango e frutas e depois pede licença, embora todos insistamos
que ela fique. Eu queria usá-la como um amortecedor entre
mim e esses dois homens Knightley, interessados em me
manter na minha promessa de mudança radical.
— Contei a Whitney sobre a promoção de Thomas a chefe
de entretenimento — diz Cal. — Eu acho que ela deveria
substituí-lo.
Os dois olham para mim. Balanço a cabeça.
— Pensei bem e sou grata pela oportunidade, mas acho que
não quero o emprego dele. Eu quero…
— Há uma posição de gerente associado aberta em
Alimentos e Bebidas — diz Derek, me cortando.
— Ou algo em Figurino? — Cal entra em cena, e eles
jogam opções de um lado para o outro como se eu não
estivesse mais na mesa. Como meu sanduíche de salada de
frango, mastigando preguiçosamente.
— Relações com clientes — sugere Cal.
— Escalação de elenco.
— Treinamento. Precisamos revisar esse sistema de
qualquer maneira. Whitney poderia ajudar com isso.
— HUMHUM — eu limpo minha garganta.
Eu não sou ouvida. Eles continuam listando departamentos
e posições abertas.
— Poderíamos transferir pessoal da Floresta Encantada. A
equipe de lá poderia usar alguma organização…
Me levanto, me inclinando sobre a mesa e acenando com as
mãos como um árbitro chamando uma falta.
— Desculpa! Oi! Sou eu, Whitney, a pessoa sobre quem
vocês dois estão discutindo. Eu apenas pensei que vocês dois
gostariam de saber que eu já sei onde gostaria de trabalhar.
— Bem, então fale — Cal insiste.
Amasso meu guardanapo com planos de cinco anos e jogo
nele.
CAPÍTULO VINTE E SEIS
WHITNEY

UM MÊS DEPOIS

o meu novo emprego, não uso mais um enorme vestido

N
de baile. Em vez disso, acordo e visto o tipo de roupa
que você encontraria em uma empresa startup de
tecnologia: jeans e suéteres casuais da J. Crew, ou um
blazer, quando estou me sentindo chique. Não me leva
mais uma hora para fazer o cabelo e maquiagem de
manhã. Meus deveres não incluem mais posar ao lado de
crianças pequenas e recusar educadamente os avanços de tios
estranhos.
Sou a Diretora Associada de Mentoria do Programa de
Faculdade Knightley. Ajudo a facilitar e a promover
relacionamentos de mentores com calouros, que é uma
maneira despretensiosa de dizer que intimido meus amigos até
que eles concordem em ser mentores e depois os associo a
calouros que têm interesses semelhantes.
Eu gosto do meu trabalho. Eu sou boa nisso. Eu tenho meu
próprio escritório no segundo andar de uma padaria em Castle
Drive. Há uma placa do lado de fora da minha porta com o
meu nome. E nem precisei pendurá-la lá eu mesma. Minha
mesa é feita de algum tipo de madeira grossa e pude pegar
minha cadeira de um catálogo. Eu sou uma adulta agora.
Pensei que sentiria falta de trabalhar como Princesa Elena
mais do que eu sinto. Às vezes, passo pelo castelo de Elena,
espio e vejo Ryan parado ao lado da nova princesa. Eu ajudei a
treiná-la e ela foi natural. Na minha cabeça, ninguém nunca
iria me substituir nesse papel. Na realidade, isso foi feito
rapidamente.
A melhor vantagem absoluta sobre minha nova posição é o
salto no salário. Como Personagem, os funcionários ganham
pouca coisa, alguns dólares acima do salário mínimo, o que foi
parte do motivo pelo qual eu assumi o cargo de gerente da
residência.
Hoje é o último dia de minhas tarefas no dormitório. Estive
limpando meu quarto a semana toda depois do trabalho,
guardando anos da minha vida. Eu finalmente terminei. As
meninas estão me esperando na porta, bloqueando minha
saída.
— Você não pode nos deixar!
— Você é uma de nós!
— Estamos apenas na quarta temporada de Friends!
Estou preocupada que elas se agarrarem às minhas pernas e
se segurem como se a vida delas dependesse disso. Vou
aparecer no apartamento de Derek com elas a reboque.
Por favor, podemos ficar com elas?!
Tudo bem, mas elas são de sua responsabilidade.
— Eu ainda vou ver vocês por aí — eu prometo.
É verdade. Elas estão todas no programa de orientação.
Assim, elas já vêm ao meu escritório uma vez por dia para
roubar os doces que coloco na minha mesa e espionar os
visitantes dentro do parque pelas minhas janelas do segundo
andar. É a maneira mais fácil de me encontrar, considerando
que não tenho estado no dormitório ultimamente. Algo em
Derek e seu corpo musculoso tornou impossível me arrastar de
volta para cá à noite. No último mês, desde que voltamos de
Nova York, moramos quase juntos. Hoje, ele e eu estamos
oficializando.
— Mas você não gosta de morar aqui? — Uma das
meninas pergunta.
— Sim, vocês são maravilhosas, mas estou pronta para
tomar banho em um banheiro não comunitário.
— E ela está apaixonaaaada — acrescenta outra
Todos elas se juntam à provocação e eu rio como se
dissesse Ha ha ha, você realmente me pegou.
Eu estou, no entanto. Apaixonada, é isso. Assim como
Savage Garden disse, verdadeiramente loucamente
profundamente.
— Vocês terminaram de tirar sarro de mim? Essa caixa está
ficando pesada.
Elas se dispersam com promessas de vir me ver no meu
escritório pela manhã. Então me viro para examinar o
dormitório vazio atrás de mim, parando um momento para
absorvê-lo mais uma vez. Eu xinguei essa caixa de sapatos
mais do que apreciei. Eu odiava a falta de espaço para
armazenamento e as paredes de blocos de concreto. Eu odiava
meu colchão duro e o fato de minha janela não abrir. Mas não
posso negar o quanto cresci neste espaço. Foi aqui que conheci
Carrie e me apaixonei por Derek. Naquela cama era onde eu
deitava, lendo os livros que ele me emprestou e sonhando
acordada com a possibilidade de um futuro real com ele.
Acontece que eu não era tão delirante.
Apago a luz e fecho a porta atrás de mim.

A caminhada até o apartamento de Derek é boa. O inverno na


Geórgia significa que está nas casas dos quinze graus,
ensolarado, mesmo que esteja perto da hora do jantar. Eu
tenho um balançar no meu passo. Borboletas se reúnem ao
meu redor. Coelhos pulam aos meus pés - ou assim eu
presumo. Estou muito ocupada indo para o meu futuro para me
incomodar em olhar para baixo.
A recepcionista no saguão dos apartamentos executivos
sorri para mim quando passo. Ela me conhece agora. Eu
pertenço aqui. Pego o elevador até o último andar e o cheiro de
alho e ervas assados me atinge antes de abrir a porta e
encontrar Derek na cozinha, fazendo o jantar. Ele está vestindo
calças e uma camisa social, formal e adequada, exceto pelo
fato de que ele empurrou as mangas até os cotovelos e há
algum tipo de respingo na frente da camisa.
Ele está inclinado, estudando um iPad. Olhos estreitos.
Mandíbula travada.
— Querido! Estou em casa! — Grito com um toque
exagerado dos anos 50. Sou a primeira pessoa na história do
mundo a fazer essa piada ao chegar em casa com um outro
significativo. Mesmo assim, Derek olha para cima e sorri,
caminhando para pegar a caixa de mim.
Inclino minha cabeça e ele responde com um beijo.
— Cheira muito bem aqui.
— Ava me enviou essa receita — diz ele, voltando para a
cozinha comigo logo atrás. — Ela disse que seria fácil.
— Deixa eu adivinhar… é difícil?
Ele me lança um olhar por cima do ombro.
— Acho que ela me sabotou de propósito. Há algo como
cinquenta passos aqui. Eu já queimei o molho.
— Bom, ainda cheira bem.

É
— É o frango no forno. O molho estava fazendo a cozinha
feder, então joguei fora e coloquei na caçamba de lixo. Agora
vamos comer nosso frango com um pequeno ingrediente
secreto que eu gosto de chamar de ketchup.
Eu dou risada
Molho queimado à parte, ele se esforçou para me receber
calorosamente. Há queijo e bolachas no balcão. Além disso,
duas taças de champanhe estão lá, esperando para serem
preenchidas.
— Então posso esperar chegar em casa para isso todos os
dias? — Pergunto enquanto ele coloca minha caixa no balcão e
se vira para verificar alguns legumes salteados.
— Comida quase comestível? — Ele brinca.
Eu sorrio antes de me virar para a geladeira. Lá dentro,
encontro as coisas que compramos no fim de semana e sorrio
com a lembrança. Uma rotina que fiz uma vez por semana nas
últimas mil semanas se transformou em algo novo e
emocionante com Derek ao meu lado. Passeando pelos
corredores, descobri que cada uma de suas seleções era como
uma pequena janela em sua alma.
Salsão? Hum… um alimento com calorias negativas. Deve
ser como ele mantém esses abdomens.
Queijo cheddar forte? Escolha interessante. Eu sempre fui
mais uma garota de leve.
Sorvete de chocolate duplo com chips? Seu cachorro.
Brigamos de brincadeira sobre as opções de manteiga de
amendoim. Ele queria crocante. Exigi suave, colocando dois
frascos no carrinho e me movendo antes que ele pudesse
protestar. No corredor de laticínios, ele apontou para o leite
integral. Eu cutuquei minha cabeça em direção ao desnatado.
Nós nos comprometemos.
Agora, nossas compras estão organizadas em fileiras
perfeitas. Nossas tampas de iogurte se beijam, meu queijo
suave aninhado ao lado do dele. No meio de tudo isso, há uma
nova garrafa de Dom Pérignon. Não estava lá essa manhã.
Eu a seguro em uma pergunta silenciosa.
— Cal que deu.
Eu sorrio e começo a desembrulhar o plástico em torno da
rolha.
— Eu disse a ele na semana passada que estava indo morar
com você oficialmente.
É
— Eu sei. É tudo o que ouvi hoje. Ele acha que devemos
procurar um lugar maior, algo com mais espaço.
Meus olhos se arregalam.
— Mais espaço? Este apartamento é enorme. Tem quatro
quartos! — Viro minha mão pela cozinha, como se quisesse
provar melhor o que eu queria dizer.
— Ele acha que precisamos de uma casa grande. Ele disse
algo como ‘Minha ninhada de netos merecem ter um quintal
onde possam correr e se sujar’.
— Uau. Ninhada. Parece muito — eu rio e me viro para
colocar a garrafa de champanhe no balcão. Minhas mãos
encontram seu caminho ao redor da cintura dele enquanto ele
mexe os legumes. Minha bochecha descansa contra suas costas
robustas. Sinto seus músculos ondularem enquanto ele se
move. Inspiro profundamente, sem acreditar na minha sorte.
— Quantos você acha que fazem parte de uma ‘ninhada’, a
grosso modo? — Ele pergunta. — Cinco?
— Parece correto.
— Acha que devemos começar a praticar agora?
— Definitivamente. Se estamos mirando em cinco,
realmente precisamos ter uma estratégia.
Com isso, ele desliga o gás no fogão e desliga o forno. Eu
assumi que estávamos apenas brincando. Aparentemente, não.
Derek gira, me pega para que meus pés saiam do chão e
começa a nos levar até o quarto. Ontem era o quarto dele.
Agora é o nosso. Meus sutiãs estão aparecendo da gaveta da
cômoda. Meu livro está na mesinha de cabeceira. Ele tropeça
em alguns sapatos que eu deixei de fora ontem e estamos indo
para uma visita embaraçosa à sala de emergência antes de
aterrissarmos na cama.
— Derek! Agora? E o seu frango?
— Ele ia ficar péssimo de qualquer maneira. Eu não sou um
bom cozinheiro.
Ele estende a mão para a barra da minha camisa, passando-
a por cima da minha cabeça enquanto conversamos.
— Ah, inferno — eu soo perturbada. — Nem eu. Morei em
um dormitório sem cozinha nos últimos anos. Eu não tenho
prática. Estamos condenados!
— Não. Nós temos Ava. Vamos comer no Cal ou pedir
comida.
Suas mãos estão começando a trabalhar nas minhas calças.
Eu acho que se ele não estivesse preocupado em me machucar,
ele apenas as arrancaria. O zíper lhe dá um pequeno problema
e ele rosna.
— Pizza congelada também é boa — aponto, tentando fazer
parte do time. Vamos sobreviver de DiGiorno e Totino.
— Sim. Nós vamos sobreviver — ele diz, estendendo a
mão para trás do pescoço e puxando a camisa com um
movimento rápido. Por que isso é tão sexy? É o show de
habilidade? A dramática entrega parecida com truques de
mágica?
Ele cai sobre mim, me beijando enquanto continuamos
mapeando nosso futuro juntos.
— Espero que nossos filhos gostem de cereais.

De manhã, Derek acorda antes de mim.


— Quer vir para a academia comigo?
Eu dou um tapinha em sua bochecha como se ele fosse
adorável e volto a dormir imediatamente. Uma hora depois, ele
volta com uma fileira recém-formada de músculos abdominais
e me arrasta para fora da cama. Eu deixei porque sei que um
banho está no nosso futuro. Nós embaçamos o vidro do box
como se tentássemos competir em uma competição de sexo
atrevido pela manhã e depois nos lavamos como adultos
perfeitamente civilizados, com sorrisos particulares. Nas
nossas respectivas pias, escovamos os dentes. Eu passo trinta
segundos mais do que o habitual escovando, apenas para que
ele pense, uau, essa Whitney tem uma ótima higiene bucal.
No espelho, posso ver que meu peito ainda está vermelho
de seus lábios e mãos. A maldição da pele clara. Ele a vê e
sorri antes de se virar, soltar a toalha e entrar no closet para se
vestir. Meus olhos se arregalam antes de eu me recompor e
continuar com o meu dia. América corporativa aguarda!
Depois de colocar uma saia lápis azul-marinho e uma blusa
branca, vou para a cozinha e faço alguns ovos mexidos para
nós. Eles são colocados ao lado de fatias de melão e eu os
enfeitei com um raminho de algum tipo de tempero verde que
encontrei dentro de uma das gavetas da geladeira. Derek
levanta as sobrancelhas quando se junta a mim, impressionado
com minhas habilidades domésticas até ele dar a primeira
mordida.
— Isso é hortelã — diz ele, tirando um raminho meio
mastigado entre os dentes.
Ops.
— É assim que os ovos são servidos na França — asseguro
antes de empurrar maliciosamente toda a hortelã dos meus
ovos e para o lado do meu prato.
Depois de mais uma meia tentativa de comer o restante do
café da manhã, digo:
— Devemos simplesmente…
— Sim — diz ele, recuando a cadeira para que possamos
pegar nossas coisas e sair voando pela porta.
O novo escritório de Derek fica perto do meu - também no
segundo andar de Castle Drive - mas ele fica bem na esquina e
tem vistas amplas do parque. Na semana passada, eu estava na
janela da cobertura de Cal e liguei para ele.
— Você pode me ver acenando?
— Não.
Aceno com a mão em cima da cabeça, realmente colocando
energia nisso.
— E agora?
— Não.
Eu pulo para cima e para baixo.
— Agora?
Ele riu.
— Eu vi você na primeira vez.
Eu desliguei na cara dele.
— A que horas você acha que vai terminar hoje? —
Pergunto a ele enquanto caminhamos pelo parque, de mãos
dadas. O ar está fresco. Sua mão está quente em torno da
minha. Ainda falta uma hora para o Reino dos Contos de
Fadas abrir, e a Castle Drive está quase vazia, exceto por
alguns funcionários apressados. Eles inclinam a cabeça para
nós ou acenam quando passamos.
— Eu tenho uma reunião que pode demorar um pouco, mas
eu devo chegar em casa às sete. Não se esqueça de que temos
pôquer hoje à noite.
Como eu poderia esquecer?
Carrie e eu estamos nos preparando desde que Thomas e
Derek nos convidaram pela primeira vez. Durante toda a
semana, durante o almoço, participamos de jogos de pôquer
online, rindo de nossos nomes imaturos. Por incrível que
pareça, CaraSarado23 e 69Fazendo9 se misturam.
Perdemos a maior parte do tempo e, embora Carrie sugira
que desistíssemos e apenas nos ensinemos a trapacear - aqui,
tente enfiar esse ás no seu sutiã - sugiro que usemos os bons e
velhos métodos de distração. Eu já tenho o tom perfeito de
batom escolhido. Derek não saberá o que o atingiu.
Na porta da cafeteria, Derek me empurra para dentro para
que possamos tomar o café da manhã e, como sempre, meu
olhar se volta para a nossa velha mesa, a que Derek costumava
ocupar enquanto esperava que eu chegasse para nossas
reuniões de orientação. Eu quase posso vê-lo sentado lá agora,
de cabeça baixa, sobrancelhas franzidas em concentração,
atenção em seu caderno enquanto ele espera que eu chegue.
Meu coração recai sobre memórias antigas. Sinto uma
pontada uma saudade residual de torcer o estômago, como se
ainda estivesse de pé neste local, oito anos mais nova,
desesperada por aquela versão antiga de Derek olhar para cima
e me notar. Agora, ele aperta meu ombro, sem saber dos meus
pensamentos.
Levanto os olhos e ele sorri como se isso não fosse nada -
apenas mais um dia que estamos juntos - mas eu dou valor a
isso. Todos os segundos.
Derek me leva até o balcão para pedir, com a mão ainda no
meu ombro.
— O de sempre? — Pergunta o barista, já em movimento
para fazer nossas bebidas.
— O de sempre — dizemos em conjunto.
EPÍLOGO

WHITNEY

DEZ ANOS DEPOIS

ÃE. Katherine roubou meus Sugar Babies!


— Não, eu não roubei! Nós trocamos! —
—M Katherine protesta com convicção. — Eu dei a ela
Dots!
Estou inclinada a brigar com Katherine por esse
ato grosseiro de injustiça, já que Dots está no fundo do totem
de doces e todos sabemos disso. Em vez disso, levanto minhas
mãos como se esse problema estivesse fora da minha
jurisdição.
— Meninas, resolvam isso.
Mamãe está de folga. A noite de Halloween acabou
oficialmente. Acabamos de voltar de pedir doces dentro do
parque e o anual de despejar e escolher doces começou no
chão da sala de estar da cobertura. Se eu tentar deixar meu
posto perto da janela, há uma boa chance de pisar em algo
pegajoso e meio derretido, então fico parada.
Annie trava os olhos com a irmã, atirando nela a careta
mais brava que consegue, vestida como uma fada da floresta
rosa - uma réplica exata de seu personagem favorito da
Floresta Encantada. Sua tia Carrie fez o figurino para ela e ela
parece ridiculamente fofa, mas não acho que esse seja o efeito
que ela está tentando provocar no momento, enquanto ela e
sua irmã têm esse impasse muito sério de vida ou morte.
— Ok, tudo bem. Você pode ter esses Nerds também — diz
Katherine, sacudindo a minúscula caixa roxa como um
chocalho antes de jogá-la na pilha de doces de Annie. Annie
considera esta nova oferta de paz por um momento com os
olhos estreitos e depois assente uma vez, aceitando os termos.
Crise evitada. Tudo está bem.
Elas imediatamente mergulham de volta em sua
organização de doces. Com apenas um ano e meio de
diferença, as duas poderiam ser gêmeas, com cabelos ruivos
escuros e grandes olhos verdes. Só com base nas aparências, é
como se Derek não tivesse mão na criação delas, mas elas têm
tanto dele sob a superfície, que chega a ser assustador. Na
maioria dos dias, parece que estou lidando com duas mini-
Dereks.
Três, se você contar com Charlie.
— E lembre-se — diz Derek, entrando na sala de estar —,
vocês não podem esquecer de pagar seu imposto anual do
Halloween.
Katherine e Annie reviram os olhos como se o pai não
pudesse ser mais ridículo nem se ele tentasse.
— Eu recebo dois Reese de cada uma de vocês — diz ele,
os dedos apontados ameaçadoramente para uma filha e depois
para a outra como se dissesse que nenhuma delas está isenta
das exigências dele.
— Uhum, tá! — Katherine protesta.
Ela e Annie começam a empurrar seus doces de volta para
os baldes de Halloween, preocupadas que o pai roube todas as
coisas boas antes que terminem.
Charlie, o doce e quieto Charlie, senta-se entre elas com seu
cabelo castanho escuro, fingindo separar seus doces como suas
irmãs mais velhas. Com três anos, ele está feliz só por estar
junto para o passeio. Quando ele vê as meninas pegando seus
doces, ele imediatamente se apressa a participar. Doces
perdidos voam pela sala. Derek se abaixa e pega dois Snickers,
segurando um para mim quando ele se senta no banco da
janela ao meu lado.
Ficamos sentados por um momento, assistindo nossos
filhos.
Katherine estende a mão para consertar sua tiara de
esmeralda, garantindo que ela esteja perfeitamente no lugar, e
Derek ri. Ela está usando uma versão em miniatura do meu
traje antigo, um vestido verde pálido com uma saia tão grande
que ela está tendo problemas para andar a noite toda.
— Você se parece muito com sua mãe nessa fantasia, Kat
— diz Derek. — Vocês sabiam que sua mãe costumava
trabalhar de Princesa Elena no parque?
Nós explicamos a eles que antes costumávamos trabalhar
em personagem, mas nenhuma delas acreditam nisso. Annie e
Katherine conhecem a atual princesa Elena. Ela tem dezoito
anos, é doce e muito mais legal do que nós, segundo
Katherine.
Nas poucas vezes em que ela veio para tomar conta das
meninas, elas falaram sobre isso por meses depois. MÃE,
PRINCESA ELENA LEU UMA HISTÓRIA DE NINAR PARA
MIM! ELA TRANÇOU MEU CABELO! ELA TEM UM BLOG!
EU QUERO UM BLOG!
— Mamãe não era a Princesa Elena! Ela ajuda a
administrar o parque com você, papai — Annie corrige Derek,
balançando a cabeça como se estivesse dizendo: Nossa, meus
pais são tão burros.
Elas sabem que, para o trabalho, Derek faz algo importante.
Ele é o presidente ou algo assim, e Mamãe é sua fiel parceira.
No entanto, para eles, tia Carrie tem o melhor trabalho porque
“veste todas as princesas”.
— Eu tenho uma foto em algum lugar para provar — diz
Cal de seu lugar no sofá.
Ele se levanta lentamente, usando sua bengala como apoio.
Ele tem o cuidado de passar ao redor do Charlie, que agora
está correndo a toda velocidade para fora da sala com doces
agarrados ao peito. Pedaços perdidos escorregam de suas mãos
e chovem pelo chão. Ava vai atrás dele e eu digo:
— Obrigada — antes de virar para ver o álbum de fotos que
Cal recupera do armário atrás do sofá.
— Está aqui em algum lugar — ele murmura. — Eu acho.
Eu nunca vi o álbum. Eu não sabia que Cal era um grande
fã de álbuns de fotos. Após uma inspeção mais detalhada, fica
claro que ele não é. As fotos estão agrupadas em uma pilha
atrás da capa, ainda não protegidas atrás da fina película
plástica. Mas vou dar crédito a ele - ele comprou o álbum e
imprimiu as fotos. É mais do que eu fiz pelo pobre Charlie.
Ele é o terceiro filho, o que posso dizer?
Cal folheia as fotos com cuidado e eu espio por cima do
ombro, percebendo que não há uma ordem real para elas. Em
uma foto, vejo um jovem Derek com um capacete de
segurança, abrindo caminho no parque temático de Londres.
Outra foto é de nós dois no dia do nosso casamento,
esmagando o bolo na cara um do outro. Nós realmente fizemos
isso. Derek ainda estava com um pouco de chantilly na manhã
seguinte.
Cal continua passando por fotos e Annie exclama:
— Espera! Tio Thomas e tia Carrie!
É uma foto deles no hospital quando Logan nasceu. Carrie
parece exausta, mas feliz. Thomas parece aterrorizado, à beira
de um ataque de pânico. Vou ter que enviar a foto para eles
mais tarde para rir.
Outra foto é de Katherine quando criança, dando os
primeiros passos no Subsolo. Me lembro do momento como se
fosse ontem. Metade da nossa equipe estava lá, torcendo por
ela. Quando ela finalmente conseguiu dar três passos sem cair,
todos explodiram em um coro de aplausos, a assustando pra
caramba e causando um chororô nuclear. A foto foi tirada no
exato momento em que o choro começou.
Todos os nossos filhos cresceram no Reino dos Contos de
Fadas. Eles acham que é totalmente normal viver dentro de um
castelo de parque temático. Eles fazem a lição de casa no meu
escritório, em Castle Drive. Eles brincam de pega-pega na vila
de Elena. A primeira palavra de Annie foi “parque”,
pronunciada sem o r, como se ela fosse moradora de Long
Island. Levou uma eternidade para aprender a dizer da maneira
certa, e fiquei arrasada quando ela finalmente conseguiu.
Por que eles crescem tão rápido?
Depois de folhear mais algumas fotos, Cal finalmente
encontra a que está procurando. Ele a segura com a mão
trêmula e as meninas imediatamente a agarram.
Eu tento ver, mas elas pressionam suas cabecinhas juntas e
a escondem de vista. Demora alguns segundos para
entenderem o que exatamente estão olhando - sem dúvida, elas
estão confusas com essa forma antiga de fotografia não
digitalizada - mas então elas começam a rir.
— Essa é a mamãe! E… O papai! Veja! Ele está vestido
como Sua Alteza Real!
Elas se viram, olhando para Derek com novos olhos. Antes
deste momento, ele era apenas o papai, o cara com as piadas
terríveis. Agora, ele é um ex membro da realeza. Elas nunca
ficaram tão impressionadas. Os olhos delas se arregalam. Elas
continuam olhando para a foto e depois recuam, como se
tentassem identificar exatamente como mudamos.
Bem, você vê, quando você carrega três filhos…
Arranco a foto das mãos delas e olho para mim. Derek vem
para ficar ao meu lado e nós dois imediatamente rimos.
Lágrimas logo queimam as bordas dos meus olhos.
— Como? — Pergunto a Cal, completamente perplexa com
o fato de que ele tem evidências fotográficas desse momento
em sua posse e ele conseguiu manter isso em segredo até
agora.
Ele sorri e pisca antes de pedir às meninas que o ajudem a
se levantar. Elas fazem isso, porque depois da Princesa Elena,
Cal é a pessoa favorita delas.
— Vovô, podemos olhar para as outras fotos aqui? —
Katherine pergunta, pegando o álbum de fotos.
Ele assente, caminhando de volta para o sofá.
— Traga ele aqui. Nós podemos olhar juntos.
Derek se aproxima e envolve o braço em volta da minha
cintura.
— Você se lembra disso? — Ele pergunta, a voz baixa, para
que somente eu possa ouvir.
Como eu poderia esquecer?
Na foto, Derek e eu estamos vestidos para o nosso
casamento fictício como a Princesa Elena e Sua Alteza Real.
Estamos de pé no carro alegórico de fim de ano e, enquanto
ele está enfeitado com rosas e guirlanda - uma obra de arte que
alguém levou muito tempo para criar - Derek e eu não
podíamos nos importar menos. Estávamos em guerra.
Na frente de uma multidão fora de foco, estamos a
centímetros um do outro. Meu pescoço está esticado para que
eu possa ter uma visão clara de onde eu preciso cutucar, se eu
quiser cegá-lo permanentemente. Suas mãos estão fechadas ao
lado do corpo, como se tivesse que se conter para não me
empurrar do carro alegórico.
No fundo, um arco vermelho nebuloso aparece.
O arco.
O local exato em que Derek finalmente me beijou e todas
as minhas terminações nervosas jogaram confete.
FINALMENTE!
Eu sorrio.
Quero aumentar essa foto e enquadrá-la.
Quero enviá-lo ao Smithsonian e pedir para arquivá-lo.
É um tesouro nacional.
— Eu sabia que tinha você naquele dia — Derek se
vangloria silenciosamente. — Eu sabia que naquele momento
você estava apaixonada por mim.
Reviro os olhos enquanto entrego a fotografia a ele.
— Tão mimado. Sua Alteza Real sempre consegue o que
quer.
Ele pisca.
— Você está certa, e eu quero você — seu olhar cai para a
minha boca antes que ele me dê um rápido beijo casto. —
Sempre.
Notas
[←1]
É um tipo de plano de aposentadoria patrocinado pelo empregador, adotado nos
Estados Unidos e outros países, e que recebe este nome em razão da seção do Código
Fiscal Norte-Americano em que está previsto.
[←2]
São adotados pelos proprietários das empresas para fornecer benefícios de
aposentadoria para eles e seus funcionários.

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