Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DARK
Revenge
SÉRIE SUBMUNDO - BÔNUS
TWO
DIAS ATUAIS...
D O I S M I L E S E T E (2007)
A galeria está a todo vapor nessa semana. Eu estou tão animada, que
não consigo parar em um só lugar. Caminho até as escadas, indo ao andar de
baixo, quando vejo mais turistas entrarem, abro um sorriso largo e chego
perto da entrada. — Sejam bem-vindos a Gallery Kohulo! Chamo-me Olivia
Lester, como posso ajudá-los? — Pergunto, juntando minhas mãos.
Uma das três mulheres me olha, sorrindo e diz. — Oh! Estamos
procurando por Yulia Brodskaya? — Dou o meu melhor sorriso profissional,
e coloco minhas mãos atrás dos quadris. E as convido.
— Ela está no segundo andar, sigam-me, por favor.
Ando na frente delas e subimos as escadas transparentes até o local
desejado. Quando paro, ao lado das obras da artista, as mulheres começam a
bater fotos. — Como vocês podem ver, a artista Yulia Brodskaya é
especialista no assunto quilling, também conhecido como filigrana em papel,
é uma técnica que existe há séculos, onde um artista manipula tiras de papel
colorido, enrolando-as em formas decorativas. O papel é então colado,
juntando todas as peças de filigrana, criando uma obra de visual
impressionante. — Elas me olham animadas, então continuo, olhando para
uma das obras. — O material parece atuar sobre as percepções e ideias de
maneira singular, de modo que a observação se torna uma parte importante da
mensagem. Sendo um objeto tridimensional, a obra de Brodskaya oferece
múltiplas visões. Dependendo do ângulo de observação, da intensidade e da
direção da iluminação, a mensagem emocional emitida pela obra à
experiência visual do observador muda, significativamente. A artista cria,
também, desenhos em papel para clientes de todo o mundo. E clientes
famosos.
— Ela é magnífica! — Exclama a mulher mais baixa. — Srta. Lester,
sua galeria é a única que trouxe uma artista russa contemporânea aqui na
cidade, meus parabéns! Gostaríamos muito de ter uma das obras, qual
sugere? — Respiro fundo e olho para as quatro obras, a da mulher idosa
segurando o cachimbo, sempre foi a minha favorita, apesar de ter o valor
mais alto.
Aponto para o quadro e digo. — Essa obra é espetacular, a forma que
ela ilustrou o olhar da mulher, simplesmente admirável. Mas... — Eu não
poderia sair por baixo. Sou ótima em fazer os clientes saíram com suas mãos
ocupadas. As duas mãos e não uma. — Este aqui, ficaria um luxo na sua sala
de jantar. Irá trazer mais cor, e um toque especial de contemporâneo. Prometo
que não irá se arrepender. — Sorrio.
As duas mulheres olham para ela, com seus olhos brilhando. — Deus,
Marta! Ela tem razão, sua sala de jantar precisa de algo assim. Aquela mesa
combinaria perfeitamente com o quadro! — Elas falam, ao mesmo tempo,
juntas, rindo e olhando para as obras. Marta, como foi chamada, me encara
com um grande sorriso, dizendo.
— Onde eu pago pelos dois?
***
Abro a porta do meu apartamento e a fecho rapidamente, estou
esgotada pelo meu dia. Jogo minhas coisas em cima do sofá vermelho e
avisto Boyd, na sua mesa, com seu computador. Chego por trás dele e beijo
seu pescoço. — Você deveria se divorciar desse computador, há todos os
dias, uma mulher na sua cama. — Provoco. Boyd me olha com um sorriso
torto e me puxa, me sentando no seu colo.
— E você acha que eu não noto essa maravilhosa mulata, de olhos
verdes, na minha cama? — Pergunta, beijando meus lábios, me fazendo rir.
O que há para saber entre Boyd e eu, é que, sua família nunca aceitou o
nosso namoro de quatro anos, bem, digamos noivado, mas eu nunca disse a
palavra sim. Conhecemo-nos em um bar, Boyd, era amigo de um amigo, e eu,
amigo do amigo do amigo. Vai entender. Começamos a conversar, bebemos
algumas cervejas e depois disso, não nos separamos mais. Sua família? Oh,
sim. Eles nunca aceitaram nosso relacionamento, no início, eu achara que era
pelo fato de eu ser oito anos mais jovem que ele e por ser pobre. Mas depois
de um jantar catastrófico, na casa dos pais dele, descobri que era por eu ser...
como eles disseram mesmo... ah! Por eu ser uma moreninha das favelas de
Nova Orleans. Argh! Eu não me importo com isso, nunca me abalei com
comentários racistas, mas quando vi a mãe do meu namorado/noivo soletrar
cada palavra eu caí em prantos.
Boyd é o típico inglês de Londres. Cabelos louros, alto pra cacete e um
sotaque fofo. Ele, em todos esses anos, ficara contra sua família, dizendo que
nunca iria me deixar. Bem, eu me sinto mal por ser o pivô da separação dele
com seus pais e irmãos, mas depois de um bom tempo, eu não me importei
mais. Tudo isso, era pura bobagem. Mas Boyd é o que mais sofre nisso tudo e
eu odeio isso. Eu estou apaixonada desde então, sinto que ele será o pai dos
meus cinco filhos – eu jamais direi isso para ele – e que teremos uma longa e
maravilhosa vida na Flórida. Eu penso Flórida, ele pensa Londres.
Durante esses quatro anos, juntos, foram dias e meses de sacrifícios.
Mas, eu estou feliz. Ele me faz feliz. E nada mais importa. Acaricio os
cabelos macios de Boyd, olhando em seus olhos azuis. — Como está indo a
nova planta? — Pergunto. Ele olha para a tela do computador e depois
suspira.
— Um pouco embaraçoso, o cliente é muito exigente em mínimas
coisas. — Murmura, me encarando. — Mais quero que me fale de você.
Como foi hoje na galeria?
Reviro meus olhos, cansadamente, e me levanto do seu colo, ele dá um
tapa na minha bunda, enquanto tiro meus brincos.
— Cansativo, mas eu consegui vender oitos quadros. Bem, esse foi o
mínimo.
— Você é ótima nisso, meu amor. Fico feliz. — Boyd se levanta da
cadeira e me pega no colo, fazendo-me gritar e rir. Entrelaço minhas pernas
na sua cintura e mordo meu lábio inferior. — O que acha de um banho, bem
relaxante, do tipo gemidos e orgasmos? Depois, eu faço o jantar. —
Murmura. Beijo sua boca lentamente, fazendo Boyd, soltar um gemido.
Planto um selinho nos seus lábios e sorrio. — É uma ideia fantástica,
estou mesmo precisando de um banho com gemidos e orgasmos. — Ele solta
uma risada e vai me levando até o quarto. Beijando sedutoramente os meus
lábios.
— Hmmm... sua safadinha. — Solto outra risada, junto com ele e
desaparecemos dentro do banheiro do quarto.
***
— Mais rápido! — Peço ofegante. Boyd, segura minha cintura, me
levanta e desce freneticamente sobre o seu pau ereto. Seguro seu pescoço
com minhas mãos e gemo a cada estocada, fazendo a água da nossa banheira,
cair no chão do banheiro. Rebolo sobre o seu pau, repetidamente, e beijo sua
boca de uma forma faminta e selvagem.
Boyd solta um gemido e entra em mim, com mais rapidez. Deixando
minha boceta deliciosamente dolorida. Ele segura meu coque frouxo, na sua
mão direita, e com a outra, me empurra com força em seu pau. — Estou
chegando. — Diz em voz alta e ofegosa. Começo a cavalgar em cima dele,
estimulando meu orgasmo, para chegar junto com ele. Em alguns minutos,
jogo minha cabeça para trás e espremo meus seios no rosto de Boyd.
Soltamos um gemido embaraçado e nos libertamos do orgasmo, continuo me
balançando para cima e para baixo, até que eu sinta o meu corpo se acalmar.
Quando acabamos, nos beijamos, terminamos nosso banho e nos
vestimos. Indo até a nossa cozinha. Boyd passa por mim, dando a volta no
balcão da cozinha. — Sabe, a empresa está pensando em fazer uma festa no
dia de carnaval. Será na casa do Abraham, na sexta. — Ele pega uma garrafa
de vinho e despeja nas duas taças, oferecendo uma para mim. Solto um
suspiro alto e me sento em uma das banquetas.
— Eu o detesto e você sabe o porquê. Porque ele...
— Adora jogar estagiárias para cima de mim. — Dizemos em uníssono.
Dou um gole no vinho e encaro Boyd. — Liv você sabe que eu não dou à
mínima para elas, nem para o cara que gosta de ser um babaca.
Cruzo meus braços em cima do balcão, observando-o a cortar os
legumes. — Eu dou à mínima, Boyd. Ele sempre acha um momento para
tentar destruir nosso relacionamento. Se formos a essa festa, o que acha que
acontecerá? Você será assediado por alguma secretária vadia e peituda! —
Exclamo revoltadamente. Eu odiava o tal de Abraham, ele era um dos
arquitetos da TMJ, assim como o Boyd. Ele sempre buscava alguma mulher,
para Boyd, tanto na minha presença, como na minha ausência. E quando eu o
questionava, ele ria e dizia:
"Liv! Eu jamais faria isso! Você e Boyd, são da família, estou apenas
sendo engraçado. Hahaha."
Totalmente um filho puta, que se achava demais. Eu não gostava
também, como ele tratava Boyd, sempre passava a perna nele, quando se
tratava de um trabalho grande. Eu, na maioria das vezes, dizia a mim mesma
que meu namorado era ingênuo e bonzinho. Mas havia momentos em que a
palavra, trouxa, aparência com frequência.
Boyd me olha com um sorriso e vai até o congelador. — Eu nunca
trocaria seus peitos pequenos por silicones. — Pego uma maçã que está na
cesta, e jogo nas suas costas, fazendo-o rir. — Estou brincando! Mas você
sabe disso, Liv. Eu a amo e nenhum peito nessa vida, vai me separar de você.
Abraham é um otário, vamos ignorá-lo educadamente. — olho para ele, sem
dizer nada o que o faz suspirar e dar a volta no balcão, me viro quando ele se
aproxima e separo minhas pernas, puxando-o para mais perto.
— Vai ser difícil ignorar o cara que está fazendo a festa. E dentro da
sua casa. — Murmuro.
Boyd sorri para mim e acaricia meu queixo. — Sim, vai ser. Mas nós
vamos conseguir fazer isso. Abraham fica bêbado com duas taças de vinho
português. Vai ser moleza. — Solto uma risada baixa e balanço minha
cabeça. — Então vamos? Você vai? Comigo? Deixar aqueles babacas
morrendo de inveja a me ver com a mulher mais linda do mundo? Hein? —
Enquanto ele murmura as perguntas, tenta me beijar, mas viro minha cabeça
várias vezes, nos fazendo rir. Seguro suas mãos que estão no meu rosto e
olho para cima, nos seus olhos.
— Tudo bem. Mas iremos voltar cedo. — Boyd, me puxa para um
beijo e depois morde meu lábio.
Ele beija minha testa e depois se afasta, voltando para o nosso jantar.
— Direi amanhã de manhã para ele. Prometo que não vai se arrepender. Você
precisa se divertir. — Comenta, sorrindo e piscando. Passo a mão no meu
cabelo e suspiro.
— É. Talvez eu esteja mesmo precisando.
***
Paro no estacionamento da galeria, saindo às pressas de dentro do
carro. Entro pelos fundos e corri até o escritório, deixando minhas bolsas lá e
correndo para a entrada do prédio. Meu relógio não tocou e a noite passada
fora longa, ao lado de Boyd! Eu estou sem maquiagem, meu vestido lápis
amarelo está amassado e meus olhos pesados de sono. Sentindo-me uma
verdadeira merda.
Quando chego à frente das portas duplas de vidro, um homem lá fora,
está de costas para mim, fumando um cigarro. Há mais dois homens com ele,
como guarda-costas. Destranco as portas, abrindo-as e olhando, curiosa. Ele é
alto, cabelos castanhos avermelhados, musculoso. Está usando um terno azul
escuro e sapatos de couro caramelo. O carro é de luxo e todos os fatores
indicam que ele é alguém importante, que está querendo quadros novos.
O homem termina o seu cigarro, jogando na calçada e depois pisando
em cima. Ele tira algo de dentro do seu paletó e pega um frasco pequeno,
espirrando o líquido transparente em sua mão e depois, espalhando nas duas.
Quando termina, se vira em minha direção, tirando seus óculos de sol. Ele é
bonito e elegante. Há uma barba rala, envolta do maxilar, e seus olhos são
escuros. Quando ele me vê, ali parada. Paralisa. Seus olhos descem por mim
e depois, voltam lentamente.
Pigarreio timidamente e abro um grande sorriso. Ele faz o mesmo,
depois se vira para os homens perto do carro, diz algo, fazendo os outros
assentirem e, vem se aproximando. Passo a mão no meu cabelo escuro e
então abro meu sorriso, entrelaçando minhas mãos, quando ele chega perto.
— Olá, senhor! Seja bem-vindo a Gallery Kohulo. Eu me chamo Olivia
Lester, em que posso ajudá-lo? — Ele me olha com um sorriso de dentes
perfeitamente brancos e alinhados, estende sua mão e a seguro, apertando.
E então, ele me fala. — Hum, Olivia. Estou precisando de algumas
obras, no estilo Danae. — Ele termina a frase, dizendo em voz baixa, me
olhando de cima a baixo. Tento abrir um sorriso, mas não consigo, então,
faço o meu melhor. Ele está começando a me intimidar e eu não gosto disso.
Olho para a rua, em busca de Katherine, mas não há sinal dela.
— Por favor, me acompanhe. — Falo, indo até as escadas.
Sinto-o me acompanhando e vou o mais rápido possível até o lugar que
ele procura. Quando paramos, mostro as duas pinturas disponíveis para o
seu... gosto. — Essa foi feita por Eugene Delacroi, a pintura, na verdade, não
é conhecida, mas acredita-se que ela foi feita entre 1825 e 1826. Se chama
A...
— A Maja nua. — O pronuncia, antes de mim. Seus olhos saem da
pintura e me olham. — Conte-me sobre ela. — Fala seriamente.
Aceno com minha cabeça e suspiro. — Bem! Existem inúmeras teorias
sobre a mulher retratada na pintura. Alguns historiadores acreditam que a
mulher nua foi Teresita, uma irmã de um padre. Então, novamente, há
aqueles que acreditam que o artista simplesmente exibiu uma mulher ideal, a
partir de seus pensamentos e não uma senhora real. — Quando termino, o
homem está olhando atentamente para o quadro, assentindo. Ele se afasta um
pouco para trás e aponta para o outro.
— E aquele.
Sigo seu olhar e chego mais perto da outra pintura. Porra, onde
Katherine se enfiou?! — Essa obra foi criada por Jeon-Leon Gerome em
1861. Seu nome é Phryné antes do Aeropagus, onde retrata a história de
Alcipe, a amada filha de Ares. Depois de ter sido estuprada por um padre, seu
pai decidiu tomar a lei em suas próprias mãos, matou o sacerdote responsável
por corromper sua filha. — Solto outro suspiro e olho para as duas pinturas.
— Na minha humilde, e profissional opinião, senhor, acredito que a pintura A
Maja nua, será de boa escolha. Posso mostrar uma incrível pintura do artista
Sandro Botticelli, que há no primeiro andar da galeria.
O homem olha para as duas pinturas e, depois, balança sua cabeça em
negativa. — A segunda pintura, me cativou. Principalmente a história dela,
deve ter sido horrível para essa pobre moça, ser tocada por esse padre sem o
consentimento dela, não concorda Srta. Lester? — Ele me olha depois de
perguntar. Encaro a pintura, onde há a garota e todos os homens de vermelho,
sentados, olhando-a.
— Acredito que no final de tudo, o padre teve o que merecia. Aliás, nos
tempos de hoje, ele iria para o corredor da morte. — Murmuro.
O homem abre um sorriso largo, assentindo e depois rir. — Eficiente,
vamos dizer assim. Bom... — Seus olhos se apertam, olhando para as
pinturas, quando ele diz. — Vou querer as duas e mais a outra que iria me
mostrar, de Botticelli. — Arregalo meus olhos e gaguejo.
— S-senhor...
Ele me olha, com suas sobrancelhas levantadas. — Os quadros são
caros demais? — Pergunta calmamente.
— Bem, na verdade... sim. E nesses casos aceitamos apenas em
dinheiro, mas se o senhor não... — Ele balança a sua mão e revira os olhos
arrogantemente.
O homem dá um passo em minha direção, dizendo. — Dinheiro não é
problema. Por favor, Srta. Lester. Onde devo pagar? — Eu estou
completamente boquiaberta! Seus quadros escolhidos devem passar de $100
mil dólares! E ele irá pagar em dinheiro? Nesse momento? Quem será que ele
é?
— Me desculpe senhor. Por favor, vamos ao andar de baixo.
Descemos as escadas, indo até o escritório, pessoas já estão por lá e
finalmente me sinto aliviada. Eu vou matar a Katherine! Quando entramos no
escritório, pego o tablet sobre a mesa e olho para o homem. — Preciso de
informações básicas do senhor. Nome e com o que trabalha; as normas da
galeria são um pouco diferente, nos preocupamos com obras tão valiosas. —
Explico educadamente.
Ele para ao lado da mesa e suspira. — Sou empresário. Tenho boates
em Nova York, Las Vegas, Los Angeles... Veneza. — Claro. Com aquele
estilo, obviamente que é um empresário bem-sucedido. Escrevo na tabela de
"clientes importantes" e o olho.
— Seu nome completo?
Ele me olha de cima a baixo, pela quarta vez e passa a mão na sua
barba. — Lucco Gratteri. — Sorri.
Escrevo o seu nome e deduzo que seja latino ou europeu. Robert ficará
louco com o novo peixe grande que comprou os quadros. Quando termino,
abro um sorriso. — Certo, está tudo ok, Sr. Gratteri. — Confirmo, ainda com
um sorriso estampado na cara. O Sr. Gratteri, vai até lá fora, sem pedir
licença e depois volta. Seus guarda-costas aparecem no escritório, um deles
segurando uma maleta preta. Ele entrega ao seu chefe, que está sorrindo para
mim.
— Aqui está o valor total dos quadros, e mais quinze mil pela sua
incrível competência. — Ele abre a maleta e há muito dinheiro por lá. Eu
estou sem fôlego. Ele acaba de me dar quinze mil dólares, por apenas contar a
história dos quadros? Sendo que a introdução está, de fato, ao lado das
obras?! Olho para ele, de olhos arregalados e sem conseguir falar. —
Pretendo vir novamente essa semana, Srta. Lester. Espero que você tenha o
que eu preciso. — Murmura com um sorriso torto nos lábios.
Não entendo o que ele quer me dizer, mas consigo sorri fracamente e
digo. — Farei o que for possível, Sr. Gratteri.
Ele arqueia sua sobrancelha esquerda e diz. — Ótimo... Senhorita
Olivia Lester.
THREE
Por incrível que pareça dois dias se passaram e nada de inédito havia
acontecido. Boyd não estava mais dormindo em nosso apartamento e me
senti aliviada por isso, pois estava cansada dele, realmente cansada. Eu estava
tão apavorada em permanecer sozinha no apartamento, que acabei comprando
um cachorro da raça Rottweiler, seu nome é Trovão. Confesso que no início
eu estava um pouco apreensiva em tentar chegar perto demais no animal, ele
é um filhote, mas um filhote gigante! Porém, ao passar algumas horas eu
tinha percebido que ele queria minha presença e o meu carinho. Durante
esses dois dias, a polícia não entrara em contato, muito menos Lucco
apareceu. Katherine disse-me que talvez ele tenha ido embora da cidade e a
polícia deveria saber e acabou deixando de lado, como sempre.
Essa tarde, eu estou no restaurante ao lado da Kohulo. Meus
pensamentos estão tão desconcertados, que meu foco no trabalho estava
perdido! Katherine achou melhor que eu fosse embora e explicaria para o
nosso chefe o que aconteceu comigo. Até lá, estarei absolutamente sem nada
para fazer. Solto um suspiro e continuo minha busca em meu notebook,
enquanto o meu almoço não chega.
Faço pesquisas de apartamento para solteiros, preciso sair urgentemente
da casa de Boyd, pois vejo que não há mais espaço para os dois. As pesquisas
são pouco produtivas e sinto um desânimo passear por dentro de mim, minha
vida mudou tão de repente, que me sentia um peixe fora d'água! Encosto-me
novamente no banco de couro do restaurante e cruzo os braços, olhando para
a rua movimentada de segunda-feira.
Meus olhos varrem pelos pedestres, lentamente, quando vejo alguém.
Sento-me ereta em meu lugar e olho para o homem de pé na calçada, do outro
lado da rua. Eu o conheço, é um dos seguranças de Lucco. Ele usa óculos de
sol e não posso ver sua expressão, então fico paralisada, olhando-o. Até que
um ônibus para no sinal, bem na minha frente. — Aqui está, senhorita. —
Chama a garçonete, fazendo-me sobressaltar, olho para ela e quando viro
minha cabeça para a janela, o ônibus se foi, assim como o homem. Engulo
em seco e olho por todos os lados da avenida, ele some como um fantasma.
— Senhorita? — Chama novamente a mulher.
Fecho meus olhos para respirar fundo e, em seguida, pego a carteira
dentro da minha bolsa, tiro uma nota de cem e entrego a ela, enquanto guardo
minhas coisas. — Pode ficar com o troco. — Me arrasto no pequeno sofá de
couro e ela se afasta para eu me levantar, ela me olha como se eu fosse uma
louca.
— Não vai querer seu almoço? — Pergunta, mas já estou longe.
Abro uma das pesadas portas de vidro do restaurante e paro no meio da
calçada, olhando para os lados, mais uma vez e garantindo que não há
ninguém ali. Feito isso, apresso meus passos até o meu carro, que está atrás
da galeria. Preciso sair das ruas logo.
***
Chego ao apartamento e quando abro a porta, paraliso com a chave na
fechadura. Boyd está de pé ao lado da sua mesa de trabalho, pegando
algumas folhas, ele me olha com as sobrancelhas erguidas e sorri pequeno. —
Vim buscar algumas plantas. — Explica murmurante. Fecho a porta e
caminho em direção ao quarto, não me importo com ele ali. — Liv, desculpe
não avisar que eu estaria aqui, pois achei que estaria na galeria e... — Viro-
me para ele e levanto minhas mãos.
— O apartamento é seu. Não precisa pedir minha permissão, Boyd. —
Digo. — Vou tirar umas folgas, até mais. — Saio dali sem olhar para ele e
caminho no corredor até entrar no quarto. Encosto-me a porta, suspirando,
tirando os sapatos de meus pés. Ando até a cama de dossel e retiro o
notebook da minha bolsa, sento-me no colchão e abro a tela.
Desde o momento que saí do restaurante, algo me dizia para tentar estar
em vantagem. Aquele guarda-costas parecia estar me intimidando, como uma
breve ameaça, o que me incomodou bastante. Eu preciso de provas que
possam levar Lucco Gratteri até o tribunal e espero conseguir.
Vou até a barra de pesquisa e digito seu nome. As buscas são nada
significativas para mim, apenas mostrando a origem do seu nome e
sobrenome. Ridículo. Porém questionável. Lembro-me no primeiro dia que
nos conhecemos, quando Lucco fez uma compra gorda na galeria e deu-me
um bônus de quinze mil dólares. Ele disse que era dono de boates, nas
cidades que são movimentadas até demais. Mordi meu lábio inferior e mudo
a pesquisa.
"Empresário Lucco Gratteri, dono de boates”.
Aperto para entrar, e a página carrega. Choramingo com a busca idiota,
novamente nada sobre ele, o que é estranho. Como um homem como aquele,
não poderia ser procurado na internet?
Deixo a cabeça tombar em minha mão e vou baixando a rolagem da
página. Até que...
— Que merda é essa? — Sussurro para Boyd não me ouvir. Clico no
site que chama minha atenção e espero carregar, o título em letras maiúsculas
e também em negrito deixa meu coração saltitar.
FAMÍLIA GRATTERI "MAFIOSA"?
Com um sobrenome forte na Itália nos anos de 1931 a 1967, os
Gratteri mantiveram uma boa reputação na cidade de Veneza. A família
burguesa sempre se envolvia na política italiana, mas com o passar do tempo
um escândalo acabou sujando o nome Gratteri. Dizem que Luigi Gratteri, um
dos filhos de Judy e Tommasi Gratteri, estaria devendo dinheiro para uma
organização criminosa, mais conhecida atualmente como Máfia. Luigi era
viciado nas prostituas dos bordeis dos homens de ternos caros e com isso,
acabou criando uma grande dívida que poderia deixar seu pai falido, que era
dono de padarias famosas pela cidade.
Tommasi não quis pagar a dívida do filho e por isso, uma das suas
filhas, Carlota Gratteri foi sequestrada pelo chefe mafioso e obrigada a se
casar com o homem. A garota, que na época tinha apenas 13 anos, se tornou
a primeira dama da máfia siciliana e mesmo tendo entrado naquele mundo
cruel a força, se apaixonou pelo seu marido 23 anos mais velho, Santoro De
Laccuci, um homem rico, dono da gráfica na cidade que fazia os jornais.
Apesar de ter sido um empresário, Santoro era Don da máfia, mais
conhecido como um "chefe". Carlota teve três filhos homens com Santoro e
nesse período jurou se vingar do seu irmão e seu pai que nada fez para
impedir seu sequestro. Duas semanas depois foram encontrados na mata da
cidade vizinha, chamada Murano, restos mortais de dois corpos masculinos,
como na época não existia tecnologia, o caso foi arquivado e os restos
mortais foram colocados como "não identificados", mas a cidade de Veneza
sabia de que se tratava de Tommasi e Luigi Gratteri.
Não se sabe nada dos filhos de Carlota e Santoro, mas nos dias de
hoje, ao que tudo indica, há membros da família Gratteri na máfia, chamada
de grande Família a mais temida "Cosa Nostra". Como hoje o nome Gratteri
não é mais importante por culpa de Luigi Gratteri, não se sabe se realmente
os Gratteri que vivem atualmente nos Estados Unidos, possam ser da mesma
parentela de Carlota. Mas os fãs de carteirinha da máfia siciliano-americana
já deram seus palpites sobre um homem chamado Demétrio Gratteri, que
atualmente é o Capo (chefe) da Cosa Nostra.
Além de Demétrio, o homem tem mais três irmãos e o seu pai. Porém
até agora, dizem que o irmão mais novo ou talvez não, chama-se Lucco
Gratteri.
— Meu Deus. — Sussurro após ler o artigo. Fecho o notebook e me
levanto, indo até a janela do quarto. A coincidência é grande demais e
também impossível de ignorar! O mesmo nome, o mesmo sobrenome.... da
máfia?! A máfia? Isso não pode estar acontecendo. Meu instinto é correr até
a delegacia, mas algo me diz que será uma grande burrice, se esse site estiver
certo, assim como a minha intuição. — O que fazer, então? — Pergunto para
mim mesma. Viro minha cabeça às pressas em direção a minha bolsa e corro
até ela. Procuro pelo cartão lá dentro e o encontro no fundo da bolsa,
retirando de lá.
Está amassado, mas o número é visível. Ligar para o detetive Sam
Harris pode ser uma estupidez, mas estou sozinha nessa e tenho medo de que
algo aconteça comigo, como aconteceu com os pobres Luigi e Tommasi
Gratteri. Pego meu celular e digito o número de seu telefone. Em um segundo
ele atende. — Harris falando. — Sua voz grave, soa.
— Hã... oi, detetive, é Olivia Lester, você tem um tempinho? —
Pergunto com a voz apertada.
Ouço Harris sair de um local barulhento e entrar em um silencioso,
quando diz. — Olivia, que surpresa. Sim, o que você tem para mim?
— Bom, eu não quero dar pistas falsas; nem nada parecido, mas... —
Olho para o notebook em minha cama e aperto o papel em minha mão,
nervosamente. — Hoje eu estava no restaurante e vi um dos guarda-costas de
Lucco Gratteri no outro lado da rua. Ele estava lá parado, olhando para mim,
eu acabei me assustando e corri para casa.
Harris pigarreia ao ouvir. — Você fez bem, andar pelas ruas, sozinha,
pode ser perigoso. — Explica. — Mas... é somente isso? — Pergunta com
cautela. Balanço a cabeça em negativa e caminho até a outra janela, ao lado
da cama.
— Não. Eu sei que provavelmente vai me dizer para não confiar na
internet, mas... eu queria buscar algo sobre ele, para levar até vocês, ele disse-
me que era dono de boates, mas advinha só? Não aparece nenhum Lucco
Gratteri como empresário e sim como alguém que é desprezado pela
sociedade.
Escuto o silêncio do outro lado da linha e aguardo sua resposta, pelo o
silêncio de Harris acredito que ele já saiba o que estou prestes a dizer. —
Continue. — Fala calmamente. Respiro fundo e continuo a dizer.
— Eu encontrei por acaso, um site, que fala que há 77 anos atrás a
família Gratteri era importante na Itália, porém um membro da família se
envolveu em dívidas com a organização criminosa. Bem, isso não vem ao
caso, mas dizem que atualmente há um chefe na organização criminosa e ele
se chama Demétrio Gratteri, porém ele não é o único, ele tem dois irmãos e
sabem somente o nome de um.
Harris solta uma respiração dura pela boca e sinto meu corpo se
arrepiar com o que ele vai dizer. — Lucco Gratteri. — Afirma. — Lucco
Gratteri é da organização criminosa, o que significa que ele é...
— O que significa que ele é da máfia. — Completo. — Sam, ele é
mafioso. — Digo nervosamente, quase chorando.
Harris não me responde, mas sei que estou certa. Minha conclusão foi
feita. O silêncio do detetive já me diz tudo. Lucco Gratteri é mafioso.
EIGHT
Alguém bate na porta. Boyd se afasta de mim e vai até lá, abrindo-a. É
a doutora Mitchell, ela abre um sorriso reconfortante, que se estende até os
seus olhos verdes. — Estou com seus exames, Srta. Lester. — Diz em voz
alta. Olho para Boyd, que está de braços cruzados, encarando os papéis nas
mãos da doutora, está nervoso. Estamos nervosos, desde que saímos do
apartamento. Fomos até a polícia e de lá eles nos instruíram a fazer corpo de
delito. É apavorante, as sensações que sinto no momento, às vezes medo, às
vezes desejo... mas desejo do que?
Remexo-me desconfortável na cama do leito de hospital e entrelaço
minhas mãos, colocando-as em cima das minhas pernas. — E então? —
Pergunto. A Doutora Mitchell levanta uma das folhas grampeadas e lê o que
está escrito ali.
— Foi constado no seu sangue doses de Desodalina e Diazepam,
acredito que você não esteja usando nenhum dos dois, pois suas misturas são
altamente perigosas. — Explica, abaixando as folhas.
Fico em choque e ao mesmo tempo confusa. Não sei no que pensar. Por
qual motivo isso estaria em mim? — C-como assim? Eu nunca usei isso, pois
não preciso da ajuda de nenhum medicamento.
— Bem, há uma dose grande em seu sangue, acredito que esteja há
cerca de seis dias. — Ela diz. — Um dos principais riscos da mistura de
Desodalina e Diazepam é a confusão mental, Srta. Lester.
Seus olhos tentam dizer o óbvio para mim, mas não consigo raciocinar.
Confesso que nos últimos dias eu andava meio desligada ou irritada, mas...
confusões? Mentais? Desvio o meu olhar da Doutora e olho pela janela do
quarto. — Ele entrou por todos esses dias na minha casa, injetando
medicamentos em mim sabe-se lá como. Ele consegue facilmente entrar lá,
então espera o momento certo para entrar no meu quarto e... — Seguro a
minha língua, mas permito que as lágrimas caem. A palavra violência e
estupro flutuam em minha mente, mas não consigo dizer em voz alta. É tão
humilhante que chega a doer. Solto um suspiro baixo e me calo, já Boyd
finalmente abre a sua boca.
— E o exame de violação, Doutora?
Ela me olha por alguns segundos e depois responde a Boyd. — O sexo
foi extremamente violento e identificamos uma inflamação no seu útero, mas
trataremos disso. Agora... — Ela me olha no fundo dos olhos, como se
estivesse prestes a dizer a pior coisa do mundo, mas não perco o controle por
isso. Ela continua. — Não há indícios de sêmen masculino, pelo o que você
contou, o sexo foi desprotegido e confirmo isso, mas as suas paredes vaginais
estão limpas. Você provavelmente tomou um banho depois do sexo.
Consegue se lembrar disso?
— O que? — Pergunto com a voz fraca.
Engulo em seco e sinto minha cabeça girar, a noite passada aparece
como um filme em minha mente e meu coração acelera por isso. Tudo o que
posso lembrar é de que depois do sexo, eu tive um sono profundo! Olho para
a Doutora Mitchell e sussurro. — E-eu... não sei. Só consigo me lembrar de
que senti muito sono e...
— Na verdade você teve um desmaio. — Corta a Doutora. — É o
efeito do Diazepam e da Desodalina, seu agressor já tinha noção disso e então
aproveitou a ocasião para humilhá-la, ejaculando em seu rosto. Bem, o que
posso dizer a vocês é que houve um invasor em sua casa, onde ele colocava
os medicamentos em algum alimento ou bebida que você ingeriu com
frequência. Isso quer dizer que ele sabe o que você toma e o que você come.
Então ele praticou sexo com você, mas foi somente isso. A polícia dirá que
você manteve relações sexuais com um desconhecido e agora, quer acusá-lo
de estupro. Eu já vi casos assim e sei que eles dirão isso.
Quando ela termina de falar, Boyd caminha até ela, seu rosto se
enfurece com o que ouve. — Ela foi estuprada! Como podem ficar contra a
vítima?! Isso é um absurdo! — Exclama revoltadamente. Tudo o que faço é
olhar para os dois, não sei mais o que pensar ou no que dizer. Ele planejou
tudo perfeitamente e aposto que não foi à primeira vez que fez isso... A
Doutora Mitchell solta um suspiro e caminha em direção à porta.
— Sinto muito, mas é tudo o que posso dizer. Você já está liberada,
Olivia. Boa sorte! — Ela fecha a porta atrás de si e nos deixa sozinhos.
Boyd leva as mãos até os seus cabelos loiros e se vira para mim, ele
está mais transtornado do que eu. — Eu vou dar um jeito nisso, Liv. Isso...
isso não pode ficar assim! Irei atrás dos melhores advogados, contratarei
caçadores de recompensa! Lucco Gratteri invadia nossa casa, injetava
remédios para confundir sua cabeça e depois a estuprou! Dentro da nossa
casa e na nossa cama. Ele não vai se safar.
— E-eu acho que não foi um estupro. — Consigo dizer. Olho para cima
e Boyd me encara paralisado.
— A Doutora Mitchell disse que os medicamentos que estão em seu
corpo, causam confusões...
Balanço a cabeça negativamente. — Os medicamentos não fariam uma
mulher ter um orgasmo. — As palavras saem da minha boca amargamente e
também com pressa. Mas eu apenas queria que Boyd parasse de falar. Ele
pisca algumas vezes, atordoado com o que escuta de mim, seus olhos se
ferem e sua boca fica entreaberta, mas não sai nenhuma palavra. Respiro
baixo e desvio o olhar dele. — Me desculpa. Foi rude dizer isso.
— É Olivia, foi muito rude mesmo. — Retruca com impaciência. —
Por que não me contou isso? — Pergunta.
Fecho os olhos e suspiro baixo. — Porque isso não importa Boyd, eu
sei que...
— SIM, IMPORTA MUITO QUANDO SUA NOIVA É ATACADA
POR UM PSICOPATA NO MEIO DA NOITE, MAS PARA A GRANDE
SURPRESA ELA GOZA JUNTO COM ELE! — Boyd grita com fervor,
fazendo-me sobressaltar na cama e olhá-lo. Ele está em brasa, seus olhos
arregalados e vermelhos. — Você não se importa com os meus sentimentos?
O que há com você? Olha o que acabou de me dizer, Olivia! Agora como vou
ter a droga da coragem de olhar para você?! Você veio criar essa porra de
circo todo e somente agora diz que gozou com o cara? Por que não diz à
verdade, que FODEU COM LUCCO GRATTERI! — Ele urra ferozmente.
Levanto-me da cama e marcho em sua direção, sem pensar duas vezes
esbofeteio sua cara com força. — Suma da minha vida! Estou farta das suas
acusações, farta da sua inveja de um homem maluco que me atacou! Eu
gozei? Sim, porque pensei que era você! Pensei que era você e não Lucco
Gratteri! Agora eu deveria ter imaginado sendo ele, pois você não merece
nem a porra de uma masturbação que venha de mim! Eu não quero mais saber
de você, acabou Boyd e para sempre! Não quero a metade de um homem ao
meu lado, sempre desconfiando de mim, sempre me colocando para trás, para
não perder os amigos. Eu não preciso de você para nada, porque sou capaz de
fazer o que eu quiser! Continue na sua bolha dourada, mas não esqueça que
um dia ela vai estourar! — Viro-me até a cadeira e pego minhas roupas e
sapatos. Saio de dentro do quarto e vou em direção a algum banheiro, sem
olhar para trás.
***
Durante a noite eu tirei todas as minhas coisas do apartamento e fui
para o hotel Royal Sonesta, sem pensar duas vezes. Infelizmente tive que
deixar o Trovão em um hotel para cachorros – acreditem! Estou em meu
quarto, mexendo no notebook, em busca de apartamentos e comendo um x-
burger em cima da cama. Desde que fui embora, sequer pensei em Boyd. Eu
não esperava um comportamento tão cretino vindo dele, nunca imaginara que
ele pudesse sempre desconfiar de mim, achando que eu seria algum tipo de
vagabunda.
Então foi o meu limite.
Não iria ser humilhada por suas palavras, nunca mais. Por incrível que
pareça, ele não me ligou ou mandou alguma mensagem, o que era uma
surpresa. Mas no momento não estou interessada em pensar no meu
rompimento com Boyd, há coisas mais importantes. Clico em um site onde
aparecem apartamentos de cidades vizinhas, sei que é rápido demais, mas não
me sinto mais segura em Nova Orleans, ela se tornou algo perigoso para
mim. Um apartamento chama minha atenção e leio todas as informações que
o site mostra, pego meu celular que está ao lado e salvo o número de telefone
da imobiliária. O prédio fica localizado em Gretna, a cidade não fica tão
distante do trabalho, o que é ótimo.
Mordo um pedaço do meu lanche quando meu celular toca. Olho para a
tela e o nome Detetive Harris aparece. Pego o aparelho e atendo sua ligação.
— Detetive! — Sorrio.
— Por que não me contou o que houve na noite passada? — Ele
pergunta sem delongas. Sua voz está neutra, mas provavelmente está irritado,
pois é dele o caso de Lucco.
Limpo minha boca com o guardanapo e suspiro. — Me desculpa, é que
o Boyd achou melhor procurarmos outros policiais. Ele disse que sua parceira
e você são desinteressados. — Explico, calmamente, olhando para a tela do
notebook. Harris solta uma risada baixa para mim.
— E ele um homem que não sabe proteger a sua mulher, debaixo do
seu teto. — Diz risonho. Ele pigarreia e continua. — Me perdoe, é que o seu
namorado deveria saber escolher as palavras, minha parceira pode estar
desinteressada, mas eu não.
Fecho meu notebook e saio de cima da cama, indo até a sacada do
quarto. — Tudo bem, ele e eu não estamos mais juntos. Ele acha que o que
aconteceu, ontem à noite, foi por consentimento meu. Então nosso caminho
está livre, não quero um cara que não confia em minhas palavras, ao meu
lado. — Minha voz escapa trêmula, mas não deixo nenhuma lágrima cair por
causa de Boyd, ele não merece nada que venha de mim. Afasto as cortinas
pesadas e abro uma das portas de correr de vidro, caminho lá fora e me apoio
no parapeito, enquanto isso Harris me diz.
— Eu entendo. Agora vamos ao que interessa, preciso do seu
interrogatório para ter mais provas contra o canalha, mas também preciso
contar algo que descobri de uma fonte confiável. — Franzo o cenho e me
viro de costas para o parapeito. Meu coração acelera em ouvir Harris dizer
isso.
— O que é? — Pergunto.
Ele faz um som com a sua garganta enquanto diz. — Não pelo telefone,
Olivia, sabe disso. Preciso que venha aqui.
Coço a minha testa e respiro profundamente, estou esgotada com tudo o
que está acontecendo. — Não me sinto bem saindo durante a noite, sozinha.
Pode vir ao meu encontro? Estou hospedado no Royal Sonesta, quarto 238.
— Tudo bem! Estarei aí em vinte minutos. — Ele termina a ligação e
desligo meu celular.
Viro-me novamente e olho para a cidade toda iluminada. Eu me sinto
só nesse momento, sozinha e sem ninguém. Sei que Katherine é minha amiga
e me protegeria sem pensar, mas não posso envolvê-la nisso. Não depois do
que aconteceu na noite passada. Lucco é doentio, ele é podre e merece o pior
do mundo, seria horrendo em colocar minha amiga no meio das minhas
complicações. Então o que me resta é a solidão, apenas o detetive Harris está
comigo, mas sei que é pelo fato de ser a sua profissão. Apoio meu cotovelo
esquerdo no parapeito e encosto minha testa na mão.
Eu preciso ser forte, não posso me abalar, mesmo sentindo-me
completamente violada pelo o que houve. Fecho os olhos e partes daquela
noite vêm à tona. Sua respiração irregular, seu corpo se chocando com o meu,
sua boca na minha pele... abro os olhos e engulo em seco. Sinto-me mais
doentia ainda por imaginar essas coisas, mas não sei o porquê de estar
pensando no sexo, como prazeroso. Talvez por que em minha consciência eu
imaginara que fosse o Boyd?
Balanço a cabeça em negativa e volto para dentro do meu quarto.
Não. Ele me atacou, se eu tivesse notado que não era o Boyd, gritaria
por socorro, bateria nele, mas não deixaria que me tocasse. Porém, Lucco
tinha orquestrado tudo por dias. A mistura dos remédios foi um triunfo,
aposto, pois eu realmente achara que estava com Boyd. Esfrego meu olho
direito com os dedos e sento-me na beirada da cama.
Está na hora de agir. Isso foi o limite para mim, Lucco está ganhando
fácil, fazendo de mim, sua boneca. Mas não dessa vez. Eu vou me vingar
pelo o que ele fez e espero ser o mais esperta do que ele é.
TEN
ELEVEN
***
Saio de dentro do carro e caminho pelo porto da cidade. Cruzo os meus
braços e me encolho dentro do meu cardigã azul, me protegendo do vento.
Caminho até os armazéns e paro quando vejo Lucco fumando, encostado no
capô do seu carro, pelo o que noto ele está sozinho. Ele tira o cigarro da boca
e segura entre seu dedo indicador e o polegar, olhando para ele. — Está tudo
bem, vim sozinho, meus soldados sabem que você não é uma ameaça para
mim. — Lucco responde aos meus pensamentos, me deixando incomodada
com isso.
— Por que acharia que não sou uma ameaça? — Pergunto com acidez.
Ele dá um sorriso torto, fuma novamente, dando uma tragada e depois
jogando o cigarro no chão, pisando em cima. Ele se desencosta do carro e
puxa seu terno para baixo. Lucco usa um terno escuro, colado ao seu corpo,
camisa branca de botões e sapato da cor caramelo. — Porque você sempre
está em busca da ajuda de alguém. Resumindo, para mim não é uma ameaça.
— Ele responde com um sorriso nos lábios. — Venha. Entre no carro. —
Ordens e dando a volta. Caminho rapidamente até ele, então saco a arma e
aponto perto da sua nuca.
Lucco para de se mover e tira à mão da maçaneta da porta, ele levanta
as duas mãos em rendimento. — Você pode se machucar com isso, baby. —
Diz. Destravo a arma e deixo minha mão firme sobre ela.
— Acho que não sou eu quem irá se machucar por aqui. — Esclareço
seriamente. — Deveria ter chamado seus cães de guarda. Sam me ensinou a
usar a arma.
Ele solta uma risada e vira sua cabeça de lado, tentando olhar em meu
rosto. — Você e o detetive estão juntinhos demais, não acha? O merdinha do
seu namorado mal foi comido pelas larvas e você já está com outro? — Ri
sarcasticamente.
— Seu miserável! — Aperto o gatilho, sem pensar duas vezes, mas
para a minha má sorte, Lucco é mais ágil e puxa meu braço, fazendo a
munição ser atirada para cima. Ele gira o meu corpo e prende minhas mãos
atrás de mim, depois me empurra contra o capô do carro, bato o meu rosto e
grito entre um rosnado.
Lucco segura meus braços com firmeza e se curva por trás de mim. —
Como eu disse; você não é uma ameaça. — Sussurra em meu ouvido. —
Você merece uma boa lição, Srta. Lester. E eu sou um ótimo professor nesse
requisito. Vamos logo, quero começar a nossa aula o quanto antes. — Ele me
puxa bruscamente e abre a porta de trás do carro, pega uma corda no banco,
em seguida, amarra as minhas mãos. Lucco me vira para frente dele e segura
minhas bochechas com força, entre a sua mão esquerda e depois beija minha
boca bruscamente. Mordo o seu lábio inferior e ele rosna.
— Merda! — Exclama, retirando uma gota de sangue do lábio. Ele me
olha e depois me empurra para dentro do carro, em seguida fechando a porta.
— Você está fodida! — Rosna, dando um murro no teto do veículo.
Cuspo no chão do carro e quando ele entra, ligando o motor, falo. —
Você estará fodido em breve. — Ameaço-o com vermelho nos olhos. — Eu
vou dar um jeito de escapar de você e dessa vez vou procurar por uma ajuda
mais perigosa e ágil, dando o seu sobrenome para todos que puderem me
ajudar; seu verme! — Cuspo na sua direção e Lucco vira sua cabeça, me
encarando.
— Ah, você vai fazer isso? — Pergunta tranquilamente. — Uma bela
forma estúpida de dizer ao seu inimigo o que irá fazer com ele, sendo que
está presa por ele. Eu achei que você fosse mais esperta, Olivia. Engano meu.
Espero que aguente o que está por vir. — Quando ele termina de dizer, se
vira e dá velocidade ao carro, olho assustada para o armazém e seguro o meu
choro. Mas não mostro fraqueza na frente desse verme, pois também sei que
em poucas horas, Sam estará a minha procura.
Estou com a localização do meu celular ativada e deixei um papel
dentro do seu carro, escrito para ele rastrear meu aparelho. Seu carro também
tinha rastreador, eu sabia disso e por esses motivos, saberia que estaria nas
garras do meu inimigo por poucas horas. Olho o perfil de Lucco Gratteri e
mordo meu lábio, poucas horas que trarão grandes feridas por anos em minha
vida.
FOURTEEN
FIFTEEN
E N D. . .
Série Submundo...
Instagram: @_thenewclass
Wattpad: @thenewclasic_
Obrigada por sua leitura! Vemo-nos na próxima estória.