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S T E L L A G R A Y

DARK
Revenge
SÉRIE SUBMUNDO - BÔNUS

São Paulo, 2018.


Capa: Patrizia Andrade
Revisão: Lilian Lima
E-mail para contato: autorastella@gmail.com

Copyright © 2017. Stella Gray


Esta é uma obra de ficção. Nome, personagens, lugares e acontecimentos descritos,
são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
É proibido o armazenamento e/ ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através
de quaisquer meios – tangível ou intangível – sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9. 610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.
Edição Digital | Criado no Brasil.
REGISTRO:
Introdução
Essa estória conta como foi o dia em que Lucco Gratteri
estava em Nova Orleans e, atacou uma mulher a força. Em
Destinados Eternamente, Demétrio conta uma pequena parte
dessa situação para Avelina Bertoli, porque ela também quase foi
atacada por ele, durante um jantar. Haverá cenas fortes e
conteúdos adultos! Então, não haverá romance entre os dois
personagens e se você não está preparado para novos gêneros, não
leia o livro. Para os outros, boa leitura e se aprofunde nessa nova
estória! ??
ONE

— ONDE ELE ESTÁ? — Grita papa, pela casa. — ONDE ESTÁ O


LUCCO?! — Coloco minha mão sobre a boca, para não emitir nenhum som.
Encolho-me como uma bola, debaixo da minha cama.
Os passos de papa estão cada vez mais perto, eu posso ouvi-lo começar
a assobiar e quando ele faz isso, eu sinto medo de papa. Muito medo. A porta
do quarto se abre em um estrondo, colidindo-se contra a parede surrada de
manchas. Vejo-o ali, parado como uma estátua, me procurando. Pois é a
minha vez de ir até lá, minha vez de ser um homem, como papa disse. Meus
irmãos não poderiam me proteger, eles não estavam mais em casa, papa os
mandou para a rua. Ele quer dinheiro. E meus irmãos não conseguiram muito
dinheiro, isso deixou papa furioso.
Ele entrou no quarto. Caminhando lentamente e assobiando. Tapei
meus ouvidos com minhas mãos machucadas e reprimi um choramingo;
quero a minha mãe. Eu preciso muito dela, muito mesmo. Mamãe iria me
proteger como sempre fizera com todos nós. E papa se afastava. Ele está ali,
caminhando pelo pequeno quarto que divido com meus irmãos mais velhos.
Não gosto de estar sozinho com meu pai. Tenho medo.
E papai caminha, como um leão faminto. Seu assobio faz os pelos dos
meus braços se eriçarem, engoli em seco e não pisquei uma vez. Quando vejo
papa indo para fora, soltei um suspiro cedo demais. Ele parou. Tapei minha
boca e arregalei meus olhos. Mas já é tarde demais!
Papa dá apenas três passos rápidos e se agacha perto da cama, está com
seu cinto de couro em umas das mãos. — Achei você, seu bichinha. —
Rosnou, esticando sua mão debaixo da cama. Afasto-me entre gritos até
encostar-me à parede, mas papa é rápido. Muito veloz. — Venha logo! Seu
putinho desgraçado! — Urrou ao mesmo tempo segurando-me pela gola da
minha camiseta e me puxando bruscamente para ele. Eu choro muito, dizendo
que não, não! Mas papa não liga. Ele nunca se importara com nossas
súplicas. Bernadir é o único que não suplica, ele sempre fica em silêncio e de
cabeça abaixada.
Sou puxado de debaixo da minha cama. Ele me levanta do chão pela
minha camiseta e vai me puxando para fora do quarto. — Não, papa! Não! —
Imploro soluçando e balançando minha cabeça. Tento me segurar entre as
paredes, do estreito e pequeno, corredor da nossa casa, mas eu não tenho
forças. Nunca tive forças. Papa me segura pelo meu cabelo curto e quando
chegamos à sala, ele me joga no chão e dá uma cintada nas minhas costas.
Grito. Pela ardência, mas só foi uma vez. Uma cintada, dessa vez.
— Você irá agora se tornar um homem! Eu não quero nenhuma
bichinha, chorosa, dentro da minha casa! VOCÊ ENTENDEU LUCCO?! —
Papa grita bravamente. Eu seguro meu choro, não quero que papai fique com
mais raiva de mim. Não quero ficar sozinho com ele. Sento-me no chão da
sala e seguro meu braço direito, ele dói muito. Não sei por quê. Papa se senta
na sua poltrona de couro desgastado, ele respira rápido, segurando seu cinto
na mão. — Vá até a garota e foda ela. — Murmura papai.
Olho para o outro lado da sala e há uma garota loira, ela me encara de
olhos bem abertos. Essa garota é minha amiga da escola, a Roseli. Todos têm
medo dela, mas eu não. Tornamo-nos amigos. Roseli está com uma coberta
envolta do corpo, chorando silenciosamente. Meus irmãos estiveram com ela,
um de cada vez, mas Roseli disse que gostava dos meus irmãos. Ela é alta,
tem a mesma altura que Demétrio. E tem a mesma idade de Vittorio. Ela é
mais velha que eu, e eu gosto dela. — N-não papa... — Sussurro trêmulo,
porque não quero fazer aquilo. Eu ouvi meus irmãos chorando, dizendo que
não iriam fazer, mas papa bateu neles, com muita força, então eu corri para o
quarto. Bernadir foi o único que usou a Roseli, sem resmungar. Ela não disse
nada quando meus irmãos a tocaram.
Ela fazia sons com a boca e fechava os olhos.
Eu não quero fazer aquilo. Tenho medo. Papa soltou um suspiro alto e
passou a mão na sua barba loira, seus olhos verdes estão bravos, comigo. Ele
aponta um dedo até Roseli, e diz. — Vá, agora, até a garota. Você tem duas
opções, foder ela ou morrer junto com ela. Escolha. — Arregalo meus olhos e
olho para Roseli, ela chora mais. Seus olhos param em mim e vejo-a
sussurrar algo para mim.
— Está tudo bem, Lucco. Não tenha medo. — Ela sorri e assente com a
cabeça. Ela quer isso? Mas por quê? Limpo meu rosto molhado com a mão e
encaro papai. Ele me olha com uma sobrancelha clara, levantada.
Engulo em seco e murmuro. — Eu escolho a primeira opção, papa.
Meu papai solta uma risada e respira fundo. Papa é muito grande, ele dá
medo. Muito medo. — Então vá logo e pare de ser uma bichinha! Você já
tem 12 anos! E não faça barulho, para não acordar sua mãe adoecida. — Me
levanto trêmulo do chão e meu coração bate fortemente. Roseli me encara
com um sorriso pequeno e com sua mão estendida. Quando paro ao lado da
cama, papa está dizendo. — Tire as roupas, e ande logo com isso, pois
preciso sair. — Eu estou assustado. Estou com muito medo agora. Eu preciso
dos meus irmãos, preciso da minha mamãe. Eu a quero! Eu a quero me
salvando!
Enxugo as lágrimas do meu rosto e tiro as roupas sujas do meu corpo
magro e machucado. Roseli se deita na cama e tira os lençóis de cima dela.
Eu a olho. Nunca vi uma garota pelada, era estranho e bobo. Eu gosto dos
meus gibis, dos heróis, mas papai disse que aquilo eram coisas para crianças.
Ele diz que não sou criança e precisava me tornar um homem.
Fico paralisado encarando Roseli, nua. Ela tem peitos grandes, como os
meninos da escola diziam. Peitos grandes e redondos. E pelos loiros no meio
das pernas. Ela não está machucada como pensei, não tem nenhuma marca no
corpo. — Lucco, venha. — Ela sussurra e estende a mão. Eu pego, deixo ela
me puxar, para cima dela. — Não se preocupe! Você não vai se machucar. —
Tranquiliza Roseli, com um sorriso.
— C-como chegou aqui? — Sussurro para ela. Sinto seus peitos
colados nos meus, eles estão quentes. Seu corpo está quente contra o meu.
Ela olha de relance, para papa e diz. — Seu pai. Pegou-me na esquina
da escola dizendo que você não estava bem, eu acreditei e... — Ela para de
falar. Papa a enganou, minha amiga. Que me protegia a caminho de casa,
para os garotos mais velhos não me baterem. Sinto as lágrimas chegando e
Roseli acaricia meu rosto. — Está tudo bem, eu não me importo. Seus irmãos
não me machucaram, eles pediam desculpas a todo o momento, entre choros
silenciosos. Sei que você é como eles. Bom.
Aceno para ela e fico parado. Eu tenho medo, mesmo assim. — Ande
logo com isso, porra! — Rosna o meu pai. Eu e Roseli, tomamos um susto e
nos mexemos. Ela abre suas pernas e me segura lá, arregalo os olhos em sua
direção.
— Não se preocupe, já disse a você. — Lembrou Roseli.
Ela segura a mim, balançando sua mão para cima e para baixo. Eu sinto
coisas estranhas dentro de mim, sinto muito calor. Olho para a sua mão e vejo
que estou reto, Roseli me puxa mais para perto dela, abrindo mais suas
pernas. Então ela me coloca lá. Solto um gemido e a sensação é única, ao
mesmo tempo, estranha. Roseli é quente lá dentro e úmida, me faz gemer de
novo. Ela envolve suas pernas no meu corpo e pede para eu me mover, ela
me ajuda. Movo-me para cima e para baixo, mas sinto que quero mais. Algo
foi aberto dentro de mim e há uma urgência.
Eu quero mais, muito mais que aquilo. Seguro as mãos de Roseli,
colocando-as acima da sua cabeça, ela me olha franzida e geme. Vou mais
rápido, parece que meu corpo sabe o que está fazendo e eu gosto. Não sinto
mais medo, apenas sinto. É maravilhoso e não quero parar.
— Seja mais rude, Lucco. É o único que não está chorando como uma
garotinha, diferente de seus irmãos frouxos. — Exclama papa, rindo.
Mas ele não precisa dar opiniões. Algo dentro de mim disse para eu ser
rude e agradar papa. Algo disse para ser forte. Seguro os pulsos de Roseli,
com força, e com a outra mão pego o seu pescoço e aperto, até que vou
rápido, para dentro dela, tão rápido que a cama faz barulho e papa está rindo.
— L-lucco! Para! — Exclama Roseli, com os olhos bem abertos. Não dou
ouvidos, estou gostando do que estou fazendo com ela. É muito bom, sinto-
me um verdadeiro homem com poderes.
Roseli implora, mas acabo dando um tapa na sua cara, e meu pai
gargalha. — CALA BOCA! — Rujo para ela.
— Vire-a de costas, meu amado filho! Há outras partes para você se
divertir. — Quando a solto, Roseli me empurra, saio de dentro dela e me
sinto vazio. Ela tenta se levantar da cama entre choros, mas a puxo pelo
cabelo e papa já está ali, jogando ela na cama, de costas, e enfiando seu rosto
contra o travesseiro. — Segure-a assim! E foda essa vaca riquinha! — Rosna
meu pai.
Faço o que ele manda. Seguro seus cabelos loiros, com força, e não a
deixo se soltar. Olho para sua bunda e entro de uma vez. Forte. Fazendo-me
urrar de sensações. É melhor que a outra. É delicioso e me sinto um homem
de verdade! Eu ouço seus choros abafados e não paro de entrar nela
bruscamente, sinto meu corpo suar, o corpo dela tremer. Mas não paro, eu
não posso. Meu pai me deu algo maravilhoso, para me tornar um homem, eu
gosto da sensação. Faz-me gemer e gritar. Roseli se debate embaixo de mim,
seus gritos não podem ser ouvidos.
Eu não paro, vou o quanto posso aguentar. Minutos se passam e Roseli
não se debate. Eu queria que ela lutasse, é melhor assim. Eu gostei de vê-la
lutando.
Sinto algo sendo puxado para baixo, de dentro do meu corpo, uma
sensação de sono e liberdade. Solto um gemido alto e sinto algo sair de
dentro de mim e entrar na Roseli. Estou esgotado e cansado. Caio por cima
dela, com a respiração ofegante, meu coração bate descontrolado e meu corpo
lá embaixo está pulsando, dentro da Roseli.
Quando me sinto bem, abro os meus olhos e me afasto dela. — Lucco!
Quem diria, o filho mais medroso e chorão comeu uma boceta e um cuzinho,
virgem! — Exclama meu pai, batendo palmas. — De agora em diante, você
poderá comer as putas que quiser! Para um garoto, já sabe muito bem foder!
Estou orgulhoso. — Ri papa. Eu gosto disso, quero mais. Quero Roseli. E
vou tê-la, me aproximo dela e tento virá-la, mas ela está imóvel. Balanço seu
braço, chamando-a.
— Roseli, vire-se! — Ordeno, imitando o tom de papa.
Meu pai vem até nós e segura os ombros dela. Quando a vira, seu
cabelo está no rosto, papa me dá um olhar franzido e tira os cabelos. Então
grito. Roseli está com os olhos abertos e a boca também. Esta imóvel! Ela
não respira! Afasto-me dela rapidamente e pego minhas roupas, vestindo elas
às pressas. — Eu a matei! Eu a matei! — Grito chorando e me sentindo fraco.
Papa soltou um rosnado e esbofeteou meu rosto, fazendo meu choro cessar e
meu pânico sumir.
— Cale a porra da boca! Sua mãe está logo ali, seu merdinha medroso!
— Rosna entre dentes, papa. — Você apertou demais a cabeça dela contra o
travesseiro. Porra, olhe, vá para rua e volte somente de noite! E se você disser
para alguém o aconteceu aqui, mato você e seus irmãos. E se disser o que
houve com a garota para os seus irmãos, mato sua mãe na frente de todos
vocês, entendeu?! — Ele me olha com fogo nos olhos e temo pelos meus
irmãos e minha mamãe. Aceno para ele freneticamente e corro para fora.
Quando saio na rua, crianças estão brincando e me chamando, mas eu
corro. Longe. Estou descalço e sinto meus pés sendo feridos pelo asfalto
quente, mas quero ir para longe de casa dessa vez. Paro em um parque de
árvores e me sento na frente da água. Meu coração está acelerado e respiro
com dificuldades. Eu me sinto estranho, tenho medo e tenho sensações. Olho
para o céu e choro.
***
Chego a minha casa e ela está silenciosa. Entro e não há ninguém na
sala, encaro a cama arrumada e suspiro. Roseli não está mais. Vou até o
quarto de mamãe e a vejo dormindo, deitada tranquilamente. Olho para o
corredor e vejo a luz, do meu quarto, acesa, corro as pressas até lá e quando
abro a porta, meus irmãos estão ali, engraxando seus sapatos. Eles me olham
por um momento e então corro até Vittorio, me abraçando nele e chorando.
Ele larga seus sapatos e me abraça de volta.
— Ele fez com você também, não fez? — Pergunta ele, segurando
minha cintura, me olhando. Esfrego meu olho esquerdo com a mão e aceno.
Eles não sabiam? — Sim, ele fez. — Sussurro.
Demétrio solta um rosnado baixo e se levanta da cama de baixo do
beliche. — Ele prometeu que não colocaria Lucco nessa! Ele é uma criança,
porra! — Eu não gosto quando Demétrio me chama de criança. Ele sempre
está querendo ordenar eu e meus irmãos a fazerem algo. Ele sempre está
mandando em mim e eu não gosto disso.
Viro-me de costas para Vittorio, empurrando a cintura de Demétrio, ele
é muito alto para idade que tem, mas não tenho medo dele. Ele se vira, com o
rosto franzido. — Eu não sou criança! Seu fodido!
— O quê?! — Os três dizem ao mesmo tempo.
Vittorio me vira para ele e me encara confuso. — Desde quando fala
palavrões?
— Vocês não mandam em mim! — Exclamo, empurrando suas mãos.
— Agora sou como vocês! Eu sou um homem! Eu comi uma boceta! —
Estou respirando alto e de olhos arregalados. Meus três irmãos mais velhos
me encaram boquiabertos, por segundos. Até que eles começam a gargalhar.
A gargalhar de mim!
Demétrio me segurando pela gola da minha camiseta, me empurra para
Bernadir, rindo alto. — Seu idiota, fazer sexo não te torna mais homem. —
Riu Demétrio.
Bernadir bagunça meu cabelo como de costume e me senta ao seu lado,
mas me levanto e empurro Demétrio, pela barriga. — Papa me disse que irei
comer quantas putas eu quiser! Porque eu fodi uma boceta e um cu! Ela
gritou e eu fui forte, a segurei! Diferente de vocês, seus bichinhas! — Os três
arregalam os olhos e se entreolharam, Demétrio me olha com suas
sobrancelhas unidas e suspira, passando a mão no seu cabelo bagunçado,
avermelhado.
— Isso Lucco. Chama-se estupro. Seu papai está te ensinando a ser um
monstro como ele! Maltratando as mulheres, seu idiota! Você não será um
homem, fazendo essas coisas. Será um merda que precisará ser parado! E eu
que vou fazer isso! — Ele dá dois passos e me segura pela orelha, como
sempre faz. — Se eu ouvir você dizendo mais uma porra dessas, vou castrar
você! Sabe o que é castração, homem da casa? — Bernadir e Vittorio soltam
uma gargalhada, com o que ele me diz. Seguro sua mão, que aperta minha
orelha e o encaro bravamente.
Vittorio aparece e me puxa para ele, segurando meus ombros. — O
deixe, só porque entrou em uma vagina, se acha um adulto. — Ri e me
balança. — Vá tomar um banho e pare de falar besteiras. — Vittorio me
empurra para a porta e volta a sentar na cadeira, para engraxar seus sapatos.
Olho com raiva para eles, que tiram sarro de mim. Acham que sou como eles,
choraram como menininhas, enquanto comiam a Roseli!
— Eu odeio vocês três! — Exclamo, segurando a maçaneta da porta.
Bernadir me olha, com as sobrancelhas arqueadas e responde. — E nós
te amamos. — Sorri pequeno. — Onde está a garota? — Ele perguntou com
carinho e eu gosto quando Bernadir fala assim. Vittorio diz que ele manipula
as pessoas assim, sendo carinhoso, mas eu não acredito.
Se disser o que houve com a garota para os seus irmãos, mato sua mãe
na frente de todos vocês, entendeu?!
A ameaça de papa está rondando minha mente, eu sei que ele cumpre o
que diz para nós e tenho medo disso. Balanço minha cabeça, freneticamente,
e abro a porta. — Papa me mandou para rua e ela estava aqui. Não sei. —
Falo de uma vez. Demétrio está encostado no beliche e me olha seriamente.
Ele tenta me deixar com medo, mas desvio meu olhar e abro a porta.
— Tudo bem, vá tomar um banho. Trouxemos bolacha de chocolate
para você. — Sorri Bernadir, tirando seu cabelo loiro do rosto. Ele pisca para
mim e então saio dali. Corro para o banheiro e tiro minhas roupas, esqueço-
me completamente de tudo, pois estou faminto!
***
— Lucco! Acorde! — Abro meus olhos e papa está dentro do quarto,
ele se afasta da minha cama e faz um sinal com a mão, para ir atrás dele.
Quando sai, me levanto da cama e olho para o chão, onde Bernadir dorme.
Passo por ele rapidamente e saio do quarto, fecho a porta com cuidado e
corro para a sala.
Papa está fumando, sentado na sua poltrona, fico na sua frente,
esperando. — Lucco, preciso te dizer algo. — Ele apaga o cigarro no cinzeiro
e segura minha mão, me puxando para sentar em seu colo, eu olho
atentamente para ele. — Sabe! Você me surpreendeu essa tarde. Eu não
imaginava que você faria tudo aquilo. Seus irmãos deveriam aprender com
você, eles serão uns merdas se continuarem como são e você, será temido.
— Quero ser temido. — Murmuro. — E socar a cara de Demétrio. —
Completo.
Papa solta uma risada e dá leves batidinhas no meu rosto. — Não
implique com seu irmão. Por que não soca as caras de outros? Como dos
garotos que sempre batem em você? Você é um homem agora, e pode fazer o
que quiser! Principalmente ter isso. — Ele pega uma caixinha de cima do
banco ao lado da sua poltrona e me entrega. Abro a caixinha curiosamente e
quando vejo, um estilete está lá dentro. É brilhante e eu gosto. — Quando
eles vierem para cima de você, use essa arma. Você não precisará ser
defendido por uma putinha! Você é um Gratteri e todos nós somos fortes.
Não dependemos de ninguém. O que eu mandei que todos vocês fizessem
hoje, foi para complementar a força de vocês, veja os seus irmãos. Eles não
temem nada, mas tiverem medo de se enterrarem em uma boceta. Você não.
Olho para ele sorrindo e aceno. — Eles não gostaram, papa. Disseram
que não posso fazer isso!
Papai me olha franzido. — Qual deles?
— Demétrio. — Não hesito em falar. Eu não ligo para ele.
Meu pai solta um rosnado baixo e se mexe na poltrona. — Amanhã eu
vou dar um jeito naquele imbecil arrogante! Ele é um verme, idêntico ao seu
avô! — Papa está bravo e sei que amanhã, Demétrio estará em maus lençóis.
Não me importo. Papa me tira do seu colo e diz. — Você pode fazer o que
quiser! Logo, eu não estarei mais entre vocês, assim como sua mãe. E eu
preciso de alguém para ser como eu, um homem sem leis, que faça tudo o que
quer, sem ter medo! Agora, me responda Lucco: você será esse homem?
Os olhos verdes de papa estão brilhando por causa do fogo na
lamparina acesa, eu olho pensativo para o estilete e imagino cortando a cara
daqueles garotos. De todos eles. Depois, Roseli vem em minha mente,
pedindo que pare e chorando. Eu quero aquilo novamente! Eu quero ter o
controle sobre todos! Quero ser mais que o meu pai, e serei! Sinto que não
sou mais definitivamente uma criança, sou um homem feito e partir de hoje,
irei sair com meus irmãos, irei roubar como eles são ordenados por papa. Eu
verei uma garota, e irei controlá-la! Vou ser tudo o que meus irmãos jamais
serão!
Olho para meu pai e então sorrio como ele. — Sim papa, eu serei esse
homem.
Ele abre um sorriso e estende sua mão, aperto ela enquanto ele diz. —
Agora sim, mais um Gratteri nasce.
O melhor Gratteri.

TWO

DIAS ATUAIS...
D O I S M I L E S E T E (2007)
A galeria está a todo vapor nessa semana. Eu estou tão animada, que
não consigo parar em um só lugar. Caminho até as escadas, indo ao andar de
baixo, quando vejo mais turistas entrarem, abro um sorriso largo e chego
perto da entrada. — Sejam bem-vindos a Gallery Kohulo! Chamo-me Olivia
Lester, como posso ajudá-los? — Pergunto, juntando minhas mãos.
Uma das três mulheres me olha, sorrindo e diz. — Oh! Estamos
procurando por Yulia Brodskaya? — Dou o meu melhor sorriso profissional,
e coloco minhas mãos atrás dos quadris. E as convido.
— Ela está no segundo andar, sigam-me, por favor.
Ando na frente delas e subimos as escadas transparentes até o local
desejado. Quando paro, ao lado das obras da artista, as mulheres começam a
bater fotos. — Como vocês podem ver, a artista Yulia Brodskaya é
especialista no assunto quilling, também conhecido como filigrana em papel,
é uma técnica que existe há séculos, onde um artista manipula tiras de papel
colorido, enrolando-as em formas decorativas. O papel é então colado,
juntando todas as peças de filigrana, criando uma obra de visual
impressionante. — Elas me olham animadas, então continuo, olhando para
uma das obras. — O material parece atuar sobre as percepções e ideias de
maneira singular, de modo que a observação se torna uma parte importante da
mensagem. Sendo um objeto tridimensional, a obra de Brodskaya oferece
múltiplas visões. Dependendo do ângulo de observação, da intensidade e da
direção da iluminação, a mensagem emocional emitida pela obra à
experiência visual do observador muda, significativamente. A artista cria,
também, desenhos em papel para clientes de todo o mundo. E clientes
famosos.
— Ela é magnífica! — Exclama a mulher mais baixa. — Srta. Lester,
sua galeria é a única que trouxe uma artista russa contemporânea aqui na
cidade, meus parabéns! Gostaríamos muito de ter uma das obras, qual
sugere? — Respiro fundo e olho para as quatro obras, a da mulher idosa
segurando o cachimbo, sempre foi a minha favorita, apesar de ter o valor
mais alto.
Aponto para o quadro e digo. — Essa obra é espetacular, a forma que
ela ilustrou o olhar da mulher, simplesmente admirável. Mas... — Eu não
poderia sair por baixo. Sou ótima em fazer os clientes saíram com suas mãos
ocupadas. As duas mãos e não uma. — Este aqui, ficaria um luxo na sua sala
de jantar. Irá trazer mais cor, e um toque especial de contemporâneo. Prometo
que não irá se arrepender. — Sorrio.
As duas mulheres olham para ela, com seus olhos brilhando. — Deus,
Marta! Ela tem razão, sua sala de jantar precisa de algo assim. Aquela mesa
combinaria perfeitamente com o quadro! — Elas falam, ao mesmo tempo,
juntas, rindo e olhando para as obras. Marta, como foi chamada, me encara
com um grande sorriso, dizendo.
— Onde eu pago pelos dois?
***
Abro a porta do meu apartamento e a fecho rapidamente, estou
esgotada pelo meu dia. Jogo minhas coisas em cima do sofá vermelho e
avisto Boyd, na sua mesa, com seu computador. Chego por trás dele e beijo
seu pescoço. — Você deveria se divorciar desse computador, há todos os
dias, uma mulher na sua cama. — Provoco. Boyd me olha com um sorriso
torto e me puxa, me sentando no seu colo.
— E você acha que eu não noto essa maravilhosa mulata, de olhos
verdes, na minha cama? — Pergunta, beijando meus lábios, me fazendo rir.
O que há para saber entre Boyd e eu, é que, sua família nunca aceitou o
nosso namoro de quatro anos, bem, digamos noivado, mas eu nunca disse a
palavra sim. Conhecemo-nos em um bar, Boyd, era amigo de um amigo, e eu,
amigo do amigo do amigo. Vai entender. Começamos a conversar, bebemos
algumas cervejas e depois disso, não nos separamos mais. Sua família? Oh,
sim. Eles nunca aceitaram nosso relacionamento, no início, eu achara que era
pelo fato de eu ser oito anos mais jovem que ele e por ser pobre. Mas depois
de um jantar catastrófico, na casa dos pais dele, descobri que era por eu ser...
como eles disseram mesmo... ah! Por eu ser uma moreninha das favelas de
Nova Orleans. Argh! Eu não me importo com isso, nunca me abalei com
comentários racistas, mas quando vi a mãe do meu namorado/noivo soletrar
cada palavra eu caí em prantos.
Boyd é o típico inglês de Londres. Cabelos louros, alto pra cacete e um
sotaque fofo. Ele, em todos esses anos, ficara contra sua família, dizendo que
nunca iria me deixar. Bem, eu me sinto mal por ser o pivô da separação dele
com seus pais e irmãos, mas depois de um bom tempo, eu não me importei
mais. Tudo isso, era pura bobagem. Mas Boyd é o que mais sofre nisso tudo e
eu odeio isso. Eu estou apaixonada desde então, sinto que ele será o pai dos
meus cinco filhos – eu jamais direi isso para ele – e que teremos uma longa e
maravilhosa vida na Flórida. Eu penso Flórida, ele pensa Londres.
Durante esses quatro anos, juntos, foram dias e meses de sacrifícios.
Mas, eu estou feliz. Ele me faz feliz. E nada mais importa. Acaricio os
cabelos macios de Boyd, olhando em seus olhos azuis. — Como está indo a
nova planta? — Pergunto. Ele olha para a tela do computador e depois
suspira.
— Um pouco embaraçoso, o cliente é muito exigente em mínimas
coisas. — Murmura, me encarando. — Mais quero que me fale de você.
Como foi hoje na galeria?
Reviro meus olhos, cansadamente, e me levanto do seu colo, ele dá um
tapa na minha bunda, enquanto tiro meus brincos.
— Cansativo, mas eu consegui vender oitos quadros. Bem, esse foi o
mínimo.
— Você é ótima nisso, meu amor. Fico feliz. — Boyd se levanta da
cadeira e me pega no colo, fazendo-me gritar e rir. Entrelaço minhas pernas
na sua cintura e mordo meu lábio inferior. — O que acha de um banho, bem
relaxante, do tipo gemidos e orgasmos? Depois, eu faço o jantar. —
Murmura. Beijo sua boca lentamente, fazendo Boyd, soltar um gemido.
Planto um selinho nos seus lábios e sorrio. — É uma ideia fantástica,
estou mesmo precisando de um banho com gemidos e orgasmos. — Ele solta
uma risada e vai me levando até o quarto. Beijando sedutoramente os meus
lábios.
— Hmmm... sua safadinha. — Solto outra risada, junto com ele e
desaparecemos dentro do banheiro do quarto.
***
— Mais rápido! — Peço ofegante. Boyd, segura minha cintura, me
levanta e desce freneticamente sobre o seu pau ereto. Seguro seu pescoço
com minhas mãos e gemo a cada estocada, fazendo a água da nossa banheira,
cair no chão do banheiro. Rebolo sobre o seu pau, repetidamente, e beijo sua
boca de uma forma faminta e selvagem.
Boyd solta um gemido e entra em mim, com mais rapidez. Deixando
minha boceta deliciosamente dolorida. Ele segura meu coque frouxo, na sua
mão direita, e com a outra, me empurra com força em seu pau. — Estou
chegando. — Diz em voz alta e ofegosa. Começo a cavalgar em cima dele,
estimulando meu orgasmo, para chegar junto com ele. Em alguns minutos,
jogo minha cabeça para trás e espremo meus seios no rosto de Boyd.
Soltamos um gemido embaraçado e nos libertamos do orgasmo, continuo me
balançando para cima e para baixo, até que eu sinta o meu corpo se acalmar.
Quando acabamos, nos beijamos, terminamos nosso banho e nos
vestimos. Indo até a nossa cozinha. Boyd passa por mim, dando a volta no
balcão da cozinha. — Sabe, a empresa está pensando em fazer uma festa no
dia de carnaval. Será na casa do Abraham, na sexta. — Ele pega uma garrafa
de vinho e despeja nas duas taças, oferecendo uma para mim. Solto um
suspiro alto e me sento em uma das banquetas.
— Eu o detesto e você sabe o porquê. Porque ele...
— Adora jogar estagiárias para cima de mim. — Dizemos em uníssono.
Dou um gole no vinho e encaro Boyd. — Liv você sabe que eu não dou à
mínima para elas, nem para o cara que gosta de ser um babaca.
Cruzo meus braços em cima do balcão, observando-o a cortar os
legumes. — Eu dou à mínima, Boyd. Ele sempre acha um momento para
tentar destruir nosso relacionamento. Se formos a essa festa, o que acha que
acontecerá? Você será assediado por alguma secretária vadia e peituda! —
Exclamo revoltadamente. Eu odiava o tal de Abraham, ele era um dos
arquitetos da TMJ, assim como o Boyd. Ele sempre buscava alguma mulher,
para Boyd, tanto na minha presença, como na minha ausência. E quando eu o
questionava, ele ria e dizia:
"Liv! Eu jamais faria isso! Você e Boyd, são da família, estou apenas
sendo engraçado. Hahaha."
Totalmente um filho puta, que se achava demais. Eu não gostava
também, como ele tratava Boyd, sempre passava a perna nele, quando se
tratava de um trabalho grande. Eu, na maioria das vezes, dizia a mim mesma
que meu namorado era ingênuo e bonzinho. Mas havia momentos em que a
palavra, trouxa, aparência com frequência.
Boyd me olha com um sorriso e vai até o congelador. — Eu nunca
trocaria seus peitos pequenos por silicones. — Pego uma maçã que está na
cesta, e jogo nas suas costas, fazendo-o rir. — Estou brincando! Mas você
sabe disso, Liv. Eu a amo e nenhum peito nessa vida, vai me separar de você.
Abraham é um otário, vamos ignorá-lo educadamente. — olho para ele, sem
dizer nada o que o faz suspirar e dar a volta no balcão, me viro quando ele se
aproxima e separo minhas pernas, puxando-o para mais perto.
— Vai ser difícil ignorar o cara que está fazendo a festa. E dentro da
sua casa. — Murmuro.
Boyd sorri para mim e acaricia meu queixo. — Sim, vai ser. Mas nós
vamos conseguir fazer isso. Abraham fica bêbado com duas taças de vinho
português. Vai ser moleza. — Solto uma risada baixa e balanço minha
cabeça. — Então vamos? Você vai? Comigo? Deixar aqueles babacas
morrendo de inveja a me ver com a mulher mais linda do mundo? Hein? —
Enquanto ele murmura as perguntas, tenta me beijar, mas viro minha cabeça
várias vezes, nos fazendo rir. Seguro suas mãos que estão no meu rosto e
olho para cima, nos seus olhos.
— Tudo bem. Mas iremos voltar cedo. — Boyd, me puxa para um
beijo e depois morde meu lábio.
Ele beija minha testa e depois se afasta, voltando para o nosso jantar.
— Direi amanhã de manhã para ele. Prometo que não vai se arrepender. Você
precisa se divertir. — Comenta, sorrindo e piscando. Passo a mão no meu
cabelo e suspiro.
— É. Talvez eu esteja mesmo precisando.
***
Paro no estacionamento da galeria, saindo às pressas de dentro do
carro. Entro pelos fundos e corri até o escritório, deixando minhas bolsas lá e
correndo para a entrada do prédio. Meu relógio não tocou e a noite passada
fora longa, ao lado de Boyd! Eu estou sem maquiagem, meu vestido lápis
amarelo está amassado e meus olhos pesados de sono. Sentindo-me uma
verdadeira merda.
Quando chego à frente das portas duplas de vidro, um homem lá fora,
está de costas para mim, fumando um cigarro. Há mais dois homens com ele,
como guarda-costas. Destranco as portas, abrindo-as e olhando, curiosa. Ele é
alto, cabelos castanhos avermelhados, musculoso. Está usando um terno azul
escuro e sapatos de couro caramelo. O carro é de luxo e todos os fatores
indicam que ele é alguém importante, que está querendo quadros novos.
O homem termina o seu cigarro, jogando na calçada e depois pisando
em cima. Ele tira algo de dentro do seu paletó e pega um frasco pequeno,
espirrando o líquido transparente em sua mão e depois, espalhando nas duas.
Quando termina, se vira em minha direção, tirando seus óculos de sol. Ele é
bonito e elegante. Há uma barba rala, envolta do maxilar, e seus olhos são
escuros. Quando ele me vê, ali parada. Paralisa. Seus olhos descem por mim
e depois, voltam lentamente.
Pigarreio timidamente e abro um grande sorriso. Ele faz o mesmo,
depois se vira para os homens perto do carro, diz algo, fazendo os outros
assentirem e, vem se aproximando. Passo a mão no meu cabelo escuro e
então abro meu sorriso, entrelaçando minhas mãos, quando ele chega perto.
— Olá, senhor! Seja bem-vindo a Gallery Kohulo. Eu me chamo Olivia
Lester, em que posso ajudá-lo? — Ele me olha com um sorriso de dentes
perfeitamente brancos e alinhados, estende sua mão e a seguro, apertando.
E então, ele me fala. — Hum, Olivia. Estou precisando de algumas
obras, no estilo Danae. — Ele termina a frase, dizendo em voz baixa, me
olhando de cima a baixo. Tento abrir um sorriso, mas não consigo, então,
faço o meu melhor. Ele está começando a me intimidar e eu não gosto disso.
Olho para a rua, em busca de Katherine, mas não há sinal dela.
— Por favor, me acompanhe. — Falo, indo até as escadas.
Sinto-o me acompanhando e vou o mais rápido possível até o lugar que
ele procura. Quando paramos, mostro as duas pinturas disponíveis para o
seu... gosto. — Essa foi feita por Eugene Delacroi, a pintura, na verdade, não
é conhecida, mas acredita-se que ela foi feita entre 1825 e 1826. Se chama
A...
— A Maja nua. — O pronuncia, antes de mim. Seus olhos saem da
pintura e me olham. — Conte-me sobre ela. — Fala seriamente.
Aceno com minha cabeça e suspiro. — Bem! Existem inúmeras teorias
sobre a mulher retratada na pintura. Alguns historiadores acreditam que a
mulher nua foi Teresita, uma irmã de um padre. Então, novamente, há
aqueles que acreditam que o artista simplesmente exibiu uma mulher ideal, a
partir de seus pensamentos e não uma senhora real. — Quando termino, o
homem está olhando atentamente para o quadro, assentindo. Ele se afasta um
pouco para trás e aponta para o outro.
— E aquele.
Sigo seu olhar e chego mais perto da outra pintura. Porra, onde
Katherine se enfiou?! — Essa obra foi criada por Jeon-Leon Gerome em
1861. Seu nome é Phryné antes do Aeropagus, onde retrata a história de
Alcipe, a amada filha de Ares. Depois de ter sido estuprada por um padre, seu
pai decidiu tomar a lei em suas próprias mãos, matou o sacerdote responsável
por corromper sua filha. — Solto outro suspiro e olho para as duas pinturas.
— Na minha humilde, e profissional opinião, senhor, acredito que a pintura A
Maja nua, será de boa escolha. Posso mostrar uma incrível pintura do artista
Sandro Botticelli, que há no primeiro andar da galeria.
O homem olha para as duas pinturas e, depois, balança sua cabeça em
negativa. — A segunda pintura, me cativou. Principalmente a história dela,
deve ter sido horrível para essa pobre moça, ser tocada por esse padre sem o
consentimento dela, não concorda Srta. Lester? — Ele me olha depois de
perguntar. Encaro a pintura, onde há a garota e todos os homens de vermelho,
sentados, olhando-a.
— Acredito que no final de tudo, o padre teve o que merecia. Aliás, nos
tempos de hoje, ele iria para o corredor da morte. — Murmuro.
O homem abre um sorriso largo, assentindo e depois rir. — Eficiente,
vamos dizer assim. Bom... — Seus olhos se apertam, olhando para as
pinturas, quando ele diz. — Vou querer as duas e mais a outra que iria me
mostrar, de Botticelli. — Arregalo meus olhos e gaguejo.
— S-senhor...
Ele me olha, com suas sobrancelhas levantadas. — Os quadros são
caros demais? — Pergunta calmamente.
— Bem, na verdade... sim. E nesses casos aceitamos apenas em
dinheiro, mas se o senhor não... — Ele balança a sua mão e revira os olhos
arrogantemente.
O homem dá um passo em minha direção, dizendo. — Dinheiro não é
problema. Por favor, Srta. Lester. Onde devo pagar? — Eu estou
completamente boquiaberta! Seus quadros escolhidos devem passar de $100
mil dólares! E ele irá pagar em dinheiro? Nesse momento? Quem será que ele
é?
— Me desculpe senhor. Por favor, vamos ao andar de baixo.
Descemos as escadas, indo até o escritório, pessoas já estão por lá e
finalmente me sinto aliviada. Eu vou matar a Katherine! Quando entramos no
escritório, pego o tablet sobre a mesa e olho para o homem. — Preciso de
informações básicas do senhor. Nome e com o que trabalha; as normas da
galeria são um pouco diferente, nos preocupamos com obras tão valiosas. —
Explico educadamente.
Ele para ao lado da mesa e suspira. — Sou empresário. Tenho boates
em Nova York, Las Vegas, Los Angeles... Veneza. — Claro. Com aquele
estilo, obviamente que é um empresário bem-sucedido. Escrevo na tabela de
"clientes importantes" e o olho.
— Seu nome completo?
Ele me olha de cima a baixo, pela quarta vez e passa a mão na sua
barba. — Lucco Gratteri. — Sorri.
Escrevo o seu nome e deduzo que seja latino ou europeu. Robert ficará
louco com o novo peixe grande que comprou os quadros. Quando termino,
abro um sorriso. — Certo, está tudo ok, Sr. Gratteri. — Confirmo, ainda com
um sorriso estampado na cara. O Sr. Gratteri, vai até lá fora, sem pedir
licença e depois volta. Seus guarda-costas aparecem no escritório, um deles
segurando uma maleta preta. Ele entrega ao seu chefe, que está sorrindo para
mim.
— Aqui está o valor total dos quadros, e mais quinze mil pela sua
incrível competência. — Ele abre a maleta e há muito dinheiro por lá. Eu
estou sem fôlego. Ele acaba de me dar quinze mil dólares, por apenas contar a
história dos quadros? Sendo que a introdução está, de fato, ao lado das
obras?! Olho para ele, de olhos arregalados e sem conseguir falar. —
Pretendo vir novamente essa semana, Srta. Lester. Espero que você tenha o
que eu preciso. — Murmura com um sorriso torto nos lábios.
Não entendo o que ele quer me dizer, mas consigo sorri fracamente e
digo. — Farei o que for possível, Sr. Gratteri.
Ele arqueia sua sobrancelha esquerda e diz. — Ótimo... Senhorita
Olivia Lester.

THREE

— Então, quando houver mais obras do meu agrado, me ligue nesse


número. — Lucco se vira para mim e entrega um cartão preto, com letras
douradas, escrito seu nome e dois telefones. Olho para ele com um sorriso e
aceno com a cabeça. Estamos parados na porta do escritório e eu ainda sem
soletrar uma única palavra, depois de vê-lo me dando aquele "bônus" por
apenas mostrar os quadros raros. Lucco me dá um olhar hesitante e depois
pousa seu dedo indicador, na frente dos lábios. — Se não for muito
incômodo, poderíamos jantar amanhã? Sabe, para falar dos quadros, estou
pensando em me associar a sua galeria.
Pisco de forma surpresa e rio. — Sr. Gratteri, quanta generosidade sua.
Meu chefe ficará feliz em tê-lo como um comprador fixo, mas, eu apenas
apresento as obras e as vendo. Outras situações são com o dono da galeria, se
o senhor quiser, posso pegar o número dele agora mesmo...
— Não, Srta. Lester. — Interrompe a sua voz. — Eu quero você, nesse
jantar. Posso ter sua confirmação? — Pergunta educadamente.
Olho em seu olhar brilhante e tranquilo, sem saber o que dizer. Eu
nunca tinha sido convidada para jantares com homens ricos que entravam na
galeria, essa situação cabia mais para Robert, meu chefe. Passo a mão em
meu vestido e dirijo um sorriso, o Sr. Gratteri arqueia as sobrancelhas.
— Claro senhor. Será uma honra. — Afirmo.
Devo falar com Robert sobre isso, ele precisará saber. O homem me dá
um olhar satisfeito e sorrir torto. — Ótimo. Amanhã, quando estiver saindo
de seu trabalho, meu carro estará aqui para buscá-la, Srta. Lester. — Ele pega
minha mão direita com a sua e se curva, depositando um beijo. Tão
cavalheiro. — Foi um imenso prazer conhecê-la e negociar com você. Até
amanhã. — Com isso, ele sai da galeria com seus dois guarda-costas
elegantemente. Negociar. Na verdade eu nem tive tempo de dizer algo, ele
simplesmente olhou, perguntou, gostou e comprou. Esses eram os tipos de
clientes que Robert sempre queria.
Solto um suspiro e me viro para entrar no escritório. Vou até a maleta
com o dinheiro gordo e me congratulo. Meu chefe ficará de queixo caído. —
Bom dia! — Ouço a voz animada de Katherine atravessar o escritório branco.
Levanto minha cabeça e sorrio. Ela está com dois copos de café nas mãos,
sorrindo. — Desculpe o atraso. O Senhor Darcy estava doente. Aqui. — Ela
coloca um dos copos sobre a mesa de vidro. Senhor Darcy é o seu gato de
estimação. Começo a tirar os plaque de dinheiro da maleta, começando a
contar. Mesmo sabendo que o Sr. Gratteri não passaria a perna em mim, era
norma da galeria contar nota por nota.
— Não se preocupe, eu cheguei um pouco atrasada, mas vendi três
quadros caríssimos também. Olha. — Viro a maleta e Katherine arqueja.
Ela se aproxima rapidamente em cima dos seus sapatos scarpins
vermelhos. — Jesus! Quanto dinheiro! Quais dos quadros mais altos? —
Pergunta, passando a mão sobre o dinheiro. Olho para ela e sorrio.
— Botticelli.
— Não. — Arqueja mais uma vez.
Rio para ela e aceno. — Sim, um dos raros. Comprou sem fazer cara
feia. — Me viro para abrir o cofre do escritório, digitando a senha e
colocando o dinheiro ali, enquanto digo. — E ele me chamou para um jantar
amanhã, disse que quer ser um sócio da galeria. — Quando me viro,
Katherine está de braços cruzados, sorrindo. Ela revira os olhos quando fala.
— Somente um cego para não notar o que esse homem quer! —
Exclama.
Franzo a testa e dou de ombros. — E o que ele quer?
— Te levar para cama, Liv. Óbvio! Não me lembro de saber que você é
ingênua com o sexo masculino. — Ironiza. — Ele não vai querer apenas um
jantar profissional, vai por mim. — Ela pega seu café da mesa e se despede
de mim, dando uma piscadela. Suas palavras rodam em minha cabeça. Será
que ela está certa? Porém, ele não transmitiu essa intenção. Levar-me para
cama? Argh. Fala sério. Se ele tentar, apenas, tentar algo, pouco me
importarei, eu chuto as bolas dele! Reviro os meus olhos e pego minha
generosa gorjeta dada pelo Sr. Enigmático Gratteri.
***
Hoje, Boyd e eu, fomos jantar no restaurante Galatoire's com seus
amigos Mathew e Gael. Como sempre, eu não sou próxima das pessoas que
são muito próximas de Boyd, não porque sou antissocial! Mas porque ele só
encontra amizades ridículas, com pessoas que gostam de ser mais que os
outros. Isso me frustra. — Soube que o Sr. Wendel quer abrir uma nova
cafeteria em Boston, mas até agora o idiota não entrou em contato. —
Murmura Gael, enquanto beberica seu vinho. Boyd o olha cansadamente e
balança a cabeça.
— Eu sei que ele quer todas as cafeterias no mesmo estilo, então, em
algum momento ele ligará para você, Gael. Não se preocupe. — Assegura
com um sorriso.
— Você é todo confiante, só porque os McNarra estão em suas mãos!
— Zomba Mathew. — Você vai ganhar mais dinheiro que uma puta ganha
em horas. — Ri, com Gael fazendo o mesmo. Trinco os dentes e olho para o
meu namorado. Ele me olha de volta e faz um sinal para eu não me
preocupar, aquilo me enlouquece, eu não consigo ficar calada quando se trata
dos amigos babacas que Boyd tem, todas as vezes que saímos com alguns
deles, voltamos para casa discutindo.
Bem, eu que discuto, pois Boyd apenas diz para mim me acalmar, mas
eu fico puta!
Depois de alguns minutos, os homens conversando sobre seus
trabalhos, o nosso jantar chega. Eu me sinto aliviada, pois estava faminta e
queria ir embora o mais rápido possível. Até que Boyd fala. — E então Liv,
como foi na galeria? — Limpo minha boca com o guardanapo branco e bebo
um pouco do vinho rosé.
— Bom. No início da manhã vendi três quadros, um deles era meio
raro. E foi pago em dinheiro, e... — Olho para ele sorrindo, ele faz o mesmo.
— Ganhei quinze mil dólares do comprador, por falar dos quadros. — Três
pares de olhos masculinos me encaram boquiabertos, como se o que eu
acabasse de dizer, tivesse sido a notícia da chegada da terceira guerra
mundial. Gael pigarreia e balança sua cabeça como se estivesse espantando o
sono.
Ele se curva sobre a mesa, dizendo. — Quinze mil dólares?! E-esse
cara é o que?
— Não sei Gael, eu não estava fazendo uma entrevista, estava
trabalhando. — Respondo acidamente. Eu estava me segurando desde que
nos sentamos! Mathew gargalha com o que digo e Gael me olha de cara feia,
eu sei que ele não gosta de mim, então eu preciso dizer que... eu também não
gosto dele. — Ele se chama Lucco Gratteri, estava acompanhado com dois
guarda-costas brutamontes. Ele disse que é dono de boates em Nova York,
Los Angeles, Las Vegas e Veneza.
Os três homens suspiram. — Puta merda. — Diz Boyd. — Um peixe
grande, como o próprio Robert diria se estivesse aqui, na América. —
Acrescenta sorrindo. Os três concordam com suas cabeças e sorriem. Suspiro
com isso e pego minha taça.
— Além disso, ele disse que gostaria de me levar para jantar amanhã,
depois do trabalho. E eu aceitei. — O silêncio se forma como uma bolha em
volta da nossa mesa, encaro Boyd, ao meu lado que está me olhando
franzido. Eu sei muito bem que quando aquelas sobrancelhas loiras se unem,
quer dizer que ele não gostou da notícia.
Seus amigos o encaram, porém finalmente mantém suas línguas no céu
de suas bocas. — Jantar? Com você? Por quê? — Pergunta Boyd. Coloco a
taça de volta ao lugar e remexo-me na cadeira.
— Ele disse que gostou do meu trabalho e que gostaria de se associar a
galeria, não posso perder a oportunidade, Boyd. É importante.
— É importante para Robert, Olivia! — Retruca, se virando para me
encarar.
Fecho os olhos, passando os dedos sobre a testa. — Para mim também,
você sabe que não quero passar a minha vida demonstrando quadros, Boyd!
Quero minha própria galeria e se eu conseguir essa chance incrível para
Robert, ele me apresentará para pessoas importantes e com pessoas
importantes ao meu lado, posso construir algo meu. — Boyd me olha
revoltadamente, seus olhos estão em brasa. Ele trinca a mandíbula e pega a
taça de vinho bruscamente da mesa.
— Não faz sentindo ir jantar com ele! Você não irá.
Gargalho e reviro os olhos. — Sim, eu irei! Você não é meu dono. —
Suspiro, dizendo com tranquilidade. Boyd me joga um olhar mortal e rosna.
— Você não irá, Olivia. E isso não é um pedido...
Rio mais uma vez e tiro o guardanapo branco do meu colo, jogando em
cima do prato. — Quer saber? Não tenho tempo para discussões, amanhã eu
trabalho e depois irei jantar com o Sr. Gratteri! — Me levanto da cadeira,
com os três homens olhando. — Continue aqui com seus amigos idiotas que
só sabem rir da sua cara! Enquanto você, babaca, tenta mostrar que manda na
sua namorada para eles! Você nunca mandará em mim, você e ninguém!
Tenham uma ótima noite seus filhos de uma puta! — Noto quase todas as
pessoas do restaurante me observando, mas estou me lixando para isso! Boyd
se levanta quando pego minha bolsa e dou passos firmes até a porta de saída.
— Olivia! — chama, mas já estou longe.
***
No dia seguinte estou na entrada da galeria, meio lotada, de braços
cruzados, olhando a movimentação da Bourbon Street. Enquanto estou
recostada em umas das portas de vidro, recordo-me da noite passada. Boyd
tinha chegado ao nosso apartamento depois das 03 h da manhã e não dormiu
no nosso quarto. Óbvio. Todas as vezes que discutíamos, ele sabia que eu não
o deixava deitar ao meu lado. Porém, quando acordei essa manhã para ir fazer
minha corrida, antes de trabalhar, ele não estava no sofá da sala. Já tinha
saído para trabalhar.
Por mim, tudo bem. Eu odeio quando alguém tenta ordenar o que devo
fazer, não sou um cachorro. E isso é ridiculamente inaceitável! É o meu
trabalho e eu faço o que quero.
Suspiro com os devaneios e me viro para entrar, já é quase o horário de
almoço.
***
Quando tranco as portas da Kohulo, sigo até os fundos e saio, fazendo o
mesmo processo. Estou olhando para dentro da minha bolsa, procurando as
chaves do meu carro quando aquela voz me chama. — Srta. Lester? —
Sobressalto, olhando para cima e vejo o Sr. Gratteri, parado ao lado do meu
carro. Eu pensei que ele tinha desistido desse jantar, e não fazia ideia de o
próprio viria me buscar. — Me perdoe, assustei você? — Se aproxima ao me
perguntar.
Solto uma risada nervosa e arrumo as alças da minha grande bolsa, que
está na minha mão. — Eu estava distraída, pensei que o senhor não viria. —
Comento. Ele me dá um olhar penetrante e depois, sorri. O Sr. Gratteri chega
mais perto de mim, dizendo-me:
— Nunca descumpro minha palavra. E pode me chamar de Lucco.
Permita-me. — Ele tira a minha bolsa de mão onde está meu notebook e
tablet, pegando e me chamando para o seu carro estacionado. Há dois homens
sentados nos bancos da frente, mas não são os mesmo de ontem, são outros
guarda-costas. Uau. Esse tem grana. Porém é em outro carro, um Audi preto
A3. Lucco caminha para o carro da frente, abrindo a porta do passageiro do
Audi R8, também preto, para mim e agradeço sorrindo. Quando me sento no
banco de couro, olhando em volta do interior e inspirando o belíssimo cheiro
de novo, ele está dando a volta no carro e então entra, se sentando ao meu
lado.
Ele me olha com um sorriso torto. — Tudo bem? — Pergunta. Suspiro
e sorrio.
— Ótima. — Respondo.
Ele liga o carro, assim como o de trás e então saímos do
estacionamento da galeria. Olho para seu perfil e engulo em seco, hoje, estou
mais atenta a sua aparência. Ele é muito, muito bonito mesmo! — Quantos
anos você tem? — Pergunto sem pensar. Pigarreio envergonhada, mas parece
que ele não se importou com isso. Lucco me olha de relance, com um sorriso.
— Tenho 27 primaveras. — Pisca em minha direção.
Arqueio minhas sobrancelhas e sorrio. — E já é um empresário? Eu
gostaria de ser como você, quando crescer. — Murmuro. Lucco ri com isso e
paramos em um sinal de trânsito. Hoje, as ruas estão lotadas, mesmo sendo
quarta-feira. Na verdade todos os dias em Nova Orleans são sábado! Nunca
deixamos de festejar qualquer coisa, por aqui. Quando o sinal abre, ele me
pergunta.
— Basta ter força de vontade, não deixar os outros a colocarem para
baixo, não seguir regras que não irão acrescentar a sua vida. — Ele me olha
com um sorriso sem mostrar os dentes. — Vai por mim, se você não se
submeter, conseguirá alcançar os objetivos. Aliás, você é nova, a tempo de
sobra para você.
Faço uma careta e rio. — Com vinte e cinco anos não sou tão jovem. —
Murmuro. — Quero ter minha própria galeria, mas o meu namorado Boyd,
sempre diz que... Seria muitíssimo arriscado você largar o seu emprego, que
conseguiu com tanto esforço! Nos dias de hoje devemos nos contentar com o
que temos, a galeria é o seu ganha-pão, então quem sabe mais para frente
você tenha sua galeria? Por enquanto, fique na Kohulo, lá é ótimo. —
Quando termino de imitar a voz de Boyd, rindo, ao mesmo tempo, olho para
Lucco, que franze a testa.
— Namorado? — Pergunta e me olha.
Aceno com a cabeça. — Sim, bem... ele me pediu em casamento há
dois meses atrás. Mas eu não disse o "sim". — Sorri olhando para a pista. —
Fiz errado? — Pergunto. Ele me olha novamente, mas dessa vez não sorrir.
— Só diga sim quando estiver preparada. — Murmurou. — Achei que
você fosse solteira. O que ele disse sobre o meu pedido de jantar? —
Finalmente paramos em frente a um restaurante chique chamado Felicyous,
onde um homem parou na frente da minha porta e abriu para mim.
Olho para Lucco e dou de ombros. Não irei dizer a ele que seu convite
custou uma discussão, no meio do jantar da noite passada, com o meu
namorado. — Eu tomo minhas decisões, mas o deixo informado. Vamos? —
Viro-me, pego a mão estendida do homem e agradeço a ele. Lucco joga a
chave do carro para ele e para ao meu lado, colocando a palma de sua mão
direita sobre minhas costas, nos guiando para dentro do restaurante lotado e
muito sofisticado. Ele dá seu nome para a recepcionista, que, aliás, morde o
lábio quando o vê, ela nos chama para dentro e nos leva até uma mesa com
duas cadeiras, onde está um papel sobre a mesa escrito "Reservado". Lucco
agradece para ela, ao mesmo tempo, puxa uma das cadeiras, para mim.
— Olivia. — Me convida. Sorrio, agradecendo e me sento. Deus, ele é
tão cavalheiro!
Depois, ele se senta na minha frente e chama um garçom. — Por favor,
gostaríamos de pedir primeiro Kuromaguro e uma garrafa de Krug Brut. —
Ele olha atentamente para o cardápio e fala. — Depois disso, tragam um
prato de Carpaccio, mas coloquem molho bolonhês em cima, e também
Bruschetta. E você Olivia? — ele fecha o cardápio e entrega para o garçom,
que escreve tudo com agilidade. Olho rapidamente para o cardápio em
minhas mãos e dou de ombros.
— Pode me trazer Tortellini de Bolonha ao molho? — Pergunto ao
garçom, ele escreve tudo com um sorriso.
Pega o cardápio de mim. — Se a senhorita o deseja. Trarei os petiscos
de Kuromaguro e o champanhe, sintam-se a vontade. — Ele nos deixa ali e
pigarreio, olhando para os lados.
— Está nervosa? — Pergunta ele, de repente.
Faço uma careta e rio. — Pensei que você era espanhol. — Mudo de
assunto. Lucco sorri para mim, e cruza as mãos em cima da mesa.
— Sou italiano. — Murmura, me olhando atentamente. — Estava
pensando em mim?
Sua pergunta me pega de surpresa e me deixa com o coração batendo
forte. Quando abro minha boca para respondê-lo, o garçom volta com o prato
da comida que eu desconheço, mas vejo que é um tipo de salmão. E em
seguida a garrafa dentro do balde de gelo. Ele nos serve a bebida, colocando
nas taças e diz que daqui a quinze minutos, nossos jantares estarão prontos.
Quando ele se vai, continuo. — Eu fiquei curiosa para saber sua origem. —
Digo simplesmente. Lucco pega um dos kuromaguro e enfia na sua boca.
— E eu fiquei curioso sobre você. — Responde. — Diga-me, seu...
namorado. Moram juntos há quanto tempo?
Estou mastigando a refeição e depois bebo um pouco do champanhe. É
delicioso. — Há cerca de cinco anos. Conhecemos-nos através de amigos em
comum. — Sorrio e, de repente, uma saudade bate em mim. Eu odeio ficar
brava com Boyd, sempre me sentia mal quando cessávamos uma discussão.
Mas hoje eu pedirei perdão. Só hoje. Lucco arqueia as sobrancelhas e assente,
dessa vez ele pergunta olhando para a comida que pega.
— Você o ama?
Sua pergunta faz minha mente girar. Eu já disse uma ou três vezes que
amava Boyd, mas... ninguém nunca me perguntou isso diretamente. E eu não
gostava da sensação que estou sentindo no momento, mordi meu lábio
inferior e demorei a respondê-lo. — Sem pressa. — Diz para mim. — Não é
porque estão juntos há muito tempo, que deva amá-lo. Não é uma obrigação.
Se bem que, pelo o que você me contou sobre ele, ele não te apoia no seu
sonho. Isso é triste, o homem deve sempre incentivar a sua companheira.
Vice-versa. — Completa, em seguida, bebendo o champanhe. Novamente
suas palavras me causam efeitos contraditórios. Sim, ele está certo sobre o
que diz, mas... eu não sei. Solto uma risada e mordo o lábio inferior.
— Você me deixa confusa. — Confesso.
Lucco sorri torto, com um olhar sério e penetrante. — Não fique.
Apenas estude os dois lados e veja qual tem mais razão, o que eu disse a
você, é apenas a verdade. — Ele suspira e passa a mão na camisa branca
social. Ele está maravilhosamente bonito, usando calça jeans escura, com a
camisa por dentro dela e sapatos Oxford. — Bem, eu vou ser sincero, acho
justo. Convidei você para esse jantar, pois fiquei interessado em você e não
porque quero me associar à galeria, mas quando vi seu olhar animado, irei
conversar com o dono, Robert Hill, direi sobre você também. Mas antes...
quero algo.
Katherine estava certa. Então ele está apenas interessado em mim... em
mim?! Um homem desses? Se bem que Boyd está apenas uns nove passos
longe de Lucco Gratteri.
Franzo minha testa. — O... que seria? — Pergunto desconfiada. Lucco
me encara por tempo suficiente para me deixar envergonhada, seus olhos me
observam atentamente. Solto uma risada nervosa, mas permaneço calada. Até
que ele diz.
— Sexta-feira é um dia grande pela cidade, pelo o que me disseram. Eu
não moro aqui, estou apenas a negócios e irei embora no sábado de manhã.
— Ele respira e continua. — Sexta à noite... fui convidado para um baile de
um amigo e preciso de uma acompanhante. Gostaria que você, Olivia, seja
minha acompanhante. O que acha? — Sinto meu corpo vibrar com seu
segundo convite! Um baile? Deve ser um sonho ser acompanhante em um
baile, de pessoas de alto padrão e ainda ter um homem como Lucco Gratteri,
ao seu lado.
Abro minha boca, ansiosamente, mas então paraliso. Sexta-feira.
Merda! Sexta-feira, Boyd e eu fomos convidados para irmos a casa de
Abraham. Olho para o homem sentado a minha frente, me olhando com
atenção. — E então, Olivia? — Pergunta simplesmente.
FOUR

O Garçom chega a nossa mesa com nossos pratos de jantar. Isso me dá


tempo para dar a resposta que Lucco espera. Ele inspira o cheiro do seu
alimento e geme, aquele som faz meu estômago se contorcer, respiro fundo,
pego o garfo, já como um pedaço da minha refeição. — O que achou? —
Pergunta ele. Arqueio as sobrancelhas e pego o guardanapo, limpando cada
canto de minha boca.
— Muito bom! Obrigada. — Respondo.
Ele me olha por uns segundos e depois sorri, enquanto diz. — E então?
Sobre o baile... — Bebo meu champanhe e aceno com a cabeça, o melhor
será dizer a verdade, pois eu tinha notado que Lucco não é o tipo de homem
para ser enrolado.
— Eu fico feliz em ser convidada por você, mas eu já tenho planos para
a sexta a noite. Boyd e eu fomos convidados a uma festa, de um amigo dele.
— Desabafo.
Os olhos de Lucco estão sobre mim, escutando tudo o que eu lhe digo e
confesso que seu olhar, me deixou perturbada, ele conseguia mudar
radicalmente seu semblante. Ele suspira com isso e se recosta sobre a sua
cadeira, enquanto segura a sua taça de champanhe na mão direita. — É
realmente uma pena, gostaria muito que você estivesse ao meu lado na
próxima noite. — Ele olha para o lado com uma cara irritada, porém contida
e bebe sua bebida.
Não sei o que dizer, aliás, posso dizer que essa sua... hã... “obsessão”
por mim está me incomodando, eu noto como ele se segura para não
transparecer algo e isso me deixa inquieta. Olho para o restaurante chique e
lotado, sonhando em ir embora, porém não posso, seria total falta de
educação da minha parte e com certeza se Robert souber disso, me cortaria
em pedacinhos! Lucco Gratteri é alguém importante para a Kohulo e não
posso desperdiçar a chance, somente porque estou "achando-o estranho".
Passamos apenas a comer nosso jantar, estava tudo incrivelmente
delicioso e foi isso que me manteve distraída. Eu estou quase no fim do meu
jantar quando Lucco, finalmente me fala algo. — Precisa voltar cedo para
casa? — Pergunta franzido. Eu o olho. Está com um olhar leve novamente e
isso me acalma. Sua pergunta faz com que eu, fique em dúvidas. Dizer sim,
dizer não?
— Hã... não. Posso voltar quando achar melhor. — Sorrio para ele e
Lucco, faz o mesmo.
Ele levanta o dedo rapidamente, chamando o garçom que já está ao
lado da mesa. — Pode trazer a conta, por favor? — O garçom assente e vai
para longe. Enquanto isso, Lucco me encara sorrindo torto. — Há um lugar.
***
O Carro de Lucco para de frente a um grande e alto reservatório de
água. Ele é pintado de branco e há uma escada fundida a ela, para subir lá em
cima. — Venha. — Chama Lucco, saindo do carro e eu também. Olho para a
estrada de terra e fecho a porta do seu carro.
— É aqui que você me assassina? — Pergunto, ao me aproximar dele.
Seu rosto se franze e uma risada escapa de seus lábios. — Errado. Esse
reservatório está abandonado, descobri-o na semana passada, venha. — Ele
estende a sua mão e olho para ela. É apenas uma mão, nada demais! Suspiro e
seguro ela com a minha, sua mão é grande sobre a minha, e quente, um pouco
calejada também.
Caminhamos em direção ao reservatório e noto que tem uma porta da
mesma cor para entrarmos, quando paramos na frente dela, olho em volta, o
lugar é meio escuro e aparenta ser assustador. — Podemos entrar nisso? —
Questiono e olho para cima, até o topo. Lucco tira uma pequena chave prata
do bolso da calça e coloca na fechadura, destravando duas vezes e segurando
a maçaneta para abri-la. Ele me olha.
— Me tornei amigo das pessoas que vivem aos arredores. — Explica.
Ele pega minha mão novamente e entramos no reservatório abandonado. —
Bem-vinda. — Murmura, fechando a porta. Arquejo em surpresa pelo o que
estou olhando, caminho lentamente pelo lugar vazio e olho para cima, lá se
pode ver o céu noturno, porém a cor é diferente, como se tivesse água por
baixo do céu.
Olho sorrindo para a bela vista que presencio. — Como é lindo. Parece
um quadro de pintura. — Sussurro e minha voz fazem pequenos ecos.
Realmente, parece um quadro, as paredes do reservatório estão com sombras
de águas e, onde nós estamos à cor brilhante está em cima. Com certeza há
água por ali. — Aqui tem água? — Finalmente pergunto e olho-o. Lucco está
parado na frente da porta de braços cruzados, me observando esse tempo
todo.
— Lá em cima. — Murmura seriamente. — É um tipo de piscina,
assim o reflexo da água bate naquela proteção azul que está no lugar do teto e
aqui embaixo fica assim, o céu com as estrelas, muito mais bonito. — Ele
caminha em minha direção, com as mãos dentro dos bolsos, olhando para
cima. Eu o encaro. Ele está tentando me impressionar? Olho-o de cima a
baixo e suspiro, voltando minha atenção para o teto.
— É uma ideia e tanto. Você gosta disso? — Pergunto e olho para o
seu perfil refletido com a luz da noite e da água.
Lucco suaviza seu rosto e ri baixo, levemente. — Gosto. Muito. Minha
mãe também gostava, tínhamos o hábito de criar cenários com os lençóis em
nosso quintal... — Ele para de falar bruscamente e franze a testa. Suas
palavras saíram sem sua permissão, era notável e provavelmente ele não
gostava de falar da sua mãe. Eu o entendia, também não gosto de falar da
minha família. Passo a mão em meu pescoço e o encaro mais uma vez.
— Você tem irmãos? — Pergunto.
Lucco olha de lado e depois o meu rosto, ele está impassível. — Sim.
Três, sou o mais novo. — Responde, olhando para cima. — E você? —
Pergunta. Suspiro com isso e cruzo meus braços, aqui está começando a
esfriar.
— Tinha. — Lucco me observa, mas não consigo olhá-lo. — Ela era a
caçula, Leslie. Tinha dezoito anos e estava no fim do ensino médio. — Sinto
uma bola se formar na minha garganta. Aquele assunto me corrompe, mas
nesse momento, quero me abrir, quero aliviar o peso.
Vejo Lucco se aproximar mais de mim, ele para na minha frente. — O
que houve com ela? — Umedeço meus lábios com a língua e respiro com
dificuldade, mas não mostro para ele como é difícil falar desse assunto.
— Você viu o atentado de terrorismo há alguns anos atrás em Londres?
— Perguntei.
Lucco franze o cenho e depois suspira, assentindo. — Sim, eu vi na
TV. — Murmura.
— Bem. Minha família estava no metrô e pegou o trem para irem a
Rusell Square. Era a minha formatura na Soas Londres e eles estavam indo
até lá. — Solto uma risada sem humor, sentindo as lágrimas se formando. —
Eu disse para eles chegarem duas horas antes da cerimônia. Duas. Porque não
queria ninguém chegando atrasado a um momento único, que seria meu. Meu
egoísmo os fez entrarem naquele trem.
Engulo em seco e pisco repetidamente para as lágrimas não caírem,
Lucco está me olhando, mas pela primeira vez, não vejo um olhar de pena
após contar a trágica história da minha família. Seu olhar é simples, apenas.
Ele olha para a minha boca e depois sobe seus olhos. — Por que pediu para
chegarem duas horas antes? — Sua pergunta me surpreende. Nada de "sinto
muito" "não foi sua culpa". Passo os dedos abaixo dos olhos, tirando as
lágrimas.
— Naquela época eu não pensei direito. — Digo. — No final, nada
valeu a pena.
Ele arqueia suas sobrancelhas escuras para mim. — Realmente você
tem uma parcela de culpa nisso. — Arregalo meus olhos e paraliso. Ele disse
isso mesmo? É tão estranho ver outra pessoa concordando com o que penso.
Lucco me olha e continua. — Formaturas, sempre há lugares disponíveis para
um total de pessoas. Onde eles estavam hospedados? — Mais uma pergunta
diferente. Engulo em seco novamente e sinto minha cabeça girar. As palavras
dele não são duras, são sinceras e vejo que ele não quer me machucar com
elas.
— Estavam em King Cross. — Respondo amargamente.
Lucco sorri torto e balança a cabeça em negativa. — Sua família
chegaria à sua formatura em vinte e cinco minutos de metrô, Olivia. — Diz
com desdém em sua voz. — Duas horas é um erro terrível. Mas tenho certeza
de que não foi você quem colocou as bombas nos metrôs, se isso te serve de
consolo. — Acrescenta com um suspiro, olhando em sua volta. Não posso
negar, ele é um babaca, grosso, não respeita o luto das pessoas, então por que
eu me sentia mais leve? Todas as suas opiniões, eram as mesmas que eu
pensava desde o ataque. Ele me compreendia.
— E-eu sei. Sinto-me horrível com isso, quase fiquei em depressão...
Ele ri e me paralisa com isso. — Claro. O bom e velho clichê em se
esconder do mundo, quando a família morre e você se sente o culpado, mas
me pergunto: sua família faria o mesmo? — Pergunta cruzando o braço,
apoiando o queixo em uma das mãos. — Olha... me desculpa pela forma que
me expresso, mas eu aprendi com a dor, entendi com a dor, superei com a
dor. Lamentar não resolverá nada, não irá trazer sua família de volta. Eu vi a
morte da minha mãe, bem na frente dos meus olhos e toda vez que me sinto
um merda, lembro-me dela e fico forte novamente. Por que iria destruir
minha vida, pelo fato de alguém que amo ter partido? Será que eu conseguiria
inverter isso? Hum, não, absolutamente não. Não somos nós que criamos
nossos destinos, Olivia. É a vida e a vida quer nos levar para baixo, tem que
dominá-la.
Woool!
Estou sem palavras naquele momento. Lucco fala como um verdadeiro
homem sábio e, isso me intriga, ele não tem medo de escolher as palavras e
acabo de perceber que gosto dele, por esse motivo. Mas também fico curiosa
pela sua mãe, ele a viu morrer? Será que com alguma doença? Porém, eu não
tenho tempo para isso, pois ele está vindo mais perto de mim. Quando Lucco
para, olho para cima, para os seus olhos. — Você foi à única pessoa que não
me consolou sobre essa parte da minha vida. — Sussurro. Ele estende sua
mão, enquanto suspira e esconde a mecha do meu cabelo atrás da minha
orelha esquerda.
— Consolos não ajudam ninguém, Olivia. Só tornam você mais
patético por acreditar nas frases repetidas, eu não tenho o hábito de sentir
pena de ninguém, independente da situação. — Seus olhos me observam em
silêncio, mas sinto que não estou intimidada nesse momento. Ele continua a
dizer. — Apenas se recorde das coisas boas com sua família, sinta seu
momento e... viva. Faça isso por eles. — Ele toca uma vez meu queixo e sorri
rapidamente.
Ele tem razão, sempre finjo estar de bem com a minha vida, mas é
verdade. Aquele dia em Londres sempre está de patrulha sobre minha cabeça
e não sei como viverei com isso. Mas Lucco me deu uma luz, ele está certo e
devo viver meus momentos e recordar das coisas boas com Leslie e meus
pais.
Sorrio pequeno, assentindo. — Você tem razão. Obrigada, Lucco. —
Ele me olha e meneei a cabeça.
— Então, não poderá ir ao baile. — Diz, já mudando o assunto. —
Onde será essa festa?
Fecho os olhos com força para lembrar o endereço de Abraham, pois
fazia quase três anos que não ia a sua casa, somente Boyd. Abro os olhos e
respondo. — Deus. Que loucura! É uma rua atrás da Bourbon Street. Um
casarão branco com a sacada de frente para a rua. — Sinto-me uma idiota por
ter especificado tanto a casa, mas algo dentro de mim gostaria que ele
estivesse por lá. É tão estranho, eu sei, mas sinto-me mais acomodada perto
dele, do que com os amigos babacas e riquinhos de Boyd.
Lucco acena uma vez, dizendo. — Não tão longe de mim. — Murmura,
olhando em meus olhos. — Acho que já está ficando tarde e já consegui
impressionar você com isso. — Ele aponta com a cabeça para cima. Rio e
observo. É muito lindo, não posso negar.
— Então sua intenção era me impressionar? — Pergunto sorrindo,
envolvendo minha cintura com os braços. Está cada vez mais frio e ele tem
razão. Precisamos ir.
Lucco franze a testa e abre os únicos dois botões fechados do seu terno.
— Está com frio? — Ele tira o casaco e antes que eu balance a mão e diga
para não se preocupar, Lucco envolve seu terno quente, com cheiro de
perfume masculino, pelo meu corpo, sobre os meus ombros. Ele puxa mais
para frente, pelas lapelas, até cobrir a parte da frente do meu vestido. Seguro
com as minhas mãos, envergonhada. — É só um terno, Olivia. Não precisa se
preocupar. E sim, gosto de impressionar mulheres... todas.
— Você fala como um verdadeiro libertino. — Brinco. Rindo com a
sua cara arrogante.
Ele morde seu lábio e me olha de cima a baixo. — Talvez eu seja, mas
seria bom alguém mudar isso. Achei que seria você. — Murmura, se
aproxima novamente. O espaço entre nós dois é pequeno, muito pequeno.
— A-acho que está tarde. — Gaguejo.
Lucco sorri de lado e segura minha nuca, se curvando e aproximando
seu rosto de encontro ao meu. Ah merda. — Concordo. — Sussurra. Vejo-o
fechar seus olhos e quando sinto sua respiração quente bater em meu rosto,
viro minha cabeça e olho para o meu relógio de pulso.
— Deus! Você viu a hora? Passou tão depressa. — Exclamo e me
afasto. — Amanhã preciso chegar sem atrasos na galeria. — Olho para ele e
vejo que ainda está com a mão erguida, como se segurasse minha nuca ainda.
Eu não sabia de onde ele tinha tirado a ideia de que eu pudesse beijá-lo. Eu
não sou esse tipo de mulher. Lucco aperta sua mandíbula com força e olha
para a direção da porta. Ele respira profundamente de olhos fechados. Aquilo
me assusta, parece que ele está se segurando para não fazer algo estúpido.
Olho a distância entre eu e a porta e vejo que não é longe, aliás, estamos
dentro de um galão gigante de ferro, para abastecer água.
Finalmente ele abre os olhos e me encara. Está pacífico e rindo. —
Hmm... Tudo bem. Vou levá-la.
Caminhamos em silêncio para fora do reservatório, quando entramos
no carro e ele já está em movimento, pergunto. — Então, acho que é a nossa
despedida? — Ele me olha de relance e da de ombros.
— Hoje é meia-noite de quinta-feira. Há muita coisa para fazer até o
sábado. — Responde com um pequeno sorriso, desconhecido para mim.
Olho em minha frente e não o respondo. Ele é estranho com as suas
palavras, mas não me importo. Lucco só está chateado porque
provavelmente, sou a primeira mulher que evita ele. Deve ser isso.
— É, pois é. — Murmuro para mim mesma.
FIVE

Sexta-feira. Finalmente os sinos soam dizendo-me que meus dois dias


de folga, estão me aguardando de braços abertos. Mas infelizmente, daqui à
uma hora eu preciso ir para a tal festa no casarão de Abraham, junto com o
Boyd. Na noite passada, quando Lucco me deixou na frente do prédio,
conversamos um pouco mais e depois disso nos despedimos. Quando tinha
entrado no apartamento, Boyd estava trabalhando até tarde, mas eu sabia que
ele estava me monitorando.
Não conversamos. Nem depois que saí do banho e fui para cama, com
ele já lá e nem quando acordei nessa manhã e Boyd tomava seu café.
Eu sempre que aparecia até ele, pedindo desculpas, mas não dessa vez.
Boyd agiu como um idiota, na frente de seus amigos babacas e eu não tolero
isso. Tudo aquilo por causa de um simples jantar! Fico pensando se ele visse
Lucco Gratteri em pessoa, aposto que iria surtar de tanto ciúmes. Enfim,
mesmo sem falar com meu namorado, a noite passada foi interessante ao lado
do Sr. Gratteri. Ele é um homem misterioso, do tipo em que deixa uma
mulher curiosa para saber mais sobre ele.
Quando tinha contado a Katherine sobre a noite, ela surtou! Pulava
como uma criancinha a cada palavra que eu dizia, ainda mais sobre depois do
jantar. Eu também estava empolgada, contando detalhadamente sobre o que
aconteceu. Eu mal consegui dormir, recordando sobre tudo. Principalmente
no estranho olhar dele sobre mim.
Aquilo me incomodava, talvez, não é da natureza dele receber "nãos"
de uma mulher, talvez ele tenha tudo o que queira ou talvez eu pense demais.
Lucco não aparenta ser uma ameaça, mas como meus pais sempre me
diziam... As aparências enganam. E eu sempre escutei meus pais, pois eles
sempre acertavam no que diziam.
Nesse momento estou me maquiando, em meu banheiro. Sentindo uma
necessidade absurda de correr para longe, sem a mínima vontade de ir até a
casa de Abraham. Eu sei que fui convidada, pois Boyd foi convidado e seria
estranho demais eu não ser. Nenhuma das pessoas que estarão presentes
naquele lugar, gosta de mim, principalmente Abraham. O motivo? Bem,
acontece que Boyd e Violet, a irmã de Abraham, foram namorados no ensino
médio e nos dois primeiros anos de faculdade. Todos estudaram juntos e
sempre foram amigos. Violet e Boyd tem um passado longo, mas ela teve que
se mudar de país e depois de um tempo, eu conheci Boyd. O resto já se pode
deduzir.
Ela voltou para Nova Orleans acreditando que Boyd a esperava, mas
foi surpreendida. Ninguém ousou contar a ela sobre mim, pois esperavam
uma briguinha entre mulheres. Bom, ela tentou fazer isso acontecer em uma
noite no bar Skill, mas eu apenas a ignorei. Seria completamente ridículo
brigar por causa de um homem! Fala sério!
Eu jamais faria isso e Violet notou que não sou como ela. Então, ela
agora, tem o costume de puxar Boyd para longe de mim, quando estamos no
mesmo local e ficar abraçando-o e me olhando com um sorriso de puta boba.
Às vezes me pergunto se eu realmente sinto o que sentia por Boyd, quando o
conheci. Talvez não seja aquela paixão ardente de como era antes, mas eu
sinto algo por ele, mesmo não demonstrando na maioria das vezes.
Katherine estranha que eu não tenha ciúmes de Violet, mas eu apenas
digo que me garanto. O que é uma verdade! Mas ela apenas assente e dá um
"Anham" para mim.
— Está pronta? — Boyd aparece na porta do banheiro, vestido de calça
jeans e camisa branca social, por fora das calças. Olho para ele, através do
espelho e sorrio.
— Só vou me trocar. — Respondo, guardando minhas maquiagens em
seus lugares. De repente, sinto os braços de Boyd envolvendo minha cintura.
Olho novamente para cima e vejo seu olhar quebrado. — Até quando
vai me deixar no castigo? — Pergunta, beijando meu ombro. Respiro fundo e
olho para ele.
— Você que se pôs lá. — Murmuro. — Eu apenas estou aqui, na
minha.
— Liv. — Ele diz em suspiro e me vira para ele. Olho em seus olhos
azuis. — Não faça isso, você sabe que eu odeio ficar nesse péssimo clima
com você. Olhe me perdoe. Ok? Eu agi como um idiota achando que era o
seu pai, na frente dos outros. Desculpe-me, prometo que não irá se repetir. —
Ele faz um biquinho e encosta sua testa contra a minha.
Seguro um sorriso torto e dou um selinho nos seus lábios. — Promete?
— Pergunto. Boyd abre um sorriso pequeno e assente.
— Prometo.
— E prometa que dará um basta na Violet, eu não tenho ciúmes, mas
está ficando chato; toda vez que ela está por perto, faz a mesma cena. —
Explico, revirando meus olhos.
Boyd se aproxima mais, beijando minha boca e depois minha testa. —
Ela não será um problema, essa noite será nossa. Tudo bem? — Aceno com a
cabeça e sorrio. — Ótimo, vou deixar você terminar de se arrumar. — Ele
tasca um beijo em mim, mais uma vez, e sai de dentro do banheiro. Quando
estou sozinha novamente, respiro fundo e caminho até o closet, buscando
meu vestido e sapatos.
***
A casa de Abraham se encontra com portas e janelas abertas, sons de
músicas de jazz saindo de lá de dentro e muitas pessoas, tanto no andar
debaixo, como também no terraço da casa. As ruas estão lotadas de pessoas
animadas e sorridentes, todos em suas próprias diversões na noite de hoje.
Quando Boyd e eu entramos na casa, já avistamos seus amigos
conversando e rindo, com copos cheios de Bourbon nas mãos, Abraham é o
primeiro que nos vê e rapidamente solta um grito animado, esticando os
braços como fosse abraçar alguém. Ele caminha entre a multidão dentro da
casa e para na nossa frente, abraçando e dando tapinhas em Boyd. Olho-o de
cima a baixo, franzido o cenho pela sua vestimenta. Abraham está usando
uma roupa de dormir da cor vinho,, em tecido seda e um robe de camurça
preto por cima, além de estar usando aqueles chinelos de pelos, que mais
parece uma pantufa.
— Meus amigos vieram! — Ele exclama e me dá um abraço rápido.
Boyd entrega a garrafa de champanhe que trouxemos, para ele. — Não
perderíamos isso por nada.
— Não precisava disso, Boy. AQUI, GARÇOM! ABRA ESSE
CHAMPANHE E SIRVA MEU AMIGO E SUA NAMORADA. — Ele grita
para um homem, que está olhando em nossa direção. — Então? Vamos até os
outros? — Abraham abraça Boyd pelos ombros e o leva até o tanto de
amigos, que estão mais no fundo do salão da casa, sua mão se solta da minha
e ele dá um rápido olhar para trás, mas sua atenção já está nos amigos.
Solto um suspiro baixo e olho em minha volta. Pessoas que nunca vi
em minha vida, estão ao redor de mim. Volto a observar Boyd e seus amigos,
onde estão rindo e conversando, mas eu não quero ir até lá. Sinto-me
deslocada nesse ambiente. De repente, os olhos do meu namorado param
diante de mim, ele diz algo para o grupo, fazendo todos os olhos me
encararem. Suspiro novamente e aceno com a mão, mas são apenas dois que
devolvem o aceno. Boyd está passando pelas pessoas e finalmente chega
perto de mim.
— Me desculpe meu amor, por deixá-la aqui. — Diz, quando está na
minha frente.
Aceno com a cabeça e o garçom chega com duas taças de champanhe,
Boyd recusa por estar bebendo Bourbon, mas eu pego. As duas taças. — Está
tudo bem, eu já esperava que seus amigos preconceituosos fizessem isso. —
Murmuro, dando um gole na bebida. O gosto e as bolhas em minha língua
deixam-me calma aos poucos. Boyd me olha impassível e balança a cabeça
em negativa.
— Eles não são assim, apenas estão...
Rio. — Fala sério Boyd, eles não gostam de mim pelo fato de eu não
ter nascido em um berço de ouro, assim como vocês. — Retruco em
desgosto. — Abraham não teve alternativa; se ele te convida, sabia que eu
viria também. Então, pode voltar para o seus amigos, estou bem. — Minto
para ele. Apesar de eu não estar nada bem em ficar sozinha, quero que Boyd
fique longe. Quero sua presença bem longe de mim e eu sei o porquê. Ele
nunca vê o que eu vejo nos seus amigos, ou talvez ele finja apenas para não
perder as amizades.
Então vai perder a garota...
Aquelas palavras estão constantes em minha cabeça. Eu gosto muito do
Boyd, mas me enoja vê-lo tentando fazer com que seus amigos aparentem
serem anjos.
Ele olha ao redor, passando a mão no seu cabelo loiro, depois me
observa. — Vamos ficar aqui por uma hora, ok? Depois compramos comidas
japonesas e vamos para casar assistir um filme, está bem? — Ele propõe.
Olho para a taça quase vazia e aceno com a cabeça. Boyd dá um sorriso
meigo e se curva, para beijar meus lábios, demoradamente. Eu quero
empurrá-lo, mas me contenho. — Não quero ficar brigado com você, ainda
mais por culpa de terceiros, novamente. Prometo que daqui à uma hora
estaremos indo.
— Tudo bem. — Respondo.
Boyd beija minha testa e se afasta, indo até os seus amigos. Estou de
costas para eles e quando me viro, vejo Violet com um largo sorriso, abrindo
os braços na direção de Boyd. Ela está belíssima, em um vestido vermelho de
seda que vai até a metade de suas coxas. Seus cachos loiros se balançam com
seu movimento e sua pele de porcelana, sem nenhuma manchinha. Ela agarra
Boyd, com suas unhas de bruxa, beijando várias vezes suas bochechas,
quando ela desfaz o abraço, me joga um olhar irônico e se vira de costas para
mim, todos começam a conversar e rirem.
Olho para a segunda taça na minha mão e dou um grande gole.
Pelo visto, aquela uma hora será longa!
***
Subo as escadas com tanta dificuldade, que acabo tirando meus sapatos
e os carregando na mão, com a outra há uma garrafa de uísque, que peguei
escondido na cozinha. Quando chego ao segundo andar da casa, sigo o
corredor onde vejo várias pessoas saindo de lá, passando por mim, vou à
direção contrária e vejo outra escada, onde leva até o terraço do casarão.
Pessoas estão descendo, enquanto eu subo cambaleante até lá.
Quando chego ao terraço, olho para os dois lados e gemo em alegria.
Sozinha. Ainda bem. Jogo meus sapatos em cima de uma espreguiçadeira e
bebo o uísque no gargalo da garrafa, caminhando até o parapeito que vai até a
minha cintura. Olho para baixo e vejo o quão às ruas da cidade estão lotadas
de pessoas, músicas de jazz por todo o lado e em alguma rua, um desfile de
banda passando a todo vapor.
A noite de Mardi Gras esta fantástica! Deixando as ruas de Nova
Orleans, todos os anos, coloridas. Eu não me canso de dizer como amo esse
lugar. Deposito a garrafa em cima do parapeito e me curvo sobre ele, sinto
uma tontura, ao mesmo tempo, meu corpo está leve e em paz! Nada de
pensamentos que me deixem irritada. Olhos para as pessoas em suas fantasias
ou usando apenas perucas, ou óculos coloridos, e aceno animada para elas.
Para a minha satisfação elas gritam e fazem o mesmo para mim, gargalho
com isso.
Minha mente está leve e tudo o que quero é sorrir. Já tinha se passado
uma hora e meia, Boyd mal se lembrava de mim e do que tinha dito! Ele
estava com seus amigos idiotas e com a vaca da Violet, pendurada em seu
pescoço. Pois que fiquem! Hoje mesmo eu darei um basta nesse
relacionamento, vejo que não há futuro para nós, dou graças a Deus por não
ter dito sim, ao seu pedido de casamento.
Eu finalmente daria o que seus amigos e familiares tanto queriam.
Nossa separação.
Sou tirada dos meus devaneios, quando meus olhos se estabilizam em
alguém, que chama a atenção no meio daquelas pessoas. Lucco Gratteri está
ali no meio da rua, parado e olhando para cima, para mim. Mãos dentro dos
bolsos da calça e vejo que usa terno e camisa pretos, sem gravata. Um sorriso
começa a se formar em meus lábios e então levanto a mão e aceno para ele,
animada por vê-lo ali. Que coincidência! Lucco acena com um breve sorriso
e depois vira sua cabeça, para falar com o homem ao seu lado, não tinha
notado que ele está com dois guarda-costas. O homem acena para ele e olha
para mim, depois, ele e o outro grandalhão caminham para longe.
Lucco me encara risonho e rio com isso, pego a garrafa ao meu lado e
levanto-a com a mão, como se estivesse brindando. Bebo um grande gole e
tusso, com as costas da minha mão esquerda, sobre minha boca. Solto uma
risada, acenando novamente para Lucco, mas então vejo que ele não está
mais ali. Franzo o meu cenho e me curvo sobre o parapeito, olhando por toda
a avenida abarrotada de pessoas.
Tento olhar para a calçada e por um momento acabo perdendo meu
equilíbrio e meus pés saem do chão, solto um grito assustado, mas mãos
firmes seguram minha cintura, puxando-me com força para trás. Meu corpo
se choca com algo duro e sinto meu coração tamborilar em choque. Que
merda! Eu não posso beber tanto assim novamente! Solto uma risada frouxa e
olho para cima, mas rapidamente paro quando dou de cara com o objeto que
quase fez com que eu caísse do terraço.
— Tentando se suicidar Srta. Lester? — Brinca Lucco, com um sorriso
nos lábios.
Dessa vez meu coração está batendo fortemente e sei que não é por
causa do pequeno incidente. Engulo em seco e olho nos seus olhos escuros e
sedutores, eles estão diferentes naquela noite, estão selvagens. Enfim,
consigo dizer-lhe algo.
— Lucco. — Sussurro.
SIX

Lucco me leva até a última espreguiçadeira, bem longe da porta. Há


somente nós dois aqui e desde que ele apareceu, eu não conseguia falar.
Quando ele me faz sentar sobre a espreguiçadeira, ele se senta ao meu lado e
segura meu queixo, fazendo-me olhar em seus olhos. Estão franzidos. — Por
que está aqui, sozinha? — Pergunta simplesmente. Mordo meu lábio e respiro
fundo, a embriaguez me deixa tonta e tímida ao mesmo tempo, a festa
continua nas ruas, em nossa volta a todo vapor. Você poderia soltar um grito
e ninguém te ouviria. Lucco arqueia suas sobrancelhas e diz mais uma vez.
— Responda. — Fala suavemente.
— E-eu quero estar sozinha. — Gaguejo.
Ele abre um sorriso torto e olha para a porta. — Gostei de vê-la
sozinha. — Responde, abaixando seus olhos por todo meu corpo. — Alguém
viu você subindo até aqui? Seu namoradinho? — Pergunta ironicamente, mas
finjo que não notei. Lucco está diferente essa noite, está... ameaçador. Dou de
ombros e olho para as minhas mãos em meu colo.
— Boyd está mais preocupado com os amigos. — Digo em desgosto.
— O uísque está me fazendo uma bela companhia. — Rio e pego a garrafa
que coloquei no chão. Dou um grande gole e faço uma careta, encaro Lucco e
ele me observa. Estendo a garrafa para ele, mas sua cabeça se balança em
negativa. Bebo mais um pouco e coloco a garrafa no chão.
De repente a mão de Lucco segura a minha, olho para elas e depois
para o seu rosto, está impassível. — Vamos sair daqui. Pelo visto seu
namorado já escolheu o que ele quer realmente. — Murmura, levando os
dedos até o meu rosto. Lucco faz uma carícia um tanto incômoda para mim,
mas estou bêbada demais para criar charme. Quando noto suas palavras,
franzo o cenho.
— O que quer dizer com isso?
— O óbvio. — Ri para mim. — Ele não se importa com você, Olivia,
mas eu me importo. Você se importa comigo? — Pergunta em voz baixa.
Pisco repetidas vezes e olho para toda a sacada, vazia apenas com as
espreguiçadeiras e nós dois.
Engulo em seco, dando de ombros. — Você é gentil, mas... acho que é
cedo demais para dizer que você é importante para mim, Lucco. Nem nos
conhecemos e... — Ele afasta sua mão de mim, abruptamente, com um olhar
duro. Seu maxilar se contrai quando me encara. A mudança repentina do seu
humor me assusta, muito, mas tento transparecer calmaria. Lucco respira
fundo e abaixa sua cabeça.
— Estou há dias, praticamente me jogando para você, como a porra de
uma vagabunda! É assim que me sinto, mas você tem que vir com esse
jeitinho gentil e esse olhar inocente que me deixa... —Ese aproxima mais e
sobressalto, mas Lucco não faz nada, vejo que ele se segura. Ele fecha a mão
esquerda em punho e rosna. — Esse olhar faz minha imaginação fluir
fertilmente. O fodido do seu namorado não é homem para você.
Arqueio as sobrancelhas e me espanto com seu modo de falar. Parece
que o Lucco educado e gentil se foi...
— E quem seria o homem certo para mim? — Pergunto. — Você?
Nem nos conhecemos, você não me conhece e muito menos o Boyd! Só
porque é rico, não significa que vou me jogar no seu colo, agora me deixe em
paz. — Me levanto da espreguiçadeira e caminho cambaleante até a saída do
terraço, quando estou próxima da porta, a mão de Lucco segura o meu braço,
ao mesmo tempo, ele me empurra contra a parede. Eu olho irritada para ele,
mas não tenho tempo de dizer alguma coisa, Lucco imprensa seu corpo
contra o meu e segura meus punhos com uma só mão, ele coloca atrás de
mim e com a mão livre, segura meu pescoço com leveza.
Fico apavorada. O som alto e os gritos animados me deixam tonta e
sinto minha respiração se elevar, quando vejo os olhos de Lucco. Ele me olha
com raiva e sombriamente. — Acho que você precisa de uma lição, para
pensar com cuidado antes de gritar comigo. — Sussurra, passando os dedos
nos meus lábios. Tento me soltar e quando estou prestes a gritar, sua boca se
choca com a minha, abafando meu grito. Meu corpo se balança inutilmente,
contra a imobilização de Lucco e sinto sua mão segurando meus punhos, me
apertando. A sua língua se arrasta na minha, sua boca força a minha para se
abrir mais, estou zonza demais para ter mais forças de lutar. De repente, ele
termina o seu beijo e me vira de costas para ele, Lucco nos leva até um canto
mais escuro e começo a chorar, em medo.
— O-O QUE ESTÁ FAZENDO?! — Grito soluçando. Mas Lucco não
me responde, ele me encosta novamente de cara com a parede e sinto sua
respiração perto da minha bochecha.
— O que eu quero fazer desde que a vi na galeria. — Rosna. Sua mão
vai até a barra do meu vestido, ele levanta a saia e deixa minha bunda
exposta. — Eu bati um belo recorde dessa vez, Srta. Lester, me segurando o
quanto eu podia. Você me deixou obcecado! — Rosna mais uma vez, sua
mão puxando minha calcinha para o lado.
Tento me soltar do seu aperto, mas estou lesada demais por culpa da
droga da bebida! Choro desesperadamente e solto um grito, quando sinto dois
dedos dele entrando em mim. — Não precisa fazer isso! POR FAVOR,
LUCCO ME SOLTE E-EU... — Grito novamente, quando ele empurra outro
dedo bruscamente, ele enfia os dedos com força para dentro e para fora.
— Oh sim, baby. Eu necessito fazer isso, não se espante. Eu não vou
fodê-la aqui, vamos ir para outro lugar. — Explica, dizendo perto do meu
ouvido e chupando meu pescoço. Lucco me masturba com raiva, a ponto de
me deixar dolorida e com medo. Grito por socorro mais uma vez e tento
soltar meus braços, ele rir. — Ninguém vai ouvir você. — Sussurra ofegante.
Ele disse que não iria me... foder aqui?!
Sinto o meu coração bater em descompasso, não podia deixar que ele
fizesse algo pior comigo, não podia! Então paro de chorar e de me debater.
— Lucco... — Sussurro. Ele tira seus dedos de dentro de mim e puxa meu
cabelo com força, fazendo-me gritar com a dor. Ele vira minha cabeça para o
lado que seu rosto está e me olha seriamente.
— Tentando me enganar? — Pergunta com um breve sorriso. — Hum,
não deveria tentar me enganar, meu amor. Que tal irmos embora? — Ele solta
meus pulsos, mas sua mão segura meus cabelos, enquanto ele abaixa a saia
do meu vestido e me arrasta para longe da parede. Olho em desespero perto
do parapeito, quando reconheço seu guarda-costas, ele está olhando para
cima e sei que é o meu momento.
Dou uma cotovelada na barriga de Lucco, fazendo-o rugir e me soltar,
eu corro até o parapeito e chamo por ele e o outro homem ao seu lado. —
SOCORRO! AJUDEM-ME, POR FAVOR... — Lucco puxa os meus cabelos
novamente e solto um grito, tento arranhá-lo, mas ele é rápido demais!
— SUA PUTA! — Ele vira-me para ele e seu olhar está em brasa, sua
mão se levanta e quando espero pelo seu tapa, alguém nos separa. — ME
SOLTA. — Olho ofegante para trás e tanto os guarda-costas de Lucco estão
ali, como Boyd, Abraham, Violet, Gael e os outros aparecem. Boyd olha para
mim, descabelada e chorando e depois seus olhos vão a Lucco. Ele rosna e
corre até ele, tentando acertá-lo com um soco.
— VOCÊ ENCOSTOU-SE A ELA?! — Grita Boyd.
Os homens tentam separá-lo de Lucco e os amigos de Boyd aparecem
no meio. Há tanta confusão, que nem me importo com Violet me abraçando e
me afastando dali, ela desce as escadas comigo e quando estamos no salão, as
pessoas nos olham sem entender. De repente, os demais aparecem, Lucco
sendo levado por seus homens a gritos e Boyd tentando ir até ele. — VOU
PROCESSAR VOCÊ, SEU DESGRAÇADO! — Rugi meu namorado.
Mas eu olho para Lucco, ele apenas está sendo levado e em silêncio
dessa vez, seus olhos vão de Boyd até os seus amigos e então... eles para em
mim, estremeço de medo e abraço Violet, quando ele abre um sorriso para
mim. — Até breve, Olivia. — Diz em voz alta, sumindo de vista, indo
embora. Solto um suspiro alto e choro novamente, Boyd e os outros
aparecem e ele me abraça.
— O que ele fez? Pelo amor de Deus, o que ele fez? — Ele pergunta
angustiado.
Olho para ele e suas mãos limpam minhas lágrimas, quando consigo
dizer. — Não quero ficar aqui. — Sussurro, olhando para as pessoas que nos
encaram. — Acho que vou vomitar.
— Leve ela, amanhã resolveremos isso e ver o que aconteceu. —
Sugeriu Abraham, me olhando.
Boyd acena com a cabeça e me abraça. — Ligo para você, depois.
Quando saímos do casarão, Boyd me aperta contra o seu corpo, olho
rapidamente em volta para as pessoas de máscaras, dançando sem parar,
viramos a esquina e avistamos nosso carro, Boyd abre a porta para mim e me
coloca lá dentro, quando ele está entrando no carro, arrumo minha calcinha e
seus movimentos paralisam. — O que ele fez? — Sussurra com olhos
arregalados. Abraço-me com força e soluço em me lembrar do que aconteceu.
Se eu não tivesse bebido tanto, conseguiria contornar a situação! Teria uma
chance de enganá-lo e fugir.
Ótimo dia para ficar bêbada!
Respiro com dificuldade e engulo em seco. — Ele... ele queria algo e
eu recusei, então ele me beijou a força. — Digo em voz baixa e olhando-o.
Boyd fecha os olhos e respira com força.
— E depois?
— Ele me empurrou na parede e depois me masturbou, disse que não
faria outra coisa lá em cima, me levaria para outro lugar. — Solto de uma vez
e encosto a cabeça no banco de couro. Quando consigo olhar para Boyd, ele
está me olhando. Um olhar quebrado e ao mesmo tempo de raiva.
Um olhar de culpa, também. Por que se sentiria culpado?
Ele abaixa sua cabeça e se vira de frente para o volante. — Eu vou
acabar com ele, vou destruir sua vida! Tudo o que conquistou vai ser perdido
em segundos. Vou ligar para o advogado da minha família. — Boyd liga o
carro e me olha. — Vamos até a delegacia.
***
A noite na delegacia foi completamente ridícula! Os oficiais mal
olharam para nós e quando fomos atendidos depois de duas horas, seus
olhares eram óbvios que eles não acreditaram. Tudo o que eu dizia,
lentamente pelo fato da embriaguez, eles faziam uma careta. Praticamente me
culparam pelo o que aconteceu. — Então você está nos dizendo, que esse
homem beijou você a força, te imobilizou e masturbou você, mas em nenhum
momento você pediu por socorro, pois estava muito bêbada? — Perguntou a
detetive Leah, como se apresentou. Seus olhos verdes e cabelos loiros, presos
em um coque apertado, me deixavam distraída, porém, eu concordava com o
que ela repetia.
— É isso o que eu disse, e disse que não tinha como gritar, eu estava no
meio de uma festança! Dentro da casa e nas ruas, quem ouviria meus gritos?
— Questionei.
Leah olhou para o seu parceiro, ele parecia mais eficiente do que ela,
seu nome era Sam. — Está tudo bem, Srta. Lester. Apenas estamos buscando
o máximo de informações possíveis. — Tranquilizou o detetive. Seus olhos
castanhos pararam em Boyd, ele estava ao meu lado sem dizer nada, mesmo
Leah indicando que não acreditava em mim, ele não fez questão de me
defender. — Você é uma testemunha sobre o ataque da sua namorada? —
Olhei para ele, mas Boyd dava de ombros.
— Eu apenas corri, pois meu amigo, Abraham, o dono do casarão viu
os guarda-costas de Lucco Gratteri disparando para dentro da casa e subindo
as escadas, então fui junto com ele e quando vi, Olivia estava longe de Lucco,
apenas chorando com uma mão na cabeça. — Leah me olhou com a
sobrancelha esquerda arqueada e cruzou os braços, se recostando sobre a sua
cadeira.
Fechei minhas mãos em punhos e me direcionei a Sam. — Os guarda-
costas dele podem dizer a vocês! Eu não acredito que deixará Lucco impune!
Ele me molestou! MERDA! — Gritei revoltadamente, me levantado. Leah
fez o mesmo e se curvou sobre a mesa, me encarando.
— Ou você se acalma ou então terei que prendê-la por desacato! —
Exclamou.
Soltei uma risada incrédula e Boyd se levantou também. — Como é?
Eu que passei por essa droga toda e ainda por cima sou ameaçada por você?!
— Disse em voz alta, Sam se levantou no mesmo instante em que Boyd
tentava me acalmar. — Agora eu entendo porque as mulheres morrem tanto
por aqui! Porque elas veem até vocês, desesperadas, e o que vocês fazem são
serem irônicos e ainda ameaçá-las de prisão! Tudo bem! Estou me lixando!
Não preciso de vocês. — Empurrei a cadeira com força, fazendo-a cair no
chão e marchei até a porta.
— Olivia! — Chamou Boyd, mas continuei caminhando para fora
daquele lugar ridículo.
***
Aquela loucura toda aconteceu há uma hora e meia atrás. Depois
daquilo, o detetive Sam apareceu na rua, pedindo desculpas por sua parceira e
entregou seu cartão com o telefone, dizendo que se eu precisasse de algo,
bastava chamar apenas por ele. Fico feliz em saber que há alguém ao meu
lado, Boyd parecia nem se importar, como se não acreditasse em mim.
Quando termino o meu banho, entro no quarto e pego o copo de água e o
Tylenol, que tinha deixado em cima da cômoda baixa. Tomo os dois e me
sento na cama, gemendo. Boyd está ali, ao meu lado com a tevê ligada.
Ele me observa por um tempo e então, pigarreia. — Liv... você sente
algo por mim, certo? — Pergunta e me olha. Franzo o e deito-me no colchão.
— Sim, Boyd.
— Certo, e você nunca esconderia algo de mim, não é? — Ele me
encara pacificamente, mas não entendo o seu ponto.
Levanto a minha cabeça para encará-lo melhor. — Aonde você quer
chegar, Boyd? — Pergunto duramente. Ele pega o controle remoto e desliga a
televisão, se sentando na cama.
— Precisa me dizer exatamente o que aconteceu no terraço do casarão.
— Murmura. — Olha... se rolou algo entre vocês dois e saiu do controle, ou
você ficou com medo que nós dois terminássemos, eu não vou fazer isso Liv,
eu amo você e...
Levanto-me da cama gargalhando e com lágrimas em meus olhos, viro-
me para ele completamente perplexa! Que porra ele está falando?! Qual o
problema dele?! Abro os meus braços e grito. — VOCÊ PENSA QUE EU
SOU O QUE?! UMA VAGABUNDA OFERECIDA COMO VIOLET?! —
Boyd tenta falar, mas não o deixo ter sua vez idiota. — LUCCO GRATTERI
QUASE ME ESTUPROU, BOYD! NÃO POSSO ACREDITAR QUE VOCÊ
NÃO CONFIA EM MIM! — Grito.
— Se acalme! Eu apenas pensei, pois ninguém viu nada Olivia! Os
rapazes até deduziram...
— Seus amigos? — Corto-o. — Os mesmos que me excluem de tudo?
Que sentem nojo de mim? Que torcem pela nossa separação? Esses mesmos
amigos? — Rujo para ele. Eu quero machucar sua cara, mas me contenho
para não fazer uma estupidez. Sinto-me sozinha, naquele momento horrível
da minha vida. — Quer saber, durma longe de mim. Não quero um namorado
ao meu lado que nunca me apoia. Fico feliz em saber que você me vê como
uma vadia. — Pego meu travesseiro sobre a cama e saio do quarto.
Boyd corre atrás de mim e me puxa para olhá-lo. — Me desculpa
Olivia, eu não queria ser áspero! Eu estou ao seu lado, e jamais pensaria isso
de você, por favor... — Ele implora. Respiro fundo e mexo meu maxilar.
— Sim, você pensa. Assim como sua família e seus amigos
preconceituosos e racistas. — Empurro sua mão, longe do meu alcance e olho
com nojo para ele. — Espero que se contenha em se masturbar pelas
próximas semanas. — Viro-me e caminho para a sala.
Sinto um peso esmagar meu coração, tudo dói. Quando me deito no
sofá, me encolho como uma bola e choro, triste em saber que estou sozinha
nessa situação. Sinto-me suja pelo o que Lucco fez comigo, me sinto burra
por acreditar que ele era um homem gentil. E sinto medo pelas suas últimas
palavras direcionadas a mim. Suspiro e fecho os olhos.
Até breve, Olivia.
SEVEN

Por incrível que pareça dois dias se passaram e nada de inédito havia
acontecido. Boyd não estava mais dormindo em nosso apartamento e me
senti aliviada por isso, pois estava cansada dele, realmente cansada. Eu estava
tão apavorada em permanecer sozinha no apartamento, que acabei comprando
um cachorro da raça Rottweiler, seu nome é Trovão. Confesso que no início
eu estava um pouco apreensiva em tentar chegar perto demais no animal, ele
é um filhote, mas um filhote gigante! Porém, ao passar algumas horas eu
tinha percebido que ele queria minha presença e o meu carinho. Durante
esses dois dias, a polícia não entrara em contato, muito menos Lucco
apareceu. Katherine disse-me que talvez ele tenha ido embora da cidade e a
polícia deveria saber e acabou deixando de lado, como sempre.
Essa tarde, eu estou no restaurante ao lado da Kohulo. Meus
pensamentos estão tão desconcertados, que meu foco no trabalho estava
perdido! Katherine achou melhor que eu fosse embora e explicaria para o
nosso chefe o que aconteceu comigo. Até lá, estarei absolutamente sem nada
para fazer. Solto um suspiro e continuo minha busca em meu notebook,
enquanto o meu almoço não chega.
Faço pesquisas de apartamento para solteiros, preciso sair urgentemente
da casa de Boyd, pois vejo que não há mais espaço para os dois. As pesquisas
são pouco produtivas e sinto um desânimo passear por dentro de mim, minha
vida mudou tão de repente, que me sentia um peixe fora d'água! Encosto-me
novamente no banco de couro do restaurante e cruzo os braços, olhando para
a rua movimentada de segunda-feira.
Meus olhos varrem pelos pedestres, lentamente, quando vejo alguém.
Sento-me ereta em meu lugar e olho para o homem de pé na calçada, do outro
lado da rua. Eu o conheço, é um dos seguranças de Lucco. Ele usa óculos de
sol e não posso ver sua expressão, então fico paralisada, olhando-o. Até que
um ônibus para no sinal, bem na minha frente. — Aqui está, senhorita. —
Chama a garçonete, fazendo-me sobressaltar, olho para ela e quando viro
minha cabeça para a janela, o ônibus se foi, assim como o homem. Engulo
em seco e olho por todos os lados da avenida, ele some como um fantasma.
— Senhorita? — Chama novamente a mulher.
Fecho meus olhos para respirar fundo e, em seguida, pego a carteira
dentro da minha bolsa, tiro uma nota de cem e entrego a ela, enquanto guardo
minhas coisas. — Pode ficar com o troco. — Me arrasto no pequeno sofá de
couro e ela se afasta para eu me levantar, ela me olha como se eu fosse uma
louca.
— Não vai querer seu almoço? — Pergunta, mas já estou longe.
Abro uma das pesadas portas de vidro do restaurante e paro no meio da
calçada, olhando para os lados, mais uma vez e garantindo que não há
ninguém ali. Feito isso, apresso meus passos até o meu carro, que está atrás
da galeria. Preciso sair das ruas logo.
***
Chego ao apartamento e quando abro a porta, paraliso com a chave na
fechadura. Boyd está de pé ao lado da sua mesa de trabalho, pegando
algumas folhas, ele me olha com as sobrancelhas erguidas e sorri pequeno. —
Vim buscar algumas plantas. — Explica murmurante. Fecho a porta e
caminho em direção ao quarto, não me importo com ele ali. — Liv, desculpe
não avisar que eu estaria aqui, pois achei que estaria na galeria e... — Viro-
me para ele e levanto minhas mãos.
— O apartamento é seu. Não precisa pedir minha permissão, Boyd. —
Digo. — Vou tirar umas folgas, até mais. — Saio dali sem olhar para ele e
caminho no corredor até entrar no quarto. Encosto-me a porta, suspirando,
tirando os sapatos de meus pés. Ando até a cama de dossel e retiro o
notebook da minha bolsa, sento-me no colchão e abro a tela.
Desde o momento que saí do restaurante, algo me dizia para tentar estar
em vantagem. Aquele guarda-costas parecia estar me intimidando, como uma
breve ameaça, o que me incomodou bastante. Eu preciso de provas que
possam levar Lucco Gratteri até o tribunal e espero conseguir.
Vou até a barra de pesquisa e digito seu nome. As buscas são nada
significativas para mim, apenas mostrando a origem do seu nome e
sobrenome. Ridículo. Porém questionável. Lembro-me no primeiro dia que
nos conhecemos, quando Lucco fez uma compra gorda na galeria e deu-me
um bônus de quinze mil dólares. Ele disse que era dono de boates, nas
cidades que são movimentadas até demais. Mordi meu lábio inferior e mudo
a pesquisa.
"Empresário Lucco Gratteri, dono de boates”.
Aperto para entrar, e a página carrega. Choramingo com a busca idiota,
novamente nada sobre ele, o que é estranho. Como um homem como aquele,
não poderia ser procurado na internet?
Deixo a cabeça tombar em minha mão e vou baixando a rolagem da
página. Até que...
— Que merda é essa? — Sussurro para Boyd não me ouvir. Clico no
site que chama minha atenção e espero carregar, o título em letras maiúsculas
e também em negrito deixa meu coração saltitar.
FAMÍLIA GRATTERI "MAFIOSA"?
Com um sobrenome forte na Itália nos anos de 1931 a 1967, os
Gratteri mantiveram uma boa reputação na cidade de Veneza. A família
burguesa sempre se envolvia na política italiana, mas com o passar do tempo
um escândalo acabou sujando o nome Gratteri. Dizem que Luigi Gratteri, um
dos filhos de Judy e Tommasi Gratteri, estaria devendo dinheiro para uma
organização criminosa, mais conhecida atualmente como Máfia. Luigi era
viciado nas prostituas dos bordeis dos homens de ternos caros e com isso,
acabou criando uma grande dívida que poderia deixar seu pai falido, que era
dono de padarias famosas pela cidade.
Tommasi não quis pagar a dívida do filho e por isso, uma das suas
filhas, Carlota Gratteri foi sequestrada pelo chefe mafioso e obrigada a se
casar com o homem. A garota, que na época tinha apenas 13 anos, se tornou
a primeira dama da máfia siciliana e mesmo tendo entrado naquele mundo
cruel a força, se apaixonou pelo seu marido 23 anos mais velho, Santoro De
Laccuci, um homem rico, dono da gráfica na cidade que fazia os jornais.
Apesar de ter sido um empresário, Santoro era Don da máfia, mais
conhecido como um "chefe". Carlota teve três filhos homens com Santoro e
nesse período jurou se vingar do seu irmão e seu pai que nada fez para
impedir seu sequestro. Duas semanas depois foram encontrados na mata da
cidade vizinha, chamada Murano, restos mortais de dois corpos masculinos,
como na época não existia tecnologia, o caso foi arquivado e os restos
mortais foram colocados como "não identificados", mas a cidade de Veneza
sabia de que se tratava de Tommasi e Luigi Gratteri.
Não se sabe nada dos filhos de Carlota e Santoro, mas nos dias de
hoje, ao que tudo indica, há membros da família Gratteri na máfia, chamada
de grande Família a mais temida "Cosa Nostra". Como hoje o nome Gratteri
não é mais importante por culpa de Luigi Gratteri, não se sabe se realmente
os Gratteri que vivem atualmente nos Estados Unidos, possam ser da mesma
parentela de Carlota. Mas os fãs de carteirinha da máfia siciliano-americana
já deram seus palpites sobre um homem chamado Demétrio Gratteri, que
atualmente é o Capo (chefe) da Cosa Nostra.
Além de Demétrio, o homem tem mais três irmãos e o seu pai. Porém
até agora, dizem que o irmão mais novo ou talvez não, chama-se Lucco
Gratteri.
— Meu Deus. — Sussurro após ler o artigo. Fecho o notebook e me
levanto, indo até a janela do quarto. A coincidência é grande demais e
também impossível de ignorar! O mesmo nome, o mesmo sobrenome.... da
máfia?! A máfia? Isso não pode estar acontecendo. Meu instinto é correr até
a delegacia, mas algo me diz que será uma grande burrice, se esse site estiver
certo, assim como a minha intuição. — O que fazer, então? — Pergunto para
mim mesma. Viro minha cabeça às pressas em direção a minha bolsa e corro
até ela. Procuro pelo cartão lá dentro e o encontro no fundo da bolsa,
retirando de lá.
Está amassado, mas o número é visível. Ligar para o detetive Sam
Harris pode ser uma estupidez, mas estou sozinha nessa e tenho medo de que
algo aconteça comigo, como aconteceu com os pobres Luigi e Tommasi
Gratteri. Pego meu celular e digito o número de seu telefone. Em um segundo
ele atende. — Harris falando. — Sua voz grave, soa.
— Hã... oi, detetive, é Olivia Lester, você tem um tempinho? —
Pergunto com a voz apertada.
Ouço Harris sair de um local barulhento e entrar em um silencioso,
quando diz. — Olivia, que surpresa. Sim, o que você tem para mim?
— Bom, eu não quero dar pistas falsas; nem nada parecido, mas... —
Olho para o notebook em minha cama e aperto o papel em minha mão,
nervosamente. — Hoje eu estava no restaurante e vi um dos guarda-costas de
Lucco Gratteri no outro lado da rua. Ele estava lá parado, olhando para mim,
eu acabei me assustando e corri para casa.
Harris pigarreia ao ouvir. — Você fez bem, andar pelas ruas, sozinha,
pode ser perigoso. — Explica. — Mas... é somente isso? — Pergunta com
cautela. Balanço a cabeça em negativa e caminho até a outra janela, ao lado
da cama.
— Não. Eu sei que provavelmente vai me dizer para não confiar na
internet, mas... eu queria buscar algo sobre ele, para levar até vocês, ele disse-
me que era dono de boates, mas advinha só? Não aparece nenhum Lucco
Gratteri como empresário e sim como alguém que é desprezado pela
sociedade.
Escuto o silêncio do outro lado da linha e aguardo sua resposta, pelo o
silêncio de Harris acredito que ele já saiba o que estou prestes a dizer. —
Continue. — Fala calmamente. Respiro fundo e continuo a dizer.
— Eu encontrei por acaso, um site, que fala que há 77 anos atrás a
família Gratteri era importante na Itália, porém um membro da família se
envolveu em dívidas com a organização criminosa. Bem, isso não vem ao
caso, mas dizem que atualmente há um chefe na organização criminosa e ele
se chama Demétrio Gratteri, porém ele não é o único, ele tem dois irmãos e
sabem somente o nome de um.
Harris solta uma respiração dura pela boca e sinto meu corpo se
arrepiar com o que ele vai dizer. — Lucco Gratteri. — Afirma. — Lucco
Gratteri é da organização criminosa, o que significa que ele é...
— O que significa que ele é da máfia. — Completo. — Sam, ele é
mafioso. — Digo nervosamente, quase chorando.
Harris não me responde, mas sei que estou certa. Minha conclusão foi
feita. O silêncio do detetive já me diz tudo. Lucco Gratteri é mafioso.

EIGHT

— Seria arriscado ou difícil achá-lo? — Pergunto para o detetive


Harris. Estamos conversando no seu escritório há quase meia hora. É
exaustivo o assunto. Como se estivéssemos procurando um fantasma no
banco de dados da delegacia. Não há absolutamente nada sobre Lucco
Gratteri. Harris solta um suspiro enquanto ele clica no mouse, seus olhos
saem da tela do computador e param em meu rosto.
— Arriscado e difícil de achá-lo. — Responde. — Não há nada sobre
ele no banco de dados da delegacia de Nova York, Las Vegas... nada!
Roubos, assassinatos, violência sexual, não consta absolutamente nada. —
Diz frustrantemente, se recostando na sua cadeira de couro giratória. Eu
apenas suspiro. Sem informações verídicas, não há como levar Lucco à
prisão! Um sentimento diz para mim que estou indo longe demais, que o
melhor seria continuar vivendo a minha vida, pois ele desapareceu. Mas não
dou ouvidos, seu guarda-costas me deixou assustada, com a sua aparição
suspeita na frente do restaurante. Aquilo mostrava que Lucco ainda está na
cidade e que também está de olho em meus passos.
Engulo em seco ao pensar nisso e cruzo os braços, sinto-os começarem
a tremer. — Então, isso nos leva a estaca zero. Realmente não temos nada
contra ele, apenas um site dizendo sobre sua família de 77 anos atrás e um
chefe chamado Demétrio Gratteri, com um irmão que tenha o seu nome, qual
juiz iria acreditar nisso? — Pergunto dando de ombros. Harris me olha de
cima e passa o dedo na sua sobrancelha direita, tinha notado que é um tique
nervoso.
— Provavelmente nenhum. As chances de encontrar algo que ligue a
máfia a ele são bem poucas. — Explica. — E acredito que... se o que o site
está dizendo for a verdade, a metade de oficiais da lei não se arriscariam em
se envolverem com mafiosos, e a outra metade estar do lado de mafiosos.
Seríamos dois idiotas no meio dos que não gostariam de se envolver na
investigação, e os que estão apertando as mãos com eles, iriam avisar sobre
nossa investigação. — Completa Harris. Suas teorias não podem ser
descartadas, o sentindo é bem grande e não podemos deixar de lado.
Esfrego as mãos sobre meu rosto, pois a sensação de impotência é
grande dentro daquela sala. — Não há nada que se possa fazer, então. —
Murmuro e me levanto da mesa. Vou até à poltrona, eu pego meu casaco e
bolsa, quando me viro, Harris está se levantando. — Seria ridículo demais, da
minha parte, dizer a você para deixar isso de lado? — Pergunto, quando ele
se aproxima. Harris cruza os braços, onde as mangas do seu suéter cinza
estão arregaçadas.
— Vamos continuar e esperamos para ver até onde vai. Lucco Gratteri
está em Nova Orleans, eu chequei as companhias aéreas e seu nome não
estava em nenhum local, enquanto isso... — Ele volta até a sua mesa, onde
abre uma das gavetas e retira de lá uma pequena arma prata. Harris volta até
onde estou parada e estende o objeto. — Quero que fique protegida, você só
precisa destravar isso aqui e apertar o gatilho. — Ele coloca em minha mão e
seguro a arma, gelada em minha palma.
A ideia de apontar uma arma para alguém é apavorante, mas é uma
questão de sobrevivência. Mesmo eu nunca tendo usado uma arma antes.
Guardo-a rapidamente dentro da minha bolsa. — Obrigada por tudo,
Harris. Mas quero lhe pedir que não diga nada a sua parceira e também ao
Boyd. — Digo em voz baixa. Ele me olha por poucos segundos e assente
uma vez.
— Não se preocupe. Se eu achar alguma coisa, ligo para você. Ou se
você achar... sabe o meu número. — Sorri torto.
Aceno com a cabeça e afasto-me dele. — Obrigada mais uma vez,
Harris. — Ele dá um sorriso sem mostrar seus dentes e abro a porta da sua
sala, quando a fecho, vejo alguns detetives e policiais me observando
descaradamente, sem se importarem se estou olhando-os ou não. Caminho
suspirando baixo e saio de lá dentro, indo até o meu carro.
***
Quando a noite chega, estou menos pensativa em relação à Lucco, tudo
o que preciso nesse momento é poder me encontrar novamente e esquecer
todos os problemas, por algum tempo. Preparo uma torta de legumes na
cozinha, quando ouço a porta sendo aberta e fechada, Boyd aparece depois de
uns instantes, com um olhar de cachorrinho pidão. — Oi. — Ele sorri e tira
sua bolsa masculina, deixando-a sobre o balcão. Sorrio para ele e continuo
minha tarefa.
— Oi. — Respondo sem olhá-lo.
Boyd se senta em uma das banquetas, ficando alguns minutos em
silêncio, observando-me preparar o jantar. Quando termino, finalmente o
olho. Ele também me olha e diz. — Sinto muito por não confiar em você. —
Murmura. Arqueio as sobrancelhas e dou de ombros, isso não me importa
mais.
— Tudo bem! Trovão está do meu lado. — Aponto com o queixo em
direção ao sofá da sala, onde meu cachorro dorme.
Boyd assente com a cabeça, mas não diz nada a respeito. — Sabe... se
você quiser, Abraham nos convidou para jantar em sua casa, seremos nós
dois, ele, Violet e mais dois amigos. — Disse-me com um sorriso pequeno.
Fala sério. Por que ele pensaria que eu voltaria para a casa de Abraham?! Ou
por que me juntaria à mesa com pessoas falsas, que não acreditam em mim
pelo o que Lucco tentou fazer? Sem contar em Violet! Pego o pano de prato
para secar minhas mãos.
— Passo. Ficarei bem por aqui, obrigada. — Falo evasiva.
Ele olha para o lado e depois balança a cabeça, parece irritado. — Seria
bom se distrair, Liv. Abraham que teve a ideia do jantar, além disso, Violet e
eu achamos que você está...
— Então eu sou o seu assunto com a sua ex-namorada? — Pergunto
com um sorriso nos lábios. — Que incrível saber disso. O que disseram? Que
sou uma mentirosa safada? — Pergunto mais uma vez e me controlo o quanto
posso. É completamente ridículo saber que ele falava de mim para sua ex-
namorada!
Boyd se levanta da banqueta e espalma as mãos sobre o balcão de
granito, seus olhos estão em mim. — Olivia, pare de agir dessa forma! Já está
sendo uma idiotice ter que ficar fora de casa e agora ter que tolerar seus
ciúmes? Da Violet?! Ela está apenas preocupada com você!
— Não Boyd, ela está preocupada se irei demorar muito para terminar a
nossa relação! O QUE NÃO IRÁ DEMORAR TANTO ASSIM, POIS
ESTOU ME CANSANDO DE VOCÊ E DA PORRA DOS SEUS AMIGOS!
— Grito histericamente. — Se sentisse algo do que diz, por mim, não me
deixaria aqui sozinha, eu expulsando você ou não! Mesmo não acreditando
em mim, permaneceria ao meu lado, mas como sempre você faz, corre para
os amiguinhos! Então se eles são tão importantes assim, fique com eles e faça
o que eles tanto querem, volte com a vaca da Violet e deixe-me em paz! —
Vocifero. Boyd está com os olhos arregalados e quando o vejo abrir a boca,
saio da cozinha o mais rápido que posso.
— Olivia! — Ele chama.
Mas quero que ele vá à merda! Passo pela sala e olho meu cachorro. —
Trovão, venha! — Ele levanta sua cabeça e rapidamente pula do sofá e corre
atrás de mim, entramos no quarto e fecho a porta com força, dando um chute
com o pé na madeira e soltando um grito.
Estou farta de Boyd e amanhã mesmo irei para algum hotel. Essa
situação passou dos limites, não havia mais formas de mudar.
***
Acordo com a porta do meu quarto sendo aberta e vejo a sombra de
Boyd atravessar o quarto, Trovão sai de cima da cama e corre para fora,
quando vê Boyd se aproximando da cama e se deitando atrás de mim. Não
dou importância para ele e fecho meus olhos novamente, quando sinto sua
mão acariciar minha barriga nua. Seu peito se cola nas minhas costas e o seu
perfume masculino preenche minhas narinas.
Eu sei exatamente o que ele quer. E sinceramente, eu também quero,
mas porque estou tensa demais.
Solto um suspiro misturado com gemido e levanto meus braços para
cima, quando sinto suas mãos segurando minha camisola e tirando de mim.
Boyd tira o lençol de cima de mim e fica entre minhas pernas, dessa vez
tirando minha calcinha. Ele se curva e enfia sua língua entre minha fenda
molhada, solto outro gemido e arqueio as costas ao sentir sua língua
circulando meu clitóris, a sensação da sua língua e o barulho da mesma, me
deixa acesa em segundos, saciando por mais da sua língua.
Boyd massageia minha carne aquecida com a língua, ao mesmo tempo,
sinto um dedo me preencher, o desejo me deixa desnorteada, a pulsação entre
minhas pernas é agonizante, mesmo recebendo sua língua e dedo. De repente,
ele para de me chupar e se levanta, tirando rapidamente a sua roupa, olho no
escuro para a sua sombra e seus movimento, enquanto respiro ofegante.
Quando ele está nu, volta para a cama e segura meus quadris, ele me vira de
costas habilidosamente, pega o travesseiro ao lado do meu e depois coloca
debaixo de mim, onde estão meus quadris. Assim, minha bunda fica mais
alta.
Olho para trás, mas quando faço isso, Boyd solta um gemido másculo e
puxa meu braço direito para trás, me imobilizando, em seguida, ele coloca
meu braço esquerdo abaixo dos meus seios. Finalmente segura minha cintura.
Ele não me lubrifica e então me penetra com uma estocada com seu pênis.
Solto um grito, misturado com gemido e ele geme também, tirando a mão da
minha cintura e puxando meus cabelos com força, fazendo minha cabeça
ficar erguida. — OH! — Grito com as suas estocadas.
Seu pau entra e sai com brutalidade de mim, a cama se balança com os
movimentos dos nossos corpos e sinto todo o peso de Boyd sobre mim, ele
aproxima seu rosto do meu e chupa com força o meu pescoço. Aposto que ele
fez de propósito, para ficar uma marca. O puxão da sua mão em meu cabelo é
doloroso, mas não peço que ele pare com algo. Sinto que aquele sexo foi feito
com raiva, então posso entendê-lo, pois também estou com raiva.
As estocadas de Boyd continuam, entram e saiam fazendo um barulho
alto, a penetração é tão rápida que sinto suas bolas se batendo na pele e meus
gemidos altos acompanham a sua foda bruta. Ele se ergue um pouco do meu
corpo e solta meu braço, puxo ele para o lado e continuo gemendo, Boyd
solta meu cabelo, mas apenas para empurra minha cabeça contra o colchão,
onde ele deixa sua mão ali. Já com a outra ele dá vários tapas fortes na minha
bunda, fazendo com que eu grite. Depois dos tapas, sua mão desce um pouco
mais e para no meu buraco apertado, ele enfia lentamente um dedo lá dentro e
meus quadris se erguem sozinhos.
Já tínhamos feito sexo anal, mas foi somente por dois meses e isso foi
há muito tempo atrás. Eu não sei dizer se estou pronta novamente. — Boyd...
espera... — Ele tira seu pau da minha buceta e o ouço cuspindo na minha
bunda, depois a cabeça do seu membro me invadindo. A dor é insuportável,
fazendo com que eu morda o colchão e grite até arranhar minhas cordas
vocais.
Boyd para de se mexer e então enfia tudo dentro de mim e começa a se
movimentar com força, seus gemidos e rosnados se misturam com os meus e
tudo o que quero naquele momento é poder gozar, mas com a dor será difícil.
Ele continua fodendo-me por trás, sua mão esquerda permanece sobre minha
cabeça, impedindo que ela se levante, ele me imobiliza da forma que
consegue, ao mesmo tempo, estocando seu pau na minha bunda. Alguns
segundos passam e ouço gemer mais alto, Boyd se deita em cima de mim e
nessa posição a dor é pouca, ele me penetra rapidamente com a sua respiração
perto da minha orelha, então o escuto gemer alto e bater seu pau dentro de
mim, com brutalidade, enquanto goza.
Ele geme baixinho e sai de dentro de mim, mas sinto que ele não está
mole. Boyd passa a língua da minha vagina até o meu buraco e novamente
me penetra. Dessa vez, sei que terei um orgasmo, ele não para com o seu
ritmo e continua fodendo-me com força, sua mão me solta e sinto as duas
segurando meus quadris e os levantando, deixando minha bunda no ar. O tapa
de sua mão vem, e grito com a ardência na pele, mas gemo alto quando seu
pau voltar a penetrar, as estocadas ficam mais fortes e meu corpo começa a
reclamar das dores.
Boyd está mesmo pegando pesado, mas sei que se pedir para parar, ele
não vai.
Seguro o seu braço com a minha mão e ele continua indo com força, a
cama já não está tão encostada na parede e seus pés fazem um rangido alto
sobre o piso de madeira. A mão esquerda de Boyd vem até a minha nuca, ele
puxa meus cabelos para trás, seu corpo bate contra o meu com toda a força
por minutos, até que minhas pernas se cansam e me jogo sobre o colchão. —
Você... está... me deixando... cansada. — Ofego para ele que aperta minha
bunda. De repente, Boyd me vira de barriga para cima e separa minhas
pernas, ele penetra seu pau com uma estocada e começa no mesmo ritmo,
com força. Sua boca vai até os meus mamilos acesos. Solto um gemido,
arranhando suas costas, ele geme e chupa meu seio com força. Outra marca
na minha pele.
Sinto o seu pau escorregando com facilidade para dentro da minha
buceta, e começo a sentir meu corpo se balançar com força. Esmago minhas
paredes em volta do seu membro enrijecido e finalmente consigo gozar,
minhas pernas apertam-se sobre sua cintura e Boyd estoca seu pau com mais
força, ele se ergue um pouco e segura meu pescoço, enquanto continua seus
movimentos, meu orgasmo está com tudo, quando ele goza pela segunda vez,
gemendo com um grito e apertando cada vez mais o meu pescoço.
Ele cai contra mim e respira alto, exausto com o nosso sexo bruto. Mas
não consigo pensar em mais nada, pois meus olhos se fecham e adormeço
pelo cansaço.
***
Os latidos de Trovão me faz sobressaltar, abro os olhos e a claridade
invade o quarto. — Já acordei. — Murmuro sonolenta para ele. Trovão me
olha, sentado, na minha frente, sobre o chão, seu olhar mostra que ele está
faminto. — Eu já vou colocar sua comida. — Bocejo. Trovão faz um som
engraçado e sai de dentro do quarto. Fecho meus olhos mais uma vez e solto
um gemido. Estou deitada de bruços e enrolada no lençol, me sentindo bem
até demais, mas quando finalmente me mexo e me levanto para sentar no
colchão, solto um gemido alto e aperto minhas pernas contra a outra.
Tudo em mim dói, como se Boyd tivesse fodido todos os buracos do
meu corpo. Espalmo a mão na minha vagina e me levanto devagar, fazendo
caretas, mas a dor na minha bunda não se compara. E pensar que Boyd era
"fraco" na cama... ontem à noite eu mudei de ideia.
Pego o celular no aparador e me surpreendo que já se passe das uma da
tarde! Que merda! Eu perdi metade do dia, realmente estava exausta! Jogo o
aparelho sobre a cama e caminho lentamente até o banheiro, quando entro lá,
vou até o espelho para ver o estrago. Estou com diversos chupões nos seios,
pescoço e barriga. Há um também na coxa esquerda perto da minha vagina!
Acho que ele deu esse chupão enquanto eu dormia. Viro-me de costas, com
os olhos sobre o espelho e vejo um chupão na minha bunda no lado esquerdo
e há arranhões em minhas costas.
Minha cabeça também lateja e sinto um cheiro de esperma no meu
rosto. Solto uma risada e balanço a cabeça em imaginar Boyd se masturbando
e se frustrando a me ver praticamente desmaiada, então acaba soltando
esperma em mim! Eu sei isso é nojento! Lavo meu rosto com sabão e me
arrependo por me curvar até pia. Minha vagina lateja de dor, assim como a
minha bunda, seios, coxas e coluna.
Solto um suspiro e tudo o que eu faço, é ir tomar um banho relaxante e
depois tomar dois comprimidos de Tylenol. Entro debaixo do chuveiro e ligo
a água no quente.
***
No mesmo instante que chego à sala, Boyd abre a porta do
apartamento. Ele para, me olha e sorri pequeno, fechando a porta. — Vim
buscar umas pastas. — Explica. Cruzo os braços, assentindo e sorrio.
— Poderia se despedir na noite passada. — Provoco-o.
Boyd me olha de onde estar. Perto da sua mesa e franze o cenho. —
Você estava brava comigo, o melhor foi sair em silêncio. — Pisca para mim,
voltando a atenção em suas pastas. Solto uma risada baixa e paro no seu lado,
ele me olha de relance e não diz mais nada.
— É. Mas depois daquilo não há como sentir raiva de você. — Reviro
os olhos. — Se bem que... você me machucou muito nessa madrugada, sabia?
Poderia pegar leve. Acordei com muitas dores e estou cheia de chupões.
As mãos de Boyd param sobre as pastas e ele levanta a cabeça
lentamente, quando me encara seu olhar está perdido. — O que você está
falando, Olivia? — Pergunta sinceramente e sem entender. Porém continuo
olhando para ele, talvez esteja fazendo cena....
— Oh meu Deus. — Sussurro e paraliso em meu lugar.
Boyd dá a volta e segura meus braços, ele olha meu pescoço e tira meu
cabelo úmido de perto. — Quem... quem fez isso com você? — Pergunta em
voz alta. — Olivia eu não fiquei aqui, eu fui embora à mesma hora que
discutimos e não voltei mais, somente agora! — Sinto as lágrimas caírem em
meu rosto e a ficha finalmente cai.
Não era o Boyd, o sexo estava mesmo diferente, ele não me beijou em
nenhum momento e muito menos falou algo! Eu pensava que era ele, pois o
perfume era o mesmo! Não era o Boyd... olho para ele que me encara
assustado, então sussurro.
— Era ele, era ele que estava aqui e se passou por você.
Boyd arregala seus olhos e responde no mesmo tom que o meu. — Meu
Santo Deus, era o...
— Sim, era ele. Lucco. — sussurro em pavor e chorando.
NINE

Alguém bate na porta. Boyd se afasta de mim e vai até lá, abrindo-a. É
a doutora Mitchell, ela abre um sorriso reconfortante, que se estende até os
seus olhos verdes. — Estou com seus exames, Srta. Lester. — Diz em voz
alta. Olho para Boyd, que está de braços cruzados, encarando os papéis nas
mãos da doutora, está nervoso. Estamos nervosos, desde que saímos do
apartamento. Fomos até a polícia e de lá eles nos instruíram a fazer corpo de
delito. É apavorante, as sensações que sinto no momento, às vezes medo, às
vezes desejo... mas desejo do que?
Remexo-me desconfortável na cama do leito de hospital e entrelaço
minhas mãos, colocando-as em cima das minhas pernas. — E então? —
Pergunto. A Doutora Mitchell levanta uma das folhas grampeadas e lê o que
está escrito ali.
— Foi constado no seu sangue doses de Desodalina e Diazepam,
acredito que você não esteja usando nenhum dos dois, pois suas misturas são
altamente perigosas. — Explica, abaixando as folhas.
Fico em choque e ao mesmo tempo confusa. Não sei no que pensar. Por
qual motivo isso estaria em mim? — C-como assim? Eu nunca usei isso, pois
não preciso da ajuda de nenhum medicamento.
— Bem, há uma dose grande em seu sangue, acredito que esteja há
cerca de seis dias. — Ela diz. — Um dos principais riscos da mistura de
Desodalina e Diazepam é a confusão mental, Srta. Lester.
Seus olhos tentam dizer o óbvio para mim, mas não consigo raciocinar.
Confesso que nos últimos dias eu andava meio desligada ou irritada, mas...
confusões? Mentais? Desvio o meu olhar da Doutora e olho pela janela do
quarto. — Ele entrou por todos esses dias na minha casa, injetando
medicamentos em mim sabe-se lá como. Ele consegue facilmente entrar lá,
então espera o momento certo para entrar no meu quarto e... — Seguro a
minha língua, mas permito que as lágrimas caem. A palavra violência e
estupro flutuam em minha mente, mas não consigo dizer em voz alta. É tão
humilhante que chega a doer. Solto um suspiro baixo e me calo, já Boyd
finalmente abre a sua boca.
— E o exame de violação, Doutora?
Ela me olha por alguns segundos e depois responde a Boyd. — O sexo
foi extremamente violento e identificamos uma inflamação no seu útero, mas
trataremos disso. Agora... — Ela me olha no fundo dos olhos, como se
estivesse prestes a dizer a pior coisa do mundo, mas não perco o controle por
isso. Ela continua. — Não há indícios de sêmen masculino, pelo o que você
contou, o sexo foi desprotegido e confirmo isso, mas as suas paredes vaginais
estão limpas. Você provavelmente tomou um banho depois do sexo.
Consegue se lembrar disso?
— O que? — Pergunto com a voz fraca.
Engulo em seco e sinto minha cabeça girar, a noite passada aparece
como um filme em minha mente e meu coração acelera por isso. Tudo o que
posso lembrar é de que depois do sexo, eu tive um sono profundo! Olho para
a Doutora Mitchell e sussurro. — E-eu... não sei. Só consigo me lembrar de
que senti muito sono e...
— Na verdade você teve um desmaio. — Corta a Doutora. — É o
efeito do Diazepam e da Desodalina, seu agressor já tinha noção disso e então
aproveitou a ocasião para humilhá-la, ejaculando em seu rosto. Bem, o que
posso dizer a vocês é que houve um invasor em sua casa, onde ele colocava
os medicamentos em algum alimento ou bebida que você ingeriu com
frequência. Isso quer dizer que ele sabe o que você toma e o que você come.
Então ele praticou sexo com você, mas foi somente isso. A polícia dirá que
você manteve relações sexuais com um desconhecido e agora, quer acusá-lo
de estupro. Eu já vi casos assim e sei que eles dirão isso.
Quando ela termina de falar, Boyd caminha até ela, seu rosto se
enfurece com o que ouve. — Ela foi estuprada! Como podem ficar contra a
vítima?! Isso é um absurdo! — Exclama revoltadamente. Tudo o que faço é
olhar para os dois, não sei mais o que pensar ou no que dizer. Ele planejou
tudo perfeitamente e aposto que não foi à primeira vez que fez isso... A
Doutora Mitchell solta um suspiro e caminha em direção à porta.
— Sinto muito, mas é tudo o que posso dizer. Você já está liberada,
Olivia. Boa sorte! — Ela fecha a porta atrás de si e nos deixa sozinhos.
Boyd leva as mãos até os seus cabelos loiros e se vira para mim, ele
está mais transtornado do que eu. — Eu vou dar um jeito nisso, Liv. Isso...
isso não pode ficar assim! Irei atrás dos melhores advogados, contratarei
caçadores de recompensa! Lucco Gratteri invadia nossa casa, injetava
remédios para confundir sua cabeça e depois a estuprou! Dentro da nossa
casa e na nossa cama. Ele não vai se safar.
— E-eu acho que não foi um estupro. — Consigo dizer. Olho para cima
e Boyd me encara paralisado.
— A Doutora Mitchell disse que os medicamentos que estão em seu
corpo, causam confusões...
Balanço a cabeça negativamente. — Os medicamentos não fariam uma
mulher ter um orgasmo. — As palavras saem da minha boca amargamente e
também com pressa. Mas eu apenas queria que Boyd parasse de falar. Ele
pisca algumas vezes, atordoado com o que escuta de mim, seus olhos se
ferem e sua boca fica entreaberta, mas não sai nenhuma palavra. Respiro
baixo e desvio o olhar dele. — Me desculpa. Foi rude dizer isso.
— É Olivia, foi muito rude mesmo. — Retruca com impaciência. —
Por que não me contou isso? — Pergunta.
Fecho os olhos e suspiro baixo. — Porque isso não importa Boyd, eu
sei que...
— SIM, IMPORTA MUITO QUANDO SUA NOIVA É ATACADA
POR UM PSICOPATA NO MEIO DA NOITE, MAS PARA A GRANDE
SURPRESA ELA GOZA JUNTO COM ELE! — Boyd grita com fervor,
fazendo-me sobressaltar na cama e olhá-lo. Ele está em brasa, seus olhos
arregalados e vermelhos. — Você não se importa com os meus sentimentos?
O que há com você? Olha o que acabou de me dizer, Olivia! Agora como vou
ter a droga da coragem de olhar para você?! Você veio criar essa porra de
circo todo e somente agora diz que gozou com o cara? Por que não diz à
verdade, que FODEU COM LUCCO GRATTERI! — Ele urra ferozmente.
Levanto-me da cama e marcho em sua direção, sem pensar duas vezes
esbofeteio sua cara com força. — Suma da minha vida! Estou farta das suas
acusações, farta da sua inveja de um homem maluco que me atacou! Eu
gozei? Sim, porque pensei que era você! Pensei que era você e não Lucco
Gratteri! Agora eu deveria ter imaginado sendo ele, pois você não merece
nem a porra de uma masturbação que venha de mim! Eu não quero mais saber
de você, acabou Boyd e para sempre! Não quero a metade de um homem ao
meu lado, sempre desconfiando de mim, sempre me colocando para trás, para
não perder os amigos. Eu não preciso de você para nada, porque sou capaz de
fazer o que eu quiser! Continue na sua bolha dourada, mas não esqueça que
um dia ela vai estourar! — Viro-me até a cadeira e pego minhas roupas e
sapatos. Saio de dentro do quarto e vou em direção a algum banheiro, sem
olhar para trás.
***
Durante a noite eu tirei todas as minhas coisas do apartamento e fui
para o hotel Royal Sonesta, sem pensar duas vezes. Infelizmente tive que
deixar o Trovão em um hotel para cachorros – acreditem! Estou em meu
quarto, mexendo no notebook, em busca de apartamentos e comendo um x-
burger em cima da cama. Desde que fui embora, sequer pensei em Boyd. Eu
não esperava um comportamento tão cretino vindo dele, nunca imaginara que
ele pudesse sempre desconfiar de mim, achando que eu seria algum tipo de
vagabunda.
Então foi o meu limite.
Não iria ser humilhada por suas palavras, nunca mais. Por incrível que
pareça, ele não me ligou ou mandou alguma mensagem, o que era uma
surpresa. Mas no momento não estou interessada em pensar no meu
rompimento com Boyd, há coisas mais importantes. Clico em um site onde
aparecem apartamentos de cidades vizinhas, sei que é rápido demais, mas não
me sinto mais segura em Nova Orleans, ela se tornou algo perigoso para
mim. Um apartamento chama minha atenção e leio todas as informações que
o site mostra, pego meu celular que está ao lado e salvo o número de telefone
da imobiliária. O prédio fica localizado em Gretna, a cidade não fica tão
distante do trabalho, o que é ótimo.
Mordo um pedaço do meu lanche quando meu celular toca. Olho para a
tela e o nome Detetive Harris aparece. Pego o aparelho e atendo sua ligação.
— Detetive! — Sorrio.
— Por que não me contou o que houve na noite passada? — Ele
pergunta sem delongas. Sua voz está neutra, mas provavelmente está irritado,
pois é dele o caso de Lucco.
Limpo minha boca com o guardanapo e suspiro. — Me desculpa, é que
o Boyd achou melhor procurarmos outros policiais. Ele disse que sua parceira
e você são desinteressados. — Explico, calmamente, olhando para a tela do
notebook. Harris solta uma risada baixa para mim.
— E ele um homem que não sabe proteger a sua mulher, debaixo do
seu teto. — Diz risonho. Ele pigarreia e continua. — Me perdoe, é que o seu
namorado deveria saber escolher as palavras, minha parceira pode estar
desinteressada, mas eu não.
Fecho meu notebook e saio de cima da cama, indo até a sacada do
quarto. — Tudo bem, ele e eu não estamos mais juntos. Ele acha que o que
aconteceu, ontem à noite, foi por consentimento meu. Então nosso caminho
está livre, não quero um cara que não confia em minhas palavras, ao meu
lado. — Minha voz escapa trêmula, mas não deixo nenhuma lágrima cair por
causa de Boyd, ele não merece nada que venha de mim. Afasto as cortinas
pesadas e abro uma das portas de correr de vidro, caminho lá fora e me apoio
no parapeito, enquanto isso Harris me diz.
— Eu entendo. Agora vamos ao que interessa, preciso do seu
interrogatório para ter mais provas contra o canalha, mas também preciso
contar algo que descobri de uma fonte confiável. — Franzo o cenho e me
viro de costas para o parapeito. Meu coração acelera em ouvir Harris dizer
isso.
— O que é? — Pergunto.
Ele faz um som com a sua garganta enquanto diz. — Não pelo telefone,
Olivia, sabe disso. Preciso que venha aqui.
Coço a minha testa e respiro profundamente, estou esgotada com tudo o
que está acontecendo. — Não me sinto bem saindo durante a noite, sozinha.
Pode vir ao meu encontro? Estou hospedado no Royal Sonesta, quarto 238.
— Tudo bem! Estarei aí em vinte minutos. — Ele termina a ligação e
desligo meu celular.
Viro-me novamente e olho para a cidade toda iluminada. Eu me sinto
só nesse momento, sozinha e sem ninguém. Sei que Katherine é minha amiga
e me protegeria sem pensar, mas não posso envolvê-la nisso. Não depois do
que aconteceu na noite passada. Lucco é doentio, ele é podre e merece o pior
do mundo, seria horrendo em colocar minha amiga no meio das minhas
complicações. Então o que me resta é a solidão, apenas o detetive Harris está
comigo, mas sei que é pelo fato de ser a sua profissão. Apoio meu cotovelo
esquerdo no parapeito e encosto minha testa na mão.
Eu preciso ser forte, não posso me abalar, mesmo sentindo-me
completamente violada pelo o que houve. Fecho os olhos e partes daquela
noite vêm à tona. Sua respiração irregular, seu corpo se chocando com o meu,
sua boca na minha pele... abro os olhos e engulo em seco. Sinto-me mais
doentia ainda por imaginar essas coisas, mas não sei o porquê de estar
pensando no sexo, como prazeroso. Talvez por que em minha consciência eu
imaginara que fosse o Boyd?
Balanço a cabeça em negativa e volto para dentro do meu quarto.
Não. Ele me atacou, se eu tivesse notado que não era o Boyd, gritaria
por socorro, bateria nele, mas não deixaria que me tocasse. Porém, Lucco
tinha orquestrado tudo por dias. A mistura dos remédios foi um triunfo,
aposto, pois eu realmente achara que estava com Boyd. Esfrego meu olho
direito com os dedos e sento-me na beirada da cama.
Está na hora de agir. Isso foi o limite para mim, Lucco está ganhando
fácil, fazendo de mim, sua boneca. Mas não dessa vez. Eu vou me vingar
pelo o que ele fez e espero ser o mais esperta do que ele é.

TEN

Minutos depois a batida em minha porta. Corro para abri-la e deparo-


me com o detetive Harris, ele passa por mim e fecho a porta, em seguida
trancando-a. — O que você descobriu? Estou morrendo aqui, Harris. — Falo
quando me aproximo dele. Harris olha em volta e depois me encara, seu olhar
de pesar me confunde, mas permaneço calada.
— Aquela pesquisa que você fez, sobre máfia. É verdade. Ele é irmão
mais novo de quatro irmãos mafiosos que operam em Las Vegas, metade do
território de Nova York e Los Angeles. — Harris passa a mão esquerda em
seu cabelo curto e balança a cabeça. — Lucco Gratteri é um assassino
profissional, Olivia. Ele é um dos irmãos mais solicitados para caçar algum
dedo-duro, ou que esteja em dívida com a máfia. Então ele é o segundo
assassino mais procurado para matar devedores e as línguas soltas. Lucco
Gratteri tem a habilidade de entrar em qualquer lugar, com a maior facilidade,
sem ninguém perceber. Você não está segura aqui, aliás, em nenhum lugar,
Olivia. Ele está obcecado por você e essa obsessão leva a algo pior.
Jogo-me em cima da cama, soltando uma lufada de ar. Minha cabeça
gira em torno das palavras de Harris. — E-eu já até marquei com a
imobiliária para me mudar! Vou morar em Gretna. Você poderia me ajudar a
sair da cidade sem que ele perceba. — Digo com os olhos marejados. Harris
balança a sua cabeça para os lados e põe as mãos na cintura.
— E o seu trabalho? — Pergunta.
— Posso dar um jeito nisso. — Afirmo, com cautela.
Harris balança mais uma vez a sua cabeça, dizendo. — É arriscado
Olivia. Ele pode descobrir onde você está com a maior facilidade. Eu passei o
dia pesquisando sobre esse cara, ele não é estúpido. Você até pode se mudar
para Gretna, mas então não poderei mais lhe proteger e se levar isso para a
polícia da cidade vizinha, qual a chance deles quererem um caso sério a
procura de um assassino de uma organização criminosa? Pense! — Harris
solta. Mordo meu lábio inferior para não gritar, estou prestes a explodir de
tanta frustração!
O que será de mim, agora? Não há nenhum lugar seguro em que eu
possa me esconder?
Passo a mão na testa e respiro fundo. — Tudo bem, eu... eu vou
continuar em Nova Orleans. — Murmuro. Harris assente e espera algo. Solto
um suspiro e dou de ombros. — E onde ficarei?! — Pergunto exclamando.
Harris me olha por alguns segundos e depois estufa o peito, seu olhar é
cansado sobre mim.
— Você pode ficar no meu apartamento. Sim eu sei, o que estou
fazendo é errado e possivelmente posso perder meu emprego. — Resmunga,
levantando o dedo indicador. — Mas não vou deixar você sofrendo nas mãos
desse criminoso. Eu não aceitarei isso dentro da minha cidade.
Uno as minhas sobrancelhas, mas permaneço calada. Morar com ele?
Um policial? Um... um homem?! O que os outros poderiam pensar de mim?
Se bem que nunca me importei com o que os outros pensam. Que se foda.
— Certo. — Murmuro. — Obrigada por tudo o que está fazendo,
Harris. Espero que não fique encrencado no trabalho. — Completo
timidamente.
Ele me olha de lado e sorri pequeno. — Se nenhum de nós dois abrir a
boca, ninguém irá saber. — Ele pisca. Abro um sorriso e aceno, ele tem
razão. Aliás, não há motivos para ninguém saber. Ninguém. — Bom! Você
quer ir agora? Ficarei fora metade da noite, então poderá se sentir mais
confortável em casa. — Explica ao pegar o seu celular.
— Seria melhor se você ficasse por lá. — Murmuro para mim mesma.
— Tudo bem, mas antes eu preciso buscar meu cachorrinho, tem algum
problema? — Pergunto me levantando da cama.
Harris arqueia as sobrancelhas e balança sua cabeça em negativa. —
Não. Arrume suas coisas, estarei esperando no saguão do hotel. — Ele abre a
porta e sai do quarto, deixando-me sozinha com os meus pensamentos
amargos.
***
— Você disse que era um cachorrinho. — Harris fala quando me
entregam o Trovão. Solto uma risada e acaricio a cabeça peluda do animal.
— Ele é um filhote. Fique tranquilo, Trovão é muito bonzinho, só tem
tamanho. — Sorrio para ele.
Harris me encara com um sorriso escondido em seus lábios e assente
em seguida. — Tudo bem, contanto que ele não destrua minha casa,
estaremos com a amizade intacta. — Pisca para mim, indo até o carro. Sigo-o
junto com meu cachorro e entramos em sua caminhonete reluzente preta.
Estamos, depois de alguns minutos, entrando no bairro tranquilo de Algiers
Point, ele para na entrada de um prédio de dez andares e desliga o carro. —
Vamos. — Harris chama, descendo do carro. Ele abre a porta de trás e
Trovão salta para a calçada, em seguida o detetive pega minhas três malas.
— Obrigada Harris. — Falo, saindo do carro e carregando mais duas
bolsas.
Ele me olha com um sorriso torto e tranca seu carro. — Pode me
chamar de Sam. — Entramos no edifício simples e seguimos para o elevador,
enquanto ele subia permanecemos quietos, olhando para qualquer lado do
pequeno elevador. O som apita e as portas abrem em um corredor, com piso
de madeira clara e muito limpo, há somente quatro portas de cada
apartamento e Sam para no último, do lado esquerdo. Ele destranca a porta e
pega minhas malas que descansam no chão, seus olhos me chamam para
dentro e sigo seus passos ao lado do Trovão. Quando entramos as luzes estão
apagadas, somente uma pequena fresta das cortinas, de sua sacada, ilumina
um pouco.
Sam fecha a porta atrás de mim e depois as luzes se acendem. — Belo
apartamento. — Parabenizo. Não é grande, mas o suficiente para uma pessoa
sozinha. O piso é da mesma cor que o do corredor e a maioria dos seus
móveis são cinza-chumbo. A cozinha é americana, junto com sua sala e no
outro lado do cômodo está um pequeno corredor, onde uma porta no fim dele
está entreaberta, mostrando um banheiro. — Mega masculino. — Sorrio,
chegando por trás do sofá, jogando minhas bolsas e olhando para trás. Sam
abre um pequeno sorriso e coloca minhas malas no chão, perto da porta.
— Passe o tempo que precisar aqui, a maior parte do meu tempo eu fico
nas ruas, então você estará morando praticamente sozinha. — Explica. —
Não precisa se preocupar, pois os meus vizinhos desse andar são policiais.
Eles sabem quem eu conheço e convido para vir aqui. Se eles notarem
alguém diferente, tirando você, vão aparecer por aqui e ajudá-la, caso precise.
Mas não será necessário, o endereço de um detetive é bem sigiloso. —
Completa suas palavras. Arqueio as sobrancelhas, suspirando de alívio.
Ouvir as palavras de Sam me acalma e muito. — Então eu estou mais
ou menos protegida em uma torre. — Brinco, sorrindo. Ele me dá um olhar
divertido e suspira, olhando em volta.
— É. Mais ou menos isso. — Ri. Sam olha para o seu relógio de pulso
e solta um palavrão baixo. — Me desculpa Olivia, eu preciso voltar ao
trabalho. A casa é sua, sinta-se a vontade! — Ele se despede às pressas e vai
até a porta, mas para no caminho. — Ah! Eu esqueci, tem uma chave reserva
da porta ali na fruteira da cozinha e pode dormir no meu quarto, estarei de
volta depois das 11 h 30 min da manhã. Até amanhã. — Sam fecha a porta
atrás de si e ouço ele trancando-a em seguida. Permaneço ainda em meu lugar
por poucos segundos, olhando por onde o detetive Harris acabara de sair.
Tão gentil...
Ele se preocupa e acredita mais em mim, do que Boyd. Lágrimas
embaçam a minha visão, rapidamente pigarreio e passo os dedos sobre meus
olhos, não está fácil aceitar a nossa separação, Boyd agiu nesses últimos dias
como um completo idiota, mas mesmo assim, eu sinto um pequeno vazio
dentro de mim. E agora vendo a preocupação do detetive, me comove, pois
ele é o único que confia em mim e o único que não me olha torto, como os
demais fizeram. Principalmente sua parceira.
Respiro profundamente e bato a mão na outra, olhando para o Trovão.
— Você irá dormir comigo! — Falo animadamente. Ele olha para cima,
balançando seu rabo e choraminga como um bebê feliz. Solto uma risada e
pego minhas coisas, seguindo pelo corredor. Além do banheiro há somente a
outra porta, que é o seu quarto. Um apartamento pequeno e simples. Abro a
porta e o Trovão já corre para dentro, acendo a luz e suspiro. É aconchegante,
mesmo sendo um pequeno quarto. Uma grande cama no centro, com colcha
da mesma cor que os sofás, cinza escuro. Dois aparadores em cada lado, com
abajures em cima, ao lado da porta uma cômoda alta de seis gavetas e em
cima dela os pertences de Sam, retratos seus vestido com a roupa de um
policial, abraçado com algumas pessoas no outro quadro, outra somente ele
com a roupa do exército e mais duas com outras pessoas, possivelmente
familiares e amigos.
Passo meu dedo indicador levemente em cada quadro e seguro o que
ele está com a roupa do exército.
— Como eu não notei que você é bonito? — Pergunto em voz baixa
para mim mesma. Seu rosto é bem masculino, quadrado, com um queixo
firme bem desenhado, os olhos de um castanho confundível, de claro para
escuro. Nariz arrebitado de deixar qualquer mulher com inveja e seus lábios
não são grossos, mas também não são finos. — Na medida. — Murmuro,
colocando o retrato de volta ao seu lugar. Olho novamente para o seu quarto e
caminho até uma porta escura, aberta, aperto o interruptor e me deparo com
suas roupas. Aqui é o seu closet.
Apago a luz e fecho a porta, me virando e olhando a cama onde o
Trovão já está deitado, dormindo. — Seu danadinho, eu espero que não solte
pelos na cama do nosso amigo. — Falo para ele, mas o cachorro não liga para
mim, seu sono é mais importante. Sorrio e balanço a cabeça, caminhando até
a janela do quarto, separo as cortinas com os dedos e olho lá fora, está caindo
um chuvisco e as ruas estão completamente vazias. Suspiro pesadamente e
saio dali de perto, me deito na cama com o Trovão dormindo aos meus pés e
fecho os olhos, estou esgotada por hoje.
***
Como estou livre por alguns dias do meu trabalho, tinha esperado Sam
chegar ao apartamento, para depois ir tomar um café na cidade, ele chegou
bem sonolento e cansado, mas isso não o impediu de agir como um
verdadeiro oficial, dizendo-me que eu poderia fazer o café da manhã, que eu
quisesse em sua cozinha e isso não o incomodaria, enquanto ele estivesse
dormindo, mas eu recusei. Tinha levado o Trovão para passear e fazer suas
necessidades, depois disso, garanti a Sam que estaria de volta depois de meia
hora, para dar meu depoimento da noite em que Lucco e eu... hum...é, sobre
aquela noite.
Ele acabou desistindo de tentar me convencer a ficar no apartamento e
apenas caminhou como um zumbi até o seu banheiro, enquanto Trovão
permaneceu deitado em seu sofá depois da minha saída.
Olho pelos lados na rua e corro atravessando até chegar à frente do
Cafe Du Monde, entro lá com poucos lugares vazios e corro até a fila onde
estão somente duas garotas universitárias, e uma senhora com uma criança
pequena. Depois delas serem atendidas, escolho rapidamente meu café da
manhã. — Quatro beignet e um café com leite e chicória para comer agora,
por favor. — A atendente sorri e faz meu pedido, depois cobrando, entrego o
dinheiro a ela e espero ali mesmo para pegar minha refeição. Depois de
alguns minutos o café da manhã aparece e caminho até uma mesa, justamente
ao lado da janela, o Cafe Du Monde sempre se encontra lotado e por esse
motivo, raras vezes eu escolhia dar uma passada de carro para vir aqui, mas
ao olhar a multidão a grande fila me desanimava, mesmo querendo vários
beignet para a viagem.
Sento-me em uma das cadeiras e pego um beignet em minha mão,
mordendo um grande pedaço e depois lambendo meu polegar sujo de açúcar.
— Ah, como eu queria ser esse dedo. — Paro de mastigar e sinto o mundo
entrar em lentidão. A voz masculina deixa meus nervos à flor da pele, mas de
uma forma horrenda. Escuto somente os batimentos do meu coração e o
grande murmurinho no restaurante desaparece. Olho lentamente para cima e
dou de olhos com Lucco, sorrindo sem separar seus lábios. — Posso? — Ele
aponta para a cadeira na minha frente, do outro lado da mesa. Não consigo
falar, apenas observo seus movimentos naturais, quando ele se senta
elegantemente. Sua camisa de botões branca se move, junto com o seu corpo
e seu olhar se mostra perturbadamente pacífico.
Quando volto em sã consciência, respiro com dificuldade e coloco o
beignet de volta ao prato, encaro novamente onde Lucco está sentado, com as
pernas cruzadas ao lado da mesa, seu sorriso cretino e olhar que se pode dizer
sedutor, para algumas mulheres me observam. — O que você quer? —
Pergunto duramente, me surpreendendo com minha voz. Ele mordeu seu
lábio inferior e soltou um som pela boca, o que me deixou nervosa.
— Você. — Responde seriamente.
Engulo em seco e olho para as pessoas tomando os seus cafés daquela
manhã. — E por eu não o querer, você coloca drogas nos meus alimentos ou
líquidos para depois entrar na minha casa, se passar por Boyd e depois me
estuprar? — Arqueio as sobrancelhas. — Uau, é uma declaração um tanto...
surpreendente. — Completo sarcasticamente, pegando minha bolsa. Lucco
balança a sua cabeça e se desencosta da cadeira.
— Meus homens estão lá fora, não deixarão que saia até que eu saia. —
Murmura, apontando com sua cabeça para as portas, olho para lá, porém, não
vejo nenhum de seus brutamontes mal encarados. Volto a olhá-lo lentamente
e ele me observa ainda com um sorriso. — Estupro é uma palavra bem forte,
Srta. Lester, quando você gozou como nunca. Acha que isso seria um
estupro? — Franze o cenho e bate seu dedo indicador sobre o queixo, coberto
pela barba escura. Sei que ele está tentando me tirar à calma, mas apenas o
respondo no mesmo tom. Esse miserável não vai brincar comigo.
Curvo-me diante da mesa e cruzo minhas mãos em cima dela, Lucco
abre mais o seu sorriso de tubarão estuprador e faz o mesmo que eu. — É
uma reação física visceral, inconsciente. Não significa que eu tenha gostado.
E eu achava que era o Boyd, jamais imaginaria você me tocando, seu verme
nojento. — Rosno com a voz trêmula. Sinto um ódio grande por este homem
e tudo o que quero nesse momento é atacá-lo, matá-lo, de qualquer forma. É
tudo o que quero.
Lucco lambe seus lábios lentamente e aperta seus olhos para mim. —
Justificativas. Elas sempre estão ao meu redor. — Ele zomba das minhas
palavras, com um pequeno sorriso estampado em seu rosto, aquilo me
incomoda. Lucco então continua. — E também fico triste por me visualizar
como seu namoradinho, que não deve saber nem comer uma boneca inflável,
ao invés de pensar em mim. Acho que exagerei nas doses de Diazepam e
Desodalina. — Suspira, fazendo uma careta. Contraio meu maxilar até doer e
em seguida engulo em seco. Ele fala tudo àquilo como se fosse à coisa mais
comum do mundo, tudo o que quero nesse momento é ir embora.
— O que você quer? — Pergunto novamente e dessa vez as lágrimas
aparecem.
Lucco franze seu cenho e deixa sua cabeça tombar de lado. — Você
sabe o que eu quero. Você zombou de mim naquela noite, você me desafiou
achando que eu sou um homem qualquer, agora é a minha vez de jogar, eu
tentei ser legal, mas você tinha que envolver seu ex-namorado, bichinha, e
seus amiguinhos riquinhos, não é? — Esgazeio meus olhos,
assustadoramente, quando o ouço dizer a palavra ex... Lucco nota a minha
surpresa e sorri. — É. Esqueci-me de dizer que estou sabendo do seu término
com aquele maricas, já era hora de largar aquele frouxo, que deixa uma
mulher sozinha em sua casa. Bem... você estava em um hotel, fui fazer uma
visita na noite passada, queria conversar com você. Onde está agora?
— Por que acha que irei contar a você? — Pergunto ironicamente,
rindo dele. Lucco pega um dos meus beignet perto de mim e rapidamente
afasto meu braço do prato.
Ele abre um sorriso e morde um pedaço do doce. — Ou você conta ou
descubro, e acredite, se eu descobrir, será pior. — Ele suspira e morde mais
um pedaço. — Sabe, Olivia, eu achava que você era diferente, mas me
enganei. Hoje de manhã eu passei na galeria e a linda, doce, Katarina estava
lá para me atender. Ela me vendeu três quadros fantásticos, obviamente que
dei um bônus de agrado para ela também, mas foi maior que o seu, pois na
mesma hora em que a convidei para um jantar, ela aceitou, sem pensar duas
vezes. Espero que não fique com ciúmes.
— Seu doente mental! — Rosno para ele entredentes, me curvando o
quanto posso, sobre a mesa. Meus olhos ardem pela raiva que sinto naquele
momento, olhando para a cara sarcástica de Lucco. — Você vai deixá-la em
paz!
Ele ri com minhas palavras e joga o restante do beignet na mesa. Lucco
limpa suas mãos e me encara. — Por que acha que irei escutá-la? —
Pergunta. — É o jogo da vida, meu amor, a roda continua girando e a cada
fresta da roda, há um divertimento para mim. Sua amiga Katherine será mais
uma diversão. — Ele se curva lentamente e deixa seu rosto centímetros perto
do meu, sinto uma urgência em me afastar, mas permaneço olhando
bravamente seus olhos. — Onde você for eu irei atrás de você, Olivia.
Deveria ter aceitado meu convite naquela noite, mas achou melhor bancar
uma de vadia mimada! Eu estou adorando brincar de gato e rato com você.
Não faz ideia do quão delicioso foi fodê-la, com toda a minha força e ainda
ouvi-la gozar e gemer, como uma porra de uma prostituta. Nenhuma mulher
diz não para mim, e se ela disser como você, terá grandes consequências. Eu
vou brincar com você, até que eu enjoe e quando isso acabar, você se
arrependerá de ter dito não para mim.
Quando Lucco termina suas ameaças, ele estende sua mão direita e
acaricia minha bochecha, sinto que elas estão molhadas pelas lágrimas. —
Não chore. Ainda vamos nos divertir bastante. — Sussurra, aproximando
mais seu rosto do meu, viro minha cabeça e empurro sua mão bruscamente de
mim, eu estou em brasa, com o que ele acabara de me dizer, Lucco não
pararia por nada.
— A polícia sabe de você. — Murmuro com raiva.
— A polícia também adora receber dinheiro do meu bolso. — Zomba
com um sorriso torto nos lábios. — Está sendo em vão e o seu detetive, logo
será mais um pobre coitado morto, misteriosamente, pelas ruas de NOLA. —
completa com um breve sorriso.
Seguro minha língua para não gritar ali e então me concentro em
respirar fundo, arriscar a vida daquelas pessoas seria demais. — Eu sei sobre
você. — Solto. Lucco me encara, franzido por poucos segundos, mas então
seu olhar irônico desaparece e aquele olhar da noite no casarão aparece. Um
olhar maníaco e perturbador, um olhar que não só promete, mas cumpre o
que irá fazer. Um olhar que me aterroriza.
— Você foi longe demais. — Murmura seriamente. Lucco bate seus
dedos lentamente sobre a mesa e os olha enquanto faz. — Te darei até o fim
do dia, para me encontrar no aeroporto. Caso não esteja lá para ir embora
comigo, se prepare com os fogos de artifícios. — Ele se levanta da sua
cadeira e sai de perto da mesa, sigo-o com meu olhar, enquanto Lucco
caminha para fora da Cafe Du Monde, depois de uns segundos, dois carros
luxuosos e pretos passam por onde estou sentada, ao lado da janela e somente
agora, dessa vez eu suspiro de alívio.
Fecho os olhos por um momento e seguro as lágrimas o quanto posso.
Depois de uns minutos, pego meu celular com as mãos trêmulas, dentro da
bolsa e digito o número de Sam. Ele atende no quarto toque. — Olivia?
— E-eu não sei se posso aguentar mais, Sam. — Sussurro e as lágrimas
caem. Viro minha cabeça para a janela, não permitindo que as pessoas me
vejam chorando.
— O que está dizendo? O que houve? — Ele pergunta preocupado.
Limpo o nariz como uma criança e balanço a cabeça. — Por favor,
venha me buscar, e-eu preciso da sua ajuda. Estou no Cafe Du Monde. —
Sussurro. Ouço barulhos no outro lado da linha e Sam dizendo-me:
— Estarei aí em menos de dez minutos.
A ligação termina e sinto meu coração chorar pelo o que está
acontecendo comigo. Sinto que minhas forças estão se dissipando, como se
Lucco as tivesse sugado de meu corpo. Suas ameaças, seus esclarecimentos,
deixavam-me apavorada. Era notável que ele não se importava com nada,
pois saberia que não haveria consequências para ele. Ele disse que a polícia
gostava do seu dinheiro e aquilo tinha me desanimado ainda mais. Fungo
algumas vezes e pego um guardanapo, para limpar meu rosto.
Agora estou em cima do muro e Sam é a minha única salvação.

ELEVEN

Ele aparece lá e você ainda conversa com ele? — Indaga Sam, ao


fechar a porta do seu apartamento. Quando ele foi me buscar - junto com o
Trovão, sentado na cadeira do carona, infelizmente tive que sentar no banco
de trás da caminhonete - seus olhos estavam em alerta pelas ruas da cidade e
uma carranca acompanhava seu semblante. Eu também não sei o que passou
na minha cabeça, em conversar por longos minutos com Lucco Gratteri em
público.
Sam faz um sinal de que espera minhas palavras e suspiro com isso. —
Você disse que quando eu o visse, para agir naturalmente! E foi o que eu fiz,
além disso, eu estava estática, em pânico com ele sentado na minha frente,
fazendo ameaças. — Digo, me defendendo.
— Se algum conhecido seu entrasse no Cafe Du Monde, tiraria suas
conclusões de que você estava realmente mentindo sobre a noite no casarão,
Olivia. — Murmura Sam, com seus braços cruzados. Fecho meus olhos, em
cansaço e sento-me no braço do sofá.
Por que eu teria que me preocupar com isso? Pouco me importava
quem me visse ali. — Não havia como escapar, Sam. — Finalizo com um
suspiro pesado. — Eu não deveria dizer a ele que sabia sobre a máfia, foi
uma grande e terrível estupidez. Ele não gostou daquilo. — Jogar na sua cara
que é da máfia, não foi algo inteligente de se fazer. Lucco é um doente de
merda e qualquer coisinha que o irrite, ele ataca sem pensar duas vezes, isso
era notável dele. Mas eu estava com tanta raiva, por tudo o que ele me
causou, que não tive como segurar a língua. Quando termino de dizer o que
penso, Sam balança sua cabeça e passa a mão na sua barba por fazer,
caminhando pela pequena sala.
— Você não vai a nenhum aeroporto. Posso fazer um mandato de busca
contra ele, deixar oficiais em todos os aeroportos da cidade e enquanto isso,
você ficará aqui. Trancada. — Ele replica duramente para mim. Tudo o que
faço, é apenas assentir. Sam está certo do que irá fazer...
Levanto-me às pressas e paro na sua frente, segurando seu braço
direito, ele olha para a minha mão franzindo o cenho. — Você precisa tomar
cuidado, Sam. Ele disse que pode te matar! Por favor, eu não quero que se
machuque por minha causa, você está sendo tão bom para mim, ultimamente.
Tome cuidado. — Minha voz está em súplica, amarga com as palavras ditas.
Mas não posso vê-lo ferido, ou até morto, por minha culpa. Isso seria demais
e eu levaria esse peso comigo para sempre. Sam permanece com seus olhos
castanhos em mim, deixando-me um pouco tímida, mas seguro nossos
olhares. Até que, de repente, sua grande mão, esquerda, segura a parte de trás
da minha cabeça e ele me puxa de encontro a ele, fazendo nossos lábios se
baterem um contra o outro.
Fico surpresa com o que está acontecendo, porém, eu o beijo de volta.
Seu beijo é profundo e eletrizante, enviando arrepios pela minha nuca e
deixando meu corpo se curvar até o seu. Sam me beija com gosto e sua outra
mão segura apenas a minha cintura. Deixo minhas mãos sobre o seu peito,
enquanto ele preenche meus lábios com os seus, sua língua se enrolando e
chupando a minha, de uma forma que nunca senti antes com outro homem.
Cedo demais, Sam puxa minha cabeça para trás enquanto, ainda permanece
de olhos fechados e respirando profundamente. — Isso foi... — Ele diz, mas
não termina sua frase. Isso foi o que?! Aquilo me cutuca de curiosidade,
porém eu apenas o olho. Foi o melhor beijo que já tive.
— Não se sinta culpado por isso. — Finalmente eu digo e os olhos de
Sam se abrem. — Eu gostei. — Admito quase em um sussurro. Sam acena
com sua cabeça para mim e tira suas mãos da minha cabeça e cintura,
também retiro minhas mãos de seu peito e pigarreio, enquanto aliso meu
vestido branco.
Sinto que uma tensão está no ar, mas não gosto disso, pois não há
motivos para estarmos assim tão nervosos. Os olhos de Sam vão para o seu
relógio de pulso e depois para a porta, parece que ele está querendo correr
daqui. — Hã... Eu acho que devo agilizar, pois quanto mais espertos formos,
melhor para nós. — Ele dá um aceno de cabeça e se afasta, mas o paro antes
de ir.
— Sam não precisa ficar assim, não somos chefe e secretária. Somos
adultos e houve uma química entre nós, nada demais. — Ele está de costas
para mim e quando terminar de falar, Sam se vira.
Ele abre um pequeno sorriso torto e me olha de cima a baixo. — Eu
gosto do seu jeito, você diz o que pensa. Deve ser por isso que se tornou um
grande foco de Lucco. — Ele fecha os olhos e solta um palavrão. — Merda,
eu sempre estrago tudo. Desculpe-me Olivia, foi idiota o que eu disse...
— Não se preocupe. — Rio para ele; Sam parece um adolescente
nervoso e isso me diverte. — Eu entendi seu ponto. Vou estar aqui quando
você chegar. — Completo, sorrindo para ele.
Ele destranca a porta e pisca para mim. — Vou mantê-la informada
pelo celular. — Sam fecha a porta e fico na sala, parada, me lembrando de
tudo. O dia mal começou e já está um turbilhão! Lucco aparecendo no Cafe,
Sam me beijando de uma forma maravilhosamente, gostosa... Fecho os olhos
e solto um gemido, me virando para encarar meu cachorro Trovão, que está
deitado no sofá. Dou uma olhada nele e coloco as mãos nos meus quadris.
— O que eu faço com o nosso amigo detetive Sam Harris? Preciso de
outro beijo daquele, a mãe beijou a mesma boca por muitoooooo tempo. —
Digo entre risadas, as orelhas do Trovão se mexem, como se tentasse
descobrir o que estou dizendo a ele. Sento-me na poltrona e suspiro. — Acho
que não é a hora de pensar sobre isso, há um maníaco, fodido, lá fora que está
esperando por mim. — Murmuro e olho pela janela. O que será que ele irá
pensar quando não me vir no aeroporto, mas sim a polícia? Será que Lucco
vai conseguir fugir? Ou talvez não? E quanto ao Sam? Tudo isso é tão
preocupante!
Rosno com meus pensamentos e deixo minha cabeça tombar entre
minhas mãos, porém ao fazer isso, lembro-me de algo importante que Lucco
soltou nessa manhã. — Katherine! — Exclamo e corro até a minha bolsa,
rapidamente retiro o meu celular e digito seu número. Tudo o que espero é
que ela atenda. — Atende Kat! — Ao mesmo tempo em que digo isso, ouço a
sua voz doce e animada.
— Liv! Liv! Estou com saudades. — Ela ri.
Abro um largo sorriso e fico feliz em saber que ela sente saudades da
amiga. — Eu também estou com saudades, eu iria passar aí nessa tarde, mas
tive uns problemas. — Respiro fundo e continuo. — Katherine, eu preciso te
alertar sobre algo, algo muito sério e você precisa me ouvir, pois sou a sua
amiga há três anos. — Jogar com o emocional é sempre mais fácil de
manipular uma pessoa, ainda mais essa pessoa sendo a Katherine! Ouço sua
risada baixa e ela dizendo-me:
— Pode ficar tranquila, não irei sair com Lucco Gratteri nunca! —
Ela ri mais uma vez.
Franzo o cenho e gaguejo. — M-mais como assim? Achei que você...
— Fala sério Olivia, você acha mesmo que eu iria jantar com um cara
daqueles? Ele pode ser perigosamente sexy e gostoso, mas eu jamais sairia
com ele, eu vejo o modo que ele olha para todas as mulheres e isso é
repulsivo! Sem contar que ele agarrou você a força, naquela noite. Eu disse
a ele que estava ocupada com o trabalho e que voltaria para a faculdade,
então ele meio que perdeu o interesse... e depois estava dando em cima em
umas das clientes da galeria. Arrr. — Katherine me aliviou com a sua
escolha de não querer sair com Lucco, pois eu realmente iria surtar, se algo
acontecesse com ela.
Entretanto, eu sentia raiva pela sua mentira nessa manhã. Mais uma vez
ele tinha sido rejeitado, mas claro que fez um teatro, para que eu pudesse
acreditar que Katy sairia com ele. Katherine é bem mais inteligente do que
eu. Muito.
Fecho meus olhos, soltando um suspiro e coçando a cabeça. — Ainda
bem que você se esquivou dele. — Murmuro. Um toque apita no meu celular,
mostrando uma nova ligação. — Katy, eu preciso desligar, estou com alguns
problemas, mas gostaria de me encontrar com você. Podemos jantar no final
de semana em sua casa? — Sugiro a ela. Katherine faz um som de alegria e
aquilo me faz rir. Eu adoro essa mulher.
— Mais é claro! Precisamos conversar muito e eu sei que você precisa
desabafar! Bem, também estou indo, a galeria está começando a lotar. Até
mais! — Me despeço dela e olho a nova ligação. Quando leio o nome,
suspiro, desanimada.
— O que você quer? — Pergunto sem delongas.
Boyd fica mudo com a minha agressividade, mas enfim responde. —
Não é uma boa hora? Posso ligar mais tarde se você quiser. — Sua voz está
baixa e sem vida, o que faz meu coração se apertar com isso. Sinto um
remorso me invadir e mordo meu lábio inferior, para não cair no choro.
Balanço a cabeça negativamente e pigarreio.
— Desculpe, eu estou... é... está tudo bem agora, pode falar. —
Incentivo-o, gentilmente.
Ele respira duro no outro lado da linha e então me diz. — Só queria
saber se você está bem? Óbvio que não perguntarei onde você está
dormindo, mas... queria saber se está bem. — Ando pelo corredor do
apartamento de Sam, lentamente, caminho até a cozinha. Sento-me em umas
das banquetas e apoio meus cotovelos sobre o balcão. Ele quer saber se estou
bem? Agora ele quer saber se eu estou bem? Isso é tão frustrante que chega a
doer de tanta raiva! Eu precisei dessas palavras dias e semanas atrás, mas
Boyd pouco estava se importando com isso, tirando-me como uma mentirosa
safada, que queria largá-lo para ficar com o europeu rico! Quero dizer isso
tudo em palavras para ele, mas felizmente consigo me conter. Arqueio
minhas sobrancelhas e olho pela janela da cozinha.
— Estou ótima, Boyd, muito obrigada. — É tudo o que consigo lhe
dizer.
Ele fica mudo depois disso e espero suas próximas palavras, eu sei
exatamente o que ele quer e sei o motivo da sua ligação, mas acho melhor
esperá-lo dizer. — Isso é bom, muito bom. — Murmura com um sorriso na
voz. — Sabe Liv, eu sei que está brava comigo e você tem todo o direito do
mundo de estar, eu fui um completo verme, babaca, em pensar algo ruim de
você, tenho certeza que feri seus sentimentos e me sinto um desgraçado por
isso! Mas... Liv... eu sinto que não acabamos por aqui, eu sinto sua falta e
prometo que se você me aceitar de volta, será tudo do seu jeito, tudo da
forma que você quiser, eu farei o que você quiser. — Boyd suplica suas
palavras, mas tudo o que penso é o quão ridículo está sendo. Passo a mão na
minha testa, sem saber o que dizer a ele.
— Boyd... eu não quero nada do meu jeito, você é adulto e faz o que
quiser, mas me machuca saber que seus amigos estão em primeiro lugar e que
você ouve os conselhos sujos deles, sobre mim. Eu não sei se vamos
funcionar depois disso tudo. — Discordo com tranquilidade. Reatar o namoro
com alguém que desconfia da sua lealdade, do seu caráter e da paixão que
sente por ele, não dará certo. Eu sempre fui completa nos meus
relacionamentos e por isso nunca tive sorte, mas depois de Boyd passei a ser
um pouco mais transparente e alerta com ele. Minha mudança de
personalidade felizmente me ajudou, pois agora eu vejo que Boyd e eu nunca
iremos dar certo.
Ele gagueja algumas palavras e depois de respirar profundamente umas
três vezes, ele diz. — Eu sei que não vou conseguir fazê-la mudar de ideia.
— Responde em voz baixa. — Olha, sei que é pedir muito, mas podemos nos
encontrar? Por favor? Eu posso ir até você ou podemos nos ver no nosso
apartamento, não importa o lugar, eu preciso vê-la Olivia, por favor. — Ele
implora, quase chorando como um garotinho. A minha reação é dizer não
para ele, pois Sam disse para eu permanecer no seu apartamento até que ele
voltasse. Mas eu não conseguiria passar o dia todo trancafiada aqui, sem
fazer absolutamente nada! Xingo-me por dentro por ser tão vaca e suspiro.
— Isso não é mais uma chance. Eu irei apenas para você me ver, mas
depois fim! Podemos ser amigos e somente isso. Irei até o apartamento, qual
horário posso aparecer? — Esclareço tudo antes, para Boyd não criar
expectativas, ele sabe muito bem como eu sou.
Boyd fala vários "sim" para mim animadamente e noto que sua voz está
mais viva agora. — Isso já é o suficiente para mim, muito obrigado Liv. Bem,
você pode passar lá em casa depois das 17 h quando anoitecer? Estou no
trabalho hoje. — Explica.
— Claro. Sem problemas, estarei lá te aguardando. — Sorrio.
Ele ri com alegria e se despede. — Estou ansioso para vê-la. Até mais
tarde.
— Até, Boyd.
Quando a nossa conversa pelo telefone acaba, fico pensativa por alguns
minutos. Não será arriscado sair daqui, eu posso pegar um táxi, ao invés de
usar meu carro, que obviamente Lucco sabe que é meu! Então pegarei um
táxi, mas espero que Sam não surte.
***
Desço do carro e corro para dentro do edifício. Chego muitos depois do
combinado com Boyd, pois Sam ligou para mim, dizendo que houve um
check-in no aeroporto Louis Armstrong, com o nome Lucco Gratteri há duas
horas. Confesso que um pequeno tremor de nervosismo passou por mim, mas
rapidamente Sam conseguiu me acalmar e disse que estava a caminho do
aeroporto. Não obtive mais notícias desde que peguei o táxi para chegar até
aqui, então a minha mente deduziu que eles finalmente pegaram Lucco.
Quando o elevador se abre, ando até a porta do apartamento e bato duas
vezes na madeira clara. Eu ainda tenho a chave, mas seria estranho demais
entrar dessa forma, sendo que não moro mais aqui, e também pelo o que
conheço do Boyd, ele teria esperanças com mínimas coisas.
A porta se abre com o próprio Boyd ali, me olhando com um brilho nos
olhos e vestido na sua camiseta branca surrada e bermuda preta. Seu "pijama"
para dormir. — Liv. — Ele diz o meu nome como uma oração e depois sorri
e abre mais a porta, para que eu possa entrar. Passo por ele, pedindo licença e
olho pelo apartamento. Está uma completa catástrofe! Roupas espalhadas,
copos sujos nas mesinhas da sala, sapatos... Meu Deus. — Desculpa pela
bagunça! Estou atolado de trabalho e ando muito cansado. — Ele explica,
enquanto vai se abaixando para pegar todas as peças de roupas no chão.
— Não se preocupe, eu entendo. — Tranquilizo-o com um sorriso.
Boyd joga as roupas em cima do sofá e me olha. — Eu acabei de
chegar e pensei que estava aqui, porque a porta estava destrancada, então me
lembrei de que o babaca aqui se esqueceu de fechar a porta. — Murmura com
uma risada sem jeito. — Sou um idiota mesmo. — Ele passa a mão no
cabelo, todo desgrenhado, e olha em volta do seu apartamento. Eu detesto
quando alguém se rotula com palavras negativas e Boyd sabe muito bem
disso, então sei que ele está tentando me manipular, mas somente dessa vez,
eu finjo que não noto isso.
— Não diga isso de você, Boyd. Todos nós erramos e isso é normal. —
Digo-lhe com carinho. — O que acha de você ir dormir um pouco e eu deixo
a casa impecável para você? Tome um comprimido de calmante que está no
banheiro do quarto. Aí eu te acordo, pedimos uma pizza e falamos sobre
qualquer coisa, o que acha? — Pergunto com um sorriso. Os olhos azuis de
Boyd marejam-se por um breve momento, ele anda em minha direção
lentamente e respiro fundo, disfarçadamente.
Ele para na minha frente e levanto minha cabeça para observá-lo. —
Você é perfeita. Na verdade, minha vida está uma bagunça, porque eu deixei
você escapar pelos meus dedos. — Sussurra com lágrimas nos olhos. — E-eu
sinto muito por tudo, sinto mesmo, Liv. Você passou por tantas desgraças na
sua vida e o meu papel de noivo era te apoiar. Desculpe-me, por favor. —
Boyd começa a chorar e me abraça, rapidamente, o abraço de volta e fico sem
palavras. Deus, ele está mesmo triste e isso me machuca tanto.
Não sei o que dizer. Então, eu apenas acaricio suas costas com carinho.
— Está tudo bem, estou aqui. — Falo com a voz abafada, perto do seu
ombro. Boyd se afasta por um momento e segura meu rosto, tomando-o em
suas mãos e em seguida me beijando. Eu deveria afastá-lo, mas não o faço,
não sou tão desumana assim, mesmo estando magoada com ele. Mas vejo que
não sou a única. E sinto pelo nosso beijo, ele é vazio e sem aquele fogo
ardente que eu antes sentia, agora foi um simples beijo, como um beijo de
adeus. Boyd termina com um selinho e depois um beijo na minha testa,
enquanto sussurra.
— Pode ir se deitar comigo se você quiser.
Abro um sorriso e o olho, seus olhos estão mais leves agora. — Vou
arrumar a sua masmorra, seu espertinho. Vá descansar. — Ele ri com isso,
beija rapidamente minha boca e se vai, indo para o quarto. Quando estou só,
começo a pegar todas as suas roupas dali e levá-las para a lavanderia do
apartamento. Jogo todas as roupas na máquina de lavar e ligo-a em seguida,
deixando-a fazer o seu trabalho. Deixo a luz acesa e volto para a sala,
pegando todos os copos e pratos que estão ali, levando até a cozinha. Lá está
uma revolução.
Choramingo com a pia lotada de louças e deixo os copos ali, tiro o meu
casaco, mas paraliso. Olho em volta da casa e depois para a cozinha, um
barulho estranho me instiga, mas não consigo ver de onde ele vem. Caminho
até o quarto e abro a porta, onde vejo Boyd deitado de bruços já no seu sono
profundo, olho em volta do quarto e vejo que está uma bagunça também.
Solto um suspiro e fecho a porta, voltando para a sala. Novamente o barulho
surge e fico parada para ouvir melhor, até que...
BOOM! Um estrondo alto faz-me gritar e cair no chão, olho assustada
em volta e vejo a lavanderia pegando fogo! O apito de incêndio troveja pelo
apartamento e tento me levantar às pressas, para conter o fogo. A fumaça
grossa está por todo lugar, às pressas e quando chego perto da porta outro
estrondo sai de lá. Caio no chão mais uma vez, ouço gritos e a porta da sala
sendo aberta com força. A fumaça faz meus olhos arderem e começo a tossir
desesperadamente, quando algo me puxa para cima.
— OLIVIA O QUE ESTÁ FAZENDO?! — Olho para quem está ali,
reconheço o vizinho Mark e seu filho mais velho Jared, me carregando para
fora. De repente, uma explosão forte faz com que a parede do corredor junto
à cozinha se despedace e nos três caímos e levantamos rapidamente. — ISSO
VAI EXPLODIR! — Grita Mark, me levando para longe.
Sinto meus ouvidos doerem e algo líquido escorrendo deles, minha
garganta está fechada e ardendo pela fumaça, assim como meus olhos
lacrimejam. Mark, Jared e eu, usamos a escada de incêndio às pressas, ao
ouvir um segundo estrondo, quando então meu alerta aciona. Tento me soltar
do aperto deles e começo a gritar. — NÃO, NÃO, EU NÃO ESTOU
SOZINHA! EU NÃO ESTOU SOZINHA! — Trovejo e choro
desesperadamente, mas já estamos fora do edifício. Todos os moradores estão
lá fora tossindo, com os pertences que conseguiriam resgatar ou com seus
animais. Várias pessoas de outros prédios gritam de lá para cá, quando dois
caminhões de bombeiros chegam com a sirene alta.
— Não há como buscar seu cachorro, Olivia! — Diz Jared, me
segurando pela cintura.
Tento empurrá-lo com toda a minha força e grito. — O BOYD ESTÁ
LÁ DENTRO! ELE ESTÁ NO QUARTO! — Grito desesperadamente,
quando vejo os bombeiros, mas então vem o pior.
Uma explosão atrás de outra, e outra faz todos nós gritarmos e se
abaixarem no asfalto da rua. Olhamos lentamente lá para cima e vejo as
janelas do meu apartamento destruídas, a sala e o quarto tomados pelo o fogo
alto. Solto um grito apavorante e tento correr de volta ao prédio, mas Jared
me segura firmemente. — Não há mais o que fazer Olivia! Não há mais! —
Ele exclama em espanto, assim como todas as pessoas na rua, que olham
chocadas para o meu apartamento.
— NÃO, BOYD! NÃO, NÃO! MEU DEUS, NÃO BOYD! — Eu
grito, choro e me debato, meus pensamentos estão em desordem, tudo o que
imagino é Boyd ao meu lado sã e salvo. Vários bombeiros aparecem com
mangueiras, gritam dando ordens e também pedindo para todos se afastarem.
Mas eu não quero, eu preciso voltar para lá. Um dos bombeiros se
aproxima de mim e Jared com as mãos levantadas. — Vocês precisam se
afastar, pode ter outra explosão de gás. — Ele alerta. Olho para ele em
prantos e digo.
— MEU NAMORADO! ELE ESTAVA NO QUARTO POR FAVOR,
PRECISAM IR LÁ!
Ele me olha com pena e depois balança a cabeça. — Senhorita, foi uma
grande explosão, sinto muito, mas...
— NÃO! — Grito e deixo minhas pernas enfraquecerem, Jared se
abaixa, junto comigo, pedindo para me acalmar. Mas eu choro como uma
criança e tudo o que quero nesse momento é Boyd! Somente ele! Eu não paro
de gritar e chorar. Quero arrancar aquela dor no meu coração, mas não sei
como. Olho para as pessoas que passam correndo ou olhando para o prédio e
quero a ajuda de todos, apenas de todos! Quando me levanto com a ajuda de
Jared e foco meu olhar no meio da rua, somente onde os bombeiros passam,
meu choro para e meu coração salta de medo e pavor. O mundo novamente
fica em lentidão e vejo tudo como se fosse uma câmera lenta.
Lucco caminha ali lentamente, acendendo um cigarro e fumando-o com
tranquilidade, ele está vestida todo de preto, calça preta, camisa preta e
jaqueta preta. Ele anda entre os bombeiros como se ninguém o estivesse
vendo, fumando seu cigarro e então, ele me olha, por um breve momento, e
antes de desaparecer na multidão, ele pisca para mim.
E então, some entre a multidão de pessoas.
TWELVE

— Senhorita Lester, olhe para mim!


— Olivia? Posso chamá-la de Olivia? Faça um sinal se você me ouve.
— Ela está em choque... coitadinha perdeu o namorado na explosão...
— ... e ninguém faz ideia do que causou aquilo tudo! Talvez tenha sido
um curto circuito.
— Onde ela está? Olivia! OLIVIA! — Pisco várias vezes, e respiro
alto. Estou em um hospital e não sei como vim parar aqui. De repente, mãos
fortes me seguram e me tiram de cima da maca, ao mesmo tempo me abraça.
Sam segura meu rosto entre as suas duas mãos e faz com que eu o olhe, ele
está aflito e desesperado. — Meu Deus... eu achei que... por que não ficou no
apartamento, Olivia?! E se você também... — Ele segura sua língua e me
abraça com mais força dessa vez. Continuo em transe, não sei o que fazer, eu
apenas quero ir embora para sempre.
Será que foi a minha culpa? Se eu não fosse até lá, isso aconteceria? —
Sam... o-o Boyd, e-ele... — Sam limpa minhas lágrimas e me olha com
ternura.
— Shh. Está tudo bem, você está bem. Sinto muito, Liv. — Ele
sussurra e eu choro, escondendo meu rosto no meio da sua jaqueta.
Provavelmente foi a minha culpa. — Senhorita Lester. — Abro meus
olhos e encaro dois policiais que chegam mais perto. — Senhorita, eu sou o
detetive Stewart e esse é o Johnson. Queríamos ter seu depoimento, o mais
rápido possível, se não for um incômodo? — Sério? Eles querem fazer isso
justamente agora? Olho para cima e encaro Sam, que observa os policiais.
— Ela está em choque, não poderiam esperar até amanhã? — Pergunta
seriamente.
O detetive Johnson solta um suspiro e cruza seus braços gordos. — A
memória dela ainda está boa para recordar o que houve. Esperar até amanhã
vai ser difícil.
— Tudo bem, Sam. — Falo para ele e me desfaço de seu abraço. — O
que querem saber? — Pergunto por fim.
Stewart pega um bloco de notas do bolso da sua calça e também uma
caneta. — Diga do início ao fim, o que aconteceu dentro do apartamento. —
Ele responde. Respiro profundamente e me sento devagar, de volta à maca.
As pessoas passam de lá para cá e olho para elas, mas rapidamente uma
cortina branca esconde-me de todos, olho para o lado e vejo Jhonson ao lado
da cortina, de braços cruzados, me encarando seriamente. Apenas desvio o
meu olhar do dele e suspiro, dizer o que houve vai me machucar mais do que
estou. Porém, dessa vez, entregarei Lucco Gratteri sem pensar duas vezes.
— Boyd e eu não estávamos mais juntos, ele me ligou nessa manhã,
dizendo que precisava me ver, pois sentia minha falta. Mas eu deixei claro
que não reataríamos. — Fecho os olhos, respirando fundo. — Marcamos de
nos encontrar em seu apartamento às 17 h, acabei me atrasando um pouco,
porque estava no telefone com Sam. — Aponto para ele.
O detetive Stewart assente e escreve tudo, depois olha para Sam. —
Você que é o Sam? — Pergunta.
— Detetive Harris. — Ele retruca com arrogância, o que me faz olhá-
lo.
Johnson abre um sorriso e caminha entre nós. — Interessante, um
detetive. — Sorri novamente, mas Sam apenas o encara. Stewart me dá um
sinal para eu continuar e faço.
— Quando cheguei, Boyd estava lá. Ele disse que andava muito
cansado devido ao seu trabalho, ele é... era arquiteto. A casa estava uma
bagunça, então sugeri a ele para tomar um calmante, enquanto eu arrumava a
casa, depois tentaria acordá-lo e pediria uma pizza para nós. — Engulo em
seco e sinto as lágrimas se formando no momento em que me recordo dos
eventos dessa noite. — E-ele foi se deitar e eu fiquei na sala juntando as
roupas que estavam ali, fui até a lavanderia e deixei as roupas dentro da
máquina de lavar, sai de lá e depois fui limpar a cozinha, mas aí ouvi um
barulho estranho, andei até o quarto do Boyd, mas ele dormia e quando parei
no corredor escutei novamente um barulho. Percebi que era na lavanderia e
quando estava perto da porta houve uma explosão. Depois fui tudo muito
rápido, houve outra explosão e os vizinhos me resgataram, mas eu gritava
dizendo que não estava sozinha.
Johnson chega perto de mim e me encolho, eu não gosto dele. — Em
qual momento você disse que não estava sozinha no apartamento?
— E-eu... — Encaro Sam e depois olho para o outro homem. —
Acredito que nas escadas de incêndio, eu não sei, mas...
— Se lembrou de uma pessoa, dormindo, sobre efeito de calmantes,
somente quando estava fora do apartamento? — Pergunta Stewart, em tom
acusatório. Não sei o que fazer! Meus pensamentos ainda estão
desconcertados, sinto-me fraca e inútil, naquele momento e sei que os
detetives percebem isso. Porém, a sua pergunta me choca. Deus, ele tem
razão, como pude me lembrar do Boyd somente quando fui levada, para fora
do apartamento?
Eu quero gritar nesse momento. Quero gritar o nome de Lucco Gratteri,
o homem que causou tudo isso, o homem que está destruindo a minha vida,
aos poucos, e se divertindo com tudo. Ao pensar no seu nome, já estou
chorando. — Eu quero um advogado. — Digo e olho para os dois.
— Por que precisaria de um advogado, Srta. Lester? Não estamos
acusando-a de nada, apenas interrogando. — Indaga o detetive Johnson, com
um olhar inocente. Bingo. Ele queria que eu dissesse isto, querendo colocar a
culpa em mim, eu sei disso.
Sam se mexe desconfortavelmente ao meu lado, seu maxilar se contrai,
enquanto olha diretamente para o detetive sarcástico. Ele está louco por uma
briga. — Eu já disse o que tinha para falar. Saímos todos do edifício e então
explodiu! E mais duas vezes! — Rosno. Suspiro por um momento e
completo. — Devem já saber que fiz um boletim de ocorrência contra Lucco
Gratteri, por assédio sexual e invasão de propriedade, fora outras merdas que
ele causou em mim, mas ninguém acredita. Hoje mesmo ele me ameaçou,
querendo que eu fosse embora com ele e disse que se eu não fosse ele faria
algo. E ele acabou de fazer, invadiu o apartamento do Boyd e esperava matá-
lo, mas não imaginara que eu estaria lá. Além disso, depois das explosões, ele
estava no meio da multidão, fumando. E ainda piscou para mim. E agora?
Agora ele está lá fora, rindo e se divertindo, se preparando para o próximo
passo e vocês estão aqui, desconfiando de uma vítima e que quase morreu
explodida!
A tristeza tinha sumido completamente e foi preenchida por ódio.
Lucco Gratteri se vingava de mim da forma que ele queria, enquanto eu, não
fazia nada a respeito e isso era frustrante. Mas eu me lembro de um conselho
de minha mãe, aquele conselho sempre me salvou de tudo.
"Coloque suas frustrações sobre o que você queira concertar, meu
amor...”.
Limpo minhas lágrimas e encaro os detetives que estão parados sem ter
o que falar. — Espero que tenham anotado tudo. Acabamos por aqui,
senhores? — Pergunto firmemente. Johnson olha para o seu parceiro, que
guarda seu bloco de notas e caneta. Ele dá uma olhada para Sam, que ainda
permanece calado e depois faz um sinal de cabeça.
— Acabamos. Sinto muito pela perda, senhorita. Cuide-se. — O
detetive Stewart se afasta, Johnson olha para mim e depois para Sam.
Ele balança a cabeça com um pequeno sorrisinho e diz. — Cuide-se.
Seu namorado ficaria triste se você estivesse mal. — Trinco o maxilar e
fuzilo-o com meus olhos, mas ele apenas sorri pequeno e se vai. Quando
ficamos finalmente a sós e em paz, respiro profundamente, me aliviando
daquela pressão.
— O que ele quis dizer com isso? — Pergunto em voz baixa.
Sam me olha e franze o cenho, suspirando. — Se eu não fosse um
ótimo investigador, não pensaria que o babaca quis dizer, que você e eu
estamos tendo um caso, escondidos de Boyd.
— Isso é ridículo, Boyd e eu, nós não estamos juntos. — Murmuro.
— Exatamente, eles sabem disso, mas deixaram esse detalhe de lado.
Tome cuidado com esses caras, eles podem incriminá-la por algo que não fez.
— Sam alerta para mim, seriamente. Tudo o que faço é assentir. Estou tão
cansada, ele me olha por um instante e então acaricia o lado superior da
minha testa, com seu polegar. Fecho os meus olhos e tombo minha cabeça no
seu peito.
Quero me esquecer de tudo, não quero saber absolutamente de nada
sobre hoje, apenas quero... — ONDE ESTÁ ELA? ONDE ESTÁ?! — Levanto
minha cabeça ao reconhecer a voz feminina. Quando me levanto da maca, as
cortinas brancas são empurradas bruscamente pela mãe de Boyd, seus olhos
estão vermelhos de tanto chorar e um olhar de puro ódio cai sobre mim. Atrás
dela está seu marido Brian, Violet, Abraham, Gael e o restante dos amigos de
Boyd.
— Sra. Patterson, eu... — Minha frase é interrompida quando ela dá
passos firmes em minha direção e vejo sua mão se levantando, quando penso
que serei atingida pelo tapa, Sam segura o braço de Crystal e a olha com
ameaça.
— Toque nela e eu lhe prendo por agressão física. — Ele solta as
palavras lentamente, fazendo-a olhá-lo com bravura. Crystal se solta do
aperto de Sam e me encara, assim como os demais.
Seus olhares são de ódio e nojo e sei que não há mais motivos para eles
fingirem perto de mim, pois Boyd se foi... — Eu espero que sua morte esteja
próxima e ficarei feliz quando isso acontecer, sua parasita imunda! Você
matou o meu Boyd e irá pagar por isso, você irá arder no inferno por toda
eternidade e será um gosto de vitória para mim. — Ela olha de mim para Sam
e depois diz. — Não aparece no velório do meu filho e muito menos no seu
enterro. Eu a quero longe, você ouviu bem? Se não o fizer, pedirei para os
meus advogados te colocarem na cela mais suja que o presídio tem. —
Quando ela terminou se afastou um pouco de mim e cuspiu perto dos meus
pés. Todos me dão olhares fatais e se vão. O pai de Boyd abraça Crystal que
chora e saem em seguida.
Fico olhando por onde eles passaram e choro, em silêncio. Viro-me
para Sam e há uma carranca no seu rosto. — Não. Não faça isso. — Ele
ordena e me abraça quando desmorono. Chorando alto e soluçando, ele me
abraça com força e me balança. — Você é a mulher mais magnífica e forte
que já conheci. Qual mulher seguraria as pontas fortemente por tudo o que
está passando? Essa mulher é você. Deixem que esses arrogantes de merda
falem o que quiser, deixem que lhe afastem, isso é um favor, apenas guarde
as boas lembranças que tivera nos últimos 4 anos com Boyd Patterson e fim.
Guarde-as dentro de uma caixinha imaginária e supere isso, eu sei que você é
forte, Olivia. Tudo o que Lucco fez, nenhuma mulher poderia suportar, mas
você não, você está de pé ainda, respirando fundo e isso deixa os nossos
inimigos desesperados. Ele está desesperado por ver o quão forte você é. Não
desanime com as palavras daquela mulher odiosa, ela não é importante,
apenas o filho dela foi, mas agora ele se foi... e eu estou aqui. Prometo que
não deixarei nada lhe acontecer e ninguém irá te ofender novamente.
— Sam... — Sussurro e o abraço com mais firmeza. — Obrigada pelas
palavras, elas me reconfortaram. — Sinto a sua boca beijando minha cabeça e
suspiro com isso. É muito bom saber que tenho alguém ao meu lado, ainda
mais essa pessoa sendo o Sam, sinto que posso confiar nele em qualquer
coisa.
Depois de alguns exames e tomar soro fisiológico por causa da fumaça
inalada, Sam me leva até o seu carro e entramos nele sem dizer uma palavra.
Aperto-me com o seu grande casaco, que ele me deu e suspiro cansadamente.
— Quer algo para comer? Ficarei essa noite com você, se você quiser. —
Sam diz, depois de um tempo. Olho para ele, aliviada e feliz com o que ouço
e sorrio.
— Eu gostaria muito. Obrigada Sam. — Ele acena com a sua cabeça e
não responde. Eu tinha notado que ele não é o tipo de cara meloso, mas isso
não é um problema para mim, é até ótimo. Sei que está sendo precoce
demais, mas eu gosto dele, gosto do jeito que é comigo. Talvez seja apenas
por ele estar me protegendo de Lucco, mas talvez não. Enquanto penso sobre
isso, fico olhando-o discretamente. Até que um pensamento que estava no
fundo da minha mente aparece. — Sam... — Ele olha para mim quando
paramos em um sinal.
— O que? — Pergunta.
Pisco repetidamente e sento-me ereta no banco de couro da
caminhonete. — Quando eu tinha chegado ao apartamento, Boyd me disse
que a porta estava entreaberta, ele até pensou que tinha sido eu, mas concluiu
que foi ele mesmo que deixou a porta daquele jeito. Sam, eu conheço muito
bem o Boyd e sei que mesmo que ele estivesse exausto ou desligado, ele
nunca se desleixaria. — Engulo em seco e respiro. — E se não foi o Boyd
que deixou a porta aberta? — Os olhos de Sam se desviam de mim, e sua
boca se aperta como se estivesse pensando.
Antes de ele falar algo, paramos na frente do seu prédio e saímos do
carro, direto para o seu apartamento. Quando entramos, Trovão está sentado
na frente da porta nos aguardando, me abaixo para abraçá-lo com força e dou
vários beijinhos nele. Levanto-me do chão e olho para Sam, ele passa as
mãos em seu rosto e suspira. — E não foi Boyd que deixou a porta aberta.
Merda, esse cara já está me irritando! Estamos em total desvantagem, ele
sempre está com um pé à frente do nosso e isso me enlouquece. — Eu
entendo a frustração de Sam, pois é o que sinto no momento, mas não digo
nada. Não há como jogar com Lucco, ele trapaceia, e sempre consegue o que
quer.
— Estou cansada. — Murmuro. — Não quero mais falar disso,
podemos esquecer-nos de tudo até o amanhecer? — Pergunto com lágrimas
nos olhos.
Sam suspira e me olha com carinho, é a primeira vez que o vejo olhar-
me assim. Ele dá apenas dois passos e para diante de mim, acariciando o
perfil do meu rosto. — Seria horrível da minha parte, querer beijá-la depois
do que aconteceu com seu ex-namorado e você presenciado? — Pergunta
sussurrante. Mordo meu lábio inferior e seguro seu pulso com a minha mão.
— Não. Não sou do tipo de sofrer eternamente, já passei por isso com a
minha família e no dia seguinte, eu estava viajando de volta a Nova Orleans,
procurando um estágio e um apartamento. Nada de clichê. — sorrio pequeno.
— Apenas quero esquecer. De tudo. — Sussurro para ele.
Ele me puxa sem dizer nada e me beija com intensidade. Nossos corpos
se grudam, sinto suas mãos descendo pelas laterais do meu corpo, parando
nas minhas coxas. Sam me ergue e envolvo minhas pernas em torno da sua
cintura, enquanto ele caminha para fora da sala. Meu coração se acelera em
expectativa com o que virá a seguir, sinto o meu sangue fluir rapidamente e
minha respiração se acelerar com a adrenalina. Faz muito tempo que não
sinto nada disso, as sensações de uma adolescente em chamas dentro de mim.
O fogo de excitação e desejo se misturando apenas com o toque firme de
Sam. Ele para por um momento e depois se curva junto comigo, onde me
deito no colchão macio e gelado por trás de mim. Sam passa a sua mão
esquerda sobre a parte interna da minha coxa, e morde meu lábio inferior
lentamente.
Seu beijo cessa e abro os olhos. O quarto está com as luzes apagadas,
mas a do corredor clareia somente um pouco o cômodo que estamos. — Você
quer mais que isso? Porque sinceramente eu quero mais. — Ele diz com a
voz gravemente rouca. Abro as minhas pernas e seguro seu queixo,
assentindo.
— Quero. — Sussurro.
Sam volta a me beijar e começa a abrir minha calça jeans, ele para o
beijo apenas para tirá-la do meu corpo. Ele tira sua camiseta e faço o mesmo,
me sento na cama e tiro minha regata às pressas, depois fico de joelhos e o
puxo para um beijo profundo, ele geme entre meus lábios e sinto minha pele
começar a ficar sensível. Desafivelo seu cinto e depois desabotoo sua calça.
— Precisamos de camisinha. — Ofega Sam. Aceno com minha cabeça e ele
se afasta, indo até o aparador e abrindo a gaveta, pegando o pacote de
camisinha. Quando ele volta, tira sua calça e depois sua cueca boxer. Fico
ansiosa para vê-lo nu, mas não há tempo para buscar o interruptor e apreciar a
visão, mas vejo o contorno do seu corpo, seus ombros e braços musculosos...
Sam me deita de volta a cama e puxa minha calcinha rapidamente, tiro o meu
sutiã e subo mais no colchão.
Ouço o barulho do pacote de camisinha e olho para os movimentos que
as mãos de Sam faz, quando ele finalmente termina, volta para cima de mim e
me segura pelas axilas, me levantando até à cabeceira de ferro da cama.
Minha respiração está alta e ofegante, me seguro na cabeceira da cama e
separo minhas pernas o quanto eu posso. Sam paira sobre mim e o vejo
guiando seu membro até que entre na minha fenda, ele me penetra devagar,
mas vai fundo. Solto um gemido e beijo sua boca com força. Ele se
movimenta em um vai e vem delicioso, lento, mas fundo.
Estou tão molhada que seu pau entra com facilidade em mim, aperto
minhas coxas na sua cintura e permito me esquecer de tudo.
— Eu vou me encrencar por isso. — Sam rosna em voz baixa,
carregada de tesão.
Seguro seu pescoço com a mão direita e mordo seu lábio inferior. —
Que se dane. — Sussurro gemendo. Ele rosna em resposta e dar várias
estocadas firmes, a cama se balança e meus gemidos se tornam mais altos. —
Isso! — Exclamo, excitada, pedindo por mais. Sam chupa um dos meus seios
e continua sua penetração pulsante, ele continua se movimentando com força,
me chupando e beijando, ao mesmo tempo. Seu pau estoca repetidamente e
dessa vez ele vai de lento a rápido.
— Quero que goze, mas por cima. — Ele diz, me virando, agora Sam
está deitado na cama e eu por cima dele. Suas mãos seguram minha bunda e
ele me incentiva a ir para cima e para baixo. Espalmo minhas mãos no seu
peito e começo a cavalgar, controlando os meus movimentos. Sam segura
meus seios em suas mãos e, às vezes, faz um som erótico com a boca, me
deixando nas alturas. Quero gozar, mas os meus pensamentos ainda estão em
transe, não sei no que pensar...
Então a cena daquela noite...
O sexo bruto...
As estocadas...
Os gemidos dele...
Seu membro duro dentro de mim, me penetrando com força...
Fecho os olhos e grito em êxtase, aumentando a velocidade e gozando
no pau de Sam, ele segura meus quadris e estoca várias vezes, gemendo e
levantando sua pélvis. Ele solta um grito másculo e me puxa para baixo.
Beijando minha boca com a respiração ofegante.
Sinto os meus músculos se relaxarem, assim como o meu coração, Sam
me tira de cima dele e me deita ao seu lado, em seguida tirando a camisinha
do seu pênis amolecido, jogando no chão. Ele se deita ao meu lado e me
puxa, me abraçando e fazendo com que minha cabeça deite no seu peitoral
suado. — Está com fome? — Ele pergunta depois de um breve momento.
Solto um suspiro e balanço a cabeça.
— Sim, mas vamos esperar um pouco?
Ele toca uma vez no meu queixo e beija a minha testa. — Claro. —
Murmura. Olho para a janela, com as cortinas fechadas e mordo o lábio. O
que aconteceu aqui? Eu gozei pensando no... Não isso é doentio! Isso me
torna pior do que ele! Talvez minha cabeça buscasse aquela noite, pois sabia
que eu senti prazer, pelo fato de pensar que era o Boyd. Mas isso não me
deixa bem, Sam é maravilhoso, ele foi incrível e me senti preenchida, mas
não a ponto de ter um orgasmo sem a ajuda da minha imaginação.
Pare de pensar!
Fecho os olhos e me alinho em seu corpo quente.
THIRTEEN

Acordo em um sobressalto, com as buzinas de carros que rugem lá fora.


Abro meus olhos e viro-me, procurando por Sam, mas ele não está mais aqui.
Sento-me na cama com os lençóis cobrindo-me, olho para a porta aberta onde
escuto Sam em uma ligação, ele parece nervoso. Levanto-me e pego a sua
camiseta no chão e caminho para fora do quarto, visto a camiseta quando
estou na metade do corredor e avisto Sam, ele anda de lá para cá pela sala e
está usando apenas sua calça jeans preta.
Olho para o seu corpo definido, brilhando por causa das frestas do sol
que entram na sala. — Precisamos agir rápido! Nosso tempo está acabando...
sim, tudo bem, me mantenha informado. — Ele desliga seu celular e joga no
sofá, soltando um suspiro e passando as duas mãos em seu rosto.
— Está tudo ok? — Pergunto depois de olhá-lo bem.
Sam retira suas mãos e me encara, está com um olhar aflito. — Não. —
Responde sem rodeios. — Aconteceu algo no centro da cidade, preciso ir até
lá. — Completa.
— Lucco está envolvido nisso? — Pergunto novamente.
Ele solta mais um breve suspiro e balança sua cabeça lentamente. —
Olivia eu não vou deixar que...
— Você não é o meu dono, Sam. Sei cuidar de mim mesma e quero que
responda a minha pergunta. Lucco está envolvido? — Minha voz sai o mais
naturalmente possível, pois não quero ver o Sam bravo comigo, por causa das
merdas de Lucco, então, ele assente com sua cabeça.
— Está. Provavelmente, para os policias e certeza para mim. — Ele
diz. — Você pode ir comigo até lá, mas precisará ter calma.
Respiro fundo e olho para o Trovão, que dorme em cima da poltrona de
Sam. — Tudo bem! Vou tomar um banho.
***
Sam estaciona o carro em uma rua próxima à Jackson Square, andamos
às pressas até lá, onde há vários curiosos tentando entrar na praça e policiais
afastando a população e colocando barreiras aos arredores. — Tem até
imprensa por aqui. — Digo ao observar jornalistas famintos para saberem o
que tem lá dentro. Sam me dá um olhar e paramos entre as pessoas curiosas.
— Sou o detetive Harris, ela está comigo. — Sam mostra o distintivo e
empurra um pouco a barreira, puxando minha mão.
O policial tenta se aproximar, mas se distrai com a multidão. — ELA
NÃO PODE ENTRAR! É UMA CENA DE CRIME, DETETIVE! — Grita
para nós, mas Sam apenas faz uma careta.
— Foda-se. — Murmura.
Andamos por alguns metros, pela praça, com apenas policiais e a
perícia com seus kits forenses. Sam vira à esquerda e caminhamos mais um
pouco, até que então, vejo o que está causando tanto alvoroço na cidade. Paro
de andar e colo a mão direita em minha boca, segurando o meu grito. — Oh
meu Deus. — Sussurro em pavor. Lá, estão dois corpos pendurados por
cordas, enroladas nos pescoços de cada um, amarrados em um ferro acima de
nós. Os corpos pertencem aos detetives Johnson e Stewart, também há um
pedaço de papelão entre os dois e escrito em preto:
SE ENVOLVERAM DEMAIS!
— Isso... isso é minha culpa Sam, é minha culpa. — Falo em
desespero, me virando para ele.
Sam me segura pelo o braço e nos leva para longe dos que estão ali,
quando estamos distantes, ele segura meu rosto com as suas duas mãos e me
encara. — Você não teve nada a ver com isso. — Diz duramente. — Lucco
Gratteri foi o culpado, pois aqueles dois detetives descobriram demais sobre
ontem e sobre ele, em poucas horas, o que acabou deixando o fodido do
Gratteri sem opção a não ser matá-los. Não se culpe pelas desgraças dele. —
Sam completa suas palavras e em seguida puxa minha cabeça, beijando a
minha testa.
— Você precisa pará-lo, Sam. Está ficando mais sério do que nunca!
Ele está jogando com nós dois. — Alerto a ele. Eu sinto que o nosso tempo se
esgota, que as nossas chances estão cada vez menores e isso me assusta
muito!
Os olhos castanhos de Sam vão até os corpos dos policiais e em seguida
ele abaixa a cabeça, suspirando. — Vamos fazer isso. Mas agora, preciso que
fique aqui, vou até lá para saber melhor o que houve. — Ele se afasta de mim
e caminha até os oficiais, que já conversavam fervorosamente a respeito do
que houve ali. Olho para os corpos dos pobres homens e viro-me de costas.
Homens honestos, que tinham uma família para criar, filhos para verem
crescer e agora, não lhes importam mais, pois seus pais e esposos estão
mortos por culpa daquele filho da puta maldito!
Cerro os meus punhos e respiro profundamente, estou cansada daquele
manipulador de merda! Ele está sempre se dando bem e depois de quatro
semanas, continua impune por tudo o que causou!
Saio dos meus devaneios quando meu celular apita, com uma nova
mensagem. A primeira e única pessoa que penso é Katherine, pois ela tinha
ligado na noite passada, umas mil vezes, e mandado centenas de mensagens,
perguntando sobre Boyd e se eu estava bem. Puxo o aparelho do meu bolso
traseiro e olho a tela, franzindo o cenho. O número é desconhecido, mas é
daqui de Nova Orleans.
COMO SE SENTE?
Releio aquelas três palavras e engulo em seco, pois sei de quem se
trata. Olho na direção de Sam que ainda conversa e depois olho para o
celular. Estou com tanta raiva que acabo o respondendo:
QUANDO A POLÍCIA PEGÁ-LO, VOU IMPLORAR PARA QUE
ME DEIXEM SOCAR A SUA CARA REPETIDAS VEZES! ACHA QUE
FAZENDO ISSO TUDO, EU IRIA CORRER PARA VOCÊ?! SEU
DOENTE DE MERDA! EU JAMAIS FICARIA COM VOCÊ, NEM HOJE
E NEM NUNCA!!!
Espero a sua resposta chegar e sinto-me mais leve depois de mandar a
minha mensagem. Mas o que eu realmente queria, era poder socar aquele
filho da puta. O celular apita.
ACHO QUE VOCÊ NÃO NOTOU QUE NÃO SE TRATA MAIS
DE TER VOCÊ, DOCE OLIVIA. NO MOMENTO EM QUE
ENVOLVEU OFICIAIS PARA ME PEGAREM, O JOGO SE
INVERTEU! TUDO O QUE ESTÁ ACONTECENDO É POR SUA
CULPA! ACHA MESMO QUE SEREI PEGO? ACHA MESMO QUE
SOU BABACA PARA DAR SOPA A ESSES MERDAS?! COMO VOCÊ
É ESTÚPIDA, OLIVIA LESTER, E TUDO O QUE POSSO DIZER É O
QUÃO BURRA VOCÊ É! AGORA, VAMOS AO QUE INTERESSA,
ESTOU TE DANDO A ÚLTIMA CHANCE E NÃO HAVERÁ MAIS
OUTRA, ELA É: ENCONTRE-ME NO PORT NOLA DAQUI A MEIA
HORA, PERTO DO ARMAZÉM. NÃO SONHE EM DIZER ISSO A
POLÍCIA, SENÃO O SEU DETETIVE E SUA DELICIOSA
AMIGUINHA KATHERINE IRÃO MORRER, DE UMA FORMA
BEM PIOR! NÃO BRINQUE COMIGO OLIVIA, E ISSO É UM
AVISO. OU SENÃO, PODE CONSIDERAR COMO UMA AMEAÇA.
AGORA A ESCOLHA É SUA, OU ME ENCONTRA, OU IREI
BRINCAR COM TODOS QUE VOCÊ CONHECE. O RELÓGIO
COMEÇA A CONTAR A PARTIR DE AGORA.
Mordo o meu lábio, contendo um grito e olho onde Sam ainda
permanece. Não posso acreditar que ele vencerá mais uma vez! Isso é
frustrante, mas os rostos das pessoas que conheço, surgem em minha cabeça
e os rostos principais são da minha amiga Katherine e do Sam... Olho
novamente para ele e sinto meus olhos debulharem em lágrimas. Solto uma
respiração trêmula e respondo ao Lucco.
TUDO BEM. ESTAREI LÁ.
Em segundos recebo sua resposta animada.
MARAVILHA! PEGUE O CARRO DO DETETIVE, E ANDE
TRANQUILAMENTE.
Suas palavras me assustam, mas não o respondo mais. Guardo o meu
celular e olho em minha volta, ele está aqui? Mais como?! Como ele sabe que
estou aqui também? Não preciso nem pensar em nada, pois sei como esse
maldito pode ser esperto. Então, faço o que ele ordena, olho mais uma vez
para Sam que agora está de costas para mim e assim saio de dentro da praça.

***
Saio de dentro do carro e caminho pelo porto da cidade. Cruzo os meus
braços e me encolho dentro do meu cardigã azul, me protegendo do vento.
Caminho até os armazéns e paro quando vejo Lucco fumando, encostado no
capô do seu carro, pelo o que noto ele está sozinho. Ele tira o cigarro da boca
e segura entre seu dedo indicador e o polegar, olhando para ele. — Está tudo
bem, vim sozinho, meus soldados sabem que você não é uma ameaça para
mim. — Lucco responde aos meus pensamentos, me deixando incomodada
com isso.
— Por que acharia que não sou uma ameaça? — Pergunto com acidez.
Ele dá um sorriso torto, fuma novamente, dando uma tragada e depois
jogando o cigarro no chão, pisando em cima. Ele se desencosta do carro e
puxa seu terno para baixo. Lucco usa um terno escuro, colado ao seu corpo,
camisa branca de botões e sapato da cor caramelo. — Porque você sempre
está em busca da ajuda de alguém. Resumindo, para mim não é uma ameaça.
— Ele responde com um sorriso nos lábios. — Venha. Entre no carro. —
Ordens e dando a volta. Caminho rapidamente até ele, então saco a arma e
aponto perto da sua nuca.
Lucco para de se mover e tira à mão da maçaneta da porta, ele levanta
as duas mãos em rendimento. — Você pode se machucar com isso, baby. —
Diz. Destravo a arma e deixo minha mão firme sobre ela.
— Acho que não sou eu quem irá se machucar por aqui. — Esclareço
seriamente. — Deveria ter chamado seus cães de guarda. Sam me ensinou a
usar a arma.
Ele solta uma risada e vira sua cabeça de lado, tentando olhar em meu
rosto. — Você e o detetive estão juntinhos demais, não acha? O merdinha do
seu namorado mal foi comido pelas larvas e você já está com outro? — Ri
sarcasticamente.
— Seu miserável! — Aperto o gatilho, sem pensar duas vezes, mas
para a minha má sorte, Lucco é mais ágil e puxa meu braço, fazendo a
munição ser atirada para cima. Ele gira o meu corpo e prende minhas mãos
atrás de mim, depois me empurra contra o capô do carro, bato o meu rosto e
grito entre um rosnado.
Lucco segura meus braços com firmeza e se curva por trás de mim. —
Como eu disse; você não é uma ameaça. — Sussurra em meu ouvido. —
Você merece uma boa lição, Srta. Lester. E eu sou um ótimo professor nesse
requisito. Vamos logo, quero começar a nossa aula o quanto antes. — Ele me
puxa bruscamente e abre a porta de trás do carro, pega uma corda no banco,
em seguida, amarra as minhas mãos. Lucco me vira para frente dele e segura
minhas bochechas com força, entre a sua mão esquerda e depois beija minha
boca bruscamente. Mordo o seu lábio inferior e ele rosna.
— Merda! — Exclama, retirando uma gota de sangue do lábio. Ele me
olha e depois me empurra para dentro do carro, em seguida fechando a porta.
— Você está fodida! — Rosna, dando um murro no teto do veículo.
Cuspo no chão do carro e quando ele entra, ligando o motor, falo. —
Você estará fodido em breve. — Ameaço-o com vermelho nos olhos. — Eu
vou dar um jeito de escapar de você e dessa vez vou procurar por uma ajuda
mais perigosa e ágil, dando o seu sobrenome para todos que puderem me
ajudar; seu verme! — Cuspo na sua direção e Lucco vira sua cabeça, me
encarando.
— Ah, você vai fazer isso? — Pergunta tranquilamente. — Uma bela
forma estúpida de dizer ao seu inimigo o que irá fazer com ele, sendo que
está presa por ele. Eu achei que você fosse mais esperta, Olivia. Engano meu.
Espero que aguente o que está por vir. — Quando ele termina de dizer, se
vira e dá velocidade ao carro, olho assustada para o armazém e seguro o meu
choro. Mas não mostro fraqueza na frente desse verme, pois também sei que
em poucas horas, Sam estará a minha procura.
Estou com a localização do meu celular ativada e deixei um papel
dentro do seu carro, escrito para ele rastrear meu aparelho. Seu carro também
tinha rastreador, eu sabia disso e por esses motivos, saberia que estaria nas
garras do meu inimigo por poucas horas. Olho o perfil de Lucco Gratteri e
mordo meu lábio, poucas horas que trarão grandes feridas por anos em minha
vida.
FOURTEEN

Lucco e eu passamos duas horas dentro do carro, saímos de Nova


Orleans e paramos de frente a uma casa grande e magnífica. Pelo caminho
que ele seguiu, eu não reconheci o local e sentia a minha língua coçar para
perguntar a ele, mas não o fiz. Ele não tem vizinhos. Sua casa é a única na
região, desde que andamos todo esse percurso, eu não tinha visto nenhuma
outra casa. Quando paramos na frente dela, há o total de oito homens
segurando armas, engulo em seco e olho para Lucco, ele destrava o cinto de
segurança e me olha.
— O que foi? — Pergunta.
— O que vai fazer comigo? — Pergunto também, sentindo minha voz
falhar pelo medo.
Lucco olha a sua frente e dá um sorriso sem mostrar os seus dentes. —
Eu não vou fazer o que está pensando. — Responde ironicamente. Fecho os
olhos e solto a minha respiração, eu não tinha notado que segurava ela.
— E o que é que eu estou pensando? — Pergunto entre os dentes. Ele
me irrita. Enoja-me e eu não me vejo, nunca, jamais ao lado dele como uma
mulher. Sua beleza é apenas uma emboscada para mulheres tolas e eu não
sou uma delas. Lucco me deixa enojada e por causa disso, ele fez da minha
vida um pequeno inferno.
Seus olhos se desviam da rua e param em mim. — Que vou fodê-la. —
Diz sem pesar. Ele abre a porta do motorista e coloca uma perna para fora do
carro. — Eu quero conversar, Olivia, e veremos até que ponto isso irá. —
Completa calmamente e sai de dentro do carro. Mexo-me no meu lugar, ainda
com as mãos amarradas, sentindo a dor e dormência nos meus músculos.
— EU NÃO QUERO CONVERSAR COM VOCÊ! — Grito, enquanto
ele me olha dando a volta no carro. Lucco abre a porta e me puxa para fora,
paro diante dele e cuspo no seu rosto. Ele me solta e se afasta de mim com
um olhar surpreso. — Qual a parte de que eu não quero nada de você?! Você
é a merda de um mafioso e aposto que há milhares de vadias, nesse meio, que
adorariam ter você! Mas eu não, Lucco eu não o quero, nem para dar bom
dia, nem para ter uma conversa amigável e nem nada! Supere isso, você não
é o único homem desse mundo, terá muitas mulheres que vão recusar você,
seu babaca idiota! — Vocifero e faço todos aqueles homens aterrorizantes me
olharem. Eu não sinto medo. Medo mostra fraqueza e eu jamais farei isso
novamente na frente de Lucco.
Ele tira um lenço do bolso do seu paletó e passa na sua bochecha, onde
eu tinha cuspido. Quando limpa o seu rosto, ele respira fundo e balança a
cabeça negativamente. — Está aqui por ser uma boca grande. Por sua culpa
ao contar que sou da máfia, a porra do meu irmão está me caçando! — Rosna
com raiva. — Se você mantivesse a droga da boca fechada, você não estaria
aqui, seu namoradinho não estaria embaixo da terra e a sua vidinha perfeita
estaria intacta, agora...
— Me poupe do sermão patético. — Corto suas palavras. — Sou
grandinha demais pra entender a porra dos seus interesses. O que tiver para
fazer comigo, faça! Se eu permanecer viva, irei atrás de você, vou acabar com
você e pouco me importo da onde você vem! — Sentencio, olhando
mortalmente para ele. Não tenho medo, posso passar horas dizendo essas
palavras, pois não deixarei que um homem como Lucco, suba nas minhas
costas.
Sei que se for para morrer, morrerei sem medos.
Lucco aperta os seus olhos em minha direção e anda lentamente, ele
para diante de mim e me olha de cima a baixo, suspirando. — Senhorita
Lester... se houvesse muitas mulheres como você dentro da máfia, os homens
estariam se rastejando por elas. — Murmura com um tom estranho em sua
voz. — Como vou deixá-la escapar se você é tão tentadora? Essa sua braveza
me enlouquece. — Diz sem emoção na voz, mas seus olhos brilham
fervorosamente.
Engulo em seco e estendo meus pulsos.
— E também não sou estúpida. Se quiser que eu seja sua prisioneira
para não ferir minha amiga e o Sam, então ficarei ao seu lado. — Ressalto,
olhando-o diretamente nos seus olhos. Lucco também faz o mesmo, ele me
olha atento e há um sorriso escondido em seus lábios.
Ele mexe suas sobrancelhas para cima e assente com a cabeça.
— Ok. —Murmura e solta a corda dos meus pulsos. No caminho para
cá, ele tinha mudado a posição dos meus braços, deixando-os a minha frente
para não me machucar. Quando minha pele está livre, passo minhas mãos em
cada pulso avermelhado e o olho de cima. — Quero o seu celular. — Ele diz,
seu sotaque fica forte.
— O quê? — Pergunto.
Lucco joga a corda para um dos seus homens, em seguida enfia a mão
esquerda no bolso da sua calça. — Você não é retardada e muito menos
surda, entregue seu celular. — Ele fala com intensidade e estende a mão livre.
Solto um suspiro de derrota e tiro meu celular do bolso traseiro do meu jeans,
entregando a ele.
— Seu merda. — Digo.
Ele sorri, guardando meu aparelho na calça e diz. — Acredite, já fui
chamado de coisas piores, venha. — Lucco segura o meu braço e me arrasta
até a grande casa. Meus olhos se vão até a estrada vazia, torço para que Sam
me encontre o mais rápido possível.
***
Entramos numa suíte aconchegante e muito bonita, com móveis
escuros. A cama é grande e alta e é lá que Lucco me empurra e caio sobre ela.
Sento-me às pressas e tiro meu cabelo do rosto, olhando para ele enquanto
retira seu paletó. — Sabe... — Ele começa a dizer quando se senta em uma
cadeira de frente para a cama. — Eu realmente não sei o que fazer com você.
— Admite seriamente. Fito-o com meu olhar e dou de ombros, querendo
mostrar o óbvio para aquele bastardo.
— Eu sei. Levar-me de volta para casa? Não posso ficar aqui, isso é
sequestro. — Explico petulantemente.
Lucco passa a mão em seu cabelo avermelhado e se curva, apoiando os
cotovelos sobre as suas coxas. — E quem se lembraria de você? Seus pais e
namorado? — Ele estala os dedos e faz uma cara de pena. — Ah não, eu
tinha me esquecido, eles estão mortos. Isso é chato, não ter ninguém nesse
mundo. — Suspira fingindo ter dó daquilo. Eu sinto minhas lágrimas
aparecerem depois de horas, ele conseguiu achar a ferida que nunca se curou
no meu coração. Falar sobre a minha família era algo absolutamente delicado
para mim. E naquele momento eu me odiava por ter contado ao Lucco, na
noite em que o rejeitei.
Deixo as lágrimas rolarem, mas limpo-as com as costas da minha mão.
— Você é um monstro. — Falo tremulante.
Os olhos de Lucco me avaliam por alguns segundos, até que ele se
levanta e vem até a cama. Encolho-me onde estou e me afasto dele, indo para
trás, até que eu bata contra a cabeceira da cama. Lucco coloca um joelho
sobre o colchão e depois engatinha lentamente, até que para perto do meu
rosto. — Falar da sua família foi monstruoso. — Murmura franzindo. — Me
perdoe. Você me contou aquilo porque confiou... — Ele para de falar e
respira profundo.
— Você acha que me mantendo com você a força, fará com que eu
mude de ideia? — Pergunto sussurrando.
Lucco franze ainda mais o cenho para mim. — Mude de ideia sobre o
que? — Pergunta confuso.
— Sobre me apaixonar por você. — Digo com raiva. — Isso não vai
acontecer.
Ele solta um rosnado baixo e se afasta de mim, se sentando sobre a
cama. — E eu espero que isso não aconteça. — Responde. Agora é a minha
vez de franzir o cenho. Lucco continua. — Eu não quero essa merda de...
paixão ou a porra que for. Meu destino é tortamente diferente das outras
pessoas. Olivia e eu sei que a paixão ou o amor não estão nesse caminho. Eu
não quero nada disso, pois eu sei que nunca sentirei algo parecido. Eu gosto
de foder e fim.
— Então por que você está me mantendo aqui?! — Pergunto em voz
alta, me aproximando dele. — Isso não faz sentindo! Aprisionar-me vai te dar
o que em troca?!
De repente, Lucco me joga na cama e sobe em cima de mim, grito
assustada e olho para ele, respirando ofegante. — Porque eu gosto de jogar!
Você me desafia e isso me excita! Quer que aquela noite seja mantida como
um estupro? Ótimo! Já fiz isso vinte e oito vezes Olivia, mais uma na lista
não fará a mínima diferença. — Ele ralha para mim. Lucco fecha os olhos e
depois diz: — Eu cresci assim, fui ensinado de que paixão, amor, mulheres e
essa droga toda, não são importantes para homens, como eu. Minha intenção
é usá-la da forma que eu quiser e quando enjoar disso, eu busco outra presa.
E quer saber? Que se foda se isso é inumano, eu pouco me importo com leis,
com sentimentos e com a merda que for. Eu só gosto de me divertir.
— E gosta de se divertir machucando outras pessoas? — Pergunto. —
Você matou o Boyd! — Rosno entre os dentes.
— Eu fiz um favor a você! — Retruca, ao mesmo tempo, sai de cima
de mim e se levanta da cama.
Levanto-me junto com Lucco e seguro a parte de trás da sua camisa
cara, fazendo-o olhar para mim. — Você não tem esse direito! Ele era uma
pessoa, Lucco! UMA PESSOA! — Grito para ele. — E aqueles detetives?
Por que fazer aquilo? Por que fazer aquilo, Lucco?! Homens inocentes, que
estavam apenas seguindo ordens, homens que tinham uma família para cuidar
e criar, mas você destruiu isso! Você matou três famílias de uma só vez, em
menos de vinte quatro horas! — Vocifero com as lágrimas escorrendo. Eu
respiro alto, minha pele se arrepia a cada palavra dita, e o que mais quero é
poder matar o homem que está na minha frente.
Mas se eu fizer isso, me tornarei como ele.
Lucco trinca sua mandíbula e olha para a porta fechada. — A morte
vem para todo mundo. — Justifica em um murmúrio. Solto uma risada sem
humor e me afasto dele.
— E é você que diz quem morre ou não? — Pergunto. — Por que o seu
irmão está atrás de você? — Faço outra pergunta. Tinha percebido que,
quando Lucco está nervoso, ele diz tudo sem pensar duas vezes, e confesso
que fiquei curiosa para saber o motivo de seu irmão estar atrás dele.
Fico em silêncio, olhando para ele. Lucco passa a mão seu cabelo
novamente e olha para qualquer canto do quarto, menos em meus olhos. —
De onde eu venho... do ciclo, meu irmão do meio, ele é um tipo de chefe dos
chefes e desde o ano passado, ele criou uma lei em que nenhum membro da
máfia poderia tocar em alguma pessoa, de fora do submundo. — Explica. —
Ele fez essa lei por minha causa. — O encaro de cima a baixo e aceno com a
cabeça, mesmo ele ainda não me olhando.
— E por que ele fez isso somente por sua causa? — pergunto mais uma
vez.
Os olhos de Lucco sobem lentamente e param em meu rosto. Seu olhar
está atormentado e sombrio, quando então ele fala. — Porque antes dessa lei,
em duas semanas matei quinze pessoas. — Engulo em seco e aceno mais uma
vez. Lucco olha o meu corpo e continua. — Sei o que está pensando, se todos
eram mulheres. Mais não, todos eram da mesma família.
— O quê? — Meus olhos se arregalam. — Está querendo me dizer
que...
Ele assente e joga a cabeça para trás, deixando seu pomo-de-adão a
mostra com pouca camada de barba, quando ele engole em seco. — Sim.
Uma família que era fora do ciclo. Começou pela filha, ela chamou minha
atenção enquanto saía da escola, no Brooklyn, devia ter uns 15 ou 16 anos.
Prefiro as mulheres mulatas, ou que tenha uma pele parda, mas... ela chamou
minha atenção, aqueles longos cabelos loiros... — Ele para de falar e ri,
passando a mão na testa e voltando a se sentar na cama. — Uma porra de
uma obsessão. É sempre assim, mas com essa garota eu não esperei. Segui-a
apenas por dois dias, e para a minha sorte no último dia, estava chovendo e
ela tinha perdido o ônibus escolar, eu cheguei perto e ofereci carona, falei o
nome dos familiares dela, pois sabia que aquilo traria confiança para ela.
Cruzo os meus braços e encaro Lucco. Ele passa as mãos sobre as
coxas, repetidas vezes, para cima e para baixo, enquanto conta a sua história.
— Ela estava encharcada, toda molhada e eu tinha que me esforçar para não
agarrar aquela garota. Então ela entrou no meu carro, comecei a conversar
com ela sobre a escola, ela perguntava de onde eu conhecia sua família. —
Ele me olha com um breve sorriso, dizendo. — A garota nem tinha notado
que eu não estava levando-a para sua casa, a distração é sempre ótima. E
então eu a levei para um tipo de galpão abandonado, ela questionou e eu
apenas agi. Puxei-a para fora do carro e não me importei com os gritos,
estávamos sozinhos afinal. Então a levei para o galpão, eu lembro que
consegui rasgar as roupas dela, depois disso fui acertado com um taco de
beisebol nas costas. — Fala com raiva.
— Quem acertou você? — Pergunto com um pouco de alívio na voz.
Lucco arqueia sua sobrancelha direita e me olha. — O irmão mais
velho dela e uns caras. Eles estavam por ali e viram o carro e ouviram os
gritos. Claro que dei uma surra em todos, mas não era o suficiente, eu guardei
os rostos de cada um e eu cumpriria o que queria. — Diz. — Foi então que
matei toda a família dela. Encontrei os amigos do irmão mais velho, eles
moravam em um loft e foi fácil de encurralá-los. A família da garota, bem,
era quatro de julho, estavam uns tios, avós e primos dela. Eu matei cada um,
sem a ajuda de ninguém e deixei a garota por último.
— O que fez com ela? — Pergunto com raiva, sentindo as lágrimas
encherem meus olhos.
Ele me olha arrogantemente e se levanta da cama, rapidamente me
afasto dele e encosto-me a parede. Lucco chega mais perto e coloca sua mão
esquerda na parede, ao lado da minha cabeça. — O que eu estava quase
fazendo quando seu irmão chegou. — Ele respira fundo, e segura uma mecha
do meu cabelo. — Meu irmão descobriu que fui eu, então fez essa lei de
merda. Ele quase se fodeu por minha culpa, quase comprometi a Família. —
Sussurra.
Empurro sua mão do meu cabelo e olho com desprezo para ele, mas
Lucco finge que não liga para isso. Tento me acalmar o quanto eu posso e
então, consigo dizer. — E você? Ganhou uma coroa por isso? — Pergunto
acidamente.
— Quem me dera. — Ele rir. — Fui punido, meu irmão não liga se
você é do mesmo sangue que ele ou não, ele te fode sem pensar duas vezes. E
foi o que fez comigo, ele ordenou que três dos seus melhores soldados me
torturassem. Tive o tanto de ossos do meu corpo quebrado, que você não
pode imaginar. Além de ter levado três chutes no saco. Meu outro irmão
sugeriu que ele me castrasse, mas ele não quis.
Abro um sorriso e olho para baixo, para as suas calças. — Vou torcer
para que ele faça isso quando souber o que fez comigo. — Acrescento, ainda
sorrindo. Naquele momento eu tenho mais ódio dele, repúdio desse homem.
Ele contou aquela tragédia, feita por ele, como se fosse algo normal para o
mundo! Sinto o mais puro nojo de Lucco e não penso em alternativa
nenhuma, que não seja a sua extinção. Sim, ele deve ser extinto desse mundo,
o mais rápido possível. A mão de Lucco vai até o meu rosto e com as pontas
dos seus dedos, ele acaricia minha pele.
— Até lá, vou me divertir com você várias vezes. — Sussurra. Ele se
curva e encosta sua boca em meu ouvido, quero me afastar dele, mas
continuo onde estou. — E quero que goze para mim, como aconteceu naquela
noite. Eu sei que bem lá no fundo da sua mente, você sabia que era eu, bem lá
no fundo da sua linda mente, você curtiu aquilo. Que finalmente foi fodida da
forma que sempre gostou, mas seu namorado era bicha demais pra te comer
daquele jeito. — Empurro-o com força e tento dar um tapa no seu rosto, mas
Lucco segura meu pulso e me gira, me empurrando de cara para a parede e
colando o seu corpo contra o meu.
Solto um grito e tento me soltar. — VÁ EMBORA! — Grito para ele.
— Sim eu irei, mas saiba que voltarei essa noite. — Ele rosna em meu
ouvido e depois morde minha pele. — O que eu disse nos armazéns era real,
Olivia. Vou te ensinar a se comportar comigo, nem que seja a força. — Ele
roça o seu corpo contra o meu e aperta o meu seio com a mão livre, sinto o
seu membro ficando duro contra a minha bunda.
Grito mais uma vez e esforço-me para soltá-lo de mim. — Me solte
Lucco! — Urro para ele e para minha surpresa, Lucco se afasta de mim.
Seguro o meu pulso machucado e olho para trás, ele me encara, enquanto
segura seu pênis coberto pela calça, aquela visão me enfurece. Viro-me
totalmente para ele e digo. — Seu pau não é nada perto do pau do Sam.
Como você é idiota, tirou um homem de mim e colocou outro no meu
caminho! — Rio para ele e vejo seu semblante mudar. Lucco deixa sua mão
cair e ele franze o cenho.
— O que quer dizer? — Pergunta confuso.
Caminho até ele e paro na sua frente com um sorriso diabólico. —
Você não é retardado e muito menos surdo! — Imito suas palavras. — Eu e
Sam transamos na noite passada e ainda estou com o suor e orgasmo dele em
mim, pois nem tive tempo de tomar um banho, por sua culpa em ter matado
aqueles homens. Santo Deus, e você querendo foder uma mulher com o
orgasmo de outro dentro dela. Mas tenho que confessar, a foda dele é de um
verdadeiro homem, diferente da sua que não sabe nem estocar direito. — O
forte tapa veio com velocidade sobre o meu rosto, sem eu ter tempo para
reagir.
Caio no chão da suíte e Lucco puxa meus cabelos, fazendo-me gritar.
Ele segura minhas bochechas com força e faz com que eu o olhe. Ele está
possesso, com vermelho nos olhos e sinto meu coração acelerar. — Vocês o
que?! — Rosna e balança minha cabeça. Sinto sangue escorrer da minha
boca, naquele instante e Lucco me encara, dessa vez é ele que me olha com
nojo. — Fodeu com o Harris? Você FODEU COM ELE? SUA PUTA SUJA!
— Ele me levanta pelos cabelos e me arrasta em direção a uma porta do
quarto. Lucco a empurra com força e vejo que é um grande banheiro. —
TIRA ESSA PORRA DE ROUPA! — Ruge para mim, me empurrando.
Olho para ele e cuspo o sangue nos seus pés. — VÁ SE FODER! SEU
MERDA! EU NÃO OBEDEÇO VOCÊ! — Ele solta um rosnado animalesco
e mais uma vez bate na minha cara, por reflexo dou um soco no seu rosto e
nós dois gritamos juntos. Seguro o meu punho contra meu peito, enquanto
encaro Lucco. Ele passa a mão no nariz ensanguentado e depois me olha de
olhos arregalados.
— Tire. A porra. Das roupas. — Rosna baixo. Eu fico parada e não
faço nenhum movimento, então, ele se aproxima e me segura pelo pescoço.
— ENTÃO EU FAÇO. — Suas mãos rasgam minhas roupas e com a calça,
Lucco me levanta, me colocando em seu ombro e tirando a calça de mim com
habilidade. Eu não paro de gritar e empurrá-lo, quando ele puxa minha
lingerie para fora do meu corpo. — AGORA VAMOS LIMPAR UMA DAS
PARTES PRINCIPAIS, SUA VAGABUNDA. — Ele grita e me empurra
para dentro do box, ligando a água do chuveiro no gelado.
Dou um tapa no seu peito e tento sair dali de dentro, mas Lucco me
segura com um mata-leão, enquanto pega uma bucha com bastante espuma.
— ME SOLTA SEU IDIOTA. — Grito a plenos pulmões, sentindo dor de
cabeça com tantos gritos que dou. Mas Lucco não liga para isso e então diz.
— Precisa mesmo de um adestramento. — Rosna e enfia a bucha de
sabão dentro da minha boca. — VAMOS LAVAR ESSA BOCA IMUNDA E
DEPOIS ESSA BOCETA SUJA DE SAM HARRIS! — Ele grita e esfrega
com força dentro da minha boca, deixando-me sem ar e com ânsia de vômito.
Quando ele termina, desce a esponja até a minha vagina e esfrega com força,
fazendo-me gritar pela ardência.
— ESTÁ ME MACHUCANDO! — Grito entre choros e tentando me
soltar.
Lucco aperta seu braço contra o meu pescoço e me balança. — Então
pense bem na próxima vez que me provocar e foder com outro cara! Aliás,
não existirá uma próxima vez! — Ele esfrega a esponja por todo o meu
corpo, cada momento que tentava me soltar e gritar, ele esfregava com mais
brutalidade, em partes sensíveis do meu corpo, ou apertava seu braço contra
meu pescoço. Quando finalmente aquilo tinha acabado, eu soluçava como
uma criança, enquanto Lucco me arrasta de volta para o quarto. Ele me joga
contra o colchão e diz. — Bem limpinha. — E me vira bruscamente de
barriga para baixo. Lucco desfivela e retira o cinto de couro da sua calça, o
olhar é ameaçador e cheio de ódio para mim.
— O QUE ESTÁ FAZENDO?! — Eu grito, já sabendo do pior, mas
sem me responder imediatamente, ele dobra o cinto e dá o primeiro ataque
nas minhas costas.
— Agora você vai poder ir até os policiais e dizer que foi atacada. —
Lucco rosna e me bate, mais outra vez, sem parar enquanto me imobiliza.
Mesmo ele fazendo aquilo com o meu corpo, eu não deixo de segurar o
meu choro, não importa o que ele fará a seguir, eu não serei quebrada por
Lucco Gratteri. Quando o ataque finalmente acaba, ele segura os meus
cabelos e vira a minha cabeça para o lado, beijando a minha boca com força.
— Sinto muito baby, mas não consegui me segurar por muito tempo. — Ri.
— E eu adoro seus gritos, eles me excitam muito. — Completa e sai de cima
de mim. Lucco se levanta da cama respirando ofegantemente e caminha
devagar de volta ao banheiro. Quando estou só, ainda fico deitada e puxo
minhas pernas para cima, abraçando-as com os meus braços.
Fecho os meus olhos e consigo chorar, bem baixinho, pois eu temo pelo
o que ele possa fazer a seguir, comigo.
— OLIVIA! OLIVIA! — Abro os meus olhos e pulo da cama, ao
mesmo tempo, gemendo com a dor. Abro a janela do quarto e olho lá para
baixo.
Lucco aparece ao meu lado, rosnando algo em italiano. — CAZZO! —
Ele ruge e me puxa para longe da janela.
— SAM! — Grito para ele e então ouço tiros. — NÃO, SAM! — Me
desespero e Lucco me joga de volta na cama.
Eu tento chutá-lo para me levantar, mas ele me bate. — FIQUE AQUI,
PORRA! — Ruge e aponta sua arma para mim, eu não tinha notado ela. —
Você fica aqui, dentro desse quarto! — Rosna, se afastando com a arma em
minha direção. Quando ele sai, ouço gritos e xingamentos lá fora, corro até a
janela e vejo um homem gritando de dor, com a mão sobre a barriga
ensanguentada. Procuro desesperadamente por Sam, mas não o vejo ali.
Sinto meu coração trovejar e então corro até o banheiro e pego o que
restou das minhas roupas, quando visto minha camiseta rasgada e minha
calça, saio de dentro do quarto e corro às pressas pelo corredor da casa, desço
as escadas, quase caindo sobre elas e então me seguro no corrimão de
madeira, quando vejo Sam com a testa suja de sangue, ajoelhado na frente de
Lucco. Os outros homens estão ali também.
— Sam. — Sussurro. Ele me olha. Seus olhos brilham de alívio, mas
quando vê o meu rosto, pulso machucados e minha roupa rasgada. Ele rosna.
Sam tenta se levantar, mas um dos homens bate com o cano da sua
arma grande, em sua perna. Lucco se vira em minha direção e olha-me com
desprezo. — Foi bom ter me desobedecido, meu amor. — Ele abre um
sorriso e engulo em seco. Sei que será ali o meu fim, mas lutarei até o último
suspiro, ao lado de Sam.

FIFTEEN

— Deixe-o e me leve embora! Me leve com você. — Suplico, enquanto


caminho lentamente na direção de Lucco, Sam e seus homens. Meus olhos
não se desviam da arma que Lucco segura em sua mão esquerda. — Por
favor, Lucco...
Ele ri. — Por favor? Você está vendo o que me pede? Quer ser a minha
puta em troca da vida desse merda? — Ele se vira para Sam, que está
ajoelhado sobre o chão e dá um chute na sua barriga. Ele se curva soltando
um grito e cospe sangue no chão. — Fodeu com ele, você fodeu com um
detetive e agora você não tem valor para mim! — Ele rosna e dá passos
largos em minha direção, ando de costas rapidamente e bato-me contra uma
mesa de canto. Lucco envolve meu pescoço com a sua mão e me empurra até
a parede. Solto um grito e seguro seu pulso.
— FAÇA O QUE QUISER COMIGO, MAS DEIXE-O EM PAZ, SEU
FILHO DA PUTA! SAM NÃO TEM NADA A VER COM ISSO. — Grito
com dificuldade.
Lucco encosta sua testa na minha e solta uma risada estrondosa, sinto
raiva dele e quero matá-lo mesmo sabendo que isso me fará como ele. Seus
olhos me observam, quando afasta sua cabeça da minha, e ele diz: — Oh
baby... você é estupidamente cega. Realmente eu sinto dó de você. — Ele
sorri e tira sua mão do meu pescoço, indo até onde Sam estar, Lucco segura
seus cabelos na mão e levanta a sua cabeça, enquanto aponta a arma na sua
têmpora. — Diga a ela, não vou dizer nada. — Lucco ordena. Franzo o cenho
e saio de perto da parede, observando o rosto dos dois homens.
— Dizer o quê? — Pergunto.
Lucco me olha e depois balança a cabeça de Sam. — Diga, senão você
morre. — Ele ameaça. — DIGA! — Grita.
— Eu sou um membro da máfia. — Rosna Sam com raiva. Paro de
andar e sinto cada parte do meu corpo paralisar com suas palavras, me sinto
traída, enganada e me sinto uma burra idiota! Como ele pôde?! Como pôde
mentir tão descaradamente para mim?! Sam me enganou e enganou a todos
ao meu redor. Minhas lágrimas escorrem pelo meu rosto novamente e Sam
me olha, seu olhar é quebrado e desesperado. — Eu não esperava que
tivéssemos algo, Olivia! Eu juro, eu comecei a sentir algo por você e jamais...
— Pare de falar. — Sussurro e ponho a mão em minha cabeça. —
Mentiu para mim, mentiu para mim! Como teve a coragem de fazer isso? Eu
confiei EM VOCÊ! — Vocifero para ele.
Sam tenta se levantar do chão, mas os dois homens que estão a cada
lado dele, empurram-no de volta. — Olivia! Olhe para mim, eu não sabia que
aconteceria algo entre nós, eu tentei sair disso, eu juro, mas eu tenho uma
família! TENHO IRMÃOS, PAIS E NÃO PODERIA COLOCÁ-LOS EM
PERIGO. — Ele grita e tudo o que faço é virar-me de costas para ele. —
Olhe para mim Olivia, por favor! — Fecho os meus olhos e choro. Eu estava
andando e confiando em alguém que era exatamente como Lucco! Um
mentiroso!
— Seu amiguinho Sam Harris é a porra de um policial corrupto, doce
Olivia. Ele estava esse tempo todo atrasando a investigação e é aí que os
detetives Stewart e Johnson entram. — Lucco para na minha frente e eu o
olho, seu sorriso de tubarão me enoja. — Os dois descobriram que Sam
estava... boicotando a investigação e alguns de seus olheiros descobriram que
ele é um membro da Cosa Nostra. Bem, os dois bons homens souberam
demais e precisavam de uma lição. Sinto muito se você confiou em um
mentiroso, eu também ficaria furioso.
Dou um passo em sua direção e rosno. — Vai para o inferno. — Ele ri
e se afasta de mim.
— Talvez um dia. — Soa sarcástico. — Mas agora... vamos
desmascarar Sam Harris. — Lucco caminha lentamente e viro-me,
observando seus passos, faço de tudo para não olhar para Sam. Eu quero que
ele sofra por tudo o que fez. Suas enganações e palavras falsas o fizeram vir
até aqui e morrer.
Engulo em seco e dou de ombros. — Você falando dele, não irá torná-
lo menos desprezível. — Falo, quando Lucco se vira para mim.
— Tem razão. Mas é divertido expor os monstros. — Sorri. — Sam
deve uma quantia de dinheiro bem alta para a Família, o pobre coitado é
viciado em heroína, então tive que usá-lo como minha marionete. Eu ordenei
que ele a enganasse da melhor maneira possível, Sam foi quem fez uma cópia
da chave do seu apartamento, e deu a um, dos meus soldados, eles causaram
uma bela explosão ali, tenho que confessar. — Olho para Sam e seus olhos já
estão em mim, um olhar de súplica. — Além disso, todas as provas que a
parceira vagabunda dele encontrava, Sam as descartava para não chegarem
até a mim. Então... senhorita Lester, acho que seu ódio deve ser direcionado
ao Detetive, não concorda?
— E de quem foi à ideia de me drogar e me estuprar? — Cuspo as
palavras, com ódio. — Quem acabou de praticamente violentar lá em cima há
quinze minutos? Você é pior que todos aqui, você não passa de um doente
mental que deve ser morto! Todos vocês merecem a pena de morte. — Olho
para Sam e digo. — Principalmente você. — Completo. Ele faz um olhar
magoado, mas não sinto pena e nem nada disso. Sam estava envolvido com
as atrocidades de Lucco Gratteri, por estar devendo dinheiro a eles! Ele achou
divertido destruir a minha vida, achou mais fácil me enganar, do que pagá-los
e eu sentia ódio dele por esse motivo. Sam não estava longe de ser como
Lucco.
Limpo o meu rosto coberto de lágrimas e desvio o meu olhar do seu. —
Eu não sabia que iria sentir algo por você. Eu queria ir embora daqui, Olivia,
e queria levá-la comigo, mas sabia que seriamos mortos de uma forma ou de
outra. — Sam diz, porém eu continuo sem olhá-lo. Não quero saber das suas
mentiras esfarrapadas.
— Pois é. E por esse motivo você deve ser punido. — Interrompe a voz
de Lucco. Ele caminha e para diante de Sam. — O que prefere? Um tiro na
testa, por planejar estupidez, ou um tiro dentro da boca, por falar tanta
merda? — Pergunta calmamente. Por mais que eu esteja sentindo ódio de
Sam, meu coração dispara em ouvir o que Lucco diz para ele. Um medo sobe
pela minha espinha e deixa minhas mãos gélidas e trêmulas. Eu não o quero
morto? É isso mesmo?
— Ele apenas pensou e falou, não agiu. — Digo em voz alta. — Então
por que ele deve morrer? — Pergunto.
Lucco solta um suspiro e me olha. — Porque um dia ele fará tudo isso.
— Seus olhos se voltam para Sam. — Na testa é melhor. — O barulho do tiro
ressoa pela casa e sobressalto e grito, caindo no chão.
— NÃO! — Rujo e vejo o corpo sem vida de Sam caído no chão.
Engatinho às pressas e vejo um buraco no meio da sua testa, onde uma
jorrada de sangue escorre. — MEU DEUS, SAM! — Choro em desespero.
Lucco pega o meu braço e tenta me tirar do chão, mas estou tão em brasa,
que dou uma joelhada no meio das suas pernas e corro quando ele grita e me
solta.
Corro em direção às portas, quando algo duro me atinge no ombro,
fazendo-me cair no chão. Grito com a dor do tiro em meu ombro e me
levanto e corro até as portas fechadas. — PEGUEM ESSA CADELA! NÃO
A DEIXEM ESCAPAR. — Ouço a voz de Lucco cheia de raiva. Quando
vejo as portas, abro as duas e corro o mais rápido que posso, olho para trás e
então me bato contra algo.
— NÃO, NÃO! — Grito, enquanto sou segurada por mãos firmes.
— Se acalme porra! — Paro de me debater e olho para cima. Um
homem alto de olhos azuis e cabelos avermelhados me encara em confusão,
mas é a sua semelhança que me assusta. — Você é a garota que meu irmão
atacou? — Pergunta, em um leve sotaque italiano. Sua semelhança é idêntica
à de Lucco e sei que é um de seus irmãos.
***
Ainda estou em choque, quando vejo aquele belo homem me segurar,
sei que Lucco e seus soldados estão atrás de mim, distantes olhando a cena.
Vejo um vulto ao meu lado e desvio meus olhos apenas para encarar o outro
homem. Ele tem cabelos e barba escuros, assim como seus olhos. Ele é
bonito, mas não tanto quanto o que está esmagando meus braços com as
grandes mãos. — Chegamos a tempo, o fodido do Lucco iria matá-la. — O
segundo homem, com sotaque, diz e aponta com o queixo o meu ferimento
no ombro direito. Pisco repetidas vezes e olho meu ombro, não sentindo
nenhuma dor.
— Você está bem? Quem machucou seu rosto? Por que está toda
rasgada? — Pergunta o irmão de Lucco, sua voz está com uma nota de
preocupação.
Choro com medo e olho para trás onde Lucco é empurrado para dentro
de casa por outros homens. — E-eu... ele matou Sam na minha frente. —
Sussurro. — Lucco... Lucco me... ele me...
— Já entendemos. — Rosna o outro homem. — Eu vou matá-lo,
Demétrio. Lentamente.
Demétrio. Deus, ele é o chefe da máfia? — Se acalme Vittorio. —
Demétrio diz pacificamente. — Vamos dar uma palavra com ele. E você. —
Ele fala para mim. — Vou chamar algum médico que conhecemos e seja de
confiança, espero que você não fuja. Tem a minha palavra que não acontecerá
nada com você. — Aceno com minha cabeça e coloco minha mão sobre o
meu ombro ferido, começo sentir uma forte dor e sinto meu corpo leve e
cansado. De repente, vejo o mundo rodar e minhas pernas enfraquecem.
— Porra! — O homem chamado Vittorio é mais rápido e me segura. —
Ei! Abra os olhos, garota! — Ele rosna e me pega no seu colo. Solto um
choramingo e olho para as nuvens no céu. Vittorio entra na casa comigo e
depois passa para a sala, onde me deita em um sofá macio. Vejo que Lucco
está ali, assim como outros soldados e seu irmão chefe entra na sala, me
olhando.
Ele tenta dizer algo, mas Vittorio marcha até ele. — Que porra está...
— Vittorio dá um murro forte no seu estômago e depois soca a sua cara duas
vezes, deixando-o cair no chão.
— Chega Vittorio. — A voz calma de Demétrio diz. Vittorio cospe em
Lucco e diz algo em italiano, quando sai de perto dele e deixa Demétrio se
aproximar. Lucco, tosse várias vezes, e se levanta com dificuldades do chão,
seu rosto está machucado e ensanguentado. — Que desperdício de irmão.
Passeando por cidades que não tem proteção das famílias, para fazer o que
quiser. Eu esperava mais de você, Lucco e pelo o que parece aquela tortura e
grandes perdas que você tivera depois de matar pessoas inocentes, não
adiantou de nada. — Ele fala, olhando para seu irmão.
Lucco passa as costas da mão esquerda sobre o nariz e encara seu irmão
com nojo. — Foda-se suas leis de merda. Nosso pai vai aplaudir tudo o que
eu faço. — Rosna para ele.
— Nosso pai não é Deus e muito menos Don, seu merda insignificante.
— Vittorio retruca no mesmo tom que o dele.
Aquilo me deixa acordada, ele também é um dos irmãos de Lucco?
Apoio-me com o cotovelo e me sento no sofá, todo o meu corpo reclama de
dor pelo tiro. Respiro profundamente e me distraio com os homens falando.
Lucco encara seu outro irmão e não diz nada. — Me dê um bom motivo para
não tirar sua cabeça do seu pescoço. — Suspira Demétrio, indo se sentar em
uma das poltronas pretas. Ele cruza suas pernas elegantemente e entrelaça
seus dedos das mãos juntamente. Demétrio é o mais lindo dos dois, ele parece
ser jovem, mas seu olhar o torna maduro, assim como o modo que seu corpo
se move. Ele tem tanta confiança exalando de si, que me sinto um pouco
segura.
Lucco fecha suas mãos em punhos, enquanto diz. — Essa puta iria me
entregar! Tudo o que fiz, foi para proteger...
— Proteger a Família? — Apenas Lucco e eu olhamos na direção da
voz grave e masculina. Fico hipnotizada com o homem alto, musculoso e
loiro que chega à sala de braços cruzados. Ele é o único que não está usando
terno, mas sim jeans e camiseta preta. — Golpe baixo dizer isso, Lucco.
Todos nós sabemos que você gosta de estuprar e matar mulheres que o
rejeitam. Demétrio não vai te matar. — Diz.
Demétrio arqueia as sobrancelhas e um sorriso torto se forma em seus
lábios. — Ah, eu não vou? — Pergunta, mas olhando para Lucco.
— Você sabe que não. — Suspira o loiro. — Estou cansado de ser
babá. Todos nós seguimos caminhos que nos colocamos por querer.
Poderíamos ser como você, pelo o que o nosso pai nos obrigava a fazer, mas
não, pois sabíamos que aquilo tudo era errado. Eu prefiro ser um assassino a
ser um estuprador, mas pelo visto você curte as duas coisas. — Rosna
apontando o dedo para Lucco. Olho para todos os irmãos, os únicos parecidos
são apenas Demétrio e Lucco, mas o loiro e Vittorio não. Talvez tenham à
semelhança dos pais.
Lucco limpa sua boca suja de sangue e solta um risada baixa, em
seguida ela fica mais alta. — O que é engraçado, seu lixo? — Diz Vittorio,
fechando a mão esquerda em punho.
— Nada. — Lucco levanta as mãos. — Só acho bem interessante,
homens como vocês, darem conselhos para mim. Já escuto muito conselho do
nosso pai, obrigado Bernadir. — Ele fala e pisca para Bernadir, como foi
chamado.
Demétrio passa a mão em sua testa e solta um suspiro alto, enquanto
aponta para o irmão mais jovem. — Se quer ouvir Ricco, então você vai se
foder muito comigo. — Ele se levanta da poltrona e fecha dois botões do
terno azul marinho. — Você terá mais uma punição, você sentirá a dor por 72
horas, perderá todos os soldados que lhe restam, não será mais solicitado para
nada! Terá suas contas bancárias congeladas por dois anos, estará proibido de
sair de Nova York, se fizer algo por lá, eu vou furar seus ouvidos, cortar sua
língua para fora e jogar ácido na porra dos seus olhos e então, poderá passar
o resto de sua vida ao lado do seu pai e madrasta.
— Você não pode fazer isso! — Exclama Lucco, dando um passo na
direção de Demétrio, os soldados também avançam, protegendo seu chefe.
Lucco encara cada um e depois olha para o irmão. — POR QUE NÃO ME
MATA DE UMA VEZ, SEU FODIDO? SEJA HOMEM E ME MATA! —
Vittorio e Bernadir riem alto de suas palavras e encaram Demétrio. Ele olha
para um dos soldados e estende sua mão, um dos homens retira uma pequena
faca com cabo preto e entrega na mão de seu chefe, rapidamente os olhos de
Lucco descem na direção da faca, mas não vejo medo em seus olhos, ele não
sente medo.
Demétrio gira o objeto entre seus longos dedos e uma mão no bolso da
calça social. — Eu não te mato, porque jurei a nossa mãe proteger você! Eu
te protejo de tudo seu inútil e é isso que recebo em troca? — Ele aponta para
mim. — Estupros?! Casas sendo explodidas? Investigadores sendo mortos e
pendurados em praça pública?! Pessoas sendo assassinadas! VOCÊ AGE
COMO UM ADOLESCENTE, VOCÊ USA A MÁFIA COMO UM MEIO
DE AMEAÇA! VOCÊ ME ENVERGONHA LUCCO GRATTERI! EU
ESTOU SENDO JULGADO PELA JUSTIÇA FEDERAL, PELA
TERCEIRA VEZ, MEU ROSTO ESTÁ ESTAMPADO NO MUNDO TODO
E VOCÊ FAZ ISSO SABENDO QUE A POLÍCIA IRÁ BATER NA
MINHA PORTA?! VOCÊ FAZ IDEIA DO QUE ME FEZ? ESTOU
ACUSADO PELOS SEUS CRIMES COMETIDOS AQUI EM NOVA
ORLEANS, SEU FILHO DA PUTA! POR SUA CULPA!
— Demétrio, se acalma. — Tranquiliza Bernadir me olhando.
Ele faz um gesto para seu irmão não dizer mais nada e encara Lucco.
— Se eu voltar para a prisão, nem que seja por um ano, eu vou matar você,
pode acreditar! Estou cansado de limpar suas sujeiras.
— Demétrio! — Rosna Vittorio dessa vez. — Há uma pessoa que não é
do ciclo, aqui na sala, e você acabou de dizer o que seu advogado ordenou
que não tornasse público! — Adverte.
Demétrio solta um suspiro e se vira para mim. Rapidamente me
encolho e o encaro assustada. — Eu não ligo se você foi preso ou não. Não
quero me envolver com nada que venha de vocês. — Sussurro, fazendo uma
careta de dor. Lucco solta uma meia risada e me olha.
— Já está mais do que envolvida. — Responde.
Seu irmão chega perto dele como uma águia e grita. — EU NÃO PEDI
PARA FALAR POR MIM! — A mão de Demétrio esbofeteia sua cara com
força e depois ele pega a faca e encrava na barriga de Lucco, todos se
sobressaltam; menos os dois outros irmãos. Lucco solta um rosnado
misturado com um grito e encara Demétrio com raiva. — Gostou de sentir
dor? É bom ser o mais fraco da briga, não acha? Eu não quero ouvir a sua voz
até chegarmos a Las Vegas, entendeu?! — Ele tira a faca com sangue de
dentro do Lucco e depois o empurra bruscamente no chão. Meu coração está
mais que descompassado, olho a distância da porta e eu, e meus pensamentos
ordenem que eu corra. Porém, me sinto fraca por culpa do tiro em meu
ombro.
Demétrio entrega a faca para um dos soldados e o mesmo dá um pano
para ele retirar o sangue, que escorreu para a sua mão. Lucco está meio
sentado no chão com a mão na barriga e respirando alto. — Você deve partir
de Nova Orleans. — Diz Demétrio bruscamente. Sua voz pacífica tinha
desaparecido. Olho assustada para ele quando para perto do sofá, todos os
olhares estão em mim agora. — E não diga para onde irá. Você tem um bom
dinheiro na sua conta bancária pelo o que me disseram, sei que não tem
parentes vivos, então não há ninguém aqui para justificar sua partida. Quero
que quebre o elo com sua amiga Katherine, meu irmão estava vigiando ela,
ela seria a próxima vítima dele. Você fingirá que nunca nos viu aqui, nunca
me viu aqui. Nenhum policial entrará em contato com você, já cuidei disso.
Quando o médico chegar aqui, fique calada, quando ele terminar, você vai ir
com meu irmão Bernadir para o apartamento do detetive e pegar todas as suas
coisas, ele comprará a dinheiro sua passagem só de ida, eu fui claro? —
Pergunta, arqueando as sobrancelhas.
Sinto-me como uma criança recebendo broncas e ordens do pai ou
irmão mais velho, minha língua coça para fazer inúmeras perguntas sobre
quase tudo o que ele disse, mas apenas aceno. — Sim, você foi. — Demétrio
vira seus olhos para longe de mim, arrogantemente e volta-se para Lucco. —
E o que fará com ele? Eu quero saber cada detalhe, ele acabou com a minha
vida, ele matou meu namorado e o Sam, mesmo ele fazendo parte disso, eu
gostava dele! Seu irmão me atacou há uma hora, esse é o motivo dos
hematomas e das roupas rasgadas. Então eu tenho o direito de saber o que
fará com ele. — Demétrio passa a mão em sua barba feita e sorrir quando me
olha.
— A morte seria uma ótima opção, não concorda? Mas ele terá uma
punição de que o fará conhecer a morte por pelo menos três vezes. — Diz,
me olhando atentamente. — Não sou nenhum justiceiro, se é o que está
pensando, mas apenas aplico as medidas necessárias para cada erro cometido
pelos membros. Meu irmão será torturado por três dias e quando ele estiver
quase morrendo, terminará. Vai por mim, deixá-lo preso em Nova York e
sem dinheiro e soldados, é a morte para ele.
Aceno com a cabeça e olho para Lucco, ele está encostado na parede,
com a cabeça erguida, enquanto faz uma careta de dor, aquela cena é
maravilhosamente perfeita para os meus olhos. — Me prometa que ele não
saberá onde estarei. — Falo e olho para Demétrio. Ele olha para Vittorio de
relance e depois me encara.
— Ele não saberá, tem minha palavra, mas será melhor se você trocar
de emprego. Sua experiência em quadros famosos é bem falada em cidades
grandes, procure um emprego mais... mundano e tente se camuflar. Não
posso controlar todos da Família e Lucco tem muitos amigos, que estarão
dispostos a fazerem o que ele pedir. — Ele aponta com o queixo para trás de
mim, sei que é o Sam, então não faço a questão de olhar. — O detetive já diz
tudo.
— E mesmo assim, ela quer justiça da morte dele. — Murmura
Bernadir. — Cuidado para não ser enganada pela terceira vez, meu bem. —
Ele alerta e pisca com um olho para mim. Viro minha cabeça e aperto minha
mão em meu ombro.
Demétrio retira um aparelho celular do bolso da calça e fala. — Vou
ligar para um amigo que é médico e cuidar de vocês dois. — Ele me olha e
diz. — Bico fechado.
LAST

Depois de ser atendida, por um médico de meia-idade, Bernadir me


levou até o seu SUV preto, com quatros homens no carro de trás, nos
seguindo. Eu estava sob o efeito de um medicamento que tinha me deixado
sem dores e extremamente calma, eu não tinha mais visto Lucco, e nenhum
dos outros homens, depois que saí da casa. Bernadir dirigia tranquilamente e
confesso que tinha me assustado, quando o vi estacionar na frente do prédio
em que Sam mora... morava.
Quando tínhamos entrado no apartamento, Trovão dormia
pacificamente no sofá maior e não pude conter as lágrimas em pensar que
Sam não voltaria mais. — Está tudo bem com seu ombro? — Pergunta
Bernadir ao fechar a porta. Paro de chorar e limpo meu rosto, assentindo com
a cabeça e sem olhá-lo. — Sinto muito pelo meu irmão e sinto muito pelo
detetive. — Ele continua. Ergo minha cabeça e respiro fundo com isso. Viro-
me para ele e dou de ombros.
— Não importa mais, nada importa. — Sussurro.
Bernadir olha pelo apartamento, enquanto caminha em minha direção,
dizendo. — Então comece do zero, sem olhar para trás. — Murmura com
seus olhos claros sobre mim. Tudo o que posso fazer, é ri amargamente.
— Você é o irmão bonzinho? Dando conselhos para as vítimas do
irmão mais novo?
Ele aperta seus olhos para mim e coloca as mãos atrás de si,
educadamente. — Você é a primeira vítima que olho face a face, eu não
tenho o costume de me meter nas confusões dos meus irmãos, mas Demétrio
estava fora de si e sei que ele sempre me ouve. — Explica com um olhar
sobre mim.
— Então está me dizendo que seu irmão planejou matar Lucco, mas
você sentiu pena? — Pergunto ironicamente. — Que decepcionante. —
Afirmo e cruzo meus braços.
Bernadir dá mais um passo em minha direção e dou outro para trás,
mas encosto-me sobre as costas do sofá, ele estende sua mão sobre meu rosto
machucado e tento me encolher, assustada com o gesto. O que ele está
tentando fazer?! — É bem decepcionante ver uma mulher falar nesse tom
com os outros. Você precisa prestar mais atenção com quem fala e como fala
Srta. Lester. — Ele diz e toca no meu queixo. Bernadir não sorri, mas olha-
me pacientemente. — Posso ser pior que o Lucco. — Acrescenta e depois se
afasta.
Quando ele está longe de mim, volto a respirar normalmente e encaro o
seu rosto pacífico. — Um estuprador sem freios? — Pergunto, trincando os
dentes. Ele me olha franzido e faz uma cara de nojo.
— Nem na minha próxima vida. — Ri em desgosto. — Jamais atacaria
uma mulher, não preciso disso, sou bem capaz de saber seduzi-las e atraí-las
para mim e que não seja a força. Sobre isso, deixe apenas para Lucco e Ricco.
— Ele pisca e dá a volta no sofá, olhando para Trovão que o encara.
Mordo meu lábio e me abraço com força. — Quem é Ricco? —
Pergunto. Bernadir se senta na mesinha de centro e acaricia a cabeça do meu
cachorro. Ele me olha de cima e diz.
— Nosso pai. — Responde. — Ele que levou Lucco para esse caminho,
mas Lucco continuou nele porque quis. — Fala sem emoção na sua voz. Olho
na direção do corredor e tento me desligar de tudo isso, estou esgotada
demais para continuar nesse caminho. Afasto-me do sofá e ando pelo
corredor do apartamento de Sam, é estranho, mas posso sentir sua presença.
Fungo para não chorar novamente e entro no quarto, sem olhar para as suas
fotos e até a cama bagunçada.
É tão estranho, há horas atrás estávamos aqui, nesse quarto, sobre a
cama, conversando e rindo, depois um tocando ao outro e agora ele está
morto.
Ele que seguiu esse caminho. Sam traiu você.
Balanço minha cabeça para os lados e pego minhas malas. — Já tem
em mente para onde ir? — Sobressalto-me e grito quando escuto a voz de
Bernadir, olho para trás e ele está encostado no batente da porta, de braços
cruzados, e o Trovão sentado ao seu lado. — Não queria assustá-la, tinha me
esquecido que está sensível. — Ele se desculpa com um sorriso torto.
— Seu irmão disse para não contar! — Exaspero e jogo o cabelo para
trás, tirando do meu rosto. — Por que o interesse de saber? — Questiono-o
irritadamente.
Bernadir arqueia suas sobrancelhas loiras e revira os olhos. — Eu não
tenho interesse nenhum, Olivia Lester. — Ele suspira. — Faça logo as malas,
quero voltar para casa. — Bernadir vira as costas para mim e sai do quarto,
junto com Trovão. Fecho os meus olhos, respirando profundamente e olho
dessa vez, para a cama bagunçada.
***
D O I S A N O S D E P O I S...C O L U M B U S – O H I O.

Termino de decorar a décima cozinha da loja American Ohio e por fim


observo meu trabalho bem feito. Abro um sorriso satisfatório e viro-me,
afastando-me de lá. Por onde passo; cumprimento a cada cliente na loja e
finalmente chego ao balcão branco e limpo. Asher, um dos atendentes da loja
está ali sentado na banqueta preta, mexendo no computador, quando ele me
vê chegando, abre um sorriso.
— Como vai à nova projetista da American? — Pergunta ao se
levantar.
Asher é um ótimo amigo, desde que consegui meu emprego na loja,
tínhamos nos tornado bons amigos, assim como seu namorado, Mason, tinha
o conhecido em uma festa dada por Asher, em sua casa e depois disso os
tenho como melhores amigos. Ele ergue a sua mão e ergo a minha, batendo
na sua e rindo. — Super bem! — Exclamo animada. — Estou adorando o
novo cargo, bem melhor do que ficar naquele estoque empoeirado. —
Comento. Asher revira seus olhos e se curva sobre o balcão, faço o mesmo.
— Pois é, acho que Thea não curte muito o seu trabalho. Sempre
imagino você sentada, no meio daquelas caixas, dando pedaços de pães para
as ratazanas que moram ali. — Ele brinca e rio com isso, empurrando seu
ombro com o meu.
— Ela não faz isso! Pare de ser tão mau. — Censuro Asher, entre risos.
Ele solta um rosnado baixo e aponta para mim. — Você deveria ser um
pouco má, Ollie, isso te fará bem. — Suspira. Balanço a cabeça em negativa,
e pego minhas coisas debaixo do balcão.
— Enquanto eu não sou má. — Digo e coloco meu casaco e depois
minha bolsa sobre o ombro, fico na ponta dos pés e beijo a bochecha de
Asher. — Estou indo para a minha aconchegante casa, descansar com o meu
lindo rottweiler chamado Trovão! Até segunda. — Termino de dizer e
cantarolo dando um tchauzinho.
Passo pelo balcão e Asher diz. — Sabia que você precisa se divertir
mais? Como uma pessoa normal? — Seguro a porta e me viro para ele,
enquanto a empurro.
— Eu sei. — sorrio e saio da loja, caminhando para o meu carro.
***
Entro em minha casa e ouço Trovão descer as escadas loucamente e
latindo. — Oi meu bem, sentiu minha falta? — Tiro meus sapatos e bolsas,
jogando ao lado da porta. Caminho com as sacolas do mercado em ambas as
mãos e o Trovão me segue até a cozinha. Coloco tudo em cima do balcão da
ilha e retiro o pacote de ração, rasgo e jogo na tigela ao lado da porta da
cozinha. Trovão pula de alegria e isso me faz rir. — Seu guloso. — Falo e
acaricio sua cabeça peluda.
Guardo as coisas na geladeira e armário rapidamente, em seguida subo
as escadas e já vou abrindo o zíper do meu vestido, quando entro no meu
quarto. Ligo o som e entro no banheiro, retirando minhas peças de roupa.
Abro a porta do box e ligo o chuveiro, cantando ao som de Kanye West.
Passo boa parte do tempo no meu banho, me ensaboando e lavando
meus cabelos. Quando passo a mão com sabão no meu ombro esquerdo, sinto
a larga cicatriz de um passado sombrio. Olho para a marca clara em minha
pele bronzeada e volto para dois anos atrás... Escuto Trovão latir e saio dos
meus devaneios, desligando a torneira. Pego a toalha, enrolo-me nela, saio de
dentro do banheiro, abaixo o volume do som e bocejo enquanto saio de
dentro do quarto. — O que é dessa vez, Trovão? — Paro no fim da escada,
quando vejo uma sombra na porta da cozinha.
Sinto meu coração sobressaltar e por experiência própria, corro nas
pontas dos pés de volta ao meu quarto, abro a porta do meu armário de
roupas e entro lá, me escondendo do invasor. Tapo minha boca com a mão
trêmula e olho pelas frestas da madeira do armário, quando ouço passos
pesados sobre minha escada. Meu peito arde com os fortes batimentos do
meu coração e temo que quem esteja vindo, possa ouvi-lo. A porta do meu
quarto é empurrada lentamente pelo invasor e quando ele entra no cômodo,
vejo o rosto de Asher. — Ollie? Cadê você? — Fecho os olhos e solto um
suspiro de alívio. Mais que merda, Asher! Quando vou sair, uma grande mão
tapa a minha boca e cola o meu corpo contra o seu. Meu medo faz meu corpo
congelar com o grande susto, arregalo meus olhos em pavor, olhando para
Asher, enquanto me procura.
— Shh, se não eu mato vocês dois. — A voz masculina sussurra em
meu ouvido. — Vai se comportar? — Pergunta, inspirando o cheiro do meu
cabelo, balanço minha cabeça freneticamente e permaneço parada. Eu sei
quem está atrás de mim, depois de dois anos, sempre andando pelas ruas às
pressas, sempre recusando sair com meus amigos, nunca dizendo nada sobre
o meu passado e até mesmo meu verdadeiro nome. Tudo por causa desse
homem que eu tanto temia sua aparição em Ohio. Agora ele está aqui. Lucco.
As lágrimas escorrem dos meus olhos, enquanto vejo meu amigo Asher
e o meu cachorro procurando por mim, ele olha para o Trovão e suspira, com
as mãos na cintura. — Acho que sua dona saiu sem desligar o som e fechar as
portas! Aquela maluca. Bem, bem, amanhã eu volto. — Ele diz e sai de
dentro do quarto junto com Trovão, em seguida fecha a porta. Lucco continua
com a sua mão coberta pela luva de couro em minha boca e a todo o
momento dizendo vários "shhh" em meu ouvido. Ouço o barulho de um carro
sendo ligado e se afastando da minha casa, meu medo se altera ainda mais
por saber que estou sozinha.
Mas não dessa vez.
Dou uma cotovelada no estômago do Lucco, fazendo-o gritar e saio do
armário. Abro a minha porta as pressas e quando vou até as escadas, tropeço
e caio rolando pelos degraus. Solto um gemido de dor e o Trovão começa a
latir, peço para ele parar quando vejo Lucco no topo da escada. Engulo em
seco. Ele está totalmente diferente, está mais musculoso do que nunca e não
há mais barba rala em seu rosto. Ele desce lentamente de degrau em degrau e
sento-me no chão e arrasto-me para longe dele, choramingando.
— Olha só para você, Ollie. — Diz, sem o sotaque italiano. — Mais
frágil do que a última vez em que a usei. — Lucco vai até o segundo som da
minha casa, na mesa de canto do lobby e liga o aparelho, ele deixa o volume
um pouco alto e em seguida caminha às pressas em minha direção e me
segura pelos cabelos, me debato o quanto posso e grito para ele me soltar,
enquanto me arrasta pela casa, mas Lucco continua me levando até a sala,
cantando junto com a música que toca.
Quando estamos no centro da sala, ele me solta e fico no chão ofegante,
sentindo minha cabeça doer. — Trovão! — Chamo meu animal, sem pensar e
olho para o cachorro rosnando e correndo até Lucco. Trovão pula sobre ele e
morde seu braço, enquanto ele grita e tenta se livrar do meu cachorro, seguro
a toalha sobre mim e me levanto correndo de volta para o lobby de entrada,
seguro a maçaneta da porta e puxo com força entre gritos, mas lembro-me
que deixei a chave no andar de cima. — MERDA! — Grito e volto para
correr pela escada, de repente sou acertada por um tapa e caio no chão, mas
apenas engatinho rapidamente para a escada e subo as pressas.
— Sério mesmo? Treinou seu cão para mim? — Lucco pergunta,
subindo devagar as escadas. — Você tem sorte por eu gostar de animais! Eu
o apaguei, mas não o matei. — Diz animadamente.
Empurro a porta do meu quarto e caio sobre o carpete, gemendo, retiro
o sangue que escorre do meu nariz quando sinto as mãos de Lucco em meus
tornozelos. — NÃO, NÃO! POR FAVOR! — Grito. Ele me vira de barriga
para cima. Os olhos de Lucco ardem em ódio, direcionados para mim, suas
íris estão dilatadas, quando ele se senta em cima da minha barriga e segura
meus pulsos com uma só mão, colocando-as acima da minha cabeça.
— Por favor? Não? É só isso que vocês todas sabem dizer? — Pergunta
ironicamente. — Achou o que? Que eu deixaria você livre? Você fodeu
minha vida nesses últimos dois anos e agora eu vou foder a sua! — Diz-me
entre rosnados.
Grito pedindo por socorro, mas sei que ninguém irá me ouvir. Quando
já estou cansada, encaro os olhos de Lucco. — Seu irmão vai descobrir. —
Falo tremulando. Ele ri com isso e suspira.
— Talvez. Ou não. Mas se descobrir, pelo menos eu tive mais uma
chance com você, linda Olivia. — Ele sussurra o meu nome e se curva sobre
mim. Solto um choramingo baixo e choro mais forte dessa vez, lágrimas
gordas e pesadas saindo dos meus olhos. — Ah, não chore. Apenas se
repreenda por ter mexido com um mafioso, por você ter o rejeitado
agressivamente, por ter sido a porra de uma maldita! Você me deixou
muitíssimo zangado, baby. Eu não parava de pensar em você durante todo
esse tempo e quando finalmente estava livre de tudo, cacei você. Achou
mesmo que eu nunca iria descobrir onde você estava?
Engulo em seco e solto minha respiração. — Vá para o inferno. —
Rosno. — Tenho certeza que precisou da ajudinha de alguém, seu
imprestável de merda. — Ele dá uma meia risada e desce seu olhar para a
minha boca, depois sobre as curvas dos meus seios.
— Bingo. Você acertou, mas a boa parte foi o imprestável que
descobriu. Meu irmão me ajudou a localizá-la. — Sinto um balde de água fria
cair sobre mim. Um de seus irmãos?! Aqueles homens que estavam possessos
pelas desgraças feitas por Lucco?!
Abro minha boca e vacilo, sem saber o que lhe dizer. Ele está
mentindo, é notável. — Você está mentindo. — Respondo-o bravamente.
Lucco faz um olhar arrogante e irônico para mim, ao mesmo tempo, ri
autenticamente. Sinto nojo em ouvir sua risada grotesca.
— Mentir? Para você? Por que eu perderia o meu tempo com isso? Ele
é o meu irmão, Olivia, e tudo o que interessa a ele é a minha proteção e não a
sua...
— Qual deles?! — Pergunto em voz alta, interrompendo-o.
Lucco abre um sorriso e se curva mais uma vez sobre mim, não desvio
meu olhar perto do seu, quando ele me diz. — Infelizmente você irá sem
saber. — Franzo o cenho para suas palavras e ele me beija. Tento me afastar
da sua boca, mas Lucco força a entrada de sua língua e sinto-me enjoada a
ponto de vomitar! Meu alarme interno diz que preciso urgentemente fazer
algo, mas como? Estou imobilizada com o seu...
Algo começa a apertar o meu pescoço e percebo que é a mão de Lucco,
arregalo os meus olhos, enquanto ele continua beijando-me profundamente e
me deixando sem ar. Seus olhos se abrem e há uma nota de satisfação e
vingança em cada olho seu. Estou em desespero ao sentir minhas cordas
vocais sendo esmagadas e a dificuldade de respirar apenas pelo nariz! Grito
entre seu beijo e balanço meu corpo, quando começo a ver o rosto de Lucco
turvo e escurecendo. Meu coração se acelera por saber que ali é o meu fim,
sua mão se aperta mais e sinto meus músculos amolecerem e pararem de
lutar.
Fecho os meus olhos e vejo os rostos das pessoas que amei. Meus pais,
minha irmã, Boyd, Katherine... e até mesmo Sam. Trovão, meu bebê, o
melhor amigo protetor. Agora nada mais restava, solto o meu último suspiro
e sou engolida pela vasta escuridão sombria.

E N D. . .
Série Submundo...

Destinada ao Capo - livro 01.


Destinada a Senti-lo - livro 02.
Destinada a Amá-lo - livro 03.
Destinados Eternamente - livro 2.1 continuação do livro 02.
Destinada a Força - livro 04.
Destinada por Você - livro 05.
Dark Revenge - Spin-Off (Lucco Gratteri).
Heart Delivered - conto (Lucco Gratteri).
GRATTERI - livro 06.
PULSATION - Spin-Off (Biana Gratteri).
Intensa Malícia - Spin-Off.
Lord of Lies - livro 07.
The Don Colombo - livro 08.
Capo Dei Capi - Underworld Finale.

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Wattpad: @thenewclasic_
Obrigada por sua leitura! Vemo-nos na próxima estória.

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