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Copyright© 2021 OLIVIA ARPEN

Revisão: Rita Pires


Capa: Magnifique Designer
Diagramação: Fox Assessoria Literária
____________________
Dados internacionais de catalogação (CIP)
CONQUISTADA PELA ESCURIDÃO
1ª Edição
1. Literatura Brasileira. 2. Literatura Erótica. 3. Romance Dark. Título II.
____________________
É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio
eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da
internet, sem permissão de seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998). Esta é uma obra de ficção, nomes,
personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor, qualquer
semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos desta edição são reservados pela autora.
Sinopse
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Vingativo
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Sangrento
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Pai?
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Implacável
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Profundo
Capítulo 16
Capítulo 18
Sagaz
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Calculista
Capítulo 22
Capítulo 23
Aniquilador
Capítulo 24
Protetor
Obras da Autora
Rede Social
Nunca Imaginei que iria me apaixonar pelo homem que me raptou e fez de mim tudo o que sou
hoje. Ele, que com a sua intensa escuridão, olhares cheios de frieza e toque tão sedutores, fazia assim
de mim sua mulher submissa. E confesso que eu gostei de tudo, gostei do modo que ele me quebrou,
me mudou e me moldou para ser aquilo que ele sabia que eu era, mas que nunca imaginei que
conseguiria ser. Agora, após sentir e saber que meu coração lhe pertence me abandonou, me deixando
sem chão e guardando um segredo que não cabe a ninguém, somente a ele. Eu o quero de volta, por que
assim como ele dizia que eu o pertencia, ele me pertence na mesma intensidade e loucura.

O nome dele? O nome dele é Axel Cox, o meu homem obscuro, intenso e também o pai do meu
bebê… O bebê Cox.
Dedico esse segundo livro as pessoas que pensaram que ele poderia ser escrito em um livro
único. Pois bem, eu fiz o segundo e ano que vem tem o terceiro. Kekekek.
Beijinhos literários,
Liv!
Porto Alegre, há 23 anos atrás.

Esther Gutierrez Braganza

Foram muitos tiros, gritos desesperados e uma corrida cheia de


esperança, para que no fim nada saísse como o planejado. Pensamos que uma
hora dessas poderíamos estar livres para viver o nosso amor. Que eu poderia
ter uma vida feliz ao lado do homem que tanto amo, do meu filho e da bebê
que carrego nos meus braços. Mas não, infelizmente não é bem assim. E eu
me sinto uma idiota por pensar que as coisas iriam acontecer do jeito que eu
imaginei, pensei que teria um pouco de felicidade após anos de sofrimento,
surras, desprezos, estupros e muitas outras coisas.

Vivi doze anos em um casamento arranjado, com um homem


desprezível, que fez da minha vida o maior inferno de todos. Tivemos um
filho juntos, um menino adorável e que eu amo tanto, tanto, que nem sei
explicar. Eu e meu filho Ângelo não merecemos viver essa vida desgraçada,
como dois animais enjaulados. Sempre pensei que só conheceria o amor
através do meu anjo lindo, mas as coisas mudaram. Eu, felizmente, conheci o
que é o amor doce, saudável e carnal entre um homem e uma mulher.

É um amor proibido? Sim, mas foi o único amor que me fez sorrir,
mesmo que com pouco tempo. Tão pouco tempo.
Conheci o Vergara em uma das minhas viagens ao México. Queria
manter a mim e eu meu filho Ângelo longe de toda guerra de território que o
Cartel do meu monstruoso marido sempre estava envolvida. Vi no México,
um país que sempre tive carinho enorme, um lugar para ser meu refúgio
quando as coisas ficavam difíceis. Jerônimo nunca me impediu de fazer isso,
principalmente porque ele queria estar livre para pensar em suas lutas e
principalmente em suas muitas amantes.

Conheci Alonzo por acaso, mas foi o acaso mais lindo que vi na
minha vida. Ele é um simples soldado, um homem descartável em um cartel
mexicano. Contudo, era um homem adorável, romântico, lindo e sobretudo
com os olhos mais gentis que conheci em toda minha vida. No início pensei
que poderia ter nele um amigo, mas as coisas não foram bem como eu havia
imaginado. E, em pouco tempo, já estava loucamente apaixonada, sentia-me
segura para lhe confiar a minha vida. Alonzo seria, finalmente, a pessoa que
me libertaria de Jerônimo, iríamos embora e viveríamos nosso amor longe de
tudo aquilo.

Mas as coisas foram de mal a pior quando eu voltei para a Colômbia,


e não muito tempo depois de meu retorno descobri minha gravidez.
A descoberta foi terrível, pois eu sabia que o bebê não era do meu
marido pavoroso e sim do homem que eu amava. Jerônimo não sabia disso,
ele nunca pensou que a mulher apática, submissa e inútil dele fosse capaz de
traí-lo. Ele até estava certo sobre isso, pois a bolha de pavor que me envolvia
talvez nunca fosse estourada. Só que… só que ele estava totalmente
enganado, porque além da bolha ser estourada eu estava firmemente decidida
a sair do seu mar de sofrimento.

Tudo o que eu conseguia pensar era que eu tinha que livrar os meus
filhos dessa vida. Eu guardei o segredo sobre a paternidade da minha filha,
para Jerônimo Braganza ele iria ter um novo herdeiro.
Minha fuga estava toda planejada, eu iria aproveitar a vinda de
Alonzo ao Brasil para encontra-lo. Assim, ele conheceria a sua filha linda,
fugiríamos todos juntos e formaríamos a nossa família. Contudo, as coisas
não saíram como eu imaginei, e agora me vejo ajoelhada no chão segurando
o peito do homem que amo para conter o sangue. Enquanto o meu filho
Ângelo segura sua irmã envolta em seus pequenos braços.
— Co… corra, minha estrela! — Alonzo fala erguendo sua mão para
segurar a minha sobre o seu peito sangrando.

— Alonzo, meu amor, me desculpe! — digo sentindo as lágrimas


caírem livremente pelo meu rosto.

— Nossa filha é linda, meu amor! E você fez de mim um homem


feliz, por me apresenta-la e me permitir saber que tenho uma linda menina
com a mulher que amo. — Alonzo fala, e eu choro em desespero.

— Você vai ficar bem e nós vamos conseguir ficar juntos! — falo
com firmeza e ele ergue a mão para alcançar os meus cabelos cacheados.

— Você tem que correr! Você tem que sair daqui! — Alonzo fala em
desespero. Nego com a cabeça porque tudo o que menos quero é correr e
deixá-lo aqui para sua morte.

— Alonzo… não! — Um soluço forte escapa por entre os meus


lábios.

— Mamãe! — A voz chorosa de Ângelo chega a mim. Olho para trás


tentando dar um sorriso tranquilizador para o meu filho, mas meu sorriso é
triste e choroso.

— Vá Esther! — Alonzo diz com um pouco mais de firmeza. — Seus


filhos precisam de você! Eu preciso que vocês fiquem bem.

— Tudo bem, você está certo! — Respiro fundo tentando acalmar


todo o meus ser.

— Sim, eu estou! — Alonzo sussurrou as palavras e fechou os olhos


para o meu desespero.

— Alonzo, por favor, dê a sua benção à nossa filha. Por favor, meu
amor! — A minha súplica faz Alonzo abrir os seus olhos cansados. — Dê-me
sua irmã, meu filho! — peço, e com um pouco de relutância Ângelo me
entrega.

— Deixe-me vê-la! — Alonzo pedi e sem pensar duas vezes eu


coloco a nossa pequena Sarah próxima ao seu rosto. — Mi angelito, que la
madre de Guadalupe guíe tu vida y te proteja de todo mal. Te amo al cielo.
(Meu anjinho, que a mãe de Guadalupe guie sua vida e proteja você de todo o
mal. Eu te amo até o céu.) - Eu não conseguia mais conter o meu choro, então
aproximei meus lábios ao seu, já frios, e levantei do chão trazendo nossa
filha.

Vi o sorriso cansado tomar conta dos lábios de Alonzo, sussurrei que


o amava e sem pensar duas vezes peguei a bolsa da Sarah. Já que foi a única
coisa que consegui salvar depois que os homens de Jerônimo começaram a
nos caçar.
Tenho medo de Jerônimo, sempre tive muito medo e todo o nosso
casamento foi construído a base do pavor. Sendo assim o meu maior medo
agora é que ele coloque as mãos nos meus filhos, principalmente na minha
doce Sarinha. Não sei o que ele pode fazer com a sua vida se pôr as mãos
nela.
Porque uma coisa eu sei, com o Ângelo ele não fará nada. Ele precisa
do menino vivo, porque é ele quem herdará o seu império do crime. Mas eu
quero evitar que isso aconteça, esse é o momento exato para isso. Nem
Ângelo e nem a Sarah estarão sob o poder daquele homem desumano. E é
com isso em mente que eu corro, com a bebê embalada no meu peito e
Ângelo segurando forte na minha mão. Não sei bem para onde estamos indo,
eu não conheço bem local. Na verdade, eu não sei muita coisa sobre o
Brasil. Só venho aqui para que Jerônimo faça negócios com os Álvarez.
Madre de Deus! Onde estamos? Ouço o barulho alto e inconfundível
de tiros atrás de mim, me encolho um pouco e Ângelo solta um lamento
amedrontado. Tento acalmá-lo, mas é em vão, as coisas estão ficando cada
vez mais difíceis e eu estou com medo. Ângelo pode ser ainda jovem, mas ele
conhece muito bem o pai que ele tem, e um dos motivos da minha fuga é para
evitar que meu filho siga os mesmos passos do pai. Jerônimo tem muita fé
que nosso filho será o próximo a comandar os seus negócios.

Sinto um arrepio terrível passar pela minha espinha ao pensar no meu


filho como o próximo Jerónimo Braganza. Balanço a cabeça para me livrar
de tais pensamentos e me coloco a correr mais rápido, esquecendo da dor de
todo o meu corpo. Avisto uma pequena casa mais adiante, e sou tomada por
uma ideia repentina. Eu posso pedir ajuda aos moradores do local para que
eles cuidem dos meus filhos, até que eu possa tirar os homens de Jerônimo do
meu rastro.

— A mamãe teve uma ideia, Angelito! — exclamo parando de correr,


virando rapidamente para encará-lo.

— O que, mamãe? — Ângelo pergunta apreensivo e esperançoso.

— Está vendo aquela casa? — aponto em direção ao local e ele


assenti.

— Sim, sim, estou vendo! — confirma com a cabeça. — Vamos nos


esconder ali, vamos pedir ajuda. — digo e ao ver sua confirmação eu dei um
beijo na sua testa.

— Sim mamãe, nós vamos ficar bem! — Ângelo fala com firmeza.
Coitado do meu garotinho teve que crescer rápido demais.

— Isso mesmo, meu amor! — exclamo engolindo com dificuldade


pela secura da minha garganta.

A mentira escorre fácil pelos meus lábios, odeio ter que fazer isso
com os meus filhos, mas será preciso. Se as pessoas que estão dentro da casa
estiverem dispostos a cuidar deles até que eu distraia os homens de Jerónimo,
eu irei ficar bastante aliviada. Não sei se isso vai dar certo, mas pelo menos
eu saberei que os meus dois bens mais preciosos estarão a salvo do mal. E é
com essa nova ideia que corro com meus filhos até a humilde casa, assim que
chego em frente à porta de madeira velha eu bato rapidamente.

— Já vai! — A voz carregada de sotaque brasileiro que ouço de


dentro não é jovem, mas é forte.

— Mamãe? — Ângelo me chama e eu olho para baixo dando um


sorriso fraco.

— Já estão vindo, garotinho — comento com ele que fecha sua


expressão e assente com a cabeça.

Imediatamente a porta é aberta por uma senhora de idade, com uma


altura inferior à minha, cabelos grisalhos e olhos claros, bonitos e gentis. A
senhora olha para mim com um ar de interrogação, mas ao olhar para meu
corpo sujo de sangue, o pequeno pacote em meus braços e para baixo de
mim, sem que eu esperasse por isso, algo no seu olhar se ilumina. Ela sabe
que estamos com problemas!

— Precisa de ajuda, minha jovem? — sua pergunta me faz querer


chorar de emoção. Ainda bem que entendo um pouco do português graças a
todas as reuniões de Jerônimo com os Álvarez.

— A senhora poderia nos deixar entrar por um breve momento? —


pergunto forçando um pouco mais o meu português sem pratica.

— Claro, claro! Podem vir! — A senhora abre a porta e nos deixa


entrar. Olho para trás rapidamente, antes de entrar na casa. — Vocês querem
um pouco de água? — indaga assim que fecha a porta atrás de nós.

— Sim, adoraríamos, não é filho? — pergunto em tom nervoso,


Ângelo se prende mais a mim e assenti devagar.

— Tudo bem! — diz nos encarando. — Jovenzinho, por que não vem
comigo pegar o copo d'água para sua mãe? — Ângelo me encara com
apreensão, e eu faço questão de sorrir para acalmá-lo.

— Sim, meu garotinho! — Finalmente Ângelo se soltou de mim e se


deixou guiar pela senhora.

Observei ela falar com Ângelo e apontar para algo para frente, vi meu
filho assentir com a cabeça e caminhar na direção indicada. Aproveitei a
oportunidade para avançar meu passo na intenção de segurar o braço da
senhora, que me encarou com os olhos amplos confusos. Sem esperar por
qualquer outra reação eu ergui meu pequeno bebê para que ela pudesse pegá-
la. A senhora segurou minha filha nos braços e o seu olhar cheio de carinho
para ela me fez ter a certeza de que eu estava fazendo a coisa certa.

— Ela é muito linda com esses cabelinhos escuros. — A senhora fala,


dando um sorriso carinhoso para mim.

— Sim, assim com o seu papai! - digo formando um nó grosso na


minha garganta. Alonzo mi amor! (Alonzo meu amor!)
— Onde ele está? — pergunta e as lágrimas saltam livremente nos
meus olhos. Imediatamente eu recordo dos meus planos e seguro a mão livre
da senhora.

— Por favor, cuide dos meus filhos! Eles são pequenos e não
merecem o mal, eles são boas crianças, uns anjos. Por favor, senhora! —
suplico fervorosamente.

— O que há minha jovem? O que houve? Podemos chamar a


polícia… —Não a deixo terminar.

— Não! Eles vão nos levar para meu marido e ele vai me matar e
matar a minha bebê — falo com fervor, agarrando a mão da mulher com mais
força. — Como é seu nome, senhora? — pergunto rapidamente.

— Maria José, mas pode me chamar de Jó! — Senhora Maria José


disse e eu tentei sorri. — Existem homens ruins atrás de mim e dos meus
filhos, eu vou tentar distraí-los, a senhora pode esconder eles para mim? —
pergunto com medo de uma negativa.

— Claro que posso ajudá-los! — confirma e sem pensar se estou


sendo muito invasiva eu beijo sua testa, para logo em seguida beijar a testa do
meu lindo bebezinho.

— Adios mi hermoso angelito de luz. (Adeus meu lindo anjinho de


luz.) — sussurrei no seu pequeno ouvido. — Meu nome é Esther e muito
obrigada! — agradeço olhando para a gentil senhora que assente sem
entender.

Sem pensar em mais nada virei para que pudesse alcançar a porta, eu
não podia ficar. se eu ficasse colocaria a vida dessa senhora gentil e a dos
meus filhinhos em perigo. Assim que alcancei a porta parei ao ouvir a
senhora chamar o meu nome.

— Esther! — Meus olhos estavam nublados por lágrimas não


derramadas, e mesmo assim eu parei. — Eu e meu velho podemos ajudar, ele
não está aqui agora, mas… — Nego com a cabeça e tiro a pulseira de La
Madre de Guadalupe que Alonzo havia me dado e entrego a senhora.
— Se eu não voltar, dê isso a ela quando tiver idade o suficiente para
entender que a vida pode ser difícil se viver. Mas se tiver fé e pessoas gentis
pelo seu caminho, tudo pode ser mais fácil. Espero que meus dois anjos
encontrem um amor tão grande e avassalador, que sejam capazes de arriscar o
mundo para tê-lo ao seu lado. — Assim que terminei de falar eu corri porta a
fora.

Ouço a mulher me chamar, mas eu estou correndo para longe. Sinto o


meu peito apertar a cada passo que dou me afastando, os soluços que saem
dos meus lábios são feios, dolorosos e sufocantes. Continuo a correr, mas
paro quando uma voz muito conhecida por mim chega até os meus ouvidos.
É Ângelo, o que ele faz vindo atrás de mim?

— MAMÁ! — Viro a tempo de sentir o seu corpo pequeno se chocar


contra o meu.

— Ângelo? Ângelo? O que faz aqui? — pergunto me abaixando para


segurar os lados do seu rosto. — Eu... eu te coloquei em segurança! Você não
deveria… — Não consigo terminar e o abraço com força. Oh, Dios, no!

— ¡No me dejes mami! ¡No me dejes! (Não me deixe mamãe! Não me


deixe!) — Ângelo gritava enquanto me abraçava com força.

— Mi pequeño, tú tienes... — Parei de falar quando ouvi a voz que


faz todo o meu sangue gelar.

— Mira lo que tenemos aquí, mi esposa infiel. Una perra de la peor


calidad. (Veja o que temos aqui, minha esposa infiel. Uma cadela da pior
qualidade.) — Jerônimo fala e eu abraço o meu filho com força mais uma vez
antes de virar na sua direção.

— Jerônimo! — digo amedrontada em forma de sussurro.

Ao olhar nos olhos de Jerônimo eu sabia, sabia que já estava morta e


não havia nada que eu pudesse fazer. Não tenho medo da morte e sim o que
irá acontecer com os meus filhos depois da minha morte.
Estou sentada embaixo da árvore que tanto amo, no lugar que sempre
vai ser o meu porto seguro, a casa dos meus pais. Cheguei a poucos dias,
após ter passado um tempo considerável no hospital em recuperação. Para
falar a verdade, acho que não tinha necessidade ter ficado ficasse tanto
tempo naquele lugar, mas Ângelo não me deixou sair até que o meu
ferimento estivesse 100% recuperado.
Nossa, falar de Ângelo me faz lembrar de algo que jamais pensei que
fosse ter um dia, um irmão. Ainda não consigo acreditar que ele é o meu…
meu irmão mais velho. O quão louco é isso?
Após a saída de… não Dora, não vá por esse caminho ou você vai
acabar chorando novamente. Então não, tudo o que menos quero é chorar, eu
tenho que ficar com raiva. Sim, a raiva é a melhor escolha agora! Balanço a
minha cabeça e volto meus pensamentos ao Ângelo.
Por todo tempo que eu fiquei no hospital Ângelo foi a minha maior
companhia. Às vezes Lara estava comigo, mas Ângelo foi o quem não saia do
meu lado. De início eu fiquei quieta sem querer conversar sobre nada, eu
tinha muita coisa para digerir. Meu coração estava doendo pela rejeição de
Axel, que mesmo tendo deixado aquele bilhete fajuto, me abandonou.
Ele… ele nos deixou!
Ao pensar nisso sinto os meus olhos se encherem de lágrimas, ainda
que isso me irrite. Automaticamente minha mão alcança a minha barriga
ainda plana. Oh Deus! Eu não posso ir por esse caminho, ninguém sabe, e
ninguém pode saber que estou carregando um filho de Axel. Não até ele
saber através de mim. Ele tem que saber que além de me abandonar, ele
abandonou também o seu filho. Argh! Sufoco o choro, enxugando as lágrimas
do meu rosto com rispidez.
Foco Isadora, pelo amor de Deus, seus pais não podem te ver
chorando assim!
Voltando, Ângelo foi paciente ao esperar o meu tempo, ele realmente
esperou e quando estava bem o suficiente para ouvir tudo o que ele estava
disposto a dizer. Lembro perfeitamente do dia, eu tinha acabado de tomar
banho e estava lendo um livro, que Lara havia me dado, quando Ângelo
chegou. Se eu fechar os meus olhos eu consigo lembrar exatamente de cada
palavra dita, e principalmente dos vastos e loucos sentimentos que senti
naquele dia.

Levanto a cabeça do livro que Lara me deu, para que eu pudesse


matar o tempo enquanto eu ainda estou presa nessa clínica, quando ouço
alguém bater na porta. Engulo em seco quando vejo Ângelo passar pela
porta, trazendo algum dos muitos mimos que ele me traz desde que eu soube
que ele era meu… meu irmão. Respiro fundo na loucura que é isso tudo, por
que nunca em toda minha vida poderia adivinhar que uma revelação como
essa iria cair no meu colo. Observo ele se aproximar com um sorriso gentil,
e decido que é hoje, é hoje que eu vou deixá-lo me contar toda a minha… a
nossa história.
— Como passou a noite, Isadora? — Ângelo pergunta estendendo na
minha direção o embrulho em suas mãos.
— Bem, obrigada por perguntar. — Agradeço ainda envergonhada
com sua presença. — O que é isso? — pergunto desviando os olhos para o
embrulho.
— Eu sei que a comida desse lugar não é muito agradável, por isso
trouxe algo pra você. — diz apontando para o pacote e eu dou um sorriso
amarelo.
— Foi atencioso de sua parte, não precisava. Você está fazendo
muito por mim — falo enquanto abro o embrulho para revelar uma linda e
farta torta de chocolate.
— Não há nada que eu não faça por mi hermanita. — Ângelo fala e
eu fecho os olhos brevemente. — Oh Isadora, me desculpa eu… — nego com
a cabeça rapidamente o fazendo interromper o que iria dizer.
— Não, eu que sinto muito — falo respirando fundo. — Eu só… eu
só acho ainda meio louco e totalmente estranho, mas eu… — Não concluo as
minhas palavras e ele se aproxima mais de mim.
— Você o que? — Na sua pergunta sinto um tom de esperança.
— Eu quero saber! — Solto tentando passar confiança levantando
meu olhar para o seu. — Eu quero saber mais sobre o que você quer me
contar, Ângelo. — Assim que soltei minha confirmação ele sorriu
largamente.
— Você está pronta para aceitar o fato de que somos irmãos? —
Ângelo perguntou sorrindo, mas ao ver minha seriedade fechou seu sorriso
rapidamente.
— Não digo isso, mas eu quero saber de tudo. Eu já deixei passar
muito tempo, agora é hora de encarar as outras novidades da minha vida. —
digo pensando no bebê surpresa que carrego no ventre.
— Entendo! — Ângelo pegou o embrulho do meu colo e colocou na
mesinha ao lado da minha cama. — Você quer conhecer um pouco sobre a
nossa mãe?
— Sua mãe não é minha mãe! — exclamei rapidamente arregalando
meus próprios olhos com surpresa. — Sinto muito, mas a sua mãe não é a
minha mãe, ela me abandonou na casa dos meus pais. Ela não… ela não me
quis!
Cuspi as palavras com todo rancor que eu sempre guardei no meu
peito, mas que por respeito e amor aos meus pais eu nunca fui capaz de falar
em voz alta. Sempre tive medo de falar algo relacionado a minha família
biológica e isso acabaria magoando minha mãezinha e o meu paizinho. Eles
sempre deram muito duro para me criar, e seria muito triste me ver reclamar
sobre uma mãe que nunca me quis. Franzo o cenho ao esperar que Ângelo dê
alguma desculpa, mas não é isso que acontece.
Levanto a minha cabeça para olhar na sua direção. E o que está
escrito no seu rosto, não é nada daquilo o que eu estava esperando. Ângelo
me encara como se eu fosse louca, como se não acreditasse no que que
acabei de falar. Fico sem entender o que a com aquela expressão de
desgosto no seu rosto bonito. Porque sim, Ângelo Gutierrez é um homem
muito bonito mesmo.
— Você realmente não sabe de nada mesmo, não é? — Sua pergunta
me deixou mais confusa que nunca.
— Sei? Sei o que? — questiono atordoada.
— Nossa mãe Isadora, ela não te abandonou. A nossa mãe morreu
para salvar a sua vida. — As palavras de Ângelo caíram como uma marreta
na minha cabeça com força.
— Como? O que disse? — indago pensando que eu devo ter ouvido
errado.
— Isso mesmo o que eu acabei de falar, a nossa mãe Esther morreu
com uma bala bem no meio da sua cabeça para que você pudesse viver em
segurança. Ela morreu nos meus braços, ela que era a mulher mais gentil,
doce e amorosa que qualquer ser humano do mundo inteiro — parou
respirando com força. — Nossa mãe foi friamente assassinada com um tiro
na cabeça enquanto dizia que nos amava até o céu. - Sua voz sai dura e sem
emoção, muito longe do homem gentil que me trouxe um agrado a poucos
minutos atrás.
— Eu não… eu não sabia de nada disso. — Nego com a cabeça
várias vezes por estar muito chocada e apavorada com isso tudo.
— Claro que não sabia, por que se soubesse ou a conhecesse como
eu a conheci, jamais falaria isso. — diz com rigidez. — Mas não é sua
culpa.
— Eu nunca procurei saber sobre a minha história, sempre tive medo
de magoar meus pais. Mas agora eu acho que…— Não termino a minha
frase de tão chocada que ainda estou.
— Você era muito bebezinho, você não tem culpa. — Sinto uma mão
tocar a minha cabeça. Surpreendente eu me sinto segura com esse toque, e
isso é algo que eu não sei explicar.
— Ângelo! — chamo em forma de sussurro.
— Oi pequena — responde e eu sinto meus olhos arderem.
— Você tem uma foto da… — Não consegui terminar de falar.
— Da nossa mãe? — pergunta com leveza e eu assinto sem falar
nada. — Bem, isso foi uma das coisas que eu nunca deixe longe de mim. —
Ele abre sua carteira e de lá tira uma pequena foto desgastada. — Aqui!
Pego a pequena foto com a mão trêmula, nunca pensei que um dia
isso iria acontecer. Mas agora cá estou eu, conhecendo meu irmão,
recebendo a foto de uma mãe do qual sempre achei que não me quisesse. Só
que na verdade ela morreu por mim, para me salvar. Deus, quão errada eu
estou disso tudo? Meus olhos ficaram totalmente amplos ao ver a mulher
sorridente, com cabelos cacheados como os meus. Ela era linda!
— Essa é ela? — Levanto a cabeça fazendo meus olhos e os dele se
encontrarem.
— Sim, essa é Esther, nossa mãe. Você é tão parecida com ela,
Isadora. Desde o primeiro dia que te vi, eu tinha o sentimento que você era a
Sarah, minha irmãzinha. — Ângelo disse e dessa vez eu fui incapaz de conter
as minhas lágrimas.

Depois disso tudo o assunto de nossos encontros, em suas visitas no


hospital, se restringiram especificamente sobre a minha mãe biológica.. Foi
daí que eu descobri tudo sobre como ela era infeliz com o pai dele, um
homem extremamente violento. E que quando ela conheceu o meu pai
biológico eles se apaixonaram perdidamente, à ponto de planejarem uma
fuga. Fuga essa em que deu tudo errado, e ocasionou em sua morte e a minha
separação de Ângelo. Nossa! Foram tantas coisas que até hoje tento absorver
tudo.
Ainda não cheguei a contar aos meus pais sobre Ângelo e todo resto.
Para falar a verdade, desde o momento que voltei para casa eu não consigo
falar alguma coisa sem querer chorar como um bebê. Mas sei que uma hora
ou outra eu não vou mais poder ficar adiando. Tenho que saber o que mamãe
e papai sabem dessa história toda, e contar a que o que está acontecendo.
Claro que não falei sobre Axel abandonar me abandonar, sobre o tiro que
levei e muito menos sobre a gravidez. Ah minha santa, é tanta coisa a se
pensar.
— Dorinha! Dorinha, minha filha! — Ouço minha mãezinha me
chamar.
— Já vou, mamãe! — Grito de volta e me levanto do chão. Sem
querer ficar pensando demais eu corro para dentro de casa.
— Menina, se você ficar lá fora por muito tempo poderá ficar
resfriada — Mamãe fala assim que passo pela porta.
— Eu só estava pensando na vida, mãezinha — digo dando um
sorriso fraco.
— Dorinha! — Papai chama, sentando na sua poltrona enquanto
segura seu chimarrão.
— Sim, papai? — pergunto tentando soar como uma garota qualquer
que não está se sentindo na beira do abismo de segredos.
— Está tudo bem com você, filhinha? — Papai pergunta. Oh não, e
agora?
— S… sim, paizinho! Por que pensa isso? — Indago tentando parecer
normal.
— Minha velha, me ajude aqui com essa nossa menina. — Papai
chama e mamãe aparece enxugando suas mãos no avental.
— O que é isso vocês dois? — Brinco de forma fraca e eles negam
com a cabeça.
— Vamos lá Dorinha sente-se e nos conte por que você está tão
tristonha desse jeito — Mamãe fala e eu nego com a cabeça.
— Mamãe, Papai não é nada! Eu não estou triste — digo rapidamente
para não os preocupar.
— Isadora Martins, não nos subestime! — O tom de voz de mamãe
sai firme e eu me peguei parada no meio da sala de mãos atadas.
Os olhares curiosos, preocupados e atenciosos dos meus velhos pais
me fizeram quebrar de vez. Sento no sofá de forma rígida e deixo as lágrimas
sufocantes saírem livremente. Eu detesto ter que procurar meus pais, mas
agora eu só preciso deles. Eu só os tenho na vida, eles são tudo para mim e
ter que suportar tanta coisa está acabando comigo. E foi exatamente por esse
sufoco sem fim que confessei para eles que amava o Axel, mas que não sabia
se ele sentia o mesmo.
Contei da raiva que estou sentindo dele e dos outros meninos que eu
trabalhava. Por serem um bando de egoístas que saíram sem mim, claro que
não falei nada sobre tiros, mortes, e outras coisas mais. Eu estava me
sentindo como uma panela de pressão pronta para explodir. Mas quando
contei sobre ter conhecido um irmão, que me mostrou um exame de DNA
para não restar dúvidas sobre a nossa ligação eu vi mamãe se emocionar bem
diante dos meus olhos.
— Oh Deus, graças a Deus, esse jovenzinho está bem. — Mamãe fala
e eu olho para ela de modo interrogativo.
— Como mamãe? — pergunto confusa.
— Eu conheci o seu irmão, minha filha. Uma criança tão bonita, mas
com um olhar rigoroso como um adulto — Mamãe fala e olha para papai que
assentiu com a cabeça.
— Eu não estava aqui quando isso aconteceu, mas a Jô lembra disso
até hoje — Papai diz e eu fico confusa.
— Por que? Por que vocês nunca me contaram? — pergunto sentindo
o ressentimento apontar no meu coração.
— Você nunca perguntou filha, nós estávamos esperando por isso,
mas nunca aconteceu — Mamãe disse amedrontada e eu fecho os olhos
brevemente.
— Eu acho que entendo — sussurro com tristeza.
— Entende? — Paizinho pergunta alarmado.
— Sim, eu sempre tive medo de perguntar qualquer coisa por dois
motivos — digo levantando meus dedos.
— Quais? — Mamãe indaga curiosa e amedrontada.
— O primeiro é que eu não queria machucá-los, e o segundo era que
eu tinha medo. — Papai franze o cenho, enquanto mamãe arregala os olhos.
— Medo? — Ela pergunta ainda assustada.
— Não sei, medo de saber a verdade que eu fui descartável para
alguém e o medo de vocês não me amarem mais — falo com toda a
sinceridade deixando os meus pais estáticos.
— Oh minha filhinha! — Mamãe fala sentando no sofá, para logo em
seguida tocar as suas mãos enrugadas no seu colo. Sem pensar duas vezes eu
corro para o conforto do seu acalento.
— Isso nunca iria acontecer, filha. Só estamos esperando o seu tempo
— Papai diz de modo calmo.
— Esse velho chato tem razão filha, sua mãe deixou você e seu irmão
comigo para que pudesse salvar vocês do perigo. Ela era tão bonita, mas
estava bastante machucada. — Mãezinha fala e eu arregalo os olhos.
— O Ângelo? Ele ficou com você? — pergunto alarmada.
— Não, infelizmente quando o garoto viu a intenção da mãe saiu
correndo atrás dela. — Mamãe deu um sorriso triste com a lembrança. —
Esperamos pela volta deles, mas quando isso não aconteceu, Gene e eu
decidimos sair do lugar que vimos para morar mais perto da família e criar
você como nossa. — Mamãe explica passando a mão no meu rosto.
— Eu nem sei o que pensar — falo em tom baixo.
— Não precisa se forçar a pensar em tudo, minha filha. Basta saber
que você é forte para lidar com qualquer coisa. — Meus olhos arderam
novamente.
— Tudo o que você quiser saber, se pudermos ajudar vamos fazer
isso. — Papai murmurou me fazendo olhar na sua direção. — Não vamos
viver por muitos anos Dorinha, e ficamos felizes de saber que você vai ter
mais alguém quando chegar a hora. —Fiquei rígida com sua sinceridade.
— Eu não gosto de pensar nisso, pelo menos não agora, papai — digo
com firmeza e o vejo sorrir enquanto nega com a cabeça.
— Se quer assim tudo bem — Papai fala e eu levanto do colo de
mamãe.
— Eu vou… eu vou… — Tento falar, mas não consigo.
— Vá, minha filha! — Mamãe diz confirmando com a cabeça, e quando viro
para seguir para o meu antigo quarto ela me chama. — Daqui a pouco vamos
jantar, certo?
— Tudo bem! — respondo e ando apressadamente ao meu quarto.
Assim que chego no cômodo eu tento acalmar a minha respiração
cortante. Não sei como lidar com tanta coisa que está acontecendo na minha
vida em tão pouco tempo. Como tudo começou a mudar assim? Ah sim, acho
que foi quando aquele homem com os olhos escuros como a noite entrou na
minha vida. Foi exatamente isso, porque antes disso minha vida era calma,
sem muitas emoções. Minto, as únicas emoções que vivia era ter que
aguentar as pessoas ignorantes no meu caminho. Fora isso, nada mais.
Em poucos meses eu passei de pata feia e desengonçada, para uma
mulher apaixonada por um homem obscuro. Homem esse que me abandonou
grávida para fazer sabe Deus o que, fugindo de mim depois que expressei
meus sentimentos. Argh! Eu o odeio! Ele é um… ele é um… desgraçado!
Isso mesmo, é bem isso. Solto um bufo descontente e bato a palma da minha
mão na testa. Eu acho que vou acabar ficando louca, minhas emoções estão
muito à flor da pele. Caminho em direção a minha velha cama de solteiro,
mas paro quando chegar em frente a um espelho.
No momento em que encara o meu reflexo de corpo inteiro eu dou um
sorriso triste. Eu estou acabada! Meus cabelos cacheados estão um pouco
maiores e mais volumosos, meu corpo está mais magro. Mas mesmo assim eu
posso ver uma pequena, quase imperceptível ondulação na minha pelve.
Meus olhos estão opacos, tristes, com olheiras escuras, e eles estão assim das
minhas noites sem dormir direito. Eu sinto falta de tudo, sinto falta de estar
naquela casa sentindo o cheiro da comida deliciosa de Craig. De ouvir a
risada forte e zombadora de Russel, dos sorrisos e olhares calorosos de Earl.
E principalmente, eu sinto muita falta do Axel. Sinto falta dos seus
abraços firmes, do seu cuidado rígido, dos seus sorrisos fantasma, e dos seus
beijos possessivos. Eu sinto sua falta, de tudo nele até mesmo sua frieza.
Desde o momento em que saí da clínica eu não consegui voltar para aquela
casa. Era dolorido, e me fazia tremer de raiva contida, então eu optei por não
ir. Mas sei que tenho uma vigilância sob mim, eu não preciso vê-los, mas eu
os sinto por perto. E só de pensar nisso eu reviro os olhos irritada.
— Seu pai é um idiota, bebê! — Sussurro as palavras tocando no meu
estômago ainda plano.
Estou tão distraída que me assusto quando sinto o celular vibrar no
meu bolso. Solto um suspiro forte enquanto enfio minha mão no bolso de trás
para pegar o aparelho. Olho para tela e o nome que aparece na linha me faz
franzi o cenho. Admito que esse franzi não é pela pessoa quem está ligando,
mas sim pela pessoa que não me liga a quase um maldito mês. Droga!
— Nossa, Dora, se você me atender todos os dias tão desmotivada eu
vou achar que nossa amizade chegou ao fim. — Lara fala e eu tento não
revirar os olhos.
— Desculpa, eu só… — Não consigo terminar de falar, pois eu não
quero mentir para minha única amiga.
— Eu entendo, minha amiga, fique tranquila. Pode ter certeza de que
quando aquele idiota aparecer, eu vou segurar ele para você chutar a sua
bunda. — Lara fala com determinação e eu não consigo conter o sorriso.
— E você faria isso? — pergunto em tom debochado.
— O que você acha? — Seu tom ofendido me fez abrir mais o
sorriso.
— Não sei se você conseguiria, mas que tentaria eu tenho certeza que
sim. - Responde entrando na sua conversa descontraída.
— Sua confiança em mim é tão emocionante, Isadora. — Eu podia
visualizar o seu sorriso caloroso. — Mas não é para falar do seu namorado
bocó que eu estou ligando. — Isso chamou minha atenção.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto entrando em alerta.
— Aconteceu sim! — fala me assustando. — Acabei de saber que a
minha amiga, minha única amiga é irmã do homem que mais odeio na vida e
eu fiquei sabendo pelo meu irmão, e não por ela. — Lara terminar de falar
entre dentes.
Ops! Eu realmente não estava esperando por isso. E agora?
Fico muda pensado no que falar para Lara. Eu realmente tinha
decidido não contar para ela sobre minha relação sanguíneo com Ângelo,
queria poder falar com os meus pais primeiro antes de sair contando para as
outras pessoas. Fiquei com medo de que eles ficassem sabendo por outras
pessoas, e acabassem chateados. Então eu preferir evitar sair espalhando,
mesmo que eu confiasse em Lara para guardar esse segredo. É tudo tão novo
para mim, tudo tão estranho que eu nem sei como explicar.
— Então? — Lara fala do outro lada da linha e eu caminho para
minha cama velha de solteira.
— Então, né? — Dou uma risada sem graça antes de sentar na cama
como um peso morto.
— Você é realmente irmã daquele mequetrefe? — Lara pergunta e eu
respiro fundo.
— Sim Lara, eu sou. Será que isso muda algo na nossa amizade? —
pergunto meio apreensiva e ela solta um som descontente.
— Por que isso mudaria alguma coisa entre nós duas? — pergunta e
eu me jogo para trás deitando minhas costas na cama.
— Não sei, acho que é por que odeia o Ângelo — falo dando de
ombros a fazendo rir.
— Sim eu odeio aquele idiota, mas não você — explica ela e eu
relaxo um pouco.
— Ufa! — Brinco de forma dramática.
— Ufa o quê? Você achou que eu… — Lara para e eu começo a rir.
— Nossa Dora, eu não sou tão radical — reclama minha amiga.
— Eu sei, eu sei só estou brincando com você — esclareço de forma
leve.
— Mas e aí, como você está lidando com isso? — Sua pergunta me
fez olhar para o telhado do meu quarto.
— Isso você quer dizer o fato de que eu sou irmã do Ângelo, ou o fato
de que meu namorado me deixou aqui e deve estar em algum lugar se
matando. Ou também tem o fato de que estou me recuperando de um
ferimento a bala. O que quer saber? — pergunto de forma monótona fazendo
com que Lara fique em um silêncio doentio.
— Nossa, não imaginava que fosse isso tudo. Você quer conversar?
— Lara indaga e eu fecho os olhos por um breve momento.
— Adoraria, mas eu preferia que fosse pessoalmente. — Dou um
pequeno sorriso e eu poderia jurar que ela está fazendo o mesmo.
— Melhor, muito melhor! — Ela riu e eu assenti com a cabeça. —
Quando você está voltando para cá?
— Na segunda feira, tenho que me dedicar ao TCC. — Fiz uma careta
ao lembrar do meu trabalho de conclusão.
— Realmente, só de lembrar que daqui a alguma meses sou eu, meu
corpo estremece. — Lara fala e eu abafo o som desgosto que quer sair da
minha garganta.
— Não julgo você, estive de atestado por um tempo. Agora terei que
correr atrás do prejuízo. — Conto lembrando dos meus dias na clínica.
— Você está bem do… — Lara não termina de falar e eu toco o meu
ombro já cicatrizado.
— Sim, estou bem, faço de tudo para que meus pais não percebam,
sabe — falo em tom baixo.
E é a mais pura verdade, as vezes eu sinto a cicatriz recente repuxar e
doer um pouco. Mas faço o possível e o impossível para que meus pais não
notem que algo está me incomodando. No dia que eu cheguei em casa, o
abraço apertado que minha mãe me deu quase me fez chorar de dor. Mas fiz
o possível e o impossível para não demonstrar nada. Eu odiaria ter que dizer a
eles que levei um tiro no ombro, por que um cara mau queria matar o meu
namorado mercenário.
Só de voltar a pensar nisso eu sinto um calafrio tomar conta de toda a
minha espinha, e um medo terrível tomar conta do meu coração. Espero que
ele esteja bem, Deus faça com que ele esteja bem.
— Não deve ser fácil, mas sei que você vai tirar de letra — Lara diz e
eu faço uma careta.
— O que acha de vir aqui nesse final de semana? — Mudo de assunto
repentinamente. Não quero mais comentar sobre isso.
— Como? — Lara pergunta em confusão.
— Estou te convidando para vir conhecer meus pais, tenho certeza
que mamãe e papai vão ficar contentes em conhecer uma amiga minha. —
Sinto minha bochecha esquentar pelo constrangimento. Merda, isso ainda é
difícil.
— Você tem certeza? — Ouvi a dúvida na voz de Lara.
— Claro que sim, por que não estaria? — Questiono rapidamente.
— Não sei, eu nunca fui aquele tipo de amiga que os pais gostam,
sabe. Muito rebelde, muito ousada e muito sincera — Lara diz e eu nego com
a cabeça rindo.
— Meus pais vão te adorar, pode ter certeza. Não precisa ter medo. —
A provoco e ela solta um som descontente.
— Não tem ninguém com medo aqui! — resmunga minha amiga.
— Tudo bem, tudo bem não está mais aqui quem falou — digo me
sentindo bem por estar falando com ela.
— Vou de carro assim você pode voltar comigo se quiser, o que acha?
— Lara comenta e eu mordo os lábios inferiores.
— Terei que ligar para Ângelo, por que ele disse que viria me buscar
— falo e Lara abafa um grito.
— Olha Dora, sei que é seu novo irmão, mas seria legal você
desmarcar com esse cuzão. Não quero ter o desprazer de olhar para aquela
cara de bunda dele. — Lara fala irritada e eu tapo minha boca para ela não
me ouvir rindo.
— Às vezes acho que você gosta de Ângelo, Lara. — Solto
rapidamente deixando Lara em um silêncio constrangedor.
— Não, eu mesma não. O inferno vai congelar antes que eu me
envolva com ele. — Lara diz entre dentes e minha curiosidade para saber
sobre esse ódio entre eles só cresce.
— Tudo bem então, só o tempo dirá se você vai ser minha cunhada.
— Zombo fingindo inocência.
— Adeus, Dorinha comediante! — Lara fala seriamente desligando a
ligação logo em seguida.
Fico parada tentando entender se Lara realmente desligou a ligação na
minha cara, sem ter a decência de se despedir. Então sim, a realidade bate em
mim e eu começo a rir desse seu jeito grosso de ser. Gosto de Lara, eu
realmente gosto dela, nós duas somos tão diferentes, mas nós damos muito
bem mesmo com as diferenças. Às vezes eu queria ser mais como ela, sabe.
Queria ter um pouco de ferro no meu sangue, não ser tão molenga e
retardada.Porque se assim fosse eu estaria caçando Axel nesse exato
momento para te dizer umas verdades. Para que no fim eu o mandasse nunca
mais aparecer na minha vida. Sim, eu iria dizer adeus! Ah Deus, mas que
mentira muito ruim, eu nunca faria isso. Não faria porque… por que eu sinto
tanto sua falta que chega a doer demais. Argh! Que raiva de mim mesma,
muita raiva mesmo! Axel me deixou e mesmo assim eu não paro de sentir
meu peito doer ao pensar que ele pode se machucar e eu não vou estar por
perto.
Eu sempre soube que a minha relação com ele não era e nunca iria ser
a das mais convencionais. Só que eu não consigo entender por que ele me
deixou aqui depois de tudo. Depois de todas as afirmações doentias de que eu
era dele, de que iria me moldar para me encaixar na sua vida. Que iria me
treinar, me deixar mais forte e corajosa. Por quê? Por que tudo isso se iria me
mandar ir a merda assim que eu me mostrasse útil para ele, e demonstrasse a
paixão forte que sinto no meu peito? Solto um suspiro longo e mando uma
mensagem para Lara.
"Dá próxima vez se despede, cunhada!"
"Cunhada uma merda, tchau!"
Dou uma risadinha ao ver sua mensagem e nego com a cabeça.
Aproveito que já estou com o celular em mãos e ligo para Ângelo, porque se
eu não fizer isso ele fará. Tenho certeza absoluta, porque desde que
descobrimos que somos irmãos a sua vigilância comigo é coisa de outro
mundo. Deus, em que mundo paralelo eu estou, hein? A ligação chama e ele
atende ao primeiro toque, mas antes que eu fale algo ele muda a ligação de
voz para uma de vídeo.
— Você está uma merda! — Ângelo fala assim que nos encaramos
pela câmera. Faço uma careta e aliso meus cabelos revoltados.
— Eu estava deitada — explico dando de ombros, sem querer mostrar
que estou bastante sem jeito.
— Dá para notar pelo ninho de rato na sua cabeça. — Ângelo brinca e
eu faço uma careta. — Desculpa, eu não pude resistir.
— Percebi isso — resmungo com desgosto e olho para ele. Ainda me
surpreendo com a beleza de Ângelo Gutierrez, meu irmão mais velho, e as
vezes não dá para acreditar. Por que eu comparada a ele eu sou mega
estranha.
— O que é que está me olhando desse jeito? — Ângelo pergunta
erguendo a toalha que está no seu ombro para enxugar seus cabelos úmidos.
— Estava no banho? — pergunto para desviar do seu
questionamento.
— Sim, acabei de sair do treino e você o que anda fazendo? — indaga
dando um sorriso.
— Eu recebi uma ligação de Lara e agora estou criando coragem para
tomar banho. — Conto o fazendo dar uma risada baixa e contida.
— Ela sabe sobre nós dois, não é? — Ângelo pergunta e eu confirmo
com a cabeça. — Pequena Lara deve estar bem confusa agora. — Ele passa a
mão na sua mandíbula forte recém barbeada.
— Ela me pareceu irritada, não confusa. — Esclareço o fazendo rir
com mais força.
— Bem, isso sim é típico dela. — Ângelo fala e para por um tempo.
— E aí, já conversou com os seus pais? Como está se sentindo hoje? E já
decidiu se vai vir morar aqui comigo? — Ângelo não perde tempo e
desencadeia a falar.
— Eu conversei com meus pais sim, minha mãe lembra de você. —
Minha voz saiu pequena fazendo Ângelo olhar na minha direção.
— Naquele dia aconteceu muitas coisas, mas eu acho que lembro dela
também — diz como se estivesse lembrando de algo, e deu um sorriso
pequeno.
— Ainda é estranho para mim. — Soltei olhando para porta do meu
pequeno quarto da infância.
— Acredite que para mim também é, mas eu estou disposto a mudar
isso. E você? — Ângelo deu um sorriso grande, me fazendo rir também.
— Eu também! — falo com a mais pura sinceridade.
— Agora sim, você vai vir morar comigo? — Foi impossível não
fazer uma careta com a sua pergunta.
Eu não sei o que responder a Ângelo, desde que eu saí da clínica ele
quer que eu pegue minhas coisas da casa de Axel e dos meninos para ir morar
com ele. E desde então eu não sei o que responder. Tudo bem que eu não sei
o que pensar sobre o abandono de Axel. Tem momentos que eu só quero
olhar para ele e abraça-lo forte, sentir o seu cheiro e chorar de saudades. Mas
tem momentos que eu sinto uma raiva tão grande que chega a queimar todo o
meu corpo.
E essa raiva é tão forte que se ele aparecesse na minha frente, e
alguém por acaso colocasse uma arma na minha mão, eu atirava nele. Sim, eu
atiraria com muito gosto.
Talvez, eu não sei mais, mas seja como for eu não posso deixar que
ele pense eu sou alguém descartável. Um elo fraco que possa ser descartádo
quando as coisas ficam sangrentas. É por isso, por esses sentimentos dúbios
que eu não tenho resposta para dar a Ângelo.
— Eu não sei, Ângelo, tem muitas coisas sem esclarecimentos —
digo meio sem jeito e ele solta um suspiro.
— Como o que? É sobre o Axel? — pergunta ele em forma de
rosnado e eu engulo em seco.
Não, não é só sobre o Axel. Eu ainda tenho um bebê crescendo dentro
do meu ventre, e não sei como será a reação do pai ao descobrir isso. Penso
comigo mesma, mas não ouso dizer isso em voz alta.
— Bem é… — Tento dizer algo, mas nada sai.
— Isadora, eu sei que não sou o melhor homem para dizer isso. Mas
se você continuar esperando aquele filho da puta você só vai sofrer. Ele não
vai voltar, hermanita, ele deixou você ferida e… — Ângelo parou de falar
quando viu as lágrimas descerem pela minha bochecha. — ¡Lo siento
hermanita! (Desculpe irmãzinha)
— Eu não quero falar sobre isso mais — falo enxugando as lágrimas
com força.
— Tudo bem, eu vou cuidar de você agora Isadora — Ângelo diz
entre dentes e eu dei um sorriso fraco.
— Obrigada pela oferta, mas eu já sei me cuidar a um bom tempo. —
Dou uma piscadela e ele balança a cabeça em negação.
— Eu te deixei sozinha uma vez, mas eu não vou deixar a segunda. —
Ângelo jura e eu não sei o que dizer.
— Bem, eu liguei para te avisar que não precisa você vir me buscar.
— Conto e ele franze a testa.
— Por quê? Você vai ficar aí mais tempo? — Pergunta ele cerrando
os olhos para a tela.
— Não, não é isso. Eu tenho que voltar para Florianópolis, por causa
da faculdade — digo rapidamente e ele assente. — Lara vai vir aqui amanhã,
então vou aproveitar e ir com ela. — Explico.
— Entendo, então está tudo bem. — Ângelo diz e eu me sinto culpada
de repente.
— Desculpa se fiz você mudar seus planos para vir me buscar. — Me
desculpo e ele ri.
— Não se preocupe com isso, eu mudaria novamente se precisasse. —
Ele deu uma piscadela o deixando mais bonito ainda, e a dúvida de que
somos irmãos novamente surge na minha mente.
— Está ok, agora tenho que ir. Até Ângelo! — Me despeço e ele
acena para mim.
— ¡Nos vemos hermanita! (Até mais irmãzinha!) — Se despediu ele
para desligar a ligação logo em seguida.
Após a minha conversa com Ângelo eu fui tomar um banho rápido
para poder ir jantar com os meus pais. Aqui está fazendo muito frio, então eu
realmente não queria me demorar pois eu estava mais interessada em comer.
Eu já sentia fome antes, mas agora com a gravidez eu sinto mais fome ainda,
só que é em um horário específico que é a noite. Pela manhã eu acordo
enjoada, sem muita disposição de sair da cama. E isso vai até a hora do
almoço, mas na hora da janta é onde eu meu estômago mais ronca de fome.
Tento permanecer o mais saudável possível por causa do bebê, como
a minha médica, doutora Tânia Belucci, havia sugerido. Tomo todas as
minhas vitaminas, faço todo ou qualquer exame que a médica mandar e tento
não pensar que algo vai dar errado. Meu bebê já sobreviveu a uma
hemorragia por causa de uma bala no ombro, então nada pior que isso vai
acontecer. Não é? Agito a cabeça para me livrar desses pensamentos e coloco
um conjunto de moletom, amarro o cabelo no alto, e calço umas pantufas
confortáveis.
Quando termino de me arrumar eu saio do meu quarto e vou procurar
pelos meus velhos. Os encontro na nossa pequena sala de jantar, dou um
beijo na bochecha enrugada de papai antes de ir perguntar a mamãe se
precisar de algum ajuda. E a vejo terminando uma linda salada verde.
— Precisa de ajuda mamãe? — pergunto e ela olha para trás dando
um sorriso.
— Não filha, tudo já está pronto, mas se quiser me ajudar a levar isso
a mesa eu agradeço. — Diz mamãe e eu assinto pegando a travessa de vidro.
— Filha? — Mamãe chama e eu paro antes de virar e ir até a mesa de
jantar.
— Sim, mamãe? — Indago a vendo parar e virar na minha direção.
— Você está bem realmente depois de tudo o que você descobriu? —
Ela me questiona e eu posso sentir sua apreensão.
— Sim mamãe, eu já disse isso antes, mas posso repetir. Eu estou
bem, falei com Ângelo a pouco tempo que me sinto estranha, mas posso me
acostumar. — Solto um suspiro passando o dedo ao redor da travessa.
— A minha prioridade e a do seu pai é a sua felicidade e sempre vai
ser. — Mamãe diz e eu dou um pequeno sorriso.
— Engraçado, porque eu digo o mesmo de você e paizinho. — Sorrio
para ela que sorri também, mas para de sorri para voltar a me encarar.
— Você e o Axel brigaram, Dorinha? — A pergunta repentina de
mamãe me assustou. Eu não estava preparada para isso.
— Na… — Penso em mentir, mas eu desisto assim que abro a minha
boca para falar. — Eu não sei mamãe! — falo e meus ombros caem.
— Oh filhinha, brigas entre casais acontecem o tempo todo, vocês só
não podem deixar de conversar depois que a confusão passar. — O sorriso de
mamãe era tão leve e amável que fez o meu coração esquentar.
— Eu o amo mamãe, e tenho medo que ele não possa me amar nunca.
— Revelo com o coração dolorido abaixando minha cabeça.
— Impossível querida, aquele homem pode não saber dizer as
palavras, mas ele te ama. — A força da certeza na voz de mamãe me fez
encará-la de olhos arregalados. Axel? Me amar?
— A senhora acha? — pergunto tentando esconder a esperança
latente.
— A sua mamãe aqui nunca esteve mais certa, filhinha. Só dê tempo
ao tempo e você vai ver só. — Mamãe diz dando um sorriso travesso. —
Aquele homem só precisa de uns ajustes. Oh sim, ele precisa! – fala e
continua a dar aquele sorriso misterioso.
— Eu estou com raiva dele, mamãe. — Conto enfezada a fazendo rir
mais ainda.
— É um direito seu estar, meu amor. Mostre a ele que você também
pode ficar magoada, não seja uma molenga. — O seu jeitinho de falar me fez
sorrir. — Eu mesmo não deixo aquele velho achar que pode tudo, por que ele
não pode.
— Eu ouvi isso Jó! — Paizinho grita do outro lado da parede.
— Era para ouvir mesmo, seu velho rabugento! — Mamãe fala alto e
é impossível não amar mais esses dois. Pego a travessa para levar até a mesa
de jantar, mas lembro de algo e paro na mesma hora.
— Mamãe! — chamo e ela olha para mim. — Eu convidei uma amiga
minha para vir aqui passar o dia com a gente. A senhora vai adorar ela, seu
nome é Lara. — Falo e os olhos de mamãe se ampliam de surpresa.
— Oh, isso é maravilhoso, Dorinha! — Mamãe fala radiante e eu
confirmo com a cabeça. — Gene, vamos fazer um churrasco amanhã! —
Mamãe diz feliz
— O que você quiser minha velha. — Paizinho responde de forma
tranquila.
E feliz por ter esse dois na minha vida que eu vou levar a travessa,
para que possamos comer os três juntos como antigamente. Nossa, como eu
amo esses dois! Obrigada Deus!
Gritos. Calor. Sangue. Dor. Gritos. Não, não Axel, por favor, não vá.
Axel! Ax!
Ergo o meu corpo com um pulo, arregalo os meus olhos sentindo o
meu coração bater muito forte no meu peito. Tento respirar, mas o ar está
preso na minha garganta. Olho para o lado a procura de algo, mas não
encontro, meus olhos ardem e eu não consigo organizar minha cabeça.
Fechando meus olhos novamente, eu começo a sentir a minha respiração
melhor, juntamente com os meus batimentos cardíacos acelerados. Eu não
estou lá, não tem ninguém tentando me matar. Eu estou bem, estou na casa
dos meus pais.
Repito as palavras várias vezes na minha cabeça, para que eu consiga
finalmente assimilar e voltar à normalidade. Quando me sinto um pouco
melhor eu abro os meus olhos, olhando em volta do meu pequeno quarto de
solteira. Com paredes brancas e desgastadas, teto feito de madeira, telhas
recém colocadas já que as de antes estavam tão velhas que deixava a chuva
inundar a casa. Continuo parada por um tempo até que deslizo minha mão
para debaixo do travesseiro e puxo o objeto pequeno de lá.
Ergo a peça de xadrez deixada por Axel, viro de um lado para o outro
enquanto observo pela trigésima vez cada detalhe. Me pergunto por que eu
guardei isso, já que em um dia, em um dos meus acessos repentinos de
raiva,eu rasguei o seu bilhete em pequenos pedaços, e joguei os picotes no
vaso sanitário do meu quarto na clínica para não correr o risco. Mas para falar
a verdade assim que eu vi os papéis descerem pelo encanamento eu me
arrependi. Eu sei, eu estou uma loucura de sentimentos confusos.
A única coisa que eu sei é que quero aquele mercenário aqui. Eu
preciso dele, eu quero senti-lo perto de mim, quero me sentir novamente
protegida. Quero que ele saiba que vai ter um filho meu, e que se ele não
aceitar isso eu vou atirar nele. Vou atirar sim, pelos menos eu acho que vou, e
se eu não conseguir meu paizinho consegue. Dou um sorriso pelos meus
pensamentos, mas paro quando sinto a minha boca encher de saliva e um
forte enjoo tomar conta de mim. Merda, todo o dia é isso?
Levanto correndo da minha cama, abro a porta do meu quarto e saio
correndo para ir ao banheiro. Mas não antes de olhar para os lados, para que
meus pais não vejam o meu desespero por um vaso sanitário. Quando
finalmente chego no banheiro quase não dá tempo, mas tudo ocorreu bem.
Pelo menos na medida do possível, não é mesmo? Assim que termino de
colocar minha alma para fora do meu corpo atrás da minha boca, eu tomo um
banho leve e escovo meus dentes debaixo do chuveiro.
Acho que estou parecendo gente novamente, então resolvo sair do
banheiro com a toalha enrolada no corpo. Mas quando abro a porta sou
interceptada pela minha mãezinha.
— Dorinha! — Ela me chama e eu dou um pulo de susto.
— Nossa, mamãe! — falo colocando a mão no peito.
— Você está bem? — pergunta virando a cabeça para me encarar.
Fico parada por um tempo até assenti com a cabeça rapidamente.
— Estou sim mamãe, por que a pergunta? — Tento não parecer
desconfiada ou exasperada.
— Nada não, meu amor, você está um pouco pálida. — Mamãe cerra
um pouco os seus olhos na minha direção.
— Sim? — toco o meu rosto. — Deve ser fome, mamãe — confesso e
ela sorri depois um breve momento, assentindo com a cabeça.
— Pode ser mesmo, você está tão magrinha. Precisa se alimentar
melhor, sabe. — Mamãe disse e eu forcei mais um sorriso.
— Sim, mamãe, vou tentar o meu melhor — digo em concordância e
ela amplia o sorriso.
— Falando em comida, o que será que sua amiga gosta de comer? —
Mamãe me surpreende com essa pergunta.
— O quê? — pergunto confusa.
— Sua amiga, Dorinha. O que ela gosta de comer? — Minha
mãezinha pergunta novamente e eu faço uma careta.
— Ah, a Lara! — Caio em mim e mamãe nega com a cabeça
colocando a mão na cintura.
— Onde anda a sua cabeça, Dorinha? — Mamãe pergunta e eu solto
um suspiro.
Ah mamãe, se a senhora soubesse. São tantas coisas atormentando a
minha cabeça que se eu começasse a listar aqui e agora, nós duas não
sairíamos desse corredor. E no fim eu desmaiaria aqui mesmo porque
demorei demais para colocar algo no meu estômago grávido. Penso tudo isso,
mas sou incapaz de falar em voz alta.
— Não é nada, mamãe — digo e ela dá um sorriso materno virando
para se afastar.
— Não se preocupe filhinha, tudo vai se resolver com o Axel — disse
e ela e eu fiquei paralisada sem saber o que falar. — Já ia esquecendo de
dizer, sua tia Matilde e suas primas estão vindo pra cá almoçar com a gente.
— E com isso ela saiu pelo corredor me deixando pra trás.
Pisco algumas vezes quando uma onda de puro incômodo toma conta
de mim. E foi justamente por conta desse simples aviso, tudo por que que não
gosto de minha tia Matilde, e muito menos das duas filhas dela a Paula e
Beatriz. E se me perguntarem por que eu não gosto da minha tia e das minhas
primas, eu vou dizer com todas as palavras que elas NÃO gostam de mim.
Sim, tia Matilde é a irmã mais nova de minha mãezinha.
Ela sempre deixou claro o seu desagrado por meus pais terem me
adotado em uma idade tão avançada. Para ela o desgaste de ter um bebê
naquela idade era perca de tempo. Pelo menos foi o que eu entendi desde
muito nova quando pegava algumas conversa entre as duas na cozinha sem
querer. As pessoas da nossa própria família algumas vezes podem ser tão
maldosas que nos marcam durante a nossa vida inteira.
O que é o caso de Beatriz, a filha mais nova da minha tia, ser o meu
maior tormento na infância. Nós duas temos a mesma idade e na pré-escola
estudávamos na mesma escola, na mesma sala. A menina tinha algum
problema comigo, porque adorava puxar meus cabelos, me empurrar, me
chamar de feia e dizer que o meu cabelo deveria cair de tão estranho que era.
Talvez seja difícil de acreditar, mas as crianças podem ser muito cruéis às
vezes. E pra piorar essa implicância não se limitou ao periodo da nossa
infância.
Quando estávamos em reuniões de família, as quais eu odiava e
sempre me sentia como se não pertencesse aquele lugar, ela sempre fez
questão de soltar piadinhas maldosas. Para que os outros primos e primas
rissem de mim. Nossa, isso é muito doloroso quando você é adotado, mas eu
sempre tentei não deixar isso me atingir, porque eu amo meus paizinhos. E só
isso sempre me bastou.
Deixando esses pensamentos nostálgicos de lado eu volto para meu
quarto, na intenção de me vestir. Mas assim que fecho a porta do quarto eu
vejo a tela do meu celular brilhar em cima da minha cômoda. Atendo a
ligação e coloco no viva-voz.
— Já está vindo? — pergunto a Lara assim que atendo a ligação.
— Bom dia para você também, senhorita querida! — Lara fala em
tom de deboche e eu reviro os olhos.
— Bom dia! E então? — questiono pegando um conjunto de lingerie
para vestir.
— Já estou na estrada tem uma hora e meia eu acho. — Lara fala e eu
solto a respiração que nem sabia que estava segurando.
— Ai que bom! — digo sem esconder o meu alívio.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa que eu deva saber? — Lara
indaga e eu faço uma careta.
— Eu só estou sem coragem de enfrentar minha tia e suas filhas, você
está vindo no dia certo — revelo fazendo Lara soltar um som de
concordância.
— Parentes, ou matamos ou eles nos matam. — Lara diz com
desgosto e eu não pude deixar de concordar.
— A minha prima mais velha é na dela, só tem um ar superior. Mas
minha tia e a filha mais nova… — Deixo subentendido.
— Megeras? Tenho dessa espécie na minha família bandida. — É
impossível não rir com Lara quando ela fala assim. — Tenho um conselho
para você.
— Sim, o que é? — Pergunto curiosa.
— Se arrume de forma natural, mas que chame a atenção dessas patas
de satanás. Empine o seu nariz, dê um mega volume nesse seu cabelo incrível
e não deixem que falem merda de você. E ah! Me espere que estou chegando
para ajudar. — Lara disse com confiança e eu dei um sorriso tímido.
— Tudo bem então, farei isso — respondo fazendo ela rir.
— Claro que você vai fazer, eu dou os melhores conselhos. Sou bem
incrível as vezes. — Lara diz e eu reviro os olhos.
— E humilde também — murmuro — Lara, o que você gosta de
comer? Mamãe estava me perguntando isso nesse instante. — Contei e
esperei na expectativa.
— Sua mãe perguntou isso mesmo? — Lara pergunta sem acreditar e
eu confirmo. — Nossa, que fofa! — Diga a ela que eu só não como carne de
gente, por que posso me infectar com a sua alma pobre. — Dessa vez eu não
me aguentei e comecei a rir muito.
— Ai Lara, só você viu — falo ainda rindo à fazendo rir também.
— Daqui a pouco chego aí, não esqueça de me mandar as
coordenadas da casa de seus pais. — Lara pede e eu me adianto a fazer logo
isso.
— Pronto, acabei de enviar — respondo rapidamente. — Venha com
cuidado!
— Até mais, amiga! — Disse ela e eu me despedi antes de desligar.
Após a minha conversa breve com Lara, eu decidi seguir o seu
conselho. Por isso eu fui até a minha mala, peguei uma blusa cropped cinza
com uma manga curta, um macacão jeans azul e os vesti. Coloquei meus
cabelos para cima, os amarrando de um modo que ficasse despojado. Aprendi
na internet, e jamais esquecerei. Passei uma coisa básica no rosto e não passei
perfume, porque não queria enjoar com o cheiro. Depois de pronto eu fui
encontrar com os meus pais que me elogiaram e eu me vi ficando com as
bochechas quentes.
Tomei meu café, e ajudei minha mãe na cozinha. Em algumas horas
as primeiras a chegar foram minha tia e Beatriz, depois ficamos sabendo que
Paula talvez não viesse. Já que ela tinha dobrado plantão no hospital, eu
podia sentir o orgulho na voz da minha tia só falar da sua filha médica. Tentei
não olhar demais em direção as duas, porque primeiro eu não estava muito
afim e segundo que eu queria evitar que alguma delas puxassem assunto
comigo.
— Como anda a saúde, meu cunhado? — Ouço minha tia pergunta a
meu pai, eu não levanto a cabeça e continuo a cortar os legumes que mamãe
pediu.
— Eu ando bem, estou bastante saudável agora. Mudei de médico, e
ele está ajudando muito. — Dou um sorriso ao ouvir isso, por que eu me sinto
muito feliz com suas palavras.
— Mudou de plano, um melhor? — Minha tia pergunta e eu me
controlo para não fazer careta.
— Sim, Tilde, Dorinha está pagando para mim e seu pai. Isso está
adiantando muitas coisas para nós. — Arregalo meus olhos e olho em direção
de mamãe que pisca para mim.
— A Isadora? E ela está trabalhando? — Levanto meus olhos e vejo
minha tia me encarando com um olhar questionador. E minha prima retira os
olhos do celular e me olha com desdém velado.
— Sim, ela trabalha com o namorado dela. Ele tem uma empresa, não
é minha filha? — Mamãe pergunta e eu assinto nervosa.
— Isso mesmo, mãezinha — respondo tentando soar a mais tranquila
possível.
— Quem é esse? Será que conhecemos? — Minha tia pergunta
curiosa e eu a ignoro. Será muito melhor se a senhora não o conhecer.
— Isadora, namorando? Sério isso, tia? Ela namorando? — Beatriz
questiona de forma sarcástica e eu aperto meu punho com força ao redor da
faca.
— Sim, algum problema? — pergunto com firmeza olhando
diretamente para os seus olhos verdes. Beatriz pode ser uma mulher linda
com seus cabelos castanhos claros, quase aloirados, mas é uma coisinha
desagradável da vida.
— Duvido muito disso, deve ser alguma invenção . Você não faz do
tipo que namora alguém. — Beatriz fala de forma venenosa e eu continuo a
encarando sem quebrar o olhar.
Oh prima, até grávida estou. Penso comigo mesma.
— Eu não gostei muito da ideia não, mas aquele lá parece gostar da
minha Dorinha. — Papai fala após soltar um som de desgosto, voltando a
jogar no celular.
— Deixe de ser rabugento com o nosso genro, Gene. — Mamãe
reclama, mas não olho para papai porque eu sinto minha tia e Beatriz estão
olhando para mim. Eu sei, elas acham que sou feia demais para ter um
namorado.
— Isadora está realmente muito mudada, achei que fosse só na
aparência. — Minha tia diz com desgosto e minha prima faz um som de
diversão. Que bruxas!
— Não tia Matilde, pode apostar que não é só na aparência — solto
cada palavra entre dentes.
— Filha, você está… — Papai parou de falar quando uma buzina alta
foi ouvida.
— Deve ser a Lara! — falo abrindo um sorriso e levanto
apressadamente.
— Quem é Lara? — Ouço Beatriz perguntar, mas eu nem me dou ao
trabalho de responder.
Corro até a porta da frente de casa sem me conter. Espero realmente
que seja a Lara, pois eu preciso realmente ser salva de estar perto de Beatriz e
da tia. Elas são tão desagradáveis que me faz ter vontade de correr para as
colinas. Quando abro a porta sou surpreendida por um lindo jeep da cor
vermelha. Franzo o cenho ao não consegui ver quem está lá dentro daqui
onde estou, por conta do vidro escuro. Mas assim que o vidro desce eu
vislumbro os cabelos ruivos e bonitos que só a minha amiga tem.
— Então eu não me perdi? — Lara grita erguendo os seus óculos
escuros para alto da cabeça.
— Você é muito esperta para se perder assim — respondo sorrindo
enquanto desço os degraus de madeira.
— Você está me conhecendo tão bem, Dora. — Minha amiga brinca
enquanto sai do sai do carro.
— Bonito carro! — Assobio ao olhar para aquela beleza escarlate.
— É sim, mas eu prefiro a minha Victória. — Lara diz se
aproximando de mim.
Minha amiga está usando um top preto, um short de cintura alta
branco e preto, uma jaqueta de couro sintético também preto e uma bota
rasteira da mesma cor. Ela está linda como sempre, e eu não sabia que estava
com tantas saudades dela até olhar seu sorriso zombeteiro.
Desde o dia que eu descobri sobre ela e Ângelo, eu fiquei
imaginando-a como a minha cunhada. Vou parar de pensar nisso, por que se
ela sonhar que penso nisso vai ficar bem irritada.
— Victoria? — pergunto confusa.
— Nossa Dora, você esquece da minha mais linda e preciosa moto?
— Lara pergunta colocando a mão no coração de forma dramática.
— Meu Deus, não tem como esquecer — estremeço só de lembrar da
loucura que é andar na garupa com ela.
— Deixa de drama, que você gostou — diz me dando um empurrão
de leve.
— Se você diz isso — falo olhando para ela de solavanco. — Vem,
vamos entrar! Meus pais vão adorar te conhecer.
— Espera um pouco. — Lara fala e vai até o carro novamente. Ela
abre a porta do passageiro, para tirar de lá sua bolsa e um pacote com alguma
coisa. — Trouxe uma torta de maçã para a sobremesa. Espero que seus pais
gostem.
— Oh Lara, que gentil de sua parte. Eles vão realmente adorar —
respondo tirando o embrulho de sua mão. — Vamos!
Seguimos para entrada de minha casa, e assim que abro a porta para
Lara entrar, mamãe, papai, minha tia e até mesmo a Beatriz já estão na sala
de estar a nossa espera. Apresento a minha amiga aos meus pais, e logo de
cara eles se encantam com ela. Mamãe ficou realmente tocada por ela se
prontificar a trazer a torta. Lara pode não ser a menina mais doce e meiga que
já conheci na vida, mas com certeza é a pessoa mais verdadeira. E gostar dela
não é uma tarefa difícil, ela surgiu na minha vida de repente e ficou.
— É tão bom conhecer uma amiga tão boa da minha filhinha, não é
meu velho? — Mamãe comenta e Lara sorrir amplamente.
— É sim, querida, você é bem-vinda Lara. — Paizinho fala de modo
gentil.
— Obrigada, tio e tia! — responde minha amiga para o desagrado
visível de Beatriz. — Os senhores são bem gentis. — Lara fala deixando
mamãe toda sorridente.
— Eu tento ser gentil sabe, minha linda, diferente de um certo velho
rabugento. — Mamãe alfineta e eu já espero pela pequena discórdia.
— Isso é uma indireta, mulher? — Papai pergunta com indignação.
— Se a carapuça serviu. — Mamãe brinca e Lara me olha assustada e
eu nego sorrindo.
— Eles adoram se alfinetar as vezes. — Sussurro para Lara que sorri
negando com a cabeça.
— Eu estou na idade que não preciso mostrar simpatia, se eu gosto eu
gosto se eu não gosto eu nem preciso falar. — Papai para de repente e olha
para Lara. — Mas de você eu gostei viu Lara.
— Obrigada por isso, tio. — Lara responde rindo.
— O que você faz da vida, minha jovem? — Tia Matilde pergunta.
— Estou terminando a faculdade de arquitetura, e ajudo nos negócios
da família. — Lara fala, mas dá para ver que ela não queria responder. — E
você? — Ela pergunta para minha prima que revirou os olhos quando ela
estava falando.
— Eu sou modelo, coisa que você não seria, não é? — Minha prima
fala e Lara assente simplesmente. Eu cerro os punho e olho para Beatriz com
raiva.
— Beatriz! — Mamãe repreende minha prima idiota.
— Não se importe, Tia. — Lara pede para minha mãe que a olha com
um pedido de desculpas. — Beatriz, não é? — Lara pergunta e ela assenti
com um olhar convencido. — Então, eu não seria modelo não pelo meu corpo
gordo, sabe. Mas sim por faltar algo que nessa profissão exige em demasiado.
— Lara fala e minha prima solta um som de diversão.
— O que seria? Beleza? — Ela pergunta e Lara sorrir amplamente.
— Falsidade, é isso o que me falta já que eu não tenho um osso falso
e cretino no meu corpo. — Lara responde me fazendo colocar a mão na boca
para não rir.
— Lara, vamos lá no meu quarto um pouco até o almoço? —
pergunto e ela concorda comigo.
— Sim, temos uns papos para pôr em dia — brinca e eu concordo.
— Logo chamarei as duas para almoçar, tudo bem? — Mamãe fala e
eu concordo com a cabeça.
— Obrigada, mamãe! — Agradeço e seguro o braço de Lara a
puxando junto comigo.
— Essas duas são piores do que você havia falado mais cedo. — Lara
murmura enquanto eu a guio até o meu quarto.
— Eu não queria te assustar — murmuro de voltar a fazer rir.
Quando chegamos no meu quarto Lara olhou para todo o lugar com
simpatia. Eu indo perto para falar com ela, mas a vibração no meu bolso me
fez mudar de ideia. Peço a Lara que me espere ali para que eu vá atender a
ligação. Isso porque pode ser Ângelo e eu não quero que ela fique de mau
humor, como é bem provável que aconteça. Assim que fecho a porta atrás de
mim, eu atendo a ligação sem olhar o visor.
— Oi! — respondo assim que atendo a ligação.
— Oi minha menina! — Não, não pode ser.
Essa voz, oh Deus, essa voz rouca que eu esperei por semanas para
ouvir novamente. Essa voz que me traz lágrimas nos meus olhos, e faz com
que a minha mão vá automaticamente até o meu ventre. É ele… é…
— A… Axel? — falo sem acreditar, sentindo as minhas mãos
tremerem.
Eu reconheceria essa voz em qualquer lugar, de qualquer maneira. É
ele, Axel Cox, o pai do meu bebê.
O que diabos eu estou fazendo? Por que eu me deixei consumir pela
necessidade ridícula e infantil de ligar para Isadora? Eu não sou esse tipo
fraco de homem que precisa estar ao lado de uma mulher para não
enlouquecer. Eu sou Axel Cox um temível mercenário, assassino de sangue
frio, um monstro capaz de efetuar as piores coisas para poder finalizar a porra
de um trabalho. Sim porra, eu sou tudo isso, eu sou um fodido e gosto de ser
assim, não me importo com que as pessoas pensam de mim. E muito menos
coloco as minhas vontades acima da merda do meu trabalho.

Então porque será que estou sentado em frente a ampla parede de


vidro, segurando um copo de scotch? Ficando fodidamente aliviado de ouvir
a voz assustada da minha linda menina tola. Por que no inferno eu me sinto
assim? Eu não deveria mais ter contato com Isadora, descobri de uma forma
incrivelmente fodida que ela não é feita para esse mundo. O meu mundo
fodido, sangrento, doloroso e terrivelmente acolhedor para mim. Todas as
vezes que fecho os meus olhos eu tenho duas visões infelizes, a primeira é da
minha menina sangrando nos meus braços e a segunda é da sua voz em forma
de sussurro dizendo que me amava.

Não, ela não pode me amar, ela jamais deveria me amar. Isso é muito
errado em todos os sentidos, eu não sou feito de um material que se deve ser
amado. E ela deveria saber disso, eu a sequestrei, porra, eu posso matar
qualquer pessoa que ousar tocar nela, eu sou um fodido carrasco, como ela
mesmo fala. Por isso que pessoas como eu não nasceram para ter alguém que
o amem, que enxuga o sangue dos seus inimigos no seu rosto após um
confronto de merda. Porra! Por que eu não consigo me afastar?
— Axel, é você? — pergunta a minha menina de forma vacilante.

— Existe mais algum fodido que te chame de “menina tola” além de


mim, porra? — questiono entre dentes.

— N… não! — Sua resposta gaguejada me traz uma satisfação


doentia.

— Acho bom, minha menina! — Aviso seriamente.

— Onde você está, Axel? Por que saiu assim? Você ou os meninos
estão machucados? Por que… por que — Ela não termina sua pergunta, mas
eu tenho a breve noção do que ela iria perguntar.

— Não posso e nem vou dizer, eu nem deveria estar ligando. —


Minha voz saiu como um fodido rosnado.

— C… como? O que está acontecendo? — Isadora pergunta e eu


aperto mais o copo entre meus dedos.

— Sempre tão porra de curiosa. — Solto um murmuro irritado. —


Não se preocupe, você está em segurança — respondo contra a minha
vontade.

— Você ligou só por isso, Axel? — pergunta e consigo notar a


mudança no seu tom de voz de assustada e confuso, para rígida e meio
raivosa. Oh minha menina, vai mostrar suas garras?

— Não, não foi só isso. — Na verdade foi por que eu queria ouvir a
porra da sua voz e ter certeza de que você estava segura, porra.

— Então me diga o porquê. — Desafia ela e eu sinto o canto dos


meus lábios se erguerem.

— Quero que você volte para casa e se afaste de Gutierrez — falo


seriamente e fico esperando sua resposta.

— O... o Ângelo é meu irmão! — diz ela confusa e para por um breve
momento. — Mas você sabe disso, não sabe? — Seu questionamento sai com
um toque de amargura.
— Eu sei — respondo simplesmente bebendo um pouco do meu
scotch.

E eu realmente sei, pois quando eu saí do quarto onde Isadora estava


em recuperação eu percebi que Ângelo fodido Gutierrez ainda estava lá.
Naquele momento eu estava tão furioso após a declaração de Isadora que
fiquei tão cego de ódio que o ataquei. Mandando com que ele ficasse longe
de Isadora ou ele poderia se arrepender de continuar existindo. Mas o
desgraçado contra atacou afirmando que seria impossível ele se afastar. Eu vi
todos os tons de vermelho bem na frente dos meus ao ouvi suas palavras, não
posso negar.

Mas as coisas mudaram quando ele gritou que era irmão da minha
menina. Admito que fui pego de surpresa com essa informação, pois quando
estava pesquisando sobre a vida de Isadora ele não estava na equação. E
como passar da raiva cega eu entendi e tive a prova o que exatamente estava
acontecendo. Só que mesmo ele sendo o seu irmão, eu não consigo confiar
em Ângelo. Isadora não sabe, mas ele é feito do mesmo material podre que
eu. E eu não sei se gosto disso, já basta de gente fodida na sua vida, ela não
precisa de mais.

Fui tirando dos meus pensamentos pelo grito raivoso de Isadora do


outro lado da linha.

— Vá a merda, Axel! Eu não sou o seu fantoche para fazer o que você
quiser. Você me deixou! Você nos… Argh! Esquece! — Isadora fala com
raiva me deixando na dúvida se fico orgulhoso ou irritado.

— Isadora… — Minha voz sai baixa e dura com o aviso.

— Não volte mais, mas se voltar não me procure. Eu… eu… — Ela
solta um soluço. — Eu te odeio! — Declara e eu dou outro sorriso.

— Tão mentirosa, minha menina. — Solto sem esconder meu fodido


contentamento.

— Eu vou sair daquela casa, eu vou aceitar o convite de Ângelo de


morar com ele até eu me formar. Depois eu vou sumir, você nunca mais vai
me encontrar. — Isadora disse as palavras entre dentes. O inferno sangrento
que você vai!

— Você sabe que é minha, Isadora. E eu vou te encontrar até no final


do mundo, ou nas profundezas do inferno. Não me provoque, porra. —
Minha voz sai gélida enquanto aperto mais o copo na minha mão. — Vou
terminar o que tenho que fazer e estou indo te buscar.

— Foda-se você e adeus Axel! — Sua voz estava chorosa e irritada.


Eu sou realmente um fodido distorcido por gostar disso.

— Até mais, minha menina tola. — Me despeço com uma promessa


velada.

Assim que a ligação foi encerrada o copo que estava na minha mão
quebrou em pedaços. Cortando um pouco a minha carne e me deixando mais
determinado do que nunca a exterminar a vida de Killian e sua esposa
vagabunda. Esses dois são como ratos, inúteis e rápidos como o inferno. Faz
1 mês que tento colocar minhas mãos nesses dois e ainda não consigo. Eles
estavam prontos para isso, pronto para começar essa maldita brincadeira de
gato e rato comigo.

Mas eu não sou um homem de brincar, odeio joguinhos para ser mais
honesto. E é por isso que a minha armadilha já está muito bem preparada,
agora só me falta ter paciência para dar continuidade a isso. Eu vou foder
com as suas vidas e enviar suas almas para as profundezas. Em um limpo
infinito onde eles jamais vão conseguir sair, e se por algum acaso existir
realmente outras vidas. Eles vão lembrar de mim, todas as noites enquanto
assombro seus pesadelos.

Uma batida na porta me traz a realidade, espano os cacos de vidro que


perfuraram minha pele enquanto libero a entrada de Craig. Como eu sei que é
ele? Porque somente ele fala diretamente comigo, já que nenhum dos outros
dois estão muito dispostos de me enfrentar.

— Axel você… — Craig para se falar e olha diretamente para minha


mão sangrando. — O que diabos foi isso? — Pergunta e eu solto uma forte
respiração.

— Liguei para Isadora — respondo simplesmente.


— Agora eu vejo — resmunga ele e se aproxima. — Pelo menos
seguiu o meu conselho. — Aponta meu irmão e eu o encaro como fúria.

— Péssimo conselho, seu merda! — reclamo e ele dá de ombros.

— Acho que não, seu humor melhorou. — Confronta ele acenando


com a cabeça para mim. — Pelo menos você parou de rosnar como um
animal enjaulado, e agora fala algumas palavras. É uma evolução.

— Foda-se, Craig! — mando sem calor.

— Também te amo, irmão mais velho — declara entre dentes. —


Você deveria mandar Earl ver isso aí. — diz ele jogando uma toalha para
mim.

— Depois — falo friamente. — O'Reilly já chegou? — pergunto e


meu irmão assente.

— Ele está no bar à sua espera — Craig diz e eu concordo com a


cabeça.

— Russel e Earl? — pergunto e ele revira os olhos.

— Cada um nas suas posições. — Confirma e eu arrumo o meu


blazer, jogo a toalha para longe e começo a andar. Paro e olho para trás e vejo
Craig olhando os cacos de vidro no chão.

— Você vem? — Questiono o fazendo soltar um som de desgosto.

— Alguém tem que cuidar da sua bunda irritante, antes que você
comece uma fodida guerra — Craig resmunga enquanto passa por mim.

Sigo meu irmão para fora do quarto de hotel, para o meu encontro
com um dos membros da máfia irlandesa. Declan O'Reilly é primo de Killian,
um homem de negócios que lida com a maior parte das lutas ilegais entre
New Jersey e New York. Já ouvi falar dele pelo submundo dos estados
unidos, mas nunca tive o desprazer de encontra-lo pessoalmente. Espero que
ele não tenha marcado esse encontro para tentar barganhar pela vida de seu
primo e da mulher dele. Por que isso não está acontecendo, com certeza não
está acontecendo.

Chegamos no bar do hotel e logo de cara eu percebo o ambiente


modificado. Noto que existem quatro homens que não pertencem ao lugar,
eles com toda fodida certeza devem ser homens de Declan. Não dou um
segundo olhar e caminho em direção ao homem magro, com cabelos escuros
no alto da cabeça e raspado dos lados. Ele levanta a cabeça quando sente
nossa presença e eu posso ver os seus olhos azuis frios e sorriso de lado. Ele
levanta estendendo sua mão quando eu me aproximo, penso em não apertar,
mas mudo de ideia e aceito o cumprimento.

— Então você é o famoso, Axel Cox. — Declan fala apertando com


firmeza a minha mão. Seu sotaque é mais acentuado que o do primo.

— Se é o que dizem não posso fazer nada — respondo com firmeza.

— Não seja modesto — diz sorrindo voltando a se sentar e me indica


a cadeira.

— Não se preocupe, eu não sou — digo e olho para Craig que assente
com a cabeça e sai nos deixam sozinhos. — Eu não sou homem de palavras
floridas e simpatia forçada, Declan. Diga-me o que quer de mim — falo
fazendo o irlandês a minha frente adquirir uma nova postura.

— Se é assim, eu compartilho do meu com você — diz sentando de


forma confortável. — Vim aqui para tratarmos de negócios. — Fico rígido no
mesmo momento.

— Se você acha que eu vou deixar Killian e aquela mulherzinha… —


Não termino de falar, pois Declan levanta uma mão pedindo para que eu
interrompa meu discurso.

— Não vim barganhar, eu vi para lhe dar a cabeça daqueles dois em


uma bandeja de prata. — Declan fala dando um sorriso de escárnio.

— O que você ganharia com isso? — questiono já prevendo do que se


tratava.

— Você me livra da dor de cabeça que é meu primo e sua esposa. E


isso evita uma guerra desnecessária, não precisamos disso em nossa mesa.
Sabemos que você tem contatos importantes. — Minha espinha fica rígida
novamente com suas palavras. O que eles sabem?

— Isso parece bom demais para ser verdade — falo contragosto e seu
sorriso aumenta.

— Bem que me disseram que você era desconfiado, Axel. — Declan


me encara e eu não desvio a porra do meu olhar firme. — E então, aceita a
minha proposta? — Sua expressão muda quando a pergunta sai dos seus
lábios.

— Sim! — Confirmo simplesmente, pois eu não quero perder tempo


em ter a minha vingança.

Agora é só terminar com essa merda e voltar para a minha menina,


que agora é arisca como uma gatinha ferida.
Estou em uma turbulência de emoções enquanto olho fixamente para
o celular preso a minha mão. Eu estou tremendo muito, mas eu não sei dizer
se é de raiva ou se é a saudade que fervilha dentro de mim. Após ouvir a voz
do homem que mudou toda a minha vida. Ele não podia fazer uma coisa
dessas, ele não tinha esse direito. Será que Axel acha que pode ligar para
mim depois de semanas para fazer exigências? Sim, ele acha! O conheço há
tão pouco tempo, mas é muito fácil responder essa maldita pergunta. E isso
por que ele é um… ele é um… escroto!
Espera um pouco, eu não posso dizer que eu conheço esse homem
egoísta e mandão. Se eu disser algo como isso eu vou estar mentindo, eu não
sei nada sobre ele ou a sua vida. Fora o fato de que ele mata pessoas, e que
uma dessas pessoas foi o seu pai. Lembrar de suas palavras gélidas fazem
meu coração estremecer. Mas não, seja como for eu não posso mais viver
desse jeito. Eu não posso mais deixar que Axel Cox ou qualquer outra pessoa
dite o que eu devo ou não fazer da minha vida. Caramba, eu vou ser mãe!
Eu preciso ser mais forte, eu não posso mais deixar essas coisas
acontecerem. Passei minha vida toda sendo humilhada, esculhambada,
massacrada, intimidada, então agora eu tenho que mudar isso. Sei que não vai
ser da noite para o dia, mas eu tenho que tentar. Tenho que fazer isso não por
mim, mas pelo bebê indefeso que carrego no meu ventre. Ele ou ela não tem
culpa da mãe idiota que tem ou do pai que pode não querer ele. Eu tenho…
— Dora? — ouço a porta do meu quarto abri e a voz de Lara de faz
presente. Enxugo os meus olhos antes de virar para a minha amiga forçando
um sorriso.
— Ei Lara! — falo tentando soar o mais verdadeira possível, mas o
olhar no rosto de Lara e o seu cenho franzido me disseram que eu não
consegui.
— O que aconteceu? — Ela pergunta e eu forço o meu corpo a se
mover em sua direção.
— Não, não é nada! — Lara dá passagem e eu entro no meu quarto.
— Eu não sou a mais experiente com sentimentos das pessoas e tals,
mas essa não é a cara de quem está bem. — Lara fala de forma
despretensiosa e quase relaxa.
— Eu sou péssima em esconder o que sinto, não é? — pergunto
sentando na minha cama de forma pesada.
— Isso eu sei desde o momento que a vi pela primeira vez. — Lara
estala os dedos se abaixando para sentar no chão, mas eu não posso permitir
que ela faça isso. Lara é a visita aqui em casa.
— Não, não tem espaço para que você sente ao meu lado — falo
balançando as mãos de forma agitada.
— Me deixe, Dora! — Ela me ignora se sentando no chão de frente
para mim.
— Mas Lara você vai sujar sua roupa, ela é preta vai… — Tento
alertar, mas ela levanta a mão me fazendo parar.
— A única pessoa fresca nessa casa no momento é a sua prima
modelete, eu não sou assim. — Ela nega com a cabeça, cruzando as pernas
para ficar mais confortável.
— Isso eu não posso negar. — Dou uma risadinha infeliz e Lara
continua a negar.
— Eu sei das coisas. — Lara fala de modo convencido e cerra os
olhos na minha direção. — Falando nisso, vamos lá! Conte- me o que houve.
A voz mandona de Lara poderia me fazer sorrir se eu não estivesse
tão nervosa e chateada. Lara pode não saber, mas todas as vezes que ela faz
esse tipo de expressão ela fica muito fofa com as bochechas vermelhas como
tomates maduros. Se eu não a conhecesse a um tempo poderia jurar que ela
era indefesa, mas isso vai muito além disso. Pelas coisas que soube sobre ela
e a sua família, posso ter todos os motivos para afirmar que Lara Álvarez e
tudo menos uma mulher indefesa.
E é disso que eu preciso, eu não quero mais ser a covarde que sou. Eu
não quero mais ser assim, não sou idiota em pensar que mudarei de uma noite
para o dia. Mas quero viver por mim mesma, quero que o idiota do Axel
saiba que eu não sou sua propriedade. Que ele não pode vir abalar com o meu
mundo, virar tudo de cabeça para baixo. Me mostrar um mundo sombrio do
qual eu só pensei que existisse em filmes, livros ou séries de TV. Para logo
depois sair, como se não fosse nada, afirmando o ponto de que eu sou fraca
demais para essa vida.
Então eu tenho que mudar, não só em ser confiante, mas eu tenho que
mudar em tudo. Não por mim, por ele ou pela sua vida bandida, mas sim pelo
pequenino que está se desenvolvendo dentro de mim. Essa criança é filho de
um mercenário que deve ter muitos inimigos por aí. De uma mulher que não
sabe de nada dessa vida escura, e sobrinha de um traficante armas.
Nossa, eu nem preciso dizer que o meu bebê terá sempre um infeliz
alvo nas suas costas.
— Axel me ligou — conto de modo rápido.
— O quê? Como assim? Ele ligou do nada? — Lara pergunta confusa
e eu solto uma respiração frustrada.
— Sim! Eu fiz como você havia me dito na clínica, eu não liguei,
mandei mensagem, ou rastreie os equipamentos deles. — A última palavra eu
disse em forma de murmuro.
Porque sim, eu ia rastrear os seus equipamentos porque eu me
familiarizei muito bem depois da última vez que trabalhei com ele. Então,
sim, eu poderia hackear facilmente, mas não fiz.
— Fez bem, ele saiu depois que você disse que o amava. Ele que
tome no cu! — Lara expôs sua raiva e eu tive que concordar.
— Eu entendi esse ponto, por isso fiz o que você disse. — Assinto
com a cabeça e ela sorri largamente.
— Essa é a minha garota! — Lara ergueu a mão e eu bati sem pensar
duas vezes. — Já que você não caiu na tentação daquele Dragão negro
assassino, o que ele queria? — Repasso a breve conversa que tivemos e cerro
os punhos.
— Não falamos muito antes que eu o mandasse ir a merda por falar
que eu deveria me afastar de Ângelo. — Minhas palavras saem resmungadas
e eu cruzo os braços no peito.
— Isso é… — Lara começa a falar, mas para abrindo um largo
sorriso. — Você mandou o dragão negro ir a merda? — Lara questiona e eu
concordo com a cabeça.
— Mandei sim, eu estava com muita raiva — falo entre dentes porque
recentemente tudo o que faço é chorar e sentir raiva.
— Dora, minha amiga, acho que levar um tiro muda as pessoas —
Lara diz e gargalha logo em seguida.
— Lara, não diz isso assim! — Arregalo os meus olhos e olho para a
porta do quarto.
— Ops! — Ela tapa a boca. — Esqueci que seus pais não podem
saber. Me desculpa! — Ela sussurra sua desculpa e eu balanço a cabeça.
— Tudo bem, só não deixe isso escapar quando estivermos
almoçando por favor. — Alerto e minha amiga levanta o polegar em
confirmação.
— Agora me responda uma coisa, mas é com sinceridade, tudo bem?
— Lara pergunta e eu concordo sem pensar duas vezes.
— Pode perguntar — digo rapidamente.
— Você quer aquele dragão do caralho novamente? — A pergunta de
Lara me deixou surpresa, mas eu não precisava pensar muito para responder.
— Quero! Pode ser meio masoquista isso, mas eu quero sim — digo
seria e Lara dá um sorriso de lado.
— Então você deve deixar isso claro, Dora. Esses homens pensam
que somente eles podem ser possessivos, loucos, ferozes, decididos,
sedutores, dominadores, mas eles estão bem enganados. — Lara dar um
sorriso de escárnio. — Nós mulheres podemos ser tão semelhantes ou piores
que eles. — Lara diz e eu penso em suas palavras.
— Deixa eu ver se entendi, você acha que eu devo sequestrar Axel e
dizer a ele que ele é meu e somente meu — questiono meio confusa e Lara
bate palmas.
— Sim! Isso mesmo, garota! — Lara fala e eu não aguento e começo
a rir forte.
— Eu não faria isso, eu não sou assim! — Nego com a cabeça rindo e
Lara me olha ofendida.
— Poxa, Dora! Eu posso ajudar eu tenho umas cordas fortes e
podemos amarrar o danado. — Lara brinca e eu continuo a rir.
— Você é louca, Lara! — Continuei a rir pensando o quão bem ela se
daria com Russel. Penso e imediatamente o meu riso cessa. — Poxa! — digo
batendo em minha testa.
— O que foi? — Ela pergunta e eu nego sem falar nada.
— Não é nada, só lembrei de algo. — Dou um sorriso triste. — Mas
voltando a nossa conversa, eu não sou tão confiante desse jeito. Eu sou
chorona, desajeitada, medrosa e estranha. — E agora passo por uma confusão
de hormônios, mas não digo isso a ela ainda.
— Continue a ser quem você é Isadora, tudo isso diz quem você é.
Mas jamais em hipótese alguma deixe que alguém dite o que você faz ou não
da sua vida. Você tem que viver, errar e acertar por você e ninguém mais. —
Lara diz e eu a encaro. — Se quiser aceitar aquele idiota, aceite, mas mostre a
ele que você é muito mais do que ele pode imaginar. — Absorvi as palavras
de Lara.
— Você acha que posso fazer isso? — pergunto seriamente e ela dá
um sorriso de lado.
— Isso é você quem vai me dizer, amiga. — Lara fala com confiança
e eu ergo minha cabeça e respiro fundo.
— Sim, eu posso fazer isso! — digo com tom forte e ela deu um
sorriso aberto e orgulho.
— E o que você quer fazer agora? — Lara pergunta e a minha barriga
ronca antes que eu possa abrir minha boca a fazendo rir.
— Acho que primeiro comer, depois eu posso ver o que fazer. O que
acha? — pergunto fazendo uma careta.
— Acho uma ótima ideia por que o cheiro delicioso de churrasco está
me matando. — Lara diz com uma expressão sofrida.
— Não existe ninguém que faça um churrasco gaúcho como o meu
paizinho. — Digo revelando o meu orgulho e levanto da cama. — Vem,
vamos comer! — Ergo minhas mãos e ela as segura.
— Comer, dormir e gozar as três coisas maravilhosas da vida — Lara
Exclama e eu olho para ela horrorizada.
— Lara! — Tento repreende-la, mas ela começa a debochar da minha
cara constrangida.
— Deixe de ser puritana, Dora. — Diz Lara e eu optei por ignorar.
Quando Lara e eu estávamos quase saindo do quarto, eu tive um
desejo de abraça-la. E sem questionar esse meu desejo súbito eu a abracei,
um abraço forte e verdadeiro demonstrando a minha amiga o quão feliz eu
estou por tê-la aqui comigo e para mim.
No primeiro momento Lara fica parada sem saber o que está
acontecendo, mas logo retorna o meu abraço. É tão bom ter alguém para
chamar de amigo, eu nunca tive ninguém assim, mas agora eu sei exatamente
como é. E eu me sinto sortuda por ser a Lara.
— O que foi isso? — Lara pergunta confusa após eu me afastar do
nosso abraço.
— Nada, eu só estou feliz por você ser minha amiga. — Digo dando
um sorriso aberto.
— Sabe Dora, você estava certa quando disse que é estranha. — Lara
diz e eu a empurro de leve. — Brincadeira, mas só para você saber eu
também estou feliz por ser sua amiga. — Meu sorriso se alargou e eu não
pude deixar de ficar feliz.
— Meninas? — Ouço a voz de mamãe e eu viro na direção da sua
voz.
— Oi, mamãe! — Respondo sorrindo.
— Vim chamar vocês para almoçar, vamos? — Mamãe fala e eu olho
para Lara que assente com rapidez.
— Por Deus, minha tia, eu estou com muita fome. — Lara diz e corre
até minha mãe.
— Oh pobrezinha, vamos minha linda. Essa velha aqui vai te
alimentar. — Mamãe diz horrorizada por Lara estar morrendo de fome.
— A senhora é a melhor pessoa da vida! — E com isso Lara indo até
minha mãe pegando sua mão e colocando em volta do seu braço cruzado.
— Sua amiga é tão gentil, Dorinha. — Mamãe diz enquanto anda com
Lara e isso me faz sorrir.
Sem querer ficar para trás eu as segui feliz da vida por estar indo
comer finalmente. Me surpreende ao ver a mesa de madeira de papai aberta
do lado de fora. Isso significa que eles querem realmente impressionar a
minha amiga. Não é surpresa para ninguém que Lara é a minha primeira
amiga, e meus pais devem estar feliz por conhecê-la. Apesar de todas as
mentiras que eu os contava quando mais nova sobre ter amigos, eu tenho
certeza que eles sabiam. Sabiam o quão solitária eu era.
Balançando a cabeça eu deixo mamãe mostrar o nosso pequeno sítio
para Lara, enquanto eu ajudava papai com a churrasqueira. Desde pequena eu
gosto de ajudá-lo, foi assim que eu sempre comi as carnes antes de todo
mundo. E, é claro, aprendi bastante sobre a forma correta de como assar um
bom corte de carne. Após tudo estar perfeitamente pronto, todos nós
sentamos para comer. Tentei esquecer os olhares sugestivos que minha tia e
Beatriz davam na minha direção e me divertir o máximo que pude.
Ri muito com papai contando para Lara como ele fez para conquistar
mamãe. Eu adoro essa história, mas é sempre bom ouvir. E é óbvio que Lara
também se divertiu, porque quem não iria querer saber que meus pais se
apaixonaram depois que ele a perseguia todos os dias com a sua carroça.
— Oh não, eu não consigo parar de rir. — Lara fala enquanto coloca a
mão na barriga.
— É a mais pura verdade, Jó se encantou em como eu era forte, lindo
e andava de carroça como um rei. — Papai fala em tom convencido e Lara
continua a rir.
— Você parecia mais um burro em cima daquela carroça, seu velho.
— Mamãe diz sem calor enquanto levanta para tirar os pratos sujos.
— Mamãe não diga isso, eu vi as fotos do papai. Ele era um
garanhão! — Digo e ele me encara com orgulho.
— Bah! Viu só, meu passarinho me ama. — Papai fala e beija a
minha testa antes que eu me levante para ajudar mamãe com a limpeza.
— Eu já conheço essa história, ela já perdeu a graça. — Beatriz fala
sem tirar os olhos da tela do celular.
— Ainda bem que a história não está sendo contada para você, linda.
— Lara fala com uma doçura fingida e isso me fez rir.
— Você acha graça da sua amiga sendo um escrota comigo, prima?
— Beatriz pergunta em tom de revolta, enfatizando a palavra prima.
— Pode apostar que sim, já que você sempre foi uma escrota comigo
e eu nunca achei graça, prima — respondo simplesmente também
enfatizando a mesma palavra.
— Mas o quê? — Beatriz fala de forma ofendida. — Olha isso
mamãe! — Ela encara minha tia que olha para minha mãe como se pedisse
para tomar uma posição, mas mamãe as encara de cara feia.
— Sempre suspeitei, mas nunca disse nada porque Dorinha sempre
foi muito boa para vocês. Mas a próxima pessoa que ofender a minha filha ou
a sua amiga, pode ter certeza que não será mais bem vinda aqui. — Mamãe
diz em um tom autoritário e isso me surpreende. Ele sempre foi tão amável.
— Que absurdo! — Minha tia resmunga e segura a mão da filha.
— Vou ajudar a limpar também, tia. — Lara se levanta também
prendendo o riso.
— Vamos meninas, depois o velho chato lhes conta mais histórias. —
Mamãe chama e sai logo em seguida.
— Eu amo essa velha! — Papai suspira apaixonado e mamãe nega
com a cabeça, mas posso ver um pequeno sorriso querendo se formar.
Ajudamos mamãe com a limpeza, conversamos mais um pouco e
quando o final de tarde começou a chegar Lara e eu decidimos que era hora
de irmos para Florianópolis. Tínhamos algumas horas de viagem e o quanto
mais cedo fossemos, mais cedo chegaríamos. Deixei Lara em companhia com
os meus velhos adoráveis e fui arrumar as minhas coisas. Guardei tudo dentro
da mala, troquei meus chinelos por um tênis branco e quando estava pronta
para fechar a mala e pegar minha bolsa lembrei de algo.
Lembrei de pegar debaixo do meu travesseiro a peça de xadrez para
colocar na bolsa. E quando abro a bolsa vejo no cantinho os meus primeiros
exames com o obstetra. Mordo os lábios inferiores e puxo a foto da última
ultrassonografia que eu fiz antes de finalmente poder sair da clínica. Olho
fixamente para o pequeno borrão de 11 semanas e alguns dias e um
sentimento bonito toma conta do meu peito.
— Você parece um brotinho de feijão, mas é o brotinho mais lindo
que já vi, bebê. — Murmuro encarando a foto com um singelo sorriso.
Respiro fundo quando sinto a emoção querendo tomar conta de mim e
guardo a foto do exame novamente, mas dessa vez a peça de xadrez vai junto.
Quando estou pronta eu saio do quarto trazendo minha mala e minha bolsa. É
hora da de me despedir dos meus pais, e voltar a viver a minha vida. Eu vou
terminar os meus estudos, seja como for, e depois eu vejo o que mais eu
posso fazer depois disso. Vou parar de fazer planos, porque se tem uma coisa
que eu já descobri é que na minha vida nada acontece como eu planejo.
— Está pronta, amiga? — Lara pergunta e eu concordo.
— Sim, eu só preciso… — Falo e olho para os meus pais.
— Entendo, vou levar suas coisas para o carro. — Lara fala e eu sou
um sorriso em agradecimento. Caminhei até os meus paizinhos e os abracei
com carinho.
— Estou indo, quando chegar eu aviso, tudo bem? — falo e os dois
sorriem com um misto de saudades e amor.
— É o melhor que você faz para o pobre coração do seu velho. —
Papai fala e eu concordo.
— E o senhor nada de reclamar dos remédios e vá para a fisioterapia,
está bem? — Aponto e ele revira os olhos como o senhorzinho birrento que é
as vezes.
— E sua mãe me deixa esquecer disso? — Pergunta apontando para
mamãe que o encara de cara feia.
— Não deixo mesmo não, se fosse por você ficava o tempo todo
naqueles joguinhos de celular como uma criança. — Mamãe reclama e isso
me faz sorrir. — E você filhinha, se alimente direitinho, e se cuide.
— Pode deixar, mamãe — falo e ela vem me abraçar, mas antes de se
afastar ela gruda seus lábios no meu ouvido.
— Tome suas vitaminas, se alimente bem e se estiver muito enjoada
coma um biscoitinho salgado pela manhã. — Arregalo meus olhos e tento me
afastar para encará-la, mas mamãe ainda não me deixa ir. — Quando estiver
pronta venha com meu genro, seu pai ficará feliz em saber da novidade e eu
também. Te amo, filha! — Ela se afasta sorrindo carinhosamente e meus
olhos se enchem de lágrimas.
— Mamãe! — Sussurro e ela faz um gesto com as mãos.
— Vá logo para não ficar tarde. — Ela fala, mas posso ver que
também está emocionada. — Dirija com cuidado viu, Larinha!
— Pode deixar, tia e tio! — Lara fala do carro. E eu estou muito
chocada para olhar para qualquer direção.
— Eu amo vocês! — Falo depois de um tempo e eles sorriem para
mim.
Mesmo contra vontade e com as emoções em frangalhos eu aceno um
adeus para minha tia e Beatriz. Caminho de forma rígida para o carro de Lara,
e quando estou acomodada eu aceno um adeus para meus pais que retribuem.
Mamãe sabe! Mamãe sabe que eu vou ter um bebê, mas como ela
descobriu? Meu Deus!
— Dora! — Lara me chama e eu pisco algumas vezes para me livrar
do choque que levei.
— Sim? — pergunto e pela primeira vez percebo que estou tão
distante que não vi que já estávamos na estrada.
— Para onde será o seu destino? — Ela pergunta e eu aperto minhas
mãos juntas.
— Ângelo, eu vou ficar na casa de Ângelo. Quero conhecer o meu
irmão — revelo e Lara desvia os olhos da estrada por um momento e me
encara surpresa.
— Tudo bem então, vamos lá! — Lara fala ainda surpresa, mas não
faz muitas perguntas. E isso está bom para mim.
Não sei se estou fazendo a coisa certa, mas seja como for nada parece
muito certo na minha vida ultimamente.
Finalmente chegamos em Florianópolis após algumas horas de
viagem. Confesso que dormi praticamente o caminho todo, eu queria ficar
acordada para poder conversar mais com Lara, mas eu não consegui. Hoje em
dia eu vivo em uma constante, onde se eu não estou querendo dormir, eu
estou querendo comer como uma louca. E se isso não faz a gravidez ser
assustadora, eu não sei mais o que pode ser. Para falar a verdade foi até bom
dormir, porque assim eu não iria continuar surtando com o pensamento de
que a minha mãezinha sabe que estou esperando um bebê de Axel. E a outra
é que tendo a minha amiga por perto foi fácil dormir sem sonhos, já que todas
as noites os pesadelos me assombram.
Sim, minhas noites são caóticas com as lembranças dos sons de tiros,
de Axel virando as costas e me deixando. Algumas noites os pesadelos são
diferentes, eu vejo muito sangue no chão uma mulher morta aos meus pés. E
essa mulher morta? Ah sim, sou eu, pelo menos eu sinto que sou eu. Loucura,
muita loucura e é por isso que comecei a suspeitar que o restante dos meus
parafusos estavam soltos.
Solto um bufo com os meus pensamentos e nego com a cabeça. Às
vezes, muitas das vezes, eu sou estranha, bem estranha para ser sincera.
— Olha só, vejam quem acordou. A pior companhia de viagem de
todos os tempos. — Lara fala de forma sarcástica e eu reviro os meus olhos.
— Desculpa por ser a pior companhia de viagem de todos os tempos
— falo e minha amiga da uma risada.
— Tudo bem, eu te desculpo, você estava com cara de morta viva
mesmo. — Lara diz e eu a encaro de cara feia.
— Ei, chuta menos, guria! — resmungo fazendo minha amiga rir.
— Desculpa, mas foi mais forte que eu. — Lara diz ainda rindo.
— Eu só não dormi muito bem a noite. — Estremeço com a
lembrança do último pesadelo.
— Por quê? — Ela me olha de solavanco e eu respiro fundo.
— Nada demais, só não estou dormindo bem ultimamente —
desabafo com a voz pequena.
— É por causa do tiro que levou no ombro, não é? — A voz de Lara
demonstrava a sua total compreensão.
— Também, mas não é só isso. — Dou de ombros virando o rosto
para olhar para as ruas através do vidro.
— É o dragão negro assassino, você sente falta do pilantra sombrio.
— Isso não foi uma pergunta e sim uma confirmação.
— Eu não quero falar sobre isso — digo minha voz assumindo um
tom mais forte.
—Tem certeza? — pergunta e eu engulo em seco.
—Sim, eu tenho — falo concordando com a cabeça.
E eu realmente não quero falar sobre Axel, para falar a verdade eu não
quero ter mais nada a ver com aquele homem. Apesar que… apesar de estar
carregando uma parte dele no meu ventre. Mas seja como for eu estou
cansada disso, cansada de tudo isso. Cansada de esperar, cansada de ter
minha vida mudada de cabeça para baixo e cansada principalmente de ser a
maior trouxa de todas as trouxas. Por que olha, eu vou dizer, viu? se existe
alguém mais iludida que eu, está pra nascer. Que desgosto Dora, que
desgosto! Eu queria uma vida nova antes, estava empenhada a ser boa nas
missões e agora que eu não tenho mais isso. Bem, pelo menos eu continuo
querendo uma vida nova para mim.
Apesar que agora não é só para mim, eu não estou mais sozinha. E ao
pensar nisso a realidade das minhas palavras me alcançam. Eu não estou mais
sozinha! Eu tenho uma grande responsabilidade agora, uma responsabilidade
que pelo visto eu terei que lidar sozinha. Por isso eu tenho que fazer mais por
mim e por ele ou ela, tenho que priorizar mais nós dois. Jamais perderei a
minha essência, mas tenho que me solidificar, me tornar uma rocha por nós
dois. Farei isso, tentarei e sangrarei novamente por isso, se for preciso. Mas
jamais devo aceitar menos do que nós dois merecemos. Eu tentarei ser uma
nova Isadora.
— Amiga, você tem certeza de que quer ficar com Ângelo? — A
pergunta de Lara chama minha atenção.
— Tenho sim, eu quero ter a oportunidade de conhecer um pouco do
meu irmão — digo com certeza e Lara fica quieta. — Lara! Lara, o quê? —
Indago e ela solta um bufo.
— Nada, está bem? É só que… só que eu pensei que poderíamos
morar juntas. O que acha? Melhor do que ficar com aquele embuste — Ela
pergunta com esperança e eu dou um sorriso triste.
— Desculpa, amiga! Sinto muito, mas lembre-se que Ângelo é meu
irmão. E eu nunca… — Paro me sentindo envergonhada de repente.
— Você nunca teve uma experiência do que é ter um pé no saco como
irmão, não é mesmo? — Lara pergunta e eu dou um pequeno sorriso.
— Falando assim parece que você não ama seus irmãos. — A Cutuco
de brincadeira, e Lara que bate na minha mão.
— Pare com isso, estou dirigindo sua maluca! — reclama minha
amiga e eu sorrio. — E eu não amo os retardados dos meus irmãos mais
velhos. — Esbraveja minha amiga e eu concordo sorrindo.
— Sim, Larinha, eu sei, eu sei sim — provoco me sentindo super a
vontade, até mesmo para mexer com ela desse jeito.
— O quê? — Ela pergunta como se estivesse ofendida e eu continuo a
encarar. — Está bem, mas eles não podem saber disso. Jamais darei ousadia a
eles assim. — Lara diz inconformada e eu assinto rapidamente.
— Eles não saberão disso de mim, pode deixar. — Tento não rir, mas
eu falho miseravelmente.
— Olha só, Isadora Martins, que antes nem queria saber de ser minha
amiga. E agora? — Lara tira os outros da estrada e me encara com carinho.
— Agora é a pessoa que mais confio nessa vida. — Lara revela me fazendo
arregalar os olhos.
Meu sorriso cai ao ouvir as palavras de Lara e me sinto culpada por
estar guardando um segredo. Segredo esse que eu jurei a Deus que somente
Axel seria o primeiro a saber. Obviamente ele não será o primeiro no meu
ciclo pessoal a saber, mas mamãe descobriu por conta própria e não por mim.
Eu ainda considero a minha promessa, e só falarei a uma pessoa. E essa
pessoa é o pai dele ou dela. Mesmo que ele não nos queira, mesmo que ele
nunca volte, eu irei manter isso. Pois no fundo, bem lá no fundo eu sei que
ele cumprirá a sua promessa.
— Eu me sinto muito feliz por essa confiança e principalmente por
sua amizade, Lara. — Conto e minha amiga sorrir de modo brilhante.
— Vem, vamos te levar para o otário do seu irmão já que não vai
morar comigo. — Ela diz e franzo o cenho.
— Onde Ângelo mora? — questiono curiosa. O sorriso de Lara se
transforma em uma carranca imediatamente.
— Eu posso odiá-lo, mas o imbecil mora em um bom lugar, ele irá te
mostrar. Agora, eu te levarei para o pub, sei que ele e o Rô estão lá. — Lara
fala me surpreendendo.
— Sabe Lara, para uma pessoa que odeia a outra, você sabe bastante
sobre o meu irmão. — Deixo no ar sem conseguir conter minha curiosidade e
Lara bufa.
— O que? Isso não é nada demais, ele é amigo do Rodrigo. Só isso,
que besteira, Dora! — Suas palavras saem rápidas e confusas demais.
Evitando dar uma gargalhada eu mordo um sorriso.
— Certo! — falo simplesmente e ela me encara com fervor.
— Ele só anda demais com o meu irmão, nada demais. — Continua
ela e eu confirmo.
— Certinho — digo desviando meus olhos dela, para que ela não me
veja rir.
— Dora, estou falando sério. — Lara continua e eu assinto.
— Claro, minha amiga — confirmo novamente e minha amiga me
surpreende com um rosnando.
— Olha, quer saber, eu descobri agora que você é uma coisinha chata
— diz Lara carrancuda e isso me faz rir forte. — Vou deixar você rir sozinha,
vou ligar o som.
O resmungo de Lara me fez rir mais um pouco e passar a mão na
minha barriga de modo involuntário. "É bebê, sua tia Lara ama seu tio
Ângelo. Só ela não ver isso, nós vemos, certo?" Converso com o bebê
mentalmente.
Nossa viagem não durou muito tempo e logo estávamos em frente ao
pub de Ângelo e Rodrigo. Quando entramos no lugar, mesmo que eu já
tivesse vindo aqui a não muito tempo atrás, eu não pude evitar de admirar o
local. Realmente meu irmão e o irmão de Lara fizeram um ótimo trabalho
aqui, mesmo que… mesmo que seja um lugar dúbio. Solto um suspiro caindo
na real que essa agora é minha vida, e que eu nasci nessa vida. Esse
pensamento trouxe um arrepio na minha espinha e eu faço de tudo para
ignorar.
— Oi Zah, como está? — Ouço Lara falar com a bartender. Viro
dando um sorriso para mulher linda de piercing e cabelos azuis, que antes
eram rosas.
— Boa noite senhoritas, o que vão querer hoje à noite? — Zaida sorri
profissionalmente.
— Eu quero um Chopp e saber onde estão os nossos irmãos? — Lara
pede e Zah assente, mas percebo que ela fica confusa.
— Nada para mim, obrigada — digo rapidamente porque não irei
ingerir bebida alcoólica estando grávida.
— Como? Nossos irmãos? Não entendi! — A pobre mulher fica bem
confusa agora.
— Sim, Rodrigo meu irmão e Ângelo o irmão da Dora aqui. — Lara
aponta para mim e Zaida finalmente compreendeu.
— Ah sim, eu não sabia que o Ângelo tinha uma irmã. — Sinto minha
bochecha esquentar de constrangimento. Deixe de ser tola, Dora! Me
repreendo mentalmente.
— Pois é, eu soube na surdina também. — Lara dá uma piscadela na
minha direção e eu nego com a cabeça. — Então, onde eles estão? —
pergunta novamente. Zaida tira os seus olhos confusos da minha direção e
volta a encarar minha amiga.
— O senhor Rodrigo eu não sei onde está, mas o senhor Ângelo está
nos fundos. — Ao ouvir isso de Zaida minha amiga fica rígida.
— Certo, vou até ele. — Sua voz fica desprovida de emoção. Isso me
deixa curiosa. Por que será que a informação causou isso nela?
— Lara? — Questiono e minha amiga dá um sorriso duro.
— Essa é parte ruim das coisas, vai querer ir comigo? — Lara
pergunta e eu amplio os olhos brevemente, mas logo volto ao normal e nego.
— Não, ficarei aqui com a Zaida — falo e minha amiga assente e
segue caminho até Ângelo.
— Então, você é irmã do senhor Ângelo, certo? — Tento não franzi o
cenho pela redundância da coisa e confirmo.
— Sim, eu sou — confirmo de forma sucinta.
— Quem surpresa, eu não sabia que ele tinha uma irmã. — Ela
continua e isso começou a me incomodar.
Não gosto quando as pessoas que não conheço são curiosas sobre
mim. Uma coisa que é meio contraditória já que eu sou tão curiosa quanto
qualquer um. Minha curiosidade deixava Axel no limite, e eu meio que
gostava disso. Mas porque o Axel Cox sempre foi um ótimo mistério para
mim, e fora que ele balança o meu mundo inteiro. Não, não vá por esse
caminho! Poxa!
— Foi uma surpresa para mim também — revelo de forma leve, e
evito falar novamente.
— Isadora? — Ouço alguém chamar o meu nome e não reconheço a
voz.
— Sim? — Olho para o lado oposto e dou de cara com Rodrigo
Alvarez, o irmão de Lara.
Encaro Rodrigo notando abertamente como ele é um homem bonito,
muito bonito na verdade. Seus cabelos loiros estão um pouco mais curtos que
dá última vez que eu o encontrei. Ou também pode ser coisa da minha
cabeça, e eu não prestei tanta atenção assim nele. Ele tem olhos claros, mas
não sei dizer se são verdes, como os de Lara, ou azuis. Seu corpo bem, eu não
posso dizer com certeza, mas ele é forte, muito forte se for olhar pelas suas
costas largas presas na jaqueta de couro amarronzada. Rodrigo é alto, tem um
olhar intenso demais, mas eu sustento o seu olhar porque a sua intensidade
não chega aos pés do meu homem obscuro.
— O que faz aqui sozinha? Onde está o Ângelo? — Rodrigo pergunta
seriamente e eu me sinto coagida por um breve momento.
— Er... bem… — Começo, mas o homem não me deixa falar.
— Foi a Lara? — pergunta entre dentes. Posso notar a sua
preocupação, então eu nego rapidamente e ele relaxa visivelmente. — Ah
bom, então? — Indaga e eu tento não revirar os olhos.
O que há com esse homem, por que não deixa a pessoa a falar? Penso
irritada.
— Lara foi chamar Ângelo para mim, já que você também não estava
por perto — respondo rapidamente antes dele me atropelar.
— Oh sim, entendo. — Rodrigo olha em volta e depois volta a me
encarar. Sinto que ele está me analisando, e eu me sinto esquisita com isso.
— Então, acho que fui meio indelicado. — Oh, não me diga moço!
— Não, tudo bem — respondo dando um sorriso sem graça. Minha
vontade é gritar: Sim, muito indelicado, então sai. Mas eu não sou assim.
— Não está tudo bem, então deixa eu me apresentar melhor. Porque
eu acho que nunca fomos realmente apresentados. — Rodrigo fala
estendendo a sua enorme mão na minha frente. — Eu sou Rodrigo Alvarez,
irmão da maluca da Lara e amigo de infância do seu irmão. Prazer em te
conhecer, Isadora. — Rodrigo fala de uma forma simpática, me pegando
desprevenida.
— Prazer em te conhecer, Rodrigo. — Aceito o seu cumprimento,
sentindo a sua mão cobrir a minha.
Quando eu acho que não posso mais me surpreender, Rodrigo vai e
beija as costas da minha mão. Oh, minha nossa senhora das mocinhas
esquisitas como eu!
— Você está deixando a minha irmã sem graça, Rodrigo. — Ouço
meu irmão e não consigo conter a respiração de alívio.
— Angel! — exclamo feliz ao vê-lo sorrir para mim de modo doce e
malicioso ao mesmo tempo.
— Ele está mais para demônio do que Anjo — resmunga Lara indo
em direção ao seu irmão, enquanto eu corro para o meu.
— Assim você fere meu coração, pequena Lara. — Meu irmão diz
passando os braços envolta da minha cintura.
— Para que seu coração fosse ferido você deveria ter um, satanás! —
Lara fala fazendo Ângelo rir enquanto nega com a cabeça.
— Você fez boa viagem, hermanita? — pergunta Ângelo e eu
concordo.
— Sim, correu tudo bem. — Olho para Lara que ignora Ângelo e sorri
para mim.
— Pensei que vocês iam direto para casa de Ângelo. — Rodrigo fala
enquanto puxa Lara para ele.
— Eu não ia deixar Dora sozinha na casa do embuste — reclama Lara
e Rodrigo revira dos olhos.
— Deixe se ser tão direta, mana. — Rodrigo fala seriamente e Lara
dar de ombros.
— Tenho a quem puxar, por que você é o homem mais direto que
conheci. Se Satã e eu demorássemos é capaz de você dar em cima de Dora.
— Minha amiga fala e Rodrigo olha para mim de forma lasciva. — Cuidado
irmão, minha amiga tem um dragão negro assassino sondando sua vida. —
Alerta ela.
— Eu protejo minha irmã de bastardos, e isso serve para você, amigo.
— Ângelo me aperta mais nós seus braços e eu me afasto. Mas não antes de
ver Rodrigo revirar os olhos.
— Você assim vai me sufocar, homem — reclamo o fazendo beijar
minha testa.
— ¡Lo siento hermanita! — Se desculpa brincando com as
sobrancelhas. — Já jantou? — nego no mesmo momento que minha barriga
ronca vergonhosamente.
— Bem, não — falo dando de ombros tentando parecer que meu
estômago respondendo por mim é algo bem normal e nada vergonhoso.
— Então vamos jantar? Todos nós? — Ângelo sugere me fazendo
olhar para Rodrigo e Lara.
— Não, amigo, alguém tem que ficar. — Rodrigo rejeita se
justificando.
— Eu vou ficar com o Rô, e tomar um chopp já que você rejeitou. —
Lara diz tentando soar inocente e eu sorriu.
— Já que é assim, vamos embora? — Ângelo pergunta e eu concordo.
— Podemos pedir algo que você goste, o que quer? — Indaga ele e eu fico
nervosa por um tempo.
— Podemos ver algo na sua casa, eu posso cozinhar para nós dois. —
Sugiro e a expressão de Ângelo se ilumina.
— Você cozinha? — pergunta meu irmão e eu assinto
rapidamente. Pena que nunca tive a oportunidade para cozinhar para os
meninos... Oh não Isadora, para! Me chuto mentalmente
— Aprendi com a melhor, minha mãezinha — confirmo e ele passa a
mão na minha cabeça.
— Eu adoraria experimentar sua comida, mas por agora pedirei a
Luíza que prepare algo leve para nós dois, o que acha? — Ângelo fala e
quando eu abro a boca para falar ele me interrompe antes mesmo que eu
começasse. — Você deve estar cansada, vejo isso claramente nos seus olhos
fundos e inchados. — Sinto vergonha que ele tenha visto que eu estou tão
cansada, mas não posso fazer nada além de concordar com ele.
— Por mim está tudo bem — confirmo e ele sorrir tranquilamente.
— Cuidado, Dora, o diabo também pode ser gentil às vezes. — Lara
solta fazendo Ângelo assumir uma posição rígida.
— Vamos Lara, deixe sua amiga ir com o irmão dela. Até amanhã,
amigo! — Rodrigo se despede acenando para Ângelo, que retribui com um
aceno de cabeça.
— Vejo você na faculdade, Lara? — indago a Lara que desvia o olhar
de Ângelo para mim.
— Pode apostar que sim! Até mais, Dorinha. — Se despede minha
amiga.
Aceno para Lara uma última vez e deixo com que Ângelo me guie até
a saída. Quando chegamos lá percebo que os seus homens já estavam à nossa
espera, com um carro em prontidão. Durante a viagem até a casa de Ângelo,
nós dois falamos sobre coisas triviais, sobre a minha faculdade, como foi a
visita dos meus pais e muitas outras coisas. Nem Lara e muito menos Axel
foi citado no momento, apesar de imaginar que Ângelo saiba que eu quero
fazer perguntas. Assim como eu sei que ele quer saber sobre Axel e eu.
Novamente eu sinto o bichinho da culpa me morder por não poder contar
ainda a Ângelo que ele terá um sobrinho. Mas não é o momento, ainda não
pelo menos.

— Chegamos! — Ângelo fala e eu olho para fora pela primeira vez.


— Nossa, você mora na praia? — pergunto espantada pela enorme
mansão linda a minha frente.
— Sim, eu amo a calmaria que o mar pode trazer. Ele me ajuda a
acalmar alguns demônios. — Sinto o cheiro específico de maresia e o
encaro.
— Acho que sei exatamente como é, acho que deve ser a mesma
sensação de quando estou no sítio dos meus pais. Ali eu posso me reconectar
com a vida, é bem assim, não é? — digo e Ângelo solta um suspiro desviando
os olhos.
— Bem assim mesmo. — Sua voz sai suave como um sussurro. —
Vamos, vamos entrar. Levarei você para o seu quarto, depois podemos comer
algo leve e conversar. O que acha?
— Acho legal, muito legal mesmo — respondo e ele dar um sorriso
radiante.
A casa de Ângelo é a coisa mais linda que eu já vi na minha vida.
Tudo parece ser meticulosamente feito e colocado com perfeição. Não pude
ver cada detalhe, mas a minha curiosidade é tão grande que ele me prometeu
um tour logo mais. Fui levada para o segundo andar da enorme mansão,
entramos em um quarto espaçoso, com uma varanda incrível com uma vista
esplêndida do mar.
— Meu Deus! Que lindo, Ângelo — exclamo perdidamente
encantada.
— Eu queria que você tivesse a visão que eu tenho todos os dias. O
amanhecer aqui é… não sei que palavra usar. — Meu irmão respira fundo e
eu olho novamente para as ondas
— Obrigada! — Agradeço porque eu não tenho outra coisa para dizer
a não ser agradecer.
— Não precisa agradecer, só quero que você tenha o melhor momento
aqui. — Ângelo fala e eu olho na sua direção com um pequeno sorriso. —
Tem roupas para você, pedi a Luíza para pegar algumas peças que caberiam
em você.
— Não precisava, Ângelo, você… — Tento falar, mas Ângelo me
impede levantando a mão.
— Falar não vai adiantar, irmãzinha. Eu sempre farei tudo por você.
Quero recuperar os anos perdidos. — Ângelo se aproxima e deixa um beijo
na minha testa. — Se acomode e venha para jantarmos. — Com isso ele se
afastou e foi até a porta.
Assim que Ângelo fechou a porta atrás dele eu me afundei no lugar
colocando a mão na minha barriga. Espero que tudo dê certo, eu realmente
espero isso.
— Morar com o seu tio é o melhor bebê, tenho certeza que é o
melhor. Precisamos disso, nós precisamos nos conectar. — Converso em
forma de sussurro, sabendo que não teria nenhuma resposta.
Isso tudo é muito novo, agora vamos ver se vai dá certo. E eu vou dar
o meu melhor para que sim.
Meu corpo se acalma com o som das ondas do mar batendo nas rochas,
fecho meus olhos inspiro profundamente contemplando o cheiro agradável de
maresia. Nunca imaginei que um dia eu poderia estar acomodada em um
lugar como esse, isso é totalmente fora da minha realidade. Mas parando para
pensar, eu não sei mais o que eu posso chamar de realidade. Minha vida
inteira está virada de cabeça para baixo, antes eu era uma pobre menina que
morava em um sítio com os pais idosos. Depois vim para outro estado para
fazer faculdade, passei por várias coisas desagradáveis até ser submetida a
toda intensidade obscura do homem que hoje sou completamente apaixonada.
E que como se não fosse bastante, deixou uma parte dele crescendo dentro do
meu ventre.
E será que isso acabou? Oh não, isso não acabou! Não acabou porque
depois de ser abandonada grávida, por mais de um maldito mês, eu descobrir
um irmão. Um irmão que quer cuidar de mim, quer me conhecer e me
mostrar o outro lado da vida. Que vem acompanhado com um quarto digno
de uma princesa que tem seu próprio mar noturno na varanda. Sinto uma
risada ridícula escapar entre os meus lábios, mas eu bato as mãos na boca na
intenção de parar a minha histeria. Eu iria odiar que Ângelo pensasse que eu
sou maluca e me colocasse no hospício mais próximo. Apesar que não seria
uma coisa muito ruim, porque eu me vejo tão ansiosa e nervosa o tempo todo.
Sendo assim acho que ser internada em um lugar desse não é uma coisa tão
ruim.
Oh Jesus Cristo, olha que pensamento estou tendo!
Nego com a cabeça e levanto do chão da varanda, acho que já fiquei
tempo o suficiente admirando o mar. Agora é hora de ir jantar com Ângelo,
sinto minha barriga roncar de forma louca novamente. Dou uma última
olhada para o mar, saindo do quarto logo em seguida. Se eu ficar aqui por
mais tempo é capaz que eu me distraia, e acabe desmaiando de fome. Ando
pelo corredor que eu vim com Ângelo, olho encantada para as paredes
brancas com alguns quadros as enfeitando. Eu não conheço nada sobre arte,
mas tenho a ligeira impressão que um quadro desses custaria muito mais que
o terreno do sítio dos meus paizinhos.
— Hermanita? — Ouço Ângelo me chamar assim que chego nas
escadas. — Eu estava quase indo te buscar, pensei que estava perdida — diz
com um ar de riso.
— Eu poderia me perder facilmente nesse lugar enorme. — Admito
segurando firme no corrimão. Meu maior medo hoje em dia é levar um
tombo, ainda mais agora na minha atual situação.
— Não seja tão exagerada! — Ângelo fala rindo.
— Exagerada? Isso aqui é uma mansão, meu caro guri. — Minha voz
debochada saiu sem querer.
— Não posso fazer muita coisa se eu gosto de um certo conforto. —
Ele diz abrindo seus braços, apontando para todas as direções.
— Um grande conforto pelo que vejo. — Me aproximou dele, que
passa os braços em volta dos meus ombros.
— Uma hora dessas você vai se acostumar. — Ângelo fala me fazendo
levantar a cabeça e encontra seus olhos.
— Eu tenho certeza que sim. — Confesso me sentindo envergonhada
de repente.
— Senhor, senhorita? — Uma voz feminina nos chama.
— Sim, Luíza? — Ângelo responde.
Olho em direção a mulher alta, de pele dourada, olhos e cabelos
escuros presos em um coque apertado e muito arrumado. Usando uma roupa
formal, que consiste em uma saia abaixo do joelho na cor preta, uma camisa
branca de tecido leve arrumada formalmente dentro da saia. Os saltos altos
pretos, são somente um complemento que a deixam mais perfeita ainda.
— Eu vim avisar que o jantar está pronto. — Luíza fala e meu irmão
assente de forma séria.
— Tudo bem, estamos indo. Mas antes… — Ele olha para mim. —
Quero que você conheça a minha irmã, Isadora Martins. — Ângelo passa a
mão na minha cabeça, fazendo com que eu queira lhe dar uma
cotovelada. Ele dando tapinha na minha cabeça, parece que eu sou criança.
Que horror!
— É um prazer te conhecer, Luíza. — A cumprimento e ela dá um
sorriso educado.
— O prazer é todo meu, senhorita Martins. — Fiz uma careta ao ouvi-
la me chamar desse jeito formal.
— Por favor, me chame de Isadora ou Dora. O que você preferir. —
Peço e ela assente de forma leve.
— Como desejar. — Vejo um sorriso no canto dos seus lábios, isso me
deixa relaxada.
— Luíza é a minha governanta, tudo o que você precisar é só pedir a
ela, tudo bem? — Ângelo pergunta e eu concordo de modo rápido.
— Sim, entendi. — Sorri para a mulher linda a minha frente.
— Se tudo está nos conformes, então vamos jantar. — Ângelo diz e me
leva junto com ele.
Chegamos na sala de jantar, e a primeira coisa que senti foi o cheiro
delicioso da comida. Obviamente o cheiro apetitoso fez o meu estômago
roncar alto, fazendo o meu irmão rir disso. Descobri que o aroma bastante
convidativo que estava sentindo era de Frango Xadrez. Quando sentamos a
mesa, duas mulheres com uniformes entraram prontas para nós servi. Olhei
aquilo achando bastante pomposo e fora da minha realidade. Tentei até não
deixar elas me servirem, mas os rostos marcados de sofrimento, ao olhar de
solavanco para Luíza, me fizeram mudar de ideia. Dei um sorriso aberto e
agradecido para as duas assim que meu jantar estava a minha frente. O alívio
das duas foi tão nítido que eu quase levanto da cadeira para abraça-las.
A comida estava com um gosto de céu, degustei cada garfada sem
esconder o meu contentamento. Toda vez que eu olhava para Ângelo ele
estava com uma expressão feliz no rosto. Admito que ver aquilo me deixou
um pouco sem jeito, então para disfarçar eu iniciei uma conversa. Contei ao
meu irmão como foi legal poder ir visitar os meus pais depois de tudo aquilo
que eu passei. Ele concordou comigo, falando que eu precisava de contato
com pessoas normais e que não iriam ficar me lembrando a cada minuto o
que passei. Tive que concordar com ele, por que era a mais pura verdade. Foi
aí que eu percebi que é muito bom poder falar sobre isso, com alguém que irá
me entender.
— Como foi sua infância, Isa? — A pergunta fez meu corpo ficar
rígido. — O que foi isso? Por que ficou tensa de repente? — A voz dura dele
me fez negar com a cabeça.
— Não é nada demais, é porque… — Não consegui terminar de falar.
— Seus pais eles te mal… — O tom descontente de Angel fez meus
olhos ampliarem.
— Oh não, meus pais nunca me maltrataram! Eles são as melhores
pessoas que existe nessa vida. — Defendi meus paizinhos com fervor e
rigidez.
— Sinto muito, eu só estou querendo entender seu desconforto. —
Ângelo estende a sua mão e eu seguro dando um sorriso leve.
— Desculpe o nervosismo repentino. — Me desculpo ele dá uma
tapinha carinhosa na minha mão.
— Não, não se desculpe. Eu não deveria deduzir nada. — Diz
levemente e eu concordo. — Então, me diga.
— Como eu disse, meus pais são ótimos realmente. Eles sempre
fizeram o que podiam por mim, eles são bem idosos e eu faço de tudo para
mantê-los o maior tempo possível ao meu lado. Se fosse só por eles a minha
infância e adolescência seriam ótimas, mas… — Paro engolindo em seco. —
Mas as crianças podem ser bem cruéis algumas vezes.
— Você sofria bullying? — A pergunta raivosa do meu irmão me fez
fazer um gesto de desdém com a mão.
— Não se irrite homem, já passou. — Digo tentando passar um pouco
de verdade.
— Isa! — Ele diz em um tom de aviso. Oh meu Deus, ele pode ser
igual a Axel quando está assim.
Merda, não! Por que eu sempre tenho que pensar nele?
— Tudo bem, pode não ter passado assim tanto tempo, mas hoje eu sei
me impor. Eu nunca mais vou deixar as pessoas acharem que eu sou inferior.
Nunca mais eu vou deixar alguém me humilhar e me subjugar. — Digo com
raiva dando um soco na madeira da mesa.
— Me conte! — Pede meu irmão. Solto uma respiração tensa,
descansando minhas costas no encosto da cadeira.
— Eu nunca fui a pessoa mais vaidosa do mundo, também meus pais
não tinham condições financeiras boas para eu ser uma adolescente
preocupada com aparência. As minhas roupas antigas eram feitas pela minha
mãe, e ela tinha a sua própria visão de moda. — Dou um sorriso carinhoso e
Ângelo assente.
— Eu lembro. — Ele diz lembrando da primeira vez que nós
encontramos.
— Pois é, você me conheceu antes e viu como me vestia antes. E acho
que era justamente pela minha vestimenta, junto com o meu jeito idiota de
ser, que fizeram as pessoas pensarem menos de mim. — Conto ao meu irmão
que cerra os punhos.
— O que fez você mudar? — Ele aponta em minha direção.
— O Axel… — Dessa vez minha voz sai como um sussurro. — Ele me
mostrou que eu sou mais do que a Dora feiosa, eu sou a Isadora Martins. —
Continuo após soltar um pigarro.
— Sério? — Ângelo me encara com desconfiança.
— Sim, desde o momento que ele… — Paro de falar após ver a cara de
Ângelo.
— Ele o quê? — Questiona ele.
— Desde que ele me sequestrou, disse que iria na mostrar o meu "eu"
de verdade. — Explico. Ao ouvir o silêncio de Ângelo eu levanto a cabeça
para encarar a sua feição febril e irritada.
— Axel sequestrou a minha irmãzinha. — Ele diz de forma lasciva
pronto para matar alguém. — Eu vou matá-lo! — Não gostei de ouvir isso
dele.
— Não, Ângelo, você não vai. — Revelo com firmeza e ele me encara
como se eu estivesse louca.
— Mas ele… — começa e eu o encaro irritada.
— O Axel é meu, e eu não gosto de saber que o meu irmão quer matar
o meu homem. — Sinto uma raiva querer me consumir.
— Isa, ele te deixou! — Ângelo aponta furioso e eu concordo.
— Eu sei, eu estou puta com ele. E por mais que eu não admita isso, eu
sei que ele vai voltar. — Solto um suspiro. — Pode até ser meio doentio isso
o que eu vou dizer. Mas Axel fala que o pertenço, só que ele ainda não sabe
que me pertence da mesma medida.
As palavras saíram da minha boca antes que eu me desse conta do que
acabei de falar. Senti uma onda de possessividade tomar conta do meu corpo
por inteiro, só de ouvir que alguém queria machucar aquele homem infeliz.
Isso é uma coisa que eu não posso admitir, até o momento eu posso dizer que
eu odeio Axel Cox. Mas o meu ódio por ele tem mesma medida que a minha
paixão. Não sei o que será de mim quando o encontra novamente, mas uma
coisa é certa, eu vou mostrar a ele que eu não sou uma mulher indefesa e
descartável. Somente pensar nisso meu coração bateu como um louco no meu
peito, e tenho certeza que é de expectativa. Porque lá no fundo eu sei, eu sei
realmente que ele logo estará chegando.
— Acho que aquele desgraçado fez um bom estrago em você. —
Ângelo fala sorrindo ferozmente.
— Sim, ele fez! — Confirmo tocando a minha barriga, escondida pela
mesa.
— Você é feroz, irmãzinha. Não nega o sangue que corre nas suas
veias. — O contentamento na voz de Ângelo não escapou de mim.
— Pode ser! — digo dando de ombros. Ainda fico meio sem jeito para
pensar nisso.
— Então, amanhã você vai para faculdade? — indaga e eu nego com a
cabeça. — Por que você não chama a pequena Lara para vir aqui ficar com
você? Vocês duas podem ir curtir um pouco a praia. — Ângelo sugere e eu
analiso o que ele propôs.
— Pode ser bem legal, você vai estar também? — pergunto e ele nega.
— Não, eu tenho negócios para tratar e não quero te deixar sozinha
aqui no seu primeiro dia em casa. — Meu irmão confessa e eu dou um
sorriso.
— Você me mimando desse jeito vai me deixar mal acostumada. —
Brinco jogando o meu guardanapo nele.
— Eu já te disse que estou recuperando o tempo perdido. — Ângelo dá
uma piscadela me fazendo nega com a cabeça.
— Se é assim tudo bem. — Sorrio para ele que sorrir de volta. — Vou
mandar uma mensagem para Lara quando subir.
— Faça isso, acho que Luíza deve ter comprado algumas roupas de
banho para você — fala e eu fico meio envergonhada de repente.
— Não precisava, você sabe disso, certo? — Questiono e ele faz um
gesto de desdém com a mão.
— Eu já disse que gosto de te mimar. — Ângelo fala de forma
tranquila, e eu resolvo deixar isso pra lá.
Ângelo e eu ficamos mais algum tempo conversando, até que o cansaço
tomou conta do meu coração. No momento que ele viu a minha boca abrindo
várias vezes, ele disse que era melhor eu ir dormir. Eu nem sequer pude
pensar em ter uma discussão com ele, porque estava na minha cara que eu
estava morrendo de sono. Dei um abraço de boa noite ao meu irmão,
aproveitando cada segundo do abraço pois eu estava me sentindo muito feliz
em ficar esse tempo com ele. Me afastei de Ângelo, observando o seu sorriso
carinhoso e subir para o meu novo quarto. Chegando lá, eu fui no banheiro
lindo e todo em detalhes branco e marrom claro.
Tirei as lentes de contato, tomei um banho rápido, escovei meus dentes,
e depois de limpa peguei qualquer roupa de dormir na minha bolsa. Estou
evitando o closet ainda, não quero me assustar com o que quer que tenha lá.
Pelo pouco que vi de Ângelo de e da sua governanta, tenho plena certeza que
eles só escolheram o melhor para mim. E posso confessar que essa ostentação
me assusta um pouco. Já vestida com um pijaminha confortável, lembrei de
mandar mensagem para Lara.
"Ângelo vai sair amanhã, e como não quer me deixar sozinha ele
sugeriu que te chamasse para passar um dia de praia. O que acha?"
Me surpreendo pela resposta rápida vindo dela.
"Até que o seu irmão panaca tem boas ideias. Pode contar comigo,
mas terei que levar minha irmã. Tem problema?"
"Não, não tem problema algum. É bom que eu a conheço."
Fico espantada ao saber que a irmã de Lara virá também. Pelo o que eu
soube o marido dela é muito controlador, que é uma coisa que Lara mais
odeia na vida.
"Aconteceu alguma coisa para sua irmã está com você?"
"Mais ou menos, ela brigou com o filha da puta. O que deixa meu pai
puto e eu muito contente. Odeio aquele idiota!"
"Então traga ela mesmo, vai ser legal para ela"
"Você é um anjo, Dorinha!"
"Não sou, não!"
"É sim!"
"Vá a merda!"
"Pegou o gosto de mandar as pessoas ir a merda, isso é bom. Minha
amiga está crescendo, meu orgulho!"
"Olha, eu vou dormir. Tchau!"
É impossível não rir ao ler essa mensagem, porque Lara consegue
muito isso comigo. Eu não sei o que vou fazer com essa garota. Ainda com
um sorriso no rosto, eu deito na cama confortável e antes que eu possa pensar
em mais uma coisa meu corpo sucumbiu ao sono.
No dia seguinte eu acordei como todos os dias. Apavorada, suando
muito, coração acelerado, a cicatriz doendo e desnorteada sem saber onde
estou. Mas logo tudo passou quando um forte enjoo me fez correr para o
banheiro. Mais um dia de grávida na vida de Dorinha. Nossa isso daria um
diário ridículo. Depois que todo enjoo passou, eu corri para me limpar. No
momento que sai do banheiro, eu sabia que não podia correr mais e teria que
enfrentar o closet. Então eu reuni minha coragem e vergonha na cara e fui
averiguar as roupas. Quase caí para trás com o tanto de coisa que tinha no
closet. Eram blusas, shorts, vestidos casuais e vestidos de festas. Todos os
tipos de calçados, bolsas, entre outra coisas.
Meu Deus, eu acho que o Ângelo é maluco! Pra que isso tudo? Penso
comigo mesma.
Sem querer ficar pensando muito que logo todas essas roupas não vão
caber em mim, já que daqui a algum tempo a minha barriga vai crescer e eu
virarei uma bola. Eu procurei uma roupa de banho. Acabei encontrando um
maiô preto muito lindo, uma saída de praia longa que mais parece um
vestido. Coloquei uma sandália confortável, minhas lentes de contato, prendi
o cabelo e pronto. Estava pronta para comer! Quando desci a Luíza já estava
me esperando, a cumprimentei e agradeci muito pelas roupas. Ela sorriu de
modo profissional, e foi logo me dando o recado de Ângelo, que claro já
tinha ido resolver seus negócios. Mas disse que se chegar cedo, ele vai nos
encontrar na praia.
Fiquei contente pela prestatividade de Angel, e posso dizer que fiquei
na expectativa de que ele possa vir para que nos faça companhia. É óbvio que
isso vai deixar Lara possessa, mas vai ser bem legal vê-los se provocar.
Falando em Lara, ela chegou com a sua irmã, Amanda, no momento que eu
havia terminado de tomar o meu café da manhã. Amanda é uma mulher
muito bonita que tem um corpo gordinho como o de Lara. Ela é menor em
altura que a irmã caçula, seus cabelos são loiros escuros, seus olhos são
castanhos claros, quase avelãs.
Percebi a tristeza no seu olhar assim que ela me encarou, o que me deu
vontade de abraçá-la e dizer que tudo iria ficar bem. Ela é gentil, e doce como
Lara, a diferença é que a Amanda é bem calma e a irmã um furacão de
emoções. Agora estamos sentadas de modo confortável nas espreguiçadeiras,
com os pés enterrados na areia, e o mar a nossa frente.
— Isso aqui é bom demais! — Lara fala cruzando seus braços no alto
da cabeça, enquanto fecha os olhos. Ela está com um conjunto de biquíni
vermelho, que fica divino e sexy nela.
— Eu estava precisando disso. — Amanda fala em um tom triste. —
Obrigada pelo convite, Isadora. — Amanda fala e eu viro a cabeça para
encará-la.
— Não me agradeça, eu estou adorando te conhecer. Lara fala muito de
você. — Conto para Amanda que encara minha amiga com a sobrancelha
arqueada.
— Você fala de mim, Lala? Você me ama muito, eu sempre soube
disso. — Lara virar a cabeça para olhar a irmã de cara feia.
— Eu nunca falo bem de você, eu sempre digo o quanto você é
insuportável. — O sorriso debochado de Lara me faz rir.
—Mentira, você não fala isso de Amanda e sim do Rodrigo. — Conto e
Amanda rir.
— O mesmo Rodrigo que ia dar em cima de você se eu e Satanás não
tivéssemos chegado? — Lara diz e meus olhos se ampliam.
— Lara! — Grito nervosa, mas a minha amiga começa a gargalhar.
— Mentira! Meu irmão deu em cima de você? — Amanda pergunta e
Lara ri.
— Não foi assim! — falo nervosa com Amanda. — Lara, pare! —
Minha amiga continua rindo do meu desespero.
— Sim, ele nem ligou que ela seja mulher do Axel Cox. — Lara aponta
e eu nego fervorosamente.
—Eu não sou mulher de ninguém! — Enfatizo com firmeza.
— Cox? O mercenário? — Amanda indaga arregalando os olhos.
—O mesmo! — Lara fala, para logo após soltar beijo na minha direção.
— Desde quando essa conversa passou de você amando seus irmãos,
para Axel? — Pergunto sem entender e Amanda ri com vontade.
— Lara tem essa mania, quando ela fica sem graça por alguma coisa
ela sempre vem com assuntos aleatórios. — Amanda fala. Vejo Lara fechar o
sorriso no mesmo momento.
— Ah sim, do mesmo modo que ela faz quando falo dela e Ângelo. —
Provoco olhando para Lara que cerra os olhos na minha direção.
— Bem, bem assim! — A risada de Amanda é contagiante.
— Vocês são duas palhaças! — Minha amiga reclama cruzando os
braços.
— Olá senhoritas, senhora! — Ouço a voz de Luíza e isso me faz virar
olhar para trás.
Observo a governanta do meu irmão se aproximando ao lado de umas
das ajudantes e um dos homens de Ângelo, com algumas bandejas. A graça
de Ângelo ter sua praia particular no quintal de sua mansão, é que o serviço é
excepcional. Somente esse pensamento idiota me faz rir.
— Isso aí porra, comida! — Lara exclama feliz. — Luíza você é a
melhor! — Ela diz e Luíza sorri educadamente.
— Obrigada, senhorita Álvarez! — Luíza agradece colocando algumas
bandejas de comida e drinks na mesa de madeira.
— Eu estou louca por um bom drink! — Amanda fala expectativa.
— Eu vou ficar somente no suco. — Digo e Lara me olha com cara
enojada.
— Qual é a graça de ter uma tarde na praia de meninas, se essas
meninas não forem ficar bêbadas? — O questionamento de Lara me faz
revirar os olhos.
— Espero que gostem de camarão, meninas. — Luíza fala abrindo o
recipiente. O cheiro forte de camarão chega até o meu nariz, imediatamente
eu sinto o meu estômago embrulhar e eu coloco a mão no nariz.
— Oh jesus! — Murmuro enjoada. Ao ver minha reação, Luíza fecha
novamente o recipiente sem entender nada.
— Eu nunca vi ninguém ter essa reação ao cheiro de camarão , a não
ser que… — Amanda para de fala de repente e eu fecho os olhos. — A
pessoa esteja grávida. — Ouço ela falar ao meu lado. Imediatamente sinto o
meu corpo ficar rígido, eu não estava esperando por isso. Não mesmo!
— Dora! — Lara chama, mas eu não tenho coragem de olhar na sua
direção. — Oh meu Deus, não me diga que você... Dora, você está grávida?
E agora, o que eu devo dizer? Será que devo mentir, ou deixar como se
nada estivesse acontecendo. Cristo, e agora?
O dia hoje aqui em New Jersey está chuvoso, nublado e posso dizer que
está um pouco opressor. E eu gosto disso, esse é o indício que será um bom
dia, um fodido dia sangrento e nebuloso do jeito que sempre estive
acostumado na vida. Me sinto confortável assim, ou pelo menos eu acho que
sim, porque eu não sei se agora eu posso dizer isso com toda certeza. Não
depois que a minha menina tola entrou na porra da minha vida. Inferno
sangrento! Eu tenho a fodida certeza que me transforme em um verdadeiro
idiota, por que agora estou até usando de metáforas para falar sobre o calor
que Isadora trouxe para minha vida cheia de frieza e sangue seco manchando
os meus ternos caros.

Pensar em tudo isso me fez lembrar exatamente no dia que o meu


caminho obscuro cruzou com o caminho da inocente e gentil Isadora. A
pobre menina não fazia ideia da merda que estava fazendo quando me
ofereceu aquilo que nunca tive na vida. Que era exatamente gentileza,
inocência, calor e… luz. Para um sujeito que sempre teve uma vidinha
solitária de merda, que nem se assombra ou sente remorso por tantas mortes
que tem nas costas, ter alguém tão puro quanto a minha menina é algo
imensurável. E agora eu me vejo aqui, pensando nela, louco de ódio por estar
longe dela, pronto para terminar essa merda aqui para ter minha menina nos
meus braços novamente.

Esse não é o momento para se pensar nisso, principalmente agora que


estou sendo impedido de ir até onde Killian e sua esposa ordinária estão
sendo mantidos. Porque sim, eles foram capturados pelos homens de Declan
quando estavam prontos para embarcar para fora do país. Deixando suas
merdas e os seus rastros para trás. Eu queria muito estar lá agora, mas estou
aqui em um restaurante vazio frente a frente ao Senador Silas Bennett. Ele me
procurou ontem à tarde querendo marcar esse encontro comigo, pensei
seriamente em não aceitar. Eu não tinha tempo disponível para ele, tenho
coisas mais importantes para tratar.

— Diga-me novamente o que você disse por ligação, senador — falo


vendo o Senador Silas hesitar por um breve momento.

Olho para Earl que foi o único a vir comigo a esse encontro, ele me
encara confirmando que tudo está nos conformes. E isso me faz voltar a
atenção para o Senador.

— Como você não existe formalidade, não é mesmo Cox? — O


Senador fala e eu cruzo minhas pernas, descansando uma das minhas mãos
no joelho.

— Não Senador, por tanto diga logo que tem que dizer. — Fixo o meu
olhar no homem negro, olhando para mim como se estivesse me estudando.

Estou acostumado com essa merda, todos fazem isso e o Senador não
seria diferente.

— Se é assim, tudo bem — diz ele com um certo desgosto. — Como eu


disse na ligação mais cedo, quero que você e sua equipe trabalhem
exclusivamente para mim. — Silas fala com uma certa firmeza.

— Sim, isso eu já sei. — Faço um gesto de desdém com uma das mãos.
— Por que esse convite repentino? Será que o Senador não tem nenhum
cachorrinho armado pronto para fazer seu trabalho sujo? — Ele abre a boca
para dizer algo, mas eu sou mais rápido. — Oh sim, você tem, mas nenhum
deles são páreos para a minha equipe, estou certo? — digo a situação e Silas
relaxa o seu corpo me surpreendo com sua atitude relaxada.

— Não, Axel, eu tenho bons homens à minha disposição. — Ele para


por um tempo e me encara. — Você sabe como é Cox, você era um dos
melhores agentes da… — O impeço de dizer a merda que ele iria soltar.

— Meu passado não precisa ser mencionado, Bennett. — Aviso


furiosamente e ele solta um suspiro.

— Certo, eu sinto muito! — diz o filho da puta. E eu sei que ele não
está sentindo merda nenhuma.

— Continue a explicação. — Induzo tentando fazer meu corpo regredir


a irritação.

— Não tenho muito a explicar Cox, eu me candidatei à presidência há


alguns meses. E é bem provável que eu seja eleito, estou trabalhando
duramente para isso. — Silas diz com segurança, o que me faz querer revirar
os olhos.

— Você está seguro demais. — Aponto o óbvio e ele dá um sorriso


amplo. Mostrando seus dentes perfeitos de político de merda.

— Assumo que estou realmente, e é por isso que preciso de sua equipe
aos meus serviços. Eu sei o quanto vocês são bons, você é bom. Vocês
trouxeram a minha filha em segurança para casa. — Me sinto irritado com o
seu olhar agradecido na minha direção.

— É por fazer isso, você acha que eu aceitarei o seu convite — falo
sabendo que minha voz assume um tom sarcástico.

— Não por isso, eu não penso assim. Mas tenho dois motivos que fará
com que você pense bem sobre aceitar o emprego que estou oferecendo. —
Silas explica e eu franzo o cenho.

— E o que seria? — pergunto apertando minha mão com força no


joelho.

— Seu irmão e sua namorada. — Não fiz qualquer reação ao ouvir isso
no primeiro momento. — Como é mesmo o nome da adorável moça… ah
sim, Isadora. Não é isso? — Silas me encara fixamente do mesmo modo que
o encaro.

— Como sabe sobre Craig e Isadora? — questiono calmamente. Sem


mostrar a esse filho da puta que o que ele disse não me deixou puto feito o
inferno.
— Isso não é relevante, mas confesso que saber que aquela adorável
jovem que estava falando comigo naquela vez é a sua mulher. Isso realmente
me surpreendeu, tenho que admitir. — Ele ficou com uma expressão
pensativa. — Seu irmão ainda é fugitivo, estou certo? Que eu me lembre dos
arquivos, ele ainda está meio que fugindo da prisão por assassinato. Não é?
— Silas disse e eu mordi a mandíbula com força.

— Senador, não abuse da sorte. — Aviso em tom frio e ele nega com a
cabeça rapidamente. Ele está mexendo com coisas que ele não deveria, a
minha paciência estará acabando muito em breve.

— Não estou fazendo ameaças ou qualquer coisa assim, Cox. — O


desgraçado fala de modo direto. — Estou querendo dizer aqui é que se você
aceitar trabalhar em pró dos meus interesses eu posso lhe dar alguns
benefícios. — Silas diz e ao invés de dar alguma resposta a ele eu levanto da
cadeira.

— Essa conversa acabou por aqui — confirmo de forma passível.

— Axel, pense como seria mais segura a vida da sua mulher, do seu
irmão e dos seus homens. — O senador diz e eu encaro como se fosse um
inseto.

— Encerramos por aqui Silas, e vou dizer que se você ou qualquer


desgraçado desse governozinho de merda vir atrás da minha família eu farei a
sua família pagar. — Faço a promessa ferozmente e Silas se encolheu.

Vejo alguns dos seguranças do Senador dando um passo para frente,


colocando a mão por dentro dos seus paletós. Esse ato deles faz com que Earl
fique em alerta, assim como eu. Mas o aceno de aviso do Senador fez seus
homens se acalmarem rapidamente. O que foi bom, pois eu não estou afim de
entrar em confronto em desvantagem.

— Axel, estou disposto a lhe dar uma boa recompensa. — O Senador


diz, mas o ignoro.

— Earl, estamos saindo! — Aviso ao loiro que assente firmemente.


Ajeito o meu blazer preto antes de virar em direção a saída do lugar.
— Axel, estarei aguardando a sua resposta. — Silas diz me fazendo
parar a minha caminhada.

— Você já tem a minha resposta, Silas. — Com isso eu volto a andar.

Earl e eu saímos do lugar sem sermos impedidos pelos homens do


Senador Silas. E eu agradeço mentalmente por isso, porque tudo o que eu
menos quero agora é ter que lidar com esses caras. Eu tenho Killian e Enya
amarrados a minha disposição, não tenho nenhuma intenção de entrar nos
jogos políticos de Silas. Tudo o que quero nessa porra de momento é foder
com aqueles que tentaram foder com a vida da minha menina e voltar para
ela. Eu tenho que voltar para a minha menina a qualquer custo, e foda-se
qualquer merda que seja.

Olho para Earl que não está com a cara muito boa, isso prova que ele
ouviu a proposta do Senador. E eu agradeço mentalmente por ele não falar
nada, somente entrar no lado do motorista e seguir viagem até a fábrica
abandonada onde Craig e Russel estão vigiando o casal até a minha chegada.
Confio nos meus homens para que aquela dois continuem vivos até a minha
volta. Sinto o meu corpo vibrar de raiva e antecipação, raiva de ter perdido o
meu tempo com aquele encontro sem sentido. E a antecipação, é bem óbvia,
já que eu esperei muito até poder pôr as mãos nos idiotas que mandaram
Santino aniquilar minha mulher. Pobres infelizes!

Quando cheguei no local onde eles estavam sendo mantidos, eu pude


ver alguns dos homens de Declan fazendo a vigilância pelo perímetro. Eu não
dei uma segunda olhada para eles e fui em direção ao local indicado. No
momento que abri a porta eu fui agraciado pela visão incrível de Killian,
machucado, usando somente uma cueca, amarrado de ponta cabeça pelo teto.
Seus braços amarrados atrás das costas, do jeito que eu gosto de fazer as
coisas. Meus olhos foram para Craig que estava encostado na parede
fumando um cigarro. Ele me encarou com os olhos cerrados e eu neguei com
a cabeça, o fazendo dar de ombros.

Tirei meus olhos de meu irmão e encarei Russel, que estava ao lado de
uma Enya muito machucada, assim como o seu marido. Ela estava amarrada
em uma cadeira de ferro velha, com uma fita prata na boca, usando vestido
justo que antes era branco, mas que agora está tão sujo que não sei identificar
a cor exata. Enya está realmente machucada, fizeram um estrago na cadela
desgraçada. Posso ver seus olhos arregalados e amedrontados ao me ver, mas
eu não dou qualquer indício de raiva ou qualquer outro sentimento.
Permaneço impassível, como deve realmente ser.

— Foram vocês? — indago simplesmente a Craig e Russel.

— Não, eles nos deram eles assim. — Craig diz após largar sua fumaça
para cima.

— A única coisa que fizemos foi erguer esse daí. — O sorriso de


Russel é doentio quando aponta para Killian de ponta a cabeça e
desacordado.

— Certo! — respondo tirando o meu blazer e dando a Earl que o pega e


vira para caminhar em direção a Russel.

Nesse momento eu vi Killian despertar, seus olhos piscaram de forma


trêmula. Enya tenta chamá-lo atrás da fita presa na sua boca, mas tudo sai que
são gemidos e lamentos estranhos. Vou até uma cadeira vazia, pego e a
arrasto comigo até a frente de Killian. Quando nossos olhos se cruzam, ele
sabe exatamente que hoje é o dia da sua morte. Seu corpo se agita, ele se
debate de modo tão inútil que me sinto alimentado pelo seu desespero. Sem
falar uma única palavra eu me sento de frente, ou pelo menos eu tento, já que
com o agito do seu corpo ele acabou virando em um ângulo estranho.

— Olá Killian, Enya! — cumprimento calmamente e isso faz os dois se


agitarem um pouco mais. — Vocês sabem exatamente o que estão fazendo
aqui, não sabem? — pergunto olhando para Killian.

— Axel! — A voz dele sai rouca e com um pouco de dificuldade. —


Me tire daqui, nos deixe ir embora! — Killian fala e eu inspiro
profundamente.

— Por favor, não me peça algo tão impossível. A única coisa que quero
saber de vocês dois é de quem foi a ideia de matar a Isadora — pergunto
dessa vez virando a cabeça para Enya, pelo que vejo já está chorando.

— Axel, você… — Killian começa, mas eu coloco a sola do meu


sapato italiano na sua boca.

— Não diga nada se não for para responder minha pergunta. — Minha
voz pode estar saindo tranquila, mas o meu corpo está tão frenético em busca
de vingança que é um verdadeiro inferno.

— Não! — Killian diz com dificuldade pelo sapato pressionando sua


boca.

— Vamos lá, diga-me de quem foi a ideia. Eu sei exatamente quem foi,
mas quero ter a certeza disso atrás de você. — Peço de modo controlado
observando seu rosto vermelho.

— Você é um homem morto, Cox! — Killian fala e eu poderia estar


rindo se eu realmente fosse um homem de risos.

— Quem seria aquele que me mataria, Killian? Você? — Minha


pergunta saiu provocativa.

— Minha família não deixará isso impune! — Ele diz em tom raivoso.

Como obra da porra do destino a porta do lugar é aberta, e por ela entra
nada mais nada menos que Declan O'Reilly. O primo do homem amarrado a
minha frente, e o homem que me ajudou a recuperar tanto ele quanto sua
esposa. Enya fica mais agitada com a chegada inesperada, viro a cabeça para
encontrá-la tentando dizer algo, mas é impedida pela fita.

— Pensei que você tinha acabado com isso, Cox. — Declan fala e eu o
ignoro para olhar novamente para Killian. Que agora está assustado ao
reconhecer o seu primo aqui.

— Eu gosto de aproveitar os bons momentos — respondo


simplesmente ouvindo um riso atrás de mim. — Craig! — Chamo.

— Sim? — pergunta com indiferença.

— Pode descê-lo! — Mando e meu irmão assente com a cabeça, antes


de pegar uma faca no seu suporte da perna e ir cortar a corda.

No momento que o corpo de Killian cai no chão ele fez um som


doentio, olhou para Declan. Sua expressão era de quem já estava acreditando
no que estava vendo. Sim, seu filho da outra a traição pode ser doce às
vezes.

— De… Declan, o que você? — Killian fala surpreso. Observo que


Declan sorri de forma amigável ao primo.

—Quem você acha que trouxe você até aqui, meu querido primo? —
Questiona de modo divertido. Vejo a expressão surpresa de Killian passar de
surpreso para irritado em milésimos de segundos.

— Seu desgraçado! Você traiu a família! — Killian grita fazendo a


feição de Declan endurecer.

— Não querido primo, você que é um idiota que só faz coisa errada e
que tinha que ser parado de qualquer maneira. Eu só acelerei o processo. —
Declan diz com frieza e eu reviro os meus olhos internamente.

— Essa conversa já acabou? — questiono e posso notar um pouco de


sarcasmo na minha voz.

— Oh sim, sinto muito por interromper. — Vejo o desgraçado do


Declan rir de puro contentamento.

Volto a encarar Killian, que não para de fazer juras de mortes para o
primo ignorando totalmente a minha presença à sua frente. Cerro meus
punhos e minha mandíbula com força odiando o fato de ser ignorado por essa
pilha inútil de merda humana. Sem pensar duas vezes eu puxo a arma presa
na minha parte de trás da minha calça e atiro de modo certeiro no seu ombro.
Infelizmente não pude ter a oportunidade de atirar no mesmo ombro onde a
minha menina foi atingida injustamente. Mas mesmo assim eu sinto um
prazer inexplicável quando o vejo gritar de surpresa, para logo depois urrar
de dor. Enya se agita ao ver seu marido sangrando, ela tenta avançar, mas é
impedida.

— Axel, seu filho da puta doente! — Killian grita com dor, e isso me
faz dar um sorriso de puro escárnio.

Ahh... então agora eu tenho sua atenção seu irlandês desgraçado.


— Não precisa ficar tão nervoso, eu só quis recuperar sua atenção onde
deveria realmente estar — falo tranquilamente. Killian me encara como se
quisesse me matar, e confesso que sinto graça nisso.

— Eu vou… — Ele começa a falar, mas como eu estou sem muita


vontade de continuar com toda essa porcaria, eu avanço no seu espaço. Agora
me vejo de pé entre as pernas abertas de um desgraçado de cueca, sujo e
sangrando como um porco abatido por um buraco de tiro no ombro.

— Vamos continuar? — Indago após colocar o cano da minha arma na


sua boca. Ele tenta falar algo, mas a arma na sua boa o impede. — Não tente,
Killian, eu cansei desses joguinhos eu só quero acabar com isso. Eu tenho um
lugar mais importante para estar do que aqui.

— E onde seria esse lugar? — Declan fala me dando indício ainda da


sua presença.

— Não é da sua conta — respondo tirando a arma da boca de Killian


enquanto virava para encontrar Enya. — Eu sei que a tentativa contra a minha
Isadora foi ideia sua, Enya. É uma pena para você… quer dizer, uma pena
para vocês dois que você teve essa ideia mirabolante. — Nego com a cabeça
fazendo uma careta de escárnio.

— Vocês estavam muito confiantes, e esse foi um grande erro. — Craig


diz fazendo a loira olhar para ele rapidamente e depois voltar seu olhar para
mim.

— É surpreendente admitir, mas a Dora faz parte da família. — Earl


fala e vejo Killian estremecer.

— E ninguém mexe com a Dorinha. — Russel conclui com uma


irritação louca.

Assinto com a cabeça e Russel tira a fita da boca de Enya, ela grita pela
dor do puxão, mas logo para. Observo quando a feição dela muda apontando
que ela irá começar a gritar suas injúrias, mas ao olhar para o seu marido com
uma arma apontada para sua cabeça ela pensa melhor.

— Me mate Axel… — Enya fala me surpreendo.


— Cala boca Enya! — Killian grita seu comando.

— Fui eu que paguei pelo serviço de Santino, eu mandei que matassem


aquela ratinha ridícula. Eu queria que você sofresse, porque assim que
coloquei os olhos em você eu sabia que você estava diferente, e aquela
coisinha feia era a causa disso. — Enya solta uma risada carregada de
desprezo. — Sim, o grande Axel Cox e os temidos anjos da morte, como
chamam seus fiéis soldados, estavam tomados por uma menina que se assusta
com sua própria sombra. Tão patéticos! Você é patético seu desgraçado. —
Ela grita olhando para mim com toda sua raiva e rancor.

Ouvi tudo o que ela disse que forma impassível, eu não tinha porque
dizer nada a ela ou qualquer coisa do tipo. Eu estava me sentindo
surpreendentemente calmo e centrado nesse momento, consigo ouvir a sua
risada ridícula, e tudo o que posso fazer é erguer minha arma, sentir seu peso
na minha mão. Tento a certeza que ela levará uma outra vida ao meu favor, e
isso me deixa sereno para dizer a verdade.

Meus olhos estavam fixos em Killian, ele sabia o que estava por vir, ele
não necessitava das minhas palavras. E eu muito menos precisei do meu
discurso de despedida. Tudo o que fiz foi apontar a minha arma bem em
direção a cabeça do irlandês a minha frente e atirar. Eu vi seus olhos
amedrontados ficarem opacos, e antes que pudessem ficar totalmente sem
vidas eu dei mais dois tiros que foram direto no seu peito.

Então sim, não havia mais volta para Killian Dunphy, ele estava morto.
Foi incrivelmente silencioso, já que o único barulho que se ouvia era o som
da minha arma. Somente a minha arma e nada mais.

— Killian, Killian! — Enya fala em choque, quebrando a paz do


momento. Ignoro a existência dessa mulher virando para Declan.

— Trabalho finalizado, estamos acabados! — Digo ele pisca algumas


vezes sem saber como reagir. É normal essa reação, ele esperava a raiva, não
a calma. Eles nunca esperam isso de mim.

— E ela? — Declan aponta para Enya que tenta a qualquer custo se


arrastar até o marido morto.
— Ela não é mais meu problema, eu somente queria ouvir a sua
confissão. O que vai acontecer com o seu destino agora já não é mais da
minha conta. — Olho de relance para a loira, mas volto a encarar novamente
o Declan. — Eu fiz o que tinha que fazer, você vai ganhar muito com a morte
do Killian todos nós sabemos disso. E como você não poderia fazer o
trabalho sujo, eu não me importei nenhum pouco. Só te aviso uma única
coisa… — Minha voz assume um tom mais… mais animalesco e
sanguinário.

— O que seria? — Declan indaga com desconfiança.

— Nunca mais ouse deixar que Enya Dunphy cruze o meu caminho ou
o caminho da minha mulher. Porque da próxima vez morrerá quantas pessoas
eu achar deve morrer. — Digo as palavras friamente e Declan assume um
sorriso aberto e despretensioso.

— Pode ficar despreocupado Cox, eu não tenho essa intenção. —


Declan diz fechando o sorriso e assumindo uma feição séria. Viro para os
meus homens, que retornam o meu olhar no mesmo momento.

— Craig, Earl e Russel vamos embora! — Chamo e eles me seguem


sem questionar.

— Até breve, rapazes! — Declan fala, mas eu não tenho nenhuma


vontade de retornar seu "adeus''.

Quando estamos longe o suficiente de qualquer proximidade do


território irlandês, eu noto que Russel está afoito para fazer qualquer pergunta
que seja. Como eu não sou tão paciente assim, eu aceno com a cabeça o
autorizando a falar.

— Chefe, para onde vamos agora? — Ele pergunta e eu dou um micro


sorriso.

— Eu estou voltando para a Isadora, não me importo se vocês vão


comigo ou não. — Aviso e ouço um som de alívio vindo do Earl que está ao
meu lado.

— Foda-se já estava na hora da equipe está completa novamente. —


Earl diz com alívio.

— Sim porra, sim! — Russel vibra correndo até Earl e passando o


braço por cima do seu ombro. — Você não poderia ter dito coisa melhor,
Príncipe das Trevas.

— Ah seu fodido louco, pare de me agarrar, porra! — Earl disse com


raiva empurrando Russel.

Observo os dois merdas com um revirar de olhos, enquanto eles se


afastam levando suas ofensas com eles. Sinto outra presença ao meu lado,
viro a cabeça para encontrar meu irmão ao meu lado, olhando fixamente para
frente de forma dura.

— Por que você deixou a mulher viver? — Indaga Craig. Ele está
incomodado com a minha decisão e eu não tiro a sua razão.

— Eu não iria deixar todo o trabalho sujo para nós. Me livrar de


Killian, irá ajudar mais o Declan do que a nós mesmo, então quis deixar Enya
com ele. Simples! — Explico o meu ponto, mas meu irmão me encara de
uma forma como se eu não explicasse tudo a ele. — Ah foda-se, Craig! —
Praguejo irritado.

— Diga-me bastardo, eu sei que não foi só por causa disso. — Sua voz
sai leve, e é assim que eu sei que ele sabe e só quer ouvir isso de mim.

— Isadora não iria ficar feliz em saber que matei os dois desgraçados.
Você está feliz, porra? — pergunto entre dentes, observando o sorriso raro de
Craig aparecer.

— Sim, agora estou satisfeito. — Ele assente com a cabeça, fechando o


sorriso no mesmo momento. — Você sabe que não vai ser fácil com ela, não
é? — Pergunta e dessa vez sou eu que não posso parar o sorriso no canto dos
meus lábios.

— Eu já estou esperando por isso, quero vê-la mostrar suas garras. —


Mesmo que eu quisesse eu não poderia parar o orgulho na minha voz.

— Certo, irmão! Vamos buscar a sua mulher! — Conclui Craig.


Eu não poderia estar mais satisfeito com o que ele acabou de dizer.
Minha menina que me aguarde, porque eu estou fodidamente voltando para
ela, para um novo começo de nós dois.
Alguns dias se passaram desde o episódio da praia, e eu não sei
explicar o que realmente aconteceu depois daquilo. Logo ali na frente da
minha amiga, da sua irmã e dos empregados do meu irmão, eu me sentia
totalmente encurralada. A única coisa que eu sei é que eu não consegui dizer
uma palavra sequer, o olhar confuso e traído de Lara me deixou totalmente
sem saber o que fazer. Não era assim que tinha que ser, não era desse jeito, eu
não estava pronta para que alguém soubesse disso além de mim. E claro, de
Axel. Estava confortável para manter esse segredo, algo só meu, mas que
agora eu não vejo que faz tanto sentido. Eu esperei por Axel esse tempo todo,
queria que a primeira pessoa que eu contasse fosse ele. O porquê disso? Eu
realmente não sei explicar.
E hoje eu me vejo como? Com a minha amiga magoada comigo, e eu
tentando fazer com que ela me ouça. Inspiro profundamente e encaro as ruas
movimentadas pela janela do carro. Hoje eu volto para a faculdade depois de
bastante tempo de atestado, necessito que tudo isso acabe para dar um rumo
na minha vida. E se for ter que enfrentar mais algumas aulas para que isso
tudo acabe, que seja. Meus pensamentos são interrompidos quando sinto uma
mão tomar o meu ombro, olho para o lado para ver Ângelo me olhando com
uma ruga de preocupação entre os olhos.
— Você está bem? — Ele pergunta e eu confirmo com a cabeça.
— Por que a pergunta? — questiono puxando assunto. Tento dar um
sorriso, mas o olhar analítico de Ângelo me faz desistir.
— Nesse tempo que entramos no carro, eu já vi você soltar uns quatro
suspiros. — Meu irmão fala e eu dou de ombros. — Você quer me contar?
— Lara brigou comigo, mandei uma mensagem e ela não me
respondeu. — Conto para Ângelo que arqueia a sobrancelha.
— Você e Lara brigadas, o que houve para que isso acontecesse? —
Indaga me encarando.
— Eu deixei de contar algo a ela, e agora ela está bem chateada. —
Explico e isso o faz rir.
— Pequena Lara tem um gênio terrível, mas tem uma coisa que eu sei
sobre ela. — Ângelo não fala e eu o olho com expectativa.
— O que é? — Questiono curiosa.
— Ela não é de ter muitos amigos, e com você foi diferente. Senti isso
desde a primeira vez que vi vocês duas juntas. — Senti um calorzinho
reconfortante no peito ao ouvi-lo falar isso.
— Eu gosto muito da Lara, e entendo que ela fique chateada comigo
por guarda segredo — falo soltando um suspiro. — Eu deveria ter contado.
— Assim também como eu deveria contar para ele, mas eu não chego a dizer
isso em voz alta.
— Não hermanita, não se martirize por isso. Todos nós temos direito
de guardar nossos próprios segredos, e isso não é pecado. Confie em mim. —
Meu irmão fala e eu analiso o que ele acabou de dizer.
— Acho que você pode ter certeza, eu ainda não estou preparada para
dizer algo — revelo e ele me ouça para dar um beijo na minha testa.
— Eu tenho razão sim, seu irmão aqui é um homem cheio de segredos
também. Vá por mim, eu sei o que digo. — Ângelo disse e suas palavras me
fizeram franzir o cenho.
— Você acha que eu devo dar tempo a Lara? — Essa é a minha maior
dúvida.
— Não, às vezes o tempo pode melhorar algumas coisas. Mas isso não
acontece sempre, o tempo pode vir a deixar as coisas estranhas. — Ângelo
disse com firmeza. Cerro meus punhos com força.
— Sendo assim quando chegar na faculdade eu vou atrás de Lara, e
farei ela me ouvir — revelo com determinação fazendo o sorriso dela
crescer.
— É bem assim que deve ser. — Ele rir e eu assinto com a cabeça
dando um sorriso de lado.
— Obrigada pelo conselho, Irmão. — Ao dizer isso sinto o
constrangimento querendo me pegar, mas eu o deixo de lado.
— Sempre que precisar, hermanita. — Ele dá uma piscadela divertida.
— Não existe ninguém melhor para lidar com a pequena Lara do que eu. —
Essa foi a minha vez de rir alto.
— Você sabe lidar com a Lara tão bem que até parece que vocês dois
se dão super bem mesmo. — Digo e Ângelo cerra os olhos na minha direção.
— Isso foi sarcasmo vindo de você, minha irmã? — Angel indaga e eu
dou de ombros.
— Bem, parece que sim — falo dando um sorriso amplo.
— Você ficou mais linda ainda sem o aparelho dentário. — Ângelo
elogia e meu sorriso fecha por que fiquei totalmente desarmada.
— É, parece que sim. — Toco meus lábios, sentindo sua mão no meu
cabelo.
É tão estranho me ver sem os aparelhos dentários, ainda mais eu que
usei esses malditos por tantos anos. Hoje eu me vejo sem eles e é como se
não acreditasse. Pela manhã eu tinha dentista marcado, Luíza queria me
acompanhar, mas como eu ia para a consulta com a obstetra eu achei melhor
ir sozinha. Quer dizer, ir sozinha é um grande exagero já que os homens de
Ângelo foram comigo como forma de segurança. Reviro os olhos somente
com a lembrança de um monte de homens vestidos de pretos com caras de
bandido.
Oh meu Deusinho, essa vida é muito louca. Claro que quando eu estava
com Axel, ele deixava seguranças atrás de mim, mas na maioria das vezes era
ele ou algum dos meninos que estavam comigo. E seja como for tudo isso
não deixa de ser louco.
— Você é muito linda, minha irmã, parece tanto com a nossa mãe que
chega a ser reconfortante olhar para você. — Ângelo fala e posso ouvir a
emoção na sua voz.
— Você sente muita falta dela, não é? — pergunto com o tom de voz
baixo. Observo Ângelo fixar seus olhos para frente, fechar os olhos por um
tempo e olhar na minha direção novamente.
— Todos os dias da minha vida, Isa. — Ele diz com uma mistura de
dor e saudade.
— Queria poder conhecê-la — falo de repente e ele dá um pequeno
sorriso.
— Eu sei que sim. — Ele diz. Vejo pela janela do carro que chegamos
em frente à faculdade.
— Chegamos! — mostro o óbvio na intenção de quebrar o clima
mesmo.
— Vamos ficar aqui mesmo! — Ouço Ângelo falar com o seu
motorista.
Vamos? Como assim? Onde ele vai? Penso comigo mesma franzindo o
cenho.
Observo Ângelo sair, na intenção de dar a volta no carro e abrir a
minha porta. Ele ergue a mão para mim, e eu aceito sem questionamentos. No
momento que estou do lado de fora, a primeira coisa que entra no meu campo
de visão é Kimberly e Jonas. Mas eles não estão sozinhos. E é claro que eles
não vão estar sozinhos, porque idiotas andam em bando. Vejo também
Juliano, Gabriel, Dafne e a Vanessa, todos eles olham na minha direção e na
de Ângelo. Posso até imaginar as merdas que devem estar passando pela
cabeça deles, mas eu aprendi a não me importar mais com os outros.
Principalmente se esses outros forem essas pessoas.
— Onde você vai? — questiono sem conseguir me conter.
— Te levar até a porta do Campus. — Ângelo fala com maior
naturalidade.
— Mas não precisa, você deve ter suas coisas para resolver. — Relato e
ele nega com a cabeça.
— Quero ficar de olho nas coisas, principalmente depois de saber que
você passou por coisas desagradáveis nesse lugar. — Ângelo fala de um
modo que não aceita qualquer tipo de discussão.
— Eu sei me defender agora. — Falo cruzando meus braços.
— Sei disso e é justamente assim que tem que ser. — Ouvi o orgulho
na voz de meu irmão. E posso dizer que isso me deixou feliz.
— Tudo bem, vamos! — Chamo tentando colocar minha bolsa no meu
ombro, mas ele foi mais rápido pegando antes de mim.
Sigo com Ângelo até a entrada do Campus, no caminho eu vou
mostrando a ele onde fica cada coisa no amplo lugar. Faço isso para me
distrair um pouco, pois o olhar analítico de Kimberly e sua trupe do mal está
me deixando mais nervosa do que aparento. Quando vou chegando mais
perto ouço um burburinho chato, só que fiz de tudo para continuar a ignorar.
Mas como nada para mim é tão fácil assim, Kimberly chama o meu nome.
Sim, ela não tem um pingo de vergonha na cara.
— Isadora! — Ela chama novamente e eu paro olhando para Ângelo
antes de virar para a loira linda, mas totalmente insuportável. — Então
resolveu dar as caras na faculdade depois de tanto tempo. — Diz tentando
passar uma imagem amigável, mas eu a conheço muito bem.
— Parece que sim — respondo simplesmente, sentindo o corpo de
Ângelo se aproximar do meu.
— Quem é esse cara? Já arranjou outro namorado? — A hostilidade de
Jonas não passou despercebida por meu irmão que deu um passo para frente.
— Angel, não! — falo com os lábios semiabertos.
— Mas… — Ângelo tenta falar, mas eu aperto seu blazer e nego com a
cabeça.
— Deixe comigo, sim? — Ao ouvir a firmeza na minha voz meu irmão
relaxou dando um sorriso de lado.
— ¡Sì, hermanita! — Fala em espanhol, me fazendo revirar os olhos.
Depois de ter acalmando o meu irmão mafioso, eu virei para os idiotas.
— Eu achei que isso entre nós... — Aponto de forma relaxada entre
mim, Kimberly e sua trupe retardada. — Já havia acabado, mas parece que eu
estava enganada. Só que eu vou dizer uma única vez. Deixem-me em paz, a
minha vida não diz respeito a ninguém além de mim mesma. Espero que
todos nós estejamos de acordo, sim? — questiono fingindo um sorriso
amável, mas que no fundo está carregado de nervosismo e irritação.
— Mas o que essa… — Dafne começa a falar, mas Kimberly a cala.
— Não, Daf! — Kimberly late para a amiga que murcha na mesma
hora.
— Parece que acabamos por aqui, irmão. Obrigada pela carona de hoje.
— Viro para Ângelo. De solavanco vejo os idiotas arregalaram os olhos no
momento que me ouviram chamar esse homem lindo e perigoso a minha
frente de irmão.
— De nada irmãzinha, virei de buscar mais tarde. — Ângelo fala e eu
franzo o cenho.
— Mas por quê? Eu posso ir para casa sozinha, é… — Vi Ângelo
endurecer no mesmo momento.
— Não, eu virei! — As palavras duras e rápidas deles me fizeram
cerrar os olhos.
— Aconteceu algo que preciso saber? — pergunto em forma de
sussurro e ele nega colocando a bolsa no meu ombro.
— Nada com que você possa se preocupar, Isa. — Ele beija minha
testa. — Boa orientação, e não esqueça de ver a pequena Lara. — Lembra ele
e eu concordo com a cabeça.
— Pode deixar, farei agora — falo ainda o observando.
— ¡Hasta luego mi hermana! (Até mais tarde, minha irmã!) — Ângelo
deseja e eu sorrio.
— Hasta! — Retorno o fazendo rir.
Viro para caminhar em direção a entrada, e assim que estou de costas
para Ângelo o meu sorriso morre no mesmo momento. Não sei de onde veio
isso, mas eu sinto que ele está me escondendo alguma coisa. Algo que está o
incomodando a ponto de ele querer virar minha sombra. Será que ele está
passando por algum aperto no seu trabalho? Esse questionamento faz meu
corpo estremecer, porque eu sei os riscos que ele e muitos outros correm
nessa vida. E eu odiaria saber que meu irmão está passando por alguma
dificuldade, sei que nós conhecemos a muito pouco tempo. Mas isso não quer
dizer nada para o meu coração aflito. Isso porque ele já aceitou Ângelo como
uma parte da família, e eu me preocupo com a minha família sempre.
Cerro os punhos, solto um suspiro leve e tento deixar esses
pensamentos de lado. Eu não posso pensar nisso agora, porque eu sou uma
Isadora com uma missão. Missão de ir atrás da minha amiga, e contá-la tudo
o que eu deixei escondido durante essas semanas. Espero que ela possa
entender, eu realmente espero muito por isso. Lara é a minha única amiga, e
posso admitir que é muito ruim pensar nela tão chateada comigo. Sim, eu sou
uma pessoa trouxa que não gosta de ver as pessoas que gosto tristes por
minha causa. Com isso em mente eu sigo até a biblioteca, porque eu sei que
hoje ela fica mais tempo na biblioteca do que de costume. Sorte minha essa
parte!
No momento que eu chego na biblioteca eu cumprimento com aceno de
cabeça algumas pessoas. Pergunto a uma das mulheres responsável pelo
empréstimo de livros sobre Lara. E assim que ela me diz em que setor
encontrá-la, eu agradeço e sigo meu caminho. Ao chegar no lugar indicado a
primeira coisa que vejo é a minha amiga de costas para mim, limpando
alguma coisa que não consigo ver do que se trata. Sem perder mais tempo eu
a chamo.
— Larinha! — Ao ouvir minha voz vejo o corpo de Lara enrijecer. —
Lara, vamos lá! Eu quero falar com você. — Dou um pulo quando vejo ela
bater algo com força na mesa.
— Agora você quer falar comigo? — Mordo os lábios para não rir do
seu jeito de falar. Por que na verdade ela parece uma criança fazendo birra.
— Eu sempre quero falar com você, amiga. — Digo com confiança, e
ela bufa de forma sarcástica.
— Acho que não é sempre que isso acontece, certo? — diz ela me
fazendo suspirar.
— Sinto muito, Lara, por não te contar o que está acontecendo comigo,
mas… mas é tudo muito confuso para mim também. — Engulo em seco após
revelar de forma aberta. — Eu só queria que o Axel… ele… — Me senti
perdida de repente, apertando minhas mãos juntas com força.
Eu não sei como explicar para ela que eu estou um turbilhão de
emoções flutuantes e meio desconectas. Que tudo o que eu mais queria era
que quando eu descobrisse que iria ter um bebê, a única coisa realmente que
eu almejava era, que o meu homem sombrio estivesse ao meu lado. Queria
dizer que a desconfiança constante que ando sentindo com relação a tudo é
tão ridículo e ao mesmo tempo tão normal. Mas as palavras simplesmente
não saem na minha garganta.
Fico esperançosa por alguma reação de Lara, e para o meu alívio ela
vira na minha direção. Ela olha para mim por um tempo, para logo em
seguida olhar em direção a minha barriga. Barriga essa que é sucinta o
suficiente para ser escondida pela roupa.
— Eu entendo você, Dora. — Lara fala de repente me fazendo piscar os
olhos de modo confuso.
— Você entende? — pergunto desnorteada.
— Você queria que o seu Dragão Assassino fosse o primeiro a saber.
Você quer que ele aceite que vocês dois terão um filho juntos antes de
demonstrar para todo mundo o quão feliz você esta. Isso não é errado, e
principalmente não é nenhum pecado. — Suas palavras fizeram meus olhos
arderem.
— Me senti egoísta, e eu queria exatamente isso. — Revelo. Lara me
olha de forma tranquila, mas logo um sorriso largo preenche seu rosto.
— Não sei se alguém já te disse isso, Dora, mas você pode ser egoísta
as vezes. — Ela diz ainda sorrindo. Desvio os meus olhos do dela, fechando
os punhos com força.
— Mas Lara, você disse que eu era a pessoa que você mais confiava. E
eu me senti como se… — Minha amiga faz um som com a boca chamando
minha atenção. Isso faz com que eu a encare novamente, bem a tempo de ver
ela andar até mim.
— Dorinha, Dorinha você pensa demais nas coisas. — Lara fala
parando a minha frente. — Diferente de você, eu sou muito explosiva e falo
um monte de merda sem pensar. Sinto muito por ficar chateada. — Ela diz e
eu nego com a cabeça.
— Não sinta, acho que eu também ficaria se você engravidasse de
Ângelo e não me falasse. — Os olhos arregalados de Lara me fazem ver que
eu a peguei de surpresa.
— Mas que merda você está falando? — Lara se afasta de mim
rapidamente e isso é o motivo que eu caio na risada.
— Estou brincando, eu não pude resistir — falo rindo muito da sua cara
descontente.
— Isadora Martins, você é uma cretina! — Lara exclama apontado na
minha direção.
— Lara Álvarez, você vai ser a madrinha do bebê? — Rebato com uma
pergunta a pegando desprevenida novamente.
— O que você está… — Ela não conclui por que ficar paralisada.
— É uma pergunta simples, minha amiga. Eu já venho pensando nisso
a um tempo. — Confirmo e sem que eu estivesse esperando ela vem com
tudo para cima de mim, para me puxar para um abraço forte.
— Puta que pariu, mulher! Você sabe como surpreender as pessoas. —
Abraço Lara com força.
— Acho que é um dom. — Brinco de modo relaxado a fazendo rir.
— Acho que sim! — diz confirmando com a cabeça. — E a resposta
para sua pergunta é sim. Eu serei a madrinha do bebê Dragão Assassino. —
Franzo o cenho ao ouvir a forma que ela chamou meu bebê.
— Que horror, Lara! — Digo fazendo careta e ela joga a cabeça para
trás para dar uma gargalhada. — É um dom, sabe! — Ela diz dando uma
piscadela divertida.
Ao ver a expressão relaxada de minha amiga eu percebi que era muito
bom ter ela ao meu lado. É bom poder compartilhar sobre o bebê para outra
pessoa, eu não sabia disso antes, mas agora eu sei. Foi com esse pensamento
em mente que eu fiquei com Lara conversando sobre o bebê por um longo
tempo na biblioteca. Quando dei por mim eu já estava atrasada para ir para a
minha orientação do TCC. Eu estava perto de concluir tudo, então eu não
podia faltar essa aula. Por isso eu deixei Lara seguir seu caminho e eu segui o
meu, mas antes de nos afastar nos abraçamos novamente para selar a paz
entre nós duas.
O tempo que fiquei na faculdade passou muito rápido, eu estava focada,
o meu projeto estava quase pronto e foi bem aceito pelo meu orientador. E eu
não poderia ficar mais feliz com tudo isso, o dia de hoje foi bem frutífero. Fiz
as pazes com a minha amiga, recebi muitos elogios com a breve avaliação do
meu projeto final e enfrentei mais uma vez os idiotas que antes me
assombravam. Estou sentindo que as coisas finalmente estão entrando nos
eixos. Sentia bem lá no fundo do meu interior que as coisas podem não
precisam ser tão pesadas assim, que seja como for eu posso ficar bem.
Sim, eu vou ficar bem! Logo estarei me formando, para a minha
realização e a dos meus paizinhos. E de brinde trarei ao mundo um serzinho
lindo e muito amado.
"Angel, eu finalmente estou livre. Você virá me buscar?"
Envio uma mensagem para o meu irmão, enquanto termino de arrumar
minhas coisas.
"Sim, em 5 minutos devo estar chegando em frente ao Campus."
"Tão rápido assim?"
"Sim hermanita, eu estava por perto resolvendo algumas coisas."
"Entendi, então tudo bem. Nos vemos em breve."
"Certo!"
Sorrio com a resposta sucinta de Ângelo e continuo a arrumar minhas
coisas. No momento que levanto para ir até a saída, sou parada de repente.
Olho para cima para ver Jonas me encarando de uma forma que eu não sei
decifrar. Reviro os olhos desviando do seu corpo, sem dar qualquer sinal de
reconhecimento. Somente me trombar com esse sujeito fez meu humor variar
um pouco, mas eu não vou deixar com que me azede. Quero chegar em casa
logo, porque estou louca de fome e daria tudo por um lanche bem gostoso da
Luíza.
E foi sonhando com um belo lanche eu segui caminho até a saída da
faculdade. A primeira coisa que vejo é Ângelo encostado no seu carro à
minha espera. Aceno para meu irmão, e continuo a seguir até que um outro
carro para atrás do de Ângelo chamando a minha atenção. Paro de andar
quando o reconhecimento cai em mim como uma enorme montanha de terra.
Quando a porta do carro recém chegado abre eu finalmente os vejo.
Não, não pode ser! Eu devo estar vendo coisas. Sim, eu estou vendo
coisas, uma miragem talvez?
Minha mão vai automaticamente para a minha barriga, sinto os meus
batimentos cardíacos acelerarem e minhas pernas ficarem fracas. Mesmo
dessa distância eu posso sentir nitidamente seus olhos frios e analíticos em
cima de mim. Sinto o ar ficar mais pesado, mas escuro e mais… muito mais
intenso. É ele, ele voltou! Eu o reconheceria em qualquer lugar, porque ele é
o homem que me abandonou, ele é o meu homem.
Axel voltou, ele voltou por mim eu vejo isso, eu sinto isso nos meus
ossos. Não tem com o não ver isso.
Continuo parada onde estou, nenhum músculo do meu corpo é capaz de
se contrair. Estou tensa, eu sei disso, mas qualquer uma que estivesse no meu
lugar e passasse pelas coisas que eu passei durante essas últimas semanas
estaria da mesma forma. Não consigo desviar os meus olhos dos olhos ônix
de Axel, e ao continuar a encarar tudo o que eu consigo pensar é no quanto
ele está lindo. Oh meu Deus, como eu posso pensar em algo assim, se eu
estou chateada demais com ele? Bem, nem eu mesma sei responder essa
pergunta. Seu corpo alto e forte está escondido em uma camisa preta de
manga comprida, puxada até o seu cotovelo de forma sexy. Uma calça preta,
sapatos finos fazem um complemento especial junto com seus cabelos
jogados para trás.
Ele sabe que mexe comigo, posso até dizer que ele sabe que meu corpo
vibra pelo dele. E isso é ruim, muito ruim. Viro a cabeça abruptamente para o
lado, fechando os meus olhos logo em seguida, cortando assim
imediatamente a energia densa que esse homem transmite para mim. Axel é
como a merda de um vampiro que manipula a mente das suas caças, e eu sou
com certeza a sua melhor caça. Respiro profundamente umas duas vezes, e
aperto a alça da bolsa entre meus dedos com força. Quando sinto que meu
corpo se acalmou um pouco abro meus olhos novamente, mas dessa vez eu
não olho em direção de Axel e sim dos outros, que não dá para negar que
senti saudades.
Craig, Russel e Earl me encaram também, confesso que estou tentada a
acenar para eles, mas não faço isso. Eles têm que sentirem a minha ira
também, porque assim como o idiota do Axel me deixou, eles fizeram a
mesma coisa. CHEGA ISADORA! Grito internamente para que eu mesma
acorde para vida, é hora de mostrar a Axel que suas aulas de confiança
realmente dão certo. Com uma nova onda de determinação tomando conta do
meu corpo eu ergo a minha cabeça, coloco uma máscara de frieza no rosto e
dou o primeiro passo. Os próximos passos são mais fáceis, meu coração
acelerado e minhas mãos pegajosas também não são empecilhos para que eu
continue a avançar.
Veja como a sua mamãe coloca o seu papai no lugar dele, bebê! Digo
em pensamento para o meu bebê, pois é especialmente por causa dele que eu
não irei mais abaixar a cabeça para ninguém.
— Isa, vamos embora! — Ângelo é o primeiro a falar assim que eu me
aproximo perto o suficiente. — Você não tem que ficar aqui! — Ele conclui
entre dentes.
— Você estava realmente nas redondezas, não é? — falo com o meu
irmão. Vejo a surpresa e confusão na sua feição, mas eu não tenho tempo a
perder. — Vamos embora, Angel! — Não olho em direção a Axel e seus
homens.
— Dorinha? — Russel chama. Olho para ele e posso ver que ele está
com uma cara de cachorro sem dono, mas eu não posso me abalar.
— Sentimos sua falta, Dora. — Earl dá um sorriso de desculpa, tirando
a mecha dos seus cabelos loiros da sua testa.
— Fiquem calados, idiotas! — Craig comanda, me fazendo olhar para o
seu rosto com uma expressão vazia.
— Olá vocês meninos! — Cumprimento tentando agir de forma
educada, mas a vontade de mandá-los ir a merda é maior que tudo.
— Então você vai continuar fingindo que eu não estou aqui, Isadora.
Que eu não vim aqui para te levar de volta onde pertence? — Axel fala em
inglês. Somente o som rouco da sua voz faz com que eu engula em seco, e
meus joelhos tremerem brevemente.
Oh Pai celestial, esse homem é um demônio sedutor!
Sinto um braço passar em volta da minha cintura, não preciso olhar
para saber que é o meu irmão. Ele está em uma posição de defesa agora,
porque ele sabe que Axel está analisando cada fala, cada gesto e cada gotícula
de suor presente na minha testa. Tento falar com meu irmão que está tudo
bem comigo, mas até o momento tudo o que sei pensar é no quanto meu
corpo ainda vibra ao ouvir a voz do meu mercenário depois de semanas.
— Axel! — Cumprimento com um aceno de cabeça e firmeza na voz.
— É difícil te reconhecer depois de um tempo fora, não sei se você sabe.
Minha cabeça está meio confusa. — Respondo em português, principalmente
para provocá-lo.
Minhas palavras estão carregadas de cinismo, o que fez ele dar um
sorriso. Sim, o mesmo sorriso fantasma que me derrete de forma
inexplicável.
— Você e seus homens tem somente alguns minutos até que as coisas
fiquem feias. — Ângelo avisa me deixando rígida no lugar. Ao contrário de
Axel que nem sequer deu um segundo olhar para meu irmão.
— Vamos continuar nisso então. — Axel diz assumindo uma posição
mais rígida, mas seu rosto continuava sem mostrar muita coisa.
— Não vamos continuar de nenhum jeito, Cox. Você foi e eu fiquei,
agora que você voltou acha mesmo que vai somente aparecer e que vou te
seguir como sua cadela adestrada? — Indago duramente, tentando evitar de
perder o controle. Não darei esse gostinho a ele.
— Não diga isso ao seu respeito, porra! — Agora sim, esse é o Axel
feroz e estupidamente mandão que eu conheço.
— Eu falo como eu quiser! — exclamo irritada. Oh sim, eu estou
irritada, muito irritada mesmo!
— Você não tem que falar nada, minha irmã. Nunca mais deixarei que
esse desgraçado encoste as mãos em você. — Ângelo diz assumindo uma
posição de confronto.
— Esse não é um assunto seu, Gutierrez. Fique fora disso! — Axel diz
entre dentes.
— Ela é a minha irmã, então sim é meu assunto. Você só a fez mal,
Axel, eu te disse mais cedo e direi novamente. Fique fora da vida de Isadora!
— As palavras de Ângelo me confundem.
— Espera um minuto. — Paro afastando Ângelo de mim. — Você
sabia que Axel havia voltado? — pergunto e ele não desvia seu olhar fixo em
Axel.
— Falamos quando chegamos em casa, Isa. — Ângelo diz e eu solto
um som de frustração.
— Não, quero saber agora! — enfatizo e ele me lança o olhar de aviso,
mas eu não me importo.
— Isa, por favor! — Seu pedido poderia ser gentil se ele não estivesse
pronto para querer matar o pai do seu sobrinho.
— Essa é a minha menina estupidamente curiosa! — Eu poderia até
mesmo achar que ele realmente disse em tom saudoso, mas não é bom
confiar.
Oh droga, eu tenho que sair daqui!
— Quer saber de uma coisa… — Paro cerrando os punhos. — Eu não
quero saber, não eu não quero! — Digo com raiva negando com a cabeça.
— Minha menina, olhe para mim! — Como uma mariposa cretina eu
faço exatamente o que sua voz pede. — Eu não vou mais a lugar nenhum sem
você. — Ele não usa agressividade dessa vez, e isso me surpreende muito.
Não, eu não posso deixar de me encantar com essa mudança de
comportamento. Ele não avança na minha direção, ele está ali me encarando
como se eu fosse a sua coisa preciosa, que ele não pode ver a hora de tocar. E
isso me desestabiliza muito, por que eu não esperei por isso.
— Venha minha menina, venha comigo! — Axel diz calmante
erguendo sua mão na minha frente.
— Nem se eu estivesse louca, vá a merda! — digo rapidamente antes
que minha mão alcance a sua de forma involuntária.
— Você já tem sua resposta, Cox! — Ângelo diz sombriamente. —
Homens! — O seu chamado fez com que cada um dos seus homens apontasse
suas armas para Axel e os meninos.
— Ângelo, não! — digo no mesmo momento que vejo Earl, Craig e
Russel pegar suas armas também.
— Podemos fazer isso Cox, você decide isso. Somente deixe a minha
irmã em paz. — Ângelo manda e Axel nega com a cabeça.
— Isso é algo impossível de ser feito, Gutierrez. Fique fora do meu
caminho! — Axel avisa e dessa vez sou eu que fico a ponto de pegar a arma
de alguém e sair atirando.
Eu não posso deixar que esses homens provoquem uma guerra em
frente ao campus da minha faculdade. Já basta daquela vez que Axel e os
outros quase matam Jonas, Juliano e Gabriel. Minha meta aqui é somente me
afastar de toda essa porcaria, não ser expulsa da faculdade porque meu irmão
e o meu… não sei mais o que o Axel é meu, causem um tiroteio. Fora que
além disso tem algo importante no meio, que é a minha gravidez. Na minha
cabeça louca rola a imagem de mim no meio do tiroteio, gritando aos dois
que eu estou gravida e que eles podem me matar com toda essa confusão de
balas. Somente a imagem disso faz minha espinha endurecer, por que é tudo
uma loucura total.
— Parem já com isso seus idiotas! — Grito correndo para o meio entre
as armas.
O meu aviso de pura raiva chamou as suas atenções, e era justamente
isso o que eu queria. Viro para Axel e os meninos apontando o dedo nas suas
direções, e quando vejo que Ângelo abriu a boca para falar algo eu lanço um
olhar para ele fazendo um gesto de “pare”. Eu estou sendo uma maluca ao
fazer uma coisa dessas? Com certeza! Mas eu não me importo, pois somente
olhar para a cara de surpresa desses homens eu já me sinto melhor.
— Axel, eu não vou voltar com você! Eu não sou o seu brinquedo, tudo
o que eu queria era ser sua mulher, mas se você não tem coragem de ser o
meu homem então me deixe em paz. — Ele me encara de forma impassível o
que me deixa com mais raiva. — Ângelo! — Viro para o meu irmão. — Não
preciso que você provoque uma guerra maldita por minha causa. Eu sei me
defender, mesmo que seja do Axel. Fique fora você também! — Meu irmão
assente com os olhos arregalados.
— Isadora… — Axel começa em tom perigoso, mas eu não ligo para
os seus sentimentos sombrios agora.
— Não venha com isso, Ax, eu não tenho medo de você! Superei essa
merda! — Oh merda quero me chutar por ter chamado ele de “Ax”.
E lá está novamente o seu sorriso fantasma, mostrando que está
satisfeito comigo. Eu o odeio! Odeio a forma que o meu corpo quer correr
diretamente para os seus braços, e eu odeio principalmente o modo saudoso
estampado na sua cara bonita. Para com isso, garota! Não posso ceder a ele
nunca mais, Axel não vai mais me colocar no cabresto.
Com esse pensamento em mente eu jogo as mãos para cima, viro em
direção ao carro de Ângelo e sigo até o veículo pisando duro.
— Isa, espera! — Ouço Ângelo me chamar, mas eu não ligo.
— Angel se quiser ficar aí pelo menos mande um dos seus capangas me
levar para casa. Estou indo embora, cansei! — Minha voz sai mais rouca do
que eu gostaria de admitir.
Eu estou pronta para chorar a qualquer momento, mas obviamente não
farei isso na frente de Axel. Não lhe darei essa ousadia, porque eu posso amá-
lo como uma louca, mas eu sou melhor que isso. Melhor que tudo isso! Antes
de entrar no carro eu dou uma última olhada para os meus meninos, que senti
falta tanto quanto o pai do meu bebê. Quando os vejo acenar em despedida,
eu continuo a seguir meu caminho. Jogo minha bolsa em qualquer lugar,
sento no banco de trás do carro e curvo meu corpo, escondendo o meu rosto
com as duas mãos. Sinto um aperto enorme no meu peito, que eu estava
ciente que iria acontecer quando eu encarasse novamente os olhos negros que
tanto sou apaixonada.
E agora me vejo aqui morrendo de medo do que pode vir a acontecer
daqui pra frente. Sim, porque antes eu só estava com a ideia de que Axel
estava longe, que a possibilidade de sua volta era próxima. Mas e agora que
ele está realmente aqui? Como eu contarei a ele que estou grávida de seu
filho? De qual força celestial eu tirarei a coragem de correr dele o máximo
que eu conseguir? Como será a nossa vida daqui pra frente? Argh!! A única
coisa que eu sei é que são inúmeras perguntas sem respostas.
Meus pensamentos são interrompidos quando Ângelo entra no carro e
senta ao meu lado. Ele tenta falar comigo, mas eu não quero no momento.
Ainda não digeri o fato de que meu irmão sabia que Axel havia voltado, e
preferiu não me alertar a esse maldito fato.
— Isa, você está bem? — Ângelo pergunta com cautela.
— Qual a definição de “bem” pra você? — pergunto de forma abafada.
— Olha, hermanita… — Angel começou a falar, mas parou quando eu
levantei minha cabeça exibindo uma expressão de angústia. — Oh Isa! — Ele
tenta me alcançar, mas desvio rapidamente.
— Por que você não me disse que Axel estava aqui? Como foi que
você ficou sabendo disso? — Disparo a perguntar.
— Não há nada que aconteça por aqui que eu não saiba Isadora, aquele
desgraçado usa a minha pista clandestina para entrar no país. — Ângelo conta
assumindo uma voz endurecida e raivosa.
— Por que não me contou, eu poderia... eu poderia ter… — Não
consigo terminar de falar.
— Você iria até o encontro daquele filho da puta que te abandonou! —
Ângelo aponta cheio de ira.
— Eu não iria fazer isso, e mesmo que fizesse é minha vida, Ângelo!
— Rebato com o mesmo tom de voz alto dele.
Ângelo olha para mim sem se conformar, mas logo sua expressão cai e
ele passa as duas mãos no seu rosto com força. Percebo que ele está tentando
se controlar para que não haja mais desentendimento entre nós dois, e eu faço
o mesmo. Eu não posso ficar brigando com ele, eu sei que ele quer o meu
bem, mas isso vai muito além disso. Tem mais uma pessoinha no meio disso
tudo.
— Angel, olha nós temos que… — Começo a falar, mas ele se adianta
me cortando.
— Você não entende o quanto aqueles homens são perigosos para você,
minha irmã. — Meu irmão fala me fazendo avançar na intenção de segurar
uma das suas mãos.
— Isso não é justificativa, Angel, por que você também é um homem
perigoso — falo o fazendo cobrir sua outra mão na minha.
— É por isso mesmo que eu sei melhor, hermanita. — Diz com uma
expressão angustiada.
—Tem uma coisa que você não sabe, meu irmão. — Digo com a voz
baixa, soltando um suspiro. Observo que chegamos quando eu vejo a fachada
da incrível mansão de Ângelo.
— O que você quer dizer com isso? — indaga confuso. Pego a minha
bolsa largada, abro a porta do carro e antes de sair eu dou um sorriso triste na
sua direção.
— Mesmo que eu queira fugir do Axel por estar com raiva dele, haverá
um momento que eu não conseguirei mais fazer isso — respondo a ele
sentindo meus olhos arderem por lágrimas não derramadas.
— Por que diz isso? Eu posso te proteger dele! — O que ele acabou de
falar me fez dá um sorriso triste e negar com a cabeça.
— A questão não é proteger, Angel. Eu… — Engulo em seco, olhando
diretamente nos seus olhos castanhos. — Eu vou ter um bebê de Axel, e tudo
o que mais quero é compartilhar isso com ele. Mas… mas eu não estou
pronta ainda. — Revelo o fazendo abrir a boca várias vezes para falar algo,
mas nada sair.
O choque da minha revelação está estampado no rosto de Ângelo, mas
eu preciso me afastar um pouco. Sendo assim eu saio do carro, corro para
dentro indo direto em direção à praia. Luíza tenta me dar saudação de boas-
vindas, mas eu sou uma mulher com uma missão agora. Quando chego à
praia me livro da minha bolsa e meus sapatos em qualquer lugar, caminho
para mais perto da água. Isso é tudo o que eu preciso no momento, já que o
colo de minha mãezinha está a quilômetros de distância. Me sento de
qualquer jeito na areia e enterro meu rosto entre minhas mãos.
Droga, droga, droga!!!! Por que tudo saiu dos trilhos tão
rapidamente?
Eu não consigo tirar da minha mente o quanto Axel estava lindo, e
como eu adoraria correr até ele e beijá-lo. Não é por que eu estou o odiando
com todas as minhas forças que eu vou poder parar o meu coração idiota.
Acho que eu realmente não passo de uma menina tola como ele mesmo me
chama, eu deveria me chutar. Isso mesmo, eu deveria dar um chute muito
forte e dolorido na minha bunda. Não, melhor não, o certo seria chutar a
minha cara mesmo. Argh! E tem o Ângelo, eu estou amando passar esse
tempo com ele, conhecer mesmo que seja um pouco dele, mas… mas essa
super proteção dele é exatamente aquilo que eu não preciso. Espero que ele
entenda isso, de verdade.
— ¡Hermanita! — Ouço a voz de Ângelo perto o suficiente para fazer
o meu corpo ficar rígido.
— Angel, por favor, eu… — Começo a falar, mas ele me interrompe.
— Não irmãzinha, eu não vim aqui brigar com você. Eu prometo! —
Ele se senta ao meu lado me fazendo respirar fundo.
— Agradeço muito por isso — digo soltando um suspiro forte. Levanto
minha cabeça e olho diretamente para o mar.
— Então… um bebê, não é? — O jeito amedrontado de Ângelo de falar
“bebê” me faz dar uma risadinha.
— Você não precisa ter medo de falar essa palavra, homem — Olho
para ele e vejo o quão pálido está. — Meu Deus Angel, você está tão nervoso
que parece que vai desmaiar. É somente um bebê! — Empurro meu ombro
contra o dele de leve.
— Não sei se você sabe, Isa, mas na minha vida o único bebê que eu
tive que lidar foi você. Eu não sei como reagir aqui, me dá um desconto, por
favor — diz que é impossível não me divertir às suas custas.
— Irmão, você vai enfartar desse jeito — debocho o fazendo ampliar os
olhos.
— Isadora! — Ele diz aflito e eu não consigo parar a gargalhada.
Fico rindo alto as suas custas, mas paro quando o vejo me encarar com
preocupação. Ao me tocar que ele deve estar lembrando do que aconteceu
com a nossa mãe quando engravidou de mim, eu me aproximo mais ainda
dele. O deixando passar o seu braço a minha volta, eu enterro o meu rosto no
seu peitoral coberto por uma simples e fresca camisa branca.
— Desculpa por não ter lhe contado sobre a minha gravidez. — Me
desculpo usando um tom baixo e envergonhado.
— Não faça isso, não ande se desculpando por coisas que são sobre
você. É seu direito, Isa! — O carinho na sua voz não passou despercebido por
mim.
— Certo! — digo simplesmente e de repente ele começa a dar uma
risadinha. — O que foi? — pergunto erguendo meu corpo.
— Então era esse segredo que você estava mantendo da pequena Lara,
não foi? — Sua pergunta me faz dar um sorriso também.
— Sim, foi uma luta, mas no final deu tudo certo e meu bebê não
nascido tem uma madrinha — falo fazendo meu irmão arregalar os olhos de
brincadeira.
— Que surpresa que isso, não é? — Ângelo diz fingindo surpresa.
Eu dou risada e empurro ele de leve, mas logo sua aparência relaxada
fica mais séria. Quase como se estivesse engolido algo desconfortável.
— O que foi? — Questiono apreensiva.
— Quero saber se você está preparada para lidar com uma criança de
um homem como Axel Cox, Isa. Essa vida não dá garantias a ninguém,
principalmente a de ter uma família — diz com a voz dura, voltando a me
olhar nos olhos. — Fora que você ainda não sabe como o Cox vai reagir a
situação. — Engulo em seco ao pensar na possibilidade.
— Eu sei, eu realmente sei disso. — Desvio meu olhar para contemplar
novamente o mar. — Tudo o que sei é que eu irei proteger esse bebê contra
qualquer mal. Mesmo que esse mal seja seu próprio pai — revelo com
firmeza, ouvindo um suspiro forte do meu irmão logo em seguida.
— Se antes eu já sabia, hoje eu tenho certeza. — Ele diz e eu franzo o
cenho.
— O que foi? — Indago.
— Que você é mais parecida com a nossa mãe do que eu pensava. E
saiba que eu vou estar ao seu lado em cada caminho que você trilhar. — Meu
irmão disse com tanta admiração que meus olhos se encheram de lágrimas
imediatamente. —¡Maldita sea, ahora seré tío! (Maldito seja, agora eu serei
tio!)
— Oh Angel, obrigada! — Me joguei nos braços dele, o abraçando
com força.
Eu não sei o que acontecerá agora, mas seja como for eu estarei
preparada. Sempre preparada!
— Isadora, levante dessa cama agora mesmo! — Ouço a voz de Lara
gritar dentro do quarto escuro.
— Vá embora! — Minha voz sai abafada pelo cobertor na minha cara,
— Não, eu não vou! — A porta do quarto bate. — Levante-se Dora, eu
vim te trazer a luz! — Lara diz alegremente e eu me irrito.
— Enfie a sua luz no seu… — Começo a dizer, mas ela me impede.
— Não conclua essa frase, senhorita Martins! — A animação vinda da
voz de Lara está me deixando no limite.
— Eu não quero saber! — digo de forma abafada ao enterrar meu rosto
no travesseiro.
— Saia disso, Dora, eu vim aqui justamente para fazer você sair dessa
caverna infernal. — Lara do em um tom duro.
— Mas eu não quero! — Odeio que eu tenha falado de forma frágil.
Faz três dias que eu não saio de casa, muito menos do quarto. Passei
esse tempo finalizando o meu projeto de conclusão da faculdade e não fiz a
mínima questão de fazer nada além disso. E para falar a verdade eu nem
queria. O lado positivo de ficar nessa depressão sem fim foi que eu
finalmente terminei o meu projeto. Eu já estava me sentindo atrasada demais
na conclusão de todo esse curso, porque a minha internação recente fez com
que eu me atrasasse. Mas enfim, agora só falta a última avaliação e apresentar
o projeto. Deus, como essa parte é a que eu tenho mais pavor no mundo
inteiro!
Sinto meu corpo estremecer somente com o pensamento da
apresentação, imagina quando realmente chegar o dia. Cruzes!
Mas voltando para a parte que eu estou trancafiada no quarto. Ângelo
tentou me tirar desse momento sombrio por um dia inteiro, mas não houve
qualquer tipo de sucesso. Eu simplesmente não quero ter que lidar com coisas
que estão acontecendo. Coisas essas que me dão o desprazer de ser mais forte
do que eu realmente aparento ser e que, para falar a verdade, eu nem me sinto
totalmente pronta. A minha barriga cresce a cada dia que passa, haverá
momentos que eu não irei conseguir escondê-la com roupas folgadas.
Não há nada que fique escondido por muito tempo, principalmente
aquilo que não está sob nosso controle. E acho que o fato de ter que ficar cara
a cara com aquele mercenário desgraçado e estupidamente delicioso para
contar a notícia é amedrontador demais.
— Eu vou contar até três, minha amiga, e se você não sair daí sozinha
eu irei te tirar a força. — Lara do entre dentes.
— Você não ousaria fazer isso com uma mulher grávida. — Rebato
ouvindo um som estrangulado sair da sua garganta.
— A pois bem guria, vamos tentar isso. — Lara para e eu consigo
visualizar mentalmente ela cruzando os braços. — Um! — Fecho os meus
olhos com força.
— Desista, Lara! — Aviso de forma decida.
— Dois! — Solto um gemido ao sentir a ponta do cobertor se erguer.
— Lara, não faça isso! Me deixa aqui! — mando sem muita força ou
calor.
— Eu não vou fazer isso, meu dever de amiga é animar sua bunda
desanimada. Temos uma festa para ir hoje e quero fazer um dia de spa com
você. — Lara dize fazendo franzi o cenho.
— Festa? Que festa é essa? — pergunto curiosa.
— Levante dessa cama e eu te conto tudo. — Lara me chantageia de
forma ridícula.
— Lara, jura que você vai me chantagear? — Indago desacreditada.
— Três! — O cobertor e puxado com força de meu corpo, dou um
gritinho sem noção sentando na cama rapidamente.
— Lara! — A repreendo, mas isso só a faz abrir um largo sorriso.
— Oi Dorinha? — A cara de pau pisca para mim e forma amável, e eu
reviro os meus olhos inconformada. — Respondendo a sua pergunta: É óbvio
que eu sou o tipo de mulher que consegue aquilo que quer. Então sim, você
vai se levantar para a vida!
Olhei profundamente para Lara querendo muito que ela sumisse da
minha frente como a merda de um passe de mágicas. Mas eu poderia ser a
mais agressiva no momento, só que isso não mudaria o fato de que ela está
certa. E tenho que dizer que ela está certa todos os sentidos, porque sim, Lara
é uma mulher extremamente decidida que consegue o que quer. E está claro
como o raiar desse dia que eu tenho que me erguer para a vida. Ter Axel e os
meninos aqui em Floripa me tirou totalmente fora da casinha, mas não pode
ser assim. Do jeito que as coisas estão não podem continuar de nenhuma
maneira.
E foi justamente por conta de tudo isso que eu decidi focar em mais
nada além do projeto. Era mais fácil assim, certo? Eu não teria que pensar em
mais nada que não fosse em programação, códigos e textos técnicos. Aquilo
era o bastante para mim, eu estava confortável com tudo, até mesmo o meu
irmão e a Luíza haviam desisto. Mas aí… aí venha Lara Álvarez. Ela é como
um cão infeliz que não larga o osso com facilidade, e se eu não disser que
isso é uma das coisas que mais amo e odeio nela, eu estaria mentindo. Solto
uma respiração passo as mãos no rosto com brutalidade desnecessária,
voltando a encarar minha amiga logo em seguida.
— Você está certa! — Murmuro minhas palavras a fazendo unir as
sobrancelhas.
— O que disse, Dorinha? — Lara exclama sem acreditar.
— Eu não vou falar de novo. — Resmungo cruzando os meus braços
sob os seios.
Sinto o azedo do meu humor me consumir, me deixando com muita
vontade de gritar. Mas me contenho, por que esses hormônios miseráveis não
tiraram o pior de mim. Oh não, eles não irão!
— Alguém está aqui de mau humor, estou certa? — Lara diz de forma
pomposa, fazendo graça com a minha cara.
— O meu humor oscila tanto que eu posso chorar como um bebê em
determinado tempo. Mas logo em seguida ficar fervendo em ódio, pronto
para matar pessoas usando uma bazuca. — Digo soltando um gemido
estrangulado. Lara joga a cabeça para trás e rir de forma relaxada.
— Oh minha amiga, a gravidez pode fazer isso com as pessoas.
Lembro quando a Amanda estava grávida do Theo, ela ficou insuportável. —
Lara diz me deixando surpresa.
— Amanda tem um filho? Eu não sabia! — Dou um sorriso pela
revelação. — Quantos anos ele tem? — Vejo a expressão de Lara cair
rapidamente. Sua expressão mostra o quanto ela se arrepende por ter dito
isso, e é claro que eu não entendo de onde veio.
— O Theo veio a óbito assim que nasceu, quase que Amanda foi com
ele, mas felizmente não aconteceu. — A surpresa me faz automaticamente
colocar a mão na minha barriga.
— Oh Deus, eu sinto muito Lara! — Saio da cama rápido e vou até a
minha amiga.
— Tudo bem, Dorinha isso já foi a um tempo. Foi muito complicado
para Amanda, mas ela foi superando aos poucos. — Lara me explica
enquanto eu rodeio os meus braços à sua volta.
— Isso é tão triste, Lara! Meu Deus, eu não… eu não… — O
pensamento do meu bebê nascer sem vida é algo que eu não consigo pensar.
Imaginar isso é totalmente aterrorizante.
— Dora, não pensa nisso, tudo bem? Foi horrível o que aconteceu com
minha irmã, mas não acontecerá com o pequeno dragão. — Lara segura meus
ombros com firmeza. Meus olhos se enchem de lágrimas e antes que eu
pudesse reagir, eu estou chorando.
Porcaria de hormônios!
— Você é tão sábia, Larinha! — Confesso a fazendo rir.
— Dorinha, Dorinha, o cuzão do Axel vai cortar um dobrado com você
nessa fase. — Lara diz ainda rindo. — O bom é que eu estarei por perto, já
que eu sou a madrinha. — Sua risada passou de divertida para maligna.
— Por que eu estou achando que irei me arrepender sobre o convite? —
Pergunto enxugando meus olhos com as costas da mão.
— Não faço a menor ideia, já que eu sou a melhor pessoa para esse
cargo. — Lara pisca de forma inocente.
— Às vezes eu tenho lá minhas dúvidas. — Falo me afastando dela.
O que é a maior mentira da vida, eu já disse antes, mas eu sempre irei
repetir. Lara é a melhor pessoa que cruzou a minha vida, eu nunca tive essa
cumplicidade com qualquer outra pessoa e tenho que revelar que é bom
demais. Às vezes eu paro olhando para a ruiva à minha frente e penso o
quanto ela é uma caixinha de surpresa. Tenho certeza que ainda me
surpreenderei muito com ela no futuro, e não vejo a hora disso acontecer.
Esses três dias eu estava me sentindo uma merda, uma merda com M
maiúsculo, mas o fato dela estar aqui já me fez reacender algo em mim.
Quando ela e Ângelo finalmente resolverem o que fazer das suas vidas, eu
tenho certeza que ele será o homem mais feliz do mundo por tê-la ao seu
lado.
— Do que você está sorrindo feito uma besta aí? — Minha amiga
pergunta com desconfiança me tirando totalmente dos pensamentos.
— Oh, nada! Com certeza nada! — Nego com a cabeça a fazendo me
encara de forma estranha.
— Que seja! — Ela exclama desistindo de tentar desvendar se estou
dizendo a verdade ou não. — Vá se arrumar por que estamos saindo. — É a
minha vez de ficar confusa.
— Para onde vamos? — Questiono.
— Vamos ter um dia de rainhas no spa! — Vejo os olhos verdes da
minha amiga brilharem. Não sei por que, mas sua animação me deixa
apreensiva.
— Nessa festa haverá alguma ocasião importante que eu precise saber?
— Questiono com cautela.
— Sim, hoje você conhecerá boa parte do submundo que pertence a
América Latina. — Lara diz me fazendo arregalar os olhos.
Oh Jesus, por que eu tenho a sensação que eu deveria correr para
longe?
— Como assim? — Assim que a pergunta sai dos meus lábios eu me
arrependo.
— Meus pais organizam um enorme evento para os seus "amigos" de
negócios todos os anos. E esse ano não será diferente, haverá gente de todo o
lugar. Eu particularmente só fico esperando pela próxima baixaria, porque é
sempre certo de ter. — Engulo em seco com suas palavras.
— Eu não sei se é uma boa ideia. Eu não pertenço a esse mundo. —
Encolhi os ombros e Lara bate palmas repentinamente me assustando.
— Você está esquecendo quem é, Isadora? — Sua pergunta me deixa
sem saber o que dizer.
— Como? — Indago.
— Dora, você é a mulher do mercenário mais temido e odiado de todos
os tempos, irmã do traficante de armas mais ordinário dessa geração. Sem
falar que é minha amiga, é claro. — Sua feição doce com certeza não refletia
o que ela estava dizendo. Mas eu não pude deixar de notar o quão verdadeiro
era essa sua lista.
"O que só me deixa mais na merda ainda, é óbvio."
— Eu não sou mulher de ninguém! — Reclamo a fazendo olhar para
mim com desdém.
— Se você se engana desse jeito, quem sou eu para dizer algo diferente,
não é mesmo? — Ela diz e eu nego com a cabeça.
— Que seja, Lara! — Solto um bufo desanimado. — O que faremos
agora? — Pergunto com cautela.
— Agora minha cara amiga… — Lara para de falar e joga o braço sob
meus ombros. — Agora vamos enaltecer nossa beleza! — O modo divertido
que ela disse isso me fez sorrir.
O dia de hoje foi um misto muito divertido de emoções. Eu nunca
imaginei que poderia me divertir tanto junto com outras pessoas, pessoas
essas que se resumiram em minha amiga Lara e a sua irmã Amanda. Porque
sim, Amanda estava no SPA a nossa espera, e ela foi exatamente o
complemento para que tudo fosse do jeito que foi. Nunca pensei que assim
que Lara me obrigasse a ir tomar um banho e trocar de roupa, eu iria vir
entrar em um mundo paralelo de mulheres furiosas por uma boa fofoca. O
SPA pertence a uma amiga da mãe delas, o local é lindo demais, com uma
infraestrutura perfeita, a elegância e riqueza está mais presente do que nunca
em casa espaço, cada funcionário e principalmente em cada frequentador.
De início eu tinha em mente que aqui não era o meu lugar, me
perguntando onde eu vim parar. Mas tudo isso mudou quando percebi que
estava no meio de amigos e se meus amigos estavam, então esse era
obviamente o meu lugar. No momento que as massagistas estavam tirando os
nós de tensão no meu corpo grávido cansado, a cabeleireira, manicure e
pedicure cuidavam para ressaltar a minha beleza. Eu esqueci sobre tudo do
mundo lá fora, e foi a coisa mais incrível que poderia me acontecer. Por que a
minha mente estava tão arrebatada com o fato de tudo e todas as coisas que
vem me acontecendo atualmente, que é bom me livrar disso um pouco. Aqui
eu não me preocupei em contar a Axel sobre a minha gravidez, não quis
pensar em formação, sobre meus pais e irmão. Em nada realmente!
Não, aqui era somente a Dora tendo uma experiência em um SPA com
amigas. E foi a melhor coisa que a Lara poderia me obrigar a fazer. Somente
a lembrança da minha amiga me forçando a sair do meu casulo
autodepreciativo me faz rir. Agora estou aqui, usando um vestido lindo em
tom azul claro, que me deixa muito sofisticada e esconde um pouco a minha
barriguinha de grávida. Meus cabelos cacheados que estão presos em um
penteado que ilumina o meu rosto. E a maquiagem? Deus, quando me olhei
no espelho eu realmente não consegui reconhecer a mulher que refletia ali.
Sem contar que uso um Jimmy Choo nos meus pés, nem conheço, mas se
Lara diz que ótimo, e se é assim eu acredito. Eu estou me sentindo linda,
elegante e com uma elevação no meu ego muito boa de sentir.
E acha que somente eu estou formidável? Oh não, Lara e Amanda não
ficam de fora disso, com certeza não. Lara está usando um vestido preto, que
destaca seus seios fartos e curvas que são de matar. Seus cabelos ruivos estão
soltos em ondas grossas nas costas, mas o seu destaque maior com certeza
são seus lábios grossos pintados de vermelho sangue. Amanda era a mais
discreta de nós duas, com seu vestido vinho, cabelos presos em um penteado
carregado de classe. E sua maquiagem era tão sofisticada quanto o restante.
Incrível, essa é a melhor definição para o que estou sentindo nesse momento.
Eu me sinto a mulher mais incrível do momento.
— Está pronta para conhecer o nosso mundo, Dora? — Amanda
pergunta assim que estava de frente a entrada do local do evento.
— Confesso que estou um pouco nervosa, mas nada que eu não consiga
lidar. — Informo e ela assente dando um sorriso de lado.
— É assim mesmo que se fala minha, amiga! — Lara diz com firmeza.
— Vai ser uma boa experiência. — Tento dizer com confiança
enquanto caminhamos juntas.
— Não sei se será boa, mas que será uma experiência isso com certeza
será. Porque aprendemos desde muito jovem que se passamos pelos
encontros de papai e mamãe, então passaremos por qualquer coisa. —
Amanda conta me fazendo olhar em direção para Lara que fecha seu
semblante e concorda com a cabeça.
— Essa merda aqui é uma prova de fogo. — Lara diz entre dentes.
Sinto um frio na espinha e engulo em seco.
— Querida! — A voz forte e rouca de um homem chama nossa
atenção.
— Dante! — A expressão de Amanda se ilumina ao notar a presença do
homem.
Olho com curiosidade para o homem alto, de pele escura, cabelos
cortados bem baixos, olhos profundos e totalmente analíticos quando olham
em minha direção e na direção de Lara. Mas esse olhar muda assim que ele
vai em direção a Amanda, posso até mesmo ver um sorriso discreto no canto
dos seus lábios. Sem sombra de dúvidas esse deve ser o marido de Amanda, e
para que eu tivesse mais certeza ainda ela caminhou até o homem que a
abraçou pela cintura e disse algo no seu ouvido, a fazendo ficar com as
bochechas coradas. Um sorriso escapa dos meus lábios ao olhar para o casal
na minha frente, mas ele logo se fecha quando Lara faz um som com a
garganta.
— Cunhado, você vem no faro da minha irmã, não é verdade? — Lara
cutuca dando um sorriso, mas posso ver que não é um sorriso verdadeiro.
— Eu sempre sei onde a minha esposa está, Lara. — Dante diz e olha
para Amanda que revira os olhos.
— Por favor, não comecem vocês dois. — Amanda repreende tanto o
marido quanto a irmã.
— Eu não fiz nada! — Eles dizem ao mesmo tempo que é impossível
segurar o riso novamente. Eles parecem dois irmãos briguentos.
— Que seja! — Amanda reclama e olha na minha direção. — Isadora,
gostaria que você conhecesse o meu marido, Dante Casanova. — Ela olha
para o marido, e aponta para mim. — Dante, conheça Isadora Martins.
— Prazer em conhecê-lo, senhor Casanova. — O cumprimento ouvindo
um som de sufocamento ao meu lado.
— O embuste! — Lara tosse o insulto, mas seu cunhado a ignora.
Dante olha para a cunhada com a mandíbula em um aperto forte.
Percebo que ele não quer deixar o insulto passar abatido, mas o aperto da sua
esposa no seu antebraço o faz parar.
— O prazer é todo meu, senhorita Martins. É muito bom conhecer a
famosa irmã de Gutierrez. — Dante diz me pegando totalmente de surpresa.
— Oh, você sabe que sou a irmã de Ângelo? — Indago de supetão.
— Não há uma pessoa nessa festa que não saiba sobre isso, Dora. —
Lara diz em tom baixo e eu solto uma forte respiração ao digerir o que ela
acabou de falar.
— Ângelo sabe que estou aqui? — Questiono a minha amiga assim que
algo veio à minha mente do nada. Espero por sua resposta, mas quando não
ouço nada vindo dela, viro para encará-la. — Oh Deus, Lara! Ele não sabe,
não é? — Digo espantada e ela dar de ombros.
— Nada acontecerá, Dora, então não precisa ficar tão apreensiva. — Eu
queria ter essa confiança dela, mas não tenho. — Vem, vamos entrar.
Lara me puxa para dentro do salão, e eu estou tão nervosa que me deixo
ser guiada por ela sem prestar muita atenção no que acontece à minha volta.
E mesmo nervosa para estar em um lugar desconhecido, eu pude notar a
beleza do salão decorado de forma clássica e bem iluminado. As pessoas
presentes, vestindo os seus trajes de gala deixavam todo o ambiente com o
maior toque de riqueza. Mas tinha algo a mais no ar, eu poderia sentir isso.
Havia uma tensão no ar, uma massa densa e invisível no lugar. Também não
era para menos se fôssemos pensar que todas essas pessoas aqui presentes,
por mais lindos, bem arrumados e ricos, não passam de bandidos. Então sim,
é normal que exista essa tensão.
Eu estava tão distraída com a minha observação que não notei quando
um casal de meia idade se aproximou de nós. Não precisei observar demais
para perceber que eu estava de frente para os senhores Álvarez. O homem
usando um smoking sob medida, cabelos loiros com as laterais e algumas
partes no topo da cabeça com fios brancos e olhos azuis sem demonstrar
qualquer tipo de sentimento, como os de Rodrigo, era o pai de Lara. E a
mulher, ela era a personificação da perfeição, com seu cabelo castanhos
claros em um coque requintado. Usando um vestido verde escuro que
destacava seus olhos verdes como os de Lara.
— Que bom que vocês chegaram, filhas. — A senhora Álvarez diz
sorrindo para as suas filhas.
— Desculpa o atraso mamãe! — Amanda sorriu de forma amável, indo
até a mãe e a cumprimentando com um abraço curto.
— Papai, mamãe quero que vocês conheçam a minha amiga, Isadora
Martins. — Lara diz animada assim que o casal está perto o suficiente. —
Dora, esse são meus pais Valentim e Helena Álvarez.
— Prazer em conhecê-los, senhores! — Digo educadamente. Sinto os
olhos cerrados do senhor Valentin em mim, o que me deixa desconfortável.
— Encantada em conhecê-la, querida. — A senhora Álvarez me
cumprimenta com um sorriso discreto.
— Isadora Martins? — O pai de Lara pergunta, olhando para as filhas.
— Oh papai, essa é a irmã perdida de Ângelo. — Amanda explica.
Assim que a explicação foi dada, eu notei nitidamente quando o corpo
do senhor Valentim assumiu uma posição rígida. Era como se essa
informação passada abrisse os seus olhos para algo desagradável. Eu vi a
hostilidade na sua expressão, eu senti nos meus ossos que a minha presença o
deixou meio que… meio que… enraivecido? Oh sim, acho que essa é a
palavra mais certa para ser usada. Me senti perdida, mas eu não pude falar
nada, porque assim que iria abrir minha boca para que as palavras saíssem.
Meu irmão se posicionou na minha frente, me fazendo dá um pulo de susto,
mas fui amparada pelo próprio para que não tropeçasse e caísse.
— Como ousa trazer essa bastarda para a minha festa? — Senhor
Valentim fala me pegando totalmente de surpresa.
— Papai! — Lara e Amanda exclamação em uníssono.
— Essa é a filha da Esther? — Ouço a senhora Helena pergunta sem
acreditar.
— O que essa menina faz aqui? Isso é uma afronta a minha casa, ao
meu amigo! — O pai de Lara começou a trovejar.
Oh meu Deus, o que fiz?
— Isadora, o que faz aqui? — Do nada o rosto de Ângelo entra no meu
campo de visão. Me sinto nervosa, minhas mãos tremem porque eu não
estava esperando por isso. Não, eu não esperava.
— Angel? — Indago sem entender. Sinto a mão do meu irmão tomar o
meu braço com força e me puxar junto com ele para longe da família Álvarez
reunida.
Deus, o que está acontecendo aqui? Como tudo se transformou nessa
loucura sem sentido algum?
— Você não deveria estar aqui, Isadora! Agora tudo está perdido!
Porra! Agora tudo está perdido! — Ângelo diz com uma fúria cruel. Eu não
estou o reconhecendo agora.
— Ângelo, o que está acontecendo? Ângelo? — Tento me soltar, mas o
seu apertado em mim é forte.
Esse não é o irmão que sempre se apresentou para mim!
—Porra, agora ele saberá! Não era o momento certo para essa merda.
— Ângelo esbraveja enquanto continua a me arrastar para longe.
— Irmão que… — Comecei, mas ele me interrompe.
— Você não deveria, Isadora. Ainda é cedo! Ele não pode saber ainda,
porra! — Eu não conseguia assimilar o que Ângelo queria dizer com essas
palavras.
— Ângelo, estou com medo! — Digo, mas ele ignora. — Você está me
assustando, Ângelo o meu bebê! — Fiquei com medo que todo o nervosismo
que eu estava sentindo prejudicasse o meu bebê.
Assim que meu irmão ouviu a palavra bebê sair da minha boca ele me
soltou rapidamente como se meu corpo pegasse fogo. Ele olhou na direção do
meu ventre com os olhos arregalados. Eu não sabia o que estava acontecendo,
ou o por que ele ficou furioso comigo dessa maneira. Mas tudo o que eu sabia
era que eu tinha que sair de perto dele. Eu tinha que sair desse lugar, ficar
longe dessas pessoas. Eu estava com medo, medo por mim e medo
principalmente pelo meu bebê indefeso.
— Isa… — Ângelo mudou seu tom de voz tentando se aproximar, mas
eu dei vários passos para trás.
— Não chegue perto! — Mando rapidamente.
— Isa, você não entende é que… — Ele começou, mas eu gritei para
ele parar.
— Estou saindo daqui, por favor, fique longe agora! — Comando com
raiva e ele arregala os olhos.
Meu irmão abre a boca para falar algo, mas eu não dou outra
alternativa. Eu não consegui assimilar direito o que aconteceu agora, mas seja
como for eu não sou bem vinda aqui. Seguro a barra do vestido que estou
usando e saio em disparada. Para onde vou? Não faço a mínima ideia! Os
meus batimentos cardíacos estão em loucura, e o mais engraçado disso tudo é
que eu não sinto a mínima vontade de chorar. A única coisa que vem na
minha mente é tirar o meu bebê do perigoso. É louco isso, eu sei, mas nem
quero entender.
Continuo a andar sem rumo até que meu corpo se choca com alguém.
Dou um grito assustado ao notar que estou perdendo a gravidade e que cairei
no chão. Mas o chão nunca vem, porque braços fortes me seguraram
impedindo a queda iminente. Abro a boca para agradecer, na intenção de
segui meu caminho, mas um cheio tão conhecido por mim chega até o meu
nariz. Não, não pode ser!
— Minha menina? — Fecho os meus olhos quando sua voz penetra os
meus ouvidos.
Levanto a minha cabeça para encontrar os olhos que tanto amo, e que
por mais que seja absurdo, me faz ficar bem no mesmo momento. Meu corpo
relaxa, minhas pernas que já estavam bambas cederam e sem conseguir me
conter eu seguro a gola do seu smoking com força.
— Axel, por favor, me tirar daqui. Nos tira daqui! Não nos querem
aqui! — Peço com força e ele franzi o cenho.
— Nós quem, minha menina? Quem está com você? — Axel pergunta
sem entender.
— Eu e nosso bebê! Nos tira daqui, por favor! — Ao falar do nosso
bebê meus olhos se enchem de lágrimas.
— Bebê? Que porra de bebê é esse, Isadora? — Ele pergunta e posso
ver sua confusão.
Sem esperar por mais nada eu tiro uma das minhas mãos da sua roupa,
seguro a sua mão e coloco firme no meu ventre. Os olhos de Axel se ampliam
quando ele apalpa o montinho na minha barriga sob o vestido de gala. Agora
ele sabe! Ele sabe que teremos um bebê, não era para ser assim, eu sei. Só
que... merda! Era para ser em algum momento. Vejo sua expressão de mudar
de desacreditado para determinado no mesmo momento.
— Vou tirar vocês daqui, agora! — Axel diz com os dentes cerrados.
— Obrigada, Ax! — Agradeci deixando a tensão sair do meu corpo
Sem que eu pudesse controlar, vejo a escuridão me levar no mesmo
momento que Axel me carregou nos seus braços. Axel pode ser o pior
mercenário de todos os tempos, mas ele é o meu homem e o pai do meu filho.
E irá nos proteger, ele irá, eu sei que irá.
Havia se passado três dias que eu soube de algo relacionado a Isadora.
Eu estava em tempos de invadir a casa de Gutierrez, explodir todo aquele
lugar de merda, matar cada um que me impedisse de chegar até a minha
menina. Ninguém iria me impedir de consegui alcançar meu objetivo, nem
mesmo Isadora com aquela boca irritadamente sexy e falastrona iria me
impedir. Eu era um homem determinado, sempre fui e não seria agora que
não seria, certo? Quando meus homens disseram, em meio aos relatórios, que
Isadora havia finalmente saído de casa, mas que se encontrava em um SPA
com as filhas dos Álvarez. Eu sabia que tinha que aguardar o melhor
momento para encontrá-la.

E esse momento era justamente no encontro dos mais sujos homens e


mulheres dessa América Latina. Eu sabia que dessa vez não haveria
escapatória para a minha menina, eu não cometeria o mesmo erro duas
malditas vezes. Aquele infortúnio em frente a universidade foi obra do acaso,
porque eu estava tão arrebatado pela nova essência da minha menina que
deixei que ela escapasse entre meus dedos. Tudo o que eu queria fazer
naquele momento era observá-la. E foda-se se não era tentador ver sua
expressão de mágoa, irritação, misturada com desejo e saudade. Oh minha
menina tola, tão feroz! Antes eu não acreditava que o destino poderia existir,
ou qualquer porra de força divina que as pessoas falam. Por que a loucura que
sinto por essa menina, não é algo que se explique com palavras certas.

E agora?

Agora eu estou com uma Isadora desmaiada nos meus braços, após
revelar de forma totalmente sem sentido que está grávida de um filho meu e
que precisa que eu a leve. Que porra de história é essa que ela está grávida?
Como foi que eu sai de um homem com uma missão para ter minha mulher
de volta. E foder o inferno fora dela na cama, para um homem que não sabe
exatamente o que fazer a partir de agora. Porra! Que história é essa que eu
serei… serei… merda, eu nem sequer consigo dizer as palavras na minha
fodida mente.

Controlo o tremor amaldiçoado que tomou conta do meu corpo e olho


para Isadora desacordada. Solto um suspiro forte, aperto a Isadora contra o
meu corpo. Eu posso ser uma bagunça agora, mas não há nada nesse mundo
que me faça atirá-la para longe de mim. Nem uma fodida pessoa será capaz
disso, nem mesmo ela.

— Chefe, o que aconteceu? — Russel aparece na minha direção,


olhando para todos os lados e quando vê Isadora nos meus braços franzi o
cenho. — Essa é Dorinha? — Assinto sem vontade de falar qualquer coisa.

— Vamos voltar, Sanchez! — Aviso e ele me olha em confusão.

— Aconteceu algo? Estamos sequestrando-a? — Ele pergunta olhando


para os lados, enquanto saca sua arma.

— Não, ela me pediu iara tirá-la daqui, porra! — falo com os dentes
cerrados. A feição de Russel mudou, e ele me encarou seriamente.

— Assustaram a Dorinha lá dentro, chefe? — Aperto Isadora nos meus


braços e concordo.

— Tenho certeza que sim, mas não posso saber o que aconteceu com
detalhes. Preciso tira-la daqui! — Explico e Russel concorda com a cabeça.

— Estarei avisando nossa chegada a Earl! — Sanchez diz e eu aceno.


Sigo caminho para longe daqui, as coisas estão mais complicadas do que
nunca.

Eu não sei o que pensar ainda sobre essa notícia tão repentina. Nunca
pensei na infame possibilidade de ter uma criança, eu não sou um bom
material para lidar com isso. A prova disso foi que eu matei o meu pai aos 12
anos de idade, aquele homem era um desgraçado violento e abusador. E eu
não sou diferente dele, não tem como ser, eu sou filho do meu pai. Porra, eu
sempre soube lidar com todos os meus sentimentos, sempre os deixei de lado,
nunca hesitei em ser uma muralha. Mas nesse momento eu não estou
conseguindo lidar com essa notícia.

Isadora Martins consegue me surpreender, e eu estou lutando demais


contra a vontade de despertá-la desse desmaio com sacudidas exigindo
explicações. Ah santa fodida merda! Minha menina está esperando um fodido
bebê meu. Se isso não é o fim dos tempos, eu não sei mais. Entro no carro,
juntamente com Russel e outros dos meus homens. Preciso chegar logo no
meu lugar, somente assim eu vou conseguir pensar direito.

Quando chegamos a casa, a primeira coisa que eu vi foi Earl e Craig na


porta à nossa espera. Consegui evitar os olhos acusadores do meu irmão mais
novo, naturalmente achando que eu devo ter machucado ou drogado a
Isadora.

— Mas que diabos, Axel! Você disse que iria fazer diferente dessa vez.
— Craig grita assim que me aproximo perto o suficiente.

— Acredite quando eu digo que não é isso que você está pensando. —
Respondo com os dentes cerrados.

— O que aconteceu? — Earl aparece com a maleta de primeiros


socorros.

— Nos encontramos por acaso na festa, ela estava muito agitada e


desmaiou. — Resumo a merda e Earl assente.

— É melhor levá-la para o quarto. — Earl indica me fazendo


confirmar.

Sem pensar duas vezes, sigo com Isadora para o nosso quarto, o mesmo
quarto que ela se recusou a voltar quando teve alta da clínica. Somente o
pensamento disso me faz apertar os dentes com força. Deixo esse pensamento
inútil para o lado e acomodo a minha menina na cama com cuidado. Earl não
perde tempo e começa todo o procedimento, fico tentado a revelar o que ela
acabou de me contar. Mas não sei se consigo dizer isso em voz alta, porque
eu sou uma bagunça de emoções sombrias e perturbadoras. Olho para a
minha mão, a mesma mão que foi parar no pequeno relevo no seu ventre. A
sinto formigar, a minha mente traiçoeira faz isso. Porra, porra!

— Axel! — Ouço Craig me chamar.

— Agora não, Craig! — Respondo sentindo sua aproximação. Eu não


sairei de perto da Isadora, não agora nesse modo tão vulnerável.

— Deixe-a com Earl, ele sabe o que está fazendo. — Craig fala e eu
olho para ele com fúria.

— Eu já disse que não a prejudiquei porra! — Digo e ele solta um som


frustrado.

— Eu acredito, mas acredito que há algo a mais nisso tudo. Vamos lá


fora! — Craig aponta com o polegar para a porta do quarto.

Penso em mandá-lo ir a merda, mas caminho até a porta tendo ele ao


meu encalço. Odeio o fato de que meu irmão me conhece bem, ele é um
idiota de marca maior, mas é um observado melhor ainda. A primeira coisa
que ele notou no meu primeiro encontro com Isadora foi que a minha menina
estava fazendo de tudo para parecer confiante. E que eu iria contar um
dobrado para tê-la ao meu lado. E ele não estava errado nisso, e por mais que
eu odiasse tudo isso, eu prometi fazer diferente agora. Só que eu não estava
esperando que um filho entrasse na história, eu não estava preparada para
essa fodida revelação.

— Inferno! — Praguejo socando a parede mais perto quando estou


longe de Isadora.

— Me conte o que aconteceu, Axel. Você disse que iria ver Isadora na
festa dos Álvarez, mas voltou com ela desacordada no colo. — Seu
questionamento me irrita.

—Por que você está tão preocupado com a minha mulher, Craig? Ela é
minha porra! — Solto e ele revira os olhos.

— Não tente mudar de assunto, ninguém aqui pensa em Isadora como


algo a mais. Só você, então segure seu pau! — Ele pode não falar em
palavras, mas sei que ele gosta e confia na minha menina. E quer protegê-la
tanto quanto eu.

— Foda-se! — Mando sem calor, o fazendo cruzar os braços no peito.


Ele continua a me encarar como se estivesse esperando por algo, isso me tira
do sério então eu explodo. — Eu não sei, tudo bem?! Eu só estava entrando
no local quando ela mesma se trombou comigo e estava assustada, nervosa e
sem falar coisa com coisa. — Revelo e meu irmão junta as sobrancelhas em
confusão.

— O que fizeram com ela? Onde o idiota do Ângelo estava? —


Pergunta me fazendo negar.

— Não faço ideia, mas se foi ele que fez algo com ela eu chutarei o
inferno fora dele. — Cerros os meus punhos com força.

— Tem algo mais, não tem? — Craig indaga e o encaro de modo


impassível. Não tem por que eu esconder, logo ele saberá de tudo.

— Isadora está grávida! — Meu irmão amplia os olhos no momento


que revelo. — Antes que você me pergunte qualquer merda, saiba que eu
acabei de saber. — Resmungo apertando minha têmpora com força.

— E agora? — Sua pergunta me faz soltar um rosnando pela garganta.

— Eu não faço nenhuma porra de ideia! Eu não sou um homem para ter
a porra da uma família. O que eu farei com uma criança? Em nossa vida
merdas desse tipo não se encaixam! — Revelo toda a coisa fodida que passa
pela minha cabeça.

Esse é Craig, ele sabe exatamente aquilo que quero falar.

— Axel, eu não sei o que você está passando. Mas tenho uma pergunta
para te fazer. — Craig diz de modo controlado.

— Só faça a merda da sua pergunta. — Tateio o bolso do meu smoking


à procura de cigarros.
— O que você fará agora? — Sua pergunta me pegou desprevenido.

— Como assim o que farei? — Questiono.

—Você vai lutar contra seus demônios para ficar com a Dora e o bebê,
ou vai ser um idiota como sempre? — Craig pergunta me fazendo parar.

— Eu não sei, mas o certo é deixá-la longe de mim. Você sabe disso!
— Aponto o óbvio esperando por uma confirmação do meu irmão. Mas ele
não fala nada somente vira e sai andando em direção às escadas, me deixando
surpreso. — Craig? — Chamo com irritação o fazendo parar no mesmo
momento. — Onde vai? — Pergunto com firmeza e ele dá uma risada sem
humor.

— Eu vou sair de perto de você, porque se eu ficar eu chutarei sua


bunda. — Craig para de falar e eu observo os seus punhos fechados ao lado
do seu corpo. Abro minha boca para falar, mas ele me impede. — Eu só
queria que você soubesse que não precisa ficar mais estupido e louco que o
normal, irmão. Eu sei que você vai ser o que a Dora precisar que você seja.
— Trinco o maxilar.

— Como você sabe disso? — Questiono vendo o canto do lábio de meu


irmão se erguer.

— Por que você sempre foi um pai decente para mim e deu o seu
melhor. — Ele disse surpreendendo o inferno fora de mim.

Antes que eu pudesse assimilar o que ele acabou de dizer, Craig


simplesmente se pôs a andar novamente para longe de mim. Fiquei pensativo
com o que ele acabou de dizer, devo admitir, mas eu não pude chegar a muita
coisa com isso por que a porta do quarto foi aberta por Earl. Ele engasgou no
início para começar a falar, mas logo me confirmou que minha mulher estava
bem, que seu desmaio era pela quebra abrupta da pressão arterial. Vejo nos
seus olhos azuis que ele quer perguntar algo a mim, mas como é um homem
esperto que já me conhece bem o suficiente para saber que não estou disposto
a nada agora.

Sendo assim, eu deixo Earl de lado para ir ao encontro de minha


menina. No instante que cruzei a soleira da porta eu vi seus olhos despertos
me encarando de forma cautelosa e saudosa. Oh minha menina, não me olhe
desse jeito que eu esqueço de tudo e te devoro agora mesmo. Foi exatamente
essa constatação que passou pela minha cabeça no momento. Vou em sua
direção com passos largos e pesados, sendo na cama abruptamente a fazendo
arregalar os olhos.

— Axel! — Isadora se assusta quando eu a puxo para sentar no meu


colo, com o seu corpo de frente para o meu.

— Temos muito o que falar, mas agora eu só quero ter você nos meus
braços. — Digo como um sussurro rouco. Fecho meus olhos sentindo algo
estupido no peito por tê-la perto de mim.

— Axel, nós temos que… — Ela começa a falar, mas para quando
seguro seus cabelos com força o suficiente para que nossos olhos fiquem
fixos um no outro.

— Não agora! Eu quero você! — Beijo seu rosto. — Senti a porra da


sua falta esse tempo todo. E odeio isso, odeio essa loucura que sinto por você.
Porra, minha menina, eu queria fazer as coisas diferentes, mas foda-se tudo
isso! — Revelo com impetuosidade.

Sem conseguir me conter por mais tempo eu a beijo. O som de alívio e


prazer que sai dela é algo que me deixa satisfeito de modo primitivo. Minha
língua pediu passagem, e quando ela cede eu aprofundo o beijo. Eu senti falta
de tê-la assim à minha mercê, e saber que eu e somente eu sou capaz de fazer
com que ela se entregue por inteiro. Eu sinto isso também, logo eu que sou
um homem de merda que não tenho intenção nenhuma de sentir algo. Com a
Isadora eu consigo visualizar algo mais do que mortes e missões. Eu preciso
de mais, eu preciso de tudo dela.

— Axel, precisamos… precisamos conversar! — Isadora fala pedindo


para se afastar e eu deixo.

— Eu não quero! — Resmungo a vendo sair do meu colo. Nesse


momento meus olhos vão direto para seu ventre, mas eu desvio o olhar
cerrando os punhos.

— Axel, por favor, se nós dois não conversarmos eu terei que sair. Eu
não vou querer ficar assim! Eu preciso de mais que isso, mais que qualquer
merda possessiva que você queira me submeter. — Ela explode. — Eu estou
cansada Axel, eu estou totalmente esgotada. — O sofrimento acompanhado
pelo desespero de Isadora me pegou querendo tirar isso dela. É como se ela
estivesse disposta a tudo.

Eu não sei o que farei a partir de agora, mas o fato de ter a minha
menina sob o meu domínio me faz ter a certeza que eu não consigo deixá-la ir
para nenhum lugar.

Por que isso?

Porque ela é minha, e eu não tenho como negar que sou dela. E se isso
não é no mínimo inesperado, eu não sei mais.
No momento que eu abri meus olhos eu sabia exatamente onde estava e
quem estava ao meu lado. Era o Earl, o meu amigo querido. Ele sorriu para
mim, me contou que havia acabado de me examinar e disse que estava tudo
bem. Eu perguntei se tudo estava bem com o bebê, não imaginava que ele
não estava ciente sobre o assunto, mas pela palidez da sua pele percebi ali
que ele não fazia a mínima noção sobre a minha gestação. Após recuperar do
choque ele sorriu para mim e disse que sim, visivelmente tudo estava bem.
Eu odeio admitir, odeio de verdade, porque ainda me sinto chateada pelo fato
que nenhum deles me deu qualquer notícia quando estavam fora. Mas tenho
que confessar que me sinto feliz e segura por estar todos nós no mesmo lugar.
Parece que as coisas agora estão começando a fazer realmente
sentido. Penso sem conseguir me conter.
Após a despedida de Earl eu sabia que não demoraria muito para que
Axel aparecesse. E como era de se esperar lá estava ele passando pela porta
do quarto, parando para me olhar com toda sua intensidade. E antes que eu
pudesse ter qualquer tipo de reação ele sentou na cama, puxou meu corpo de
encontro ao seu, encaixando minha cintura na sua para log em seguida me
beijar. Não pude fazer nada além de me entregar ao seu beijo, ao seu domínio
e toda sua força.
Foi justamente entre esse beijo cheio de saudades e desejo que eu
percebi o quanto eu sentia falta desse maldito homem. Quero continuar a
pertencer a ele em todos os sentidos da palavra, mas algo ainda não estava
bem. Para falar a verdade nada estava bem, eu tinha que dar uma direção
certa ao meu destino.
Com isso eu me afastei dele, e do modo que ele me faz sentir. Eu estou
tão esgotada de tanta coisa, que eu nem sei dizer o quanto. As pessoas à
minha volta sempre fazem algo para me decepcionar, mas eu não vou mais
ficar me lamentando. Eu não preciso disso, eu preciso somente de um
ambiente tranquilo para que eu possa gerar esse bebê com saúde. Só isso,
somente isso. Respiro algumas vezes, ignorando o olhar intenso de Axel em
mim.
— O que diabos você quer dizer com sair? — Ele pergunta friamente.
Passo a mão na testa, com o intuito de massagear o meu crânio dolorido.
— Isso mesmo que você ouviu. — Digo tentando demonstrar uma
calma inexistente. Axel levanta da cama de forma abrupta, me assustando
com sua rapidez.
— Você não vai a lugar algum. Nunca mais você vai sair da minha
frente, Isadora. — Ele avança até mim, mas eu ergo a minha cabeça e não
saio do lugar.
Não posso demonstrar fraqueza para esse homem. Agora as coisas
serão do meu jeito também.
— Eu vou onde eu quiser ir, você não vai mais me dizer o que fazer ou
deixar de fazer, Axel. — Digo com altivez. Ele tem que ver que eu estou
pronta para enfrentá-lo.
— Isadora, não brinque comigo. — Axel para por um tempo. — Eu não
estou disposto a aceitar merda agora. — Eu vejo a ira nos seus olhos negros.
— Que ótimo, querido, porque eu também não disposta a merda sua
também. — Revelo o fazendo ergue a sobrancelha.
Cerro os meus punhos, enquanto olho fixamente nos olhos furiosos de
Axel. Ele pode ser o homem mais dominante que eu já conheci, mas eu tenho
certeza que ele nunca lidou uma mulher cheia de hormônios enlouquecidos.
Estou em uma fase da minha vida que estou disposta a tudo para mostrar o
meu ponto. Eu sabia que uma hora ou outra esse nosso encontro iria
acontecer, e por mais covarde que eu tentei ser durante esses dias. Evitando
ao máximo esse confronto, agora eu sei que não tem mais jeito. Se eu disser
que não estou grata que hoje à noite ele estava no lugar certo e na hora certa,
eu estou mentindo. Mas não é por isso que serei submissa aos seus desejos.
— Isadora… — Ele começa, mas eu solto um grito de raiva o
assustando. Isso é ótimo, por que ele para de querer falar.
— Vamos conversar Axel, já chega de tudo ser do seu jeito. Temos que
resolver nossas vidas de uma vez por todas, eu não quero mais ter que ficar
evitando essa conversa com você. E sugiro que você faça a mesma coisa. —
Aponto o dedo na sua direção, e isso faz ele soltar um som para garganta.
— Eu não quero conversar, porra! — Ele diz entre dentes.
— Mas eu quero e eu vou então aceite isso. — Aviso também entre
dentes.
A máscara irritada de Axel cai, vejo o sorriso fantasma que tanto amo
alcançar seus lábios finos. Ele me encara com… com… orgulho? Oh sim,
essa é exatamente essa expressão que ele me mostra. E isso me pega
totalmente de surpresa, fazendo minhas bochechas esquentarem. Poxa
Isadora, não seja uma idiota agora! É momento de colocar esse homem no
lugar dele, não ficar encantada com o modo que ele é lindo de morrer.
Mesmo que ele seja um demônio, um verdadeiro demônio em formato
de homem.
— Fale Isadora, eu estou ouvindo. — Diz ele com indiferença. O que
me faz querer chutar seus testículos.
Respiro fundo novamente, somente assim eu irei conseguir me
controlar perfeitamente para colocar todas as cartas na mesa.
— Você foi embora! — Enfatizo o óbvio e ele assente sentando na
cama de modo relaxado.
— Sim, eu fui! — Diz de forma impassível. Olho para ele sem
acreditar.
— E você fala isso assim? — Pergunto confusa e magoada.
— Sim, eu tinha algo para fazer e eu fui. — Axel fala friamente.
— Axel, você me deixou! Você disse que eu fazia parte da equipe,
disse que eu era... que eu era sua mulher. E… — Ele me interrompe.
— Você não era minha mulher, Isadora. Você é a porra da minha
mulher. — Ele enfatiza sua confirmação e eu nego com a cabeça.
— Não! Eu não sou, porra! — Esbravejo. — Se eu fosse sua mulher,
como você mesmo gosta de dizer, eu estaria ao seu lado seu filho da puta
egoísta. — Exponho todo o meu rancor.
— Isadora, eu precisei sair do Brasil e ir até Killian e Enya. — Ele
ergue o braço para me alcançar, mesmo sentado, mas eu desvio. — Você
estava em perigo ao meu lado e eu precisei sair o mais rápido possível. — Ele
diz irritado.
— Eu estava ferida, assustada com tudo, me sentindo sozinha. — Passo
o braço à minha volta.
— Eu disse que ia voltar! — Lembra e eu solto uma risada sem humor.
— Foda-se que você deixou um bilhetinho nojento dizendo que ia
voltar. Eu não liguei para isso, Axel. Eu queria você ao meu lado, eu só
queria você ao meu lado. — Eu evitei derramar uma lágrima, mas toda essa
conversa está sendo muito intensa.
— Eu deixei você segura, eu sabia que você estaria segura, porra. —
Ele diz e eu nego com a cabeça ainda abraçada ao meu corpo.
— Eu só queria que você me dissesse que tudo iria ficar bem quando eu
descobri que estava grávida de você. — Solto as palavras mostrando a ele a
minha mágoa. — Tudo o que mais quis era estar ao seu lado, seu desgraçado!
— Me encolho para logo senti seu corpo cobrir o meu.
—Oh minha menina! — Axel fala me abraçando com força. — Tudo o
que pensei foi em tirar o perigo de você, Isadora. Eu não sou sensível ao
ponto de sentir a sensibilidade dos outros. Eu não conheço isso. — Ele diz
com a mandíbula cerrada e sem conseguir me conter eu o abracei.
É duro admitir, mas a mágoa que eu sinto por ter sido deixada por ele
ainda é forte dentro do meu peito. Mas como sou uma pessoa que sabe se
colocar no lugar dos outros, eu consigo entender que Axel nunca teve acesso
a nada além da violência. Ao contrário dele, eu tenho pais maravilhosos que
sempre me mostraram a importância de saber se colocar no lugar dos outros.
Que um abraço é capaz de amenizar qualquer dor que seja. Eu queria Axel ao
meu lado, segurando a minha mão, falando que tudo iria ficar bem. Só que
não foi isso que aconteceu, porque no seu mundo é mais fácil ir atrás daquilo
que me causou o mal. E exterminá-lo para que não me alcançasse
novamente.
— Estou grávida, Axel! — Falo de repente ainda abraçada a ele, mas
ele afasta o nosso abraço.
— Eu senti. — Aponta para a minha barriga. — Eu não sei o que fazer
sobre isso, Isadora. Eu sou um assassino, nunca fui nada além disso. — Axel
diz e eu abro e fecho a minha boca várias vezes, mas nada sai.
— Isso? — Pergunto tentando a palavra. — Isso é um bebê, meu bebê,
seu bebê, nosso bebê! — Aponto do meu ventre para ele. — Se você me
quiser, terá que aceitar o nosso bebê, porque não existe um nós sem ele ou
ela. — Digo em revolta e ele morde a mandíbula com força. Vejo as veias
saltarem no seu pescoço.
—Eu não vou deixar você ir! Você é minha! — Avisa e eu reviro os
olhos para sua possessividade.
— Você não pensou nisso quando me abandonou grávida na clínica,
seu idiota. — Rebato amarga. — Eu não sou seu objeto! — Enfatizo a
realidade.
— Eu já expliquei minhas razões, porra! — Aponta me fazendo dar de
ombros.
— Eu não me importo! — Tento soar o mais indiferente possível.
Vejo bem diante dos meus olhos Axel perder totalmente a sua pose de
mercenário frio, que não demonstra qualquer tipo de emoção. E tudo isso por
que ele começou a andar de um lado para o outro no quarto, passando as
mãos na sua cabeça várias e várias vezes, despenteando totalmente os seus
cabelos escuros estritamente arrumados. Axel para por um tempo, me
fazendo acreditar que ele vai dizer alguma coisa, mas não. Tudo o que ele faz
é olhar de minha barriga para o meu rosto, fazer uma careta e voltar a andar.
Estou perdida, completamente perdida para dizer a verdade, porque o modo
descontrolado que ele está agora é totalmente novo para mim. É como se ele
fosse um animal enjaulado, louco para ser liberto.
— Isadora você tem noção do que você quer fazer? — Axel finalmente
para de andar e pergunta.
— Para mim está claro como a água. — Digo o fazendo solta um
rosnando frustrado.
— Eu não sou nenhum príncipe de merda, não serei um… um pai
normal. — Diz fazendo uma careta ao dizer a palavra pai. Eu quero sorrir
porque ele está tentando chegar a algum lugar, mas permaneço séria.
— Se você fosse um príncipe ou um homem normal eu não te amaria
tanto, Ax. — O que eu acabei de dizer o fez parar. — Não estou pedindo isso
a você, só quero que… quero que você esteja ao nosso lado. Que seja o nosso
protetor, me deixe te mostrar o lado da vida que você nunca viu. — Peço
sentindo meus olhos arderem. Espero que ele sinta a verdade nas minhas
palavras.
— Eu não sou um bom homem, Isadora. A única coisa que consigo
pensar é que foi eu quem fez isso em você. Tenho uma noção primitiva e
irrevogavelmente distorcida que você e o… o bebê me pertencem. — Axel
diz e eu franzo o cenho.
— Não sei dizer se isso é bom ou não. — Digo confusa e é a vez dele
dar de ombros.
— Eu não entendo o que você quer de mim. — Posso ver sua
frustração. E isso me faz puxar segura os dois lados da minha cabeça.
— Eu só quero te conhecer e te mostrar algo diferente de tudo o que
viveu, Axel! — Ouço um rosnado de irritação vindo dele.
— O agora é a única coisa que posso te dar no momento, minha
menina. Não pode me forçar a aceitar logo toda a situação. — Axel diz com
irritação. Minha dor de cabeça aumenta, me sinto estupidamente exausta de
tudo isso.
— Eu não vou te forçar a ser o pai do meu bebê, Axel. — Falo em tom
baixo isso o faz cerrar os olhos na minha direção. Não me abalo pelo seu
olhar e endureço minha espinha. — Mas em contrapartida, eu também não
seria forçada a ser a sua mulher. — Eu vi bem diante dos meus olhos sua
feição mudar de irritado para impassível.
— Isso não está acontecendo! — Sua voz saiu tão gélida que arrepiou
os cabelos da minha nuca.
— Como? — Pergunto na intenção de ver se exatamente isso que ouvi.
— Isso mesmo que você ouviu, Isadora. — Axel diz de forma
impassível. — Não há nenhuma porra de maneira que eu possa aceitar
qualquer coisa que me deixe longe de você novamente. — Axel diz com
confiança. Observo o seu absurdo e jogo as mãos para cima.
— Você me cansa, Axel Cox! Simplesmente me cansa, poxa! — Digo
exasperada. — Entenda uma coisa, Axel, você não é o dono do meu destino.
Isso pertence a mim, eu não vou ceder a você. Não vou fazer as coisas que
você quer, do modo que você quer. — Falo enraivada.
—Certo! — Ele confirma, mas eu estou tão louca com ele que não
presto atenção.
— Se for para escolher entre você e o nosso filho, pode ter toda certeza
da merda da sua vida bandida que eu escolherei nosso filho sempre. Não me
importo com sua loucura, não importo com os meus sentimentos tolos por
você. Eu o escolho, sempre ele! — Digo e viro para sair do quarto.
Eu estava tão exasperada com toda a situação, com tudo, que não fiz
nada quando meu corpo foi puxado rapidamente. Eu comecei a lutar com os
punhos fechados e dentes cerrados. Minha intenção era machucar Axel tanto
quanto ele me machucou esse tempo todo, mas todos os meus golpes eram
inúteis contra esse homem. Eu o odeio! O odeio muito mesmo!
Minha luta foi cessada quando, de forma rápida, Axel me prendeu
contra a parede mais próxima. Segurando meus ombros com força, mas não
força o suficiente para me machucar, fazendo com que nossos olhos se
encontrem.
— Eu disse que entendo, Isadora! — Ele disse e meus lábios inferiores
tremeram.
— Você aceita nosso filho, Ax? — Pergunto chorosa.
— Eu não sei, querida, me dê um tempo para assimilar tudo e lutar
contra esses demônios que me atormentam, sim? — A doçura e a confusão na
sua voz me desarmaram totalmente.
— Sim, estaremos esperando! — Minha mão vai para minha barriga, e
seus olhos vão automaticamente para ela. Mas para mim tristeza ele desvia o
olhar e morde o maxilar com força.
— Isso tudo é loucura, eu não estava esperando por isso. — Axel revela
me surpreendendo.
— Eu também fui pega de surpresa, mas tive algumas semanas para
aprender a lidar com a situação. Eu darei isso a você sem força a barra. —
Digo tranquilamente. Ele me encara por um tempo, e sem que eu pudesse
esperar sua boca vai até a minha.
Esse beijo é diferente do anterior, aquela tinha um gosto de saudade e
prazer. Esse aqui é mais intenso, mais selvagem e mais… mais perigoso. É
como se Axel quisesse me marcar através dele, e como eu amo senti-lo em
todos os sentidos, me entrego a isso. Aproveito sua mão alisando as minhas
costas até parar na minha bunda. Sinto o aperto forte, tão forte e punitivo que
me faz gemer entre seus lábios. Eu não deveria, mas eu quero ser possuída
por ele. Quero sentir o seu desejo, me fazendo sua novamente, estou tão
louca de excitação por esse homem obscuro. Sinto a úmida na minha
intimidade aumentar, pressiono uma perna entre a outra na intenção de contar
o latejar constante.
— Ax, eu preciso de você! — Peço totalmente entregue.
— Não! — Ele diz simplesmente estendendo os braços para se
distanciar de mim.
—Não? — Pergunto virando a cabeça para o lado confusa. — Você não
me… — Começo a fala, mas Axel me olha de um modo que me faz calar.
— Não continue com essa porra de frase, Isadora. — Sua fúria é meio
que um alívio, não deveria, mas é. — Ouça o que faremos agora. — Axel se
acalma. — Você vai ao banheiro lavar seu rosto, tirar essa maquiagem forte.
Eu vou pegar uma roupa para você, e tirarei a minha. Depois vamos deitar e
descansar, você parece que vai ter uma síncope a qualquer momento. — Axel
diz e eu faço uma careta.
— Eu não irei ter uma síncope, Ax. — Digo com o cenho franzido, e
ele dá de ombros.
— Mas é o que parece. — Aponta. — E também tem o fato de que
quero saber exatamente o que aconteceu hoje à noite que a fez correr com
tanto medo. — Sua feição mudou rapidamente ao falar de algo que estou
evitando pensar. Estremeço com a lembrança desconfortável dessa noite.
— Tudo bem, mas você terá que me dar uma roupa sua para vestir. —
Digo tentando distrair meus pensamentos.
— Certo! — Ele fala seriamente me fazendo dá um sorriso.
— Quero uma cueca sua também! — Falo quando Axel me solta para ir
em direção ao seu closet.
— Mas alguma exigência, Isadora? — Ax pergunta sem calor, tentando
passar indiferença.
— Não, se precisar eu falo. — Pisco para ele descaradamente, o
pegando de surpresa com a minha ousadia.
— Você será a porra da minha morte, mulher! — Axel resmunga me
deixando sorrindo.
— Com prazer, Cox! — Respondo correndo em direção ao banheiro.
Fecho a porta atrás de mim soltando uma forte respiração. Faço de tudo
para controlar as minhas emoções enlouquecidas. Oh Deus, eu não posso
acreditar que finalmente consegui falar tudo a ele. Minha nossa! Minha
nossa! Minha nossa! Eu estou tão orgulhosa de mim mesma, se eu pudesse eu
iria me beijar e dizer o quanto eu fui incrível até pouco tempo atrás. Isso aí!
Eu sei que ainda tenho um caminho muito longo daqui pra frente, sei que
nem tudo está resolvido. Mas… mas… somente a possibilidade de que ele
está aberto a lidar com a ideia que será pai, é como se eu ganhasse o mundo
inteiro.
Eu não estarei sozinha nisso, não, eu tenho fé que não.
E é com essa esperança renovada no meu coração que eu vou até a pia e
lavo toda a maquiagem do meu rosto. Tiro a roupa da festa, solto os meus
cabelos me livrando de todo o desconforto. É um grande alívio fazer isso,
porque do mesmo modo que eu estava me sentindo linda, eu estava
incrivelmente desconfortável. Olho para o chuveiro, sentindo que ele está me
chamando para tomar uma ducha. Querendo lavar do meu corpo toda essa
angústia que a noite de hoje me proporcionou. Nego com a cabeça dizendo a
mim mesmo que amanhã é outro dia.
— Minha menina! — Axel chama, entrando no banheiro. Ele encara o
meu corpo nu descaradamente, seu olhar de desejo fazendo os pelos do meu
corpo se arrepiarem. — Você está fodidamente linda. — Ele diz em tom
profundo me fazendo engolir em seco.
Me encolho ao ter noção que meu corpo está realmente diferente de
quando ele me viu pela última vez nua. Antes a minha pele era pálida demais,
diferente do bronzeado que exponho agora, graças a praia na casa de Ângelo.
Meu corpo que era magro demais, agora está recheado de curvas, seios
inchados e escuros. Até mesmo meus cabelos estão mais cheios e muito,
muito mais brilhantes. Lara diz que estou radiante, que a gravidez trouxe
mais vida para mim. Oh não, não quero pensar em Lara agora. Não, agora
não!
— Obrigada, Ax! — Agradeço sentindo o constrangimento me tomar.
— Não precisa me agradecer, ou ficar envergonhada, só disse a
verdade. — Ele diz seriamente se aproximando para passar os dedos
delicadamente no meu rosto.
— Dizem que a gravidez deixa a mulher mais bonita. — Conto
sorrindo, mas meu sorriso cai quando vejo ele tirar suas mãos de mim e dá
um passo para trás.
— Aqui estão as roupas, estarei te esperando. Não demore! — Sua voz
impessoal me deixou cabisbaixa.
— Tudo bem! — Respondo rapidamente.
Observo Axel andar em direção a porta, mas antes de sair ele para e
olha para a minha barriga. Noto o seu acenar de cabeça, como se estivesse em
uma luta interna. Sem falar nada ele sai me deixando sozinha.
—Desculpe o seu pai, bebê. Eu tenho fé que ele vai conseguir vencer
seus demônios. — Passo a mão no meu ventre. — Ele vai, eu sei que vai! —
Sussurro as palavras com força.

Um passo de cada vez, e vamos seguindo a diante. Eu sei que no final


tudo ficará bem.
Encaro o meu reflexo no espelho novamente antes de criar coragem
para sair do banheiro. Estou usando uma camisa e uma cueca, que por sinal é
muito confortável, de Axel. Passo a mão no tecido, puxo a gola para cheirá-la
profundamente, sentindo o delicioso perfume que só Axel é capaz de deixar
nas roupas. É tão bom estar perto desse homem, mesmo que ele não seja o
tipo de homem na qual as pessoas se sintam confortáveis com a sua presença.
Acho que o meu lado Isadora masoquista é muito mais presente do que o
meu lado Isadora normal. Por que não é algo que tenha uma explicação
lógica. Isso é tão errado, é tão errado sentir o que sinto por esse mercenário
obscuro. E seja do jeito que for, sendo errado ou não, eu não posso negar os
meus sentimentos.
Os meus pensamentos me fazem dar de ombros. Não é hora de pensar
naquilo que é totalmente inevitável, e hora de enfrentar a fera novamente.
Solto duas respirações fortes, seguro a maçaneta com força e a giro após
erguer a minha postura. No momento que abri a porta eu dou de cara com
uma visão que faz com que toda a compostura da qual eu havia me imposto
cai por terra. E isso por que eu estou tendo a imagem privilegiada de Axel de
costas nuas para mim. Exibindo assim a sua aterrorizante e sexy tatuagem,
seus ombros largos e cintura fina. Sem falar na calça preta que compõe o
smoking, presa no seu quadril e os pés descalços.
Oh minha Nossa Senhora das Grávidas com Tesão. Me ajude!
No instante que Axel percebeu a minha presença, ele virou para me
encarar. Seus olhos negros profundos passearam pelo meu corpo de cima a
baixo. O modo sexy e descarado no qual ele me encarou fez com que os bicos
dos meus seios endurecem. A umidade entre o meu sexo molhasse a minha
calcinha, me fazendo juntar as pernas. Eu o quero tanto, tanto que sou capaz
de me jogar nos seus braços. Implorando vergonhosamente que ele me ajude
a lidar com essa ebulição hormonal dentro de mim. Mas não, eu sou mais
forte que isso! Poxa, será que eu sou forte mesmo? Principalmente agora do
modo que ele me olhando.
— Minha menina! — Me assusto com a voz firme de Axel.
— Sim? — Engulo em seco, tendo a certeza que minha voz saiu
estrangulada.
— Não me olhe desse jeito, ou eu não serei capaz de me controlar. —
Axel diz roucamente. Crio coragem, tirando qualquer resquício da vergonha e
o encaro descaradamente.
— Ninguém está pedindo qualquer controle. — Me aproximo vendo
suas narinas inflarem.
— Isadora, não faça isso! Você não quer brigar comigo desse jeito. —
Ele diz e eu sinto meu corpo estremecer.
— Eu acho que quero, você não sabe o que os hormônios fazem
comigo. — Confesso mordendo os lábios inferiores. Seus olhos vão para a
minha boca e ele cerra os punhos.
— Eu estou usando todo o meu autocontrole aqui, menina. Se eu te
pegar agora, eu provavelmente irei te machucar. E você nesse… — Axel para
de falar e aponta para minha barriga. — Nesse estado, eu não sei se posso
fazer tudo o que quero.
Não acredito! Isso foi uma preocupação vindo dele? Não, né? Foi? Oh
Deus, que seja isso!
— A minha médica disse que posso ter relações sexuais
tranquilamente. — Uso essas palavras para testá-lo.
— Inferno, Isadora! Não é assim, eu preciso saber por mim mesmo. —
Axel diz em revolta.
— Você não acredita em minhas palavras? — Provoco por que eu estou
gostando disso.
— Isadora! — Diz em tom de aviso.
— Você tem que acreditar nas minhas palavras, eu não deixaria você
machucar nosso bebê, sabe. — Continuo a falar, mas paro imediatamente
quando ele vem até mim com dois passos.
— Você está me provocando. — Isso com certeza não é uma pergunta.
— Estou sim. — Respondo mesmo sabendo que não houve
questionamento.
— Minha menina, minha doce menina tola. — Sinto as costas dos seus
dedos passarem pela minha bochecha. Eu fecho os olhos, absorvendo seu
toque. — Não existe mais nada que eu queira fazer do que foder essa sua
boceta molhada e apertada. — Sinto um arrepio passar pela minha espinha
me fazendo fechar os olhos brevemente.
— Sim? — Pergunto com dificuldade. Estou cega de desejo por esse
homem obscuro, ele me tem só basta pegar. Isso mesmo, só basta pegar.
— É tudo o que mais quero, assim como quero fazer coisas com você.
Coisas perigosas! — Axel abraça o meu corpo, deixando um beijo punitivo
nos meus lábios. — Venha, vamos deitar! Você tem coisas para me contar.
— Faço uma careta.
— Eu não quero falar sobre o que aconteceu na festa. — Digo de mau
humor.
— Você não tem escolha quanto a isso. — Axel diz com firmeza e eu
reviro os olhos.
— Você nunca me dá muita escolha, eu tenho que lutar por elas. —
Lembro o fazendo dar o sorriso fantasma que tanto amo.
— É um dom! — Ele diz isso de um modo tão estranho que me faz
jogar a cabeça para trás e ri alto.
— Sabe, Ax, você é um sem noção! — Digo em meio a risadas.
Mas as minhas risadas divertidas cessam quando Axel me pega no colo
e me coloca na cama. Eu sabia que Ax já estava sem paciência porque pelo
pouco que o conheço eu sei que ele não gosta de ficar no escuro. Só que eu
não quero falar sobre o que aconteceu, eu não quero ter que lembrar do medo
que senti ali. Porém o meu medo teve que ficar para escanteio, porque assim
que Axel deitou ao meu lado na cama ele induziu que eu começasse a contar.
E assim fiz. Contei a ele desde o começo, que eu não queria sair de casa para
não ter o desprazer de lutar com ele novamente. Como Lara fez o possível e o
impossível para me tirar do quarto e me levar para o spa.
Aquele momento foi maravilhoso, tudo foi maravilhoso.
Não pude esconder como era bom ter mulheres para conversar coisas
que somente mulheres iriam entender. Foi uma tarde única, mas que ao cair
da noite… Parei de falar por um momento, levantei minha cabeça para
encontrar Axel me ouvindo com atenção. Ele confirmou com a cabeça,
fazendo um pedido silencioso para que eu continuasse a falar. Me acomodei
novamente no seu peito e disse a ele como eu não me sentia bem no lugar da
festa. Era como se no fundo eu soubesse que algo iria acontecer ali, e que eu
não estava preparada para aquilo. E foi justamente o que aconteceu, porque
quando vi o pai de Lara gritar comigo. Me expulsando do lugar como se eu
fosse um cachorro sarnento, eu tive medo.
— Valentim, filho da puta, ele irá pagar! — Axel prometeu com
dureza, me apertando nos seus braços.
— O pai de Lara me assustou, mas ele não foi o que me deixou com
mais medo. — Confesso.
— O que você quer dizer? Se não foi Valentin que a fez correr, quem
foi? — Axel pergunta e eu aperto sua cintura com força.
— Antes de dizer qualquer coisa, você me promete não causar uma
briga, porque não foi tão importante isso, eu já estou bem. — Digo e ele me
encara com indiferença.
— Eu não vou prometer nada. — Diz e sento na cama olhando para ele
de olhos cerrados.
— Então eu não vou contar mais nada — falo simplesmente e é a vez
dele cerrar os olhos para mim.
— Isadora! — Sua voz sai profunda em tom de aviso.
— Me prometa que você não vai querer começar uma guerra com
ninguém. — Cruzo os meus braços.
— Inferno Isadora, eu prometo! — pragueja. — Volte a deitar, agora
mesmo! — manda me puxando para voltar a deitar nos seus braços.
— Olha, você tem que aprender a pedir, não sair falando com a pessoa
todo mandão. Isso o deixa mais idiota ainda. — Reclamo corajosamente.
— Você está muito ousada, minha menina. O que aconteceu com você
nesse tempo que estive fora, hein. — Rebate ele carrancudo.
— Aconteceu que eu fui alimentando um ódio por você, isso me deu
mais coragem e menos senso. Ou seja, eu aprendi com o melhor! — Jogo na
sua cara com toda a confiança do mundo.
— Eu não sei o que eu faço com você, Isadora. Sinto os seus braços
apertarem mais forte à minha volta.
Me ame, seu desgraçado! É exatamente isso que eu quero gritar, mas
me abstenho de dizer essas palavras. Eu não sou tão corajosa assim, e muito
menos quero forçar Axel a ter sentimentos por mim. Serei paciente com ele
ainda, mas não será por muito tempo, porque eu não sou uma idiota. Não, eu
não sou mesmo! Já fui muito, mas agora eu entendi que eu mereço o melhor.
Que não tenho que receber menos do que me é de direito. Eu não nego meus
sentimentos por ele, mas quero o mesmo ou até mais. Jamais ficarei com um
homem que não pode me amar. Eu não farei isso comigo!
— Minha menina, não ache que você vai se safar de me dizer aquilo
que eu quero saber. — Axel fala me tirando dos pensamentos profundos.
— Oh sim, eu lembro. — Respondo meio desnorteada.
— É então, o que fez você correr daquele jeito? — Ele pergunta
friamente.
— Ângelo. — Digo o nome do meu irmão com pesar. — Ele não sabia
que Lara me convidou para a festa. E assim que me viu lá, sendo humilhada
pelo pai da minha amiga, a única coisa que ele fez foi ficar com raiva de
mim. — Termino de contar com amargura.
— Gutierrez, seu colombiano desgraçado! — Axel dize fazendo
levantar a cabeça para encará-lo.
— Você disse que não ia fazer nada, Ax. — Lembro com dureza. — Eu
cuidarei disso, irei resolver as coisas com Angel. Ele é meu irmão, você pode
ficar puto, mas o problema é meu para resolver. Sim? — Indago.
— Quando foi que você ficou tão forte e corajosa, minha menina? —
Axel pergunta tão repentinamente que me pegou de surpresa.
— Não diga essas coisas assim tão de repente. — Sinto minhas
bochechas esquentarem.
— Eu odeio admitir isso, mas é bom vê-la assim. — Suas palavras me
fazem arregalar os olhos. — Vamos dormir, minha menina? — Bocejo assim
que ele fala a palavra dormir.
— Acho que eu posso dormir um pouco. — Falo após o bocejo.
E foi ouvindo o som ritmado do coração de Axel, e sua respiração
tranquila que eu caí no sono.

Desperto de um sono tranquilo no dia seguinte, nos braços de Axel. Faz


meses que eu não sei o que é dormir sem ter pesadelos me assombrando. Sim,
porque desde aquele fatídico dia do ataque em frente ao restaurante, no qual
eu levei um tiro. Minhas noites nunca mais foram as mesmas, eu vivia
assombrada com aquilo, acordado com tremores e suores noturnos. Assustada
por estar sozinha à noite, ou simplesmente pensando que algo de ruim logo
poderia acontecer. Pensei que morando junto com Ângelo esse medo iria
parar, mas não foi o que aconteceu. Mas agora? Agora eu tive a melhor noite
que não tenho há tempos. E tudo isso por quê? Porque eu tinha Axel ao meu
lado me abraçando.
Meu Deus, como pode uma coisa dessas acontecer? Eu não deveria me
sentir assim perto dele, certo? Eu sei quem é esse homem, e das coisas
violentas que ele é capaz de fazer. Tudo bem que ainda não soube ou vi todas
as coisas de ruim que ele faz, mas eu não estou sendo enganada aqui. Em
momento algum eu cheguei a pensar que ele seria o meu super herói. Para
falar a verdade, tenho plena consciência de onde estou me metendo. E mesmo
assim eu escolho estar ao lado de Axel Cox, com a esperança que ele aceite o
nosso filho. Perceba que será tão protetor com ele quanto é comigo, mas que
seja da maneira certa e não a que ele acha que é certa.
Solto um suspiro antes de olhar mais uma vez para o meu homem
sóbrio. Como estou totalmente desperta não faz sentido continuar na cama,
tenho que aproveitar que o enjoo matinal não… oh merda! Acho que pensei
nisso cedo demais porque uma onda de enjoo tomou conta de mim. E sem
perder tempo saio correndo em direção ao banheiro.
— Isadora! O que está acontecendo? Por que está passando mal? — Oh
não, eu devo ter acordado Axel no meu desespero.
— Me deixe em paz, Ax! Eu estou bem! — Falo de modo abafado com
o rosto enterrado no vaso sanitário.
— Isso não é estar bem, porra! Estou chamando o Earl agora mesmo!
— A irritação de Axel me deixou duplamente irritada.
— Pode ir parando com isso, Axel! Poxa, se eu estou assim a culpa é
sua que me engravidou! — Exclamo irritada, levantando do chão e dando
descarga logo em seguida.
— Tem alguma coisa de errado com essa…. Porra! — Axel esbraveja.
— Isso está te deixando doente, Isadora! — Cerros os punhos para me
controlar.
— Você está me deixando doente agora, e não o nosso bebê. Saia de
perto de mim, merda! — Grito repentinamente o assustando.
— Isadora… — Axel começa, mas eu o ignoro fortemente.
Mesmo sentindo os olhos furiosos dele em mim, eu vou até a pia,
procuro por uma escova nova no armário e escovo meus dentes. Pelo espelho,
consigo ver ele encostado na parede com os braços cruzados. Mas continuo a
não falar nada e somente termino de escovar meus dentes para sair logo do
banheiro. Sinto meu estômago roncar loucamente, porque da mesma
proporção que me sinto mal eu também sinto uma fome terrível. No momento
que minha dignidade está intacta, eu vou até o closet.
Dou um sorriso involuntário quando vejo todas as minhas coisas aqui,
tudo ficou exatamente como eu deixei. E se eu não disser que me sinto bem
com isso, apesar que a maioria dessas roupas aqui não devem estar cabendo
em mim, já que o meu corpo mudou consideravelmente. O que é uma pena,
realmente! Negando com a cabeça eu encontrei uma camisa folgada, uma
calça de moletom e um par de pantufas fofas. Que delícia! Obrigada Deus
por criar as pessoas que inventaram as pantufas!
— Você está bem realmente? — Endureço quando ouço na voz de Axel
atrás de mim.
— Estou! — Respondo a contragosto.
— Só estou preocupado com você. — O que ele diz faz com que eu me
desarme um pouco.
— Olha Axel, eu entendo! — Digo soltando um suspiro após prender
meu cabelo. — Eu também não sabia que ia vomitar a cada manhã, ou a
qualquer momento, isso depende muito. Ainda há coisas que você não sabe,
mas a doutora me disse que era normal. — Vejo seu maxilar cerrado.
— Eu não gosto disso! — Ele responde e eu reviro os olhos.
— Não tem nada para gostar, e só se acostumar. Lide com o fato que
estou grávida e vou passar mal. — Digo de mau humor e ele me encara.
— Ainda não gosto disso! — Diz e eu solto um bufo.
— Estou com fome! — Digo cegamente tentando passar por ele, mas
sou impedida. — Axel! — Digo alarmada quando meu corpo se choca com o
seu.
— Muito rabugenta, minha menina! — Ele diz após deixar um beijo
forte nos meus lábios. — Deve ser fome mesmo! — Eu começo a rir, por que
o modo que ele fala parece um robô.
— Você é estranho, Ax! — Digo sentindo sua mão apertar minha
bunda. Sem pensar duas vezes eu aperto a dele também.
Sim, eu sou super corajosa caramba! Perdi o amor à minha vida, mas
a bunda dele eu tão durinha.
— Não mais que você! — Resmunga Axel me encarando com
estranheza.
Abraçados, nós dois saímos do quarto, como se fossemos qualquer
casal andando juntos. E se isso não foi legal demais, eu nem sei mais o que
dizer. Quando cheguei as escadas eu já conseguia sentir o cheio gostoso da
comida de Craig. Não demorei muito para encontrar com Earl e Russel na
sala de estar. Sem pensar duas vezes eu me soltei de Axel e corri ao encontro
desses dois. Eu poderia continuar fiel à raiva que sinto, por eles terem me
abandonado e nem sequer ter mandado uma mensagem ou qualquer coisa do
tipo. Mas eu estava com muitas saudades para bancar a durona agora. Eu amo
esses caras, eles são importantes para mim. E mesmo que não digam isso em
palavras, eles são da família.
— Dorinha, sinto muito! O chefe nos proibiu de te ligar, ele disse que
você estava em perigo. — Russel disse enquanto eu ainda estava grudada no
seu corpo grande e musculoso.
— Foi difícil trabalhar sem a equipe completa. — Earl conta e isso me
faz rir.
— É bom saber que ainda me aceitam na equipe. — Falo olhando para
o loiro e o moreno.
— Claro que sim, Dorinha. — Russel diz alarmado.
— Eu quero muito continuar com raiva de vocês, mas eu não quero
perder tempo com isso. — Revelo e os dois me dão um abraço em grupo.
— Larguem a minha mulher, seus filhos da puta! — Axel diz e eu
reviro os olhos me afastando dos meninos.
— Não seja assim chefe, só estamos aqui em uma reunião em família.
Não é mesmo Dorinha? — Russel diz me surpreendendo.
— Segure sua calcinha, irmão. — Craig surge e eu aceno para ele.
— Craig, senti sua falta também. — Revelo e ele cerra os olhos na
minha direção.
— Sentiu falta da minha comida isso sim, Dora. — Craig acusa e eu
faço uma careta.
— Da sua comida sim, mas de você também, senhor rabugento. —
Aponto com o dedo na sua direção e ele nega com a cabeça.
— Se você diz! — Ele fala dando de ombros.
— Inferno! Vocês dois parem de sufocar a Isadora, ela está grávida. —
Viro para Axel com os olhos arregalados.
— Sim, parem de sufoca-la, idiotas! — Craig repete.
— Axel, Craig! — Reclamo irritada. — Eu não sou de papel não!
— Não fizemos nada aqui, ela está bem. Não está, Dorinha? — Earl
sorri carinhosamente e eu confirmo com a cabeça.
— Dorinha… Dorinha está grávida? — A voz assustada de Russel
chama minha atenção. Olho na sua direção e o vejo pálido como uma folha
de papel.
— Ah idiota, você é o único que não sabe disso! — Earl brinca, mas
Russel ainda está paralisado.
Ah pronto, o homem vai entrar em colapso agora.
— Estou sim, Rus, há algum problema? — Pergunto me aproximando
para tocar o seu braço.
— Não, não é isso eu só estou emocionado em ser tio. — Russel diz de
forma tão sonhadora que me faz rir.
— Foda-se se você vai ser tio de alguém! — Earl diz empurrando
Russel que o encara com um olhar de morte.
— Eu vou matar você se você me empurra assim de novo, príncipe das
trevas. — Cuspe Russel com raiva.
— Eu vou atirar nos dois para pararem com essa merda, seus fodidos.
— Axel ameaçou. Eu já estava afastada sentando na cadeira pronta para me
servir da comida.
Hummm... esse bacon está com a cara boa!
Quando os ânimos dos meninos se acalmaram, eles sentaram à mesa e
se serviram também. Dei um sorriso de puro contentando ao observar o
conforto que é ter esses marmanjos fazendo as refeições junto comigo. E foi
com esse desejo refrescante dentro do peito que eu continuei a comer o
delicioso café da manhã feito por Craig. Mas toda essa calmaria foi quando
ouvi um barulho alto lá fora.
— Que porra é essa? — Axel grunhi levantando rapidamente.
— Foda-se, qualquer porra! Eu preciso ver a minha irmã! — Arregalo
meus olhos ao ouvir a voz do invasor.
— Mas que diabos está acontecendo? — Craig pergunta irritado.
— Ângelo! — Sussurro o nome do meu irmão passando a mão na
cabeça.
Oh senhor, eu sabia que teria que conversar com Ângelo a qualquer
momento, mas não imaginei que fosse acontecer tão cedo.
Não imaginei que um simples café da manhã iria se transformar em
uma luta entre o meu irmão e o meu... Sabe-se lá Deus qual é a minha
relação com Axel. Mas tudo bem, não é disso que estou tratando no
momento. E sim no fato de que meu irmão está aqui, e se eu não falar com
ele, não resolver as coisas, uma guerra pode acontecer na porta de casa. Vejo
Axel, Craig, Russel e Earl se locomoverem rapidamente para pegar armas em
lugares estratégicos da casa. Meus olhos se arregalaram ao vê-los armados
em um piscar de olhos, e é justamente ao ver isso que tive que entrar em
ação, porque mesmo que eu ainda esteja chateada com a agressividade sem
nenhuma explicação do meu irmão, ele ainda é o meu irmão. E não posso
ficar de braços cruzados sem fazer nada.
Sendo assim eu deixo os meninos para trás e corro para fora da casa.
Ao abrir a porta um xingamento escapa dos meus lábios, isso porque bem na
minha frente está Ângelo sendo persuadido pelos homens de Axel. E para
piorar toda a porcaria do momento ele está com armas em mãos, tendo seus
próprios homens o seguindo como cães adestrados. Bufo descontente por
toda essa situação, cruzo meus braços e encaro meu irmão com intensidade
que me retorna o olhar. Ele abre a boca para falar alguma coisa, só que no
momento que as palavras iam sair Axel resolveu aparecer lhe apontando uma
arma.
Que merda é essa aqui? Será que estou em alguma batalha de armas e
não estou sabendo.
— ¡Hermanita! — Ângelo enfim conseguiu falar.
— O que está fazendo aqui, Gutierrez? — Axel cospe sua pergunta.
Sinto seu braço rodear a minha cintura, mostrando assim a sua reivindicação.
— Você sabe exatamente o que vim fazer aqui, Cox! — Enfatiza meu
irmão.
— Oh sim, nós sabemos! Você só quis atrapalhar o café da manhã e a
família. — Russel rosna e eu faço de tudo para me manter impassível.
— Pegue seus homens e saiam da nossa propriedade. — Craig diz de
modo frio e isso faz meu irmão rir de forma debochada.
— Sua propriedade? Tem certeza disso? — Ângelo indaga sarcástico.
— Se bem eu me lembre vocês estão alugando a minha propriedade. —
Aponta meu irmão e eu olho para cima para encontrar a mandíbula de Axel
cerrada.
— Não seja por isso podemos sair. — Earl fala e eu reviro os olhos
novamente.
— Chega disso! — Falo saindo do aperto de Axel.
— Isadora! ¡Hermanita! — Axel e Ângelo falam ao mesmo tempo
— Eu não aguento mais ver vocês dois disputando quem tem a maior
genitália. Pelo amor de Deus! — Digo jogando as mãos para cima.
— Genitália? — Russel pergunta abrindo um largo sorriso. Sinto meu
rosto esquentar de puro constrangimento.
— Sério isso, Dorinha? — Earl questiona divertido.
— Axel, você tem que ensinar uns xingamentos a sua mulher. — Craig
diz seriamente, negando com a cabeça.
— Pelo jeito eu acho que sim. — Axel responde friamente me
encarando como se eu tivesse duas cabeças.
— Isso soou bem estranho, Isa. — Até mesmo Ângelo resolveu dizer
algo e saiu como um lamento.
— Vocês… — Aponto o dedo para cada um com raiva. — São um
bando de idiotas! Fodam-se todos! — Praguejo com raiva.
— Não fique assim, vai prejudicar o bebê. — Ângelo aconselha.
Eu preciso respirar! Sim, eu preciso! Oh Deus, me ajude a não matar
um enforcado.
— Então quer dizer que ele sabe sobre… sobre o bebê e eu sou o mais
interessado sou o último a saber. — Axel fala sem esconder seu desgosto.
Cerro os meus olhos para o que ele acabou de falar, mas não posso ficar por
baixo.
— Isso mesmo, Axel! — Digo cerrando os punhos. Porque você estava
matando pessoas e ele estava aqui cuidando de mim e do seu filho. — Jogo
na cara mesmo porque eu não estou com muita paciência para homens a
ponto de uma briga sem noção.
As minhas palavras ácidas chegaram até ele, eu vejo isso nitidamente.
Ele não gostou nenhum pouco de que essa verdade fosse jogada na sua cara,
ainda mais na frente de meu irmão. Eles não se dão muito bem, não espera,
não se dar bem é eufemismo, eles se odeiam, mas usam um ao outro em prol
da necessidade do momento. Eu não quero ficar no meio deles, estou cansada
disso, tanto Axel quanto Ângelo são feitos do mesmo peso e medida e quem
ficar entre eles só irá se ferrar. O que mais fica complicado para mim é que
eu amo os dois, claro que são amores totalmente diferentes, mas mesmo
assim é amor.
Um é o meu irmão, irmão que eu vim sentir o gostinho da obscuridade
na noite de ontem. E o outro é o homem que amo, e que farei de tudo para
que me ame também. Só que esse homem nunca me escondeu quem ele é de
verdade, Axel sempre foi o Axel e nada além disso. Passo a mão na cabeça,
tentando não mostrar o quanto as minhas mãos estão trêmulas agora. Preciso
me acalmar, preciso manter toda a tranquilidade do mundo porque se isso não
acontecer eu estarei uma bagunça.
— Olha, vamos acabar com isso, tudo bem? — Pergunto e nenhum
deles responde. — TUDO BEM, CARAMBA? — Pergunto mais uma vez, só
que agora é mais alto e claro.
— Certo, hermanita. — Ângelo responde em tom calmo.
— Então faça o favor de pedir aos seus homens para baixar as armas e
ficarem do lado de fora. — Induzo e Angel faz exatamente o que eu disse.
— Tudo bem! — Meu irmão faz o que eu peço e eu dou um sorriso
amarelo. Olho para trás e vejo Axel do mesmo modo que estava antes.
— Axel, Craig, Russel e Earl vocês também devem fazer isso. —
Enfatizo. Vejo que Russel e Earl guardarem suas armas rapidamente, Craig
somente acena e manda seus homens irem para seus postos.
— Você, vem aqui! — Axel chama, mas vejo que ainda está com sua
arma.
— Axel, a arma. — Digo olhando para ele e para sua mão.
— É para segurança, caso o filho da puta colombiano queira te levar
daqui. — Pela sua cara séria dava para ver que ele acreditava realmente nas
suas intenções.
— Eu não vou levar minha irmã a força, seu desgraçado. — A frieza de
meu irmão não me impediu de acenar em agradecimento.
— Pelo amor de Deus, Axel. Seja racional! — Peço vendo Craig negar
com a cabeça.
— Não peça o impossível, Dorinha. — Craig diz de um modo que se eu
não o conhecesse acharia que ele não estava brincando. Esse homem às vezes
dá arrepios!
— Foda-se, filho da puta! — Axel diz entre dentes.
— Vamos entrar, lá dentro conversamos! — Vou até Axel e pego a
arma da sua mão.
Que homem teimoso esse que eu fui me meter!
— Por mim tudo bem, hermanita. — Ângelo fale e eu confirmo com a
cabeça.
A voz calma e compreensiva de meu irmão me traz uma dúvida
enorme. Será que ele é assim calmo como me demonstrou. Ou será que ele é
aquele Ângelo grosseiro e extremamente frio que eu tive o desprazer de ver
ontem. Não sei ao certo, mas a minha conclusão é que ele é os dois, mas
como eu sou uma tola somente enxerguei aquilo que era mais agradável para
mim no momento. Contudo, é hora de pôr tudo em pratos limpos, quero saber
por que meu irmão agiu daquela maneira comigo sendo que ele sempre foi
gentil. Quero saber por que o pai de Lara foi tão horrível comigo, já que foi a
primeira vez que nos encontramos. E Lara, o que será que aconteceu com ela
depois daquilo? Argh! São muitas perguntas sem resposta!
Mas o que posso fazer, eu estou sempre sem resposta alguma!
Sem querer mais perder meu tempo com tanta testosterona, volto para
dentro da casa, tendo a certeza que eles estão logo atrás de mim. Peço que
Ângelo fique à minha espera na sala e faço sinal para que Axel me siga. No
primeiro momento ele fica me olhando de forma impassível, mas logo solta
uma forte respiração e vem até mim. Seguimos até a cozinha, e antes que eu
pudesse falar qualquer palavra que fosse Axel me puxou para seus braços. E
fez com que eu olhasse nos seus olhos, enquanto segurava firme os meus
cabelos. Eu não tinha para onde fugir, eu me vi ali presa a ele como se eu
fosse a sua melhor presa.
E o mais engraçado é que sim, eu sou sua presa!
— Você é minha, entendeu Isadora? — Rosna Axel e eu engulo em
seco.
— Me solta, você está me machucando. — Peço sentindo dor do seu
aperto. Seus olhos estavam mais escuros do que já era, se isso podia ser
possível.
— Eu nunca mais vou deixar você sair das minhas vistas,
principalmente agora. — Ele desliza a mão para minha barriga me fazendo
arregalar os olhos. — Você não vai sair daqui com aquele filho da puta,
minha menina. Entenda isso!
— Por que isso agora, Ax? — Questiono o fazendo se irritar mais.
— Por que sim, não me faça perguntas idiotas. — Sua falta de
paciência me faz querer provocá-lo um pouco mais.
— É que eu pensei que o bebê não tinha nada a ver com você, querido.
— Digo de forma doce. — Ângelo cometeu um erro, mas ele sempre cuidou
bem da gente, sabe. — Axel estava em ponto de me matar aqui e agora. E
com uma rapidez louca, ele tirou a mão do meu cabelo para segurar meu
pescoço.
— Não me provoque, minha menina. — Sinto o seu nariz pressionar
contra o meu. — Você me pertence! Esse bebê dentro de você me pertence!
Tudo em você é feito exclusivamente para mim, só para mim. Entenda de
uma vez, minha menina. — Sua mão deslizou do meu pescoço até a minha
mandíbula. Axel me encarou com toda sua ferocidade, até que avançou sua
boca na minha.
Me entrego ao beijo como se eu precisasse dele para poder sobreviver.
Tudo o que mais quero nessa vida é pertencer a esse homem. É tudo tão
louco e doente, mas eu não consigo deixar de ser de Axel. Eu amo o fato dele
falar sobre o bebê e se eu pudesse fazer um pedido agora. Eu pedirei para que
ele me amasse, tudo o que mais quero dele é que ele me ame, nos ame e que
faça de nós dois a sua casa. O seu lar. Queria poder tirar tudo o que já
assombrou o seu passado, e transformar em algo bom, algo próprio para nós
três.
Sim, Ax, nós pertencemos a você. Tudo a você!
Ao cair na realização das minhas palavras eu afasto Axel de mim,
quebrando assim o beijo maravilhoso que estávamos entregues. Afasto três
passos para trás, para que eu não fique à mercê do seu aperto novamente.
Arrumo a minha roupa, o meu cabelo e controlo a minha excitação. Axel olha
para mim com satisfação, sei que ele deve estar se vangloriando do quanto
não consigo pensar em nada quando estamos só nós dois. Filho da mãe!
— Pode ir parando por aí, Ax. Eu não te trouxe aqui para você ficar
marcando o território em mim. — Digo tentando passar firmeza.
— Eu não preciso ficar te marcando, querida. Você já é minha, olha só
como eu te deixo desestabilizada. — Reviro os olhos para o seu ego nojento.
— Me poupe, homem! — Digo irritada, vendo o seu sorriso fantasma.
— Não provoque uma guerra com Ângelo, Ax. Deixe-me resolver com ele,
tudo bem? — Começo e sua feição muda rapidamente.
— Era isso que você queria ao me trazer aqui? — Pergunta friamente.
— Sim, é exatamente isso! — Digo colocando a mão na cintura.
— Certo! — Axel fala simplesmente e eu fico confusa.
— Certo o que? Certo, você não está nem aí para o que eu pedi ou você
vai ouvi meu pedido. — Indago ainda em confusão.
— Porra, Isadora! — Esbraveja. — Eu vou deixar você lidar com o seu
irmão desgraçado, mas qualquer coisa eu atiro nele. Esteja ciente disso. —
Abro um largo sorriso e me jogo nos braços do meu Ax.
— Você é o melhor, querido! — Brinco e posso ver o sorriso que amo
no canto dos seus lábios.
— As coisas que eu faço por você, minha menina. — Reclama Ax e eu
não posso conter meu sorriso. — Vamos logo terminar isso, para colocar o
lixo para fora. — Axel diz me fazendo negar com a cabeça.
Seguimos de volta para a sala e encontramos Ângelo sentado em um
dos sofás, tendo Earl e Russel o encarando como se quisessem explodi-lo em
pedacinhos. Soltando um suspiro forte, eu vou até o outro sofá me sentando
ali confortavelmente. Vejo meu irmão abrir a boca para começar a falar, mas
para olhando de Earl para Russel e franzindo a testa. Para evitar que
aconteçam mais conflitos, eu peço aos meninos que nos deixem por um
momento. Russel tentou dizer algo, mas Earl saiu puxando-o sem dar
qualquer brecha.
— Por que não sai também para que eu possa falar com a minha irmã
em paz, Cox? — Angel pede, mas Ax o encara como se fosse um inseto
irritante.
— Vai sonhando, Gutierrez! — Ax diz de modo impassível.
— Ele fica, Angel. — Digo em definitivo fazendo Axel passar o braço
a minha volta.
— Olha tudo bem, tudo o que quero é falar com você, Isa. Esse idiota
não quer dizer nada para mim. — Angel solta com irritação, mas fica seu
olhar em mim evitando olhar na direção de Axel.
— Certo! — Digo tentando soar uma mulher madura o suficiente.
— Primeiro de tudo eu gostaria que você me perdoasse, hermanita. O
modo que eu falei com você ontem foi terrível, e eu lamento muito. —
Ângelo fala e meus olhos arderem ao ouvir suas palavras.
— Você me deixou muito assustada, tudo aquilo me deixou com muito
medo. — Revelo, notando que Angel tenta chegar a mim, mas para cerrando
os punhos.
— Entendo. — Ele diz após passar a mão na cabeça. Gesto esse que ele
faz sempre que está nervoso.
— Eu tive um dia incrível com Lara e sua irmã. Lara conseguiu me
tirar de uma bad, que eu estava a dias. Ela me disse que estaria bem se eu
fosse para a festa dos seus pais, ela me afirmou que você ficaria feliz com
isso, quando, na verdade, eu fiquei com medo da sua reação. E no final? No
final eu estava certa. — Limpo as lágrimas que desceram no meu rosto com
força.
— Eu não sabia que você ia para lá, eu não tinha lhe falado nada sobre
a festa justamente porque eu não poderia te convidar. Você não era para estar
ali, hermanita. — Ângelo fala em sofrimento.
— Por quê? Por que eu não poderia estar ali? — Paro repentinamente
— Você… tem vergonha de mim? Tudo ontem não passou de uma piada para
que eu pudesse me sentir mal? A Lara, ela… — Não consigo dizer as
palavras, mas Ângelo entendeu perfeitamente o que eu queria dizer.
— Não! Não pense nisso sobre a Lara, ela é tão inocente quanto você
nisso tudo. — Ângelo fala com firmeza e eu me levanto do sofá, pois estou
me sentindo muito inquieta.
— Então me diga Ângelo, o que foi que aconteceu ontem? Por que o
pai de Lara me expulsou do lugar, o que eu fiz de tão errado para ele? —
Inconsciente eu coloco a mão na minha barriga.
— Isa, por favor, se acalme. — Ângelo pede calmamente, mas eu nego
com a cabeça.
— Não, me responda! — Mando bruscamente.
— Sim, Gutierrez, por que o Álvarez humilhou a minha mulher desse
jeito. E por que você ao invés de ajudar, só fodeu mais as coisas? — A voz
gélida de Axel fez os pelos do meu pescoço se arrepiarem.
Não posso negar que eu fiquei satisfeita com o fato dele me reivindicar
como sua mulher, apesar de que para mim isso ainda é um status vazio já que
eu não posso confiar cem por cento nele. Sim, por que eu não quero fazer
uma loucura dessa novamente, e acabar sendo abandonada novamente. Não
Isadora, esse não é o momento para se pensar nisso. Seu foco tem que estar
em Ângelo e na explicação que ele deve lhe dar. Toda sua confusão com
Axel pode ser deixada para outro momento.
— Isa, antes de mais nada você tem que entender que eu lamento
muito. — Meu irmão começou novamente e eu nego com a cabeça.
— Angel, antes de entender suas lamentações eu tenho que saber o que
aconteceu ali. O que eu fiz de tão errado? — Pergunto nervosa.
— Você não fez nada, Isa! Você nunca fez nada, para falar a verdade,
você nunca deveria ter entrado nesse mundo podre. — Nesse momento
Ângelo encarou Axel com raiva, mas foi ignorado.
—Deixe de tratar a Isadora como um ser indefeso, Gutierrez. Ela é
forte, porra não uma peça de cristal. Seja sincero, ela aguenta o que quer que
seja! — Axel estoura com raiva.
— Sim, eu aguento! — Confirmo as palavras de Ax.
— Certo, tudo bem! — Ângelo diz com os dentes cerrados. — Isa,
você já sabe que foi fruto de uma traição de nossa mãe com seu amante. —
Confirmo com a cabeça.
— Sim, o único amor da sua vida que foi morto. — Relembro-me e o
meu irmão assente.
— Isso mesmo! — Ângelo se mexe de modo desconfortável. — Meu
pai sabe que você ficou viva, mas ele ainda não sabia que eu havia te
encontrado. — Arregalo meus olhos quando a realização cai em mim.
— Então… então foi por isso que os pais de Lara ficaram tão surpresos
e violentos? — Pergunte e Ângelo confirma.
— Sim, exatamente por isso. — Ângelo passa as duas mãos na cabeça.
— Agora meu pai sabe que eu sei sobre você, Isa. Ele não é um homem que
deixa as coisas passar. — Meu corpo estremece quando vejo Ângelo encarar
Axel que confirma com a cabeça.
— Os pais de Lara têm negócios com o seu pai? — indago com um fio
de voz.
— Mais do que isso, Isa. O meu pai e o pai de Lara que arranjaram esse
casamento entre nós dois. Jerônimo é o padrinho de Rodrigo e Valentin é o
meu. — Meus olhos se ampliam com a junção de tudo na minha cabeça. —
Eles são mais que amigos de negócios, eles são praticamente irmãos. —
Engulo em seco de puro nervosismo.
— Oh meu Deus! — Sussurro em choque dando um passo para trás.
Ele vai vir me matar como matou a minha mãe. Ele vai vir para
terminar o serviço que ele começou. Sinto o corpo de Axel chocar contra o
meu.
— Minha menina, eu estou aqui. — Ele murmura no meu ouvido e
somente o som da sua voz faz com que eu me acalme um pouco.
— Como a Lara não sabia disso? — Pergunto de repente e ele levanta a
cabeça para olhar para mim.
— Tudo o que a Lara sabia era que eu tinha uma irmã perdida, nada
mais que isso. Ela não sabe que Jerônimo assassinou nossa mãe ou que você
não era filha dele. — Ele explica e eu franzo o cenho. — Lara e Amanda só
sabem exatamente aquilo que sua família quer que elas saibam.
— E você nunca contou, por quê? — Questiono e ele desvia a cabeça
para o lado.
— Eu não falo sobre esse assunto a ninguém, você é a minha irmã.
Você precisava saber. — Ângelo diz com frieza.
— Eu me sinto uma idiota por culpar Lara pelo acontecido de ontem.
— Revelo com tristeza e Ângelo nega com a cabeça.
— Não se culpe por isso, se quiser culpar alguém culpe a mim. —
Ângelo diz com dureza e eu confirmo.
— Mas eu te culpo sim! — Explodo de repente o surpreendo. — Eu te
culpo e estou muito chateada e com medo de toda situação, mas eu não vou
ficar levando isso para frente. — Dessa vez Ângelo levanta e ergue os braços
me chamado até ele.
— Isa! — Ele me chama e antes de tentar fazer qualquer movimento eu
olho para Axel, que me solta do seu aperto, e dá de ombros.
A passos lentos eu vou até Ângelo, acho que há coisas ainda que ele
não me contou. Mas no momento eu não quero ficar forçando com que ele
minta para mim. Eu não vou aguentar mentiras nesse momento, porque eu já
fui carregada por muitas coisas e não mereço agora receber mais nada além
da verdade. Meu irmão me puxa para os seus braços, e no momento que o
abracei de volta eu senti que coisas ruins vão acontecer. E não eu não sei se
estou pronta para aguentar tudo o que virá. Sinto medo! Muito medo mesmo!
— Lo siento mi hermanita, te protegeré. ¡Lo prometo con todo mi! (Eu
sinto muito minha irmãzinha, eu vou te proteger. Eu prometo com tudo de
mim!) — Eu não consegui entender tudo o que ele disse, mas mesmo assim
eu senti o conforto do seu abraço.
— Obrigada! — Agradeço saindo do seu abraço. Para logo em seguida
ser puxada para o lado de Axel.
— Gutierrez, tem duas coisas que estou curioso agora. — Axel
pergunta seriamente.
— E o que é? — Angel questiona.
— O seu pai vai vir atrás de minha mulher, estou certo? — Ax pergunta
sem rodeios. Meu irmão olha para mim com tristeza, para logo em seguida
voltar seus olhos para ele.
— Sim, mas eu protegerei minha irmã. — Meu irmão fala, mas Ax faz
um som de irritação com a garganta.
— Foda-se, eu cuido da minha mulher, você só arruma essa merda de
bagunça, seu fodido! — Axel solta bruscamente.
— Oh por favor, não comecem a brigar! — Digo massageando os lados
da minha cabeça.
Meu Deus, que dor de cabeça terrível!
— Qual a segunda coisa, Cox? — Angel indaga a contragosto.
— Quem é o pai de Isadora? — A pergunta de Axel faz meu irmão
ficar rígido por um instante.
A rigidez de Ângelo logo passa, mas percebo que ele encara Axel como
se quisesse que ele ouvisse seus pensamentos. Franzo o cenho confusa por
sua reação, mas estou com tanta dor de cabeça que não consigo me
concentrar em mais nada além disso.
— Então, Gutierrez, quem foi esse homem? — Axel indaga
novamente.
— O nome dele é Alonzo Vergara. — Tenho a impressão de ter ouvido
Ax praguejar, mas deve ser só impressão mesmo.
Alonzo! Que nome lindo! Dou um pequeno sorriso ao falar o nome do
homem que minha mãe foi capaz de largar tudo para viver seu amor. Ele
deveria ser um homem incrível, os meus dois pais deveriam ser pessoas
incríveis e corajosas.
Eu adoraria poder ter tido o prazer de conhecer esses dois. Eu daria
tudo por isso!
Mas que porra é essa? Será que eu estou louco para imaginar coisas
agora? Por que eu tenho a fodida certeza de que eu ouvir agora mesmo
Gutierrez falar o nome Alonzo Vergara. Foi bem nítido, eu tenho certeza que
foi exatamente esse nome que foi dito. O único Alonzo Vergara que eu
conheço é um maldito fantasma, o mundo do crime somente desconfia o fato
que é ele o homem que possuí o maior e mais perigoso cartel de drogas do
México. Mas isso são somente suposições, porque esse homem nunca mais
foi visto e isso já são mais de vinte anos. E como esse homem ficou
conhecido? A alguns anos atrás os pequenos e ínfimos cartéis que tentavam
ganhar algum nome na época foram derrubados por um homem que se
intitulava de El fantasma.

A muito tempo chefes e mais chefes do narcotráfico tentaram


desmarcar, e consecutivamente expor a identidade desse tal fantasma. Mas foi
tudo em vão! Ninguém na época pode dizer com certeza quem de fato era
esse desgraçado oculto. Somente a poucos anos atrás, quando eu montei a
minha equipe de mercenários, um único nome foi soprado ao vento. Esse
nome foi a única suposição mais próxima de quem poderia realmente ser o
fantasma dos cartéis. E que fodido nome era esse? Oh sim, Alonzo Vergara!
Não sei como esse nome foi sussurrado pelo submundo, esse homem tinha
sido dado como morto, assassinado por ninguém menos que Jerônimo
Braganza, mas de qualquer forma esse homem foi revelado.

Agora vem algo muito fodido, o fato de como eu sei sobre toda essa
história. Bem, há um tempo atrás eu fui contratado para poder encontrar,
revelar e matar o fantasma. Mas infelizmente esse infeliz é mais poderoso do
que eu poderia imaginar. Nem com a junção de toda habilidade da minha
equipe, eu consegui fazer o trabalho no qual fui designado. Cheguei muito
perto algumas vezes, mas nada que eu pudesse dizer muita coisa. Inferno!
Ainda sinto o gosto amargo do ódio na minha boca, e pode ter certeza que eu
não estava esperando que uma revelação dessa pudesse acontecer.

Passei tanto tempo tentando desvendar se Alonzo Vergara é de fato El


Fantasma, para agora saber que ele é o pai biológico da minha mulher. Foda-
se se isso não é fodido de várias maneiras diferentes. Aperto mais o braço ao
redor da minha menina e encaro Gutierrez com firmeza. Ele confirma com a
cabeça, me dizendo mesmo que sem palavras, o quanto a sua informação era
verdade. O que deixa o inferno muito louco!

— Nossa! — A voz dolorida de Isadora me tira dos pensamentos


sombrios.

— O que houve, minha menina? — Pergunto observando como ela


segura a sua têmpora.

— Só fiquei de repente com muita dor de cabeça. — Ela diz dando um


sorriso sem graça. — Mas não deve ser nada demais. — Franzo o cenho ao
ouvir sua desculpa esfarrapada.

— Você vai subir e deitar um pouco. — Digo enfaticamente e ela nega


com a cabeça.

— Não precisa, querido eu estou bem. — Ela dá batidinhas no meu


peito, na intenção de me acalmar.

— Você não entendeu, não mesmo? Eu não sugeri Isadora, eu mandei


você subir e deitar na nossa cama. — Falo de modo controlado, fazendo ela
cerrar os olhos na minha direção.

— Você não manda em mim, Cox! — Cospe irritada.

Admito que acho super sexy o jeito como ela acha que pode ser durona
comigo. Somente essa menina é capaz de falar comigo dessa forma e sair
impune. Apesar que as coisas que surgiram na minha cabeça que eu poderia
fazer com ela, eu não posso realmente dizer que ela ficaria totalmente
impune. Tudo o que posso dizer é que envolve cordas bem apertadas e meu
pau entrando nessa sua bunda bonita. Porra! Eu não posso ir por esse maldito
caminho, não quero ter uma ereção na frente do infeliz do Gutierrez.

— Isa, será melhor para você subir e descansar um pouco. Adoraria que
você voltasse comigo para casa, eu posso cuidar de você, mas como eu sei
que você não vai querer ir, eu não vou forçar. — A voz calma e quase
beirando a doçura de Gutierrez chama a nossa atenção. Desgraçado falso!

Nem fodendo você conseguiria tirar minha mulher de mim seu


bastardo do caralho! Pensei imediatamente.

— Obrigada por respeitar minha escolha, Angel. Você sabia tão bem
quanto eu que a minha estadia na sua casa era passageira. — Minha menina
dá um sorriso triste, que é retribuído com um aceno de seu irmão.

— Eu sei que sim, mas mesmo assim eu não fico tranquilo em saber
que você não estará sendo cuidada como deve ser. — Desgraçado! O que ele
quer dizer com isso?

— Não se preocupe, eu serei sim. Estou bastante habituada com esses


brutamontes. — Ela dá um sorriso, mas logo se encolhe no lugar. Apertando
novamente a mão na têmpora.

— Para quarto agora mesmo, Isadora! — Mando bruscamente.

— Bah, homem! Eu sei meus limites! — Grunhe ela me deixando com


a mão coçando para torcer seu pescoço.

— Isa, posso sugerir algo? — Ângelo indaga e minha mulher assente


brevemente.

— Claro, irmão! — Ela exclama levemente.

— Eu posso ceder a Luíza para você por um tempo, ela irá te ajudar
com as coisas e você não ficará tão sobrecarregada. — A sugestão de
Gutierrez me deixou com raiva. Nem fodendo isso vai acontecer!

— Oh Angel, fico muito feliz com sua sugestão. Eu gosto muito da


Luíza, mas eu terei que recusar. — Isadora diz sem esconder sua vergonha
por recusar algo de seu irmão. Você é tão inocente ainda, minha menina!

— Tudo bem então, mas o pedido ainda está de pé. — Ele sorri e ela
sorri de volta.

— Vamos lá, minha menina, vou te colocar na cama! — A carrego no


meu colo de supetão e ela dá um gritinho de susto.

— Me coloque no chão, Ax! — Manda.

— Isso não está acontecendo, agora vamos! — Confirmo a fazendo


bufar descontente. Começo a virar para levar minha menina, mas ela me faz
parar dando batidas no meu ombro.

— Ângelo, fico feliz que resolvemos as coisas. Obrigada por vir aqui se
desculpar. — Isadora diz e eu posso ver suas bochechas ficarem coradas.

Sexy, muito sexy até mesmo corada!

— Jamais poderia perder a minha irmãzinha depois de tê-la encontrado


novamente. — Gutierrez diz de forma carinhosa, fazendo minha menina
sorrir.

— Agora vamos! — Digo com irritação, já virando para seguir em


direção às escadas.

Levo minha menina para o nosso quarto, não deixando de perceber que
ela está um pouco mais pálida do que de costume. Apesar de que agora ela
está com um toque de bronzeamento na pele, ela nunca deixou de ter uma
pigmentação saudável. Parando para analisar alguns fatos, Isadora é a junção
perfeita de duas combinações latinas. Se ela for realmente filha de Alonzo
Vergara com Esther Gutierrez. Ela saiu com uma mistura das suas
características, tanto mexicana quanto colombiana. Solto uma forte respiração
me sentindo enfurecido com os meus pensamentos, e falo com Isadora que
chamarei Earl para vê-la.

Mas ela negou rapidamente, afirmando que ficaria bem após alguns
minutos deitada quieta. Fiquei um tempo lá parado olhando-a fechar os olhos
e respirar de forma tranquila, quando percebi que realmente ela poderia pegar
no sono a qualquer momento. Eu saí do quarto antes que eu me arrependesse,
porque tudo o que sinto é raiva. Raiva dela, raiva de mim e principalmente
raiva desse bebê estúpido que deixa a minha menina desse jeito. Ao chegar
novamente na sala vejo que Gutierrez ainda está no mesmo lugar, mas ao
invés de estar sozinho como deixei Craig e os outros estão aqui também.
Pelas suas caras eu posso ver que eles ouviram a conversa anterior.

— Vocês ouviram tudo? — Pergunto sem rodeio e eles assentem de


forma rígida.

— Pelo visto não existe a palavra “privacidade” aqui — Gutierrez solta


com irritação.

— Não quando você vem na casa dos outros cheio de artimanhas. —


Craig fala pegando um dos seus cigarros e descansando entre seus lábios.

— Artimanhas? Eu só vim falar com a minha irmã, que mal há nisso?


— O sarcasmo do desgraçado não passou despercebido por nós.

— Não sabemos o que você pretendia fazer, mas a segurança de


Dorinha é nossa prioridade. Ela chegou aqui muito abalada, com oscilação na
sua pressão arterial, o que não é bom na sua condição atual. — Earl disse
como um paramédico que nunca deixará de ser. Seja o que for, aconteça a
merda que acontecer.

— Porra! — Gutierrez xinga. Posso ver que ele que tenta esconder o
quão abalado ficou com o que Earl acabou de contar.

— Que merda é essa que a nossa Dorinha pode ser filha do Fantasma?
— Olho com irritação para Russel, por sua falta de amor à sua fodida vida.

Nossa é um caralho, seu filho da puta louco!

— É a mais pura verdade, apesar de não ter 100% de certeza tudo isso.
— Gutierrez passa a mão na cabeça com força.

— O que não é certeza? O fato da minha menina ser filha de um


narcotraficante fodidamente poderoso? — Questiono duramente.
— Não Axel, que Isa é filha de Alonzo eu tenho certeza. Eu estava lá,
eu o vi abençoar minha irmã antes morrer. — Ângelo para de falar. — Pelo
menos eu acreditava que ele estava morto. — Ele dá de ombros.

— Entendo, mas me responda uma coisa. — Ele assente com firmeza.

— Pode perguntar! — Diz com força.

— O que você pretendia falando sobre Vergara para mim. — Vejo o


que o desgraçado não esperava pela minha pergunta. Gutierrez fica parado
por um tempo sem demonstrar qualquer sentimento, mas logo abre um
sorriso predatório.

— Então você percebeu isso, não foi? — Questiona saltando uma breve
risada.

— Foi cristalino como água, filho da puta! — Afirmo o fazendo


esconder seu sorriso com o punho.

— Você nunca foi um homem que gosta de ser passado para trás, Cox.
Isso é o que eu gosto em você. — Aponta Gutierrez e eu solto um som de
irritação com a boca.

— Se você fizer alguma coisa para prejudicar a minha mulher, Ângelo.


Eu juro pela minha fodida vida de merda, que nunca irei parar até que você
perca tudo aquilo que tanto valoriza e isso inclui a sua vida. — As minhas
palavras fizeram o sorriso idiota do rosto desse verme se fechar
imediatamente.

— Cox, eu não pretendo prejudicar a minha irmã. Então olha como fala
porque eu não tenho tanta paciência para você. — Sustento o olhar violento
de Gutierrez, por que eu sou tão violento quanto ele.

— O que diabos você quer dela então? — Minha voz sai sombria.

— Proteger! É a única coisa que quero fazer depois do que aconteceu


ontem. Jerônimo já sabe que ela ficou viva, ele vai tentar matá-la, pior, ele
vai tortura-la assim como não pode fazer com a minha mãe. E eu não vou
permitir! — Gutierrez diz entre dentes.
— Tem algo a mais nisso, você pode vir com esse discurso de bom
irmão. Mas eu sinto que há algo a mais, e eu vou descobrir mais cedo ou mais
tarde. — A raiva de Ângelo foi dispersa rapidamente e ele deu um sorriso de
desdém.

— Eu já fiz tudo o que eu queria fazer aqui, agora é minha hora de sair.
— O desgraçado fala e eu cerro os olhos na sua direção.

— Pode apostar a sua vida inútil que eu ficarei de olho em cada


movimento seu. E se seu pai tentar algo contra a minha menina eu vou
revidar com força total. — Prometo com toda frieza que existe em mim.

— Eu estou apostando nisso, Cox. — O infeliz retruca caminhando


para a saída.

— Russel! — Chamo.

— Pode deixar chefe! — Responde rapidamente se posicionando para


seguir Gutierrez.

— Não precisa colocar o seu cãozinho atrás de mim, Cox. Pensei que
fossemos família, cunhado. — Coloca a mão para trás na intenção de segurar
o cano da minha arma.

— Eu sei quem são as pessoas da minha família, e você não é uma


delas. — Digo tranquilamente isso faz ele dar uma gargalhada.

— Deixo minha irmãzinha em suas mãos. Cuide dela! — E com isso


ele sai porta a fora, tento Russel seguindo seus passos.

Desgraçado!

Eu não consigo gostar ou confiar em Ângelo Gutierrez. E ele ser o


irmão da mulher que escolhi para minha vida de merda, só faz com que eu
desconfie dele a cada passo ou atitude. Sinto que ele está escondendo alguma
coisa, mas a minha preocupação não é somente no que esse cretino tem como
ás na manga. E sim o fato de que agora a minha doce menina tola está sob o
radar de uma das piores pessoas que ela poderia estar. Eu fui um completo
idiota ao pensar que ir lá agora New Jersey e acabar com Enya e Killian fosse
resolver todos os males para a minha menina.

— Craig, Earl! — Chamo os dois após sair dos meus pensamentos


sombrios.

— Sim chefe? — Eles perguntam em uníssono.

— Comecem a monitorar cada passo de Jerônimo Braganza. Se ele


pensar em pisar os pés do Brasil, eu quero ser o primeiro a saber. —
Comando sem nem se quer me dar o trabalho de olhar para os dois.

— Será feito! — Eles responderam. E sem perder tempo com conversas


triviais eles foram embora fazer o que eu ordenei.

No momento em que fiquei sozinho eu sabia que não deixaria com que
ninguém fizesse mal a Isadora. E quando eu falo ninguém eu estou colocando
o Gutierrez no meio, e ele sabe disso. Ele sabe agora que eu farei qualquer
coisa pela minha mulher, até mesmo tirar a sua vida. Eu sinto que as coisas
estão prestes a ficar muito feia, só que independente de quão feio fique tudo,
eu tenho que ficar preparado.

Ainda mais que… paraliso quando ouço um grito alto vindo de cima,
para logo em seguida meu nome ser chamado.

É a Isadora, algo aconteceu!

— Axel! — Ouço novamente e sem pensar demais eu corro em direção


as escadas.

No momento que abri a porta do nosso quarto eu posso ver minha


mulher com os olhos arregalados, totalmente amedrontados. Seus olhos estão
brilhando em lágrimas grossas, que desviam sem controle pelo seu rosto. Eu
já estava entendendo o que estava acontecendo, até chegar perto o suficiente
dela. Vi uma quantidade de sangue significativo no lençol da cama. Suas
mãos trêmulas agarraram com força a minha roupa, afastando meu olhar do
sangue e sim no seu rosto carregado de desespero.

— Eu estou perdendo o nosso bebê. Nosso bebê está morrendo Axel!


— O desespero de Isadora me faz entrar em alerta totalmente. — Axel, por
favor, não me deixe perder nosso filhinho. — Aperto a mandíbula com força.

— Nada irá acontecer, minha menina. Eu vou te levar para o hospital


agora mesmo! — Respondo sem pensar em mais nada a não ser tirar a sua
dor agora mesmo.

— Obrigada! Obrigada! Obrigada! — Ela agradece várias vezes e eu


não sei o que dizer. Então começo a agir, a carregando no colo e correndo
para fora.

Espero que ela não perca essa criança, não digo isso por mim, mas sim
por ela. Eu sei que ela será uma mãe melhor do que a minha e a de Craig foi
para nós.

Tudo pela minha menina, sempre!


Eu nunca me senti tão assustada em toda minha vida desde o momento
que eu despertei do cochilo e percebi que estava sangrando. Digo isso com
propriedade, porque eu já passei por situações bastantes loucas e assustadoras
para ter com o que comparar. O terror que caiu sobre mim é algo que não
consigo explicar, tudo o que eu queria era que Axel viesse até mim e me
ajudasse a não perder o nosso bebê. E ele veio, confesso que foi um total
alívio ao vê-lo ali pronto para fazer qualquer coisa para me ajudar. Assim que
Ax viu a situação desesperada em que eu me encontrava, ele me carregou nos
seus braços e correu comigo porta a fora.
Não lembro quanto tempo levanos até a clínica, ou até mesmo por quais
lugares que passamos até chegarmos aqui. Eu estava com muito medo, presa
a Axel como se ele fosse a minha única salvação, e para falar verdade ele era
realmente. Fui atendida rapidamente, lembro-me de perguntar de modo
nervoso e apressado sobre o meu bebê. Eu precisava saber se ele ficaria bem,
pouco me importava saber sobre mim, mas nada foi me dito de imediato. Até
mesmo Axel eu havia perdido de vista, eu procurei por ele, mas não
conseguia vê-lo. Eu estava com medo, tanto que não sei dizer exatamente o
quanto, tudo o que eu queria era que esse pequeno brotinho ainda tivesse o
seu coração batendo.
Oh Deus sim, por favor, eu não iria aguentar saber que não existia mais
outro coração batendo dentro de mim. Um coraçãozinho tão rápido, ritmado e
incrivelmente maravilhoso. Tão maravilhoso que a primeira vez que eu tive o
prazer de ouvir, eu soube que o meu mundo nunca mais seria o mesmo. E que
eu não poderia mais duvidar que de fato eu estava grávida. É mágico, tudo é
muito mágico, mas agora tudo pode estar entrando em ruínas. E foi
justamente com esse pensamento que eu havia desmaiado, não sei explicar se
foi por conta da perda de sangue, dos remédios ou meu medo desenfreado.
Eu realmente havia desmaiado e quando despertei, eu sabia que estava
na cama de hospital. E quando eu pensei em abrir minha boca para chamar
por alguém que seja, Axel apareceu na minha linha de visão.
— Minha menina? — Ele chama e eu pisco várias vezes.
Graças a Deus ele está aqui!
— Axel! — Digo ainda meio sonolenta.
— Porra, Isadora! — Axel solta uma respiração forte, avançado para
deixar um beijo forte na minha testa.
Vejo pela primeira vez a frieza e raiva da feição de Axel cair por
inteiro. O beijo na minha testa era tão caloroso que eu não aguentei e o
abracei com toda a força que tinha no momento. Sua mão passava pelos meus
cabelos soltos até as minhas costas. Eu amo o fato de ter meu corpo
pressionado contra o dele, me dá uma sensação de pura segurança. É como…
oh Deus, como eu pude esquecer! Com o medo tomando conta de mim
novamente eu empurro Axel de mim.
— Axel, e o nosso… o nosso bebê? — Questiono em desespero.
— Minha menina, se acalme, eu vou… — Ele começa a falar, mas eu
não preciso que ele fique controlado agora, eu quero respostas.
— Não Axel, me diga a verdade! O nosso bebê, ele... ele... — Meus
olhos encheram de lágrimas quando pensamentos sombrios tomaram conta de
mim.
— Isadora! — Chama Axel.
— Eu o perdi não foi? Tinha muito sangue e eu perdi o nosso filho. Eu
sou uma incompetente! — Toquei o meu ventre sentindo meu mundo
desmoronar.
— Porra Isadora, você quer parar com essa merda?! — A voz firme de
Axel me faz parar com os olhos arregalados. — Eu não sei quantas vezes eu
vou ter que dizer que você tem que parar de se autodepreciar, caralho! — A
irritação de Axel realmente me fez paralisar.
— O quê? — Pisco as últimas gotas de lágrimas que preenchiam os
meus olhos.
— Inferno, você tem que…. — Axel é interrompido por um toque na
porta.
Antes que um nós liberássemos a entrada, de quem quer que seja, a
porta foi aberta e era minha obstetra doutora Tânia Belucci. Ao dar de cara
com a minha médica um pequeno alívio tomou conta de mim. Principalmente
pelo fato da mulher linda com decência Italiana, com cabelos escuros, olhos
vivos em um tom castanho claro, ter um sorriso gentil que sempre me
acalma.
— Vejo que a minha paciente já acordou, não é mesmo. — Doutora
Tânia fala ainda com um sorriso.
— Doutora, como soube que eu estava aqui? — Pergunto sem ao
menos me controlar.
— Você não sabe? O seu marido ligou e contou sobre toda situação. —
A doutora fala com uma expressão confusa olhando de mim para Axel.
— Axel, você chamou a minha obstetra? — Pergunto sentindo muito
mais amor por ele nesse momento.
— É bem óbvio, não está vendo? — Comenta ele apontando
despretensiosamente para a minha médica. — O nome "Minha obstetra"
estava bem destacado no seu celular. Ainda bem que você é uma mulher
muito óbvia, minha menina. — Axel disse com uma expressão impassível.
— Obrigada, Ax! — Eu pretendia falar mais coisa, mas somente o
agradecimento sincero saiu dos meus lábios.
— Não precisa agradecer, minha menina, eu faço qualquer coisa por
você. — Ele disse em forma de resmungo, me fazendo querer rir.
— Bem, vamos falar sobre o bebê? — As palavras da médica me
fizeram ampliar os olhos novamente.
Jesus Cristo, como eu pude me distrair e esquecer do principal? Meu
bebê!
— Doutora, eu o perdi? — Questiono rapidamente e ela vem até mim
na intenção de segurar minha mão.
— Seu bebê está bem, Isadora! Ele está onde deve estar. — Doutora
Tânia fala me surpreendendo totalmente.
Essas duas frases passearam pela minha mente várias e várias vezes até
que a minha ficha foi caindo lentamente. "Seu bebê está bem." "Ele está onde
deve estar." Foi isso que a minha médica disse, não foi? Eu não estou
alucinado, não é verdade? Não, eu não estou! Eu não posso acreditar que ele
ainda está aqui, logo eu que estava toda desacreditada, já chorando e me
lamentando. Pronta para que o mundo desabasse bem diante dos meus pés.
Solto um lamento de alívio, colocando a mão na minha barriga.
Você ainda está aqui, querido, e é aqui que vai continuar até chegar o
seu momento de vir ao mundo conhece a mim e seu papai. Penso sentindo
meu corpo mais leve.
— Eu estou tão aliviada agora. — Solto de repente. Ouço um som de
desgosto sair da garganta de Axel.
— Era isso o que eu ia dizer, mas ela já estava se culpando por algo que
não tem controle. — Axel diz em português friamente, me olhando com
dureza.
— Sinto muito, Ax, eu só estava com medo. — Lamento
envergonhada.
— Que seja, só ouça o que a médica tem a dizer. — Diz ele com calma,
dessa vez usando o inglês, olhando fixamente para mim de forma intensa.
Observo ele se afastar indo em direção à janela. Encostando seu ombro
de forma relaxada, enquanto olha para fora. Solto um suspiro leve, porque
pela pouca coisa que já absorvi de Axel, sei que ele está tudo menos relaxado
neste momento. Aperto com força o lençol, desvio o olhar de Axel focando
novamente minha atenção na doutora Tânia. Ela que está com o cenho
franzido, indicando que não está entendendo o que realmente acabou de
acontecer.
Bem, doutora, bem-vinda ao meu mundo.
— Sim, doutora, me diga o que está acontecendo. Por que eu tive um
sangramento daqueles? Isso é normal? — Indago.
— Isadora, você está no início do segundo trimestre, nenhum
sangramento nessa fase é normal. O seu marido fez bem em lhe trazer a
clínica rapidamente. — Concordo com a cabeça. Acho melhor corrigir a
doutora, já que Axel não é o meu marido.
— Eu tenho que corrigir algo, o Axel não é… — Tento dizer, mas ele é
mais rápido que eu.
— Continue sua explicação! — Ele manda duramente. O que faz a
doutora que dá um passo para trás.
— Er... certo! — Ela soltou um pigarro voltando com sua postura
profissional. — O que aconteceu é que havia uma pequena fissura por conta
de um descolamento de placenta. — Tomo um susto com o que ela acabou de
dizer.
— Descolamento? Isso é muito sério doutora! — Afirmo com medo.
Porque essa foi uma das coisas que eu havia pesquisado após ter engravidado.
Eu tinha medo de sofrer aborto, ainda tenho para dizer a verdade.
— Sim isso é sério, mas não houve qualquer dano ao seu bebê, ele está
bem. — Ela deu um sorriso tranquilo. — Havia um acúmulo de sangue na
área da fissura, mas ele já foi eliminado. Se caso ocorrer qualquer
sangramento daqui para frente como esse, é importante vir até mim
rapidamente. Entende? — A doutora pergunta e eu assunto rapidamente.
— Entendo! — Minha voz sai em tom baixo.
— Dottore, Belucci! (Doutora Belucci!) — Axel chama em outra
língua me deixando confusa, mas parece que a doutora entendeu. —
Suppongo tu parli italiano, vero? (Suponho que fale italiano, certo?) — A
doutora assente dando um sorriso educado.
Agora sim, é que estou perdida. As únicas línguas estrangeiras que eu
realmente estudei com afinco foram inglês, por causa justamente da
programação de códigos. E a segunda foi Coreano por causa dos meus
amados doramas. Odeio estar por fora da conversa, e ele fez isso de
propósito.
— Sì, vedo che parli fluentemente, signor Cox! (Sim, vejo que fala
fluentemente, senhor Cox!) — Ela responde tranquilamente.
— Non voglio rannicchiarmi e andare dritto al punto. Mia moglie, è
ancora a rischio di perdere il bambino? (Não quero enrolar e vou direto ao
ponto. Minha mulher, ela tem riscos de perder o bebê ainda?) — Vejo Axel
olhar para mim por um tempo, mas logo volta para a médica.
— Il rischio è sempre presente, ma monitorerò bene sia lei che il
bambino. (Risco sempre há, mas eu estarei monitorando bem tanto ela quanto
o bebê.) — Axel concorda com algo que a médica falou.
— Quindi possiamo fare sesso, giusto? (Então nós podemos fazer sexo,
estou certo?) — Vejo a bochecha da minha médica ficar vermelha. E somente
isso me faz cair na realidade das coisas.
— Axel, caramba! O que você disse para minha médica? — Pergunto
irritada.
— Nada demais, só quero saber se posso foder com você, nada demais.
— Ele diz como quem não quer nada, e isso me deixa mais chateada.
— Axel! — O repreendo, mas minha médica toma a frente tentando
aplacar sua vergonha.
— Tudo bem, Isadora, não se preocupe. É normal para o parceiro esse
tipo de dúvida. — Tânia diz rapidamente. — Eu estava pensando em fazer
um ultrassom para que você pudesse ver que está tudo bem com o bebê, você
quer? — A sua pergunta repentinamente me tirou totalmente de órbita.
— O que? Claro que sim! Eu vou adorar isso, vai me acalmar muito! —
Digo de modo apressado e feliz ao mesmo tempo.
— Então eu irei ver o equipamento e logo estarei aqui. Como eu não
conheço o lugar muito bem eu não sei se conseguirei. — A doutora fala
dando um sorriso de desculpa.
— Não se preocupe com essas coisas, somente basta dar o nome da
Isadora e eu meu. Você terá tudo o que desejar. — A doutora fica surpresa
por um momento, mas logo se recupera e assente com a cabeça.
— Tudo bem então, logo estarei de volta. — Ela diz e acena um breve
adeus.
Depois que a minha obstetra sai em busca do equipamento para fazer a
ultrassonografia, eu volto a olhar para Axel. Ele percebe o meu olhar e vem
até mim, e antes que eu pudesse dizer alguma coisa ele me dá um beijo. Após
nós separar do beijo eu abraço o seu tórax como se fosse a última tábua de
salvação que existe para mim.
— Obrigada Axel, obrigada por não me deixar perder esse bebê. —
Agradeço fechando meus olhos com força.
— Não precisa agradecer, eu sei que você quer isso, mesmo que não
seja do meu agrado. — Ele diz entre dentes e eu abro os olhos
repentinamente.
— O que você está querendo dizer, Axel? — Indago saído do seu
abraço, erguendo a mão para que ele se afaste mais de mim.
— Estou querendo dizer que você estaria melhor sem esse bebê. — Ele
cospe as palavras entre dentes.
Cerros os meus punhos, com uma vontade louca de poder socar o seu
olho. Mesmo sabendo que eu poderia levar a pior depois do ato, mas eu não
ligo, eu só quero que ele saiba que dói. Assim como suas palavras rudes
jogadas em mim a poucos segundos. Como ele pode dizer algo como isso
depois de ver o desespero que eu acabei de passar? Será que esse homem é
totalmente incapaz de ter sentimentos pelo filho dele que carrego dentro de
mim? Não, eu não posso deixá-lo falar essas coisas, não mais, não depois
dessa experiência terrível.
— Você nunca vai aceitar o nosso filho, não é mesmo Axel? —
Pergunto sentindo um nó grosso tomando a minha garganta, mas eu me
impeço de chorar.
— Como vou aceitar algo que só faz você ficar doente? Algo que deixa
você em constante medo. — Axel vocifera.
Ah sim, agora eu entendo o que ele tem. O bebê não é o problema!
— A culpa não é do bebê, Axel. Não culpe ele por você não poder ter o
controle de cada situação dessa vez. — Revelo e ele franze o cenho. Ele está
me olhando com mandíbula cerrada, mas logo se afasta mais virando de
costas para mim.
— Foda-se! — Pragueja com força.
— Eu não vou te culpar se quiser ir embora de novo, mas eu acho
melhor você ir, se for o caso de você não me dar o conforto que preciso para
ter seu filho com saúde. — Dessa vez eu uso a frieza a meu favor.
— O que você está dizendo, Isadora? — Sua voz saiu sussurrada,
obscura e perigosa.
Tão perigosa que fez os pelos do meu corpo se arrepiarem. Esse é ele…
o mesmo Axel que me sequestrou, e me prendeu a ele.
— Você já foi uma vez, então não é grande coisa. — Digo no mesmo
tom anterior.
Ele fica quieto por um tempo até que olha pra trás e dá um sorriso
diferente do sorriso fantasma que ele está acostumado. Esse sorriso é mais
aberto e mais… amedrontador. Posso ver seus dentes brancos bonitos, e sua
sobrancelha negra arquear com o sorriso. Puta merda, meu coração começou
a acelerar nesse mesmo momento. Axel pode ser um demônio encarnado,
mas é o demônio mais lindo que já vi nessa vida. E nem mesmo eu puta da
vida com ele do jeito que estou, sou capaz de me controlar com a beleza
perigosa dele.
— Eu não vou embora, você não vai se livrar de mim. — Ele diz
usando o mesmo sorriso.
— Eu poderia! — Desafio. Axel nega com a cabeça, soltando um som
com a boca. Como se ele achasse algo engraçado.
— Ah minha menina corajosa! — Ele diz vindo até mim e sentando ao
meu lado na cama. — O que eu terei que fazer para que você tenha certeza de
que eu não vou a lugar nenhum. Eu posso estar odiando o fato de você levar
uma prole minha, mas eu não vou deixar você sozinha, porra! — Axel fala
com muita raiva.
Paro absorvendo o que ele acabou de falar, até que mordo os meus
lábios inferiores.
— Eu sei exatamente o que você tem que fazer. — Falo virando o meu
rosto para o lado.
— Então me diga merda, eu não sou um homem que gosta de ficar no
escuro, Isadora. Por que eu tenho que admitir que tudo isso está me deixando
louco? — Axel vira o meu rosto para encará-lo. — Diabos! Tudo com você é
diferente. — Estou hipnotizada pelos seus olhos negros como a noite olhando
diretamente boa meus.
É tudo tão loucamente avassalador com Axel que eu me sinto
totalmente presa a ele. Eu nunca vou conseguir lidar com tudo isso se eu não
estiver com ele ao meu lado. E para que nós dois fiquemos os mais completos
possíveis eu preciso da confiança dele. Eu preciso de mais, muito mais do
que ele nunca deu a ninguém sequer. E é por isso que eu crio coragem e falo
exatamente o que eu queria falar desde que descobri que estava grávida dele.
— Você quer realmente saber? — Indago.
— Foda-se, sim! — Responde após deixar um beijo na minha testa.
— Eu quero saber de tudo! — Exclamo com determinação. — Axel!
Quero saber tudo sobre a infância desgraçada que você e seu irmão passaram.
Quero saber cada fato o que aconteceu com sua vida, pode ser o mais
sórdido, sujo e o terrível que seja. Para que eu confie em você e em qualquer
coisa que possamos ter no futuro, eu quero que você abra essa porra de
coração fechado a sete chaves que você tem no peito. — Paro um breve
momento, olhando cada detalhe da sua feição. — Quero fazer tudo para
carregar todos os seus fardos, Axel, assim como quero você carregue os
meus. Porque é disso que um relacionamento é feito. — Respiro fundo
estendendo minha mão para segurar a sua — E quero, principalmente que
você entenda que o nascimento do nosso filho ou filha será a melhor coisa
que você terá na sua vida miserável. Por tanto abra a merda sua mente, Axel!
— Você tem noção do que está me pedindo? — Axel me pergunta de
forma perigosa.
— Sim, eu tenho! — Confirmo com a cabeça. — Eu estou disposta a
confiar em você, Ax, mas em contrapartida eu exijo o retorno disso. —
Finalizo.
— Minha menina… — Axel começou.
Quando ele ia me dar uma resposta, resposta essa que eu já estava em
cólicas para saber extremamente o que ele ia dizer, fomos interrompidos pela
volta da Doutora Tânia, trazendo com ela o aparelho de ultrassom e dois
enfermeiros. Ela me disse algo que eu não pude prestar muita atenção, porque
meus olhos estavam voltados para Axel. E foi justamente quando ela
começou todo o preparativo para o exame que eu pude focar em ver o meu
bebê. Pensei que o senhor "olhos assassinos" iria se afastar e voltar para a
janela, mas não foi isso que aconteceu. Ele ficou na sua quietude sem
emoção, prestando atenção a cada movimento.
— Vamos ver como está esse bebê? — A doutora pergunta passando
gel no aparelho para colocar em cima da minha barriga, agora nua.
— Por favor, doutora! — Digo ansiosa para ouvir o coração do meu
brotinho de feijão.
— Então vamos lá papais! — No momento que a minha obstetra ia
colocar o aparelho na minha barriga, uma mão grande tomou o seu pulso.
Mão essa que eu conheço muito bem.
— O que você acha que está fazendo, Belucci? — Axel pergunta
furioso. Bato na minha testa, soltando um gemido sofrido pela vergonha que
esse homem está me fazendo passar.
— Axel, pelo amor de Deus! — Gemo.
Abro meus olhos, vendo o quando minha médica está pálida. Pela sua
feição vejo quão amedrontada, não a julgo, porque esse sujeito faz questão de
causar isso nas pessoas. Nego com a cabeça irritada com essa situação, e
corro para beliscar o braço de Axel. Ele solta o braço da minha médica e olha
para mim como se não acreditasse no que eu acabei de fazer
— Você acabou de me beliscar, Isadora? — Axel questiona com uma
careta.
— Óbvio! Você está assustando a doutora Tânia, Axel. — Confirmo
com os dentes cerrados. — Ela não vai me fazer nenhum mal, somente vai
fazer um exame. Se você não fosse precipitado iria ver logo. — Brigo com
ele cruzando os braços. Axel me assusta quando se aproxima e coloca a boca
no meu ouvido.
— Minha menina, acho melhor você não ficar fazendo biquinho,
porque eu sou capaz de morder ele até sangrar. — A voz sussurrada de Axel
fez os pelos da minha nuca se arrepiarem.
Acho que eu sou uma masoquista, porque eu estou querendo muito essa
mordida. Penso absurdamente na hipótese e nego com a cabeça para me
livrar disso.
— Continue doutora! — Peço a minha médica após soltar um pigarro e
empurrar Axel para longe.
— Cer… certo! — Gagueja ela olhando para Axel.
Em poucos segundos eu finalmente pude sentir o gel gelado tocar a
minha barriga, para logo em seguida o aparelho fazer movimentos circulares.
Um sorriso enorme toma o meu rosto quando eu vejo o borrão tomar forma
do meu brotinho de feijão. Olho rapidamente para Axel, que está com o
cenho franzido olhando fixamente para a tela. Eu estou muito feliz por ele
estar aqui ao meu lado, olhando nosso bebê juntos pela primeira vez. Sei que
não é o melhor momento para tal felicidades, já que Axel não aceitou
totalmente o nosso filho ou filha. Mas seja como for, eu não consigo
controlar esse sentimento.
O alívio tomou conta de mim no momento que comecei a ouvir o som
maravilhoso do coração do meu brotinho. Foi aí que eu tive a certeza que ele
estava bem, e ele não iria a lugar algum. Eu não sou tão incapaz assim, eu
posso aguentar, eu vou aguentar até o fim.
— São 14 semanas e 6 dias, e ele está muito bem. Veja só! — Doutora
Tânia fala sorrindo e isso me faz sorrir também.
— Ele? — Axel solta repentinamente, isso faz escapar uma risada da
doutora, mas ao olhar para Axel ela fecha rapidamente.
— Não sei ao certo o sexo, mais duas semanas e possivelmente eu
saberei dizer. — Ela diz e Axel solta um som indiferente.
— Eu quero uma surpresa, não quero saber o sexo do bebê assim. —
Revelo recebendo um olhar estranho de Axel, mas ele não fala nada.
— Aqui está a imagem! — A doutora estende a pequena foto após
limpar a minha barriga. Quando eu ia pegar a foto, Axel foi mais rápido e
pegou.
— Isso é meu! — Reclamo, mas ele me ignora guardando a foto no
bolso interno de trás da calça.
— Isadora, pedirei que fique 4 dias de repouso. Qualquer alteração é só
me ligar, que estarei disponível. — Ela diz e eu agradeço a ela por tudo. —
Não há necessidade de agradecer! — Diz sem jeito.
Após falarmos meia dúzia de palavras, a doutora Tânia saiu do meu
quarto reforçando a dizer sobre o repouso e algumas outras coisas. No
momento que fiquei sozinha com Axel eu coloquei minhas duas mãos no
rosto, tentando deixar toda a angústia do dia de hoje ir embora.
Droga! Eu só queria que a minha mãezinha estivesse aqui.
— Minha menina? — Axel me chama. Sua mão afasta as minhas mãos
do rosto. — O que foi? — Indaga e eu nego com a cabeça.
— Não é nada, eu só estava pensando em como que eu queria que a
minha mãezinha estivesse aqui. — Dou um sorriso triste e ele me observando
com intensidade.
— Certo! — Ele segura o meu queixo e faz com que eu não desviei
meu olhar. — A resposta para sua pergunta é sim, Isadora. — Pisco algumas
vezes sem saber do que ele está falando.
— Sim, do quê? — Pergunto confusa e ele continua a me olhar
intensamente. Arregalo os olhos quando a conversa que tivemos antes da
doutora Tânia aparecer surge novamente na minha cabeça. — Você tem
certeza, Ax? — Questiono sentindo a emoção tomar conta de mim.
— Eu não sou homem de ter dúvidas do que eu quero, minha menina.
Quando eu digo sim, é sim! — Axel diz e meu coração acelera.
Ele vai confiar em mim, ele vai me contar tudo sobre ele. Finalmente!
— Ax, você não sabe como me fez feliz agora. — Revelo chorosa.
— Eu posso imaginar, minha menina. — Diz tranquilamente deixando
um beijo na minha testa.
Oh meu Deus, como eu amo esse homem. E hoje eu posso ter mais
certeza ainda dos meus sentimentos por ele.
— Droga! Ficar de repouso é uma verdadeira chatice! — resmungo
pela milésima vez enquanto me estico para pegar o controle da TV.
Eu não sabia o quanto eu odiava ficar confinada em um único espaço,
até que finalmente aconteceu. Apesar de estar aqui, no friozinho do ar
condicionado, um belo e romântico drama coreano passando na tela da
televisão. E tendo, ainda por cima, os meninos à minha disposição sempre
que eu precisar de alguma coisa. Mas, mesmo assim, de qualquer jeito, estar
de repouso é um verdadeiro horror. Acho que somente pelo fato de estar
presa em uma cama já é o suficiente para me enlouquecer. E quando estou
farta, decidida por mim mesma que é hora de sair, sempre tem alguém para
dizer não e me manda de volta para o lugar onde estava.
Isso é incrivelmente e absurdamente chato demais. Chato ao
quadrado!
A parte boa é que estou sendo muito paparicada pelos meninos. Uhuuu!
Isso me faz uma garota muito sortuda, eu devo admitir. Amo o fato que Craig
está fazendo comida nutritiva para mim, que Earl sempre vem para
conversarmos um pouco, e que Russel não perde um dorama comigo. E
Axel? Bem, Axel está trabalhando em algo que não quer me dizer, mas
sempre está aqui comigo, principalmente na hora das refeições. Oh sim,
aquele homem irritadiço sempre faz questão de comer junto comigo. Ele está
sendo um príncipe... não espera, príncipe é demais, mas vamos dizer que ele
está sendo bonzinho comigo também. De qualquer jeito, eu estou louca para
que essa semana passe logo.
Por que só se passaram cinco dias e eu já estou maluca? Imagina o que
vai acontecer se eu precisar ficar mais dias? Oh não, não eu não quero nem
pensar! Solto um suspiro sofrido e volto a assistir o meu drama. No momento
em que eu já estava concentrada em toda cena romântica, e estava chorando
como uma louca, já que estou muito mais sensível agora com essa gravidez,
paro quando ouço o meu celular tocar. Olho para o visor e nele está
mostrando que é Ângelo que está ligando, dou um sorriso e atendo
rapidamente.
— Olá, lindo! — Saúdo de forma divertida o fazendo rir.
— Você falando desse jeito eu vou acabar sendo enganado facilmente.
— Revela Angel me fazendo rir alto.
— Para Ângelo, você não seria enganado de jeito nenhum! — Brinco
de forma sarcástica.
— Não é possível! Me diga por que eu não seria enganado? — Ele
indaga.
— Oras, porque com certeza você tem espelho em casa! — Afirmo e
dessa vez é a hora do meu irmão rir.
— Oh Isa, eu não sei o que faço com você. — Meu irmão diz ainda
rindo o que me leva a rir também.
— Me ama? — Pergunto fingindo inocência. A minha fala inocente faz
meu irmão parar de rir na mesma hora.
— Isa, eu não sei se você sabe, ou se eu já cheguei a te falar… —
Ângelo para de falar para respirar fundo.
— O quê? — Questiono franzindo o cenho com a sua repentina
seriedade.
— Eu já amo você profundamente, hermanita. E mesmo que algo
aconteça, fazendo com que nos afastemos, eu sempre irei te amar. — Ângelo
diz me fazendo ficar paralisada.
A declaração de meu irmão me alcançou de um jeito muito intenso.
Nunca imaginei que algum dia iria existir alguém com que eu pudesse
classificar como "irmão." Mas agora cá está ele na minha vida, me mostrando
o quão valiosa uma fraternidade pode ser. Eu me sinto feliz e orgulhosa em
ser amada por Ângelo, logo eu, a Isadora feiosa que todos chamavam. Então
sim, eu aceito o amor do meu irmão, e darei a ele o meu amor também por
que somos família.
— Isa? — Angel chama. Sorrio com o desespero na sua voz.
Acho que ele não está acostumado a dizer seus sentimentos assim.
— Eu também te amo, irmãozão! — Declaro com um sorriso de puro
contentando.
— Ufa! Pensei que meus sentimentos não seriam correspondidos. —
Diz fazendo um drama exagerado.
— Você é um bobo! — Aponto o fazendo rir do outro lado da linha.
— É, eu acho que sou! — Afirma e eu reviro os outros. — Isa eu liguei
para você por três motivos. — Angel diz mudando o tom relaxado de antes
para mais firme.
— Sim, e quais são? — Digo sem esconder minha curiosidade.
— Primeiro, queria saber como você e o bebê estão. Está se sentindo
bem? — Sua preocupação aquece meu coração.
— Sim, Angel, estamos bem. Nada mais aconteceu, fique tranquilo. A
única coisa que eu detesto é ter que ficar presa no quarto, se eu sair acho que
Axel me mata. — Revelo fazendo uma careta.
— Pelo menos esse idiota serve para alguma coisa. — Resmunga
Angel e eu solto um suspiro. — Fico feliz que você está bem, qualquer coisa
é só me falar.
— Como eu disse, pode ficar tranquilo por que eu estou bem. — Sorrio
de forma tranquila. — E segunda coisa? — Indago.
— Bem, quero saber se você está chateada com a pequena Lara? — A
pergunta dele me pegou de surpresa.
— Eu? Chateada com a Lala? Por quê? — Questionamento
rapidamente.
— Oh, graças a Buda! — Ouço uma voz feminina e logo reconheci
como a de Lara.
— Lara? — Chamo sem entender o que está acontecendo.
— Está no viva voz! — Angel revela e eu franzo o cenho.
— Não poderia ter dito antes, homem? — Lamento chateada. — Lara?
— Chamo novamente.
— Oi Dorinha! — Sua voz saiu estranha, como se estivesse com medo
de falar comigo. — Então é verdade que não está chateada e nem com a
intenção de me livrar da sua vida? — As perguntas de Lara me fazem
arregalar os olhos.
— Não, Lara! De onde você tirou isso? — Questiono sabendo
exatamente do que se trata.
— Eu disse a você, pequena Lara. Minha irmã é uma santa! — Ângelo
se vangloria.
— Também não é para tanto. — Digo sem graça.
— Fica quieto aí, pateta! — Lara fala irritada.
— Esse é meu celular, se você não está lembrada. — Resmunga meu
irmão descontente.
— Lara, eu só… eu só sinto sua falta! — Isso fez os dois parem de
brigar. — Se você puder, venha me ver. Eu não posso sair da cama, estou de
repouso por um tempo. — Digo sem graça não querendo pressioná-la, sei que
as coisas estão difíceis com a sua família.
— Farei o possível para ir, não sei se você sabe, mas meu pai está com
uma vigilância ridícula em mim. Mas eu darei um jeito! — A força na voz da
minha amiga me comoveu.
— Sim, nem que seja brevemente. — Revelo sentindo um nó que se
forma na minha garganta.
— Não chora, porque senão eu vou chorar também. E você sabe que eu
não gosto disso. — Lara diz com a voz embargada.
— Está bem! — confirmo assentindo com a cabeça. Mesmo sabendo
que ela não poderá ver. Ouço algumas conversas abafadas e logo a voz de
meu irmão se faz presente.
— Parece que a pequena gosta muito de você. — Diz meu irmão.
— E eu dela. — Confirmo com segurança.
— Deixe te falar a terceira coisa, sim? — Ângelo fala após nós ficamos
em silêncio por um tempo.
— Sim, por favor! — Solto um pigarro na garganta.
— Hoje eu irei viajar e levarei um tempo para… — Parei de ouvir no
momento que ele disse que iria viajar.
— Viajar? Mas como? Para onde vai? Por que assim? — Disparo a
perguntar.
— É somente uma simples viagem de algumas semanas, volto para sua
formatura. O que eu vou fazer ou para onde estou indo eu não posso revelar.
¡Lo siento, hermanita! — De algum modo saber que Ângelo viajará
repentinamente deixa o meu coração pesado em preocupação.
— Entendo. — É somente isso que eu consigo dizer.
— Voltarei para sua formatura, tudo bem? — Pergunta ele como se
estivesse me testando por algo.
— Sim, tudo bem! Eu só estou preocupada com você. — Confesso sem
querer esconder meus sentimentos.
— Não há o que se preocupar, ficarei bem e você também. Axel pode
ser um idiota, mas ele é louco por você. — De alguma forma eu sinto minhas
bochechas esquentarem.
— Farei o melhor para não me preocupar. — Digo com confiança.
— Essa é a minha irmã! — Brinca Ângelo e eu nego com um sorriso
abrindo nos meus lábios. —Tenho que ir, hermanita. Amo você! — sorrio.
— Também amo você! — Aperto o meu celular entre os meus dedos.
Desligo a ligação logo em seguida, tendo um sentimento pesado no
meu peito. É como se eu sentisse que em muito em breve algo poderá
acontecer, mas eu não sei dizer se é bom ou não. Seja como for, eu estou feliz
de poder falar com Lara após alguns dias sem qualquer contato. Também
espero que meu irmão faça uma boa viagem, e seja lá a coisa importante que
ele tenha que fazer, ele se sai bem e volte logo.
— Quem é a pessoa que você ama que eu terei que matar? — A voz
rouca de Axel me assusta me tirando dos pensamentos.
Ergo minha cabeça para encontrá-lo encostado na soleira da porta de
braços cruzados. Minha nossa, como pode existir um homem tão bonito desse
jeito? E o pior é que Axel não faz um mínimo esforço para ter a presença
linda e dominante que só ele é capaz de ter. Nunca consigo tirar meus olhos
do seu corpo forte, coberto por roupas escuras, seu cabelo sempre arrumado e
no lugar certo, suas mãos grandes. Sua barba por fazer, seu jeito rude e
complicado de ser, sei lá, acho que não preciso mais ficar detalhando. Porque
já deu para notar que quanto mais eu olho para ele, mais me dá vontade de
continuar olhando.
— Por que você tem que matar a pessoa que amo? — Indago
arqueando minha sobrancelha.
— Por que não pode existir mais ninguém que você ame além de mim.
— Suas frases possessivas me deixam estupefata.
— Sinto muito Ax, mas terei que te decepcionar. — Faço um som com
a boca e nego com a cabeça.
— Oh sim? — Ele diz perigosamente, enquanto anda como um furioso
predador até mim.
Jesus Cristo, como esse homem é sexy!
— Veja bem, eu amo os meus pais e já amo o nosso bebê
incondicionalmente. — Dou um sorriso aberto. Axel sobe na cama e arrasta
até mim, a visão dos seus olhos me analisando fazem com que eu engula em
seco.
— Eles tudo bem, sei que não posso lutar contra essas pessoas. — Ele
diz dando seu sorriso fantasma.
Tão perto agora, eu consigo até mesmo sentir o seu perfume. Que é
delicioso por sinal.
— Ainda bem que você entendeu, meu senhor. — Falo de forma
marota. Sinto uma das suas coxas entre as minhas pernas.
— Minha menina, não fale assim, eu posso pensar em coisas
pervertidas para fazer com você. — Ele fala de forma sussurrada me fazendo
sentir o calor do seu hálito gostoso.
— O que eu disse que fez você ter essa ideia? — O encaro de forma
inocente.
— Você acabou de me chamar de senhor, dizendo assim eu poderia
querer submetê-la. — Seu nariz roça levemente pelo meu.
Esse homem é terrivelmente enlouquecedor. Eu o quero!
— Axel, não me provoque assim. — Digo com dificuldade,
principalmente quando ele beija meu ombro.
— Eu estou louco, minha menina, louco para ter você, para sentir a sua
buceta molhada em torno do meu pau. — Sua língua passa pela minha nuca
me fazendo arfar.
— Axel, nós… nós não podemos! — Falo nervosa, e com tesão ao
mesmo tempo.
— A médica disse que não podemos transar, mas não disse nada sobre
eu chupar você até que você goze na minha boca. Ela disse? — Diz
colocando a mão no cós da minha calcinha.
— Porra Isadora, você está tão molhada e eu nem sequer fiz tudo o que
eu quero fazer com você. — Axel diz entre dentes e eu solto um gemido
sofrido.
— Axel, por favor! — Digo em forma de lamento.
Sinto seus dedos habilidosos roçarem preguiçosamente sob o meu
clitóris. Fecho as pernas rapidamente, mas os olhos primitivos de Axel me
fizeram abrir novamente por vontade própria. Agarro seus ombros com uma
das minhas mãos com força o suficiente para cravar as minhas unhas. Quando
dou por mim a boca de Axel se encontra com a minha em uma explosão de
lábios, língua e dentes. Oh sim, dentes! Isso porque ele morde os meus lábios
com força, e isso ao invés de me repelir me deixa com mais tesão. Mais e
mais vontade de que ele faça mais, que me deixe mais louca por ele, por tudo
o que somente ele é capaz de me proporcionar. No momento que Axel
percebe que estou perto de chegar ao orgasmo, ele para.
Ele simplesmente para com tudo, saindo de cima de mim, me deixando
confusa e com a respiração ofegante e coração acelerado. Olho para Axel em
confusão, mas ele não diz nada e avança em mim novamente com a simples
missão de me livrar da camisola e a calcinha muito úmida que estou usando.
Seus olhos ferozes agora estão sob o meu corpo, o que me faz ficar
estupidamente envergonhada. Mas a vergonha não dura muito tempo, pois
sinto sua boca quente úmida sob o meu mamilo. Oh droga, eles estão tão
sensíveis que eu solto um grito. O meu grito se transformou em gemido
quanto mais ele chupava e lambia os meus mamilos sensíveis.
— Seus gemidos estão me deixando louco, porra! — Axel rosna.
— Ax…ahhhhh! — Me contorço embaixo dele. Fecho meus olhos
quando sinto sua boca descer vagarosamente pelo meu corpo.
— Você está tão gostosa, minha menina. — Axel diz de forma rouca.
Sem que eu pudesse esperar a boca de Axel encontrou a minha vagina
me fazendo jogar a cabeça para trás. Ele me lambe como se precisasse disso
para poder saciar toda sua energia violenta. E eu amo isso! Amo o prazer que
ele pode me dar, amo saber que sempre podemos nos conectar tanto dessa
forma quanto de qualquer forma possível. Seguro a sua cabeça no lugar no
mesmo instante que sinto suas enormes mãos seguraram com força os meus
quadris. Eu não posso mais aguentar, eu estou perto de ter meu orgasmo.
Pensei em avisar a ele, mas quando dou por mim estou a gritar o nome dele,
enquanto meus olhos se reviram para trás.
— Tão doce, tão saborosa, minha menina! — Diz Axel, e eu com os
olhos entreabertos vejo ele lamber os lábios.
— Você vai acabar comigo! — Lamento o fazendo me encarar com
satisfação.
— Eu gosto disso, gosto muito disso mesmo. — Concorda em tom
rouco. Nesse momento meus olhos vão direto para sua pélvis, ao ver que ele
continua duro eu me sento imediatamente.
— Me deixe te ajud… — Antes que eu pudesse terminar a frase Axel
avança e me beija nos lábios.
— Eu só precisava te sentir minha menina, em breve você será cobrada
por ter me deixado desse jeito. — Ele diz seriamente fazendo os pelos da
minha nuca se arrepiarem.
— Tudo bem então. — Digo ainda sem jeito.
— Venha! Vá se arrumar rápido porque eu tenho uma surpresa para
você daqui a alguns minutos. — O que ele acabou de dizer me fez ficar em
alerta total.
— Surpresa? — Pergunto desconfiada e ele assente. — Para mim?
— Não foi isso que acabei de dizer, Isadora? — Axel diz duramente.
Seja menos agressivo, meu amorzinho obscuro!
— Que homem mais bruto! — Murmuro me levantando da cama de
modo arrastado.
— Vou fingir que não ouvi isso. — Reclama Ax e eu olho para ele
sorrindo de forma inocente.
— Não tem nada aqui para ouvir, querido. — Brinco e ele nega com a
cabeça.
— Fique limpa que logo virei te buscar para te levar lá para baixo. —
Arregalo meus olhos ao ouvir o que ele acabou de falar.
— Vou poder descer? — Pergunto com euforia.
— Não pense que vai sair do resguardo, ainda faltam alguns dias,
minha menina. — Aponta Ax e eu jogo as mãos para cima.
— Tão chato! — Reclamo enquanto passo pela porta do banheiro.
— Não pense em descer antes que eu venha te buscar, ouviu bem,
minha menina? — Axel lembra novamente e eu faço um som de
confirmação.
Consigo ouvir Axel falar mais alguma coisa, mas eu não presto muito
atenção porque agora estou chateada. Odeio que ele fique todo mandão para
cima de mim, principalmente quando estou com um humor tão volátil do jeito
que estou por causa dos hormônios. Junta o fato dos meus hormônios com o
fato de estar de cama por esses dias, acho que posso estar no pico da chatice.
Apesar que eu não tenho muito o que reclamar e sim agradecer, porque se
estou desse jeito, passando por essa situação é a prova que o meu filhinho
está bem guardadinho no meu ventre. E que a minha gravidez está indo bem,
é justamente isso que a minha obstetra fala. Então nada mais de reclamar!
Solto uma respiração leve, passando a mão na minha barriga antes de
começar o meu banho. No momento que eu senti a água bater no meu corpo
eu fecho os olhos por um breve momento, deixando um sorriso alcançar os
meus lábios. Eu não acredito que eu senti tanta saudade do toque de Axel sob
o meu corpo, e somente a lembrança do que aconteceu a poucos minutos traz
um sorriso em mim. Deus, eu estou me transformando em uma pervertida de
marca maior, eu não deveria estar pensando nessas coisas agora. Não mesmo!
Tento livrar a minha mente de tais pensamentos e continuo a me banhar.
Assim que termino vou atrás de uma roupa leve, já que finalmente
sairei um pouco do quarto então não faz sentido continuar usando pijamas.
No instante em que eu terminei de colocar um vestido leve, que não prende e
nem marca muito a minha barriga pequena de grávida, Axel apareceu na
minha frente.
— Está pronta, minha menina? — Axel pergunta e eu concordo com a
cabeça.
— Sim, Ax! — Digo observando-o vir até mim.
Quando ele está perto o suficiente, eu sou carregada nos seus braços. O
que me faz dar um grito de assustada, já que eu não estava esperando por
isso.
— Não há necessidade disso, Axel! Me ponha no chão! — Mando
indignada, mas ele faz questão de me ignorar. — Axel!
— Repouso, lembra? — Axel pergunta com firmeza.
— Você não me deixa esquecer, lembra? — Falo com mau humor. —
O que você fez comigo a poucos instantes não se classifica como um
repouso, você sabe? — Ele para de andar e me olha de um jeito intenso.
— Isso não é nada, minha menina. Existem tantas coisas que eu planejo
fazer com você que aí sim seria sair profundamente do repouso. — O jeito
que ele fala, olhando nos meus olhos, faz com que minha boca fique seca. —
É melhor descermos, sua surpresa logo chega. — Axel avisa e eu pisco
algumas vezes para sair do estupor.
— Cer… certo! — Confirmo sem jeito, observando sua expressão de
puro contentamento.
Sem abrir mais brecha para ficar envergonhada eu deixei que Axel me
levasse para baixo. Ao chegar na sala de estar eu não conseguia avistar
ninguém, uma coisa que eu achei estranha, já que a casa estava silenciosa
demais. Nada de coisas batendo no chão, pisadas fortes de Craig, risada alta
de Russel enquanto provoca Earl. Isso aqui é estranho, muito estranho
mesmo, mas quando eu abro a minha boca para perguntar o que está
acontecendo a Axel a porta da frente é aberta. Arregalo os meus olhos,
cobrindo minha boca com as mãos ao perceber que quem está passando pela
porta são as duas pessoas que mais amo na minha vida inteira. Meus olhos se
enchem de lágrimas, não tem por que eu conter a minha emoção.
— Mãezinha! Paizinho! Vocês estão aqui!? — Digo emocionada vendo
Russel ajudar papai a entrar enquanto Earl ajuda a mamãe.
— Dorinha! — Os dois falam juntos.
— Mas como… — Paro de falar e olho para Axel que não diz nada e só
concorda com a cabeça.
Foi ele! Ele trouxe meus pais aqui!

Sem pensar duas vezes, eu vou em direção a eles e os abraço ao mesmo


tempo. É incrível ter eles aqui, meu Deus, é muito maravilhoso mesmo! Eu
posso não estar esperando por essa surpresa, mas seja como eu amei muito.
Muito mesmo!
Dizem que quando estamos adoecidos as únicas pessoas que queremos
por perto são os nossos entes queridos. E eu não posso negar o quanto eles
estão certos, porque desde o momento em que eu fui obrigada a estar de
repouso por conta do bebê, tudo o que eu mais queria era que a minha
mãezinha estivesse aqui para cuidar de nós dois. Apesar dos cuidados de
Axel, dos meninos e até mesmo de meu irmão, eu ainda tinha o desejo de
estar perto dos meus pais. E ter eles aqui comigo agora é algo único, sentir
seus abraços, e sorrir com o cheiro de lavanda que somente os dois são
capazes de ter.
Não acredito que eles estão aqui!
Ainda abraçada aos meus paizinhos eu ergo a minha cabeça, dando de
cara com o homem que é responsável por me deixar tão feliz. Ele está parado
olhando para toda cena com um olhar tranquilo. Abro um largo sorriso,
piscando o restante das lágrimas dos meus olhos úmidos. Solto um
agradecimento silencioso para logo em seguida ganhar um aceno de cabeça.
Deus, como posso ser surpreendida por esse homem o tempo todo? Me
pergunto obtendo a resposta prontamente, por que tenho a prova aqui e agora.
Nunca irei esquecer esse gesto de Axel, me dando um momento tão lindo
assim. E me fazendo ter a certeza que a nossa união pode sim ter um futuro,
um futuro barulhento, mas um futuro muito frutífero.
— Oh minha filhinha, deixe-me olhar para você! — Mãezinha fala
saindo do nosso abraço.
— Eu estou bem, mãezinha! — Falo quando tento sair dos seus toques
avaliativos no meu rosto.
— Você está mais magra, está pálida demais, Dorinha. — Mamãe diz
nervosa. — Tem se alimentado bem? — Pergunta franzindo a testa.
— Estou sim, mãezinha, a comida aqui é maravilhosa! — Enfatizo
virando para encontrar o olhar de Craig que ergue o polegar em
agradecimento.
— Dorinha! — Papai chama a minha atenção.
— Sim paizinho? — Respondo vendo uma careta formar no seu rosto.
— Fico muito feliz em poder te ver mais cedo do que o esperado, ainda
não entendo porque isso é tão repentino. — Ele para de falar e olha para Axel
de solavanco. — Sua mãe disse que aqui você iria me explicar. — Diz com o
seu tom firme de pai. Olho para mamãe de olhos arregalados.
— A senhora não contou ao paizinho? — Questiono. Mamãe nega com
a cabeça fazendo cara de inocente.
— Não mesmo, esperei que você nos contasse. Eu disse que ia fazer
isso. — Diz de forma esperta, e eu solto um gemido sofrido.
— A parte pior ficou para mim, não é mesmo? — Pergunto esfregando
os olhos.
— Só tenha cuidado com o pobre coração do meu velho. — Mamãe
brinca, dando batidinhas no peito do meu pai.
— O que está acontecendo? O que é que eu não sei? — Paizinho
pergunta confuso demais.
Dou um passo para trás me afastando dos meus pais, sentindo que o
meu coração iria sair pela boca. Eu não sabia que ia ser tão complicado
contar sobre a minha gravidez aos meus pais. Tudo bem que mamãe já soube
antes mesmo que eu pudesse dar qualquer indício a ela, mas externar isso em
voz alta é algo que eu não sei exatamente como fazer. Sinto as palmas das
minhas mãos suarem, mas logo as enxugo nervosamente na saia do meu
vestido.
Sinto os olhares distintos dos meus pais em mim, porque enquanto de
papai era de pura confusão, o de mamãe era ansioso demais. E o fato disso
estava me deixando mais e mais nervosa. Quando ia abrir a boca para contar
a novidade, não tão novidade assim, sinto um braço tomar a minha cintura.
Não preciso olhar para saber de quem era o braço, por que somente a sua
aproximação foi a força que eu precisava para poder fazer o que eu tinha que
fazer.
— Paizinho, mãezinha, eu tenho algo muito importante para contar a
vocês. — Começo a falar.
— Eu estou começando a ficar procurando com todo esse suspense. —
Paizinho resmunga, olhando diretamente para as mãos de Axel em mim.
— Se acalme, seu velho rabugento! — Minha mãe briga.
— Falar é fácil! — Murmurou ele.
— Continue, Dorinha! — Mamãe incentiva e eu assinto com a cabeça.
— Como eu estava dizendo antes, eu tenho algo para contar. — Solto
uma respiração forte. — Oh Deus eu não sabia que ia ser difícil! — Gemo
escondendo o rosto com as mãos.
— Só diga as palavras, minha menina! — Axel diz em tom baixo no
meu pé de ouvido. Assinto com a cabeça cerrando os meus punhos.
— Filha? — Papai me chama e eu dou um pequeno sorriso.
— Eu não sei se consigo dizer as palavras assim, principalmente em
voz alta, mas eu acho melhor mostrar a vocês dois. — Digo envergonhada.
Me separo um pouco se Axel, para que eu pudesse ter espaço o
suficiente para pressionar o vestido leve que estava usando sob a minha
barriga redonda. A reação da mamãe já era o esperado, porque ela não
conseguiu conter sua emoção. Já papai ficou um tempo ainda sem entender,
até que algo clareou em sua mente. Ele ampliou os seus olhos, quando
entendeu realmente o que eu estava tentando dizer. No momento que meu pai
virou para minha mãe, e ela concordou com a cabeça de modo silencioso e
extremamente feliz eu sabia, sabia que poderia falar em voz alta agora.
— Eu estou grávida, paizinhos! — Minha voz saiu mais embargada do
que eu esperava.
— Minha velha, eu estou ouvindo direito? — Paizinho pergunta
emocionado.
— Sim meu velho, você está sim! Vamos ser vovós! — Mamãe diz
chorosa.
— Sim, vocês vão ser! — Digo sorrindo em meio às lágrimas.
— Oh Dorinha, venha aqui! — Mamãe chama e eu não demoro a ir até
eles novamente.
Meus pais me abraçaram novamente, e dessa vez eles fazem questão de
tocar na minha barriga e isso me deixa muito feliz.
— Vocês não estão chateados comigo, não é mesmo? — Pergunto sem
me conter.
— Como? Por que nós estaríamos chateados com você, meu
passarinho? — Papai pergunta ainda com a mão na minha barriga.
— Ela estava preocupada com a reação de vocês. Tinha medo que
pudessem ficar tristes com ela por engravidar agora. — A resposta veio de
Axel, chamando assim a atenção de todos para ele.
— Sabemos sobre os tempos modernos, Dorinha. Não somos tão
antiquados, ainda temos um agito. — Mamãe brinca. — Não concorda meu
genro? — Ela questiona e Axel assente tranquilamente.
— Tenho certeza que sim, senhora Martins! — Ele responde com o seu
jeito sério de ser.
— Eu não vou dizer que não fui pego se surpresa, mas é muito bom
saber que serei vovô antes da minha morte. — Papai fala com emoção. — E
não vamos esquecer que vou levar minha filhinha no altar, mesmo que seja
com esse homem estranho. — Arregalo meus olhos com o que acabei de
ouvir.
A fala exagerada do meu pai fez com que eu ouvisse um risinho de Earl
que para imediatamente com o olhar duro de Axel.
— Eu gosto deles! — Russel diz em inglês com admiração.
— Fica quieto, idiota! — Craig manda rapidamente.
— Oh Dorinha, eu não perguntei antes. Mas quem são esses jovens tão
educados? — Mamãe perguntou carinhosamente, fazendo os meninos
pararem até mesmo de respirar.
— Paizinhos, se vocês não foram apresentados, deixe-me então
apresentar os meninos que estão cuidando de mim esses dias de repouso
absoluto. — Tento soar de forma leve, mas o que acabei de falar fez meu pai
ficar rígido.
— Repouso? O que aconteceu com você? Foi com o meu neto? —
Papai dispara a perguntar, mas eu avanço rapidamente para acalmá-lo.
— Está tudo bem agora paizinho, foi somente algo que aconteceu, mas
realmente tudo está bem. O repouso é somente para ter o controle. — Conto,
tentando deixá-lo situado do ocorrido, mas sem causar qualquer estresse
nele.
— Se você diz, minha filha, eu acredito em você. — Ele diz passando a
mão enrugada no meu rosto.
— Obrigada pela confiança, paizinho! — Abro um largo sorriso que é
retribuído. — Então, agora as apresentações. Aquele loiro ali, com sorriso
educado, ele é o Earl. — Aceno em direção a Earl que faz uma pequena
reverência.
Acho que ele está levando esse lance de príncipe das trevas longe
demais.
— Prazer em conhecê-los, senhores Martins. — O português de Earl foi
bem estranho, mas deu para entender.
— Aquele ali agitado e ao mesmo tempo com um olhar confiante, é o
Russel. — Aponto para Russel que somente assente com a cabeça.
— Ele parece com aquele vilão daquela novela que você gosta de
assistir, não é minha velha? — Papai pergunta sem um pingo de noção, e eu
faço de tudo para não rir da careta que Russel está tentando esconder.
— E não é que é verdade. — Reprimo a risada ao ver mamãe analisar
Russel com curiosidade.
— Deus, parem de fazer isso com o pobre Russel! — Peço fazendo
meus pais me deem de ombros. Eles são fofos, mas juntos às vezes são
impossíveis. — Voltando ao último mais não menos importante, aquele ali
todo tatuado e com a cara de mau, mas que cozinha como um rei da culinária
é o Craig. O meu cunhado! — Craig revira os olhos para o que eu acabei de
falar, mas acena para meus pais.
— Muito prazer, senhores Martins. — Craig diz educadamente.
— Oh meu Deus, esse é seu irmão, Axel? — Mamãe pergunta
surpresa.
— Não por opção, mas sim! — Ax responde sem calor na voz. Craig
fala alguma coisa em outra língua, que soa mais como algum xingamento,
mas é ignorado por Axel.
— Todos trabalham juntos? — Paizinho perguntou, e Axel confirmou
sem pestanejar.
— Vocês são tão diferentes, mas são muito gentis. Agradeço muito por
estarem cuidando da nossa filha. — Mamãe diz docemente, quebrando
totalmente cada um dos meninos. Eles não sabem como reagir ao elogio.
— Dorinha faz parte da família, senhora, ainda mais agora. — Estou
totalmente estática com o que Craig acabou de revelar.
— Isso é bom saber, é muito bom mesmo. — Diz mamãe sem esconder
seu contentamento. Olho para Craig e dou um pequeno sorriso, que é
retribuído com um pequeno gesto com a cabeça.
— Por que vocês não sentam um pouco? Logo vamos almoçar. — Axel
fala chamando nossa atenção.
— Por mim tudo bem, eu sou um velho cansado. — Papai diz deixando
Ax guiá-lo para ficar mais confortável.
Observo como meus pais começam a se enturmar com os meninos
rapidamente, como se eles convivessem com cada um deles por muitos e
muitos anos. Eu sabia que havia uma grande possibilidade de que meus pais
gostassem deles, eu não sei explicar de onde vem isso, mas eu sentia. Acho
que foi porque eu também tive esse sentimento repentino por cada um assim
que havia perdido o medo. Porque sim, antes tudo o que eu sabia sentir era ter
medo de que eles pudessem me matar. Principalmente o Craig que não fez
questão de esconder que poderia se livrar de mim naquele dia, no beco
sombrio.
Mas a partir do momento que eu passei a conviver com cada
personalidade tão distinta, eu sabia que tinha algo a mais neles. E com certeza
o meu instinto não estava sendo enganado por esses mercenários. Porque
agora eles fazem parte ainda mais do meu coração, não há mais nenhuma
maneira que eu possa negar isso.
E com isso o final da tarde chegou rápido, meus pais abrilhantaram o
dia de hoje. Mesmo depois de toda pergunta indiscreta de papai ao querer
saber mais sobre a vida de cada um dos meninos. Onde confesso que foi
revelador para mim, já que eu pude conhecer coisas deles que eu não sabia
que existiam. Como por exemplo o fato que Russel tem uma irmã caçula e
que quase se formou na faculdade de administração, antes de ser obrigado
pelo pai a assumir os negócios da família. Como também o fato de que Earl
trabalhou como paramédico no melhor hospital de emergência em Berlim.
Somente Craig e Axel não revelaram mais do eu já sei sobre eles. O que foi
triste, mas compreensível ao mesmo tempo.
De qualquer forma o meu dia de hoje foi simplesmente incrível, mesmo
tendo que esconder a realidade das coisas aos meus pais. Eu não mudaria
nada do dia de hoje. Agora cá estou eu tendo que me despedir das duas
pessoas que mais amo e que sou eternamente grata por tudo. Adoraria que
eles pudessem ficar alguns dias aqui comigo, mas sei que não é possível.
Papai tem que cuidar da sua saúde e mamãe cuida para que ele faça
exatamente isso. Sendo assim eu abraço mais uma vez os meus pais, pedindo
pra que eles se cuidem e que não deixem de ligar se algo acontecer.
— Nós sabemos, Dorinha, já somos velho o suficiente. — Papai fala
após deixar um beijo na minha bochecha e afagar a minha barriga.
— Mesmo assim, é sempre bom lembrar. — Digo com firmeza.
— Você é que deve se cuidar, não esqueça das suas vitaminas, de
comer nos horários certos e nunca passar vontade. — Mamãe diz a última
parte dando uma piscadela, o que me faz cair na risada.
— Mãezinha, a cada dia que passar fica mais ousada. — Fingi uma
repreensão e ela dar de ombros.
— Tenho que aproveitar a minha idade. — Ela brinca, mas para
rapidamente. — Mas é sério, Dorinha, eu fico feliz que você está sendo bem
cuidada, mas por favor não relaxe com a sua saúde. Lembre-se que você está
carregando um outro ser dentro de você. — Alerta novamente.
— Eu sei, mamãe, eu vou me cuidar. — Digo com mais firmeza.
— É tudo o que preciso ouvir para que eu possa voltar para casa com
segurança. — Ela diz soltando um suspiro de alívio.
— Minha velha, não fique assim, a Dorinha sempre foi uma menina
muito ajuizada. Ela ficará bem. — Papai pisca para mim e eu fico feliz com a
sua confiança.
— Eu sei, eu sei! — Mamãe dá batidinhas na minha mão. — Tenho
algo para você, minha filha. — Mamãe fala como se lembrasse de algo. Ela
solta a minha mão, para poder procurar algo na sua bolsa. — Aqui achei! —
Franzo o cenho ao ver ela estender para mim um saquinho de veludo
vermelho.
— O que é isso, mamãe? — Pergunto curiosa aceitando o pequeno
embrulho.
— Abra! — Manda com um sorriso amável.
Atendendo ao pedido da minha mãe eu abro o saquinho de veludo,
derramando o conteúdo na palma da minha mão. Quando algo gelado toca na
minha pele, eu consigo decifrar que o que eu estou vendo é uma pulseira.
Mas não é uma simples pulseira, mas sim uma pulseira de ouro com
pingentes de uma santinha e uns cruzes a enfeitando. É linda! Tão linda que
eu não consigo olhar, mesmo não sabendo exatamente quem é a santinha da
pulseira, eu não consigo deixar de observar o quão linda e delicada é.
— Quem é? — Mostro a santinha e mamãe sorri.
— Essa é Madre de Guadalupe. — Explica e eu admiro novamente a
pulseira.
— É linda, mamãe, mas por que a senhora está me dando isso? Parece
ser de valor! — Falo confusa.
— Não sou eu que estou lhe dando, minha filha. — A sua revelação me
deixou com um sentimento estranho.
— Como assim? — Indago.
— Essa pulseira quem deixou para você foi a sua mãe, Esther. —
Arregalo os meus olhos ao ouvir o que mamãe acabou de dizer. — Ela me
disse assim: "Se eu não voltar, dê isso a ela quando tiver idade o suficiente
para entender que a vida pode ser difícil de se viver. Mas se tiver fé e
pessoas gentis pelo seu caminho, tudo pode ser mais fácil." — Mamãe para
de recitar e olha para mim com emoção. — Vendo com você está agora, eu
tenho certeza que esse é o momento exato para isso, Dorinha.
— Mãe, eu… eu não sei o que falar. — Meu coração está muito
acelerado no momento, eu não sei como reagir a tudo. Eu só sei olhar para a
pulseira.
— Saiba que sua mãe te amava muito, minha filha, eu nunca vou
esquecer do olhar dolorido que ela tinha ao te deixar, Dorinha. — Meus olhos
se encheram de lágrimas, eu não consegui evitar.
— Obrigada por isso, mamãe, eu não sei o que dizer, só... só sei
agradecer. — Abraço a minha mãe fortemente.
— Que Deus e a Madre Guadalupe te protejam, Dorinha. — Sussurra
mamãe e eu sinto que vou precisar dessa proteção mais do que nunca.
Depois de mais algumas despedidas mamãe e papai foram embora,
deixando comigo a medalha que minha mãe biológica deixou para mim.
Estou muito surpresa com isso, pois não sabia que minha mãe guardava esse
símbolo tão lindo de proteção. Mas de qualquer jeito eu estou feliz, feliz com
a proteção das minhas duas mães.

Alguns dias se passaram após a visita muito bem vinda dos meus pais,
e hoje finalmente foi a minha consulta para ser liberada do repouso. E eu não
via a hora de que isso acontecesse de verdade, e acho que nem preciso dizer o
porquê, não é mesmo? Porque sim, eu odeio ficar de cama, sem poder fazer
nada, eu já estava perto de enlouquecer. Juro, que eu iria bugar totalmente
como um servidor ruim se não chegasse o dia que eu estaria livre das
amarras. Mesmo sabendo que tudo isso era para o bem do meu filho ou filha,
a minha mente traiçoeira não queria aceitar toda a sua prisão. Mas agora eu
não preciso mais me lamentar, eu estou livre!
Após alguns exames com a minha obstetra maravilhosa, ela finalmente
disse que estava tudo bem comigo e com o brotinho de feijão. Sendo após
algumas recomendações aqui e outras ali a minha liberdade foi finalmente
autorizada com sucesso. Eu estava feliz, só que eu não estava somente feliz
por ser liberada, mas também pelo fato de que eu conseguiria seguir adiante
com a minha gravidez. Nada mais prazeroso do que saber que os riscos que
antes te afligiam, hoje não afligem mais.
— Está pronta, Isadora? — A voz de Axel me tira totalmente dos meus
pensamentos.
— Sim, querido, nós podemos voltar para casa se quiser. — Aviso
erguendo a cabeça para encontrar seu olhar frio.
— Não vamos para casa! — Axel fala de repente me fazendo parar.
— O que? Onde estamos indo? Você e os meninos tem uma nova
missão? — Pergunto em disparada.
Admito que a possibilidade de voltar a fazer trabalho com os meninos é
algo que eu espero há muito tempo. Sentir novamente aquela adrenalina, e o
fato que eu posso ser útil para eles é muito inebriante.
— Você acha que te levaria para qualquer trabalho perigoso nessa
situação? — A repreensão na voz de Axel enquanto me faz a pergunta não
escapou de mim.
— Quem estaria mais em perigo aqui seria você e não eu. — Digo de
modo desafiador. O olhar que Axel está me dando um olhar faria com que eu
quisesse correr para as colinas a algumas semanas atrás, mas hoje? Hoje não
vai acontecer!
Não sei se estou corajosa ou louca!
— Não importa, nada de trabalho até tirar essa criança de dentro de
você. — Axel fala brutalmente e eu reviro os olhos.
— Sim, senhor! Se não vamos ao trabalho para onde estamos indo? —
Indago enquanto acompanho Axel até o carro. Mas ele para de repente e vira
de frente para mim, seus olhos estão presos ao meu e eu não consigo desviar.
— É uma surpresa! — Sua voz saiu rouca, tão rouca e sexy que me fez
engolir em seco.
— Uma… uma surpresa? — Pergunto inutilmente.
— Sim, minha menina, agora vamos! Não podemos nos atrasar! —
Axel segura minha mão e me puxa para que eu possa segui-lo.
Eu estou totalmente confusa! Qual será a surpresa que Axel Cox é
capaz de fazer pra mim? Só espero que seja lá o que for, tudo ocorra bem.
Eu não sei se estou cometendo um fodido erro com o que eu estou
planejando fazer, mas seja como for, se eu decidir ter Isadora na minha vida é
hora de fazer isso. Nunca imaginei que um dia eu poderia estar aberto a esse
tipo de situação, mas cá estou eu. Esperei pacientemente para que Isadora
fosse liberada do repouso, preparei tudo o que tinha que preparar. Deixei meu
irmão, e o restante dos meus homens em prontidão para me alertar se algo
acontecesse enquanto estivermos fora. Ou até mesmo se algo suspeito estiver
beirando o local que estaremos durante esses poucos dias. Eu não posso
vacilar nem um mísero segundo, porque eu conheço muito bem Jerônimo
Braganza.
Eu sei exatamente o poder que aquele desgraçado possui em suas mãos,
sendo assim eu não posso vacilar. Ainda mais que o seu novo alvo é a mulher
inocente que está ao meu lado, porque a única coisa que Isadora não tem
nessa vida é sorte. Porra, sim! Parece que a má sorte a acompanha desde o
momento do seu nascimento, até o momento em que nossos caminhos se
cruzaram. Isso porque foi atrás da minha fixação por ela, o meu desejo
doentio de tê-la para mim, de controlar o seu destino, que a levou direto a
pessoas como Ângelo e Jerônimo Braganza. E se eu disser que faria diferente
do que eu já fiz anteriormente, eu estaria mentindo.
Por que eu sou um filho da puta egoísta o suficiente para querer que os
nossos caminhos tivessem se cruzado de qualquer maneira. E é justamente
por isso que farei o que eu puder e o que eu não puder para tê-la protegida.
Estou pronto para aceitar o que o destino reservou para nós dois, por tanto
não deixarei com que ninguém atrapalhe o andamento das coisas. Cerro os
meus punhos com esses pensamentos, mas sou libertado deles assim que
ouço a voz da minha menina me chamar.
— Axel? — Ela chama, e olho na sua direção.
— Sim? — Respondo tentando me livrar da tensão que estava sentindo
a pouco tempo atrás.
— Por que estamos no aeroporto? — Pergunta me fazendo arquear a
sobrancelha.
— É meio óbvio, não? — Indago, fazendo ela me encarar com uma
careta.
— Axel, não seja assim! Diga para onde vamos, por favor! — Súplica
ela e eu nego rapidamente.
— Eu já te disse que era uma surpresa? Não direi mais do que isso,
Isadora. — Falo com firmeza.
Sinto suas mãos pequenas e frágeis tomando o meu braço. Olho para
sua mão, e sem me conter cubro a minha, muito maior, com a sua.
— Querido, por favorzinho! — Pede novamente. Vejo um bico se
formar nos seus lábios inferiores.
— Não! — Desvio meus olhos dela e puxo para retomar a andar.
— Você não vai me contar mesmo? — Nego sem dizer em palavras. —
Nem se eu fizer um carinho em você? — Questiona dócil. Paro com o corpo
rígido, girando rapidamente para que meu rosto paire sobre o dela.
— Nem mesmo se você se ajoelhar na minha frente agora, abaixasse o
meu zíper e chupasse o meu pau até gozar eu saciaria a sua curiosidade,
Isadora. — Revelo entre dentes a fazendo arregalar os olhos e olhar para os
lados.
— Axel, que horror! — Diz com as bochechas vermelhas.
— Acho que já me fiz ser entendido, certo? — Questiono. Isadora
desvia o olhar de mim, e tenta se soltar.
— Sendo um pervertido assim, não tem comonão ser tão cristalino. —
Responde mal humorada. Eu não consigo aguentar essa menina ousada e
deixo o canto dos meus lábios se erguerem.
Sem me preocupar muito eu arrasto Isadora para mim, apertando
fortemente meus braços na sua cintura. Ela me olha com uma expressão de
pura surpresa, e sem esperar por qualquer palavra eu a beijo. Quando avanço
mais e mais contra os seus doces lábios eu ouço o seu gemido. E no momento
que sinto suas unhas cravarem nos meus ombros, percebi que a minha menina
deseja que eu lhe dê mais do que um simples beijo. Não, ainda não! Afasto os
nossos lábios, observando de perto o sorriso desleixado tomar conta da boca
rosada que acabei de possuir.
Linda e pura como um anjo fodido anjo! Essa é a minha Isadora,
penso.
— Sem perguntas por agora, tudo bem? — Indago usando um tom de
voz mais calmo.
— S… sim! — Gagueja, me deixando satisfeito.
— Agora vamos, temos um avião para pegar. — Digo assumindo um
tom mais firme.
— Tudo bem, eu confio em você! — Isadora diz me fazendo parar.
— Se eu fosse você eu não falaria isso tão fácil. — Aviso a fazendo dar
de ombros.
— Digo porque não há mais volta, Axel. Eu confio em você, porque eu
sei que ao seu lado nós estaremos seguros. — Revela abrindo um largo
sorriso, enquanto acaricia a barriga.
Desvio meus olhos porque eu não aguento a sinceridade que essa
menina transmite tão fácil de ler. É tão complicado lidar com isso depois de
todas as mentiras e mais mentiras que eu vivi na minha vida de merda. Mas
com Isadora é estupidamente fácil, tudo ao seu lado se transforma em algo
muito mais brilhante. Eu seria louco se deixasse essa menina escapar. Não,
mesmo sendo um fodido do merda, eu sei que ela é tudo o que preciso.
Soltando uma forte respiração eu encaminho Isadora até o local para
poder pegar o jatinho particular. Sei que desse ponto em diante Isadora está
louca para voltar a fazer suas perguntas espertinhas. Mas como não há tempo
para que isso aconteça, nós entramos no jatinho e em poucos minutos
estávamos sobrevoando o céu. Me afasto de Isadora para poder mandar
algumas coordenadas para os meus homens. E quando estou pronto para
voltar até minha mulher, sinto o meu celular vibrar.
— Fale logo porque eu já estou no jatinho. — Digo friamente.
— Quanto carinho para falar com seu único irmão. — Responde
usando o mesmo tom que eu.
—Foda-se, idiota! — Vejo a aeromoça se aproximar.
— Deseja alguma coisa senhor? — Pergunta de modo profissional.
— Um whisky para mim, e um suco para a minha mulher. — Indico o
lugar onde Isadora está distraída olhando pela pequena janela do jatinho.
— Sim, senhor! — Responde ela.
Antes de sair para me dar privacidade, eu sinto seus olhos em mim. Se
fosse antes eu poderia levar ela para o banheiro e foder para aliviar o estresse
de mais alguma missão, agora eu preciso disso então eu apenas ignoro.
— Por que ligou? — Questiono, chamando a atenção do meu irmão.
— Quero avisar que a filha dos Álvarez esteve aqui à procura da
Isadora. — Meu corpo ficou rígido ao ouvir essa notícia.
— Ela disse alguma coisa? — Indago, olhando para Isadora que acena
para mim.
— Não, ela só exigiu que pudesse ver a amiga. — Ouço atentamente
retornando o aceno.
— Você não disse para onde estávamos indo, certo? — Pergunto
duramente.
— Inferno, Axel! Você acha que eu sou algum fodido novato nessa
vida de merda? — Craig diz irritado.
— Só estou querendo confirmar. — Falo tranquilamente.
— Nenhuma informação foi passada para ela, mas nada a impede de
ligar para Dora. Então fique de olho. — Meu irmão me alerta.
A filha dos Álvarez está sendo uma fodida dor na minha bunda.
Consegui evitar que ela se aproximasse de Isadora o máximo que pude, mas
haverá um dia que não poderei mais fazer isso. Eu não confio nessa menina
ou em qualquer pessoa que é ligada diretamente a Jerônimo. Não me importo
com seus sentimentos, ou com qualquer outra merda, a minha prioridade é e
sempre será Isadora. Ela está frágil demais com essa gravidez, e mesmo não
gostando nenhum pouco da ideia de ser pai daquela criança. Eu prometi a ela
que esse bebê ficaria bem, e quando eu faço uma promessa eu a cumpro. Até
que seja provado que estar próximo a Lara Álvarez não é prejudicial a minha
mulher, eu continuarei a afastá-la.
— Obrigado por avisar, tenho que ir! — Digo e quando estou pronto
para desligar ouço Craig me chamar.
— Axel? — A hesitação de meu irmão não passou despercebido por
mim.
— O que foi? — Questiono.
— Você tem certeza que quer levar Dora para aquele lugar? — Ao
ouvir sua pergunta, meus olhos foram novamente para minha menina.
— Posso estar cometendo um enorme erro, mas eu sinto que
precisamos disso. Se depois que souber tudo ela quiser continuar a estar
comigo, com a gente, então que seja. — Comento sinceramente.
— Entendo, então boa sorte! — Craig fala, mas eu não agradeço de
volta.
— Tenho que ir! — Falo e logo em seguida desligo a ligação.
Ainda com as palavras de Craig na minha cabeça, eu caminho até
Isadora. Deixo um beijo na sua cabeça antes de sentar ao seu lado. Seu rosto
se ilumina como uma criança que acaba de descobrir algo que é muito do seu
agrado. Quando ela abriu a boca para me falar algo a aeromoça aparece
trazendo o meu whisky e o seu suco.
— Com licença, senhor! — A aeromoça chama nossa atenção. —
Trouxe o que o senhor havia pedido. — Ela aponta com um sorriso cheio de
segundas intenções.
— Certo! — Respondo, virando novamente para Isadora. Noto que ela
fecha totalmente sua expressão brilhante de antes.
— Você pediu isso aqui? — Indaga ela com os olhos cerrados.
— Sim, por quê? — Questiono e ela nega com a cabeça. Vejo o modo
que ela olha para a aeromoça, que ainda continua a nos servir.
— Mais alguma coisa, senhor? — A aeromoça me pergunta. Oh minha
menina territorial, agora eu sei o que está acontecendo!
— Para mim não, mas seria bom perguntar a minha mulher se ela quer
algo. — Digo friamente, quebrando a confiança da mulher à minha frente
totalmente.
— Oh sim, desculpe-me! — Ela se atrapalha com o pedido. —
Senhora, gostaria de algo a mais? — Pergunta visivelmente sem graça.
Isadora, com uma expressão fechada, nega com a cabeça.
— Não, se eu precisar chamo! — responde friamente. Com isso a
aeromoça gira nos seus calcanhares e se afasta de nós dois.
— Eu posso saber o que foi isso? — Indago tranquilamente.
— Não, você não precisa saber. — Diz irritada, e eu prendo meus
lábios para não rir.
— Vamos lá, querida, assume que você estava com ciúmes do
excelente tratamento que a aeromoça estava me dando. — Falo
descaradamente fazendo Isadora me encarar com fúria.
— Ah é? Você gostou de tratamento exclusivo, Axel? — Questiona a
ponto de me dar um soco se a minha resposta for afirmativa.
— Longe de mim, eu só tenho uma mulher e está de bom tamanho. —
Digo tranquilamente.
— É bom mesmo, senhor! Saiba que posso ir atrás de o… — Não a
deixo terminar a maldita frase e a seguro pela bochecha.
— Não vá por esse caminho, Isadora. Garanto que ele é perigoso! —
Digo entre dentes. Fervendo por dentro com a possibilidade de outro homem
chegar perto do que é meu.
— Se você se interessasse pela aeromoça o seu caminho também seria
perigoso. — Rebate ela furiosa me deixando louco.
— Somos um casal muito fodido, minha menina. — Sussurro olhando
nos seus olhos.
— Eu nunca tive dúvidas disso, querido. — Retruca. Sem pedir licença
deixo um beijo forte na sua boca, para logo em seguida soltá-la do meu
aperto.
— Não precisa ter ciúmes, eu posso ser um monstro, mas eu sou o seu
monstro, Isadora. — Digo observando um lindo sorriso formar no seu rosto.
— Isso é muito bom de ouvir, querido. É sim! — Ela bebe um pouco
do seu suco e procura pela minha mão com a sua. — Axel?
— Sim? — Aceito sua mão, vendo o modo que ela brinca com as
minhas mãos, usando a sua.
— Por favor, agora me diga para onde estávamos indo tão de repente.
— Pede ansiosa demais para se conter.
— Essa sua curiosidade é terrível! — Falo sem calor, e ela me encara.
— É só estranho o fato de você ter me arrastado para o jatinho sem nem
ao menos pegar uma mala. Isso foi bem estranho mesmo! — Fala dando de
ombros.
— Não se preocupe, nossas malas já foram despachadas mais cedo. —
Conto e ela arregala os olhos. Quando percebo que ela vai dizer alguma
coisa, eu não perco tempo e volto a falar. — Estamos indo para Boston! —
Digo finalmente.
— O que tem de tão importante em Boston? — Indaga, me fazendo
cerra o maxilar com força.
— Minha casa! — Revelo de forma tensa.
Agradeço mentalmente a Isadora não perguntar mais nada. Ela mesmo
me pediu sobre isso, ela quer transparência, e é isso mesmo que darei a ela.
Ela merece isso!
Chegamos a Boston muitas horas depois que Axel finalmente havia me
dito para onde estávamos indo. Como a temperatura de Massachusetts é
infinitamente menor do que eu estava acostumada eu tive que trocar de roupa
no jatinho, me agasalhando bem o suficiente para não morrer de hipotermia.
Eu estava me sentindo muito nervosa porque agora era hora de poder
conhecer um pouco sobre Axel. Ele está realmente disposto a me ter na sua
vida, está abrindo caminhos para que o nosso relacionamento tome um rumo
melhor a partir de agora. Eu não sei o que verei depois disso, sei que não vai
ser bonito saber de tudo o que ele e o Craig passaram, mas eu estou me
fortalecendo todos os dias para que esse momento enfim aconteça.
Eu amo Axel Cox, sei que ele é um homem muito complicado para se
apaixonar, mas não mudaria ele em nada. Sim, eu sou uma mulher muito
doente da cabeça, eu sei! Mas é a mais pura e infinita verdade porque mesmo
Axel sendo do jeito que ele é, eu não o mudaria de forma nenhuma. E sabe
por quê? Porque ele não usa máscaras! Oh sim, eu já vi muitas pessoas ao
meu redor usando máscaras de todos os tipos, e no final isso nunca é bonito.
Deve ser muito legal conhecer um homem lindo, que te trata logo de primeira
como uma princesa. Fazendo assim o seu único objetivo de início a sua
felicidade, mas logo depois toda essa postura de bom namorado e bom moço
se desmorone.
Não tive relacionamentos amorosos, mas já fui enganada e maltratada
muitas das vezes. As pessoas podem ser sujas e falsas, elas podem te seduzir
por uma fantasia muito facilmente. É por isso que eu não me arrependo do
meu sentimento por Axel, e também eu não tenho motivos para fazer isso.
Ele é um homem altamente obscuro, capaz de sequestrar uma moça
totalmente inútil na pequena sala da sua kitnet, fazendo dela sua de todas as
maneiras possíveis. Só que ele sempre foi isso o que demonstrou no início,
somente escondendo o protetor feroz que está atrás de sua escuridão. Esse
homem à minha frente, amarrando o cordão do meu casaco grosso, sempre
fez com que eu acreditasse que eu poderia ser mais do que nunca imaginei.
E sabe o que é mais engraçado? Eu realmente sou tudo isso o que ele
diz que eu sou! Então sim, e digo com todas as letras possíveis, que prefiro
meu mercenário sanguinário a qualquer principezinho de merda, e nunca irei
me arrepender.
— Cuidado ao descer as escadas, Isadora! — Axel me alerta quando
estou pronta para descer as escadas do jatinho.
— Eu sei, querido! — Dou uma piscadela, mas quando eu começar a
descer eu perco o passo um pouco. — Ops!
— Isadora! — Sinto a mão de Ax segura meu braço. — Eu disse para
ter cuidado! — A tensão na sua voz não escapou de mim.
— Acho que fiquei sentada tempo demais! — Brinco para quebrar o
gelo, mas ele continua a encarar de forma carrancuda. — Vamos lá, Ax,
mude essa cara! — Peço ficando de frente para ele.
Axel amolece sua carranca um pouco, soltando um suspiro resignado
logo em seguida. Ele passa os braços à minha volta, abaixando a cabeça para
poder beijar levemente os meus lábios. Não consigo parar o enorme sorriso
nos meus lábios. Sei que Ax está muito nervoso ao me trazer aqui, não deve
ser difícil para ele, mas mesmo assim estou aqui. Por isso tentarei o máximo
deixá-lo relaxado com isso.
— Você é muito desastrada, minha menina. — Sua voz sai leve.
— Você sabia disso quando resolveu me obrigar a ficar com você. —
Jogo com ele, observando suas sobrancelhas arquearam.
— Então é isso, não é? — Confirmo com a cabeça.
— Oh sim, foi sim! — Digo de forma sarcástica. De repente meu riso
fecha no mesmo momento que sinto a mão forte de Ax tomar a minha nuca
com força.
— Isadora, você tem certeza que quer fazer isso? — Vejo a dúvida nos
olhos de Axel pela primeira vez que nossos olhos se cruzaram pela primeira
vez.
— Sim, Ax, eu tenho! — Concordo rapidamente. — Eu quero o que há
de mais profundo em você, quero sua alma assim como lhe dei a minha. —
Nossos corpos são pressionados juntos, fecho os meus olhos, agarrando com
força o tecido grosso do seu sobretudo preto.
— Se é assim que você quer, minha menina, saiba que não tem mais
volta. Depois disso você será minha para sempre. — A possessão na voz de
Axel me fez soltar uma risada leve.
— Mas querido, eu pensei que eu já fosse! — Digo de forma inocente.
Vejo Axel negar com a cabeça enquanto um sorriso fantasma toma seus
lábios.
— Ah minha menina! — Diz para logo em seguida me segurar nos
braços. — Segure-se!
Eu não precisei dizer nada, somente me agarrei a Axel com força,
escondendo assim o meu rosto na curva do seu pescoço. Queria esconder o
sorriso idiota que insistia em não sai dos meus lábios. Sinto os movimentos
de Axel e logo estávamos fora do jatinho, não demorou muito para que
alcançássemos o carro que estaria nos levando para o nosso destino. Sou
colocada no chão, ao lado do carro, e antes de me acomodar vejo Ax
conversar com um homem alto, de pele escura, cabelos presos em tranças no
topo da cabeça. E algumas tatuagens saindo pela gola do terno azul escuro
que está usando.
Franzo o cenho um pouco quando vejo o mesmo homem sorrir para
Axel de forma amigável, para logo em seguida eles apertarem as mãos. Dou
um pulo de repente quando os dois viram suas cabeças na minha direção. Oh
Deus! Fui pega espionando, por ser uma curiosa sem salvação! Penso
engolindo em seco, forçando um sorriso para acenar uma breve saudação.
Não esperava que o homem respondesse a minha saudação com um sorriso,
mas ele fez. Observo Ax responder alguma pergunta ao homem, mas não fico
para ver mais nada e entro no carro para esperar pacientemente. Não demora
muito e Axel entra no carro no banco do motorista, ligando o carro e o
aquecedor logo em seguida.
— Quem era aquele homem, querido? — Pergunto sem conseguir
conter minha curiosidade.
— Eu estava me perguntando quanto tempo demoraria para você
começar suas perguntas. — Diz Ax levemente. Tenho a decência de sentir
minhas bochechas esquentarem um pouco. — Aquele ali era o Aiden, um
velho amigo de Craig. A família dele comanda o tráfico de drogas local, e
nós temos um bom relacionamento depois que o ajudei a fugir da prisão com
o Craig. — Fico paralisada com tanta informação.
Oh merda, ele deveria me contar isso tudo?
— Você deveria me contar isso tudo, Ax? — Inchado ainda
consternada.
— Você queria transparência entre nós, minha menina, então é isso que
você terá. — Revela virando o rosto para me encarar antes de colocar o carro
para andar.
— Sutileza passou longe de você. — Digo o óbvio. — Vi realmente
que vocês são amigáveis, isso é bem difícil de ver você agir assim com outras
pessoas. — Comento o fazendo dar de ombros.
— Tenho uma dívida com ele e sua família. Quando estava fora, sem
saber da prisão do Craig, ele e sua família cuidaram do meu irmão idiota. —
Confidência me deixando confusa.
— Onde você estava? — Indago.
— Em missão! — Axel responde.
— Missão? Você já era mercenário nessa época? — Questiono.
— Não, me tornei mercenário após tirar Craig na prisão. — Vejo os nós
dos seus dedos ficarem brancos.
— Então, onde você estava quando Craig foi preso? — Pergunto em
dúvida se ele vai me responder essa pergunta ou não. Axel não esconde de
mim seu desconforto.
— Eu estava no Iraque, lutando a guerra fodida desses fodidos! —
Cospe Axel com raiva.
— Você é um ex-militar? — Questiono totalmente desacreditada.
— Fui! — Responde e emenda logo em seguida. — Antes de ser
exonerado e intimado pela CIA. — Sua ira ao falar sobre isso é ácida
demais.
— Eu não… — Começo a falar, mas ele me para logo que abro minha
boca.
— Podemos falar sobre isso depois, minha menina. Não é que eu não
vá te contar, mas só não quero ter de reviver essa merda agora. — Pede ele.
Assinto com a cabeça, estendendo a mão para tocar sua coxa, tentando passar
algum conforto para ele.
Sem que eu tivesse esperando Axel cobre a minha mão com a sua,
levando-a logo em seguida entre seus lábios deixando assim um beijo. Fico
encarando nossas mãos juntas enquanto ele continua a dirigir pelas ruas de
Boston. Não consigo parar de pensar no que Axel acabou de me contar, o
homem ao meu lado já foi um ex-militar, se isso não é algo surpreendente eu
nem sei mais. É muito engraçado que eu nunca cheguei sequer a pensar nessa
hipótese, porque só quem já teve a visão do que é esse homem ao meu lado
em ação sabe exatamente que a ideia de ele ter sido um ex-soldado não é algo
tão surpreendente assim. Mas a ideia de Axel, um homem frio e sem nenhum
escrúpulo, ter sido um patriota que jurou proteger seu país é meio que
assustador.
— Isadora! — Axel chama com a voz dura. Me tirando totalmente dos
pensamentos.
Observo sua expressão totalmente dura, apertando a mandíbula com
força. É quase como se ele estivesse em luta se deveria me chamar ou não, e
isso é claro não pode passar despercebido por mim.
— O que foi, querido? O que aconteceu? — Indago sentindo a
apreensão tomar conta de mim.
— Deixe-me esclarecer as coisas para você. — Diz e eu o encaro sem
entender.
— Prossiga, Ax! — O induzo.
— Nós estamos aqui em Boston, não para que você conheça um novo
lugar e uma nova cultura. Antes eu não imaginaria que estaria disposto a
fazer isso com qualquer ser vivo, mas agora estou. Queria poder te levar a
lugares que tem pessoas normais e fazer com que você viva um momento
único. Mas não é para isso que eu te trouxe aqui. — Sua seriedade ao me
falar isso traz um leve sorriso aos meus lábios.
— Ax, eu sei! — Minha voz leve faz com que ele me olhe de forma
estranha.
— Você sabe? — Ele arqueia a sobrancelha.
— Não sei exatamente o que você vai fazer, mas sei que você é um
homem muito objetivo. — Digo observando sua expressão se tornar
impassível.
— Já que reconhece a minha objetividade deixe-me te mostrar o porquê
te trouxe aqui. — Fala ele acenando com a cabeça para que eu olhe através
da minha janela.
Eu estava tão concentrada no que Axel estava dizendo, e nas suas
expressões faciais que não percebi que o carro havia parado. Olho para frente
primeiro dando de cara com árvores grandes, e uma estreita estrada de terra.
Desvio meu olhar da estrada para olhar para o lado e dar de cara com uma
casa toda feita de madeira e vidro. Paro de respirar um pouco quando percebo
que essa é a casa mais esplêndida que eu já vi. Ela não é muito grande, parece
mais um chalé alto e mediano, mas as grandes janelas de vidro fazem dar um
ar de tranquilidade absoluta. Sem conseguir me conter eu abro a porta do
carro indo para fora. Eu precisava ver isso de perto, eu precisava saber que
não estava presa a algum sonho.
A uma curta passagem de pedra, tendo pequenas árvores, e grama
verdinha ao redor. Toco na minha barriga quando a imagem surge na minha
cabeça. Vejo o meu filho ou filha correndo por essa grama, enquanto Axel
pede para que ele não corra para longe. É uma imagem boba? Talvez! Mas é
uma imagem que me traz um bom sentimento, o sentimento de um futuro, um
futuro para nossa família. Nossa, meu Jesus! Como estar de frente para essa
casa pode me dar tantos sentimentos assim? Tomo um breve susto quando
sou despertada da minha imaginação por Axel que passa o braço ao meu
redor, enquanto encosta seu peitoral nas costas da minha cabeça.
— O que achou? — Pergunta me fazendo me aconchegar mais ainda a
ele.
— É simplesmente incrível, Ax! — Digo de forma apaixonada.
— É bom que você tenha gostado, porque essa casa é minha casa. E
como nossas vidas agora estão entrelaçadas, eu deveria dizer que essa casa é
a nossa. — Axel revela e eu arregalo os olhos.
"O que? Como assim nossa casa?"
— No… nossa? — Gaguejo, nervosa demais para me conter.
— Sim, eu nunca imaginei trazer qualquer pessoa aqui fora o meu
irmão, mas quero você aqui, Isadora. Não sei se posso ser aquilo que você
sonhou para a sua vida, mas com certeza eu posso ser tudo o que você
precisa. Quero que conheça o único lugar que eu conheço como lar, aqui você
o meu eu completo. — A seriedade e sinceridade na voz de Axel tocou o meu
coração.
— Vo… você tem certeza disso? — Pergunto, me sentindo muito
insegura de repente.
— Nunca tive tanta certeza nessa minha vida fodida, querida. — Sinto
as costas dos seus dedos tocarem a minha bochecha delicadamente. Fecho
meus olhos brevemente para sentir o seu toque no meu rosto.
— Obrigada por confiar em mim, Ax! Eu estou feliz! — Revelo após
abrir meus olhos para encará-lo com um sorriso.
— Não precisa me agradecer, você estava certa ao dizer que eu preciso
confiar em você para que isso tudo dê certo. Eu te quero como minha
parceira, Isadora, hoje eu sei disso mais do que qualquer coisa. — Ouço suas
palavras e é como se eu estivesse sonhando nesse exato momento.
— Axel… — Começo, mas ele coloca o dedo entre meus lábios me
fazendo calar.
— Vamos entrar, você deve estar cansada do voo longo. — Fala ele e
eu concordo com a cabeça.
— Posso fazer o jantar para nós dois, o que acha? — Pergunto ansiosa
pela sua resposta.
— Você cozinha? — Axel arqueia a sobrancelha.
— Para, Axel! Você sabe que sim! — O empurro, mas ele não se mexe
nem um centímetro.
— Tudo bem, tudo bem aqui toma! — Ergue um chaveiro na minha
frente. — Pode entrar primeiro, eu vou pegar nossas malas. — Pego a chave
na sua mão abrindo um largo sorriso.
— Sim, chefe! — Brinco saindo dos seus braços antes de sofrer
qualquer retaliação por chamá-lo de chefe.
Sigo em direção até às escadas, subindo devagar para não cair de bunda
e Axel me matar. Chego até a enorme porta de madeira, colocando a chave na
fechadura logo em seguida. Não sei por que, mas o meu coração bate de um
modo super acelerado no peito. No momento que abri a porta eu sou
surpreendida por um ambiente bastante agradável, largo, luminoso e
sofisticado. Deixo a porta aberta enquanto entro no local, olhando para cada
canto de modo apaixonado e curioso. Nossa, até lareira tem! Todo o
complemento do lugar é lindo, mas são as esculturas de madeira escura que
chamam totalmente a minha atenção.
A única coisa que me vem à cabeça é que elas não deveriam estar na
sala de estar do meu namorado. E sim em algum museu para que os amantes
de belas artes pudessem apreciar sempre que quiserem. Toco a madeira
gelada, sentindo o acabamento liso e envernizado. São lindas demais, é tudo
o que posso pensar. Tiro os olhos das esculturas quando algo chama a minha
atenção, é um tabuleiro de xadrez. Me aproximo do tabuleiro, e quando estou
perto o suficiente eu arregalei meus olhos de surpresa. Tiro a minha bolsa do
ombro, abro e começo a procurar algo que eu sei que nunca deixo longe de
mim. Achei!
— Meu Deus, é isso! Foi daqui que ele tirou essa peça! — Exclamo
surpresa apertando a peça preta de xadrez entre meus dedos com força.
— Então quer dizer que você descobriu. — Ouço a voz de Axel atrás
de mim, me fazendo pular de susto.
— Axel! — Olho para na sua direção, o vendo descansar as malas no
chão.
— Você guarda isso com você o tempo todo? — Ele pergunta
apontando para a peça na minha mão. Assinto sem saber o que falar. — Por
quê? Por que você guarda isso? — Indaga me olhando com intensidade.
— Me acostumei a fazer isso. — Dei de ombros, abrindo as mãos para
admirar o rei preto. — Quando você me deixou isso aqui no hospital, eu tive
a noção de cada vez que eu o mantivesse perto de mim era como se você
mesmo estivesse. — Sinto minhas bochechas esquentarem ao admitir isso em
voz alta.
— Nossa Isadora, sua sinceridade… porra, essa sua sinceridade é doce,
minha menina. — Quando ele está perto o suficiente, sinto seus dedos
entrelaçarem nos meus cabelos.
— Ax, por que me deixou essa peça? — Pergunto, mas logo emendo.
— Sempre tive vontade de perguntar, mas nunca tive coragem. Fora que eu
estava muito chateada com você na época.
— Para falar a verdade, eu não sei, minha menina. Acho que eu queria
que você tivesse algo meu, somente meu. — Axel para olhando para a peça.
— Feito por mim para falar a verdade. — O encaro rapidamente confusa.
— Feito por você? Como assim? — Questiono rapidamente.
— Sim, querida, todas essas peças de madeira, incluindo essa em sua
posse, foram feitas por mim. — Conta Axel me deixando sem saber o que
dizer.
Olho em volta novamente pela sua sala de estar, fixando minha atenção
nas esculturas que eu me apaixonei perdidamente assim que pus meus olhos
nelas. Eu não posso acreditar que foi Axel que fez essas obras de arte! Ele…
ele não deveria ser um mercenário. Não, não mesmo! Ele deveria estar
expondo essas esculturas pelo mundo, fazendo outras pessoas suspirarem
assim como eu suspirei. Isso é inacreditável demais!
— Ax, isso é incrível! — Me empolgo — Você deveria ser um artista
muito famoso, por que você não… — Não consigo terminar a minha
pergunta.
— Não, eu não preciso disso. Isso aqui… — Ele aponta para as
esculturas — Isso aqui é o que sou, e eu não gosto de mostrar esse lado meu a
ninguém. — Axel fala friamente, se afastando de mim.
— Acho que entendo o que você quer dizer, querido. — Solto um
suspiro. — Eu também não digo as pessoas que sou uma hacker muito boa.
As pessoas sempre tem uma visão distorcida das coisas. — Dou de ombro,
dando um passo para frente para alcançá-lo novamente. — Desculpa por
invadir dessa maneira.
— Não precisa se desculpar. — Diz ele negando. — Deixe-me te
mostrar algo! — Axel entrelaça os nossos dedos.
Sem que eu me desse conta Axel estava me levando pela casa, até
chegar a uma porta da cozinha que dá direito para os fundos. Ele me levou a
um lugar que mais parecia uma garagem, mas que foi perfeitamente adaptada
para ser uma incrível e muito bem equipada oficina. Consigo ver algumas
ferramentas penduradas, algumas máquinas sofisticadas e muita, muita
madeira bruta. Olho para Axel que assente brevemente e me induz a dar um
passo para frente. Não consigo imaginar o quanto de coisas maravilhosas esse
homem misterioso conseguiu produzir aqui. Me sinto como se estivesse
quebrado uma barreira entre nós, é como se eu pudesse ver o Axel Cox
agora.
— Então, querida, o que acha? — Pergunta. Posso sentir um fio leve de
empolgação em Axel.
— Então esse é você, Ax? — Pergunto emocionada sem qualquer
barreira.
— Sim, esse sou eu! — Diz com firmeza. — Ainda há muito o que
contar, mas essa é a parte mais importante que eu queria que você conhecesse
sobre mim, Isadora. — Conta ele e eu sinto meus olhos arderem.
— Eu amei, querido! Eu amei saber que você tem o dom pode me
surpreender todos os dias. Amei isso aqui! — Abro os braços e rodopio. — E
pode ter certeza que o nosso bebê iria amar se o pai dele fizesse algo especial
para ele, hum? — Pergunto entre risos, descanso a mão no meu ventre.
— Se você diz que sou capaz, quem sabe, não é mesmo? — Sua voz
sai com incerteza.
— Sim, Ax, você é capaz! Capaz de qualquer coisa! — Deixo um
sorriso leve nos lábios, enquanto olho para o homem que amo.
Eu amo isso, eu amo essa viagem inesperada, amo essa casa linda, mas
principalmente amo conhecer o Axel de verdade… o meu Axel!
Acordei assustada em um lugar estranho, sento rapidamente olhando ao
redor de um modo assustado. Aos poucos a consciência vai tomando conta de
mim, me fazendo lembrar que eu estou em Boston, na casa de Axel. Solto a
respiração, que nem tinha noção que estava aprendendo, bem devagar. Passo
a mão cegamente ao lado da cama, tentando sentir se Axel estava ao meu
lado, mas foi em vão. Porque ao sentir o lençol frio tive a noção de que eu
estava sozinha na cama por muito tempo. Passo a mão pelo rosto, tentando
me livrar dos resquícios do sono, quando me sinto acordada o suficiente
levanto da cama. Como estava escuro não consegui encontrar a minha
pantufa, sendo assim resolvo ir descalça mesmo atrás do meu homem.
Antes de caminhar até a saída, pego o meu celular na intenção de ligar
a lanterna. Lembro perfeitamente do caminho, já que antes do jantar Axel me
levou para cada canto da casa. É muito significativo para mim tudo isso que
está acontecendo, nunca imaginei que eu estaria vivendo um momento como
esse. Tudo bem que para algumas pessoas isso pode ser banal, e comum
demais entre relacionamentos, mas para mim é muito, muito especial mesmo.
Porque assim eu posso ver que eu e Axel podemos ter uma relação “normal”
nem que seja algum dia. Sorrio ao lembrar que ele me trouxe para seu
refúgio, e me mostrou cada canto dele me fazendo entender que esse lugar
poderia ser meu também se eu assim quisesse.
Até mesmo o jantar de hoje foi feito por nós dois! Nossa, olha só como
isso tudo é surpreendente! Quando foi que eu imaginei que aquele homem
frio e distante poderia estar em uma cozinha comigo? Nunca! Isso mesmo, eu
nunca imaginei que isso um dia poderia acontecer, mas enfim aconteceu e eu
sou uma mulher satisfeita. Isso por que além de fazer o jantar, pudemos
também conversar abertamente sem a sombra trevosa cobrindo nós dois. Ele
falou sobre suas esculturas, do modo como elas foram feitas a cada vez que
ele tirava um tempo longe dos trabalhados como mercenário. E eu é claro,
ouvir tudo com muita atenção, não conseguiriam tirar minha atenção dele de
qualquer jeito.
Pensando bem, a única vez que Axel ficou distante foi quando eu
perguntei a ele sobre sua família. Por um breve espaço de tempo ele ficou
pensativo, ficou longe de ser alcançado, e quando voltou não era o Axel que
antes estava sentado respondendo minhas perguntas livremente. Foi ali que
eu tive a certeza que qualquer assunto relacionado a sua família é complicado
para ele. E justamente por isso eu não quero tocar no assunto mais, não quero
mais vê-lo distante.
Balanço a cabeça para me livrar dos pensamentos e sigo agora em
direção a cozinha. Vendo que as luzes da oficina estão ligadas, eu sigo até lá
sem qualquer outra ideia. Tenho certeza que ele está lá, agora eu só preciso
traze-lo até a cama. Axel precisa descansar, ele nunca para, mas necessário
porque uma hora o corpo irá ceder. Com uma nova onda de coragem eu abro
a porta da oficina. Logo de cara eu o vejo, usando uma calça de moletom
preta, sem camisa, expondo sua tatuagem que antes eu achava
amedrontadora. Consigo ver que tem um fone de ouvido plugado no seu
ouvido, enquanto entalha um pesado troco de madeira.
— É possível um homem ser tão sexy de costas, entalhando uma
madeira? — Murmuro soltando um lamento logo em seguida.
Axel percebe que ele não está sozinho, consigo ver daqui a tensão nos
músculos das suas costas. De modo rápido, e como assassinado bem treinado
que eu sei que ele é, Axel vira na minha direção apontando uma arma.
Levanto os meus braços, ampliando os meus olhos, mesmo sabendo que ele
me reconheceu e que não vai atirar é bem pavoroso ter uma arma apontando
em diretamente para sua cabeça.
— Porra, Isadora! O que faz aqui assim? — Ele reclama abaixando sua
arma.
— Desculpa, Ax, eu só senti sua falta na cama. — Respondo e sua
expressão descontente cai.
— Abaixa esses braços, mulher! — Manda de um jeito que me faz
morder meus lábios inferiores para não deixar o sorriso escapar.
— Com certeza, senhor mercenário fodão! — Brinco e ele faz um som
com a boca, enquanto nega com a cabeça.
De repente ele para novamente, cerra os olhos para mim, enquanto me
olhava de cima a abaixo. Ops, sei exatamente o que ele vai falar! Em 3… 2…
1…
— Cadê a porra do seu sapato, e por que está aqui assim sem um
roupão? — Axel diz entre dentes.
— Eu só levantei e vim, Axel! Só não pensei, tudo bem? — Respondo
com altivez para não dar gosto a ele de ficar me repreendendo.
— Venha cá, minha menina! — Chama ele, e é claro que eu vou sem
pestanejar.
Assim que cheguei perto o suficiente dele eu fui puxada para o seu
colo. Como eu não estava esperando por isso, solto um grito assustada. Mas
logo o meu susto fica para segundo plano por que Axel segura minha nuca
com força, me fazendo assim olhar diretamente nos seus olhos.
— Te peguei! — sussurra entre meus lábios. Sinto o arrepio tomar
conta da minha espinha.
— Eu gosto disso! — Sussurro de volta.
— É bom saber disso, minha menina. — diz tirando um fio de cabelo
rebelde da minha testa, para colocar atrás da minha orelha.
— O que está fazendo aqui, querido? Por que não está na cama
comigo? — Questiono com cautela. Observo como Axel morde o maxilar
com força, e desvia o olhar do meu.
— Tive um fodido pesadelo! — Responde com raiva.
— O que aconteceu nesse pesadelo? — Indago usando uma boa calma.
— Eu não quero falar sobre isso, Isadora! — Ele tenta desviar o olhar
novamente, e se afastar de mim.
— Axel, amor, você lembra? — Seguro os dois lados dos seu rosto. —
Transparência e confiança, você lembra? — Me afundo nos seus olhos negros
profundos.
— Lembro muito bem, mas eu não sei se isso é uma coisa que você vai
querer saber. — Ele diz colocando nossas festas juntas.
— Quero sim, Axel! Eu quero saber tudo sobre você, principalmente o
que tanto te atinge e o que te faz se afastar de mim sempre que eu estou tão
perto. — Eu poderia sentir as minhas emoções fervilhando dentro de mim.
— Isadora, eu já disse que… — Ele começa, mas eu não vou deixá-lo
se afastar assim.
— Conte-me sobre esse pesadelo! — Mando bruscamente. Axel me
encara por um longo tempo, até que solta uma forte respiração e começa a
falar.
— Eu sonhei que estava na minha antiga casa onde vivia eu, Craig, e
meu fodido pai. — Ele segura meus braços com firmeza. — Nesse sonho ele
chegava em casa bêbado e drogado ao ponto de não conseguir falar palavras
corretamente. Eu tinha mais ou menos uns 10 anos e Craig tinha 6 anos, e
sempre sabíamos que toda vez que aquele homem chegava em casa daquele
modo, nada bom acontecia. — Sua voz estava carregada de ódio. — Tinha
acabado de tomar alguns socos e chutes por ele não achar sua maldita cerveja
na geladeira. Ele gritava que eu não tinha arranjado a grana para comprar
aquela merda! E até que… — Axel parou novamente. Sinto suas mãos
apertarem mais forte em volta dos meus braços, mas não me importei.
— O que aconteceu? — Pergunto em forma de sussurro.
— O velho desgraçado havia pego Craig, ele estava pronto para matar
meu irmão de porrada. Só que do nada o sonho mudou, e quem estava ali não
era o velho. — Ele nega com a cabeça assumindo uma expressão mais gélida.
— Quem era, Axel? Quem era o homem do sonho? — Indago usando
um tom leve.
Sem que eu estivesse esperando, Axel me tira do seu colo e se afasta de
mim como se estivesse com uma doente. Ele me encara com o cenho
franzido, para logo depois começar a andar de um lado para o outro passando
a mão na cabeça. É como se eu estivesse voltado no tempo algumas semanas,
no momento que conversamos sobre a nossa gravidez. Axel anda de um lado
para o outro, esfregando os cabelos da nuca em um gesto nervoso. Ele parece
como um animal selvagem preso na gaiola, que estava totalmente rendido e
não pode sair.
Não gosto disso, não gosto nenhum pouco!
— Axel! — chamo, mas ele estende o braço me impedindo de chegar
mais perto.
— Não, Isadora, fique aí! Não é seguro para você, minhas emoções não
estão estáveis! — diz me deixando nervosa. Só há um jeito, e eu tenho que
tentar.
— Quem estava no sonho, Axel? Quem? — Pergunto novamente após
controlar o meu nervosismo.
— EU, PORRA! ERA EU! VOCÊ ESTÁ FELIZ AGORA? — Grita
ele, me pegando totalmente desprevenida. — Eu estava lá, eu era aquele
velho asqueroso, e eu batia na criança, eu batia nela, Isadora. E você? Porra!
Você está amarrada pelo pescoço em um maldito galho de árvore. Você
estava fria como uma pedra, morta! — Axel termina de falar com os punhos
cerrados.
Consigo sentir o seu sofrimento daqui, e eu não posso deixar isso
acontecer por mais tempo. Tenho que tirar isso dele de qualquer jeito.
— Você não é seu pai, Axel! Você não, pode apostar a porra do
universo que você não é o seu pai. Entende? — Digo com rigidez, chamando
sua atenção para mim.
— Você não entende, Isadora! Você e a criança ao meu lado não pode
ser, eu não sei ser uma família. — Conta ele tentando recuperar sua
impassibilidade, mas falha. – O único gesto de bondade que tive na vida era
de uma velha vizinha que dava comida a mim e ao meu irmão caçula quando
tínhamos fome. – Axel conta com a mandíbula cerrada.
Oh Deus, eu não esperava por isso, mas não... eu não vou deixa-lo me
afastar!
— Não vou me afastar, muito menos vou afastar nosso filho ou filha de
você. Como é que você, um homem tão inteligente e astuto, ainda não
entendeu que você é diferente disso que você mesmo acabou de me contar?
— Questiono me aproximando a cada passo.
— Eu mato pessoas, Isadora! O quão diferente eu sou? — Rebate com
raiva.
— Sim, você mata! Isso é errado? Na minha concepção sim, eu não
estou aqui para julgar o que é certo ou errado. Eu estou aqui para ser egoísta e
mostrar ao meu homem que ele é muito mais que isso, que ele não é e nunca
mais será como o pai dele. Porque o meu filho merece ter um pai protetor, um
pai feroz e fará de tudo para que ninguém o machuque ou nos tire dele. —
Arfo forte, porque eu falei sem parar.
— Isadora… — Ele começa, mas como estou perto dele eu soco o seu
peito com toda minha força.
— PARA DE FALAR, AXEL! — Grito irritada. — Eu vou dizer
novamente, então entenda de uma vez por todas. — Falo entre dentes. —
Você não é o seu pai! Você fez o possível e o impossível para proteger seu
irmão dele, você até hoje protege seu irmão com unhas dentes. Eu vejo isso,
vejo nitidamente isso, e mesmo que tente esconder com sua máscara de frieza
que não se importa. Deixe-me te contar uma coisa. VOCÊ SE IMPORTA!
— É difícil admitir isso, mas tenho medo. — Axel confidencia fazendo
meu coração perder a batida.
— Eu também tenho medo! — Confesso pegando a sua mão e
colocando em cima da minha barriga. — Você disse que não sabe ter uma
família, mas me deixe te falar mais uma coisa, querido. Você já tem uma
família! — Digo dando um pequeno sorriso logo em seguida.
Por mais que ele não queria admitir, ele tem uma família. Os meninos
já eram sua família antes de mim e do bebê chegar, eles compõem esse
núcleo desajustado, mas muito, muito unidos. Se bobear eu posso totalmente
incluir os meus paizinhos também na equação, por que eles consideram Axel
como genro a muito tempo. E se ele não consegue entender isso, então eu
terei que fazer isso por ele.
— Eu sei! — Sua voz sai baixa, mas eu consigo entender muito bem.
— Boston é minha casa, Isadora. Eu cresci aqui, e por mais que eu tenha
vivido um inferno com o pai, nunca pensei em sair desse lugar para sempre.
Será que consegue entender? — Ele me pergunta e eu concordo com a
cabeça.
— Sim, querido, eu entendo! — Respondi prontamente. — Agora me
diga o que aconteceu depois que seu pai morreu. Esqueça ele, me deixe saber
o após. — Peço tentando livrar ele da lembrança do seu pai. Ainda com a
mão na minha barriga, ele começa a falar.
— Depois que eu e Craig ficamos órfãs nós fomos enviados para casa
de acolhimento. Obviamente nós não nos adaptamos em lugar algum, então
sempre que tinha uma oportunidade nós fugíamos. — Não me surpreendo
com essa revelação.
— O que faziam? — Pergunto curiosa.
— Eu trabalhava em um posto de gasolina, para comprar comida para
Craig. Era um trabalho lixo, mas eu podia receber uns trocados. — Axel
conta e não sei por que, mas consigo imaginá-lo trabalhando arduamente para
cuidar do seu irmão caçula.
— Vocês eram pegos? — Pergunto o fazendo soltar um bufo
descontente.
— Sempre! Não importava o quão furtivo eu achasse que podia ser,
mas eles sempre me encontravam. — diz e eu dou um pequeno sorriso. —
Mas teve uma hora que tive que parar de correr, eu percebi que nós dois
tínhamos que terminar a escola para que eu pudesse consegui algo melhor. —
Revelou de repente.
— Foi aí que você se alistou? — Pergunto. Axel concorda com a
cabeça, enquanto me puxa novamente em direção a cadeira de antes. Ele
senta, para me sentar no seu colo logo em seguida.
— Sim, e isso foi a pior merda que já fiz. — Conta ele me abraçando
com força. — As coisas que eu vi ali, que tive que fazer para ganhar uma
merda de dinheiro. Foi horrível!
— Eu não consigo imaginar, uma guerra nunca é bonita. — Digo o
fazendo concordar.
— Eu já estava indo para a minha quarta incursão quando soube da
prisão de Craig. — Axel diz me fazendo piscar várias vezes. — Naquele
momento ele já era maior de idade, e não precisava ficar em lares adotivos. E
com um erro maldito ele foi pego e encarcerado.
— O que ele fez? — Indago.
— Agressão e tentativa de assassinato. — Dar de ombros. — Craig
tinha acessos repentinos de raiva, e quando foi provocado pelo filho de um
político cretino, ele perdeu a cabeça. Ele estava sozinho e não era filho de
uma família rica, foi fácil colocá-lo em uma gaiola, sabe. — Concordo com a
cabeça.
— Por isso que quando você voltou da guerra foi e tirou seu caçula de
lá. — Questiono, passando minha mão levemente pelo seu ombro.
— Claro, eu não poderia deixá-lo preso por 7 anos por quase matar na
porrada um merdinha. O cara era um lixo, Isadora, ele era acusado de várias
tentativas estupros, mas estava tudo bem por que ele era filhinho de um
homem rico. Foda-se tudo! — Reclama com ira. — Planejei tudo, tirei Craig
de lá, viramos fugitivos e depois fundei minha equipe de elite usando
dinheiro sujo que conseguia nos trabalhos para o submundo do crime.
— Toda essa história só me mostrou uma coisa. Sabe o que é? —
Questiono vendo ele cerra os olhos para mim.
— O quê? — Pergunta com desconfiança.
— Tudo o que você fez nessa vida foi exclusivamente para ter o seu
irmão por perto. Para dar a ele uma vida melhor, mesmo que para isso tivesse
que virar um fugitivo procurado pelo governo dos Estados Unidos. — Falo as
palavras com calma, alisando seu rosto com carinho. — Você é muito mais
do que qualquer coisa que pense, Ax. Eu te amo mais ainda por isso, e pode
ter certeza que esse bebê aqui irá amá-lo também. — Deixo um largo sorriso
tomar conta dos meus lábios.
Meu homem sombrio me observa de um jeito como se fosse a primeira
vez. Não consigo decifrar o que ele está pensando ao me encarar dessa
maneira, mas não precisa ficar tentando adivinhar, já que ele avança sob
mim. Me puxando para que os nossos lábios batessem juntos, liderando assim
um beijo de tirar totalmente o meu fôlego. Sinto seu braço tomar conta do
lado da minha cintura, para que logo em seguida eu fosse suspendida, sendo
de frente para ele. Nossos quadris estão encaixados, fazendo com que a
minha vagina tocasse ferozmente no seu pau duro. De modo descarado eu
rebolo no seu colo, procurando por mais atrito.
— Eu preciso de você, querido! — Digo afastando nossos lábios um
pouco.
— Você me tem, você sempre terá — fala com uma voz animalesca.
— Ahh... Axel! — Gemo baixinho quando sinto suas mãos apertar com
força na minha bunda, no mesmo momento que lambe o lóbulo da minha
orelha.
— Sim, querida, gema para mim. Ninguém irá nos ouvir aqui, estamos
sozinhos. — Sussurra ele no meu ouvido
Axel volta a me beijar, mas o beijo gostoso não dura muito porque sua
boca habilidosa desce da minha boca até o meu decote. Ele faz um pedido
silencioso para que eu levante os braços, e quando faço o que ele pede
imediatamente a minha camisola é tirada do meu corpo. Axel olha para os
meus seios enormes de inchados com fome, e sem pedir permissão ele
começa a chupar o meu mamilo esquerdo. Solto um gritinho de prazer,
misturado com dor, porque eles estão muito doloridos. Mas como meu corpo
parece gostar dessa junção de dor com prazer, isso se torna muito mais
gostoso.
— Esses peitos já eram deliciosos antes, agora estão prontos para serem
chupados por mim. Tão bom! — Axel diz com a voz cheia de devoção.
— Axel! — Tento me esquivar, mas Axel é rápido como um felino e
prende meus dois pulsos usando somente uma das duas mãos.
— Veja bem o que você vai fazer. — Ele diz de forma dominante. —
Você vai levantar, tirar minha calça, virar de costas para mim e sentar com
essa boceta encharcada no meu pau. Você pode fazer isso, minha gostosa? —
Pergunta-me, fazendo assenti sem pestanejar.
— Sim, eu posso fazer o que você quiser que eu faça. — Respondo e
ele rosna de forma que me deixa mais e mais excitada.
— Isadora, cuidado com aquilo que você deseja! — Ele avisa e meu
coração acelera.
— Não tenho medo de você, Ax! — Revelo mordendo meu lábio
inferior.
Axel olha para minha boca ferozmente, sendo assim eu não perco
tempo e jogo meu corpo na sua direção para beijá-lo. Comando o beijo, que
se transforma em uma bagunça de lábios e chupão de línguas molhadas. Para
minha surpresa Axel interrompe o beijo, me levanta do seu colo e acena para
que eu faça exatamente o que ele pediu. E eu faço! Eu realmente adoro ser
controlada por ele no nosso prazer. Eu me sinto muito mais excitada quando
ele me olha com essa expressão mandona. Dizendo sem palavras que está
pronto para fazer de mim tudo o que ele quiser.
Abaixo sua calça de moletom, fazendo seu pau saltar logo em seguida.
Posso ver que a cabeça do seu pau está molhada, o que faz minha boca
encher d'água. Um dedo no meu queixo faz com que eu desvio os meus olhos
famintos do seu pau, e então ele negou com a cabeça. Poxa! Lamento antes
de virar de costas para meu homem bruto, e quando estou perto de sentar no
seu colo como ele havia pedido. O meu corpo é curvado para frente, todo um
susto, mas ele é transformado em um gemido sofrido no momento que sinto o
dedo de Axel passear entre a minha buceta até o meu ânus.
— Um dia, um dia ainda vou comer essa sua bunda virgem, querida. —
Meu corpo fica rígido. — Vou foder ela com carinho, não agora, mas ainda
vou. — Sinto um tapa forte na minha bunda antes que meu corpo seja erguido
novamente.
Sou guiada para sentar no colo dele de costas, meus braços são
induzidos a entrelaçar na sua nuca. Fazendo assim com que os meus mamilos
fiquem a sua disposição. E Axel não perde tempo e me provoca de todos os
modos, aumentando muito mais a minha vontade de ter o seu pau em mim.
Gemo baixinho, cravando as minhas unhas na sua nuca, quando sinto ele
entra em mim. É torturante o modo que ele mete o seu pau em mim, enquanto
massageia um dos meus mamilos e o meu clitóris ao meu tempo. Choro de
prazer, pedindo por mais, por que eu necessito disso. A minha cavalgada
aumenta o ritmo, eu estou totalmente entregue a ele.
— Axel, eu preciso gozar! Axel, amor… por favor! — Choro em meu
pedido, louca de tesão, com os olhos fechados. Sentindo seu pau entrar e sair
de mim em um ritmo constante.
— Senta no meu pau, querida! Me faça gozar e alcance seu prazer!
Vamos! — Axel sussurra no meu ouvido e eu gemo mais alto ainda.
E com uma velocidade que não sei explicar, nós mudamos de posição.
Com isso eu volto a sentar de frente para ele, mas não antes de colocar seu
pau dentro de mim. Jogo a cabeça para trás, apoiando as minhas mãos nos
seus joelhos. Axel me abraça com força, emaranhado os cabelos de trás da
minha cabeça com força enquanto chocam os nossos lábios. Quando menos
espero eu estou gozando, tremendo e gritando pelo seu nome. Me agarro a
ele, e não demora nada para que ele goze logo em seguida.
— Porra! — Geme Axel, eu não sou capaz de falar nesse momento.
Ficamos parados por um momento, recuperando o nosso fôlego desse
sexo devastador que acabamos de ter. E quando sinto o meu corpo
estremecer, sinto que estou ficando com frio. Também não é para menos, eu
estou nua em plena oficina que fica do lado de fora. Axel finalmente percebe
o estado que estamos e sem falar uma única palavra, ele me carrega nos
braços e sai comigo da sua oficina. No momento que chegamos no quarto,
fomos direto para o banheiro. Fizemos uma breve limpeza, e fomos para
cama se aquecer, abraçados juntinhos. É tão bom estar assim com ele, mas
quando sinto que meus olhos estão quase se fechando eu lembro de algo.
— Querido? — Chamo e ele responde com "Humm" — Eu só queria te
agradecer, então obrigada!
— Me agradecer pelo o quê? Pelo sexo incrível? — Brinca com os
olhos fechados. Tento empurrar seu corpo para longe de mim, mas ele é
incrivelmente forte.
— Não, Axel, seu pervertido! — Brigo, mas logo sinto a vergonha me
tomar. — Agradeço por toda essa confiança, isso é muito importante para
mim. Para o nosso relacionamento. — Digo e sinto ele cheirar meu cabelo.
— Minha menina, não precisa agradecer, porque se eu tinha dúvida,
agora eu tenho certeza. — Diz ele de modo misterioso e eu fico curiosa.
— Dúvida de quê? — Questiono.
— Se eu tinha dúvidas que faria tudo por você, agora eu não tenho
mais. —Axel para e cheira meu cabelo novamente. — Eu faço tudo por você,
minha menina. Tudo! — Abraço seu corpo contra o meu com força, feliz da
vida por ouvir suas palavras.
E eu não tenho dúvidas disso, porque eu faria qualquer coisa por ele
também. Sempre!
Estou terminando de comer panquecas e ovos feitos por meu adorável
vilão, quando o vejo levantar da mesa e ir atender uma ligação no seu celular.
Ele está fazendo sua expressão fechada de sempre enquanto fala algo que eu
não consigo ouvir. Dou de ombros para a minha curiosidade, e volto a comer
a minha comida. Imediatamente a minha lembrança vai para o momento em
qual fui despertada com a boca de Axel na minha… Oh minha nossa senhora
das mulheres com tesão! Que homem! Ele me fez gozar duas vezes essa
manhã, é bem nítido como ele acordou com tesão, não é mesmo? Solto uma
risadinha cretina enquanto volto a esperar um punhado do meu café da
manhã.
— O que fez você ficar com as bochechas vermelhas desse jeito? —
Axel pergunta se aproximando de mim. Ele me olha com uma feição
carregada de safadeza.
— Nada, eu não estava pensando em nada! — Digo rapidamente,
pegando a banda de laranja que estava no meu prato e enfiando na sua boca.
— Olha como ela está docinha, querido! — Falo e ele chupa com avidez.
— Sim, minha menina, ela está realmente doce. — Ele diz
sugestivamente e eu engulo em seco.
Poxa, meu rapaz, esse tom de provocação eu golpe baixo. Baixíssimo!
— Então… — Solto um pigarro. — Quem era ao telefone? — Pergunto
despistando a minha safadeza.
— O Aiden! — O encaro com surpresa. — Ele nos convidou para
almoçar com a sua família. — Axel dá de ombros.
— E você recusou! — Exclamo categoricamente, mas nega com a
cabeça me deixando confusa.
— Não, eu aceitei! — Sua resposta positiva me deixou totalmente
surpresa.
— Aceitou? Assim, do nada? — Indago sem acreditar. Axel dá de
ombros, estendendo a mão para tirar o seu prato da mesa.
— Achei que você poderia querer fazer algo diferente. — Responde
seriamente e eu arregalo os olhos.
— Oh Axel, agora sim você me pegou totalmente desprevenida. —
Falo com maior sinceridade. Observo o modo rígido que ele olha para mim.
— Não abuse da sorte, minha menina! — Diz friamente e eu levanto os
braços com o sinal de rendição.
— Longe de mim, querido! Longe de mim mesmo! — Digo mordendo
os lábios inferiores para que uma risada divertida não escape de mim.
Não consigo segurar o riso por muito tempo, principalmente quando
olho para a forma que os olhos de Axel estão cerrados na minha direção. Sem
conseguir aguentar esse olhar cheio de promessas dele eu caio na risada, mas
minha risada para quando o sinto me abraçar por trás. Aceito o abraço,
esfrego minha cabeça contra o seu peito, me sentindo como uma gatinha
manhosa. Deus, por favor, faça com que esse dia dure por muito e muito
tempo. Eu sei que as coisas não serão as mesmas quando sairmos daqui,
temos a sombra do pai de Ângelo atrás de nós. E muitas coisas que a vida de
Axel como um mercenário conhecido por todo mundo do crime. E também
pelo fato de que se ele for pego pelo seu governo, sabe-se lá Deus o que pode
acontecer.
É tanta coisa, inúmeras coisas que podem nos impedir de ter momentos
como esses. Para falar a verdade eu quero continuar aqui, com essa conexão
profunda que estamos tendo. Ter isso aqui que conseguimos construir é tão
difícil, nunca imaginei que poderia ter com Axel. Só tenho medo que tudo
isso seja passageiro, e só o sentimento disso faz com que meu corpo fique
rígido. Ao notar a minha rigidez, ele me abraça com mais força. Me fazendo
entender, mesmo sem dizer qualquer palavra que ele vai estar ao meu lado. E
isso é bom, Deus, como é bom! Eu estou pronta para dizer isso em voz alta
quando sinto um leve movimento na minha barriga. Paro de respirar no
mesmo momento, com medo de que seja alguma invenção da minha cabeça.
— O que foi, minha menina? O que está te deixando tão
desconfortável? — Axel dispara a perguntar.
— Oh Ax, não é desconforto! Para falar a verdade, é algo muito bom.
Eu só não sei se… — Paro de falar quando sinto novamente. — Oh Deus, é o
nosso bebê! — Levanto a cabeça para encontrar os olhos de Axel amplos.
— O quê? Está sentindo alguma coisa? Você quer ir ao hospital? —
Axel pergunta nervoso.
Eu poderia rir por vê-lo como se eu estivesse pronta para ter o bebê na
cozinha, mas eu estava emocionada demais. Com os olhos marejados, eu
negando com a cabeça enquanto pego a sua mão e descanso no lugar exato
que senti o bebê mexer pela primeira vez.
— O quê? — Indaga com a maior careta de interrogação.
— O bebê mexeu, Ax! Consegue sentir? — Pergunto sentindo
novamente o movimento.
— Oh, é isso? — Sua pergunta sem expressão me deixou triste de
repente.
— Você consegue sentir? — Pergunto novamente e ele nega com a
cabeça.
— Eu não sinto nada, Isadora! — Diz e eu murcho totalmente.
Pensei que havia superado tudo isso, mas parece que temos muito
caminho pela frente. Mas porra, isso é muito frustrante!
— Você é um puta de um insensível, Axel Cox! — Esbravejo tirando
as mãos dele de mim e levantando da cadeira.
— Isadora! — Chama ele, mas sigo para longe dele antes que eu volte e
chute sua perna.
— Me deixe, Axel! Eu vou subir com o meu bebê mexendo na minha
barriga e vou tomar banho para que possamos sair. — Digo irritada. Quando
percebo que ele dá um passo para vir até mim eu ergo o meu dedo indicador.
— Não me siga, caramba! — Mando.
— Isadora! — Chama novamente, mas eu não quero saber.
— Não venha aqui, nesse momento eu quero muito chutar você. —
Revelo e posso ver o seu sorriso fantasma.
— Você não conseguiria, mesmo se tentasse, minha menina. — Ele diz
o óbvio e eu ergo minhas mãos para cima praguejando qualquer coisa sem
sentido.
— Obrigada por me lembrar disso, idiota! — Digo entre dentes.
E sem perder tempo com coisas sem sentido eu viro e saio pisando duro
até as escadas. No momento que chego até o quarto, eu solto um suspiro
resignado. Eu tenho que parar com essa mania de querer transformar Axel em
um homem, namorado, e pai normal. Porque ele não é e nunca vai ser
qualquer coisa normal nessa vida. Tenho que aprender a lidar com o fato de
que ele não sabe agir dessa maneira, e forçar ele a ser o que ele não é só
quem vai ser magoada no final sou eu. É frustrante admitir isso, mas nunca
terei o pai do meu bebê saltando de felicidades junto a mim porque pude
sentir o primeiro movimento na barriga.
Droga, por que eu tenho que ser tão sentimental!
Acho que sou uma mulher muito ambiciosa. Sim, acho que é isso!
Depois de tudo o que Axel fez ao se abrir comigo daquela maneira. Me
contando coisas da sua vida, que conhecendo-o do modo que conheço, tenho
certeza que não foi revelado para mais ninguém além de mim. Eu ainda quero
mais, muito mais para ser exata. Só que… só que eu sei que as coisas não
funcionam dessa forma, tudo leva tempo. Axel não sabe o que é ser um
homem carinhoso, ele demonstra afeto a sua maneira, o que muitas vezes
pode deixar uma pessoa como eu de queixo caído.
Tudo isso martelando na minha cabeça, só me faz ter mais e mais
certeza de que eu tenho que ser paciente. Tenho fé que nós vamos encontrar
uma maneira de lidar com nossas diferenças, de um jeito ou de outro.
Soltando uma respiração forte eu decido tomar um banho de banheira
relaxante. Eu preciso disso, preciso descarregar todas as minhas neuras em
um banho energizante. E é com isso em mente que encho a banheira, coloco
os sais de banho que encontrei no armário, tiro minhas roupas, prendo meu
cabelo e relaxo o máximo que posso. Quando estou com os olhos fechados,
curtindo o meu momento de paz, sinto uma mão passear delicadamente pela
minha barriga.
Sei muito bem a quem pertence essa mão, mas estou receosa a abrir os
olhos e perder o seu toque reconfortante.
— Eu não entendo o que foi que eu fiz que te deixou tão chateada, mas
de qualquer forma eu acho que te devo um pedido de desculpas. — A voz de
Axel saiu baixa, quase como se estivesse receoso de me assustar.
Decido abrir meus olhos encontrando o mar escuro dos seus olhos.
Ergo minha mão e passo na sua bochecha com barba por fazer.
— Tudo bem, Ax! — Digo e ele solta um som frustrado.
— Não, não está tudo bem e eu sei disso. — Ele diz e eu dou um
sorriso sem jeito.
— Acho que são os hormônios, eles me deixam em ponto de ebulição o
tempo todo. — Dou uma desculpa esfarrapada.
— Não é isso, você sabe disso e eu também. — Quando vou abrir
minha boca para falar alguma coisa, ele me impede. — Sei que não sou
exatamente o homem que você sonhou para sua vida, minha menina. Mas a
única coisa que você pode ter certeza é que eu faço de tudo para que você
esteja bem e… e feliz.
— Ax, não me faça chorar! — Mando o empurrando de leve.
— Não foi minha intenção, prometo! Eu só não gostei de ver você tão
irritada. — Ele faz uma careta. — Er… você pode me explicar o que eu fiz
que te deixou tão magoada? — Pede ele e sem me importar de estar toda
molhada, eu me jogo nos seus braços.
— Oh Axel, você às vezes fala as coisas mais erradas do mundo, mas
tem momentos… tem momentos como esses que você acerta muito. —
Revelo o abraçando com força.
— E isso é bom, certo? — Indaga, me afastando para segurar os dois
lados do meu rosto.
— Oh sim, querido, isso é muito certo! — afirmo com o maior sorriso
do mundo.
Nesse momento eu tenho um sentimento de esperança que não há nada
nesse mundo que seja capaz de me tirar. Assim como eu havia sentido antes,
eu tenho certeza que o meu futuro com Axel pode ser melhor do que eu posso
imaginar. Se ele precisa de ajuda para ser mais aberto a certos sentimentos, e
a me perguntar se agir de modo que pode me magoar. Quem sou eu a impedi-
lo de fazer isso? Ninguém! Ninguém realmente!
Após passar o momento de felicidade, Axel pediu espaço e entrou atrás
de mim na banheira. E foi assim que terminamos de tomar banho juntos,
enquanto eu contava a ele que a sua frieza, com relação a algo que para mim
é muito importante, me magoou e me deixou muito brava. Ele ouviu tudo
sem dizer muita coisa, e concordou com a cabeça como se estivesse anotando
mentalmente cada palavra minha. E foi justamente dessa maneira que
terminamos de tomar banho juntos. Após o banho nós nos arrumamos para ir
até a casa do amigo do Craig. Agora estamos no carro, a caminho do nosso
destino.
— Isadora, deixe-me explicar algo para você. — Axel fala, me fazendo
tirar atenção das ruas de Boston para ele.
— Sim, querido, o que foi? — Questiono ao ver sua expressão séria.
— Lembre-se que estamos indo para um lugar que pertence a uma
família de gângsters. — Ele conta e eu confirmo.
— Eu sei, você me disse isso no outro dia. — Lembro a ele.
— É, mas é sempre bom falar de novo. Não quero que você se assuste
caso veja algo que não goste. — Axel diz e eu franzo o cenho.
— Você já foi alguma vez na casa desse Aiden? — Indago o fazendo
negar. — Então relaxe, Ax. Tudo vai dar certo! — Digo, observando a tensão
sair dos seus ombros.
— Tudo bem então! — Enfatiza mais relaxado.
Volto a olhar para fora, prestando atenção em cada lugar de uma cidade
tão bonita, mas ao mesmo tempo tão distante da minha antiga realidade.
Quem iria imaginar que em tão poucos meses eu iria conhecer New Jersey e
Boston? Bem, eu não sei se eu iria acreditar se alguém me disse que um
homem entraria no meu caminho e me mostraria o mundo dessa forma. Não,
com certeza, eu não acreditaria. É engraçado como as coisas acontecem, não
é verdade? E só o pensamento disso me faz rir um pouco.
— Porra, filhos da puta! — Pragueja Axel com violência me
assustando.
— Aconteceu algo? — Pergunto sem entender.
— Eu achei que fosse uma fodida impressão minha, mas parece que
estamos sendo seguidos. — A revelação de Axel faz com que o meu
estômago se aperte.
— Você tem certeza disso? — Questiono nervosa, sentindo minhas
mãos tremerem.
— Ei! — Axel chama, tirando uma de suas mãos e colocando sob a
minha. — Olhe para mim! — Faço o que ele manda. — Eu te prometo que
não vou deixar nada acontecer com você, com vocês dois. — A força na sua
voz me fez ter mais confiança.
— Certo! — Enfatizo com força. — O que eu devo fazer? — Pergunto
sem querer perder tempo para o medo.
Axel me encara como se estivesse muito satisfeito comigo, e ver isso
me faz ter a certeza que seja lá o que vá acontecer a seguir nós dois vamos
conseguir superar.
— Quero que você vá até o banco de trás, puxe uma pequena alavanca
do lado direito. Assim que você puxar a alavanca, o assento irá se erguer. Lá
você vai encontrar armas, coletes e munições. — Axel explica com calma,
enquanto olha pelo espelho retrovisor.
— Tudo bem! — Minha voz treme um pouco, mas eu ignoro.
— Consegue fazer isso rápido? — Indaga ele olhando para mim com
firmeza.
— Sim, eu consigo! Sou pequena, então não vai ser problema! — Digo
e ele confirma com a cabeça.
—Certo, minha menina, então faça isso agora enquanto nenhum carro
avança para nos tirar da estrada. — Axel diz e eu engulo em seco.
Não digo mais nenhuma palavra, e vou fazer exatamente como ele
ordenou. Não posso negar que o medo que estou sentindo é muito grande,
mas eu confio em Ax. Ele é um homem experiente nesse tipo de situação, por
isso que eu sei que tenho que fazer exatamente do jeito que quer que eu faço.
Sendo assim eu já perco tempo, me espremi entre os bancos do motorista e
passageiro para chegar até o banco de trás. Me ajoelho no chão do carro,
tateando a frente e as laterais do lado esquerdo. No momento que minha mão
alcançou a alavanca, eu não perdi tempo, puxei com força. Axel estava certo,
está tudo aqui como ele disse.
— Isadora, preciso que você coloque um desse coletes! — Me assusto,
mas faço o que ele pede. — Agora preciso que você arme duas Glock 's para
mim e coloque elas, junto com mais quatro cartuchos no banco do
passageiro.
— Eu vou… — Começo a falar, mas ele me corta.
— Faça o que eu mandei! — Ele diz repentinamente. — Você lembra
como montar uma arma, não é? — Tenho vontade de revirar os olhos pela
sua pergunta, mas não temos tempo para isso.
— Sim, eu lembro! — Confirmo o vendo olhar para o retrovisor
novamente.
— Eles não vão demorar. Faça, Isadora! Não podemos perder tempo.
— Axel diz me fazendo tremer novamente.
Respiro profundamente duas vezes, tentando controlar o nervosismo
que toma conta de mim. Começo a fazer a tarefa que Axel me incumbiu, a
primeira arma demorar um pouco para ser armada por conta das minhas mãos
trêmulas, mas logo a adrenalina toma conta de mim e termino a minha
pequena missão com honras. Após colocar as armas, as munições e o meu
colete, eu vou a procura de uma arma para mim. Eu não vou ficar parecendo
uma idiota aqui agachada entre os bancos do carro, tenho que me preparar
caso seja necessário que eu use a arma. Axel me vê com a arma, mas não fala
nada, somente assentiu me dando o incentivo que preciso.
Vejo abrir a boca para falar algo, mas o aviso no carro de uma ligação
chama nossa atenção.
— Cox, falando! — Axel responde. No mesmo momento conseguimos
ouvir um barulho alto de tiros.
— Axel, parece que o fodido do Jerônimo Braganza está começando a
agitar as coisas. — Ouço a voz agitada de Craig do outro lado da linha.
— Eu sei, porra! Não sei como, mas ele nos achou aqui também! —
Axel responde entre dentes. — O que está acontecendo aí? — Indaga.
— Os homens dele resolveram nos presentear com uma chuva de balas.
— Craig e eu arregalo os olhos. — Consigo ouvir gritos, e sons altos de tiros,
e vidros quebrando.
— Morram seus desgraçados de merda! — Consigo ouvir o grito
raivoso de Russel.
— Matem todos que conseguirem, depois saiam daí o mais rápido
possível. — Axel comanda.
— E vocês? — Craig pergunta em tom sombrio.
— Vou proteger a Isadora com a minha vida se for preciso, mas eles
não vão leva-la! — Axel promete com uma frieza que me faz arrepiar.
— Chame, Aiden! — E com isso Craig desligou a ligação.
Axel pragueja brevemente, eu fico sem entender por um momento, até
que duas motos entram em cada lado do nosso carro. Ele consegue virar o
carro em direção a uma das motos, fazendo com que um dos caras sejam
mandados pelos ares. O vejo pegar uma das armas, soltar o volante e em um
movimento rápido colocar as munições, destravar, abaixar mais a janela e
tirar no miserável. Ergo um pouco minha cabeça, vendo como o motociclista
é atingido no pescoço e desequilibra na moto antes de cair morto. Axel
acelera mais o carro, aproveitando para apertar algo na tela de controle do
carro.
— Axel, onde você está cara, estamos te esperando aqui e… — Ouço
uma voz grossa pelo alto falante do carro.
— Aiden, ouça-me! — Axel fala fazendo Aiden ficar mudo. — Minha
mulher e eu estamos sendo perseguidos pelos homens do cartel colombiano.
— Explica Axel.
— Onde vocês estão? — O tom de voz do Aiden mudou de animado
para frio no mesmo momento.
Axel diz onde nós estamos sem perder tempo, contando quantos
veículos estão nos perseguindo.
— Já estamos chegando, Cox! Proteja a sua senhora! — Aiden diz com
confiança. Com isso ele desliga a ligação.
— Isadora! — Ax chama.
— Sim? — Pergunto tentando não demonstrar o quão amedrontada
estou.
— Se segure forte aí, acho que as coisas ficaram um pouco mais
complicadas. — Axel avisa.
Assim que ele fechou a boca, senti uma forte batida no lado direito do
carro. Mordo um grito que queria sair dos meus lábios, e seguro em qualquer
lugar o mais forte possível. Consigo sentir os tiros batendo na matéria do
carro, abro um pouco os meus olhos, para dar de cara com uma pequena
granada. Sim, eu sei que aquilo é uma granada por causa de Russel que adora
brincar com isso quando Axel não está por perto. Ele gosta de mostrar como
é ágil em malabarismo, usando aquela maldita granada. E por isso ele me
ensinou como arma-la e contar o tempo delas. O pensamento disse traz uma
ideia louca na minha cabeça.
— Axel, você consegue acelerar o mais rápido possível o carro se eu
jogar algo no carro ao lado? — Grito entre os tiros.
— O que você está pensando? — Indaga entre dentes.
— Granada! — Falo simplesmente e ele encontra meus olhos pelo
retrovisor.
— Você acha que consegue? — Questiona e eu assunto. — Você só
terá uma chance, tudo bem?
— Eu entendo, temos que nos livrar desses carros ou eles vão nos fazer
capotar. — Falo em meio a gritos e ele confirma, mas não antes de virar e
atirar.
— Você está pronta para isso? — Ele questiona sem olhar na minha
direção.
— Sim! — Afirmo, fechando o compartimento do banco de trás e me
arrastando até ele.
— Quando eu mandar, você abre a janela e joga a granada no carro
esquerdo. Vamos explodir esses filhos da puta! — Axel diz com ódio e eu
aperto tanto a arma quanto a granada nas minhas mãos. Como estou curvada,
não vejo o que Axel está fazendo, mas eu não preciso olhar. Eu confio nele.
— Agora, Isadora!
Ao ouvir o comando de Axel, eu me ergo para dar de cara com a janela
do carro à minha esquerda. Com a mente em branco, eu puxo a chave da
granada e jogo na janela. Os capangas de Jerônimo percebem o que acabou
de acontecer, e tentam atirar, mas quando eles veem que sou eu, eles
desistem. Axel acelera com muita força o carro, mas mesmo assim o nosso
carro consegue sentir o impacto quando a granada explode. Sinto o carro
pender para o lado, fecho meus olhos no mesmo momento que sinto um
corpo abraçar o meu com força.
— Isadora, Isadora! — Axel me chama. Pisco os olhos algumas vezes
desorientada.
— Axel? — Chamo de volta, ergo a minha cabeça e vejo que é o seu
copo que está contra o meu. — Como veio para aqui? — Indago após ter a
mente clareada.
— Eu notei que o carro ia sofrer o impacto, e vim te segurar. Você está
bem? O bebê está bem? Você o sente? — Axel dispara a perguntar. Quando
ele se move alguns pedaços de vidro caem no meu rosto, mas ele mesmo tira
de mim.
— Eu estou bem, e sinto o bebê também. Você amorteceu o meu
impacto. — Então a realização cai sobre mim. — Você está bem, Axel? —
Questiono com os olhos arregalados.
— Eu estou bem, temos que nos preocupar a sair daqui. Estamos muito
expostos. — Axel diz, mas logo ouvimos o som alto de carros sendo freados
com força no chão.
— Querido… — Falo baixinho, com medo, mas ele pede para que eu
fique quieta.
— Axel! — Uma voz masculina que eu reconheço brevemente é
ouvida. — Oh porra, vocês estão aqui! Ajudem aqui! — O homem recém
chegado grita.
— Vamos ficar bem agora, minha menina. É o Aiden! — Axel diz e o
meu corpo relaxa no mesmo momento.
Estamos a salvo! É a única coisa que vem na minha cabeça, e eu
agradeço muito a Deus. Não foi fácil, mas finalmente estamos bem agora!
Quando eu ouvi a voz de Aiden eu sabia que estaria tudo bem. Odiaria
ser pego por mais homens de Jerônimo enquanto eu e a minha menina
estamos nessa situação. Apesar que eu faria qualquer coisa para que Isadora
não saísse ferida nesse confronto, jamais deixaria que nada lhe acontecesse.
Se tem uma coisa que já percebi é que meu ego não existe se a minha mulher
está em perigo. Principalmente se for para ser levada por aquele Colombiano
filho de uma puta. Por que sim, é exatamente isso o que ele quer. Ele quer
nos enfraquecer, nos separar para poder pegar a Isadora.
Sei como trabalha a cabeça desses desgraçados, eu sou um deles, e é
exatamente isso que eu estaria fazendo se por algum acaso estivesse no seu
lugar. Mas o que Jerônimo já sabe é que o inferno vai congelar se em iria
permitir que essa merda fodida acontecesse.
Isadora é minha e isso não vai mudar. Ninguém a terá, ninguém irá
machucá-la!
Deixando esses pensamentos de lado, eu foco na minha saída desse
carro com a minha mulher. Peço para que Aiden tire a Isadora primeiro,
porque ela está grávida, e é justamente isso que ele faz. Óbvio que a minha
menina tentou evitar sair primeiro, mas no momento que disse a ela para
pensar em si mesma e no bebê, algo mudou no olhar dela a fazendo
concordar. Após que Isadora estava sob os cuidados de Aiden, eu pude soltar
o resmungo dolorido que estava segurando a sua presença. Sei que essa
minha manobra de largar o volante e vir até ela fez com que o meu ombro
deslocasse, mas eu não me importo. A única coisa que eu queria era protegê-
la e foda-se se eu me machuquei.
— Axel, cara, é sua vez! — Aiden fala chamando minha atenção.
— Porra, sim! — Digo entre dentes.
Depois disso as coisas aconteceram de forma rápida, e logo eu estava
fora do carro também. A primeira coisa que eu fiz, ainda apoiado por Aiden e
um dia seus homens, foi procurar por Isadora. Mas eu não precisei procurar
demais, pois logo senti o meu corpo ser agarrado repentinamente. Me soltei
dos homens que me apoiaram e passei um dos meus braços em volta dela. A
chequei, olhando por todo o lugar à procura de um ferimento grave, mas só
entrei pequenos arranhões.
— Eu estou bem, estou perfeitamente bem! — Isadora fala, tentando
sair dos meus olhos avaliadores.
— Bom! — Digo com firmeza a puxando novamente para mim. Olho
na direção de Aiden, para encontrá-lo com uma cara surpresa. — Obrigado,
Aiden! — Agradeço seriamente, realmente agradeço pela ajuda.
— Esse é o mesmo Axel Cox que eu conheço a anos? — Aiden
perguntou abrindo um largo sorriso. Reviro meus olhos pela sua idiotice.
— Sim idiota, sou eu. E essa... — Olho para Isadora que está grudada
em mim. — Essa é minha mulher, Isadora Martins. — Apresento e o idiota
não esconde sua feição de surpresa.
— Prazer em conhecê-lo, estou muito agradecida por nos ajudar nessa
situação tão terrível. — Isadora com a sua sinceridade doce. Vejo que Aiden
não deixou de ficar fascinado olhando para nós dois como se fossemos algo
raro, o que me traz uma certa irritação.
— Não precisa agradecer, eu devo a esse idiota aí. — Aiden responde
prontamente, voltando a sua expressão desacreditada. — Nunca imaginei que
veria Axel Cox chamando alguma mulher de sua. — Os olhos de Aiden vão
em direção a barriga arredondada. — E, puta merda, com uma família.
— Como? — Isadora pergunta confusa. Olhando de mim para Aiden
sem entender.
— Preciso que nos leve a alguma clínica segura. — Faço uma careta
ignorando todas as perguntas e olhares.
— Está desviando, não é? Tudo bem! — Aiden fala em tom divertido.
— Tenho um lugar que posso levar vocês. Você tem que colocar esse ombro
no lugar. — Aiden diz e eu assinto com a mandíbula cerrada.
— Oh Deus, você está com o ombro deslocado? — Isadora tenta se
afastar de mim, mas eu não posso permitir isso.
— Vai ficar tudo bem. — Digo engolindo a dor.
— Axel… — Isadora começa, mas eu a impeço rapidamente.
— Minha menina, temos que sair daqui. Estamos muito expostos,
podem haver mais homens do cartel vindo até nós. Tenho que saber se você e
a criança estão bem, depois vamos voltar para o Brasil. Ok? — Questiono em
tom baixo, olhando nos seus olhos assustados.
— S… sim, ok! — Responde me fazendo soltar uma respiração forte,
antes de avançar e deixar um beijo na sua testa.
— Vamos, Axel! — Aiden me chama, e logo aponta para um Hummer
preto. — Meu primo vai levá-los, eu vou logo depois. — Aiden diz e eu
franzo o cenho.
— Eu não conheço seu primo! — Renato. Meus olhos vão em direção
homem alto e muito musculoso, com a cabeça raspada e olhos que conheço
bem, olhos de um assassino.
— Ele pode ter aquela cara ali, mas uma manteiga derretida quando se
fala em grávidas, bebês e pessoas gentis. Confie em mim, ele vai proteger sua
mulher enquanto você estiver assim fodido. — Aiden conta acenando com a
mão para o primo, que acena de volta.
— Vamos, querido! Você deve estar com dor! — Isadora fala me
fazendo olhar na sua direção. Ela concorda com a cabeça e eu não vejo outro
jeito a não ser confiar.
Inferno, eu odeio tudo isso! Eu é que tenho que cuidar da minha
mulher.
— Tudo bem! — Digo friamente apertando Isadora contra mim
novamente.
Aceno com a cabeça para Aiden antes de virar em direção até onde está
o Hummer. Observo Isadora acenar para o gigante que irá nos levar, e ele dá
um sorriso meio tímido para minha mulher. Faço uma careta, mas escondo
quando ela abre um sorriso na minha direção. Tentando passar algum tipo de
confiança para mim. Pobre menina tola, ela é um tipo de pessoa que
realmente não foi feita para esse mundo de cão que eu estou tão acostumado.
Ela é doce, tão doce e verdadeira que a primeira pessoa que nos estende a
mão ela já está feliz e totalmente agradecida. O que ela não sabe é que essa
ajuda pode vir a ser um problema no futuro. Por que sim, toda ajuda é como a
porra de uma dívida que deve ser paga.
Apesar que para Aiden isso é algum dia fodido de retribuição. Mas seja
como for, eu não me importo, tudo o que eu quero é que Isadora esteja
segura. Eu posso até mesmo dever ao Diabo se for preciso, mas a minha
mulher tem que estar no topo das minhas preocupações. Se for para dever a
alguém, que assim seja. Sou despertado dos meus pensamentos quando o
primo de Aiden avisa que chegamos. Entramos em um lugar pequeno, que
não dá nada do lado de fora, mas quando se entra dá para ver nitidamente que
é uma clínica. Pedi para que Isadora fosse atendida primeiro, mas ela é
teimosa o suficiente para negar e me ameaçar. Caso eu não deixasse de ser
um idiota mandão e fosse ser atendido. Palavras dela e não minhas, é claro.
Depois de sofrer uma dor desgraçada ao ter meu ombro de voltar no
lugar e apoiado a uma tipoia, ter algumas lacerações desinfectadas,
costuradas e cobertas, foi a vez de Isadora. Como ela havia dito antes, ela não
estava muito machucada, tinha alguns pequenos arranhões e nada mais. Até
mesmo o bebê não sofreu nada com o impacto. Fico satisfeito que pude fazer
com ela não fosse ferida, no momento eu não pensei, somente lembrei que ela
estava sem cinto de segurança e corri até o fundo do carro para segurá-la. E
deu certo! Assim que nós dois fomos atendidos, Aiden apareceu afirmando
que havia feito a limpeza de tudo e que não havia ninguém a nossa procurar.
Graças a buda, por isso!
— Então, Axel! Que diabos você fez agora que tem até mesmo o cartel
colombiano atrás de você? — Aiden pergunta sentado em uma das poltronas
que havia no quarto.
— Eles não estão atrás de mim. — Digo categoricamente, sem tirar os
meus olhos da minha mulher que adormeceu na maca.
— Como? Então o que diabos foi aquilo ali? Se não tivesse chegado,
vocês poderiam ter morrido. — Aponta ele e eu faço um som de
descontentamento.
— Estou ciente dessa merda, já te agradeci por isso. — Respondo
carrancudo. Passo a mão delicadamente pelos cabelos cacheados da minha
menina. — O Cartel está atrás dela, de Isadora. — Conto.
— Porra, cara, o que essa menina fez para merecer uma merda dessas?
— Aiden indaga e eu mordo com força.
— Nasceu! Ela só precisou nascer! — Digo simplesmente ouvindo um
"porra" sussurrado dele.
— O que você fará agora? — Questiona ele me fazendo tirar os olhos
de minha mulher, para encara-lo.
— Vou destruir qualquer um que tentar pôr as mãos nela. — Falo com
fervor sombrio.
— Não julgo, se fosse com a minha Kyra eu faria o mesmo. — Aiden
fala da sua filha de cinco anos.
A intensidade na voz de Aiden ao falar da sua filha me fez olhar
automaticamente para o ventre da Isadora. E sem que eu pudesse perceber, ou
até mesmo me parar, minha mão estava sob o seu ventre. É como se algo a
mais acendesse dentro de mim, uma coisa que dúvida que poderia se firmar
algum dia. Mas enfim aconteceu, e tudo isso é pelo fato de que se eu perder
Isadora não será somente ela, o que seria uma merda muito fodida, mas eu
também estaria perdendo essa criança. Diabos! Como essa porcaria
sentimental mexendo comigo?
— Aiden! — Chamo repentinamente.
— Sim? — Responde ele.
— Como é? — Pergunto seriamente. No início ele fica parado, confuso
com o que eu acabei de perguntar, mas logo ele cai em si.
— Eu não sei explicar em palavras, Axel, mas é algo que eu nunca
senti na minha vida inteira. Por minha Kyra eu sou capaz de fazer qualquer
coisa, não me vejo longe dela e muito menos pensar que ela nunca pudesse
existir. Porra, cara, é louco demais! — Ele para dando um sorriso entendedor.
— Você pode ser descrente agora, mas logo saberá! — Não pude dizer nada
além de assenti com a cabeça.
— Certo! — Falo após soltar um pigarro. — Conseguiu recuperar
alguma coisa nossa? — Indago.
— Oh sim, uma bolsa e um celular. — Aiden fala levantando para
pegar algo do outro lado do quarto.
— Isso é bom! — Falo estendendo o braço bom para pegar o meu
celular.
Aperto o botão e vejo que o aparelho está com a tela um pouco
trincada, mas está funcionando em perfeito estado. A primeira coisa que eu
faço e mandar uma mensagem para Craig, avisando que eu e Isadora estamos
bem e logo estaremos voltando. A próxima mensagem foi enviada para
Ângelo.
O filho da puta do seu pai fez o jogo dele. E eu não vou deixar isso
barato.
Minha irmã, ela está bem?
Sim, não graças ao Colombiano dos infernos.
Daqui a poucos dias eu volto para o Brasil. Vamos falar sobre essa
merda.
Só quero se for para bolar um plano para acabar com Jerônimo.
Não será menos que isso.
Certo!
Cuide da minha irmã!
Faço uma careta, porque ele não tem que me mandar fazer uma coisa
dessas. Ela é minha mulher! Minha, porra!
Lembre-se Gutierrez, Isadora é minha mulher!
Fecho a conversa com Ângelo, faço uma breve ligação para que
preparem o jatinho. Após a ligação eu aperto o celular com força, quando o
pensamento de matar Jerônimo me consome.
Ele pode até tentar, mas nunca terá a minha menina. Se isso acontecer
ele é um homem morto, e isso é uma promessa.
Eu estou vivendo com medo ultimamente. E não é aquele medo que
você pode superar facilmente usando de alguns métodos. Não, com toda
certeza não é assim! Esse é um medo que gela a alma e faz com que você não
possa viver de modo livre. Tenho a impressão que a qualquer momento o pai
de Ângelo vai me pegar, e fazer de mim algum exemplo doentio. Faz três
dias que Axel e eu voltamos para o Brasil após o ataque que sofremos, tentei
de todas as formas conseguir entender como ele conseguiu nos encontrar, só
logo a minha mente foi clareada quando imediatamente a minha ficha caiu.
Aquele homem é extremamente poderoso, é um tipo de poder que vai além
da minha imaginação.
Por que uma pessoa que ataca dois lugares de forma simultânea,
mostrando assim a todos os lados o quão poderoso é somente seu aviso, ele
definitivamente não está de brincadeira. Jerônimo Braganza me mostrou que
começou a sua caça contra mim a partir daquele momento, e que eu deveria
me preparar. Mas eu decidi não me deixar abalar por isso, porque eu não
estou sozinha. Isso mesmo! Eu tenho Axel e os meninos ao meu lado, e se
eles disseram que não vão deixar com que nada me aconteça, então cabe a
mim acreditar neles. Porque se o pai de meu irmão é poderoso, eles também
são, e é por isso que tenho fé que vou conseguir sair dessa.
Pelo menos é isso que eu estou rezando para acontecer.
Balanço com a cabeça, tentando me livrar desses pensamentos. Porque
se eu ficar deixando com que os últimos acontecimentos me assombrem eu
não vou durar muito tempo nesse mundo. Ouço meu celular chamando na
mesinha de cabeceira, o pego rapidamente vendo o nome de minha mãezinha
na tela. Deixo um sorriso carinhoso escapar dos meus lábios
automaticamente.
— Olá, mãezinha! — Atendo rapidamente, sentando na cama.
— Oi meu amor, o que há com essa voz triste? — Minha mãe pergunta
me fazendo dar uma tosse leve.
— Eu não estou triste, mamãe. — Mudo rapidamente o meu tom. —
Está tudo bem, realmente. — Termino forçando um sorriso, mesmo sabendo
que ela não pode ver.
— Oh Dorinha, eu sou sua mãe, sendo assim eu te conheço muito bem.
Por favor, me diga o que há. — Ela continua, mas eu respiro fundo.
— Não é nada demais, mãezinha, acho que estou nervosa com a minha
apresentação de hoje. — Minto, porque não existe outra saída.
— Agora eu sei o que é, não precisa mentir para sua mãe, querida. —
Fico estática quando ouço essas palavras.
O que será que mamãe sabe? Será que Jerônimo… Oh não!
— Mamãe o que… — Começo falar, mas ela me interrompe.
— Você está triste porque nem eu e seu pai vamos poder estar aí hoje,
não é? — Questiona mamãe carinhosamente.
Paro por um momento, tirando o celular do meu ouvido para poder
acalmar meu coração acelerado. Cristo, o medo louco que acabei de sentir
nesse momento é de matar qualquer um. Pensei realmente que mamãe havia
descoberto sobre as ameaças do pai de Ângelo. Mas graças a Cristo não é
nada disso! Odeio esconder essas coisas dos meus pais, mas não tem outra
alternativa. Eles são idosos com uma saúde frágil, ter essa sombra nas costas
deles, os assombrando dia e noite como está acontecendo comigo é muito
pesado para eles suportarem. Eles estão seguros sem saber de nada, e com
homens de Axel nas redondezas. Então deixa como está, é melhor.
— Admito que adoraria ter meus pais aqui, mas não preocupe
mãezinha. — Falo fazendo com que ela não fique aflita.
— Mesmo assim eu lamento, como eu havia te dito antes, o seu pai não
está muito bem. Acabamos de voltar da sua consulta. — Meus olhos se
enchem de lágrimas.
— Eu posso fazer alguma coisa para ajudar, mãezinha? Será que o
paizinho vai… — Não consigo terminar de formular a minha pergunta.
— Dorinha, seu pai é o burro velho mais teimoso que existe. Duvido
muito que ele deixe esse mundo sem poder conhecer o seu netinho ou
netinha. — Dou uma risada contida ao ouvir o que acabou de falar.
— Isso é verdade, fora a parte do burro. — Defendo paizinho e mamãe
faz um som de desdém.
— Eu estou bem ouvindo você me difamar, sua velha encrenqueira. —
Ouvir a voz do papai e isso fez meu coração se acalmar um pouco.
— O que está fazendo fora da cama, Gene? — Minha mãe pergunta.
— Não queira mudar de assunto, Jó! Bah! Você está jogando meu
passarinho contra mim, isso eu ouvir bem. — Reclama meu velho pai e é
impossível não rir da briga sem sentido desses dois.
— Mãezinha, coloque no viva voz, por favor. — Peço.
— Sim Dorinha, aproveita e reclame desse velho. — Mãe fala, mas
logo ouço de fundo ela sussurra algo com o papai que rebate. — Pronto filha,
agora pode falar.
— Paizinho, o que está fazendo fora da cama? O senhor está com o
coração cansado. — Lembro a ele que solta um som de desgosto.
— Quem está cansado aqui é a minhas costas de estar naquela cama.
Eu não sou homem de ficar parado, Dorinha. — Desabafa meu velho me
fazendo negar com a cabeça.
— Tão teimoso, mas eu entendo um pouco. — Me compadeço por
saber como é chato ficar de repouso.
— Viu só, minha velha, a minha filha me entende. — Papai provoca.
— Mas isso não quer dizer que o senhor deve burlar as ordens médicas,
papai. Se seu médico disse para descansar, deve fazer isso. — Completo o
fazendo murchar um pouco.
— Eu sei minha filha, é só chato demais. Até os meus joguinhos
ficaram chatos. — Meu pai reclama, mas logo dá tosse forte.
— Quer um pouco de água, meu velho. — Mãezinha pergunta a ele
aquecendo meu coração.
— Estou bem, minha velha. — Papai responde com carinho após
acalmar a tosse.
— Eu amo muito vocês! — Declaro com todo o meu coração.
— Oh Dorinha, por que isso tão de repente? — Mamãe pergunta
carinhosamente.
— Nada, eu só queria que vocês dois soubessem disso. Hoje eu estarei
apresentando meu projeto final, tenho certeza que irei passar e espero que
vocês se orgulhem de mim. — Digo emocionada.
— Nós sempre sentimos orgulho de você, meu passarinho. — Papai diz
com a voz rouca.
— Eu sei disso, nunca duvidei. — Afirmo sem qualquer sombra de
dúvidas.
— Vamos parar com isso, para que eu não cai no choro de emoção,
sim? — Minha mãe diz soltando um pigarro. — Dorinha, sabe o que estou
fazendo nesse momento? — Mamãe emenda uma pergunta repentinamente.
— Não, o que é? — Questiono confusa com a mudança rápida.
— Estou tricotando uma roupinha linda para o meu netinho. — Abro
um largo sorriso com o que eu acabei de ouvir.
— Oh mamãe, que lindo! Obrigada! — Agradeço alegremente.
— Não precisa agradecer, minha filha, porque se não é a vovó Jó
fazendo isso o meu netinho ou netinha vão nascer sem nada para vestir. —
Ela reclama e eu faço de tudo para não rir da sua reclamação.
— Ainda tenho tempo para montar o enxoval, mamãe. Não se
preocupe! — Lembro a ela.
— Que seja, mas uma roupa tricotada pela vovó Jó, o bebê vai ter. —
Enfatiza ela e eu não faço nada além de concordar.
— Dorinha, tenha uma boa sorte lá da sua apresentação e tenha um
bom jantar de formatura, certo? — Papai fala e eu respiro fundo.
— Obrigada paizinho, quando as coisas se acalmarem por aqui, eu e
Axel vamos ver vocês. Mas enquanto isso se cuidem, por favor. — Relembro
e eles fazem um som de confirmação.
— Tudo bem, minha filha. — Minha mãe diz.
— Voa, meu passarinho! — Papai diz e não tem como eu não me
emocionar.
Após mais algumas despedidas eu desliguei a ligação. Controlo a
emoção dentro de mim, porque eu não posso deixar que ela me tome de vez.
Digo várias e várias vezes na minha mente que esse sentimento de despedida
é algo da minha cabeça, que por mais que o coração do meu paizinho esteja
bastante cansado, assim como o médico disse, ele vai ficar bem. A porta
sendo aberta interrompe as minhas divagações, olho para o lado e vejo Axel
entrando com toda sua altivez. Quando nossos olhos se encontram ele cerra
os olhos, fazendo uma careta logo em seguida.
— Esteve chorando, querida? — Questiona ele estendendo a mão assim
que chega perto o suficiente.
— Estava em ligação com os meus pais. — Conto, recebendo um beijo
na testa.
— Está explicado então. — Diz colocando o dedo no meu queixo para
que eu volte a olhar para ele.
— Estou preocupada e queria que estivessem aqui. Boa parte da minha
formatura eu devo a eles, sabe. Agora tudo isso está acontecendo, e eu estou
muito sobrecarregada. — Revelo a Ax, que me abraça com força.
— Eu sei, minha menina. Se você quiser podemos cancelar o jantar, o
que acha? Querendo ou não, temos que ficar de olho em qualquer movimento
do Colombiano desgraçado. Não gosto de ser pego desprevenido. — Axel diz
com irritação ao lembrar do último ataque que sofremos.
— Não! Eu não vou me privar de ter um momento de comemoração
com vocês por causa daquele homem. Eu me recuso. — Digo com firmeza.
Me afastando do abraço de Axel.
— Essa é a minha menina! — Ele fala com tom leve, me deixando sem
graça.
Não estou muito acostumada a ver Axel mais leve ao meu lado, mas
tenho que admitir que é muito bom. É como se finalmente pudéssemos dar
uma direção verdadeira a esse relacionamento, e eu amo isso. Lá mesmo em
Boston eu já havia notado essa mudança, até mesmo pensei que quando
chegássemos no Brasil as coisas voltariam à mesma frieza de sempre. Mas
não, não foi isso o que aconteceu. Ele me deixou entrar, e dessa vez não há
nada nessa vida que me faça sair. Sei que Axel quer isso tanto quanto eu
agora, sem quaisquer amarras de futuro pouco provável. E o mais bacana de
tudo é que ele não deixou de ser o meu Axel, só está me dando a abertura que
eu tanto queria.
— Axel, eu acabei de ver uma coisa! — Falo observando algo de
repente.
— O quê? — Indaga ele seriamente.
— Por que você tirou sua tipóia? — Questiono e ele revira os olhos.
— Eu não iria mais ficar com aquela merda, Isadora. Aquilo me
impede de atirar, se caso eu precise. — Axel diz e eu nego com a cabeça.
— Você usa muito bem as duas mãos, Axel. — Aponto, sabendo que
ele é ambidestro.
— Minha menina. — Axel chama, aproximando seu rosto contra o
meu. Posso sentir o cheiro o cheiro forte de café e cigarro entre seus lábios.
— Eu estou bem, querida, e mesmo se eu não estivesse eu tiraria aquela
merda para ter todos movimentos possíveis. Odeio aquela merda estúpida! —
Conta ele para logo depois deixar um beijo nos meus lábios.
— Você está querendo me distrair para eu não continuar falando? —
Pergunto entre beijos.
— Está funcionando? — Sua mão aperta a minha bunda.
— Sim, está sim! — Digo após soltar um gemido abafado. Axel solta
um som de contentamento antes de parar suas investidas em mim.
Droga, eu fui tapeada!
— Você está pronta para sair? — Questiona ele me lembrando que
temos que sair logo.
— Falta somente terminar alguns ajustes, e colocar minha apresentação
na bolsa. — Conto e ele olha fixamente nos meus olhos.
— Você vai se sair muito bem hoje. — Afirma e eu faço uma careta.
— Como você sabe disso? — Indago com uma careta.
— Porque você é minha mulher, e a minha mulher não é menos que
perfeita. — Eu não pude deixar de rir da sua baboseira.
— Esse é o seu modo de me deixar relaxada? — Pergunto e ele dar de
ombros.
— Eu não sei fazer essa merda, então improviso. — Comenta e eu o
empurro.
— Sai daqui Axel! — O empurro novamente. — Encontro você e os
meninos lá embaixo.
Axel caminha até a porta, dando um simples aceno com a mão antes de
passar por ela. Aproveito que a distração que ele me causou, fez com que
alguns pensamentos saíssem da minha cabeça e terminei de me arrumar.
Como já estava vestida com vestido envelope azul, com manga três quartos, e
de comprimento até abaixo do joelho. Admirei novamente o vestido no
espelho, antes de arrumar meus cabelos, fazer uma maquiagem leve e colocar
meus sapatos de salto não muito alto. Evito os saltos sempre que posso, já
que sou uma pessoa sem muita gravidade para viver. E eu odiaria cair de cara
no chão, ainda mais estando grávida.
Depois de estar pronta, eu pego o restante das minhas coisas. E
obviamente não esquecendo o material da minha defesa de hoje. Fui
acompanhada até a universidade por um grupo de homens muito lindos e
intimidantes. Não me preocupo com os olhares de algumas pessoas, isso não
me incomoda mais, já estou terrivelmente acostumada. Como aqui é
permitido ter convidados para assistir a defesa, pedi para que os meus
acompanhantes sentassem em seus respectivos lugares para que eu pudesse ir
ao banheiro. Obviamente Axel não ficou feliz, e afirmou que iria me seguir
onde quer que eu fosse, mas eu consegui fazer com que ele se acalmasse. Fiz
ele entender que logo voltaria.
Consegui ir ao banheiro em paz, minha pobre bexiga estava a ponto de
explodir, mas o meu alívio é coisa dos céus. Lavo minhas mãos, olhos para o
relógio e vejo que faltam pouco para a minha apresentação. Sem perder
tempo eu saio do banheiro, mas antes que possa seguir o meu caminho eu sou
parada por ninguém menos que Jonas. Como eu não tenho por que parar por
causa desse pequeno infortúnio, eu tento passar por ele sem dizer uma única
palavra. Mas as coisas não acontecem como eu quero.
— Isadora? — O idiota me chama e eu solto um bufo antes de dar
atenção para ele.
— O que você quer, Jonas? Eu tenho minha defesa para fazer. — Falo
e ele não esconde a sua surpresa.
— Sua defesa é hoje? — Ele pergunta o óbvio.
— Sim, mas não que isso seja da sua conta. — Ele ignora a minha
hostilidade e volta a falar.
— Mas por que tão rápido assim? — Respiro fundo para não o mandar
a merda.
— Não que isso seja do seu interesse, mas eu sou competente o
suficiente para ter o meu projeto terminado, avaliado, liberado e nenhuma
matéria atrasada que poderia me impedir de adiantar o que tenho que fazer.
— Explico a ele com os punhos cerrados.
— Você sempre foi muito capaz mesmo. — Fala Jonas me pegando de
surpresa.
— O que é isso? — Indago olhando para os lados. — É alguma
pegadinha? Onde está sua turma do mal? Ou sua namorada está vindo me
humilhar? — Pergunto.
— Kimberly e eu já não estamos mais juntos! — Ele diz dando um
passo para frente, mas eu recuei dois passos. — Eu queria falar com você a
um tempo, Isadora, mas você não estava vindo a faculdade. — Diz ele e eu
franzo o cenho.
— O que você queria comigo? — Indago sentindo que vou me
arrepender de fazer essa pergunta.
— Queria te convidar para jantar, com a intenção de que você me
perdoe todas as coisas que fiz a você. — Jonas diz e eu não aguento e solto
uma gargalhada.
— Sério isso Jonas? Você não tem coisa melhor para fazer não, cara?
— Pergunto controlando a minha risada.
O que esse idiota está pensando em falar uma perda dessas? Pelo
amor dos céus!
— Eu estou sendo sério aqui, Isadora! — Ele tenta me alcançar, mas eu
desvio dele novamente.
— Jonas! — Enfatizo o seu nome sem esconder a minha repulsa. —
Não sei que joguinho você está pretendendo fazer, mas saiba que eu nunca
aceitaria o seu convite para jantar. Primeiro que eu não tenho sangue de
barata para aceitar um convite de uma pessoa que eu desprezo. Segundo que
eu tenho um relacionamento, e estou prestes a ter um bebê. — Quando falei a
palavra "Bebê" os olhos arregalados de Jonas foram diretos para minha
barriga.
— Nossa, eu não sabia! — Idiota fala surpreso, mas eu o encaro com
indiferença.
— E não é para saber realmente, já que você não faz parte da minha
vida. — Passo a mão na minha barriga quando sinto o bebê se mexer.
— Mesmo assim eu quero… — A voz de Jonas é esquecida quando
ouço Axel me chamar.
—Isadora! — Sua voz intensa me faz perceber que ele não está feliz.
Viro minha cabeça para trás e sorrio ao vê-lo.
Salva novamente pelo meu vilão favorito!
— Querido, desculpe a demora! Como pode ver eu meio que fui
impedida. — Falo fechando meu sorriso ao apontar para Jonas.
— Posso ver claramente. — Axel diz de forma gélida, antes de virar
para mim. — Você está bem? — Pergunta me avaliando.
— Sim, eu só estava terminando aqui para poder ir. Já fui chamada? —
Indago e ele nega ainda com uma expressão de assassino sanguinário no
rosto.
— Não, querida! — Ax me responde e volta a encarar Jonas. — Você
tem algum problema para falar com a minha mulher? — Axel pergunta
rudemente a Jonas, que não fala nada só nega com a cabeça e dá um passo
para trás.
HA HA HA… Olha só quem está com medo do meu vilão!
— Vamos embora, querido, não quero me atrasar. — Chamo a atenção
de Axel para mim.
Ele assente sem demora, mas antes de me induzir ele olha com o
mesmo olhar assassino para Jonas. No momento que eu ia deixar Axel me
guiar eu lembrei que havia esquecido de algo. E sem soltar a mão de Ax, eu
viro a cabeça para olhar para Jonas novamente.
— Jonas, eu esqueci de dizer a terceira coisa a você. — Paro dando um
sorriso de escárnio. — Bem, o terceiro nada mais é que esse é o último
encontro que vamos ter. Da próxima vez que você me impedir de seguir meu
caminho, eu não serei tão complacente.
Sem dizer qualquer outra palavra, eu deixo Axel me levar para onde eu
deveria estar. Deixo o beijo em Axel, agradecendo por ele ter vindo até mim
e deixando com que eu lidasse com Jonas. Ele não disse nada, somente
aceitou o beijo e me desejou sorte, o que fez meu coração aquecer. A defesa
do meu TCC foi um grande sucesso para mim, no início eu me vi nervosa,
mas logo percebi que não haveria o que de tanto nervosismo, já que aquilo
tudo foi eu que estudei muito para fazer. Então sim, foi tudo muito bem e
com isso eu terei nota máxima.
O sorriso não cabia em minha boca quando finalmente fui liberada para
poder receber os parabéns da minha família, porque esses marmanjos
intimidadores são parte da minha família. Após todas as felicitações nós
fomos podemos enfim ir embora, como eu não iria participar da cerimônia de
graduação, o meu diploma estaria em minhas mãos em poucos dias. No
mesmo instante em que estamos indo em direção a saída da universidade eu
avistei uma mulher ruiva ao lado de uma moto vermelha que eu conheço
muito bem.
— Lara! — Exclamo feliz.
Quando dou indício que estou indo até minha amiga, amiga essa que
tenho dias sem ver e que morro de saudades, eu sou barrada por Axel.
— Isadora, não! — Axel manda, mas eu puxo o meu braço do seu
aperto. — É perigoso estar perto dela agora, Isadora! — Axel fala me
deixando irritada com suas palavras.
— Lara é minha amiga, ela nunca faria nada que pudesse me
prejudicar, Ax! — Falo com firmeza, mas a súplica no seu olhar me quebra
um pouco. — Vai ser rápido, querido, qualquer sinal de perigo eu tenho você
e os meninos. — Olho para Craig, Russel e Earl que assentem rapidamente.
Sorrio em agradecimento para os meninos e volto a olhar para Ax.
— Seja rápida, minha menina. Não podemos vacilar com a sua
segurança. — Ele diz a última parte entre dentes.
Antes de ir até Lara, eu não pude deixar de dar um beijo rápido em
Axel. Eu estou tão contente e aliviada que Lara está aqui, eu realmente estava
sentindo sua falta. É uma verdadeira merda que tenhamos que nos separar
dessa maneira, nossos mundos estão opostos agora, mas tenho fé que no
futuro tudo irá se ajeitar. E foi com esse sentimento de esperança que eu
alcancei a minha amiga e a abracei com força.
— Poxa Dorinha, senti sua falta, garota! — Lara diz enquanto nos
abraçamos.
— Também senti sua falta, Lala! É uma merda que isso esteja
acontecendo com a gente, você é minha única e melhor amiga. — Digo com
pesar. Nos afastamos do abraço, e Lara não perde tempo e passa a mão na
minha barriga.
— É uma merda mesmo, mas seu dragão assassino está certo em nos
manter distante. Meu pai está de olho firme em mim, porque sabe que somos
amigas. — Lara diz com raiva.
— Lala, tudo isso é terrível, mas vamos falar de outra coisa. — Sugiro
e ela não perde tempo em concordar.
— Parabéns pela sua formatura, minha amiga. Eu sei que você queria
muito. — Ela fala e eu sorrio.
—Obrigada, é muito bom esse sentimento de dever cumprido. —
Revelo a fazendo sorrir também.
— E esse bebê dragão da dinda, como está? — Lara pergunta e antes
que eu pudesse dizer algo, ela torna a falar. — Eu sou a madrinha ainda, não
é? — Indaga com apreensão.
— Não existe ninguém melhor para essa tarefa, Lala. Tenho esperança
que toda essa porcaria com o pai de Ângelo irá se ajeitar. — Digo com
firmeza e ela relaxa o corpo automaticamente.
— Eu também tenho fé, Dorinha. Não aguento mais essa vigilância
ridícula em mim. — Lara fala e eu não posso deixar de me compadecer.
— Não se preocupe, estou bem e o bebê também. Espero que você
esteja bem também, apesar dos pesares. — Falo fazendo Lara confirmar com
a cabeça.
— Dorinha, eu não posso ficar muito tempo. Só vim para poder te
parabenizar e dizer para ter cuidado. — Lara olha para algum lugar e isso
chama minha atenção. — Não olhe, garota! Eles descobriram que eu saí.
Filhos da puta!
— Você vai ficar bem? Porque não vem com a gente, Axel e os
meninos vão te proteger. — Digo amedrontada, segurança seu antebraço.
—Eles não vão me machucar, Dorinha, mas não posso falar o mesmo
de você. Desculpa! — Lara fala com tristeza.
— Você não tem culpa! — Rebato e ela me abraça.
— Você é boa demais para esse mundo de cão. Fica bem, Dorinha, seu
dragão assassino está vindo até você. Vá! — Manda e eu concordo com a
cabeça.
— Amo você, Lala. — Digo com os olhos ardendo.
— Eu também amo você, Dorinha. — Diz ela com um sorriso triste.
Observo Lara sentar na sua moto, colocar seu capacete, ligar sua moto
e sair em disparada. Axel me alcança, e sem dizer qualquer palavra ele me
puxa para fora da universidade para me guiar até o carro. Sinto uma puta
injustiça por tudo isso que está acontecendo, eu não fiz nada para merecer
isso. Esse homem me odeia, e com isso está mexendo com a vida de todos
que me rodeiam. Eu o odeio! Odeio com tudo que tenho em mim, porque se
não fosse pro ele minha vida não estaria tão louca como está agora. Sinto o
braço de Axel apertar a minha volta, me tirando desse mar de raiva cega.
Respiro fundo, por que isso não é bom para o meu bebê.
— Algo não está certo, Axel! — Craig fala chamando nossa atenção.
— O que está houve? — Axel indaga seriamente e eu já fico
apreensiva.
— Aquele ali não é o carro de Ângelo? — Earl questiona.
— O bastardo deve ter voltado de viagem. — Axel fala. — Mas não
vamos abaixar a guarda. — Alerta ele.
— Espero que não atirem na gente, passei dois dias consertando a
merda que fizeram da última vez. — A irritação de Russel poderia me fazer
rir, se eu já estivesse tão tensa.
— Vamos sair! — Axel diz após ver algo no seu celular. Acho que foi
alguma mensagem.
No momento que saímos do carro, vejo meu irmão sair do seu carro
também. Abri um sorriso ao vê-lo ali parado, sorrindo para mim em resposta,
não sabia o quanto eu sentia falta dele até tê-lo aqui de frente para mim agora.
Penso em ir até ele, mas a porta do carona se abre repentinamente me fazendo
retroceder.
— Porra! — Axel fala no mesmo instante que ele vê o homem que saiu
do carro de Angel.
— ¡Mi madre Guadalupe! No puedo creer lo que me están mostrando
mis ojos. ¡Es ella, es mi pequeña estrella! ¡Mi hija está viva! (Minha mãe
Guadalupe! Eu não posso acreditar no que meus olhos estão me mostrando. É
ela, é a minha estrelinha! Minha filha está viva!) — O homem elegante diz
visivelmente emocionado. Procuro por Axel confusa, porque eu realmente
estou perdida com o que está acontecendo nesse exato momento.
— Isa, minha irmã! — Ângelo me chama, atraindo minha atenção
novamente.
— Angel, o que está acontecendo? Quem é esse homem? — Pergunto
desviando o olhar do meu irmão para o homem que está abalado o bastante.
— Deixe-me apresentar a você, Alonzo Vergara, seu pai! — As
palavras de meu irmão vêm a mim como uma marreta pesada no meio da
minha cabeça.
Como assim esse homem é o meu pai? Ele… ele não está morto? Oh
Deus, o que está acontecendo aqui?
Quando você é uma criança adotada a sua imaginação é algo muito,
muito forte. A partir do momento que descobre que os pais que você sempre
conheceu na verdade não são aqueles que lhe deram a vida, então é aí que
tudo começa. Por que sim, nenhuma criança pequena sabe exatamente o
verdadeiro significado da adoção até que lhe contam. E no meu caso isso foi
feito quando eu ainda era bem nova, meus pais nunca esconderam esse fato
de mim, eles diziam que tinham medo que alguém da família revelassem isso
para mim de modo que eu pudesse me machucar muito.
O que eu realmente quero dizer, depois de tanta divagação, é que eu
imaginava como poderiam ser os meus pais biológicos. Mesmo que muitas
das vezes eu me sentisse culpada por pensar em algo assim, já que na minha
cabeça eu estava traindo os meus paizinhos.
Porque sim, para minha cabeça de criança e adolescente sonhar com os
seus possíveis pais biológicos era como se fossem o fim do mundo. Mas tudo
isso mudou com o tempo, eu cresci e entendi algumas coisas que antes eu não
conseguia entender direito. Então todas as coisas sobre a minha origem
ficaram de escanteio durante muito tempo, meu foco era poder terminar a
faculdade, trabalhar em alguma empresa de software, ter algum dinheiro e dar
um pouco de conforto aos meus pais sua velhice.
E como o destino às vezes concebe para a gente coisas inexplicáveis,
aconteceu comigo algo que nunca poderia esperar. Um pai que eu pensei que
estava morto, enfim está parado bem na minha frente, olhando para mim
como se eu fosse a melhor coisa que poderia acontecer com ele.
Deus, o que será que eu faço agora? Como as coisas aconteceram tão
de repente?
Essas são as únicas palavras que rondam a minha cabeça ao olhar o
homem de meia idade, lindo demais para que possa ter algum traço genético
entre nós. Tudo bem, agora eu peguei um pouco pesado comigo mesma, mas
não posso deixar de pensar em algo assim quando vejo o quão bonito e
elegante é Alonzo Vergara. Seus olhos castanhos claros, puxados nos lados
quando sorri para mim emocionado. Seu corpo grande e forte coberto por um
terno chumbo, sem qualquer resquício de gravata, a barba grisalha
contornando boa parte do seu rosto bonito dá uma característica única a ele.
Estou completamente hipnotizada, porque não consigo desviar os meus
olhos dele. Principalmente não consigo deixar de sentir um misto de
saudades, saudades de um homem que nunca vi na minha vida, mas que pela
sua forte reação ao me ver não esconde o fato de que sou sua filha. Uma filha
que ele pensou que estava morta tanto quanto o amor da sua vida também.
Meu Deus! Essas palavras caem em mim com muita força, e os meus olhos se
enchem de lágrimas. Dou um passo para trás involuntariamente, sendo parada
por Axel que está logo atrás de mim.
— Você está bem? — Axel pergunta com preocupação e eu olho para
cima.
— Eu… eu não sei! — Sussurro minha resposta.
— Hermanita! — Ângelo chama, mas eu continuo presa a Axel.
Eu não consigo olhar na direção dele e do homem ao seu lado, o
sentimento que ele me transmite é pesado demais.
— Vamos entrar um pouco, vou levá-la para o nosso quarto e você
descansa um pouco antes de fazer qualquer coisa. O que acha? — Axel
pergunta e eu assinto com a cabeça.
— Por favor, Ax! — Peço nervosa. Sem dizer qualquer outra palavra,
Axel me carrega no colo. Pressiono meu rosto contra o seu pescoço,
aspirando o seu cheiro a fim de controlar minhas emoções.
— ¿Qué sucedió? ¿Ella está bien? (O que aconteceu? Ela está bem?)
— Ouço sua pergunta, mas não viro para encará-lo. Eu sou uma covarde!
— Sim, ela está bem, mas é muita coisa para ela lidar agora. Sendo
assim peço para que vocês a esperem se recompor primeiro e se depois disso
ela se propor a ouvir vocês então que assim seja. — Axel dia friamente. —
Isadora está grávida, ela teve muita emoção demais por hoje e acho que
precisa de um tempo para assimilar.
— Aconteceu alguma coisa, Cox? — Meu irmão perguntou.
— Ultimamente muitas coisas andam acontecendo, Gutierrez. — Ele
responde de forma seca.
— Tudo bem, estaremos esperando. — Ângelo diz.
— Craig, Russel e Earl, cuidem das coisas enquanto não voltamos. —
Axel manda.
— Sim chefe! — Respondem os três uníssonos.
Aperto mais os meus braços em volta do pescoço de Ax quando sinto
me guiando para dentro de casa. Eu não estou pronta para ter essa conversa
agora, porque eu sei que não vai ser fácil para mim estar de frente para o
meu… er... o Alonzo. É tudo muito forte não só para mim, mas sim para nós
dois. Não faço ideia o quanto de dor esse homem já sentiu nessa vida, queria
poder estar mais aberta agora para isso, só que eu não sei se consigo. Sinto
algo intenso e dolorido pressionar o meu pai toda vez que lembro do seu
olhar de pura felicidade, agradecimento, amor e saudade. Eu preciso de um
tempo longe para poder pensar direito, poder colocar todas essas emoções em
ordem.
No momento que chegamos no nosso quarto eu senti um enjoo muito
forte. Indico a Axel para que eu pudesse me colocar no chão e corro em
direção até o banheiro. Quando eu estava colocando até mesmo o meu
estômago para fora pela boca, eu sinto a mão de Axel segurar o meu cabelo.
Queria muito poder mandá-lo sair de perto de mim, mas não consigo fazer
isso. E quando terminar de deixar a minha dignidade, junto com o conteúdo
do meu estômago, descer pelo vaso sanitário eu me sinto um pouco mais
leve. Literalmente falando.
— Você está bem, minha menina? — Axel pergunta me erguendo da
minha miséria.
— Eu adoraria poder encontrar a pessoa que escreveu nos sites e
aplicativos de gestação que os enjoos só acontecem até o primeiro trimestre.
— Digo com irritação.
— Por que isso agora? — Axel indaga após dar uma risada curta e
rouca.
— Por que eu iria poder chutar a bunda dessa pessoa com muita força.
— Revelo com os punhos cerrados.
— Sim, minha pequena lutadora tola, venha aqui! — Axel fala me
fazendo sentar no balcão da pia.
— Esse apelido saiu muito longo, não? — Pergunto sem conseguir me
conter.
— Você vai falar disso agora, e não do seu pai biológico te esperando
lá embaixo? — Ax me atinge no ponto sensível.
— Você sabe apertar o botão certo, não é mesmo? — Resmungo
aceitando a escova de dentes que ele está colocando na minha frente.
— Eu não seria eu mesmo se não fizesse isso, querida. — diz
sombriamente e eu não posso falar nada além de concordar.
Começo a escovar meus dentes, porque ninguém merece estar perto de
um bafo terrível desse. Nem mesmo eu!
— O pior que é verdade! — Lamento sentindo sua mão tocar no meu
rosto.
— O que está acontecendo, Isadora? Você não quer falar com eles? Se
for assim eu posso mandá-los… — Coloco a mão na boca de Axel
brevemente, o fazendo parar.
— Não precisa fazer isso, Ax. Eu vou encontrá-los, eu só precisava de
um tempo. — Revelo e ele me encara com firmeza.
— Você não é obrigada a ver ninguém se não quiser. Você sabe disso,
não é? — A pergunta de Axel é doce.
— Eu sei, querido. — Digo dando um pequeno sorriso. — Só que… —
Começo, mas não consigo terminar.
— Só o quê, minha menina? Fale comigo! — Pede ele e eu solto um
suspiro.
— Eu só não estava esperando por isso, Ax. Pensei que meu pai
biológico estivesse morto, nunca me passou pela cabeça estar de frente para
ele e ver toda a sua emoção. Eu nunca havia visto esse homem, mas não
consigo deixar de sentir saudades de algo que nunca tive. — Paro de falar e
olho para Axel. — Isso é louco, não é? — Indago.
— Eu nunca vou saber te dizer sobre isso, Isadora. Não tenho as
mesmas expectativas que as suas, não me importo com muitas pessoas ou
com certas emoções. — A sinceridade de Axel é algo que ainda me
surpreende.
— Mas você se importa comigo, certo? — Não pude deixar de
questionar isso.
— Sempre, querida! Até eu me surpreendo do quanto sou louco por
você. E faria qualquer coisa para te ver bem, até mesmo matar quem quer que
seja. — Ele diz um arrepio frio toma minha espinha.
— Eu sei disso, Ax. — Falo e ele deixa um beijo suave na minha testa.
— É bom que saiba, minha menina. — Diz com firmeza.
Não passou despercebido por mim que as palavras dele saíram mais
como uma promessa velada. E eu não poderia me sentir aliviada por isso, por
que eu sei que Axel fará de tudo para me manter segura sempre. E eu amo
isso nele, essa proteção, essa mudança e essa confiança em nós. Esse nosso
momento fez com que toda a confusão e medo dentro de mim diminuíssem
em uma grande proporção. E foi por me sentir um pouco em ordem que
decidi que era hora de enfrentar o que quer que seja. Sendo assim eu troquei a
roupa que eu estava, por uma mais confortável, deixando de lado o vestido
formal por uma calça legging preta e uma camisa simples.
Antes de sair eu coloquei a medalha de madre Guadalupe, que minha
mãe havia deixado para mim. Não sei por que, mas eu me sinto mais à
vontade tendo ela presa no meu pulso. Depois disso eu saí do quarto sendo
guiada por Axel, e no momento que eu cheguei na sala eu senti o clima tenso
demais. E é óbvio que todos olharam na minha direção, principalmente
Alonzo que estava agora com uma cara de pura apreensão. Sei que esse clima
foi ocasionado por mim, e somente eu posso melhorar as coisas. Eu respiro
fundo e vou até o meu irmão primeiro, ele dá um sorriso de desculpa quando
me vê a sua frente. Sem pensar muito eu abraço com força pela cintura.
— Senti sua falta, Angel! — Revelo sentindo sua cabeça encostar na
minha.
— Também senti hermanita! E o bebê? — Pergunta.
— Com ele está tudo bem também! — Respondo ainda o abraçando.
— Desculpe não poder chegar a tempo para sua defesa. — Diz ele e eu
dou de ombros.
— Não se preocupe com isso, eu sei que estava fazendo algo
importante. — Me afasto dele e olho para onde Alonzo está.
— Sim, eu estava! — Ângelo diz dando um curto sorriso. — Vá se
apresentar, minha irmã! Ele está esperando por isso desde o momento que
contei a ele que você estava viva. Dê uma chance para ele. — Meu irmão
sussurra no meu ouvido e eu concordo com a cabeça.
— Como… como você o encontrou? Como soube que estava vivo? —
Indago desacreditada.
— Eu sempre desconfiei, mas nunca tive a certeza. — Angel conta com
confiança. — Dê uma chance a ele, hermanita.
— Tudo bem. — Respondo simplesmente.
Me afasto de Ângelo e vou em direção a Alonzo. Minhas pernas estão
bambas, eu não sei explicar o que estou sentindo nesse momento,
principalmente quando chego perto o suficiente para estender minha mão
para cumprimentá-lo.
— Olá, eu… eu sou Isadora! — Falo envergonhada.
— Desculpa, estrellita, mas tudo o que quero é abraçar você, ¿Puedo?
— Diz ele com a voz embargada em um português muito ruim, mas
entendível.
— Sim… — Respondo sentindo um bolo enorme na garganta.
Sem mais delongas eu fui puxada para os seus braços, e no momento
em que me senti presa contra o seu peito eu sabia, de algum modo eu sabia
que aquele na minha frente era o homem que me trouxe ao mundo. Seu
cheiro era algo familiar, mesmo que eu nunca tenha sentido na minha vida. E
eu chorei! Chorei muito sem conseguir me conter, mas esse choro não era de
dor. Nunca foi de dor, era algo diferente disso, algo que nem eu mesmo sem
identificar. Alonzo fala algumas palavras em espanhol, o que mais parece
como uma oração de agradecimento.
— Mira esto, mi amor, es nuestra pequeña estrella en mis brazos.
Gracias por cuidarla hasta que pueda encontrar mi camino hacia ella. (Veja
isso, meu amor, é a nossa estrelinha nos meus braços. Obrigada por cuidar
dela até que eu pudesse encontrar o caminho até ela.) — Diz ele me
apertando contra ele, mas não foi um perto dolorido, mas um seguro. —
Dejáme, vê-la! — Ele pede nos afastando do abraço. Observo o quanto seus
olhos estão irritados por chorar.
— Tudo bem! — Falo permitindo que ele segure os dois lados do meu
rosto.
— Você é tão guapa quanto a tu mamá! — Ele diz e eu nego com a
cabeça.
— Impossível, ela era muito mais linda. — Digo e ele nega.
— É como se eu estivesse olhando para Esther. — Revela emocionado.
— Se eu soubesse que você estava viva eu correria o mundo pra te encontrar.
Me perdoe, por favor, perdoe tu papa! — Suplica e eu nego com a cabeça.
— Não há o que perdoar, todos nós fomos enganados, machucados e
afastados por um homem cruel. — Falo sem esconder a minha tristeza.
— E ele irá pagar caro por isso! — Ângelo diz e eu o olho na sua
direção.
— Ven aquí, me conte sobre você! Como foi a sua vida aqui? —
Alonzo chama a minha atenção e eu volto a encará-lo.
— Acho que Ângelo deve ter falado um pouco, estou certa? — Digo
me sentindo tímida por um momento.
— Sim, mas quero saber de você. Quero saber tudo sobre você,
estrellita! — Diz ele, mas quando eu vou falar Axel se faz presente.
— Assim como você deve dizer como você virou uma sombra por
muitos e muitos anos. — Axel diz me surpreendendo.
Nesse momento a expressão de Alonzo se transformou totalmente. Era
como se o pai que eu vi antes fosse desligado por um momento, para dar
lugar a um homem extremamente poderoso. Com uma aura muito elegante,
intimidade e ao mesmo tempo fria como gelo.
—Então é verdade, você é o mercenário que tentou me matar, mas sem
sucesso algum. — Alonzo diz com frieza e eu arregalo os olhos.
— Você tentou matar o meu pai, Axel? — Pergunto sem conseguir me
conter.
— Sim, tu papa! — Alonzo diz feliz me fazendo dá conta do que eu
acabei de falar.
— O preço pela sua cabeça era alto, e eu gosto de dinheiro. — Axel dá
de ombros enquanto cruza os braços.
É como dizem: O destino pode ser uma cadela.
— Não se preocupe, estrellita. Esse aí nunca conseguiu descobrir que
eu sou El fantasma! — Alonzo diz de forma tranquila.
— Me explica isso por favor, o que é El Fantasma? — Pergunto
confusa demais para juntar uma coisa com outra.
— O que acha que sentar um pouco, hermanita? Assim podemos contar
a você tudo o que você já sabe. — Ângelo induz e eu confirmo com a
cabeça.
— Acho melhor mesmo, porque estou começando a ficar louca aqui.
— Conto fazendo exatamente o que Ângelo sugeriu.
No momento em que me acomodei no sofá, Axel não perdeu tempo em
vir até mim para ficar ao meu lado. Observei Alonzo olhar para Ax como se
quisesse que ele sumisse, mas como o meu vilão não se importa com olhares
ele ficou sua atenção em mim. Reviro os olhos para toda situação, e espero
até que todos procurem um lugar para sentar também. E quando isso é feito
toda a história de El fantasma é revelada para mim. Alonzo conta do dia que
ele e minha mãe decidiram fugir de Jerônimo, dá para ouvir o sofrimento na
sua voz ao lembrar dessa noite terrível. Ele me contou que quando foi
deixado para morrer, ele foi salvo por um dos seus aliados que vieram ao
Brasil para ajudá-lo com a fuga.
Disse também que como ele estava desacordado durante muito tempo,
só soube da morte da minha mãe e a minha quando não havia mais jeito. Ele
não escondeu como ficou perdido e devastado, pensando também em se livrar
da sua própria vida para estar ao lado das mulheres que ele tanto amou. Nessa
hora eu senti sua mão tocar a minha, o que me faz acreditar que Alonzo
precisa da certeza de que eu estou realmente aqui. Aperto sua mão em
resposta, não deixando de perceber o alívio na sua feição.
— Após a tentativa falha de acabar com a minha própria vida, eu fui
consumido pelo desejo de vingança. Eu era somente um soldado de um Cartel
de drogas, eu não poderia ter minha vingança sem qualquer tipo de poder. —
Alonzo conta.
— Foi então que você se transformou no Fantasma. — Craig diz que
meu pai assentiu.
— Isso mesmo, passei 23 anos da minha vida nas sombras. Unindo
forças, poder e muita determinação para que chegasse a hora certa destruir
Jerônimo Braganza com as minhas próprias mãos. — Alonzo olha para mim
com carinho. — Essa é a primeira vez depois de mais de vinte anos que eu
saio das sombras, mas eu não me arrependo de modo algum.
— Como Ângelo conseguiu te encontrar? — Indago, mas Alonzo induz
meu Irmão a contar.
— Essa saga para encontrar tio Alonzo vai desde o momento que
descobrir que você era de fato a minha irmã perdida. — Ângelo revela e eu
fico sem entender.
— Se é assim então por que você nunca me falou nada? — Questiono
rapidamente.
— Eu não queria te dar falsas esperanças, Isa. Havia um burburinho no
submundo que Alonzo Vergara é os El Fantasma eram de fato as mesmas
pessoas, mas nada foi realmente confirmado. — Ângelo conta e eu confirmo
com a cabeça devagar. Tentando juntar todas as peças. — Mas quando tive o
encontro com Javier Ponce, o braço direito do Fantasma, e contei
pessoalmente a situação não teve outra.
— Eu fui atrás de Ângelo sem pensar duas vezes. — Alonzo diz. —
Nunca consegui me aproximar dele depois que descobri que estava com
Jerônimo. Eu pensei que ele me odiava.
— Não tenho porque te odiar, minha mãe te amava. E foi com você que
eu soube o que era ter uma família normal, pelo menos um pouco que pude.
— Ângelo conta e eu posso ver que ele ficou sem jeito com que acabou
revelando.
— Você sempre foi um menino forte, sua mãe ficaria orgulhosa. —
Alonzo diz e meu irmão faz um gesto de confirmação sem jeito.
Vejo o modo como eles se comunicam e percebo que sim, eles dois tem
uma história também assim como eu e a nossa mãe também. E ver essa
aproximação deles é algo bom, mas só que tem algo que ainda está me
deixando curiosa.
— Se você ficou nas sombras por tanto tempo, e dando como morto.
Como o seu nome conseguiu ser ligado ao Fantasma? Eu não entendo. —
Perguntei observando como todo mundo ficou calado de repente. Olhos para
os lados observando que cada um dos presentes está olhando para Axel. —
Não, mentira! Foi por sua causa, Ax? — Pergunto e ele dá de ombros.
— Foi uma suspeita, eu disse que sou bom no que faço. — Ele diz
como se não fosse nada.
— Mas não conseguiu me pegar. — Alonzo provocou.
— Eu poderia fazer isso agora, seu bastardo! — Axel ameaça, mas
como eu o conheço bem sei que é uma ameaça vazia.
— Não, você não faria! — Craig diz simplesmente e Axel passa os
braços à minha volta.
— Não, não faria só por causa da Isadora! — Ele diz me surpreende
totalmente.
— E o mercenário sanguinário enfim foi tomado. — Ângelo brinca me
fazendo querer rir da careta de Ax.
— Essa merda está me parecendo a porra de uma novela mexicana
ruim. — Russel solta de repente fazendo todo mundo olhar na sua direção.
— Você tem o poder de falar merda nas horas improprias, não é? —
Earl alfineta irritando Rus.
— Fica quieto, principezinho das trevas! — Rebate Rus. Prendo a boca
para não rir.
Oh Deus, o que há com esses meninos?
Penso agradecida por eles aliviarem o clima tenso do momento. Sinto
olhos em mim, viro minha cabeça para dar de cara com Alonzo me
admirando feliz.
— Eu nunca mais vou deixar você, minha estrellita. — Ele diz me
pegando desprevenida. — Quero conhecer tudo sobre você, e quero ter a
esperança de um dia poder ser o papa que nunca pude ter a oportunidade de
ser. E também ser um bom abuelo (vovô). — Ele aponta com a cabeça em
direção a minha barriga. Engulo em seco ao ouvir sua declaração.
— Acho que quero isso também! — Conto dando um sorriso de lado.
Alonzo coloca sua mão em minha barriga.
— É tudo o que eu precisava ouvir. — Alonzo casa palavras dando um
sorriso brilhante,
Sinto minha mão ser erguida até a altura dos seus lábios. Um beijo
carinho é deixado nas costas da minha mão selando assim a promessa do
cumprimento das suas palavras. Eu não posso deixar de sentir somente a
verdade, e nada além disso.
Os nossos planos de ir jantar fora hoje em comemoração à minha
defesa caiu por terra quando meu irmão apareceu aqui trazendo Alonzo
Vergara, meu pai biológico, com ele. Não poderíamos nos dispor a sair e
confraternizar expondo aos olheiros de Jerônimo o homem com que sua
esposa se apaixonou e teve uma filha, traindo assim os seus votos de
casamento. Admito que depois de ter uma longa e explicativa conversa com
Alonzo, eu não poderia deixar de me sentir bem com a sua presença aqui. Eu
não conseguia tirar os meus olhos do homem bonito, ainda não dá para
entender como sair esquisitinha como sou, tendo a genética dele e da minha
mãe biológica. O pensamento disso me faz dar uma pequena risada e negar
com a cabeça.
— Hija, o que há? — Alonzo pergunta. Olho para ele vendo a sua
careta de confusão, e ele não está só nisso porque os restantes dos presentes
estão me encarando sem perceber.
— Oh não é nada! Estava pensando que poderíamos jantar todos juntos
aqui. — Revelo dando um pequeno sorriso.
— Por mim está bem! — Ângelo é o primeiro a concordar.
— Íamos jantar pra comemorar, certo? — Axel pergunta e eu
confirmo.
— Sim, mas eu acho melhor ficarmos aqui. Quero que meu pa… er…
quero que Alonzo esteja com a gente. — Digo sentindo minhas bochechas
ardem por um momento.
— Oh minha estrellita, eu vou adorar poder jantar com você em
comemoração. — Alonzo fala e eu dou um pequeno sorriso em confirmação.
— Fico contente! — Respondo realmente sentindo isso.
— Se é assim, então devo ir à cozinha. — Craig fala com seu modo
sério de sempre.
— Eu vou te ajudar! — Exclamo chamando a atenção de todos para
mim.
— Você, querida? — A pergunta de Axel de um algum modo de
deixou irritada.
— Claro, por que não? Cozinhamos juntos em Boston, não é? —
Indago cruzando meus braços.
— Sim, mas… — Ele começa a falar com uma expressão descontente,
mas eu não lhe dou chance de terminar.
— Vamos cunhado, vamos mostrar os nossos dotes culinários a eles. —
Digo com uma animação fingida, observando o modo que Craig nega com a
cabeça.
— Você vai me ignorar? — O tom frio de Axel me fez querer ignorar
ele mais ainda.
— Oh chefe, ele é seu irmão não fique com ciúmes. — Russel diz em
tom brincalhão, recebendo um olhar gélido de Ax.
— Fique quieto, Sanchez! — Axel comanda e Russel não esconde sua
careta.
— Falar a verdade agora é crime! — Resmunga Rus, fazendo Earl
socar seu ombro. — Ai príncipe do caralho!
— Você perdeu, literalmente, o amor a sua vida. — Earl diz soltando
um suspiro resignado.
— Vamos, Craig! — Chamo meu cunhado e ele acena com a cabeça.
— Se é assim, então vamos! Mas não me atrapalhe. — Diz ele cerrando
os olhos na minha direção.
Que homem mais egoísta na cozinha!
— Claro, claro, minha intenção é somente ajudar. Minha mãezinha
sempre disse, duas mãos são melhores que uma. Então vamos logo! — Digo
e Craig me encara de forma impassível. Sem dizer qualquer outra palavra ele
passa por mim e vai em direção a cozinha.
Sigo Craig rapidamente, porque não quero ser deixada para trás. Acho
que me transformei em uma incrível mentirosa, porque a minha intenção de ir
ajudar Craig nada mais é do que fugir um pouco da pressão que estou
sentindo dentro do meu peito. Mas não é uma pressão ruim, mas é uma coisa
da qual eu vou ter que me acostumar. E tudo isso é por causa de Alonzo, e o
fato de que terei que me acostumar com o fato de que também sou filha dele e
não só do senhor Gene e da dona Jó. Necessito colocar minha cabeça no
lugar, e não existe lugar melhor para isso do que na frente do meu velho
notebook com os meus códigos.
Mas como não posso fazer isso agora, então vou para o segundo lugar,
ótimo para isso. A cozinha! Oh sim, é isso mesmo! A Cozinha é um lugar
onde você pode focar muito bem em outras coisas do que nos seus próprios
pensamentos. Com isso balanço a cabeça fazendo com que o meu foco fique
exatamente onde eu quero. Pergunto a Craig o que ele pensou em fazer e ele
me diz, com muita relutância, que pretende fazer um carbonara e um risoto de
camarão. Sinto a minha boca encher d'água somente com a possibilidade de
comer o risoto de Craig.
Oh menino, meu cunhado é realmente muito bom na cozinha!
Com isso eu me disponho a limpar o camarão, pois não quero perder
tempo de não começar essa maravilha. Coloco o avental que Craig me
apontou, observando ele colocar o dele também. É tão estranho vê-lo dessa
maneira tão confortável que me faz dar uma risadinha.
— O que foi esse risinho aí? — Craig pergunta friamente e eu ergo as
mãos em sinal de rendição.
— Oh, não é nada! Eu só estou acho bonitinho você tão confortável na
cozinha. — Revelo e ele olha em volta.
— Eu gosto de estar aqui realmente. Mas posso te sugerir uma coisa?
— Craig fala e eu concordo. — Não use a palavra "Bonitinho" em uma frase
com outro homem, não acho que meu irmão ficaria muito satisfeito. — Vejo
o canto dos lábios de Craig se erguerem e me deixando um pouco satisfeita
porque sei que ele está brincando comigo.
— Seu irmão é muito ciumento! — Digo com altivez, virando para
trabalhar nos camarões.
— O que é estranho, já que ele nunca foi assim com ninguém. Isso
acho que prova uma coisa. — Craig diz e isso chama a minha atenção.
— E o que seria? — Pergunto me sentindo ansiosa de repente.
— Que ele gosta de você, do jeito dele, é claro. — Craig revela fazendo
meu coração bater forte.
Deixo um sorriso escapar dos meus lábios, fechando os olhos por um
breve momento a fim de absorver o que o Craig acabou de falar. Eu já sabia
disso, eu já sentia isso todas as vezes que Axel e eu estávamos juntos, mas
ouvir isso do seu irmão me dá mais certeza ainda de que Axel poderia vir não
só gostar de mim, mas também de me amar um dia. Assim como eu o amo
com todo o meu coração e alma. Sonho todos os dias com a possibilidade de
que ele fale com todas as letras que me ama. E mesmo que isso demore a
acontecer, ou até mesmo nunca aconteça, eu vou seguir esperando por esse
dia. Axel ainda tem muito o que aprender, e se for para ensinar eu estarei
disponível para ser aquela que lhe mostrará o caminho.
— Por que ficou calada de repente? — Craig indaga e eu nego com a
cabeça. Voltando a fazer o meu trabalho.
— Não é nada, eu só queria te agradecer por fazer o jantar. — Minto
após soltar um pigarro.
— Não é como se eu não fizesse o jantar todos os dias. Não faz
diferença. — Reto o direto como somente Craig pode responder.
— Certo! — Respondo.
Por um momento ficamos em silêncio, mas não é um silêncio
desconfortável, mas sim aquele que é muito tranquilo e te deixa à vontade em
ficar em silêncio somente apreciando o trabalho que está executando. Mas
logo essa quietude é interrompida por Craig. Que fala algo que me pega
totalmente desprevenida.
— Dora, muito obrigado! — Craig fala me fazendo parar o que eu
estava fazendo para olhar para trás. Estou totalmente sem reação, vendo
como ele trabalha com a faca, enquanto corta os tomates.
— Mas… mas por que isso? De que está me agradecendo? —
Questiono sem entender.
— Olha, eu não sou o homem mais sensível, mas eu sei identificar
quando as pessoas são boas. E você, Isadora, é uma pessoa boa que faz muito
bem ao meu irmão. — Ele para e eu o vejo apertar o cabo da faca com força.
— Eu sei o que é a maldade, eu já vi e a usei muito bem ao meu favor, mas
fico feliz que você esteja com a gente, com o meu irmão. Axel foi o pai que
não tivemos, eu sei que ele já te contou sobre o que passamos. — Craig diz e
eu faço um som de confirmação. — Meu irmão já fez muitas coisas e a
maioria delas era para que pudesse me dar uma vida para viver.
— Craig… — Sussurro sentindo o meu coração pesar no peito.
— Você não precisa falar nada, eu só queria que você continuasse a
fazer o que está fazendo com Axel. Ele foi como um pai para mim, perdeu
sua patente, sua liberdade e perdeu tudo por mim. Por isso é bom vê-lo a
caminho de ter uma família, Axel pode não entender agora, mas ele vai ser
um grande pai. Assim como foi um irmão muito foda para mim. — As
palavras de Craig trouxeram lágrimas nos meus olhos.
— Você está se esquecendo de algo, cunhado. — Digo com a voz
embargada. Ele vira a cabeça para me encarar, e ergue a sobrancelha.
— É? E o que pode ser, Dora? — Pergunta com tom leve.
— Você, o Russel e o Earl fazem parte da minha família agora. Eu
nunca me importei com o passado de vocês. Eu amo vocês como se fosse
meus irmãos, e adoraria que o meu filho ou filha pudesse ter os titios por
perto sempre. Sempre mesmo, por que é isso que família significa para mim.
— Digo cada palavra tentando transmitir a verdade por trás delas.
Craig olha para mim com firmeza, descendo seus olhos em direção ao
meu ventre protuberante. Depois de um tempo ele ergue os olhos e dá para
mim um sorriso curto, para logo em seguida assente com a cabeça. Dou um
sorriso em resposta, sabendo que não passará disso, já que eu o conheço o
suficiente para entender que não há necessidade disso. Um homem de poucas
palavras, mas que quando resolve deixar as palavras saírem, elas são aquilo
que você precisa ouvir. Um sujeito que é agradecido e reconhece todos os
sacrifícios que o seu irmão mais velho estava disposto a fazer por ele. Assim
é Craig, e é desse jeitinho que eu quero que ele seja, por que esse é ele de
verdade.
Após essa conversa nós nos concentramos em fazer o jantar. Nunca
imaginei que uma simples tarefa como essa, junto com o tio mercenário do
meu bebê poderia ser tão, tão agradável. E quando finalmente acabamos, o
cheiro delicioso do risoto e da carbonara me deixou com mais fome do que já
estava. Eu realmente estava pronta para comer, e eu não iria me fazer de
rogada, mas quando estava pronta para tirar meu avental e levar a salada para
a mesa eu fui surpreendida por braços longos invadindo minha cintura.
— Como foi cozinhar ao lado do idiota do meu irmão? — Axel
pergunta de forma irritada. Tento esconder meu sorriso, mas é impossível.
— Você sabe que é loucura isso, não é? Ter ciúmes do seu próprio
irmão, tem coisa mais sem noção que isso? — Digo em tom de repreensão
fingida, ficando na ponta dos pés para deixar um beijo no seu queixo.
—Pode ser, mas eu não me importo! — Enfatiza ele, deixando um
beijo nos meus lábios.
— Craig é bonitão, e tem uma grande presença com aquelas tatuagens e
olho azul assassino, mas… — Minha fala foi interrompida quando senti a
mão de Axel no meu pescoço.
— O que diabos você está falando? — Axel pergunta em tom obscuro.
— Mas ele é como irmão para mim, e somos uma família. Então, não,
Craig não me interessa. O meu interesse está em um certo vilão possessivo aí.
— Ao ouvi o que eu acabei de falar a expressão de Axel deixou de ser
sombria e o sorriso fantasma que amo surgiu.
— Gosto do som disso. — Fala seriamente e eu reviro os olhos.
— Você não tem jeito, não é? — Pergunto negando com a cabeça.
— Você sabe a resposta, querida. — Axel diz passando a mão no meu
rosto.
Sim, eu sei! E isso é uma das coisas que eu mais gosto nele.
— Você está confortável com Ângelo e Alonzo aqui? — Axel pergunta
e eu concordo.
— Sim, eu sei que conheci Alonzo a poucas horas, mas eu não sei… eu
me sinto confortável com ele. É como se eu o conhecesse a minha vida toda.
— Revelo a verdade a Axel que não fala nada somente em abraça com força.
— Você sabe que é todo sujo assim como cada um que está naquela
sala, certo? — Ax questiona e eu solto um suspiro.
— Sim, eu sei, mas um homem que ama alguém do jeito que amou a
minha mãe merece um voto de confiança. — Digo com esperança e Axel me
encara com seus olhos negros profundos.
— Pronta para jantar? — Ele pergunta deixando o nosso antigo assunto
de escanteio.
— Sim, querido, estou mais que pronta! — Respondo feliz por ir
comer. E quando eu virei novamente para pegar a salada, Axel me faz parar
para segurar os dois lados do meu rosto.
— Eu não sei se esqueci de falar isso antes, mas seja como for eu quero
falar novamente. — Axel diz e eu fico confusa.
— O que foi? — Pergunto curiosa.
— Parabéns pela sua formatura, minha menina! — Axel sussurra as
palavras, fazendo meu coração bater mais forte.
—Obrigada, Ax! — Agradeço emocionada. — Agora podemos ir
comer? Seu filho está lutando comigo aqui para irmos comer logo. — Digo
abrindo um largo sorriso.
— Sim, querida, podemos sim. Vamos! — Ele me chama, estendendo
sua mão para que eu a segure.
Eu não perco tempo e vou logo me deixando ser guiada por ele. Espero
que tudo ocorra bem com esse jantar, por que eu não fazia ideia de que era
isso mesmo o que eu precisava hoje depois de tantas revelações.
Uma semana depois...
Acordo com uma sensação agradável, eu nem preciso abrir meus olhos
para saber quem está aqui. O perfume que está entrando nas minhas narinas, e
faz meu corpo inteiro se embriagar de prazer, é de ninguém menos do o meu
homem. Continuo de olhos fechados, esperando que ele me chame ou algo do
tipo, mas nada acontece. Sendo assim eu abro um pouco as minhas pálpebras,
e pela fresta eu vejo Axel ajoelhado ao lado da cama. Penso em deixá-lo
saber que estou desperta, mas o modo que ele está olhando para minha
barriga faz com que eu espere para saber o que exatamente ele está
pretendendo com isso. Observo ele erguer a mão para tocar, me deixando ter
esperança, mas logo sua mão retrai e ele fecha os punhos com força.
— Ei monstrinho, você está deixando sua mãe muito cansada esses
dias. Não seja assim, ela não merece isso! — Axel fala com o nosso bebê, e
eu me controlo o máximo para não mostrar que eu acabei de presenciar essa
cena, mas falho miseravelmente.
— Não chame o nosso bebê de monstrinho, Axel. — Digo o
surpreendendo.
— Então quer dizer que você estava acordada esse tempo todo, sim? —
Axel indaga me encarando com os olhos cerrados.
— Desculpe, querido, eu não pude evitar de bisbilhotar. — Digo
fingindo estar culpada.
— Como está sentindo? Ontem você foi dormir fortes dores de cabeça.
— Pergunta e eu concordo com a cabeça.
— Sim, eu estava, mas não sinto mais nada. Obrigada por cuidar de
mim. — Agradeço o fazendo bufar.
— Não me agradeça por isso. — Diz assumindo sua pose séria.
— Claro que sim, eu nunca pensei que… — Mordo os lábios inferiores
me impedindo de falar o restante da frase.
— Você pensou que eu não fosse cuidar de você por causa do
monstrinho? — Axel pergunta com irritação e eu não tive como negar.
— Bem, não desse jeito tão, tão atencioso. — Digo não querendo usar
meias palavras.
Axel odeia que eu use meias palavras para falar com ele o que eu quero
falar exatamente.
— Isadora, eu vou dizer isso de novo e será a última vez. — Axel
respira fundo. — Você é minha, esse monstrinho na sua barriga é meu
também. Não existe nada nesse mundo que não me faça cuidar e zelar pelo o
que é meu. Entendeu? — Axel pergunta e eu reviro os olhos.
— Entendi, entendi senhor mandão! Mas você pode, por favor, parar de
chamar nosso bebê de monstrinho? Coisa chata! — Reclamo, mas ele nem se
abala.
— Não vai acontecer! — Ele diz me deixando irritada.
— Axel, você… — Aponto o dedo na sua direção, mas sou pega de
surpresa quando Ax vem até mim com dois passos. Para que o nossas testar
estejam coladas juntas.
— Você fica linda quando está toda com essa aura hormonal, eu já te
disse isso? — Axel diz me pegando de surpresa. Por um momento eu fico
parada sem saber o que fazer, mas logo um riso explode em mim.
— Axel, isso foi ridículo! — Falo ainda rindo.
— Pelo menos você riu agora, não é? — Pergunta de forma séria e eu
não aguento e passo meus braços em volta do seu pescoço.
— Você é um homem estranho, mas é o meu homem estranho. —
Revelo e ele beija os meus lábios.
— Bom saber disso! — fala me beijando novamente. — Bom dia,
minha menina tola!
— Bom dia, amor! — Respondo feliz.
— Vamos, levante! Vou levar você para compramos o seu presente de
formatura. — Axel fala me ajudando a sair da cama.
— Presente? Mas a minha formatura foi há uma semana. — Lembro a
ele confusa.
— Sim, eu sei, mas eu estava evitando sair com você para sua
segurança, mas podemos sair. — Ele explica e eu aceno meio ainda sem
saber direito.
— Tudo bem então… — Paro por um momento e a curiosidade toma
conta de mim. — Que presente você vai me dar, querido? — Indago como
uma criança excitada.
— Não sei, veremos isso! — Axel diz, mas isso só atrai ainda mais a
minha curiosidade.
— Tudo bem então! — Digo amuada.
— Não seja assim, minha menina. Ou você pode receber umas
palmadas no traseiro bonito. — Axel fala de forma perigosa, e isso desperta
um fio de excitação em mim.
— E se eu quiser? — Questiono observando seus olhos negros como a
noite sem estrelas ficarem mais intensos e selvagens.
— Minha menina, não mexa com algo que você não pode lidar agora.
— Axel fala de forma perigosa e eu engulo em seco.
— E se eu puder? — Indago observando como as narinas dele se
expandem.
— Isadora, você sabe que se eu começo com algo eu não termino, não é
mesmo? — Ele fala vindo até mim, o que faz meu coração começar a bater
com força.
— Humrum! — Respondo fechando os olhos para poder sentir sua
boca no meu pescoço.
— Mais tarde, querida. Eu prometo a você, sim? — Pergunta se
afastando de mim, me deixando carente e ansiosa por seu toque.
Abro meus olhos para ver Axel andar até a porta, olho para ele
mostrando a minha careta de descontentamento. Mas o infeliz passa pela
porta e me deixa aqui sem olhar para trás. Que homem terrível! Me deixou
excitada desse jeito, com aquele olhar penetrante e não tem intenção
nenhuma de me penetrar. Que horror! Respiro fundo várias vezes, a fim de
afastar a vontade terrível de socar o pai do meu bebê. Argh! Saio pisando
duro até o banheiro, procurando outra coisa para pensar e não no corpo forte
e muito, muito gostoso que somente aquele homem pode ter.
Notei que não tive enjoo matinal hoje, o que me deixou imensamente
feliz a ponto de fazer uma dancinha ridícula no banheiro. Paro a minha
dancinha quando eu escuto o som de que eu recebi uma mensagem. Decido
deixar para tomar banho após verificar a mensagem, e quando vejo de quem é
não posso deixar de sorrir.
¡Buenos días mi estrellita! ¿Como estas? Volto amanhã para o Brasil,
espero ter um tempo com você.
¡Besos, papá!
Não perco tempo e respondo rapidamente.
Estou bem, obrigada por perguntar! Volte em segurança, por favor.
Beijo!
Faz exatamente uma semana que eu conheci o meu pai biológico, e
desse dia em diante ele faz questão de estar sempre presente seja
pessoalmente ou por mensagem de texto como agora. Tivemos um tempo
para podermos conversar, e em uma de nossas conversas eu contei a ele um
pouco sobre mim. Ele ficou muito feliz por saber que tive pais incríveis, e fez
questão de me pedir para que quando ele voltasse de viagem pudesse
conhecê-los. No primeiro momento eu fiquei meio apreensiva, mas foi
somente eu contar a novidade sobre o aparecimento de Alonzo aos meus
velhos pais, que eles concordam em conhecê-lo. Obviamente o meu paizinho
ficou meio enciumado em saber que haveria outro homem em minha vida,
mas isso logo passou.
O maravilhoso de ter pais como os meus, eles são pessoas de mente
aberta. E sempre me disseram que se um dia a minha família biológica me
procurasse era para eu ter o coração aberto e ouvir tudo ou qualquer coisa que
eles tenham para me contar. É por isso que para mim é fácil ter Alonzo e
Ângelo na minha vida, principalmente depois de saber de todas as condições
por trás da minha adoção. Seja do jeito que for é bom saber que posso contar
com os meus pais, sejam eles os adotivos e o meu biológico também. Eu me
sinto única, porque sei que nem todos filhos adotivos têm essa sorte que
tenho.
Deixando esses pensamentos de lado eu jogo o meu celular na cama, e
vou a procura de uma roupa para poder sair com Axel. Após colocar um
macacão jeans, um cropped vermelho escuro, calçar meus tênis brancos e
prender meus cachos de modo confortável. Eu me senti pronta para enfrentar
o dia, sendo assim eu já peguei minhas coisas e saí do quarto. Mas no
momento que eu desci as escadas eu senti imediatamente que o clima estava
estranho. Principalmente eu vejo os meninos e Axel com uma expressão tão
sombria enquanto seguram um buquê de rosas. Quando eles notaram a minha
presença, eles viraram para me encarar.
— O que é isso? O que está acontecendo? — Questiono. Como estou
mais de perto vejo que o buquê de rosas que Axel segura são de lírios
brancos. — De quem é esse buquê? — Pergunto confusa já que Axel nunca
foi de comprar rosas para mim.
— São para você! — Axel diz friamente.
— Para mim? Você me comprou rosas? Mas por que… — Minha
pergunta foi interrompida por Craig.
— Não foi Axel e nenhum de nós! — Craig responde e um frio toma
conta da minha espinha.
— Quem diabos me enviou lírios brancos? Foi Angel, ou Alonzo?
Quem foi? — Como nenhum deles respondeu eu fui mais rápida e peguei o
maldito buquê.
— Isadora, não! — Axel fala, mas é tarde demais.
Olho o buquê com curiosidade e logo eu pude ver que nele tem um
pequeno gravador de voz. Sem conseguir pensar direito eu ligo o aparelho e
aperto o botão do play para logo em seguida uma voz suave, forte e cortês
preencha o silêncio do momento.
— Olá Sarah! Ou eu deveria te chamar pelo seu novo nome que é
Isadora Martins? — Eu não precisei pensar demais para saber que essa voz
era de ninguém menos que Jerônimo Braganza. — Espero que tenha
recebido o meu pequeno presente, ele representa as minhas condolências a
você. Eu soube que tem bons pais, mas é uma pena que eu tive que me
desfazer deles para que você possa vir até mim de boa vontade. — Paraliso
no mesmo momento e encaro Axel com medo. — Se isso não acontecer, eu
estarei me desfazendo de todas as pessoas importantes para você. Eu
comecei pelos seus adoráveis pais. Quem serão os próximos? — Assim a
gravação é encerrada, para logo depois o meu corpo inteiro começar a
tremer.
— Axel… — Chamo, após ser aparado por Earl. Que pega o buquê e
gravação e jogo longe de mim.
— Espera, eu vou checar isso! — Axel diz pegando o seu celular. —
Craig, Russel, tentem entrar em contato com os nossos homens! — Axel
comanda e sem mais outra palavra eles pegam seus celulares.
— Os meus pais, Earl! O que será… o que será que aconteceu com
eles? — Pergunto em desespero, apertando minhas mãos no seu braço.
— Se acalme Dorinha, nós vamos descobrir! — Earl fala, mas não é
essa a resposta que preciso.
— Não, não, não! Algo aconteceu, eu sinto! Eu sinto aqui! — Bato no
meu peito com força.
— Dorinha, se acalme! — Earl tenta me persuadir, mas eu não quero
saber disso agora.
— Eu vou… eu vou ligar para mamãe! — Falo empurrando Earl de
perto, para poder pegar meu celular.
Disco o número de minha mãezinha várias vezes, mas eu não consigo
fazer com que ele atenda o celular. Ao perceber que não teve jeito eu resolvo
ligar para o meu pai, mas ele também não atende. Solto um grito de pura
frustração e terror, muito terror. Eu estou com muito medo de que o que
Jerônimo disse na gravação seja verdade, eu… eu… eu não posso acreditar!
Não! Nada aconteceu com os meus pais! Quando eu estou pronta para ligar
novamente, eu sou surpreendida por uma ligação desconhecida.
— O que é isso? — Ouço Axel perguntar.
— É um número desconhecido. — Respondo encarando meu celular
com medo. — Vou atender! — Aviso.
— Não, Isadora, pode ser uma armadilha! — Axel fala, mas eu não me
importo. Pode ser meus pais!
— Alô! — Falo rapidamente.
— Aqui é da Santa Casa de saúde de Porto Alegre, gostaria de falar
com Isadora Martins. — Uma mulher desconhecida fala do outro lado da
linha.
— Sim, sou eu! — Minha voz treme, fecho os meus olhos e deixo com
que as lágrimas escorram pela minha bochecha.
Oh Deus, por favor, não! Que não seja os meus pais, por favor!
— É sobre os seus pais, eles… — Eu não deixo a atendente terminar.
— O que aconteceu? O que houve com eles? Eles estão… eles estão…
— Não consigo terminar de falar.
— A senhora poderia vir até aqui no hospital? — Pergunta a atendente.
— Eu estou em Florianópolis, não consigo chegar rápido possível, por
favor me fale o que aconteceu com os meus pais. Eu te peço, por favor, me
conte! — Nesse momento eu senti o meu corpo ser abraçado com força.
— Senhora Isadora, houve um incêndio no sítio dos seus pais,
infelizmente o senhor Genival veio a óbito. — Oh não, não! Eu não posso
ouvir isso! — E a senhora Maria José, está viva, mas seu estado é grave. Eu
sinto muito!
Deixo o celular cair da minha mão e começo a chorar com força, eu não
consigo conter os meus soluços são dolorosos. Os meus paizinhos, meus
pobres paizinhos não têm nada a ver com essa vingança sangrenta que aquele
desgraçado tem comigo. Oh por favor Deus, meu papai! Oh não, não o tire de
mim assim, com uma morte tão terrível. Ele não merecia isso, minha mãe não
merecia isso e eu também não. Que culpa eu tenho? O que eu fiz de ruim para
colocar esse terror na vida dos meus humildes velhinhos.
— Isadora, temos que ir! Vamos, sua mãe ainda está viva e precisa de
você. — Axel sussurra no meu ouvido.
— Axel, dói tanto! Meu papai, ele… ele morreu! O que faço agora?
Como vou viver com essa culpa? Por minha culpa, é minha culpa! — Digo
em sofrimento.
— Não! Não é sua culpa, você não fez nada! — Axel diz com firmeza
enquanto me segura com força. — Vou te levar para ver sua mãe, mas você
precisa se recompor um pouco. Eu estou do seu lado, eu não te deixarei
sozinha. Estou aqui, minha menina! Eu vou te segurar! — Axel diz e eu
choro. Choro muito, choro sem conseguir me conter.
— Pedi o helicóptero a Ângelo. — Ouço alguém falar, mas eu não me
importo em saber quem é.
— Sim, vamos logo! — Axel responde enquanto me carrega no seu
colo.
A dor é tão grande e tão intensa que eu me desligo de tudo o que está
acontecendo à minha volta. Eu não me importei quando entramos no carro,
quando viemos até Ângelo e ele tentou de modo desconfortável me dar um
consolo. Ou até mesmo quando estávamos dentro do helicóptero. Eu não
liguei para nada, até mesmo os soluços de antes não mais fazem parte do meu
sofrimento. Cada célula do meu corpo vibra em agonia, e tudo o que sei é que
a culpa é minha. Toda e exclusivamente minha! Porque se eu não tivesse
entrado na vida deles, eles poderiam não ter que lidar com um homem
doentio assombrando sua existência.
Jerônimo já conseguiu me tirar uma mãe que me amava muito antes
que eu viesse a ter lembranças dela, e agora… agora ele matou o meu pai e
sabe-se lá Deus se minha mãe vai suportar o que quer que ela esteja
suportando. Meus pensamentos são interrompidos quando Axel fala que
chegamos no nosso destino. Saber disso me faz despertar do meu estupor,
sendo assim eu saio do helicóptero e deixo com que Axel guie o meu
caminho em direção a Santa Casa. Assim que cruzamos a entrada do hospital
eu pude ver alguns parentes dos meus pais, no mesmo instante que eles me
veem tentam vir até mim. Mas eu não quero isso! Eu não suporto olhar para
cara de nenhum deles nesse momento.
— Onde está Maria José Martins? — Pergunto em desespero a
recepcionista.
— Você é Isadora Martins? — Indaga e logo reconheço a voz dela.
— Sim, sim sou eu! Onde está a minha mãe? E meu pai, onde está o
seu… o seu corpo? — Me corta o coração ter que falar uma coisa dessas.
— O doutor está esperando por você neste corredor, siga por aqui e
bata na segunda porta a direita. — A recepcionista fala e eu assisto
rapidamente com a cabeça.
— Axel! — Olho para trás à sua procura.
— Estou aqui, eu não vou te deixar sozinha! — Ele diz seriamente
segurança a minha mão com força.
Agradeço mentalmente por Axel estar aqui comigo. Eu não sei se eu
conseguiria passar por toda essa porcaria sozinha. Ele está sendo o conforto e
a força que eu preciso nesse momento, e eu só posso agradecê-lo por tudo
isso. Sem mais delongas eu corri em direção ao local que fui indicada,
chegando lá eu fui recepcionada por um médico baixinho chamado Evandro
Santana. Ele me deu as condolências pela morte do meu pai, e explicou que
quando ele e minha mãe foram socorridos ela já havia falecido de um infarto
fulminante no coração.
E que não havia nada que eles pudessem fazer sobre isso, já que
conhecia o histórico hospital do meu pai. E no caso da minha mãe, ela se
machucou muito ao tentar tirar ela e meu pai do perigo do incêndio no sítio.
Só que no processo inalou muita fumaça, e teve algumas queimaduras que
não seria perigoso se minha mãe não estivesse em idade avançada. Não pude
deixar de sofrer ao ouvir tudo isso, mas eu engoli o meu pesar e pedi para que
pudesse ver a minha mãezinha. Eu necessito vê-la!
Assim que o médico me indicou a sua localização eu não perdi tempo e
saí em disparada para lá. Graças a Deus foi rápido encontrar o setor que era
onde minha mãe estava internada. Chegando lá eu fui guiada pela enfermeira
responsável, ela me contou como minha mãe e que ela chamava pelo meu
nome o tempo todo. Ouvir isso fez o meu coração apertar dentro do peito. Oh
minha pobre mãezinha! Entrei no local sozinha, já que Axel não poderia me
acompanhar dessa vez. No momento que entro eu pude ver a minha mãe, tão
fragilizada, deitada na cama hospitalar, ligada por aparelhos para ajudar que
ela pudesse respirar melhor.
— Oh mamãe, eu sinto muito! Me desculpa, mãezinha! A senhora está
nesse estado por minha culpa, era para ser eu no meu lugar. — Seguro a sua
mão delicada e coloco contra a minha bochecha banhada por lágrimas. —
Mãezinha, eu sinto tanto! — Fecho os olhos e choro, derramado assim toda a
minha mágoa.
— Dorinha, é você? — Ao ouvir a voz rouca e dolorosa de minha mãe
eu abri os olhos.
— Mãezinha! A senhora vai ficar boa, eu prometo isso a senhora. Eu
vou pedir ajuda a Axel, a Ângelo a qualquer pessoa que puder ajudar para a
senhora ter o melhor tratamento e… — Minhas palavras desesperadas foram
interrompidas quando mamãe colocou a sua mão no meu rosto.
Mamãe tosse um pouco, mas mesmo respirando com dificuldade ela
tira a máscara.
— Oh minha filhinha, eu… eu não preciso de nada disso. Eu só estava
esperando por você. Eu só precisava ver a minha garotinha antes de deixar
desse mundo. — Mamãe fala vagarosamente e eu não pude deixar de
arregalar os olhos e negar com a cabeça.
— Não, mamãe! Não fale isso, a senhora não pode me deixar também.
— Falo rápido enquanto continuo a negar coma cabeça.
— Mas eu não quero minha filha, eu não sei se consego seguir em
frente sem o meu velho. Entenda meu amor, essa é a nossa despedida. —
Minha mãe fala revela e eu não posso aguentar a dor que estou sentindo.
— Mamãe, eu não sei o que fazer sem vocês! Eu estarei sozinha, por
favor, mamãe! — Choro com força apertando sua mãe contra minha testa.
— Você nunca estará sozinha, meu amor. Você tem o Axel, tem
pessoas legais que gostam e vão cuidar de você. E sem falar do meu netinho,
ele te dará um propósito maior, assim como você deu a mim e ao Gene. —
Mamãe para por um momento para puxar um pouco de ar através da máscara
facial. — Dorinha, dê uma oportunidade ao seu pai biológico, deixe ele sentir
como é prazeroso ter você como filha. Eu e seu pai tivemos essa sorte, dê isso
ao Alonzo também. — Mamãe diz com firmeza.
— Mamãe, eu não sou tão boa assim. Por minha culpa… — Eu não
consegui terminar pelo bolo na minha garganta.
— Não, amor, não foi sua culpa! Nunca se culpe por algo que você não
fez, minha filha. Se você quiser nos deixar em paz, então viva sua vida, meu
amor. Viva muito, viva bem e seja feliz. — Minha mãe falou enquanto
passava a mão no meu rosto para enxugar as minhas lágrimas. — Eu
consegui salvar a roupinha que fiz para o meu neto, não esqueça de pegar na
mão da enfermeira, sim? — Pede ela e eu não consigo não concordar.
— Sim, mãezinha, qualquer coisa por você. — Digo rapidamente.
Observo que ela está com mais difícil ainda de respirar — Coloque a
máscara, por favor, mamãe. — Peço e é sua vez de negar.
— Não, não quero! Eu tenho algo para te pedi. — Ela tosse novamente
e eu entro em desespero. — Venda o sítio, pegue esse dinheiro da venda e
compre o enxoval do bebê. O pobrezinho não pode vir ao mundo sem roupas.
— É impossível não dar um pequeno sorriso ao ver que ela se preocupa com
o meu bebê. — Vá embora daqui minha filha, vá e não olhe para trás. E por
favor, seja feliz, sim?
— Como irei conseguir isso sem você e o paizinho? Como? —
Pergunto e volto a chorar copiosamente.
— Você é a mulher mais forte que conheço, meu amor. E se sua força
não for suficiente eu estarei junto com o seu pai olhando por você. — Mamãe
disse e eu podia ver que ela estava com mais dificuldade ainda de respirar. —
Te… te a… te amo, minha filha! — Essas foram as únicas palavras de minha
mãe antes de entrar em colapso, fazendo assim os aparelhos apitarem
fervorosamente e as enfermeiras invadirem o lugar.
— MAMÃE! NÃO MAMÃE! FALE COMIGO! MAMÃE! — Grito
em plenos pulmões, mas sou afastada dela.
— Tirem ela daqui! — Alguém grita, mas eu não quero saber.
— Eu te amo também mãezinha! Eu te amo! Eu… — Senti braços
fortes rodearem meu corpo, e eu me agarrei a eles. — Ela se foi, também!
Eles me deixaram, Axel! Me ajuda! — Pedi entre soluços.
— Estou aqui, querida! Estou aqui para você! — Axel fala no meu
ouvido, e eu cravo minhas unhas no seu braço.
Senti o meu corpo entrar em colapso, e a única coisa que eu me lembro
antes de deixar a escuridão me levar era que Axel não me deixou só em
nenhum momento. E por isso eu estava segura em deixar o meu corpo ser
levado.
Eu finalmente consegui fazer com que a Isadora pegasse no sono. Olho
para o seu rosto adormecido, e mesmo assim eu posso ver que não há
tranquilidade em seu sono, ele é turbulento e cheio de tristeza. Confesso que
já vi muitas mortes, muito sofrimento como esse que a minha menina está
passando. E muita das vezes também, todos aqueles sofrimentos eram
causados por mim de alguma maneira. Já matei incontáveis pais e mães de
várias famílias diferentes, mas nenhuma dessas dores me fez sentir algo. Só
que isso acontece até agora, porque agora senti o pesar forte da minha
menina. Eu quis fazer de tudo, rodar esse fodido mundo sangrento a fim de
poder tirar um pouco de tudo o que ela está sentindo. Mas eu não tenho esse
fodido poder!
Vendo-a abraçando com força a manta vermelha tricotada pra sua mãe,
me faz pensar no quanto eu quero matar Jerônimo Braganza agora. Aquele
desgraçado está mexendo com a mente da minha mulher, ele quer vê-la pagar
por algo que ela não tem culpa. O seu ódio é tão denso que faz com que esse
filho da puta não pense direito e é aí que eu vou poder pegá-lo! Eu tenho
certeza absoluta que uma hora ele vai ter alguma falha, nem que seja uma
minúscula fagulha que seja. E quando isso acontecer, eu vou fazer vingança
por todo mal que ele está causando a Isadora. Cada choro, cada culpa que ela
sente, cada olhar apático dela será revestido em sangue.
Vou fazer com que Jerônimo Braganza sangre como um porco que é.
Ou eu não me chamo Axel Cox!
Tento acalmar o ódio crescente dentro de mim, e passo a mão
levemente nos cabelos da minha menina. Hoje foi um dia complicado para
ela, porque foi hoje o enterro dos seus pais. Obviamente eu não poderia de
forma alguma deixar com que Isadora lidasse com todos trâmites legais.
Sendo assim eu mesmo fui o responsável por fazer um velório digno para
aquelas duas pessoas que amavam tanto a minha mulher. Não poupei gastos
para que eles dois descansarem em um lugar especial e obviamente juntos.
Isso fez a Isadora feliz, foi o único sorriso que ela deu quando viu que seus
pais estariam juntos mesmo depois da morte.
Durante o velório algumas pessoas sanguessugas da sua família, vieram
perguntar sobre o que ela faria com as terras dos seus pais. Pensei em matar
os desgraçados ambiciosos, mas o olhar desprovido de emoção da minha
menina foi o bastante para afastá-los. O que foi bom, por que se eles
continuassem a insistir eu poderia puxar minha arma ali mesmo, e depois de
matar quem quer que seja eu mesmo iria providenciar o fodido caixão. Solto
um suspiro irritado e passo novamente a minha mão no cabelo da minha
menina antes de me afastar e deixá-la dormir tranquilamente.
No mesmo instante que cheguei na sala eu pude avistar Ângelo e o
novo recém chegado, Alonzo Vergara. Os dois estão sentados no sofá,
enquanto conversam sobre Jerônimo. Passo por eles sem falar qualquer
palavra que seja e vou a procura do meu whisky e um maço de cigarro. Não
sou muito de beber e fumar direto, mas a momentos como esse que eu não
posso evitar isso.
— Como está Dorinha? — Earl pergunta e eu tomo a dose de whisky
em um gole só.
— Ela finalmente dormiu um pouco. — Respondo seriamente,
enquanto encho novamente o meu corpo.
— Que bom, ela precisava disso, foram três dias muito intensos para
ela. — Ângelo diz e eu não posso deixar de concordar.
— Ela teve dois ataques de asma durante esse tempo. — Earl fala com
pesar e eu cerro meus punhos.
— Isadora é forte, ela vai passar por isso. — Craig fala entre dentes e
eu não pude deixar de concordar.
Sim, a minha Isadora é a mulher mais forte que eu tive a sorte de
conhecer. Desde o primeiro dia que nossos caminhos se colidiram, eu vi
aquela expressão de medo cru misturado também com determinação bondosa
eu sabia que ela era diferente. Tenho certeza que Isadora vai passar por isso,
não vai ser fácil, por que a pensar da sua força ela é uma menina jovem, de
luto, grávida e com um lunático tentando foder com a sua cabeça. Minha
menina, minha doce menina inocente vai passar por isso, eu tenho tanta fé
nela de um modo que nunca tive em nada nessa vida de merda que levei. E
seja como for, se mesmo assim ela for fraquejar, eu estarei lá para segurá-la
sempre que for preciso. Isadora é minha, e é assim que vai continuar sendo.
— Ainda não entendo como isso aconteceu. Como Jerônimo conseguiu
matar todos nós homens e ainda incendiar a casa dos pais de Dorinha? —
Russel fala com raiva, enquanto grita a primeira coisa que está a sua frente.
— É fácil isso! — Respondo liberando a fumaça que acabei de puxar
do cigarro.
— O que você está querendo dizer? — Ângelo pergunta e vejo Alonzo
me encara com calma.
— Ele sempre esteve a dois passos à frente de tudo. — Alonzo diz e eu
ergo o meu corpo para ele.
— Exatamente! — Concluo friamente.
— Filho da puta desgraçado! — Earl Pragueja.
— Eu odeio admitir, mas Jerônimo é um homem inteligente, se não
fosse assim ele não construiria o império que tem hoje. — Ângelo fala sobre
pai sem esconder seu ódio.
— E é justamente por isso que pecamos, não imaginávamos que ele iria
querer atingir primeiro os pais de Isadora. — Falo analisando a situação. —
Para ele foi muito fácil fazer isso, porque ele sabia que não haveriam falhas e
que irá desestabilizar Isadora totalmente. — Falo observando a expressão
sombria de cada presente.
— E fazendo isso ele fez questão de zombar de nós. — Craig diz e eu
não posso deixar de concordar também.
Tenho que admitir que Jerônimo é um homem capaz e muito poderoso.
Me causa um ódio fora do normal saber que esse colombiano esteve a dois
passos à frente de nós o tempo inteiro. Sua intenção nunca foi mexer com a
Isadora diretamente, ele queria testar as suas possibilidades. Mas ainda acho
que tem mais alguma coisa nisso, por que eles iriam fazer tudo isso somente
para poder matar Isadora? Não, não é só isso! Tem algo mais em toda essa
merda, acho que…
Inferno! Como eu não vi isso antes?
— Ele nunca teve todo esse interesse em Isadora. — Falo de repente
fazendo todo mundo parar e olhar na minha direção.
— Como assim? O que você está querendo dizer? — Ângelo pergunta
em confusão.
— Para falar a verdade, Isadora é o que menos importante para ele.
Para ele, Isadora não é nada do que um bode expiatório para que pudesse
brincar. O que ele quer mais é… — Não pude terminar de falar por que
Alonzo de adianta.
— Sou eu! O que Braganza quer sou eu! — Alonzo fala entre dentes
sem esconder seu ódio.
— Porra! Que puta! — Russel esbraveja.
— Ele sabia! Ele sabia que eu ia tentar entrar em contato com o único
homem que poderia vingar a minha mãe. — Ângelo fala ressentido.
— Ele ainda tinha dúvidas se El Fantasma era de verdade Alonzo
Vergara, seu inimigo antigo e o homem que fez a sua esposa trai-lo. —
Deixei as minhas conclusões expostas.
— Mas agora Jerônimo sabe, agora ele tem a prova que eu sou El
Fantasma e que estou vivo. — Alonzo conclui levantando do sofá em um
pulo.
— Bem assim! — Digo bebendo um pouco mais do líquido âmbar.
— Por que você está tão tranquilo, Axel? — Ângelo pergunta fazendo
uma careta descontente.
— Por quê? — Rebato. — Por que não adianta gritar, praguejar aos
quatro ventos sobre os eventos fodidos que acabaram de acontecer. Eu tive
que segurar a minha mulher grávida enquanto ela urrava de sofrimento pelas
mortes terríveis dos seus pais gentis. Aguentei isso tudo, e vou aguentar mais.
E sabe por que, Gutierrez? — Ângelo ficar quieto pela minha pergunta
repentina. — Por que é nesses momentos que você tem que ser frio e
fodidamente calculista. Isadora não precisa da minha raiva, o que ela tem
dentro dela é o suficiente, o que ela precisa é que eu seja a arma dela e é
assim que eu vou ser. Eu vou matar Jerônimo Braganza nem que para isso eu
tenho que ir para o inferno junto com ele.
— Obrigada por isso, querido! Eu sempre soube que podia contar com
você — Sou surpreendido pela voz de Isadora atrás de mim.
— Mi estrellita! — Alonzo vai até Isadora e a abraça. Minha menina
não recua do seu abraço e passa o braço a sua volta. — Oi pai! — responde
surpreendendo Alonzo que fica sem palavras e a abraça com mais força.
— Lamento não poder estar aqui para ti. — Alonzo diz e posso ouvir o
lamento na sua voz.
— Tudo bem, eu não estive sozinha. E você está aqui agora, certo? —
Isadora fala e vejo que sua voz começou a embargar.
— O que está fazendo aqui? Você deveria estar dormindo. — Falo e ela
solta um suspiro, ajeitando os seus óculos com o dedo indicador após se
afastar de Alonzo.
— Eu não consegui ficar sozinha. — Confessa ela.
— Vem aqui! — Chamo e após um aceno com a cabeça ela vem até
mim e senta no meu colo. Enterrando a sua cabeça no meu ombro.
— Você está bem, Hermanita? — Ângelo pergunta com cautela.
— Não, meu irmão, mas eu vou ficar com o tempo. — Ela responde
dando um sorriso triste.
— Você precisa de um tempo, Isa! — Ângelo fala, mas a minha
menina nega com a cabeça.
— Não, eu não preciso de tempo, o que preciso é ver Jerônimo
Braganza sofrer por todo mal que ele nos causou. E principalmente por
assassinar os meus pais. — Ela diz com firmeza, apertando sua mão no meu
ombro.
Vejo a veracidade das palavras de Isadora. Estava certo para quem
quiser ver que ela não iria ficar parada e deixar com que aquele que bagunçou
dia vida de uma maneira tão suja saia impune. Ela quer vingança, e eu com
certeza estarei com ela por todo caminho para poder dar a ela a satisfação de
fazer esse Colombiano infernal pagar com todos os tipos fodidos de juros o
que ele lhe causou.
— Então temos que bolar um plano, porque como já sabemos meu pai
está sempre um ou dois passos à frente. — Ângelo comenta.
— Eu não preocupe irmão, eu sei exatamente o que fazer para poder
fazer com que Jerônimo pague por tudo. — Isadora fala e eu franzo o cenho.
— E como seria esse plano, mi hija? — Alonzo pergunta com
curiosidade.
— Faremos o império do Cartel De Ângelis entrar em colapso, fazendo
assim com que Jerônimo perca aquilo que ele mais ama... o poder. — Ela diz
com confiança e eu não pude deixar de ficar atento às duas palavras.
— Você não entende, Isa. O cartel do meu pai é muito forte e sólido,
não vejo como isso acontecer. — Ângelo fala e nega com a cabeça.
— Tem sim! Isso se formos muito precisos. Iremos mexer com as três
coisas fundamentais para que qualquer estrutura fique em equilíbrio. A
primeira o dinheiro, e essa parte é comigo, por que não foi à toa que eu me
formei com honras na faculdade. Eu sou uma hacker muito boa, e não vou
descansar até roubar cada centavo daquele desgraçado. — Ela para e olha
para cada um de nós. — Segundo, vamos fazer com que cada um dos seus
contatos importantes desacredite nele. E para isso acontecer eu vou precisar
de você Ângelo e de você pai. — Ângelo e Alonzo pensam por um tempo
para depois assentir. — E o terceiro é nas suas estruturas. Vamos descobrir
cada propriedade que pertence ao Cartel e vamos fazer o que vocês
mercenário fazem de melhor. Axel, Russel e Earl vocês vão roubar o máximo
de carga do Cartel.
— Puta merda! — Ouço Russel falar.
— Com isso, nós podemos fazer com que Jerônimo seja destronado
para que meu irmão mais velho assuma o seu lugar. Por que se ele quer um
herdeiro, é um herdeiro que ele vai ter. — Isadora fala e seu irmão abre um
largo sorriso.
— Minha nossa, Dorinha, eu não sabia que sua cabeça era tão boa
assim. Foda-se! — Earl exclama animado.
— Nem eu sabia, mas eu farei o possível para que em menos de três
meses Jerônimo perca o máximo de prestígio que ele tem. Ele vai pagar por
tudo de ruim que me fez! — Ela diz entre dentes. — Posso contar com
vocês?
— Eu estou com você, mi hija. — Alonzo diz com firmeza.
— Vamos fazer o nosso melhor! — Ângelo responde concordando.
— Somos família! E a família protege a família. — Russel diz fazendo
Craig e Earl concordarem. Isadora vendo que eu não falei nada, viro na
minha direção.
— E você, querido? Quer tentar fazer isso comigo? — Ela pergunta
meio apreensiva.
— Eu disse antes, querida, e vou dizer novamente se assim for. Eu
estou do seu lado, seja para o que quer que seja. Não importa o que aconteça
eu vou te segurar. Vou sempre te segurar. — Digo as palavras olhando nos
seus olhos bonitos e tristes.
— Obrigada Ax, obrigada por tudo! — Ela me abraça com força e eu
retribuo sem pensar duas vezes.
Eu não sei o que irá acontecer a partir desse momento, mas seja lá o
que for, eu vou dar a Isadora a vingança que ela precisa para seguir em frente.
E faremos isso juntos!
Três meses depois
Passaram-se três meses da morte dos meus pais e desse dia em diante
eu posso afirmar que muitas coisas mudaram. Obviamente a dor de suas
mortes ainda está machucando o meu peito a cada dia que passa, mas eu não
posso ser desonrosa com o último pedido feito pela minha adorável
mãezinha. Ela me pediu para ser feliz, para me apegar às pessoas que se
importam comigo e é isso que eu venho tentando fazer a cada dia. Só que…
só que há algo que ainda me incomoda muito, que é o fato de eu não ter
destruído Jerônimo Braganza com todos os meios que cabem a mim. Eu
decidi me vingar dele naquela noite após o enterro dos meus pais, onde eu
peguei uma parte da conversa de Axel com os outros.
Eu ouvi a voz fria e carregada de ódio de Axel, jurando vingança em
meu nome. Presenciar aquilo foi como se uma chave fosse virada dentro de
mim. A partir disso eu deixei que a minha dor causada pelo luto assumisse
nos momentos certos. Porque era a minha vez de mostrar aquilo que eu sou
capaz, não poderia dizer que era tão fraca ao ponto de entregar seja de qual
jeito for. Sendo assim eu pensei em um plano, plano esse que eu não estava
muito certa de que viria a dar muito certo. Mas que para minha surpresa após
um mês de trabalho constante tendo Axel, meu pai Alonzo, meu irmão e os
outros meninos fazendo que aquilo fosse possível eu me vi ainda mais
empenhada.
Meu plano começou com meu pai, ele usou todo poder, que conseguiu
adquirir com o passar dos anos, para poder fazer com que os contatos mais
importantes de Jerônimo enfraquecem a influência contra o Cartel. Sendo
assim, tanto meu pai quanto o meu irmão viajaram para alguns lugares nesses
meses. Eles tiveram encontros com altas pessoas do submundo, alguns deles
eram mais hostis que outros, mas todos foram conquistados. E sabe o que
levou eles a serem conquistados? Oh sim, é algo muito interessante chamado
dinheiro. Sim, o dinheiro e também a promessa de fazer acordos muitos mais
lucrativos do que o Cartel de Ângelis estava disposto a oferecer.
Aos poucos ficamos sabendo como o Cartel Colombiano foi ficando
sem saída. As drogas e as armas que eles vendiam para alguns outros lugares
não foi mais aceita. E o meu pai e Ângelo começaram a fazer negócios muito
mais lucrativos para eles. É claro que fazendo isso houve uma perda
significativa no direito do meu pai e Ângelo, mas isso não era nada com
relação aos fundos que viriam no futuro. Durante todo este esquema
fantasma, eu conheci Javier Ponce, a imagem e braço direito do El Fantasma.
Tenho que admitir que ele é um homem extremamente bonito, com um
carisma e uma segurança invejável. Ele é um sujeito que sabe o que quer, e é
pra isso que ele foi ótimo nesse esquema.
Meus pensamentos são interrompidos quando ouço uma batida na
porta. Franzo o cenho, tiro os meus óculos e coço os meus olhos antes de dar
autorização para quem quer que seja entre.
— Pode entrar! — Mando enquanto me afasto um pouco do
computador.
— Mi hija? — Ouço a voz de meu pai assim que a porta é aberta.
— Você chegou, pai! — Saúdo dando um pequeno sorriso.
Observo Alonzo Vergara entrar com toda sua aura do homem poderoso
que é, mas que além disso é um homem que está tentando todos os dias
conquistar meu coração. Solto um suspiro enquanto observo ele estender os
braços na minha direção. Sem pensar demais eu seguro suas mãos, o
deixando me erguer para cima. Porque com essa barriga de 31 semanas e
alguns dias, quase oito meses, fica um pouco complicado fazer alguns
movimentos bruscos. O abraço com carinho, mas logo me afastar para que
ele pudesse abaixar e beijar a minha barriga.
— Olá pequeno, está aqui seu abuelo! — Ele diz o vejo esperar com
olhos cheios de expectativas para que possa sentir um chute do bebê em
resposta. Mas nada acontece!
— Desculpa, pai, mas esse bebê aqui tem sua pessoa favorita. — Digo
passando a mão no ombro dele.
O que é a mais pura e cristalina verdade, pois o bebê somente responde
a Axel. Não que ele não se mexa outras vezes, ele se mexe muito, até demais.
Principalmente quando quer chutar minhas costelas ou dar cabeçadas fortes
na minha bexiga. Mas o que digo é em relação a responder, sendo assim não
existe outra pessoa que encontre resposta que não seja o seu papai vilão.
— Eu posso ser sua pessoa favorita também, eu trouxe muitos
presentes da minha viagem. — Ele diz magoado e eu nego com a cabeça.
— Obrigada pelos presentes, mas não precisava se incomodar. — Falo,
mas ele faz um gesto de desdém com a mão.
— Não é incomodo algum, fazer isso me deixa muito feliz. — Ele
sorrir, mas do nada seu sorriso se fecha. — Eu não pude fazer isso por você,
Estrellita, perdi muita coisa de sua vida. Então, por favor, deixe-me fazer isso
pelo meu neto. — O seu pedido causou um aperto no meu peito muito
grande.
— Só não o mime demais, ninguém gosta de criaturinhas mimadas. —
Brinco tentando desviar esse sentimento dentro de mim.
— Não me importo, se você e aquele idiota do Axel se cansarem
podem mandar o netinho para passar uns dias com o abuelito! — Diz e eu
cerro meus olhos para ele.
— Não sei se isso vai acontecer, pai! — Enfatizo e eu dar de ombros.
— Isso é você que está dizendo, estrellita! — Fala de modo relaxado e
logo em seguida solta um sorriso divertido.
Às vezes eu me sinto totalmente culpada por gostar tanto e me senti
muito bem ao lado de Alonzo. Mas daí eu lembro daquilo que minha mãe me
falou no seu leito de morte. Ela sabia que eu poderia fechar o coração para
Alonzo, porque durante toda a minha vida eu somente tive Seu Gene como
meu paizinho. Aquele senhor me ensinou muita coisa, e uma delas é ser
aberta às oportunidades que a vida nos dá. Se Deus colocou Alonzo Vergara
no meu caminho antes que meus velhinhos fossem tirados de mim, então isso
tem que me dizer algo.
Obviamente o amor e gratidão que sinto por meu paizinho tenho
certeza nunca irá acabar. Mas eu… eu posso deixar Alonzo entrar no meu
coração também. E posso dizer de coração aberto, que ele está se esforçando
o máximo.
— Obrigada por estar sempre se esforçando me amá-lo, padre! — Digo
de repente o pegando totalmente desprevenido.
— Oh mi hija! — Ele fala carinhosamente antes de me abraçar. — E eu
farei isso todos os dias, não importa o que aconteça. Não estou querendo
forçar a minha presença em você, mas quero que você me deixe cuidar de
você. Eu sempre te amei, minha filha, mesmo pensando que você estava
morta. E agora que a tenho nos meus braços é como um presente divino dia
céus. — Meu pai fala e eu não posso deixar de sentir meus olhos arderem.
— Ainda dói a partida dos meus velhinhos, mas eu tentarei me dedicar
ao máximo nessa nossa nova relação. Eu só conheci um pai durante a minha
vida toda, mas fico feliz por ter outro a quem me apoiar. — Revelo
sinceramente e seu braços à minha volta me apertam um pouco mais.
— É tudo o que eu quero ouvir, filha. Eu amei sua mãe, eu poderia
morrer por ela, e eu amo você e posso… — Antes que ele termine o que quer
dizer eu o calo.
— Não! Não diga o que você está pensando em dizer aí. — Falo
abruptamente o pegando de surpresa.
Não, eu não vou permitir que ninguém mais morra por minha causa.
— Lo siento, não é minha intenção deixá-la nervosa. — Diz ele
naturalmente vendo a minha expressão de pânico.
— Não pense em morrer, pai. Eu não posso aceitar isso. — Aviso entre
dentes.
— Ei, ei, já passou! Desculpa, por falar coisas sem pensar. Se acalme,
sim? Pense no bebê, tudo bem? — O tom de voz de sua voz é calmo, e isso
fez com que eu me acalme também.
— Tudo bem, mas por favor, não diz mais isso. — Falo amuada e ele
nega rapidamente.
— Não, claro que não! — Exclama com os olhos amplos.
— Obrigada, pai! — Agradeço o vendo soltar um suspiro.
— Venha cá, me dê outro abraço! — Chama ele e eu vou sem
pestanejar.
Fico mais um pouco com Alonzo até que ele avisa que precisa se
preparar para a invasão que ele fará junto com Axel ao Cartel de Ângelis.
Isso faz o meu coração bater mais rápido dentro do meu peito. É hoje! Hoje
vamos acabar com tudo isso, eu só preciso terminar de fazer o que tenho que
fazer. Já que todos os outros estão fazendo os seus trabalhos, então é minha
vez de encerrar com isso também. Passei a maior parte do tempo aqui
trancada dentro desse escritório, montado por Axel para mim, onde tem todo
o tipo de equipamento de ponta para que eu pudesse usar o máximo do meu
conhecimento para roubar cada centavo de Jerônimo.
O programa que eu havia criado antes era pouco invasivo, mas após
alguns upgrades em alguns códigos aqui e ali ele se transformou em uma
incrível arma do mal. Consegui invadir algumas pequenas contas fantasma
que pertenciam ao Cartel. Retirei tudo o que eu podia encontrar, e é claro que
para descobrir sobre essas contas eu usei da ajuda de Ângelo. Mas a maioria
da ajuda veio mesmo foi da Lara. Sim, isso mesmo! A minha melhor amiga
está me ajudando nessa vingança também, agindo de um modo que não posso
ser pega. E eu só tenho a agradecer isso a ela, porque se não fosse assim não
sei se poderia encontrar as empresas que o pai dela é responsável.
Ainda me lembro do dia que eu me permiti finalmente atender as suas
ligações. Desde a morte dos meus pais eu havia ignorado Lara com tudo de
mim, mas logo percebi que eu estava sendo uma idiota depressiva.
Inconscientemente eu estava culpando a minha amiga por algo que ela não
tem nada a ver. Confesso que me senti uma tola por completo quando atendi
a ligação e ouvi o seu soluço do outro lado. Lara amava meus pais também,
assim como eles a amaram também. Eles a acolheram como uma sobrinha e
estavam orgulhosos por ela ser minha amiga. Sendo assim eu me desculpei
com ela no mesmo momento enquanto ela dizia o quanto sentia muito pelo o
aconteceu.
Então nós duas choramos juntas por um longo tempo. E após o choro
cessar ela avisou que estava abandonando sua família de louco e estava vindo
até mim. Mas eu avisei a ela sobre a minha vingança, porque eu não poderia
deixar Jerônimo se safar pelo o que fez. E avisei que não envolveria seus
pais, por serem seus pais e nada mais. Ao me ouvir falar isso Lara se propôs a
me ajudar. Ela disse que faria de tudo para me ajudar, e eu tentei persuadi-la,
mas não teve jeito. Agora eu estou aqui, pronto para invadir uma enorme
conta de Jerônimo e eu não vejo a hora de vê-lo tão desesperado a ponto de
enlouquecer.
Você vai cair seu desgraçado, eu vou fazer você perder tudo! Vou fazer
você sofrer com a perda de algo que tão significativo para você, assim como
meus pais eram para mim!
Juro mentalmente após estar sozinha novamente, já que faz um tempo
que meu pai saiu e eu voltei a trabalhar na queda do imperador das drogas.
— Minha menina? — Ouço a voz de Axel atrás de mim e dou um
pequeno pulo de susto.
— Nossa, Ax, você me assustou! — Digo colocando a mão no peito.
— Eu sou tão feio assim, querida? — Pergunta cruzando o braço na
altura do peito.
— Nunca! Jamais! Você é sexy como um inferno! — Digo rapidamente
observando ele dar o seu sorriso fantasma. — Eu que sou uma porca gorda
agora! — Falo sem pensar observando sua expressão escurecer.
— O que diabos você acabou de falar? — Axel pergunta com irritação.
— Oh Ax, vamos admitir aqui! Olha o tamanho dessa barriga. —
Aponto para a minha pança sentindo o bebê começar suas acrobacias só por
que está ouvindo a voz do pai. — Não é hora de você ficar a favor do seu pai,
ele está querendo brigar com a mamãe. Me ajude bebê! — Falo com o bebê
que continua agitado.
— Eu já disse que não falta de ouvir você se autodepreciar Isadora.
Você é linda, porra! — Diz com firmeza. — Repita! — Manda e eu reviro os
olhos. — Isadora!
— Oh está bem! Eu sou lindona! Está bom assim? — Falo derrotada
jogando os braços para cima.
— Não foi tão sincero, mas eu gosto do som disso! — Ele diz e vem
andando até mim.
— O que você está fazendo? — Pergunto com desconfiança quando ele
tira os meus óculos de mim e puxa minha cadeira.
— Estou tirando você desse lugar. — Axel fala seriamente e eu
arregalo os olhos.
— Não, Ax! Está faltando pouco, eu ainda tenho muito trabalho a
fazer! Eu não posso sair daqui agora! — Falo desesperada tentando evitar que
Axel me obrigue a sair daqui.
— Eu não posso mais tolerar isso, Isadora! Você está se matando, se eu
não venho carregar você para fora você não se alimenta direito e não faz nada
por você. — Axel briga em tom obscuro e eu me encolho um pouco, tendo a
noção de que ele está certo.
— Ax, só falta uma única conta para conseguir tudo! — Falo em tom
suplicante. — Você e os outros estão dando tudo de vocês, me deixe fazer
minha parte. — Digo com amargura e a sua expressão amolece um pouco.
— Você está se sobrecarregando, minha menina. Você está com
praticamente oito meses de gravidez e só está definhando. Eu não posso mais
permitir que você faça isso, Isadora. Não pense mais em você, em mim ou na
vingança, pense nesse monstrinho no seu ventre. — É impossível não enrugar
o nariz cada vez que Axel chama nosso bebê de monstrinho.
— Não chame nosso bebê assim. — Reclamo apontando o dedo na sua
direção.
— É meu modo de ser carinhoso, não julgue! — Ele diz
tranquilamente.
— Se você diz. — Resmungo, mas logo penso no que ele acabou de
falar. — Acho que você está certo. — Digo cabisbaixa, mas ergo a cabeça
novamente quando sinto sua mão no meu queixo.
— Você tem que descansar, minha menina. — Axel fala olhando nos
meus olhos. Não posso deixar de sentir meu coração bater forte quando seus
olhos negros como a noite sem estrelas me encaram desse jeito.
— Tudo bem, vou fazer o que você diz. — Digo com a voz baixa.
Abrindo mão da minha obsessão por um tempo.
— Essa é a minha menina! — E com isso ele me levanta da cadeira e
me puxa para seus braços.
Enquanto estou sendo acalentada pelo homem que amo, eu lembro de
algo e o meu corpo ficar rígido.
— Que hora você está saindo? — Indago sentindo minha voz tremer
um pouco.
— Mais tarde, mas não pense muito nisso, tudo bem? — Pergunta e eu
confirmo apertando mais seu corpo contra o meu. — Venha, querida, vamos
tomar um banho juntos! — Axel fala e logo está me carregando no colo.
Deus, ser carregada e estar grávida desse jeito é muito desconfortável.
Penso, mas como sei que Axel é forte e não vai me deixar cair eu o
deixo me levar. Não falo nada somente deito no seu peito, percebendo o
quanto é bom ouvir as batidas do coração de Axel. Ela me relaxa totalmente,
me faz acreditar que eu não estou sonhando e que ele está aqui ao meu lado.
E que mesmo ele indo, eu sei que ele voltará. Fecho os olhos me deliciando
com esses pensamentos, mas ele logo foram deixando para escanteio no
momento que chegamos no banheiro. Axel me colocou no chão e foi logo
tratando de tirar as suas roupas. Quando meus olhos foram para seu corpo, eu
sinto minha boca secar, dei uma boa olhada sem ter necessidade de me sentir
tímida por fazer isso.
— Se você continuar a me olhar dessa maneira eu não vou conseguir
me conter, minha menina. — A voz rouca de Axel aumentou a minha libido,
fazendo o meu clitóris pulsar e a minha calcinha molhar.
— Eu não preciso da sua contenção, Axel. Eu preciso de você! — Falo
de modo arrastado, me sentindo embriagada de prazer.
Em um piscar de olhos Axel estava em cima de mim, mas ele não
avançou de modo descontrolado. Não, ele foi gentil, me pressionando contra
a parede enquanto vagarosamente descia a sua boca contra a minha. O nosso
beijo foi deliciosamente gentil e perigosamente gostoso, deixando os pelos de
todo o meu corpo arrepiarem e a minha coluna enrijecer. Nesse mesmo
instante eu tive o desejo de não ter essa barriga grande entre nós, porque eu
adoraria poder tocar o meu corpo contra o dele livremente. Sinto sua boca
largar a minha e ir direto para o meu pescoço, no mesmo momento que uma
das suas mãos acaricia vagarosamente os meus seios.
— Eu adoro como você está sensível, esses seis gemidos leve são uma
perdição para mim. Você é sempre uma perdição para mim! Porra! — Axel
fala entre dentes e eu fecho os olhos, me concentrando em como seu cada
toque seu reacende uma chama dentro de mim.
— Me toque Axel, me toque mais! Eu preciso disso! — Peço gemendo
logo em seguida.
— Eu quero te machucar! Quero sentir a sua pele quente sob a palma
da minha mão. Quero foder sua boca com força, deixando você sem ar no
processo. Quero que você grite que é minha enquanto fodo essa sua bunda
gostosa e virgem. — Axel diz cada palavra no meu ouvido e meu corpo
estremece.
— Faça isso Axel, eu confio em você! Me foda! — Peço descontrolada
o fazendo soltar um som de puro contentamento.
— Minha adorável menina! — Axel fala e desce sua mão até a minha
calcinha. — Molhada, hum? — Pergunta e eu assinto inconscientemente.
— Pra você! Somente para você! — Digo alto sentindo seu dedo
esfregar preguiçosamente o meu clitóris. — Axel, não me provoque!
— Ainda não, minha menina! Teremos muito tempo no futuro, mas
agora eu vou ser gentil com você. Vou afundar meu pau em você e fazer você
gozar. Você quer isso? — A sua voz rouca está me deixando mais e mais
enlouquecida.
— Sim, faça isso! Me foda já! — Mando segurando sua nuca com
força.
— Tão mandona! — Diz arrogante, voltando a beijar minha boca.
Mas dessa vez o nosso beijo é mais intenso, e fazendo gemer alto
quando sinto uma leve mordida boa nos meus lábios inferiores. Axel me
coloca sentada na bancada do banheiro, mas não antes de tirar toda a minha
roupa me deixando nua a sua mercê. Suas mãos tateiam meu corpo, e eu
aproveito isso para descer minha mão em direção ao seu pau alongado e
grosso. É tão gostoso! Tudo nesse homem é extremamente gostoso. Eu o
quero agora, quero ele tocando em meu corpo para sempre.
— Segure firme da bancada, minha menina! — Pede ele tirando na
boca do meu seio.
— S… sim! Ahhh! — Gemo apreciando sua língua brincar com o bico
do meu peito. Eu estou tão sensível!
Seguro a bancada com força, fazendo exatamente o que ele me pediu. E
quando Axel larga o meu seio para me preencher com o seu pau eu vou ao
céu no mesmo instante. Inclino o meu corpo para trás, sem tirar os olhos do
rosto lindo desse homem à minha frente. É tão bom olhar para ele assim, faz
com que eu me sinta especial e desejável. Te Axel dentro de mim me faz
esquecer de tudo, toda a tristeza, todo o rancor e principalmente todo o medo
que venho escondendo atrás de todo trabalho duro. Aqui e agora só existe eu
e ele! E foi entregue a todo desejo que eu acabei gozando sem nem ao menos
me dar conta. Gemi alto, tirando minhas mãos da bancada para poder
alcançar o corpo dele com força.
— Ahhh... Axel! — Digo trêmula.
— Você é linda gozando, você é mais gostosa ainda gemendo meu
nome assim. — Ele diz entre dentes para logo em seguida gozar dentro de
mim.
Tão bom! Isso é… isso é o céu!
Após nos recuperarmos Axel me carrega novamente no colo e me leva
para tomar banho. Eu ainda estou mole pelo pegamos maravilhoso que ele me
causou, sendo assim eu me encosto da parede do banheiro e deixo com que
ele me lave. Axel parece gostar dessa tarefa e faz sem nem ao menos
reclamar. Oh sim, ele é um homem que gosta de cuidar de mim. E será que eu
odeio? Obviamente que não! Depois de estarmos banhados, Axel pegou um
lanche leve para mim e me obrigou a comer um pouco. Olhei feio para ele
porque tudo o que eu queria nesse momento era dormir, mas mesmo assim
terminei de comer. Agora tenho o braço forte de Axel envolta da minha
cintura, e eu me acalmo com a sua respiração quente na minha nuca.
— Que horas você está saindo? — Pergunto com a voz baixa.
— Antes do amanhecer! — Responde e eu fecho os olhos com força.
— Eu vou vê-lo antes disso? — Questiono roucamente.
— Não! — Diz com firmeza.
— Você vai voltar para mim, não é? — Questiono tentando esconder o
meu nervosismo.
— Sempre, minha menina! Eu sempre volto para você! Quando você
menos imaginar eu estarei de volta. — Diz e eu confirmo com a cabeça.
— Tome cuidado, está bem? Volte para nós dois, porque nós amamos
você! — Declaro e ele aperta seu braço sobre mim.
— Durma minha menina! — Manda beijando minha nuca e cheirando
meus cabelos logo em seguida.
Faço o que ele diz sonhando com o dia que eu ouvirei a sua resposta
para o meu eu te amo.

Acordo no dia seguinte sentido o lado do colchão frio. É a prova que


faz um bom tempo que Axel não está mais aqui. Abri os olhos dando de cara
com a roupinha vermelha que minha mãezinha tricotou para o bebê. Estendo
minha mão e pego o embrulho, já sei de cor cada detalhe dessa roupinha, mas
eu não consigo deixar de olhar. Há um par de luvas vermelhas, um par de
sapatinhos, um macacão e para concluir há também uma manta quentinha.
Abraço as pequenas peças com força, levando o tecido para o meu nariz,
sentindo um cheirinho de lavanda bem fraquinho. Estou preocupada com
Axel e com os outros, é impossível não ficar assim ainda mais sabendo o que
ele foi fazer.
Mas não! Eu não posso ficar assim, tenho que confiar nas capacidades
que Axel tem. E principalmente confiar que ele vai voltar para mim bem, sem
nenhum arranhão. Detestaria saber que algum deles se machucou, sendo
assim irei rezar para que tudo isso acabe logo e que eles voltem… que Axel
volte! Sou surpreendida com um chute do bebê, deixo um sorriso escapar nos
meus lábios e aliso a minha barriga carinhosamente.
— Seu pai vai voltar para a gente, não é mesmo meu amorzinho? —
Falo carinhosamente, sentindo seus movimentos.
— Dora? — Ouço alguém me chamar do outro lado da porta.
Reconheço a voz imediatamente, que é de Luíza, a assistência do meu
irmão. Ela está cuidando de mim, junto com uma vasta equipe de segurança.
Para mim não há nenhuma dificuldade em ter que ficar com Luíza, porque eu
realmente gosto muito dela.
— Pode entrar, Lu! — Falo sobrando novamente o conjuntinho.
— Que bom que está acordada, vai tomar café agora ou está enjoada?
— Luiza pergunta vindo na minha direção com um sorriso.
— Hoje eu acordei sem enjoo algum, mas morrendo de fome. Acho que
posso trocar de roupa e descer para comer. — Digo gentilmente e ele
concorda. Paro por um tempo e olho a roupinha de bebê na minha mão,
imediatamente eu estendo até Luíza. — Você pode pedir para levarem para
mim? — Luiza não foi capaz de esconder a surpresa na sua feição.
— Tem certeza? — Pergunto e eu sou um pequeno sorriso.
— Sim, eu tenho! — Concordo com a cabeça, colocando o conjuntinho
nas suas mãos. — Também queria ajuda para poder fazer o enxoval para esse
bebê aqui. — Digo alisando a barriga.
— Isso é ótimo, Dora! — Luíza diz alegremente, mas logo sua
expressão cai. — Mas infelizmente você não vai poder sair daqui para
comprar. Sem o senhor Ângelo aqui não me sinto à vontade para tirá-la do
lugar. — Ela para um pouco como se estivesse pensando em algo e depois
sorri novamente. — Eu conheço uma equipe especializada em enxoval, posso
controlá-los e tudo sairia do seu gosto.
— Oh Lu, isso seria ótimo! Você pode fazer isso por mim? — Pergunto
a vendo assentir com firmeza.
— Considere isso feito! — Luíza diz me fazendo sorri em
agradecimento. — Vou pedir para preparar seu café da manhã. Deseja comer
algo específico? — Indaga e eu nego. Hoje não estou com nenhum desejo em
especifico.
— Não, o que estive para mim está bom. — Dou de ombros.
— Tudo bem, Dora! — Vejo Luíza virar para sair. Penso em chamá-lo
para perguntar se soube de algo sobre os outros, mas eu evito fazer isso.
Soltando um suspiro eu levanto da cama com cuidado, fazendo uma
careta sofrida porque além de ser uma chateação fazer isso com essa barriga
grande. Eu estou super apertada para fazer xixi, minha pobre bexiga está
gritando de tão sofrida que está. Após usar o banheiro e ir escovar o dente eu
me sinto humana novamente, então decido ir trocar de roupa. Mas quando
estou perto de chegar até o closet, eu paro ao ouvir meu celular tocar.
Imediatamente eu penso que pode ser Axel quem está me ligando, por isso eu
corro como uma pata choca até a mesinha de cabeceira. Olho a tela e franzo
o cenho ao ver o número de Lara.
Será que ela conseguiu mais alguma coisa?
— Oi Lala! — Falo assim que atendo a ligação.
— Dora, não faça nad… — Lara começa e percebo o seu tom
desesperado, mas para abruptamente.
— Eu disse para você não falar nada demais, está querendo se
encrencar? — Ouço a voz de um homem de longe, mas não consigo
identificar.
— Quem é? Cadê a Lara? Lara! O que está acontecendo? — Começo a
pergunta desesperada quando sinto que essa ligação é estranha demais.
— Oh! Olá, minha querida! Sabe quem eu sou? Oh não, sinto muito,
nós nunca fomos devidamente apresentados, certo? Então deixe-me me
retratar por isso. — O homem fala e eu sinto um arrepio doentio tomar conta
da minha espinha.
— Vo… você é… você é Jerônimo! — Indico sentindo meu coração
louco dentro do peito e a palma da minha mão começar a suar.
— Sim, isso mesmo! Vejo que é uma mulher inteligente Isadora. É
bom finalmente falar diretamente com você, querida Isadora. Eu sou
Jerônimo Braganza. — Ele diz com uma gentileza que eu sei que não é real e
isso me causa ainda mais pavor.
— O que você quer? O que você fez com a Lara? — Pergunto cerrando
meus punhos.
— Você está preocupada com a minha afilhada? O que eu poderia fazer
com ela? Nada! Ou... eu poderia? Claro, já que descobri que essa garotinha
traquina estava traindo o seu próprio tio, não é mesmo? Você sabe sobre isso,
não sabe Isadora? — Ouço ele falar eu arregalo os olhos e começo a
tremer. — Parece que as mulheres da qual eu tenho um apresso sentem a
necessidade de me trair. Isso não é engraçado? — Pergunta dando uma risada
fria logo em seguida.
— Não! Não faça nada com ela! Eu não vou… — Começo a falar
apertando o celular com força na minha mão. Jerônimo dá uma gargalhada do
outro lado da linha, mas não fita muito por que a risada para abruptamente.
— É bom ver os jovens de hoje em dia tentarem se proteger, mas isso
não vai funcionar agora. — Jerônimo diz sarcasticamente.
Ele vai matar Lara! Eu sei... eu sinto isso! Mas eu não posso permitir!
— O que você quer? — Pergunto com os dentes cerrados.
— Até que enfim você chegou onde eu realmente queria. — Sua voz é
muito aterrorizante para mim, mas eu tenho que suportar. — Em dez minutos
haverá um carro parando do outro lado da rua a sua espera. Saia daí sem ser
notada, e vá até o carro! — Engulo em seco.
— É muito pouco tempo, eu tenho… — Sou interrompida antes de
terminar de falar.
— Dez minutos! Não teste a minha paciência porque você não vai
gostar do que eu posso fazer. Acho que você sabe muito bem o que eu sou
capaz de fazer, certo? Matar seus pais foi algo que não me causou muito
esforço. — Fecho meus olhos sentindo meu coração quebrar em vários
pedaços.
Demônio desgraçado!
— Eu irei! — Digo fracamente.
— Isso é perfeito! Lara e eu estaremos aqui à sua espera, não demore!
Eu não gosto muito de atrasos. — E com isso ele desliga a ligação.
Sinto minhas pernas fraquejarem, deixo o celular cair da minha mão.
Solto um soluço dolorido, mas coloco a mão na boca para evitar que alguém
ouça meu choro. Não posso chorar! Eu não posso deixar que esse homem me
vença assim.
— Chega de ter medo! Eu não vou deixar esse filho da puta desgraçado
matar minha amiga por minha causa. Eu vou salvá-la! — Digo recuperando a
minha força.
Não sei o que pode acontecer, mas tudo o que eu realmente sei é que
isso acaba agora! Tem que acabar!
E que Deus proteja a mim e ao meu bebê!
Merda, já se passaram dois minutos!
Dou um pulo ao observar que o tempo que Jerônimo me deu está
passando muito rápido. Tento não pensar que eu estou correndo o maior risco
na vida, e que estou completamente vulnerável sem ter o Axel por perto. Mas
ignoro esses pensamentos e corro para poder trocar de roupa. No closet eu
colei com o máximo de esforço uma calça de jeans com elástico na cintura e
peguei uma blusa de branca de botão de Axel para vestir. Quando eu estava
pegando a camisa eu lembrei do compartimento onde fica as armas. Estalei a
língua quando eu vi uma Glock automática 9 mm e uma Beretta 6.35 mm.
Não tenho tempo para pensar em qual levar, por isso eu optei por pegar as
duas.
Quando vesti as roupas, eu coloquei a Glock atrás da minha cintura
arredondada. E a Beretta, como ela é pequena eu a coloquei presa na minha
bota. Foi um pouco complicado, com pés inchados e tudo mais, mas eu forcei
o máximo que eu pude já que faltam poucos minutos para que o tempo acabe.
Prendo meu cabelo no alto da cabeça, e antes de sair eu envio uma mensagem
para Axel. Não sei o que ele está fazendo agora, ou até mesmo quando ele vai
poder ver essa mensagem, mas eu tive que fazer isso para que ele saiba que
eu não tive outra alternativa. Porque não posso permitir que mais alguém que
eu ame morra com os joguinhos doentia de Jerônimo Braganza.
Os homens de Jerônimo vieram me levar, eu vou tentar ganhar o
máximo de tempo. Mas por favor, nos encontre!
Te amo, Ax!
Sua menina
Jogo o meu celular em cima da cama, e visto uma jaqueta de moletom
de Axel antes de sair do quarto. Começo a sentir dor nas costas pelo
desconforto do peso da minha barriga de oito meses de gestação. Mas tento
ao máximo ignorar a dor enquanto caminho em direção a saída. Paro quando
vejo alguns dos homens que estão na casa fazendo a segurança, espero por
um tempo até que eles saiam da minha vista. Vejo que faltam três minutos
para que o tempo imposto a mim termine, mas não me desespero. Assim que
vi uma pequena brecha eu segurei a minha barriga, para equilibrar o peso, e
corri em direção a saída.
Quando eu estava perto para apertar o botão para destrancar o portão eu
ouço alguém chamar meu nome. Aperto meus olhos com força, mas aperto o
botão mesmo assim. No mesmo instante que eu abri os portões eu vi um carro
grande e preto parado do outro lado da rua. Ouço novamente o meu nome ser
chamado, mas dessa vez eu olho para a direção de onde vem a voz.
— O que você está fazendo? — Luíza pergunta tendo alguns dos
seguranças ao seu redor.
— Eu não tenho tempo, Lu! — Falo com a voz estrangulada.
— Por quê? O que houve? Não tem tempo para quê? — Luíza pergunta
e vejo ela tentar andar até mim, mas eu estendo a mão direita a impedindo.
— Não venha, Lu! Ele tem Lara, ele me ameaçou e disse que vai matá-
la. — Sinto um bolo se formar na minha garganta, mas eu não vou chorar. Eu
não posso chorar!
— Nós podemos fazer isso, nós podemos esperar que os outros venham
e… — Luíza diz e eu nego com a cabeça.
— Não há tempo! — Grito nervosa, sentindo alguns movimentos atrás
de mim. — Eles estão vindo! — Falo engolindo em seco. Notando quando os
seguranças apontaram suas armas para trás de mim.
— Não atirem! Se começarmos um tiroteio aqui, Isadora pode ser
atingida. — Luíza fala.
— Obrigada! — Murmuro agradecida.
— Você vai morrer, Dora! — Luiza diz, quebrando totalmente sua
máscara de profissional.
— Não, eu não vou! Eu vou ganhar tempo até que Axel venha e nos
salve. — Digo com confiança.
— Dora! — Ela chama, mas eu sinto mãos desconhecidas alcançando
meus braços repentinamente.
— Sinto muito, Lu! — Falo dando um sorriso de desculpa antes que
meu rosto seja coberto por um capuz preto.
Não digo nada e deixo com que os homens de Jerônimo me levem com
ele. Sou jogada para dentro do carro, e mordo os lábios inferiores para não
gritar de dor quando a minha perna atinge algo sólido. O carro entra em
movimento, mas faço de tudo para me desligar do que está acontecendo. Por
que se eu não fizer isso, e não me matar como uma rocha eu vou acabar
perdendo todo o meu equilíbrio. Eu só não posso deixar com que percebam
que eu estou morrendo de medo. Isso foi um dos ensinamentos de Axel, por
que ele me disse que a pior coisa quando se é sequestrado é demonstrar
medo. Ele também me ensinou que devemos ter uma vantagem, mesmo que
seja mínima, que assim podemos mexer com a cabeça da pessoa.
E se é de vantagem que estamos falando, eu tenho isso. Jerônimo não
vai poder me matar, por que eu tenho uma carta na manga. E o pior é que ele
também tem coisas que podem ser minha fraqueza, e tenho certeza que o
bastardo vai saber usar isso contra mim da melhor maneira possível. Se isso
acontecer eu tenho que estar preparada, sendo assim eu começo a formular na
minha cabeça o que eu devo fazer para ganhar o máximo de tempo possível.
Pelo menos durar o máximo de 8 a 9 horas, que é o tempo de viagem de
Bogotá e Florianópolis. Isso é claro se eles não tiverem que fazer nenhuma
parada. Sinto o carro parar, meu coração bate em expectativa para a merda
que terei de enfrentar a partir de agora.
Sou tirada do carro, e como ainda estou com o capuz na minha cabeça
eu não consigo ver onde exatamente eu estou. Me sinto ansiosa e muito
desesperada pelo o que vai acontecer a partir de agora. Mas seja como for eu
vou ficar bem, eu tenho que ficar bem. O meu bebê mexer muito na minha
barriga, sei que ele ou ela deve estar sentindo o quanto a sua mãe está
nervosa no momento. E é por isso que sinto uma ponta no meu peito, fico
altamente preocupada que algo possa acontecer a ele pela minha negligência
impensada.
Vai ficar tudo bem, querido! Só precisamos aguentar um pouco mais.
Seu pai vai vir até nós! Penso tentando controlar as minhas emoções.
— Vamos! — Escuto o som de uma porta se abrindo, para logo depois
o meu corpo ser empurrado para frente.
— Dora? Oh não, Dora! — A voz surpresa de Lara chega até mim.
— Lara? — Pergunto paralisada.
E nesse momento o capuz é tirado da minha cabeça. Pisco algumas
vezes desorientada, mas quando meus olhos se acostumam com a luz do
ambiente eu sou surpreendida pela imagem da minha melhor amiga. Ela está
sentada no chão, mais precisamente no canto da parede, presa por uma
algema e corrente grossa por um dos pés, enquanto suas mãos estão juntas e
presas por um par de algemas, estilo algemas de policiais. Mesmo daqui eu
posso ver os hematomas no seu rosto, ela não esconde a tristeza ao me ver
ali.
Uma ideia súbita surgiu na minha cabeça, e sem parar para pensar nas
consequências eu luto para me soltar do aperto no meu braço e empurro um
dos homens mais próximos. Quando estou solta eu corro até onde Lara está
sendo mantida e a abraço com força. Ela obviamente não pode me abraçar de
volta, já que suas mãos estão atadas, mas mesmo assim eu aproveito a minha
chance. Mesmo agachada eu coloco uma mão no meu calcanhar e tiro a
Beretta 6.35 mm para empurrar rapidamente embaixo da coxa de Lara.
— Sua puta! — Um dos capangas me xingam, mas não dou
importância.
—Dora... — Sussurra Lara e eu nego com a cabeça.
— Use no momento certo! — Sussurro de volta. O mesmo momento
que coloco a mão para trás para poder encontrar a Glock 9 mm.
— Olha o temos aqui! — O capanga me puxa e me joga no chão,
fazendo com que eu bata as costas com toda força. — Você não a revistou?
— Um dos homens gritam e eu encolhi meu corpo o máximo que minha
barriga permite.
— Não imaginei que uma puta grávida fosse tão burra ao ponto de
achar que poderia ser heroína de alguém. — E com isso eu recebo um chute
no meu rosto, o que faz o meu corpo ser lançado para trás.
— Deixem-na! Larguem ela, seus filhos da puta! — Lara grita, mas o
homem chuta de novo, dessa vez é nas minhas costas.
— Calada, sua vadia gorda! — Ouço um som de pancada. — Só não te
dei um trato ainda porque o chefe não deixou.
Sinto uma mão prender firme no meu cabelo, para logo em seguida eu
ser puxada para cima. Fico de joelhos, porque estou sentindo dor e medo
demais para poder ficar de pé nas minhas próprias pernas.
— Você é corajosa agora, vagabunda? — O capanga que está me
agredindo falando meu ouvido, enquanto puxa com força odo meu cabelo me
fazendo gritar.
— O que vocês dois estão fazendo? — Um outro homem surgiu na
porta.
— Ela estava armada! — O que estava agredindo Lara disse como se
não fosse nada.
— O erro foi de vocês que não viram isso antes de colocá-la no carro.
Agora saia daí, vamos! O chefe não vai gostar disso. — Disse com irritação.
— Foda-se, eu só fiquei puto! — O cara que ainda estava segurando
meu cabelo disse, antes que me empurrasse para o chão de novo.
— Não me importo com isso, só predam ela aí nas correntes e vamos
sair daqui. — O recém chegado fala e os outros concordam.
Fui presa pelos meus tornozelos e punhos por algemas iguais às que
Lara estava usando. Tentei não falar nada na intenção de não receber mais
nenhum golpe, e assim foi, mas minha amiga não teve essa sorte. Lara
recebeu mais um tapa antes de ser liberada no seu canto, mas não antes de
olhar para o seu atacante com um olhar feroz e cheio de promessas. No
instante em que eu ouvi a pesada porta ser trancada eu deixei a dor me
consumir. Meu corpo dói muito, estou machucada, mas graças a Deus o bebê
parece estar bem, pois eu o sinto se mexer.
— Dora, por que você fez isso? — Foi a primeira pergunta de Lara me
fez quando estávamos realmente a sós.
— Eu não podia deixar você nessa situação, Lala. É minha culpa. —
Digo de modo fraco por não conseguir respirar direito.
— Você está louca, Dora? Quando toda essa porcaria é sua culpa? —
Lara pergunta, mas eu solto um gemido dolorido. — Está muito machucada?
Onde dói? — Lara indaga desesperada e eu nego.
— Não é nada demais, eu ficarei bem. — Tento passar segurança a ela,
mas não sei se fui muito convincente.
— Oh Deus Dora, você é péssima mentirosa! Eu… eu vi aquele filho
da puta chutando você. — Ela se agita tentando vir até mim, mas estamos
longe uma da outra.
— Sim, mas você está pior! Tenho certeza que você deu a eles um
momento ruim. — Forço um sorriso, mas Lara continua a me encarar.
— Você não deveria ter deixado Jerônimo mexer com sua cabeça,
Dora. Minha vida não custa mais que a sua e a do bebê. — Lara reclama
entre dentes e eu solto um suspiro.
— Não diga isso, Lala! Eu não poderia deixar… eu simplesmente não
poderia suportar. — Cerro meus dentes. — Ele matou meus pais, eu sei do
que ele é capaz. — Lembro a ela que solta um som de desgosto.
— Nem me lembra dessa merda, aquele puto tem que pagar. — Lara
diz com fúria.
— Sim, ele deve! Ele me tirou uma mãe antes, a possibilidade de um
lar com minha família biológica antes, para logo depois matar os pais que me
deixando continuar com a vida que me foi dada. — Lembro a Lara que acena
com a cabeça.
— Mas você está correndo altos riscos aqui. — Lara diz e eu nego com
a cabeça.
— Jeronimo não pode me matar, eu sou a única que pode reaver aquilo
que ele perdeu. Eu sou seu maior trunfo, ele não vai me matar. — Digo sem
mostrar que eu não estou tão confiante assim, pelo menos não depois da surra
que os seus capangas me deram.
— Eu não teria tanta certeza, mas agora temos algo. — Lara aponta
para a onde eu deixei a pequena Beretta.
— Vamos usar a melhor oportunidade. — Digo tentando ficar em uma
posição confortável, só que é impossível.
— Você estava bem? — Lata pergunta preocupada.
— Eu vou ficar, Lala. Nós vamos ficar! — Digo sentindo minha cabeça
latejar de dor. — Como você veio parar aqui? Os seus pais sabem que o
amigo deles sequestrou sua filha e está usando-a como triunfo? — Pergunto
curiosa com toda essa situação ridícula.
— Meus pais? — Lata perguntou e eu pude ver sangue nos seus olhos.
— Eu não tenho pais, eu os enterrei de vez depois de hoje. — Confessa me
surpreendendo.
— O que houve? — Questiono.
— Foi o meu pai que descobriu que eu estava te ajudando a derrubar
Jerônimo e eu posso dizer que ele não ficou feliz em saber que a sua filha
caçula estava ajudando o inimigo a derrotar seus esquemas milionários. —
Lara termina de falar e abre um sorriso frio.
— O que aconteceu exatamente? Como ele ficou sabendo? — Indago
querendo me distanciar da dor que estou sentindo.
Lara começou a contar que tanto ela quanto Rodrigo estavam em corda
curta com os seus pais. Mais ela do que Rodrigo, já que seu irmão mais velho
sempre disse que não ficaria no meio entre os problemas de Ângelo com
Jerônimo. Obviamente os pais de Lara não gostaram disso, mas ele não pôde
fazer nada com relação ao irmão. Só que com ela as coisas foram mais
complicadas, sendo assim ela teve que fingir não ter contato comigo por
muito tempo. E a coisa estava tranquila até que os meus pais foram
assassinados por Jerônimo. Foi aí onde ela entrou para me ajudar
furtivamente, o que à época achei vantajoso, o que foi claro, mas também foi
extremamente perigoso.
Lara disse que estava indo bem, até que ele deu um passo em falso e
uma das empregadas a viu mexer no notebook do pai pela última vez. Ela
disse que sabia que tinha fodido as coisas, e por tanto tinha que sair de casa o
mais rápido possível. Estava tudo pronto para ela sair, mas infelizmente ela
foi surpreendida pelo seu pai e seus capangas. Lara me conta que não teve
como reagir e que quando se deu conta estava sendo agredida da pior forma
pelo homem que um dia lhe deu a vida. Não deve ter sido fácil para ela ter
passado por isso, mesmo que ela tente esconder eu consigo sentir a tristeza na
sua voz.
— O que aconteceu depois? — Pergunto.
— Depois os capangas de meu pai me trouxeram para cá. — Lara diz
com desgosto.
— Você não viu… er… — Não quero dizer o nome desse desgraçado
em voz alta, mas Lara entendeu o que eu queria perguntar.
— Sim, ele também me mostrou o quanto estava irritado comigo.
Tentou me fazer falar, mas eu me neguei, foi aí que ele resolveu ir até você.
— Lara conta com irritação.
— E seus irmãos, eles também estão de acordo com isso? —Questiono.
Vejo Lara negar com a cabeça.
— Não, meus irmãos não sabem que meu pai me deu como moeda de
troca para o puto. — Lara faz uma careta. — Dante voltou para São Paulo
com Amanda, ela não sabe de nada. E Rodrigo estava viajando a negócios,
faz alguns dias que eu não o vejo. Se ele souber o que aconteceu ele vai tentar
me encontrar. — Lara diz confiante.
— Penso o mesmo de Axel, Alonzo e Ângelo. — Soltei sentindo um
aperto no peito.
— Como é o seu… — A fala de Lara foi interrompida quando a porta
pesada foi destrancada e aberta.
Em poucos segundos passa um homem que mesmo que eu nunca tenha
o visto pessoalmente na vida, eu sabia. Eu sabia quem ele era! Jerônimo
Braganza, meu inimigo, o homem que quero morto está aqui, bem aqui na
minha frente. como se eu estivesse vendo o meu irmão, só que em uma
versão de meia idade, com cabelos cortados baixos nas laterais, grisalho e
com uma barba por fazer da qual meu irmão nunca deixa crescer. Apesar de
estar vendo um verdadeiro monstro me encarando, eu não posso deixar de
dizer o quanto ele é charmoso usando um terno de três peças risca de giz.
Observo ele andar até Lara e deixar uma tapinha na cabeça, falar com
ela algo tão baixo que não tem como chegar até mim. Minha amiga se revolta
pelo o que quer que tenha sido dito a ela e tenta avançar, mas recebe um tapa
forte em resposta. Depois de dar o tapa na minha amiga, ele se vira sorrindo.
O seu sorriso é doentio, tão doentio que faz o meu estômago embrulhar.
Respiro fundo e ergo a minha cabeça, porque como diz Axel: O inferno pode
até congelar, mas eu não vou deixar esse fodido me intimidar.
— Então você é a famosa Isadora, sim? Tenho que dizer que você
realmente me lembra da minha saudosa esposa Esther. — Jerônimo diz
enquanto caminha na minha direção.
— Não diga o nome da minha mãe! — Enfatizo e ele me encara com
uma surpresa fingida.
— Oh, eu não posso falar no nome da mulher que foi uma cadela
traidora que saiu fodendo com o primeiro pau que viu na sua frente? —
Jerônimo diz sarcasticamente.
— Olhando para você agora, eu posso ver o que minha mãe se
apaixonou pelo meu pai. — Dou uma risada debochada.
— Dora, não! — Lara fala, mas eu a ignoro. Meu assunto agora é com
esse filho do inferno.
Vejo sua feição escurecer ao ouvir falar do meu pai, esse com certeza é
um assunto delicado para Jerônimo. Um homem do seu calibre não admite
ser traído, principalmente quando não pode se vingar do homem que
conquistou o coração da sua esposa com tanto afinco ao ponto de ela preferir
morrer do que estar ao seu lado.
Sim, eu vou rebater todas as merdas que você me falar. Foda-se!
— Criança, se eu fosse você eu não seria tão espertinha desse jeito.
Você deveria estar me implorando para te deixar viver e não o contrário. —
Jerônimo me ergue do chão, para que pudesse segurar o meu rosto com sua
mão.
— Você não pode me matar Jerônimo! — Enfatizo olhando nos seus
olhos desprovidos de qualquer vida.
— Oh não? Por quê? Por que eu não posso te matar? Me diga um
motivo! — Manda-o descendo sua mão da minha bochecha até o meu
pescoço.
— Eu posso te dar dois motivos para isso. — Digo ele me encara com a
sobrancelha arqueada. Jerônimo usa a mão que está desocupada e puxa uma
arma para apontar para minha testa.
— O primeiro é o meu pai, Alonzo Vergara. Você quer que ele aprecie
a minha morte, você quer dar esse gosto a ele. Estou certa? — Questiono
corajosamente.
Jerônimo balança a cabeça de um lado para o outro, ponderando as
minhas palavras. Vejo seu sorriso de psicopata aumentar, e isso faz com que
eu queira matá-lo com minhas próprias mãos.
— Sim, você está certa! Seu paizinho ficou escondido entre os ratos por
muitos anos com medo de mim. E sabe por quê? — Ele emenda logo em
seguida. — Por que ele é um rato também! — Adoraria poder revirar meus
olhos agora.
— O segundo motivo é por que se por algum acaso eu estiver morta
você não vai conseguir o seu dinheiro de volta. — As minhas palavras o
alcançaram, o que o fez ampliar os olhos brevemente. — Você deveria estar
se perguntando quem foi bom o suficiente para poder tirar todo o seu
dinheiro, não é? Bem, agora você tem sua resposta!
— Foi você! — Sua voz fervilhava de ódio e quando dei por mim as
minhas costas estavam batendo na parede mais próxima e sua mão apertou
mais em volta do meu pescoço.
Eu não conseguia respirar, tentei sair do seu aperto, mas foi impossível.
Se isso continuar eu vou morrer aqui e agora, e isso não pode acontecer. Eu
tenho que ganhar tempo para Axel vir até nós, eu não vou morrer! Me debato
em suas mãos e o seu aperto sai de mim abruptamente me fazendo arfar a
com força a procura de ar. Caio no chão novamente, e quando olho para cima
vejo Jerônimo cair na gargalhada.
— Nossa, eu não me divirto assim a anos! — Ele diz entre risos. —
Então foi uma criança! Uma criança que me roubou! — Jerônimo diz
parando de rir para me olhar friamente.
— Dora, você está bem? — Ouço Lara pergunta e eu confirmo com a
cabeça.
— Agora eu sei porque a minha afilhada querida e futura nora me traiu.
Você é boa, Isadora! Você foi treinada bem, quem foi? Quem te treinou
assim, foi o Axel? — Jerônimo rir novamente. — Eu acho que vou me
divertir com você!
— Se me matar você não saberá onde está seu dinheiro e nem terá
oportunidade de encontrar com o meu pai. — Jogo na cara dele novamente,
minha voz sai rouca e dolorida.
Dando um sorriso frio, Jerônimo se aproxima de mim novamente.
Involuntariamente eu me arrasto para trás, mas ele é rápido o suficiente para
não deixar com que eu me afaste mais. Ele se agacha e coloca o cano da sua
arma na minha boca, sua expressão é de puro contentamento enquanto eu
estou morrendo de medo por dentro. Ouço a arma ser destravada, no mesmo
momento que Lata pede para que Jerônimo me deixe em paz. Mas nada
acontece, ele continua a me encarar com satisfação doentia.
— Deixe-me te contar o que vai acontecer, você vai me dar o meu
dinheiro de volta. E eu vou matá-la por mexer com a pessoa errada, mas é
claro que isso não será antes que eu mate o seu pai e o seu namoradinho
assim como fiz com seus velhos pais adotivos. Lembra deles? — Meu corpo
fica rígido. — Sabe o que vai acontecer com esse bebê? — Sua mão aperta a
minha barriga com força, sinto suas unhas cravaram na carne sensível e
esticada. — Eu vou ficar com ele, fazer dele o pagamento por sua mãe ser
uma cadela safada e ladra. Quem sabe eu não o venda para algum mercado de
prostituição infantil, hein? — Jerônimo diz e eu tremo.
Não, o meu bebê não!
Encaro o olhar de Jerônimo até que ele tira a arma da minha boca e
levanta abruptamente. Me controlo para não chorar na sua frente, mesmo com
a respiração descompassada eu continuo a evitar o choro a qualquer custo.
Porque não posso deixar isso acontecer, ele não pode me ver vulnerável. Eu
não vou deixá-lo chegar até mim.
— Bem, eu já disse o que eu queria dizer agora é a vez de vocês. Não
há água e nem comida para vocês até que eu tenha todas as informações que
precisa. Principalmente sobre a recuperação do meu dinheiro. — Jerônimo
fala tranquilamente antes de abrir a porta pesada e sair como se nada tivesse
acontecido.
Assim que eu percebo que aquele homem nojento saiu eu me deixo
afundar no meu desespero e choro. Choro com tudo que há em mim, porque
eu agora sinto o medo. E é um medo que consome a minha alma e me come
por dentro.
Eu só rezo que Axel nos ache logo, por que eu não sei por quanto
tempo eu vou conseguir suportar tudo isso.
Olho para os nós dos meus dedos arruinados, sangrando e inchados e
percebo que socar a parede várias vezes para aliviar essa fodida angústia que
eu estou sentindo não adiantou de nada. Porque desde o momento em que eu
vi a mensagem de Isadora na porra do meu celular o meu mundo entrou em
total ruína. Eu não faço a mínima ideia de como toda essa merda aconteceu,
mas eu sei que a partir que eu me levantei da cama de madrugada e vi o seu
corpo adormecido, abraçando o meu travesseiro como uma tábua de salvação,
eu senti que não deveria deixá-la sozinha. Só que mesmo com esse
sentimento martelando o fundo da minha mente, eu levantei, me arrumei de
modo tático e sai.
Inferno, por que caralhos eu fiz isso? Por que eu a deixei?
Fico me questionando isso a todo tempo, mas eu sei facilmente a
resposta para essas perguntas. Eu a deixei por que prometi trazer a cabeça de
Jerônimo Braganza em uma bandeja para ela. Ansiava que eu mesmo pudesse
sentir a quentura do seu sangue entre meus dedos, quando eu estivesse
passando a lâmina da faca no seu pescoço. Queria eu mesmo apreciar sua
morte, fazê-lo pagar em nome da minha mulher. Cumpri a minha promessa
de libertá-la da dor, mas infelizmente aquele filho da puta eu esperto o
suficiente para brincar com a gente. Sinto vontade de rir de puro ódio ao
lembrar que a sua mansão em Bogotá estava totalmente à mercê. Não existia
mais nenhum traço do colombiano fodido lá, e ele nos enganou.
Oh sim porra, agora eu sei! Eu fui o primeiro a detectar que fomos
enganados quanto olhei através do meu Rifle de alta precisão que tinham
poucas pessoas no local. O que não era normal, eu já estive aqui no passado,
eu conheço exatamente como era o estado de segurança do chefe do Cartel de
Ângelis. Eu sou bom no que faço, e jamais entraria em um local sem ter
estudado antes. Mas aquilo estava errado, estava tudo fodidamente errado.
Então foi aí que resolvi comunicar a todos antes mesmo de pegar o meu
celular e olhar aquela maldita mensagem. E antes que eu pudesse ter qualquer
reação, Ângelo recebeu uma ligação de Luíza, a mulher altamente treinada
que ficou responsável pela segurança de Isadora.
Ao saber por Luiza que a minha menina, a minha doce menina tola,
havia se sacrificado porque Jerônimo estava usando Lara para atraí-la a ir até
ele, foi como um inferno inteiro para mim. Nesse mesmo instante eu senti
tanta raiva de Isadora, tanta, mais tanta que eu não sei como explicar com as
palavras corretas. Ela caiu novamente no jogo de Jerônimo e eu estava longe
demais para poder parar que ela fizesse a merda que havia feito. Eu sempre
fui um homem que sabia muito bem como contratar todas as merdas que
gritavam dentro de mim. E foi me fechando, mascarando qualquer emoção
que conseguisse levar. Mas isso… isso foi até hoje!
Porque agora preso nesse jatinho particular, com todos os homens mais
perigosos do mundo do crime ao meu redor correspondendo a mesma aura
obscura e tensa, eu pude notar que eu não estou conseguindo mais suportar
estar aqui sem fazer nada. Aperto meus punhos com força, sentindo as
minhas pernas tremerem de ansiedade e nervosismo. Tenho que encontrar
minha menina, e pela primeira vez a muitos e muitos anos eu estou sentindo
medo.
— Axel! — Ouço a voz de Craig, mas não faço questão de olhar na sua
direção. — Você tem que se controlar, Axel. Eu entendo o que… — Não o
deixo terminar e levanto em um pulo para alcançar a gola da sua camisa.
— Cala a sua fodida boca, Craig! Você não sabe de nada! Não sabe,
porra! — Cuspo as palavras com ódio, mas ao invés de revidar, me empurrar
ou qualquer coisa parecida, meu irmão me olha com pesar.
— Irmão, pode me machucar se for necessário para poder extravasar
sua angústia. Eu não me importo! — Craig diz e eu afrouxei o aperto da
minha mão.
— Mas que diabos! — Exclamo e eu sinto a sua mão no meu ombro.
— Sinto muito por dizer que eu entendo o que você está passando.
Gostamos da Dora, e estamos com receio por ela. — Craig revela e ao ouvir
isso eu o solto e cambaleio para trás.
— Ela não deveria fazer essas idiotices, não deveria ser tão
irresponsável com sua vida. — Cuspo com ódio da mulher que mexe com
minha cabeça dia e noite.
— Sim, eu tenho que concordar! — Craig diz assentindo com a
cabeça.
— Ah porra! O que diabos essa menina estava pensando? — Urro
passando a mão não meus cabelos em angústia.
— Você não precisa esconder o seu medo de perdê-la através da raiva,
irmão. — Craig diz chamando minha atenção.
Fico parado olhando para o meu irmão mais novo por um longo tempo.
Até que eu me sento novamente na poltrona do cantinho, curvando meu
corpo agora à frente, apoiando meus cotovelos para segurar a minha cabeça
com as minhas mãos. O que está acontecendo comigo, porque meu peito dói
como o inferno?
— Nunca imaginei que um dia você estaria tão entregue a uma mulher
como você está com a Isadora. — Craig diz, sentando na poltrona ao meu
lado.
— E isso é ruim? — Questiono, virando a cabeça para encara-lo.
— Não, pelo contrário! Isso mostra que podemos ser humanos, não
precisamos ser necessariamente monstros o tempo todo. — Craig fala
encostando sua cabeça na poltrona e fechando os olhos logo em seguida.
— Ser humano significa se machucar e sangrar com facilidade. E isso é
irritante! — Revelo e meus irmão dá uma risada curta.
— Não seria você se não achasse as coisas irritante. — Diz
simplesmente.
— Não posso discordar! — Pondero suas palavras.
— Isadora e o bebê vão ficar bem, Axel. Ela é a mulher mais forte que
eu conheci. — Craig diz e eu solto uma forte respiração.
— Sim, ela é! Eu só… eu só não quero que ela sofra mais. — Revelo
sentindo aquele aperto novamente no peito.
— A dor e o sofrimento de cada um de nós é particular, irmão. Você
não pode tentar controlar toda e qualquer situação, senão você vai
enlouquecer. — Recebi um empurrão de alerta do Craig. Olho para ele com o
cenho e franzido.
— Quando foi que você ficou tão sábio? — Questiono sem entender.
— Quando eu vi o idiota do meu irmão mais velho se apaixonar demais
por uma mulher. E nem ao menos sabe entender seus próprios sentimentos.
— Resmunga ele me pegando de surpresa.
O que diabos ele está falando? Eu? Não, não pode ser! Não tem como
ser isso! Será que esse medo desenfreado, essa loucura que sinto a cada vez
que a vejo pode ser considerada como amor? Impossível! Não sou um
homem que experimentou de perto esse tipo de sentimento, então… não! Não
tem como um monstro como eu, que tem até a alma suja de sangue conter
esse tipo de sentimento no peito. Mas… mas toda vez que eu olho para
Isadora, eu desejo que ela só tenha o mundo inteiro aos seus pés. Quero
sempre estar pronto para segurá-la se assim ela precisar de mim. E é assim, se
é desse jeito, será que eu… Puta merda!
— Essa sua cara espantada me diz que você finalmente chegou a
alguma conclusão, certo? — Craig diz e eu cerro os punhos com força.
— Sim, eu acho que você está certo! — Digo entre dentes. Quando vou
abrir a boca para falar novamente, Craig me para.
— Não diga isso a mim, deixe com que ela saiba assim que
conseguimos alcançá-la. — Meu Irmão diz e eu confirmo. Paro novamente,
analisando toda essa situação de merda.
— Eu nunca tive medo da minha morte, Craig. Na verdade, eu sempre
esperei por ela, mas agora… agora eu estou com um fodido medo de perdê-la
Craig. — Solto sem tentar controlar as minhas palavras.
— Isso não vai acontecer, nós vamos chegar a tempo. — Craig fala
com firmeza e eu fico rígido.
— Sim, nós vamos! Nem que para isso eu tenha que colocar fogo
naquela cidade de merda. — Falo perigosamente.
E eu não estou mentindo quando digo essas palavras. Eu vou encontrar
a minha mulher! Vou matar qualquer uma que cruzar o meu caminho, não
posso deixar que ela fique em perigo por mais um minuto. Se eu pudesse
fazer com que esse jatinho voasse mais rápido eu faria, mas infelizmente eu
só posso ficar aqui esperando com que o tempo seja gentil comigo pelo
menos uma vez nessa porra de vida. Odeio isso! Odeio com toda minha alma
obscura. Meus pensamentos são interrompidos quando sinto um movimento
ao meu lado. Viro a cabeça e vejo Ângelo parado me encarando com uma
expressão rígida e nervosa.
— O que aconteceu? — Indago rapidamente para não perder tempo.
— Encontram o lugar onde Isadora e Lara estão mantidas. — Ângelo
diz e meus olhos vão direto para Alonzo vindo até nós.
— Quem? Quem deu essa informação? Essa pessoa é confiável? —
Alonzo pergunta tenso.
— Sim, é o Rodrigo, o meu sócio! A irmã dele foi levada também,
Jerônimo a usou para atrair a Isa até ele. — Ângelo explica e eu penso sobre
isso.
— A pergunta que não quer calar é o porquê que Jerônimo sequestrou a
amiga da Dora. — Craig fala seriamente.
— Ele deve ter descoberto que ela estava nos ajudando. — Digo
analisando essa situação de merda.
— É exatamente isso, o pai de Lara a vendeu como traidora para
Jerônimo. Rodrigo foi atrás dos pais e forçou o pai a falar o que ele sabe. —
Ângelo diz e pisos ver a sua ira. Bom, gosto da sua ira!
— Lara, ela é a sua noiva? — Russel pergunta do outro lado do jatinho
e isso faz com que Ângelo o olhe como se fosse matá-lo.
— Sim, isso mesmo! — Ângelo responde e Russel concorda ignorando
o olhar desgosto de Ângelo.
Esse é o Russel, sempre perguntando algo que ou te deixa
desconfortável e você quer estrangula-lo. Ou ele fala coisas sem sentido que
fazem com que você realmente queira matá-lo.
— Voltando, já temos a localização, mas Rodrigo não tem força tática
necessária para invadir o lugar. — Ângelo conta.
— Invadir sem machucar as meninas, não é? — Questiono e ele
confirma. — Quanto tempo de viagem ainda temos? — Indago seriamente.
— Mais duas horas de viagem, chefe! — Earl responde prontamente.
Merda! Mais duas horas nesse martirio.
— Vamos aproveitar essas malditas duas horas para poder organizar
esse resgate. — Digo olhando para cada um dos presentes.
— Sem erros! A vida da minha filha, do meu neto e da sua amiga estão
em jogo. — Alonzo diz com firmeza.
Queria poder fazer com que esse jatinho voasse mais rápido, pois eu
preciso urgentemente que minha menina esteja a salvo. Porque se algo
acontecer com ela ou com o nosso monstrinho eu não sei o que diabos irá
acontecer comigo. Respiro fundo acalmando toda a escuridão que há dentro
de mim e me afundo no planejamento tático. Organizamos as cargas todas as
questões essenciais para que tudo ocorra bem, e que Jerônimo Braganza não
saia impune depois disso. Temos que pegá-lo desprevenido, assim como ele
fez com a gente em vários momentos. Filho da puta! Só de pensar nisso eu
sinto a minha raiva aumentar, mas a jogo novamente para escanteio e foco na
frieza das coisas.
Quando as duas horas se passaram e o jatinho finalmente pousou em
território brasileiro nós saímos para encontrar diretamente com Rodrigo e
Dante. Não fazia ideia de quem era esse sujeito, mas Ângelo explicou que
aquele era o cunhado de Rodrigo. O que para mim não quer dizer muita
coisa, mas se ele estava ali para nós ajudar e não ficar no nosso caminho
então para mim estava de bom tamanho. Após algumas trocas de palavras
descobri que a minha mulher grávida estava sendo mantida em um antigo
armazenamento de armas que o Valentim Álvarez administrava para o Cartel.
De início fiquei pensando em quão óbvio e fácil era aquele lugar, mas não me
importei com isso e nem coloquei problemas desnecessários na minha
cabeça. A minha única importância no momento era na Isadora e em nada
mais.
Nos separamos em equipes e nos dividimos entre os carros. Optei por
ficar com meus homens, do qual já estou acostumado, e com o pai de Isadora.
Não posso deixar com que ele fique em outro grupo porque se algo acontecer
com esse homem a minha menina pode não saber lidar com a situação. E seja
do jeito que for, prefiro cuidar das suas costas para não haver imprevistos. No
momento que chegamos no perímetro do local nossa equipe foi dividida, e
quando todas as equipes estavam se posicionando um barulho alto foi ouvido
dentro do lugar fazendo com que todos ficarem em alerta.
— Porra! — Praguejo nervoso.
— Isso é um tiro? — Ouço Rodrigo falar pelo ponto de comunicação.
— Sim, eu tenho certeza! — Dante responde. Daqui posso ouvir
algumas vozes ferro do lugar, o que me deixou subitamente preocupado por
que não estávamos esperando por isso.
— Eu acho que… — Ângelo ia falar algo, mas começamos a ouvir
mais dois barulhos de tiro.
— Minha filha! — Alonzo exclamou em espanhol visivelmente
apreensivo.
— Não temos escolha, vamos ter que invadir agora! Se preparem para
poder entrar! — Falo pelo ponto de comunicação.
— Eu estou de acordo! — Ângelo diz furioso.
— Então vamos! — Rodrigo diz e eu aviso aos nossos outros homens.
— Explode essa maldita parede, Russel! — Aponto para a parede
grossa a pouco metros de nossa frente.
— Agora mesmo, chefe! — Ele confirma e corre com Earl ao seu lado.
— Nós dois vamos seguir em frente, assim que a parede for derrubada
nós entramos. — Aviso a Alonzo que somente assente com a cabeça.
Espero até que Russel termine o seu trabalho, e quando ouço o som da
explosão eu não perco mais tempo. É hora de acabar logo com isso e ter a
minha mulher novamente nos meus braços.
A única coisa que eu quero é aniquilar cada pessoa que encostou um
dedo na minha mulher e fazer com que cada um pague com suas malditas
vidas.
Eu não sei quanto tempo se passou desde que estou presa nesse lugar
úmido, fétido e frio, muito frio. Sinto fome, sinto sede e estou com muita
vergonha por ter urinado nas calças, mas foi como Lara disse: Faz parte do
processo infernal. Sendo assim eu venho aguentando tudo isso, agradecendo
muito a Deus por continuar viva apesar de ter me tornado um saco de
pancadas ambulante. E mesmo depois disso tudo eu não me arrependo,
porque se para mim está difícil eu tenho certeza que para Lara também não
está nada fácil. A única coisa que faz o meu coração pesar é o fato de eu ter
disposto o meu bebê a essas condições tão infelizes.
Tenho medo por ele, medo de que Jerônimo possa conseguir fazer mal
ao serzinho que cresce dentro de mim. Eu não tenho nenhum receio da morte,
a única coisa que me faz temer é que meu filho passe pela mesma situação
que eu. Que toda situação que a minha mãe passou antes da sua morte se
repita para mim como um castigo divino. Eu amei os pais que tive, eu os
amei com todo o meu coração e o respeito que sempre tive por eles nunca vai
mudar. Por que meus paizinhos era pessoas de bem, pessoas que mereciam o
mundo aos seus pés. Mas e se… e se eu morrer e o meu bebê não tiver isso?
E se os caminhos de sua pequena vida desencontrar com o seu pai, como
aconteceu comigo?
Oh não, isso seria tão terrível! Eu não posso pensar assim, não desse
jeito! Acho que a fome e o frio devem estar mexendo comigo, me fazendo
pensar em coisas sem sentido. Nós vamos sair dessa, eu tenho fé nisso, Alex
vai vir até nós. Para falar a verdade eu tenho que pensar em uma maneira de
poder explicar e contornar toda a sua raiva que vai estar especialmente
direcionada para mim. Tenho certeza que Axel vai querer me comer viva por
ser tão imprudente, e nunca que vai entender os motivos pelos quais eu não
poderia deixar Lara sozinha nessa porcaria. Agora eu sei que Jerônimo
Braganza não passa de um psicopata, pude confiar isso com meus próprios
olhos.
Sendo assim eu vou continuar lutando, vou ignorar toda a minha dor,
cansaço e medo que estou sentindo nesse momento. Preciso focar na
esperança de que tudo irá ocorrer bem daqui para frente e eu vou poder
vingar os meus pais de uma morte nada digna para eles. Solto uma respiração
profunda, e me encolhi no chão frio e sujo.
— Dora, você está bem? — Ouço Lara pergunta e abro os meus olhos
para encontrá-la.
— Defina bem, Lala. — Digo com a voz rouca.
— Realmente é complicado, mas quero saber se você sente alguma dor.
— Lara diz tentando se arrastar até mim, mas as correntes não deixam. —
Caralho, porra! — Minha amiga xinga e sacode os punhos presos.
— Eu estou bem, Lala, acho que aguento mais um pouco. — Tento dar
um sorriso, mas eu não consigo.
— Isso é ridículo, Dora! Eu estou com tanta raiva que eu não sei o que
dizer a você. É foda tudo isso! — Lara diz e eu não pude fazer nada a não ser
concordar.
— Podemos conversar para fazer o tempo passar mais rápido, o que
acha? — Indago e ela bufa descontente.
— O que eu quero é agir, nós podemos… — Ela tenta dizer, mas eu a
interrompo.
— Não, Lara, se fizermos algo agora podemos ser mortas facilmente.
Eu odeio admitir, mas sou um peso morto para você, já que eu não posso te
ajudar. — Aponto para minha barriga antes de forçar a sentar no meu
quadril.
— Você não é um peso morto, só está redondinha demais. — Lara tenta
quebrar o clima tenso que ficou.
— Sim, poucos dias para fechar os oito meses. — Digo levemente
passando as minhas mãos presas por algemas na minha barriga.
— Eu não acredito que perdi tanto o desenvolvimento desse
dragãozinho. — Lara lamenta e eu faço uma careta.
— Não chame meu filho ou filha de dragão, Lara. Por Deus! O que há
com você e com o Axel? — Pergunto irritada e ela sorri largamente.
— O que tem o dragão negro assassino na equação? — Ela questiona
em tom de brincadeira.
— Fora o fato de que ele me fodeu sem camisinha em me engravidou?
— Pergunto carrancuda e Lara me olha sem acreditar.
— Isadora Martins Gutierrez Vergara Cox, como assim? Você está
falando desse jeito? Olha… estou chocada! — Lara diz fingindo surpresa e
eu reviro os olhos.
— De onde você tirou todo esse sobrenome? Cristo Lara, não coloque
ideias na cabeça de meu pai, de Ângelo e do Axel. — Lamento negando com
a cabeça.
— Tudo bem, tudo bem, mas que ficou incrível isso ficou. — Ela
aponta e eu ignoro. — Mas sim, me diga o que tem o Axel? — Lara faz a
mesma pergunta anterior.
— Axel começou a chamar o bebê de monstrinho e isso me tira do
sério. — Confesso e Lara fica em silêncio por um tempo até que começa a rir
muito. — Não tem graça! — Lamento.
— Oh Dora, isso é muito hilário! Nunca imaginei que o mercenário
Axel Cox poderia colocar um apelido no bebê. — Do nada seu riso cessa e
ela encara sem jeito. — Para falar a verdade eu achei que ele fosse rejeitar o
bebê. — Ela termina.
Para falar a verdade eu também achei isso, tanto que desde o dia que eu
descobri estar esperando um filho dele eu já estava planejando um modo de
lidar com toda situação sozinha. Fora o fato de estar com a sombra de um
pensamento que Axel poderia não voltar e que iríamos seguir caminhos
totalmente diferentes. Mas não foi isso que aconteceu, porque ele voltou.
Voltou para mim, para nós, e vê-lo parado na frente da universidade naquele
dia foi um tanto melancólico, mas também assustador. Assustador devido a
toda aquela circunstância, eu não sabia como ele iria reagir ao bebê. Axel
poderia simplesmente dizer que eu deveria tirar, ou qualquer coisa do tipo,
mas não foi isso o que aconteceu.
Obviamente ele não ficou saltitante de felicidade, e também o modo
que ele descobriu não foi lá essas coisas todas, mas no fim tudo foi
esclarecido. Me sinto tão orgulhosa dele, orgulhosa do que estávamos
cobrindo pouco a pouco. Tijolo atrás de tijolo, tudo bem do modo que nós
podemos fazer. Axel vem sendo um parceiro que nunca imaginei que pudesse
ser, e é claro que ele está longe de ser o homem perfeito. Cruzes, Deus me
livre disso! Gosto do meu vilão do modo que ele é, mas gosto ainda mais do
fato de que estamos totalmente juntos nisso. Oh não, agora eu sinto lágrimas
nos meus olhos. Eu não quero chorar, mas é impossível lembrar de tanta
coisa e não se emocionar.
— Por que você está chorando, Dorinha? — Lara pergunta e eu dou
risada.
— Acho que depois de tanta coisa que Axel e eu passamos, o ver
chamar nosso filho de monstrinho não é tão ruim assim. — Digo dando um
sorriso pequeno e minha amiga assente.
— Eu fico feliz por você, Dorinha. Sei que você vem lutando dia e
noite, e mesmo assim consegue ficar de pé. — Lara diz e eu nego com a
cabeça.
— Não é bem assim, Lala! — Confirmo soltando um suspiro.
— É verdade Dorinha, apesar de ser uma cabeçuda e se colocar em
perigo desnecessário. E você é uma mulher foda! — diz, mas eu não pude
respondê-la porque uma onda de dor quente tomou conta das minhas costas.
— Oh Deus! — Exclamo dolorosamente no mesmo momento, sinto
minha barriga ficar muito rígida e a dor nas costas piorar.
— Dora! Dora o que houve? — pergunta alarmada. Deito no chão,
sentindo a dor piorar.
— Eu… eu não sei! Eu acho que… — Fecho os olhos com força.
Nesse momento sinto um líquido muito quente descer pelas minhas
pernas em grande quantidade. A minha bolsa estourou! Mas não, não era para
ar agora, não desse jeito! Olho para Lara de olhos arregalados, e ela entende
exatamente o que está acontecendo. Sendo assim ela começa a gritar por
ajuda, ela grita muito de todas as formas possíveis. A minha dor piora, e a
cada movimento meu líquido mais quente sai de mim. Céus, não era para ser
assim! Está muito cedo para que o bebê venha ao mundo, e eu… eu não sei o
que vai acontecer. Que dor! Sou despertada dos pensamentos quando vejo a
porta abrir e Jerônimo junto com dois capangas passam por ela.
— O que diabos está acontecendo aqui? Que gritaria é essa? —
Jerônimo pergunta irritado.
— É a Dora, ela entrou em trabalho de parto. — Lara diz com
desespero.
— Oh sim? Que que situação interessante! — Jerônimo diz de forma
sarcástica vindo na minha direção.
Me encolhi, mordendo os lábios inferiores para não gritar. Eu não o
queria perto de mim de maneira alguma, nem agora passando pela situação
que estou passando no momento, e nem nunca. Mesmo com a minha luta ele
vem até mim, olha para mim e para o chão enxarcado de líquido amniótico
com a maior cara de desdém. Quando penso que a situação não poderia estar
mais desgraçada, ele me prova o contrário quando se agacha ao meu lado e
segura a minha mandíbula com força.
— Esse é o seu momento, sua bastarda! — Jerônimo diz de forma
louca. — Se você me disser como consegui meu dinheiro de volta eu posso
pensar em te ajudar nesse momento. O que acha? — Ele diz e eu choro de
dor. — Se você não me der o que eu quero em troca, então você e seu
bastardinho podem muito bem morrer. Eu não me importo! — Jerônimo
terminou.
— Não… eu não vou fazer isso! — Digo entre dentes. Reúno o
máximo de saliva na minha boca e cuspo na sua cara.
— Oh! — Jerônimo fala após se surpreender com a minha atitude. — É
assim que você quer? Então tudo bem! — Diz ele e logo em seguida eu sinto
uma dor forte no meu rosto, porque Jerônimo fez questão de socar a minha
cara com força.
E depois disso ele não parou por aí, me encolhi o máximo que pude
para poder amortecer um pouco cada soco na minha cabeça e cada chute nas
minhas costelas. Eu gritei! Gritei de dor e de desespero, sem notar o quanto
Lara do outro lado implorava para que o pai de Ângelo parecesse fazer o que
estava fazendo. Eu não conseguia lidar com tanta dor, e quando pensei que
estava pronta para desmaiar eu virei a cabeça para olhar para minha amiga.
Observei o modo que ela cerrou a mandíbula, e depois de um breve momento
ela se desculpou comigo. Me deixando sem entender.
— Eu não consigo mais aguentar, seu filho da puta! — Lara grita com
ódio virando para poder pegar em sua mão a arma que eu havia deixado com
ela em segredo.
O que aconteceu a seguir ocorreu como uma incrível vulto, mas que
mesmo sofrendo de dor eu pude estar de olhos bem abertos para apreciar.
Com a arma em punho Lara virou apontando para sua própria corrente e com
uma destreza de dar inveja ela tirou nelas, as partindo logo em seguida. Os
dois capangas de Jerônimo que estavam no local reagiram e tentaram ir até
ela, mas foram acertados na cabeça. Cada um com um único tirou limpo
demais para parecer real. Jerônimo vendo aquilo se afastou de mim, e ergueu
as mãos em sinal de rendição. Então Lara não perdeu tempo e veio até mim,
parando estrategicamente na minha frente.
— Para trás, Jerônimo! — Lara diz com raiva.
— Admito que estou impressionado com você agora, querida afilhada.
— Jerônimo diz com um orgulho nojento.
— Foda-se você e foda-se seu orgulho! — Lara diz cuspindo no chão.
Observei quando a expressão de Jerônimo escureceu, para logo em seguida
um sorriso de escárnio surgir.
— Vocês realmente acham que vão poder sair daqui com vida? Meus
homens ouviram os tiros e logo estarão aqui, não haverá saída agora você ou
essa bastarda em trabalho de parto. — diz ele de forma divertida.
— Isso é você que diz, mas eu posso usá-lo como escudo. — fala Lara
e eu tento me erguer, mas sou bombardeada por uma dor muito forte. —
Dora! — Lara grita, mas eu estou com muita dor para responder.
— Eu disse a você, Lara. Aqui você e sua amiga não vão sair vivas. —
Jerônimo fala perigosamente.
Surpreendentemente uma explosão foi ouvida, abalando assim toda a
estrutura do lugar. Meu coração começou a bater forte, e meus olhos
encheram de lágrimas. Eu sabia, sabia que era ele. Era Axel, ele veio até nós!
Ele conseguiu me encontrar para poder me livrar desse inferno. Comecei a
escutar o som de tiros, pessoas gritando e de brigas. Eu podia sentir toda a
agressividade no lugar, e eu me deliciava por saber que os homens que me
sequestraram estavam tendo o seu fim. Finalmente!
— Eu não teria tanta certeza, querido tio! Parece que a cavalaria
chegou! — Lara do em tom zombeteiro.
— Ora sua… — Jerônimo disse expondo sua ira, e quando ele foi dar
um passo em direção a Lara três figuras mais conhecidas por mim
apareceram.
— Isadora! Filha! Lara! — Axel, meu pai e meu irmão gritaram ao
mesmo tempo. Chorei de alívio ao vê-los ali apontando o cano de suas armas
para Jerônimo.
— Enfim, vocês chegaram! Estou surpreso que meu filho esteja se
prestando a apontar uma arma para o seu próprio pai. — Jerônimo diz
virando em direção aos três homens.
— Eu disse a você antes, Jerônimo, mas parece que você não entendeu.
— Ângelo cospe com raiva. — Você deixou de ser meu pai no dia que eu
implorei pela vida da minha mãe, e mesmo assim você fez questão de rir de
mim a deixando morrer no meu colo. Você não é o meu pai, e vai ser bem
divertido fazer de tudo o que é seu ser meu. — Ângelo diz, fazendo Jerônimo
o encara de modo enlouquecido.
— Você nunca será aceito, seu desgraçado! Você é somente um puto
traidor. — Jerônimo vocifera.
— É bem engraçado você dizer isso, mas eu sou mais aceito do que
você pode imaginar. — Ele olhou para meu pai que acenou com a cabeça.
— Afaste-se Jerônimo, você machucou a minha mulher e eu vou fazê-
lo pagar. — Axel carregado de escuridão, mas isso só fez com que o verme
risse.
— Isso não estará acontecendo! — Afirma ele, se jogando em direção a
Lara.
Que estava distraída cuidando de mim e não viu o perigo vindo até ela.
Lara foi chutada para longe por Jerônimo, assim conseguiu recuperar a arma
que minha amiga deixou cair. O corpo da Lara está tão machucado quanto eu,
e quando o chute de Jerônimo a atingiu, seu corpo chocou contra uma parede,
ela caiu desacordada no chão.
— Lara! — Ângelo grita e corre até o seu corpo desmaiado.
— Lala… — Falo, mas engasgo quando sinto seu corpo ser puxado
violentamente por Jerônimo.
— Solte a minha filha, desgraçado! O seu assunto é comigo. — Meu
pai esbraveja, mas Jerônimo rir enquanto meu corpo é erguido na marra.
— Sim, isso você tem razão! Mas eu prefiro matar essa bastarda
primeiro e depois eu resolvo meu assunto com você depois de mais vinte
anos que você viveu como um rato comigo. — Jeronimo zomba do meu pai.
— Solte a minha mulher, Braganza. Essa é a última vez que vou falar
com você. — A voz de Axel era revestida de ódio líquido.
Eu senti meu corpo tremer de expectativa, porque eu almejava mais que
tudo que esse homem horrendo receba essa promessa velada do homem que
amo. Fico de pé com dificuldade, sinto uma nova contração vindo com muita
força. Curvo meu corpo com dor, mas um aperto no meu cabelo faz com que
meu corpo caia para trás. Quando o cano da arma encontra a minha testa,
meus olhos vão diretamente de encontro aos olhos de Axel. Ele nega com a
cabeça como se soubesse exatamente do que eu estou pensando.
Mas eu não posso deixar que essa situação continue do jeito que está.
Engulo em seco, sentindo a adrenalina pulsar nas minhas veias, e sem dizer
qualquer palavra eu uso a última gota de força que existe no meu corpo
machucado e dolorido para investir contra Jerônimo. Junto os meus punhos
presos pela algema e acerto uma cotovelada bem forte nas suas costelas. Ele
fica tão surpreso que me solta, me fazendo tropeçar para frente. Sinto o meu
corpo cair, mas antes eu bata no chão braços fortes estão lá para me amparar.
Abro meus olhos a tempo de ver Axel dar o primeiro tiro, depois vem meu
pai e logo depois vem Ângelo.
Observo o corpo do meu pior inimigo ser alvejado de várias formas
possíveis e uma satisfação toma conta de mim. Queria poder pegar uma
dessas armas e atirar por mim mesma, mas eu não tenho forças necessárias
para isso. Sendo assim eu estou satisfeita, isso é pela minha mãe Esther, pelos
meus doces paizinhos, pela dor do meu pai Alonzo e do meu irmão por todos
esses anos. E principalmente por mim, pela minha sobrevivência até chegar
esse dia. Queria que ele fosse torturado até a última gota de sangue do seu
corpo, mas apesar disso não acontecer, eu estou muito satisfeita com sua
morte.
— Axel… — Chamo com dificuldade, erguendo minha mão para
alcançar seu rosto lindo.
— Estou aqui, querida! Desculpa chegar tarde, eu estou aqui agora! —
Axel diz apertando meu corpo contra o seu.
— Axel… o nosso bebê! Ele está… está nascendo! — Falo sentindo a
dor me tomar novamente.
— Minha estrellita, papa está aqui! — Meu pai aparece no meu campo
de visão.
— Temos que tirá-las daqui! — Ouço meu irmão falar
— Sim, Isadora está em trabalho de parto e está muito machucada.
Porra, esses filhos da puta! — Axel diz com ira.
— Vamos, o puto está morto agora! — Meu pai indica com força.
— Ah... que dor! Merda! — Choro de dor, mordendo os meus lábios
inferiores novamente.
— Livre a Isadora das contrações! — Ouço Axel falar, mas eu fecho
meus olhos.
Depois disso meu corpo começou a transitar entre estar em consciência
ou desacordada. Vi algumas coisas, como por exemplo o meu corpo ser
carregado, algumas vozes à nossa volta. Senti a mão de alguém segurar a
minha enquanto meu corpo é transportado por Axel. Lembro da dor! Oh sim,
eu lembro das contrações e eram elas que me faziam voltar a consciência. Me
recordo de entrar em algum carro, a voz de Axel estava nervosa e muito,
muito chateada mesmo. Depois de um tempo eu sou impactada por uma luz
forte, e um cheio de antisséptico. Minha médica! Oh sim, reconheço a voz
dela agora falando.
— Isadora, consegue me ouvir? — Doutora Tânia fala e eu abro os
olhos.
— Doutora faça logo alguma coisa, porra! — Axel grunhi nervoso.
—Não podemos fazer uma cesariana, o bebê já está saindo e já estamos
com a dilatação máxima. — Doutora Tânia fala apreensiva, para logo depois
dar alguma comandados.
— Minha mulher está machucada, ela não vai aguentar mais estresse no
corpo. — Axel diz e eu sinto sua mão apertar a minha.
— Se eu a abrir agora será perigoso para os dois. — Tânia fala e dessa
vez eu forço o meu corpo o máximo para ficar consciente.
— Axel! — Chamo virando o rosto para encará-lo.
— Oi querida, eu não sairei do seu lado mais. — diz ele com firmeza e
eu puxo para mim.
— Eu posso! Eu posso fazer isso, eu posso trazer nosso bebê para nós.
Me deixe tentar! — Falo rapidamente e ele me olha horrorizado.
— Isadora não… — Axel começa, mas eu nego.
— Eu posso, Ax! Confie em mim, eu te amo demais Axel. Mais do que
eu poderia amar alguém na minha vida, saiba disso. Então confie! — Falo
com fervor e vejo seus olhos amolecerem um pouco.
— Ainda não sei definir o que é isso aqui dentro de mim, Isadora. Mas
se o fato de que eu sou louco por você, a ponto de dar a minha vida pela sua,
pode ser considerado amor. Então eu amo você, querida! Eu sou obcecado
por você e pelo amor que você sente por um monstro como eu. — Axel disse
eu explodi em choro.
— Você tem certeza? — Questiono chorosa e ele cola as nossas testas.
— Sim, não sou mais o mesmo sem ter você ao meu lado, porra! —
Axel diz entre dentes. Nesse momento eu senti a contração vindo
novamente.
— Ohh... por Deus! Acho que é agora! — Gemo dolorosamente.
— Sim, sim Isadora está na hora! Você consegue empurrar com força
para mim? — Tânia pergunta e eu assinto.
— Sim, eu consigo! — Digo procurando pela mão de Axel e
prontamente ele segurou a minha com força.
— Estou aqui a todo momento. Força, minha menina! — Comanda
Axel e eu fechei os olhos e comecei a empurrar.
Não sei quantos empurrões eu tive que dar, eu não contei, eu não podia.
Minha concentração estava no trabalho que eu tinha que executar agora. Meu
bebê precisa de mim, precisa da minha força, precisa que eu o ajude a vir a
esse mundo. Então eu fiz de tudo! E então tudo parou, senti algo escorregar
de dentro de mim fazendo com que a dor parasse, assim como as vozes à
minha volta. E como um milagre divino enviado dos céus um som estridente
chegou aos meus ouvidos. Um choro! Um lindo e emocionante choro, o
choro do meu bebê cheio de vida.
Obrigada Deus, eu consegui!
— É uma linda menininha! Isadora e Axel vocês têm uma menina! —
Tânia disse e meu coração cantou de alegria.
— Uma filha, ouviu isso, meu amor? — Pergunto fracamente.
— Filha? Tenho uma filha agora? — Axel pergunta olhando para um
determinado lugar paralisado.
— Me Deixem vê-la! Eu quero a minha menina! Por favor, quero ver
minha filha! — Comecei a me desesperar, logo esse desespero passou e o ser
mais lindo que já vi na minha vida foi colocado sob meu peito.
— Aqui está, mamãe! Diga olá a sua garotinha! — Tânia diz após
deixar a minha bebê comigo.
Sua pele é rosada, suas bochechas são fofinhas e eu vejo seu cabelo
preto sujinho de resto de parto. E eu a beijo assim mesmo, sinto uma
aproximação e eu sei que eu Axel. Ele quer ver a sua filha, e eu fico feliz com
isso. Sim, muito feliz mesmo!
— Oi amor, eu sou sua mamãe e esse aqui é o seu papai. Seja muito
bem-vinda! — Digo através do choro de pura emoção.
— Como será seu nome? Já decidiram? — Tânia pergunta com sorriso
na voz. Desvio o olhar de minha filha para Axel, que está com os olhos
vidrados nela e não tira de forma nenhuma.
— Sim, eu tenho um nome! — Digo e dessa vez a atenção de Axel vem
para mim. — Seu nome será Maria Esther, uma homenagem às minhas duas
mães.
— É lindo! — Axel diz fascinado e eu concordo.
Acaricio o rostinho da minha filha, mas sinto o meu corpo começar a
ficar pesado demais. Por favor, Deus! Me deixe ver minha filha um pouco
mais, não eu não posso ficar inconsciente agora.
— Axel, segure nossa filha! — Digo a colocando nos seus braços. Ele
tenta dar um passo para trás, mas não o deixo ir.
— O que está acontecendo? — Axel pergunta quando os aparelhos
começaram a apitar.
— Ela está perdendo muito sangue, seus batimentos estão caindo. —
Ouço alguém falar, mas continuo a olhar para os dois amores da minha vida.
— Axel, cuide da nossa filha! Cuide dela por mim, sim? Faça isso, eu
sei que você não vai me decepcionar! Eu te amo, eu amo vocês dois! — Digo
antes que minha visão comece a escurecer.
— Isadora! Isadora! O que diabos está acontecendo com a minha
mulher? — Axel pergunta e ouço Maria Esther começar a chorar novamente.
Essa é a última coisa que eu escuto antes que meu corpo fique mole e a
inconsciência me alcance. Não sei se é a morte me alcançando, mas se for o
caso eu vou feliz por que eu deixei um legado lindo para trás. Mas… eu já
quero morrer! Eu quero cuidar de Axel e da Maria Esther, quero cuidar da
minha família.
Quero ter a chance de vê-los novamente!
Bônus final

Faz exatamente duas semanas que venho aqui todos os dias, sento nessa
mesma cadeira e fico velando o coma profundo que a minha menina se
encontra nesse momento. Todos os dias eu tenho a esperança de que ela irá
abrir seus lindos olhos para mim, que vai me dar o mesmo sorriso brilhante
toda vez que estivermos juntos. Mas infelizmente nada disso acontece, e eu
me sinto a beira de um fodido abismo. Me sinto a porra do homem mais
impotente do mundo, porque por mais que eu faça promessas e mais
promessas que eu irei protegê-la, eu nunca consigo fazer isso exatamente.
Diabos! Se fosse assim, Isadora não estaria aqui, se recuperando de todos
machucados deixados por aquele Colombiano de merda.

Isadora estava tão machucada, porra! Foram costelas fraturadas,


hematomas por todo o seu corpo lindo, e um leve traumatismo craniano. Ela
sofreu muito, mas mesmo assim continuou sendo a mulher forte que sempre
foi. Ela aguentou muito, aguentou tanta dor que eu me sinto um fracote perto
de tanta fortaleza. E eu pude estar perto para ver toda essa força quando
Isadora disse que poderia fazer o doloroso trabalho de trazer a nossa filha ao
mundo. Oh porra! Só de me lembrar daquele momento único eu me sinto o
filho da puta mais orgulhoso e sortudo do mundo inteiro. Eu não mereço ter
na minha vida essas duas criaturas tão fodidamente incríveis.

A Isadora carrega o meu coração obscuro, que eu nem mesmo sabia


que poderia ter, na palma da mão. Mas… mas quando eu vi a minha filha
pela primeira vez eu não soube mais o que era ter alma, por que foi naquele
exato momento que eu ofereci a minha pequena. A Maria Esther é minha!
Puta merda! Ela é minha assim como a sua mãe e eu prometo morrer por elas
se assim for preciso. A minha existência não é tão essencial quanto a
existência delas. E eu prometo, quantas vezes forem necessárias, que farei
com que elas se sintam protegidas. Mesmo que para isso eu tenha que mudar
tudo em mim. Com esse pensamento eu seguro a mão da minha menina e a
beijo com firmeza.

— Você tem que se recuperar logo, Isadora. Você sabe que não sou um
homem bom ou paciente, mas por você eu faço qualquer coisa. Porra! Então
acorde no seu. — Digo apertando sua mão contra o meu rosto.

Ouço um toque na porta, ergo minha cabeça para dar de cara com
Alonzo entrando pela porta. Nossos olhos se encontram e eu consigo ver a
tristeza nos seus olhos. Sem dizer qualquer palavra ele vem até a Isadora
inconsciente.

— Eu acabei de vir do berçário, a nossa pequena luz está ficando cada


dia mais saudável. — Alonzo diz em espanhol e eu posso ouvir a rouquidão
na sua voz. — Você tem que sair dessa logo, minha estrela, tem que ver sua
filha crescer. Infelizmente eu não pude ter isso por muitos anos, e não desejo
isso a você. Se recupere logo, meu bebê, você merece um mundo de amor. —
Ele termina e beija a testa da Isadora com carinho.

Agora que tenho a minha filha eu não consigo imaginar passar pelas
mesmas coisas que Alonzo Vergara passou no passado. É até um grande
alívio sentir esse aperto do peito quando penso nisso, por que só prova que eu
estou longe de ser parecido com um fodido do meu pai. Inferno, não me vejo
querendo mais nada da Maria Esther do que o seu amor. É algo que eu
necessito além da explicação, e agora que isso aconteça eu farei diferente de
tudo o que recebi na minha infância. Agora eu tenho noção de coisas que eu
não sabia antes. Quanta ignorância essa minha!

— Vou dar um pouco de privacidade a vocês. — Digo a Alonzo que


voltou a olhar para mim.

— Eu agradeço! — Agradece ele e eu confirmo com a cabeça.


— É pela minha mulher. — Respondo friamente.

A feição de Alonzo muda um pouco, e posso ver um singelo sorrindo


surgir nos cantos dos seus lábios. Depois ele solta um bufo divertido antes de
voltar a encarar Isadora novamente.

— Nunca pensei que eu iria dizer isso alguma vez na minha vida. Mas
fico feliz que você esteja ao lado delas. — Alonzo diz e eu franzo o cenho.

— Elas são minhas, eu não vou a lugar nenhum! — Afirmo irritado e


ele assente.

— Eu não esperava menos de você, Cox! — A voz de Alonzo saiu


como um aviso de um pai protetor. — Saiba que eu ainda não gosto de você,
mas trabalhei nisso pelo bem da minha filha e minha neta. — O desgraçado
aponta.

— Não me importo se você gosta de mim ou não, contanto que não


tente me afastar das minhas meninas eu estou bem tendo que olhar para sua
cara de vez em quando. — Aviso de forma impassível.

— De vez em quando? Oh Cox, se prepare para que todos os feriados e


datas importantes tem que lidar comigo. — O mexicano desgraçado fala me
deixando com muita vontade de atirar na sua cara.

— É uma grande merda isso, Vergara. — Solto e ela bufa um riso


novamente.

— Pode apostar que sim! — Responde ele, segurando a mão da sua


filha.

Não digo mais nada a Alonzo e saí do quarto de Isadora para deixá-los
à vontade. Caminho em direção ao berçário, pois eu necessito ver se a Maria
Esther está bem. Assim que chego no corredor eu encontro Ângelo, Craig,
Earl e Russel olhando para minha filha através do vidro. Uma onda de ciúmes
toma conta de mim, mas faço de tudo para deixar isso de escanteio. Se
Isadora souber que quero muito afastar os olhos desses babacas da nossa
filha, tenho certeza que ela chutaria minha bunda e me chamaria de louco.
Cerro os punhos e vou me aproximando deles.
— O que fazem aqui? — Pergunto, não consigo evitar que minha voz
saísse rude.

—Ei, chefe! — Russel diz e vejo o seu largo sorriso. — Estamos aqui
para ver a nossa sobrinha. — Ele termina fazendo Ângelo e Craig o fuzila
com olhar.

— Não sei onde você tirou que ela é sua sobrinha. — Ângelo solta com
raiva

— Eu também quero saber. — Craig diz desgosto.

— Nunca defendo esse porra louca, mas dessa vez eu fiquei ofendido.
Eu também sou o titio legal da princesa Maria Esther! — Earl diz apontando
para minha filha através do vidro.

— Isso mesmo, príncipe das trevas! — Russel comemora.

E a única coisa que quero é matar cada um deles no momento, mas não
quero que minha filha veja o sangue desses idiotas.

— Eu não vou discutir o óbvio com vocês, eu tenho que ir agora. —


Ângelo fala tranquilamente.

— Está indo para a Bogotá? — Questiono e ele assentiu sem tirar os


olhos do berçário.

— Sim, queria esperar a minha irmã se recuperar, mas surgiu algo lá


que requer minha atenção. — Ele diz soltando um suspiro.

— Entendo, mas se precisar é só chamar. — Digo e isso chama sua


atenção.

— Você? Me oferecendo ajuda? — Ângelo diz visivelmente surpreso.


— Como diabos isso aconteceu?

— Não se engane, ofereci por causa de minha mulher, não por você,
seu traficantezinho de merda. — Reforço normalmente e isso o faz rir.

— Meu Deus, eu sempre achei minha irmã uma santa, mas agora eu
vejo que ela faz milagres de verdade. — Ângelo brinca e eu quero afogá-lo
no seu próprio sangue.

— Dorinha é uma santa! — Russel diz de forma melosa e eu cerro os


olhos para ele.

— Earl, tire Ruse daqui antes que eu atire nele aqui mesmo. — Peço e
o loiro rir antes de puxar o mexicano louco junto com eles.

— Pode deixar, Chefe! — Earl diz e empurra Russel que sai


reclamando de mim pelos corredores.

Agora estamos eu, meu irmão e o Ângelo no corredor do berçário.


Imediatamente eu lembro de algo que me incomodou profundamente na
semana passada, mais precisamente por eu ter sido pego de surpresa por Lara
Álvarez.

— Você ficou sabendo do que Lara me pediu? — Pergunto a Ângelo,


já que ele é seu noivo, ou pelo menos era até onde eu sei era.

— Sim, ela mesma veio me dizer. — Conta com um tom de voz mais
leve. — A pequena Lara não me deve nada, esse noivado foi entre os inúteis
dos nossos pais. Sendo assim, ela é livre para fazer da sua vida o que bem
desejar. — Conclui.

— Entendo. — Digo seriamente.

— O que você pensa em fazer? Vai aceitá-la na sua equipe? — Indaga


Ângelo e isso chama a atenção de Craig.

— A amiga da Dora pediu para fazer parte da equipe? — Meu irmão


faz uma careta ao fazer a pergunta.

— Sim, isso foi há uma semana, mas eu não pensei muito sobre isso no
momento até que ela veio ontem me pedir a mesma coisa. Ela não me alegou
o motivo do pedido, mas vi que ela está levando muito a sério. — Contei
dando de ombros. — E com relação a aceitar eu não sei ainda, tenho coisas
para arrumar primeiro. — Falo superficialmente e Ângelo confirma com a
cabeça.
— Entendi, mas seja como for, cuide dela! Lara é uma boa garota! —
Ângelo pede e eu confirmo.

Depois disso Ângelo saiu, mas não antes de apertar meu ombro e
agradecer por cuidar da sua irmã e sobrinha. Ignorei o seu agradecimento, já
que essa era a minha família e era o meu dever cuidar das minhas garotas.
Observo Maria Esther dormir tranquilamente, e ao vê-la bem e saudável uma
onda de satisfação toma conta de mim. Mas o meu momento foi interrompido
por meu irmão.

— Parece que eu estava certo o tempo todo. — Craig diz e eu viro a


minha cabeça para olhar para ele.

— Sobre o que, Craig? — Questiono e ele aponta para minha filha.

— Que você iria ser um pai muito foda, e principalmente que você é
diferente do lixo do nosso pai. — Certo os punhos ao ouvir suas palavras.

— Não quero viver a sombra daquele lixo, farei diferente! — Enfatizo


com confiança.

— Claro que vai, e eu sei disso por que sou seu irmão seu idiota. —
Craig diz dando um sorriso idiota.

— Sua confiança me irrita, babaca! — Digo e ele nega escondendo o


sorriso entre o dedo indicador.

— O que faremos depois disso? Não podemos colar Isadora e a bebê no


meio de nossas merdas. — Craig diz e eu solto uma forte respiração.

— Eu sei, mas eu tenho algo em mente. Você estará comigo nessa? —


Pergunto já sabendo sua resposta.

— Você sabe que sim, e tenho certeza que os outros dois pensam da
mesma forma. — Craig diz falando de Russel e Earl.

E foram com essas palavras do meu irmão em mente que me despedi da


minha filha através do vidro e voltei para minha mulher. A observei
novamente, com a minha mente trabalhando no que eu devo fazer. A vida de
mercenário fugitivo da justiça não combina com a vida que eu quero dar às
minhas garotas. Eu vou protegê-las com tudo de mim, mesmo que eu tenha
que vender a minha existência ao diabo. E obviamente, eu lucraria um pouco
com isso.

— Por vocês, minha menina, por vocês eu faço o que quer que seja. —
Digo deixando um beijo na sua testa antes de virar de costas e pegar o meu
celular no bolso interno do meu blazer preto.

Faço a ligação, eu não preciso continuar a pensar demais. Eu não me


importo com o que eu terei que fazer, mas seja lá o que for, eu estou bem
com isso. A ligação é atendida no terceiro toque, e antes que eu pudesse falar
alguma coisa o Senador Silas Bennett fala primeiro.

— Axel, que bom que você ligou! Esperava ansiosamente pela sua
chamada! — Bennett fala com satisfação.

— Bennett, a sua proposta ainda está de pé? — Questiono sem perder


tempo.

— Sim, eu só estava esperando sua resposta! — Confessa ele, mudando


sua voz para mais séria e profissional. Agora eu falo realmente com o
senador, e isso é bom!

— Agora você tem, mas eu tenho algumas exigências. — Digo


simplesmente.

— Podemos nos encontrar e tratar sobre isso. — Silas diz e eu nego.

— Ainda não, tenho coisas mais importantes para cuidar agora. Mas
assim que possível estarei aí! — Com isso eu desliguei a ligação.

Aperto o celular com força entre meus punhos, farei o que for melhor
para manter a luz das mulheres da minha vida sempre brilhante.

Agora começa um novo capítulo em nossas vidas e eu farei o meu


melhor. Sempre o melhor
CONTINUA...
Nunca imaginei que ajudar um homem caído no beco pudesse ser uma
das piores coisas que eu já fiz na vida. Estava tudo tranquilo, na vida calma e
esquisita até eu me deparar com aqueles pares de olhos negros como as águas
mais profundas, olhos esse que me mostrou o que era a escuridão de verdade.
Um tipo de escuridão na qual é difícil não mergulhar e ficar perdida.
E agora ele disse que eu sou dele, mas eu não entendo o que ele viu
em mim, eu não sou nada… convencional, eu não sou aquilo que alguém iria
realmente quer e mesmo assim ele me quis. Tudo o que sei agora é que estou
presa a ele, e não há nada que eu possa fazer. Porque tenho certeza que se eu
fugir ele vai me encontrar. Porque além de possessivo, ele é obscuro, terrível
e cruel assim é Axel Cox.
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