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Uma cura chamada amor

Evilane Oliveira
Índice
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO FINAL
Agradecimentos
CAPÍTULO UM
Damien
Sento-me sobre a mala e grunho em desagrado por ter que escolher entre minha blusa
favorita e um short que eu acabei de comprar somente para a viagem.
Bem que Kayla poderia mandar um piloto em um jatinho me buscar. Quero dizer, não
que ela tenha dinheiro para isso, mas, com certeza deveria ter um. Isso é o normal para
alguém que ama seu irmão fortemente. Então eu apenas colocaria a mala aberta nele e
“voilà”, estaria com todos os meus pertences comigo.
Olho para o zíper e tento fechá-lo novamente, mas não vai. Foda. Desisto de fechar e
retiro a calça bonita que comprei junto com o short. Pronto. Quase desfaleço quando a
porcaria desliza fácil.
Ótimo.
Coloco a mala no canto do quarto minúsculo e suspiro. Jesus! Nem acredito que estou
voltando para casa. Saudades é algo que venho sentindo com muita força nesses últimos
meses.
Estou preocupado com Kayla. Ela sempre está neutra quando nós falamos, não mais
rindo horrores ou chorando, o que deveria ser a opção lógica a fazer quando "perdemos"
alguém que amamos.
Eu não dou o melhor de opinar, até por que, fiz dessa tática a minha prioridade. Eu
sorri, eu fingi e brinquei, mas por dentro só latejava insistentemente. Dói perder quem se
ama. Dói mais ainda perder alguém que deveria te amar, mas seus conceitos não deixam. Não
te livram.
É assim que me sinto. Chris foi, sem dúvida, a minha maior decepção. Foi o cara que
mais amei e o que eu mais odiei também. Dizem... que o amor e ódio andam juntos numa
relação e nada define mais meu antigo relacionamento.
Perceber que quem você ama te machuca além do abuso físico, te deixa
desacreditado. No amor e na vida.
Chris me deixou assim. Ele me deu um sentido. Fez-me apaixonar e depois me
quebrou. Quebrou minha fé nos relacionamentos e no amor entre um casal.
Posso parecer um desagradável idiota falando de coisas que não sabe com exatidão,
mas eu sei o que sinto. E é isso. Nada mais.
Escuto o celular tocar e sorrio vendo o nome de Emma na tela.
- Hey! - saúdo.
- Oh, meu Deus! Você ainda está em casa? - ela grita histérica.
- Sim, estou de saída nesse momento.
- Traga minhas maquiagens que você roubou. - ela grita novamente e eu afasto o
celular do meu ouvido.
- Quer me deixar surdo? - gemo irritado. - Estou aqui há seis meses. Você sabe o que
isso quer dizer?
- Não, eu não sei. - ele soa impaciente e eu sorrio me divertindo.
- Suas maquiagens já estão vencidas, Emma. Não acredito que ainda está com aquelas
makes antigas? Emma sua pele vai cair! Literalmente. - aviso rindo enquanto pego meu
perfume e o guardo dentro da mala pequena.
- Você está bêbado? Haran? No aeroporto deixam pessoas bêbadas entrar? -
resmunga baixo parecendo bastante confusa. Quero rir dela. Deus, Emma é tão sem noção.
- Eu não...
- Não deixam Damien! O que você fez? Seu estúpido! Vá tomar banho e mude sua
passagem para à noite. - ela grita novamente.
- Emma vá se foder! Estou desligando. - clico em desligar, mas ainda escuto ela falar
"ele está bêbado".
Viro-me e arrasto minha mala para a porta enquanto chamo um UBER. Arrumo meus
cabelos com mais gel e saio de casa.
Babies! Estou chegando.
***
Aperto o meu celular no bolso e suspiro procurando Emma e Kayla no meio das
pessoas. Será que não vieram?
- Meu viado! - gemo virando-me a tempo de ver Emma se jogar em mim.
- Emma já falei para parar com isso! Estamos em público! - Kayla repreende e afasta
Emma de mim. - Oi baby. Estava com tantas saudades. - seus olhos azuis se enchem de
lágrimas e eu a abraço também.
- Eu também estava com saudades. Das duas. - pisco para Emma e ela sorri me
beijando.
- Agora vamos, pois, hoje levarei Kayla para conhecer um cara. - Emma ri quando
Kayla lhe dá um empurrão.
- É mentira. Não sairemos para lugar algum, depois de ir a um restaurante jantar. - ela
fala firme e eu aproximo-me passando meu braço por seus ombros.
Emma levanta as mãos em sinal de rendição e ri abraçando seu namorado.
- Então, hum, vocês estão se falando? - sondo como quem não quer nada enquanto
deixo Emma e Hayden com minha mala.
- Algumas vezes. - ela dá de ombros e me abraça de volta. - Estava com saudades. -
beijo sua testa vendo que ela não quer falar sobre isso.
Pelo menos hoje não irei lhe pressionar.
Saímos juntos e fomos direto para casa. Emma foi na sua casa pegar roupas para ficar
conosco durante minha estadia. Hayden a acompanhou, mas de lá tinha que ir treinar.
Quando saio do banho vejo Kayla no sofá com o notebook a sua frente e suas
bochechas molhadas. O que ela está vendo?
- Eu já falei que ela só fez uma brincadeira. - ela diz rindo devagar.
Não a via sorrindo assim em tempos. Chego mais perto e vejo na tela o rosto de Dom.
Seus olhos sobem e ele me dá um sorriso fraco.
- Damien. - Ele acena e eu sorrio dando um olá. Seus olhos voltam para Kayla e eu
saio de sua visão. - Só estou perguntando. Hayden me falou e eu vim aqui. Você sabe que... eu
não sei, Kayla. Eu não quero que fique com outra pessoa. É isso. - sua voz sai cautelosa.
Sei que é feio estar aqui escutando a conversa dos dois, mas agora que estou aqui,
não consigo sair.
- Eu não ficarei com ninguém. Eu continuo dizendo que eu deveria estar aí. Você não
estaria surtando por uma brincadeira besta. - ela dá de ombros sem rir e limpa suas
bochechas.
- Nós já conversamos...
- Sobre isso. - Kayla acena e suspira. - Vou ficar com Dan, depois nos falamos.
Eles se despedem e eu corro para o quarto e pulo na cama fingindo mexer no meu
celular. Kayla aparece meio minuto depois de braços cruzados.
- Você não me engana. - ela ri e eu pulo sentando-me enquanto entorto meu lábio
inferior.
- Vocês parecem uma novela, eu preciso acompanhá-los. - pisco enquanto ela ri
balançando a cabeça.
- Então, como foram esses meses? - ela questiona enquanto olha para suas unhas
bonitas.
- Normais. Sabe que meu novo emprego foi um achado né? - informo fingindo não
entender onde quer chegar.
Não precisamos falar de Chris. Pelo menos, não em alguns anos.
- Sabe, ele me procurou algumas vezes. - pego o travesseiro da cama e coloco sobre
minhas pernas cruzadas enquanto penso nessa informação.
- Sério? - passo minha língua pelos meus lábios secos e tento mascarar a pequena
dorzinha que sinto.
- Sim. Ele... ele está melhor. - ela é vaga e eu suspiro quando vejo que ela só vai falar
sobre ele se eu perguntar.
O que não irei fazer, de modo algum.
Chris é passado. Meu passado.
- Humrum. – levanto-me da cama e puxo minha mala.
Tiro algumas roupas e começo organizá-las dentro do meu guarda-roupa. Olhar para
esse quarto me faz tão bem. Aqui foi o primeiro lugar que eu tive como lar.
Quando conheci Kayla naquela praça eu não sabia que ela e Sueli me fariam tão bem.
Elas me adotaram, tiraram-me das ruas, dos dias com fome,das noites frias e perigosas.
Eu não lembro da minha mãe. Eu não lembro de ninguém. Eu era sozinho. Até Kayla e
Sueli. Seique a mãe da minha irmã Kayla, a deixou de lado a maior parte da sua vida, porém,
também sei que pior seria não ter nada.
Nenhuma casa, nenhuma comida e nenhum lugar onde passar a noite.
Por isso nunca julguei tia Sueli. Eu a amei. Ponto final.
- Eu... Humm. Chris... - me viro para olhar para Kayla e vejo suas bochechas
corarem.
Ohohou.
- O quê? - pergunto cauteloso chegando perto dela.
- Ele perguntou por você durante esses meses. - ela molha seus lábios devagar e eu
inspiro forte.
- Não. Por favor, não vamos falar dele, tudo bem? - ela acena e baixa a cabeça. - Eu
sei que ele é seu irmão Kay, que talvez, estejam mais próximos. Eu fico muito feliz por isso,
sei que ele precisa de você.... Porém, ele não é mais nada para mim. Eu não quero ouvir
sobre ele. - minto para ela sem olhar diretamente em seus olhos.
Eu sei que ela sacou a mentira, mas é melhor assim. Nunca será uma inverdade, se
não tem quem me diga isso.
- Eu entendo. - ela acena e levanta. - Eu vou me arrumar para irmos jantar. - aceno e
deixo ela beijar minha bochecha.
Suspirando movo-me pelo quarto tentando amenizar meu nervosismo. Porque você faz
isso consigo? Porque não esquece esse homem de vez, porra? Grito em silêncio com minha
cabeça.
Depois de algumas horas estou saindo de casa com Kayla e Emma. Iremos a um
restaurante que Emma conheceu em uma das vezes que saiu com Hayden.
Sentamos em uma mesa central e sorrio quando pedimos a comida que Emma disse
ser divina.
- Hayden me pediu em casamento. - Emma sorri enquanto mostra o anel para Kayla e
eu.
- O quê? - Kayla grita e logo depois leva a mão para tampar a boca.
- Eu sei. É cedo e eu falei para ele, mas ele disse que é somente um pedido. Não
precisamos casar amanhã. - ela dá de ombros banalizando a grandeza de um noivado.
- Você escondeu esse anel? Eu não o vi aí quando saí do aeroporto. - franzo minhas
sobrancelhas, confuso.
- Eu quis fazer uma surpresa... Vocês não parecem felizes. - ela faz careta e logo
depois esconde a mão.
- Lógico que estamos. - Kayla fala puxando a mão de Emma novamente. - Só fiquei
surpresa. Vocês não pareciam querer esse tipo de compromisso agora. Mas eu estou muito
feliz. Sei que você o ama. Isso é o mais importante. - Emma acena e a abraça.
- Você está certa. Estou muito, muito feliz. Eu amo Hayden. Ele é ótimo. - eu pisco e
lhe desejo muitas felicidades.
Quando a comida chega eu me movo devagar para provar a comida, mas quando
observo uma sombra ao longe sorrindo amplamente sinto minha barriga cair. Sinto-me
doente.
- Chris.
Seu cabelo ruivo está arrumado com gel e suas roupas não são nada como calça jeans
e camiseta. Não, ele está de terno e sorri para outro homem. Eles parecem íntimos, mas
novamente, não sei dizer com certeza se estão juntos.
Meu estômago revira novamente e eu suspiro tentando mover minha atenção deles de
volta para as meninas, mas eu não consigo. Parece um imã. Ele está tão bonito.
Diferente. Incrivelmente diferente.
Sua atenção vai para seu relógio que só agora vi e me surpreendo ao ver algo tão
sofisticado nele. Chris não gostava dessas coisas. Ele era tão básico. Agora parece um
homem de negócios.
- Ele assumiu a empresa do seu outro pai. - escuto a voz de Kayla sussurrando como
se tivesse lido meus pensamentos.
- Hum. É... que bom. - consigo falar quando trago meus olhos para ela. - Isso é
maravilhoso. - pego minha taça com água e viro em minha boca engolindo rápido.
- Você falou para ele? - Emma questiona para Kayla tímida e eu estranho seu jeito
manso de falar.
- Não é minha coisa para falar. - Kayla dá de ombros.
- Do que estão falando? - pergunto tremendo enquanto aperto a cadeira abaixo de
mim.
- Ele vai te explicar. - Emma levanta a cabeça para onde Chris estava e eu respiro
fundo ao vê-lo me olhando.
Os olhos verdes sorriem parecendo felizes em me ver. Eu sorrio e aceno
discretamente, o saudando, mas paro ao vê-lo levantar-se e vir em minha direção, depois de
despedir do homem que o acompanhava.
Engulo seco e viro-me olhando para as meninas. Elas sorriem acenando para mim.
Oh meu Deus! O que farei?
CAPÍTULO DOIS
Christian

Ele parece o mesmo. Mas só parece mesmo. Eu sei que ele está diferente. Eu sei
porque de um jeito muito louco eu enxergo em seus olhos.

Seis meses passaram depois que ele deixou a cidade. Oito meses que ele terminou
nossa relação. Oito meses que eu fodi tudo pelo meu problema com minha opção sexual.

Damien foi como um raio de sol banhando a minha vida escura e fria. No momento
em que olhei para ele soube que eu o amaria. Foi um baque para mim.

Eu saí do local que estávamos para respirar com dificuldade e me perguntei mil vezes
qual era o meu problema. O que estava fazendo. Minha cabeça não me deixava sentir nada
por Damien, mas meu coração foi perseverante em tentar.

Ele só não foi perseverante quando minhas crises vinham. Ele nunca foi.

Eu bati no cara que eu amava. O deixei em um beco escuro com medo e frio. O fiz me
odiar. Somente eu e o meu coração sem perseverança.

Encontrar Kayla - minha meia irmã - no meio do momento mais difícil da minha vida
foi um alívio. Eu sabia que ela me odiava. Eu sabia. Kayla nunca quis aproximação comigo,
mas depois de alguns meses ela pediu para me ver. Foi quando nosso pai faleceu.

Doeu cada maldito momento que eu passei ao seu lado. Porque ela representava o
sofrimento que fiz ao Damien. Ela mostrou-me com palavras o quanto o seu outro irmão
sofreu por causa de mim.

- Eu sou sua irmã Chris. E é por isso que quero te dizer isso. - ela se calou por um
momento e suspirou como se estivesse procurando maneiras de fazer doer menos o que
queria falar. - Ele te amou um dia, eu tenho certeza disso pois, eu via em seus olhos toda
vez que eu falava seu nome... mas, hoje ele está quebrado. Você quebrou cada pedaço que
hoje constituem aquele homem. Sinto muito. Sei que você está se tratando. Quero que isso
dê certo. Quero que você entenda e aceite sua opção sexual. Quero que você seja feliz. No
entanto, queria pedir que não crie esperanças de tê-lo de volta. Vai doer mais ainda
quando perceber que isso não vai acontecer. Não depois do que fez.
Aquele dia eu acreditei em cada palavra que ela me falou. Acreditei que nunca o teria
novamente, porém hoje, olhando para ele agora, eu sei que preciso tentar.

Eu tenho que tentar.

Me viro para Haran e sorrio. Estou tentando fechar contrato com ele há algumas
semanas e ele está me testando. Só sei que estou cansado dessa merda.

- Preciso me desculpar, mas estou indo cumprimentar amigos. – levanto-me da mesa


fechando o botão do terno caro que preciso vestir cada vez que estou a trabalho e dou as
costas para o homem que me encarava de boca aberta.

Foda-se.

Caminho vacilante até a mesa da minha irmã e sorrio caloroso para ela. Nós temos
nossas divergências, mas estou tentando com afinco destruir essa barreira que há entre nós.

- Boa noite. - sorrio enquanto Kayla e Emma se levantam para me cumprimentar.

Emma não é uma fã minha, mas depois que eu e Kayla nos aproximamos, ela está
mais receptiva.

Beijo na bochecha de ambas e me viro para Damien. Ele engole seco e levanta me
dando a mão.

Encosto meus dedos em sua pele e suspiro aliviado, dela continuar sendo a mesma.
Macia e quente.

- Damien. - aperto sua mão com um pouco mais de força e ele sorri, soltando de mim.

Eu sinto seu desconforto. É uma merda, mas é verdade.

- Christian. - ele acena me olhando e eu respiro fundo ao ouvir meu nome sair de sua
boca.

- Como está? - pergunto calmo vendo seus olhos castanhos me examinaram.

- Muito bem e você? - ele soa educado enquanto aperto minhas mãos unidas.

- Ótimo.

Não percebo que durante alguns segundos apenas olho para ele, mas quando faço
minhas bochechas ganham cor, então balanço a cabeça.

- Só passei para dizer olá. - arranho minha garganta e suspiro. - Nos vemos por aí. -
dou por encerrada nossa conversa e viro-me andando para a saída.

Antes vejo se Haran ainda continuava na mesa, mas como suspeitei, não há sinal dele.

Foda-se esse contrato estúpido! Meu pai vai me foder, mas não me preocupo com
isso.

Entro em meu carro e dirijo para casa com os pensamentos em Damien. É tão louco
vê-lo depois de tanto tempo. Parece que nada mudou em meu coração. Continuo o amando.

Não dá maneira torta e doentia de antes. Não. Eu só o amo. Doutora Eliza está me
ajudando mais do que um dia eu fui capaz de imaginar. Aceitei totalmente minha opção
sexual.

Numa de nossas sessões ela pediu que eu falasse da minha relação com Damien. Foi
um pouco constrangedor e por um momento quis ir embora, mas falei tudo.

- Eu o conheci num bar próximo ao trabalho. Ele era sorridente e muito alegre.
Instantaneamente me senti atraído por ele, mas eu... eu não consegui aceitar esse fato. Eu
relatei durante alguns minutos e até mesmo saí do bar.
- Mas eu... a força dessa atração foi absurda. Então eu voltei para o local e fiz meu
jogo com ele. Nós ficamos aquele dia... E eu fiquei viciado. Totalmente viciado por ele. Em
um mês estávamos namorando. - engulo seco e me calo sem saber ao certo o que falar
agora.

- Entendo. Você poderia relatar como foi o dia da primeira agressão física contra
seu parceiro? - Eliza me encara neutra sentada em seu sofá bonito, comigo de frente para
ela.

- Todas foram por ciúmes. - esclareço. - A mais grave foi a última... Estávamos num
bar com amigos, tínhamos pouco tempo morando juntos. Um ex dele estava no local e eu
enlouqueci. Totalmente. Nós brigamos verbalmente e depois que percebi que nossa
discussão não iria dar em nada, eu bati nele.

- Fiquei fora de mim. A bebida foi apenas um dos motivos para a agressão. Eu
estava cansado de mim. Ficava imaginando a vida dos meus filhos como a minha. Sendo
criado por pais gays. Sem mãe. Eu só descontei minha frustração e doença em cima do
cara que eu amo. - ela me encarou por um momento longo e quando eu estava quase farto
ela falou.

- Por que você bateu no homem que amava Christian? - a pergunta é fria.
Meu estômago cai aos meus pés e eu não quero dizer isso em voz alta.
- Mais uma vez, Christian, por que você bateu no homem que amava?

- Porque eu o odiei por me fazer amá-lo. - meu queixo treme e levo minha mão para
cobrir meu rosto.

Proibindo-o de chorar. De quebrar.

Aquele dia foi como se uma onda enorme passasse por mim e me derrubasse.
Naquela noite me tranquei em meu quarto e chorei por tudo que eu sinto. Por todas às vezes
que eu culpei Damien por me tornar homossexual.

Estaciono suspirando e entro em meu apartamento. Ele é frio e impessoal, mas eu não
quero e nem penso em mudar. Foi nessa casa que eu e Damien moramos juntos, foi pouco
tempo, mas de um modo estranho eu o sinto perto quando entro aqui.

Foda-se. Minha vida está uma merda.


- Quando Haran ligou dizendo que você tinha abandonado a mesa de jantar que
compartilhavam eu duvidei. Você estava tão ansioso pelo contrato. O que aconteceu? - escuto
a voz de Stone, e viro-me para vê-lo sentado em meu bar.

- Como entrou aqui? - pergunto irritado.

- Seu porteiro me reconheceu da outra noite. - ele dá de ombros em seu terno caro.

- Okay. Vi um amigo e fui cumprimentar. Não que o jantar tenha feito aquele idiota
mudar de ideia. Você sabe como ele é um merda. - ando até ele e o vejo rir concordando
comigo.

- Verdade. Ruby perguntou por você. Cobrou o jantar lá em casa que você disse ir. -
ele faz careta.

Ruby e Stone são casados. Ele trabalha na empresa como advogado, o conheci antes
de entrar de fato na empresa e nos tornamos amigos agora. Ruby é uma linda ruiva que é
completamente apaixonada pelo idiota que me olha com uma carranca. Ele odeia que ela
gosta de mim, a ponto de precisar me fazer prometer ir até lá.

- Relaxe. Já falei que não vou tomar sua mulher. - ele rosna irritado e eu bufo.

- Nem se quisesse.

Rindo sento-me ao seu lado e relaxo colocando bebida para mim. Ver Damien hoje
me desgastou. Estou à flor da pele de saudades.

Ele era a única constante em minha vida. E mesmo que doa admitir, e sei que nunca
vou tê-lo novamente.

***

- Ele está bem. Iremos sair hoje. - Kayla fala suspirando.

Todos os dias, depois que nosso pai faleceu, Kayla e eu nos falamos por telefone, e
hoje de um jeito impulsivo coloquei Damien na nossa conversa. Eu preciso ter notícias dele.
Uma boba que seja.

- Que bom. - engulo seco e passo a página do contrato que o filho da puta do Haran
não vai mais fechar. Foda-se aquele idiota, eu não preciso dele.

- Eu... não vou te ajudar nisso okay? Se você pensa em tentar reconciliação faça por
você mesmo. Ligue para ele e peça para jantarem juntos ou almoçarem. Eu não posso fazer
isso. Se fosse meu relacionamento eu não iria querer que ele fizesse isso comigo. Eu não
posso Chris...

- Não se preocupe. Eu sei o que você sente. Não vou lhe pedir isso. - meu coração
dói por minha irmã. Sei que ela está sofrendo por Dom. - Eu quero que fique bem. Agora só
restam seis meses. Ele já já estará de volta. - a asseguro e ela me responde com uma fungada
e um okay baixo. - Se cuide. - ela desliga logo após.

Encosto-me na cadeira do meu escritório e suspiro. Eu ainda amo Dan. Eu preciso


encarar ele novamente e pedir mais uma chance. Ele vai me ouvir. Ele precisa.

Eu preciso que ele aceite.

Digito o número que sei decorado na mente e aperto meus dedos totalmente nervoso.
Enquanto silenciosamente peço para que ele atenda o celular olho para a janela de vidro que
contorna minha sala. Daqui consigo ver a cidade quase toda, só que nesse momento, eu só
queria ver uma pessoa: Damien.

- Olá? - sua voz alegre brinda meus ouvidos e eu suspiro longamente o ouvindo
repetir a saudação.

- Eu... Sou eu, Chris. - digo gaguejando e o silêncio se intensifica por alguns minutos.
Eu chego a pensar que ele desligou, mas quando olho o visor do meu celular a ligação ainda
persiste.

- Talvez eu não devesse estar ligando, eu acho que era preferível eu nunca mais
sequer pensar em você, mas... Foda-se, eu não consigo Damien. Eu passei esses oito meses
pensando em você, nas coisas que fiz... - me calo sabendo que fui longe demais. Eu sou um
idiota. Estúpido!
- Christian. - sua voz é esmagadora. Ele soa como me dando um aviso e eu sei que eu
deveria desligar agora, mas não consigo.

- Só um jantar. Por favor. - imploro e minha garganta fecha enquanto sinto as lágrimas
acumularem em meus olhos. - Só preciso te ver... eu necessito te pedir perdão. - soluço e
levo minha mão para tapar minha boca fortemente.

- Eu... Já te perdoei. Não precisamos nos ver para isso. Chris, eu só quero que seja
feliz. Um dia eu te amei e nada que você já fez me faria não te dar meu perdão. Nada. - sua
voz é séria e eu penso que essa será a última interação entre nós.

- Só um jantar. Damien, eu imploro. - digo novamente e levanto-me escutando os sons


de suspiro que saem de sua boca.

- Tudo bem. Passe o endereço por mensagem. - ele desliga e com o silêncio que meu
escritório fica eu me pego sorrindo.

Esperança. Um sentimento que há muito tempo eu não sentia.


CAPÍTULO TRÊS
Damien

Eu sou idiota?
Burro, talvez?
Então, o que diabos eu estou fazendo nesse restaurante?

Respiro forte pelo nariz quando eu o vejo sentado apertando as mãos juntas. Ele
sempre teve esse gesto quando está nervoso. Confesso que mexeu comigo ouvi-lo chorar.
Chris não chora. Nunca.

Ando apressadamente até onde está e suspiro o olhando. No lugar do terno chic que
estava vestindo ontem, está uma bermuda azul escuro e uma camisa de botões muito bonita.
Ele está tão diferente. Mais bonito, tenho que ressaltar.

Assim que atinjo a extremidade da mesa seus olhos me veem. Os bonitos olhos
verdes arregalam um pouco e eu me surpreendo ao pensar que ele, talvez, achasse que eu não
viria. Ele se enganou.

- Damien. - ele engole seco e levanta me entregando a mão. Eu a aperto para logo me
desvencilhar dela, pois sua pele quente arrepia a minha fria.

- Christian. - aceno e juntos sentamos rapidamente.

Ele me observa atentamente e eu desvio de seus olhos para olhar ao redor do recinto.
Sorrio vendo que ele optou por uma lanchonete normal, ao invés de um restaurante pomposo.
Aqui as mesas são afastadas e ninguém além de nós irá ouvir sobre nossa história.

- Obrigado por vir. - ele sussurra e eu trago minha atenção para seus olhos.

- Não agradeça. Eu também preciso desse momento. Eu preciso dar um ponto final
nessa parte da minha vida. - digo tentando soar tão sincero quanto eu queria, mas por dentro
minhas entranhas estão se remoendo.
Como ainda posso o amar?
Quão doente eu sou por isso?

- Final. - ele engole seco e esconde suas mãos de mim as levando para suas coxas,
debaixo da mesa.

- Sim. - aceno mentindo novamente. Quero dizer, não é uma mentira em tudo. Eu
preciso dar um fim nisso, mas a questão é: eu não consigo. Meu coração não deixa.

Seus olhos se fecham e eu sei que doeu eu ter falado isso. Doeu cada palavra.

- Você sabe que te chamei aqui com uma ideia de esperança... Não sei, de tentarmos
novamente. - ele me encara enquanto fala devagar fazendo minhas mãos suarem e minha boca
secar.

- Como eu poderia Chris? Eu não posso fazer isso. - respiro fundo procurando forças.
- Fazer um movimento desse me daria a certeza de que sou doente. De que sou um idiota
apaixonado por um cara que só me agrediu e destratou durante o relacionamento...Eu nunca
vou fazer isso. - aperto meus dentes juntos e pego o meu joelho tentando me colocar no
momento aqui. Eu não quero reviver os momentos ridículos e dolorosos que passei ao lado
de Chris. Não mais.

- Eu mudei Damien. - sua voz aumenta, parecendo desesperada. - Eu tenho sessões


com uma psicóloga. Eu faço parte do aconselhamento de gays num projeto que minha
psicóloga me encaixou. Eu era doente, mas não sou mais. Eu não apenas tolero minha opção
sexual, eu entendo. Eu entendo realmente o porquê de eu ser gay. Antes eu te culpava, de um
modo doente, pois eu achava que você me fez ser gay. Pensei que por eu te amar virei gay,
mas não foi assim. Amor, você me fez te amar, não virar gay. Eu entendo agora, baby. - ele
fala balançando as mãos em angústia e eu as pego por cima da mesa.

Meu coração está batendo acelerado, minha garganta fechada e eu estou sentindo
minhas lágrimas chegarem. Ele está falando sério? Ele está se tratando? Ele aconselha jovens
gays?

Era assim que ele se sentia em relação a mim? Que eu era o culpado por ele se tornar
gay?
- Você se sentia assim, Chris? - questiono em meu estupor. Como assim, meu Deus! -
Por que não falava comigo sobre isso? Eu teria lhe ajudado, eu teria feito qualquer coisa por
você. - meus olhos se enchem de lagrimas e sem perceber seus dedos estão em meu rosto
limpando minha bochecha.

Nesse momento não penso se há alguém aqui vendo nossa interação. Eu só preciso
entender o que, de fato, acontecia com a cabeça do homem que eu amava.

- Eu era doente. Eu não conseguia pensar corretamente, mas eu te prometo, Damien,


eu juro que farei qualquer coisa para ter você de volta. Eu só preciso que me ame. Você foi a
única pessoa que me amou. Ninguém, nunca, sentiu perto disso por mim. - sua voz quebrada
me deixa tão triste que me pego pensando na sua proposta.

É uma loucura, sim.


Mas o que seria de mim se eu não pensasse, pelo menos?

- Eu preciso pensar Chris. Eu preciso de tempo. - engulo seco ao ver o sorriso que
abre em seus lábios.

- Eu te darei. Eu prometo. - sorrio acenando e durante o resto da noite ele me ouviu.


Somente isso. Ele escutou eu falar do meu trabalho em New York, dos amigos que fiz lá e do
apartamento pequeno que divido com uma punk louca e fedorenta.

E nisso ele ganhou milhões de pontos comigo. Porque isso ele não mudou. Chris
sempre gostou de me ouvir. Isso não mudou. Porém, algo mudou e foi para melhor, ele não
surtou ao me ouvir dizer dos amigos homens que tenho. Ele só perguntou mais deles. Quis
conhecê-los.

Caminhamos lado a lado enquanto saímos da lanchonete depois de horas conversando


e comendo sanduíches.

Estranho o silêncio de Chris, mas não comento nada. Paro do lado de fora e me viro o
olhando.

- Eu vou pegar um táxi. - aviso olhando para a rua.


- Que nada. Eu te levo. - ele sorri e dá um passo para mais perto e eu, sem perceber,
dou um para trás.

- Não tem necessidade. - descarto a possibilidade com um gesto de mão.

- Por favor. - seu pedido é baixo e eu olho para os lados me perguntando novamente o
que estou fazendo.

Será que é o certo estar tão próximo dele depois de tudo?

Será que eu quero estar próximo dele depois de tudo?

Eu não tenho resposta para a primeira pergunta, mas para a segunda, sim. Eu tenho. E
é um maldito sim.

- Tudo bem. - cedo e caminho para seu carro bonito.

O caminho para minha casa é feito em silêncio. Só a música baixa no rádio é ouvida
misturada a nossas respirações.

Abro a porta do carro saindo, mas sua mão para meus movimentos. Meu corpo fica
tenso, uma amostra de que eu ainda temo Chris e essa realidade me choca tanto. Bem mais do
que eu gostaria.

- Calma. Só... - ele retira sua mão de mim e suspira. - Boa noite Damien. Eu vou
esperar seu tempo. - ele afirma como se para ele próprio e eu respiro fundo saindo do seu
carro.

- Dirija com cuidado. - peço depois que coloco a cabeça dentro do seu carro.

- Sempre, Baby. - ele vai embora depois que me afasto.

***
Durante a noite Kayla veio até meu quarto e do seu jeito manso me perguntou como
tinha sido. Eu a perguntei sobre isso. O que ela achava sobre essa reaproximação, mas ela se
esquivou e disse que eu deveria saber disso. Ninguém mais.

Encaro o carro estacionado na rua e sorrio balançando a cabeça. Faz dois dias que
jantei com Chris. Ele cumpriu a promessa de me dar um tempo, pelo menos o tempo que ele
acha que preciso, já que está em frente à casa de Kayla nesse momento.

- Só para avisar que ele já está aí durante duas horas. E eu não sei o que há com ele.
Já liguei, mas ele não atende o celular. - Kayla sussurra atrás de mim.

- Alguém avisa para ele que estamos o vendo. Ele não está invisível como pensa. Nós
sabemos que ele está aqui.- Emma resmunga andando de um lado para o outro.

- Sim. Concordo. - Kayla ri levemente e eu me viro para as duas.

- Ele não me ligou. Não me avisou que vinha. Eu não sei o que fazer. - dou de ombros
me sentando no sofá.

- Já pensaram que ele pode estar drogado e bêbado? Sei lá, violento? - meu corpo
arrepia com a suposição de Emma.

- Cala a boca Emma.

- Eu sei que ele é seu irmão Kay, mas...

- Mas nada. Chris está sóbrio. Ele não bebe mais e muito menos usa drogas. Ele não é
mais violento. Ele está se tratando. - Kayla fala irritada e Emma fala um okay sem vontade.

- Gente. Vou até lá e perguntar o que está fazendo. Talvez só esteja esperando que eu
saia. - tento parecer tranquilo, mas meus nervos estão a todo vapor só de saber que ele está
por perto.

- Vá. Não o tema. Ele mudou. Não espero que volte com ele, só quero que entenda
que ele mudou. Está curado. - ela sorri e eu beijo seu rosto saindo de casa.
Seu carro está estacionado perto da casa ao lado e eu suspiro andando até a janela do
seu lado. Bato no vidro e silenciosamente o vidro desce me mostrando Christian.

Seus cabelos estão desgrenhados e um sorriso sonolento se abre em seus lábios.

- O que está fazendo Chris? - questiono cruzando os braços.

- Sentado. - ele dá de ombros engolindo seco.

- Christian. - o encaro vendo ele se encolher.

- Emma me avisou que está indo embora. Eu só quis... Eu só queria estar aqui. - meu
coração se quebra um pouco por isso.

- Eu iria te avisar. Antes de ir, eu vou te ligar. - afirmo firme querendo que ele
entenda. - O que te falei há dois dias era verdade. Eu estou pensando na gente. Eu não vou
embora antes de conversarmos. - seu suspiro de alívio me faz sorrir.

- Eu só quis ter certeza. - balanço a cabeça entendendo.

- Você quer... hum... entrar? - ele acena surpreso e eu o espero sair do carro e juntos
vamos para casa.

Assim que entramos Emma sorri tensa para Chris e eu lhe fulmino a avisando para
parar com isso. Kayla sai do quarto e sorri alegre ao ver seu irmão. Eles se abraçam e por
um momento eu fico verdadeiramente surpreso por isso.

- Vamos pedir pizza? Kayla se rebelou e não quis fazer nosso jantar. - Emma
resmunga pegando o celular.

Então fizemos isso. Comemos pizza e brincamos. Quando eu estava muito animado
brincando com Emma de suas loucuras com Hayden eu percebia os olhos de Chris em mim.
Neles eu vi uma adoração enorme e em meu peito o amor que eu sinto cresceu mais.
As meninas se recolheram, e foram dormir então Chris disse que era melhor ir para
casa. Eu não discordei, então cá estamos nós.

- Eu... Ficarei esperando sua ligação. Por favor, se... quando for embora. Me avise. -
ele olha em meus olhos e lá eu vejo seu nervosismo.

- Eu irei. Juro. - digo firme e ele suspira dando passos para trás.

- Boa noite. - Chris me olha mais algum tempo e se vira andando até seu carro.

Relaxo contra a parede da casa e arregalo os olhos quando ele volta correndo até
minha frente.

- Amanhã irei para minha sessão com a psicóloga... Se... se quiser ir comigo, ficarei
muito feliz. Tenho certeza que ela não se importará com sua presença. - ele fala rapidamente
e eu engulo seco pensando nisso. - Eu te ligo para saber. Boa noite.

Então ele se vai.

Fecho a porta de casa e respiro fundo quando vejo as meninas sentadas no sofá.

- Vocês não tinham ido dormir? - pergunto fingindo irritação.

- Não. Queremos conversar sobre sua aproximação com o irmão da Kayla. - Kayla
bufa enquanto Emma fala.

- Ele me chamou para ir para sua sessão com a psicóloga. - mordo meu lábio
nervoso.

- Sério? Acho legal você ir. Talvez seja bom para vocês dois. Claro, se você estiver
pensando em voltar. - Kayla se apressa em dizer e eu sorrio acenando.

- A questão é: você está pensando em voltar? - Emma faz a pergunta de um milhão de


dólares e eu tremo com a resposta na ponta da língua.
- Sim.

Kayla sorri grandemente enquanto Emma suspira acenando.

- Então amanhã você irá nessa psicóloga. - Kayla decide sorrindo.

- Não quero estragar tudo, mas e seu trabalho? - a voz de Emma resmunga e eu me
sento ficando na sua frente.

- Emma, - Kayla começa, mas eu a interrompo levantando minha mão.

- Emma, eu sei que você gosta de mim. Que quer minha felicidade e etc... Mas eu
preciso encarar esse momento. Eu preciso pensar numa reconciliação porque eu o amo. É
uma loucura, mas eu o amo. - digo sério e ela suspira pulando em meu colo.

- Tudo bem. Então vamos lá. Se jogue nessa merda e boa sorte. Eu te amo. - sorrindo
a abraço e espero do fundo do meu coração que eu esteja certo.

Que meu coração esteja certo em aceitar Chris de volta.


CAPÍTULO FINAL
Christian
​Seguro minha perna com força tentando acalmar as batidas dela no chão. Ele vem. Eu
sei que sim. Ele não mentiria para mim.
Vejo doutora Eliza sair de sua sala e chamar o próximo paciente. Seus olhos se
arregalam ao me ver. Talvez seja pelo horário adiantado que cheguei. Marquei com Damien
aqui. Ele disse que era melhor nos encontrarmos no consultório dela, pois era caminho para
mim.
Eu queria ter ido buscá-lo.
Aceno a cumprimentando e ela sorri mandando o paciente entrar e esperar por ela
dentro da sala.
— Mais cedo? — seu sorriso é gentil e eu suspiro acenando.
Eliza é importante para mim. Depois que Dan terminou comigo eu a procurei. Ela é a
melhor psicóloga de Phoenix. Eu confiei todo meu sofrimento a ela. E ela nunca me
decepcionou.
— Eu trouxe uma pessoa para a sessão comigo. Marquei de encontrá-lo aqui. — ela
fica calada por um segundo enviando-me mais do que o necessário e logo em seguida seu
rosto suaviza.
— É Damien? — engulo seco, nervoso e aceno novamente.
Não sei o que acontece com minha língua, mas só sei acenar. Respiro fundo e falo.
— Sim. Eu... Eu quero reconquistar seu amor. Pensei que o trazendo ele entenderia
melhor meu problema. — digo sincero.
— Eu adorei. Tenho certeza que ele sairá daqui com suas dúvidas sanadas. — ela se
vira e volta para sua sala sem qualquer outra palavra.
Passo mais quinze minutos esperando Damien e quando já estou me convencendo de
que ele não virá, a porta se abre e ele entra. Só que não está sozinho.
Tem um cara ao seu lado e eles sorriem abertamente um para o outro. Meu sangue
bombeia mais rápido e eu nem mesmo tinha percebido que me levantei. Volto a sentar e
respiro fundo algumas vezes até que Dan está a minha frente.
Sorrio levantando novamente, mais calmo, e aperto sua mão. É tão estranho apertar
sua mão. Eu queria abraçar seu corpo.
— Chris! Esse é o Madison. Sua esposa está em trabalho de parto na ala de
obstetrícia. Tinha desmaiado na hora e teve que sair. O encontrei entrando em colapso aqui
em frente. Ele pode ficar sentado por aqui, não? — Damien sorri para o cara que está pálido
e eu aceno.
— Claro. Eliza não se importa. — digo suave ao mesmo tempo em que Eliza sai da
sua sala com um sorriso encorajador e me chama.
— Vamos? — chamo Damien. Ele encara Eliza mais tempo que o normal com o lábio
preso entre os dentes e eu sei que ele está pensando em algo.
— Vamos? — tento novamente e ele acena suspirando e me segue.
Sentamo-nos no sofá da sala e eu relaxo contra o estofado macio.
— Bom, como está Chris? — seus olhos se prendem aos meus e eu engulo seco. —
Como está sendo esses dias? Como anda a empresa?
— Hum... Vou bem. Só estressado às vezes. Porém é um estresse normal de
empresário. — dou de ombros.
— E os amigos. Você tem saído? — Eliza foca em seu caderno um momento e depois
me olha esperando por minha resposta.
— Só um colega. Mas não temos saído com frequência, pois ele casou mês passado.
— explico.
— Bom Damien, não sei se Chris já falou com você sobre seu problema com a sua
condição sexual. — o rosto de Eliza suaviza e eu sigo seu olhar para ver Damien engolindo
com dificuldade e com os olhos cheios de lágrimas.
— Sim. Ele já falou. — sua voz sai tremida e eu levo minha mão para a sua.
Apertando de leve querendo passar conforto para seus pensamentos.
— Chris estava doente Damien. Ele relacionava sua condição sexual com você. Com
o amor que você fez surgir dentro dele. Sua cabeça estava confusa e foi por isso que ele te
machucou, tanto fisicamente como verbalmente. Fora que ele também culpou seus pais por
isso. Por ele ser assim, mas a homossexualidade não é hereditária. Você nasce com isso, não
de um modo biológico, não tem um gene que o faz ser gay. Não existe... — Eliza diz
encarando nós dois e eu suspiro sentindo meu coração apertar com as lembranças. — Mas o
que quero dizer com isso é que Damien está curado. Ele sabe que te ama. Provavelmente eu
não deveria estar falando desse assunto tão abertamente, isso é antiético, mas Chris já é um
amigo. Nós dois sabemos que ele não precisa estar aqui, ele está 100% bem. Ele vem no meu
consultório uma vez ao mês apenas para conversarmos e é por isso que eu posso sair a
qualquer momento ou ele. — ela finaliza sorrindo e se levanta pegando sua caneca com água.
— Você tem alguma dúvida? Algum receio em voltar para esse grande homem? — ela
volta a sentar e cruza as pernas.
Olho para Damien o vendo desviar os olhos de mim e da doutora.
— Eu... O meu receio já foi respondido. Eu só não quero mais brigas físicas entre
nós. — sua voz aflita me faz respirar fundo e apertar sua mão.
— Não farei isso, baby. Eu juro. — imploro com os olhos querendo que ele acredite
em mim.
— Ele não fará isso Damien. Christian entendeu a sua sexualidade. Que era o motivo
da raiva. Sei também que ele era bem ciumento, mas também trabalhamos nisso. Ele está,
novamente, curado. — eu sorrio agradecendo suas palavras.
— Vou ter que sair agora, então, vocês podem conversar. — sorrio e aceno. — Até a
próxima Chris. — aceno novamente e a vejo sumir depois de fechar a porta nas suas costas.
— Você quer ir para casa? Posso te levar. — pergunto nervoso.
Seus olhos me fitam intensos enquanto suas mãos veem para meu rosto.
— Vamos para a nossa casa. — suas palavras tiram meu fôlego e eu pisco os olhos,
confuso.
Antes que eu pergunte algo seus lábios estão nos meus. Minha dor some. A confusão
instantânea desaparece e aquele sentimento de infelicidade cessa. Eu fico curado
rapidamente.
Por uma cura chamada amor.
FIM.
Agradecimentos
Que lindinho né, gente?

Escrever esse conto foi um tanto quanto difícil. Quero dizer, deixar os dois juntos em
A Jogada Perfeita foi um tanto difícil, sabe? Num momento eu pensei estar banalizando a
agressão que Dan sofreu (conversei sobre isso com minha beta Vânia) (Pensei até em deixar
ele com Elliot), mas depois da conversa com ela eu entendi que não. Eu não banalizei esse
ato tão feio da parte do Chris. E quando a leitora Gabby pediu para que eu fizesse um bônus,
eu já fiquei nervosa, mas com a sensação de que essa era a minha chance de explicar para
vocês que eles se amam. De que Chris estava com os pensamentos danificados, mas que seu
coração pertencia ao Damien.
E eu consegui. Pelo menos eu espero que sim.
Enfim, obrigada por lerem esse conto que fiz com muito carinho e mais uma vez por
estarem lendo algo escrito por mim.
Amo todos,
Evilane Oliveira.

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