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Edição: 1ª
Revisão, Capa e diagramação: GD² Serviços Editoriais
Esta obra foi escrita e revisada de acordo com a Nova Ortografia da Língua
Portuguesa. O autor e o revisor entendem que a obra deve estar na norma
culta, mas o estilo de escrita coloquial foi mantido para aproximar o leitor dos
tempos atuais.
Sumário
Sumario
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Vinte e três
Vinte e quatro
Vinte e cinco
Epílogo
Agradecimentos
Outras obras
Em breve
"Eu odeio você, EU ODEIO VOCÊ!".
A voz de Cecília ecoa nos meus ouvidos por alguns segundos antes
que eu consiga reagir a elas e nesse curto espaço de tempo ela já saiu em
Chamo por ela, mas não consigo fazer com que espere por mim, ao
invés disso ela acelera ainda mais indo em direção a entrada da propriedade,
de longe vejo como todos observam atônitos ela passar e não fazem porra
nenhuma para impedi-la. O que há de errado com esse povo? Será que não
estão vendo a mulher que eu amo me deixar?
partir. Meu ar fica preso nos meus pulmões por alguns segundos antes que eu
consiga identificar o bastardo que lhe cedeu o veículo para sua fuga como o
mesmo cara com quem ela estava na boate na segunda vez que nos
encontramos por lá, ele tem um sorriso debochado nos lábios e não penso
— Cícero, pare! — Vozes chegam até mim, mas não dou ouvidos,
soco a cara dele mais uma vez e o idiota nada faz para impedir, isso faz
apenas com que meu ódio aumente.
— Ela foi embora, se livrando de você, foi isso que eu fiz! — diz
cheio de si.
— O que está acontecendo aqui? Raul, que sangue é esse, meu filho?
— Olho para trás e o olhar de dona Clarisse me queima fazendo com que me
encolha constrangido. — Onde está minha neta, Cícero?
frente da Fundação da minha família. Olho ao redor e vejo que uma pequena
multidão se formou para assistir ao show, todos olhando curiosos o que se
passa aqui.
— Tem alguém que pode explicar melhor do que eu, mas precisamos
de um pouco de privacidade. Você, filho da puta, vem também — falo ao
lembrar do pedaço de merda que ficou no quarto em que eu estava. — Pode
me soltar, Alex, não vou matar esse merdinha, hoje não.
Apresso o meu passo para ver o que está acontecendo, minha irmã
não é de perder a calma, nem quando tento deixá-la irritada ao ponto de gritar
assim.
— O que esse lixo está fazendo aqui? — dona Clarisse diz com a voz
repleta de nojo e repúdio.
— Ah, que lindo, a velha bruxa está aqui também! — Arnoldo zomba
da mulher que perdeu a filha por culpa dele e o soco que recebe a seguir é
mais do que bem merecido.
— Não, não fui, mas deveria, sou o pai de Cecília, nada mais do que
justo estar aqui para impedir que ela cometesse um erro ao casar com o
bastardinho aí.
— Por que não conta para todos aqui presente que você manteve
Cecília ao seu lado por uma mentira? E depois que descobriu a verdade
continuou com a farsa? — O merdinha que ajudou Cecília a fugir fala, indo
Esperou até que tudo estivesse organizado para aparecer como o salvador
dela, não é mesmo? — Estreito os olhos indo em sua direção, mas Alex me
segura.
— Eu não sei, ela apenas disse que entrará em contato com a senhora
— Você acha que fez uma coisa boa para ela, mas não sabe nada e se
Não espero por uma resposta dela, saio do quarto sem olhar para trás,
vou deixar dona Clarisse em casa e vou para a minha, talvez tudo que preciso
é quebrar alguma coisa para quem sabe assim diminuir essa sensação de
vazio desesperador que sinto no meu peito. Eu deveria saber que ela seria
minha ruína, afinal foi colocar os olhos nela para sentir coisas que nunca
imaginei serem possíveis, não para mim.
E quando falei que no início achava que o que sentia por sua neta
fosse apenas tesão, tudo bem que não disse com essas palavras, ela apenas
balançou a cabeça e mostrou-se compreensiva.
— E-eu não sei, por vezes tentei começar o assunto com ela, mas as
que essa merda que as pessoas chamam de amor não é para mim mesmo, não
sei como fazer algo assim dar certo — digo, levantando do sofá e indo em
direção à porta.
— E vai desistir dela sem lutar? — pergunta e pela primeira vez desde
que a conheci não vou dar ouvidos aos seus conselhos.
Dirijo pelo que parece uma eternidade e sem que me dê conta estou
"Oi, você ligou para a Cecília, sabe o que fazer depois do bip!", a voz
dela na porra da mensagem do correio de voz me saúda e é como se uma
lâmina passasse pelo meu peito, o fazendo em pedacinhos.
desde que comecei a beber, minha voz já está mais arrastada do que eu
gostaria de admitir.
Ouço o som que indica que o limite de tempo acabou e retorno a ligar
apenas para que possa ouvir sua voz mais uma vez, foi só isso que restou para
mim, ouvir sua voz através da merda de um correio de voz.
Faz cerca de uma hora e meia que estou aqui sentado no bar da casa
noturna no banco mais afastado das demais pessoas que, ao contrário de mim,
usam esse espaço para escolherem os parceiros de jogo, seja entre casais ou
entre pessoas solteiras, solteiras como eu estou já que aquela anja-demônia
me largou.
todos possam ouvir e aprenderem que ninguém pode confiar nas demônias de
traseiros empinados e línguas afiadas, essas são as piores espécies de diabas.
Pego a garrafa de tequila deixada pelo barman e ponho uma boa dose
no copo, viro e já encho ele novamente e começo a rir ao lembrar que não
muito tempo atrás Alex estava aqui, na mesma posição que eu, e me rogou
uma praga, ele e sua boca maldita, mas também quem não se deixaria
envolver por aqueles olhos incrivelmente negros, aquele corpo bem
desenhado, cada curva no lugar exato para enlouquecer qualquer um, aquele
sorriso ora malicioso, ora tímido, ora atrevido e levado? Poderia resistir a
Cecília? Com certeza não eu.
— Então não casou e está aqui enchendo a cara, não preferiria uma
boa foda? — Sua mão desliza pelo meu braço e pela primeira vez quero
retirar a mão de uma mulher de mim, mas daí me lembro que não tenho por
que recusar.
basta a lembrança dela para que meu pau desperte para a vida e meu corpo
inteiro esquente e queira sair por aí atrás dela, seja lá onde ela estiver. Esse
sentimento não é algo com que esteja habituado ou preparado para ele, nunca
senti como se não pudesse respirar como agora, muito menos me esforcei
— Não fodo com homens — respondo por notar que há apenas duas
mulheres entre três homens. — Eu topo se minhas regras forem aceitas.
— Agora tenho!
— Ok! — Mais uma vez ela sai me deixando com minha bebida,
torno a encher meu copo e antes que possa pensar sobre ela está ao meu lado,
tocando meu peito por cima da camisa.
Seguro em sua mão e deixo que me guie pelo conhecido corredor, não
confiando que eu possa ser aquele quem leva, minha visão está levemente
prejudicada pelo álcool. Nathany abre a porta e na luz vermelha que envolve
o quarto posso ver as duas mulheres sendo tocadas em todas as partes
possíveis pelos homens que as cercam, o grupo percebe nossa chegada e
param momentaneamente, as mulheres caminham em nossa direção já
despidas e ficam à minha frente com sorrisos lascivos ao darem uma boa
olhada para mim e minha parceira.
meu caso eu estou de pau duro desde que a lembrança de Cecília veio à
minha mente e pensar nela agora só faz com que fique ainda mais duro. A
mulher da minha direita toca a minha ereção sobre o jeans e sorri satisfeita
achando que ela causou isso em mim.
Deixo que retire o restante da minha roupa, enquanto isso vejo que
Nathany já está despida e caminha na direção da cama, ela se ajoelha e um
dos caras deita atravessado, o outro a puxa pelo rabo a fazendo ficar de
quatro com o pau do anterior bem à sua frente e o terceiro homem posiciona
o pau na boca do sujeito deitado, eles estão em um nó perfeito. Já sem minhas
roupas caminho até o sofá e sento deixando minhas pernas abertas e olho para
as duas garotas a minha frente que parecem prontas para brincar.
Afasto para abrir espaço e logo a garota que tentou me beijar deita e a
outra se posiciona por cima, sua bunda fica empinada na minha direção e
tudo que preciso fazer é virar para ter acesso ao seu canal liso e já bastante
melado, toco ela na sua entrada primeiro com um dedo e vendo sua surpresa
seguida de um gemido de prazer introduzo o segundo dedo e os giro dentro
dela, ela sorri e cai de boca na boceta a sua frente, viro um pouco mais e toco
seu clitóris com o polegar fazendo movimentos alternados, ora círculos, ora
triângulos enquanto com a outra mão toco seus seios que balançam com os
movimentos que ela faz ao chupar sua colega.
desesperado.
Não preciso de muitas preliminares com ela, a sua colega fez um bom
trabalho pelo tempo que conseguiu se controlar, puxo sua bunda na minha
direção e segurando o meu pau na base o movimento entre suas nádegas
provocando-a, ela por sua vez remexe o quadril friccionando ainda mais. “É
o movimento errado”, diz o meu cérebro, não sei ao certo o que esperava e
nem quero pensar em quem eu esperava estar fazendo isso essa noite.
Estendo uma mão e pego um preservativo sobre a mesinha ao lado do
sofá e cubro o meu pau com ele, toco sua boceta e sinto sua umidade
quadril, buscando ainda mais atrito, seguro dos dois lados e entro no seu cu
de uma vez ouvindo seu gritinho prazeroso e de surpresa, paro um pouco
esperando que se adapte ao meu tamanho e quando ela confirma com a
cabeça torno a sair e entrar novamente.
No fundo da minha mente algo grita que está errado, não era para eu
comer o rabo de alguém com tamanha facilidade e aceitação, eu deveria estar
batalhando para que ela deixasse eu tocar nele com um único dedo e depois ir
ganhando a sua confiança e aumentando a quantidade aos poucos, era para eu
primeiro comer sua boceta apertada que tenho certeza que fui o primeiro a
foder, mesmo ela negando, era para eu estar fazendo amor com ela.
mim, seus sorrisos, seus gemidos, sua cara fechada, quando me desafia,
quando me irrita, quando me fode por completo, quando me faz amá-la ainda
mais.
esquecer, tudo que consegui foi lembrar dela mais e mais. Saio de dentro da
garota que ainda murmura satisfeita, ao contrário de mim que além de sujo
estou frustrado. Recolho minhas roupas e vou para o banheiro sem dirigir
sequer um olhar para o que acontece na cama, tranco a porta e entro embaixo
fodem entre si alheios a minha presença, passo por eles e não olho para trás
ao sair. Esse tipo de aventura já foi fácil para mim, apenas uma rodada de
sexo causal para o prazer e diversão, mas hoje não chegou nem perto de ser
divertido.
— Não, você vai me explicar que merda você fez para estragar tudo!
— Ele não estava lá e ouviu tudo que o bastardo do Arnoldo disse?
— Para onde pensa que vai? — Se coloca a minha frente mais uma
vez.
— O que você sabe sobre luta? Não deixou Patrícia partir anos atrás
também? Não o vi lutando, a não ser que brigar com a garrafa vazia conte —
revido e não demoro a sentir o soco que me faz cambalear para trás e cair de
bunda no chão.
Olho para ele um tanto atordoado, Alex nunca perde a calma a não ser
se alguém que ele ama estiver na parada e eu acabo de implicar com ele
usando a Patrícia e magoei Cecília, a quem ele diz ter um amor de irmão.
isso na minha cabeça, no dia que a levei até o lugar aonde ia com meu avô
estava decidido a contar tudo, no entanto bastou olhar para seu rosto de
menina sobre um corpo de demônia para a insegurança me tomar e mais uma
vez não consegui.
e aquele merdinha não vai dizer, quer que eu faça o quê? Eu estou lidando
com isso como eu sei fazer, essa merda de sentimento não vem com um
manual de como agir ao ser largado por quem se ama. — Pronto, acabo de
colocar a palavra com A na conversa.
— Então você a ama? — Alex sabe ser bem irritante quando começa
com esse tipo de questionamento.
— Não ficou claro isso para você? Porque parece que todo mundo
sabia disso antes de mim, todos menos ela — minha voz cai algumas oitavas
no final ao perceber que talvez nunca tenha a oportunidade de dizer isso a ela.
— Para mim ficou há muito tempo, você e Cecília são o que se pode
chamar de alienados sentimentais, todo mundo percebe que se amam, mas
vocês não, muito menos o que o outro sente e isso vai acabar com vocês se
não aprenderem a aceitar o amor — ele fala colocando as mãos nos bolsos e
abaixa a cabeça. — Mas ela é alguém que vale a pena a luta, amigo.
— Como eu luto com o vazio? — Levanto do chão e bato a poeira das
minhas calças.
Não tinha parado para pensar dessa forma, será possível que toda
aquela raiva no fim não fosse direcionada somente a mim? E se ela começar a
se cortar mais uma vez? Quando vi as marcas nos seus pulsos me preocupei,
mas sua avó me garantiu que era uma página virada na vida dela, só que isso
pode voltar a acontecer com ela sozinha por aí.
— E o que eu faço agora, Alex? Sentar e esperar não parece algo que
fará bem a minha sanidade. — Ficar parado será a pior parte para mim.
É nessas horas que eu agradeço aos céus por ter um amigo como ele,
por vezes eu estive no controle das situações para ele, mas quando preciso
que tome a frente, assume as rédeas da situação e bola um plano de ação
— Pois é, agora vamos pagar sua conta e dar o fora daqui, já fez
besteiras demais para uma única noite.
— Tia Bel, está em casa? — pergunto como faço todo dia quando
chego do meu novo trabalho na cidade de Barbalha, a trinta quilômetros da
Tia Bel é a irmã caçula do meu avô, a vi poucas vezes na vida, mas
naquele dia quando saí às pressas para ficar o mais longe possível de Cícero
foi na casa dela que vim parar, dirigi por muitas horas até chegar aqui no
meio da noite, vestida de noiva e com um cansaço sem tamanho sobre mim,
foram quase sete horas sem parar nem mesmo para comprar água, Raul havia
deixado uma garrafa dentro do carro e tomei ela durante toda a viagem.
Na manhã seguinte liguei para minha avó e pedi desculpas por tê-la
deixado sozinha com toda aquela confusão, mas sendo a pessoa incrível que
vovó é disse apenas que eu tomasse o tempo que fosse necessário para
colocar os pensamentos em ordem e que mandaria uma mala contendo roupas
e meus documentos naquele mesmo dia por alguém de confiança. Sete horas
depois Sabrina estava na porta com tudo o que vovó prometeu e chorei por
quase uma hora desabafando com a minha melhor amiga, até que o cansaço
tomou de conta do meu corpo e dormi no seu colo. Doze horas depois acordei
e descobri que ela tinha voltado para Fortaleza, mas que deixou claro que
qualquer coisa que eu precisasse, ela voltaria.
Passaram-se três dias até que eu tivesse coragem de ligar meu telefone
novamente, as inúmeras ligações dele e dezenas de mensagens de voz que
entupiram meu correio eletrônico foram um belo soco no meu estômago que
me levou a outras horas de choro com minha tia avó me observando de perto,
com certeza com medo de que eu estrasse em crise e começasse a me
automutilar novamente. Apaguei todos os registros de chamadas e não ouvi
suas mensagens de voz, ouvi-lo seria como enfiar pequenas agulhas no meu
peito, mas não consegui apagá-las, algo me impediu de ir até o fim quando
tentei.
caramelizado.
— Raul? Não acredito! O que está fazendo aqui? — Corro até ele e o
abraço apertado, ele largou tudo apenas para vir me ver, como não ficar feliz?
— Mas como veio parar aqui e mandei seu carro por um caminhão
cegonha e sei que vovó não lhe contou sobre onde estava — digo me
afastando e olhando para ele com um estreitar de olhos. Vovó não gostou
nem um pouco dele ter me emprestado o carro e deixou bem claro que não o
queria perto da nossa casa nunca mais, achei um pouco exagerado sua
atitude, mas respeitei.
meu pai poderia descobrir também onde estou. Isso é algo que
definitivamente não quero.
— Tudo bem, senhor advogado, já que veio até aqui por que não senta
e me conta como andam as coisas por Fortaleza? — Me desvencilho do seu
abraço e me sento na cadeira do lado oposto da mesa.
abala.
— Sei, mas fala a verdade, por que veio até aqui? — digo sem
rodeios, tia Bel percebe que o assunto se tornará mais complicado e logo dá
um jeito de sair, nos deixando mais à vontade para termos essa conversa.
quando Raul fica na defensiva, isso sempre deixa a sensação de que tem
alguma coisa por trás das suas intenções.
— Fala sério, Raul, são sete horas de viagem de Fortaleza até aqui,
você não viria só por sentir minha falta, isso poderia ser facilmente resolvido
em uma ligação de três minutos.
— Vamos lá, Raul, não pode ser tão ruim assim — encorajo-o a falar
e estendo a mão para apertar a sua, isso funciona já que em seguida me olha
sério e começa o seu discurso.
com o meu pai, ele sabia da minha existência todos esses anos e fez questão
de manter distância de mim para não causar atrito no seu casamento, não
preciso dele agora.
— Não tenho nada para falar com ele — digo depois de alguns
instantes e me levanto da cadeira abruptamente.
— Sim, tudo, apenas não como nada há mais de quatro horas, isso
tem acontecido quando fico muito tempo sem comer.
— Não, porque não é nada demais e não quero saber do meu pai ou
qualquer merda que ele ache que tem para me falar, foram vinte e cinco anos
que ele teve para ser alguém na minha vida e não o fez, resolveu aparecer no
— Lia, quem estragou tudo foi seu ex-noivo, seu pai só ficou
preocupado com você entrando em uma mentira. — Ele defende o meu pai e
por mais que eu saiba que Cícero tem sua parcela enorme de culpa, não
consigo sentir raiva dele, dentro do meu peito há um amor incondicional que
não me deixa ver ele como um vilão no meio dessa história.
meu estômago venha para fora seguido de uma gosma esverdeada, sinto
minhas entranhas se contorcerem com os espasmos que meu interior sofre
cada vez mais fortes, a tontura está ficando cada vez mais intensa e o mundo
a minha volta começando a escurecer.
— Lia, está tudo bem aí, filha? — ouço a voz da minha tia chamar do
lado de fora, mas não acho coragem suficiente para lhe dizer que não, não
estou nada bem. — Lia, abra a porta.
Tento mais uma vez me erguer, mas é em vão, antes que consiga ficar
ereta minhas pernas fraquejam e caio no chão com um baque surdo, a queda
fazendo com que uma dor sem tamanho tome conta da minha lombar e isso
faz com que o controle sobre minha bexiga seja nulo e sinto que começo a
urinar. Antes que o mundo perca todo o sentido para mim, sorrio imaginando
quão patética será a cena de tia Bel e Raul me encontrando molhada no chão
Pisco os olhos atordoada com a luz forte que os atinge, ouço coisas
desconexas como “contrações”, “útero não dilatado” e outras que não consigo
ouvir realmente, a dor na minha lombar aos poucos vai diminuindo e uma
dormência começa a se esgueirar pelo meu corpo, começando pelas pontas
dos meus dedos e se espalhando até que não sinto mais nada, sou como uma
folha sendo carregada pelo vento ou uma pena flutuando em um lago de
águas profundas. A sensação é tão gostosa que não quero sair daqui, abraço-a
com força e me permito repousar tranquila pela primeira vez em muitos dias,
não há dor, nem medo, raiva ou sentimento de culpa, apenas eu e as águas
que me engolem sem pedir licença.
Não sei quanto tempo passa até que eu sinta o controle sobre os meus
membros voltar para mim e quando acontece levo alguns minutos para abrir
meus olhos com medo de ter aquela luz forte me incomodando novamente,
pisco algumas vezes antes de finalmente abrir os olhos e perceber que estou
em uma enfermaria de hospital, sei disso devido as inúmeras macas e
— Você nos deu um baita susto, ainda bem que eu estava lá, duvido
que sua tia teria condições emocionais para socorrê-la a tempo. — Ele se
levanta e caminha até parar ao meu lado, uma de suas mãos tocando a minha,
mas seu toque não me é bem recebido, meu estômago volta a revirar trazendo
a vaga lembrança de que antes de apagar vomitei pra caramba.
um jeito de puxar minha mão sem que fique claro que não me sinto bem com
um gesto simples como um toque inocente de mãos, até dias atrás isso não
era nada demais, mas agora é como se eu estivesse traindo alguém.
forma gentil de sempre e sinto que tem mais coisas por aí que ele não quer
me contar.
— Nada, Lia, só que nunca tinha visto tanto sangue na minha frente,
fiquei assustado, só isso. — Vejo nos seus olhos que está falando a verdade.
Estreito meus olhos para ele mais uma vez, parece surreal que eu
tenha passado por algo tão sério assim e agora esteja aqui conversando sobre
tal fato como se falássemos de outra pessoa, não de mim. Antes que eu faça
— Um susto e tanto, você quer dizer, diga para ela, Aline, como foi
difícil estancar a hemorragia e evitar o aborto. Por que não me disse, menina?
Tem ido daqui para Barbalha todos os dias sem se alimentar direito
esperando um bebê, foi por que ficou com medo da minha reação? Porque eu
teria cuidado melhor de você, Clarisse vai me matar quando chegar aqui.
certeza de que não estou preparada para enfrentar uma gravidez sozinha.
— Menino, você ainda tem ciúmes dessa velha? — Tia Bel sorri com
carinho.
Tia Bel olha para mim e balanço com a cabeça, isso a incentiva a
acompanhar Aline, Raul por outro lado parece não saber bem o que fazer,
fica mudando o peso do corpo de um pé para o outro, mas apesar de ser grata
a ele por mais uma vez me ajudar, não quero falar disso com ele aqui.
desgosto e termina em pesar, mas dura muito pouco tempo para que tenha
certeza de que vi isso realmente.
lado da cama e segura minha mão com carinho, seu toque não me faz sentir
nada estranho como acontece com Raul, na verdade é bem-vindo.
tanto nervosa.
— Tomara. — Toco o meu ventre que agora sei que tem um serzinho
minúsculo morando nele e sinto meus olhos lacrimejarem com uma emoção
diferente.
Eu farei isso quando sair daqui — digo uma meia mentira que parece o
convencer.
— Tudo bem, vou terminar de fazer minha ronda, mas volto aqui
antes de terminar meu plantão. — Aperta outra vez minha mão com carinho e
sai me deixando sozinha com meus pensamentos.
Aperto meu lábio entre os dentes e fecho os olhos sem saber ao certo
o que sinto, se por um lado não estou pronta para ser mãe, por outro não
imagino a possibilidade de não ter esse bebê, ele é uma parte dos momentos
bons que passei com Cícero e pelo menos da minha parte sei que a sua
concepção foi com muito amor, e apesar de saber que não será fácil eu vou
fazer o possível para que ele tenha uma mãe decente e tentarei não cometer os
mesmos erros da minha mãe, meu filho merece isso.
Fortaleza
— Faz parte do pacote amigos de longa data. — Dessa vez ele lança
um olhar diferente para ela e noto como seu rosto cora.
— Se você me dissesse o que deseja ficaria mais fácil, pois tudo que
tem feito nos seus dias de folga é vir até aqui e vasculhar pasta por pasta
deixada por papai, não posso simplesmente atirar no escuro. — Luana cruza
suspeitamos e é o que faço, começo pela noite que ela e Alex foram me
buscar na porta da boate após eu ter transado com uma estranha, ela torce o
nariz para mim indignada, com um olhar matador igual como me olhou na
manhã seguinte, mas permanece calada, então falo das suspeitas de Alex e
como desde então tentamos encontrar um porquê nisso tudo e como nem
mesmo o detetive que contratei encontrou algo para nos dar uma luz.
— Não necessariamente contra ela, mas achamos que ele deseja usá-
la em algum momento sim — Alex confirma olhando de mim para Luana.
— Bom, pode haver muitos motivos para que ele tenha feito isso, no
entanto Arnoldo é um advogado muito experiente e saberia como ninguém
encobrir os seus rastros. — Luana pega algumas pastas e começa a analisá-las
Luana tem razão, ele não deixaria rastros e mesmo que eu não goste
de admitir ele sabe bem o que faz, mas isso diminui e muito os possíveis
caminhos que poderíamos seguir para descobrir algo contra ele. Suspiro
derrotado e ao fechar os olhos vejo o olhar magoado de Cecília me fitando,
esse último mês tem sido um inferno para mim, noites mal dormidas,
trabalhando o máximo para manter minha mente ativa seja na CIOPAER, seja
nas minhas investigações, tenho evitado também ir na sua casa, minhas
conversas com dona Clarisse tem sido breves segundos por telefone onde ela
me mantém informado sobre Cecília, mas sem me dizer realmente como ela
está. Sei que deveria ter voltado lá e conversado com ela, Luana mesmo me
Claro que eu poderia descobrir por mim mesmo tudo que quisesse
sobre minha anja-demônia, mas prometi a sua avó que lhe daria um tempo
para colocar a cabeça no lugar antes de ir até ela e implorar o seu perdão,
também desejo ter algo de concreto para lhe contar sobre o seu pai, não que
isso amenize as coisas entre nós, mas me dará um bom motivo para procurá-
la inicialmente.
— Cícero, você está me ouvindo? — Alex fala, estalando os dedos na
frente do meu rosto.
— Que você está com cara de bobo mais uma vez e podemos apostar
que Cecília estava aí nos seus pensamentos — Alex brinca e quando estou
prestes a lhe responder seu telefone toca e ele logo levanta para atender.
— Sabrina, fale com calma, sim? — ele pede a irmã e sinto meu peito
entrar em disparada. Sabrina foi a última pessoa que esteve com Cecília,
tentei conversar com ela, mas de cara me deu um "não estou a fim de papo" e
acabei deixando-a no seu canto por um tempo. — Que horas ela te ligou?...
Ele desliga e não preciso que me diga para que também entre em
movimento, junto as coisas e procuro minhas chaves para que o levar para
onde quer que seja.
Meu ar fica preso no peito por alguns segundos e sinto meus ouvidos
zunindo como se uma bomba tivesse explodido ao meu lado afetando minha
audição. Olho para Alex e ele está falando algo com Luana que me olha
esperando que eu diga algo.
— Eu, eh, não sei, sinceramente não ouvi o que vocês estavam
falando — confesso e recebo olhares compreensíveis ao invés de irritados.
— Luana estava dizendo que talvez você não deva ir, Cecília não vai
querer te ver por lá e não sabemos o que ela tem ainda. — Levo mais tempo
do que de costume para processar as palavras de Luana, na minha cabeça só
consigo pensar na minha anja-demônia em um leito de hospital do outro lado
do estado.
— Nem fodendo vou ficar aqui esperando notícias, eu vou sim com
vocês, que se dane se ela me expulsar de lá — digo minha decisão que não
esteve em discussão em momento algum.
Ela diz e volta seu olhar para os papéis a sua frente, não vou discutir,
principalmente por não querer perder tempo, balanço a cabeça e saio do
escritório acompanhado de Alex.
o mais rápido que posso, minhas mãos começando a suarem levemente com a
ansiedade de vê-la, mesmo ainda faltando algumas horas para que isso
aconteça.
Alex para o carro em frente ao Pronto Socorro Municipal de Missão
Velha e por um instante fico sem saber o que fazer. Dona Clarisse, que
durante as quase oito horas de viagem se manteve taciturna, respondendo
apenas a Alex e fingindo que eu não estava presente no carro com eles, agora
aperta meu ombro de onde está sentada no banco de trás e viro-me para
encará-la depois de muitos dias que não nos falamos abertamente.
— Não acho que você deve entrar comigo, filho, preciso ver como ela
está antes que te veja. — Seus olhos trazem a sabedoria de quem já viveu
muito e perdeu mais do que gostaria.
— Sei que sim, mas aqui não será o lugar certo para vocês
Talvez seja a culpa que sinto por ter mentido para ela ou a saudade
que tenho sentido ao longo dos dias ou até mesmo por ter procurado consolo
nos braços de outra pessoa, mas tudo que vejo são os trejeitos de Cecília e
pensar que eu terei que esperar para ter um pouco mais da sua língua afiada e
olhar fuzilante me deixa extremamente insatisfeito, mas ela tem razão, com
minha anja-demônia é preciso ir com calma. Aprendi que com ela não adianta
ir na pressão, pois acabará fazendo apenas o que considera correto e
aceitável, nada mais ou a menos que isso.
— Tudo bem, eu não entrarei no quarto em que ela está por hora, mas
ficarei na sala de espera — digo por fim e vejo o olhar cansado de Alex
suavizar, essa seria uma disputa que ele não teria como se manter neutro e sei
de que lado ele ficaria.
aqui, como posso comprovar por mim mesmo, estamos aqui e às duas da
manhã e o próximo voo ainda sairá de lá às oito.
Cecília a fugir, meu cansaço some e tudo que consigo ver a minha frente é
uma enorme luz vermelha que me direciona e antes que me dê conta do que
estou fazendo minhas mãos estão apertando seu pescoço junto à parede mais
próxima.
— O que diabos você faz aqui, infeliz? — minha voz sai carregada de
todo o ódio que tenho por ele.
— Cícero, ele não vale a pena! — A mão de Alex toca meu ombro,
sua voz chega até mim com o sinal de alerta que conheço bem e só então
percebo que há mais pessoas conosco e todos me olham assustados.
Dou um passo atrás começando a soltar seu pescoço, tudo que não
preciso é ser expulso daqui por culpa desse imbecil que tem a mania de estar
onde não deve nas horas mais erradas possíveis.
— Isso aí, sua babá tem razão, mas não foi isso que sua ex-noiva
pensou quando estava gemendo embaixo de mim — ele diz baixo o suficiente
para que apenas nós três escutemos e antes que eu consiga reagir o babaca já
está no chão pelo soco que Alex disfere no seu rosto, cortando o lábio
inferior.
— Veja bem o que fala da Lia, seu pedaço de nada inútil? — Alex diz
Olho de Alex para o guarda confuso, como ele sabe quem somos?
Alex dá de ombros no seu estilo de perguntar se isso realmente importa e na
Fico intrigado e olho para ele pela primeira vez com mais atenção, seu
rosto não me é estranho, o queixo quadrado e postura superior me fazem
lembrar de um antigo integrante da minha turma de aspirantes.
O sorriso largo no rosto do guarda deixa claro que acertamos, ele nos
estende a mão e o cumprimento com entusiasmo.
A forma como ele fala da esposa me faz antever o que seria uma vida
simples, sem todas as merdas que tive que enfrentar ao lado de Cecília e sinto
inveja dele, coisa que eu, Cícero Duarte, achava impossível um dia sentir.
— Mas e vocês, o que fazem tão longe de Fortaleza? — pergunta
curioso.
de tamanho não acreditando no que ouviu, se bem que nem eu ainda acredito
que me deixei apaixonar, mas por Cecília seria impossível.
— Ela vai ver você agora, mas nada de explicações sobre o que
aconteceu hoje e fique sabendo que se você a magoar com uma frase mal
colocada sequer será um homem capado, está me entendendo?
a ver com as merdas que envolvem o meu passado ou as mentiras do pai dele
para me ter a sua mercê.
casa não preciso fazer uma ligação do tipo: "Oi, seu cretino, sabe as
inúmeras vezes que transamos e você brincou de me marcar com a porra do
seu gozo? Sim, também adorei todas as vezes, mas não é isso que importa e
sim que me engravidou nessa brincadeira, seu babaca". Mas que droga, até
quando estou falando com ele hipoteticamente me sinto incendiar
completamente por dentro.
Dentro de mim sinto um leve tremor, como o bater de asas de uma
borboleta e sinto meus olhos se inundarem com a emoção que me toma,
apesar de não fazer nem três meses que estou grávida, sei que é meu bebê me
dizendo "oi" de uma forma inusitada. E é nesse momento que a decisão é
tomada por mim, se Cícero me procurar falarei toda a verdade para ele, do
contrário não o procurarei, não correrei o risco de ser rejeitada, não vou
momento, me diz como ficou assustada com tudo e agora está sentindo alívio,
vi esse mesmo brilho nas minhas piores crises e por um segundo minha
garganta fecha com a culpa que sinto por tê-la feito passar por mais um susto.
— Lia, o que aconteceu pra você vir parar aqui nesse hospital? — Ela
me olha daquela forma que deixa claro que não aceitará qualquer desculpa.
Suspiro reunindo forças para lhe contar a grande notícia, espero que
ela fique ao meu lado como sempre ficou, mas agora a situação é diferente,
afinal tudo isso pode fazê-la lembrar do que aconteceu com a minha mãe.
— Ah vovó, sinto muito, sinto muito mesmo por tê-la deixado para
trás no meu rompante para fugir de todo aquele circo montado por Cícero, eu
não pensei muito sobre o que fazer e ver aquele sujeito dizendo ser meu pai
ali e descobrir que o meu futuro marido só queria brincar com a minha cara e
— Não vamos falar sobre isso agora, teremos bastante tempo quando
voltarmos para casa — diz, erguendo uma sobrancelha apenas, mania que
herdei dela.
— Não sei se quero voltar, vó — digo me encolhendo.
— Sim, você irá contar para ele sim, e ai daquele moleque se não lhe
tratar com o máximo de respeito possível, ele volta para Fortaleza sem os
cunhões — a forma como fala faz um sorriso tímido começar a se abrir nos
meus lábios, até que entendo o que realmente disse.
— Ele está aqui, em Missão Velha? — Acho que meus olhos acabam
de ganhar o dobro de tamanho.
— Sim, vim com ele e Alex. — Meu coração agora dispara por outro
motivo, meu corpo inteiro se arrepia e de repente a pressão e formigamento
que sinto sob a minha pele começam a fazer sentido, ele está aqui e meu
corpo traidor sabia antes de mim.
Devia saber assim que tia Bel me avisou que ela estaria vindo que
novidades viriam juntas, mas talvez seja o destino conspirando para que a
história não se repita.
amigo com tudo enquanto eu fugia no seu carro, no entanto sei que Raul
saberá se defender.
— Eu não esperava que ele viesse até aqui, foram semanas sem que
desse sinal de vida, tinha quase certeza que no fim as coisas terem acabado
como aconteceu foi melhor para ele. — Não nego que isso me incomodou
bastante, acreditar que o que vi no seu olhar nas últimas vezes que estivemos
juntos não foi real magoava-me mais do que seria capaz de admitir, até para
mim mesma.
— Tudo bem e por favor diga a Raul que vá descansar, ele está aqui
no hospital há muito tempo. — Subo um pouco mais na cama para ficar
melhor apoiada, minhas costas ainda doem um pouco, mas segundo Breno
isso é normal.
— Raul? O que esse sujeitinho veio fazer aqui? — A forma como ela
fala seu nome me diz que tem algo a incomodando.
— Ele veio ver como eu estava e graças a Deus por isso, não sei se
teria chegado ao hospital a tempo se ele não estivesse lá, mas por que está
com essa cara? — Estreito meus olhos para ele e em resposta ganho seu dar
de ombros típico de quando não quer falar sem ter certeza e isso me deixa
mas essa não é uma conversa que deseje ter com plateia.
— Ele não é mais criança, pode e vai sozinho — a forma como dona
Clarisse fala faz um calafrio subir pela minha espinha.
— Eu sei, mas... — Alex tenta argumentar, mas antes que ele leve um
rela bem dado tomo a frente.
até parar em frente a duas portas que uma placa indica ser a Enfermaria, olho
para dentro através do vidro redondo que há nelas e não vejo ninguém lá
dentro, volto meu olhar para a senhora a minha frente de braços cruzados que
me fita como se eu tivesse salgado a Santa Ceia e merecesse uns tabefes por
isso, esse olhar de dona Clarisse me intimida muito mais do que os outros que
já me deu.
— Ela está aí, por sorte não há mais ninguém em observação e vocês
poderão conversar, mas como já disse não fale sobre o que aconteceu em
Fortaleza, ainda não, terão bastante tempo para isso, tem algo mais
importante para ser dito e volto a repetir se não tratar minha neta direitinho eu
vou fazer sarapatel de você.
Engulo em seco e balanço a cabeça mais uma vez, sua ameaça não é
vazia. Ela se afasta e espera que eu dê o passo que me levará para dentro do
quarto onde minha anja-demônia está, meus pelos se eriçam e meu pau, que é
um pervertido, ganha vida com a eletricidade que me corre ao senti-la a uma
porta de distância.
visualizar são todas as vezes que calei essa boca atrevida com beijos de tirar o
do que imaginei ela não me empurra ou manda que me afaste, pelo contrário,
se agarra a mim como se eu fosse a sua tábua de salvação em meio ao grande
oceano e me permito ser isso nesse momento.
Sou o que ela precisa que eu seja, não importa que quando a razão lhe
voltar me diga as palavras que irão quebrar meu coração em pedacinhos, pois
não importa, qualquer dor é aceitável se puder desfrutar de pequenos
instantes como esse em que entendo que o que sinto por ela não é um
sentimento sem reciprocidade, não teria como alguém fingir precisar do outro
como ela demonstra que precisa de mim, pois é exatamente como me sinto
em relação a ela e algo me diz que sentimentos assim duram mais do que uma
noite.
Não sei quanto tempo passa até que o choro de Cecília começa a
diminuir, quando parece que está finalmente em um estado mais calmo e tem
o controle sobre suas emoções novamente se afasta dos meus braços e evita a
qualquer custo me olhar, isso me incomoda mais do que imaginava, não ter
aquele seu olhar de menina levada me desafiando não é algo que me agrade,
quero a minha anja-demônia com tudo que a faz ser ela.
— Cecília, o que houve? — Tento tocar o seu rosto, mas ela se afasta
sutilmente, não a forçarei a aceitar o meu toque.
— Muitas coisas, foi o que houve — diz e agora me fita com essas
sobrancelhas grosas erguidas, me desafiando a contradizê-la e
— Não vou a lugar nenhum sem você, além do mais sua avó ameaçou
arrancar minhas bolas se eu não tratasse você bem depois que me contasse
algo, então trate de me falar logo o motivo pelo qual posso virar um eunuco
— digo e agora é sua vez de sorrir de leve.
desce dessa cama estreita e me deixa saber quanta saudade de mim ela sentiu,
porque sei que sentiu, a forma como seus olhos aumentam de tamanho e
engole em seco vendo minha ereção é a prova disso.
— Seu cretino idiota, não acredito que esteja excitado comigo aqui
deitada nessa cama depois de quase ter perdido o meu bebê... — Ela para de
falar e sinto o meu sangue gelar completamente.
— Cecília, não brinca comigo, porra, você falou o que acho que
— Não sei, não estou na sua cabeça pervertida para saber o que acha
de uma coisa ou não — a demônia responde com esse seu balançar de corpo
único que me irrita e excita na mesma medida.
— Não brinca comigo, Cecília, minha vontade desde que entrei nesse
quarto é pegá-la e colocar de quatro sobre essa porra de cama e fodê-la até
que aprenda a nunca mais fugir de mim, então não me dê motivos para
realizar esse meu novo fetiche e responda a droga da minha pergunta ou foda-
se a promessa que fiz a sua avó e vou tratá-la como sei que está doidinha que
eu o faça, hospitalizada ou não.
— Você é um cretino, mas vou lhe contar. Sim, você ouviu bem, eu
quase perdi o meu bebê, melhor, o NOSSO bebê. — Agora sim o meu
coração parou de bater, engulo em seco e olha para ela o mais fixamente
possível buscando qualquer pista de que esteja brincando.
— Claro que não estou, seu idiota! — Cecília tenta manter a pose de
que está tudo bem, mas as lágrimas que rolam pelo seu rosto deixam claro
que tudo isso é demais para ela também.
— Mas você está bem agora, não está? — Meu instinto diz que ela
está por um fio.
— Fisicamente estamos bem sim, Breno disse que vamos ficar bem se
eu tomar cuidado até o fim do primeiro trimestre. — Ela sorri ao acariciar o
ventre com um olhar diferente. — Mentalmente, vou ficar, meu filho precisa
de mim e não me importa se vou ter que cuidar dele com ou sem você, serei a
melhor mãe que ele poderia ter.
Estou para dizer a ela que minha mente também não está lá essas
coisas, mas paro ao perceber que ela não conta como certo a minha parceria
nesse novo momento que nossas vidas estão tomando.
— Como assim, não acha que vou lhe virar as costas justamente
agora, acha? — deixo que toda a minha indignação fique notável na minha
voz.
— É nosso filho, você não o fez sozinho, mas já parou para pensar
que pode ser uma menina? — O sorriso tímido que vem dela mexe comigo de
uma forma única.
— Ohohoooo, Deus tenha piedade de mim, pois sei que terei meu
primeiro ataque cardíaco antes dos quarenta anos — brinco, mas no fundo
estou me borrando de medo.
Puxo seu rosto na minha direção e a beijo como estou com vontade há
tanto tempo, ela de início fica parada, mas basta que percorra a língua sobre o
seu lábio inferior que um gemido lhe escapa e tenho acesso total a sua boca,
não perco tempo e começo a demarcar o território enquanto ela parece estar
fazendo a mesma coisa comigo e se já estava de pau duro antes, agora ele
parece feito de pedra.
Seguro nos seus cabelos enquanto puxo seu corpo para o mais perto
de mim possível devido aos fios e intravenosa que estão conectados ao seu
corpo. Engolimos os gemidos um do outro, mas é impossível ignorar o
barulho irritante do monitor cardíaco que soa frenético, meus batimentos não
estão tão acelerados quanto os dela, mas sinto algo que não sentia desde o dia
que ela se afastou de mim: estou completo, como nunca pensei ser possível
estar.
poucos, meus lábios brigando para permanecerem um pouco mais junto aos
dela.
Viro para olhar a quem nos interrompeu e encontro o que imagino ser
o médico plantonista, um sujeito não muito mais velho que eu, ele olha para
nós com um sorriso debochado nos lábios e a maldita sobrancelha erguida.
— Lia, creio que esteja tudo bem por aqui — diz se aproximando.
Meu sangue ferve em notar o quão íntimo dela ele parece ser, por isso
permaneço ao lado da cama com minha mão na sua de forma a deixar claro
que esse terreno já tem dono.
— Sim, estou bem. — Ela baixa o olhar para nossas mãos unidas e
em seguida me olha em busca de confirmação, isso mexe comigo e não evito
o sorriso que ameaça rasgar meu rosto ao meio.
— Hummm, isso é bom, seus exames mostram um leve déficit de
ferro, mas nada que deva se preocupar, agora que começará a tomar as
A mão de Cecília aperta a minha e isso me diz que estava ansiosa por
notícias, inclino-me em sua direção e beijo o topo da sua cabeça, o suspiro
— Vai ficar tudo bem, anja! — digo olhando nos seus olhos, ela
apenas balança a cabeça confirmando e sorri de leve. — Quando ela poderá
viajar?
— Imagino que você seja o "É complicado" que Lia me falou mais
cedo. — Estreito os olhos para ele, mas acabo apertando a mão que me
estende.
Cecília.
— Eu volto para Fortaleza ainda hoje, você fica aqui por mais uma
semana, isso é tempo suficiente para que eu consiga ajeitar as coisas em casa
— digo a ela e vejo seu rosto começar a reagir as minhas palavras, ergo uma
sobrancelha a convidando a dizer que não.
— Uma ova que não vai — rebato e vejo o sorriso no rosto dela se
ampliar.
coisas, agora, Lia, vou deixar prescrito mais algumas bolsas de soro para
você, quando elas terminarem está liberada para ir para casa.
muito para que ela caia em um sono tranquilo, enquanto eu fico observando-a
por um longo tempo pensando em como só o fato dela estar aqui ao meu lado
acalma o meu coração de uma forma única. Devagar estendo a mão e toco
seu ventre onde o nosso filho está protegido.
como o meu foi, mas como meu avô me mostrou como deveria ser — digo
para o ventre dela, mesmo sabendo que não pode me ouvir, mas sinto dentro
de mim a necessidade de reafirmar isso, não tive o melhor dos exemplos de
pai, minha mãe biológica então... Mas meu avô e Silvana me deram amor
suficiente para me mostrar como devo amar esse serzinho que é metade eu,
metade Cecília e já tomou boa parte dos meus pensamentos em tão pouco
tempo.
— Vó, eu consigo sair do carro sozinha! — digo revirando os olhos
ao tentar sair do carro assim que paramos em frente à nossa casa em
Fortaleza, mas sendo ela dona Clarisse, sou obrigada a segurar na sua mão e
— Eu faço isso, sou velha, mas não tô inválida — ela diz e vejo
Cícero dar um passo atrás sem questionar, bundão. — Era só o que me
faltava.
Não seguro o riso, ele tem pose de machão, mas caga pau pra uma
senhora de sessenta anos e um metro e cinquenta e oito de altura, que
maravilha! Ele por sua vez dá de ombros com a expressão “ela que manda”
estampada no seu rosto. Não o culpo, ela não dá mole mesmo, quando Breno
disse para ela que o ideal seria esperar uma semana até que eu pegasse a
estrada ela foi logo dizendo a ele que isso era coisa certa e não discuti, e foi
maravilhoso passar alguns dias com ela longe da loucura que sabia estarem
esperando por nós assim que passarmos pela porta.
Não falo nada, apenas deixo que me encaminhe para dentro o mais
rápido possível, bom o mais rápido que ela me permite andar, vovó quando
quer sabe impor as coisas, aproveito que Cícero ficou para trás e faço a
pergunta que estou criando coragem para fazer a ela desde que a vi entrando
no quarto de hospital.
— Porque a senhora não disse nada sobre o que aconteceu aquele dia
durante esse tempo todo e quando perguntei sobre Raul disse que era bom ele
não dar as caras tão cedo e depois disso se fechou mais uma vez — respondo,
sentando no sofá e espero que conteste o que eu disse.
— Vou fingir que não ouvi isso, foi me buscar no aeroporto porque
quis. — Viro de lado para não ver seus olhos que sinto me fitando.
que chegaria?
— Por que essa raiva toda, Cecília? — a pergunta dele vem carregada
de sarcasmo e minha vontade é dar umas bifas na cara dele.
Eu sei que estou sendo muito chata com ele, no entanto a verdade é
que apesar de ter dito que estava satisfeita com o distanciamento dele o que
eu esperava era que ao me ver no aeroporto ele me recebesse com um beijo
ou um carinho suave no rosto como o que fez antes de sair do hospital na
manhã seguinte ao nosso reencontro, a enfermeira, que é amiga da minha
avó, e tia Bel me contaram que ele ficou comigo durante todas as horas que
dormi, a informação fez algo no meu peito acender como luzes de Natal e
agora ele está agindo como se fosse um robozinho mandado.
— Não vai se livrar de mim assim tão fácil — diz e isso alivia o
turbilhão de emoções no meu peito. — Até que tudo se acerte, ficarei aqui
com vocês.
— Não seja infantil, Lia, ele fica aqui até vocês se resolverem, depois
se você não quiser saber dele mandamos cair fora, mas até eu achar que você
está bem, bem mesmo, o caboré fica e cuida de você, como diz o ditado quem
pariu Mateus que balance, mas nesse caso é quem emprenhou a mãe de
Mateus que tome de conta.
Simples assim, ela diz e vira as costas e sei que não adianta tentar
argumentar com ela, está do lado desse cretino nesse sentido e o cretino em
questão chega bem perto de mim e segura meu rosto a centímetros do seu.
— Ah, não sei não, aposto que você está louca por uma boa noite de...
— Ele para e olha para os lados. — Eu vou pegar minhas coisas e na volta
conversamos, e depois que tudo estiver resolvido vou foder você como está
querendo.
Pego uma almofada e atiro na sua direção, mas ele é mais rápido e sai
antes que seja atingido, porém ele está certo em todos os sentidos.
provocaram em meu corpo, mas não fico só por muito tempo, logo uma
verdadeira comitiva formada por Sabrina, Bruna, Talita e Amanda, entra na
sala fazendo uma grande algazarra.
— Ah, vó Clarisse faz pra nós, suas meninas de ouro — Bruna diz e
faz beicinho como as demais, é impossível não rir delas.
— Tudo bem, eu faço, mas não agitem essa menina demais, ela ainda
precisa de repouso, estão me ouvindo? — fala e vai para a cozinha faceira,
vovó adora as meninas e sei que o sentimento é recíproco.
— Então, Lia, vai nos contar por que sua vó e meu irmão saíram
daqui à noite para trazer você de volta, quando eu sei que não tinha planos de
voltar? — Sabrina pergunta sentando-se ao meu lado e as meninas se sentam
no chão a minha frente.
Olho de uma para outra e só agora noto como senti falta delas e me
impressiono por Alex não ter falado nada para Sabrina, desconfio que Cícero
esteja envolvido nisso, o que me faz questionar se ele já contou sequer para a
família dele.
— Ahhhhhh, não enrola, Lia! Alex, o cretino, não nos contou nadinha
mesmo que tenhamos feito pressão e até jurado uma sacanagem em grupo
com ele, tirando a Sabrina, é claro — Talita diz com um olhar safado e ganha
um tapa no braço de Sabrina.
alguma pessoa que quero comigo durante a minha gestação são essas quatro
mulheres a minha frente e não poderei esconder a barriga por muito tempo
mesmo, por isso abro um sorriso quando o leve tremor que venho sentindo
volta a acontecer e minha mão toca meu ventre involuntariamente.
— Pode ser uma mascotinha também. — Não conto nem até três e
logo minha barriga ainda quase plana está sendo alisada por quatro pares de
mãos que me enchem de perguntas.
— Oh, meu Deusinho, que lindo! — Amanda diz. — Está tudo bem
com ele?
Em meio a tantas vozes e mãos que chegam até mim, eu ergo meu
olhar e vejo minha avó parada junto a porta com lágrimas nos olhos. Ela deve
estar pensando o mesmo que eu, minha mãe não teve esse tipo de apoio, nem
vindo do meu pai, tão pouco das amigas que ela sequer tinha, talvez se
tivesse quem a apoiasse não teria feito o que fez. Vovó seca a lágrima que
rola pelo seu rosto e limpa a garganta, chamando a atenção das meninas.
— Sim? — Olho para ele com cara de poucos amigos, não estou com
saco para ninguém me olhando como se fosse um pedaço de carne, talvez a
estadia de Cícero aqui não seja de todo ruim afinal.
Sem paciência puxo a fita de uma vez por todas e abro-a na minha
frente para ler o que tem escrito, levo alguns segundos para entender as
palavras e o seu significado.
ainda assim eu vasculho na minha mente se está faltando algo, pelo visto não,
então só me resta ir de uma vez para onde minha anja-demônia está e rezar
para que nesse período que ficarei por lá consigamos nos acertar, não quero
que nosso filho nasça em um lar desfeito, tão pouco que eu não possa estar
por perto quando isso acontecer. Apesar de nunca ter pensado na ideia de vir
a ser pai, agora que isso já é uma realidade batendo a porta farei o meu
melhor e admitindo para mim mesmo, essa criança veio no momento certo,
parece até que o destino deixou essa última carta na manga para me ajudar a
ter minha mulher de volta, mas sei que não será uma tarefa fácil, não com ela.
Não a vejo desde a nossa conversa na noite que viajei atrás de Cecília
e ela sendo quem é não veio até mim, as vezes que nos falamos deixou claro
que quem precisava era eu, portanto deveria ser eu a procurá-la.
— Nem um pouco, mas quero saber onde se meteu que não deu as
caras por aqui esses dias, nem mesmo para me dizer se Cecília gostou do que
fizemos no quarto dela — diz toda petulante, mas se não fosse pela ajuda dela
eu provavelmente dormiria no sofá.
— A verdade é que ela não viu ainda, bom, não pelo tempo que estive
lá, mas sei que fez um trabalho excelente, agora me diga por que realmente
me ligou? — Sei bem como ela age, nada é por acaso.
— Acho tão lindo como você muda de assunto, mas tudo bem, liguei
para dizer que acho que descobri algo sobre Arnoldo que pode ser um indício
do que ele pretende com Cecília. — Ouvir o nome daquele infeliz faz meu
sangue ferver de ódio e isso me lembra mais uma vez que tenho que
conversar com ela antes de tudo.
— Não vou falar por telefone, é mais fácil mostrar, quando você
poderá vir aqui? — baixa a voz mais um pouco. — E traga aquele seu amigo
detetive, precisaremos dele se queremos ir mais a fundo nessa história.
— E estou, mas Cecília tem uma consulta pela manhã e eu irei com
ela, é claro. — Como disse, quero fazer parte dessa gravidez, não apenas com
um título, mas estando com ela a cada momento.
— Ah, esqueci que ela tem prioridade na sua agenda agora. — Tenha
santa paciência, minha irmã não vai querer entrar nessa de disputar atenção,
vai?
— Sim, ela tem e você vai me dar razão quando souber o porquê. —
Não falei para ninguém sobre a gravidez de Cecília, não achei certo fazer isso
sem a autorização dela, há mulheres que são supersticiosas com essas coisas e
esperam até certo tempo para contar, vai que é o seu caso.
— Se você não me contar ficará difícil entender por que a princesa
Cecília tem toda a sua atenção depois de tê-lo deixado plantado no altar. —
— Luana, tenho que ir, nos vemos amanhã — digo encerrando essa
conversa, ela quer respostas e eu não sei se está tudo bem em falar sobre.
— Isso, fuja do assunto mais uma vez, nem queria saber mesmo.
segundo ele, elas são um pacote só e se ele sobreviveu até hoje, também
consigo. Saio do carro e passo pela cozinha onde as quatro estão e me olham
com expressões neutras, concluo que devo passar rápido por elas e assim o
faço.
— Jogue isso fora, vovó! — Cecília diz no instante que chego à sala.
Olho para onde seu olhar está fixado e vejo um buquê de flores
amarelas no chão, meus olhos percorrem o seu corpo e noto um leve tremor
nele, suas mãos em punho e boca em uma linha fina deixando claro o esforço
que está fazendo para não desmoronar. Com duas passadas a alcanço e
prendo seu corpo entre os meus braços, nem sei se nota minha presença, mas
a seguro firme até que os tremores começam a diminuir.
— Jogue essas malditas flores fora, por favor? — a voz de Cecília sai
num fiapo quase inaudível.
Não perco tempo, agacho e pego o buquê junto com uma fita que
estava ao lado e caminho em direção a garagem a fim de jogá-lo fora, mas
paro assim que noto algo escrito na fita e por fim entendo o que está
acontecendo, meu peito troveja enraivecido e um único pensamento me vem:
porta, seu corpo treme levemente e com muito cuidado me aproximo dela,
seu corpo primeiro tensiona, mas logo que percebe que sou eu recai sobre
mim buscando conforto, envolvo sua cintura com os meus braços e ouço por
minutos os seus soluços abafados e nunca imaginei que a dor de outra pessoa
pudesse me doer tanto, me sinto impotente por não ter previsto nada disso,
com um rato como Arnoldo todo tipo de atitude deve ser prevista.
— O que ele quer de mim? — sua voz quebradiça sai quase inaudível.
— Eu não entendo, depois de tantos anos, por que agora?
— Eu não sei, mas vou descobrir, eu prometo — digo isso e ela vira
para me olhar, seus olhos ainda mais escuros devido ao vermelhão que se
formou pelo choro, mas ainda assim ela é a coisa mais linda do meu mundo.
— Como assim? — Estreito os olhos para ela e deixo-a sair dos meus
— Por que você se daria ao trabalho por mim? E não use minha
gravidez para justificar. — Ela senta na ponta da cama enquanto fico em pé
na sua frente sem conseguir pensar direito nas próximas palavras que sairão
— Não ia usar nada como desculpa, a pergunta certa aqui é por que eu
não faria? Acha que quero ver você ou sua vó no estado emocional que vi
agora há pouco? — Me olha por alguns instantes antes de levantar.
— E por que isso importa? Olhe para esse quarto, por que teve tanto
trabalho para deixá-lo assim? — diz dando um pequeno giro para enfatizar
suas palavras.
aproximo dela e fixo meu olhar no seu para que veja a sinceridade nas
minhas próximas palavras.
que você partiu, foi como se uma parte minha estivesse faltando, porque
todos os dias quando acordo meu primeiro pensamento é em você e o seu
rosto é a última coisa que vem a minha mente antes de dormir, porque você,
sua avó, nosso filho, são importantes demais para mim e mesmo que faça
tudo para me afastar vou ser extremamente teimoso e voltarei — digo tudo
rápido, não sei nem se ela está me entendendo, apenas consigo ver suas
lágrimas que agora descem pelo seu rosto ainda mais intensamente.
contrário.
Puxo seu corpo para junto do meu e não peço licença antes de tomar
seus lábios com vontade, minha língua invadindo sua boca com tudo,
sentindo o sabor único que o seu beijo tem, seus lábios ainda mais macios
devido ao choro, deslizo minhas mãos pelas suas costas puxando seu corpo
para muito perto e roço minha ereção nela, engolindo seu gemido que vem
seguido das suas unhas que cravam nas minhas costas mesmo por cima da
camisa.
Abro os olhos e dou de cara com cinco pares de olhos que nos fitam
com expressões distintas, as meninas com aquele olhar de "eu sabia que você
não resistiria ao gostosão!", já vovó tem sua já conhecida cara de "não quero
saber de safadeza aqui em casa antes do casamento!".
— Pelo jeito a Lia não precisa mais da nossa ajuda — Talita diz
sorrindo.
assassina do meu pseudopai estaria xingando-as, mas vovó cuida disso por
mim.
conversa com esse... — Ela olha para Cícero e espero que use a palavra
caboré mais uma vez. — Sujeito e minha neta.
— Acho que ela está com raiva de mim — Cícero cochicha no meu
ouvido e seguro o riso, mal sabe ele que terá que aguentar as implicâncias
dela por um bom tempo.
onde as mãos de Cícero repousam me apertando junto dele, ele logo me solta
e fica ao meu lado com as mãos unidas em frente a sua ereção, custa muito
para eu não cair na gargalhada, ao invés disso sento na cama e faço um gesto
para que ele sente também, assim disfarçará melhor. Vovó entra no quarto e
— Não é mesmo e vou dizer só uma vez para que entendam, não vou
aceitar que fiquem nesse puxa-encolhe e no fim me façam passar tudo aquilo
da última tentativa de casamento.
— Vó, não vamos falar daquele dia ainda. — Não quero lembrar que
tenho motivos para ter raiva de Cícero, não depois que ele disse com todas as
letras que me ama.
— Vamos falar sim, e não me interrompa, tá me ouvindo?
— Tô.
ele.
— Não seja frouxo, se ela estava bem pra se agarrarem, vai aguentar
ouvir umas coisas.
Sua cabeça vai para o outro lado em uma posição clara de desafio,
que não vem. E nisso eu tiro meu chapéu para ele, o respeito que tem pela
minha avó é algo tocante.
— Como estava tentando dizer, Lia, você teve todos os motivos para
ficar com raiva de Cícero, se fosse comigo eu tinha dado uns safanões nele
para aprender a ser mais corajoso, mas ele é homem e homem sempre é
frouxo quando é para falar de sentimentos, certo que tem uns que são
descarados mesmo, esses a gente tem que manter distância, como é o caso do
seu pai e aquele sonso do Raul.
Olho confusa para ela, o que Raul tem a ver com essa história? Ao
ouvir eles serem mencionados Cícero retesa o corpo e posso ouvir quando
seu maxilar trava irritado.
— Mas vovó o que Raul tem a ver nessa história? — Aperto a mão de
— Oras, Lia, não vai me dizer que achou que ele estivesse ali com o
carro pronto por nada? — Ela me olha com cara de "não seja tão ingênua
assim".
— Aquele traste trabalha para o seu pai, ele não lhe contou? — as
palavras de Cícero chegam até mim, mas não as compreendo totalmente.
— Pro meu pai... ele sabia quem era meu pai esse tempo todo e não
me disse nada? — Levanto, não conseguindo ficar parada com a enxurrada de
ira que começa a se apossar do meu corpo.
— Não vou afirmar que sempre soube, mas ele estava lá a mando do
seu pai, cuidando para que se as coisas saíssem como esperado você tivesse
como sair dali sem me escutar.
— Mas isso é muito, muito, muito repulsivo, absurdo, puta que pariu,
o que meu pai ganha ao impedir o casamento?
— Claro que não, ele teve muito tempo para se aproximar de mim,
sabia que o testamento do seu pai era nulo desde sempre e ainda assim deixou
você seguir adiante. Só não sei por que ele decidiu revelar tudo apenas no dia
do casamento.
Só agora me dou conta que ele sempre esteve à espreita, mas nunca
deixou que soubéssemos, bem, pelo menos eu não sabia de nada. Olho para a
minha avó e ela desvia os olhos dos meus, uma reação nada típica dela.
Ouvir um pouco mais sobre a minha mãe faz meu peito apertar, o
pouco que me contaram sobre a minha mãe sempre esteve em constante
duelo com as memórias dos dias bons que passávamos juntas, não muitos
desde que eu consigo lembrar e vovó nunca fala sobre ela e o meu pai,
— Não, mas não deve ser coisa boa, nada bom pode vir daquele
embuste. — Ela ergue a cabeça e me olha encerrando o assunto. — Vou a
casa de Vera, aproveitem o tempo sozinhos para conversarem, mas dessa vez
sem agarramento, esclareçam as coisas de uma vez por todas.
os olhos fixos em um ponto no quarto, mas que me diz que não está
realmente vendo porra nenhuma, é aí que minha decisão é tomada, se quero
desvendar toda a história, preciso de todas as informações possíveis.
— Eu já volto. — Seu rosto vira para mim e vejo seus olhos piscarem
momentaneamente como quisesse entender o que está acontecendo, aperto
sua mão e então saio em busca de algumas respostas.
intimidar, a encaro com a mesma seriedade, assim saberá que no que diz
respeito a felicidade da neta dela nada nem ninguém me impedirá de buscar
respostas.
— Não sabe onde está se metendo, meu filho, aquele homem é capaz
de tudo pelo que deseja. — Seu olhar vaga até a fotografia no aparador
próximo a janela.
— Eu acho que tenho uma boa ideia, meu pai era melhor amigo dele e
só se forem da mesma laia para se aturarem, não acha?
— Imagino que sim, mas não quero minha neta envolvida com nada
que venha daquele sujeito e se você me garantir que a manterá segura eu
conto, mas não hoje, vocês precisam conversar, mas conversar mesmo,
colocarem os pingos nos IS se quiserem que as coisas funcionem entrem
vocês. — Balanço a cabeça concordando e ela sai, me deixando com ainda
mais dúvidas do que certezas.
— Senta que eu conto o que sei. — Ela ergue uma sobrancelha para
mim. — Não adianta me olhar assim, eu também não sei muita coisa, então
senta caladinha e me escuta, quando eu terminar pode fazer as perguntas que
quiser.
— Se você lembra, na nossa última conversa eu lhe disse que não sou
filho de Silvana e que minha mãe biológica era uma prostituta que trabalhava
em um bordel, pois bem, aparentemente o seu pai e o meu frequentavam os
mesmos lugares desde sempre, Arnoldo era o amigo mais antigo do meu pai
pelo que me lembro, em diversas vezes vi os dois se tratando como irmãos e
foi ele quem ajudou a esconder o testamento que meu avô deixou, onde dizia
claramente que meu pai não tinha direito a nada.
— Espera aí, seu pai enrolou você? Por que ele faria isso? — como
ser a pessoa com quem você casaria muda tudo? — Essa é a mesma pergunta
que venho me fazendo há dias.
— Não sei ainda, mas se ele está tão disposto a manter você longe de
mim assim é por isso iria contra os planos que ele tem, seja lá qual forem.
Também não sei o que ele e meu pai esperavam conseguir me forçando a
casar ou talvez Arnoldo esperasse que eu não me rendesse e deixasse a
empresa ser desmembrada e vendida, ele representa alguns acionistas e esses
podem desejar exatamente isso.
Olho para ela e deixo que as palavras ditas se acalmem na sua cabeça,
é muita coisa para assimilar, para mim também, minha mente dá mil voltas
sem parar tentando descobrir qual peça desse quebra-cabeça que está
faltando.
— O que você fez aquele dia depois que fui embora? — a pergunta
dela me pega de surpresa.
— O que fez aquele dia depois que fui embora? Eu quero saber, tem
algum problema? — Sinto meu sangue gelar, meu coração dispara e sinto
minha glote fechando.
— Eu...?
— Sim, você, e não me enrole, Cícero, estou disposta a lhe dar uma
do meu rosto.
— Não acredito, eu não estou ouvindo isso. — Ela levanta e olha para
o teto enraivecida.
— Eu sinto muito, estava fora de mim...
— Fora de você? É tudo que tem pra me dizer? Que porra, Cícero,
porra nenhuma, mas a verdade é que não estou acostumado a sentir o que
sinto por você, porque a última vez que deixei alguém entrar na minha vida
descobri que era uma farsa e desde então não confio em ninguém, mas daí
você apareceu com essa língua afiada, esse rosto de anjo e essa voz de
demônia que me enlouquece desde a primeira vez que ouvi e meu mundo
virou de pernas pro ar levando meu coração junto. — Sou sincero com ela.
— Não foi bem assim, eu fui pra lá e bebi muito e encontrei com
Nathany, uma conhecida, quando dei por mim já estava em um dos quartos
com mais quatro pessoas, tudo que eu queria era tirar a dor que ameaçava
dividir meu peito em dois e sim, transei com duas dessas pessoas.
— Você transou com duas dessas pessoas, a sua "conhecida" era uma
delas? — Cruza os braços na altura dos seios e fecha a cara para o meu lado.
— Não.
— Isso importa?
— Na verdade fodi um cú, a última boceta que comi foi a sua — digo
e sua expressão muda mil vezes em questão de segundos, abre a boca para
falar, mas fecha novamente.
— É o quê?
— Isso que ouviu, eu fiz sexo anal com uma das garotas e sei que não
serve de consolo, mas eu não consegui gozar desde então, nem com ela nem
sozinho no meu banheiro, nada, simplesmente não consigo e todas as vezes te
amaldiçoo, mas ao mesmo tempo te amo mais ainda, pois ficaria o resto da
vida sofrendo de bolas azuis até ter a oportunidade de estar dentro de você
mais uma vez.
Me aproximo dela e estendo a mão na sua direção, ela olha para mim
indecisa se aceita meu toque ou não.
braços exemplificando. — E isso significa que vai ter que ralar ainda mais
para me ter de volta e não me importa se colocou essa cama extra grande aqui
no quarto, vai ficar no sofá ou voltar para sua casa, lá tem uma cama bem
confortável. — Joga a cabeça de lado e entorta a boca daquele jeito único que
desperta em mim a vontade de mostrar a ela quem no fim das contas tem o
controle.
Mas não é hora de brigarmos por um simples detalhe, vou ter minha
anja-demônia nos meus braços antes do que pensa, se ela quer bancar a difícil
tudo bem, eu posso bancar o insistente.
Viro-me no espaço estreito do sofá e tento buscar uma posição
confortável para que consiga voltar a dormir, mas é impossível, toda vez que
estico minhas pernas minha cabeça bate no braço do sofá e vice e versa,
desisto e sento de uma vez por todas passando a mão no rosto para ajudar a
despertar de vez. Pelas frestas da porta vejo que o dia começa a clarear e
deixo que minha mente vague por tudo que vivi desde que Cecília entrou na
minha vida, me abrir para ela não foi a coisa mais fácil do mundo, não
quando nunca precisei dar satisfação da minha vida antes, mas fui sincero
quando disse que ia tentar, por nós dois e o nosso filho.
calor que acomete o meu corpo surgir com tudo, aquecendo não apenas meu
pau sedento pelo seu corpo como também o meu peito que agora sobe e desce
rapidamente com as batidas aceleradas do meu coração ao vê-la ali na cama
dormindo de bruços, seu corpo está semicoberto apenas pelo cobertor me
dando a visão dos céus pela manhã, o cabelo espalhado no mesmo travesseiro
que sua cabeça descansa, uma perna recolhida e a outra estirada, os braços
para cima, no entanto o que mais me impacta é a serenidade que seu rosto
transmite.
Como um ímã sou atraído para perto dela e antes que me dê conta
estou deitando ao seu lado e abraço o seu corpo sentindo o calor dela curando
os cantos gelados em mim, cantos esses que não fazia ideia de que existiam.
Cecília se remexe e tensiono meu corpo preparado para o ataque que dará
assim que acordar e me ver ao seu lado, suas pálpebras tremulam quando
ergue a cabeça encaixando-a entre meu ombro e pescoço, uma perna vem
para cima do meu abdômen e sua mão espalma sobre o meu peito que
mantenho parado enquanto travo a respiração.
Ao invés disso puxo seu corpo para mais perto do meu e inalo seu
cheiro inigualável e perfeito, beijo o topo da sua cabeça e fecho os olhos
aproveitando o momento, daqui a pouco terei que levantar e não quero perder
os preciosos minutos que posso fantasiar que esse é só mais um dia comum
em nossas vidas devidamente resolvidas e que ao despertar ela irá me
surpreender deslizando a mão pelo meu corpo deixando-a repousar sobre o
meu pau já totalmente desperto e que pulsa a cada vez que suas unhas sobem
e descem acariciando por sobre o algodão do meu pijama, a imagem que
minha mente projeta é tão vívida que chego a sentir de verdade o seu toque,
ofego trêmulo quando sua mão adentra minha calça e só nesse momento me
— Shiiiiii! — diz com sua voz rouca antes de selar meus lábios com
os seus impedindo o gemido que escapa ao sentir seus dedos ordenhando meu
pau em um ritmo enlouquecedor, seguro seus cabelos e puxo de leve sua
cabeça, o suficiente para olhá-la enquanto me dá prazer com sua mão, mas
essa é minha anja-demônia, ela não dá apenas prazer, ela tortura, ela tem o
poder de me desfazer e reconstruir em um átimo de segundo.
E é o que faz ao deslizar seu corpo devagar sobre o meu, seus olhos
travados nos meus me mantendo cativo da sua vontade, ela é minha
encantadora de serpente e eu a víbora que achava ser superior até se ver presa
pelos olhos hipnotizantes dela. Cecília paira com os seios quase tocando a
ponta do meu membro que vibra e sorri de lado, satisfeita com o que vê,
como em câmera lenta assisto a sua cabeça descer cada vez mais e a ponta da
sua língua tocar a minha glande onde o líquido pré-ejaculatório já empoça,
ela o lambe com cara de quem acaba de provar o melhor doce da vida, uma
ironia já que nosso corpo libera substâncias salgadas, engulo em seco e o
sorriso dela só aumenta ao puxar o cós da calça junto com minha cueca
fazendo meu membro pular ereto e pronto para o seu bel prazer.
finalmente desce sobre meu pau, o sugando com vontade, não tenho mais um
pingo de resistência em mim e rujo como um animal enjaulado lutando por
liberdade.
— Quero gozar dentro de você, por favor, me deixe foder sua boceta
— minha voz sai ainda mais grave carregada de desejo cru.
Seguro seu rosto entre as mãos e beijo seus lábios sentindo o meu
sabor misturado com o seu, desço minhas mãos para a barra da camisola que
ela usa e começo a levantá-la devagar, Cecília não me dá resistência, ergue os
braços e afasto nossos lábios para passá-la por sua cabeça, seus seios com os
bicos intumescidos me convidam a sugá-los e é o que faço, puxo seu corpo
até que a tenho sentada sobre as minhas coxas, a única coisa que separa
nossos sexos é o pequeno triângulo rendado que ela chama de calcinha.
Seguro suas costas para incliná-la e abocanho um bico e o sugo, com a outra
mão acaricio o outro seio e posso notar como estão começando a se
modificarem e gosto de saber que isso é devido ao fato dela estar gerando
nosso filho, o ogro dentro de mim urra feliz.
Beijo seu colo, seu pescoço e desço a mão para o meio das suas
pernas, ela joga a cabeça para trás e geme começando a se render também,
dedilho seu ponto sensível e seu corpo treme, é a dica de que está tão perto de
um orgasmo como eu.
pau, é minha vez de gemer e levo meus dedos para dentro da sua calcinha
sentindo sua umidade, minha anja-demônia está mais do que pronta para
mim. — Por favor... — choraminga.
— Seu desejo é uma ordem, meu anjo! — E então ela desliza sua
boceta quente e úmida sobre meu pau com tudo, tenho que me segurar para
não me deixar ir de uma vez por todas tamanha é a sensação de plenitude que
estar dentro dela me dá.
Pele com pele, olhos nos olhos, respirações travadas e suor brotando
em nossas testas tamanho o esforço que ambos fazemos para não ser rápido
demais depois de todo esse tempo separados.
Puxo seu corpo para cima e beijo seus lábios com vontade, fazendo-a
cavalgar sobre mim devagar, num ritmo que faça nosso clímax se formar e
crescer cada vez mais.
— Então me diga...
— O que quer que eu diga? — Olho nos seus olhos e eles ganham
aquele brilho malicioso.
— Que não vai foder mais nenhuma boceta, boca, cu ou o que quer
que for se não os meus. — Minha anja dá lugar a demônia e essa gosta de
ouvir sacanagens.
— Nunca vou comer outra boceta se não a sua, nenhuma boca vai
tocar o meu pau se não essa sua boquinha gulosa e esse seu cuzinho
delicioso? É questão de dias para que me deixe fincar minha bandeira nele e
tomar por meu esse território do seu corpo ainda inexplorado. Você é minha
loucura, Cecília! — digo, prendendo seus braços com uma das mãos para trás
para ter a mais bela visão dos seus seios balançando enquanto ela cavalga
sobre mim em um ritmo cada vez mais rápido e constante, minha outra mão
indo de encontro a seu queixo e o segurando para que me olhe.
Ergo meu olhos ao levar a xícara de café aos meus lábios e coro
imediatamente com a intensidade que encontro no olhar de Cícero, que me
fita do outro lado da mesa com um sorriso lento e convidativo se espalhando
por seus lábios, engulo rápido demais o líquido e acabo por me engasgar
chamando a atenção da minha vó para mim.
— São Brás, Lia! — diz dando tapinhas nas minhas costas. — Coma
devagar, criatura, o café não vai sair correndo da mesa.
— O café não é como uns e outros que vão dormir num canto da casa
e misteriosamente somem, surgindo em outro na manhã seguinte. — Por mais
incrível que pareça sua voz não tem censura, mas isso não evita que meus
olhos vão direto para Cícero com a exclamação "Ela sabe!" estampada no
meu rosto.
— Vó, não pode falar essas coisas! — digo ainda sentindo meu rosto
queimando constrangido.
— Oras, Cecília, até parece que não sabe que eu sei das coisas — diz
com aquele seu ar superior que não deixa espaço para questionamentos. —
Só digo uma coisa, apressem esse casamento e nada de cartório, você, caboré,
vai fazer da minha neta uma senhora como manda a santa e amada igreja,
nada de ficar fornicando por aí sem um compromisso firmado, já basta ter
emprenhado ela sem casar.
— Vó, não pode impor essas coisas assim não, precisamos conversar
melhor, ver se é isso que queremos, estar grávida não é motivo para apressar
as coisas. — Nem sei ao certo por que estou tentando um ponto de vista
diferente do seu, talvez seja só minha vontade de ter a palavra final em algo.
— O que não pode é eu ter uma neta amancebada se você e esse cabra
aqui se gostam. — Ergue uma sobrancelha me convidando a negar, suspiro e
jogo a bola para Cícero.
mesmo contrariada faço como diz, ela por sua vez se levanta e sai em direção
ao quarto.
permissão que um sorriso sonhador surge nos meus lábios justamente quando
ele decide me olhar e retribui com um tão brilhante que sinto meu peito doer
tamanha a beleza diante dos meus olhos.
— Não me foi perguntado nada para que eu tenha que dar uma
resposta. — Meus dedos tocam os seus e o toque de nossas peles faz um
turbilhão de sensações preencher o meu peito.
— Eu achei que já tinha deixado claro que quero você na minha vida,
não deixei? — sua voz suave faz com que lágrimas enxeridas surjam nos
meus olhos.
— Sem jogadas dessa vez, nem motivos bobos para me ter na sua
cama, muito menos prazo de validade — digo estreitando os olhos para ele.
agora cabe a você me manter satisfeita ou vou pedir o divórcio antes mesmo
dos votos. — Pisco os olhos de forma sedutora e o grunhido que escapa da
sua boca incendeia todas as partes do meu corpo.
— Vou mostrar para você como se mantém uma noiva safada como
você na linha, deixa só voltarmos da sua consulta e verá — suas palavras
fazem a umidade entre as minhas pernas quase constante aumentar a um nível
crítico.
próxima respiração ele toma meus lábios com os seus ao mesmo tempo que
aperta meu quadril, me deixando consciente da sua ereção ao devorar minha
boca como se esse fosse seu verdadeiro desjejum, não a comida esquecida
sobre a mesa.
mão, a ideia de que um serzinho metade dela, metade minha, está crescendo
dentro de Cecília faz minhas mãos suarem e um nó se formar na minha
garganta, ainda mais por não termos crescido com bons exemplos do que
seriam pais de verdade, claro, tirando dessa cota Silvana e dona Clarisse que
assumiram os papéis substituindo com amor e compreensão, mas não deixo
de me perguntar sempre que tipo de pai eu serei.
— Vai dar tudo certo! — digo e ela desvia os olhos para a avó que
finge não estar prestando atenção a nossa interação.
dona Clarisse não fala nada, o que é estranho para alguém que sempre tem
uma resposta para tudo, mas talvez ela esteja apenas dando a neta e a mim a
chance de descobrirmos como contornar as pequenas dificuldades por nós
mesmos. Paro o carro na garagem subterrânea do edifício onde fica o
consultório do ginecologista dela, o fato dele ser homem foi motivo de debate
entre nós pouco tempo antes de sairmos de casa, no fim tive que entender que
ela confia nele e que é um senhor de idade que atende as mulheres da sua
família há anos.
— Não vai implicar de novo com o Dr. Felipe não, vai? — pergunta
já sabendo onde estão indo meus pensamentos.
— Não, mas se ele olhar para você de outra forma se não a mais
profissional possível eu arrebento com a cara dele, idoso ou não — respondo
e já saio do carro.
— Você é um ogro mesmo, ele me viu nascer, tenha dó, não é todo
homem que não consegue olhar para uma mulher sem pensar safadeza como
você, seu cretino. — Sai pisando duro, olho para o lado e vejo dona Clarisse
Pronto, agora tenho as duas contra mim. Vou atrás de Cecília que
espera o elevador de braços cruzados visivelmente irritada, passo o braço pela
sua cintura puxando-a para mim e diferente do que pensei não sai do meu
abraço.
— Me desculpe, eu só...
— Olha essa boca suja, meu filho está aqui e ele pode escutar. —
Tento fazê-la rir e consigo.
— Então vai ter que ficar longe de mim por um bom tempo. — Vira
já com aquele olhar atrevido, colocando os lábios de lado.
A demônia olha sobre o meu ombro para ver se a avó está perto o
bastante e se inclina para falar bem próximo ao meu ouvido, sua respiração
fazendo o efeito que ela esperava e engulo em seco antes mesmo dela
começar a falar.
— Mas é uma pena, terei que brincar com o vibrador outra vez, ele é
comportado.
— Por mim ele vai nascer e dizer "Não me bate, filho da puta!" ao
invés de chorar! — Mordo o lóbulo da sua orelha e seu corpo treme
levemente antes dela explodir em uma risada que faz loucuras comigo, sua
voz rouca de quem fez sexo ou está prestes a trepar com alguém é uma
loucura a parte.
minha traria tanta satisfação e um enorme sorriso que ameaça partir meu
rosto ao meio.
sobre uma maca com um lençol sobre suas pernas e a bata erguida deixando
sua barriga levemente protuberante à mostra, ela abre um sorriso
incrivelmente lindo para mim e prendo a respiração por um segundo antes de
caminhar até ela e segurar sua mão que está gelada.
— Esse deve ser o seu noivo, Felipe Noronha! — Estende uma mão
para mim e eu aperto ainda sem conseguir falar nada, apenas balanço a
cabeça. — Clarisse, quanto tempo, você me abandonou, foi?
revelando uma figura minúscula envolta pelo que imagino serem as paredes
do útero. Meu coração para de bater e lágrimas surgem nos meus olhos ao
fitar a imagem do meu filho pela primeira vez. Sinto de leve a mão de Cecília
apertar a minha e meus olhos desviam da tela para fitar os seus que me olham
tão maravilhada quanto eu estou, nós fizemos isso juntos, geramos uma vida
que agora se remexe diante dos meus olhos na tela.
convicta.
Na minha mente faço as contas, a noite que foi quando transamos sem
camisinha a primeira vez foi há menos de três meses e da última vez menos
tempo ainda o que quer dizer que ela engravidou... Olho para ela e vejo que
sozinho.
tipo de adrenalina.
menina.
que me dizem. Acho que eu sorrio para ela e balanço a cabeça confirmando
alguma coisa, mas a verdade é que meu pensamento está distante,
imaginando uma garotinha com os mesmos olhos escuros e sorriso
debochado da mãe me desafiando a erguê-la o mais alto possível enquanto
sorrimos um para o outro e meu mundo sofre uma guinada radical com as mil
possibilidades de protegê-la de tudo e todos que ousarem fazer mal a minha
garotinha.
Minha filha...
garotinha bater e o médico falar sobre coisas técnicas que não fazem muito
sentido para mim no momento.
— Não, mas se soubesse que ia me sentir assim teria feito isso com
certeza. — Saio do carro e dou a volta para abrir sua porta. Ela olha para tudo
com um olhar ansioso, sei que está com medo do que minha mãe e irmã
dirão.
— Assim como? — Segura na mão que lhe estendo e puxo seu corpo
para o meu lado e beijo o lado da sua cabeça.
— Sei como é.
superioridade e nos fita com um estreitar de olhos antes de voltar sua atenção
para dona Clarisse.
direto para nos abraçar. — Cecília, que bom recebê-la aqui novamente. —
Fico feliz com a recepção adequada a minha futura mulher.
— Não o quê? Ela não fugiu e te deixou feito um idiota que é minutos
antes do casamento? Sim, você merecia, mas não quer dizer que eu tenha que
recebê-la de braços abertos. — Para enfatizar o que diz, cruza os braços e
mexe o pescoço enquanto nos olha com desdém.
nem me ligou para dizer se estava bem ou não, vó Clarisse que me contava as
coisas sobre você.
mãe.
último mês e ela nos contou um pouco de como foi crescer no interior e em
seguida mudar-se para a capital na adolescência a fim de terminar os estudos.
Cícero, assim como eu, ficou atento às palavras da madrasta como se aquela
fosse a primeira vez que ela lhe contasse a história, o que imagino que foi.
Minha vó, por sua vez, a arrastou para uma conversa sobre o interior assim
que a sobremesa foi servida e devorada por nós, mas pudera, baba de moça
com canela é minha perdição.
que segundo ela pode ser a pista do porquê do meu pai resolver aparecer
justamente agora.
— E terá meu voto ao seu favor, mas vamos aos negócios, o que tem
para nós?
tornozelos para demonstrar uma calma que não parece ser o que está
realmente sentindo.
sede social propriamente dita, pois ficam dois andares abaixo do escritório
dele. — Ela ergue uma sobrancelha e até eu consigo entender o que sugere.
— São todas uma coisa só — digo sentindo ainda mais repulsa pelo
homem que só aparece na minha vida para acabar com o pouco de felicidade
— Como ele conseguiu isso? Nossas ações não estão dando sopa por
aí no mercado há muito tempo. — Cícero levanta e pega a folha na mão de
Luana.
Eu, do meu canto, vejo ele analisar o conteúdo e estreitar cada vez
mais os olhos, um frio esquisito tomando conta do meu estômago e fazendo
ele se revoltar dando um grande nó, me encolho não gostando nem um pouco
dessas sensações.
— Não sei, Cecília, ainda não conseguimos fazer a ponte entre você e
essa história e não, Cícero, não foi possível ir mais fundo nas investigações
sem levantar suspeitas, mas não vamos desistir até que toda essa história seja
esclarecida. — Apesar das suas palavras eu não consigo sentir essa convicção
toda, é como se estivéssemos esperando por algo, um pequeno gatilho que
dará fim a tudo isso.
— Não me agradeça ainda, vai ter que convencer a sua avó a mudar-
se de casa até que tudo seja solucionado — diz, encolhendo os ombros.
— Ele parece ter um olho sobre vocês naquela casa, não me admiraria
se pagasse os vizinhos para saber mais das suas vidas ao longo dos anos, e
quando souber que sua tentativa foi por água abaixo não acho que ficará
longe e não o quero a menos de um quilômetro de distância de vocês.
— Minha avó não vai aceitar fácil e eu não saio de perto dela por
nada. — Levanto e encaro-o deixando clara minha posição.
— A coisa é, não vou dar ao meu pai o poder que deseja ter sobre
mim e a minha avó, não vou me amedrontar, ele vai dar um jeito de se meter
na minha vida esteja eu onde estiver, a diferença é que se sairmos de casa
agora ele vai saber que nos afeta e que provavelmente estamos a par de
— Ele não vai me fazer mal, soube onde estive esses anos todos e
nunca tentou fazer contato, não antes de marcarmos a data do casamento —
digo me aproximando.
— Não quero ficar longe de vocês. — Suas mãos tocam meu ventre e
sinto o tremor que relaciono ao movimento da nossa garotinha.
— Não vai, daremos um jeito de nos vermos e pode ser que isso só
esquente ainda mais as coisas entre nós, o perigo eminente. — Pisco um olho
e vejo o fogo voltar aos seus olhos no mesmo instante.
— Oh, poupe-me dos detalhes, o certo é que vocês terão que fazer
tudo direitinho, começando com uma separação que não deixe dúvidas a
ninguém que foi real. — Luana sai da mesa e olha para um ponto qualquer na
parede.
— Não é óbvio? Vocês vão atuar uma briga e dessa vez tem que ser
das feias...
— Não gosto nada disso, Cecília, sua avó vai querer arrancar minhas
bolas fora a sangue frio e eu gosto delas demais para isso — digo mesmo
se temos que "terminar" terá que ser uma briga feia, do tipo que deixe claro
que ambas as partes disseram coisas terríveis.
— Eu prometo que tudo que você me falar agora vou converter para o
contrário! — diz, erguendo uma mão como se estivesse perante um júri.
— Pensou que ia durar até quando esse teatro? — Ela que vinha
dando um passo para e estreita os olhos para mim, balanço sutilmente a
cabeça pedindo que ela entenda que a grande cena começou.
— E por que não dá o fora daqui, seu filho de uma puta mentiroso? —
explode e atira o porta-retrato que estava sobre a cômoda na minha direção e
bate na parede com um baque alto o suficiente para que em seguida ouçamos
passos vindo em direção ao quarto.
debochado apareça.
— Eu o quero fora daqui, vovó, não suporto olhar mais para a cara
desse mentiroso traidor. — Por mais que saiba da verdade as palavras ainda
assim ferem.
— Mas vocês não estavam num grude só até pouco tempo? Querem
parar com essa birra e sentarem e conversarem como dois adultos que estão
para serem pais? — dona Clarisse diz, se colocando entre a neta e eu.
— Não, a hora da conversa já acabou, agora ele que vá pro raio que o
parta, pra baixo da égua e não volte nunca mais, eu te odeio — diz e as
lágrimas rolam pelo seu rosto, engulo em seco e prendo a respiração por um
instante.
um cachorro, aposto que tudo isso aqui já era armação sua para ter uma
desculpa pra ir pra cama com ele, afinal filho de peixe, peixinho é, o que me
diz de quem é filha de uma puta?
notar é a expressão atordoada de dona Clarisse que olha para a mão como se
não acreditasse que tinha me batido, o garotinho em mim se apavora com a
possibilidade dela nunca mais olhar para mim com o carinho de sempre,
mesmo quando estava de implicância, sentia ele escondido nas suas palavras.
Travo meu maxilar para não deixar que as lágrimas voltem aos meus
olhos, olho para além da senhora a minha frente e vejo Cecília pedir
desculpas sem emitir som, lágrimas rolando pelo seu rosto, ela chora não pela
situação, mas por mim, nunca alguém sentiu tanto pela minha dor e de
repente ver seu olhar magoado é demais.
Desvio o olhar sabendo que o estrago esperado já foi feito, aqui está o
que realmente sei que sou exposto para que ela veja, meu pai me disse isso
antes de morrer, que poderia rodar o mundo e tentar me esconder onde fosse,
mas a verdade um dia seria jogada na minha cara, aquela que diz que somos
iguais e cometeremos os mesmos erros, ele só se enganou nessa segunda
parte.
gente encontra em qualquer esquina. — Viro as costas sem olhar para trás.
Rezo para que tenha dado certo, do contrário toda essa dor terá sido
em vão e como falei, diferente do que meu pai me disse, farei com que o nada
no meu interior se transforme em algo bonito e que honre as pessoas que eu
amo. Assim que pego a Avenida Engenheiro Santana Júnior ligo para Alex,
preciso de um favor seu agora.
— Não fode, caralho, a coisa é séria! — dito isso sua risada some
dando lugar a seriedade que o momento merece.
— Precisei fazer uma coisa que não me orgulho muito e gostaria que
fosse a casa da Cecília para ver como ela está. — O olhar da minha anja-
demônia me pedindo desculpas cruza minha mente e bato no volante, irritado.
Deveria ser eu a lhe pedir desculpas por falar aquelas coisas, quem deveria
protegê-la, não o contrário.
— Eu vou, mas por elas, você precisa me explicar direito essa história
para que eu decida se fico do seu lado ou não. — E essa é uma das coisas que
me fazem confiar nesse filho da puta, ele não pesa apenas amizade para
decidir de que lado ficará, analisa todos os fatos e só então toma partido.
que aconteceu e eu explicarei melhor assim que der, mas o importante é que
se descubra o que Arnoldo quer com ela para que seja preciso afastá-la de
mim, pela minha experiência não é pouca coisa.
O silêncio que se segue após a saída de Cícero é opressor, a angústia
que vi desfigurar seu rosto por alguns milésimos de segundo foi equivalente a
levar um soco no estômago, ele parecia tão desolado aos meus olhos, mesmo
Como ela não se vira para me olhar caminho até onde está e abraço
seu corpo miúdo, na minha mente eu falo tudo que é preciso para que ela
entenda que ele não disse nada por mal, que as palavras o estavam ferindo
mais do que tudo.
onde há poucos minutos estive abraçada com Cícero, fazendo planos para
quando toda essa loucura acabar.
— Vou na casa de Vera, ela disse que tinha umas coisas da quermesse
da paróquia para mostrarmos ao padre Tarcísio, a vida não para, não é
mesmo? Se precisar de mim é só ligar — diz sem me olhar e sai, esse é o seu
jeito de evitar as crises, foca em outras coisas o mais rápido possível.
Escuto atentamente seus movimentos pela casa até que ouço o portão
da área abrir e fechar, não perco tempo e já pego meu celular e ligo para
Cícero, preciso saber que ele está bem. O celular toca uma, duas, três vezes e
com cada toque que não recebe resposta meu coração dispara a ponto de sair
pela boca. Quando acho que será encaminhada para a caixa de mensagem a
voz dele enche meus ouvidos trazendo o alívio imediato.
— Cecília, está tudo bem? — pergunta ansioso.
— Eu estou e você? Não queria que tivesse que acontecer assim, sinto
— Hei, tá tudo bem, foi preciso. — Ele pigarreia e sei que não tá nada
bem. — E a sua avó, está me odiando agora, não é mesmo?
— Eu não lhe magoei com o que falei, magoei? — Sinto meu coração
ficar apertadinho por ele estar se preocupando comigo no fim das contas.
— Não, me magoou ver você sofrendo com o que minha avó falou,
por isso que liguei logo que ela saiu, precisava ter a certeza que sabe que
nada daquilo é verdade, ela falou na hora da raiva, você não é nada parecido
com aquele canalha do meu pai. — Sinto meus olhos encherem d'água ao
lembrar das inúmeras vezes que presenciei minha mãe chorar por ele.
— Está chorando? Por favor não chore, minha anja, eu não vou
conseguir levar esse plano adiante sabendo que você está chorando, ainda
mais sozinha. — Sua voz acalma um pouco do turbilhão de emoções que
ameaçam explodir no meu peito.
— Não, estou bem, é só que fiquei com tanto medo de... Eu não quero
perder você, essa é verdade — digo, colocando para fora os meus medos.
— Não vai perder, onde mais eu encontraria uma demônia com uma
língua afiada, um rosto angelical e um corpo que me deixa louco só em
lembrar de como ele é quente e convidativo como o inferno? — Um sorriso
melancólico surge nos meus lábios, minha pele arrepiando com suas palavras.
carpo[6] de tanta punheta que terei que tocar até poder foder você novamente.
— Não seguro o riso que se segue.
morrendo por isso. — Reviro os olhos mesmo sabendo que ele não pode ver.
— Será difícil para nós duas ficarmos longe de você, mas darei um
jeito de te ver se não tivermos retorno dele depois do que fizemos hoje —
digo de forma decidida, não vou ficar longe, sentada, esperando por resposta.
pode ter certeza. — Isso já tinha me passado pela cabeça, por isso nossa farsa
se fez ainda mais necessária.
sinto muita falta da sua voz no meu headset. — Acho que meu coração vai
explodir de tanto amor por esse homem.
— Sim, adoro suas várias facetas, agora deixarei que se prepare para
o trabalho, quando tiver uma folga no meio da noite me ligue, vou adorar
fazer sexo por telefone com você — digo e seu grunhido chega até mim me
fazendo sorrir.
— Sim, estou contando com isso, ele poderá ser mais uma fonte de
comunicação entre nós. — Fico aliviada com isso, Alex é como um irmão
mais velho para mim, ter ele ao nosso lado agora que vovó acredita que
terminamos será de grande ajuda.
— Tá bom, beijos!
— Oi?
Ouço seu riso antes que afaste o telefone do ouvido para encerrar a
chamada e ir receber Alex para transformá-lo no nosso cúmplice.
A brisa leve da manhã que se inicia entra através da janela do quarto,
vejo ao longe o céu começando a clarear, minha mente ainda presa no último
pesadelo onde em um momento eu estava ao lado de Cecília sentindo seu
calor junto ao meu enquanto nos amamos, seus cabelos espalhados sobre o
travesseiro branco e aquele sorriso de quando está saciada cruzando seus
lábios, para em um segundo tudo mudar de foco e seu corpo se desfazer entre
os meus dedos literalmente até que ela sumisse.
— Está, acordei com fome e senti que precisava falar com você,
aproveitei que vovó está dormindo para isso — sua voz está melancólica,
mais do que tem ficado nos últimos dias.
— Não, eu me sinto tão boba por me sentir insegura com tudo isso,
mas é que não está fácil esperar por algo que não sabemos se acontecerá, já se
passou um mês e ele não tentou uma aproximação ainda, já não tenho tanta
certeza se valia a pena essa distância por nada — seu desabafo não difere
muito do que tenho sentido.
— Não me dê opção que fica difícil manter o plano. — Não quero ela
se sacrificando assim.
— Anja, me escute, não precisamos ser mártires, esse clima ruim não
faz nada bem para você ou nossa garotinha e eu estou tão cansado de ter
apenas esses poucos momentos com você e ainda assim sem realmente estar.
— É, eu tenho pensado muito na minha mãe e tudo que ela teve que
enfrentar durante anos e me pego fazendo perguntas que não tenho como
obter respostas. — Puxa uma respiração entrecortada.
— Não, não venha, eu não vou conseguir te colocar para fora. — Ela
chora ainda mais.
— Cecília, eu sonhei com você essa noite — revelo sem deixar que
ela perceba o tremor na minha voz.
Volto a sentar e tento lembrar das partes boas do sonho para lhe
contar. Mas a verdade é que tenho medo de que tudo isso que estamos
enfrentando uma hora pese demais para ela e acabe sentindo algum impulso
ao autoflagelo, se antes já era ruim, agora é duplamente aterrorizadora a ideia
dela se ferir.
Espero por Cícero sentindo um frio diferente no meu estômago, as
últimas vezes que conversamos até que falamos algo mais erótico, no entanto
não passaram de ideias, principalmente dele, de como será quando pudermos
estar juntos novamente entre quatro paredes, mas agora, depois da minha
crise de ansiedade, ele me acalmar com relatos do seu sonho comigo, ajuda a
aliviar toda a pressão que estamos vivendo.
— Sim, você gemia com o meu pau enterrado na sua boceta e ela me
apertava tão gostoso. — Fecho os olhos, lembrando da sensação que é tê-lo
assim. — O que você está usando? — pergunta com a voz tão rouca que
quase me desmancho sem nem começar a brincadeira.
tocar quando uso seda e afasto o celular o suficiente para tirar uma foto e
enviar para ele.
— Puta que me pariu, como esses seios estão maiores, não vejo a hora
de fazer meu pau deslizar entre eles. — O gemido vem com facilidade. —
— Ahãm!
— Não, quero ouvir as palavras.
— Eu sei.
— Pois bem, feche os olhos deslize mão direita pelo seu corpo por
cima da camisola e imagine que é a minha mão fazendo isso. — Ouço
atentamente os sons que ele faz e a falta de respiração por um segundo é
minha deixa para saber que sua mão está sobre o seu cacete agora. — Toque
seus seios assim mesmo por cima, sinta eles ficarem durinhos sob o seu
toque.
— Faça sua mão descer pelo seu corpo até sua boceta, bem devagar,
até que chegue a sua bocetinha. — Minha mão desliza pelo meu corpo e
seguro o ar com a mistura de sensações que a seda sobre a minha pele ao
toque da minha mão por cima dela, provoca. — Está com os dedos nela?
— Estou!
— Adoro quando fica assim toda molhadinha para mim, quase posso
sentir em minha boca o sabor único que sua bocetinha tem, leve um dedo
— Então goza para mim, minha anja-demônia, goza nesse pau porque
E não precisa falar duas vezes, um tremor toma conta do meu corpo a
partir do meu ventre e eu gozo nos meus dedos como nunca fiz antes,
deixando minha mão totalmente melada e do outro lado ouço ele também
de alguns minutos atrás, essa tem o brilho pós-foda sem igual, coisa que
apenas Cícero consegue fazer comigo.
— Um pouco, mas vou sujar você com muito mais quando eu te pegar
de jeito.
Nossa conversa segue no clima mais ameno até que vovó chega e me
vê sentada à mesa conversando e a chaleira já no fogo para fazer o café, ergue
uma sobrancelha e sem dizer uma palavra dá meia volta e sai.
— Tudo bem, ligo para você no intervalo do meu turno hoje, tente
descansar, está bem? — sua voz espelha o mesmo tom que a minha.
— Tá bom, beijos!
Reviro os olhos, mas faço como disse. Vou até o quarto e estranho a
falta de conversa em casa, pode ser uma de suas amigas da igreja com alguma
questão sobre a quermesse que acontecerá em breve, isso tem acontecido
bastante nos últimos dias, mas hoje o silêncio é opressor. Lembro do dia que
o olhar.
Surpresa é a reação inicial que me vem assim que meus olhos fitam os
de Raul, mitigando para culpa e por último raiva, ele foi embora do hospital
sem se despedir e desde que voltei, há mais de um mês, não deu notícias,
— Uma visita! — Ele dá aquele sorriso que sabe que encanta a todos.
— Não acha que é muito cedo para uma visita? — vovó diz de onde
está e eu a olho surpresa, ela nunca foi grossa com ninguém sem um motivo.
Vejo-a sumir no fundo do quintal e sei que foi cuidar das suas plantas,
sempre faz isso quando está se segurando para não explodir. Viro para
encarar Raul que parece nervoso, mexendo as mãos e batendo o pé num ritmo
constante.
Não me enrola, Raul, o que você deve me contar antes de ser posto para fora?
— Você costumava ser menos irritada antes, acho que mau humor
deve ser contagioso — Raul começa a falar e sei que sua lábia de advogado é
boa, mas não vai funcionar para mim.
menos sabia o que seu namorado ou sua avó tinham dito a você. — Ele me
olha com ironia estampada nos olhos.
— Não me disseram nada e não sei quem é essa pessoa a quem está se
referindo como meu namorado. — Reviro os olhos para ele.
— Não está mais com o Zero Um? — Ouvi-lo chamar Cícero assim
me irrita, mas não posso deixar passar para ninguém que estamos juntos,
apenas Alex e Luana sabem a verdade.
Ele se remexe inquieto e olha para além da cozinha, espero que não
esteja pensando em me enrolar por mais tempo, quero poder tomar meu café
da manhã em paz.
Olho para Raul tentando entender tudo isso, mas está difícil, muito
difícil na verdade.
— E não pensou em me contar? Foi por isso que você estava lá aquele
dia, não foi mesmo? Não foi para a cerimônia apenas, sabia que Arnoldo
daria um jeito de evitar que ela acontecesse, não é mesmo? — Levanto com
as peças começando a se encaixarem.
— Eu não fui para o casamento, sabia que ele ia conversar com vocês,
mas tu tava cometendo um grande erro casando com aquele mentiroso e eu
não poderia deixar você fazer algo que fosse se arrepender depois — suas
palavras me levam para a festa de despedida de solteira, ele me olhando como
se escondesse algo.
— Mas sim no meu querido pai? — Jogo as mãos para o ar, frustrada.
— Bom, você ouviu, não foi mesmo? — argumenta e não deixa de ser
verdade.
— Não porque acreditei nele, sim porque não lido bem com
mentirosos, fugi muito mais do meu pai do que de Cícero, pensei que isso
fosse óbvio. — Ele me olha confuso, não é possível que não tenha percebido
isso. — Acha mesmo que eu aguentaria encontrar com o homem que fez
tanto mal a minha mãe e ficaria numa boa?
— Não sei, você fugiu para o outro lado do estado, queria que eu
pensasse o quê?
— Que meu pai é um escroto que veio para ferrar com a minha vida,
pois sabia da verdade o tempo todo e esperou pra fazer a "coisa certa" só na
hora do casamento, sem contar que foi o arquiteto de toda a mentira, ele te
contou isso também, Raul? — pergunto testando-o.
— Não e só ficou sabendo que era você a noiva de Cícero dias antes
do casamento, seu convite para a despedida de solteira tinha uma foto sua e
por acaso ele viu na tela do meu computador. — Estreito os olhos para ele,
não acreditando muito nessa história.
— Sim, mas juro que aconteceu assim, ele realmente se preocupa com
você, Cecília, e acho que se parasse para ouvir a versão dele dos fatos iria
mudar um pouco sua opinião. — Não sei se Raul é um bom mentiroso ou
ingênuo demais para ser um advogado, pois parece que caiu no conto do
vigário contado por meu pai.
— Eu não sei... — começo a falar, mas paro, talvez essa seja a
oportunidade de descobrir tudo sobre o meu pai, Cícero ficará furioso
comigo, mas não quero protelar nossa distância por muito mais tempo que o
necessário.
— Lia, não tome a decisão ainda, pense com calma. — Ele levanta e
vem até mim, tocando meu ombro. — Nem todas as verdades são absolutas,
— Ele disse para você vir aqui? — Estreito meus olhos para ele.
— Sim e não. Já queria vir aqui faz tempo, mas não sabia se seria bem
recebido por você e sua avó não pareceu muito feliz ao me ver em Missão
quintal e nos olha com uma expressão estranha. — Bom, já tomei muito do
seu tempo, pense com carinho no que te falei e me ligue quando tiver a
resposta, posso garantir de vocês se encontrarem sem que ninguém saiba.
Mais uma vez não deixo transparecer o que sinto, mas a verdade é que
— Nunca foi isso para mim, sabe disso, não me compare ao seu ex.
— Ele volta a olhar para o meu ventre e apesar de querer me encolher, não o
faço. — Ela vai precisar de um pai presente na vida dela, não um que assim
que você some vai procurar um rabo de saia.
— Cícero não te contou que no dia que você fugiu dele foi afogar as
mágoas naquela boate que fomos uma vez? — Travo o meu queixo e pisco os
olhos lentamente.
suficiente para ela — digo as palavras com a garganta perigando fechar com
— Que merda, Raul, já disse que sim, caralho! Que insistência, até
— Esperança?
— Sim, que um dia olhe para mim e veja mais que um amigo, eu
poderia ser o pai que sua filha precisa. — Minha vontade é gritar "ELA JÁ
TEM UM!", mas ao invés disso sorrio tristemente e respondo.
— Não posso falar sobre o futuro, nem pelos outros, mas o tempo
Com isso ele abre um grande sorriso e abre os braços para mim, eu
quase não consigo enxergar o amigo que esteve ao meu lado durante muitos
anos, pelo contrário, há algo diferente em Raul ou talvez seja a minha
percepção sobre ele que está mudada e ao invés de retribuir ao abraço sinto
vontade se empurrá-lo e é preciso muito do meu autocontrole para não fazer
isso. Ele se aproxima e me abraça, mas não sinto aquela sensação de estar em
um abraço amigo e seguro, mas não o afasto, pois ele vai me ajudar mais do
ainda não consegui decifrar Raul, antes ele era transparente para mim, agora
existe uma mancha que turva minha visão sobre suas intenções.
— Lia? — Olho para minha avó e ela me fita com uma expressão
estranha. — Precisamos conversar.
— Pode, pois vamos ter que sair daqui para isso — ela fala e eu
estranho, mas não tenho tempo para perguntar onde iremos.
Dona Clarisse sendo ela mesma, sai e vai sentar-se à mesa, indicando
com um movimento de cabeça que devo fazer o mesmo e não contesto, ela
quando diz que as coisas serão de um jeito, elas serão exatamente como ela
falou que seria e ponto.
— Onde é mesmo que estamos indo, vó? — pergunto pelo que deve
ser a quinta vez desde que saímos de casa há dez minutos.
Junior e pegamos a Washington Soares. Ela fica calada por alguns minutos e
não sei se gosto dela assim, algo a incomoda e está tentando esconder de
mim.
— Não sei para que essa ansiedade toda, já comeu, falou besteira com
aquele projeto de embuste e já falou no telefone com o caboré que eu sei. —
Engasgo com saliva na mesma hora não acreditando no que ela acaba de
falar.
— Não sei do que está falando! — Tusso mais uma vez, tentando
acalmar meu sistema nervoso que entrou em curto.
— Não sabe, claro que não sabe, não sabe mentir, isso sim. Vocês me
enganaram por uma semana, quase duas, depois comecei a observar e eu sou
boa de observação e notei que todo dia de manhã cedo era um cochichado no
seu quarto e de noite a mesma coisa, sem contar que o menino Alex passou a
visitar nossa casa mais do que a irmã dele, me diga que estou errada?
mês bem difícil e com a sua ajuda poderíamos ter nos visto pelo menos uma
vez nesse tempo. — Olho para ela quando paramos no sinal e vejo seu
reflexo sorrindo no vidro lateral.
barriga ronca, mas sei que não devo perturbar a mamãe por algumas horas,
não quando ela volta tão triste assim, queria saber quem faz ela ficar desse
jeito e dizer para esse filho de uma puta que não faça mais isso.
grade que vai até altura dos peitos dela. É esquisito ver ela subir nele, mas
vai que comprou enfeites de Natal esse ano e finalmente teremos a casa
decorada. Sorrio animada e me aproximo.
— Lia... — Ela vira devagar e vejo que ainda chora, não gosto de ver
a mamãe chorando, ela é bonita demais para ser tão triste.
Dou mais um passo na direção dela para dizer que não precisa
colocar enfeites, tudo bem não termos nada disso aqui em casa, vovó faz isso
Ela fala e antes que eu pergunte sobre o que sente muito ela dá um
passo para trás, mas não tem mais nada onde ela possa pisar, pisco os olhos
e a próxima coisa que escuto é o barulho alto dela caindo na calçada.
— MÃÃÃÃÃÃEEEEE!
O grito vem tão alto que desperto do meu torpor voltando à realidade,
minhas mãos tremem e sinto uma necessidade de sumir daqui.
chegaram e em seguida a minha avó e os detetives, fui levada para a casa dela
onde fiquei dias sem conseguir dormir, tudo que conseguia era chorar e
esperar, na minha cabeça de criança ela voltaria a algum momento para me
acordar, pois era certo que estava tendo um pesadelo, só pode. Nesse meio
tempo minhas coisas foram levadas para lá por alguém e um funeral foi
organizado, não saí da capela para ver o caixão de mamãe descendo no
buraco onde seria sua moradia e hoje nem lembro muito dessas coisas, só
tenho vislumbres de como tudo aconteceu, a única lembrança vívida é o seu
não. Sinto minha filha mexer no meu ventre e ajeito meu corpo para poder
tocá-la e me pergunto se mamãe teve esses momentos de esperança como
tenho quando a sinto se mexer, será que acreditou que as coisas fossem dar
certo ou já não tinha nenhuma esperança desde a minha concepção?
dos anos, por mais que eu tenha tentado chorar em todas as datas que me
faziam lembrar dela, agora é como se tivesse aberto as comportas de uma
represa. A dor ameaça partir meu peito em mil pedaços, o grito que sai dos
meus lábios é estrangulado e sai no momento que sinto braços fortes me
apertarem.
— Hei, estou aqui! — Olho para cima não acreditando que ele esteja
realmente aqui.
Ergo minha cabeça e os olhos azuis que se tornaram meus
companheiros em sonhos estão aqui me fitando com a mesma agonia que
deve estar estampada no meu rosto, jogo meus braços em torno do seu
pescoço e choro ainda mais por me dar conta que estive vazia por dentro no
último mês e só agora consigo respirar novamente.
Seguindo a mensagem que Luana me enviou desço do carro duas ruas
antes do endereço que me foi informado, pago o motorista e começo a
caminhada com mil perguntas se passando na minha cabeça, com tantas
Mais alguns, muitos, passos e a vejo, mesmo a distância sei que é ela
pela forma como o meu corpo reage a sua presença, o leve arrepiar junto com
batidas descompensadas do meu coração, meus olhos varrem o seu corpo
indo direto a mão que mantém sobre o ventre que agora já está bem visível.
Me apresso para chegar até ela, mas paro um instante ao vê-la encostar as
costas na grade e se deixar cair ao mesmo tempo que um choro mais do que
sofrido sai dos seus lábios. Meus passos se tornam corrida e em segundos
estou a abraçando, tentando lhe passar a segurança que sei que precisa.
para deixar Cecília nesse estado, minha anja-demônia não faz o tipo frágil,
ela é mais forte do que o mundo e vê-la assim tão vulnerável me quebra
completamente. Quando seu choro diminui seguro seu rosto e limpo suas
lágrimas com o meu polegar, ela permanece de olhos fechados.
— Não suporto ver você chorando, anja. — Colo minha testa na sua e
— Cícero — ela diz o meu nome com um pesar enorme que não está
direcionado para mim, seus olhos estão fixos na neta que ainda chora com a
cabeça encostada no meu peito.
— Ué, não tava bom o fingimento? — Olho de uma para a outra sem
entender porra nenhuma.
castigo aparentemente, mas ele acaba aqui, me leve embora, por favor? —
Uma lágrima rola errante e eu a seco voltando a sentir o aperto no meu peito
por vê-la assim.
— Claro, amor!
Olho para sua avó e noto que para ela também não é fácil estar aqui,
mas se tem algo que aprendi a reconhecer em dona Clarisse é que nada que
ela diga ou faça, por mais insignificante que seja, é por acaso. Por isso ou
talvez por ainda estar envergonhado pela discussão da última vez que nos
vimos, fico do seu lado.
— Cecília, meu amor. — Seguro seu rosto mais uma vez para que me
olhe. — Eu a levarei embora se assim você quiser, mas não acho que sua avó
te trouxe até aqui por nada, imagino que exista uma boa razão.
Seus olhos dançam entre os meus e a minha boca, ela se inclina e cola
seus lábios nos meus e há tanto desespero e dor nesse beijo que me falta o
fôlego por alguns instantes. Isso dura um segundo e rápido demais ela já está
fora do meu alcance, respira fundo e ergue a cabeça daquele jeito altiva de ser
e encara a sua avó com firmeza.
— O que há para se ver lá, vó? — sua pergunta vem com a voz firme,
— Não vou ficar falando sobre isso aqui fora, Cecília, também não é
fácil para mim vir até aqui, foram poucas as vezes que voltei ao apartamento
onde minha filha passou seus últimos dias. Você agora já sente o que é ser
mãe, como não conseguimos mais lembrar como era nossa vida antes de
sabermos da sua existência, mesmo que ainda não tenhamos dado à luz.
Então compreende como a minha perdeu boa parte do sentido depois que
Luciana se foi.
— Acha que eu mandei avisar a ele por quê? Pra ficar vigiando a rua
é que não foi. — Dona Clarisse revira os olhos do jeito único das mulheres
Fernandes.
— A capacidade de atuar direito ficou para ela, faz dias que sabe que
eu sei.
tudo.
As portas do elevador se abrem e ela vacila sem querer sair, deixo que
tome o seu tempo, não a pressiono, apenas seguro as portas abertas até que
com um suspiro profundo e passos trêmulos ela passa por mim e caminha os
poucos metros até a porta que sua avó espera por nós para abrir.
Vovó coloca a chave na fechadura e eu prendo a respiração, ela abre a
porta e deixa que eu tome o meu tempo para entrar, Cícero toca meu ombro e
aperta de leve para dizer que está aqui comigo. Um passo depois do outro e
enfim consigo passar pela porta e olhar para a sala completamente vazia.
Uma sensação estranha de levar um soco no meu estômago faz com que me
encolha um pouco, por muitos anos mantive na minha mente a ideia de que
esse lugar estaria igual ou talvez totalmente diferente, mas nunca assim, tão
sem vida quanto o corpo da minha mãe ao cair no chão de concreto.
Vovó caminha até o armário branco e o abre, ele está vazio naquela
parte, mexe na madeira e a retira revelando um fundo falso para em seguida
virar-se com um envelope em mãos, caminha até onde estou e senta ao meu
lado colocando o mesmo em meu colo.
que se passava na cabeça da sua mãe nos últimos anos da vida dela, minha
Luciana era um misto de alegrias infinitas e tristezas profundas, quando seu
avô morreu ela tinha apenas dezoito anos e não se recuperou da perda, eles
eram muito apegados, sabe?
— Sua mãe fez muitas coisas erradas, mas tentou acertar e foi a
vontade de fazer a coisa certa e a sua incapacidade diante das circunstâncias
que pesou para que ela decidisse acabar com a vida dela. Aquele dia, quando
saíram lá de casa, eu senti que algo não estava bem, a forma como a minha
menina me abraçou não era normal, foi algo prolongado e sofrido e ao final
ela me disse que eu era a melhor mãe de todo o mundo.
envelope quando você estivesse preparada para tomar posse daquilo que lhe
pertence.
Olho confusa para ela, será que está me dizendo que devo decidir o
que fazer com esse lugar? Eu não o quero, só em pensar em ficar aqui por
mais tempo meu coração dispara e sinto minhas mãos tremendo.
— Eu não quero esse lugar, vovó, o que a senhora decidir fazer com
ele eu concordo. Nem sabia que esse apartamento nos pertencia na verdade
— falo com a voz um pouco trêmula e logo a mão de Cícero está tocando a
— Ele é seu, mas não era a ele que me referia. — Vovó e seus
mistérios.
— E o que seria?
— Não está óbvio? Seu pai só quer alguma aproximação agora porque
você é a única herdeira deixada por Luciana, aquele cafajeste quer garantir
que você não tome dele o que nunca lhe pertenceu.
— Mas que herança que mamãe deixou? Até onde sei tudo que temos
séculos.
— Sim, ele foi e acho que para comprovar que nosso plano deu certo,
tudo que ele fez foi tentar implantar a dúvida sobre o que meu pai pode
querer comigo ou não.
— Ah, faz favor, comandante, não venha dar piti de ciúmes agora,
não é hora nem lugar para isso. Sabia que ele aparecer era um sinal que nosso
objetivo foi alcançado e pelo visto sim, então vamos pensar no próximo
passo, não no "e se", que não existe.
— Não tem por que sentir ciúmes, estou ficando cada dia mais
redonda e seletiva sobre o que quero — brinco e ele abre um sorriso de lado.
— Não seja boba, está cada vez mais linda. — Sua mão toca meu
ventre e nossa garotinha se mexe e sinto uma emoção enorme crescendo
dentro de mim. — Ela está te tornando cada vez mais a mulher mais bonita
que eu já vi.
Beija o topo da minha cabeça e eu abraço seu tronco, nem fazia ideia
de como estava sentindo a falta de ter ele assim tão perto, seus braços me
envolvendo, o calor do seu corpo fazendo o gelo que sentia na minha alma ir
descongelando pouco a pouco e eu enfim consigo puxar o ar e sentir ele
fazendo o efeito desejado, antes era inútil tentar respirar profundamente, o ar
parecia inadequado, agora sei que era porque não o tinha perto de mim e sem
— Também amo você e agora mais do que nunca quero casar com
você e poder acabar com as armações de Arnoldo. Não queria que nosso dia
fosse às pressas, mas acho que casarmos escondido, enquanto ele pensa que
está ganhando território comigo, seja o melhor.
muito sobre como gostaria que fosse o nosso casamento e tudo que consegui
visualizar foi nós dois num belo pôr do sol em uma das praias da cidade ou
qualquer outra, desde que seja no litoral cearense, ou até mesmo na estufa da
Fundação, dessa vez dando tudo certo.
— Claro que estou! E não venha puxar meu saco não, porque
primeiro, não tenho um pra puxar, segundo, ainda estou irritada com você e
terceiro, temos muito o que fazer e resolver — vovó dispara e eu preciso
segurar o riso.
numa forma silenciosa de fazer as coisas, mas ele precisa da sua assinatura.
— Porque eu disse que não era para contar, oras! — Com um revirar
de olhos e um entortar de boca ela deixa claro que isso não é discutível. —
Vocês não armaram aquela palhaçada sem me avisar, pois eu fiz também sem
pedir permissão, por que não preciso.
— Você vai pra casa e continua fazendo o que for que tava fazendo.
Já Cecília, vai ligar para aquele moleque duas caras e vai dizer que aceita
encontrar com o embuste do patrão dele, mas isso será amanhã, hoje vamos
voltar para casa e eu vou pra minha reunião da preparação da festa da
paróquia enquanto você vai ler tudo isso aí dentro do envelope como se fosse
a matéria de uma prova bem difícil de responder, assim vai prestar bastante
atenção no que tem escrito aí, se tiver dúvidas pode ligar pra Luana que ela te
ajuda.
Não acredito que ela quer que fique a par de toda a papelada que deve
ter no envelope, ela com certeza sabe do que se trata e poderia me contar,
assim eu poderia aproveitar o resto do dia ao lado do meu comandante.
— Não sei não, depois que peguei a carta que sua mãe me deixou a
única coisa que fiz foi vir até aqui e me certificar de que estava no lugar que
ela falou que estaria, ela deixou para você, não pra mim, é tarefa sua
descobrir o que quer que esses documentos tenham a dizer.
— Nem faça essa cara, quem começou com essa história foram vocês,
se tivessem falado comigo antes agora poderiam ficar por aí, fornicando
como coelhos, mas já que decidiram me colocar na lista dos enganados, vão
ter que manter essa história até estar com tudo pronto.
— Ela já nos ouviu uma vez, não faz mal ouvir uma segunda e só
temos vinte minutos!
remexo buscando atrito dos nossos sexos e gemo ao sentir como seu pau já
está duro e pronto para mim.
com que me olha e sinto minha pele queimar onde seus olhos miram. Suas
mãos me tocam sobre o ventre e tremo inteira, principalmente quando beija
ali e devagar vai deixando seus lábios deslizarem até tocar-me o clitóris ainda
por cima da calcinha.
— Não me faça esperar ainda mais, seu cretino, não temos tempo para
isso! — digo, puxando seus cabelos e empurrando sua cabeça para baixo,
meus atos indo no sentido contrário das minhas palavras.
chupá-lo, mas não vou esperar. Cícero se posiciona e puxa meu corpo,
erguendo meu quadril, segura seu membro com uma mão e o faz deslizar
sobre a minha boceta, espalhando minha umidade, e com uma só estocada
entra em mim atingindo tão fundo que é impossível segurar o gemido rouco
enlouquecido que sai pelos meus lábios.
para soltar e voltar a contrair mais uma vez. — Você é a minha ruína, sabia?
sem medo.
Ela aponta com o queixo para o envelope que peguei no banco de trás
do carro. A falta de confiança dela na minha capacidade de decifrar alguns
documentos deveria ser ofensiva, mas não nego que ter uma ajudinha não faz
mal e preciso conversar com Luana de qualquer forma.
— Tá, vó, vou fazer isso. — Fecho a porta do carro e vou em direção
ao meu quarto já discando o número dela.
— Mas isso eu lhe conto pessoalmente, como foi o encontro com meu irmão.
Espero que tenham conseguido matar um pouco da saudade, porque até tudo
estar resolvido terão que manter a história.
— Sim, foi... Não vou falar com você sobre minha vida sexual com
seu irmão, principalmente quando ele foi mais do que perfeito. — Sorrio e
ouço o seu "Ecaaaaaaaa!" do outro lado da linha.
falando sério, sua avó achou que você já estava lidando com muita coisa,
preferiu me deixar a par de algumas, assim quando lhe contasse eu já estaria
preparada para entrar em ação.
e eu rodando pela minha mente, enfim não penso mais naquele apartamento
— Que gracinha, já sei como você está, nos falamos há pouco tempo
por telefone.
— Não vai me dizer que esse é seu almoço? — Ela torce o nariz
olhando para o refratário sobre a mesa.
— Odeio atum, além do mais estou sem muito apetite hoje. — Ela
tem aquele olhar sonhador de quem está apaixonado e me pergunto se devo
incentivá-la ou deixo que tome a decisão por si mesma.
olho grande, então coloco a vasilha no forno para quando vovó voltar apenas
esquentar, levo minha louça a pia e a lavo sem nenhuma pressa. Luana não
voltou para perguntar por nada, então deve estar se entendendo com os
papéis, o que significa que não há pressa.
— Sei, mas já que chegou queria te perguntar uma coisa que não tem
a ver com isso aqui. — Faz um gesto abrangendo os papéis entre nós.
Ahã, assim como todas as pessoas voluntariosas que conheço ela não
consegue ficar muito tempo com algo incomodando em sua mente.
— Pode perguntar, sou toda ouvidos! — Por algum motivo estou mais
do que empolgada a responder a ela.
— Prometo que o que quer que seja não sairá desse quarto para nada.
— Me sinto meio boba por perguntar isso, mas a realidade é que você
é a única amiga que sinto vontade de conversar, não que eu tenha muitas. —
Respira fundo e olhando além de mim deixa as palavras virem. — Eu...
Como descobriu que queria ficar mesmo com Cícero? Em que momento as
burradas e defeitos dele passaram a importar menos do que o sentimento que
tem por ele?
— Eu não sei bem o momento, mas se tem alguém por quem você
nutre sentimentos que tornam os defeitos dele não invisíveis, mas aceitáveis
até certo ponto, bom, o momento de reconhecer o que o quer é agora — digo
me sentindo o máximo por dar conselhos amorosos. — Eu não sei qual a
regra, até seu irmão aparecer eu não tinha vivido nada parecido, namoricos na
escola, alguns ficas insignificantes, mas sentimentos de fazer o coração
disparar a cada vez que o nome da pessoa me vem à cabeça, só com ele.
De: mamãe
Para: Lia
Olho para o envelope por alguns segundos antes das lágrimas
começarem a borrar minha visão e minhas mãos suarem e começarem a
tremer.
Querida Cecília,
Eu queria poder estar ao seu lado nesse momento e falar essas coisas
olhando nos seus olhos, espero que o tempo tenha sido generoso com você e
não a tenha feito chorar muito ao longo dos últimos anos. Sei que deve estar
se perguntando por que comecei essa carta falando essas coisas, mas a
verdade é que fiquei parada observando você dormir tranquilamente por
muitas horas até decidir que foi certo fazer o que fiz, e não me refiro a me
atirar da sacada, porque isso é algo que ainda não sei se terei coragem de
fazer. Me refiro a trair a confiança do seu pai ao tirar dele tudo que temos
conquistado.
Não direi que me arrependo de ter feito isso, não, nem um pouco,
afinal fui a peça-chave para que os planos dele dessem certo e vou explicar a
você de forma resumida. Nem mesmo a sua avó sabe que há oito anos eu
venho fazendo coisas das quais não me orgulho e desde então minha vontade
de viver tem se esvaído gradativamente a cada dia, é uma força magnética
que me puxa para baixo mais e mais, acredite em mim quando digo que se
tivesse força suficiente para continuar lutando eu faria, mas sinto como se o
mundo pesasse nos meus ombros e tenho me curvado não apenas a ele nos
últimos anos, mas também as vontades do seu pai e há em mim um
sentimento de impotência em relação a isso também.
Para adiantar o assunto... Há cerca de onze anos, quando o seu avô
morreu, eu me vi perdida, mamãe não falava muito sobre a dor que isso nos
causou e eu, no auge da minha rebeldia adolescente, não pensei em procurar
por ajuda, tanto que durante uma das minhas fugas para beber com alguns
"amigos" conheci um homem mais velho, extremamente atencioso, que me
tratou não como os garotos do bairro, ele me fez sentir que era especial e
merecia ser tratada como uma verdadeira princesa, até então só meu pai me
fazia sentir assim e talvez a enorme carência de uma figura paterna tenha me
deixado vulnerável naquela situação. Me envolvi com Arnoldo sem pensar
duas vezes e quando sua avó descobriu sobre nós já era tarde demais, eu
briguei com unhas e dentes pelo meu homem perfeito e não vou dizer que não
fui feliz ao lado dele, fui pelo tempo que a ilusão me permitiu, isso durou até
o resultado do exame que revelou a sua chegada.
Quando pensei que ele iria me pedir em casamento, descobri que o
mesmo já era há muitos anos e eu fui a outra por todo o tempo, meu mundo
caiu, segundo ele foi um casamento arranjado, mas não tinha uma vida
conjugal com ela, que era a mim que ele amava e acreditei. Saiba que em
momento algum pensei em me desfazer de você, era o meu milagrinho
ganhando forma dentro do meu ventre. Seu pai não acompanhou minha
gravidez, disse que era para o meu bem e eu mais uma vez acreditei. Quando
você nasceu e sua avó exigiu que eu deixasse Arnoldo, bati de frente e aceitei
o convite dele de morar num lugar nosso, a esperança que ele alimentava em
mim de que resolveria sua situação com a esposa era o combustível para me
manter ao lado dele pro que desse e viesse.
Até você já estar com um ano e meu corpo voltar a ter praticamente
as mesmas medidas ele foi o homem que eu amava, mas sempre vinha com
lamentações de como se sentia mal de ter que nos deixar, que era como uma
faca no seu peito e mais uma vez eu acreditei, afinal era como me sentia, por
isso uma noite quando ele me disse que tinha um jeito de se livrar das
amarras que o seu casamento lhe impunha, mas que precisaria da minha
ajuda com isso, eu topei de imediato, qualquer coisa para ter o meu castelo
dos sonhos finalmente realizado era válido.
Vou poupá-la dos detalhes, mas a verdade é que seu pai me
convenceu a me usar como moeda de troca, sempre que ele queria fechar
algum negócio ou comprar ações de uma determinada empresa, me colocava
na jogada, e como bem ensinou, durante uma boa noite de sexo comigo os
caras ou assinavam voluntariamente ou Arnoldo usava esse pequeno deslize
deles para persuadi-los. Me sentia um lixo a cada vez que acontecia, mas
dizia para mim mesma que era por nós, só que os anos foram passando e os
encontros arranjados aumentando de números, como o meu asco por mim
mesma. Eu tentei por vezes convencê-lo de que o que já tínhamos conseguido
era o suficiente, mas ele queria a vida do melhor amigo, não ser apenas o
advogado que conseguiu o cargo como um favor que o sogro cobrou de
alguns caras ricos.
Aguentei tudo por mais algum tempo, longo demais é verdade, até
que um dia ao ver sua fotografia ele insinuou que você iria fazer os babacas
papa-anjos comerem na nossa mão em poucos anos, como se eu fosse deixar
que minha garotinha fosse usada assim, foi ali que entendi que ele nunca me
amou ou a você, estive vendada por muitos anos e de repente eu vi a luz e o
que vivi se tornou sufocante demais, sujo demais e não perdurou por muito
tempo. No dia seguinte liguei para um antigo conhecido e providenciei uma
forma dele não ficar com tudo ao final.
E hoje vendo você dormir, sabendo que tudo está pronto, eu fiquei em
paz comigo mesma, a sujeira já não está me afogando, agora eu sinto o ar
fazendo efeito nos meus pulmões finalmente e estou em paz com o próximo
passo, o que me atormenta é a ideia de não poder ver o seu sorriso, não estar
ao seu lado durante os marcos importantes da sua vida, mas ao mesmo
tempo sei que a deixarei com a melhor de todas, minha mãe vai cuidar de
você como fez comigo e eu sei que será a melhor mãe/avó que poderia ter.
Espero que um dia me perdoe por deixá-la sozinha ainda tão
pequena, e espero que nunca sinta o peso nos ombros que venho sentindo por
todo esse tempo, mas nunca pense que foi por não te amar, na verdade é por
amar você mais do que tudo, seja forte minha Lia, você tem mais coragem no
seu dedo mindinho do que eu tenho em todo o meu corpo, e eu sei que será
uma mulher muito melhor do que eu fui.
Com amor.
Mamãe.
Releio a carta da minha mãe pelo que deve ser a décima ou vigésima
vez, só que agora não choro como foi a primeira vez em que as lágrimas
vieram com força total e o soluço preso na minha garganta explodiu em alto e
bom som, assustando até mesmo Luana, que na falta de saber o que fazer
ligou para minha avó que chegou no meio da minha crise de choro e me
embalou nos seus braços como fez naquele dia quando me encontrou
catatônica na portaria do prédio e ficou comigo no seu colo até que o cansaço
e o calmante me apagaram por três horas de sono sem sonho. Agora estou
diante do notebook lendo para Cícero, durante seu intervalo no turno, as
— Eu sinto muito, anja, sinto mais ainda por não estar aí com você.
— Seu olhar com pesar diz mais do que suas palavras, mas é bom ouvir.
que ela foi a maior vítima nessa história e eu sinto tanto a falta dela...
Desabafo isso em voz alta depois de muito tempo e pela primeira vez
pensar na minha mãe não vem carregado de sentimentos dúbios, aonde
sempre vinha a culpa misturada ao pesar sem tamanho que me fazia sentir a
necessidade de cortar a minha pele para fazer com que a dor física distraísse
— Eu não entendo como uma pessoa pode ser tão baixo assim? —
Rio sem humor algum.
— Ele não presta e viu na minha mãe a chance de ter o que sempre
quis, uma marionete.
— É, um cretino com certeza, mas se quer saber o meu pai não era
muito diferente disso, a sua mãe foi corrompida, a minha me vendeu por
alguns trocados. — Sinto meu peito apertar com a dor mal disfarçada nos
— Eu sinto muito?
— Amor, não é isso que você é? O meu amor? — Sorrio largo para
ele.
— Prometo que ficarei bem, mas e vocês, vão ficar bem? — Sua
preocupação comigo e nossa garotinha é algo tocante e aquece meu coração,
por isso sorrio largamente antes de responder.
e Canindé deixou muitas vítimas, entre elas oito fatais, sendo três delas
crianças. Fomos acionados para fazer o resgate das vítimas mais graves,
mesmo aterrissando em uma distância razoável de onde toda a tragédia estava
pude ver os corpos pequenos entre os demais e foi impossível não pensar em
Cecília e na nossa filha ainda protegida no seu ventre.
acabou, ficou mudo durante a reunião com o coronel e agora saiu apressado
como se tivesse que tirar o pai ou a mãe da forca.
seu jeito debochado que me deixa com o punho coçando para acertar seu
maxilar.
— Não, filho da puta, não tem nada de errado nisso, mas como seu
amigo devo dizer que o que quer que esteja passando pela sua cabeça agora, e
sim, eu sei que tem alguma merda passando por aí, resolva o quanto antes, a
Lia precisa de você com a cabeça no lugar.
falar sobre isso não será no corredor onde sempre há alguém circulando.
Não olho para trás, mas seu riso bem atrás de mim se faz ouvir. Entro
no carro já me preparando para dar a partida quando ele senta no banco do
carona como se fosse a porra do dono, ergue as pernas e tem a ousadia de
colocar os pés sobre o painel, está fazendo isso para me irritar, o idiota.
— Como é?
Quero dizer que não é nada, mas a verdade é que desde que ouvi
Cecília lendo a carta que sua mãe deixou fiquei incomodado com algo,
Arnoldo era melhor amigo do meu pai e durante toda a minha vida eu o vi
como alguém acima de qualquer suspeita e vejam só o que fez aquela pobre
mulher passar, me pergunto se o meu pai seria igual a ele e toda aquela
história contada a mim na adolescência é toda a verdade e se for, até onde
Silvana tem conhecimento de tudo.
— A mãe de Cecília deixou uma carta para ela e isso me fez pensar na
minha própria mãe. — Não preciso dizer a quem estou me referindo, Alex é
uma das poucas pessoas que sabe toda a verdade, pelo menos toda a que eu
sei.
— Ela sabia de mais coisas do que nós todos juntos, mas segundo
Cecília, ela ficou sim mexida com toda a verdade, que era bem mais do que o
que ela imaginava.
garotas de perto, pra ninguém se meter a besta com elas, por isso notei a
mudança brusca.
olhos escuros tão travessos e uma língua afiada que ontem ver esse mesmo
olhar que ele relata me deixou sem ação, por isso entendo bem o que ele está
falando.
— Pensei que seria triste para sempre, mas daí você entrou na vida
dela e eu ainda avisei que ela mantivesse distância segura, me borrei de medo
de que acabassem magoando um ao outro ainda mais, sabe? — confessa
sorrindo.
— Sei lá.
nunca tive a vida toda, um amigo. E foi uma grande surpresa que cinco anos
depois estivéssemos os dois subindo mais uma vez de patente e com isso
ganhando o direito de fazermos parte da CIOPAER, Alex me conhece como
ninguém e cuidou da minha mulher antes mesmo de eu saber que ela seria
minha, não poderia ser mais grato de tê-lo na nossa vida.
— Bom, acho que sabe que é basicamente isso, mas voltemos a você,
o que te afetou tanto nessa história?
— Arnoldo era amigo do meu pai e já deixou claro que esteve por trás
do testamento fajuto que me obrigava a casar ou a empresa da minha família
já era. Eles eram muito próximos e o meu pai pode não ter sido totalmente
responde irritado.
— Não vou procurar Arnoldo e não faço ideia de onde a mulher que
me deu à luz vive ou se está viva sequer, seria uma busca que só traria
estresse.
— Estou trabalhando com ela no que posso, foi você que nos colocou
nessa história, esqueceu?
Sua desculpa não convence, mas não vou falar sobre isso agora, só
espero que não se envolva com ela ainda estando vendo Patrícia durante os
jogos que participam, minha irmã não merece ser segunda opção.
— Nem tão cedo, meu bem! — sua voz enche o carro. — Estava
falando de mim ou sobre mim?
minha avó fez questão de deixar claro que não apoiava minha decisão e eu
não a culpo, nos seus olhos eu vi o medo estampado, mesmo que não diga,
sei que teme que eu caia na lábia dele como a minha mãe, mas ler as últimas
palavras dela para mim foi forte o suficiente ao ponto de me revestir de uma
armadura invisível e poderosa e não há nada que eu deseje mais do que ver
Arnoldo na lama, mendigando miséria.
aqui a sua frente fosse motivo de júbilo, até seu olhar parar na minha barriga,
que fiz questão de deixar visível com o vestido colado ao meu corpo, seus
lábios se contorcem e eu vibro por dentro sem deixar que isso transpareça no
meu rosto. Quando levanta para puxar a cadeira o paro com um balançar
rápido de cabeça.
aceitar meu convite para este almoço, há tempos venho querendo ter esse
momento com você.
— Até onde me lembro o senhor sempre soube onde fica minha casa,
afinal mandou margaridas para mim algumas vezes — digo com um leve
sorriso, me munindo de uma coragem que não sabia que existia em mim.
— Sim, sempre soube onde minha única filha esteve, mas saber e
Estreito os meus olhos para ele imaginando que vai voltar a culpar a
minha avó como fez no dia que estragou o meu casamento com Cícero. Antes
que eu responda um garçom chega com os pedidos que eu não fiz, ergo uma
sobrancelha questionadora para Arnoldo e ele dá de ombros em silêncio até o
rapaz sair, nos dando privacidade.
— Pedi um dos pratos favoritos da sua mãe, tainha ao leite de coco
com legumes cozidos, ela comia muito isso durante a gravidez — diz com
Arnoldo não se deixa abalar pelo meu comentário seco, sorri com um
olhar que posso chamar de saudoso, já o vi no rosto da minha avó muitas
vezes para não reconhecer, o que não quer dizer que é saudade dela
especificamente.
— Luciana era uma mulher ímpar, você tem muito dela — a voz dele
ganha aquele tom forjado para demonstrar afeição a alguém, noto isso pelos
anos em que vovó me fazia notar isso entre suas colegas da igreja.
Cruzo minhas mãos sobre a mesa e decido ir direto ao ponto, não vim
até aqui para ouvi-lo fingir que se importava com a minha mãe sem me deixar
levar pela vontade de arranhar o rosto dele com minhas unhas até desfigurar
para sempre em uma careta de dor.
— Eu sei disso, mas não vim aqui para falar sobre a minha mãe. Por
que resolveu aparecer na minha vida justo agora? Por que esperou até o dia
do meu casamento com Cícero para fazer alguma coisa?
Disparo para ele as palavras e vejo como seu corpo tensiona
levemente, para outras pessoas não se alterou, mas seu olhar endurece e vejo
engolir ruim ao morder a carne próxima aos lábios por dentro da boca, sei
que está fazendo isso porque faço igual.
testamento falso a Cícero, mas quando cheguei lá acabei descobrindo que ele
já sabia de tudo, não poderia deixar minha filha ser envolvida em uma coisa
dessas, casamento sem amor não era o que desejava para você.
— Sim, eu entendo, e por isso não queria que a minha filha pagasse
pelos meus erros.
— Que erros?
Ele pigarreia e olha em volta para ter certeza de que não temos
nenhum expectador atento a nossa conversa, mesmo que a mesa em que
ocupamos esteja o mais afastada possível das demais.
— Me casei com uma mulher por conveniência, trabalhava para o pai
dela e o mesmo se lamentava por não ter um filho homem para gerir o
— Conheci sua mãe poucos dias depois, ela tinha um jeito diferente e
me fez esquecer de tudo que estava acontecendo. — Ele é pior do que eu
imaginava, usou minha mãe como válvula de escape.
— Você não disse por que só voltou a minha vida agora — digo,
repousando os talheres.
— Não, não disse, você precisa entender que eu não tinha como fazer
isso sem uma luta judicial, sua mãe deixou o poder familiar da sua guarda
para sua avó e eu não tinha o meu nome na sua certidão de nascimento.
piorou seu estado mental. Eu não sou o monstro que você pensa, Cecília,
posso ter sido um canalha com sua mãe, mas eu a amei durante todo o tempo
que ficamos juntos e quando tudo aconteceu eu levei muito tempo para me
recuperar do segundo golpe duro que a vida me deu.
que estou me recuperando para começar a sair, quando ouço o seu suspiro.
— Vou contar o que sua mãe e eu fizemos para proteger o seu futuro
e agora o do seu filho.
Balanço a cabeça e volto a sentar, pronta para ouvir suas mentiras
deslavadas, elas serão o meu combustível para o incêndio que transformará
baboseira, jogando sobre ela e os outros toda a culpa das atrocidades que ele
cometeu. Ele é um escrotino[9], isso sim, foi por pouco que não voei no
pescoço dele e apertei com força, mas a pior parte foi ele insinuar que eu não
precisava cuidar da nossa filha sozinha, se ofereceu para me conseguir um
bom casamento.
Eu consigo sentir daqui a raiva que sente, pois sinto algo parecido,
mas com uma intensidade diferente, é uma mistura do instinto natural de
proteger minha mulher e filha e em reação ao que ela está passando para
mim. Passo a mão várias vezes nos meus cabelos, buscando me acalmar.
— Ainda bem que não fez, já pensou eu tendo que ir tirar você da
cadeia por ter cortado a garganta do infeliz do Arnoldo? Com sorte até
encontraria alguns conhecidos por lá pra mostrar como a minha mulher é
braba — brinco pra diminuir a tensão que emana dela.
— Seria uma cena e tanto, isso sim, mas acho que acreditou na minha
cara de confusa e me deu uma ideia de por onde atacar, por isso insisto mais
uma vez que você converse com a sua mãe sobre tudo que está acontecendo,
pra se possível ela e Luana adiantarem os preparativos do casamento, não
quero que demoremos mais que um mês depois do nascimento da nossa filha
para isso.
— Eu tenho evitado falar com Silvana desde que leu a carta da sua
mãe, durante os últimos anos eu me distanciei dela gradativamente, sempre
me acho inadequado a ela e todo o carinho que me dá, sou fruto de uma
traição, não sei até onde ela sabe sobre a minha mãe ou sobre o que o meu pai
fez — digo o que vem me perturbando.
agarrar, agora sinto muito pesar por não ter vivido mais tempo com ela por
perto.
máximo participar dessas coisas, no entanto devo avisá-la que Silvana vai
perguntar o que você pretende fazer com essas informações e não aceitará
qualquer desculpa — sou sincero.
— E você vai contar o que achar que ela deve saber, confio no seu
bom discernimento.
com quem dividir um pouco de tudo que ronda meu inconsciente e muito
menos me achava capaz de ser esse tipo alguém para outra pessoa.
— Tá, mas por que não aproveita que só irá trabalhar a noite e almoça
Não seguro a risada que me escapa, ela é mais curiosa do que eu.
Minha vontade é contar para ela que não poderei ir agora na minha mãe por
estar esperando Luana e sua amiga designer de interiores, decidi que esse
apartamento é muito masculino para minhas garotas e o quero mais
aconchegante e prático para quando minha mulher e filha vierem morar aqui,
para sempre — diz e ri alto. — Vovó veio com umas opções nada a ver,
então precisamos ver isso.
calcinhas e sutiãs.
— Ah, para mim é sempre um prazer receber meus filhos aqui, venha,
vou pedir que Andreia nos sirva um dos seus mingaus de milho fabulosos.
Ela diz toda orgulhosa e sai em direção a cozinha, Silvana passa seu
braço pelo meu e seguimos para o seu escritório, cumprimentando algumas
pessoas que passam por nós. Olho em volta e vejo com alegria como a
ampliação da ala oeste, para as novas salas de música e um novo laboratório
de ciências, está quase pronta, meu avô deve estar muito feliz, onde estiver,
que estejamos mantendo o sonho da sua esposa cada vez mais vivo.
— Agora que já estamos aqui pode começar a falar por que veio e não
diga que é só uma visita social, conheço meus filhos o suficiente para saber
— Por que acha que tenho algo para falar? — brinco mesmo sabendo
que ela tem razão.
até parar junto a sua mesa e encosta nela, sustentando o peso do corpo com os
braços e um suspiro sai dos seus lábios antes que seu olhar vague e se torne
saudoso.
— Lembro o dia que você chegou nos braços do seu pai, tão pequeno
e frágil, quando te vi me apaixonei de imediato e desde então se tornou o meu
filho, seu pai e eu tínhamos nos casado há poucos meses e o mesmo me disse
que você era filho de uma funcionária da empresa, a mulher era mãe solteira
e não tinha condições de criá-lo, a história me pareceu verdadeira na época e
eu te acolhi no meu coração e fiz o meu melhor.
— Sim, não gostaria de ter tido outra mãe, mas quando descobriu a
verdade? — finalmente estou colocando para fora as perguntas que há muito
rondam na minha mente.
— Você tinha três anos e eu percebi que a cada dia ficava mais
parecido com seu pai, quando falei sobre isso com a minha mãe ela disse que
era coisa da minha cabeça, crianças tendiam a repetir gestos e trejeitos dos
adultos com quem conviviam, mas não era apenas isso, tudo em você me
mim.
— Luana estava com seis meses quando aquela mulher que mais
parecia uma menina bateu na minha porta, ela estava extremamente magra e
notavelmente precisando de ajuda, tinha alguma coisa muito familiar nela e
eu não sabia o que era, de início a trouxe para trabalhar aqui na Fundação,
Mariana parecia um animalzinho acuado, todas as vezes que a via com as
crianças uma tristeza profunda ficava evidente no seu olhar, Andreia também
notava e foi aos poucos a ajudando, primeiro com o vício e depois ganhou
sua confiança o suficiente para que ela abrisse o jogo.
outras se deixou levar pela fuga dos problemas, mas que conseguiu reunir
forças o suficiente para pedir ajuda antes que fosse tarde demais — Silvana
diz muito séria, defendendo a mulher com quem seu marido teve um caso
com uma fúria impressionante.
— Como a defendo? Fácil, ela não teve muitas opções antes e quando
pôde decidiu fazer a coisa certa e desde então continua fazendo, mas voltando
a história, ela contou para Andreia que a convenceu a me contar a verdade e
eu, mesmo querendo confrontar o seu pai, não fiz, ela me fez prometer que
não faria nada, a coitadinha tinha mais medo de Vitorino do que o diabo da
cruz, não a culpo.
— Como não? Ela me vendeu para ele e com certeza tinha medo de
— Como assim?
Agora quem está confuso sou eu, se bem que do meu pai eu não
ficaria surpreso se mais alguma barbaridade fosse exposta.
— Querido, seu pai não pagou nem um centavo para ficar com você,
sua mãe era apenas uma menina de dezesseis anos quando lhe deu a luz,
morava num dos bordéis que seu pai frequentava e a dona permitiu que ela
ficasse lá enquanto estivesse grávida, Vitorino só apareceu quando soube que
você tinha nascido e com a ajuda da lábia afiada de Arnoldo convenceu
Mariana de que se não abrisse mão de você eles a fariam ser presa por estar
com um bebê num lugar daqueles, sendo ela uma garota sozinha no mundo e
assustada acreditou que era realmente possível que isso acontecesse.
essa a pergunta que faria. — Sim, ele fez e eu o confrontei anos depois
quando você foi embora de casa e ele confirmou.
— Mas por que me fazer acreditar que ela tinha me vendido? — Não
consigo conciliar tanta informação junta.
— Eu não sei, querido, seu pai por muitos anos foi alguém que não
posso afirmar que eu conhecia, no entanto, nos seus últimos dias ele foi capaz
de repensar muitas coisas, algumas teve tempo de reaver e tentar de alguma
forma compensar, já outras nem se quisesse ele conseguiria.
— Sim, sei onde ela está, apesar de não ter sido assim por um longo
período — diz e volta a me puxar para o sofá. — Como sabe, ela foi babá de
Luana, essa foi uma forma que achamos dela se aproximar de você e
conquistar sua confiança antes de contar toda a verdade, mas eis que um dia
chego em casa e encontro apenas um bilhete agradecendo tudo que fiz por ela
e pedindo que não deixasse de cuidar, proteger e amar você, na época não
entendi, mas aceitei a decisão dela, apenas quando você já tinha ido embora
de casa e entrado para a Polícia Militar que voltei a vê-la.
confiança que tinha, me contou o que aconteceu aquele dia e por que foi
embora, ela estudou muito para conseguir entrar na faculdade e cursou
Direito, diante de mim não estava mais a Mariana fragilizada e com medo,
mas sim a Dra. Mariana de Toledo, advogada e futura agente da Polícia
Federal, nunca senti tanto orgulho de alguém na minha vida, tirando você e
Luana.
— Espera, a minha... Mariana é uma agente da Polícia Federal? —
Não sei o que sentir ou pensar.
ele de cima a baixo, o terno bem alinhado sobre uma camisa branca com os
primeiros botões abertos, sua postura um pouco rígida demais, num sinal
claro que não está nem um pouco satisfeito em estar aqui e me pergunto se
veio obrigado.
de que meu amigo de longa data não tenha virado as costas para mim em
favor do meu pai, nem que tenha caído na lábia dele, o que não seria difícil
de acontecer.
um aliado infiltrado no covil do lobo, por assim dizer, mas não deixarei pistas
de que é isso que estou pensando.
que me tornasse o seu genro e eu pensei "como assim?", porque eu sei bem
como você é e se cogitasse a possibilidade de ficarmos juntos não teria
voltado com aquele sujeito, mesmo que tenham terminado e principalmente
estando grávida dele e duvido muito que estejam separados realmente.
— E não adianta fazer essa cara para mim, Lia, eu te conheço bem o
suficiente para saber que não estaria tão bem e com um olhar de apaixonada
assim se estivesse em pé de guerra com o pai do seu bebê.
Até eu me admiro como minha voz sai tranquila e sem tremer nem um
pouquinho, acho que estou pegando jeito nessa coisa de fingir e esconder os
sentimentos.
— Pode até ser, mas não muda o fato de que você é apaixonada por
ele e não aceitaria que outra pessoa assumisse a paternidade da sua filha além
dele. — Os olhos de Raul têm aquela fagulha determinada que sempre achei
ser sua forma de dizer que sabe do que está falando.
— Ele fez uma proposta para você, não foi? — Não preciso dizer a
quem me refiro, um aceno rápido de cabeça é toda a resposta que tenho antes
da sua mão segurar a minha sobre a mesa e o sorriso mais do que radiante
encher seu rosto.
— Sorria como se estivesse gostando do meu toque — pede entre
dentes e meu corpo tensiona momentaneamente antes que faça um sorriso tão
radiante quanto o dele surgir nos meus lábios e aproveito para entrelaçar
nossos dedos e recebo seu balançar de cabeça em concordância.
terem se cruzado, apenas quando ele se afasta que os ombros de Raul relaxam
e ele puxa a mão de volta e me olha levemente constrangido.
— Desculpa por isso, mas um dos cães de guarda do seu pai estava
nos observando e para qualquer efeito eu vim aqui para tentar convencer você
a se casar comigo.
na minha cara ou me questionar sobre, esse é meu amigo e uma parte minha
roga para que um dia ele encontre alguém que o ame como ele merece ser
amado.
— Eu também fico feliz por ter aberto meus olhos antes que fosse
tarde. — Um sorriso triste cruza seus lábios. — Espero que não tenha feito
nada sem volta e que comprometa sua felicidade.
acredita que pode me manipular, mas eu aprendi que ser seu amigo é muito
melhor do que ser uma marionete do seu pai para o resto da vida.
Digo determinada e sei que essa é a última peça para o golpe final
contra Arnoldo.
— Não, nem pensar nisso! — esbravejo ainda dentro do elevador do
prédio onde fica o consultório do obstetra de Cecília. — Me admira que você
tenha concordado com isso, Cecília.
— Cícero, seja racional pelo menos uma vez na vida, será fingimento
— tenta argumentar.
— Como pode confiar naquele merdinha depois de tudo? Sabe que ele
é um pau mandado do seu pai e ainda assim encontrou com ele sem que eu
soubesse, como se não fosse pouco fez acordos com ele, ah faz favor! Sabia
que tinha algo errado com você logo que te vi.
rosto de Cecília entra no meu campo de visão, ficando entre mim e Raul.
para os meus braços e lhe dar tudo que deseja, mas como bem colocou dias
atrás, nosso relacionamento não pode girar apenas em torno dela.
— Cícero, não precisa ser um idiota — Cecília fala com esses olhos
escuros demais me implorando para ouvir pelo menos.
a vigilância que tem sobre ela, ele me contou exatamente onde estão os seus
vigilantes, por assim dizer.
— Você é o pai, ele não pode achar que todos são como ele — Cecília
diz, tocando o meu braço.
Ele fala como se tivesse uma carta na manga, estreito meus olhos não
sabendo se acredito muito que as coisas sejam tão simples assim. Olho para
Cecília e ela dá de ombros, aparentemente não está sabendo de nada.
— Não, não virei, mas nas "pesquisas" que fiz eu pude notar certas
discrepâncias nos números e se tem uma coisa que o governo odeia são
pessoas roubando o que ele poderia roubar. — O imbecil parece não ser mais
tão imbecil assim, vejam só.
— Não vou encontrar com ele outra vez, que fique bem claro! —
Cecília se pronuncia e internamente sinto meu ogro vibrar de orgulho.
— Não precisa, basta deixarmos as pessoas certas nos verem juntos,
ele vai descobrir por si só e vai ser melhor ainda.
de todas as verdades.
— Certo, não estou dizendo que confio plenamente em você, mas vou
lhe dar um voto de confiança, consiga tudo que for possível e me avise, terei
a pessoa certa a quem entregar — digo e em sinal de boa fé estendo-lhe a
mão em cumprimento.
com a minha vida e aperto seu corpo na altura do quadril fazendo com que
ela sinta como já estou completamente duro e pronto para fodê-la, se tivesse
como, aqui mesmo nessa garagem, o gemido rouco que sai dos seus lábios
me leva a loucura e aprofundo ainda mais minha língua na sua boca, pedindo
passagem e persuadindo para que a dela entre na dança comigo.
— Sim e não, tem alguém que quero que conheça e algo que preciso
lhe mostrar.
bunda que faz a malícia cruzar seus olhos e seu rosto corar, com certeza
despertei alguma lembrança sacana nela.
— Tá bom!
Beijo seus lábios mais uma vez antes de deixá-la ir, ao entrar no carro
ela me olha e abre um sorriso tão bonito que sinto meu coração falhar uma
batida e se antes eu já sabia que faria qualquer coisa por ela, agora sei que me
enganei, faria quase tudo, pois não suportaria ficar sem ela.
— Ah, não fique emburrado, Alexandro, sabemos que você não gosta
do seu nome — implico com ele como fiz durante muitos anos, Alex odeia
que mudem o seu nome e Sabrina me contou quando eu ainda era uma
— Você está muito estressado, Alexandro, faz quanto tempo que não
encontra Patrícia? Aliás, avise a ela que estou magoada por ela sequer ter me
ligado nos últimos tempos.
Com isso ele vira o rosto um pouco para mim e noto uma careta sutil
Ele não me responde, mas a forma como aperta o volante me diz que
acertei em cheio, só não fico feliz com essa notícia por ter pensado que os
dois iriam enfim se entenderem, nas poucas vezes que consegui fazer Patrícia
se abrir ela me pareceu disposta a recomeçar a história deles.
— Ei, não pedi que fizesse nada pra mim, tá ok? — Cruzo os braços
sobre a minha barriga.
— Não, mas seu noivo sim, e tem poucas coisas que não faria por ele
e por você também, então pode parar de fazer bico.
Agora é minha vez de revirar os olhos, não estou fazendo bico
nenhum.
— E o que tem nesse lugar onde ele mandou, pediu ou o sei lá o que,
para você me levar? — Não gosto de mistérios.
— Nem fale, mas esqueçamos isso até chegarmos lá, vamos, quero
saber como está minha afilhada, já escolheram o nome? Alexandra é um belo
nome para menina, não acha?
lista.
prédio admirado.
— Não sabia que aqui era aqui? — minha pergunta sai um tanto
confusa, mas ele entende.
— Não que eu saiba, mas acho que vamos ficar no apartamento dele.
— Dou de ombros e saio do carro.
— Hei, tá tudo bem? — pergunto quando ele envolve meu corpo com
os braços e inala meu perfume ao sugar uma respiração profunda.
— Vocês demoraram, Deus, como eu preciso de você — o desespero
na sua voz me deixa mais alerta ainda.
uma hora, esse é do tipo que consola e diz que estou aqui por ele e para ele
sempre que precisar.
Meu comandante me puxa para ficar ao seu lado e meu olhar vai em
direção à porta que acaba de ser aberta e uma senhora de no máximo
cinquenta anos, acho eu, sai de lá e nos fita com olhos lacrimosos, seu olhar
fixa-se em Cícero e sinto o corpo dele tensionando e apertando de leve a mão
lágrimas e vejo seus lábios tremerem um pouco mais ao dar um passo à frente
e muito lentamente se aproximar de Cícero, que para minha surpresa me solta
e completa o espaço entre eles a abraçando e assim como ela desaba num
choro como nunca imaginei que veria vindo dele. Alex vem ficar ao meu lado
e não deixo de notar que estamos surpresos e comovidos com a cena a nossa
frente, pois essa é uma parte da vida de Cícero que não tínhamos esperança
que um dia se resolvesse, mas aqui está e creio que a partir daqui tudo ficará
bem.
Não estava preparado para revê-la depois de tantos anos, nos últimos
dias, desde que Silvana me falou dela e contou uma nova versão da história,
fiquei horas e horas acordado imaginando o que diria quando estivesse frente
a frente com ela, mas a verdade foi que fiquei esperando do lado de fora do
seu apartamento por mais de meia hora enquanto esperava que Alex seguisse
o caminho mais distante possível para trazer Cecília, assim despistaria
qualquer um que estivesse vigiando-a, me dando tempo de chegar sem ser
notado.
Durante o tempo que esperei sabia que ela estava do outro lado da
porta, mas sempre que me aproximei da porta a insegurança me dominou, e
se ela não me perdoasse por acreditar no meu pai? E se me dissesse que não
queria me ouvir, assim como não deixei que explicasse para mim sua versão
dos fatos? Todas essas questões passaram por minha mente e eu acreditei que
seria exatamente assim, por isso precisava de Cecília aqui, minha anja-
demônia, que sem saber me transmite a força necessária para assumir que sou
humano e como tal sou frágil e falho. Não imaginei que Mariana estivesse tão
ansiosa pelo reencontro quanto eu e receber um abraço dela me fez voltar a
ser aquele garoto de treze anos que deixava que ela acariciasse meu cabelo
enquanto lia histórias para Luana dormir.
conversar melhor.
Ela caminha na frente e mantém a porta aberta para que eu, Cecília e
Alex entremos, a primeira coisa que notamos é o espaço amplo e bem
decorado, noto que o meu gosto não difere muito do dela. Caminhamos até
sentarmos no sofá que toma boa parte da sala de estar.
— Querem uma água, suco, café? Eu não fico muito em casa, mas
meu marido Rogério mantém nossa dispensa abastecida. — Mariana parece
um pouco nervosa, assim como eu.
— Você casou faz tempo? — a pergunta sai antes que controle minha
curiosidade.
marido.
— Por que não teve outros filhos? — Nunca fui do tipo perguntador,
mas nesse momento sinto que preciso saber o máximo sobre ela, pois nunca
conseguiremos recuperar o tempo perdido. — Desculpe se estiver sendo
inconveniente.
durante anos me dediquei somente a isso, quando conheci Rogério já não era
mais uma criança e meu trabalho cobra um bom pedaço do meu tempo, dias
assim sem nada para fazer são uma raridade — finaliza com um sorriso e
tento devolver, mas a verdade é que estou pensando em quantos anos da vida
dela meu pai lhe roubou, sei como uma pessoa com medo pode evitar fazer
ou sequer falar algo que cause retaliação do seu opressor.
que a mãe poderia ter sido se não tivesse passado tantos anos sob a influência
de Arnoldo.
em tudo, mas em traços que deixam evidente que ela é minha mãe, como
acontece entre Luana e Silvana.
— Não, existem coisas piores do que a morte para pessoas como ele,
não se preocupe — Mariana responde e Cecília respira fundo, balançando a
cabeça.
— Mas eu não tenho ciúmes dele e também não confio. — Alex vem
ao meu auxílio como sempre.
Mariana.
minha mãe, e pelo que o mesmo me falou Arnoldo a usa para lavar dinheiro
das suas falcatruas, aposto que a Polícia Federal adoraria colocar as mãos em
um esquema que já dura anos como esse.
— Oi, entra! — Aceno com a mão e logo ela está sentada com as
— Não sei ainda, só quero ter alguma ideia do que eu quero fazer nos
próximos meses — sou sincera quanto a isso.
próximo possível, quando não está de plantão fica na casa da tia Vera, o que
ela acha maravilhoso, só não sabe que não existe infiltração alguma no
apartamento dele.
forma envolvidas nisso tudo, tenho medo que no fim tudo isso seja por nada e
que tenha perdido um tempo precioso ao lado do meu homem por estar
buscando justiça à memória da minha mãe, não que ache que ela não tenha
sua parcela de culpa em tudo, só que ainda assim não me sentirei bem e
pronta para recomeçar antes que veja Arnoldo perder tudo que sempre amou,
o dinheiro, porque amor pelas pessoas ele não sabe o que significa.
— Lia, não ouviu nada do que eu disse, não é mesmo? — Olho para
Sabrina e coro envergonhada, realmente não ouvi mesmo.
— Você sempre fez isso, por isso não me irrito mais. — Sorri e aperta
minha mão, mas noto quando de forma discreta ela vira meu braço para que
tenha uma visão clara do meu antebraço.
— Tudo bem, por um tempo foi esse hábito que me manteve longe
das lâminas, só que agora minha garotinha precisa de mim, não vou cair em
tentação. — Ela se afasta para me olhar e parece acreditar no que eu falei.
Rio da sua expressão, mas por que Luana estaria lá na casa dela e não
falando com a minha avó. Se bem que não ouvi vovó faz tempo.
— Não, ela saiu com a minha mãe pouco antes de eu vir pra cá. —
Estranho para dizer o mínimo.
Mas antes que eu comente meu celular toca e estendo a mão para ver
o rosto de Luana me fazendo careta na tela, minha cunhada às vezes parece
uma criança. Atendo no segundo toque e sua voz animada enche meus
ouvidos.
Seu tom deixa claro que não está para brincadeiras, olho para Sabrina
pensando como vou sair sem dizer a ela onde estou indo e pior, sem que me
siga, já que é a sua casa meu destino, no entanto ela está franzindo o rosto
para a tela do seu telefone e antes que eu perceba está em pé me olhando com
dúvidas.
está divino.
Tento parecer o menos ansiosa para que ela saia possível, a sigo até a
porta e vejo ela tomar um rumo diferente da sua casa, aproveito para pegar
meu celular e sair para encontrar Luana e esse algo importante que me
aguarda. Por sorte a casa da tia Vera fica a apenas três ruas da minha e logo
estou apertando a campainha três vezes seguidas, como fazia na adolescência
acende na minha mente, mas deixo isso para outro momento, pois minha
atenção é voltada para a senhora sentada ao seu lado.
que exala dela para as demais pessoas. Ela ergue uma sobrancelha ao me
observar antes de virar para Luana que se põe de pé para quebrar o silêncio
constrangedor.
dizer.
— Não, ele pode ser meu pai biológico, mas eu nunca serei filha dele.
— Com isso um sorriso lento começa a se espalhar pelo seu rosto.
Estreito os olhos para ela e ergo meu queixo antes de fazer a pergunta
— Ela seria?
— Acalme-se, criança, não vim aqui falar mal da sua mãe, nem
poderia, nas poucas vezes em que a vi fiquei impressionada com a
determinação que ela tinha.
para eles, acho que dá certo, pois se olham e parecem ter aquela conversa
silenciosa que casais têm, isso só reafirma minhas suspeitas.
Caminho até o sofá e espero que comece a falar, ela senta também e
retira algo de dentro da sua bolsa e me estende, ao pegar vejo que é uma
fotografia dela com um rapaz.
— Eu sinto muito.
— Sei que sim, ele era a minha luz em meio aos destroços do meu
casamento, éramos muito próximos e isso desagradava a Arnoldo,
principalmente quando descobriu a sua homossexualidade, há trinta anos isso
era praticamente um crime social e aquele verme nunca deixaria que
menino era um espírito livre e como tal não se deixou amarrar facilmente, até
que conheceu alguém que mexeu com ele, eles se apaixonaram e até
pretendiam morar juntos quando meu filho fizesse vinte e um, eu os estava
ajudando no plano de fuga perfeito, ele iria embora para outro estado e por
mais que me doesse ficar longe faria o sacrifício por ele, mas então Arnoldo
descobriu e uma noite ao sair de casa Gustavo não voltou, me ligaram do
hospital onde eu o encontrei ensanguentado na sala de espera, alguém tinha
assassinado o parceiro do meu filho numa suposta tentativa de assalto.
— Não!
magro e abatido, três meses depois acharam o copo dele junto a uma lixeira
dele, minha resposta foi que se ela o tivesse levado no dia anterior já seriam
dois dias, eu já não o via como meu marido há muito tempo.
— Sua mãe era uma adolescente ainda, a influência do seu pai sobre
ela estava bem avançada e creio que ela não acreditou, não a procurei
também, pois ainda estava muito abalada e por anos lutei contra depressão.
Foi só alguns anos depois que eu e ela nos encontramos, todo o brilho e
vivacidade que ela tinha anos atrás tinha sumido e no lugar ficou uma sombra
que obscurecia o olhar dela, senti que ela precisava de ajuda, mas não soube
como ajudá-la, apenas lhe indiquei um advogado de confiança para que
assegurasse que Arnoldo não sairia com tudo no final, segundo ela me
contou, sentiu que seu tempo ao lado dele estava se esgotando, logo ele daria
um jeito de conseguir outra para a função que ela desempenhava e temia que
fosse você, não compreendi de imediato, mas quando o advogado que lhe
ajudou me procurou pouco depois do suicídio dela eu compreendi o suplício
que aquela menina vinha passando.
— Por quê?
— Porque jurei que um dia conseguiria acabar com ele pelo que fez
ao meu filho, só não sabia como fazer, até Silvana entrar em contato comigo
e contar sobre você e sua vontade de me conhecer eu apenas acumulava
provas, então vi ali minha chance de fazer justiça à memória do meu menino,
mesmo depois de tantos anos.
— Alô? — Tento equilibrar o celular entre minha orelha e o ombro ao
abrir a porta, minha outra mão está ocupada com as inúmeras sacolas com as
coisas que comprei para minha filha, sim, eu saí e passei a manhã inteira
escolhendo o que imagino que minha garotinha irá precisar e se isso me faz
parecer um maricas não me importo.
— Isso importa? Droga, Cícero, faz três horas que te ligo e nada. —
Parece bem irritada, nos últimos dias ela tem estado cada vez mais
aborrecida.
— Vai me dizer onde estava? — pergunta, mas agora com aquele tom
Puta que pariu, isso é tudo que faltava para o meu pau despertar
completamente, com passos rápidos viro as costas para as sacolas e tranco a
porta, ainda ouvindo seu riso endiabrado, ah minha anja-demônia, você vai
pagar por todos esses dias de abstinência que tenho vivido.
chance de ficar com Cecília a sós depois de tantos dias em que nos falamos
apenas por telefone causa um frenesi no meu sistema nervoso, a cidade passa
por mim e sem que perceba já estou estacionando em frente ao hotel que ela
me disse.
no elevador deixo o ar entrar e sair dos meus pulmões para evitar que acabe
agindo como a porra de um adolescente tarado, que ao saber que seu flerte
com a garota mais bonita da escola deu certo acaba gozando nas calças só de
imaginar tocá-la.
— Senti sua falta — falo ao afastar meus lábios dos seus e descê-los
até sua barriga muito redonda.
Vira-se até que está sentada de frente para mim, seus olhos descem
pelo meu tronco exposto com aquele brilho faminto deixando o castanho
ainda mais escuro.
— Não me olhe assim, estou me segurando para não foder você com
força, mas se continuar não vou me segurar.
seu olhar faminto, o grunhido dela em apreciação ao ver meu pau ereto e
pronto para fodê-la me deixa louco. Subo na cama e sento sobre as minhas
pernas para que possa ter meu tempo com ela.
pra trás.
ela ri, mas para assim que minha boca toma seu seio direito entre meus
lábios, seguro seu corpo com um braço e desço minha outra mão em direção
a sua calcinha, posso sentir sua umidade através do tecido e ela joga a cabeça
para trás assim que meus dedos ultrapassam o limite, tocando seu clitóris que
já pulsa.
— Está tão pronta para mim que chega a ser difícil não a foder agora
mesmo.
Abocanho seu mamilo e adentro sua boceta com dois dedos, a palma
da minha mão tocando seu clitóris a cada movimento que faço dentro dela,
sua boceta sugando meus dedos cada vez mais rápido e quando noto que vai
explodir em um orgasmo solto seu seio e tomo sua boca, minha língua
imitando o movimento dos meus dedos, dois segundos depois sinto suas
paredes internas apertando meus dedos com força e um grito sai dos seus
lábios. Continuo masturbando-a até sentir seu corpo diminuir o tremor. A
ajudo a ficar de pé e retiro sua calcinha, fazendo-a ficar sentada no início da
cama antes de ficar de joelhos e cair de boca na sua boceta rosada que me
convida a provar do melhor dos sabores.
Cecília segura o peso do corpo meio desajeitada e ergue o quadril
para rebolar na minha boca, causando a fricção que sei que vai levá-la a um
novo orgasmo muito em breve, aperto um dos seus seios e dedilho a sua
entrada úmida ao mesmo tempo que sugo seu clitóris com meus lábios como
se estivesse chupando sua língua, seu corpo treme e eu paro antes que goze
mais uma vez, a puxo e tomo seu lugar na cama e puxo seu corpo para mim,
de costas faço com que desça sua boceta sobre o meu pau que pulsa
esperando esse momento.
um pouco mais.
— Vou gostar ainda mais quando tiver meu cacete enterrado nesse
cuzinho pela primeira vez — respondo erguendo meu quadril, a penetrando
ainda mais fundo.
Puxo seu quadril para mim e entro nela com uma única estocada, seu
corpo treme e sua boceta aperta o meu pau, repito o movimento mais duas
outras vezes antes de pegar o ritmo, entro e saio dela sentindo suas entranhas
me apertarem mais e mais. Quando sinto que seu orgasmo está chegando toco
seu clitóris e onde nossos corpos se conectam, pegando um pouco da sua
umidade, retiro meu pau até que reste apenas a ponta, deixo minha mão sobre
sua bunda de forma estratégica e espero, quando ela impaciente empurra o
quadril para mim, adentro sua boceta com tudo ao mesmo tempo que o meu
dedo entra no seu cuzinho que o recebe faminto e o fodo imitando os
movimentos que faço com o meu cacete.
— Sim, mas não acho que foi apenas isso, você estava muito firme da
decisão de ficarmos afastados até tudo se resolver. — Ergo uma sobrancelha
a questionando e o sorriso dela se alarga ainda mais, aquele olhar de "Eu sei
de algo que você não sabe!" estampado no seu rosto.
— Não, Raul não é mais necessário, pode ficar tranquilo. — Ela abre
um sorriso imenso.
viver nossa vida sem medo, quando a realidade bate, puxo minha mulher para
junto de mim e beijo seus lábios com vontade, rimos feito crianças quando o
movimento faz com que a água da banheira transborde molhando todo o piso
e não nos importamos, estamos felizes demais e tudo que queremos é
comemorar.
rosto sereno enquanto cochila, não quero acordá-la ainda e estourar nossa
bolha de felicidade, foi a melhor tarde que tive em muito tempo, poder estar
com ela sem medo e saber que tudo que vivemos não foi em vão renovou
minhas forças, se não tivesse que trabalhar passaria a noite aqui com ela e
dormiria com meu corpo colado ao seu, se bem que dormir e Cecília não se
encaixam na minha cabeça, meu corpo sempre quer mais e mais dela. Como
agora que preciso ajeitar o meu pau que lateja imprensado na costura do jeans
Acaricio o seu rosto antes que meu lado selvagem tome conta e eu
volte com ela para aquele quarto de hotel e eu possa explorar suas novas
curvas, nunca pensei que uma mulher grávida me deixaria com tanto tesão
como estou agora, mas não é o fato de ser qualquer mulher, é por ser ELA, a
minha anja-demônia que agora me olha com esses olhos escuros sonolentos e
um sorriso travesso surgindo nos lábios.
cola sua boca na minha, sugando meu lábio inferior e não controlo o rugido
animalesco que me sobe pela garganta.
— Eu lembro bem da noite que você empatou a minha foda com Raul
e aquela ruiva peituda, depois Alex passou mal e você me fez gozar aqui
nesse mesmo banco, mas depois me levou para casa, se não tivesse feito valer
no dia seguinte eu iria matá-lo por aquilo, foi uma noite bem difícil de
dormir.
— Tenho um reserva no meu armário de lá, não vou sair daqui sem te
pequeno portão e vejo seu carro estacionado ali, ainda bem que ela parece ter
decidido aposentar essa lata velha, só não posso falar isso em voz alta ou terei
problemas.
jantar? Eu não acho que isso pareça com algo que ela faça, não parece a
senhora dura na queda que eu conheci.
— Vó, está aí? — Cecilia bate na porta do quarto da avó, mas não
recebemos resposta.
— Ela não saiu para alguma coisa da igreja? — pergunto e ela franze
a testa pensando, dá de ombros e pega o telefone da bolsa.
— Não lembro dela ter mencionado nada... — diz, discando o
telefone da avó.
lado.
— Onde está o pendrive que Amália deu para essa ingrata que é
minha filha? — rebate.
— Vai fazer o quê? Não tenho medo de você, seu bastardo filho da
puta, vocês têm duas horas para me entregarem o que quero ou receberão a
vovozinha em pedaços que nem o Lobo Mau deveria ter feito na história da
Ele espera por uma resposta minha, mas não terá, olho para Cecília e
vejo as lágrimas correrem soltas pelos seus olhos, ela me olha e dentro de
mim o instinto protetor fala muito mais alto, não deixarei que aquele monstro
chegue perto da minha mulher ou da minha filha.
— Que seja, não me importo se vou matar você na frente dela ou não,
mas saiba que tenho alguém de olho para garantir que não faça nenhuma
bobagem, se ousar me enganar ela também irá sofrer as consequências e a
criança que ela espera também. Duas horas, Duarte.
Ele desliga e eu deixo o telefone cair no balcão para que possa abraçar
a minha mulher o máximo que eu puder.
— Mas e você? Ele não vai deixá-lo sair de lá ileso, te odeia como a
ninguém mais, irei enlouquecer enquanto espero — tento mostrar como fazer
a escolha entre ele e a minha avó é impossível, seus braços me apertam um
pouco mais e sinto a tensão que emana dele.
— Eu ficarei bem, desde que saiba que você e nossa filha estarão
seguras aqui me esperando. Por favor, não faça nenhuma besteira, minha anja
justiceira, terei mais chances de ser bem sucedido se não estiver preocupado
com vocês.
que isso não duraria muito tempo, o bicho papão estava à espreita como
sempre.
manterá em segurança até que eu volte. — Ele está me pedindo muito mais
do que acho ser possível.
Ergo minha cabeça que é segura pela suas mãos e sou atingida por
todo o amor que está visível no azul profundo dos seus olhos, minha
respiração fica presa por alguns instantes e me ponho nas pontas dos pés para
colar minha boca na sua, como esperado ele corresponde de imediato e não
há urgência ou o desejo intenso nesse beijo, há o reconhecimento de dois
corações que batem no mesmo ritmo e nesse momento falam um pro outro
que não importa o que aconteça, nos amamos e esse sentimento nos torna
mais fortes e indestrutíveis.
faz sentar no seu colo e ficamos assim até que a campainha toca e sei que se
trata da irmã dele e Alex.
Cícero levanta para abrir a porta para eles e logo é abraçado por
ambos, vejo quando Alex entrega a ele o pendrive que Amália me entregou
— Certo, estou indo pra aí. — Desliga e caminha até onde estou, fico
em pé e jogo meus braços em volta dele.
— Eu te levo no meu coração, meu amor, vou ficar bem, tenha fé que
logo estarei de volta para vocês.
Ele agacha, toca minha barriga e conversa com nossa filha que se
mexe como se estivesse entendendo tudo, mas o movimento cessa quando
outra fisgada me atinge em cheio.
— Eu volto logo! — diz beijando meus lábios mais uma vez, agora
com a urgência típica dos nossos beijos. — Eu te amo, Cecília, muito!
Ficamos assim por alguns instantes até que não podemos mais
prolongar o inevitável, com um beijo em minha testa e um selinho nos meus
lábios eu assisto ao amor da minha vida sair ao resgate da minha avó e nunca
meu coração doeu tanto como nesse instante, fecho os olhos e abraço o meu
corpo, chorando baixinho. Luana e Alex entram em ação ligando para todas
as pessoas envolvidas nisso e eu me deixo sentar mais uma vez por estar com
as pernas bambas demais.
sozinha. Acho que tinha algum medicamento nele já que me deixo deitar no
sofá e adormeço cansada pelo choro, acordando apenas quando uma dor com
maior intensidade atinge toda a minha coluna e se espalha pela cintura como
se estivesse partindo meu corpo ao meio, me encolho tentando fazê-la
diminuir de alguma forma.
— Hey, vai ficar tudo bem. — Luana agacha ao meu lado, entendendo
erroneamente o motivo de estar agindo assim.
— Não é isso — digo entre dentes.
— Tem certeza disso, Lia? Você está com menos de oito meses! —
Luana vocifera meus pensamentos, é cedo demais para isso acontecer.
covarde que me bateu não a tirou de mim, me remexo até alcançá-la no meu
bolso esquerdo, retirar a chave do bolsinho interno com zíper é outra história,
agora já sinto o sangue brotando onde o metal cortou a minha pele, travo meu
queixo e tento não pensar na dor, existem piores.
debochado cruzando seu rosto, me mantenho com cara de tédio, sei que isso
irrita bastante e para um falastrão como ele, deve ser ainda pior.
— O que eu pensei que faria, já que foi treinado para não ceder à
exigência num caso de sequestro, não é mesmo, ou não deu tempo de fazer
essa aula antes do seu pai mexer uns pauzinhos para você ser indicado ao
CIOPAER.
Ele cita o meu pai tentando me fazer entrar na sua pilha, mas esse é
um assunto já resolvido para mim, soube no instante que a minha nomeação e
de Alex veio para subirmos de patente, mesmo com tão pouco tempo na
Polícia Militar, que ali tinha dedo do meu pai e anos depois Silvana me
confirmou que ele cobrou favores antigos das pessoas certas, se eu tinha
decidido seguir outro caminho, por enquanto, ele faria de tudo para que logo
atingisse meu objetivo maior, supondo que eu fosse me desinteressar com o
— Que foi, não te irrita saber que se hoje você brinca de pilotar é
graças ao seu pai?
— Ah, ainda não chegou a hora de trazer a bruxa velha para nossa
reunião.
Ele pega a cadeira que está na minha frente e senta, me olhando como
se estivesse tentando desvendar o segredo do universo na minha expressão
que não se altera. Os capangas dele se afastam quando o mesmo faz sinal
com a cabeça indicando que devem sair, isso me dá a oportunidade que
esperava, esse é o momento da distração, e aproveito para remexer meu
ombros e ergo meu tronco sutilmente para permitir que minhas mãos
— Por que foi atrás dela, então. Pensei que me faria ver como você a
odeia e blá, blá, blá — falo, revirando os olhos menosprezando-o.
der certo hoje, aquela velha não será mais problema, até minha filha vai sentir
alívio quando não a tiver mais azucrinando seus ouvidos, claro que primeiro
vai vir aquela fase de luto onde vou ser o bicho papão escondido no armário,
mas quando o tempo passar e ela estiver assumindo o lugar que lhe é de
direito, vai ver que fiz o melhor por nós.
Ele só pode estar frescando com a minha cara ou tomou água sanitária
no lugar de café, é uma sandice sem tamanho o que está dizendo, achar que
Cecília irá algum dia ficar feliz se a avó que tanto ama for tirada dela assim é
realmente não ter ideia da personalidade forte que a filha tem, mas como ele
poderia saber de algo se após a morte da mãe dela ficou o mais distante
possível, voltando a vida dela apenas quando o nosso casamento ameaçou
tirar das suas mãos o fruto de anos de falcatruas suas?
levará toda culpa no fim das contas. Alfredo, Leonardo, tragam nossos
convidados.
Ele grita para o que imagino serem seus capangas e não demora para
que passos se façam ouvir atrás de mim. Quando dona Clarisse entra no meu
campo de visão, respiro aliviado por ver que ela não está ferida e o capanga
que a acompanha a trata com o mínimo de respeito possível, ele traz em uma
das mãos uma cadeira dobrável e a abre para que ela sente em frente a mim.
E para minha surpresa, logo em seguida vejo Raul sendo empurrado por outro
capanga, ele manca um pouco como se a perna estivesse bastante machucada,
a careta que faz a cada passo me dá essa percepção.
— Claro que não, você é burro demais para fazer algo certo. — Ela o
desafia a contestá-la e vejo os punhos dele se fecharem, me remexo para abrir
minhas algemas, mas não posso dar bandeira do que eu estou fazendo.
— Você verá quem é burro, velha bruxa, chegou o dia que vou enfim
disse que você não poderia fazer nada com a empresa da Lia, que todo
rendimento iria para uma conta que não teria acesso e receberia somente os
honorários devidos pelo trabalho, e sendo você o imbecil que é, continuou
fazendo a empresa crescer achando que voltaria a vida da minha neta depois
de anos e ela o receberia de braços abertos, é tão burro que vai se afogar na
sua própria burrice.
Arnoldo, mesmo não muito satisfeito com o que ela disse, tenta mostrar que
não se abalou nem um pouco, mas a tensão no seu corpo deixa claro que não
é bem assim, está fervendo por dentro.
— Você não passa de uma velha gagá que não sabe porra nenhuma da
vida, acha que viver se resume a ir à igreja e fazer tricô, como disse, alguém
desnecessário para estar na vida da minha filha, chegou a hora dela assumir
seu lugar e me aceitar como pai dela, o que não aconteceria com você
buzinando balelas nos ouvidos dela. E agora que ela não terá mais nenhum de
vocês por perto, restará apenas o papai. Diga-me, Raul, valeu a pena me trair?
um peão no jogo desse verme e agora que não tem mais serventia será
descartado facilmente. Aproveito que a atenção de todos está em outras
pessoas e começo a destravar minhas algemas, dona Clarisse nota meu
movimento e balança sutilmente a cabeça, me incentivando continuar.
— Vá, cabra, dê logo essa porcaria de arma pra esse embuste, duvido
que tenha coragem, não passa de um covarde que usa as pessoas — dona
Clarisse continua e vejo a cor de Arnoldo chegar ao vermelho máximo.
esperando que ele me responda o olhar para lhe dizer o que pretendo fazer
antes que seja tarde. Quando acontece o momento parece durar uma
eternidade, mas eu sei que isso é a adrenalina tornando tudo estendido,
quando na verdade não são mais do que segundos entre um acontecimento e
outro.
Raul me olha e com o leve inclinar de cabeça aponto para a arma que
Alfredo começa a estender para Arnoldo com uma mão um tanto trêmula, é a
nossa chance, ele compreende e tensiona o corpo se preparando, retiro as
momento de reagir. Raul se joga para frente com as mãos puxando os dois
capangas do lado dele, eu me levanto em um salto pegando Arnoldo e
Alfredo de surpresa quando retiro a arma da mão do capanga, o socando com
o cotovelo em seguida, aponto para Arnoldo e atiro na sua perna o fazendo
cair com um grito alto e escuto dois novos disparos, minha atenção se volta
para a massa de corpo que é Raul e os dois capangas e vejo o sangue
começando a se espalhar de Raul e do outro capanga.
Aponto na sua direção, mas antes que puxe o gatilho ele cai de
joelhos, olho para o lado e vejo Raul meio caído, meio de lado com uma arma
A arma na minha mão cai no instante que vejo a minha mãe surgir na
minha frente, seu rosto com vincos fortes de preocupação que se desfazem
quando me vê e logo seus braços estão ao meu redor, enquanto seus homens
tomam de conta das demais pessoas.
— Eu nunca senti tanto medo como agora! — Mariana diz ao se
afastar para me ver melhor.
— Você é quem vai dizer, cara, foi um herói, precisa ficar bem ou ela
vai te matar novamente! — brinco e um sorriso fraco surge nos seus lábios.
— Claro!
— Pra quê? Não levei tiro, não bati a cabeça, nem tomei porrada. Tô
vendendo saúde, aqui, ele precisa ser examinado, olha os pulsos desse garoto!
— insiste o policial, mas antes que eu tente convencer dona Clarisse de algo,
minha mãe volta até onde estamos.
mais uma vez falar com Cícero, mas o celular dele dá como desligado ou fora
de área. O desespero misturado com as dores que sinto me levam ao limite, as
lágrimas rolam pelo meu rosto e um soluço rebelde me escapa.
— Pare de falar tanto e vá procurar ajuda, não vê que ela está com
dor? — Luana berra com ele e se não fosse tudo que está acontecendo eu
estaria rindo da cara dele.
lembra que a minha filha está com um pouquinho de pressa para nascer.
— Cecília, parece que essa garotinha está com pressa para nascer —
fala um Dr. Felipe confuso. — Onde está a Clarisse? Pensei que ela estaria
aqui dando ordens a torto e a direito.
A menção a minha avó faz a dor emocional que sinto mais forte que a
física e engulo em seco tentando tirar o nó que se formou na minha garganta.
— É bem a cara dela fazer isso mesmo, espero que seja só um alarme
falso, se essa garotinha nascer antes dela chegar, vai ouvir um monte por
anos.
Isso é realmente o que ela fará, mas se Cícero não conseguir trocar o
pendrive pela minha avó é possível que nenhum deles conheça ela e pensar
nisso faz as lágrimas voltarem a empoçar os meus olhos, logo arrumo uma
desculpa para elas.
vem para o meu lado e segura minha mão, no mesmo instante que o médico
começa a fazer o maldito do exame, o desconforto é medonho e isso junto a
contração que vem torna tudo duas vezes pior, aperto a mão dela e ouço o seu
gemido, mas não consigo afrouxar, não até a dor diminuir.
sala para checar se a pediatra que ele chamou para acompanhar o parto já
chegou e depois me dizendo que minha filha está, nos termos dele,
"encaixada corretamente" e não deve demorar muito para que ela venha ao
mundo antes de sair da sala de exames e eu ser levada para um quarto
equipado com monitores. Uma faixa preta é colocada sobre o meu ventre e
segundo a enfermeira isso monitorará os batimentos do bebê, apenas balanço
a cabeça como se estivesse ouvindo tudo que ela me diz, mas na verdade
estou como nas muitas vezes que me cortei, a dor servindo para nublar meus
pensamentos.
presença ou a minha avó aqui comigo. Balanço a cabeça e o Dr. Felipe sai me
deixando sozinha com Luana.
O soluço que vem agora não abafo, deixo ele sair com força ao me dar
conta que estou na mesma posição da minha mãe, dando à luz sem o pai da
minha filha comigo e tudo isso por que o meu pai é um homem amoral que
não pensa em ninguém além dele mesmo. Nesse momento me arrependo por
não ter deixado Cícero me explicar por que mentiu quando descobriu sobre o
testamento do pai no dia do nosso casamento, poderíamos ter vivido tantas
apressada.
— Por favor, ela vai precisar de fraldas, ah meu Deus, não comprei
faldas, mas você pode passar numa farmácia, não é? — Começo a respirar
— Lia, respira fundo, tudo dará certo, pedirei a Alex que faça isso.
— Não, homens são um desastre com isso, por favor? — peço mais
uma vez, agora deixando a urgência ainda mais clara na minha voz.
— Eu seguro!
forte junto com as lágrimas que rolam pelo meu rosto, ele está aqui,
parecendo cansado, com um olho roxo, mas está aqui, não ficarei sozinha no
momento mais importante da minha vida.
— Querem parar com isso? Uma criança vai nascer, apressada, mas
vai nascer — minha avó fala entrando no quarto e eu solto o meu amor para
abrir os braços para recebê-la.
Ela está bem, nem um pouco machucada ou com cara de quem sofreu
fisicamente, me abraça e acaricia meus cabelos e costas falando comigo do
jeito que fazia quando era criança, me dando a certeza de que tudo ficará
bem, a tenho e o amor da minha vida comigo e em segurança, minha filha
logo vai nascer, pode não ser o momento esperado, mas não poderia ser mais
perfeito.
não chegamos ao hospital para onde minha anja-demônia foi levada, o agente
que minha mãe designou para a tarefa de levar a mim e dona Clarisse nos
informou que estávamos nas proximidades do centro de Aquiraz, cidade na
região metropolitana de Fortaleza, e devemos levar mais uns dez minutos até
lá. Isso não ajuda muito a minha ansiedade em ver a minha mulher e me
certificar com meus próprios olhos que ela está bem, a sensação no meu peito
é bem parecida com a de meses atrás quando cruzei o estado para vê-la, se
naquela época soubesse que seu mal-estar era devido à gravidez não teria
suportado a viagem de sete horas, não, daria um jeito de chegar nela o mais
rápido possível.
— Sala de pré-parto, Luana está com ela e sua mãe está na sala de
espera — diz quando começamos a caminhar. — Vim aqui pra te esperar,
— Que tá fazendo aí parado, vai logo ficar com minha neta, caboré,
ela precisa apertar alguma coisa quando estiver sentindo dor e tomara que
seja seus cunhões pra aprender a nunca mais deixá-la sozinha. — Seguro o
— Mas, Lia, quem vai segurar sua mão na sala de parto? — Luana
pergunta.
amor todas as vezes que me olhou nos últimos tempos. Me aproximo quando
ela me chama pelo apelido que muitas vezes foi um convite ao sexo de tão
sensual que a palavra "comandante" fica na sua voz rouca, mas dessa vez ela
vem carregada de carinho e alívio. Seguro seu rosto entre minhas mãos e
depois de cumprimentá-la beijo seus lábios levemente inchados devido o
choro e é como chegar em casa depois de um longa viagem, meu coração
despenca no meu peito e se ergue de uma vez só, ela segura no meu rosto
também, tocando com carinho, até que somos interrompidos pela chegada
nada sutil de dona Clarisse que nos recrimina como só ela sabe fazer.
— Eu estou bem, minha menina, agora precisa ficar calma para essa
apressadinha vir ao mundo em segurança, enquanto você foi uma lerdeza só
pra nascer, essa é apressada demais, também, sendo filha desse caboré
maluco. — Ela revira os olhos, mas me olha com afeto e Cecília ri enchendo
o quarto e meu peito de alegria.
— Vó, ele foi salvar você... — Cecília nos olha agora com mais
atenção, a ruga de preocupação voltando ao seu rosto. — Todos estão bem?
Alguém se feriu?
— Cecília, agora é com você, quando a contração vier fará força para
baixo, está bem? — o médico orienta e ela balança a cabeça, seguro sua mão
e beijo sua testa.
— Vai dar tudo certo, anja! — digo e a sinto apertar minha mão de
leve e em seguida aumentar o aperto.
— Não vai nada, ela não tem nome ainda! — responde entre dentes,
fazendo força como o médico disse.
— Muito bem, Cecília, agora elas vão ficar menos espaçadas, você já
tem dez centímetros de dilatação agora, a qualquer momento ela nascerá. —
Balançamos a cabeça juntos.
— Você não me disse que nome pensou — ela diz, puxando uma
respiração forte.
— Isso aí, inspire fundamente pelo nariz e expire pela boca, Cecília
— uma das enfermeiras, que acompanha os monitores do outro lado da maca
onde ela está, diz com voz gentil, demonstrando como ela deve fazer e eu
também faço junto, custa nada me acalmar também.
me olha daquele jeito que me faz apaixonar por ela cada vez mais, não sei de
onde tiraram que mulheres em trabalho de parto ficam malucas.
— Não, sofri bullying de uma Ingrid na escola, não quero minha filha
com o nome daquela megera nojenta. — Puta merda.
PARIUUUUUUUUUUUUUUU!
Ela esmaga a minha mão com vontade, eu juro que faz de propósito,
pois um sorriso diabólico surge nos seus lábios enquanto faz força para
empurrar nossa filha para fora do seu corpo.
— Amor, você está indo bem, — digo tentando chegar até o rosto
dela, quem sabe com um carinho minha mão ainda sobreviva, preciso dela
para muitas coisas, mas Cecília se afasta.
— Não encosta em mim, não até ter um nome decente e que escolheu
sozinho para minha filha, cretino!
um atrás do outro.
— Está vindo, agora quando a contração vier você empurra com toda
a sua força, Cecília.
Ergo a cabeça para fitá-la e a doçura no seu olhar nada tem a ver com
a louca esmagadora de mão de segundos atrás, aqui está minha anja-demônia,
a única mulher que amei e vou amar a minha vida inteira.
— Agora, Cecília!
O médico fala e tudo acontece muito rápido, mas para mim o tempo
se transforma em uma câmera lenta que ficará gravada na minha memória
pelo resto da minha vida, Cecília segura minha mão e puxa uma longa
respiração antes de travar os dentes nos lábios e empurrar com toda a sua
olhos ao som da sua voz e meu mundo sofre um pequeno abalo sísmico ao
fitar o azul tão claro quanto o dos meus. — Quer segurá-la?
Cecília pergunta me olhando com um sorriso tão bonito que levo uma
fração de segundos a mais para entender que ela está me dando a chance de
segurar nossa filha antes que a levem. Balanço a cabeça e faço o ninho com
meus braços igual ao que ela mesma fez para recebê-la. Quando Alicie é
colocada ali eu sinto todo o meu mundo perder o sentido, olhando para
aqueles olhos pequenos e a pequena boquinha fazendo um “O” perfeito eu
me sinto o mais fraco dos homens e o mais poderoso entre eles, seria capaz
de mover céus e terras para fazê-la feliz e crescer bem, nada que vivi ou senti
me preparou para esse momento, todo o meu mundo agora se resume ao ser
pequenino que cabe em meus braços com folga, mas faz tudo ser grandioso.
— Eu amo você, minha anjinha, vou cuidar para que seja a menina
mais feliz e amada do mundo.
— Agora vai poder dormir, amor, você foi incrível! — Beijo sua testa
e ela sorri.
pessoas na sala de espera que merecem notícias e minha mulher irá dormir
por mais algumas horas para se recuperar do parto, dá tempo de ir lá e voltar
antes que ela acorde.
A vida não é para ser entendida, apenas vivida... Não sei onde ouvi
essa frase, mas nada que já tenha escutado me pareceu tão certo quanto ela,
levei muito tempo para encontrar algo que me fizesse sentir essa vontade
— Já vi muita mulher parida morrer por perda das forças nessa vida,
imagine, é um ser humano que você empurrou pra fora e sangrou um bocado
no progresso, diga a ela, Felipe, fale que estou certa! — exigiu do pobre
homem que me olhou com um encolher de ombros e pediu desculpas em
silêncio.
aval fosse dado, desde que Cícero, ou melhor, "o caboré, pai da bisneta dela"
me empurrasse em uma cadeira de rodas, não sei o que aconteceu entre eles
enquanto eu estive dormindo ou se foi antes disso, mas não vou pensar sobre
agora, não quando a porta finalmente é aberta e uma enfermeira nos sorri
dando passagem para nossa entrada.
— Não faço ideia a quem ela saiu — diz Cícero, se fingindo de santo,
do pau oco, só se for.
já posso andar, vovó não está aqui para gritar com você.
Digo de forma gentil, mas sei que nisso ele concorda inteiramente
com a minha vó, foi só ela falar em morte e ele ficou todo neurótico. Eu
mereço, devo ter atirado pedra na cruz ou taquei sal grosso na Santa Ceia, só
pode, pra ter esses dois me aporrinhando com tantas preocupações, mulheres
dão a luz desde que o mundo é mundo e não tiveram essas frescuras todas.
Não espero a resposta dele, levanto e caminho até onde minha menina está,
minúsculo possa ter uma importância tão grande nas nossas vidas, minha
menina é perfeita e linda. Seguro a mão que Cícero estende para mim e ao
erguer os olhos noto lágrimas nos seus também, Alicie já nos tem por
completos a sua mercê, olho para ela e me surpreendo ao ver seus olhinhos se
abrirem e o azul intenso igual ao que tem nos olhos do pai me saudarem,
prendo a respiração e desejo que a cor não mude com o passar do tempo.
— Ela tem a cor dos seus olhos — digo baixinho e Cícero abre um
sorriso largo cheio de orgulho.
Tento descobrir se não estou apertando ela demais, mas não é isso,
Cícero também nota e se agacha para ver se a fralda está suja, balança a
cabeça negando e não demora para um grito agudo tomar conta do lugar,
balanço os braços suavemente do jeito que já vi várias mães fazerem, no
entanto nada a faz parar. Procuro pela enfermeira Ingrid no ambiente e
Ouço mais do que vejo o suspiro de alívio de Cícero, não nego que
— Que bom, assim podemos retirar o leite diretamente dos seus seios,
isso ajuda ela começar a se acostumar com o gosto, às vezes eles não aceitam
— Por enquanto ela vai se alimentar dessa forma, mas creio que logo
você poderá amamentar, não se preocupe, querida, respire e se acalme para
que possamos retirar o leite enquanto o pai aprende como acalmá-la.
Balanço a cabeça e deixo que ela retire Alicie dos meus braços, com a
ajuda da enfermeira higienizo o meu seio e começo a retirada do leite, lembro
que em um dos inúmeros documentários que assisti ao longo dos últimos
Isso me faz lembrar que meu amado noivo tem evitado falar sobre o
que aconteceu no encontro com o meu pai, ele e a minha avó trocaram
olhares estranhos quando perguntei sobre isso e se alguém se machucou, mas
não quero pensar sobre isso agora, não quando a enfermeira pega minha filha
dos braços do pai e vem com ela na minha direção e com toda a paciência do
mundo ensina como devo alimentá-la, mesmo não sendo o mesmo que
amamentar sinto que nesse momento um laço ainda mais profundo é criado
entre minha filha e eu.
Ficamos com nossa filha por quase uma hora, pouco depois de
— Cícero, olha aqui, se não me contar vou achar que é bem pior do
que realmente foi, então desembucha de uma vez, porra!
— Olha a boca!
— Ô mulher teimosa, não pode ficar feliz por eu ter sobrevivido e sua
avó estar bem?
Raul? Isso é uma surpresa para mim, quando ele se ofereceu para nos
ajudar não achei que fosse realmente fazer como prometeu, desconfiei que
era mais uma de suas armações com o Arnoldo, mas pelo jeito me enganei foi
muito dessa vez.
— Ele vai ficar preso pro resto da vida, não vai? — Acho que meu
rosto demonstra todo o meu medo.
Se Arnoldo se safar dessa com certeza virá atrás de nós e não o quero
nem remotamente perto de Alicie, jamais.
provas que temos ele será condenado e se um dia sair já estará muito velho
para ser um perigo para nós, estamos seguros, ele nunca mais vai fazer mal a
ninguém.
problemas que meu pai ainda poderia nos causar e foco em ser feliz no agora.
ausência da nossa filha como se uma parte vital de mim estivesse ausente,
que soube que acertei quando decidi me aposentar da CIOPAER e assumir
um cargo na empresa, não como CEO, esse é o lugar de Luana e a mesma
está se dedicando bastante a isso, deixando tanto Silvana quanto a mim
Ainda não contei para Cecília sobre a minha decisão, ela esteve
envolvida em tantas coisas nos últimos meses que preferi esperar, não
esqueço como foi difícil que ela se afastasse do hospital para prestar seu
depoimento contra Arnoldo, mas o fez com coragem e olhou nos olhos do
homem que destruiu a vida da mãe dela e corajosamente disse que ele não era
seu pai, apenas um mero doador biológico e desejava que ele sofresse apenas
nada além do mesmo que fez as pessoas sofrerem, não chorou ou fez menção
de estar sofrendo com o andar de tudo.
morte do filho ela não tem realmente vivido e ouvir da sua boca que agora
pode descansar em paz foi de alguma forma reconfortante, o medo dela era
que o culpado pela morte do seu menino nunca fosse punido pelos seus atos
criminosos.
diz emburrada.
— Não me deixe mais nervosa, doutora! — Não disse que ela está por
um fio?
últimos dias ela não só recuperou o peso que perdeu nos primeiros dias do
seu nascimento como aumentou e está com 2,5 kg e pronta para ir para casa
com vocês. — A médica sorri e suspiramos aliviados.
— Falou nada, tava tão nervoso quanto eu! — O sorriso dela é tão
bonito que sinto o impacto tão forte quanto na primeira vez que o vi, se bem
que aquela noite ela estava envolta pelas luzes da casa noturna, mas ainda
assim a mulher mais atraente que já vi.
— Claro, vamos!
A médica nos guia pelo caminho já conhecido por nós, andamos por
esse corredor muitas vezes nos últimos dias. Encontramos nossa menina
vestida com uma das roupas que trouxemos três dias depois do seu
nascimento, ela parece uma boneca de tão linda, o tom claro do tecido
fazendo seus cabelos negros agora levemente maiores ficarem em destaque,
principalmente pelo enfeite que segundo Sabrina, amiga de Cecília que me
ajudou a comprar muitas coisas para nossa filha sem que ela soubesse,
chamam de tiara, eu achava que tiara era aquela coisa que a realeza usa, não
uma faixa de tecido com laço. Mas o que importa é que nossa Alicie está
linda e meio impaciente pela careta que faz ao ser retirada do berço pela
enfermeira assim que entramos.
filha a Cecília, que agora tem essa expressão abobalhada que deve espelhar a
minha.
— Estamos ansiosos por isso também, se é para sermos pais, que seja
o pacote completo! — digo fazendo graça e mais uma vez o cotovelo de
Cecília vai de encontro ao meu abdome. — O quê?
Olho para ela buscando uma resposta, mas tudo que recebo é um
revirar de olhos da sua parte, meu Deus, como fico louco quando ela faz isso
e sinto uma vontade enorme de fazê-la ser mais dialogante, mas com gemidos
e gritos enquanto a fodo com força contra a primeira superfície lisa que
jeito que cobiçam o meu noivo é até constrangedor, tudo doida para ter a
chance de tirar uma casquinha, mas ai de quem se atrever, eu esqueço que
espero ver essa garotinha em quinze dias, ligue para o meu consultório e
marque uma consulta. — Estende um cartão na direção de Cícero, mas eu me
adianto e mesmo com Alicie no colo o pego.
— Não acho que será preciso, temos uma pediatra da nossa confiança
riso, cretino, mas ele me paga, ah se paga, sei que temos mais alguns dias na
seca até que possamos apagar esse fogo ardente que há entre nós, mas posso
muito bem provocar, ainda mais por estarmos na casa da minha avó, ele por
algum motivo preferiu ficar por lá do que irmos para o seu apartamento e
finalmente o ajeitarmos para a chegada de Alicie. Segundo ele, ficar perto das
pessoas que me amam ajudaria a passar os dias em que não podíamos levar
nossa filha conosco, não estava de todo errado, ter minha avó, meus amigos e
a nova família que ganhei ao me envolver com Cícero, ajudou, agora espero
— Estou? — tento fingir que ele não me afeta, mas quando o sorriso
lento dele começa a tomar de conta dos seus lábios sinto meu ventre se
contraindo e suspiro por saber que ainda falta muito tempo.
— Olha, sei que você não é nada ingênuo para não ter notado como as
mulheres te olham. — Abre a boca começando a protestar, mas continuo. —
Sabe que não é, basta levarmos em conta o tipo de diversão que você
costumava ter antes de nos conhecermos.
Ele sabe que me refiro à casa de swing, respira fundo antes de parar
— Foi lá que conheci você também, o que não quer dizer que esse era
o tipo de diversão que você gostava, eu não nego que fui ali algumas vezes,
mas não era nada além disso, diversão.
— Pensei que íamos para casa — digo assim que ele vem abrir a porta
e retirar o bebê conforto.
Os olhos dele brilham ao falar isso, o azul se tornando tão intenso que
perco o meu fôlego por alguns instantes, até me dar conta que sim, estou na
casa onde nossa família viverá. Seguro a mão que me oferece e seguimos
rumo a nosso lar. A cada andar que o elevador passa sinto o meu estômago
ser tomado pela ansiedade e me lembro da primeira vez que estive aqui, tava
quase pelada, usava apenas a lingerie que ele me enviou e foi naquela noite
que provavelmente nossa filha foi gerada. Olho para o bebê conforto e sinto
Olho para os meus amigos e sinto falta de Raul aqui também, mas ele
ainda está no hospital se recuperando, mas quando receber alta quero que seja
parte da minha vida, pois provou que é meu amigo de verdade. Claro que
Cícero iria querer demarcar o território, mas sinto que o que viveram naquela
garagem em Aquiraz forjou uma amizade verdadeira entre eles e isso me
deixa muito feliz, pois Raul sempre foi um bom amigo para mim, me doía
pensar nele como algo diferente disso.
Nossos convidados ficam conosco por algumas horas, mas logo
ficamos apenas nós três e minha avó, Cícero providenciou para ela fique
conosco, como a convenceu eu não faço ideia, mas saber que teve o cuidado
especial com ela me faz amá-lo ainda mais. Ela se retira com a desculpa de
rezar o seu terço, mas com o aviso que precisando dela era só chamar, beijei
seu rosto e segui meu noivo até o nosso quarto, mas o mesmo para junto a
uma porta que tem uma moldura de MDF cor de rosa com o nome Alicie e
sapatilhas de balé ao lado, olho para ele sem acreditar que preparou o
cantinho da nossa garotinha.
Ele caminha com nossa filha nos braços e a coloca no seu berço antes
de virar para mim com aquele olhar meio tímido que sem dúvidas é um dos
meus favoritos.
conosco era uma boa opção, ainda não é definitivo, como ela mesma disse,
no entanto espero que seja. Caso você não tenha gostado de algo bastar dizer
e mudamos.
Me aproximo dele e envolvo seu tronco com meus braços, fico nas
pontas dos pés com meus lábios a centímetros dos seus.
com o do seu irmão que deixa claro que ele também está envolvido nisso.
Sei que estão aprontando porque hoje pela manhã quando acordei ele
já não estava mais lá, me senti frustrada com isso, finalmente o período de
resguardo seguido por um ciclo menstrual indesejado chegou ao final, e
quarenta e cinco dias depois que transamos pela última vez, tudo que eu
queria fazer era acordá-lo com seu pau entre meus lábios a sugá-lo e depois
receber dele todo o prazer que sei que pode me dar, mas o sacana foi mais
rápido que eu e fugiu.
uma hora para outra, sei como isso cobrou um preço alto dele, mas deixei que
tomasse suas próprias decisões, principalmente quando argumentou que
nossa família era mais importante que tudo e não repetiria os erros do pai ao
colocar o profissional antes do pessoal.
— Aqui?
todos os lados, algumas pessoas colocam toalhas e arranjos sobre elas, mas
não tenho tempo para analisar mais a fundo, o braço de Luana me puxa
escada acima e antes que me dê conta estamos no quarto que usei para me
arrumar da outra vez e ele não está vazio, minhas amigas, minha avó,
Minha boca fica seca, minhas mãos tremem quando percebo tudo que
está acontecendo, ou melhor, para acontecer e o tremor só piora ao sentir meu
celular vibrando dentro da bolsa, o pego e vejo o nome de Cícero brilhando
na tela, com dedos trêmulos aceito a chamada e levo o aparelho ao ouvido.
corpo, mas seu comando tem uma ligação direta com a minha boceta que
pulsa e posso notar a umidade se formando entre minhas pernas.
— Que bom que sou, espero você no altar. — Suspiro por ele lembrar
que essa é uma das falas de livro preferidas minha, meus olhos marejam
imediatamente.
O riso dele enche meus ouvidos antes que desligue e encontre vários
olhos sobre mim, vou até minha filha e a pego nos braços, matando a saudade
que nem tinha notado que já sentia dela.
— Sim, sim, por isso entregue nossa bonitinha para alguém que a
equipe chegou para te deixar ainda mais bonita — Luana diz e logo minhas
amigas estão disputando para ver quem fica com Alicie, é sempre assim com
elas, minha filha tem as melhores madrinhas-tias do mundo inteiro.
Estou parada diante do espelho de corpo inteiro mais uma vez com
minha avó atrás de mim, diferente de meses atrás não estou com medo do
estrago que Cícero fará ao meu coração ao final de um ano, não, nem um
pouco, ele já o tem e cuida com zelo e carinho. O vestido tomara que caia
abraça minhas curvas como se tivessem o desenhado exclusivamente para
mim, os quilos a mais deixados pela gravidez não mais visíveis, graças a
Deus, já pensou minhas banhas vazando?
— Daquela vez vocês eram dois teimosos que nem comiam, nem
saíam de cima, agora tem uma criança na história e isso fez uma grande
diferença para o crescimento dos dois. — Ela sorri e não posso deixar de
concordar, Cícero e eu evoluímos muito desde que nos conhecemos.
Faz quase uma hora desde que a vi, minha vó sorri e vejo um brilho
encantado surgir nos seus olhos.
de arrumar minha bruguelinha, o vestido que Silvana escolheu para ela vai
deixá-la parecendo uma bonequinha.
aquelas malucas ainda mais pelo amor que todas têm pela minha garotinha.
Vovó se afasta e segundos depois as meninas estão no quarto com Alicie
realmente parecendo uma bonequinha de porcelana, o vestido com muitos
babados em formato de pétalas de rosa, as flores bordadas nele bem parecidas
com as que têm no corpete e saia do meu próprio vestido. Estendo os braços
para pegá-la ao mesmo tempo que Luana chega vestindo um lindo vestido
verde mar que realça a cor dos seus olhos.
— Tem calma, minha filha, ou vai ter um piripaque antes dos trinta —
fala vovó toda séria. — Mas vamos, o caboré deve tá roendo as unhas no
altar e se bem conheço o Padre Tarcísio, vai fazer um sermão e tanto se
demorar demais.
— Nem acredito que esse dia realmente chegou, o inferno deve estar
tendo os últimos pontos de calor extintos nesse momento exato! — Bruno,
um dos meus colegas da CIOPAER, brinca ao apertar minha mão.
Comandante, pois ele arrumou uma mulher que vale por dez — Alex fala em
tom de brincadeira, mas posso notar o fundo de verdade nas suas palavras, o
carinho que tem por Cecília se equivale ao de um irmão mais velho.
— Ih, Duarte, se não tivesses visto nosso garoto de ouro outra noite
em umas das famosas festas da Nathany, acompanhado de uma loira de tirar
o fôlego, diria que está querendo furar seu olho, aliás, quem era aquela
gostosa, Alex? Ó diaba bonita e eu só vi a mulher vestida, imagina ela sem
roupa. — O olhar de Bruno ganha um ar sonhador.
Meus olhos vão para Alex e o noto abrindo e fechando as mãos, algo
está acontecendo e ele não quer contar, estive tão ocupado nos últimos
tempos que não reparei nele ou no que andou fazendo, espero que não tenha
voltado a cair nas garras de Patrícia, ela consegue extrair apenas o que há de
pior nele e quando cansa o descarta como pedaço de papel usado.
Estranho a forma como fala, mais uma prova de que não está
confortável com essa conversa, por sorte Luana chega para nos avisar que
minha noiva está pronta e devemos nos posicionarmos. Quando ela nos vira
as costas, o assobio de Bruno chama a nossa atenção, ele olha de Alex para
mim antes de começar a rir.
— Não fala besteira, Alex não levaria Luana a uma festa... — Viro
para encarar meu melhor amigo que tem os olhos no chão e muda o peso do
corpo de uma perna para outra. — Você não fez isso, fez?
Patrícia que pelo que soube está cada vez mais amiga de Nathany, essa é
outra que gosta de ver o circo pegar fogo e conhecendo a história conturbada
do meu melhor amigo e sua ex, só posso esperar que quem sairá magoada no
fim é minha irmã, isso eu não aceito.
Digo com mais raiva impregnada na minha voz do que gostaria e ele
que elas contaram com a ajuda das amigas de Cecília e dona Clarisse, eu quis
que o nosso casamento, mesmo sendo uma surpresa para ela, estivesse do seu
agrado, espero não ter enfiado os pés pelas mãos. Todos esses pensamentos
[13]
fogem da minha mente no momento em que a música Imbranato de
Tiziano Ferro, começa a tocar por um grupo de crianças assistidas pela
Fundação, a escolhi por falar de uma forma tão clara como me sinto sobre
nós e no início da estufa vejo minha mulher surgir com nossa filha no colo ao
lado da sua avó, o mundo além dela para de existir para mim, tudo poderia
Minhas pernas tremem ao notar que terei que fazer todo o caminho
até onde o altar foi posicionado. A estufa está simplesmente linda, pisco
algumas vezes para ter certeza de que é real. Há várias mesas posicionadas
para depois da cerimônia, mais a frente posso ver as cadeiras onde nossos
amigos e familiares estão sentados. A luz do sol ao final do dia reluz e
ilumina o meu amor que me espera diante do padre, ele vira para pegar algo
que Luana estende e se meus passos já estavam vacilantes antes, agora que
Io, si
Ah, ma ti amo
Encosto minha cabeça no peito do meu comandante e suspiro ainda
sem acreditar que somos marido e mulher, tanto na lei de Deus quanto na lei
dos homens. Ainda não superei a emoção de vê-lo cantando para mim, nem
voando no meu estômago toda vez que penso nele com esse subtítulo, vira a
cabeça na mesma direção e ouço o seu rosnar nada satisfeito, me afasto para
olhá-lo e vejo que está olhando feio para o nosso padrinho de casamento.
— O que foi? — Estranho essa sua atitude, Alex é seu melhor amigo
até onde sei.
Ele volta a olhar para onde a irmã está dividindo a atenção entre Alex
e nossa filha, já tinha notado a forma como ela o olha, mas não achei que isso
fosse incomodar a Cícero, nosso amigo é alguém decente, bom, tirando certas
coisas que ele gosta de praticar, mas isso é a opção dele e o próprio Cícero já
andou curtindo certas surubas com ele.
farpas, mas se tem uma coisa que não acredito é que Alex faria Luana sofrer
intencionalmente, mas o que eu entendo de relacionamentos, não é mesmo?
Me casei com o segundo homem da minha vida e o primeiro que conquistou
meu coração, isso depois de tentar fugir dele a todo custo, não sou um
exemplo a ser seguido definitivamente. Sorrio ao chegar a essa constatação.
começa a despontar.
— E eu acreditei que não era para mim esse troço que chamam de
amor, até ouvir uma certa risada rouca e ver a dona dela gostosa pra caralho
naquele vestido colado, depois foi esperar o momento certo de me aproximar
e roubar um beijo dela, só não imaginava que ao fazer isso estaria me
colocando sob o seu comando permanentemente.
— É porque o amor que nos une está além do que controlamos, vai
quem eu gostaria que o pegasse. Amanda é a sortuda da vez, mas ela o atira
longe e cai nas mãos de Alex que observava tudo a uma certa distância, todos
riem da cara sem jeito que ele faz, até mesmo Cícero, o que faz o meu ânimo
voltar com tudo.
fazer barulho, logo atrás dele vejo minha avó revirando os olhos, esses dois
não sei não.
— Então acho que já podemos ir. — Abre aquele sorriso safado pra
mim e sinto as conhecidas borboletas voando soltas no meu estômago.
— Não diga isso, vó, Deus é pai, não é padrasto, não — respondo
rindo, mas por estar tranquila quanto a isso, comecei a tomar a pílula há uma
semana, não quero outro filho agora e sim curtir minha Alicie por bastante
tempo antes de pensar no próximo que com certeza virá, pretendo ter uma
família grande.
Ela vem até onde estou e pega minha filha para colocá-la no bebê
conforto, sabia que minha avó não ficaria até o final, mas fico tranquila por
saber que ela terá ajuda essa noite e não demora e Silvana chega no quarto
dizendo que Alex as espera, nos despedimos das mulheres que são as grandes
responsáveis pela nossa criação e da nossa filha adormecida e escapulimos de
fininho pela entrada lateral e não me importa para onde vamos, estou com o
homem que eu amo e isso me basta.
O carro para em frente ao hotel e olho para minha anja-demônia que
se manteve bem quieta no trajeto até aqui, mas isso foi bom, estamos na
brilhantes e perco o fôlego ainda sem acreditar realmente que agora somos
oficialmente um do outro. E pensar que há pouco mais de um ano não
acreditava que esse tipo de felicidade fosse para mim.
— Você ficou muito calada, está pensando em desistir depois que fez
uma grande loucura? — Ergo uma sobrancelha e pisco um olho provocando-
a.
— Ah, não me fale daquela lata velha, vou cuidar para que o uso dela
não seja necessário, não quero nem pensar em você andando nela com nossa
filha.
meu pau voltar a protestar por liberação, pressiono minha ereção nela e o
gemido rouco que vem do fundo da sua garganta é como gasolina na minha
fogueira interna.
— Nunca mais!
um carinho inocente, mas a forma como sutilmente giro meu quadril indo de
encontro a sua bunda, que mesmo debaixo de camadas de tecido consigo
sentir quando ela trava e prende a respiração, é na verdade minha forma de
provocá-la. Por sorte logo o ding se faz ouvir e saímos do elevador para a
antessala da suíte, mordisco o lóbulo da sua orelha e seu corpo estremece.
encabulado com a forma que ela me olha, como se eu fosse o seu super herói,
porra, eu amo saber que ela me vê assim.
— Ah, isso é verdade, mas sabe que o nosso quarto já estava de bom
tamanho, tudo que mais importa é você e eu nos amando. — Amo o fato
dessa mulher incrível não mudar, por mais que sua vida tenha entrado em
uma espiral de mudanças ininterruptas, ela ainda é a garota de língua afiada
que me rendeu por completo ao me desafiar a ser o homem que ela queria e
precisava que eu fosse.
desse mundo.
Ergo seu corpo e a pego no colo sem romper o contato dos nossos
lábios, passamos pela sala de estar e nos encaminho para o quarto, quero
fazer tudo direitinho e pensar com minha cabeça racional, não com a porra do
meu pau que implora para que esqueça isso de ser cavalheiro. Ponho Cecília
sobre seus pés e nosso beijo diminui a intensidade até ser apenas um leve
roçar de lábios, ela olha para as grandes janelas de vidro e suspira com a
visão esplendorosa do mar a nossa frente, depois olha para o lado oposto
analisando cada pedacinho do ambiente e não nego que faço o mesmo, mas
na minha mente vou fazendo planos de onde irei fazer amor com ela e quais
lugares são bons para foder com força como nós dois também gostamos.
— Seu, é? — provoco-a.
incentivo que preciso para começar a me despir como é o seu desejo, peça
por peça sai do meu corpo e é assistida por ela a queda de cada uma de
encontro ao chão. Quando estou apenas com a boxer preta ela levanta e para
minhas mãos, não protesto, pois sem dizer nada suas mãos percorrem o meu
abdômen, peito e ombros, o suspiro que soltamos juntos é o único som que se
faz ouvir, por mais que tenha planejado fazer amor com ela com uma música
de fundo, os sons que emitimos são ainda mais sedutores.
minha boca sobre seu membro rígido me faz sentir poderosa e munida por
esse sentimento desço minha língua, acariciando toda a extensão até os seus
testículos que também recebem atenção antes que suba mais uma vez e tome
todo ele na minha boca e o sugue com vontade, como se esse fosse o meu
sabor de pirulito favorito, seus dedos se embrenham pelos meus cabelos e seu
pau pulsa entre meus lábios, sinto a umidade entre as minhas pernas aumentar
consideravelmente, mas estou disposta a fazê-lo gozar com vontade na minha
boca, meu homem já teve todo o trabalho de planejar um dia mágico para
mim, isso é apenas uma minúscula recompensa para tudo que me fez sentir.
Levo uma mão atrevida até o seu peitoral e giro um dos bicos entre
meus dedos ao mesmo tempo que aumento a velocidade das sucções dos
meus lábios e o roçar da língua no ponto onde sei que o enlouquece. Sinto
meus cabelos sendo puxados com um pouco mais de força, mas não de forma
Sem aviso me vira de costas para ele e morde meu ombro fazendo um
calafrio me subir pela coluna, suas mãos habilidosas tocam meus seios por
cima do tecido e apesar das camadas de tecido posso sentir o calor delas
sobre mim, mas elas se demoram poucos segundos ali, logo estão no zíper as
minhas costas me libertando dele, o tecido desce pelo meu corpo e ao cair em
nuvem ao meus pés revela meu corpo nu, exceto pela microcalcinha branca
de renda do conjunto de lingerie que ele escolheu para mim, as meias sete
oitavos e a cinta liga também rendada.
Cícero vem para minha frente e um assobio baixo se faz ouvir, por um
instante me sinto envergonhada, os quilos a mais que ganhei na gravidez
ainda não foram todos eliminados e ainda possuo aquela "pochete" onde um
dia foi liso, mas basta ver como ele come meu corpo com os olhos para
deixar essa insegurança de lado, ele me ama não importa como as minhas
curvas estão.
— Eu sabia que tinha feito uma boa escolha. — Segura minha mão e
me ajuda a sair do meio do tecido, me vira e cola sua ereção na minha bunda
assim. Suas mãos descem pelo meu corpo causando arrepios e uma gota de
suor vai rolando pelas minhas costas, não demora para que sinta sua língua
fazendo o caminho contrário dela até chegar ao meu pescoço e sugar ali com
força, essa é a única parte dos nossos corpos que se tocam e a expectativa do
que virá é torturante e embriagante.
— Oh, eu testei e valeu a pena, agora curve-se para mim e segure nos
seus joelhos — comanda e não resisto, logo me inclino, isso faz minha bunda
roçar no seu pau enrijecido e o gemido agora é em uníssono. — Puta que
pariu, eu quero muito te foder com força, mas vou fazê-la pagar por ser tão
gostosa.
Uma palmada desce na minha bunda e quase caio, ele segura meus
quadris até que sinto minhas pernas firmarem novamente, nessa posição
consigo ter uma visão única de tudo e assisto meu comandante se agachar até
estar sentado sobre suas pernas e muito lentamente sua língua molhada tocar
minhas dobras úmidas e circular toda minha boceta com ela, sugando minha
excitação, e gemer como se esse fosse o néctar dos deuses para ele, não caio
de cara no chão porque ele me segura, mas as pernas ameaçam fraquejar a
qualquer momento, principalmente com a forma como sua língua circula
todo enterrado dentro de mim, eu não acho que suporto muito mais tempo.
essa altura minhas meias estão tão ensopadas que não me importo quando ele
me faz avançar até estar de joelhos, espero que abaixe comigo, mas ele dá a
volta e se posiciona atrás de mim, segura meus seios nas mãos e com os
joelhos empurra minhas pernas fazendo-as se abrirem e não seguro o grito de
surpresa quando um jato de água atinge meu clitóris já tão sensível.
— Lembra quando eu disse que iria lhe dar prazer de todas as formas?
— pergunta, mordendo minha orelha com a mesma pressão que aperta os
bicos dos meus seios.
— Não vai foder o meu cu. — Tento sair do seu abraço, mas seus
braços me seguram.
— Hey, não farei nada que você não queira, confie em mim, nunca
acontecerá, você é quem tem o controle aqui, tudo bem?
— Tudo bem. — Sinto-me tola por pensar que ele pudesse me forçar
a algo. Sinto o beijo carinhoso no meu ombro e vou relaxando.
Para mostrar que confio nele me inclino e faço como ele disse, meu
gemido ao fazê-lo é alto, nessa posição não apenas um jato me estimula,
agora são três, cada um vindo de uma direção diferente e preciso segurar para
— Isso aí, minha anja-demônia, sinta como esses jatinhos podem ser
nossos amigos.
— Adoro a forma como seu corpo ficou com ainda mais curvas, amo
poder segurá-la aqui e sentir como minhas mãos ficam cheias, você está ainda
Ele inclina o corpo sobre o meu e beija meu pescoço, sinto a ponta do
seu pau tocar minha entrada e tremo em expectativa, mas o safado se afasta,
viro a cabeça e o vejo segurando o membro na base e passá-lo entre minhas
nádegas provocando, mordo meu lábio contendo um gemido e o seu dedo
desliza para dentro de mim, nessa posição meu quadril fica quase todo para
fora da água, apenas minha pélvis sendo atingida pelos benditos jatos com
tudo. Sinto-o circular fazendo minhas paredes internas se contraírem,
apertando-se antes que o retire e espalhe minha excitação até o meu cu, travo
mais uma vez, mas então sinto seu dedo ser substituído por seu pau que me
penetra com tudo e grito seu nome sentindo minhas carnes tremerem ao
serem invadidas depois de tantos dias sem sexo.
Ele investe contra meu corpo com o mesmo ímpeto que recebo suas
O que eu queria até segundos atrás não importa, ele já fez a sua
mágica, não só agora, mas desde que o conheci vem me mostrando um
mundo novo cheio de possibilidades e escolhas, me fazendo ciente de cada
uma delas e ficando ao meu lado a cada uma que faço. Cícero me deu muito
mais do que prazer, juntos nos demos ao outro a segurança para arriscar,
tentar, errar, cair e levantar, pois se estamos juntos não temos medo de tentar,
de amar e tão pouco sermos amados, ele me mostrou que haverá coisas que
não poderemos controlar, outras que caberá a nós o poder de fazer acontecer
ou não, ele me mostra que somos capazes de tudo quando estamos juntos,
basta que deixemos o coração no comando.
— Comandante, você está aí? — ouço a voz da minha anja-demônia e
suspiro sentindo a brisa do mar adentrar o quarto.
Hoje faz quatro anos que nos casamos e decidimos comemorar a data
com uma viagem de lua de mel, sim, não conseguimos fazer isso nos últimos
três anos por tantos motivos que não vou começar a contar agora ou
ficaremos o dia aqui papeando e ainda vai faltar história.
Assim que ela entra no quarto meu ar fica preso na garganta como
acontece todas as vezes que a olho, minha esposa é sem sombra de dúvidas a
mulher mais linda que já conheci e agora grávida dos nossos meninos ela fica
esplendorosa. Pois é, a família Fernandes Duarte está aumentando, e assim
como foi com Alicie, João e Gustavo não foram planejados, mas estão a
caminho e nossa alegria em poder vivenciar essa gestação como se deve é
enorme, tenho acompanhado Cecília desde a primeira consulta. Na última,
onde descobrimos os sexos dos bebês, não sabia que meu coração poderia
crescer de tamanho para suportar tanto amor. Pelo menos dessa vez já
pensamos em possíveis nomes assim que descobrimos que teríamos gêmeos,
não vou mais correr o risco de perder a mão na sala de parto.
— Está tão gostoso aqui, por que não vem? — Estendo a mão para ela
e vejo a indecisão nos seus olhos.
Levanto e vou até ela, parando ao seu lado, seus olhos me fitam com
aquele fogo já conhecido tomando as íris escuras e aproveito para puxá-la até
ter seu corpo colado ao meu.
e a demônia abre um sorriso largo. Desde que lhe contei sobre a viagem ela
vem bancando a difícil, diz que isso é para tornar nossa enfim lua de mel
memorável.
— Se deitar agora, não vamos sair dessa cama tão cedo e temos um
encontro hoje a noite, lembra? — Se coloca nas pontas dos pés e toca seus
lábios nos meus.
— Não seja malvada, anja, faz uma semana que não me deixa tocar
aqui... — Coloco minha mão sobre a sua boceta. — Muito menos aqui. —
Com a outra mão puxo seu quadril de forma ao meu pau se encaixar entre as
bandas da sua bunda, quase tocando seu cuzinho delicioso que ela enfim me
deixou comer quando fizemos dois anos de casados e foi ali que despertei a
fera na minha mulher de uma vez por todas, nossa vida sexual que já era
ótima, se tornou extraordinária.
— Tenha paciência, comandante, está acabando? — pede se
esfregando em mim e não controlo a tentação de colocar a mão por dentro do
Introduzo dois dedos em sua boceta, circulo seu clitóris com a palma
da mão e sinto sua resistência começar a ruir, sorrio satisfeito e mordo seu
ombro começando a me afastar, levando os dedos a minha boca e soltando
um pequeno grunhido sentindo o sabor único dela.
horas!
Minha filha é quase uma cópia perfeita da mãe, mas o pouco que
herdou de mim a torna ainda mais linda e perfeita. Olho para onde minha
mulher assiste nossa filha correr desengonçada na areia, vindo na minha
direção, e toca o ventre redondo no quarto mês de gestação e não reprimo o
suspiro que me vem antes de agachar para pegar minha garotinha no colo e
girá-la até que a tenho gargalhando alto com a brincadeira. Cecília sorri
daquele jeito encantador e pisca um olho antes de virar para responder a avó,
— Amiga, me diz que está tudo ok? — Confiro mais uma vez se está
tudo pronto com Sabrina. Minha melhor amiga está me ajudando com o
jantar de aniversário de quatro anos de casados para Cícero e eu, ela se
mudou pouco depois do meu casamento para o emprego dos sonhos, bom
começou com um estágio em uma Fundação de preservação a vida marinha,
mas aconteceram tantas coisas que hoje ela mora nesse paraíso com... Bom,
isso é história para ela mesma contar.
— Que bom, já avisou que não precisam ficar lá, né? Depois que
deixarem arrumado, eu me viro! — Se tem uma coisa que não preciso é de
testemunhas essa noite.
Por falar em Alicie... Minha garotinha está cada vez mais inteligente e
saudável, depois do susto que foi seu nascimento e os dias que o sucederam
ela veio se desenvolvendo como qualquer outra criança, bom, no meu ver, já
Cícero surtava ao menor sinal de uma gripe, nunca pensei que o comandante
durão e pegador se tornaria um pai tão dedicado, o melhor de tudo é ver o
quão feliz ele é. Senti um medo enorme que depois que saísse da CIOPAER
ele se ressentisse e não fosse completamente feliz, mas não foi isso o que
aconteceu, de alguma forma o trabalho na empresa com Luana o satisfaz e
juntos eles mudaram muitas coisas por lá e hoje a Duarte Alimentos Ltda.,
— Sim, está no sétimo sono e sua avó disse que não precisamos nos
preocupar com nada, pois vamos ter insônia em dobro daqui uns dias,
palavras dela, não minhas!
— E você, caga pau pra ela que é, não disse nada sobre Sabrina vir
ajudar, não é mesmo? — Há certas coisas que não mudam, o medo que
Cícero tem da minha avó é uma delas.
— Tem certeza de que não podemos dar uma rapidinha antes de sair?
— a voz rouca carregada de desejo quase me leva a desistir de tudo, mas meu
telefone vibra e na tela vejo a mensagem de Sabrina.
— Vamos? — Saio dos seus braços sorrindo e ele vem atrás de mim
resmungando algo sobre a demônia estar pior do que nunca.
Antes de sair passo no quarto onde vovó está lendo e velando o sono
de Alicie, beijo a testa da minha filha e a bochecha de vovó e saio com o meu
marido de mãos dadas para a praia, poucos metros a frente posso ver a tenda
montada para nós, a mão de Cícero solta a minha e me circula a cintura, me
Sua mão sobe e toca meu rosto numa carícia suave, fecho os olhos
absorvendo o calor do seu toque e meus meninos se remexem chamando sua
atenção, suas mãos descem até o meu ventre e acariciam antes de cair de
joelhos e depositar um beijo ali antes de começar a conversar com eles.
garganta.
Mas paro assim que sinto suas mãos subirem em direção aos meus
seios e com os polegares estimular os bicos sensíveis que se entumecem
mesmo sendo tocados por cima do tecido.
no meu bumbum e o gemido sair da sua garganta quando nota que não estou
usando nada.
entrada, e logo em seguida retira a camisa e bermuda antes de vir até mim e
me tomar como só ele sabe fazer, nos levando para aquele lugar só nosso,
onde nada mais importa do que nosso prazer e esse amor enorme que
sentimos e que cresce mais e mais a cada dia, é um sentimento poderoso que
faz todas as dores, os medos e os riscos que passamos valer a pena!
Ufa chegamos afinal de mais uma história e só tenho a agradecer por
isso, em primeiro lugar devo a Deus por me dar o dom de criar histórias
como essa que, espero eu, mexe com o coração dos leitores, a minha família
por mesmo sem entender o que me leva a virar a noite escrevendo, me apoia
incondicionalmente, as melhores amigas que a vida literária me deram:
Regiane, Cecy, Bella, Karen, Elis, Ady, Erica, Danda, Suzie, Anne, JM
Fisher, minha gratidão eterna pelos surtos coletivos e individuais, vocês
fazem todo o processo ser mais divertido e controverso. Aos igs que me
apoiam nessa aventura literária Leitoras Compulsivas, Leituras da Jane,
Projeto Leiah (Obrigada a cada uma dessas lindas que participam), Manuh
vocês existirem.
E você querida (o) leitora (or) saiba que já é parte da família de anjas-
demônias (os) que guardo em um lugar especial no meu coração.
Beijos e Amassos!
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ENCONTRO MARCADO
Que o proibido é atraente, todo mundo sabe, mas até onde você
estaria disposto a ceder e a conhecer dele?
Lizza é uma jovem universitária que após um incidente, se vê em um
hospital, frustrada por ter que passar a noite ali. O que seria de todo ruim, se
algo de bom não saísse dessa lição. Afinal, o belo e atraente Farmacêutico
Diogo, está disposto a oferecer mais do que remédios para lhe trazer bem-
estar.
Envolvida pelo lúdico de um lugar inusitado para surgir uma atração
como essa, ela se vê diante de uma difícil decisão: ceder ou não aos encantos
desse homem?
Bem, difícil para sua mente, pois seu corpo já sabia a resposta!
Deixe o proibido te envolver!
Contém conteúdo inadequado para menores de 18 anos
O FILHO DA MINHA AMIGA
Uma boate, um desconhecido e uma atração impossível de resistir...
Foi assim que Bruna se viu na noite que voltou a sua cidade natal, ela não
esperava que o que parecia ser seu maior desafio - encarar as pessoas do
passado - se transformaria em uma noite regada a um sexo de enlouquecer. O
que ela não sabia também é que o estranho que virou sua cabeça era também
o filho da sua melhor amiga.
Solte as amarras, livre-se dos preconceitos e deixe o proibido te
seduzir.
Contém conteúdo inadequado para menores de 18 anos
SÓ POR UMA NOITE
Há quem diga que o destino brinca com as pessoas, mas com Érica ele
não parece de muito bom humor. Sem emprego, sem dinheiro e sem um
amor, Érica ainda sofre um acidente que a deixa sem seu carro. Ela só não
contava que o barbeiro que causou tudo isso, fosse lindo, gentil, simpático e
tivesse um físico invejável... Que ela definitivamente não deveria ter reparado
Em meio a toda a confusão armada ela se vê diante de uma difícil
decisão - só que não -, deixar-se envolver por ele, mesmo que seja só por uma
noite, abrindo mão de tudo que lhe foi dito como errado ao longo dos anos ou
fechar os olhos e fingir que não é com ela, mas ficando para sempre com a
pergunta inevitável: e se?
Contém conteúdo inadequado para menores de 18 anos
CODINOME ATRASADINHA
Daniele é uma jovem recém-formada que só deseja fazer do seu
aniversário um dia feliz. Depois de anos associando esse dia com uma
lembrança trágica, ela terá a chance de mudar isso ao aceitar um presente das
suas amigas, que a levará para a grande São Paulo, realizando seu sonho de
infância.
Só tem um grande problema, ela nunca foi conhecida pela sua
pontualidade, pelo contrário, o apelido Atrasadinha não veio do nada.
Em meio a emoção de viver algo novo, realizar um sonho e curtir seu
aniversário, ela topará com algo inusitado, vivenciando sensações que não
esperava, mas que lhe faziam muita falta...
Ame, sinta, deixe o desejo se realizar.
Contém conteúdo inadequado para menores de 18 anos
Achados e perdidos
"Ah, chegou o verão, tempo bom de ser feliz..."
[1]
Freddy Krueger é um personagem fictício da série de filmes de terror A Nightmare on Elm
Street. Freddy é um assassino de crianças da fictícia Springwood, Ohio, que após ser queimado por pais
vingativos passa a atacar adolescentes em seus sonhos, matando-as no mundo real por tabela.
[2]
Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de
agosto de 1987) foi um poeta, contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente
poeta brasileiro do século XX.[1] Drummond foi um dos principais poetas da segunda geração do
Modernismo brasileiro.[2]
[3]
menino dos olhos grandes. Filhos pequenos, “estou levando um caçuá (cesto) de mangas
para os meus caborés). Pivetes. Criança zoiuda. Pessoa feia e magra. “só o oco e os caborés cantando
dentro”
[4]
Pessoa teimosa que não obedece a ninguém. Desobediente.
Palavra muito utilizada no Nordeste
[5]
indivíduo de idade extremamente avançada; macróbio, ancião.
[6]
A síndrome do túnel do carpo é uma neuropatia resultante da compressão do nervo
mediano no canal do carpo, estrutura anatômica que se localiza entre a mão e o antebraço, que provoca
dormência, formigamento e é causada principalmente por lesões relacionadas a esforço repetitivo.
[7]
O pompoarismo é uma técnica que serve para melhorar e aumentar o prazer sexual
durante o contato íntimo, através da contração e relaxamento dos músculos do assoalho pélvico, no
homem ou na mulher
[8]
Supergirl é uma série de televisão americana desenvolvida por Greg Berlanti, Andrew
Kreisberg e Ali Adler, que também são produtores executivos com Sarah Schechter.
[9]
Junção das palavras escroto com cretino
[10]
Santo Graal é uma expressão medieval que designa normalmente o cálice supostamente
usado por Jesus Cristo na Última Ceia, e onde, na literatura, José de Arimateia colheu o sangue de
Jesus durante a crucificação, entretanto a origem do Santo Graal é muito anterior ao cristianismo, o
Graal já existe entre os Celtas.
[11]
Essas são as falsas contrações, então vamos dizer que as contrações de Braxton Hicks é
apenas o corpo se preparando para as verdadeiras contrações de expulsão do bebê na hora de trabalho
de parto. As falsas contrações acontecem desde 1 vez ao dia, até algumas vezes sem mesmo que a
gestante possa notar.
[12]
Sekai Ninja Sen Jiraiya é uma série de televisão japonesa do gênero tokusatsu,
pertencente ao subgênero Metal Hero. Produzida pela Toei Company, foi exibida originalmente entre
24 de janeiro de 1988 a 22 de janeiro de 1989 pela TV Asahi, totalizando 50 episódios
[13]
atrapalhado