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VOCÊ?
ISABELLA SILVEIRA MOREIRA
E SE EU ME APAIXONAR POR VOCÊ?
Publicação Independente
2021
Copyright © 2021 Isabella Silveira
***
Chego em 5 minutos,
Estou trazendo um japa gostoso.
Carlos
If I give my heart
To you,
I must be sure
From the very start
That you
Would love me more than her.
Seu timbre me toca, mas a música escolhida me preocupa. Fico vários
minutos sem saber o que dizer.
— E se eu me apaixonar por você?
— Carlos… — digo em um tom temeroso e ele suspira, beijando o
topo da minha cabeça.
— Não precisa dizer nada, Liz...
CAPÍTULO 11
Hoje, praticamente quatro meses depois do fatídico incêndio e do início
dos nossos encontros às escondidas, tivemos a nossa primeira discussão.
Carlos me convidou para acompanhá-lo em um evento tedioso do seu
cunhado, praticamente implorando pela minha companhia. Precisei ser firme,
apesar de ter ficado com um pouquinho de vontade de ir. Envolver família e
amigos é uma das coisas que combinamos estar fora do nosso arranjo. Não
posso me dar ao luxo de me apegar, e, se deixamos claro que o que temos é
um lance sem compromisso, não dá para ir aparecendo nas festinhas
familiares falando "Oi gente, essa é a Liz, uma amiga". Ninguém nunca caiu
nessa.
Além disso, e também por isso, Paloma e eu temos um encontro
marcado para a reinauguração do antigo Goró da meia noite bar 's. Agora
com um nome muito mais simples e sob nova direção.
— E então? Você não vai ter uma síndrome de pânico ao entrar no
bar, não, né? Pelo amor de Deus, só de lembrar daquele incêndio, eu tenho
arrepios — ela diz, retocando seu batom vermelho, no espelho do carro.
— Sem traumas por aqui. No fim, acabou tudo bem — digo
simplesmente.
— Ô se acabou, né? Que cara gato, minha nossa senhora das
piriquitas assanhadas. Como você já teve a sua casquinha, se a gente ver ele
de novo, eu vou querer experimentar também.
Ela joga verde para ver se eu me importo, e, como sou pega de
surpresa, engasgo, fazendo uma cena patética. Ainda bem que o semáforo
fecha, e eu consigo me recuperar, antes de lhe dar um olhar matador, abrir o
meu sorriso mais cínico e dizer simplesmente:
— A gente não vai mais encontrar com ele — falo categórica e ela
levanta uma sobrancelha, com uma cara convencida —, mas — engulo seco
—, se a gente se encontrar, você pode fazer o que quiser. Eu não estou nem
aí.
Chegamos ao "novo" bar e me impressiono com o bom gosto dos
novos donos. Tudo está muito bonito, em um formato retrô extremamente
elegante. As poltronas, estilo americanas, dão um charme especial ao local, e
quando percebemos que a nossa mesa cativa ainda existe, e na mesma
disposição, soltamos gritinhos histéricos.
Pedimos uma rodada de caipirinhas para começarmos os trabalhos, e
embalamos em uma conversa animada, quando Paloma me cutuca, mostrando
bem indiscretamente a mesa ao lado. Dois homens muito bonitos abrem um
sorriso simpático, e, sem que eu consiga dizer para ela que não estou
interessada, e voltar a conversar, eles entendem o meu olhar como um
convite, e se mudam para a nossa mesa.
— Boa noite, meninas, tudo bem com vocês? — o loiro de meia idade
diz, se sentando ao meu lado.
Abro um sorrisinho amarelo para Paloma, que dá de ombros e se vira
para o negro alto que se sentou ao seu lado, se apresentando.
— Boa noite, rapazes, meu nome é Paloma e essa aqui é a Liz. E
vocês, como se chamam? — ela diz, praticamente se esfregando no homem,
cheia de sorrisos, e eu reviro os olhos, impaciente.
— Boa noite — digo sem me aprofundar muito no assunto.
— É uma sorte nós nos encontrarmos aqui hoje, não concordam? Eu
me chamo Júlio — o negro diz com um sorriso branco impressionante e
aponta para o amigo ao meu lado —, e ele se chama Ítalo.
— Muito prazer, meninos — minha amiga piriguete diz, oferecendo
dois beijinhos descarados para eles, e eu não vejo outra opção a não ser fazer
a mesma coisa.
Sem ter o que fazer, viro a minha caipirinha com tudo, e começo a
conversar com eles. Minha amiga é fogo, e não tem jeito mesmo. Contamos
um pouco da vida um do outro, e, quando vejo que Paloma realmente está
interessada em Júlio, resolvo relevar, para não ouvir encheção de saco.
Quando começo a falar um pouco mais sobre mim, vejo Ítalo
completamente rendido pelas minhas palavras, e sinto um leve incômodo.
Não estou afim, e não quero iludir ninguém. Antes que eu consiga deixar as
coisas mais claras, sou salva pelo gongo, ou melhor, apresentador.
O microfone da casa chama atenção de todos os presentes, e nós nos
viramos para o palco, fazendo o meu coração parar.
CAPÍTULO 12
O meu professor está ao lado do apresentador, me olhando com olhos
tão julgadores e magoados, que eu me sinto extremamente pequena e
malvada. O que ele está fazendo aqui? Por que caralhos eu fui entrar na
onda da Paloma e deixar esses dois sentarem aqui comigo?
— Hoje nós estamos reabrindo a casa, com um novo formato, muito
mais bonita, equipada e segura. Para nós, é uma honra poder contar com
todos vocês, então, para abrir a noite, apresento a vocês: Carlos Albuquerque.
— O apresentador abre um sorriso enorme e aguarda as palmas, antes de lhe
entregar o microfone.
— Boa noite, senhoras e senhores. Eu não tenho o hábito de me
apresentar em público, mas, a pedido de um grande amigo, estou aqui hoje.
Espero que vocês gostem da nova casa, e a da música.
Olhando diretamente em meus olhos, ele pega o seu teclado e começa
a canção, fazendo com que eu fique completamente arrepiada.
When I find myself in times of trouble
Mother Mary comes to me
Speaking words of wisdom, let it be
***
Com a promessa de que ela iria me ajudar a consertar todos esses erros
e recuperar o meu professor preferido, consegui voltar ao trabalho.
Quando a noite chega, Paloma entra em meu apartamento como um
bloquinho de anotações, uma garrafa de tequila e um Doritos em mãos.
Segundo ela, o seu "kit essencial para montar os melhores planos para
reconquistar um grande amor. Se ela viu isso em algum filme, eu não sei, mas
estou tão grata de ela verdadeiramente acreditar que eu consigo conquistar
Carlos de volta, que não me apego muito aos detalhes. Apenas espero que dê
certo e eu não me quebre ainda mais no meio do caminho.
— Temos um boyzão para fisgar! Me conta tudo o que eu preciso
saber sobre Carlos.
Conto então a ela sobre sua fixação por Beatles, sobre as suas aulas,
sobre o amor que ele tem por lecionar e por seus alunos. Divido seus gostos
particulares, sua preferência por pizza de quatro queijos e sobre as suas
corridas matinais. E, a cada pequena coisinha que eu me lembro, solto um
suspiro de lamentação por não ter mais ele comigo.
Como eu não percebi que estava completamente apaixonada por ele
antes?
Três horas depois, meia garrafa de tequila ingerida e dois estômagos
roncando, temos um plano. Deus me ajude, e que ele dê certo.
CAPÍTULO 17
Estou no telhado do prédio de música da UFRJ, vestindo um vestido
dourado e tremendo mais do que vara verde. É hoje o grande dia.
Desde o dia que eu e Paloma arquitetamos todo o plano, tenho estado
com um caso sério de gastrite, tamanho o meu nervosismo. Tomara que dê
certo!
Viemos aqui no dia seguinte, e conseguimos encontrar alguns alunos de
Carlos. Não foi difícil encontrar a banda cover dos Beatles, depois disso. Foi
um pouco constrangedor explicar para adolescentes como eu parti o coração
do professor preferido, mais essa parte ficou mais em encargo de Paloma do
que meu, e eles toparam nos ajudar. Aparentemente todos que o cercam são
românticos incuráveis, e apesar de negar, estou entrando na onda. E espero
entrar para a família também.
Combinamos para a próxima sexta feira, após a aula do turno da tarde,
que eles conseguiriam levar para o telhado todos os equipamentos
necessários, e iríamos surpreender o meu professor. Essa se tornou a missão
da vida deles, uma vez que o show mais incrível dos Beatles aconteceu no
mesmo formato. Pude ver em seus olhos quando eles toparam o desafio,
animados. Paloma ficou completamente em êxtase, tendo certeza de que essa
seria a noite mais incrível de todas, e me garantiu filmar tudo para que seus
futuros sobrinhos soubessem da linda história de amor dos seus papais. Não
sei se a agradeço pelo otimismo, ou se brigo com ela, por ela me iludir
assim.
A mim, coube a parte mais difícil. Treinar a música de amor mais linda
de todos os tempos, ter coragem de cantá-la na frente de várias pessoas, e,
principalmente, ter coragem de declarar todo o meu amor por Carlos.
Agora mesmo, praticamente uma semana depois, eu estou sentada em
um banquinho no telhado, esperando a aula acabar, junto com meia dúzia de
meninos desconhecidos. Um deles ficou encarregado de enviar uma
mensagem pra gente, quando finalmente a aula acabar e ele estiver saindo do
prédio. Tive medo que assim que ele escutasse a minha voz, fosse sair
correndo, sem esperar a minha explicação ou homenagem. Mas, o que é a
vida sem correr riscos, não é?
Escuto Daniel, o vocalista da banda dizer que ele já está a caminho e
que era para nós nos apressarmos.
Respiro fundo e começo a caminhar até o palco.
É agora, Liz. Você consegue.
— Boa noite, galera! Hoje vamos fazer essa intervenção artística aqui
na UFRJ. Espero que vocês gostem do nosso som, e se quiserem nos seguir
no Insta — todos gritam em uníssono —, somos os Yellow Submarines!
Pedro, o guitarrista pega o microfone e me introduz.
— Professor Carlos Mendonça, essa aqui é para você. Alguém muito
especial quer te fazer uma surpresa.
Com um aceno de cabeça, indicando que eu comece, eu respiro fundo
e pego o microfone.
— Carlos, espero que você me perdoe. Essa aqui é para você.
E para você que gostou dessa história, não deixe de conferir as minhas outras
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