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E por comer, eu quis dizer roubar uma maçã ou algo assim quando
ninguém estivesse olhando para mim. Não era como se Jill ou Pete fossem me
dar dinheiro para o lanche ou embalar um bom sanduíche de pasta de
amendoim e geleia, com um pequeno bilhete de amor em forma de coração que
dizia “Tenha um ótimo dia na escola!” Aprendi que tipo de pessoa eles
realmente eram com um backhand2 direto na minha cara ontem à noite. Ótimo
casal. O melhor. Definitivamente um A+ para eles como pais adotivos.
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As gárgulas, na arquitetura, são desaguadouros, ou seja, são a parte saliente das calhas de telhados que se
destina a escoar águas pluviais a certa distância da parede e que, especialmente na Idade Média, eram
ornadas com figuras monstruosas, humanas ou animalescas, comumente presentes na arquitetura gótica.
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Uma gíria para tapa ou bofetada com as “costas da mão”, normalmente dado no rosto.
preferi fazer isso sozinha. Se eu aprendi alguma coisa nos últimos anos, foi que
ninguém cuidaria de mim tanto quanto eu cuidaria de mim mesma. Ann não
faria cara feia para o grupo de líderes de torcida maliciosas quando elas rissem
da minha roupa imprópria e ela não se manteria firme quando um garoto rico
e mauricinho tentasse me controlar. Foi tudo por minha conta.
Se eu quisesse contar com alguém neste mundo, tudo o que precisava fazer
era me olhar no espelho.
Eu entendi por que era crucial para mim estar aqui na English Prep. Ann
puxou alguns pauzinhos importantes e, com a ajuda do meu GPA 3 estelar, o
diretor me concedeu uma bolsa de estudos. Eu deveria ter ficado atrás de todo
mundo aqui porque estive em três escolas de ensino médio diferentes nos
últimos quatro anos. Demoraria um pouco para recuperar o atraso, mas a
escola era literalmente a única coisa que eu tinha. Se eu quisesse alguma
chance de sobreviver e dar o fora dessa cidade, desse lugar vulgar, precisava
conseguir uma bolsa de estudos para frequentar uma ótima faculdade. Eu
precisava sair daqui. E eu tinha que sair viva. Eu preciso.
— Como estavam Jill e Pete noite passada? Eles parecem um casal muito
legal. Você dormiu bem? Como ficou o seu uniforme? Tentei o meu melhor para
conseguir o tamanho que você precisava. É contra a política do RH usar o meu
próprio dinheiro para pagar as coisas para você, então tive que pegar tudo com
o diretor. — Continuei a olhar para Ann enquanto bebia mais café. Ela estava
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. G.P.A. é a sigla para grade point average, ou “média de notas”. Você tem uma média para cada
disciplina, para saber a sua nota geral nos semestres é só somar as suas médias de cada matéria
e depois dividir pelo número total de matérias. Normalmente esse método é utilizado entre os
ingleses e os norte-americanos.
falando a mil por hora, os olhos disparando ao redor. — Assim? Como foi? Você
gosta do Jill e Pete?
Eu gosto de Jill e Pete? Ann não tinha ideia do quanto eu queria dizer
sim. Ela não tinha nem ideia do quanto eu desejava que eles fossem um casal
legal, como pareciam por fora. Mas eu tinha certeza de que ela sabia tão bem
quanto eu que havia muito mais coisas nas pessoas do que aparentava. E Jill e
Pete? Eles tinham um pequeno inferno correndo nas suas veias.
— Eles estavam bem. - Eu menti. Não havia sentido em dizer a ela que
eles eram pessoas rancorosas e feias. Eu estive com eles por doze horas e já
havia aprendido muito sobre eles.
Jill atende ao Pete. Ele assobiava quando o seu prato estava vazio ou
quando precisava de uma cerveja e ela vinha correndo sobre o tapete felpudo
amarelado para fazer o que ele quisesse. Eu não fiquei chocada ontem à noite
quando ele pediu a ela um blowie4 - como se a sua nova filha adotiva não
estivesse sentada a um metro de distância.
Uma pequena parte de mim estava animada. Que lufada de ar fresco seria
ir para uma escola que o preparasse para a faculdade, oferecendo aulas como
Literatura Britânica e Astronomia, em vez de aulas mundanas consistindo em
como usar a forma gramatical adequada das palavras para, também e
dois6. Seria uma mudança de ritmo estar perto de alunos que não estivessem
tentando fazer você entrar para a sua gangue ou vendendo drogas atrás de
cabines do banheiro cobertas de grafite durante o almoço. Eu não apenas tive
que cuidar das minhas costas em qualquer casa em que estivesse, mas também
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Gíria para boquete.
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Puro, intocado.
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Em inglês os pronomes to, too e two tem quase a mesma pronuncia.
tive que cuidar de mim mesma na escola. Depois que eu fui rotulada de filha
adotiva, um certo grupo surge, e eles tentam ao máximo arrastá-la para baixo
junto com eles. Eles pensam que você está tão quebrada quanto eles, e talvez
eu estivesse. Mas isso só me fez correr mais rápido.
— Olá, sou Ann Scova. Tenho uma reunião com o Diretor Walton.
Uma mulher pequena, delicada e mais velha espiou da sua rica mesa de
carvalho e puxou os óculos até a ponta do nariz minúsculo. — Sim, um
momento, por favor.
Ann olhou para mim com os seus olhos brilhantes e me deu um sorriso
esperançoso. Você e eu, irmã.
Assim que a porta se abriu, Ann correu para a frente e eu a segui. Assim
que entrei no escritório do diretor Walton, lutei contra a vontade de deixar o
meu queixo cair. O seu escritório era maior do que qualquer quarto que eu já
tive. Na verdade, eu tinha certeza de que era maior do que o lar adotivo número
três, aquele com o minúsculo banheiro laranja. Eu mal conseguia fazer xixi sem
os meus joelhos tocarem a cortina do chuveiro.
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O Scholastic Aptitude Test (Teste de Aptidão Escolar), ou como é mais conhecido – SAT, é um
dos exames mais comuns dos EUA, utilizado pelas universidades e escolas estadunidenses em
seus processos de admissão para graduação.
O Diretor Walton franziu os lábios como se não estivesse convencido, mas
mesmo assim, ele acenou com a cabeça antes de se levantar. Ann e eu nos
levantamos ao lado dele enquanto ele nos conduzia até a grande porta de
carvalho.
Ann se despediu dele e agradeceu mais uma vez pela minha bolsa. Antes
de segui-la, o diretor Walton entoou muito brevemente: — Tenho grandes
esperanças para você, Srta. Smith. Não me faça lamentar a minha decisão.
— Ok, bem, vou verificar você em algum momento esta semana. Avise-me
se precisar de alguma coisa, certo? Não importa a hora. Me liga. Você tem o
meu número.
Um forte aceno de cabeça foi a minha resposta e ela girou nos calcanhares
e saiu do escritório. Não tive coragem de lembrá-la de que, sim, posso ter o
número dela, mas não tinha um telefone celular e não havia absolutamente
nenhuma maneira de pedir a Jill ou Pete para usar o telefone
fixo. Provavelmente, Pete pediria algo em troca e, rá! Desculpe, mas não,
obrigado.
HOJE ESTAVA DESTINADO a ser um bom fodido dia. Eu sabia disso porque
quando acordei esta manhã e levei a minha bunda sonolenta para baixo para
pegar as sobras de café do dia anterior, havia um bule fresco esperando por
mim. Eu podia sentir o cheiro da escada. Isso me arrastou da escada superior
para a cozinha em tempo recorde. Eu estava tão cego pela necessidade que
quase não notei o meu pai, que estava sentado na grande mesa da cozinha, uma
que raramente era usada, com o seu notebook aberto na frente dele.
— Bom dia, filho. - Disse ele enquanto eu mantive as minhas costas nuas
para ele, despejando o meu café em uma caneca recém-lavada, cortesia de... oh!
Isso mesmo... eu. A única pessoa que faz alguma coisa por aqui.
Ele disse que confiava em nós, e por nós, ele se referia a mim. Ele não
deveria, no entanto. Ele foi enganado. Ele confundiu o meu silêncio e natureza
taciturna com maturidade, mas a confiança entre nós era inexistente. Ele
simplesmente não conseguia ver isso.
Ollie e eu éramos gêmeos irlandeses: nascemos no mesmo ano. Eu era onze
meses mais velho. No entanto, eu tinha toda a responsabilidade quando se
tratava dele.
Mas se eu não fizesse, não tinha ideia de onde diabos ele estaria.
— Christian, eu sinto muito. Você sabe que eu gostaria de poder ficar mais
aqui.
Mentira.
Ele mal ergueu os olhos da tela. — Esta tarde. Como o Ollie está?
O meu pai zombou. — Eu dificilmente acho que o seu irmão ter 17, quase
18 anos, qualifica a necessidade de uma babá, Christian.
Depois que tudo aconteceu com a minha mãe, parecia que ganhei ainda
mais atenção indesejada. Primeiro, empurrei todos para longe, o que só piorou
as coisas. As garotas adoravam desafios cansativos, e eu também. Eu estava
com raiva o tempo todo, o que ainda persistia se eu estivesse sendo sincero, e
emparelhe isso com arranjar brigas com todos, e vencer, eu tinha garotas
bajulando o intocável Christian, os caras estavam com medo de que eu
quebrasse os seus pescoços. Os professores tiveram pena de mim e deixaram as
coisas passarem, misturando tudo isso com um pouquinho da reputação do meu
pai e doações pesadas, eu praticamente comandava a escola.
Eu sorrio, caminhando até ele. — Noite difícil? Nem mesmo esses óculos
de sol podem esconder as bolsas debaixo dos seus olhos.
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Modelo de carro.
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Apelido cuja tradução é Rei.
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Um sofisticado utilitário desportivo de alto-luxo.
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Marca de óculos de sol e, principalmente, de esqui.
que voltou da casa do pai no verão retrasado, ele não se importava muito com
nada, exceto festas. — Você perdeu uma festa e tanto, cara. A Missy fez essa
coisa com a sua fraternidade... — A frase do Eric foi interrompida ao ver a
própria Missy.
Missy tinha uma nota seis na nossa escala de meninas quentes. Eu,
pessoalmente, achava que o cabelo dela tinha muitas cores diferentes de loiro
(eu nem sabia que havia tantos tons diferentes), e o seu bronzeado falso laranja
fulvo me fazia vomitar. Ela parecia ter entrado em uma briga com uma lata
estragada de tinta spray laranja que não dava conta do recado.
— Ei, Eric. Christian. — Missy passou por nós depois de piscar para o
Eric, o que assumi que era para ser sexy e se dirigiu para os armários.
Assim que cheguei ao meu armário e coloquei o meu blazer azul marinho,
alguns outros caras se aproximaram para ouvir a história do Eric.
— Deus, ela pegou a sua língua e lambeu cada gota de esperma que o meu
pau atirou. Então, ela voltou para mais. Ela era um animal selvagem no
quarto. Eu nunca estive tão envolvido nisso antes.
Fechando o meu armário, me virei e olhei para o Eric. Os seus olhos podem
muito bem ter sido encobertos enquanto falava sobre a Missy. Razão pela qual
eu ia dizer o que estava prestes a dizer. — Eu já fui chupado pela Missy
antes. Não há nada para escrever.
E assim, Eric saiu dessa. Ele puxou o peito largo para trás e flexionou a
mandíbula. — Por que você sempre tem que estragar tudo para mim?
Recuei, o meu braço ainda preso à sua estrutura ossuda, e olhei para o
corredor. Os meus olhos escanearam os armários prateados e brilhantes,
passando por cima dos nerds do clube de xadrez que estavam em pé
desajeitadamente com os seus coletes de suéter cinza. Passei pelas garotas
inteligentes que olhavam para o nosso grupo como se fôssemos valentões em
um parquinho (o que éramos). Eu estava procurando pelo Ollie, me
perguntando se o meu pai decidiu acordá-lo esta manhã ou não.
Já chega de show hoje, não acha? Eu disse com os meus olhos quando ela
me lançou um olhar furioso, mas rapidamente consertou o rosto e sorriu,
passando as mãos pela saia e encarando o grupo novamente. — Sim, foi isso
que eu ouvi.
O sorriso do Jace cresceu. — Bom. Espero que ela seja a porra de um bebê
que tenha uma boca talentosa. Ela vai superar isso. — Ele correu as mãos pelo
corpo lentamente, parecendo um idiota de merda. O que as garotas viam nele,
eu não fazia ideia. Ele era um aspirante. Os seus pais não eram podres de ricos
como o resto de nós; eles eram apenas o suficiente ricos para ele participar da
English Prep e foi por isso que ele tentou tanto para se encaixar. A única razão
pela qual ele estava no nosso grupo foi porque ele jogou futebol. Mesmo assim,
algumas garotas começaram a se abanar no show dele.
Se eu era a imagem cuspida de meu pai, Ollie era da nossa mãe. Não nos
parecíamos em nada. Eu tenho as feições sombrias do meu pai e ele tem a
aparência e a personalidade da minha mãe. Quando criança, dizia-se que eu
era tímido. Então, quando cresci, muitas vezes fui chamado por parecer
entediado e desinteressado. E agora que eu estava apenas alguns meses de ser
um adulto, as pessoas me rotularam de taciturno e um gigante
silencioso. Alguns chegaram a dizer que eu tinha uma alma sombria e
perturbadora e, quem sabe, isso pode ter sido correto depois do que aconteceu
com a mamãe. Mas Ollie? Ele era a minha mãe, por completo. Ensolarado,
radiante, a vida de festa.
Sempre.
O cabelo loiro do Ollie parecia mais escuro, pois ainda estava úmido do
banho, e a sua camisa estava desabotoada no topo com a gravata frouxa em
volta do pescoço. Quando ele bateu na sua mesa, ele se virou e me encarou com
um olhar furioso. — Idiota.
Eu soltei uma risada. — Você é o filho da puta que me fez puxar a sua
bunda para fora do quarto dos pais do Eric com as suas calças até os tornozelos
na noite passada.
— Você precisa ter cuidado ao beber tanto, Ol. — Abaixei a minha cabeça,
mantendo a minha voz baixa.
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É uma mistura de uísque canadense, aroma de canela e adoçantes.
— Relaxe, irmão. Estou bem. - Ele murmurou, puxando os seus livros. —
Você não vai acreditar em quem eu vi no escritório esta manhã.
E assim...
— Hayley Smith.
O órgão no meu peito bateu mais forte enquanto os meus olhos passavam
por cada centímetro do seu corpo. Fazia anos que eu não a via, mas eu a
reconheceria em qualquer lugar. Ela tinha aqueles olhos. Aqueles olhos azuis
penetrantes, que sugam a sua alma. Mas só porque os seus olhos eram da
mesma cor, isso não significava que ela era a mesma garota. A mesma garota
com quem trocava os meus biscoitos no almoço. A mesma garota que derramou
cola no cabelo da Rebecca Lahey por dizer que ela era uma moleca. Ela não era
a mesma garota. Não por um tiro longo.
Não demorou muito para o seu olhar vagar até mim. Sempre fomos
atraídos um pelo outro, como mariposas pela chama. A esperança nos seus
olhos rastejou sobre a minha pele como lâminas de barbear, cortando a minha
própria carne, apenas pela esperança de diminuir e acalmar esses cortes
quando lancei um olhar feroz para ela. Saiba o seu lugar. Você não pertence
aqui.
Se Hayley pensava que tinha um aliado aqui na English Prep, estava
redondamente enganada. Eu a quebraria assim como ela me quebrou. Ela foi o
início de uma avalanche destrutiva que arruinou a minha família.
CAPÍTULO TRÊS
Na English Prep, eu era a única pária. Parecia que todos já tinham o seu
grupo, o que fazia sentido. Quero dizer, essas crianças frequentavam a escola
juntas desde que a colher de prata foi colocada nas suas bocas aos três anos,
mas nenhuma dessas crianças ricas tinha um osso amigável no seu
corpo. Narizes foram levantados na minha direção, olhares cautelosos foram
enviados na minha direção no corredor e não vamos esquecer o momento em
que chamei a atenção do Christian.
Christian.
A minha cabeça começou a se virar, mas ao invés disso eu me mantive
firme. Você não é mais aquela garota, Hayley. Queixo para cima. Eu nivelei os
meus ombros, mas mantive o meu rosto neutro. Eu não olharia para ele. Eu
não tinha motivo para isso. O meu coração se moveu no meu peito enquanto o
seu olhar permanecia em linha com o meu. Havia muita conversa no refeitório,
mas foi abafada quando olhei para aqueles olhos tempestuosos. O seu grupo de
amigos estava conversando, sem perceber o nosso pequeno olhar fixo. Fazia
anos desde que eu tinha visto ou ouvido falar dele e ainda assim, ele tinha um
controle estranho sobre mim. Sempre me senti amarrada a ele, mesmo quando
ele estava no meio do auditório todas as manhãs antes de partirmos para as
nossas aulas na sétima série. Senti os meus lábios subindo nos cantos com o
pensamento, mas eles pararam de subir quando senti uma presença ao meu
lado. Levou tudo que eu tinha para tirar os meus olhos do meu velho melhor
amigo, mas quem estava ao meu lado estava perto demais para me confortar.
— Eu disse que ele é meu, então você pode parar de olhar para ele, Hayley.
Ela jogou o cabelo loiro para trás do ombro. — Sim, eu sei quem você é. Eu
sei tudo que há para saber sobre você.
Ela se virou e olhou para as suas amigas e como se fosse uma deixa, todas
elas sorriram assustadoramente como um grupo de gatos de Cheshire. Só então,
a garota ergueu o braço longo no ar e estalou os dedos três vezes antes que a
conversa do refeitório se acalmasse.
Oh, ótimo. Um show. E eu estou no centro das atenções.
Isto é ridículo.
Eu tinha um exterior duro agora. O que quer que essa vadia fosse dizer ou
fazer não seria nada comparado ao que eu passei.
Desejei que o meu rosto continuasse com uma cor neutra. Não tinha ideia
se ficou vermelho, mas estava orando a Deus para que não.
A garota, que eu agora sabia que era a Madeline por alguém gritando o
seu nome com admiração, se virou e zombou de um sorriso na minha
direção. Eu levantei o meu pescoço mais alto para olhar nos seus olhos. Ela
bateu os cílios grossos e estufou os lábios. — Então, Hayley, você gostaria de
contar a todos um pouco sobre você? Ou devo fazer as honras?
— Por que exatamente você está falando de mim como se eu não estivesse
no cômodo? — Eu perguntei, a minha voz tão firme quanto o carvalho de
trezentos anos no pátio.
Eu mudei de pé. — Então, você gosta de passar o seu tempo livre falando
sobre lixo? Isso parece estranho.
— Sabe, já que você é pobre, quer comer alguma coisa? — Sim. Eu queria
algo para comer. Mas eu preferia mastigar o meu braço a admitir isso para
essas pessoas. O refeitório inteiro estava sob o seu controle. Virei a minha
cabeça de volta para o Christian. Ou o seu polegar. O que me deixou com raiva
sobre toda essa situação foi o fato de que a Madeline sabia que eu ficaria com
ciúmes por ela se sentar perto do Christian. Eu tinha certeza de que era um
palpite de sorte, eu tinha certeza de que todas as garotas da escola queriam um
pedaço dele, e foi por isso que ela se sentiu ameaçada em primeiro lugar. Mas
ela estava certa. Isso me incomodou. A aparência do Christian por si só era
suficiente para atrair qualquer garota.
Olhei para minha camisa e mordi o interior da minha bochecha. Pelo amor
de Deus. Eu rapidamente desamarrei a gravata estúpida em volta do meu
pescoço e desabotoei a frente da minha blusa. O ar condicionado explodiu nos
meus ombros nus quando eu encolhi os ombros e comecei a colocá-la sob a água.
— De nada. - Ela respondeu, chegando ao meu lado. Olhei para ela pelo
canto do olho e ela sorriu nervosamente. — Você não se lembra de mim,
lembra?
Isso me fez virar a minha cabeça para dar uma boa olhada no seu rosto. Eu
procurei cada curva, a cor jade dos seus olhos e o cabelo liso. — Eu devo?
— Perguntei, colocando a tampa na sua caneta de remoção de manchas. Eu
estendi para ela, e ela pegou de volta lentamente.
Ela bufou. — Não, eu não sou muito... memorável.
Eu gostaria de poder dizer o mesmo sobre mim, mas graças aos meus pais,
sempre seria lembrada.
— Por que? — Fui até o secador de mãos, mas esperei um pouco para
ouvir a sua resposta.
Ela deu de ombros, olhando para o hematoma no meu rosto. — Você não
pareceu prestar atenção em ninguém, exceto em... — Eu terminei por ela. —
Christian.
Ela olhou para o meu lábio cortado. — Sim. Além disso, eu não era a
pessoa mais popular.
O seu sorriso cresceu quando a sua palma colidiu com a minha. — Eu sou
a Piper.
— Me siga, eu te acompanho.
Piper parou e olhou para mim com os olhos arregalados. — Foi isso que
estragou a sua camisa? Desculpe, mas você está sozinha com ela. Eu fui o alvo
das suas piadas durante todo o meu primeiro ano. Eu não mexo com eles.
Piper parou na frente de uma sala de aula e eu presumi que fosse Poly
sci. — Sim. O grupo deles. — Ela balançou a cabeça. — Encontre-me lá fora na
porta da frente depois da escola. Vou levá-la para casa e informá-la sobre a
English Prep. Você simplesmente não entrou apenas em uma escola
preparatória; você entrou em um reino. E você e eu? Somos apenas
camponesas.
— Oh, eu não acho que você quer me levar para casa. Eu vivo...
Ele me odiava tanto quanto o seu irmão mais velho? Ele piscou uma, duas,
três vezes enquanto eu estava congelada na porta, esperando pelo seu
brilho. Mas isso nunca aconteceu. O alívio se acumulou ao redor do meu
corpo. Eu nem sabia por que me importava. Eu estava aqui para estudar para
que pudesse dar o fora desta cidade de merda. Eu não tinha visto ou falado com
ninguém neste mundo por vários anos. Eu não deveria ter me importado com o
que eles pensavam. Eu não deveria ter me importado que o Christian me
odiasse. E daí?
O meu ombro balançou para frente quando alguém bateu em mim por
trás. Eu engasguei quando me virei, mas a minha raiva foi substituída por uma
onda de choque quando vi que era o Christian. Ele passou por mim
rapidamente, o calor da sua raiva flutuando ao nosso redor. Ollie olhou de mim
14
Ciências Políticas.
então para o Christian com uma expressão confusa. Eu estava bem ali com
ele. Qual é o problema dele?
Então, a viagem de ônibus para ir e voltar do meu lar adotivo não deveria
ter sido um grande problema, mas eu ainda me sentia desconfortável. O único
benefício da viagem de ônibus de quarenta minutos todas as manhãs era que
isso me tirava de casa mais cedo e voltava mais tarde. Pete estava no seu
melhor comportamento ontem à noite, até mesmo acenando para a Piper
enquanto ela dirigia no seu conversível e a Jill me deixou meio prato de comida
no fogão. Era nojento e tinha gosto de papelão, mas pelo menos era comida.
Por mais que o meu novo lar adotivo fosse uma droga, eu estava feliz por
estar lá depois da escola ontem. Eu mal senti sentando-me no banco do
passageiro da Piper enquanto ela me contava o resumo do concurso de
popularidade da escola. Aqui está o que aprendi: Christian era o “rei” da
English Prep e Madeline era a "rainha”. Eu já sabia disso pelo meu breve
encontro no refeitório. Ela me contou sobre as outras pessoas - a popularidade
variava entre os pais que tinham mais dinheiro. Parecia que a English Prep
era mais um terreno fértil do que qualquer coisa. Ela me contou onde estavam
os melhores keggers16 e como eram lançados depois de cada jogo de futebol. Era
tudo muito normal em termos de ensino médio, exceto que a Piper mencionou
que todos eles se mantinham em um padrão mais alto porque as suas famílias
eram tratadas como membros da realeza na cidade. Houve até um boato de que
o pai do Christian tinha a polícia no bolso. Essa não foi a primeira vez que ouvi
falar de alguém com a polícia do seu lado, mesmo que não fosse tecnicamente
do lado bom.
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é uma empresa de transporte terrestre de passageiros norte-americana. Atende mais de 3.700 destinos nos
Estados Unidos, Canadá e México.
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Como se fosse gangue, grupos.
Eu segurei a minha língua antes que a minha boca soltasse a pergunta
que eu não queria me preocupar: Christian e Madeline estavam
namorando? Eu não deveria ter me importado. Eu não tinha espaço na minha
vida para me preocupar. O ciúme cresceu dentro de mim, e eu não tinha o
direito. Christian e eu éramos próximos antes da minha vida virar de cabeça
para baixo, mas ele nunca foi realmente meu. Nunca nos beijamos nem nada
disso. Mas éramos próximos e todos sabiam disso. Fomos atraídos um pelo
outro. Passamos a maior parte do nosso tempo livre juntos na sua elegante casa
na árvore, atrás da sua mansão. Mas eu ainda não tinha o direito.
Era um prédio lindo. Só de olhar para ele, pude sentir o gosto da liberdade
que a educação me permitiria. Formar-me em uma escola como a English Prep,
junto com as minhas notas no SAT, poderia me conceder uma vaga em uma
faculdade da Ivy League com uma bolsa de estudos. Este ano era tudo o que
havia entre eu, uma ex-garota rica que se tornou filha adotiva e uma passagem
para fora deste inferno. Este lugar poderia me dar as asas de que eu precisava
para voar muito, muito longe das lembranças que mancharam a minha vida.
Fiz uma pausa e olhei para ela através do meu cabelo escuro. — Por que
você se importa tanto? Você acabou de me conhecer. Estou com hematomas e
um corte no rosto, que sei que te incomoda, porque você os encara. Eu sou
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Órgão como o Conselho Tutelar.
definitivamente uma pária nesta escola e ser minha amiga é provavelmente
uma ideia muito estúpida. Então por que?
Isso é uma mentira. Você se sentirá feliz. Você só tem medo de se sentir feliz.
Piper gaguejou, — Eu… eu, bem, para ser honesta, você parecia que
precisava de uma amiga, e a maioria das garotas aqui são maliciosas e irritadas
como a babaca descorada da Madeline ou está em um relacionamento sério com
algum namorado, o que não deixa espaço para uma amiga. A minha melhor
amiga se mudou há um ano, logo depois que comecei a frequentar o English
Prep, e estou meio perdida desde então.
Isso é péssimo. Eu sabia como era perder um melhor amigo. Assim que o
pensamento entrou na minha cabeça, o seu rosto apareceu no corredor. O rosto
lindo e devastadoramente esculpido do Christian. Foi como um soco. Eu
rapidamente desviei os meus olhos de volta para a Piper para que eu não
corresse o risco de encontrar outra das suas carrancas.
Eu sorri. — Não se preocupe. Ele parece muito pior do que eu. — Graças
a Deus os seus pais retiraram as acusações.
Absolutamente não.
CAPÍTULO CINCO
Não esperei por uma resposta. Eu sabia que ele iria seguir. Levantei-me,
puxando a minha cadeira para trás e caminhei lentamente pelo refeitório. Os
meus colegas pararam de falar e de dar mordidas nos seus almoços quando
passei por suas mesas, como se pensassem que eu fosse sentar e conversar com
eles. Ou talvez eles estivessem com medo de que eu pegasse a bandeja e
despejasse tudo no seu uniforme imaculado, como eu disse a Madeline para
fazer com a Hayley ontem.
Não me preocupei em olhar para a Hayley ao passar por sua mesa, mas
percebi que ela não parava de falar como o resto do refeitório. Era como se ela
nem me notasse passando, o que era uma besteira completa. Ela podia sentir a
minha presença do outro lado do refeitório, assim como eu a dela. Ela estava
apenas fazendo questão de não me notar.
— Ei, ei, ei. — Ollie interrompeu, ficando na minha cara. — Que porra é
essa? Temos um jogo sexta-feira. Eles não podem lutar! Eles serão colocados no
banco.
— Irmão. - Ollie avisou por trás. — Deixe a pobre garota em paz. Ela não
sofreu o suficiente? Quer dizer, você viu o rosto dela? E ela está magra pra
caralho. Nem parece que ela come. E aquela merda que aconteceu com o pai
dela?
Eu me virei com força, algo me agarrando por dentro. — Por que você se
importa? — Eu estava fervendo sob a minha compostura fria. Ollie
provavelmente poderia sentir isso porque ele me conhecia melhor do que
ninguém, mas ele não sabia sobre isso. Ele não sabia que eu a culpava. Havia
poder em guardar segredos - ninguém poderia destruí-lo se não soubesse como.
Olhamos um para o outro por tanto tempo que senti o meu plano
escorregar por entre os meus dedos enquanto o relógio continuava correndo. Eu
finalmente encolhi os ombros e lancei um olhar para o Eric. Isso foi tudo que
precisou. O Eric voltou atrás antes que o Jake desse um soco no queixo.
— Boa merda. Siga a minha dica. — Fiz um gesto em direção à porta, mas
parei antes de abri-la. Eu olhei para trás para todos os três. — E fique longe da
Hayley.
Jake franziu a testa e o Eric assentiu. Ollie apenas olhou para mim, mas
eu sabia que ele ouviria. Podemos não ter concordado sempre, mas ele não me
desafiaria nisso. Não quando uma garota estava envolvida.
****
Hora do show.
Foram necessários apenas três elogios, uma boa dose de flerte e um sorriso
deslumbrante para fazer a Sra. Boyd me deixar entrar no escritório do diretor.
Sete lares adotivos desde a sétima série. Hmm. Achei que a Madeline
estava inventando isso para embelezar a sua história... acho que não. Três
escolas de ensino médio diferentes. O seu atual lar adotivo ficava em duas
cidades. Interessante. Peguei o meu telefone e tirei uma foto do endereço
dela. Pode ser útil um dia. Ela estava no reformatório por agressão antes de vir
para cá, mas as acusações foram retiradas. Agora isso é perplexo. A minha
sobrancelha se ergueu quando olhei para as suas credenciais da escola:
pontuação de 1560 no SAT. Droga. Mesmo que eu a odiasse, essa foi uma
pontuação muito boa. Ela sempre foi inteligente.
Meu nome é Ann Scova e sou a assistente social da Hayley Smith. Estou
escrevendo para você pessoalmente para perguntar se o seu conselho
reconsideraria a abertura de mais uma bolsa este ano. A Hayley é uma criança
inteligente. A mais brilhante com quem já trabalhei. A sua vida foi arrancada
dela aos doze anos de idade e, desde então, os seus estudos nunca foram
prejudicados. Pessoalmente, acho que ela se sai muito bem na escola porque é a
única coisa que ela pode controlar.
Infelizmente, o pai da Hayley, Jim Smith, era um homem muito rico até a
noite em que foi assassinado. Ele foi assassinado na casa em que a Hayley
residia, e pelos pedaços que recolhi das assistentes sociais anteriores da Hayley,
Hayley realmente testemunhou o assassinato com os próprios olhos e ela pode
ter sido a razão do assassinato ter ocorrido depois dela chamar as
autoridades. Depois que o pai da Hayley faleceu, revelando os crimes graves e
ilegais dos quais fazia parte, Hayley e a sua mãe se mudaram para um parque
de trailers ao sul de Pike Valley. Após um curto período, o CPS recebeu uma
ligação e a Hayley foi imediatamente encaminhada aos cuidados do estado
devido às suas péssimas condições de vida. Mas, como eu disse, embora Hayley
tenha passado por momentos difíceis e solitários na maioria dos sentidos, ela
nunca desistiu do seu objetivo. Ela quer se formar e ir para uma faculdade da
Ivy League, com esperança de obter uma bolsa de estudos. Eu não acho que ela
vai conseguir isso indo para uma escola pública.
Obrigada,
Ann Scova
LSW
Tudo se resumiu a uma ligação não atendida. Tudo o que ela precisava
fazer era murmurar uma porra de palavra e as coisas teriam acontecido de
forma diferente. Ela foi o catalisador que fez com que tudo na minha vida
mudasse.
Eu carregava um ódio por ela que era tão pesado que parecia correntes
amarradas nos meus tornozelos. E o ódio que eu carregava por mim mesmo era
quase tão pesado. Foi o que me impediu de desamarrar aquelas correntes em
primeiro lugar. Se eu desamarrasse essas correntes, seria recebido com culpa
e preferia muito mais a primeira.
— Então, planos para esta noite? — Piper sentou-se ao meu lado na hora
do almoço, a sua bandeja era uma variedade colorida de vegetais frescos e
frutas com um hambúrguer suculento. A minha boca encheu de água com a
visão disso. Então, como se fosse uma deixa, o meu estômago roncou
também. Coloquei a minha mão na minha frente para abafar o som, mas os
olhos da Piper baixaram até que ela viu a minha mão.
Dei de ombros. — Não estou com fome. — Eu não queria dizer a ela que
não tinha dinheiro para o almoço. A bolsa não cobria o almoço, apenas a
mensalidade e o diretor foi gentil o suficiente para me emprestar os pedaços de
roupas dos achados e perdidos para formar alguns uniformes.
Uma festa? Com essas pessoas? Prefiro ficar trancada no meu quarto,
ouvindo a Jill chupar o Pete no quarto ao lado.
— Bem, o meu primo, Andrew, dá festas quase todo fim de semana. É onde
eu vou na maioria dos fins de semana, já que era a minha antiga escola e
tudo. Os meus pais viajam muito, me deixando sozinha em casa, e depois de
comer demais em Gossip Girl pela vigésima vez, decidi que precisava de algum
tipo de vida social, mesmo que na escola errada.
Eu fiz uma careta. — Não tenho certeza se os meus pais adotivos vão me
deixar ir a uma festa três cidades mais adiante. 'Não, eles preferem apenas me
trancar no meu quarto e fingir que eu não existo.'
E o que eu quis dizer com mudar de ideia foi que se a Jill e o Pete decidirem
ser bons seres humanos nas próximas oito horas, então sim, eu vou te enviar um
e-mail.
Assim que abri o zíper, um par de sapatos pretos apareceu tão perto de
mim que pensei que eles fossem pisar em mim. Eu inclinei o meu queixo para
cima, o meu cabelo caindo sobre os meus ombros. Os meus olhos passaram por
um par de calças cáqui e um blazer azul marinho preenchido enquanto eu
prendia a respiração. Christian inclinou a cabeça um pouco e apertou a
mandíbula.
Eu engoli, lambi os meus lábios e continuei a olhar para ele. Não desvie o
olhar. Quase como se fosse um desafio, ele balançou a sobrancelha e estreitou
os olhos. Ele preguiçosamente se agachou para que estivéssemos no mesmo
nível. O meu coração batia a mil batidas por segundo e a única coisa que pude
pensar foi: Ele é dolorosamente lindo. A mandíbula do Christian era afiada
como vidro, a sua pele sem defeitos, o seu nariz forte e reto e os seus olhos
podiam sugar a vida de mim.
A minha boca se abriu quando ele se inclinou mais perto, o seu cheiro
inebriante colocando um feitiço em mim. Então, eu senti a sua mão cobrir a
minha maçã e ele a arrancou direto da minha palma.
— Tal pai tal filha? — Ele deu uma grande mordida na pele vermelha e
brilhante. O suco pingou no chão abaixo de nós. A sua mandíbula subia e descia
enquanto mastigava e, depois de engolir, me olhou bem nos olhos e sussurrou:
— Não roubamos na minha escola, ladra. — Então, ele se levantou, jogou a
minha maçã no lixo e foi embora.
Foda-se ele. Esta não era a escola dele, porque se fosse, e ele realmente a
“governasse” como todos disseram, então eu não estaria mais aqui.
****
Mas assim que a Ann saiu e todos nos sentamos para comer, eles
estabeleceram as regras da casa. Eu deveria ficar quieta, manter o meu nariz
longe dos seus negócios, comer o que eles me dessem, e eu estava limitada a
banhos de seis minutos, e eu tinha a máquina de lavar roupa às terças e
sábados. Eles não me dariam um telefone ou mesada, nem carona, a menos que
fosse para checar com a Ann. Se eu seguisse as suas regras, poderia continuar
a morar com eles depois de completar dezoito anos e até ir para a faculdade (é
claro, eu teria que dar a eles a bolsa que solicitaria ao estado ou conseguir um
emprego e pagar eles). Caso contrário, eu seria expulsa e ficaria sem sorte. Se
eu fosse expulsa antes dos dezoito anos, iria para um orfanato. E depois? Eu
ficaria sem teto.
Eu sabia que eles não estavam sendo boas pessoas ao me deixar ficar até
eu começar a faculdade; eles só queriam continuar recebendo uma renda
extra. Mas que escolha eu tinha?
— Tem certeza de que não quer ir à festa comigo? Talvez você me leve para
dentro e poderíamos dizer que vamos ficar na minha casa no fim de semana?
O pensamento fez o meu estômago doer. Não queria pedir nada a Jill e o
Pete, nem mesmo passar a noite com uma amiga. Se fosse apenas a Jill, talvez,
mas ao Pete? De jeito nenhum. Ele era um mega idiota que gostava de controlar
tudo.
— Você não quer entrar aí. – Eu quase sussurrei, olhando para a casa. —
Vou ver que tipo de humor eles estão e perguntar se posso. Mas não conte com
isso. — Mentira. Abri a porta e comecei a sair. — Obrigada por me convidar,
no entanto. — Eu sorri. — E o passeio. Você é uma boa amiga, Piper.
Algo aconteceu durante o nosso hiato de cinco anos que o fez me odiar e
estava me deixando louca. Os olhares que ele me deu foram uma coisa. A sua
vadia, não namorada, era outra. Mas levar a minha comida? A minha única
fonte de nutrição? Estava prestes a começar o jogo. Eu não fiz nada para
ele. Nada. Não havia absolutamente nenhuma razão para eu merecer ser
tratada dessa forma.
— Você é uma vadia burra. Não, ela não vai conseguir comida esta
noite. Eu a peguei roubando da nossa despensa na noite passada. Este é o seu
castigo.
Pete gritou lá de baixo: — Sem jantar esta noite e vou trancar a sua porta
às 20h em ponto, então faça os seus negócios antes disso.
Ela estaria aqui às dez e tudo que eu tinha que fazer era descobrir como
descer pela lateral da casa da minha janela sem quebrar o meu pescoço. Mas
honestamente? Isso teria sido uma coisa ruim?
CAPÍTULO SETE
Avistei o BMW da Piper na rua com os faróis apagados, como disse a ela e
corri. Bati na janela duas vezes para sinalizar que era eu.
Ela abriu a boca para dizer algo, mas eu a interrompi colocando a minha
mão para cima.
Ela riu, e eu também. Então, começamos a rir. Eu senti como se mil tijolos
tivessem sido tirados dos meus ombros, mas assim que chegamos à festa depois
que a Piper parou e nos trouxe tacos de um drive thru, que eu basicamente
inalei, os nervos estavam de volta onde começaram.
Não tenho certeza do que ela quis dizer, mas não tive tempo de perguntar,
pois de repente estávamos passando pela soleira de uma casa que parecia
luxuosa por fora e ainda mais extravagante por dentro. Pisos de ladrilhos
lustrosos estavam aos nossos pés e estranhas estátuas sem cabeça erguidas ao
longo das paredes, como se os intrincados corpos cinzelados fizessem parte do
comitê de boas-vindas.
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Dentro.
— O círculo “in”? — Eu perguntei enquanto contornávamos o
patamar. Eu podia ouvir uma música rap tocando e garotas gritando. Isso deve
ser divertido.
— Bem, Chase, Will, Cole e Harrison são os caras que seguem o Andrew.
Está bem então. Vamos fazer isso. Hora de ser uma adolescente normal,
pelo menos uma vez.
CAPÍTULO OITO
April engasgou quando eu me levantei. — Você não pode fazer isso!— Ela
gritou, mas os seus gritos foram abafados quando eu segui a Madeline para a
sala de baixo.
Fiz uma pausa, virei os meus olhos para a garota que presumi ser a Cara e
depois de volta para a Madeline. — Conte-me tudo.
****
Assim que reuni os meninos, dirigimos os trinta minutos que levamos para
chegar ao lado da Wellington em Pike Valley. Disse a Madeline para ficar com
a Cara, a garota que confessou que um garoto da Wellington Prep foi longe
demais com ela depois do jogo esta noite.
Paramos em uma grande casa muito parecida com as do meu bairro. Ollie
se mexeu no banco, esfregando as mãos nos jeans. — Qual é o plano?
— Siga a minha deixa como sempre, irmão. Vou fazer do Cole Johnson a
minha cadela, assim como ele tentou fazer com a Cara.
— Então, você vai tentar transar com ele? — Ollie riu da sua própria
piada. Eu olhei para ele, e ele rapidamente fechou a boca.
A PIPER FOI buscar alguns refrigerantes para nós a dois minutos atrás,
mas pareceu uma hora. Eu fiquei ao longo da parede oposta, observando as
garotas bêbadas dançarem como loucas no meio da sala. Elas estavam vestidas
com quase nenhuma roupa, e a maioria dos meninos estavam babando com os
olhos em forma de coração.
Feliz.
— Eu não acho que já te vi por aqui antes. - Uma voz astuta deslizou ao
meu lado e eu senti isso nos meus ossos.
Olhando pela minha visão periférica, respondi: — O que te faz dizer isso?
A sua mão se esticou e ele colocou o meu cabelo atrás do ombro. Eu
congelei, plantando os meus pés no chão. Eu odiava a maneira como o meu
coração batia forte no meu peito. O meu estômago ficou apertado e eu tive que
morder o meu lábio para evitar uma reação exagerada.
Isso me fez virar a cabeça. E ele me deu um sorriso torto. — Isso não é
uma escavação, querida. Isso é um elogio.
Eu queria empurrar o meu joelho nas suas costas para lhe ensinar uma
lição sobre colocar as mãos em uma garota, mas de repente ele foi arrancado da
minha vista.
Só então, o Ollie entrou na minha frente. Eu olhei para cima, chocada por
ele ter aparecido de alguma forma do nada. — Desculpe, scrapper.19 Christian
19
Aparentemente pequeno e nada ameaçador, mas chocantemente capaz de chutar a sua bunda e a de
qualquer outra pessoa.
veio aqui para bater na bunda daquele filho da puta e tenho a sensação de que
ele vai ficar muito mais difícil desde que viu aquela pequena cena.
Ele jogou a cabeça para trás e riu. Foi uma risada infantil, uma risada
juvenil do tipo, não me importo com o mundo. Isso trouxe de volta memórias do
passado que eu rapidamente afastei. — Não duvido disso por um segundo,
Hayley.
Eu não tinha ideia para onde o Christian levou o Cole e quando a Piper
voltou para me encontrar, ela estava completamente confusa ao ver o Ollie me
protegendo contra a parede. Ninguém mais na sala pareceu notar a comoção,
que era provavelmente o jeito que o Christian queria.
Ollie riu de novo e bem quando ele jogou a cabeça para trás, chutei a minha
perna e o levantei no chão. Ele pousou com um baque e eu passei correndo por
ele.
— Claro que sei o seu nome. Os seus peitos são comentados com frequência
no vestiário. Você pode ficar quieta, mas esses quadris falam, baby.
Eric olhou para trás e encolheu os ombros. — Ele sabe quando parar.
Não, ele não sabe. Christian estava fora de controle. Ele estava em um
planeta diferente, chamado Quero ir para a cadeia alguns dias antes do meu
aniversário.
Eu nunca, em um milhão de fodidos anos, diria isso em voz alta, mas parte
da razão pela qual eu pensei que a minha vida não era tão ruim naquela época
era por causa dela. No segundo que nos conhecemos, na quinta série, éramos
quase inseparáveis. Algo nela era magnético. Eu fui atraído por ela. Ela
sempre usava uma carranca, a menos que eu estivesse por perto, e isso me fazia
sentir bom. Digno. Como se eu quisesse dizer algo.
— Por que é estúpido? Deixe-os pensar que estamos aqui nos agarrando
com calor e peso.
Tentei ajustar os meus olhos na escuridão para poder ver o seu rosto. —
Quem disse que eu sabia como fazer?
Ela riu levemente. — Hum, vamos ver. April, Carrie, as duas meninas
mais velhas que estão no colégio agora...
Eu a parei. — Ok, ok, ok. Entendi. Mas e daí? Tenho uma reputação a
defender.
Ela zombou, o seu hálito quente e mentolado atingindo o meu rosto. — Sim,
eu sei. Só sou popular porque somos amigos.
— Essa não é a única razão. Todos os caras querem levar você para o baile
dos namorados.
Sim, eu sabia disso porque disse a eles que não. Estava na ponta da minha
língua perguntar a ela. Talvez eu não devesse. E se ela disser não? E se ela
descobrir que eu sabotei todas as oportunidades que ela teve de ir basicamente
com todos os alunos do sétimo ano? Até o Ollie queria perguntar a ela. Sobre o
meu cadáver.
— Os seus sete minutos no céu acabaram. E... — Ela olhou entre nós dois
— Vocês dois não parecem que passaram nenhum tempo no céu. Você ao menos
a beijou, Christian?
As coisas mudaram.
Que porra ela estava fazendo falando com o Cole? Que porra ela estava
fazendo aqui? No segundo em que a vi, o meu sangue gelou. O aluno da sétima
série dentro de mim ficou com ciúmes por um momento e então me lembrei de
tudo que veio depois da sétima série e eu queria matar os dois.
Eu olhei para a Hayley no seu jeans preto rasgado, andando para frente e
para trás. Esta foi a primeira vez que ela falou comigo desde que veio para a
English Prep.
Hayley não disse nada. O cômodo ficou tenso. Eu poderia dizer que ela
estava cerrando os dentes e eu estava fazendo o mesmo.
Ela balançou a cabeça, os seus cabelos escuros como uma cortina na frente
do seu rosto. Os hematomas do primeiro dia de aula haviam sarado, a sua pele
parecia perfeita e angelical. Mas ela não era um anjo, isso era certo.
Eu caminhei até ela, com raiva por ela estar tendo um efeito sobre
mim. Ela não moveu um músculo. Ela ficou bem no seu lugar, não dando a
mínima que eu estava a um centímetro de distância. Ela não se moveria a
menos que eu a atropelasse com o meu corpo. Isso só mostrava o quão teimosa
ela era. Sempre foi. Eu olhei para baixo no seu rosto e ela inclinou o seu queixo
para o meu. — Porque eu não quero ver a porra do seu rosto a cada cinco
segundos. — Porque não quero uma lembrança do passado - o bom e o mau.
Ela balançou a cabeça levemente, nunca tirando os olhos dos meus. Baixei
o meu olhar para a sua boca quando ela falou. — Essa não é uma resposta boa
o suficiente. Algo mudou em você. Algo aconteceu nos últimos cinco anos. Algo
que fez você me odiar e eu quero saber o que é.
A minha boca ficou seca. A minha garganta parecia que estava começando
a fechar. As palavras estavam borbulhando e ameaçando sair.
Ela empurrou o seu corpo para mais perto, o seu peito subindo me tocando
agora. A minha respiração acelerou. Eu queria envolver as minhas mãos em
torno dos seus braços e puxá-la para o meu corpo, mas ao mesmo tempo, eu
queria gritar e afastá-la. Mas ao invés de fazer qualquer uma dessas coisas, eu
olhei nos seus olhos. — Ver você me faz pensar no passado e eu não preciso
dessa porra de lembrete. - Eu rosnei.
O seu rosto empalideceu. — Mas por que? Você está com raiva por eu não
ter dito adeus? Que eu não mantive contato? — Ela zombou, claramente
ficando com raiva. — Bem, eu sinto muito, mas eu estava um pouco preocupada
em assistir o meu pai ser assassinado e ter homens psicóticos mascarados
prometendo que voltariam para me buscar para um acordo quando eu crescesse
alguns peitos. Ah e não vamos esquecer que a minha mãe perdeu o controle, o
que me levou a um orfanato!— Hayley estava gritando no final do seu discurso,
mas eu mantive a minha voz agradável e firme. Fria.
Eu sabia que não era totalmente culpa dela. Ela não tinha ideia de que o
seu telefonema naquela noite daria início a uma espiral de merda fodida. Mas,
ela acreditando ou não, ela foi o começo do fim para a minha mãe. Tentei salvar
a Hayley naquela noite e, em vez disso, acabei matando a minha mãe no
processo. Quanto mais culpava a Hayley, menos me culpava. E foi assim que
eu tive que manter isso.
— Ela teve uma overdose quando estávamos na oitava série. Foi um pouco
antes de me mudar para a Wellington Prep.
Overdose? Eu não tinha ideia de que a sua mãe havia morrido. Sempre
gostei da mãe dele. Ela costumava me dar carona de volta para a minha casa
quando o Christian e eu estávamos saindo e escurecia. Ela era legal, o que era
mais do que eu poderia dizer sobre a minha própria mãe, ainda mais agora.
Eu olhei para a Piper. O seu rosto era uma máscara de confusão. — Ele
disse que foi minha culpa.
— O que? — Ela soltou o ar pela boca e virou o corpo para encarar o meu,
ficando confortável no seu carro. — Ok, ouça. Você disse antes que não sabia
ser amiga, então vou te ensinar. Agora, você me conta tudo o que aconteceu com
você e o Christian e então passamos o resto da noite tentando dissecar tudo e
descobrir.
Era isso que amigas faziam? Eu não estava acostumada com isso. A ideia
de compartilhar qualquer coisa com alguém me deixou enjoada. Prefiro chupar
o pau do Pete do que aceitar a oferta de ajuda de alguém. Ok, isso não é verdade.
Depois de levar trinta minutos inteiros para informar a Piper sobre todas
as coisas relacionadas ao Christian e responder as suas perguntas incessantes,
nós duas estávamos recostadas nos assentos do seu BMW (que eram mais
confortáveis do que o meu colchão na casa do Pete e da Jill), ainda muito longe
de entender o que o Christian quis dizer.
Não, não faz. Não fazia sentido algum. Olhei para o painel, vendo que
eram 3 da manhã. Eu virei o meu olhar para a luz brilhante da TV brilhando
através da janela da sala.
Piper olhou para a casa e acenou com a cabeça. — Ok. — Então ela olhou
para mim. — Você tem Wi-Fi, certo?
— Sim. Essa é a única coisa que a Jill e o Pete realmente permitem que
eu use, para trabalhos escolares.
****
Piper riu, pegando uma batata frita do seu prato. — Hmm, talvez ir para
o próximo jogo de futebol em casa comigo? Não fui a nenhum desde que a Callie
se mudou e me sinto uma perdedora porque é meu último ano e não fui a
nenhum dos jogos.
E foi assim que o resto da semana foi: Piper e eu rindo juntas na nossa
mesa enquanto eu tentava fingir que o Christian e os seus olhares furiosos não
estavam me incomodando. Ele me ignorou completamente nas nossas aulas
juntos. Eu me escondi como uma covarde enquanto ele comandava toda a
atenção na frente. Se eu tivesse algum tempo livre na aula, eu o gastava
fazendo dever de casa, o que meio que saiu pela culatra, já que geralmente fazia
todos os meus deveres de casa quando chegava em casa, para que pudesse me
distrair da bebida do Pete e dos pedidos da Jill para que ele fosse mais legal
com ela.
Embora eu odiasse o meu lar adotivo, não era o pior em que estive. Isso
não significava que fosse ótimo de forma alguma, já que o Pete ainda estava
trancando a minha porta, mas eu estava sobrevivendo. E apesar de todo o fiasco
com o Christian e de ser completamente ignorada pelos meus colegas ou
zombada, eu realmente gostava da English Prep. Gostei do extenso
currículo. Ele ocupava a minha mente quando queria vagar e ocupava muito do
meu tempo livre. Claro, o Christian me odiava e o Ollie não olhava na minha
direção. Eu estava entre os camponeses na hierarquia de adolescentes
regiamente populares, mas pelo menos fiz uma amiga verdadeira e isso era
mais do que poderia ter dito sobre qualquer outra escola secundária que
frequentei nos últimos anos.
Até mesmo a Madeline me deixou em paz, o que foi surpreendente. Se você
não cutucasse o urso, ele não acordaria, eu acho.
— Sim, estávamos falando sobre como a April tem sido patética desde que
você chutou a bunda dela do time.
Encantador.
Eu tinha baixado a minha guarda. Passei alguns dias sem que ninguém
me incomodasse e esse foi o meu primeiro erro. Se você desmontar a sua
armadilha, os lobos destruirão o seu abrigo eventualmente.
Dei de ombros. — Pele e osso? Não é por isso que você e o resto do seu clã
se recusam a comer carboidratos? Eu pensei que você queria ser magra? Do
contrário, você não caberia naquele fofinho uniforme de alegria. Estou certa?
— Eu inclinei a minha cabeça. — Quando foi a última vez que você comeu pão,
Maddie?
— Eu pensei ter dito para você ficar longe do Christian. - Ela rosnou para
mim, segurando o meu uniforme nas suas mãos, perto do seu peito.
Ela estreitou os olhos como um gato, todas as amigas olhando umas para
as outras. Eu estava sentindo o clímax chegando em breve e eu realmente
esperava poder arrancar as minhas roupas da mão dela em algum momento,
porque eu estava começando a ficar com frio com a corrente de ar condicionado
soprando nas minhas costas nuas. E para não mencionar, Piper provavelmente
estava se perguntando onde eu estava.
— Veja, eu ouvi de forma diferente. Ouvi dizer que vocês dois estavam
saindo de um cômodo juntos na outra noite depois que eu o enviei para cumprir
a minha missão.
Foi puro silêncio no vestiário. Tão silencioso que você podia ouvir os caras
fazendo barulho nos seus vestiários através das aberturas.
Madeline me lançou outro olhar sujo, jogando o cabelo por cima do ombro
e esticando o quadril. — Acho engraçado que você pense que está em posição de
julgar alguém, Hayley. Você se viu? O seu pai foi assassinado porque era um
perdedor e a sua própria mãe não queria cuidar de você. Salve os julgamentos
para você. É provável que você acabe em um poste de stripper, implorando aos
homens para transar com você para que se sinta digna.
Levou cada grama de contenção que eu tinha no meu corpo para não
colocá-la de bunda no chão. Eu imaginei isso. Eu puxando o meu punho para
trás e dando um soco no seu rosto simétrico e perfeito. O seu corpo voando para
trás e pousando no chão frio de concreto. Mas eu não poderia fazer isso. Se eu
tivesse problemas nesta escola, não haveria detenção. Não haveria punição. Eu
seria expulsa. De volta a Oakland High. Incapaz de dar o fora desta cidade de
merda e para não mencionar, de volta onde o Gabe estava.
Em vez de apagar as luzes dela ou dar a ela qualquer satisfação que ela
tinha me ferido, fiz uma cara corajosa, me abaixei e coloquei o meu Converse e
passei direto por ela e a sua gangue de garotas fodida. Se eu mostrasse um
grama de medo ou mágoa, essas abutres me comeriam viva. Fiz parecer que
não fui afetada por suas palavras.
Mas eu fui.
Elas doeram.
A sua própria mãe não queria cuidar de você. Essa foi uma declaração
verdadeira. Ela não errou. A minha própria mãe disse que me odiava. — É sua
culpa estarmos nesta posição. É sua culpa que o seu pai esteja morto. Ele tinha
tudo sob controle e você tinha que chamar a polícia. Agora olhe para nós!
Estremeci quando a memória percorreu o meu cérebro. Os meus olhos
ficaram turvos, mas eu suguei as lágrimas não derramadas de volta.
Hoje não.
CAPÍTULO DOZE
O MEU PAI NÃO ESTAVA EM CASA há duas semanas, exceto por algumas
horas no fim de semana passado. Isso não era nada fora do normal para o Ollie
e eu, mas ultimamente, eu estava extremamente grato pela Sra. Porter. Uma
vez por semana, quando o Ollie e eu íamos para a escola, a nossa empregada/
babá/ governanta, a Sra. Porter, vinha e lavava toda a roupa da casa e
certificava-se de que a geladeira estava abastecida. Foi um pequeno gesto da
parte do meu pai contratá-la alguns anos atrás, e fiquei feliz. Não conseguia
me imaginar trabalhando como escravo no campo, cuidando da bunda infantil
do Ollie e agindo como uma esposa de Stepford, ocupando-me com a roupa suja
e cozinhando em casa. Era nisso que eu estava pensando quando comecei a
vestir o short e a camisa que usei durante o treino. Mais duas semanas e
enfrentamos o nosso maior competidor e o treinador estava nos trabalhando
tanto que eu nem tive tempo para pensar em nada a mais, muito menos
em fazer nada a mais.
Obrigado porra. Mesmo que alguns dias eu achasse o futebol inútil, pelo
menos serviu como uma distração bem-vinda.
Ele olhou para mim, a surpresa ainda gravada no seu rosto. — Eu acabei
de ver a Garota Nova andando pelo corredor de sutiã e calcinha, se balançando
naquele Converse incrível que ela usa todos os dias. Não sei onde diabos está o
uniforme dela, mas caramba! Todos vocês têm que ir olhar. O meu banco de
punheta agora está cheio de imagens dela.
20
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
dando a mínima para o treinador reclamar que eu estava atrasado para o
treino.
Que porra ela está pensando? Andando pela minha escola seminua. Jesus
Cristo.
Eu sabia o que o Ollie pensou quando disse a ele que cuidaria disso. Ele
pensou que eu estava tentando fazer o controle de danos, para manter as coisas
sob controle e funcionando perfeitamente como fiz nos últimos dois anos nesta
escola. Afinal, ele não tinha ideia do quanto eu realmente odiava a Hayley e
queria que ela fosse embora. Ele não sabia o que foi dito entre nós na outra
noite. Pelo que eu sabia, ele pensava que estávamos fazendo as pazes. Ou,
inferno, havia até um boato de que eu estava lá transando com ela. A Madeline
certamente despejaria isso em breve.
Puta merda.
Culpa.
Eu me senti ainda mais culpado pensando que ela era a coisa mais quente
que já vi.
— Então o que aconteceu? Quer ser expulsa da English Prep para acabar
com a sua miséria? — Eu perguntei, diminuindo alguns metros que ela colocou
entre nós.
— Por que você está tão preocupado? — Ela eliminou o resto do espaço
entre nós, olhando para o meu rosto. — Com medo de me ver ir?
Algo cintilou no seu rosto. Medo? Reconheci aquele olhar. Os seus olhos
azuis ficaram distantes, os braços envolvendo a sua cintura. Ela mordiscou o
lábio inferior e, naturalmente, os meus olhos se concentraram neles.
Por que ouvir o meu nome nos seus lábios causou uma guerra dentro do
meu corpo? Apagou o passado, confundiu o presente e de alguma forma previu
o futuro.
As suas palavras saíram rapidamente. — Eu sei algo, algo que você deseja
saber. Mas só direi se você mantiver isso em segredo e me deixar ficar.
Intrigante, sim. Vale a pena deixá-la ir impune e ter que lidar com ver o
seu rosto todos os dias, dado o que isso faz comigo? Não. — Vou decidir depois
que você me contar. - Eu rebati, ainda me elevando sobre ela. Pelo menos desse
ângulo, eu poderia manter os meus olhos no seu rosto e não no seu
corpo. Hormônios adolescentes eram uma cadela maldita às vezes. O meu pau
não se importava que eu a odiasse. Na verdade, isso a tornava ainda mais
tentadora.
Ela pensou por um momento e percebeu que não tinha outra escolha.
— E o que?
— Ela disse que inventou a parte sobre o Cole mexer com a amiga dela
para que você batesse nele.
Ela balançou a cabeça, o seu cabelo escuro cobrindo o seu rosto por um
momento antes de olhar para mim. — Ela disse que o Cole a abandonou e ela
queria se vingar dele e ela sabia que você reagiria se ela dissesse que ele mexeu
com uma das suas amigas... de forma inadequada.
Fiz uma pausa, pensei por um momento e então o meu sangue começou a
ferver ainda mais quente do que quando vi a Hayley alguns momentos atrás.
Antes que soubesse o que estava fazendo, eu estava rasgando a camisa das
minhas costas e jogando-a na sua direção. Ela hesitantemente pegou com uma
mão trêmula.
— Coloque.
Ela nem pensou duas vezes. Depois que ela puxou sobre o seu corpo esguio,
movendo o seu cabelo para o lado, coloquei a minha mão sob o seu queixo e
trouxe o seu olhar até o meu.
Eu ainda odiava a Hayley Smith com todas as minhas forças, mas talvez
até um pouco mais agora, porque eu sabia como ela era por baixo do uniforme
escolar. E deixe-me dizer a você, era muito melhor do que eu lembrava.
****
Eu precisava que ela fosse embora e, na única chance que tive, perdi o
direito.
Eu não era o único na sala olhando para ela. O Voorhies estava lambendo
os lábios enquanto traçava os olhos para cima e para baixo no seu corpo e o
Clayton e o Zach estavam com as cabeças juntas, sussurrando sobre ela. O
aborrecimento deslizou para cima e eu empurrei o meu livro da minha mesa
para o chão, causando um grande estrondo em toda a sala. Todos os olhos
estavam em mim e eu olhei para cada um deles. O Voorhies revirou os olhos,
mas o Zach e o Clayton não perceberam a minha ameaça não verbal. Pare de
olhar para ela, e pare de cobiçá-la, os meus olhos diziam. Eu lentamente
deslizei o meu olhar de volta para ela e ela estava olhando para o meu livro no
chão. As suas bochechas rosadas foram substituídas por uma brancura que
combinava com a sua camisa. Ela soltou um suspiro trêmulo.
Assim que nós três saímos da sala de aula, sussurros flutuaram ao nosso
redor, Hayley estremeceu na minha frente e cutucou o meu peito. — Eu acho
que deveria ter te escutado quando disse que nada havia mudado!
Eu olhei para o dedo dela no meu peito, cutucando a minha gravata e então
de volta para o seu rosto. Eu sorri. Eu não tinha ideia de por que nós três fomos
chamados ao escritório, já que não contei nada ao Diretor Walton. Na verdade,
ninguém sabia de nada além da Hayley e eu mas deixá-la suar era divertido.
— Não é da sua conta!— Ela quase gritou. Hayley respirou fundo várias
vezes, mas era quase como se ela estivesse com falta de ar. Ollie deu um passo
mais perto dela com cautela, pulando os ladrilhos um por um até que estava
bem na frente dela.
Ollie manteve os olhos nela. — Eu sei. — Então, ele desviou a sua atenção
para mim por um segundo. — Eu o reconheço. Ela está fazendo exatamente o
que você costumava fazer.
Era como se o Ollie nem estivesse lá. O meu pulso acelerou a cada segundo
que passava. Eu estava ficando cada vez mais incomodado ao vê-la. Pensei no
seu arquivo que eu havia roubado momentaneamente. Dizia alguma coisa
sobre a Oakland High? O que diabos aconteceu lá?
— Você. Eu te vejo.
— Você está bem agora? — Ollie perguntou. Merda. Esqueci que ele
estava aqui.
21
Cheiro amadeirado.
longa o suficiente. Os meus olhos permaneceram nas suas pernas por uma
fração de tempo demais. Isso também não me agradou. Nada disso fez.
Merda. Talvez eu devesse dizer ao diretor que ela tentou seduzir o time de
futebol e conseguir uma passagem só de ida para fora da English Prep. Não,
não antes de descobrir do que ela tem tanto medo na Oakland High.
A sua voz era suave, como uma pena flutuando no chão. — Sim,
obrigada. Estou bem.
— Então, o que diabos nós três estamos fazendo indo para o escritório do
diretor? — O Ollie perguntou enquanto recuava, dando algum espaço a Hayley.
Eu fiz uma careta na direção dela. — Foda-se se eu sei. Eu não fui até ele
como você pensa.
Uma risada sarcástica saiu da sua boca. — Eu não acredito em você. Você
faria qualquer coisa para me tirar do seu reino.
Ollie riu mais forte desta vez e eu empurrei os dois, indo direto para o
escritório do diretor.
Olhei para trás e vi que ele tinha jogado o braço sobre os ombros dela
enquanto eles me seguiam. É melhor ele nem pensar em fazer amizade com
ela. Ela era a inimiga e era assim que tinha que ficar.
CAPÍTULO TREZE
A MINHA PERNA SALTOU PARA cima e para baixo quando me sentei ao lado
do Ollie na área de espera. O Christian foi convidado a ir ao escritório do
Diretor Walton sozinho, então Ollie e eu tivemos que ficar aqui.
Pensei em quando éramos mais jovens. O Ollie era fofo e sempre queria
sair com o Christian e eu. O seu cabelo claro estava geralmente bagunçado e o
seu rosto sempre estava manchado de sujeira. Ele tinha dentes tortos, mas
esses estavam consertados agora. Não achei que alguém pudesse negar que ele
era atraente. Ele e o Christian não se pareciam muito, mas os dois eram feitos
da mesma pedra perfeita.
A sua mão apertou a minha perna suavemente. — Sinto muito pelo seu
pai.
— Ollie? — Eu perguntei, me sentindo um pouco mais corajosa perto dele
do que com o Christian.
Ele inclinou o queixo depois de verificar se a Sra. Boyd não estava olhando
para nós.
— O que?
Alguém = eu.
— Você está dispensada de volta para a aula agora. Pare na mesa da Sra.
Boyd e ela escreverá um bilhete para você.
— Sim? — Eu perguntei.
— A Madeline e os seus pais vão pagar por um novo uniforme se ela não
conseguir localizar o que roubou ontem. E... — Ele olhou para a minha pasta
por um momento, — ...Eu preciso relatar este incidente para a sua assistente
social. Eu só queria te informar.
Ótimo.
****
O olhar frio e humilhante que ele me deu no primeiro dia em que me viu
provou isso. Sim, ele me dissuadiu de um ataque de pânico mais cedo, e sim,
ele poderia muito bem ter me expulsado da English Prep esta manhã se ele
realmente quisesse, mas ele ainda me odiava. Na verdade, ele basicamente me
disse isso.
A Ann estava no lado bom, para assistentes sociais, claro. Ela era
realmente a melhor assistente social que já tive. Após o incidente com o Gabe,
eles substituíram o meu antigo assistente social, Daniel, pela Ann. Eles
pensaram que eu responderia melhor a uma mulher do que a um homem, e
estavam certos.
Eu ainda não me permiti chegar muito perto dela, no entanto. Não era
como se ela estivesse tentando ser a minha fada madrinha ou algo assim. Ela
só estava encarregada de mim porque o estado assim disse. Confiar em uma
assistente social era como o chorar de lobo. Você não podia reclamar de muita
coisa porque ninguém acreditaria em você e sem falar que isso geralmente
tornava as coisas piores.
A Madeline nem mesmo me deu uma olhada pelo resto do dia, mas eu
sabia que ela queria. Eu podia sentir a sua raiva do outro lado do refeitório e
ainda mais durante as nossas aulas juntas. Uma misteriosa bola de queimada
me atingiu na cabeça durante a educação física também e eu tinha certeza que
era dela.
Ela riu quando bati a porta e atravessei a rua. Eu olhei para trás uma vez,
para a Piper e observei os seus faróis se apagando. Respirei fundo, mas parei
antes de entrar para enfrentar a Ann, o Pete e a Jill. Os meus olhos se
concentraram em um Escalade22 totalmente escuro estacionado no final da
estrada.
22
Marca de carro. SUV
— O Pete disse que não tinha ideia de que você estava sofrendo bullying
na English Prep. — Ela lhe lançou um olhar descontente e ele baixou os olhos
para o chão.
A Ann caminhou na minha direção. — Por que você e eu não saímos para
conversar?
Ela passou por mim, o seu perfume de flores é uma boa pausa no cheiro de
cigarro velho do Pete. Virei os meus olhos para os dele e ele me encarou. Ele
estava definitivamente louco. Ótimo.
Eu podia sentir o Pete me olhando pela porta de tela sem nem mesmo
olhar. A crueza fria no seu brilho segundos atrás parecia uma cobra envolvendo
o meu pescoço e cortando a minha circulação.
Ela olhou para mim, a sua boca em uma linha reta. Eu desviei o olhar
antes que ela pudesse ver através de mim. Hmm. O Escalade se foi. Negócio de
drogas?
O meu coração bateu forte; a minha pele formigou de medo. Eu não sei por
que falei, mas de repente desejei poder engolir as palavras de volta.
— Ela não acreditou em uma porra de palavra que você disse. Agora ela
vai fazer check-in todos os dias, porra. — O Pete se aproximou de mim, a sua
voz alta e maldosa.
Ele cuspiu enquanto gritava: — Eu não preciso de você. Você é uma vadia
ingrata. Eu poderia expulsá-la daqui e substituí-la por um novo filho adotivo,
se eu quisesse.
Ele gritou: — A porta vai ser trancada às sete da noite. E sem merda de
jantar.
Nem uma única lágrima foi derramada. Nem mesmo pela dor surda na
minha lateral ou pelo hematoma roxo que se aproximava rapidamente.
Não chorei quando o Gabe provou ser alguém que não era.
O MEU QUARTO ESTAVA escuro como breu quando abri os meus olhos. Eu
sabia que dia era, mas não tinha intenção de me permitir isso. Os aniversários
perdiam o significado com o tempo e era a única coisa que a mamãe sempre
fazia. Ela pode ter estado ausente todos os dias do ano, mas quando o
aniversário do Ollie e o meu chegava, ela puxava todos os obstáculos.
O meu pai estava vestindo uma camiseta simples e shorts de corrida, como
se estivesse prestes a sair para correr. Talvez essa fosse a sua
norma? Acordar. Pegar um café. Correr. Eu não saberia. Ele não ficou aqui
tempo suficiente para que eu identificasse uma rotina.
— A sua mãe nunca quis estragar você e o Ollie. Ela queria ter certeza de
que vocês dois não tinham direito a tudo. Materialistas. Provavelmente falhei
um pouco nisso nos últimos anos, mas você realmente não pede muito. — Um
sorriso alcançou os seus olhos. — Você é tudo que a sua mãe gostaria que você
fosse. Você é mais maduro do que a sua idade. Você tem sido assim desde o
momento em que a sua mãe faleceu.
Eu bati os meus dentes com força. Isso não estava na minha lista de coisas
para falar às 6:30 da porra da manhã, ou nunca.
— Ollie disse que era isso que você queria, então vou instalá-lo enquanto
você estiver na escola. Pensei em ficar para o seu jogo também, antes de voltar
para a China esta semana.
Eu fui até ele e arranquei o smoothie das suas mãos. Ele gritou, mas eu
dei um tapa na cabeça dele. — Obrigado pelo sistema de jogo. Vou garantir que
você nunca o use.
Eu não disse nada em resposta. O Ollie não estava tão chateado com o
nosso pai quanto eu. Eu era o filho frio; ele era o mais quente. Era assim desde
que a mamãe morreu.
Ollie passou a mão pelo cabelo. — Eu não acho que ele nos viu jogar um
único jogo desde antes... — Soltei um suspiro pesado quando ele fez uma
pausa. Passaram-se quatro anos desde que a mamãe morreu, e o Ollie ainda
lutava para dizer as palavras, e eu também, às vezes. Quatro anos era muito
tempo, relativamente falando, mas o tempo não funcionava assim quando se
tratava de morte. Essas memórias surgiam sempre que eles queriam e eram
cortadas da mesma forma.
Comecei a balançar a cabeça, mas a voz do Ollie ficou severa, algo como
ele nunca foi descrito. — Antes de você dizer 'nada' e me ignorar de novo, saiba
que não vou parar de importuná-lo. A cada momento de cada dia, vou perguntar
de novo e de novo. — Ele abaixou a cabeça. — E você sabe como eu posso ser
irritante.
Corri a minha mão debilmente pelo meu rosto. — Vou deixá-la sem graça
essa noite na festa de aniversário que vocês organizaram.
Ele gemeu, batendo a mão no balcão. — Era para ser uma surpresa! Quem
te contou?
Ele gritou de volta. — Não pense que não sei que você está evitando a
primeira pergunta. Vou continuar te importunando, irmão. E eu não sou nada
além de determinado.
Assim que chegamos à escola e com nosso grupo de amigos, ele finalmente
parou de perguntar. Nunca estive mais grato por estar cercado por um grupo
de pessoas do que naquele momento.
Branca de Neve. Esse era o apelido perfeito para ela. Uma boneca Branca
de Neve de porcelana. Cabelo escuro. Pele clara. Lábios de rubi que eram
naturalmente tingidos dessa cor.
23
é o nome dado a uma mistura improvisada de licor que costuma ser servida para consumo coletivo. Existem
inúmeras receitas e até mesmo sites dedicados exclusivamente ao jungle juice. O termo também tem sido
usado para misturas alcoólicas de baixa reputação semelhantes.
Fiquei observando enquanto a ruiva que parecia ser amiga da Hayley
colocava a mão no pulso da Hayley. As suas cabeças estavam
amontoadas. Hayley estava tentando ignorar algo. Ela balançou a cabeça e
encolheu os ombros algumas vezes. Então, observei a sua amiga pegar a camisa
do uniforme da Hayley. Estava meio fora da calça antes da Hayley dar um
passo para trás e se eriçar. Ela olhou ao redor do corredor, para ver se alguém
havia notado. Os seus olhos encontraram os meus e se arregalaram. Então, ela
olhou para a sua amiga e agarrou o seu braço, arrastando-a para o banheiro.
— Curtindo o show, irmão? — Ollie estava ao meu lado agora, a sua voz
baixa.
Eu desviei a minha atenção para ele. Os seus olhos verdes dançaram com
humor.
Precisei de tudo para não abrir a porta do banheiro feminino para ver no
que a amiga da Hayley estava tão persistente e por que ela estava levantando
a camisa.
Eu queria bater a minha cabeça na parede. Por que diabos estou pensando
na garota que me leva à beira da insanidade?
Insano.
****
— Onde diabos estava a sua cabeça esta noite, Christian? — Os seus olhos
avermelhados estavam cheios de raiva e decepção. Ele esfregou a barba no
rosto. — Você tem sorte dos olheiros não estarem aqui esta noite. Você tem
bolsas para pensar. Que raio foi aquilo?
Eu sabia o que era. O meu peito ficou apertado. Os meus ombros ficaram
tensos. Eu queria colocar os meus Nikes e correr três milhas no ar frio de
outubro para que pudesse limpar a minha cabeça, parar de pensar na Hayley
e relaxar como o inferno.
Eu não tinha ideia do porquê. Talvez fosse porque eu sentia que a Hayley
estava fora do meu controle. Ela despertou algo dentro de mim e isso me deixou
louco. Ou talvez fosse porque houve um tempo em que eu teria feito qualquer
coisa para proteger a garota que me fazia sentir vivo.
— Você está certo de que não vai. Na próxima semana é o nosso jogo contra
o Oakland High. Os olheiros estarão aqui. Os bons. Você precisa jogar o seu
melhor. — Ele agarrou o meu ombro e deu um aperto. — Se houver alguma
coisa, me deixe orgulhoso.
A CABANA DO ERIC estava com capacidade total. Os seus pais tinham tanto
dinheiro quanto o meu pai, então a sua cabana no lago era maior do que a casa
da maioria das pessoas. Os seus pais sabiam que usávamos como um local de
festa, e contanto que limpássemos no dia seguinte e as coisas não quebrassem,
eles não davam a mínima. Vantagens de ter pais ricos e separados.
Quando entrei, toda a sala cheia de pessoas gritou 'Surpresa!' o que foi
estúpido, considerando que não era uma festa surpresa. O Eric saiu da cozinha
e gritou: — YEE HAW. O aniversariante está aqui! É hora de tirar as suas
calcinhas, meninas.
Assim que ele me viu, ele ergueu a bochecha. — Feliz aniversário mano. A
Madeline está na sala, te esperando.
O meu rosto se contraiu. Hora do show. Vou ensiná-la a não foder comigo
e com a Hayley.
Ela era a pessoa mais superficial que conheci. A única coisa boa sobre ela
era que ela estava sempre ansiosa para me agradar, caindo de joelhos sem nem
mesmo pedir a ela. Mas só porque ela era boa em chupar o meu pau, ou porque
éramos compatíveis no quarto, isso não significava que eu iria agradá-la com
esta charada de ser o seu par no baile ou o rei do seu reino. Ela foi longe demais
para o meu gosto. Mentir sobre algo como estupro era perigoso e totalmente
sujo. A Madeline não sabia que eu odiava mentirosos?
Eu queria dar um show e lhe dar uma lição. O que ela fez foi uma merda. E
a sua amiga que concordou com isso? Eu diria que ela era igualmente culpada,
mas estava 100% certa de que a Madeline a chantageou para mentir. Era assim
que ela era maliciosa.
Ela fez uma pausa, os seus dedos apertando o meu bíceps. — Hum, o quê?
Foi assim que me tornei respeitado na English Prep. Claro, ter o dinheiro
e o sobrenome ajudava muito, mas colocar aqueles que fizeram a coisa errada
nos seus lugares chamou a atenção para mim. Era a razão pela qual eu era o
capitão do time de futebol e por que tinha o diretor no bolso.
— Hum, o quê? — Ela perguntou nervosa de novo. A música foi cortada
completamente agora. Todos estavam na beira dos seus assentos para ouvir o
que eu ia dizer.
Peguei a bebida da sua mão e levei-a aos lábios, dando um gole na cerveja
quente que rodopiava por dentro. Assim que terminei, devolvi-lhe o copo e ela
o pegou com uma expressão cautelosa no rosto.
— Veja, quando você disse que o Cole tinha tentado estuprar a sua amiga,
você sabia que eu iria retaliar. Não apenas porque era a Wellington Prep, mas
porque isso é algo que eu nunca toleraria em qualquer situação - Wellington
Prep ou não. — Os olhos da Madeline se estreitaram quando os nossos amigos
começaram a sussurrar. Os seus olhos estavam dizendo: Não ouse. Mas eu
sempre faço. Dei passos lânguidos até a April, a garota que a Madeline
expulsou do time de torcida por se aproximar de mim alguns fins de semana
atrás, porque eu sabia que isso doeria mais e coloquei o meu braço sobre o seu
ombro delicado. — Ouvi que era tudo mentira. Ouvi dizer que o Cole não fez as
coisas das quais você o acusou, mas que você ficou ferida porque ele não queria
nada com você quando você tentou abrir as pernas para ele.
— A Hayley não está mentindo. Eu te ouvi dizer isso a ela depois que você
roubou as suas roupas na educação física no outro dia. — Os lábios da April se
curvaram para cima. — Você esqueceu que eu estava na Educação Física com
você também? Cuidado, Madeline. Você está queimando pontes a torto e a
direito ultimamente.
Inclinei-me no seu espaço pessoal, olhando-a bem nos olhos. — O que você
fez foi sujo, Madeline. E nunca mais quero sujar as mãos. — Me virei e
caminhei até a April, reivindicando a sua mão na minha. Então, olhei por cima
do ombro antes de ir para a banheira de hidromassagem. — E se você mexer
com a Hayley de novo, vai se encontrar na Wellington Prep com o acusado de
estupro e deixe-me dizer, ele sabe exatamente o que você fez.
Ansioso para apagar o momento, puxei a April pela porta dos fundos,
deixando-a bater atrás de mim. Todos podiam ver através da fina camada de
vidro que nos separava do resto da festa enquanto eu empurrava o meu corpo
contra ela e a reclamava com a minha boca, nem mesmo me importando que
isso não fosse parte do meu plano. Eu pretendia usar a April como uma forma
de enfurecer a Madeline ainda mais, provocando-a com uma inimiga, mas agora
eu estava dando um passo adiante porque estava desesperado para compensar
os meus pensamentos sobre a Hayley.
Por que a Hayley pareceu tão preocupada quando a sua amiga tentou
levantar a sua camisa?
Ignorei todos que tentaram me parar para falar sobre a Madeline e o nosso
pequeno show e me coloquei na frente do Ollie, que estava fazendo o seu melhor
para entrar nas calças da Bristol para a noite. Ele sorriu quando olhou para
mim. — Mano, bom show. Madeline saiu daqui mais rápido do que o Andrews
marcou no último touchdown.
O seu sorriso caiu. — O que? Agora mesmo? — Ele varreu o seu olhar
para trás e para frente entre eu e a Bristol e gemeu. — Bem. Mas só porque é
a porra do seu aniversário.
Ollie subiu atrás de mim. — A ruiva gostosa? Essa é a Piper Jacobs. Por
quê?
Eu olhei para ele, o barulho do meu carro ao fundo. — Você tem o número
dela?
Ollie não se moveu para pegar o seu telefone. Ele não fez nada além de
piscar.
— No caminho para onde quer que a Piper esteja. E então para a Hayley.
****
Por que ela não atende o telefone? Andei de um lado para o outro no meu
quarto, tropeçando na bola de basquete idiota no chão. Fazia duas horas desde
que ela me ligou freneticamente, dizendo que os seus pais estavam brigando
novamente. Quando perguntei sobre o que eles estavam brigando, ela disse que
iria ouvir melhor e que me ligaria mais tarde.
O medo formigou na minha nuca. — Não, eu acho que algo está errado com
ela. Ela me ligou sobre os seus pais e agora ela não responde.
— Christian. Tenho certeza que ela está bem. Ela não liga para você o
tempo todo sobre os seus pais? — Ela suspirou. — Tenho certeza que a Hayley
está bem.
— Não!— Ela gritou. — Agora pare. Vá ver se o Ollie saiu do banho. Você
precisa se preparar para dormir também.
Algo estava errado com a Hayley naquela noite. Ela assistiu o seu pai ser
assassinado.
E vi a minha mãe ser atingida de frente por um Trailblazer24 enquanto
dirigia no meio da tempestade para me encontrar. Fui eu quem saiu naquela
noite, ignorando-a. Se a Hayley tivesse apenas mantido os seus negócios para
si mesma ou atendido o telefone quando liguei de volta, eu nunca teria
saído. Eu nunca teria desobedecido a minha mãe e o acidente nunca teria
acontecido. A minha mãe não teria recebido nenhuma prescrição de analgésicos
para os seus ferimentos e ela nunca teria se viciado.
Eu me preparei para o pior. Ele iria me odiar. Ele agora sabia que eu era
a razão pela qual mamãe estava dirigindo naquela noite. Ninguém realmente
questionou o que ela estava fazendo ou como eu vi os destroços do meu ponto
de vista na calçada. As coisas ficaram um turbilhão depois daquela noite. A
mamãe no hospital, então a sua recuperação. Ela nunca mais foi a mesma
depois daquele acidente. Ela sofreu uma leve contusão na cabeça e talvez por
isso ela fosse diferente. Ou talvez fossem os comprimidos.
De qualquer maneira, ela nunca foi a mesma. Víamos cada vez menos ela
em casa. Mais tarde, descobrimos que ela estava vendo vários médicos por
causa dos seus ferimentos e, possivelmente, passando tempo com eles fora do
horário de trabalho também. Porém, eu não tinha certeza se isso era
necessariamente verdade - era apenas pelas minhas suposições ao longo dos
anos.
24
Um modelo de carro de marca Chevrolet.
— Não é sua culpa, Christian. Também não é da Hayley, mas acho que no
fundo você já sabe disso. Você tinha treze anos e estava preocupado com a sua
melhor amiga. Ninguém poderia ter previsto que a mamãe iria se destruir ao
seguir você. E ninguém poderia prever que ela ficaria viciada em
analgésicos. Se você se culpa pela morte dela, então pode me culpar também.
Eu atirei o meu olhar para ele. — Por que alguém iria te culpar?
Ele encolheu os ombros. — Talvez porque depois que te vi sair pela minha
janela, eu disse a ela para segui-lo. — As minhas sobrancelhas franziram e ele
assentiu. — Sim, eu disse a ela para ir atrás de você. Ela não iria. Ela disse que
você voltaria quando ficasse molhado o suficiente, mas eu sabia que não. Não
sabia para onde você estava indo, mas você era a pessoa mais determinada que
conheci e nunca deixou que nada atrapalhasse o que você queria. Não naquela
época e não agora.
No entanto, ainda havia algo dentro de mim que ansiava por saber que ela
estava bem.
Sempre foi assim comigo e ela. Passamos cinco anos separados e, todos os
dias, uma vozinha no fundo da minha cabeça pensava nela e se perguntava
onde ela estaria.
Ollie sorriu. — Eu não sei. Talvez entrando nesta festa para agarrar a
Piper, sabendo muito bem que você provavelmente será atacado por um bando
de meninos da Wellington Prep comedores de boceta porque você bateu em um
dos seus no último fim de semana. — Ele me deu uma olhada de lado. — Não
é a sua melhor ideia.
Oh, certo. Isso. Problema menor. — É por isso que você vai entrar lá e
fingir que é amigo da Piper.
Ele riu. — Não posso fazer promessas. — Em seguida, ele saiu do carro e
correu escada acima, dando-me uma saudação antes de entrar na casa.
****
— Eu não posso acreditar que caí nessa merda. — Piper estava sentada
no banco de trás do meu Charger, vermelha e ardente. Ollie estava sentado
presunçosamente no banco do passageiro, um grande sorriso gravado no seu
rosto. — Eu sabia que não devia acreditar em você. O maior flertador da
escola. Como se a Hayley realmente estivesse aqui no carro do Christian,
querendo falar comigo. Ela não iria te mandar. Ugh. — Ela bufou. — Eu culpo
o álcool.
Eu olhei pelo espelho retrovisor. — O que havia de errado com ela hoje? Eu
vi você tentando levantar a blusa dela e também a vi estremecer ao entrar no
seu carro depois da escola.
Um sorriso tímido apareceu no seu rosto. — Uau, para alguém que odeia
tanto a Hayley, você parece saber muito sobre as ações dela.
O Ollie sorriu quando olhou para ela. — Deus, você fica ainda mais quente
quando está mal-humorada, Piper.
O seu rosto se contorceu. — Ugh, cale a boca. Ainda estou com raiva de
você.
— Diga-me agora, ou juro por Deus, vou dirigir direto para a casa dela e
perguntar a ela eu mesmo.
Piper riu, sentando-se ainda mais no assento. — Tudo bem, mas você terá
que passar pela janela dela. Talvez então eu acredite que você tem os melhores
interesses no coração.
O Ollie se virou para mim. — Mano, você não pode simplesmente subir
pela janela dela.
Quando ele assobiou baixinho, o olhar indiferente nos seus olhos voltou à
dureza normal. — O que diabos aconteceu?
Ele puxou a minha camiseta, batendo o meu corpo no seu peito duro. Ele
levantou a minha camisa novamente e eu percebi o que ele estava olhando. Eu
rapidamente o empurrei e puxei a minha camisa para baixo, mortificada por
ter acabado de permitir que ele levantasse a minha camisa em primeiro lugar.
— O que diabos você pensa que está fazendo invadindo o meu quarto como
um perseguidor e levantando a minha camisa? — Eu mantive a minha voz
baixa, com medo de alguma forma acordar o Pete do seu sono bêbado.
— Por que você quer saber? — Eu coloquei a minha boca em uma linha
firme. — Quer agradecê-los por fazer o trabalho? Dar a eles uma
medalha? Fazer um vínculo sobre o seu ódio por mim?
— E se fosse uma garota que fez isso? Achei que você não batesse em
garotas.
Ele zombou. — Não é uma menina. Quem fez isso com você é maior e mais
forte. Do contrário, eles nunca teriam acertado. Agora, quem foi?
Eu o nivelei com um olhar, mudando os meus pés descalços. — Você
escalou a minha janela? Como você sabia qual era a minha? — O Christian
estava vestindo jeans, os seus Vans e uma camiseta escura, nenhuma delas
estava suja ou mesmo uma pequena mancha de escalada. Como isso foi
possível? A última vez que desci a treliça, rasguei ainda mais o buraco no meu
jeans.
Eu joguei o cobertor das minhas pernas, toda quente e irritada. — Por que
você se importa? Você deixou bem claro que me odeia e quer que eu vá
embora. Então por que?
Uma risada terrível saiu da minha boca. — Você pode relaxar; os seus
preciosos camponeses estão todos seguindo as suas regras. Ninguém mexeu
comigo desde que a Madeline pegou as minhas roupas.
— Foi o seu pai adotivo, não foi? — Os seus olhos se voltaram para a porta
do meu quarto, e parecia que uma bala havia se alojado na minha espinha.
Sabendo que estava certo, ele se lançou para a porta, girou a maçaneta e
parou. Ele tentou girá-la mais duas vezes, balançando-a para frente e para
trás. Então, ele lentamente se virou, os seus ombros largos puxados para trás
com força. — Está... — Ele varreu o seu olhar escuro de volta para a porta
antes de nivelá-lo na minha direção. — A porra da sua porta está trancada?
Eu tinha que admitir, não era assim que eu havia planejado a minha
noite. Eu deveria estar dormindo pacificamente no catre da prisão.
O SEU corpo MINÚSCULO, mas vigoroso, desceu a treliça como se fosse uma
parede de escalada que ela escalou um milhão de vezes antes. O barulho das
folhas de outono soou lá embaixo quando ela desceu e eu a segui.
A sua respiração suave soprou sobre a minha pele. — Você não gosta do
quê?
A Hayley ergueu o queixo um pouco mais alto, os nossos lábios não mais
do que separados por um suspiro. Olhamos um para o outro por muito tempo
antes dela sussurrar: — Você não sabe que não deve contar os seus segredos ao
seu inimigo, Christian? — Então, ela me empurrou e contornou a árvore,
levando a minha respiração com ela.
Assim que ela atravessou a rua, ela procurou o meu Charger, que estava
escondido atrás de um enorme Escalade enfeitado.
— Ele te sequestrou?
Piper bufou. — Para caramba! Ele exigiu que eu contasse tudo a ele e
quando eu não disse, ele disse que iria apenas dirigir até aqui. Eu o fiz subir
pela janela em vez de bater na porta porquê...
A Hayley olhou para mim com a sua visão periférica. O carro ficou em
silêncio. O Ollie afundou de volta no seu banco e a Piper parou de olhar
carrancuda para ele. Estávamos todos nervosos, esperando que ela
explicasse. A Hayley engoliu em seco, a verdade pronta para sair dos seus
lábios. — Eu caí das escadas.
O Ollie sibilou. — Mano, não faça nada estúpido. Posso salvar a sua bunda
em uma festa da Wellington Prep com um monte de babacas, mas não tenho
tanta certeza disso.
Ou eu poderia?
Eu passei por ela, ignorando o seu suspiro. Logo antes de chegar ao último
degrau da casa, a Hayley deu um passo para o lado na minha frente, os seus
olhos arregalados sob o brilho suave da lua. — Christian, pare! Não!
Eu rosnei, pronto para empurrá-la para longe. A sua palma quente pousou
no meu bíceps, pele com pele. Não posso acreditar que o seu próprio pai adotivo
colocou as mãos sobre ela. Não era a minha intenção bater na sua bunda
quando saí do meu carro e a segui. O meu plano era agir como se eu estivesse,
para que a Hayley parasse de mentir e me contasse a verdade. Mas assim que
cheguei ao último degrau e ela olhou para mim com o medo claro como o dia
nos seus olhos, algo estalou dentro de mim. Uma atitude protetora dela que
pensei que não existia mais emergiu. Ele machucou a Hayley. A minha Hayley.
— Se você já se importou comigo algum dia, por favor, não faça isso.
— Isso não está funcionando para mim, Hay. Melhor pensar em outra
coisa para me distrair, porque estou a segundos de bater no rosto dele. — Eu
mal podia esperar para ver a sua reação quando ele abrisse a porta e eu desse
um soco e ele caísse no chão. Ia chutá-lo na lateral do corpo apenas igu...
Assim que ela se afastou, fiquei chocado. Eu não conseguia falar. A Hayley
me arrastou pelo antebraço, pela depressão na grama e por todo o caminho até
a árvore perto da sua janela. Eu era como um cachorrinho perdido sendo
puxado pela coleira. Assim que ficamos cara a cara, observei enquanto a sua
língua disparava para lamber os lábios inchados. Eu a encarei. Ela olhou para
mim. Eu pisquei uma vez. Ela piscou de volta. O que diabos aconteceu? Um
minuto, eu queria acabar com ela e no próximo, eu queria salvá-la. — Você
voltou? Está equilibrado? Pronto para me ouvir?
A Hayley olhou para o céu estrelado. — Sim. Pete foi quem me chutou. E
não, não há nada que eu possa fazer a respeito. Confie em mim. Quero pegar a
faca mais cega da gaveta dos talheres e machucá-lo com ela até sangrar, mas
não posso, porque se for expulsa desta casa, irei para um lar coletivo.
— É isso? — Ela sibilou, as suas pernas andando para frente e para trás
na minha frente. Galhos e folhas esmagados sob o seu peso. — Eu vou fazer
dezoito em breve! Você sabe o que eles fazem quando você completa dezoito
anos enquanto está em um lar coletivo? — Ela não me deu tempo para
responder. — Eles te expulsam! Você está oficialmente fora do sistema. Um
grande parabéns, porra! Você é chutado na sua bunda e se torna um sem-
teto. Mas... — Ela se virou e olhou para a lateral da casa, — a Jill, o Pete e eu
resolvemos tudo. Eu posso ficar aqui até a faculdade, contanto que eu dê a eles
o meu estipêndio do estado e contanto que eu não dê a eles nenhum problema.
Olhando por cima do ombro para mim, ela perguntou: — E se Pete não
quiser o quê?
— Então por que você está se intrometendo? Nós não somos amigos. Não
somos nem conhecidos. Preciso lembrar que você me disse em várias ocasiões
que me odeia e quer que eu vá embora?
Eu gostaria de poder esquecer. Teria sido muito mais fácil manter o meu
olhar paralisado no quadro-negro em vez de me repreender a cada cinco
segundos.
Pelo que percebi, parecia que a Madeline foi rejeitada pelo grupo popular
esta semana. A Piper disse que ouviu algumas coisas sobre o Christian
chamando-a em uma festa no fim de semana e houve a notícia de que ele disse
a ela para ficar longe de mim também, o que era conflitante.
Ollie o ignorou, olhando para mim através dos seus cílios grossos. A sua
voz ficou mais suave comigo do que quando ele estava falando com todo mundo,
e em qualquer outra circunstância, isso teria me incomodado, mas agora eu não
conseguia pensar em nada além da ansiedade crescendo. — Sim, jogamos em
casa contra a Oakland na sexta-feira.
As últimas palavras que ele jogou na minha direção ecoaram pela minha
cabeça quando fechei os olhos com força. Então veio todo o eclipse daquela noite
de não muito tempo atrás.
Eu abri os meus olhos quando senti algo ao meu lado. O quarto estava
escuro, exceto pela lua brilhando através da janela, as cortinas transparentes à
minha esquerda. A minha visão levou alguns momentos para se ajustar, mas
quando fez, vi o Gabe inclinado acima da minha cabeça.
— Gabe? O que você está fazendo? — Tentei me sentar, mas ele não se
mexeu. Ele apenas continuou a se elevar sobre mim, o seu cabelo claro caindo
abaixo dos seus olhos. — Você está bêbado de novo? Você está no quarto errado.
— Então o que você está fazendo aqui? — Eu olhei para o relógio na mesa
de cabeceira. — São duas da manhã.
— Você gostou das roupas novas que a minha mãe trouxe para você?
Olhei para a sacola de compras perto da mesa em que fiz os meus trabalhos
escolares. Dei de ombros. — Eu não olhei para elas ainda.
O Gabe se aproximou de mim e engoli em seco. — Gabe, o que quer que você
esteja fazendo, pare.
Ele parou, pairando por um segundo. A minha visão foi ajustada agora, e
o olhar nos seus olhos não era nada como eu já tinha visto antes.
Rolei para fora da cama depois de lhe dar uma joelhada rápida na
virilha. Ele gemeu quando me levantei do chão, pronta para sair correndo pela
porta, mas ele segurou o meu pé no último segundo. As suas grandes mãos
envolveram a minha cintura enquanto ele me puxava e me empurrava contra a
parede.
— Pare de lutar contra isso. Eu sei que você quer. Andando pela casa com
aqueles shorts curtos todas as manhãs. — As mãos do Gabe se moveram
rapidamente enquanto ele juntou as minhas na sua. A sua outra mão desceu ao
longo do meu corpo, curvando-se sobre os meus seios e descendo pela frente do
meu short de dormir. Eu lutei contra as lágrimas e disse a mim mesma para
continuar lutando. Ele não vai conseguir pegar algo que não era dele. O meu
corpo não era para ser tomado. Uma vez que os seus dedos mergulharam dentro
de mim, o seu aperto afrouxou um pouco, o que foi o suficiente para acordar a
garota lutadora dentro de mim. Eu empurrei a minha cabeça para trás e bati
na dele com tanta força que ele caiu para trás, xingando baixinho.
O Gabe foi rápido, os seus passos largos cobrindo muito mais distância do
que os meus curtos. O que posso fazer para fazê-lo parar? Ele era maior do que
eu. Eu não poderia fugir dele. Os seus pais estavam dormindo no andar de cima
e eu não tinha certeza se poderia confiar que eles estariam do meu lado de
qualquer maneira.
O seu corpo estava delineado pelo céu noturno profundo, as estrelas e a lua
brilhando atrás dele. A garagem estava iluminada apenas o suficiente para que
ele pudesse me ver levantando o taco.
Mas eu também.
As coisas acenderam dentro de mim, o que só me fez atacar. Passei por ele,
precisando me controlar. — Como eu disse antes... — Parei bem ao lado dele
na porta do banheiro. Estávamos a centímetros de distância. O seu aroma
fresco e amadeirado foi a única coisa que senti. — Eu dependo de mim e apenas
de mim.
E era hora de parar de temer essas ameaças vazias. Eu tinha passado por
muito para recuar agora.
****
Mais tarde naquele dia, eu estava sentada com a Piper durante o almoço,
nós duas escondidas em um canto, olhando para o refeitório. Eu estava
debatendo comigo mesma se deveria ir ao jogo ou não.
Eu queria olhar o Gabe bem nos olhos e dizer a ele que não tinha medo
dele, mas no fundo, posso ter tido um pouco. Aprendi que não se pode confiar
em alguém de fora olhando para dentro - ou talvez até mesmo se você estiver
de dentro com essa pessoa. As pessoas eram imprevisíveis. Era a natureza
humana. Até eu era imprevisível às vezes. Beijar o Christian provou isso.
Com o pensamento, olhei para a sua mesa de almoço. Ele estava mexendo
na sua comida, jogando-a na bandeja. O Ollie e o Eric estavam conversando
animadamente e todos os outros, as meninas incluídas, estavam esperando
cada palavra. A Madeline se sentou alguns lugares, ainda na sua mesa, mas
ninguém estava falando com ela.
Se fosse qualquer outra pessoa, eu poderia me sentir mal. Mas ela era má
e as meninas mereciam ser excluídas.
A cabeça do Christian girou em direção às portas do refeitório e eu segui o
seu olhar. As placas de carvalho escuro se abriram e o Diretor Walton entrou
valsando, a sua gravata vermelha brilhante como ponto focal. Então, logo atrás
dele, vi os cabelos claros e cor de palha e o rosto cansado da Ann seguindo-o.
— Eu vou descobrir antes que ela se sente à nossa mesa como se fôssemos
todas melhores amigas.
Piper deu uma risadinha. — Eu cuidarei da sua bandeja. Vejo você depois
da escola para terminar a nossa conversa, mesmo que você não tenha ouvido
uma palavra do que eu disse porque estava muito ocupada olhando para o
Christian.
Olhei de lado, mas não me incomodei em discutir com ela. Ela estava
certa. Eu estava olhando para ele.
Ignorando-o e a forma como o meu peito vibrou, me virei e fui direto para
as portas. Eu dei a Ann um sorriso falso de o-que-você-está-fazendo-aqui e
passei rapidamente pela porta enquanto ela me seguia.
Os seus saltos tilintaram contra o chão de ladrilhos quando ela valsou até
um banco próximo e se sentou. Fiz o mesmo antes de me virar para ela e
perguntar: — Por que você está aqui?
Eu podia sentir a Ann olhando para mim, mas não encontrei os seus
olhos. — Fico feliz em ver que você fez uma amiga aqui. Vocês saem muito da
escola?
— E porque não?
Desta vez, voltei a minha atenção para ela. — Você realmente acha que
ela vai querer ir na casa do Pete e da Jill comigo? Honestamente?
— Suspirei. — Até mesmo pedir ao Pete e a Jill para usar a máquina de lavar,
eles me dão uma revirada de olhos e suspiros pesados. Eu não falo com eles a
menos que seja necessário. A ideia de convidá-la para ir naquela casa ou ao jogo
nesta sexta-feira me dá arrepios.
— O que?
Ele enfiou as mãos nas calças cáqui, bem passadas, casualmente. Ele
parecia muito legal no seu uniforme, enquanto eu parecia uma colegial perdida
com o cabelo emaranhado e os sapatos surrados. — Talvez.
Eu cruzei os meus braços sobre o meu peito. — Por quê? Por que você está
tão preocupado com tudo que eu faço?
Quando decidi que vê-la inalar a comida durante o almoço era a minha
nova norma? Ela estava assumindo o controle. Ela estava se infligindo nos
meus ossos, infiltrando o seu rosto devastadoramente quebrado, mas bonito no
meu cérebro. Eu estava preocupado. Havia essa parte superego minha que
queria estar lá para salvá-la, para envolvê-la nos meus braços e protegê-la de
todos que a machucaram, incluindo eu.
A Hayley estava com a Piper, o seu cabelo escuro em duas tranças. Ela
estava com uma camisa do buldogue azul-marinho e havia um sorriso
verdadeiro no seu rosto. Não do tipo que ela usava na aula quando o professor
a parabenizava por sua alta pontuação no teste. Não do tipo que ela usava
quando trombava com alguém e dizia com licença. Não, este atingiu os seus
olhos. A Hayley Smith estava se divertindo e eu não a via sorrir daquele jeito
há muito tempo. Isso me fez ansiar pelo passado e eu estava acostumado a fugir
dele.
— Hut25.
25
é uma sílaba curta e aguda que pode ser ouvida claramente à distância, por isso serve ao quarterback tão
bem quanto a um sargento instrutor liderando uma marcha.
da Oakland. Eu estava sorrindo pela primeira vez também, genuinamente
feliz.
As suas vozes eram ásperas, os seus rostos cobertos por máscaras pretas
de algum tipo. Estava escuro onde estávamos. Assim que os senti me agarrar
enquanto caminhava para o banheiro, eu sabia que deveria ter esperado pela
Piper. Eu não queria que ela perdesse os últimos minutos do jogo e não queria
ter que esperar em uma longa fila de pessoas enquanto elas corriam para fora
das arquibancadas.
De modo nenhum.
Quem?
A palma da mão que estava sobre a minha boca, segurando a minha cabeça
para baixo, afrouxou um pouco. Eles pararam de me bater quando parei de
lutar. Eles estavam esperando uma confirmação. O meu pior pesadelo estava
se tornando realidade. O meu sangue endureceu. O medo se transformou em
raiva.
Eu podia sentir os nervos saindo dos caras; eles eram mais jovens, talvez
até próximos da minha idade pelo som das suas vozes. Aquele que me causou
mais dor estava andando para frente e para trás, pequenos flocos de terra
esmagando sob as suas botas. As pessoas estavam prestes a sair do
estádio. Piper viria me procurar. Tentei olhar ao meu redor. Eu não poderia
estar muito longe dos banheiros, mas quando você está chutando e arranhando
enquanto é derrubada com a mão na boca, você perde a noção do tempo e da
sua consciência.
— Hayley!
— Corre.
— Hayley.
Christian.
CAPÍTULO VINTE E UM
A Hayley fechou os olhos com força quando me viu. Ela se enrolou ainda
mais e isso enviou uma linha inteiramente nova de medo pela minha espinha. A
Hayley não fazia isso. Ela não se encolhia. Ela não se dobrava e eu tinha
certeza de que ela não chorava. Ela era dura demais para isso.
Piper sussurrou ao meu lado: — Ela não me deixou ligar para o 911. Ela
disse que não tinha dinheiro para isso.
— Ollie, você e a Piper vão até a loja mais próxima e peguem todas as
merdas antissépticas que puderem encontrar. Pegue bandagens, compressas
de gelo, o que quer que você veja e me encontre em casa. — Ele acenou com a
cabeça uma vez e eu estendi as minhas mãos para a Piper. — Dê-me as suas
chaves. Vá com o Ollie. Encontre-me na minha casa. — Ela não hesitou. Ela
colocou as chaves na minha mão e saiu correndo com o Ollie, correndo e
ziguezagueando pelo estacionamento. A minha merda ainda estava no
vestiário, mas eu pegaria mais tarde.
Assim que chegamos na minha casa, percebi que todas as luzes estavam
apagadas. Bom, o papai já tinha ido embora. Isso significava que eu não teria
que responder a nenhuma pergunta. Não que eu daria a mínima de qualquer
maneira.
Eu percebi algo naquele momento. A Hayley não era tão forte quanto
fingia ser e eu também não.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Ele voltou um segundo depois, segurando uma toalha nas mãos. Ele não
me olhou nos olhos e fiquei feliz. Se ele me olhasse nos olhos, veria como eu
realmente estava quebrada.
Ficamos presos um ao outro por eras. O meu coração bateu forte. O meu
pulso ficou descontrolado. A minha decisão estava lentamente
escorregando. As lágrimas ameaçaram derramar.
Eu me senti insegura.
E agora, olhar para alguém que me fazia sentir o oposto dessas duas
coisas, não importa o quanto eu tentasse forjar a verdade delas, estava me
quebrando ao meio.
Eu queria sucumbir.
Tudo foi muito.
O meu pai.
A minha mãe.
A minha vida.
O Gabe.
O Pete.
— Você está bem? — Ele finalmente perguntou, a sua voz mais suave do
que eu já tinha ouvido antes.
Quase desejei que ele fosse mau comigo. Eu gostaria que ele tivesse a sua
expressão fria e taciturna no rosto. Teria tornado as coisas muito mais fáceis
se eu pudesse estar com raiva, se pudesse esconder o meu medo e a minha dor
com a raiva.
A minha voz falhou e os meus lábios ficaram secos quando a palavra saiu
correndo. — Não.
A minha mão disparou para afastá-la antes que ele me visse chorando,
mas ele me parou no último segundo. A sua palma quente envolveu o meu pulso
e ele balançou a cabeça levemente. Em vez disso, ele pegou a outra mão e
enxugou a lágrima com o polegar. Eu não conseguia me mover. Eu não
conseguia falar. Eu estava com muito medo de perder completamente o controle
que tinha sobre as minhas emoções. Se eu me mexesse ou falasse mesmo uma
sílaba, iria quebrar ao meio.
O Christian abriu a boca para dizer algo, mas a nossa atenção foi
direcionada para o Ollie e a Piper voando para o quarto.
A Piper correu para o meu lado quando a mão do Christian deixou o meu
pulso. Eu lentamente me levantei, tentando esconder o meu
estremecimento. — Como você está? Você está bem? Se você me assustar assim
de novo, eu te mato! Quem fez isto? — Eu bufei uma pequena risada. O Ollie
estava desembrulhando as coisas, band-aids caindo aos seus pés e caindo no
tapete macio. Christian se levantou e foi pegar outra toalha. Água corria ao
fundo.
A Piper tirou uma mecha do meu cabelo do rosto, os seus olhos esmeralda
ficando sérios. — Foi o Gabe?
— Onde ele está? — A voz suave que o Christian tinha antes havia
sumido.
— Você vai nos dizer quem é esse cara, o Gabe e por que ele faria algo
assim, mesmo que não fosse ele. — Ollie estava parado na porta com os braços
sobre o peito. Ele estava com a testa franzida também, o que era incomum para
ele. O seu cabelo loiro estava despenteado, o seu queixo duro uma réplica exata
do seu irmão.
— Você precisa dizer a eles. Deixe-nos estar aqui para ajudá-la, Hay.
— Mordi o meu lábio enquanto a Piper apertou a minha mão novamente.
Para ser honesta, eu estava com medo de confiar neles tanto quanto o meu
coração queria. Não havia nada como a dor de perder alguém em quem você
confiava indefinidamente. Mas eu estava cansada. Eu estava tão cansada de
manter tudo fechado a sete chaves. Pela primeira vez, eu queria derramar os
segredos que tinha por baixo do meu exterior rígido.
Ele cerrou os dentes. O seu lábio se curvou. — Não posso prometer isso.
O silêncio passou entre todos nós. Eu não continuaria até que ele
concordasse. Eu sabia que ele não entendia. Ele não era deste mundo. E se você
não vivesse no mundo em que eu vivia, seria difícil entender isso. Realmente
era. Às vezes, eu até lutava para envolver a minha cabeça em torno disso.
— Ele passou por cima de mim e eu recusei. Então ele tentou me forçar e
eu acertei com o taco de beisebol no carro dele. Isso me levou ao reformatório. O
hematoma no meu rosto quando comecei na English Prep era devido ao nosso
encontro.
— A razão pela qual pensei que ele poderia fazer algo foi porque ele me
disse que se me visse novamente, ele me faria pagar. — Um gemido escapou
dos meus lábios quando a Piper colocou algo frio e pegajoso no meu estômago.
Eu não disse nada. Eu não confiava em mim mesmo para não entrar em
combustão espontânea.
A sua língua saiu para lamber os seus lábios e uma chama rasgou o meu
corpo. Um lembrete do beijo proibido passou pela minha cabeça como uma bola
de demolição. Isso certamente me deixaria aterrado.
— Bem, tenho certeza de que todos vocês se lembram de que o meu pai foi
baleado e morto na minha casa há cinco anos.
Ninguém disse nada e a Hayley nem se deu ao trabalho de olhar para nós.
A Piper foi a única que reagiu. Ela subiu na minha cama e colocou o braço
em volta da Hayley. A princípio, a Hayley não se mexeu, mas acabou apoiando
a cabeça no ombro da Piper e balançou o lábio para frente e para trás.
Os olhos azuis da Hayley olharam para mim, tão brilhantes que pareciam
vidro. — Talvez. Não acho que eles estavam necessariamente tentando me
machucar, mas lutei tanto que eles tiveram que me segurar e me fazer parar.
— Eles tiraram uma foto minha com um cara segurando a minha cabeça
no chão. — A sua testa franziu. — O outro estava esperando a confirmação de
que eu era a garota certa. Eles iam me levar de qualquer maneira e, em
seguida, me abandonar se eu não fosse quem o seu chefe queria. — Ela engoliu
em seco e a sua voz oscilou à beira da histeria. — Talvez tenha sido o Gabe. Eu
não sei. Ninguém jamais confirmou quem me queria. Pode ter sido do Gabe que
eles estavam esperando por uma mensagem, mas isso não faz sentido.
— Por quê?
— Vou buscar algo para todos nós comermos. O que você quer?
— Sim.
— Não. Sem polícia. Não adianta agora. Eles foram embora. Não tenho
ideia de como eles se parecem e... — Ela suspirou — A polícia não leva pessoas
como eu a sério.
Hayley riu. — Não estamos de forma alguma envolvendo o seu pai. — Ela
jogou a cabeça para trás e olhou para o teto. — Foi um caso arquivado. Eles
nunca encontraram os homens que mataram o meu pai. — Ela nos encarou
com um olhar. — Não que eu ache que eles colocaram muito esforço nisso. Eles
não me disseram muito. A minha mãe correu o mais rápido que pôde para se
livrar dos problemas do meu pai. É uma situação complicada, mas não há muito
que se possa fazer.
Ela balançou a cabeça novamente. — Piper, não há nada que eles possam
fazer e eu realmente não quero isso no meu registro.
A voz da Piper ficou alta e ela saiu voando da cama. — E daí? Você só vai
continuar o seu dia e esperar que ninguém mais tente sequestrar ou machucar
você de novo, ou pior?
A Piper ficou parada com as mãos nos quadris, bufando. O Ollie mexeu a
mandíbula para frente e para trás, pensando, analisando.
Uma risada agitada escapou do fundo do meu peito. — O que você quer
comer?
Eu fui até ela, coloquei a minha mão debaixo do seu queixo e coloquei no
meu rosto. O seu calor me atingiu de frente. — O que você quer comer?
— Christian.
A boca do Ollie puxou para cima. Ele deu a ela o sorriso que deixava as
garotas fracas. — Veremos.
Eu não pude evitar. Joguei a minha cabeça para trás e soltei a risada. —
Nuggets de frango?
Ela empurrou a minha mão do seu queixo e rastejou de volta para a minha
cama com a Piper. Mas, desta vez, ela puxou as cobertas e se ajeitou por baixo.
O seu rosto ficou vermelho quando ela olhou para o teto. — Não, estou com
fome e eles são a minha comida favorita.
Foi difícil manter o meu rosto neutro. — Nuggets de frango, então. Vamos,
Ol.
Ela tentou lutar contra um sorriso. — Vou trancar a minha janela amanhã
à noite. Esta é a única noite que passaremos juntos. Você entendeu?
A noite passada foi estranha. Parecia um sonho nebuloso, exceto que tive
os inchaços e hematomas para provar que não era. De ir ao jogo de futebol e
tentar ser uma veterana normal no colégio, a ser atacada e depois ficar na casa
do Christian. Tudo parecia muito surreal.
Parecia que algo estava mudando entre nós. Ele não apenas apareceu e
salvou o dia, como me comprou nuggets de frango, deixou a Piper e eu ficarmos
na sua cama enquanto assistíamos a Gossip Girl por horas e não fez uma cara
feia na minha direção. Depois que o Ollie fez o café da manhã para a Piper e
eu, que, de acordo com o Christian, ele nunca fazia muita coisa pela manhã,
saímos com a ameaça do Christian ficar comigo esta noite.
O Pete não disse uma palavra sobre o meu rosto. Ele nem sequer olhou
para mim quando entrei pela porta e a Jill estava dormindo quando cheguei
em casa esta manhã. Fiquei lá em cima no meu quarto o dia inteiro,
trabalhando na lição de casa e tentando não pensar sobre o passado, as
ameaças vazias ou o Christian. Quando finalmente desisti e desci há algumas
horas para pegar um pouco de água e comida, o Pete e a Jill nem estavam em
casa. Eu não tinha ideia de onde eles estavam, talvez em um encontro. Eu ri
alto para mim mesma. Okay, certo. Independentemente disso, a minha porta
estava trancada às 20 horas j ponto, então eles estavam de volta em casa e a
Jill provavelmente estava chupando o seu pau enquanto eu estava deitada
aqui, pensando.
A ideia de significar algo para alguém era nova para mim e eu gostava
disso. Isso me fez sentir aquecida e segura e era muito perigoso sentir isso em
uma vida como a minha. As coisas estavam mudando constantemente,
girando. As pessoas entravam e saíam. Apegar-se a qualquer coisa ou pessoa
não estava nas cartas para mim, até que estivesse.
Então teve o Ollie, que foi legal comigo desde o início, mas algo na sua
brincadeira me fez querer segurá-lo para sempre.
Uma perna longa, magra, vestida com jeans apareceu na minha janela
assim que ela foi aberta e eu permaneci firme na minha cama. Me senti patética
por usar a minha melhor camiseta de banda e shorts de dormir mais bonitos
quando subi na minha cama esta noite, apenas no caso dele seguir em frente
com a sua ameaça.
Uma vez que o Christian estava totalmente dentro do meu quarto, ele se
virou e fechou a janela. Ele colocou as mãos nos quadris e manteve o seu corpo
inclinado em direção ao meu. Estava escuro no meu quarto, a única luz do céu
noturno filtrando através do vidro. Não consegui distinguir o rosto dele, mas
tinha certeza de que ele estava sorrindo.
O meu rosto ficou vermelho e fiquei grata pelo quarto ainda estar
escuro. — Eu esqueci... — Exalei lentamente. — Você não precisa estar aqui,
Christian. Estou bem. Escondida e trancada no meu quarto. O que você acha
que vai acontecer?
A sua voz grave finalmente quebrou o silêncio. — Quem sabe. Talvez esses
filhos da puta saibam onde você mora e talvez eles pulem pela sua
janela. Talvez eles paguem ao Pete para destrancar a sua porta. Ou... — A voz
do Christian ficou mais baixa — Talvez o Pete tente alguma coisa. Tanto
faz. Eu vou estar aqui no caso de algo acontecer.
Eu não precisava ver os seus olhos para saber o quão sério ele estava. —
Você nunca faria isso e é exatamente por isso que estou aqui.
— Todo mundo precisa ser salvo de vez em quando, Hayley. Apenas deixe
que eu faça isso.
Perguntar por que parecia redundante. Ele sempre dançava em torno do
motivo, o que só me deixava mais curiosa. Ele tem alguns sentimentos ocultos
por mim? O beijo significou algo para ele também? Ele tinha alguma fantasia
estranha de cavaleiro-e-armadura brilhante que queria encenar? Ele percebeu
que eu não tive nada a ver com a morte da sua mãe? Isso era culpa pela maneira
como ele me tratou?
Ele grunhiu. — Bem, tenho certeza de que não estou dormindo no chão.
— Ele cutucou a lateral do meu colchão. — Embora possa ser mais confortável.
Revirei os olhos de brincadeira. — Oh, cale a boca. Nem todo mundo pode
ter um pai rico como você.
— O meu pai nunca está em casa. E eu vou pular pela sua janela e ir para
casa tomar banho e depois ir para a escola.
Duas coisas aconteceram: eu senti calor por toda parte - até o meu núcleo
parecia estar no fundo de um vulcão - e o meu cérebro gritou a palavra sim!
Ele riu e murmurou algo, mas eu não tinha certeza do quê. — Acho que
vou fugir quando a Piper aparecer para te pegar. Então, vou para casa, tomar
banho e ir para a escola. De qualquer forma, vocês, bonecas vão para a escola
muito antes do primeiro sinal tocar. Terei tempo. — A sua camisa arranhou ao
longo da parede quando ele deu de ombros. — E se eu não fizer isso, o diretor
Walton vai me escrever um bilhete, qualquer coisa para manter o seu aluno
famoso a salvo.
— Com notas no SAT como as que você tem? Ter alunas tão espertas
quanto você traz doações em potencial e futuros indivíduos destinados à Ivy
League, então confie em mim, ele não quer que nada aconteça com você.
— É por isso que você está aqui. — Eu disse em voz alta enquanto
pensava. Como se ele nem estivesse no cômodo.
— É por isso que você está aqui!— Eu sussurrei e gritei. — Você leu o meu
arquivo. Aprendeu tudo o que há para saber sobre eu e a minha vida. Como a
minha mãe agora é uma viciada em crack e desistiu dos seus direitos sobre mim
na primeira vez em que o CPS foi chamado, como o meu pai foi assassinado
porque fazia parte de uma merda de lavagem de dinheiro, como vivi em sete
lares adotivos e bem, eu disse a você sobre o Gabe, então você sabe tudo que há
para saber sobre isso. — Senti o meu corpo tremer de raiva. Eu queria gritar. A
frustração que senti foi inevitável. A frustração não apenas pelo fato de que o
Christian sabia coisas sobre mim que eu queria manter enterradas, mas
também porque muitas pessoas sabiam coisas sobre mim que eu não queria
nem pensar em mim mesma. Isso era tudo que eu era para a maioria das
pessoas: um arquivo horrível.
Me levantei, o meu cabelo voando pelo meu rosto, a colcha caindo nas
minhas pernas. — É por isso! Você já me disse que me odiava, queria que eu
fosse embora, me culpava pela morte da sua mãe e ainda assim você está
aqui? Algo não está certo, Christian. Você se sente culpado por me tratar como
uma merda, porque a minha vida inteira é uma merda.
Uma batida de silêncio passou entre nós. O meu peito estava subindo e
descendo sob a minha camiseta. As minhas mãos estavam cerradas no meu
colo. Às vezes eu fazia isso; algo pequeno me provocava e então eu
simplesmente atacava. Tudo pareceu me atingir de uma vez.
Eu estava com muita raiva e mortificada por ele ter lido o meu arquivo
para saber o que dizer. Em vez disso, rolei, as minhas costas agora voltadas
para ele. — Eu vou dormir. Sinta-se à vontade para sair pela minha janela a
qualquer momento.
O meu pescoço estava duro pra caralho, as minhas costas doendo, ambas
as coisas não tinham nada a ver com futebol. Três dias dormindo encostado na
parede ou no chão fazia isso com você.
A Hayley não estava falando comigo. Eu também não estava falando com
ela.
Ela estava com raiva por eu ter lido o seu arquivo, recusou-se a acreditar
que eu estava na sua casa por qualquer outro motivo que não pena e quando
ela disse que as coisas não estavam certas, ela estava absolutamente
correta. Que porra estou fazendo? Essa era a pergunta de ouro. Eu não fazia
ideia. Eu deveria sentir culpa e ódio quando olhei para o rosto dela, exatamente
como antes, mas eu sentia muito mais. E isso estava me deixando louco. Eu
escalei a sua janela todas as noites como se não tivesse dito a mim mesmo horas
antes para ficar longe.
— Recebi uma mensagem de voz do Jim. Por que você ligou para ele?
— O que eu sei é que não é seguro para você se meter em coisas que vão
muito além da sua idade. Deixe as autoridades cuidarem disso.
O alívio se derramou sobre mim, o que só me deixou com mais raiva. Por
que eu não conseguia parar de me importar? Onde estava o velho
Christian? Aquele que não pensava em nada além de futebol, de salvar a bunda
do Ollie de travessuras bêbadas e se a Madeline iria chupar o meu pau antes
do jogo.
O Jim era o detetive particular do meu pai. Ele o contratou logo depois que
a mamãe começou a agir distante, não muito antes dela morrer. Ele era um
amigo íntimo do meu pai e, aparentemente, julguei mal o quão próximos eles
eram, já que ele parecia ter falado com o meu pai sobre o meu pedido quando
eu especificamente pedi que não o fizesse.
— O Jim não me disse nada ainda. Mas ele obviamente falou com o papai.
— O Ollie e eu começamos a caminhar até o Eric e o resto dos caras reunidos
no pátio. — Eu vou continuar a ficar de olho nela. E vou atrás do Jim mais
tarde.
O Ollie acenou com a cabeça uma vez e então nós dois começamos uma
conversa sobre o próximo jogo neste fim de semana com o resto dos nossos
amigos.
— E você viu o rosto dela? Ouvi dizer que ela conseguiu os arranhões
fazendo sexo com um dos melhores da Oakland High durante o jogo. Sexo no
cascalho ou algo assim.
— Excêntrica!
— April, diga as suas amiguinhas para manter a porra das suas bocas
fofoqueiras fechadas.
April jogou o seu cabelo loiro sobre o ombro. — O que? Por quê?
— Porque a porra da Hayley Smith não é problema delas. E ela não estava
transando com alguém durante o jogo.
O Ben riu atrás de mim. — Mas com quem ela estava fodendo? Foi você,
mano? Você entendeu mal. Já é a segunda vez que você defendeu a ga...
Snap. Como um elástico. Antes que o Ollie pudesse enrolar o braço para
trás, eu mergulhei e soquei a mandíbula do Ben com tanta força que ele voou
para o lado da grama.
Chamei a atenção da Hayley quando ela começou a passar por nós. Ela
estreitou o olhar, aqueles olhos azuis me sugando enquanto se fixavam em
mim. Ela se inclinou para perto do Eric, tão perto que a sua saia estava tocando
a perna da calça dele.
Eu odiava não poder ler a sua expressão. O que você está pensando? Ela
ficou feliz por eu estar jogando a toalha? Ela queria protestar? Haveria outra
mentira para descansar naqueles lábios carnudos?
A sua língua saiu para lamber o lábio. Era como se fôssemos apenas nós
dois. Ninguém mais estava no corredor. Ninguém mais estava na porra do
planeta inteiro. — Você está certo. Eu não preciso da sua ajuda ou de qualquer
outra pessoa.
O Ollie abaixou a cabeça. — Isso tudo fazia parte do jogo que vocês dois
estão jogando, certo?
— O Ben Jennings levou uma surra por foder com a Hayley. O Christian
não estava feliz.
O que estava bom. Talvez ele não subisse pela minha janela esta
noite. Talvez ele parasse de se sentir mal pela pobre Hayley.
Ele devia saber que uma pequena parte de mim estava fraca demais para
resistir. Eu poderia ter trancado a minha janela à noite, mas não o fiz. Eu não
conseguia fazer isso. Eu culpei a menina danificada de 12 anos dentro de
mim. Ela não era tão forte quanto a Hayley, de dezessete anos. Ela estava com
medo e preocupada e se sentia impotente em quase todas as situações da sua
vida. As coisas estavam fora do seu controle há cinco anos e agora também.
— Ei, você está pronta? — A Piper balançou as suas chaves na frente do
meu armário, a sua mochila pendurada no ombro.
— Não se desespere, mas acho que acabei de ver a sua assistente social.
— O meu estômago embrulhou, lembrando do meu rosto esta manhã quando
me preparei para a escola. Você ainda podia ver as marcas do cascalho da noite
de sexta-feira. Havia pequenos arranhões ao longo de toda a minha bochecha e
se você levantasse a minha camisa, veria alguns arranhões bonitos lá também.
— Merda. — Eu sussurrei.
Balançando a minha cabeça, comecei a andar para trás. — Não, você não
tem algo acontecendo em casa hoje? Jantar ou algo assim?
— Vou pegar o ônibus, vai ficar tudo bem. Vejo você amanhã, ok? — Eu
dei a ela um meio sorriso e me virei rapidamente para que ela não discutisse
comigo. Fui até as portas de carvalho do escritório, onde o diretor Walton
estava esperando por mim em toda a sua glória.
Uma vez que eu estava perto de cuspir, o Diretor Walton olhou para os
arranhões no meu rosto. As suas sobrancelhas franziram quando ele se virou e
voltou para o seu escritório. Eu dei a Sra. Boyd um sorriso nervoso, segurando
a minha mochila para salvar a minha vida e fui atrás dele.
A Ann estava de pé perto da mesa dele, vestindo uma saia e uma blusa,
com os braços cruzados sobre o peito. Ela não parecia com o seu jeito normal,
ensolarado e isso não caiu bem para mim.
— O que aconteceu?
— Não. Não foi o Pete. — Eu esperava que ela não percebesse que eu
estava suando por baixo do uniforme. Até a parte de trás dos meus joelhos
estava suando. — Eu caí no jogo.
Ela revirou os olhos. — Você caiu no jogo de futebol e ficou com o rosto
todo arranhado? Acho que não.
— Não, eu quero que você me diga a verdade! Se os seus pais adotivos não
estão te tratando corretamente, o que nós duas sabemos que não estão, eu
preciso saber, Hayley.
Quase rosnei para a Ann. — Por que você está sendo tão difícil?
O meu coração cresceu. Por que essas palavras sempre me afetam tanto? O
diretor Walton ligou para a Sra. Boyd e perguntou se ela poderia localizar o
Christian; ele disse que provavelmente estaria em campo para o treino de
futebol.
Ele não estava mais no seu uniforme escolar, mas em shorts de treino e
uma camiseta branca justa. O seu cabelo estava um pouco despenteado no topo
e eu me vi xingando baixinho enquanto espiava os seus braços. Fui
imediatamente levada de volta ao tempo na escada, quando ele me encontrou
seminua. Ele estava vestido da mesma forma, pronto para o treino de futebol. E
ele parecia tão casualmente sexy hoje quanto antes. A única diferença era que
os seus olhos não estavam cheios de raiva e ódio. Hoje, eles eram uma tela em
branco: frios, calmos e recolhidos.
— Ok. — Ele disse, o seu rosto ainda frio como um pepino. Enquanto isso,
eu tinha suor escorrendo pelas minhas costas.
Ele não perdeu o ritmo. Não havia nem mesmo uma contração de um
músculo no seu rosto. — Sim.
— Sim, eu vi quando ela caiu, e ela teve uma queda e tanto. Eu a ajudei a
se levantar e depois a acompanhei até o carro da sua amiga para ter certeza de
que ela estava bem.
O rosto da Ann caiu. — Claro, vá. Eu te daria uma carona, mas tenho mais
algumas paradas na cidade antes de terminar o dia. Voltarei para ver como
você está na próxima semana, ok?
Eu dei a ela um sinal de positivo. — Ok. — Então, me virei para o Diretor
Walton e fiz um pequeno gesto antes de contornar o Christian.
Saí apressadamente da sala e tentei não correr a toda velocidade para fora
do escritório. Não havia nenhuma maneira que ele me deixaria escapar sem
uma palavra depois que ele acabou de salvar a minha bunda, de novo. Mas
precisava de tempo para pensar e descomprimir.
— Ainda não quer a minha ajuda? — A sua boca estava definida em uma
linha firme, mas os seus olhos eram brincalhões.
Eu puxei o meu braço do seu alcance, embora algo no meu corpo desejasse
que eu não fizesse isso. — Agradeço a ajuda lá. — Apontei a minha cabeça na
direção das portas. — Mas estou bem de qualquer forma.
Uma rajada de vento soprou na pele nua das minhas pernas. Eu cruzei os
meus braços sobre o meu uniforme. — Eu não tenho medo de nada. — Oh, mas
você tem, Hayley.
Oh meu Deus.
Era por isso que estava agindo tão diferente de mim mesmo. Eu estava
nervoso, com raiva, perplexo e desesperado para fazer a Hayley admitir que
precisava de alguém em quem se apoiar. Eu nunca agi tão idiota antes - não
por causa de uma garota, pelo menos.
E então, quando ela me atingiu com aqueles olhos azuis cheios de medo
direto e sem fim, eu soube que era um caso perdido. Isso me matou. O
pensamento da Hayley estar com medo ou machucada me enviou direto para o
vermelho. Parecia uma ferida aberta no meu peito, uma queimadura que só ela
poderia aliviar.
— Da minha mãe.
26
é uma personagem fictícia, interpretada por Catherine Bach, da série de televisão americana The Dukes of
Hazzard.
A Hayley nivelou a sua mãe com um olhar. — O que você
quer? Dinheiro? Eu não tenho nenhum.
A sua mãe sorriu com os seus dentes amarelados. O seu batom rosa
pintado fez o meu estômago revirar. Muito desesperada? Ela parecia uma
prostituta com metanfetamina. — Talvez não, mas aposto que ele, sim. — Os
seus olhos se voltaram para mim e eu esperava que ela pudesse ler o que eu
estava pensando. Sem chance, seu pedaço de merda.
Essa garota.
Era quase como se a sua mãe não tivesse ouvido uma palavra do que ela
disse. Ela estendeu a mão novamente e tentou tocar o uniforme da Hayley, sem
sucesso, então ela olhou para a escola atrás das nossas cabeças. — Olhe para
você. Toda crescida e nesta escola chique. Você sempre foi inteligente.
Então, ela acabou em lares adotivos de merda pelos próximos cinco anos?
A sua mãe mordeu o lábio com os dentes cariados antes de trazer o seu
olhar injetado de sangue para a Hayley. — Não vim só por dinheiro. Você sabe
que eles estão vindo atrás de você, certo? Você tem quase dezoito anos. Eles
querem o seu pagamento.
Um arrepio percorreu a minha espinha.
— Você deveria vir comigo e com o Tank. — A sua mãe olhou para trás e
soprou um beijo para o homem na caminhonete. — Ele me protege.
Agora era a minha vez de apertar a mão da Hayley. Eu apertei com tanta
força que ouvi a sua pequena inspiração. Eu lentamente soltei, encontrei o meu
equilíbrio e respirei fundo.
A voz da Hayley estava quase falhando. — Você sabe quem eles são?
Ela está falando sério? Quase como se a Hayley pudesse ler os meus
pensamentos, a sua mão apertou a minha. — Eu tenho três dólares. É tudo o
que tenho.
Ela tinha três dólares? Isso era tudo? Eu certamente esperava que não
fosse verdade. A Hayley largou a minha mão e puxou a mochila das costas. Ela
enfiou a mão no bolso e tirou os três dólares e foda-me, eram entre notas e
moedas.
A sua mãe olhou para ela uma vez, e então o Tank decolou, fumaça saindo
do seu escapamento. Assim que o caminhão sumiu de vista, uma respiração
presa deixou a sua boca. Eu me afastei com as mãos nos quadris,
completamente perplexo com a troca compartilhada com a sua mãe e ainda
mais perplexo por ser capaz de manter as minhas coisas sob controle.
— Por quê? — A sua voz falhou. — Por que você simplesmente não
para? Eu não preciso que você se envolva nisso. Eu não preciso de ninguém
mais se intrometendo.
Rosnei em voz alta, com raiva por não conseguir parar de me inclinar para
trás por ela e por não conseguir evitar que os meus olhos olhassem para a sua
bunda até o meu carro.
Saí furioso assim que a vi entrar no meu carro e fui direto para o
vestiário. Eu tinha quarenta minutos de prática restantes e então levaria a
Hayley para casa e ligaria para o Jim.
****
O Ollie sorria sempre que eu saía de casa, mas não dizia uma palavra. E,
felizmente, todas as manhãs, quando eu arrastava a minha bunda de volta para
casa para tomar banho, ele estava de pé e tinha um bule de café esperando por
mim. Achei que era a sua maneira de dizer que estava lá para mim - que, além
de não festejar tanto, sabendo muito bem que eu não poderia ter pagado a
fiança no último segundo.
E então eu ouvi.
Não. Certamente não. A Hayley 'durona como a merda que não precisava
de ninguém' não estava chorando. A velha Hayley podia ter chorado, mas a
nova? Não.
Parecia que uma faca estava alojada no fundo do meu peito. Por que isso
estava me machucando?
No começo, tudo que eu queria era que ela chorasse. Na verdade, era o
meu objetivo fazê-la chorar e voltar correndo para o lugar de onde veio. Mas
agora, ouvi-la chorar estava abrindo um buraco no meu peito.
O meu corpo agiu por conta própria. Primeiro, o meu joelho pousou no
colchão e ela respirou fundo. Então, as minhas mãos bateram e eu balancei o
resto do meu corpo até que estava deitado de costas. A Hayley estava
prendendo a respiração. Não foi até que ela soltou algumas pequenas lufadas
de ar que estiquei o meu braço na sua direção e a puxei. No segundo em que
puxei o seu corpo contra o meu, ela bateu em mim. Como dois ímãs atraídos um
pelo outro. A sua cabeça pousou no meu ombro, o seu braço foi ao redor do meu
corpo e o meu foi ao redor do seu quadril. O seu corpo estremeceu contra o
meu. O gosto de sangue encheu a minha boca enquanto eu mordia a minha
língua, mantendo as minhas próprias emoções sob controle.
Era demais. Tudo isso. Havia muita bagagem entre a Hayley e eu, mas a
bagagem dela pesava muito mais que a nossa. Ela era frágil, mesmo quando
fingia não ser. E eu estava tão envolvido nela que nada poderia ter me puxado
para fora.
Ela deslizou o seu corpo para mais perto do meu, o calor do seu corpo me
fazendo queimar ainda mais brilhante. A minha mão descansou ao longo da
sua coxa nua enquanto o meu pau ficava duro. A Hayley sentiu a mudança no
ar e se eu pudesse ter visto os seus olhos com mais clareza, poderia ter
garantido que as suas pupilas estavam tão dilatadas quanto as minhas.
A minha mão roçou o topo do seu shorts enquanto o seu peito subia e
descia. Ela estava se contorcendo sob o meu toque e um sorriso sombrio
apareceu no meu rosto. Quando deslizei a minha mão sob o cós e na sua
calcinha, ela empurrou os seus quadris para cima, encontrando-me no meio do
caminho.
Não querendo perder tempo, puxei o seu shorts e calcinha para baixo
rapidamente, jogando-os por cima do ombro. Fiquei olhando para ela com o
brilho da lua e fiquei totalmente pasmo.
Ela era a coisa mais sexy e bonita que eu já tinha visto na minha vida. A
sua boceta era perfeita, e eu jurei naquele momento, foi feita para mim.
Abri bem as pernas dela e a cabeça da Hayley caiu para trás. A minha
mão segurou a sua cintura enquanto eu enganchava uma das suas pernas por
cima do meu ombro e abaixava o meu rosto.
A última gota de ódio pela Hayley foi diminuída. Ela havia evaporado no
ar. O passado feio não existia mais. A única coisa que eu conseguia pensar era
nela e como o seu corpo se encaixava perfeitamente aninhado no meu.
Essa foi a minha única desculpa para deixar o Christian fazer o que fez. O
meu rosto inflamou com o pensamento. Eu não era inocente de forma
alguma. Eu fiz sexo e transei com namorados anteriores, mas o que fiz com o
Christian na noite passada foi completamente e totalmente pessoal e
íntimo. Havia emoções envolvidas. Houve um entendimento implícito entre nós
quando cruzamos essa linha e fundimos os nossos lábios. Ele me ajudou a
esquecer e eu praticamente o forcei a isso.
Ele estava lentamente se tornando o meu lugar seguro e isso era tão ruim.
— Então, você acha que poderá ficar comigo sexta-feira? Prometo que não
precisamos ir ao jogo. Tenho certeza de que é o último lugar que você deseja ir
depois do anterior.
Eu dei uma mordida na minha maçã que a Piper roubou para mim - ela
ainda estava comprando mais do que precisava para o almoço, o que sempre
resultou em ser meu.
— Deixe-me criar coragem para perguntar ao Pete e a Jill. Acho que hoje
é o dia de folga da Jill, então ela deveria estar em casa. É mais fácil perguntar
enquanto ela está lá.
A Piper cutucou a sua salada com o seu garfo de plástico. Havia conversas
ao nosso redor no refeitório. A mesa do Christian estava mais turbulenta do
que o normal, mas mantive os meus olhos grudados na Piper enfiando a alface
na sua boca. — A Jill não parece tão ruim. O Pete, por outro lado... Eu gostaria
de enfiar esse garfo na bunda dele.
Eu também.
Ela zombou. — Oh, eu não sei. Talvez ele pense que alguns loucos vão
tentar sequestrar você de novo...
— O que está acontecendo? Você ouviu ou viu mais alguma coisa? Você
está sendo proativa em se manter segura?
Eu não contei a ela sobre a minha mãe. Eu deixei essa parte de fora esta
manhã. Eu só disse a ela que a Ann tinha vindo para me verificar e o Christian
pagou a fiança com a minha história sobre a queda. Trazer mais pessoas, como
a Piper, para a situação não era apenas estúpido, mas arriscado. Eu não tinha
ideia de como eram esses homens para quem o meu pai aparentemente
costumava lavar dinheiro. Mas eu estava apostando que se eles estivessem
dispostos a permanecer fiéis a uma ameaça sobre eu ser a sua compensação
pelos erros do meu pai, então eu estava apostando que eles não se importariam
em pegar outra garota da minha idade também.
Eu não era ingênua o suficiente para pensar que coisas assustadoras como
essas não aconteciam em todo o mundo para todos os tipos de pessoas. Era fácil
pensar que isso não acontecia em lugares como a English Prep. Todos com
quem eu estava cercada cresceram privilegiados, escondidos debaixo das suas
confortáveis capas de edredom que foram milagrosamente lavadas e refeitas no
momento em que as suas cabeças batiam no travesseiro à noite.
Mas acontecia.
Quão diferente seria a minha vida se o meu pai tivesse mantido a sua
merda sob controle?
— Onde você foi? Você se dispersou. Tem certeza de que está me contando
tudo? — Os seus olhos de jade estavam arregalados; o seu rosto ficou
preocupado. — Você pode me dizer qualquer coisa. Você sabe disso, certo?
A Piper era meu outro lugar seguro. Estar perto dela me fazia sentir
normal e eu ria muito quando saíamos. Eu estava feliz por tê-la do meu lado
nesta escola. Ela não era como todo o resto. A Piper tinha um grande
coração. — Eu vou ao banheiro antes da aula. Amanhã temos um encontro
com Gossip Girl, se eu conseguir que a Jill e o Pete me deixem ficar?
Antes de deixar a mesa, olhei para ela comendo a sua comida. Quando ela
olhou para cima, eu sorri. — Obrigada por ser minha amiga.
As suas mãos não deixaram a minha cintura e parecia que as suas palmas
estavam queimando um buraco no meu uniforme. — Você está bem?
Por que as suas mãos ainda estão nos meus quadris? Eu engoli, lambendo
os meus lábios. — Não.
O seu aperto ficou mais forte e o meu corpo inteiro ficou animado. — Não?
Algo para fazer? Como o quê? Afastei os meus pensamentos de pânico, com
raiva de mim mesma por estar imaginando. — Acho que vou sobreviver.
Ele riu, os seus olhos descendo para os meus lábios. Senti o meu rosto
esquentar e só podia esperar que ele não percebesse. Se ele fosse me empurrar
um pouco mais, aproximar a sua boca da minha, eu não teria me importado se
estivesse me rendendo a um garoto que me odiava apenas algumas semanas
atrás. Eu esqueceria tudo sobre o fato, de que tinha sido provado para mim
repetidamente, que precisar de pessoas me tornava fraca. Eu não teria me
importado com nada além do Christian e eu não poderia pagar por isso. Eu não
podia me perder nele porque, se fizesse isso, a Hayley Smith estaria perdida
para sempre.
****
27
Pijamas.
de banda, mas não com a Piper. Ela parecia me aceitar de qualquer forma,
mesmo surrada e machucada.
Abrindo um saco de Cheetos, ela disse: — Bem, parabéns a Jill por ser
legal pela primeira vez. — Ela mastigou um snack laranja e agarrou o controle
remoto. — Ok, maratona Twilight29?
A Piper fez uma pausa e colocou o cabelo atrás das orelhas. Ela
lentamente se sentou depois de se recostar no sofá e inclinou o seu corpo na
frente do meu. — Por favor, por favor, pleeeeeeaase me diga que você sabe o
que é Twilight.
— O que? — Ela gritou, cobrindo o rosto com as mãos. — Você pelo menos
leu os livros?
Isso era bom. Como se eu fosse um pouco normal. Rindo com a minha
amiga, assistindo a um filme de amor feminino em uma noite de sexta-
feira. Isso era o que as adolescentes faziam, certo? Eu nunca tive uma noite de
garotas, a menos que fosse com uma das minhas irmãs adotivas e não era a
mesma coisa. Confie em mim.
28
É um dos doces mais populares nos Estados Unidos.
29
É uma série de histórias de fantasia e romance sobre vampiros escrita por Stephenie Meyer.
Recostei-me no sofá, puxando o cobertor sobre o meu colo. — Foi logo
depois que fui para um orfanato. As duas primeiras casas não foram tão ruins.
— Eu comecei, a memória de estar escondida em um quarto estranho cercada
por livros para me ajudar a lidar com a minha nova vida me envolvendo. — Os
Berkshires eram um casal mais velho. Foi a primeira casa em que fiquei. Eles
foram atenciosos comigo, simpáticos. Nada como o Pete e a Jill. — Eu ri, sendo
sugada pela memória. — O meu quarto estava todo decorado em roxo com uma
colcha de borboletas. O meu primeiro pensamento foi que era infantil, mas
depois me lembrei que eu era uma criança, apesar de todo o crescimento que
tive no ano anterior.
A voz da Piper era suave quando ela apontou o controle remoto para a tela,
pressionando o play. — Sinto muito que você teve que deixá-los.
Eu não pude evitar o sorriso deslizando no meu rosto. — Não foi de todo
ruim.
Eu mordi o meu lábio. Nunca contei a ninguém sobre o Kyle. Nem uma
única alma. Era um segredinho meu e dele. Senti um Cheeto pingando na
lateral da minha cabeça, fazendo-me olhar para a Piper. — Conte-me!— Ela
choramingou, sorrindo.
Oh, que diabos.
— Você o amava?
A Piper sorriu antes de voltar a sua atenção para a TV. Senti que ela se
sentia meio mal por mim. O seu sorriso não atingiu os seus olhos e parecia que
ela queria dizer algo mais, mas se conteve.
A sua cabeça se virou para a minha e eu continuei. Não acredito que estou
contando isso a alguém.
A sua boca se abriu e então ela jogou a cabeça para trás, rindo. — Você
está de brincadeira?
Risos explodiram de mim enquanto o meu rosto queimava. Eu balancei a
minha cabeça e puxei o cobertor sobre o meu rosto.
Antes que eu percebesse, ela puxou o cobertor. O seu sorriso ainda estava
grudado no seu rosto, mas o dela não era tão brincalhão. — Não tenha
vergonha. Perdi o meu cartão V em uma festa da Wellington Prep... e nem sei
quem o pegou. A sala estava muito escura e simplesmente aconteceu.
— O que? — Quase gritei. O cobertor caiu no meu colo. — Isso não te faz
uma vagabunda, Piper.
Eu sufoquei uma risada. — Não foi tão quente quanto você pensa. Foi
estranho e desconfortável, mas foi o único lugar em que poderíamos pensar em
fazer isso sem os meus pais adotivos ou a sua mãe nos encontrar.
A sua cabeça bateu para o lado. — Então, vocês fizeram isso de novo? Em
outro lugar?
Ela gritou e me implorou para lhe contar mais, mas a campainha tocou. As
nossas risadas desapareceram quando travamos os olhos.
Ela estava com o telefone na mão, pronta para pedir ajuda se necessário.
Fiquei na ponta dos pés e espiei pelo olho mágico, esperando ver
alguém. Mas ninguém estava lá. Eu me virei, olhei para a Piper e levantei os
meus ombros. Talvez fosse a casa errada?
A campainha tocou novamente e, desta vez, o meu corpo agiu por conta
própria. Peguei um guarda-chuva que estava descansando no canto e abri a
porta. A fúria pousou sobre os meus ombros e eu estava pronta para enfrentar
os meus agressores.
Quando conversamos ontem à noite, depois que ele escalou a minha janela
e foi para a minha cama (em cima das cobertas), ele me perguntou novamente
se eu ainda iria para casa da Piper. Presumi que ele estava apenas se
certificando de que não precisava entrar na minha janela. Eu sarcasticamente
disse a ele para ir para a casa do Eric depois do jogo e se divertir e aproveitar
o fato de que ele não precisaria ser minha babá.
Eu não sei por que disse isso assim. O ciúme estava coçando toda a minha
pele com o pensamento dele indo para a casa do Eric com todas as garotas que
babavam por ele na escola, então eu ataquei, mas tive a sensação de que ele
gostou.
Ele queria que eu tivesse ciúme das garotas que frequentava as festas.
O seu olhar se aprofundou quando ele o lançou nas minhas pernas nuas e
nas minhas costas. — Sim, vocês vão.
Ele suspirou uma risada. — Não sou eu quem quer vocês lá. É ele. — Ele
acenou com a cabeça cheia de cabelos cor de carvão para o Christian.
Eu cruzei os meus braços sobre o meu peito, irritada. — Eu não vou para
uma festa idiota onde todos vocês passam garotas como se fossem um maldito
bong30.
30
É um aparelho utilizado para fumar qualquer tipo de erva, normalmente cannabis, tabaco e derivados.
Seja uma boa amiga, Hayley. Ela quer ir. O Eric atendeu uma ligação no
seu telefone enquanto eu pensava. Agarrei o braço da Piper e a puxei para a
sala de jantar. Estávamos ao lado de uma grande mesa de jantar de cristal com
um enorme vaso cheio de lírios. Pelo cheiro da sala, as flores eram reais. —
Você quer ir?
Coloquei as minhas mãos nos seus ombros. — Nós somos amigas; você
pode me dizer a verdade.
O seu rosto pálido ficou rosa novamente, as poucas sardas no seu nariz
ainda mais proeminentes. — Quer dizer, eu nunca fui a uma das festas do
Eric. Elas são uma espécie de hype da English Prep, sabe? Mesmo que eu só
esteja sendo convidada por causa da paixão do Christian por você, eu ainda
meio que quero ver o hype.
Ugh. Eu sabia que era uma má ideia antes mesmo de concordar, mas,
mesmo assim, fiz isso de qualquer maneira.
Eu bati no seu ombro ao passar por ele, a Piper quente nos meus
calcanhares.
— Então, qual é exatamente o seu plano? Eu pensei ter ouvido você dizer
a Kayla que você é dela hoje à noite, depois do jogo. — O Ollie sacudiu o cabelo,
sacudindo a perna para cima e para baixo. — Quer dizer, não posso te
culpar. Ela é muito gostosa no uniforme de líder de torcida, mas... — Ele cortou
os olhos para mim — Eu sei que você tem outra pessoa na sua mente o tempo
todo.
Sim, estou, porra e vou provar a ela que ela está lá por mim
também. Fiquei em silêncio, ouvindo Parkway Drive tocar nos alto-falantes do
meu carro.
A Hayley estava sob a minha pele, aninhada bem dentro da minha caixa
torácica. Eu queria cutucá-la até que ela sentisse o que eu
sentia. Ciúmes. Desejo. Ela queria agir como se eu não a afetasse e
nós dois sabíamos que não era o caso. E, sem falar que eu poderia ficar de olho
nela na festa. Durante todo o jogo, sempre que deixava a minha mente vagar
para a Hayley, parecia uma nuvem negra pairando sobre a minha cabeça. Eu
me preocupava quando não estava perto dela. Os pensamentos sobre as
palavras do Jim perfuraram a minha mente como pedaços afiados e deformados
de rocha a cada curva; imagens dos seus arranhões e lágrimas turvaram a
minha visão. Eu me senti fora de controle quando eu não tinha os meus olhos
nela.
Ela riu. A Hayley riu bem na minha cara. O que eu estava pensando? Dizer
a Hayley para se trocar só a faria querer usar a roupa ainda mais. O meu plano
saiu pela culatra. Eu estava usando as minhas emoções na manga, e nunca fiz
isso.
— Ela está gostosa. — A Piper destrancou o seu carro, sem olhar para
mim.
Corri o meu olhar para baixo no corpo da Hayley mais uma vez,
perguntando-me por um breve segundo se o Eric estava certo outro dia quando
disse que ela e eu estávamos jogando - e ela estava ganhando.
A blusa preta que ela usava era justa e moldada à sua pele. Atingiu logo
acima dos seus quadris, mostrando uma fatia de pele macia do seu estômago. O
jeans que ela estava usando estava colado nas suas pernas e bunda, e eu tive
que lutar contra a vontade de gemer quando ela se virou para abrir a porta. As
pontas do seu cabelo escuro caíram pelas costas, e quando ela olhou para mim,
as luzes do carro da Piper exibiram os planos do seu rosto. Eu perdi o meu
equilíbrio. Ela estava usando maquiagem pela primeira vez desde que veio
para a English Prep, e a única coisa que isso fazia era realçar a sua beleza
silenciosa. O batom vermelho que ela usava me fez apertar o meu estômago.
****
Eu tinha certeza de que ela queria que a pergunta fosse retórica, mas
respondi mesmo assim, só para deixá-la furiosa. — Você pode sair quando
sairmos.
Os seus olhos se estreitaram, a sua boca formando uma linha firme. Tentei
me impedir de olhar o seu corpo, mas falhei no final.
Eu cerrei os meus dentes. Algo estava errado entre nós esta noite. Não nos
odiamos mais, odiamos sentir algo um pelo outro. Algo mais profundo,
íntimo. Ela não queria admitir e eu queria desesperadamente que ela
fizesse. Foi como uma perseguição de gato e rato.
O Ollie deu um soco no seu braço, um copo já na sua mão. — Foda-se, fui
eu quem correu com a bola.
Eu normalmente não bebia muito nessas festas, ou nunca, mas esta noite,
com a Hayley parecendo com ela, eu precisava de algo para me acalmar. Caso
contrário, eu acabaria prendendo-a contra uma parede e beijando-a sem sentido
com todos como meu público.
Eu olhei para ele. — Não termine essa frase. Ela está fora dos limites.
31
São geralmente pequenos ranzinzas desagradáveis que pensam que são durões e legais.
O Eric, com o seu sorriso presunçoso, saltou. — Bem, todos nós sabemos
por que a Hayley está fora dos limites. Mas por que a Piper?
O seu cabelo loiro fez cócegas no meu queixo quando ela inclinou a
cabeça. Os seus olhos estavam brilhantes e vermelhos; ela já estava bêbada pra
caralho.
Ela e a Piper ficaram ao longo da parede por um tempo antes que ela não
aguentasse mais. Ela bufou e revirou os olhos, virando-se para não ter que me
ver mais. O meu olhar voltou para ela algumas vezes entre manter uma
conversa com alguns caras e dar alguma atenção a Kayla, que continuou a
esfregar a sua bunda no meu pau.
Foi difícil.
Isso pode ter me tornado um idiota, mas nunca afirmei ser um santo e com
a Hayley envolvida, não tive vergonha.
Oh merda.
CAPÍTULO TRINTA
— Quem é a porra do seu namorado? Hã? Qual desses filhos da puta pulou
em mim?
— Tão fodidamente justo quanto você enfiando a mão nas minhas calças
quando eu disse para você não fazer. Agora dê o fora daqui.
Eu olhei para cima no seu rosto fodido, a minha pulsação acelerada sob a
minha pele. — É isso que você tem que dizer a si mesmo para dormir à
noite? Em que mundo a palavra não significa continuar? Vá em frente,
Gabe. Conte a todos o que aconteceu quando você não parou.
— Ponha-me no chão.
O Christian me colocou de pé, mas manteve as mãos nos meus quadris. Ele
sussurrou no meu ouvido: — Acalme-se.
Uma vez que o Gabe cambaleou, sem a ajuda dos seus dois amigos que
estavam olhando para ele com nojo, eu rosnei.
— Saia ou vou vazar esse vídeo para a Oakland. Cada pessoa saberá que
porco nojento você é. — Eu olhei para os seus dois amigos. — Isto é, se eles não
contarem às pessoas primeiro.
Percebendo que tinha perdido, ele olhou para mim mais uma vez antes de
sair. — Foda-se, vadia.
Eu estava furiosa. O meu corpo tremia de raiva não derramada. Por que
ele insiste em me salvar?
Eu agarrei o seu braço com força e coloquei os seus dedos entre nós. Eu
não tinha ideia do que estava acontecendo na cozinha ao nosso redor. Eu não
tinha certeza se as pessoas estavam olhando ou se estavam tratando das suas
festas usuais. Assim que fechei os olhos no Christian, independentemente da
situação ou do ambiente, todo o resto desapareceu.
— Isso me diz!— Eu deixei cair a sua mão vermelha com crostas com
força. Eu não tinha certeza de como não notei o seu corte nos nós dos dedos
antes. — Ugh!— Eu gritei, correndo para as escadas.
Isso poderia ter sido muito pior. Ainda pode. Os pais do Gabe poderiam
descobrir quem bateu na bunda do Gabe e vandalizou o seu carro e isso poderia
retornar para mim, o que envolveria a polícia, o que levaria ao juiz e eu poderia
beijar qualquer esperança de uma bolsa ou teto na minha cabeça até o adeus
da formatura.
Eu sabia que tinha outras coisas com que me preocupar, como uma
ameaça iminente à minha vida por causa dos erros do meu pai morto.
— Hayley.
— É por isso que você veio ao meu quarto tão tarde na noite passada? Você
foi para a casa do Gabe? Para quê? Ensinar uma lição a ele?
Ele bagunçou o cabelo escuro. — Essa não era a minha intenção quando
cheguei lá, não era.
A sua cabeça inclinou para o lado. Os seus olhos cinzas encapuzados quase
me fizeram recuar as minhas palavras. A maneira como ele estava olhando
para mim me fez esquecer que estava com raiva dele. Eu queria os seus lábios
nos meus da pior maneira.
E pela primeira vez, com a cabeça limpa, fui submissa. Quando abaixamos
as nossas guardas pela primeira vez, culpei as minhas emoções
exacerbadas. Disse a mim mesma que não estava pensando com clareza. Mas
sempre foi assim com ele. As minhas emoções sempre ficavam claras quando
ele estava por perto. E eu percebi que entendi errado outra noite. O Christian
não turvou o meu julgamento entre o certo e o errado; ele me fez divulgar o que
parecia certo e isso, isso aqui, parecia certo. Estava bom. Ele me fazia sentir
bem.
Movi o meu corpo para cima e para baixo sobre o dele e ele praguejou
baixinho. Ele nos levou até a cama, mergulhando a cabeça na curva do meu
pescoço e chupando a minha pele macia. Arrepios cobriram o meu corpo.
A sua boca quente passou dos meus lábios inchados para o lado delicado
da minha orelha. Eu estendi a mão e agarrei o seu bíceps, a sensação da sua
pele me deixando quente novamente. Uma vez que a sua cabeça desceu para o
meu ombro, beijando a pele nua, ele deslizou o dedo sob a alça do meu sutiã e
quase o arrancou.
O meu coração caiu no chão, bem ali junto com o meu sutiã.
32
Polícia.
CAPÍTULO TRINTA E UM
O MEDO nos olhos da Hayley fez com que eu prestasse atenção. Tão
perto. Eu estava tão perto de ceder ao que nós dois
queríamos e precisávamos. Beijá-la novamente foi como se tivesse ganhado um
pedaço do céu. O meu corpo estava se movendo em êxtase.
Os seus olhos estavam arregalados, o azul neles ainda mais azul do que
antes. A maçaneta da porta balançou enquanto os festeiros tentavam se
esconder, o que não funcionava. A única maneira de não ser pego pela polícia
era dar o fora da casa.
Corri e a puxei de volta. Jesus Cristo. — Que porra é essa, Hayley? Você
vai quebrar o maldito pescoço.
Eu soube naquele momento que faria qualquer coisa por ela. Os últimos
cinco anos não importaram. O Christian, de treze anos, estava de volta e a
Hayley era o seu mundo novamente.
— Vá pegar a sua camisa. — A Hayley olhou para o seu peito, confusa por
não estar usando a sua camisa. Ela rapidamente passou correndo pela cama e
procurou freneticamente. Inclinei o meu corpo para fora da janela, o ar frio me
aterrando por um momento. É um salto em distância.
— Você pode se dar ao luxo de ser pego. — Ela correu, passando por
mim. — Eu não posso. Não faz sentido você quebrar as pernas. Você tem que
se preocupar com o futebol.
Tão teimosa. Eu a puxei de volta pela minha camisa. — Hayley, pelo amor
de Deus, pare de ser tão independente! Deixe-me ajudá-la!
— E quanto a Piper?
Ela pousou nos meus braços com um whoosh e não pude deixar de notar
como as suas mãos automaticamente envolveram o meu pescoço. Perfeito. Os
nossos corpos se encaixam como se fosse assim que deveríamos ser para a vida.
No caos de tudo isso, um sorriso apareceu nos meus lábios. A Hayley - por
mais que quisesse ser egoísta e salvar a própria vida - ainda estava preocupada
com a amiga.
— Vou ligar para o Ollie assim que estivermos no carro. Vá, rápido. Eles
virão para verificar os carros em breve.
Eu sabia como isso funcionava. Não foi a primeira vez que fui pego em
uma festa. No entanto, esta foi definitivamente a primeira vez na cabana do
Eric. Alguém deve ter avisado os policiais. A cabana estava escondida na
periferia da cidade, no meio da floresta. Eu tinha certeza que foi o Gabe.
****
Quando chegamos à minha casa, o carro estava lotado de tensão
sexual. Nenhum de nós ousou sequer falar uma sílaba no caminho com medo
de que isso arruinasse o que estávamos fazendo.
— Eu não fui para a casa do Gabe com a intenção de perder a cabeça com
ele.
— Então por que você foi? — A sua raiva estava de volta. Ela cruzou os
braços sobre o peito - o peito em que a minha boca estava não muito tempo
atrás.
— Eu fui porque na noite em que você foi atacada no jogo, as câmeras perto
do banheiro pegaram um carro em alta velocidade logo depois. Eu queria ter
certeza de que não era dele.
— É do meu pai. Foi o detetive que ele usou depois da minha mãe... — Eu
balancei a minha cabeça, limpando os meus pensamentos. — Não importa. Ele
está investigando o caso com o seu pai, tentando descobrir quem te atacou,
quem te fez ameaças.
A sua boca se abriu, mas eu não esperei pelos seus protestos. Abri a minha
porta e saí. Fui para o lado dela, abri a porta e olhei para ela, apoiando os meus
braços em cima da porta. — Eu não me importo que você não queira a minha
ajuda. Vamos lá. — Inclinei a minha cabeça em direção à porta.
Eu sabia que ela não iria cair sem lutar. Ela protestava, ficava com raiva
de novo e repetia que não precisava de ajuda, mas, na realidade, nós dois
sabíamos que ela precisava.
Para a minha surpresa, a Hayley não disse nada. Ela saiu do meu carro e
colocou o cabelo atrás das orelhas. Ela parecia tão inocente e absolutamente
linda. A carranca que ela sempre usava e dirigia para mim a fazia parecer forte,
o que era definitivamente quente, mas eu gostava desse lado dela também. Ela
parecia frágil, quebrável e a única coisa que eu queria fazer era envolvê-la nos
meus braços e lutar contra cada ameaça que poderia quebrá-la ao meio.
— É fofo que você queira impressionar o meu pai. Agora cuidado ou vou
pensar que você realmente gosta de mim.
Mesmo com a lua sendo a nossa única luz, eu podia ver as suas bochechas
ficando vermelhas de vergonha.
Assim que a Hayley e eu entramos, agarrei a mão dela e nos conduzi pelo
corredor, passando pela grande sala de estar e descendo um degrau até o piso
de cerâmica da cozinha. Vi o meu pai e o Jim sentados na bancada do café da
manhã.
— Christian. — A sua voz estava cheia de raiva, mas o seu tom não era
alto. — Eu disse para você parar com a Hay... — Os seus olhos cansados se
voltaram para a Hayley e ele fechou a boca.
Lá está ela.
— Olá, Hayley. — O meu pai disse secamente, olhando para frente e para
trás entre o meu torso nu e a minha camisa envolta no seu corpo.
Algo na maneira como o meu pai estava olhando para mim e o fato da
Hayley ter saído do meu lado me deixou inquieto. Eu me sentia como um
animal enjaulado, pronto para atacar a primeira pessoa que se aproximasse.
— Christian, eu disse para você ficar fora dos negócios daquela garota.
Daquela garota? Como se ela não tivesse nome.
O meu peito estava apertado. — E o que diabos você sabe sobre a vida
dela? — Eu entrei mais na cozinha. — Que diabos você se importa se o Jim
investigar as coisas?
— Como o quê? Porque eu sei muito. Eu sei que o pai dela foi
assassinado. Eu sei que a mãe dela é uma viciada e deixou a Hayley
sozinha. Eu sei que o seu pai adotivo abusa dela e que ele a tranca no seu quarto
à noite. Eu sei que o seu velho irmão adotivo tentou estuprá-la. Eu sei que há
homens que pensam que ela é deles por causa de algo que o seu pai fez. Eu sei
muito, pai. E adivinha? Eu me importo. Não vou apenas virar as costas para
alguém porque essa pessoa tem problemas na vida, ao contrário de você.
Parecia que a bomba dentro do meu peito, que fazia tique-taque desde que
a mamãe morreu, finalmente explodiu. A minha memória dolorosa foi
rapidamente transformada em raiva incomparável. Eu mantive as coisas
trancadas por anos, mas conforme eu crescia e entendia as coisas mais
claramente do que o meu eu de treze anos, isso me irritava até o esquecimento.
Tirando a minha atenção dos meus pés, eu o nivelei com um olhar. — Todo
esse tempo, eu estava colocando a culpa em mim mesmo por ter saído naquela
noite, por não ver os sinais antes que fosse tarde demais, mas não é minha
culpa, porra. — O meu dedo bateu no seu peito. — Isso foi culpa sua. Eu nunca
deveria ter tido que encontrá-la. Eu nunca deveria ter tido que ter certeza de
que o Ollie e eu fôssemos cuidados quando ela estava drogada demais para sair
da cama. Você deveria estar aqui. — Empurrei o meu dedo no seu peito com
ainda mais força. Eu estava pronto para ele perder o controle, para me mostrar
aquele temperamento que eu herdei. — É sua culpa. Não vou virar as costas
para a Hayley só porque a vida dela é difícil, então não me peça isso.
Ele baixou a cabeça, olhando para o meu dedo. A sua voz quase tremeu
quando saiu do seu corpo. — Você está certo.
Eu deixei cair a minha mão lentamente, quase irritado por ele não estar
lutando comigo. Eu não queria estar certo. Eu não queria que ele fosse
submisso. O que eu realmente queria era que essa bagunça inteira
desaparecesse. Eu queria que a sensação de nervosismo no fundo do meu
estômago se dissipasse. Os nós foram amarrados em círculos como um feixe
emaranhado de cordas.
— Mas você pode me culpar por querer mantê-lo seguro? Eu perdi a sua
mãe. Você acha que eu também quero te perder? Ou o seu irmão?
A cabeça do meu pai se inclinou para cima e ele olhou para o teto. Quando
ele me encarou com um olhar, pude ver isso claro como o dia: culpa. Eu pude
ver isso claramente porque era a mesma aparência que eu tinha nos últimos
anos. — Não foi o acidente que fez a sua mãe se tornar viciada em narcóticos.
Eu mantive o meu rosto imóvel com medo de que mesmo uma pequena
contração me fizesse quebrar tudo ao meio.
O meu peito ficou mais apertado com cada palavra que passava pelos seus
lábios manchados de bourbon. A raiva deixou o meu pescoço tenso. As minhas
mãos seguraram a borda inferior do balcão, os meus dedos brancos com a
pressão.
— Assim que foi confirmado, eu a confrontei. Ela negou. E então ela teve
o acidente uma semana depois. — Ele baixou a cabeça, estou certo de que
estava arrependido. — Depois que ela superou os ferimentos, ela parecia que
tinha voltado ao normal, então não pressionei mais. Eu me enterrei no
trabalho. Ignorei os sinais novamente. — Ele balançou a cabeça, sem olhar nos
meus olhos. Ele estava perdido nas suas próprias memórias. — Talvez porque
eu não quisesse acreditar neles. Eu até ataquei o Jim quando ele revelou o que
havia encontrado. E então... — Quase doeu nele dizer isso. — E então, ela teve
uma overdose e eu nunca vou me perdoar por não prestar atenção. Por deixar
você e o Ollie aqui para se defenderem sozinhos. Por acreditar nas suas
mentiras e enganos.
A minha voz estava à beira de quebrar. Eu estava à beira de quebrar. —
Então, você sabia? Você sabia que ela estava ficando chapada de pílulas antes
do acidente e achou que seria inteligente os médicos darem a
ela mais narcóticos para os ferimentos?
— Acho que ela teve ferimentos, mas não acredito que tenham sido tão
graves quanto ela fazia parecer.
— Por que você acha que ninguém foi responsabilizado pela morte dela? É
porque os médicos não prescreveram a ela aqueles analgésicos. A sua mãe era
viciada. Ela procurou os traficantes por conta própria e se meteu em confusão.
— O cheiro do hálito alcoólico do meu pai me fez estremecer. — Não foi sua
culpa. Com ou sem o acidente, a sua mãe teria encontrado o caminho para o
mesmo fim.
Não!
Eu me importava.
Fiz uma pausa com a minha mão pairando sobre a maçaneta da porta,
cega pelo meu último pensamento. Eu me importava. Parecia que uma
cachoeira de calor tomou conta do meu corpo. O meu pescoço estava quente; os
meus dedos estavam formigando. O meu coração pulou uma batida. Eu me
importava com o Christian.
E essa era a verdade. Eu ouvi o meu nome algumas vezes, alguns gritos
sobre a sua mãe, mas isso foi tudo. Havia enormes lacunas de informação
deixadas de fora.
— Eu não sei.
A sua cabeça se virou. Eu podia sentir o seu olhar fixo na lateral da minha
cabeça. — Pelo quê?
Lentamente, tirei o meu olhar das luzes cintilantes das casas que ainda
estavam acordadas e coloquei no Christian. A sua sobrancelha escura estava
pesada, os seus lábios quase me chamando. As minhas entranhas torceram
enquanto eu olhava para ele. — Sinto muito pela sua mãe. Ainda não disse isso
desde que voltei e sinto muito.
A minha mão coçou para cobrir a dele. — Por que você me culpou?
— Você disse que os seus pais estavam brigando e desligou. Fiquei ligando
para você várias vezes e você não atendia e fiquei preocupado. Pedi à minha
mãe que me levasse à sua casa para que eu pudesse ter certeza de que você
estava bem e ela disse que não porque estava chovendo.
A chuva. Lembrei-me da chuva. Me lembrei de estar do lado de fora da
minha casa com luzes piscando em azul e vermelho. Eu estava feliz por estar
chovendo, então ninguém poderia dizer que eu não estava chorando.
Eu lutei com isso muitas vezes. Não chorei quando o meu pai foi
assassinado. Foi como se um interruptor tivesse sido desligado. Ele morreu,
então não consegui mais chorar. Aprendi, em uma sessão de terapia de grupo
em que fui forçada por uma ex-assistente social, que era uma forma de
choque. Mesmo assim, até hoje, não chorei com frequência. Razão pela qual foi
tão alarmante para mim quando chorei nos braços do Christian na semana
passada.
Cobri a minha boca, sem saber o que dizer, mas a dor na sua voz fez o meu
estômago doer.
— Não foi isso que a matou, no entanto. — Eu sussurrei. — Ela teve uma
overdose.
Ele virou a cabeça para mim. — Sim e até esta noite, eu pensei que era o
analgésico que ela recebeu dos médicos que a deixou viciada. Mas de acordo
com o meu pai e o Jim, esse não é o caso. Ela estava viciada antes do
acidente; ela apenas usou os seus novos ferimentos como uma desculpa para
mais.
— E a mim.
Mordi o meu lábio com força. — Eu sei o que é isso, você sabe - culpar a si
mesmo pela morte de um pai. — A cabeça do Christian virou para a minha tão
rápido que fui forçada a encontrar os seus olhos. — Dói e é pesado. — Eu engoli
outro caroço, os nossos olhares travados e carregados, os grilos cantando ao
fundo. — Não gosto de pensar nisso. Eu vou e volto com o desejo de esquecer e
o desejo de lembrar. Se eu afastar isso, vai me poupar de tristeza e culpa, mas
se eu empurrar muito, tenho medo de esquecê-lo. — Os meus olhos de alguma
forma encontraram os meus sapatos. — Tenho medo de esquecer a cor dos olhos
dele ou a sua risada quando eu contava uma piada boba. Tenho medo de
esquecer a maneira como ele costumava ler para mim histórias de ninar quando
eu era pequena. Ele era um bom pai.
Eu podia ver o cinza nos seus olhos claramente agora que estávamos tão
perto. As partículas de carvão pegaram fogo quando ele abriu a boca. — Vamos
esquecer por hoje, ok?
Isso me fez esquecer tudo de ruim no mundo. Os seus beijos eram cheios
de bondade e amor. Eu me senti amada.
Uma risada áspera saiu dos meus lábios. — Não. Eu estou muito, muito
quente.
Desci sobre ele como um gato na sua presa. Me ajoelhei na frente dele, nós
dois de joelhos e as minhas mãos encontraram os seus ombros. Eu o empurrei
levemente para trás e montei no seu colo, o meu cabelo caindo no seu ombro
quando inclinei a minha cabeça e coloquei os meus lábios nos dele. A sua língua
sacudiu a minha enquanto os seus dedos desabotoavam o meu sutiã. Ele
espalmou a minha cintura e moveu o meu corpo sobre a sua calça jeans,
arranhando o tecido da minha calcinha molhada. O meu corpo ficou ainda mais
quente conforme o nosso ritmo aumentava e a respiração do Christian estava
rápida e alta. Parei de mover os meus quadris por um momento, os seus olhos
me queimando enquanto eu rastejava pelo seu corpo e encontrava o botão da
sua calça jeans.
— Shh. — A sua calça baixou rapidamente com a sua ajuda e assim que
a minha mão avançou para dentro da sua cueca, ele soltou um gemido. Eu movi
a minha mão para cima e para baixo nele lentamente, apreciando o show de vê-
lo baixar a guarda. Quase não pude aguentar. Eu senti um aumento no meu
próprio corpo apenas por observá-lo. O Christian quente e taciturno que nunca
demonstrou as suas emoções estava desistindo. Ele estava me deixando
trabalhar o seu corpo, se perdendo no meu toque e eu gostei. Eu gosto muito
disso.
Eu bombeei a minha mão para cima e para baixo mais algumas vezes
antes que a minha boca o encontrasse.
— Jesus Cristo. — Ele gemeu, lutando contra os meus lábios. A sua mão
encontrou a minha cabeça e ele passou os dedos pelo meu cabelo enquanto a
minha boca balançava. Por que isso está tão quente? O meu núcleo estava tenso,
e eu quase queria estender os meus dedos para baixo para obter a minha
própria liberação enquanto dava a ele.
Mas o Christian não me deixou ir muito longe. Em vez disso, ele agarrou
o meu bíceps e me puxou para o seu rosto. Ele tinha uma aparência carnal, a
sua mandíbula tensa, os seus olhos semicerrados enquanto ele seguia o seu
olhar para o meu peito nu e as minhas pernas. De repente, fui virada e ele
voltou ao topo. O tecido da minha calcinha foi arrancado pelas minhas pernas
e jogado em algum lugar da casa da árvore.
— Ok — Eu sussurrei de volta.
— Você é virgem?
Eu não pude ler a sua expressão. Houve um pequeno tique no seu olho,
mas foi isso. Eu sabia que ele não era virgem, isso ficou claro no primeiro dia
em que pisei na English Prep.
E assim, a sua boca estava de volta na minha, mas desta vez, era urgente
e faminta. As nossas bocas se rasgaram como se as nossas vidas dependessem
disso.
Por alguns momentos, ele apenas descansou em cima de mim, a sua testa
lisa na minha, os nossos peitos nus esmagados juntos. Palavras não ditas foram
compartilhadas entre nós e eu nunca mais quis viver sem ele novamente.
— É um sorriso verdadeiro que vejo? Foi tudo o que foi preciso? Sexo
comigo?
Ele olhou para mim através dos seus cílios escuros. — Bom. Tenho sido
legal recentemente. Isto é melhor?
Eu ri suavemente. — Sim.
A sua mão deixou a minha, e ele a levou sob o meu queixo para inclinar a
minha cabeça para trás. Os seus olhos eram escuros e intensos, a paixão
ardendo por toda parte. — Eu mesmo.
Eu pausei. — O que?
— É sobre algo que o Jim disse quando voltamos para casa. Antes de
começar a discutir com o meu pai.
— Ele disse que a polícia sabe quem matou o seu pai. Eles estão
rastreando o grupo há um tempo. É algum tipo de investigação secreta.
Ele assentiu. — Ele me disse para ficar fora disso e ele teve que fazer,
também. Obviamente, interferir faria com que a investigação desse errado. Os
mesmos homens que mataram o seu pai são, aparentemente, alguns dos
maiores traficantes de drogas da cidade. Provavelmente foram eles que
venderam os comprimidos para a minha mãe.
Uma sensação estranha tomou conta de mim. Alívio? Alívio porque o meu
pai pode receber algum tipo de justiça. Ou foi um sentimento de
esperança? Espero que as autoridades prendam aqueles homens por muito
tempo. A ameaça que eles lançaram anos atrás iria embora e eu não teria que
ter essa vozinha no fundo da minha cabeça me dizendo para andar com leveza,
ter cuidado e cuidar das minhas costas. Eu esperava que a família do Christian
também recebesse algum tipo de justiça.
O meu coração parecia cheio dentro do meu peito. Tão cheio que podia
explodir. Os seus braços se estenderam e ele me puxou para o seu corpo. As
suas mãos encontraram o meu rosto e os seus lábios selaram o acordo.
Na noite passada, ela me fez prometer que eu não iria interromper a noite
das meninas com a Piper neste fim de semana, já que nunca acabamos voltando
para a casa dela na sexta à noite. Depois da casa da árvore, a Hayley e eu
finalmente descemos e voltamos para a minha casa escura. O meu pai foi para
a cama e saiu cedo na manhã seguinte com as coisas não resolvidas, como de
costume.
Depois que ela se acalmou, ela puxou os meus dedos para fora da sua
boceta e me puxou para cima dela. O meu pau estava duro, mas escondido
dentro da minha calça, mas me movi sobre ela de qualquer maneira, amando o
seu calor.
Deitei em cima dela até que a minha respiração se acalmasse e, uma vez
que estava fora e tirei a camisinha, o seu corpo quente se enrolou ao lado do
meu. Eu era grande demais para a cama dela, se você quiser chamar assim,
porque as minhas pernas pendiam abaixo da borda do colchão, mas não me
importei.
Ela riu enquanto batia no meu peito. — Não, isso. Nós. Você e eu assim.
— Ela balançou a cabeça contra o meu peito. — Não me permiti pensar em nós
assim porque estava com muito medo de deixar você entrar. — Ela fez uma
pausa. — E mais, eu meio que pensei que você me odiaria para sempre.
O seu corpo começou a relaxar nos meus braços e eu senti o meu corpo cair
no sono. Que estranha reviravolta nos acontecimentos nas últimas semanas.
— Porque agora que tive você, eu nunca vou ser capaz de manter as
minhas mãos longe novamente. Você é minha agora, Hayley.
E com isso, nós dois adormecemos até que o alarme dela tocou na manhã
seguinte.
****
Assim que voltamos para o quarto dela e fechamos a porta com sucesso
antes que o Pete ou a Jill descessem do seu quarto, levamos segundos para
colocar as nossas bocas um no outro.
— Ele me contou sobre o que aconteceu na sexta-feira. Está tudo bem com
você?
— Mmhm. — Eu murmurei novamente.
— Cara!
O Eric apareceu ao lado do Ollie. — Acho que a palavra que ele está
procurando... é não sendo um idiota de merda.
— Você certamente não está sendo agora, o que significa... — A sua linha
de visão deixou a minha. — Isso significa o que eu acho que significa?
Mas eu tentaria.
Por ela.
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
Eu engoli, o meu olhar saltando para frente e para trás entre os seus olhos
cinzentos. — Eu não acho que quero esconder isso.
O seu aperto ficou mais forte no meu rosto. — Então, o que isso significa?
— Pronto. — Eu disse, ainda olhando para ele. — Isso é o que parece certo
para mim.
Ele inclinou o queixo uma vez, agarrou a minha mão e me puxou para o
seu grupo de amigos. Posso não ter me encaixado imediatamente, mas nada
parecia impossível com o Christian sendo meu.
Nada mesmo.
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
Não fez nada para afetar o Christian e eu, no entanto. Todos os olhares e
sussurros curiosos atrás das nossas costas não nos incomodaram nem um
pouco. Sentamos juntos, caminhamos pelos corredores juntos e nos beijamos
quando tínhamos vontade. Borboletas encheram o meu estômago 24 horas por
dia, 7 dias por semana e elas eram boas. Não as terríveis e ameaçadoras com
asas negras.
Era assim o tempo todo agora. Eu circulava pela escola e pela casa do Pete
e da Jill como se eu também fosse uma borboleta. Até a Ann notou uma
mudança quando ela parou para a verificação no outro dia. E foi um milagre
maldito que o Pete e a Jill não tivessem descoberto sobre o Christian e eu. Se
eles prestassem um pouco mais de atenção em mim, saberiam que algo estava
diferente. Fiquei surpresa por eles ainda não o terem pego no meu quarto. Ele
entrava pela janela por volta das nove todas as noites, que era uma regra que
estabeleci para que eu ainda pudesse fazer o meu dever de casa e estudar (não
havia absolutamente nenhuma esperança com ele por perto), e nós
acabaríamos conversando por horas ou nos despir debaixo das
cobertas. Geralmente era um pouco dos dois. Já tínhamos saído do controle
algumas vezes, mas ainda assim, ninguém apareceu para olhar.
As minhas orelhas ficaram quentes, mas disse a mim mesma para não me
envolver no seu comportamento malicioso. Uma rivalidade com a Madeline era
a última coisa que eu precisava. As coisas finalmente estavam acalmando para
mim, pelo menos na English Prep.
A cabeça da Piper balançou para frente. — Eu não vou atrás de você, Ollie,
em qualquer sentido, então não sei por que você está tão animado.
Eu poderia dizer que ele estava rangendo os dentes para frente e para
trás.
O seu olhar tempestuoso encontrou o meu sob os seus cílios grossos. Ele
mexeu na gravata pendurada no pescoço. — Eu sou seu namorado. Eu deveria
te defender.
— O que?
— Bem, diga logo, Madeline. Eu sei que você tem algo a dizer.
— Madeline, você fez isso consigo mesma. Dê um passo para trás e avalie
as suas ações. Os seus motivos. Ninguém quer ser amigo de alguém que é
conivente e má. — Aproximei-me e fiquei ao lado dela até que ela finalmente
saiu do caminho. O último sino tocou acima das nossas cabeças. — Acho que
você deveria saber disso melhor do que ninguém.
O seu rosto se contorceu e ficou vermelho. — Você não sabe nada sobre
mim. Você é aquela que se sente inferior.
****
A Piper grunhiu.
Ela não olhou para mim. — Falando nisso... Você não acha que a Madeline
cavalgaria até às nossas bundas no caminho para a casa do Eric, não é?
Corre. A resposta natural do meu corpo para lutar ou fugir nessa situação
era voar - e voar rápido.
— Olá?
— Hayley! — Eu gritei e desta vez a minha voz tinha uma ponta de raiva
- um som sinistro.
— Rota 55. A Piper está indo a quase 160 quilômetros por hora e, de
alguma forma, eles ainda estão nos alcançando. Se eles nos atingirem de novo
indo tão rápido, vamos direto para o rio.
Porra.
O meu pé doía para ir mais rápido, mas eu estava indo o mais rápido que
podia. Estávamos nos aproximando do final da Rota 55 e não vi nenhuma luz
traseira à distância.
Eu apertei a sua mão enquanto fechava os meus olhos com força. O meu
corpo tremia de adrenalina. O meu pulso ainda estava acelerado sob a minha
pele. Eu já passei por algumas merdas assustadoras antes e me encontrei em
várias situações comprometedoras nos últimos anos, mas nada foi assim. A
velocidade, o para-choque batendo, o pânico na voz do Christian, a incerteza do
que fazer. Foi muito.
Tenho quase dezoito anos. Eles disseram que iriam vir atrás de mim
quando eu fizesse dezoito anos. A ameaça feita anos atrás estava vindo à tona
e eu senti como se nada nos últimos cinco anos tivesse me preparado para isso.
Prendi a respiração até chegar a ele. Passei correndo pelo Eric e saí pela
porta, ouvindo o pequeno tilintar acima da minha cabeça. Corri até sentir os
seus braços em volta de mim. Enterrei a minha cabeça no seu peito, respirando
em pequenos suspiros, respirando o seu perfume amadeirado.
— Está tudo bem, está tudo bem. Estou aqui. Lamento não ter chegado
aqui mais rápido. — Eu podia sentir o seu coração batendo forte no peito,
batendo tão forte quanto o meu. Os meus olhos começaram a lacrimejar, mas
apertei a sua cintura com mais força. O Christian me puxou apenas uma fração
e colocou as mãos em volta do meu rosto. As mechas soltas de cabelo das minhas
tranças caíram em cima dos seus nós dos dedos enquanto ele prendia as minhas
bochechas. — Eu não gosto disso, Hayley. Eu não gosto desse sentimento.
Isso era o que tornava a ameaça muito mais assustadora. Agora eu tinha
algo a perder. Eu tinha alguém a perder.
— Eu não vou parar. Eu nunca vou parar até que eu saiba que você está
segura. — Ele fechou os olhos, ainda descansando a cabeça na minha testa. —
Sinto que estou perdendo a cabeça.
Ele acenou com a cabeça ao longo da minha por vários minutos. Nós
apenas olhamos um para o outro e nos abraçamos sob as luzes barulhentas do
posto de gasolina. — Nós vamos descobrir isso, ok?
Eu concordei. — Ok.
CAPÍTULO TRINTA E OITO
A BMW da Piper não teve muitos danos e ela disse aos pais que foi um
acidente de atropelamento no jogo de futebol, então nenhuma pergunta foi
feita. Ainda não tínhamos certeza se a polícia havia saído na Rota 55 quando o
Ollie ligou e disse que a BMW estava sendo perseguida, mas, mesmo assim,
eles nunca foram ao posto de gasolina naquela noite, então ninguém sabia de
nada.
A mão da Hayley apertou a minha uma última vez antes dela me soltar e
puxar os papéis para perto do rosto. Ela colocou uma mecha de cabelo escuro
atrás da orelha e soltou um suspiro pesado. Eu sabia que isso estava a
incomodando. Não apenas estávamos lendo coisas sobre o seu passado e o seu
pai, mas ela era inflexível contra as pessoas que a ajudavam. Isso a deixou
nervosa e com medo. Mas o que ela não percebeu foi que todos nós estávamos
com medo também, até mesmo o Eric. A Hayley tinha a capacidade de fazer
com que todos ao seu redor se apaixonassem por ela. Ela irradiava em uma
sala, chamando a atenção para a sua beleza tranquila.
— Sim, eu disse a ele que tínhamos um projeto a fazer. Ele grunhiu para
mim, então presumi que fosse ele dizendo que estava tudo bem.
— Está com fome? — Eu peguei a sua mão na minha. O meu peito parecia
que estava se abrindo porque eu sabia que ela estava sofrendo.
— Não é necessário que quatro em cada cinco de nós estejam olhando para
o mesmo documento. — O Eric suspirou, folheando outro papel sem olhar para
cima. — Além disso, você sobreviveu a isso. Não há nada neste relatório que
você ainda não saiba. Precisamos de olhos novos.
A Hayley não disse nada por alguns momentos. Observei o seu corpo
minúsculo passar da raiva para a calma em questão de segundos. Ela não
gostava de ser empurrada ou dizer o que fazer, mas no final, ela sabia que era
a verdade.
Um pequeno alívio caiu sobre os meus ombros, mas não fez nada para tirar
a dor surda no meu estômago.
CAPÍTULO TRINTA E NOVE
Eu não sabia muito de nada, a não ser que o meu pai tinha fodido com as
pessoas erradas e a sua filha estava prestes a pagar por seus pecados.
— Você tem quase dezoito anos. Eles querem o seu pagamento. — Aquelas
palavras. Elas continuaram vindo, a todo vapor, na minha cabeça. A voz de
unhas no quadro-negro da minha mãe arranhou as paredes do meu
cérebro. Porque agora? Homens como os que mataram o meu pai e que
trabalharam para um cartel de drogas não esperariam até que eu tivesse idade
para me sequestrar por vingança, a menos que tivesse algo a ver com a minha
idade. Tinha algo a ver com o fato de eu ter dezoito anos. Era significativo por
algum motivo e eu tinha certeza de que havia apenas uma pessoa a quem eu
poderia perguntar que saberia.
Eu não precisava da permissão dele para ir ver a minha mãe, mas tive a
sensação de que o garoto que segurava o meu coração com tanta delicadeza não
iria ver assim.
Ele queria me proteger a todo custo e foi exatamente por isso que ele não
pôde vir comigo.
Os meus olhos cortaram para o Eric por um breve segundo, e quando ele
pegou o meu olhar, ele silenciosamente inclinou a cabeça em questão.
O Eric.
Sim.
****
— Absolutamente não.
— Eric, por favor. Eu sei o que estou pedindo a você, mas você vai comigo
ou eu vou sozinha. Eu não posso levar a Piper. Preciso de alguém que pareça
ameaçador o suficiente para que ninguém me incomode enquanto tento pescar
informações dela.
Isso o fez pensar, então continuei. — Se eu levar o Christian, ele vai ficar
louco com o primeiro comentário rude que a minha mãe fizer, porque ele já vai
tentar se controlar quando vir onde eu morava. Você sabe disso, eu sei disso. O
seu temperamento terá o melhor dele. Ele vai me arrastar para fora de lá antes
mesmo que eu possa perguntar a minha mãe sobre o acerto de contas.
— Abaixei a minha voz, lembrando que estávamos na biblioteca. — Há algo
significativo sobre eu ter dezoito anos. Do contrário, não faz sentido, e se vou
ser pendurada bem na frente do cartel pelo FBI, quero saber por quê. Eu
preciso saber no que estou entrando. Eu faço dezoito amanhã! É óbvio que eles
continuarão vindo atrás de mim.
— Me siga.
****
O Eric e eu corremos para o seu carro depois que fingi ficar doente na
nossa aula de cálculo. A Sra. Simmons permitiu que o Eric, que corajosamente
se ofereceu como voluntário, me levasse ao escritório. O diretor Walton
aproveitou a oportunidade do Eric me levar para casa, já que o ônibus
demoraria uma eternidade.
O Eric ligou o seu Range Rover e correu os olhos para o relógio. — Temos
uma hora e vinte minutos antes de termos que voltar aqui para o final do último
período. Caso contrário, o Christian saberá.
— Então vamos.
Eu podia ouvir o meu batimento cardíaco nos meus ouvidos durante todo
o caminho até o estacionamento de trailers, mesmo com a música alta e pesada
do Eric. Ele checou o seu telefone um milhão de vezes e a cada vez, eu temia
que o nome do Christian aparecesse. Ele ia ficar lívido, mas com sorte, no final,
ele entenderia. Eu odiava fazer algo sem ele e isso foi uma grande mudança
para mim. Eu era inacreditavelmente independente e agora desejava que o
Christian estivesse ao meu lado.
O Eric olhou para a minha mão no seu braço e depois de volta para o meu
rosto. — Eu entendi você. Vamos lá.
— Que porra é essa! Feche a maldita porta e tire essa luz daqui. — A
minha mãe gritou do sofá enquanto a luz do sol entrava pela sala imunda. O
meu nariz torceu com o cheiro de urina e bebida velha, mas mantive os meus
ombros puxados para trás e a minha cabeça reta.
— O que você quer? — Ela inclinou a cabeça para trás e deu um grande
gole do líquido claro, engolindo-o sem nem mesmo piscar.
Havia lençóis de aparência suja pendurados nas janelas da sala de estar
para bloquear a luz do dia, e eu podia ver uma pilha de pratos sujos empilhados
no alto da pia. Mas, em vez de deixar as memórias difíceis deste lugar virem à
tona, fui direto ao assunto.
— Achei que você tivesse dito que nunca mais queria me ver de novo.
— Qual é o acordo?
A minha mãe tomou outro gole da sua vodca antes de revirar os olhos. —
Você.
A minha mãe olhou para mim, o mal espreitando nos seus olhos. O meu
estômago doeu quanto mais nos encaramos. Como ela se tornou essa mulher? A
minha mãe nunca foi uma boa mãe. Ela não estava atenta. Ela odiava me dar
atenção quando eu era pequena. Ela me mandou para o meu quarto mais vezes
do que eu gostaria de lembrar, mas como ela acabou assim? O CPS me levou
embora logo depois que ela começou a definhar em nada, mas enquanto eu
olhava para a mulher na minha frente, eu não conseguia nem ver um pedaço
minúsculo da mulher que eu costumava chamar de mãe.
— Um fundo fiduciário.
A minha voz estava quase quebrando. — Achei que todos os seus bens
estivessem congelados por causa da lavagem.
Eu não tinha mais nada a dizer à minha mãe e não tinha tempo a
perder. Vim em busca de informações e consegui. Ela poderia ficar com o
medalhão e penhorá-lo por dinheiro para as drogas. Ou talvez ela quisesse
comprar mais algumas daquelas garrafas plásticas de vodca barata. Eu não me
importava. Eu consegui o que vim buscar.
— Eles ficarão com o dinheiro e você... só para você saber. O seu pai nos
fodeu.
Para a minha surpresa, a minha mãe não disse uma palavra quando o Eric
passou por mim. Eu pulei com o som da porta batendo atrás de mim. — Você
está certa. O Christian teria perdido a cabeça lá.
O Eric estava correndo tão rápido para voltar para o seu Range Rover,
ainda segurando o meu medalhão na sua mão. Assim que entramos, ele me
entregou e disse: — Ele sabe.
Ótimo.
CAPÍTULO QUARENTA
Onde eles estão? Por que ela pediu ao Eric para levá-la para casa? Ela não
está doente. Que merda está acontecendo?
Acho que o que mais me incomodou foi ela não ter me contado o que estava
acontecendo. O que diabos estava acontecendo?
Eles ficaram no seu carro por um segundo a mais, ambos com os olhos em
mim. Eu levantei uma sobrancelha e isso deu a Hayley a ideia de finalmente
abrir a porta e sair. A sua cabeça estava baixa, o seu cabelo escuro caindo na
frente do seu rosto. Assim que ela estava na minha frente, o Eric se pendurou
no seu Range Rover (provavelmente porque ele sabia que eu o colocaria de
bunda no chão), ela ergueu aqueles olhos azuis para mim e eu quase esqueci
que estava com raiva.
O meu peito ficou apertado. — Você o que? Por que diabos, você nunca vai
vê-la?
A Hayley suspirou enquanto evitava o meu olhar. Ela olhou além da escola
para a área arborizada. — Eu precisava de mais algumas respostas. Eu queria
saber o que era o acordo e o que ele tinha a ver comigo.
— Por quê? — Eu me virei e olhei para ela. — Por que você pediu ao
Eric? E eu não?
— Bem, acho que você enlouquecer assim é uma razão boa o suficiente
para eu não pedir a você.
— Então, porra, por quê? — Eu não gritei com ela, mas o tom da minha
voz retratou o quão chateado eu estava. Não só fiquei incomodado por ela ter
pedido o Eric para levá-la ao parque de trailers em Pike Valley, mas também
fiquei incrivelmente magoado por ela nem ter pensado em me contar.
— Porque ela sabia que você iria pirar se visse onde ela morava. Ela
estava com medo de que você perdesse a paciência e a sua mãe não estivesse
disposta a dar qualquer informação.
Ouvi a Hayley engolir em seco e, quando olhei para ela, o azul dos seus
olhos parecia vidro. — Eu estava envergonhada.
E sem falar que eu sabia um pouco o que ela sentia. A minha mãe escolheu
algo em vez de mim também, e doeu. Doeu como o inferno.
A campainha soou de dentro da escola e, em breve, as pessoas estariam
correndo porta afora para pegar os seus carros e ir para casa. Eu puxei a Hayley
do meu corpo e olhei para ela.
— A Piper está levando você para casa, certo? E depois trazendo você de
volta para a minha casa em algumas horas?
— Tudo bem.
— Eu te amo.
O Eric veio ficar ao meu lado e eu perguntei: — Foi tão ruim assim?
Acabei de contar a ela sobre a minha viagem com o Eric e a briga que tive
com o Christian. Aparentemente, toda a escola nos viu discutindo no
estacionamento. Alguém tirou uma foto e colocou no Twitter em segundos. As
alegrias do ensino médio.
Entre risos, eu consegui dizer, — A... minha... vida... — Mais risos. — Isso
é sério... a minha vida? — Eu balancei a minha cabeça enquanto ofegava. —
Eu tenho uma porra de um cartel de drogas atrás de mim.
Então, nós sentamos lá no seu carro, rindo por sólidos dez minutos antes
de eu finalmente recuperar o fôlego e olhar para ela.
— Uma festa?!
O meu rosto caiu nas minhas mãos. — Agora eu me sinto ainda pior por
mais cedo. Ele estava montando algo para mim e eu saí com o Eric pelas suas
costas.
A mão da Piper tocou o meu braço. — Não seja tão dura consigo
mesma. Acho que ele entendeu.
A luta com o Christian estava muito fresca na minha mente para colocá-
la em banho-maria. Fiquei feliz por ter obtido a informação da minha mãe -
embora não tivesse ideia do que fazer com isso - mas odiava como tinha que
fazer isso.
O meu primeiro pensamento foi recuar. Dei um passo para trás, a porta
ainda aberta com o meu braço na maçaneta, mas quando avancei a minha
cabeça para a rua, a minha garganta começou a fechar.
A dura verdade do meu passado estava vindo direto para mim, e eu fiquei
lá, agindo como um cervo nos faróis.
Os meus pés avançaram mais para dentro e deixei a porta bater atrás de
mim. Não adiantava ficar quieta. Eles estavam aqui. Eles finalmente
encontraram a sua oportunidade e eu fui encurralada.
Eu queria correr e nunca olhar para trás, mas então teria desistido das
coisas na minha vida que me faziam feliz, que me faziam querer viver. E eu não
poderia correr para sempre e quem sabe se eu conseguiria descer a estrada
antes que eles me pegassem.
Isso precisava acabar. Eu não tinha certeza de como isso iria terminar e
eu não tinha certeza se conseguiria sair com vida, mas eu precisava ter algum
tipo de esperança.
Havia duas coisas do meu lado: o cara de dentro - aquele que estava
disfarçado, de acordo com o detetive particular - e o fato de que eu não resisti
absolutamente em entregar o meu fundo fiduciário. Eles poderiam ter. Eu não
queria fazer parte disso.
33
é uma fabricante de móveis americana com sede em Monroe, Michigan, EUA, que fabrica móveis para casa,
incluindo poltronas reclináveis, sofás, cadeiras estacionárias, cadeiras elevatórias e sofás-cama.
Eu mantive a minha frequência cardíaca o mais estável que pude quando
joguei a minha mochila no chão. O meu Converse bateu contra a madeira
enquanto eu caminhava pela casa, indo para a cozinha.
Assim que o pensamento passou pela minha mente, a porta dos fundos se
abriu. O homem com a cabeça tatuada apareceu. Ele primeiro pousou o seu
olhar em mim e os seus olhos fixaram-se nos meus por uma fração de tempo
demais. A contração sutil da sua bochecha me fez imaginar quem ele era. Ele
não era como os outros. Ele não tinha uma vingança nos seus olhos. Ele não
cheirava a morte.
O homem que agora estava com a mão em volta do meu bíceps rosnou na
direção deles enquanto me arrastava pela metade. — Eu não me
importo. Certifique-se de que ele não chame a polícia. Mate-o se for preciso.
A boa notícia é que não ouvi nenhum tiro quando atravessamos a rua
tranquila. Agradeci a Deus pela Jill não estar em casa, porque as coisas
poderiam ter sido muito diferentes se ela estivesse.
O aperto no meu braço foi afrouxado um pouco quando fui puxada para
mais perto do homem. Ele cheirava a tabaco e pólvora. O meu nariz dilatou-se
quando alcançamos o Escalade.
Ele olhou para mim, os seus olhos formando fendas. O homem coberto de
tatuagem me avisou com os olhos, o que só me deixou mais perplexa.
Assim que o cara tatuado quase me jogou no Escalade, ele subiu depois,
sentando ao meu lado. Eu olhei para a porta à minha direita, mas ele colocou a
mão no meu joelho.
Eu lentamente movi o meu olhar da sua mão para o seu rosto, e quando
os seus olhos encontraram os meus, eles se estreitaram. A minha respiração
acelerou e o pânico começou a se instalar. De repente, eu senti como se estivesse
perdendo. Eu não era a garota durona do parque de trailers que vinha
aperfeiçoando essa fachada dura nos últimos cinco anos.
O que?
— A QUE HORAS ELAS CHEGAM AQUI? — O Ollie, com a sua camisa escolar
para fora da calça e desabotoada na parte superior, segurava uma fita roxa
enquanto se equilibrava no balcão para prendê-la ao teto.
A Hayley fez dezoito anos à meia-noite e eu sabia que era grande coisa,
mesmo que ela não quisesse admitir. Fazer dezoito anos significava que ela
estava livre. Ela poderia, tecnicamente, deixar a casa do Pete e da Jill se
quisesse e ficar em outro lugar - em qualquer lugar - até a faculdade. Eu queria
drenar a minha conta e comprar para ela um apartamento com um sistema de
segurança de alto nível e colocá-la lá sem aceitar um não como resposta, mas
eu sabia que ela ficaria chateada e recusaria, então uma pequena festa de
aniversário seria a distração por agora.
Eu estava planejando essa festa por uma semana. O que eu não esperava
era um soco enorme no estômago da sua viagem com o Eric, mas isso não era
algo que eu estava disposto a brigar. Prometi a ela que conversaríamos sobre
isso mais tarde e o faríamos, mas, por enquanto, a Hayley merecia isso.
Fiquei chocado para dizer o mínimo. — O que você está fazendo aqui?
Não foi difícil evitá-lo. Os meus dias eram passados na escola e logo em
seguida o treino. Então, eu estive com a Hayley pelo resto da noite, com
algumas paradas ocasionais para conversar com o Ollie.
O meu pai olhou para mim do outro lado da ilha. Os seus traços escuros
relaxaram. Era como olhar para um reflexo de mim mesmo. Éramos
semelhantes em todos os aspectos, e isso me irritou porque era a última coisa
que eu queria. Ele era o único pai que eu tinha, mas estávamos tão
desconectados que eu não sabia nada sobre ele. Eu meio que esperava que ele
me desse outro sermão sobre a Hayley, mas antes que ele pudesse dizer
qualquer coisa, o meu telefone tocou.
— Filho!— A minha cabeça sacudiu quando uma mão forte agarrou com
força o meu queixo. Cerrei os dentes, finalmente respirando e encarei o rosto
preocupado do meu pai. — Você precisa respirar.
— Ollie, ligue para o Jim e diga que é uma emergência. Diga a ele para vir
aqui e ligar para o Scott no caminho.
— Você não vai perdê-la. Você quer saber por que? — As mãos do meu pai
caíram do meu rosto quando ele deu um passo para trás e contornou a ilha. —
Você não a perderá porque está lutando por ela. E quando um homem luta por
alguém que ama, ele sempre vence. — O meu pai começou a arregaçar as
mangas como se estivesse pronto para lutar contra alguém. — Eu lutei pela
sua mãe uma vez e ganhei. O problema era que parei de lutar.
Ele abaixou a cabeça e eu não consegui formar palavras. O branco dos nós
dos dedos combinava com a camisa enquanto ele apertava a borda da ilha da
cozinha. A sua cabeça voltou lentamente e ele me prendeu com um olhar letal.
— Nunca pare de lutar pela pessoa que você ama, Christian. Você me ouve?
Virei a minha cabeça para frente e tentei o meu melhor para manter a
minha voz firme. — Então, o que exatamente o meu pai fez para me colocar
neste assento adorável?
O corpulento e mais assustador dos homens cortou os seus olhos nos meus
no espelho retrovisor. Ele grunhiu e então voltou o seu olhar para a
estrada. Ok, bem, isso não funcionou. Decidi continuar investigando. — E
daí? Vocês só vão me sequestrar, mas não vão me dizer por quê? Como isso é
justo? É o pagamento? O meu fundo fiduciário, certo?
— Você vai calar a boca? — O motorista virou a cabeça para trás por um
breve segundo e eu pulei com o volume da sua voz.
34
É um agente de narcóticos.
35
Grandalhão.
ele me puxou pelos cabelos. Eu encarei os seus olhos escuros e uma quantidade
inflexível de medo me sufocou. Os seus olhos estavam vazios. Era como olhar
para uma cova vazia, fria e escura. — Eu matei o seu pai e teria matado a sua
mãe também se a polícia não tivesse aparecido. — Ele puxou a minha cabeça
para cima e os meus olhos ficaram embaçados, brilhando com lágrimas não
derramadas. — E agora que você é minha, preciso que obedeça e aprenda como
manter esses lindos lábios fechados. — Ele me deixou cair no chão novamente,
e antes que eu pudesse me proteger, ele me chutou no estômago, tirando o
fôlego de mim. Eu ouvi os passos dos outros homens se aproximando e esperava
que eles me salvassem. Foi a primeira vez que tive esse pensamento e quase
me surpreendeu.
****
— Mas você... você machucou o Pete. — A minha voz estava rouca quando
olhei para o homem mais próximo de mim. Foi ele quem teve que lidar com o
Pete quando me levaram pela primeira vez. — Eu ouvi você batendo nele.
Ele balançou a cabeça e olhou para o seu amigo antes de trazer a sua
atenção de volta para mim. — Eu fiz, mas ele está bem. Eu o nocauteei uma
vez e o deixei lá. Eu tinha que fazer ou o nosso disfarce teria sido destruído.
— Ele deu uma risadinha. — Além disso, o seu pai adotivo é um idiota de
merda. Ele merecia um bom nocaute.
Verdade.
— Hayley, está tudo bem. Somos os mocinhos bons. — Ele sorriu para
mim. — E você... você era a peça que faltava o tempo todo. Você acabou de
ajudar a colocar esse cara atrás das grades por muito, muito tempo, e sem
mencionar que ajudou a destrancar muitas outras portas. — Eu cortei os meus
olhos para o Burly Man, que estava agachado perto do carro, claramente
inconsciente, com as mãos amarradas com o que pareciam ser fechos de
correr. Sirenes uivavam ao longe e eu esperava que estivessem vindo atrás de
mim.
O outro homem, que agora estava perto do Burly Man, falou primeiro. Eu
dei um passo para trás, liberando o meu braço do aperto do homem tatuado. —
Hayley, o seu pai foi nosso informante cinco anos atrás. Ele foi pego lavando
dinheiro e, em vez de cumprir pena de prisão, oferecemos a ele um trabalho de
informante. Ele estava nos ajudando a derrubar um dos maiores cartéis de
drogas na nossa área. Você acabou de nos ajudar a derrubar o braço direito do
Franco, dando-nos provavelmente a maior informação que faltava para
começar a dissuadir a atividade do cartel nas áreas circundantes. Estamos
finalmente chegando até ele. — Ele fechou os olhos envelhecidos com força. —
Porra, finalmente. Você acabou de atingir a ponta do iceberg, Hayley. É assim
que fazemos o Franco afundar.
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Emergency medical technician (EMT) é um termo da língua inglesa usado em vários países para designar um
prestador de cuidados médicos treinado para desempenhar serviços pré-hospitalares de emergência médica.
CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO
Esta noite parecia que durou anos. Desde o segundo em que descobri que
algo estava errado, agora havia tirado anos reais da minha vida.
Parte de mim sentiu culpa. Eu senti como se tivesse falhado com ela. Eu
tinha sido injusto com ela quando ela veio pela primeira vez para a English
Prep. Atormentando-a, intimidando-a. E agora, depois que encontrei o caminho
de volta ao coração dela, deixei que ela corresse direto para o perigo.
Ela precisava de mim há cinco anos, quando o seu pai morreu bem na
frente dos seus olhos e ela precisava de mim esta noite quando o mesmo perigo
a atingiu de frente, e eu não estava lá.
Jurei para mim mesmo, depois de andar de um lado para o outro na minha
sala de estar horas atrás, que se eu a recuperasse, passaria o resto da minha
vida compensando isso.
Fiquei quase grato por ele ter saído porta afora em vez da Hayley, porque
se eu tivesse que continuar a ouvir a sua namorada divagar na velocidade da
luz sobre a sua história de amor, eu iria cometer um crime só para poder
aterrissar do outro lado da porta de aço e longe da sua voz irritante.
Na verdade, não foi uma má ideia. Como posso chegar ao outro lado
daquela porta trancada?
Se houve alguma coisa que aprendi nos meus dezoito anos de vida, foi agir
como se eu pertencesse ao lugar, mesmo quando sentisse que não pertencia. Se
você parecia suspeito, provavelmente era, mas se agisse como se soubesse para
onde estava indo, ninguém o incomodaria.
Lá estava ela.
— Você está aqui. — Ela sussurrou de volta. Ficamos assim por muito
tempo, o corpo dela colado ao meu, os meus braços travados em torno
dela. Quase parecia uma tortura deixá-la ir. Eu trouxe as minhas mãos até o
seu rosto, tocando suavemente o hematoma no seu olho. — Eu vou matar quem
quer que tenha feito isso com você.
Ela riu na minha mão, trazendo aquela tristeza bebê até o meu rosto. —
Ele está preso e vai para a prisão por um longo tempo.
Uma risada suave escapou dela. — Você não pode entrar na prisão.
— O que? — Ela gritou, o seu aperto nos meus pulsos ficando mais forte.
A batida do meu coração era tão forte que ela provavelmente podia
ouvir. A sensação de ansiedade invadiu o meu peito. — Você pode não precisar
de mim, mas eu preciso de você. Sempre precisei de você.
A Hayley olhou para mim com lágrimas não derramadas nos olhos e um
sorriso oculto no rosto.
— O que?
Quanto à minha mãe, ela ainda estava vivendo a sua melhor vida no
parque de trailers. A única coisa com que ela estava preocupada era a sua
próxima dose. O meu pai não deixou nada para ela, exceto os restos da nossa
antiga vida e quando o meu pai foi assassinado e o FBI quis nos ajudar, ela se
recusou e foi por isso que eles tiveram que ser criativos e esperar até que o
cartel viesse atrás de mim para o pagamento.
— Bem, se você decidir que quer pintar ou... você sabe, ficar aqui nos
intervalos e durante o verão, você pode.
Eu encarei a Ann enquanto ela passava o olhar ao redor do quarto que ela
havia criado para mim. Ela tinha ido acima e além. As paredes eram de uma
cor coral pálida, a cama parecia fofa com um grande edredom branco e havia
até uma cabeceira. Escondida na parede oposta estava uma cômoda e uma
escrivaninha com uma bela lâmpada na ponta.
Uma risada escapou da minha boca. — Demorou muito para que ele me
deixasse passar a noite.
— Bem, espero que vocês dois saibam que estão seguros aqui. Vocês dois
merecem um pouco de normalidade nas suas vidas.
Eu balancei a cabeça enquanto dava outro passo para dentro do meu novo
quarto. O meu primeiro pensamento foi, isso é bom demais para ser
verdade. Mas eu estava trabalhando para mudar essa
mentalidade. Isso era bom e não significava que não pudesse ser verdade.
Ele me disse para recuar um pouco, e logo, a sua longa perna estava
avançando. — Senti a sua falta.
Ele deu de ombros enquanto estava diante de mim vestindo jeans e uma
camiseta branca. — Eu queria ver como era fácil subir pela janela. — Ele
ergueu as sobrancelhas enquanto um sorriso brincava na sua boca. — Devo
dizer que é muito mais fácil agora que o seu quarto fica no primeiro andar.
Eu bati no seu peito enquanto um sorriso serpenteava pelo meu rosto. No
último segundo ele agarrou a minha mão e me puxou para perto. — Eu te amo.
Então, através da porta, ela disse: — E diga ao Christian que ele é bem-
vindo para ficar... contanto que ele use a porta da frente na próxima vez.
Fim