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SARAH SUMMERS
PAIXÃO A LA MEXICANA
Copyright © 2022 SARAH SUMMERS
Capa: Sarah Libna
Diagramação: Tatiana Mareto
Revisão: Elen Arcangelo
Preparação de texto: Elen Arcangelo
1. Romance Contemporâneo
2. Literatura Brasileira
Edição digital. Criado no Brasil.
1ª edição / 2022.
Esta obra segue as Regras do Novo Acordo Ortográfico
________________________
Todos os direitos reservados
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
A história aqui reproduzida não expressa a opinião pessoal da autora.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra,
através de quaisquer meios — tangíveis ou intangíveis — sem o consentimento
escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.
CONTENTS
Prólogo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Epílogo
Agradecimentos
Outras obras
Sobre a autora
Para Helena.
Surte bastante, querida, este livro é para você.
PRÓLOGO
Minha amiga
Não sei o que dizer nem o que fazer para te ver
feliz
Quem me dera poder mandar na alma
Ou na liberdade, que é o que ele precisa
Amiga Mía – Alejandro Sanz
Siga-me
te darei meu coração
não o mate, por favor
e deixe-o sonhar.
Seguirei o sinal que você me dá
como o rio quando vai com a correnteza
Sígueme – Manuel Carrasco
Se você soubesse
Que suas lembranças me acariciam como o
vento
Que meu coração fica sem palavras
Para te dizer que é tão grande o que eu sinto
Si tu supieras – Alejandro Fernandez
Apagado.
Apagado.
Apagado.
Com um grunhido me sinto prestes a jogar o celular o mais longe
possível, quando me dou conta que isso só chamaria ainda mais
atenção para mim mesmo no escritório.
Não houve uma só pessoa a não me olhar estranho ao me ver
chegar hoje na transportadora com um sorriso idiota no rosto. Aliás,
eu estava com um sorrisinho bobo desde ontem à tarde, por motivos
óbvios. Foi assim que Alex me encontrou ao abrir a porta de casa
quando fui entregar a chave do carro de Devon.
O homem poderia falar que meu time de futebol favorito havia
caído para a segunda divisão e ainda assim eu iria continuar rindo
como um louco.
Se ele percebeu algo, foi discreto o suficiente para não dizer
nada. Principalmente quando dei um tempo nos sorrisos e perguntei
se ele tinha o número de Evie.
Ele me passou o telefone dela e nos despedimos em seguida, eu
com um sorriso bobo de volta ao rosto e Alex com sua discrição de
sempre.
Isso me leva ao agora, quando estou de todas as formas
tentando encontrar as palavras certas para enviar a ela depois do
que aconteceu.
Estou parado com o celular em uma das mãos e minha caixa de
ferramentas na outra quando vejo o carro de Julie na entrada da
transportadora. Com alguma sorte, e olhe que ando com muita
ultimamente, ela talvez ainda não tenha me visto. Saio em
disparada até o caminhão mais próximo e me enfio embaixo dele.
Sou um covarde? Talvez, mas tenho segredos a manter e isso
envolve não conversar com Julie sobre Evie.
Logo estou imerso entre a graxa e as ferragens e com a mente
distraída. Tão distraída que pulo de susto quando alguém chuta
minhas pernas, que estão para fora do caminhão.
— Mas que diabos… — Arrasto-me para fora. — Pelo amor de
Deus, Julie, por que você tem sempre de usar uma comunicação tão
violenta?
— Porque aparentemente é só assim que você entende. —
Revira os olhos. — Você não ligou, eu pedi para você ligar.
— Até onde eu sei, ainda estou dentro do prazo, porque apenas
ontem você pediu que eu te ligasse.
— Não existe um prazo. Você não ia ligar, não é mesmo?
Respiro fundo e limpo as mãos sujas de graxa em minha camisa.
— Afinal, o que você quer?
— Quero saber como foi ontem com Evie, e antes de ontem
também.
— Ah, isso… — coço a cabeça —, acaso ela não te contou?
— Pouca coisa, Evelyn anda mais fechada que um túmulo. Vai,
me convide para um café e me conte tudo.
— Julie…
— Anda, Migueeeel… — Começa a me empurrar para o
escritório e não tenho outra opção além de acompanhá-la.
— Bom dia, flores do dia — é Violet quem fala de sua nova sala
quando nos vê entrando em meu escritório.
Faço uma careta.
As duas rapidamente vão uma em direção à outra e se
cumprimentam bem do jeito que as mulheres fazem, com abraços
efusivos e beijinhos estalados.
Pelo amor de Deus, essas duas se viram o fim de semana todo.
Ando até cafeteira e preparo uma xícara para mim enquanto as
duas continuam a tagarelar.
— Então, Miguel… — é Julie quem diz, mas as duas passam a
me observar com curiosidade.
— O que você quer que eu diga?
Julie solta um grunhido irritante e olha para Violet. As duas se
encaram como se conversassem pelo olhar e então tenho os dois
pares de olhos sobre mim outra vez.
— Conte tudo de uma vez.
— Não há muito o que dizer… — Dou de ombros, mas acabo
rindo no final.
As duas se olham outra vez.
Droga, esse risinho feliz vai acabar me delatando.
— Tudo bem, vamos por partes. — Julie se senta na minha
cadeira como se estivesse em casa enquanto Violet lhe serve uma
xícara de café fumegante. — Conte sobre sexta à noite.
— Ah, não… — Ando de um lado para o outro.
— O que tem sexta à noite? — Violet se senta sobre a mesa.
— Peguei Miguel e Evie dormindo juntos… assim, na mesma
cama, depois da festa.
— É o quê? — As mãos de Violet vão parar sobre sua boca.
— Ei, não saia espalhando mentiras.
— Como isso pode ser mentira se eu vi com os meus próprios
olhos?
— Você e Evelyn dormiram juntos? — Violet faz um gesto
indecente com a mão.
Fico horrorizado. Ela está passando tempo demais entre os
caminhoneiros.
— Nós dormimos um do lado do outro, na mesma cama, sim,
mas apenas isso.
— Hmm. — Julie levanta uma sobrancelha enquanto Violet
prepara outro café. — E como vocês chegaram a isso?
— Bom, ela claramente não estava bem, então fiquei do lado
dela.
— Não estava bem? — Violet beberica de sua xícara.
— Não, não estava nada bem. Ela bebeu demais e não ficou
legal.
— O que rolou? — Julie questiona.
— Hmm… — Penso um pouco antes de falar. — Houve choro,
bebedeira, confissões e… vômito.
As duas fazem cara de nojo.
— Pobre Evie! — Violet deixa o café sobre a mesa e põe a mão
na cintura. — Ainda não acredito que ela levou um pé na bunda do
Hugostoso.
Julie e eu a encaramos, bravos.
— Tudo bem, ex-Hugostoso.
— Hugosmento — digo e ambas me encaram.
— Você é perspicaz. — Julie oferece sua mão para bater na
minha.
— Sempre às ordens.
— Então vocês só dormiram juntos… — Letty puxa a conversa
de volta.
— E sumiram no dia seguinte. — Julie acha um biscoito de
chocolate em uma das minhas gavetas e começa a comê-lo.
— O que você queria que eu fizesse? Ela estava mal e com uma
ressaca moral terrível, chamei-a para dar um passeio e ela aceitou.
Isso foi tudo.
— E aí no passeio… — Julie começa a dizer na expectativa de
que eu termine a frase.
— Não. Aconteceu. Nada. Demais.
As mulheres se encaram com a firme certeza de que eu estava
mentindo. Estou quase as convencendo de que meus encontros
com Evie foram puramente inocentes.
Quase.
— O que é isso? — Julie aponta para mim.
— Isso o quê? — respondo.
— Sua boca está tremendo. — Violet se aproxima de mim e dou
um passo para trás.
— Não está, não. — Cubro meus lábios.
— Ah, meu Deus, você está sorrindo. — Julie também se
aproxima e agora tenho as duas me rondando tal qual urubus.
— Podem me dar espaço, por favor? — peço.
— Não! — respondem juntas.
— Não vou desistir até saber o que você está escondendo,
Miguel Martinez García.
Estou suando, sou um péssimo mentiroso. Sempre fui, desde
criança, e Julie sabe disso.
Elas me encurralam fazendo com que eu dê passos para trás até
encostar na parede.
— O que acontecerá se eu disser o nome Evelyn? — Julie me
cutuca com suas unhas de gel afiadas.
O sorriso em minha boca se abre ainda mais.
— Ah, meu Deus, então realmente aconteceu alguma coisa. —
Violet bate palmas e dá alguns pulinhos.
— Anda, Miguel, desembucha! — Minha prima dá um tapa em
meu braço dessa vez.
— É que… a gente meio que se beijou — digo e o sorriso em
meu rosto se torna completo.
As duas começam a gritar e pular juntas como se o México
tivesse ganhado a Copa do Mundo.
— Mas isso é fantástico! — Julie grita.
— Então vocês estão mesmo juntos? Ah, Miguel, seu garanhão!
— Violet me dá um tapinha no ombro.
— O quê? Não, não é nada disso — respondo preocupado. —
Não estamos juntos, não estamos nem perto disso. Ela estava indo
embora ontem no aeroporto e me beijou, isso foi tudo.
— Hmm, então é ela quem está interessada. — Julie sorri ainda
mais. — Isso é muito melhor. Evie, sua danadinha.
— E agora, o que nós vamos fazer? — Vejo minha gerente, com
a mão na cintura, questionar a minha prima sobre um possível
relacionamento entre mim e Evie.
— Eu acho que…
— Ei, moças, por favor. Prestem atenção em mim. Ninguém vai
se precipitar a nada nem muito menos se meter entre mim e Evelyn.
— Mas, Miguel…
— Ela está fragilizada, ainda deve gostar do… bom, vocês
sabem quem. Não quero meter os pés pelas mãos — corto Julie ao
levantar a palma da minha mão.
— Mas, Miguel, você não percebe que essa é a sua chance?
— Eu não sei, Julie…
— Ela está certa, Miguel, é a oportunidade que você sempre
sonhou. Tem que agarrar com unhas e dentes.
— Você já mandou uma mensagem para ela desde ontem?
Melhor, por que você não liga e…
— Julie…
— Está bem, está bem. O que você quer que eu faça?
— Que tal nada?
— Mas Miguel, você não pode ficar sem fazer nada — Julie diz
quase em desespero.
— Não vou ficar sem fazer nada. Confie em mim, afinal eu sou o
grande toureiro do amor, não sou?
As duas me observam com olhares desconfiados e descrentes.
— É sério que vocês não confiam em mim?
— Bom, Miguel, querendo ou não você é um homem… — Violet
começa.
— E homens sempre fazem burradas — Julie termina, para meu
total espanto.
— Como é que é? — Nesse momento estou nada além do que
puto. — Quer saber de uma coisa? Saiam da minha sala.
— O quê?
— É isso mesmo, Julie. Você e Violet, deem o fora daqui.
— Mas… mas… — minha prima choraminga e não tenho nem
um pouco de piedade ao começar a empurrar as duas para fora.
— É isso aí, circulando, adiós, chao, hasta la vista, baby. — Bato
a porta na cara delas e fecho as persianas da janela que dá uma
visão ampla do escritório.
Tranco a porta e coço a cabeça, sem saber muito bem o que
fazer agora. Quando me sento na confortável cadeira de couro, uma
que Violet havia insistido que eu comprasse depois que reformamos
o escritório, porque, afinal eu era o chefe e devia demonstrar isso,
penso no que Julie me disse.
Que essa é a chance que eu tanto esperava.
De fato, eu não posso desperdiçar. Tudo que eu preciso é
planejar a forma correta de me aproximar de Evie, sem assustá-la, e
fazer com que eu me torne tão importante para ela quanto ela é
para mim.
Certo, então eu tenho o desafio da minha vida pela frente, e toda
a minha felicidade está literalmente em minhas mãos, percebo ao
olhar o celular sobre a mesa.
Vamos lá, Miguel, faça alguma coisa.
Com o telefone na mão, busco Evie em meus contatos.
Nenhuma mensagem enviada. Certo, precisamos mudar isso.
Procuro as palavras mais uma vez. Apago todas. Tento soar
casual, ou engraçado, ou apenas preocupado. Mas a quem eu
quero enganar? Na verdade eu quero mesmo é dizer que topo beijá-
la quantas vezes ela quiser.
Não, Miguel, você não pode escrever isso!
Você é a culpada
De todas as minhas angústias
E todas as minhas perdas
Usted – Luis Miguel
Eu quis te esquecer
Apagar seus beijos
Estive com outra
e senti apenas solidão
Eu a fiz minha
Nela eu te via
Que absurdo e que burrice pensar
Que com outro corpo eu ia te esquecer.
Te Quise Olvidar - MDO
Afogando a memória
Me afogando o seu adeus
Tocaram as sirenes
Do nosso quarto triste
O silêncio destrona você
E o vazio dentro de mim
Torna-se eterno e me devora
Existe um abismo entre os dois
Ahogándome tu adiós – Pablo Alborán
Eu estou um caco.
Mal vi o fim de semana passar. Fiquei preso à cama, absorvendo
o restante do perfume de Evie que ainda havia ali, e completamente
perdido nas lembranças que aquele lugar evocava.
É como se eu tivesse tomado um porre e estivesse vivendo a
pior ressaca da minha vida. Meu corpo está fraco enquanto minha
mente é bombardeada por imagens minhas e de Evie. Será possível
eu estar doente? Talvez pela falta de alimentação ou de banho. As
únicas coisas que me tiram da cama são Nacho e suas
necessidades.
Acho que é isso que me mantém alerta, porque na segunda de
manhã eu acordo cansado de tanta comiseração. Levanto tarde e
chego ainda mais tarde na transportadora. Os olhos de águia de
Violet me enxergam no instante em que aponto no corredor que
interliga nossas salas. Ela e seus sapatos barulhentos me seguem
pelo restante do caminho.
― Qualquer coisa, menos esse olhar de piedade, por favor ―
peço, sentando-me na cadeira e envolvendo minha cabeça com as
mãos, sobre a mesa.
Ouço-a suspirar e quando levanto a cabeça para encará-la, vejo-
a balançar a cabeça.
― Miguel…
― Letty, não estou a fim de falar sobre isso agora.
― Tem certeza? Você está com uma carinha péssima, talvez
falar te faça se sentir melhor.
― Não posso, não quero falar sobre o meu coração partido.
― Ah, Miguel.
― Vamos deixar as coisas como estão.
Dou de ombros. De que adiantaria falar agora? Ela
provavelmente sabia de tudo, engravidei outra mulher, Evie fugiu e
eu voltei à estaca zero na minha vida.
Olá, meu nome é Miguel García, estou apaixonado e sozinho.
― Trabalho, me dê trabalho, mulher ― falo ligando o
computador e abrindo gavetas. ― Você não ama me encher de
papel? Pois então, faça o seu pior.
Violet se esforça para manter a boca fechada enquanto me
observa nos segundos seguintes, mas até mesmo minha melhor
amiga sabe quando é o momento de dar um passo atrás.
― Tudo bem, chefinho, se é isso que você quer. ― Ajeita o
cabelo e vai rapidamente em sua sala. Quando volta, está com duas
pastas nas mãos e as joga sobre a mesa, fazendo um estardalhaço.
― A metade é para você assinar, a outra metade você precisa
analisar e devolver para a contabilidade.
Cuidado com o que deseja, é o que tia Lupita sempre diz.
Puta merda, tia Lupita. Ela vai me fazer em pedacinhos quando
souber dessa história toda. Decido esperar um pouco mais antes de
contar a ela. Talvez na nossa quinta-feira, no jantar regular. Sim, era
isso que eu iria fazer.
Com um plano em mente e muita coisa para me manter ocupado
eu começo o meu dia de trabalho, com Violet me guiando em tudo,
como sempre. Minhas mãos estão coçando para a tarde chegar e
eu poder esquecer da vida ao consertar qualquer coisa que tenha
quatro rodas.
As horas seguintes passam enquanto eu me afogo em trabalho.
Telefonemas começam a surgir e logo me vejo percorrendo a
empresa, de repartição em repartição, para resolver problemas.
Quando passo por um grupo de caminhoneiros sorridentes logo
após o almoço, me junto a eles para um pouco de conversa, e o
mais alto deles, Dean, disse que estão comemorando a notícia de
que seria pai.
Puta que pariu, aparentemente há alguma coisa na água de
Chicago.
O pensamento logo me faz pensar em Bárbara. Ela me contou
sobre a gravidez na sexta e não deu mais notícias. Bom, também
não é como se eu estivesse correndo atrás de informações, não é
mesmo?
Preciso me certificar de ser um pai presente desde agora. Tomo
meu celular nas mãos e digito seu número.
― Miguel? ― Ouço sua voz melosa.
― Olá, Bárbara, estou ligando para saber como você está. A
gente conversou muito pouco na última sexta. Tudo bem com você?
Alguma novidade sobre o bebê?
― Está tudo bem, sim, obrigada por perguntar. Olha, na verdade
eu não posso falar muito agora, porque estou saindo para uma
consulta com a ginecologista e…
― Espera aí, você vai ao médico e não ia me avisar disso?
Um silêncio culposo pairou na linha.
― Hmm, eu… eu achei que você não fosse se interessar em ir.
― Bárbara, pelo amor de Deus, tudo sobre essa criança me
interessa.
― Sério que você vai ser esse tipo de pai? E a sua namorada?
― Não tenho mais namorada ― digo entredentes.
Mais silêncio.
― Olha, Miguel, você não precisa de verdade se envolver tanto,
a gente pode conversar sobre pensão e essas coisas…
― Bárbara, não quero só ser o cara que assina os cheques e
aparece uma vez por ano no aniversário do filho. Eu também tenho
responsabilidade nisso.
― Tá bom.
― Passe o endereço da clínica, te encontro lá.
Ela me informa o local, ainda que resmungando um pouco mais.
Aviso a Violet que vou sair sem hora para voltar e sigo em direção
ao endereço indicado.
Nunca vi tanta mulher grávida junta na vida, o local parece uma
estranha convenção de casais. Por incrível que pareça, chego
primeiro, quase dez minutos depois Bárbara aparece, com sua
barriga ainda plana.
― O trânsito estava uma porcaria por causa de um acidente
idiota. Desculpa a demora.
― Talvez tivesse sido melhor eu ter ido te buscar.
Ela afasta essa ideia com um aceno.
― Ainda não acho necessário você vir, prometo que vou fazer
com que as coisas sejam mais simples o possível entre a gente.
Quer que eu converse com a sua namorada? Quero dizer, a sua
ex…
― Não ― rosno baixinho.
― Está bem, mas não precisa ficar assim todo bravinho. ― Ela
faz um biquinho que um dia já me seduziu, agora sou
completamente imune ao movimento.
Sento-me ao seu lado em um dos sofás macios e esperamos a
nossa vez. Não conversamos muito, o que é normal, Bárbara e eu
nunca fomos de tocar em assuntos profundos quando estivemos
juntos. Quando a enfermeira chama por seu nome, percebo que
estou ansioso.
Somos levados a uma sala de exames, com Bárbara deitada, a
médica começa a nos explicar o que vai acontecer a seguir. E logo
ali está, na tela um pouco embaçada, uma coisinha pequena, porém
minha. Ela nos deixa ouvir o coração do nosso pequeno milagre e
diz que está forte e bom.
Forte e bom, isso é excelente, não é?
No fim da consulta estou com um sorriso de orelha a orelha
enquanto Bárbara questiona a possibilidade de engordar apenas o
necessário durante a gravidez.
― Você pode pegar seu exame na saída ― a doutora diz depois
de se despedir.
― Ah, doutora, é possível fazer uma cópia extra? ― pergunto.
― Pra quê? ― questiona Bárbara enquanto ajeita a própria
roupa.
― Porque eu também quero ter uma cópia, quero mostrar pra tia
Lupita.
― Besteira. ― Ela dispensa a médica com um aceno.
― Não é uma besteira ― digo depois de engolir meu silêncio.
Estamos saindo do consultório e Bárbara guarda o envelope com o
exame em sua bolsa. ― Tenho certeza de que minha tia quer ver a
carinha do bebê no ultrassom.
― Você tem cada ideia, Miguel. ― Ela solta um suspiro alto. ―
Vamos fazer assim, depois te dou uma cópia, tudo bem?
― Certo, não esqueça.
Nos despedimos na entrada da clínica e coloco Bárbara dentro
de um táxi, estou de moto e não gosto da ideia de carregar uma
grávida na garupa. Para mim, seria altamente perigoso.
Volto para a transportadora e finalmente me vejo livre da
papelada para me enfiar sob um caminhão que precisa de reparos.
É lá que eu fico até depois do fim do expediente, apertando
parafusos, trocando óleo, buscando qualquer mínimo detalhe para
me manter ocupado.
Já passa das sete da noite quando saio do pátio de caminhões e
entro outra vez no escritório. Franzo o cenho ao ver as luzes da sala
de Violet acesas.
― Você ainda está aqui? Não tem uma família te esperando?
― A-há, muito engraçadinho. Daqui a exatos dois minutos não
estarei mais. ― Ela está de pé, catando coisas da mesa e
colocando dentro da bolsa. ― Ei, quer ir jantar lá em casa essa
semana? Luna vai adorar brincar com o tio Miguel e Nico está doido
para te mostrar seu boneco novo.
― Obrigado, Letty, sei que você está tentando me manter
animado, mas no momento não sou uma boa companhia nem para
mim mesmo.
Seus lábios se contraem em piedade. Lá estava o olhar outra
vez. Levanto uma sobrancelha e ela logo percebe, espantando a
pena de seu rosto.
― Bom, se você mudar de ideia, sabe onde me encontrar. ―
Seus sapatos chiques atravessam a sala e logo ela está na minha
frente, colocando as duas mãos no meu rosto. ― Sempre vou estar
por aqui, viu, meu amigo?
Sorrimos um para outro e tenho a certeza absoluta de que ela
diz a verdade. Violet é uma mulher e tanto e não digo isso por ela
ser meu braço direito e esquerdo aqui na empresa, mas
simplesmente por ser ela mesma.
― Vou manter isso em mente ― prometo e lhe dou uma
piscadinha.
Quando Letty vai embora o silêncio ganha o ambiente, e percebo
o quanto isso é perigoso. Minha mente começa a vagar, olhar para
minha mesa me faz pensar no dia em que Evie estava aqui, antes
de Bárbara chegar e mudar para sempre minha vida. Guardo
minhas ferramentas e busco as coisas para ir embora. Com o
celular e a carteira no bolso, monto na Harley e ganho a cidade
enquanto as luzes noturnas despontam.
Decido me manter ocupado essa noite, vou à academia do
prédio e corro na esteira por quarenta minutos, levo Nacho para
passear, e quando retorno para casa, estou exausto. Agora é o
momento de dormir, certo?
Errado.
Não troquei os lençóis, o perfume de Evie ainda ocupa o
travesseiro e tudo começa a vir em minha mente outra vez. Sinto
falta dela, das risadas, de sua pele lisa e de sua expertise.
Antes que eu me dê conta estou com o celular em minhas mãos
e digito duas únicas frases:
Eu: Sinto sua falta.
Eu: Eu sinto muito.
Não há resposta, assim como meus dias perderam a cor.
Sarah Summers
OUTRAS OBRAS
Mais uma vez obrigada por ler “Paixão A La Mexicana”. Se possível, passe a
mensagem adiante e indique a história de Miguel e Evie a uma amiga que ama
ler. Essa sempre será a maior recompensa de um autor.
Se possível, deixe sua avaliação na página do livro na Amazon. Você me ajuda
muito fazendo isso.
PLAYLIST DO LIVRO
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QUER FALAR COMIGO?
(Série A La Mexicana)
Amor A La Mexicana
Felizes Para Sempre
Romance A La Mexicana
Conto
A Secretária & O CEO.
Antologia
Amores Rebeldes
ROMANCES DE ÉPOCA: (SÉRIE NOBRES DE ANDALUZIA)
Sou capixaba e estou mais perto dos trinta do que dos vinte. Aos doze, li meu
primeiro romance e nunca mais parei, aos quatorze soube que amava escrever.
Professora de espanhol, inglês e autodidata do sarcasmo (meu Friends favorito é
o Chandler).
Amo karaokês e uma boa série nórdica. Moro perto da praia com quatro
cachorros muito bagunceiros e meu único defeito é ler romances demais.