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Sinopse

Ele era um Rock star.


Uma lenda. E um pai solteiro.
Eu deveria ter ficado longe.
Eu simplesmente não conseguia resistir a ele.
Estávamos felizes até que ele mandou uma mensagem.
Nós precisamos conversar.
As últimas palavras famosas
Mas eu sabia que precisava deixá-lo ir.
Tinha acabado.
Nunca fomos feitos para ficarmos juntos.
Assim como todo mundo, ele foi embora.

Eu não aguentava fazer uma turnê com minha banda de rock e


um relacionamento
Até descobrir Sadie. O amor da minha vida.
Quando a deixei, cometi o maior erro da minha vida.
Mas quando a tragédia aconteceu, meu mundo desmoronou.
Dedicado à:
Nirza, sua partida veio como um vento forte. Sentiremos sua
falta.
É impossível viver sem falhar em alguma coisa, a menos que você
viva com tanto cuidado que poderia muito bem não ter vivido, nesse
caso, você falha por padrão.
– J.K. Rowling
Capítulo Um

Sadie

Acho que nunca vou entender por que ela tentou tirar a própria vida. E
eu me preocupo com o que vai acontecer com ela. Ela precisa de ajuda, mas
quem estará por perto para dar a ela?

Infelizmente, não faço parte da vida dela. Não mais.

Giro meu anel de noivado enquanto espero Kade chegar.

Precisamos conversar, dizia seu texto.

Prendo minha respiração, abraçando meu estômago. Isso não pode estar
acontecendo. Ainda esta manhã, conversamos sobre a procura de uma casa
maior. Reservamos a lua de mel. Dois meses visitando os jardins mais
bonitos do mundo com o homem dos meus sonhos. O som da porta do
apartamento fechando faz meu coração bater mais rápido. Ele está aqui. Eu
tiro meu anel. Um diamante solitário de um quilate que ele me deu há
quase um ano. Eu coloco em cima da mesa de cabeceira e olho ao redor do
nosso quarto. Apartamento dele, não meu. Tudo pertence a ele. Só trouxe
algumas coisas quando ele me pediu para morar junto.

— Sade? — Sua voz é alta, seu tom neutro.


— No quarto, — eu resmungo. — Como ela está?

Eu olho para cima quando ele entra. Meus olhos o estudam de cima a
baixo. Foi um dia difícil. Não estou esperando seu sorriso encantador ou
seu sorriso sedutor. Mas eu não posso suportar que sua boca permaneça
em uma linha estranhamente sombria. Agora que o fim está chegando, me
sinto entorpecida. Meu coração bate, mas meu peito está vazio.

— Ei, — ele murmura.

Ele passa a mão pelo cabelo escuro e comprido. É uma bagunça,


cobrindo metade de seu rosto áspero. Sua mandíbula, ofuscada por uma
barba por fazer de dois dias, está fechada em uma carranca. Aqueles olhos
prateados procuram ao redor da área evitando os meus. Eu odeio sua
postura rígida. Minhas mãos coçam para estender a mão e confortá-lo. Ele
está passando por um inferno. Isso é tão ruim quanto o que aconteceu com
sua irmã... ou pior. Ele está se culpando. Ele me culpa também? Meu
coração dói por ele e sua filha. Nada que eu possa dizer ou fazer o tornará
melhor.

— Recuperando. — Sua voz rouca e melódica é calma, mas distante.

Seus olhos encontram os meus. A tempestade dentro deles os faz


parecer escuros, mas eles ainda estão muito claros. Tudo em sua expressão
grita rejeição. Acabou.

Eu abaixo meu olhar, encarando minhas unhas recém-pintadas. Um


pouco antes eu estava fazendo manicure com suas filhas, Hannah e Tess.
Pela primeira vez, acreditei que as coisas iam se resolver com elas. Elas
finalmente me aceitaram.

— Há algo que eu possa fazer? — Eu estupidamente ofereço, sabendo


que eles não me querem por perto, nem querem minha ajuda.

O ar fica mais espesso, quase me sufocando enquanto espero que ele


acabe com isso. Meus olhos ainda veem, mas as paredes estão se fechando
e tudo está ficando escuro. Respire, respire. Você precisa ser forte.

Tento muito, mas minha mente está fechando. Talvez seja apenas o
choque dos eventos de hoje. Das melhores notícias do mundo a... tudo
muda, desmorona. Não tenho certeza do que esperar em seguida. A única
coisa que sei é que continuei derramando amor, esperando que um dia
fosse o suficiente. Mas acabou.

Meu coração sabe disso. Terminou. A jornada termina aqui antes


mesmo de começar. Eu vejo suas botas se afastarem de mim e depois
voltarem. Ele faz isso várias vezes até que elas param bem na minha frente.
Meus olhos viajam por suas longas pernas, todo o caminho até encontrar
seu rosto.

— Obrigado por sair antes que as coisas saíssem do controle, — afirma.

Fora de controle é um eufemismo. Alicia, sua ex-esposa, perdeu a


cabeça e estava me culpando por algo que eu não fiz. Eu não matei Tess. Sua
filha não está morta. Tess odeia tanto a ideia de mim que ela... meus pulmões
entram em colapso e eu seguro minhas lágrimas. Dói saber que quase a
perdemos. Mas eu não tenho o direito de chorar, porque ela não é minha.
Três anos amando-a, cuidando dela como se ela fosse minha, não
contam. Eu ainda sou ninguém. Toda essa situação destruiu meu coração
com emoções infinitas: tristeza, dor, culpa, raiva. Eu abaixo minha cabeça
porque a culpa pesa mais do que qualquer outra coisa. Kade quase perdeu
sua filha da mesma maneira que perdeu sua irmã. Meu coração dói por ele,
por Tess e um pouco por Alicia. Um pai nunca deveria ter que enfrentar
esse tipo de dor. Eu levanto minha mão para pegar a dele, mas ele dá
alguns passos para trás. Meus pulmões esvaziam quando vejo o vazio em
seus olhos.

Não, por favor, não faça isso. Somos uma família. Devíamos conversar sobre
isso, consertar. Não nos deixe.

— Eu me importo com você, — ele começa. É um clichê.

Não, eu quero que você diga, você me ama.

Ontem à noite ele disse isso antes que eu adormecesse entre seus braços.

Você me acordou com as mesmas palavras, insistindo que mal podia esperar o
dia em que poderia me chamar de sua esposa. Sra. Hades. Você não pode
simplesmente jogar fora um relacionamento de três anos.

Eu não posso perder meu melhor amigo, meu amante, minha alma
gêmea. Sinto como se meu coração estivesse sendo arrancado do peito.

— Minhas filhas são minha vida. Minha razão de existir. Seu bem-estar
é mais importante para mim do que qualquer coisa no mundo.

Mais do que eu, termino o que ele não consegue dizer. Eu quero gritar
com ele. Gritar até eu ficar roxa, até que ele entenda que eu também sou
importante. Que sou digna de seu amor, que podemos resolver isso como
uma família. Mas podemos realmente? Não adianta lutar contra isso. Suas
filhas nunca me aceitarão. Sua ex sempre vai envenená-las contra mim.

— A última coisa que quero é te machucar ou te deixar. Mas não vejo


outra solução. Tenho que protegê-las, até de você.

Alicia sabe o quanto ele sacrifica por suas duas filhas? Elas sabem?

Não são muitos os pais que colocam os filhos em primeiro lugar. O meu
não é como ele. Lembro das várias vezes que tive que suportar a esposa do
meu pai ou o brinquedo do menino da minha mãe. Meus pais sempre os
colocam antes de mim. Neste momento, o que ele está fazendo, escolhendo
suas filhas em vez de mim, me faz me apaixonar por ele novamente. Meu
coração sangra pelo nosso amor, mas estou feliz por saber que suas filhas
têm um pai fantástico que as ama mais do que tudo.

— Eu as amo.

— E eu agradeço que você tenha sido legal com elas, mas isso não pode
continuar. Espero que você entenda, — Kade diz.

Desde que o conheci, ele nunca falou comigo assim. Como se eu fosse
uma total estranha invadindo seu espaço. Da noite para o dia, eu me tornei
ninguém para Kaden Hades. Meu coração explode dentro do meu peito, os
pedaços se transformando em pó, desaparecendo conforme o vento sopra
pelo quarto. Eu conto minhas respirações, me lembrando de que sou uma
mulher forte. Desde o início, eu estava ciente de que isso era apenas uma
fantasia. Um amor como o que compartilhei com ele só pode durar algum
tempo antes de mudar. Crescendo, aprendi que nada é permanente. Por
que eu acreditei que desta vez seria diferente?

Me recompondo, eu sorrio para ele. — Vou levar alguns dias para


empacotar minhas coisas. — Eu respiro algumas vezes, encontrando
alguma força dentro de mim antes que minhas pernas e meu corpo
desistam. — Esta noite, vou levar o essencial, me deixe saber quando é a
melhor hora para eu passar e empacotar o resto. Além disso, tenho que
encontrar um novo lugar.

— Foda-se, — ele exala, seus ombros largos caem. Kaden está se


separando. Se ao menos ele me deixasse ajudá-lo, mas ele não me quer
aqui. — Sadie... — sua voz some.

Meu corpo estremece quando ouço um som de esmagamento. Seu


punho acertando a parede.

— Estou machucando você, depois que jurei que nunca faria isso... —
Ele passa a mão pelo cabelo escuro, respirando várias vezes. — Sinto muito
por quebrar minha promessa.

— Não sinta. — Eu o afasto indo para o armário enquanto procuro


minha bagagem. — Esta é uma das razões pelas quais te amo, Kade. Você
pendura a lua e as estrelas para elas.

Eu mordo o resto do meu pensamento. Palavras que podem convencê-


lo de que isso poderia funcionar, que podemos tentar desafiar as
probabilidades. Mas talvez eu estivesse apenas adiando o fim por mais
alguns dias ou semanas. Alicia estava certa. Ele tem uma família, você é
apenas uma intrusa de passagem. Ela venceu, não que alguém tenha vencido
depois do que acabou de acontecer. Todos perderam um pedaço de si
mesmos e vai levar algum tempo para nos recuperarmos. Concentrando-
me na tarefa de empacotar, tento ficar quieta. Mas, de repente, me sinto
mal do estômago e corro para o banheiro.

— Oh meu Deus, você está bem?

— Bem. — Eu suspiro, segurando meu estômago enquanto ele esfrega círculos


nas minhas costas com sua grande mão.

— Você foi ao médico?

— Não é nada, você não precisa mais se preocupar comigo. — Eu escovo os


dentes e lavo o rosto antes de ir para o armário.

Empacotar e segurar as lágrimas é como fazer malabarismos com bolas


de fogo. Algo vai cair e eu vou pegar fogo. Fique calma, espere até chegar ao
carro.

— Tess quer se recuperar aqui, em vez de ir para a casa de Alicia, — diz


ele depois que fecho minha segunda bolsa. — Você se importaria se eu
trouxesse alguém para fazer as malas para você?

— Vou te dizer uma coisa, — eu digo caminhando até o banheiro para


pegar meus produtos de higiene pessoal. — Vou fazer as malas e levar
minhas coisas para a floricultura. Assim, estarei fora de seu caminho antes
de amanhã de manhã. Enquanto isso, por que você não volta para o
hospital?
Me deixe enquanto sangro e planejo meu próximo passo. Diga à ele. Você disse
que falaria com ele. Não, não adianta. Pense em Tess.

— Não tenho certeza se vai ajudar, mas conheço alguns conselheiros, —


canalizo uma voz neutra.

O modo de autopreservação que adotei quando era uma garotinha está


totalmente ativado. Ele não saberá o quanto isso está me afetando, que
estou morrendo por dentro. Pela primeira vez, me permiti acreditar que
poderia fazer parte de uma família, em um lugar feliz.

— Sade, — ele chama meu nome. Sua voz é profunda de desejo.

Eu me viro em direção à porta e o vejo encostado no batente, seu rosto


marcado por uma dor terrível. Dói vê-lo agonizando, dividido entre suas
filhas e eu. Ele merece ser amado, ser cuidado. Ele é uma alma tão
perturbada, ainda, o melhor homem que já conheci.

— Kade, — murmuro seu nome, caindo meus ombros e voltando para a


tarefa em mãos.

Nada do que dissermos vai consertar o que aconteceu com Tess, o que
está acontecendo conosco. Acabamos.

— Me peça para ser egoísta, para dizer foda-se tudo, — ele implora.

— Por mais que isso quebre meu coração, eu me recuso a causar


qualquer dano às suas meninas. — Eu balanço minha cabeça, pegando
minha caixa de joias. — Eu não fiz nada, mas você está certo, isso é o
melhor.
— Querida, eu não quero perder você. — Sua voz falha.

Eu coloco minha bolsa no chão e cubro meus olhos com as palmas das
mãos. Eu respiro fundo algumas vezes, me acalmando. Segure as lágrimas,
Sadie. Seja forte.

Seu cheiro de sândalo e tabaco me atinge antes que ele me abraça,


prendendo-me naqueles braços fortes enquanto ele luta contra sua própria
decisão. Apoiando minha cabeça em seu peito, eu escuto seu batimento
cardíaco, deixando-o me acalmar pela última vez.

— Eu nunca quis machucá-la, — eu choro, incapaz de segurar a dor. —


Ou para ela se machucar por minha causa. Eu a amo.

— Você tem sido boa para elas.

— Eu as amo como se fossem minhas.

— Você é o amor da minha vida, — ele murmura perto do meu ouvido.


— Minha metade perfeita. Mas não posso colocar minhas filhas em perigo.

Eu olho para cima, encontrando seu rosto bonito tão perto do meu que
posso sentir sua respiração acariciando meu rosto. Levantando minha mão,
eu acaricio sua mandíbula. Somos o produto de lares desfeitos e de adultos
irresponsáveis. Esse não é o futuro que qualquer um de nós gostaria de dar
aos nossos filhos, ou aos filhos que ele já tem. Nossas mentes se entendem,
assim como nossos corações e almas. Eu reconheço sua luta interna e a
respeito. Kade só quer ser o melhor pai que pode ser para suas filhas que já
têm que lidar com uma mãe horrível.
— Elas ficarão bem porque têm você. Vou embora porque te amo, —
sussurro entrelaçando minhas mãos atrás de seu pescoço e beijando-o
longa e profundamente pela última vez.

É aqui que a história termina. Pela última vez, compartilho a energia da


minha alma com ele. Hoje à noite, eu me abro para ele. Eu me sinto viva.
Eu sou forte o suficiente para ter a chance de amá-lo uma última vez, para
sonhar com o que nunca vai acontecer.
Capítulo Dois

Kade

Seis meses depois

A música bate tão forte nos alto-falantes que meus ossos vibram. Fendas
tristes e raivosas tocam em meu violão, acompanhadas por letras cheias de
dor e arrependimento. Desespero. Culpa. Eu a culpo por não me agarrar,
por me deixar ser o homem mais estúpido do mundo. Eu a perdi e estou
morto por dentro.

— Você me negou seu corpo, — canto, fechando os olhos. Meu anjo.


Minha fada mágica. A mulher que roubou meu coração desde o primeiro
momento em que a vi. Hoje em dia, essa é a única maneira que posso senti-
la, quando estou no palco cantando, só para ela.

A progressão da melodia não para. A bateria está batendo em uma


sequência perversa de batidas, martelando contra meu peito. Assim que o
ritmo aumenta, abro os olhos, corro para a esquerda do palco e continuo a
sangrar as letras.
— Você me privou de todas as coisas que alimentam minha alma. —
Minha voz treme revivendo os últimos momentos com ela.

Você me privou de seu amor.

Implorei que me parasse, não me deixasse nos destruir.

Como faço para viver sem você?

Sem seu cheiro,

Sua magia,

Não me deixe ir,

Segure as memórias

Segure-se no meu amor

Um dia eu vou te encontrar

Aqui ou em outro mundo

Um dia eu vou te encontrar

E quando o fizer, não vou deixar você ir.

Minha guitarra chora junto com meu coração na ausência dela. As


imagens de nossa última noite aparecem em minha mente. Seus longos
cabelos castanhos com mechas roxas e rosa emaranhadas entre minhas
mãos. Meus lábios pressionaram contra sua pele beijada pelo sol. Meu pau
empurrando dentro dela enquanto eu derramava meu amor por ela e me
marcava em sua alma.
— Case-se comigo, Hades! — Alguém da plateia grita, outra professa
seu amor por mim.

Os aplausos e gritos da multidão duram o suficiente para que o suor


passe junto com as lágrimas. Lágrimas do caralho. Quem diabos chora
enquanto trabalha?

Mas esta noite, de todas as noites, sinto como se meu coração tivesse
sido arrancado do meu peito, pela segunda vez. Que estou perdendo-a,
desta vez para sempre. Apesar de meu corpo tremer e pingar de suor,
reúno todas as minhas forças e sorrio para o meu público. O mundo não
precisa saber que estou quebrado e que a música que toco é o meu suporte
de vida.

— Nós amamos você, LA, — eu digo, tocando a última nota da minha


última música. Aquela que compus para ela no dia em que a afastei de
mim. — Vocês foram maravilhosos esta noite.

Eu aceno para Jax, que assume, realizando seu último solo de bateria
enquanto eu caminho em direção aos bastidores. Obrigado porra essa turnê
acabou. Visitando trinta e três cidades. Tocar em trinta e quatro shows em
menos de sessenta dias foi minha salvação para evitar o que teria sido
minha lua de mel. Mas estou física e mentalmente exausto. Como vou
sobreviver quando chegar em casa?

Desde o momento em que conheci Sadie, ela me fez sentir como se eu


não pudesse viver sem ela. Tudo nela era viciante. Uma droga única feita
especialmente para mim. O elixir que salvou minha alma. É difícil me
segurar sem ela. Há uma forte necessidade de estar ao lado dela. Aumenta
a cada segundo que passa. Tenho um desejo que não consigo saciar e sei
que nem mesmo o tipo de droga mais forte o apagaria.

Porra, eu estava quebrado, mas continuei sóbrio. Porém, devo admitir


que, desde que terminamos, fiquei tentado mais do que algumas vezes. E
se eu bebesse meu peso com álcool ou cheirasse cocaína o suficiente para
esquecer meu próprio nome?

Mas meu coração sabe que ela é a única coisa que pode acalmar minha
alma. Enfio a mão no bolso da calça, tocando o anel que ela deixou para
trás depois que terminamos. Eu nunca sigo as regras. Não quando conheci
Sadie ou depois. Eu deveria quebrar o que ela impôs quando terminamos
nosso relacionamento e ligar para ela. Sua voz controlaria os demônios, sua
luz iluminaria a escuridão pelo menos por alguns segundos.

Sinto falta de como me sentia quando ela estava comigo. Sadie Bell me
fez acreditar que todos merecem ser amados. Essa vida poderia ser
diferente para mim. Meu passado não me definiu. Ela me amou com isso e
por causa disso. Eu sinto falta dela. Tudo dela.

Aqueles olhos castanhos escuros comoventes, seus longos cabelos. A


voz doce e melódica que me chamou como uma sereia no meio do oceano,
me completou e me deu esperança. Com ela, Kaden Hades era um homem
normal cujos pecados não importavam. Ela não me julgou pelo meu
passado. Nunca me reivindicou para minha fama ou quis mais do que meu
coração.

— Kade, — Duncan, meu gerente marcha em minha direção.


— Duncan, — eu o cumprimento, agarrando a toalha que ele me
entrega.

— Bis!

— Bis!

O auditório treme enquanto o público bate palmas, bate os pés e


continua exigindo uma última música. A energia deles é incrível, mas eu
simplesmente não posso dar mais a eles. Estou vazio. Porém, eu odeio
deixá-los pendurados. Seu apoio é o que mantém Killing Hades na posição
número um.

— Vamos sair de novo, cara? — Jax dá um tapinha nas minhas costas,


jogando suas baquetas em direção ao sofá velho e surrado.

Soltei um longo suspiro. Quando estou prestes a voltar para o palco,


Duncan estala os dedos.

— Kaden, estou falando com você, — ele repete, exalando asperamente.

Finalmente, prestando atenção ao meu gerente, notei seu rosto pálido e


olhos assustados.

— O que está acontecendo?

— Recebemos uma ligação, — diz ele, seu olhar estudando a área, ele
faz uma pausa, — Kevin, de casa.

Kevin é um amigo meu. Eu o conheci anos atrás, quando Killing Hades


abriu para sua antiga banda, Without A Compass. Todos nos tornamos
amigos e às vezes ainda nos encontramos no estúdio para brincar e fazer
música. Mas por que Kevin ligaria? E qual é a atitude de Duncan. Seu tom
preocupado e longas pausas não caem bem no meu estômago. Ele
geralmente fala sem parar, e eu mal consigo acompanhá-lo.

— Estão todos bem? — Meu pulso começa a bater mais rápido porque
porra, algo deve ter acontecido em casa.

— O que está acontecendo com Kevin?

— Não é sobre ele, mas você. — Ele lambe os lábios. — Não tenho
certeza se isso importa ou não, porque você nunca fala sobre ela. Mas ele
queria que você soubesse.

Meu intestino aperta. — Dela? — Eu levanto uma sobrancelha.

— Você está falando sobre Tess? — Prendo minha respiração esperando


sua resposta.

Há apenas seis meses, minha filha mais velha tentou suicídio. O que é
desta vez? Eu verifico meu relógio, tentando lembrar a diferença de horário
entre LA e... onde ela está hoje? Não me lembro onde elas estão, mas sei
que ela está segura. Ela está na Europa com a mãe.

Ele encolhe um braço. — Bem, eu não saberia, mas isso não é sobre ela.
É sobre…— Ele limpa a garganta. — Sadie.

— Sadie? — Eu repito, prendendo a respiração. — O que aconteceu com


ela?

— Kevin disse que você deveria ir para Seattle o mais rápido possível.

O ar ao meu redor desaparece.


— Ela está bem? — Exijo porque meu instinto me diz que ele está
escondendo algo de mim.

Mas eu não espero que ele responda. Corro pelos bastidores em direção
ao camarim que foi designado para a banda. Uma vez lá, procuro meu
telefone. A tela está com algumas ligações perdidas de Kevin e vários
números de Seattle que não conheço estão registrados no meu telefone. Eu
disco o número de Sadie. Seu correio de voz atende imediatamente.

— Beija-flor, sou eu, Kade. Você pode me ligar? Só preciso saber se você
está bem, — imploro freneticamente. — Esta noite, estive mais infeliz do
que nunca. Há essa porra de dor dentro de mim que está crescendo em um
ritmo assustador. Ajude-me a anestesiá-lo e a tornar tudo melhor. Perdoa-
me, por favor. Podemos resolver isso.

Eu fecho meus olhos e respiro fundo antes de ligar para a floricultura,


mas ela está fechada.

— O que mais você sabe, Duncan? — Eu olho para o teto esperando por
uma resposta, ou para Sadie me ligar dizendo que ela está bem.

— Basta voltar para Seattle.

— Você está escondendo algo, — eu rosno, agarrando sua gravata e


puxando-o para perto de mim. — Você quer me dizer o que você sabe, ou
eu não posso ser responsável por minhas ações.

— Houve um acidente, — diz Duncan, alisando seu terno assim que o


solto. — Ela está em cirurgia, eles não sabem se ela vai sobreviver.
Minha cabeça lateja. Cada célula do meu corpo grita por oxigênio e por
Sadie. Eu sinto que minha cabeça está prestes a explodir. Eu preciso
respirar. Mas eu não posso. Eu começo a cair no nada. Eu caio mais e mais
na escuridão até que ela ameaça me engolir por inteiro.

— Hades. — Duncan me sacode.

— Não, porra não. — Eu suspiro por um pouco de ar e seguro minha


cabeça com as duas mãos enquanto meu mundo inteiro começa a girar fora
de controle.

Meu telefone toca. Eu atendo automaticamente. — Hades.

— Ei, é o Kevin.

— Onde está Sadie?

— No Seattle Medical, — ele confirma minhas suspeitas. — Ela está em


cirurgia. Brynn estava atendendo no pronto-socorro quando ela chegou.
Ela me ligou antes de ir para a cirurgia. Você precisa vir como agora. Eles
precisam de você.

— Estou indo, — digo, procurando por meu gerente. — Se você puder,


diga a Sadie para não me deixar. Duncan, — eu chamo para meu gerente
que está ao telefone. — Me consiga um avião. Tenho que voar para Seattle,
agora.

— Entendi. — Ele me dá o polegar para cima, indo embora.

Demoro apenas alguns minutos para tomar banho. Eu precisava lavar o


suor e a tensão.
— O que está acontecendo? — Jax entra na sala tendo se trocado e
carregando suas coisas.

— Sade está no hospital, — eu o informo, afastando o medo e a angústia


que estão rasgando minhas entranhas.

— Tudo está pronto, Hades, — Duncan diz, entrando na sala. — O carro


está lá fora esperando por você. Vou mandar suas coisas para sua casa.

— Envie isso também, cara, — Jax joga sua mochila em direção a


Duncan e me segue.

Eu olho em volta, me lembrando da última vez que Sadie e eu


estivemos neste estádio. Eu gostaria de poder voltar no tempo.
Capítulo Três

Kade

Dois anos atrás

Eu amei minha vida: pular de uma cidade para outra, de um país para o
outro, tocando todas as noites em um local diferente sem parar. Pelo menos
eu fiz, até Sadie. Esta noite, eu queria trocar o show esgotado por uma
noite em casa com minha namorada.

— Cara, você está de mau humor de novo, — Jax mencionou enquanto


entra no vestiário. — Como sua mulher diria, você esteve mal-humorado o
dia todo.

— Não zombe de Sadie, — eu o avisei.

— Presumo que você ainda não tenha ouvido falar dela?

Ainda sem uma palavra dela, repito na minha cabeça pela milionésima vez
hoje.

Sadie esteve fora de alcance o dia todo. Tentei ligar para ela várias
vezes, mas ela nunca atendeu minhas ligações ou mensagens de texto.
Durante todo o maldito dia, eu me perguntei se eu fiz algo para irritá-la.
Mas ela não era assim. Quando eu a chateio, ela me questiona
imediatamente.

— Awe, ele sente falta de sua florzinha.

Porra, eu odiava quando ele a chamava assim. Em vez de reconhecê-lo,


peguei meu telefone e enviei uma mensagem.

Kade: Ei, Beija Flor, senti sua falta o dia todo. Se eu te chateei, me diga o que
fiz para que eu possa consertar. Se não, me diga que você está bem porque estou
muito preocupado. Eu só quero ouvir sua voz e dizer que te amo.

— Ah, então é por isso que você tem me ligado o dia todo?

Meu pulso acelerou e minha cabeça estalou ao som de sua voz sedosa.

— Você está aqui, — levantei meu olhar e a encontrei.

Assim como a primeira vez que a vi, assim que nossos olhos se
encontraram, todos ao redor desapareceram. Somos apenas nós. Seus olhos
escuros brilharam enquanto eu marchava para encontrá-la. Ela usava um
jeans e uma camiseta da Killing Hades. O mais novo com o logotipo do
beija-flor de nossa última turnê. Meu amuleto de boa sorte estava aqui.

— Você acha que eu perderia seu aniversário, Ursinho Fofo? — Ela


levantou a mão que segurava um cupcake e com a outra acendeu a vela.

— Parabéns para você... — Sadie, meus companheiros de banda e a


equipe cantaram.
Eu não pude acreditar. Ela está aqui comigo. A única pessoa com quem
eu queria estar está bem na minha frente. E se fosse possível, eu a amo
ainda mais.

— Faça um pedido, — ela sussurrou, mordendo o lábio.

Porra, eu queria ser o único mordiscando, provando-a. Este foi o melhor


aniversário do caralho de todos os tempos. Ela foi meu melhor presente. Eu
só queria estar com ela para sempre. Depois que apaguei a vela, ela a
puxou para fora do glacê. Em seguida, a Pequena atrevida espalhou um
pouco em volta da minha boca e nariz.

— Você vai pagar por isso, — brinquei, agarrando-a pela cintura e


puxando-a para mim.

— Feliz aniversário, Rouxinol, — ela murmurou perto da minha boca,


lambendo um pouco da cobertura antes de capturar meu lábio inferior
entre os dentes e puxá-lo.

Eu dei um beijo faminto de seus lábios. Se eu tivesse tempo, eu a levaria


para algum lugar privado e me enterraria dentro dela. Faz tanto tempo;
quase três semanas desde a última vez que a vi.

— Peguem um quarto! — Alguém gritou.

— Se pudéssemos, — Sadie riu com aquela risada profunda e gutural


que me atingiu bem na virilha.

— Seus filhos da puta estão com ciúmes! — Eu gemi.


— Estamos mal-humorados, Sr. Hades? — Ela acariciou meu queixo
com os lábios.

— Não me provoque, pequena Atrevida, — implorei a ela. Eu queria


mais, porra. — Quanto tempo você vai ficar, linda?

— Estarei com você na última etapa da turnê. Hoje à noite, Portland,


Vancouver e depois vamos para casa.

— Você vai ficar bem no ônibus?

Ela sorriu, balançando a cabeça. Achei que sim e não tinha ideia de
como consertar esta noite. Sadie amava minha equipe, e eles a amavam. No
entanto, ela não aguentava muito barulho, e o ônibus estava tudo menos
silencioso.

— Não quero ser puritana, mas seus companheiros de banda são


demais para aguentar por tanto tempo, Kade. Mas, eu tenho tudo sob
controle. Duncan e Jax me ajudaram a reservar aviões, hotéis e até mesmo
um restaurante chique para levá-lo para jantar. — Ela jogou a cabeça para
trás enquanto ria de mim.

— Você está brincando comigo sobre o restaurante chique, não é?

— Claro que estou. — Ela deu um tapinha no meu peito. —Isso seria
uma tortura para você. Eu tenho outros planos. Eles incluem chantilly e...
— Ela disse com uma voz sensual e mordeu o lábio.

Meu pau semiduro se contraiu. Eu teria bolas azuis durante o show.


— Hades, está quase na hora. Os Roadrunners terminaram, eles estão
mudando de palco.

— Está tudo bem, — Sadie segurou meu queixo. — Temos a noite toda e
muito glacê.

— Mas eu preciso de você agora, — eu sussurrei em seu ouvido. — Sua


doce boceta ordenhando meu pau. Estou tão pronto que não demoraria
muito.

— Desculpe, Sr. Hades. Depois da última vez que fomos pegos por Jax,
eu me recuso a fazer sexo nos bastidores. Com ou sem bloqueio.

— Você é uma mulher cruel, Sadie Bell.

— Ainda assim, você me ama.

Pressionei meus lábios contra os dela, beijando-a lentamente. É quase


um beijo casto.

— Onde você vai estar enquanto eu toco? — Mordisquei seu pescoço,


minhas mãos percorrendo seu corpo.

— Nos bastidores, ouvindo você. — Ela empurrou minhas mãos. —


Pare com isso. Juro que valerá a pena esperar quando sairmos daqui.

— É isso, estamos cancelando o show, — brinquei, mas todos olharam


para mim.

— Vamos, filho da puta, — Jax me puxou para longe de Sadie.

— Obrigada, Jax, — Sadie acenou para ele e me soprou um beijo. —


Cante com o coração, Hades.
Caminhamos em direção ao palco, peguei minha guitarra de Esteban,
um dos ajudantes, e esperei a equipe terminar de trocar o equipamento dos
Roadrunners pelo nosso.

— Você sabia que ela estava vindo e não me disse, idiota, — eu finjo
raiva, mas apertei seu ombro. — Obrigado, cara. Te devo.

— Sadie deixa nosso líder feliz, o mínimo que devo fazer é ajudá-la a
mantê-lo na linha. — Ele ri. — Então, estamos seguindo a mesma formação
ou você está adicionando sua usual merda acústica de ‘vou ser fodido
depois do show’ por ela?

Eu sorri para ele e o empurrei em direção ao palco e comecei a tocar


nossa primeira música.
Capítulo Quatro

Kade

Presente

Depois de um voo de quase quatro horas de merda, estou em um


helicóptero a caminho do Seattle Memorial. Sadie vai ficar bem, eu
murmuro, descansando meus braços em minhas coxas. Ela é a pessoa mais
forte que já conheci.

Eu fecho meus olhos e me concentro em seus olhos chocolate derretido.


O sorriso dela. Aquela covinha que aparece no lado esquerdo da boca
quando ela está rindo. Mas a necessidade de anestesiar minha dor fica cada
vez maior. Seja forte. Ela é tudo o que importa, não a porra do desejo, a sede
de uísque que aperta minha garganta conforme os minutos passam.

Já faz muito tempo que a necessidade venceu, mas sempre há o risco de


perder minha sobriedade. A primeira vez que provei o álcool que minha
mãe escondeu debaixo da cama, eu tinha dez anos. Queimou minha língua,
mas meu corpo parecia diferente de tudo que eu havia sentido antes. Como
se minha mente ocupasse um espaço diferente do meu corpo. Eu me sentia
superior, imparável. Isso me deu coragem para superar as surras que o
namorado da minha mãe nos deu. Isso me ajudou nas noites de inverno e
um frio terrível quando ela se esqueceu de pagar a conta de luz. A perda da
minha irmã era mais fácil de suportar quando eu não conseguia lembrar
meu nome. Isso me ajudou naqueles dias em que mal tínhamos comida na
mesa. Isso me ajudou a esquecer o que estava faltando e me aproximou do
meu violão.

O álcool se tornou meu veneno, minha arma e minha saída da vida. A


bebida era minha companheira mais próxima, até que minha ex-mulher a
usou contra mim para levar minhas filhas embora. Isso me deixou sóbrio
por um tempo. Sadie, entretanto, foi ela quem substituiu o desejo de estar
entorpecido pelo prazer de viver. Eu vivi para fazê-la feliz, para desfrutá-
la. O prazer de estar enterrado profundamente dentro dela, no alto de seu
cheiro e sabor, me embriagou. Ela é meu vício. A única droga de que
preciso para sobreviver a esta vida.

As palavras de Duncan, ‘eles não sabem se ela vai sobreviver,’ só


aumentam a necessidade de uma garrafa de bourbon. Preciso de uma
chama líquida queimando minha garganta, deixando minhas entranhas em
chamas enquanto esqueço a porra da minha vida. Pelo menos nas próximas
horas. Mas eu não posso. Não quando Sadie pode precisar de mim. Porra,
eu esfrego meu rosto e pego meu telefone mais uma vez.

Hades: Você descobriu algo novo?

Duncan: Não, ela ainda está em cirurgia.


Liguei para o hospital e fingi ser seu marido, e eles disseram que não
saberão de nada até que ela saia da cirurgia.

— Não podemos divulgar nenhuma informação por telefone, — repetiu


a senhora enquanto eu implorava que ela me contasse como estava.

Em um momento, o helicóptero pousa no heliporto do Seattle


Memorial. Corro em direção à porta, descendo as escadas de dois em dois
degraus. Abro a porta de metal, caminhando em direção ao elevador. O
fedor de produtos químicos queima meu nariz. O cheiro de doença e morte
misturado com antisséptico e as luzes fluorescentes fortes fazem meu
estômago revirar. Eu odeio hospitais.

— Eles disseram que ela está no terceiro andar, — Jax segue atrás de
mim. — Kevin está esperando por nós.

— Vamos de elevador. — Caminho em direção às portas de metal,


pressionando o botão.

— Ela vai ficar bem, — ele me tranquiliza pelo que parece ser a
milionésima vez.

Entro no elevador e me encosto na parede de aço frio. Fecho os olhos,


lamentando os últimos seis meses sem ela, desejando tê-la escolhido. Ela
ficaria bem se eu não a tivesse deixado? Abro os olhos e olho para a minha
mão esquerda, lendo meus dedos. S-A-D-I-E.

Uma palavra, cinco letras. Seu nome tatuado na minha mão. Sua alma
marcada com a minha. Seu coração se fundiu com o meu. Quando chego à
sala de espera, vejo Kevin.
— Como ela está? — Eu pergunto.

— Ainda em cirurgia. — Ele me dá um abraço, dando tapinhas nas


minhas costas. — Vai ficar tudo bem, cara.

— Sabe o que aconteceu?

— Um acidente de carro, — ele explica. — Ela estava fazendo a última


entrega do dia.

— Isso é tudo que você sabe? — Ele encolhe os ombros. — Você a viu?

— Não, mas me siga. — Ele inclina a cabeça e começa a caminhar em


direção ao elevador. — Há alguém que você precisa conhecer.

— Não, eu tenho que ficar aqui, — eu paro, chamando por ele.

— Vá, cara, eu vou ficar aqui, — Jax dá um tapinha nas minhas costas.
— Se houver alguma mudança, eu o chamarei imediatamente.

— Quem eu estou conhecendo?

— Você vai ver. — Ele para bem em frente à unidade da UTIN e toca a
campainha.

Uma enfermeira acena para nós quando a porta é destrancada


automaticamente. Entramos no primeiro conjunto de portas e somos
parados por um segundo conjunto de portas de vidro.

— Coloque um jaleco e uma máscara, — Kevin ordena, apontando para


a pilha de roupas. — Eu estarei na sala de espera com Jax se você precisar
de mim.
Enquanto faço o que ele diz, olho pelo vidro e vejo cinco incubadoras.
Apenas três deles ocupadas por bebês minúsculos com tubos em seus
narizes e corpos. Eu lavo minhas mãos, secando-as bem e entro na sala
escura. Minha pulsação acelera conforme me aproximo dos bebês. Eu ando
mais rápido e fico olhando para a etiqueta na lateral do berço. Bebê Bell.

— Um bebê, — murmuro, incapaz de desviar os olhos da pequena coisa


deitada na minha frente.

Eu fico olhando para ele por vários segundos. Ao contrário das minhas
filhas, este menino é tão pequeno. Seus braços são menores que meu
polegar. Seus olhos estão cobertos por uma minúscula máscara preta. Ele
parece uma boneca com agulhas nos braços frágeis, tubos presos ao nariz.
Eu tenho um garotinho. Eu li a etiqueta mais uma vez. O menino Bell, um
quilo e oitocentos e quarenta e cinco centímetros. Não, ele deveria ser o
menino Hades-Bell. Apenas o bebê Hades, porque Sadie odeia sobrenomes
hifenizados.

— Ele vai ficar bem? — Eu pergunto, querendo abraçá-lo e protegê-lo.

— Esse carinha só precisa ficar na incubadora alguns dias ou semanas


antes de voltar para casa.

Mas como ele poderia quando está sozinho, cercado por máquinas e
pessoas que mal o conhecem. Esse carinha deveria estar com sua mãe.

— Mamãe vai ficar bem, — eu sussurro pegando sua mão.


— Claro, ela vai ficar bem, — diz a enfermeira que está verificando seus
sinais vitais. — Dra. Ward está participando da operação. Ela é uma das
melhores médicas de Seattle.

Eu presto muita atenção à enfermeira e percebo que ela é a pediatra das


minhas filhas. — Desculpe, Dra. Hawkins. Eu não te reconheci.

— Ei, você está bem. Isso é muito para processar. — Ela ajusta os tubos
perto do nariz do bebê. — Mas eu peço que você confie em nós. Ambos
estão em boas mãos. Este anjinho vai ficar bem. Ele saiu nove semanas
antes do esperado, mas ele é forte. Ele é capaz de controlar sua temperatura
corporal. Isso é um grande passo.

Eu toco o berço, desejando abraçá-lo. Meu bebezinho.

— Suas mãos estão lavadas. Você pode tocá-lo, mas tenha cuidado. Sua
pele ainda está sensível.

— Oi, — eu murmuro sentindo sua pele enrugada. O calor de seu corpo


acalma minha alma e fortalece meu coração. Voltando minha atenção para
a Dra. Hawkins, atrevo-me a perguntar. — Você não poderia deixá-lo ficar
dentro de sua mãe por mais algumas semanas?

— Acredite em mim, nós consideramos todas as opções.

— O que você sabe sobre o acidente?

— O outro carro desossou o dela. Ele prendeu a van contra o poste de


luz. Eles tiveram que tirar Sadie do carro. Há costelas quebradas,
hemorragia interna... a placenta separada do útero. Com seus ferimentos...
— Ela suspira. — Para simplificar, tanto o bebê quanto a mamãe teriam
uma chance melhor de sobreviver se o entregássemos mais cedo.

— Como ela está agora? — Eu pergunto na esperança de que ela tenha


mais informações.

— Ainda na sala de cirurgia. Até agora, não há notícias, o que é uma


boa notícia. Como mencionei, a Dra. Ward é uma das melhores cirurgiãs do
país. Ela vai cuidar bem dela. Até que a cirurgia termine, não
descobriremos mais. Na verdade, talvez não saibamos muito por alguns
dias.

— Então vamos esperar?

— Enquanto cuidamos deles. — Ela abaixa a caneta e o gráfico e toca


meu bebê pela última vez. Ela olha para mim. — Ele é perfeito, muito
pequeno, mas logo o alcançará. Eu estou indo para casa.

— Ele precisa de você, — eu digo, meu coração batendo rápido. — Você


não pode deixá-lo.

— Temos uma equipe de enfermeiras observando-o vinte e quatro horas


por dia, — explica a Dra. Hawkins. — Estarei de volta aqui de manhã cedo.

— Obrigado, doutora. — Eu aceno e volto minha atenção para o meu


filho.

— Você vai ficar bem e mamãe também. Vamos ficar bem, — asseguro a
ele.
Deus, eu sei que não temos um relacionamento. Mas, por favor, por favor, não a
tire de mim. Esse carinha precisa de Sadie. Ambos precisamos.
Capítulo Cinco

Kade

Olho para o relógio de parede redondo pela milionésima vez,


examinando o grande ponteiro que parece demorar um minuto a mais a
cada segundo que passa. Eu tiro meu olhar do relógio. A espera está me
matando. Eu nunca fui um homem paciente. Mas desde cedo aprendi a
aguentar e esperar a tempestade acabar, me empurrando para fora dos
escombros. A única notícia positiva que recebi até agora é que meu bebê
vai ficar bem. Aspen, seu pediatra, garantiu-me que, embora tenha nascido
prematuro com nove semanas, ele é saudável. O pequeno ficará na UTI
Neonatal por alguns dias ou semanas. Tudo depende do seu crescimento.

Minha principal preocupação é Sadie. A mulher que me deixou ir sem


lutar. Eu entendo que ela estava pensando sobre a saúde mental de Tess.
Ela sempre colocava as meninas em primeiro lugar, como se fossem suas.
Alguma coisa teria mudado se ela tivesse me contado sobre o bebê?

Eu não posso acreditar, Jax e eu somos os únicos aqui. Kevin foi embora
algumas horas atrás, mas prometeu voltar assim que Sadie saísse da
cirurgia. Onde estão seus pais e seus amigos? Devo ligar para alguém?
Eu sopro um pouco de ar pela boca, fechando os olhos e imaginando
minha mulher. O sorriso brilhante de Sadie. Isso é tudo que importa agora,
Sadie. Pego meu telefone para mandar uma mensagem para Duncan.

Kade: Você conseguiu fazer?

Duncan: Ainda estamos trabalhando com o hospital para conseguir um local


onde Sadie e o bebê possam ficar juntos.

Kade: Bom, certifique-se de que eles tenham o melhor atendimento.

Eu me inclino contra a parede, esperando que alguém saia com uma


atualização. Enquanto eu olho para a parede branca em branco na minha
frente, evitando o relógio, a tensão e a ansiedade continuam crescendo,
apertando meu peito. Eu fico olhando fixamente, minha mente cheia de
vazio e pânico. E se ela não sobreviver?

Então, há nosso bebê. Ele não está pronto para lidar com a vida neste
mundo. Ele é subdesenvolvido e se sua mãe... eu massageio meu esterno,
aliviando a dor. Não pense nisso, ela vai ficar bem.

Limpo minhas mãos suadas nas calças, afastando os pensamentos


negativos da minha mente. Do contrário, o pânico vai me comer vivo.
Começo meus exercícios de respiração para me ajudar a relaxar. Assim que
recupero o batimento cardíaco constante, ouço a familiar batida contínua
de um sapato no chão, e minha pulsação dispara mais uma vez. Movendo
meu olhar para frente, eu localizo uma mulher vestindo uniforme azul,
seus olhos azuis claros me olhando.

— Kade, — ela suspira, batendo em sua prancheta simultaneamente.


A médica remove sua touca cirúrgica azul, liberando sua trança escura.
Eu a reconheço quando ela remove a máscara que cobre a maior parte de
seu rosto. Brynn Ward. Ela é a chefe de cirurgia do Seattle Memorial.

— Brynn? — Dou um passo à frente, olhando para ela. — Como está


Sadie?

— Estável, — ela sussurra a palavra. Ela balança a cabeça. — Ela está


em estado crítico, mas estável. — Seus ombros se curvam. — Paramos a
hemorragia interna. Extraímos seu baço. Ela tem três costelas quebradas,
um braço quebrado e um pulmão perfurado. Além disso, ela bateu a cabeça
contra a janela. Ela tem edema cerebral. — Eu franzo a testa, mas quando
estou prestes a fazer perguntas, ela continua. — Está inchando o cérebro.
Ela está em coma induzido que evita que mais danos cerebrais ocorram
enquanto o inchaço diminui.

Minha boca seca enquanto ouço Brynn. Engolindo em seco, pergunto.


— Ela vai ficar bem?

— Como eu disse...

— Seja honesta comigo. Não me venha com essa bobagem. Eu tenho


que saber se ela vai se recuperar.

— Eu não sei. — Ela respira fundo, olhando para o chão. — Ela é minha
amiga. Eu quero que ela se cure e seja capaz de segurar seu bebê. — Sua
respiração engata. — Mas como sua médica, eu sei que é um jogo de
espera.

— Jogo de espera?
— Fizemos tudo o que pudemos para salvá-la. Mas não posso dizer se
haverá dano permanente ao cérebro até tentarmos acordá-la.

— Danos cerebrais, esse é um termo amplo, não é?

— Sim, o espectro é amplo. Lesões cerebrais são complicadas. — Brynn


aperta os lábios, olhando para o chão por um segundo e depois de volta
para mim. — Também existe a possibilidade de ela não acordar...

Eu tamborilo meus dedos no topo do meu coração enquanto tento


inspirar e expirar enquanto repito suas últimas palavras dentro da minha
cabeça. As últimas palavras que deixaram seus lábios são como punhais
perfurando meu coração. Não consigo compreendê-las, mas elas
continuam saltando na minha cabeça, repetindo como um disco quebrado.
Ela pode nunca acordar. Sinto uma dor no peito, tão forte que não sei se vou
conseguir sobreviver.

— Mas você tem que ter fé, — Brynn continua enxugando o canto do
olho. Sua mão livre alcança meu braço. Ela o aperta de forma
tranquilizadora. — Vamos esperar e ver como seu corpo reage. E enquanto
isso, oramos por um milagre.

Minha mente me implora para anestesiá-lo. Meu coração sangra. Há


uma grande diferença entre não estar ao meu lado e não existir no mundo.

Depois de alguns segundos, encontro minha voz. — Por quanto tempo


você vai manter Sadie em coma?
— Pelo menos uma semana, — afirma ela. — Tudo depende da
gravidade do inchaço e de como ela responde. Ela é forte e jovem. Faremos
o nosso melhor para ajudá-la a se curar.

— Quando eu posso vê-la?

— Eles estão montando um quarto privado na ala esquerda para ela e o


bebê. — Brynn olha em volta. —Para todos os efeitos, vocês dois estão
juntos, — ela sussurra. — Ela vai ficar perto do bebê. Quando ele estiver
melhor, podemos movê-lo com ela.

— Obrigado Brynn, — murmuro, jogando minha cabeça para trás e


fechando os olhos.

— Ela vai ficar bem, — diz Jax enquanto dá um tapinha nas minhas
costas.

✰✰✰✰

O quarto do hospital é tão desprovido de beleza quanto eu de


esperança. Suas paredes são brancas. Não há decorações. O lugar tem um
tom suave de alvejante e o chão é totalmente cinza. Não há janelas. Junto à
porta estão distribuidores de esfoliantes, luvas de borracha, desinfetante
para as mãos e sabonete. Meu coração para ao ver a mulher na cama. Há
uma série de gotas intravenosas, cabos e tubos enganchados em seus
braços e rosto. Ela não se parece em nada com a minha Sade. Seu corpo
pequeno está deitado na cama, sem vida.
O preto obscurece as bordas da minha visão, e a única coisa que posso
ouvir é o meu batimento cardíaco. Minha respiração vem em suspiros rasos
e irregulares. Segundos se passam enquanto olho para Sadie. Seus olhos
estão fechados. O lado esquerdo do rosto está inchado. Existem monitores
em ambos os lados da cama. Um IV à direita conectado a seu pulso. Seu
braço esquerdo está envolto em gesso e elevado. A dor de olhar para ela
queima como fogo.

— Baby, — eu sussurro, caminhando em direção à cama.

Eu me inclino para frente, acariciando seu rosto delicado e machucado.


Beijando sua bochecha de leve, tento encontrar seu perfume característico
de jasmim, gardênia e pêssego. Uma fragrância exclusiva que sua avó deu
a ela quando ela completou dezoito anos, e ela ainda consegue de um
estúdio de fragrâncias exclusivo. É fraco, mas o aroma diminui a dor no
meu peito, entorpecendo-o ligeiramente. Alcançando sua mão direita, eu
entrelaço nossos dedos. Seu pulso está lento, sua respiração fraca, mas eu
me sinto mais perto dela do que há muito tempo.

— Senti sua falta, — murmuro, beijando sua mão. — Eu senti tanto sua
falta que estava ficando difícil respirar. E vendo você aqui...

Eu fecho meus olhos. Lágrimas rolam pelo meu rosto. Estou rasgado
por dentro. Eu gostaria de estar sonhando. Mas tudo que ouço é o som das
máquinas. Não sabendo se nunca a veria novamente, simplesmente
continuo sentindo essa dor terrível no peito. É muito intenso. Eu tenho um
buraco no meu coração.
— Nós temos um filho. Nosso garotinho é lindo. — Eu afasto os fios de
cabelo de seu rosto, limpo meu rosto. — Você tem que acordar e conhecê-
lo. Ele é tão pequeno. Seu quarto fica próximo à UTI Neonatal. Assim que
ele estiver fora do ventilador, talvez possamos movê-lo para cá.

— Kade, — Brynn me chama da porta. — Eles estão preparando o


quarto ao lado para você.

— Eu não preciso de um quarto.

Ela balança a cabeça e sorri. — Você tem que descansar por pelo menos
algumas horas. A equipe estará disponível 24 horas para cuidar de Sadie e
das necessidades do bebê. Kevin está trazendo algumas roupas para você.
Ele quer saber se você precisa de mais alguma coisa.

— Minha guitarra, diga a ele para trazer minha guitarra.

Ao olhar para a pulseira que me deram para me identificar como o pai


do meu filho, penso em todos os vídeos que tenho de Sadie. Ele deveria
ouvir a voz dela.

— Meu laptop e a caixa com os cartões SD que estão ao lado… e a


câmera também. Está no meu armário em cima da prateleira.

— Vamos comprar algumas roupas para o bebê também, — afirma


Brynn enquanto caminha em direção à porta. — Ele só pode usar botinhas
e gorros por enquanto, mas teremos tudo para ele.

— Obrigado por cuidar deles.


— Ei, estou aqui para ajudar o máximo que puder. Eles ficarão bem. Há
um posto de enfermagem ao lado. Eles estarão monitorando ambos 24
horas por dia, 7 dias por semana. Estudos mostram que falar com pessoas
em coma as ajuda a acordar mais cedo. Quando o homenzinho estiver
pronto, você pode segurá-lo, o contato pele a pele os ajuda muito durante
esse período.
Capítulo Seis

Kade

— Ei, homenzinho, você precisa de um nome, — eu digo, enquanto


coloco um par de botinhas azuis em seus pés minúsculos.

Com cuidado para não o machucar, troco seu gorro por um de malha
que Brynn trouxe para ele.

— Mamãe tinha um nome para você? — Eu seguro sua mão por vários
segundos, olhando para este pequeno milagre. Nosso milagre.

Ele é frágil, minúsculo e, ainda assim, parece um presente. O melhor


presente que Sadie poderia ter me dado. Se ao menos ela pudesse vê-lo.

— Quer saber como conheci sua mãe? — Eu puxo uma cadeira para
mais perto do berço e pego sua mão mais uma vez. — Podemos ter que
fazer alguma censura porque as coisas esquentaram depois que eu a cansei.

Meus lábios finalmente sorriem, quando me lembro do dia em que nos


conhecemos.

✰✰✰✰
Três anos atrás

— Voltamos a tocar em cafeterias, — reclamou Jax. — Você não


pensaria que acabamos de chegar de um show com lotação esgotada no
Staples Center em Los Angeles ou que nosso single mais recente esteve no
topo das paradas por dez semanas consecutivas.

— São apenas algumas noites e por uma boa causa. Não seja tão esnobe.
— Encostei o estojo do meu violão na parede. — Pense nisso como a sua
boa ação da década.

Ele deveria estar agradecido. Demoramos muito para estarmos onde


estamos. Killing Hades começou como uma banda de garagem quando
tínhamos dezesseis anos. Quando nos mudamos para Seattle, trabalhamos
duas vezes mais duro e tocamos onde podíamos. Como este café ou o bar
que fica a algumas quadras daqui. Muitos donos de empresas nos deram a
chance de tocar durante os fins de semana para obter alguma exposição.
Por isso, sempre serei grato. Logan, o dono do café, era nosso amigo. Com
medo de que suas vendas caíssem devido à inauguração de um Starbucks a
alguns quarteirões de distância, ele pensou que incluir concertos acústicos
nos fins de semana ajudaria nas vendas.

— Uau! — Jax olhou para a porta. — Eu não diria não para essas gatas.
A loira parece fácil.
Meus olhos se desviaram para sua linha de visão. Duas belas mulheres
entraram no café. A loira sacudiu sua longa cabeleira enquanto tirava a
capa de chuva, ao contrário da segunda que tirou o gorro e o enfiou dentro
do bolso do agasalho de capuz. Então, quando ela tirou o moletom, sua
blusa levantou o suficiente para mostrar um pouco de sua pele beijada pelo
sol.

— Definitivamente vou escolher a loira, — Jax chamou como se


escolhesse um jogador para seu time de softball. — Ou ambas, se quiserem.

— A morena está fora do seu alcance, — eu disse, me concentrando nos


cabos. Nossos ajudantes estavam de férias, mas não precisávamos de ajuda
para configurar alguns microfones e o alto-falante.

Logan designou o canto esquerdo do café para a banda. Ele presumiu


que os clientes ficariam em torno de seus assentos, talvez se sentassem no
chão se ele ficasse sem espaço. Às sete horas, estávamos prontos para tocar.
O lugar estava cheio. Tocamos nossas músicas antigas primeiro, e então Jax
começou a aceitar os pedidos. Duas horas de tocar e conversar com o
público passaram voando no que pareceram apenas alguns minutos. Não é
sempre que podemos estar em um espaço pequeno e tocar como se
estivéssemos com amigos em uma festa.

Ou serenata para uma bela mulher que prendeu minha atenção desde
que coloquei os olhos nela. Ela conhecia a letra de cada música. Enquanto
eu cantava, era como se fosse apenas nós dois sentindo a música e
mantendo o ritmo. Eu ansiava por tocar seu belo rosto. Eu estava morrendo
de vontade de saber o nome dela, ouvir sua voz.
Quando terminei a última música, o encanto se quebrou. Os clientes
começaram a bater palmas, levantar-se e pedir autógrafos e selfies. Tentei
ficar de olho nela, esperando que ela não fosse embora antes de eu falar
com ela, mas depois de uma hora perdi a noção de todos ao meu redor. Eu
tentei o meu melhor para conversar com os fãs, e meu rosto certamente foi
estampado em todo o Instagram e Snapchat.

Mas meu humor mudou quando, pelo canto do olho, a vi caminhando


com um passo suave em minha direção. A mulher que iluminou todo o
lugar quando ela chegou. Ela sorriu com facilidade. Todos ao seu redor se
sentiram compelidos a cumprimentá-la e sorrir de volta. Ela era uma
beleza. E suas curvas deliciosas acordaram meu corpo sonolento. Suas
longas pernas estavam enroladas em uma legging e botas de cano alto.

Eu não queria ser óbvio, mas observei-a enquanto seus quadris


balançavam. Seus passos eram assertivos e seus lábios carnudos
desenharam um belo sorriso. Não foi um flerte, apenas determinado. Ela
era uma mulher com uma missão. Ela sentiu a conexão?

Porra, eu esperava que sim, mas não tinha certeza de como me sentir
sobre ela vir até mim. Com ela, eu queria que tudo fosse diferente. Depois
de quatorze anos no negócio, estava acostumada com groupies se atirando
em mim e oferecendo favores sexuais. Não que eu tivesse aceitado as
ofertas. O que aconteceu com minha ex-mulher me deixou cauteloso.
Minha ex tinha sido uma groupie hardcore, e eu era muito jovem e só me
importava em pegar uma boceta. A piada estava comigo quando soube que
a tinha engravidado. Depois que as coisas terminaram com Alicia, eu
brincava, mas sempre fui cauteloso. Mas essa mulher parecia diferente de
todas as outras com quem eu cruzei. Algo sobre aqueles olhos brilhantes e
cor de uísque dela me disse que eu estava prestes a ter um deleite.

— Oi, — ela me cumprimentou com uma voz sedosa que parecia um


chamado de sereia.

— Ei. — Eu dei um sorriso malicioso e continuei fazendo as malas.

Ela não tinha um telefone para uma selfie ou uma caneta para um
autógrafo. Talvez ela quisesse o mesmo que eu, uma noite de sexo. Aposto
que ela sentiu a conexão também. E por ela, eu quebraria algumas das
minhas regras e a levaria para casa. Minhas filhas passaram o fim de
semana com a mãe. Tínhamos mais de quarenta e oito horas para satisfazer
o desejo repentino que eu sentia por ela.

Eu esperei que ela jogasse alguma cantada. Mas depois de vários


segundos de silêncio, fui eu quem fez a pergunta. — Precisa de uma selfie,
um autógrafo?

— Um encontro, — ela pediu, apertando os lábios. — Bem, nada sério,


mais como uma recuperação.

— Sexo de recuperação? — Meu cérebro congelou a seu pedido, minha


atenção se voltou para a dona daquela voz doce e melódica cujo pedido
estava fazendo meu pau se contorcer.

— Um encontro de recuperação. Não sexo, — ela esclareceu,


enunciando cada palavra. — Tenho certeza de que um homem como você
já reservou um fim de semana inteiro com alguma modelo. Porém, um fim
de semana de pecado pode ajudar a exorcizar o ex...

— Um fim de semana para exorcizar alguém? — Eu ri.

Meus olhos percorreram seu corpo lindo, parando quando encontrei


seus lindos olhos me desafiando.

— Um fim de semana cheio de sexo para te fazer esquecer, — lambi


meus lábios, verificando-a mais uma vez.

Ela era uma daquelas mulheres tão bonitas que não precisava de
maquiagem. Seu cabelo castanho ondulado tinha alguns fios de mel, bordô
e reflexos roxos. Ela parecia jovem, mas madura. E eu a queria tanto. Meu
pau endureceu enquanto eu imaginava como seria tocar sua pele macia.
Estar dentro dela, batendo-a contra a parede enquanto chupa seus seios. Eu
examinei suas feições delicadas. O nariz de botão, os lábios deliciosos e
aqueles olhos castanhos escuros enrugados que sorriam para mim. Se eu a
tivesse por uma noite, faria aqueles olhos arderem de desejo e os
transformaria em chocolate líquido. Ela estaria tremendo e gritando meu
nome, novamente e novamente.

— Querida, eu só preciso de uma vez para fazer você esquecer qualquer


homem que já tocou em você antes de mim.

Ela soltou uma risada completa, tocando seu peito levemente e


balançando a cabeça. O som era mágico, calmante. Como uma melodia
feita especialmente para mim. Naquele momento, sua risada se tornou
minha música. O ritmo que eu queria seguir.
— Oh meu Deus, você tem uma opinião tão elevada de si mesmo, —
disse ela uma vez que ficou sóbria, mas o sorriso permaneceu naquela
linda boca que eu queria devorar. — Mas eu não estou perguntando por
mim. — Ela se virou ligeiramente em direção a sua mesa e apontou para a
Loira. — Ella, minha amiga, é quem precisa de um cara bom de
recuperação do idiota que ela namorou.

— O que te faz pensar que eu concordo? — Eu estreitei meu olhar.

— Não estamos presumindo. — Ela olhou para a amiga, cuja testa


estava pressionada na mesa com os braços cobrindo a cabeça. — Mas não
custa nada perguntar. Quero dizer, como seria incrível dizer que Kaden
Hades exorcizou a vida vulgar de seu sistema.

Esfreguei meu queixo, fingindo pensar sobre a proposta. — O quê tem


pra mim?

— Um encontro com uma mulher gostosa e sexy. Ela é alta, esguia,


peituda e bonita. — Ela mexeu as sobrancelhas. — Se você jogar suas cartas
direito, algo mais pode acontecer.

— E quanto a você? — Eu agarrei sua mão e a beijei, meus lábios


permaneceram pressionados contra sua mão enquanto eu apreciava o calor
criado pelo nosso toque. — Qualquer tipo de ritual satânico que você
gostaria que eu realizasse em você?

Ela tocou o peito levemente e balançou a cabeça. — Não, eu estou bem.


— Inclinando-se para frente, ela sussurrou. — Minha política de namoro
exclui jogadores.
— Apenas jogadores?

— Bem, e babacas nojentos. — Ela me estudou com aqueles olhos


perfeitos. — Mas eu não quero assumir que é um.

— Que bom que você está negando o julgamento. Em nome da


divulgação completa, vou confessar que sou um idiota recuperado. Mas
nunca fui pegajoso.

— Anotado, — ela rabiscou algo no ar. — Mais alguma coisa que


devemos adicionar ao seu arquivo?

Eu ri e peguei meu telefone. — Por que você não me dá seu número?


Podemos discutir seu plano na próxima quinta-feira, durante o jantar.

— Quinta-feira? — Ela franziu o cenho. — Jantar. Este é um simples sim


ou não.

— Há mais coisas em jogo do que você pensa. — Eu verifiquei meu


relógio. — Se eu tivesse tempo, faria agora, mas tenho que ir embora. Qual
é seu número?

Ela mordeu o lábio enquanto seus olhos focavam em mim. A mulher


tentou adivinhar minhas intenções, mas eu tinha uma ótima cara de
pôquer. Ela não conseguia ver o calor queimando dentro de mim, por ela.
Uma faísca acendeu um fogo que criou um desejo de beijá-la.

— Cinco-sete-zero-três-dois-um-um. — Ela recitou. Eu coloquei no meu


telefone e disquei imediatamente.
Eu queria que ela tivesse meu número, para saber que eu estava ligando
para ela. Porque eu não esperaria até quinta-feira para ouvir sua voz
novamente ou para vê-la. Seus olhos se arregalaram quando coloquei o
telefone perto do ouvido.

— Pizza do Gino, o que você gostaria de pedir?

Eu a encarei, balançando minha cabeça. — Pepperoni está bem para


você?

Ela abriu a boca, fechou-a e balançou a cabeça. — O que?

— Bem, suponho que você queira jantar agora, visto que me deu o
número de uma pizzaria.

Ela apertou os lábios, mas seu corpo tremia enquanto ela tentava
engolir a risada.

— Olá, — disse o homem na outra linha.

— Sim, me dê um segundo. Estamos tentando decidir se vamos para os


amantes de carne ou vegetarianos. — Eu continuei servindo-a com meu
melhor sorriso. — Eles estão esperando por você.

— Isso é tão embaraçoso, — ela gemeu, e aquele ruído gutural me


atingiu bem na virilha. — Eu normalmente não faço isso, mas Ella tem uma
grande paixão, e ela acabou de terminar com um verme de sujeira nojento.

— Um filho da puta?

— Sim, isso.
— Bem, pense sobre Ella. Você e eu podemos discutir a situação dela
enquanto comemos pizza.

A bela mulher balançou a cabeça e revirou os olhos. — Esqueça o que


eu perguntei.

Ela se virou, mas eu dei um passo à frente e alcancei seu cotovelo.

— Espere, — eu implorei a ela. Eu não estava pronto para deixá-la ir.


Havia uma necessidade dentro de mim me pedindo para impedi-la. —
Qual o seu nome?

Eu engoli em seco quando o calor de sua pele enviou uma corrente


elétrica pelos meus dedos, chocando meu corpo inteiro. Meu coração bateu
tão forte no meu peito que ameaçou quebrar. Eu lutei contra a necessidade
de puxá-la para mim e beijá-la sem sentido.

— O nome dela é Ella, — ela murmurou. — Ela deu a primeira olhada


em você quando tínhamos quinze anos. Você está na lista de caras que ela
queria se os conhecesse. E ela é minha melhor amiga.

Eu levantei minha mão, correndo meu polegar sobre sua mandíbula e,


em seguida, seus lindos lábios. — Mas eu quero conhecer você, — eu
sussurrei, inclinando-me mais perto dela, pressionando meus lábios tão
perto de sua orelha que eu podia sentir o doce perfume floral dela. — Qual
o seu nome?

— Sadie, — ela murmurou com uma voz gutural. Ela me encarou com
as pálpebras pesadas.
— Sadie, — eu repeti, provando a palavra pela primeira vez e
esperando repeti-la indefinidamente. — Me dê seu número. Eu quero
jantar com você. Me dê um encontro.

Essas palavras não faziam sentido. Eu nunca estive em um encontro.


Nunca. Nem mesmo com minha ex-mulher.

Sadie ficou na ponta dos pés. Ela beijou meu queixo. — Desculpe, eu
não namoro.

Fechei os olhos e gemi quando a mulher mais bonita do mundo se


afastou de mim.

Pensando rápido, tirei um papel da minha mochila. Depois de rabiscar


algumas letras, escrevi meu número. Caminhando em direção a sua mesa,
entreguei a ela. — Por mais adorável que fosse realizar o ritual, eu não
poderia. Não quando meu único objetivo é vê-la novamente.

Dei-lhe um beijo casto na bochecha e fui embora.


Capítulo Sete

Sadie

A atmosfera no café ficou mais densa. Faíscas voaram ao nosso redor


enquanto a barba por fazer de Kaden Hades esfregava contra minha
bochecha e ele me deu um beijo prolongado. Tudo dentro de mim acendeu
quando ele beijou minha mão. Minha pele formigou. Parecia quente e
apertado.

— Ligue para mim, — ele apelou uma última vez usando uma voz baixa
e áspera que derreteu todas as células do meu corpo.

E foi embora, deixando apenas o cheiro de tabaco, café e sândalo para


trás e meu coração batendo forte nas minhas costelas.

— Eu disse que ele não seria o cara de reserva, — Ella cantou as


palavras em um tom de eu te avisei. Ela pegou a nota que Kaden Hades
deixou para mim. — Mas ainda. Ele é meu para sempre. Você prometeu.

Eu tinha quinze anos e era estúpido quando separamos os membros do


Killing Hades. Ela ficou com Kaden e Jax, enquanto eu peguei o tecladista
feio que deixou a banda anos atrás. Essa é a história da minha vida. Ella
sempre escolhia os melhores e eu mantive o que ela não queria. Como
Justin Timberlake, Luke Perry, Mark-Paul Gosselaar e James Van Der Beek.
Van Der Beek não me incomodou, eu preferia Joshua Jackson de qualquer
maneira. Afinal, Pacey foi quem pegou a garota em Dawson's Creek.

— Ele é apenas mais uma celebridade inacessível, — eu a lembrei. —


Mas você sempre pode sonhar.

Poderíamos sonhar.

Eu tinha algo que Ella não tinha. Um beijo. Quente, pecador e sexy
Kaden Hades me beijou. Ele me tocou. Corri meus dedos sobre meu
cotovelo. Minha pele estremeceu quando me lembrei da eletricidade que
percorreu todo o meu corpo quando seus dedos calejados me tocaram.

— Oh, meu Deus do caralho, estou apaixonada, — Ella gritou do topo


de seus pulmões, abraçando o bilhete.

— Leia isso, Sadie. Você tem que ler isso. — Ela me entregou o papel.

Um breve beijo

Um toque abrasador

É apenas um momento

Mas seu cheiro está gravado em minha mente

No meu coração e alma

Me dê mais do que apenas um momento

Eu preciso

Mais mil beijos


E um milhão de momentos com você

Sade, aqui está meu número (206) xxx-xxxx. Me liga.

— Odeio dizer isso, mas você tem que ligar para ele, — ela insistiu.

Ligar para ele? Li o poema várias vezes, depois examinei o papel.


Estava claramente rasgado de um caderno e tinha algumas notas musicais
e rabiscos que eu não conseguia entender. As palavras que escreveu eram
ousadas, artísticas. Quase perfeito. Tanto que eu tinha certeza de que não
significavam nada para ele. Ele era um músico que compôs para muitos
outros artistas. Ele poderia criar uma música tão rápido quanto eu poderia
consertar um arranjo de flores. As palavras eram lindas, mas vazias. Elas
vieram de um homem que sabia como seduzir mulheres e homens de todas
as idades com letras e melodias.

— Ele é um jogador, — concluí e dobrei o papel.

— Sua perda. — Ela o arrancou de mim.

— Bem, você deveria tentar não namorar ninguém agora.

— É aí que você está errada. Depois de cair do cavalo, você tem que
voltar a montar, — Ella me disse com convicção. — Só preciso de alguns
drinks, de um homem gostoso, e minha vida vai voltar ao normal.

A atitude dela não caiu bem no meu estômago. Havia uma pitada de
ciúme persistente ao meu redor. E se ela ligasse para ele? Ela não iria, iria?
Eu tive que confiar nela. Ella era minha amiga mais antiga, minha pessoa.
Aquela que iria até os confins da Terra por mim. Após o divórcio dos meus
pais, eu dormi na casa de Ella durante feriados, fins de semana e verões.
Nada jamais se interpôs entre nós.

Me incomodou que eu não pudesse conceder a seu grande desejo, um


fim de semana com Kaden Hades. Eu gostaria que ele tivesse me deixado
contar a história triste sobre seu último rompimento. Então, novamente,
suas separações sempre foram complicadas.

— Devemos voltar amanhã à noite? — Ella empurrou minha caneca


para mais perto de onde eu estava.

— Eu não saio aos sábados, — eu a lembrei enquanto terminava meu


chá com leite. — Você quer dormir na minha casa?

— Não, tanto quanto eu adoro passar tempo com você. Sua casa é chata.
Preciso de vinho para me perder nos próximos dias. Você não tem álcool
em casa. E você vai acordar ao amanhecer.

Pressionei meus lábios e balancei a cabeça, mordendo minha língua


porque o tom condescendente de Ella me lembrou de minha mãe.
Infelizmente, essa versão adulta de Ella atingiu o alvo. Um dos mais
dolorosos da minha vida. A atitude de minha mãe. Ela estava certa. Seria
melhor não passarmos a noite juntas. Desde que eu tinha nove anos, cuidei
de minha mãe toda vez que um homem a machucava. Primeiro, foi meu
pai, depois sua lista de namorados caloteiros. Eu conhecia o padrão e
odiava.
Ella estava em um estado de dor emocional. Qualquer coisa que eu
dissesse seria descartada. Joe, o ex dela, era muito parecido com meu pai.
Um bastardo trapaceiro e narcisista. Eu amava meu pai, mas não gostava
dele. Ele era um ser humano terrível. Minha mãe não aceitava quem ele era
e o quanto a magoava. Ela escolheu anestesiar sua dor com álcool, pílulas
para dormir e analgésicos. Nenhum desses remédios a fez se sentir melhor
consigo mesma. Depois que papai se divorciou dela, ela teve uma porta
giratória de namorados e maridos. Infelizmente, ela também frequentava
centros de reabilitação todos os anos.

Não foi a primeira vez que lidei com mulheres como Ella e mamãe.
Antes de ter uma floricultura, trabalhei como assistente social em Serviços
de Proteção à Criança. Lidei com muitas mulheres que negligenciaram seus
filhos por causa de seu amor por drogas e álcool. Tentei ajudar o máximo
de mulheres que pude, mas nem todas ficaram limpas ou com filhos. Elas
ansiavam pelo amor, mas não tinham ideia de como amar a si mesmas,
muito menos aos outros.

Enquanto era assistente social, concentrei-me mais nas crianças.


Crianças inocentes que viviam em ambientes tóxicos onde reinava o vício.
Meu foco principal era encontrar um lar adotivo para eles, garantindo que
estivessem seguros. Parte do meu trabalho era conversar com os pais.
Principalmente as mães que perderam a si mesmas e suas vidas. Eu não
julguei as mulheres. Todas elas estiveram lá por um motivo ou outro. Elas
mereciam minha compreensão e apoio. Mas eu me magoei quando elas
desistiram de si mesmas.
Meu coração afundou enquanto eu estudava Ella. Sua maquiagem era
perfeita, seu sorriso falso. Nada a satisfez. Ela ansiava por amor, mas não
conseguia lidar com relacionamentos. Ella não sabia como compartilhar.
Com o passar dos anos, comecei a me preocupar cada vez mais com ela. Eu
odiaria ver Ella se comportando da mesma maneira nos próximos trinta
anos.

— Se precisar de mim, você sabe onde me encontrar, — eu disse.

— Você está julgando.

— Não. — Arrumei meu gorro. — Só estou preocupada com você. Você


teve dificuldade em esquecer seu último namorado, Raphael. Você usou
muita maconha e vodca para sobreviver. Agora é o Joe.

— Bem, eu também me preocupo com você. — Ela deu um tapinha na


bolsa. — Um dos homens mais gostosos vivos deu a você seu número, e
você o rejeitou. Qualquer mulher viria sem calcinha depois de ler esse
poema. Mas você não, porque você não se deixa viver. Não há nada de
errado em beber, festejar e foder.

— Você está certa. Não há nada de errado com nenhum deles, com
moderação. — Eu exalei, massageando minhas têmporas.

Eu amava Ella, mas às vezes chegar até ela era mais trabalhoso do que
domesticar um leão.

— Não tenho álcool em casa porque minha mãe, que é alcoólatra e


viciada em drogas, me visita sem avisar. Mas gosto de um ou dois
coquetéis quando saio. Eu bebo vinho com meu jantar quando é possível.
Para mim, não faz sentido ficar só porque parece certo. Fiz isso durante a
faculdade e alguns anos depois.

— Você fez? — Ela inclinou a cabeça, seu tom condescendente fez meu
sangue ferver. — Porque eu me lembro de você ansiar por Alex como um
cachorrinho doente. Lembra dele?

Alex, murmurei seu nome pela primeira vez em anos. Meu namorado
da faculdade. Bem, não tínhamos uma gravadora. Eu mordi meu lábio
enquanto me lembrava do que pensei ser o caso do século. Um romance
que duraria anos. Meus óculos cor de rosa não me permitiam vê-lo como
ele era. Um universitário imaturo e bonito que dormia pelo campus. Eu
tentei tanto ser aquela que iria mudá-lo.

— Querida, você não pode ditar minha vida. O amor é de graça, — ele dizia
cada vez que eu o confrontava.

Meu mundo desabou cada vez que descobri sobre seu novo caso do
mês. Mas eu sempre o perdoei porque se eu fosse paciente, eu o
consertaria. Depois de alguns anos, terminei com ele, mas isso não me
impediu de namorar caras como ele.

— Lembro-me de Alex e de todos os outros caras com quem saí depois


dele. É exatamente por isso que eu não namoro canalhas, — eu dei a ela um
aceno de cabeça afiado. — Infelizmente, eu misturo sexo com sentimentos.

— Você não é sua mãe, — disse ela, estalando os dedos. — Acorde!


Viva! Pare de ter medo de acabar como ela. Não vou deixar de ser eu só
porque você acha que estou errada. Um dia, vou encontrar o cara certo.
Eu mordi minha língua. Porque ela poderia estar se expondo, mas cada
vez que terminava um relacionamento, demorava meses e várias garrafas
de vodca para consertar seu coração. Nossa discussão estava caminhando
para uma briga. Em qualquer outro momento, eu não me importaria, mas
ela precisava de mim por perto.

— Acho que é melhor se eu for embora, não vamos chegar a lugar


nenhum. — Abaixei e dei-lhe um abraço. — Cuide-se, El.

— Está certo. Fuja da verdade.

Havia alguma verdade em suas palavras? Não. Ela estava sofrendo


tanto que estava tentando me derrubar com ela. Eu adorava Ella. Mas
quando ela se queimava, ela decidia colocar fogo em todos ao seu redor,
para que eles compartilhassem seu inferno. Desta vez, não seria eu.

— Você está errada. Eu apenas escolhi não namorar o cara errado. — Eu


cerrei meus punhos.

Alguns dias, eu a odiava. Se alguém soubesse como me irritar, seria Ella


DeVonaire.

— Ninguém gosta de ficar sozinho. Mas não vou ficar com um playboy
famoso só para esquecer que não tenho ninguém. — Eu bati meu pé
enquanto aponto um dedo trêmulo em direção à porta. — Ele não vai
acalmar a necessidade. Eu quero uma alma gêmea.

— Urgh, aquela merda de alma gêmea de novo.

— O que posso dizer? Acredito que as almas vêm em pares, —


expliquei. — Eu daria qualquer coisa para encontrar a minha.
Apaixonar-me por um cara que tratará meu coração com luvas e meu corpo com
um amor rude. Alguém que não vai cortar minhas entranhas quando ele se afastar.

Eu acariciei meu pescoço, acalmando minha voz. — Porque eles não vão
embora. — Eu acenei minha mão em direção à porta. — Estou muito velha
para beijar sapos, sabendo que eles nunca se tornarão príncipes.

— Sua perda. — Ella pescou o bilhete de Kaden de sua bolsa e o beijou.

— Me dê isso, — eu ordenei a ela. — É meu.

Ela abriu, leu e entregou para mim. — Às vezes você é tão chata.

— Me ligue quando estiver em um lugar melhor, — disse, saindo do


café.
Capítulo Oito

Kade

Jax acendeu o cigarro e me devolveu meu isqueiro. — Está frio, úmido e


tarde.

— Ela tem que sair. — Prendi o cigarro entre os dentes, dando uma
tragada e enchendo os pulmões de fumaça.

Fumar era ruim, mas escolhi o vício em vez de todos os outros vícios.
Isso me ajudou a acalmar meus nervos antes de um show, quando eu
estava estressado, ou apenas esperando.

— Quem está saindo?

— Não se preocupe, você pode ir embora, — sugeri, não querendo lhe


dar uma explicação. Nós dirigíamos em carros separados e ele morava em
Renton, cerca de trinta minutos a oeste da cidade. — Não vai demorar, e
vou para casa depois.

O café estava prestes a fechar em menos de vinte minutos. Ela tinha que
sair logo.
— Hmm, — ele deu uma tragada no cigarro, soltou a fumaça em uma
sequência de círculos e olhou para mim. — A linda morena?

— Você pode me culpar?

— Não, mas você vai mais para o tipo loiro. Fácil, rápido e até logo.

— Há algo sobre Sadie.

— Ela tem um nome, — ele riu. — Ela está fora do seu alcance. Se eu
fosse você, não perderia meu tempo com ela.

— Eu tenho que tentar.

— Ela pegou você, não foi? Nunca pensei que veria o dia em que você
perseguiria alguém.

Eu dei de ombros, incapaz de responder ao seu comentário. Há algo


sobre Sadie que me puxou para ela. Eu queria descobrir o que havia nela
que eu queria tanto. Ninguém nunca me interessou e levou apenas
algumas batidas.

— Boa sorte, Hades. — Ele apagou o cigarro fumado pela metade antes
de jogá-lo na lata de lixo.

Dez minutos depois que Jax saiu, ela saiu do café. Virando-se para a
esquerda, ela caminhou em um ritmo rápido.

— Pare de me seguir. É assustador, — ela parou no sinal vermelho,


esperando o verde para que continuasse caminhando.

— Já passa da meia-noite.
Eu odiava que ela não estivesse pegando um táxi ou caminhando com
outra pessoa. O centro de Seattle não era um lugar seguro depois da meia-
noite. Segui-la não era apenas descobrir mais sobre ela, mas também
garantir que ela chegasse em casa com segurança.

— Interessante. Onze e meia é depois da meia-noite? — Ela me


questionou.

— Não é seguro para você andar sozinha.

— Parece que não estou sozinha. — Ela continuou andando rápido, sem
parar por nada.

Assim que chegamos a um prédio alto de aço, ela parou para procurar
algo dentro da bolsa. Quando ela abriu a porta principal, ela se virou para
mim e sorriu. — Obrigada pela companhia. Da próxima vez, você pode
tentar andar ao meu lado.

— Tente não andar sozinha tão tarde da noite.

— Boa noite, Sr. Hades.

Ela entrou no prédio sem me deixar dizer mais nada. Digitei o endereço
dela no meu telefone e voltei para a minha caminhonete. Amanhã eu
ligaria para Kevin. Ele era um dos meus melhores amigos e tinha sua
própria banda. O cara conhecia pessoas que poderiam me ajudar a rastrear
suas informações. Tive a sensação incômoda de que ela não me ligaria. Mas
eu estava errado. Duas horas depois, chegou uma mensagem.

Desconhecido: Obrigado pelo seu número. Por que você não vem me ver?
Temos a noite toda.
O endereço que ela enviou era diferente do que eu anotei, mas ainda
está na área. Surpreendeu-me que ela mandasse uma mensagem quase às
três da manhã. Ela não parecia o tipo de mulher que chama uma bunda. No
entanto, eu realmente não a conhecia, e depois das bolas azuis que ela me
deu, joguei a cautela ao vento.

— Oh que bom, você está aqui. — Foi a amiga loira de Sadie quem me
cumprimentou ao abrir a porta.

— Você está bêbada, — declarei, minhas narinas dilataram enquanto


respirei fundo.

Eu dei meu número a Sadie, não a amiga dela. Por que ela deu a ela? As
letras que escrevi foram dedicadas a ela. Era algo que eu estava
trabalhando na minha cabeça, mas não terminaria até que soubesse mais
sobre ela. Até nos beijarmos.

— Tonta, — ela soluçou, tirando a camisa. — Onde você me quer,


playboy?

— Isso não está acontecendo. — Eu exalei, me virando pronto para ir


embora.

Porém, eu parei quando ouvi o barulho de vômito seguido por um


baque. Ella estava de joelhos, segurando a barriga e vomitando até a morte.
Eu já estive lá muitas vezes e não tive coragem de deixar ela sozinha.

— Vamos te levar ao banheiro.

— Sim baby, me leve no banheiro, contra a parede. Podemos fazer isso


no chuveiro.
Capítulo Nove

Kade

Carma é uma vadia. Nunca esqueci e sempre me serviu o que eu


merecia. Jax lidou com meu vício por muito tempo. Ele ficava comigo a
noite toda quando eu estava em uma farra. Ele me chamou de idiota
muitas vezes. Me tirou da prisão e de outras situações de merda em que me
meti, sem nunca reclamar.

Depois de passar a noite com Ella, entendi parte do que ele enfrentou
enquanto meu cérebro estava se afogando em álcool. No entanto, nunca
tentei fazer sexo com ele. Ella foi implacável. Ela esfregou seu corpo nu
contra mim algumas vezes.

Ela não foi minha tentação. Era a quantidade de bebida que ela tinha em
casa. Calor percorreu meu corpo a noite toda enquanto eu lutava contra a
necessidade de pegar uma das garrafas de vodca que ela tinha no balcão e
beber tudo. Eu me sentia fraco, meu corpo doía e lutava para manter a
sobriedade. Entre a raiva e a quantidade de álcool que ela possuía, eu
estava prestes a ter uma recaída. Em vez disso, me concentrei em minhas
filhas.
Naquela manhã, Ella flertou um pouco mais, mas pelo menos ela não
estava nua tentando me foder. Para terminar meu dever de babá, levei-a
para tomar um café da manhã farto e gorduroso, já que sua geladeira
estava vazia. Não foi um ato de caridade, mas uma forma de me aproximar
de Sadie. Foi um grande erro. Eu não aguentava a mulher. Ela era exigente,
irritante e autoritária.

— Da próxima vez que sairmos, espero que você me leve a um


restaurante muito melhor.

Minha boca se abriu tão grande quanto meus olhos. Ela era irreal pra
caralho. Um trabalho com o qual eu lidei porque confiei em Sadie com meu
número.

— Não vai haver uma próxima vez. Fiquei com você ontem à noite
porque você estava bêbada demais para ficar sozinha.

Ela apertou os lábios e me observou por vários segundos.

— Bem, então eu tenho que perguntar, você é gay? — Ela finalmente


perguntou enquanto bebia seu Bloody Mary.

— Que porra é essa? — Eu cuspi meu café, rindo dela. A garçonete


apareceu imediatamente e me ajudou a limpar a bagunça. — Você precisa
de ajuda. O que você fez ontem à noite foi perigoso.

— Oh, pelo amor de Deus, você soa exatamente como Sadie.

Com a menção do nome dela, enrijeci. A noite passada aconteceu


porque Sadie entregou meu número para sua amiga. Se ela não queria
nada comigo, ela deveria apenas ter jogado fora.
— Por que sua amiga lhe deu meu número?

Eu tamborilei meus dedos contra a mesa esperando por sua resposta. O


fato de eu ter que lidar com Ella me irritou. Mas eu não fiquei chateado
com a garota de olhos castanhos. Na verdade, enquanto esperava sua
resposta, meus dedos tocaram a melodia que a voz de Sadie inspirou
quando ela falou comigo pela primeira vez.

— Porque eu queria. — Ela encolheu os ombros, mexendo no


guardanapo.

— De alguma forma, eu não acredito em você. — Usei meu dedo


indicador para levantar seu queixo e olhar em seus olhos. — Sadie não deu
a você. — Imaginei.

Seus olhos verdes me evitaram. Ella me lembrou de minha filha de treze


anos, Tess. As vezes em que ela tentou culpar sua irmã mais nova, Hannah,
e eu a peguei. Desafiador, mas cheio de remorso. O distinto beicinho de
uma criança mimada que acreditava que todos deveriam servi-las. Elas
pensaram que nada nem ninguém poderia puni-las.

— Por que você tem meu número?

— Eu memorizei. Salvei no meu telefone depois que ela saiu da


cafeteria.

— Isso é o suficiente para pagar o café da manhã. — Levantei-me da


cadeira e joguei uma nota de cinquenta dólares. — Diga a Sadie que o
número não está mais em serviço. Eu vou chegar até ela.
— Ela nunca vai deixar você foder com ela, — ela gritou. Todo o
restaurante ficou em silêncio. Todos os olhos estavam em mim.

Eu girei e dei a ela um aceno de cabeça afiado. — Bom, porque não é


isso que eu quero dela. Eu quero mais.

As últimas palavras vieram do nada. Mais não fazia parte da minha


vida ou do meu vocabulário. A única vez que eu ousei ter isso, eu vivi em
um pequeno inferno chamado mundo da minha ex-mulher. Mas algo
dentro do meu coração me disse que Sadie não era Alicia. E pela primeira
vez em anos, me atrevi a acreditar que havia algo além de uma noite para
foder, esfregar pele contra pele e mulheres sem nome.

— Você acha que ela é inocente, não é? Bem, ela não é.

— O que é isso? — Eu a desafiei a responder. — Ela é uma prostituta ou


uma santa?

— Ela não fode com lixo como você, — concluiu.

Não prestei atenção às suas palavras dolorosas. Ela não foi a primeira
mulher que me insultou por irritá-la. Ao sair do restaurante, mandei uma
mensagem para Duncan.

Hades: Eu preciso de um novo número.

Duncan: Quantas vezes eu já disse para você manter seu telefone bloqueado?

Hades: Apenas me dê um telefone.

Duncan: Vou levá-lo para sua casa em algumas horas.

Hades: Bom, estou desligando este.


Ella me deu a impressão de uma encrenqueira. Se eu queria ter uma
chance com Sadie, precisava agir rápido. Um telefonema e sua amiga, a
vadia, poderia estragar tudo.

— Você esteve aqui a noite toda? — Uma voz perguntou quando virei
da Pine Street para a 9ª Avenida.

Eu olhei para cima e encontrei Sadie. Meu coração bateu mais rápido e
minhas pernas congelaram ao vê-la. Ela era mais atraente do que eu
lembrava. Ela brilhava e seus olhos cintilavam. A suavidade de sua
expressão mostrava sua beleza interior, e talvez fosse por isso que ela era a
mulher mais linda que já conheci. Sadie mal usava maquiagem. Seu rosto
brilhava. Poderia ser sua pele natural, impecável, bronze. Seus olhos
castanhos como a cor de madeira de mogno eram emoldurados por cílios
longos e encaracolados que pareciam borboletas majestosas quando ela
piscava os olhos. Ela irradiava confiança e ternura. Uma combinação rara.

— Não, mas estou na área desde as três da manhã. Aonde você está
indo tão cedo?

Ela suspirou, checando seu telefone. — Trabalho, mas eu tenho que


fazer um pit stop já que recebi uma mensagem de texto nove-um-um de
Eleanor.

— Eleanor?

— Ella, — ela suspirou. — Tenho certeza de que ela fodeu algum


parasita que destruiu sua casa ou roubou algo. E eu tenho que pausar
minha vida e ir em seu socorro. — Ela revirou os olhos. — Porque ela não
se importa que eu tenha que trabalhar.

— Trabalhar no sábado?

— Sim, eu trabalho seis dias por semana. Sete se você contar o tempo
que gasto aos domingos planejando minha semana, desenhando ou
fazendo papelada, — ela me informou com um sorriso brilhante. — Mas
primeiro eu tenho que ter certeza de que Ella está bem.

— Ela está bem, — eu assegurei a ela.

— Como você saberia?

— Porque eu passei a noite com ela.

— Oh. — Ela apertou a boca, pressionando os lábios em uma linha fina.

— Ela memorizou meu número, quando você mostrou a ela o bilhete, —


eu a acusei, mantendo um tom firme. — Aquelas letras eram apenas para
você, não para mostrar.

— Bem, ela conseguiu seu desejo, — ela gaguejou e chupou o lábio


superior.

O gesto foi simples, mas me excitou. Eu queria arrastar seu corpo contra
o meu e beijar sua boca tentadora lentamente. Profundamente.

— Nada aconteceu entre Ella e eu, — assegurei-lhe, esperando ouvir um


pouco de ciúme em seu tom.

Sem perder tempo, expliquei todos os detalhes do que aconteceu entre


mim e sua melhor amiga.
— Você quer que eu acredite que mesmo quando ela implorou, você
não a tocou? — Ela riu. — Por favor, ela é linda. Todo mundo quer Ella.

Sadie se abraçou e voltou a chupar o lábio. Esse hábito dela estava me


deixando louco. Se essa conversa não fosse necessária, eu iria provocá-la
sobre sua boca e as coisas que eu queria fazer com ela. Aposto que ela era
incrível na cama e tinha gosto de deusa. Mas para ir do ponto A ao ponto F,
eu tive que mostrar a ela que eu não era um idiota ou um jogador.

Droga, o que havia sobre essa mulher que me amarrou em um milhão


de nós? Ou dar a mínima para ela quando ela estava me julgando pela
minha aparência e minha profissão? Ela me olhou como se eu fosse apenas
mais um astro do rock viciado em trapos, com mais tatuagens e piercings
do que bom senso. Normalmente não me importava com pessoas
preconceituosas. Mas eu tinha a impressão de que Sadie não estava me
julgando, apenas sendo cautelosa. Ela era um animal ferido que evitava a
floresta, com medo de que um predador estivesse esperando para atacar.

— Ela não é meu tipo. Essa é apenas a ponta do iceberg. Ela estava
bêbada e eu não fodo com mulheres semiconscientes. Isso é estupro. —
Mostrei a ela um dedo e depois dois. — Em segundo lugar, mesmo que ela
não estivesse bêbada, eu não fodo todas as mulheres disponíveis que se
despem para mim.

Sadie estreitou seu olhar não acreditando em mim.

— Não vou negar que fiz isso quando era jovem e estúpido, —
confessei, mostrando a ela três dedos. — Terceiro, eu tenho duas filhas.
Meu lema é tratar as mulheres com o mesmo respeito com que quero que
minhas filhas sejam tratadas quando crescerem. Por fim, ela é sua amiga, e
eu não arriscaria a pouca chance que tenho de sair com você.

Avancei e agarrei a mão dela, beijando-a levemente. Ela sorriu. Seus


olhos encontraram os meus e nos encaramos por vários segundos.

— Obrigada por cuidar dela. — Ela segurou minha bochecha e a beijou.

A sensação de sua pele incendiou meu corpo inteiro. Eu congelei e não


consegui pensar em uma única palavra. Meu coração bateu forte no meu
peito. Tudo ao meu redor desapareceu. Havia apenas ela e as notas
musicais que nos cercavam. Uma melodia perfeita para a mulher perfeita.
Eu queria amá-la, envolver-me em torno dela e derreter com ela.

— Me dê um encontro, — eu disse quando finalmente me lembrei de


como falar.

Eu segurei sua mão contra minha bochecha, não querendo deixá-la ir.
Meu sangue correu quente enquanto letras poderosas tocavam na minha
cabeça.

Sadie puxou sua mão para trás, abraçando a si mesma. — Sinto muito
por deixá-la ficar com o seu número. Isso foi irresponsável da minha parte.

— E nós? O que aconteceu com nosso encontro?

— Nós? — Ela riu, balançando a cabeça. — Se você está procurando um


amigo, estou por perto. Isso é tudo que posso oferecer a você.

Sua boca disse uma coisa, mas eu juro que seus olhos queriam mais. Ela
omitiu as palavras e suprimiu seus sentimentos, mas eu podia sentir a
atração de sua personalidade magnética aumentando com o passar dos
minutos. E eu vi. Sob aquelas belas pérolas escuras, sua alma tremia de
medo. Tinha que ter cuidado com minhas palavras e com seu coração.

— Amizade? — Limpei minha garganta, tentando acalmar meu pulso.

— Sim podemos ser amigos. E só porque você cuidou de Ella.

Eu cocei minha têmpora com meu dedo indicador. — Veja, isso é algo
que eu não entendo. Você e Ella sendo amigas.

— Nós nos conhecemos desde que tínhamos quatro, talvez cinco. Ela é
minha pessoa.

Mais como se você fosse a pessoa dela. Ela faz o que quer com você, engoli as
palavras. Se eu quisesse estar perto de Sadie, teria que ser bonzinho com
ela.

— Eu poderia ser isso para você. Seu tudo. — Ousei oferecer porque
isso é exatamente o que eu queria ser para ela. E eu queria que ela fosse
meu tudo.

— Meu tudo? — Ela cruzou os braços, arqueando uma sobrancelha. —


Você é gostoso, mas eu não apenas fico. — Ela balançou a cabeça. — Ao
contrário de muitas pessoas, não consigo separar o sexo dos sentimentos.
Estou cansada de me colocar lá fora e ter meu coração despedaçado por
jogadores que têm um menu de mulheres para escolher. E estou dizendo
isso porque você parece um cara sensato, não para alimentar o seu ego.

— Você acha que eu sou gostoso?


— A sério? Isso é tudo que você escutou com o que acabei de dizer, —
disse ela com uma pitada de aborrecimento.

— Você me acha gostoso, — eu sorri

— Urgh, meu ponto é que eu não vou ficar com você.

— Não, você disse que eu sou um cara gostoso e sensato. Mas você
ainda acha que podemos ser amigos.

— Oh, eu não acho que podemos ser nada. Na verdade, aposto que você
nem mesmo tem amigas.

— Eu posso, — eu a desafiei.

— Não há como você não tentar cruzar a linha nos primeiros dias. O
que significa que, mesmo que você aceite minha oferta, seguiremos
caminhos separados quase imediatamente.

Sadie lê as pessoas facilmente. Ela estava certa. Eu era um homem de


trinta e três anos que nunca teve uma única amiga. Essa amizade seria um
teste.

— Eu posso ser amigo de uma mulher, de você. — Eu aceitei porque


parecia que seria a única maneira que ela me deixaria chegar perto dela. —
Mas você pode ser minha amiga?

Eu a desafiei, puxando meu telefone, ligando-o novamente e


começando um e-mail para mim mesmo.
Então, eu entreguei a ela. — Por que você não me dá seu número real e
seu endereço de e-mail? Assim que tiver um novo número, podemos
começar nosso novo relacionamento.

Seria algo novo para mim e seria um desafio. Mas eu poderia tentar
conhecê-la. Algo dentro de mim me disse que seria um tolo se deixasse ela
ir.

— Não há relacionamento entre nós, — disse ela, puxando a carteira da


bolsa. — Mas talvez eu possa convidar você para jantar. Um olho por olho
desde que você cuidou de Ella.

Oh, eu queria o peito, e depois de chupá-los até o êxtase, eu transaria com ela.
Puta merda, essa coisa de amizade ia me dar um caso de bolas azuis, mas eu estava
pronto para o desafio.

— Ligue para mim quando estiver pronto para lucrar com aquele jantar.
— Ela me deu um cartão de visita.

Beija-Flor Arranjos Florais

Sadie Loza-Bell

— Beija-Flor? — Olhei para o cartão azul do pássaro, estudando a


silhueta branca de um pássaro segurando uma flor. — Um nome único
para uma floricultura.

O cartão parecia elegante, delicado e excepcional. Foi a representação


perfeita de quem eu pensei que Sadie era.
— Concordo. É por isso que escolhi, — disse ela, com um sorriso
satisfeito. — Todo mundo usa flores, ou margaridas, o sobrenome e depois
a floricultura.

— Mas por que beija-flor e não outro pássaro?

— Rouxinol estava na corrida, pois eles são meus pássaros favoritos. Seu
canto é lindo. Eu amo música. É uma grande parte de mim, define meu
humor e me acalma. Mas o beija-flor fazia mais sentido, pois só comem
néctar e ajudam a polinizar as flores. A flor é uma gardênia, uma das
minhas favoritas.

— Música, você ama música?

— Você tem audição seletiva, não é? — Ela franziu o cenho.

— Música é minha vida. — Eu tracei um dedo ao longo do meu braço.


— É o que está dentro de mim, correndo em minhas veias. — Aproximei-
me dela e cantarolei uma parte da melodia que tocava em minha cabeça
desde que conversamos pela primeira vez. — Ninguém nunca me inspirou
antes como você. Mal posso esperar para terminar essa música, sua música.

Meus lábios permaneceram perto de sua orelha. Eu queria cantar para


ela por uma eternidade, sobre encontrar a mulher perfeita e cair
profundamente na luxúria à primeira vista. Eu queria passar mais tempo
com ela, ousar experimentar o que eu nunca tive antes na minha vida. Mas
também tinha medo de que essa mulher confirmasse que eu não era capaz
de amar ou que não era digno de amor.

— Está tarde. Eu tenho que abrir a loja.


Com essas palavras ela fugiu, deixando seu doce aroma floral para trás,
junto com muitas questões não resolvidas.
Capítulo Dez

Sadie

Eu fugi antes de fazer algo estúpido. Como beijá-lo ou me apaixonar,


confundindo um monte de falas para o início de uma história de amor.
Algo nele parecia excitante, arriscado e proibido. Como uma nova e
perigosa droga que prometia me levar a algum lugar incrível onde os
sonhos se realizam. O primeiro golpe foi grátis. Uma vez fisgado, preciso
de mais para saciar o desejo.

Eu sabia que quando a grande pressa passasse, eu precisaria mais dele.


O tiro subsequente seria caro. Ele reivindicaria meu coração, então minha
alma, e depois que eu não tivesse mais nada para pagar, ele me descartaria
quebrada e desesperada por mais. Mesmo assim, não levei o aviso a sério.
Havia algo sobre aquele homem. Sua voz baixa e áspera fazia meu coração
bater mais rápido cada vez que ele falava. Seus olhos hipnotizantes
perscrutaram minha alma, tentando possui-la. Quando ele estava perto, eu
podia sentir o calor de seu corpo. Isso me fez querer me deixar queimar
com seu toque.

Nada sobre ele fazia sentido. Minhas reações incomuns a ele me


assustaram, mas eu queria ser acesa e consumida por seu fogo. Era por isso
que havia um calor constante percorrendo meu corpo? Kaden Hades não
teve nenhum efeito sobre mim. Limpei meus braços, limpando o seu toque.
Esse calor foi o constrangimento de Ella de segunda mão. Não minha
imaginação, imaginando como suas mãos e lábios se sentiriam quando eles
finalmente contornassem meu corpo nu.

Porque nada aconteceria entre nós. Ele era sexo, pecado e luxúria. Tudo
que eu queria na cama. Mas ele era amor? Eu duvidei disso. Kaden Hades
parecia um menino mau e falava como um operador suave. Aposto que ele
devorava mulheres com apenas um simples beijo. Só sua proximidade me
fez esquecer de mim mesma. O que aconteceria se eu me permitisse prová-
lo apenas uma vez? Uma dentada.

Para queimar o desejo crescendo profundamente em meu núcleo, corri


em direção à minha loja, ignorando o texto de ‘emergência’ de Ella. Minha
amiga gostava de ser o centro das atenções. Se Kade a rejeitou, ela ficaria
reclamando por meses, talvez anos. Eu não pude acreditar que ela usou o
número. O constrangimento e a culpa me fizeram mal ao estômago.

Assim que cheguei na floricultura, meu telefone tocou. Era Ella. Eu a


enviei para o correio de voz e destranquei a porta da frente. Abaixando,
liguei o sensor e olhei ao redor da loja para me certificar de que não tinha
que estocar as prateleiras. Peguei as pulseiras e colares das bolsas de
veludo que estavam no cofre e coloquei na vitrine.

Minha loja era mais do que um lugar para comprar flores. Era um lugar
onde as pessoas podiam comprar algo especial para seus entes queridos
comemorar, lamentar, dizer o quanto significavam ou qualquer outro dos
muitos motivos para enviar um presente. Vendi cartões comemorativos,
molduras, bichinhos de pelúcia, doces, chocolates, livros e outras
bugigangas para todas as ocasiões: de maridos atenciosos a namorados
esquecidos. Quando os jovens pais vieram comprar flores para as esposas,
eles saíram com presentes também para os filhos.

— Bom dia, Raven, — gritei para minha gerente assistente, que abria a
loja aos sábados, para que eu pudesse me divertir nas noites de sexta-feira.

Nunca atendi às expectativas dela. Ela esperava ouvir histórias sensuais


sobre uma noite maluca com um cara rico como Christian Grey. Mas toda
semana eu a desapontava.

— Bom dia, — ela me cumprimentou do fundo da loja. — Você fez algo


divertido na noite passada?

— Sim. — Pela primeira vez em meses, tive algum tipo de resposta.

Nada muito sexy ou excêntrico. Kaden Hades me deu seu número, ele queria
um encontro e quase dormiu com Ella. Parecia fofoca para um tabloide.

— Fui ao café do Logan. Eles tiveram um concerto acústico.

— Você assistiu a uma apresentação ao vivo de Killing Hades! — Ela


gritou como uma adolescente. — Com quem você dormiu? Kaden ou Jax?

— O que?

— Sim, ela transou com uma estrela do rock! — Ela bateu palmas e
assobiou. O barulho explodiu pela loja silenciosa.
— Os arranjos que temos para entregar estão prontos? — Mudei de
assunto.

— Sim, terminei de carregar a van. Se estiver tudo bem para você, eu


entrego e você pode cuidar dos pedidos que recebermos a partir de...
agora! — Ela respondeu com aquela voz de game show que me deixava
louca. — Então, o que aconteceu durante o show? — Agora aquele tom
soou provocativo. — Você ficou com algum dos membros da banda?

— Não.

— Um estranho?

— Não houve ligação envolvida. Sexo zero.

— Maldita seja, Sadie, — ela protestou. — Você tem que encontrar um


homem para cuidar dessa coceira. Até eu faço sexo.

— Claro que você faz sexo. Você é casada, — eu a lembrei. — Ouvi


dizer que sexo faz parte do contrato de casamento, não é? E você e seu
marido têm uma vida sexual muito ativa. Devo lembrá-la sobre o último
sábado, quando peguei vocês dois fazendo sexo dentro da geladeira? — Eu
fiz um som de engasgo.

Ela não respondeu, graças a Deus. Eu ainda estava tendo pesadelos com
ela e Bill seminus e indo forte e rápido. Minhas pobres flores inocentes
também testemunharam a provação.

— Talvez na próxima sexta-feira eu encontre um cara gostoso e te


mando uma foto, — ofereci. — Por enquanto, vamos trabalhar.
— Sim chefe.

Antes de começar a trabalhar, deixei cair minha bolsa dentro da


pequena sala que chamei de meu escritório. Não havia muito nisso. Uma
escrivaninha, uma cadeira e um arquivo. Tudo que eu precisava estava na
loja. Caminhei em direção ao caixa, onde estava meu computador.

Ao verificar os novos pedidos, minha mão voou em direção à minha


boca e eu engasguei. — Temos um pedido especial!

Bati palmas com entusiasmo quando vi que o cliente não só pediu um


arranjo de jasmim, lilases e peônias, como também um bonsai de gardênia
em flor. Essa ordem me permitiu dar um suspiro de alívio. A loja tinha
apenas um ano e, embora fosse lucrativa, eu ainda estava preocupada com
meu futuro. Antes de juntar as flores e montar o buquê, peguei meu
telefone. Abri o aplicativo de música e escolhi uma das minhas listas de
reprodução. Peguei as flores, algumas plantas e coloquei na mesa de
trabalho. Em seguida, fui até o armário de armazenamento para pegar um
vaso de vidro vintage.

— Essas flores são lindas, — Raven se aproximou.

— Minhas favoritas. — Fui até o estande onde tinha meus bonsais em


exibição.

— Assim que terminar, devemos tirar uma foto para o álbum de


recortes, — comentei, cortando os caules das flores.
Desde que abri a loja, comecei um álbum de recortes com fotos de meus
projetos e anotações que valiam a pena guardar porque as palavras eram
emocionantes, emocionantes ou tocantes ou todas as opções acima.

— Para onde está indo?

— Nenhuma ideia? — Eu estava muito animada com a montagem para


ler os detalhes. Inclinei minha cabeça em direção ao computador. — Por
que você não verifica e imprime o cartão?

Raven caminhou até a recepção e engasgou.

— Oh meu Deus! Esse cara tem uma grande queda por quem está
recebendo. E tenho a sensação de que o destinatário está se esforçando para
conseguir. Talvez o outro cara seja casado e não queira sair do armário.
Dois gays e um amor proibido!

Revirei meus olhos para ela. — Já estamos inventando uma história de


amor?

— Claro, é por isso que amo trabalhar para você, — disse ela,
suspirando enquanto resmungava algo baixinho. — Temos que guardar
uma cópia desta nota, — ela declarou com uma voz melancólica. — Este é
um dos melhores que já tivemos. Juro que se ela ou ele não se apaixonar
por ele, vou me divorciar de Manny e namorar o cara.

— O nome do seu marido é Bill. — Eu revirei meus olhos. Meu corpo


tremia enquanto eu tentava abafar o riso.
— Viu, eu já esqueci dele. Diga ao meu ex para manter nossos filhos
vivos. Estou fugindo para Las Vegas. — Ela se abraçou, movendo as mãos
por todo o corpo e mandando beijos várias vezes.

— Quando você terminar de se acariciar, leia para mim, — eu a


provoquei e continuei trabalhando no arranjo.

— Vou aproveitar esses milhões de momentos de qualquer maneira que


você os compartilhe comigo, e vou dançar qualquer música que seu
coração tocar. Seu novo amigo. Kade — Raven suspirou depois de terminar
de ler a nota.

Meu corpo congelou quando juntei as palavras, milhões de momentos e


o nome, Kade.

— O que você disse? — Eu marchei em direção ao computador para me


certificar de que este Kade não era meu Kade.

Bem, Kade não era meu, mas a coincidência do nome e a semelhança do


bilhete com o que ele me deu ontem à noite era incrível. E meus olhos se
arregalaram quando percebi que as flores estavam indo para Sadie Loza-
Bell. Tanto o arranjo quanto o bonsai. O endereço era minha loja.

Minha pulsação acelerou e meu coração derreteu um pouco. Aquele


maldito homem com suas palavras perfeitas atacou novamente.
Aparentemente, suas travessuras incluíam gestos perfeitos.

— Essas flores são endereçadas a você e... — Ela engasgou ao ler de


quem elas vieram. — Isso é o Kaden Hades?
Raven traçou seu nome várias vezes. Outro exemplo de por que eu
deveria ficar longe dele. Cada mulher no mundo queria um pedaço de
Kaden Hades. Até minha gerente assistente, que tinha um casamento feliz,
tinha uma queda por ele.

— Bela escolha para acabar com a seca, — disse ela.

— Você está demitida, — disse eu, irritada com ela e com Kade.

— Não até que você faça sexo com o Deus-Rock e me dê todos os


detalhes, — ela protestou. — Quero um relatório que inclua tudo, até o
tamanho do pau dele. — Ela mexeu as sobrancelhas. — Há rumores de que
ele tem um dong monstro.

— Dong? — Eu ri. — Pênis, pau, mastro, vara... mas não chame isso de
dong.

— Tanto faz, eu só quero saber todos os detalhes. — Ela se afastou e


voltou carregando minha câmera. — Talvez tire algumas fotos de seu corpo
nu e capaz de lamber.

Tentei ignorá-la e continuar trabalhando. Mas eu não conseguia parar


de imaginar seu corpo tenso. Raven despertou minha curiosidade. Devo
pesquisar o pau de Kaden Hades no Google? Quão grande era? O tamanho
importaria?

— Então, qual é a sua história e meu futuro marido?

— Não há história, — esclareci enquanto olhava para o meu arranjo


perfeito e o pequeno bonsai que queria voltar para casa comigo.
— As flores dizem algo diferente.

— Eles não são meus, — insisti.

— Sadie Loza-Bell, — Raven leu em voz alta. — É você. Não há


nenhuma outra Sadie neste endereço.

— Devo despedir você?

— Não, você precisa de mim, e você precisará de mim mais uma vez
que você tenha uma vida sexual ativa com o homem mais gostoso de
Seattle.

Como faço para devolvê-las? Nunca aceitei presentes de um cara com


quem não planejava namorar. Ao fazer isso, daria a impressão de que algo
mais poderia acontecer. Eu não deveria permitir que nada acontecesse.
Kaden conhecia as palavras, mas eu sabia do que homens como ele eram
capazes. Doeu. Eles não podiam amar. Eu manteria meu plano de apenas
um jantar.

Tudo bem até que uma de suas músicas tocou nos alto-falantes. Sua voz
rouca e letras cheias de angústia nunca deixaram de fazer meu coração
pular. Na noite passada, ouvi-lo cantar pessoalmente foi uma experiência
fora do corpo. Cantamos todas as músicas juntos. Por um momento,
acreditei que ele estava cantando apenas para mim.

Minha pele formigou ao lembrar de seu toque, enquanto eu desejava


que sua boca tivesse traçado minha silhueta nua. Pare, Sadie. Eu queria me
chutar por ter esses pensamentos, e ele por me fazer desejá-lo.
— Então, aquele rosto sonhador não tem nada a ver com o Sr. Deus-
Rock.

— Você não entende, eu não posso...

O sensor apitou. Eu olhei para cima para encontrar Ella entrando na


loja. — O nove-um-um não significa nada para você?

— E eu pensei que este seria um sábado livre de cadelas, — Raven


murmurou baixinho.

— Você não teve uma emergência, Ella, — eu disse exasperadamente.

Todas as borboletas vibrantes que dançavam em meu estômago


desapareceram. Elas estavam com medo da Srta. Ella De Vil. Seu
sobrenome era DeVonaire, mas alguns dias o primeiro representava sua
personalidade perfeitamente. Alguns dias parecia que se eu não estivesse
por perto para impedi-la, ela estaria esfolando cachorrinhos inocentes e
sugando o sangue de crianças inocentes.

— Kaden Hades é gay, — ela anunciou.

— Mesmo? — Eu cruzei meus braços.

— Você tem fotos dele e de um cara ou um vídeo? — Raven a desafiou.


— Porque eu amo assistir a ação de menino com menino.

— Bem, não claro que eu não tenho. — Ela torceu o nariz em desgosto.
— Volte ao trabalho, vadia intrometida.

— Por favor, não comece, Ella, — eu a avisei. — Agora, por que você
está espalhando rumores sobre Kade?
— Eu só sei. — Ela bufou.

Revirei os olhos e olhei para a porta, procurando as palavras certas para


expulsá-la. Ou esperar por Raven, que sempre se divertiu fazendo isso por
mim.

— Tudo bem, não fique com raiva de mim, mas eu passei a noite com
ele, nua. — Ela olhou para mim, então ela acenou com as mãos em volta do
corpo. — Ele se recusou a tocar nisto. Eu estava pronta para ele, eu raspei
em vez de depilar.

Eu engasguei, tocando meus lábios levemente com meus dedos. —


Raspada? — Eu zombei dela.

— Você teve que usar uma navalha? Deus tenha piedade! — Raven
gritou de horror, tocando seu peito levemente com a mão esquerda e
fazendo o sinal da cruz com a direita. — Como nós mortais.

— Por que a empregada está interrompendo nossa conversa?

— Pare com isso. Eu entendo que você está de péssimo humor, mas não
desconte em Rae, — eu a aconselhei com uma voz severa. — Podemos falar
sobre sua última obsessão esta noite.

Quando estiver menos confusa sobre meus próprios problemas com o Sr. Hades.
Bem, eles não são problemas. Mais como dúvidas sobre como reagir às suas
palavras e gestos suaves.

— O que há com você hoje, Sadie? — Ela caminhou até o balcão,


descansando as mãos e inclinando-se para frente. — Você é uma vadia
egoísta. Você pode se concentrar em mim para variar? Isso é importante.
Talvez ele não seja gay. Porém, por que você acha que ele me rejeitou? Eu
acho que ele está jogando duro. — Ela sorriu ligeiramente. — Mas eu vou
pegá-lo. Você apenas tem que me ajudar.

— Em primeiro lugar, eu já disse várias vezes que você não deveria


beber e convidar homens estranhos para sua casa. Você está se colocando
em perigo. — Coloquei minhas mãos em meus quadris. — Em segundo
lugar, não estou ajudando você a conseguir ninguém. Ele não está
interessado. Deixe ele em paz.

— Como você sabe que eu estava bêbada?

— Ele veio me ver, — eu suspirei.

— E ele mandou flores para ela, — Raven marchou para onde eu estava,
segurando o buquê.

Ella estreitou o olhar, colocou as mãos nos quadris e bufou. — Ele é


meu. Temos um acordo. Você prometeu quando tínhamos quinze anos.

Raven riu, segurando o estômago. — Você sempre me racha, Ella. —


Então ela se virou para mim. — Você não tem mais quinze anos, não é?

— Rae, é hora de entrega. — Inclinei minha cabeça em direção à porta


dos fundos.

As duas estavam prestes a ter uma briga de gatos se eu não os


impedisse.
— Tudo bem, estou indo embora, chefe. — Ela encolheu os ombros indo
embora. — Mas se a Garota Plastificada estiver aqui quando eu voltar, não
posso ser responsabilizada por minhas ações.

— Você deveria despedi-la, — Ella bufou.

— Ella, eu tenho trabalho a fazer. Estou feliz que Kade não se


aproveitou de você.

— O filho da puta jura que ele quer você, não eu. — Ela fumegou, seu
rosto ficando vermelho. —Maldito idiota, ele pensa que você é pura e
inocente, — disse ela, amargamente. — Mas eu o acertei direto sobre você e
disse a ele que você não iria foder a bunda dele.

— Você... você o quê? — Minha boca se abriu, eu estava sem palavras.


— Depois de cuidar de você, você o insultou? Você é inacreditável.

— Bem, você não iria transar com ele, iria?

— Isso não é da sua conta.

Cruzei os braços e examinei a floricultura procurando por objetos


brancos e rosa. Esse exercício acalmou minha raiva e ansiedade. Já fazia
muito tempo desde que Ella me irritava, mas ela finalmente conseguiu. Eu
estava farta dela. Minha paciência se esgotou. Em nome da nossa amizade,
decidi fazer uma pausa.

— Fora, — eu ordenei a ela. — Precisamos de algum tempo separadas.


— De novo não, — ela reclamou, caindo de ombros e batendo o pé
como uma garota de cinco anos e não como uma mulher de 28 anos que
era. — Eu preciso de você, Sadie-Wadie-Woo.

Eu marchei até a porta e abri. — Fora.

Ella endireitou as costas, ergueu o queixo e lançou seu pior olhar na


minha direção. — Você vai se arrepender disso, — ela me avisou e saiu.
Capítulo Onze

Sadie

O resto do meu dia de trabalho transcorreu sem problemas. Porém, a


partida de Ella me deixou tremendo de raiva. À medida que ela crescia, sua
atitude egoísta me lembrava cada vez mais de minha mãe. Elas só se
preocupavam consigo mesmas e nunca aprenderam com seus erros.

O último incidente pode ser o começo do fim. Mas eu era fraca. Se ela
aparecesse com um grande pedido de desculpas, eu sabia que a deixaria
voltar para minha vida. Meu terapeuta me perguntava por que eu
continuava repetindo a mesma ação e esperando um resultado diferente.
Quando, na verdade, eu sabia qual seria o resultado.

Porque eu a amava, e deveríamos ver além das imperfeições de nossos


amigos, não é? Minha amizade com Ella era tóxica, principalmente para
mim. Felizmente, depois de uma hora ou mais, me acalmei. Trabalhar com
flores me relaxou. Esta loja era meu sonho, minha terapia e toda minha
vida. Enquanto eu tivesse a loja, eu estava feliz. Eu me senti sozinha?

Olhei em volta e meus olhos pousaram no leite de arroz chai chá com
leite que foi entregue antes para mim. No entanto, outro presente de Kaden
Hades. A mesma bebida que tomei ontem à noite, junto com um bolinho de
cranberry sem glúten, meu favorito. Por alguns minutos, eu me permiti
acreditar que ele era apenas um homem encantador que queria me cortejar.
Até que outra de suas canções começou a tocar nos alto-falantes. As
palavras de Raven tocaram dentro da minha cabeça várias vezes. O que
você tem a perder se sair com ele? Antes que eu pudesse responder à
minha pergunta, o som da campainha tocou.

— Desculpe, estamos fechados, — gritei e peguei minhas chaves.

— Bem, então você deveria virar o seu letreiro e trancar a porta da


frente, — a voz baixa e rouca disse.

Meu coração bateu rápido. Quem poderia aparecer às duas da tarde?


Ninguém chegou tão tarde. Prendi a respiração quando vi um homem alto
virando a placa aberta. Hipnotizada por sua forma masculina perfeita, eu
encarei com minha boca aberta. Braços com cordões, costas largas. Sua
camiseta apertada mostrando os músculos esculpidos de suas costas e, por
um segundo, imaginei que a frente seria tão magra e em forma. Ele se virou
e meu coração deu um pulo quando o reconheci. Seus brilhantes olhos
cinza focados nos meus.

— Por quê você está aqui? — Eu controlei meu tom e ignorei as faíscas
voando ao nosso redor.

— Um amigo não pode simplesmente aparecer para visitar?

Um amigo, sim. Você não deveria estar perto de mim.

— Como posso ajudá-lo, Sr. Hades?


— Senhor Hades? — Ele limpou a garganta olhando ao redor. — Me
chame de Kaden, Kade... não Sr. Hades. Isso é muito formal. Mas eu gosto
do jeito que soa saindo da sua linda boca. — Seus olhos encontraram os
meus e ele sorriu.

Eu revirei meus olhos. Lute contra essas palavras de flerte, Sadie.

— Há algo que eu possa fazer por você? Estou quase fechando a loja.

— Se é isso que você está fazendo, posso ajudá-la.

— Limpeza? — Eu o encarei chocada com a oferta. — Você não tem


gente para isso?

Ele segurou seu estômago enquanto ria. — Você é engraçada.

— Você está me dizendo que faz a limpeza em casa?

— Talvez eu tenha alguém passando semanalmente para ter certeza de


que meu apartamento está impecável. Mas eu faço a maior parte do
trabalho sujo. — Ele me mostrou suas mãos grandes. — Esses bebês sabem
como lidar com a vassoura e a pá de lixo.

O tom sugestivo virou minhas entranhas de cabeça para baixo. Respire,


Sadie. Ele é apenas mais um jogador tentando transar. Eu não pude deixar de
olhar para ele. Meus olhos permaneceram em seu corpo. Era tonificado, em
forma. Linhas duras delineando cada músculo em seu peito. E aqueles
braços fortes... mas foram suas mãos com aqueles dedos longos que me
fizeram querer quebrar algumas regras.

— Está tudo bem?


Meu corpo inteiro estremeceu com sua voz grossa e baixa. Eu queria
que Kaden sussurrasse coisas sujas em meu ouvido, usasse suas mãos para
tocar cada centímetro do meu corpo, para me fazer gozar com seu toque.

O que você está fazendo, Sadie? Estou molhada e pronta para esse pedaço.
Mudei meus olhos em direção a sua virilha, definitivamente havia um
pacote ali. Mas quão grande era? Pare! Fechei os olhos, me esbofeteei
mentalmente e respirei por tempo suficiente para controlar o desejo.

— Então, espero que você não se importe em varrer. — Fui até o


armário do zelador para pegar a vassoura. — Você sabe como usar isso?

— Sim. Eu digo Accio Firebolt, e ele vai voar, certo?

— E o cara acha que ele é engraçado. — Eu torci minha boca mordendo


a risada. — Por que você não começa pela frente? O aspirador de pó está
montado nessa parede. Basta varrer o lixo para lá, e vai sugar. Eu vou
esfregar bem atrás de você.

Ele me saudou e sem hesitar começou a trabalhar. Demoramos metade


do tempo que normalmente levaria para arrumar o lugar. Peguei minhas
coisas, liguei o alarme e saímos pela entrada dos fundos.

— Onde estão as flores que te enviei? — Ele olhou para minhas mãos.

Eu sorri. — Raven, minha gerente assistente, as entregou em minha


casa.

— Você gostou delas?

— Sim, eu gostei, — confessei.


Eu os adorei e era grata a ele porque ninguém nunca me mandou flores.
Ou qualquer coisa nesse sentido. Esse cara havia estudado o livro sobre
como ir para a batalha e conquistar. Ele era bom, mas eu não baixaria
minha guarda.

— Obrigada por enviá-las. — Eu me abracei, evitando aqueles olhos


penetrantes.

Esse olhar me hipnotizou. Olhar para eles era como olhar para um lago
congelado mágico que tinha um fogo azul dentro. Eu queria me perder
neles. Minha lógica venceu o desejo, no entanto. Eu sabia o que aconteceu
depois que o fogo me consumiu. Eu não sobreviveria.

— Você não deveria tê-las enviado. Elas são caras. — Eu disse,


inclinando minha cabeça em direção à minha casa. — Agradeço a visita e
todos os presentes. Tenha um bom dia.

Comecei a me afastar.

— Quando foi a última vez que alguém lhe enviou flores? — Sua voz
áspera deslizou pela minha espinha, disparando uma carga de eletricidade
em todo o meu corpo.

Eu estremeci e parei no meio do caminho. Quando me virei, colidi com


uma forte parede de músculos e minhas narinas foram atingidas por seu
cheiro de sândalo e tabaco. Suas mãos capturaram meus braços, firmando
meu corpo. Eu estiquei meu pescoço. Ele dobrou o seu. Nossos narizes
quase se tocaram, e se eu esticasse meu pescoço mais um centímetro, eu
finalmente sentiria o gosto dele.
— Muito tempo atrás? — Eu menti. Ninguém nunca tinha feito isso
antes.

— Sua sobrancelha está se contraindo, — ele sorriu. — Você está


nervosa ou chateada? Não tenho certeza, mas aqueles olhos calorosos estão
sorrindo. Aposto que você não fica com raiva facilmente.

— O que te faz pensar que eu não posso ficar brava?

— Você pode, mas é contra a sua natureza.

— Minha natureza?

— Você é feita de luz do sol, arco-íris e felicidade. — Ele acariciou meu


queixo com as costas do dedo, seu outro braço me segurando firme contra
ele. — Sua luz brilhante é um ímã para minha escuridão.

Eu duvidava que minha maquiagem incluísse tudo isso, mas sua


escuridão me chamava. Eu queria chegar dentro de sua alma e evaporar a
dor inegável que ele carregava com ele.

Que ideia ruim, Sadie. Quantos homens você já tentou ajudar que te
abandonaram, te deixando sozinha e com o coração partido? Mas nenhum deles me
mandou flores, me ajudou a limpar minha loja ou me segurou como se eu fosse
preciosa.

— Então, quando foi a última vez que alguém lhe mandou flores?

Eu balancei minha cabeça, querendo fugir dele, mas eu não conseguia


me mover. Esses olhos me hipnotizaram. Eu estava à sua mercê.

— Ninguém nunca me enviou nada.


— Você merece recebê-las todos os dias, — assegurou.

— Por que você diria isso?

— Você parece o tipo de pessoa que cuida de todos e não pede nada em
troca. Duvido que você tenha tempo para cuidar de si mesma, — ele disse,
afastando uma mecha de cabelo do meu rosto.

Um arrepio percorreu meu corpo. Sua voz, suas palavras e aqueles


braços fortes e seguros me fizeram desejá-lo como meu refúgio.

— Quais são seus planos para o resto de hoje, amiga?

Seus olhos de quarto e sua voz rouca fizeram os cabelos da minha nuca
se arrepiarem. Eu estava perdida em Kaden Hades, e a parte assustadora
era que queria permanecer lá. Eu dei um passo para trás, deixando seu
abraço. Em um instante, uma onda de frio percorreu meu corpo, perdendo
seu aperto protetor. Eu me abracei, esfregando meus braços para me
aquecer, mas não era a mesma coisa.

— Hmm. — Bati no queixo pensando nas coisas que eu poderia fazer


para evitar ir para casa e ele partir. — Estou indo ao supermercado
comprar comida. Talvez a livraria. Há uma loja de presentes que quero
verificar e que tem algumas joias que quero levar.

— E o show de hoje à noite, — acrescentou.

— Estou pulando. — Eu me virei e retomei a caminhada em direção à


loja. — A próxima vez que eu sair de casa será na segunda de manhã.
Tenha um bom descanso do seu dia, — eu disse, me afastando.
Capítulo Doze

Sadie

— Ou podemos passar mais tempo juntos. — Sua voz estava perto, seu
calor quase queimando minha pele.

Ignore-o, continue andando. Mas é tão difícil. Ele me seguiu até a loja de
presentes.

— Estamos espionando? — Ele se aproximou, tão perto que pude sentir


o calor de seu corpo.

— Não. Tentando descobrir de onde vêm essas belezas?

Toquei um lindo colar roxo com um pingente de borboleta.

— Criações Owl? — Ele leu a placa. — Por que você não vende isso?
Não que eu entenda por que você vende tantas coisas em uma floricultura.

— Eles são de algum designer exclusivo. As lojas que os vendem nunca


revelam muitas informações. Não há site ou telefone por trás disso.

Peguei uma pulseira amarela e azul-petróleo com um pingente de


pássaro. Era lindo, mas quase duzentos dólares. Quanto de lucro eles
poderiam estar tendo?
— Parece muito com o seu cartão de visita.

— Isso é o que eu estava pensando. É lindo. — Eu coloquei de volta,


mas Kaden pegou e foi para o caixa.

Eu o observei de longe, enquanto ele flertava com a caixa. Uma parte de


mim queria impedi-lo e sentiu ciúme. A outra parte estava curiosa sobre
essa troca. Ele estava tentando arrancar alguma informação dela?
Pacientemente, esperei até vê-la entregando-lhe uma pequena bolsa. Ele
pagou em dinheiro.

— Aproveite, — ele disse e me entregou a sacolinha.

— Eu não posso aceitar isso, mas ela disse de onde eles são?

— Ela disse que são exclusivos, que o dono escolhe a quem vende a
mercadoria.

— Isso nunca vai acontecer, nunca em um milhão de anos. — Eu fiz


uma careta, cruzando os braços para que ele não pudesse me dar a
sacolinha de presente que estava carregando.

— Por que não? — Ele puxou seu telefone.

— Quais são as chances de o artista pensar em mim? Eu tenho uma


floricultura.

— Sempre existe uma possibilidade. — Ele bateu no telefone e piscou


para mim. — No entanto, certifique-se de estar em sua loja na próxima
semana. Para o caso de alguém conhecer o artista. — Ele piscou para mim
novamente.
— Você é um homem estranho, Sr. Hades.

— Então, para onde vamos?

— Você está indo para casa. Eu estou indo ao supermercado.

Continuei descendo a rua até o mercado e peguei uma cesta de compras


da pilha. Mas Kaden, que parecia estar entediado e precisando me seguir,
tirou de mim.

— Algum plano para hoje? — Eu perguntei enquanto escolhia produtos.

— Até agora, apenas compras de supermercado seguidas pela livraria.


— Ele pegou minha mão e colocou a pulseira por cima.

— Parece perfeito. — Kaden olhou para meus lábios. — Você tem sorte
de estarmos em público.

Eu encarei seu rosto sem palavras. Ele me comprou uma pulseira. Mas
eu estreitei meu olhar. — Por que eu tenho sorte?

— Porque eu estaria beijando você pra caralho se estivéssemos


sozinhos.

— Você não beija amigos. — Peguei um fiapo imaginário do meu suéter.

— O que acontece se eu fizer?

— Você será banido para sempre.

— Isso é áspero.

— Não, é realista. — Peguei duas caixas de leite de arroz.

— O leite é uma preferência? — Ele perguntou franzindo o nariz.


— Não, eu sou alérgica a laticínios, soja e amendoim. É por isso que o
café onde você tocou é o meu favorito. Eles recebem seus doces de uma
padaria antialérgica.

— Que tal sorvete?

— Alérgica a laticínios, — eu repeti e peguei um saco de mirtilo


congelados.

— Sorvete?

— Só se não houver vestígios de laticínios.

— Chocolate?

— Às vezes posso comer chocolate amargo, mas não é meu favorito. —


Eu franzi meu nariz.

— Então eu tenho que cancelar os morangos com cobertura de chocolate


para segunda-feira.

— Pare de me mandar coisas, — eu disse quando paramos no balcão da


delicatessen.

— Isso é impossível. Eu quero compensar o último... — Ele começou a


contar com os dedos. — Quantos anos você tem?

— Quantos anos você acha que eu tenho? — Eu o encarei, chupando


meu lábio inferior.

— Você parece jovem, mas não tão jovem. — Ele me olhou com
desconfiança. — Vinte e poucos anos?
— Talvez, — eu dei de ombros.

— Digamos que você começou a namorar aos dezesseis anos, portanto,


entre nove e doze anos que eu preciso compensar, — respondeu ele.

— Por que você acha que comecei a namorar aos dezesseis anos?

— Suponho, já que essa é a idade que minhas filhas podem começar a


namorar.

— Impressionante. Um pai com cronogramas. — Eu me virei quando


meu número foi chamado.

— O que posso fazer por você, senhora?

— Vou querer duzentas gramas do que pedir. Preciso de bacon de peru,


carne enlatada, presunto defumado e pastrami.

— Você pode nos dar quinhentas gramas em vez de duzentas, por


favor? — Kaden pediu.

O atendente acenou com a cabeça e saiu.

— Todo mundo faz tudo o que você diz?

— Às vezes sim, outras vezes querem me expulsar dos estabelecimentos


porque não gostam da minha aparência.

— Eu não me importo se você acha que pode mandar em mim. Você


não pode mudar minha lista. Eu não como muita carne deliciosa.

— Mas eu como por dois ou três. Eu sou um homem em crescimento,


você sabe.
— Você não está comendo na minha casa, — eu disse, olhando para ele.

— Veremos sobre isso. — Ele se afastou em direção à padaria.

Ele voltou com uma baguete e vários pastéis. Biscoitos para o caso de
ele querer durante o café da noite. Quem ele pensa que é?

— Nós, Sr. Hades? — Eu levantei uma sobrancelha enquanto


caminhávamos para o caixa automático. — Você tem que voltar para a
primeira série e aprender os pronomes.

— Pronomes?

— Eu. — Eu apontei para mim. — Você. — Toquei seu peito levemente.


— Não há nós.

— Ainda, — ele disse e começou a empacotar as compras enquanto eu


as examinava.

Fingi raiva porque até agora tinha gostado da companhia dele. Nossa
interação era tão confortável. A familiaridade entre nós me assustou e me
excitou. Eu odiava ter gostado tanto de sua amizade. Nunca me diverti
tanto fechando uma floricultura ou indo ao supermercado. Assim que
terminei, procurei minha carteira, mas ele já havia inserido o cartão de
crédito no leitor. Antes que ele pudesse concluir a transação, cancelei e
substituí seu cartão pelo meu.

— Você não está pagando minhas compras.

— Eu adicionei coisas que não estavam na sua lista, — argumentou.

— Bem, da próxima vez você faz sua própria viagem e paga por tudo.
— Você é teimosa, não é? — Ele sorriu.

Ele se virou, curvando-se para pegar as sacolas. Minha boca se abriu


ligeiramente quando sua camiseta puxou, dando-me um vislumbre de seu
estômago musculoso. Meus olhos se ergueram e olharam ao nosso redor.
Todos estavam admirando Kaden como se ele estivesse no palco. Algo
sobre esse cara cativou todas as pessoas em sua proximidade. O simples
ato de se virar, afastar o cabelo comprido do rosto e pegar as sacolas foi
sexy. Sua presença grandiosa, sua confiança e determinação o tornavam
atraente e desejado. Ou talvez fosse outra coisa. Eu não tinha ideia de como
descrevê-lo corretamente, mas ele chamou a atenção de todos para ele.

— Eu posso levar isso.

— Você pagou, eu carrego. — Sua lógica não fazia sentido, mas eu


ainda estava babando muito com a ideia de seu abdômen para lutar contra
ele. — Desta forma, você pode navegar livremente pela livraria.

— Acho que vou pular isso.

— Sempre podemos ir mais tarde, — ele sugeriu.

Não, você tem que sair. Não me lembro por que não quero você por perto, mas
ainda tenho algumas células cerebrais funcionais que continuam me lembrando de
que você é perigoso. A loja não ficava longe da minha casa. Quando
chegamos, me arrependi de não ter comprado uma garrafa de vinho ou
cerveja para oferecer a ele. Convidá-lo para um drink seria o mínimo que
eu poderia fazer por ele. Eu descobriria algo. Talvez eu deva espremer
umas laranjas. Eu comecei a rir alto quando me lembrei do comentário de
Raven sobre o grande pau de Kaden e me perguntei se suas bolas eram tão
grandes quanto laranjas.

Controle-se, Sadie. Você precisa transar logo. Já fazia muito tempo desde a
última vez que fiz sexo. Ultimamente, eu estava gozando com os
vibradores que Raven me deu no meu aniversário de 27 anos, enquanto
assistia a um vídeo rápido e sujo no Tumblr. Por mais excitada que eu
estivesse, decidi chutar Kaden para fora e cuidar de mim mesma com o
chuveiro.

— Você pode deixar os sacos em cima da bancada da cozinha. — Eu


abri a porta.

— São estas as flores que te enviei? — Ele apontou para o arranjo em


cima da mesa.

— Sim, obrigada novamente, por enviá-las.

— O prazer foi meu. — Ele se aproximou de mim, levantando meu


queixo.

Nossos olhares se encontraram por alguns segundos. Minha pele


começou a queimar sob o calor de seu olhar lascivo. — Você está cruzando
os limites.

— Eu não ousaria. — Ele quebrou o contato visual e se afastou. — Mas


eu tenho que saber uma coisa.

— O que?
— Você diria que eu entreguei a primeira vez perfeita? — Seus olhos
enrugaram quando seu sorriso se alargou. — Porque eu planejo dar a você
o melhor primeiro e último momento de sua vida.

Minhas bochechas esquentaram com aquele comentário, e todos os


pensamentos lógicos desapareceram. Fiquei de pé, olhando, deslumbrada
com o duplo sentido de suas palavras.

— Onde está a pequena árvore?

— Essa é uma ótima pergunta.

Raven tinha as chaves do meu apartamento para emergências. Ou


quando perdi minhas chaves na floricultura. Eu examinei a área da sala de
jantar e entrei em meu estúdio. Estava bem no meio da mesa.

— Sala legal, - Kaden estava bem atrás de mim. — É como um recanto


de leitura?

Entrei na sala e ele me seguiu. — É onde eu desenho os arranjos de


casamento.

Ele examinou minhas estantes de livros e tirou um. — Então, há um


diploma universitário para o que você faz. Possuir uma loja de flores? —
Ele sorriu, pegando um dos livros de botânica da minha avó.

— Isso não é um diploma, — eu ri e cobri minha boca porque eu não era


o tipo de mulher que ria. — Na verdade, há projeto paisagístico e vários
graus de botânica. Mas nada que seja especificamente para administrar
uma floricultura.
— Eu estava brincando, mas isso é legal. Qual você estudou?

— Nenhum, — eu disse, tirando o livro dele. — Mas minha avó era


botânica e me ensinou tudo o que sei sobre plantas. Passamos muito tempo
em seu jardim plantando sementes, podando roseiras... eu já conhecia as
flores silvestres quando tinha cinco anos.

Eu não tinha certeza se ele estava me ouvindo, já que continuou


folheando meus livros sem me reconhecer. Se ele estava procurando um
thriller ou alguma ficção científica, eu não tinha em minha coleção. Minhas
estantes estavam cheias de livros e biografias. Ao contrário de muitos, eu
só leio livros de não ficção.

— Ajudando sem doer, Debate, — ele leu em voz alta. — Estatísticas


para assistentes sociais, pesquisa e comportamento para um serviço social
eficaz. — Ele franziu a testa tocando meus antigos livros e materiais de
leitura da faculdade e da minha outra vida. — Como eu disse, você se
preocupa com os outros. — Ele se virou e cruzou os braços para me
examinar. — Aposto que você era uma das poucas boas no sistema. — Ele
segurou meu rosto e olhou nos meus olhos.

— Qual sistema?

— De acordo com seus livros, você é uma assistente social. — Foi uma
declaração, não uma pergunta. — Aposto que você saiu porque percebeu
que o sistema estava corrompido, não foi?

— Você estaria errado. Aceito que o sistema não é perfeito, — fiz uma
pausa, estudando-o.
Como ele soube? Isso é parte da escuridão que cerca sua alma? Ele
perdeu seus pais, ou eles o perderam porque... qual é a sua história, Kaden
Hades?

— Nada é perfeito, mas gostaria de pensar que é melhor do que era


quando eu era pequena, — defendi o que sabia. Minha verdade. —Gostaria
de ter mais recursos, — continuei. — Às vezes não tínhamos pais adotivos
suficientes e nosso orçamento era muito pequeno.

Houve momentos em que tive que usar meu próprio dinheiro para
comprar roupas para as crianças que nos procuravam.

— Você acredita nisso? — Ele curvou sua sobrancelha grossa,


inclinando a cabeça para o lado. — Porque aposto que ainda existem
centenas, senão milhares de crianças abandonadas ou abusadas em casa.

— Esse é um assunto complicado. Alguns pais sabem como esconder


seus erros. — Eu exalei em frustração. — Como tudo que envolve
humanos, você não pode ajudar muito. Alguns dias trabalhei duas vezes
mais sem fazer nenhum progresso.

Eu afundei meus ombros, olhando para o piso de madeira. — Muitos


adultos só se preocupam com eles mesmos, seus vícios... nada mais
importa, desde que recebam sua dose e um cheque do governo.

Minha mente viajou para o último caso que trabalhei, aquele que eu
queria esquecer.
— É por isso que você desistiu? — Sua voz estava alta, com raiva. — Por
que você simplesmente não pegou as crianças e as colocou em um
ambiente seguro?
Capítulo Treze

Sadie

Suas palavras foram como um soco no estômago. Eu fiz tanto, como ele
ousa me julgar?

— Eu fiz isso! — Eu não conseguia controlar minha voz. Ele estava me


acusando. — Duas vezes. — Mostrei a ele dois dedos, então rolei minha
manga, mostrando meu braço esquerdo. — Eu mal consegui sair de lá.

— O que aconteceu? — Ele engasgou e acariciou a cicatriz de dez


centímetros de comprimento.

Meu batimento cardíaco falhou quando ele o encheu de beijos.

— Ela era viciada em metanfetamina. Seu marido era cafetão e


espancador de mulheres. As crianças viveram em um bom lar adotivo por
alguns anos. Uma parte de mim queria mantê-los lá para sempre. A outra
parte, a que estava ajudando a mãe, queria a família reunida. Ela trabalhou
duro para ficar sóbria, conseguiu um emprego. O governo forneceu
habitação e seguro.

— Então, você apenas devolveu os filhos a ela e foi embora?


— Claro que não. Eu pessoalmente não os entreguei. E não
abandonamos apenas as crianças. Meu departamento continuou a verificá-
la. Garantimos que ela mantivesse seu emprego, permanecesse limpa e não
negligenciasse as crianças. Nunca lhe disse nada sobre o ex-marido porque
ele estava fora de cena. Bem, presumimos que depois da surra que ele deu
nela, ela não o aceitaria de volta.

— Você realmente acredita nisso?

— Eu queria confiar nela, — minha voz se elevou.

— Você deveria ter feito mais.

— Você não acha que eu fiz? Usei meu tempo e dinheiro para ficar de
olho neles. Eu paguei os vizinhos para me manter atualizada. — Eu andei
pela sala, me acalmando.

— Mas eu aposto que no minuto em que o filho da puta valsou de volta


em sua vida, ela abriu a porra da porta, a porra das pernas, e cheirou tudo
o que ele deu a ela, — ele rosnou.

Ele estava me culpando pelo que aconteceu? Como se essa fosse sua
própria história.

— E você não fez nada.

Ele estava me culpando.

— No momento em que soube que um cara estava na casa deles, estava


pronta para garantir a segurança das crianças, — me defendi.
— A porra do sistema não mudou. — Ele jogou as mãos para o alto,
olhando para mim.

— Você pode odiar o sistema, mas não a mim. Naquela noite, dirigi até
o outro lado da cidade para verificar as crianças, pronta para ligar para
meu supervisor para que pudéssemos resgatar eles se algo estivesse errado.
Eu nunca esperei vê-lo, — eu pausei, tomando um pouco de ar. Mostrando
meu caso antes de julgar. — Havia uma jaqueta de homem no sofá, mas
também havia algo errado com ela. Eu vi. Os olhos vidrados. Então, eu a
confrontei. ‘você quer que levemos seus filhos embora?’ Perguntei a ela,
tremendo de raiva. Então, eu finalmente percebi. Ela não respondeu. Seus
membros tremeram. ‘você está chapada?’ Exigi saber, mas ela olhou para o
armário de casacos. Peguei meu telefone e liguei para meu chefe, pedindo-
lhe que chamasse a polícia para que eles pudessem pegar as crianças. Foi
quando o cara saltou do armário. ‘Sua vadia’ gritou ele me empurrando
contra o sofá. ‘Você não vai separar minha família. Vou matar você.’ Ele
tinha uma faca. Eu me cobri com meu braço...

Eu desabei, enquanto o medo rastejava por meu corpo. Lá estava eu,


deitada no sofá de um estranho, cobrindo meu corpo com os braços e
rezando para que não fosse o fim. Passaram-se mais de dois anos, mas
conforme eu contava a história, a ferida emocional se abriu novamente.

— Eu tentei tanto.

— Está tudo bem, Sade. — Kaden me pegou em seus braços, me


pressionando com força contra ele. Me protegendo. — Você está segura
comigo.
— Eu ouvi o tiro. De repente, ele estava em cima de mim. Seu rosto está
sangrando. — Esfreguei meu rosto, lembrando do cheiro de cobre e
pólvora. — E-Ela atirou nele.

Fechei os olhos, mas tudo que pude ver foi o sangue. Seu sangue, meu
sangue. Eu o empurrei, ele caiu no chão e eu a vi. Ela apontou a arma para
mim, gritando que eu tinha arruinado a vida dela. Foi por minha causa que
ela teve que matá-lo. Ela preferia morrer do que ir para a prisão.

Cuide das crianças, ela disse. E então... ela apontou a arma para si mesma.
Suas últimas palavras antes de puxar o gatilho me assombraram. Sua
cabeça explodiu, sangue espirrou por toda parte, e eu não pude fazer nada
para impedi-la.

— Eu queria que ela tivesse uma vida melhor, — chorei. — Mas ela
escolheu segui-lo. Ela se matou.

Kade me pressionou contra ele murmurando palavras suaves, me


garantindo que eu estava bem, que estava com ele, que enquanto ele me
tivesse ninguém me faria mal.

— Onde estavam as crianças?

— Nos vizinhos, assistindo TV porque não tinham uma. Foi ideia


minha. Eu estava pronta para chamar a polícia se encontrasse algo
suspeito. Só não sabia que ela estava chapada ou que as coisas iam virar...
antes de puxar o gatilho, ela me pediu para cuidar de seus filhos. Mas eu
não consegui, — eu solucei.
Meu corpo tremia de medo. Ela poderia ter me matado, e eu só estava
tentando ajudar.

— Depois daquele dia, não pude mais voltar ao trabalho.

— Você está segura. Você está comigo. O que você fez foi corajoso e
muito perigoso, — ele disse suavemente. — Ei, nada vai acontecer com
você, — ele repetiu, enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto. —
Deixe sair. Não guarde nada dentro.

Suas palavras e o conforto de seus braços apagaram a dor que eu


carregava comigo. Falei sobre o incidente com três terapeutas diferentes.
Mas ninguém me segurou e me deixou chorar e me disse que tudo ficaria
bem.

— Desculpe, — eu me desculpei quando percebi que sua camisa estava


encharcada.

— Eu sinto muito por ser um idiota com você.

— Você fazia parte do sistema, não era?

Ele encolheu os ombros em resposta.

— Não quero te incomodar ou aborrecer com minhas histórias


estúpidas.

— Ei, elas não são estúpidas, — disse ele com uma voz concisa.

— Estou feliz que você confiou em mim. É para isso que servem os
amigos, certo? — Eu balancei a cabeça em resposta à sua pergunta. — Faz
sentido que você desistiu, mas por que decidiu abrir a floricultura?
— Papai me pediu para mudar de carreira, argumentando que eu nunca
estaria segura. Ele achou que eu deveria voltar para a escola. — Suspirei,
indo para o meu quarto e procurando uma das minhas camisetas longas. —
Ele se ofereceu para pagar a faculdade. Ele está sempre pensando em uma
solução. Ele nunca para, para cuidar das feridas. Honestamente, eu não
planejava voltar ao trabalho. Eu não conseguia nem pensar além do dia
seguinte, muito menos o que faria com meu futuro. Antes de parar, tirei
uma folga enquanto tentava superar o trauma. Eu estava de licença
administrativa remunerada e o seguro deles cobria minha saúde mental.
Todas as noites eu tinha pesadelos. Às vezes ela atirava em mim em todos
os lugares, e eu jorrava sangue. Outros ele me bateu... e em alguns, eu
nunca consegui sair viva.

Eu fechei minha boca, percebendo que estava falando demais para um


homem que eu mal conhecia.

— Mas isso não responde por que uma floricultura.

— Paciência não é a sua força, é?

— Estou curioso.

— Embora meu pai e eu não tenhamos um ótimo relacionamento, foi ele


quem ficou ao meu lado. Ele me levou para sua casa. Enquanto morei com
ele, passei muito tempo em seu quintal. Criei um jardim e mudei os
canteiros de flores com frequência. Isso me acalmou mais do que conversar
com os terapeutas. Ocorreu-me que talvez pudesse voltar para a escola e
estudar arquitetura paisagística. Mas então me lembrei que uma vez vovó
me disse que seu sonho era abrir uma floricultura. Ela queria entregar
alegria, parabéns, simpatia e felicidade junto com um largo sorriso. Assim
que fiquei forte o suficiente para sair da casa do meu pai, pedi a ele que me
ajudasse a abrir a loja.

Fui até o banheiro e joguei água fria no rosto.

— Você entrega tudo isso? Achei que seu negócio fosse flores. — Ele
continuou nossa conversa mesmo quando eu estava fora de vista.

— Seu negócio é fazer as pessoas sentirem por meio de suas melodias e


letras, não apenas tocando música, — retruquei em voz alta para garantir
que ele pudesse me ouvir.

— Nunca pensei sobre isso, mas acho que você está certa. Embora seu
trabalho pareça mais legal do que o meu.

— Se você tiver tempo livre, você deve se juntar a mim. É bom para o
seu coração. — Eu inclinei meu rosto contra a parede, tentando encontrar
meu equilíbrio.

— Você é boa para o meu coração.

Apertei meus lábios quando percebi o que tinha feito. Convidei para
voltar para mais um dia na vida de Sadie. Livrar-se dele iria demorar mais
do que eu imaginava.

— Chega de falar sobre mim, — eu disse em voz alta. Encontrei-o


sentado na minha cama, olhando para mim com tanta ternura que quase
derreti.
— Depois de tudo o que aconteceu com você, você ainda irradia muita
luz.

— Você está cego. — Abri meu aparador e tirei uma das minhas
camisetas extragrandes favoritas. — Não há luz ao meu redor. Aqui,
troque.

— Acho que você é uma fã. — Ele pegou a camiseta, sorrindo ao ler o
nome da banda. — Killing Hades. Não, você é um fã incondicional. Este é
de doze, talvez treze anos atrás.

— Talvez, apenas talvez, eu tenha seguido sua banda por alguns anos.
Sua música não é tão ruim.

Ele tirou a camisa, mostrando seu pacote de oito e aquele v que me


excitou. Eu queria correr as pontas dos meus dedos sobre suas cristas. Mas
saí do transe assim que a camiseta que ofereci a ele cobriu sua pele.

— O que você quer fazer? — Ele verificou a hora. — Temos algumas


horas antes de eu ter que estar no café.

A coisa mais inteligente a dizer seria: vá para casa, tenho coisas para
fazer. Mas eu me sentia vulnerável e não queria que ele fosse embora
ainda.

— Podemos assistir a um filme ou jogar um jogo de tabuleiro, — me


peguei dizendo sem hesitação.

— Jogo de tabuleiro? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Gosto de um


bom desafio. O que você tem?
Fui até a cozinha para guardar as compras. — Os jogos estão no meu
estúdio. Terceira estante na parte inferior.

Assim que terminei de guardar tudo e suas coisas dentro de uma sacola
reutilizável, caminhei em direção à sala de estar onde ele estava tirando a
mesa de centro.

— Quer alguma coisa para beber?

— O que você tem?

— Receio que apenas leite de arroz, água e suco. Desculpe, não temos
álcool neste estabelecimento, — tentei brincar, imaginando que um cara
como ele pensaria que eu era uma idiota.

Ele já sabia muito sobre mim. Eu não tive que contar a ele sobre minha
mãe.

— Bem, isso é uma coisa boa, já que sou um alcoólatra.

Ele me encarou por vários segundos. Talvez ele estivesse esperando


minha reação.

— Recuperando? — Ousei perguntar. Ele acenou com a cabeça uma vez.


— Mamãe acabou de sair da reabilitação alguns meses atrás. Como ela me
visita com frequência, me certifico de que não há nada que ela possa tomar,
por engano.

— Estou limpo há sete anos, — confessou ele, pegando seu telefone e


me mostrando uma foto de duas lindas garotas. A mais velha tinha cabelos
ruivos e olhos castanhos claros. A segunda tinha seu cabelo castanho
escuro e os mesmos olhos de sua irmã. Elas eram adoráveis. — Faço porque
quero fazer parte da vida delas.

Meu coração quase explodiu com suas palavras. Eu conheci muitos


homens e mulheres com vícios, e poucos colocaram seus filhos antes do
vício. Eu entendi que é uma doença, algo que eles tiveram durante toda a
vida. Mas alguns optaram por melhorar e seguir o tratamento, enquanto
outros não conseguiram se conter.

— Eu deveria sair? — Ele olhou para mim e depois para a porta.

— Por quê? Quero dizer, se você quiser.

— Eu não quero, mas o seu silêncio está me fazendo pensar que você
quer.

— Não, só estou pensando. Eu conheci muitas pessoas e lidei com


tantos casos que envolviam pais abandonando seus filhos, mães se
preocupando apenas com sua próxima dose... ou ambos usando drogas e
colocando seus filhos em perigo. Poucos pais colocam seus filhos em
primeiro lugar.

— Meu pai se divorciou quando eu tinha seis anos e, depois, minha mãe
teve uma porta giratória de homens. Ela sempre estava bêbada e me
negligenciava. Ninguém, nem mesmo meu pai, percebeu porque ela sabia
como esconder. Se ela perdesse a custódia de mim, ela perderia o cheque
mensal que meu pai dava a ela para pensão alimentícia. Papai não gostava
de criança. Ele estava muito ocupado com outras mulheres e seus negócios.
— Dei de ombros.
— Você é uma estrela do rock que poderia estar mais envolvida em sua
carreira e seus fãs. Não sei muito sobre o estilo de vida, mas tenho certeza
de que você está cercado pela tentação. Ainda assim, você está limpo.

— Meus motivos podem mudar sua mente. No começo, esse não era
meu objetivo. Era apenas ter certeza de que minha ex não traria perigo para
as meninas.

— Perigo?

— Depois que nos divorciamos, minha ex começou a trazer outros caras


para casa. Lutei com ela pela custódia, mas ser um bêbado e viciado em
analgésicos me fez perder, minhas filhas. O juiz concedeu-lhe a custódia
total até eu me limpar. Eu não poderia deixá-la vencer.

— Você deu um passo para a recuperação e sua motivação eram suas


filhas.

— Era culpa e medo. Desta vez, tive o poder de impedi-la.

— Dela?

— Minha mãe.

— Estou muito confusa, retroceda e me explique como um está


relacionado ao outro?

— Alicia, minha ex-mulher, se comportava muito como minha mãe.

— O que aconteceu? — Fui até onde ele estava sentado e me juntei a ele,
segurando sua mão.
— Papai foi embora quando eu tinha um ano. — Sua atenção estava
voltada para a mesa de centro. — Ele nos deixou por uma mulher muito
mais jovem, minha irmã explicou quando eu era mais velho. Mamãe não
conseguia manter um emprego porque gostava mais de bebida e drogas do
que de acordar cedo e trabalhar. Os homens que ela trouxe para casa
pagaram por seu vício em álcool e drogas também. Ela era linda, tinha um
corpo lindo e sabia como explorá-lo.

Ele ficou quieto, respirando fundo várias vezes.

— Ei, está tudo bem. Você não precisa compartilhar, mas este é um
lugar seguro. Eu estou segura.

— Os homens se sentiram no direito, e mamãe permitiu que eles


fizessem mais do que ela oferecia. Uma vez, um deles tentou tocar minha
irmã. Ele me bateu porque eu a defendi. Depois disso, minha irmã e eu
dormimos com a porta trancada. Mas isso não os impediu quando estavam
muito bêbados e queriam bater em qualquer um por perto. Mamãe não se
importava muito com nossa segurança. Alguns deles bateram em nós três
depois de transar com ela. Eu tinha apenas dez anos quando comecei a
beber para esquecer a merda que estava acontecendo em casa.

Meu coração se partiu pelo garotinho. Eu queria levá-lo comigo e


mantê-lo seguro. Ele continuou me dizendo que alguns invernos fazia mais
frio dentro de casa do que fora. Ela mal trouxe comida para a mesa.

— Em algum momento, seu rosto e corpo começaram a mudar. Ela ficou


feia. Poucos homens a achavam atraente. Quando minha irmã fez dezesseis
anos... — Ele cobriu o rosto com as duas mãos, apoiando-as nas coxas.
Desenhei círculos suaves em suas costas.

— Você pode parar a qualquer momento.

— Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, eu juro. — Ele bateu


em seu rosto. — Como eu não sabia o que eles estavam fazendo com ela?

— Não é sua culpa, — eu disse a ele, virando seu torso em minha


direção e abraçando-o. — Você era uma criança.

— Mas eu a ouvi chorar à noite. Ela me disse que estava tudo bem. Dois
meses depois, ela se matou e o serviço social me tirou de casa. Ela deixou
uma carta descrevendo o que mamãe estava fazendo. Ela estava com medo
de que eu fosse o próximo.

— Você está seguro.

— Mas ela morreu. Hannah morreu por minha causa.

— Não, Hannah morreu porque sua mãe a forçou a fazer coisas. Ela
morreu porque não havia adultos para cuidar dela. Você era uma criança.

— Mamãe foi para a cadeia por dez anos. Ela foi acusada de exploração
infantil, pornografia infantil, ela estava vendendo fotos nossas nus. Posse
de drogas e perigo para crianças. Eu não tinha ideia de que ela estava
fazendo tudo isso.

— E o que aconteceu com você? — Eu não pude deixar de beijar seu


ombro e abraçá-lo com mais força.
Eu sofria pelo garoto que temia por sua segurança. Eles tiraram sua
inocência, sua irmã amorosa.

— O sistema, — ele suspirou. — Mas eu era uma criança problemática,


comecei a beber as coisas da mamãe e, quando fui levado, já era tarde
demais. Todas as noites eu roubava a bebida de seus armários. Uma vez eu
assaltei uma loja de bebidas.

— Ninguém te ajudou?

Ele se endireitou e me olhou nos olhos. — Você não estava lá. Nem todo
mundo é como você.

Eu não tinha ideia se isso era uma fala ou um elogio, mas me senti
vulnerável. — Você não me conhece. Eu falhei muitas vezes. — Controlei
meu tom porque não queria perder nossa conexão.

— Ainda assim, eu sei que você teria me ajudado, me salvado de mim


mesmo. — Eu corro a mão pelo seu cabelo, é surpreendentemente macio.
Ele parecia tão forte, mas a escuridão que viveu o fez se sentir impotente.

Esse cara não tinha um plano de jogo. Ele tinha um coração ferido e
muito amor para dar. Surpreendeu-me que, por mais quebrado que ele
estivesse, pudesse ser tão aberto e vulnerável. Ele era assim com todo
mundo? A idiota romântica dentro de mim queria amá-lo, curá-lo. Mas
essa parte de mim morreu há muito tempo, e a astuta em mim sabia que eu
não tinha nada para dar a ele.
— Não quero chover no seu desfile, mas quando você tinha treze anos,
eu tinha apenas sete. Não havia muito que eu pudesse ter feito. O que
aconteceu com você?

— Acabei em um lar para grupos. Até então, eu tinha conhecido Jax e


começamos nossa banda. Nós nos mudamos para Seattle quando
completamos dezoito anos.

— De onde você é?

— Eu cresci no sul da Califórnia, mas poucos sabem disso. Minha mãe


pode ou não morar lá. Nunca mais voltei, o que me torna um filho e ser
humano horrível.

— Não importa.

— Você não me conhece, — ele jogou minhas próprias palavras de volta


para mim.

— Não, não conheço, mas deixe-me dizer, Sr. Hades, depois de ouvir
tudo isso, eu sei que você é um bom pai, um homem forte. E você deve
estar orgulhoso de si mesmo.

— Nah, sobriedade é algo que todos deveriam fazer. Como eu disse, só


quero ter certeza de que minha ex não traz lixo para casa. Que quem quer
que ela namore está seguro para as meninas. Para que eu possa tirá-las dela
se eu acreditar que ela não está cuidando delas. Não quero que Tess ou
Hannah passem pelas coisas que minha irmã, Hannah, e eu passamos.
— Você deu o nome de sua irmã à sua filha, — toquei meu peito,
comovida por este homem que amava suas filhas sem medo. — Com ou
sem culpa, você é um pai maravilhoso, Sr. Hades.

Ele balançou sua cabeça.

— Quantos anos elas tem?

— Hannah tem oito, quase nove. Tess acabou de fazer treze anos.

— Uma adolescente? Uau, essa é uma idade difícil.

— Ela é difícil. Na verdade, sua amiga Ella me lembrou minha Tess.


Elas gostam de ter tudo e não compartilhar nada. Mas Hannah, ela é doce.

— Como o pai dela?

— Você acha que eu sou um doce?

— Eu acho que você se esconde muito atrás dessa fachada de homem


sexy e raivoso.

Ele piscou para mim, balançando a cabeça. — Venha comigo esta noite?

— Por mais que eu adorasse ir, prefiro ficar em casa e descansar, —


desculpei. — Segunda-feira vai chegar muito cedo.

— Tudo bem, vou levar as poucas horas que nos restam.

— Não temos mais nada, você deve sair para que eu possa ficar
confortável, — apontei para a porta. Embora, no fundo, eu desejasse que
ele escolhesse ficar.
— Me foi prometido um jogo, uma bebida, talvez jantar antes de eu
partir.

— Você está sozinho para isso. Pretendo encomendar comida para


viagem e assistir ao Netflix.

— Refeição caseira, — ele insistiu.

— Não, hoje é comida para viagem. Está no calendário. Posso não ser
muito organizada, mas tenho uma programação alimentar a seguir.

— Pizza?

— Pela milionésima vez, sou alérgica a produtos lácteos. Mas você


sempre pode ir para casa e pedir pizza.

— Eu tenho que sair às seis e meia, devemos pedir às cinco.

— São três horas. Você sabe o que suas filhas estão fazendo?

— Na casa da mãe. É o fim de semana dela. — Ele verifica seu telefone.


— Isso significa que você me tem só para você neste fim de semana. O que
você quer fazer linda?

— Você é tenaz, Sr. Hades. — Eu joguei minhas mãos no ar, desistindo.


— Ou entediado e eu sou a única pessoa em Seattle que não tem nada para
fazer, como você.

— Talvez seja isso. — Ele me enviou um sorriso que fez meu coração
pular algumas batidas.

Um sorriso apareceu em meus lábios quando percebi que ele não estava
indo embora. Fiquei feliz porque nós dois havíamos descarregado um
monte de coisas pesadas. Nenhum de nós deveria estar sozinho. Sua
companhia era surpreendentemente confortável. A brincadeira entre nós
parecia certa.
Capítulo Quatorze

Kade

Presente

Uma longa semana sem novidades. Eu deveria ser paciente. Cada médico que
verifica Sadie me diz exatamente essas palavras quando pergunto como ela
está. Ninguém entende o que é ver a mulher que amo lutando por sua vida.
Ela pode nunca acordar. Posso nunca ser capaz de ouvir sua voz
novamente, para dizer a ela que a amo mais do que qualquer coisa e
qualquer pessoa. Ela poderia nunca conhecer nosso bebê, e porra, eu sei
que ela queria aquele bebê mais do que qualquer coisa no mundo. E não
importa quantas vezes eu peça a ela que me perdoe por deixá-la, ela pode
nunca ouvir o que tenho a dizer. Eu causei dor a ela, a deixei sem casa...

— Devo apenas deixar você? — Eu pego a mão dela. — Eu deveria ter


deixado você naquele primeiro dia. Mas você se abriu para mim. Você me
ouviu e me fez sentir que valia alguma coisa. Que eu não era apenas uma
desculpa de um homem, que mal conseguia manter sua sobriedade.
Ela me fez sentir como uma pessoa. Como um homem normal que era
mais do que sua fama, seus fracassos e os demônios que o arrastaram para
a escuridão.

Eu toco sua testa, acariciando seu rosto delicado. — O que está em sua
mente, linda?

— Bom dia. Como está nosso pequeno hoje?

Eu me viro para encontrar Aspen Hawkins, e logo atrás dela, Raven,


olhando para mim.

— Você, — Raven aponta para mim. — Meu nome não está na lista de
visitantes autorizados. Por quê?

Eu vacilo. — Há uma lista?

— Sim, — Aspen confirma, verificando o pequeno que está fora do


respirador. Os médicos estavam confiantes de que movê-lo para o quarto
de Sadie era seguro para ele. — Seu pessoal disse que foi você quem
sugeriu a lista.

— Meu pessoal? — Eu franzo a testa, me perguntando se Duncan fez


algo ou se foi Pria, minha gerente de relações públicas, quem fez o pedido.

— Bem, você está tentando manter a mídia longe, não está? — Raven
estreita o olhar.

— Enquanto vocês dois conversam, vou verificar meu paciente. —


Aspen caminha em direção ao meu pequeno. — Eu ouvi das enfermeiras
que ele está passando muito tempo com o papai.
Eu encolho os ombros. — Você pode me culpar?

— Não, eu gosto que você esteja dando a ele exatamente o que ele
precisa. Amor. — Ela sorri.

— Ele é tão pequeno, — Raven marcha para ver o bebê. — Acorde


chefe. Você precisa conhecê-lo.

— Fale baixo, Rae, — eu murmuro.

Ela estremece.

— Nada que você diga vai acordá-la. Pelo menos não agora. Ela ainda
está fortemente sedada, — Aspen informa Raven. — Brynn planeja mantê-
la assim por mais uma semana ou até que o inchaço no cérebro diminua.

Eu desligo Aspen quando ela começa a explicar os ferimentos de Sadie.


Nada de novo aconteceu desde a cirurgia. Essa merda de esperar e assistir
está me deixando louco.

— Talvez eles saiam do hospital ao mesmo tempo, — sugere Raven.

— É isso que esperamos, — Aspen a tranquiliza. — Temos que


descobrir a logística, mas isso vai acontecer mais tarde.

— Estou surpresa em ver você aqui, — Raven passeia mais perto da


cama. — Como você descobriu sobre isso?

— Ele está listado dela em caso de contato de emergência, — interveio


Aspen. — Eu não verifiquei quem é seu parente mais próximo.
Tecnicamente, estamos quebrando o protocolo. A menos que a
administração tenha feito algo e eu esteja fora do circuito.
— Eu sou seu parente mais próximo, — asseguro-lhe.

— Esses seriam os pais dela, já que vocês dois não são casados ou estão
juntos, — informa Raven, sua voz é calma e sua resposta certa.

— Não ligue para eles, — eu peço. — O pai de Sadie não virá, e sua mãe
pode estar na reabilitação.

— Não, ela saiu há um mês, — Raven me informa. — Desta vez para


sempre, ou assim ela prometeu.

— Mesma coisa. Catherine não vai se importar agora. Você conhece o


padrão dela. Estou cuidando de Sadie.

— Como estão as meninas? — As dicas passivas e agressivas de Raven


estão me afetando.

— Tudo bem, eu não falei com elas. Elas estão de férias com a mãe.

— Isso explica porque você está aqui. Aposto que você não estaria aqui
se elas estivessem na cidade.

— Eu estaria aqui, — protesto. — O que te faz pensar o contrário?

— Você se afastou de Sadie, — ela me acusa.

— Raven, — eu a aviso.

— Tudo bem, estarei por perto para abraçá-la quando você fizer tudo de
novo.

Eu mudo de assunto para algo mais urgente.

— Ei, Sadie tinha nomes para o bebê?


— Ainda não, ela estava lendo um livro de bebê. Nada parecia soar bem
com Bell.

— O bebê é Hades, — eu protesto e percebo uma merda. — Ela nunca


me contaria sobre ele, não é?

— Como eu iria saber? — Ela contrai os lábios, bufando. — Seu único


foco era o bebê. Para não te machucar nem nada, mas ela parou de falar de
você há muito tempo.

Porque Sadie não fala sobre as coisas que lhe causam dor.

— Quando ela soube da gravidez?

Raven pressiona os lábios e olha para baixo. Isso é tudo que eu


precisava para confirmar o que estive pensando o tempo todo. Se a idade
de gestação do bebê era de 31 semanas e cinco dias, ela estava grávida de
sete ou oito semanas quando nos separamos. Não há nenhuma fodida
maneira de a senhorita eu nunca perder uma menstruação não saber sobre isso.

— Porra, ela sabia antes de terminarmos. — Eu aperto meus lábios


juntos.

De repente, eu associo os sintomas semelhantes aos da gripe. Ela foi ao


médico, mas eu estava muito ocupado com o próximo lançamento do disco
para sequer ligar para ela. Eu estava tentando ter tudo pronto para o
casamento.

— Mas o que eu não entendo é por que ela não me contou.


— Era uma surpresa. Mas... — sua voz desaparece assim como seu
olhar. Ela se concentra em Sadie. — Olha, esta não é minha história. Eu sou
amiga dela, não sua. Por enquanto, concentre-se no bebê, e quando ele
estiver melhor, vocês dois terão que encontrar um encerramento e uma
forma de ser pais.

Podemos encontrar o caminho de volta para nós? Isso é mesmo uma


possibilidade? Por que ela iria querer ficar comigo? Eu não era diferente de
seu pai ou dos filhos da puta que ela namorou. Depois que as coisas
ficaram complicadas, eu saí. Porra, abandonei minha noiva grávida. Ela me
perdoaria por isso?

— Como está Tess? — Raven pergunta, tocando sua cabeça


ligeiramente. — Isso é algo que ela será capaz de lidar?

Prendo minha respiração por vários segundos. Como vou dar a notícia
do bebê?

— Ela não precisa lidar com nada, — respondo com convicção. — Tess e
Hannah têm um irmão. Ele é meu. — Eu olho para minha Sadie quebrada.
— Até que Sadie esteja forte, sou tudo o que ele tem.

E de alguma forma, ele é realmente tudo que tenho. A única pessoa que
pode me dar algum amor incondicional. A inocência de minha filha foi
destruída por sua mãe e, em troca de um pouco de seu amor, tenho que
cumprir uma série de condições. Meu alarme toca. Lembrar da chamada.

— Ei, você pode ficar com eles um minuto? Eu tenho que fazer uma
ligação.
— No momento não estou disponível, mas, por favor, deixe uma mensagem, —
o correio de voz de Alicia atende imediatamente.

Eu odeio ter que ligar para ela. Por que ela não deixou as crianças
levarem seus telefones com elas?

— É hora da minha ligação diária. Envie uma mensagem quando estiver


pronta para isso. E quanto ao seu e-mail, a resposta é não. Dei a elas
dinheiro suficiente para suas despesas pessoais.

Puta fodida. Ela é uma peça de trabalho. Eu deveria ligar para meu
advogado e lutar pela custódia total. Mas com Sadie e o bebê... o que devo
fazer agora?

Alicia: As meninas tiveram um longo dia. Ligue amanhã.

Kaden: Temos um acordo.

Alicia: Não é? Você prometeu prover para elas e, ainda assim, durante o tempo
de necessidade delas, você as rejeita. Enviar dinheiro.

Kaden: Peça para elas me ligarem amanhã. Eu não vou te mandar outro
centavo.

Alicia: A propósito, há um boato de que você está namorando uma nova vadia.
Você precisa começar a pensar mais nas suas filhas e um pouco menos na porra do
seu pau. A saúde mental de Tess está em primeiro lugar.

Não há rumores. Alicia é quem liga para os tabloides para vender


notícias falsas. Ela é paga e depois os usa contra mim. Lamento o dia em
que conheci Alicia. Minhas filhas significam muito para mim, e eu não
deveria pensar assim. Mas além de Hannah e Tess, tudo relacionado a
Alicia é lixo tóxico. E pensar que tentei fazer as coisas funcionarem com ela
em nome da família. Talvez seja eu. Não devo ser feliz ou amado. Tudo e
todos que eu toco acabam machucados. Eu me viro em direção ao corredor
que me leva ao quarto de Sadie e penso no meu próximo passo. Nem Sadie
nem o bebê precisam de mim ou dos meus problemas. Devo ir para casa.
Levar meu drama comigo.

— O relacionamento entre duas pessoas é complicado, — ela me disse uma


vez. — Famílias ainda mais. Nem todos são iguais. Cada membro da família é
único e importante. Você aprende a amá-los e a fazer tudo funcionar em nome do
amor. Você não desiste. Vocês lutam juntos.

É por isso que não desisti de Tess ou Hannah. Alicia sempre fará parte
delas, e é por isso que eu lido com ela. Depois do que aconteceu com Tess,
todos nós deveríamos ter lutado. Mas deixei um membro de nossa família
ir embora. Eu nunca lutei por ela. Meus pulmões entraram em colapso
porque o medo de perder Tess me fez ouvir Alicia. Por alguns segundos, o
mesmo medo quase me fez sair e desistir novamente.

Ela ainda vai me amar quando ela acordar? Eu traço as dez letras
tatuadas no meu pulso direito. Para sempre. É parte de uma tatuagem de
casal que temos e que foi inspirada por Lily e Snape. A mulher que não
gostava de ficção absorveu meu amor pelos livros de Harry Potter assim
que comecei a lê-los para ela. E então, criamos nossa própria versão.
Estaremos juntos para sempre, não importa o espaço, ou tempo ou... eu
saio correndo para o lado dela. Pela primeira vez, não dou a mínima para
lavar minhas mãos ou trocar meu uniforme. Segurando sua mão, eu olho
para seu pulso. Juntos. Eu os pressiono um contra o outro por um segundo
e expiro.

— A chama de nossas almas se fundiu há muito tempo e não pode ser


separada. É para sempre e sempre, — eu sussurro em seu ouvido. —
Lamento por desistir tão facilmente, mas somos uma família e você me
ensinou que devemos lutar juntos.

Eu olho para seu corpo imóvel. A única maneira de saber que ela ainda
está comigo é quando vejo seu peito subir e descer. Eu tiro os fios de cabelo
de seu rosto e beijo seu nariz e depois sua bochecha.

— Me encontre em seus sonhos. Segure minha mão. Não solte, baby.


Temos anos pela frente. Nosso filho está esperando por você. Não posso
perder minha melhor amiga e o amor da minha vida. Vamos lutar juntos.
— Cuidadosamente, eu a abraço e pressiono minha testa na dela. — Pelos
próximos cem anos, mesmo depois desta vida, estaremos juntos. Eu
prometo.
Capítulo Quinze

Kade

Três anos atrás

— Você não dorme? — Sadie bocejou ao abrir a porta de seu


apartamento.

Porra. Meu queixo caiu quando bebi todo o seu corpo de uma vez. Ela
usava um short e uma blusa. Seus olhos sonolentos me deixaram mais duro
e foda-se! Essa boca foi criada para ser beijada, por mim. Se apenas... mas
eu não vou atuar. Não, eu fiz uma promessa.

— Algumas horas por noite. — Entreguei a ela o chá chai que trouxe
para ela.

— Chá? — Ela franziu o cenho. — Obrigada, mas você não precisava.

— Bem, você disse ontem que esta é sua bebida favorita. — Entrei sem
ser convidado. — Qual é o seu veneno?

— Veneno?
— Comida favorita para o café da manhã, — respondi, indo para a
cozinha. — Ovos, omelete, fritada, panquecas...

— Qualquer um, todos... eu não sei. — Ela me seguiu até a cozinha e


sussurrou. — Por quê você está aqui?

— Por que estamos sussurrando?

— Talvez eu tenha um visitante noturno que ainda está na cama. — Ela


sorriu, caminhando até a geladeira e tirando uma garrafa de suco de
laranja. — Ou apenas porque não quero acordar totalmente para poder
voltar para a cama quando você desaparecer. Acordar às seis da manhã de
um domingo é um crime.

— Crime? — Olhei em volta de seus armários e encontrei a farinha


multiuso, uma máquina de waffles e quase todos os ingredientes para
preparar waffles do zero. Eu verifiquei sua geladeira e tirei o leite que
comprei ontem. — Você tem chantilly?

— Eu sou alérgica a laticínios, — ela me lembrou.

— Certo. — Coloquei o leite de volta e peguei o leite de arroz. — Pelo


menos você tem amoras.

— Você está fazendo o café da manhã e depois vai embora, certo?

— Não. Em um dia como hoje, ficar em casa seria o crime. É por isso
que estamos passando o dia em um evento incrível. — Eu me agachei,
procurando por uma tigela. — Você cozinha?

— Sim porque você pergunta?


— Você não tem panelas, ou... onde estão as tigelas?

Ela sorriu e foi até o armário de casacos. — Nem tudo cabe nesta
pequena cozinha.

— Um batedor e um copo medidor? — Cocei minha cabeça me


perguntando se deveria ir ao banheiro ou ao estúdio dela.

— Meu banheiro? — Ela riu, mas abriu uma longa gaveta onde a
maioria das espátulas, colheres de madeira e utensílios estavam guardados.
— Desculpe, não consegui evitar. Seu rosto não tinha preço.

— Baunilha?

— Você está perguntando se eu gosto ou se é a essência? — Ela sorriu e


me deu uma olhada de lado. — Ou se eu só gosto de sexo baunilha?
Porque eu gosto com um pouco de canela, sabe, temperada com torção.

Meu pulso disparou. Porra, eu queria arrastá-la para o quarto dela. Não,
levar ela aqui na cozinha. Levantar seu corpo pequeno e colocá-la em cima
do balcão. Eu puxaria seu shortinho para baixo e comeria sua boceta no
café da manhã. Depois, eu a alimentaria com meu pau enquanto ela gozava
com os dedos.

— Mas você não deveria me perguntar isso. Amigos não discutem sexo.
— Seus olhos brilharam com luxúria.

Deus me ajude, essa amizade seria a minha morte.

— Eles não discutem? — Eu engoli em seco.

— Não, Sr. Hades. Isso confunde as linhas.


Baby, eu iria apagá-las se isso significasse que você me deixaria tocar em você
apenas uma vez. Uma vez, aniquilaria o desejo por aquele corpo delicioso.

— Agora que estabelecemos uma nova regra, fique de olho em si


mesmo e explique a que evento incrível você faz enquanto eu fico em casa
dormindo por mais algumas horas.

— Amiga, você se importaria de se vestir? — Eu pedi. — Estamos indo


para um evento de adoção e doação de cães. Eu prometi estar lá como
patrocinador.

— Podemos ver cachorros? — Seus olhos brilharam.

— Todos os tipos de cães.

Ela estreitou o olhar. — Você joga sujo, Sr. Hades.

— Você não tem ideia, Srta. Loja-Bell.

— Apenas Bell, — ela me corrigiu. — Mamãe insistiu em hifenizar meu


sobrenome, mas é uma dor. E enquanto crescia, gostei muito mais de Sadie
Bell. Parecia Tinkerbell. Porém, agora que a Disney criou mais fadas,
prefiro ser Rosetta ou Iridessa, jardim e fada da luz, respectivamente.

Meu queixo caiu porque ela conhecia bem suas fadas. Eu conheço por
causa de Hannah. — Como você sabe tudo sobre elas?

— Faz parte do meu trabalho.

— Você é adorável pra caralho, sabia disso?

— Não, é realmente parte do que eu faço. Quando as crianças vêm à


floricultura, é meu dever entretê-los às vezes. — Ela piscou para mim. —
Isso convence os pais a comprar livros para elas ou o que quer que eu fale.
Além disso, eles voltam porque eu os fiz sentir como uma família. Faz
parte do meu serviço. Se você planeja uma festa infantil, você não pensa em
flores. Mas tenho tudo para ajudar. Balões, decorações, números para
alugar pula-pula, mesas, etc. Posso planejar e entregar. Portanto, você vai
me contratar em vez de algum palhaço assustador.

Fiz uma nota mental para contratá-la para a próxima festa que eu
tivesse que organizar. Este ano foi a vez de Alicia organizar o nono
aniversário de Hannah, mas talvez no próximo ano Sadie possa me ajudar.

— Vá se trocar, — eu insisti. — Temos muitas, muitas coisas para fazer.

— Anote que estou me trocando porque me prometeu waffles,


cachorros e almoço.

— Almoço?

Ela assentiu, deixando seu cheiro persistente após sua partida.

✰✰✰✰

— Então... você é o porta-voz?

— Algo assim, — respondi. — Estou doando meu tempo para a causa.

— Bem, há uma boa multidão, e toda vez que você diz: 'eu gosto deste
cachorro,' alguém o adota. — Ela acariciou um Labradoodle, uma mistura
de labrador e Poodle que estava nos seguindo. Ele está apaixonado por ela.
Mas ela não pode adotá-lo porque ele é grande demais para o apartamento
dela.

— Você deveria pegá-lo, — eu insisti.

— Eu? — Ela balançou a cabeça. — Não, mas vou encontrar um lar para
ele. Por que você não tira sua camisa, para que possamos atrair um público
maior?

— Há crianças por aí.

— As crianças não vão notar. Mas elas vão. — Ela apontou para um
grupo de mulheres que nos observava de longe.

— Não. Eles me disseram para mantê-lo amigável para crianças,


lembra?

— Eu posso fazer animais de balão enquanto você tenta encontrar lares


eternos para seus amigos caninos... enquanto mostra seu abdômen. Viu?
Amigável para crianças.

— Você sabe fazer bichinhos de balão?

— Não, mas tenho certeza de que posso aprender depois de assistir a


um vídeo do YouTube, ou cinco.

— E se dermos o cachorro errado para a pessoa errada?

Ela encolheu os ombros. — Bem. Eu só quero encontrar um lar para


todos eles. — Ela puxou o protetor solar, espirrou um pouco na minha mão
e aplicou mais nos próprios braços e pernas.

— Você deveria levá-lo.


— Ele é muito grande para o meu apartamento. — Ela se agachou e
esfregou suas orelhas. — Mas você é um cara adorável. Eu deveria
encontrar um lugar para você. Hmm, quer saber? Acho que sei para onde
ele deve ir. — Ela puxou seu telefone. — Ei, vocês estão ocupados? — Ela
assentiu com a cabeça, fez alguns sons. — Bem, eu tenho um amigo que
quer conhecê-lo. Não, não esse tipo. Onde você está? — Sadie olhou ao
redor da área e seus olhos encontraram os meus. — Vou apresentá-la a
Kaden Hades, mas apenas se você trouxer seus filhos e conhecer meu outro
amigo. Soa como um plano. Vou mandar uma mensagem com o endereço.

— Quem era?

— Minha gerente assistente, ela tem falado sobre a adoção de um


cachorro nos últimos meses. Mas o marido dela é alérgico a eles. No
entanto, — ela apontou para o cachorro. — Este menino é hipoalergênico. E
não custa um braço e uma perna. Espere, você não tem filhas?

— Eu não estou adotando um cachorro, — eu a interrompi porque eu


podia ver para onde sua mente estava indo.

— Mas você faria suas filhas felizes.

— O último animal de estimação que comprei para elas morreu


acidentalmente enquanto elas visitavam a mãe, — expliquei. — Minha ex é
uma vadia. Do tipo que ferveria um coelho se ela quisesse se livrar de um
animal de estimação.

— Ela cozinhou um coelho?


— Não, mas ela deixou os hamsters escaparem e então chamou o
exterminador e disse que tinha uma infestação de ratos.

— Alicia e Ella podem ser gêmeas, — ela gargalhou. — Não, mas sério,
foi isso que ela fez?

— Sim, ela chamou de acidente. As meninas ficaram com o coração


partido e desisti de comprar animais de estimação para elas.

— Presumo que você tenha mais histórias de terror?

— Sua suposição seria correta; há muitas para lembrar.

— Por que você se casou com ela? — Suas sobrancelhas franziram


enquanto ela franzia o nariz.

— Eu a engravidei.

— Não é a melhor razão para oferecer para sempre, Sr. Hades.

— Aprendi minha lição. Não vou casar com ninguém só porque tem um
filho. Na verdade, estou pensando em fazer uma vasectomia.

Uma menina da idade de Hannah e um menino mais novo correram em


direção onde estávamos. — Tia Sadie!

Eles a abraçaram com força, quase a empurrando para o chão, mas eu a


peguei bem a tempo. Eu amei as crianças. Eles me deram uma desculpa
para segurá-la novamente.

O casal se aproximou, e a mulher com cabelo castanho claro e óculos de


sol rosa olhou boquiaberta para Sadie. — Domingo de manhã e você está
fora de casa?
— Tudo em nome desses filhotes, — Sadie respondeu e, felizmente, ela
não tinha me afastado ainda.

— Raven, — ela empurrou seus óculos de sol. — Meu ex-marido,


Benny, e seus novos filhos.

— Sério, Raven? — Sadie protestou. — O nome dele é William, nós o


chamamos de Bill, não de Benny. E encontrei o cachorro perfeito para você.

— Não a leve muito a sério, — me disse o marido, rindo da esposa. —


Ela é inofensiva, na maioria das vezes.

— Eu posso te ouvir. — Sua esposa se abaixou para acariciar o cachorro


que seus filhos já estavam abraçando.

— Acho que você é o famoso Kaden Hades, — ele estendeu a mão. —


William James, todo mundo me chama de Bill. Essa é minha esposa Raven,
minha filha Leah e meu filho Lucas.

— Nenhuma relação com Star Wars, — Raven me informou. — Somos


cidadãos comuns que nunca assistiram a filmes de ficção científica.

Mas eu ri quando notei suas camisetas de Star Wars combinando.

— Ei, vou dar uma olhada enquanto você configura esse cara com sua
nova família. Tudo bem? — Eu os saudei.

— Sim, eu estou bem. — Sadie acenou para mim. — Na verdade, eu


posso ir de volta com eles.

— Oh não, vamos almoçar juntos e depois vamos para casa para uma
maratona de filmes.
— Vamos garantir que ela fique por aqui até você voltar. — Raven se
endireitou. — Encontre um cachorrinho para ela, ou um gato
hipoalergênico.

— Gato hipoalergênico?

— Ela é alérgica a gatos, mas os adora.

— Bom saber. Acho que seremos bons amigos, Raven. — Bill limpou a
garganta e olhou para mim. — E você também, Bill, é claro.

✰✰✰✰

— Você é alérgica a cachorros?

— Não, apenas gatos e coelhos. Lã. — Ela fingiu que espirrou. — Talvez
você.

— Existe um remédio para isso, — peguei a mão dela e a beijei.

— O que dissemos sobre beijar amigos?

— Você tem regras demais, — reclamei. — Você está pronta para a


sobremesa?

— Ainda não. Sinto que comi há dois minutos. — Ela deu um tapinha
no estômago. — Você teve um dia de sucesso.

— Eu apenas mostrei meu rosto.


— Não. Você conversou com muitas famílias, trabalhou seu caminho e
sobreviveu a Raven.

— Qual é a história dela?

— Dona de casa entediada, — ela respondeu. — Graças a Deus, porque


nos primeiros três meses ela trabalhou de graça. Seu marido é um geek de
computador. Ela costumava trabalhar em Wall Street. Quando se mudaram
para cá, ela teve um filho e decidiu se concentrar na maternidade. Mas ela é
uma superestimada, e uma vez que os pequenos estavam na escola em
tempo integral, ela me encontrou.

— Eles pareciam legais.

— Eles são ótimos, exceto quando eu os encontro mexendo na minha


loja.

— Você está falando sério?

— Sim, e ela não estava falando sério sobre deixar o marido. Porém, ela
tem uma pequena queda por você. Como toda mulher viva no mundo.

— Exceto você.

— Exceto eu. — Ela sorriu. — Então, como estão suas garotas?

— Hannah está bem, mas Tess estava ocupada fazendo a lição de casa.
— Afastei meu telefone, pois acabei de ligar para ver como elas estavam. —
Isso, ou ela está em alguma festa em uma noite de escola, e Alicia sabe que
eu não vou ficar feliz.
— Você é o policial mau no relacionamento? Isso é lamentável. Você
deve trabalhar junto. Não um contra o outro.

— Não há relacionamento.

— O primeiro passo para a cura como uma família é aceitar sua


realidade. Ela não é sua esposa, mas você sempre terá um relacionamento
com ela por causa das meninas. Goste ou não, você precisa aprender a lidar
com ela e vice-versa. Tornem-se parceiros. Só porque vocês não se amam
mais, não significa que vocês dois não amem suas garotas. Para o bem
delas, você precisa encontrar um meio-termo e ser pais. Você não pode ser
inimigo tentando persuadir as meninas a tomarem partido.

— Honestamente, eu gostaria de poder tirá-las dela. Mas tenho que


trabalhar para apoiá-las. A música é minha única fonte de renda. Se eu
pudesse levá-las na estrada, eu o faria, mas elas têm que ir para a escola e
ter uma vida normal.

— Por que você não fala com ela? Veja o que vocês dois podem fazer. A
terapia familiar pode ser útil.

— Ela vai pensar que eu quero que voltemos.

— E isso não está acontecendo?

— Eu não a suporto. Ela é indiferente, egoísta, exigente e gananciosa.


Mas eu sou tão ruim quanto ela.

— É aí que você está errado. Você é um bom pai e um ser humano


incrível. Não deixe ninguém dizer o contrário.
Sadie me surpreendeu a cada segundo com seu humor leve, suas
brincadeiras e seus conselhos sinceros. Ela me fez sentir digno de mais. E
por mais que eu estivesse atraído por ela, não queria perder o que
estávamos construindo. Na verdade, tudo que eu queria era passar cada
momento com ela.
Capítulo Dezesseis

Kade

— Quando você perguntou a que horas abro a loja, você quis dizer algo
como, ‘a que horas devo começar a tornar sua vida miserável?’

— Não, eu queria andar com você, — eu disse.

— Tenho certeza que você tem trabalho a fazer. Você mencionou algo
assim ontem.

— Quase tudo está feito. Compus uma música inteira, peguei Hannah
na casa de sua mãe e a levei para a escola.

— Tess? — Ela vestiu o casaco. — Obrigada pelo chá.

— Ela passou a noite com uma amiga.

— Uh-oh. Como foi?

— Vou falar com a Tess. Na próxima vez que ela der uma festa, a
resposta é não.

— Bem, estou feliz que você está quase terminando o seu dia. Agora, se
você me dá licença, vou começar o meu.
Peguei sua grande bolsa e segui atrás dela.

— Você se lembra de me convidar para trabalhar com você, não lembra?

— Foi uma sugestão, não um convite. Volte para sua vida. O fim de
semana acabou. Você passou no teste de ‘vamos ser amigos de uma
mulher.’

— O que deu em você hoje?

— Hmm?

— Você está um pouco mal-humorada como se alguém tivesse tentado


apagar sua chama.

— Mamãe está de volta à reabilitação. Papai me chamou de filha


irresponsável.

— O que aconteceu?

— Eu não estava em casa ontem para receber minha mãe bêbada, e ela
decidiu visitar meu pai. — Ela me lançou um olhar duro. — Enquanto ele
entretinha pessoas importantes. Desnecessário dizer que ele a forçou à
reabilitação.

— Ele não pode fazer isso.

— Oh, mas ele fez. O que significa que mamãe vai sair do armário
novamente e perder a cabeça dentro de meses. Porque eu aposto que ele a
fez acreditar que ainda a ama.

— Não é sua culpa, — peguei sua mão vazia e a beijei. — Seus pais são
adultos. Tudo o que eles fazem é responsabilidade deles.
— Sim, mas isso não torna menos doloroso. Eu juro que mamãe tem um
cartão perfurado no centro de reabilitação. O próximo é grátis. É só... e se
um dia ela não olhar para os dois lados quando estiver atravessando a rua
ou fizer algo estúpido?

— Você não pode se preocupar com coisas que estão fora de seu
controle. Isso não é algo que você pode consertar, querida. Vamos nos
concentrar nas entregas de hoje. Posso ter uma surpresa para você.

— Que tipo de surpresa? Você está realizando um ato de


desaparecimento?

— Não vou desaparecer, mas vou embora às duas.

— O que você vai fazer depois?

— Dever do pai, que inclui pegar crianças e levá-las a inúmeras


atividades, — respondi. — E enquanto Hannah está no balé e Tess nas
aulas de atuação, estarei gravando com Jax.

— Vocês três são muito artísticos. Isso parece divertido. — Ela abriu a
porta da loja e desarmou o alarme.

— Onde está Raven?

— Deveres de mamãe e ajuste cruzado, — disse ela, acendendo a luz de


seu escritório. — Ela geralmente chega por volta das dez e sai às duas.

— Você tem alguém trabalhando com você durante a noite?

— Não, eu consigo me virar sozinha. As manhãs são o nosso momento


mais movimentado.
— O que você precisa que eu faça?

— Você está falando sério? — Ela parou e dirigiu sua atenção para mim.

— Sim, sou seu de agora até as duas horas. O que você gostaria que eu
fizesse?

Ela exalou e olhou para mim por alguns instantes. — Qual é o seu
motivo, Sr. Hades.

— Eu amo quando você me chama de Sr. Hades, — eu pisquei para ela.


— Eu não posso esperar para você gritar quando eu fizer você gozar.

Sua pele bronzeada escureceu ligeiramente, sua boca se abriu, mas


nenhum som saiu.

— Você também está imaginando, não é?

— Você quer ser demitido no primeiro dia, não é?

— Eu estou contratado?

Ela jogou as mãos para o alto e revirou os olhos. — Você é impossível.

— Por onde eu começo, — fiz uma pausa, — Chefe?

Não demorou muito para ela arrumar sua mesa de trabalho. Ela me fez
imprimir os pedidos e depois os cartões que os acompanhavam.

— Nem uma única nota que valha a pena salvar, — ela reclamou
quando me fez ler. — Nenhum Corredor da Fama.

— O que é isso?
— Minha página de recados. É onde coloco uma cópia dos bons junto
com fotos dos arranjos feitos sob medida. — Sadie suspirou, puxando rolos
de fita das caixas, seu olhar vagando pela loja de flores. — Há uma história
por trás de cada novo pedido e, às vezes, há uma nota especial com um
significado tão profundo que você precisa salvá-la.

Nunca mandei flores. Sadie foi minha primeira, e quando cheguei à tela
onde me perguntou o que eu queria que meu bilhete dissesse, congelei por
vários segundos. Não poderia ser algo comum. Seus olhos são lindos,
parecia mais uma linha cafona de um adolescente. Em menos de 400
caracteres, eu queria transmitir tudo, mas soar diferente.

— O meu entrou no corredor da fama?

— Ainda estou debatendo. — Ela torceu os lábios, verificou a lista que


imprimiu e caminhou em direção às rosas. — A foto das flores está no
fichário, mas o bilhete... — Ela deu de ombros.

— O que tem isso?

Foi porque era algo apenas para nós dois?

— Você escreve letras para viver, — ela falou lentamente, sua atenção
nos caules das flores que ela estava cortando com uma faca. — É fácil para
você juntar algumas palavras, tecê-las em uma linha e fazer as pessoas se
apaixonarem por você.

— Só quando se trata de música.

Ela colocou a faca em cima da mesa. Seus olhos encontraram os meus.


— Quantas vezes você mandou flores para mulheres?
— Você é minha primeira, Srta. Bell. A primeira mulher para quem
escrevi um bilhete, duas vezes.

— Você quer estar no corredor da fama?

— Não, eu só me importo em estar na sua vida, — confessei, sentindo-


me vulnerável, mas seguro.

Não havia lógica no estado emocional em que vivi desde o momento em


que coloquei os olhos nela. Nós compartilhamos algo quando eu cantava e
nos olhamos. Algo dentro de mim mudou. Notas diferentes tocaram dentro
da minha cabeça, junto com as palavras. Ela acertou uma coisa, eu sei tecer
as palavras, mas só quando tenho a melodia certa. Depois de Sadie, porém,
eu poderia rabiscar mil poemas de amor com um único olhar para ela.

— Você é persistente, Sr. Hades. — Ela sorriu e moveu seu olhar em


direção às flores.

Eu não tinha ideia do que estava fazendo, mas não planejava desistir tão
cedo.

✰✰✰✰

— Foi-me prometido emoção, alegria... — Parei para me lembrar das


palavras exatas que ela disse quando descreveu seu trabalho, mas não
conseguia me lembrar de todas. — Gratificação?

— Você não é um homem paciente, é Sr. Hades?


— Pare de me chamar assim, Sadie Bell. Isso me deixa com tesão. — Eu
olhei rapidamente para ela. — Você não me quer com tesão enquanto
dirijo.

— Por que concordei em trazer você junto?

— Eu prometi dirigir enquanto você trabalhava em seu pedido de


casamento.

— Isso me lembra, fique quieto, senhor.

— Então, quantas entregas você tem em média? — Eu perguntei


enquanto esperava o sinal verde.

Ela bateu no queixo com a lapiseira verde que estava usando. —


Segunda-feira é o nosso dia mais movimentado da semana.

— Já pensou em contratar outra pessoa?

— Ainda não. Estou tentando manter meus custos baixos. Até agora,
consegui lidar com tudo com um funcionário de meio período. Mas se você
quiser o trabalho, está contratado... — Ela fez uma pausa, e eu desejei
poder tirar meus olhos da estrada porque eu podia sentir algum
comentário provocador ou zombeteiro vindo em minha direção. — Sem
pagamento ou pausas.

— Em algum momento, vou descobrir algum tipo de pagamento. — Eu


parei em um sinal e me virei para ela. — Você pode me pagar em espécie.

— Ooh, você passou quase duas horas sem flertar. Você estava indo
muito bem, Sr. Hades. — Meu sobrenome saindo de sua boca era minha
coisa favorita. Era música, sexo, paixão e algumas outras emoções que eu
nunca tinha experimentado antes. — Devíamos ter um pote de insinuações
sexuais e cobrar 20 cada vez que você disser algo inapropriado.

— Querida, nunca aposto em nada que sei que sou incapaz de vencer,
então não. Não vai haver um pote de palavrões, pote de provocação ou
qualquer uma dessas merdas fodidas. Isto é o que você recebe.

Eu permaneci em silêncio pelo resto da viagem. Isso me impediu de


flertar ou dizer algo estúpido como ‘a van é grande o suficiente para foder
na parte de trás.’ Eu gostava muito da companhia dela para perdê-la tão
rápido. Alguns dias atrás, eu não me importava muito em ficar dentro das
linhas. Cada aviso e regra se tornaram importantes. Se eu estragasse tudo,
ela desapareceria. Eu não estava pronto para deixar ir. Na verdade, eu
queria ficar bem ao lado dela, observando o brilho cada vez que ela sorria.
Sentindo o calor em meu coração enquanto ela irradiava magia. Eu
planejava ficar o máximo que pudesse. Pelo menos, até que ela permitisse.
Eu precisava absorver um pouco mais de sua luz antes de recuar para a
escuridão.

— Pronto para a próxima entrega, chefe? — Eu estacionei a van e voltei


minha atenção para ela.

Sadie guardou seu caderno de desenho e tirou seu iPad, verificando a


lista. — Hmm. — Ela apertou os lábios enquanto lia. — Eu não gosto deste.

— Por que não? — Eu levantei uma sobrancelha.


— Acho que ele traiu no fim de semana. Ele ligou para pedir meu maior
buquê de rosas vermelhas. Ele pagou a mais para que fosse entregue antes
do meio-dia.

Ela desceu da van e fechou a porta com força. Achei que ela não gostava
de traidores.

— Por que você assume isso?

— O cartão diz, sinto muito. Não vou fazer de novo, — disse ela abrindo a
parte de trás da van.

Eu peguei o arranjo e a segui imaginando se flores poderiam compensar


algo como traição. Talvez não seja a melhor maneira de consertar as coisas
depois de transar com outras mulheres?

— Hmm, nunca pensei em mandar flores quando eu traísse.

Sadie parou completamente e olhou para mim. — Você traiu?

Aqueles olhos me encararam com decepção, e eu podia ouvir o silêncio,


eu sabia, ele é um idiota.

— Seria melhor se eu dissesse que Alicia fez isso primeiro, com um dos
meus companheiros de banda?

— Não. — Ela balançou a cabeça. — Se você não ama alguém, desista


antes de machucá-lo. Olhar para uma defesa ocular não o torna nada
melhor.

— Não era assim. Achei que tínhamos acabado e comecei a fazer


minhas próprias coisas. — Toquei a campainha.
— Como foi essa experiência para você? — Ela me lançou um olhar que
não consegui entender.

— Foi quando o divórcio e a batalha pela custódia começaram. —


Respirei com dificuldade, olhando para o tapete de boas-vindas.

Eu não estava orgulhoso do meu comportamento. Sadie estava certa. Eu


deveria ter desistido em vez de presumir, e antes de machucar Alicia.
Porra, eu não deveria ter me casado com ela em primeiro lugar.
Machucamos um ao outro com palavras e nosso comportamento. Ela usou
as meninas como armas. Depois de dois anos lutando com ela e muito
dinheiro, consegui a custódia física conjunta das meninas. A mulher que
abriu a porta tinha quarenta e poucos anos. Ela estava vestida com calças
de ioga, um moletom solto e chinelos. Seu rosto estava maquiado, mas não
exagerado, e seu longo cabelo loiro estava preso em um coque bagunçado.

Ela olhou para as flores e depois para mim. Seus olhos verdes estavam
estreitos, rígidos e duros. — Você pode dizer a ele para enfiar as flores na
bunda dele. Se ele precisar falar comigo, ele pode entrar em contato com
meu advogado.

— As flores não têm culpa do que quer que tenha acontecido, — sugeri,
usando a mesma voz que usava quando minhas filhas ficavam
transtornadas.

— Você deve aceitá-las então, elas vão alegrar o seu dia, — Sadie
sugeriu.
— Eu prometo devolver o dinheiro dele. Em vez disso, serão um
presente meu, — acrescentei.

A mulher ergueu uma sobrancelha e me estudou por vários segundos.


Então, ela voltou sua atenção para Sadie.

— Isso é uma piada? — Ela olhou para fora de sua porta em direção à
van, e então olhou rua acima e rua abaixo. — Onde estão as câmeras?

— Câmeras? — Eu arqueei uma sobrancelha.

— Isso é um show, não é? Você traz uma celebridade para entregar


flores e...

— Não há show, senhora, — Sadie olhou para mim.

— Ele está me presenteando com flores que aposto que custam muito.

— Ele gosta de dar coisas. Se eu fosse você, diria que sim, ou ele
continuará voltando, — disse Sadie.

— Mas você é Kaden Hades, não é? — Ela estreitou os olhos, me


estudando.

— Não, — Sadie negou minha identidade. — Ele é meu novo motorista.


Você acha que um astro do rock passaria seu tempo livre entregando
flores?

Sadie suspirou. — Isso seria uma loucura, ele teria que ser um pouco
louco se você me perguntar. — Ela sorriu com ar de satisfação.

— Bem, não, acho que você está certa, mas ele poderia ser seu irmão
gêmeo.
— Ele poderia, mas este não tem um ego do tamanho do Texas.

— Sim, ouvi dizer que o pacote de Hades é muito grande. — A mulher


olhou para mim abaixo da cintura.

— Eu estava falando sobre o ego dele, mas tanto faz. — Os olhos de


Sadie moveram-se para minha virilha por alguns segundos e sua pele
escureceu. — De qualquer forma, fique com as flores.

A senhora suspirou. — Elas são lindas, mas se eu as aceitar, meu marido


vai achar que o comportamento dele está bom. Ele comprou um carro novo
sem me consultar. Um tipo de carro com a crise de meia-idade e sabe o que
vem a seguir?

— Ele não traiu? — Sadie arqueou uma sobrancelha.

— Não, claro que não. Eu teria atirado no pau dele se ele ousasse pensar
em trair.

— Que tal se eu deixar as flores aqui. Tente conversar sobre isso. Às


vezes é tudo uma questão de comunicação, — disse Sadie, tirando o arranjo
de mim e entregando-o a ela. — Vocês dois podem dividir o carro,
conversar sobre o que ele quer, crescer juntos, não separados. Mas, no final
das contas, é claro, isso depende de você.

— Você se importa se eu tirar uma foto com você? — A mulher não


tirou os olhos de mim.

— Desculpe, não sou quem você pensa que sou. — Eu escondi o


escárnio e enviei um apelo silencioso a Sadie.
Tire-me daqui.

— Bem, obrigado por escolher Beija-Flor Arranjos Florais. Tenha um


bom dia, — ela apressou as palavras. Sadie acenou para ela, agarrou minha
mão e me puxou em direção à van. — Vamos querido.

— Querido? — Inclinei a cabeça assim que entrei na caminhonete. — Já


estamos usando termos de carinho um para o outro, Pão de Abóbora.

— Só estou experimentando alguns deles, Ameixa doce.

— Esse é um nome de menina.

— Awe, Coelhinho Fofinho está chateado porque ele não conseguiu


algo viril?

— Não, querida coelhinha. Eu e meu grande ego ficamos bem com o


apelido de uma garota. — Eu ri quando a percebi mordendo o lábio e
olhando para fora. — Os rumores são verdadeiros. É enorme.

— Não quero saber, Unicórnio Fofo.

— Unicórnio Fofo? — Eu lancei um rápido olhar para ela. — Eu tenho


que traçar a linha bem aí, Bolo de Muffin. Mas, falando sério, aquilo lá atrás
foi meio louco, não foi?

— Chutando-o para fora e pedindo o divórcio por causa de um carro?


— Ela encolheu os ombros. — Eu não sei, mas acho que se você vai fazer
uma compra tão grande, você tem que discutir isso com seu parceiro.
Como você lidou com isso com sua ex?

— Nunca comprei nada grande. Então, eu não saberia.


— Você não tem uma casa grande, um jato particular, carros de luxo?

— Eu não alardeio. Quase todo centavo que recebo vai para minhas
contas de investimento. Meu objetivo é economizar dinheiro porque um
dia talvez eu não consiga mais trabalhar e quero que minhas filhas estejam
cobertas. Eu não quero ser velho e pobre.

— Realmente, as pessoas juram que você mora em uma mansão


enorme.

— Não, eu moro em um apartamento de três quartos. Você já viu minha


caminhonete de cinco anos e meus gastos são bem básicos.

— Sua esposa?

— Ex-esposa, — eu a corrigi. — Alicia mora na primeira e única casa


que compramos. Uma casa de três quartos no Capitólio.

— Pelo menos ela foi conscienciosa com seu dinheiro suado.

— Não exatamente, — eu revelei. — Alicia nunca soube quanto


dinheiro eu ganhei naquela época, ou agora.

Eu não confiava na minha ex. Ela não tinha ideia do meu patrimônio
líquido. Depois que comecei a ganhar o suficiente para economizar, reduzi
minhas despesas ao mínimo e coloquei o restante em contas de
investimento. Seu advogado era muito estúpido para verificar meus bens, e
meu advogado não ofereceu nada.
— Honestamente, não tenho ideia de como lidaria com isso com Alicia.
Pelo menos quando éramos casados. Mas é um carro, não vejo por que ela
pediu um advogado.

— Os casamentos são difíceis. Não sabemos o que está acontecendo a


portas fechadas. — Sadie suspirou.

O silêncio entre nós durou vários quarteirões. Eu ia mudar de assunto,


mas ela falou primeiro. — Aconselhamento. Você pensou nisso antes do
divórcio?

— Nós nos odiamos. Eu não acho que um conselheiro teria nos ajudado
naquele ponto.

— Isso faz sentido, — ela concordou comigo, o que me fez sentir menos
idiota por trair Alicia.

Enquanto entregávamos as flores, fiquei pensando em como lidei com


meu casamento e o divórcio. Foi uma confusão. Ambos cometemos erros.
O primeiro foi casar com uma mulher que eu nem conhecia.

— Quando eu me casar, vou sugerir que tenhamos aconselhamento de


casais pelo menos duas vezes por ano. Só para ajustar as coisas, você sabe.

— Ajustar isso?

— Sim, os relacionamentos precisam de ajustes. Pessoas mudam. Elas


crescem. E quando estão em um relacionamento, também têm que
aprender a aceitar as mudanças e o crescimento de seus parceiros.
— Isso é profundo, Muffin. Então, você vai colocar o casamento nas
mãos de outra pessoa e submetê-lo à opinião dela, Doçura?

— Pelo menos uma vez por ano para garantir que tudo está
funcionando bem, Meleca de Açúcar.

— Bem. Adicione isso às regras, Bunda Sexy. Iremos a um conselheiro


para ter certeza de que estamos em sintonia.

— Não falamos sobre bundas ou como elas são sexy, Bebê Bolinho.

Antes de estacionar em nossa próxima parada, percebi algo. — Você


também é uma boa ouvinte, não é?

— O que?

— Você deu a ela algumas dicas de relacionamento.

— Uma sugestão simples, foi tudo o que fiz lá.

— Essa merda de entrega não é tão ruim, vou ter certeza de que posso
encaixá-la em minha programação diária.

— Ou não, Gatinho Açucarado.

— Mimo, pare com isso aí. Eu não sou aquele com boceta. É você.

— Você está cruzando os limites, Suspirinho.

— É difícil não, Sadie Bell.

— Tudo bem, Círculo de Amor, mas temos que concordar que ganhei
essa rodada.
— Esse é um apelido confuso, e o que te faz dizer isso? — Estacionei o
carro em nossa próxima parada.

— Porque acho que ganhei, não é? — Ela virou seu corpo em minha
direção, seu sorriso largo e brilhante.

— Você é adorável, pequena fada. — Inclinei-me e beijei sua testa. —


Obrigado por me deixar passar algum tempo com você.
Capítulo Dezessete

Kade

Engravidar uma garota aos 20 anos não me deu espaço para decidir se
eu queria me casar ou ter filhos. Eu assumi o papel de um pai e aceitei
sabendo que não seria como o meu. Prometi a mim mesmo que Tess e
Hannah teriam um pai presente. Mas eu não tinha ideia de como cumprir
essa promessa quando nunca tive um bom exemplo. Mesmo assim, tentei o
meu melhor. Às vezes eu me sentia um fracasso e outras, apenas tentava
não estragar tudo. Alguns dias eu me perguntava se não tirar minhas filhas
de Alicia era uma merda. Se eu deveria fazer algo. Não havia nenhum sinal
de abuso. As meninas a amavam. Elas nunca reclamaram dela e voltaram
para sua casa felizes.

Mas a merda que Alicia fazia às vezes era inaceitável. Seguir os sinais
era diferente de seguir meu instinto. Algo me disse que Alicia
negligenciava e mimava minhas filhas quando eu não estava assistindo.
Hoje não foi uma exceção; suas ações nunca deixaram de me enfurecer. E
quando afetaram minhas filhas, fiquei furioso a ponto de querer chamar o
advogado e brigar pela custódia total.
— É uma loja de flores, — Hannah apontou para a grande placa que
dizia Beija-Flor Arranjos Florais.

Ela cruzou os braços e parou completamente.

— Confie em mim, Abóbora, — eu abri a porta e a direcionei para


dentro. — Tem alguém em casa?

— Você prometeu me levar a algum lugar divertido onde eles


organizarão minha festa, — Hannah fez beicinho e bateu os pés. — Esta é
uma floricultura chata.

Sua frustração não a permitiu ouvir a razão. Não era culpa dela. Sua
mãe havia falhado com ela. Já que aquela mulher sempre envenenou as
meninas contra mim, não tive dúvidas de que Hannah não esperava muito
de mim. Mas sempre cumpri minhas promessas.

— Querida, entendo que você está chateada com o que aconteceu, mas
me dê uma chance.

— Nada é chato nesta loja, mocinha, — disse Raven enquanto


caminhava em direção ao balcão. — Temos livros, brinquedos, coisas
divertidas para colorir, quebra-cabeças e, na próxima semana, kits para
fazer suas próprias joias.

— Kits para fazer suas próprias joias? — Hannah deu a Raven toda sua
atenção.

— Vejo que vocês estão expondo joias novas. — Apontei para o grande
logotipo da coruja em cima da mesa.
— Sim. A Owl Creations apareceu. A artista sugeriu os kits junto com
algumas peças.

— Thea veio?

Thea era esposa de um grande amigo meu. Uma ex-atriz mirim que,
depois de viver tanto tempo diante das câmeras, preferia se manter longe
dos olhares do público. Quando eu contei a ela sobre a floricultura e sua
originalidade, ela concordou em visitar e ver se ela venderia algumas de
suas coisas aqui.

— Sim, ela está realmente dando algumas exclusividades para a loja,


graças a uma referência misteriosa. — Ela sorriu para mim. — Sadie está
nas nuvens.

Olhei em volta da loja em busca da pequena fada. — Onde ela está?

— Entregando os últimos buquês do dia. Ela tomou chá chai


diariamente. Você sabe algo sobre isso?

— Eu devo.

— Quem é Sadie? — Hannah franziu a testa. Seus olhos castanhos


claros olharam para mim com desconfiança.

— Ela é dona deste lugar, e minhas fontes me dizem que ela também
organiza festas.

— Eu não quero flores. — Hannah apertou a boca.

— Você faria se quisesse uma festa de fadas, — Raven disse, abrindo


um fichário.
— Festa das fadas? — Mais uma vez, Hannah ofereceu toda sua atenção
a Raven. — Você tem isso?

— Temos fotos de algumas das festas que organizamos. Se você estiver


interessada, posso mostrá-las a você. — Raven entrou no escritório e voltou
carregando uma pasta. — Quando é essa festa?

— No próximo sábado, — mordi a raiva.

Eu tinha uma semana para fazer uma festa de aniversário para trinta e
algumas crianças. O que incluía seus amigos da escola e as meninas de sua
aula de balé. Alicia jurou que tinha tudo sob controle. Mas ontem ela
anunciou que não teve tempo de organizar a festa de aniversário de
Hannah.

— Você está brincando, — Raven murmurou.

Eu balancei minha cabeça.

— Sadie não vai demorar, — disse Raven, procurando ao redor do balcão e


embaixo dele. — Me deixe ligar para ela, ver onde ela está.

— Rae, você nunca me respondeu, e eu não peguei o almoço. — Eu ouvi a voz


dela vindo da sala dos fundos. — Devíamos pedir algo ou ligar para o Sr. Pepitas
de Chocolate, que me estragou nas últimas semanas.

— Temos um cliente, chefe. Eles querem que organizemos uma festa... para o
próximo sábado.

— Oh isso é interessante. — Sadie parou, seus olhos arregalados olhando para


Hannah. — Suponho que você seja o cliente que procura uma festa.
Hannah apertou os lábios e cruzou os braços novamente.

— Meu nome é Sadie e ficarei feliz em atendê-la. — Ela tirou o boné de


beisebol, deixando seu cabelo cair sobre os ombros.

Contei até dois quando ela tirou a jaqueta revelando uma blusa rosa
claro que mostrava seus seios empinados. Se Hannah não estivesse aqui, eu
a estaria arrastando para o freezer.

— Como posso ajudá-la? — Ela apoiou os antebraços no balcão,


inclinando-se para a frente e olhando para Hannah.

— Você não pode, — Hannah a dispensou. — Esta é uma floricultura.

— Não é a uma floricultura regular se é isso que você pensa, — disse


Sadie alegremente, lutando contra a atitude ranzinza de Hannah. — Nós
fazemos muitas coisas aqui, até mágica. — Sadie piscou para Hannah. —
Eu posso até adivinhar seu nome.

— Você não pode. — A voz da minha filha saiu muito áspera.

— Abóbora, acalme-se. Corte a atitude.

— Deixe-me tentar. — Sadie tamborilou com os dedos no topo da boca.


— Hannah?

Ela engasgou. — Como você sabia?

— Poderes de fada, — Sadie respondeu. — O que posso fazer para


você?

— Eu quero uma festa. Uma grande festa. — Hannah estendeu os


braços para os lados, seus olhos se arregalaram e seu sorriso a seguiu. —
Com unicórnios e um bolo de unicórnio. — Então ela encolheu os ombros.
— Mas minha mãe disse que unicórnios não são reais e que meus amigos
cancelaram. Mas papai prometeu consertar. Ele disse que foi um mal-
entendido.

— Isso parece sério, mas como algo que podemos consertar.

— Você não pode. Esta não é uma loja de festas, — Hannah explicou,
sua voz tremia de raiva. — Esta é uma floricultura. — Hannah apontou
para a placa. — Você vende flores.

— Não, eu faço buquês. Os arranjos vão para lugares diferentes. Hotéis,


casamentos, festas de todos os tipos. Mas também tenho balões e conheço
pessoas que fazem os melhores bolos e podem me alugar castelos infláveis.

— Tess diz que os castelos infláveis são para crianças pequenas.

— Temos todos os tipos de coisas diferentes, até pôneis, — Sadie salvou


o momento. — Devemos começar com os detalhes. Quando você disse que
é o grande dia?

— No próximo sábado, — eu suspirei.

— Oh uau, isso é... — Sadie fechou a boca com força. — Em sete dias.

— Mais ou menos, — eu olhei para ela, meus olhos implorando para ela
fazer algo.

Meu desespero não conhecia limites. Eu pagaria taxas urgentes e lavaria


suas roupas por um mês.
— Raven, você pode levar nosso cliente para a mesa? Tenho algumas
coisas que preciso trazer. — Sadie se virou para mim. — Você se importaria
de me ajudar Sr. P... Hades.

Eu sorri porque Pepita de Chocolate estava saindo de sua boca.

— Que porra é essa? — Ela perguntou quando fechou a porta da


geladeira atrás de mim.

Meu queixo caiu no momento em que a ouvi xingar. Sadie tinha toda
uma mentalidade de viver, amar e rir. Quando ela ficava com raiva, era
porque alguém tinha fodido tudo regiamente. Nas três semanas desde que
a conheci, eu nunca a tinha visto chateada, muito menos jogando bombas
F.

— Desculpe, não sabia mais para onde ir. — Esfreguei meu pescoço,
pasmo com seu tom e o brilho saindo de seus olhos. O que eu fiz com ela?
— Eu pensei... mas se você não puder?

— Oh, eu posso! Só estou furiosa por causa da sua ex. — Suas mãos se
tornaram dois punhos apertados. — Se eu pudesse dar um soco nela, ou
pelo menos dar a ela um pedaço de minha mente.

— Você não está brava comigo?

— Eu estaria socando você no estômago se estivesse, — ela brincou,


sorrindo um pouco. — O que aconteceu?

— Ela nunca organizou a festa, — eu disse, encostando meu corpo


contra a porta. — Pobre Hannah está com o coração partido pensando que
seus amigos não queriam vir.
— Sua ex é uma vadia.

— Que refrescante. Sua boca está me mostrando seu lado travesso, — eu


sorri. — Você é doce por fora e safada por dentro?

— Você não gostaria de saber?

— Estou morrendo de vontade de descobrir o quão safada você é, Srta.


Bell, — peguei sua mão e levei-a à boca, pressionando um beijo suave em
seus dedos. — Vou lamber a capa doce e descobrir como chegar ao centro.

Sadie agarrou a mão dela. — Sua filha está a apenas alguns metros de
distância, Sr. Hades, — ela me repreendeu.

— Um dia, vou empurrá-la contra a parede desta geladeira e te foder


com força enquanto você grita: ‘Mais, Sr. Hades.’

Sadie olhou para mim, mas continuou a andar. — Detalhes da festa,


Kaden. — Ela estalou os dedos. — Você disse no próximo sábado, mas que
horas?

— Cedo, tarde, eu não sei, porra. Qualquer hora funcionaria para mim.
Estou perdido. — Eu agarrei seus ombros, impedindo-a de andar para
frente e para trás. — Você foi a primeira pessoa em quem pensei quando
recebi a notícia. Mas você não precisa fazer nada. Se você puder apenas...

— Ei, Sr. Pepita de Chocolate, estou aqui para ajudá-lo, tudo bem? —
Ela segurou meu rosto e eu queria segurá-la em meus braços e capturar sua
boca. Enterrar-me profundamente dentro dela e me esquecer de Alicia por
alguns minutos. — Estou feliz que você veio até mim, — ela sussurrou. —
Isto pode ser feito. Precisamos apenas superar isso e torná-lo perfeito, para
ela.

Suas palavras, sua voz, tudo me acalmou. Eu levantei minha mão,


acariciei seu lindo rosto com as costas do meu dedo. — Você é incrível.

— Pare com isso, Hades. — Ela me empurrou levemente. — Antes de


ver o que posso fazer por ela, preciso de um orçamento.

— Não se preocupe com o custo.

— Eu não vou alardear, mas estou avisando. Isso não vai ser barato. —
Ela pegou uma cesta, colocou algumas flores nela e me entregou. — Me
deixe ir ao escritório pegar todas as minhas pastas. Você pode querer um
pouco de chá e refrigerante para nós. Temos muito que enfrentar.

A pedido de Sadie, passei pela cafeteria para comprar um smoothie


para Hannah, café para Raven e outro chá chai para ela. Por uma hora,
fiquei invisível para Sadie e Hannah. Tudo girava em torno da minha filha
e do que ela queria de aniversário. Não conseguia me lembrar de quando
Alicia dedicou tanto tempo a qualquer uma de nossas filhas. Uma estranha
tratou Hannah como se ela fosse a única criança no mundo e seus desejos
importavam mais do que qualquer outra coisa. Minha filha às vezes
inflexível, que não gostava de estranhos, permitiu a troca de unicórnios por
pôneis. O tema era floresta encantada. Uma das atividades seria construir
suas próprias asas de fada.

— Ainda precisamos de um jardim, — disse Raven, colocando o


telefone no balcão. — Está tudo reservado para a próxima semana.
— É isso aí. — Sadie exalou e pegou seu telefone. — Eu vou ter que
fazer a chamada.

— Não a chamada, — Raven ofegou, então se virou para mim. — Você


vai deixá-la fazer a ligação?

— É nosso último recurso, Rae, — Sadie disse dramaticamente, tocando


seu peito antes de apertar enviar. — Não há nada que ele possa fazer.

Todos os olhos estavam sobre ela, enquanto ela respirava fundo. — Ei,
papai, — Sadie disse com um tom alegre.

Eu arqueei uma sobrancelha, esperando por mais.

— Como você está? — Ela revirou os olhos e sorriu. — Estou feliz que
você fechou o negócio. Bem, isso é perfeito. — Sadie olhou para suas
unhas. — Isso é incrível. Espero que você e Angelique gostem da viagem.
O que? — Ela balançou a cabeça. — Você terminou com Angelique. Ah,
que bom que você conheceu alguém novo. Ficarei feliz em conhecê-la. Bem,
já que você está saindo da cidade, você se importaria de me alugar seu
jardim e a casa da piscina para uma festa? Não, não é para mim, é para um
cliente. Sim, eu confio neles, pai. Você irá? Bem, isso é muito generoso da
sua parte. Oh, esse é o meu presente de aniversário.

Seus ombros caíram, e eu queria perguntar quando era seu aniversário.


Mas não consegui interromper a ligação.

— Bem, obrigado por sua generosidade. Claro, eu vou ficar bem, pai. Eu
vou fazer vinte e oito. Você disse que ela ficará lá por seis meses desta vez.
Bem, não há muito que eu possa fazer, ela é uma mulher adulta, não é?
Sim, papai, vou garantir que os convidados não entrem na casa principal.
Muito obrigada. — Ela desligou e cumprimentou Raven. — Conseguimos,
mas vou ter que aguentar o jantar com ele antes que ele saia da cidade.

— Não pode ser tão ruim, — sugeri. — Passar um tempo com seu pai
deve ser divertido.

Eu odiaria se minhas filhas não quisessem ficar comigo quando ficarem


mais velhas.

— Ele está trazendo sua nova namorada. Duvido que ela tenha mais de
vinte e dois anos e ele estará ao telefone, — explicou Sadie. — Não é tão
divertido quanto você pode pensar. — Então ela se virou para Hannah. —
Temos o melhor jardim de toda Bellevue. É mágico. — Ela sussurrou as
duas últimas palavras. — Tudo o que você precisa fazer agora é nos dar a
lista de seus convidados, e teremos os convites prontos amanhã.

— Amanhã é domingo, — eu a lembrei.

— Bem, a festa é no próximo sábado, e ela precisa entregar os convites


na segunda-feira.

— Você acha que vai ser legal o suficiente para que todas as crianças da
minha classe queiram ir?

— Ei, é uma festa legal, — diz Sadie, — mas eles também vêm porque
amam você.

Hannah se abraçou, seu queixo caiu sobre o peito. — Mamãe disse que
ninguém queria ir à minha festa.
— Talvez os convites tenham se perdido e é por isso que eles não
confirmaram presença, Hannah. — Sadie pegou a mão dela, apertando-a.
— Desta vez, vamos garantir que todos recebam. Talvez seu pai possa
entregar pessoalmente os convites para o seu professor?

— É uma ótima ideia, — concordei.

— Você pode passar a lista para a Srta. Tinkerbell, pai?

— Sadie Bell, — eu a corrigi. — Senhorita Sadie é mais como Rosetta ou


Iridessa.

— Rosetta! — Hannah ofegou.

Então ela bateu palmas com entusiasmo suficiente para me fazer querer
pular da cadeira.

— Ela é a fada das flores, — Hannah concluiu e sorriu para Sadie.

— Eu odeio interromper a festa de celebração, mas temos mais dois


arranjos na fila, — Raven anunciou, checando seu relógio. — Você quer
que eu fique?

— Não, eu vou fazer. — Sadie fechou as pastas e seu caderno. — Posso


voltar depois e fechar a loja. Vá para casa. Você tem planos com sua
família.

— Ei, Hannah. Você se importa se ficarmos para ajudar a Srta. Sadie?

— Nós podemos? — Hannah perguntou, seu rosto iluminado com


admiração.
— Você não precisa, — Sadie insistiu. — Vá para casa, tenho tudo sob
controle.

— Por favor, é o mínimo que posso fazer.

Eu precisava estar ao lado dela. Foi difícil não a ver hoje, mas depois da
maneira como ela tratou Hannah, eu queria abraçá-la, beijá-la. Obrigado
não era suficiente. Palavras não eram suficientes quando se tratava de
Sadie.

— Certo, — ela concordou.

Não demorou muito para pegarmos o material para o arranjo. Depois


de trabalhar com Sadie por algumas semanas, eu sabia muito bem onde
tudo estava armazenado. Hannah a ajudou com as flores enquanto eu
limpava a frente da loja. Quando terminaram, Sadie e eu limpamos a mesa
de trabalho e varremos o chão antes de sair. Coloquei os arranjos no meu
Suburban. Era mais fácil usar meu carro, pois eu tinha uma cadeirinha para
Hannah. Fizemos duas paradas e Hannah se juntou a Sadie na segunda.

— Eu ganhei um biscoito, — declarou Hannah, segurando a guloseima


com uma das mãos.

— Mas concordamos que você não pode comer até que seu pai diga que
está tudo bem.

Hannah, que não era paciente, me entregou o biscoito e me deu um


aceno de cabeça afiado. Sadie me impressionou. Ela era uma profissional
em lidar com emergências de última hora e crianças. Eu queria muito beijá-
la, mas com Hannah no carro, eu não iria agir. Esta foi a primeira vez que
apresentei minha filha a uma mulher, mas até que Sadie e eu tivéssemos
algo substancial, eu manteria as coisas em segredo.

— Você fez minha filha feliz,

— Não, ela fez alguém feliz, é por isso que ela está sorrindo.

— Ah, o mantra Sadie-Belle, como poderia esquecê-lo. — Eu liguei o


motor. — Para onde?

— Casa. Foi um longo sábado.

— Seu aniversário está chegando?

— Talvez, — ela encolheu os ombros. — Isto me lembra. O jardim é


gratuito.

— Quanto ele geralmente cobra por isso?

— Três mil. Mas vale a pena, mas não peço por isso, a menos que seja
meu último recurso. Papai está sempre por perto assustando meus clientes.
Felizmente, ele estará fora da cidade.

Eu não disse nada, mas planejava pagar a ela. Pelo pouco que pude
ouvir durante sua conversa ao telefone, o uso do jardim era seu presente de
aniversário. Se dei um presente para minhas filhas, era porque queria que
elas gostassem. Não passar para outra pessoa. Quando deixei Sadie em
casa, queria ficar com ela pelo resto da noite. Mas Hannah estava comigo, e
eu não estava pronto para compartilhar Sadie com mais ninguém. Nosso
tempo juntos era meu, por enquanto.
— Envie-me a lista para preparar esses convites. Se você me enviar seu
endereço, posso entregá-los amanhã.

— Vou mandar uma mensagem para você quando chegar em casa, me


ligue se precisar de mais alguma coisa minha.

— Foi um prazer conhecê-la, Hannah.

— Eu gosto dela, — Hannah disse depois que Sadie entrou em seu


prédio. — Podemos ir buscar uma roupa mágica para a minha festa?

— Onde vamos conseguir isso?

Ela encolheu os ombros. — Por que você não pergunta a Sadie? Ela
pode saber.

Eu não perdi tempo. Minha filha me deu a melhor desculpa para passar
mais tempo com Sadie.

— Sim? — Sadie atendeu ao telefone.

— Nós precisamos de ajuda.

— Com o que?

— Uma roupa de festa, você tem algum tempo para ir às compras com a
gente? — Ela permaneceu quieta por vários segundos. Verifiquei o telefone
para verificar se ela ainda estava na linha. — Sade?

— Eu não deveria, Kade, — sua voz era severa, seca.

— Por que não? — Meu coração bateu rápido. Ela tinha um encontro?
— Porque estou me acostumando a ficar perto de você... demais. Não é
saudável, não para mim.

O que isso significa? Ela finalmente confirmou que havia de fato alguma
atração magnética entre nós? Eu queria correr em direção ao apartamento
dela e finalmente beijá-la.

— Essas linhas estão ficando muito borradas, Kaden.

Se ela me deixasse, eu iria apagá-los todos e demolir todas as paredes


em um instante também.

— O que está acontecendo, papai?

No entanto, tive que pensar em todos. Tess, Hannah e Sadie. Até Alicia.
Se ela soubesse que eu estava saindo com alguém, ela enlouqueceria.

— Por favor, — eu implorei a ela. — Este é um assunto sério. Temos que


encontrar a roupa perfeita.

— Por favor, Sadie! — Hannah não sabia o motivo de sua hesitação.

— Com uma condição, — Sadie disse.

— O que?

— Não nos vemos até o próximo sábado.

Meus pulmões entraram em colapso, meu coração parou.

— Sadie, — fechei meus olhos, recuperando minha respiração.

Já tinha sido difícil passar uma manhã de sábado sem ela. Eu sabia que
não nos veríamos neste fim de semana, mas agora que tinha um motivo
para estar com ela, não queria desperdiçá-lo. Ela não poderia tirar minha
semana. Logo eu estaria decolando para Nova York e sentiria muita falta
dela.

— Esta é uma má ideia, — ela murmurou.

— Desculpe, mas eu preciso de você.

— De alguma forma, não acredito que você esteja realmente


arrependido, Sr. Hades. Mas estarei aí embaixo em alguns minutos.

— Ela está vindo com a gente, pai?

— Sim, ela está.


Capítulo Dezoito

Kade

Kade: Eu não vou trabalhar hoje.

Beija-flor: Pela última vez, você não trabalha para mim.

Kade: Eu trabalho para seus clientes. Eles me pagam com biscoitos e doces.

Beija-flor: Vou informá-los de que podem guardar seus doces e guardar suas
câmeras.

Kade: Você vai sentir minha falta, certo?

Beija-flor: Não. Estou feliz que você finalmente encontrou outra coisa para
fazer com seu tempo.

Kade: Hannah está doente, mas quando ela melhorar, voltarei ao trabalho.

Beija-flor: Lamento saber que ela não está se sentindo bem. Ela não parecia
bem na noite de sábado. Você precisa que eu leve algo para você?

Kade: Quer saber, eu tenho uma ideia. No caminho, pode pegar biscoitos, por
favor? Estamos sem nenhum.

Beija-flor: Vou levar biscoitos e canja de galinha.


Não respondi à mensagem dela, mas peguei meu computador para
pedir flores para Hannah. Ela me disse no sábado que adoraria receber
flores um dia. Parecia que uma garota doente precisava de um pouco de
animação na forma de margaridas.

— Como você está se sentindo, baby?

Hannah balançou a cabeça e a recostou no travesseiro. Peguei o


termômetro e movi suas pernas com cautela antes de me levantar do sofá.
Gentilmente, puxei sua orelha, virando ela. Inseri o termômetro no canal
auditivo, liguei e removi assim que apitou. Eu a beijei logo depois.

— Trinta e sete graus, — li em voz alta. — A febre finalmente está


baixando, docinho.

Eu alternei entre dois medicamentos diferentes para manter a febre


baixa. O médico disse-me para me preocupar se subisse mais do que
quarenta. Depois que Alicia a deixou em meu apartamento, o Dr. Hawkins
fez uma visita domiciliar e a diagnosticou com um vírus viral.

— Como você está se sentindo?

— Tudo bem. — Sua vozinha mal era audível.

— Você quer mais soda?

Hannah acenou com a cabeça. — Vou voltar para a casa da mamãe à


noite?

— Não, Abóbora. Você vai ficar comigo até se sentir melhor. Você sabe
que adoro cuidar de você.
Alicia odiava cuidar das meninas quando elas estavam doentes.
Quando eu estava fora da cidade, ela as mandava para os pais. Eu adorava
cuidar de minhas filhas, e elas não precisavam saber que sua mãe não tinha
interesse em cuidar delas.

— Vou ficar bem para a minha festa?

— Sim, e os convites foram entregues mais cedo, — assegurei-lhe,


porque ela ainda estava com medo de que ninguém fosse à sua festa. — Jax
os entregou a sua professora, e ele passará pela academia mais tarde hoje
para entregá-los ao seu professor de balé.

Quando liguei para Jax para cancelar nosso treino e expliquei a ele sobre
a festa, ele se ofereceu para entregar os convites. Ele sabia que eu não podia
confiar em Alicia. Enquanto Hannah assistia à televisão e tirava uma
soneca, eu trocava e-mails com Duncan, o empresário da banda. Estávamos
trabalhando na programação da próxima turnê. Fiquei ao lado da minha
filha até a campainha tocar. Quando abri a porta, a mulher mais linda do
mundo estava bem na minha frente. Meu coração batia mais rápido sempre
que ela estava por perto.

— Ei linda, — eu me inclinei para frente, beijando sua bochecha e


pegando as sacolas que ela carregava. — Eu queria saber se você estaria
aparecendo com meu pedido. Porque não cobraram meu cartão?

— Então... — Me afastei da entrada para que ela pudesse entrar.


— Já se passaram várias horas desde que fiz meu pedido e não havia
nenhuma mensagem do meu banco informando que eu tinha uma nova
cobrança. Nem uma ligação para perguntar sobre meu pedido.

— A entrega de hoje é gratuita, — disse ela, me mostrando um buquê


de balões. — Não estamos entregando o que você solicitou.

— Eu posso ver isso.

— Hannah prefere balões.

— Você lembrou. — Meu coração batia forte contra minha caixa


torácica. Ela não era apenas bonita, mas também atenciosa e doce. — Você
trouxe mais do que biscoitos. — Eu levantei uma sobrancelha olhando para
as sacolas que eu segurava.

— Sim, e tome cuidado com a sacola amarela, — ela me avisou


enquanto me entregava as sacolas. — A sopa ainda está quente e não confio
nos recipientes que usei. Pode derramar.

— Você teve tempo para fazer sopa?

— Sim, fechamos cedo, então fui para casa fazer canja.

— Obrigado, — eu me inclinei para beijar sua bochecha, mas ela se


abaixou antes que eu a alcançasse e caminhasse em direção à sala de estar.

— Me deixe dizer oi para Hannah, e então vou ajudá-lo a servir a


comida.

Eu marchei para a cozinha e coloquei tudo no balcão.

— Ela parece tão triste, — Sadie entrou na cozinha.


— Eufemismo do ano.

— Ela disse que a mãe dela a trouxe ontem à noite.

— Alicia não gosta de crianças doentes, — afirmei, focando nos


mantimentos que Sadie trouxe e não na raiva fervendo em minhas veias.

Sadie abriu os armários. — Onde estão suas tigelas?

— Os armários ao lado do fogão. — Eu me virei e contei duas tigelas. —


Você não vai comer aqui?

— Eu... — Ela agarrou a bancada respirando fundo.

— O que aconteceu, pequena fada?

— Mamãe ligou, — ela disse a última palavra.

— Ela não deveria estar na reabilitação? — Parei de guardar as coisas e


me concentrei nela.

Eu não era um estranho para a reabilitação ou limpeza. Nos primeiros


trinta dias, não tive contato com o mundo exterior.

— Sim, ela estava, — Sadie se curvou.

Meu coração vacilou enquanto seu corpo irradiava tristeza. Havia uma
sensação de desânimo me arrastando para mais perto dela. A necessidade
de consertar seu dia, de fazê-la sorrir.

— O que eu posso fazer?

— Estou preocupada com ela. Tenho certeza de que ela foi para a
reabilitação na esperança de que papai estivesse por perto quando ela
saísse. — Ela inclinou a cabeça ligeiramente, olhando para mim. — Isso me
preocupa.

— Por quê?

— Porque eu acho que ela ainda o ama. Não importa quanto tempo se
passou desde o divórcio, ou quantos namorados e maridos ela teve. Mamãe
ainda ama papai. Assim que ela souber sobre a nova namorada... — Seus
ombros caíram, sua voz falhou.

— Ela vai beber mais, — terminei a frase.

— E usar mais analgésicos para se anestesiar. — Ela se virou para olhar


para mim. — Eu não deveria me importar. Ela é uma adulta. Mas eu não
consigo evitar.

Eu agarrei a mão dela e a puxei para mim. — Apoie-se em mim, Sadie.


Deve ser difícil vê-la doente e incapaz de ajudá-la.

— Quão difícil é para você?

— O desejo está lá, mas eu me lembro do que importa. As pessoas que


posso perder se deixar a doença vencer.

— Estou orgulhosa de você, — ela murmurou.

Meu coração explodiu dentro do meu peito. Ninguém nunca ficou


orgulhoso de mim ou me apoiou. Naquele momento, eu estava me
apaixonando por ela. Era tão óbvio. Ela nunca saiu da minha mente. Ela
nunca estava longe, mentalmente, se não fisicamente. Sadie estava se
tornando minha única força estável. Meu único suporte em um mundo
cheio de caos. Eu precisava tão desesperadamente disso em minha vida,
ela. E eu não conseguia acreditar que tinha acabado de perceber isso.

— Mas eu acho que te odeio, — ela murmurou, respirando


profundamente, suas mãos agarrando minha camiseta com força.

— De alguma forma, eu não acredito em você. Por que você acha que
me odeia? — Eu beijei o topo de sua cabeça.

— Porque você está me fazendo preocupar com você, — ela fez uma
pausa, com a cabeça apoiada no meu peito. Seu corpo se encaixou
perfeitamente contra o meu.

Prendi a respiração e esperei ouvir mais sobre seus sentimentos


ambivalentes por mim. Ela ficou em silêncio por um longo tempo, seus
olhos estavam fechados. Eu queria capturar sua boca e beijá-la até que
todas as suas dúvidas desaparecessem.

— Então, você se preocupa comigo.

— Talvez eu faça. Mas eu fico me perguntando o que vai acontecer


comigo quando você partir.

Suas dúvidas apertaram meu coração. Senti a dor da partida de minha


irmã. Minha mãe nos negligenciou por anos. O abandono e a perda me
marcaram. As feridas eram tão profundas que eu não podia deixar
ninguém entrar no meu mundo ou no meu coração. Exceto por essa
mulher. Mas o que eu faria se ela fosse embora? A resposta veio a mim
imediatamente, eu nunca a deixaria ir. Eu também não a abandonaria.
— Nem todo mundo vai embora, Sadie, — eu sussurrei em seu ouvido,
puxando-a com mais força contra meu corpo.

— Às vezes sou eu que tenho que sair porque a outra pessoa está me
machucando.

Essas palavras, juntamente com sua voz quebrada, pareciam uma flecha
no meu coração. Eu queria mantê-la perto de mim e prometer a ela que
ninguém a machucaria novamente.

— Quem te machucou, amor?

— Não importa.

— Você não pode acreditar nisso quando carrega as cicatrizes em seu


coração. Eles são importantes, e estou aqui para ouvir sobre aquelas
batalhas que você perdeu, aquelas que você ganhou.

Naquele momento, percebi que ela estava quebrada como eu. Meu novo
antídoto era ela. Ela me fez sentir completo. Todo. Eu queria ser aquele que
a completaria. Eu encarei seus lábios e debati se deveria beijá-la, mas me
lembrei que Hannah estava lá conosco. Graças a Deus, havia algumas
paredes de separação entre a cozinha e a sala de estar. Até que Sadie e eu
tivéssemos algo substancial, eu não queria dizer nada às minhas garotas.
Tudo era novo para mim. Muito novo. Eu não tinha um relacionamento
sério com outra mulher desde sua mãe. Como minhas garotas reagiriam?
Parei de me preocupar porque, no fundo, sabia que Sadie ainda não estava
pronta para nós.
— Me corrija se eu estiver errado, mas acredito que você precisa de
tempo.

— Tempo? — Ela se afastou do meu aperto.

— Para chegar a um acordo com seu passado, e esperançosamente me


dar uma chance.

— Você e eu estar em um relacionamento é uma péssima ideia, mas


aceito o convite para jantar com você e Hannah.

— Hannah, venha. O jantar está pronto.

Beijei a bochecha de Sadie novamente, ciente de que poderia ser a


última vez que ela me deixaria fazer isso. Meu instinto me disse que ela
estava prestes a elevar as paredes mais alto e traçar uma linha mais grossa
e permanente entre nós.
Capítulo Dezenove

Kade

Presente

Tudo começou com apenas um olhar

Um simples olá

Desde então, meu coração não deixou você ir

Seu lindo rosto, doce sorriso, voz sedosa

Eu simplesmente não conseguia tirar você da minha cabeça

Eu fiquei sem palavras. Tem palavras que eu não consigo falar

Meu coração começou a disparar naquele dia

✰✰✰✰

Mas como eu poderia me apaixonar por um anjo

Meus segredos sombrios se escondem nas profundezas do oceano


É só você que eu quero buscar e manter

Para sempre seja minha

✰✰✰✰

Eu nunca disse antes

Nunca os senti antes

Amor, é isso?

Estou caindo, não me pare

✰✰✰✰

Mas como eu poderia me apaixonar por um anjo

Meus segredos sombrios se escondem nas profundezas do oceano

É só você que eu quero buscar e manter

Para sempre seja minha

✰✰✰✰

Em meus sonhos, existe você e eu

Se esse doce sonho se transformar em realidade

Será para sempre

Só você e eu

✰✰✰✰

Mas como eu poderia me apaixonar por um anjo


Tem coisas que eu sempre guardei

Meus segredos sombrios se escondem nas profundezas do oceano

É só você que eu quero buscar e manter

Mas você me amaria no escuro? Eu preciso de sua luz. Por favor, não me deixe
agora. Para sempre seja minha.

— Essa é a primeira música que escrevi para sua mãe, Feijãozinho, —


coloco o violão de volta na caixa e volto para a pia para lavar e trocar
minha bata antes de pegar ele em meus braços. —Ela adorava quando eu
cantava para ela antes de dormir, — digo, marchando em direção a ele. —
Vou te ensinar a tocar assim que você conseguir segurar um violão. Essa
mulher vive através da música. Ela vai adorar nos ver tocar juntos. — Eu
manobro cuidadosamente os tubos conectados ao meu bebê e o seguro
perto do meu peito. —Como você está nesta manhã? — Ele mexe seu corpo
mais perto do meu. —Ouvi dizer que eles estão planejando apresentar a
você a fórmula. Porém, não antes de eles verificarem se você é alérgico a
leite ou soja, como sua mãe.

Feijãozinho abre os olhos, olhando para mim. Ele está começando a se


tornar mais consciente de seus arredores, e isso está fazendo meu coração
crescer.

— Eu sou papai, — eu digo baixinho.

Ele focaliza seu olhar azul escuro em mim. O garotinho provavelmente


se pergunta quem eu sou, enquanto aposto que ele está com saudades dela.
Eu odeio ter perdido a gravidez. Desta vez, deveria ser diferente. Íamos
compartilhar tudo desde o início. Enjoo matinal, primeiro batimento
cardíaco e eu respiro fundo e congelo. Porra, eu sou um idiota.
Compartilhamos os enjoos matinais por alguns dias antes de nosso
rompimento. Sadie estava vomitando há três dias seguidos.

— Não é nada, — disse ela. Era tudo. Era nosso bebê. Este Feijãozinho
que precisava de mim naquela época. Porra, ela precisava de mim. — Você
não precisa mais se preocupar comigo.

Se eu me senti um idiota e um fracasso quando a deixei. Hoje me sinto


ainda pior. Como eu poderia não saber? Porque eu nunca estive perto de
uma mulher com enjoos matinais. Se a conheço bem, o que conheço, aposto
que ela falava com ele todos os dias. Desde o momento em que ela acordou
até que ela foi dormir.

— Você sente falta da voz dela, não é, menino? — Eu beijo sua testa. —
Eu também. Muito.

Eu o embalo e canto baixinho enquanto ele adormece. Nesse ínterim,


pondero sobre nosso futuro. Até agora, não pensei muito sobre isso. O que
vamos fazer quando Sadie estiver pronta para ir para casa? Devo comprar
uma casa como tínhamos planejado? Eu não entendo por que ela está
morando na casa de seu pai. Raven insiste que a floricultura continua
crescendo. Há tantas coisas que perdi. Mas antes de pensar no futuro,
preciso esperar. Há uma chance de que ela não acorde. Meu mundo inteiro
ameaça desmoronar e, ainda assim, tenho que encontrar a força para ser
tudo por nosso filho.

— Ela disse a você que há muito tempo que queríamos você?


Seus olhos permanecem fechados, sua respiração é profunda. Ele está
confortável em meus braços. Se eu pudesse, eu o manteria comigo o tempo
todo. Cada vez que o coloco de volta no berço, meus braços ficam frios e ele
se agita. Precisamos um do outro e temos criado um vínculo que não quero
perder. Nunca. Sempre que Sadie e eu mencionávamos ter uma família, eu
queria experimentar tudo. Eu não queria perder um único momento. Ouvir
o batimento cardíaco, estar presente durante o parto, as mamadas da
madrugada. Eu queria experimentar tudo isso com Sadie.

— Se você tivesse me contado, eu estaria ao seu lado desde o início, —


digo em voz alta.

Sadie não responde. Ela continua dormindo, mas sei que ela pode me
ouvir. Isso é o que diz em todos os artigos que li sobre pacientes em coma
como o dela.

— Você está muito cansada para me encontrar em seus sonhos, pequena


fada? — Eu levanto meu olhar e a observo.

Esses são os momentos em que gostaria de vê-la em meus sonhos.


Durante as poucas horas de sono que tenho à noite, não a vi.
Costumávamos sonhar um com o outro, um no outro. Ela jurou que veio
até mim em meus sonhos. Não importa o quão longe ou perto estivéssemos
um do outro, nós nos encontramos. Não houve nenhuma mudança. Os
hematomas em seu rosto estão sarando, sua condição continua estável. Eu
entendo que ela precisa se recuperar. Mas estou desesperado. Esse estado
de limbo onde espero, sem garantias, é irritante.

— Você sabe o que mamãe diria?


Meu filho não faz barulho. São apenas as máquinas e minha voz
preenchendo o silêncio.

— Ela dizia: 'apenas tenha fé e seja paciente, Kade. As coisas acontecem


na hora certa. Você não pode apressar a perfeição. ’— Beijo sua mãozinha.
— Isso é o que vamos fazer. Ter fé e esperar.

Sadie fazia tudo em seu próprio tempo. Eu preciso ter fé que ela vai
acordar quando estiver pronta. Nesse ínterim, tenho que descobrir como
ser o pai de um recém-nascido, encontrar um lar para nós e descobrir como
vou dar a notícia às minhas filhas. Elas se importariam se Sadie sofreu um
acidente? Hannah faria, ela adora Sadie. Mas Tess... eu exalo duramente.
Por enquanto, terei que me concentrar em aprender como cuidar de um
recém-nascido. Minhas filhas terão que lidar. Há alguém tão importante
quanto elas agora que precisa de mim mais do que qualquer outra pessoa
neste mundo.

— Você está pronto para a tarefa de ser meu pequeno ajudante,


Feijãozinho? Nós temos muito o que fazer. Em breve vou apresentá-lo às
suas irmãs. Elas vão te amar.

Eu espero. A incerteza está pesando sobre mim. No entanto, mesmo


quando meu coração se parte ao ver Sadie, também bate de felicidade
porque eu o tenho. A ambivalência não faz sentido. Estou em êxtase e não
consigo esconder a alegria que sinto por ele. No entanto, minhas entranhas
estão desmoronando porque Sadie está em coma, e não tenho a porra da
ideia se algum dia verei sua alma brilhar novamente.
— Quando você acordar, ficará surpresa com minhas novas habilidades
parentais, amor, — digo em voz alta, esperando que Sadie possa me ouvir.
— Você vai ter que me alcançar. Concordamos em fazer isso como uma
equipe, lembra? Como você avaliaria meus serviços até agora, Feijãozinho?
— Ele permanece parado, parecendo em paz. Este homenzinho me lembra
muito Sadie quando ela adormecia em meus braços. — Quer saber,
devemos mostrar um vídeo dela, para que você possa ouvir sua voz.

Em vez de manobrá-lo de volta para a incubadora e pegar meu laptop,


pego meu telefone e examino os vídeos de Sadie que armazenei. Eu volto
para o Ano Novo, mas pulo porque me lembro que deixamos o telefone
ligado enquanto eu fazia amor com ela naquela noite. Eu encontrei aquele
onde eu tinha que tocar no fim de semana depois do Dia de Ação de Graças
no Madison Square Garden, e ela não pôde vir comigo.

— Ei, Coelhinho Carinhoso, bom dia. Não tenho certeza se você já pousou, mas
queria dizer oi e obrigada pela rosa que você deixou no travesseiro... — Ela arrasta
os olhos ao redor. —E café da manhã. — Ela me sopra um beijo. —Já estou com
saudades, mesmo quando acabei de ver você no meu sonho. — Ela bebe um pouco
de seu café. —Queria desejar-lhe boa sorte em suas entrevistas e nos próximos
trinta shows. Você vai abalar o mundo deles. Já te disse ultimamente que te amo?
Não? Bem, eu amo. Eu te amo daqui para o próximo universo e vice-versa. Você é o
homem mais maravilhoso de toda a galáxia e estou feliz porque você é meu. Lembre-
se de que não importa o quão longe estejamos um do outro, estaremos juntos em
nossos sonhos, todas as noites. Tenha um ótimo passeio, Kay. — Sadie olha em
volta, seu rosto focando no telefone. —Vamos falar em tempo real esta noite, Sr.
Hades. Estarei nua, molhada e pronta para você.
— E você não precisava ouvir a última parte. — Meu olhar se move em
direção ao nosso Feijãozinho cujos olhos estão abertos e cujas pernas
chutam. — Sim, é mamãe. Eu sabia que você ia gostar de ouvir a voz dela.

Retrocesso o vídeo o suficiente para repetir a parte em que ela diz, 'Eu te
amo', e toco várias vezes para nós. Meu coração bate mais rápido quando
me lembro do jeito que ela me amava. Ela não abriu o coração
imediatamente. Mas quando ela amava, ela amava ferozmente. Ela é feroz,
forte e amorosa. Ela não é perfeita, mas tinha orgulho de suas falhas. Ela é
honesta, imparável. Mas ela conhece o medo, e às vezes Sadie não luta até
que esteja pronta para a batalha e forte o suficiente para matar as feras que
ameaçam sua mente. É assim que sei que ela vai acordar mais cedo ou mais
tarde. O que não sei é se temos futuro.

Terminamos?

— Não podemos terminar, — eu a advirto. — Você não pode separar


duas almas gêmeas. É simplesmente impossível, Beija-flor. Ela vai voltar
para nós em breve. E ela vai te dizer o quanto ela te ama. Posso imaginá-la
segurando você em seus braços enquanto ela lê histórias sem fim e diz que
você é o garoto mais bonito do mundo.

Ele abre os olhos, me encara e eu juro que esse garoto quer conversar.
Há algo importante que ele quer dizer, ou talvez ele queira me contar tudo
que ele e sua mãe fizeram enquanto eu estava fora. Já que tenho o telefone,
mando uma mensagem para Raven para verificar como ela e a loja estão.
Ontem ela disse que tinha tudo sob controle. Que Sadie havia contratado
alguns funcionários para ajudá-las durante sua licença maternidade.
Raven: Está tudo bem, mas se você quiser verificar, é mais do que bem-vindo.

Kaden: Isso significaria deixar o hospital. Eu não posso.

Raven: Você deve sair por algumas horas. Ir ao café do outro lado da rua não é
suficiente. Você está dormindo?

Kaden: Algumas horas quando há alguém por perto para lhes fazer companhia.

Raven: Pense em descansar mais. Assim que eles saírem do hospital, eles vão
precisar de você. E suas filhas estarão de volta em breve.

Kaden: Eu estarei pronto.

Raven: Antes que eu esqueça, a mãe de Sadie ligou. Ela deixou uma mensagem
de voz. Não vou ligar de volta, mas se ela aparecer, vou ter que contar a ela. Você
está preparado para lidar com ela?

Kaden: Ela não está na lista.

Raven: Acorde e sinta o cheiro das rosas, Kaden. Você não é família. Se um dos
pais dela quiser, eles podem expulsar você do quarto dela.

Kaden: Eles não dão a mínima para ela. Só eu faço.

Raven: Você se foi por muito tempo. Sadie mora na casa da piscina de Andrew
desde que se mudou de sua casa. Não demorará muito para que ele perceba que sua
filha não está em casa, você não acha?

Eu bufo porque se for esse o caso, ele deveria ter notado dias atrás. Ele
está provando que estou certo. O filho da puta não se preocupa o suficiente
com ela. Andrew Bell pode descobrir sobre Sadie em alguns meses. Ele vai
enviar a ela um presente caro e dar a notícia de que tem uma nova mulher
em sua vida.

Kaden: Eu vou lidar com eles se eles aparecerem.

Sadie e seu pai têm um relacionamento estranho. Ele a ama, mas não
sabe o que fazer com ela. Ela não é um carro que ele pode guardar em sua
grande garagem, uma propriedade ou uma peça de arte cara. Andrew Bell
só pode manter um relacionamento por um certo tempo, e Sadie é um
elemento permanente em sua vida. Um ser humano que vive, pensa e fala
que tem suas próprias ideias e não gosta de seguir as dele.

E ele me odeia. Eu sou tudo o que ele despreza, um músico ignorante


do caralho e um abandono do ensino médio. A única coisa boa que ele tem
a seu favor na vida é a filha. Eu tentei o meu melhor para ser cordial com
ele, mas houve momentos em que não consegui me controlar. Ele pode
tentar me expulsar, mas está muito ocupado para prosseguir com suas
ameaças. Andrew gosta de criar o caos entre Sadie e eu. Mas desde o início,
ele só conseguiu nos aproximar.
Capítulo Vinte

Kade

Três anos atrás

Para variar, Alicia cuidou das meninas durante a tarde. Só porque


estavam passando a noite com seus pais. Elas queriam comemorar o
aniversário de Hannah alguns dias antes. Eu debati entre dar uma passada
na floricultura ou ir ao estúdio para tocar. No final, decidi passar minha
noite compondo uma nova música, para Sadie, em casa. Mas minha musa
passou pela minha casa, mudando todos os meus planos.

A partir do momento em que coloquei meus olhos nela, não pude deixá-
la fora da minha vista. Ela usava um vestidinho preto, salto alto,
maquiagem e seu cabelo estava preso em um coque escondendo seus
destaques coloridos. O coelhinho vestido de raposa esta noite. O sangue
correu para minha virilha, minhas mãos coçaram para agarrá-la e minha
boca queria reivindicar a dela. Fechei meus olhos por um segundo
tentando pensar em pensamentos mundanos não relacionados a sexo.

— Ei, — sua voz sedosa me cumprimentou.


Minha boca salivou. Depois de várias respirações profundas, eu
finalmente controlei minha luxúria.

— Quantos limites eu cruzaria se dissesse que você está gostosa pra


caralho e quero prendê-la contra a porta e foder você completamente?

— Olá para você também, Sr. Hades. — Ela enfiou a mão na bolsa,
tirando um envelope branco. — Você deixou isso na loja. Mandei uma
mensagem antes sobre as faturas, mas você nunca respondeu. Preciso do
dinheiro para pagar os pôneis e o bolo.

— Porra!

Isso me acalmou. Se não pagássemos esses dois integralmente, não


teríamos uma festa no próximo sábado.

— Eu esqueci totalmente. Desculpa.

— Está bem. Você parecia um pouco distraído hoje.

— Você é minha única distração, — respondi.

Minha mente só tinha duas configurações. Preocupo-me com minha


vida mundana e pensando em Sadie. Salivei o dia todo. E queria beijá-la a
cada segundo. Eu precisava provar um pouco daqueles lábios deliciosos.
Como hoje, eu simplesmente não conseguia tirar minha mente dela e
planejava trazer nossa situação à tona. No entanto, eu estava muito
ocupado para fazer uma pausa.

A Beija-Flor Arranjos Florais estava crescendo rapidamente. Corria o


boato de que a floricultura tinha um motorista que se parecia com Kaden
Hades. Depois de três semanas trabalhando com ela, estava prestes a
acontecer. Não tínhamos muito tempo para sair ou bater um papo como de
costume. Ao meio-dia saí com dez arranjos e nunca mais voltei para a loja.

— Por que você não entra? Eu posso cozinhar algo para você. Podemos
falar sobre como você está linda ou...

— Chega de flertar, Hades. Eu tenho que ir. — Ela revirou os olhos,


mexendo os dedos.

— Planos de jantar?

Ela acenou com a cabeça duas vezes e olhou para o relógio. Notei o
colar de pérolas, os brincos combinando e a maquiagem que ela usava.
Havia algo nela que não parecia natural. Ela parecia desligada esta noite.

— Você está bem?

— Por enquanto. Não estou ansiosa para o meu encontro.

— Cancele. Fique comigo, — eu sugeri, abrindo mais a porta.

Que merda ela estava saindo com outra pessoa.

— Eu tenho planos para o jantar, — ela repetiu.

— Por que eu não levo você para jantar?

— Essa audição seletiva, Kade.

— Se bem me lembro, você me deve um jantar, pequena Espertinha.

— Eu poderia convidar você para vir junto, Tiro Quente, — ela propôs.
Havia uma pegadinha por trás do convite. Meu instinto me disse para
ficar em casa e acenar adeus, mas meu coração queria estar com ela.

— Me diga mais. Estou interessado. — Eu bati no meu queixo,


estreitando meu olhar.

— Não há muito a dizer. Eu estou indo para jantar. Você é bem-vindo


para se juntar a mim, e é em um restaurante chique não muito longe daqui.

— Estamos tendo um jantar formal, — eu sorri, olhando para ela


novamente. — Você e eu.

Eu me inclinei para frente, meus lábios tocando ao longo de sua


bochecha.

— Eu chamaria isso de progresso, Srta. Bell.

— Mantenha seus lábios para você, Hades. — Ela me empurrou


levemente. —Não há progresso. Este é um convite para se juntar a meu pai,
sua nova garota e eu para jantar.

— Você quer que eu conheça seu pai, Pão de Mel? — Meu corpo ficou
tenso e dei um passo para trás.

Os pais de Alicia me odiavam; embora eu fosse o pai de suas netas. Não


havia nenhuma maneira de o pai de Sadie gostar de mim.

— Não, Melãozinho. Eu não quero que você conheça meu pai.

Eu puxei minha camisa um pouco e dei um tapinha na minha barriga.


— Não há gordura aqui, Torrão de Açúcar. Mas me diga, vou conhecer seu
pai ou não?
— Sim, mas não da maneira que você pensa.

— Você sabe o que estou pensando? — Eu cruzei meus braços e arqueei


uma sobrancelha. — Eu duvido, porque se você soubesse, estaria
reclamando da minha terrível etiqueta de amizade.

— Você é tão irritante às vezes.

— Eu sou?

Um sorriso torto tocou seus lábios, suas bochechas escureceram


ligeiramente.

— Eu acho que você está nervosa porque quer a mesma coisa que eu.

— Você é um pesadelo. — Ela revirou os olhos.

— Eu não sou. Para provar isso, irei com você e irei me comportar da
melhor forma. Serei perfeito para a princesa Aurora.

— Olha, Príncipe Encantado, se você vai me chamar de princesa, eu


escolheria qualquer uma, exceto a Bela Adormecida. E se você está se
juntando a mim, você tem que se apressar e trocar.

— Trocar?

— É um daqueles restaurantes sem jaqueta e sem chinelos.

— Você quer que eu me vista para a ocasião?

— A menos que você não possa, então eu irei embora.

— Eu posso, mas você vai me dever.


— Se estamos cobrando por favores, você me deve seu primeiro filho
depois do que tive que fazer esta semana por Hannah.

— Não tenho certeza se Tess estaria disposta a ir com você, mas


podemos ter um bebê juntos, se quiser.

— Obrigada, mas não estou no mercado para engravidar, Sr. Hades.

— Um dia, você vai implorar por um, — eu sorri para ela.

E foda-se se eu não fui chicoteado. A imagem de uma menina com seus


longos cabelos e olhos apareceu do nada. Ou um menino, nosso filho. Pare
com isso, você acabou com os filhos e os compromissos. Você é péssimo nisso. Eu
me virei e marchei em direção ao meu quarto.

✰✰✰✰

As estrelas iluminavam o céu como flocos de neve à noite. Sadie sorriu,


e o vento soprou seu cabelo em uma juba desgrenhada. Assim que saímos
do restaurante, ela desfez o coque apertado e o peso que carregava nos
ombros desapareceu. Minha garota estava de volta e a noite se tornou tudo.

— Veja aqueles. — Ela apontou para o céu. — As constelações. Eles


testemunharam tudo o que acontece, durante uma noite, um ano, até um
milênio. Eles assistem e registram cada pequeno momento. Quantas
histórias você acha que eles contariam?

— Você gosta de histórias?


— Sim, todos os tipos de histórias, histórias reais, biografias. Peguei isso
do papai, acho.

— Eu não gostei dele. — Peguei sua mão delicada e beijei seu pulso.

Quando Sadie e eu caminhamos em direção à entrada do restaurante,


seu pai chegou. Assim que me viu, ele me entregou uma nota de vinte
dólares e as chaves do carro. Ele me pediu para cuidar de seu bebê, ou eu
estaria desempregado no dia seguinte.

— No entanto, ficarei feliz em cuidar de seu bebê. — Entreguei o


dinheiro que o pai dela me deu.

— Você acha que vinte é o suficiente para cuidar de mim? — Ela riu.

O som de sua risada correu dentro e ao meu redor. Eu amei tudo sobre
ele. A doçura. O barulho comovente que ressoou pelo meu coração,
fazendo-o bater mais rápido.

— Sua proteção não tem preço. — Abri a porta do passageiro da minha


caminhonete. — Eu daria todo o meu dinheiro para mantê-la segura. Mas,
novamente, eu mesmo cuidaria de você.

— Papai se referia ao carro, — disse ela, uma vez que entrei no banco do
motorista.

Seu pai é um idiota de merda.

— Como você pode suportar o homem?


— Papai é um gosto adquirido, — disse Sadie beijando meu queixo
antes de eu sair do estacionamento. — Você não tem ideia do quanto eu
aprecio você ter vindo comigo.

Beijei seus nós dos dedos e acariciei seu braço nu com meus dedos
enquanto segurava o volante com minha mão esquerda.

— Da próxima vez eu posso desistir ou dar a ele um pedaço de minha


mente.

— Obrigada por se controlar.

— Foi muito difícil, — eu murmurei entre os dentes cerrados. — Ele é


um idiota, mas eu admirei a maneira como você o colocou em seu lugar.

— Ele está acostumado com as pessoas fazendo tudo o que ele diz e
quer. Mas isso é algo que me recuso a fazer por ele. Ninguém pode fazê-lo
feliz. Por que tentar? — Ela disse com resignação.

— Obrigada por nos dar seu jardim. Agora eu entendo porque Raven
me disse para impedi-la.

— Rae gosta de exagerar, eu posso lidar com meu pai, — ela comentou
casualmente. — Foi um prazer, e fiz isso pela Hannah. Com mais tempo, eu
teria conseguido outra coisa.

— Eu não posso acreditar que alguém tão doce pode ser relacionado a
esse idiota.

— Não podemos escolher nossos pais, mas pelo menos sei o que não
quero com meus próprios filhos.
— Isso é algo que você pode escolher?

— Eu quero acreditar que sim, — ela compartilhou, inclinando-se mais


perto como se estivesse prestes a me contar um segredo.

A proximidade de seu corpo me fez querer puxá-la para o meu colo,


mas continuei dirigindo e controlei meu desejo.

— Não seria ótimo ter uma família onde todos se amam e se respeitam?
— Ela questionou, animadamente. — Não estou dizendo que não haveria
discussões, mas quero ser um pai e um amigo, a pessoa a quem procuram
quando precisam de um adulto e não aquele de quem eles se escondem
porque têm medo da minha reação.

— Tenha meus filhos, — ofereci.

— Você já tem filhos e, pelo que testemunhei até agora, fez um ótimo
trabalho. Hannah é charmosa e gentil.

— Aconteceu que ela gostou de você também. — Estacionei em frente


ao prédio dela. — Eu nunca apresentei ninguém às minhas filhas.

Nunca me vi com ninguém, mas cada minuto que passei com Sadie foi
único. Trabalhamos perfeitamente juntos. A maneira como ela tratou
minha filha e como ela era paciente com todos, me aproximou dela. Seu pai
crítico tentou colocá-la no chão várias vezes. Nem uma vez ela o deixou, e
todas as vezes ela usou sua doçura para mantê-lo sob controle.

— Estou lisonjeada por você ter confiado em mim sobre o aniversário


dela e por me deixar passar um tempo com vocês dois. — Ela continuou
olhando para a entrada de seu prédio. — Obrigada por tudo.
— Parece que você quer encerrar esta noite.

— Eu tenho que acordar cedo amanhã de manhã.

— Eu também tenho que pegar seu chá antes do trabalho.

— Você não tem que fazer isso.

— Mas adoro fazer isso, assim como adoro passar o tempo com você.
Venha para casa comigo, podemos assistir filmes e apenas sair.

— Talvez outro dia. Esta noite eu tenho que estar em casa.

— Posso me convidar para entrar?

— Você pode, mas não devemos.

— Somos amigos que gostamos de passar tempo juntos. Por que você
continua lutando comigo?

— Porque eu sei como isso vai acabar.

— Você não sabe, mas eu vou te dar tempo.

— Por que você é tão insistente?

Não tenho certeza. Minha alma sabe, meu coração também. Minha cabeça é
quem está descobrindo, mas enquanto isso acontece, eu não quero deixar você ir.
Capítulo Vinte e Um

Kade

Os subúrbios não tinham nenhum apelo para mim. Muitos dos meus
amigos moravam em Seattle, alguns outros nas ilhas. Nunca me ocorreu
que nas profundezas de Bellevue existisse outro mundo. O pai de Sadie
morava em um retiro urbano a apenas trinta minutos da cidade. Na
semana passada, percebi que ele tinha mais dinheiro do que células
cerebrais, mas me foda, ele estava carregado. Não admira que ele se
comportasse como se o mundo fosse dele.

— Ele é dono de um palácio, — murmurei baixinho enquanto


estacionava o carro na frente da casa da propriedade.

— É aqui que vamos dar minha festa? — Hannah saltou em sua cadeira.

— Urgh, você pode pará-la? — Tess gritou com sua irmã mais nova.

— Tess, seja legal, — eu a avisei.

— Esta é uma festa infantil. Eu não entendo por que você teve que me
arrastar, — ela fez beicinho.

— Porque é o aniversário da sua irmã e nós somos uma família.


Me recusei a dar a ela o maior motivo, porque sua atitude ruim iria
piorar. Sua mãe estava fora da cidade e não havia nenhum adulto para
supervisioná-la. Aos treze anos, ela era muito jovem para ficar em casa por
horas sem alguém para cuidar dela, especialmente quando eu estava a
quase quarenta minutos de distância.

— Olha, papai! Lá está Sadie! — Hannah gritou.

— Quem é Sadie?

— Amiga do papai.

— Você tem uma amiga? — Tess me olhou com desconfiança.

— Tenho vários. Você os conheceu.

— Mas nenhuma delas são meninas.

— Ela é uma mulher, e ela conhecia todas as pessoas certas para nos
ajudar a organizar esta festa.

— Ela é como uma groupie?

Tentei manter minhas filhas longe de groupies, álcool e drogas. Mas


quando as levei comigo, era difícil evitar algumas dessas coisas.

— Não, ela é alguém que conheci em um café.

— Ela é bonita e legal, — disse Hannah. — Quando fiquei doente, ela


me trouxe canja de galinha e balões.

— Você está pensando em sair com ela? — O corpo inteiro de Tess caiu.
— Por favor, não. Você está velho demais para isso e tem mamãe.
Eu massageei minhas têmporas. — Querida, nós já conversamos sobre
isso. Sua mãe e eu acabamos. Nós nos divorciamos há muito tempo.

— Pais. — Ela revirou os olhos. — Eles não percebem o que está bem na
frente deles. Vou apenas esperar até você decidir voltar para casa.

Tess fechou a porta e saiu correndo do carro. Adolescentes. Elas gostavam


de tornar minha vida miserável.

— Ela está certa?

— Sobre que Hannah?

— Você e a mamãe voltando, — murmurou Hannah.

— Não, querida, isso nunca vai acontecer. Mas nós amamos vocês duas,
muito.

— Você me ama mais do que a mamãe.

— Isso é bobo, querida. Vamos descer e ver o que Sadie precisa de nós.

— Nosso convidado de honra chegou, — Sadie disse, descarregando


sua van.

— E eu trouxe a aniversariante também.

— Eu estava falando sobre ela, mas se isso te faz sentir melhor, você
pode ser nosso convidado de honra número quarenta e nove.

— Quantos convidados nós temos?

— Quarenta. — Ela sorriu.

— Você nunca perde a chance de me fazer sentir bem-vindo.


— É minha especialidade. — Ela parou de carregar coisas no carrinho
de golfe e olhou para Tess. — Você deve ser Tess. Seu pai me falou muito
sobre você.

— Bem, ele nunca mencionou você.

— Estou feliz porque isso significa que ele não tem nenhuma
reclamação sobre a festa ou minha loja. — Sadie sorriu para ela, ignorando
o comentário rude vindo da minha adolescente tagarela. — Não há nada
pior do que ter um cliente insatisfeito. Se importa de me ajudar com os
sacos de balões, por favor?

— Por quê? — Tess deu um passo para trás, os olhos arregalados e a


boca igualmente aberta.

— Porque eu preciso de um adulto me ajudando, Tess, — Sadie


explicou. — Como esta é uma festa de última hora, não tenho muitos
ajudantes. E você não parece o tipo de pessoa que gostaria de uma... festa
infantil, — ela murmurou as últimas palavras perto de Tess. — Acho que
você será perfeita para ser minha coordenadora de jogo.

— Eu quero ser uma coordenadora de jogo. — Hannah levantou a mão


e saltou para cima e para baixo. —Me pegue! — Minha filha mais nova
implorou.

— Você é a aniversariante. Seu trabalho é aproveitar a festa. — Ela


voltou sua atenção para Tess. — O que você acha? Eu vou te pagar pelas
horas que você trabalha.

Tess cruzou os braços. — Eu posso estar interessada. Continue falando.


Sadie riu. — Você é filha do seu pai. Eu vou te pagar dez dólares por
hora. Se você ficar para limpar conosco, vou lhe dar mais cinco.

— Não é ruim. Acho que vou aceitar.

— Ótimo! Comece a transportar as coisas para a casa da piscina. — Ela


entregou a ela um saco de balões. — Basta dar a volta nesta casa, e você a
verá imediatamente.

— Como posso ajudar, Sadie Bell?

— Bem, você é a aniversariante e não deve fazer nada. Mas se você


insiste, por que não vai para o próximo carro e checa com Raven? A piscina
está fechada e tudo está seguro. Eu me certifiquei disso ontem à noite.

— Eu poderia ter vindo com você, — afirmei.

— Você teve um show. Como foi?

— Eu lancei uma nova música. Eu gostaria que você tivesse estado lá, —
mencionei casualmente.

— Você pode tocá-la outro dia ou comprarei a música assim que estiver
disponível.

— Não a lançaremos em breve e não a verei depois de hoje.

— Finalmente, me livrei de você. — Ela brincou, mas aqueles olhos não


pareciam muito felizes.

— Desculpe te confessar, mas isso nunca vai acontecer, minha fada


Ameixa Doce.
— Então por que não vou te ver?

— Estou indo para Nova York. Estamos gravando um álbum ao vivo e


fazendo algumas apresentações para shows noturnos.

— Vou me livrar de você por alguns meses? — Ela sorriu.

— Só por algumas semanas.

Seu corpo enrijeceu e sua expressão mudou ligeiramente. Eu vi um


vislumbre de tristeza em seus lindos olhos, mas desapareceu quase
imediatamente. Isso me lembrou do último domingo, quando jantamos
com o pai dela. Houve momentos em que sua expressão mudou para
tristeza ou frustração, mas desapareceu em segundos.

— Antes que eu esqueça, isso é para você. — Ela me entregou uma


sacola de presente. — Você vai precisar disso.

— Não é meu aniversário. — Eu encarei o presente, então olhei para ela.

— Você é o pai, é o seu dia também. Devem ser celebrados treze anos
sendo um pai incrível.

— Eu não diria que tenho sido incrível ou contaria como treze anos, não
fiz muito nos primeiros cinco.

— Tenho certeza que você trocou uma ou duas fraldas.

— Nunca. Eu estava fora da cidade, ou apenas... eu não era tão bom no


começo. — Penteei meu cabelo com a mão livre. — Você poderia dizer que
eu era um idiota nojento.
— Não se culpe. Isso tudo está no passado. Você mudou e aquelas
garotas parecem felizes.

— Você é muito atenciosa, — eu disse enquanto abria meu presente.

Era uma câmera profissional. — Isso é incrível, mas eu tenho meu


telefone.

— Mas isso tira fotos melhores e grava vídeos mais longos sem ter que
se preocupar com armazenamento. Estou dando um álbum de recortes
para Hannah. Vocês dois podem fazer muito com isso juntos.

Meu coração parou com o significado do presente. Ela estava me dando


a chance de me relacionar com minha filha. Havia algo sobre ela que
continuava me puxando para seu mundo. Sadie era um livro aberto, mas
tão estranho quanto o azul profundo do mar. Ela era a luz das estrelas com
um toque de escuridão. Um belo caos que me atraiu para seu mundo. E
mesmo se eu quisesse parar com isso, meu coração continuava se
apaixonando cada vez mais por ela.

— Você não precisava, — eu encarei a câmera. — Parece caro.

— Bem, alguém me pagou extra. Eu usei um pouco disso para pagar


por isso.

— Bem quando eu pensei que você não poderia ser mais perfeita. —
Afastei uma mecha de cabelo de seu rosto.

— Não sou perfeita e nunca se esqueça disso. Não me coloque em um


pedestal porque eu vou cair.
— Você está no topo e nunca cairia. Eu estaria perto o suficiente para
pegá-la todas as vezes e colocá-la de volta. — Peguei a mão dela, mas ela se
afastou de mim.

— Como dizem quando você está prestes a andar de montanha-russa,


mantenha seus braços e pernas dentro do veículo o tempo todo. Ou
apenas... mantenha suas mãos para si mesmo, Hades.

— Você acha que eu posso?

— Deve ser fácil.

— Muito complicado porque a cada dia você me faz sentir... eu não sei
como descrever.

— Você sempre pode escrever uma música, chamá-la de Sadie Minha


Obsessão. Pode ser seu próximo sucesso.

— Sua sugestão chega um pouco tarde, quando já tenho sete músicas


sobre você incluídas no meu próximo álbum.

— Sete?

— Sim. A banda só me permitiu adicionar sete, e tive que deletar quatro


das que planejávamos gravar.

— Sete? — Sua voz abaixa. — Sobre mim?

— Devo salientar que nenhuma outra mulher jamais me inspirou? —


Inclinei-me mais perto, nossas bocas quase se tocando quando ouvi a
vozinha.

— Papai!
— Comporte-se, meu Rolo de Seda, — Sadie repreendeu, esticando o
pescoço. — Ninguém viu sua pequena exibição. Mas como eu disse,
mantenha suas mãos para si mesmo.

— Você vai começar com os apelidos de novo, Fofurinha?

— Papai, você precisa ver meu bolo. — Hannah agarrou minha mão. —
Você tem que vir comigo. É um unicórnio e tem fadas voando ao seu redor.

— Vá. Tire fotos dela no jardim e com o bolo antes que os convidados
cheguem.

O bolo era do jeito que Hannah queria. Tess amou o bolo e perguntou se
ela poderia ter um bolo legal como aquele em seu próximo aniversário. Eu
não tinha certeza do que isso significava, quando a cada dia seu humor
mudava, junto com o que ela gostava ou odiava. Ninguém me avisou sobre
a adolescência. Alguns dias eu sentia falta da minha filhinha, aquela que
me adorava e sorria o tempo todo. Antes da festa começar, juntei-me a
Sadie na casa principal. Era tão majestoso quanto do lado de fora. Talvez
mais. Chão de mármore no hall de entrada, tetos altos e janelas abertas em
toda a sala de estar e sala de jantar.

— Esta casa é impressionante.

— Eu amo isso, — Sadie continuou seu caminho para a cozinha. — Era


diferente quando eu era mais jovem.

— Você morou aqui enquanto crescia?

— Não, esta era a casa dos meus avós. Papai herdou depois que a vovó
morreu. — Sadie abriu uma grande despensa. —Seus irmãos ficaram com
as outras propriedades. — Ela saiu da despensa com duas bandejas
grandes e as entregou para mim. —Mas eu visitava com frequência e
passava muitos verões aqui aprendendo sobre flores.

— O jardim é lindo.

— É todo meu, — ela respondeu com um sorriso largo e uma pitada de


orgulho. — Era meu projeto enquanto eu estava entre empregos. A vovó
adorava. Algum dia, eu quero uma casa como esta e uma estufa onde eu
possa plantar alimentos e orquídeas e... é apenas um sonho, claro.

— Poderia acontecer.

— Não, não pode porque eu preciso de muito dinheiro, — ela desafiou,


apresentando um fato.

— Mas parece que você é rica.

— Papai é rico. Estou me dando bem com uma floricultura que está
começando. — Ela olhou ao redor da casa e depois de volta para mim. —
Terminamos com o lugar por hoje. Ninguém pode entrar. Nem mesmo a
rainha da Inglaterra. — Ela fechou a porta atrás de nós, trancou-a e puxou
uma pequena caixa do bolso. —Se vocês me dão licença.

Sadie se afastou em direção a Hannah, ela se abaixou e presenteou-a


com a caixa. Minha garota pulou para cima e para baixo e então abriu a
caixa. Quando as alcancei, vi um lindo colar com um pingente de
unicórnio.

— Obrigada! É lindo! — Hannah a abraçou com força.


— Você quer que eu ajude você a colocá-lo? — Hannah acenou com a
cabeça uma vez. Sadie soltou a corrente e colocou em volta do pescoço de
Hannah, tomando cuidado com seus longos cabelos escuros. — Feliz
aniversário, docinho.

— Obrigada. — Hannah pressionou as duas mãos em seu colar. — Este


é o melhor presente de sempre.

— Você não deveria, — eu disse.

— É aniversário dela. Ela merece um unicórnio. — Sadie piscou para


mim. — Me siga. O fornecedor precisa dessas bandejas.

✰✰✰✰

— Obrigado. Você fez todos os desejos dela se tornarem realidade.

— Ela parece exausta.

— As duas estão exaustas. Ainda estou impressionado com a maneira


como você lidou com Tess.

— Ela é uma adolescente, — disse ela como se isso explicasse tudo. —


Eles querem pertencer a todos os lugares, mas sentem que não pertencem a
lugar nenhum. Se você os ajudar a encontrar algo de que gostem, será
difícil para eles ficarem taciturnos.
Tess passou horas mandando nas crianças, organizando jogos,
distribuindo prêmios e ajudando Hannah a abrir os presentes. Ela deixou
Sadie dar suas instruções sem estourar ou responder.

— Eu dei as notas de agradecimento para Hannah. Tess tem a lista.


Amanhã vocês três podem passar o dia assinando-os.

— Por ser tão desorganizado, você parecia ter sua merda sob controle.

Seus lábios se apertaram, seus olhos sorriram. — Isso é entre você e eu.

Nossos olhares permaneceram conectados. O fato de compartilharmos


algo especial, um segredo que apenas nós dois conhecíamos, me
surpreendeu. Eu queria abraçá-la, beijá-la e dizer adeus apropriadamente.
Mas as meninas estavam assistindo. — Seu segredo está seguro comigo,
Ursinho de Goma.

— Adeus, Torrão de Açúcar.

— Posso passar em sua casa mais tarde esta noite? — Eu poderia pedir
pizza para o jantar e deixar Tess encarregada de Hannah por algumas
horas.

— Eu não vou voltar para casa.

— Por quê?

— Quero trabalhar no jardim amanhã de manhã.

— Nós poderíamos vir, — eu sugeri.

Me dê mais algumas horas antes de ter de deixá-la por duas longas semanas.
— Obrigada, mas isso é algo que eu gosto de fazer sozinha.

— Pode ser melhor se você tiver pessoas ajudando.

— Não, não seria porque é a minha terapia e prefiro fazer isso sozinha.
Obrigada pela oferta embora.

— Você percebe que eu não vou te ver por duas semanas?

— Você fica dizendo isso como se eu devesse estar triste, mas estou
dando uma festa interna enquanto conversamos.

— Você é cruel.

— Você deveria ir. — Ela acenou para as meninas.

— Sadie?

— Adeus, Kaden Hades, — ela sussurrou meu nome. — Valeu a pena,


gostei do nosso tempo juntos. Até a próxima.

Kaden: Eu sinto que você acabou de me expulsar de sua vida.

Ela nunca respondeu minha mensagem e eu senti como se tivesse


perdido uma parte de mim mesmo.
Capítulo Vinte e Dois

Kade

Sadie nunca respondeu minhas mensagens. Liguei para ela diariamente,


mas só recebi seu correio de voz. Ela nunca retornou minhas ligações como
eu pedi. Depois de sete dias sem vê-la, eu não podia esperar mais.
Quebrando minha rotina, voltei para casa. Aquela mulher achou que
tínhamos acabado e eu tinha acabado de começar. Armado com o que
esperava ser a arma mais poderosa para chegar até ela, dirigi até sua loja
assim que pousei.

— Onde ela está? — Eu olhei ao redor da loja.

— Eu sabia que você não iria me decepcionar. — Raven sorriu.

— Do que você está falando?

— Você não sabe, não é?

— Sabe o que?

— Por quê você está aqui?

— Porque ela não está retornando a porra das minhas ligações ou


mensagens de texto, — expliquei, passando a mão pelo meu cabelo
enquanto tentava afastar minha frustração. — Estou com saudades dela, e
ela pensa que acabamos. Mas ela está errada.

— Razão boa o suficiente.

— Há outra?

— A sua é melhor. Sadie foi para casa para evitar sua mãe.

— Então é para lá que estou indo. Obrigada, Rae.

Peguei uma margarida do ramo que ela tinha na mesa de trabalho. Em


vez de dirigir até a casa dela, deixei meu carro onde estacionei, perto da
loja, e caminhei em direção à casa de Sadie. Quando me aproximei do
prédio dela, a chuva fraca que começou quando saí da loja tornou-se uma
chuva torrencial. As gotas eram do tamanho de amêndoas, elas se
espatifaram no meu corpo. Corri rápido para chegar ao meu destino.
Felizmente, alguém estava saindo do prédio quando cheguei.

— Onde você vai?

— Para visitar Sadie Bell.

— A garota do 4C? Ela é um amor, — disse a mulher se afastando, mas


deixando a porta aberta para mim.

Peguei as escadas, mas o peso do jeans molhado me atrasou. Assim que


cheguei ao andar dela, localizei Sadie. Suas costas voltadas para a escada.
Ela estava vestindo uma legging colorida e uma blusa longa. Seus pés
estavam descalços e seu cabelo estava preso em uma trança.

— Exatamente a mulher que eu queria ver.


Ela se virou e sorriu para mim. Seu olhar me prendeu. Ela vasculhou
meu corpo de cima a baixo como se eu tivesse surgido do nada, como um
sonho ou uma miragem.

— Hades, — ela sussurrou.

— Oi, pequena Atrevida. Você parece um pouco preocupada.

— Algo me diz que você é o cérebro por trás dessas caixas. — Sadie
olhou para a flor encharcada que eu trouxe. Seus olhos se arregalaram e
sua boca se abriu. — O que ela fez para você?

— Não pensei na chuva quando decidi correr com ela.

— Você não corre com flores, — ela brigou, colocando as mãos na


cintura. — Eu não te ensinei nada?

— Não me lembro de ter tido uma aula sobre o que não fazer quando
você está com pressa.

— Coitadinha, você a aniquilou, — seus olhos se moveram da flor que


eu segurava, viajando lentamente ao longo do meu corpo até encontrar o
meu. — Você está encharcado. Por quê você está aqui?

— Onde está o seu telefone? — Eu respondi dando um passo mais perto


dela.

— No meu bolso... — ela respondeu com cautela, voltando-se para a


transportadora que eu tinha comigo. — Você veio de Nova York para
checar meu telefone?

— Eu liguei para você várias vezes.


— Percebi.

— Você não respondeu.

— As mensagens diziam: ‘me ligue quando puder.’ Isso me dá margem


de manobra.

— Você está brava comigo.

— Por que eu ficaria brava com você? — Ela se virou para as caixas. —
Bem, além de ter todos esses pacotes fora da minha casa sem motivo. —
Suas costas ficaram tensas e lentamente ela mudou, olhando para mim. —
Por que sua bolsa está rangendo?

— Me convide para entrar e você verá.

— Nah, eu tenho algumas coisas para fazer.

— Como voltar para dentro e assistir Netflix?

— Com pipoca com alfarroba1.

— Como posso esquecer o ritual? — Eu bati a palma da minha mão na


minha testa.

— O que tem nessa transportadora, — ela insistiu e caminhou em


minha direção. — Você tem um gato aí? Sou alérgica. — Ela torceu o nariz
olhando para a transportadora. —Volte quando você não tiver uma arma
para me matar.

1 Alfarroba é uma vagem que provém da árvore Ceratonia siliqua, mais conhecida como alfarrobeira,
originária de países mediterrâneos. Dessa vagem, são retiradas sementes que são torradas e moídas,
gerando uma farinha que é naturalmente doce e possui gosto bastante similar ao do cacau.
— Não estamos exagerando um pouco? — Eu a segui. —Aqui, pegue
isso. — Entreguei a ela a transportadora. —Não abra até que eu tenha todas
as caixas dentro.

Ela entrou em seu apartamento, abrindo mais a porta para mim. Não
demorei muito para puxar as caixas e abri-las. Comida, uma cama, uma
árvore, lixeira e a caixa de areia chegaram mais cedo conforme eu solicitei.
Eu marchei em sua direção, beijei sua bochecha.

— Ei, — eu sussurrei e acariciei seu cabelo, colocando meus braços em


volta dela enquanto eu sentia seu doce aroma de jasmim, gardênia e
pêssego. Casa. — Senti sua falta.

— Você não deveria, — ela murmurou, com as mãos em volta do meu


pescoço. — Precisamos de algum tempo separados.

— Depois de sete dias sem você, eu teria que discordar. — Eu a


pressionei mais perto. — Você estava certa desde o início. Não podemos
ser apenas amigos. E eu descobri que não posso ficar sem você.

Nossos olhos se encontraram. Ela poderia negar que havia algo entre
nós, mas o desejo queimando em seu olhar discordava de suas palavras.
Algo estava crescendo entre nós, ousei chamar isso de amor. O tipo sobre o
qual escrevi, mas nunca sonhei que pudesse me sentir.

— Miau.

Sadie moveu seu olhar em direção à transportadora, liberando meu


pescoço.

— Por que você tem um gato nessa caixa?


— Porque você precisa de um amigo peludo. — Hesitante, liberei seu
corpo sentindo-me vazio quando perdi seu calor.

— Ela é uma garota exigente.

— Ele, — eu a corrigi e abri a bolsa tirando uma pequena bola de pelos.

— Oh meu Deus, ele é adorável, — ela bateu palmas levemente,


inclinando-se mais perto. — Você é precioso, lindo garoto.

— Ele é um gato de Bengala, — expliquei. — Hipoalergênico, ativo e


tem apenas dez semanas de idade.

— Um gatinho? — Ela mudou sua atenção do gato para mim várias


vezes.

— Ele está pronto para ser amado e assumir o controle do seu


apartamento.

— Você está tornando isso difícil.

— O que é isso?

— Mantendo minha distância de você.

— Por que você luta contra o que está acontecendo entre nós?

— Porque não parece seguro para o meu coração. Você é um grande


amigo, mas...

— Mas eu sou um idiota famoso, um playboy com um casamento


fracassado e incapaz de amar. Você acredita que, se der o salto, vou te
machucar quando terminarmos. — Dei de ombros.
— Você pode amar. — Ela olhou para o gatinho e mordeu o lábio. —
Porém, você está confirmando meu ponto. Você não quer ficar com alguém
por muito tempo. Cair tão profundamente que você não sabe onde termina
ou começa.

— Semanas atrás, eu diria que você estava certa, que não havia como eu
me apaixonar. No entanto, você provou que estou errado. Aceitei seu
desafio e somos amigos, mas há algo sobre você que eu nem sabia que
queria ou precisava. Se você me der mais tempo para descobrir, podemos
descobrir mais, juntos.

— Você faz parecer um experimento. Você quer que eu me coloque na


linha enquanto você pesquisa? Como se eu fosse a cobaia?

— Você é um passarinho minúsculo, não um roedor, — eu a corrigi. —


Talvez um gatinho... como este.

Mudei de assunto porque não estava pronto para revelar mais. Eu


precisava de mais tempo para entender o que tínhamos e ter certeza de que
não estragava tudo.

— Ele é bonito. Muito obrigada pelo presente. — Ela o abraçou contra o


peito. — Mas ele precisa de um nome. — Ela se sentou no sofá, colocando-o
em seu colo.

— É seu trabalho nomeá-lo.

— O cara de olhos azuis me lembra... — Ela se virou para olhar para


mim e sorriu. — Hmm. — Ela bateu no queixo. — Frank Sinatra.

— Achei que você escolheria algo como Bola de Neve.


— Perfeito. Sinatra Bola de Neve Bell

— Não, ele deveria ser Hades. Frank Sinatra Bola de Neve Killian
Hades.

— Killian Hades parece ótimo. Como sua banda. — Ela torceu a boca
para o lado. — Você deveria guardar aquele para uma criança humana, não
uma criança peluda.

— Já tenho minha cota de filhos.

— Isso mesmo, você tem duas garotas lindas. Mas eu não sabia que
havia uma cota.

—Dois é demais. Não sou a melhor pessoa para ter filhos. Olhe para
mim. Eu sou péssimo como pai. A coisa mais sensata a fazer é parar
enquanto estou na frente.

— Você é um ótimo pai. Tess e Hannah têm sorte de ter você.

— Todos os dias me sinto um fracasso, — confessei. — Eu gostaria de


poder ficar muito mais perto delas. Que eu tivesse feito mais quando elas
eram bebês.

— O fato de que todos os dias você tenta ser um homem melhor diz
muito sobre você, — ela pegou minha mão e a apertou. — Você é um pai
maravilhoso. Eu vi você. Nunca duvide disso, mas você pode continuar
melhorando.

— Então colocamos Killian Hades fora da lista de gatos.

— Você decide.
— Espere, não podemos nomear uma criança como Killian. O apelido
seria Kill2. — Eu ri. — Kill Hades3

— Isso não me ocorreu. Mas tenho certeza de que há outro nome por aí
que combinaria com Hades.

— Você percebe que meus filhos estão condenados?

— Nah, é um sobrenome legal. Mas você precisa criar uma boa lista de
nomes para crianças antes de criar mais nomes.

— Você acha que eu deveria ter uma lista de nomes antes de conhecer
meu filho?

— Bem, sim. O nome deve corresponder ao sobrenome e à


personalidade dele. E se você o chamar de Cameron e ele parecer um
George?

— Eu odeio esses nomes.

— Calma, é apenas um exemplo, — disse ela, escondendo um sorriso


malicioso. — Você pode comprar um livro ou procurar nomes de bebês
online.

— Compramos um livro então, — sugeri, acariciando o queixo do


gatinho.

— Para dar um nome ao gato, Bola de Bilhar? — Ela virou a cabeça.

— Não, estou falando sobre nossos filhos Calcinha de Pudim.

2 Matar
3 Mate Hades
— Eu tenho que parar você bem no Calcinha de Pudim, Urso Pardo, é o
pior apelido, — ela protestou. — Agora, vamos voltar às crianças. Não há
crianças no meu horizonte.

— Não no futuro imediato, — eu corrigi. — Mas sempre existe a


possibilidade.

— Bem, primeiro, eu preciso de um namorado. Acho que precisaríamos


de alguns anos para nos conhecer. Talvez morar juntos. Ele poderia propor,
e no terceiro ano, nós nos casaríamos. Teríamos dois ou três filhos e,
quando fossem mais velhos, também poderíamos nos tornar pais adotivos.

— Calma, Beija-flor.

— Do que você me chamou?

— Beija-flor, — eu repeti.

— Hmm, — ela fechou os olhos por um segundo e quando os abriu, ela


me deu um sorriso brilhante. — Na verdade eu gosto desse.

— Eu imaginei, mas vamos voltar para a adoção de mais crianças.


Precisaríamos de uma casa grande.

— Bem, quando estiver pronta para essa etapa, espero que minhas lojas
estejam gerando receita suficiente para uma casa grande e para sustentá-
las.

— Lojas?

— Estou planejando abrir pelo menos mais duas lojas de flores, mas elas
serão nos subúrbios. — Ela sorriu.
— Isso vai acontecer. Eu tenho fé em você. Mas se seu marido tem
dinheiro para comprar uma casa grande e sustentar muitos filhos, por que
você tem que trabalhar?

— Para mim, porque não vou perder minha identidade nem a mim
mesma. Eu não vou ser apenas mãe ou esposa. Eu serei Sadie Bell. O
marido e eu devemos complementar um ao outro, fazer um ao outro ter
sucesso, não perder quem eu sou porque decido me casar.

— Quem vai cuidar das crianças?

— Nós dois. Alimentação, fraldas, acordar tarde é para ambos, não só


para mim. Mesmo quando se trata de trabalho.

— Mas apenas dois filhos?

— Três, se possível, com uma diferença de idade de dois a três anos.


Crescer como filho único não é divertido.

— Ter irmãos não garante proximidade. Olhe para minhas garotas.

— Esse é um caso único. — Ela fechou a boca rapidamente, abrindo bem


os olhos.

— O que você não está dizendo?

— Nada, — ela murmurou, movendo seu olhar para o gato.

— Acho que estou começando a aprender seus gestos sutis. Aquela


pequena sobrancelha que você faz junto com a boca fechada. — Eu tracei
sua sobrancelha com meu dedo indicador. — Isso significa que você está
escondendo algo, docinho. O que você não está me contando?
Ela encolheu os ombros.

— Desembucha. Você não gosta das minhas garotas ou algo assim.

— Tess e Hannah são adoráveis, — disse ela genuinamente.

— Mas? — Eu arqueei uma sobrancelha.

— Na minha opinião, estar perto de seu irmão depende dos pais.

— Como assim?

Eu não conseguia entender o que ela queria dizer. Ela estava me


chamando de pai ruim?

— Você ensina seus filhos a amar os irmãos, a respeitá-los, a ser amigos.


Para contar um com o outro, — afirmou. — Você estabelece a base do
relacionamento deles, onde eles constroem um vínculo entre eles, os
tornam parceiros no crime. Eles contra o mundo, até mesmo contra os pais.

— Não consigo imaginar Tess e Hannah tão próximas, — declarei e


pensei em minhas filhas. — Elas são tão diferentes. Sempre digo a Tess
para ser legal com a irmã.

— Deve ser bom para sua irmã e ensiná-la que elas podem ser amigas.
Você as ensina isso desde tenra idade.

— Se isso for comprovado cientificamente, podemos tentar com a


próxima geração. Mas isso funciona?

— Na verdade, ajudei uma mãe e suas filhas a sair de uma situação


ruim. Elas ficaram comigo por uma semana enquanto eu encontrava um
lugar seguro para elas.
Deixe Sadie abrigar pessoas em perigo e se colocar em risco no processo.

— Onde elas estão agora?

— Elas moram na Carolina do Sul. A mãe apertou o botão de reiniciar e


começou do zero, mas elas conseguiram. Recebo um cartão de Natal todos
os anos com uma atualização. Mas estamos saindo do caminho, Bichinho
Piegas. Frank Sinatra Kieran Bola de Neve Bell não precisa de outro nome.

— Frank Sinatra Benjamin Bola de Neve Hades-Bell

— Não, nós não hifenizamos.

— Então Frank Sinatra Benjamin Bola de Neve Hades.

— Frank Sinatra Kieran Bell Hades, nós o chamamos de Sinatra. Hades


quando ele não está se comportando, — ela ofereceu.

— Bell como um nome do meio?

— Sim. Estou me comprometendo pelo bem da criança, mas não espere


isso de mim nunca mais.

— Mas Kieran Hades pode ser um bom nome para o nosso menino, —
sugeri.

— E Grady Hades parece legal, — ela propôs. — Greyson Hades se ele


tiver seus olhos.

— Angus Hades.

— Soa como aprovação de carne. Bife Angus Hades, escolha do USDA 4.


Não. — Ela franziu o cenho.
4 USDA- Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
— Anders?

— Talvez. Existem Atlas e Rocco. Se você tem outra garota, deve pensar
em Isabella.

— Belle Hades?

— Não, Isabella, não abrevie o nome dela.

— Gail Hades?

— Aubrey ou Blossom.

— Mia?

— Para um homem que não planeja ter mais filhos, você está muito
animado para nomeá-los.

— O que você disse outro dia?

— Eu digo muitas coisas todos os dias, Bastão Doce Pegajoso.

— Sobre nada ser permanente e encontrar minha própria merda.

— Tenho certeza de que não foi isso que eu disse.

— A essência disso.

— Nada é garantido ou permanente. A vida está sempre mudando,


nada gravado em pedra ou prometido para nós. O mundo não deve nada a
você, nem você ao mundo. Para receber, você tem que dar, mas nunca
espere. Você deve encontrar seu próprio caminho e alterá-lo quantas vezes
for necessário. Adaptando, aceitando e aprendendo que você não tem
felicidade ou amor garantidos. Mas quanto mais amor e felicidade você dá,
mais voltará para você. Confie na jornada. Sempre confie em seu coração.

— E se eu encontrar o amor e quiser o que ela quer?

— Quem é ela?

— A mulher por quem me apaixono.

— Então vá em frente.

— Bem desse jeito. Eu vou em frente.

— De alguma forma, estou perdida nessa conversa, — Sadie disse com


um tom incerto. — Estávamos conversando sobre o nome do meu gato.

— Nosso gatinho tem um nome, — eu a corrigi. — Ele é nosso filho


peludo. E você não prestou atenção? O nome dele é Sinatra?

— Frank Sinatra Bola de Neve Kieran Bell Hades? — Ela inclina a


cabeça para um lado e pressiona os lábios.

— Deixe Kieran com o nosso menino.

— Qual menino? — Ela toca a base do pescoço. — Estou perdida.

— Nosso...

— Sadie, abra a porta. — Uma voz feminina veio do outro lado da porta
e bateu.

Os olhos de Sadie se arregalaram.

— Ela está aqui, — ela murmurou.


— Vamos aniversariante, quero ver você. — As palavras arrastadas e agitadas
mal eram compreensíveis.

Sadie saiu voando da sala, segurando o gatinho.

— Quem é essa?

— Minha mãe, — ela sussurrou. — Esperemos que ela não encontre as


chaves. Eu não quero vê-la hoje.

— É seu aniversário?

Ela deu de ombros, desconsiderando que era o dia mais importante do


ano.

— Comunicação, amor. Você precisa me dizer quando é a porra do seu


aniversário. Eu não posso adivinhar merdas assim.

— O que? — Ela guinchou.

— Quase perdi o seu aniversário. É por isso que você estava chateada
comigo?

— Desacelere. Mantenha sua raiva sob controle. — Ela sussurrou-


gritou. — Do que você está falando? Eu não estou chateada com você.

— No fim de semana passado, quando eu disse que não estaria aqui, —


expliquei. Ela era como Alicia, jogando e me deixando nervoso porque eu
não conseguia adivinhar o que elas queriam. — É por isso que você não
atendeu minhas ligações.

Ela deu uma risadinha. — Meu aniversário era a última coisa que eu
tinha em mente.
— Então por que você se afastou de mim?

— Eu... eu já expliquei isso para você.

— Sadie, abra a porta. Eu não trouxe minhas chaves. — A voz ficou


mais alta, desesperada.

— Qual é o problema com a sua mãe?

— É o que mamãe faz todos os anos. — Ela suspirou. —Ela está aqui
para me convidar para jantar. Ela provavelmente fez reservas em algum
restaurante chique. Mamãe vai pedir uma salada e um pouco de suco
misturado com a melhor vodca que eles têm. Depois de vários drinques e
criticando que eu não tenho uma vida, ela vai me deixar com a conta.

Meu intestino agitou enquanto eu olhava para aqueles olhos castanhos


cheios de tristeza. Não admira que ela evitasse a mãe.

— O que você quer fazer hoje, amor? — Afastei uma mecha de cabelo
de seu rosto, acariciando seu queixo com as costas do meu dedo indicador.

— Nada. Costumo passar sozinha.

— Isso era antes de mim. Hoje, quero que seja o melhor dia da sua vida.

— Ele é o melhor presente que já recebi no meu aniversário, — ela


sorriu para mim.

Sadie marchou bem na minha frente e me beijou no canto da boca. Seus


lábios estavam tão perto dos meus que fiquei tentado a me mover e
capturá-los. Mas eu me comportei.
— Obrigada pelo gatinho e por estar aqui. Sua presença é mais do que
suficiente, — ela respirou.

Meu coração batia forte e rápido contra meu peito. Prendi a respiração
enquanto lia sua postura. Aqueles doces olhos amorosos cheios de
hesitação. Por mais que eu quisesse beijá-la, eu queria fazer isso quando ela
estivesse pronta. Me dê um sinal.

— Sadie!

— Você vai abrir para sua mãe? — Eu perguntei, tentando o meu


melhor para permanecer civilizado.

Estávamos no quarto dela. Havia uma cama a apenas alguns passos de


distância e eu estava faminto por ela.

— Não, — ela disse parecendo genuína.

Sadie colocou o dedo indicador nos lábios. — Se ficarmos aqui muito,


muito quietos, ela vai embora em breve.

— Às vezes me preocupo que minhas meninas acabem como você,


evitando seus pais.

— Continue construindo um relacionamento com elas. — Ela ergueu


um ombro e encolheu os ombros. — Não posso falar sobre sua ex-mulher,
mas se você continuar fazendo o que tem feito até agora, garanto que elas
ficarão felizes quando você ligar para elas ou convidá-las para jantar.

— Elas ficarão bem com os bebês?

— Isso depende de como você e sua nova esposa lidam com as coisas.
— Eu confio em você, — eu disse, inclinando-me para frente e
capturando seus lábios.
Capítulo Vinte e Três

Sadie

Eu tinha cinco anos quando a vovó me deu uma festa de aniversário


Meu Pequeno Pônei. Foi o melhor aniversário. Entre o conceito e aquele
sendo o último ano em que meus pais foram felizes juntos, acreditei que
nada superaria aquele dia. Mas Kaden Hades me mostrou que os
aniversários podem ser mágicos e doces aos 28 anos. Ele me trouxe um
gatinho.

O homem me surpreendia toda vez que estava por perto. Depois de


acompanhar sua carreira tão de perto, pensei que sabia tudo sobre ele. Mas
conhecer sua carreira musical não era nada como conhecer o verdadeiro
Kaden Hades. Alguns fatos veiculados na mídia estavam certos. Ele era
famoso, talentoso, bonito e rico. Mas, passando um tempo com ele,
descobri quem ele realmente era. O que ele ansiava, seus sonhos e como
seu coração batia.

Nós nos beijamos hesitantemente, apaixonadamente e depois com


ternura. Senti pequenas faíscas de eletricidade estática dançando sobre
minha pele. Eu queria lutar com ele, suas mãos grandes e sua boca. Essa
boca que eu pensei em beijar mais vezes do que queria admitir. Suas mãos
seguraram meu rosto enquanto sua boca mexia em meu lábio inferior. Seus
dedos percorreram meu pescoço, em direção à parte inferior das minhas
costas. Calor irradiou de seu corpo e eu derreti em seus braços.

O calor de seu beijo deixou meu coração em chamas, me consumindo.


Tudo estava quieto, exceto o som crepitante do fogo que nos cercava. No
entanto, seus beijos eram doces. Como algodão doce ou morangos. Eles
eram suculentos, pegajosos e um pouco picantes. Eles tinham gosto de
amor e pecado. Essas mãos continuaram me acariciando com uma carícia
de pena. Eu me contorci e gemi quando sua língua deslizou contra a
minha. Meu coração afundou com suas palavras. Eu confio em você. Naquele
ponto, eu não tinha ideia do que tinha feito para ganhar sua confiança, mas
minha mente não conseguia pensar em nada quando seus lábios pousaram
nos meus.

Eu as destruí. As paredes de titânio que construí para manter Kaden


longe derreteram com sua paixão. Eu me abri. Meu coração o deixou
passar. Tudo dentro de mim mudou. Meu mundo mudou. Meu coração
finalmente entendeu o significado do amor.

O medo que guardei por tanto tempo desapareceu conforme nosso beijo
se aprofundou. Seus braços fortes curaram minha alma quebrada. Seus
beijos derreteram as dúvidas em minha mente.

— Sade, — ele disse, com uma voz aveludada cheia de luxúria. Seus
lábios se desviaram enquanto ele falava, mas eu os senti se movendo contra
os meus. — Você tem gosto de pêssego, céu e magia. Acho que tenho um
novo vício.
— Vício?

Fiquei chocada com o beijo. Meu cérebro teve dificuldade em entender


suas palavras porque cada célula do meu corpo queria mais dele, de seus
beijos. Ele me atraiu com seus lábios. Seus olhos me atraíram, aqueles
braços fortes me prenderam e ele prendeu meu coração com o dele.

— Você, pequena fada.

— Acabamos de cruzar os limites. — Eu descansei minha cabeça em seu


peito.

— Você se arrepende? — Sua voz murcha. Ele perdeu a energia que


tinha apenas alguns segundos atrás.

— Não, só não sei para onde vamos a partir daqui. E embora eu esteja
animada, também tenho medo do que pode acontecer.

Para onde deveríamos ir a partir daqui? Ele tinha uma carreira, duas
filhas adoráveis e uma vida totalmente diferente da minha. Eu não me via
encaixando em seu mundo. Na verdade, nunca me enquadrei no mundo de
ninguém.

— Venha comigo para Nova York. Eu tenho que ficar lá por mais uma
semana.

— Eu adoraria te acompanhar, mas não posso.

Ele provou meu ponto. Kaden iria embora por mais uma semana. Eu
nunca tinha viajado na minha vida.

— Por que não? — Ele estreitou o olhar.


— Eu tenho uma floricultura para administrar e um novo gatinho.

— As crianças já estão nos atrasando, não estão?

— Nós temos filhos?

— Ainda não, mas apenas conversamos sobre isso e concordamos em


ter dois ou três.

— Você tem que ir mais devagar. Isso é muito, muito cedo.

— Mas eu não posso, — ele ergueu meu queixo com seu dedo calejado.
— Eu nunca senti o jeito que você me faz sentir. Nunca. Eu não sabia que
isso seria possível, mas com você, eu quero tudo. Nós vamos nos casar um
dia e ter filhos. Um garoto chamado Kieran e uma garota chamada Aubrey.

Pisquei algumas vezes enquanto olhava para seu rosto bonito. Seus
olhos irradiavam a felicidade mais pura que eu já vi. Mas suas palavras
aceleraram minha respiração. Tínhamos acabado de nos conhecer há
algumas semanas, e ele já estava batizando nossos filhos. Nossos.

— Está tudo bem, Beija-flor, — disse ele, embalando-me em seus braços.


Eu estremeci quando seus lábios roçaram minha orelha. — Esta não é uma
corrida, Atrevida Preciosa, mas uma maratona onde esperamos e fazemos
as coisas acontecerem lentamente. No seu ritmo.

— O que é isso?

— Honestamente, não tenho certeza, — ele respondeu, acariciando


meus braços.

— Miau. — Nosso gatinho ronronou.


Eu me virei. Sinatra estava em cima da minha cama, observando os
arredores.

— Mas antes de descobrirmos, eu tenho que arrumar a caixa de areia


para esse garotinho.

— Você fica com ele enquanto eu arrumo tudo. Apenas me oriente, pois
este é o seu apartamento.

✰✰✰✰

Apesar do tempo que passamos juntos como amigos, meu estômago


estava embrulhado com a ideia de jantar com Kaden. Como um casal.
Somos um casal.

Não havia uma definição exata para nosso relacionamento. Só que ele
disse antes. — Vou levar minha mulher para jantar, para comemorar o
aniversário dela.

Meu coração disparou. Eu era aquela mulher. Nós vamos jantar. No


Sushi Ronin. O cara estalou os dedos, fez algumas ligações e nos levou a
um restaurante que eu estava morrendo de vontade de ir. Ele me pediu
para usar o mesmo vestidinho preto que usei quando jantamos com papai e
minhas botas de cano alto para a ocasião.

— Você está bem?

— Sim.
— Você está tremendo.

— É a brisa, — menti.

Ele não precisava saber que fazia anos desde o meu último encontro. Ou
que ainda estava pensando no nosso beijo. Seus lábios. A luxúria crescendo
dentro de mim, se espalhando como incêndios florestais no meio de julho.

— Você se arrumou bem, — tentei soar casual, mas soei como uma
idiota.

Você se arrumou bem? Eu precisava praticar minhas habilidades sociais


antes de sair com esse deus do rock. Eu estava enferrujada, sem uso de
todas as maneiras possíveis. Mas com ele, eu queria ser usada, fodida com
força contra a parede. Minhas bochechas esquentaram. De onde veio isso?
Eu deveria parar de assistir pornografia para me divertir.

Ele agarrou minha mão, entrelaçou nossos dedos e roçou meus dedos
com os lábios, criando uma faísca que acendeu meu corpo, me fazendo
sentir viva. Cada olhar, cada beijo e toque me fez sentir viva. Meus
pensamentos não conseguiam se alinhar. Cada vez que ele estava por
perto, eles se espalhavam por toda a minha cabeça. Estar perto dele me deu
palpitações agudas.

— Eu até tenho um casaco. — Ele piscou para mim, seu olhar viajou
sobre mim, me fazendo tremer de necessidade.

— É um visual diferente, mas combina com você.

Ele estava vestido com uma camisa de botão, jeans desgastados e um


casaco esporte. Seu cabelo comprido estava preso em um rabo de cavalo.
Seus olhos cinza brilhavam como o luar à noite. Ele era bonito, mas não foi
isso que me deixou nervosa. Era a maneira como ele falava comigo, a
maneira como ele se importava com todos, mesmo quando tinha a
aparência de um homem que não dava a mínima.

— Você está linda esta noite, — disse ele, abrindo a porta do restaurante
e liberando minha mão. — Depois de você, minha senhora.

Dentro da porta da frente havia um saguão onde uma anfitriã estava


sozinha atrás de um pódio de madeira.

— Nossa reserva está no nome de Sadie Bell.

— Certo, você pediu nossa sala privado. Pegue o elevador para o


segundo andar.

Enquanto caminhávamos pelas mesas da sala de jantar do andar


principal, admirei o lugar. Tinha uma vibração japonesa com tons suaves e
arte japonesa contemporânea ao longo das paredes. Havia um bar
envolvente no meio da sala e, acima dele, esculturas penduradas que
simulavam um bando de guindastes. O lugar era lindo, a comida perfeita e
a companhia excelente. Nossa conversa correu naturalmente. Como dois
amigos que estavam compartilhando uma refeição, mas roubaram carícias
e alguns beijos entre mordidas. Não demorou muito para eu perceber que
estava me divertindo. O melhor momento que tive em muitos anos.

Conversamos sobre seus primeiros shows. Como para a maioria de suas


canções, a vida era sua inspiração. Seus arredores e seus demônios.
Quando se tratava de baladas românticas ou de partir o coração, era
diferente. Ele tirou ideias de seus amigos que sempre tiveram histórias
trágicas. Ou às vezes ele assistia a filmes românticos com seus
companheiros de banda.

— Você assiste comédias românticas? — Não consegui esconder o riso.

— Não há nada de errado em entrar em contato com meu lado feminino


e obter inspiração.

— Então, você cria canções a cada dia.

— Você poderia pensar isso, mas não é o caso. É fácil criar a melodia. As
letras podem levar semanas.

— Por que isso?

— Elas têm que ser uma sequência de sentimentos. Se eu nunca caí,


como posso criar uma história dentro de uma música?

— Cada música é uma história?

— Sim, mas assim que eu tiver uma sólida, as letras fluem.

— Qual delas demorou mais tempo, — eu me animei com curiosidade.

— Mais tempo? — Ele tamborilou os dedos contra a mesa.

Um tique que ele tinha quando estava pensando. Ele bateu em uma
superfície, ou se não havia nada perto dele, ele tocou sua perna ou peito.

— O mais longo demorou quase um ano. Eu tinha a música, algumas


linhas e uma ideia, mas nada que me chamasse. — Ele se inclinou para
frente. —Reescreva Nossa História. — Ele mencionou um de seus maiores
sucessos.

— Sério, aquela demorou tanto?

Ele acenou com a cabeça uma vez, seus olhos examinaram a sala. — Foi
um sucesso, mas cara aquela coisa foi mais longa que uma gravidez.

— Qual é o mais curto?

— Um dia, — ele respondeu sem hesitação. — Só porque não consegui


tocar meu violão por doze horas.

— Qual é?

— Ainda não lançamos. Eu tenho meu violão no carro. Se quiser, posso


tocar para você quando te deixar.

— Sr. Hades, estou impressionada. Um gatinho, jantar e você vai me


fazer uma serenata.

Ele agarrou minha mão. — Eu só quero te fazer feliz. Seu sorriso


ilumina meu dia. Você é o sol. Eu sou um girassol que segue você.

— Cantadas, cantadas que me fazem cair mais profundamente porque


descobri que vêm do seu coração. Você poderia ser um poeta. Se você
pudesse fazer outra coisa, o que seria?

Ele me encarou por vários segundos. Aqueles dedos tamborilando em


cima da minha mão. Seus lábios se apertaram com força e seus olhos
brilharam quando ele tinha uma resposta.
— Eu amo o que eu faço. Compor, tocar. Eu não sou poeta. Sou um
músico que dá pedaços de si mesmo por meio de letras e melodias.

— Você é um homem apaixonado.

— Você não tem ideia, — ele murmurou, beijando as costas da minha


mão e beliscando-a.

— Pare, — eu disse asperamente, lutando contra o calor subindo em


minhas bochechas.

— De alguma forma, acho que você quer que eu continue. — Ele traçou
minha sobrancelha. — Eu posso dizer. Vamos para casa.

Ele ergueu o braço, estalou os dedos e o garçom entrou na sala. Em


poucos minutos recebemos a conta e Kaden pagou. Levantei da cadeira e
ele agarrou meu casaco. Seus olhos escureceram quando ele me ajudou a
colocá-lo. Eu engoli em seco enquanto o brilho inconfundível de desejo
prometia uma noite de prazer. O calor escarlate aqueceu minhas
bochechas. Uma pergunta cortou a espessa névoa de luxúria dentro da
minha cabeça. Eu estava pronta para ele?
Capítulo Vinte e Quatro

Sadie

Assim que chegamos ao meu apartamento, Kaden fechou a porta atrás


de nós. Abri a boca para falar, mas antes que qualquer palavra saísse, ele
me empurrou contra a parede. Seus olhos brilharam com luxúria quando
ele esmagou sua boca na minha. Nossos corpos pressionados um contra o
outro, e a temperatura de seu corpo estava quente o suficiente para que eu
me sentisse como se estivesse derretendo. Eu estava me dissolvendo nele.

Seu beijo era lento, mas possessivo. Ele me devorou enquanto fazia
amor com minha boca. Era um beijo cru que retribuí com igual intensidade.
Embora não tenha sido apenas um beijo, mas um ato de paixão, posse e
descoberta. Ele agarrou a parte de trás do meu cabelo, puxou-o e traçou a
boca aberta no meu pescoço, chupando a pele sensível. Um choque elétrico
desceu pela minha espinha e caiu bem no centro do meu núcleo. Minhas
pernas tremeram, mas ele me firmou.

— Eu preciso de você, — ele gemeu. — Eu preciso sentir você em todos


os sentidos.

— Não pare, — implorei, tomando seus lábios.


Ele tinha um gosto incrível. Como cobertura de baunilha, tabaco e
magia. Seus lábios se tornaram uma chama fervente que iluminou cada
célula do meu corpo, me transformando em um incêndio. Nossas línguas
giraram juntas. Meus dedos do pé enrolam e minhas mãos seguraram sua
camisa.

— Vamos para o seu quarto, — ele ofegou, colocando as mãos na minha


bunda e me levantando do chão.

Enganchei minhas pernas em volta de sua cintura e continuei beijando-


o. Nós nos beijamos por vários minutos com urgência. A luxúria crescendo,
meu núcleo latejando de necessidade. Eu sofria de desejo.

— Sadie, — ele murmurou meu nome enquanto abria o zíper do meu


vestido.

Kade puxou meu vestido para baixo, seus dedos ásperos e calejados
correndo junto com o tecido, desnudando meu corpo para ele. Suas mãos
viajaram descascando minha calcinha rendada. Minha boceta doeu por ele,
seu toque. Eu precisava dele dentro de mim. Aqueles longos dedos
deslizaram ao longo da minha pele, deslizando pela parte interna da minha
coxa. Sua mão segurou minha virilha, seu dedo longo mergulhando dentro
e então ele lambeu o dedo.

— Delicioso, — disse ele com uma voz gutural. — Vou provar cada
centímetro de sua linda pele.

Eu era um poço de desejo. Minha pele queria seu toque. Meu coração
batia mais rápido enquanto ele me levava para a cama. Eu descansei o peso
do meu corpo em meus antebraços enquanto o observava desabotoar sua
camisa, deixando seu peito gloriosamente definido e cheio de tinta exposto.
Ele desafivelou o cinto, abrindo a calça jeans. Sem cueca, pensei enquanto
seu lindo pau ganhava vida.

Meu coração trovejou no meu peito enquanto eu olhava para seu corpo
perfeito. Ele era perfeito. Duro em todos os lugares certos, com ombros
largos sardentos e pintados e abdômen marcado. Eu engasguei e parei
enquanto olhava para seu enorme pau ereto. Ele era grosso e comprido.
Um boquete não seria fácil, mas eu estaria pronta para o desafio.

— Você é lindo, — eu disse enquanto lambia meus lábios.

Ele sorriu, tirando a carteira do bolso da calça jeans e tirando um


preservativo dela. Ele o deixou cair bem ao meu lado e me observou com
olhos de predador.

— Essa é a minha fala, Pequena Atrevida. — Ele se abaixou abrindo


meus joelhos.

✰✰✰✰

Kade
Sadie era uma visão. A mulher mais linda do mundo estava aberta para
mim. Me deixei cair ao lado dela tomando sua boca. Minha nova coisa
favorita era beijar Sadie. Minhas mãos tocaram seus mamilos endurecidos.
Ela choramingou quando eu interrompi nosso beijo, e gemeu quando
minha boca desceu por sua mandíbula, seu pescoço e, eventualmente,
puxei e mordi seus mamilos endurecidos. Porra, seus seios eram perfeitos.
Cheio, redondo e com gosto de flores e pêssegos. Suas costas arquearam e
eu movi suas mãos para longe de sua boceta enquanto ela tentava se tocar.

— Vou querer ver você gozar qualquer outro dia, mas não esta noite,
amor. Esta noite, sou eu quem te faz gozar.

Lentamente, desci sobre ela, beijando cada centímetro de seu corpo até
chegar ao seu núcleo. O cheiro de sua excitação atingiu minha virilha. Eu
não conseguia pensar em nada além de saborear sua boceta quente, macia e
linda. Eu passei minha língua por suas dobras, deslizando um dedo dentro
dela.

— Você tem um gosto delicioso, — murmurei contra sua abertura doce,


soprando nela. Ela grunhiu, empurrando seus quadris para minha boca,
agarrando meu cabelo quando eu enfiei um segundo dedo dentro e mordi
seu botão rosado.

— Mais forte, — ela ordenou. — Me foda mais forte!

— Pare, — eu ordenei. — Gostamos de superar, não é, Atrevida?

Ela mordeu o lábio, seus olhos fixos nos meus.


— Não essa noite. Você tem que ser paciente porque estou planejando ir
bem devagar. Eu quero provar você. Devorar você lentamente. Não apenas
empurrar você sobre a borda e foder você.

Levantei, empurrando ela de volta na cama, beijando ela com força e


provocando sua entrada com meu pau.

— Você quer isso?

— Por favor, — ela choramingou quando eu coloquei um dedo entre


seus lábios doces.

— Prove você mesma, — eu disse e coloquei meu dedo em seus lábios.

Ela envolveu os lábios em torno dele, engolindo profundamente.


Chupando. Seus olhos chocolate se encheram de desejo, e ela me encarou
com carência. O fogo dentro estava derretendo seus olhos castanhos, e eu
mal podia esperar para estar dentro dela. Eu a beijei mais uma vez.

— Estou me apaixonando por este perfume, — ofeguei quando seus


dedos tocaram meu eixo. —Ainda não. Se você me tocar mais uma vez, eu
não vou durar.

Beijando meu caminho para baixo em seu torso liso, voltei ao seu
núcleo. Lentamente, eu a acaricio com minha língua, escovando-a contra
sua querida e trêmula boceta. Ela choramingou enquanto eu dedilhava
meus dedos sobre seu clitóris inchado, mas ela não se moveu. Oh merda,
sua obediência aumentou minha fome. Eu mal podia esperar, coloquei três
dedos e continuei fodendo com ela enquanto minha boca a consumia.
Aconteceu mais rápido do que eu queria. Seus músculos internos se
contraíram, apertando meus dedos com força. Ela estava prestes a explodir,
eu encarei seu peito arfante e olhei seu lindo rosto. Olhos fechados, boca
aberta e o momento me encheu de desejo. Eu pressionei minha língua
contra sua tenra carne enquanto seus espasmos aumentavam e suas pernas
tremiam.

— Hades, Hades! — Ela gritou meu nome, e foi o som mais estimulante.
— Por favor, — ela implorou. — Me foda!

— Você tem certeza disso? — Sussurrei, observando seus olhos


queimarem de desejo.

— Eu quero você, — ela disse, desesperadamente. — Você todo.

Com cuidado, subi de volta entre suas pernas, pegando a camisinha que
tirei da minha carteira e coloquei no meu pau. Coloquei a cabeça do meu
pau em sua entrada antes de empurrar para dentro dela. Seus olhos
encontraram os meus. Ela estava prendendo a respiração enquanto eu me
empurrava lentamente até estar bem dentro dela. Ela era apertada e quente
e foda-se se eu não queria me perder dentro dela para sempre.

Ela era perfeita. Nós nos encaixamos perfeitamente, como se ela tivesse
sido feita especialmente para mim. Minha. Inclinei para frente, bati minha
boca contra a dela e a beijei profundamente enquanto empurrava para
dentro e para fora dela. Prazer, desejo e luxúria gotejavam de cada poro do
meu corpo enquanto eu a reclamava. Nossas línguas se moviam uma
contra a outra da mesma forma que nossos corpos.
Era uma sinfonia perfeita. O limite do ritmo aumentou quando a fricção
entre nós acendeu um fogo tão quente quanto um inferno profundo. Muito
cedo, chegamos à borda. Estávamos no pico da montanha, tocando o céu, e
prestes a cair um no outro. Um choque de eletricidade zuniu da base da
minha espinha até minha virilha, explodindo em um bilhão de notas
tocando dentro da minha cabeça. Ela me secou com sua boceta. Logo tudo
acabou.

— Eu te amo, — confessei, liberando as três palavras que nunca disse a


uma mulher.

— Kade, — ela sussurrou, seus braços em volta das minhas costas. —


Você não tem que dizer isso.

— Mas eu falo sério, — eu acariciei seu cabelo. — Eu soube desde o


momento em que coloquei os olhos em você que você era especial. Que eu
precisava conhecer você. Eu me apaixonei pela minha melhor amiga.

A umidade molhou minhas bochechas. Eu levantei minha cabeça e ela


estava chorando.

— O que eu fiz? — Meu coração parou de bater. — Eu machuquei você?

— Não, você me ama, — ela disse, silenciosamente. — Eu pensei que


estava caindo sozinha.

— Nunca, baby. Nós sempre cairemos juntos.

— Eu te amo, — disse ela, fundindo sua boca com a minha.


Suas palavras me quebraram em um milhão de partículas que seu
coração assimilou. Não apenas fizemos amor, fundimos nossas almas e nos
tornamos nós.
Capítulo Vinte e Cinco

Sadie

O som do violão e a voz baixa de Kaden me acordaram. A visão de seu


peito nu me lembrou da noite passada, fazendo meu coração palpitar. O sol
se filtrou pelas cortinas fechadas enquanto eu o observava dedilhando seu
violão, cantando com os olhos fechados. Era uma música que eu não tinha
ouvido antes, mas a melodia me envolveu em um casulo quente,
balançando suavemente enquanto a letra me tirava o fôlego.

Ela tinha a aparência de uma alma quieta

Mas dentro dela, havia algo selvagem

Está adormecido, esperando sua alma gêmea chegar

Ela é uma flor silvestre

Flores silvestres não podem ser controladas.

✰✰✰✰

Ela é tudo que eu preciso acreditar

Ela é um girassol durante o dia

Uma estrela brilhante durante a noite


Ela é água e ar

Ela é tudo que eu preciso para me salvar de mim mesmo

Quando tocamos algo dentro dela começou a fermentar

Borbulhando até explodir

Ela espalhou seu fogo selvagem

Derretendo meu coração e minha alma com a dela

Agora eu existo só com ela

Nos sonhos dela

— Isso é bonito. — Eu me apoiei no cotovelo. — Acho que não ouvi isso


antes.

— Pode ser porque eu acabei de terminar de escrever. — Ele encostou o


violão na parede.

— Agora mesmo? — Eu arqueei uma sobrancelha. — O que aconteceu


com levar pelo menos doze horas para escrever uma música?

— Você me inspira, Sade. — Ele se levantou da cadeira e caminhou em


minha direção.

Esfreguei meus olhos com as mãos e olhei de volta para o violão mais
uma vez. — De onde você tirou o violão?

— Minha caminhonete. Está sempre comigo. — Ele piscou. — Como


você está esta manhã, Fada?

— Ótima, mas... você está indo embora.


Eu odiava soar como uma mulher carente, mas não estava pronta para
ele ir embora. A cama se aprofundou quando ele se sentou ao meu lado.
Seus dedos acariciaram meu rosto. Ele olhou para o telefone e estalou os
lábios.

— Em algumas horas. — Ele exalou duramente. — Venha comigo para


Nova York.

— Por que você não fica comigo? — Eu sussurrei.

Por alguns segundos, fechei os olhos porque não gostava de pedir nada.
Eu sempre dei de graça. Mas eu não queria que ele fosse embora tão cedo.
Não depois da noite passada. Nunca. Eu queria que ele me enchesse de
novo e de novo. Eu queria que ele fizesse amor comigo. Para ter sexo puro
e duro e os toques mais doces e suaves.

Eu precisava que ele me preenchesse da maneira mais suja e corajosa.


Eu desejava sua gentileza e seu apetite sem remorso também. Ele era o
único que poderia matar a sede da minha alma. Mas ele estava indo
embora e demoraria muito antes que ele voltasse para o meu lado e para a
minha cama.

— Se fosse possível, eu ficaria com você nesta cama, para sempre, —


disse ele com convicção.

— Não amanhã, mas na próxima segunda-feira, estarei aqui com você.


Prometo não sair da cama a menos que tenha que ir trabalhar.

Kade se inclinou e mordeu meu ombro levemente. Ele deu beijos ao


longo do meu pescoço, suas mãos agarrando meus seios. Seus dedos
puxaram e beliscaram meus mamilos em pontas duras. Eu engasguei e
minhas costas arquearam.

— Você tem que sair logo, — eu o lembrei, odiando que ele tivesse que
sair. — Você tem que estar em Nova York esta noite.

— Tome um banho comigo. — Ele saltou da cama, agarrando minha


mão. — Eu quero te sujar antes de eu sair.

— Quatro vezes, Sr. Hades, — eu o lembrei. — E você ainda quer mais?

— Senhorita Bell, sempre vou querer mais quando se trata de você.

Ele me puxou em sua direção, me dando um daqueles beijos ardentes,


enrolando sua alma, se apaixonando por mim. Entramos no chuveiro
incapazes de manter nossas mãos longe um do outro.

— Parece que você está pronto, Sr. Hades.

— Com este corpo, seria um pecado não se excitar ao vê-lo.

Ele me ensaboou com espuma. Suas mãos deslizaram para cima e para
baixo no meu corpo. As mãos de Kaden circundaram meus mamilos, então
ele deslizou as mãos entre minhas coxas, provocando meu núcleo. Peguei
seu pau em minhas mãos, acariciei e esfreguei sua cabeça inchada. Eu
queria tanto me ajoelhar e tomá-lo na boca, mas era tão grande e grosso
que duvidei que fosse caber.

— Hoje não, — disse ele. Kaden rasgou a folha quadrada, rolando o


preservativo em seu grande pau. Ele me ergueu. — Me abrace com as
pernas, — ordenou.
Eu fiz, e ele me abaixou, preenchendo cada centímetro de mim. Ele se
enterrou bem dentro de mim. Suas mãos me agarraram pela bunda, meus
braços seguraram suas costas largas.

— Mais! Mais rápido! — Gemi de prazer quando ele me empurrou


contra o azulejo e começou a se bombear para dentro e para fora de mim
em um ritmo rápido.

Mordi seu ombro para abafar os gritos.

— Porra! Eu amo quando sua boceta engole meu pau duro. — Ele
enfiou seu pau longo e grosso para dentro e para fora mais rápido e mais
forte.

Kaden me beijou rudemente e com fome. Como se estivesse comendo


sua última refeição. Peguei tudo o que ele me deu e ele me trouxe de volta
à vida. Ele me consumiu com seu calor. A energia entre nós, misturada com
a magia que criamos, tornou-se uma tempestade que ficava cada vez mais
feroz. E quando alcançamos nosso clímax, nós dois explodimos, saindo do
controle.

— Porra, vou sentir sua falta Beija-flor, — ele ofegou. Sua testa
descansou em meu ombro. — Depois de hoje, não acho que poderei viver
sem você.

— Apenas, sete dias, — suspirei enquanto recuperava o fôlego. — Seja


paciente, meu Rouxinol. Sempre há sexo por telefone.

— Estou contando com isso, Pequena Atrevida.


Capítulo Vinte e Seis

Sadie

Presente

É um sonho, murmuro.

Estamos de volta ao Paradise Park. Este é um dos meus lugares


favoritos na primavera e só o compartilho com Kade. A vista deslumbrante
do Monte Rainer e o prado, que é como um santuário mágico de flores
silvestres me trazem paz. É perfeito. O prado é uma área gloriosa de grama
pontilhada com flores pequenas e perfumadas que sussurram suavemente
com a brisa. Há um riacho estreito que flui por ele. Hortelã alta com flores
lilases claras, como dezenas de sinos minúsculos, cresce na beira do riacho.

Sei que estou sonhando e que devo acordar agora. Mas eu não consigo
sair dessa. Nem eu quero. Ainda não. Eu quero vê-lo, falar com ele. Sentir a
segurança de seus braços ao meu redor. Já se passou muito tempo desde
que me permiti sonhar com ele. Demasiado longo. Sei em meu coração que,
no momento em que acordar, a dor correrá em minhas veias por dias. Não
há como deixar de amá-lo quando compartilhamos o mesmo coração e
alma. É difícil deixar de lado o que tínhamos quando meu maior desejo é
tê-lo ao meu lado.

— Você finalmente veio, — ele diz, em um tom miserável que quase


parte meu coração.

— Porque você está tão triste? — Eu ando em direção a ele.

— Você está linda, Beija-flor, — ele respira, levantando a mão para


agarrar a minha. — Eu sinto sua falta.

Eu olho para a minha barriga. Meu coração para quando percebo que
está plana, minhas mãos a cobrem e eu fico olhando com horror porque
perdi meu bebê. Demoro alguns segundos antes de me lembrar que isso é
apenas um sonho. Quando eu acordar, meu bebezinho ainda estará
comigo.

— Ele está comigo, — diz Kaden, com um sorriso suave em seus lábios.
— Seguro e crescendo.

— Quem?

— Nosso bebê. O Feijãozinho.

— Eu gostaria que fosse verdade, que você estivesse aqui conosco. — Eu


sigo minha voz e meu olhar olhando para o Monte Rainer. — Você tem sua
família.

— Você e nosso filho também são minha família.

— As meninas. — Eu odeio minha voz. Sai amargo, com raiva.


Mas é difícil não ficar chateada quando as escolhi ao invés da minha
própria felicidade. Quero que meu filho tenha um pai porque Kade é o
melhor pai. Vai partir seu coração ter que escolher entre seus dois mundos.
Estou chateada porque, por mais que tentemos, não conseguimos fundir
nossas vidas.

— Espere, você disse garoto? — Eu ri. — Você ainda acha que nosso
primeiro filho será um menino?

— Eu sei com certeza que ele é um menino.

— Kieran, se tivermos um menino, — digo suavemente.

— Kieran Griffin Bell Hades?

— Porque você quer que ele faça parte da Grifinória, — eu brinco.

— Griffin significa senhor forte. Acho que o nome combina com ele, já
que ele é um lutador, como sua mãe.

O nome seria perfeito, mas apenas em meus sonhos. O mundo inteiro


parece estar se movendo em câmera lenta. Tudo está ficando nebuloso. O
bebê não será um Hades. Meus ombros caem porque ainda não ousei
contar a Kade sobre nosso bebê. Minha última desculpa foi que ele está em
turnê. Vou encontrar outra coisa quando ele estiver de volta em Seattle.
Isso vai lhe dar cinco minutos de alegria e depois se transformará em pavor
de ser pai de um recém-nascido enquanto cuida de suas próprias filhas. Eu
não faria isso com meu bebê. Ele precisa de um pai que estará com ele o
tempo todo, não um pai de meio período que só o verá quando for
conveniente.
— Não chore, — ele sussurra as palavras enquanto me pega em seus
braços, me embalando ao seu lado. — Porra, eu sinto tanto a sua falta,
amor. Volte para nós?

Eu olho em seus olhos cinzentos e sombrios que parecem sem vida.


Estou apavorada com a escuridão deles. Meu coração bate mais rápido
quando ele me solta e começa a desaparecer na névoa. A campina seca e o
ar fica frio.

— Não me deixe, — eu imploro. — Kade, fique! Eu não quero ficar


sozinha aqui.

— Encontre o seu caminho de volta, pequena fada, — ele diz, enquanto


ele desaparece me deixando no escuro.
Capítulo Vinte e Sete

Kade

Já se passou muito tempo desde que sonhei com Sadie, e isso foi
diferente de todos os sonhos que compartilhei com ela. Desta vez, tive um
flashback do nosso primeiro beijo. Então, estávamos em seu prado favorito.
Mas o fim me apavorou porque ela estava se afastando de mim. Tentei
segurar ela, mas não consegui manter ela ao meu lado.

Eu prendo minha respiração. Meu estômago parece uma tonelada de


tijolos de chumbo. — E se ela for embora?

Petrificado com a ideia de perdê-la, pulo da cama e corro para o quarto


ao lado do meu. Aspen está com o bebê, enquanto Brynn está com Sadie.
Meus olhos vão para as máquinas que continuam a apitar. O ar volta
correndo. Meu coração acelera. Ela ainda está comigo. Sadie estará de volta
quando ela estiver pronta.

— Quem está perseguindo você? — Aspen, que está rabiscando no


gráfico de Feijãozinho, pergunta.

Kieran.
— Kieran, — eu digo em voz alta. — O nome dele é Kieran Griffin
Hades.

— É um nome lindo, — Brynn diz gentilmente, arrumando o braço


esquerdo de Sadie.

— Nós o escolhemos anos atrás. — Eu marchei para o lado de Sadie.


Pegando sua mão, eu me abaixo e sussurro. —Você não está sozinha. Eu
estou bem aqui.

Eu estudo o rosto dela que não está mais inchado. Sua expressão facial
permanece a mesma, imóvel. Mas não posso deixar de lembrar do medo
abrigado naqueles lindos olhos castanhos durante meu sonho. Ela está tão
assustada agora quanto estava em seu sonho? Eu aperto sua mão, beijo sua
bochecha e escovo seus lábios levemente com os meus.

— Não tenha pressa, — pressiono minha boca no interior de seu pulso.


— Eu sei que você vai voltar para mim.

— Faremos uma tomografia computadorizada amanhã. A equipe está se


reunindo para decidir quando vamos tirar ela do coma induzido.

— Tudo bem. — Eu engulo em seco.

— Nós tentamos acomodá-la da melhor maneira que podíamos. — Sua


voz é cautelosa, meu pulso dispara. — É hora de ligar para a família mais
próxima.

— Eu sou seu parente mais próximo.


— Não, você é o ex-noivo dela, Kade, — interrompe Aspen. Seu tom é
seco. — Nós sabemos o quanto você a ama, e que você daria sua vida por
ela. Mas existem regras. Os pais dela precisam ser notificados.

Eu olho ao redor da sala e, em seguida, olho para Sadie. Andrew e


Catherine são imprevisíveis.

— Os pais dela não são confiáveis, — eu os informo. — E se eles não


aparecerem?

— Caberia ao departamento jurídico e ao serviço social decidir o curso


do tratamento se os pais dela não comparecessem, — respondeu Brynn.

— Se eles vierem e quiserem me expulsar, podem?

— Eles poderiam, já que vocês dois não têm nenhum relacionamento


legal, — responde Aspen. — Mas você tem um ás na manga. Este lindo
menino.

— Sim, — Brynn concorda. — Mas precisamos de uma prova de que ele


é seu.

— Ele é meu, — eu gemo, cheio de raiva.

— Não temos dúvidas, mas os avós dele não podem expulsá-lo do lado
dele se você tiver a documentação que comprove a reivindicação.

— Você está sugerindo que eu faça um teste de paternidade?

— Essa é a melhor maneira de estabelecer um vínculo legal com o bebê


e Sadie. Isso garante que você o levará com você quando ele estiver pronto
para ir para casa.
— Mas ela vai acordar, — eu insisto.

— Você tem que ter um plano de reserva. Kieran está alcançando seus
marcos em um ritmo rápido. Ele pode estar pronto para ir para casa antes
que mamãe acorde.

Um teste de paternidade parece trair Sadie. Ela vai pensar que eu


duvidei dela. Eu sei no meu coração que ele é nosso garoto. Nosso. Use sua
cabeça, não seu coração.

— Vamos fazer isso hoje.

✰✰✰✰

O laboratório levou apenas um dia para entregar os resultados. Não


havia dúvida de que Kieran é meu. Mas, com a prova, consegui preencher
a papelada do hospital para obter sua certidão de nascimento. Duncan
encontrou para mim o melhor advogado que pode me representar, caso eu
tenha que lutar pela custódia com os pais de Sadie.

O conselheiro jurídico me disse que não tenho direitos legais sobre ela.
No entanto, se seus pais tentarem retirá-la do suporte de vida, eu poderia
pedir a custódia antes que o hospital tome qualquer medida. Uma luta que
eu não ganharia, mas isso daria a ela tempo para se recuperar. Uma batalha
legal como essa pode levar de meses a anos. O advogado sabia como usar o
sistema a meu favor, se fosse o caso.
— Tudo ficará bem, — asseguro Kieran, que está olhando para mim. —
Você está crescendo e se fortalecendo a cada dia. O hospital está nos dando
mais alguns dias antes que liguem para seus avós.

A tomografia computadorizada mostrou que o inchaço está quase


desaparecendo. Em uma semana, os médicos vão diminuir os sedativos.

— 'Dê um tempo' é a frase favorita deles, — digo aborrecido com a


situação. — Isso junto com 'espere. Você tem que ser paciente.'

Posso ser paciente, mas sinto que estou ficando sem tempo. Meus
instintos me dizem para tirar minha família daqui e me esconder. Eu estive
no meio de uma batalha legal. Levei dois anos para conseguir a custódia
conjunta de minhas filhas. Por dois anos, tive que ter visitas
supervisionadas a cada dois fins de semana.

— Eles não farão isso conosco, — prometo a Kieran. — Estamos nisso


juntos, amigo. Não importa o que aconteça, eu estarei com você e com sua
mãe.

Meu telefone vibra várias vezes. Alguém está enviando várias


mensagens de texto. Qualquer outro dia eu ignoraria, mas e se as meninas
estivessem presas em alguma cidade da Europa porque sua mãe as
esqueceu? A tela está cheia de chamadas perdidas de Jax, Kevin e Duncan.
Eu passo meu polegar pela tela e verifico o de Jax primeiro.

Jax: Cara, atenda seu telefone.

Jax: Onde você está?

Jax: Atenda a porra do telefone, temos uma emergência.


Hades: Estou no hospital com Sadie e Kieran.

Jax: Finalmente. Estou a caminho. Nós temos um problema.

Hades: Sadie e o bebê estão no hospital. Corrija o que você precisa consertar.

Jax: Esse é o problema.

Hades: O que você quer dizer?

Jax: Te vejo em alguns minutos. Me encontre fora de seu quarto.

— Me deixe ver o que o tio Jax quer. — Beijo a testa de Kieran e coloco-o
de volta no berço de plástico. — Prometo voltar antes da hora da
alimentação.

Infelizmente, ele é alérgico a leite e soja como Sadie. No entanto, existe


uma fórmula feita para bebês como ele. E Kieran adora. Este homenzinho
me tem enrolado em seu dedo. Deixá-lo sozinho me quebra por dentro,
mas eu sigo para fora para o corredor onde encontro Jax já esperando.

— O que está acontecendo?

— A merda está acontecendo, — explica ele. — Eu sei que sua garota e


seu filho estão no hospital. Tentei cuidar de tudo, mas você tem que estar
preparado.

Ele me entrega seu telefone. Eu suspiro quando vejo a foto de uma


caminhonete batida contra a van da floricultura. Rolando com meu dedo, li
a manchete. Kaden Hades está na prisão. Fontes próximas ao astro do rock dizem
que ele contratou a melhor equipe jurídica da cidade para representá-lo. Sua noiva,
cujo nome ainda não foi divulgado, morreu no acidente. O bebê recém-nascido do
casal está lutando por sua vida no hospital.

— Que porra é essa? — Eu olho para ele e ele dá de ombros. — São


mentiras.

Percorro mais a tela e encontro uma foto minha antiga.

— De onde é esta?

— A vez em que nos prenderam em Houston por começar uma briga.

— Isso foi há dez anos, — protesto.

— Treze, — ele me corrige. — É por isso que a imagem foi cortada. Eles
isolaram o condado e a data.

— Estou processando, — digo, massageando minhas têmporas. — Você


pode me arranjar um advogado?

— As equipes de relações públicas e jurídicas já estão trabalhando nisso.


Eles estão processando todas as fontes da mídia que estão espalhando as
notícias falsas sobre o acidente e seu paradeiro.

Eu suspiro de alívio. — Então vai ser cuidado? — A calma dura apenas


alguns instantes. Eu esfrego meu pescoço e olho para Jax. —Quão viral é
isso?

— Amplo. Temos fãs de todo o mundo nos enviando mensagens sobre


isso. Twitter, Facebook... você escolhe.

Eu ando pela sala. A semana que pensei ter acabado. Não importa onde
os pais de Sadie estejam, eles vão descobrir isso em breve. Minhas filhas
também. Alicia vai encontrar uma maneira de fazer isso com ela. Como a
imprensa soube da história?

— Quem vazou isso?

— Eles estão investigando o pessoal do hospital. — Ele aperta os lábios,


olhando para a porta. — A banda, nossos amigos e as poucas pessoas que
sabiam sobre isso não falaram. Protegemos sua vida privada tanto quanto
protegemos a nossa.

— Eu sei. Eu não acusaria nenhum de vocês. Diz que matei Sadie e meu
filho recém-nascido está lutando por sua vida. Isso é confuso. — Minha voz
ecoa nas paredes. —Isso significa que a polícia vem me interrogar? Não
posso sair do hospital para limpar meu nome.

— Cara, se acalme. — Ele dá um tapinha no meu ombro.

— A equipe está trabalhando nisso. Vim ver você porque você precisa
saber o que está acontecendo. Distribuímos um comunicado à imprensa e o
carregamos no site. Eu twittei da minha conta e da conta da banda. Nós
postamos no Facebook também.

Pego meu telefone e verifico o Twitter da banda.

A família Killing Hades agradece sua preocupação com nosso colega de banda.
Pedimos suas orações nestes momentos difíceis. Kaden estava na Califórnia quando
o infeliz acidente ocorreu, mas ele está atualmente ao lado de sua noiva e cuidando
de seu recém-nascido.

Eu procuro nas mensagens enviando amor, orações e apoio.


— Não é tão ruim quanto eu pensava, — eu respiro as palavras com
algum alívio. — Mas e a polícia?

— Cara, quando eu disse que cuidaria de tudo, falei sério. O outro


motorista morreu no local do acidente. Ele teve um ataque cardíaco.

— O que?

— Foi um acidente estranho, lugar errado, hora errada, merda fodida.

— E a imprensa?

— Infelizmente, eles estão estacionados fora do hospital.

— Porra! — Eu gemo.

— Papai!

Meu coração para quando ouço a voz de Hannah. Eu me viro e encontro


minhas filhas vindo em minha direção.

— O que você está fazendo aqui? — Eu arqueio uma sobrancelha,


cruzando os braços.

Eu franzo a testa, olhando para minhas duas meninas vestidas


casualmente em jeans e moletons. Elas estiveram na Europa há menos de
vinte e quatro horas.

— Há quanto tempo a notícia foi divulgada? — Eu pergunto a Jax.

— Ontem, por quê?

— Por quê você está aqui? — Eu pergunto às meninas novamente.


— Ela queria vir, — zomba Tess, olhando para Hannah. — O acidente
foi notícia. Liguei para o seu gerente e ele disse que você estava aqui no
hospital com ela.

— Eu queria ver você, pai. — Hannah me abraça. — Você está bem?

— Diz em sua página da Web que ele está bem e que está com eles, —
diz Tess.

O veneno que ela cospe faz meu coração doer.

— É verdade? — Hannah me encara. — Nós temos uma irmã mais


nova?

Antes de responder às suas perguntas, tenho algumas minhas. Falei


com elas há menos de vinte e quatro horas. Elas estavam em Barcelona e
iam para Portugal. — Quando você chegou?

Hannah engasga, cobrindo a boca. Seu rosto está vermelho e seus olhos
baixos.

— Onde está sua mãe?

Tess revira os olhos. — França, Espanha... não me lembro do itinerário


dela.

— Mas você está aqui.

— Ela não nos levou com ela. — As palavras de Hannah saem


rapidamente, enquanto ela observa sua irmã. —Estamos com a vovó e o
vovô desde que ela foi embora.
Eu passo a mão pelo meu cabelo. Você deve estar brincando comigo. Alicia
abandonou nossas filhas com seus pais enquanto estava de férias.

Antes de eu explodir, Jax coloca a mão no meu ombro e balança a


cabeça. — Se acalme. Não é culpa delas.

— O que eu devo fazer agora? — Eu mordo de volta a raiva.

Paguei uma viagem à Europa e, no entanto, elas nunca foram. Eu


deveria ter levado elas comigo na turnê. Mas eu não consegui. Era um
ritmo muito rápido para elas me acompanharem. Eu me sinto um grande
fracasso porque não tenho a porra da ideia do que vou fazer. As meninas
estão aqui. Eu sou aquele que deveria estar com elas, não seus avós. Eu me
viro para o quarto onde Sadie e meu bebê estão esperando por mim. Minha
cabeça explode.

— Vocês tem mentido para mim, — me forço a controlar a raiva.


Embora as palavras saiam duras e duras.

— Mamãe nos contou...

— Hannah, pare ou você vai nos colocar em apuros. Eu disse que isso
era uma má ideia.

— Mas eu queria ver se papai estava bem e... Sadie. Disseram que ela
morreu. — Seu queixo treme e seus olhos lacrimejam. — Ela está bem?

Eu fecho meus olhos, respirando fundo várias vezes.

— Sadie está em coma.


— Então, ela vai morrer, — Tess olha para a mão dela, admirando suas
unhas. — Veja, Hannah, ele está bem. Podemos ir agora.

— Eu posso vê-la? — Hannah pede.

— Hannah, precisamos ir.

— Você não gosta dela, eu entendo, — Hannah exaspera. — Mas eu a


amo. Ela nos ama.

Hannah toca o colar de unicórnio que Sadie deu a ela quando ela fez
nove anos. — Posso, por favor, vê-la?

— Tenho certeza de que Sadie ficaria feliz em ouvir sua voz, — garanto
a ela.

Sadie adora minhas meninas. Ela forjou um forte vínculo com Hannah
desde o início. O jeito como ela cuidou das minhas meninas me fez amar
Sadie ainda mais.

— Me siga, Abóbora.

Eu entrego a ela o uniforme, mostro onde lavar as mãos e dou


instruções.

— Quem é aquele? — Hannah aponta para o berço.

— O nome dele é Kieran, — eu sussurro. — Ele é seu irmão caçula.

Hannah se aproxima do berço e sorri para ele. — Por que ele está com
aquele tubo enfiado no nariz?
— Para ajudá-lo a respirar. Ele nasceu algumas semanas antes do
previsto.

Quando me viro, vejo Tess parada na ponta da cama, olhando para


Sadie. Seus olhos estão fechados e os ombros caídos. Não entendo se ela
está com raiva, triste ou apenas desesperada para sair daqui. Nosso
relacionamento mudou depois que ela tentou se matar. Ela é um livro
fechado. Ela busca atenção, mas me afasta quando chego muito perto. No
dia em que ela tentou se matar, perdi minha filha, minha noiva e a chance
de constituir família. Com todas as pessoas que amo em um quarto, me
pergunto se podemos curar ou se terei que me dividir ao meio pelo resto
da minha vida.

— Ela te contou sobre o bebê? — Tess pergunta, virando-se de costas


para mim.

— Não, eu não tinha ideia.

— O que você teria feito se ela fizesse?

— Essa pergunta não faz sentido, Tess. Eu não vou morar no passado.

— Mamãe disse que você não iria mais nos querer, — confessa Tess. —
Que assim que você tivesse uma nova família, você nos esqueceria.

— Ela mentiu para você, Tess.

— Mamãe disse que eu só tinha uma chance de acabar com isso antes de
você nos deixar. Mas Sadie está de volta.

— Do que você está falando, Tess?


— Nada. — Ela se vira para Sadie.

— Pai, Sadie vai morrer? — Hannah segura minha mão, as lágrimas


escorrendo pelo seu rosto.

— O que acontecerá com o bebê se ela morrer? — Tess morde o lábio. —


Ele vai ficar sozinho. Você está sempre ocupado conosco. Você vai mandá-
lo para um lar adotivo como fizeram com você?

— Você não o deixaria pai, não é? — Hannah soluça ainda mais forte.

— Claro que não. Tess, Kieran é seu irmão. Ele é meu filho. Ele vai ser
uma grande parte da sua vida. Eu não vou deixá-lo.

— Mas se ela sobreviver, você o deixará sozinho.

— Tess, eu te amo e não vou te deixar. Não importa o quanto você me


empurre, eu não vou te deixar.

— Mas você vai ficar com eles, — diz ela, olhando para mim. — Você
sabe o que isso vai fazer com a mamãe?

— O que você quer dizer?

— Deixa pra lá. — Ela sai da sala.

— O que aconteceu? — Eu fico olhando para a porta por vários


segundos.

— Hormônios, — Hannah responde. — Pelo menos é o que o vovô diz


quando ela não faz sentido.
— Seu avô deveria estar investigando o problema, querida. — Eu beijo a
cabeça de Hannah. — Não apenas dizendo bobagens chauvinistas.

— Vovô está velho. Temos que entender seus caminhos.

Ela precisa ficar longe desses idiotas preconceituosos de merda, mas


como posso tomá-las quando não posso cuidar delas?

— Você tem passado o verão com seu avô e mentido para mim?

— Quando você coloca dessa forma, soa mal.

— É ruim, Abóbora. Sua mãe... — Eu suspiro porque odeio falar merda


sobre ela na frente das meninas. — Ela sabe que não deve deixar você com
seus avós sem me avisar.

Eu estou perdido. Alicia não deveria deixar as meninas com seus pais
por tanto tempo sem me consultar. As meninas mentiram para mim sob
suas ordens. Elas estão brincando comigo. Enfio as mãos nos bolsos e olho
para Sadie.

Querida, acorde. Temos uma porra de uma bagunça em nossas mãos.


Capítulo Vinte e Oito

Kade

Seis meses depois, estou pedindo a Sadie, que está inconsciente, para
me guiar. Se ela estivesse acordada, ela saberia o que fazer. Ela sempre fez
ou pelo menos me ajudou a processar isso. Se eu tivesse feito isso antes de
terminarmos. Meu maior arrependimento volta para me enfrentar de frente
em um dos momentos mais difíceis da minha vida. Eu deveria ter lidado
com isso de forma diferente. Sadie e eu éramos um casal. Dissemos há
muito anos atrás. A estúpida certidão de casamento não importava. O que
importava era que ficamos juntos.

Mas o medo de perder Tess da mesma forma que perdi minha irmã me
cegou. As ameaças de Alicia de tirar minhas filhas me fizeram reagir. Era
tudo muito real. As imagens de Hannah, minha irmã, deitada no chão sem
vida repetidamente passavam por minha cabeça. Desta vez era o rosto de
Tess, e seus olhos mortos olhando para mim. A nota ao lado dela dizendo
que ela não podia mais fazer isso. Detalhes de como minha mãe explorou
ela impressos com sua caligrafia. Lágrimas escorriam pelo meu rosto
porque eu perdi a única pessoa que me amava.
Eu não poderia passar pela mesma coisa com Tess. No entanto, estou
sentado ao lado de Sadie esperando por um milagre. É como se eu não
pudesse manter aqueles que amo comigo. Não importa quantas vezes eu
visito a capela ou oro, estou definhando a cada minuto. A mulher dos meus
sonhos, o amor da minha vida, pode nunca mais voltar para mim. Nada
que eu diga ou faça consertará o passado. Segurar um futuro que pode
nunca existir está me destruindo por dentro.

— Se ao menos eu tivesse ficado com você, Beija-flor.

✰✰✰✰

Seis meses atrás

— Obrigada, — beijei Sadie quando cheguei em casa depois de deixar


minhas filhas na casa de suas mães.

— Por? — Ela colocou os braços em volta do meu pescoço e olhou para


mim.

Eu nunca me cansaria daquele olhar amoroso. A mulher me colocou de


joelhos apenas com três palavras, eu te amo e aquele olhar.

— Levar as meninas para sair após a prova do vestido, — eu disse,


agarrando sua bunda e levantando-a do chão.
Eu encarei o corredor desordenado e respirei fundo. As novas estantes
de livros foram uma má ideia. Evitá-las enquanto tentava seduzir minha
noiva não foi fácil.

— Precisamos de um novo lugar, — reclamei.

— Já conversamos sobre isso, Sr. Hades, — ela me lembrou. — Uma


casa de cinco quartos para que possa caber suas filhas e nossos pequeninos
também. Quanto ao nosso passeio do dia, é um prazer. Os vestidos das
damas de honra são lindos. Elas vão ficar adoráveis.

— Vou ver esse vestido branco de que você vive falando?

— Você é tão insistente.

— Porque mal posso esperar para te ver ou para me casar com você. —
Eu beijei seu pescoço. — Eu me casaria com você agora. Só quero passar o
resto da minha vida com você.

— Paciência, Hades, — ela suspirou, enterrando o rosto na curva do


meu pescoço.

— O que há com a voz triste?

— Hannah, — ela exalou, acariciando meu pescoço com sua respiração.


— Ela estava bem hoje, mas eu sinto que perdemos nosso vínculo. Essa
amizade que tentei construir com ela.

— Ela adora você. Tenho certeza que é apenas uma fase.

Eu queria acreditar que era temporário. Hannah aceitou Sadie desde o


início. Elas se ligaram imediatamente e se entenderam. Se minha filha
tivesse um problema na escola, ela pediria ajuda a Sadie. Minha noiva era o
centro de seu universo. Até alguns meses atrás, quando ela começou a
mudar. Não foi o ato de adolescente taciturno, era mais como um ato de
rebelião contra mim e seu alvo era Sadie.

— Hoje ela se comportou como a velha Hannah. Você sabe, quando ela
me contou sobre sua semana e me conheceu na loja. Tess foi amigável.

— Talvez ela esteja de volta ao que era antes e Tess entende que você
está aqui para ficar, — eu disse com confiança.

Fez meu coração inchar saber que minha família finalmente estava se
reunindo. No início do relacionamento, Tess não se importava, mas alguns
meses depois, quando Sadie foi morar comigo, ela se tornou uma pessoa
diferente. Alguns dias ela era doce e sociável, enquanto outros ela era rude,
mimada e ofensiva com Sadie.

Eu entendi que as mudanças as afetaram. Eu sugeri terapia familiar. No


entanto, Alicia discordou de mim. A parte ruim de ter a guarda
compartilhada é que tínhamos que tomar decisões juntos. Ela disse que eu
precisava superar a obsessão por Sadie e dar mais atenção às minhas filhas.
Claro, minha ex não estava feliz com minha noiva ou minhas próximas
núpcias. Felizmente, Sadie entendeu que a transição não seria tranquila, e
ela continuou tentando por mim.

— Então, quais são as notícias incríveis que você tem para compartilhar
comigo? — Mudei de assunto.

— Depois do jantar, Sr. Hades. É uma surpresa.


— Eu vou gostar desta surpresa?

— Acho que você vai adorar.

— É uma nova tatuagem?

— Paciência não é o seu forte, Sr. Hades, — disse ela, mordiscando meu
pescoço.

Eu estremeci, esticando o pescoço. — Pare, pequena Atrevida, e me diga


qual é esta grande surpresa.

— Eu não vou te dizer, e temos que ir logo.

— Temos tempo antes de sair para jantar? — Esfreguei meu pau duro
contra sua pélvis.

— Você sempre arranja tempo. — Ela sorriu. — Se não, eu imploro. Eu


preciso de você, Sr. Hades.

— Você sabe que adoro quando você implora.

— Por favor, eu preciso de você, Sr. Hades. — Ela usou sua voz sensual.

Meu telefone tocou várias vezes, mas eu ignorei enquanto beijava


minha mulher. Tínhamos apenas trinta minutos para ficarmos prontos
antes de encontrarmos nossos amigos para o jantar.

— Você tem que responder, — Sadie interrompeu o beijo. — Quem está


na outra linha não desiste.

— Vou desligar, — eu disse, mas congelei quando vi o nome de Alicia


piscando no meu telefone.
Lentamente, coloquei Sadie no chão e li os textos.

Alicia: Estamos no hospital. Eu preciso de você.

Alicia: Kaden, é crucial.

Alicia: Tess está sendo atendida.

Meu pulso disparou. Eu deslizei meu dedo sobre a tela e respondi.

— O que está acontecendo?

— Estamos na sala de emergência do St. Luke's com Tess.

— Estou a caminho, — disse desligando.

— O que aconteceu? — Os olhos de Sadie se arregalaram.

— Eu não perguntei, — corri pelo apartamento pegando minhas botas,


jaqueta e as chaves do carro.

Sadie me observou da sala de estar com os braços cruzados. Alicia era


uma vadia desagradável e Sadie a evitava. Eu sabia o quão difícil era lidar
com ela. Em qualquer outro dia, eu daria um beijo de despedida e partiria
para lidar com a emergência. Esta noite, eu precisava dela ao meu lado.
Algo aconteceu com uma de minhas filhas e eu precisava da minha força ao
meu lado para superar o que estava esperando por mim.

— Venha comigo, — eu pedi.

Sem dizer uma palavra, ela voltou ao nosso quarto para pegar seu
moletom e um par de tênis.
— Eu vou dirigir, — ela sugeriu. — Você está um pouco nervoso. Para
onde?

— St. Luke, — eu respondi, fechando a porta atrás de mim.

— Por que não o Memorial de Seattle? — Ela franziu o cenho. — St.


Luke fica muito longe da casa dela, não é?

Enquanto dirigíamos, pensei sobre o dia de Tess. Eu as peguei na casa


da mãe dela às dez e as levei para a prova. Ela foi com Sadie almoçar e
depois ao spa. Eu as deixei em casa apenas algumas horas atrás. O que
poderia ter acontecido entre então e agora?

— Talvez Tess tenha ido a uma festa, — Sadie sugeriu.

Porra! Eu bati a mão na minha testa. — Envenenamento por álcool, o...

— Eu duvido que ela tenha tomado uma overdose ou bebeu muito.


Você já falou com ela várias vezes sobre esses perigos.

Mas é uma possibilidade, pensei. A viagem parecia eterna. Sadie


permaneceu quieta, mas continuou apertando minha mão quando podia.
Deixamos o carro no estacionamento com manobrista e corremos em
direção ao pronto-socorro.

— Que porra ela está fazendo aqui? — Alicia olhou para Sadie. — Este é
um assunto de família. Ela não é família.

— Onde está Tess? — Eu ignorei sua explosão.

— Esta mulher matou meu bebê, — ela disse com uma voz rachada.
Eu podia sentir o suor encharcando minha pele, o latejar dos meus
próprios olhos, as palavras de Alicia vibrando em meus ouvidos e as
batidas do meu coração contra o meu peito. Meus dedos estavam enrolados
em punho, as unhas cravadas na palma da minha mão. O oxigênio
inundou meus pulmões e saiu rapidamente. O medo torturou minhas
entranhas, revirando meu estômago em cólicas intensas e empurrando
todos os outros pensamentos de lado.

Alicia deu um passo à frente e deu um tapa em Sadie. — Você a matou!

Meu coração caiu no chão. — Do que você está falando, Alicia?

— Onde está Tess? — Eu exigi.

Minha filha, minha garotinha está morta? Eu não conseguia respirar.


Minha alma deixou meu corpo procurando por Tess.

— Eu a encontrei, — Alicia soluçou, suas palavras quebrando.

Eu abri meus olhos e a observei desmoronar enquanto descrevia o que


testemunhou.

— Era hora do jantar. Eu... nós tivemos uma discussão, e eu disse a ela
para ir para seu quarto até que ela decidisse fazer o que eu disse a ela. Subi
para ver como ela estava, e lá estava ela, esparramada no chão sem vida.
Há uma nota acusando aquela mulher.

Alicia balançou a mão e eu agarrei antes que ela tentasse bater em Sadie
novamente.

— Pare com isso, — eu ordenei.


— Ela fez isso com nosso bebê. Por quê você está aqui? — Alicia
zombou dela. — Você não faz parte de nós. Quando você vai entender que
ele tem família? Você nunca será um de nós.

— Alicia, é o suficiente, — eu exigi.

— Chega de quê? — Alicia rosnou. — Eu estou farta dela. Ela está


destruindo nossa família há anos. Tess, meu bebê, sofreu por causa dela. Eu
deveria chamar a polícia e colocá-la na prisão. Ela tentou assassinar nossa
filha. Eu tenho provas.

— Eu não fiz nada, — Sadie gaguejou.

— Você deveria estar na prisão.

— Sadie, — eu finalmente olhei para ela.

Seus olhos estavam lacrimejantes. Ela mordeu o lábio, mas permaneceu


em pé, quieta.

— Por que você não vai para casa? — Entreguei a ela o ticket do
estacionamento com manobrista. — Vou voltar mais tarde.

Ela acenou com a cabeça uma vez, se virou e saiu.

— Onde está Tess?

— Eles estão bombeando o estômago dela.

— Ela está viva?

— Sim, claro, ela está viva. Eu a encontrei a tempo.

— Por que você está gritando que Sadie a matou?


— Porque ela fez, disse isso na nota de Tess. Ela é cruel e ruim. Você
sempre a colocou em primeiro lugar, e Tess não conseguia viver com a
turbulência emocional. — Alicia cobriu o rosto e chorou.

Eu a puxei em meus braços e esfreguei suas costas enquanto absorvia


cada palavra que ela dizia. A maneira como ela a descreveu foi quase
exatamente igual à maneira como encontrei Hannah, minha irmã mais
velha. Meu coração se partiu só de pensar no dia em que perdi minha irmã.
Minhas pernas quase desistiram de perceber que quase perdi minha filha
também. Eu não tinha ideia de que as coisas entre ela e Sadie eram tão
ruins. Isso era minha culpa. Assim como aconteceu com minha irmã, não
prestei atenção aos sinais de alerta. Eu negligenciei minha filha e ela quase
morreu por causa disso. Jurei que elas não iriam sofrer por minha causa e...
porra!

Eu falhei mais uma vez. Minha atenção estava voltada para Sadie, que
sempre recebia os golpes de Tess sem reclamar. Várias vezes eu disse a
Tess para ser educada, para aprender a se dar bem com ela. Em vez de
ouvi-la, eu a estava obrigando a fazer algo que ela odiava.

— Você sabe o que tem que fazer, não sabe?

— Não tenho ideia do que você está falando, Alicia.

— Essa mulher não pode fazer parte da sua vida. Não há dúvidas sobre
o que você deve fazer. As meninas vêm primeiro.

— Alicia, — eu engasguei.
— Você tem que terminar as coisas com ela, ou da próxima vez, posso
não encontrar Tess a tempo. Você não pode colocar a vida dela em risco.
Não para aquela vadia.

✰✰✰✰

Liguei para o médico de Tess. Ela me disse para enviar os papéis de alta
para seu escritório na segunda-feira. Infelizmente, Alicia levou Tess a um
hospital onde a Dra. Hawkins não pôde tratá-la. Por telefone, ela pôde me
dar algumas sugestões, como terapia e mantê-la sob vigilância nos
próximos dias. Eu não contei a ela sobre o bilhete. Não havia muito a dizer.
Alicia apenas me disse que Tess culpou Sadie por sua decisão.

Assim que eles a mudaram para um quarto privado, e eu vi que ela


estava bem, liguei para um Uber e mandei uma mensagem para Sadie.

Kade: Nós precisamos conversar.

Entorpecido, juntei a pouca energia que me restava para acabar com


minha própria vida. Tinha que ser feito. Não havia competição. Minhas
filhas importavam mais. Sadie sabia, ela apoiava e, no meu coração, eu
sabia que ela entenderia. Cada quilômetro mais perto do meu apartamento
se tornou um quilômetro mais longe de nossos sonhos. A casa grande com
três filhos e um lindo jardim totalmente planejado. Kieran, Aubrey e nosso
último bebê só aconteceriam em nossos sonhos. Tudo o que havíamos
planejado desapareceu junto com minha promessa a ela.
Assim que cheguei ao prédio, acendi um cigarro, fumei um pouco
rápido demais e depois fumei mais dois. Por alguns segundos, brinquei
com a ideia de escapar da minha realidade e beber até o esquecimento.
Seria muito mais fácil do que enfrentar Sadie. Como você diz adeus ao
amor da sua vida? Você arranca o coração do peito, pisa nele e encara a mulher
que ama.

— Sade, — chamei depois de fechar a porta atrás de mim.

Eu permiti que o idiota insensível assumisse o controle do meu corpo e


se apresentasse por uma noite.

— No quarto, — disse ela. — Como ela está?

Eu marchei para o nosso quarto, lembrando como apenas algumas


horas atrás nós tínhamos tudo. Planos, futuro e amor. Suspirei,
pressionando meus lábios e reunindo forças o suficiente para falar.

— Ei. — A palavra mal passou pelos meus lábios.

Evitei seu olhar enquanto vasculhava meu cérebro pensando no que


dizer a ela. Depois de vários minutos de silêncio, ela falou. — Há algo que
eu possa fazer?

Me abrace, eu queria dizer. Eu não aguento isso, e você é a única que pode
fazer melhor.

— Obrigado por sair antes que as coisas saíssem do controle, — eu me


ofereci para preencher o momento estranho e doloroso. Eu encarei o tapete
e comecei a rasgar seu coração. — Eu me preocupo com você.
Preocupa, filho da puta? Você acabou de dizer a ela que se preocupa? Você a
ama com todo o seu coração. Viver sem ela é impossível. Você está prestes a
aniquilá-la. Onde está a porra da promessa de que você nunca a deixaria?

— Minhas filhas são minha vida. Minha razão de existir. O bem-estar


delas é mais importante para mim do que qualquer outra coisa no mundo.
A última coisa que quero fazer é machucar você ou deixá-la. Mas não vejo
outra solução. Eu tenho que protegê-las, mesmo que seja de você.

De repente, é demais. A raiva, a tristeza e meus demônios que


acordaram, me lembrando do meu passado. Eu não aguentava. Além disso,
eu estava machucando a melhor pessoa que conheci em toda a minha vida.
Sem pensar, balancei meu punho contra a parede. Ela me amava. Mesmo
quando eu estava terminando as coisas, ela ainda me amava. Eu deveria
deixá-la sozinha, desaparecer pelo resto da noite. Me perder com uma garrafa de
tequila barata.

Eu me virei para sair do quarto quando a vi voando do armário em


direção ao banheiro. Ela estava vomitando de novo. Este era o terceiro ou
quarto dia em que ela ficou doente. Pensamos em uma bactéria, mas ela
prometeu ir ao médico.

Meu coração sentiu a tristeza. Tudo dentro dela estava quebrando,


assim como eu. Se eu pudesse tornar isso menos doloroso. Éramos o apoio
um do outro e nos consolávamos quando nos machucávamos.
Ironicamente, eu não conseguia mais vê-la. Como iríamos sobreviver?

Era isso. O fim de uma história que jurei que seria feliz, transcendendo
as barreiras do tempo. Estaríamos juntos para sempre. Já havia imprimido
nossa história em minhas canções e na minha música. Beijei ela com força,
aceitando tudo que ela oferecia sem desculpas.
Capítulo Vinte e Nove

Kade

Presente

— Lamento aquela noite, — eu sussurro, segurando a mão dela. — Você


vai me perdoar?

— Saia! — Uma alta voz masculina ordena.

Eu me viro para encontrar Andrew Bell, todo o um metro e sessenta


centímetros dele marchando em minha direção. Seu rosto está vermelho e
seus olhos brilham de ódio.

— Boa noite, Andrew, — eu o cumprimento.

— Saia desta sala ou chamo a segurança, — ele me ameaça.

— Chame a segurança, eu não vou a lugar nenhum.

— Você não tem negócios nesta sala. Você e minha filha não têm um
relacionamento.
— Nós temos um filho juntos, — eu respondo, mantendo meu tom
baixo. — E eu apreciaria se você pudesse se controlar porque Kieran está
dormindo.

— Você é um idiota nojento e egoísta, — ele me acusa. — Minha filha


está melhor sem você.

— Ela está? Porque estou ao lado dela desde o acidente, e esta é a


primeira vez que vejo você. Onde você e Catherine estiveram?

— Eu não dou a mínima para Catherine.

Claro, ele não dá. Sua ex-mulher poderia estar ferida na calçada e ele a
ignoraria. Na verdade, ele poderia chutar Catherine enquanto ela estivesse
no chão.

— Você não dá a mínima para ninguém.

— Eu não preciso me defender de você. Agora que estou aqui, você


pode sair. Eu vou cuidar da minha filha.

— Você quer que eu acredite que você se importa com sua filha?

— Eu não me importo com o que você acredita. Eu só me importo com


ela e meu neto. Agora saia, antes que eu chame a segurança. Eles só
permitem família nesta sala. — Ele tira sua identidade do bolso. — Tive
que mostrar a eles que sou família. Tem alguma lista em que eu não fui
incluído.

— Pare de me ameaçar, Andrew. Se você quiser chamar a segurança,


não vou impedi-lo. Você pode tentar me expulsar daqui, mas não
conseguirá. Meu filho está neste quarto e tenho todo o direito de estar com
ele.

— Ele não é seu filho, — diz ele com autoridade.

— Você está me dizendo que Sadie me traiu?

— Bem não.

— Guarde sua estupidez para mais tarde. Já fiz teste de paternidade,


caso você tente me separar dele.

— Eu vejo. — Ele olha para a incubadora e depois para Sadie. —


Podemos pedir quartos separados.

— Você levaria a mãe dele só para foder comigo? — Eu dou um passo a


frente e olho para ele. — Pare de fazer tudo sobre você e pense em sua filha
pelo menos uma vez. Eles precisam um do outro para se curar.

— Isso é ótimo, Hades, — ele ri. — Agora você está preocupado com a
mulher que abandonou, grávida.

— Boa tarde, cavalheiro, — Brynn entra na sala e olha para Andrew. —


Para estar na sala, você deve seguir o protocolo, senhor.

— Eu quero que você remova este homem do quarto da minha filha, —


ele ordena.

— E você é? — Ela estreita o olhar.

— Andrew Bell, — ele ruge.

— Senhor Bell? — Brynn arqueia uma sobrancelha.


— Pai de Sadie, — esclareço.

— Onde está o seu supervisor? — Ele exige.

— Isto é um hospital, senhor. Não é uma sala de reuniões. Eu apreciaria


se você mantivesse sua voz baixa.

— Eu preciso de respostas, — ele exige. — Minha filha está aqui há


algumas semanas e ninguém me ligou. Tive que descobrir pela internet.
Esses sites de fofoca sabem mais do que eu.

— Você não percebeu que ela não estava em casa? — Eu levanto uma
sobrancelha, inclinando minha cabeça.

— Nosso hospital deve ter entrado em contato com você quando o


paciente chegou. Eu sou um de seus médicos. Você terá que entrar em
contato com os escritórios administrativos ou a assistente social do hospital
para descobrir.

— Seu hospital deixou uma mensagem de voz vaga. Você não pode
esperar que eu abandone tudo só porque eles precisam falar comigo.

— Bem, aí está a resposta para sua pergunta. Seguimos o protocolo, Sr.


Bell, e você não ligou de volta ou veio ao hospital, — Brynn responde
profissionalmente enquanto caminha em direção a Sadie. —Se você não se
importa, preciso que passe um pouco de esfoliante e lave as mãos
adequadamente se planeja ficar aqui.

— Eu preciso que você me atualize sobre a condição dela. Por que não
vamos lá fora para podermos conversar, Dra. Ward?
— Você pode fazer isso aqui, — eu sugiro.

— Este é um assunto de família. De agora em diante, você não pode ser


incluído em nenhuma atualização sobre a saúde dela. — Andrew me dá
um aceno rápido e se vira.

Eles saem do quarto e me deixam com um gosto ruim na boca. Este filho
da puta vai me dar um inferno, mas estou pronto para ir para a guerra, se
necessário.

— Isso foi algo, — Brynn dá um passo para dentro do quarto. — Idiota


pretensioso. Se ele acha que vai me assustar, ele tem outra coisa vindo.

— O que aconteceu?

— Ele ameaçou me demitir, blá, blá... — Ela move as mãos como uma
marionete.

Eu ri. — Ele disse blá, blá?

— Não. Ele vomitou um monte de bobagens como qualquer outro


homem arrogante que pensa que é mais poderoso do que Deus. Meu
cérebro desliga ao vê-los.

— Onde ele está?

— Ele vai descobrir quem está no comando, porque sou uma mulher
incompetente. — Ela revira os olhos. — O hospital sabe como lidar com
pessoas como ele. Ele não é o primeiro idiota que pensa que é o dono do
lugar.

— Você os contatou?
— O hospital tentou quando ela chegou, mas foi a única ligação que
fizemos. Porém, você sabia que ligaríamos para ele em breve. Precisamos
de alguém que possa legalmente tomar decisões por ela.

— Você está me dizendo que aquele idiota decide tudo.

— Deste ponto em diante, é assim. Eu sinto muito.

— Ele a está levando para fora deste quarto?

— Ele vai tentar, mas eu já expliquei para ele que essa área isolada
ajuda a afastar os repórteres.

— Presumo que os paparazzi não tenham saído do edifício.

— Sim, a história ainda é recente.

— Como podemos impedi-lo de movê-la?

— Ele não vai. Expliquei a ele que se movermos Sadie, será mais difícil
mantê-la protegida da imprensa.

— Sobre o que mais você falou?

— A condição de Sadie. Ele não entende o ponto de usar recursos do


hospital em alguém que pode estar com morte cerebral.

— Você está brincando?

Ela balança a cabeça. — Eu manteria seu advogado de prontidão.

Enquanto ela analisa os sinais vitais de Sadie, eu ando ao redor do


quarto. Andrew já está desistindo de sua filha. Eu sabia que isso
aconteceria, mas como faço para impedi-lo? Quando estou prestes a enviar
uma mensagem de texto ao meu advogado, a mensagem de Alicia aparece
na minha tela.

Alicia: Eu disse para você ficar longe dela. Você sabe o que está fazendo com
Tess?

Kaden: Você mentiu para mim.

Alicia: Você engravidou aquela mulher.

Kaden: Ela é minha noiva.

Alicia: Tess está arrasada.

Kaden: Como você saberia? Tess e Hannah estão morando com seus pais
enquanto você está na Europa.

Alicia: Esse é o meu problema.

Kaden: Não, temos um acordo juridicamente vinculativo. Eu vou resolver as


coisas com meu advogado. Quanto à minha filha, pretendo levá-la de volta ao
antigo terapeuta.

Alicia: Eu não vou permitir que você a leve a um psiquiatra estúpido que não
tem ideia do que está acontecendo com ela. Ela já tem seu próprio terapeuta.

Kaden: Ela tem? Ou estou dando oitocentos dólares por mês enquanto você
finge mandá-la para um conselheiro?

Alicia: Vou pedir a custódia total se você for contra minha vontade.

Kaden: Não há nada que você possa fazer, Alicia. Você nem mesmo está aqui
para evitá-lo.
Tess e eu temos uma longa conversa pela frente.
Capítulo Trinta

Kade

Deixar o lado de Sadie não foi bom, mas eu tinha que fazer isso pelo
bem de minhas filhas e de nosso futuro. Quanto mais cedo eu agir, melhor.
Já se passaram quatro dias desde que a grande notícia de que minha noiva
está no hospital apareceu na internet. Falei com os pais de Alicia sobre sua
situação atual. Eles não tinham ideia de que eu não sabia onde minhas
filhas estavam. Alicia disse a eles que eles tinham permissão minha, já que
eu estava fora da cidade.

Depois de uma longa conversa com meu advogado, ele sugeriu que eu
solicitasse a custódia total das minhas filhas, embora eu não possa fazer
muito até conseguir uma data para o tribunal. No entanto, como temos
uma emergência familiar, elas ficarão com os avós nesse ínterim. A
audiência para estabelecer a custódia permanente não é até o próximo mês.
Se Alicia não voltar até lá, terei menos problemas para convencer o juiz de
que sua mãe não é adequada para cuidar deles.

— Você não pode me obrigar a fazer isso, — insiste Tess enquanto


dirigimos para o consultório do terapeuta.
— Isso não é tortura. — Eu seguro o volante, contando números para
manter minha raiva baixa.

— Eu tenho meu próprio terapeuta.

— Podemos ir lá. Me dê o nome dele.

— Mamãe tem.

— Você não sabe o nome do seu terapeuta?

— É Smith ou algo parecido.

— Qual é o primeiro nome? — Toco a tela do painel e encontro o


aplicativo do telefone.

— Isso é estúpido.

— Tess, você está mentindo para mim, de novo.

— Você não sabe do que está falando.

— Eu faria se você me contasse o que está acontecendo.

— Por que você se importaria?

— Eu me importo e preciso que você entenda que só porque amo Sadie


não significa que algum dia deixei de te amar.

— Você só está fazendo isso porque está voltando para ela e nos
abandonando.

— Tess...

— Ela está morta, você sabe.


— Sadie não está morta. Ela está em coma. — Eu suspiro, parando
completamente no sinal vermelho.

— Batata, batata. Se você leu as notícias, sabe que o cérebro dela está
morto. Ela nunca vai acordar. Isso não tem sentido.

— Onde você conseguiu isso?

— Mamãe me contou.

— Quando? — Bato o volante enquanto espero o sinal verde.

— Quando ela me ligou para dizer que você vai nos forçar a ir com você
para a terapia, mas que eu devo ser forte. Você não está me convencendo a
mudar de ideia. Eu não vou aceitá-la. Nunca. Nem aquele garoto. Ele não é
meu irmão.

— Ele é nosso irmão, — Hannah, que está no banco de trás, finalmente


fala. — Você tem que parar com isso. Acho que uma vez foi o suficiente.

— Cale a boca, Hannah. Você tem uma boca solta.

— Você sabe que o que você fez foi errado. Eu não posso continuar
mentindo para eles. — Hannah cruza os braços. — Sadie está no hospital. E
pode ser sua culpa.

— Você pode me culpar por isso, mas eu proíbo você de me culpar pelo
que aconteceu com eles.

Quero parar com essa discussão, mas tenho a sensação de que essas
duas vão contar as mentiras assim que começarem a brigar.
— Papai estaria em algum lugar com Sadie em sua lua de mel. Ela
estaria segura. — Hannah começa a chorar e eu estou confuso como o
inferno.

Eu permaneço em silêncio, no entanto. Vigilante. É como assistir a dois


trens que estão prestes a colidir e ninguém pode pará-los, mas não consigo
desviar o olhar. Eu paro o carro, estacionando na primeira vaga que
encontro.

— Ou se papai não fosse teimoso, todos nós poderíamos ter estado na


Europa, como uma família. Como mamãe planejou. Mas você não me
ajudou a convencê-lo. É por isso que ela nos deixou e foi viajar sozinha.

— Você não está me culpando por isso de novo, — Hannah levanta a


voz. — Ela nos deixou porque é egoísta.

Minha pobre filha não poderia estar mais certa.

— Essa é a única coisa que ela pediu de nós, e você disse não. Eles
precisam se apaixonar novamente como faziam quando eram jovens.
Namorados do colégio que dançaram durante o baile como o rei e a rainha.

Do que diabos ela está falando?

— Espere, você ainda está obcecada por eu voltar a ficar com sua mãe?

— Mamãe diz que é a única coisa que a fará feliz. — Hannah exala,
deixando cair a cabeça no encosto.
— Você a ama, — insiste Tess. — Mamãe nos contou a história. Como
você só tinha olhos para ela e se casou com ela quando vocês dois eram
jovens e mal podia esperar para ter filhos.

— Essa é a história que ela te contou?

Fecho meus olhos porque quero matar Alicia por colocar tanta bobagem
na cabeça de nossa filha.

— Olha, querida, eu te amo...

— Oh garoto. Esse é o começo de que você não vai gostar do que estou
prestes a dizer, — Hannah me desafia.

— Hannah, — eu a repreendo, dando a ela um olhar severo.

— Sim, cale-se.

Hannah estala os lábios.

— Eu adoro vocês duas. — Eu inalo antes de quebrar o conto de fadas


louco. — Não importa o que aconteceu com sua mãe. Saiba que eu te amei
desde o momento em que te segurei em meus braços.

— Oh, por favor. Isso é tão dramático, — grunhe Tess. — O que você
vai nos dizer? Que vocês mal se falaram na escola?

— Eu a conheci em um show. Ela era uma groupie. — Eu pulo a parte


em que ela dormiu com alguns ajudantes também. — Uma coisa levou à
outra, e ela estava grávida. Assim que descobri que ela estava esperando
você, me casei com ela por sua causa. Não por ela. Preciso que você
entenda que a única razão de estar com sua mãe é porque adoro vocês
duas. Eu a respeito porque ela é sua mãe, mas isso é todo o carinho que
tenho por ela. Nosso casamento não deu certo porque não nos amávamos.
Agora que estou mais velho, sei que poderia ter feito a coisa certa por você
sem me envolver com ela. Mas esse não é o ponto.

— Ela diz...

Eu levanto minha mão para parar Tess.

— Acredite em mim quando digo que também não há amor perdido do


lado dela.

A vadia me odeia.

— Não importa o que você tente, sua mãe e eu nunca vamos voltar a
ficar juntos.

— Mas isso não pode ser verdade, — ela protesta. — Você compôs
várias canções para ela.

— Isso também é mentira.

— Você está errado.

— Sinto muito, Tess. Eu não sabia que ela te criou com a noção de que
éramos um casal perfeito com o amor perfeito. Na verdade, o amor não é
perfeito. O que o torna mágico são as imperfeições. Merda, se eu soubesse...
— Eu sigo minha voz e meu olhar.

— Mas ela diz que você é o único que pode fazê-la feliz. É por isso que
fiz tudo, para que vocês dois pudessem finalmente ver que foram feitos um
para o outro.
Eu torço meu corpo e me inclino para frente porque seu tom de voz
parece um balde de água fria. — O que você fez?

— Nada. Deixa pra lá. — Ela finge mexer em um fiapo da calça jeans e
volta o olhar para a janela.

— Eu me importo. O que você fez, Tess?

— Quando descobri que Sadie estava grávida, contei para a mamãe.

— Você sabia sobre o bebê? — Eu rosno. — Como?

— Sadie estava conversando com a costureira enquanto elas arrumavam


os vestidos das damas de honra. Ela perguntou se eles poderiam ajustar o
vestido caso ela engordasse. A senhora perguntou se ela estava grávida e
Sadie deu de ombros, mas não negou. Então ela vomitou duas vezes
enquanto estávamos no spa, e uma das mulheres deu a ela um chá que é
ótimo para mulheres grávidas e enjoos matinais.

— Você sabia, — eu murmurei. — O que sua mãe disse?

— Mamãe enlouqueceu. Ela me disse que tínhamos que tomar medidas


drásticas, ou perderíamos você. Que o plano de boicotar o casamento não
seria suficiente porque você sempre fez a coisa certa.

— Você ia boicotar o casamento? — Eu fico olhando para a criança ao


meu lado, sem reconhecê-la.

Quando ela se tornou tão enganadora?

— Eu tive que ajudar a mamãe. Mas já era tarde para o casamento.


Tínhamos que fazer algo radical. Ela me fez tomar eles. Eram muitos, mas
ela disse que os comprimidos não eram perigosos. Que chegaríamos ao
hospital a tempo de fazer uma lavagem estomacal. Ela disse que cuidaria
do resto. Que ela explicaria para você e você terminaria com Sadie. Que
depois do que aconteceu com sua irmã não havia como você continuar com
ela.

A raiva ferve dentro do meu corpo. Como ela ousa usar minha filha
assim? Ela poderia tê-la matado. E para quê?

— Ela usou Hannah, — eu sussurro, batendo minha cabeça contra o


volante.

— Eu não fiz nada, — protesta Hannah.

— Eu quis dizer minha irmã, querida. Você tem alguma ideia do que
isso fez comigo, Tess? — Eu rujo, incapaz de me controlar.

— Queria que voltássemos a ser uma família.

— Ela armou tudo para parecer o suicídio da minha irmã, Tess. O medo
de perder você, combinado com um dos dias mais sombrios da minha vida,
me impediu de ver o que realmente estava acontecendo com você e ela. Eu
a deixei me manipular. Ela também está manipulando você.

— Eu só queria que ela fosse feliz.

— Uma parte de mim morreu naquele dia Tess, e sua mãe pode estar
feliz apenas porque ela me machucou.

— Você diz isso por causa de Sadie.


— Não, quase perder você matou uma parte de mim. Eu tenho
destruído meu cérebro, me culpando pelo que eu poderia ter feito para
salvá-la daquele momento. Eu continuo procurando por você, e você me
ignora. Você acha que tem sido fácil para mim? Tentei falar com você sobre
isso, e você continua me afastando.

— Porque eu odeio ter mentido. — Ela funga, mas não deixa uma
lágrima cair daqueles olhos lacrimejantes. — Mamãe me proibiu de falar
sobre isso porque ela sabia que eu não seria capaz de mentir para você.

— Eu tenho que perguntar... se Sadie e eu nos reconciliarmos, você vai


fazer isso de novo?

— Você vai voltar para ela? — Tess grita, agitada com minha pergunta.

E estou de volta ao mesmo lugar onde estava há seis meses. Ou sou eu?
Essa revelação muda tudo. No entanto, nada pode mudar enquanto Sadie
permanecer em coma. Eu corro a mão pelo meu cabelo agora curto,
olhando pela janela. Meu futuro com Sadie não depende de mim. Há um
longo caminho pela frente. Depois de acordar, ela tem que se recuperar e
então... ela me aceitaria de volta depois de deixá-la sem olhar para trás?

— Eu simplesmente não sei.

— Você vai se casar com ela por causa do bebê?

— Não. Eu me casaria com ela porque a amo. — Eu exalo as palavras,


fechando meus olhos por um segundo. —Mas isso não é o que importa.
Nós somos o que importa agora. Você mentiu para mim, e posso dizer que
está chateada, mas você não vai me dizer exatamente o que está em sua
mente. Acho que você precisa de um terapeuta diferente.

— Você não entende. — Tess desmorona, chorando muito. — Mamãe


não vai deixar, e se Sadie voltar...

Ela abre a porta, sai do carro e se encosta nele.

— O que acabou de acontecer? — Eu digo espantado.

— Mãe, — Hannah suspira. — Ela está sempre gritando conosco,


dizendo que precisamos colocar vocês dois juntos novamente, como a
Armadilha dos Pais. Ela diz que sacrificou tudo por você e por nós. Que
somos inúteis.

— Ela te chamou assim?

— Mais ou menos, em outras palavras.

— Há quanto tempo isso vem acontecendo?

Meu coração para porque nunca vi isso acontecer. Achei que as meninas
estavam seguras com ela.

— Alguns anos, talvez mais para Tess. Ela não disse nada para mim até
eu ficar mais velha, mas toda vez que Sadie me levava para casa, mamãe
era desagradável comigo.

— É por isso que você começou a mudar com Sadie?

— Sim. Tentei não amá-la porque uma vez disse à minha mãe que
gostaria que ela fosse muito mais como Sadie. — Ela torce os lábios. —
Mãe... ela não foi muito legal com isso. As coisas complicaram-se.
— Ela está te tratando bem?

— Ela é a mãe, — ela responde como se isso explicasse tudo.

— Eu não tenho a menor ideia do que fazer agora.

— Volte para Sadie e meu irmão mais novo. Você era feliz quando
estava com ela.

— Para uma criança de 12 anos, você é muito teimosa, Hannah.

— Eu gostava mais de você quando você estava com Sadie.

— Por quê?

— Agora você está muito triste para se importar se estivermos perto de


você. A propósito, mamãe disse que ia nos tirar de você.

— Quando?

— Dois dias atrás, quando ela nos ligou sobre o terapeuta. Ela disse a
Tess para fazer algo drástico, ou ela não o veria novamente.

— O que isso significa?

Alarmes começam a soar dentro da minha cabeça, eu não conseguia


entender o que aconteceria se eu não impedisse Tess d ...

— Tess não faria nada, — diz ela, casualmente. — Isso a assustou da


primeira vez.

— Você está segura com seus avós?

— Eles estão bem.


— Se eu pudesse, levaria você para casa, mas não posso estar lá.

— Honestamente, pai, estamos bem. — Ela se levanta e beija minha


bochecha. — Desculpa pai. Eu não queria mentir para você.

— Você pode prometer não mentir para mim de novo? Eu entendo que
sua mãe a forçou, mas eu estou aqui para você, para ouvi-la.

— Sinto muito, pai, — Hannah se desculpa.

Saio do carro, pego Tess nos braços e a deixo chorar por um longo
tempo. Sadie costumava me dizer que às vezes as pessoas precisam liberar
suas tristezas antes de falar sobre elas.

— Desculpe, — murmura Tess, depois de um longo tempo. — Eu queria


que mamãe fosse feliz.

— Tess, você precisa confiar em mim e falar comigo sobre o que está
acontecendo com você. É difícil para mim adivinhar.

— Ela vai ficar brava.

— Você não deve ter medo de sua mãe. Se qualquer coisa, lembre-se de
que você me tem. Vou me certificar de que ela pare com esse absurdo. Eu
prometo.
Capítulo Trinta e Dois

Kade

Depois que Tess prometeu confiar em mim, levei as meninas para


almoçar e depois para tomar sorvete. Parecia como nos velhos tempos,
quando elas sorriam livremente e brincavam quando estávamos juntos.
Então eu as deixei na casa de seus avós. Não tenho certeza de como vou
resolver seus arranjos de vida, mas até que Alicia pare com a insanidade,
elas não vão morar com ela.

— Tanto pelo amor que você professa ter por ela. — Andrew se inclina
contra a parede, me observando enquanto entro na sala.

— Me perdoe? — Eu paro, olhando para ele.

Parece que a grande oportunidade acabou. Tenho que lidar com nossas
famílias, fãs, repórteres e esperar por Sadie. Meu prato está muito cheio e
meu fusível muito curto.

— Você esteve fora o dia todo. — Ele bate no relógio.

— Estive fora por algumas horas visitando minhas filhas, — ofereço


uma breve explicação para ser educado, mas ele não merece saber de nada.
— Por que você não vai embora agora, antes que as coisas fiquem
difíceis com Sadie?

— O que Brynn disse sobre a medicação? — Eu o ignoro.

— Os médicos não vão discutir a saúde dela com você. — Ele fecha a
boca, cruzando os braços.

— Mas vou te dizer que, se não houver atividade cerebral quando eles
fizerem a próxima tomografia, eu a removerei.

Os pelos da minha nuca se arrepiam, meu coração dispara contra meu


peito e minha cabeça lateja.

— Você não pode estar falando sério.

— Eu estou. — Ele dá um passo à frente, estufando o peito. — Não é


justo ter seu corpo ligado a máquinas quando seu cérebro não está
funcionando. Minha filha não vai perder espaço nos próximos cem anos.
Este não é um conto de fadas em que você a beija e ela acorda.

— Não é justo com Kieran... — ou comigo.

— Eu sou a única pessoa que pode tomar decisões por ela. Não há nada
que você possa fazer.

— Meu filho merece uma mãe e, por esse motivo simples, vou garantir
que ela tenha tempo suficiente para voltar para nós.

— Tente, Hades. Estou mais do que pronto para mostrar como sou
poderoso. Se Sadie não acordar em alguns dias, ela se foi. E então, eu vou
lutar com você pela custódia do bebê.
— E o que você planeja fazer com um bebê quando você era incapaz de
cuidar de sua própria filha há mais de trinta anos?

— Você não tem ideia do que está falando. Sadie tinha um teto, comida
e roupas.

— Isso não é suficiente, — argumentei. — Ela precisava de muito mais


do que o básico. Você está ciente de que Catherine abusou severamente e
negligenciou Sadie?

— Você não tem ideia do que está falando, — ele protesta, levantando a
voz.

Dou alguns passos para mais perto dele e mantenho meu nível de voz.
— Claro que eu faço. Compartilhamos tudo, incluindo nossas piores
memórias de infância.

Sua mandíbula se fecha em uma carranca. Eu não paro.

— Ela estava sentindo falta do amor de um pai que estava lá no dia de


seu aniversário ou quando sua mãe estava bêbada demais para lembrar o
nome de Sadie.

— Catherine não estava bêbada quando Sadie era jovem.

Eu rosno, com raiva dele. — Você sempre foi tão sem noção, ou
simplesmente não dá a mínima para perceber o que está acontecendo ao
seu redor?

— Você está errado, — ele insiste, mas sua atenção está em Sadie.
— Você nunca a amou incondicionalmente. Ela tinha que fazer tudo do
jeito que você queria, ou você a ignoraria. E nada mudou. Você está dando
a ela alguns dias para acordar, ou ela está morta. Que tipo de pai você é?

Eu odiei deixar Sadie, mas saio do quarto.

✰✰✰✰

O processo tem sido lento, mas depois de três dias, Sadie está
totalmente fora dos sedativos. No entanto, ela ainda está dormindo. Não há
cronograma, mas eles estão esperançosos, pois a atividade cerebral foi
registrada durante a tomografia computadorizada.

— Acorde, Beija-flor. Nós estamos esperando.

Não há resposta, mas as máquinas continuam apitando.

— É hora de você voltar para mim. Este não é um ensaio geral, — eu


continuo. — Estamos prontos para você voltar. Kieran está animado para
ver você.

— Ei, Kade, — Brynn me cumprimenta quando ela entra na sala. —


Você já colocou aquele bebê no berço?

— Ocasionalmente. — Eu sorrio para ela.


— Tenho certeza de que é ótimo para ele, mas ele terá dificuldade em
estar em seu berço quando voltar para casa.

— Você soa como suas enfermeiras, — eu rio. — Ele vai ficar bem, e se
eu precisar, vou apenas carregá-lo até que ele ande. Tenho certeza que ele
não vai querer fazer nada comigo depois que isso começar.

— Isso é loucura, Hades. — Ela ri. — Vamos levar Sadie para fazer mais
alguns testes.

— Para que?

— A equipe jurídica do Sr. Bell quer que provemos que Sadie não está
com morte cerebral. A tomografia não é suficiente.

— Você já ouviu falar do meu advogado? — Eu exalo as palavras


duramente.

— O departamento jurídico trata de tudo isso, mas saiba que estou


torcendo por você. Se houver atividade cerebral, o Sr. Bell não pode fazer
nada. — Ela começa a desconectar e reconectar os cabos enquanto uma
enfermeira entra com uma maca. — Abordar o bebê no processo foi uma
ótima ideia.

A hora mais longa passa, enquanto eu ando pela sala com Kieran em
meus braços. Ele está acordado e alerta. Não tenho certeza do quanto ele
entende, mas tenho certeza de que ele sabe que algo está errado. Assim que
Brynn rola a maca para trás e as enfermeiras colocam Sadie de volta em sua
cama, respiro de alívio.

— O que está acontecendo?


— Confirmamos que há atividade cerebral. O inchaço desapareceu
completamente. Eles vão ter dificuldade em desconectá-la. Acho que ela
pode respirar sozinha.

— Não importaria se eles a desconectassem, então?

— Não posso garantir isso, mas podemos ter aquele pequeno ás na


manga.

— Obrigado por me atualizar. Eu sei que você pode ser despedida.

— Só se você abrir a boca. — Ela me encara. — Eu confio em você para


não dizer nada para aquele idiota petulante.

✰✰✰✰

Andrew Bell entra no quarto. Seu cabelo ainda está molhado, seu terno
escuro perfeitamente passado e sua mandíbula cerrada.

— O que você quer, Hades?

Eu me levanto da minha cadeira, beijo Sadie na testa e caminho em


direção a ele para manter minha voz o mais baixa que posso.

— Que tipo de pergunta é essa?

— Falei com o meu advogado. Ele disse que não há como você ganhar a
ação, mas pode dificultar as coisas.
— Eu pretendo te dar o inferno, — eu concordo. — Eu não vou parar de
lutar com você até que ela acorde.

— E se ela não acordar? — Ele está usando uma voz condescendente


que me irrita, mas eu afasto isso, pelo bem de Sadie e Kieran.

— Ela vai. Mas se ela não fizer isso, pelo menos eu saberia que dei
tempo a ela. Ela faz tudo no seu tempo.

— Você vai esquecê-la em alguns meses. Ela vai acabar em um hospício,


sem vida, esperando por alguém para visitá-la. Ela odiaria isso.

— Se for esse o caso, vou trazê-la para casa comigo, onde eu poderia
cuidar dela e talvez quando nós dois estivermos velhos, iremos embora,
juntos.

— Por que você faria isso?

— Simples, porque eu a amo. Não importa quanto tempo demore, vou


esperar por ela. Você pode tentar, mas você não pode simplesmente tirá-la
de mim.

— Eu nunca entendi vocês dois.

— Não há nada para entender sobre nós. Nós apenas existimos como
uma alma, um coração e dois corpos.

— Você é muito diferente.

— Nós nos complementamos, — respondo, lembrando de como nos


encaixamos perfeitamente. —Ela me desafia, me faz melhor e me ajuda a
sonhar. Ela é minha luz. Não tenho ideia do que dou a ela, mas sei que a
deixei feliz. Ela me ama.

— Eu nunca soube o que fazer com ela. Ela é uma garota. Meninos são
fáceis, mas meninas... ela queria brincar de boneca ou conversar, e eu não
tinha tempo. Mesmo agora, mal consigo encontrar tempo para ela. Eu
queria que ela fosse perfeita, mas ela escolheu a carreira errada e então
abriu um negócio que não fazia sentido.

— As flores são a sua paixão. Ela aprendeu isso com sua mãe. — É
inacreditável. Ele ainda não percebeu isso.

— Mamãe a amava. De todos os seus netos, ela a amava mais.

Ele observa Sadie de onde está por vários minutos, com as mãos nos
bolsos.

— Eu a amo, você sabe. Ela é minha filha, e dói vê-la deitada ali com
pouca esperança. Eu não posso consertá-la. Nada que eu faça a trará de
volta.

— Você tem que ter paciência, esperar que ela volte em seu próprio
tempo. Curar. Em vez de observá-la, você deve falar com ela.

— Cantando para ela como você faz, — acrescenta.

— Hã? — Eu inclino minha cabeça, dando a ele um olhar perplexo.

Como ele sabe?

— Eu assisti você ontem à noite. Eu... você disse a ela que encontrou
uma casa que se parecia muito com a minha e um cara da construção
estava pronto para começar sua estufa. Você falou sobre Kieran e como
você o estava ensinando a dizer 'mamãe.' Eu não interrompi porque o
momento parecia muito íntimo. Como falar com seu parceiro antes de
dormir.

— Isso é o que geralmente fazíamos à noite. — Eu me viro para ela,


olhando para seu corpo adormecido.

Deus, ela odiaria saber que está interpretando a Bela Adormecida. Mas
mesmo que leve cem anos para ela acordar, eu esperaria por ela.

— Não a tire de nós, — imploro a ele. — Eu vou te dar o que você


quiser.

— Mas e se ela não acordar e você encontrar outra pessoa? — Seu tom é
reservado.

— Não há ninguém mais no mundo como ela. Ela é minha dona.

— Se ela não sobreviver... — ele gagueja e encara Kieran. —Você me


deixaria vê-lo?

— Claro. Você pode visitá-lo quando quiser. Eu quero que ele conheça
sua família. Só porque eu não gosto de você, não significa que gostaria de
colocar um muro entre Kieran e você.

Ele acena com a cabeça algumas vezes, os olhos em sua filha. Então, ele
caminha perto de mim e acaricia a testa de Kieran.

— Vou falar com os médicos. Bem, esperar.

— Obrigado, — eu digo, beijando a cabeça do meu filho.


Nós ganhamos. Andrew para no meio da porta e se vira.

— Vou me mudar para a casa da piscina. Amanhã farei com que meu
advogado altere a escritura para o nome de Sadie.

Eu levanto uma sobrancelha, confuso com o que ele acabou de dizer. —


O que você quer dizer?

— A casa onde moro pertencia aos meus pais. Minha mãe a deixou
comigo para que eu desse a Sadie quando ela decidisse se casar e começar
uma família.

— Você não disse a ela? — Eu fico boquiaberto, surpreso com este idiota
controlador.

— Eu não achei que isso importasse, e quando vocês dois ficaram


noivos, eu... eu não queria te dar a casa.

Idiota. Ela estava se casando com um cara que ele odiava. Portanto, ela
não merecia sua herança. Porém, antes de dizer algo de que possa me
arrepender, lembro a mim mesmo que acabei de ganhar a guerra. Sadie
tem tempo, o resto não importa.

— Se você quiser, posso comprar de você, — ofereço. —Aquela casa a


faria feliz. Posso mandar o dinheiro para você amanhã.

— Você não tem ideia de quanto custa.

— Você não tem ideia de quanto eu valho, Andrew, — eu contraponho.


—Abandonei o ensino médio, mas trabalho muito e economizo o máximo
que posso. Você não tem que gostar de mim ou me amar, mas eu apreciaria
se você parasse de me chamar de canalha na frente do meu filho ou de
Sadie.

— Eu posso fazer isso, mas você pode querer salvar seus insultos
também.

— Nós dois podemos ser civilizados, — concordo com ele.

— Avisarei quando a casa estiver vazia para que você possa começar a
se mudar ou redecorar.

— Obrigado, — eu entrego a ele meu cartão. — Então, é mais fácil


entrar em contato comigo.

✰✰✰✰

Os dias passam e não há notícias. Já se passaram duas semanas desde


que a tiraram do coma induzido, e Sadie ainda não acordou. Ela está
respirando sozinha e só tem o IV conectado a ela. Fico calmo, mas gostaria
de poder acelerar o processo. Sua condição permanece a mesma. Ela está
estável. Eu gostaria que ela pudesse acelerar o processo porque Kieran
continua ganhando peso e crescendo. Eles ainda não deram alta a ele, mas
a Dra. Hawkins deu a entender hoje que ele está pronto para ir para casa.

Se ao menos tudo em minha vida fosse como ele, fácil, compatível e


divertido. Pelo menos não posso reclamar da maneira como as coisas estão
indo com meus três filhos. Tess e Hannah nos visitam todos os dias.
Hannah ama Kieran enquanto Tess continua se esquivando dele. Eu não a
empurro. Há muita bagagem esperando por nós quando sairmos do
hospital. Alicia continua suas viagens pela Europa. Ela se preocupa com as
filhas?

Embora eu prefira que ela esteja longe. As meninas vêm ao hospital


livremente, sem precisar dar nenhuma explicação. Andrew a visitou
algumas vezes. Todas as quatro vezes ele disse a Sadie para acordar para
ele, que a amava e sentia sua falta. Não tenho ideia se ele já disse essas
palavras para Sadie, mas estou feliz que ele esteja mudando. Fiel à sua
palavra, ele mudou a escritura da casa para o nome dela. Ele não aceitou
nenhum dinheiro meu. Alguns dias depois, ele se mudou para a casa da
piscina e me ajudou a contratar um empreiteiro para fazer algumas
modificações na casa.

— Tess e Hannah virão em algumas horas, Sadie, — eu sussurro em seu


ouvido. — Você não gostaria de acordar para conversar com elas?

Seus dedos se movem, me apertando levemente. Meus olhos a encaram


enquanto aperto o botão para ligar para as enfermeiras. Seus olhos se
abrem. Ela pisca algumas vezes se ajustando.

— Ei linda, — eu sussurro, acariciando sua bochecha. — Eu sabia que


você voltaria para mim.

Seus olhos examinam a sala, as máquinas. Ela franze a testa e olha para
a frente. Sua respiração se torna irregular, ela move a mão em direção à
barriga.
— Meu bebê, — ela resmunga. As máquinas começam a apitar mais
rápido, sua respiração é superficial.

— Fique comigo, baby. Fique comigo, — eu imploro a ela.

As enfermeiras postadas ao lado chegam com um carrinho. Uma delas


sinaliza para eu ir até a porta.

— Senhor, você tem que sair, — ela ordena.

— Estamos perdendo ela!

— Não, por favor, — eu imploro enquanto eles me empurram para fora


da sala. — Precisamos ficar.

— Senhor, nos deixe trabalhar.

— Eu te amo. Lute por nós. Fique comigo, Beija-flor. Kieran precisa de


você. Não nos deixe.
Capítulo Trinta e Dois

Sadie

Minha frequência cardíaca diminui quando chego à clareira. Encontro


vovó sentada no banco olhando o riacho e jogando migalhas para os
pássaros.

— Por que você voltou? — Ela vira a cabeça olhando para mim. — Era
hora de você voltar.

— Eu o perdi, — eu sussurro.

— Quem?

— O bebê. Eu perdi meu bebê.

— Eu não acho que você fez, querida, ou ele estaria comigo.

Por que ele estaria com ela? Ela é sempre tão prática, encontrando o
lado bom de tudo. Eu não acho que ela pode entender o que está
acontecendo comigo. Primeiro perdi Kade. Agora nosso bebê. Não posso
voltar para um lugar onde serei lembrada de ambos.

— Você não pertence a este lugar, querida.

— Onde fica aqui?


— No meio do nada. Você está no vale das almas perdidas.

— Isso é um sonho, não é?

— Algo parecido. — Ela pisca para mim. —Você pode continuar sua
vida. Por que você quer ficar aqui?

— Aqui? Eu pensei que você estava no céu.

— Claro, estou no céu. Mas às vezes eu tenho que visitar netos teimosos
que decidem que não querem enfrentar a vida.

— O que há para enfrentar?

— Você tem um milhão de motivos, e o mais importante está aí. Você


pode ouvir isso?

Eu fecho meus olhos e ouço sua voz quebrada cantando enquanto ele
toca a melodia mais triste que eu já ouvi.

— Tome sua próxima respiração, aquela segunda chance de fazer as


coisas certas. Você tem uma vida e um propósito, não os desperdice.
Capítulo Trinta e Três

Sadie

Eu estou de volta na mesma sala. Conectada a máquinas, agulhas e


tubos. Meus olhos se movem para a direita. Os olhos vermelhos de Kaden
me encaram. Ele mal está respirando. Eu examino seu perfil. Seu cabelo é
curto. Tão baixo ele parece diferente. A barba, porém, é nova. Ele não se
barbeia há muito tempo. Ele está vestido com uma camiseta e, em seus
braços amarrados com tinta, ele segura um bebê.

Minha ansiedade aumenta conforme eu olho a imagem inteira. Onde


estou e por que ele está segurando um bebê? Eu olho para minha barriga
inchada, mas ela sumiu.

— Se acalme. Respire, Sadie. Tudo está bem. Kieran está aqui. — Ele se
aproxima, mostrando o recém-nascido mais bonito que já vi em toda a
minha vida. Seus grandes olhos azuis me encaram. —Diga oi para mamãe,
Kieran,

Kieran, eu sorrio para o bebê.

— Você quer um pouco de água ou gelo?


Eu engulo, e minha garganta está tão seca que parece que comi um
monte de bolas de algodão. Kaden se levanta de sua cadeira, sai da sala e
volta com um copo.

— Aqui. Beba devagar e respire fundo.

Eu faço o que ele diz e, depois que minha ansiedade se acalma, digo. —
Onde estou?

Minha voz está rouca e minha garganta está dolorida.

— No hospital, — ele responde, com cautela.

Eu bebo mais água, me dando tempo para pensar.

— O que aconteceu?

Kaden explica que sofri um acidente de carro. Lembro de dirigir a van


para fazer a última entrega da noite quando ouvi um grito alto e senti algo
me batendo de lado. Ele continua me dizendo que um homem perdeu o
controle de seu caminhão e acertou a van.

Eles me tiraram do carro, fizeram uma cesariana de emergência e me


remendaram. Ele continua explicando sobre meu baço, meu braço com
parafusos, meu pulmão perfurado. Pela maneira como ele descreve, me
sinto sortuda por estar viva. Sorte ou não, eu me lembro corretamente que
este homem e eu terminamos há muito tempo e ele não deveria estar aqui.

— Eles não precisavam ligar para você. — Pareço ingrata, amarga, mas
não sou nenhum dos dois. Eu estou assustada.
— Minha garota e meu bebê precisavam de mim. Claro, eles tiveram
que me ligar.

Ele toca alguns botões, a cama se eleva e ele se levanta da cadeira mais
uma vez.

— Você quer segurá-lo?

Eu aceno, olhando para o meu braço esquerdo, que tem uma cicatriz de
vergão vermelho. Eu movo algumas vezes.

— Eles consertaram e vinham todos os dias fazer fisioterapia, mas


talvez você tenha que continuar. — Ele entrega o bebê para mim.

Eu fico olhando para ele confusa. Este é realmente meu bebê? Algo em
mim está rejeitando a ideia desse garoto. Mas quando ele abre os olhos,
tudo na sala desaparece, e é só ele. Seu pequeno rosto brilha com uma luz
dentro, e seus pequenos dedos agarram os meus e seguram com força. Ele
sabe!

De alguma forma, parece que ele sabe que pertencemos um ao outro.


Que eu preciso ter certeza de que ele é meu. Ele sabe que preciso de seu
calor e amor em meio ao que está acontecendo agora. Eu o seguro com
força contra o peito, prometendo que nunca o deixarei ir. Não importa o
que aconteça em nosso caminho, eu o protegerei.

— Ei lindo, — eu digo, segurando-o com força contra o meu corpo.

Os olhos de Kieran se arregalam como se ele me reconhecesse.


— Eu disse que ela estava voltando, — diz Kade. —Ele sentiu sua falta,
mas eu me certifiquei de que ele ouvisse sua voz diariamente.

— Obrigada, eu acho, por estar por perto.

Agora saia antes que eu me apaixone por você de novo e quebre meu coração.

— Sinto muito, — ele murmura.

— Por? — Eu franzo a testa confusa.

Eu olho ao redor, verifico minhas pernas, mexo meus dedos dos pés.
Nada. Eu estou inválido?

— Por que você está pedindo desculpas?

— Por deixar você, por não ficar por aqui e consertar tudo junto como
uma família.

— Ei, eu entendo. Esperançosamente, tudo deu certo.

Ele enfia a mão no bolso e puxa algo. Meu anel.

— Se você pudesse me dar outra chance.

— Outra chance?

Meu pulso dispara e não é amor. É medo. O som do bipe da máquina


acelera enquanto meu coração fica acelerado novamente.

— Acalme-se, — ele diz com uma voz suave. — A última vez que você
enlouqueceu assim, pensei que tinha te perdido para sempre.

— Eu não tenho ideia do que você está fazendo. Acabamos, Kaden. Na


verdade, você não deveria estar aqui. Você prometeu.
— E quanto ao meu filho? — Sua voz falhou, seus olhos se encheram de
dor e angústia.

— Este pequeno é meu. Ele é tudo que eu tenho. Você tem sua vida.

Ele dá um passo para trás, como se eu tivesse dado um soco no


estômago. Minhas palavras foram punhais perfurando seu coração.

— Finalmente, você acordou. — A médica entra no quarto. — Como


você está se sentindo?

— Sonolenta, grogue e confusa. — Pisco algumas vezes, reconhecendo


minha amiga Brynn.

— A confusão é típica depois de um trauma como o que você sofreu.


Vamos tirar o primeiro teste do caminho respondendo a algumas
perguntas para mim.

Brynn pergunta meu sobrenome, data de nascimento, para recitar o


alfabeto, contar regressivamente de 100 até cinco, os nomes dos meus pais,
o nome da minha floricultura e se reconheço o cara sentado ao meu lado.

— Quem não reconheceria um famoso astro do rock? — Eu estou


brincando.

— E ela também tem senso de humor, senhoras e senhores, — diz


Brynn, rabiscando em sua ficha.

— De zero a dez, zero sendo nada e dez sendo insuportável, como você
classificaria sua dor?
Eu estudo meu corpo enquanto descubro se posso ao menos senti-lo.
Minhas pernas estão rígidas, mas não há dor. O braço que mal está
segurando meu bebê dói. — Meu braço dói. Eu diria seis.

— Você está com dor de cabeça?

— Não, mas meus ombros estão tensos.

— Kade, você se importaria de segurar o bebê? — Brynn o tira dos meus


braços. — Eu preciso verificar seus pontos e fazer alguns testes simples.

Brynn me pede para olhar para a esquerda e para a direita, focando em


seu dedo enquanto ela pisca para mim com sua lanterna. Então ela verifica
meus reflexos e, enquanto isso, eu os observo. Kade segura nosso bebê
perto de seu peito. Ele murmura algo em seu ouvido enquanto o embala.
Seus olhos estão fechados, seu rosto marcado pela dor. Enquanto a cabeça
de Kieran repousa em seu peito, relaxado, sentindo-se protegido.

Eu me pergunto o que ele está dizendo ou se está cantando para ele. Vê-
los juntos é a coisa mais doce. Duas gerações compartilhando um vínculo
especial. Eu vi Kade com suas filhas, mas vê-lo com nosso bebê é uma visão
diferente. A maneira como ele o segura como se fosse a coisa mais preciosa,
o amor que ele derrama nele. Meu coração aperta e torce enquanto as
memórias de nossa história caem como uma tempestade no meio de um
furacão. Todos os meus sonhos, esperanças e a maneira como imaginei
nosso futuro se seguem. Foi exatamente assim que imaginei o dia em que
nosso bebê nasceria. Mas nosso bebê tem um mês e não estamos mais
juntos. Respirando fundo algumas vezes, tento não chorar.
— Ei, está tudo bem. Você está indo muito bem e o bebê também. —
Brynn olha para Kade, que sai da sala com o bebê. — Ele foi cuidado e
amado o tempo todo.

— Há quanto tempo Kaden está aqui?

— Ele chegou quatro, talvez cinco horas depois que você foi internada.
Acho que você deve saber que ele mal dorme e só sai quando um de nós
está por perto.

Eu suspiro, tentando descobrir por que ele está de volta. Suas filhas
aprovam?

— A primeira vez que você acordou, ele estava arrasado, pensando que
tinha perdido você.

— Essa é uma maneira assustadora de acordar, — confesso me sentindo


tão ansiosa e oprimida.

As máquinas estavam apitando, Kaden estava ao meu lado e meu


bebê... ele não estava mais comigo.

— Você está indo bem até agora. Eu quero mantê-la mais alguns dias
para observação. Se você tiver algum sintoma como tontura, dificuldade
para respirar ou se lembrar de datas ou nomes, nos avise imediatamente.
Você teve uma contusão grave na cabeça, — diz ela, sorrindo. —Se precisar
de alguma coisa, chame as enfermeiras. Vamos fazer algumas mudanças na
sala, para que não se pareça mais com uma UTI.

— Obrigada, — eu digo graciosamente.


— A qualquer momento. — Ela checa o relógio. —Vou ficar no hospital
por mais algumas horas. Se precisar de mim, mande as enfermeiras me
chamarem. Se não, vou passar por aqui antes de ir para casa. —
Terminamos, — diz ela enquanto as portas de vidro se abrem. —Kevin
estará aqui em algumas horas.

— Eu mandei uma mensagem para ele, — diz Kaden, entrando na sala.


— Ele pode ficar em casa hoje.

— Mas você não dorme há mais de vinte e quatro horas.

— Tudo bem, vou dormir mais tarde, — responde Kaden. —No


momento, eu não conseguiria, mesmo que tentasse. Tenho que fazer
algumas ligações e me certificar de que tudo está pronto para quando
voltarmos para casa.

— Eles têm que ficar mais alguns dias no hospital. Vá dormir.

Nós? Casa?

Estou confusa. Kaden se comporta como se os últimos seis meses nunca


tivessem acontecido. Não há casa. Pateticamente, moro com meu pai
porque não consigo encontrar um lugar bom o suficiente para criar meu
bebê. Pelo menos meu pai tem um grande quintal para um conjunto de
brinquedos e para Kieran correr quando ficar mais velho.

— Agora, se me dá licença, tenho que terminar minhas rondas.

— Você não precisa ficar, — eu falo quando Brynn sai. — Estamos bem.
Acho que podemos lidar com isso aqui.
— Você não entende, não é?

Eu levanto uma sobrancelha, esperando que ele explique o que eu não


entendi.

— Eu nunca vou sair do seu lado. Nunca mais. Eu cometi esse erro uma
vez. Vou me arrepender pelo resto da minha vida, mas ir embora não é
uma opção. Nunca mais.

— Você diz isso agora, mas eu não consigo me colocar de volta naquele
lugar. Já foi difícil superar você da primeira vez. Desde o início, eu sabia
que você iria embora eventualmente, mas ignorei meu instinto. Desta vez,
não vou.

— Não, você superou isso e agora não confia em mim.

— De qualquer forma, acabamos e você tem que ir embora porque não


quero reviver o passado.

— O que você está dizendo? — Ele fumega. Sua voz é baixa, controlada,
e aposto que é pelo bem do bebê que ele segura. — Você está se
arrependendo de nós?

— Algumas noites eu gostaria de poder levar tudo de volta. Meus


beijos, meu amor, tudo isso. Mas por mais que eu queira, não me
arrependo de você. Porque quando estávamos juntos, você era exatamente
quem eu queria amar, quem eu precisava para me amar. E porque tenho
Kieran.

— Nós temos Kieran. Ele é meu também.


Eu vi esse lado de Kade, o pai protetor que lutou por suas filhas. Mas
este homem está ferido, triste e desesperado. E pela primeira vez, não
tenho interesse em fazê-lo se sentir melhor. Porque ao contrário dele, eu sei
que hoje ele quer seu filho, mas amanhã ele vai escolher sua outra família.

— Eu não o tiraria de você. Você sempre será bem-vindo para visitá-lo.

— Prometemos compartilhar tudo quando nossos filhos viessem a este


mundo.

— Isso foi há muito tempo, quando acreditávamos que passaríamos o


resto de nossas vidas juntos. Agora, — eu encolho os ombros. —Tenho
certeza que você vai mudar de ideia quando chegar a hora de enfrentar
suas filhas. Tess não vai aceitar ele e Hannah... acho que ela também não.

Meus lábios tremem porque tudo que eu sempre quis desapareceu. O


que resta são um monte de memórias e promessas quebradas que nos
machucam. Tudo acontece muito de repente e muito rápido. A tristeza e a
melancolia avassaladoras me atingiram bem no peito. Eu não aguento. Não
mais.

Um rio de lágrimas escorre pelo meu rosto com força total. Meu peito
dói enquanto a tristeza faz meus pulmões entrarem em colapso. Eu soluço
porque me sinto vazia, esgotada e solitária. Eu perdi o nascimento do meu
bebê e não tenho que vê-lo crescer. Kade e eu vamos ter que trabalhar em
um cronograma de custódia. Não era isso que eu queria para Kieran.

Kade se senta bem ao meu lado. Ele me entrega o bebê e nos leva nos
braços. Estamos dentro de uma bolha, apenas nós três. Eu o odeio porque
em seus braços me sinto inteira, calma e protegida, mas sei que não vai
durar. Ele beija o topo da minha cabeça e canta uma música com um monte
de palavras sem sentido que soam como uma canção de ninar. Eu fecho
meus olhos e, por alguns minutos, permito que ele volte para o meu
mundo, seja uma parte de mim.

Por um momento, eu me iludo em um sonho em que somos nós três


dentro de uma bolha onde ninguém pode nos tocar. O mundo exterior não
existe. Embora eu saiba que Kade irá embora e que terei que construir um
muro entre nós para me proteger, acima de tudo para proteger meu filho.
Capítulo Trinta e Quatro

Sadie

Não consigo me lembrar da última vez que chorei até dormir. Em


segundos, tudo o que aconteceu nos últimos meses finalmente me atingiu
de uma vez. Kade me segurou por um longo tempo. Na verdade, mal
consigo me lembrar quando ele tirou Kieran dos meus braços e o colocou
em seu berço. Ainda há tristeza persistente dentro do meu coração, junto
com desespero. Não tenho certeza se é um sentimento típico ou algo com
que devo me preocupar. Quando acordo, em vez de Kade, encontro papai
sentado na cadeira ao lado da minha cama. Seu cabelo prateado parece um
pouco mais longo do que o corte normal que ele usa.

— Sadie, — ele me cumprimenta.

— Pai, — eu limpo minha garganta. — Você está aqui.

— Eu estive por aí, — diz ele, coçando o queixo com as costas do dedo
indicador. — Como você está se sentindo?

— Faria sentido se eu respondesse que ainda não posso decidir?

Ele ri, acariciando minha mão. — Isso soa como uma resposta que só
você daria, querida. Estou preocupado com você.
— Você não precisa se preocupar comigo. Eu vou resolver as coisas, —
eu ofereço. Ele já está me considerando um inconveniente?

— Claro, eu me preocupo com você. Embora eu esteja ciente de que


Kaden tem um plano. Mas se algum de vocês precisar de alguma coisa,
espero que me avise.

Eu olho ao redor da sala. Kade não está em lugar nenhum. Nem Kieran.
Abro e fecho meus olhos várias vezes. Isso tem que ser um sonho. Ou caí
em um universo alternativo onde meu pai é na verdade um ser humano e
não um idiota.

— Kaden tem um plano? — Repito lentamente, sem saber do que diabos


ele está falando. —Você está se sentindo bem, pai?

— Posso me sentir melhor quando Kaden chegar aqui com meu café.

— Kade está trazendo café? — Eu não posso deixar de rir da ideia.

Kaden Hades não entregaria a meu pai um copo de água, mesmo que
ele estivesse morrendo. Eles se odeiam.

— Ele estava saindo com Kieran quando cheguei. Eles estavam indo
para sua caminhada diária ao redor do quarteirão, e ele se ofereceu para
trazer café. Ele disse que você poderia querer um pouco de chá chai.

— Espera. Você está me dizendo que você e Kade trocaram palavras


amigavelmente? — Esta é a zona crepuscular?

A primeira vez que se encontraram, papai me proibiu de ver Kade. Não


que ele pudesse me impedir de qualquer coisa, mas ele sempre tentou. Na
segunda vez, eles trocaram insultos e, daquele dia em diante, quis mantê-
los separados porque são cruéis um com o outro.

— Chegamos a um acordo algumas semanas atrás.

— Um pouco tarde demais, não acha, pai?

— Isso depende do que estamos falando. A maneira como o tratei desde


que nos conhecemos, ou a maneira como tratei você desde que você era
pequena. — Papai se inclina para frente, pegando minha mão. —Ele me fez
ver as coisas de uma perspectiva diferente. Não tenho sido um ótimo pai.

Eufemismo do século.

— Este é um daqueles, ‘minha filha quase morreu, então você tentará


melhorar, mas então você voltará a ser o que era antes? — Eu suspiro,
lamentando meu tom áspero.

— Eu merecia isso, — ele concorda comigo. — Infelizmente, não posso


dizer que foi quando soube da sua condição que mudei.

Papai abaixa o rosto.

— Fiquei chateado com o que tinha acontecido com você e não pude
consertar imediatamente. Você estava deitada aqui sem responder.
Ninguém me contou o que aconteceu com você. Eu estava tão ocupado
trabalhando e viajando que nunca falei com você. E você sabe o que eu
pensei... seria mais fácil se eles apenas a desconectassem para que eu
pudesse continuar com minha vida.
Meus olhos se arregalaram e não consigo respirar. Ele queria que eu
morresse. De tudo que ele fez, isso é o pior. Esquecendo meu aniversário,
optando por passar o Natal com sua namorada em turno, me forçando a
trabalhar com ele durante o verão se eu quisesse que ele pagasse minhas
mensalidades da faculdade. Uma lágrima rola do canto do meu olho.

— Eu sei que nosso relacionamento sempre foi difícil, mas... — Eu


respiro algumas vezes organizando meus pensamentos, mas saindo com
apenas uma pergunta simples. — Por que você está aqui?

— Porque você é minha filha e eu te amo, — afirma ele, com os olhos


cheios de arrependimento. —Sinto muito pela maneira como me comportei
nos últimos trinta anos, — diz ele, algo que eu esperava que ele dissesse
anos atrás.

É tarde demais? Devo pará-lo e expulsá-lo? A garotinha dentro de mim


me implora para ouvi-lo. Para dar uma chance a ele.

— Eu nunca parei para pensar sobre os meus sentimentos ou os seus.


Toda a minha vida eu apenas segui o plano. As coisas tinham que ser feitas
de uma certa maneira. Eu sou inflexível. É assim que meu pai me ensinou a
ser. Não tive paciência para uma criança como você. Você é difícil de
entender e admito que nunca tentei. Não era porque eu não te amava, mas
porque você me mostrou minhas falhas.

Ele faz uma pausa, fechando os olhos e respirando fundo várias vezes.
Estou em choque e sem palavras. Ele queria me desconectar. Essa parte não
me surpreende. Andrew Bell tem um cronograma e regras para sua vida.
Se você interromper qualquer um deles, ele o cortará. O pedido de
desculpas me chocou.

— O que te fez mudar a sua maneira de pensar?

— Kaden e Kieran. Principalmente Kaden, — ele diz suavemente. —


Tenho vergonha do meu comportamento, — continua ele. — Kaden me fez
perceber o quão mal eu tenho tratado você desde que você era criança. Não
tenho ideia de como consertar todos os meus erros. Mas eu quero ter um
relacionamento real com você, me tornar uma parte mais ativa da sua vida.

— Isso é demais para eu aguentar.

Posso voltar a dormir?

— Eu entendo, mas podemos levar nosso tempo. Qualquer coisa que


você precisar, eu quero que você saiba que você pode vir até mim, e eu vou
dar a você incondicionalmente.

Olhamos um para o outro por alguns segundos. Com ousadia, ouso


perguntar a ele. —Se eu precisar de um empréstimo, você ficará bem
apenas entregando-o para mim.

— Claro. Qualquer coisa que você precisar, querida. Precisa de algo


agora?

— Agora não, mas posso precisar para cobrir as despesas médicas, e


tenho que encontrar um lugar maior, e talvez até contratar uma enfermeira
para me ajudar.

— Kaden não vai ajudar?


— Ele não deveria. Não estamos juntos, — eu o lembro.

— Presumo que ele não tenha falado com você sobre a casa.

— Não, eu não fiz, — Kade entra, empurrando um carrinho e


carregando um porta-copos com três copos.

— Eu vejo.

— Não Andrew, — Kade rosna. — Ela acabou de acordar e eu não


queria sobrecarregá-la. Eu estava tentando evitar aquele rosto.

— Que rosto? — Eu levanto uma sobrancelha.

— Confusão, terror e estresse, — responde Kade.

— Bem, já estou sentindo tudo isso. Você também pode me contar tudo
o que está acontecendo, por favor.

Minha boca se abre junto com meus olhos quando eles me dizem que a
casa onde meu pai viveu desde que vovó morreu agora é minha. Papai está
morando na casa da piscina. Eles se dão bem porque têm algo em comum:
eu. Estou confusa sobre como me sentir sobre a nova atitude de papai. Foi
preciso uma experiência de quase morte para ele acordar e decidir mudar
nosso relacionamento.

— Terei todo o gosto em pagar enfermeiras e quaisquer outras despesas


médicas.

— Eu estou cobrindo isso, Andrew, — Kade limpa a garganta.

— Papai e eu podemos cuidar disso. Você não precisa se preocupar


comigo.
— Isso é para vocês dois discutirem, — diz papai, levantando-se de sua
cadeira.

— Isso não resolve nosso relacionamento, — digo com cuidado. — Mas


eu acho que é um bom começo, pai.

Ele sorri, se inclina e beija minha testa. — Vou aceitar o que você puder
me dar.

Papai se agacha e fala com Kieran. Não consigo ouvir o que ele diz a ele,
mas meu coração dispara no momento em que ele está com meu filho.
Talvez ele tenha mudado ou esteja trabalhando nisso. Vou levar algum
tempo para me aclimatar com o que ele disse e confiar nele.

— Chá? — Kade se aproxima para me entregar a xícara.

— Você saiu com Kieran?

— Começamos essa nova rotina há alguns dias. Ele precisa de um


pouco de ar fresco.

Eu suspiro, mordendo meu lábio. Kieran não é um recém-nascido. Eu


perdi seu nascimento e quatro longas semanas de sua vida. Ele é meu, eu
sei disso, mas sinto que não somos tão próximos quanto uma mãe e um
filho deveriam ser.

— Obrigada pelo chá.

— Por que você está chateada?

— Fiquei fora por pouco mais de um mês. Mas parece que perdi uma
vida inteira e estou perdida e desorientada.
— Deve ser difícil recuperar o atraso, Sade. Mas eu juro que não
aconteceu muita coisa.

— Você e meu pai são civilizados.

— E pensar que eu estava começando a planejar sua morte.

— Pare de brincar sobre isso.

Ele sorri e tira Kieran do carrinho. Em seguida, ele está trocando a


fralda, vestindo uma roupa nova e apertando o botão da enfermeira.

— Você é um profissional com o bebê, — eu aponto. — Eu pensei que


você disse que tinha experiência zero.

— Tudo o que eu disse era verdade. As enfermeiras aqui foram úteis.


Elas me ensinaram como trocar fraldas, alimentá-lo, carregá-lo e nós
acabamos de aprender a dar banho nele.

Uma das enfermeiras chega com um pequeno frasco de fórmula. Kaden


agarra e caminha em minha direção segurando o bebê com o outro braço.

— Você gostaria de alimentá-lo?

Eu aceno, colocando o copo na mesa de cabeceira ao meu lado. Kaden


me entrega o bebê, a mamadeira e, em seguida, se senta bem ao meu lado.
Não falamos muito, apenas observo Kieran beber seu leite até cair em um
sono profundo. As palavras amargas que meu pai disse, sua mudança
confusa de atitude, junto com seu pedido de desculpas são esquecidos
enquanto meu coração se apaixona um pouco mais pelo meu filho.
✰✰✰✰

Antes que seu turno acabe, Brynn para, para me verificar. Tem sido um
longo dia. Cada hora durou mais do que o normal. Passou meu pai, depois
a fonoaudióloga, depois veio uma enfermeira tirar meu sangue.

— Tudo parece normal.

— Só assim, estou indo muito bem.

— Eu não quis dizer que você está com saúde perfeita e pode ir para
casa. Mais como se você estivesse em melhor forma do que eu esperava.
Sua memória parece estar funcionando perfeitamente e a avaliação da fala
saiu acima das expectativas. É seguro dizer que, apesar do inchaço, não
houve qualquer dano cerebral. Ainda temos que ficar de olho em você. Os
terapeutas ocupacionais e físicos virão amanhã de manhã para avaliá-la.

— Isso é necessário?

— Seu braço esquerdo precisa de muito treinamento. Provavelmente


não parece duro porque tivemos uma visita diária de um fisioterapeuta
para massagear. No entanto, depois de ficar na cama por cerca de um mês,
você precisará de ajuda para recuperar a força dos músculos.

— Eles podem vir à nossa casa depois que ela sair do hospital? —
Kaden pergunta.

Eu mastigo meu lábio.


— Não tenho certeza se isso é algo que meu seguro cobre. — Minha
cobertura é péssima, para dizer o mínimo.

— O que quer que seu seguro não cubra, eu irei, Sadie.

— Você não precisa. Meu pai pode estar disposto a me emprestar algum
dinheiro.

— Vocês podem resolver isso mais tarde. Eu não acho que vou dar alta
a você por mais uma semana. Enquanto você faz seus arranjos de moradia,
lembre-se de que você precisa de suporte 24 horas por dia, 7 dias por
semana.

— Você não está exagerando um pouco? Existem muitas mães solteiras


que se defendem sozinhas desde o primeiro dia.

— Mães que não acabaram de acordar do coma e precisam recuperar as


forças, — Brynn me repreende. —Você precisa de alguém para estar com
você. Pense em Kieran.

— Esse é o plano. A casa está pronta. Só precisamos adicionar a


academia.

— Eu não vou com você. — Eu aperto minha mandíbula.

— Se você precisar entrar em contato comigo, apenas me envie uma


mensagem, — Brynn sorri sem jeito.

— Amor, podemos conversar?

— Estou muito cansada para falar.


Ele puxa algo do bolso e marcha em minha direção. Eu suspiro quando
vejo isso. Meu anel de noivado, de novo.
Capítulo Trinta e Cinco

Kade

— Por que você ainda tem? — Ela olha para o anel com horror.

— É seu e eu quero que você aceite.

Ela ri, mas não há humor por trás disso.

— Por que eu iria aceitar ele?

Você tem uma vida inteira para ouvir todos os motivos?

— Simples. Porque eu quero fazer a coisa certa por você. Casar com
você.

Ela bufa, balançando a cabeça. — Você acha que casar comigo é fazer a
coisa certa?

— Nós temos um filho...

— Você não aprendeu da primeira vez? — Ela interrompe o que eu


esperava que fosse uma explicação razoável.

— Primeira vez? — Estou confuso com a pergunta e sem sono.


Ela não me deixou explicar por que quero me casar com ela, apenas me
interrompeu antes que eu pudesse dizer mais do que quatro palavras.

— Você se casou com Alicia para fazer a coisa certa, — diz ela com
amargura. —O que foi isso? — Ela bate no queixo. —Seis ou sete anos de
infelicidade que levaram você a odiá-la.

— Não se compare com aquela vadia!

— Eu não sou ela, eu sei disso. Acabamos e compartilhamos um filho.


Mas isso é tudo que nos resta.

— Você não pode acreditar nisso. Não pode acabar entre duas pessoas
que uniram suas almas e fundiram seus corações. Nós somos um, Sadie.

Eu olho para baixo por um momento enquanto me lembro que ela está
machucada, com medo, e seu pai já a confundiu pra caralho. Tem sido um
longo dia. Um longo ano se eu adicionar o fato de que a deixei. Ela quase
morreu e resmungou antes de adormecer que estava sozinha. Tudo é
demais para ela, e eu sei com certeza que quando ela está sobrecarregada,
ela se retira para dentro de si mesma. Mas é tão difícil ficar longe. Existe
uma necessidade intensa de abraçar, acalmar e nunca deixar ela ir.

— Você tem que deixar o passado onde ele pertence, seguir em frente.
Não importa quantas vezes você pergunte, eu não me casarei com você
pelo bem de Kieran.

— Tenho mais coisas que quero explicar.

— Guarde suas palavras, Hades. Nada do que você diga me fará mudar
de ideia.
Tanto para consertar isso assim que ela acordasse. O que você estava
esperando, filho da puta? Você quebrou o coração dela e sua promessa. Demoro
mais do que deveria para perceber que estou adotando a abordagem
errada.

— Eu entendo que talvez eu não consiga consertar o que quebrei, mas


pelo menos me deixe te ajudar durante os próximos meses.

— Me ajudar como? — Ela inclina a cabeça e estreita o olhar.

— Me alugue um quarto em sua casa por cerca de um ano, —


proponho.

— Onde você vai ficar? Posso ter uma casa grande, mas não tenho
muitos móveis.

— Eu mobiliei o lugar. Mudamos suas coisas para a casa grande e


recriamos o berçário de Kieran do jeito que você queria. Está pronto para
você. Se você concordar, vou me mudar para um dos quartos vazios
temporariamente. Isso me permitirá ver Kieran todos os dias. Eu não quero
perdê-lo tão cedo.

Sadie me encara por um longo tempo. Eu prendo minha respiração. Ela


tem meu futuro em suas mãos.

— É um lugar grande. Não vamos nos aglomerar, — diz ela, sugando o


lábio inferior. —Compartilhar uma casa parece uma boa ideia por
enquanto. Kieran está acostumado com você, e eu não quero tirá-lo de
você. Mas quando eu estiver mais forte, você pode voltar para sua casa.
Os beija-flores são rápidos e não tão fáceis de pegar. Sadie é muito
parecida com aqueles pássaros. Não consigo alcançá-la, mas posso fazer
um jardim onde ela possa ficar perto, mas ainda assim voar livre. Minha
única chance de reconquistá-la é ganhar sua confiança.

✰✰✰✰

Ser pai de um recém-nascido não é tão fácil quanto eu pensava. Estou


muito cansado. Se eu tivesse tempo, poderia ter voltado para casa para
pegar algumas horas de sono. Em vez disso, me encontrei com Duncan e a
banda. O último álbum está indo muito bem e eles querem expandir a
turnê que acabou de terminar um mês atrás. Tive que explicar a eles que,
por enquanto, não posso deixar o lado de Sadie, muito menos a cidade.
Depois disso, fui visitar Tess e Hannah. Elas insistiram em vir para o
hospital, mas eu expliquei para elas que, por enquanto, o que Sadie precisa
é de muito descanso. Até agora, disse a todos que esperassem um ou dois
dias antes de começarem a aparecer para vê-la.

— Como você está se sentindo esta manhã? — Eu pergunto quando


entro na sala.

— Bem. — Seu tom sombrio combina com seu rosto solene.

— O que aconteceu? — Eu me abaixo na cadeira de plástico azul.

— Nada. Estou bem.


— Sadie?

— Não importa. Eu só tenho que resolver as coisas. — Ela toca sua


têmpora.

— Por que você não compartilha? Talvez eu possa ajudar?

Ela bufa.

— O terapeuta ocupacional disse que minhas habilidades motoras finas


precisam de algum trabalho.

— Ela já esteve aqui?

Ela acena com a cabeça uma vez.

— O que ela disse?

— Não consigo cortar bem com tesoura ou papel dobrado. Escrever


também era difícil.

— Talvez o fisioterapeuta seja diferente.

— Não muito. Eu tremo quando ando. Os músculos do meu quadril


estão fracos, todos os outros estão atrofiados e não consigo levantar objetos
pesados. E se eu não conseguir segurar Kieran por muito mais tempo?

— O que eles disseram?

— Não importa, — diz ela. — Acabou.

— O que acabou?

— Tudo. Eles não podem garantir que serei capaz de desenhar


novamente, ou cortar ou... qual é o sentido de ter minha floricultura? Eu
vou perdê-la em breve, e então vou perder Kieran porque você pode
provar que eu sou uma mãe inadequada.

— Não estamos correndo? Tente dar um passo de cada vez.

— Parece que estou me afogando e é quase impossível ver o lado bom.

— Vamos bolar um plano e seguir em frente. Você não está sozinha


nisso, embora possa pensar de forma diferente.

— Você diz que é fácil. Mas você tem que voltar para suas filhas.

Eu suspiro porque há alguma verdade nisso. Temos que descobrir o que


vai acontecer com minhas meninas. Não querendo abordar o assunto
ainda, vou até o berço porque Kieran está começando a se agitar.

— Como vai você, Feijãozinho? — Eu o cumprimento, levantando-o da


cama.

— Ele é o bebê mais doce, — diz ela. — Mal posso esperar que ele
conheça Sinatra.

— Sin é um bom irmão. Ele era legal com Hannah e Tess.

Sadie se enrijece e, como eu as mencionei, é melhor acabar com isso.

— Vai ficar tudo bem se elas vierem te visitar?

— Eu? — Ela toca seu esterno. —Elas sabem?

— Sobre você e Kieran e tudo. Muita coisa aconteceu nas últimas


semanas.
Ela fica quieta e eu odeio quando Sadie está pensando ou tentando me
afastar.

— Depois do que Tess fez em reação ao fato de eu estar em sua vida,


não consigo pensar em como ela vai lidar com Kieran.

— Tess não fez nada.

— O que você quer dizer? — Sadie toca sua nuca, estreitando os olhos
para mim.

— Alicia inventou a coisa toda, — eu começo a longa explicação.

Enquanto conto a história que Hannah e Tess me contaram, ela


permanece quieta, exceto por algumas exclamações de choque e raiva.

— Você quer dizer que sua ex é ainda mais louca do que pensávamos?
— Eu aceno em resposta. —Ela fez Tess fingir que se matou para machucar
você?

— Para nos separar, então eu voltaria com ela.

— Isso é... — ela sussurra a palavra, caindo. —Perigoso. Você percebe o


que ela poderia fazer com Kieran?

— O que você quer dizer?

— Ela pode mandar suas filhas baterem nele, derrubá-lo, afogá-lo,


qualquer coisa. — A voz dela agora tem uma urgência que me deixa
nervoso também.

Eu não reajo. Em vez disso, respiro várias vezes para me acalmar.


— Você está exagerando, — eu digo.

— Não, eu estou dizendo a você que alguém que é tão instável que
insiste com sua própria filha para tentar o suicídio, precisa de ajuda! E ela
precisa ficar longe do meu filho. Isso inclui suas asseclas.

— Elas não fariam nada com ele.

— Você confia em suas filhas e eu respeito isso. Eu não tenho que


confiar nelas. Elas não fizeram nada além de me machucar enquanto Alicia
lhes deu ordens para fazer isso por três longos anos. Não há garantia de
que elas vão mudar, — diz ela com convicção. —Elas não têm permissão
para ver Kieran, não até que ele possa falar e se defender delas.

— Você está exagerando.

A melhor maneira de garantir sua segurança é tê-las comigo. Se minhas


meninas não podem ser próximas de Kieran, isso significa que não seremos
capazes de viver juntos. Indiretamente, Sadie está me fazendo escolher
entre Kieran e minhas filhas. Suas palavras me atingiram como uma
tonelada de tijolos e meu estômago parecia completamente vazio.

— Olha, eu já vi de tudo, Kaden. Lembre-se de que eu era assistente


social antes de abrir a loja. Já lhe contei sobre o caso do garotinho que
morreu porque a irmã o deixou cair escada abaixo? Ela fez isso porque seu
padrasto sugeriu. Ele os estava irritando.

— Tenho certeza de que há muito mais nessa história que não me


interessa aprender, Sadie. Minhas filhas não são assim.
— Elas têm uma mãe psicótica que as manipula, Kade. — Ela levanta a
voz e seus olhos são cruéis. —Pense nas coisas que elas podem fazer a um
recém-nascido e dizer que foi um acidente. Alicia é uma vadia
manipuladora e ela me odeia. Se algo acontecer com Kieran, eu não
sobreviverei.

— Então, o que eu devo fazer com minhas filhas?

— Fique com elas. Estaremos bem sem você.

— Eu não vou deixar você, — eu digo com convicção. — Temos coisas


para resolver.

— Você tem. Eu não tenho nada a ver com suas filhas ou você Kaden.
Elas são suas, lembra? Estou fora de cena.

— De alguma forma, sinto que você está jogando na minha cara o que
aconteceu entre nós.

— Na verdade não. Estou apenas lembrando que você tomou sua


decisão há muito tempo.

✰✰✰✰

—Quando minhas filhas voltam da sorveteria reclamando do sabor que


escolheram, lembro a elas que foi escolha delas.

Raven lixa as unhas. — Ninguém as obrigou a escolher.


— Você está comparando meu relacionamento com sorvete, Rae? — Eu
torço o esfregão e continuo limpando a floricultura.

— Não é uma analogia extravagante, mas é exatamente o que aconteceu


com você. No momento em que você decidiu afastar Sadie e lidar com sua
família, você disse a ela...

— Que ela não era da família.

— Exatamente, e que suas filhas eram suas, não dela. Sadie deu o seu
melhor para ser uma amiga, uma madrasta. Nenhuma vez ela tentou pisar
no pé de Alicia. No entanto, quando se trata de tomar decisões, você
sempre a deixa de fora da equação. No dia em que você mais precisou de
Sadie, você a dispensou e todos os anos que vocês dois estiveram juntos.

Ela está certa. Eu poderia ter confiado em Sadie, confiado que ela
poderia ter me ajudado com minhas meninas. Porque somos uma equipe.

— Como faço para convencê-la de que éramos melhores naquela época,


quando estávamos juntos?

— Você não pode voltar para onde estava, isso não é uma opção, — diz
Raven, me observando limpar a floricultura. —Ei, não perca esse canto. Um
garoto entrou com um sanduiche gorduroso e fez uma bagunça.

— Eu me arrependo de visitar você.

— Você se arrepende?

— Você me colocou para trabalhar, — reclamo, esfregando onde ela me


disse.
— Você não assistiu Karatê Kid?

— O que isso tem a ver com o meu problema?

— Senhor Miyagi colocou Daniel para trabalhar enquanto lhe ensinava


caratê.

— Você está apenas me colocando para trabalhar.

— Enquanto estou pensando em sua ex psicopata, em minha amiga


quebrada e em você. Não que este seja um triângulo amoroso, mas que
Alicia é instável. Você está pedindo a uma mulher que acabou de bater um
papo com o Ceifador para dar as boas-vindas aos descendentes de Satanás
em sua vida.

— Elas também são minhas filhas.

— Exatamente, Hades. Você é Satanás. — Ela ri de sua piada estúpida.


—Dê um tempo a ela.

— O que eu faço com minhas filhas?

— Você acha que elas estão em perigo?

— Não com seus avós, — eu explico.

— Então, se certifique de que elas fiquem lá. Fale com o seu advogado e
explique a situação. Se as coisas ficarem pegajosas, você pode trazê-las para
mim. Temos espaço para elas.

— Mas essa não é uma solução de longo prazo.


— Paciência, Hades. — Ela revira os olhos. —Sadie está se recuperando.
Assim que ela puder ficar sozinha, você pode voltar para sua casa e ficar
com a custódia total de suas filhas.

— Mas eu não quero sair do lado de Sadie. Estou trabalhando nas coisas
entre nós. O que inclui fazer Alicia desaparecer de nossas vidas e
convencer Sadie de que minhas filhas são inofensivas.

— Existe essa opção também. — Ela concorda. —Que eu gosto mais. Eu


sugiro que você dê tempo a ela e siga seu plano. Mas não ofereça a ela o
que vocês dois já tinham. Ofereça a ela um novo relacionamento. Um
relacionamento maduro em que vocês confiam um no outro e
compartilham tudo, até mesmo os pais.

Tudo se resume à paciência.

— Você vai visitar Sadie? — Eu suspiro, estudando o chão.

— Eu adoraria, mas Bill e as crianças precisam de mim em casa. — Ela


sorri. —Vou ligar para ela e dizer que ela pode fazer sexo em uma semana.

— O que isso significa? — Eu estreito meu olhar para ela.

— É coisa de mãe nova. — Ela pisca para mim. —Enquanto isso, você
pode fechar a loja e definir o alarme antes de sair. Foi bom ver você, Kaden.
Capítulo Trinta e Seis

Kade

Seis dias depois que Sadie acordou, finalmente deixamos o hospital.


Sadie e eu não tínhamos falado sobre minhas filhas desde que ela me
lembrou que elas são meu problema, não dela. Visitei minhas meninas
diariamente e fui honesto com elas sobre Sadie. Ela tem medo de que Alicia
peça a elas para machucar Kieran. Elas me garantiram que não fariam nada
para prejudicá-lo mas, como expliquei a ambos, é uma questão de
confiança.

Alicia continua na Europa, mas tenho a sensação de que ela voltará em


breve, já que interrompi o depósito direto em sua conta corrente. Os pais
dela são os que recebem o dinheiro da pensão alimentícia, já que estão
abrigando minhas filhas.

— Você fez tudo isso? — Sadie pergunta quando entramos na casa.

O quarto parece que poderia estar na capa de uma revista de design de


interiores.

— Tenho medo de entrar em casa. É tão perfeito.


— Recebemos algumas das ideias do seu Pinterest. Raven e o designer
de interiores de seu pai me ajudaram com o resto.

— É lindo.

O sofá é creme. As almofadas são da mesma cor, mas incrustadas com


delicadas folhas de seda verde bordadas com tanta habilidade que
pareciam que poderiam ter pousado ali na primavera. As cortinas brancas
são de organza, o tipo de branco que não é tocado pelas mãos e sem poeira.
Nós adicionamos um par de cadeiras reclináveis ao redor da lareira sob
medida. As fotos em cima das prateleiras e ao redor das paredes são
instantâneos de nossa família. A maioria das fotos que Sadie tinha em
nosso antigo apartamento e algumas novas de Kieran. O piso é de madeira
polida, escura e livre de poeira ou entulho.

— O que papai fez com as coisas dele?

— Ele doou tudo e mandou seu decorador decorar a casa da piscina


com móveis novos.

— Não tenho certeza de como me sinto sobre morar com meu pai.

— Você estava morando na porta ao lado, não era?

— Sim, mas era temporário. Isso é permanente.

— Ele viaja muito, — eu a lembro, que é o que eu continuo dizendo a


mim mesmo toda vez que penso no idiota morando ao meu lado.

Estamos em termos amigáveis, mas até ver que a mudança é


permanente, continuarei me protegendo.
— O que ele fez com sua coleção de carros?

— Honestamente, não perguntei, mas a garagem está vazia. É um lugar


grande e gostaria de saber se você me permitiria consertar a acústica e usá-
lo como meu estúdio.

— Você não tem um estúdio?

— Eu alugo espaço dos Deckers, mas tenho que dirigir até o centro. Eu
não quero te deixar por longos períodos de tempo. Ainda assim, preciso
praticar, e a garagem é o melhor lugar para isso. Isso me pouparia
dinheiro. Você se importaria de alugar para mim?

Ela aperta os lábios e assente. — Certo, mas onde vamos estacionar os


carros?

— Vou chamar um empreiteiro para me ajudar a montar o estúdio, e ele


pode dividi-lo, então temos três ou quatro vagas para os carros. Esse é um
bom compromisso?

— Sim, isso parece razoável.

— Certo, me deixe levar este homenzinho para a cama. — Eu levanto o


carrinho de bebê. — Então eu vou te ajudar a subir.

Em vez de levá-lo para o berçário, coloco-o no berço que comprei para o


quarto principal. Eu coloco o monitor do bebê e desço as escadas. Sadie se
senta no segundo degrau da escada. Sua cabeça apoiada nos joelhos.

— Ei. — Eu me sento ao lado dela.

— Como ele está?


Eu entrego a ela o monitor que mostra o quarto principal e Kieran.

— Este não é o berçário.

— Não, é o quarto principal. Comprei um berço para aquele quarto e


um berço para o berçário.

— Você estava ocupado. — Ela sorri, brincando com sua saia longa.

— Eu não posso levar todo o crédito. Seu pai me ajudou muito.

— Obrigada. Você tem sido ótimo. Eu sei que pareço ingrata quando
estou apenas tomando e não fazendo nada para ajudá-lo, — ela faz uma
pausa, respirando fundo. —Mas eu agradeço tudo o que você está fazendo
por mim.

— É muito para absorver, eu entendo.

Ela encara meu braço onde tenho a tatuagem do beija-flor. — É só... eu


tenho que proteger Kieran.

— Você não precisa se explicar. Entendi.

— Sua ex é mais assustadora do que pensávamos.

— Isso é algo que eu tenho que descobrir antes que ela volte.

— Apenas peça a custódia total, — ela sugere.

— Eu fiz. A audiência é em breve. Mas onde elas morariam?

— Com você, é claro.

— Eu moro aqui.
— Você não precisa. Eu sei que elas vêm primeiro.

— Sade, pelo amor de Deus, pare com isso! Tess e Hannah não vêm em
primeiro lugar. — Eu balancei minha cabeça. —Kieran é tão importante, —
eu digo, apontando para as escadas. Eu respiro fundo. —Esta é a última
vez que eu quero ouvir você me afastando para mantê-lo seguro. Meus três
filhos são importantes, tanto quanto você. Somos uma família mesclada
que tem que aprender a viver juntos. Kieran está seguro comigo. Eu não
vou tirá-lo de você. Não há batalha pela custódia entre nós dois. Eu
estraguei tudo há alguns meses? Sim. Eu aceito que lidei mal com a
situação.

— Você fez o que achou melhor para Tess. A maneira como elas
organizaram tudo foi uma réplica de como sua irmã morreu.

— Alicia sabia como foder com a minha cabeça. — Eu toco minha


têmpora.

— Eu gostaria de poder te ajudar.

Sadie parece genuína, mas aposto que ela não tem uma resposta agora.
Pelo menos não uma solução que possa ser usada a longo prazo.

— Eu vou descobrir tudo. Não se preocupe.

Nós dois ficamos em silêncio por um longo tempo apenas estando lá


um com o outro. Quero saber o que ela está pensando, assim como quero
dizer que preciso da ajuda dela.

— Eu ainda te amo, — eu sussurro com convicção.


— Por favor, Kade, — ela geme.

— Cale a boca, entendi. — Eu a saúdo.

— Cadê o Sinatra? — Ela olha em volta.

— Ainda na Raven. Ela vai trazê-lo assim que você estiver acomodada.

— Ela é incrível. Eu não poderia ter sobrevivido nos últimos meses sem
ela.

— Posso perguntar por que você não me contou sobre a gravidez?

— Era a surpresa que eu havia planejado para depois do nosso jantar, —


diz ela, apoiando o queixo sobre os joelhos, abraçando as pernas. —Há um
macacão em algum lugar com o logotipo do Killing Hades e o ultrassom.
Mas como eu poderia te dizer se Tess não conseguia nem me engolir. Um
bebê a teria empurrado do penhasco.

— Alicia ferrou minha cabeça da pior maneira possível.

— Por que você acha que as meninas concordaram com isso?

— Para fazer Alicia feliz.

— Eu me pergunto como ela as está tratando emocionalmente. Deve ser


difícil para elas serem responsabilizadas pela felicidade de sua mãe.
Aposto que nada deixa Alicia feliz, mas sabemos que ela gosta de ver os
outros sofrerem.

— Essa seria uma avaliação muito boa.

— Ela me odeia.
— Porque ela sabe que estou apaixonado por você. Você não era como
as outras mulheres com quem dormi por uma noite... você me fez trabalhar
para isso. — Eu sorrio me lembrando das vezes que passei com ela na
floricultura ou das noites jantando juntos e apenas jogando jogos de
tabuleiro.

— Você gostou, Sr. Hades.

— Qualquer coisa que envolva você é agradável, Senhorita Bell.

— Eu gostaria de poder confiar nelas, em você. É só... — Ela dá de


ombros. —Kieran é tudo o que tenho.

— Ei, eu entendo. Eu vou descobrir algo. De uma forma ou de outra,


farei todo esse trabalho.

Ela fecha os olhos, e eu sei que isso está quebrando ela, assim como está
me destruindo. Sadie está certa. Não podemos colocar nosso bebê em risco
e também não posso estressá-la. Ela tem tanta coisa acontecendo que
empurrar meus problemas para ela pode se tornar um problema a longo
prazo. Sem pensar, coloco meu braço em volta dela e beijo seu ombro.

— Por enquanto, concentre-se apenas em melhorar, Beija-flor.

— Não me toque, por favor. Você tem que manter suas mãos longe de
mim.

— É difícil.

— Olha, eu entendo que você trabalhou durante nosso rompimento


enquanto eu lutava pela minha vida, mas não o fiz. Eu não estou em um
bom lugar. Estou tentando acompanhar meu entorno, minha mente e meu
corpo. Eu tenho parafusos em meus braços e minhas emoções estão por
todo o lugar. Eu mal consigo andar ou segurar meu bebê.

— Ei, contanto que você me deixe ajudá-la, estou feliz.

— Obrigada. Seria estúpido pensar que eu poderia fazer tudo sozinha


quando mal consigo levantar uma xícara de chá.
Capítulo Trinta e Sete

Sadie

— Como você está se sentindo hoje?

Com tesão, lembre-se de colocar uma camisa e pare de segurar aquele bebê,
porque toda vez que vejo vocês dois juntos, meus ovários explodem. Podemos ter
outro bebê?

— Sadie, você está bem?

Eu movo meu olhar para longe de seu torso perfeitamente esculpido e


me concentro no batedor e na tigela que estou segurando.

— Desculpe, estou bem. Como foi sua corrida?

— Foi ótima. Este homenzinho gosta da nova trilha. Você deveria vir
conosco esta noite.

Kade descobriu que a casa fica em cinco acres de terra. Ele pode correr
livremente sem sair do estacionamento, por isso decidiu criar uma trilha.
Ele espera que em algum momento eu seja capaz de usá-la também. Mas eu
me canso rápido demais. Por enquanto, eu caminho na esteira duas vezes
por dia, mas apenas por cerca de dez minutos.

— Para correr?

— Apenas para nossa caminhada noturna, — ele propõe. — É curto, e


você poderia usar um pouco de ar.

— Seria uma boa mudança de cenário. Eu posso me juntar a você.

— O que você está cozinhando?

— Nada, estou apenas batendo farinha com água para soltar meus
pulsos.

— Você pode fazer outras coisas para soltá-los. — Ele balança as


sobrancelhas e deixa cair aquele sorriso de derreter calcinha na minha
direção.

— Ah, aquela mente suja, Sr. Hades. Não estou adicionando punheta
como parte da minha terapia diária.

— Eu nunca disse isso, Beija-flor. Você é a única com a mente suja.

— Certo, porque não era isso que você estava pensando.

— Um cara sempre pode ter esperança. — Ele pisca para mim.

— Pelo amor de Deus, seu filho está ouvindo essa bobagem.

— Não há nada de errado em ele saber que seu velho deseja sua mãe.

— Você não é velho e não deveria.


— Podemos não estar juntos, mas você não pode me impedir de te
amar.

— Regras. Precisamos de regras. — Eu fecho meus olhos porque uma


parte de mim não os quer de jeito nenhum.

Se ao menos as coisas entre nós fossem simples. Mas elas são muito
complicadas para adicionar sexo à mistura agora. Temos um filho que
depende de nós e Kaden tem suas filhas também.

— Não me desafie. Você sabe o que acontece toda vez que você faz isso.

— Desisto! — Eu coloquei a tigela na pia. — Vá tomar um banho,


Hades.

— Essa é uma ótima ideia. — Ele abre a geladeira e tira uma garrafa de
água. — A propósito, Raven está passando por aqui com algumas flores e
Sinatra.

— Ah, o dono da casa está voltando para casa.

Ele sorri e toma alguns goles de água. Assistir seu pomo de adão se
mover junto com seu torso nu e suado me faz estremecer de desejo. São
apenas mais alguns dias até que eu possa fazer sexo de acordo com Raven.
Eu não tinha ideia de que havia uma regra. Não que eu planeje fazer sexo
de qualquer maneira. Mas preciso aliviar a dor entre minhas pernas. A
necessidade continua se intensificando porque eu tenho esse sexo em
pedaço de homem exibindo seu torso nu pela casa todos os dias.

— Você acha que Sinatra vai gostar de Kieran?


— Acredito que sim. Ele gostou dele enquanto eu estava grávida, — eu
digo, sorrindo com as memórias do meu gatinho. —Sin gostava de
ronronar e esfregar sua cabeça contra minha barriga. Kieran iria empurrar
contra meu estômago por sua vontade. Eles tinham um bom
relacionamento.

— Bom. Pelo menos eu não preciso me preocupar com isso. Onde você
quer que eu arrume suas coisas?

— A cozinha? — Eu olho em volta. — Está aberto e ele vai apreciar a


vista.

O telefone de Kaden toca e ele revira os olhos antes de responder. — E


aí, Jax?

— Não é uma mansão. O código do portão está no e-mail que te enviei.


— Ele balança a cabeça algumas vezes, olha para o teto e fica vermelho. —
Você tem certeza?

Eu ando em direção a ele e pego meu bebê sonolento dele.

— Eles descobriram quem era? Bem, estou feliz que o hospital a esteja
despedindo. Sim, vejo você em breve.

— O que aconteceu?

— Houve um incidente na mídia enquanto você estava no hospital.

Esse é o código para alguém me pegar fazendo algo que não deveria.
Como aquela vez em que um fã nos pegou fazendo sexo no estacionamento
de um estádio em Bruxelas e postou um vídeo borrado no YouTube. Não
há nada para ver, mas a mídia transformou isso em um grande negócio.

— Como se eles te pegaram fazendo sexo com alguma enfermeira


enquanto eu estava no hospital?

— Estamos com ciúmes? — Ele ergue a sobrancelha.

— Não, apenas adivinhando.

— Eu conheço seus rostos, amor. Essa é a sua cara típica de quem eu vou
matar.

— Você pode dizer o que quiser, mas não é verdade. — Estou mentindo
porque, é claro, fico com ciúmes se ele dormiu com alguém enquanto eu
ainda estou me recuperando dele. — O que aconteceu? — Eu o questiono
tentando saciar minha curiosidade.

— Alguém queria ganhar algum dinheiro com nossa tragédia e vendeu


à imprensa uma história falsa.

— Que história?

Ele entra em detalhes sobre a notícia de que se envolveu em um


acidente de carro enquanto estava sob a influência de drogas. Como
supostamente morri, enquanto nosso filho acabou em estado crítico.

— Você estava em turnê.

— Você sabia onde eu estava? — Sua voz surpresa quase acorda Kieran.
— É difícil não saber quando é tudo sobre o que alguém está falando, —
eu digo, descartando enquanto acalmo meu bebê. — Você não sabe? Mas
voltando à sua história.

— Você se importa em andar comigo lá em cima? Jax estará aqui em


breve.

Seguimos até seu quarto. Ele tem todos os móveis do nosso antigo
quarto aqui. Até nossas fotos. A nostalgia me atinge bem no meio do peito,
enviando as memórias de nossa vida juntos do segundo plano para a frente
da minha mente. Tenho trabalhado muito para mantê-las onde pertencem,
esquecidas. É a única maneira de ficar emocionalmente longe dele
enquanto ele está tão fisicamente perto de mim.

— Você está se despindo, — eu digo, sentando na cama desarrumada e


desviando meu olhar para a janela.

Ele vai me matar de luxúria.

— É assim que eu tomo banho. Nu, — diz ele em tom de zombaria. —


Não é nada que você não tenha visto antes.

— Basta terminar a história. — Eu aceno minha mão, ainda sem olhar


para ele.

Se eu fizer isso, posso pular nele, agora mesmo.

— Depois que a notícia apareceu, a imprensa enlouqueceu com o meu


suposto crime. Os paparazzi montaram acampamento fora do hospital, o
que tornou difícil para mim ir e vir e para os caras visitarem.
— Tive visitas.

— Claro que você teve. Todos os seus amigos paravam diariamente, às


vezes eles me mandavam para tirar uma soneca enquanto cuidavam de
você. Havia um livro de assinaturas. Posso pedir a Jax por isso.

— Eu não precisaria disso. Eu só estava curiosa. Então, quem vendeu a


história para a mídia?

— Uma das enfermeiras. A cadela precisava de dinheiro.

— Temos que discutir o seu vocabulário na frente de Kieran, — eu digo


mais alto enquanto a água está correndo.

Alguns minutos depois, a torneira está fechada e ele sai com uma toalha
enrolada na cintura. Preciso ignorar seu peito musculoso e me concentrar
em seu rosto. Ele tem uma sombra de barba de cinco horas que eu me
lembro que criou uma queimadura em minhas pernas quando ele caiu em
cima de mim.

— E estamos nos sentindo melhor. — Ele ri.

— O que você quer dizer? — Minhas bochechas esquentam porque ele


me pegou cobiçando ele.

— Você está começando a me censurar, de novo. — Ele veste a calça


jeans, sem cueca.

Urgh, ele está me matando. Ele veste uma camiseta preta que cobre seus
ombros largos e me deixa ver cada um dos músculos do seu peito. Ele beija
o topo da minha cabeça.
— Eu estarei lá fora conversando com Jax, mas envie uma mensagem se
você precisar de alguma coisa.

— Não se preocupe conosco, temos uma rotina a seguir. Talvez algum


tempo para brincar, se ele não estiver muito cansado.
Capítulo Trinta e Oito

Sadie

Kieran é um bebê doce que balbucia quando acorda. Porém, só temos


um ou dois minutos para chegar até ele antes que chore. Nunca falha
quando demoramos muito para pegar ele, ele faz bom uso de seus
pulmões. Como esta noite, quando eu não o ouvi, seus gritos estridentes
eram altos o suficiente para acordar todo o estado de Washington. Ele está
ofegante entre seus soluços frenéticos.

— Peguei ele! — Kade anuncia, correndo para o meu quarto.

— Eu estava indo buscá-lo.

— Ele balbuciou?

— Se ele fez, eu não o ouvi. — Depois que o coloquei no berço da última


vez, eu dormi, bloqueando tudo.

— Nem eu, — ele me mostra o monitor. — Eu estava subindo do


estúdio.

— Tão tarde? — Eu verifico meu telefone. São duas da manhã.


— A beleza de ter meu próprio estúdio. — Ele pega o bebê. —Estamos
gravando algumas faixas.

— Nova música, hein? — Eu mordo meu lábio porque Kaden


geralmente toca suas coisas novas para mim primeiro.

Então, novamente, eu me recusei a ouvi-lo cantar desde que


terminamos.

— Você quer que eu toque para você?

— Talvez algum dia. — Eu me levanto da cama e coloco meu robe. —


Quando doer um pouco menos.

— Podemos falar sobre nós? — Kade me olha brevemente antes de


voltar para o trocador, dando toda a sua atenção a Kieran.

— Não, não estou pronta para isso, — eu respondo honestamente


porque ele tem muitas coisas acontecendo em sua vida, e eu só quero algo
simples. —Vou preparar a mamadeira dele, — anuncio, saindo do quarto.

— Você não quer falar sobre isso, mas funcionamos como um casal de
verdade que por acaso tem um recém-nascido, — ele diz alto o suficiente
para que eu possa ouvi-lo enquanto desço as escadas.

De certa forma, ele está certo. Somos quase um casal. Exceto, nós não
compartilhamos tudo, e isso inclui a outra parte de sua família. Ele ainda
está lidando com suas filhas, e eu não pergunto muito sobre elas porque o
que é certo para elas pode ser errado para Kieran. Esses momentos partem
meu coração novamente e novamente. Eu gostaria que as coisas fossem
diferentes entre nós.
Assim que volto da cozinha, vejo Kaden sentado na cadeira de balanço.
Meu coração salta uma batida ao vê-lo. Este cabo de guerra entre minha
cabeça e meu coração está me despedaçando. Estou ciente de que o que
compartilhamos não pode ser reproduzido com outro homem. Esse amor,
esse sentimento, é apenas entre ele e eu. Séculos poderiam se passar, eu
poderia viajar pelo mundo procurando por outra pessoa, e ainda teria que
voltar para ele se quisesse o amor verdadeiro. No entanto, não sou forte o
suficiente para arriscar ser quebrada novamente, para me permitir amar
novamente.

— Você deveria ir dormir.

Ele abre os olhos e sorri para mim.

— Nah, esta é minha hora favorita da noite. Estar com duas das minhas
pessoas favoritas.

— Eu gostaria de tê-lo amamentado. Esse vínculo mãe-filho está


faltando, ou talvez não, e eu estou apenas obcecada.

— Vocês dois são próximos. Kieran está sempre procurando por você
quando você não está por perto. Mas caso você perca, você terá outra
chance de fazer isso com Aubrey e Grady.

— Não vamos ter um Aubrey ou um Grady.

— Isso é um desafio?

— Deus, você é teimoso, Hades.

— Não, sou um homem de fé e muita paciência.


Ele é um homem que nunca desiste, eu sei disso sobre ele. Não é só
comigo, mas com toda a sua vida. Ele não é teimoso, mas perseverante.
Agora, seu foco é Kieran e eu. Todos os dias ele está por perto, me
ajudando com meus exercícios e cuidando do nosso bebê. Ele ensaia e
visita as filhas na hora da soneca. Passamos horas conversando. Mesmo
quando eu o afasto, ele continua voltando para mim.

— Nós temos uma vida, uma eternidade. Isso vai acontecer mais cedo
ou mais tarde. Seu coração só pode ficar longe do meu por um certo tempo.

— Por que você diria isso? — Eu fecho meus olhos, prestando atenção
em sua voz.

— Porque o meu está murchando sem o seu, e nossos corações são


muito parecidos.

— Linhas, fique atrás delas.

— Paredes, Sadie. Você construiu paredes de aço que não estou


interessado em quebrar porque se sente segura atrás delas. Por enquanto, é
disso que você precisa.

— Você sabe o que eu preciso?

— Dormir e parar com esse absurdo.

Ele começa a cantar, uma canção de ninar que acho que nunca ouvi.
Depois que ele termina de alimentar Kieran, ele anda pelo quarto com ele,
dando tapinhas em suas costas. Depois dos arrotos do bebê, ele o coloca no
berço que fica ao lado da minha cama.
— Você ainda está acordada. — Ele caminha em minha direção.

— Às vezes tenho dificuldade em adormecer depois que ele acorda.

— Como você está se sentindo?

— Sonolenta? — Eu encolho os ombros. — Eu não sei. Esta é a hora da


noite em que gosto de me concentrar na programação de amanhã.

— Posso? — Ele pergunta, sentando na cama.

— Eu deveria dizer não.

— Prometo não fazer nada além de segurar você até que adormeça.

— Kade, — eu suspiro.

É impossível ficar longe quando ele sabe exatamente do que eu preciso,


dele. Seus braços, e aquela bolha de segurança que ele constrói ao nosso
redor à noite, que ninguém mais consegue penetrar. Somos apenas nós
dois.

— Sim, Beija-flor?

— Eu gostaria de não ter medo.

— Eu também, amor. Eu também.

— Você tem medo de alguma coisa?

— Muitas coisas para contar, mas uma mulher sábia uma vez me
ensinou a lidar com meus sonhos e não com meus medos. Se concentrar em
construir meu futuro, não no que destruiu meu passado.

— Qual é o seu foco?


— Co-parentalidade, ajudando você a recuperar sua saúde e, ao fazer
isso, recuperar minha amiga.

— Você quer ser meu amigo.

— Eu gosto da sua companhia, Srta. Bell. Se você permitir, podemos ser


amigos.

— Eu pensei que éramos amigos.

— Os amigos não têm barreiras do tamanho da Grande Muralha da


China.

— Um dia eu posso deixar você entrar, Hades.

— Espero que sim, amor, — ele sussurra enquanto estou adormecendo.

✰✰✰✰

Lutando contra minhas pernas doloridas e instáveis, estou finalmente


indo mais rápido na esteira. Apesar do meu coração batendo forte,
garganta áspera, pés pesados e respiração ofegante enquanto meus
pulmões ardiam por ar, eu consegui.

— Olhe para você, correndo.

Eu movo meu olhar do painel em direção a Kaden, que se inclina contra


o batente da porta e segura nosso filho.
— É mais como andar rápido, — eu o corrijo, sorrindo ao ver meus
rapazes.

— Como foi sua corrida?

— Quebramos nosso recorde. — Ele sorri, levantando o braço de nosso


filho em sinal de triunfo. — O pequeno Kay e eu decidimos que você tem
que vir conosco amanhã.

— Não, não e não. O pequeno Kay parece um cereal. Pare com esse
absurdo.

Jax inventou aquele apelido idiota, e eles estão tentando mantê-lo, mas
eu não estou permitindo.

— Kieran não vai ter o nome de um rapper da Vila Sésamo. ‘A música


de hoje foi trazida a você por pequeno Kay e o número três.’

— Você pode ser engraçada, Beija-flor, — ele ri.

— Então pare de chamá-lo assim ou então...

— Você vai me punir? — Ele lança seu sorriso sexy na minha direção.

Minhas pernas vacilam, e não é por causa da esteira, mas por causa da
luxúria que estou carregando.

— Urgh, você é impossível, Hades, — eu finjo aborrecimento e


desacelero meu ritmo.

— As flores chegaram. — Ele muda de assunto.


Estamos fazendo algumas mudanças na paisagem. Estou adicionando
íris, lavanda e ervilha-doce para dar ao meu quintal um tom roxo que
combina perfeitamente com o ambiente já branco e azul que eu tenho.

— Você está me ajudando?

— Sim. Eu tenho um balanço de bebê, então Kieran pode nos observar.

— Quando você quer começar?

— Em algumas horas. Eu tenho que verificar as meninas, se você não se


importa.

— Como elas estão? — Me atrevo a perguntar.

— Elas estão bem. Seus avós estão me deixando louco. Você sabe que
eles gostam de dizer que eu sou um pedaço de merda inútil na frente das
minhas filhas.

— Me desculpe por isso.

Você se desculpa, mas você não planeja fazer nada para ajudar, não é?

— É o que é. Não se preocupe com isso. — Ele caminha em direção à


porta. — Estou indo tomar um banho.

Eu paro a esteira. Tenho que tomar um banho antes que ele saia de casa,
mas enquanto estou indo em direção às escadas, ouço alguém batendo na
porta.

Abro e encontro Tess parada estoicamente.


Capítulo Trinta e Nove

Sadie

— Oi, — Tess acena do outro lado da porta.

Ela está bem na minha frente, e agora está alguns centímetros mais alta
do que eu. Seu cabelo ruivo e liso está preso em um rabo de cavalo. Seus
olhos castanhos encontram os meus, segurando meu olhar por um longo
tempo. O silêncio é ensurdecedor. Não tenho certeza do que dizer, mas não
tenho medo dela. Uma parte de mim ainda quer abraçá-la, mas não tenho
certeza de como me comportar perto dela.

— Você quer falar com seu pai?

— Não, estou aqui para ver você. — Ela olha em volta, se abraçando.

— Não quero soar dura, mas você não pode estar aqui.

— Papai me contou. — Ela levanta um ombro e o abaixa ligeiramente.

— Ele fez? — Eu levanto uma sobrancelha.

— Sim, tentamos não guardar segredos entre nós, — diz Tess, olhando
em volta. — Existe algum lugar onde possamos conversar sem ele?

Eu não posso deixar de rir. — Tanto para não guardar segredos.


— Mais tarde contarei a ele sobre isso, mas não o quero aqui agora.

— Me siga, — eu digo, fechando a porta atrás de mim.

Caminhamos em direção à casa da piscina, enquanto mando uma


mensagem para Kaden para que ele saiba que tenho que verificar algo na
casa do meu pai. Papai está fora da cidade, o que significa que temos o
lugar só para nós.

— Ele pode vir me procurar em breve, — eu a aviso.

— Papai te contou o que aconteceu?

— Sim tudo. Como você se sente com isso? — Eu digito o código na


fechadura eletrônica.

— Você parece meu terapeuta. — Ela revira os olhos. — Estou aqui por
outro motivo, mas papai e eu temos conversado, sabe. Estou tentando
mudar porque ele disse que eu deveria parar de tentar agradar a mamãe.
Isso o que eu fiz o machucou. Não apenas por sua causa, mas porque o fez
lembrar de sua irmã.

Tess olha em volta da casa do meu pai quando abro a porta. Ela não diz
mais nada até eu fechar a porta atrás de nós.

— Ele disse que ou eu amadureço e me torno minha própria pessoa, ou


o perderia.

— Um pouco duro. Ele sabe que não deve ameaçar você assim.

— Bem, essas não foram as palavras exatas, — ela esclarece. — O que


ele disse é mais chique. A questão é que ele ficou magoado com o que eu
fiz e há consequências. Ele não me culpa, mas eu sei que é minha culpa que
vocês dois não estejam juntos. Que ele perdeu tudo por causa do que
fizemos.

Tess anda pela sala parando na minha frente depois de várias


passagens.

— Ele disse que acabou com o meu comportamento. Que ele me ama,
mas não gosta de mim quando ajo como minha mãe.

— Ele está certo de certa forma. Em algum ponto, você precisa se tornar
você mesma.

— Bem, sim, estou trabalhando nisso. Papai e Hannah também me


fizeram pensar sobre o que aconteceu desde que você entrou em nossas
vidas. Ele está diferente conosco. Ele nos escuta mais e você... — ela dá de
ombros. — Você cuidou de nós. E quando ficamos doentes, você nunca nos
mandou para outro lugar, como mamãe costuma fazer.

— Fiquei feliz em cuidar de vocês.

— Sim, mas eu não vi isso porque minha mãe me torturava toda vez
que eu voltava da casa do papai.

— Tudo é tão claro, — eu digo, chocada com minha estupidez. Por que
não vi isso quando começou? — Você me odeia não por minha causa, mas
por causa da tortura emocional que teve que suportar.

— Algo parecido. — Ela aperta os lábios. —Eu não te odeio, porém,


mais como se estivesse trabalhando duro para tentar, mas é meio difícil.
Você é legal demais.
Meu coração está triste por ela. Eu não posso imaginar o que ela está
passando. Ela é uma vítima da loucura de sua mãe.

— Além disso, você deve saber que, não importa o que aconteça, eu
nunca machucaria meu irmão.

Eu fico parada, em silêncio, observando-a e esperando por mais.

— Mamãe ligou hoje cedo e foi meio perturbador, sabe. Ela insistiu que
o bebê está tirando papai de nós e que temos que fazer algo. Isso me
assustou e também me fez perceber que a única pessoa que me mantém
longe do papai é a mamãe.

— Não importa o que aconteça, seu pai sempre colocará os filhos em


primeiro lugar. Ele é um pai incrível e o que sua mãe fez com ele é
imperdoável, — eu a tranquilizo. — Não porque isso nos separou, mas por
causa de como ela explorou o trauma de seu pai. Doeu saber que você se
machucou. Eu me preocupo com você.

— Eu só queria que mamãe fosse feliz, — diz ela, sem reconhecer que
me importo com ela.

— É difícil agradar seus pais. Tentei com o meu por muito tempo. Levei
um tempo para entender que sou apenas responsável pela minha própria
felicidade. Espero que um dia você também possa ver isso.

— Sinto muito pela maneira como me comportei. — Ela fecha a boca.

— Certo.

— E eu queria te pedir um favor.


— O que é isso?

Deixe meu pai em paz!

— Vou para a faculdade no ano que vem e espero que logo você e papai
possam resolver as coisas. Ele te ama, tipo muito. Ele diz que um dia
entenderei o que significa ter uma alma gêmea.

— Esse homem é um romântico incurável.

— Você o faz feliz. E eu quero que ele seja feliz.

— As coisas estão complicadas entre nós.

— Eu sei, mas quando duas pessoas se amam tanto, elas têm que
encontrar um caminho de volta uma para a outra, — ela faz uma pausa por
um segundo, engolindo em seco. —Mas não estou aqui para consertar as
coisas para ele. Estou aqui porque sei que vocês dois vão resolver as coisas.
E quando o fizer, estou implorando para que deixe Hannah ficar com você.
Não quero deixá-la com a mamãe quando não posso estar lá para protegê-
la. Ela te ama e está sempre dizendo que gostaria que sua mãe fosse mais
parecida com você ou que você fosse sua mãe. — Ela estremece. — Mamãe
sabe disso e está dificultando a vida dela. Mamãe a trata pior do que lixo.
Eu não sei o que fazer.

Meu peito arde e estou prestes a arrastar Alicia pelos cabelos de volta
da Europa. Como ela se atreve a tratar minha Hannah assim. Mas lembro
que não é minha família para me intrometer e que só posso dar alguns
conselhos.
— Você diz ao seu pai, para que ele possa cuidar disso. Achei que você
estava praticando a honestidade com ele.

— Sim, mas não podemos ficar perto do bebê.

A culpa me atinge bem no estômago. Elas se sentem inseguras por


minha causa.

— Novamente, não é algo com que vocês duas deveriam se preocupar.


Nós, como adultos, temos que cuidar de vocês duas.

— Você faz isso parecer fácil.

— Honestamente, Tess, tem que ser fácil para você e Hannah. Você não
é responsável pela segurança de sua irmã. Você deve se sentir e estar
segura.

— Nós estamos, — ela insiste, mas sua voz vacila.

— Não emocionalmente. As coisas que sua mãe fez deixaram você com
uma cicatriz psicológica. Eu sei que seu pai fará tudo ao seu alcance para
garantir que vocês duas não tenham que lidar com isso.

Porque de uma forma ou de outra, vou ajudá-lo. Eu sou forte o


suficiente para estar nesta casa sozinha. Elas precisam dele. Seu telefone
toca, ela o tira e suspira.

— É hora de eu ir.

— Você quer voltar com Hannah e jantar conosco?

— Obrigada, mas mamãe chega logo de suas férias. Talvez outro dia.
✰✰✰✰

Eu não entro na casa principal até ver o carro de Tess se afastando.


Minha respiração ficou presa várias vezes enquanto ouvia sua voz
preocupada. Suas histórias me lembram minha própria mãe e meu
pequeno inferno. Temos que fazer algo, mas sinto como se meu cérebro
estivesse disparando um milhão de pensamentos de uma vez, e não
consigo entender nenhum deles. O que fazemos para manter todos
seguros?

— Onde você está? — A voz de Kaden me arrasta de volta à realidade.

— O que?

Eu fico olhando para Kaden gostoso, sexy e recém-banhado que está


bem ao meu lado.

— Você estava perdida dentro de sua cabeça, — ele explica, seus olhos
famintos me mantendo prisioneira. — Você está pensando no que eu estou
pensando?

— Provavelmente não, Hades. Na maioria das vezes você só pensa em


sexo.

— Pelo menos você sabe no que estou pensando. Em troca, você deve
me dizer o que está acontecendo lá. — Ele toca minha cabeça brevemente.

— Alicia está voltando.


— Recebi a mensagem dela. Ela está chateada. Estou indo pegar as
meninas. Raven disse que ela pode mantê-las com ela enquanto eu
descubro algo.

— Porque lá?

— Porque essa é minha única opção, — ele responde. Embora cauteloso,


não há ressentimento ou raiva em sua voz. — Você não as quer perto de
Kieran.

— Você precisa entender que eu estava com medo, hormonal, e ainda


não tinha falado com as meninas quando disse isso. No entanto, também
preciso saber seu plano.

Ele estreita o olhar e exala com força.

— Eu pretendo mantê-las longe de Alicia. Como você sabe, eu já pedi a


custódia total. A audiência está marcada para a próxima semana. O juiz já
me concedeu a custódia temporária desde que Alicia saiu da cidade e
deixou as meninas com seus pais, sem meu conhecimento. Além disso,
temos outras infrações, como o fato de que ela as negligenciou e as
abandonou sozinha nos fins de semana quando não estou na cidade.

— Ela fez? — Eu tremo de raiva.

— Tess e Hannah têm muitas histórias que estão dispostas a


compartilhar com o juiz.

— Hmm. — Eu mordo meu lábio pensando sobre o que ele fez até
agora.
Ele pode colocá-las com Raven, ter quantos documentos quiser, mas
isso não mantém Alicia longe delas.

— Existe uma maneira de você conseguir uma ordem de restrição?

— Com base em quê? — Ele estreita o olhar.

— Abuso emocional, — eu explico. — Você não precisa de provas para


isso, apenas a sua palavra contra a de Alicia, já que elas são menores.

Caminho em direção à biblioteca doméstica, onde deixamos o


computador ligado o dia todo.

— Nós precisaríamos disso hoje à noite.

— Não deve ser difícil. Você tem pessoas para tudo, — eu o lembro. —
Peça a um terapeuta para testemunhar que as meninas estão de fato sendo
abusadas emocionalmente pelo caso de custódia. Qualquer juiz assinaria
isso, mas eu conheço um que pode nos ajudar a acelerar isso. Nesse
ínterim, elas podem vir aqui. Você pode levá-las a Raven depois.

Eu mando um e-mail para a juíza Summers. Ela sempre agilizava meus


casos se eu explicasse tudo com clareza e sentisse que as crianças estavam
em perigo. Eu faço exatamente isso no meu e-mail, descrevendo tudo,
desde a tentativa de ‘suicídio’ até o que tem acontecido nos últimos três
anos, conforme descrito por Kaden e Tess. Eu li em voz alta para Kaden,
que acrescenta os relatos de quando as meninas estavam doentes e quando
ela as entregou aos pais sem o consentimento de Kade.

— Qual é o endereço de e-mail do seu advogado? — Eu pergunto,


anotando o que Kaden diz no e-mail.
Assim que ele me dá, eu digito e envio o e-mail. Também ligo para a
secretária dela, deixando uma breve mensagem informando que enviei um
e-mail e é urgente.

— Por precaução, recomendo que você contrate um segurança. Um


guarda-costas ou dois para estar perto delas o tempo todo.

Ele para no meio da biblioteca me observando.

— É uma boa ideia, — diz ele antes de sair de casa.

Por alguns minutos, permaneço na minha cadeira, pensando em Tess e


Hannah. Raven é uma mãe maravilhosa, mas essas meninas pertencem ao
pai. Elas já passaram por muita coisa e mudar de casa em casa não é o
melhor para elas.

Eu cavo meus sentimentos e, pela primeira vez, reconheço que não é


apenas de Kaden que tenho medo, mas delas, de suas filhas. Amá-las
incondicionalmente só me trouxe dor. Fui cortada de uma família que
acreditava ser minha, e o simples pensamento de passar por isso
novamente faz meu pulso acelerar de ansiedade.

Mas alguém deve pensar nessas meninas, e talvez desta vez as coisas
sejam diferentes.
Capítulo Quarenta

Kade

Tivemos um longo dia. Meu terapeuta concordou em entrevistar


minhas filhas e escreveu uma carta afirmando que elas foram
negligenciadas e abusadas por sua mãe. A juíza Summers me concedeu a
custódia total das meninas depois que Tess e Hannah reviveram a tentativa
de suicídio e contaram a ela sobre a explosão de sua mãe. Uma vez que as
ajudei a empacotar suas coisas para seus avós, dirigimos até a casa de
Sadie, que disse que nos esperava para o jantar. Não tenho ideia do que
esperar dela ou dessa reunião de família improvisada, mas estou
esperançoso quanto a isso.

— Tem certeza de que está tudo bem, pai? — Tess olha para a casa.

— Ele disse que sim e eu vi o texto, — diz Hannah, animada.

— E se ela mudar de ideia? — Tess remexe em sua pulseira e olha para


mim.

— Ela não vai, — eu asseguro a ela. — É apenas um jantar.

— Vamos, Tess. Você disse que ela estava bem hoje, — Hannah dá um
tapinha de leve na mão de Tess.
— Bem, sim, mas isso não significa que ela está bem comigo em casa.

— É um passo, Tess, — eu a encorajo. — Ela não está brava com você se


é isso que você está pensando. Sadie se preocupa com vocês duas.

— Ela disse isso antes, mas depois de tudo que eu fiz... mamãe ficaria
furiosa e cruel.

Minha pobre filha está finalmente se abrindo sobre sua vida com Alicia,
e eu me sinto o pior pai de todos os tempos. O que eu faço para melhorar?
Não há nada que eu possa dizer que apagará o que ela está passando. Eu
coço minha testa e respiro fundo.

— Sadie não é como sua mãe. — Isso é o melhor que posso fazer, sem
destruir Alicia.

— Mamãe é uma cadela, — conclui Hannah. —Se eu tivesse que


escolher entre as duas... — Ela abaixa a cabeça. —Não que Sadie fosse me
querer de qualquer maneira.

— Pare com essa bobagem e vamos descer, — sugiro antes que elas
acabem chorando.

À medida que entramos na casa, o lugar parece mais um lar. Tem cheiro
de canja de galinha e queijo grelhado.

— Biscoitos! — Hannah voa em direção à cozinha.

— Você conhece as regras, — Sadie a chama do andar de cima. — Jantar


primeiro, então você pode comer quantos quiser.

— Ela ainda tem regras, — sussurra Hannah, sorrindo para mim.


Nós dois quebramos algumas de vez em quando. Era divertido ter um
cúmplice quando roubei doces da cozinha.

— E biscoitos. — Sadie entra na cozinha. — Hannah, os pratos estão


naquele armário, os utensílios na gaveta ao lado do fogão.

Hannah não diz nada, mas ela começa a trabalhar.

— Kade, você pode ajudá-la com os copos e jogos americanos, por


favor?

— O que eu posso fazer? — Tess balança o corpo para frente e para trás
nos observando fazer nossas tarefas habituais.

Sadie volta sua atenção para ela e torce a boca, então olha para mim. Eu
encolho os ombros porque estou perdido. Tess nunca se ofereceu para
ajudar.

— Por que você não vem e me ajuda?

Em um momento, colocamos a comida na mesa, os lugares estão postos


e todos nos sentamos. Temos comida caseira. O favorito das meninas. Sopa
de macarrão com frango e sanduíches de queijo grelhado, feitos no forno.

— Onde está Kieran? — Hannah olha em volta da mesa enquanto come.

— Na cama, ele deve acordar em uma ou duas horas, — Sadie responde


com uma voz cautelosa.

— Você acha que podemos ver ele antes de partirmos? — Ela sorri para
Sadie. — Só de longe, prometo não tocar ele.

Sadie olha para mim, depois para as meninas, e suspira.


— Elas deveriam ficar conosco, — ela propõe.

— O que? — Eu me animo, mas prendo a respiração.

Eu a estudo porque a oferta é enorme. O que a faria mudar de ideia?

— Só se vocês duas quiserem, — ela continua olhando para minhas


filhas. É quando eu vejo, o medo. Do que ela tem medo? —Quer dizer,
tenho certeza que vocês não querem ficar aqui, mas seria temporário. —
Sua voz é baixa e ela parece rejeitada. — Pelo menos até que seu pai vá
embora. Em breve, estarei bem o suficiente.

— Deixar você não é uma opção, — advirto ela, estudando ela de perto.
— Você prometeu me dar um tempo com Kieran. — …e você.

— É apenas uma sugestão, mas talvez elas não queiram ficar aqui.

— Eu quero ficar aqui para sempre com você e papai. — Hannah se


levanta e abraça Sadie pelo pescoço. — A menos que você não me ame
mais.

Isso me acerta bem no peito. Sadie tem medo da rejeição delas. Elas
fizeram isso muitas vezes para ela não se sentir como ela sente. E um belo
dia eu agarrei tudo que eu tinha dado a ela sem olhar para trás.

— O amor não para no comando, Hannah, — Sadie soluça, abraçando


ela de volta. — Claro que eu te amo. Tudo ficou tão complicado e...

— Eu também te amo, Sadie, — Hannah está chorando também.

Tess apenas as observa, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Eu pego


sua mão e aperto levemente.
— Podemos ficar aqui? — Tess pergunta timidamente.

— Você ouviu a senhora, enquanto você quiser estar aqui, ela ficará feliz
em ter você. — Eu me inclino para frente e sussurro. — Ela é legal, e tenho
certeza que vocês duas podem se tornar amigas de verdade.

Ela balança a cabeça algumas vezes e enxuga as lágrimas com as


mangas.

— Vou mover a segurança da casa de Raven para aqui, — alerto-as,


levantando da cadeira. — Além disso, preciso atualizar a mudança de
endereço com meu advogado, legalidades são um pé no saco, mas prefiro
cobrir a minha.

— Não se preocupe conosco, — Sadie sorri para mim. — Podemos


começar a limpar a mesa enquanto comemos alguns biscoitos.

✰✰✰✰

— Tem certeza de que ficará bem no sofá?

— A menos que você me deixe ficar com você, — eu digo


sugestivamente.

Como não temos camas suficientes, Tess e Hannah ficam na minha


cama enquanto eu fico com o sofá.

— Em seus sonhos, Hades. — Ela ri, desligando a luz da cozinha e


subindo as escadas.
— Obrigado por aceitá-las. — Eu ando bem atrás dela. — E desculpe.

Ela para, olhando por cima do ombro. — Por que você se desculpa?

— Quando terminamos, não pensei sobre o seu relacionamento com as


meninas.

— Estava muito rochosa, — ela diz baixinho ao entrar em seu quarto.

— Sim, mas você se importava com eles. Você era como uma mãe para
elas.

— Mas eu não era. Eu não sou. — Ela suspira, a tristeza persistente


entre nós. — Há um ponto para esta discussão?

— O que quero dizer é que sinto muito por como reagi, — começo meu
pedido de desculpas.

Ela levanta a mão, balançando a cabeça. — E eu vou te parar bem aí.


Tess e Hannah estão bem. Isso é tudo que importa.

— Que tal nós?

Ela revira os olhos. — Por enquanto, somos dois adultos que vivem sob
o mesmo teto e compartilham um bebê.

— Entendi. Você não está em um lugar onde possamos discutir nosso


relacionamento. Mas, uma vez que você não está fechada para essa
possibilidade, gostaria de argumentar que desta vez estamos todos dentro.

— Nós? — Suas sobrancelhas franzem.


— Hannah, Tess e eu queremos ser uma parte de você. Queremos nos
tornar uma família de verdade. Lamentamos a maneira como lidamos com
as coisas no passado. Desta vez, prometemos não empurrá-la para o lado.
Lamento não saber como lidar com isso antes.

— Isso é muito para absorver por um dia, — ela murmura, verificando


Kieran.

Meu telefone vibra naquele momento, quando o puxo, leio uma


mensagem do meu advogado.

— Quem é? — Ela sussurra, caminhando silenciosamente em direção à


porta.

— Eles entregaram a ordem de restrição e o acordo de custódia a Alicia,


— anuncio, fechando a porta atrás de nós.

— O que você acha que ela vai fazer? — Ela fecha os olhos, se
abraçando. — Eu só não a quero perto de nossas meninas.

— Ela não vai chegar perto, eu prometo. — Eu a envolvo em meus


braços. — Nós ficaremos bem.

— Eu confio em você, — ela sussurra, inclinando a cabeça no meu peito.

Progresso, penso enquanto assimilo suas palavras e respiro seu


perfume.

✰✰✰✰
Faz um dia e duas noites desde que minhas filhas foram morar conosco.
Na primeira noite, elas ficaram no meu quarto. Esta manhã, compramos os
móveis e pagamos a mais para que sejam entregues no mesmo dia. Ambas
estão felizes e Tess está começando a ser mais aberta com Sadie. Passos de
bebê, Sadie me disse quando pedi a Tess para esvaziar a máquina de lavar
louça, e ela fez um pequeno drama.

Temos que ser pacientes, mas enquanto trabalharmos com elas, como
uma família, ela deve mudar aos poucos. Tentei não mudar a programação
de Sadie ou Kieran. Tess me ajudou a levar Hannah para as aulas de balé,
já que não vou mais ao estúdio do outro lado da cidade. Hoje à noite,
decidi interromper o treino mais cedo e mandar os caras para casa com a
promessa de que eles podem ficar aqui no domingo para jantar após o
treino. Enquanto caminho em direção à casa principal, vejo um dos
seguranças correndo em minha direção.

— O que está acontecendo?

— Alguém está invadindo a casa da piscina. — Ele continua seu


caminho e eu o sigo.

À medida que nos aproximamos, vejo o outro segurança derrubando


alguém no chão. Quando chego à casa de Andrew, eu a reconheço. Alicia.
Eu mando uma mensagem para Sadie.

Kade: Alicia está aqui. Se certifique de trancar a porta.

Sadie: Eu vou. Fique seguro.

— O que diabos você está fazendo na casa de Sadie?


— Minhas filhas estão aqui, eu quero que você as devolva para mim,
filho da puta, — ela rosna. — Você me deve um mês de pensão alimentícia.

— Tess e Hannah não irão com você. — Eu uso uma voz severa com ela.
Tenho que ter cuidado antes que ela invente coisas para dizer ao advogado.
— Depois de ouvir o caso, a juíza me concedeu a custódia permanente.

— Eu não vou permitir isso, seu bêbado de merda. Você e aquela vadia
vão pagar por isso. Eu vou matar aquela vadia.

— Alicia desista, — eu sugiro. — Elas já nos contaram o que você fez


com elas. Eu nunca vou deixar você se aproximar delas novamente.

O guarda a ajuda a se levantar e ela pula em cima de mim, me


sufocando. Eu a afasto.

— Desculpe, — o cara se desculpa, empurrando-a contra o chão e


colocando as algemas nela.

— Diga a eles para me liberarem, filho da puta! — Alicia, que não tem
condições de fazer exigências, ordens.

— Você recebeu uma ordem de restrição. A ordem explica que você


nem deve entrar em contato com nossas filhas, você mandou uma
mensagem para elas. — Pedi a Duncan que cancelasse seus números e
conseguisse novos imediatamente. Um policial foi até enviado à sua casa
para alertá-la sobre o que poderia acontecer se ela tentasse violar a ordem
novamente. —Você também não pode chegar perto delas. E, no entanto,
aqui está você arrombando e entrando, nos ameaçando e tentando me
atacar.
— Isso é uma mentira. Eu nunca te toquei ou te ameacei.

— ‘Vou matar aquela vadia,’ soou como uma ameaça para Sadie. — Eu
cruzo meus braços, olhando para ela com pena. — As coisas não deveriam
ser tão difíceis, Alicia.

— Esse deveria ser o tipo de casa que você comprou para mim, não
aquela cabana em que moro. Eu deveria te dar um menino, não ela. Tudo o
que fiz não significou nada para você. Agora você está tirando minhas
filhas de mim.

— Estou mantendo-as protegidas de você. Elas precisam de um lar


seguro e de amor. Se você quer um relacionamento com elas, sugiro que
primeiro se esforce.

— Os policiais estão quase aqui, senhor, — diz o agente de segurança


privada antes de pegar Alicia do chão.

Eu mando uma mensagem para Sadie sobre o incidente e para verificar


as garotas enquanto esperamos pelos policiais. Não demorou muito para
eles chegarem e puxá-la para dentro do carro. Eu vejo a luz vermelha do
carro da polícia desaparecer enquanto eles se afastam. Não era assim que
eu queria confrontá-la.

— Estou exausto pra caralho!

— Já se passaram vários dias, Sr. Hades, — Sadie sai da cozinha


segurando uma caneca. — Aqui. Beba um pouco de chá.

— Elas acordaram?
Eu pego o copo e bebo. O chá é ligeiramente amargo.

— Não. Estou feliz que eles a pegaram do lado de fora. Tess e Hannah
ainda estão dormindo.

É uma bênção que as meninas não tenham testemunhado o show de sua


mãe.

— Como você está se sentindo? — Sadie vai até a escada e se senta no


segundo degrau e olha para mim.

— Ainda estou chateado comigo mesmo por deixar as coisas irem longe
demais, — eu digo, beliscando a ponta do meu nariz.

— Você não deve se culpar pelo que aconteceu. Elas esconderam bem, e
nenhuma delas tinha certeza se falar iria ajudá-las de alguma forma. Um
dos adultos em quem mais confiava estava machucando-as. E se você fosse
o mesmo? Não que você faria, mas é assim que pode ser interpretado do
ponto de vista delas.

— Você está de volta, — eu digo sentando ao lado dela.

— De volta? — Ela descansa os braços cruzados sobre os joelhos e


boceja.

— A mulher feliz, em ação e arrebatadora que eu amo.

— É um processo lento, — ela suspira. — Eu não era eu mesma por


vários motivos.

— Cuidado em compartilhar?
— Tem essa parte em que perdi minha família. Um dia fui empurrada
para longe e não só perdi você, mas também as meninas.

— Desculpe, não pensei sobre isso até que fosse tarde demais.

— Então, há o acidente. Quando acordei, estava com medo de tudo. Eu


não conseguia ver o lado bom e não acreditava que poderia voltar a ser eu
mesma. Há tantas coisas pelas quais eu deveria ser grata. Eu estou viva.
Meu pai está mudando. Temos um filho incrível. Esqueci que a vida é uma
sequência de contas de vários tamanhos, cores e texturas. Só porque eu
encontro alguns feios, não significa que acabou.

— Você não pode prever o que vai acontecer a seguir. — Eu acaricio seu
queixo, escovando uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Mas você
sempre pode tirar o melhor proveito de cada situação.

— Nunca devemos perder a esperança e nunca devemos viver com


medo.

— Ela ainda se lembra de seus votos, — murmuro, apoiando meu


queixo em suas costas.

— Não me lembro porque os escrevemos juntos.

— Você disse que eu era ótimo em escrever falas de amor, e eu disse


que você sabia muito mais sobre a vida. Misturá-los e dizê-los parecia uma
maneira original de prometer um ao outro que, não importa o que
acontecesse, sempre estaríamos juntos.
— Mesmo depois que ‘a morte nos separe.’ — As palavras são abafadas
porque sua boca está apoiada em seu braço. — Eu tinha muito medo da
vida. De você, — ela confessa.

— Depois do que aconteceu entre nós, mesmo sem o acidente, é lógico


se sentir como você se sentiu. É por isso que eu não lutei com você. Eu sei
que você não deixa família para trás, e por isso, sempre terei
arrependimento. Naquele dia no hospital, eu deveria ter exigido mais
respostas, deveria ter deixado você assumir a liderança porque eu estava
desmoronando.

— Foi assustador pensar que poderíamos tê-la perdido.

— Ela está aqui, e Hannah também, — eu respiro as palavras e


finalmente relaxo. — Eu sinto muito pela dor que criei. Você não merecia
isso.

— Você está feliz? — Ela rejeita minhas palavras.

— Quase, Beija-flor. Você me perdoa?

— Claro, eu te perdoo. Porque eu amo você.

Suas palavras, juntamente com tudo o que aconteceu hoje e nas últimas
semanas que passamos juntos, curam algo dentro de mim. É como se toda a
minha existência estivesse adormecida e de repente algo estivesse
florescendo. A primavera finalmente chegou e um longo verão se
aproxima.

— Eu também te amo, com todo meu coração e todo meu ser.


Eu me inclino um pouco mais perto, nossas testas se tocando, nossos
lábios roçando. Eu pego sua boca, beijando-a pela primeira vez em meses, e
o mundo desmorona. O beijo é lento e suave, reconfortante e curativo de
maneiras que palavras nunca poderiam ser. Eu deslizo seu corpo em cima
do meu colo, abraçando-a perto de mim. Ela envolve seus braços em volta
dos meus ombros. Ela corre as mãos pela minha espinha, me puxando para
mais perto até que não haja mais espaço entre nós. Eu sinto as batidas de
seu coração sincronizadas com o meu.

Com cuidado, tiro o anel do bolso e interrompo o beijo. Sadie engasga,


seus olhos bem abertos.

— Você sempre carrega isso com você?

— O tempo todo. Essa é a única maneira que eu sinto você quando você
não está por perto.

Eu a coloco de lado, levantando-me da posição sentada e, em seguida,


caio sobre um joelho na frente dela.

— A primeira vez que te vi, algo dentro de mim sabia que estávamos
destinados a ficar juntos. Cada vez que estamos juntos, o mundo para,
deixando apenas nós dois vagando, como um só. Estar com você não pode
ser descrito, apenas sentido. Temos uma história que nunca quero
terminar. Foi difícil sobreviver sem você, e não posso suportar perdê-la de
novo porque só você me faz sentir completo.

Lágrimas escorrem pelo seu rosto, assim como da primeira vez que pedi
em casamento. Seus olhos estão cheios de amor e tudo o que quebrei
dentro dela foi reparado. O que temos agora é diferente, maduro e muito
mais.

— Sadie Bell, você seria minha esposa, minha amante, minha


companheira eterna e a mãe de meus filhos?

— Eu seria, — ela soluça, enquanto eu coloco o anel que não deveria ter
saído e que deveria ficar com ela para sempre.

Minhas mãos vão para seus quadris, eu a puxo para mim e bato meus
lábios nos dela. Ela inala profundamente enquanto eu coloco minha língua
em sua boca. Sadie espalma suas mãos contra meu peito, passando-as e
envolvendo-as em volta do meu pescoço. O mundo inteiro desaparece
enquanto eu me perco na doçura de seu sabor. Suas mãos percorrem meu
corpo, enquanto as minhas não conseguem parar de tocar cada centímetro
dela.

Nossa chama se acende, correndo como um incêndio e nos queimando


por dentro. Meu coração se acelera e vejo sua luz. Estou de volta ao mundo
dela. Eu estou vivo. Nesse momento, quero dar tudo a ela, levar tudo.
Fundir nossos corpos e se tornar um. Eu a beijo mais profundamente,
absorvendo toda a dor que infligi a ela e substituindo-a com amor.

— Amor, eu preciso de você, — eu suspiro.

— Leve-me lá para cima, — ela diz com desejo e necessidade.

Eu a levanto e automaticamente ela envolve suas pernas em volta de


mim.
— Você sabe que eu posso andar, — Sadie protesta enquanto eu a
carrego em direção ao meu quarto.

— Fique quieta, Pequena Atrevida, ou você vai acordar as tropas, —


aperto sua nádega.

— Pare de me maltratar. — Ela mexe sua bunda.

— É por isso que eu carrego você, para que eu possa brincar com sua
bunda perfeita. — Eu fecho a porta do meu quarto atrás de nós,
empurrando-a contra ela. — Eu acredito que você me deve uma boa foda.

— A conversa suja está prestes a começar.

Ela desenrola as pernas da minha cintura, colocando os pés no chão. Ela


me encara, seus olhos chocolate derretendo de luxúria. Lentamente, ela
desamarra o robe e deixa o tecido de seda deslizar sobre os ombros. Um
sorriso está pintado em seu rosto enquanto ela puxa para baixo a blusa e o
short que está vestindo. Sem calcinha.

— Eu morri e fui para o céu, porra, — murmuro olhando para ela.

Ela sempre foi tão gostosa, mas agora ela está mais cheia, com mais
curvas.

— Você está vestindo roupas demais, Sr. Hades, — diz ela com uma voz
sensual.

Meu pau endurece com seu tom e aqueles olhos sexy que ela está me
dando. Eu quero ela. Não apenas seu corpo, mas seu coração e alma. Eu
preciso me perder dentro dela antes de tomar minha próxima respiração.
Eu tiro minha camisa, empurro minhas calças e lambo meus lábios.

— Eu posso ver o que você está planejando, mas não posso esperar
tanto tempo. Amanhã ou depois da próxima alimentação você pode me
provar. Agora, eu preciso de você, — ela implora.

— Desculpe, não posso obedecer você, — eu a empurro levemente em


direção à cama e me ajoelho bem na frente dela. — Você conhece as regras.

— Nós temos regras de novo? — Ela engasga quando eu traço uma


linha com minha língua separando seus lábios.

— Claro: eu agrado, você gosta. Essa é nossa única regra, Beija-flor.

Eu empurro seus joelhos levemente, separando suas coxas. Eu inalo o


cheiro almiscarado de sua excitação que me leva ao limite. Por um
segundo, brinco com a ideia de me enfiar dentro dela e transar com ela até
que ela não consiga mais andar. Ela estava molhada, pronta e esperando
por mim. Mas eu me recuso a ceder ao desejo. Nós dois precisávamos
saborear um ao outro, fazer isso valer como a primeira vez, mesmo depois
de termos feito amor cem vezes. Tomando meu tempo, eu sigo meus dedos
por suas coxas macias até encontrar seu clitóris. Eu provoco algumas vezes,
fazendo-a estremecer com um gemido alto. Porra, ela está tão pronta. Eu
pressiono minha língua em seu broto, mergulhando dois dedos em seu
canal.

— Sim assim, — ela ordena, empurrando seus quadris em minha


direção, movendo-os no mesmo ritmo da minha cabeça.
Sadie tenta enfiar os dedos no meu cabelo, mas está passando por um
momento difícil.

— Concentre-se no sentimento, esqueça a porra da minha cabeça, Sadie,


ou vou amarrar você.

— Eu gosto de você mandão, mas não estou com humor para


escravidão. Apenas me dê mais dedos. Seu grande pau. Eu preciso de você.

Ela geme quando empurro meu polegar em sua entrada traseira.

— Pare ou vou amordaçá-la, — ordeno e volto para sua boceta,


passando minha língua ao longo de sua fenda.

Deus, eu sentia falta de seu sabor, seu cheiro. Essa porra de corpo. Nada
jamais teve o gosto dela. Ela foi feita para mim. Minha língua gira em torno
de seus lábios enquanto eu continuo fodendo ela com meus dedos. Seus
gemidos me excitam, e eu continuo batendo, beliscando e lambendo até
que ela aperta em torno de meus dedos e seu corpo treme. Os gemidos de
Sadie são uma melodia que nunca fui capaz de reproduzir com um
instrumento. Seus espasmos e o canto vindo de sua bela boca me
alimentam de desejo.

— Você é tão linda, amor, — eu digo segurando a base do meu pau. —


Tem certeza que quer isso?

— Mais do que qualquer coisa, Hades.

Eu me inclino e começo a deslizar por sua umidade macia.


— Foda-se, — eu gemo enquanto sua boceta me suga lentamente dentro
dela.

Está tudo perfeito mais uma vez. O mundo faz sentido enquanto eu me
empurro para dentro e para fora de sua entrada. Ficamos parados por
alguns segundos, olhando nos olhos um do outro. E eu vejo, o que ela tem
escondido de mim desde que acordou do coma, seu amor por mim e nossa
conexão profunda. Nós nos fundimos enquanto continuo fazendo amor
com minha outra metade. Meu coração. Pensamentos sobre ela e nosso
futuro juntos rodopiam em minha mente. Abaixando mais perto, eu pego
seus lábios, beijando sua boca deliciosa.

A ternura do momento nunca vai embora. No entanto, seus quadris


começam a se mover mais rápido exigindo mais de mim. Ela quer gozar,
ela precisa gozar. Eu acompanho seu ritmo. Nossa respiração fica
superficial. O ritmo, os gemidos e o tapa de nossos corpos suados se
tornam tudo o que existe. Mal consigo respirar, mas não paro. Em vez
disso, empurro com mais força e mais fundo quando seus dedos cavam em
minhas costas e sua boceta convulsiona em torno do meu pau. Cada
músculo do meu corpo se contrai quando eu alcanço o pico... meu espiral
fora de controle enquanto meu esperma derrama dentro de Sadie. Meu
coração bate em um ritmo rápido, trovejando dentro da minha caixa
torácica, e é tudo por ela. É por causa dela.

— Eu te amo, Kaden Hades, — ela sussurra, uma lágrima caindo do


canto do olho.
— Eu te amo, futura Sra. Hades. — Eu beijo a umidade em seu rosto. —
Você está feliz, Beija-flor?

— Seu amor me faz a mulher mais feliz do mundo, Rouxinol.


Epílogo

Kade

Três Anos Depois

Os domingos são os melhores dias na casa dos Hades. Acordamos cedo,


saímos para correr e voltamos para preparar waffles com gotas de
chocolate para as crianças. Também passamos o tempo trabalhando no
jardim. Andrew Bell visita seus netos e Tess faz Facetimes em vez de
apenas enviar alguns textos para nos avisar que ela está bem.

— Ei pai, — ela sorri, seu cabelo ruivo puxado para trás em seu rabo de
cavalo de costume.

— Como está minha garotinha? — Eu sorrio de volta para ela.

— Pai, — ela protesta. — Eu não sou mais uma garotinha.

— Não o desafie, — Sadie chora da cozinha, segurando nosso bebê de


seis semanas, Aubrey. — Como foi a noite passada, querida?

— O que aconteceu ontem? — Eu olho para Tess.

— Ela deu uma festa. — Sadie vai até a sala de estar.


Ela beija minha bochecha e leva meu tablet embora. Eu me inclino e
agarro minha doce Aubrey, aconchegando-a contra meu peito.

— A fantasia serviu? — Sadie pergunta a Tess.

— Sim e parecia legal. Muito obrigada por enviar. Eu te amo. — Tess


sopra um beijo em sua direção.

— Que festa? — Eu rosno.

— Apenas uma festa de faculdade típica, Hades. Ela está lá para


aprender, mas também para se divertir. — Sadie me lança um olhar de
advertência.

Eu aperto meus lábios e respiro fundo. Deixe que Sadie seja a


embaixatriz de todas as coisas divertidas quando se trata de nossos filhos.
Outro dia, ouvi Hannah e ela discutindo sobre um menino de sua aula de
desenho. Se eu não assistir aquelas três, Tess vai arrastar um garoto
estúpido durante o Dia de Ação de Graças para dentro de casa e apresentá-
lo como seu namorado. Hannah não ficará muito atrás. Eu serei
amaldiçoado se permitir que isso aconteça.

— Aubrey está acordada? — Tess pergunta animadamente.

— Ela está dormindo como sempre. Você deveria voltar para casa no
próximo fim de semana.

— Não posso voar todo fim de semana, pai, — diz Tess. — Mas o Dia de
Ação de Graças está próximo. Continue me mandando fotos dela.
— Por favor, não os faça começar, — Hannah entra na sala com Kieran
logo atrás dela. — Papai está sempre a filmando ou tirando fotos. Você
pensaria que ele nunca viu um bebê em toda a sua vida, ele tem quatro
filhos.

— Pare de reclamar, Hannah, — eu digo, tirando uma foto dela.

— Mamãe! — Kieran corre até Sadie para abraçá-la.

— Bebê! — Ela me devolve meu iPad e se abaixa para abraçá-lo de


volta. Ele dá a ela um beijo desleixado, seu tipo favorito.

— Posso acoda Auby, pai?

— Depois de lavar as mãos, amigo.

— Awe, tire uma foto disso e envie. Eles ficam tão fofos juntos, — Tess
aponta o óbvio.

— Oi, Tessy! — Kieran acena para sua irmã mais velha.

— Ei lindo. Como você está?

— Tudo bem, — ele sorri. — Posso ficar com minha Tessy, por favor,
papai?

— Você pode, mas não a mantenha por muito tempo, tudo bem?

— Nós a perdemos, — Sadie declara. — Vou ligar para ela hoje à noite
para obter mais detalhes sobre a festa.

— Ela conheceu um cara, — Hannah ri. — Ele é fofo e está se formando


em biologia marinha, como Tess.
— De onde ele é e por que você não me disse nada disso antes? — Sadie
se senta ao lado de Hannah.

— Ele é um local, de San Diego, — diz Hannah, puxando o telefone. —


Ele é um veterano de acordo com a última mensagem dela.

— Muito velho para ela.

— Oh, cale-se, Hades. — Sadie revira os olhos. — Deixe Hannah falar


ou não vou descobrir o que está acontecendo com Tess até a próxima
semana. Kieran a tirou de mim. Você sabe que ela vai passar as próximas
duas horas no telefone com ele.

Kieran é a pessoa favorita de Hannah e Tess. Elas fazem tudo e


qualquer coisa para ele. Ele as adora de volta. Quando as meninas foram
morar conosco, fiquei cético no início sobre a dinâmica de nossa família.
Duas adolescentes crescidas e um recém-nascido não pareciam funcionar
bem. Eles nos surpreenderam. Ou talvez Sadie esteja certa, e nós os
ensinamos como se amar e ajudar um ao outro.

— Você está pronta para ir para a estufa? — Sadie olha para Hannah.

— Sempre. Quero verificar as orquídeas que você comprou na quarta-


feira passada. — Hannah se junta a Sadie e elas caminham em direção ao
quintal.

Sadie olha para mim. — Você ficará bem se eu te deixar com os


pequenos?

— Você se esquece de que sou profissional. — Eu beijo a testa de


Aubrey. — Ela simplesmente adormeceu. Eu tenho algumas horas.
Lentamente, faço meu caminho em direção ao quarto de Kieran, onde
ele está contando a Tess sobre seus novos desenhos, Aubrey, e o irmão
mais novo que ele quer que tenhamos. Ele quer que tragamos um menino
para ele brincar com ele. Ele já tem muitas irmãs. Há um plano de ter um
último bebê em alguns anos. Se for um menino ou uma menina, nós o
amaremos de qualquer maneira.

— Ei, — Sadie se aproxima e desliza seus braços em volta da minha


cintura, descansando sua cabeça no meu braço e olhando para nosso
pequeno bebê. — Você tem aquele rosto feliz que eu adoro.

— Tess está bem, — eu suspiro envolvendo-a em meus braços junto


com Aubrey.

— Elas estão indo bem. Você ainda se preocupa com ela, não é?

Tess sofreu muitos abusos de sua mãe. Há certas coisas que ela nunca
mencionou até se sentir segura e amada. Em vez de ir para a faculdade
depois de se formar no colégio, ela tirou um ano de folga para se curar. Ela
fez terapia, grupos de apoio e trabalhou para Sadie em tempo integral. Elas
finalmente se uniram e se tornaram amigas íntimas. Ouso dizer que todas
as minhas três meninas são melhores amigas.

Alicia ficou alguns dias na prisão. Ela desistiu do pedido de custódia


quando descobriu que eu não pagaria pelo advogado dela e ela não
receberia mais dinheiro de mim. É triste que, depois que ela percebeu que
nossas filhas não iriam beneficiá-la, ela nunca mais tentou contatá-las por
meio do meu advogado ou por mim mesmo. Das minhas duas filhas, Tess é
quem nunca mais quer ver a mãe. Hannah diz que talvez um dia ela a
procure.

— Não importa quantos anos ela tenha, ela é meu bebê. Sempre vou me
preocupar com ela.

— Elas têm sorte de ter você como pai. — Sadie agarra a mão de
Aubrey.

— Eu gostaria que Tess tivesse escolhido ficar na cidade. San Diego é


longe demais.

— Ela está indo muito bem, assim como Hannah. A mãe delas não
causou nenhum dano permanente.

— Você se identifica muito com elas, não é?

— Não vamos falar sobre Catherine. — Ela suspira. — Hoje não.

A mudança de seu pai foi lenta, mas permanente. O lado idiota dele
ainda pode existir fora da família, mas conosco, ele é diferente. Ele até trata
minhas filhas como netas. Sadie adora vê-lo todos os domingos à noite e ele
liga para ela com frequência apenas para checar. Catherine, porém, tem
uma rotina que duvido que vá quebrar. Reabilitação, alguns meses de
sobriedade e depois outra viagem de volta assim que ela cair do vagão.

— Temos que levar esta pequena para o berço dela, Sr. Hades. — Sadie
tenta tirar Aubrey de mim. — Ela vai ter dificuldades quando você
começar os ensaios novamente.
— A banda está em uma pausa, — eu a lembro, não deixando Aubrey
ir.

Killing Hades é importante para mim, mas não tanto quanto minha
família. Prefiro passar meus dias em casa ou na floricultura com minha
esposa. Em vez de abrir três lojas diferentes, nós a expandimos e
contratamos mais funcionários que ajudam Rae, a gerente da floricultura, a
administrar o lugar.

— Você não sente falta?

— Eu sentiria mais sua falta e de nossos filhos. Este pequeno precisa da


mesma quantidade de tempo de braço que Kieran.

— Até que um dia ela vai começar a engatinhar pela casa. — Sadie ri. —
Vai ser divertido ver você correr atrás dela.

— Eu te amo, — eu encontro seu olhar, levantando seu queixo, eu


escovo seus lábios com os meus.

— Depois de todos esses anos, Hades?

— Eu sempre amarei você, Beija-flor. Eu vou te amar até o fim dos


tempos. Contanto que as estrelas brilhem sua luz brilhante na noite escura.
Sobre a Autora

Claudia é uma autora de best-seller internacional premiada. Ela mora


no Colorado, trabalhando para uma pequena TI. Ela tem três filhos e
administra uma casa caótica de três cães confusos, e um marido
maravilhoso que compartilha seu amor por todas as coisas geek. Para
sobreviver, ela trabalha continuamente para encontrar um propósito para
as vozes que passam por sua cabeça, além de consumir grandes
quantidades de chocolate para manter os últimos fios de sanidade intactos.

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