Você está na página 1de 211

Copyright © 2021 Evilane Oliveira

Meu Pequeno Segredo


1ª Edição

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e acontecimentos que aqui

serão descritos são produto da imaginação da autora. Qualquer semelhança


com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Esta obra

segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. É proibido o


armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte desta obra, através de

quaisquer meios, sem o consentimento escrito da autora. A violação dos

direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9.610. /98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.

Todos os direitos reservados.

Edição Digital | Criado no Brasil.


Dedicatória

Sinopse

Capítulo 01

Capítulo 02

Capítulo 03

Capítulo 04

Capítulo 05

Capítulo 06

Capítulo 07

Capítulo 08

Capítulo 09

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12
Capítulo 13

Capítulo 14

Epílogo

Agradecimentos

Contato

Outras obras
As mães que conheço e admiro cada dia mais.
Zélia Oliveira, minha mãe, minha inspiração.
Terezinha Rodrigues, minha avó, minha vida
Evilene Oliveira, minha irmã, minha melhor amiga
Andreia Oliveira, minha irmã, minha amada
Fátima Bernardo, minha sogra, minha orientação
Eu amo vocês!
Obrigada por me ensinarem tanto.
Depois de um acidente que quase tirou sua vida, Laura Lancaster

sabe de três coisas sobre si mesma.

Ela é solteira, pediatra em um hospital renomado e agora está

grávida de um homem misterioso que ela não entende como e nem por que
se entregou tão facilmente quando se conheceram.

Sua mente esquecida também não faz ideia de que esse homem

intenso e sarcástico é também seu marido.

Henrique D’Ávila sabe de três coisas.

Ele é casado, completamente apaixonado pela esposa e um CEO

bilionário.

Com uma fortuna de dar inveja a muitas pessoas, Henrique a daria a


qualquer pessoa que fizesse Laura se lembrar que os dois eram casados e

que ela pertencia a ele.


Isso nunca aconteceria. Apenas o tempo traria as suas lembranças de

volta.

Laura descobriria em breve que seu marido nunca foi paciente.

O tempo está correndo e Henrique está disposto a fazer Laura amá-

lo mais uma vez.

Mesmo que para isso tenha que se inserir na vida dela como um

desconhecido.
Assisti a Louise pegar nos talheres e enfiar o macarrão na boca

enquanto eu esperava a comida do Lucas. Tirei meu celular do bolso e


respirei fundo ao reler as mensagens que ele me enviou.

“Sr. D’Avila está preso no trabalho, e eu estou morrendo de


fome. Você pode vir deixar algo para eu comer?”

“Eu estou com as minhas amigas em um bar. Você sabe há

quanto tempo não nos víamos?”

“Elas não vão embora amanhã, Laura. Pelo amor de Deus, você

vai morrer se vier?”

“Eu odeio você.”

Ele só respondeu com emojis revirando os olhos e um eu te amo.


Fazia quase meia hora que isso tinha acontecido, e o prato que pedi para ele

ainda estava sendo preparado.


— Aqui. — O garçom colocou a embalagem na minha frente

minutos depois, me fazendo suspirar de alívio.

— Obrigada — murmurei e me ergui, olhando para Lou e Bianca.


— Amo vocês. Nos vemos novamente em breve — disse, me inclinando e

beijando o rosto da loira sorridente, e logo após o da morena estonteante.

Nós três nos conhecemos na época da escola, e agora que Lou


estava de volta a nossa cidade natal, depois de alguns anos na faculdade,

resolvemos nos encontrar. Bianca ficou na cidade, enquanto nós duas fomos

para estados diferentes em busca dos nossos sonhos. Voltei recentemente

também.

— Amamos você. Diga ao Lucas que mandei lembranças. — Bia

sorriu.

Eu acenei enquanto me distanciava.

Quando atingi a calçada, eu fiz sinal para o primeiro táxi que vi e

entrei no carro, respirando profundamente. Passei o endereço da empresa do

patrão do meu irmão que ele havia me enviado por mensagem e descansei

no banco macio.

Fazia mais de dois meses que eu estava na cidade. Havia começado

a trabalhar no hospital central da cidade, e eu amava meu emprego.


Trabalhar com crianças era incrível e sempre foi meu sonho. Lucas brinca

que se eu pudesse, nós montaríamos uma creche. E era verdade.

Nossos pais morreram quando ainda éramos pequenos, e nós fomos

criados pela irmã da nossa mãe. Tia Alice era perfeita e sempre nos apoiou

em cada um dos nossos passos. Eu a amava como minha mãe. Ela foi a

única que tive.

Deslizando a mão em meu pulso, suspirei ao ver a cicatriz pequena.

Eu havia me acidentado assim que cheguei à cidade, mas hoje eu estava

bem e só restava uma cicatriz.

— Chegamos. — O taxista anunciou, me acordando dos meus

devaneios. Entreguei o dinheiro e saí do carro logo depois.

Parei na calçada e olhei para a fachada enorme, arregalando os

olhos. Era bem grande, e os espelhos reluziam as luzes da cidade à noite.

Era de tirar o fôlego. Eu estava apaixonada pela construção. Nunca tinha

vindo aqui com Lucas, essa era a primeira vez e eu estava encantada.

Parei de dar uma de louca na calçada e entrei. Apertei o botão do

elevador depois de cumprimentar os seguranças que ainda estavam aqui.

Não demorou para parar no andar onde Lucas me avisou que estaria.

— Você me deve cem — falei assim que saí do elevador e o vi de

pé, dentro de um terno perfeito e sob medida. O patrão dele que o levou
para fazer isso.

— Isso não foi cem — ele resmungou, pegando a sacola e

caminhando até as mesas. Aqui era o andar da comida, pelo visto.

— De nada. — Segui-o de perto e me sentei na sua frente. — Seu

patrão é o quê? Workaholic? São quase meia-noite — lembrei-o, me

inclinando para ver sua comida. Lucas começou a comer e eu salivei. — Me

dá um pouco.

— Laura, pelo amor de Deus! — ele berrou, indignado, mas eu dei

de ombros. Lucas era taurino e odiava, com todas as forças do seu ser,

dividir comida.

— Você vai morrer entalado — avisei, carrancuda, então ele me deu

uma garfada do macarrão delicioso.

— Não dou mais — ele avisou rapidamente, e eu revirei os olhos.

— E sim, o sr. D’Ávila adora ficar aqui. Trabalhar é tudo que ele faz.

— Ele precisa de uma mulher — falei, dando de ombros. Lucas

ficou rígido por alguns segundos, mas depois apenas deu de ombros. — O

quê?

— Isso não é um problema para ele — meu irmão respondeu, sem

me dar detalhes, ainda completamente focado em sua comida.

Respirei fundo e me preparei para sair.


— Bom para ele. Eu já vou. Preciso dormir, tenho que estar no

hospital às seis.

— O.k. Obrigado. Amo você, Batatinha. — Ele sorriu com a boca


cheia, enquanto eu me inclinava e beijava sua cabeça.

— Amo você.

Esperei as portas do elevador se abrirem e ergui meus olhos ao ver

os sapatos pretos polidos. Eu podia apostar que custaram uma fortuna.

Quando cheguei ao peito coberto por uma camisa branca de botões, eu

suspirei. Senhor da glória.

— Você vai entrar ou não? — Sua voz estalou, então percebi que

ainda estava parada.

Merda.

— Desculpe? — Ergui a sobrancelha e entrei no elevador, virando-

me para as portas e vendo-as se fecharem.

— Quem é você? Funcionária nova? — Suas perguntas ecoaram.

Eu me virei para encará-lo. Quando seus olhos pousaram em mim,


vi seus ombros ficarem rígidos. O que havia de errado com todo mundo

hoje?

— Não. Estou visitando.


— A essa hora? — O homem de cabelos escuros engoliu em seco.

Suspirei quando notei seus olhos verdes.

— Algum problema? — perguntei assim que encontrei minha voz.

— Nenhum. Só achei suspeito você estar visitando uma empresa

às... — ele parou de falar para olhar o Rolex ridículo no braço — onze

horas da noite.

— E eu acho suspeito você estar tão interessado nisso. —

Semicerrei os olhos e senti meu colo começar a esquentar. Eu não gostava

de ser controlada, e suas perguntas eram como um laço sendo apertado em

volta do meu pescoço.

— O.k. — ele murmurou, mordendo o lábio e se movendo em

direção ao painel do elevador.

Revirei os olhos e encarei as portas, rezando para que elas se

abrissem logo. Porém, o contrário aconteceu. A descida cessou e o

solavanco me fez quase torcer o pé. Meus olhos se arregalaram e eu gritei

enquanto olhava para o homem bonito.

— Vamos morrer! — avisei, tremendo.

— Calma. — Ele se aproximou devagar. — Deve ser algo bobo.

Logo vão resolver. — ele explicou rapidamente, não parecendo nervoso por
um minuto sequer. Ele encarou a parede, parecendo pensar sozinho,

enquanto eu ficava muito mais confusa. — Qual o seu nome?

— É sério? — questionei, encarando-o com os olhos cheios de

determinação. Que merda havia de errado com ele?

— O quê? — ele perguntou, franzindo as sobrancelhas, parecendo

irritado.

Eu suspirei. Droga.

— Não quero conversar — avisei rapidamente.

Ele me encarou por dois segundos antes de se encostar na parede e

me ignorar.

Não sei quanto tempo passou. Meus pés estavam doendo, eu estava

com sede e tonta. Odiava estar em lugares pequenos. Minhas pernas


amoleceram e eu deslizei pela parede para me sentar.

— Laura — murmurei para o silêncio e ergui minha cabeça. — Meu

nome é Laura.

— Henrique.

Sua voz grossa me fez suspirar.

— Você tem água? — questionei, lambendo meus lábios.


Henrique se afastou da porta e se agachou diante de mim. Seus
olhos verdes me deixaram inquieta. Algo neles era muito familiar. Porém,

também me incomodava, me deixava ciente de cada parte do meu corpo e


isso deveria me fazer correr. Mas eu gostei. Engoli em seco ao ver seu olhar

ir dos meus olhos até meu decote exposto.

— Não tenho água, mas posso ajudar você a se distrair.

Filho da puta!

— Estou bem — rosnei, irritada.

Ele deu de ombros e se ergueu, contendo um sorriso de merda.


Henrique virou de costas e eu apreciei sua bunda na calça apertada. Minhas

bochechas ficaram vermelhas quando me ergui e olhei ao redor do elevador


à procura de câmeras. Só no caso de... bem, ficarmos.

Meu Deus, eu era uma pervertida.

— Por que estão demorando? — A voz dele me assustou. Quando o


encarei, ele estava com o celular no ouvido. — Desligue as câmeras. Agora.

— Seu pedido fez minha pulsação acelerar.

Droga. Tinha câmeras mesmo. Minha boca encheu de água, meu

corpo esquentou e minha calcinha ficou úmida conforme imagens de nós


dois, um sobre o outro dentro desse elevador, invadiram minha mente.
— Por que mandou desligarem as câmeras? — questionei, me
recompondo por alguns segundos.

Henrique guardou o celular e se virou para mim.

— Vi que estava preocupada com elas. — Henrique deslizou o dedo


sobre o lábio molhado e eu apertei minhas pernas, tremendo levemente. —

Vamos lá, Laura. Não temos nada para fazer.

— Você. É. Um. Porco! — berrei, incomodada.

Mas quem eu queria enganar? Minha calcinha já era, e tudo que eu


podia ver era nós dois fodendo no elevador.

— E você também, já que é o que deseja. — Henrique sorriu e eu

me apoiei na parede, suspirando. Droga, droga, droga. — Suas últimas


palavras, Laura.

Meu pescoço esquentou, e quando percebi estava cruzando o


cubículo e segurando os ombros de Henrique. Grudei minha boca na dele

enquanto suas mãos seguravam meus quadris e desciam em direção a minha


bunda.

Meu corpo estremeceu e uma onda surpreendente, como um choque,

ultrapassou meu corpo. Não entendi a reação, mas Henrique parecia sentir o
mesmo.
Meu vestido azul era apertado e meus saltos vermelhos não fizeram

um bom trabalho para me deixar mais alta. Pelo menos, não em relação a
Henrique. Ele era alto, musculoso sob a blusa e tinha uma pegada do

inferno que me desestabilizou.

— Você é perfeita, pequena — ele rosnou, me empurrando contra a


parede.

Suspirei e segurei em seu pescoço, gemendo em sua boca cada vez


que seu peito roçava em meus seios.

Henrique enfiou a língua em minha boca de maneira erótica e eu

chupei, sentindo o gosto de bala. Mordisquei seu lábio macio e grosso e


gemi quando ele desceu as alças do meu vestido. Tentei pensar

corretamente enquanto ele levantava a barra do meu vestido até a minha


cintura, tentei colocar juízo em minha cabeça, mas quando seus dedos

encontraram a minha calcinha, eu me perdi. Não havia preocupação, só


prazer.

— Porra, eu sabia que já estaria pronta para mim. — Ele gemeu,


deslizando os dedos para dentro de mim.

Sufoquei com o prazer e mordi seu peito duro. Henrique gemeu e

empurrou minha calcinha para baixo. Quando eu estava nua da cintura para
baixo seu cinto estava desfeito e a braguilha aberta. Sua calça desceu e ele
empurrou a cueca, tirando seu pau. Minha boca salivou, meu clitóris pulsou

e eu me rendi. Henrique me colocou contra a parede e eu abracei seus


quadris com meu corpo. Escutei-o abrindo a embalagem da camisinha, mas

não o vi a colocando.

Henrique empurrou para dentro de mim e eu gritei contra seu peito.

Suas mãos trabalharam em meu vestido, e logo meus mamilos estavam


expostos e duros pelo contato com o ar frio. Sua boca sugou o esquerdo e

eu gemi, sentindo cada polegada do seu pau me alargando. Era demais, mas
era tão bom. Perfeito.

Eu estava há meses sem sexo, e não lembrava de ser tão perfeito.

Nada parecia tão bom quanto aquilo. Henrique continuou a me foder contra
a parede fria e eu gemi quando seus dedos encontraram meu clitóris. Tudo

era demais.

Sua boca sugando.

Seu pau me fodendo.

E seus dedos me atacando.

Foi demais. Por isso que quando gritei alcançando meu clímax, eu
apostei comigo mesma que até os moradores de Marte foram capazes de me

ouvir.
Henrique continuou a foder o corpo mole do orgasmo avassalador e
eu gemi quando sua investida alcançou um ponto doce dentro de mim. Ele

fez o movimento duas vezes, na terceira eu fui sacudida por um novo


orgasmo. Henrique estremeceu e eu senti seu pau fazer o mesmo dentro de
mim.

Sua cabeça descansou em meu pescoço enquanto eu respirava


profundamente contra seu peito. Minha nossa mãe das mulheres fodidas. O

que tinha acontecido? Minhas bochechas coraram, meu colo ficou mais
vermelho que um tomate e eu apertei meus olhos fechados.

— Eu preciso conversar com você... — Henrique disse com firmeza


e eu comecei a rir. Eu não sabia o motivo, apenas não consegui me
controlar. — Que diabos? — Ele grunhiu, saindo de dentro de mim.

Minhas pernas se firmaram no chão enquanto eu puxava meu


vestido para cobrir meus seios. Assim que o fiz, fui para a parte de baixo.

— Por que está rindo? — ele questionou, furioso.

Balancei a cabeça tentando parar.

— Desculpe, não sei o porquê — falei, mordendo minha boca, mas

a gargalhada explodiu novamente.

— Você está louca. — Henrique se curvou e colocou algo dentro do


bolso.
Ele se cobriu e em um passe de mágica as portas se abriram. Parei
de rir ao ver Henrique sair do elevador balançando a cabeça.

Ei, eu queria dar meu número a ele. Droga.

Saí do elevador também e o procurei pelo hall e até pela calçada,


mas o homem havia desaparecido. Merda. Meu celular começou a vibrar e

eu vi mensagens das meninas no grupo. Não abri, apenas peguei um táxi e


fui para a casa.

Assim que me deitei na minha cama depois de tomar banho e


perceber as marcas das mãos do Henrique pelo meu corpo, minha mente me

levou novamente para aquele elevador.

Eu nunca me deixei levar pelo desejo, mas parece que para tudo há
uma primeira vez.

Nossa, eu estava fodida.

Na verdade, você foi fodida.

A minha risada histérica voltou e eu senti lágrimas deslizando pelos


cantos dos meus olhos enquanto eu ria mais e mais.
Assim que toquei a campainha, Érica apareceu e me olhou dos pés à

cabeça. Dei um passo para trás e franzi as sobrancelhas ao ver meu cabelo
desgrenhado e minha blusa amassada. Droga, esqueci de trocar a blusa.

— Você acabou de comer alguém. E definitivamente não quero


saber quem. — Ela me deixou passar, fazendo uma careta, enquanto eu

caminhava até o seu sofá. Seu olhar decepcionado acertou meu peito.

— Não falaria mesmo. É capaz de você transformá-la em lésbica —

menti, tirando meu celular do bolso. Era mais fácil mentir do que dizer que
fodi minha esposa em um elevador sem ela se lembrar de mim.

— Não tenho culpa do meu charme e beleza. Você não herdou a


beleza da mamãe como eu, com certeza. — Érica andou em direção à

cozinha. Ergui minha mão, dando o dedo do meio para ela. Era melhor

brincar com Érica, que a deixar entrar em minha mente.


— Aliás, se fosse você, eu a procuraria no escritório. Ela não parece

feliz.

Evitei revirar os olhos e apenas apertei meu celular entre os dedos.


Senhora D’Ávila com raiva? Que piada. Me ergui e andei diretamente para

o escritório que pertenceu ao meu pai. Depois da sua morte, eu lidei com os

negócios com minha mãe, que já estava a par de tudo.

— Mãe? — chamei, depois de bater duas vezes na madeira.

— Entre, Henrique.

Assim que entrei, eu vi que era uma armadilha. Samantha estava

sentada diante da minha mãe, com aquele sorriso gentil que ela dava a

todos. Sua boca era boa em outras coisas além de sorrir, claro. Fazia vários

meses desde a vez que ela a usou em mim, obviamente.

Depois que conheci Laura, minha vida girava em torno dela. De


ninguém mais.

— Sam, que surpresa — falei, cumprimentando-a, e depois andei

em direção a minha mãe. — O que diabos ela está fazendo aqui a essa hora?

— questionei, irritado.

Minha mãe apenas sorriu, batendo em meu ombro devagar. Me virei

para Sam e percebi seu rosto abatido. Ela era afilhada da minha mãe, e
todos os seus problemas respingavam na minha família. O último foi um

problema que envolveu meu pau, mas isso não vem ao caso.

— Sam ficará comigo por algumas semanas. Ela foi despejada —

minha mãe explicou, com um sorriso tenso, me fazendo suspirar.

— Vou quitar suas dívidas. Vamos lá. — Apontei para a porta.

Minha mãe bateu em minha mão enquanto Sam arregalava os olhos.

— Seja gentil, querido.

— Sam, sei que está passando por problemas, e será uma honra

ajudar. Não se preocupe com o aluguel — falei completamente sério, e isso

fez minha mãe sorrir e Sam acenar. — Eu levo você para a sua casa.

— Obrigada, Henrique. Nem sei o que dizer. — Ela fungou

enquanto me olhava, e eu balancei a cabeça descartando seu agradecimento.

— Você volta para dormir?

— Não, mãe. Vou para a minha casa. Mais perto — afirmei e depois

beijei seu rosto em despedida.

Sam e eu saímos do escritório, mas eu parei na porta e olhei para


minha mãe. Seus olhos estavam presos no porta-retratos onde eu sabia que

estava uma foto sua e do meu pai.

— Descanse, mãe — pedi.


Ela acenou devagar, trazendo os olhos para mim.

Eu sofri muito com a morte do meu pai. Não foi uma doença, nada

que pudesse, pelo menos, nos deixar em aviso prévio. Apenas um acidente.

Um carro e bebida. Isso o tirou de nós, mas o que realmente nos deixava

entristecidos era ver o luto contínuo da nossa mãe. Érica já tentou levá-la a

uma terapeuta, mas foi em vão.

— Obrigada por me ajudar, Henrique... — Samantha começou seu


discurso assim que entramos no carro e eu saí do condomínio ainda em

silêncio —, você me ajuda muito...

— Isso não vai continuar — falei, abruptamente, fazendo com que

Samantha arregalasse os olhos. — Esse seu jogo de precisar de algo, correr

para minha mãe e, de uma maneira surpreendente, eu acabar envolvido.

Essa merda vai acabar.

— Henrique...

— Eu não quero você. Laura ainda... — Parei de falar e passei a

mão pelos cabelos. — Não quero você. Porra, isso é simples! — declarei,

apertando o volante e a encarando. — Transamos há meses, antes de eu me

casar, e agora você parece uma adolescente. Pior, você age de maneira

errada e dissimulada com sua madrinha para me atingir.


— Não é isso, eu juro. — Sam negou enquanto seus olhos enchiam

de lágrimas.

— Eu vou pagar seu aluguel pelos próximos seis meses. Você vai
arrumar um emprego e vai parar de perturbar a minha mãe. Está me

ouvindo? — perguntei, parando em um sinal e me virando. — Estou

cansado desse jogo idiota. Cresça, Sam.

— Por quê? — ela questionou, e vi seu lábio começar a tremer.

— Por que o quê?

— Por que não me quer? Eu sei tudo que gosta. Posso aprender

mais. — Sam levou a mão a minha calça, mas eu a afastei, respirando

fundo. — Você só me ajudaria com minhas despesas e eu agradaria você em

tudo...

— Você está me propondo sexo por dinheiro? — perguntei, sentindo

meu sangue começar a esquentar. — Vai trabalhar. Se você quer vender seu

corpo, problema seu, mas estou te avisando para não se aproveitar mais da

minha mãe.

— Você é um idiota, Henrique! Seus amigos fazem fila me

ligando...

— Que bom, você já tem uma clientela. — Voltei a dirigir e, em

alguns segundos, entrei na sua rua. Estacionei e abri a porta. — Saia. Já


transferi o valor do aluguel.

— Você fala da sua mãe, mas olhe para si mesmo. — Inclinei a

cabeça, confuso. — Laura... ela não vai voltar. Ela não voltou até agora,

Henrique! Você vive com migalhas de uma pessoa que nem se lembra quem

você é!

— Saia do meu carro! — rugi, sentindo meu peito apertar como se


alguém o envolvesse.

— Imbecil! — Sam gritou do meio-fio e eu acelerei, seguindo para a

casa.

Parei em um sinal e descansei meu punho em minha boca,

tremendo.

Ela vai voltar. Hoje foi um acaso, mas eu sabia que ela voltaria para

mim.

Eu só precisava ser paciente.

O trajeto não foi longo. Quando cheguei ao meu prédio, peguei o

elevador exclusivo para a minha cobertura e enviei uma mensagem a Lucas,

meu cunhado e segurança particular, liberando-o. Eu não gostava de ter


sempre alguém seguindo meus passos, mas depois que Érica foi perseguida

por um carro antes do nosso pai falecer, ele ordenou que todos tivessem um.

Lucas chegou por indicação de Laura, e hoje nós não trocávamos

mais que duas palavras. Porque enquanto eu queria me aproximar e fazer

Laura se lembrar de mim, Lucas queria o mesmo que o médico. Que ela se

lembrasse sozinha.

Mas já fazia mais de dois meses.

— Merda — resmunguei, parando em frente ao espelho do meu

banheiro.

Deslizei meus dedos sobre a mordida que Laura havia deixado em

meu peito e meu pau deu sinal de vida, como se recordasse como foi tê-la
depois de tanto tempo. Parecia que tinha sido ontem, mas não. Fazia meses.
E tê-la em meus braços contra aquela parede me lembrou como é ser

alucinado. Porra.

— Você sabe que horas são, caralho? — Sua boca podre não era

novidade para mim.

— Preciso que encontre o número novo dela.

— Cara... Dê tempo a ela...

— Gabriel. Agora.

Meu melhor amigo levou uma hora pra enviar o contato dela.
“Ainda está rindo?”

Enviei a mensagem para ela e deixei meu celular na bancada. Levei


meu tempo tomando banho, e quando saí ainda não havia nenhuma

resposta. Esperei um tempo e quando olhei para o horário, percebi que já


era quase uma da madrugada. Ela deveria estar dormindo.

Bom, Laura, se você não se lembra que me ama, vou fazer você se
apaixonar de novo.

Na manhã seguinte cheguei à empresa cedo, junto com Lucas. Ele

sempre foi reservado e eu nunca perguntei nada sobre sua vida desde que o
contratei. Nosso laço era apenas Laura, e hoje em dia Lucas não confiava

em mim perto dela.

Eu respirei fundo assim que Amanda se ergueu da sua mesa e peguei


os papéis da sua mão, enquanto ela falava sobre as reuniões que eu teria

hoje.

— A srta. D’Ávila está aqui. — Ela deixou para falar por último,

quando já estava abrindo minha porta e dando de cara com Érica rodando
em minha cadeira.

— Obrigada, Amanda. — Dispensei minha secretária e me

aproximei. — Sai, Érica. O que diabos você quer a essa hora?


Minha irmã revirou os olhos e se ergueu, indo para o outro lado da
mesa. Me sentei e liguei meu computador enquanto a observava em

silêncio.

— Você acha que mamãe está bem?

— Ela perdeu o marido há poucos meses. Ela não está bem —

respondi de maneira firme.

— Estou preocupada. — Minha irmã desviou os olhos. — É isso. —

Érica suspirou, remexendo as mãos. — Você também perdeu a esposa, mas


você é um pé no saco.

Ignorei a última parte.

— Vamos dar tempo para a mamãe, ela precisa disso. Eles tinham
aquele amor...

— Épico.

— Sim, isso que ela sempre falava enquanto éramos pequenos. Se


isso existe, é algo realmente forte. Deixe-a lidar com a perda. É o processo

do luto.

— Você está certo. — Érica suspirou e me encarou com seus olhos

verdes. — Isso é sobre ela ou você?

Sua pergunta me fez ficar rígido. Eu amava Laura, ela sabia disso.
Mas, e se Laura nunca se lembrasse de mim?
— Como estão seus pestinhas? — perguntei, suspirando.

Ela começou a falar do seu trabalho enquanto eu tentava deixar

minha esposa fora da minha mente e focava em meu trabalho, ora rindo e
murmurando algo para não a deixar falando sozinha.

Érica foi embora e eu segui para a primeira reunião do dia. A


empresa D’Ávila era responsável por planejar vários edifícios pelo estado e

em Santa Monica. Éramos um grupo famoso e marcante. Não corríamos


atrás de projetos. Eles corriam atrás da gente.

E eu era orgulhoso disso.

Mandei Amanda entrar quando solicitou. Ela sorriu e engoliu em

seco.

— Gabriel está aqui. — Ela revirou os olhos por um milésimo de

segundo e eu sorri. — Desculpe.

— Ele atormenta você sempre que vem aqui. Você tem direito —
falei, dando de ombros, então ela suspirou e abriu a porta.

— Amanda, querida. Você está linda. — Gabriel segurou o cabelo

dela entre os dedos e sorriu.


— Eu ouvi a primeira vez que falou. — Ela tirou o cabelo da mão

dele e se afastou. — Com licença, senhores. — Amanda fechou a porta


enquanto eu ria.

— Eu vou me casar com ela — Gabriel falou, caindo na cadeira.


Comecei a rir ainda mais. — Você ainda duvida?

— Você fala isso há meses. Amanda não quer você, se ela quisesse,

já estariam fodendo pela empresa — resmunguei, juntando os papéis da


minha última reunião. — Fala aí, o que quer?

— Você pediu o número novo de Laura.

— Não acredito que você saiu do trabalho para vir aqui falar sobre
isso. — Balancei a cabeça e o encarei, irritado. — Eu a vi ontem...

— O quê? — Meu amigo arregalou os olhos.

Descansei a caneta na pilha de papéis, apertando meus punhos.

— Não vou fazer nada de mais. Eu só... — Parei de falar e suspirei.

— Eu só quero estar perto. Lucas não me deixa vê-la... eu odeio isso —


murmurei, suspirando e olhando para Gabriel.

— Eu sei que você está passando pelo inferno, mas, Henrique, ela
precisa de tempo — Gabriel falou completamente sério, e eu fiquei

paralisado.

— Faz semanas...
— Foda-se, cara. Realmente faz. — Ele fez uma careta e eu engoli
em seco. — Lucas vai te matar...

— Eu sei, mas ele não vai saber. Não até Laura se lembrar da gente.

Eu seria esperto. Precisava ser.

— Eu vou cobrir sua bunda. É isso que melhores amigos fazem —


ele murmurou devagar e eu suspirei. — Advinha o que eu fiz ontem?

— Fez o quê? — perguntei, encarando meu computador onde havia


três e-mails para responder. Eu deveria estar trabalhando, não batendo papo

com Gabriel.

Gabriel e eu somos amigos desde a escola. Éramos mais próximos

quando ele e Érica eram casados, mas depois que houve o divórcio e ela
assumiu que era bissexual, aconteceu um distanciamento natural.

— Sonhei com Amanda. — Gabriel semicerrou os olhos e eu bufei.

— Érica estava aqui hoje de manhã. Você a viu? — Mudei de


assunto rapidamente e consegui o que eu queria, seu desconforto óbvio. —

O quê? Vocês não são amigos?

— Você é meu inimigo, não tenho dúvidas disso. — Gabriel se


ergueu e colocou as mãos sobre a mesa. — Érica é meu passado, eu a amo e

quero que ela seja feliz. Meu futuro está ali atrás, mordendo a boca e
testando a quantidade de punheta que eu posso fazer em um único dia. Não
use Érica para tirar o foco.

— O.k.

— Laura Lancaster te fodeu bem mais uma vez e você quer mais.
Eu conheço a história.

Gabriel saiu da sala e eu joguei minha caneta na porta. Laura me


fodeu bem — muito bem há meses, foda-se — e Gabriel sabia muito bem o

quanto aquela mulher me envolveu em seu dedo mindinho.

Quem poderia me culpar? Laura era perfeita.

Peguei meu celular e suspirei ao enviar uma mensagem a Gabriel.

“O nome dela é Laura D’Ávila, idiota.”


Peguei minha garrafa de água e observei a pequena loira me

encarando, com os olhos nervosos. Seu lábio tremeu e ela encarou a mãe.

— A tia pode ver sua boquinha, Rosie? — perguntei, me ergui e me

ajoelhei diante dela. — Não vai doer, prometo. — Jurei, quando ela
continuou com os lábios fechados.

Rosie relaxou quando a mãe pediu e eu a examinei em alguns

segundos. Receitei medicamentos para seu resfriado, e logo ela saiu me

dando tchau.

— Tenho dois cafés, um é para você. — A cabeça da minha

enfermeira assistente apareceu no vão da porta.

Eu acenei e tirei meu estetoscópio.

— Eu amo você — falei, completamente séria, e ela riu.

— Esse plantão acaba que horas? — Fernanda se sentou na cadeira

diante de mim, então peguei o café dos seus dedos.


— É de vinte e quatro horas. Ainda faltam seis. — Levei o copo de

plástico aos meus lábios e bebi devagar o líquido quente. — Tem muita

gente lá fora ainda? — questionei, olhando para o meu pulso.

Era mais de meia-noite e eu estava na emergência do hospital. Era

meu primeiro plantão desde que comecei a trabalhar aqui e eu estava um

pouco assustada com a quantidade de crianças que vieram a essa hora para a

emergência.

— Não. Nenhuma. Se quiser descansar, eu te acordo se chegar

algum paciente. — Fernanda sorriu e indicou a maca.

— Não se preocupe, estou bem. — Eu ri, balançando a cabeça.

Fernanda ficou conversando comigo até a chegada de novos

pacientes. Seis horas demoraram a passar, mas quando finalizei, me senti


com o dever cumprido.

— Baby? — Minha voz ecoou na sala grande assim que abri a porta

de casa.

Guardei minhas chaves e deixei minha bolsa em cima do sofá.

Quando ele apareceu, eu sorri ao vê-lo se esticar. Me inclinei e passei a mão


sobre a sua cabeça.

— Você comeu? — questionei, passando por ele e andando até a

cozinha. Não tinha nada na vasilha dele. — O.k. Vamos dormir.


Peguei meu cachorro nos braços e fui para o quarto. Deixei-o em

cima da cama enquanto ia ao banheiro. Parei diante do espelho e flashs de

Henrique apareceram em minha cabeça. Fazia dois dias desde que transei

com um desconhecido dentro de um elevador. Não queria me lembrar disso,

pela vergonha que habitava em mim e também pelo desejo que ainda estava

se espalhando pelo meu corpo.

Henrique era bonito demais, e o seu poder nos movimentos e gestos

enquanto me tocava ainda era sentido por mim. Mordi meu lábio ainda

olhando para a frente e suspirei, balançando a cabeça. Meu celular tremeu e

eu o tirei do bolso.

“Tara perguntou se podemos almoçar lá hoje.”

Respirei fundo e sorri ao ver o nome da namorada do meu irmão.

Ela era legal e o fazia feliz, e isso era o que realmente importava.

“Claro que sim. Levarei a torta de morango que ela gosta.”

“Ok, batatinha. Bom sono.”

Mandei um coração para meu irmão e afastei o celular. Levei meu


tempo tomando banho e retornei ao quarto, com meu pijama personalizado

com a cara de Baby. Me deitei e imediatamente meu cachorro se encostou

na minha coluna.
Como um ritual bobo, eu olhei ao redor e senti uma inquietação

surgir em meu coração.

Eu estava de volta há alguns meses, mas tudo parecia tão

desencaixado. Eu não reconhecia esse lugar como meu. Me sentia sozinha e

odiava isso.

Engoli em seco, fechei meus olhos e relaxei.

Pela terceira vez, adormeci pensando no que fiz com Henrique

naquele elevador.

Semanas depois desci do meu carro e vi Tia Alice sentada na sua

cadeira de balanço, na varanda da casa onde nós crescemos. As tábuas

bonitas e pintadas de branco e vermelho deixavam a casa tão acolhedora

quanto anos atrás, quando decidi que era hora de eu sair do ninho.

— Você está pálida. — Sua maneira sutil me deixou um pouco


desconcertada, mas eu já esperava. — Comeu alguma coisa depois que saiu

de mais um plantão? Eu já disse a você que não tem necessidade de ter

pegado plantões duas vezes na semana.

— Eu sei, tia. Eu estou bem — falei firmemente, mas eu não estava.

Fazia dois dias que meu estômago estava irritado comigo e com o café que
eu tanto amava. Eu não sabia o que estava acontecendo, e isso estava

tirando meu juízo.

— Não parece. — Lucas saiu pela porta, e eu o fulminei com os


olhos.

— Eu ando enjoada esses dias. Talvez tenha sido a comida que fiz.

Sabia que a pimenta que usei era ardida, mas não tanto — expliquei,

parando diante dos dois, e me inclinei na frente da minha tia. — Você está

linda hoje.

— Pelo menos um Lancaster — ela falou rindo e nós entramos

juntos. — Fiz um café quentinho agora. Até comprei chantili. — Ela me


mostrou a xícara e colocou o creme delicioso.

Sorri e me aproximei para pegar a xícara. Assim que o cheiro atacou

meu nariz, meu estômago se revoltou e um arrepio deslizou pela minha

espinha. Que droga! Soltei a xícara de volta no balcão e corri para o

banheiro mais próximo.

Segundos se passaram depois que caí de joelhos e vomitei o nada


que eu havia comido hoje. Minha garganta doeu, meus olhos tinham

lágrimas e meu peito estava apertado.

— Está tudo bem? — Me virei e vi Lucas parado na porta com

minha tia. Ela se aproximou com uma toalha molhada e limpou meu rosto,
deixando o pano úmido contra meu peito. — Laura.

— Eu não sei. Será que peguei uma gastrite?

— Gastrite não se pega. — Lucas me olhou como se eu fosse uma

extraterrestre.

— E a crise não é ocasionada por cheiro, Laura. Pelo amor de Deus

— minha tia me lembrou, me deixando na frente da pia. Escovei meus

dentes com a escova que eu deixava na casa dela e olhei para mim.

Eu estava diferente. Eu sabia que algo estava estranho quando, há

uma semana, minha menstruação veio em pingos. Depois meus seios

começaram a doer e cólicas estavam mais frequentes em meu ventre. Mas

não era isso. Não poderia ser.

Usamos camisinha.

Não foi?

Vi Henrique tirando o papel laminado da carteira. Eu vi, eu não

estava louca.

— Você está vendo alguém? — tia Alice questionou tranquilamente.

Senti meu corpo ficar completamente rígido. Ela desviou os olhos

dos meus, quase decepcionada, me fazendo encolher por dentro. Encarei


Lucas pelo espelho e ele inclinou a cabeça, e quando ele entendeu
exatamente o que nossa tia queria dizer, seus olhos ficaram enormes.

Novamente, a decepção brilhou nos olhos de alguém que eu amava.

— Você não é louca, Laura! — ele gritou, enquanto meu coração

batia descontrolado.

Não é isso. Não pode ser.

— Eu... — tentei falar algo, mas Lucas já estava saindo do banheiro.

— Lucas, calma. — pedi, seguindo-o. Meus olhos estavam embaçados e


minhas mãos tremiam.

— Calma? Como diabos você engravidou, Laura? — meu irmão


gritou novamente. Funguei, desviando os olhos dele e indo para a minha tia

que estava quieta. — Você não tem um namorado ou marido! — Ele


estremeceu com a menção de um homem em minha vida.

O que havia de errado?

Engravidou. Meu Deus, eu poderia estar grávida. Eu realmente


poderia estar grávida.

— Eu saí com um cara...

Nem morta eu contaria que transei com um desconhecido no


elevador da empresa onde ele trabalhava. Lucas me mataria antes que eu

pudesse sequer falar a palavra elevador.


— Meu Deus. — Ele passou a mão no rosto e puxou seus cabelos.
— Quem foi? Diz o nome dele e vamos procurá-lo.

Meu estômago esfriou novamente e eu tremi. Quem era? Meu Deus,

até eu queria saber quem diabos era ele. Mas era outra coisa que eu jamais
falaria para Lucas.

— Eu preciso ter certeza primeiro. Não sabemos se é de fato. Por


favor, se acalme — implorei, com medo dele e de mim. O que diabos eu iria

fazer? Como eu encontraria Henrique?

— Vou comprar um teste para você. Volto logo. — Meu irmão saiu
sem me deixar falar, então me virei para a minha tia.

Seu rosto estava sereno e em seus lábios até um pequeno sorriso


aparecia, porém, seus olhos... eles ainda pareciam decepcionados. Tia Alice

sempre foi assim. As coisas poderiam estar desmoronando, mas ela sempre
via o lado bom delas.

— Você está com medo?

— Tudo que sinto neste momento é pavor — respondi, com muita


sinceridade.

Ela me guiou até a sala e eu me sentei ao seu lado, descansando a


cabeça em seu peito enquanto ela me abraçava.
— Você é adulta, Laura. Tem sua própria casa, seu trabalho e paga
suas contas. Não deixe que Lucas trate você como uma criança.

Suas palavras abalaram meu pequeno mundo. Lucas sempre foi meu
porto seguro. Ele era mais velho que eu, sempre foi a pilastra em que me

apoiei. Ele era a minha única figura masculina. Sempre foi.

— Eu sei. Só que ele está certo em ficar zangado. Não tenho


namorado. Foi algo de uma noite e eu... — Minha garganta entupiu e eu me

afastei da minha tia, tremendo. — Eu não o conheço. Só sei seu primeiro


nome... Tia, eu fui lasciva.

— Meu Deus, você está em qual século? — Tia Alice revirou os


olhos e segurou minha mão. — Você é adulta, dona das suas vontades e

desejos. Se você engravidou, o.k. Você vai lidar com isso, como a adulta
que é.

— Você está certa — falei, respirando profundamente.

— É claro que estou.

Porém, ela ainda parecia inquieta. Quis questionar, mas devia ser
pela situação em si. Minutos depois Lucas chegou. Ele me entregou uma

sacola e eu vi três caixas dentro com diferentes testes de gravidez. Mordi


meu lábio e me ergui. Lucas se afastou, ficando próximo à parede enquanto
eu apenas sentia que estava a alguns segundos de modificar minha vida para

sempre.

Tremendo, entrei no banheiro e respirei fundo. Tirei todos os testes e


fiz xixi em um recipiente que veio na embalagem. Depois de colocar todos

os testes no líquido amarelo-claro, eu fechei meus olhos e esperei.

Desejei que minha mãe estivesse aqui. Eu sabia que suas palavras

seriam as mesmas da tia Alice porque elas eram muito parecidas, sempre
foram. Mas seu abraço era diferente. Ele me acalmaria e me diria que não

importava quantas tiras rosas aparecessem no resultado, eu sempre a teria.

Funguei e limpei meu rosto que ainda estava molhado, então abri
meus olhos. Olhei para cada um dos testes e parei no último, onde havia a

palavra grávida. Eu realmente estava grávida.

Meu queixo tremeu e eu me sentei no vaso, apertando meus olhos.

Oh meu Deus! Eu tinha um bebê na barriga. Meus olhos se encheram de


lágrimas e eu tentei — e falhei miseravelmente — conter meus soluços.

— Laura? — A voz de Lucas soou atrás da porta. Eu gemi e

funguei. — Abre a porta.

— Es-estou grá-grávida — gaguejei em meio a soluços e tremores

pelo corpo.
— Eu sei, Batatinha. Eu sei. — Sua voz não parecia mais furiosa.

Abri a porta e senti os braços grandes de Lucas envolverem meu corpo. —


Está tudo bem. Olhe para mim — ele pediu, segurando meu rosto, então eu

o encarei. — Você será uma mãe incrível. Desculpe pela forma que
explodi...

— Vo-você vai me ajudar? — perguntei, apavorada com a


possibilidade de criar um bebê completamente sozinha. Eu não conhecia

Henrique, não sabia seu sobrenome e nem como eu poderia encontrá-lo.

— É claro. Você não precisa se preocupar. Vai ficar tudo bem. —


Lucas me abraçou novamente.

Eu me acalmei dentro do seu abraço conforme o tempo foi


passando. Tia Alice apareceu no meu campo de visão assim que Lucas se

afastou. Corri para o seu peito e ela sorriu contra mim, acariciando meus
cabelos.

— Não vejo a hora de ser avó. — Suas palavras me fizeram rir pela

primeira vez no dia.

— Eu amo vocês — falei, segurando a mão dos dois, e eles me

abraçaram.

— Parabéns, Laura — os dois falaram.

Eu ficaria bem. Estava tudo bem.


Eu teria esse bebê e o amaria muito.

Pensei em Henrique e meu estômago esfriou. Como eu encontraria


esse homem?

E o mais importante, como ele reagiria ao saber que nosso encontro


explosivo ocasionou uma gravidez inesperada? Ele ficaria feliz?

De repente, me vi questionando várias coisas desde aquele dia. E se

ele tivesse uma família? Se fosse casado? Eu não o conhecia, não sabia
nada da vida dele. Meu estômago ficou revoltado mais uma vez, então corri

para o banheiro pela terceira vez no dia.


Segurei a taça de champanhe enquanto observava a loira que estava

sorrindo para mim de cinco em cinco segundos. Minha mãe se aproximou,


atraindo minha atenção e eu sorri.

— Você está linda — falei devagar, e ela me deu um dos seus


sorrisos pequenos.

— Que horas eu posso ir?

Sua pergunta me fez passar o braço por seus ombros e abraçá-la.

— Temos que cumprimentar umas cinquenta pessoas. Calma —

pedi, sorrindo para um dos nossos sócios que vinha em nossa direção. — É
uma festa da empresa. Assim que sua presença não for mais questionada eu

aviso. Prometo.

Ela respirou fundo e acenou, por fim.

Nós cumprimentamos várias pessoas, e quando me aproximei de um

dos advogados da empresa vi um cabelo preto longo e brilhoso. Minha


pulsação acelerou e eu fiquei estático, esperando-a se virar. Eu havia

mandado mais mensagens ao longo dos três meses desde que toquei no

corpo dela. Porra, eu realmente queria conversar com ela novamente. Era

um maldito perseguidor, tinha ido ao hospital dela e até à sua casa, mas eu

não conseguia ir adiante.

Se ela quisesse me ver responderia minhas mensagens, certo? Se ela

houvesse... não sei. Ela teria ligado. Isso não aconteceu e eu não podia

apenas chegar à sua casa ou ao trabalho. Ela me chamaria de perseguidor, e


com razão. O que diabos eu estava falando? Laura surtaria comigo à sua

porta. Ela sempre foi assustada com tudo.

Assim que a mulher se virou, eu suspirei ao perceber que novamente


não era ela. Eu já fiz isso incontáveis vezes desde que entrei nesse lugar. Eu

tinha uma esperança boba de que ela poderia estar aqui. Estávamos na
empresa quando nos reencontramos, talvez ela tivesse vindo à festa.

Mas eu estava errado. Merda.

— Carol está pedindo que eu diga a você para ligar para ela ou

apenas ir até ela neste momento. — A voz de Gabriel me afastou da mulher

morena.

— Ela não desiste? — perguntei a ele, virando minha taça.

— Você sabe melhor que eu.


Realmente.

— Olá, meninos! — Érica se aproximou, toda sorridente. Sorri

também ao ver Gabriel olhá-la. — Vi Amanda bem ali. — Ela apontou para

o bar, então me virei e vi que a minha secretária realmente estava lá.

— Obrigada, bebezona. — Ele se afastou, pegando mais uma taça.

— Odeio quando ele me chama assim! — Érica resmungou e virou


sua taça.

— Ele sabe, e é por isso que ele a chama dessa maneira — falei,

olhando ao redor e vendo Lucas a um metro de mim. Ele estava vigilante


em vez de se divertindo. — Venho já.

Saí de perto da minha irmã e peguei uma taça, andando em direção a

ele. Coloquei a taça em suas mãos e ele negou rapidamente.

— Cara, relaxa — pedi, erguendo a taça mais uma vez. Ele a pegou,

respirando fundo. — O que está achando? — perguntei, olhando ao redor.

— Bonito. — Ele terminou a taça e deu a uma garçonete. —

Obrigado, sr. D’Ávila.

— Pare de me chamar assim — pedi, balançando a cabeça. —

Como ela está?

Lucas respirou fundo e evitou me encarar. Era assim que ele reagia

quando eu perguntava por ela.


— Eu preciso vê-la e conversar...

— Cara, o médico disse que você precisa se afastar e deixar Laura

se lembrar. — Lucas me olhou de maneira rígida. — Laura tem muita coisa

acontecendo agora...

— Eu sou marido dela! — rosnei furiosamente e me aproximei. —

Você sabe o que é acordar e olhar para o lado e não ver o amor da sua vida?

— questionei, tremendo. — Você não sabe! Eu faço isso há cinco meses, e a


cada dia luto comigo mesmo, porque não quero fazer a saúde dela piorar.

Eu só quero que ela se lembre de mim.

— Eu sinto muito, Henrique. Não posso... — Lucas parou de falar e

tirou o celular do paletó. Não queria ser intrometido, mas olhei de relance

para a tela. Meu sangue esfriou ao ver o nome de Laura.

Lucas atendeu o celular e eu fiquei em alerta, querendo qualquer


migalha que ele deixasse cair.

— Você está bem? O.k. Posso. É claro que vou — ele resmungou,

tentando falar baixo, mas eu ouvi cada uma das suas palavras. — Chego em

breve.

— O que houve? — A palavra rolou como ácido em minha boca.

— Nada, cara. Ela está bem. — Ele se virou enquanto guardava o

celular. Lucas não me olhou nos olhos e eu comecei a me preocupar.


— Não minta para mim. Ela está bem? — perguntei, arranhando

minha garganta. Apertei a taça entre os dedos e engoli em seco.

— Sim. Ela quer que eu leve comida. Só isso — Lucas explicou de


maneira firme e eu acenei, compreendendo.

— Vamos marcar um jantar. Você leva a Laura, a sua namorada...

— Cara — Lucas me encarou por alguns segundos e semicerrou os

olhos —, não, melhor não.

— Lucas, eu preciso disso. É meu aniversário daqui dois dias. Eu

quero passar a merda do meu aniversário com ela. Só isso — falei,

desesperado.

Lucas respirou fundo e acenou devagar.

— Estaremos lá. Mas avise a sua família. Nenhuma palavra.

— Nenhuma.

— Nos vemos amanhã.

Eu estava ansioso pra porra!

No dia do jantar, eu fiquei andando de um lado para o outro

enquanto Érica e Gabriel estavam sentados no sofá. Minha mãe estava em

algum lugar do meu apartamento, procurando defeitos.


Os dois dias que antecederam esse jantar foram um borrão. Eu

estava com um humor do diabo e queria bater em alguém. Droga, eu queria

muito bater em alguém e nem poderia explicar o motivo de estar tão

furioso.

Era por que ela não lembrava de mim? Se ela não respondeu as

minhas mensagens, com certeza ela não queria saber de mim. Mesmo sem

saber quem eu era de verdade, ela não me quis. Isso feriu meu orgulho.

Foda-se.

Porém, lá no fundo, eu também estava aliviado. Laura era minha

esposa, e se naquele elevador fosse outro homem? Droga. Eu queria matar

alguém.

Não era apenas raiva que estava habitando dentro de mim, a

ansiedade para ver seu rosto era tão forte quanto. Ela não sabia meu

sobrenome, e alguma coisa me dizia que Lucas não comentou nada com ela.

Laura nem imaginava a bomba que ia cair em seu colo naquela noite.

A campainha tocou e Érica se ergueu, vindo para o meu lado. Abri a

porta e instantaneamente senti meu peito começar a bater rápido. Lucas

estendeu a sua mão e seu aperto forte não me passou despercebido. Soltei

sua mão rapidamente, tentando não encarar a morena que estava com os

olhos fixos no celular.


Lucas apresentou sua namorada, Tara, e depois cutucou Laura,

fazendo-a erguer o rosto. Porra, impagável. Seus olhos se arregalaram e ela

respirou fundo, piscando mais vezes do que era necessário em um segundo.

— Sr. D’Ávila, essa é minha irmã, Laura — Lucas disse rígido,

colocando a mão sobre os ombros dela.

— Prazer, Laura. Henrique. — Estendi minha mão, tentando ficar

relaxado.

— Oi! Prazer — ela sussurrou, quase gaguejando. Apertei sua mão,

sentindo o mesmo choque do dia em que a fodi naquele elevador. — Eu


preciso fazer uma ligação. Volto em um segundo...

— Venha, acompanho você até o escritório. É melhor — falei,


indicando o caminho enquanto Lucas e Tara já estavam com Érica e
Gabriel. Seu irmão me fulminou, mas eu apenas segui meu instinto.

— Claro. — Ela acenou rapidamente, então eu a levei até o


escritório.

Quando fechei a porta, Laura se virou como celular na mão.

— Henrique... que mundo pequeno. — Ela riu, sem graça enquanto


eu deslizava os olhos por seu corpo. — Você é o dono daquela empresa.

Dono de tudo... — Sua voz ficou tensa antes de ela olhar para a porta.

Somos donos. A D’Ávila Empreendimentos também era dela.


— Patrão do meu irmão... estou com calor. Você tem água aí?

— Sim, sou CEO da D’Ávila Empreendimentos — respondi sem me


mexer e a vi suspirar. — Laura... — pronunciei seu nome e senti apreço

com o som na minha língua.

— Eu acho melhor voltarmos, Lucas deve estar preocupado — ela

falou, passando por mim em direção à porta.

Eu a segui, apertando as mãos e tremendo por dentro.

Merda, o que eu estava fazendo? Calma, Henrique.

— Aí estão eles — Érica resmungou ao se erguer, então colocou o


braço em minha cintura. Laura acompanhou o gesto da minha irmã e eu vi

seu rosto ficar branco.

— O jantar está pronto. — Minha mãe apareceu de repente. Eu me


virei, apresentando-a a todos os presentes. — Vocês estão lindas — ela

murmurou para Tara e Laura.

Nós fomos para a mesa e eu assisti a Laura se sentar ao lado do

irmão. Fiquei em uma ponta e mamãe em outra. Serviram uma lagosta que
parecia divina, todos comeram apreciando o prato. As conversam iam e

vinham de Gabriel, Érica e Tara. A namorada de Lucas parecia amar falar.

— Eu não... — Laura parou a empregada que serviria café a ela


depois da sobremesa.
Era uma tradição que meu pai tinha e todos nós nos acostumamos.

— Não gosta de café, Laura? — Minha mãe sorriu ao questionar,

então encarei a mulher que estava me tirando a paz.

— Na verdade, ela ama, mas com a gravidez, seus enjoos são


destinados a café — Tara falou, sorrindo, enquanto levava a xícara aos

lábios.

Meus olhos se arregalaram e eu senti meu peito contrair à medida

que a informação se assentava dentro de mim. Meu Deus... Laura, grávida.


Eu quis puxá-la pelo braço, levá-la a um dos quartos e fazê-la desmentir

isso. Ela não podia... Ela não dormiu com outro homem, dormiu?

Eu quis ver sua barriga. Quis perceber alguma diferença, porém,


antes eu não havia visto nenhuma.

— Oh Deus, você está grávida! — minha irmã gritou, assustada.

Seu corpo estava feito pedra, como o de toda minha família. Todos

pensando o mesmo que eu. Laura estava grávida. Minha esposa estava
grávida.

— Isso é maravilhoso. — Érica amava crianças, e não podia falar

com uma grávida que começava a se lamentar por não ter tirado um
espermatozoide de Gabriel enquanto teve tempo.
Laura me encarou e engoliu em seco antes de acenar para minha

irmã, enquanto eu apertava meu punho.

— O namorado dela não pôde vir hoje — Lucas falou de repente.

Senti como se ele tivesse enfiado uma estaca cheia de espinhos em

minha barriga.

Namorado? Porra, eu ia vomitar. Que diabos havia de errado com


Lucas? Que merda era essa? Eu queria matá-lo. Arrancar sua cabeça e

membros. Por que ele não me falou isso?

Laura não falou nada, apenas pegou um copo e bebeu a água. Eu

tive vontade de sacudi-la, pedir que ela falasse que era mentira. Qualquer
coisa, mas ela não se mexeu.

— Nossa, parabéns. — Érica sorriu, tensa, e encarou Gabriel, que


começou a revirar os olhos. — Você deveria ter me dado um bebê enquanto
estávamos juntos! — ela lamentou, fazendo-o se inclinar sobre a mesa.

— Baby, você ainda vai ter seus bebês.

— Idiota.

— Eu tento. — Ele deu de ombros e todos começaram a conversar,

menos Laura, Lucas e eu.

Não percebi muito bem o que acontecia ao redor até que estávamos

na sala e a campainha tocou. Todos já estavam prontos para sair e eu queria


uma maneira de pegar Laura, encurralá-la em algum lugar.

— Me desculpe! Me atrasei, infelizmente. — Samantha se jogou em


meus braços assim que abri a porta. — Parabéns, querido. — Ela me

entregou uma sacola e eu agradeci.

Me virei e vi uma plateia, então encarei o rosto de Laura, que


parecia pedra. Envolvi Samantha com meu braço e vi a irmã de Lucas se

erguer.

— Eu realmente preciso ir. Tenho plantão amanhã. — Ela sorriu, se

despedindo das pessoas com seu irmão e cunhada.

Quando parou diante de mim, ela mediu Samantha e me fulminou


com os olhos.

— Parabéns, sr. D’Ávila — ela disse entredentes.

Agradeci com um aceno e sorriso fingido.

— Obrigado por nos receber. — Lucas estendeu a mão para mim e

eu a peguei, me inclinando.

— Foi uma honra, seu filho da puta — sussurrei em seu ouvido e o

senti ficar rígido. Me afastei e encarei sua irmã. — Tenha uma boa
gravidez. Diga ao seu namorado que enviei minhas felicitações — falei e a

vi apertar a mandíbula.

— Falarei. Obrigada.
Quando a porta bateu fechada e apenas Érica, Gabriel, minha mãe e
Samantha ficaram, eu peguei um dos vasos que minha mãe havia me dado e

o explodi contra a parede. Minha família pulou.

— Eu vou subir — avisei aos quatro.

Todos apenas ficaram me observando subir a escada e sumir. Peguei

meu celular e dessa vez, em vez de enviar mensagem, eu deletei o número


dela e apaguei seu rosto da minha cabeça. Imbecil. Aquela... eu nem

conseguia xingá-la, e olha que ela merecia.

Grávida e namorando. Eu não deveria culpá-la. A culpa de tudo isso


estar acontecendo era de Lucas e minha. Eu a deixei ir. Eu permiti que

Lucas a mantivesse longe de mim.

— Ei, cara! — Gabriel abriu a porta e eu me virei, pronto para

mandá-lo se foder. — Calma, tigrão. Nenhuma chance de ser seu?

Meu. Que piada do caralho.

— Não é.

— Cara, sinto muito. — Gabriel se sentou na poltrona e pegou uma


garrafa de uísque que eu guardava em cima da cômoda.

— Não importa. Eu preciso esquecer Laura. Preciso de outra mulher

— falei, estalando meu pescoço. Como num passe de mágica, Sam


apareceu na porta.
Ela serviria. Tinha que servir.

Mas não serviu. Nem mesmo consegui avançar. Eu precisava de

alguém que se parecesse com ela. Suas características, seu cheiro e seu
sabor. Eu precisava dela, mas se eu não a tinha, alguém parecido teria que

servir. Então, quando saí de casa em direção a uma boate, eu sabia que
encontraria o que precisava.

— Laura — falei para a garota que parecia tanto com ela que me

deixou tenso. Seu cabelo era escuro do mesmo jeito, ela era pequena e seu
corpo era cheio de curvas. Parecia tanto, que por um segundo achei que

realmente era.

— Quem quiser. — Ela sorriu e suas mãos seguraram meu pau.

Meu corpo repeliu seu toque. Eu imaginei Laura, tentei pensar que

era ela ali, mas mesmo assim nada. Fiquei furioso, mas eu sabia os motivos

de não reagir a outra mulher. Eu amava Laura. Precisava dela como do ar.

Laura parecia uma droga que tinha um alto poder de viciar alguém.
Eu era Henrique D’Ávila e me viciei nas suas curvas, gemidos e seios. Me
viciei na sua boceta apertada e na maneira como ela derreteu contra mim.

Eu era um viciado do caralho que não teria uma segunda, terceira e

nem quarta dose.

E eu estava fodido por isso.


— Você não deveria ter dito aquilo! — gritei com Lucas assim que

entrei no seu carro. Tara o olhou e acenou com a cabeça.

— Eles perguntariam do pai, Laura! — ele me lembrou aos berros.

Neguei, sentindo meu coração bater com mais força. — O que diria, hum?

Que o pai estava ali, sentado diante de mim.

— Não importa. Foi feio você mentir, e eu sei que não foi por mim!
— falei de volta, enquanto ele dirigia. — Você se envergonha. Essa é a

verdade. Eu sou motivo de vergonha.

— Não fale besteira — ele grunhiu, me encarando pelo retrovisor.

— Se não é, pareceu. Você precisa deixar Laura tomar as decisões

dela. Eu já falei com você sobre isso, Lucas! — Tara o avisou rigidamente.

Fiquei grata por suas palavras.

— Vocês duas não entendem. Meu Deus. — Ele continuou dirigindo


com cuidado pelas ruas.
— Eu estou cansada. — Suspirei. — Não quero falar mais sobre

isso.

Ninguém falou mais nada até ele estacionar em frente ao meu


prédio.

— Meu filho tem pai. Eu só não quero contar agora. Não é o

momento — falei ao meu irmão antes de sair do carro e bater a porta.

Baby estava na sala quando cheguei, e a primeira coisa que ele fez

foi lamber a minha barriga, como tinha passado a fazer desde que

engravidei. Suspirei e o deixei me cheirar enquanto deslizava a mão em seu


pelo escuro, sentindo meu rosto molhado.

— Eu o vi hoje — contei ao meu cachorro e ele parou de se mover.

— Ele continua do mesmo jeito. Peste de homem bonito. — Respirei


profundamente, lembrando-me dele dentro daquele terno chique.

Assim que Lucas me contou que seu chefe nos chamou para um

jantar eu estranhei. Eu não sabia o motivo do convite, mas agora sim.

Henrique armou aquilo. Ele sabia quem eu era. Há quanto tempo? Por que

ele não me procurou?

As perguntas carentes me deixaram tensa. Há um tempo, eu tinha

admitido para mim mesma que tinha ficado caidinha por Henrique. Eu sabia
que ninguém se apaixonava à primeira vista, mas estar perto dele

novamente me fez sentir borboletas no estômago e suor.

Henrique D’Ávila era lindo e tão gostoso que era até pecado. E eu

não era cega.

E quem era aquela loira que apareceu se jogando em seus braços?

Será que era uma namorada? Meu estômago deu uma volta e eu me ergui,

deixando Baby para trás. Depois de vomitar, me enrolei na cama e toquei

meu ventre inchado.

Os últimos meses estavam sendo muito difíceis. Eu enjoava muito e

já havia perdido peso. Minha médica disse que eu precisava comer, mas eu

comia. O problema era o alimento parar no meu estômago.

— Estou bem, Baby — falei para meu cachorro quando ele se

aconchegou contra mim.

Não queria mais pensar em Henrique, mas a pergunta chata na

minha cabeça não me deixava dormir. Quando eu contaria a ele? A questão

era quando mesmo, porque eu nunca esconderia isso dele. Não podia.

Meu pequeno segredo estava protegido, mas eu nunca quis

realmente esconder. Eu só não o encontrei. E droga, eu tentei. Liguei para a

empresa do Lucas diversas vezes à procura de um Henrique. A atendente


apenas dizia que lá trabalhavam vários, e eu teria que ser específica. Como

diabos eu seria específica?

— Como eu vou contar a ele, Baby? — perguntei, passando a mão

em seu pelo.

Meu cachorro latiu em resposta, mas infelizmente eu não entendi.

Na semana seguinte seria minha consulta, e no dia eu acordei cedo e

fui trabalhar. Fernanda estava me esperando com uma cara preocupada que
eu não via com muita frequência desde que começamos a trabalhar juntas.

— Bom dia, Fernanda — murmurei, semicerrando os olhos.

— Há alguém esperando...

Suas palavras cessaram quando abri minha porta e vi o homem

grande de cabelos escuros e olhos verdes diante de mim.

Henrique se ergueu da cadeira e fechou o botão do seu terno

enquanto eu engolia em seco. Me virei para Fernanda e sorri agradecendo.

Ela saiu e eu fechei a porta, suspirando.

— Oi, Henrique! Tudo bem? — perguntei, me aproximando. Passei

por ele e coloquei minha bolsa sobre a mesa. Me sentei, não confiando em
minhas pernas para me manter firme enquanto ele seguia meus passos com

um olhar firme.

— Tudo bem, Laura, e você? — Ele ficou de pé distante da minha


mesa e eu me senti sufocada. Tirei meu casaco e fiquei de vestido. Vi seu

olhar ir para a minha barriga, então agarrei-a protetoramente.

— Bem, também. Em que posso te ajudar? — minha pergunta saiu

como ácido.

Fale para ele. Fale para ele.

— Eu estava aqui fazendo exames e passei na sua sala. — Ele me

mediu e seus olhos pararam em meus seios. Eles tinham dobrado de

tamanho depois que engravidei.

— Você está bem? — perguntei, engolindo em seco. Os meus

mamilos ficaram rígidos quando o vi apertar a parte da frente da sua calça.

Pervertido!

— Sim. — Henrique me olhou com fogo nos olhos e depois

pigarreou. — Melhor eu ir...

Suas palavras me fizeram murchar. Minhas pernas estavam

instáveis, mas eu me ergui. O que eu estava fazendo? Me questionei a cada

passo até ficar na frente da minha mesa, a um metro dele.

— Nós vamos fingir que aquele dia não aconteceu?


Eu não pude acreditar quando percebi que havia sido eu a pessoa a

falar isso.

— Você finge bem. Para uma mulher comprometida e grávida — ele

rosnou, me surpreendendo com a raiva em seu tom. Henrique se aproximou

e sua mão segurou meu pulso. — Ele estava no trabalho enquanto você

fodia meu pau naquele elevador?

Fiquei rígida com suas acusações.

— Você faz isso com frequência, Laura? Porra, querida, se você

quiser, eu posso ser seu segredo. Você gostou, certo? Posso foder você

novamente. — Seus olhos foram para os meus seios e ele sorriu. — Eu

nunca fodi uma grávida.

Eu só entendi o que tinha feito quando senti minha mão arder.


Henrique segurou a bochecha e eu respirei com força, lutando contra as

lágrimas e a fúria.

— Eu não sou casada e estou grávida de você, seu imbecil! — gritei,

tremendo e respirando com força. — Saia do meu consultório agora.

— Laura... — Henrique arregalou os olhos, perdendo

completamente a postura miserável do homem desprezível. — O que disse?

— Sim, estou grávida e o bebê é seu! Você precisa de um otorrino[i]?

Aqui, certamente, tem um! — gritei, ainda nervosa, e me afastei para voltar
a minha cadeira. — Você está me deixando nervosa. Saia, Henrique...

Pedi, pegando minha água. Bebi devagar, respirando fundo enquanto


ele continuava parado, sem seguir meus comandos.

— Nós usamos camisinha — ele avisou.

Quando terminei de beber a água, eu estava mais calma.

— Dois por cento.

— O quê?

— Existe 2% de chance de uma gravidez acontecer usando


camisinha. Aconteceu. Isso é simples — resmunguei, sem o encarar,

fechando meus olhos. — Você pode ir.

— Não é assim, Laura! Você acabou de dizer que vou ser pai, não é
assim — ele murmurou, sentando-se na cadeira onde meus pacientes

ficavam.

— Você não precisa se envolver. — Respirei fundo. — Lucas nem

sabe que você é o pai, e eu prefiro que não saiba. — Assim que as palavras
deixaram meus lábios, me arrependi. Henrique se ergueu e chegou até mim

em um segundo. — Henrique...

— Eu vou me envolver. Vou me envolver muito, porra! — Seu grito


deve ter sido ouvido por Fernanda, porque logo meu telefone começou a
tocar. Henrique se afastou e eu atendi, dizendo que estava tudo bem. —
Nunca mais fale isso para mim.

— Desculpa, eu só estou com medo, o.k.? Tudo é novo...

— Eu sei há dois minutos. É novo pra mim também, Laura.

O silêncio se seguiu enquanto eu cutucava minha unha e tentava me

acalmar. Nós éramos adultos e agora, responsáveis por uma criança. Tudo
ficaria bem. Tinha que ficar. Só precisávamos agir como tal.

— Lucas não sabe? — ele voltou a falar e eu neguei. — Vamos

contar.

— Não! — gritei, me erguendo. — Não vou contar a ele agora,

porque...

— Não vou mentir, se é o que está me pedindo. — Henrique


semicerrou os olhos.

Engoli em seco, balançando a cabeça.

— Ele é meu irmão. Eu vou contar, eu só preciso de tempo —


argumentei, cansada.

Henrique se aproximou novamente, e dessa vez ele apenas colocou a


mão em minha barriga.
— Me mande as informações da sua próxima consulta. — Sua mão
era quente, grande e forte. Meu ventre se agitou e meu coração deu um

salto. O choque já conhecido se alastrou por meu corpo, e eu senti uma


necessidade gritante apertar meu peito.

— É hoje. Às dezesseis horas — respondi, erguendo o rosto.

Henrique lambeu os lábios e eu fiquei tentada a me erguer e juntar


minha boca a dele. Não fiz isso. Não era certo, não depois do que ele falou

para mim. Eu tinha um pouco de decência e amor-próprio, obrigada.

— Eu tenho uma viagem marcada para hoje. Voltarei na semana que

vem. — Ele se afastou fazendo uma careta e pegou seu celular. Observei-o
em silêncio enquanto ele guardava o telefone no terno pouco tempo depois.

— Pedi para mudarem o voo para a noite. Vejo você mais tarde, Laura.

Henrique saiu do meu consultório e eu desabei na cadeira, lutando


contra a minha respiração. Droga, droga, droga.

Algo me dizia que Henrique faria a minha vida um inferno a partir


de agora. Eu não o conhecia, não sabia seus gostos, sua personalidade.

Henrique D’Ávila era um estranho.

E esse estranho era o pai do meu bebê.

Fiquei nervosa e preocupada desse ponto em diante.


Não só com a nossa situação, mas com a sensação inquieta de que

ele era meu.

Meu.

Deus, eu estava ficando louca.

Cheguei à consulta cinco minutos antes e vi Henrique já sentado na

sala de espera folheando um livro sobre maternidade. Amoleci por dentro.


Isso queria dizer algo, certo?

— Ei — cumprimentei-o e me sentei para esperar ser chamada.

— Quero me desculpar por mais cedo — Henrique falou, encarando


a parede branca enquanto eu olhava para o seu rosto. — Não reagi bem com

tudo...

— Tudo bem...

— Não. Me refiro a você ter um namorado. Essa merda que seu

irmão inventou.

— Oh. — Meus olhos se arregalaram e ele se virou para me encarar.


Meu peito acelerou quando sua mão segurou a minha e apertou.

— Não sei o motivo, só fiquei furioso. — Henrique passou a mão


pelo cabelo e respirou profundamente. — Diga alguma coisa.
Seus olhos verdes brilharam enquanto me encaravam, e eu fiquei em

silêncio sem nem mesmo perceber. Ele piscou enquanto eu me perguntava


como eu não me lembrava que ele era tão bonito. É claro, eu sabia que ele

era gostoso, mas bonito? Eu realmente não me recordava.

— Laura? — ele me chamou. — Eu mandei mensagens para você,

mas nunca obtive resposta.

Desviei meus olhos para o seu peito, me sentindo incomodada.

— Eu perdi meu telefone e acabei trocando o número. Mas não

precisa dizer mais nada. Não nos conhecemos bem. Será um caminho
longo, Henrique. Muito longo — murmurei com firmeza.

Ele engoliu em seco, desviando os olhos, parecendo completamente

desconfortável. Eu falei algo errado?

— Laura Lancaster.

Me ergui e Henrique fez o mesmo. Levei um susto quando sua mão


pousou em minha coluna. Encarei-o e ele apenas me observou sem piscar.
Meu peito apertou e eu engoli em seco, focando minha atenção em minhas

pernas.

Minha médica fez perguntas gerais e sorriu quando viu que dessa

vez o pai do bebê estava presente. Ela me pediu mais exames e isso fez
Henrique ficar preocupado.
— Por que ela te pediu mais exames? — Ele folheou a papelada
enquanto a preocupação também estava me atacando.

— É que estou enjoando muito e vomitando também. Nada para no

meu estômago — expliquei, enquanto andávamos em direção ao


estacionamento.

— Você não come direito? Quem faz suas refeições?

— Eu mesma. Eu fico de plantão às vezes e acabo comendo aqui


também...

— Vou contratar alguém para fazer sua comida. — Ele decidiu


quando parei em frente à porta do meu veículo.

— Não preciso disso. Estou me cuidando bem, sou médica, lembra?


— grunhi, irritada de repente.

— É apenas um cuidado a mais, Laura. — Ele franziu as

sobrancelhas espessas.

— Não preciso disso. Pare com isso, estou cuidando bem do meu

bebê.

— Ei! — Henrique segurou meu braço e me prendeu contra a lateral


do carro. Seu peito estava tão perto, que se eu apenas me remexesse nós nos

tocaríamos. — Eu sei que está, mas quero fazer algo. Me sentir útil. — Ele
me encarou, parecendo completamente confuso e meu peito apertou.
— Você se sentirá! E odiará, porque eu tenho desejos loucos de
madrugada. Eu já saí às quatro da manhã atrás de feijão. Chorei o caminho

de volta, porque não tinha feijão em lugar nenhum.

— O quê? — Ele riu, se afastando. Acenei enquanto ria também,

porém querendo chorar ao me lembrar daquela madrugada. Nunca me senti


tão irritada e triste na minha vida. — Me ligue. — Henrique enfiou um

cartão dentro do meu decote e eu bati em sua mão.

— Espertinho.

— Cuidado na estrada. — Ele me deixou entrar e eu acenei para me

despedir.

No caminho para casa, suspirei lutando contra um sorriso besta. Ele


explodiu, me fazendo gargalhar. Henrique podia ser intenso, mandão e

volátil, mas também tinha um lado preocupado que o deixava muito fofo.

Droga, pare com isso, Laura.

Gemi, balançando a cabeça, prevendo o problemão que isso seria.


Não só para mim. Lucas surtaria quando soubesse que seu patrão era o pai
do meu bebê. Mordi meu lábio e parei de rir, a preocupação enchendo a

minha cabeça.

Tudo ficaria bem. Lucas aceitaria as minhas decisões. Ele me amava


e amava meu bebê. Nesses três meses, tudo aconteceu tão leve, Lucas me
ajudou com os enjoos e até desejos. Meu irmão foi meu porto seguro e eu
queria que continuasse, porém, algo me dizia que quando ele soubesse

sobre Henrique, meu mundo sereno iria se despedaçar.

Eu estava morrendo de medo disso.


— Eu tenho uma coisa para contar para vocês — chamei a atenção

da minha irmã, Gabriel e minha mãe.

Estávamos em uma viagem a trabalho. Um dos nossos maiores

clientes estava se casando e nos convidou. Eu não precisava dizer que


minha mãe não queria vir. Érica a arrastou.

— Você engravidou alguém. — Gabriel indicou, enchendo um copo

com vodca.

Eu não estava pronto para ter filhos. Laura e eu queríamos esperar

cinco anos para termos nosso primeiro filho. Porém, eu estava

experimentando desejos doidos desde que transei com ela naquele elevador.

E um deles era matar qualquer cara que ela possivelmente estivesse

conhecendo. Que agora eu sabia não existir.

— Cara, eu estava brincando. — Gabriel me trouxe de volta para o

presente. — Porra, você...


— Vou ser pai — falei ao encarar a minha mãe. Seus olhos verdes

mãe se encheram de lágrimas, então ela se ergueu e me abraçou com força.

— Eu vou ser pai. Nem acredito nisso — afirmei, segurando seu corpo

contra o meu enquanto ela fungava.

— Parabéns. Você será um pai incrível... — mamãe falou entre os

fungados. Minha irmã pulou em mim assim que ela se afastou. — E Laura?

Ela...

Mamãe parou de falar quando Érica a interrompeu.

— Oh meu Deus, eu vou ser tia! Espera... Seu idiota, e a Laura? O


que você fez? — Érica gritou enquanto pulava.

— Isso mesmo, o que diabos você fez? — Gabriel estava encarando

nós dois. — Você sabe o que é camisinha? Você é um idiota. — Ele


começou a surtar enquanto eu sorria ao ver minha mãe bater nele. — Aí,

Cristine!

— Fique quieto! Felicite seu amigo e pronto — ela ralhou.

— Felicidades, cara — Gabriel me olhou com um sorriso forçado

—, e não me chame para limpar a bunda do seu moleque. Eu não vou. —


Ele me abraçou desajeitadamente e se afastou para se jogar no sofá.

— Quem é a sortuda? — Minha mãe sorriu.


Engoli em seco, não queria falar sobre Laura até que eu conversasse

com Lucas. Eu sabia que isso era importante para ela.

— Eu conto depois.

— O quê? Por quê? — Érica gritou, curiosa, mas eu simplesmente

me virei e fui para o meu quarto. — Henrique!

Fechei minha porta e me joguei na cama, olhando para o celular. O


nome dela estava me chamando, pedindo que eu abrisse nossa conversa.

Porém, não o fiz.

Laura, você será uma dor de cabeça daquelas.

Na sexta, depois de uma semana que eu havia falado com Laura, eu

saí com Gabriel para um bar que íamos com frequência. Assim que bebi a

terceira garrafa de cerveja, vi Amanda surgir na multidão. Gabriel quase

caiu da cadeira.

— Porra, com quem ela veio? — Ele se ergueu rapidamente.

— Cara, ela é solteira... — Eu o encarei.

— Eu a pedi em casamento. Você sabe disso...

— Você disse que se casaria com ela, não que a pediu em

casamento. — Lembrei-o, mas ele apenas saiu caminhando. Observei


Amanda reconhecer sua presença e amaldiçoar ao se inclinar para falar com

uma amiga loira.

Senti meu celular tremer e desviei minha atenção para ele. Um

número desconhecido apareceu e eu abri a mensagem.

“ERVILHAS”

“O quê?”

Minhas sobrancelhas se juntaram quando reli a palavra em caixa

alta.

“Estou desejando ervilhas”

Laura. Sorri, já tirando dinheiro do bolso e me erguendo.

Aproximei-me de Gabriel e gritei sobre a música:

— Estou indo, cara. — Ele não me olhou duas vezes, focado em

Amanda. — Te vejo amanhã — avisei e sorri para Amanda. — Boa sorte.

— Você já vai? — sorrindo, a amiga de Amanda gritou.

Eu pisquei, sabendo que eu a conhecia de algum lugar, só não

recordava.

— Sim.

Ela acenou e se inclinou.


— Prazer, Rayane. — Ela me olhou ainda sorrindo, então estendi a

mão.

— Henrique.

Rayane pegou minha mão e se inclinou para beijar o meu rosto. Me

afastei e depois de acenar para todos, sai segurando o celular, ainda focado

em Laura.

“Ervilhas? Sério?”

Cliquei em enviar e cheguei à saída. Levei um minuto até achar meu

carro, e esse foi o tempo que Laura levou para me responder.

“Com batatas chips.”

“Jesus. Estou a caminho.”

Dirigi até o supermercado mais próximo e peguei duas latas de

ervilha e três sacos de batata. Levei quase vinte minutos do bar até o

apartamento dela. Quando nos casamos, ela o deixou lá. Porém, após o

acidente, Lucas restabeleceu sua vida antiga. Sem mim.

O apartamento ficava próximo ao mar, enquanto o nosso a uns bons


minutos daqui. Isso era algo que estava me incomodando. Nossa casa ficava

longe do apartamento de Laura. Em uma emergência isso seria perigoso.

Certo?
Depois de ela autorizar minha entrada, cheguei ao seu andar. Toquei

a campainha, e quando ela abriu a porta, meu pau saltou. Caralho. Eu olhei

dos seus pés, passando pela camisa branca, e parando nos seus mamilos

eretos. Jesus Cristo, eu não era um pervertido. Porém, essa mulher... essa

diaba de cabelo preto transformou meu pau em seu soldado de merda desde

que a conheci, há um ano.

— Entre — ordenei com a voz grossa.

Ela pulou, saindo da porta. Empurrei a madeira com o pé e a

observei andar até o sofá. Quando Laura se sentou no sofá, a blusa subiu e

eu tive um vislumbre da sua calcinha.

— Você trouxe? — Laura mordeu o lábio.

Pisquei, tentando me lembrar sobre o que ela estava falando.

— O quê?

— As ervilhas e batatas. — Laura suspirou, me olhando, então me

aproximei e entreguei a sacola com suas comidas doidas. Ela odiava chips.

Sempre odiou. — Obrigada! — Ela segurou a comida, mas não abriu. Seus

olhos estavam focados em meu rosto.

— O que foi? — perguntei ao me aproximar e me sentar ao seu

lado. Peguei uma almofada e coloquei sobre meu colo, escondendo a porra

da minha ereção.
— Você veio de casa?

Sua pergunta me deixou confuso, mas respondi mesmo assim.

— Não. Estava em um bar com Gabriel — expliquei, pegando a

sacola. Tirei as batatas e as ervilhas. — Você quer que eu abra as latas?

— Sim. — Ela sorriu, mas era visível que algo ainda estava errado.

Me ergui, tentando pensar se fiz algo para chateá-la enquanto ia para

a sua cozinha depois de ela indicar o caminho. Levei poucos segundos para
encontrar o abridor. Tudo aqui era familiar, tanto quanto a diaba que eu

amava naquele sofá. Assim que estava pronto, voltei para a sala e a
encontrei abraçando a almofada.

— Você está bem? — perguntei, preocupado quando me sentei e vi

lágrimas brilhando em seus olhos castanhos. — Está sentindo algo?

— Não. Desculpe, não é nada. — Ela fungou e pegou a colher e a

lata. Abri as batatas e a assisti comer uma colher de ervilhas e depois a


chips.

— Laura, o que houve? — Encarei-a quando ela parou de comer e

focou seu olhar em meu pescoço. Toquei o local e esfreguei, e quando olhei
para meus dedos, encontrei uma mancha vermelha. — O que é isso? —

questionei, franzindo as sobrancelhas.

Rapidamente ela se ergueu.


— Não seja cínico.

— O quê? — Ergui meus olhos e a vi andar até uma mesa, longe.

— Você a deixou lá? Tipo, você apenas disse: vou ter que sair,

porque a mãe do meu filho está desejando comer ervilhas? — Laura gritou,
me assustando completamente.

Respirei fundo quando entendi. Droga, Rayane deve ter deixado


batom na hora que me beijou.

— Calma.

— Eu estou calma! — ela gritou mais alto. Eu me ergui e peguei as


ervilhas. — Deixe as ervilhas aí!

— O que tem as ervilhas, Laura?

— Foda-se as ervilhas. — Ela bateu o pé no chão como uma garota


mimada, então tive um vislumbre da minha Laura. Ela sempre ficava

chorona e pisava forte quando sentia ciúmes.

— O.k., foda-se as ervilhas...

— Não! — Laura berrou, vindo correndo e tomando as ervilhas de

mim. — Deixe-as. Eu vou comê-las. Só vai embora.

— Isso é pelas ervilhas ou pelo batom que eu nem sei de onde veio?
— Me poupe, Henrique! — Laura me fulminou, insultada, porém eu
realmente queria entender. — Não me importo com batom nenhum. E as

ervilhas são minhas.

— Então qual o motivo? — Olhei-a com firmeza. Laura abriu a

boca, mas voltou a fechá-la. — Eu não estava com outra mulher. Estava
com Gabriel, Amanda apareceu e ele se transformou em um urso e me

esqueceu. Havia uma mulher com a Amanda e nos apresentamos. Deve ser
por isso que tem a merda do batom aqui.

— Eu não pedi explicações, não tenho nada a ver com a sua vida.

— Sério? Porque parece muito que você tem.

Laura apertou o domínio sobre a lata com ervilhas e engoliu em


seco.

— Obrigada pelas ervilhas e batatas. — Ela desviou os olhos dos


meus. Me aproximei rapidamente e segurei seu braço. — Henrique!

— Você tem perguntas, Laura? Faça-as. Não fique enlouquecendo.


Somos adultos, certo? Porque eu tenho vinte e nove anos. Não faço jogos.

— Me solte.

— Quantos anos você tem? — questionei, enquanto ela tentava se


afastar. Eu já sabia. Vinte e sete.

— Isso importa? — ela gritou.


Eu a prendi contra o balcão que separava a sala da cozinha.

— Sim. Importa — grunhi, irritado.

— Vinte e sete anos — Laura sibilou, furiosa. Deslizei a mão pelo


seu rosto até chegar ao seu ombro e continuei. — O que está fazendo?

— Você parecia uma adolescente segundos atrás, Laura. Não posso


foder uma adolescente. — Minhas palavras a fizeram ficar rígida. Segurei
sua cintura e coloquei meu peito contra o seu. — Mas, você com vinte e

sete... eu posso, não posso? — Me inclinei, mordendo sua orelha enquanto a


respiração quente dela tocava a minha pele.

Recordei-me da nossa lua de mel, recordei-me da sua insaciedade.


Ela sempre foi tão aberta para o sexo. Nós dois sempre fomos viciados um

no outro. Mas Laura, ela era tudo que eu podia respirar. Ainda era. Sempre
seria.

Eu queria minha esposa de volta.

Eu necessitava dela.

— Henrique...

— Posso ou não?

Seu corpo estremeceu e senti que sua camisa já estava acima da


curva da sua bunda. Toquei devagar, mas a urgência sacudiu meu peito e eu

cravei meus dedos, apertando.


— Eu não deveria ter ciúme. — Suas palavras quase me fizeram rir.

— Isso significa algo... — falei, beijando seu pescoço, me sentindo


feliz. Droga, parecia que ela havia acabado de me dar o melhor presente de

todos.

Ela.

— Que talvez você goste do pai do seu bebê...

Laura se afastou e me encarou com os lábios molhados e vermelhos.


Se eu pudesse fazer um pedido agora, eu imploraria por sua boca na minha.
Imploraria por seu corpo junto ao meu e sua voz dizendo que me amava. Eu

precisava dela dizendo me amar.

— Gostar é muito forte. — Laura parou de falar quando, de repente,

levou a mão à boca. Ela me empurrou e correu em direção a um corredor.

Preocupado, eu a segui e a vi cair de joelhos em frente ao vaso

sanitário. Segurei seus cabelos e massageei suas costas. Quando ela parou,
caiu contra mim gemendo.

— Eu quase vomitei na sua boca. — Ela riu de repente, enquanto eu

acariciava o seu braço. Me sentei no chão e a puxei para o meu peito,


sorrindo e relaxando.

Laura parou de rir e eu beijei seus cabelos. Segurei sua barriga


pequena e ela ficou quieta, parecendo pensar por longos minutos. Suas
mãos caíram em minhas coxas e ela deslizou as unhas por cima do meu
jeans.

— Vamos ter um bebê — afirmei para o vento.

Laura respirou fundo, parecendo se lembrar que eu ainda estava


aqui.

— Sim — ela concordou e se aconchegou mais contra mim. — Você

queria ser pai?

— Um dia — respondi, relembrando nossas conversas sobre filhos.

— Eu sempre quis, mas nunca estive em um relacionamento para


isso. Pelo visto, não era preciso, certo? — Laura riu baixinho e eu fiquei em

silêncio.

Sempre quis.

— Sempre? — A palavra saiu amarga. Como sempre?

Laura sempre disse que esperaríamos os cinco anos para ter nosso

filho.

— Sempre. Desde menina eu me imaginava com meu próprio bebê.

— Laura suspirou sonhadora, enquanto eu me sentia sufocado.

Tentei relembrar nossas conversas e senti meu peito se contrair ao


perceber que sempre fui eu que falei em esperar cinco anos. Nunca ela.
Laura apenas concordou comigo, nunca dizendo o que realmente queria.

— Não quero que Lucas fique chateado...

— Ele não vai.

Eu o mataria antes que ele pudesse abrir a maldita boca. Eu estava


ardendo de raiva de Lucas. Ele mentiu na minha cara, querendo me manter

longe da minha esposa. Da mulher que eu amava. Eu seria capaz de matá-lo


se ele não fosse irmão de Laura.

Ela se afastou e se virou. Laura não percebeu sua calcinha exposta e

eu me odiei por notar.

— Lucas é protetor. Sempre fomos apenas nós contra o mundo. —

Laura me olhou seriamente, me contando o que eu já sabia. Eles e tia Alice


contra o mundo. — Ele vai surtar e eu o entendo. Como diabos eu pediria

para ele não surtar quando a irmã dele transou com um desconhecido no

elevador?

— Laura...

Eu sou seu marido. Não um desconhecido. As palavras estavam


entaladas em minha garganta.

— É a verdade. — Ela fungou, envergonhada, e seus olhos

começaram a lacrimejar. — Não quero chateá-lo, nunca quis...


— Somos adultos. Lucas vai ter que lidar com isso. Não podemos
desfazer. Nosso filho já está aí — afirmei, tocando seu ventre inchado, me

sentindo ferido como nunca.

— Eu sei. Mas acho que não vou conseguir falar com ele por agora.
Preciso de tempo, Henrique.

Odiei dar esse tempo a ela, mas o que eu diria para a mulher que eu
amava quando ela estava chorando em meus braços?
Henrique me ajudou a ir para a cama e eu me aconcheguei em meus

lençóis, vendo-o de pé. O que eu estava fazendo? Henrique era apenas o pai
do meu filho. Por que eu estava enlouquecendo com o batom em seu

pescoço?

Meu peito apertou e eu engoli a imaginação.

Me senti conectada com Henrique como nunca fiquei com homem

nenhum, transei com ele e agora estávamos tentando encontrar uma maneira

de sermos pais sem foder tudo. Porém, algo me dizia que o faríamos. A
atração era palpável e o desejo avassalador. Eu poderia resistir ao pai do

meu filho?

— Ligo para você. Fique bem. — Ele se aproximou, se curvando

sobre mim, e beijou meus cabelos.

Seu cheiro me enebriou e eu mordi minha boca. Odiava o quanto


Henrique era capaz de me atingir.
— O.k. Boa noite, Henrique.

— Boa noite, Laura.

Quando a porta se fechou, eu fechei meus olhos com firmeza e

respirei profundamente. Eu estava encrencada. Sabia disso.

Dois meses se passaram enquanto eu e Henrique apenas trocávamos

mensagens e nos víamos nas consultas do nosso bebê. Eu sabia que aquela
noite havia nos afastado. Não sei se foi Lucas, meu vômito ou meu ciúme

idiota, mas Henrique parecia distante.

— Ei, você. Pronta para saber o sexo do seu bebê? — a médica me


cumprimentou enquanto eu entrava na sala fria e estéril. Olhei por cima do

ombro, desejando que Henrique surgisse naquele momento, mas isso não

aconteceu.

Onde ele estava?

— Sim! — afirmei, engolindo em seco. Hoje era um dia alegre. Eu

não deixaria a ausência de Henrique mudar isso.

A consulta foi normal, e quando fomos para a ultrassom, eu senti


que estava fazendo algo errado. Senti que estava traindo Henrique de
alguma maneira. Mas eu não estava. Ele sabia o horário da consulta, sabia o

local e que hoje descobriríamos o sexo do nosso bebê.

Henrique estava errado, não eu.

— Você está nervosa?

Sua pergunta me fez erguer os olhos. Luísa sorriu, solidária, então

respirei fundo.

— O pai do bebê não chegou ainda...

— Podemos esperá-lo, se desejar — ela ofereceu, parando o

movimento da sua mão para pegar o aparelho, mas eu neguei.

— Está tudo bem.

Mas não estava. Quando o meu filho apareceu na tela, eu senti meu

coração palpitar. Ele tinha cabelos escuros, tão bonitos. Eu senti lágrimas

deslizarem pelas minhas bochechas e logo o coração soou.

— É uma menina. — Luísa sorriu enquanto me encarava.

Dei risada em meio à onda de lágrimas. Eu peguei os vídeos, fotos e

a doutora me ajudou a me erguer. Minha barriga estava bem grande para os


meus cinco meses de gravidez, mas ela me acalmou dizendo que era

normal.
Quando saí do consultório, meu celular começou a tocar. Atendi a

chamada de vídeo do Lucas e sorri entusiasmadamente.

— É uma menina! — gritei, enquanto andava em direção ao

elevador.

— Ah, meu Deus! É sério? — Sua voz estava emocionada. Acenei

enquanto novas lágrimas surgiam. — Ela será perfeita. Igual a você.

— Maitê. A Maitê será perfeita e vai ter o tio mais babão do mundo

— falei, sorrindo largamente e entrei no elevador. Lucas riu, emocionado e

gritou chamando Tara.

Eles me felicitaram até eu chegar ao meu carro. Guardei meu celular

no banco ao lado e dirigi para a casa. Eu havia feito o turno noturno depois

de uma colega pedir. Agora, eu só queria minha cama.

Assim que passei da porta de casa, tocaram a minha campainha.

Gemi, dando a volta e abrindo a porta. O rosto não me era estranho, mas eu

não me lembrava de onde eu a conhecia. Porém, quando Henrique apareceu

atrás dela, eu liguei os pontos.

Samantha.

— Olá! Posso ajudar? — questionei, encarando os olhos dela e

ignorando Henrique.
— Oh, é que eu me mudei recentemente e decidi vir me apresentar.

Você é?

Sua pergunta me irritou. Na verdade, tudo que ela falou me irritou.

Ela estava morando aqui? Ela não se lembrava de mim?

O.k., o último não era algo extraordinário, já que eu também não me

lembrava dela.

— Laura. Bem-vinda ao prédio — murmurei, com um gosto ácido

em minha boca.

— Ah, meu Deus, me lembrei de onde te conheço. Você é irmã do

Lucas, o segurança do... — Ela se virou, fingimento pingando do seu rosto

ao encontrar o pai da minha filha. — Dele! Lembro-me de você. Nossa, que

mundo pequeno.

— Surpreendente — resmunguei de volta e olhei para dentro de

casa. — Eu acabei de chegar, preciso ir tomar banho e dormir. Foi um

prazer conhecer você. Tchau.

A porta bateu fechada e eu apertei meus dedos contra meus olhos.

Henrique, filho da puta! Raiva pura encheu meus sentidos. Ele estava com

ela, enquanto eu esperava por ele no hospital?

Não consegui nem mesmo encará-lo. Como ele ousou? Que merda

ele tinha na cabeça?


Entrei em meu quarto, e quando ouvi minha campainha tocar pela

segunda vez, eu nem mesmo me mexi. Tomei meu banho escutando o

barulho irritante, e quando me deitei na cama já pronta para dormir, o ruído

cessou.

E o celular começou.

Que inferno!

Peguei o celular e assim que vi o nome de Henrique na tela, tive

vontade de jogar na parede. Foi caro demais para quebrar por causa daquele

idiota. E eu o faria pagar, é claro.

— Laura, estou aqui fora. Abre a porta.

Sua voz autoritária me fez querer socar sua cara repetidamente até

jorrar sangue.

— Não.

— Por que não? Eu trouxe o cheque para que compre as coisas do

bebê. — Sua voz confusa me acertou. Ele havia esquecido?

— Eu quero que você se foda, Henrique D’Ávila. Você, seu dinheiro

e a porra da Samantha! — gritei, enlouquecida, então o ouvi socar a porta

pelo celular e, também, diretamente pela casa.

— Que merda, Laura? O que eu fiz? Isso é por causa da Sam? É

ciúmes novamente?
A pergunta estúpida me deixou enjoada. Eu era ridícula.

Ridícula!

Sentindo ciúmes dele, fazendo confusão por coisas infantis. Deus,

quando me transformei nessa pessoa tão dependente dele?

— Não, Henrique. Eu só percebi que você é um imbecil.

— Abre a merda da porta, Laura! — ele gritou, parecendo insano.

Meu interfone começou a tocar, então me levantei desligando o

celular enquanto ouvia as batidas ficarem mais altas.

Assim que cheguei à cozinha, atendi meu porteiro e fechei os olhos

ao ouvir que meus vizinhos estavam reclamando do barulho. Pedi desculpas


e desliguei. Fui para a sala e abri a porta, fazendo Henrique quase cair

enquanto socava a porta com uma força desmedida.

— Eu quero que você vá embora, Henrique. Pare de importunar


meus vizinhos — falei, completamente rígida.

Ele entrou em casa, bateu a porta com força enquanto eu me


afastava.

— O que eu fiz? Eu só quero resolver isso entre a gente. — Seu


rosto estava torcido, quase como se ele estivesse com dor.
— Você não lembrou mesmo — afirmei mais para mim mesma, mas
ele me ouviu. Quando seu rosto ficou branco, eu lutei contra as lágrimas. —

É uma menina — informei, piscando rapidamente. — E a gente não precisa


de você. Não até ela nascer, então eu quero que saia da minha casa.

— Laura... me desculpe, eu...

— Quando ela estiver nascendo eu o aviso. Não se preocupe com


isso, eu jamais deixaria vocês afastados... porém, enquanto estou lutando

com enjoos, uma oscilação de humor que está me deixando louca, eu


preciso que se afaste.

— Laura, eu só esqueci a consulta...

— Eu te desculpo — falei, engolindo em seco e limpando minhas


lágrimas com movimentos rígidos. — Porém, eu realmente não quero mais

ter essa aproximação com você. Aliás, você também quer isso. Os meses
que se passaram deixaram isso claro para mim.

— O quê? Laura, eu não apareci porque estou com uma conta

enorme na empresa...

— Você teve tempo de ver Samantha, não foi? — Joguei em seu

rosto, porém me arrependi. Eu parecia uma menina de quinze anos. Era


estúpido. — Ligue quando quiser, eu te atualizarei sobre tudo.

— Você está louca...


— Respeite minha decisão — pedi, me afastando em direção à
porta. Eu a abri e respirei fundo, esperando. — Vá, por favor.

— Vamos conversar. — Henrique se aproximou, segurando meu


braço e minha barriga tocou na sua. Eu estremeci e senti um movimento

suave na minha barriga. Já havia sentido umas tremidas, mas nada tão forte.
— É ela? — Ele se afastou, arregalando os olhos.

Acenei, tentando respirar.

Henrique se ajoelhou diante de mim e eu senti minha garganta se


fechar. Ele encostou a orelha em minha barriga e sorriu. Eu perdi minha

força com seu sorriso.

— Ei, princesa. Papai está aqui. — Sua voz ecoou e eu mordi meu
lábio. — Você desculpa o papai? Hum? Se você me perdoar, eu posso tentar

também.

Minhas lágrimas se acumularam e eu cruzei os braços, tremendo.

Henrique beijou minha barriga e nossa menina chutou novamente, me


fazendo amolecer.

— Amo você. Vou domar a fera agora. — Revirei os olhos ao ouvir

sua frase. Henrique se ergueu, ainda segurando minha barriga, mas eu


desviei a atenção para o lado. — Laura, eu não posso ficar longe. Eu quero
escolher o nome dela com você, os móveis, tudo. Eu quero tudo. Não posso

ficar de braços cruzados até o nascimento dela.

— Você esqueceu que hoje descobriríamos o sexo dela. Você me


deixou lá, sozinha, esperando, Henrique. Eu odiei isso. Odiei esperar por

algo vindo de você. Eu vou deixar tudo avisado a você, mas nunca mais
quero esperar por outra pessoa. — Respirei fundo e me afastei. — E eu

escolhi o nome dela. Desde pequena.

— Sério? — Ele arregalou os olhos verdes e eu acenei. — Qual?

— Maitê. É o nome da minha mãe — falei, nervosa, e abracei meu

próprio corpo. — Você gosta? Se não, podemos procurar outro...

— Eu gostei. — Henrique engoliu em seco e passou a mão na

cabeça. — Maitê. — Ele testou o nome e sorriu. — É bonito.

O silêncio ficou desconfortável depois de um minuto. Respirei


fundo e me odiei quando o encarei. Henrique parecia perdido no meio da

minha sala. Ele era enorme, mas ainda parecia fora de lugar.

— Eu preciso dormir. Trabalhei no turno da noite e depois fui para a

consulta. Estou bem cansada — expliquei, mordendo meu lábio.

— Desculpe novamente. — Ele andou para fora.

Sentindo o queixo tremendo, fechei a porta e corri para a cama, com

Baby me seguindo. Solucei baixinho até adormecer, enquanto ainda me


sentia diferente. Tudo tinha mudado desde que descobri minha gravidez, eu

só não sabia que além do meu corpo, meu coração também entraria na
equação.

Quando deslizei na poltrona macia, vi Fernanda tirar uma marmita

com comidas fit. Ela estava empenhada a ficar gostosa esse ano — palavras
dela — e havia se tornado uma rata de academia.

— Encontrei um lugar onde você pode fazer aulas de maternidade.


Eu vou com você, se quiser, mas acho realmente legal. Minha prima fez e
ela contou que foi muito bom.

Ergui as sobrancelhas, curiosa. Fernanda continuou contando sobre


as aulas que ligavam o bebê à mãe e o local aconchegante. Decidi conhecer

e ela se animou.

— O Henrique talvez possa ir com você, aliás. É algo mais pai, mãe

e bebê, sabe? — Minha amiga indicou, erguendo as sobrancelhas.

— Acho melhor não.

Fernanda me observou calada e eu desviei os olhos do seu rosto para

minhas unhas.
— Não somos pais convencionais. Minha gravidez foi um desvio de
percurso.

— Eu sei, mas você parece gostar dele. — Ergui a cabeça de

supetão e Fernanda riu. — Eu não sou cega, o.k.?

— Eu não... eu não... — As palavras ficaram entaladas. Meus

ombros desabaram e eu respirei fundo. Levei a mão ao cabelo e a encarei.


— Você está certa, mas não vai rolar.

— Por que não vai? — Fernanda segurou minha mão e me encarou

com firmeza.

— Henrique está muito longe. Não posso tocá-lo, e o principal,

Lucas me mataria. Na verdade, ele ainda vai me matar. — Olhei ao redor do


restaurante do hospital e sorri para um dos residentes cirurgiões. Eu o havia

conhecido semanas atrás.

— O.k., então, Sanderson?

A voz de Fernanda me chamou e eu a encarei.

— Eu o conheci por Levi.

Nós rimos e eu suspirei. Olhei sobre o ombro e lá estava Sanderson,


me encarando de volta. Eu podia conhecer outra pessoa para tirar Henrique

do meu sistema? Não transar, apenas conhecer. Certo?


Laura continuou me mantendo distante pelas próximas semanas. Eu

estava irritado e ficando louco. Ninguém conseguia ficar comigo mais que
alguns minutos. Minha cabeça estava cheia de Laura e Maitê.

Maitê.

Eu teria uma filha daqui a alguns meses. Uma filha.

Um nó cresceu em minha garganta e eu resfoleguei enquanto


apertava o copo de vidro em meus dedos. Estava cansado de lutar contra a

verdade. Queria falar com Laura, contar tudo. Mostrar nosso álbum de

casamento, nossas viagens. Queria fazê-la se lembrar.

Virei o líquido amargo na boca e suspirei. Era domingo e eu estava

sozinho em casa. Já havia mandado três mensagens a Laura perguntando se

eu poderia ir até seu apartamento. Mas ela estava me ignorando.

Foda-se.
Me ergui e fui para meu quarto. Depois de tomar banho, eu andei até

meu closet. O lado de Laura estava nu. Érica havia pegado todos os seus

pertences e enviado para o apartamento dela. Tudo havia sumido.

Engolindo em seco, tirei uma camiseta e jeans. Saí do lugar

correndo. Era insuportável saber que eu a havia perdido.

Perdi nossa vida juntos. Nossas lembranças.

Vesti a roupa casual e suspirei. Eu quase nunca usava roupas

normais, porque minhas idas a lugares sempre eram sobre trabalho. Hoje

não. Hoje seria sobre minha filha e a mãe teimosa dela.

Eu sabia que havia decepcionado Laura esquecendo a consulta. E

não havia desculpas que tirassem o peso que eu estava sentindo. Dias antes

eu estava ansioso e não havia nada em minha mente, porém tive que viajar
de última hora, e quando cheguei tive que buscar Samantha na casa da

minha mãe e levá-la de volta para seu apartamento novo. Foi uma surpresa

fodida saber que era no prédio de Laura.

Saí de casa com um plano fixo em minha mente e dirigi até seu

apartamento. O porteiro não me parou quando entrei, e agradeci essa merda.

Laura certamente não me deixaria entrar na casa dela.

Apertei a campainha e esperei por alguns segundos. Quando a porta

se abriu, não era Laura ali, e sim Lucas, seu irmão e meu segurança. Lucas
ficou rígido e seus olhos ficaram escuros enquanto ele me encarava.

— Sr. D’Ávila, bom dia! — Ele rangeu os dentes. — Algum

problema? Como sabia que eu estava aqui... — Suas palavras se perderam e

a voz de Laura ecoou perguntando quem era. Quando seu irmão não

respondeu, ela apareceu. — Como você sabe onde Laura mora? — Seu

fingimento estúpido estava me deixando cada vez mais furioso.

Eu queria brigar com ele. Socá-lo e dizer que o único culpado por

tudo era ele.

Mas não o fiz.

O rosto de Laura ficou completamente branco, e enquanto eu a via

desesperada, eu sabia que havia chegado a hora. Lucas precisava saber que

eu tinha voltado para a vida dela. Que Maitê era minha filha. Não importava

se ele surtaria. Isso só dizia respeito a mim e a Laura.

— Lucas, podemos conversar? — solicitei, vendo Laura levar a mão

ao rosto com olhos arregalados. — Laura pode estar presente.

— Henrique. — Lucas estalou, me olhando como se eu fosse o


próprio demônio.

Eu sabia que Lucas fazia o que achava que era melhor para a irmã,

mas ele precisava entender que o melhor para ela sempre seria eu.
— Henrique... — Laura implorou com os olhos castanhos, mas eu

balancei a cabeça.

— Eu sou o pai da Maitê — falei de uma vez.

A cor foi drenada do rosto do tio da minha filha. Lucas encarou a

mim e Laura enquanto balançava a cabeça. Ele não esperava por isso. Eu vi

em seu rosto.

— Que merda...

— Ficamos uma vez e aconteceu. Nós nos reencontramos e eu a

engravidei...

— Laura, que porra é essa? — Lucas gritou, assustando a irmã.

— Cuidado. — Me aproximei. — Laura tem vinte e sete anos. Ela

não é uma criança. — Lembrei-o, completamente rígido.

Laura piscou lágrimas e respirou fundo.

— Vá embora, Henrique — ela ordenou rapidamente.

— Não vou. — Balancei a cabeça. — Lucas pode ser protetor, eu o

compreendo. Faço o mesmo com Érica, mas ele não dita com quem você

pode ficar. Com quem você tem filhos, pelo amor de Deus! — argumentei,

cansado.

Laura olhou de mim para o irmão, que ainda a encarava.


— Aquela noite que você deixou comida para mim... — Lucas

começou e me olhou. — Você sumiu do nada. Você estava fodendo minha

irmã, porra? — Seu grito deve ter sido ouvido pelo andar inteiro.

— Lucas, se recomponha! — Uma mulher loira apareceu, então me

lembrei dela no jantar em minha casa. Era a sua namorada.

— Você não podia ficar longe, não é? — Lucas ficou rígido,

enquanto se aproximava. Ele tentou me agarrar, mas eu o empurrei. — Seu

infeliz!

— Você mentiu para mim! Na minha cara, seu desgraçado — rosnei

e segurei as golas da sua camisa. — Você a tirou de mim uma vez, mas não
vai uma segunda. Eu juro. — grunhi, perto do seu rosto, baixo o suficiente

para que Laura não ouvisse, mas ele sim.

— Não fui eu, seu idiota. — Ele me empurrou e me afastei.

— Vou me casar com ela. — As palavras saíram dos meus lábios,

deixando Lucas de olhos arregalados e Laura o encarando de boca aberta.

Eu já era casado com ela, mas não importava. Eu me casaria mais

cem vezes.

Eu só precisava de Laura.

— Você enlouqueceu? — Laura se recompôs, gritando.

— Eu quero e vou me casar com você. — Respirei fundo.


Minhas próprias palavras pareceram longe, como se eu estivesse

sentado assistindo e não as pronunciando.

— Que porra? — Laura me encarou, e eu vi ódio cintilar em seu

olhar.

— Vocês são adultos. Foda-se — Lucas rosnou, entrando na casa e

saindo segurando seu casaco.

— Lucas, a gente não vai se casar. Henrique está louco! Fodemos

uma vez e Maitê foi o resultado. Somos adultos...

Suas palavras ficaram ao vento quando Lucas passou por nós e saiu

levando sua namorada junto. Eu fiquei parado, esperando Laura falar algo.

— Por que você fez isso? — Sua voz saiu baixa, mas a fúria estava

ali.

— O que queria que eu fizesse? — perguntei, vendo-a entrar na

casa. Eu a segui e fechei a porta quando passei.

— Que agisse como um adulto. Dissesse a ele que faríamos as

coisas da nossa maneira, talvez? — ela gritou, se virando. Esfreguei meu

rosto, completamente tenso. — Mas casar? Meu Deus, você enlouqueceu...

— Vou me casar com você, Laura. Eu quero isso...

— Você quer? Você estava com Samantha no dia da consulta da

Maitê! Como diabos você quer se casar? — Ela me fulminou com os olhos
enquanto berrava no meio da sala.

— Você vai trazer isso de novo? Eu pedi desculpas...

— Eu não vou me casar. Se Lucas quiser cortar relações comigo,

foda-se! Eu não vou me casar com você!

Seus gritos acertaram meu peito em cheio. Laura estava desesperada

com a possibilidade de se casar comigo. Tentei pensar em quando ela

descobrisse que já éramos casados. Ela surtaria e me odiaria?

— O que diabos você tem, Laura? Eu passei dias tentando entrar em

contato e você nem mesmo me respondeu. O que eu fiz, droga? —


perguntei, desesperado, puxando meu cabelo ao me aproximar dela. —

Droga. Semanas atrás estávamos a um passo de transar novamente, e agora


estamos gritando um com o outro... o que mudou?

Laura desviou os olhos e eu dei mais um passo até chegar diante do

seu rosto.

— Eu sinto coisas e não quero sentir. — Suas palavras me deram

esperança, mas tinha algo mais.

— Por que não quer sentir? — Minha pergunta a fez suspirar e se


afastar, balançando a cabeça. Eu podia sentir que a estava perdendo. Laura

estava deslizando entre meus dedos como grãos de areia. — Laura.

— Não vou me casar com você...


Calei suas palavras com a minha boca. Laura relutou por minutos,
até relaxar e me deixar conduzir nosso beijo. Eu apertei sua cintura

enquanto mordia seu lábio. Laura gemeu, me fazendo desejar curvá-la sobre
o balcão e foder sua boceta. Porra, fazia tanto tempo.

Suas mãos apertaram meus ombros e eu lambi sua boca. Chupei sua

língua e gemi quando ela fincou as unhas em minha pele.

— Não vomite em mim. Preciso foder você — falei com firmeza, e

ela gemeu contra minha boca.

Laura puxou minha blusa e eu arranquei o vestido folgado do seu


corpo. Segurei seus quadris largos e a ergui. Levei-a para o quarto enquanto

ela arranhava minhas costas. Quando chegamos a sua cama, ela mordeu
meu peito enquanto eu tirava sua calcinha e seu sutiã.

Fazia meses desde a última vez que coloquei Laura em uma cama e
beijei todo seu corpo. Tanto tempo, que senti sêmen vazar do meu pau ao

lamber seu mamilo e o puxar entre meus lábios. Enquanto tocava sua boceta
nua e molhada com meus dedos, seu corpo ficou mole. Laura gritou meu

nome enquanto eu a estimulava, e nunca me senti mais satisfeito. Quando


seu orgasmo explodiu, deslizei em sua boceta com calma.

— Meu Deus... — Gemi, tenso, enquanto Laura me apertava mais

forte que a minha própria mão. Sua boceta ainda parecia o céu. Meu céu.
Sua barriga estava no meio e meus movimentos me deixavam longe
dos seus peitos e boca. E, droga, eu queria um deles. Laura gritou quando

toquei seu clitóris e eu gemi, quase gozando instantaneamente.

Não demorou para que minha vista escurecesse e eu quase caísse

sobre a barriga proeminente de Laura. Porra, eu amava suas curvas com


nossa filha em seu ventre.

— Eu vou me casar com você. Não hoje, talvez não antes da Maitê

nascer, mas eu vou. — Minhas palavras ecoaram e eram tão verdadeiras.

Queria tudo de novo. Se Laura não se lembrasse de mim, eu a faria

me amar outra vez. Faria de Laura a minha esposa novamente. Eu lhe daria
lembranças.

Nossas lembranças.

Eu sabia que Laura era teimosa, mas eu levaria meu tempo para
fazê-la entender. Eu não tinha pressa, não mais. Eu sempre fui calmo e

centrado. Laura havia tirado um pouco disso de mim, mas eu podia sim
voltar a ser eu mesmo.

Eu podia esperar por ela.

— Você quer ficar comigo por nossa filha. — Laura se afastou e


pegou minha camisa jogada no chão. Quando ela se cobriu, meu peito

explodiu com possessividade. Ela era minha.


— Quero ficar por querer ter vocês duas — argumentei, me

sentando na cama.

Laura mordeu a boca, me olhando de cima a baixo, então inclinei a


cabeça, sorrindo.

— Não vou me casar com você — ela avisou mais uma vez.

Eu me ergui, segurei seu rosto e levei minha mão para a sua bunda.

— Você vai — afirmei, e antes que ela pudesse falar, eu a beijei.

— Pare de me beijar quando estou falando...

Mordi seu lábio e enfiei minha língua em sua boca. Laura derreteu
contra meu peito e envolveu os braços em meu pescoço.

— O que estava falando? — questionei, ainda com os lábios sobre


os seus.

— Você não pode me beijar quando estou falando...

Ela riu quando a beijei novamente.

— Laura D’Ávila, você vai ser minha morte.

Ela riu mais forte e eu me recordei de algo naquele momento.

Eu amava sua risada.

Eu amava fazer Laura rir.

Jurei fazê-la rir em todos os momentos a partir daquele.


Nós ficamos juntos o domingo inteiro, e no começo da noite
estávamos deitados com um balde de pipoca e sanduíches que Laura

comprou dizendo amar, enquanto assistíamos a uma série de comédia.

— Samantha é o que sua? — A pergunta soou enquanto um episódio

terminava.

Laura já conhecia Sam, mas ela não se lembrava. Sam, sim, e no dia
que veio à casa de Laura, ela realmente não sabia que Laura morava aqui.

Então, encenou dizendo que a conhecia do jantar na minha casa.

— Ela é afilhada da minha mãe — expliquei, enquanto nós dois

encarávamos a tela preta. — Ela não é uma namorada.

— Mas você já ficou com ela — Laura ponderou.

Eu me remexi até estarmos nos olhando. Antes dela. Da minha

Laura e dessa Laura.

— Já dormimos juntos, sim. Mas faz tempo. Samantha não é um

problema, Laura. — afirmei, segurando seu queixo.

Ela respirou fundo, por fim, acenou.

— Não estou com ciúmes, só não gostei dela.


— Tudo bem — murmurei, afastando o cabelo preto dela do rosto.
— Você não a verá muito. No dia da consulta, fiquei surpreso quando ela

colocou seu endereço no GPS.

— Ela disse que se mudou recentemente — Laura disse, me


encarando.

— Sim. Eu vim deixá-la aqui e percebi que moravam no mesmo


andar, mas nunca imaginei que ela fosse querer vir aqui te cumprimentar —

falei, levando a mão ao seu estômago. Maitê chutou a minha mão e eu


suspirei. — Maitê já me perdoou por ter esquecido a consulta. Será que a

mamãe rancorosa dela também? — Rindo, me curvei e beijei sua barriga


devagar, vendo Laura revirar os olhos.

— A mãe dela não é rancorosa, só ficou magoada. — Ela me

encarou com firmeza e suspirou audivelmente. — Quero poder viver a


vinda da Maitê com você. Porém, eu não quero me magoar e ficar

ressentida. Então, me surpreenda, Henrique. Não vou ficar esperando por


você.

Me sentei ao seu lado e a ajudei a fazer o mesmo. Laura engoliu em


seco quando toquei seu rosto e pressionei meu dedão contra seus lábios. Me
inclinei e vi seus olhos brilharem, então olhei diretamente para eles.

— Eu vou te surpreender, Laura.


Ela apenas me abraçou, não disse nada.

E eu sabia que modificar a insegurança dela em relação a mim seria

um período longo.

Domar Laura seria mais difícil do que eu pensava.

— Você vai dormir aqui? — Laura questionou quando deu meia-


noite e ainda estávamos na cama.

— Não, mas deixarei você dormindo — respondi enquanto me


erguia para calçar meus sapatos.

— Tá bom. — Ela mordeu o lábio.

Eu parei de me mover quando a vi agir assim.

— O que foi, Laura?

Voltei para a cama e olhei para ela. Seus olhos estavam cautelosos e
preocupados.

— Lucas está mandando mensagens...

— Laura, nós somos adultos — afirmei rapidamente e segurei seu


rosto. — Eu vou me casar com você porque eu quero, mas também por
respeito ao seu irmão...
— Henrique, pare com isso. — Ela se afastou e se ergueu. Laura
cruzou os braços e seu rosto estava irritado. — Não vamos nos casar. Amo

meu irmão, estou nervosa com ele, mas jamais vou fazer algo com base no
que ele acha. A vida é nossa, não dele.

Eu acenei e me ergui, procurando meu short jeans. Vesti-o enquanto


ficava em silêncio e Laura me encarava. Eu sabia que ela estava certa, claro
que eu não a forçaria a se casar comigo. Porém, eu queria fazer as coisas da

maneira certa.

Ela não queria o mesmo, eu entendia.

— O que está fazendo? — Laura mordeu a boca e Baby começou a


cheirá-la.

— Vou para casa. Você precisa descansar — murmurei e peguei

meus sapatos. Calcei rapidamente e parei na sua frente. — Fique com a


camisa, tenho outra no carro.

— Henrique...

— Ei, está tudo bem — avisei, me curvando e beijando sua testa. —


Qualquer coisa você me liga, o.k.?

— O.k. — Ela acenou e ficou me encarando enquanto eu saía do

quarto.
Maitê não gostava de ficar longe do pai, pelo que parecia. Durante a

noite ela chutou como nunca depois que Henrique foi embora.

Se eu dissesse que queria me casar com ele hoje, eu seria louca?

Desde que Lucas descobriu que Henrique era o pai da Maitê, há uma

semana, eu ficava ponderando isso no fundo da minha mente, enquanto


minha boca repetia uma e outra vez que eu não ia me casar com ele.

Mas, droga, eu queria. Queria muito.

Não era apenas um desejo, era necessidade.

— Ei, bom dia! Plantão? — A voz rouca que pertencia a um homem

bonito ecoou, então ergui meu rosto e encontrei Levi Sanderson. — Posso

me sentar com você?

— Sim para tudo. — Sorri e beberiquei meu chá. Cafeína estava

proibida para mim. — Cansada do plantão. Não vejo a hora de chegar a

minha casa.
— Eu estou quase jogando tudo para o alto e voltando para o

interior. — Levi riu e eu o segui. — Você é boa nisso. — Ele acenou para a

minha barriga.

Franzi as sobrancelhas, rindo levemente.

— Em quê?

— Tudo. — Ele apontou para a minha cabeça e desceu. — Combina

com você.

— Seria mais simples você dizer que eu estou bonita grávida —


falei, mexendo meu chá. Levei aos lábios, e quando ergui o rosto vi

Henrique parado na porta da cafeteria me olhando. Merda.

Ele andou até mim com os olhos duros, então me ergui

completamente nervosa. Eu não estava fazendo nada de errado. Certo?

— Ei. — Sorri assim que ele parou de andar e colocou a mão em

minha cintura. — Levi, esse é o Henrique. Pai da minha filha. Henrique

esse é o dr. Sanderson — apresentei os dois rapidamente e sorri para

Henrique.

— É um prazer, cara. Estava falando nesse momento o quanto a

gravidez combina com a dra. Lancaster. — Levi sorriu com simpatia, e eu

devolvi o gesto.
— Não posso discordar. Eu a manterei grávida pela próxima década.

Foi um prazer, preciso levar Laura para casa.

Os dois deram um aperto de mão rápido e eu engoli em seco

enquanto pegava minha bolsa. As palavras de Henrique ainda estavam

martelando na minha cabeça quando chegamos ao seu carro.

Ele havia vindo me deixar ontem, por isso fiquei sem carro. Ele

jurou me buscar e me levar para a casa. E aqui estava ele.

— Você chegou cedo — murmurei para preencher o espaço, mas

Henrique ficou em silêncio. — Você está me ignorando por quê?

Henrique apertou o volante e me encarou. Juro que nunca o havia

visto parecendo tão irritado.

— Aquele cara falou que você está bonita grávida.

— Eu sei. Você não concorda com ele? — questionei, tentando

amenizar o clima, mas parecia que o tiro tinha saído pela culatra. Henrique

me encarou possesso, então eu quis engolir minhas palavras.

— Você está brincando comigo? Um homem falou na minha cara

que você estava bonita grávida. Ele está interessado em você, Laura! —

Seus gritos foram abafados pelos vidros do carro fechados.

Agradeci por isso, pois estávamos parados em um sinal.

— Ele foi apenas educado.


Mentira. Levi estava me paquerando, mas eu não queria falar isso

para Henrique. Eu podia apostar que ele seria capaz de nos enfiar em uma

parede de tanta raiva.

— E eu sou o Pateta — ele grunhiu, eu apenas respirei

profundamente. — Você realmente está linda grávida, mas eu posso dizer

isso, não aquele idiota.

— Você pode, hum? — brinquei. Henrique me encarou,


semicerrando os olhos. Ergui a mão e apontei para o meu dedo anelar. —

Está vendo algo aqui? Pois é. — Eu ri quando vi o fogo em seus olhos.

— Laura, não brinque comigo.

— O quê? Estou falando a verdade. Você está todo possessivo, mas

não somos exclusivos e nem nada...

— Você quer sair com aquele filho da puta? — Seu grito me fez rir

ainda mais.

Henrique estava a um passo de ter um infarto, mas, infelizmente, eu

estava tendo uma crise de riso.

— Não, espera — pedi, enquanto continuava rindo. — Não quero.

Eu juro.

Minha risada continuou a encher o carro. Henrique balançou a

cabeça, focando no trânsito. Quando chegamos a minha casa, eu já estava


mais calma e o beijei para me despedir.

— Bom trabalho — murmurei, sorrindo e segurando a sua mão. —

Eu estou muito gata grávida, e só a minha opinião importa. Quero que me


ache bonita, claro, mas de resto, as opiniões não me servem. Nem positivas

e muito menos negativas. Deixe de ser ciumento. Te vejo mais tarde.

— Você se lembra da festa beneficente? — ele perguntou ao se

afastar após me beijar.

— Sim. Estarei aqui esperando você, linda e grávida.

Henrique bufou e revirou os olhos, me fazendo rir mais ainda ao sair

do carro.

À noite eu voltei do salão já com o cabelo e maquiagem prontos.

Meu vestido havia sido feito sob medida para hoje. O pano azul agarrava a

minha barriga como uma segunda pele e tinha uma fenda na perna direita.

Eu gostava de vestidos, e hoje era um evento importante para a empresa de

Henrique. Queria estar bonita.

Assim que deu o horário, escutei a campainha. Abri a porta e sorri


ao ver o pai da Maitê. Seu terno era preto e ele estava sem gravata, com

parte da blusa aberta. Tão lindo. E eu queria que ele fosse meu.
— Você está linda. — Ele sorriu me puxando pela cintura.

— Obrigada.

Nós entramos no elevador e antes que as portas se fechassem

Samantha apareceu. Seu vestido era justo e sem alças. Seus cabelos loiros

estavam presos com presilhas bonitas.

— Henrique! Oh meu Deus, você está lindo. — Seus olhos nem

mesmo me capturaram. Seu foco era ele. — Não sabia que estava aqui.

— Vim buscar Laura, você já a conhece — Henrique disse com

firmeza, então ela me encarou. Seus olhos se expandiram e seu desconforto

ficou óbvio.

— Oh, sim. Como vai, Laura? Meu Deus, você parece uma

melancia fofa.

Suas palavras eram fofas também, mas o tom não foi.

— Estou ótima. Obrigada. — Fingi sorrir e olhei para as portas,

rezando para que se abrissem.

— Henrique, quero agradecer pelos meses de aluguel. Estão me

ajudando muito nesse momento. — Samantha voltou sua atenção para

Henrique.

O quê?
— Não é nada de mais. Vamos lá.

As portas se abriram e eu tentei afastar essa informação da minha


cabeça a cada passo em direção ao carro.

— Eu ia chamar um táxi, mas posso ir com vocês, certo?

Sua voz altiva me deixou enjoada. Eu queria gritar com Henrique,

questionando o motivo de ele pagar o aluguel dela, e também queria gritar

que não!

Henrique pensava diferente.

— Claro, Samantha.

A viagem foi rápida, e em todas as vezes que Henrique tocou em


mim, eu me retesei e me afastei. Samantha conversou com ele por todo o

caminho, e sua voz já estava me deixando furiosa. Mais do que antes.

— Obrigada! — Ela sorriu ao se afastar quando chegamos ao local.

Tinha um tapete vermelho na entrada, eu realmente não queria

passar ali.

— Eu te encontro lá dentro — avisei enquanto me afastava de

Henrique. Percebi Samantha ali ainda, mas não a encarei.

— Não vou entrar sozinho, Laura. — Henrique me olhou confuso e


eu quis dar dois tapas nele. Por que homem é tão imbecil?
— Eu entro com você. Não tem problema — Samantha se ofereceu.

Eu juro por Deus, se ela ousasse, eu enfiaria minhas unhas na cara


dela.

— Samantha, você pode nos deixar sozinhos? — Henrique


questionou com firmeza e ela o olhou sem graça. Depois de acenar

engolindo em seco, ela sumiu entre as pessoas. — Querida, eu sei que você
está irritada, mas, por favor, entre comigo.

Não sei se foi o modo como falou ou o pedido em si, eu apenas

aceitei entrar, porém sem falar nada.

Os fotógrafos na entrada atiraram flashs em nossos rostos. Henrique

segurou minha cintura e eu tentei mascarar minha irritação sorrindo para as


fotos. Senti a mão de Henrique em minha barriga e o encarei. Deus, eu

poderia ver tanto em seus olhos, mas ainda me perguntava se era


verdadeiro.

Henrique me olhava como se eu fosse preciosa.

Eu era?

— Eu sou o homem mais sortudo dessa festa — ele sussurrou contra

minha orelha.

Nós entramos no salão e imediatamente fomos agraciados com a


presença da sua família. Érica sorriu e me abraçou, murmurando o quanto
eu estava bonita, deixando-me receosa com a sua reação. Henrique disse
que havia contado à família essa semana que eu estava grávida da sua filha.

Eu não havia visto ninguém desde que Lucas havia descoberto que
Henrique era o pai de Maitê.

— Você também — murmurei, me afastando. Gabriel apareceu


sorrindo largamente. — Oi, Gabriel!

— Você está linda. Quer dançar comigo? — ele perguntou, rindo e

piscando o olho.

Enquanto eu ria, Henrique o empurrou para longe.

— Sai fora, imbecil — ele rosnou.

— Querida — sua mãe se aproximou —, estamos ansiosos pela


chegada de Maitê. — A sra. D’Ávila me abraçou e eu sorri, relaxando por

um pequeno momento. A familiaridade dos seus braços me deixou tocada


por segundos.

— Obrigada. Eu também estou. — Me afastei e seus olhos piscaram


com uma emoção que momentaneamente não entendi.

Enquanto seguíamos a uma mesa destinada à família D’Ávila, eu vi

Lucas um pouco afastado me observando. Com o coração acelerado e sem


encarar Henrique, eu pedi licença e caminhei na direção do meu irmão.

— Ei, tudo bem? — perguntei, parando ao seu lado.


— Sim, claro. Você está linda. — Ele sorriu para mim e eu deslizei

meus dedos pela sua mão. Estávamos afastados de todos, então ninguém
poderia ver nossa interação.

— Eu sei. — Ri devagar e ele fez o mesmo. — Gosto do Henrique.

Tipo, muito, Lucas... Sei que pode parecer volátil, mas eu realmente gosto
dele.

— Laura, me desculpe. Isso não dizia respeito a mim, e precisei


perder Tara para compreender, mas — Lucas limpou a garganta e me

encarou — precisamos conversar.

— Tara terminou com você? — Arregalei meus olhos, preocupada.

— Sim, mas isso não importa agora. Só me desculpe. Vou continuar

cuidando de você e Maitê. Não importa o quê, sempre estarei aqui.

— Eu sei e eu te amo. — Meus olhos se encheram de lágrimas e eu


me inclinei para beijar o seu rosto.

— Vá para o seu... — Suas palavras me fizeram ficar rígida, mas


Lucas apenas riu. — Eu sei que vão se casar.

— Pare com isso! — ordenei, semicerrando os olhos enquanto


Lucas se afastava.

Voltei a caminhar em direção à mesa e vi Samantha sentada no meu

lugar. Me aproximei e encarei Henrique, que estava conversando com um


homem mais velho.

— Ei, querida, venha aqui — ele me chamou, o modo como ele


falou me fez andar. — Laura D’Ávila, minha esposa e pediatra infantil. —

Henrique me apresentou, parecendo tão normal que tentei não demonstrar o


meu choque.

Relaxei contra seu corpo e cumprimentei o homem e a esposa que vi

ao seu lado. Quando eles sumiram, Henrique falou com outras mil pessoas.
Meus pés estavam doendo e eu só queria uma cadeira.

— Preciso me sentar — avisei a ele enquanto gemia.

— Baby, não diga isso. — Henrique riu quando rapidamente ergui


minha cabeça com os olhos arregalados. — Vamos lá. Vão servir o jantar.

— Ele se esquivou quando tentei beliscar sua barriga.

Voltamos para a mesa rindo, e quando cheguei procurei Samantha,

mas ela havia sumido. Menos mal.

— Você gostou? — Henrique questionou quando finalizei meu


jantar.

— Sim, estava delicioso. Obrigada — murmurei em resposta


enquanto sentia Maitê se mexer. Ela amava fazer um rebuliço em minha

barriga após as refeições.

— Lucas está bem? — Henrique sorriu, atraindo a minha atenção.


— Tara terminou com ele. Preciso falar com ela — falei, sentindo a
preocupação aflorar em meu peito.

— Nossa, que merda — Henrique murmurou.

Eu acenei, ainda preocupada com meu irmão.

Nós passamos mais uma hora na festa, e como num passe de mágica
Samantha apareceu na hora de irmos embora.

— Ainda bem que encontrei vocês. — Ela riu enquanto entrávamos


no carro. — Laura, desculpe a pergunta... é que algumas meninas me

alertaram sobre isso, mas eu não havia percebido. Você não gosta de mim?

Eu me virei no banco e senti Henrique me tocar.

— Eu não gosto da maneira como você olha para o Henrique e

como adora tocá-lo. Se você parar de fazer essas coisas, certamente eu


passarei a desgostar menos — falei com firmeza.

Ela arregalou os olhos, parecendo completamente ofendida.

Foda-se.

— Mas nós somos quase irmãos... não sinta ciúme...

— Eu sei que vocês já ficaram, então me poupe — argumentei,


voltando para o meu lugar.
Samantha não falou mais nada, e eu, tampouco. Henrique parecia
sem língua, pois não pronunciou uma palavra sequer. Assim que ele

estacionou, eu saí do carro e entrei no prédio.

Quando chegamos a minha casa, Henrique me encarou com os olhos

arregalados.

— Você está intensa, Laura...

— Intensa? Eu descobri que você paga as contas dela, Henrique!

Que porra é essa? — gritei, frustrada e irritada. — O jeito dela... você


aceitando levá-la...

— Laura, você está louca...

O vaso voou e aterrissou bem ao lado da cabeça dele. Henrique


gritou amaldiçoando, enquanto eu respirava fundo, tremendo.

— Nunca mais me chame de louca, Henrique D’Ávila!


Eu sabia que tinha falado merda antes mesmo do vaso voar em

minha direção. Laura estava arfando, com os olhos cheios de fúria e ciúme.
Droga, eu não queria me sentir bem, mas me sentia. Bem pra caralho.

— Samantha é afilhada da minha mãe. Ela tem um sentimento de


cuidado com ela e eu sou o responsável pelo dinheiro da minha família.

Ajudei Samantha por causa dela. Isso não é algo pessoal, Laura — falei,

quando Laura começou a andar para o quarto e eu a segui.

— Você já ficou com ela. — Ela parou no quarto e tirou os sapatos.


— Eu acho que ela morar aqui tem algo a ver conosco, mas não vou ficar

pensando sobre isso. Estou cansada e quero que você vá embora!

Eu respirei fundo e passei a mão pela minha barba por fazer. Me

aproximei dela e segurei sua cintura. Laura ficou tensa quando toquei sua

bochecha.
— Se eu sair por aquela porta, eu vou até Samantha e a trarei aqui

para dizer que eu não a toco há um ano ou mais. Eu não a quero. Quero

você. — Apertei meu domínio sobre ela quando seu corpo ficou rígido ao

escutar o nome de Sam.

— Você está mentindo...

— Eu não tenho motivos para mentir.

Encostei Laura na parede e me inclinei, escovando meus lábios nos

seus. Meu pau pulsou quando mordi a pele sensível do seu pescoço. Suas

mãos foram para meu peito e ela arranhou minha pele.

— Eu quero você, dra. Lancaster. Eu vou foder você agora, até você

esquecer que um dia eu toquei em outra mulher.

Laura arquejou e eu beijei sua pulsação. Deslizei seu zíper e puxei o

decote do seu vestido, liberando seus seios. Eles estavam tão bonitos, porra.
Cheios, com mamilos que imploravam para serem chupados.

Deslizei minha língua sobre eles e Laura puxou meu cabelo

enquanto gritava. Porra.

Chupei e mordisquei devagar enquanto ela se atrapalhava ao abrir o

zíper e descer minha cueca. Gemi quando seus dedos finos seguraram meu

pau. Laura deu um aperto firme e eu senti uma gota do meu esperma vazar.

— Eu quero... — Laura se afastou.


Eu perdi mais líquido do meu pau quando ela se ajoelhou. Sua boca

me levou e eu segurei seu cabelo enquanto tentava não a sufocar.

Suas unhas entraram em minhas coxas e eu tremi. Sua língua

deslizou e ela lambeu a cabeça como a porra de um picolé. Foda-se.

Continuava a mesma coisa perfeita. Laura sempre fez um boquete como

ninguém.

— Vem aqui. — Puxei-a e tirei o restante do seu vestido. Deitei seu

corpo sobre a cama e retirei sua calcinha de renda. — Abra suas coxas —

pedi, vendo seu peito subir e descer. Quando ela o fez, eu suspirei. Porra.

Me inclinei e beijei sua coxa, mordi sua carne e ouvi Laura grunhir.

Eu sorri antes de fechar meus lábios sobre seu clitóris inchado.

— Ah, meu...

Deslizei meu dedo em sua abertura e comi sua boceta como uma
refeição, deslizando a língua em suas dobras, mordendo e chupando seu

botão inchado. Laura gozou em meu rosto com pouco tempo e eu me ergui.

Substitui meu dedo pelo meu pau e eu quase gozei ao sentir o quão molhada

ela estava.

— Henrique... — Ela arqueou e minha boca encheu de água,

querendo levar seu mamilo à boca, mas sua barriga me impedia. Fodi Laura
ora lento e ora rápido. Quando ela gozou, me apertando, senti um arrepio se

alastrar e eu gozei.

Caí ao seu lado e puxei Laura para mim enquanto ainda estava

vendo pontos vermelhos. Ela beijou meu peito e eu me lembrei dos seus

seios. Porra. Me afastei e levei um deles para mim. Laura gritou com susto

e eu sorri.

— Henrique!

— O quê? — murmurei, soltando em um pop.

— Idiota. — Ela riu, cobrindo-se com o lençol.

Fiquei observando-a, querendo saber se isso era um sonho. Se eu

acordaria na minha cama sem ela, desejando que ela nunca tivesse se

acidentado. Que nós nunca tivéssemos viajado.

Abracei seu corpo com mais força e nós adormecemos um sobre o

outro.

No dia seguinte, Laura me levou para o shopping para que

comprássemos as coisas da Maitê. Ela sempre amou fazer compras, então

eu sabia que demoraríamos.


— Marrom ou branco? — Estendi as cores dos móveis na frente do

seu rosto.

Ela pensou por um tempo, enquanto estava com uma bolsa contra o
peito.

— Branco.

Nós já havíamos escolhido os móveis, por isso apenas estendi meu

cartão para a vendedora. Ela sorriu enquanto Laura me encarava com rugas

na testa.

— Não faça isso...

— O quê? — perguntei, enquanto esperava pelo meu cartão.

Laura revirou os olhos e cruzou os braços acima da barriga. Quando

saímos da loja, ela me encarou, parecendo irritada.

— Eu quero pagar por algo. Você já pagou pelos móveis e pelas

roupas dela.

— Querida, está tudo bem... — falei, rindo e segurando sua cintura.

Laura parou de andar e me encarou com firmeza.

— É sério. A próxima coisa eu pago. — Ela cruzou os braços e eu

ergui as mãos, acenando.

— Tudo que você desejar, baby.


Ela sorriu e eu coloquei meu braço sobre seus ombros. Nós fomos a

várias lojas, e quando Laura disse que seus pés estavam doendo e não

aguentava mais, eu a levei a um restaurante. Quando chegamos, eu comecei

a ficar nervoso.

Laura e eu amávamos esse lugar. Eu a pedi em casamento na praia

em frente a ele.

Fazia meses que eu não pisava aqui. Meses desde a última vez que

Laura disse que me amava na nossa mesa preferida.

— Boa tarde! Oh, senhor e senhora D’Ávila, quanto tempo! —

Diana apareceu com um sorriso gigante.

Engoli em seco. Droga. Esqueci que todos aqui nos conheciam, nos

tratavam como amigos. E era óbvio que nenhum deles sabia sobre o
acidente de Laura.

— Oh meu Deus! — Diana gritou. Laura tirou os olhos dela e se

virou para mim enquanto franzia as sobrancelhas. — Você está gravida!

Que benção! — A garçonete estava tão feliz, que se jogou nos braços de

Laura.

A mãe da minha filha a abraçou de volta, mas a confusão estava


refletida em seu rosto. Graças a Deus ela se recuperou rápido, agradecendo

a Diana com a simpatia de sempre.


— Vamos, levarei vocês para a mesa...

— Obrigado. Será ótimo — eu a interrompi abruptamente.

Diana acenou e nós fomos para a mesa. Fiz nossos pedidos enquanto

Laura olhava para a praia, encantada.

— Ela me chamou de sra. D’Ávila — Laura sussurrou assim que

Diana saiu. — Quero dizer... isso é estranho? Você a conhece? — Suas

sobrancelhas se juntaram e as palavras quase saíram por meus lábios.

— Já vim outras vezes e disse que era casado. Ela deve ter juntado

dois mais dois — menti, sentindo o gosto amargo da traição. Eu precisava


conversar com o médico dela. Precisava saber se era seguro lhe contar a

verdade.

— Oh, mas você mentiu por quê? — Laura ainda estava com o rosto
franzido.

— É mais fácil quando tem mulheres ao redor.

Laura revirou os olhos e eu sorri, dando de ombros.

— Convencido.

— O quê? Eu não sou. Estou sendo realista — brinquei, passando a


mão no cabelo.

Laura deu uma risada e eu relaxei. Estava tudo bem.


— Esse lugar é incrível. — Ela olhou ao redor e suspirou ao sentir a
brisa do mar. Seu rosto ficou tenso e eu me inclinei, preocupado.

— O que foi? — perguntei, tirando seu cabelo do rosto.

— Eu tenho umas sensações estranhas de vez em quando. — Laura


olhou para a mesa e ergueu o rosto parecendo agoniado. — Quando vou

dormir, por exemplo, parece errado. Não me sinto em casa. — Suas


palavras fizeram meu peito contrair. — Agora, eu senti tanta paz... ai meu

Deus, eu devo estar ficando louca. — Ela riu e eu capturei uma lágrima da
sua bochecha.

— Não, baby. São seus sentimentos. — Tentei consolar Laura, mas

nem eu mesmo estava conseguindo me conter.

Ela sentia que era minha? Que sua vida era outra antes do acidente?

— Eu sei. — Ela suspirou e tocou a cicatriz que havia ficado em seu


pulso. Laura o quebrou no acidente. — Vamos parar de falar disso, o.k.?

Eu acenei e nós conversamos sobre tudo e nada enquanto comíamos.

— Eu pego você em duas horas — avisei, enquanto ela descia do


carro.

— Para onde vai me levar?

Para a nossa casa.


— Para minha casa.

Laura mordeu o lábio e acenou rapidamente. Me inclinei, segurando

seu pulso e a beijei. Logo ela se afastou e caminhou para o apartamento.

Dirigi até a empresa e suspirei ao encontrar Lucas na entrada.

— Preciso falar com você — murmurei com firmeza, e ele acenou.

Nós subimos e eu tranquei a porta, respirando fundo.

— Não quero mais mentir para Laura. Estou cansado de mentiras e


dissimulações — resmunguei, afrouxando minha gravata.

— O médico dela...

— Eu sei o que o médico dela disse! — gritei, furioso. — Você não


se lembra? Eu estava lá enquanto você e ele a tiravam de mim!

— Foi para o bem dela, Henrique! — Lucas apertou os olhos e


punhos, rígido. — Você acha que eu queria afastá-la de você? Do único cara

que a fez feliz?

— Parecia, Lucas. Eu implorei a você!

— Ela é minha irmã. Se um médico do caralho me diz que ela pode

se recuperar melhor sem saber o que esqueceu, porra, é isso que vou fazer.

— Minha decisão deveria ter sido levada em conta. Eu sou o marido


dela! Não a porra de um namorado — argumentei, com fúria. — Eu poderia
ter ido para a justiça, mas não fui...

— Por que você não foi, Henrique? — Lucas gritou, rindo. Ele abriu

os braços, me estimulando.

Eu o odiava.

Porque enquanto eu estava culpando-o, eu também sabia que ele fez


o certo. Não fui à justiça porque eu também tinha levado em consideração o
que o médico dela falou. Fiquei com medo de fazer mal a ela. Porém, eu me

agarrei a esperança de que Laura se lembrasse de mim sozinha.

Isso não aconteceu.

— Eu vou contar a ela — afirmei, engolindo em seco.

— Ela estando grávida? — Lucas me fulminou com os olhos. — Ela


vai ficar desnorteada, ela... Ela pode fazer mal a Maitê...

— Nunca. Laura nunca faria mal a nossa filha.

— Estou cansado de tentar fazer você entender as coisas. Faça como


achar melhor. Você é o marido dela. — Lucas balançou a cabeça e andou

em direção à porta. — Mas eu acho que você sabe como Laura lida com
mentiras.

Foda-se.
Fechei meus olhos, me apoiando na mesa assim que ele saiu e

fechou a porta. Ela me odiaria. Eu sabia disso, mas o que diabos eu faria?
Continuaria mentindo?

— Olá, tudo bem no paraíso? — Gabriel entrou sem bater e eu


respirei fundo. — Ei, cara, tudo certo? Vi Lucas lá fora...

— Quero contar a Laura — murmurei ao me virar.

— Cara, calma. — Ele arregalou os olhos. — Vocês estão juntos de


novo...

— Eu sei, mas ela merece saber...

— Saber o quê? Faça novas lembranças. Case novamente, leve-a


para morar com você. Recomece, Henrique. — Gabriel se aproximou e me

olhou sério. — Você tem sua garota de volta, você a tem, Henrique, por que
diabos você quer mudar isso?

— Não quero mudar nada, eu só estou cansado de mentiras.

— Laura está bem. Deixe o tempo trazer suas lembranças. Quando


estiverem casados novamente, morando juntos, e ela descobrir, será mais

fácil.

Mais fácil.

Eu respirei fundo e esfreguei meu rosto.


Eu queria o mais fácil?

Queria, mas e se eu a perdesse no processo?

Estacionei o carro em frente a nossa casa e Laura sorriu, ansiosa.


Abri sua porta depois de sair do carro e a levei até o elevador. Ela estava

com uma mochila com algumas roupas e coisas de higiene, pois pedi que
passasse a noite aqui.

— Você é milionário — ela murmurou, indo de um pé para o outro,


nervosa.

— Bilionário — esclareci, colocando minhas mãos em meus bolsos.

Laura arregalou os olhos e engoliu em seco.

— Meu dinheiro te assusta? — perguntei, calmamente.

Quando nos conhecemos ela também ficou desconfortável com meu

dinheiro. E por causa dela, da sua influência, comecei a ajudar mais causas
sociais.

— Não vejo necessidade em ter tanto. Ninguém precisa de bilhões

para viver. — Laura engoliu em seco, mas sorriu devagar. — Porém, você
não tem culpa de ser rico... bilionário.
Eu ri e me aproximei, abraçando seu corpo. Beijei seus cabelos e
Laura envolveu seus braços em minha cintura.

— Laura, você é um ser humano incrível.

Ela era.
— E você está no caminho para ser um — brinquei, sorrindo.

— Magoou, amor. — Henrique levou a mão ao peito, fingindo dor.

Meu estômago deu uma volta e eu suspirei, completamente


apaixonada. Deus, eu amava esse homem. Amava-o tanto que me sufocava.

Mas como? Tão rápido?

— Vamos lá! — Henrique me guiou para fora.

Suspirei quando ele abriu a porta enorme. A primeira coisa que vi ao

entrar foi um sofá enorme. Ele era branco e havia uma mesa de vidro a sua

frente. A TV na parede era enorme e havia um videogame na parte inferior.


As paredes eram lisas, em tons neutros. Flores estavam espalhadas pela

casa, deixando-a tão acolhedora. Meu coração amoleceu e eu tentei engolir

em seco, com medo dos meus sentimentos. A emoção estava entupindo meu

nariz e eu não conseguia me mexer. Quando constatei o óbvio, eu quis


chorar.
Eu me sentia em casa.

Por quê? Eu nunca havia pisado aqui, por que eu sentia que isso

tudo era meu?

Henrique ficou parado enquanto eu dava um passo para a frente.

Meu coração sacudiu ao ver o corredor para outro cômodo. Fui para ele

como se eu estivesse sendo chamada. Assim que a cozinha apareceu, eu


suspirei. Tudo era de inox. Ela era perfeita. Passei meus dedos pelo balcão e

suspirei, fechando os olhos.

Não quero você na minha cozinha.

Arregalei os olhos ao ouvir a minha própria voz. Franzi as

sobrancelhas e ergui o rosto, encontrando Henrique parado, apoiado na

parede me encarando.

Eu estava ficando louca.

Desviei os olhos dele e andei de volta para a sala. Vi a escada e subi

os degraus, sentindo meu peito bater descontroladamente. O que estava

acontecendo comigo?

Andei até a última porta, sentindo que atrás dela havia algo. Algo

meu. Eu não entendia meus sentimentos, mas eu segui meu instinto.

— Laura. Você está bem? — Henrique falou nas minhas costas.

Não.
Abri a porta e olhei ao redor, vendo a cama enorme, as portas para o

banheiro e closet. Toquei a colcha, passando meus dedos com calma e

suspirando, tentando entender o que estava acontecendo comigo.

— Amor?

Fechei meus olhos ao ouvir sua voz e o apelido carinhoso.

Amor, você pode trazer a toalha?

Oh meu Deus. Levei a mão aos meus lábios e me sentei, tentando

respirar. Apavorado, Henrique se aproximou, mas eu ergui a mão, parando

seus movimentos.

— Eu... minha cabeça... — Apertei minhas têmporas, tentando me

acalmar.

Pare com isso. Por favor, pare com isso.

— Laura, o que está acontecendo? — Henrique questionou, e a

preocupação em sua voz me fez erguer os olhos.

— Eu quero ir embora.

Ele deu um passo em minha direção e eu me encolhi. O que estava


acontecendo comigo? Por que eu estava escutando essas frases? Eu disse?

Mas como? Quando?

— Eu vou ficar no hall. Lucas pode vir me buscar...


— Laura, pelo amor de Deus...

Eu peguei meu celular na bolsa e disquei o número do meu irmão

enquanto meu coração ainda batia com força. Henrique ficou parado, sem

reação. Eu não o culpava. Eu estava agindo como uma louca.

— Oi, Batatinha.

— Me busque no apartamento do Henrique — pedi, me afastando

da cama.

— Aconteceu algo? — Lucas questionou, sua voz soou

completamente apavorada.

— Logo.

Desliguei enquanto descia a escada com cuidado para não cair. Ouvi

Henrique me seguindo enquanto eu tentava respirar. Uma porta ao lado da

sala estava aberta, e como um chamado, mudei minha rota e forcei a

maçaneta.

Me curvei ao sentir minha cabeça doer. O divã bonito e cor de

creme piscou na minha mente, e quando abri os olhos ele estava

materializado diante de mim. Havia uma prateleira de livros, suspirei ao me

ver sentada ali.

— Laura, por favor, se acalme. Sente-se aqui. — Henrique segurou

meu braço e me puxou em direção ao sofá.


Me sentei e ele foi para a cozinha. Quando ele colocou um copo em

meus dedos, consegui o encarar.

— Eu... eu... — Tentei explicar, mas parecia tão louco.

— Tudo bem, amor. Beba. — Henrique guiou o copo até meus

lábios, então dei pequenos goles do líquido gelado.

— Eu gostei da casa. Tá? — Me apressei para explicar quando

imaginei que ele pudesse pensar o contrário. — Minha cabeça que tá...

— Laura, nós precisamos conversar. — Henrique segurou minhas

mãos e beijou meus dedos, parecendo muito culpado. Porém, ele não tinha

culpa de nada.

Eu era a culpada.

— Você sofreu um acidente...

— Sim, eu sei. Como você sabe disso? — perguntei, frustrada por

ele querer conversar no meio de um surto meu. — Isso não importa. Eu

gostei da sua casa, mas eu preciso ir.

Eu preciso de Baby e da quietude que meu apartamento me dava.

— Laura, por favor. — Henrique se ajoelhou e eu parei de falar,

engolindo em seco. — O que você se lembra do acidente?

O quê?
Franzi as sobrancelhas, porém tentei pensar para respondê-lo. O

branco na minha mente não me assustou, eu sempre forçava para recordar,

mas nada aparecia. Lucas e meus médicos disseram que era porque eu havia

batido a cabeça.

— Não lembro...

— Como foi o acidente, Laura?

Henrique me encarou com seus olhos verdes intensos enquanto eu

respirava com dificuldade. Seus olhos eram tão lindos, acolhedores. Eu os

amava.

— Eu estava viajando com Lucas. Nós fomos andar de...

O interfone tocou e Henrique fechou os olhos com força. Toquei seu

rosto e beijei seus lábios castamente. Não queria ir embora sem estarmos

bem.

— Olha, eu estou bem, o.k.? Amanhã a gente se encontra na saída

do meu trabalho — falei, acariciando sua barba por fazer. Henrique só

acenou devagar. — Agora, se despeça da sua filha.

Henrique se inclinou e beijou meu ventre, sussurrando palavras

bonitas para Maitê.

Saí do seu apartamento engolindo em seco e tentando compreender

o que havia acontecido. Eu não tinha respostas para essa questão.


Lucas apareceu assim que o elevador se abriu. Meu irmão se

aproximou, capturando cada parte do meu rosto, então sorri para acalmá-lo.

— Está tudo bem. — Tranquilizei-o, engolindo em seco.

— Laura...

— É sério. — Andei para o seu carro e ele me seguiu, calado.

Nós entramos em seu veículo e eu suspirei ao ver as flores diante de

mim.

— Você estava indo ver Tara? — questionei, me virando para vê-lo.

— Sim, mas vou amanhã. — Lucas dirigiu para fora do

estacionamento.

— Só me deixe em casa e vá. Por favor — implorei, me sentindo


uma pentelha por ter estragado sua noite. — Lucas, Tara é sua noiva. Você

precisa consertar as coisas...

— Eu sei, Batatinha. Eu vou.

Mas ele não foi vê-la. Ele ficou a noite comigo, me fazendo
companhia.

Eu me senti pior.
Bocejei, me balançando de um lado para o outro enquanto esperava
por Henrique. Estava cansada e queria dormir um pouco antes de preparar o

jantar. Convidei Tara para comer comigo. Obviamente, ela sabia que era
uma tentativa de consertar as coisas entre ela e meu irmão.

— Olá, dra. Lancaster. — Levi apareceu ao meu lado e eu sorri.

— Olá, dr. Sanderson — cumprimentei-o e encarei meu relógio.


Henrique estava atrasado dez minutos. Onde ele estava?

— Você precisa de uma carona? — Levi ofertou, então ergui o rosto.

Não queria aceitar. Sabia que Henrique surtaria com isso.

— Eu agradeço, mas estou esperando Henrique — falei, tentando

soar tranquila.

— É claro. Tenha um bom descanso, Laura. — Ele sorriu e se


afastou, porém parou no caminho. Eu o vi se virar em minha direção

enquanto o nervosismo agitava meu estômago. — Eu estive parado


observando você o esperar pelos últimos vinte minutos.

Vinte?

— É uma carona, Laura. Só isso.

Levi me fez suspirar e eu acenei. Ele estava certo. Era só uma

carona.
Quando entrei em seu carro, Levi sorriu e dirigiu em silêncio todo o
caminho. Quando ele estacionou, eu agradeci e saí do carro. Fiquei vendo-o

ir embora no exato momento que meu celular começou a tocar.

— Você recebeu minhas mensagens? — Henrique questionou na

linha, parecendo correr.

— Oh... não — murmurei, engolindo em seco.

— Você está na sua sala? — ele perguntou, confuso. — Eu fiquei

preso no trânsito com um pneu furado. Gabriel teve que ir me resgatar.


Onde você está?

Eu respirei fundo.

— Em casa.

— Como assim? Você chamou um Uber? — Sua voz saiu

desanimada.

Meu peito apertou e eu me senti tão estúpida. Não vi minhas


mensagens, apenas meu relógio de pulso.

— Levi me trouxe.

— O quê? — Seu grito ecoou enquanto eu entrava no meu prédio.


— Você está brincando comigo, Laura?

— Eu só pensei que você não me buscaria...


— E você aceita carona dele? — Sua voz apertou.

— Você pode vir para minha casa? — Tentei acalmá-lo. — Nós

podemos assistir a um filme...

— Não. Melhor não. — Henrique desligou o celular.

Mordi meu lábio, sentindo vontade de chorar. Entrei no elevador, e


quando as portas iam se fechando Samantha entrou. Era só o que faltava.

— Laura! — Ela sorriu forçadamente, e eu fiz o mesmo. — Pensei

que a essa altura já estivesse bem.

Bem?

— Eu estou bem — rebati, insultada.

— Oh... — Samantha fechou os lábios assim que as portas do


elevador se abriram. — Diga a Henrique que mandei um oi.

— Não, não vou. Por que você não se empenha em conseguir um

homem para você e deixa o meu de lado? — questionei, furiosa.

Ela sorriu e arqueou a sobrancelha.

— Henrique logo vai se dar conta da porca gorda que está ao lado
dele...

Arregalei os olhos e me aproximei até ficar bem perto dela.


— Ele se esbalda nas curvas da porca gorda. Mas isso você não

sabe, certo? — Olhei-a de cima a baixo e me afastei. — Aliás, vou dizer a


ele do seu oi quando ele estiver beijando a minha boceta, sua rata molhada!

Samantha arregalou os olhos e sua boca caiu aberta. Foda-se.

Bati minha porta fechada e respirei profundamente, tentando me


acalmar.

— Uau, porra.

Gritei, levando a mão ao peito quando a voz de Tara soou.

— Chaves extras, antes que pergunte. — Ela ergueu minha chave e

eu suspirei, andando até o sofá que ela estava. Me sentei ao seu lado e
minha cunhada colocou os braços sobre meus ombros.

— Eu a odeio — murmurei, sentindo lágrimas encherem meus


olhos. — Ela já o teve e isso me deixa tão puta.

— Querida, se a minha vizinha já tivesse fodido Lucas, eu a mataria

— Tara murmurou completamente séria, me fazendo rir. — Quero meu


preto de volta, Laura.

Ergui minha cabeça e vi lágrimas em seus olhos.

— Ele não foi a lugar nenhum e você sabe disso — afirmei,


limpando suas bochechas.
— Eu sei, mas ele é um bundão, mandão e chatão.

— Tantos “ãos”. — Ri, me afastando. Tara deitou a cabeça em meu


colo, acariciando Maitê. — Lucas ama você. E ele está miserável. Sei que

minhas dores se transformaram em suas, mas eu e Henrique estamos bem e


Lucas nos apoia.

— O quê?

— Sim, então, por favor, pode perdoar meu irmão e a gente ir a um


encontro duplo? — Sorri entusiasmadamente.

Tara me encarou por alguns segundos, parecendo pensar.

— Claro, Laura.

Eu dei um gritinho e Maitê chutou a cabeça da tia.

— Ai, Rambo — Tara resmungou, acariciando-a.

Nós fizemos o jantar, e enquanto Tara preparava a sala, enviei


mensagem a Lucas pedindo-o para vir aqui. Eu daria meu jeito nesses dois.

Hoje. Nós duas comemos, e quando a campainha tocou, eu peguei minha


bolsa e um casaco.

— Ei, onde você pensa... — Tara parou de falar quando Lucas abriu
a porta. — Obrigada, Laura. — Ela me fulminou com os olhos.

Lucas me encarou, depois a sua noiva.


— Volto em alguns minutos, prometo.

Saí de casa e deixei os dois a sós, esperando que eles se resolvessem

e fizessem sexo em pé. Não na minha cama e muito menos em meu sofá.

Atravessei a avenida e andei pelo calçadão, vendo crianças e adultos


caminhando. Afundei meus pés na areia fofa da praia e andei até ficar a dois

metros das ondas bonitas. Me sentei e peguei meu celular, a luz forte me
cegou por alguns segundos, e quando pensei em abrir meus olhos, flashs

apareceram em minha mente.

Henrique estava rindo enquanto eu estava com um vestido longo e

bonito. Estávamos em frente ao mar, só nós dois. Henrique parecia tão leve.
Tão feliz. Ele falou algo e eu pedi que repetisse, brincando, mas não

consegui realmente ouvir nada.

— Case-se comigo, amor. — Seu pedido me fez ofegar e eu levei a

mão à boca, tremendo.

No primeiro momento, eu não acreditei. Olhei para ele com os olhos


arregalados e o vi cair de joelhos. Meu coração bateu descompassado. Eu
podia sentir a felicidade irradiar por todos os meus poros.

E eu disse sim. E ele disse que me amava.

Meu coração golpeou minhas costelas e eu lutei para respirar.

Eu conhecia Henrique. Eu... Nós éramos noivos.


Oh meu Deus...
Joguei o celular na parede, porém, no segundo seguinte corri para

pegá-lo. E se ela ligar? Meu peito estava apertado. Laura havia saído ontem
e não retornou para a casa. Lucas me ligou procurando-a, mas ela não

estava comigo.

Tentei pensar em tudo que falei ontem, em como agi como um idiota

ciumento e a deixei sozinha. Eu deveria estar com ela naquele momento. Eu

deveria saber onde diabos ela estava agora, mas eu não sabia. Não fazia
ideia.

Pensei em suas amigas da escola, Bianca e Louise, então procurei o

número delas. Louise não atendeu, mas Bianca sim.

— Henrique, hum, oi! Laura está bem? — Sua pergunta abrupta me

disse que ela não sabia de Laura também.

— Olá, Bianca. Liguei para saber exatamente se ela está com você.
— Engoli em seco, passando a mão pelos cabelos.
— Não. Eu não a vejo há meses.

O.k. Respire e pense, Henrique. Pense.

— Obrigado. — Desliguei o celular, sem esperar por sua resposta.

Andei até a sala e peguei minhas chaves. Havia passado a noite

dirigindo por todos os lugares que eu e ela conhecíamos. Todos os lugares,


mas ela não estava em nenhum deles. Entrei em meu carro e liguei para

Lucas.

— Nada. Ela não está com a tia Alice... cara, que porra! — ele
gritou, surtando.

Apertei meu punho contra minha boca, tremendo.

— Ela se lembrou. Laura não sumiria assim. Nunca — falei,

engasgado. Lucas parou de respirar. — Ela nunca deixaria sua tia ou você

preocupados. Nunca. Isso não é ela.

— Droga. Meu Deus. — Ouvi algo quebrar e senti minha garganta

fechar.

— Pense, Lucas. Qualquer lugar. O mais inusitado, não importa. Por

favor, só se lembre. Diga qualquer lugar, eu preciso encontrá-la — pedi,

desesperado, quando as lágrimas começaram a deslizar por meu rosto.

Laura, por favor, querida.


— Ela só esqueceu você, Henrique. — Lucas jogou em meu rosto o

que eu lutava para não pensar em todos esses meses. — Se ela está se

lembrando, ela deve ir a um lugar de vocês.

— Eu a pedi em casamento na praia, ela não está lá. Fui ao

restaurante... em todos os lugares... — Parei de respirar. Menos em um. —

Preciso desligar — falei abruptamente e desliguei.

Pisei no acelerador e virei à esquerda, voltando pela avenida. Não

demorou até que eu parasse em frente à catedral de Santa Monica. Desci do

carro com pressa e subi os degraus de dois em dois, tentando pensar no que

dizer. Em como fazê-la me entender.

Assim que coloquei os pés na igreja que nos casamos, eu vi o cabelo

escuro de Laura. Ela estava sentada em um dos bancos olhando para o altar,

como se estivesse assistindo a um desenrolar diante dos seus olhos.

Me aproximei lentamente e me sentei atrás dela, ouvindo meu

coração bater contra minhas costelas, maltratando e me punindo.

— Você se lembrou — murmurei, tentando permanecer forte.

Laura não se moveu. Escutei sua respiração e a ouvi fungar.

— Estávamos casados há seis meses quando você sofreu o acidente.

Você não viajou com Lucas, foi comigo. — Minha voz soou firme, mas eu
não me sentia assim. Ela continuou em silêncio e eu suspirei. — Você

estava dirigindo e bateu contra uma árvore...

— Eu sei...

— Ficou dias dormindo e quando acordou... você não lembrava de

mim. — As palavras ficam entaladas em minha garganta.

— Vocês mentiram para mim — Laura sussurrou, suas mãos foram

para seu rosto. — Você sabia quem eu era naquele elevador...

— Sabia.

— E ainda assim transou comigo lá...

— Sabe há quantos meses eu não chegava perto de você? Quando

tive a oportunidade, eu não pensei...

— Seu pau pensou por você...

— Não! Meu coração — eu a interrompi, desesperado. — Você sabe

o inferno que passei, Laura? Eu te tinha, você me amava em um segundo, e

horas depois você não sabia quem eu era — falei, tentando deixar minha

voz baixa. — Não se lembrava de nada relacionado a mim... você

simplesmente me esqueceu, Laura... só eu.

Seus ombros tremeram e eu ergui a minha mão para tocá-la, mas

não o fiz.
— E você se aproximou, mentiu e me manipulou. Você me

engravidou até! Quem sabe você não premeditou isso, né? — Sua voz

aumentou e eu me senti pisoteado.

— Você não me conhece, Laura — falei, engolindo em seco e

erguendo meu rosto. — Você se esqueceu quem eu sou, por isso pode jogar

essas merdas em mim. Porém, eu nunca, nunca, faria algo assim.

— Você deveria ter me contado, e não brincado de me fazer amar

você de novo! — Ela aumentou a voz e se virou, levantando-se.

Meu coração doeu ao ver seu rosto banhado em lágrimas e seus

olhos fundos, cansados. Eu fiz isso com ela. Minhas mentiras fizeram isso
conosco.

— Brincado? Você acha que eu estava brincando? — questionei ao

me aproximar, mas Laura se afastou. — Eu estava catando migalhas que

você podia me dar. Eu amo você. Você não tem ideia do quanto eu amo

você, e segurar as palavras cada vez que eu a tocava foi uma tortura. Uma

tortura maldita, Laura.

— Você mentiu, Henrique...

— Menti? — Eu ri, balançando a cabeça e enxugando minhas

lágrimas. Foda-se. — Seu médico disse que não podíamos te contar. Que

você deveria se lembrar sozinha... Você acha que eu não quis te contar?
Você acha que não briguei com Lucas diversas vezes por isso? Quantas

noites passei sem você, e no outro dia eu ia até ele implorar para

contarmos? Para que, talvez, você pudesse me escolher. — Eu engoli em

seco. — Mas você não iria. Porque eu era um desconhecido.

Laura fungou e limpou as lágrimas.

— Eu driblei sua mente e fiz você me amar mais uma vez. E eu faria
mais mil vezes — afirmei de maneira rígida. — Mas você está certa, Laura.

Eu omiti muito de você. Omiti que a amava antes daquele elevador, menti

que não a conhecia e menti em todas as vezes que você estava frente a

frente com a vida que sempre tivemos.

— Estou magoada, Henrique. Estou confusa... eu...

— Eu sei que está, amor — murmurei, me acalmando. Passei a mão


por meus cabelos e suspirei. — Eu vou explicar tudo. Vamos para a casa.

Vou mostrar nossos álbuns. O de casamento. Tudo. Você vai se lembrar aos

poucos.

Laura desviou os olhos e fungou, mordendo o lábio. Antes que ela

concordasse, eu já sabia que ela me deixaria.

Eu sempre a li tão bem. Essa não era uma exceção.

— Eu preciso de um tempo.
Doeu como inferno. Nunca senti tanta dor, porque quando eu fui

afastado dela, não era ela me distanciando, mas agora sim. Laura, minha

Laura, me queria longe.

Isso me rasgou por dentro.

— Tudo bem — respondi, a contragosto. — Me deixe apenas levá-

la para a casa — pedi, sem encarar seu rosto, e ouvi um sim baixinho.

Nós saímos da igreja e fomos para o meu carro. A viagem foi feita
em silêncio, quando parei em frente ao seu prédio olhei para a minha janela.

O mar estava tortuoso, as ondas violentas e pareciam furiosas. Me


enxerguei nelas.

Fechei os olhos, esperando pelo som da porta se fechando, mas não


ecoou.

— Darei notícias de Maitê a você. — Sua voz pareceu cansada, mas

eu não a encarei.

Meu Deus, minha Maitê.

— Henrique... — Laura chamou.

Apertei o volante e me virei. Ela suspirou e mordeu o lábio,


preocupada.

— Vá descansar e comer algo — pedi, acenando para o prédio.


Laura respirou fundo e abriu a porta, saindo do carro e me deixando
na minha própria merda. Pisei no acelerador e dirigi por horas a fio.

Passando por sinais vermelhos, brincando com a minha vida e a de todos


que me amavam. Quando estacionei, eu estava na praia.

— Sabia que viria aqui. — Ouvi Gabriel se aproximar, então olhei

para o meu relógio. Eram oito horas da manhã, ele acordado a essa hora era
uma novidade.

— Não me dê merda — pedi, me sentando na areia.

— Lucas me ligou — Gabriel explicou e se acomodou ao meu lado.


— Você sabe que aquela mulher te ama, Henrique. Ela vai voltar. Dê tempo

a ela...

— Tempo... — Ri com amargura. — Eu passei meses sem ela.

Meses perseguindo-a. Você sabe quantas vezes entrei naquele hospital?


Todos os dias. Todos os malditos dias eu estava lá, olhando para ela. Vendo-

a de longe. Não vou dar tempo algum a ela.

— Henrique, calma...

— Hoje. É isso que eu vou dar a ela — afirmei, completamente

sério.

— Que diabos?
— Eu vou levá-la a reboque para casa. — Coloquei as palavras para
fora enquanto pensava em cada passo. — Ela é minha. Eu mostrarei isso a

ela.

— Henrique, pense direito...

— Eu pensei. Se ela quer tempo e distância, eu vou dar a ela. Mas é

o meu tempo, a minha distância. Só.

Gabriel respirou fundo, mas eu ignorei suas demandas dizendo que

eu precisava ter calma.

Calma nunca me levou a lugar nenhum com Laura.

Agora com Maitê na equação, se ela não se lembrasse do marido

que tinha, eu mostraria a ela mais uma vez.

Laura conheceria seu marido de uma vez por todas.

Algo me dizia que ela não gostaria desse lado dele.

Ela nunca gostou.

Entrei em casa duas horas depois, apenas para tomar banho e trocar

de roupa. Hoje eu teria uma reunião com um dos nossos sócios. Ele morava
fora, por isso eu não poderia desmarcar.
— Bom dia, Amanda — cumprimentei a loira assim que cheguei

enquanto andava e ela me seguia, segurando papéis.

— Bom dia! O sr. Callahan está à sua espera na sala de reuniões.

— O quê? — grunhi, apertando a mão na minha pasta. — A reunião

é às dez — lembrei minha secretária, que apenas deu de ombros.

— São dez.

Foda-se.

— Estou a caminho. Enfie café no rabo dele — pedi, entrando em


minha sala. Peguei alguns materiais para a reunião e respirei fundo antes de

sair.

Abri a porta da sala de reuniões e encontrei o loiro alto de pé,


olhando para minha cidade como se fosse sua. Nem fodendo.

— Olá, Dixon. Como vai Nova York? — questionei, pondo minhas


coisas na mesa antes de andar até ele, estendendo minha mão.

— Ótima. Não vou comentar sobre seu atraso. — Ele se virou e

abriu o botão do blazer, sentando-se na cadeira.

— Ah, vamos lá, me poupe. — Revirei os olhos e me sentei,

pegando o café quente que Amanda deixou. — Você sabe que nunca me
atraso. Estou com problemas pessoais.
— Laura caiu em si e te deu um pé na bunda? Já era hora. — Dixon

levou o copo de café à boca enquanto eu ficava em silêncio. Ele me


conhecia há muito tempo, e na minha última visita a NY Laura me

acompanhou. — Ah, porra, foi isso?

— Eu deixo você a par da minha vida pessoal depois de você

transferir os milhões que preciso para a conta nova. O que acha? — Mudei
de assunto rapidamente.

Ele fez uma careta.

— Fale mais sobre a proposta.

E eu falei. Depois que terminamos, deixei Dixon com seus achismos


e o mandei de volta para Nova York. Obviamente, ficando com os milhões.

— Você tem mais duas reuniões hoje...

— Desmarque — ordenei a Amanda enquanto saía da minha sala.

— Sr. D’Ávila, são duas contas realmente boas para a empresa... —

Ela tentou, mas eu chamei o elevador. — Tudo bem.

Deixei Amanda e fui embora com o caminho certo. Dirigi com

calma, pensando em meus movimentos. Calculei tudo, até os minutos que


isso levaria.

Toquei a sua campainha e esperei. Era pouco mais de uma da tarde.

Eu sabia que ela estava em casa, porque hoje teria plantão. Quando a porta
abriu, ela não ficou surpresa ao me ver.

— Henrique. — Laura engoliu em seco.

Evitei deslizar meus olhos por seu corpo, mas foi impossível. Ela

estava de pijama e a barriga estava aparecendo. Eu quis tocá-la, mas sabia


que não deveria. Não agora e nem tão cedo.

— Coloque o Baby na caixa de passeio — pedi, passando por ela.

Laura franziu as sobrancelhas enquanto fechava a porta.

Andei em direção ao seu quarto e abri o armário. Tirei suas malas da

parte superior e as abri na cama enquanto Laura me encarava e Baby lambia


meus sapatos.

— O que você está fazendo, Henrique? — Sua voz soou incrédula.

— Faça o que mandei, Laura.

— Não! Você não manda em mim. — Ela balançou a cabeça. Eu


acenei, tirando seus vestidos e enfiando nas malas. Peguei mais alguns e

coloquei sobre os outros. — Henrique, pare com isso!

— Por que eu pararia? — questionei, pegando mais roupas. Enchi a

primeira mala e a coloquei ao lado. Peguei a outra e a enchi enquanto Laura


observava incredulamente os meus movimentos.
— Para que você está fazendo isso? — Ela respirou fundo e chamou
Baby, mas ele estava agarrado a mim.

— Vamos para casa — falei, enquanto fechava uma nova mala.

Laura arregalou os olhos e eu ouvi seu ofego.

— Minha casa é aqui...

— Não é! — gritei, furioso. — Sua casa é a nossa casa. Somos


casados. Você é a minha esposa. Minha — falei, ainda guardando suas
roupas. — Mandarei buscar o restante.

— Henrique, não faça isso — ela pediu, na verdade, seus olhos


imploraram.

— Você não entende, Laura! — berrei, sem conseguir me conter. —


Você é minha. Você vai ficar comigo, ao meu lado, para sempre.

— Não estamos juntos...

Suas palavras fizeram com que eu me aproximasse dela

rapidamente.

— Estamos juntos. Sempre estivemos, você sabe disso. Seu corpo se


rendeu ao meu naquele elevador, porque sabe a quem pertence — falei
contra sua boca. — Você sabe a quem pertence, Laura. E é a mim.
Me afastei dela e continuei arrumando suas coisas. Agora seus itens
de higiene. Laura ficou quieta e eu levei as malas para baixo. Quando subi,

peguei Baby e o pus na caixa de transporte. Laura estava parada no meio da


sala, já com a roupa trocada. Graças a Deus.

— Vamos — chamei com a voz rígida. Não queria agir assim com
Laura. Deus sabe que eu queria que ela viesse de bom grado, mas eu sabia
que ela não faria isso tão cedo.

— Eu vou odiar você, Henrique. Você sabe disso, certo? — Ela se


virou para me encarar.

Estalei a língua, fazendo seu olhar incendiar.

— O ódio e o amor são separados por uma linha tênue.

Laura ficou rígida e eu abri a porta. Ela saiu, segurando sua bolsa e
algumas pastas com suas coisas de trabalho. Nós entramos no elevador e eu

suspirei, relaxando pela primeira vez em meses.

Laura estava comigo. Isso bastava.


Tudo voltou como uma onda furiosa.

Tudo sobre ele.

Cada vez que fechei os olhos desde a noite passada, naquela praia,
Henrique aparecia. Nós em casa, nós dois viajando e fazendo amor. Parecia

tão real, tão claro. E em todos os momentos eu estava feliz. Irradiando


felicidade. Eu o amava tanto.

Eu podia sentir isso.

— Vou guardar suas coisas. — Ele passou por mim com minhas

malas.

Eu fiquei parada na sala e o vi subir os degraus, então segui até o

sofá. Afundei nas almofadas e Baby subiu em meu colo, beijando e


cheirando Maitê.

— Ele é um idiota — falei para o meu cachorro. Acariciei seu pelo e

respirei fundo.
Saber que Henrique é meu marido me deixou tão nervosa, traída e

insultada. Suas mentiras e de Lucas... até Tara mentiu. Sua família acatou a

farsa. Todos encenando me fizeram de boba.

Meu celular começou a tocar e eu vi o nome do meu irmão.

— Ele me trouxe para casa — falei, atendendo a ligação. — Me

obrigou.

— Laura, Henrique foi a pessoa que mais sofreu com isso tudo —

Lucas sussurrou, parecendo tenso. — Se coloque no lugar dele. Ele perdeu

você.

— Mentiras não levam a nada...

— Ele queria contar, eu não deixei por causa do médico — meu

irmão falou rápido, me interrompendo. — Descanse, se dê um tempo para

pensar mais e lembrar o quanto você o ama.

Eu já o amava. Não precisava lembrar.

— Ele me obrigou a vir, você me ouviu? — Mudei de assunto,

sentindo Maitê se movimentar em meu ventre.

— Ele já fez coisas piores e você se casou com ele. — Lucas jogou

em meu rosto. Ele era bruto assim comigo antes também?

— Como assim? O que ele fez?


— Ele te tirou do altar no casamento de uma colega porque você era

madrinha com outro homem, ele já a levou para Nova York sem você

saber... várias coisas, Laura.

Meu Deus, Henrique era completamente pirado.

— Ele é louco.

— Perseguidor, possessivo e controlador. Adicione isso a lista. —


Lucas respirou fundo e eu mordi meu lábio. — Mas você o ama.

— Eu amo — murmurei, derrotada, sentindo meus ombros cederem.

— Eu ainda estou com raiva de você e da Tara. Até da tia Alice...

— Você me entenderá, Laura.

Talvez, mas no momento eu queria continuar irritada.

Desliguei a ligação e ouvi passos. Me ergui do sofá e vi Henrique

aparecer sem camisa e um moletom caído em seus quadris. Os pelos em seu

peito e na linha em direção a sua cueca fez minha boca encher de água. Oh

meu Deus.

— Pedi comida. Você já almoçou?

Ergui meus olhos para seu rosto e fiquei vermelha quando seu

sorriso de merda apareceu.


— Já. — Mordi de volta e andei para longe dele. Subi a escada e

parei no quarto de hóspedes, esperando que minhas coisas estivessem ali,

mas não estavam. — Henrique! — gritei, saindo do quarto antes de ouvir


seus passos pesados.

— O que foi, amor? — Seu rosto estava calmo, como se nós dois

vivêssemos no mesmo teto desde sempre. Amor. Deus, eu amava e odiava

quando ele me chamava assim.

— Onde estão minhas coisas? — questionei, tentando não pular em

seu pescoço.

— No quarto.

— Qual quarto? — grunhi ao ver seu rosto relaxado.

— No nosso quarto. Você é minha esposa, esqueceu? Nós dividimos

uma cama e tudo mais... — Seus olhos deslizaram por meu corpo e eu

fiquei quente em lugares que não deveria.

— Não vou dormir com você. Quero ficar no quarto de hóspedes —

resmunguei, apertando meus punhos. Henrique riu e passou por mim, indo

para o quarto. — Você está me ouvindo? — grunhi mais uma vez,

seguindo-o.

— Hum, sim. — Ele se jogou na cama e colocou os braços fortes

atrás da cabeça. As veias saltadas me fizeram desejar lamber. Minha boca


encheu de água e eu respirei com dificuldade.

— Então? — questionei, com o ventre agitado.

— Venha descansar. Eu sei que tem plantão hoje. — Henrique se

afastou, deixando espaço na cama. — Você prefere dormir deste lado. —

Ele bateu no colchão.

— Henrique, eu sei que eu te amava. — Seu rosto caiu e ele desviou

os olhos para o chão. Me odiei por escolher essas palavras. Porém, eu não

podia retirá-las. — Mas eu não me lembro disso. Nós precisamos encontrar

um meio termo...

— Eu vou sair. — Ele se ergueu e andou até o closet. Minha

respiração acelerou ao vê-lo pegar uma camisa e a vestir. — Fique aí,

descanse.

— Não, você não vai me deixar aqui sozinha — falei, irritada com a

possibilidade.

— Você quer distância. Essa vai ser a distância que eu vou dar a

você. Só ela. Nada mais. — Henrique parou diante de mim e se inclinou. —

Eu vou deixar e buscar você no hospital. Na próxima vez que você entrar no

carro daquele médico meio bosta, eu vou até lá e o farei ficar

impossibilitado de oferecer carona. — Suas palavras me fizeram arregalar


os olhos. Henrique segurou meu queixo e bateu seus lábios nos meus

rapidamente.

— Você não pode fazer essas coisas...

— Eu posso e eu faço. — Henrique se afastou e indicou a cama. —

Descanse.

Três semanas depois...

Henrique tinha uma rotina. Ele acordava cedo, ia à academia, trazia

café da manhã e nós comíamos juntos. Então ele me levava ao hospital e ia

à empresa. Por semanas nossa dinâmica ficou assim, e eu estava tentando

não surtar. Ele havia tirado meu carro de mim depois que a minha médica

pediu que eu tivesse menos contato com o volante. Ele era mandão.

— Você está linda — Érica me disse enquanto nós comprávamos

sapatinhos para Maitê com sua mãe. Ela estava mais presente depois que

me mudei para a casa do Henrique.

Eu gostava das duas, mas ainda me sentia enganada.

— Obrigada — murmurei de volta, colocando mais um par na

minha sacola. — Você também. Então, você e Gabriel foram casados.


Fiquei sabendo disso em uma das vezes que ele estava lá em casa

jogando com Henrique.

— Sim. E nos amamos muito. — Ela sorriu, desviando os olhos.

— E por que se separaram? — perguntei, curiosa.

— Pelo mesmo motivo que você e Henrique quase se separaram ano

passado. — Ela deu de ombros, porém arregalou os olhos ao perceber que

eu não me lembrava. Não de tudo.

— Eu não me lembro.

— Henrique queria esperar cinco anos para ter filhos. — Érica fez

uma careta enquanto suas palavras se assentavam dentro de mim. — Você


queria logo. Porém, você nunca conversou com ele sobre isso. Uma vez,

você me disse que pensou em se separar por isso, óbvio que logo passou,
você o amava muito. — Érica engoliu em seco, tensa. — Ainda o ama,

Laura? Ou ele está lutando contra sua decisão?

Meu ar ficou preso em meu peito. Porque era demais. Henrique não

queria um filho.

Não queria nossa Maitê.

— Laura? — Érica se aproximou e tocou meu rosto. — Você não o

ama mais, é isso?


— Eu o amo. Amo muito — respondi, com sinceridade, para
acalmá-la.

— Nossa, você não sabe o quanto isso me deixa aliviada. — Minha

cunhada sorriu.

— Olhem o que achei. — Sra. D’Ávila apareceu e eu sorri ao ver o

vestido de babados.

Nós compramos o vestido e todos os sapatos que escolhi.

Depois do almoço, Érica e a mãe precisavam ir à empresa da

família, e ambas me arrastaram dizendo que seria rápido. Eu não queria ir


até lá, mas fui por causa delas.

— Avise a Henrique que estamos aqui — Érica pediu a Amanda.


Percebi que o corpo dela ficou tenso. Ela ainda gostava de Gabriel?

— Ele foi almoçar.

Suas palavras pararam quando o elevador se abriu e Henrique saiu


dele com uma mulher ao seu lado. Ela era ruiva e cheia de curvas. Enquanto

ele ria de algo que ela disse, ele ergueu o rosto e me viu com sua mãe e
irmã.

— Ei! — Henrique se aproximou e a mulher ao seu lado sorriu para

nós. — Como foram as compras? — Sua voz pigarreou e sutilmente ele se


afastou dela.
— Foram ótimas. Quem é você? — Érica olhou para a mulher.

— Eu preciso ir — falei antes que a ruiva tivesse a chance de abrir a

boca. — Eu vejo vocês em breve.

Andei em direção ao elevador e apertei o botão com força. Ouvi


passos pesados atrás de mim antes de sentir Henrique segurar o meu braço.

Me soltei, dando um passo para trás.

— Não me toque! — sibilei, tentando não elevar a voz.

O elevador chegou e eu entrei, respirando fundo. Henrique me


seguiu, com o rosto tomado por preocupação. Ele estava preocupado? Que

bom, porque eu sairia da sua casa hoje. Nem que eu chamasse a polícia e
pedisse uma medida protetiva.

— Laura, não é isso que você está pensando. — Henrique me

encurralou contra a parede, então tive vislumbres de quando o conheci. Na


verdade, reconhecia-o.

— Eu não ligo para você. Pode dormir com quem quiser — afirmei,
entredentes. — Mas eu estou me mudando. O.k.?

— Não faça isso — Henrique pediu, mas eu ri, sem humor algum.

— Há quanto tempo você me engana? Hum? Certamente existiam


outras mulheres antes, enquanto éramos casados — resmunguei, fingindo

sorrir.
— Nunca traí você...

— Nunca quis a nossa filha também, certo? — questionei, sentindo

meu peito doer.

— Que diabos?

— Érica disse que você queria esperar anos para termos um bebê!
Eu estava ressentida por isso — falei, tremendo, enquanto lágrimas
enchiam meus olhos.

— Você nunca falou sobre querer no momento. Quando eu dizia que


era para esperarmos, você concordava. — Henrique puxou os cabelos e se

aproximou, segurando meu rosto. — Eu queria nossa casa, queria que


viajássemos, fizéssemos tudo antes de nos dedicarmos a um bebê. Nunca

mais diga que eu não queria Maitê, porque não é justo.

— Eu quero que me deixe em paz! Volte para aquela mulher e deixe


a mim e minha filha em paz! — gritei furiosamente e empurrei seu peito. O

elevador estava parado mais uma vez, e eu sabia que era por culpa dele.

— Nunca. — Henrique segurou meu queixo e me olhou

profundamente. — Aquela mulher estava construindo nossa casa que ficou


pronta hoje. Casa que nós pensamos juntos. Cada canto dela foi idealizado

por nós.

Meu coração parou e Henrique descansou a testa na minha.


— Eu respiro você, Laura. Não preciso de ninguém.
Semanas aguentando sua distância. Seu silêncio.

E eu não conseguia acreditar que o ciúme a fez me encarar depois de


todo esse tempo.

— Ela é a arquiteta? — Laura questionou, piscando lentamente.

— Sim. Ela é especializada em casas. A D’Ávila Empreendimentos

é focada em prédios. Nós dois escolhemos Regina antes de nos casarmos.

Laura acenou, desviando os olhos dos meus e encarando as paredes

de alumínio.

— Você parou o elevador?

Sua pergunta ecoou quando me afastei e apertei o botão de


emergência.

— É claro. Você acha que eu a deixaria sair daqui sem me explicar?

— questionei, encarando seus olhos bonitos. Laura mordeu o lábio e as


portas se abriram. — Chegarei em casa às sete.
— Você sempre chega às seis — ela rebateu, se virando assim que

alcançou a porta.

— Eu sei. — As portas se fecharam e eu fechei meus olhos,


respirando profundamente. Eu precisava pensar com calma nos meus

próximos passos. Queria Laura para mim, é óbvio, mas eu percebi que

estava errando. Sua distância era reflexo disso.

Assim que cheguei a nossa casa, ouvi conversas na cozinha. Andei

até lá e parei ao ver tia Alice parada enquanto Laura cozinhava.

— Seu marido a ama, Laura. Pare de drama — Alice falou

abruptamente, então parei de me mover.

— Tia! — Laura arregalou os olhos. — Sei que ele o faz. Ele já

disse e provou isso, mas você sabe como é me sentir em casa sem me

lembrar como tudo isso ocorreu? — Sua voz soou tão triste, que senti meu

próprio coração apertar.

— Faça novas lembranças. Mude a casa, os móveis, tudo.

Recomece, Laura. Ou você vai perder Henrique.

— Perder? — Laura questionou, e a tremulação em sua voz me fez

suspirar.
— Homens como Henrique têm muitas mulheres aos pés dele. Você

acha que não há uma fila? — Tia Alice riu. — Elas sempre estiveram. Você

apenas não lembra.

— Ele já me traiu? — nervosa, minha esposa questionou.

— Nunca. Olhe para aquele homem, ele parece um cachorro que

caiu do caminhão de mudanças.

O.k., não era para tanto, tia Alice.

— Ele disse que nós estávamos construindo uma casa. A senhora

sabe algo sobre isso?

Alice respondeu rapidamente.

— Sim. É em algum lugar chique. Eu tenho até um quarto lá.

Ela tinha.

— Eu quero ver — Laura disse com rapidez.

— Então peça ao seu marido.

Pisei com força e as duas ficaram em silêncio enquanto se viravam

para a porta.

— Boa noite, Alice. Como vai? — questionei, me aproximando e

beijando sua mão.


— Ótima. Vim jantar com vocês e ver como Maitê está. — A tia de

Laura sorriu.

Acenei e andei até Laura.

— Fico feliz — respondi, encarando-a. Olhei para a minha esposa.

— Amor. — Beijei a têmpora de Laura e ela suspirou, erguendo o rosto.

Seus lábios estavam molhados e eu desejei prová-los, porém não o fiz. —

Vou tomar banho e desço para o jantar.

As duas acenaram e eu saí da cozinha com um sorriso de merda no

rosto.

Quando desci, nós jantamos enquanto Alice falava sobre o bingo

que iria no dia seguinte. Eu me diverti ao ver o olhar carinhoso que Laura

dava a ela. Alice havia criado Lucas e Laura desde pequenos após a morte

dos pais de ambos.

— Eu amei o jantar — Alice falou quando seu táxi chegou. Na

verdade, era uma amiga que sempre a levava para onde ela queria ir. — Se

cuidem, o.k.? — Seus olhos foram de Laura para mim e eu acenei.

Quando ela entrou no elevador, Laura me olhou. Ela vestia um

vestido florido que esticava em sua barriga. Perfeita.

— Eu quero ver a casa — resmungou, direta. Cruzei meus braços,

me encostando na parede. — Amanhã, se der. Eu preciso mover os móveis


do quarto da Maitê. Ainda bem que não montaram nada. Eu estava

esperando para pintar...

— Tudo já está lá — falei, interrompendo sua chuva de palavras.


Laura engoliu em seco e suspirou. — Eu movi tudo.

— Oh...

— Podemos ir lá amanhã. Estão terminando a limpeza do lugar hoje.

A partir de amanhã podemos nos mudar, mas fica a seu critério...

— Eu quero — ela afirmou, de supetão, então ergui minhas

sobrancelhas. — Eu preciso, na verdade. — Laura respirou fundo e olhou

ao redor do apartamento que antes era seu refúgio. — Nós precisamos de

novas lembranças. Recomeçar.

— O que quer dizer, Laura? — perguntei, tenso.

— Eu me sinto bem aqui, mas não sei por quê, não sei como

cheguei a esse ponto, e isso me deixa estressada. Eu quero me lembrar de

quando colocamos algum quadro na parede, de quando a pintamos...

— Laura, você vai se lembrar...

— Não, eu não vou. Não tive mais nenhum flashback nessas

semanas. Nada. — Laura engoliu em seco e me encarou. — Quero me

mudar, Henrique. Amanhã, se possível.


Me aproximei, tentado a tocá-la. Quando ela não se afastou, eu

segurei seu rosto e me inclinei, quase beijando sua boca.

— Eu farei acontecer. Me peça a lua, Laura, e eu a darei a você.

Ela piscou, respirando com dificuldade, então pressionei meu dedo

em seu lábio vermelho e molhado. Sua língua saiu para umedecer e ela

tocou meu dedo. Eu sabia que o gesto não era para ser erótico, mas foi. Meu
pau ficou duro e eu quis curvar Laura sobre o sofá e foder sua boceta quente

e apertada.

— Henrique... — Sua voz soou torturada.

— Laura...

Ela tocou meu peito e fincou suas unhas em minha pele. Sua

garganta sacudiu e seus lábios se abriram. Laura os fechou em torno do meu

dedo e eu quase gozei na porra da cueca. Ela desfez os botões da minha

camisa e raspou seus dedos nos pelos do meu peito. Laura sempre amou

fazer isso.

Eu não me mexi, Laura fez cada movimento sozinha. Ela desceu as

mãos e alcançou meu zíper, onde meu pau empurrava o tecido. Suas mãos

abriram minha calça e eu apertei minha mandíbula quando ela desceu


minha cueca.
— Laura, não brinque comigo — rosnei, rígido. Ela suspirou,

fechando os dedos em torno de mim. Ela bombeou meu pau e eu suspirei,

quase gozando na sua mão. — Desça as alças do seu vestido — pedi, sem

fôlego. Queria ver seus mamilos rosados e chupar um em meus lábios.

Laura fez isso rapidamente, então rocei meu dedão sobre o botão

enrugado e rígido. Apertei seu seio e assisti, fascinado, uma gota de leite

deslizar.

— Você já tem leite? — perguntei, arfando.

— Si-sim. Há uma semana eu vi as primeiras gotas — ela disse,


com as bochechas queimando. — É normal. Algumas mulheres produzem

antes...

— Eu preciso disso na minha boca.

Laura arregalou os olhos, mas acenou. Eu a puxei para o sofá e me

sentei, deixando-a entre as minhas pernas. Eu beijei seu mamilo e lambi o


leite na ponta. Laura pulou e eu a fiz abrir as pernas. Minha esposa

obedeceu e as abriu rapidamente. Subi seu vestido e vislumbrei sua calcinha


preta. Afastei o tecido e toquei suas dobras. Tão molhada, caralho.

Arrastei meus dentes em seu mamilo e chupei com mais força,


sentindo as gotas rolarem pela minha língua. Não era muito, mas eu sabia
que em breve elas encheriam minha boca.
— O que quer fazer, Laura? — questionei, enfiando meu dedo em
seu canal apertado.

— Quero você. — Suas palavras saíram arrastadas antes que eu a

puxasse para o sofá.

Laura descansou seus joelhos no estofado e seus braços no encosto.

Puxei sua calcinha e ela suspirou. Tirei seu vestido, deixando-a nua.

— Se curve.

Laura o fez enquanto eu puxava minha camisa e calça. Deslizei em

sua boceta e minha menina gemeu, tremendo enquanto eu a invadia. Investi


contra sua bunda e os gemidos de Laura encheram a sala.

— Henrique! — ela gritou quando eu me curvei e apertei seu


clitóris.

Sua boceta me apertou, e enquanto eu gozava Laura fez o mesmo.

Cai ao seu lado e puxei Laura para mim. Juntei suas costas ao meu
peito e ouvi sua respiração por longos segundos e, no final, ouvi um soluço.

Isso me despedaçou.

— Laura? — chamei, suspirando e acariciando sua barriga.

— Estou bem. — Ela se virou devagar e me encarou com o rosto

inchado. — Eu amo você. De novo.


Respirei fundo e beijei sua testa.

— Isso te faz chorar, por quê? — perguntei, cansado.

— Porque eu reconheço isso. Reconheço nosso amor, nossos planos.


Tudo. — Laura tocou meu rosto e me deu um beijo rápido. — Sei que
Maitê não estava nos nossos planos, mas quero que estejamos felizes com

ela.

Eu me virei, ficando sobre ela. Laura suspirou assim que tocou meus

cabelos.

— Eu amo você e estou feliz com a nossa filha. Nós vamos ser

felizes, Laura. Vamos reconstruir nossos sonhos. Eu a fiz me amar


novamente, sou capaz de tudo.

Laura sorriu e eu beijei sua boca, chupando seu lábio e mordiscando

no final.

— Eu te amo, Henrique. Meu amor ultrapassa minha mente e sufoca

meu coração.

Eu sorri e cheirei seu pescoço, me sentindo em casa.

— Podemos ser um casal agora? — perguntei, torturado. — Não

quero distância, Laura. Quero você cem por cento. Toda minha.

— Eu sou sua.
Eu disse, hum?

— Cem por cento?

— Mil por cento. — Ela sorriu e eu me perdi dentro dos seus olhos
bonitos e da boca esperta.

Laura se ergueu e uniu nossos lábios. Eu gemi ao sentir sua língua


na minha e chupei, sentindo o doce do suco que ela havia tomado. Suas
mãos me agarraram e eu deslizei para dentro do seu corpo enquanto

precisava me mover para poder entrar.

— Henrique. — Laura suspirou quando apertei seus seios.

— Calma, amor — pedi, rindo.

Ela se desviou, tentando alcançar meus quadris. Laura grunhiu e eu


parei de brincar com ela e a amei em nosso sofá pela segunda vez.

Laura estava ansiosa, batendo o pé a cada poucos minutos, enquanto

eu dirigia para a nossa casa. Ela ficava há alguns minutos do apartamento e


era perto do hospital e da empresa. Havia segurança vinte e quatro horas e
isso me acalmou. Nunca liguei para a minha segurança, mas a da minha

esposa era indispensável.


— Chegamos? — Laura questionou enquanto o portão abria depois

de eu colocar minha digital.

— Sim.

Ela arregalou os olhos ao ver a fachada da casa e saltou no banco,

animada. Eu a observei em êxtase, pensando em como tive a honra de ter


essa mulher duas vezes na mesma vida.

— Ela é enorme. — Ela riu, descendo do carro assim que estacionei.

— Tenho outra coisa enorme que você ama, baby. — Pisquei e ri,
fazendo Laura revirar os olhos.

— Porco!

— Sempre.

Nós entramos na casa e Laura suspirou ao ver o lugar todo decorado

por ela. Ela havia escolhido tudo.

— Você escolheu tudo, mas se não gostar de algo, podemos trocar.

— Envolvi meus braços ao seu redor assim que Laura parou no meio da
sala.

— Eu amo tudo. — Ela se afastou e puxou minha mão. — Quero

ver o quarto da Maitê.


Nós subimos a escada, quando abri a porta Laura entrou suspirando.
Observei seu rosto a cada segundo enquanto ela olhava para todos os

lugares, rindo e com lágrimas brilhando em seus olhos.

— É perfeito!

Segui seu olhar e suspirei ao ver os móveis brancos decorados com

o tema de princesa. Laura foi firme ao dizer que queria tudo de princesa,
pois sua filha seria uma.

Eu nunca poderia dizer não.

— Ela vai amar esse quarto.

— E eu vou dizer a ela quem o decorou com tudo que ela vai amar.

— Abracei-a novamente.

Laura ergueu o queixo, me encarando.

— Obrigada por não desistir de mim. Por me fazer te amar mais

uma vez.

— Você já pensou em si mesma, Laura? — questionei, afastando


seu cabelo do seu rosto. Ela franziu as sobrancelhas. — Você é bondosa,

espirituosa e tão teimosa. Porém, tudo se encaixa em você. E eu sou um


pouco de tudo, mas eu estava completamente perdido. Sem você, Laura

D’Ávila, eu sou um desastre.

— Henrique...
— Então, tente me deixar, mas saiba que você vai falhar. Minha
bagunça é feia e eu não gosto dela. Eu amo você e quem eu sou com você.

— Amor... — Seu queixo tremeu e eu me inclinei para beijar seu


lábio bonito.

— Até a morte, porque nem se um dia esquecermos um do outro

novamente, eu sei que vamos nos encontrar mais uma vez.

— Eu acredito nisso com todo meu coração. — Laura fungou e me

abraçou com força. — Eu te amo, sr. D’Ávila. Sempre vou amar.

— Sra. D’Ávila, eu te amo.

Sempre.
Henrique seguiu Maitê enquanto eu me inclinava com eles na

direção do bolo de três andares da princesa Aurora. Nossa menina


realmente pegou o gosto por princesas. Eu a olhei, apaixonada, enquanto

seu corpo se curvou e ela assoprou a vela de dois anos. Ela era tão linda.

Seus olhos eram verdes como os de Henrique, e seus cabelos eram

escuros como os meus. Maitê tinha um sorriso bonito e brilhante. Eu a

amava.

— Ela é perfeita. — Henrique passou o braço em minha cintura e eu


dei um sorriso emocionado.

— Sim, ela é. — Beijei seu pescoço e tirei os cabelos da nossa filha


do seu rosto.

Nós fomos cumprimentar algumas pessoas, enquanto Mah ia brincar

com os filhos de Lou e Bia. Ambas estavam a uma mesa mais afastada com
Arthur e Ravi. Eu e Henrique nos aproximamos e os quatro se ergueram.
Abracei as meninas enquanto meu marido apertava as mãos dos maridos

delas.

— Você está linda — murmurei para Bianca e depois para Lou.

— E hum, você já sabe? — Bianca questionou, engolindo em seco.

— Você acha que vamos engravidar juntas novamente? — Louise


riu antes de nos sentarmos, cochichando.

— O quê? É possível. — Bia deu de ombros.

Minha menstruação estava atrasada há alguns dias, comentei com

elas e Bianca enlouqueceu.

— Não estou — falei com firmeza, lembrando-me do teste negativo.

— Maitê ainda é muito nova. Vamos esperar alguns anos.

Suspirei ao me ouvir. Henrique nunca me falou para esperarmos, na

verdade, ele nunca usava camisinha. Eu era a neurótica tomando

anticoncepcionais. Porém, e se ele não quisesse mesmo, mas só não queria

tocar no assunto?

— Você acha que Henrique não quer? — Bianca mordeu o lábio,

nervosa, então compreendi. Ravi tinha sido muito difícil.

— Não sei. — Suspirei e balancei a cabeça. — Hoje é o dia da

minha menina. Vamos focar nela! — pedi, sorrindo.


Nós fomos para nossos filhos e eu sorri ao ver Gabriel ajudando

Maitê na piscina de bolinhas. Bianca sorriu para o filho, orgulhosa. Lou

pegou Mattia que havia se machucado e nós o enchemos de beijos.

Procurei Maitê novamente e me aproximei, ajoelhando-me a sua

frente.

— Você está gostando da sua festa, princesa? — questionei,

colocando seu cabelo longo para trás dos seus ombros.

— Shin! — ela gritou animadamente.

Eu a abracei, me permitindo mostrar meu amor por gestos. Maitê


sorriu e beijou minha bochecha. As nuvens nunca seriam tão suaves como

os carinhos dela.

Sorri ao ver Gabriel se aproximar com Érica. Os dois haviam se

acertado ano passado, depois que Amanda foi embora para outro estado.
Minha cunhada não se rendeu ao melhor amigo do meu marido tão

facilmente, mas todos sabiam que eles ainda se amavam.

— Parabéns, Maitê! — Gabriel pegou minha filha nos braços,


enquanto Érica acariciava seu ventre inchado com seu bebê.

Fiquei fascinada ao ver o quanto eles faziam minha filha sorrir.


Parei na varanda depois de banhar e colocar minha filha para

dormir. Henrique estava em algum lugar, enquanto eu inclinava a taça de

vinho e sentia o gosto doce deslizar por minha garganta.

Senti braços me rodearem e suspirei, sentindo o cheiro familiar.

Instantaneamente me senti em casa. Henrique beijou meu pescoço e eu

mordi meu lábio.

— De quem é o teste de gravidez na lata do lixo? — Sua voz soou


lenta.

Fiquei rígida, porém me lembrei quem era perguntando e suspirei.

— Meu. — Me virei dentro dos seus braços e segurei seu pescoço.

— Minha menstruação atrasou e eu fiquei preocupada. — Beijei seu peito

nu.

— Que bom.

Me afastei, franzindo as sobrancelhas. Os olhos verdes que me

enfeitiçaram duas vezes me fizeram relaxar.

— Bom o quê?

— Que ela atrasou. Droga, pensei que nunca daria certo. —

Henrique riu ao ver meu rosto completamente confuso. — Você sempre

tomava em horas erradas. Eu pesquisei. — Ele segurou meu queixo.

— Então, você quer? — Minha voz saiu fina e lenta.


— Eu quero. Demais. — Henrique segurou meu olhar, e eu pude ver

em seu semblante que ele falava sério. Subi em seu corpo e enrolei minhas

pernas em sua cintura, enquanto Henrique segurava minha bunda.

— Então podemos começar a tentar, certo? — A ansiedade nas

minhas palavras me surpreendeu.

Eu realmente queria outro bebê.

Henrique queria outro bebê.

— Eu estou tentando há um tempo, amor.

Deus, eu amava quando ele me chamava assim.

Seus lábios se estenderam em um sorriso convencido.

Agradeci muito a Deus por ele não ter desistido da nossa história.

E agradeci a Henrique por ter insistido em me amar.

Em me fazer amá-lo.

De novo.
Foi uma honra participar deste projeto. Todo o processo foi
incrivelmente satisfatório. Foi divertido pensar em nossos personagens,

suas histórias e em como elas se entrelaçariam. Foi surpreendente escrever


sobre Laura e Henrique.

Gostaria de agradecer a Jéssica D. Santos e A.C. Nunes por termos

embarcado juntas nessa jornada linda que foi P.S.: Eu Estou Grávida!
Obrigada pela parceria e apoio. Vocês são incríveis.

Obrigada a você que entrou no mundo de Laura e Henrique e

acabou apaixonada. A todas as minhas leitoras incríveis que eu sei que

estão aqui.

Obrigada por tudo!

Amo vocês,
OPERAÇÃO BEBÊ A BORDO #1

O maior sonho de Louise Ventura sempre foi ser mãe. Fugindo de

relacionamentos e preferindo não conceber um bebê por vias não-

convencionais, ela arrisca engravidar de um desconhecido qualquer


cuidadosamente escolhido em um site de relacionamentos e se dedicar à

maternidade solo e ao seu trabalho no ramo de multimídia.

A vida de Arthur Massari sempre foi focada em trabalho, com


pretensões ambiciosas de fazer seu negócio em produção de multimídia

crescer cada vez mais. Ao fundir sua empresa com outra, ele reencontra a

garota fogosa com quem dormiu meses antes. Para sua surpresa, ela está

grávida. Ter um filho fora do atual noivado era a última coisa que ele

esperava, mas é exatamente o que acontece quando descobre que o filho é


seu. Ele pretende fazer seu papel de pai, mesmo que isso signifique ter de

lidar com uma noiva abusiva e comprometer seu noivado.

Acompanhando o pré-natal, um sentimento de carinho, amor,


amizade e cumplicidade nasce entre os dois, ficando cada vez mais

impossível resistir a um iminente romance.


DE REPENTE AMOR #3
Bianca Leal é casada há alguns anos com o homem da sua vida,

aquele que ela escolheu para amar e viver até os últimos dias. Ela pensa

viver um relacionamento perfeito com o seu marido até que a descoberta de

uma gravidez não planejada começa a afetar o seu casamento.

Ravi Abrantes nunca desejou ser pai, jamais esteve em seus planos

uma criança e mesmo que ame a sua esposa não está disposto a voltar atrás

da sua decisão.

Ele não gosta de crianças, jamais se viu sendo pai.


Bianca tem o desejo de ser mãe e vai fazer de tudo para levar a sua

gravidez a diante.

Esse bebê será o fim ou um doce recomeço para Ravi e Bianca?


Entre em contato com a autora em suas redes sociais:

Grupo no Facebook | FanPage | Instagram |

Wattpad | Skoob |Loja online

Gostou de Meu Pequeno Segredo? Compartilhe sua opinião nas redes

sociais e na Amazon, indicando-o para futuros leitores. Muito obrigada!


| TRILOGIA AMORES IMPULSIVOS |

✽ IMPERFEITO #1 na Amazon:
http://amzn.to/2iGu0nn

✽ INESPERADO #2 na Amazon:
http://amzn.to/2wGFCw8

✽ PREDESTINADO #3 na Amazon:
http://amzn.to/2wiz5Xr

| SÉRIE TOUCHDOWN |

✽ A JOGADA PERFEITA #1 na Amazon:


http://amzn.to/2wm4xmp

✽ A JOGADA INCERTA #2 na Amazon:


http://amzn.to/2vHMy7S

✽ A NOSSA JOGADA #3 na Amazon:


http://amzn.to/2vppbom

| SÉRIE COLORS |
✽ ATROZ #1 na Amazon:
http://amzn.to/2ztoQ1Q

✽ ELA COLORE MEU MUNDO #2 na Amazon:


https://amzn.to/2kpoT8U

✽ TODAS AS CORES DO ARCO-ÍRIS #3 na Amazon:


https://amzn.to/2CLs599

✽ PELAS ESTRELAS #spinoff na Amazon:


https://amzn.to/2Kl1rXS

| FAMÍLIA ROSS |

✽ CASEI COM UM COWBOY #1 na Amazon:


https://amzn.to/2sd9VqT

✽ ENLACEI UM COWBOY #2 na Amazon:


https://amzn.to/2I5p2gt

✽ PROTEGIDA POR UM COWBOY #3 na Amazon:


https://amzn.to/2IyN6GB
✽ RENDIDO POR UMA COWGIRL #4 na Amazon:
https://amzn.to/2APwsRS
✽ DOMADO POR UMA COWGIRL #5 na Amazon:
https://amzn.to/2LJuKDI

|DARK STAR|
✽ A MELODIA DO MEU CORAÇÃO PARTIDO #1 na Amazon:
https://amzn.to/3aMQitx
✽ O ACORDE DA MINHA ALMA PERDIDA #2 na Amazon:
https://amzn.to/3gCDk4U
✽ OS VERSOS DA MINHA ÚLTIMA EU #3 na Amazon:
https://amzn.to/3nMVJil

|RENASCIDOS EM SANGUE|
✽ HONRA DISTORCIDA #1 na Amazon:
https://amzn.to/2WbKVyU
✽ MENTIRA DISTORCIDA #2 na Amazon:
https://amzn.to/3vrm4aG
✽ DEVOÇÃO DISTORCIDA #2.5 na Amazon:
https://amzn.to/3n0NLmP
| LIVROS ÚNICOS |

✽ VICIOUS na Amazon:
https://amzn.to/33SOtZ1

✽ SUA ÚNICA SALVAÇÃO na Amazon:


https://amzn.to/2VHTdNh

✽ MINHA ÚNICA OBSESSÃO na Amazon:


https://amzn.to/2X9oHvM
✽ SOZINHOS NO PARAÍSO na Amazon:
https://amzn.to/33SOtZ1
✽ SEU AMOR PERVERSO na Amazon:
https://amzn.to/3l6WsKo

| CONTOS |
✽ Andy & WALLY na Amazon:
http://amzn.to/2gogDay

✽ MEGAN & ETHAN na Amazon:


http://amzn.to/2xv14BS

✽ MEANT TO BE na Amazon:
https://amzn.to/2GxOdpv
✽ UMA CURA CHAMADA AMOR na Amazon:
https://amzn.to/370o4cu
✽ MEU DESLIZE na Amazon:
https://amzn.to/2UrnBxo
✽ HORAS CONTADAS na Amazon:
https://amzn.to/2LEoGjf

[i]
Médico responsável pelos cuidados do nariz, seios da face, garganta e ouvidos.

Você também pode gostar