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para obtenção de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 184 do código
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Staff

Disponibilização e Tradução – WAS


Revisão Inicial – Zahara, Nataly, Lynda, Lu
Revisão Final - Juu, Beatrix
Leitura – Miss Law
Formatação - Warrior

Março 2021

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Sinopse
O amor é cego...

Especialmente quando você foi sequestrado.

Apanhada nas dragas da vida, Elise chegou à conclusão relutante de que


mediocridade era tudo o que ela teria.

Até que uma viagem de compras de rotina se transforma em um caso


mortal.

Sequestrada.

Dois homens, um bruto e o outro um enigma. Uma cabana na floresta.


Conjugação perigosa.

Com os olhos vendados e mantida em cativeiro, a existência mundana de


Elise ficou muito mais interessante. Empurrada para o desconhecido, feita
prisioneira por um homem com mãos ásperas e uma voz gentil, ela
enfrenta sua própria morte enquanto luta contra um desejo crescente
pelo inaceitável - seu captor.

Elise sairá com sua vida - e coração - intactos?

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Capítulo Um
Os feriados eram uma droga. Principalmente quando nevava. E
você não tinha ninguém com quem compartilhá-los.
Elise conhecia essa lição de vida muito bem. Terminantemente
solteira. Para sempre sozinha. Amaldiçoada.
Ok, chega dessa rotina de sentir pena de si mesma. Ela não era um
problema ou uma praga para a humanidade, como tantas vezes se
considerava. Ela era apenas... azarada. Azar na vida e no amor. Isso não
significava que o universo a odiasse, o que ela o acusava de fazer muito
ultimamente. Por quê? Porque ela estava cansada de ficar sozinha e não
ser amada. Não era como se ela tivesse a peste, pelo amor de Deus. Onde
estavam todos os homens? Oh, isso mesmo. Eles estavam ocupados -
pelo menos aqueles que valiam a pena.
Talvez ela fosse muito exigente, seus padrões muito altos. O
problema com essa teoria era que ela já os havia baixado
consideravelmente. Estava no âmago da questão de exigir um emprego,
solteira e com uma libido funcional. Ela seriamente não poderia estar pior
do que se o cara estivesse morto. O que, neste ponto, podia ser sua única
opção.
Cristo, ela cheirava a desespero.
Olhando as prateleiras de vinho, Elise escolheu um branco barato e
foi até ao caixa. Tentou ignorar o olhar conhecedor do caixa enquanto ela

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carregava o vinho, o jantar congelado e pacotes de Reese's em
forma de ovo que gritavam solteira, enquanto ela o avaliava para um
potencial companheiro: cabelo castanho desgrenhado, nariz ligeiramente
grande, lábios finos, olhos redondos e waaaaaay muito jovem. Já que ir
para a prisão não fazia parte de seu plano de vida, ela descartou a ideia e
aceitou o obrigatório ‘Tenha um bom dia’ com um aceno solene.
O dia dela poderia ficar mais patético?
No momento em que passou pela porta automática, o respingo de
neve derretida que a espirrou do joelho ao tornozelo a chocou
profundamente, fazendo-a quase derrubar os sacos enquanto gritava e
pulava para evitar o inevitável.
— Muito obrigada, idiota! — ela gritou para o motorista
descuidado. Olhando para a mancha escura e úmida em seus jeans
brancos antes imaculados, ela o amaldiçoou. Aparentemente, poderia ser
mais patética.
A caminhada até seu carro foi nada menos que dolorosa; o frio
tornou-se ainda mais forte devido ao seu atual estado de
encharcamento. Um problema que ficou ainda pior quando apertou o
botão em seu chaveiro para acionar a liberação do porta-malas, apenas
para perceber que não estava respondendo. Isso só poderia significar uma
coisa...
— Não, por favor, Deus, — ela implorou, sua respiração
embaçando na frente dela. Por puro desespero, ela apertou o botão,

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quase o pressionando permanentemente, mas nada. Nenhum flash das
luzes traseiras, nenhum bip do alarme. Absolutamente nada.
Ela queria chorar. Bem ali, no meio do estacionamento, cercada
por poças de neve derretida e flocos de neve flutuando ao seu redor, ela
queria cair no asfalto frio, duro e implacável. Mas não fez tal coisa. Em vez
disso, Elise ergueu o queixo. Ela havia passado por momentos difíceis
antes. Nenhuma razão para desmoronar agora, quando sempre encontrou
uma maneira de se levantar e passar através das pilhas de merda que a
vida jogava nela.
Felizmente, tinha um telefone celular. Ela até se lembrou de
carregá-lo esta manhã - aleluia! Pelo menos tinha isso a seu favor. Poderia
esperar no carro enquanto chamava um caminhão de reboque. E poderia
usar o dinheiro que ela economizou do 401K1 que recebeu depois que foi
dispensada da imprensa quando eles perderam muitos negócios para
manter as portas abertas por mais tempo. Lado positivo. Sempre procure
o lado positivo. Não importa o quão fino fosse.
Obrigando-se a permanecer otimista, Elise marchou em direção ao
carro com um propósito renovado, mas isso não durou muito. Cerca de
cinco segundos, mais ou menos.
Foi quando ela ouviu o carro vindo atrás dela, o som sinistro do
motor ganhando velocidade, o barulho dos pneus passando pelas poças
de gelo e neve. Ela não teve tempo suficiente para processar o que estava
acontecendo antes que o guincho dos freios seguido pelo deslizamento

1
Plano de reforma.

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metálico da porta fosse registrado um instante antes de um par de braços
masculinos fortes se unirem em torno de sua cintura e a enviarem para o
lado quando seus pés foram levantados debaixo dela.
Elise estava gritando antes mesmo de saber do que estava
gritando. Ela estava operando por puro instinto animal, todos os seus
receptores lhe dizendo que isso não era um exercício! Santo Cristo, ela
estava sendo sequestrada? Enquanto era arrastada para a van que
esperava, caiu para trás contra um peito duro, e ouviu a voz profunda e
frenética ao lado de seu ouvido gritar: — Vá, vá, vá! — ela pensou, sim,
sim, ela estava. Que sorte a dela, sendo sequestrada na manhã de
Páscoa. Lado positivo: pelo menos ela não tinha outro lugar para
estar. Ninguém está esperando que ela volte para casa. O que também
significava que não havia ninguém por perto para sentir sua falta.
E a parte mais patética de tudo isso? Ela estava realmente
emocionada por finalmente ter um pouco de emoção em sua vida.

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Capítulo Dois
Candlelight. Checado.
Um fogo crepitante na lareira. Checado.
Garrafa de vinho e caixa de chocolates. Checado e checado.
Venda para aumentar os sentidos e o romance. Checado.
Sequestrador louco. checado novamente.
Elise sentou-se em um móvel um tanto confortável de origem
indeterminada em um local desconhecido com as mãos e tornozelos
amarrados por um pedaço de corda que fazia sua pele coçar. Ela não
podia ver nada graças à maldita tira de pano que seus captores amarraram
em volta de sua cabeça, bloqueando sua visão. O que ela poderia
supor? Havia dois homens, eles estavam fugindo e a trouxeram para um
lugar remoto. Pela extensão da viagem e o caminho acidentado que eles
percorreram, juntamente com o cheiro úmido e mofado do quarto em que
ela estava e os sons da natureza nas proximidades, ela estava num clichê
de cabana na floresta. O que a fez rir.
— O que é tão engraçado, senhora?
Além da reviravolta em sua vida? Absolutamente nada. O som
áspero da voz do homem - o motorista, ela pensou - a calou. Ela não se
atreveu a se mover ou mesmo respirar com medo do que ele faria com
ela.

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Seu silêncio teve o efeito oposto, entretanto. Em vez de esquecer
que existia, ela sentiu o ar se agitar e a tensão aumentar enquanto o som
de seus passos pesados se aproximava rapidamente. O aperto firme em
seu braço fez Elise estremecer, mas ele não pareceu notar. Ou se
importar.
— Eu perguntei o que é tão engraçado?
O escárnio ficou evidente na tensão de sua voz, e Elise decidiu que
não gostava desse cara nem um pouco. Dos dois, ela sabia que este era o
motorista da van do sequestro pelo leve sotaque de Boston que
detectou. Mas ele escondeu bem ou ficou longe da área por tempo
suficiente para diluir consideravelmente. Seu amigo, aquele com as mãos
grudentas e a voz que soava como rocha de rio, dura mas suave, era um
ianque puro, pelo que ela achava - sem sotaque algum, o que significava
que ele provavelmente era daqui como ela.
Driver2, como ela o apelidou, pressionou-a um pouco mais,
perturbado por sua falta de resposta. Era difícil para ela. Pelo modo como
sua vida estava indo? Ele ainda cortaria a língua dela como
recompensa. Não, obrigada. Ela estava apenas rezando para que, se
jogasse pelo seguro, sairia daqui viva e inteira. Não há necessidade de
irritar o urso.
— Eu lhe fiz uma pergunta! — O tapa na bochecha de Elise foi
inesperado, assim como o raio de dor que se seguiu. Ela gritou então, em
vez de desabar e soluçar ou implorar, e reprimiu suas emoções antes que

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Motorista.

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pudessem se soltar. Ela pode estar perdendo o caminho, mas se recusou a
mostrar fraqueza. A fraqueza deu-lhe poder e ela estava determinada a
reter o pouco que lhe restava.
— O gato comeu sua língua? — Driver agarrou seu queixo com
força. — Aposto que posso fazer você falar.
Só então uma porta se abriu e o barulho de botas entrou. O Driver
fez uma pausa em seu abuso, afrouxando um pouco o aperto. — Que
diabos está fazendo? — disse aquele que a sequestrou. — Pensei que
tivéssemos discutido isso. Sem violência.
— Ela estava rindo.
— E você tem algo contra o senso de humor?
Driver praticamente a empurrou, como se ela o enojasse. Atrás da
escuridão de sua venda, Elise sentiu e ouviu ele se afastar dela. — Ela é
uma responsabilidade. Não vou arriscar.
— Ela é nossa passagem para fora daqui.
— Ela vai nos atrasar. Pior que isso? É ela conseguir escapar. Então
conta a todos quem nós somos.
Desta vez, Elise sentiu o outro homem se mover em sua
direção. Ela enrijeceu ao senti-lo agachar-se na sua frente, sentindo seus
olhos nos dela, apesar da falta de contato visual. E por alguma razão
estranha, ela sentiu um tremor de calor percorrer seu corpo. — Você está
planejando escapar, querida?
Sua resposta automática foi um movimento rápido de cabeça.

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— Viu? Ela vai ser uma boa menina, não é? — Ela concordou de
todo o coração. Contanto que eles não a matassem, ela seria a melhor
prisioneira que alguém já teve. — Satisfeito? — ele perguntou a seu amigo
Driver.
— Digamos que ela escape, e depois?
— Ela não viu nossos rostos, não sabe nossos nomes e não tem a
menor ideia de onde está. Mesmo se ela conseguisse nos enganar, ela
morreria de exposição antes mesmo de chegar à civilização.
Bem, isso não parecia nada esperançoso. Elise se imaginou, a coisa
mais distante de 007, a pessoa menos furtiva que conhecia, tentando uma
fuga ousada. Ela não se importava com quem eles eram, mas seu captor
estava certo. Ela não sabia onde estava. Se seus instintos estivessem
corretos, no entanto, e ela estivesse em alguma cabana remota, no meio
de uma tempestade de neve no maldito abril, ela nunca encontraria
ajuda. Elise tinha o pior senso de direção, não sabia nada sobre ler
um mapa - embora, ela duvidasse muito que eles fossem gentis o
suficiente para lhe fornecer um - e ela não tinha a menor ideia de como
viver da terra. Para não mencionar que provavelmente quebraria um
tornozelo nos primeiros cinco minutos. Em uma pedra. Ela congelaria até à
morte lá fora, como uma mulher Donner3. Portanto, não, Elise não estaria
tentando uma fuga.

3
Referência à tragédia da Expedição Donner.
A Caravana Donner (em inglês, Donner Party, às vezes denominada Caravana Donner–Reed) foi um
grupo de pioneiros americanos que migraram rumo à Califórnia numa caravana de carroças oriundos do
Meio-Oeste. Atrasados por uma série de infortúnios, eles passaram o inverno de 1846/47 presos pela

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— É uma péssima ideia, — resmungou Driver à distância.
O outro, que ainda estava parado bem na sua frente, não
respondeu. Ela ainda podia sentir seus olhos sobre ela e se perguntou o
que ele estava vendo, o que estava pensando. Fazendo um mapa mental
de como ele a desmembraria depois de matá-la, talvez?
Elise estremeceu quando ele tocou sua bochecha, a poeira leve de
um único dedo um choque para seus sentidos.
— Está um pouco inchado. Você quer um pouco de gelo, querida?
Isso era arrependimento em sua voz? Ela duvidava muito disso. Os
sequestradores não se arrependiam. Mas ele estava certo. Agora que ele
chamou sua atenção para isso, sua bochecha tinha seu próprio batimento
cardíaco. — Sim, por favor, — disse ela fracamente, não querendo
despertar a raiva de Driver novamente.
Ele grunhiu e então se foi, deixando Elise sozinha no sofá mais uma
vez. Só que desta vez, com a ideia em primeiro lugar em sua mente, e
contra seu melhor julgamento, ela pensou em escapar noite adentro. Sua
mente já havia começado a esboçar um mapa da sala, onde a porta estava
localizada, a cozinha onde ela podia ouvir seus captores se movendo,
discutindo um com o outro. Ela testou seus laços, não encontrando espaço
para erros. Eles a amarraram com tanta força que sua circulação estava
comprometida, a pele ao redor de seus pulsos à beira de rasgar. Sem eles

neve na Serra Nevada. Alguns dos migrantes recorreram ao canibalismo para sobreviver, comendo os
corpos daqueles que sucumbiram à fome e à doença.

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a desamarrando, não havia maneira fácil que ela pudesse imaginar para se
libertar.
— Você está se machucando.
Elise congelou no local. Ela não o ouviu voltar. A bolsa de gelo caiu
na almofada ao lado dela, o frio irradiando contra sua coxa quando ele
agarrou seu ombro e empurrou seu rosto em direção aos seus
joelhos. Correndo os dedos ao redor de seus pulsos machucados, ela
testou suas restrições e amaldiçoou.
— Estes são muito apertados, — ela murmurou para si
mesma. Depois amaldiçoou novamente. Então ele se foi. Elise ouviu outra
discussão abafada se seguir, seguida por Driver gritando enquanto seu
amigo voltava para ela.
— Você não pode libertá-la, porra!
Algo frio e duro - uma faca, ela pensou - deslizou entre sua pele e a
corda, e um segundo depois, um doce alívio. — Eu não precisaria se você
não a tivesse amarrado com tanta força.
— Para que diabos você acha que serve a corda!
— Mais um pouco e ela podia ter perdido as mãos. Pelo amor de
Deus, não somos selvagens! — A bolsa de gelo foi repentinamente
empurrada contra a bochecha de Elise, o frio alucinante a
chocou. Enquanto eles continuavam a discutir um com o outro, ela ergueu
uma mão hesitante e cobriu a dele, com a intenção de assumir seus
próprios cuidados. Mas ele não a soltou. Nem por um segundo. Muito
distraído lutando com seu parceiro para notar ou se importar.

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Elise certamente não sabia o que fazer. Ela estava parcialmente
livre, mas os dois homens estavam bem ali. Não seria inteligente correr
agora, mesmo se ela quisesse. Eles a atacariam antes que sua bunda
deixasse o sofá. Então o quê? Coisas muito piores do que queimar corda
aconteceriam.
Então ela se sentou lá e os ouviu discutir, sem realmente ouvir
porque era malicioso e carecia de qualquer informação valiosa. Eles foram
cuidadosos, deixando nomes, lugares e circunstâncias de fora. Ela não
sabia de nada mais do que quando eles chegaram, o que era muito
pouco. Para todos os efeitos, ela estava voando às cegas. O que significava
que eles podiam ser pequenos ladrões, criminosos inveterados... ou
assassinos. Não havia como saber.
E essa era a posição mais perigosa de todas.

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Capítulo Três
— Eu preciso usar o banheiro. Por favor, — Elise
acrescentou. Aquele que a empurrou para dentro da van, que ela decidiu
apelidar de Manhandler4, por razões óbvias, parecia responder bem à
educação.
Seguiu-se apenas o silêncio, mas sabia que não estava sozinha na
sala. Ela podia ouvir a mudança sutil de roupa de vez em quando, o chiado
do vento sobre a lareira crepitante. Eles estavam apenas a ignorando.
— Com licença, — disse com mais força. — Eu preciso usar o
banheiro.
— Espere aí, — grunhiu Driver. Os sons inconstantes alcançaram
seus ouvidos, então algo pequeno e duro atingiu seu joelho antes de cair
no chão com vários estrondos, metal. — Há um quarto. Ligue para alguém
que se importe. — Driver riu de seu senso de humor coxo e ultrapassado.
Elise não estava com humor para rir. Aparentemente, nem
Manhandler.
— Pelo amor de Deus. Mataria você ter alguma decência?
— Ela é uma prisioneira.
— Você planeja fazer amizade com um balde e esfregão esta
noite? Até os cachorros mijam-se se não os levar para fora de vez em
quando. Então, por que você não se levanta e leva a senhora ao banheiro?

4
Manipulador.

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Elise estava balançando a cabeça mentalmente. Do jeito que esses
dois estavam discutindo, eles iriam acabar se matando. E a mesquinhez de
Driver não inspirava muita confiança em como ele a tratava quando seu
parceiro não estava olhando. Ele já tinha batido nela uma vez, e seu
desdém por ela não estava mascarado. Ela apostaria dinheiro que ele
gostava de machucar. Era só uma questão de tempo antes que seu
orgulho e ego fossem feridos o suficiente para atacar. A questão era: em
quem ele descontaria?
— Por que você não para de agir como se eu fosse seu cachorrinho
de estimação e faz você mesmo. — Driver estava zangado, seu tom
fervendo. Elise podia imaginar a espuma em seus lábios. Ela meio que
esperava que as coisas esquentassem ainda mais entre eles, mas, mais
uma vez, Manhandler dissipou a situação sem muito esforço.
— Você é um pé no saco, — disse ao parceiro enquanto, pelo som
de um movimento, percebeu que ele se levantou e atravessou a sala. A
mão dele acima do cotovelo dela era firme, mas gentil, aplicando pressão
suficiente para dar instruções. — Vamos lá.
Ela foi. Cada passo foi um exercício de confiança. Quando eles
chegaram ao banheiro, ela parou, imaginando o que fazer a seguir. Não
conseguia ver absolutamente nada. E com certeza não iria deixá-lo entrar
no banheiro com ela, preferia se molhar do que permitir que isso
acontecesse.
— Você tem dois minutos, as luzes ficam apagadas. Quando eu
fechar a porta, você pode remover a venda. Quando seu tempo acabar,

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baterei duas vezes e você se certificará de que esteja de volta antes de eu
abrir a porta. Não há como escapar. Sem armas. Não tente nada estúpido,
e não terá que descobrir o que acontece com aqueles que me
cruzam. Entendeu?
Claro como cristal. A última coisa que queria fazer era descobrir
onde eles escondiam os corpos. Ou seja, dela. Então acenou com a cabeça
uma vez, bruscamente, antes de ser empurrada para o banheiro.
Assim que a porta se fechou, arrancou o pano dos olhos e
começou a trabalhar. Ela contou os segundos enquanto se
aliviava. Continuou enquanto vasculhava o banheiro em busca de
qualquer coisa que pudesse usar como arma, apesar dele já ter dito a ela
que não havia nada. Como se ela acreditasse nele! Mas tudo, o chuveiro,
os remédios e os armários da pia estavam vazios. A única coisa que
poderia ser útil era uma barra de sabonete branco que havia rachado e
rompido com o tempo e o uso. De alguma forma, duvidava que eles lhe
dessem tempo para se ensaboar ou ensaboar o chão para criar uma
bagunça escorregadia.
Droga.
Consciente de que estava sem tempo, estendeu a mão e deu a
descarga para anunciar que estava terminando. Ela nem tinha secado as
mãos quando ouviu a batida dupla na porta.
A tentação de se virar, esperar e dar uma olhada no rosto de seu
captor, era quase demais. Parada na frente do espelho, olhou para o
reflexo da porta, esperando e antecipando. Mas no último segundo,

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quando a maçaneta da porta clicou e uma lasca de luz do corredor brilhou,
ela puxou a venda de volta no lugar.
Bem, você não é a prisioneira obediente? Nenhuma
autopreservação, pensou com desgosto.
— Você ouviu. Estou impressionado. — Uma mão pesada se
fechou em torno de seu cotovelo. — Me poupa do trabalho de aplicar
punições.
— Eu pensei que você ficaria desapontado com isso.
— Talvez eu esteja.
A entrega áspera enviou um arrepio de medo dançando na sua
espinha. No entanto, por trás de seu véu de escuridão, ela foi conduzida
de volta ao seu assento com mais cuidado do que se esperaria de um
sequestrador. Apesar da ameaça aberta, Elise estava começando a
acreditar que pelo menos um dos homens tinha um coração, e não era
difícil identificar qual era. Quão grande era, no entanto, ainda não se
sabia.
— Eu voltarei.
— Onde? — Manhandler latiu para seu parceiro.
— Obter comida. Tudo o que há naquela cozinha são teias de
aranha e estou morrendo de fome. Você tem algum problema com isso?
— Não estamos aqui há muito tempo. Você não pode esperar?
— Não, não posso.
Houve uma pausa, na qual ela pôde ouvir o som de seu coração
batendo forte, o sangue correndo em seus ouvidos.

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— Tudo bem, — disse Manhandler com um suspiro. — Mas seja
breve e não faça uma cena.
— O quê, você acha que vou dançar na rua ou algo assim?
— Você tem sido um verdadeiro idiota ultimamente. Eu não sei o
que você vai fazer ou dizer minuto a minuto.
— Cai fora, cara. — Driver passou, abrindo a porta um momento
depois. — Você quer alguma coisa ou estou comprando apenas para mim?
— Basta recolher o suficiente para durar alguns dias. E cerveja.
— Já está na lista.
— Voce precisa de alguma coisa? Senhora, precisa de alguma
coisa?
Elise estremeceu, percebendo que Manhandler estava falando
com ela. — Oh... não? — Embora uma barra de chocolate fosse bom. Ela
tendia a ficar um pouco como aqueles comerciais de Betty White quando
estava estressada, e isso era o máximo de estresse que uma pessoa
poderia sentir em um dia.
— Aqui, pegue um pouco de chocolate também.
— Não preciso do seu dinheiro, — disse Driver com desdém. A
próxima coisa que soube foi que a porta estava fechada e ela estava
sozinha com Manhandler.
— Quanto tempo ele vai ficar fora? — Se aventurou a
perguntar. Para ser honesta, estava aliviada por ele ter partido. A tensão
entre os homens era preocupante. Além disso, daria a ela tempo para

20
tentar descobrir se Manhandler tinha um lado bom como suspeitava que
ele pudesse ter.
— Enquanto o tempo aguentar... não muito.
Elise assentiu, lutando por mais palavras para manter a frágil
conversa. Mantenha ele falando. Humanize-se, disse a si mesma. — Nunca
saí da cidade antes.
Novamente, houve um silêncio prolongado em que quase podia
sentir seus olhos sobre ela. — Por que você está me contando isso?
Sua suspeita não foi inesperada. — Você disse ao seu parceiro
para pegar comida para durar alguns dias. Acho que vamos ficar aqui um
pouco, certo? Só pensei que um pequeno bate-papo amigável poderia
fazer o tempo passar um pouco mais rápido.
— Bem, não vai. Então sente-se e fique quieta.
— Isso vai me tirar daqui viva?
— Isso é inteiramente com você.
Certo. Claro que isso não significava que ela estava prestes a
desistir ainda. — Então, há quanto tempo você está no ramo de
sequestros?
Um batimento cardíaco, dois. Em seguida, uma risada fraca. —
Quase quatro horas. — As suas sobrancelhas se ergueram atrás da
venda. — Isso te surpreendeu?
— Você parecia saber o que estava fazendo... então, sim.
Ele grunhiu. — Você foi um... desenvolvimento inesperado.
— Você não estava caçando mulheres para raptar, então?

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— Não. — Foi uma só palavra, mas a maneira como disse, abrupta
e cortante, disse tudo. Ele não ficou feliz com isso.
— Acho que isso não foi ideia sua, então.
— Vejo o que você está tentando fazer aqui e não vai
funcionar. Você não vai colocar a mim e a meu parceiro um contra o
outro, — ele rosnou.
Imediatamente, Elise se encolheu na almofada, sem saber até
onde sua irritação se estenderia. Ele seria como seu parceiro e bateria
nela? A julgar pelo comportamento dele antes, achava que não, mas
nunca se podia ser muito cuidadosa. — Só estou tentando não morrer de
tédio. Não quis dizer nada com isso.
— Certo. — Depois disso, tudo ficou mortalmente
silencioso. Apenas o som da natureza e suas respirações combinadas
preenchendo o silêncio. Foi só quando começou a contar a pulsação
constante em sua têmpora que percebeu que poderia realmente morrer
de tédio.
— Há televisão aqui?
— Por quê?
Ela encolheu os ombros. — Achei que algum ruído de fundo
poderia ajudar a passar o tempo. — Assistir seria ainda melhor, mas não
parecia provável que acontecesse.
A cadeira que ele pegou rangeu, e então houve o clique de um
controle remoto. Logo, os gritos de algum tipo de jogo esportivo
encheram a sala. Futebol. Calculando o tempo, percebeu que se estivesse

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em casa agora, poderia estar assistindo “So You Think You Can Dance”5,
mas não estava. Porque sua vida era uma pilha enorme de merda. Bem,
futebol era melhor do que nada, supôs. Pelo menos havia outra coisa em
que se concentrar, em vez de sua respiração.
Ela sussurrou um agradecimento e então passou a próxima
quantidade incalculável de tempo considerando quão terrivelmente
longas seriam suas horas em cativeiro ao longo dos dias, porque se apenas
algumas curtas horas já pareciam uma eternidade agora? Inferno, talvez a
morte fosse preferível. Elise não era conhecida por ter uma paciência
infinita. Ela precisava se mover, fazer coisas. Gostava de se manter ativa,
fazer caminhadas, andar de bicicleta, nadar e, sim, fazer compras. Estava
sempre se movendo, sempre fazendo alguma coisa. Ficar sentada sem
fazer nada, nem mesmo assistir à televisão, parecia interminável.
E foi então que a porta se abriu como um tiro de espingarda.
— Precisamos sair daqui!

5
Concurso de dança.

23
Capítulo Quatro
— O que você quer dizer com nosso disfarce foi descoberto? —
Manhandler ficou indignado. Driver estava em pânico.
Elise estava secretamente emocionada. Se eles tivessem sido
pegos, ela poderia ser livre mais cedo do que esperava. Alguém já estava a
caminho para prendê-los? Ficou animada com a perspectiva por cerca de
dois segundos antes de perceber que, se alguém de fato estava vindo
buscá-los, ela estava em uma posição muito ruim. Alguém refém?
— Quer dizer, os canais de notícias estão cobrindo tudo. Eles
divulgaram uma descrição correta. E eles têm videovigilância de nós a
levando.
— Espere, eles não têm nossos rostos?
— Não que eu tenha visto.
— Ou nossos nomes?
— Eles não mencionaram...
Em segundos, viu sua chance de salvação diminuir e se transformar
em nada.
— Então, tudo o que eles têm é uma descrição e estou assumindo
uma filmagem de merda da van.
— Sim, eu acho.

24
— Então precisamos nos livrar da van, o que íamos fazer de
qualquer maneira. Ninguém o reconheceu ou fez qualquer conexão
enquanto estava na cidade, certo?
Uma cidade. Havia uma cidade próxima. As esperanças dispararam
novamente. Não que tivesse muita confiança em forjar uma fuga ousada e
viver para contar sobre isso, mas era melhor do que nada.
— Acho que não.
— Então vamos ficar parados. Não vejo nenhum sentido em sair
correndo com nossas armas meio engatilhadas, sem evidências sólidas de
que precisamos.
Ela odiava que ele fizesse sentido e sentia que Driver
também. Com um bufo, ele disse: — Ajude-me a trazer as coisas.
— Diga por favor, — disse Manhandler, um sorriso aparente em
sua voz.
Elise quase sorriu em resposta. Gostaria de saber como ele
era. Sua voz era simplesmente... legal. Não tinha a mesma ponta afiada
que o outro homem tinha. A dele era mais suave, mais gentil, mesmo
quando estava sendo rude e assustador, e ela descobriu que tinha
dificuldade em sentir medo de verdade. Teve que se convencer, porque
essa era a coisa mais inteligente a se fazer. Subestimar qualquer um deles
era o que a mataria, e não era burra.
— Sem chance no inferno, — disse Driver com uma quantidade
surpreendente de humor. Até agora, não pensava que ele fosse capaz de
ser outra coisa senão cruel e zangado.

25
Enquanto os homens saíam, sentiu um deles parar diante dela.
Soube imediatamente quem era, pela forma como os pelos de seus braços
se eriçaram. — Fique aqui e comporte-se. — Manhandler disse. — Eu
estava sendo generoso quando desamarrei você. Não me faça me
arrepender.
— Eu não vou, — foi sua resposta automática. E com o melhor de
sua capacidade, estava sendo honesta, não iria abusar da sorte. Ainda
não, pelo menos.
Demorou uma viagem para os dois homens trazerem tudo, e então
houve o farfalhar de sacos plásticos e portas de armários batendo. Uma
geladeira abrindo e fechando. E sempre, o jogo de futebol continuando a
servir de ruído de fundo.
Não demorou muito para que o chiado da comida em uma
frigideira capturasse sua atenção, seguido pelo cheiro de dar água na boca
do que quer que estivessem cozinhando. O seu estômago roncou e ela
orou como o diabo para que eles fossem gentis o suficiente para incluí-la
em seus planos de refeição. A última coisa que comeu foi um Pop-Tart
de morango - frio - porque sua torradeira decidiu cagar naquela manhã,
então dizer que estava com fome era um eufemismo.
O tempo passou devagar demais para seu gosto, especialmente
com a antecipação de comer queimando um buraco em seu estômago,
mas finalmente ouviu a aproximação de botas no piso de madeira,
fazendo sua ansiedade aumentar rapidamente.

26
Eu sou como um dos cachorros de Pavlov, pensou
preguiçosamente enquanto sua boca começava a salivar.
A almofada à sua direita afundou e o chiar da carne recém-cozida
atingiu seus sentidos. O arranhar do plástico no papel tocou suas orelhas.
— Espero que você goste de salteados, — disse Manhandler. — Abra.
Ela o fez sem discutir. Francamente, não importava o que
cozinharam, desde que pudesse comer. Felizmente, estava delicioso. Ela
gemeu quando o sabor explodiu em sua língua: arroz com flor de brócolis
e bife, tudo coberto com molho teriyaki. Estava no céu.
Gemendo ao começar a mastigar, não se incomodou em esconder
seu prazer. Não havia como dizer quando ou se teria outro momento
como este novamente, livre para desfrutar o mais simples dos prazeres da
vida.
Inferno, não conseguia se lembrar da última vez que tinha provado
algo tão delicioso. O que provavelmente se devia em parte ao fato de que
era uma refeição rara que não tinha que cozinhar para si mesma, e em
parte porque não saiu de uma caixa para micro-ondas.
Por melhores que fossem as refeições, eles não tinham nada feito
em casa. Nada.
— Boa?
Engolindo em seco, disse: — Mmm, muito bom. Você é um ótimo
cozinheiro.
— Eu agradeceria, mas meu parceiro é o chef. Ele é um idiota
total...

27
— Ei, eu ouvi isso!
— …mas conhece bem uma cozinha.
Elise ficou realmente chocada. Deveria agradecer a seu parceiro
brutal com um tapa feliz, ou manter o silêncio e rezar para que não
considerasse isso uma afronta também? Ele parecia pular de raiva ao
toque de um botão.
— Aqui, coma um pouco mais.
Obrigada, doce menino Jesus. Abrindo a boca, aceitou a oferta de
comida mais uma vez, permitindo que seus gemidos de aprovação e
extremo prazer falassem por si. Em algum momento, seu parceiro entrou
na sala para consumir sua própria refeição em frente à televisão e, visto
que não gritou com ela ou fez nenhuma ameaça, percebeu que ele havia
encontrado seu centro no momento.
Isso foi uma bênção em si.
Depois de estar cheia, recostou-se e ficou quieta enquanto
Manhandler se servia de seu próprio jantar, que ela considerou muito
atencioso e achou mais do que cativante. Ele cuidou dela antes de si
mesmo. Isso por si só já dizia que era um bom homem. Bem, pelo menos
não tão ruim quanto a situação sugeria. Ele tinha boas maneiras,
valores, moral - por mais soltos que fossem. Deu-lhe um mínimo de
conforto saber que não era a encarnação do diabo.
Poderia ser pior, se lembrou.
O noticiário noturno veio depois que o jogo terminou, e Driver
baixou o volume para um sussurro, resmungando sobre repórteres

28
intrometidos e informações absurdas. Ele parecia estar irritado com algo
relacionado à especulação sobre quem eram e quais eram suas
motivações. Francamente, também estava curiosa para saber isso, mas
não estava prestes a vocalizar nada.
Não. Ela ficou muda em seu cantinho da - cabana? - e continuou
coletando as poucas informações que podia.
Manhandler estava quieto, exceto pelo rangido suave e repetitivo
da cadeira em que se sentou, que concluiu que devia ser um velho
balancim. Como não havia mais nada a fazer, e podia sentir as horas
passando e sua energia diminuindo, Elise permitiu que sua mente
funcionasse livremente, seu foco naquele pequeno creak, creak, creak, a
apenas alguns metros de distância.
Começou com a imagem de uma pequena cabana, banhada por
sombras e salpicada de luz do sol contra um lago cristalino e cintilante
além de uma colina inclinada e sempre verde. A cabana era velha, rústica,
com tinta verde lascada do mesmo tom do musgo que cresce no lado
norte das árvores. Lá dentro, viu pisos de madeira com cicatrizes e móveis
antigos que datavam dos anos setenta. Nada extravagante, nada novo,
mas tudo era quente e aconchegante, vivido e acolhedor.
Ela sentiu o cheiro de biscoitos recém-assados e, quando olhou
para a esquerda, viu um homem com o cabelo do tom mais escuro de
preto que crescia na nuca, balançando lentamente na cadeira enquanto lia
o jornal. Quando a ouviu entrar, os olhos da cor do mel pularam e

29
brilharam com calor enquanto um sorriso deslumbrante que envolvia sua
boca com rugas finas se espalhou por seu rosto.
Ele era lindo, colocando fogo em seu interior e fazendo seu
coração disparar. — Você voltou cedo, — disse enquanto dobrava o papel
cuidadosamente e o colocava de lado. Levantando-se da cadeira, se
ergueu em uma grande altura, forçando a cabeça dela para trás enquanto
se aproximava e segurava seu rosto entre as mãos que eram fortes e
calejadas.
Achou isso tão sexy quanto sua aparência. Para Elise, não havia
nada mais atraente do que um homem trabalhador com um grande
sorriso.
— Senti sua falta, — respondeu timidamente. Levantando-se na
ponta dos pés, colocou os braços em volta dos ombros largos e cutucou
seu nariz com o dela. — Você teve saudades de mim?
— Todo segundo. — Abaixando a cabeça, seus lábios roçaram os
dela de uma maneira suave e provocante, fazendo cócegas na carne
sensível.
Uma risada percorreu seu peito, o comportamento brincalhão tão
oposto ao seu personagem normalmente forte e taciturno. — Beije-me, —
ela exigiu em um sussurro, e assim que sentiu o gosto de sua respiração
em sua língua, ela sentiu seu corpo começar a tremer.
— Ei. — A voz de Manhandler a despertou do que ela lentamente
começou a perceber que tinha sido um sonho. Um que não queria deixar
para trás.

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— Hum... o quê? O que está acontecendo? — perguntou grogue, e
por um breve momento, envolvida na escuridão absoluta, quase se
esqueceu de onde estava. Sua mão foi para a tira de pano que cobria seus
olhos, mas seu captor a derrubou.
— Não, isto permanece, — ele a informou. Pegando sua mão, a
colocou de pé. — Você adormeceu. Achei que gostaria de se deitar no
quarto. — Parecia que não iria esperar pela resposta dela, já que ele já a
estava levando para, ela assumiu, uma cama.
A ideia repentina de que a estava levando para um quarto,
sozinha, lhe despertou mais rápido do que um balde de água gelada sendo
despejado em sua cabeça. Cavando seus pés, puxou contra seu aperto,
que aumentou consideravelmente em resposta. — Estou bem. Eu estou
acordada agora.
— O que você está fazendo? — Havia confusão em sua voz,
seguida rapidamente pela compreensão. Seu aperto afrouxou, mas não o
suficiente para ela se libertar. — Eu não vou te machucar, — prometeu,
sua voz mais suave do que ela estava acostumada. — Se eu quisesse, já
teria feito. Apenas durma, ok?
Elise hesitou, perguntando-se quanta confiança poderia depositar
nele. Era seu captor, e ela ainda estava com os olhos vendados, cada
movimento seu monitorado. A violência era uma preocupação constante
e, ainda assim, não estava tendo aquele sentimento de pânico em seu
estômago que deveria vir com o perigo iminente. Sua intuição estava
tirando férias ou dizendo que não precisava se preocupar.

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Embora não pudesse entender por quê, estava inclinada a esperar
e ver o que viria a seguir. Poderia ser estuprada ou assassinada... ou
simplesmente ser levada a uma cama e ter uma boa noite de sono.
Não que alguém em sã consciência pudesse dormir em uma
situação de refém, mas estava disposta a tentar. Mesmo agora, podia
sentir os dedos do sono em sua consciência, seus ombros, pesando em
suas pernas. Estava exausta, física e mentalmente.
E Manhandler havia feito uma promessa a ela. Relutantemente,
assentiu.
— Ok, mas sem graça, — avisou. — Posso estar com os olhos
vendados, mas fiz legítima defesa, não vou cair fácil. — Ela tinha feito aula
de autodefesa. Uma vez. Apareceu para as aulas, com a intenção de ficar
até o final, mas quando percebeu que teria que ser emparelhada com
homens estranhos e mais de uma dúzia de pessoas estariam assistindo ela
fazer papel de boba, se virou e caminhou de volta para fora. Nem ligou
para pedir reembolso. Ansiedade e timidez eram uma merda.
Manhandler riu baixinho e a conduziu junto. — Vou ter certeza de
me comportar.
Ela meio que gostaria que ele não o fizesse. O que confirmou que
finalmente perdeu a cabeça. Que tipo de pessoa se sentiu atraída pelo
sequestrador? Era muito cedo para reivindicar a Síndrome de Estocolmo,
de modo que restava a insanidade. Ou a seca de sexo. Não teve um
encontro próximo com a variedade de pênis há muito tempo para ser
saudável.

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Bem, não estava prestes a começar com o dele!
Uma porta se abriu e ela sentiu a mudança de ar quando eles
entraram em outro cômodo, o cheiro de mofo de sujeira e poeira mais
espesso do que no resto do lugar. Girando-a, Manhandler deu-lhe um
empurrão suave e Elise se jogou na beira da cama, as molas gritando em
protesto enquanto quicava e lutava para não rolar para trás até o centro
do colchão.
— Esta coisa deve ser antiga, — comentou sem pensar.
— Eu diria anos setenta, pelo menos.
— Setenta anos? — gritou em descrença. Ela quase saltou para
longe de novo, considerando que tipo de sujeira deveria abrigar.
— Anos setenta é década deles, — esclareceu Manhandler.
— Isso não é muito melhor.
— Aguente isso, docinho.
E o faria, olhou para ele por trás da venda, esperando que ele
pudesse pelo menos sentir sua indignação e ressentimento. Exceto que
ela mesma dificilmente sentiu, então ele provavelmente também não
poderia. Droga. Era uma pobre refém. Onde estava o fogo dela? Seu
furioso senso de autopreservação? Aquela atitude mal-humorada que
todas as heroínas fictícias em sua infinidade de romances tinham?
Deixou tudo isso em Neverland, pensou consigo mesma. Um
sorriso autodepreciativo começou a se formar. Nunca foi uma grande
lutadora. Apenas uma garota triste e solitária vivendo em um mundo
solitário. Blá blá blá. Acho que vou comer minhocas.

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— O que quer que você esteja planejando, não faça isso, — disse
Manhandler de uma maneira calma que desmentia a ameaça inerente à
sua declaração.
Elise tirou o sorriso do rosto instantaneamente. — Não estou
planejando nada.
— Certo. — Não parecia convencido. — Vamos manter assim,
vamos? — Sua mão bateu em sua coxa, assustando-a. — Deite. Durma um
pouco.
Elise se deitou de lado, fazendo uma careta ao pensar em todas as
criaturas que provavelmente viviam entre os cobertores e dentro do
colchão. Deus, o travesseiro era seguro para tocar? — Onde você estará?
Ouviu Manhandler se mover para o lado oposto da cama e,
quando ele se sentou, seu corpo rolou para encontrá-lo no meio. — Bem
aqui, docinho.
Elise engasgou, lutando para a beira da cama, o mais longe
possível dele, sem desafiar suas ordens.
— O quê, — ele disse com uma risada. — Você realmente achou
que eu iria deixá-la sozinha aqui, para que você pudesse fazer
travessuras? Dificilmente.
Não era exatamente o que estava pensando, mas teria feito
algumas bisbilhotices, talvez procurado uma saída. Não que esperasse que
algum dos homens a deixasse em qualquer posição para colocá-los em
problemas. Eles pareciam estar um passo à frente a cada curva. Curvas
que eram poucas e distantes entre si.

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Elise congelou no lugar quando ele se acomodou atrás
dela. Liberando um pequeno gemido de aprovação, a chocou para o
inferno e de volta quando a agarrou pelo meio e puxou-a de volta contra
seu peito. Com a respiração soprando na nuca, disse com voz sonolenta:
— Isso é para sua proteção tanto quanto para a minha. Não tenha ideias,
apenas durma, e nós nos daremos muito bem. Combinado?
O que poderia dizer? Sem acordo? Ele a tinha exatamente onde a
queria, deixando-a sem escolha a não ser jogar a mão que estava
recebendo. Incapaz de fazer sua voz funcionar, simplesmente sacudiu a
cabeça em afirmação.
— Que bom que você concorda, docinho. — Em questão de
segundos, ele estava inconsciente, seu braço ao redor segurando-a no
lugar. E Elise? Bem, ela não iria dormir tão cedo.

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Capítulo Cinco
O que foi que ela disse sobre não ter encontrado um pênis há
anos? Bem, Elise estava tendo uma apresentação pessoal e próxima do
membro de Manhandler, e era duro como uma rocha e pronto para
agradar, a julgar pela forma como cutucava persistentemente entre suas
pernas, como se exigisse entrada.
E Elise era doente, porque, depois de conseguir adormecer e
acordar com a sensação dele preso entre suas coxas, junto com a dureza e
o calor de seu sequestrador firmemente enrolado em torno dela, ela ficou
mais úmida do que as Cataratas do Niágara.
Era isso que acontecia quando você ficava muito tempo sem a
devida atenção masculina. Claramente, seu corpo estava procurando por
amor em todos os lugares errados. Caralho! Ela precisava endireitar a
cabeça. Nada sobre seu desejo repentino e crescente estava
bem. Absolutamente nada.
Ela não tinha certeza de quanto tempo ficou ali, sentindo a
pulsação suave de seu pênis contra suas nádegas, sua respiração suave
fazendo cócegas em sua orelha, suando com o imenso calor de seu corpo
contra o dela - ele era como um inferno! - e mantendo o controle da
batida de seu coração batendo forte contra suas costas. Graças à sua falta
de visão, Elise só conhecia as sensações, e elas eram mais do que

36
suficientes para enviar seus pensamentos em espiral por uma toca de
coelho que ela não tinha como explorar.
Então, quando a porta se abriu com estrondo e Driver entrou, Elise
ficou apavorada e aliviada.
— Vamos levantar! — Driver gritou ao mesmo tempo que
Manhandler puxou Elise para baixo dele, cobrindo o corpo dela com o
dele, e rugiu: — Mas que porra! Eu poderia ter atirado em você, seu filho
da puta!
— Você não é feliz com o gatilho, — disse Driver com segurança.
Elise ouviu o distinto clique metálico do que ela presumiu ser o
gatilho sendo reiniciado - em uma arma! - ao lado de sua orelha.
— Você tem muita sorte por isso, — rosnou Manhandler. — Seu
imbecil.
— Seu coração está batendo forte. Você está precisando de mais
cardio de qualquer maneira. Livre-se desses pneuzinhos.
Manhandler rosnou de irritação. — Saia antes que eu coloque uma
bala na sua bunda.
— Precisa de alguns minutos a sós com a senhora?
Foi então que Elise percebeu exatamente onde Manhandler estava
posicionado. Ou mais especificamente, como. E a julgar pela forma como
Manhandler enrijeceu, todo o seu corpo ficando firme como uma rocha,
ela sabia que ele percebeu isso também.
— Não é o que parece.

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— Ei, eu não estou dizendo nada. Você quer cagar onde você
come? Por mim tudo bem. Só não deixe isso subir à sua cabeça. Bem, pelo
menos àquela que importa. Podemos ter que atirar nela mais tarde. —
Com aquela pequena jóia de conselho, Driver fechou a porta, assobiando
uma musiquinha alegre enquanto caminhava.
Elise, embora muito perturbada, também estava bastante ciente
do homem em cima dela. Seu corpo estava em toda parte, muito mais
largo e pesado que o dela... e era incrível. Ainda mais incrível era a ponta
dura de seu pênis pressionada contra sua fenda, o que não teria sido um
problema se ela não tivesse inadvertidamente aberto as pernas quando
ele rolou em cima dela, criando o berço perfeito para seus quadris para
descansar.
E sem sua visão, tudo o que ela podia fazer era ficar lá e se
concentrar no que estava acontecendo abaixo da cintura.
— Bem, esta é uma reviravolta interessante, — disse Manhandler
com um talento casual que Elise achou admirável, considerando que ela
estava começando a sentir palpitações cardíacas.
— Por que você está em cima de mim? — ela exigiu saber, seu tom
cheio de irritação.
— Não fique tão defensiva, docinho. Não fui eu quem abriu as
pernas como manteiga.
Ela engasgou, afrontada. — Foi você quem subiu em cima de mim!
— Para te proteger!
— Do seu amigo idiota egoísta!

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— Eu estava meio adormecido. Eu não sabia quem diabos era, —
ele sibilou de volta. Então, com um grunhido, ele se afastou dela. As molas
da cama rangeram alto quando ele se levantou de um salto. — Você age
como se eu te despisse até à calcinha e tentasse entrar em você.
Deus, apenas essas palavras foram suficientes para fazer Elise
estremecer. E não de um jeito ruim. De modo nenhum.
Aparentemente, o silêncio dela foi o suficiente para fazê-lo
parar. — Espere... é por isso que você está chateada?
— O quê? — ela perguntou com os dentes cerrados. Ela já sabia
para onde isso estava indo, porque estava pensando nisso também.
— É isso, não é? — Havia uma presunção em seu tom que ela não
gostou nem um pouco. Ele se aproximou novamente, e ela podia senti-lo
pairando sobre ela. — Você gostou de mim em cima de você.
— Não, eu não gostei. — Rolando para longe do som de sua voz, os
pés de Elise encontraram o chão e ela apareceu, querendo
desesperadamente fugir, mas sem saber para onde ir sem remover a
venda, o que poderia muito bem ser uma sentença de morte.
Manhandler veio por trás dela, sua atitude presunçosa a todo
vapor. — Sim, você queria. Você queria o P. Apenas admita. — Ela sentiu
seu calor um segundo antes de sentir seus lábios ao lado de sua
orelha. Em uma voz baixa e rouca cheia de desejo, ele disse: — Se você
quisesse, tudo o que tinha a fazer era pedir, docinho.
O estômago de Elise se contraiu e seus mamilos se endureceram
em pontos doloridos. Ele estava certo, ela o queria. Ela queria tudo dele, e

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não podia explicar por quê, mas maldita fosse se ela iria admitir isso em
voz alta. Uma coisa era pensar, outra coisa era expressá-lo. Dar voz
tornava tudo real. Agora, tudo o que era, era uma fantasia. Aquela que
permaneceria para sempre não realizada.
Ela esperava.
Elise se afastou, colocando distância entre eles. — A única coisa
que eu quero é que você me deixe ir.
— Comporte-se e talvez você consiga seu desejo.
— Talvez?
— Eu gaguejei?
Afinando os lábios, Elise passou os braços em volta de si mesma. —
Você é um idiota.
— Acostume-se com isso.
Oh, ela iria. Ela se lembraria a cada segundo de cada minuto se isso
significasse evitar que sua vida fosse pior do que já era. A última coisa que
ela precisava era se apegar emocionalmente a um criminoso fugindo da
lei.
— Você sabe que não pode me manter aqui para sempre. As
pessoas vão perceber que estou faltando.
— Sim, que pessoas?
A boca de Elise se abriu, mas nenhuma palavra saiu. Ela deveria ter
esperado a pergunta, uma vez que era um seguimento óbvio, mas
não esperava, e ela não tinha uma resposta pronta. O problema era que
estava blefando. Não havia ninguém no mundo que sentisse falta dela -

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nenhum amigo, namorado ou mesmo família. Ela estava sozinha no
mundo. Bem, exceto pelo Sr. Nuttingham, seu amigo esquilo que
frequentava sua varanda de manhã, à tarde e à noite pela pilha variada de
nozes que ela deixava para ele. Nos últimos dois meses, no entanto, ela o
notou ganhando um pouco de peso, o que a levou a acreditar que a dela
não era a única que ele frequentava. Então, basicamente, sua vida era tão
patética que ela nem tinha a lealdade de um roedor.
Sentindo-se repentinamente esgotada, Elise estendeu a mão e
tateou em busca da cama. Encontrando-o, ela desabou na beirada e
soltou um longo suspiro de sofrimento.
— Você não vai chorar agora, não é? — Manhandler perguntou,
soando apenas um pouco preocupado, mas se era para o benefício dela
ou dele, ela não sabia.
Bufando, Elise balançou a cabeça. — Não. Eu não choro. —
Principalmente na frente de outras pessoas. Especialmente se eles fossem
a causa disso. Por que dar a eles essa satisfação?
— Bom.
— Ótimo.
— Você sempre tem que dar a última palavra?
— Sim, — ela disse, para ser argumentativa.
Ele riu. — Lembra-me de outra pessoa que conheço.
Com isso, ela assumiu que ele se referia a seu parceiro. — Você
não me conhece.
— Não, eu não. Mas vou conhecer.

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Isso significava que ele pretendia mantê-la ali como prisioneira por
um tempo? Elise queria gritar, criticá-lo e exigir que a soltasse
imediatamente, mas ela não o fez. Se ele pretendia conhecê-la, isso
significava que ela ainda tinha algum tempo. Matá-la não estava no topo
da lista, e ela aprendeu o suficiente com seu verdadeiro vício em
programas de crime que fazer um sequestrador te conhecer significava
que você poderia fazer com que ele simpatizasse com você. Era uma
forma de manipulação, fazer com que vissem a vítima como um ser
humano em vez de um pedaço de carne descartável.
Elise sentiu uma onda de esperança renovada percorrer seu corpo.
— Isso será antes ou depois de você colocar uma bala entre meus
olhos e me jogar em uma cova rasa? — ela perguntou.
— Uau, você é mórbida. Por que a preocupação com a
morte? Você quer que eu te mate? Você é suicida, mas covarde demais
para puxar o gatilho sozinha?
O quê! Que idiota. — Se eu fosse, você faria isso? — ela
respondeu.
— Não. Não faço o trabalho sujo dos outros para eles. Você quer
fazer o check-out mais cedo, faça você mesma.
Ainda bem que ela não estava procurando uma saída precoce,
porque com uma atitude como a dele, ela poderia ter conseguido. O que a
fez perceber que ele era tão defensivo e combativo quanto ela. Ele não
era um alvo fácil. Tinha uma mente perspicaz e ela teria dificuldade em
superar suas defesas - tinha certeza disso.

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— Tudo bem, me dê sua arma e eu cuidarei dela então.
Houve um breve momento de silêncio, e então Manhandler disse:
— Há estúpido escrito na minha testa?
— Não tenho certeza. Deixe-me tirar minha venda e verificar.
— Toque nela e você será a orgulhosa proprietária de um novo
buraco. Lamentavelmente, é claro.
— Claro. Obrigada pelo aviso... desculpe, não peguei seu nome.
Elise pôde ouvir o leve sorriso em sua voz quando ele disse: — Vou
ter que ficar de olho em você.
Sim, ele iria. Aparentemente, Elise poderia dar o melhor que
recebesse. Quanto mais Manhandler pressionava contra suas defesas,
mais ela pressionava contra as dele. Havia uma luta pelo poder
acontecendo entre eles... e ela gostou.
— Então, você vai ficar sentado aqui e me proteger para sempre,
ou posso tomar um banho e comer alguma coisa? — Elise esperou
pacientemente enquanto Manhandler tentava superar o choque e dar
uma resposta. Segura por saber que ele não iria matá-la abertamente,
apesar de sua afirmação de que o faria - como ele iria conhecê-la se ela
estivesse morta? - Elise quase sorriu. Ela tinha algum espaço de manobra
que ajudou a aliviar o pior de seus medos. Por enquanto, pelo menos.
— Você tem dez minutos. Tente qualquer coisa e eu vou...
— Dar-me um novo buraco. Eu ouvi você da primeira vez, — Elise
disse monotonamente.

43
Agarrando-a pelo braço, Manhandler empurrou-a para fora da sala
murmurando, — Tenho que ficar mais atento a você...

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Capítulo Seis
Um bom banho tem o poder de acordar uma pessoa e prepará-la
para o dia que se inicia. Um ótimo banho faz a pessoa se sentir
transformada. Elise estava gostando do último, porque não havia nada
como um banho quente e refrescante depois de muitas horas gastas com
as mesmas roupas e confinada em uma cabana úmida em um colchão
velho cheio de Deus sabe que tipo de vermes.
Elise só gostaria de ter roupas novas para vestir quando
terminasse. A ideia de colocar a mesma calcinha era apavorante, mas ela
não tinha muita escolha no assunto, a menos que quisesse entrar em
ação - o que ela não queria. Especialmente considerando sua situação
atual.
As coisas só pioraram quando Manhandler, rei dos babacas,
informou a ela que não a deixaria sozinha para cuidar de seus
negócios. Na verdade, depois de uma forte gritaria e muitas ameaças de
danos corporais emitidas por ambos, ela foi praticamente empurrada para
o chuveiro. Ele então disse a ela que ela tinha cinco segundos para se
despir ou ele faria isso sozinho. Então ele bateu a porta de vidro deslizante
com tanta força que ela pensou que iria quebrar.
Desnecessário dizer que ela decidiu se despir - contra seu
melhor julgamento - e começou a tomar banho.
E foi o banho mais incômodo da história da humanidade.

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Uma faixa larga cortando o centro da porta de vidro era fosca,
criando um mínimo de privacidade, mas havia uma área considerável
deixada livre na parte superior e inferior, permitindo uma visão clara da
pessoa dentro.
Tudo que Manhandler precisava fazer era olhar para cima e eles
estariam se encarando. Um fato que se tornou ainda mais incômodo agora
que ele usava abertamente as instalações.
Elise nunca tinha ocupado um banheiro ao mesmo tempo que um
homem em sua vida, então tomar banho enquanto ele se aliviava, à vista
um do outro, era uma espécie de curso intensivo.
Ela estava tentando ao máximo não olhar, imaginando que se ele
estivesse oferecendo a ela um pingo de respeito, ela deveria retribuir o
gesto, mas era um grande teste para sua determinação. Provavelmente
também dizia muito sobre sua bússola moral, já que ela ficava roubando
espiadas com o canto do olho.
Infelizmente, ela não podia ver muito. Não desse ângulo. E, claro,
havia a ameaça aberta de que seria melhor ‘manter os olhos para a frente
ou então’. Portanto, embora estivesse sem a venda por enquanto, ela
estava expressamente proibida de olhar para ele.
Mas ela parecia - mais ou menos - ter uma vaga impressão de
como ele se pareceria. Ele era alto, de constituição sólida, ambos os quais
ela já havia percebido em suas interações anteriores. Mas a sombra
escura ao redor de sua cabeça disse a ela que ele tinha cabelo castanho ou
preto, cortado curto, mas não penteado - havia um pouco de

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comprimento nele. Provável o suficiente para passar os dedos de uma
pessoa e segurá-la com força. Ele permaneceu como um sentinela, imóvel,
e quando combinado com seu comportamento geralmente abrasivo, ela
se perguntou se talvez ele tivesse sido militar em algum momento. Isso
explicaria sua presença de comando e atitude dominadora. Dito isso, ela
também teve a impressão de que isso não era tudo. Ela vislumbrou um
lado mais suave, várias vezes. Um assassino de sangue frio não deixaria
uma pessoa tomar banho, nem se preocupar em alimentá-la ou protegê-la
em meio a um perigo percebido.
Na verdade, Elise estava ficando ainda mais confiante a cada
segundo de que o único perigo real que ela corria vinha diretamente do
homem localizado na frente da cabine - o gatilho solto. Ela até se
perguntou se todos os problemas em que eles foram apanhados -
seja lá o que fosse - era diretamente culpa do parceiro de Manhandler e
ele simplesmente foi pego no furacão. Um caso de lugar errado, hora
errada. Mais ou menos como ela.
Ela arriscou outro olhar com o canto do olho, percebendo o
movimento quando ele puxou a descarga e abaixou a tampa. Sua mãe
deve ter ensinado isso a ele, ela meditou, e ela poderia ter sorrido se,
naquele momento, a temperatura da água não tivesse passado de quente
e fumegante para Santo Hades em um segundo literal de calor.
— Oh meu Deus! — Elise gritou, saltando para trás para escapar da
temperatura escaldante. Seus pés escorregaram na bacia escorregadia, e

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ela jogou os braços para fora, agarrando qualquer coisa com a qual entrou
em contato.
Frascos de xampu e condicionador, uma barra de sabonete e uma
navalha descartável clamavam de sua prateleira rasa, caindo na ponta dos
pés, mas por toda a dor que causou, ela estava prestes a sofrer um mundo
maior de dor ao cair com força...
Isto é, ela teria, se um braço coberto de flanela não fosse
disparado no último segundo possível para salvá-la de quebrar seu cóccix.
— Como eu disse antes, parece que preciso cuidar de você.
Elise olhou nos olhos de Manhandler antes que pudesse pensar
melhor sobre isso, e no instante em que ela travou naquele blues jeans,
seu aviso foi completamente esquecido também.
— Você é apenas um monte de problemas, não é? — Ele disse,
uma sugestão de um sorriso brincalhão curvando os cantos de seus lábios
enquanto ele estendia um braço para desligar a água. Esse toque de
humor, porém, atingiu todo o caminho até seus olhos, confirmando a Elise
que ele não era de todo mau. De modo nenhum. — Levante-se.
Quando Elise foi colocada de pé e Manhandler a segurou por
tempo suficiente para garantir que ela ficasse estável, ela se tornou
dolorosamente consciente de sua nudez, e que as mãos dele - e olhos -
tocavam lugares que um homem não tocava há muito, muito tempo.
Tanto tempo que ela parou de se preocupar em ir para a
academia. Tinha jogado fora completamente a vontade de fazer até
mesmo um abdominal ou agachamento básico, e não conseguia nem se

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lembrar do gosto de uma salada, então ela era... curvilínea. Tipo, em todos
os lugares. O que tornava difícil decifrar se ele estava olhando para ela
assim porque estava com nojo... ou com fome.
— Você está olhando, — sussurrou Elise, sentindo uma
necessidade cada vez maior de se cobrir. Só que ele estava impedindo que
ela alcançasse a toalha.
— Você é linda, — ele respondeu, pegando-a completamente
desprevenida.
Elise não sabia como responder a isso. Ela estava nua. Na frente de
um estranho. Um estranho que era muito atraente, mas que também era
seu sequestrador. — Você pode me passar a toalha, por favor?
Manhandler piscou como se uma névoa estivesse se dissipando de
seu cérebro, então pigarreou algumas vezes. — Claro, sim. Claro. — Ele
entregou a ela a toalha de pelúcia nova em folha que ainda tinha suas
etiquetas. Obviamente, algo que seu parceiro havia adquirido durante sua
aventura na cidade.
— Obrigada. — Elise se enrolou nela. Quando ela saiu, ele recuou,
dando-lhe espaço para passar. Então, cada um deles ficou lá, como se não
soubesse o que fazer a seguir. Elise precisava se vestir, mas não ia fazer
isso com ele vigiando. — Você se importa? — Ela indicou a pilha de roupas
no chão com um aceno de mão.
— Certo. Eu estarei do lado de fora da porta.
Ela acenou com a cabeça, grata por não ter que entrar em outra
partida de gritos com ele.

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Manhandler parou na porta aberta para olhar para ela. — Você
tem cinco minutos.
— OK.
Ele ficou lá, seus dedos tamborilando contra a porta como se
tivesse mais a dizer. Depois de muita consideração, ele finalmente
falou. — Você viu meu rosto.
Ela assentiu com a cabeça, o peso dessas palavras assentando
como uma pedra em seu peito. — Sim, suponho que sim. — O que
também significava que suas próximas palavras provavelmente seriam que
ele teria que matá-la quando tudo isso fosse dito e feito, e desta vez não
seria uma ameaça vazia.
— Mantenha isso entre nós, — disse ele, surpreendendo o inferno
fora dela. O olhar de Elise ergueu-se em choque. O olhar que ele deu a ela
foi grave. — E certifique-se de colocar a venda de volta quando terminar.
Houve um entendimento mútuo silencioso que se passou entre
eles, e então ele saiu para o corredor e a fechou dentro do banheiro. Elise
ficou em estado de choque por um tempo incalculável, sem saber se o
tinha ouvido bem, mas rezando para que sim. O que isso significava para
ela, se ele estava disposto a ignorar o fato de que agora ela poderia
identificá-lo para a polícia? Se ele não iria compartilhar esse detalhe com
seu parceiro?
Elise não conseguiu responder a isso, mas ela sabia de uma coisa
com certeza: aquele evento inocente a colocara no caminho do perigo,
ainda mais do que antes.

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Ciente de que havia queimado a maior parte dos cinco minutos
que ele reservou para ela, Elise se secou rapidamente e se vestiu. Tinha
acabado de pentear o cabelo com os dedos quando ouviu uma batida
dupla na porta e Manhandler enfiou a cabeça para dentro.
— O café da manhã está pronto.
Elise o encarou, cruzando as mãos na frente dela. — Bom, porque
eu poderia comer um cavalo.
Olhando para ela, as sobrancelhas de Manhandler se juntaram. —
Você esqueceu algo?
Elise franziu a testa antes de se lembrar de um elemento-chave de
sua roupa. Com um suspiro mental, ela pegou a venda da borda da pia e a
colocou de volta no lugar. Quando as luzes se apagaram novamente,
Manhandler entrou e apertou a mão dela.
— Lembre-se, nem uma palavra sobre isso.
— Eu sei.
Como se ela fosse apenas explodir sobre ter visto seu rosto? A
única coisa que estava impedindo seu curinga de parceiro de colocar uma
bala entre os olhos dela naquele local? Ela podia ser um pouco ingênua,
mas não era boba. Sabia como manter a boca fechada. Além disso, isso
poderia funcionar a seu favor. Se ela jogasse suas cartas direito.
O cheiro de ovos e torradas queimadas encheu a frente da cabana,
e o estômago de Elise roncou quando ela foi levada a se sentar em
uma cadeira de encosto duro. Em princípio, ela não gostava muito de

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ovos, mas não comia desde o jantar do dia anterior, e uma refeição
quente vencia Pop-Tarts gelados todos os dias da semana.
— Aproveitou seu banho? — Driver perguntou, suas palavras
cortantes. Claramente, ele não estava a bordo com ela aproveitando suas
instalações.
— Não seja um idiota, — Manhandler disse a ele enquanto
estacionava ao lado dela. — Abra, docinho. — Ele começou a alimentá-la
com seu café da manhã, e Elise mastigou em silêncio enquanto os homens
começavam outra discussão.
— Você a está tratando como um animal de estimação, em vez de
uma refém.
— Chama-se decência humana básica. Você deveria tentar algum
dia.
— Alimentando-a, dividindo a cama e tomando banho juntos, —
Driver listou. — E a seguir, você vai tirar a venda dela e fazer as
apresentações adequadas?
Elise parou no meio da mastigação, e Manhandler ficou tão quieto
que ela jurou que podia ouvir sua respiração difícil.
— Você precisa observar como fala comigo.
Driver grunhiu. — Mesmo? Porque estou começando a achar que
preciso vigiá-lo tão de perto quanto você esteve olhando para ela. Eu
preciso me preocupar com sua lealdade?

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O garfo caiu na mesa com um estrépito. — Dois dias e você já está
paranóico, estou me voltando contra você? Uau, devo dizer, achei que
você tivesse mais bom senso do que isso.
— Não me questione. Eu confio nos meus instintos, e agora eles
estão dizendo que essa merda entre você e ela está fora.
— Você acha que eu tenho algo acontecendo com ela? — A
cadeira de Manhandler raspou no chão quando ele ficou de pé. Elise se
encolheu, desejando poder ficar invisível. Ela não queria ser pega no meio
de sua rixa. Não havia como saber se as coisas ficariam violentas entre
eles, e ela não estava preparada para descobrir.
— Você acha?
— E daí se eu achasse? Não significa que saltei do barco. Não
significa que ainda não seja um homem procurado. Não muda nada. No
final do dia, ainda vamos fazer o que temos que fazer.
— Então, se ela se tornar uma responsabilidade?
— Então nós cuidaremos disso, — Manhandler disse, e sua entrega
arrepiante fez Elise estremecer... de um jeito ruim.
Driver pareceu levar um momento para refletir sobre as palavras
de seu parceiro. — Então você está apenas procurando um pedaço de
bunda e está de olho neste pequeno filhote?
— Você vê algo melhor por aqui para passar o tempo? —
Manhandler rosnou.
Os lábios de Elise se curvaram. Traída. É assim que ela se
sentia. Ela deveria saber que ele estava apenas a usando, mas em vez

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disso ela foi e deu a ele atributos que ele não merecia. Ele era apenas mais
um homem procurando transar. E ela simplesmente era a coisa mais
próxima com uma vagina disponível.
Isso a fez querer chutá-lo bem nas bolas. Se ela pensasse que
poderia escapar impune, ela o faria. Num piscar de olhos.
Driver riu e puxou uma cadeira para si. — Melhor do que assistir
TV. A antena não pega nada com todas essas malditas árvores.
— Isso é porque as pessoas não chegam tão longe para a recepção,
idiota.
— Ei, esse idiota acabou de cozinhar uma refeição para
você. Tente mostrar um pouco da decência humana básica sobre a qual
você está sempre falando.
Eles compartilharam uma risada amigável e Elise foi forçada a ouvir
mais de suas brincadeiras idiotas, que agora ralavam em seus últimos
nervos. Apenas um objeto para ser usado, certo? Bem, ela apenas se
sentaria e pensaria por algum tempo e tentaria bolar um plano para fazer
sua fuga o mais rápido possível.

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Capítulo Sete
— Você é louco.
Elise ignorou a observação surpreendentemente astuta de
Manhandler, considerando que ele era a escória do lago. Com os sapatos
ainda calçados, ela se deitou na cama e se aninhou de lado. Tinha ficado
em silêncio o dia todo, bancando a refém perfeita enquanto formulava
todos os planos de fuga possíveis que ela poderia inventar. Até agora, a
única oportunidade real que ela pensou que teria seria puro
acaso. Especificamente, se ela tivesse a chance de fugir, ela teria que
pensar mais tarde e aproveitar.
As molas da cama rangeram como um corvo ferido, e o colchão a
sugou para o centro como um vórtice, puxando Elise para o corpo quente
e duro de seu sequestrador.
Ela agarrou a borda do colchão e puxou-se de volta à posição,
recusando todo e qualquer contato com o verme. Estocolmo poderia ser
uma merda. Ela não estava caindo nessa armadilha. De jeito nenhum, de
jeito nenhum.
Isso não significa que ela estava inconsciente ou afetada pela
presença masculina deitada ao lado dela, no entanto. Ele não era algo que
ela pudesse ignorar facilmente, especialmente porque seu corpo estava
hiper alerta sempre que ele estava por perto, o que acontecia o tempo

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todo. Ela não podia escapar de sua presença mais do que ela podia
escapar do efeito que ele tinha sobre ela.
Mas isso não significa que ela tivesse que ceder.
— É você que está me dando o tratamento do silêncio, docinho?
A resposta de Elise foi se esgueirar para mais perto da beira da
cama até que seus joelhos se sobrepusessem ao lado e ela sentiu um
arrepio nas costas.
— Você deve saber que o silêncio não funciona com os
homens. Gostamos de uma mulher que conhece o seu lugar.
— Você quer dizer nas costas dela? — Elise disparou, furiosa. Ela
não era normalmente uma pessoa violenta, mas queria arrancar seus
olhos.
— Eu pensei que isso poderia ter te irritado. — Manhandler rolou
na direção dela, pressionando o peito contra suas costas e não deixando
nenhum lugar para onde ir. As pontas dos dedos dele desceram pelo braço
dela e arrepios aumentaram. Era como se aquele contato físico no
banheiro desse a ele a noção de que ele tinha licença para tocá-la
agora. — Você sabe que eu só disse isso para despistá-lo, certo? Ele estava
muito perto da verdade.
Ela tinha suspeitado disso, mas, ao mesmo tempo, isso é
exatamente o que ele diria se pensasse que poderia lhe dar um passe livre
para sua calcinha. Elise não estava prestes a cair nesse pequeno
truque. Ela não nasceu ontem.

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— Vamos. Não fique brava. Não depois de compartilharmos aquele
momento no banheiro.
O que confirmou suas suspeitas. — Você quer dizer quando você
me apalpou? — Elise encolheu os ombros, mas ele não se intimidou. Em
vez disso, ele voltou sua atenção para o cabelo dela, acariciando-o para
trás.
— Docinho...
— Você realmente acha que me chamar por um nome de animal
de estimação vai me soltar? Porque eu não sou de quem se pode tirar
vantagem.
— Não estou tentando tirar vantagem, — insistiu. — Só não sei o
seu nome.
Elise... hesitou. Ponderando o mérito de suas palavras, ela sabia
que ele provavelmente estava dizendo a verdade. Ou pelo menos parte
disso. Em um esforço para não se conhecerem, para não confundir as
linhas de sequestrador e sequestrada, ele apelou para chamá-la de algo
doce, enquanto ela preferia outra coisa. — Bem, eu também não sei o seu,
então eu atribuí um apelido para você também.
Os dedos dele, que penteavam os cabelos dela, pararam. — Eu só
posso imaginar o que você escolheu, — ele meditou.
— Manhandler. — Ela quase riu, dizendo isso em voz alta. Se ao
menos ela pudesse ver seu rosto. Maldita venda.
— Isso é... original. É isso que você realmente pensa de mim?
— Sim. Você tem tendência a maltratar as coisas. Ou seja, eu.

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Ele levou um momento para pensar sobre isso. — Você tem um
para o meu parceiro também?
— Sexy de morrer, é o que eu acho — ela mentiu, apreciando o
silêncio pesado que se seguiu.
— E como você descobriu isso? Você nem mesmo o viu. — A
tensão em sua voz disse a Elise tudo que ela precisava saber: ela havia
machucado seu pobre e frágil ego. Ah, pobre querido. Bem feito a ele.
— Não, mas eu o ouvi.
— Então você gosta da voz dele?
Ela encolheu os ombros evasivamente. Ele poderia aguentar como
quisesse.
— Então você gostou de levar uma surra? Isso é preliminar para
você ou algo assim? — Agora ele parecia perturbado e enojado. A próxima
coisa que Elise percebeu foi que ele se levantou e saiu da cama. Pelo
menos conseguiu o que ela queria, que era ficar longe dele. — O que há
de errado com vocês, mulheres? É como se vocês não pudessem evitar ser
estúpidas.
— Ei! Eu tenho um mestrado em biologia! — Sentando-se, Elise
arrancou a venda e o encontrou andando de um lado para o outro ao pé
da cama.
— Então você deve estar totalmente ciente da idiota que você
é. Atraída pelo pior tipo de homem? Isso é livro didático, docinho.
— Você me chama assim de novo, e eu vou dar um soco na sua
cara, — ela ameaçou, apontando o dedo para ele.

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— Então é assim que você gosta, hein? — Manhandler marchou
até ela, seu tamanho e o olhar escuro e ameaçador em seus olhos
assustando-a profundamente. — Talvez eu devesse dar uma boa palmada
em você também, então, se é isso que a excita.
— Tente. Veja o que acontece, — Elise fervia de raiva. Se ele
pensasse por um segundo que ela o deixaria encostar o dedo nela e não
revidar, ele ficaria em choque. Elise pode ser descontraída e evitar
conflitos em favor de manter a paz e podia deixar que a cabeça mais fria
prevalecesse na maioria dos dias, mas não todos os dias. Se ela fosse cair,
seria uma luta.
— O que você vai fazer, docinho? Arrancar meus olhos?
Não, porque ela tinha o péssimo hábito de roer as unhas, mas Elise
arrancaria um pedaço da pele dele, de um jeito ou de outro. Lábios
descascando para trás, ela mostrou os dentes. — Eu disse para você não
me chamar assim.
Ele nunca viu isso chegando. Em um momento, Elise estava na
cama e, no seguinte, ela se lançou sobre ele. Ele mal teve tempo de se
preparar antes que ela atingisse seu peito com todo o seu
peso. Tropeçando para trás, Manhandler lutou para evitar que ela batesse
em seu rosto ao mesmo tempo em que tentava se equilibrar para que os
dois não caíssem no chão.
Mas ele estava falhando e Elise tinha enlouquecido. Cegada por
sua fúria, ela liberou sua raiva, medo e ressentimento contra a população
masculina sobre ele. As palavras que saíram de sua boca eram

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ininteligíveis, mesmo para seus próprios ouvidos. Mas a essência disso era
que ele era um pedaço de merda, e ela iria limpar o chão com ele.
— Acalme-se, porra, — Manhandler disse a ela enquanto lutava
contra seu ataque. Mas ela envolveu suas pernas bem apertadas em torno
de seus quadris, então ela não iria a lugar nenhum.
— Não me diga o que fazer!
— Você é uma psicopata!
— Você é um idiota! — Ela deu um tapa em seu rosto, deixando
uma marca de mão instantânea em sua sombra de cinco horas.
— Cadela!
Ela deu um tapa nele novamente, e ele praguejou novamente. A
sala girava em torno deles enquanto lutavam pelo poder e trocavam
nomes que fariam corar até o gangster mais desbocado da vizinhança. A
sala girou mais uma vez, e então as costas de Elise bateram contra a
parede, sacudindo uma pintura velha e amarelada pelo tempo.
Manhandler os colocou nariz com nariz, aqueles olhos azuis
penetrando os dela com um fogo ao qual Elise não sabia como
responder. Ela estava furiosa e excitada.
Hormônios estúpidos.
— Nunca mais me bata de novo.
A respiração de Elise saiu dela em suspiros agudos, combinando
com a dele. — Deixe-me bater, e eu irei. Eu garanto.
Ele olhou feio. — Você quer morrer?
— Melhor do que ficar presa com você mais um minuto.

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Não houve nenhum processo de pensamento envolvido. Em um
segundo eles estavam olhando um para o outro, furiosos e decidindo a
melhor forma de matar um ao outro, e no seguinte eles foram esmagados
juntos, bocas e corpos fundidos enquanto eles se engajavam em uma nova
batalha.
Línguas duelaram e dedos agarraram e rasgaram roupas, cabelos e
partes do corpo em um esforço para tocar e sentir cada centímetro do
corpo um do outro. Elise se envolveu em torno dele com mais força, e ele
a pressionou contra a parede com tanta força que ela ficou surpresa que o
gesso não rachou. Beijá-lo era como travar uma guerra entre nações
opostas, dentes mordendo os lábios enquanto prendiam os cabelos um do
outro a ponto de doer.
A barragem havia rompido, desencadeando paixão, intriga e raiva
e frustração reprimidas, tudo culminando no que Elise sabia que seria um
inferno de uma foda de ódio.
Mas era ódio? Ela achava que não. No mínimo, era luxúria pura e
inadulterada que exigia saciedade. Negar sua atração e a necessidade
urgente de agir sobre isso era, neste ponto, fútil. Saber que não era uma
boa ideia não iria impedi-la, porque Elise também sabia que nunca se
sentira tão viva antes. E se seu parceiro cumprisse suas ameaças de
colocá-la em uma cova rasa, então ela iria ordenhar o tempo que tinha
sobrado na terra para tudo que ele tinha.

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— Se é assim que você lida com sua raiva, — disse Manhandler
enquanto começava a beijar e lamber um caminho do queixo até o
pescoço, — então vamos lutar com mais frequência.
— Não se precipite, — Elise ofegou enquanto enroscava os dedos
em seu cabelo. — Estou abrindo uma exceção, e só porque já faz um
tempo.
— Então, eu posso te foder por padrão?
— Quem disse que vou deixar você fazer qualquer coisa comigo?
— Oh, docinho, — disse Manhandler enquanto puxava sua camisa
até o pescoço e liberava um de seus seios de sua taça, — Acho que nós
dois sabemos que vou te foder.
Elise deixou cair a cabeça contra a parede, gemendo de felicidade
quando ele tomou seu mamilo entre os lábios e chupou com força. Não
havia nada que ela pudesse dizer. Ele estava certo. Ela iria deixá-lo fazer
coisas ruins com ela, mas apenas porque ela queria. Em um momento em
que sua vida estava em um caos total, ela disse a si mesma que estava no
controle disso. Ela definiu o ritmo. Estabeleceu as regras. Controlou o
resultado.
— Quase posso ouvir as engrenagens girando nessa sua cabeça, —
comentou Manhandler com a boca cheia de seio. — Pare de pensar e
comece a sentir, docinho.
— Lá vai você me dizendo o que fazer de novo.
Ele riu. Em seguida, lambeu um círculo ao redor de seu mamilo
antes de levantar a cabeça para encontrar seu olhar vidrado de sexo. — É

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melhor se acostumar com isso, docinho. Não só vou lhe dizer o que fazer,
mas vou acabar com você até que implore por misericórdia. Mas você
sabe o quê?
— O quê? — Ela ofegou, ansiosa por sua resposta.
Ele baixou a boca até que seus lábios roçassem os dela. — Eu não
vou te dar nenhuma.
O coração de Elise galopou e seus dedos, ainda enterrados em
seus cabelos, se apertaram.
— Sua garota travessa. Você gosta disso, não é?
— Mmm, — foi tudo o que ela conseguiu dizer. Ela não apenas
gostou; ela adorou. A ideia de ele não lhe dar trégua era emocionante. Ela
ansiava por ser tomada, e saber que ele seria impiedoso apenas
aumentou seu desejo ainda mais.
Sua camisa subiu e passou por cima de sua cabeça antes que ela
pudesse piscar. Seu sutiã foi removido um segundo depois e descartado
também. Elise, de topless, assistia à distância enquanto seu sequestrador
acariciava e massageava, lambia e beliscava cada um de seus seios,
banqueteando-se com sua carne tenra.
Enquanto as mãos dele serpenteavam por seus quadris e ao redor
para segurar seu traseiro, Elise foi vítima das sensações, sem se importar
com as consequências. Só então, ela queria apenas sentir.
— Última chance para desistir, — ele disse enquanto cavava um
caminho de volta ao pescoço dela com a língua. Seus dedos agarraram o
cós da calça jeans de Elise na parte inferior de suas costas e começou a

63
puxar. O ar frio beijou sua carne aquecida enquanto ele tirava suas
roupas, expondo-a.
— Eu não vou desistir, — ela o informou. Na verdade, Elise estava
determinada a ver isso até o fim. Quando ela encontraria outra
oportunidade de experimentar isso? De experimentar essa sensação
avassaladora de excitação? Ela viveria apenas uma vez e, por acaso, podia
ser sua última chance de fazer algo tão aventureiro ou arriscado.
— Bom, porque eu não deixaria você de qualquer maneira.
Palavras ameaçadoras, Elise meditou. Em qualquer outra situação,
ela tomaria isso como uma ameaça, e uma ameaça indesejável. Mas ela
estava investida, e suas palavras só serviram para alimentar o fogo que
queimava dentro dela.
Presa contra a parede, as calças apertadas contra as coxas, Elise se
agarrou a seu sequestrador deliciosamente sexy enquanto ele puxava as
próprias calças. Liberando-se, ela sentiu seu pênis duro saltar livre e bater
contra sua fenda. Ela já estava toda molhada, mas a sensação de sua carne
contra a dela tornava tudo muito pior.
Uma pontada de dor gloriosa provocada por uma necessidade
cada vez mais dolorosa de senti-lo dentro dela fez Elise gemer alto e,
sendo o cavalheiro que era, Manhandler se esforçou para aliviá-la
imediatamente.
Esmagando sua boca na dela, ele se guiou dentro dela, centímetro
por centímetro glorioso, esticando e enchendo Elise até que ela gritou. Ele
engoliu seus gemidos, um após o outro, forçando mais a cada impulso de

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seus quadris. Os dedos de Elise puxaram seu cabelo, suas unhas
arranharam seu couro cabeludo e seus dentes morderam seus lábios. Ela
se banqueteava com ele, como um animal, uma mulher possuída.
Ela nunca se sentiu mais fora de controle em sua vida.
— É isso aí, docinho. Foda-me, — Manhandler comandou, e foi
então que ela percebeu que estava se movendo junto com ele, seus
quadris encontrando os dele impulso por impulso. Os dedos dele em sua
bunda cravaram, separando suas bochechas e dobrando seus quadris para
que ela pudesse levá-lo ainda mais longe, e isso fez toda a diferença no
mundo.
Elise sentiu o orgasmo explodir sem aviso, expandindo-se para fora
de cada célula como uma supernova, engolindo sua própria consciência
até que foi reduzida a uma massa de sensações sem pensamento coletivo.
— Oh Deus! — ela gritou, indiferente a quem a ouviu. Não havia
espaço para timidez ou reserva em um momento como aquele. Ela era
uma escrava de sua mente primitiva e não o faria de outra maneira.
— Oh merda, sim! Sua boceta está me agarrando com tanta força,
— Manhandler grunhiu enquanto começava a bater nela com
seriedade. Ele era um homem com uma missão, levando-a de volta ao
gesso, o poder absoluto de suas estocadas ameaçando quebrá-la.
Elise teria hematomas, disso ela não tinha dúvidas. Mas estava
amando cada segundo de seu ataque brutal. Era cru, irrestrito e tudo o
que ela desejava. Ela pegaria tudo que ele lhe desse e saborearia as

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memórias depois. Mesmo se ele fosse um idiota. Mesmo se ele fosse seu
sequestrador.
Porque ela preferia passar seus últimos momentos neste planeta
vivendo, ao invés de sentir nada.

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Capítulo Oito
— Qual o seu nome? — Elise perguntou, sua voz pesada com a
necessidade de dormir. Pela primeira vez, ela não se importou com a
sujeira em potencial das roupas de cama ou com a idade do colchão em
que era colocada. Ela estava quente e satisfeita descansando contra o
peito de seu captor, que há muito havia retornado ao seu padrão
normal de respiração.

Ela estava fazendo o possível para não se apegar, mas não podia
negar que já estava contando as batidas do coração dele e gostando do
som muito mais do que deveria.

— Além de Manhandler, você quer dizer? — ele perguntou


brincando.

— Sim. — ela disse com um sorriso fácil.

Seus dedos percorreram levemente seu braço, causando


arrepios. — Marcus. Mas não me chame assim, a menos que estejamos
sozinhos.

Porque seu parceiro iria pirar? Elise não iria testar essa teoria.

— Ok.

— Qual é o seu?

67
— Ao contrário de docinho? — ela perguntou com uma
cadência provocante.

— Apenas para referência futura, é claro.

— Elise. Meu nome é Elise.

— Elise... — disse Marcus, experimentando, e Elise sentiu um


arrepio de consciência renovada ao ouvir o nome dela saindo de sua
língua. — Um lindo nome para uma linda mulher.

— Obrigada. — ela sussurrou.

Seu dedo enrolou sob seu queixo, inclinando seu rosto em


direção ao dele. Seus olhos azuis perfuraram-na, alcançando algo
profundo inominável dentro dela. — Eu gosto de você, Elise. Muito
mais do que o aconselhável.

Seu coração disparou. — Eu sinto o mesmo por você. — A


esperança cresceu dentro dela. Ela alcançou aquela parte humana
dele? Conseguiu garantir sua libertação ao invés de assinar sua
sentença de morte?

— Isso não significa que eu não farei o que tenho que fazer, no
entanto.

Essa falsa sensação de esperança correu para fora dela como o


ar de um balão. Elise piscou para conter as lágrimas, recusando-se a
mostrar fraqueza na frente dele. Em vez disso, ela se afastou, virou-se e

68
puxou os cobertores para cobrir sua nudez. Ela não queria ser mais
vulnerável do que já era.

— Sinto muito se machuquei você — disse Marcus, sem fazer


nenhuma tentativa de confortá-la. — Eu só quero que você entenda
que foi sexo. Foi só isso. Não pode ser nada mais do que isso.

— Está tudo bem — Elise mentiu. — Não espero nada de você.

— Então por que você está me evitando?

— Estou cansada.

— Você é uma mentirosa.

— Vá se foder. — ela cuspiu, irritada com sua avaliação correta


dele. Ela não queria ser transparente, especialmente com ele. Ele não
merecia ver essa parte dela, a parte que ele conseguiu tocar sem sua
permissão.

Ou talvez ela tivesse lhe dado permissão sem perceber. Talvez


seja por isso que ela estava chateada agora, porque permitiu a ele
acesso a um lugar que ela queria manter trancado. Afinal de contas,
uma situação de sequestro e refém não conduzia a um casamento por
amor.

Isso apenas provou que Elise não era o tipo de mulher que
ficava apenas uma noite.

Não importa. Ela só teria que trancar a porta e, desta vez, ela ia
jogar a chave muito, muito longe.

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Garota estúpida.

— Eu posso ir se você quiser — Marcus ofereceu. — Se você


precisar de algum tempo sozinha.

— Não me faça nenhum favor. — Elise resmungou.

Marcus suspirou. A cama afundou e balançou antes de voltar ao


lugar. Elise ouviu enquanto ele se vestia. — Eu vou ver sobre o
jantar. Descanse um pouco. Talvez um pouco de sono a ajude a mudar
essa atitude.

— Mais uma vez, vá se foder. — Claro que ela tinha uma atitude,
e foi inteiramente culpa dele. Ela pode não considerá-lo perigoso, mas
Marcus era um idiota.

Por que ela tinha que achar isso tão sexy?

— Estarei de volta em uma hora. Certifique-se de colocar a


venda de volta.

Elise se irritou com seu tom de comando. O calor se foi e em seu


lugar era o lado frio e duro do homem que a sequestrou. Ela odiava
aquela venda. Odiava estar no escuro, incapaz de avaliar os arredores,
incapaz de planejar sua liberdade.

Mas era melhor do que a ira que seu parceiro, sem dúvida,
lançaria sobre ela se ele descobrisse que ela sabia como qualquer um
dos seus homens se parecia. Ele parecia o tipo de pessoa que não
gostava de pontas soltas.

70
***

Elise não tinha certeza de quando tinha adormecido, mas ela


sabia o que a acordou - gritos. Ela podia ouvir os dois homens
discutindo, em voz alta, um com o outro, de algum lugar da
cabana. Infelizmente, a espessa combinação de paredes de gesso
e toras abafou suas vozes, tornando suas palavras ininteligíveis.

Ciente de que precisava ser extremamente cuidadosa, Elise


levantou-se silenciosamente da cama, aliviando seu peso lentamente
para evitar que as velhas molas de metal rangessem e, segurando o
lençol contra o peito, atravessou o quarto na ponta dos pés até à
porta. Pressionando a orelha no painel de madeira, ela se esforçou para
decifrar suas palavras, para separar suas vozes, que lutavam para se
sobreporem.

— ...trepando com a vadia!

— ...nada... com nada... não vai interferir... não vai causar


problemas!

— ...olha a sua cara!

— … não sei do que você está falando! Ela... vai... qualquer coisa!

— …morta!

71
Elise se encolheu e se afastou da porta. Ela pode não ter sido
capaz de ouvir tudo, mas ela ouviu o suficiente. Eles estavam
discutindo sobre ela e, ela temia, ser sobre se deveriam matá-la ou não.

Ela precisava dar o fora daquele lugar. Agora. Ela não ia esperar
e descobrir o que eles planejavam fazer com ela.

Vestindo-se, Elise procurou em cada gaveta e no armário por


qualquer coisa que pudesse usar como arma, mas o lugar estava
completamente limpo, deixando-a sem linha de defesa. Ela apenas teria
que aproveitar a chance e correr na primeira oportunidade que
conseguisse.

Sem saber quanto tempo dormiu ou quão já era perto da hora


que Marcus prometeu voltar, ela desabou na cama, preparada para
esperar. As molas protestaram contra seu peso mais uma vez, e Elise
teve uma ideia.

Caindo de joelhos, Elise jogou os cobertores para trás e olhou


sob o pedaço de velharia. Com certeza, molas de metal gigantes
estavam expostas, enferrujadas pelo tempo e sem dúvida quebradas.

Pegando uma que parecia estar por um fio, Elise fez uma oração
e puxou.

O metal soltou-se em sua mão com uma facilidade


surpreendente. Chocada, mas aliviada, Elise inspecionou o pedaço de
metal enrolado. Não era perfeito de forma alguma. Era velho e

72
volumoso, provavelmente lhe deixaria na mão, e não havia como ela
esconder isso consigo mesma.

Mas era melhor do que nada.

Ela estava se levantando quando percebeu que a luta havia


cessado e o som de passos pesados vinham em sua
direção. Freneticamente, Elise procurou por um lugar para esconder
sua arma improvisada. O armário estava muito longe e a mesa de
cabeceira não tinha gavetas, então ela a jogou de volta para debaixo da
cama, fora de vista.

Ela olhou para a porta, preparando-se para uma briga, quando


avistou a tira de tecido preta sobre a mesa. Lembrando-se do aviso de
Marcus, ela se lançou, pegando-a e puxando rapidamente para cobrir
os seus olhos segundos antes da porta se abrir.

— Traga sua bunda aqui, vadia. — Driver rosnou, claramente


descontando sua raiva nela.

Elise não se mexeu um centímetro, sem saber para onde ir sem


esbarrar em nada. Ele deve ter percebido isso. Com um bufo
impaciente, Drive marchou e agarrou seu braço com força brutal e a
arrastou para fora do quarto.

Elise teve que correr para acompanhar, tropeçando nos


próprios pés durante todo o caminho. Quando chegaram ao destino,
Driver praticamente a jogou no sofá. Ela caiu de lado com um baque, a
mobília deslizando alguns centímetros para trás.

73
— Ei, cuidado! — Marcus disse, mas seu parceiro não queria
isto.

— Já que você ficou mole, eu estarei cuidando dela de agora em


diante.

— O inferno que você vai. Você está fora de controle, cara —


Marcus disse a ele. — Ela pode ser nosso seguro, mas isso não lhe dá o
direito de abusar dela.

— Notícia de última hora: É assim que você mantém a merda na


linha. Você não mima a refém. Se eles não temem você, eles se
aproveitam. A próxima coisa que você descobre é que você está no
banco de trás de um carro da polícia algemado enquanto ela navega
sua bunda rio abaixo. Você pode ficar aí e ser estúpido o quanto quiser,
mas não vou correr nenhum risco. A cadela fica comigo.

— Nem uma maldita chance! — Marcus gritou, fazendo Elise


pular. — Você quer que eu seja mais duro com ela, tudo bem. Vou
amarrá-la novamente. — Elise guinchou seu protesto, mas os dois
gritaram — Cale a boca! — então ela se calou. — Se ela estiver
amarrada e com os olhos vendados não irá a lugar nenhum e não
poderá dizer nada sobre nada.

— Só que você já deixou ela te ver — disse Driver, em tom baixo


e cheio de malícia.

74
Marcus ficou em silêncio por um segundo a mais, confirmando
para seu parceiro que ele acertou em cheio. — Não sei do que você está
falando.

— Não? Porque eu poderia jurar que enquanto você estava


pregando a bunda dela na parede, eu entrei e vi vocês dois se
olhando. Foi um verdadeiro momento espiritual — zombou.

— Você estava me espionando?

— Considerando a forma como as paredes estavam tremendo,


pensei que você poderia precisar de uma mão para controlar a
cadela. Parece que você tinha tudo sob controle. Exceto a parte em
que você a deixou ver a porra do seu rosto, seu idiota de merda!

Houve uma luta então, seguida pelo som de carne batendo em


carne, e tudo o que Elise pôde fazer foi sentar-se ali, rígida e cheia de
medo, enquanto os homens caíam pela sala. Coisas foram quebradas,
maldições foram lançadas, ameaças foram feitas e, no final de tudo, de
alguma forma os dois homens estavam vivos.

— Você é um verdadeiro bastardo — disse Driver e cuspiu.

— Você já disso isso antes, filho da puta.

Eles riram bem humorados e então grunhiram enquanto se


levantavam e se sacudiam.

— O jantar está pronto — Driver anunciou com um gemido de


dor enquanto se afastava.

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— Vou preparar alguns pratos. Está com fome, docinho?

Elise acenou com a cabeça, com muito medo de falar, caso isso
gerasse outra rodada de socos. Enquanto Marcus se preparava para
servir o jantar, ela se sentou em um silêncio atordoado e confuso,
tentando descobrir o que diabos tinha acontecido. De amigos a
inimigos e vice-versa. Os dois tinham uma dinâmica estranha e
desconcertante que ela simplesmente não conseguia entender.

E os homens chamam as mulheres de loucas?

76
Capítulo Nove
Apesar de seus protestos silenciosos e súplicas sussurradas,
Marcus deixou Elise para trás para dar uma corrida. Aparentemente,
era sua vez de ir à cidade buscar suprimentos. Ela implorou a ele para
dizer a seu parceiro para fazer isso, mas depois de sua luta com Driver,
ele mudou.

Marcus já não era mais tão caloroso ou convidativo como tinha


sido com ela antes. Ele estava distante agora, suas respostas
cortadas. Até mesmo seu toque era mecânico, como se ele não a visse
mais como uma pessoa.

Exceto que ela sabia que não era verdade, especialmente depois
do que ele disse a Driver. Mas mesmo que ele a visse como uma pessoa
com sentimentos e alguém que merece respeito, ele não a estava mais
tratando com gentileza ou afeto. Ele estava simplesmente seguindo as
regras. A cada hora, ele fazia questão de dar a ela uma pausa para ir ao
banheiro. Quando chegou a hora de comer, ele a alimentou. Na hora de
dormir, ele a ajudou a se deitar e ficou de guarda durante a noite. A
venda não tinha saído nenhuma vez.

E assim, ele permaneceu fiel à sua palavra. Elise foi amarrada


novamente, uma trança grossa de corda segurando suas mãos atrás das

77
costas. Pelo menos não estava cortando a circulação dessa vez, mas
certamente afetou seus planos de fuga.

Pelo menos Driver não a havia assediado novamente ou algo


assim. Ele apenas a deixou sozinha para apodrecer no quarto, o que,
considerando todas as coisas, ela preferia do que ter que passar
qualquer tempo perto dele.

Eu gostaria de não ter que usar essa venda estúpida, ela pensou
consigo mesma. Antes de tudo isso, ela nunca soube que as pálpebras
podiam suar. Ugh.

Pelo menos a porta do quarto foi deixada aberta. Assim, ela era
capaz de ouvir as vozes da televisão através do corredor.

Driver estava assistindo ao noticiário de novo, obcecado em


descobrir se eles já haviam sido identificados e se a polícia estava em
seu encalço. Do jeito que ela imaginou, eles estavam escondidos há
dias. Se a polícia tivesse alguma pista sobre o paradeiro deles, eles já a
teriam resgatado.

Onde estava um bom detetive quando uma garota precisava de


um?

Elise se mexeu inquieta, puxando suas amarras na esperança de


afrouxá-las para sua fuga imaginária. Ela pode não saber o layout exato
da cabana, mas tinha uma boa ideia de onde ficava a porta da
frente. Uma chance, era tudo que precisava, e ela faria sua tentativa.

78
Nesse ponto, ela percebeu que estava sem opções - elas eram
poucas de qualquer maneira. Não parecia que a polícia chegaria tão
cedo também, então ela estava por sua conta.

Fugir ou apodrecer - essas eram suas opções.

Elise gostava de sua liberdade, então ela iria tomá-la. Tudo que
precisava era uma abertura.

O som de botas batendo forte no corredor trouxe sua atenção


de volta para o aqui e agora, e Elise se sentou ereta, seus ombros se
enchendo de tensão enquanto esperava.

— Comportando-se pela primeira vez, pelo que vejo —


comentou Driver, parando na porta. Se ela pudesse ver seu rosto, Elise
imaginaria que ele parecia muito presunçoso naquele momento. Ela
teve a impressão de que ele usava essa expressão com frequência.

— Eu não estava ciente de ter feito nada além de me comportar


desde que você me sequestrou — ela respondeu.

O tom de Driver tornou-se cortante. — Você é uma vadia


tagarela para alguém que está tão perto da morte. Especialmente
depois daquela pequena façanha que você fez antes.

— Eu estive amarrada por um tempo. Talvez você pudesse ser


um pouco mais claro com suas acusações infundadas?

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Ele deu um bufo irônico. — Fodendo meu parceiro. Achou que
isso lhe daria tratamento preferencial, não é? Talvez uma passagem
para sair daqui, hein?

Elise encolheu os ombros. — Se é isso que você escolhe


acreditar.

— É o que eu sei — ele zombou. — Mas o tiro saiu pela culatra,


não foi, vadia? Meu parceiro deu uma boa trepada e você não foi a
lugar nenhum.

— Não foi assim — ela afirmou, duvidando de cada palavra. No


momento, ela teria jurado que havia mais do que apenas sexo -
uma conexão - mas agora ela não tinha tanta certeza.

— Não foi? Diga-me — disse Driver, as tábuas do piso rangendo


enquanto ele se aproximava. Elise enrijeceu, se preparando para
qualquer coisa. — Onde ele está agora? Se meu parceiro gostava tanto
de você, por que ele não está aqui agora para protegê-la?

Elise engoliu em seco. — Eu preciso de proteção?

Suas palavras seguintes foram ditas tão perto de seu rosto que
Elise podia sentir o cheiro de café em seu hálito. — Pode apostar sua
bunda, docinho.

Elise se lançou para o lado, rolando pela cama e se afastando de


Driver antes que o pensamento tivesse a chance de ser totalmente
realizado. Tudo o que ela ouvia era a ameaça inerente em sua voz, e

80
alguma parte dela decidiu, naquele momento, que não podia mais
esperar. Se ele fosse matá-la, ela não seria cúmplice de sua própria
morte. Embora ela pudesse não ter muitas chances, Elise estava
determinada a morrer lutando.

Ela bateu no chão com força, xingando, mas continuou se


movendo. Rolando para o lado, usando toda a força que tinha nas
pernas para levantá-la sem o auxílio dos braços.

— Onde você pensa que está indo? — Driver riu dela, intenções
cruéis ressoando em sua voz. — Você nem consegue ver onde está.

Elise olhou na direção de sua voz. — Eu conheço meu caminho


melhor do que você pensa — ela rosnou. — Marcus foi gentil o
suficiente em me ajudar com isso.

— Porra! — Driver gritou.

Elise sorriu afetadamente. Ela sabia que isso iria afetá-lo,


percebendo que sabia o nome de seu parceiro. Ele provavelmente
estava se perguntando o que mais Marcus havia dito a ela.

— O que mais ele te disse? Você sabe meu nome também? —


Ele estava furioso.

Elise percebeu que tinha alguns minutos antes de conhecer seu


criador. Isso deveria assustá-la. Em vez disso, ela se sentiu
revigorada. — Oh, eu sei muito sobre vocês dois. E assim que eu sair
daqui, vou contar pra todo mundo!

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— Notícia de última hora: Você não vai sair daqui. Vou torcer
seu lindo pescoço até que ele se estale. — Ela ouviu suas botas
arranharem o chão enquanto ele contornava a sua esquerda. Elise foi
para a direita. Atrás das costas, ela torceu os pulsos, trabalhando em
suas restrições. — Vou até ser legal e tirar a venda para que você possa
ver a luz se apagar. — Ele riu novamente. — Vou gostar de ver você
morrer.

— Você está doente. Não admira que Marcus quisesse denunciá-


lo — ela mentiu.

— O que você acabou de dizer?

— Oh, sim, ele provavelmente não te contou essa parte — ela


continuou. Sua coxa bateu na beira da cama e ela agarrou o corrimão
para se equilibrar. — Você não se perguntou por que ele está
demorando tanto? Não demorou muito para você terminar a
corrida. Eu acho que ele provavelmente já se tornou uma prova do
estado.

— Marcus não faria isso — afirmou Driver. — Ele não correria o


risco de ir para a prisão e com certeza não me mandaria para lá.

— Oh, bem, então eu acho que ele não estava tão chateado por
você ter estragado o plano como disse. Claro, você o conhece melhor do
que eu. — Elise orou como o diabo para que o blefe estivesse
funcionando. Ela estava usando os pequenos fragmentos de

82
informação que reuniu de suas muitas conversas noturnas para criar a
mentira. Para seu alívio, parecia estar funcionando.

Houve uma pausa significativa em que Elise prendeu a


respiração, sem saber ao certo para onde isso iria dar - nada bom, se
ela tivesse que adivinhar.

— Você está mentindo.

— Estou?

— Eu... — Ele não terminou esse pensamento, e não


precisava. Naquele momento, a porta da frente se abriu. A tensão na
sala triplicou.

— Querida, cheguei! — Marcus chamou. As bolsas farfalharam e


as tábuas do assoalho protestaram enquanto ele se movia pela
cabana. — Eles estavam sem estoque, então você vai ter que viver com
desnatado. E estou avisando agora, eles só tinham a manteiga de
amendoim crocante, então não seja exigente. Ei, onde você está?

O coração de Elise batia forte enquanto ela esperava o


inevitável. Marcus entraria para vê-la e seu parceiro estava em um
impasse. Seria de duas maneiras: ou ele a defenderia ou ajudaria
Driver a se livrar do corpo dela.

Elise não estava muito confiante de que sairia dessa


situação. Afinal, ela havia contado algumas mentiras destinadas a abrir

83
uma divisão entre os homens. Eles provavelmente não apreciariam
seus esforços. Ei, foi só uma piada! Nenhum dano causado, certo?

De alguma forma, ela não achou que eles achariam engraçado.

— O que está acontecendo aqui? — Marcus perguntou, e por um


breve momento, Elise deu um suspiro de alívio. Sua voz tinha uma
inexplicável capacidade de acalmar seus nervos, mas ela não era
estúpida. Elise não permitiria que suas emoções atrapalhassem seu
julgamento.

— Diga-me você — seu parceiro exigiu. — Seu pequeno docinho


tem algumas coisas interessantes a dizer sobre você.

— Interessantes como?

Elise podia sentir o olhar desconfiado de Marcus focado nela, e


ela lutou para não se encolher. Em vez disso, ela permaneceu
decidida. Ela jogaria fora e esperaria pelo melhor. — Eu disse a ele
sobre nosso plano, Marcus.

— Qual plano? — ele perguntou, confuso.

— Espero que você tenha contado tudo a ele, — ela continuou


com um ar de falsa bravata. — Eles estão vindo certo? Ou eles já estão
lá fora esperando? Porque eu preciso sair disso — ela disse, virando de
lado para mostrar seus pulsos. — Está começando a me irritar.

— Então você foi à polícia!

84
— Que porra é essa? — Marcus gritou. — Não! Por que você
ainda acha isso? Com que porra você tem enchido a cabeça dele? — A
última parte foi dirigida a Elise, e ela podia sentir o poder de sua raiva
como uma tempestade dirigida exclusivamente a ela.

— Parece que é verdade — disse Driver, o som de mágoa, raiva


e traição predominando em seu tom. — Eu sabia que não podia confiar
em você. Todas as reclamações e discussões, então indo todo alfa com
ela.

— Alfa? O que... Você não sabe do que está falando.

— Oh, eu acho que sei muito bem. Eu deveria ter confiado no


meu instinto e ido embora. Eu deveria ter deixado vocês dois drogados
quando tive a chance.

— Espere o quê?

— Oh sim. Quando fui à cidade naquele dia? Eu estava indo


embora. Eu tive a oportunidade. Eu poderia simplesmente ter partido e
deixado sua bunda para trás. Quase fiz isso, mas então você poderia ter
me denunciado apenas para me irritar.

— Você estava indo embora?

— Você realmente acha que eu não iria considerar


isso? Merda! Você é um peso morto, cara. Sempre foi, sempre será. É
essa porra de consciência. Ela segura você.

85
— Não acredito que estou ouvindo isso agora — disse Marcus,
incrédulo.

Elise quase sentiu pena dele. Ela estava mais aliviada por seu
plano estar realmente funcionando, no entanto. Agora, se ela pudesse
apenas encontrar uma maneira de passar despercebida...

— Então você foi e pegou a buceta — continuou Driver. —


Homem fraco. Fraco pra caralho. Eu deveria saber que não poderia
confiar em você mais do que poderia te manipular. Eu deveria ter
cortado pela raiz. Eu deixei suas mentiras entrarem na minha cabeça, e
agora descobri que você não é nada além de um traidor!

Elise gritou, assustada quando os dois homens colidiram e


começaram a chocar seus corpos pelo quarto. A cama rangeu no chão
quando eles caíram, e uma das lâmpadas se estilhaçou logo
depois. Cegamente, ela correu na direção que ela pensava que a porta
estava localizada, apenas batendo o ombro no batente uma vez. Ela
ricocheteou nas paredes enquanto descia pelo corredor no que
presumia ser a direção da porta da frente, enquanto raspava o lado do
rosto no ombro repetidamente na tentativa de remover a venda.

Estava funcionando, graças a Deus! Uma lasca de luz apareceu


na base de sua visão, apenas o suficiente para ver o piso de tábuas de
madeira envelhecida e evitar tropeçar nos móveis. A luta ainda estava
rolando atrás dela. Elise tinha certeza de que poderia escapar. Ela só
precisava de tempo suficiente...

86
A porta estava exatamente onde ela tinha
imaginado. Freneticamente, Elise esfregou o rosto contra o ombro até
que a venda passou por sua testa, então ela balançou a cabeça até que
caiu no chão. Ela piscou rapidamente para limpar sua visão. A luz
estava muito forte depois de ter ficado no escuro por tanto tempo, mas
era bem-vinda.

A porta - uma madeira pesada e sólida - estava na frente dela,


um farol de liberdade... que estava além de seu alcance.

Literalmente.

Elise gritou, lutando contra as amarras. A corda era grossa e


forte, bem amarrada e com precisão de especialista. Ela não tinha feito
nenhum progresso naquele quarto e não conseguiria abrir a porta sem
usar as mãos.

Virando-se, Elise se chocou novamente contra a porta e ficou na


ponta dos pés e, apesar de seu movimento limitado, agarrou a
maçaneta. Com apenas as pontas dos dedos, ela torceu e girou,
balançando o pedaço de metal e implorando para que a soltasse.

— Ela está fugindo!

A cabeça de Elise se ergueu, seu olhar se voltando para o


corredor estreito. — Não — ela murmurou, e trabalhou mais rápido na
maçaneta. Ela precisava de mais tempo!

— Elise!

87
O berro de Marcus deixou Elise nervosa e, dobrando o esforço,
ela se agarrou à maçaneta com tudo o que tinha. Como se entendesse
sua situação, a trava de repente se soltou e Elise gritou de novo.

Ela não perdeu tempo olhando para trás. Elise se virou e,


usando o pé para segurar a borda, escancarou a porta e saiu correndo.

88
Capítulo Dez
Luzes azuis, brancas e vermelhas brilhavam na sua frente. A
princípio, Elise não tinha certeza do que estava vendo. Então, quando o
pânico começou a diminuir, ela lentamente olhou ao seu redor.

— Pare onde está e ponha as mãos para cima!

Elise não conseguia parar. Suas pernas a carregaram mais


rápido do que nunca. Resgatada. Ela foi resgatada! — Ajude-me! — ela
gritou. — Eu fui sequestrada! — Uma única viatura da polícia estava
estacionada em uma rua de cascalho ao lado da van que tinha sido
usada para sequestrá-la no estacionamento do supermercado... há
quanto tempo? Ela tinha perdido a noção.

— Pare onde você está! — O oficial de meia-idade falou, com a


arma apontada para ela.

Ainda assim, Elise correu. Ela viu muitos filmes de terror


acabarem onde ela estava agora. Mais do que tudo, ela estava com
medo de que Marcus e seu parceiro aparecessem na porta e atirassem
no homem antes que ele pudesse colocá-la em segurança.

— Eu fui sequestrada! — ela repetiu, e enquanto corria, virou a


cabeça para que ele pudesse ver suas mãos ainda amarradas atrás das
costas.

89
Com os olhos arregalados, o oficial abaixou a arma e a chamou
para que ficasse ao seu lado. Ele estava falando no rádio no segundo
seguinte, mas Elise estava muito frenética para entender direito o que
ele estava dizendo. Ela só queria dar o fora de lá.

— Senhora, reforços estão a caminho. Você precisa de atenção


médica?

— Não, não, só me tire daqui!

Ele parecia não estar ouvindo. — Tem mais alguém lá dentro?

— Sim! Os homens dos notíciarios. Eles me sequestraram e eles


têm armas. — Eles não poderiam aguardar o interrogatório para
quando estivessem na delegacia? O olhar de Elise foi para a porta
aberta. — Olha, temos que sair daqui.

— Senhora, temos que esperar por reforços.

— Você não entende...

O olhar firme e escuro do oficial firmou-se sobre ela e a segurou


com firmeza no lugar. — Senhora, preciso que espere na parte de trás
do veículo. Tudo vai ficar bem.

Ela não acreditou nele. Nem por um segundo. Isso poderia


acontecer de muitas maneiras, e todas eram ruins, no que dizia
respeito a ela. — Mas, espere, eu...

90
Mas ele não esperou. E não estava ouvindo. O policial apenas a
agarrou pelo cotovelo, abriu a porta da viatura e a empurrou para o
banco de trás como se fosse uma criminosa.

Ele a estava prendendo? Elise ficou chocada. Brava.


Temerosa. Malditos homens! Eles nunca ouviam!

Ela viu o policial se posicionar na frente do carro e se ajoelhar, a


arma mais uma vez em punho. Ele tinha a cabeça virada, os olhos fixos
na cabana, enquanto falava no walkie-talkie amarrado ao ombro. Elise
não conseguia ouvir nada além de sua respiração rápida e batimentos
cardíacos trovejantes.

E se Marcus ou seu parceiro - ou ambos - disparassem por


aquela porta, com armas nas mãos? Ela não tinha certeza sobre
Marcus, mas Driver não lhe parecia do tipo que iria se render. De jeito
nenhum ele iria cair sem lutar.

Ela estava planejando outra grande fuga que envolvia chutar a


janela e passar pela abertura, quando ouviu sirenes soando ao fundo e
ficando mais altas a cada segundo.

Virando-se em seu assento, Elise observou enquanto uma


enxurrada de carros de polícia avançavam pela longa e sinuosa
estrada, surgindo do nada. E foi maravilhoso.

Pela primeira vez desde naquele dia, ela sentiu que podia
respirar novamente.

91
A polícia saiu de seus veículos e cercou o local. Logo, um
helicóptero apareceu com o holofote iluminando e vasculhando através
das árvores, a forte batida de suas hélices se juntando ao caos que
estava o lugar. Como espectadora, Elise observou enquanto eles
invadiam a velha casa e chamavam os homens lá dentro para saírem.

Logo, alguns desapareceram lá dentro, e ela prendeu a


respiração, esperando ouvir tiros. Como ela se sentiria vendo Marcus
sendo carregado em um saco de cadáver? Ela esperava que não
chegasse a esse ponto.

Não chegou.

Algum tempo depois, vários dos oficiais que haviam entrado


voltaram, seguidos por Marcus, que segurava um lado de Driver,
enquanto um policial segurava o outro. Os oficiais restantes pararam
na retaguarda.

Todos pareciam estar de bom humor.

Exceto Marcus.

Elise ficou de boca aberta, intrigada sobre por que seu parceiro
estava algemado, mas Marcus não. — Ele é um deles! Ele me
sequestrou também! — ela gritou, mas ninguém estava ouvindo. Eles
provavelmente nem podiam ouvi-la, considerando todo o barulho. Ela
estava completamente esgotada. — Ei! Me escutem!

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Marcus e o oficial empurraram seu parceiro para a parte de trás
de uma caminhonete e fecharam as portas atrás dele. Elise ficou
horrorizada ao ver alguns dos policiais, em seguida, dar tapinhas nas
costas dele como se fossem amigos. Eles estavam até sorrindo!

— Que tipo de sétimo inferno é esse? — ela perguntou a


ninguém em particular. Só assim, tudo ao seu redor tornou-se
silencioso enquanto ela observava como seu sequestrador passou
direto pelas pessoas que deveriam estar protegendo-a, como se ele não
fosse um criminoso violento.

Foi então, quando Marcus se afastava do grupo, que ele olhou


para cima... e direto nos olhos dela.

Elise passara dias se mantendo corajosa. Ela não recuou,


mesmo no pior momento.

Mas agora recuou.

Elise estava quase tremendo no banco de trás enquanto ele


marchava até o carro e abria a porta. — Elise…

Ela já estava deslizando pelo banco para o lado oposto, o mais


longe que podia, considerando todas as coisas. — Não chegue perto de
mim — ela avisou.

Agachando-se, Marcus ergueu as mãos à sua frente. — Eu não


vou te machucar. Eu nunca te machucaria.

93
— Por que eles não estão prendendo você? Que mentiras você
contou a eles? — Seus olhos se arregalaram. — Eles estão trabalhando
para você? — A polícia estava nisso? Ele trabalha para alguma
organização que tinha gente de dentro, como a máfia?

Oh, meu Deus, Elise, no que você se meteu?

— Você não está longe disso — disse Marcus, sua expressão


tensa. — Posso me sentar? — Ele apontou para o assento ao lado dela,
mas não esperou que ela lhe dissesse para dar o fora dali. De pé, ele se
acomodou no banco de trás.

— Vou contar tudo a eles — ameaçou Elise. Mas agora ela


estava dolorosamente ciente de que, se ele tivesse pessoas do lado de
dentro, ela poderia facilmente se encontrar em outra situação
complicada. Era uma situação em que todos perderiam. Em quem ela
poderia confiar?

— Bom, eu espero que você o faça — disse Marcus com força


surpreendente. — Certifique-se de não omitir nenhum detalhe.

— Espere, por quê? — ela perguntou, confusa.

— Por quê? Porque mesmo que pareça agora, eu não sou o cara
mau aqui.

— Certo, porque você fez coisas tão boas e dentro da lei. — Ela
revirou os olhos.

94
Marcus a encarou, aqueles olhos azuis queimando sua alma. —
Eu sei o que parece agora, mas não sou uma pessoa má. Você vai
ver. Assim que voltarmos para a delegacia, tudo fará sentido.

Ela não acreditou nele por um segundo.

Não julguem pelas aparências.

***
Elise não conseguia acreditar no que acabara de ouvir.

Lá estava ela sentada, em algum escritório com papéis


empilhados por toda parte e luzes fluorescentes zumbindo acima, o
cheiro de café amargo e malfeito enchendo suas narinas, e sua cabeça
estava girando.

— Disfarçado? — ela perguntou novamente. Ela simplesmente


não conseguia entender isso.

— Estou em conjunto com o departamento de policia há dois


anos trabalhando neste caso. Wallis é cruel e tinha conexões profundas
dentro do crime organizado, então demorei para me infiltrar.

Marcus estava explicando, mais uma vez, sobre como ele


conseguiu se infiltrar no mundo do crime, fazendo quase todo tipo de

95
coisa que não iria mencionar para chegar onde estava agora. Tudo isso
levando à prisão de Wallis, também conhecido como Driver.

— Então, se eu entendi direito, você estava desempenhando um


papel o tempo todo. Você não é um criminoso de verdade?

— É tudo parte do trabalho.

Ela esfregou as têmporas onde uma dor estava começando a


aparecer. — E onde eu entro nisso mesmo?

— Lugar errado, hora errada.

Assim como ela suspeitou. Elise beliscou a ponte do nariz em


seguida. Ela simplesmente não conseguia acreditar na montanha-russa
de emoção que esta sentindo. Dizer que ela foi colocada no meio do
furacão era um eufemismo. Tudo isso a deixou cansada.

— Estou livre para sair? Eu quero ir para casa.

— Assim que você assinar sua declaração, eu vou te levar para


casa. — Marcus deslizou a declaração recém-digitada que havia
fornecido para ela e estendeu uma caneta.

Elise assinou rapidamente e devolveu os dois. Em pé, ela disse:


— Obrigada, mas prefiro chamar um táxi.

Marcus franziu a testa enquanto ficava de pé com ela. — Eu


prefiro levar você para casa.

Elise olhou feio para ele. — E eu prefiro que você não faça isso.
— Mesmo que uma parte dela, uma parte muito ingênua dela,

96
quisesse cair em seus braços e chorar, uma parte maior dela queria
correr como o inferno para longe dele. Ela precisava de distância de...
bem, de tudo. Hora de limpar sua cabeça. Para dar sentido ao mundo
novamente.

— Com todo o respeito...

Elise ergueu a mão. — Com todo o respeito, se você terminar


essa frase, vou dar uma joelhada em suas bolas, e depois do dia que
tive, não preciso de uma sentença de prisão, ok? Vou chamar um táxi.

— Ainda é um pé no saco.

Elise parou no meio do caminho. Desviando o olhar, ela admitiu:


— Você sabe, apesar dos pesares, ser sequestrada provavelmente foi a
melhor coisa que aconteceu comigo.

Com isso, ela saiu.

E sentiu os olhos de Marcus nela por todo o caminho.

97
Capítulo Onze
Pastelzinho de Morango. Depois das refeições - raras como
tinham sido - que ela teve durante seu tempo no cativeiro, os pasteis da
torradeira simplesmente não tinham o mesmo apelo que tinham
antes. Eles foram para a lata de lixo. Elise suspirou.

Fazia uma semana desde que saiu da delegacia. Ela não olhou
para trás. A menos que seus pensamentos contassem, nesse caso, ela
estava praticamente vivendo no passado.

Ser sequestrada e mantida refém estava longe da lista de


experiências de vida aceitáveis de qualquer pessoa, muito menos da
lista de Elise, mas ela se viu revivendo cada momento repetidas vezes.

E não foi por medo. Mais como nostalgia.

Talvez Elise tivesse sucumbido à Síndrome de Estocolmo,


porque tudo que ela conseguia lembrar era a emoção e a empolgação, o
calor e, o mais importante, a conexão. Ela percorreu toda a gama de
emoções naquela pequena cabana... e queria tudo de volta.

Voltar para sua vida deveria ter sido uma ocorrência bem-
vinda. Em vez disso, serviu como um lembrete gritante de que ela
estava totalmente sozinha e sua vida era tão excitante quanto uma
torrada seca.

98
Por apenas alguns poucos dias, ela viveu.

Agora, ela apenas se sentia vazia. O sol não brilhava tanto. As


noites estavam muito calmas. Os dias longos demais. Faltava sabor à
comida.

Ela estava sozinha.

Mas não havia nada a ser feito a respeito. Não era como se ela
pudesse simplesmente sair e reconstituir todo o cenário que levou ao
seu sequestro e fazer com que acontecesse novamente. O raio não
costumava cair duas vezes no mesmo lugar.

Elise deveria saber. Ela tentou.

O estacionamento do supermercado estava completamente


tranquilo, como deveria ser.

Suspirando, Elise abriu o freezer para pegar a última das


refeições congeladas para micro-ondas, apenas para descobrir que já
tinha comido.

— Droga — ela suspirou. Com os ombros caídos, ela cogitou


esperar até o café da manhã do proximo dia, mas seu estômago
escolheu aquele momento para expressar sua opinião sobre o assunto,
e ela sabia que não conseguiria esperar.

Colocar a jaqueta foi uma tarefa árdua, assim como enfiar os


pés nos sapatos sem salto. Tudo parecia assim ultimamente. Apenas
uma luta constante para passar o dia.

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Ah, depressão, nos encontramos novamente.

Felizmente, a sorte estava do seu lado hoje, pois o céu estava


claro, nenhuma poça à vista, e seu carro, que havia sido consertado e
devolvido no dia anterior, estava funcionando. Ela deslizou para trás
do volante e logo estava vagando pelos corredores do
supermercado. Encher a cesta de mão era uma questão de agarrar
e soltar - nenhum processo de pensamento real por trás disso. Ela
estava comendo mais por hábito do que por gosto.

Elise continuou a rotina, com o caixa adolescente de sempre,


trocando gentilezas mundanas como de costume e pagando quando
mandava. Pegando suas sacolas, Elise acenou com a cabeça quando o
menino lhe desejou um bom dia e marchou para o frio da primavera.

Ela sentia falta dos flocos de neve, ela refletiu, enquanto


cruzava o estacionamento, pensando nas pequenas nuvens brancas
que caíram ao seu redor naquele dia. Tudo parecia muito tempo atrás,
em vez de uma questão de dias. Não parecia certo ela olhar para o
passado com qualquer tipo de carinho ou desejo, mas ela estava
fazendo isso.

Talvez tenha sido Marcus. Ela considerou isso algumas vezes, na


verdade. Os pensamentos dela, embora equivocados na melhor das
hipóteses, sempre o prendiam. Por um tempo, ele a fez se sentir segura
e protegida. Desejada. Ela nunca teve isso antes. Era viciante, ela
sabia. E talvez seja por isso que ela ficou olhando para trás. Talvez ela

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só quisesse mais daquele sentimento difuso que vinha com luxúria e
atração.

Talvez ela não fosse louca, mas apenas carente de algo


fundamental em sua vida. Como conexão humana. Companhia.

Excitação.

Uma brisa soprou e Elise, parando em seu carro para colocar as


sacolas no porta-malas, inclinou a cabeça para trás e respirou fundo. —
Eu preciso de férias — ela murmurou. Talvez fosse disso que ela
precisava para sair dessa melancolia. Uma aventura para superar todas
as aventuras.

Exceto que a única aventura que ela já teve foi ser jogada na
parte de trás de uma van e trancada em uma cabana remota na
floresta. Portanto, o padrão estava muito baixo.

Ela estava realmente confusa da cabeça.

Fechando o porta-malas, Elise apertou o botão da chave


enquanto contornava o seu carro. As luzes traseiras brilharam uma
vez.

Então ela ouviu. Um carro pisando fundo nos freios. Uma porta
se abrindo. Passos correndo.

O coração de Elise acelerou, sua respiração ficou superficial.

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Quando ela sentiu um par de braços fortes em volta de sua
cintura, ela não lutou. Em vez disso, uma parte perversa dentro dela
gritou: — Sim!

Arrastada para trás, Elise mal lutou. Isso era o que queria, o que
estava procurando. Alívio foi tudo o que ela sentiu como antes, sendo
novamente tomada, só que desta vez, não foi contra sua vontade.

Mas em vez de ser jogada para dentro de uma van como


esperava, ela foi virada, com as costas contra um carro. O metal frio
penetrou em seu corpo, mas a parede sólida de calor em sua frente
afugentou o frio.

A confusão cresceu dentro dela. — O que... — Suas palavras


morreram quando ela olhou para o olhar quente e azul de Marcus.

Com um sorriso afetado, ele segurou seu rosto e apertou com


mais força. — Você nem mesmo lutou.

Elise estava praticamente ofegante. Ela poderia dizer que ele


estava certo, mas ela podia ver em seus olhos que ele já sabia disso... e
ele sabia a razão por trás disso também.

— Eu vi você, vagando por aí como uma concha vazia, com


aquele olhar distante em seus olhos... — Seu polegar acariciou sua
bochecha. — Eu não conseguia tirar suas palavras da minha
cabeça. Sobre aquele ser o melhor momento da sua vida. Achei que não
poderia ter ouvido direito... mas ouvi, não foi? Você precisa disso. Você
precisa de mim.

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Elise se viu assentindo antes que ele terminasse a frase. Ela
precisava dele. Ela nunca precisou de ninguém mais do que precisava
de Marcus. Antes dele, ela estava sozinha e contente com sua vida. Em
geral.

Como tinha sido ingênua.

Bastou suas consideráveis habilidades de atuação e suas mãos


rápidas sacudindo seu mundo como um globo de neve para mostrar a
ela o quão errada estava.

Ele a despertou, e agora ela não conseguia voltar a dormir. E


não queria.

Elise queria se sentir viva novamente!

— Vou te contar um segredo — Marcus sussurrou ao lado de


seu ouvido. — Foi a melhor época da minha vida também… e preciso
de mais. Eu preciso de você.

Elise estremeceu com suas palavras sinceras. Ela carecia de


uma resposta pronta, palavras incapazes de fazer justiça a como ela se
sentia por dentro. Então, ela deixou suas mãos falarem por ela, seus
dedos em seus quadris apertando sua camisa com força.

— Docinho, entre no carro — disse Marcus com um cuidado


surpreendente. — Deixe-me tirar você daqui.

— Para onde?

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Recuando, seu olhar encontrou o dela, e seu sorriso em resposta
a torceu por dentro. Abaixando a cabeça, ele roçou os lábios nos dela
enquanto dizia: — Há uma pequena cabana na floresta...

Elise não precisava ouvir mais nada. Jogando os braços em volta


dos ombros dele, ela se ergueu na ponta dos pés e esmagou a boca na
dele. Ela estava mais do que pronta para sua próxima aventura.

Fim

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